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Portuguese Pages [801]
DICIONÁRIO DE FILOSOFIA
DICIONÁRIOS Dicionário bíblico-teológico
Johannes B. Bauer
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Dicionário cultural da Bíblia
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VV. AA.
Dicionário cultural do cristianismo Dicionário de direito canônico
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Dicionário de filosofia (4 vols.)
Carlos C. Salvador, José Embil
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Dicionário de psicologia (3 vols.)
VV. AA.
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José Ferrater Mora
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W. Arnold; H. J. Eysenck; R. Neili
Dicionário de teologia bíblica (2 vols.)
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J. B. Bauer
JOSÉ
FERRATER MORA
�
DICIONARIO DE FILOSOFIA TOMO III (I Ver: Walter Donlan, "The Origin ofKaMs Kàya8ós", American Journal of Philology, 94 ( 1 973), 365-374. - R. L. Cole, The Ethical Foundations ofRudolf Bin ding s Gentleman-Concept, 1 966. - P. Simpsom, "Au tonomous Morality and the Idea ofthe Noble", Interpre tation, 1 4 ( 1 986), 35 3-370. Ver também: G. Durante, Gli Epigoni di Kant, 1 943. - W Stegmüller, Studien zum Wandel der Kantauffas sung, 1 952. - H. van der Linden, Kantian Ethics and Socia/ism, 1 988. - O. O 'Neill, Constructions ofReason: Explorations of Kant 's Practical Philosophy, 1 989. C: KARMA. Ver CARMA .
KARMA-MlMÃNSÃ. Ver MiMÃNSÃ. KASTIL, ALFRED. ( 1 874- 1 950), nasc. em Graz, foi Privatdozent na Universidade de Praga, onde estudou
KAUFMANN, FELIX sob a orientação de Anton Marty (vER). De 1 909 a 1 9 1 2, foi "professor extraordinário" e, a partir deste último ano, professor titular em Insbruck. Sob a influência de seu mestre, Marty, Kastil desenvolveu teses de Brentano (VER), destacando as posições antiidealistas desse filó sofo e até algumas de suas atitudes próximas do positi vismo, ao menos entendido como aspiração a uma aná lise filosófica rigorosa. No curso de suas investigações filosóficas em epistemologia e ontologia, Kastil pole mizou contra as posições de Leonard Nelson (VER) e da chamada "escola neofriesiana". :> Obras: Die Frage nach der Erkentnis des Guten hei Aristoteles und Thomas, 1 900 (A questão do conhecimen to do bem em A. e T.). - Zur Lehre der Wil/ensfreiheit in der Nicomachischen Ethik, 1 90 1 (Para a doutrina da li berdade da vontade na "Ética a Nicômaco "). - Studien zur neueren Erkenntnislehre. L Descartes, 1 909 (Estudos para a teoria moderna do conhecimento, l D.). - Fries ' Lehre von der unmittelbaren Erkenntnis, 1 9 1 2 (A doutri na do conhecimento imediato de Fries). - Franz Bren tanos Kategorienlehre, 1 934 (A teoria das categorias de Franz Brentano ). - Gnoseologischer und ontologis cher Wahrheitsbegriff, 1 934 (O conceito gnosiológico e ontológico de verdade). Devem-se a K. edições de várias obras de Brentano. Junto com Oskar Kraus (VER), editou os escritos póstu mos de Brentano. C:
KAUFMANN, FELIX ( 1 895- 1 949). Nascido em Viena, estudou filoso(ia e direito na Universidade de Viena, onde ensinou filosofia do direito. Em 1 938, emigrou para os Estados Unidos, dando aulas desde sua chegada a Nova York na "Graduate School" da "New School for Social Research''. Felix Kaufinann manteve estreita relação com o Cír culo de Viena (vER), mas sem se considerar um de seus membros, já que, ao lado de seu interesse pelo positi vismo lógico, manifestou grande interesse pela fenome nologia de Husserl, particularmente pelos aspectos lógi cos e metodológicos da fenomenologia. Em diversas oca siões, tentou destacar os pontos de contato entre o méto do dos positivistas lógicos e o dos fenomenólogos. De todo modo, seu principal - e quase exclusivo - inte resse foram as questões metodológicas. Segundo Kauf fman, é um erro distinguir realmente o objeto das ciências naturais do objeto das ciências sociais, mas é necessário distinguir entre os métodos dessas ciências. Ele também considerou necessário diferenciar a meto dologia e os procedimentos de que se valem as ciências empíricas; a metodologia é em parte uma racionaliza ção de procedimentos empíricos, mas admite e examina pressupostos não incluídos nesses procedimentos. Ao mesmo tempo, a metodologia se distingue da lógica, que lhe serve de auxílio, mas não se confunde com ela.
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KAUFMANN, FRITZ � Obras: Logik und Rechtwissenschaft, 1 922 (Lógica e ciência do direito). - Die Kriterien des Rechts, 1 924 (Os critérios do direito). - Das Unendliche in der Ma thematik und seine Ausschaltung, 1 93 0 (O infinito em matemática e sua exclusão). - Methodenlehre der So zialwissenschaften, 1 936. Esta obra, bastante refundida e em grande parte nova, foi publicada logo depois em inglês, redigida pelo próprio autor, com o título Metho dology ofthe Social Sciences, 1 944. - Entre os artigos publicados por Felix Kaufmann, destacamos: "Bemer kungen zum Grundlagenstreit in Logik und Mathema tik", Erkenntnis, 2 ( 1 93 1 ), 262-290. - "Phenomenolo gy and Logical Empiricism", em Philosophical Essays in Memory ofE. Husserl, 1 940, ed. Marvin Faber, pp. 1 24- 142. - "The Structure of Science'', Journal ofPhi losophy, 38 ( 1 94 1 ), 28 1 -292. - "Strata of Experience'', Philosophy and Phenomenological Research, 1 ( 1 94 1 ) 3 1 3-324. - "The Logical Rules of Scientific Proce dure", Phil. Phenomenol. Res. , 2 ( 1 942), 457-47 1 . "Truth and Logic", Phil. Phenomenal. Res. , 1 ( 1 940), 59-69. - "Verification, Meaning, and Truth", Phil. Pre nomenol. Res. , 4 ( 1 943- 1 944), 267-283. - "Scientific Procedure and Probability", ibid., 6 ( 1 945- 1 946), 46-66. - "Three meanings of 'Truth '", Journal ofPhilosophy, 45 ( 1 948), 337-350 [ver VERDADE] . - "On the Nature oflnductive Inference", Phil. Phenomen. Res. , 6 ( 1 946), 602-608. [Carnap respondeu com "Rejoinder to Mr. K's Reply 'On the Nature oflnductive Inference'", Phil. Phenomenol. Res. , 6 ( 1 946), 609-6 1 O] . - "Rudolf Car nap 's Analysis of 'Truth "', Phil. Fenomenal. Res. , 9 ( 1 948), 294-299. [Carnap respondeu com "Reply to F. K.'s 'RudolfCarnap'sAnalysis of"Truth" "', Phil. Feno menal. Res. 9 ( 1 948), 3 00-304] . - "John Dewey's Theory of Inquiry'', Journal ofPhilosophy, 56 ( 1 959), 826-836. - Alguns trabalhos estão reunidos em The Infinite in Mathematics. Logico-Mathematical Writings by F K. , ed. Brian McGuiness, 1 978. Ver: M. S. Dworkin, "Last Conference", 12th Street, 3 ( 1 950), 13- 14. - R. Abel, "Felix Kaufinann'', Salmagun di ( l 970), 307-3 1 0. - H. G. Zilian, Klarheit und Metho de: Felix Kauftnanns Wissenschaftstheorie, 1 990. e ,
KAUFMANN, FRITZ ( 1 89 1 - 1 958). Nascido em Leipzig,
estudou com Husserl em Gõttingen e Freiburg. Por cau sa do regime nazista, emigrou em 1 93 8 para os Estados Unidos e lecionou na Northwestern University (Illinois), em Buffalo e na Ohio State University. Fritz Kaufmann é considerado um dos discípulos de Husserl. Contudo, embora tenha utilizado abundan temente em suas investigações filosóficas as idéias de Husserl, também levou em consideração Heidegger e Dilthey. Kaufmann interessou-se especialmente por dois temas: o do homem e sua história e o da natureza e função da arte. Suas maiores contribuições foram da das a este último. Ele examinou a natureza e as formas
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d a arte como representação. A arte é para Kaufmann uma representação, ou forma de representação, do uni verso distinta de todas as outras representações, mas não necessariamente em conflito com elas. Há para Kauf mann uma "verdade" artística de caráter transcendente, porque, embora venha do "livre jogo" do artista, a ativi dade artística não é mera imaginação sem fundamento. Ora, o fundamento da verdade artística é em certo sen tido mais radical que o de qualquer outra "verdade". As reflexões sobre a arte levaram Kaufmann a desenvol ver ou, quando menos, a esboçar, uma antropologia filosófica da qual resultava a caracterização do homem como um "ser imaginativo". � Principais obras: Das Bildwerk ais iisthetisches Phii nomen 1 924 (tese) (A escultura como fenômeno estéti co). - Die Philosophie des Grafen Paul Yorck von War tenburg, 1 928 [publicado em 1 927 no Jarhrbuch, 9, de Husserl] . - Geschichtesphilosophie der Gegenwart, 1 93 1 (A filosofia da história na atualidade). - Sprache ais SchOpfang, 1 934 (A linguagem como criação [edição em separata de Zeitschriftfar Âs thetik und allgemeine Kunstwissenschaft). - Thomas Mann: The World as Will and Representation, 1 957. - Além disso, F. K. pu blicou inúmeros artigos em revistas filosóficas (Archiv far Geschichte der Philosophie; Kantstudien; Philoso phy and Phenomenological Research; Philosophical Review; Archiv für Philosophie etc.; destacamos: "The Phenomenological Approach to History", Philosophy and Phenomenological Research, 2 ( 1 94 1 - 1 942), 1 591 72; "On Imagination", ibid. , 7 ( 1 946- 1 947), 3 69-375; ver também "Art and Phenomenology", em Philosophi cal Essays in Memory ofE. Husserl, 1 940, ed. M. Far ber, pp. 1 87-202. Bibliografia de F. K. por Ludwig Landgrebe em "F. K. in memoriam", Zeitschrift für philosophische Forschung, 1 2 ( 1 958), 6 1 2-6 1 5 . e
KAUFMANN, MAX. Ver SrnuP P E [E R NS T Ju u us ] WILHELM. KAUTSKY, KARL [JOHANN] ( 1 854- 1 938). Nascido em Praga, estudou na Universidade de Viena. Amigo de Marx e Engels, aderiu ao movimento socialista, ten do fundado em 1 883 Die neue Zeit. Membro do Partido Social-Democrata alemão, Kautsky defendeu no âmbito do marxismo a tendência revolucionária, contra o revi sionismo de Eduard Bernstein ( 1 850- 1 932). Quando eclodiu a revolução russa, Kautsky afastou-se do Parti do Social-Democrata e fundou o Partido Social Demo crata Independente. Porém, contrariando muitos mem bros do novo partido, opôs-se à política bolchevique e foi considerado por Lênin um "revisionista" e "anti revolucionário". Kautsky elaborou as doutrinas marxistas da mais valia com base em notas deixadas por Marx com vistas
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KÉDROV, BONIFATIY MIJAYLOVITCH
à continuação de O Capital. D o ponto de vista filosófi co, é importante a doutrina kautskiana sobre o papel desempenhado pela realidade "corpo", considerada por ele inseparável do movimento, de modo que é possível falar de um "corpo-movimento" submetido às leis dialé ticas. O "corpo-movimento" é uma realidade "univer sal", visto que constitui o sujeito não apenas das rea lidade s naturais como também das sociais. Por isso Kautsky se opôs a toda separação entre ciências natu rais e ciências sociais. A ciência das formas do movi mento nos corpos é a base comum de todas essas ciên cias e a ela se reduzem todos os enunciados delas. Em seus escritos de caráter ético, Kautsky seguiu a concepção marxista segundo a qual a moral e seus ideiais constituem uma superestrutura ideológica da es trutura econômica básica da sociedade. Contudo, não considerou que com isso se prescindissem de todos os ideais morais. Pelo contrário, na medida em que sejam "reduzidos a suas justas dimensões", esses ideais pode rão exercer uma influência sadia. Nem mesmo o prole tariado em sua luta para libertar-se da opressão "pode prescindir do ideal moral, da indignação moral contra a exploração e o domínio de classe". O "ideal moral" como mero "ideal" é "uma fonte de erro" na "ciência" - isto é, no "socialismo" -, já que a "ciência" trata apenas do "reconhecimento do necessário". A ciência está "acima da ética". Ao mesmo tempo, porém, o cien tista é "um lutador" e, portanto, tem o direito de mani festar "indignação moral". :> Principais obras: K. Marx ' okonomische Lehren, 1 887 (As doutrinas econômicas de K. M. ). - Thomas More und seine Utopie, mit einer historische Einleitung, 1 888 [Internationale Bibliothek, 5] (T. M. e sua utopia, com uma introdução histórica). - Das Erfurter Pro gramm in seinem grundsiitzlichen Theil, erliiutert von K. K . . , 1 892 (O "Programa de Erfurt " em sua parte básica, explicado por K. K. ). - Friedrich Engels. Sein Leben, sein Wirken, seine Schriflen, 1 895; 2ª ed. , 1 908. - Die Agrarfrage, 1 899 (A questão agrária). - Ethik und materialistiche Geschichtsauffassung, 1 906 (Ética e concepção materialista da história). - Die historis che Leistung von Karl Marx, 1 908 (A realização históri ca de K. M. ). - Der Ursprung des Christentums, 1 908 (A origem do Cristianismo). - Die Internationale und der Krieg, 1 9 1 5 (A Internacional e a guerra). - Die Diktatur des Proletariats, 1 9 1 8 . Die materialistiche Geschichtsauffassung, 2 vols., 1 927 (A concepção ma terialista da história). - Entre os escritos econômicos de K., destacam-se seus 4 volumes sobre As Teorias da Mais- Valia ( 1 907- 1 9 1 5). Depoimento em Die Volkswirtschaftslehre der Ge genwart in Selbstdarstellungen, 1 924. Em português: A questão agrária, 1 998. A política agrária do Partido Socialista, 1 945. - O socialismo .
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jurídico, em co-autoria com F. Engels, 1 995. - O cami nho do poder, 1 979. Material biográfico sobre K. em August Bebei, Aus meinem Leben, 3 vols., 1 9 1 0- 1 9 1 4. - Sobre K., ver: K. Korsch, Die materialistiche Geschichtsauffassung, 1 929. - K. Renner, K. K. , 1 929. - M. J. Shore, Soviet Education, Its Psychology and Philosophy, 1 947. G. Lichtheim, Marxism, an Historical and Criticai Stu dy, 1 96 1 . - A. Arato, "The Second International: a Reexamination", Telas ( 1 973- 1 974), 2-52. - D. B. McKown, The Classical Marxist Critiques ofReligion: Marx, Engels, Lenin, Kautsky, 1 975. - R. Selucky, Marxism, Socialism, Freedom, 1 979. - Ver também o número especial de Die Gesellschaft, 1 924, dedicado a K., com o título: "Der lebendige Marxismus. Festgabe zum Geburtstage Kautskys". Principais obras filosóficas: O kolitchéstvénnij i kat chéstvénnij izménéniáj v prirodé, 1 946 (Sobre mudanças quantitativas e qualitativas na Natureza). - Engells i és-
KELSEN, HANS téstvoznánié, 1 947 (Engels e a ciência natural). - Otri tsanié otritsaniá, 1 957 (A negação da negação). - O povtoráémosti v protséssé razvitiá, 1 96 1 (Sobre a repe tibilidade no processo de desenvolvimento). - Klassi ficatsiá nauk, l, 1 96 1 (A classificação das ciências). Kédrov escreveu numerosos artigos para a História so viética de la filosofia, 5 vols, 1 957- 1 96 1 . Bibliografia: Thomas J. Blakeley, "The Philosophi cal Works of B. M. K.", Studies in Sovietic Thought, 6 ( 1 966), 53-56. Ver: T. J. Blakeley, "Soviet Philosophical Method: The Case of B. M. Kédrov", Studies in Sovietic Thou ght, 6 ( 1 966), 1 -24. Principais obras teóricas: Hauptprobleme der Staats rechtslehre entwickelt aus der Lehre von Rechtssiitze, 1 9 1 1 ; 2ª ed., 1 923 (Problemas capitais da teoriajurídi ca do Estado derivada da teoria dos princípios do direi to). - Über Grenzen zwischen juristischer und soziolo gischer Methode, 1 9 1 1 (Sobre os limites entre o método jurídico e o sociológico). - Sozialismus und Staat. Eine Untersuchung des polistischen Theorie des Maexismus, 1 920; 2ª ed. , 1 923 (Socialismo e Estado. Investigação sobre a teoria política do marxismo). - Vom Wesen und Wert der Demokratie, 1 920; 2ª ed., 1 929 (Essência e valor da democracia). - Rechtswissenschaft und Recht, 1 922 (Ciência do direito e direito). - Der sozio logische und derjuristische Staatsbegriff. Kritische Un tersuchung des Verhiiltnisses von Staat und Recht, 1 922; 2ª ed., 1 928 (O conceito sociológico e o conceito ju rídico de Estado. Investigação crítica das relações entre Estado e direito). - Marx oder Lassa/e?, 1 924. Allgemeine Staatslehre, 1 925 ( Teoria geral do Estado). - Grundriss einer allgemeinem Theorie des Staates, 1 926 (Compêndio esquemático de uma teoria geral do Estado). - Die Philosophischen Grundlagen der Natur reschtslehre und des Rechtspositivismus, 1 928 (A idéia do direito natural e outros ensaios). - "Théorie générale du Droit intemational public. Problémes choisis", Aca démie de droit international, Recuei! des cours, XLII, 1 932, parte iv, pp. 1 1 6-35 1 . - Reine Rechtslehre. Einlei tung in die rechtswissenschaftliche Problematik, 1 933 (A teoria pura do direito. Introdução à problemática cien tífica do direito). - Law and Peace in International Re lations, 1 942. - Society and Nature: a Sociological In quiry, 1 943 . - Peace through Law, 1 944. - The Politi cal Theory of Bolschevism: A Criticai Analysis, 1 948. - What is Justice - Justice, Law, and Politics in the
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Mirrar ofScience: Collected Essays, 1 957. - Th e Com munist Theory ofLaw, 1 976 (póstuma). Allgemeine Stastslehre e Reine Rechtslehre foram reelaboradas na tradução de Anders Wedberg: General Theory of Law and State, 1 945. Em português: A democracia, 1 993. - Teoria pura do direito, 1 994. - A ilusão dajustiça, 1 998. - Teoria geral do direito e do Estado, 1 992. - O problema da justiça, 1 993. - A justiça e o direito natural, 1 979. Dentre as inúmeras obras sobre K. e a "escola de Viena'', citamos: Luis Recasens Siches, Direcciones contemporâneas dei pensamiento jurídico, 1 929, pp. 1 08- 1 64. - Wilhelm Jõckel, H. Kelsens rechtstheore tische Methode, 1 930. - Tommaso Antonio Castiglia, Stato i diritto in H. K., 1 932. - Luis Legaz y Lacambra, K. Estudio crítico de la teoría pura dei Derecho y dei Estado de la Escuela de Viena, 1 93 3 . - Renato Treves. II fondamento filosofico della dottrina pura dei diritto di H. K. , 1 934 [separata de Atti della R. Ac. delle Scienze di Torino] . - Ataúlfo Fernández Llano, Teoría General dei Estado: la teoría normativista de K. , 1 93 7 . - W. Ebenstein, Die rechtsphilosophische Schule der reinen Rechtslehre, 1 93 8 . Tradução inglesa do próprio autor, com muitos acréscimos e correções: The Pure Theory ofLaw, 1 945. - Georges Man, L'École de Vienne et le développement du droit des gens, 1 938. - Raúl Rangel Frías, Jdentidad dei Estado y Derecho en la teoríajurí dica de H. K. , 1 93 8 . - Eduardo Pallarés, El derecho deshumanizado, 1 94 1 . - P. L. Zampetti, Metafisica e scienza dei diritto nel K. , 1 956. - Rupert Hoffman, Logisches und metaphysisches Rechtsverstandnis. Zum RechtbegriffH. Kelsens, 1 967 (tese). - Ronald Moore, Legal Norms and Legal Science: A Criticai Study of Kelsen s Pure Theory of Law, 1 977. - W. Ebenstein, The Pure Theory ofLaw, 1 945. - E. García Máynes, Algunos aspectos de la doctrina kelseniana. Exposición y crítica, 1 978. - J. Esquivei Pérez, Kelsen y Ross. Formalismo y realismo en la teoría dei derecho, 1 980. - K. Lee, The Legal-Rational State: A Comparison of Hobbes, Bentham and Kelsen, 1 990. e
KEPLER, JOHANNE S ( 1 5 7 1 - 1 630) . Nascido em Weil, Württemberg, foi ajudante de Tyho (Tyge) Brahe (VER) no observatório deste último nas proximidades de Pra ga. Em 1 60 1 sucedeu Tyho Brahe como "matemático imperial", no reinado do imperador Rodolfo II. Devem se a ele estudos sobre a refração e outros trabalhos de ótica; estudos matemáticos relativos à continuidade em geometria - que logo foram batizados como "infinite simais" -; bem como o chamado telescópio "keple riano". Sua principal contribuição científica foram as três leis planetárias hoje conhecidas como "leis keple rianas" ou "leis de Kepler". Elas descrevem os movi mentos dos planetas ao redor do Sol e são as seguintes:
KEPLER, JOHANNES 1 ) A órbita de um planeta é uma elipse, com o Sol situado num dos focos da elipse; 2 ) o raio vetor do pla neta cobre espaços iguais em tempos iguais; 3 ) a propor ção dos quadrados dos períodos orbitais de quaisquer dois planetas equivale à proporção dos cubos das distân cias médias dos planetas com relação ao Sol. A impor tância destas leis deve-se ao fato de que, além de possuí rem a forma acabada de leis científicas característica da ciência moderna - especificamente da tisica e da astronomia --, rompem com o esquema da circularida de do movimento (e, portanto, com a idéia de que um movimemto tem de ser circular para ser "perfeito" ou tem de ser "perfeito" e, por conseguinte, circular). As leis keplerianas também são importantes porque formu lam matematicamente e de acordo com uma causação "eficiente" estrita o comportamento (movimento) dos corpos. Isso não significa que o sistema de Kepler fosse isento de considerações "metafisicas", mas estas nem sempre foram contrárias ao desenvolvimento científico, tendo-o, ao invés, impulsionado. O próprio Kepler va cilou na idéia de força, que passou de "anímica" a "tisi ca"; a força explicativa do movimento dos corpos era uma "força" (vis) motriz, mecanicamente descritível, a ponto de o modelo do relógio tão usado na época mo derna como "esquema" do modelo astronômico mecâ nico ser de origem kepleriana. Trata-se de um relógio "sem alma", o que não diminui a glória de Deus, mas a confirma, visto que, se o próprio "relógio" tivesse alma, não seria necessário um Supremo Autor. Ao que parece, Kepler foi o primeiro - ao menos o primeiro astrônomo -- a defender o sistema coperni cano (veja-se COPÉRNICO [NICOLAU] e REVOLUÇÃO CoPER NICANA), podendo-se falar tanto de uma revolução coper nicana como de uma revolução kepleriana. A rigor, o sis tema não-circular de Kepler, associado ao copernicanis mo, foi o principal ponto de ruptura do sistema ptole maico tradicional. Newton incorporou as leis de Kepler a seu sistema; a rigor, essas leis são aceitáveis na teoria newtoniana da atração, nos termos da qual a atração que o Sol exerce sobre um planeta é inversamente propor cional ao quadrado da distância do planeta com relação ao Sol. As modificações que Newton introduziu, espe cialmente no tocante à terceira lei de Kepler, deixam na substancialmente incólume. � A obra capital de K. é Mysterium Cosmographicum, 1 596. Também são dele Astronomia Nova, 1 609 e Har monice mundi, 1 6 1 9. Edições de obras: Johannis KepleriAstronomi Ope ra Omnia, 8 vols., 1 858- 1 87 1 ; reimp., 1 970, ed. C. Frisch. - Gesamelte Werke, a partir de 1 938, ed. W. van Dyck, Max Caspar, Franz Hammer. Bibliografia: M. Caspar, Bibliographia kepleriana, 1 936.
KERLER, DIETRICH HEINRICH Sobre K. ver: H. Zaiser, K. ais Philosoph, 1 932. F. Kubach, 1 K. ais Mathematiker, 1 936. - M. Caspar, Kopernikus und K., 1 943. - M. Caspar, K. , 1 948; 2ª ed., 1 950. - C. Baumgardt, 1 K. Life and Letters, 1 95 1 . - Arthur Koestler, The Sleepwalkers, 1 959. - Fritz Kraft, Karl Meyer e Bernhard Stikner (eds.), lnterna tiona/es Kepler-Symposium (de 1 97 1 ), vol. ! , 1 973. A. Armitage, John Kepler, 1 966. - D. C. Lindberg, Theories ofVisionfrom Al-Kindi to Kepler, 1 976. - G. Simon, Kepler, AstronomeAstro/ague, 1 979. - J. V. Field, Kepler 's Geometrical Cosmology, 1 988. - F. Hallyn, The Poetic Structure of the World: Copernicus and Ke pler, 1 990. e
KERLER, DIETRICH HEINRICH. Ver IMPESSOAL, IMPERSONALISMO. KERSCHENSTEINER, GEORG [MICHAEL) ( 1 8541 932). Nascido em Munique, lecionou em Nuremberg e Munique; em 1 895 foi nomeado conselheiro pedagó gico desta última cidade. Suas experiências e reflexões pedagógicas, reforçadas pelas idéias de Natorp, Spran ger e Dewey, assim como pela tradição de Pestalozzi, levaram Kerschensteiner a defender e a introduzir refor mas no ensino primário, que depois foram incorpora das pela maioria dos sistemas e instituições de ensino do século XX, a ponto de agora parecerem meramente "tópicas" - tendo elas sido, além disso, modificadas e superadas por outros autores e correntes. Contudo, em sua época elas representaram um progresso muito consi derável em relação às idéias pedagógicas dominantes, especialmente no tocante às que tinham sofrido uma in fluência mais ou menos direta do intelectualismo da pedagogia de Herbart e dos herbartianos. Kerschenstei ner defendeu, opondo-se a estes últimos, a idéia, que posteriormente se disseminou amplamente, da "escola ativa", que incorpora o trabalho, tanto manual como não manual, ao processo educativo. Em vez de um sistema rígido de disciplinas, Kerschensteiner lutou por uma pedagogia fundada nos interesses, práticos em particu lar, dos educandos. A educação não era para ele mero processo de aprendizagem e disciplina, em princípio separado da atividade posterior do educando, quando se supõe que este põe em prática os ensinamentos rece bidos. Não há diferença essencial entre a educação e a atividade humana total na sociedade; na realidade, edu cação é o mesmo que formação (ambas expressas em alemão pela mesma palavra, Bildung). Não há contraste entre educação individual e educação social, havendo pelo contrário, ou devendo haver, entre elas uma com pleta integração. Contrariando o que supunham seus críticos, Kerschensteiner não defendia uma educação puramente "espontânea", isto é, sem nenhuma direção; a seu ver, a educação devia estar perfeitamente articu-
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!ada, mas isso só podia ser conseguido se se formasse uma comunidade de trabalho na qual cada educando adquirisse, não externa mas internamente, os bens cul turais, e ao mesmo tempo em que contribuísse para de senvolvê-los e aperfeiçoá-los. Kerschensteiner insistia na necessidade de integrar o processo educativo no Esta do, mas somente porque concebia este último como a forma que assume a sociedade ativa, voltada para a reali zação de bens morais e dotada de consciência cívica; consciência de "cidadão'', não de "súdito". :> Principais obras: Betrachtungen zur Theorie der Bil dung, 1 899 (Considerações sobre a teoria da educação). - Die staatsbürgerliche Erziehung der deutschen Ju gend, 1 90 1 (A educação cívica da juventude alemã). Der BegriffderArbeitsschu/e, 1 9 1 2; 8ª ed., 1 930 (O con ceito da escola de trabalho). - Charakterbegriff und Charaktererziehung, 1 9 1 2; 4ª ed., 1 929 (Conceito de ca ráter e educação do caráter). - �sen und Wert des na turwissenschaft/ichen Unterrichts, 1 9 1 3; 3ª ed., 1 927 (Na tureza e valor da instrução nas ciências naturais). Das Grunda.xiom des Bildungsprozesses und seine Fol gerungen far die Schulorganisation, 1 9 1 7; 3ª ed. , 1 924 (O axioma fundamental do processo educativo e suas conseqüências para a organização escolar). - Die Seele des Erziehers, 1 92 1 ; 3ª ed., 1 930 (A alma do educador). - Autoritiit und Freiheit ais Bildungsgrundsiitze, 1 924; 4ª ed., 1 927 (Autoridade e liberdade como princípios educativos). - Theorie der Bildung, 1 926; 2ª ed., 1 928 (Teoria da educação). - Theorie der Bildungsorganisa tion, 1 932 (Teoria da organização educativa). Entre as numerosas obras sobre K., destacamos: R. Prantl, K. ais Piidagog, 1 9 1 7. - A. Ferriere, L'école aclive, 1 922. - H. Kirschbaum, Die Entwicklung der theoretischen Voraussetzungen von Kerstensteiners Piidagogik, 1 927. - E. Huguenin, Éducation et culture d 'apres K. , 1 93 3 . - G. Caspari, Educazione e /avoro in K. , 1 940. - G. Wehle, Pra.xis und Theorie im Lebens werk G. Kerschensteiners, 1 956. - Th. Wilhelm, Die Padagogik Kerschensteiners, 1 957. - M. Laeng, K. , 1 959. - D. Simons, G. K. , 1 966. - L. Lumbelli, K. e il rinovamento pedagogico tedesco, 1 967. e
KEYNES, JOHN MAYNARD ( 1 883- 1 946). Nascido em Cambridge, estudou no King's College da Universidade de Cambridge e foi mais tarde nomeado Fellow. Keynes exerceu vários cargos no serviço público e foi represen tante do Tesouro e delegado de seu país na Conferência de Paris, depois da Primeira Guerra Mundial, mas re nunciou por discordar do sistema de reparações propos to para a Alemanha. Suas reflexões sobre esse problema originaram sua famosa obra sobre as conseqüências econômicas da paz ( The Economic Consequences of Peace, 1 9 1 9). A importância desta obra só pode ser comparada com a que ele dedicou, vários anos depois,
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à teoria geral do emprego, do juro e da moeda (The Ge neral Theory ofEmployment, Interest, and Money, 1 936), obra que teve grande influência sobre economistas e políticos e mereceu lugar de destaque nas duas déca das posteriores ao fim da Segunda Guerra Mundial. · Contra a tendência dos "conservadores" de poupança a todo custo e equilíbrio orçamentário, Keynes assentou os fundamentos econômicos para uma política de ex pansão econômica, com insistência no aumento - e na generalização - do poder aquisitivo e do nível de vida, no aumento da produção e no pleno emprego. Embora se tenham desenvolvido bastante antes da publicação, em 1 936, de sua "Teoria Geral", as idéias econômicas de Keynes foram precedidas em grande parte, e indepedentemente dele, pelo economista polo nês Michal Kalecki, a quem Joan Robinson, professora de economia na Universade de Cambridge, na Ingla terra, chamou de "o profeta esquecido". Joan Robinson aduz a esse propósito a frase de Lawrence Klein em The Keynesian Revolution ( 1 94 7), segundo a qual "o siste ma de análise de Kalecki era tão completo quanto o de Keynes, e em alguns pontos superior a ele". Interessa aqui a contribuição de Keynes ao problema da probabilidade (VER) , exposta em seu tratado intitu lado A Treatise on Probability ( 1 92 1 ; nova ed., 1 962, com introdução de N. R. Hanson). O autor reconhece no livro ter sofrido a influência de G. E. Moore, B. Russel e, de maneira geral, do espírito de Cambridge, ligado à tradição empirista britânica. Segundo Keynes, a pro babilidade refere-se ao grau de crença que é possível ter racionalmente em certas condições; a probabilidade é definida como uma relação entre duas séries de pro posições por meio da qual, conhecida a primeira série, atribuímos à segunda certo grau de crença racional. Não se pode dizer, pois, que uma proposição é provável, a menos que se entenda isso como um modo abreviado de enunciar o citado aspecto relacional. O que se quali fica de certeza aparece assim como o máximo de pro babilidade. Keynes criticou o princípio de indiferença (VER) ou "razão insuficiente" (VER) , mas indicou que esse princípio pode ser admitido se o tomamos mais preciso que o que aparece nas formulações habituais. Isso significa que, para Keynes, nem todas as probabili dades são numéricas. Keynes também criticou a teoria fre qüencial da probabilidade, ou teoria segundo a qual a probabilidade se define pela freqüência estatística, mas indicou ao mesmo tempo que essa concepção contém importantes elementos de verdade que a tomam plau sível, uma vez purificada de seus erros e impreci sões. A teoria finalmente proposta por Keynes é aque la que qualifica de "teoria construtiva", destinada a es tabelecer as regras por meio das quais podem-se com parar as probabilidades de diferentes argumentos, e tam bém mediante as quais podem ser sistematizados os
KEYSERLING, HERMANN ALEXANDER, GRAF VON processos de inferência provável (ou, no limite, inferên cia certa), isto é, certas relações lógicas entre as premis sas e as conclusões. :l Edição de obras: The Collected Writings of J M. Keynes, 29 vols., ed. E. Johnson e D. Moggridge. Outras obras do autor: Indian Currency and Finance, 1 9 1 3 . - A Revision of the Treaty, 1 922 (refere-se ao tratado de Versalhes). - A Tract on Monetary Reform, 1 923. - A Short View of Russia, 1 925. - The End of Laissez-Faire, 1 926. - A Treatise on Money, 1 930. A maioria das obras sobre Keynes versa sobre suas teorias econômicas. A teoria ou teorias da probabilida de de Keynes são expostas e discutidas sobretudo num certo número de obras contemporâneas sobre Probabi lidade ( VER) e Indução ( vER ) . Em português: Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, 1 992. - Inflação e deflação, Os Economis tas, 1 985. - Ensaios econômicos, Os Economistas, 1 996. - John Maynard Keynes: Economia, 1 984. Biografia de K.: R. F. Harrod, J M. K., 1 95 1 (trad. esp., 1 958). Ver: J. Eaton, Marx Against Keynes: A Reply to Mr. Morrison s "Socialism , 1 95 1 . - P. K. Crosser, Eco nomic Fictions: A Critique of Subjectivistic Economic Theory, 1 957. - J. K. Mehta, A Philosophical Interpre tation ofEconomics, 1 962. - F. A. Von Hayek, Studies in Philosophy, Politics and Economics, 1 967. R. Weatherford, Philosophical Foundation of Probability Theory, 1 982. - L.-A. Rojo, Keynes. Su tiempo y el nuestro, 1 984 . - S. W, Helburn, D. Bramhall, eds., Marx, Schumpeter, and Keynes: A Centenary Celebration of Dissent, 1 987. - S. Roy, Philosophy ofEconomics: On the Scope ofReason in Economic Inquiry, 1 989. C ''
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KEYSERLING, HERMANN ALEXANDER, GRAF VON ( 1 880- 1 946). Nascido em Kono (Kaunas; em russo: Kovno ), Lituânia. Depois de estudos ciências naturais em Genebra, Heidelberg e Viena, estudou filosofia em Berlim. Em 1 920, fundou em Darmstadt uma Escola de Sabedoria (Schule der Weisheit) cujos ideais foram defendidos nas duas primeiras publicações periódicas mencionadas na bibbliografia deste verbete. Keyserling passou grande parte da vida viajando e fazendo confe rências; desse modo conheceu não apenas toda a Europa e a América do Norte e do Sul mas também muitos paí ses do Oriente. De quase todos os países por onde via jou apresentou descrições e interpretações de suas cul turas; de alguns países - da Europa de modo geral, dos Estados Unidos, da América do Sul - tratou deta lhadamente em livros especiais a eles dedicados. Por algum tempo a figura de Keyserling foi tão célebre quanto sua obra - ou talvez mais que ela -, podendo esta última ser considerada em grande parte manifesta ção de sua personalidade.
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Keyserling opôs-se ao atomismo mecanicista e, de modo geral, ao intelectualismo, em nome de uma espé cie de "primado da vida e da criação", na qual podem se identificar influências de Bergson, Simmel, Dilthey e outros autores "vitalistas''. A "vida" de que fala Key serling não é, contudo, ou não é exclusivamente, a vida biológica, nem tampouco uma hipóstase metafisica: é uma sínteses de momentos opostos que se encarnam na existência pessoal do homem. Leis reais e ideais encon tram unidade na vida humana, que não é um objeto, mas um impulso criador. Esse impulso criador dá lugar a um "conhecimento criador" que se manifesta com par ticular vigor na obra de arte, podendo contudo - e, segundo Keyserling, devendo - manifestar-se também no pensamento científico e, naturalmente, no filosófico. Ora, o homem não é uma entidade abstrata, mas uma realidade que se manifesta de formas muito diversas através de suas inúmeras criações culturais por toda a superficie do planeta e no curso da história. Conhecer o homem criadoramente e conhecer-lhe a experiência cósmica requer por conseguinte a penetração nessas criações culturais e sua interpretação. O verdadeiro co nhecedor do homem é aquele que entra em contato di reto com aquilo que o homem vive e aquele que procuc ra entender da maneira mais direta possível o que o ho mem viveu em sua história. Uma das noções capitais do pensamento de Keyser ling, senão sua noção capital, é a de "sentido" (Sinn). O interesse de Keyserling por diversas culturas orientais é conseqüência da maneira como ele entendeu essa noção. Ao mesmo tempo, seu contato com essas culturas o ajudou a esclarecer e a aprofundar a noção de sentido. Pode-se falar, por conseguinte, de um "orientalismo" em Keyserling, sempre entendido como esforço de "rea bilitar" a percepção do "sentido", que em muitos povos orientais ainda está vivo e que parece em vias de desa parecer no Ocidente por causa daquilo que Keyserling considerava a progressiva e perigosa mecanização e intelectualização do homem ocidental. A atual civili zação - especialmente a ocidental ou sob influência desta - é, segundo Keyserling, resultado de certo nú mero de tendências que, ao elevar acima de todos o ideal da ciência (ou, melhor dizendo, de certa inter pretação da ciência), descuidou do sentido e o ignorou. Mas o sentido só pode ser descoberto por meio de uma intuição peculiar, uma hermenêutica dos símbolos e . dos mitos. A inteligência, que pretende abarcar a realidade, é para Keyserling, tal como para Bergson, o instru mento que permite apenas medi-la. O sentido, que não é tanto definido quanto intuído e, sobretudo, interpreta do, é em contrapartida o que o oriental trouxe de eterno à cultura humana. Uma interpenetração do espírito oci dental com o oriental seria assim a única coisa capaz de
proporcionar ao homem a descoberta de sua verdadeira personalidade, das forças telúricas que atuam no fundo íntimo e radical da pessoa. Por isso, Keyserling preco niza um conhecimento que, em vez de subordinar-se unilateralmente à medida, se oriente primordialmente para o sentido. Por essa mesma razão ele preconiza ainda uma hermenêutica das expressões que tampouco seja uma hermenêutica fechada, visto que o característico do sentido está no fato de ele não ser nem simples fato nem mera hipóstase ou uma realidade cujo ser seja "o ser em si mesma". O sentido é, a rigor, um mundo essencialmente aberto, que consiste fundamentalmen te em sua abertura constante, num processo criador e expressivo - interminável. Daí que o sentido, sendo a realidade, não seja unicamente a realidade que "há'', mas antes a realidade que pode haver; o sentido é no fundo o verdadeiro princípio, o fundamento de todo ser e de todo devir. � Obras: Das Gefüge der Welt. Versuch einer kritis chen Philosophie, 1 906 (A Textura do Mundo. Busca de umafilosofia crítica). - Unsterblichkeit. Eine Kritik der Beziehungen zwischen Naturgeschehen und mens chlicher Vorstellungswelt, 1 907 (Imortalidade. Crítica das relações entre o acontecer natural e o mundo das representações humanas). - Prolegomena zur Natur philosophie, 1 9 1 0. - "Das Wesen der lntuition und ihre Rolle in der Philosophie", Logos, 3 ( 1 9 1 2), 59-79. - Das Reisetagebuch eines Philosophen, 1 9 1 9 (Diário de viagem de um filósofo). - Philosophie ais Kunst, 1 920 (A filosofia como arte). - SchOpferische Erken ntnis, 1 922 (O conhecimento criador) . - Politik, Wirts chaft, Weisheit, 1 922 (Política, economia, sabedoria). - Menschen ais Sinnbilder, 1 926 (Homens como cria dores de sentido, 1 940). - Die neuentstehende Welt, 1 926 (Mundo nascente, 1 934). - Wiedergeburt, 1 927 (Renascimento). - Das Spektrum Europas, 1 928 (Es pectro da Europa). - Amerika. Der Aufgang einer neu en Welt, 1 93 0 (América, o surgimento de um novo mun do). - Sudamerikanische Meditationen, 1 932 (Medita ções sul-americanas). - La vie intime, 1 933 (A vida íntima). - La révolution mondiale et la responsabilité de l 'esprit, 1 934. - Sur l 'art de vie, 1 936. - Das Buch vom personlischen Leben, 1 93 6 (O livro da vida pessoal). - De la soujfrance à la plenitude, 1 938. Betrachtungen der Stille und Besinnlichkeit, 1 94 1 ( Con siderações surgidas na calma e na meditação). Gediichtnisbuch, 1 948 [inclui "Vom spirituellen Aufbau Europas", "Ueber die Schule der Weisheit" "Weite tut not", "Erneuerung aus dem Ursprung"] . - Reise durch die Zeit, 2 vols., 1 948- 1 950 ( Viagem no tempo). Kritik des Denkens. Dier Erkenntiniskritischen Grun dlagen der Sinnesphilosophie, ed. pelo Keyserling-Ar chiv, 1 948 (Crítica do pensamento. Os fundamentos
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epistemológicos da filosofia do sentido). - Philoso phische Wechselgespriiche: /. Ewiges Werden; II. Mys terien, 1 954 (Diálogos filosóficos: /. O eterno devir; II. Mistérios). Edição de obras completas: Die gesammelten Wer ke, 6 volumes, a cargo do Keyserling-Archiv (desde 1 958). - As publicações periódicas órgãos da Escola da Sabedoria são Der Weg zur Vollendung. Mitteilungen der Schule der Weisheit, Darmstadt, desde 1 920; Der Leuchter. Weltanschauung und Lebensgestaltung. Jahr buch der Schule des Weisheit, Darmstadt: l, 1 9 1 9; II, 1 920; III, 1 92 1 ; IV, 1 923; V, 1 924; VI, 1 925; VII, 1 926; VIII, 1 927. - Em 1 920, foi fundada uma "Sociedade Keyserling" (Keyserling-Gesellschaft für freie Philoso phie ); depois de interromper suas atividades durante muitos anos, a sociedade ressurgiu com o mesmo nome, em 1 948, em Wiesbaden. Depoimento de Keyserking sobre seu pensamento em Die Philosophie der Gewgenwart in Selbsdarstel lungen, IV, 1 923. Ver: P. Feldkeller, GrafKeyserlings Erkenntnisweg zum Uebersinnlichen. Die erkenntnisgrundlagen des Reisetagebuchs eines Philosophen, 1 922. - W. Volrath, GrafKeyserling und seine Schule, 1 923. - H. Adolph, Die Philosophie des Grafen Keyserling, 1 927. - Mau rice Boucher, La philosophie de H. von Keyserling, 1 927. - M. G. Parks, Introduction to K. , 1 934. Vicente N. Ortiz, Keyserling y la escuela de la Sabidu ría, 1 948. - U. Gahlings, Sinn und Ursprung, 1 992. - J. Thiele, "Zur Kritik des Empiriomonismus: Briefe von Wilhem Schuppe, Graf Hermann Keyserling und andere an Ernst Mach", Zeitschriftfar Philosophische Forschung, 24 ( 1 970), 4 1 2-427 . Obras: Dissertatio metaphysica de aeternitate mun di impossibili, 1 73 3 . - Commentatio philosophica de commercio mentis et corporis per injluxum physicum explicando, 1 73 5 ; 2ª ed. , 1 745. - "Theoremata nova
KOFFKA, KURT de parabola infinitis", Acta Eruditorum ( 1 737). - Phi losophischer Beweis von der Wahrheit der christlichen Religion, 1 740 [antes publicado nas Konigsberger Intel ligenzbliitter, 1 73 9- 1 740] (Provafilosófica da verdade da religião cristã). - Commentatio philosophica de hu manae mentis individua natura sive immaterialitate, 1 74 1 (trad. alemã, 1 745). - Arithmetica Mechanica, 1 744. - Vernün.fiige Gedanken von der Kometen, 1 744. - Systema causarum efjicientium, 1 745. - E/ementa philosophiae rationalis seu logicae cum generalis tum specialioris mathematica methodo in usum auditorum suorum demonstrata, 1 747 (reed., 1 972?). Ver: B. Erdmann, M. K. und seine Zeit, 1 876. - M. van Biéma, M. K.. La critique de l 'armonie préetablie, 1 908. e:
KOFFKA, KURT ( 1 886- 1 94 1 ) . Nascido em Berlim, foi Privatdozent ( 1 9 1 1 - 1 9 1 8) e professor titular ( 1 9 1 8- 1 927) da Universidade de Giessen, professor da Comell Univer sity, de Ithaca, Nova York, Estados Unidos ( 1 924- 1 925), da Universidade de Wisconsin ( 1 936- 1 937) e do Smith College, de Northampton, Massachusetts, Estados Uni dos ( 1 927- 1 94 1 ). Koffka foi um dos autores que desen volveram a teoria da forma ou da estrutura; nós nos refe rimos mais detalhadamente a esta teoria e às contribui ções do autor no verbete Estrutura ( VER). Foi especial mente importante sua contribuição ao estudo das percep ções e da evolução psíquica no gestaltismo psicológico. :> Principais obras: "Experimental Untersuchungen zur Lehre vo� Rhytmus", Zeitschrift for Psychologie ( 1 909), 1 - 1 09 (tese) (Investigações experimentais para a teoria do ritmo). - Zur Analyse der Vorstellungen und ihrer Gesetze, 1 9 1 2 (Para a análise das representa ções e de suas leis). - Die Grundlagen derpsychischen Entwicklung, 1 92 1 ; 2ª ed., 1 925 (Bases da evolução psí quica). - Principies of Gestalt Psychology, 1 93 5 . Outros trabalhos importantes para o conhecimento das idéias de Koffka: "Psychologie", em Lehrbuch der Phi losophie, ed. M. Dessoir, II, 1 925, pp. 497-603 . "Psychologie der optischen Wahrnehmungen", em Handbuch der normalen und pathologischen Physio logie, 1 0 ( 1 93 1 ), 1 1 66- 1 2 14, 1 2 1 5- 1 27 1 . - "Problems of the Psychology of Art", em A Bryn Mawr Sympo sium, 1 940, pp. 1 79-273 [Bryn Mawr College, Notes and Monographies, 9]. Ver: B. Peterman, Die Wertheimer-Koffka-Kohler sche Gestalttheorie, 1 929. - S. H. MacColl, A Compa rative Study of the Systems of Lewin and Kojfka, 1 939 [Contributions to Psychological Theory, II, 1 ] . - M. Garnett, "Gestalt Psychology". Philosophy, 18 ( 1 943), 3 7-49. - J. J. Gibson, The Perception of the Visual World, 1 950. - H. Osbome, "Artistic Unity and Ges talt", Philosophical Quarterly, 14 ( 1 964), 2 1 4-228. V. Li Carrillo, "La 'Gestaltpsychologie' y el concepto
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KÕHLER, WOLFGANG de estructura", Revista Venezolana de Filosofia, 8 ( 1 978), 7-8 1 . - T. Natsoulas, '" Why Do Things Look as They Do?' Some Gibsonian Answers to Koffka's Question", Phil. Psych. ( 1 99 1 ), 1 83-202. e
KÕHLER, WOLFGANG ( 1 887- 1 967). Nascido em Re vai (Estônia), foi professor na Universidade de Berlim ( 1 922- 1 936) e no Swarthmore College, Swarthmore, Pensilvânia, Estados Unidos (a partir de 1 937), e foi um dos autores que desenvolveram a teoria da forma ou da estrutura; nós nos referimos mais detalhadamente a essa teoria e às contribuições do autor no verbete Es trutura (VER). Foram especialmente importantes as con tribuições de Kõhler à psicologia animal, sobretudo suas pesquisas sobre a inteligências dos chimpanzés, desen volvidas na estação biológica de Tenerife (Ilhas Caná rias). No curso dessas investigações, Kõhler mostrou até onde pode chegar a inteligência prática dos antropóides. Também é importante o estudo realizado por Kõhler sobre as formas fisicas do ponto de vista gestaltista, mas é preciso observar que não se trata (ao contrário do que às vezes se supôs) de uma "psicologização da fisica". Em seus últimos anos, Kõhler se ocupou bastante de es tudos neurofisiológicos, particularmente encefalográfi cos (ritmo "alfa'', bases fisicas da percepção etc.). :> Principais obras: Intelligenzprüfungen anAnthropoi� den, l, 1 9 1 7; 2ª ed. com o título Intelligenzprüfungen an Menschennajfen, 1 92 1 ; reimp., 1 963 (As provas de inte ligência dos antropóides). - Die physischen Gestalten in Ruhe und im stationiiren Zustand, 1 920 (As formas fisicas em repouso e em estado estacionário). - Psycho logische Probleme, 1 933 (Problemas psicológicos). The Place ofValue in a World ofFacts, 1 938. - Gestalt Psychology, 1 938; ed. rev., 1 947. Obra póstuma: The Se lected Papers of W K. , 1 97 1 , ed. Mary Henle. Ver: 8. Petermann, Die Wertheimer-Kojjka-Kohlers che Gestalttheorie, 1 929. - J. van der Veldt, "The Evo lution and Classification of Philosophical Life Theories, part ll". Franciscan, 3 ( 1 943), 277-305. - E. H. Madden, "A Logical Analysis of 'Psychological Isomorfism"', British Journalfor the Philosophy ofSciences, 8 ( 1 957), 1 n- 1 9 1 . e KOJEVE,ALEXANDRE ( 1 902- 1 968). Nascido na Rús sia (seu nome original era Kojevnikoff), emigrou para a França, desempenhando ali vários cargos na Adminis tração do Estado. De 1 933 a 1 939, comentou a Fenome nologia do Espírito, de Hegel, na École Pratique de Hautes Études de Paris, diante de uma platéia na qual figuravam Merleau-Ponty, Jacques Lacan, Georges Ba taille, Raymond Aron, Raymond Queneau e outros, en tre os quais também se menciona Sartre. Essas aulas de Kojeve tiveram grande influência no interesse que He gel, ou ao menos o Hegel da Fenomenologia do Espíri-
to, despertou na França durante os anos citados e em es pecial - se se levarem em conta os efeitos - imedia tamente depois da Segunda Guerra Mundial. As expli cações e interpretações de Kojeve contribuíram para dissolver o racionalismo neokantiano, que foi durante décadas, ao lado do individualismo burguês, a filosofia predominante entre os professores da Sorbonne. Contri buíram também para o conhecimento de Marx e para a renovação do marxismo. Os fortes elementos hegelia nos presentes no existencialismo, especialmente em Sar tre, por certo não são alheios ao trabalho interpretativo de Kojeve (nem aos trabalhos de Jean Hyppolite [vER]). Com Kojeve também se relaciona a eventual formação do existencialismo marxista. É preciso ainda levar em conta que Kojeve, assim como Hyppolite, recebeu in fluências tanto de Marx como de Heidegger. O pensamento de Kojeve, com destaque para o que está expresso em sua "busca de uma história ponderada da filosofia pagã", não é porém uma simples mistura de Hegel, Marx e Heidegger. Estes são integrados numa maneira de pensar que enfrenta a situação atual e procu ra "racionalizá-la". Não é uma "explicação", mas, ao invés, uma mediação da razão em sentido hegeliano o que Kojeve tem em mente. A história manifesta ( diale ticamente) o espírito e este é recuperado pela razão na sabedoria como saber do que é a um só tempo racional, concreto e real. :> Obras: Introduction à la lecture de Hegel, 1 947, ed. R. Queneau. - Essai d' une histoire raisonée de la philosophie paienne. /: Les Présocratiques, 1 968, ed. R. Queneau. Kant, 1 973. - "Les peintures concretes de Kandisnky'', Revue Metaphysique et Mora/e, 90 ( 1 985), 1 49- 1 7 1 (póstumo). Ver: E. Clemens, 'Thistoire (comme) inacheve ment", Revue Metaphysique et Mora/e, 76 ( 1 97 1 ), 206225. - P. Riley, "Introduction to the Reading of Ale xandre Kojeve", Political Theory, 9 ( 1 98 1 ), 5-48. D. J. Goldford, "Kojeve's Reading of Hegel", Interna tional Philosophical Quarterly, 22 ( 1 982), 275-294. M. S. Roth, "A Note on Koj eve's Phenomenology of Right", Political Theory, 1 1 ( 1 983), 447-450. - Id., "A Problem ofRecognition: Alexandre Kojéve and the End of History", History and Theory, 24 ( 1 985), 294-300. - M. J. Inwood, "Hegel on Death", lnternational Jour nal of Moral and Sociological Studies, 1 ( 1 986), 1 091 22. - P. Van Hate, "Lacan and Kojeve", Tijdschrift voor Philosophie, 48 ( 1 986), 3 9 1 -4 1 5 . - P. Redding, "Hermeneutic or Methaphysical Hegelianism? Kojeve's Dilemma", Ow/ Minerva ( 1 99 1 ), 1 75- 1 90. - M. S. Roth, "The Ironist Cage", Political Theory ( 1 99 1 ) , 4 1 9432. - A. Kojeve, G. Fessard, "Kojeve-Fessard Do cuments", /nterpretation, 1 9(2) ( 1 99 1 - 1 992), 1 85-200. T. Rockmore, "Aspects ofFrench Hegelianism", Ow/ Minerva, 24(2) ( 1 993), 1 9 1 .206. e -
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KOLAKOWSKI, LESZEK ( 1 927). Nascido em Radom (Polônia) e estudou em Lodz. Foi ( 1 964) professor au xiliar de Tadeusz Kotarbi IÍ. ski (VER) na Universidade de Varsóvia. Kolakowski logo depois se exilou, tendo sido professor visitante na Universidade McGill, de Mon treal ( 1 969) e de várias outras universidades canadenses, norte-americanas e inglesas. É por vezes considerado filiado aos marxistas revisionistas poloneses e, outras vezes, representante de um marxismo "analítico". Na verdade, figuram em seu pensamento fios muito diver sos: marxismo, kantismo, existencialismo (especialmente de Sartre), elementos de filosofia analítica da tradição polonesa etc. O ponto de partida da reflexão filosófica de Kolakowski foi a situação do marxismo na Polônia nos anos 1 950. Kolakowski estabeleceu uma distinção entre o marxismo "institucional" e o marxismo "real". O primeiro é uma racionalização dos imperativos do poder político e leva à eliminação da autonomia da ação moral humana. O segundo se aprofunda na natureza social do homem e torna possível um humanismo que não é mero individualismo egoísta. Kolakowski se opôs sobretudo à concepção da história como uma marcha inteiramente predeterminada rumo a um fim que não deixa ao indivíduo liberdade de escolha: essa concepção é, segundo ele, desumana e imoral e, ao mesmo tempo, falsa. A posição de Kolakowski nem sempre é clara dentro dos debates marxistas de sua geração na Polônia. Por um lado, ele admite o determinismo contra um vo luntarismo excessivo; por outro, julga que o destino individual não é condicionado por nenhuma lei históri ca. Do mesmo modo, mantém de um lado uma separa ção entre o ser e o dever ser, visto que sem ela não há moralidade possível; do outro, avalia que a moral é he terônoma. Kolakowski abriu caminho entre concepções diferentes e em mútuo conflito; embora simpatizante do humanismo marxista, negava-se a admitir toda e qual quer espécie de irracionalismo e, embora fosse simpa tizante de certas formas de marxismo analítico e "po sitivista" - que na Polônia desembocava numa liber tação, oposta à ortodoxia do materialismo dialético oficial -, considerava que este último tipo de marxis mo descambava freqüentemente numa ideologia bur guesa. De modo geral, Kolakowski tendeu durante al gum tempo a um marxismo crítico e, num sentido am plo do termo, "analítico". Isso o levou ao estudo dos fundamentos morais do liberalismo moderno, tal como formulado por Locke, e à tentativa de desligar esse liberalismo de sua tradicio nal associação histórica com determinada classe social. No âmbito desse "liberalismo filosófico", de caráter humanista, ressurgiram as primeiras preocupações de Kolakowski: as preocupações morais. A possibilidade de fundar uma moral que seja ao mesmo tempo autô-
KOLAKOWSKI, LESZEK noma - que não dependa de nenhuma coação externa - e historicamente eficaz, isto é, a possibilidade de lançar uma ponte entre imperativos morais e as necessi dades da ação política e social, parecem ser as principais preocupações de Kolakowski em seus últimos trabalhos. De acordo com Kolakowski, o comunismo, tal co mo proposto por Marx, ou desenvolvido por muitos mar xistas (ditadura do proletariado), não leva a uma socie dade sem classes em que a vida política está integrada à sociedade civil. Dessa perspectiva, os anarquistas têm razão. Por outro lado, muitos anarquistas cometem o mes mo erro que foi a causa do fracasso do socialismo na União Soviética: o fato de não levar em conta a agressi vidade da natureza humana. � Devem-se a K. numerosos artigos e livros, muitos deles formados por ensaios diversos. Uma parte impor tante da produção de K. é de caráter histórico (melhor dizendo, são análises histórico-filosóficas). Entre os livros, mencionamos: Szkice ofilozofii katolickiei, 1 955 (Esboços de filosofia católica). - Wykladi o filozofii fredniowiecznej; 1 95 6 (Ensaios sobrefilosofia medie val). - Swiatopoglad i iycie codzienne, 1 957 ( Concep ção de mundo e vida cotidiana). - Jednostka i nies konczonosc: Wolfnosé i antynomie wolnosci wfilosofii Spinozy, 1 95 8 (O indivíduo e o infinito. Liberdade e a antinomia da liberdade na filosofia de Spinoza). Notatki o wspotczesnej kontrerreformacji, 1 962 (Notas sobre a contra-reforma contemporânea). - 13 bajek z królestwa Lailo.nii dia duzych i malych, 1 963 (13 Fábu las do Reino da Lalônia para adultos e crianças). Filozofski esejii, 1 964 (Ensaios filosóficos). - Klucz niebieski alba opowiesci budujçice z historii swietej ze brane ku pouczeniu l przestrodze, 1 964; 2ª ed., 1 965. - Rozmowy z diablem, 1 965 (Conversas com o diabo). - Swiadomosc religijna i wiez koscil na. Studia nad chrzescijarístwem bezwyznaniowym siedmnastego wieku, 1 965 (A consciência religiosa e os vínculos da igreja. Estudos sobre a cristandade não-denominacional do século XVII). - Filozofia pozytywistyczna. Od Hume 'a do Koia 'Wiedesrískiegom 1 966 (Filosofia positivista, De Hume ao Círculo de Viena). - Kultura ifetysze. Zbior rozpraw, 1 967 (Cultura efetiches. Coletânea de ensaios). - Glovne Nurtz, Marxismus, 3 vols., 1 977- 1 978 (Prin cipais correntes do marxismo). A partir desse momen to, Kolakowski foi acentuando seu distanciamento em relação ao marxismo. K. compilou várias antologias com extensas introdu ções: Z dziejów polskeiej myslifilozoficzne i spoiecznej, 1 956 (Da história do pensamento filosófico e social polonês). - Filozofia XVII wieku. Francia, Holandia, Niemcy, 1 959 (Filosofia do século XVII. França, Holan da, Alemanha). - Filozofia egzystencjalna, 1 965 (Filo sofia existencial) (em colaboração com Krzystof Po-
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KOPPERSCHMIDT, FRITZ mian). Contribuiu também com artigos sobre numero sos filósofos em Stownikfilozofów, 1 966, ed. L. Króns ka, 1 966 (Dicionário de filósofos). Há trads. das obras de K. em vários idiomas; geral mente são coletâneas de ensaios procedentes de diver sos livros. Uma das mais conhecidas coletâneas foi a que apareceu em alemão: Der Mensch ohne Alternati ve. Von der Moglichkeit und Unmoglichkeit Marxist zu sein, 1 960; 2ª ed., 1 964; 3ª ed. aum., 1 967 (O homem sem alternativa. Da possibilidade e da impossibilidade de ser marxista). Menciona-se freqüentemente a trad. ingle sa de uma das obras cit. supra: The Alienation ofReason: A History ofPositivist Thought, 1 969. Também em in glês: Toward a Marxist Humanism: Essays on the Left Today, 1 968; Marxism and Beyond: On Historical Un derstanding and Individual Responsibility, 1 969 (trad. de Der Mensch . . cotej ada com textos poloneses); Husserl and the Search for Certitude, 1 975 [Cassirer Lectures] . - Com Stuart Hampshire: The Socialist Idea: A Reappraisal, 1 973. - Zweifel an der Methode, 1 977 (Dúvidas sobre o método). - Leben trotz Geschi chte, 1 977 ( Viver apesar da história). - Religion: lf There is No God. . . On God, the Devi!, Sin and Other Worries ofthe So-Called Phylosophy ofReligion, 1 982. - Bergson, 1 98 5 . - Narr und Priester, 1 987 (Bufo.o e sacerdote). - Metaphysical Horror, 1 988. Em português: Espírito revolucionário, 1 985. Horror metafisico, 1 990. - A presença do mito, 1 972. Bibliografias de livros e artigos por G. L. Kline. Até 1 964, ao final de seu artigo "K. and Revision of Marxism", European Philosophy Today, 1 965, ed. G. L. Kline, pp. 1 1 3 - 1 63 . Até 1 97 1 , em "Selective Biblio graphy", Tri-Quarterly, 22 (Fali, 1 97 1 ), pp. 239-250. Ver: J. Ladosz, "Der Marxismus und die philoso phische Anschauungen Kolakowskis", Deutzsche Zeits chriftfor Philosophie, 1 6 ( 1 968), 952-967. - H. Skoli mowski, "L. Kolakowski : A New Vision in Marxism" (em hebraico), Iyyun, 2 1 ( 1 970), 1 3 3 - 1 44. - !d. , "L. K., le phénoméne du marxisme polonais", Archiv for Philosophie, 34 ( 1 97 1 ), 265-279. - G. L. Kline, "Beyond Revisionism: L. K.'s Recent Philosophical De velopment", Tri-Quarterly, 22 ( 1 97 1 ), 1 3-47. - H. Mottu, "'Chretiens sans Église' de K.", Revue de Theo logie et de Philosophie ( 1 973), 308-3 3 1 . - R. M. Faris, Revisionist Marxism: The Opposition Within, 1 974. M. Markovic, "L. K. and so Called Alienation", Philo sophy and Social Criticism, 5 ( 1 978), 23 1 -242. O. K. Flechtheim, Von Marx bis K. , 1 978. - E. Swiderski, "Practice and the Social Factor in Cognition: Polish Mar xist Epistemology since K.", Studies in Soviet Thought, 2 1 ( 1 980), 3 4 1 -362. W. Mejbaum, A. Zukrowska, "L. K.'s Misinterpretation ofMarxism (!): Determinism and Organic Whole", Dialectics and Humanism, 7 .
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( 1 980), 1 07- 1 1 8 ; "(II): Facts and Theoretical Prospects", ibid. , 8 ( 1 98 1 ), 1 49- 1 60. - S. Rainko, "On L. K.'s Views on Religion", Dialectics and Humanism, 1 3 ( 1 986), 1 49- 1 55 . - M. Przelecki, "lfThere i s No God", Dialectics and Humanism, 1 3 ( 1 986), 1 43 - 1 47. - B. Piwowarczyc, Lire K. , 1 986. - C. Gómez, "K. y la religión: reflexiones sobre um texto de Dostoievski", Pensamiento, 46 ( 1 990), 201 -224. C: KOPPERSCHMIDT, FRITZ. Ver FRIES, JAKOB FR!EDRICH. KORN,ALEJANDRO ( 1 860- 1 936). Nascido em San Vi cente (Buenos Aires). Médico psiquiatra, dirigiu durante anos o Hospital de doentes mentais "Melchor Romero", ocupando ainda a cátedra de anatomia no Colegio Na cional de La Plata. De 1 906 a 1 930, data de sua aposen tadoria, foi professor de filosofia na Universidade de Buenos Aires. Sua atividade filosófica seguiu desde o início o caminho de uma superação do positivismo dog mático. Mas essa superação não significava para Kom uma reação de tipo romântico, e sim a assimilação da quilo que, no positivismo e de modo particular no que ele chamava de positivismo autóctone argentino, havia de justificado. Influenciado por Kant, relacionado com Dilthey, adversário da metafisica como pretensão de saber rigoroso, mas reconhecendo, senão sua possibili dade, sua ineludível necessidade, o trabalho pessoal de Kom consistiu em grande parte numa meditação e nu ma defesa da liberdade humana, entendida por ele como a união indissolúvel das liberdades econômica e ética. Kom começa pela afirmação de que nada pode ser con cebido fora da consciência e que o mundo externo não é uma realidade, mas um problema. Esse reconheci mento, no entanto, constitui sobretudo, não a premissa para um idealismo absoluto, mas um ponto de partida que exclui o realismo ingênuo. Este é próprio da ciência, que submete o mundo à quantidade e à medida e que ignora a outra parte da realidade total, o sujeito, tema da filosofia. A filosofia, no entanto, não se detém na distin ção entre a ordem subjetiva e a ordem objetiva; de um lado, ao debruçar-se sobre a consciência, vê nela não apenas uma atitude contemplativa mas também ativa; de outro, a distinção entre o mundo da ciência e o da consciência, entre a necessidade e a liberdade, suscita o problema de sua afirmação conjunta, que é "o problema filosófico por excelência". Tal afirmação não pode ser objeto de uma solução especulativa que negue um dos termos ou os concilie: tem de ser uma solução prática, a tomada de uma posição que revele ou o homem domi nado pelo instinto de rebanho ou o homem verdadeira mente livre. Ora, Kom inclina-se decididamente pela afirmação da liberdade humana integral, da personalida de como traço característico do sujeito e expressão au têntica de seu ser. Mas a liberdade não é simplesmente
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dada, e sim conquistada; a libertação d a necessidade, a realização da liberdade é a finalidade ética que tem por bem supremo a própria liberdade. A vida humana é, a rigor, a luta pela liberdade. A filosofia da liberdade de Korn não exclui, desse modo, a necessária objetividade e necessidade do mun do da ciência nem faz da experiência do ser livre o re sultado de uma pura intuição intelectual. Korn afirma a intuição como única fonte de conhecimento, mas refe re-se a uma intuição sempre acompanhada pelo concei to. Necessidade de ordem objetiva, liberdade da ordem subjetiva, unidade da consciência, afirmação da intui ção são "expressões da evidência imediata e não conclu sões de uma argumentação dialética". Por outro lado, a experiência da liberdade leva a filosofia ao problema da valoração, definida como "a reação humana diante de um fato ou de um acontecimento" e do valor, concebido como "o objeto, real ou ideal, de uma valoração afirma tiva". A valoração aparece, em todo o curso da luta pela liberdade, da vontade de desprender-se da necessidade. Daí a formação de uma teoria relativista dos valores e de um quadro de valores construído com base nas valo rações biológicas (econômicas, instintivas, eróticas), so ciais (vitais, sociais) e culturais (religiosas, éticas, lógi cas, estéticas) que dão origem aos conceitos básicos de útil e nocivo, agradável e desagradável etc. Cada par de valores tem uma realização histórica e uma finalidade ideal que é, a depender de cada caso, o bem-estar, a fe licidade e o amor (para as valorações biológicas), o poder e ajustiça (para as sociais), a santidade, o bem, a verda de e a beleza (para as culturais). Mas justamente porque a liberdade que vai se formando no curso da luta por sua existência já pode ultrapassar de maneira quase defini tiva as fronteiras da ciência, o homem pode, se não eri gir uma metafisica, reconhecer sua necessidade. A nega ção da verdade absoluta não significa para Korn a ex clusão da fé pessoal, que traz em si tanto a objetividade do saber científico como o imperativo da ação. Pois "a ciência nos convence, a axiologia nos persuade", mas a ontologia, isto é, a metafisica, "nos consola". :> Principais obras: Influenciasfilosóficas de la evolu ción nacional, 1 9 1 9. - La libertad creadora, 1 922. Esquema gnoseológico, 1 924. - E! concepto de cien cia, 1 926. - Axiología, 1 930. - Apuntes filosóficos, 1 93 5 . - Filósofos y sistemas, 1 937. - Ensayos críti cos, 1 937. - De Hegel a Marx, 1 938. Edição de Obras Completas pela Universidad Na cional de La Plata: 1, 1 938; II, 1 939; III, 1 940. - Outra edição mais completa em 1 vol., 1 949. - Há reedição de várias obras. - Vários escritos em Sistema filosó fico, 1 959. - Estudos sobre filósofos no tomo De San Agustín a Bergson, 1 959, com introdução de J. C. Tor chia-Estrada.
KORSCH, KARL Ver: F. Romero, A. Vasallo, L. Aznar, A. K. , 1 940. - S. A. Tri, G. dei Mazo et ai. , A. K., 1 94 1 . - R. Frondizi, "Contemporary Argentine Philosophy'', Phi losophy and Phenomenological Research, 4 ( 1 943), 1 80- 1 85 . - R. A. Pierola, "Alejandro Korn and Con temporary Philosophy'', Phil. Phenomenol. Res. , 14 ( 1 954), 354-364. - Norberto Rodríguez Bustamante, A. K. y el problema de la cultura nacional, 1 960. Juan Carlos Torchia-Estrada, "A. K. visto por sus críti cos", Revista Jberoamericana, 28 ( 1 962), 246-286 [bi bliografia nas pp. 274-286]. - F. Aguilar, J. J. Bruera et ai. , Estudios sobre A. K. Homenaje en el centenario de su nacimiento, 1 963. - S. Lipp, Three Argentine Thin kers, 1 969. - Daniel E. Salazar, Libertady creación en los ansayos de A. K. , 1 973. C:
KORSCH, KARL ( 1 889- 1 96 1 ). Nascido na Alemanha, opôs-se aos que interpretaram o marxismo como se se tratasse unicamente de uma teoria sociológica cujo pro pósito é estabelecer leis que descrevam e prevejam o comportamento da sociedade. Segundo Korsch, embora seja uma teoria social, o marxismo é ao mesmo tempo uma doutrina filosófica. Enquanto teoria social que comporta determinada metodologia, o marxismo explica o desenvolvimento das sociedades e, em particular, o desenvolvimento da sociedade moderna. Funda-se, por conseguinte, em fatos, devendo ser verificável mediante fatos. Como doutrina filosófica, o marxismo proporciona uma interpretação da história e prediz que, dadas certas condições, é possível reagir diante delas a fim de trans formar a socie dade numa sociedade sem classes. Logo, o marxismo exprime igualmente a prática revolucionária de uma classe que tem uma finalidade historicamente alcançável e moralmente desejável. :> Principais obras: Was ist Sozialisierung? Ein Pro gramm der praktischen Sozialismus, 1 9 1 9 [Sozialistis che Schriftenreihe, 1] (Que é socialização?). - Quin tessenz der Marxismus. Eine gemeinverstiindliche Dar legung, 1 922 (Quintessência do marxismo. Exposição ao alcance de todos). - Arbeitsrechtfür Betriebsriite, 1 922 (Direito trabalhista para comitês de empresa). - Kernpunkte der materialistischen Geschichtsauffas sung, 1 922 (Conceitos básicos da concepção materia lista do mundo) [folheto] . - Marxismus und Philoso phie, 1 923; 2ª ed., 1 930; nova ed., Erich Gerlach, 1 966. - Die materialistische Geschichtsauffassung. Eine Au seinandersetzung mit Karl Kautsky, 1 929 (Concepção materialista da história. Discussão com K. K. , 1 975). - Karl Marx, 1 938. Ver: G. Vacca, Lukács o K. ?, 1 969. - D. McLellan, Marxism after Marx, 1 979. - J. Watson, "Karl Korsch: Development and Dialectic", Philosophy and Social Criticism, 8 ( 1 98 1 ), 283-305. - 8. Buckmiller, ed., ZurAktualitiit von K. Korsch, 1 98 1 . - D. Kellner, "Karl
KOR:lYBSKY, ALFRED Korsch and Marxism'', en N. Fischer et ai. , eds., Con tinuity and Change in Marxism, 1 982, pp. 232-24 7. J. G. Fracchia, Die Marxsche Aujhebung der Philoso phie und der philosophische Marxismus, 1 987. C:
KORZYBSKY, ALFRED. Ver SEMÂNTICA. KOSIK, KAREL ( 1 926). Naseido na Tchecoslováquia, estudou sociologia e filosofia em Praga e, de 1 947 a 1 949, em Moscou. Em 1 952, ingressou no Instituto Fi losófico da Academia de Praga, dirigindo a seção de história da filosofia e, pouco depois, a seção de materia lismo dialético. Foi acusado de revisionismo pelo Par tido Comunista tcheco, ao qual pertencia, mas de que foi excluído em 1 959, embora lhe tenham permitido publicar depois, em 1 963, sua obra mais influente. Em 1 968, foi nomeado professor da Universidade Carlos, de Praga, mas não demorou para voltar a ser acusado de revisionismo, não mais lhe sendo permitida a docên cia na universidade. Em 1 975, a polícia confiscou vários manuscritos filosóficos que, de acordo com declaração do próprio Kosik, eram notas para duas obras, uma inti tulada Da prática e a outra, Da verdade. Levando em conta a obra de pensadores ocidentais como Husserl, Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty, Gon seth e outros, bem como aspectos do pensamento mar xista que durante algum tempo tinham sido objeto de suspeita por parte da "linha geral soviética" - espe cialmente o Lukács de História e consciência de clas se -, Kosik desenvolveu uma ontologia da práxis no âmbito da qual se explicam e justificam as ações hu manas voltadas para a transformação do mundo. Kosik rejeitou os esquemas rígidos de um materialismo dialé tico cujas leis aspirem a ser determinantes para toda a realidade e que ameaçam "naturalizar" completamente o ser humano. "A dialética" - escreve ele - "não é o método de redução, mas o método da reprodução espiri tual e intelectual da realidade". Trata-se de uma "dialé tica da realidade concreta" que, de acordo com as inspi rações originais de Marx - cuja continuidade de pen samento, dos Manuscritos Econômico-Filosóficos, de 1 844, a O Capital, é acentuada por Kosik -, se opõe a toda esquematização abstrata. Kosik opõe-se ao "necessitarismo" e ao determinismo, mas também ao "voluntarismo" meramente "existencial". Insiste na ne cessidade de uma totalização, mas adverte contra as falsas totalizações, causadas pela hipóstase de uma parte da realidade o simplesmente por uma espécie de confusionismo romântico. "Na dialética" - afirma Kosik -, "trata-se da 'coisa mesma' . Mas a 'coisa mes ma' não é uma coisa qualquer e, para dizer a verdade, sequer é uma coisa: a 'coisa mesma' , da qual se ocupa a filosofia, é o homem e seu lugar no universo, ou seja (o que, em outras palavras, significa o mesmo), a tota lidade do mundo revelada pelo homem na história, e o homem que existe na totalidade do mundo".
1 65 6 :> A obra capital d e K. é Dialektika konkrétniho. Stu dies o problematice élovéka a zvéta, 1 963; 3ª ed., 1 966 (Dialética do concreto. Estudo sobre a problemática do homem e do mundo) . - Antes dessa obra, K. publi cou um livro sobre os Democratas Radicais da Boêmia ( 1 958) e, depois dela, outro sobre Nossa atual crise ( 1 968). Também publicou diversos artigos; entre eles: "Gramsci et la philosophie de la praxis'', Praxis, 3 ( 1 967), 328-332. - "The Concrete Totality'', Telos, 4 ( 1 969), 35-54. - Com J.-P Sartre, "The Kosik-Sartre Exchange", Telos ( 1 975), 1 93 - 1 95 . - "The Dialectic of Morality and the Morality of the Dialectic", Te/os ( 1 977), 85-92. Ver: Francisco Fernández-Santos, "Un nuevo filó sofo marxista", Ruedo Ibérico, 1 Uunho-julho de 1 965), 94-96. - !d. , "K. K. y la filosofia dialéctica de la praxis", Índice, 209 ( 1 966), 20-22 . Ver também: G. Golan, "Czechoslovak Marxism in the Reform Period", Studies in Soviet Though , 1 6 ( 1 976), 67-82. J. Schmidt, "Praxis and Temporality: Karel Kosik's Poli tical Theory", Te/os ( 1 977), 7 1 -84. - A. Donoso, "The Notion of Freedom in Sartre, Kolakowski, Markovic and Kosik", Philosophy Today, 23 ( 1 979), 1 1 3 - 1 27. !d. "The Notion of Man in Kolakowslki, Kosik and Markovic", Studies in Soviet Thought, 2 1 ( 1 980), 387398. - M. Bakan, "Karel Kosik's Phenomenological Heritage'', em W. L. Me Bride, ed., Phenomenology in a Pluralistic Context, 1 983, pp. 8 1 -94. - M. E. Zim merman, "Karek Kosik's Heideggerian Marxism", Phi losophical Forum, 1 5 ( 1 984), 209-233 . C: -
KOTARBINSKI, TADEUSZ ( 1 886- 1 98 1 ). Nascido em Varsóvia, foi professor ( 1 9 1 8- 1 960) na Universidade de Varsóvia. Durante algum tempo ficou parcialmente afastado da cátedra, tendo de limitar-se a dar um curso de lógica, mas pouco depois foi restabelecido em seu cargo; além disso, em 1 957 foi nomeado presidente da Academia Polonesa de Ciências. Kotarbi nski foi um dos mais proeminentes mem bros do chamado Círculo de Varsóvia ( VER) . No âmbito deste Círculo, pertenceu ao grupo dos que dedicaram os maiores esforços a questões metodológicas e epistemo lógicas, mas manteve estreita relação com o grupo dos que estavam voltados principalmente para o trabalho com problemas lógicos e semióticos, especialmente com Le imiewski (VER) , cujo sistema lógico e de funda mentação da matemática pode dar apoio a alguns dos resultados metodológicos e epistemológicos consegui dos por Kotarbinski. Entre as contribuições filosóficas de Kotarbisnki destacam-se duas: o "reísmo" e a "praxiologia" ( vER) . Estendemo-nos sobre o reísmo de Kotarbisriki no verbete REíSMO (ver também REALISMO; S1GNIFICAÇÃO) . Completaremos as informações ali proporcionadas indicando que Kotarbis riki desenvolveu suas teses reís-
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tas seguindo a s inspirações tendentes à formação de uma filosofia rigorosa oposta às especulações do idea lismo alemão e ao messianismo polonês. Essas inspira ções procediam sobretudo de Twardowski, mestre de Kotarbisríki e de muitos filósofos poloneses contempo râneos. Twardowski foi discípulo de Brentano; é curio so comprovar uma certa relação (indireta) entre Kotar bisrík í e Brentano, destacando-se o fato de este último filósofo ter formulado, no final da vida, algumas teses filosóficas próximas das doutrinas reístas de KotarbisIÍ ki. Por algum tempo, o reísmo e o "pansomatismo" de Kotarbisnki foram considerados por alguns marxistas da Polônia como a manifestação de um pensamento idealista, o que com certeza é exatamente o oposto do reísmo indicado. Quanto à praxiologia, ocupamo-nos dela no verbete dedicado a esse conceito. Reiteremos aqui apenas que KotarbisIÍki entende a praxiologia como "a ciência da ação eficaz". � Obras: Szkice praktyczme, 1 9 1 3 (Ensaios práticos). - Elementy teorji poznania, logikiformalnej i metodo logji nauk, 1 929 (Elementos de teoria do conhecimento, lógica formal e metodologia das ciências). - "Le réa lisme radical", Proceedings of the VII International Congress ofPhilosophy, 1 930. - Czyn, 1 934 (A ação). - "Podstawowe my s li pansomatyzmu", Przegladfilo soficzny, 1 93 5 (Idéiasfundamentais do pansomatismo) . - "Les idées fondamentales de la théorie générale de la lutte", Philosophia (Belgrado), 1 ( 1 936). - "Idée de la méthodologie générale. Praxéologie", Travaux du IX Congres International de Philosophie, 1 93 7. - "Les principes du bon travai!", Studia philosophica, 3 ( 1 9391 946). - "Les valeurs techniques de I ' activité", ibid. , 4 ( 1 95 1 ). - "La notion de l'action", Proceedings of the XI International Congress of Philosophy, 1 95 3 . - Z zagadnien klasyfikcjini nazw, 1 954 (Os problemas da classificação dos nomes). - Traktat o dobre} robocie, 1 95 5 ; 2ª ed., 1 959 (Tratado sobre o bom trabalho). Wybór pism, !. Mysli o dzialaniu, 1 957 (Escritos esco lhidos !: Pensamento sobre a ação). - Zasady spraw nego dzialania, 1 960 (Princípios da ação eficaz). "Praxiological Sentences and How They are Proved", em Logic, Methodology, and Philosophy of Science [Proceedings of the 1 960 lntemational Congress ], 1 962, pp. 2 1 1 -223, ed. E. Nagel, P. Suppes, A. Tarski. - Medy tacje o zyciu godziwym, 1 966 (Meditações sobre a vida honesta). - Edição de obras escolhidas: �bór pism, 2 vols., 1 957- 1 958. Depoimento em "Zasadinicze mysli pansomatyz ma", Przeglad Filosoficzny, 38 ( 1 93 5), 283-294. Trad. inglesa com dois acréscimos: "The Fundamental ldeas of Pansomatism", Mind, N. S . , 64 ( 1 955), 488-560. Philosophical SelfPortrait in K. : Logic, Semantics and Ontology, ed. J. Wolenski, 1 990.
KOYRÉ, ALEXANDRE Ver: R. Rand, "Kotarbi IÍskis Philosophie aufGrund seines Hauptwerkes: ' Elemente der Erkenntnistheorie, der Logik und der Methodologie der Wissenschaften'', Erkenntnis, 6 ( 1 937- 1 938), 92- 1 20. - H. Hiz, "Kotar binski 's Praxeology", Philosophy and Phenomenologi cal Research, 1 5 ( 1 95 3 - 1 954), 23 8-243 . - Henryk Skolimowski, Polish Analytical Philosophy, 1 967, pp. 77- 1 30. - V. F. Sinisi, "K.'s Theory of Genuine Na mes'', Theoria, 30 ( 1 964), 80-95. - !d. , "K's Theory of Pseudo-Names", Theoria, 3 1 ( 1 965), 2 1 8-24 1 . - T. Czezowski, " The Independent Ethics of T. K.", Dia lectics and Humanism, 4 ( 1 977), 47-52. - J. Szcze paIÍski, M. Ossowa et ai. , arts. sobre T. K. no nº 1 , vol. 4 ( 1 977) de Dialectics and Humanism. - 1. Lazari Pawlowska, "The Ethical Teaching ofT. K.", ibid. , 5365. - G. Kalinowski, "La praxeologie de T. K.", Archi ves de Philosophie, 43 ( 1 980), 453-464. - K. Szania wski, "Philosophical ldeas ofT. K.", Reparis on Philo sophy, 8 ( 1 984), 25-32. - J. Wolenski, "T. K. and the Lvov Warsaw School", Dialectics and Humanism, 1 7 ( 1 ) ( 1 990), 1 4-24. - !d., K. : Logic, Semantics and On tology, 1 990. e
KOVALEVSKI, MAKSIM MAKSIMOVICH. Ver FRIES, JAKOB FRIEDRICH. KOYRÉ,ALEXANDRE (1 892- 1 964). Nascido em Tagan roc (Rússia), mudou-se muito jovem para Paris. Depois de passar um período em Gõttingen, voltou para a Fran ça. Foi professor da É cole Pratique d' Études Supérieu res, em Paris, mas passou freqüentes temporadas como professor coll'Vidado do Institute for Advanced Studies de Princeton. Embora não seja possível considerar Koyré como um fenomenólogo em sentido estrito, ele recebeu in fluências de Husserl, cujo pensamento deu a conhecer na França. O próprio Koyré confessou ter extraído de Husserl sobretudo sua primeira fase de realismo platôni co e seu antipsicologismo e anti-relativismo. As prin cipais obras de Koyré são seus estudos de história da filosofia e história da ciência, bem como suas pesquisas sobre a estrutura das teorias científicas modernas. Koy ré contribuiu para o desenvolvimento da idéia de estru tura epismemológica e de paradigma epistemológico que depois alcançou grande ressonância na obra de Tho mas S. Kuhn, que reconheceu a influência de Koyré sobre seus trabalhos de história e de filosofia da ciência. Essa mesma idéia, ao lado da noção de "corte epistemo lógico" (ver FECHAMENTO; CoRTE) , que encontramos, em diversas formas e graus de desenvolvimento, em autores como Gaston Bachelard e Michel Foucault, teve abertos os caminhos de seu desenvolvimento nos detalhados estudos históricos - sobre Galileu, a "revolução astro nômica" etc. - realizados por Koyré. Koyré distinguiu-se ainda por seus trabalhos sobre a idéia de Deus em vários autores, sobre a mística ale-
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KOZLOV, ALEKSÉY ALÉKSANDROVITCH mã - especialmente a de Bõhme -, sobre Galileu e sobre a origem e o desenvolvimento de conceitos filo sóficos e científicos modernos capitais. Ele dedicou grandes esforços ao estudo da passagem das concepções medievais às modernas na idéia da Natureza e nos con ceitos básicos da tisica e da astronomia em sua relação com as especulações filosóficas. � Obras: "Bemerkungen zu den Zenonischen Parado xien'', Jahrbuch for Philosophie und phiinomenolo gische Forschung, 1 O ( 1 922), 603-628. - L'idée de Dieu dans la philosophie de saint Anselme, 1 923. - L'idée de Dieu et les preuves de son existence chez Descartes, 1 923. - La philosophie de Jacob Bohme, 1 929. - La philosophie et !e probleme national en Russie au début du XIX' siecle, 1 929. - Études Galiléenes, 3 vols. (1. Á l 'aube de la science classique; II. La !oi de la chute des corps; III. La !oi de l 'inertie) , 1 940; reimp. em 1 vol., 1 966. - Entretien sur Descartes, 1 944. - lntro duction à la lecture de Platon, 1 945. - Epiménide !e Menteur (Ensemble et catégorie), 1 947 [publicado antes em inglês: "The Liar", Philosophy and Phenomenolo gical Research, 6 ( 1 946- 1 947), 344-362] . - Descar tes Afler Three Hundred Years, 1 95 1 . - Mystiques, Spirituels, Alchimistes du XVI' siecle allemand, 1 95 5 . - "A Documentary History o f the Problem ofFall from Kepler to Newton: De Motu Gravium naturaliter caden tium in hypothesi terrae motae ", Transactions of the American Philosophical Society, N. S., 45, pt. 4 ( 1 955), 329-395. - From the Closed World to the Infinite Uni verse, 1 957 [The Hideyo Noguchi Lectureship] . - La révolution astronomique: Copernic, Kepler, Borelli, 1 96 1 . - Études d 'histoire de la pensée philosophique, 1 96 1 [artigos: 1 922- 1 95 5 ] . Obras póstumas: Newtonian Studies, 1 965. - Étu des d 'histoire de la pensée scientifique, 1 966 [artigos: 1 930- 1 96 1 ] . - Metaphysics and Measurement in Se venteenth Century Physics, 1 966 [complemento de Newtonian Studies] . Devem-se também a Koyré edições e comentários de: Santo Anselmo, Fides quarens intellectum, 1 927; Copérnico, De revolutionibus orbium coelestium, 1 933; Spinoza, De intellectus emendatione, 1 936. Em português: Do mundo fechado ao universo infinito, 1 979. - Galileu e Platão e do mundo do "mais ou menos " ao universo de precisão, s.d. - Estudos de história do pensamento filosófico, 1 99 1 . - Introdu ção à leitura de Platão, 1 984. - Estudos galilaicos, 1 986. - Estudos de história do pensamento cientifico, 1 99 1 . - Considerações sobre Descartes, 1 99 1 . - Estu dos de história do pensamento filosófico, 1 99 1 . Ver: MélangesA. K. publiés à l 'occasion de son soi xante-dixieme anniversaire, 2 vols., 1 964. - F. Russo, "Les études newtoniennes d' Alexandre Koyré", Archives de Philosophie, 37 ( 1 974), 1 07- 1 32. - M. A. Finocchia ro, Galileo and the Art of Reasoning, 1 980. C:
KOZLOV,ALEKSÉY ALÉ KSANDROVITCH ( 1 83 1 1 900). Nascido em Moscou. D e 1 875 a 1 887, deu aulas na Universidade de Kiev, mas nesta última data transferiu se para São Petersburgo, onde publicou seus principais escritos filosóficos. Inicialmente seguidor de Schope nhauer, E. von Hartmann e Kant, inclinou-se posterior mente ao leibnizianismo, em grande parte por influência de Teichrnüller. Com base neste último pensador e em Leibniz, desenvolveu suas próprias idéias filosóficas num sistema de índole fundamentalmente monadoló gica e pampsiquista. Esse sistema constituía a seu ver a única solução possível para o problema do conheci mento e a única saída para o dualismo epistemológico tão arraigado em muitos filósofos modernos. Ora, como o pampsiquismo beira freqüentemente o monismo (ou uma espécie de pluralismo de substâncias fundamental mente idênticas), Kozlov insistiu continuamente em que as diferentes substâncias de que se compõe o universo encontram-se em incessante interação. Daí que haja no pensamento de Kozlov motivos a um só tempo plura listas e monistas. O próprio filósofo chegou a qualificar seu sistema de monismo pluralista, dando a entender com isso que a pluralidade das substâncias está arraiga da numa unidade, unidade que possui o verdadeiro ser e que se encontra fora das categorias - tempo, espaço etc. - por meio das quais apreendemos o real. O conhe cimento usual da realidade externa é, pois, um conheci mento simbólico, e somente quando o reconhecemos como tal podemos evitar, segundo Kozlov, o realismo epistemológico ingênuo. � Obras: Génézis teorii prostranstva i vréméni u Kan ta, 1 894 (A gênese da teoria do espaço e do tempo em Kant) [tese]. - Artigos em Filosofskiy Trémésátchnik (O Trimestre Filosófico) e em Svoé slovo (A Própria Palavra) [ 1 888- 1 898]. Ver: S. A. Askolldov, A. A. K. , 1 9 1 2. - V.V. Zéfíkovs kiy, Istoriá russkoy filosofii, II, 1 950, pp. 1 73 - 1 83. C: KRAEPELIN, EMIL. Ver WUNDT, W1LHELM. KRAFT, JULIUS. Ver NELSON, LEONARD; NEO-REALISMO.
KRAFT, VICTOR ( 1 880- 1 97 5). Nascido em Viena, foi professor da Universidade de Viena de 1 9 1 4 a 1 933, data na qual foi-lhe proibida a docência pelo regime nazista. Reintegrou-se à cátedra em 1 947. Kraft foi um dos mais fiéis seguidores do Círculo de Viena (vER) e alguns o consideraram seu "último representante". Em sua obra sobre a origem e o desen volvimento do Círculo, Kraft reconhece que os dias deste passaram para a história e que, com isso, desfize ram-se os radicalismos e as simplificações extremas do começo. Contudo, avalia que se tornou costumeiro apre sentar interpretações distorcidas do positivismo lógico que emergiu do Círculo e que é preciso levar em conta pelo menos duas coisas: uma delas é o fato de haverem ocorrido mudanças no interior do movimento - como
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o abandono por Carnap d e u m ponto d e vista unilateral mente sintático - que não lhe alteraram, e sim aperfei çoaram, o espírito; outra é o fato de que não teria havi do a diáspora dos filósofos do Círculo, por circunstân cias externas, se eles tivessem podido dar continuida de às suas pesquisas de modo mais normal e maduro. As críticas de Kraft a algumas idéias básicas do positivismo lógico são críticas internas que, seja como for, não le vam, em seu entender, à rejeição do modelo de pesquisa rigorosa e científica que os membros do Círculo pro pugnaram. Kraft interessou-se ainda por aplicar crité rios de racionalidade científica a problemas não somen te da matemática como também, e sobretudo, da histó ria, da moral, e dos valores. � Principais obras: Weltbegrijfund Erkenntnisbegrif, 1 9 1 2 (Conceito do mundo e conceito do conhecimento). - Die Grundlagen einer wissenschaftlichen Wertlehre, 1 937; 2ª ed., 1 9 5 1 (Osfundamentos de uma teoria cien tifica dos valores). - Mathematik, Logik und Erfah rung, 1 947; 2ª ed., 1 970 (Matemática, lógica e expe riência). - Einfohrung in die Philosophie, 1 950; 2ª ed., 1 967 (Introdução àfilosofia). - Der Wiener Kreis. Der Ursprung des Neupositivismus. Ein Kapitel derjüngsten Philosophiegeschichte, 1 950; 2 ª ed., 1 968. - Der wissenschaftliche Charakter der Erkenntnislehre, 1 95 5 (O caráter cientifico da teoria do conhecimento). Erkentnnislehre, 1 960 ( Teoria do conhecimento). Rationale Moralbegründung, 1 963 (Fundamentação moral racional). - Die Grundlagen der Erkenntnis und der Moral, 1 968 (Osfandamentos do conhecimento e da moral). Bibliografia em Zeitrschriftfor allgemeine Wissens chaftstheorie, 1 ( 1 970), 3 1 1 -32 1 ; 6 ( 1 975), 1 79-28 1 . Ver: Ernst Topitsch, ed., Probleme der Wissenschaf tstheorie. Festschrift for V. K. , 1 960. - F. H. Heine mann, ""Philosophical Survey: Philosophy in Germa ny", Philosophy, 37 ( 1 962), 7 1 -74. - M. Viggiano, "Victor Kraft e il circolo de Vienna", Filosofia, 2 1 ( 1 970), 25-3 1 . - A. Verdross, "Due Fondamenti Empi rici delle norme di diritto naturale", Rivista Interna zionale di Filosofia di Dirrito, 50 ( 1 973), 8 1 3-820. Principais obras: Jst Philosophie ohne Psychologie moglich ?, 1 896 (É possível filosofia sem psicologia ?). -Der Begriffdes absolut Wertvollen ais Grundbegrijf der Moralphilosophie, 1 898 (O conceito do absoluta mente valioso como conceito fundamental da filosofia moral). - Ueber Entwicklungspsychologie, ihre sach liche und geschichtliche Notwendigkeit, 1 9 1 5 (Sobre psi cologia evolutiva; sua necessidade objetiva e histórica). - Der Strukturbegriffin der Psychologie, 1 924 (O con ceito de estrutura em psicologia). - "Über psychis che Ganzheit", Neue Psychologischen Studien, I ( 1 926) (Sobre a totalidadepsíquica). - Das Wesen der Gefiile. Entwurfeiner systematischen Theorie, 1 928 (A essência dos sentimentos). "Das Problem der Ganzheit", Bliitterfür deustsche Philosophie, 6 ( 1 932) ( O proble ma da totalidade). - Ganzheit und Form. Vortriige, 1 932 (Totalidade eforma: conferências [inclui o traba lho anterior]). - Zur Psychologie des Gemeinschafts lebens, 1 934 (Sobre a psicologia da vida comunitária). - Lehre von dem Ganzen. Seele, Gemeinschaft und das gottliche, 1 948 (Doutrina do todo. Alma, comunida de e o divino). - Póstumas: Zur Philosophie und Psy chologie der Ganzheit (Schriften 1918-1 940), 1 953 (Sobre afilosofia e a psicologia da totalidade [Escritos 1 91 8-1 940)). - Zwei Aufsiitze über das Gefiihl, 1 967 (Dois artigos sobre o sentimento). -
KRUG, WILHELM TRAUGOTI Ver: R. Odebrecht, Gefahl und Ganzheit. Der Ideen gehalt der Psychologie F. Kruegers, 1 929. - O. Buss, Die Ganzheitspsychologie F. Kruegers, 1 934. -A. Wel lek, Das Problem der seelischen Seins. Die Struktur theorie F. Kruegers. Deutung und Kritik, 1 94 1 . - Id. , Die Wiederherstellung der Seelenwissenschaft im Le benswerk F. Kruegers, 1 950. - Id., ed., Genetische Ganzheitpsychologie, 1 954. � KRUG,WILHELM TRAUGOTI ( l 770- 1 842). Nascido em Radis, Wittemberg, obteve sua "habilitação" ( 1 794) na Universidade de Wittemberg. De 1 80 1 a 1 805, foi professor extraordinário de filosofia em Frankfurt a.M., e em 1 805 foi nomeado professor titular em Kõnigs berg, como sucessor na cátedra que fora ocupada por Kant. Em 1 809, foi nomeado professor em Leipzig. No verbete que escreveu sobre si mesmo para seu vocabulário filosófico (ver a bibliografia), Krug indi cou que, embora tenha sofrido a influência dos ensina mentos de Reinhard e Reinhold, bem como dos escri tos críticos de Kant, ainda assim julgou o pensamento desses autores insuficiente, razão pela qual propôs-se a desenvolver uma filosofia como "ciência das leis bá sicas do espírito humano em sua totalidade". Isso equi valia a um exame e a um esclarecimento da "forma fundamental" ( Urform) do "eu" em sua referência a todas as realidades. Krug denominou sua própria filoso fia "sintetismo transcendental''. Em sua opinião, "o sis tema sintético" supera o tético (realismo) e o antitético (idealismo), assim como "o método sintético" supera o tético (dogmatismo) e o antitético (ceticismo) (Funda mentalphilosophie, § 1 1 9). Os princípios desse sistema constituem uma "filosofia fundamental" ou "doutrina fundamental protocientífica". A filosofia fundamental se divide numa doutrina filosófica fundamental e numa doutrina metódica elementar. A primeira se subdivide em problemática filosófica (que trata de conceitos bá sicos como o homem, o mundo, o eu, o corpo, o espaço, o tempo, o sensível e o supra-sensível, a liberdade, o verdadeiro e o falso etc.) e em apodítica filosófica (que trata dos princípios do conhecimento, do ponto de par tida da filosofia e da forma originária do eu). A segunda subdivide-se em didática filosófica (que se ocupa dos graus do saber e da certeza) e em arquitetônica filosófi ca (que trata das formas e métodos da própria filosofia). A filosofia fundamental é a entrada para o sistema da filosofia teórica, que compreende uma lógica ou doutrina do pensar, uma metafisica ou teoria do conhe cimento e uma gneumatologia ( vER) . Cada um desses ramos se subdivide em outros. Assim, por exemplo, "a metafisica da natureza sensível" compreende uma "hi lelogia metafisica" (sobre a matéria e suas formas), uma "organologia metafisica" e uma "teleologia metafisica"; a "metafisica da natureza supra-sensível" compreende
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uma "psicologia metafisica", uma "cosmologia metafi sica" e uma "teologia metafisica". Podem-se observar no sistema de Krug as marcas da filosofia alemã anterior a Kant e, em maior proporção, as marcas da filosofia de Kant. Krug é citado hoje, sobretudo, por causa de suas polêmicas de filosofia natural contra Schelling e Hegel, tendo este último dirigido a ele uma resposta agressiva em seu artigo "Wie der gemeine Menschenverstand die Philosophie nehme, dargestellt an den Werken des Herrn Krugs", Kritisches Journal der Philosophie, 1 808 ("De como a filosofia entende o senso comum das pessoas, tal como exposto nas obras do senhor Krug"), onde compara Krug a um jarro (Krug) no qual há uma mistu ra de água reinhóldica [de Reinhold], de cerveja kantiana estragada, de xarope diluído chamado "berlinismo" e outros ingredientes semelhantes. Mas é sob todos os as pectos injusto reduzir a obra de Krug a "uma polêmica com Schelling e Hegel". Em sua época, Krug foi conheci do principalmente não só por seu tão detalhado sistema filosófico como também por seu Dicionário de Filosofia. :> Principais obras: Briefe über die Perfektibilitiit der geoffenbarten Religion, 1 795 (Cartas sobre a perfectibi lidade da religião revelada). - Vérsuch einer systema tischen Encyclopiidie der Wissenschaften , 2 partes, 1 796- 1 797 (Ensaio para uma enciclopédia sistemática das ciências). - Aphorismen zur Philosophie des Re chts, 1 800 (Aforismos para a filosofia do direito). Philosophie der Ehe, 1 800 (Filosofia do matrimônio). - Briefe über die Wissenschaftlehre, 1 800 (Cartas so bre a doutrina da ciência). - Briefe über die neuesten Idealismus, 1 80 1 (Cartas sobre o recente idealismo). - Entwwfeines neuen Organons der Philosophie oder Vérsuch über die Prinzipien der Philosophischen Erken ntnis, 1 80 1 (Esboço de um novo Organon da filosofia ou ensaio sobre os princípios do conhecimento filosó fico). - Fundamentalphilosophie oder urwissenschaf tliche Grundlehre, 1 803; 2ª ed., 1 8 1 9 (Filosofia funda mental ou doutrina fundamental protocientífica) [K. considerava este livro sua obra capital] . - System der theoretischen Philosophie, 3 partes, 1 806- 1 8 1 O (Logik oder Denklehre; II. Metaphysik oder Erkenntnislehre; III. Geschmackslehre oder Ás thetik); 2ª ed., !, 1 8 1 9; II, 1 820; III, 1 823; 3ª ed. de l, 1 825; 4ª ed. de l, 1 833 (Sis tema defilosofia teórica [/. Lógica ou doutrina do pen samento; II. Metafisica ou teoria do conhecimento; III. Doutrina do gosto ou estética)). - Von der Idealen der Wissenschaft, der Kunst und des Lebens, 1 809 (Dos ideais da ciência, da arte e da vida). - Geschichte der Philosophie alter Zeit, vornehmlich unter Griechen und Romern, 1 8 1 5 ; 2ª ed., 1 827 (História da filosofia anti ga, especialmente entre os gregos e os romanos). Geschichtliche Darstellung des Liberalismus alter und neuer Zeit, 1 822 [suplementado por: Derfalsche Libe ralismus unserer Zeit] (Exposição histórica do libera-
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/ismo do antigo e do novo tempo, suplementado por O falso liberalismo de nosso tempo). - Tkrsuch einer neuen Theorie der Gefiihle und des sogenannten Gefiihlsvermo gens, 1 823 (Ensaio de uma nova teoria dos sentimentos e da chamadafaculdade sensível). - Pisteleologie oder Glaube, Aberglaube und Unglaube, 1 825 (Pisteleologia oufé, superstição e ceticismo). - Schelling und Hegel. Oder die neueste Philosophie im Tkrnichtungskriege mit sich selbst begriffen . Ein Beitrag zur Geschichte der Phi losophie des 19. Jahr. , 1 835 (S. e H. ou afilosofia recen te vista em guerra mortal consigo mesma. Contribuição para a história dafilosofia no século XIX). - Über das Tkrhiiltnis der Philosophie zum gesunden Menschenvers tande, zur of!entlichen Meinung und zum Leben selbst, mit besonderer Hinsicht aufHegel. Noch ein Beitrag zur Geschichte der Philosophie des 19. Jahr. , 1 835 (Sobre a relação entre afilosofia, o senso comum, a opinião pú blica e a própria vida, com especial referência a Hegel. Outra contribuição à história da filosofia do século XIX) [estes escritos constituem a contribuição de K. à polêmica com Schelling e, especialmente, com Hegel, à qual nos referimos no corpo do verbete]. - K. escre veu ainda numerosas obras de caráter político, político religioso e jurídico. Obras reunidas: Gesammelte Schriften, Parte 1, vols. 1 e 2 , 1 830; Parte II, vols. 3-6, 1 838. Estas obras não compreendem os escritos latinos do autor, que fo ram coligidos no volume Commentatt. acadd. partim ad theol. partim ad phils. hujusque impris hist. spectantes, 1 838 [inclui sua dissertação latina: De Socrates in philo sophiam meritis rite aestimandis; disputatio historico philosophica ], 1 797. - O Dicionário Filosófico de K. leva em sua primeira edição o título Encyclopiidisch philosophisches Lexikon oderAllgemeines Handworter buch der philosophischen Wissenschaften nebst ihrer Literatur und Geschichte, 4 vols., 1 832- 1 834; 2ª ed. : Allgemeines Handworterbuch etc. , 1, 1 832; II, 1 833; III, 1 83 3 ; IV, 1 834; V, 1 [Suplemento], 1 838; V, 2 [ id. ], 1 838 (reimp., 1 969 ) . No verbete "Lebensphilosophie" ("Filosofia da vida") dessa obra (vol. II, 1 833, p. 693 ) , há uma bibliografia bastante completa sobre a chamada "filosofia popular". Para Krug, os dois conceitos eram praticamente sinônimos (ver também "Popularphilo sophie", vol. III, 1 833, p. 302 ) . Autobiografia de K. em Meine Lebensreise, in sechs Stationen, von Urceus. Nebst Reihard 's Briefen an den Tkifasser, 1 826; cf. também Leipziger Freuden und Lei den im Jahre 1830, oder das merkwürdigste Jahr mei nes Lebens, 1 83 1 . A tese de doutoramento de L. é De lapsychose para noique dans ses rapports avec la personnalité ( 1 932), reimp., com Prémiers écrits sur la paranoia, 1 975. Antes do volume de seus Écrits (cf. infra), L. publicou vários trabalhos; dentre eles, mencionamos: "Le stade du miroir comme formateur de la fonction du Je, telle qu'elle nous est revelée dans I 'expérience psychanalytique", Revue française de psychanalyse, 1 3 ( 1 949), 449-455 (traba lho procedente de uma comunicação apresentada em 1 936). - "Fonction et champ de la parole e du language en psychanalyse", La Psychanalyse, 1 ( 1 956), 8 1 - 1 1 6 (é o chamado "Rapport de Rome"). - "La Psychanalyse et son enseignement", Bulletin de la Société Française de Philosophie, 5 1 , nº 2 ( 1 957), 65- 1 O 1 . - 'Tinstance de la lettre dans l 'inconscient ou la raison depuis Freud", La Psychanalyse, 3 ( 1 957), 47-8 1 . - "La direction de la cure et ses príncipes de son pouvoir", La Psychanalyse, 6 ( 1 96 1 ), 1 49-296. Estes e outros escritos de L., com textos preceden tes do seu "Séminaire", foram publicados em Écrits, 1 966 (textos de 1 937- 1 966). Há outro vol. de "Textes non assimilés aus É crits ( 1 953- 1 969)", 1 970. Em português: Complexos familiares, s.d. - Da psicose paranóica em suas relações com a personali dade, 1 987. - Escritos, 1 998. - Escritos, 4ª ed., 1 996. -A família, 1 98 1 . Hamlet por Lacan, 1 986. - O mito individual do neurótico, 1 980. Aquarela dos diagnós ticos, 1 989. - Seminário Livro 1: Escritos técnicos de Freud, 1 996. - Seminário Livro 1 1 : Os quatro con ceitos fundamentais da psicanálise, 4ª ed., 1 995. Seminário Livro 1 7, 1 992. - Seminário Livro 2; O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise, 1 995. - Seminário Livro 20: Mais ainda, 1 996. - Seminário Livro 3: As psicoses, 1 997. - Seminário Livro 4: A relação de objeto, 1 995. - Seminário Livro 5: As for mações do inconsciente, 1 999. -Seminário Livro 7: A ética da psicanálise, 1 995. - Seminário Livro 8: A trans ferência, 1 992. - Televisão, 1 993. Estão sendo publicadas as aulas do "Séminaire" de L. na "École Pratique des Hautes Études": XI ( 1 964), 1 973, ed. Jacques-Alain Miller; I ( 1 95 3 -1 954), 1 975, ed. Miller; XX ( 1 972- 1 973), 1 975, ed. Miller; II ( 1 9541 955), 1 978; III ( 1 955- 1 956), 1 98 1 ; VII ( 1 959- 1 960), 1 986; VIII ( 1 960- 1 96 1 ) , 1 99 1 ; XVII ( 1 969- 1 970), 1 99 1 . Bibliografia: J. Dor, Bibliographie des travaux de J L. , 1 983. - Uma Lacan Newsletter, e bibliografia, publicada pelo North American Lacan Study Group desde 1 982, ed. Helena Schulz-Keil. Ver: Anika Rifflet-Lemaire, J L. , 1 970; 2ª ed., aum., 1 977. - Angelo Louis Marie Hesnard, De Freud à L. ,
1 970. - Jean-Baptiste Fages, Comprendre J L. , 1 97 1 . - Oscar Masotta, lntroducción a la lectura de J L., 1 970. - J. M. Palmer, L. , 1 972. - J.-L. Nancy, P. La coue-Labarthe, Le titre de la lettre: Une lecture de L. , 1 97 3 . - M. Francioni, Psicoanalisi linguística ed epis temologia in J L. , 1 978. - A. Kremer-Marietti, L. ou la rhétorique de l 'inconscient, 1 978. - S. Weber, Rück kehr zu Freud. J L.s Entstellung des Psychoanalyse, 1 978. - J. Sturrick, Structuralism and Science: From Lévi-Strauss to Derrida, 1 979. - C. Clément, Vies et légendes de J L. , 1 98 1 . - A. Lipowatz, Diskurs und Macht. J L.s Begriffdes Diskurses, 1 982. - S. Schnei derman, J L. : The Death ofan lntellectual Hero, 1 983. - M. Stanton, Outside the Dream: L. and the French Styles ofPsychonalisis, 1 983. - G. L. Garcia, El psi coanálisis visto de otra manera, 1 983. - J. H. Smith, W. Kerrigan, lnterpreting L. , 1 983. - A. Juranville, L. et la philosophie, 1 984. - E. Ragland-Sullivan, J L. and the Philosophy ofPsychoanalysis, 1 986. - S. Fel man, J L. and theAdventure oflnsight: Psychoanalysis in Contemporary Culture, 1 987. - J. Rajchman, Truth and Eros: Foucault, Lacan, and the Question ofEthics, 1 99 1 . - J. H. Smith, Arguing with Lacan: Ego, Psycho logy and Language, 1 99 1 . - J. S. Lee, J L. , 1 99 1 . M. Bowie, L. , 1 99 1 . - R. Boothby, Death and Desire: Psychoanalytic Theory in Lacan s Return to Freud, 1 99 1 . S . Weber, M . Levine, Return to Freud: J L.s Dislo cation of Psychoanalysis, 1 99 1 . Cathérine Clément, Christiane Rabant et ai. , arts. em número especial de L'Arc (58), sobre L. - Come çou-se a publicar em Barcelona, a partir de 1 99 1 , a revista quadrimestral Freudiana, ed. pela Escuela Europea de Psicoanálisis dei Campo Freudiano--Cataluiía, que tem por objetivo promover o desenvolvimento da psicaná lise na linha apontada por Lacan a partir de 1 964. C: -
LACHELIER, JULES ( 1 832- 1 9 1 8). Nascido em Fon tainebleau, foi professor no Liceu de Caen ( 1 858- 1 864) e na É cole Normale Supérieure, de Paris ( 1 864- 1 875). Lachelier é um dos representantes da tradição espi ritualista e idealista francesa do século XIX; é também um dos mais destacados defensores da corrente doutri nal às vezes chamada de "positivismo espiritualista" francês na linha que vai de Maine de Biran e, sobretudo, de Ravaisson, a Boutroux e a Bergson. É importante na filosofia de Lachelier o elemento kantiano. Em vez de buscar mediante a introspecção e a análise interior os fundamentos da vida moral e reli giosa, como haviam feito Maine de Biran e, em parte, Ravaisson, Lachelier começa por apresentar a si mesmo "um problema kantiano" - ao menos no sentido de ser um problema legado pelo kantismo: o problema da rela ção entre a necessidade natural e a liberdade. A apresen tação do problema aparece sob a forma da questão do fundamento da indução. Na opinião de Lachelier, a
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possibilidade da indução está radicada no duplo princí pio das causas eficientes e das causas finais. Ainda nos encontramos aqui no âmbito dofactum da ciência. Mas propõe-se imediatamente a questão de como se pode pensar a realidade enquanto realidade. Oferecem-se a este respeito inúmeras soluções. Podemos, por exemplo, pensar a realidade como algo "sentido" ou "experimen tado" 6u então como algo "intelectualmente intuído". No primeiro caso, aderimos ao empirismo; no segundo, ao platonismo. Ora, nenhuma dessas posições pode so lucionar o fato da ciência e o problema do fundamento da indução. Entre o puramente fenomênico e o pura mente inteligível, a realidade se desvanece. A lei das causas eficientes fundamenta a indução, mas representa apenas um aspecto da relação entre o pensamento e os fenômenos; para ser completa, essa relação requer a presença da finalidade, não como uma afirmação arbi trária destinada a salvar a liberdade da pessoa, mas co mo algo reflexivamente fundado numa análise dos fa tos. A causa eficiente garante a regularidade; a causa final garante a unidade. Por isso, Lachelier diz "a lei das causas finais é, tanto como a das causas eficientes, um elemento indispensável do princípio da indução" (Du fondement etc. , ed. de 1 924, p. 72). A afirmação exclusiva da causa eficiente poderia manter a unidade, mas esta teria um caráter meramente abstrato e me cânico e, mais que isso, puramente formal. A unidade orgânica e, com ela, a liberdade e a plenitude do con creto se desvaneceriam. Há aqui uma contraposição entre o externo e diver so e o interno e orgânico que coincide com pressupostos fundamentais do idealismo. Lachelier, porém, rejeita neste último a arbitrariedade do ponto de partida; o idealismo e a liberdade devem ser afirmados, mas de um modo positivo que permita justificar, e não descartar, o conhecimento científico da Natureza. Ora, a contrapo sição entre o abstrato e o concreto revelados na Nature za mesma não impede que se destaque a maior realida de do segundo. A realidade numênica é assim a realidade efetivamente concreta, a única que rompe a cadeia da ex plicação mecânica. Por este motivo, segundo Lache lier, pode-se afirmar que as razões das coisas são, em última análise, os fins, ou seja, as formas constitutivas da realidade. Isso parece significar que Lachelier deci diu-se por subsumir o eficiente no final diante da im possibilidade de encontrar uma ponte entre eles. Con tudo, não é isso o que acontece. Um dos principais esforços de Lachelier consiste em descobrir termos médios - tais como o movimento e a força - que liguem a unidade do pensar à diversidade da aparência sensível. Sem isso não haveria conciliação entre fina lidade e necessidade, liberdade e determinismo. Logo, a única coisa que "o império das causas finais" faz ao penetrar no terreno das causas eficientes é substituir "a inércia pela força, a morte pela vida e a fatalidade pela
LACHELIER, JULES liberdade" (op. cit. , p. 1 0 1 ). Assim é fundada a posição denominada "realismo espiritualista" (e também "es piritualismo positivo"). Essa posição é aprofundada nos outros trabalhos de Lachelier: em seus estudos sobre o silogismo, assim como em seu estudo acerca das rela ções entre psicologia e metafisica. Encontramo-nos aqui diante da dupla possibilidade de afirmar o mecânico e o espiritual na vida anímica. No entanto, essa possibilida de - que leva às doutrinas opostas do materialismo e do espiritualismo - desaparece tão logo nos atemos aos fatos. Estes nos mostram a presença efetiva de uma vontade que, do mesmo modo que a força e o movimen to, é uma ponte entre extremos. Mas essa vontade tam pouco é realidade em si; a persistência e identidade da consciência são a persistência e a identidade de seus modos. Por isso é necessário levar a análise mais adian te, até alcançar o próprio pensamento ou consciência intelectual como elemento que justifica a dupla condi ção de toda relação do eu com o mundo. A metafisica última de Lachelier é assim, mais uma vez, o idealis mo. Mas trata-se de um idealismo concreto, não subs tancialista, isto é, não edificado sobre o modelo da coisa. O idealismo e o espiritualismo não são senão os modos de manifestação dos verdadeiros princípios de toda ciência do pensamento e das coisas. Eis por que a metafisica é para Lachelier "a ciência do pensamento em si". E, também por isso, a mais elevada questão da filosofia - "talvez já mais religiosa que filosófica" - é a passagem "do absoluto formal ao absoluto real e vivo, da idéia de Deus a Deus". "Se o silogismo fra cassa nela" - e screve Lachelier nas Notes sur !e pari de Pascal -, "que a fé corra o risco; que o argumento ontológico ceda lugar à aposta". :> Obras: De Natura Syllogismi, 1 87 1 . Du fonde ment de L'Induction, 1 87 1 . - "Psychologie et Méta physique'', Revue philosophique, 19 ( 1 885). - Études sur !e Syllogisme, suivies de l 'Observation de Platner e d 'une note sur !e Philebe, 1 907. Edição de obras: edição dos escritos anteriores, junto com as notas sobre a aposta de Pascal, 1 924. - Todos os escritos de L. estão reunidos em Oeuvres, 2 vols., 1 933. Ver: G. Noel, "La philosophie de L.", Revue de Méta physique et de Mora/e, 1 898. - Gabriel Séailles, La philosophie de 1 L. , 1 92 1 . - P. Giglio, L'ideale della libertà nella filosofia di L. , 1 946. - Vittorio Agosti, La filosofia di 1 L, 1 953. - Louis Millet, Le symbolisme dans la philosophie de L. , 1 959. - Gaston Mauchassat, L'idéalisme de L. , 1 96 1 . - L. Robberechts, "L. à partir de ses sources'', Revue Philosophique de Louvain, 65 ( 1 967), 1 69- 1 9 1 . -A. Forest, "Le Dieu de L.", Giornale di Metafisica, 30 ( 1 975), 39-58. - R. Bouchard, "Idealist Requirements and the Affirmation of the Other World: The Lachelier Case'', ldealistic Studies, 6 ( 1 976), 254262. - J. King-Farlow, "Lachelier's Idealism-Paradox Redoubled'', ibid. , 1 2 ( 1 982), 72-78. C: -
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LACORDAIRE, JEAN BAPTISTE (HENRI-DOMINIQUE)
LACORDAIRE, JEAN BAPTISTE (HENRI-DOMI NIQUE) ( 1 802- 1 86 1 ). Nascido em Sorêze, Albi, foi ordenado sacerdote católico. Foi por algum tempo parti dário da apologética de Lamennais (VER) e fundou, com este, L'Avenir, revista na qual colaborou. Quando o Papa condenou tanto L'Avenir ( 1 832) como as idéias teológico filosóficas de Lamennais ( 1 834), Lacordaire abandonou a mencionada apologética e ingressou na Ordem dos Pregadores. A partir de então, combateu "o sistema" de Lamennais e as idéias ao mesmo tempo tradicionalistas e racionalistas do referido autor. Lacordaire exerceu grande influência sobre parte considerável da apologética católica de base filosófica no século XIX, especialmente na França e na Itália, procurando restaurar a concepção tradicional, mas não tradicionalista ou por ele considera da "pseudo-racional'', da razão humana. � A obra filosófica mais importante de Lacordaire são as Considérations sur le systéme philosophique de M. de Lamennais, 1 834. - Devem-se a ele inúmeros ser mões e discursos, entre eles: Discours sur le droit e le devenir de la proprieté ( 1 858) e Discours sur les études philosophiques ( 1 859). Edição de obras: Oeuvres, 9 vols., 1 9 1 1 - 1 9 12. Ver A. Rulla, II padre L., educatore e asceta, 1 929. - !d. , La Chiesa maestra di mora/e nel pensiero dei padre L. , 1 932. - L. Tomeucci, II pensiero filosofico nelle orazioni di L. , 1 936. - V. Chinellato, II padre L. , 1 948. - Lancelot C. Sheppard, L. : A Biographical Essay, 1 964. C: LACT Â NCIO (LUCIUS CAECILIUS FIRMIA NUS LACTANTIUS) (ca. 250). Nascido na Numídia. Foi discípulo de Amóbio ( VER ) e mestre de retórica em Nicomédia (Bitínia). Constantino o chamou a Treveris, na Gália, para ser preceptor de seu filho, Crispo. Em sua obra De opificio Dei ad Demetrianum (Sobre a criação de Deus, a Demetriano), Lactâncio, fiel ao espírito dos apologistas ( vER) , defendeu as crenças cristãs, e espe cialmente a obra criadora de Deus, contra os filósofos pagãos, particularmente os epicuristas. Para essa defesa, baseou-se em textos de filósofos gregos e latinos, entre os quais se destacam Aristóteles, Lucrécio e Cícero. Em suas Jnstitutiones divinae, dedicadas a Constanti no, Lactâncio deu prosseguimento a seu trabalho apo logético, denunciando a "falsa religião" e a "falsa sa bedoria" dos politeístas e dos filósofos, principalmen te os que defendiam a pluralidade de deuses. Ao mes mo tempo, Lactâncio mostrava, com o grande reforço de citações de autores latinos - poetas, historiadores e filósofos -, que há muitos pontos nos sistemas filo sóficos pagãos que coincidem com as crenças cristãs. Estas também constituem uma sabedoria, a "verdadei ra sabedoria", que pode incorporar não poucas das idéias, em particular das normas morais, pagãs. As sim, Lactâncio indicou o caminho para a reconciliação entre a sabedoria grega e a crença cristã no sentido de
uma absorção da primeira pela segunda. Em seu De ira Dei (Da ira de Deus), Lactâncio mostrou, contra epicuristas e estóicos, a justificação da ira divina. Em De mortibus persecutorum (Da morte dos perseguido res), apresentou uma justificação histórica do cristia nismo em seu confronto com a sabedoria pagã. � Obras em Migne, PL, VI e VII. Edição por S . Brandt e G. Laubmann e m Corpus scriptorum eccle siastorum latinorum, XIX e XXVII, 1 890- 1 897. Vejam se obras citadas na bibliografia de APOLOGISTAS; ver além disso: R. Pichon, Lactance. Étude sur te mouve ment philosophique et religieux sous le régime de Cons tantin, 1 90 1 . - F. Fessler, Die Benutzung der philoso phischen Schriflen Ciceros durch Laktanz, 1 9 1 3 . - J. Sigert, Die Theologie des Apologeten Laktanz in ihrem Verhiiltnis zu Stoa, 1 9 1 9. - L. Rossetti, "II 'De opficio Dei' e le sue fonti'', Didaskaleion ( 1 928), 1 1 7-200. Karl Wilhelmson, L. und die Kosmogonie des spiitanti ken Syncretismus, 1 940. - E. F. Micka, The Problem ofDivineAnger in Arnobius and L. , 1 943. - J. Nicolosi, L'influsso di Lucrezio su Lattanzio, 1 945. - L. Thomas, Die sapientia ais Schlüsselbegriffzu den Divinae Insti tutiones des Laktanz, 1 959 (tese). - S. Casey, "Lactan tius' Reaction to Pagan Philosophy'', Classica Mediae valia, 32 ( 1 979- 1 980), 203-2 1 9. - A. L. Fisher, "Lac tantius' ldeas Relating Christian Truth and Christian Society", Journal of the History of Jdeas, 43 ( 1 982), 355-378. e:
LA É RCIO. Ver DIÓGENES LAÉRCIO. LAFFITTE, PIERRE ( 1 823- 1 903). Nascido em Béguey (Gironda), foi professor de matemática e, em 1 892, foi nomeado professor de história da ciência no College de France. Laffitte aderiu em 1 844 ao positivismo de Comte, de quem foi, até o final da vida, o mais fiel dis cípulo. Quando Comte transformou, em 1 852, o movi mento positivista em "religião positiva'', Laffitte acom panhou seu mestre, ao contrário dos discípulos dissiden tes, como Émile Littré (vER) . Pouco antes de falecer ( 1 857), Comte designou Laffitte seu sucessor e sumo sacerdote da "Igreja positiva", dignidade que ocupou até 1 897, quando o sucedeu seu discípulo Charles Jean nolle. O principal trabalho filosófico de Laffitte consis tiu na defesa e organização do positivismo comtiano contra todas as dissidências e contra todos os adversá rios. Em seu Curso de filosofia primeira, resumiu e sistematizou todos os temas do positivismo de Comte, podendo-se considerar esta obra como a expressão com pleta do movimento e das intenções do fundador. � Principais obras: Cours philosophique sur l 'histoire générale de l 'humanité, 1 859. - Les grands types de l 'Humanité. Appréciation systématique des principaux agents de l 'évolution humaine, 3 vols., 1 874, 1 875, 1 897. - De la mora/e positive, 1 880. - Cours de phi losophie premiére, 2 vols., 1 889- 1 895. C:
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LAFINUR, JUAN CRISÓSTOMO ( 1 797- 1 824). Nascido em San Luis (Argentina). Depois de fazer estudos na Universidade Católica e em estreita relação com os acontecimentos políticos da época, propagou, a partir do Colegio de la Unión dei Sur, como reação contra o es colasticismo dominante, o sensualismo de Condillac e a filosofia dos ideólogos. Seu Cursofilosófico, iniciado em 1 8 1 9, causou grande comoção nos meios oficiais, que classificaram seu autor como "ateu" e "materialis ta". O conteúdo filosófico do ensinamento de Lafinur se atém, mais que a Condillac, ao sensualismo tal como difundido por alguns de seus discípulos, sobretudo por Cabanis e Destutt de Tracy (VER). Contudo, Lafinur procura, partindo de bases sensualistas, chegar a uma coincidência com o espiritualismo mediante uma con cepção da alma como atividade puramente espiritual. A renovação de Lafinur teve prosseguimento sobretudo por obra de seus discípulos Diego Alcorta e Juan Ma nuel Fernández de Agüero (Principias de ideología e/e mentai abstractiva y oratoria ), que se mantiveram fiéis à ideologia e à influência da Enciclopédia, preparando o caminho para a geração positivista. :> Edição do Cursofilosófico de Lafinur pelo Instituto de Filosofia da Universidad de Buenos Aires, 1 939. Edição de los Principios de Juan Manuel Fernández de Agüero no Instituto de Filologia da mesma Universidade. Ver: Delfina Varela Domínguez de Ghioldi, J L. C. , 1 934. - Jorge R . Zamudio Silva, Juan Manuel Fernández deAgüero, 1 940. - Fazem referência a Lafinur quase to das as obras de filosofia argentina citadas na seção corres pondente da bibliografia de FILOSOFIA AMERICANA. Alain publicou, em 1 926, a obra intitulada Les céle bres leçons. Ver: André Canivez, J L., professeur de philoso phie. Essai sur la condition du professeur dephilosophie jusqu 'à lafin du XIX" siecle, 2 vols. (!: Les professeurs de philosophie d 'autrefois; II: J L.). - S. Petrement, "Remarques sur Lagneau, Alain, et la philosophie alie mande contemporaine'', Revue de Métaphysique et de Mora/e, 75 ( 1 970), 292-300. - R. J. Le Huenen, "Lag neau et l'idée de personalité'', Dialogue, 1 1 ( 1 972), 569575. - R. Nebuloni, "J. L . : La radice morale della cer tezza", Ri vista di Filosofia Neo-Scolastica, 73 ( 1 9 8 1 ), 340-367. - !d. , Certezza e azione. La filosofia refles siva in L. e Nabert, 1 984. - E. Baglioni, La lotta contra i poteri: il radicalismo di Alain, 1 988. - A. R. Roda, "Presencia dei pensamiento de Lagneau", Pensamiento, 45 ( 1 989), 87-92 . Obras: Lectures sur la philosophie des sciences, 1 893 ; 1 0" ed., 1 929. - La dissolution opposée a l 'évo lution dans les sciences physiques et morales, 1 898 (2ª ed. modificada, com o título: Les illusions évolutionis tes, 1 92 1 ). - Quid de mathematica vel rationali vel
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LAMBERT, JOHANN HEINRICH
naturali senserit Baconus Yérulamius, 1 899 (tese). Précis raisonné de mora/e pratique, 1 907. - Les théo ries de l 'induction et de l 'expérimentation, 1 929. La psychologie des jugements de valeur, 1 929. - La raison et les normes, 1 948. Em português: Vocabulário técnico e crítico dafilosofia, 2ª ed., 1 996. , Autobiografia intelectual: '1.:lnvolution'', Les Elu des philosophiques, N. S., 1 ( 1 947), 1 - 1 0. - G Dele dalle, D. Huisman, Les philosophes françaises d 'au jourd 'hui par eux-mêmes, 1 963, pp. 1 -2 1 (com biblio grafia). - A . L. par /ui même, 1 967, ed. Walter Lalan de (com bibliografia). Ver: Italo Bertoni, li neoilluminismo etico di A. L. , 1 965. - R. Poirier, "A.L." e N. Lubnicki, "A. L. dans le souvenir d'un de ses disciples", Revue de Métaphy sique et Mora/e, 70 ( 1 965), 1 40- 1 64 e 1 65- 1 72 . C: .
LAMARCK, JEAN BAPTISTE PIERRE ANTOI NE DE MONET, CHEVALIER DE ( 1 744- 1 829). Nascido em Bazantin-le-Petit (Picardia, França), inte ressou-se por botânica; suas pesquisas sobre a flora francesa o levaram à eleição como membro da Acade mia de Ciências, assim como a trabalhar por um dado período ( 1 783- 1 793) no "Jardin du Roí". Lamarck propôs a fundação de um Museu de História Natural; tendo sido aceita a sua proposta, encarregou-se de uma cátedra de zoologia. Suas pesquisas zoológicas consti tuíram a base para seus trabalhos sobre a evolução or gânica, o que fez dele o primeiro grande criador e sistematizador do evolucionismo, fato reconhecido por Darwin, mesmo que seja tradicional opor, no tocante a esse tema, darwinismo e lamarckismo. Referimo-nos com mais detalhes às idéias de Lamarck no verbete LAMARCKISMO; ver também DARWINISMO.e EVOLUÇÃO. :> Obras: Flore française, 1 778. - Systeme des ani maux sans vertebres, 1 80 1 . - Recherche sur l 'organi sation des corps vivants, 1 802. - Philosophie zoologi que, 2 vols., 1 809- 1 830. - Histoire naturelle des ani maux sans vertebres, 7 vols., 1 8 1 5- 1 822. Ver: A. S. Packard, L., The Founder of Evolution, 1 90 1 . - A. Pauli, Darwinismus und Lamarckismus, 1 905. - M. Landrieu, L., /efondateur du transformisme, 1 909. - H. G. Cannon, L. and Modern Genetics, 1 960. - E. Boesiger, "Evolutionary Theories after Lamarck and Darwin", em F. J. Ayala, T. G. Dobzhansly, eds., Studies in the Philosophy ofBiology: Reduction and Re lated Problems, 1 974, pp. 2 1 -44. - R. W Burkhardt, The Spirit ofSystem. L. and Evolutionary Biology, 1 977 (com bibliografia). - M. Barthélemy, L. ou /e myte du précurseur, 1 979. - Université de Picardie, L. et son temps. L. et notre temps, 1 9 8 1 (simpósio internacional). - Ver também a bibliografia de EvoLUçÃo. C: LAMARCKISMO. Pode-se entender por "lamarckis mo" sobretudo o evolucionismo ou transformismo pro-
postos e desenvolvidos por Lamarck (vER), especial mente em sua Filosofia Zoológica, de 1 809 (2 vols., 1 809- 1 830). A classificação de Lineu (Carolus Lin naeus: 1 707- 1 778) baseava-se na idéia de que as espé cies orgânicas são fixas; contudo, era possível ver que as diferenças entre espécies estavam ao mesmo tempo relacionadas com semelhanças, de maneira que se podia pensar na passagem de uma espécie para outra. Os es tudos geológicos e paleontológicos levados a efeito por Lamarck, somados ao exame das relações entre grupos e subgrupos orgânicos, levaram-no à convicção de que a Natureza forma um todo, criado por Deus para um propósito que desconhecemos e que, de fato, não pre cisamos conhecer para explicar as realidades naturais; basta ver que estas formam um contínuo ou uma "es cala" que vai dos seres inferiores ou menos complexos aos seres superiores e mais complexos. As plantas e os animais emergiram, por geração espontânea, da matéria inanimada, formando suas linhas evolutivas. A escala dos seres foi se produzindo sucessivamente de acordo com uma tendência ao aperfeiçoamento. O postulado desta tendência ou, como.também é chamada, "força", dá ao sistema de Lamarck uma característica teleológica que por vezes foi aceito como ingrediente essencial da ex plicação da evolução, mas que na maioria das ocasiões foi alvo de críticas, especialmente a partir do momento em que Darwin aparentemente eliminou as explicações teleológicas. A evolução das espécies não segue, no en tanto, uma linha contínua, devido às mudanças do meio ambiente, responsáveis por numerosas diversificações. Deve-se observar que o citado elemento teleológico não constitui em Lamarck um princípio suficiente de explicação das transformações, porém, no máximo, um princípio necessário; as espécies se originam, e as trans formações ocorrem graças à ação de um conjunto de causas naturais que vão desde os efeitos mecânicos pro duzidos pelo ambiente até as reações dos seres orgâ nicos a necessidades do ambiente. As modificações in troduzidas nos seres orgânicos são transmitidas here ditariamente. A transmissão hereditária das caracte rísticas adquiridas é um dos pontos da doutrina de La marck, elemento por certo importante, mas é um erro equiparar, como por vezes se tem feito, "lamarckis mo" com "doutrina da transmissão hereditária dos ca racteres adquiridos".
LAMBERT, JOHANN HEINRICH ( 1 728- 1 777). Nascido em Mühlhausen (Alsácia); foi chamado a Ber lim na qualidade de membro da Academia de Ciências. Lambert distinguiu-se por suas pesquisas matemáticas, fisicas, cosmológicas e filosóficas. Na fisica, ocupou se, entre outras, de questões de fotometria e higrometria. Na cosmologia, de problemas de astrometria. São bas tante numerosos seus trabalhos nas matemáticas, e são
LAMBERT, JOHANN HEINRICH particularmente interessantes do ponto de vista filosó fico os trabalhos levados a efeito em estreita relação com investigações lógicas. Suas principais obras filosóficas, o Novo Organon e a Arquitetônica (ver bibliografia) são em parte a elabo ração e sistematização de uma série de idéias originadas em suas tentativas de relacionar os termos lógicos com os matemáticos. Em seus "Sechs Versuche einer Zei chenkunst in der Vernunftlehre" ("Seis ensaios de uma arte dos signos na teoria da razão"), publicados por J. Bernoulli em 1 782 (ver bibliografia), Lambert conce beu todo raciocínio como extração de uma idéia de outra na qual ela está contida (o atributo no suj eito, a espécie no gênero, a idéia abstrata na idéia concreta etc.). Raciocinar é, pois, agir num sentidio análogo ao das operações matemáticas. Portanto, podem-se esta belecer relações de igualdade, de adição e subtração entre as idéias. Além disso, podem ser adotados signos que exprimam, por meio de expoentes, a posição de um gênero, de uma espécie etc. na ordem de continente a conteúdo. Por fim, os signos também podem ser ado tados na expressão de elementos dados e de incógnitas a serem descobertas mediante o raciocínio (ou cálculo). Porém, de acordo com Lambert, o raciocínio não deve servir apenas para a demonstração, devendo aplicar-se igualmente à descoberta da verdade. Com esse propó sito, ele desenvolveu no Novo Organon, uma teoria do conhecimento dividida em quatro partes: a dianoologia, ou arte de pensar; a aletiologia, ou doutrina da verdade; a semiótica, ou doutrina dos caracteres exteriores do verdadeiro; e a fenomenologia, ou teoria da distinção entre o verdadeiro e o falso. Tratamos com mais deta lhes do conteúdo do Novo Organon de Lambert nos ver betes dedicados a Aletiologia, Dianoologia, Fenome nologia e Semiótica. Indiquemos por ora apenas que algumas das tendências apresentadas por Lambert são muito similares às encontradas em Leibniz e Wolff, havendo no primeiro muitos elementos procedentes de Locke. Figura entre estes a tese da divisão das idéias em simples e complexas. Opondo-se à excessiva importân cia dada por Wolff aos princípios e relações formais, Lambert afirma que o pensamento deve ser pensamento do objeto. O princípio de contradição não pode por si só levar ao conhecimento do real; o princípio de razão suficiente é aplicável aos objetos da experiência, mas não permite a derivação desses objetos. É portanto ne � cessário fazer antes de tudo uma seleção de idéias sim ples e primitivas por meio da experiência com o fim de organizar o conhecimento. Os conceitos puramente abstratos, longe de serem simples, compõem-se de ele mentos simples. A Arquitetônica apresentava o sistema das idéias simples e suas combinações possíveis. Segundo Lambert, há seis classes de elementos primitivos do conhecimento:
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1 ) noções como solidez, existência, duração, extensão, força, consciência, vontade, mobilidade, unidade, magni tude; 2) noções como a luz, as cores, os sons etc.; 3) no ções como ser, devir, ter, poder, fazer; 4) noções como "não", "quê?", "como?", o semelhante, o uniforme, o si multâneo; 5) noções como "rumo a", "antes de", "depois de'', "por meio de" etc.; 6) noções como "porque", "tam bém", "mas" etc. Além desses elementos primitivos, há dois tipos de princípios: os ideais e os reais. É importante na arquitetônica (VER) de Lambert - que é uma ontologia e ao mesmo tempo uma teoria dos objetos - a idéia da possibilidade (ou possibilidades) de combinação de ele mentos simples por meio dos dois tipos de princípios. Deve-se a Lambert a prova de que TI, que exprime a relação entre a circunferência de um círculo e seu diâ metro, é um número irracional. � Obras: Photometria sive de mensura et gradibus lu minis, colorum et umbrae, 1 760. - Kosmologische Brie fe über die Einrichtung des Weltbaues, 1 76 1 ; reímp., 1 979 (Cartas cosmológicas sobre a disposição da estrutura do universo). - Neues Organon oder Gedanken über die Erforschung und Bezeichnung des Wahren und des sen Unterscheidung vom lrrtum und Schein, 2 vols., 1 764; reimp. 1 965 (Novo Organon ou pensamentos so bre a exploração e a designação do verdadeiro e sua distinção entre o erro e a aparência). - Anlage zur Architektonic oder Theorie des Einfachen und des Ersten in der philosophischen und mathematischen Erkenntnis, 2 vols., 1 77 1 ; reimp. 1 965 (Plano para a arquitetônica ou teoria do simples e do primeiro no conhecimento filosófico e matemático). - Logische und philosophis che Abhandlungen, 2 vols., 1 782, ed. J. Bernoulli [con tém os "Sechs Versuche" referidos supra]. - Deutscher Gelehrter Briefwechsel, 4 vols., 1 78 1 - 1 784, ed. J. Bernoulli [inclui correspondência de L. com Kant]. Edições mais recentes de escritos de L.: J. H. Lam berts Monatsbuch mit den zugerhorigen Kommentaren, wie mit einem f!órwort über den Stand der Lambertfors chung, 1 9 1 5, ed. K. Bopp, em Abhandlungen der bayeris che Acad. , Math-Phys. K l XXVII, 6. - Criterium veri tatis, 1 9 1 5, ed. K. Bopp [Kantstudien, Ergãnzungshefte, 36]. - Über die Methode, die Metaphysik, Theologie und Moral richtiger zu beweisen, 1 9 1 8, ed. K. Bopp [ibid. , 42] . - Opera mathematica, 1 946, ed. A. Speiser. - Ed. de correspondência entre Euler e L.: Briefwechsel zwischen L. Euler und J. H. L. , 1 924, ed. K. Bopp. Edição de obras: Philosophische Schriften, 1 O vols., ed. Hans-Werner Arndt, 1 965- 1 968 . Ver: R. Zimmermann, L., der Vorgiinger Kants, 1 879. - Johann Lepsius, J. H. L. , 1 88 1 . - O. Baensch, J. L. Lamberts Philosophie und seine Stellung zu Kant, 1 902. - K. Krienelke, Lamberts Philosophie der Mathema tik, 1 909. - K. Bopp, Lamberts Stellung zum Raumpro blem und seine Parallelentheorie in der Beurteilung sei-
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LAMENNAIS [LA MENNAIS] [HUGHES] FELICITÉ, ROBERT DE
ner Zeitgenossen, 1 9 14. - P. Sterkman, De plaats van J H. L. in de ontwikkeling van het idealisme voar Kant, 1 928 (tese). - Max E. Eisenring, J H. L. und die wis senschaftliche Philosophie der Gegenwart, 1 942 (tese). - M. Steck, J H. L., Schriften zur Perspektive, 1 943 [com bibliografia] . - R. Ciafardone, J H. L. e la fon dazione scientifica della filosofia, 1 975. - M. Dello Preite; L'imagine scientifica dei mondo di J H. L. Ra zionalità ed esperienza, 1 979. - E. W Orth, "Der Ter minus ' Phãnomenologie ' hei Kant und L. und seine Verbindbarkeit mit Husserls Phãnomenologie-Begrif", Archiv for Begriffsgeschichte, 26 ( 1 982), 23 1 -249. G. Wolters, "Some Pragmatic Aspects of the Metho dology of J. H. L.", em J. C. Pitt, ed., Change and Pro gress in Modem Science, 1 985. A principal obra de Lamy é: De la connaissance de soi-même, 6 vols., 1 694- 1 698; 3ª ed., 1 7 1 2. - L. apre sentou as doutrinas de Malebranche e de Descartes em Premiers élements des sciences on entrée aux connais sances solides, 1 706. - Além disso: Lettres philoso phiques, 1 703. L'incrédule amené à la religion par la raison, 1 7 1 O. - Anonimamente apareceu seu Nouvel athéisme renversé, 1 696. Cartas de Malebranche ao Padre Lamy no tomo XIV da edição de Oeuvres completes de Malebranche (VER), ed. A. Robinet, 1 963. Bibliografia: relação completa dos escritos de L. em Histoire littéraire de la Congrégation de Saint-Maur, Bruxelas, 1 770, pp. 356 ss, e em Bibliotheque des écri vains de la Congrégation de Saint-Maur, Paris, 1 882, nº' 264-283. Ver: J. Zehnder, Dom F. L. . Essai d 'introduction à sa vie et à ses oeuvres, 1 944. - A. Pizzorusso, "Arte retorica e 'conoscenza di se' nel pensiero di Fr. Lamy", Annali dei/a Scuola Norma/e Superiore di Pisa ( 1 965), pp. 1 93-220. e: -
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LANCELOI, CLAUDE. Ver PoRT-ROYAL (GRAMÁTICA DE). LANDGREBE, LUDWIG ( 1 902- 1 99 1 ). Nascido em Viena, estudou em Friburgo i.B., onde foi auxiliar de Hus serl, cuja obra sobre experiência e juízo (Erfahrung und Urteil) publicou em 1 938. Langrebe lecionou na Uni versidade Alemã de Praga ( 1 935- 1 939) e em Louvain ( 1 939-.1 940). Após a Segunda Guerra Mundial, foi pro fessor em Hamburgo ( 1 945- 1 947), Kiel ( 1 947- 1 956) e Colônia (a partir de 1 956). Foi diretor dos "Arquivos Husserl", de Colônia. Seguindo Husserl, Landgrebe pro curou desenvolver uma "ontologia existencial", em al guns pontos coincidente com a de Heidegger, mas em outros separada tanto deste como de Husserl. Seu princi pal interesse é a "constituição" fenomenológica do mun do com base nos eus alheios. A intersubjetividade assume em Landegrebe um caráter transcendental, a ponto de ha ver em seu interior um Absoluto que é como Deus presente ao homem. A relação de cada um com o "Ser" se dá me diante essa intersubjetividade fundada no Absoluto. :> Obras: Nennfunktion und Wortbedeutung, 1 934 (Função nominativa e significação verbal). - Wilhelm Diltheys Theorie der Geisteswissenschaften, 1 938 (A teo ria diltheyana das ciências do espírito). - Phiinomeno logie und Metaphysik, 1 948. - Was bedeutet uns heute Philosophie?, 1 948; 2ª ed., 1 954 (Que significa hoje para nós a filosofia ?). Philosophie der Gegenwart, 1 952 (Filosofia do presente). - Der Weg der Phiinomenologie. Das Problem einer ursprünglichen Erfahrung, 1 963, ed. Günter Rohrrnoser (O caminho dafenomenologia: o pro blema de uma experiência originária). - Phiinomeno logie und Geschichte, 1 968. - Der Streit um die philo sophischen Grundlagen der Gesellschafttheorie, 1 975 (A disputa sobre os fundamentos filosóficos da teoria social). - Faktizitiit und Individuation. Studien zu den Grundfragen der Phiinomenologie, 1 982. Bibliografia: Ulrich Claesges e Klaus Relei, eds., Perspektiven transzendental-phiinomenologischer Fors chung. Für L. L. zum 70. Geburstag von seinen Kolner Schülern, 1 972. - Philosophische Selbstbetrachtun gen, volume 1 0, 1 983. Ver: H. L. Van Breda, M. Farber et ai. , Phiinomeno logie Heute. Festschriftfiir L. L., ed. Walter Biemel, 1 972. - M. A. Presas, "L. L., intérprete de Husserl", Revista Latino-americana de Filosofia, 9 ( 1 983), 63-68. C: LANDSBERG, PAUL LUDWIG ( 1 90 1 - 1 944). Nascido em Bonn, foi professor de filosofia da Universidade de Bonn a partir de 1 926. Tendo fugido da Alemanha, incor porou-se à Universidade de Barcelona, na qual fez semi nários sobre Nietzsche e Scheler. Quando eclodiu a Guer ra Civil Espanhola, em 1 936, dirigiu-se a Paris, onde fez parte do grupo de personalistas cristãos representados eminentemente por Ernmanuel Mounier (VER) e a revista Esprit. Foi detido em março de 1 943 em Pau e deportado
LANFRANCO [LANFRANC, LANFRANCUS] para o campo de concentração de Oranienburg, nas cerca nias de Berlim, onde faleceu a 2 de abril de 1 944. Discípulo de Max Scheler, Landsberg desenvolveu algumas das idéias fundamentais de seu mestre (por exemplo, na aplicação da sociologia do conhecimento ao estudo da Academia Platônica e na elaboração da an tropologia filosófica [VER]). Judeu de raça, luterano de religião, com inclinação para algumas posições do exis tencialismo (particularmente do chamado "existencia lismo cristão"), Landsberg esteve em muitas ocasiões próximo do catolicismo. Isso fica especialmente evi dente em dois casos: em suas idéias sobre a ordem do amor e em suas pesquisas sobre a morte e o suicídio. No que diz respeito às primeiras, Landsberg baseou-se na possibilidade de uma apreensão emotiva e ao mesmo tempo obj etiva e rigorosa dos valores, apreensão que o levou a aprofundar-se nas raízes agostinianas do ordo amoris. No tocante às segundas, ele sustentou que a ex periência da morte revela melhor que tudo a realidade da pessoa espiritual. Quanto ao suicídio, Landsberg o considera aceitável se nos ativermos (como os estóicos) às razões que podem promovê-lo, mas é preciso rejeitá lo se levarmos em conta a morte de Cristo. :> Obras: Die Welt des Mittelalters und wir: ein geschi chtesphilosophischer Versuch über den Sinn eines Zeital ters, 1 922. - Wesen und Bedeutung der platonischen Akademie, 1 923. - Pascais Berufang, 1 929 (A vocação de Pascal). - Einfiihrung in die philosophische Anthro pologie, 1 934 (Introdução à antropologia filosófica). - Die Erfahrung des Todes, 1 937 (trad. esp.: Experien cia de la muel'te, 1 940 [com outros dois ensaios]). Problemes du personnalisme, 1 952 [arts. de Esprit]. Ver E. Mounier, "P.-L. L.", Esprit ( 1 946), 1 55-1 56. - K. Albert, "Die philosophische Anthropologie bei P.-L. L.", Zeitschriftfor philosophische Forschung, 27 ( 1 973). e: -
LANFRANCO [LANFRANC, LANFRANCUS) (ca. 1 005- 1 089). Nascido em Pavia, onde estudou leis. Des terrado da localidade, passou, ao que parece, algum tem po em Bolonha. Regressou posteriormente a Pavia, mas por volta de 1 036 mudou-se para a França, estudando em Tours com Berengário (vER). Após ensinar em vários lugares, incluindo-se especialmente Avranches, gramá tica, retórica e possivelmente (segundo A. J. MacDonald [cf. infra]) dialética, entrou (ca. 1 040) no mosteiro be neditino de Bec, na Normandia, sendo nomeado prior por volta de 1 045. Em Bec, ensinavam-se o trivium e o quadrivium; Lanfranco teve como discípulos ali, entre outros que se tomaram ilustres, Anselmo de Aosta (ver ANSELMO [SANTO]). Em 1 066, Lanfranco foi no meado abade em Caen. Depois da conquista da Inglater ra por Guillerme l, foi chamado a ocupar a sé do arce bispado da Cantuária, onde foi sucedido por Alselmo de Aosta.
LANGE, FRIEDRICH ALBERT Lanfranco manteve pelo espaço de uns vinte anos (mais ou menos entre 1 049 e 1 069) uma agitada contro vérsia teológica com Berengário de Tours. A controvér sia versou principalmente sobre a maneira de interpre tar o dogma da transubstanciação na Eucaristia. Contra riando Berengário, que adotava uma posição "nomina lista", Lanfranco sustentava a posição "realista": "uma coisa" - dizia ele - "não pode transformar-se em outra sem deixar de ser o que foi". Portanto, há uma mudança real de substância na Sagrada Forma. Lanfranco por vezes é considerado como um dos "antidialéticos" do tipo de São Pedro Damião. Contudo, o juízo que Lanfranco faz sobre o papel e o uso da dia lética ( VER) na teologia foi moderado. A oposição de Lanfranco a Berengário era principalmente doutrinal, mas também "metódica"; segundo Lanfranco, Beren gário confiava excessivamente no poder da "dialética" (dos "argumentos lógicos") para compreender e provar as verdades reveladas e transmitidas pela autoridade da Igreja, defendendo que nenhum argumento dialético deve sobrepor-se a elas. Tanto ou mais que os argumen tos dialéticos, devem ser usados para compreender e provar essas verdades os textos das Escrituras. Contudo, se os argumentos dialéticos forem usados com mode ração, não há motivo para opor-se totalmente a eles. Por isso, a maioria dos historiadores da filosofia medieval tende a considerar Lanfranco partidário de uma posição intermediária entre os "antidialéticos" extremos, do tipo de São Pedro Damião, e os "dialéticos radicais", do tipo de Berengário de Tours. � Os escritos de Lanfranco (De corpore et sanguine Domini [redigido por volta de 1 059]; De sacra coena [ 1 062] ; Comentarii in omnes Pauli Epistolas; Sermo sive sententiae; Epistolae) estão em Migne, P. L. , 1 50. Ver: J. A. Endres, Forschungen zur Geschichte der frühmittelalterlichen Philosophie, 1 9 1 5 [Beitrãge zur Geschichte der Philosophie des Mittelalters, XVII, 23]. - A. J. MacDonald, Lanfranc: A Study in His Life, Works, and Writings, 1 926. - G. Morin, "Bérenger contre Bérenger", Recherches de théologie ancienne et médiévale [Louvain], 4 ( 1 932), 1 09- 1 33 . - L. C. Ramí rez, La controversia eucarística dei siglo XI. Beren gario de Tours a la luz de sus contemporáneos, 1 940. - R. W. Southern, St. Anselm and his Biographer, 1 963, pp. 1 2-26. e:
LANGE, FRIEDRICH ALBERT ( 1 828- 1 875). Nas cido em Wald, nas proximidades de Solingen, no distrito de Düsseldorf, mudou-se aos 12 anos, com o pai, para Zurique, Suíça; estudou na Universidade dessa cidade e na Universidade de Bonn. Professor do "Gymnasium" de Colônia, foi nomeado em 1 85 5 Privatdozent em Bonn. De 1 858 a 1 86 1 , ensinou no "Gymnasium" de Duisburg; depois foi secretário na Câmara de Comér cio de Duisburg e, de 1 862 a 1 866, dirigiu o Rhein-und
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Ruhrzeitung. Interessado pelas questões sociais e espe cialmente pela "questão operária", Lange colaborou com várias publicações social-democratas periódicas. Em 1 870, entrou na Universidade de Zurique como Pri vatdozent e foi nomeado, em 1 872, professor da Univer sidade de Marburgo. A obra mais conhecida de Lange é sua História do Materialismo (ver bibliografia), desde os atomistas gre gos até sua época. O materialismo é para Lange um sistema completo; é, além disso, o primeiro sistema fi losófico no tempo, mas também aquele que se encontra no "nível mais baixo". O materialismo - no qual Lange inclui também tendências como o naturalismo e o posi tivismo - tem sua justificação como norma para a pesquisa científica e como explicação dos fenômenos naturais. O materialismo - ou suas diversas formas - também mostra os aspectos frágeis do "idealismo" quando este é simplesmente um dogmatismo especula tivo. Contudo, o materialismo não pode explicar a ativi dade da consciência como realidade organizadora e ca tegorizadora. A superação das insuficiências do mate rialismo só é conseguida, ao ver de Lange, quando se adota a teoria kantiana do conhecimento. Lange é por isso considerado um kantiano e, a rigor, como um dos promotores do neokantismo ( vER) . Porém, ao contrário do idealismo objetivo de outros neokantianos - por exemplo, os filósofos da chamada "Escola de Marbur go" -, ele defende uma interpretação psicológica e mesmo psicofisiológica do sujeito transcendental. As categorias são, pois, formas do sujeito real e não condi ções puras da possibilidade do conhecimento. Lange rejeita o valor científico da metafísica, que considera como "poesia conceituai". Não obstante, essa "poesia" parece ser necessária como expressão de certas aspirações humanas. A metafísica é, nesse sentido, aná loga à religião e à ética. Ao contrário de Kant, Lange considera que a ética não pode ser um conhecimento rigoroso, que ela é um "complemento da realidade'', ou seja, a manifestação de uma aspiração à harmonia total. Metafísica, religião e ética são, em última análise, de ca ráter "estético"; são, no limite, expressões de "ideais" e não de realidades. � Obras: Die Grundlagen der mathematischen Psy chologie. Ein "férsuch zur Nachweisung desfundamen talen Fehlers hei Herbart und Drobisch, 1 865 (Os fun damentos da psicologia matemática: ensaio de demons tração da falha fundamental de H. e D. ). - Die Arbei terfrage in ihrer Bedeutungfiir Gegenwart und Zukunft, 1 865; 5ª ed., 1 894; ed. por F. Mehring, 1 9 1 O (A questão operária em sua significação para o presente e para o futuro). - Die Geschichte des Materialismus und Kritik seiner Bedeutung in der Gegenwart, 2 vols., 1 866; 2ª ed., bastante ampliada, 2 vols, 1 873- 1 975; 1 0' ed., com introdução de Hermann Cohen, 1 92 1 (História do ma terialismo e crítica de sua significação na atualidade).
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- J. Stuart Mil/ Ansichten über die soziale Frage und die angebliche Unwiiltzung der Sozialwissenschaft durch Carey, 1 866 (As opiniões de J. S. M. sobre a questão social e a suposta transformação da ciência social por C. ). - Neue Beitriige zur Geschichte des Materialismus, 1 867 (Novas contribuições à história do materialismo). - Logische Studien. Ein Beitrag zur Neubegründund derformalen Logik und der Erkenntnis theorie, 1 877, ed. H. Cohen; 2ª ed., 1 894 (Estudos ló gicos. Contribuição à nova fundamentação da lógica formal e da teoria do conhecimento). - Lange escreveu ainda um extenso artigo sobre o pensamento de Juan Luis Vives para a Enzyklopiidie des gesamten Erzie hunsgs- und Unterrichtswesens ( ed. por K. A, Schmidt, tomo IX). Bibliografia: W. Ring, Verzeichnis des wissenschaf tlichen Nachlasses von F. A. L. , 1 929. Ver: Hans Vaihinger, Hartmann, Duhring und L. , 1 876. - H. Braun, F. A. L. ais Sozialoekonom, 1 88 1 . O. A. Ellisen, F. A. L., eine Lebensbeschreibung, 1 89 1 . -A. Faggi, F.A . L . e il materialismo, 1 896. - W. Genz, Der Agnostizismus H. Spencers mit Rücksicht auf A. Comte und F. A. L. , 1 902. - J. H. Knoll, H. J. Schoeps, eds., F. A. L., Leben und Werk, 1 975 (com bibliografia). - G. J. Stack, Lange und Nietzsche, 1 983. C: LANGER S[USANNE) K[ATHERINE) ( 1 895- 1 985). Nascido em Nova York, deu aulas em Viena, no Radcliffe College (Cambridge, Massachusetts, EUA) e no Con necticut College for Women (New London, Connecti cut). Sob a influência dos trabalhos contemporâneos sobre os símbolos e o simbolismo (Cassirer, Wittgens tein e outros), S. K. Langer viu na pesquisa dos símbo los e da simbolização em todas as esferas da atividade humana (ciência, religião, arte etc.) a "nova chave" da filosofia. Essa pesquisa não precisa, a seu ver, estar contida no âmbito de determinada metafisica - por exemplo, uma metafisica idealista. A transformação simbólica é para S. K. Langer uma atividade natural e não a manifestação de um espírito humano transcenden tal. Por conseguinte, parte-se do estudo dos símbolos, em lugar de se chegar a ele mediante uma metafisica prévia do homem (ao contrário do que propõe Cassirer). Somente assim pode a filosofia ser fiel à sua tarefa de formular problemas em vez de começar com soluções dadas. A oposição ao idealismo é paralela à oposição ao mero empirismo, que esquece que os dados dos sen tidos já são primariamente símbolos. Além disso, não se devem confundir os símbolos com simples signos - já usados pelo animal: estes últimos são apenas si nais, ao passo que os primeiros podem ser signos, porém signos usados para falar de realidades. Cada uma das manifestações da cultura humana - mito, ciência, religião, arte (ou artes) etc. - está li gada a determinado sistema ou universo simbólico cuja
LAPLACE, PIERRE SIMON, MARQUÊS DE estrutura e relação com outros sistemas ou universos são estudadas pelo filósofo. S. K. Langer ocupou-se particularmente dos sistemas simbólicos corresponden tes às diversas artes. Cada arte produz um sistema (ou domínio) simbólico no qual se exprimem um ou vários aspectos do sentir ifeeling). O sentir se manifesta por meio de formas, que possuem então "significação" (são "formas concretas significativas"). Essa significação não é nem mera expressão dos sentimentos do artista nem reprodução pretensamente "objetiva" da realidade. Os símbolos de que se vale cada uma das artes consti tuem uma ordenação peculiar da vida perceptiva e sensí vel, que pode dessa maneira aprimorar-se e, por assim dizer, "progredir". � Obras: An Introduction to Symbolic Logic, 1 93 7. Philosophy in a New Key: A Study on the Symbolism of Reason, Rite and Art, 1 924; reed., 1 95 1 . - Feeling and Form: A Theory ofArt, Developedfrom Philosophy in a New Key, 1 953. - Problems ofArt: 10 Philosophical Lectures, 1 957. - Philosophical Sketches, 1 962 [nove ensaios] . - Mind: An Essay on Human Feeling, 3 vols., 1 967- 1 982; reed., 1 988. Em português: Filosofia em nova chave, 2ª ed., 1 989. - Sentimento e forma, 1 980. Ver: R. K. Ghosh, "The Alleged Duality in S. L.'s Aesthetics", Indian Philosophical Quarterly, 7 ( 1 980), 50 1 -5 1 1 . - J. R. Royce, "The Implications of Langer's Philosophy ofMind for a Science of Psychology", Jour nal ofMind Behaviour, 4 ( 1 983), 49 1 -506. - H. Osbor ne, "S. K. L.'s Mind: An Essay in Human Feeling", Journal ofAeslhetic Education, 1 8 ( 1 984), 83-93 . - J. Edwards, "S. L.: The Arts and Education", Journal of Thought, 1 9 ( 1 984), 95- 103. - G. Hagberg, "Art and the Unsayable: L.'s Tractarian Aesthetics", British Jour nal ofAesthetics, 24 ( 1 984), 325-340. - M. F. Slattery, "Looking Again at S. L.'s Expressionism", ibid. , 27 ( 1 987), 247-258. - D. W. Black, "The Vichian Ele ments in S. L.'s Thought", New Vico Studies, 3 ( 1 985), 1 1 3- 1 1 8 . L.-0. Ahlberg, "S. L. on Representation and Emotion in Music", British Journal ofAesthetics, 34 ( ! ) ( 1 994), 69-80. e -
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LANIGAN, RICHARD. Ver PROFERIMENTO. LAO TSÉ . Ver TAOÍSMO. LAPLACE, PIERRE SIMON, MARQUÊS DE ( l 7491 827). Nascido em Beaumont-en-Auge (Normandia, França). D' Alembert o recomendou como professor de matemática na Escola Militar; depois, ele foi um dos primeiros professores da Escola Politécnica. Deve-se a Laplace uma rigorosa sistematização da tisica e da cos mologia newtonianas, tarefa para a qual usou o método puramente analítico exposto por Joseph Louis Lagrange ( 1 736- 1 8 1 3) em sua Mécanique analytique. Laplace conseguiu dar conta das anomalias que persistiam na
LAROMIGUIERE, PIERRE cosmologia newtoniana, explicando o caráter cíclico de certas variações de velocidade em alguns planetas, o que lhe permitiu dar a Napoleão a célebre resposta de que não precisara da "hipótese de Deus" (que New ton ainda acreditara necessária para restabelecer a regu laridade nos movimentos planetários). Por outro lado, Laplace usou o método newtoniano de exclusão de hi póteses falsas com base nos experimentos com o fim de formular em cada caso a hipótese verdadeira capaz de explicar as relações entre fenômenos e, assim, permi tir a formulação de leis experimentalmente confirmá veis. Laplace é conhecido sobretudo pelo princípio que formulou em seu "Prefácio" à Teoria analítica das pro babilidades; citamos esse princípio, conhecido como "princípio de Laplace", no verbete DETERMINISMO. A idéia de Laplace é que qualquer estado de um sistema mecânico pode ser previsto com total exatidão se as condições iniciais são conhecidas. O desconhecimento dessas condições, ou, melhor dizendo, o conhecimen to apenas parcial delas, obriga-nos a recorrer à teoria da probabilidade, para cujo desenvolvimento foi grande a contribuição do autor, especialmente por meio da "equação de Laplace". As funções potenciais são solu ções dessa equação. Deve-se ainda a Laplace a hipóte se da formação dos planetas por condensação da atmos fera solar. Uma hipótese similar foi formulada por Kant, sendo amiúde citada como "hipótese de Kant-Laplace". � Obras: Exposition du systéme du monde, 1 798. Traité de la mécanique cé/este, 5 vols., 1 799- 1 825. Théorie analytique des probabilités, 1 8 1 2 . - Essai phi/osophique sur /es probabilités, 1 8 14. - As três últimas obras citadas foram reeditadas em 1 967, reproduzidas das obras originais. Edição de obras: Oeuvres completes, 1 4 volumes, 1 878- 1 9 14. Ver: H. Andoyer, L'oeuvre scientifique de L., 1 922. - H. Schmidt, Die Kant-Laplacesche Theorie, 1 925. - J. A. K. Kegley, "Spinoza 's God and Laplace 's WorldFormula", em Akten des II. Jnternationalen Leibniz Kongresses, vol. III, 1 975. - J. Merleau-Ponty, "L. as Cosmologist". em W. Yourgran e A. D. Breck, eds., Cosmo/ogy, History and Theo/ogy, 1 977. - P. Dessi, L'ordine e il caso: Discussioni epistemologiche e /ogi che sul/a probabilità da Laplace a Peirce, 1 989. C:
LAROMIGUIE RE, PIERRE ( 1 756- 1 837). Nascido em Livignac-le-Haut (Aveyron), foi membro do "Jnstitut" e professor de Filosofia na Faculdade de Letras da Acade mia (Universidade) de Paris, tendo exercido na França considerável influência filosófica, sobretudo por meio dos cursos (depois publicados) dados em 1 8 1 1 e 1 8 1 2 . Laromiguiere seguiu e m filosofia o método segundo o qual "o espírito decompõe os objetos para relacionar-se com outras tantas idéias distintas de suas qualidades; com para estas idéias para descobrir suas relações de geração
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e para desse modo remontar à sua origem, a seu prin cípio" (Leçons, Parte !, Lição 1 ) (o que equivale sim plesmente, adverte o autor, à "análise"). Costuma-se apresentar Laromiguiere como um filósofo que partiu de Condillac mas que dele se separou em alguns pontos fundamentais. Na medida em que ele se ocupou primor dialmente das "faculdades e operações da alma" e na medida em que levou em conta as análises de Condillac, a filosofia de Laromiguiere não pode ser entendida his toricamente sem a daquele. No entanto, Laromiguiere considerou "o sistema de Condillac" não apenas insu ficiente como também errôneo. Longe de derivar todas as faculdades da sensação, Laromiguiere destaca que atenção e sensação são faculdades distintas entre si e mesmo mutuamente opostas (ibid. , Lição 6). A "análise das operações da alma" mostra, segundo ele, que esta não se limita a uma "simples capacidade de sentir": ela "é dotada de uma atividade original, inerente à sua natu reza" (ibid. , Parte II, Lição 3). A alma é, portanto, "uma força que se move e modifica a si mesma". A atividade própria da alma concentra-se inteiramente na atenção (loc. cit. ), que necessita, para exercer-se, não de excitar os sentidos, mas de silenciá-los. Isso não significa que a alma comece a agir pela atenção; em seus primeiros movimentos, quando não existe lembrança, a atenção só pode agir sobre sensações presentes. Mas quando se fortalece e se independentiza, a atenção se toma prin cípio de direção; por isso, o raciocínio procede da aten ção e não das sensações. Em suma, a alma consiste pro priamente numa "nova maneira de sentir" distinta da sensibilidade; e essa nova maneira de sentir "parece nada ter em comum com as sensações". "Ao dar à sensi bilidade o nome de faculdade de sentir, associaram-se, identificaram-se, duas idéias incompatíveis. Nós sepa ramos essas duas idéias ( . . . ) A análise da atividade, ao fazer-nos conhecer as faculdades do entendimento, nos deu a conhecer as causas da inteligência" (ibid. , Parte II, Lição 1 3). Desse modo, Laromiguiere reconheceu a existência e o primado de um "princípio interior" ativo, semelhante ao "sentido íntimo" de Maine de Biran e outros autores, motivo pelo qual é considerado um dos mais destacados expoentes do "espiritualismo francês'', e da tendência a formular uma metafisica partindo da "análise psicológica". � Obras: Projet d 'Élements de Métaphysique, 1 793. - Paradoxes de Condillac; ou Réjlexions sur la Langue des Calcu/s, 1 805. - Leçons de philosophie sur /es principes de / 'intel/igence ou sur les causes et sur les origines des idées, 2 vols., 1 8 1 5- 1 8 1 7 ; 6ª ed., 1 844. Ver: J. Ferréol-Perrard, Logique classique d 'aprés /es principes de la philosophie de M. Laromiguiére. Suivie de réponses aux questions de métaphysique et de mora/e, etc., par J F.-P., 2 vols, 1 828. - Leçons de philosophie de M. L. jugées par MM. Vict. Cousin et Maine de Biran, 1 829.
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Ver também: Lami, La philosophie de L. , 1 867. P. Alfaric, L. et son école, 1 9 1 9 [Publications de la Fa culté de Lettres de Strasbourg, II, 5 ] . �
LARROYO, FRANCISCO ( 1 9 1 2- 1 98 1 ). Nascido em Jerez, Zacatecas (México), foi professor na Escuela Na cional de Maestros ( 1 934 ss. ), na Escuela Normal ( 1 9451 949) e na Universidade Nacional Autônoma do Méxi co (a partir de 1 954). Larroyo estudou na Alemanha e propagou no México as idéias neokantianas da Escola de Marburgo. Dessa perspectiva, criticou, em estreita colaboração com Guillermo Héctor Rodríguez ( 1 9 1 01 988), as outras tendências filosóficas influentes em seu país: orteguismo, existencialismo, diltheyanismo, escolasticismo etc. O órgão da tendência fundado por Larroyo foi La Gaceta filosófica. Ora, as tendências marburguianas misturaram-se em Larroyo e Rodríguez com as tendências da Escola de Baden, especialmente na medida em que esses autores insistiram na necessida de de transformar a filosofia numa teoria e crítica dos valores e, de modo geral, numa análise das formas cul turais. As idéias de Larroyo e de seus colaboradores exerceram diversas influências sobre outros pensado res mexicanos. Podem-se mencionar Adolfo Menéndez Samará ( 1 908- 1 953) - embora se deva levar em conta que esse pensador depois abandonou o neokantismo para aproximar-se de posições existencialistas cristãs análogas às defendidas por Gabriel Marcel - e Miguel Ángel Cevallos ( 1 896- 1 973). � Obras: La filosofia de los valores, 1 936. - Los princípios de la ética social, 1 936; 6ª ed., 1 946. - La lógica de las ciencias, 1 938; 8ª ed., 1 954 (em colabora ção com Miguel Ángel Cevallos). - Bases para una teoría dinámica de las ciencias, 1 94 1 . - Exposición y crítica dei personalismo espiritualista de nuestro tiem po: Misiva a F Romero, 1 94 1 . - El romanticismo filo sófico: observaciones a la Weltanschauung de J Xirau, 1 94 1 . - Historia general de la pedagogía, 1 946. Historia de la filosofia en Norteamérica, 1 946. - El existencialismo: sus fuentes y direcciones, 1 95 1 . - La filosofia americana: su razón y su sinrazón de ser, 1 958. - Pedagogía de la Ensenanza Superior, 1 959. - His tória de las Doctrinas Filosóficas en Latinoamérica, 1 968 (com E. Escobar). - La antropología concreta, 1 963. - Sistema de la estética, 1 966 (em colaboração com Edmundo Escobar). - Sistema y historia de las doctrinas filosóficas, 1 968 (em colaboração com Ed mundo Escobar). - Sistema de la filosofia de la edu cación, 1 973 (em colaboração com Edmundo Escobar). - Filosofia de las matemáticas, 1 976. Ver: Edmundo Escobar, F L. y su personalismo crí tico, 1 970. Obras de Menéndez Samará: La estética y sus rela ciones: ensayo de historia, 1 937. - La estética y su método dialéctico: el valor de lo bello, 1 937. - Dos ensayos sobre Heiddeger, 1 939. - Fanatismo y misti-
LASK, EMIL
cismo, 1 940. - Breviario de psicología, 1 94 1 ; 2ª ed., 1 945. - /niciación en la filosofia, 1 945. - Menester y precisión dei ser, 1 946. Obras de G. H. Rodríguez, El ideal de justicia y nuestro Derecho positivo, 1 934. - El metafisicismo de Kelsen, 1 947. - Ética y jurisprudencia, 1 947. A principal obra de M. Á . Cevallos é: Ensayo sobre e! conocimiento, 1 944. � LARSSON, HANS ( 1 862- 1 944). Foi professor ( 1 90 1 1 927) d a Universidade de Lund. Larsson representou na Suécia a corrente neokantiana que se opunha ao idealis mo de tradição bostrõmiana e também, em grande parte, às tendências realistas e analíticas que foram desenvol vidas por Hãgerstrõm (VER) e a Escola de Uppsala (vER). Segundo Larsson, o sentimento também é "deduzível" ou, no sentido kantiano, "justificável" no marco trans cendental da consciência. Larsson, além disso, transfor mou as tendências intelectualistas neokantianas em fa vor de um intuicionismo que tinha pontos de contato com o bergsonismo, embora diferisse deste por seu ca ráter "transcendental". Na última fase de seu desenvol vimento filosófico, Larsson esboçou um sistema no qual afirma uma espécie de "comunidade orgânica" entre o mundo natural e o mundo social e na qual se ligam ten dências platonizantes com uma reinterpretação e revi talização do pensamento de Spinoza. � Principais obras: Kants transcendetala deduktion af kategorierna, 1 893 (A dedução transcendental das cate gorias de Kant (texto de habilitação). - Intuition. Nagra ord om diktning och vetenskap, 1 89 1 (A intuição. Algu mas palavras sobre a poesia e a ciência). - Poesienslo gik, 1 899 (Lógica da poesia). - Grãnsen mellan sensa tion och emotion, 1 899 (Os limites entre a sensação e a emoção). - Intuitionsproblemet, sãrskilt med hãnsyn til! H. Bergson, 1 9 1 2 (O problema da intuição, com particu lar referência a Bergson). - Filosofien och politiken, 1 9 1 5 (Filosofia e política). -Filosofiska uppsatzer, 1 924 (Ensaios filosóficos). - Spinoza, 1 93 1 . - Gemenskap, 1 832 (Comunidade). - Minimum, 1 935. Ver: A. Nyman, H. L. en svensk tãnkareprofil, 1 945 . - G. Aspelin, H. L. som tãnkare och skrifstãllare, 1 946. - K. Krüger, "Philosophischen Strõmungen in Schweden zu Beginn des 20. Jahrhunderts , Deutsche Zeitschrift fiir Philosophie, 26 ( 1 978), 250-256. � "
LASK, EMIL ( 1 875- 1 9 1 5). Nascido em Wadiwice (Áus tria), estudou em Friburgo com Rickert, doutorando-se em 1 902. Em 1 905 recebeu em Heidelberg a "habili tação" sob a orientação de Windelband. Pouco depois, sucedeu na cátedra, em Heidelberg, Kuno Fischer. Com a eclosão da guerra, alistou-se no exército e morreu na frente russa. Membro da Escola de Baden (vER), suas mais im portantes idéias filosóficas encontram-se no entanto bem distantes das que caracterizaram o pensamento de Rickert
LASK, EMIL e Windelband. Lask interssou-se sobretudo pelo proble ma da "lógica da filosofia'', concebida por ele como um exame das "categorias das categorias", das "formas das formas'', isto é, como uma aplicação às categorias lógi cas da mesma análise a que se submetem habitualmen te seus conteúdos. A lógica da filosofia é por conseguin te, na opinião de Lask, um aprofundamento da crítica kantiana e uma justificação superior de toda lógica trans cendental. Seguindo em parte Husserl e buscando com pletá-lo, Lask admite a intuição das essências, a capta ção direta do categorial e do lógico, mas exige que o inteligível seja conteúdo de uma forma, de uma catego ria que é justamente a categoria do lógico ou a "forma da forma". Segundo Lask, a categoria da categoria não é apenas justificada mas também totalmente necessária; a relação em que uma categoria se encontra com a que a envolve não é, com efeito, nem uma fusão nem uma pe netração mútua: é simplesmente uma relação de forma com conteúdo na qual o conteúdo não é construído, mas iluminado pela categoria superior. Forma e matéria e categoria e conteúdo são, portanto, elementos irredutí veis entre si, embora não sejam, por isso, inseparáveis. O caráter essencialmente impenetrável de todo conteú do, não só do conteúdo real, mas também do ideal, não significa para Lask mais que o reconhecimento da irra cionalidade essencial de todos os conteúdos, certamente suscetíveis de ser envoltos por categorias, mas nem por isso menos inpenetráveis. Essa irracionalidade, tam bém evidente no caso do conteúdo ideal, não equivale, em conseqüência, à mera ausência de caráter lógico. A lógica da filosofia, que se aplica justamente ao proble ma das categorias das categorias, tem de reconhecer nelas a coexistência da irracionalidade e do caráter ló gico. Lask consegue assim uma síntese entre o raciona lismo e o irracionalismo, que se mantinham há muito tempo em oposição irredutível. A unificação de todas as categorias por seu caráter "intencional", isto é, por sua referência a um conteúdo, real ou ideal, que lhes é alheio representa em sua filosofia a passagem da distin ção à unidade e da análise ao sistema. Somente median te essa unificação baseada na intencionalidade essencial da forma é possível submeter a totalidade do existente e do que é dotado de valor à inerência das categorias, tornadas por sua vez conteúdos aos quais se aplicam intencionalmente as formas das formas até chegar a uma forma única, primitiva e absoluta, à forma primá ria, a protoforma, Urform . A oposição ao construtivis mo racionalista manifesta-se sobretudo na idéia do ca ráter intencional das categorias, com a inclusão da cate goria suprema, mas o fato da existência desta e especial mente a atribuição a ela de uma preeminência sobre as outras na análise que a lógica faz de si mesma conver te a protoforma em um princípio destinado a transfor mar a lógica da filosofia num sistema completo, aná logo aos do idealismo alemão.
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A filosofia de Lask inclui, além de uma lógica da lógica como parte da lógica transcendental geral, uma doutrina do Absoluto e uma teoria da verdade. A doutri na do Absoluto é conseqüência da tese sobre a proto forma ou forma originária. Esta representa a cúspide da pirâmide das categorias, mas também sua unidade. A unidade em questão não é a última síntese na dialé tica dos contrários. Porém, sendo unidade de todas as formas, tem de englobar também as que são, ou que aparecem como contrárias. Trata-se de uma unidade do ser e, ao mesmo tempo e sobretudo, do valor. Quanto à teoria da verdade, baseia-se na idéia de um "objeto puro" que funda a verdade de todos os objetos enquan to objetos. Lask distingue uma atividade prática baseada em volições e uma atividade teórica (ou teórico-contempla tiva) que consiste na apreensão de valores transubjeti vos, especialmente valores estéticos e religiosos. A ati vidade prática é pessoal; a teórico-contemplativa, trans pessoal. Mas como a atividade prática só recebe seu sentido da realização dos valores, são estes que predo minam em última instância. O Absoluto a que já nos re ferimos pode ser concebido, a rigor, como um valor ou, melhor ainda, como a cúspide de todos os valores. Ao mesmo tempo, esse valor supremo dá sentido a todo ser. Por esse motivo, a filosofia enquanto reflexão sobre as formas até chegar à protoforma é primariamente uma teoria dos valores. � Obras: Fichtes Idealismus und die Geschichte, 1 902 (O idealismo de Fichte e a história). - Rechtsphiloso phie, 1 905 (Filosofia do direito). - Die Logik der Phi losophie und die Kategorienlehre, 1 9 1 2 (A lógica da filosofia e a teoria das categorias). - Die Lehre vom Urteil, 1 9 1 3 (A teoria do juízo). Edição de obras: Gesammelte Werke, 3 vols. (I, II: 1 923; III: 1 924) , ed. Eugen Herrigel. O tomo III inclui o "Nachlass", um trabalho sobre Platão, outro sobre o sistema da lógica, outro sobre o sistema da filosofia e outro ainda sobre o sistema das ciências (Platon; Zum System der Logik; Zum System der Philosophie; Zum Sys tem der Wissenschaften). Ver a introdução de H. Rickert à ed. das Gesammel te Werke. -Ver ainda: Georg Pick, Die Übergegensiitz lichkeit der Werte. Gedanken über das religiose Moment in E. Lasks logischen Schriften vom Standpunkt des trans zendentalen ldealismus, 1 92 1 . - Friedrich Freis, "Zu Lasks Logik der Philosophie", Logos, 1 0 ( 1 92 1 - 1 922), 227-243 . - Eugen Herrigel, "E. Lasks Wertsystem. Versuch einer Darstellung aus seinem Nachlass", ibid. , 1 2 ( 1 923- 1 924), 1 00- 1 22. - Aníbal Sánchez Reulet, E. L y e/ problema de las categorías filosóficas, 1 942. - H. Sommerhãuser, E. L. in der Auseinandersetzung mit H. Rickert, 1 966 (tese). - Hartmut Roshoff, E. L. ais Lehrer von Georg Lukács. Zur Form ihres Gegens tandsbegriffs, 1 975. - M. Schweitz "E. L.s Kategorien-
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lehre vor dem Hintergrund der kopernikanischen Wende Kants'', Kant-Studien, 75 ( 1 984), 2 1 3-227. - G. Motz kin, "E. Lask and the Crisis of New-Kantianism: The Rediscovery ofthe Primordial World", Revue de Méta physique et de Mora/e, 94 ( 1 989), 1 7 1 - 1 90. - F. J. Wetz, "Schelling, Lask, Sartre: Die zweifache Unbe greiflichkeit der nachten Existenz", Theologie und Phi losophie, 65(4) ( 1 990), 549-565. - K. Schuhmann, "Neo-Kantianism and Phenomenology: The Case ofE. Lask and J. Daubert", Kant-Studien ( 1 99 1 ), 303-3 1 8. - S. G. Crowell, "Lask, Heidegger and the Homeless ness of Logic", 23(3) ( 1 992), 222-239. Suas obras de fisiognomia são: Vcm der Physiogno mik, 1 772 e Physiognomische Fragmente zur Beforde-
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rung der Menschenkenntnis und Menschenliebe, 4 vols., (U: 1 775; II: 1 776; III: 1 777; IV: 1 778) (Fragmentos fisiognômicos para promover o conhecimento humano e o amor humano). Devem-se a ele poemas, inclusive dois épicos, bem como Geheimnis Tagebuch von einem Beobachter seiner selbst, 2 vols., 1 77 1 - 1 773 (Diário mis tério de um observador de si mesmo). Edição de obras: Siimtliche fn?rke, 6 vols., 1 834- 1 838. Correspondência entre L. e Goethe: Goethe und L. , 1 90 1 , ed. H. Funck. Ver: Alexander Võmel, J K. L., 1 741-1801. Ein Le bensbild, 1 923. - O. Guinaudeau, 1 K. L. Études sur sa vie et sa penséejusq 'en 1 786, 1 924. - J. Forssmann, L. und die religiosen Stromungen des 18. Jahrhunderts, 1 935. - E. Schick, 1 K. L. , 1 94 1 . - T. Hasler, L. , 1 947. - J. Graham, "Lavater's ' Physiognomy' in En gland'', Journal ofthe History ofJdeas, 22 ( 1 96 1 ), 5 6 1 572. - W Brednow, Von L . z u Darwin, 1 969. - J. Y. Hall, The Lineaments ofCharacter. Physiognomyfrom L. to Lombroso, 1 978. - J. Graham, L.'s Essays on Phy siognomy. A Study in the History of Jdeas, 1 979. - S. Zac, "La querelle Mendelssohn-Lavater", Archives de Philosophie, 46 ( 1 983 ), 2 1 9-254. Sobre lei natural e lei científica: É. Boutroux, De l 'idée de !oi naturelle dans les sciences et dans la philo sophie, 1 895. - W Windelband, Zum Begrijfdes Geset zes, 1 908. - Walther Nernst, Zum Gültigkeitsbereich der Naturgesetze, 1 92 1 . -A. D. Ritchie, Scientific Me thod. An Inquiry into the Character and Validity o/Na tural Laws, 1 923. - Max Planck, Kausalgesetz und Willensfreiheit, 1 923. - Bruno Bauch, Das Naturge setz, 1 924. - E. Schrõdinger, Was ist ein Naturgesetz?, 1 929. - A. Panneboek, "Das Wesen des Naturge setzes", Erkenntnis, 3 ( 1 932- 1 933), 3 88-400. - I. Dam bska, O prawach w nauce, 1 933 (As leis nas ciências). VV. AA., Science et !oi (Cinquieme Semaine lnterna tionale de Synthese), 1 934 (os colaboradores do volume são: A. Rey, F. Gonseth, H. Mineur, A. Berthoud, L. Guénot, H. Pierón, R. Wanon, M. Halbwachs, J. Si miand, V. Chapot, L. Febvre). - Alfons Padberg, Ueber den Begrijf und die Geltung der Naturgesetze, 1 935 (tese). - Desiderio Papp, Filosofia de las leyes natu rales. Historia y filosofia de la ciencia, 1 945; 3ª ed., 1 980. - Moritz Schlick, Gesetze. Kausalitiit und Wahrscheinlichkeit, 1 948. - A. Cecchini, Il conceito di legge in fisica e biologia, 1 956. - R. E. Peierls, The Laws of Nature, 1 956. - G. Frey, Gesetz und Entwi cklung in der Natur, 1 95 8 . - Mario Bunge, Metas cientific Queries, 1 959, pp. 9 1 ss. - E. Schrõdinger, Was ist ein Naturgesetz? Beitriige zum naturwissens chaftlichen Weltbild, 1 962. - Richard Geyman, The Character ofPhysical Law, 1 967. - G. Krõber, M. Bun ge et. ai. , Des Gesetzbegrijfin der Philosophie und den Einzelwissenschaften, 1 968, ed. Günther Krõber. - Peter Achinstein, Law and Explanation: An Essay on the Philo sophy ofScience, 1 97 1 . - J. Newman, Conscience ver sus Law: Rejlections on the Evolution ofNatural Law, 1 97 1 . - J. Finni s, Natural Law and Natural Rights, 1 980. -A. Battaglia, Toward a Reformulation o/Natural Law, 1 98 1 . - A. Kocourek, An Introduction to the Science of Law, 1 982. - D. M. Armstrong, What is a Law ofNatu re?, 1 983. - Ver também os dois tomos sobre o proble ma da legalidade: Das Probleme der Gesetzlichkeit (tomo 1 sobre a lei nas ciências do espírito, com colaborações de W. Flitner, J. Kõnig, P. Laín, B. Phister, H. Plessner,
LEI FUNDAMENTAL BIOGENÉTICA H. Sauer, Heinz-Horst Schrey, B. Snell, H. Werke, E. Wolff, 1 948; tomo II sobre a lei nas ciências naturais, com colaborações de C. W. Correns, M. Deuring, P. Harteck, F. O. Hõring, P. Jordan, A. Meyer-Tschesche, 1 948). Ver ainda a bibliografia de CAUSA. Sobre o conceito lógico-positivista de lei: W. Brii ning, Der Gesetzbegriff in dem Positivismus der Wiener Schule, 1 954. - S. 1. Shuman. Legal Positivism: lts Sco pe and Limitations, 1 963. - N. MacCormick, O. Wein berger, An Institutional Theory of Law: New Approa ches to Legal Positivism, 1 986. - K. Lee, The Positivist Science ofLaw, 1 989. Lei e probabilidade: Ernst Mally, Wahrscheinlich keit und Gesetz, 1 93 8 . - 1. Hacking, The Emergence of Probabi/ity: A Philosophica/ Study ofEarly Ideas about Probability, Induction and Statistical Inference, 1 97 5 . - G. Gigerenzer e t ai. , The Empire of Chance: How Probabi/ity Changed Science and Everyday Life, 1 989. - (Cf. também o livro citado de Schlick e a bibliografia do verbete PROBABILIDADE) . Lei moral: Herbert Spiegelberg, Gesetz und Siten gesetz, Strukturanalytische und historische Vorstudien zu einer gesetzfreien Ethik, 1 93 5 . - D. D. Welch, ed., Law and Morality, 1 987. Lei e história: E. Neef, Gesetz und Geschichte, 1 9 1 7. - K. Groos, Naturgesetz und historisches Ge setz, 1 926. - J. Vogt, Gesetz und Hand/ungensfreiheit in der Geschichte, 1 956. - William Dray, Laws and Ex plation in History, 1 957. - M. A. Kaplan, On Histori cal and Politica/ Knowing: An Inquiry into Some Pro blems of Universal Law and Human Freedom, 1 97 1 . - Ver também a bibliografia de EXPLICAÇÃO. Lei jurídica: Auguste Bill, La mora/e et la /oi dan la phi/osophie antique, 1 928. - Max Radin, Law as Logic and Experience, 1 940. - José Fuentes Mares, Ley, so ciedady política, 1 943. - Sebastián Soler, Ley, historia y libertad, 1 043; 2ª ed., 1 957. - A. D. Sertillanges, La philosophie des /ois, 1 946. - H. L. A. Hart, The Con cept ofLaw, 1 96 1 . /d., Law, Liberty, and Morality, 1 962. - J. Horowitz, Law and Logic: A Criticai Account of Legal Argument, 1 972. - N. MacCormick, Legal Reasoning and Legal Theories, 1 978. - J. W. Harris, Law and Legal Science: An lnquiry into the Concepts ofLegal Ruie and Legal System, 1 979. - Ch. Perelman, Justice, Law, andArgument: Essays on Moral and Legal Reasoning, 1 980. - W. S. Pattee, The Essential Nature of Law or the Ethical Basis ofJurisprudence, 1 982. D. Lyons, Ethics and the Rufe ofLaw, 1 984. - E. B. Kinkead, Jurisprudence: Law and Ethics, 1 98 5 . - K. Greenawalt, Conjlicts ofLaw and Mora/ity, 1 987. - P. Smith, ed. , The Nature and Process ofLaw: An lntro duction to Legal Phi/osophy, 1 993. Lei no sentido da lei hebraica: Leo Strauss, Philo sophie und Gesetz. Beitriige zum Verstandnis Maimunis und seiner Vor/iiufer, 1 93 5 .
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Lei em Santo Tomás: Th. E. Davitt, The Nature of Law, 1 95 1 . S. Cotta, II concetto di legge nella Summa Theologiae di S. Tommaso d 'Aquino, 1 956. - D. J. O'Connor, Aquinas and Natural Law, 1 967. C:
LEI FUNDAMENTAL BIOGENÉTICA. Ver B100E NÉTICA (LEI FUNDAMENTAL). LEIBNIZ, GOTTFRIED WILHELM ( 1 646- 1 7 1 6). Nascido em Leipzig, onde estudou e apresentou, em 1 663, sua tese De principio individui. De 1 663 a 1 667, estu dou matemática na Universidade de lena e jurisprudên cia na de Altdorf. Pouco depois, passou a servir ao Elei tor de Mainz e foi enviado a Paris, em missão diplomá tica, em 1 672. No ano seguinte, visitou a Inglaterra e, pouco depois, retomou a Paris, onde residiu até 1 676. Depois foi para a Alemanha, tendo sido nomeado biblio tecário do duque de Hannover e encarregado da redação da história da família Brunswick. Em 1 682, fundou as Acta Eruditorum e em 1 700 foi nomeado primeiro presidente da Sociedade de Ciências de Berlim (a poste rior Preussische Akademie der Wissenschaften). Desde muito jovem, Leibniz manifestou vivo inte resse por todas as ciências, pela história e pelas questões políticas e religiosas. Ao seu conhecimento da escolás tica, especialmente da "escolástica moderna" (Suárez e outros), uniu o da ciência e da filosofia modernas, in teressando-se muito pelo pensamento de Francis Bacon, Hobbes, Gassendi, Descartes, Galileu, Huygens e outros. Leibniz manteve relações pessoais com não poucos au tores a quem conheceu no curso de suas viagens (Boyle na Inglaterra; Malebranche e Amauld em Paris; Spinoza na Holanda etc.), trocando correspondência corneies e muito mais pessoas; na realidade, acham-se na extensa correspondência leibniziana indicações muito impor tantes acerca de seu próprio pensamento filosófico e de suas descobertas científicas. Isso ocorre, para citar apenas dois casos, com sua correspondência com Ar nauld e Clarke. Sua atividade diplomática e política ma nifestou-se em diversos momentos e de várias formas; basta citar seus esforços para convencer Luís XIV e, depois, o Czar Pedro, O Grande, a constituir uma alian ça de Estados cristãos, abandonando as lutas internas e agindo contra os muçulmanos. Isso tinha uma estreita relação com sua ambição de unir as Igrejas cristãs: pri meiro, os católicos e os protestantes (o que originou sua retumbante controvérsia com Bossuet) e depois os calvi nistas e luteranos. Leibniz fracassou em todos esses em preendimentos, mas não cessou de empenhar-se em seu favor. O desejo de unificação e de harmonia mostrou se presente também em seu interesse na formação de so ciedades eruditas e científicas e na publicação das "Atas" dessas sociedades com o fim de manter estreito contato com todos aqueles que labutavam nas diversas ciências. Algumas das polêmicas suscitadas por Leibniz tiveram grande repercussão; isso ocorreu especialmente com a
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que girou em tomo da questão da prioridade na desco berta do cálculo infinitesimal. Leibniz chegara à idéia desse cálculo em 1 676. Newton chegara (indrependen temente) à mesma idéia alguns anos antes; mas enquan to Leibniz publicou seus resultados em 1 684, Newton só o fez em 1 687. Discutiu-se, pois, quem tinha sido o primeiro (disputa que ocorreu mais propriamente entre parti dários de Leibniz e de Newton que entre os próprios autores; disputa, além disso, vã, já que cada um tinha descoberto o cálculo sem conhecer os trabalhos do outro). A notação proposta por Leibniz foi a preferencialmente adotada e é a que se usa, em parte, até hoje. Essa multiplicidade de atividades e interesses de Leibniz tem íntimos vínculos com a natureza de seu próprio pensamento filosófico. Este pensamento é do minado por várias idéias centrais, das quais menciona remos as seguintes: a harmonia, a continuidade e a uni versalidade. Longe de rejeitar a tradição, Leibniz dese java incorporá-la e integrá-la às idéias propostas pela filosofia e pela ciência modernas. Assim, por exemplo, Leibniz desenvolveu o mecanicismo, mas procurou har monizá-lo com a doutrina das formas substanciais; des tacou a importância da idéia de substância, porém não em detrimento da de relação etc. Como disse certa feita o próprio Leibniz:je ne méprise presque rien (nada ou "quase nada" deve ser menosprezado; tudo ou "quase tudo" pode ser integrado e harmonizado; o "melhor mundo" é de qualquer maneira "o mundo mais pleno"). Por isso, Leibniz aspirava a ser o herdeiro de uma phi losophia perennis, uma filosofia que se modifica mas de maneira contínua e na qual cada momento sucede o anterior e anuncia o posterior. Não causa estranheza que, em sua época, Leibniz fosse considerado um "fi lósofo eclético" (uma imagem de Leibniz que hoje nos surpreende, por ser incompatível com aquilo que pen samos dele e do ecletismo, mas que não deixa de ter fundamento na tendência do filósofo à composição, certamente harmoniosa, de doutrinas muito diversas). A idéia de harmonia estava ligada em Leibniz à de con tinuidade. Além disso, as duas se vinculavam à idéia de universalidade enquanto expressão do desejo de cons truir uma ciência universal e uma linguagem universal acessível a todos os seres humanos e capaz de descrever todas as idéias possíveis. No início de sua carreira filosófica, Leibniz ocupou se da possibilidade de uma ars combinatoria (vER) e de uma characteristica uni versa/is. Esta última era uma linguagem universal expressa de forma simbólica que permitiria a todos o uso dos mesmos símbolos com o mesmo significado. A primeira era um sistema dedutivo que permitiria combinar os símbolos dedutivamente, de maneira que se "pudesse pôr um ponto final nessas cansativas polêmicas com que as pessoas se aborrecem umas às outras" (Gerhardt, VII, 1 86 [cf. bibliografia]). Mas isso só será possível quando se fizerem raciocínios
LEIBNIZ, GOTIFRIED WILHELM "tão tangíveis quanto os da matemática, de sorte que possamos descobrir um erro a um simples olhar e que, quando houver disputas entre as pessoas, possamos sim plesmente dizer 'Calculemos'', com o fim de ver quem tem razão" (Opuscules etfragments inédits, ed. Coutu rat, p. 1 76 [cf. bibliografia]). Assim, a ciência universal com que Leibniz sonhava procedia ao modo da lógica e da matemática, embora estas últimas sejam apenas par tes da ciência universal. Além disso, a ciência universal em questão só é possível porque, como escreveu Leib niz, "todo o corpo das ciências pode ser comparado a um oceano, que é contínuo em todas as partes, sem hiatos ou divisões, embora os homens entendam que há partes nele e as nomeiem de acordo com sua conve niência" (Couturat, p. 530). Deve-se levar em conta, na constituição da referida ciência universal, que, embora os caracteres usados sejam arbitrários, "há em sua ex plicação e ligação algo que não é arbitrário, quer dizer, uma relação existente entre os caracteres e as coisas", razão pela qual "a verdade não se baseia no que é arbi trário nos caracteres, mas no que há de permanente neles, isto é, na relação existente entre os caracteres e as coisas" (Gerhardt, VII, 1 9 1 ). Em suma, os conceitos expressos pelos caracteres da ciência universal têmfun damentum in re. As noções de universalidade e continuidade impli cadas na idéia da ciência universal postulada por Leib niz correspondem à universalidade e à continuidade que se encontram na própria realidade. O cálculo infini tesinal não é por isso uma simples série de convenções: é o melhor mo do de conceptualizar e matematizar a continuidade da realidade como um todo e do movimen to. Pode-se considerar esse cálculo como o instrumento, ou ao menos um dos instrumentos conceituais (e de cálculo) cujo uso foi sugerido a Leibniz por sua idéia da perfeita continuidade do real. Em toda exposição da filosofia de Leibniz há uma série de princípios que ocupam lugar proeminente. Já nos referimos implicitamente a alguns deles: são os que podemos chamar de "princípio de harmonia" e "piincí pio de continuidade". A eles podemos acrescentar ou tros: o "princípio de plenitude", o "princípio de perfei ção'', o "princípio da identidade dos indiscerníveis", o "princípio da compossibilidade". Todos eles se referem à realidade. Há outros princípios vinculados mais pro priamente ao modo como se entende a realidade: trata se do "princípio de não-contradição" (que Leibniz eq,\li para freqüentemente ao de identidade) e o "princípio de razão suficiente". Isso não quer dizer que haja uma sepa ração estrita entre o que se poderiam denominar "princí pios reais" e os "princípios conceituais" (ou "princípios ontológicos" e "princípios gnosiológicos"). Com efeito, os princípios que se referem primordialmente à reali dade não deixam de ser princípios que afetam de algu ma maneira a linguagem com a qual se descreve ou se
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explica a realidade e, ao mesmo tempo, os princípios relativos ao modo como se entende a realidade não dei xam por isso de ser de alguma maneira princípios da realidade. Isso se deve à correlação muito estreita que há em Leibniz entre realidade e linguagem, manifestan do-se sobretudo em alguns desses princípios, como o de razão suficiente, que pode ser formulado dizendo-se que nada ocorre na realidade sem que haja uma razão suficiente para que ocorra e que nenhum dado da reali dade pode ser explicado se não se descobrir uma razão suficiente que o explique. Tratamos de vários desses princípios em diversos verbetes deste Dicionário; ver, quanto a isso, os verbetes HARMONIA; CoNTíNuo; CoMPOSSIBILIDADE; IDENTIDADE; INDISCERNÍVEIS (PRINCÍPIO DOS); PERFEIÇÃO; RAZÃO SUFI CIENTE, aos quais podem-se adicionar outros, como Es SÊNCIA e EXISTÊNCIA. Vamos nos limitar a destacar aqui certos aspectos de alguns desses princípios. De imedia to, o de continuidade. Este princípio se revela claramen te na matemática (embora numa ocasião Leibniz tenha dito que toda repetição pode ser discreta ou contínua [Gerhardt, IV, 394]) e se manifesta não roemos clara mente na Natureza (embora o mundo de Leibniz não seja apenas um mundo contínuo, mas também um mun do monadológico, cheio de indivíduos). O princípio de continuidade é um princípio universal em que se torna patente a harmonia entre o físico e o geométrico. É um princípio segundo o qual todo o universo está relaciona do "em virtude de razões metafísicas" e isso não só no presente como através da duração, visto que o presente está sempre prenhe de futuro. O princípio de continuida de permite explicar qualquer realidade e qualquer acon tecimento, pois, à falta dele, seria forçoso concluir pela existências de hiatos na Natureza, o que seria incompa tível com o princípio de razão suficiente (A. Buchenau e E. Cassirer, Leibniz '. . . Werke, II, 556). Mas, ao mesmo tempo, o princípio de razão suficiente seria inaplicável se não existisse o princípio de continuidade. De igual for ma, esses dois princípios estão ligados ao princípio de plenitude; com efeito, o universo só é contínuo porque é "pleno", e vice-versa. Essa "plenitude" é a que resulta do modo pelo qual Leibniz concebe o mundo das essên cias (ou dos "possíveis") e sua relação com as existências. Como vimos nos verbetes pertinentes, Leibniz supõe que os possíveis caracterizam-se por sua aspiração (cona tus) a existir e que o mundo resultante é aquele no qual se realiza "a série máxima de possibilidades". Em outros termos: todo possível que não seja contraditório está, por assim dizer, "destinado a existir; todo possível toma-se real sempre que não haja nada que se oponha à sua reali zação, ou seja, na medida em que haja uma razão sufi ciente para que venha a se realizar. A razão suficiente para que Deus escolha antes certos possíveis que outros para se realizar reside, argumenta Leibniz, na conveniên cia ou graus de perfeição de que são dotados os diversos
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mundos possíveis. Há um número infinito de mundos possíveis, mas só um chegou à existência. Este é o "me lhor" mundo, onde 'melhor' tem não só um sentido moral como também, e talvez primariamente, um sentido me tafísico. 'Melhor' quer dizer "o mais perfeito possível" (ou simplesmente "o que é perfeito") e também o mais "pleno". Tem-se a impressão de que havia um universo no qual pulularam os possíveis e do qual se extraiu o mundo efetivamente "mais real". Na forma como Leibniz apresenta "o melhor mun do" já se vê claramente a função que desempenham os dois princípios a que nos referimos: o de não-contradi ção e o de razão suficiente. O princípio de não-contra dição faz uma primeira seleção entre os possíveis; o princípio de razão suficiente explica por que certos pos síveis, em vez de outros, vieram a existir. Mas o prin cípio de razão suficiente não é para Leibniz apenas um princípio muito geral; é um princípio que se aplica em todos os casos nos quais se procura saber por que algo é como é e não de outro modo. Em sua forma mais corrente, esse princípio é expresso pela frase "Nada acontece sem razão suficiente". Isso quer dizer, segundo Leibniz, que mudanças instáveis devem ser evitadas o máximo possível. O princípio de razão suficiente inter vém, ao lado do de não-contradição, em todos os racio cínios. O princípio de razão suficiente é aplicável às coisas contingentes, ao passo que o de não-contradição o é às coisas necessárias. Por isso, as leis do movimento dependem do princípio de razão suficiente; essas leis não são, diz Leibniz, geometricamente necessárias, ori ginando-se antes da vontade de Deus governada pela razão (Gerhardt, II, 1 8 1 ). O princípio em questão é ao mesmo tempo metafísico, físico e moral; com efeito, ele serve para explicar por que existe algo e não simple mente nada; por que os movimentos se realizam de de terminado modo e no sentido em que o fazem; por que este ou aquele ato é livre, isto é, por que a alma que nunca pode se encontrar num estado de total indi ferença - escolhe dada coisa em lugar de outra. Seria longa uma exposição das concepções físicas de Leibniz e sobremaneira complexo tentar esclarecê las com a ajuda dos referidos princípios. Vamos nos li mitar a destacar o fato de a física de Leibniz - estreita mente ligada à sua metafísica - se opor à cartesiana, já que nega que a essência de um corpo consista somen te na extensão; há nos corpos algo além de propriedades puramente geométricas, o que faz com que, para expli car os corpos e seus movimentos, seja necessária "uma noção mais elevada ou metafísica, ou seja, a de substân cia, ação e força". Leibniz não nega que os corpos sejam extensos, mas sustenta que não se devem confundir as noções de lugar, espaço ou pura extensão com a noção de substância, que, além da extensão, "inclui a resistência, isto é, a ação e a passividade". Isso leva Leibniz a insistir na importância da noção de força; a força é o que perma-
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nece constante e não, como pretendia Descartes, a quan tidade de movimento. Mas a força não é uma entidade oculta; é a constante de todo movimento, suscetível de ser expressa matematicamente. Por isso, Leibniz não crê que o puro mecanicismo seja suficiente para explicar os corpos naturais e seus movimentos; sem dúvida, tudo o que ocorre na Natureza ocorre mecanicamente, mas "os princípios mesmos da mecânica, ou seja, as primeiras leis do movimento, têm uma origem mais sublime que os proporcionados pela pura matemática" (cf. artigo em Journal des Savants, 1 8-VI- 1 69 1 ). Em outras palavras, a força e a resistência pertencem a substâncias, e não a simples propriedades geométricas dos corpos. Diz-se por isso que Leibniz combinou o mecanicismo com a teleo logia, mas também se poderia dizer, talvez com maior justificação, que ele combinou o geometrismo com o dinamismo (ver DINÂMICO). Tanto a tisica como a metafisica de Leibniz são dominadas por uma noção básica à qual dedicamos um verbete: a distinção entre verdades de razão e verdades de fato (ver VERDADES DE FATO, VERDADES DE RAZÃO). Indiquemos, ou recordemos, aqui que essa distinção é paralela, senão idêntica, à que há entre proposições ne cessárias (ou necessariamente verdadeiras) e proposi ções contingentes (ou, melhor, proposições sobre reali dades contingentes). As proposições necessárias são aquelas que não podem ser negadas sem se cair em con tradição; as proposições contingentes são aquelas cuj a negação é possível. Assim, é necessariamente verdadei ro e é, portanto, uma verdade de razão, que, se A existe, A existe, isto é, que se A existe não é verdade que A não existe. Mas é contingente que A exista (sempre que A não for Deus, cuja existência é necessária). Equipa ra-se freqüentemente a distinção entre verdades de ra zão ou proposições necessárias e verdades de fato ou proposições contingentes com a distinção entre propo sições analíticas e proposições sintéticas. Há razões em favor dessa equiparação, mas é preciso alertar para o fato de ela não ser completa. Com efeito, embora a mente finita não possa realizar a análise requerida para explicar que A existe, e por que existe A, uma mente infinita poderia fazer essa análise. Em outros termos, as proposições contingentes podem ser sintéticas para uma mente finita mas certamente são analíticas para uma mente infinita. Essa mente pode reduzir as coisas existentes a seus possíveis, ou aos fundamentos de sua possibilidade. Por outro lado, a proposição de que Deus existe, embora referente a uma existência, é diferente de todas as outras proposições existenciais; como vere mos em outro lugar (ver ONTOLÓGICA [PROVA]), basta saber que Deus é possível para afirmar que Ele é real. Se se perguntasse quais os elementos com que Leibniz constrói seu universo com base nos princípios antes introduzidos, seria possível responder da seguinte maneira: substâncias e relações. Desses dois elementos,
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apenas as substâncias são reais; as relações (dentre as quais se destacam o espaço [VER] e o tempo [VER]) não são propriamente reais, ao menos no sentido de que não são substanciais. Daí a importância capital que desem penha na filosofia de Leibniz a noção de substância (VER). Substância é, enquanto ser existente, atividade. Naturalmente, a doutrina leibniziana da substância é complexa, mas pode ser simplificada quando considera da do ponto de vista da monadologia (ver MóNADA; Mo NADOLOGIA). Leibniz parte das mónadas como substân cias simples, que não têm partes e que, portanto, não são extensas à maneira dos átomos. As mónadas não se dis tinguem entre si pela aparência, mas pela representação e pelo grau de representação. As mónadas são indiví duos. Ora, o universo se compõe de uma infinitude de representações, das mais indistintas e obscuras às mais distintas e claras. As mónadas "não têm j anelas"; são, em si mesmas, universos, expressões diferentes de uma mesma realidade total. Sua diferença é a diferença de representação que cada uma tem do universo. Das mó nadas inferiores, que têm apenas percepções ou repre sentações inconscientes, às superiores, que, como o es pírito, têm representações superiores ou apercepções, há uma hierarquia na qual cada elemento possui a ape tição ou tendência a transformar a obscuridade das per cepções em percepções mais claras. Por isso, Leibniz chama de apetição (VER) "a ação do princípio interno que produz a mudança ou passagem de uma percepção a outra". A apetição nem sempre alcança tudo aquilo para que tende, mas consegue sempre novas percepções. Sendo um reflexo, a mónada contém, clara ou obscura mente, todo o seu passado e o germe de seu porvir, em bora somente a mónada suprema, ou seja, Deus, possua um saber atual absolutamente consciente de seu passado e de seu futuro, por ser espírito puro, imaterialidade pura, pura consciência de percepção. A diversidade das mó nadas é formulada no princípio de identidade dos indis cerníveis (vER), segundo o qual a distinção radica ape nas na discernibilidade. Com efeito, Leibniz afirma que as substâncias simples se distinguem por suas qualida des, pois "o que se encontra no composto só pode vir dos ingredientes simples, e as mónadas, se não possuís sem qualidades, seriam indiscerníveis umas das outras por não diferirem em quantidade". O princípios dos in discerníveis equivale portanto à afirmação de que nunca há na Natureza dois seres perfeitamente iguais entre si "e nos quais não seja possível encontrar uma diferença interna ou que esteja fundada numa denominação intrin seca". Eis por que a indiscernibilidade corresponde so mente à identidade, definida precisamente como identi dade dos indiscerníveis. A doutrina das mónadas serve, por outro lado, para explicar a harmonia preestabele cida, ponto no qual se revela de maneira muito lumino sa o otimismo do sistema leibniziano. A harmonia prees tabelecida não é nada mais que o elemento que vincula
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as mônadas entre si, a lei de sua interdependência e su cessão. É harmonia porque tudo se corresponde de acor do com uma lei; é preestabelecida porque Deus fixou de antemão e para sempre toda a série das sucessões. Leibniz compara essa harmonia com o fato de dois relógios iguais que marcassem sempre o mesmo horário, não por inte ração nem por intervenção constante de um ser supremo mas pelo estabelecimento prévio do seu mútuo acordo. Mas Leibniz não nega com isso liberdade, concedida em maior ou menor grau às mônadas segundo seu posto na hierarquia universal. A existência do mal no mundo, que Leibniz classifica de mal metafísico, físico e moral, não demonstra para ele que Deus seja o autor do pecado; demonstra apenas que o espírito humano é demasiado limitado para comprender que o mal é uma parte necessá ria no conjunto harmônico do mundo, que é, no âmbito de todos os mundos possíveis, o melhor que Deus pôde criar. Por conseguinte, a suposta imperfeição é somente desconhecimento do papel que o imperfeito desempenha na ordem perfeita total. A monadologia também permite, para Leibniz, re solver os problemas das idéias inatas, determinantes para a especulação filosófica de seu século. Leibniz admite o empirismo, que sustenta que não existe nada no intelec to que não tenha estado antes nos sentidos, mas acres centa que isso vale para tudo, "exceto para o próprio in telecto". Como as mônadas são representação, o inatis mo é inerente a elas, mas tal inatismo (ver) não consiste na idéia clara e distinta no sentido cartesiano. Ele se es tende da mais obscura e indistinta percepção, a partir do sentimento inconsciente, que para o intelectualismo leibniziano não é um elemento diferente, mas inferior ao conhecimento ou à percepção consciente. Como nos demais aspectos de sua filosofia, Leibniz tende também aqui à conciliação e à resolução das oposições numa unidade harmoniosa. Essa tendência à harmonia culmi na justamente na doutrina das mônadas, onde desapare cem todas as contradições reveladas pelos sistemas filo sóficos anteriores para constituir o corpo do que Leibniz denomina "filosofia perene" - perennis philosophia -, em que a exclusão é substituída pela integração. Acentuamos neste verbete as doutrinas de Leibniz que costumam ser consideradas de maior destaque. São elas: 1) a doutrina segundo a qual tudo é contínuo; 2) a doutrina segundo a qual há sempre uma razão sufi ciente para a explicação de qualquer ser ou de qualquer acontecer; 3) a doutrina segundo a qual tudo se compõe de mônadas; 4) a doutrina segundo a qual a comunica ção entre as substâncias e, em geral, a relação entre as mônadas é regida pelo princípio da harmonia preesta belecida; 5) a doutrina segundo a qual o intelecto preva lece sobre o vontade ou sobre o sentimento; 6) a doutri na segundo a qual este mundo, embora contenha mal, é o melhor de todos os mundos possíveis. Alguns pon tos, também vitais, da filosofia de Leibniz não puderam
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ser abordados aqui com a extensão que mereceriam; para compensar esta deficiência, referimo-nos a eles em outros verbetes (cf. supra). Deve-se sempre ter pre sente que freqüentemente houve discussões sobre a mais plausível interpretação que se pode dar à filosofia de Leibniz. Alguns consideraram que o centro de sua doutrina está em sua metafísica e que sua lógica é uma conseqüência dela; outros (como Couturat ou Russell) propuseram a tese de que o fundamental em Leibniz é sua lógica e de que a.metafísica é ou resultado da lógica ou um modo de "ocultação" de seu verdadeiro pensa mento. Embora sigamos em larga medida a primeira opinião - a tradicional -, não a aceitamos inteira mente. No entanto, tampouco aderimos à segunda. A rigor, consideramos que lógica e metafísica em Lebniz apóiam-se mutuamente e que é difícil considerar uma fundamento da outra. Se a metafísica de Leibniz fosse tão deslocada em sua obra como propõem alguns auto res, não se entenderia seu modo de escrever. Com efeito, assim como cada mônada reflete o universo inteiro de uma só perspectiva, sendo um ponto de vista sobre o todo, assim também cada uma das proposições leibni zianas reflete, de um ponto de vista particular, a filoso fia inteira. Mas, ao mesmo tempo, se a lógica de Leibniz fosse tão subordinada à metafísica como alguns autores imaginam, não se entenderia que, uma vez acentuada a novidade e particularidade de cada ente e de cada acon tecer, Leibniz tente sempre reduzi-los a uma verdade única, alcançada mediante um processo de identificação. :> As primeiras dissertações filosóficas de Leibniz compreendem: De principio individui, 1 663. - Speci men quaestione phi/osophicarum exjure collectarum, 1 664. - Dissertatio de arte combinatoria . . . Praefixa est demonstratio existentiae Dei ad mathematicam cer titudinem exacta, 1 666. - Hypothesis physica nova, 1 67 1 (incluindo Theoria motus concreti). - Theoria motus abstracti, 1 67 1 . - Muitos escritos de Leibniz, breves mas muito importantes para o conhecimento de sua filosofia, apareceram nas Acta eruditorum Lipsien sium, a partir de 1 684, e em Journal des Savants, a par tir de 1 69 1 . Também é importante sua correspondência (a correspondência entre ele e Clarke, nos anos de 1 7 1 51 7 1 6, foi publicada em Londres em 1 7 1 7). Escritos como as Meditationes de cognitione, veritate et ideis ( 1 664); Confessio Naturae ( 1 668); Confessio philosophi (escrita por volta de 1 673); Deprimaephilosophia emendatione et de notionen substantiae ( 1 694); De rerum originina tione radicali ( 1 697); De ipsa natura ( 1 698) e outros também são esclarecedores. Os escritos mais conheci dos de Leibniz são Discours de métaphysique ( 1 686), o Systéme nouveau de la nature ( 1 695), as Considéra tions sur la doctrine d 'un esprit universel ( 1 697), os Noveaux Essais sur l 'entendement humain, concluídos entre 1 70 1 e 1 704 e só publicados em 1 865, os Essais de Théodicée sur la bonté de Dieu, la liberté de l 'homme
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et / 'origine du mal, publicados j á em 1 7 1 0 e, em segui da, La Monadologie, escrita provavelmente em 1 7 1 4 . Ainda devem ser citados o s Principes de la nature e de la grâcefondés en raison (publicados pela primeira vez em 1 7 1 9). As obras de Leibniz são numerosíssimas e até esta data ainda não há uma edição completa delas; deve-se considerar que essas obras abarcam não só seus livros "formais", como muitos esboços e uma grande quantidade de cartas trocadas com, entre outros, Clarke, Hobbes, Bernouilli, Spinoza, Arnauld, Gallois, Male branche, para não mencionar os escritos históricos, políticos e religiosos. Entre as edições de Leibniz (todas elas incomple tas), destacam-se a Coleção Oeuvres philosophiques /atines etfrançaises de M. de Leibniz, 1 vol., Amsterdã e Leipzig, 1 676; a edição de L. Dutens (Opera omnia, nunca prima collecta, in classes distributa, praefatio nibus et indicibus ornata studio Ludovici Dutems, em 6 tomos, Genebra, 1 768 (reed. : 1 989); a de J. E. Erd mann (Opera philosophica quae exstante Latina, Galli ca, Germanica omnia, Berlim, 1 840; reimp. com ampl., por R. Vollbrecht, 1 958); a apenas iniciada por G. H. Pertz, 1 843- 1 863 (obras filosóficas, históricas, matemá ticas, correspondência); a de A. Foucher de Careil, 7 vais., Paris, 1 859- 1 875; a de Otto Klopp, Hannover, 1 1 vols, 1 864- 1 885, que abarcou apenas, numa primeira série de 8 tomos, escritos políticos e históricos; a de Paul Janet ( Oeuvres philosophiques de Leibniz, 2 vols., Paris, 1 866; reimp.: 1 900); a de C. J. Gerhardt (Philoso phische Schriften, 7 vais., Berlim, 1 875- 1 890; reimp . : 1 960- 1 96 1 e Mathematischen Schriften, 7 vols., Berlim, 1 849- 1 863; reim . : 1 952 ss.), importante por ter publi cado pela primeira vez muitos escritos inéditos; a de Buchenau e E. Cassirer ( G. W Leibniz ' Philosophische Werke, 4 vols., 1 924). Ainda está incompleta a edição (Darmstatt, 1 923 e seg.; Leipzig, 1 93 8 ; Berlim, 1 950 e seg.) que devia abarcar todos os escritos de Leibniz, a da Academia de Ciências de Berlim, com cerca de uma centena de volumes previstos, agrupados nas seguintes séries: I ( 1 2 tomos), Correspondência geral, política e histórica; II, Correspondência filosófica; III, Corres pondência matemática, científico-natural e técnica; IV, Escritos políticos; V, Escritos históricos; VI, Escritos filosóficos; VII, Escritos científicos e técnicos. Edição de obras mais recente: Wérke, em 20 vais., ed. W. E. Peuckert (a partir de 1 949). Há por outro lado numerosas edições separadas de textos inéditos, como a de Foucher de Careil, Lettres et opuscules inédits de Leibniz, 1 854 e Nouvelles Lettres et opuscules inédits de Leibniz, 1 857; os Opuscules et fragments inédits publicados por Couturat em 1 903, reimp. 1 96 1 ; os textos inéditos publicados por Jean Ba ruzi em 1 909; as Lettres etfragments inédits concernant les problémes philosophiques, théologiques, politiques de la réconciliation des doctrines protestantes (1669-
LEIBNIZ, GOITFRIED WILHELM 1 704) , publicados com introdução e notas de Paul Schrecker, 1 934; a coleção de Textes inédits d 'aprés les manuscrits de la Bibliothéque provinciale de Hanovre, publicados e anotados por J. Grua, 1 vols., 1 948; Lettres à Arnauld d 'aprés um manuscrit inédit, ed. G. Lewis, 1 952; Correspondance Leibniz-Clarke présentée d'aprés les manuscrits originaux des bibliothéques de Hanovre e de Londres, ed. A. Robinet, 1 957; a Confessio philoso phi, ed. e trad. por Yvon Belaval, 1 9 6 1 [desta Confessio philosophi publicara-se uma edição um tanto defeituosa em 1 9 1 5 , a cargo de Ivan Jagodinsky: Leibnitiana ine dita, com introduções e notas em russo] . Novos textos de L. em Pierre Costabel, L. et la dynamique, 1 960. Também foram publicadas edições anotadas de obras originais de acordo com manuscritos originais; assim, por exemplo, uma edição da Monadologia e dos Princí pios da Natureza e da Graça, por A. Robinet ( 1 954); uma edição com um amplo (embora nem sempre perti nente) comentário do Discurso de Metafisica, por Pierre Burgelin ( 1 959); os textos do Essai de dynamique, de 1 692, por Pierre Costabel ( 1 973). Em português: O discurso da metafisica, 1 997. Princípios defilosofia ou monadologia, 1 987. - Novos ensaios sobre o entendimento humano, Os Pensadores, 1 980. - Discurso sobre a teologia natural dos chine ses, 1 99 1 . Bibliografia: Émile Ravier, Bibliographie des oeu vres de L. , 1 937 [complemento de Paul Schrecker em Revue Philosophique de la France e de l 'Étranger, 1 26 ( 1 93 8)] . - Kurt Müller, L.- Bibliographie, 1 967 [com 3 .392 títulos] ; atualização, numa 2ª ed. : A. Heinekamp, L.- Bibliographie. Die Literatur über L. bis 1980, 1 984 [com 6. 7 1 6 títulos] . - K. D. Dutz, Zeichentheorie und Sprachwissenschaft bei G. W L. Eine kritische annotier te Bibliographie der Sekundiirliteratur, 1 983. Concordâncias: R. Finster et ai. , Leibniz Lexikon, 1 988 [concordância dos escritos filosóficos] . Uma biografia de L. ainda hoje fundamental é a de E. G. Guhrauer, L. , 2 vols., 1 842; 2ª ed., 1 846. Alentada informação biográfica traz Paul Wiedeburg, Derjunge L., das Reich und Europa, 2 vais., 1 962 [His torische Forschungen, 4]; o vol. I é uma exposição e o vol . II contém notas. São muito numerosas as obras sobre o pensamento de L . ; além dos primeiros escritos de Bilfinger ( 1 723), Carl Günther Ludovici ( 1 737), Baumeister ( 1 74 1 ), Ploucquet ( 1 7 48) e De Justi ( 1 748), é preciso mencionar os livros publicados no século XIX, entre os quais fi guram as obras de Hartenstein ( 1 846), R. Zimmermann ( 1 847, 1 849 e 1 852), E. Saisset ( 1 857), de Foucher de Careil ( 1 86 1 ), de A. Pichler ( 1 869- 1 870) e de Otto Cas pari ( 1 870). Selecionamos aqui algumas obras publica das depois de 1 870, atentando principalmente para os livros de conjunto ou aqueles em que se extrai algum ponto capital de sua filosofia para a interpretação global
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LEIBNIZ-WOLFF (ESCOLA DE)
dela: Jean Félix Nourisson, La philosophie de L. , 1 870; reimp . : 1 970. - Fr. Kirchner, L., Sein Leben und Den ken, 1 877. - Ed. Dillmann, Eine neue Darstellung der Leibnizschen Monadlehre auf Grund der Quellen, 1 89 1 . - E . Sigall, Platon und L. über die angeborenen Jdeen, 2 vols., 1 897- 1 898. - Bertrand Russell, A Criticai Ex position ofthe Philosophy ofL. , 1 900; nova ed., 1 937. - Louis Couturat, La logique de L. d 'aprés des docu ments inédits, 1 90 1 ; reimp., 1 96 1 , 1 969. - Ernst Cassi rer, Leibnizs System in seinen wissenschaftlichen Grun dlagen, 1 902. - A. Foucher de Careil, Mémoire sur la philosophie de L. , 1 905. - M. Halbwachs, L. , 1 906. - Jean Baruzi, L. et la organisation religieuse de la terre, 1 907. - A. Gorland, Der Gottesbegriff bei L. , 1 907. - W. Kabitz, Die Philosophie des jungen L. , 1 909. - E. van Biema, L'espace et !e temps chez L. et chez Kant, 1 908. - Hans Ludwig Koch, Materie und Organismus bei L. , 1 908. - Walter Kinkel, L. [em Grasse Denker, ed. E. von Aster, vol. II, 1 9 1 2]. - Clo dius Piat, L. , 1 9 1 5 . - VV AA., The Monist, v. 26, nº 4, outubro de 1 9 1 6. - Bogumil Jasinowski, Die analytische Urteilslehre Leibniziens in ihrem Verhiiltnis zu seiner Metaphysik, 1 9 1 8. - Hans Pichler, L. , 1 9 1 9 . - M. Et tinger, L. ais Geschichtsphilosoph, 1 92 1 . - O. H. Schmalenbach, L. , 1 92 1 . - G. Carlotti, li sistema di L. , 1 923. - D. Mahnke, Leibnizens Synthese von Uni versal-mathematik und lndividualmetaphysik, 1 925; reimp., 1 963 [do Jahrbuch fiir Philosophie und phiino menologische Forschung, VII]. - F. Olgiati, li signi ficato historico di L. , 1 930; 2ª ed., 1 934. - G. Stam mler, L. , 1 930. - M. Guéroult, Dynamique et métaphy sique leibniziennes, 1 934. - Heinz L. Matzat, Untersu chungen über die metaphysischen Grundlagen der Leibniz 'schen Zeichenkunst, 1 93 8 . - !d. , Die Gedan kenwelt desjungen L. , 1 947. - !d., Gesetz und Freiheit. Eine Einfiihrung in die Philosophie von G. W L. aus den Problemen seiner Zeit, 1 948. M. Guéroult, Dy namique et metaphysique leibniziennes, 1 939; 2ª ed., 1 967. - F. Amerio, L. , 1 94 3 . - A. Galimberti, L. , 1 946. - G. FriedmamÍ, L. et Spinoza, 1 94� . .-.:. S. dai Boca, L. , 1 94 7. - G. Galli, Studi sul/a filosofia di L. , 1 949. - H. W. B. Joseph, Lectures on the Philosophy of L. , 1 949. - Ingetrud Pape, L. Zuzang und Deutung aus dem Wahrheitsproblem, 1 949. - F. Brunner, Études sur la signification historique de la philosophie de L. , 1 95 1 . - Yvon Belaval, Pour connâitre la pensée de L. , 1 952; 3ª ed., intitulada L. : Initiation à sa philosophie, 1 969. - !d. , L., critique de Descartes, 1 960. - R. L. Saw, L. , 1 954. - R. M. Yost, Jr.,L and Philosophical Analysis, 1 954 [University of California Pubiications in Philosophy, 27]. - J. Moreau, L'Univers leibnizien, 1 956. - G. Grua, La justice humaine selon L. , 1 956. - María Eugenia Valentié, Un a metafisica dei hombre, Ensayo sobre la filosofia de L. , 1 956. - José Ortega y Gasset, La idea de principio em L. y la evolución de -
la teoría deductiva, 1 958. - H. H. Holtz, L. , 1 958. J. O. Fleckenstein, G. W L. , 1 958. - R. Kauppi, Über die leibnizsche Logik mit besonderer Berücksichtigung des Problems der Jntension und der Extension, 1 960. - Gottfried Martin, L., Logik und Metaphysik, 1 960. - Herbert Wildon Carr, L. , 1 960. - J. Jalabert, Le Dieu de L. , 1 960. - Émilienne Naert, Mémoire et cons cience de sai selon L. , 1 96 1 . - Hans M. Wollf, L. Albe seelung und Skepsis, 1 96 1 . - Edmondo Cione, L. , 1 964. - Anna-Teresa Tymienecka, Leibniz 's Cosmo logical Syntesis, 1 964. - G. H. R. Parkinson, Logic and Reality in Leibniz 's Metaphysics, 1 965. - Nicho las Rescher, The Philosophy ofL. , 1 967. - Michel Serres, Le systéme de L. et les modeles mathématiques, 2 vols., 1 968. - Hidé lshiguro, Leibniz 's Philosophy ofLogic and Language, 1 972. - Leroy E. Loemker, Struggle for Synthesis: The Seventeenth Century Background of Leibniz 's Synthesis of Order and Freedom, 1 972. Aron Gurwitsch, L. : Philosophie des Panlogismus, 1 974. - C. D. Broad, L. : An Introduction, 1 975, ed. C. Lewy. - J. Hostler, Leibniz 's Moral Philosophy, 1 975. - Yvon Belaval, Studes Leibniziennes. De L. à Hegel, 1 976. - M. Mugnai, Astrazione e realtà. Saggio su Leibniz, 1 976. - H. Burkhardt, Logik und Semiotik in der Philosophie von Leibniz, 1 980. - N. Rescher, Leib niz 's Metaphysics ofNature: A Group ofEssays, 1 98 1 . - J. W. Nason, W. Sellars et. ai. , Leibniz: Metaphysics and Philosophy ofScience, 1 982, ed. R. S. Woolhouse. - G. H. R. Parkinson, F, Mondadori et. ai. , Leibniz: Criticai and Interpretive Essays, 1 982, ed. M. Hooker. - F. J. Aiton, Leibniz. A Biography, 1 985. - B. Mates, The Philosophy ofLeibniz: Metaphysics and Language, 1 986. - G. Deleuze, Le pli. Leibniz et !e baroque, 1 988. - F. Martínez Marcoa, Cálculo y ser. (Aproxima ción a Leibniz), 1 99 1 . Por ocasião do 300º aniversário de nascimento de L., publicaram-se na Alemanha uma série de monogra fias. Mencionamos: l, N. Hartmann, L. ais Metaphysi ker, 1 946; II, E. Benz, L. und Peter der Grasse, 1 947; III, E. Hochstetter, Zu Leibniz ' Gediichtn is, 1 948; IV, J. E. Hoffinann, Leibniz 'Mathematischen Studien in Paris, 1 948; V, K. Durr, Leibniz ' Forschungen im Gebiet der Syllogistik, 1 949; VI, W. Conze, L. ais Historiker, 1 95 1 ; VII, R . Zocher, Leibniz ' Erkenntnistheorie, 1 952; VIII, R. F. Merkel, L. und China, 1 952. A partir de 1 969, aparecem os Studia Leibnitiana. Zeitschriftfiir Geschichte der Philosophie und der Wis senschaften vom 1 6. bis 18 Jahrhundert, ed. por Kurt Müller, Heinrich Schepers e Wilhelm Totok. � LEIBNIZ-WOLFF (ESCOLA DE). Embora sej a habitual falar d a Escola d e Leibniz-Wolff como baseada nun1 conjunto de idéias e de tipos de argumentos deri vados daqueles dois filósofos, não se trata formalmente de uma "escola", mas de uma "corrente" e, especifica mente, de uma corrente acadêmica, muito influente du-
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rante algumas décadas em países de língua alemã, com algumas ramificações na França, na Polônia e na Rús sia. A expressão mais usada no século XVIII, e em se guida registrada nos manuais de história da filosofia, foi ' filosofia de Leibniz-Wolff'. Essa expressão deve sua origem a Georg Bernhard Bilfinger (vER), que estu dou com Wolff e aspirou a organizar sistematicamente, bem como a propagar, as doutrinas wollfianas. De modo geral, os elementos da filosofia leibnizia na aceitos pelos que seguiam a "filosofia de Leibniz Wolff" foram vistas através das interpretações e siste matizações de Wolff, motivo pelo qual a citada "filoso fia de Leibniz-Wolff" muitas vezes é simplesmente "a filosofia de Wolff", com as conseqüentes transforma ções e derivações. Wolff conseguiu compendiar um vas to complexo de idéias e assentou as bases para os estu dos acadêmico-filosóficos (que incluíam também a teo logia, a jurisprudência, a matemática etc.). Teve além disso numerosos discípulos que se basearam nele, ainda quando discordavam do mestre em diversos pontos. Ao final do verbete WoLFF, referimo-nos aos mais desta cados discípulos desse filósofo, que podem ser conside rados, nesta condição, "membros" da Escola de Leib niz-Wolff; esses discípulos influenciaram outros, po dendo-se assim compilar uma enorme lista. O citado Bilfinger, Baumgarten, Ludwig Philipp Thümming, Friedrick Christian Baumeister são os nomes mais fre qüentemente mencionados. Mas muitos outros podem ser aduzidos; é interessante, além disso, notar os postos universitários e as datas. Lewis White Beck (Early Ger man Philosophy: Kant and His Predecessors, 1 969, pp. 276-278) proporciona uma lista interessante. Em Halle: o próprio Wolff (datas de exercício: 1 740- 1 755); Thüm ming, que abandonou Halle com Wolff e em seguida deu aulas em Kessel; A. G. Baumgarten, que deu aulas de 1 73 8 a 1 740, quando se transferiu para a Universi dade de Frankfurt a.O. ; G. F. Meier (datas de exercício: 1 739- 1 777); S. J. Baumgarten ( 1 743- 1 772); J. S. Semler ( 1 752- 1 7 9 1 ); J. A. Eberhard ( 1 778- 1 809). Em Marbur go, havia poucos professores não-wolffianos até 1 787. Em Giessen: J. F. Müller, discípulo de Bilfinger, sucedi do por outro discípulo de Wolff, Andreas Bõhm, que deu aulas até 1 790. Em Tübingen: Bilfinger ( 1 7 1 9- 1 725), despedido em 1 725, transferiu-se para São Petersburgo e regressou à Alemanha em 1 73 1 para dar aulas e, pouco depois, presidir o consistório de Stuttgart; Israel Got tlob Canz ( 1 739- 1 747); Gottfried Ploucquet ( 1 7501 790). Em Helmstedt: J. N. Frobeius ( 1 726- 1 756), dis cípulo de Wolff em Halle e Marburgo. Em Konigsberg: F. A. Schultz ( 1 686- 1 763); C. F. Rast ( 1 686- 1 74 1 ); Martin Knutzen (vER), mestre de Kant. Em Leipzig: J. C. Gottsched (datas de exercício: 1 734- 1 766); Carl Ludovici ( 1 76 1 - 1 768), historiador do wolffianismo; Christian Garve (VER), que se transferiu para Leipizig em 1 772. Em lena: Johann Peter Reusch (a partir de
LEISEGANG, HANS 1 738); Joachim G. Darjes ( 1 7 1 4 - 1 792), que em seguida se inclinou na direção de Crusius; Johann Jakob Brucker ( 1 696- 1 792), historiador da filosofia. Em Wittemberg: Friedrich Christian Baumcister (deu aulas de 1 730 a 1 736). E ainda há outros que se deveriam citar, como Jean Henri Samuel Formey ( 1 7 1 1 - 1 797). Evidentemen te, "a filosofia de Leibniz-Wolff" - ou "a filosofia de Wolff" - foi francamente acadêmica. Nem todos os filósofos citados foram estritamente wolffianos; alguns, como Ploucquet e Meier, foram bas tante ecléticos, mas seu pensamento se desenrola no contexto do wolffianismo. Também ao final do verbete WoLFF, fazemos uma breve menção às críticas dirigidas à filosofia de Leib niz-Wolff por pensadores como Ruidiger e Crusius, bem como à influência, tanto positiva como negativa, que teve a filosofia de Leibniz-Wolff sobre Kant. Elementos da filosofia de Leibniz-Wolffpassaram a manuais escolásticos modernos, nos quais se encon tram citações de Wolff, Reimarus, Sulzer e outros auto res. Afirmou-se inclusive que párte da escolástica do final do século XVIII e do começo do XIX, especial mente a escolástica incorporada a manuais de filosofia para o ensino em seminários e algumas universidades, compõe-se de uma combinação eclética de idéias esco lásticas e idéias procedentes da filosofia de Leibniz Wolff. Essa tendência de uma parcela da escolástica moderna reduziu-se consideravelmente, e depois desa pareceu, com a revitalização formal do tomismo e, em particular, com a atenção dada ao variado "complexo" das filosofias medievais.
LEISEGANG, HANS ( 1 890- 1 95 1 ). Nascido em Blan kenburg (Turíngia), foi professor em Leipzig ( 1 929- 1 930) e em lena ( 1 930- 1 934). Em 1 934, foi destituído de seu cargo por sua oposição ao regime nacional-socialista. Em 1 945 voltou a ser nomeado professor em lena e, a partir de 1 948, professor na Universidade Livre (Freie Universitãt) de Berlim. Leisegang se distinguiu por seus estudos sobre o pensamento e a relig i ão da época helenística, especial mente sobre as formas que esse pensamento imprimiu nos elementos espirituais procedentes de outras cultu ras. Esses estudos o levaram a uma pesquisa sobre o que denominou as formas do pensar (Denkformen), ex pressão pela qual entendia as formas lógicas de pensar, ainda que o termo "lógicas" tenha nesse caso um senti do bem amplo. Segundo Leisegang, essas formas são mais fundamentais que as tipologias das concepções de mundo. Trata-se de estruturas gerais de concepção (e expressão) ligadas a estruturas da realidade, ou, me lhor dizendo, a diversos tipos possíveis de organização dessas estruturas. Referimo-nos com mais detalhes às idéias de Leisegang sobre o assunto, com a exposição de sua classificação das formas de pensar, no verbete Perifilosofia (vER). Leisegang conclui que a concepção
LENIN
das formas de pensamento não leva a um relativismo epistemológico, pois um pensamento é verdadeiro quando é adequado à estrutura dos objetos aos quais se aplica e quando consegue exprimir essa estrutura. :> Obras: Die Raumtheorie im spiiteren Platonismus, insbesondere bei Philon und den Neuplatoniken, 1 9 1 1 (tese) (A teoria do espaço no plantonismo posterior, especialmente em Fílon e nos neoplatónicos). - Die Begrijfe der Zeit und Ewigkeit im spiiteren Platonismus, 1 9 1 3 (Os conceitos de tempo e eternidade no platonis mo posterior). - Die Heilig Geist: das Wesen und Wer den der mystisch-intuitiven Erkenntnis in der Philoso phie und Religion der Griechen, 1 9 1 9 (O Espírito San to: natureza e evolução do conhecimento místico-intui tivo na filosofia e na religião dos gregos). - Pneuma Hagion. Der Ursprung des Geistbegrijfes der synoptis chen Evangelien aus der griechischen mystik, 1 922 (P. H. [Espírito Santo]. A origem do conceito de espírito dos evangelhos sinóticos a partir da mística grega). - Griechische Philosophie von Thales bis Platon, 1 922. - Hellenistische Philosophie, 1 923. - Die Gno sis, 1 924; 3ª ed., 1 942. - Weltanschauung: philosophis ches Lesebuch, 2 vols., 1 926 [em colaboração com E. Bergmann] ( Visão de mundo: livro de leitura filosófi ca ). - Deutsche Philosophie im 20. Jahrhundert, 1 928 (Afilosofia alemã no século XX). - Deniformen, 1 928; 2ª ed., 1 950 (Formas do pensar). - Die Platondeutung der Gegenwart, 1 929 (A intepretação atual de Platão). - Religionsphilosophie der Gegenwart, 1 930 (A atual filosofia da religião). - Lessings Weltanschauung, 1 93 1 (A visão de mundo de Lessing). - Goethes Den ken, 1 932 (O pensamento de Goethe). - Dante und das christliche Weltbild, 1 94 1 (Dante e a imagem cristã do mundo). - Hegel, Marx, Kierkegaard, 1 948. - Ein fiihrzmg in die Philosophie, 1 95 1 . - Meine Weltans chauung, 1 952 (Minha visão de mundo). Leisegang colaborou na Realenzyklopiidie de Pau ly-Wissowa com vários verbetes (Logos, Fílon, Platão, Sophia e outros). Preparou também o Í ndice da edição crítica de Fílon (VER) de L. Cohn e P. Wendland. � LENIN ( 1 870- 1 924 ). Seu verdadeiro nome era Vladimir Ilitch Ulianov. Nascido em Simbirsk (atual Ulianovx). Deixaremos de lado neste verbete sua conhecida atua ção política e falaremos apenas de suas idéias filosóficas. Estas são determinadas pela influência recebida de Marx e de Engels, razão pela qual o pensamento de Lenin está decididamente na linha do marxismo (VER) . Contudo, a atenção dada por Lenin aos problemas concretos, so ciais, políticos e históricos, faz com que seu marxismo possa ser considerado uma versão dada da doutrina diante de certas realidades. Por isso, tem sido freqüente julgar o leninismo como a forma adotada pelo marxis mo em determinado momento da história e em relação a determinada comunidade.
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É característico do marximo leninista a acentuação do papel fundamental que o indivíduo pode desempe nhar na luta pelo socialismo, em contraposição às con cepções que destacam excessivamente a necessidade histórica. Isso se deve ao fato de Lenin pensar em ter mos concretos de luta pelo poder e de conquista do Es tado pelo proletariado. A seu ver, deve-se submeter tudo a esta finalidade, inclusive a filosofia, que adquire assim um caráter terminantemente "partidário". Por isso, Lenin se opôs a todas as tendências que julgava ameaçadoras ao triunfo do materialismo dialético mar xista. Sua mais conhecida luta filosófica é a que susten tou com os partidários russos de Mach (especialmente Bogdanov), aos quais acusou de "fideísmo"; o machis mo e o empiriocriticismo são, por conseguinte, expres sões da "filosofia reacionária" da burguesia. A luta con tra as crenças religiosas está ligada intimamente à opo sição anterior. De todo modo, trata-se de construir uma doutrina na qual se destaque um inamovível núcleo dogmático no qual se unam indissoluvelmente teoria e prática. Essa doutrina se baseia, como se indicou, em Marx e Engels (e até mesmo na acentuação da unidade das teorias dos dois pensadores) e num completo rea lismo epistemológico em que Lenin vê a melhor de fesa contra todo idealismo e a confirmação de que (não obstante o mencionado papel desempenhado pela ati vidade humana) o ser determina a consciência, e não o contrário, na conseqüente idéia de que o conhecimen to reflete exatamente o real e não é uma simples série de símbolos e, por fim, no constante materialismo. Ora, Lenin destacou muitas vezes o caráter dialético desse materialismo; a "leitura materialista de Hegel", que Le nin fez repetidas vezes, levou-o à convicção de que, a menos que se insista nas oposições dialéticas e na des truição da tese pela antítese, não se poderá tomar con creto o ímpeto revolucionário essencial, que deve estar indissoluvelmente ligado à doutrina, ao mesmo tempo que por ela determinado, pois do contrário não se defen de, segundo Lenin, o marxismo, mas um mero oportu nismo e relativismo. :> As principais obras filosóficas de Lenin são sua polêmica contra Bogdanov e os partidários de Mach, intitulada Materialismo e Empiriocriticismo, publicada em 1 909 e os Cadernos Filosóficos (Filosofskié tetradi), ed. V. V. Adoratskiy e W. G. Sorin, 1 93 3 . - Edição de obras completas por V. V. Adoratskiy: Sotchinéniá, 3 5 vols., 4 ª ed., 1 94 1 - 1 950. - Edição em alemão pelo Instituto Marx-Engels de Moscou: Siimtliche Werke, 40 vols., 1 955- 1 97 1 . Que fazer? As questões palpitantes do nosso movi mento, 1 978. - O Estado e a revolução: o conceito mar xista do poder, s.d. - Capitalismo e agricultura nos Estados Unidos: novos dados sobre as leis de desenvolvi mento do capitalismo na agricultura, 1 980. - O Estado e a revolução: o que ensina o marxismo sobre o estado e
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o papel do proletariado na revolução, 1 983. - O desen volvimento do capitalismo na Rússia: o processo defor mação do mercado interno para a grande indústria, 1 985. -A falência da li Internacional, 1 979. - O impe rialismo.fase superior do capitalismo, 1 987. - Sobre os sindicatos, 1 979. - Obras completas, s.d. - A questão do programa, 1 979. - O Estado e a revolução: a doutri na mariista de Estado e as tarefas doproletariado na re volução, 1 96 1 . - Esquerdismo: doença infantil do co munismo, 1 978. - Materialismo e empiriocriticismo: novas críticas sobre uma filosofia reacionária, 1 97 5 . - Marx-Engels: marxismo, 1 979. - Como iludir o povo com os slogans de liberdade e igualdade, 1 979. - O trabalho do Partido: entre as massas, 1 96 1 . - Cultura e revolução cultural, 1 968. - O Estado e a revolução, 1 970. - O programa agrário da social-democracia na primeira revolução russa de 1905-1907, 1 980. - Obras escolhidas, 1 979- 1 980. - Lenin: política, 1 978. -- A aliança operário-camponesa, 1 96 1 . - Teses de abril, sobre as tarefas do proletariado na presente Revolução, 1 987. - A doença infantil do comunismo, 1 984. Há numerosas obras sobre L.; citamos: K. Vorlãn der, Vom Machiavelli bis L. , 1 926. - S. Marck, L. ais Erkenntnistheoretiker, 1 928. - I. Luppol, L. und die Philosophie, 1 929. - C. Malaparte, Intelligenza di L. , 1 930. - A. M. Deborin, L. i krisis novejchéjfiziki, 1 930. - A. A. Maksimov, L. i jestéstvoznanié, 1 93 3 . - J. Harper, L. ais Philosoph, 1 93 3 . - A. Pastore, La filo sofia di L. , 1 946. - Wemer Ziegenfuss, L. Soziologie und revolutiondre Aktion im polistischen Geschehen, 1 948. - C. J. Gianoux, Lénine, 1 952. - VV.AA., "Lé nine: philosophe et savant", em La Pensée [Paris], 57 ( 1 954). - Henri Lefi:bvre, La pensée de Lénine, 1 957. - Wilhelm Goerdt, Die "allseitige universale Wen digkeit " (Gibkost') in der Dialektik V. /. Lenins, 1 962. - Roger Garaudy, Lénine, 1 966. - Louis Althusser, Lénine et la philosophie, 1 969. - Manuel Sacristán, "L. y el filosofar", Realidad, 1 9 (dezembro de 1 970). - Dominique Lecourt, Une crise et son enjeu: Essai sur la polition de Lénine en philosophie, 1 973. - A. A. Smimow, "Die Leninsche Widerspiegelungstheo rie und die Psychologie", em J. Lompscher, ed., Lenins philosophische Erbe und die Ergebnisse der sowje tischen Psychologie, 1 974. - D. Schub, Lenin, 2 vols., 1 977. - N. Harding, L.'s Political Thought, 2 vols., 1 9771 9 8 1 (com bibliografia). - A. Negri, Lafabbrica del ta strategia: 33 lezione su L. , 1 979. - L. Singer, Kor rekturen zu L. , 1 980. - P. Lübbe, Kautsky gegen L. , 1 98 1 . - D. W. Lovell, From Marx to Lenin: An Eva luation of Marx s Responsibility for Soviet Authori tarianism, 1 984. - L. Schapiro, P. Reddaway, eds., Lenin: The Man, The Theorist, The Leader. A Reap praisal, 1 987. Ver também a bibliografia de FILOSOFIA SOVIÉTICA e MARXISMO. C:
LEONARDO DA VINCI
LEÓN BARANDIARÁN, JOS É . Ver DEúSTUA, ALE JANDRO ÜCTAVIO. LEONARDO DA VINCI ( 1 452- 1 5 1 9). Nascido em Vin ci, no Vale do Amo. Discutiu-se às vezes se Leonardo foi ou não um filósofo, além de pintor, cientista, inventor etc. Cremos que a única coisa que se pode dizer é que ele teve opiniões que podem ser consideradas filosóficas ou que no seu tempo podiam ser assim caracterizadas. Essas idéias estão em notas (e até pode ser que o estar expressas em notas corresponda ao "modo filosófico" ou suposto "modo filosófico" de Leonardo). As mais importantes para o tópico que nos ocupa são as seguintes: O conhecimento é obtido por meio da experiência dos sentidos, sendo também confirmado pelo recurso a essa experiência: "a experiência não erra nunca; só os nossos juízos erram''. A experiência é a mãe de toda cer teza, assim como da sabedoria. Contudo, a experiência não basta por si só ao saber, também é preciso elaborá la mediante a razão, que não se opõe à experiência, mas está simplesmente acima dela, dominando-a como o geral domina o particular. A ciência é capitã da prática. Essa razão é exprimível em princípio em forma matemática, por ser a matemática a linguagem das leis gerais (que, além disso, devem ser comprovadas pela experiência). A experiência e a razão podem compreender a Natureza, que segue leis estritas "a ela inerentes''. Essa obediência à estrita lei é a "necessidade", mestra e guia da Natureza. Leonardo enfatiza que há na Natureza estritas relações causais, de modo que, se se compreende a causa, já não se sente necessidade do experimento (embora a causa possa não ter sido descoberta sem o experimento). O "paraíso da ciência matemática" é a mecânica, de que Leonardo se ocupou, tendo tratado das noções de peso, força e "percussão'', que produzem o movimento e são por ele produzidas. A gravidade e a luz são forças geradas pela transformação de um elemento em outro. A força e o tempo são infinitos, ao passo que o peso é finito. O movimento deve ser tratado matematicamen te, e suas quatro espécies principais são : o direto (l inha reta), o curvo, o espiral e o circular. A força que se transmite de um corpo que se move ao corpo movido por ele é o ímpeto. Todo movimento "conserva seu cur so, ou melhor, todo corpo, quando é movido, continua rá em seu curso até onde o permitir o poder do impulso nele residente". Os cinco sentidos são os ministros da alma, que é a sede do juízo. O principal sentido é a visão (o olho é "a janela da alma", ou seja, "o principal órgão por meio do qual o entendimento pode alcançar a mais completa e magnífica visão das infinitas obras da Natureza"). No olho se reflete a beleza do mundo. Uma noção fim damental é a proporção; toda parte de um todo deve ser proporcional a ele. A pintura é a mais nobre das artes. A música é irmã da pintura. A poesia pode ser comparada à música. A
LEÔNCIO DE BIZÂNCIO pintura "supera todas as obras humanas graças à sutil especulação que está relacionada a ela". A pintura trata da filosofia natural, assim como a poesia trata da filoso fia moral. A escultura é menos intelectual que a pintu ra e carece de muitas de suas qualidades intrínsecas. O pintor "luta e compete com a Natureza"; ele deve agir como um espelho, e a pintura por ele produzida é como "uma segunda Natureza". Várias são as opiniões manifestas acerca do valor das idéias filosóficas de Leonardo. Por algum tempo, considerou-se Leonardo um gênio absolutamente cria dor, não apenas na pintura como na filosofia natural e mecânica. Depois se admitiu que devia haver um "gran de precursor", e Nicolau de Cusa foi mencionado fre qüentemente como tal. Duhem procurou descobrir quais teriam sido os precursores de Leonardo e descobriu que eram - ao menos em filosofia natural - os fisi cos da Escola de Paris. Isso parece correto se levarmos em conta que, no tocante, por exemplo, à explicação da causa do movimento, Leonardo aderiu por completo à teoria do ímpeto ( vER ) . Mas estudos realizados ulte riormente (A. Koyré, E. Moody, A. Maier, C. Clagett e outros) mostraram que, em sua filosofia natural e em sua mecânica, Leonardo se apoiou em larga medida nos mertonianos ( vER ) . Tudo isso reduziu consideravelmen te o papel de Leonardo como "precursor da ciência mo derna". Contudo, sua insistência na combinação de ex periência e matemática, embora procedente de outras fontes, seguia a direção na qual iria se desenvolver a fisica (mecânica, dinâmica, cinemática), embora sem chegar a estabelecer regras metódicas sistemáticas no tocante a isso e sem definir com precisão os termos fun damentais usados. O que pode ser a mais importante contribuição fi losófica leonardiana reside no que rece beu o nome de "a anatomia da Natureza"; também pode ter relevância sua insistência na compreensão da reali dade com base em "modelos", que para ele eram quase sempre "figuras" ou algo de alguma maneira "figura tuvo" e passível de ser desenhado. :> As anotações, notas etc. de Leonardo estão em vá rios Codici, dentre os quais se sobressai o Codex A tlan ticus, ed. Giuseppe Piumati, 1 894- 1 904. Entre outros Codici, sal ientamos os publicados por Ravaisson Mollien, 1 8 8 1 - 1 89 1 . Em português: Escritos de Leonardo da Vinci sobre a arte da pintura, 2000. - Obras literárias, filosóficas e morais, 1 997. Da imensa bibliografia sobre L., destacamos : P. Duhem, Études sur Léonard da Vinci, 3 vols., 1 906- 1 9 1 3 . F. Orestanoi, L. da Vinci, 1 9 1 9. - A. M. d'Anghia ri, La filosofia di L. da V., 1 920. - F. M. Bongianni, L., pensatore, 1 93 5 . - E. Panofsky, The Codex Huy gens and L. D. V.s Art Theory, 1 940. - G. Gentile, II pensiero di L. , 1 94 1 . C. Puporini, La mente di L. , 1 95 3 . - K. Jaspers, Leonard ais Philosoph, 1 95 3 . -
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F. Romero, "Leonardo y la filosofia dei Renacimiento" [ 1 952], em Estudios de la historia de las ideas, 1 95 3 , p p . 9-29. - E. Trilo, Riconstruzione e interpretazione dei pensiero filosofico di L. da V., 1 954. - D. Nedelj kovic, L. de V., philosophe et peintre, 1 956. - J. Gan tner, L. Visionen von den Sintflut und vom Untergang der Welt, 1 958. - B. Kouznetsov, "The Rationalism of L. da V. and the Dawn of Classical Science", Diogenes, 69 ( 1 970), 1 - 1 1 . - S. Ghita, "Le sens philosophique de la pensée de L. de V.", Philosophie et Logique, 25 ( 1 98 1 ), 357-367. e:
LEÔNCIO DE BIZÂNCIO (ca. 475-542/543). Foi um dos principais teólogos e filósofos do primeiro período da filosofia bizantina (vER) . Influenciado em alguns as pectos (na concepção da alma, por exemplo) por Platão e pelos neoplatônicos, e, em outros (concepção da subs tância, da matéria e da forma, procedimento lógico), por Aristóteles e pela Jsagoge de Porfirio, mas fiel sobre tudo aos Padres da Igreja gregos, entre eles, de modo particular, São Basílio, São Gregório de Nazianzo e São Cirilo (com ocasionais referências aos escritos do Pseu do-Dionísio), Leôncio de Bizâncio ocupou-se das ques tões teológicas propostas pela cristologia em defesa da fé ortodoxa e contras as heresias nestoriana e monofi sita. Mas embora a importância e a significação de sua obra seja sobretudo teológica, seu afã de definir as no ções empregadas para evitar a heterodoxia o levou a amplos desenvolvimentos filosóficos. A identificação entre Deus e o Ser, a distinção entre natureza e hipóstase (vER) , a elaboração da noção de ernhipóstase (ou nature za que não é uma hipóstase, mas que existe em uma hi póstase) , equiparando emhipóstase e substância, foram algumas das contribuições teológico-filosóficas de Leôncio, que influenciou nesse sentido vários outros pensadores bizantinos, especialmente Máximo, o Con fessor e São João Damasceno. Na perpétua luta entre platônicos e aristotélicos na filosofia bizantina, Leôncio é considerado por uns platônico e por outros aristotéli co, mas já vimos que ele emprega ambas as filosofias com um objetivo predominantemente teológico e, por esse motivo, não pode ser estritamente adscrito a ne nhuma dessas escolas. :> As principais obras de Leôncio de importância filo sófica são seus livros contra os nestorianos e eutiquia nos (Libri Ires adversus Nestorianos et Euthychianos ), a Eplysis e os Trinta Capítulos (Triginta capita adversus Nestorium). São-lhe por vezes atribuídos um De sectis e um Contra Nestorianos, embora provavelmente não sejam dele, devendo-se a algum discípulo ou partidá rio seu. Obras em Migne, P. G. LXXXVI. Edição de Triginta capita por Dekamp em Doctrina Patrum de Incarnatione, 1 907, pp. 1 5 5 - 1 2643 . Sobre Leôncio: V. Ermoni, De Leoncio Byzantino et de eius doctrina christologica, 1 895. - I. P. Junglas, L. von B. , 1 908. - M. Grabmann, Geschichte der scho-
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lastischen Methode, I , 1 909, pp. 1 04- 1 08. - 8. Tatakis, La philosophie byzantine, 1 949, pp. 62- 73. - A. Orbe, La epinoia: Algunos preliminares históricos de la dis tinción (En torno a la filosofia de L. de B.), 1 95 5 . Stephan Otto, Person und Subsistenz: Die philosophis che Anthropologie des L. von B. Ein Beitrag zur spiitan tiken Geistesgeschichte, 1 968. - N. J. Moutafakis, "Christology and Its Philosophical Complexities in the Thought ofL. ofB.", History and Philosophy Quarterly, 1 0 (2) ( 1 993), 99- 1 1 9. e:
LEONHARDI, HERMANN (BARÃO). Ver KRAusrsMo. LEPIDI, ALBERTO. Ver NEO-ESCOLÁSTICA. LEQUIER, JULES [seu "verdadeiro nome" era, segun do L. Ougas, Jules Léquyer] ( 1 8 1 4- 1 862). Nascido em Quintin (Côtes-du-Nord, Bretanha). De 1 834 a 1 838, estudou na Escola Politécnica; durante esse período, vivenciou uma crise em sua fé católica e, de modo geral, em suas crenças religiosas: a fé, que requer a liberdade, parecia-lhe opor-se à ciência, que exige o determinismo. Essa crise foi relatada por Lequier em seu escrito "La feuille de charmille" ("A folha de carpa", que constitui a "Introdução" à obra posteriormente publicada por Re nouvier com o título, já indicado por Lequier, Le problé me de la science. Comment trouver, comment chercher une premiére verité; outro título sugerido por Lequier: Discours sur la recherche d 'une premiére verité. Ele su perou essa crise tomando de novo posse da "fé em minha liberdade mediante minha própria liberdade, sem racio nalização, sem vacilação", de modo que podia afirmar "Sou livre" e fazer desaparecer desta maneira "a quime ra da necessidade". Em 1 843, ele começou a lecionar na École Epyptienne; por volta dessa época ocorreu seu encontro com Renouvier, tão influente sobre Lequier e sobre a ulterior divulgação da obra de Lequier. Em 1 846, ela voltou a enfrentar uma grande crise religiosa e mística. Em 1 848, retornou a Plerin (Bretanha) para apresentar sua candidatura de deputado à Assembléia Constituinte como "católico republicano". Em 1 85 1 , teve de ser inter nado, mas recuperou a saúde e lecionou ( 1 853- 1 855) em Besançon e em Lons-le-Saulnier. Depois de um perío do de solidão, de crise e de desespero, suicidou-se, en trando no mar e nadando até esgotar suas forças. Renouvier apresentou a filosofia de Lequier sobre tudo como uma "filosofia da liberdade'', insistindo no que recebera o nome de "o argumento do duplo dilema". Este consiste essencialmente no seguinte raciocínio: Admitamos antes de tudo que é verdadeira ou a) a ne cessidade ou b) a liberdade. Se admito a), encontro as duas condicionais a seguir: a 1 ) se afirmo a necessidade, afirmo-a necessariamente; de fato, se há necessidade, minha afirmação da necessidade é necessária; a2) se afirmo a liberdade, afirmo-a necessariamente; com efeito, se há liberdade, minha afirmação da liberdade é necessária. Por outro lado, se admito b), encontro duas
LEQUIER, JULES outras condicionais: b 1 ) se afirmo a necessidade, afir mo-a livremente; de fato, se há liberdade, é livre a afirma ção da necessidade; b2) se afirmo a liberdade, afirmo-a livremente; com efeito, se há liberdade, é livre a afirma ção da liberdade. Ora, não posso comprovar que a 1 ) se verifica, isto é, que há necessidade e que a afirmo ne cessariamente; tampouco posso fazê-lo com relação a a2), mas se me atenho a a2), posso afirmar que existem fundamentos do conhecimento e da moral, o que não ocorre se me ativer a a 1 ). Por outro lado, se me atenho a b 1 ), faço uma afirmação não necessária. Só quando me atenho a b2) e afirmo livremente a liberdade, estou na verdade e posso estabelecer que há fundamentos do conhecimento e da moral. Assim, b2) é a um só tempo uma verdade e uma afirmação salvadora. Não o é, con tudo, totalmente, já que devo levar em conta a causali dade, que se volta contra a liberdade, e assim sucessiva mente, até que saio do círculo reduzindo a própria cau salidade à liberdade. Esta última conclusão é o resulta do de uma preferência: a preferência pela liberdade. Léon Brunschvicg ( cf. bibliografia) criticou esse argumento de Lequier mostrando que esse autor compa ra e identifica acontecimentos e juízos, isto é, compara e identifica processos fisicos com processos mentais. Em vista disso, Brunschvicg pode sustentar que, se os primeiros são necessários, nenhum dos segundos será livre, de modo que é preciso que os segundos sejam li vres para que os primeiros o sejam. Grenier (cf. biblio grafia) indica que a crítica de Brunschvicg tem menos importância do que parece, porquanto o argumento de referência ocupa um lugar menos central na filosofia de Lequier do que suspeitava Renouvier; trata-se, diz Grenier, de um argumento que serve para reforçar a afirmação da liberdade e não para prová-la. Ezequiel de Olaso (cf. bibliografia) destaca que é preciso distin guir o argumento mesmo, que está "no quadro geral de uma busca da primeira verdade", e a hipótese da liber dade com a qual se responde "à descoberta de uma in dubitável realidade", de modo que o duplo dilema "não prova nem demonstra nada, visto ser a exposição que não chega a pensar seu próprio fundamento - de um trágico nó. Enlaçam-se neste nó dois fios exemplares: o determinismo como modelo de conhecimento e a liber dade como 'summum' do anseio metafisico. A realidade é a liberdade; o conhecimento é o determinismo". � Renouvier publicou a Recherche numa edição limi tada, fora de comércio: La recherche d 'une premiére verité.fragments posthumes de J L., ancien éleve à l 'Éco le Polytechnique, 1 865. - Vários fragmentos foram reeditados em obras de Renouvier: Psychologie ra Íio nelle, 2ª ed., 1 875; I, 374-393; II, 50-52, 1 09- 1 23, 1 281 39; Critique philosophique, I, 1 22- 1 5 8, 1 6 1 - 1 84; II, 1 - 1 7, 8 1 - 1 07. - L. Ougas publicou "La feuille de char mille" na Revue de Métaphysique et de Mora/e, 22 ( 1 9 1 4), 1 5 3- 1 73 . Ed. por M. Valensi de "Comment -
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LESNIEWSKI, STANISLAW trouver, comment chercher une premiére verité?" [pri meira parte de La Recherche . . . , seção intitulada em edi ções anteriores "Le probléme de la science"], seguido de "Murmure de Lequier (Vie imaginaire), 1 985. Edição de textos inéditos de L. por Jean Grenier: La Liberté. Textes inédits, 1 936. - Seleção de textos por Jean Wahl, 1 L. (Introduction et choix) , 1 948. Edição de obras: Oeuvres completes, por Jean Gre nier, 1 952 [inclui La Recherche d 'une premiére verité. - La liberté. - Réfléxions et pensées diverses. Correspondance] . Para a biografia de L.: Daniel Lequier, J L. , 1 963 . - H. Huerre, "Compléments à la note: J. Léquyer, doc teur en médecine briochin, et indications biographiques sur son fils, le philosophe Jules Lequier", em Mémoi res de la Société d 'émulation des Côtes-du-Nord, t. LXXXV, 1 956, Saint-Brieuc, 1 957. Além das introduções e notas às edições indicadas, ver: G. Séailles, "Un philosophe inconnu: J. L.", Revue philosophique, 45 ( 1 898), 1 1 9- 1 50. Léon Brunsch vicg, 'Torientation du rationalisme. Représentation, Concept, Jugement", Revue de Metaphysique et de Mo ra/e, 37 ( 1 920), 26 1-343, especialmente 289-290. - Jean Grenier, La philosophie de 1 L. , 1 936. - W. Hansen, Frihedsmaend i nyere fransk filosoji, 1 940, cap. III. Jean Wahl, "Refléxions sur la philosophie de J. L.", Deu calion, 4 ( 1 952). - Ezequiel de Olaso, "J. L.", La Gaceta [Tucumán], 3 l -XIl- 1 962, p. 2. - Émile Callot, Propos sur 1 L., phi/osophe de la liberté. Réfléxions sur sa vie et sur sa pensée, 1 962. - Xavier Tilliette, "Connaisance de J. L. ( 1 8 1 4 - 1 862)", Revue de Métaphysique et de Mora/e, 68 ( 1 963), 70-84. - Arnaldo Petterlini, 1 L. e il problema de/la /ibertà, 1 969. - H. H. Brimer, "J. L.'s 'The Hornbeam Leaf"', Philosophical Context, 3 ( 1 973), 94- 1 00. - E. De Dominicis, "L. in Italia'', Giornale di Metafisica, 32 ( 1 977), 53-83. -- J.-M. Turpin, "J. L.: La trame et la plume", Archives de Philo sophie, 40 ( 1 977), 623-656. - G. Pyguillen, "Renou vier et sa publication des fragments postumes de J. L. ( 1 965)", ibid. , 48 ( 1 985), 653-668. � -
LESNIEWSKI, STANISLAW ( 1 886- 1 939). Nascido em Serpukhov (Polônia), doutorou-se em filosofia ( 1 9 1 2) na Universidade Jan Kazimierz, de Lwów, sob a orientação de Kazimierz Twardowski (VER) . De 1 9 1 9 até sua morte, foi professor de filosofia da matemática na Universidade de Varsóvia, onde, ao lado de Lukasiewicz (VER) e Kotarbiriski (vER) , formou o "Círculo de Varsóvia" (vER) . Os ensinamentos e trabalhos de Lesniewski tive ram grande influência sobre vários lógicos, semióticos e matemáticos poloneses como J. Slupecki, B. Sobocinski, A. Tarski (VER) e, em especial, seus discípulos mais ime diatos, M. Wajsberg e A. Lindenbaum. Seguindo a tradição inaugurada na Polônia por Twardowski de uma "filosofia como ciência rigorosa" no sentido de Brentano e do antipsicologismo de Hus-
ser! e Frege, Ldniewski cedo se interessou pela funda mentação da matemática. Os Principia Mathematica, de Whitehead-Russell, e os trabalhos de Lukasiewicz foram importantes na formação de Ldniewski, que se dedicou à pesquisa das questões lógicas e semânticas, mas sem chegar, até 1 922 ou 1 923 e especialmente até 1 927, a resultados que lhe parecessem satisfatórios. Por esse motivo, repudiou seus primeiros trabalhos e só con siderou representativos de seu pensamento os que E. C. Luschei (op. cit. infra) chama de "obras maduras": a sé rie de trabalhos sobre a fundamentação da matemática ( 1 927- 1 938). Lesniewski deu em sua fundamentação da matemá tica continuidade ao trabalho de Frege, Whitehead e Russell, desenvolvendo um sistema completo de lógica formalizada. Mas a elaboração de uma lógica formali zada não significa para Ldniewski a adesão a um puro formalismo sintático. Ele rejeitou desde o começo tanto o realismo platônico como a pretensão de construir cál culos inteiramente dependentes de toda interpretação semântica. Do ponto de vista ontológico (no sentido usual e não ainda lesniewskiano de "ontológico"), Ld niewski inclinou-se a um nominalismo moderado, apro ximando-se, como destacaram KotarbiIÍ.ski e Chwistek (que o influenciaram nesse aspecto), de certas posições aristotélicas, a ponto de seu pensamento ter sido carac terizado, filosoficamente falando, como uma síntese de ontologia aristotélica e lógica matemática. Lesniewski adotou um ponto de vista que se pode chamar de "contex tualista" e que consiste essencialmente em fazer depender os significados dados às expressões usadas do contexto ou contextos nos quais elas aparecem. Esses contextos, por outro lado, não são arbitrários: Lesniewski se opôs a todo ficcionalismo e pragmatismo tanto na fundamenta ção da matemática como na conceitualização científica. No curso de seus trabalhos, Lesniewski elaborou o que chamou de "mereologia'', passando depois à "onto logia" e, por fim, à chamada "prototética". No entanto, na ordem sistemática a parte básica é a prototética; nela se funda a ontologia e, sobre a prototética e a ontologia, a mereologia. A prototética é uma lógica proposicional indefinidamente extensível (uma lógica de constantes e variáveis de todos os tipos semânticos possíveis, com um sistema de conectivos e de "funtores" por meio do qual geram-se conectivos). A ontologia é uma lógica de no mes, de verbos e de "funtores" de expressões nominais e verbais. A mereologia é uma ciência dos todos e das partes e das relações mais gerais possíveis entre eles; foi denominada também "um cálculo de indivíduos". A me reologia trata de conjuntos e de classes coletivos tratados como indivíduos formados por seus elementos consti tuintes ou ingredientes. Está incluída na mereologia uma álgebra booleana indefinidamente extensível. � Os primeiros trabalhos de Le:íniewski são: "Przy czynek do analizy zdan egzystencjalnych", Przeglad
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LESSING, GOTIHOLD EPHRAIM
filozoficzny, 1 4 ( 1 9 1 1 ) ("Contribuição à análise das pro posições existenciais"). - "Prowa dowodu ontologicz nej zasady sprzecznosci", ibid. , 1 5 ( 1 9 1 2) ("Ensaio para provar o princípio ontológico de contradição"). - "Czy prawda j est tylko wieczna i odwieczna?", Nowe Tory, 1 8 ( 1 9 1 3) ("A verdade é apenas eterna ou é ao mesmo tempo eterna e sempiterna?"). - "Krytika logicznej zasady wylaczonego srodky [deve ser: srodka]" Prze gladfilozoficzny, 1 6 ( 1 9 1 3) ("Critica do princípio lógico do terceiro excluído"). - "Czy klasa klas, nie podpor zadkowanych sobie, j est podporzadkowa sobie", ibid. , 1 7 ( 1 9 1 4), 63-75, ("Pertence a si mesma a classe das classes que não pertencem a si mesmas?"). - Podstawy ogólnej teoryi mnogosci, !, 1 9 1 6 (Fundamentos de uma teoria geral de conjuntos coletivos) [a parte II não foi publicada; reformulação de seus resultados no trabalho publicado em 1 928 mencionado infra] . Os "trabalhos maduros" d e Ldniewski são consti tuídos principalmente pela série "O podstawach mate matyki" ("Sobre os fundamentos da matemática"), publicada em Przegladfilozoficzny, nº' 30 ( 1 927), 1 64206; 3 1 ( 1 928), 26 1 -29 1 ; 32 ( 1 929), 60- 1 0 1 ; 33 ( 1 930), 77- 1 05 ; 34 ( 1 93 1 ), 1 42- 1 70. - Trad. esp. da Parte I da trad. francesa: "Sobre los fundamentos de las matemáti cas", Teorema, 13 ( 1 929), 2 1 -92. - Trad. alemã, com al gumas alterações e observações, de vários dos trabalhos anteriores, em "Über Funktionen, deren Felder Gruppen mit Rücksicht auf diese Funktionen sind'', Fundamenta Mathematica, 1 3 ( 1 929), 3 1 9-332. - "Grundzüge eines neuen Systems der Grundlagen der Mathematik", ibid. , 14 ( 1 929), 1 -8 1 . - "Über die Grundlagen der Ontolo gie", Comptes Rendus des séances de la Société des Sciences et des Lettres de Varsovie. Classe III, vol. 23 ( 1 930), 1 1 1 - 1 32. "Über Definitionen in der sogenan nten Theorie der Deduktion", ibid. , 24 ( 1 93 1 ), 289-309. - Ver também: "Grundzüge eines neuen Systems der Grundlagen der Mathematik", Collectanea Logica, I ( 1 93 8), 6 1 - 1 44 [destruído durante a guerra; restam pou cas separatas em bibliotecas]. - "Einleitende Bemer kungen zur Forsetzung meiner Mitteilung under dem Titel ' Grundzüge eines neuen Systems der Grundlagen der Mathematik"', ibid. , pp. 1 -60. - Seleção de traba lhos em trad. inglesa no volume Polish Logic, 1920-1939, 1 967. ed. Stors McCall. Edição de obras: S. L. : Collected Work.s, 2 vols., 1 992, ed. S. J. Surma et ai. Sobre Leimiewski, ver: Boleslaw Sobocinski, 'Tana lysc de l 'antinomie russelliene par L.", Methodos, I ( 1 949), 94- 1 07, 220-228, 308-3 1 6; ibid. , 2 ( 1 950), 237257. - Jerzy Slupecki, "S. Lefoiewski 's Protothetics", Studia Logica, 2 ( 1 953), 44- 1 1 1 . - Id., "S. Leimiewski's Calculus ofNames", ibid. , 3 ( 1 955), 7-70. - Eugene C. Luschei, The Logical Systems of L. , 1 962 [Studies in Logic and the Foundations of Mathematics, ed. L. E. J. Brower, E. W. Beth, A. Heyting]. - A. N. Prior, "Exis-
tence in L. and in Russell", em J. N. Crossley, M. A. E. Dummett, eds., Formal Systems and Recursive Functions, 1 965, pp. 1 49- 1 55. - D. Mieville, Un développement des systémes logiques de S. L. Protothétique-Ontologie Meréologie, 1 984. - V F. Rickey, J. T. J. Srzednicki, eds., L.'s Systems: Ontology and Mereology, 1 984. Principais obras : Das Christentum der Vernunft, 1 753 (O cristianismo da razão). - Pape, ein Metaphy siker, 1 755 (P., um metafisico). - Über die Wirklichkeit der Dinge ausser Gott, 1 763 (Sobre a realidade das coi sasfora de Deus). - Laookoon, 1 766. - Hamburgische Dramaturgie, 1 7 67- 1 769. - Wolfenbütteler Fragmente eines Ungenanntes, 1 774- 1 778 [ed. e comentário de Apo logie, oder Schutzschriftfor die vernünftige Verehrer Got tes, de Reimarus] (Fragmentos de Wolfenbüttel de um desconhecido [ ed. e com. da Apologia, ou defesa dos ado radores racionais de Deus, de R. ]). - Nathan der Weise, 1 779 (Natan, o sábio). - Die Erziehung des Menschen geschlechts, 1 780 (Educação do gênero humano). - A "Fábula sobre a verdade" está em Eine Duplik ( 1 778 ) . Edição de obras: Siimtliche Schriften, 30 vols. , ed. K. G. Lessing, 1 78 1 - 1 794; 1 3 vols., ed. K. Lachmann, 1 838- 1 840; 23 vols., ed. K. Lachmann e F. Muncker, 1 886- 1 924; 25 vols. [mais 2 vols. de índices], ed. J. Peter sen e W. von Olshausen, 1 925- 1 935; 8 vols., ed. H. G. Gõpfert, em colaboração com K. Eibl, H. Gõbel, K. S. Guthke, G. Hillen, A. v. Schirnding e J. Schõnert, 1 9701 979. - Há uma ed. esp. de Escritosfilosóficos y teoló gicos, por A. Andreu Rodrigo, 1 982; reed., 1 990. Depoimento: W. Drews, L. in Selbstzeugnissen und Bilddokumenten, 1 965. Ver: Kuno Fischer, L. ais Reformatar der deutschen literatur, 2 partes, 1 88 1 . - A. Frey, Die Kuntsform des Lessingschen Laokoon, 1 905. - Christoph Schrempf, L. ais Philosoph, 1 906; 2ª ed., 1 92 1 . - P. Lorentz, Les sings Philosophie, 1 909. __:__ P. Werle, L. und das Chris tentum, 1 9 1 2 . - W. Oehlke, L. und seine Zeit, 2 vols., 1 9 1 9 ; 2ª ed., 1 939. - Hans Leisegang, Lessings Wel tanschauung, 1 93 1 . - Folke Leander, L. ais iisthetis cher Denker, 1 942. - A. von Arx, L. und die geschich tliche Welt, 1 944. - O. Mann, L. Sein und Leistung, 1 948. - G. Pons, G. E. L. et le christianisme, 1 964. Henry E. Allison, L. and the Enlightenment: His Philo sophy of Religion and /ts Relation to Eighteenth-Cen twy Thought, 1 966. - Wolfgang Ritzel, G. E. L. , 1 966. - Harald Schulze, Lessings Toleranz-begriff. Eine theo logische Studie, 1 969. - Fabricio Canfora, L., 1 973. Leonard P. Wessel, G. E. Lessing 's Theology, a Reinter pretation: A Study in the Problematic Nature of En lightenment, 1 977. - L. P. Wessel, G. L. L.'s Theology, a Reinterpretation: A Study in the Problematic Nature of the Enlightenment, 1 977. - E. Heftrich, Lessings Aujkliirung. Zu den theologisch-philosophischen Spiits chriften, 1 978. - B. testa, Rivelazione e storia nella
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filosofia della religione de G. E. L. , 1 980. - J. C. O' Flaherty, The Quarrel ofReason with /tself: Essays on Hamann, Michaelis, Lessing, Nietzsche, 1 988. F. Niewõhner, Veritas sive Varietas. L.s Toleranzparabel und das Buch von den drei Betrügern, 1 988. Ver também: W. Dilthey, Das Erlebnis und die Dichtung, 1 905 e Emilio Estiú, "Notas sobre la meta fisica de L.", Notas y Estudios de Filosofia, 2 ( 1 95 1 ) , 295-3 1 4, e introdução à sua trad. de La educación dei género humano, citada supra. Obras: "Studien zur Wertaxiomatik", Archivfiir sys tematische Philosophie, N. F., 1 4 ( 1 908 ) , 58-93 (Estudo sobre a axiomática do valor). - Philosophie der Tat, 1 9 1 4 (Filosofia da ação). - Die Geschichte ais Sinnge bung der Sinnlosen, 1 9 1 9; 5ª ed., 1 929; nova ed., 1 962 [com postscriptum de Ch. Gneuss] (A história como ato de outorgar sentido ao sem-sentido). - Europa und Asien oder Der Mensch und das Wandellose. Sechs Bü cher wider Geschichte und Zeit, 1 923 ( 5ª ed. com o títu lo: Europa und Asien. Untergang der Erde am Geist, 1 930 (Europa e Ásia. A decadência da terra por obra do Espírito, 1 945 ) . - Nietzsche, 1 925. - Daemonen,
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1 929. - Deutschland und seine Juden, 1 933 (A Alema nha e seus judeus). Edição de obras: Gesammelte Schriften, 1 0 vols., I, 1 93 5 ; reimp, 1 969. Biografia: H. E. Schrõder, T L.s autobiographische Schriften, 1 970. - R. Marwedel, T L., 1872-1933. Eine Biographie, 1 987. Ver: WolfGoetze, Die Gegensiitzlichkeit der Geschichts philosophie O Spenglers und Th. Lessings, 1 930 (tese). C:
LETRA. Em vários verbetes sobre conceitos ou proble mas lógicos, usamos o termo 'letra' com diversas quali ficações: 'letra sentenciai ' , 'letra argumento' , 'letra pre dicado ' . Resumiremos aqui os sentidos em que foram tomadas as referidas expressões. As letras sentenciais são as letras que representam sentenças (ver SENTEN ÇA) . Essas letras são "p", "q", "r", "s", "p '", "q'", "r'", "s'", "p "", "q"", "r"", "s"" etc. Quando representam proposições, essas letras recebem o nome de letras proposicionais. As letras argumentos são as letras que representam argumentos (isto é, no vocabulário tradicional, sujeitos) num esquema quantificacional (ver Q UANTIFICAÇÃO, QUANTIFICACIONAL, QUANTIFICADOR) . Essas letras são "w", "x", "y", "z", "w '" "x'", "y '" "z '", "w ' '", "x ' '", "y ' '", "z' '". Por vezes estas letras recebem o nome de variáveis. As letras predicados são as letras que representam verbos (isto é, predicados) num esquema quantifica cional. Essas letras são "F", "G", "H", "F'", "G'", "H '", "F ' '", "G ' '", "H ' '" etc. Sobre a leitura das letras argumentos e das letras predicados nos esquemas quantificacionais, ver o início de Q UANTIFICAÇÃO, QUANTIFICACJONAL, QUANTIFICADOR. LEUCIPO (jl. 450 a.C.) é considerado discípulo de Parmênides ou de Zenão de Eléia, e mestre - ou pre cursor - de Demócrito. Segundo alguns autores, nas ceu em Eléia; de acordo com outros, em Abdera; e, para outros ainda, em Mileto. As notícias que se têm sobre sua vida e doutrina são na verdade tão escassas que já na Antiguidade se duvidava da existência do filósofo. Segundo Diógenes Laércio (IX, 3 1 ), Leucipo julgava que o universo é infinito, com uma parte cheia e a outra, vazia. A parte cheia é composta por "elementos": os átomos. Esses átomos são muito numerosos e giram em forma de torvelinho, sendo por isso que os mais leves se colocam na superfície e os mais pesados no centro. Mas esse movimento dos átomos não ocorre ao acaso, mas seguindo a razão e a necessidade. Para Aristóteles (De gen. et corr. , I, 8, 325 a 23), Leucipo sustentou que, embora o real em sentido estrito seja algo cheio, esse algo cheio não é único, mas múltiplo ( a rigor, composto de um número infinito de elementos), sendo as coisas produzidas pela união desses elemen tos no vazio e destruídas pela separação desses elementos no vaz10.
LÉVI-STRAUSS, CLAUDE � Ver: Diels-Kranz, 67 (54) e V. E. Alfieri, GliAtomi nisti, 1 936. - P. Bokownew, Die Leukippfrage, 1 9 1 1 , assim como as obras citadas na bibliografia dos verbe tes ATOMISMO e Demócrito. - Para uma boa perspectiva sobre o conceito de infinito (apeiron) nos pré-socráti cos, ver L. Sweeney, Infinity in the Presocratics: A Bi bliographical and Philosophical Study, 1 972. C:
LEVI, ADOLFO. Ver HEGELIANISMO. LEVI BEN GERSON. Ver GERSôNIDES. LÉVI-STRAUSS, CLAUDE ( 1 908). Nascido em Bruxe las, (Bélgica), estudou na Sorbonne. De 1 934 a 1 937, foi professor de sociologia na Universidade de São Paulo, São Paulo, SP. Em 1 938 e 1 939, participou de uma expe dição de investigação antropológica dos índios Nham biquara e Tupi-Kawahib, no Brasil Central. Em 1 94 1 e por alguns anos, deu aulas na New School for Social Research, de Nova York. De 1 950 a 1 959, foi diretor de estudos na École Pratique des Hautes Études, de Paris, e, a partir de 1 959, ocupou a cátedra de Antropologia no College de France, sucedendo Marcel Mauss. Aposen tou-se em 1 982, passando a ser professor honorário. Lévi-Strauss é considerado o principal e mais co nhecido representante do estruturalismo (vER); em todo caso, não é possível fazer referência a essa corrente na forma adotada na França por autores como Roland Barthes, Louis Althusser, Jacques Lacan e mesmo Mi chel Foucault - sem referir-se também, e em posição de destaque, a Lévi-Strauss. As discussões filosóficas, e não só antrop_ológicas e lingüísticas, a favor ou contra o estruturalismo costumam tomar Lévi-Strauss como objeto de debate, mesmo que o estruturalismo no mes mo sentido que este lhe deu o tenha precedido e mesmo que todo o pensamento de Lévi-Strauss seja uma espe cificação de determinada corrente estruturalista. Entre as influências recebidas por Lévi-Strauss em seus trabalhos mais teóricos de antropologia estrutural, destaca-se o estruturalismo lingüístico da Escola de Pra ga, com Roman Jakobson - com quem Lévi-Strauss travou amizade na New School - e N. S. Trubetzkoy. O próprio Lévi-Strauss afirmou que todo problema nas ciências sociais e humanas é um problema de linguagem, mas ao mesmo tempo é preciso entender a linguagem num sentido muito amplo, que inclui sistemas não-verbais. Ele reconhece como antecedentes de sua investigação Freud e Marx, visto que estes procuraram, por trás das manifestações "superestruturais" e dos fatos "superfi ciais", as "estruturas profundas" e as "infra-estruturas". (O marxismo, a psicanálise e a geologia - "o modo geo lógico de pensar" - são, admite Lévi-Strauss, seus três grandes inspiradores.) Lévi-Strauss se opôs ao funciona lismo característico de grande parte da antropologia nor te-americana, tal como foi elaborada por, entre outros, Malinowski. Isso parece surpreendente, já que a noção de relação funcional é fundamental em Lévi-Strauss.
LÉVl-STRAUSS, CLAUDE Há, no entanto, uma diferença básica entre os usos da noção de função feitos por Lévi-Strauss e Malinowski. Para este, trata-se de estudar relações entre fatos obser váveis e tirar conclusões indutivamente. O resultado é uma variação ao infinito das sociedades humanas, sem que se descubra qualquer estrutura ou sistema estrutu ral comum a todas elas e sem que sequer possam ser descobertas relações estruturais entre diversos sistemas de normas dentro de uma mesma sociedade. Lévi Strauss, pelo contrário, julga que todas as sociedades funcionam de acordo com a mesma "mentalidade", isto é, segundo um mecanismo constituído por um conjunto de normas invariáveis dentro das quais se podem desco brir, tanto ao longo da história como no presente, con teúdos muito diversos. Além disso, e concomitantemen te, as diversas "manifestações" humanas, estudadas por etnólogos, antropólogos, sociólogos, historiadores etc. - modos de classificar objetos, modos de vestir ou de adornar, modos de cozinhar, relações de parentesco, sistemas de intercâmbio econômico etc. - estão estru turalmente relacionadas. No fundo, trata-se de lingua gens cuja decifração exige o conhecimento de sintaxe. O estudo da sintaxe - verbal e não-verbal -, ao contrário da descrição de um corpus lingüístico dado - verbal e não-verbal -, é o que caracteriza a antro pologia estrutural e o pensamento estruturalista de Lévi Strauss. Há no tocante a isso semelhanças entre esse pensamento e o da gramática gerativo-transformacio nal, ainda que o modelo lingüístico adotado por Lévi Strauss tenha sido o de Jakobson e não o de Chomsky; de todo modo, há similaridades entre o uso de regras gerativo-transformacionais por Chomsky na sintaxe e o uso de regras dessa natureza por Lévi-Strauss em várias de suas análises de antropologia estrutural, espe cialmente nas dos mitos. Lévi-Strauss considera seu procedimento científi co, ao contrário do subjetivismo do existencialismo e do pós-existencialismo, em particular do existencialismo marxista (ou marxismo existencialista) de Sartre, que ainda dá excessiva atenção ao Cogito e que, embora pro cure mostrar que o homem está submerso na história, supõe que esta é feita pelo homem. Além disso, a histó ria, por mais totalizante que se declare ser, é para Lévi Strauss um problema superficial. No fundo do proble ma da história jazem estruturas; a rigor, o que chama mos de história de uma comunidade é uma combinação particular de elementos em determinadas relações estru turais. O procedimento científico da antropologia es trutural opõe-se ainda ao humanismo (VER), tanto em suas formas tradicionais como em suas várias manifes tações contemporâneas, existencialistas, hermenêuticas e humanistas-marxistas. O homem e a cultura são obje tos da ciência. O estudo do funcionamento da mente hu mana é o estudo de um objeto natural, de modo que, se são produtos culturais, os produtos da mente humana
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são igualmente fatos naturais. Não existe quanto a isso diferenças básicas entre os primitivos e os chamados "civilizados"; não há, como já antecipara Bergson em polêmica contra Lévy-Bruhl, uma "mentalidade primi tiva" específica. O estudo antropológico-cultural é o estudo de siste mas de "sinais" e de seus códigos. Deste ponto de vis ta, podem-se estudar as estruturas lingüísticas da mesma maneira como se estudam as relações de parentesco e os mitos. Não importam aqui as coincidências de por menor, mas as relações estruturais. Lévi-Strauss adota como modelo o sistema binário, com base no qual são formados os "triângulos estruturais". Estudam-se, pois, mais as tramas de "significantes" (no sentido de Saus sure) que os significados. É fundamental nesse sentido a distinção entre as correntes sintagmáticas (ver S I N TAGMA, SINTAGMÁTICO) e as combinações paradigmáticas (ver PARADIGMA, PARADIGMÁTICO) (na linguagem de Lévi Strauss, a diferença, e ao mesmo tempo correlação, en tre metonímia e metáfora [ VER]). Os modelos concei tuais adotados por Lévi-Strauss permitem-lhe estabele cer relações até então insuspeitadas, e das quais encon tram-se abundantes exemplos nas séries de sistemas bi nários e nas regras de transformação de suas pesquisas mitológicas. Num resumo de um conjunto de suas pes quisas, Lévi-Strauss pode escrever que "os mitos so bre a origem dos porcos selvagens se relacionam com uma carne que o pensamento indígena classifica dentro da caça de categoria superior e que, por conseguinte, proporciona a matéria-prima por excelência da cozi nha. Do ponto de vista lógico é, pois, legítimo tratar esses mitos como funções dos mitos sobre a origem do ambiente doméstico. Os últimos evocam os meios; os primeiros, a matéria da atividade culinária. Ora, assim como os Bororo transformam o mito sobre a origem do fogo de cozinha em mito sobre a origem da chuva e da tempestade -- isto é, da água -, podemos comprovar que, entre eles, o mito sobre a origem da carne [comes tível] torna-se um mito sobre a origem dos bens cultu rais. Isto é: num caso, uma matéria bruta e natural que se situa aquém da cozinha; e no outro, uma atividade técnica e cultural que se situa além" (Mythologiques. II. Ou miei aux cendres, p. 1 8). Num dos aspectos mais filosóficos de seu pensa mento -· sua polêmica com Sartre --, Lévi-Strauss reco nhece que Sartre admite a noção de totalização, mas afir ma que há uma marcada diferença entre a totalização sar triana, em função da serialidade, e a totalidade estrutura lista. Em certo sentido, Lévi-Strauss pode dizer que sua "totalização estruturalista" é mais marxista que a sartria na; em todo caso, ele destaca o aspecto inconsciente, sub jacente e estrutural dos comportamento humanos. A razão dialética é no fundo a razão analítica levada à sua máxima tensão, mas esta inclui os traços do método progressivo regressivo que Sartre tentou instaurar e que não conse guiu erigir devido a seu "historicismo".
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O que Lévi-Strauss denomina "as evidências do eu", ainda que esse eu seja coletivo, são suspeitas. O fato de ele estender a outros "produtos culturais" o que diz dos mitos poderia levar à conclusão de que não se trata de mostrar como os homens chegam a engendrar (e menos ainda conscientemente) esses produtos e sequer como . eles os pensam ou mesmo como pensam neles, mas como esses produtos "se pensam" nos homens. Ao lado de Freud e Marx, pode-se mencionar, portanto, na qualidade de um dos "mentores" de Lévi-Strauss, Rous seau, ao qual Lévi-Strauss rende homenagem como tendo preludiado aquilo que a antropologia cultural e, de modo geral, o estruturalismo aspiram a levar a cabo. Num ponto - crucial - as opiniões filosóficas de Lévi-Strauss apresentam certa hesitação, que parece ser superada rapidamente. De um lado, ele acentua ao máxi mo a especificidade do objeto que se estuda (em seu caso, os elementos comuns ou estruturas que subjazem a sistemas de representação e simbolização os mais diver sos). Isso separa por completo o estudo antropológico social de todo estudo natural. Nem o próprio comporta mento animal, incluindo a aprendizagem e uso de "lin guagens'', permite chegar a conclusões "reducionistas"; os "mesmos" fatos superficiais podem ocultar estrutu ras profundas distintas. Desse modo, Lévi-Strauss parece destacar a descontinuidade, ao menos as descontinui dades estruturais. Por outro lado, a distinção entre natu reza e cultura é muito atenuada, até quase desaparecer, em suas últimas obras. Em sua "Aula Inaugural" no Col lege de France, ele admite que a mencionada distinção pode ser apenas metodológica e heurística, que uma inte gração das ciências no futuro não é uma impossibilidade e que a distinção entre natureza e cultura não tem por que ser necessariamente ontológica, isto é, real. A an tropologia cultural pode um dia "despertar entre as ciên cias naturais'', formando-se uma só e única ciência. Pode ocorrer, contudo, e é provável que ocorra, de esta ciên cia "unificada" não apresentar as características de ne nhuma das ciências naturais específicas tal como as co nhecemos hoje. :> Obras: La vie familia/e des indiens Nambikwara, 1 948. - Les strnctures élémentaires de la parenté, 1 949. - Tristes tropiques, 1 955. - Anthropologie strnctura le, 1 958; nova ed., 1 9 6 1 (cf. infra para vol. 2). - Éloge de l 'anthropologie, 1 960 (aula inaugural no College de France, 5- 1 - 1 960. - Le totémiste aujourd 'hui, 1 962. - La pensée sauvage, 1 962. - Mythologiques. /. Le cru et le cuit, 1 964. - Mythologiques. II. Du miei aux cendres, 1 967. - Mythologiques. III. Les origines des maniéres de table, 1 968. - Mythologiques. Jv. L'homme nu, 1 97 1 . - Anthropologie structurale deux, 1 973 (vol. 2 de Anthropologie strncturale. cf. supra). - La voie des masques, 1 975. - L'identité, 1 977. - Le regard éloigné, 1 983. - Paroles données, 1 984. - La Potiére }alouse,
LÉVl-STRAUSS, CLAUDE
1 987. - De Prés et de Loin, 1 988 (com D. Eribon). Histoire de Lynx, 1 99 1 . - Regarder, écouter, !ire, 1 993. Em português: Antropologia estrntural, 5ª ed., 1 996. - A ntropologia estrntural 2, s.d. - A tualidade do mito, 1 977. - O cru e o cozido, 1 99 1 . - De perto e de longe, 1 990. - As estrnturas elementares do parentesco, 2ª ed., 1 982. - História de lince, 1 993. - Minhas palavras, 2ª ed., 1 99 1 . - Mito e significado, 1 989. - A o/eira ciu menta, 1 987. - O olhar distanciado, 1 986. - Olhar, escutar e ler, 1 997. - O pensamento selvagem, 1 989. - Saudades de São Paulo, 5 ª ed. , 1 996. - Saudades do Brasil, 1 994. - O totemismo hoje, 1 986. - Tristes trópicos, 1 996. - A noção de estrutura em etnologia, Os Pensadores, 1 985. - Raça e história, Os Pensadores, 1 985. - A família como instituição, 1 977. - A via das máscaras, 1 98 1 . - Mitológicas, 1 99 1 . - A família: origem e evolução, 1 980, - Seleção de textos, Os Pen sadores, 1 97 6. Há várias "conversas" com L.-S.: Georges Charbon nier, Entretiens avec L. -S. , 1 96 1 ; Paolo Caruso, Conver sazioni con L.-S., Michel Foucault, Jacques Lacan, 1 969. Bibliografia: François H. Lapointe, "C. L.-S.: Bi bliographic Essay", Mand and World, 6 ( 1 973), 445469. - R. Bellour, C. Clément, C. L. -S. , 1 979 [coleção "Idées"] . Dentre os números de revistas dedicados a L.-S., mencionamos: Esprit, 3 1 (novembro de 1 963); L'Arc, 26 ( 1 965) (sobre L.-S. e Sartre: costuma-se destacar neste número de L'Arc o artigo de Jean Pouillon, "Sartre et L. S. Analyse dialectique d'une relation dialectique analytique'', pp. 55-60); Magazine Littéraire, 223 ( 1 985). Há seleção de textos (com um inédito) de L.-S. por Catherine Backes-Clément, C. L.-S. ou la structu re et le malheur, 1 970; 2ª ed., 1 974. Ver: Octavio Paz, C. L.-S. o el nuevofestín de Esopo, 1 967; 2ª ed., 1 969. - Yvan Simonis, C. L. -S. ou lapas sion de ! 'inceste. lntroduction au structuralisme, 1 968. - Jean Pouillon, Pierre Maranda, eds., Échanges et com munications. Mélanges offerts a C. L.-S. à l 'occasion de son 6(1 anniversaire, 1 970. - Edmunc Leach, C. L. -S. , 1 970; reed., 1 989. - S . d e Gramont, H. S. Hughes et. al. , C. L. -S. : the A nthropologist as Hero, 1 970, ed. E. Nelson, Tanya Hayes. - J.-8. Fages, Comprendre L.-S. , 1 972. - James A. Boon, From Symbolism to Structu ralism: C. L. -S. in Literary Tradition, 1 972. - Mireille Marc-Lipiansky, Le structuralisme de L. -S. , 1 973. Howard Gardner, The Questfor Mind: Piaget, L. -S. and the Structuralist Movement, 1 973. - Ino Rossi, The Unconscious in Culture: The Structuralism of C. L. -S. in Perspective, 1 974. - Miriam Glucksmann, Structu ralist Analysis in Contemporary Social Thought: A Com parison ofthe Theories ofC. L. -S. and Louis Althusser, 1 974. - C. R. Badcock, L. -S. : Structuralism and So ciological Theory, 1 976. - J. Rubio Carracedo, L. -S.
LEVINAS, EMMANUEL
Estructuralismo y ciencias humanas, 1 976. - T. Shal vey, C. L. -S. : Social Psychotherapy and the Col/ective Unconscious, 1 979. - A. de Ruijter, Een speurtocht naar het denken. Een inleiding tot het structuralisme van C. L. -S. , 1 979. - S. Clarke, The Foundations of Structuralism: A Critique ofLévi-Strauss and the Struc turalist Movement, 1 98 1 . - P. Gómez García, Ciencia, filosofia y ideología, 1 98 1 . - D. Pace, C. L. -S. : The Bearer ofAshes, 1 98 3 . - M. Henaff, C. L.-S. , 1 99 1 . - M . Pia Pozzato, Mito e parabola: la descrizione dei tramonto in Tristes Tropiques, 1 993. C: LEVINAS, EMMANUEL ( 1 905). Nascido em Kaunaus [em russo: Kovno ], na Lituânia, foi professor nas Uni versidades de Poitiers e Paris-Nanterre. De 1 973 a 1 976, data de sua aposentadoria, lecionou na Sorbonne. In fluenciado por Husserl, e sobretudo por Heidegger, Le vinas levou ao extremo a "exploração ontológica", que passa do ser do ente à "abertura diante do Ser" e que vai depois "além do Ser". Não se trata, ao que parece, nem de um "ser outro" nem de uma negação ao modo da teologia negativa. O "além da essência (do ser)" é o puro "des-interesse'', que não deve ser entendido como ati tude subjetiva nem como afirmação "ultra-objetiva". "O enunciado do outro do ser - o 'outramente' [ autre ment] que o ser - pretende anunciar uma diferença que está além do que separa o ser do nada: precisamente a diferença do além (l 'au-delà), a diferença da transcen dência. Mas cabe perguntar de imediato se na fórmula 'outramente que o ser', o advérbio outramente não se relaciona inevitavelmente com o verbo ser, simplesmen te evitado num torneio artificialmente elíptico" (Autre ment qu 'être etc. ; cf. bibliografia, p. 4). Levinas respon de a essa questão afirmando que, embora a linguagem, organizada em torno do verbo ' ser' , não reflita essa 'realidade irredutível', é preciso admiti-la, embora não na forma de um "além mundo". O "além" de que fala Levinas é um "ser para outro" e não outro ser que este ja além do ser que está em questão. O contraste entre sujeito e objeto, que já fora deixado de lado pelo "estar atento ao Ser", perde definitivamente seu sentido do ponto de vista desse "além" que é o "ser para outro". Esse ponto de vista não é uma teoria, nem sequer uma teoria ontológica; trata-se antes de uma "tentativa" de "dizer a transcendência" levada a efeito mediante uma série de conceitos, mas que não consiste em concei tualizá-la. Elimina-se desse modo até mesmo a própria ontologia, não em favor de uma moral altruísta no senti do tradicional e tampouco de uma mística, mas de um puro humanismo do "Outro". Levinas realiza sua ex ploração "ultra-ontológica", ou seu '"itinerário", por meio de uma série de passos que o levam da intencio nalidade ao "sentir" ou experimentar e que incluem, entre outras noções fundamentais, as de proximidade, substituição, recorrência e liberdade finita. Em muitos casos, trata-se de um pensamento "essencial" no qual o
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sujeito fica, como d i z o autor, "exclaustrado d e si mes mo" (op. cit. , p. 227). :l Obras: La théorie de / 'intuition dans la phénoméno logie de Husserl, 1 930; 2ª ed., 1 963. - De / 'existence à l 'existant, 1 947. - En découvrant l 'existence avec Husserl et Heidegger, 1 949; 2ª ed. ampl., 1 967. - "Le temps et le choix", no volume: VV.AA., Le choix, !e monde, l 'exis tence, 1 949. - Totalité et injini. Essai sur l 'exteriorité, 1 96 1 ; 4ª ed., 1 97 1 . - Dijjicile liberté. Essais sur !e ju dafsme, 1 963. - Quatre lectures talmudiques, 1 968. L'humanisme de l 'autre homme, 1 972. - Autrement qu 'être ou au-delà de / 'essence, 1 974. - Sur Maurice Blanchot, 1 975. - Noms propres, 1 976. - Du Sacré au Saint. Cinq nouvelles lectures talmudiques, 1 977. De Dieu qui vient à / 'idée, 1 982. - L'au-delà du verset. Lectures et discours talmudiques, 1 982. - Éthique et infini. Dialogues avec Philippe Nemo, 1 982. - Trans cendance et intelligibilité. Suivi d 'un entretien, 1 984. - Hors sujet, 1 987. - Á l 'heure des nations, 1 988. Entre nous. Essais sur /e penser-à-l 'autre, 1 99 1 . Em português: Da existência ao existente, 1 998. - Entre nós: ensaios sobre a alteridade, 1 997. - Ética e infinito, 1 988. - Humanismo do outro homem, 1 993. - Totalidade e infinito, 1 98 8 . - Transcendência e in teligibilidade, 1 99 1 . Bibliografia: R . Burggraeve, E. L. Une bibliogra phie primaire et secondaire (1 929-1 985), 1 986. - R. Bernasconi, "Levinas: An English Bibliography", in R. Bernasconi, D. Wood, eds., The Provocation ofLevi nas: Rethinking the Other, 1 988, pp. 1 8 1 - 1 88 [até 1 987). Ver: Jacques Derrida, "Violence et métaphysique. Essai sur la pensée d'E. L.", Revue de Métaphysique et de Mora/e, 69 année ( 1 964), 323-354 e 425-473. Jan de Greef, "Éthique, refléxion et histoire chez L.", Revue philosophique de Louvain, 67 ( 1 969), 43 1 -460. - !d. , "Le concept de pouvour éthique chez L.", Re vue philosophique de Louvain, 68 ( 1 970), 507-520. !d. , "Empirisme et éthique chez L.", A rchives de philo sophie ( 1 970), 223-24 1 . - Edith Wyschogrod, E. L. The Problem ofEthical Methaphysics, 1 974. :__ Stephan Strasser, "Antiphénoménologie et phénomenologie dans la philosophie d'E. L.", Revue phi/osophique de Lou vain, 75 ( 1 977), 1 0 1 - 1 25 . - !d. , Jenseits von Sein und Zeit. Eine Einfiihrung in E, L.' Philosophie, 1 978. 8. Forthomme, Une philosophie de s la transcendance. La métaphysique d 'E. L. , 1 979. - J. Libertson, Proxi mity: L., Blanchot, Bataille and Communication, 1 982. - U. Vázquez Moro, E/ discurso sobre Dios en la obra de E. L. , 1 982. - S. G. Smith, Argument to the Other: Reason Beyond Reason in the Thought ofK. Barth and E. L. , 1 983. - J. F. Goud, L. en Barth. Eeen godsdiens twijsgerige en ethische vergelijking, 1 984. - J. Colette, Guy Petitdemange et. ai. , E. L. , 1 984, ed. J. Rolland. - H. H. Henrix, B. Casper et. ai. , Verantwortung for den Anderen und die Frage nach Gott. Zum Werk E. Le-
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vinas, 1 984, ed. H. Henrix. - R . A. Cohen, ed. , Face to Face with Levinas, 1 985 [com um art. de L., uma entre vista por R. Kearney e uma seleção bibliográfica] . R. Bernasconi, D. Wood, eds., The Provocation of Le vinas: Rethinking the Other, 1 988. - R. Mortley, French Philosophers in Conversation: Levinas, Schneider, Ser res, Irigaray, Le Doeuff, Derrida, 1 99 1 . - R. Bernas coni; ed., Re-Reading L. , 1 99 1 . - S. Critchley, The Ethics ofDeconstruction: Derrida and Levinas, 1 992. - A Peperzak, To the Other: An Introduction to the Phi losophy of E. L. , 1 993. Obras: Quid de. Deo Seneca senserit, 1 884 (tese). - L'idée de responsabilité, 1 8 84 (tese). - La philo sophie de Jacobi, 1 894. - La philosophie d 'A. Comte, 1 900. - La mora/e et la science des moeurs, 1 903. Les fonctions mentales dans les sociétés inférieures, 1 9 1 0. - La mentalité primitive, 1 922. - L'âme primi tive, 1 927. - Le surnaturel et la nature dans la menta-
LEWES, GEORGE HENRY
lité primitive, 1 93 1 . - La mythologie primitive, 1 93 5 . - L'expérience mystique e t les symboles chez les pri mitifs, 1 93 8 . - Les carnets de Lévy-Bruhl, prefácio de M. Leenhardt, 1 949. Correspondência: E. Durkheim, "Lettre inédite d'E. Durkheim à L. L.-B.", Revue de Philosophie Française, 95 ( 1 970), 1 63 - 1 64. - J. Maritain, "Extrait d'une lettre à L. Lévy-Bruhl ( 1 904)", ibid. , 1 79 (4) ( 1 989), 475-477. - P. Soulez, H. Bergson, "La correspondance Bergson/ Lévy-Bruhl. Lettres à L.-B. ( 1 889- 1 932)", ibid. , 48 1 -492. - D. Merllie, E. Durkheim, "L.-B. et Durkheim: Notes biographiques en marge d'une correspondance. Let tres à L.-B. ( 1 894- 1 9 1 5)", ibid. , 493-5 1 4 . Ver: P.-M. Schuhl, G. Bourgin, M. Cohen, É. Gil son, D. Davy et. ai. , artigos sobre L.-B. em Revue philo sophique de la France et de l 'Étranger, 82 ( 1 957), 397576. - Jean Cazeneuve, L. L.-B. , 1 963 . - D. Petit Klinkenberg, "Mythe et expérience mystique selon L. L.-B.", Revue Philosophique de Louvain, 7 1 ( 1 973), 1 1 4- 1 2 5 . - J. Skorupski, "L.-B. among the Scientists", Second Order, 2 ( 1 973), 3- 1 3 . - R. Horton, "L.-B. among the Scientists: A Reply to Mr. Skorupski", ibid. , 1 4-30. - I. Sciuto, "La morale positiva di L.B.", Gior nale Critico della Filosofia Italiana, 53 ( 1 974), 20325 1 . - J. P. Cavaille, B. Bourgois, D. Merllie, arts. sobre L.-B. em Revue de Philosophie Française, 1 79(4) ( 1 989), 4 1 9-463 . - D. Iannotta, "L. L.-B.: Una intro duzione (di C. Prandi)", Aquinas ( 1 990), 4 1 9-425. Obras: De constantia, 1 584. - Politicorum, 1 5881 5 89. - Manuductio ad Philosophiam Stoicam, 1 604 (prefácio à sua edição de Sêneca). - Physiologia Stoi corum, 1 604 (filosofia natural estóica). Edição de obras: Opera (Anvers, 1 637 e Vesaliae, 1 657). Epistolario de J L. y los espanoles 1 5 77-1 606, 1 966, ed. Alejandro Ramírez. Ver: Ch. Nisard, Le Triumvirat littéraire au XVII< siécle, 1 852. -A. Steuer, Die Philosophie des J Lipsius, 1 90 1 (tese). - M. W Croll, "Juste Lipse et le mouve ment anticicéronien à la fin du XVI• et au début du XVII• siecles", Revue du Seiziéme Siécle, 2 ( 1 9 1 4), 200-242. - L. Zanta, La Renaissance du Stoi"cisme au XV' Sié cle, 1 9 1 4 (Parte III, capítulos i-iv). - J. L. Saunders, "J Lipsius: The Philosophy ofRenaissance Stoicism, 1 954. - Th. G. Corbett, "The Cult of Lipsius: A Leading Source of Early Modem Spanish Satecraft", Journal of the History of Ideas, 36 ( 1 975), 1 39- 1 52. C: LITERATURA. Ver EXPRESSÃO; OBRA LITERÁRIA. LITT, THEODOR ( 1 880- 1 962). Nascido em Dussel dorf, foi "professor extraordinário" de pedagogia na Uni versidade de Bonn ( 1 9 1 9- 1 920), professor de filosofia e pedagogia, como sucessor de Eduard Spranger, na Universidade de Leipzig ( 1 920- 1 93 1 ). Tendo ficado ina tivo durante o regime nacional-socialista, ele foi depois da guerra professor na Universidade de Bonn ( 1 9471 95 1 ). Litt ocupou-se sobretudo de problemas da cultu ra e da formação cultural na linha de uma filosofia da vida e da relação entre vida e espírito objetivo que re correu aos resultados, metódicos principalmente, de Dilthey e, em parte, de Spranger. Este último fato ocor reu especialmente na medida em que Litt elaborou uma filosofia da personalidade distinta tanto da concepção racionalista tradicional como da mera afirmação do irra cionalismo. A única maneira de compreender a pessoa consiste, segundo Litt, em integrá-la em seu mundo concreto, isto é, analisá-la em função do conjunto de ações e de reações que se estabelecem entre ela o con texto histórico-cultural em que vive. Mas essa relação também não é uma inter-relação de termos ou substân cias. Pelo contrário, mundo e pessoa se fazem e se cons tituem na medida em que, através de um processo histó rico-evolutivo, se integram. A relação entre indivíduo
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e sociedade, entre história e vida, entre conhecimento e vida, entre espírito e vida, entre espírito subjetivo e obje tivização possui características análogas: não se trata, é verdade, da posição dos termos e da conseqüente deri vação de relações; trata-se da constituição recíproca, histórico-concreta, de qualquer dessas realidades na me dida em que sejam efetivamente reais. O método da compreensão (VER) mostra-se, portanto, tão fundamen tal quanto a análise fenomenológica. Os dois mostram que uma dialética peculiar, não conceituai nem abstrata, mas viva e concreta, penetra toda a realidade do huma no e de seu mundo. Desprovidos de seu conteúdo meta fisico, ou, melhor dizendo, de seus pressupostos onto lógicos, os temas de Hegel parecem, pois, ressoar nova mente no pensamento de Litt, ao menos enquanto este se propõe estabelecer uma sistemática das ciências do espírito e não simplesmente uma descrição de conteú dos históricos. A superação do naturalismo e da par cialidade dos métodos científico-naturais fica assim, de acordo com Litt, devidamente realizada, pois esses métodos não foram eliminados por completo, ficando em vez disso melhor "compreendidos" num "sistema" que mostra os fundamentos a partir dos quais se concre tiza a relação antes descrita do sujeito com seu próprio mundo. O exame da relação entre indivíduo e sociedade permite, no entender de nosso autor, uma confirmação decisiva e radical de suas teses, já que, nele, mostra-se que os princípios de constituição das relações sociais não são os mesmos que os da constituição das relações entre vivências no interior dos indivíduos. Nem a socie dade é um mero conjunto de indivíduos (individualis mo) nem é o indivíduo um reflexo de princípios trans pessoais (universalismo). O indivíduo, por assim dizer, "aponta" para a sociedade, da mesma maneira como esta "aponta" para ele e oferece às viências pessoais um conjunto de perspectivas. E é esta inter-relação ou, co mo diz Litt, "reciprocidade de perspectivas'', que funda menta a relação de cada eu com outros indivíduos e vice-versa. Logo, o social só pode justificar-se e consti tuir-se mediante o pessoal voltado para a sociedade, assim como o individual só pode justificar-se e consti tuir-se mediante o social centrado no indivíduo. De qualquer modo, é essa inter-relação que, ao gerar o fato ou fenômeno primário, descarta o atomismo individua lizante e o totalismo transpersonalizante; o que explica, em suma, a incessante dialética que engloba o objetivo e o subjetivo, o conhecimento e a vida, o eu e o objeto, a vivência e a realidade. O pensamento de Litt culmina numa "filosofia do espírito". Mas por "espírito" não se deve entender uma simples realidade psicológica, confinada ao homem, nem um epifenômeno, por mais amplo que seja, da existência material, mas uma realidadefundamental que não pode subtrair-se do mundo sem que a essência deste sofra uma perda. O espírito não surge simplesmente da
LITT, THEODOR matéria nem se contrapõe a ela. Nem o materialismo nem o dualismo são, para Litt, admissíveis. Mas tam pouco é admissível, em sua opinião, uma doutrina idea lista subj etiva que faça surgir o espírito da matéria. Pelo contrário, deve-se destacar a unidade Espírito-Na tureza ou, mais exatamente, a radical unidade eu-Mundo de que emerge a possibilidade de um mundo objetivo e do eu que está em correlação com ele. Desse modo, Litt pretende construir uma filosofia que resolva as di ficuldades do dualismo e do monismo; o que existe é a unidade Espírito-Natureza, unidade que se divide em seus componentes. Mas como é preciso postular um agente causador da divisão, Litt decide-se a esclarecer que esse agente é o Espírito, afirmação que faz este ser mais fundamental que a Natureza na produção do real, porém não mais existente que ela. :> Obras: Geschichte und Leben. Von dem Bildunsauf gang geschichtlichen und sprachlichen Unterrichts, 1 9 1 8; 3ª ed., 1 930 (História e vida. Do processo defor mação da instrução histórica e lingüística). - Indivi duum und Gemeinschafl. Grundfragen der sozialen Theo rie und Ethik, 1 9 1 9; 3ª ed., 1 926 (Indivíduo e comunida de. Questões fundamentais da teoria social e da ética). - Erkenntnis und Leben. Untersuchungen über Gliede rung, Methode und Berufder Wissenschafl, 1 923 ( Conhe cimeto e vida. Investigações sobre a estrutura, o méto do e a missão da ciência). - Die Philosophie der Gegen wart und ihr Einfluss auf das Bildungsideal, 1 925; 2ª ed., 1 927 (A filosofia do presente e sua influência sobre o ideal educativo). - Moglichkeit und Grenser der Pii dagogik. Abhahdlungen zur gegenwiirtigen Lage von Er ziehung und Erziehungtheorie, 1 926 (Possibilidade e li mites da pedagogia. Ensaios sobre a situação presente da educação e da teoria educativa). - Ethik der Neuzeit, 1 926 (Ética do novo tempo). - "Führen " oder "Wach senlassen ". Eine Erorterung despiidagogischen Grund problems, 1 927; 4ª ed., 1 95 1 ( "Dirigir " ou "deixarfa zer ". Discussão do problema pedagógicofundamental). - Wissenschafl, Bildung, Weltanschauung, 1 928 (Ciên cia, formação cultural, visão de mundo). - Kant und Herder ais Deuter der geistigen Welt, 1 930; 2ª ed., 1 948 (Kant e Herder como intérpretes do mundo espiritual). - Einleitung in die Philosophie, 1 933; 2ª ed., 1 949 (In trodução àfilosofia). - Philosophie und Zeitgeist, 1 934; 2ª ed., 1 935 (Filosofia e espírito da época). - Der deuts che Geist und das Christentum, 1 938 (O espírito alemão e o cristianismo). - Die Selbsterkenntnis des Menschen, 1 938; 2ª ed., 1 948 (O autoconhecimento do homem). Das Allgemeine imAujbau des geisteswissenschafllichen Erkenntnis, 1 94 1 ; 2ª ed., 1 959 (O geral na estrutura do conhecimento científico-espiritual). - Die Befreiung des geschichtlichen Bewusstseins durch J G. Herder, 1 943 (A libertação da consciência histórica através de J G. Herder). - Von der Sendung der Philosophie, 1 946 (Da transmissão dafilosofia). -Leibniz und die deutsche
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LITIRÉ, ÉMILE
Gegenwart, 1 947 (Leibniz e a atualidade alemã). Das Verhiiltnis der Generationen ehedem und heute, 1 947 (A relação entre as gerações ontem e hoje). - Denken und Sein, 1 948 (Pensar e ser). - Die Frage nach dem Sinn der Geschichte, 1 948 (A pergunta pelo sentido da história). -Mensch und Welt. Grundlinien einer Philo sophie des Geistes, 1 948; 2ª ed., 1 96 1 (Homem e mundo. Linhas fundamentais de uma filosofia do espírito). Die Sonderstellung des Menschen im Reichen des Leben digen, 1 948 (A posição peculiar do homem no reino dos seres vivos). - Staatsgewalt und Sittlichkeit, 1 948 (Poder do Estado e moralidade). - Wege und lrrwege geschich tlichen Denkens, 1 948 (Caminhos e descaminhos do pen samento histórico). - Moderne Seinsprobleme, 1 948 (Problemas modernos sobre o ser). - Die Geschichte und das Übergeschichtliche, 1 949 (A história e o supra histórico ). - Geschichtswissenschafl und Geschichte philosophie (Ciência da história efilosofia da história). - Der Mensch vor der Geschichte, 1 95 1 (O homem diante da história). - Naturwissenchafl und Menschen bildung, 1 952; 2ª ed., 1 954; 3ª ed., 1 959 (Ciência natural eformação cultural do homem). - Der lebendige Pesta lozzi, 1 952; 2ª ed., 1 96 1 . - Die Freiheit des Menschen und der Staat, 1 953 (A liberdade do homem e o Estado). - Hegel, Versuch einer kritischen Erneuerung, 1 953; 2ª ed., 1 96 1 (H. Ensaio para uma renovação crítica). Die Personlichkeit in unserer Zeit, 1 953 (A personali dade em nossa época). - Das Bildungsideal der deuts chen Klassik und die moderne Arbeitswelt, 1 955 (O ideal cultural da época clássica alemã e o moderno mundo do trabalho). - Die Wiedererweckung des geschichtli chen Bewusstseins, 1 956, com palavras introdutórias de E. Spranger e W. Roessler (O novo despertar da cons ciência histórica). - Technisches Denken und mens chlichen Bildung, 1 957; 2ª ed., 1 960 (Pensamento técnico e formação cultural humana). - Wissenschafl und Menschenbildung im Lichte des West-Ost Gegensatzes, 1 958; 2ª ed., 1 959 (Ciência eformação cultural humana à luz da oposição Ocidente-Oriente). - Freiheit und Lebensordnung: Zur Philosophie und Piidagogik der De mokratie, 1 962 (Liberdade e ordem na vida: Para afilo sofia e a pedagogia da democracia). Ver: Paul Vogel, Th. L. , 1 955. - VV. AA., Geist und Erziehung. Kleine Bonner Festgabefiir Th. L. , 1 95 5 [bibliografia nas pp. 1 9 1 -224] . - V V. AA., Erkenntnis und Verantwortung. Festschriftfiir Th. L. , ed. J. Derbolav e F. Nicolin [com bibliografia] . - Lorenz Funderburk, Erlebnis, Verstehen, Erkenntnis. Th. Litts System der Phi losophie aus erkenntnistheoretischer Sicht, 1 97 1 . - Ur sula Bracht, Zum Problem des Menschbildung bei Th. L. Studien zur Wissenschaflheoretischen Problematik im Gesamtwerk Th. Litts, 1 973. - B. Huschke-Rhein, Das Wissenverstiindnis in der geisteswissenschafllichen Pii dagogik. Dilthey, Litt, Nohl, Spranger, 1 979. - F. Klafki, Die Piidagogik Th. L.s. , 1 980. - J. Derbolav, C. Menze,
F. Nicolin, eds., Sinn und Geschichtlichkeit. Werk und Wirkungen T. L.s, 1 980. � LITTRÉ , É MILE [Maximilien-Paul- É mile Littré] ( 1 80 1 - 1 88 1 ) Nascido em Paris, foi um dos mais fiéis e entusiastas discípulos de Comte até 1 852, data em que rompeu com seu mestre por negar-se a segui-lo na trans formação do movimento positivista em "religião posi tiva". Na qualidade de "positivista dissidente'', Littré continuou a propagar as doutrinas filosóficas, científicas e morais de Comte. De 1 863 até mais ou menos 1 87 1 , Littré manifestou-se ateu, considerando o ateísmo a única "religião" que convinha ao autêntico positivismo. De 1 87 1 até sua morte, dedicou-se a atividades políticas num sentido conservador, mas tambem nos termos daqui lo que julgava ser a verdadeira tendência positivista. Além disso, em todos os momentos Littré mostrou ser um espí rito curioso em relação ao saber tanto das disciplinas exatas como das humanas. No campo destas últimas, de ve-se a Littré um dos monumentos da lexicografia fran cesa, o Dictionnaire de la Zangue.française, 5 vols., 1 8631 872, de que apareceram várias edições. :l As principais obras filosóficas de Littré são: De la philosophie positive, 1 845. - La science au point de vue philosophique, 1 873. - Fragments de philosophie positive et de sociologie contemporaine, 1 876. Ver: M. Caro, E. L. et le positivisme, 1 883. Sta nislas Aquarone, The Life and Works ofE. L. , 1 95 8 . D. G. Charlton, Positivist Thought in France during the Second Empire, 1 852-1870, 1 959. - J. F. Six, L. devant Dieu, 1 962 (com bibliografia). - W. M. Simon, Euro pean Positivism in the Nineteenth Century: An Essay in Intellectual History, 1 963. -Alain Rey, L. : L'huma niste et les mots, 1 970. � .
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LITUMA, LUIS. Ver DEúSTUA, ALEJANDRO ÜCTAVIO. LIVRE-ARBÍ TRIO. Ver ARBÍTRIO (LIVRE-). LIVRES-PENSADORES. O termo "livres-pensado res" pode ser entendido em dois sentidos: um amplo e outro estrito. No primeiro sentido, chamam-se "livres pensadores" todos os que não aderem a um dogma dado. Nesse sentido, são livres-pensadores os libertinos (vER), os libertários (na acepção de "anarquistas" ou inimigos de todo governo), os deístas etc. Paradoxalmente, os livres-pensadores foram em algumas ocasiões caracteri zados como "sectários", compreendendo-se por isso que seguem uma seita, isto é, uma minoria que se afasta de uma comunidade ou igreja; com efeito, do ponto de vista dos que se mantêm fiéis a uma comunidade ou igreja, os "livres-pensadores" sustentam "opiniões estreitas". No segundo sentido, chamam-se "livres-pensadores" di versos grupos de pensadores dos séculos XVII e XVIII, especialmente da Inglaterra e da França. Contudo, como na França os livres-pensadores foram designados por
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diversos outros tennos - esprits forts, "racionais" (em oposição a "religionários"), bem como "libertinos" -, é melhor reservar o nome de "livres-pensadores" (Free thinkers) para um grupo de autores ingleses, especial mente do século XVIII. São características comuns dos livres-pensadores ingleses: pregar a tolerância (VER) re ligiosa, aplaudir o racionalismo (VER) - no sentido que o tenno adquiriu na época da Ilustração (VER) -, defen der o deísmo (VER) , a religião natural (e muitas vezes racional) e, em algumas ocasiões, o materialismo e o ateísmo manifestos ou disfarçados. Os livres-pensa dores e� questão recusaram quase sempre os mistérios sobrenaturais ou os dogmas das igrejas "oficiais". Por vezes, opuseram a isso um cristianismo "primitivo", no seu entender mais puro. Houve vezes em que opu seram o Estado à Igreja como meio de fomento à tolerância religiosa. . Vamos nos limitar aqui a mencionar alguns dos li vres-pensadores ingleses menos conhecidos, porque se emprega o tenno "livre-pensador" especial mente em r� . lação a eles e porque os livres-pensadores mgleses mais importantes ou os de outros países foram menciona dos em outras partes desta obra (por exemplo, no citado verbete ILUSTRAÇÃO e em verbetes especiais sobre filó sofos, como é o caso de Bayle, Hobbes, Locke, Voltaire etc.). Mencionaremos sobretudo John Toland ( � ER ) , discípulo de Locke e um dos primeiros (senão o pnme1ro) a ser chamado livre-pensador:freethinker. Com ele mencionaremos Anthony Collins ( VER) , Thomas Wools ton ( 1 669- 1 73 1 ), autor da obra referida em DEISMO e de seis Discursos sobre os milagres de nosso Salvador (Discourses on the Miracles ofour Sa�iour, 1 727- 1 73 ?), que o levaram ao cárcere; Matthew Tmdal (ver tambem DEíSMo); Thomas Chubb ( 1 679- 1 740), autor de uma obra sobre O Verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo (The True Gospel of Jesus Christ, 1 738); Thomas Morgan (t 1 743), autor de uma obra com o tema O filósofo moral (The Moral Philosopher, 3 vols., 1 737-1 740) e um dos cultivadores da tisico-teologia (VER) (o título do do vol. IV: Physico-Theology, 1 74 1 , da citada obra). Conside ra-se às vezes deísta e outras vezes livre pensador Lord Bolingbroke (Henry St. John, 1 678- 1 75 1 ) . � Ver: Adam Storey Farrar, A Criticai History ofFree thought in Reference to the Christian Religion, 1 862. J. B. Bury, A History ofFreedom ofThought, 1 9 1 3 . - J. R. Charbonnel, La pensée italienne et !e courant libertin, 1 9 19. - J. M. Robertson, A History of Freethought in the Nineteenth Century, 2 vols., 1 929. - P. Hazard, La pensée européenne au XVIII' siécle, de Montesquieu a Lessing, 3 vols., 1 946. - Albert Bayet, Histoire de la librepensée, 1 959. - R. E. Greeley, "Freethought: An Overview", Religious Humanism, 1 6 ( 1 982), 1 28- 1 33. - Vejam-se ainda as obras de René Pintarei, Richard H. Popkin e J. S. Spink mencionadas na bibliografia do ver bete LIBERTINOS. e:
LLARÕ VIDAL, JOAQUÍN
LIVRO DAS MUTAÇ Õ ES. Ver YANG, Y1N. LLAMB Í AS DE AZEVEDO, JUAN ( 1 907- 1 972). Nascido em Montevidéu, foi professor de filosofia prá tica na Universidad de la República, primeiro diretor do Instituto de Filosofia e diretor da revista do Instituto, os Cuadernos uruguayos defilosofia, cuja publicação teve início em 1 96 1 . Partindo de Husserl, Sheler e Nicolai Hartmann Llambías de Azevedo procedeu a uma deta lhada fen�menologia dos atos de consciência por meio dos quais se constitui o "objeto" Direito, tendo realizado uma redução eidética com o propósito de detenninar a essência do referido "objeto''. É característica dessa es sência, de acordo com Llambías de Azevedo, uma série de relações (pensamento jurídico e comportamento so cial, prescrição e proibição, retribuição e sa�ção etc.). . Essas características aparecem em toda intenc10nahdade jurídica e tomam fonna concreta na f�nn�lação e :� primento de nonnas jurídicas. A mvestlgaçao da essenc1a do "objeto" Direito levou Llambías de Azevedo - numa . forma parecida com a presente na análise do conheci mento de Nicolai Hartmann - ao reconhecimento de uma aporética do Direito. Este é entendido como direito positivo, já que a essência "Direito" é "cu�p rida" �a positividade. A parte mais importante da a�oretlca do � 1reito é a que se dá na relação entre o conteudo do D1re1to e o conteúdo dos valores. Para resolver essa aporética, Llambías de Azevedo empreendeu uma pesquisa axioló gica que, sem cair na abstração, recusa todo subjetivis mo e relativismo. Os valores são ao mesmo tempo for mais e materiais, isto é, têm ao mesmo tempo universa lidade e conteúdo. Seguindo Scheler, Llambías de Aze vedo considera que o valor supremo é a pessoa, na qual se funda em última análise o Direito, assim como as idéias, e ideais, de justiça e igualdade. � Obras: La filosofia dei Derecho de Hugo Grocio, 1 935. - Sobre la distinción entre las normas de los usos sociales y e! Derecho. 1 938. - Eidética y aporética dei Derecho: Prolegómenos a la filosofia dei Derecho, 1 940; nova ed. com o título Eidética y Aporética dei Derecho y otros estudios defilosofia dei Derecho, 1 958. - E! pensamiento dei Derecho y dei estado en laAnti güedad desde Homero hasta Platón, 1 956. - E! anti guo y e! nuevo Heidegger y um diálogo con é!, 1 958. - Max Scheler: Exposición sistemática y evolutiva de su filosofia, con algunas críticas y anticríticas, 1 966. - Manual de metafisica, 1 97 1 . LL. de A . escreveu além disso numerosos artigos ainda não reunidos em volume. Ver: R. Bula Píriz, "Imagen de una filosofia dei de recho (J. L. P. de A.)", Cuadernos uruguayos defilosofia ( 1 963), 1 9- 1 8. - Luis Recaséns Siches, "J. LI. de A.", Dianoia, 19 ( 1 973), 1 9 1 - 1 98 . C: LLARÓ VIDAL, JOAQU Í N. Ver BARCELONA (Esco LA DE) .
LLEDÓ [INIGO], EMILIO
LLEDÓ [INIGO), EMILIO ( 1 927). Nascido em Sevilha, estudou em Madri e em Heidelberg (com Li:iwith e, sobretudo, Gadamer), doutorando-se em 1 956. Foi leitor do "Romanisches Seminar" da Universidade de Heidel berg e assistente do "Philosophisches Seminar" da mes ma Universidade ( 1 956- 1 962). De 1 964 a 1 967, foi ca tedrático de filosofia na Universidade de La Laguna e, da Universidade de Barcelona, de 1 967 a 1 978, ano em que passou a catedrático de história da filosofia na Uni versidade Nacional de Educación a Distancia (UNED, Madri). Também foi Fellow do "Wissenschaftskolleg" (lnstitute for Advanced Studies) em Berlim. Recebeu o prêmio "Alexander von Hulboldt" (Bonn, 1 99 1 ) e o Prêmio Nacional de Literatura (ensaio; 1 992). Lledó interessou-se desde cedo pelo problema da linguagem como veículo exclusivo que nos leva à filo sofia. Antes mesmo de travar conhecimento com a fi losofia analítica e a hermenêutica, Lledó procurou pro por metodologicamente uma semântica filosófica a partir de estudos lingüísticos e filológicos. No desenvol vimento dessa semântica, esforçou-se por justificar o pensamento abstrato a partir das condições materiais no âmbito das quais os homens pensam. Nesse sentido, entendeu o pensar, sempre expresso por meio da lingua gem, como um modo de o homem instalar-se no mundo. A filosofia grega foi para ele um paradigma para a des coberta, no discurso filosófico, das chaves capazes de servir a uma leitura desmistificadora desse modo de produção chamado "filosofia". Em vários cursos e pesquisas, Lledó ocupou-se da história como "memória coletiva" e do processo e pro gresso do conhecimento. Enquanto memória coletiva, o estudo do passado filosófico - de sua história - deve consistir numa interpretação clara e contextualizada dessa memória. A história da filosofia não deve redu zir-se à análise de filosofemas; é fundamental procurar as "mediações" que estabelecem o contato entre a obra filosófica e o resto da cultura, da sociedade e dos inte resses humanos. Por outro lado, isso não deve configu rar-se como um mero programa, mas como um trabalho detalhado com as relações entre filosofia e sociedade e, por fim, entre teoria e práxis. O pensamento de Lledó está centrado atualmente em problemas já assinalados em trabalhos anteriores: a feitura da pergunta "Para que os filósofos?". Para per sistir, a filosofia terá de referir-se a quatro domínios nos quais ainda se pode organizar um trabalho filosófi co como eco à história presente: "a linguagem; o com portamento individual e social; a revisão das nossas visões de mundo; e o uso do saber". :> Obras: El concepto Poíesis en la filosofia griega, 1 96 1 . - Filosofia y lenguaje, 1 970; 2ª ed., 1 974. - La filosofia, hoy, 1 975. - Lenguaje y Historia, 1 978. - El Epicureísmo, 1 984. - La memoria dei Logos, 1 984. El silencio de la escritura, 1 99 1 . - El surco dei tiempo, 1 992. - Días y libras, 1 994.
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Entre os artigos, mencionamos: "La estructura dia léctica dei ' Eutifrón' platónico", Revista defilosofia, 67 ( 1 958), 363-393 . - "La anámnesis dialéctica en Platón, Emerita, 29 ( 1 96 1 ), 2 1 9-239. - "Tiempo e historia", Boletín dei Instituto de Estudios Helénicos, 3 ( 1 969), 23-38. - "Universales lingüísticos y sociedad"", em VV. AA., Doce ensayos sobre el lenguaje, 1 974, 62-77. - "E! horizonte de las formas simbólicas", Sistema, 9 ( 1 975), 27-4 1 . - "La temporalidad dei texto", Cuader nos de Filosofia de la Ciencia, 1 7 ( 1 990), 7-23. Ver: Historia, Lenguaje, Sociedad. Homenaje a E. Lledó, ed. M. Cruz, M. A. Granada, A. Papiol, 1 989. Anthropos, Boletín de Información y Documentación, 1 5 ( 1 982). �
LLOBERT VALLOSERA, ANTONIO. Ver BARCE LONA ( ESCOLA DE ) . LLORENS 1 BARBA, FRANCISCO [FRANCESC) XAVIER ( 1 820- 1 872). Nascido em Vilafranca dei Pe nedés, foi professor da Universidade de Barcelona. Dis cípulo de Martí d' Eixalà, Llorens i Barba combinou as influências recebidas do mestre com as procedentes do aristotelismo escolástico, de Hamilton, do ecletismo francês e, em parte, de Trendelenburg, numa doutrina or gânica por ele dividida em teórica e prática, doutrina destinada a servir de prolegômeno a toda investigação filosófica. A filosofia prática trata das normas da ação e se divide em ética e direito natural; a teórica trata do co nhecimento das coisas, dividindo-se em psicologia em pírica, lógica e metafisica. A psicologia é uma "ciência de observação", tendo por objeto "os fatos internos", que não somente são observáveis e classificáveis como também exibem determinada ordem (o que mostra esta rem eles submetidos a certas leis). No curso da observa ção psicológica, percebe-se a presença de sentimentos, conhecimentos e volições, podendo estes ser inferiores ou superiores de acordo com seu maior ou menor grau de dependência do organismo fisiológico. A análise das faculdades é, ao mesmo tempo, uma investigação gno siológica e, de acordo com a ideologia, tem por missão classificar e distribuir as "idéias", entendidas como atos conscientes de várias índoles. Às faculdades inferiores se sobrepõe o entendimento, que forma os juízos, sej a como faculdade dianoética o u como faculdade ética. O entendimento é a faculdade das relações de todas as espécies. A segunda parte da filosofia teórica, a lógica, ocupa-se, por sua vez, das leis formais do pensamento, mas essas leis são ao mesmo tempo condições válidas para todo pensar, razão pela qual a lógica é também uma teoria do conhecimento, uma lógica transcendental. Por fim, a metafisica volta-se para o pensamento (num sentido muito amplo do termo) enquanto tem por objeto a verdade. Por isso, a metafisica como "exame do co nhecimento humano" deve conter as razões últimas que o nosso entendimento pode alcançar. Embora fundada
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LOCALIZAÇÃO
num exame do modo como se conhece, a metafisica investiga "os princípios primeiros do conhecimento humano", isto é, as "verdades básicas" (que são princí pios primeiros tanto da verdade formal como da verdade real). A metafisica subdivide-se em cosmologia, psico logia racional e teologia racional. De acordo com Llo rens, a metafisica não deve ser dominada pelo raciona lismo; em vez disso, toda metafisica tende a uma sín tese entre o racionalismo e o empirismo, porque, se por um lado trata das existências, por outro estas só são concebidas se regidas pelos princípios da razão. A disci plina suprema da filosofia teórica é a teologia racio nal; nela, a ciência de Deus aparece não como diamante da necessidade prática, à feição kantiana, mas como condição de todo conhecer e de toda verdade. A tradição científica e filosófica de Llorens i Barba na Universi dade de Barcelona teve continuidade pelas mãos de Joaquim Xirau e Jaume Serra Hunter ( VER) . � Para concorrer à cátedra de "A filosofia e sua histó ria" na Universidade de Barcelona, Llorens i Barba es creveu o trabalho "Da unidade da filosofia" [ 1 847], pu blicado no Anuari de la Societat Catalana de Filosofia ( 1 923). Como aula inaugural para o curso de 1 854- 1 855 redigiu um estudo intitulado Do desenvolvimento do pensamento filosófico, única obra do autor a ser publi cada em sua vida. A Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Barcelona publicou em 1 920, em 3 vols. (reed., 1 956), as Lecciones de Filosofia de Llorens i Barba, a partir de anotações taquigráficas de José Ba larí Jovany feitas durante os cursos dados por Llorens em 1 864- 1 865 e 1 867- 1 868. Há tradução para o catalão de vários textos no volume lniciació a lafilosofia, 1 933 [Col.leció Popular Barcino, 84], com prólogo de Tomás Carreras i Artau [inclui: "Apunts dei curs de filosofia 1 867"; "De la unitat de la filosofia ( 1 84 7)"; "Do desen volupament dei pensament filosófic" ( cf. supra). Entre os vários escritos sobre LI. i B., destacamos: Mn. Frederic Clascar, En Xavier Llorens i Barba, 1 90 1 . - J. Serra Hunter, "X. LI. i B . Estudis i carrera profes sional. La seva actuació docent", en Arxius de l 'lnsti tut de Ciencies, Any 9 ( 1 92 1 ), 1 37- 1 87. T Carreras i Artau, Historia dei pensament filosàfic a Catalunya i cinc assaigns sobre l 'actitudfilosàfica, 1 93 1 , especial mente pp. 85-88 e 227-252. N. Bilbeny, Filosofia Contemporània a Catalunya, 1 985, cap. IX ("F. X. LI. i B., filosofia dei senti! comú", pp. 1 77-20 1 . C: -
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LOBATCHEVSKI, NIKOLAI IVANOVITCH ( 1 7921 856). Nascido em Nijni Novgorod (Rússia), estudou na Universidade de Kazan com o matemático alemão Ba ryels, amigo de Gauss. Lobatchevski foi professor ( 1 8 1 4), decano e reitor ( 1 827- 1 846) na citada universi dade. Foi o primeiro a comunicar ( 1 826) a descoberta de que, negado o postulado das paralelas, ou quinto postu lado de Euclides, é possível construir uma geometria como sistema hipotético-dedutivo. Expôs suas idéias
sobre "geometria hiperbólica" em O nachalaj gueome trii, 1 829- 1 830 (Sobre os princípios da geometria). Ele partiu do pressuposto de que as linhas paralelas podem não coincidir mesmo que os ângulos internos formados pela linha que as corta perpendicularmente sejam me nores que dois ângulos retos. A geometria resultante disso é uma geometria não-euclidiana hiperbólica, cha mada de "geometria lobatchevskiana". Discutiu-se até que ponto Lobatchevski teve conhecimento (indireto) das investigações sobre o problema feitas por Gauss ou dos resultados obtidos por Saccheri ( vER) . � Edição de obras completas: Polnoe sobranie sochi nenii, 5 vols., 1 946- 1 95 1 . Ver: A. V. Vasiliev, Nikolay Vasilievich Lobachevskyi, 1 9 1 4. - V. F. Kagan, Lobachevskyi, 1 948. E. Kolman, Belikiy russkiy mislitel Nikolai Vasilievich Lobachevskiy, 1 956 (O grande pensador russo N. V. L. ). C: -
LOCALIZAÇÃO. O termo 'localização ' denomina, na psicologia, o "alojamento" de uma percepção em um ponto do espaço ou do tempo, e é empregado sobretudo para indicar a relação existente entre um fenômeno psí quico e um ponto determinado do corpo, especialmente do cérebro. A teoria da localização foi defendida prin cipalmente pelas tendências psicofisiologistas e encon trou pontos de referência na frenologia de Gall e nas pes quisas de Broca, Wemicke etc. O primeiro procurou de terminar exatamente as regiões do cérebro correspon dentes a cada grupo de fenômenos psíquicos; os outros dedicaram-se à elucidação dos problemas da afasia em suas diversas formas - motora, sensorial etc. - tendo em vista a demonstração de uma efetiva dependência en tre a perda das funções da linguagem e as afecções so fridas por uma região cerebral (centro de Broca). Como indicou Jean Lhermite (Los mecanismos dei cerebro, 1 940, pp. 1 4 1 ss. ), depois dos trabalhos de von Monakow enfrentaram-se duas tendências: a dos localizacionistas (como C. e O. Vogt, Kleist, O. Fõrster etc.) e a dos antilocalizacionistas (como Kurt Goldstein e Lashley). Essa oposição deve-se, segundo esse autor, ao fato de que os dois grupos examinam o problema de um ponto de vista muito distinto e, a rigor, ao falar de localização, não falam sempre da mesma coisa: em al guns casos se fala, com efeito, de uma estrutura; em outros, por outro lado, alude-se a uma função. Mas se localizar "é legítimo quando se trata de uma estrutura ou de uma lesão, é vão tentá-lo para uma função, pois comete-se o enorme contra-senso de querer aprisionar em uma forma esse algo alado e fugidio que é o espí rito" (op. cit.), isto é, recai-se nas contradições que im plica uma transposição de categorias do material para o espiritual e vice-versa. A mesma coisa, aproximada mente, é sustentada pelos defensores do "gestaltismo" na doutrina cerebral. Assim, Justo Gonzalo, em suas lnvestigaciones sobre la nueva dinámica cerebral (t. I, 1 945), opõe-se à patologia cerebral de tipo anatômico
LOCKE, JOHN
e localizador e defende uma fisiologia dinâmica, na qual as falhas são expressas mediante curvas funcionais. O problema possui dois aspectos: o empírico-científi co, que só pode ser resolvido mediante comprovação experimental, e o outro, de índole lógico-metodológica, que implica um exame da significação de termos como ' localização' , ' função ' , 'relação ' etc. Vários trabalhos experimentais sobre os mecanis mos cerebrais (J. A. Deutsch, L. Jack Herbert e outros) indicam que há centros ("localizações") anatomicamen te distintos na base do cérebro (hipotálamo). Esses cen tros regulam distintos impulsos animais (fome, impulso sexual etc.). Isso parece favorecer a doutrina da locali zação, especialmente quando se leva em conta que os centros do hipotálamo abarcam áreas muito reduzidas. No entanto, também são estudadas possíveis interações entre centros, de tal modo que aqui também se pode oportunamente confirmar que a localização e a inter relação não são incompatíveis. Nem sempre é claro, nos autores que tratam do as sunto, se se fala de "localização" para indicar certos tipos básicos de funções correspondentes a cada uma das três estruturas cerebrais anatômicas que se forma ram no curso da evolução nos mamíferos superiores e no homem, ou se se fala de localização apenas com re lação ao córtex cerebral, ao neocórtex ou ao "novo cére bro". Naturalmente, uma posição "localizacionista" ou "antilocalizacionista" afirma coisas muito distintas em cada caso. Hoje em dia o mais comum é tratar a questão da possível localização, ou da possível inter-relação de localizações, em relação ao neocórtex. De diversos pontos de vista, a tendência parece ser a de um compromisso entre "localizacionismo" e "anti localizacionismo". A isso se refere Carl Sagan (The Dra gons ofEden, 1 977, p. 29) ao indicar que os esquemas de computador sugerem que a verdade está entre esses extremos: "Por um lado, qualquer concepção não mística da função cerebral deve ligar a fisiologia com a anato mia; as funções cerebrais particulares devem se relacio nar com padrões neurais particulares ou com outra arqui tetura cerebral. Por outro lado, com o fim de manter um grau suficiente de precisão e de se proteger contra qual quer acidente, é de se supor que a seleção natural tenha produzido redundâncias substanciais nas funções cere brais". Essas redundâncias - ao menos no que diz res peito à retenção de dados pela memória - foram experi mentalmente demonstradas por Karl Lashley. Não have ria redundância se houvesse uma localização estrita; a "localização" ocorre, pois, em distintas áreas do cérebro. LOCKE,JOHN ( 1 632- 1 704). Nascido em Wrington, nos arredores de Bristol, estudou no Christ College (Ox ford), onde foi nomeado leitor de grego e de retórica. Mais interessado na filosofia moderna e nas ciências, sobretudo em medicina, química e flsica, leu os escritos
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de Descartes e de Robert Boyle e estudou medicina, obtendo sua licença de médico em 1 674. Em 1 665 in gressou no serviço diplomático e em 1 667 ficou a servi ço de lord Ashley, Conde de Shaftesbury, como seu conselheiro e preceptor de seu filho. De 1 668 a 1 670 re sidiu na França, onde entrou em contato com cartesia nos e gassendistas. De retorno à Inglaterra, em 1 670, novamente a serviço do Conde de Shaftesbury, fugiu para a Holanda em 1 683 para evitar possíveis represá lias políticas em conseqüência das intrigas do Conde de Shaftesbury contra Jaime II. Após a revolução de 1 688, Locke retornou à Inglaterra, ocupando então vá rios postos administrativos. Locke ocupou-se intensamente de problemas políti cos, sociais, educativos, religiosos e econômicos. Sua filosofia política, especialmente tal como exposta no se gundo tratado sobre o governo (o chamado Ensaio sobre o governo civil), influenciou muito a formação da ideo logia liberal moderna (cf. infra). Do ponto de vista filo sófico, é importante sobretudo sua elaboração da cor rente empirista inglesa. Locke é considerado um dos mais distintos e influentes representantes dessa corren te, embora se deva levar em conta que o empirismo de Locke está mesclado com não poucos motivos e pressu postos de índole "racionalista". A obra filosófica capital de Locke, o Ensaio (ver bibliografia), é um estudo detalhado da natureza, alcan ce e limites do entendimento ( Understanding). O propó sito de Locke é "investigar a origem, a certeza e o alcan ce do conhecimento humano, juntamente com as razões e os graus de crença, opinião e assentimento" (Essay, Int. § 2). Não se trata de um exame "flsico" nem de um estudo (metafisico) da essência do entendimento; tra ta-se simplesmente de uma descrição dos modos pelos quais se adquire o conhecimento e como são formu lados os juízos. Locke começa com uma crítica aos "princípios ina tos" ou às "noções comuns" (VER), Ko1vai evvo1m, isto é, com um ataque contra o inatismo (vER). Nenhum dos argumentos aduzidos para provar que há princípios inatos, sejam eles "especulativos" ou "práticos", é, se gundo Locke, satisfatório. Nem o consentimento uni versal nem os fatos provam que o entendimento possui tais princípios. O entendimento é como um cômodo va zio que vai sendo "mobiliado"; é como uma tábula (VER) rasa na qual a experiência vai "escrevendo". O entendi mento vai gradualmente adquirindo familiaridade com as idéias particulares, e algumas delas se alojam na me mória e ganham nomes. Desse modo, o entendimento vai sendo mobiliado com idéias e com a linguagem, que são os materiais sobre os quais o homem exercita sua faculdade discursiva. Alguns inatistas indicaram que se não há princípios inatos de fato, eles existem, por assim dizer, em princípio, pois o entendimento é capaz de dar seu assentimento a certos princípios. Lo-
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cke, entretanto, considera que este assentimento tam bém não constitui uma prova de que há princípios ina tos. O que ocorre com os princípios especulativos tam bém ocorre, indica Locke, com os chamados "princípios inatos práticos": nem a fé nem a justiça nem qualquer um desses "princípios" é inato, mas simplesmente adquirido. Tampouco a idéia de Deus é uma idéia inata, emborà, se houvesse alguma idéia inata, a de Deus de veria ter preferência a qualquer outra - se Deus hou vesse impresso uma idéia inata no entendimento dos ho mens, ela seria, sem dúvida, a de Deus. Locke admite que a existência de Deus é tão certa quanto a igualdade dos ângulos opostos gerados por duas linhas que se cru zam; mas isso não significa, porém, que o entendimento esteja "mobiliado" com a idéia de Deus. Se os princípios não são inatos, é preciso ver como se originam as idéias no entendimento. Já nos referimos à noção que Locke tem de 'idéia' e aos diversos tipos de idéias por ele distinguidas no verbete IDÉIA, mas aqui é necessário reiterar algumas teses capitais de Locke sobre o assunto, assim como suplementar a informação oferecida naquele verbete. De início, Locke entende por 'idéia' todo "fenôme no mental" independentemente de qualquer possível afirmação ou negação: idéias são "apreensões" ou "re presentações" de qualquer tipo. Por isso 'brancura' , 'du reza' , 'pensamento' , 'movimento' , 'homem', 'elegan te', 'embriaguez' e outros incontáveis termos expressam idéias. As idéias aparecem no "papel em branco livre de caracteres" que é o entendimento como materiais da ra zão e do conhecimento, e sua única fonte é a experiên cia. As idéias podem ser de sensação (como as que são expressas por 'amarelo', 'branco ' , 'quente' etc.) ou de reflexão (como as que são expressas por 'pensar', 'duvi dar', 'crer', 'raciocinar', 'querer' etc.). As idéias de sen sação provêm da experiência externa; as de reflexão, da experiência interna. Tanto as idéias de sensação como as de reflexão são recebidas passivamente pelo entendi mento e são chamadas por Locke de "idéias simples". Com base nas idéias simples podem ser formadas o que Locke denomina "idéias complexas'', que são idéias "formadas por uma atividade do espírito". As idéias simples de sensação podem ser de apenas um sentido (como ocorre com um sabor) ou de mais de um sentido (como ocorre com a extensão, a figura, o repouso, o movimento). As idéias simples de reflexão são apenas de um tipo; exemplos delas são as percep ções e os atos de vontade. Também podem existir idéias ao mesmo tempo de sensação e de reflexão, como as que são indicadas mediante termos como 'prazer', 'dor', 'existência' e ' força'. Deve-se levar em conta que o fato de haver uma idéia não está necessariamente relacionado com o fato de haver um termo para designá-la. Embora as idéias de que nos servimos usualmente e de que tratamos sejam
LOCKE, JOHN
idéias expressas por termos conhecidos, há idéias às quais não correspondem termos, ou para as quais não foram encontrados termos que as expressem. Antes de tratar das idéias complexas, Locke intro duz urna distinção entre "as idéias enquanto percepções em nosso espírito" e "as idéias enquanto modificações da matéria nos corpos que causam tais percepções'', isto é, entre idéias como efeitos de "poderes" ou "potên cias" (powers) inerentes aos corpos, e idéias como tais "poderes" ou "potências" capazes de afetar nossos sen tidos. O que o espírito percebe em si mesmo é propria mente uma "idéia", e o poder de produzi-la é urna "qua lidade". As qualidades podem ser qualidades primá rias ou qualidades secundárias. Tratamos desse ponto mais detalhadamente no verbete QUALIDADE; indique mos, ou recordemos aqui que as qualidades primárias são aquelas inseparáveis dos corpos, como a solidez, a extensão, a figura e a mobilidade, pois embora um cor po se divida, por exemplo, em dois, cada uma dessas partes continua possuindo aquelas qualidades. Quanto às qualidades secundárias, são aquelas que não estão nos objetos mesmos senão como "poderes" de produzir em nós várias sensações por meio de suas qualidades pri márias; isso ocorre com as cores, com os sons, os gos tos etc. Embora seja costumeiro interpretar as qualida des primárias como qualidades objetivas e as secundá rias como subj etivas, é claro que em Locke essa "sub j etividade" é somente relativa; com efeito, não haveria qualidades secundárias se os corpos não possuíssem os poderes correspondentes para produzi-las. As quali dades secundárias dependem das primárias. É verdade que Locke observa que somente as idéias das qualidades primárias existem, mas as qualidades secundárias exis tem como modos das primárias e não são meras sensa ções exclusivamente dependentes dos órgãos dos senti dos. Além disso, Locke distingue três tipos de qualida des nos corpos: qualidades como o volume, o número, a situação, o movimento etc., que estão nos corpos, tanto se as percebermos ou não, sendo estas as qualidades primárias; qualidades como os sons, cheiros etc., que são poderes que os corpos têm de produzir em nós idéias simples, sendo estas as qualidades sensíveis; e possibi lidades que têm os corpos em razão da constituição par ticular de suas qualidades primárias de causar mudanças no volume, na figura, na textura, no movimento etc., de outro corpo e de atuar sobre os nosso sentidos de modo distinto daquele que ocorrera antes, sendo estes os "po deres" (powers). As primeiras qualidades são propria mente reais ou originais; as segundas e as terceiras são poderes para introduzir modificações. São várias as faculdades do espírito que se exercem sobre as idéias: a percepção, a retenção (que pode ser contemplação ou então memória) e o discernimento, com a comparação, a composição e a abstração. Cada uma das faculdades citadas é superior à precedente na
LOCKE, JOHN medida em que vai além na obtenção e na organização do conhecimento. Por meio das faculdades são obtidas as chamadas idéias complexas. Várias idéias simples unidas de modo apropriado originam uma idéia complexa, que pode ser, e freqüentemente é, a idéia de um corpo. Duas ou mais idéias - simples ou complexas - comparadas sem se rem unidas originam a idéia de relação. Duas ou mais idéias separadas das outras em uma entidade ou em entidades nas quais estão unidas originam a chamada "idéia geral". Esse modo de classificação das idéias complexas baseia-se principalmente nos modos de ope ração de nosso entendimento. Há outra classificação de idéias complexas que Locke estuda mais detalhada mente: é a que resulta da distribuição das idéias comple xas em idéias de modos, de substâncias e de relações. Abordamos as idéias complexas de modos em seus dois tipos - modos simples e modos mistos - no verbete Mooo; em outros verbetes (por exemplo: DURAÇÃO; IN FINITO ) tratamos mais especificamente de vários modos no sentido de Locke. Esse autor trata com particular aten ção dos modos simples das idéias de espaço, duração e também de número e infinito e dos modos do poder (di vidido em ativo e passivo). Com isso ele considera ter encontrado a razão de "nossas idéias originárias" das quais derivam as restantes. As "mais originárias" são as idéias de extensão, solidez e mobilidade (que recebemos dos corpos mediante nossos sentidos) e de perceptivi dade (ou poder de percepção, ou de pensamento) e mo tividade - ou poder de mover - (que recebemos de nossos espíritos por reflexão). A elas se agregam as de existência, duração e número. As idéias complexas de substância partem da idéia obscura e relativa de "substância em geral" - da qual não há outra noção além da suposição de "não se sabe qual suporte de certas qualidades capazes de produzir em nós simples idéias" - para examinar a formação de idéias de classes particulares de substâncias. Estas se formam por meio da observação de certas combina ções de idéias simples que se dão na experiência. Entre as idéias particulares de substâncias destacam-se as de substância corporal e de substância espiritual, cada uma delas formada por sua vez por uma combinação de idéias complexas e todas elas intimamente relacionadas com a idéia de "poderes". A idéia de substância extensa deriva da sensação; a de substância pensante, da refle xão e da experiência confirma a existência de ambas. Há também idéias complexas de substâncias, que são as idéias de coleções de coisas ou idéias coletivas. As idéias complexas de relação são o resultado de comparações, pois as relações não podem ser entendi das sem termos correlatos, ainda que as relações sejam distintas das coisas relacionadas. Dentre as idéias com plexas de relação destacam-se as de causa e efeito, de identidade - na qual se inclui da noção de "identidade
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pessoal" - e de diversidade (Locke falou dessas rela ções a pedido de Molyneux [VER]), e de relações morais de diversos tipos. Pode-se também falar das idéias enquanto claras ou obscuras, distintas ou confusas, verdadeiras ou falsas, e pode-se falar ainda das associações de idéias (uma falsa associação, por exemplo, é causa de um erro). Co mo as idéias são expressáveis mediante palavras, é pre ciso examinar os nomes das idéias para averiguar se são nomes adequados e encontrar as soluções para evitar confusões e abusos nas designações. É fundamental em Locke sua doutrina sobre os nomes das substâncias; segundo o autor, não podemos conhecer as essências reais, mas somente as essências nominais, embora estas últimas, para serem retamente empregadas, devam de algum modo basear-se nas maneiras como nos são da das as coisas na Natureza. Locke desenvolve aqui um nominalismo moderado (parecido com um conceitua lismo) porquanto não considera os nomes de substân cias como meros nomes formados arbitrariamente, e sim como nomes que designam (fundando-se na experiên cia) realidades. Com todos esses "materiais" à mão cabe agora per guntar o que é o conhecimento, que formas há de conhe cimento e até onde se pode conhecer, de acordo com a área considerada. Locke define o conhecimento como sendo simplesmente "a percepção da conexão e do acordo ou do desacordo e da rejeição de quaisquer de nossas idéias". Parece assim que o conhecimento se refere somente a idéias e não a "realidades". No entanto, como as idéias provêm da experiência e esta é expe riência da realidade ou realidades, as idéias em questão são de algum modo idéias das realidades. O acordo ou desacordo supracitado pode ser, segundo Locke, de qua tro tipos: identidade ou diversidade, relação, coexistên cia ou conexão necessária, e existência real. Por outro lado, os graus do conhecimento são três: conhecimento intuitivo, no qual o espírito percebe o acordo ou o desa cordo de idéias imediatamente por si mesmas; conhe cimento demonstrativo, que ocorre pela intervenção de outras idéias, e é propriamente um raciocínio; e conhe cimento sensível, ou conhecimento de existências par ticulares. Trata-se agora de saber o alcance do conhe cimento, que varia de acordo com o tipo de acordo ou desacordo existente - e esse alcance é determinado pelo alcance de nossas idéias, já que somente por meio delas é possível ter conhecimento. O conhecimento que se refere à identidade e à di versidade tem o mesmo alcance que têm as idéias, j á que dada uma idéia podemos ver imediatamente s e é ou não ela mesma e se é ou não distinta de outra idéia. O conhecimento que se refere à relação estende-se até on de chega nossa faculdade de encontrar idéias interme diárias entre uma proposição e outra. O conhecimento que se refere à coexistência ou relação necessária tem
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alcance limitado; a rigor, tem o mesmo alcance da expe riência, pois somente por meio dela podemos saber se estas ou aquelas idéias simples formam ou não uma idéia complexa de substância, ou se esses fenômenos se seguem ou não regularmente de outros. A doutrina de Locke sobre a substância e a causa está confinada aos limites citados; Locke não sustenta que as substâncias sejam complexos arbitrários de qualidades ou que a re lação entre causa e efeito seja completamente contin gente, mas a existência destas ou daquelas relações cau sais é assunto da experiência e somente da experiência. O conhecimento que se refere à existência real reduz se ao conhecimento intuitivo de nossa própria existên cia, única da qual temos completa certeza. Em termos de "objetos" pode-se dizer que Locke considera o conhecimento intuitivo como seguro, o co nhecimento demonstrativo como aceitável, e o conheci mento sensível como relativo. Os conhecimentos mais seguros são o intuitivo e o demonstrativo; a este último pertence o conhecimento matemático e o da existência de Deus. O conhecimento das "coisas reais" e das "cau sas naturais" é apenas relativo e provável, mas não se encontra sempre no mesmo estágio: esse conhecimento pode, e costuma, progredir com a experiência. Às vezes se perguntou em que medida se pode considerar, como freqüentemente se fez, a teoria de conhecimento de Lo cke como a teoria que corresponde à mecânica newto niana. A razão disso é que a doutrina de Locke consiste em grande parte em uma investigação dos modos de relação entre as idéias, que estão fundadas em elemen tos simples provenientes da experiência. Esses modos de relação estão fundados em última análise na expe riência - nos fenômenos -, mas seu tratamento pro cede de acordo com o método demonstrativo, mediante o qual se alcançam verdades universais e necessárias. Se se encontra, todavia, certa contradição na teoria do conhecimento de Locke, isso se deve ao fato de que essa teoria é composta por dois elementos, a experiência e a razão, e que enquanto em alguns casos se destaca a primeira, em outros enfatiza-se a última. Nenhuma das duas, contudo, pode ser totalmente eliminada. Por isso Locke pôde ser considerado como um "empirista" e ao mesmo tempo como um "racionalista" ou, se se preferir, como um "empirista racional". Encerraremos esta parte mencionando brevemente a "divisão de ciências" que Locke propõe no final do Ensaio. São as três seguintes: a tisica ou filosofia natu ral, que estuda a natureza das coisas como são em si, suas relações e seus modos de operação; a ética ou fi losofia prática, que estuda o modo como o homem deve atuar enquanto agente dotado de vontade para obter a felicidade; e a doutrina dos signos ou semântica (vER), que estuda os modos e maneiras por meio dos quais se obtém e se comunica o conhecimento adquirido nas duas "ciências" anteriores.
LOCKE, JOHN A filosofia de Locke não consiste apenas em uma teoria do conhecimento, mesmo que incluamos nesta última sua "metafisica" e sua "ontologia" ou "teoria dos objetos". São também fundamentais em Locke a sua doutrina ética e a sua doutrina política. O fato de que seus Tratados sobre o governo e sua Carta sobre a tole rância tenham aparecido anonimamente não significa que Locke dedicasse pouca atenção à doutrina moral e política, pois dedicou muito tempo à composição dessas obras. Muitas vezes levantou-se a questão da relação existente entre a teoria do conhecimento e a "metafi sica" de Locke e suas teorias éticas e políticas: alguns sustentaram que estas últimas são uma conseqüência das primeiras; outros, que elas são muito distintas, já que enquanto na teoria do conhecimento Locke insiste, apesar de tudo, na necessidade de obter um saber seguro e certo, na ética e na política ele se contenta com um co nhecimento meramente provável ou, melhor, com um mero "tatear". As duas opiniões podem se justificar nos textos de Locke e é dificil chegar a qualquer conclu são definitiva sobre o assunto. A ética de Locke é de caráter hedonista (ver HEDO NISMO) na medida em que atribui considerável importân cia às causas do prazer e da dor como "bens" e "males", respectivamente. No entanto, esse "prazer" e essa "dor" (ou suas causas) não devem ser entendidos apenas no sentido "tisico" ou apenas no sentido "subjetivo". Se gundo Locke, há leis morais cuja obediência produz o bem e cuja desobediência produz o mal. Essas leis, embora procedam de Deus, são racionais e coincidem com as "leis naturais". Mais importante - e influente - que a ética de Locke foi sua teoria política. Esta é, por um lado, uma racionalização de certas tendências representadas pelo partido "Whig" e pelos que levaram ao trono Guilherme de Orange; mas, por outro lado, é uma fundamentação do chamado "liberalismo". Locke opôs-se ao Patriarcha ( 1 680), de Sir Robert Filmer, e à sua teoria do direito divino dos reis. Segundo Locke, os homens são iguais e livres em seu estado de natureza. Por consenso formam uma sociedade, que não é, pois, o resultado de um dese jo de evitar a "guerra de todos contra todos" de que havia falado Hobbes, a cuja doutrina "totalitária" Locke se opôs firmemente. A sociedade está fundada em um con sentimento livre, mas também em direitos naturais, tais como o direito de existência (ou subsistência) e o de propriedade (que permite ao homem dispor dos bens necessários para sua existência [e subsistência]). O direito de propriedade não é absoluto - ele tem seus limites. Por um lado, a propriedade tem sua fonte no trabalho (e também na herança, na qual se expressaram os frutos de um trabalho); por outro, tem seus limites nos demais membros da sociedade; ninguém pode ser prejudicado pela propriedade dos outros.
LOCKE, JOHN É fundamental na doutrina política de Locke sua teoria do governo como governo representativo; os mem bros do governo são aqueles aos quais aqueles que com põem a sociedade confiaram o poder e o direito de diri gir os governados para o bem da comunidade e de cada um de seus membros. Assim como a sociedade, o gover no é, ou deve ser, resultado do consentimento livre dos indivíduos que formam a sociedade e nunca deve violar os direitos fundamentais desses indivíduos, mas, pelo contrário, protegê-los. Locke divide o poder do governo em três poderes, cada um dos quais origina um ramo de governo: o poder legislativo (que é o fundamental), o executivo (no qual é incluído o judiciário) e o fede rativo (que é o poder de declarar a guerra, concertar a paz e estabelecer alianças com outras comunidades). Enquanto o governo continuar sendo expressão da von tade livre dos membros da sociedade, a rebelião não é permitida: é injusta a rebelião contra um governo legal. Mas a rebelião é aceita por Locke em caso de dissolu ção da sociedade e quando o governo deixa de cumprir sua função e se transforma em uma tirania. Tanto a teoria e a filosofia geral de Locke como sua ética e sua doutrina política exerceram uma enor me influência, especialmente durante o século XVIII: falou-se da "era de Locke" assim como se falou da "era de Newton'', e mesmo das duas ao mesmo tempo ("a era de Locke e Newton"). Os principais enciclope distas franceses (d'Alembert, Voltaire, por exemplo) saudaram a filosofia de Locke como aquela que corres ponde à física de Newton, e ambas como a expressão da "razão humana". Locke exerceu grande influência sobre os filósofos e economistas de tendência "liberal" e sobre grande parte da evolução das idéias e costumes políticos em muitos países, especialmente nos de língua inglesa. Apesar das críticas de Berkeley e Hume a Locke, esses dois pensadores não são concebíveis sem Locke, que foi considerado como seu precursor imediato na corrente do "empirismo inglês moderno''. Locke também exer ceu grande influência sobre o desenvolvimento das teo rias associacionistas e sensacionistas (ou sensualistas) na Inglaterra, na França e em outros países. Opuseram se a Locke os "malebranchistas" (ver MALEBRANCHE [NICOLAS]) e os "racionalistas"; foi importante neste último aspecto a polêmica de Leibniz contra Locke. Os Nouveaux Essais do primeiro procuraram refutar ponto por ponto o Essay de Locke. No entanto, alguns autores considerados "racionalistas" fizeram amplo uso da doutrina das "idéias" lockiana; esse foi o caso, por exemplo, de G. F. Meier (VER) . É curioso o caso da fi lha de Ralph Cudworth, Damaris (Cudworth) Masham (nasc. em Cambridge: 1 658- 1 708), grande amiga de Locke, que o defendeu contra John Norris (vER) e tentou unir as doutrinas de Locke com tendências neoplato nizantes em seus Occasional Thoughts in Reference to a Virtuous ar Christian Life ( 1 705).
1 7 70 � Locke escreveu, em latim, entre 1 660 e 1 664, oito Ensaios sobre a Lei da Natureza, que foram publica dos por W. von Leyden: Essays on the Law ofNature, 1 954. - Em 1 67 1 , Locke escreveu dois "rascunhos", publicados por R. L. Aaron e Jocelyn Gibb: An Early Draft ofLocke s Essay, together with Excerptsfrom His Journal, 1 936, e por B. Rand: An Essay Concerning the Understanding, Knowledge, Opinion andAssent, 1 93 1 . O Ensaio "definitivo" foi terminado por Locke em 1 666 e publicado em 1 690 (saiu da gráfica em 1 689) com o título: An Essay Concerning Human Understanding. A 2ª ed. é de 1 694; a 3ª, de 1 697 e a 4", de 1 700. Edição anotada por A. C. Fraser, 2 vols., 1 894. Em 1 688 já ha via sido publicado um excerto do Essay "definitivo" em francês para a Bibliotheque universelle de Le Clerc. - Em 1 677 Locke escreveu An Essay Concerning To leration. De 1 689 é a Epistola de Tolerantia, e da mesma data sua tradução inglesa por W. Popple: A Letter Con cerning Toleration. Seguiram-se a essa Letter a Second e a Third Letter. - O Second Treatise on Government (An Essay Concerning the True Original, Extent, and End of Civil-Government) foi terminado em 1 679. O First Treatise on Government [contra Filmer] foi ter minado em 1 680 ou 1 68 1 . Ambos apareceram em 1 690 com o título: Two Treatises on Government. Ed. dos mesmos pro Peter Laslett, 1 960. - Uma série de cartas a Edward Clarke escritas por volta de 1 684 originaram a obra Some Thoughts Concerning Education, publicada em 1 693 . - Em 1 695 apareceu Reasonableness of Christianity as delivered in the Scriptures, 1 695. - Em 1 697, Ofthe Conduct ofthe Understanding. - Devem se a Locke vários outros escritos, alguns deles publica dos apenas postumamente, tal como: An Examination ofMalebranche s Opinion ofSeeing Ali Things in God e Elements of Natural Philosophy. Vários apareceram em Posthumous Works, 1 706. Edição de obras: Works, 3 vols., 1 704; 7ª ed., 4 vols., 1 768; 9ª ed., 9 vols., 1 794; 1 0ª ed., corr., 1 0 vols., 1 823; reimp., 1 963. Espera-se uma nova edição comple ta e crítica de Locke que inclua todos os manuscritos da Coleção Lovelace adquiridos pela Bodleian Library. Entre esses manuscritos figuram 2.700 cartas (algumas delas dirigidas a A. Collins e a R. Boyle) e uma série de escritos diversos (notas, diários etc.), escritos polêmi cos contra King, Nicole e Norris. Com base nessa cole ção de manuscritos já foram publicados alguns escritos (como os dois "rascunhos" do Essay e os Essays on the Law of Nature supracitados). The Clarendon Edition of the Works ofJ L. , ed. P. H. Nidditch, está em curso de publicação desde 1 975. O texto do Essay também foi editado em separado, desde 1 975; reed., 1 990. Para edições de correspondência, ver: Original Let ters ofLocke, Sidney and Shaftesbury, 2ª ed., 1 847, ed. T. Forster. - The Correspondence ofJohn Locke and Edward Clarke, 1 927, ed. B. Rand. - The Correspon-
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dence ofJ. L. , 5 vols., 1 976- 1 979, ed. E. S . d e Beer. The Correspondence ofJ. L. , 7 vols., 1 976- 1 982, ed. P. H. Nidditch. Em português: Carta sobre a tolerância, 1 997. Dois tratados sobre o governo, 1 998. - Ensaio sobre a verdadeira origem, extensão e fim do governo civil, s.d. - Segundo tratado sobre o governo civil, 1 994. - Ensaio acerca do entendimento humano, Os Pensa dores, 1 983. Bibliografia: H. O. Christophersen, A Bibliographi cal Introduction to the Study ofJ. L. , 1 930. - Roland Hall e Roger Woolhouse, "Forty Years ofWork on J. L. ( 1 929- 1 969). A Bibliography", The Philosophical Quarterly, 20 ( 1 970), 258-268, com "Addenda", ibid., 394-396; com mais "Addenda", Locke News, 1 ( 1 970), 5 - 1 1 ; com "A Supplement to the L. Bibliography", ibid. ( 1 973), 1 0-24; com mais "Addenda", ibid. ( 1 975), 1 622. - V. C. Chapell, "Selected Articles on Locke: A Computerized Bibliography", Philosophy Research Archives, 7, nº 1 445 ( 1 98 1 ). - The Works of J. L. : A Comprehensive Bibliographyfrom the Seventeenth Cen tury to the Present, 1 985, ed. J. C. Attig. - J. W. Yolton, A Locke Dictionary, 1 993 . Para biografia: Lord King, The Life and Letters ofJ. L. , 2 vols., 3ª ed., 1 958. - H. R. Fox Boume, The Life ofJ. L. , 2 vols., 1 876. - M. Cranston, J. L. : A Biogra phy, 1 985. - U. Thiel, J. L. in Selbstzeugnissen und Bilddokumenten, 1 989. Sobre as doutrinas de L.: Victor Cousin, La philoso phie de L. , 1 829; 6ª ed., 1 873. - B. H. Smart, Thought and Language: An Essay Having in View the Reviva!, Correction, and Exclusive Establishment ofLocke s Phi losophy, 1 85 5 . - T. E. Webb, The Intellectualism ofL. , 1 858. - G. Hartenstein, Lockes Lehre von der mens ch/ichen Erkenntnis in Vergleich mit Leibniz s Kritik der selben, 1 865. - S. Turbiglio, Analisi storica de/la filo sofia di L. e di Leibniz, 1 867. - R. Cleary, An A nalysis of Locke s Essay on the Human Understanding, 1 873. - T. Fowler, L., 1 880; 2ª ed., 1 892. - E. Koenig, Über den Substanzbegriffbei L. und Hume, 1 88 1 . - G. Taran tino, L. Studio storico, 1 886. - G. Geil, Über die Abhiin gigkeit Lockes von Descartes, 1 887. - E. Martinak, L.s Lehre von den Vorstellungen, 1 887. - !d. , Die Lo gik L.s, 1 894. - A. C. Fraser, L., 1 890. - G. von Hertling, L. und die Schule von Cambridge, 1 892. - W. Küppers, L. und die Scholastik, 1 894. - E. Fechtner, J. L., ein Bild aus den geistigen Kiimpfen Englands im 1 7. Jahrhundert, 1 897. - H. Põhlmann, Die Erkenntnis lehre Lockes, 1 897 (tese). - Willy Freytag, Die Subs tanzlehre Lockes, 1 899. - E. Pashkan, Das Verhiiltnis zwischen Wissen, Meinen und Glauben hei L. , 1 903 (tese). - C. Bastide, L. , 1 907. - Samuel Alexander, L., 1 908. - H. Ollion, La philosophie générale de L. , 1 908. Ernst Crous, Die Grundlagen der Religionslehre Lockes, 1 909 (tese). - !d., Die religionsphilosophischen Leh-
LOCUCIONÁRIO
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LOCOMOÇÃO. Ver MOVIMENTO. LOCUCIONÁRIO. N o verbete EXECUTIVO (tradução do inglês performative, que é às vezes traduzido por 'performativo ') introduzimos a noção de "locucionário" ou, mais especificamente, de "ato locucionário" propos ta por J. L. Austin. Enquanto naquele verbete essa noção foi introduzida no contexto da "primitiva" classificação de Austin em 'executivo' e 'constativo ', e como conse qüência das dificuldades encontradas nessa classifica ção, falaremos aqui sobre a noção de "locucionário". Uma locução é, na definição formal, uma frase ou um conjunto de palavras que não formam uma oração cabal.
LÓGICA No exemplo de Austin, a locução é, em compensação, uma oração cabal e é o que corresponde lingüistica mente a uma proposição. Em um sentido "neutro" de 'enunciado ', a locução é um enunciado. No entanto, Austin não se interessa simplesmente por enunciados ou proposições, mas pelos atos mediante os quais se enuncia ou se propõe algo. A locução é vista como um "ato locucionário". Assim, "O livro que você procura está em cima da televisão" é um enunciado que se ex pressa mediante o ato de dizer "O livro que você procura está em cima da televisão". Os filósofos, argumenta Austin, costumaram dedicar uma atenção preponderan te, senão exclusiva, aos atos locucionários e, como se isso fosse pouco (ou muito), deram escassa importância - ou nenhuma - ao fato de que, ao fim e ao cabo, trata-se de atos, isto é, de atos lingüísticos. Por isso a maior parte dos problemas tratados por filósofos referi ram-se a proposições ou enunciados ou fundaram-se neles. Isso deu origem a uma concepção - a menos que tenha sido uma conseqüência dela - puramente "des critivista" da linguagem, segundo a qual as "descrições" (nas quais se inclui todo tipo de enunciado propria mente dito) é que são importantes. Ao examinar em que sentido cabe dizer que um enunciado é verdadeiro ou falso, a maior parte dos filósofos não reparou que mes mo aqui pode-se dar a dimensão de "felicidade" ou "in felicidade'', de "ajuste" ou "desajuste", que, natural mente, é patente nos atos ilocucionários (ver Iwcucro NÁRro) e perlocucionários (ver PERLocucroNÁRio), mas que não está ausente nos atos locucionários (que, como todos os "atos lingüísticos'', têm "força ilocucionária"). Dizer "O livro que você procura está em cima da televi são" é acreditar que o livro que alguém está procuran do está em cima deste ou daquele aparelho de televisão; se não se crê que isso é verdadeiro e se se diz isso com o fim de distrair uma pessoa, então a dimensão locucio nária é reduzida a um mínimo ou inteiramente elimina da. Por isso, e ao contrário da maior parte dos filósofos, Austin tende a examinar a linguagem como "não descri tiva", e sua "doutrina" sobre o assunto foi freqüente mente chamada de "antidescritivismo". Em todo caso, Austin escreveu: "executar (perform) um ato locucioná rio é, digamos, em geral, executar eo ipso um ato ilocu cionário, como proponho chamá-lo" (How To Do Things With Words, 1 962, ed. J. O. Urmson, p. 98 (trad. br. : Quan do dizer é fazer, 1 990]). Os filósofos falharam, pois, ao tratar todos os problemas como problemas de "uso locucionário" (op. cit. , p. 1 00), incorrendo com isso na "falácia descritiva" (op. cit. , p. 3). Víctor Sánchez de Zavalla (Indagaciones praxioló gicas, 1 973, pp. 1 89- 1 90) propôs 'locutivo', ' inlocutivo' e 'perlocutivo' como tradução de locutionary, illocutio nary e perlocutionary. Usamos neste Dicionário os ter mos ' locucionário', ' ilocucionário' e 'perlocucionário' por já serem de uso corrente.
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LÓGICA. Sob este título podemos apresentar o conteú do da lógica - coisa que fazemos em alguns verbetes específicos deste Dicionário - ou podemos falar sobre a lógica como um estudo da linguagem lógica ou como o exame de distintas concepções da lógica. O estudo da linguagem lógica é o tema da metalógica (vER); neste verbete trataremos das distintas concepções da lógica. Antes de mais nada, três observações devem ser feitas: 1) No vocabulário filosófico foram empregados os te mos 'lógica' e 'logística' para designar, respectiva mente, a lógica até Boole ( 1 854) e Frege ( 1 879) e a lógica a partir destes autores. 'Logística' caiu em desu so; fala-se hoje simplesmente de "lógica". Conserva mos o termo ' logística' e lhe dedicamos um verbete específico para examinar algumas disputas sobre a relação entre lógica e "logística" somente por razões históricas, isto é, porque esse termo foi às vezes em pregado nessas disputas. De nosso ponto de vista, não é preciso distinguir uma lógica considerada "tra dicional" e a "lógica moderna'', a "logística", a "ló gica simbólica", a "álgebra da lógica" etc. O termo 'lógica' abarca todas as investigações lógicas formais. Na maior parte dos verbetes lógicos deste Dicionário, apresentamos os conceitos correspondentes tal como foram tratados tradicionalmente e tal como foram tratados pela "logística", pela "lógica simbólica", pela "lógica matemática" etc., conjuntamente; se houve di ferenças, foram diferenças de apresentação, e não ne cessariamente de conteúdo. 2) Além da lógica formal, especialmente da lógica for mal dedutiva, falou-se de outros tipos de lógica, como a "lógica dialética", a "lógica histórica", a "lógica concreta", a "lógica vital" etc. Essas "lógicas" são, a rigor, metafisicas, e em muitos casos esboços ontoló gicos ou programas de filosofia. Ao apresentar algu mas das "tendências da lógica'', nas seções I-XI, abor damos vários desses tipos de lógica. Nem sempre é claro se se trata de tipos de lógica, de tendências lógi cas, de idéias sobre a lógica ou, como sugerimos, de esquemas metafisicas, mas é preciso apresentá-los, já que um dos assuntos tratados neste verbete é o uso que se fez do termo 'lógica'. 3) O termo ' lógica' recebeu vários qualificativos. Já usa mos vários: 'tradicional ' , 'formal' , 'simbólica' etc. Alguns desses qualificativos são "sistemáticos" (como 'formal' , 'material ' , 'dedutiva' , 'indutiva' , ' intencio nal ' etc.); outros são "históricos" (como 'tradicional ' , 'moderna' , 'nova' etc.). O significado dos primeiros é tratado em vários verbetes do Dicionário (DEDU ÇÃO, INDUÇÃO etc.); para o significado dos segundos, oferecemos uma breve lista dos usos mais comuns. Lógica oriental é o nome dado aos trabalhos lógicos desenvolvidos sobretudo nos sistemas da filosofia india na (VER); por exemplo, na lógica Niaia (VER) posterior.
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Lógica ocidental é o nome recebido pelo conjunto do trabalho lógico do Ocidente (ou nas demais partes do globo que seguem a tradição ocidental) desde os gregos até hoje. Os qualificativos que se seguem referem-se todos a essa lógica. Lógica tradicional (às vezes também chamada de clássica e em alguns casos de velha) é o nome recebido por toda a lógica até Boole e Frege; às vezes por toda lógica que não segue as orientações da lógica formal simbólica, da lógica matemática ou da logística, qual quer que seja a época a que pertença; às vezes a lógica aristotélico-escolástica (seja na forma medieval, seja na neo-escolástica); às vezes a lógica produzida entre Aris tóteles (excluído) e a lógica escolástica medieval; às vezes toda a lógica antiga e medieval. Em vista da mul tiplicidade de sentidos que essa expressão possui, é con veniente limitá-la aos casos nos quais o contexto in dica sem dificuldade de que tipo de trabalho lógico se trata, ou então usá-la em um sentido conscientemente vago, sem pretender descrever uma orientação ou perío do lógicos determinados e referindo-se somente "ao que foi sendo feito usualmente na lógica do passado". Lógica antiga é o nome dado à lógica grega e hele nístico-romana desde os pré-socráticos até aproxima damente Boécio. Lógica grega designa o trabalho lógico desde os pré-socráticos até os comentadores gregos do Estagiri ta e estóicos. Lógica aristotélica é a lógica exposta no Organon e em algumas outras partes do Corpus aristotelicum. Constitui, por um lado, uma parte da lógica antiga; por outro, um elemento fundamental da lógica tradicional (no primeiro e no terceiro sentidos supracitados). Lógica estóica ou também estóico-megárica é a que foi desenvolvida principalmente por alguns megá ricos e estóicos, mas também elaborada por muitos autores da Antigüidade e da Idade Média. Lógica medieval é o nome que costuma receber a ló gica produzida entre Boécio e o século XV (incluídos). Lógica escolástica é, principalmente, a lógica de senvolvida por autores escolásticos durante os séculos XIII, XIV e XV. Lógica neo-escolástica é a que está contida nos tex tos de autores dessa tendência (principalmente neoto mistas) desde meados do século XIX até hoje. Também é comum denominá-la lógica aristotélico-escolástica. Lógica moderna é o nome recebido pela lógica de autores da época moderna (a partir do século XVI), incluindo a de autores renascentistas; às vezes, contudo, usa-se essa denominação para a lógica iniciada por Boo le e, sobretudo, por Frege. Nós nos ativemos freqüente mente a esse último uso. Lógica contemporânea às vezes designa o conjunto do trabalho lógico desde meados do século XIX, qual quer que seja a tendência à qual pertença; às vezes, o
LÓGICA trabalho lógico durante o século XX ou mesmo apenas o dos últimos anos; às vezes, unicamente o trabalho ló gico que segue as tendências de Boole e de Frege. Algumas vezes também foram usadas, como indi camos anteriormente, as expressões 'lógica simbólica' , ' lógica matemática' e , durante algum tempo, 'logísti ca', para designar a mencionada "lógica contemporâ nea". Em algumas ocasiões usou-se a expressão 'lógi ca nova' ou 'nova lógica' . Na lógica contemporânea faz-se a distinção entre vários campos, assim como entre várias tendências: standard e não standard, nor mal e desviada, lógicas polivalentes, lógica temporal etc. Tratamos desse ponto no final deste verbete. Além dos nomes mencionados foram usados, em certos períodos, outras expressões para designar um de terminado Corpus lógico. É conveniente recordar aqui a terminologia medieval. Resenharemos brevemente essa terminologia seguindo L. M. de Rijk (Logica mo dernorum, I [ 1 962], pp. 1 4- 1 6). Chamou-se de Logica vetus o Corpus lógico consti tuído pelas Categorias e pelo De interpretatione, de Aris tóteles; pelo lsagoge, de Porfirio; pelos comentários de Boécio aos três escritos mencionados e por alguns ou tros escritos lógicos de Boécio. Por volta de 1 200 acres centou-se a esse Corpus o De Sex Principiis atribuído a Gilberto Porretano. Além da expressão logica vetus usou-se a esse respeito a expressão ars vetus. Chamou-se de Logica nova, a partir das últimas décadas do século XII e especialmente a partir do século XIII, o Corpus lógico constituído pelos Analíticos, pelos Tópicos e pelàs Refutações sofisticas, de Aristóteles, que haviam sido ignorados durante parte do período medieval. Falou-se também de ars nova. Logica antiqua ou Logica antiquorum são nomes usa dos para designar conjuntamente a ars vetus e a ars nova. Usou-se logica moderna ou logica modernorum para designar os elementos da lógica medieval que não entravam na logica antiqua ou logica antiquorum. Con siderou-se como fundador da lógica moderna Pedro Hispano, com suas Summulae logicales. Embora esse autor não possa ser considerado como fundador dessa "lógica", é verdade que há nas Summulae certos ele mentos lógicos que, convenientemente elaborados, ori ginaram um Corpus propriamente chamado de logica moderna ou logica modernorum. Nós nos referimos a esses "novos elementos" infra. Como a lógica moder na foi elaborada em grande parte por autores nomina listas ou terministas, foi comum equiparar os moderni aos terministe. Esboçaremos agora a história da lógica, mas sem presupor que não houve "progresso" na lógica de Aris tóteles até Boole e Frege ou que houve, pelo contrário, um progresso contínuo na investigação lógica. Segundo BocheIÍ.ski, a história da lógica pode ser representada mediante uma curva sinusoidal, com três períodos de
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grande desenvolvimento: de Aristóteles ao estoicismo, a Idade Média nos séculos XII, XIII, XIV e parte do XV; a época contemporânea a partir de Boole ou Frege. Nos períodos intermediários ocorreram movimentos de retrocesso, em parte por simplificação excessiva, em parte por esquecimento da tradição. Certamente houve exceções nos períodos de "retrocesso", mas elas não modificam consideravelmente a imagem esboçada, pois mesmo a grande exceção da época moderna - Leib niz - permaneceu durante muito tempo sem influên cia apreciável. Feitas essas observações, passaremos, seguindo dentro do possível urna ordem cronológica, aos princi pais resultados obtidos na lógica (e disciplinas afins) e às idéias mais destacadas sustentadas na lógica por cada um dos grandes autores, tendências ou períodos. No que diz respeito à lógica oriental, nos limitare mos a indicar que em alguns aspectos ela não fica atrás da lógica cultivada em várias fases da história do Oci dente. Os recentes trabalhos sobre a história da lógica na Índia mostraram que houve nesse país notáveis inves tigações lógicas já desde os primeiros séculos de nossa era. Embora menos formal que a aristotélica e, é claro, que a estóica (ou estóico-rnegárica), a lógica oriental contém várias partes de notório interesse, tais corno ru dimentos de urna teoria dos abstratos relacionais, a defi nição dos números corno propriedades de classes e o uso de algo muito próximo a urna tabela de verdade para a negação alternativa. A lógica arcaica está embebida, corno observou E. W. Platzeck, na ontologia. Essa ontologia baseia-se na noção de logos (vER). Sendo este principalmente um "di zer", a lógica se apresenta corno urna forma de dizer ca paz de descrever (a essência de) certas estruturas do real. Com isso, o dizer lógico encontra-se, para esses pensa dores, estritamente correlacionado com a realidade. Essa correlação chega, em Parmênides, a suas últimas conse qüências: a realidade e o dizer lógico (o pensar) são urna e a mesma coisa. Essa ontologia subjacente na lógica arcaica persistiu, seja dito de passagem, em boa parte da tradição grega posterior (e, em ao menos urna dimensão, em toda a tradição racionalista do Ocidente). Ora, não se deve imaginar que a lógica arcaica consista apenas em urna ontologia ou em urna metafisica: o uso da lei de identidade por Parrnênides e sua posterior formulação mais explícita, em textos redigidos provavelmente por um dos membros da Escola de Eléia, fazem com que existam nesse período da lógica os dois elementos que sublinhamos desde o início: urna concepção determina da sobre a atividade lógica e sobre a relação entre leis lógicas e estruturas reais, e urna descoberta de certas leis lógicas ou rnetalógicas. A investigação lógica entre os sofistas revela urna forte tendência lingüística; a rigor, os sofistas desenvolve ram mais a semiótica, a retórica e, de modo geral, a filo-
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sofia da linguagem que a lógica. Esta última, em compen sação, foi impulsionada por Sócrates e Platão - pelo primeiro deles, com o desenvolvimento do processo de definição (VER); pelo segundo, com a teoria sobre a de finição, com a doutrina da divisão (VER) (na qual se funda a definição) e com a dialética (VER), por meio da qual, em seu entender, pode-se enunciar o que é. Discutiu-se muito sobre a efetiva contribuição de Platão para a lógica; enquanto alguns consideram que ela é nula (ou pernicio sa), outros a colocam à mesma altura, senão acima, da de Aristóteles. A opinião intermediária é a mais plausível; Platão confundiu em sua dialética muitos elementos di versos - retórica, metodologia, metafisica e lógica pro priamente dita -, mas as três doutrinas anteriormente mencionadas constituem um dos fundamentos da obra de Aristóteles. Essa obra é considerável. No Organon (VER) e espe ciarnente nos Analíticos (vER) aparece pela primeira vez na história do Ocidente um conjunto de investiga ções lógicas realizadas com plena maturidade. Além de urna doutrina silogística (ver SILOGISMO) muito completa e de vários trabalhos de lógica indutiva, encontramos em Aristóteles, com efeito, numerosas investigações de caráter semiótica, algumas de índole metalógica, várias teorias metodológicas, urna discussão de fôlego sobre os chamados princípios lógicos (ver CoNTRADIÇÃo; TER CEIRO EXCLUÍDO [PRJNCÍPIO DO]) e várias outras análises de noções lógicas fundamentais, como por exemplo a oposição [VER] e os predicáveis [vER] .) Durante muito tempo pensou-se até mesmo que a lógica aristotélica era simplesmente a lógica; testemunho disso é a famosa (e errônea) frase de Kant segundo a qual a lógica não havia dado desde Aristóteles nenhum passo para trás, tampouco nenhum adiante. Depois foi moda durante algum tempo considerar que a lógica de Aristóteles era ou uma manifestação particular de sua metafisica e de sua cosmologia, ou então um fragmento muito reduzido da lógica (tão reduzido que, segundo essa última opi nião, poderia ser reduzido a um fragmento da lógica quantificacional elementar). A verdade aqui também está em um ponto intermediário. Com efeito, além das leis silogísticas, encontramos em Aristóteles, embora apresentadas de forma pouco sistemática e segura, di versas leis da lógica da identidade, das classes e das relações. Quanto à concepção aristotélica sobre a lógica, há uma óbvia oscilação entre duas idéias. Por um lado, a lógica (ou, no vocabulário de Aristóteles, o "saber lógico", pois ' lógico ' foi usado pelo Estagirita somente como adjetivo) é concebida, enquanto órgão, como pro legômeno de toda investigação científica, filosófica ou simplesmente pertencente à linguagem comum. Por isso a lógica não é uma parte da filosofia; é, no máximo, o pórtico que permite passar para qualquer uma de suas partes (a teórica, a prática e a poética ou produtiva). Por outro lado, a lógica aparece como a análise dos princí-
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pios segundo os quais a realidade está articulada. Assim como o primado da definição e da dialética em Platão poderia ser considerado como a conseqüência do inte resse desse autor pelo "quê" das coisas, o primado do raciocínio (sobretudo silogístico) em Aristóteles poderia ser considerado como a conseqüência do interesse desse pensador pelo "porquê" das coisas. Não chegaremos tão longe, pois Aristóteles nem sempre parece ter confim dido a lógica com a ontologia, mas reconheceremos que em alguns casos a lógica de Aristóteles parece seguir o traçado de uma ontologia geral. Isso se manifesta em uma série de posições que podem ser resumidas do seguinte modo: a) a dialética proposta por Platão é, segundo Aristóteles, meramente crítica. Necessita-se de um método positivo de conhecimento que seja um verdadeiro instrumento; esse órgão compreende uma teoria dos enunciados, outra dos raciocínios e outra dos termos ou categorias. b) A lógica é instrumento para o pensar e supõe um pensamento (que não deve ser neces sariamente interpretado de um ponto de vista "psicolo gista"). c) O pensamento supõe uma realidade pensada, pois o pensar carece de espontaneidade e é apenas rela tivo. d) É necessário, em vista disso, desenvolver uma teoria do conceito (VER) como expressivo do ser "consti tutivo" do real. e) A lógica pode, desse modo, transfor mar-se em ciência dos princípios do que é. A lógica grega pós-aristotélica ocupou até relativa mente pouco tempo atrás um lugar reduzido nas histó rias da lógica, apesar dos testemunhos sobre ela nos his toriadores e críticos helenísticos e apesar das observa ções sobre o assunto de autores como Venn e Peirce. O abundante material histórico revelado por Prantl não havia sido, além disso, corretamente interpretado (nem sequer, e até mesmo sobretudo, pelo próprio compila dor). Os trabalhos de H. Scholz, de I. M. BochetÍ.ski, T. Czezowski, E. B. Beth, G. Capone-Braga, A. Krokie wicz, Albrecht Becker, E. Kapp, M. Hurst, J. Lukasiewicz, J. Salamucha, J. W. Stakelum, R. Chisholm, R. Feys, A. Virieux-Reymond, Ivo Thomas, G. Vailati, A. Rus tow, Benson Mates, K. Dürr, R. van den Driessche, Jo seph Clark, e de outros lógicos e historiadores da lógica, acrescentados às novas pesquisas filológicas e filoló gico-históricas de F. Solmsen e W. D. Ross, corrigiram a imagem habitual deste e de outros períodos da história da lógica. Foi determinante a pesquisa de Lukasiewicz, sobre a qual se basearam os sólidos e amplos trabalhos de I. M. BochetÍ.ski e de Benson Mates. Como resultado dessas investigações, já se pode afirmar com segurança a riqueza do pensamento lógico dessa época, ao que cabe acrescentar a preocupação por parte de muitos autores (por exemplo, céticos, epicuristas, empiristas da escola de Filodemo de Gadara) com problemas de caráter se miótico e até mesmo com questões metodológicas, fre qüentemente centradas nas formas de inferência cientí-
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fica. Aqui nos limitaremos a mencionar os aspectos fun damentais do trabalho realizado na lógica formal. Como observou Lukasiewicz, a lógica aristotélica é, principalmente, uma lógica dos termos, por isso a sua mais importante contribuição se encontra na lógica quan tificacional. A lógica dos megáricos e dos estóicos é, em compensação (principalmente), uma lógica das pro posições. As leis do cálculo proposicional, as regras de inferência desse cálculo, a correspondente distinção entre leis e regras (que no período aristotélico não havia sido formulada ou havia sido, no máximo, implicitamente su posta) constituem, pois, alguns dos mais destacados re sultados dessa lógica. Isso não significa, no entanto como alguns autores afirmaram precipitadamente -, que sejam duas tendências hostis. As relações entre essas duas contribuições são, com efeito, muito freqüentes. Já os discípulos de Aristóteles, Teofrasto e Eudemo, desen volveram os elementos expostos no Corpus aristotelicum (no caso de não terem sido, além disso, autores de uma parte do mesmo) em um sentido que os aproximou dos megárico-estóicos. Assim, da lógica formal aristotélica passou-se, por diversas gradações, a uma lógica forma lista; certos raciocínios que em Aristóteles aparecem co mo silogismos são entendidos pelos estóicos como regras de inferência válidas. Não importa que em muitos casos os estóicos concebessem a lógica como a parte da filoso fia destinada a apoiar a solidez de seus ideais éticos; a lei da heterogênese dos fins, segundo a qual o instrumen to pode se independizar de sua função, cumpre-se neles no terreno lógico. Além dos problemas lógicos, os estói cos esclareceram - como a maior parte dos pensadores da Antigüidade - questões semânticas; um exemplo disso pode ser encontrado em algumas formulações de paradoxos a que nos referimos no verbete PARADOXO. São muitos os autores do período pós-aristotélico que poderiam ser mencionados como importantes na história da lógica; temos, entre eles, Galeno, Porfirio - cuja Isagoge suscitou na Idade Média o problema dos universais (VER) e Alexandre de Afrodísia. A maior parte de suas contribuições foi examinada por Boécio. Os comentários deste último a Porfirio, às Cate gorias, aos Analíticos e aos Tópicos, de Aristóteles, seus livros sobre a definição e a divisão, seus tratados sobre os silogismos categóricos e hipotéticos constituíram a base para a maior parte dos estudos de lógica da Idade Média, e sua influência persistiu até mesmo após o século XIII, quando se passou a conhecer todo o Orga non aristotélico. Contudo, de Boécio até o século XIII a atividade na lógica não foi muito destacada. Em com pensação, do século XIII até o XIV houve, como indica mos anteriormente, um novo florescimento da lógica. Desde Abelardo manifestaram-se sinais de crescente in teresse por essa disciplina, mas a maior parte do traba lho lógico da Idade Média iniciou-se somente a partir de Alberto Magno, prosseguindo com Santo Tomás de -
LÓGICA Aquino e outros filósofos, até aqueles que cultivaram os estudos lógicos com mais empenho: Guilherme de Shyreswood, Lamberto de Auxerre, Walter Burleigh, Pedro Hispano, Guilherme de Ockham, J. Duns Scot, Alberto da Saxônia, João Buridan e outros. O inventário das contribuições da Idade Média à lógica ainda está em formação, mas já se sabe muito por meio das pesquisas de autores como J. Bendiek, A. Crombie, C. D. Frank, E. A. Moody, A. 8. Wolter, J. P. Mullally, assim como dos mencionados J. Lukasiewicz, 1. M. Bocheríski, J. Clark, 1. Thomas, K. Dürr, H. Scholz - para nos referir mos a apenas alguns autores que examinaram a histó ria da lógica medieval à luz das descobertas da moderna lógica simbólica. Como ocorre com a lógica antiga, já existem para a história da lógica medieval, além disso, alguns estudos básicos orientados pelo sentido exposto: os livros de E. A. Moody e de Ph. Boehner são provas disso. Indiquemos aqui apenas que, além do desenvol vimento dos problemas já tratados na lógica antiga e que, embora freqüentemente baseados no Organon, não se reduzem de modo algum a ele -, há na lógica medieval o que Boehner qualificou de novos elementos. Estes últimos são, no entender desse autor, os seguin tes: estudos sobre os termos sincategoremáticos, sobre as propriedades dos termos (entre eles os muitos impor tantes sobre a teoria das suposições), sobre os insolú veis, sobre a obrigação e sobre as conseqüências (ver sobretudo SINCATEGOREMÁTICO; PROPRIEDADES DOS TER MOS; SuPos1çÃo; INSOLUBILIA e CONSEQÜÊNCIA ) . Como se pode perceber por essa lista, além das questões meta lógicas e lógicas, são tratadas as questões semióticas. Em alguns casos, os sistemas de lógica apresentados foram muito completos (como em Pedro Hispano) ou possuidores de um elevado grau de formalismo (como em Walter Burleigh ou em Alberto da Saxônia). Em outros casos misturaram-se os trabalhos lógicos com as especulações de índole metafisica ou ontológica. A isso devem ser acrescentados os numerosos estudos de filosofia da linguagem, especialmente mediante a gra mática especulativa (VER). Quanto à idéia de lógica defendida pelos escolás ticos medievais (e depois pelos escolásticos modernos), esta dependeu em grande medida de pressupostos ex tralógicos. Alguns insistiram em que a lógica é uma scientia rectejudicandi, mas mesmo isto pode ser enten dido de dois modos: ou considerando o "julgar reta mente" como um processo que conduz ao conhecimento verdadeiro, ou concebendo-o como um processo que permite obter raciocínios corretos ou formalmente vá lidos. Na primeira interpretação atenua-se o formalis mo; na segunda, ele é acentuado. Outros declararam que o objectum forma/e da lógica é o ente de razão (VER) objetivo ou o ente de razão fundado na realidade (cum fundamento in re). Outros, por fim, declararam que os atos intelectuais manejados por regras lógicas não são
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entes de razão, mas em algum sentido entes reais. É muito comum entre os escolásticos fazer a distinção entre uma logica minor ou lógica formal e uma logica major ou ló gica material. Esta última costuma abarcar - sobretudo em tratados neo-escolásticos que adotaram essa divisão - muitas questões de caráter metodológico e crítico e alguns problemas metafisicas e ontológicos. Os estudos de lógica no sentido em que foram de senvolvidos durante o mencionado período de floresci mento medieval não foram totalmente perdidos na épo ca moderna. Autores escolásticos como Suárez e João de Santo Tomás não foram parcimoniosos na demons tração do que, segundo Bocheríski, caracteriza o espírito da lógica: a sutileza, em muitos pontos oposta à espe culação. Mostrou-se, ademais, que um autor como João de Santo Tomás compreendeu muito bem as exigências do formalismo lógico. Mas, de modo geral, não se pode considerar o período moderno até Boole como uma época de esplendor lógico; alguns até mesmo susten taram que se trata de um período particularmente deca dente. Esta última opinião é exagerada, pois embora, por exemplo, nem Descartes nem os outros grandes filósofos modernos (com a exceção de Leibniz) tenham se distinguido como lógicos formais, sua contribuição à história dessa disciplina não é completamente nula, ao menos de uma forma indireta (no terreno metodológico em Descartes, na esfera da semiótica em Hobbes etc.). O que ocorreu foi que muitos filósofos dessa época in teressaram-se menos pela lógica formal que pelo estudo dos métodos da ciência natural. A crítica em questão pode, pois, ser melhor aplicada ao Renascimento que à época moderna propriamente dita. Os autores renas centistas, de fato, com apenas algumas exceções como a de Pedro Ramus (além disso pouco original), limita ram-se a criticar o uso e abuso da silogística e das suti lezas semióticas nos autores escolásticos, confundindo freqüentemente dentro de um único grupo os lógicos e semióticos verdadeiramente criadores e rigorosos e aqueles que não fizeram senão introduzir refinamentos inúteis (ou falsos). Do final da Idade Média até Boole a história da lógica não apresenta uma linha clara. Já mencionamos alguns dos elementos que encontramos nela: persistên cia do trabalho lógico medieval; investigações científi co-metodológicas - o mais das vezes apenas remota mente relacionadas com a lógica propriamente dita -; crítica da tradição medieval freqüentemente sem tra zer mais que uma substituição da lógica pela retórica ou por uma vaga metodologia; análise de caráter semió tica. A estes elementos devemos acrescentar vários ou tros: desenvolvimento da idéia de lógica como uma "arte de pensar" ou uma "medicina do espírito" (tão caracte rística da Logique de Port-Royal, inspirada no cartesia nismo); tentativas de sistematização do conjunto da ló gica formal sem produzir, contudo, contribuições muito
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originais (como por exemplo J . Jungius e sua Logica Hamburgensis); esforços para desenvolver a lógica co mo um cálculo; tentativas de constituir uma lógica de terminada pela epistemologia ou sendo o fundamento da epistemologia. Agora trataremos particularmente des tas duas últimas tentativas: a primeira delas, por seu valor lógico formal; a segunda, pela grande influência que exerceu sobre a metodologia, a epistemologia e a onto logia modernas. A figura capital da primeira das citadas tentativas é Leibniz (que durante algum tempo foi considerado como o "fundador da logística"); todavia, outros nomes devem ser postos a seu lado: Jacques e Jean Bernoulli, G. Ploucquet, J. H. Lambert, G. F. Castillon e G. J. von Holland. Todos eles foram dominados pelo desejo que já tivera Llull, tão apreciado por Leibniz por sua Ars magna (vER) - de constituir uma characteristica uni versalis e um calculus ratiocinator que lhes servisse de instrumento. Devemos observar que as idéias formula das nem sempre eram muito claras: às vezes se preten dia, com efeito, desenvolver um cálculo lógico; às vezes se tratava de uma ciência universal análoga a uma meto dologia universal; em outras ocasiões insistia-se antes em uma passigrafia, pangrafia, gramática geral filosófi ca, linguagem universal (natural ou artificial), álgebra geral da linguagem, logistica speciosa (como a proposta por Viete ), "língua filosófica" (como as apresentadas pro Dalgarno, John Wilkins e outros) etc. Estas últimas tendências - que se estenderam especialmente durante os séculos XVII e XVIII - foram consideradas por al guns como uma continuação da gramática especulativa (vER) . Observemos que, no que diz respeito à semiótica, a época moderna contém povavelmente elementos mais ricos do que se suspeitava; além das tentativas mencio nadas, os trabalhos sobre o assunto de autores como Locke e, sobretudo, Condillac (e sua escola) merecem uma investigação cuidadosa. Comum a Leibniz e aos autores citados logo depois dele é ter baseado seus cálculos lógicos na intensidade (com exceção de von Holland). Os cálculos em questão são quase sempre, pois, cálculos de conceitos. Os traba lhos lógicos dos citados autores não se limitam, porém, a isso. Leibniz, particularmente, tocou muitos pontos de senvolvidos pela lógica simbólica posterior - por exem plo, a união da álgebra com os números -, mas seu fragmentarismo e em parte suas finalidades filosóficas gerais impediram-no de realizar um trabalho completo em qualquer das muitas vias iniciadas. Além disso, a idéia da formalização leibniziana da lógica estava estrei tamente vinculada à idéia de que os princípios lógicos são "invariantes para todos os mundos possíveis". Daí que as proposições lógicas fundamentais sejam para Leibniz ao mesmo tempo proposições ontológicas. O caso de Kant é distinto. A lógica - não podendo ser uma especificação das invariantes para todos os mun-
LÓGICA dos possíveis, nem tampouco ser dissolvida em um con junto de regras procedentes das leis psicológicas da as sociação - parece adotar em Kant um aspecto formal, afastado tanto da ontologia como da psicologia. Mas o termo ' formal' não possui em Kant um sentido estrita mente lógico. A forma dos pensamentos não é, em seu entender, sua "envoltura", mas algo que pertence a seu conteúdo. Mais ainda: os pensamentos são pensamen tos que uma consciência possui, mais que pensamentos de uma realidade. Em Aristóteles a realidade era refletida nos pensamentos, em Kant (e em muitos idealistas) a consciência reflete a realidade mediante eles. Assim se explica a concepção kantiana da lógica como "lógica transcendental", e sua idéia dessa lógica como uma disci plina que "determina a origem, a extensão e o valor ob jetivo dos conhecimentos", que só se ocupa das leis do entendimento e da razão, e que concerne apenas a "obje tos a priori", ao contrário da "lógica geral", que trata de "conhecimentos empíricos ou puros sem distinção algu ma". Disso resulta que: a) a lógica (transcendental) de pende da estrutura da consciência; b) a correspondência entre a camada lógico-formal e a transcendental não é casual, porque é possibilitada pela "unidade da consciên cia"; e) ao se aplicar ao real, a lógica torna-se uma ciência normativa; d) não basta dizer que se aceita a lógica como verdadeira, nem é legítimo assinalar que a verdade se deve a uma prévia e ignorada submissão da realidade ao pensamento lógico, mas é preciso ver de que modo a consciência representa o horizonte no âmbito do qual se dá a validade tlo pensar. Desse modo, a lógica é, para Kant, como para outros autores do passado, uma ciência que trata do ens rationis cum fundamento in re. Mas esse ens rationis é algo que a consciência transcendental possui como "constituindo-a". A dupla oposição kantia na ao "ontologismo" e ao "psicologismo" não conduz, pois, ao formalismo lógico; ela conduz a duas elabora ções da lógica, ambas pouco fecundas para a obtenção de resultados lógicos: por um lado, a uma lógica metafi sica, como a elaborada por Hegel, com uma teoria do conceito como intermediário entre o ser e o devir e com um método dialético que pretende desterrar a lei de con tradição; por outro, a uma lógica gnosiológica, de tendên cia fortemente normativa. A primeira elaboração é pró pria do idealismo alemão; a segunda, própria do neokan tismo marburguiano. Indicamos anteriormente que a lógica formal não experimentou um reflorescimento senão até Boole e, particularmente, Frege. Os trabalhos desses autores não careceram de precedentes imediatos: a obra de Hamil ton, de T. Solly e em particular de Augustus de Morgan (vER) , com sua tendência a desenvolver o cálculo lógico em extensão. Se considerarmos as tendências lógicas mais influentes durante a última metade do século XIX e durante o século XX, teremos de ampliar nosso quadro.
LÓGICA
I. Uma das tendências da lógica é a chamada lógica empírica (e às vezes, por sua principal preocupação, lógica da indução). Seu representante mais típico é John Stuart Mil!. Essa lógica supõe que os objetos são o re sultado de generalizações empíricas efetuadas sobre o real mediante o uso de uma abstração (VER) nominal. Essa lógica se converte cada vez mais, em boa parte, em uma metodologia do conhecimento científico. Além dessa lógica empírica em sentido tradicional manifestou-se recentemente uma idéia de lógica também concebida como "ciência experimental" (além de teórica). Essa ló gica - proposta por F. Gonseth - dedica-se a compro var leis de "fatos", no mesmo sentido em que a tisica se dedica a comprovar leis de fatos. O objeto dessa lógica não é um objeto determinado, mas "o objeto qualquer". Assim, a lógica é definida como "a tisica do objeto qual quer". Essa lógica é uma parte da ciência dialética geral esboçada pelos membros da Escola de Zurique (VER) , e, como ela, deve ser capaz de revisar continuamente os seus pressupostos. II. Outra tendência é a psicologista, representada por Beneke, Lipps, Baldwin, Ziehen e talvez Cornelius, entre outros. Os princípios lógicos são, de acordo com essa tendência, pensamentos, e a lógica nos revela a es trutura objetiva dos mesmos. A lógica psicologista é afim, em alguns aspectos, da empirista, mas enquanto para os empiristas a lógica responde à pergunta "Quais são as estruturas limitantes da realidade quando esta, concebida empiricamente, é submetida à abstração nominal?", para os psicologistas a lógica responde à pergunta "Como pensamos efetivamente a realidade na medida em que nosso pensar não seja um discorrer arbitrário?". III. Uma terceira tendência é a normativista. Consti tui uma das dimensões da idéia kantiana da lógica e foi defendida, entre outros autores, por Herbart e numerosos tratadistas do século XIX e início do XX (por exemplo, Goblot). De acordo com eles, a lógica responde à pergun ta "Como devemos pensar para que nosso pensamento seja correto?". IV À s citadas tendências, justapõe-se freqüente mente a metodológica. Representada, entre outros, por Wundt, Sigwart e alguns teóricos da ciência de orienta ção positivista "clássica", essa tendência lógica tem pre ferência pelos problemas de lógica indutiva em um sen tido semelhante ao dos empiristas do século XIX. Essa tendência constitui, no fundo, certa orientação rumo a um grupo de problemas centrados nos modos do raciocínio científico, por esse motivo ela não se apresenta quase nunca isoladamente, mas pode estar, e costuma estar, misturada com as demais tendências mencionadas. V Muito cultivada no final do século XIX e no iní cio do século XX foi a lógica gnosiológica, que deriva em parte de Kant e que teve como pressuposto funda mental o estudo da constituição lógica do plano transcen dental e a explicação a partir do mesmo da correspon-
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dência entre a realidade e as operações lógicas. A lógica gnosiológica é quase sempre um prolegômeno à teoria do conhecimento. Foi cultivada por vários dos autores citados (Wundt, Sigwart) e impulsionada por outros (Schuppe, von Kries), incluindo as grandes figuras da Escola de Marburgo, como Hennann Cohen. Este último chega a afirmar que é preciso começar com o "pensar" e que a lógica não é senão uma teoria do conhecimento. A lógica formal (e não digamos formalista) é, segundo Cohen, um "espectro". Em seu entender, não se podem dar formas que não signifiquem algo, e como o que é significado é o conhecimento, as formas da lógica são formas do conhecimento. Em outros termos, e dada a identidade entre o pensar e o ser, a lógica pode ser defi nida como "a teoria dos cónhecimentos puros". VI. Em sentido lato, podem ser qualificadas de me tafisicas todas as tendências lógicas nas quais há, explí cita ou implicitamente, uma ontologia subjacente, co mo, por exemplo, a citada lógica empirista. Em sentido estrito, em compensação, só merecem o nome de meta fisicas as lógicas para as quais o correlato das operações lógicas é uma realidade metafisica ou considerada como tal . Um exemplo desse tipo de lógica é a lógica dialéti ca (VER) de Hegel e as teorias lógicas desenvolvidas pro autores mais ou menos influenciados pelo hegelianis mo, tais como Bradley e Bosanquet. É típico dessas duas últimas lógicas (que são mais doutrinas sobre a lógica) o pressuposto de que, não havendo na Realidade Absoluta, ou Absoluto - objeto da metafisica -, ne nhuma separação entre o que é a coisa e aquilo que a coisa é, a lógica limita-se a traduzir o caráter "compac to" e sem poros da Realidade por meio de uma identifi cação do sujeito com o predicado, confirmando a tese da unidade absoluta do juízo. Também podem ser consideradas como "lógicas metafisicas" (e, na maior parte dos casos, como "doutri nas metafisicas sobre a lógica") algumas doutrinas nas quais o termo 'lógica' aparece adjetivado de formas dis tintas das "normais", isto é, quando usa adjetivos distin tos de 'formal', 'formalizado', 'formalístico', 'dedutivo', 'indutivo' etc. Como exemplos, mencionamos a "lógica concreta'', a "lógica histórica", a "lógica vital", a "lógica existencial" - propugnadas por vários autores. Mais especificamente, mencionamos como exemplos a "lógi ca arquitetônica", de Bornstein, a que nos referimos no verbete ARQUITETÔNICA; a "lógica total" ou "lógica tota lista" (ou "lógica filosófica'', de Jaspers [vER], a "totali tária") proposta por Othmar Spann e equivalente, segun do esse autor, a uma "lógica orgânica"; a "lógic;a inte gral'', de Leo Gabriel; a "lógica da simplicidade", de André Lamouche, destinada a ampliar o "âmbito da ló gica da identidade" por meio de uma série de valores; aquela que pode ser denominada "lógica plural" e tam bém "lógica da contradição'', de Stéphane Lupasco (vER) ; a "lógica do pensamento concreto", de Ortega y
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Gasset; a "lógica primitiva" ou "lógica do pensamento pré-lógico", de que falou Lévy-Bruhl (VER; ver também PRJMmvo) ; a "lógica do logos" (vER) ou "lógica do pen samento essencial", de Heidegger (VER), da qual a "lógi ca" em sentido estrito e a verdade lógico-formal em sentido usual são derivações "históricas" e em alguma medida "inferiores" diante do "Logos do Ser" etc. Pode-se perguntar se a "lógica dialética" desenvol vida pelo marxismo (VER) deve ser incluída ou não nesta seção como exemplo de uma "lógica não normal". Por um lado, não parece que ela deva ser incluída nesta se ção, já que é dificil qualificá-la de "lógica metafisica" em sentido estrito. Por outro lado, ela pode ser incluí da nesta seção porquanto se funda em última análise no método dialético hegeliano e por ser uma "doutrina sobre a lógica" mais que uma lógica propriamente dita. Uma característica de todas essas lógicas é que não cumprem com a condição estabelecida por Wittgenstein (cf. bibliografia: C, adfinem): "A lógica deve dar conta de si mesma" (Die Logik muss für sich selber sorgen ). Com efeito, nenhuma das lógicas em questão dá conta de si mesma; na verdade, elas sempre estão fundadas em algo distinto delas. Por esse motivo é legítimo colo car o problema de se as "lógicas" a que nos referimos nesta seção merecem efetivamente esse nome. Em um sentido estrito do termo 'lógica', tal como a descrevemos na seção XI deste verbete, nenhuma das "lógicas" mencionadas é propriamente uma lógica. Em um sentido mais amplo de ' lógica' , em contrapartida, algumas das doutrinas em questão podem continuar usan do o termo sem dar origem a equívocos. Isso ocorre, por exemplo, com a "lógica do pensamento concreto", que não é uma mera "lógica da vida" mas uma lógica - ou, até o presente, o postulado de uma lógica - diante da qual as demais lógicas - de qualquer período ou orienta ção - aparecem como "lógicas do pensamento abstra to", o qual é uma das formas possíveis de pensar e não todo o pensar. Algo análogo ocorre com o termo ' lógica' quando é usado em fórmulas tais como "a lógica deste ou daquele termo ou expressão". Pode-se falar então, co mo fizeram alguns pensadores da tendência chamada "lingüística" (especialmente a da Escola de Oxford [vER]), da "lógica do termo ' crer'", da "lógica do termo 'causar"' etc. VII. Há também a lógica na forma exposta nos tra tados neo-escolásticos. Na maior parte dos casos, ela se resume à lógica aristotélico-escolástica, misturada com algumas doutrinas metodológicas e normativistas forja das no século XX. VIII. Relacionada com a tradição escolástica, mani festou-se recentemente uma tendência a forjar uma lógi ca "baseada no realismo filosófico" (particularmente tal como foi defendido por John Wild). De acordo com Henry Veatch, principal representante desta tendência, a única lógica que merece verdadeiramente esse nome
LÓGICA é uma lógica que se encontra na direção da lógica tradi cional (aristotélica, escolástica, particularmente a dos grandes escolásticos da Idade Média e do século XVI) e que se contrapõe à lógica matemática moderna, pois esta não é o que deve ser toda autêntica lógica: intencio nal. A moderna lógica matemática desconhece, no en tender de Veatch, os signos formais, os entes de razão e a coordenação intencional das formas e estruturas ló gicas com o real - em vez disso, usa signos instrumen tais. Abordamos novamente a esse ponto no verbete LOGÍSTICA. IX. Uma lógica especial dificilmente redutível às outras aqui apresentadas é a lógica do potenciamento ou da potenciação (logica dei potenziamiento; abre viada: LP), elaborada por Annibale Pastore e seu cola borador Pietro Mosso. Para mais detalhes sobre essa lógica e as suas bases filosóficas ver o verbete PASTORE (ANNISALE). X. Alguma influência foi exercida pela lógicafeno menológica, que segue a linha de Bolzano-Husserl e que afirma, contra o psicologismo e contra o formalis mo extremo (sobretudo contra o convencionalismo) a independência e a consistência (vER) do que chamam de leis ideais. O objeto dessa lógica é, segundo os autores que a desenvolveram (Pfànder, por exemplo), o objeto ideal, que não pode ser reduzido nem a uma forma inteiramente vazia nem tampouco a uma essência de ín dole metafisica. O objeto ideal é o objeto pensado (não em sentido psicológico), isto é, o conteúdo intencional do pensamento. Daí a definição de Pfànder: a lógica é a ciência dos pensamentos como tais. A lógica abarca desse modo todos os pensamentos e não apenas os pen samentos enunciativos. "O seu objeto" - escreveu Pfânder - "é conhecer a essência dos pensamentos, seus últimos elementos, a estrutura, as diversas classes, as conexões e relações dos pensamentos entre si". Observemos, entretanto, que nem todos os autores ins pirados pela fenomenologia admitem essas definições. Alguns (como O. Becker) colaboraram - especialmen te na teoria modal - em uma lógica de tipo simbólico. O próprio Husserl, ainda, modificou consideravelmente suas idéias sobre a índole da lógica, passando do obje tivismo e antipsicologismo de tipo bolzaniano manifes tado em suas primeiras obras para a tentativa de constru ção de uma lógica transcendental e de uma Weltlogik de natureza, em úlrima análise, mais ontológica que lógica. XI. Reservamos para esta última seção o tratamento da lógica tal como é entendida e cultivada hoje. Geralmente se considera o início da história da ló gica atual com Boole, ao qual se deve o desenvolvimen to de uma álgebra das classes (ver CLASSE), assim como estudos de lógica probabilística. W. S. Jevons simplifi cou o sistema de Boole e se ocupou de máquinas lógicas (VER). Peirce elaborou detalhadamente muitos dos pro blemas da álgebra das classes, desenvolveu questões
LÓGICA relativas ao condicional e a outros conectivos, à proba bilidade e a vários temas lógicos similares; além disso, ocupou-se intensamente de problemas semi óticos e, so bretudo, elaborou a lógica das relações (ver RELAÇÃO). Hugh MacColl trabalhou na lógica da modalidade (VER). Ernst Schrõder apresentou uma primeira sistematiza ção ampla dos resultados anteriores, especialmente dos resultados obtidos na álgebra das classes de Boole por isso essa álgebra é usualmente denominada 'álge bra de Boole-Schrõder' . Ora, enquanto todos os traba lhos mencionados estavam sob a influência da matemá tica, e especialmente da aritmética, a ponto de se poder falar de um processo de matematização da lógica, Frege introduziu uma profunda re\'olução fundando a mate mática na lógica. Noções fundamentais como a defini ção de número ( vER) nos termos da lógica das classes, a edificação de uma lógica sentenciai e de uma lógica quantificacional, com a correspondente análise da quan tificação (ver QUANTIFICAÇÃO. QUANTIFICACIONAL, QUANTI FICADOR); a análise da designação (vER) e da significação ( vER) e a importante distinção entre a menção (vER) e o uso dos signos são algum:;s contribuições de Frege à fundamentação da matemát ; .:a, à lógica e à metalógica. Paralelamente, eram realiza los por vários matemáticos (Weierstrass, Dedekind, C ntor, Peano) trabalhos de grande importância na fui ' Jamentação da aritmética. Foi especialmente influente 1 sistema dedutivo, elabora do por Peano e pelos colah radores do Formulaire des Mathématiques, para a fi i 1damentação da aritmética com base em cinco axioma e três elementos primitivos: número, zero e sucessor. /' descoberta por Russell dos paradoxos lógicos (ver PAI d)OXO) na lógica quantifica cional de Frege forçou um 1-abalho de refundamentação da matemática. Esse trab: l ho culminou nos Principia Mathematica, de Whitehe:1d e Russell, uma das grandes balizas da história da log i , 1ica moderna. Rapidamente, vários aperfeiçoamento> ·; refinamentos foram intro duzidos no sistema dedut vo postulacional dos Princi pia; entre os autores que r'i zeram essas contribuições, merecem ser citados aqu os nomes de H. M. Sheffer, E. V. Huntington e J. Nicnd . Ganhou grande importância a teoria dos tipos em su· s diversas formas (ver Tiro); além de Russell, retenh� 1 ios nesse terreno os nomes de Leon Chwistek, F. P. Ra1 11 sey, Norbert Wiener e Kazi mierz Kuratowski. A e! i 1 . l r nação dos paradoxos lógicos foi tentada, também, pn 1 neio das teorias axiomáticas dos conjuntos (Zermeh J von Neumann, Paul Bernays, entre outros). Foi dete1 1r : nada a distinção entre os pa radoxos lógicos e os par 1doxos metalógicos (como os clássicos de "O mentiro .o" e os propostos por P. E. 8. Jourdain, L. Nelson, K . Grelling e outros autores); para a eliminação destes últimos, forjou-se a teoria da hierar quia das linguagens, com a noção da metalinguagem ( vER), já entrevista por Russell e desenvolvida por A. Tarski e R. Carnap. O uso dos novos conceitos lógicos
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influenciou muito o desenvolvimento das tendências filosóficas analíticas e lógico-positivistas, impulsiona das pelo Tractatus de Wittgenstein. As novas orientações logísticas foram estendidas por C. I. Lewis à lógica modal (ver MODALIDADE) e por E. L. Post e J. Lukasie wicz às lógicas polivalentes (ver PouvALENTE). Brouwer criou a sua lógica intuicionista (ver INTUICIONISMO) formalizada por A. Heyting - com base na chamada "debilitação dos princípios lógicos" (especialmente do princípio do terceiro excluído). Durante algum tempo, enfrentaram-se várias posições na filosofia da matemá tica: logicismo (Russell), intuicionismo (Brouwer), for malismo (Hilbert); tratamos disso no verbete MATEMÁ TICA. M. Schõnfinkel iniciou em 1 924 a chamada "lógi ca combinatória", que elimina as variáveis e usa funções tanto como argumentos como na qualidade de valores de outras funções. A "lógica combinatória" também foi elaborada e desenvolvida por Haskell 8. Curry (e depois por Robert Feys, em colaboração com Curry). Alonzo Church iniciou ao mesmo tempo a chamada "lógica lambda", em que a "operação À" realiza a abs tração, em uma função, de seu valor não especificado. A "lógica lambda" também contém combinadores; o chamado "cálculo de conversão lambda" é uma lógica combinatória cujas relações com a lógica combinató ria de Schõnfinkel-Curry foram salientadas por J. B. Rosser. Os métodos de dedução usados nos Principia Mathematica e durante muito tempo admitidos por todos os lógicos foram modificados por S. Jaskowski e G. Gentzen com seu "cálculo seqüencial" ou méto do de dedução natural (VER), muito difundido. O método das tabelas de verdade foi crescentemente substituído por outros métodos mais simples e, ao mesmo tempo, de maior alcance, como o das "tabelas semânticas", ou o "método de árvores", de que falamos no verbete sobre método de tabelas. Os trabalhos em metalógica, metamatemática e fun damentação da matemática contam com resultados im portantes. Além de Hilbert, Brouwer, Heyting e Gentzen, já citados, pode-se mencionar Gõdel, Lõwenheim, Sko lem, Herbrand, Cohen. Devemos acrescentar as contri buições de autores poloneses (Tarski, Lukasiewicz, Ld niewski, Ajdukiewicz, SobociIÍski e outros). Numerosos trabalhos importantes na lógica, e na filosofia da lógica, assim como na lógica indutiva, devem-se a Carnap, Qui ne, Hao Wang, Beth, Kleene, citando apenas alguns. O quadro atual da lógica é muito rico, não somente pelo número de trabalhos e resultados, mas também pelas áreas exploradas. Toda classificação de campos lógicos é prematura. Fala-se de lógica bivalente, às ve zes chamada de "clássica", lógica intuicionista e lógicas polivalentes, mas esse é apenas um primeiro esquema. O número de adjetivos, ou de especificações, que se se guem a 'lógica' é imenso; além da lógica bivalente, da polivalente e da intuicionista, fala-se de lógica modal
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- a rigor lógicas modais -, lógica cronológica o u tem poral, lógica probabilista, lógica erotética, lógica deôn tica, lógica da ação, lógica das preferências, lógica da mudança, lógica de imperativos, lógica epistêmica, lógica da crença, lógica da informação, lógica pressuposicional, lógica livre ou lógica com "furos" livres, lógica sem pres supostos existenciais, lógica do ambíguo, lógica da "re levância", lógicas desviadas etc. À s vezes se fala de ló gica "standard", ao contrário de "lógicas não-standard'', sendo estas últimas tratadas como "lógicas desviadas", com vários graus de "desvio" e até mesmo de "semi desvio". Algumas dessas lógicas estão mais ou menos subordinadas a outras, ou coordenadas com outras; isso ocorre com a lógica epistêmica e a lógica deôntica quando se apresentam dentro da lógica modal (das lógi cas modais). Foram realizados alguns esforços para ordenar e clas sificar os diversos tipos de lógica. Um deles é o de Susan Haack, que resumimos no verbete DESVIO, DESVIADO. Outro é o de Francisco Miró Quesada em "Las lógicas heterodoxas y el problema de la unidad de la lógica" (ver a bibliografia, infra). Segundo Miró Quesada, pode se sobretudo fazer a divisão entre lógica clássica e lógica heterodoxa. A lógica clássica usa uma linguagem formal, que é assertórica, e se atém aos três chamados "grandes princípios": de identidade, da não-contradição e do tercei ro excluído. Nesse sentido uma boa parte da lógica mate mática moderna é clássica. A lógica heterodoxa (ou lógi cas heterodoxas) é definível negativamente como uma lógica, ou algum tipo de lógica, que carece de algum dos três princípios indicados. Miró Quesada classifica as lógi cas heterodoxas em espécies, de acordo com seu grau de "heterodoxia". Há três espécies de lógica. A primeira espécie pode ser alolingüística (modal, temporal, infinita) ou anômica (paraconsistente, intuicionista). A segunda espécie de lógica pode ser tética (polivalente finita, po livalente infinita) ou atética (deôntica, ou normativa, im perativa, protimética, axiológica, crática, problêmica, ero temática etc.). A terceira espécie de lógica inclui a "lógica livre". Há, além disso, lógicas "quase heterodoxas'', co mo a lógica combinatória e a lógica parcial. "Muitas dessas lógicas" - escreveu Alfredo Deaiio - "se sobrepõem e se entrecruzam. Não é impossível que algumas delas cheguem a se integrar em um único sistema, ou se combinem para formar sistemas mistos: de fato, j á existem, por exemplo, lógicas modais poli valentes" (art. cit. na bibliografia, infra, p. 95). Deaiio também fala de lógica normal e de lógica matriz: a pri meira pode ser considerada como uma espécie de para digma, em um sentido mais ou menos similar ao de Kuhn, paradigma "do qual seria preciso partir, sej a para refiná-lo, seja para superá-lo assumindo-o como mani festação não totalmente bem-sucedida do desenvolvi mento dessa análise. As lógicas rivais em sentido global apareceriam então como tentativas de absorver a lógica
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central e as lógicas suplementares em um paradigma mais elevado de análise formal" (art. cit., p. 96). Quanto à lógica que Deaiio chama de "matriz" (por "importa ção, em outro âmbito, das concepções de Bourbaki acer ca da matemática"), o autor escreve: "A lógica clássica é matriz não apenas pelo fato óbvio de que foi em seu seio que ocorreu a gestação dessas outras lógicas, mas sobretudo porque elas reúnem sua herança - suas pre tensões analíticas - para fazer com ela mais e melho res coisas" (toe. cit. ). Tudo isso mostra que a disputa entre a chamada "lógica simbólica", "lógica matemática" etc. - chama da por nós mais freqüentemente de "lógica" -, por um lado, e a que é qualificada de "lógica tradicional", por outro, que resenhamos brevemente, por razões históri cas, no verbete que, por convenção, intitulamos "Lo gística", é uma disputa ainda mais arcaica do que pare cia. Propriamente falando, a "divisão" da lógica em "ló gicas" ou em tipos de lógica não expressa diferença en tre formas fundamentais de conceber a lógica, mas uma diversificação de campos para exploração. Como havíamos indicado, trataremos agora breve mente do que se deve entender por 'lógica', mas deve-se levar em conta que isto constitui uma simplificação e que seu propósito é meramente o de introduzir algumas no ções muito básicas, fundadas, além disso, nos aspectos mais elementares da lógica formal moderna "clássica". Como toda ciência, a lógica se apresenta na forma de uma linguagem. É uma linguagem formal, ao contrá rio das linguagens das ciências empíricas. Estas últimas contêm termos lógicos e expressões lógicas, particu larmente em sua fase de formalização, mas também contêm termos teóricos e termos observacionais. Um exemplo muito elementar pode tornar mais cla ro o caráter e a função de termos formais. Os enuncia dos 'Nenhum méson é estável ' e 'se se recebem do espa ço exterior sinais de rádio de 2 1 , 1 centímetros de longitu de de onda, então há átomos de hidrogênio no espaço ex terior' compõem-se de dois tipos de expressão. Em um desses tipos de expressão ocorrem termos como 'méson', 'estável' , 'espaço exterior', 'sinais de rádio de 2 1 , 1 centí metros de longitude de onda' etc., expressões que se refe rem a fatos. No outro tipo de expressão, temos termos como 'Nenhum . . . é ' , 'se . . . então' . Estes últimos formam parte do vocabulário lógico, no qual estão encaixados os enunciados científicos ou, em geral, enunciados cognos citivos. A lógica tem como objeto os termos do vocabulá rio lógico, que se organizam em certas estruturas. Quan do as estruturas em questão são verdadeiras independen temente dos termos não lógicos encaixados nelas, o resul tado são verdades lógicas. Diz-se por isso que um enun ciado é logicamente verdadeiro quando é verdadeiro apenas em virtude de sua estrutura ou forma. De acordo com os termos lógicos especificamente introduzidos em cada caso, temos diversas partes da
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lógica. Essas partes são: a lógica sentenciai, a quantifi cacional (elementar e superior), a da identidade, a das classes e a das relações. Nós nos referimos a elas mai s detalhadamente nos verbetes correspondentes (entre outros, SENTENÇA; QuANTIFICAçÃo, QUANTIFICACIONAL, QUANTIFICADOR; IDENTIDADE; CLASSE; RELAÇÃO). Na lógica usual estão contidos não apenas termos lógicos, estruturas lógicas e verdades lógicas, mas tam bém enunciados sobre eles. Esses enunciados fazem parte de uma disciplina: a metalógica (vER) . No entanto, embora os enunciados metalógicos estejam habitual mente inseridos na apresentação dos enunciados lógi cos, convém considerá-los separadamente e examinar os diversos problemas que eles suscitam. Sendo a meta lógica uma parte da semiótica geral, ou teoria geral dos signos - e, por conseguinte, sendo uma metalingua gem -, as questões por ela tratadas são de índole sintá tica, semântica e pragmática. Tratamos desses pontos mais detalhadamente nos verbetes correspondentes, nos quais, além disso, remetemos a conceitos nos quais são examinadas especificamente as diversas questões dos três ramos da metalógica. Tanto a lógica como a metalógica são disciplinas formais. O que às vezes foi chamado de lógica material (ou lógica maior) ou não é propriamente lógica (mas metodologia, crítica, gnosiologia etc.), ou pode ser equi parado à semiótica lógica; neste último caso, continua subsistindo seu formalismo. A lógica e a metalógica também são disciplinas de caráter dedutivo. O que às vezes foi chamado de lógica indutiva (para distingui la da lógica propriamente dedutiva) também usa a dedu ção como método. De todo modo, é plausível fazer a distinção entre lógica dedutiva e lógica indutiva sem pre que por cada uma dessas expressões se entenda mais o tratamento de certos grupos de problemas do que certas formas de operação lógica. Em ambos os casos, as lógicas em questão proporcionam uma análise de certos termos e de certas operações que constituem a base das ciências. Nesse sentido, com efeito, pode-se dizer que as linguagens lógicas são linguagens cognos citivas - outra questão é a de determinar se são infor mativas. Alguns autores declararam que toda a ló gica (e também a matemática) é composta por enunciados tau tológicos (ver TAUTOLOGIA) e que seu caráter de comple ta certeza deve-se justamente à "vacuidade" desses enun ciados; outros declararam que a lógica informa sobre a realidade. Não tomaremos parte nessa discussão aqui (ver LóGICA E REALIDADE); declaremos apenas que em nenhum desses casos o qualificativo 'cognoscitivo' deixa de ter sentido, pois mesmo supondo que a lógica não diga nada sobre a realidade, é preciso admitir que nada pode ser enunciado sobre a realidade sem que se encon tre em sua base o vocabulário lógico. Para não sobrecarregar esta bibliografia reservamos para o verbete LOGÍSTICA (e verbetes nela indicados) a
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menção dos principais trabalhos correspondentes às in vestigações lógicas mencionadas na seção X. Excetua mos, porém, os estudos de história da lógica em geral (incluindo, portanto, os de história da logística), que fi guram abaixo. Esta bibliografia será organizada em qua tro partes: (A) obras sobre o objeto da lógica, (B) expo sições gerais da lógica (exceto "logística"), (C) obras sobre alguns dos tipos especiais de lógica citados no verbete, (D) história da lógica. Esta última compreende rá as seguintes subdivisões: (a) lógica oriental, (b) lógica ocidental em geral, (c) lógica antiga, (d) lógica medie val, (e) lógica moderna e contemporânea. É preciso le var em conta que as questões tratadas nas obras mencio nadas em (A) também são objeto de muitos escritos re feridos em (B) e de grande parte das obras citadas em LOGÍSTICA, e ainda que, no que diz respeito à lógica de autores específicos, as referências devem ser comple mentadas com as bibliografias dos verbetes a eles dedi cados. Para lógica indutiva, ver as bibliografias de CoN FIRMAÇÃo; INDUÇÃO; PROBABILIDADE. :> (A) M. Honecker, Logik. Eine Systematik der logis chen Probleme, 1 927. - A . Gómez Izquierdo, Análisis dei pensamiento lógico, 2 vais., 1 928- 1 942 (!. El con cepto y la palabra; La definición y la división; II. El raciocinio y la explicación). - E. Husserl, Forma/e und transzendentale Logik, 1 929. - A. Reymond, Les principes de la logique et la critique contemporaine, 1 932. - F. Gonseth, Qu 'est-ce que la logique?, 1 937. - Ch. Serrus, Essai sur la signification de la logique, 1 939. - A. P. U shenko, The Problems ofLogic, 1 94 1 . - M . R . Cohen, A Preface to Logic, 1 944. - M . Black, Criticai Thinking, 1 946. - J. Cavailles, Sur la logique et la théorie de la science, 1 94 7, ed. G. Canguilhem e Ch. Ehresmann. - F. Enriques, Problemas de la lógica, 1 947. - G. H. von Wright, Form and Content in Logic. An Inaugural Lecture, 1 949; reimp. no volume do autor: Logical Studies, 1 957. - A. Sinclair, The Conditions ofKnowledge, 1 95 1 (o autor propõe reduzir as proposi ções lógicas a "atitudes", sustentando com isso uma espécie de "behaviorismo lógico"). - José Ferrater Mora, Qué es la lógica, 1 957; 2ª ed., 1 960. - Walter Brõcker, Forma/e, transzendentale und spekulative Logik, 1 962. - W. Yourgrau, A. D. Breck, eds., Physics, Logic, and History, 1 970. - H. De Long, A Profile of Mathematical Logic, 1 970. - S. Haack, Philosophy ofLogics, 1 978. - A. Deaiío, Las concepciones de la lógica, 1 980. - D. van Dalen, Logic and Structure, 1 980. - M. A. Quintanilla, Fundamentos de lógica y teoría de la ciencia, 1 98 1 . - T. M. Seebohm, Philo sophie der Logik, 1 984, ed. E. Strõker e W. Weiland [tomo V de Handbuch der Philosophie] . - P. Stekeler Weithofer, Grundprobleme der Logik. Elemente einer Kritik derformalen Vernunft, 1 986. Para a relação entre lógica e psicologia, ver Ps1co LOGISMO.
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(B) Iniciamos esta lista como as obras publicadas após a morte de Hegel ( 1 83 1 ): F. E. Beneke, Lehrbuch der Logik ais Kunstlehre des Denkens, 1 832, e System der Logik ais Kunstlehre des Denkens, 1 842. - B. Bolzano, Wissenschaftslehre, 4 vols., 1 837; reed. por A. Hõfler, 1 9 1 2 . - J. S. Mill, A System of Logic, Ratiocinative and Inductive, Being a Connected View of the Princi pies and the Methods ofScientific Investigation, 2 vols., 1 843. - F. Uebeiweg, System der Logik und Geschichte ihrer Lehren, 1 857; 5ª ed., por J. B. Meyer, 1 882. Ch. Sigwart, Logik, 2 vols., 1 873; 5ª ed., por H. Maier, 1 924. - W Schuppe, Erkenntnistheoretische Logik, 1 878. - W. Wundt, Logik, 1 880- 1 883. - L. Liard, Logique, 1 884. - Th. G. Masaryk, Grundzüge einer konkreten Logik, 1 885. - B. Bosanquet, Logic, or the Morpholo gy ofKnowledge, 2 vols., 1 88 8 . - T. Pesch, Institutio nes logicales, 1 889. - A esta obra devem ser acrescen tadas outras, também de inspiração neo-escolástica, as sim como as partes sobre lógica nos manuais de filoso fia neo-escolástica e neotomista aos quais nos referi mos nos verbetes NEO-ESCOLASTICISMO e NEOTOMISMO. Foi muito lida na tendência neotomista a Petite Logique ( 1 923), de J. Maritain (tomo II: L'ordre des concepts, de seus Éléments de philosophie). Também: J. Frõbes, Tractatus logicaeforma/is, 1 940. - B. Erdmann, Logik, 1, 1 892; 3ª ed., rev., ed. Erich Becher, 1 923. - Th. Lipps, Grundzüge der Logik, 1 893. - Otto Willmann, Philo sophische Propiideutik, 3 partes, I e II, 1 90 1 - 1 904, 1 9 1 21 9 1 3 ; III, 1 9 1 4 [parte sobre a lógica] . - H. Cohen, Logik des reinen Erkennens, 1 902 (as referências a esse autor no texto do verbete procedem da mencionada obra: Einleitung, III, 2, 4 e 6). - B. Croce, Logica come scienza dei conceito puro, 1 905 (parte 1 da Filosofia dello Spirito ) . - J. M. Baldwin, Thought and Things, or Genetic Logic (!. Functional Logic, or Genetic Theo ry of Knowledge, 1 906; II. Experimental Logic, or Ge netic Theory of Thought, 1 908; III. Interest and Art, 1 9 1 1 ) . - J. Geyser, Grundlagen der Logik und Erkennt nislehre, 1 909. - F. C. Schiller, Formal Logic, 1 9 1 2 . - Von Kries, Logik, 1 9 1 6. E. Goblot, Traité de logi que, 1 9 1 8 . - K. J. Grau, Grundriss der Logik, 1 9 1 8; 3' ed., 1 929. Th. Ziehen, Lehrbuch der Logik aufpo sitivistischer Grundlage, mil Berücksichtigung der Ges chichte der Logik, 1 920. A. Hõfler, Logik, 1 922. N. Lossky, logika, 2 vols., 1 923. - W. E. Johnson, Logic, 1, 1 92 1 ; II, 1 922; III, 1 924. - A. Pfànder, "Lo gik", Jahrbuch for Philosophie undphiinomenologische Forschung, 4 ( 1 92 1 ); também em separata: Logik, 1 92 1 . - J. Dewey, Logic, the The01y ofInquiry, 1 938. - R. Romero, E. Pucciarelli, Lógica, 1 938; 1 7ª ed., 1 96 1 . H. W. B. Joseph, An Introduction to Logic, 1 940 (2ª ed., muito revisada e ampliada, da obra do mesmo título, de 1 906). - P. Hãberlin, Logik im Grundriss, 1 947. - Fran cis H. Parker e Henry B. Veatch, Logic as a Human Ins-
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A referência a Wittgenstein procede de Notebooks 1 914-1916, 1 96 1 , ed. G. H. von Wright e G. E. M. Anscombe, p. 2 (cf. também Tractatus, 5 .473). (D) (a) S. Ch. Vidyabhusana, A History of lndian Logic, 1 92 1 . - A. B. Keith, lndian Logic andAtomism, 1 92 1 . - H. N. Randle, Indian Logic in the Early Schools, 1 930. - 1. M. Boche rí ski, Forma/e Logik, 1 956; 2ª ed., 1 962 [ 1 ª parte sobre a lógica indiana) . - S. S . Barlin gay, A Modern lntroduction to lndian Logic, 1 965 . Dhirendra Sharma, The Differentiation Theory ofMea ning in lndian Logic, 1 969. - S. Ch. Vidyabhusana, History ofthe Mediaeval School oflndian Logic, 1 909. - St. Schayer, "Studien zur indischen Logik", I ("Der indische und der aristotelische Syllogismus"), Bulletin lnternational de l 'Académie Polonaise des Sciences et des Lettres, Classe de Philologie, Classe d'Histoire et de Philosophie ( 1 932), 98- 1 02; II ("Altindische Antizipa tionen der Aussagenlogik"), ibid. ( 1 933 ), 90-96. - !d. , "Ueber die Methode der Nyaya-Forschung", Festschrift M. Winternitz, 1 933, pp. 247-257. - D. H. H. Ingalls, Materiaisfor the Study ofNavyanyaya Logic, 1 95 1 . S. Sugiura, Hindu Logic as preserved in China andlapan, 1 900. - Th. Stcherbatsky, Buddhist Logic, 2 vols., 1 930, 1 932; reimp., 2 vols., 1 958. - D. C. Chatterji, "Sources ofBuddhist Logic (From the Traditional Point ofView"), lndian Historical Quarterly, 9 ( 1 933), 499-502. - G. Tucci, "Buddhist Logic before" (DinnagaAsanga, Vasu bandhu, Tarkasastras ) , Journa/ of the Royal Asiatic So ciety ( 1 929), 45 1 -488, 870-877. - E. Frauwallner, "Dignaga undAnderes", Festschrift M. Winternitz, 1 933, pp. 23 7-242 . - M. Dambuyant, "La dialectique boud dhique", Revue phi/osophique de la France et de / 'Étran ger, 74 ( 1 949), 7-9-307-3 1 8 . - B. Matilal, R. D. Evans, eds., Buddhist Logic and Epistemology: Studies in the Buddhist Analysis of lnjerence and Language, 1 986. - H. Matsuo, The Logic ol Unity: The Discovery of Zero and Emptiness in Prajnaparamita Thought, 1 987. (b) K. Prantl, Geschichte der Logik im Altertum, 1 85 5 ; 1 1 , III, IV. Die Logik im Mitte/a/ter, 1 86 1 - 1 870 (2ª ed. do t. II, 1 885; reimp. da obra completa, 1 955). Essa obra, embora criticada por vários historiadores, por causa das freqüentes, errôneas e precipitadas inter pretações do autor, ainda constitui a mais importante fonte de materiais para a história da lógica ocidental até o final da Idade Média. - F. Ueberweg, op. cit. na seção (B), parte histórica. - R. Adamson, A Short History ofLogic, 1 9 1 1 ; 2ª ed., 1 962. - Th. Ziehen, op. cit. na seção (B), parte histórica. - Federico Enriques, Per la storia dei/a logica, 1 922. - J. B. Riefert, Logik, eine Kritik an der Geschichte ihrer ldee, 1 925 (Lehr buch der Phi/osophie, ed. M. Dessoir). - H. Scholz, Geschichte der Logik, 1 93 1 ; reimp.: Abriss der Geschi chte der Logik, 1 959; 3ª ed., 1 966. - J. Jorgensen, A Treatise of Formal Logic, 3 vols., 1 93 1 , vol . 1. - 1. M. Boche rí ski, Historia Logicae Forma/is. A d usum
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LÓGICA
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LÓGICA
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LOVEJOY, A[RTHUR] O[NCKEN]
de Baltimore (de 1 9 1 0 à sua aposentadoria, em 1 938). Em 1 923, fundou o "History of ldeas Club" e, em 1 940, con tribuiu para a fundação de Journal ofthe History ofIdeas. Lovejoy é conhecido sobretudo por seus trabalhos no campo da história das idéias e por suas reflexões sobre a natureza dessa história, às quais nos referimos em outro verbete (ver IDÉIAS [HISTÓRIA DAS]. Do ponto de vista sistemático aderiu, com outros filósofos, ao movimento de renovação do realismo que mencionamos no verbete NEo-REALISMO. Sua posição filosófica central é melhor caracterizada, contudo, pelos nomes "plura lismo" e "temporalismo". Este último, em particular, designa com bastante exatidão a atitude filosófica de Lovejoy. De fato, este autor se opôs ao idealismo, espe cialmente ao idealismo "organológico e totalista" de acordo com o qual o fundamentalmente real é eterno, sendo o temporal, na melhor das hipóteses, uma mani festação, e como tal subordinada, do eterno. O tempo ralismo, em contrapartida, ainda que não negue a possi bilidade de certos "obj etos eternos" nem afirme neces sariamente que tudo é temporal, "insiste que tudo o que é empiricamente temporal é de um modo irreparável". A temporalidade de referência é não só uma qualidade fundamental dos fatos empíricos como também do conhecimento destes. A mesma apreensão do necessá rio se dá no âmbito de processos empíricos temporais. A teoria do conhecimento de Lovejoy, ao mesmo tempo realista e temporalista, está centrada na noção de apreensão intencional de todo objeto. Portanto, é hostil à "ingenuidade epistemológica" na qual caíram algumas das têndências neo-realistas. Pode-se dizer que Lovejoy adota na teoria do conhecimento uma posição a meio caminho do idealismo "eternista" e o realismo radical e que, na metafisica, segue uma posição interme diária entre o monismo absoluto e um descontinuísmo absoluto. A temporalidade de que fala Lovejoy tem primor dialmente caráter histórico. Isso o leva a inclinar-se a uma espécie de historicismo (se bem que se um tipo hostil a todo relativismo). De todo modo, a insistência no temporal histórico na metafisica e na teoria do co nhecimento de Lovejoy está de acordo com seu constan te interesse pelos estudos de história das idéias a que nos referimos no princípio deste verbete. :> Obras: The RevoltAgainst Dualism: An Inquiry Con cerning the Existence ofJdeas, 1 930. - The Great Chain ofBeing: A Study ofthe History ofan ldea, 1 936. Essays in the History of Jdeas, 1 948. - The Reason, the Un derstanding, the Time, 1 96 1 . - Reflections on Human Nature, 1 96 1 . - The Thirteen Pragmatisms, and Other Essays, 1 963. - Em alguns desses volumes (principal mente em Essays in the History ofJdeas e em The Thir teen Pragmatisms), estão reunidos artigos publicados por Lovejoy em revistas como Journal ofPhilosophy ( 1 908, 1 9 1 1 , 1 9 1 3 , 1 922, 1 924), Philosophica! Review ( 1 922),
LÕWENHEIM, LEOPOLD
Philosophy ( 1 927) e Journal ofthe History ofldeas. Em colaboração com George Boas, Lovejoy publicou: Primitivism and Related Ideas in Antiquity, 1 930, volu me I de A Documentary History of Primitivism and Related Ideas. Devem-se também a L. vários livros não propriamente filosóficos: On A ll Fronts, 1 94 1 . Our Side is Right, 1 942, A World in the Making, 1 945 . Depoimento no artigo "A Temporalistic Realism", no volume Contemporary American Philosophy, vol. II, ed. G. P. Adams e W P. Montague, 1 930, pp. 85- 1 05 . Bibliografia: Frank N . Trager, nas pp. 3 39-344 de Essays in the History of Ideas, 1 948, continuada por J. Collinson em reed. ( 1 960) do mesmo livro, pp. 358-366. Lewis S. Feuer, "A. O. L.", American Scholar, nº 46, 1 97 1 , pp. 358-366. D. J. Wilson, A . O. l. : An Annotated Bibliography, 1 982. Ver: Maurice H. Mandelbaum, "A. O. L. and the Theory of Historiography", Journal of the History of Ideas, nº 9, 1 948, pp. 4 1 2-423. J. H. Randall, Jr. , Phi lip, P. Wiener et ai. , "A Symposium in Memory of A. O. L.", Philosophy and Phenomenological Research, nº 23, 1 962- 1 963, pp. 475-537. D. J. Wilson, A. O. L. and the Quest for Intelligibility, 1 980. Edição de obras: entre as edições do poema de Lu crécio (algumas com traduções e todas com comentários) mencionamos as seguintes: J. Bernays ( 1 866); H. A. J. Munro (3 vols, 1 866, reimp. do vol. II com um ensaio de Andrade, 1 928); C. Giussani (5 vols., 1 896- 1 898); W. A. Merril ( 1 906); H. Diels (2 vols., 1 923- 1 924); A. Er nout e L. Robin (3 vols., 1 925- 1 928); T. Jackson ( 1 929); A. E. Leonard e G. B. Smith ( 1 942); C. Bailey (3 vols., 1 947). De la naturaleza de las cosas, texto latino e trad. esp. de Lisandro Alvarado, com estudo preliminar de A. J, Capelletti, 1 982. 1ndex Lucretianus, por J. Paulson, 1 9 1 1 ; 2ª ed., 1 926. Bibliografia: C. A. Gordon, A Bibliography ofLu cretius, 1 962. - R. Román Alcalá, "Boletín bibliográ fico sobre el De rerum natura de L. ( 1 936/7- 1 982", em /'J. O K O I . Anuario de historia de lafilosofía, nº 1 , 1 983. - A Bibliography of Lucretius, 1 985, introd. e notas por E. J. Kenney. Ver: C. Martha, Le poeme de Lucrece, 1 869. - J. Masson, The Atomic Theo1y ofLucretius, 1 884. !d., Lu cretius: Epicurean and Poet, 2 vols., 1 908- 1 909. - H. Diels, Lukrezstudien (en Sitzb. der Preus. Ak. der Wiss. , XX, XXI, XXII, 1 9 1 8- 1 9 1 9). - O. Regenbogen, Lukrez, sein Gestalt in seinem Gedicht, 1 932. - M. Rozelaaer, Lukrez, Versuch einer Deutung, 1 934. P. Vallette, La doctrine de l 'âme chez Lucrece: exame de quelques pas sages du De Rerum Natura, livre 111, 1 934. - G. P. Hadz sits, Lucretius and his 1nfluence, 1 935. - A. P. Sinker, 1ntroduction to Lucretius, 1 937. - A. Ernout, Lucrece, 1 948. - J. Bayet, Études lucrétiennes, I, 1 948. - E. Valentí, Lucrecio, 1 949. P. Martini, La religione di Lu crecio, 1 954. - Pierre Boyancé, Lucrece et l 'épicurisme, 1 963. - A. D. 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MARAUDE, LÉ ONARD. Ver LIBERTINOS. MARBURGO (ESCOLA DE). No âmbito do neokan tismo (VER) , a chamada "Escola de Marburgo" represen tou a tendência mais racionaista, conceptualista, obje tivista e até cientificista, entendendo-se por esta últi ma característica a orientação para as ciências da Natu-
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reza e, e m particular, para o modelo d a física ma temática. O que a Escola de Marburgo tem em comum com a maioria das linhas neokantianas é o pressuposto de que a única justificação legítima do saber filosófico consiste em não permitir que se dissolva ou numa intui ção romântica do real ou nas conceptualizações próprias das ciências particulares. A primeira é energicamente rejeitada; quanto às outras, têm de ser justificadas. Ora, essa justificação das conceptualizações das ciências é possível unicamente, segundo a citada Escola, por meio de uma análise das condições do conhecimento tal como a que foi estabelecida por Kant. Entretanto, se propor ciona o ponto de partida, Kant não oferece, em compen sação, todo o pensar filosófico. Ao contrário, o neo kantismo da Escola de Marburgo equivale em grande parte a uma deliberada superação do kantismo. Este dei xara na imprecisão vários pontos capitais. Em primeiro lugar, a possibilidade de uma coisa em si que afetasse em última análise nossas impressões. Ora, o método transcendental levado às suas últimas conseqüências tem de rejeitar forçosamente toda coisa em si e fechar, por tanto, a passagem a qualquer "filosofia da fé" possível. Daí que a filosofia não seja propriamente um conheci mento peculiar, mas um método, um exercício analítico das condições lógicas tanto da vontade como do conheci mento. A Escola de Marburgo elaborou sobretudo este último aspecto. Sendo o entendimento uma atividade sin tética, todo conhecimento do conteúdo "real" é elimina do. Mas o mesmo ocorre com o conhecimento das "es sências", não só no sentido do realismo tradicional mas inclusive no sentido da fenomenologia. Se se admite o dado, não se admitirá, em todo caso, como algo posto, mas como algo pro-posto ao entendimento, que sinteti zará o real por meio de uma atividade essencialmente construtiva. No entanto, esta "construção" não deve ser entendida como uma produção do próprio obj eto, mas de suas condições cognoscitivas. O certo é que, dentro da própria Escola, se mostrava difícil manter a reflexão no nível citado. Mesmo o próprio Hermann Cohen che gava, mediante uma rigorosa ênfase no método trans cendental e no idealismo gnosiológico, a um objetivis mo radical que permitia, segundo os casos, ou um cons trutivismo ao estilo fichtiano ou um obj etivismo sus cetível de transformar-se numa nova forma de realismo. Contudo, a caracteristica central da Escola de Marburgo consiste em fugir de ambas as possibilidades para man ter.-se no centro de uma consideração lógico-analítica e, sobretudo, lógico-gnosiológica que tem como mate rial principal os dados fornecidos pelas ciências físico matemáticas e que procura, a partir delas, mostrar os fundamentos de sua obj etividade e de sua verdade da dos por meio da trama do juízo. A importância atribuí da na Escola à teoria relacional dos conceitos e à dou trina das categorias aponta para a mesma direção. Não é de admirar, por conseguinte, que em muitos pontos a
MARBURGO (ESCOLA DE) Escola desembocasse ou num puro formalismo ou no que se denominou o idealismo lógico. O primeiro ma nifesta-se com clareza quando se atende não apenas ao exame da razão pura mas também, e especialmente, ao da razão prática, à análise da vontade pura. O segundo transparece sobretudo quando se consideram as análi ses gnosiológicas dos conteúdos científicos e do dado em geral como proposto ao entendimento. Embora usassem uma linguagem análoga, os mem bros da Escola de Marburgo opunham-se aos da Escola de Baden (VER) , que censurava à anterior seu natura lismo cientificista, seu racionalismo extremo e a inter pretação unilateral do pensamento kantiano. Ora, os fi lósofos de Marburgo esforçaram-se no sentido de evitar um dogmatismo excessivo; por isso, mais do que uma comunidade fechada, a Escola foi um centro de irradia ção da atividade filosófica de seu fundador, Hermann Cohen, baseada no respeito pelo espírito infundido por Kant à investigação filosófica. O predomínio que ela manteve na Alemanha desde o início do século até 1 9 14, aproximadamente, desapareceu ou atenuou-se em virtu de do triunfo da fenomenologia, das diversas linhas da filosofia da vida e da renovação do positivismo. Mas também suas próprias tendências internas, que a leva ram a aproximar-se em parte do neofichtianismo e em parte do neo-hegelianismo, contribuíram para o desapa recimento gradual da Escola como tal e, ao mesmo tem po, para a incorporação de vários de seus representantes a orientações diferentes, assim como à elaboração por parte de alguns deles de sistemas mais amplos, pelo menos não confinados ao quadro de uma metodologia transcendental e de um idealismo gnosiológico de índo le panlogista. Assim, por exemplo, Paul Natorp ainda mantinha pontos de vista que dificilmente poderiam ser considerados demasiado afastados dos quadros citados. Mas já Ernst Cassirer chegou a conservar, simplesmen te, o idealismo como último elo de uma grande tradição que teve início com Platão e cujos representantes mais significativos, na época moderna, foram Descartes, Leibniz e, obviamente, Kant. O crescente interesse de Ernst Cassirer pelas ciências do espírito, depois de ter pesquisado os pressupostos das ciências naturais, con tribuiu bastante para essa ampliação das bases da Esco la. A ela pertenceu também Rudolf Stammler. Alguns, como Franz Staudinger ( 1 849- 1 92 1 ) e Karl Vorlãnder ( 1 860- 1 928), procuraram aproximar o método crítico do marxismo, de acordo com as tendências "sociais" que se manifestaram em Natorp e de acordo com o tipo de "reli giosidade social" defendido pelo próprio Cohen. Albert Gõrland (VER) trabalhou especialmente no campo da fi losofia moral e na investigação do problema da hipótese. Também Walther K.inkel (nascido em 1 87 1 ) pode ser con siderado um dos adeptos da Escola. O mesmo ocorre, embora em menor proporção, com outros pensadores. Assim, Kurd Lasswitz (vER) propôs-se elaborar um sis-
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MARC-WOGAU, KONRAD tema geral de categorias para todas as esferas da cultu ra, baseando-se na unidade da consciência entendida como razão. Assim também Nicolai Hartmann, que não tardou, entretanto - em especial por sua proximidade do método fenomenológico -, a ser considerado um "pensador independente", e Arthur Liebert, que se apro ximou da concepção da filosofia como uma ciência do valor e do sentido do ser sob uma forma evidentemente já bastante afastada das bases de Marburgo. Dentre os pensadores espanhóis, estudaram em Marburgo Manuel García Morente e José Ortega y Gasset. Nenhum deles pode ser tido como "marburguiano" em sentido estrito. Todavia, embora o próprio Ortega se tenha oposto ao "intelectualismo" da escola, o estudo profundo de Kant não é alheio à formação de seu pensamento, e isso a ponto de, segundo ele mesmo confessou, algumas das idéias em que antecipou teses de Heidegger lhe terem sido suscitadas pelo estudo da "lógica de Cohen". :> Ver: Paul Natorp, "Kant und die Marburger Schule", Kantstudien, 1 7 ( 1 9 1 2). - Alice Steriad, L'interpré tation de la doctrine de Kant par l 'école de Marbourg, 1 9 1 3 (tese). - P. Chojnacki, Die Ethik Kants und die Ethik des Sozialismus. Ein f!ermittlungsversuch der Mar burger Schule, 1 93 0 (tese). - M. Graupe, Die Stellung der Religion im systematischen Denken der Marburger Schule, 1 930 (tese). - Antonio Caso, G. H. Rodríguez, Ensayos polémicos sobre la escuelafilosójica de Mar burgo, 1 945. - Joseph Klein, "N. Hartmann und die Marburger Schule", em J. Klein, G. Martin et ai., N. Hartmann. Der Denker und seine Welt, 1 952, ed. H. Heimsoeth e R. Heiss. - !d., Die Grundlegung der Ethik in der Philosophie H. Cohens und P Natorps. Eine Kritik des Marburger Neukantianismus, 1 976. - Henri Dussort, L'École de Marbourg, 1 963, ed. J. Vuillemin. - J. Deane Saltzmann, P Natorp s Philosophy ofRe ligion Within the Marburg Neo-Kantian Tradition, 1 979 [é continuação da obra anterior de H. Dussort] . - Ver também a bibliografia de NEOKANTISMO. e:
MARC-WOGAU, KONRAD. Nascido em 1 902 em Moscou, foi professor no Liceu de Estocolmo ( 1 9321 946) e na Universidade de Uppsala (a partir de 1 946), sucedendo na cátedra a Hagerstrõm e Phalén; é um dos membros da (nova) Escola de Uppsala. Marc-Wogau in teressou-se especialmente pelos problemas epistemoló gicos da percepção e pelo estudo dos "dados dos senti dos", seguindo nesse sentido tendências desenvolvidas pela filosofia analítica de Cambridge de meados deste século. Embora tenha criticado várias idéias de Hagers trõm sobre a conceptualização da realidade, Marc-Wogau apoiou-se em seus estudos históricos da filosofia kan tiana na interpretação objetivista de Hagerstrõm. :> Obras: Untersuchungen zur Raumlehre Kants, 1 932 (tese) (Investigações relativas à doutrina kantiana do espaço). - Vier Studien zur Kants Kritik der Urteils kraft, 1 938 (Quatro estudos relativos à Crítica do Juízo,
de Kant). - "A. Hagerstrõms verklighetstheori", Tiden, 32 ( 1 940), 286-299, 360-366 ("A teoria da realidade de A.H."). - Die Theorie der Sinnesdaten, 1 945 (A teoria dos dados dos sentidos [sensedata}). - "A. Hagerstrõm och kritiken av subjektivismen'', em Harald Nordenson 60 ar, 1 946. - Filosofiska diskussioner, 1 955, nova ed., 1 967. - Att studera jilosofi: en introduktion, 1 96 1 . Filosofisk oppslagsbok, 1 963. - Logik for nybõrjare, 1 965. Freud psykoanalys. Presentation och kritik, 1 967. - Logik, vetenskapsteori argumentationsanalys, 1968. - Studier til! Axel Hagerstrõms filosojici, 1 968. Bibliografia na antologia de seus trabalhos traduzi dos para o inglês, Philosophical Essays, 1 967, págs. 243-25 1 . e: -
MARCEL, GABRIEL ( 1 889- 1 973). Nascido em Paris. Marcel foi agrégé de filosofia na École Normale Supé rieure, mas, embora tenha dado numerosos cursos e feito ciclos de conferências em muitas universidades, tanto na França como no exterior, não se ocupou regularmente do ensino e dedicou a maior parte de sua atividade à pro dução filosófica e à dramática, que considera importan te para melhor compreender a primeira. Em seus primei ros tempos, estudou especialmente as correntes idealis tas, tanto do idealismo alemão (em particular Schelling) como inglês (em particular Royce, a quem dedicou desde 1 9 1 2 uma série de artigos mais tarde compilados num volume). A rigor, em suas meditações filosóficas, Marcel partiu em ampla medida de Royce e Bradley e, parcial mente, de Bergson, mas lhe custou, segundo confessa, grandes esforços sair "do mundo em que se achava pri sioneiro" (Fragments philosophiques, 1 909- 1 9 14, ed. L. A. Blain. "Avant-propos" de Marcel escrito especialmen te para esta edição), muito embora tanto Bergson como Bradley devam tê-lo ajudado a desapegar-se "da espécie de torno em que eu estava comprimido". Suas primei ras reflexões oferecem por isso um aspecto de "tenta tiva" muito mais acentuado do que a "tentativa" em que consiste seu próprio método fil osófico. Numa obser vação escrita no dia 22 de junho de 1 909, Marcel diz: "Parece-me ter tomado consciência esta manhã da úni ca verdade eterna que pode fundar toda moral . . . o eu não passa de negação, e não atingimos o Pensamento absoluto senão tomando consciência do nada de nossa individualidade." Isto está ainda muito longe da atitu de filosófica posterior de Marcel, mas manifesta já seu "modo de pensar": é o "ir tomando consciência" de verdades que de alguma maneira lhe vão sendo "reve ladas". Por isso, a expressão própria de tal pensamento é com freqüência "o diário". Neste verbete, teremos de apresentar o pensamento filosófico de Marcel de uma maneira mais ou menos "sistemática", mas será preci so levar em conta que isso é, em ampla medida, uma falsificação desse modo de pensar. É também uma falsificação, mas que pode ajudar a compreender o tipo de pensamento de que se trata, in-
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dicar que há, o u houve, e m Marcel (ver o último pará grafo deste verbete) uma tendência ao pensamento "exis tencial" que o levou amiúde a ser chamado de "existen cialista". Trata-se, evidentemente, de um "existencialis mo cristão" no qual, ao contrário de Heidegger, não se pretende considerar a análise da existência um mero es tágio preparatório para uma reformulação fundamental da questão do ser. Esta não é alheia ao pensamento de Marcel, mas tem pressupostos muito diferentes dos que subjazem à analítica heideggeriana e mesmo a toda a filosofia da Existência. Na verdade, Marcel seguiu um caminho muito próximo do de Kierkegaard, ainda que o tenha feito de um modo independente e sem ter conhe cido Kierkegaard senão depois de ter percorrido sua própria vereda. Pois assim como Kierkegaard procla mou, contra a "filosofia especulativa" de Hegel, a filo sofia existencial da verdade subjetiva, também Marcel proclamou, contra o idealismo absoluto de Bradley e de Royce - igualmente hegelianos -, a necessidade de distinguir entre a objetividade e a existência. A pri meira é justamente o que o pensar idealista avalia como constitutivo do ser. Daí que a existência permaneça, no máximo, como o termo do pensar, não como o funda mento inevitável de todo pensamento. Por isso, no pen samento criticista a existência pode inclusive ser tida co mo contraditória e, de todo modo, revogável. Ora, uma análise da experiência que não interponha entre ela e o sujeito a tela da objetividade como fundamento da inte ligibilidade do ser mostra, segundo Marcel, que a exis tência não pode ser posta em dúvida na medida em que não se pretenda chegar à conclusão de que não existe efetivamente nada. Entretanto, a existência não tem aqui uma significação puramente geral, como se não pas sasse do predicado de um sujeito. Marcel proclama, com efeito, "a indissolúvel unidade da existência e do existente "; isto faz que a existência não possa ser tratada como um demonstrandum e que a idéia da existência e a própria existência formem uma unidade completa ( cf. "Existence et objectivité", em Journal Métaphysique, 3ª ed. , 1 935, p. 3 1 5). Parte daqui a tentativa de edificar uma filosofia existencial com uma forte tendência para o concreto. O significado do existencial é definido, de resto, quando estabelecemos o que se quer dizer ao falar da existência divina. Se é certo que a existência de Deus não pode ter a mesma significação que possui a existên cia do mundano, não é menos certo que a distinção não pode ser resolvida por meio de uma concepção ultra existencial da pessoa divina. A rigor, Deus não está "acima" da existência, à maneira da unida neoplatônica, mas antes numa camada que fundamenta todo o existen te. A meditação de Marcel sobre a noção do corpo (VER), ou, melhor dizendo, de "meu corpo", permite esclarecer por outro lado o mesmo problema. Marcel considera que "meu corpo" tem uma relação singular com o eu de que o corpo parece ser predicado; esta relação é a da "en-
MARCEL, GABRIEL carnação" por meio da qual se compreende a possibi lidade dos juízos de existência. Tal compreensão não é, contudo, a que decorre da dilucidação de um proble ma. Trata-se antes do que Marcel denomina um "mis tério". Ora, a diferença entre problema e mistério não significa que o primeiro seja acessível e o segundo, incompreensível. Problema é simplesmente aquilo que me é proposto, mas sendo o que me é proposto externo, corresponde ao dado. Mistério, em contrapartida, é "algo em que me encontro comprometido e cuja essên cia é, por conseguinte, algo que não está inteiramente diante de mim" (cf. Être et Avoir, 1 93 5 , p. 1 45). Daí que o mistério possa ser esclarecedor e daí também que a questão sobre o ser sej a misteriosa e não problemá tica. A radicação do ser na região do mistério torna pos sível, de resto, a superação completa das oposições em que mergulharam sobretudo as filosofias modernas, e não apenas as metafisicas, mas também as epistemoló gicas. Com isso, o pensar filosófico transforma-se num "compromisso", numa ação em que o próprio sujeito é um elemento de uma objetividade maior e mais plena, o centro de uma verdadeira "experiência ontológica". A revelação do ontem nos é dada, portanto, pela entrega existencial e, em particular, por meio de certos atos de natureza privilegiada. A fidelidade (vER), o amor, a admiração são, para Marcel, os principais. Mas o são também a invocação, a prece e a comunhão, que nos revelam o que para um pensamento crítico é inalcan çável a não ser por meio de subterfügios: a existência do tu e, em última análise, da comunidade das pessoas. As experiências ontológicas transformam-se então na própria base a partir da qual uma experiência do ser e uma compreensão dele se tornam possíveis. A vincu lação ao ser se descobre por meio da vinculação a um ser; não, pois, por uma intuição intelectual nem tam pouco por um progresso infinito do pensamento. Na verdade, os últimos métodos representam um empobre cimento do mundo, uma simples problematização do mistério. São em todo caso uma objetivação, e não, por assim dizer, uma "existencialização" da existência. A análise de Marcel sobre o "ter" (vER) apresenta um pro pósito análogo. Aqui, mostra-se que a diferença entre o ter como posse e o ter como implicação é de índole estri tamente ontológica. Com efeito, a significação mais profunda do "ter" - o ter para si - confirma que a posse pode chegar a ser entendida como uma "reserva". É o que ocorre com o corpo de cada um e com a forma especial de relação que esse autor denomina, como vi mos, a "encarnação", isto é, a participação não objetiva e existencial em algo, o próprio modelo de todo juízo de existência. Ora, o existencialismo de Marcel não termi na nem na destruição da ontologia nem no sistema. Por um lado, a significação ontológica da esperança e da co munhão pessoal evita, segundo Marcel, todo niilismo, incluindo o niilismo teórico; por outro lado, a própria
MARCEL, GABRIEL filosofia, enquanto manifestação da vida humana, apare ce como uma exploração e um itinerário contínuos, de acordo com a condição "itinerante" desse homo viator que Marcel procurou descrever. O pensamento de Marcel foi exposto por seu autor, em seus últimos dias, de modo mais completo do que nas obras de períodos anteriores, embora sem abando nar a forma, por ele preferida, da recherche. Isso ocorre sobretudo em sua obra Le Mystére de l 'Être. Se, apesar disso, continua dificil "resumi-lo", é porque é caracte rístico da filosofia de Marcel o fato de não admitir que os resultados possam ser separados do processo por meio do qual são atingidos. Como aqui é impossível relatar esse processo, indicaremos apenas que na obra mencio nada se apresenta a via que vai do "mundo dilacerado" em que o homem hoje se encontra a um mundo que lhe oferece um mistério em que reside a região profunda que dá acesso à eternidade. Ao longo desse caminho, mostra-se a estrutura de "minha vida" (uma vida que in clui a existência do outro, ou do "tu"), seu ser em situa ção e em participação, bem como sua necessidade de transcendência. O que permite avançar por esse cami nho é o uso de uma "reflexão" que não toma o objeto como puramente "exterior", mas rodeia-o de uma "aura" que brota incessantemente do "centro" existencial onde aparece o meio inteligível que desencadeia todas as fa ses da "reflexão". Por volta de 1 950, Marcel rejeitou o rótulo "existen cialismo cristão" para designar sua filosofia. Os moti vos disso são provavelmente dois: o abuso do termo 'exis tencialismo' ; 2) a publicação, em agosto de 1 950, da Encíclica Humani generis, em que se declara a incom patibilidade do existencialismo com o catolicismo, mes mo quando, a rigor, se trata do existencialismo denomina do ateu. Marcel propõe para seu pensamento o rótulo "cristão". (Ver também EXPERIÊNCIA, adfinem.) � Obras filosóficas: "Les conditions dialectiques d 'une philosophie de l' intuition", Revue de Métaphysique et de Mora/e, 20 ( 1 9 1 2), 638-652. - "Existence et objecti vité", ibid. , 32 ( 1 925), 1 75 - 1 95 . - Journal Métaphysi que (1 912-13), 1 927 [inclui, como apêndice, o escrito anterior] . - "Positions et approches concretes du myste re ontologique'', incluído em Le monde cassé (cf. infra), 1 938, ed. separada com introdução de Marcel de Corte, 1 949. - Être et avoir, 1 935 [contém, como "segunda parte", "Foi et réalité"] . - Du refas à l 'invocation, 1 940: nova ed. com o título Essai de philosophie concrete, 1 963. -Homo viator. Prolégoménes à une métaphysique de l 'espérance, 1 944. Le métaphysique de Royce, 1 945 (artigos publicados na Revue de Métaphysique et de Mora/e, 1 9 1 7- 1 9 1 8). - Le Mystére de l 'Être, 2 vols., 1 95 1 (1. Réflexion et Mystére, II. Foi et Réalité). Esta obra procede das Gifford Lectures; o texto inglês, The Mystery ofBeing, foi publicado em 2 vols., 1 950- 1 95 1 . - Les hommes contre l 'humain, 1 95 1 . - Le déclin de -
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la sagesse, 1 954. - L'homme problématique, 1 95 5 . Présence et immortalité, 1 959 [conteúdo: "Mon propos fondamental" ( 1 937); "Joumal métaphysique" ( 1 9381 943); "Présence et immortalité" ( 1 95 1 ), e a obra teatral inacabada intitulada "L'insondable" ( 1 9 1 9)] . - Frag ments philosophiques 1 909-1914, 1 96 1 , ed. Lionel A. Blain. - La dignité humaine et ses assises existentielles, 1 964. Esta obra foi publicada antes em inglês: The Exis tential Background ofHuman Dignity, 1 963 [The Wil liam James Lectures ( 1 96 1 - 1 962)] . -Essai de philoso phie concréte, 1 967. - Foi et réalité, 1 967 [conferên cias na Universidade de Aberdeen] . - Pour une sagesse tragique et son au-délà, 1 968. - En chemin, vers que/ éveil?, 1 97 1 . - Plus décisif que la violence, 1 97 1 . Percées vers un ailleurs, 1 973. Diálogos: Entretiens Paul Ricoeur-G. M., 1 968. Marcel considera suas obras teatrais importantes para o melhor entendimento de sua filosofia. Dentre essas obras, mencionamos: Le seuil invisible ( 1 9 1 4); Le coeur des autres ( 1 92 1 ); L'iconoclaste ( 1 923); Un hom me de Dieu ( 1 925); Le Quatuor en Fa diéze ( 1 929); Trois piéces (Le regard neuf- La mort de demain; La chapei/e ardente) ( 1 93 1 ); Le monde cassé ( 1 933); La soif( l 933); Le chemin de Créte ( 1 936); Le dard ( 1 936); Le fanal ( 1 936); L'horizon ( 1 945); iérs un autre Royaume (L'Emis saire, Le signe de la paix) ( 1 949); Rome n 'est plus dans Rome ( 1 95 1 ); Croissez et multipliez ( 1 955); Qu 'atten dez-vous du médécin ? ( 1 958), La dimension Florestan ( 1 958) [seguida do ensaio intitulado "Le crépuscule du sens commun"]. - Marcel também escreveu sobre tea tro: Théâtre et réligion, 1 95 8 . - L'heure théâtrale. De Giraudoux à Jean-Paul Sartre, 1 959. Em português: Os homens contra o homem, 1 984. Bibliografia: F. Blázquez, "G. M.: Ensayo bibliográ fico ( 1 9 1 4- 1 972)", Crisis, 22 ( 1 975), 29-76. - F. e C. Lapointe, G. M. and His Critics: An International Biblio graphy 1928-1976, 1 977. Vocabulário: S. Plourde, Vocabulaire philosophique de G. M. , 1 985 [em col. com J. Parain-Vidal et ai. ] . Ver: Jean Wahl, "Le Journal Métaphysique d e G. M.", no livro iérs /e concret, 1 932. - M. de Corte, La philosophie de G. M. , 1938. - M. A. Zocoletti, Lafiloso fia dell 'esistenza secando G. M. , 1 942. - É. Gilson, J. Delhomme, R. Troisfontaines et ai., Existentialisme chrétien: G. M., 1 947. - P. Ricoeur, G. M. et K. Jaspers: Philosophie du mystére et philosophie du paradoxe, 1 948. - J. Chenu, Le théâtre de G. M. et sa signification métaphysique, 1 948. - A. Scivoletto, L'esistenzialismo di M., 1 950. - R. Prini, G. M. e la metodologia dell 'inve rificabile, 1 950. - J. Vial, Le sens du présent: Essai sur la rupture de l 'unité originaire, 1 952 [prolonga e funda menta a ontologia de Marcel] . - M. Bernard, La philoso phie religieuse de G. M.: Étude critique, 1 952. - R. Troisfontaines, De l 'existence à l 'Être. La philosophie de G. M., 2 vols., 1 953. - A. Rebollo Pena, Crítica de
1 863
la objetividad en e/ existencialismo de G. M. , 1 954. -: A. A. Leite Raínho, L'existencialismo de G. M. , 1 954. - E. Sottiaux, G. M. , phi/osophe et dramaturge, 1 956. - F. Hoefeld, Der christliche Existentialismus G. Mareeis. EineAnalyse der geistigen Situation der Gegenwart, 1 956. - Jean-Pierre Bagot, Connaissance et amour. Essai sur la philosophie de G. M. , 1 958. - Marie-Mag deleine Davy, Un phi/osophe itinérant: G. M. , 1 959. Francisco Peccorini Letona, G. M. : La "razón de ser " en la "participación ", 1 959. - Joseph Lê Thânh Tri, L'idée de la participation chez G. M. : Superphénomenologie d 'une intersubjectivité existentielle, 1 96 1 . - Kenneth T. Gallager, The Philosophy ofG. M., 1 962, reimp., 1 975. - S. Cain, G. M., 1 963. - Vincent P. Miceli, Ascent to Being: G. Marcel s Philosophy ofCommunion, 1 965 (com prefácio de G. MJ. - John B. O'Malley, The Fellowship ofBeing: An Essay on the Concept ofPerson in the Philo sophy of G. M. , 1 966. - J. Parain-Vidal, G. M. , 1 966. - Omar Argerami, Pensar y ser en G. M. , 1 967. Mario A. Presas, G. M., 1 967. - Clyde Pax, An Existen tia/Approach to God: A Study ofG. M. , 1 973. - Simon ne Plourde, G. M., philosophe et témoin de / 'espérance, 1 975. - P. Ricoeur, H. Gouhier et ai. , Entretiens autour de G. M., 1 976 [Colóquio em Cérisy-la-Salle, 24/3 l -VlII1 973). - P. Kampits, G. Mareeis Philosophie der zweiten Person, 1 975. - B. E. Wall, Love and Death in the Philo sophy of G. M. , 1 977. - J. McCown, Availability: G. M. and the Phenomenology of Human Openness, 1 978. N. Gillman, G. M. On Religious Knowledge, 1 980. - S. Foelz, Gewissheit im Suchen. G. Mareeis konkretes Philo sophieren aus der Schwelle zwischen Philosophie und Theologie, 1 98 1 . - M. L. Facco, Metafisica e diaristica in G. M. , 1 982. - P. Prini, G. M. , 1 984. - P. A. Schilpp, L. E. Hahn, eds., The Philosophy of G. M., 1 984 [com "AnAutobiographical Essay'', pp. 3-68). - K. R. Hanley, Dramatic Approaches to Creative Fidelity: A Study in the Theather and Philosophy ofG. M. (1889-1973), 1 987. D. Appelbaum, Contact and Attention: The Anatomy of G. M:S Metaphysica/ Method, 1 987. - D. F. Traub, Toward a Fraternal Society: A Study of G. M.s Approach to Being, Technology and Intersubjectivity, 1 988. - J. Parain-Vidal, G. M., un veilleur et un éveilleur, 1 989. Há uma associação "Présence de G. M.", criada em 1 975, com sede em Paris. Edição de obras: Na editio princeps, o título dos So lilóquios é Tà eis ÉavTÓv. Segundo A. S. L. Farquhar son, na edição de Marco Aurélio depois citada (tomo II, p. 433), esse título deve proceder do editor; Marco Auré lio escrevera provavelmente 1'.moµvfivaTa, comentários. Houve numerosíssimas edições; entre as primeiras, des taca-se a de Thomas Gataker, Cambridge, 1 652, com co mentário e índices. Entre as edições mais recentes, figu ram a de J. H. Leopold (Oxford, 1 908), a de Heinrich Schenkl (Leipzig, 1 9 1 3); tem especial destaque a de A. Farquharson (Oxford, 1 946), com comentário. Em português: Meditações, 1 995. Ver: M. Noel des Vergers, Essai sur Marc Auréle, 1 860. - M. E. de Suckau, Étude sur MarcAuréle, sa vie et sa doctrine, 1 868. - E. Forster, M AureliAnton, vita et philosophia, 1 869. - E. Renan, Marc Auréle et la fin du monde antique, 1 88 1 . - P. B. Watson, The Life ofMarc Aure!Antoninus, 1 884. - J. Dartigue-Peyrou, Marc-Au réle dans ses rapports avec le christianisme, 1 897 (tese).
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MARCUSE, HERBERT
- G. G. Fusci, La filosofia di Antonino in rapporto con la filosofia di Seneca, Musonio e di Epitteto, 1 904. - L. Alston, Stoic and Christian in the Second Cen tury. A Comparison of the Ethical Teaching of M. Aurelius with that of Contemporary and Antecedent Christianity, 1 906. - F. W. Bussell, M. Aurelius and the Later Stoics, 1 9 1 0. - H. Eberlein, Kaiser M. Aure lius und die Christen, 1 9 1 4 (tese). - Henry Dwight Sedwick, Marcus Aurelius, 1 922. - E. Bignone, Nuovi studi sul testo dei Pensieri di M. A . , 1 927. - A. Cresson, Marc Aurele. Sa vie, son oeuvre, sa philosophie, 1 939. - Cario Mazzantini, M. A. , 1 948. - A. S . L. Farquhar son, M. Aurelius: His Life and His World, 1 95 1 . W. Gõrlitz, M. A. - Kaiser und Philosoph, 1 954. - A. Birley, M. A., 1 966. - P. Klein, M. A., 1 979. - Ver também a bibliografia do verbete EsTó1cos. C: -
MARCO CONCEPTUAL. Ver CoNcmo; CONTEXTO. MARCUSE, HERBERT ( 1 898- 1 979) . Nascido em Ber lim, estudou em Berlim e Friburgo i.B., onde se douto rou em 1 923. Em Friburgo, recebeu a influência de Hus serl e de Heidegger. Sob a direção deste último, preparou sua tese para a venia docendi, que deu origem a seu pri meiro livro: a obra sobre a ontologia de Hegel e o funda mento de uma teoria da historicidade. Tanto seu precoce interesse pelo socialismo como seu estudo de Hegel le varam-no a aprofundar-se no marxismo. É possível que as diferenças políticas com Heidegger tenham impedido Marcuse de chegar a ser seu assistente em Friburgo; mas embora seja certo que este se foi distanciando Heidegger, conservou de todo modo o que se poderia denominar um "impulso heideggeriano". O que interessou Marcuse foi o homem como um estar no mundo, porém não como um locus ou uma voz do Ser, mas como uma realidade social. A atitude filosófica de Marcuse e suas orientações sociais e políticas foram aproximando-o de Adorno e Horkheimer; ele ingressou em 1 933 no Instituto de Inves tigação Social (Institut für Sozialforschung), de Frank furt, sendo considerado um dos "membros" da Escola de Frankfurt (ver FRANKFUITT [EscoLA DE] ) . A imagem de Mar cuse como um dos "frankfurtianos" é, contudo, somente uma primeira abordagem de seu pensamento, que difere em pontos importantes do pensamento de Adorno e de Horkheimer (vER ) . Cada um deles elaborou de forma diversa a teoria crítica (vER) . Em 1 934, Marcuse mudou-se para os Estados Uni dos, tendo trabalhado primeiro no Instituto de Investiga ção Social (Institute of Social Research), associado à Universidade de Colúmbia ( 1 934- 1 940) . De 1 94 1 a 1 950, trabalhou no Departamento de Estudos Estratégicos e no Departamento de Estado. De 1 95 1 a 1 953, lecionou no Instituto Russo das Universidades de Colúmbia e Harvard. De 1 954 a 1 965, foi professor da Brandeis Uni versity, de Boston, e, a partir de 1 965, lecionou na Univer sidade da Califórnia, em San Diego. Em 1 967, o nome
de Marcuse começou a circular na Alemanha em função do interesse que suas idéias despertaram entre muitos estudantes revolucionários. A agitação estudantil em 1 967 e 1 968, e especialmente as jornadas de maio de 1 968, em Paris, alçaram o nome de Marcuse ao primeiro plano; de 1 968 a 1 970, em particular, amiudaram-se os estudos sobre sua obra e os debates em tomo de suas idéias. A cronologia da bibliografia sobre Marcuse, infra, reflete essa situação, que, não obstante, fica mais patente numa bibliografia completa, que inclua as centenas de trabalhos dedicados a Marcuse nos anos indicados. O pensamento de Marcuse combina uma forte ten dência ao abstrato com uma não menos forte tendência a vincular-se com situações concretas. A esse respeito, Marcuse seguiu os passos de Lukács. Tal como este úl timo, além disso, um de seus esforços consistiu em apro fundar-se nas raízes hegelianas de Marx e, de passagem, em "resgatar" Hegel das mãos tanto de pensadores po líticos conservadores como de materialistas dialéticos dogmáticos. O "resgate" de Hegel tem lugar contra a in clinação do próprio Hegel a fechar o ciclo da razão dia lética. A despeito da insistência de Hegel no "trabalho do negativo", Marcuse avalia que, em última análise, Hegel foi infiel à sua própria intuição. Esta foi, em con trapartida, desenvolvida por Marx, para quem a cons ciência na história está ligada às estruturas de classe da sociedade. Isso não significa que se tenha de admitir tais estruturas de classe; pelo contrário, elas têm de ser negadas e transcendidas. Todos os fatos históricos são, para Marcuse, restrições e comportam uma negação. A negação das restrições e da própria negação abrem o caminho à possibilidade de uma autêntica e radical rea lização da liberdade e da felicidade, que são excluídas na sociedade burguesa e, em geral, em toda sociedade classista. O realismo hegeliano da razão leva, por fim, a um positivismo e a um conformismo. Destacou-se amiúde que uma das mais importantes, e influentes, contribuições de Marcuse é o vínculo por ele estabelecido entre o pensamento de Marx e o de Freud. Isso se deve principalmente ao fato de Marcuse ter encontrado em algumas das idéias de Freud os ele mentos da "psicologia social" que faltavam em Marx. Em ambos os casos, trata-se de um movimento de liber tação de repressões. A repressão sexual é concomitante à repressão social. Segundo Marcuse, Freud não perce bera que, ao lado das repressões que explicou e para as quais procurou encontrar uma terapêutica, há uma série de repressões suplementares, ou subre-repressões, advin das de formas de domínio social. Tanto as repressões fundamentais de que Freud falara como as repressões su plementares podem ter sido indispensáveis para a manu tenção da civilização, assim como para a conservação de determinada ordem social. Entretanto, as repressões suplementares se multiplicam a si mesmas de modo que chegam a ser desnecessárias. Não se trata apenas de
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MARCUSE, HERBERT libertar-se de repressões sexuais, mas de libertar a pró pria sexualidade. Isso se distingue das falsas libertações ou dos movimentos anti-repressivos numa sociedade fun damentalmente repressiva. Estas falsas libertações ou movimentos pseudo-anti-repressivos, longe de conduzir à liberdade e à felicidade, levam ao conformismo e a novos modos de repressão. Marcuse admite a pos sibilidade, e mesmo a necessidade, de sublimações, mas estas têm de possuir um caráter não-repressivo. Marcuse submeteu a crítica, por um lado, o marxis mo soviético e, por outro, a concepção unidimensional do homem prevalecente na "sociedade industrial avan çada". A concepção unidimensional patente, a seu ver, no pensamento "analítico" corresponde a uma socieda de unidimensional. Tal sociedade é falaz, porque apre senta a face da abundância, da liberdade e da tolerância, ocultando sua verdadeira realidade, que é o domínio social e o conformismo. A sociedade industrial avança da "permite-se" a tolerância justa e precisamente por que sequer tem necessidade da intolerância. As mais conhecidas, e difundidas, idéias de Marcuse caminham por essa via. Ele enfatizou que os marxismos "oficiais" e muitos movimentos revolucionários erraram ao pen sar que as classes oprimidas e exploradas lutam necessa riamente por sua libertação. Tais classes são facilmente - e poder-se-ia dizer distorcidamente - incorporadas ao "sistema". Nesse sentido, a consciência verdadeira mente revolucionária pode aflorar em grupos minori tários que não são objetivamente explorados e que com preendem que a tolerância pode ser repressiva. O "Esta do do bem-estar", a "sociedade da abundância", "a so ciedade de consumo" são outras tantas formas de produ ção de alienação que se ignora a si mesma. Marcuse não preconiza com isso o retomo a nenhuma sociedade na qual predominem a "robusta pobreza", a "limpeza mo ral" e a "simplicidade"; trata-se é de eliminar o desper dício, já que só dessa maneira aumentam os bens susce tíveis de distribuição. Marcuse tampouco preconiza o retomo a uma sociedade atecnológica; trata-se de liber tar a tecnologia de sua irracionalidade. A subversão do "sistema'', de todo modo, não pode originar-se dentro do sistema; ela se origina ou na consciência revolucio nária de minorias, que por isso só se colocam fora de toda possibilidade de assimilação, ou nas massas que estão de fato "fora" - os que não têm emprego, os que lutam pela libertação nacional e econômica em paí ses do Terceiro Mundo etc., a quem não oferecem ne nhum atrativo nem a abundância nem a tolerância re pressiva. A conjunção dessas forças tão díspares pode oferecer a esperança, embora no momento só a esperan ça, de uma autêntica libertação. :> Obras: Dos primeiros estudos de M. em alemão, mencionamos: "Beitriige zu einer Phiinomenologie des historischen Materialismus", Philosophische Hefte, 1 ( 1 928) ("Contribuições para uma fenomenologia do ma-
terialismo histórico"). - "Zur Wahrheitsproblematik der soziologischen Methode", Die Gesellschaft, 6 ( 1 929) ("Sobre a problemática da verdade do método so ciológico"). - "Das Problem der geschichtlichen Wir. klicbkeit", Die Gesellschaft, 7 ( 1 93 1 ) ("O problema da realidade histórica"). - "Neue Quellen zur Grundle gung des historischen Materialismus'', ibid. , 9 ( 1 932) ("Novas fontes para a fundamentação do materialismo histórico"). - "Ueber die philosophischen Grundlagen des wirtschaftswissenschaftlichen Arbeitsbegriffs", Ar chivfor Sozialwissenschaft und Sozialpolitik, 69 ( 1 933) ("Sobre os fundamentos filosóficos do conceito cien tífico-econômico de trabalho"). - "Der Kampf gegen den Liberalismus in der totalitiiren Staatsauffassung", Zeitschriftfor Sozialforschung (doravante: ZS], 3 ( 1 934) ("A luta contra o liberalismo na concepção totalitária do Estado"). - "Zum Begriff des Wesens", ZS, 5 ( 1 936) ("Para o conceito de essência"). - "Philoso phie und kritische Theorie", ZS, 6 ( 1 937) ("Filosofia e teoria crítica"). - "Ueber den affirmativen Charakter der Kultur", ZS, 6 ( 1 937) ("Sobre o caráter afirmativo da cultura"). - "Zur Kritik der Hedonismus", ZS, 6 ( 1 938) ("Para a crítica do hedonismo"). Numerosos trabalhos de M. foram compilados em livro; outros foram elaborados e fizeram parte de livros. Ver a coleção Kultur und Gesellschaft, 2 vols., 1 965 (Cultura e sociedade). Livros: Hegels Ontologie und die Grundlegung einer Theorie der Geschichtlichkeit, 1 932 (escrito para a "habi litação" docente), reimp., 1 974. - Reason and Revolution: Hegel and the Rise o/Social Theory, 1 94 1 ; 2ª ed., 1 954 (com "A Note on Dialectic"), ed. rev., 1 960. - Eros and Civilization: A Philosophical Inquiry Into Freud, 1 955; 2ª ed., 1 962; 3ª ed., 1 966 (com um novo "Prefácio", mas sem o "Prefácio" da ed. de 1 962). - Soviet Marxism: A Criticai Analysis, 1 958; 2ª ed., 1 969. - One-Dimen sional Man: Studies in the Jdeology ofAdvanced Indus trial Society, 1 964. - A Critique ofPure Tolerance, 1 965 (com Robert Paul Wolff e Barrington Moore, Jr., 2ª ed., 1 969). - An Essay on Liberation, 1 969. - Das Ende der Utopie [Deliberações na Freie Universitiit de Berlim, 1 967)). - Counterrevolution and Revolt, 1 972. - Stu dies in Criticai Philosophy, 1 972. - Zeit-Messungen. Drei Vortriige und ein Interview, 1 975. Vários vols. de M. procedem de trabalhos isolados e conferências em inglês ou em alemão. Mencionamos: Negations: Essays in Criticai Theory, 1 968 (alguns são trad. do alemão mas não feitas pelo autor). -Psychoana lyse und Politik. Kritische Studien zur Philosophie, 1 968, ed. K. H. Haag et ai. (contém os dois prólogos às eds. inglesas de Eros and Civilizations, de 1 96 1 e 1 962, e três ensaios de Five lectures: Psychoanalysis, Politics and Utopia, 1 970). The Aesthetic Dimension: Toward a Critique ofMarxist Aesthetics, 1 978. Edição de obras: Schriften, 1 978 e segs. -
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MARÉCHAL, JOSEPH
Em português: Contra-revolução e revolta, 1 973. - Crítica da tolerância pura, 1 970. - Cultura e socie dade, vol. 1 , 1 997. - Cultura e sociedade, vol. 2, 1 998. - A dimensão estética, s.d. - Eros e civilização, 8ª ed., 1 999. - 0fim da utopia, 1 989. - A grande recusa hoje, 1 999. - Idéias sobre uma teoria crítica de so ciedade, 1 972. - A ideologia da sociedade industrial, 1 967: - Materialismo histórico e existência, 1 989. Razão e revolução, 4ª ed. , 1 988. - Tecnologia, guerra e fascismo, 1 999. Bibliografia: W. Leiss, J. D. Ober, Erica Sherover, em M. I. Finley, M. Horkheimer, P. Gay et ai. , The Criti cai Spirit: Essays in Honor ofH. M. , 1 967, ed. Kurt H. Wolff e Barrington Moore, Jr., pp. 427-433 . - Fran çois H. e Claire C. Lapointe, "H. M. and His Critics: A Bibliographic Essay", International Studies in Philoso phy 7 (outono de 1 975), 1 83- 1 96 (trabalhos sobre M.). Ver: Tito Perlini, Ché cosa ha veramente detto M. ?, 1 969. - Mario Proto, lntroduzione a M. , 1 968. - Hans Heinz Holz, Utopie und Anarchismus. Zur Kritik der kritischen Theorie H. Marcuses, 1 968. - J. Habermas, A. Schmidt, W. F. Haug, C. Offe, J. Bergmann, H. Ber ndt, R. Reiche, P. Breines, Antworten aufH. M. , 1 968, ed. J. Habermas. - J. M. Castellet, Lectura de M. , 1 969; 2ª ed., 1 97 1 . - Francisco Antônio Doria, M., vida e obra, 1 969. - Antonio Escohotado, M. Utopía y ra zón, 1 969. - P. Masset, La pensée de H. M. , 1 969. Francesco Nuzzaco, H. M., filosofo dei nostri tempi, 1 969. - José Guilherme Merquior, Arte e sociedade em M., Adorno e Benjamin; ensaio crítico sobre a es cola neo-hegeliana de Franifurt, 1 969. - Eloy Silvio Pomenta, M., la psiquiatría y la liberación, 1 969. Antonio Oriol Anguera, Para entender a M. , 1 970. Hans-Dieter Bahr, Kritik der "politischen Technologie ". Eine Auseinandersetzung mit H. M. und 1 Habermas, 1 970. - Miguel C. Lombardi, H. M. o la filosofia de la negación total, 1 970. - Alasdair Macintyre, H. M. : A n Exposition and a Polemic, 1 970. André Vergez, M., 1 970. - Robert W. Marks, The Meaning of M. , 1 970. - Eliseo Vivas, Contra M. , 1 97 1 . - Heinz Jansohn, H. M. Philosophische Grundlagen seiner Gesellschaftskritik, 1 97 1 . - Sidney Lipshires, H. M. : From Marx to Freud and Beyond, 1 974. - H . Bleich, The Philosophy ofH. M., 1 977. - G. A. Steuernagel, Political Philosophy as Therapy: M. Reconsidered, 1 979. - B. Kãtz, H. M. and the Art of Liberation: An lntellectual Biography, 1 982. - J. Jiménez, La estéti ca como utopía antropológica. Bloch y M. , 1 983. D. Kellner, H. M. and the Crisis ofMarxism, 1 984. U. Gmünder, Kritische Theorie. Horkheimer, Adorno, M. , 1 985. - P. Lind, M. and Freedom, 1 985. - T. J. Lukes, The Flight into Inwardness: An Exposition and Critique ofH. M.'s Theory ofLiberativeAesthetics, 1 985. - A. Vachet, M.: La révolution radica/e et !e nouveau socialisme, 1 986. -
Ver também: H. Lefebvre, L. Goldman et ai. , arts. so bre M. em La Nef, 36 Uaneiro-março de 1 969). - S. Mallet, L. Basso, Discusión con los marxistas. Laperspec tiva dei socialismo en las sociedades de alto desarrollo industrial, 1 970, atas do Seminário de Estudos Marxistas em Korcula (Iugoslávia), com intervenção de M. (;
MARÉCHAL, JOSEPH ( 1 878- 1 944). Nasc. em Char leroi (Hainaut, Bélgica). Ingressou na Companhia de Jesus e foi professor na Casa dos Jesuítas de Lovaina. O trabalho de Maréchal aborda especialmente os pro blemas gnosiológicos e metafisicos suscitados pelo "ponto de partida da metafisica". Seu trabalho foi rea lizado tendo como eixo e base de pesquisa a doutrina tomista, mas examinando ao mesmo tempo as doutri nas modernas - especialmente o kantismo - a partir de dentro e vendo, portanto, em que medida elas postu lam uma recuperação de seu equilíbrio interno que só pode ser alcançado com o prolongamento na direção do tomismo. A crítica transcendental não fica com isso situada fora do movimento interno do pensar filosófico, mas é considerada um de seus momentos. Segundo Ma réchal, o "método metafisico" deve mostrar, com efeito, a possibilidade de uma "crítica metafisica" aplicada ao ontológico e não apenas ao fenomênico. Tal crítica suscita os problemas tradicionais do relativismo e do ceticismo. Ora, estas posições se devem, em última aná lise, a um dilema impossível: ou se sabe a verdade ou não se conhece verdade alguma. O certo, porém, é que o entendimento compreende só as condições da verdade e se vê obrigado a afirmá-las por meio de uma decisão · parecida com a "ação" blondeliana, único modo de re ligar o ser e a inteligência, não extrínseca mas intrinse camente. Isso não significa (como não o significa tam pouco em Blondel) o primado da "ação", mas antes a recuperação da unidade das faculdades, que o fenome nismo, o imanentismo e o criticismo tinham destruído, mas que reaparece tão logo seus pressupostos são apro fundados de modo suficiente. :l Obras principais: Le point de départ de la métaphy sique (Caderno I : De l 'antiquité a lafin du moyen âge: la critique ancienne de la connaissance, 1 922; Cad. II: Le conjlit du rationalisme et de l 'empirisme dans la phi losophie moderne avant Kant, 1 923; Cad. III: La criti que de Kant, 1 923; Cad. IV: Par de/à !e kantisme: Vers l 'idéalisme absolu, 1 947; Cad. V: Le thomisme devant la philosophie critique, 1 926; Cad. VI: Les épistémolo gies contemporaines, inacabado). - Études sur la psy chologie des mystiques, 2 vols., 1 924- 1 93 1 . - Précis d 'Histoire de la philosophie moderne. /: De la Renais sance à Kant, 1 933, 2ª ed., 1 95 1 . Ver: F. Grégoire, É . Gilson et ai., Mélanges M. , 2 vols., 1 950 [bibliografia em I, pp. 47-7 1 ]. - M. Casu la, M. et Kant, 1 955. - José Aleu, De Kant a M. : Hacia una metafisica de la existencia, 1 970. - Filippo Liver ziani, Dinamismo intelettuale ed esperienza mistica nel
MARGENAU, HENRY
pensiero dil M. , 1 974. - A. M. Matteo, Questfor the Absolute: The Philosophical Vision of J M. , 1 992. C: MARGENAU, HENRY. Ver VITALISMO. MARGOLIS, JOSEP H. Ver INTENÇÃO LINGüiSTICA; NEGATIVIDADE. MARIANO RAFFAELLO. Ver HEGELIANISMO. MARÍAS [AGUILERA], JULIÁN. ( 1 9 1 4). Nascido em Valladolid, foi discípulo de Xavier Zubiri (VER), de Manuel García Morente (VER) e, sobretudo, de Ortega y Gasset (vER), com quem fundou, em 1 948, o Instituto de Humanidades (Madri). Marías, que se considera membro do que ele próprio denominou "Escola de Ma dri" (vER), desenvolveu muitos dos temas de Ortega só iniciados ou insinuados nos escritos ou nos ensinamen tos orais deste; além disso, em sua obra Introducción a la filosofia (cf. bibliografia), ele apresentou e desen volveu de forma sistemática os temas filosóficos capi tais à luz da filosofia da razão vital (VER). Tal como o próprio autor a entende, a "introdução à filosofia" tem como missão "a descoberta e a constituição, em nossas circunstâncias concretas, do âmbito dofilosofar - con creto também - exigido por esta ". Por esse motivo, Marias visou traçar um "esquema de nossa situação", dentro da qual aparece a filosofia como um "fazer humano" e como "um ingrediente da vida humana''. A filosofia é, assim, um saber a que ater-se com relação à situação real. Somente desse modo a filosofia poderá ser um fazer radical: "a filosofia - escreve Marías tem a exigência de justificar-se a si mesma, de não apoiar-se em nenhuma outra certeza, mas, pelo contrá rio, de dar razão da própria realidade, subjacente às suas interpretações e, portanto, também às pretensas certezas que encontro''. A filosofia é um saber radical e, ao mes mo tempo, sistemático e circunstancial; estes predicados parecem incompatíveis entre si, mas não o são quando se tem presente que a radicalidade, sistematicidade e cir cunstancialidade da filosofia derivam da radicalidade, sistematicidade e circunstancialidade da vida humana. Entre as contribuições filosóficas de Marías, além da já citada, destacamos duas. Uma é o que ele chama "a estrutura empírica da vida humana". Segundo Marías, há entre a teoria analítica da vida humana e a narração concreta biográfica dela um campo intermediário: são os elementos que não constituem requisitos a priori da vida, mas que pertencem de fato, e de uma maneira estável e estrutural, às vidas concretas. A teoria empírica da vida tem por objetivo examinar esses elementos a um só tem po variáveis e permanentes. Assim, pode-se afirmar a priori que toda vida humana é circunstancial, porém só a experiência nos indica em que circunstâncias concretas se encontra uma vida determinada. Por isso, "a estrutura empírica é a forma concreta de nossa circunstancialida de''. A outra contribuição refere-se à idéia da metafísica.
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Partindo desta como ciência da realidade radical, Marias afirma que o homem não é a realidade radical, mas "uma realidade radicada que descubro em minha vida, como as outras". A realidade radical é antes a vida, que deve ser entendida como uma área na qual "se constituem as realidades como tais''. Daí que a teoria da vida huma na não seja uma preparação para a metafísica, mas a metafísica. Isso é possível porque, na opinião de Marias, viver e não ser constitui o sentido radical da realidade. Mas a metafísica não é um conjunto de postulados (ou idéias) de que se parte, nem uma verdade à qual se chega, mas um esforço para sair de um estado de incerteza e alcançar uma verdade radical mediante um método: a razão vital. Isso não significa que a investigação meta física se limite à teoria da vida; toda realidade é objeto dessa teoria na medida em que toda realidade ocorre "radicada" e "complicada" nela. Só desse modo se pode entender, de acordo com Marías, que a metafísica como ciência da radicação se refira à transcendência, que não é uma entidade forjada arbitrariamente, mas "a própria condição da vida". :l Obras: Historia de la filosofia, 1 94 1 . Fizeram-se várias edições desta e de outras obras de J. M., mas co mo na maioria dos casos se trata de reimpressões, indi camos apenas a data das primeiras edições. - Lafiloso fia dei P Gratry, 1 94 1 . - M. de Unamuno, 1 943. - S. Anselmo y e/ insensato, 1 944. - Introducción a la fi losofia, 1 947. La filosofia espaiiola actual, 1 948. - E/ método histórico de las generaciones, 1 949. Ortega y Ires antípodas: Un ejemplo de intriga intelec tual, 1 950. - E/ existencialismo en Espaiia, 1 953. Idea de la metafisica, 1 954. - Biografia de lafilosofia, 1 954. - Aquí y ahora, 1 954. - Ensayos de teoría, 1 954. - Ensayos de convivencia, 1 95 5 . - Filosofia actual y existencialismo en Espaiia, 1 95 5 [inclui La fi losofia actual; E/ existencialismo en Espaiia e vários outros escritos] . -La imagen de la vida humana, 1 955. - La estructura social: Teoría y método, 1 95 5 . - Los Estados Unidos en escorzo, 1 956. - E/ intelectual y su mundo, 1 956. - E/ lugar deipeligro, 1 958. - E/ oficio dei pensamiento, 1 958. - La Escuela de Madrid, 1 959 [ampliação dos trabalhos contidos em Filosofia actual y existencialismo en Espaiia, 1 955]. - Ortega. I: Cir cunstancia y vocación, 1 960. - Imagen de la India, 1 96 1 . - Los espaiioles, 1 962. La Espaiia posible en tiempos de Carlos III, 1 963. - Modos de vivir, 1 964. - E/ tiempo que ni vuelve ni tropieza, 1 964. AI margen de estos clássicos, 1 966. - Consideración de Cataluiia, 1 966. - La realidad histórica y social dei uso lingüístico, 1 966, reed. com o título E/ uso lingüís tico, 1 967. - Meditaciones sobre la sociedad espaiiola, 1 966. - Nuestra Andalucía, 1 966. - Nuevos ensayos de filosofia, 1 967. - Análisis de los Estados Unidos, 1 968. - Comunidad y desarrollo, 1 969. - Antropolo gía metafisica, 1 970. Esquema de nuestra situación, -
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1 970. - Visto y no visto, 2 vols., 1 97 1 . - Innovación y arcaísmo, 1 973. - Sobre Hispanoamérica, 1 973. Travesía dei horizonte, 1 974. - Lajusticia y lasjusti cias, 1 975. - La Espafía real, 1 976. - La devolución de Espafía, 1 977. - Problemas dei cristianismo, 1 979. -La mujer en e/ sigla IT, 1 980. - Cinco afias de Espa fía, 1 98 1 . - Ortega. II: Las trayectorias, 1 983. - Breve tratado de la ilusión, 1 984. - La Espafía inteligible, 1 984. - Cara y cruz de la electrónica, 1 985. - Hispa noamérica, 1 986. - La mujer y su sombra, 1 986. La libertad en juego, 1 986. - La Jelicidad humana, 1 987. - Una vida presente: memorias, 1 988. - Gene raciones y conste/aciones, 1 989. - Cervantes, clave es pafíola, 1 990. - La Carona y la comunidad hispánica de las naciones, 1 992. - La estructura social, 1 993. - Mapa dei mundo personal, 1 993. Edição de Obras: I, 1 95 8 ; II, 1958; III, 1 959; IV, 1 959; V, 1 960; VI, 1 96 1 ; VII, 1 966; VIII, 1 970; IX, 1 982; X, 1 982. Há, além disso, uma ed. de bolso deno minada "Colección El Alción'', que inclui textos ainda não compilados na ed. de Obras. Em português: A estrutura social: teoria e método, 1 955. - A felicidade humana, 1 985. - História dafilo sofia, 1 973. -Introdução àfilosofia, 1 966. - Literatu ra e gerações, 1 977. - Mapa do mundo pessoal, 1 995. - A perspectiva cristã, 2000. - Problemas do cristia nismo, 1 979. - O tema do homem, 1 975. Antologias: E/ tema dei hombre, 1 943. - La filo sofia en sus textos, 2 vols., 1 950; 3ª ed. , 3 vols., 1 96 1 . Além disso, M . editou trads. de vários textos clássi cos e modernos, entre os quais destacamos seu comen tário às Meditaciones dei Quijote, de Ortega y Gasset, 1 957. - Ele é igualmente editor do Diccionario de li teratura espafíola, 1 949, 4ª ed., ampl., 1 972 (em cola boração com Germán Bleiberg) e de uma Historia de la filosofia y de la ciencia, 1 964 (em colaboração com Pedro Laín Entralgo) . Ver: Helio Carpintero, "J. M.: Una consideración des de la filosofia", em Cinco aventuras espafíolas: Ayala, Laín, Aranguren, Ferrater, M, 1 967, pp. 1 9 1 -233. - Juan Soler Planas, El pensamientofilosófico deJ M, 1 973. H. Raley, Responsible Vision: The Philosophy of J M, 1 980. - A. Donoso,J M, 1 982. - A. Guy, Historia de la filosofia espafíola, 1 985, pp. 302-307. - M. Suances Marcos, "El espíritu de Ortega: J. M.", em J. L. Abellán e A. Monclús, coords., El pensamiento espafíol contempo ráneo y la idea de América, vol. I: El pensamiento en Espafía desde 1939, 3ª parte, cap. 8, pp. 329-366. e MARINIS, ENRICO DE. Ver ARDIGô, ROBERTO. MARINO DE NEÁPOLIS (Siquém, Shechem ou Sy chem, Samaria) (século V). Membro da escola de Ate nas ( vER), do neoplatonismo ( vER), foi discípulo de Proclo e sucessor deste como escolarca na Academia. É conhecido sobretudo como autor de uma encomiás-
MARITAIN, JACQUES
tica Vida de Proclo, na qual desenvolveu as especulações dialéticas de seu mestre, especialmente no que diz respei to à teoria das virtudes, no âmbito das quais Marino admitiu as chamadas virtudes teúrgicas, consideradas as supremas. Ao lado dessa especulação religioso-moral, realizada no espírito do sincretismo, Marino escreveu uma série de comentários ou diálogos platônicos. Obser va-se às vezes que esta última produção contrasta com a anteriormente mencionada no sentido de que representa um afastamento das tendências teúrgicas e uma aproxi mação do pensamento puramente racional, em particular daquele que faz uso dos métodos matemáticos. O interes se que a matemática tinha para Marino é confirmado, aliás, pelo fato de ser ele autor de vários escritos sobre essa disciplina e de ter influenciado a esse respeito outros autores neoplatónicos (por exemplo, Damáscio). :> Edição da vida de Proclo: Marini Vita Procli, por I. F. Boissonade, Lipsiae, 1 8 14. Ver: S. Sambursky, Proklos, Priisident der platonis chen Akademie, und sein Nachfolger, der Samaritaner Marinas, 1 985 (folheto monográfico: conferência de 6 de julho de 1 985). e MARIO VICTORINO. Ver V1croR1No, CAYO MARIO. MARITAIN, JACQUES ( 1 882- 1 973). Nascido em Paris. Discípulo primeiro de Bergson (cuja filosofia não tar dou a submeter a exame crítico), converteu-se em 1 906 ao catolicismo, principalmente por influência de Léon Bloy. A partir de 1 9 1 4, lecionou no Institut Catholique de Paris; foi professor visitante em muitas universida des, bem como professor titular em Princeton. Foi tam bém embaixador da França no Vaticano. Representante da neo-escolástica, e em especial do neotomismo, cujas teses fundamentais explicou e defen deu - em muitos casos seguindo João de Santo Tomás -, Maritain se propõe o estabelecimento de uma meta fisica cristã que, ao reafirmar o primado da questão on tológica sobre a gnosiológica, permita evitar os erros e distorções em que, a seu ver, desembocou o idealismo moderno: "a metafisica que considero fundada na ver dade" - confessa ele - "pode caracterizar-se como um realismo crítico e como uma filosofia da inteligên cia e do ser, ou, mais justamente ainda, do existir tido como o ato e a perfeição de todas as perfeições" (Con fession de foi, 1 94 1 , p. 1 6). A filosofia tomista não é por isso, segundo Maritain, uma filosofia do passado que seja urgente restaurar, mas um pensamento vivo que convém aprofundar. Pois o racionalismo idealista mo derno é sobretudo, para Maritain, um antropocentrismo, no âmbito do qual cabe contar não apenas as tendências racionalistas em sentido estrito, mas também, e muito especialmente, o irracionalismo romântico, cujo freqüen te vínculo com o panteísmo é uma evidente demonstra ção do círculo vicioso em que se move sem cessar toda
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MARITAIN, JACQUES
afirmação da superioridade autônoma da consciência. Diante do panteísmo, em seus dois aspectos raciona lista e irracionalista, contra o antropocentrismo, que significa, no fundo, uma negação da transcendência, Maritain sustenta o personalismo enquanto filosofia que, sem negar a subsistência do homem, sua indepen dência diante das coisas, não equivalha tampouco a fa zê-lo fundamento último das coisas. O homem é para Maritain uma pessoa, não apenas um indivíduo isolado ou o servo de qualquer falsa transcendência puramente terrena; como tal, o homem está vinculado com Deus e na direção Dele se realiza a expansão de todas as suas possibilidades. Assim, só pelo caminho do personalis mo cristão se poderá, de acordo com Maritain, superar a dificuldade interna do idealismo moderno e, ao mes mo tempo, ampliar o campo do saber, que dessa maneira integrará em sua unidade não apenas a ciência e a filo sofia, como também a sabedoria tal como definida e concebida por Santo Agostinho. A rigor, a questão do saber é tudo, menos um problema puramente técnico e está no próprio cerne de uma reforma do homem. A preocupação à formação de uma hierarquia dos saberes e dos graus do saber destinado a proporcionar um firme alicerce à ordem intelectual que deve substituir a desor dem moderna, a distinção e ao mesmo tempo a com plementação da ciência e da sabedoria, o esforço para definir o campo de uma filosofia da Natureza, autô noma com relação à metafisica e à ciência positiva, são diversos exemplos que mostram até que ponto a filo sofia "teórica" está indissoluvelmente vinculada à fi losofia "prática". Maritain levou desde o princípio a renovação católica e as teses da filosofia do espírito pes soal às controvérsias sociais e políticas de nosso tempo; apoiando-se na crítica de Rousseau, ele se dirige antes de tudo a uma renovação profunda do pensamento de mocrático, não só, desde logo, contra as distorções do liberalismo atomista moderno, mas sobretudo contra as concepções totalitárias, derivadas do panteísmo e, em particular, do panteísmo hegeliano, contra toda falsa transcendência que não passa, no fundo, de projeção no externo das fraquezas da criatura humana. Durante muito tempo, descreveu-se Maritain como um filósofo tomista "liberal" e, sem dúvida, boa parte de sua obra e de sua atividade se encaminhou ao combate de todo "integrismo". Por outro lado, numa obra publi cada pouco antes de morrer ( 1 969) - intitulada O cam ponês da Carona -, Maritain apresentou uma espécie de "testamento", não só filosófico mas também teológico, sociológico, político e claramente pessoal. Pelo vigor com que combate algumas das tendências que se conside raram emancipadoras no catolicismo, o "testamento" de Maritain foi julgado por alguns como uma tentativa de aproximação do "integrismo". Ora, embora seja certo que há na obra mencionada um forte elemento de con servadorismo, trata-se igualmente de um ataque a tudo
o que o autor considera um "falseamento" do cristianis mo. Em sua opinião, esse falseamento está representado, entre outros, por Teilhard de Chardin e pelos seguidores da cosmologia teológica (ou teologia cosmológica) de Chardin, assim como pelo uso da fenomenologia e da psicanálise para propósitos religiosos. Obras: La philosophie bergsonienne, 1 9 1 4. - Art et Scolastique, 1 920. - Eléments de philosophie (1. In troduction générale à la philosophie, 1 920. II. L'ordre des concepts. Petite Logique, 1 923). - Antimoderne, 1 922. - Réflexions sur l 'intelligence et sur sa vie pro pre, 1 924. - De la vie d 'oraison, 1 924 (em colaboração com Ralsa Maritain). - Trois Réformateurs, 1 925. Primauté du Spirituel, 1 927. - Le docteur angélique, 1 929. - Religion et Culture, 1 930. - Distinguer pour unir ou les degrés du savoir, 1 932. - Le songe de Des cartes, 1 932. - De la philosophie chrétienne, 1 933. Du régime temporei et de la liberté, 1 933. Sept leçons sur l 'être, 1 934. - Science et sagesse, 1 935. - Fron tiéres de la poésie, 1 935. - La philosophie de la nature. Essai critique sur ses frontiéres et son objet, 1 936. Humanisme intégral, 1 936. - Situation de la poésie, 1 938 (em colaboração com Ralsa Maritain). - Ques tions de conscience, 1 938. - Quatre essais sur l 'esprit dans sa condition charnelle, 1 939. -À travers le dé sastre, 1 94 1 . - Le crépuscule de la civilization, 1 94 1 . - Confession defoi, 1 94 1 . - Les droits de l 'homme et la /oi naturelle, 1 942. - Christianisme et démocratie, 1 943. - De Bergson à Thomas d 'A quin, 1 944. - Prín cipes d 'unepolitique humaniste, 1 944. - Pour lajustice: Articles et discours (1940-1945), 1 945. - La personne et le Bien commun, 1 947. - L'éducation à la croisée des chemins, 1 947. - Court traité de l 'existence et de l 'existant, 1 947. - Raison et raisons, 1 948. - Neuf leçons sur les notions premiéres de la philosophie mora/e, 1 95 1 . - Man and the State, 1 952. - Creative Intuition in Art and Poetry, 1 953 [A.W. Mellon Lectures 1 952]. - Approches de Dieu, 1 954. - On the Philosophy of History, 1 957, ed. J. Evans. - Rejlections on America, 1 958. - Pour une philosophie de l 'éducation, 1 959. Pour une philosophie de l 'histoire, 1 959. - Liturgie et contemplation, 1 959. - The Responsibility ofthe Artist, 1 960. - La philosophie mora/e, 1 960. - On the Use of Philosophy: Three Essays, 1 96 1 . - Man s Approach to God, 1 96 1 . - Dieu et la permission du mal, 1 963. Le paysan de la Garonne, 1 966 (confissões pessoais). - De l 'Église du Christ, 1 970. -Approches sans entra ves, 1 973 (coleção de artigos, incluindo textos inéditos). Em português: Cristianismo e democracia, 1 964. - Os direitos do homem e a lei natural, 1 947. - Ele mentos defilosofia, 1 963. - O homem e o estado, 1 952. - Humanismo integral: uma visão nova da ordem cristã, 1 942. - Introdução geral à filosofia, 1 7ª ed., 1 994. Ordem dos conceitos - lógica menor, 1 3ª ed., 1 994. A pessoa e o bem comum, 1 962. - O pensamento vivo -
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de São Paulo, 1 95 1 . - Por um humanismo cristão, 1 999. - Princípios de uma política humanista, 1 946. - Pro gresso progressismo, 1 970. - Sete lições sobre o ser, 1 996. - Sobre a filosofia, 1 967. Correspondência: B. Doering, ed., The Philosopher and the Provocateur: The Correspondence ofJ M. and Sau/ Alinsky, 1 994. Edição de obras: Oeuvres completes de Jacques et Raisa Maritain, 17 vols., 1 982ss. Bibliografia: R. Byms, "A Bibliography of J. Ma ritain, 1 9 1 0- 1 942'', The Thomist 5 ( 1 942- 1 943). - "Bi bliographie résumée des écrits de Jacques Maritain", Revue thomiste, 48 ( 1 948), 24-32. - Donald e Idella Gallagher, The Achievement ofJ and R. M. : A Biblio graphy, 1 962. Ver: Gérard Pheland,J M., 1 93 7. -Rai"sa Maritain, Les grandes amitiés, 1 94 1 . - Id., Les Aventures de la Grâce, 1 944 (nova ed., 1 948). - Julio Meinvielle, Críti ca de la concepción de M. sobre la persona humana, 1 948. -Jaime Castillo, En defensa de M., 1 949. - É. Gilson et alii, J M. : San oeuvre philosophique, 1 949. - E. L. Allen, Christian Humanism: A Guide to the Thought ofJ M. , 1 950 (folheto). - Ch. A. Fecher, The Philosophy ofJ M. , 1 953. - M. L. Cassata, La peda gogia di J M. , 1 953. - N. Padellaro, M. : La filosofia contra /e filosofie, 1953. - J. Croteau, Les fondements thomistes du personnalisme de M. , 1 955. - N. W. Mi chener, M. or the Nature of Man in a Christian Demo cracy, 1 955. - L. Orlandi, Note critiche alia filosofia sacia/e di J M. , 1 955. - V. Lundgaard Simonsen, L'es thétique de J M., s/d ( 1 956). - L. Orlandi,/fondamenti metafisici de/la filosofia sacia/e di J M. , 1 956. -Id., - La società delle persone umane nelpensiero di J M. , 1 956. -C. Santamaría, J M. , 1 956. - Id., J M. y la polémica dei bien común, 1 956. - H. Bars, M. en notre temps, 1 960. - Laura Fraga de Almeida Sampaio, A intuição na filosofia de J M. , 1 996 [com bibliografia completa]. -Thomas D. Rover, The Poetics ofM. , 1 965. - Joseph J. Sikora, The Christian Intellect and the Mys tery of Being: Rejlections of a M. Thomist, 1 966. Josef Reiter, Intuition und Transzendenz. Die ontologis che Struktur der Gotteslehre beiJ M. , 1 967. -John W. Hanke, Maritain s Ontology ofthe Work ofArt, 1 973. Brooke W. Smith, J M. : Antimodern or Ultramodern? An Historical Analysis ofHis Critics, His Thought, and His Life, 1 975 . - J. Amato, Mounier and M.: A French Catholic Understanding ofthe Modern World, 1 97 5. J. Daujat, M. , 1 978. - J. Dunaway, JM. , 1 978. - B. Doering, J M. and the French Catholic Intellectuals, 1 983. -J.-L. Allard, J M. : Philosophe dans la cité / A Philosopher in the World, 1 985 [Congresso Internacional sobre J. M. em Ottawa, 6-9 de outubro de 1 982] . - S. Costantino, Filosofia politica e società in J M. , 1 986. - D. W. Hudson, M. J. Mancini, eds., Understanding M. : Philosopher and Friend, 1 987. - J. F. X. Knasas,
MARKOVIé, SVETOZAR
ed., J M. : The Man and His Metaphysics, 1 988. - P. A. Redpath, ed., From Twilight to Dawn: The Cultural Vision ofJ M., 1 990. Foi fundado ( 1 958) na Universidade de Notre-Da me (Indiana, EUA) um Jacques Maritain Center para estudar e difundir o pensamento do filósofo. -Desde 1 980, são publicados os Cahiers J M. MARKOVIé, SVETOZAR ( 1 846- 1 875). Nascido em Jagodina (Sérvia), estudou em Belgrado e em São Pe tersburgo, indo depois à França e à Suíça e regressando a seu país pouco antes de sua morte. Na Rússia, conhe ceu as doutrinas de Pisarev (VER) e na Suíça se famili arizou com as doutrinas de Marx e com o movimento político que culminou na I Internacional. Igualmente influenciado pelos materialistas da Ilustração e pelo ma terialismo (VER) alemão do século XIX, assim como por autores utopistas franceses deste último século, Markovié pode ser considerado um marxista eclético e um convicto materialista, com forte tendência a incluir motivos evolucionistas darwinianos no quadro de uma dialética. Muitas das idéias de Markovié se desen volveram no decorrer de seus esforços para aplicar o materialismo científico e o socialismo à realidade social e histórica da Sérvia. Contrariamente a Marx, e em maior consonância com desenvolvimentos ulteriores do marxismo, Markovié avaliou ser possível, e necessário, acelerar o processo revolucionário em países industrial mente pouco desenvolvidos - como a Sérvia e a Rússia de sua época - mediante uma democracia popular ins tigada pelos intelectuais socialistas revolucionários em conjunção com camponeses e proletários. Ele também avaliou ser possível passar muito rapidamente ao socia lismo e ao comunismo com a relativamente breve aboli ção do Estado e a participação direta do povo no regime de produção e distribuição econômicas. Segundo Mar kovié, a prática deve estar estreitamente unida à teoria, e de maneira específica a prática socialista deve estar estreitamente unida a uma teoria filosófica materialista (em "ontologia"), realista (em "epistemologia") e idea listicamente realista (em "ética"). O desenvolvimento da ciência e do socialismo caminham juntos, e ambos se alicerçam no ateísmo, que deve libertar os homens de toda tirania e temor. A moral burguesa individual é, no fundo, imoral; a verdadeira moralidade, que é objeto de cultivo e aperfeiçoamento incessantes, é a socialista, única na qual desaparecerá o egoísmo. :> Markovié fundou e dirigiu vários jornais - Rade nik (O Trabalhador), Javnost (O Público), Oslobodjen jen (Libertação) - em defesa de seus ideais. Sua prin cipal obra de economia política é: Nà éelo Narodne Eko nomije, 1 874 (Os princípios da economia nacional ["popular ''}). Edição de escritos: seus numerosos escritos filosó ficos e políticos foram compilados em Sabrani Spisi, 4 vols., 1 960- 1 965.
MARLIANI, JUAN
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Bibliografia: Slobodan Jovanovié, S. M. , 1904. Ver: Jovan Skerlic, S. M. , 1910. - Dimitrije Proda novié, Shvantanje Svetozara Markoviéa o drzavi, 1961. - D. A. Croker, Praxis and Democratic Socialism: The Criticai Social Theory of M. and Stojanovié , 1983. C:
Ver sobretudo Marshall Clagett, Giovanni Marlia ni and Late Medieval Physics, 1941 (tese). - Muitas das obras citadas na bibliografia de MERTONIANOS e PARJS (EscoLA DE) - Duhem, A. Maier etc. - referem-se a Juan Marliani. C:
MARLIANI, JUAN (Johannes Marlianus, Giovanni Marliani) (t 1483). Nasceu em Milão e estudou medici na no Colégio Milanês de Médicos. Marliani lecionou em Pavia, Milão e depois novamente em Pavia. Seu prin cipal interesse foram a medicina e as ciências naturais; sua importância na história da filosofia e da ciência re side sobretudo em seus trabalhos sobre a chamada "rea ção" (reactio) ou esfriamento de um corpo quente em contato com um corpo frio, e, em geral, sobre as leis de transmissão do calor; sobre as leis do movimento unifor memente acelerado e, em geral, sobre as leis do movi mento dos corpos naturais (do chamado "movimento violento" ou movimento experimentado por um corpo ao ser movido por outro, lançado por outro etc.). Espe cialmente importantes foram os experimentos de Mar liani sobre o movimento de bolas num plano inclinado com o objetivo de medir sua velocidade e aceleração, assim como seus experimentos com pêndulos. Em todos esses trabalhos, Marliani manifestou sua familiaridade com as idéias desenvolvidas pelos fisicos de Paris e de Oxford, e em particular pelos últimos (os "mertonia nos" [VER]). Entretanto, os trabalhos de Marliani não consistiram nem numa mera repetição dos experimen tos feitos por esses fisicos e filósofos nem numa sim ples reiteração das idéias correspondentes; em alguns casos, Marliani ultrapassou seus precursores, anteci pando partes não só dos experimentos de Galileu, como também das idéias deste último sobre a natureza e as leis do movimento dos corpos. Particular importância tiveram as correções de Marliani a Tomás Bradwar dine no que tange ao movimento local. :> Obras: Tractatus de reactione, composto em 1448 (publicado em 1525 numa edição de escritos de Cajeta no de Tiene ) . - ln defensionem Tractatus de reactione, composto em 1454 ou 1456 (publicado em 1467). Tractatus physici, que parece ser o mesmo escrito citado por Marliani como o Liber conclusionum diversarum, composto antes de 1460 [inclui capítulos sobre as ques tões abordadas pelos fisicos de Paris e Oxford: De inten sione et remissione (jàrmarum); De intensione et remis sione in difformibus; De maximo et minimo etc.]. Probatio cuiusdam sententiae calculatoris de motu lo cali (publicado em Disputatio, cf. infra). - Disputa tio. . . cum Joanne de Arculis (publicada com a Probatio, cf. supra, em 1460). -Algorismus de minutiis (et alge bra), composto antes de 1464. - Quaestio de propor tione motuum in velocitate (publicado em 1482 como vol. 1 de Opera subtilissima, 2 vols., [o vol. 2 é a indi cada Disputatio ]).
MARSELLI, NICOU). Ver ARDIGó, ROBERTO.
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MARSÍLIO [MARSÍLIO MAINARDINI] DE PÁ DUA (ca. 1275-ca. 1343). Foi reitor da Universidade de Paris (1312-1313), estudou na Itália a filosofia natu ral com Pedro de Abano, regressou a Paris, onde colabo rou com o averroísta João de Jandún em sua obra capi tal e, em conseqüência da denúncia feita contra esta úl tima, se refugiou em Nürenberg com Luís de Baviera, com o qual foi de novo à Itália (1327). Embora costume ser incluído na corrente do averroísmo (VER) paduano, Marsílio de Pádua não se destacou nas investigações de filosofia natural e metafisica, mas nas de filosofia po lítica e em seus propósitos de reforma religiosa. Sua tese filosófico-político-religiosa principal é a da neces sidade não apenas de uma autonomia completa do Es tado, como do predomínio deste sobre a Igreja. Obser vou-se que com isso Marsílio de Pádua não fazia senão proporcionar uma ideologia filosófico-política ao mo vimento de independência estatal das Repúblicas Italia nas do Norte, mas embora isto possa explicar a gênese histórica de sua obra, não dá conta de toda a filosofia política nela contida, que se baseia numa consideração do Estado como sociedade perfeita e suficiente em si mesma, a ponto de não depender do Direito natural. Marsílio de Pádua pretendia com isso restaurar em sua pureza a teoria política aristotélica e assinalava que so mente tal teoria poderia evitar as lutas civis; mas o radi calismo com que ele defendeu estas teses o fez precur sor não apenas do erastianismo posterior, mas também, como o indicou R. Labrousse, do absolutismo moderno. :> Obras: A obra capital, o Defensor Pacis, foi publi cada na Basiléia (1522). Ed. críticas: C. W. Previté Orton (Cambridge, 1928); R. Scholz (Hanover, 19321933 [Fontes juris germanici antiqui] . Ed. e trad. inglesa por A. Gewirth: M. ofP., the Defender ofPeace, 2 vols., 1951-1956. - Outras obras de M. de P. : Defensor minor (ed. crítica por C.H. Brampton [Birmingham, 1922]). - Tractatus de translatione imperii. - Tractatus de iurisdictione imperatoris in causis matrimonialibus. Ver: F. Battaglia, M. da P. e la filosofia politica dei medioevo, 1928. - W. Schneider-Windmüller, Staat und Kirche im Defensor Pacis des M. von P., 1934. - G . de Lagarde, La naissance de l 'esprit laic au déclin du moyen âge. II. M. de P. ou !e premier théoricien de l 'état laique, 1934; 2ª ed., 1948; 3ª ed. [como vol. III e com o subtítulo Le defensor Pacis], 1970. -A. Chechini, lnte1pretazione storica di M. , 1942. - G. de Simone, Le dottrine politi che di M. da P., 1942. -A. Gewirth, M. ofP.: Mediaeval Political Philosophy, 1949. - Jeannine Quillet, La philo-
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sophie politique de M. de P., 1 970. - G. Piaia, M. de P. nella Riforma e nella Controriforma. Fortuna ed inter pretazione, 1 977. A referência a R. Labrousse, na obra do mesmo autor: Introducción a la filosofia política, 1 953, p. 44. C: MARSÍLIO DE INGHEN (ca. 1 3 30- 1 396). Assim chamado por ter nascido em Inghen, nas cercanias de Nimega, foi mestre na Faculdade de Artes da Universi dade de Paris desde 1 362, reitor da mesma Universidade em 1 3 67 e 1 3 7 1 e primeiro reitor da Universidade de Heidelberg em 1 3 86. Discípulo de João Buridan e in fluenciado, além disso, por Guilherme de Occam, Ni colau de Oresme e Alberto da Saxônia, Marsílio de In ghen é considerado um dos "parisienses" ou membros da Escola [de fisicos] de Paris (ver PARIS [EscoLA DE]). Em seus escritos fisicos, principalmente com base em comentários e resumos da Física de Aristóteles, Mar sílio de Inghen abordou o problema denominado da "reação" - ou esfriamento de um corpo quente produ zido por um corpo frio -, rejeitando várias das solu ções que tinham sido propostas para explicar esse fenô meno, mas sem chegar, ao que parece, a nenhuma con clusão definitiva. Ele tratou igualmente do problema da chamada "redução" - ou esfriamento da água quen te -, introduzindo a hipótese de que a forma substan cial da água é a causa principal do mencionado fenôme no. Mais importantes do que seus escritos sobre estes e outros problemas semelhantes, são as análises de Mar sílio de Inghen do problema do movimento local. Se guindo os nominalistas, Marsílio negou que o movimen to fosse alguma entidade; além disso, e sobretudo, de senvolveu a teoria denominada do ímpeto (vER), expli cando a aceleração inicial do corpo em movimento (de um projétil) com base no impulso recebido pelo projétil e pelo ar que o cerca. Marsílio considerou que o ímpeto é uma "disposição" (dispositio ou habitus), assim como uma "ação" (actio oupassio). Em seus escritos lógicos, Marsílio elaborou as doutrinas terministas. Em teologia, recebeu a influência não apenas de Occam como tam bém a de Santo Tomás, mas afastou-se deste no que diz respeito à questão da demonstração do poder infinito de Deus, que não é acessível, segundo Marsílio, à razão natural; embora neste ponto não chegasse tão longe quan to outros nominalistas e admitisse a possibilidade de al guma prova. � Obras: Devem-se a M. de 1. algumas Quaestiones super quatuor libros Sententiarum [sobre as Sentenças, de Pedro Lombarda] publicadas em Estrasburgo em 1 5 0 1 , reimp., 1 969- 1 970; um Textus dialecticus de sup positionibus, ampliationibus etc. , publicado, junto com as Summulae, de Pedro Hispano, em Viena, 1 5 1 2, e em Veneza, 1 5 1 6; urna Expositio super libros Analyticorum priorum, publicada em Veneza em 1 5 1 6 ; algumas Quaestiones sobre o De generatione et corruptione, pu blicadas em Veneza em 1 5 1 8 junto com comentários ao
MARTÍ D'EIXALÀ, RAMON
próprio texto aristotélico de Egidio Romano e Alberto da Saxônia. Atribuem-se a ele algumas Quaestiones subti lissimae super VIII libros physicorum secundum nomina lium viam, que apareceram no vol. II da edição de Opera omnia de Duns Escoto (Lião, 1 639), pp. 1 88- 1 94. Ed. crítica de Suppositiones, Ampliationes, Appelationes, Restrictiones, Alienationes, com trad. ingl. e introd. de E. P. Bos, 1 983. Ver bibliografia do verbete PARIS (ESCOLA DE). Além disso: A. Jellinek, M. ab Inghen, 1 959. - G. Ritter, Stu dien zur Spiitscholastik, 2 vols., 1 92 1 - 1 922 (!. Marsilius von Inghen und die Okkamistische Schule in Deutsch land, 1 92 1 ; II. Via antiqua et via moderna aufden deuts chen Universitiiten des XV Jahrhunderts). C: MARfÍ D'EIXALÀ, RAMON ( 1 808- 1 857). Nascido em Cardona, perto de Barcelona, estudou Direito na Univer sidade de Cervera e foi professor auxiliar de Direito na mesma Universidade ( 1 829- 1 830). Mais tarde, foi pro fessor de "ideologia" na Academia de Ciências Natu rais, de Barcelona, e professor de Direito na Universida de de Barcelona desde 1 83 7 (professor titular a partir de 1 838). O principal interesse de Martí d' Eixalà foi a filosofia. Influenciado pelo empirismo inglês, pela es cola escocesa do senso comum e pela ideologia france sa, Martí d'Eixalà desenvolveu em seu Curso defiloso fia um pensamento no qual uma das três partes em que dividiu a filosofia (ideologia, gramática geral e lógica) desempenha um papel fundamental. Esta parte era a ideo logia. Segundo Martí d' Eixalà, a matemática é uma ciência anafüica, todas as outras ciências são ciências de observação e todas elas consistem em expressão de "idéias". As "idéias" são para Martí d' Eixalà resultado de observações tanto internas como externas, e a própria ideologia é a ciência mais geral das observações e, por tanto, uma ciência empírica. Como as observações se transformam em idéias apenas quando se manifestam sob a forma de atos conscientes, a psicologia - enten dida como uma psicognosia e como uma ciência geral descritiva - é essencial para os fundamentos das ciên cias. Martí d'Eixalà dividiu as idéias em simples e com plexas, num sentido semelhante ao de Locke, mas com várias modificações, especialmente no que se refere à natureza das idéias complexas. Martí d' Eixalà foi o mestre de Llorens i Barba (vER), que escreveu sobre ele uma "Memoria" ( 1 859) e desenvolveu várias das idéias de seu mestre. � Obra capital: Curso de filosofia elemental, 1 84 1 . Devem-se a ele, da mesma forma, algumas Considera cionesfilosóficas sobre la impresión de lo sublime, 1 845 . Ver: J. M. Batista y Roca, "M. d'E. i la introducció de la filosofia escocesa a Catalunya", Hispanic Studies in Honour of !. González Llobera, 1 954, pp. 4 1 -60. J. Roura Roca, R. M. d 'E. i la filosofia catalana dei segle XIX, 1 980. - N. Bilbeny, Filosofia Contemporània
MARTÍ, RAMÓN
a Catalunya, 1 985, pp. 1 59- 1 76 (cap. 8: "R. M. d'E., l'anàlisi de la consciencia"). MARTÍ, RAMÓN. Ver RAMÓN MARTL MARTIN, RICHARD M. Ver METALINGUAGEM; NADA; NOMINALISMO; PRAGMÁTICA. MARTINAK, EDUARD ( 1 859- 1 943). Nascido em Wa rasdin (Croácia), foi Privatdozent ( 1 895- 1 904), profes sor "extraordinário" ( 1 904- 1 909) e professor titular de filosofia e pedagogia na Universidade de Graz (a partir de 1 909). Seguidor de Meinong, foi um dos membros da chamada "Escola de Graz". Martinak dedicou-se espe cialmente à psicologia, trabalhando na denominada "teo ria das disposições", e à pedagogia, ocupando-se das aplicações da primeira à última. Além de seus trabalhos teóricos, deve-se mencionar sua atividade no Ministério da Educação com vistas à reforma escolar na Áustria e à instituição de estudos pedagógicos universitários. � Obras: Lockes Lehre von den Vorstel/ungen, 1 887 (A doutrina de Locke acerca das idéias). - Die Logik Lockes, 1 894 (A lógica de L. ). - Zur Begriffs bestim mung der intellektuellen Gefiihle, 1 895 (Para a determi nação conceituai dos sentimentos intelectuais). - Psy chologische Untersuchungen zur Bedeutungslehre, 1 90 1 (Investigações psicológicas para a teoria da signi ficação). - Meinong ais Mensch und Lehrer, 1 925 (M. como ser humano e professor). - Wesen und Aufgabe der Erziehungswissenschaji, 1 928 (Natureza e missão da ciência da educação). - Psychologische und piida gogische Abhandlungen, 1 929, ed. E. Mally e O. Tum lirz (Tratados psicológicos e pedagógicos). Ver: Beitriige zur Piidagogik und Dispositionstheo rie. Martinak-Festschrift, 1 9 1 9, ed. A. Meinong (com bibliografia de trabalhos de E.M.). e MARTINEAU, HARRIET. Ver CoMTE, AUGUSTO. MARTINEAU, JAMES ( 1 805- 1 900). Nascido em Nor wich. Pastor da Igreja Unitária, teve a seu cargo várias paróquias em Liverpool e Londres; de 1 840 a 1 845, le cionou no New College de Manchester, estabelecido em Londres, e em 1 869 foi nomeado Reitor do mesmo College. De 1 848 a 1 849, residiu em Berlim, onde en controu Trendelenburg e se interessou pela tradição idealista alemã. Martineau opôs-se ao agnosticismo e ao positivismo ingleses e se dedicou a um exame do conhecimento com vistas a estabelecer as bases de uma metafisica. Segundo Martineau, a existência do mundo exterior é indemons trável; esta existência, assim como a correlação entre o pensamento e o ser, devem ser objeto de uma crença, sem a qual é impossível qualquer indagação filosófica ulterior, mas essa crença afeta não apenas o fundamento de todo conhecimento como também o mundo das coisas em si, o qual deve ser concebido como inseparável do mundo dos fenômenos. Justamente a mútua dependência
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entre o fenômeno e a coisa em si faz que se mostre com preensível o fato da lei causal, interpretada não como a simples afecção real do efeito pela causa, mas antes como aquilo que resulta quando a causa é reduzida à razão, isto é, quando o real é concebido como fundado no ideal. Assim, o mundo ideal é entendido por Martineau como um mundo ativo. Ora, essa atividade que constitui o fun do do que existe em e por si mesmo se revela também no sujeito, que pode experimentar, perceber e conhecer porque é fundamentalmente ativo, porque é capaz de es colher. Dessa maneira, a filosofia de Martineau desem boca diretamente numa metafisica em que todo fenôme no aparece como manifestação de uma atividade e de uma vontade, ou, melhor dizendo, de uma série de vonta des cujo centro se acha na própria divindade. De acordo com esse voluntarismo, Martineau desenvolve especial mente a ética, baseada na doutrina do sujeito como ser capaz de escolha entre os motivos opostos e contraditó rios. A redução de todo ser à atividade e à escolha não exclui, porém, a existência de duas realidades que se con trapõem no campo do conhecimento da ética e da metafi sica, mas este dualismo é ao mesmo tempo a expressão de um monismo em que se afirma simultaneamente a transcendência e a imanência de Deus com relação ao mundo e ao homem. � Discípulos de Martineau ou estreitamente vincula dos com seu pensamento são, entre outros, Charles Sar nes Upton ( 1 82 1 - 1 9 1 0), que defendeu a indissolúvel vinculação da ética com a religião e se inclinou a uma revalorização da doutrina de Lotze ( The present Agnos ticism and the Coming Theology, 1 879; An Examination of the Natural Evolution ofMind, 1 883; Can Religion dispense with God?, 1 886; Are Ethics and Theology vi tal/y connected?, 1 892; Lectures on the Bases ofReli gious Belief, 1 894 ); Will iam Benj amin Carpenter ( 1 8 1 3- 1 885), que defendeu com bases fisiológicas e psicológicas a doutrina de Martineau sobre a liberdade da vontade (Principies o/Mental Physiology, 1 874; Na ture and Man, Essays Scientifical and Philosophical, 1 888, póstuma); Richard Holt Hutton ( 1 826- 1 897), que estudou sobretudo os problemas teológicos (Essays Theological and Literary, 1 87 1 ; Aspects ofReligion and Scientific Thought, 1 899, póstuma); Frances Power Cob be ( 1 822- 1 904 ) , dedicada igualmente a questões morais e sociais ( The Theory ofJntuitive Morais, 1 85 5 ; Studies Ethica/ and Social, 1 865; The Hope ofthe Human Race, 1 874; The Scientific Spirit of the Age, 1 888; Autobio grafia em L ije, by Herself, 2 vols., 1 894). O "movimento unitário" defendido pelo círculo de pensadores voltados para a filosofia de Martineau representou com isso uma forte reação contra o agnosticismo naturalista da época, não sem pretender, por outro lado, conciliar o imperati vo religioso com o desenvolvimento da ciência. Sem pertencer ao grupo de Martineau, seguiu todavia orien tações semelhantes Robert F!int ( 1 83 8- 1 9 1 0), conheci-
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do sobretudo por suas pesquisas em história da filosofia da história (The Philosophy of History in Europe: I. The Philosophy ofHistory in France and Germany, 1 874; History ofthe Philosophy ofHistory: II. Historical Phi losophy in France and French Belgium and Switzerland, 1 893), assim como por suas obras antiagnósticas e pro-teístas (Theism, 1 877; Anti-Theistic Theories, 1 879; Agnosticism, 1 903). Obras: The Rationale ofReligious Inquiry, 1 836. Lectures in the Liverpool Controversy, 1 839. - Endea vours afler the Christian Life, 1, 1 843 ; II, 1 847. - Mis cellanies, 1 852. - Studies ofChristianity, 1 858. - Es says, Philosophical and Theological, 2 vols., 1 868. Religion as affected by Modem Materialism, 1 874. Hours of Thought on Sacred Things, 2 vols., 1 876. Modem Materialism, Its A ttitude towards Theology, 1 876. - Ideal Substitutesfor the God considered, 1 879. - The Relation between Ethics and Religion, 1 88 1 . A Study ofSpinoza, 1 882. - Types ofEthical Theory, 2 vols., 1 882. - A Study of Religion, 2 vols., 1 888. The Seat ofAuthority in Religion, 1 890. - Essays, Re views and Addresses, 1 (Personal-Political), 1 890; II (Ecclesiastical-Historical), 1 89 1 ; III (Theological-Philo sophical), 1 89 1 ; IV (Academical-Religious), 1 89 1 . Faith the Beginning, Selfsurrender the Fulfilment ofthe Spiritual Life, 1 897. - National Duties, and other Ser mons, ed. G. e F. Martineau, 1 903. - As "Prayers" de J. M. estão incluídas no volume de Selina Fitzherbert Fox, A Chain ofPrayer across the Ages, 1 9 1 3 . Algumas delas tinham aparecido em Common Prayerfor Christian Wor ship, 1 862, de J. M., outras em Home Prayers, 1 89 1 . Ver: Joseph H . Hertz, The Ethical System of1 M., 1 894. - J. J. Wilkinson, 1 Martineaus Ethik. Darstel lung. Kritik und padagogische Konsequenzen, 1 898 (tese). - R. A. Arrn strong, Martineau s Study of Reli gion, 1 900. - A. W. Jackson, 1 M. : A Biography and a Study, 1 90 1 . - James Drummond e Cr. B. Upton, The LifeandLetters of1 M., 2 vols., 1 902. -0. Price, Marti neaus Religionsphilosophie. Darstellung und Kritik, 1 902. - Henry Sidgwick, Lectures on the Ethics of Green, Spencer and M., 1 902. - J. E. Carpenter, JM., Theologian and Teacher: A Study ofHis Life and Thought, 1905. - Henry Jones, The Philosophy ofM. in Relation to the Idealism ofthe Present Day, 1 905. - Ch. B. Upton, Dr. Martineau s Philosophy, 1 905. - R. A. Armstrong, Martineau s Study of Religion, 1 906. � MARTINETTI, PIERO ( 1 87 1 - 1 943). Nascido em Cas tellamonte (Aosta), foi professor de filosofia téorica da Universidade de Milão de 1 906 a 1 93 1 , quando renun ciou à cátedra por negar-se a prestar o juramento obriga tório requerido pelo governo fascista. Característico do pensamento filosófico de Marti netti é constituir-se por meio de um diálogo crítico com as grandes posições epistemológicas e metafisicas. Atraído no começo pelo imanentismo de Schuppe e
MARTINETII, PIERO
pelas tentativas de desenvolver uma metafisica indutiva baseada nos resultados das ciências positivas, Martinetti logo se voltou para a elaboração de uma "filosofia crí tica" na qual a teoria do conhecimento devia depurar se de pressupostos metafisicos, mas ao mesmo tempo chegar a uma concepção global metafisica. Martinetti denunciou as insuficiências das diversas formas de rea lismo e de idealismo, mas considerou que só por meio da experiência filosófica ao longo da história se poderia depurar o pensamento; portanto, a crítica dessas posi ções é simultaneamente uma preparação para admitir o que tivessem de plausível. A trajetória do pensamento de Martinetti procede mediante um exame dos diversos graus pelos quais se constitui o saber: a consciência e suas representações; o mundo representado pela cons ciência; a unidade, ou, melhor, a correlação da consciên cia com o mundo etc. No curso dessa exploração, Mar tinetti chegou à conclusão de que o primado gnosiológi co da consciência não destrói a objetividade do conheci do; antes implica essa objetividade sem a qual a própria consciência perderia sua razão de ser; pois a consciência é essencialmente apropriação da realidade. Tal apropria ção se realiza a partir do estágio da experiência sensível, com suas formas do espaço e do tempo, que unificam a experiência, e com as formas da causalidade e da iden tidade, que permitem novas unificações. Estas unifica ções não são, para Martinetti, como o eram para Kant, resultado de aplicação ao material dado de formas a priori, mas conseqüência de uma unidade própria sis temática da realidade empírica. No final, chega-se a uma completa unidade, a unidade absoluta, de caráter metafisico. Processo similar é realizado na trajetória que leva à liberdade, que é propriamente para Martinetti libertação, no decorrer da qual se desenvolvem o Direi to, a moralidade e a religião. Os graus da liberdade são, assim, paralelos aos graus da realidade. � Obras: Il sistema Sankhya, 1 897. Introduzzione alia metafisica. I: Teoria della conoscenza, 2 vols., 1 902- 1 904, reimp., 1 929. - Breviario spirituale, 1 926 [anônimo]. - Saggi e discorsi, 1 926, 2ª ed., 1 929 [co letânea de trabalhos, muitos deles publicados antes em revistas, desde 1 908]. - La libertà, 1 928. - Gesu Cristo e il cristianesimo, 1 934. - Ragione efede, 1 942 [coletânea de trabalhos] . - E. Kant, 1 943, 2ª ed., 1 946. - Hegel, 1 943 . - Martinetti escreveu numerosos ar tigos para a Rivista di filosofia. É também autor de várias antologias comentadas (Platão, Kant, Schope nhauer) e de um comentário aos Prolegômenos de Kant. Ver: G. Gentile, Saggi critici, série 1, 1 92 1 ("La teoria della conoscenza di M."). - G. Savinelli, La religione nel pensiero di P. M., 1 939. - F. P. Alessio, L'idealismo religioso di P. M. , 1 950. - C. Goretti, IIpensierofiloso fico di P. M., 1 952. - Francesco Romano, IIpensiero fi losofico di P. M., 1 959. - Depoimentos e discussões sobre P. M. em Filosofia [Turim], 1 5 ( 1 964), 359-472. -
MARTÍNEZ DEL SOLAR, GABRIEL
- E. Mariani, Esperienza e intuizione. Saggio sulpensie ro di P. M. , 1 964. - C. Terzi, P. M.: la vita e il pensiero origina/e, 1 966. Obras: The Mechanical Bride: Folk/ore of Indus trial Man, 1 95 1 . - Explorations in Communication,
MCTAGGART, JOHN MCTAGGART ELLIS
1 960 (com E. S. Carpenter). - The Gutenberg Galaxy: The Making ofTypographic Man, 1 962. - Understan ding Media: The Extensions ofMan, 1 964. - The Me dium is the Message: An Inventory ofE.ffects, 1 967 (com Quentin Fiore). - Counterblast, 1 969 (com Harley Parker). - Through the Vanishing Point: Space in Poetry and Painting, 1 968 (com Harley Parker). - War and Peace in the Global Vil/age, 1 968 (com Quentin Fiore). - From Cliché to Archetype, 1 970. - Sharing the News: Friendly Teamness, Teaming Friedness, 1 97 1 . Em português: A galáxia de Gutenberg: aformação do homem tipográfico, 1 972. - Os meios de comuni cação, 1 996. Ver: Gerald Emanuel Stearn, ed., Mel. Hot and Coo/, 1 967. - W. Foshay, Eli M. Oboler et ai., The Mel. Explosion: A Casebook on Mel. and Understan ding Media, 1 968, ed. Harry H. Crosby, George R. Bond. - Sidney Finkelstein, Sense and Nonsense of Mel. , 1 968. - Raymond Rosenthal, ed., Mel. Pro and Con, 1 968. - Jonathan Miller, Mel. , 1 97 1 . - Umberto Silva, La galaxia Mel. , 1 976. - J. Fekete, The Criticai Twilight: Explorations in the Ideology ofAnglo-Ame rican Literary Theory Jrom Eliot to M. , 1 978. C McTAGGART, JOHN McTAGGART ELLIS ( 1 8661 925). Nascido em Londres, estudou no Trinity College (Cambridge), onde foi nomeado Tutor em 1 897. Influen ciado por Hegel, cujas doutrinas expôs, comentou e inter pretou, McTaggart foi um dos grandes representantes do idealismo inglês. Ao contrário de outros idealistas coetâneos, McTaggart não destacou os aspectos morais e religiosos do idealismo. Ele não negligenciou esses aspectos, mas se interessou principalmente, como Bra dley, pela arquitetura metafisica do idealismo e por sua articulação lógica interna. Segundo McTaggart, tem de haver harmonia entre a crença religiosa e o pensamento filosófico, harmonia paralela à que tem de haver entre as pessoas e o universo. Mas essa harmonia não resulta de um desejo pio, mas de um esforço sistemático de pensamento. A filosofia de McTaggart é por isso uma filosofia de caráter rigorosamente dedutivo e construtivo, que parte de primeiros princípios e deduz deles impla cavelmente as conseqüências. McTaggart afirmou que seu idealismo era um "idea lismo pessoal", diferente do de Bradley. Com efeito, enquanto este último elaborou um idealismo de caráter "orgânico" e monista, McTaggart expôs um sistema de índole pluralista segundo o qual a realidade é uma co munidade de "eus" finitos. Desse modo, McTaggart pensou que podiam ser evitados os obstáculos com que se chocava o idealismo monista e ser resolvido o proble ma da relação entre a aparência e a realidade, e sobretu do o problema da relação entre a realidade absoluta e as realidades pessoais finitas. Com esse objetivo, pôs a seu serviço a dialética de Hegel, mas não sem intro-
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Obras; Studies in the Hegelian Dialectic, 1 896. Studies in the Hegelian Cosmology, 1 90 1 . - Some Dogmas of Religion, 1 906. - A Commentary on He gel s Logic, 1 9 1 O. - Human Immortality and Pre-Exis tence, 1 9 1 5 . - The Nature ofExistence, 2 vols., 1 92 1 -
MECANICISMO
1 91 5
1 927 (póstumo). - Philosophical Studies, 1 934 (póstu mos, ed. S.V. Keeling). Ver: G. Lowes Dickinson, 1 McT. E. : A Memoir, 1 93 1 . - C. D. Broad, Examination ofMcTaggart s Phi losophy, 3 vais., 1 933- 1 938. -T. Airaksinen, The Onto logical Criteria ofReality: A Study ofBradley and Mc Taggart, 1 97 5 . - P. T. Geach, Truth, Lave and lmmor tality: An lntroduction to Ms Philosophy, 1 979. D. J. Farmer, Being in Time: The Nature of Time in Light of M.s Paradox, 1 990. - G. Rochelle, The Life and Philosophy of1 M, 1 866-1925, 1 99 1 . C: -
MEAD, GEORGE HERBERT ( 1 863- 1 93 1 ). Nascido em South Hadley, Massachusetts (EUA), foi primeiro professor ( 1 89 1 ) na Universidade de Michigan e depois ( 1 894) na de Chicago. Mead é considerado um dos principais representan tes do pragmatismo (vER) norte-americano. Na verdade, poder-se-ia fazer o oposto, pois já a partir de Michigan Mead influenciou Dewey, levando-o da idéia hegeliana de um "Espírito universal" à de um contexto social. A noção de um "eu social" foi uma das idéias mestras de Mead, que denominou sua própria doutrina "beha viorismo [ comportamentalismo] social"; seu principal tema foi o estudo do aparecimento emergente (VER) do eu como organismo em estreito contato com o mundo social circundante. O estudo do uso dos signos e da linguagem foi tido por Mead como fundamental na aná lise do comportamento humano, pois esse estudo permi te entender como se integram efetivamente o indivíduo com seu ambiente social, e cada comunidade num mo mento de seu desenvolvimento com os momentos ante riores e subseqüentes. A teoria social de Mead, baseada numa filosofia da interpretação dos eus numa trama orgânica, constitui uma tentativa de explicar a possibi lidade de um progresso social incessante; em muitos casos se trata, com efeito, não só de uma descrição e explicação do comportamento social humano, mas tam bém de um sistema de valores que se vão constituindo no curso de uma ação social criadora. É importante, e interessante, no pensamento de Mead sua noção de "presente" e a filosofia nela funda da. Não tratamos aqui deste ponto por ter-nos referido a ele no verbete INSTANTE. � Obras: Os livros de Mead são publicações póstu mas: The Philosophy of the Present, 1 932. - Mind, Self, and Society, 1 934. - Movements of Thought in the Nineteenth Century, 1 936. - The Philosophy of the Act, 1 938. - Selected Writings, 1 964, ed. Andrew J. Reck [25 artigos publicados durante sua vida] . - The Individual and the Social Self Unpublished Work by G. H. M , 1 982, ed. D. L. Miller. Ver: Eugene Clay Holmes, Social Philosophy and the Social Mind: A Study of the Genetic Methods of1 M. Baldwin, G. H. M. and 1 E. Boodin, 1 942. - G.
Chin Lee, G. H. Mead: Philosopher of the Social Indi vidual, 1 945. - D. Victoroff, G. H. Mead, sociologue et philosophe, 1 95 3 . - Paul E. Pfuetze, The Social Self, 1 954 (especialmente pp. 37- 1 1 6 e 229-299). - VV. AA., The Social Psychology of G. H. Mead, 1 956, ed. A. Strauss. - M. Natanson, The Social Dynamics ofG. H. Mead, 1 956, reimp., 1 973 (tese resumida). - David L. Miller, G. H. M : Self, Language, and the World, 1 973. - Konrad Raiser, Identitiit und Sozialitiit. G. H. Meads Theorie der Interaktion und ihre Bedeutungfar die theologischeAnthropologie, 1 973. - David Miller, Peter List et ai., The Philosophy ofG. H. M. , 1 973, ed. Walter R. Corti [Seminário em Winterthür, agosto de 1 970] . - Israel Sheffier, Four Pragmatists: A Criticai Introduction to Peirce, James, M. and Dewey, 1 974. W Kang, G. H. Mead s Concept ofRationality: A Study ofthe Use ofSymbols and Other Implements, 1 976. A. M. Nieddu, G. H. M. , 1 978. - H. Joas, Praktische Intersubjektivitiit. Die Entwicklung des Werkes von G. H. M. , 1 980. - T. W Goff, Marx and M. : Contributions to a Sociology of Knowledge, 1 980. - M. Aboulafia, The Mediating Self· M, Sartre, and Self-Determination, 1 986. - P. A. Y. Gunter, ed., Creativity in G. H. M. , 1 990 [Simpósio sobre a criatividade em M. ]. - S. B. Ro senthal, M. and Merleau-Ponty: Toward a Common Vi sion, 1 99 1 . - M. Aboulafia, Philosophy, Social Theory, and the Thought of G. H. M, 1 99 1 . - G. A. Cook, G. H. M. The Making of a Social Pragmatist, 1 993 . C: -
MECANICISMO. O termo grego µrJxavií significa "invenção engeRhosa", "máquina" (especialmente "má quina de guerra" e "máquina teatral"). Os gregos usavam também µrJxavtKJÍ para indicar "invenção engenhosa", "mecanismo" e até "maquinação". O µfJXOVtKÓç era o homem hábil em artes mecânicas, o "engenheiro". Mui tos autores gregos usaram estes e outros termos similares, mas sem dar-lhes alcance filosófico; assim, por exem plo, Platão empregou µrJxavií para referir-se a um ex pediente, um meio de levar a cabo (engenhosamente) um fim (Ap. , 39D; Leg. , 7 1 3 E; Phaidr, 72 D). Eucken recorda que 'mecânica' , µfJXOVtKJÍ, e 'coisas mecâni cas', Tà µfJKOVtKá, foram termos usados por Aristóte les para referir-se a artefatos construídos pelo homem; a "arte mecânica" é a arte (ou "técnica") que proporcio na as regras necessárias para construir (e possivelmente usar) tais artefatos. Estes podem ser, e costumam ser, "máquinas", as quais executam operações que substi tuem as operações naturais e que às vezes são mais van tajosas do que estas. Assim, uma alavanca é uma "má quina" por meio da qual se pode aumentar a força exer cida pelo braço. Eucken observa também que o termo 'mecânico' foi usado durante muitos séculos no senti do - ou sentidos - indicado; durante a Idade Média, por exemplo, falava-se de ars mechanica, considerada, aliás, uma arte inferior e subordinada. Mas desde Des-
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cartes se empregou 'mecânico' principalmente para de signar uma teoria destinada a explicar as obras da Natureza como se fossem obras mecânicas e, mais es pecificamente, como se fossem máquinas. Robert Boyle, que introduziu muitos termos no vocabulário fi losófico e científico moderno, usou, ou pôs em circu lação, o vocábulo mechanicus e também o termo me chanismus. Além disso, empregou a expressão mecha nismus universalis como equivalente a 'Natureza' . Durante algum tempo, usou-se 'mecânico' como equivalente de 'corpóreo' e de 'material ' - mechani cum sive corporeum . 'Mecânico' opunha-se, pois, a ' in corpóreo' , a ' imaterial ' e a 'espiritual ' ; o mecânico era considerado o próprio de todo automaton. Não obstante, usou-se, e continua a se usar, 'mecanismo ' para desig nar um modo de operação que pode referir-se, em prin cípio, não apenas às máquinas, mas também aos espí ritos. Fala-se, assim, de "mecanismos da mente", "me canismos do espírito", "mecanismo da razão" etc. Na época moderna, a partir aproximadamente do século XVI, e sobretudo desde o século XVII, usaram se os termos 'mecânico' , 'mecânica' (como substantivo) e 'mecanicismo ' (ou também 'mecanismo' ) de diversos modos. Produziram-se com isso confusões, a menos que se tenha especificado em cada caso qual o alcance desses termos. Denominou-se, por exemplo, "mecânica" o estudo dos movimentos dos corpos em diversos estados. Várias teorias tisicas e, de modo eminente, "a" teoria tisica de Newton foram incluídas no âmbito da mecânica. No caso de Newton, costuma-se falar inclusive da "mecâni ca de Newton". Algumas das teorias tisicas incluídas na "mecânica" ou na "ciência da mecânica" são teorias cinemáticas, isto é, teorias que descrevem movimentos dos corpos independentemente das forças que os cau sam (seja por avaliar que os movimentos dos corpos se acham "livres de força", seja por eliminar a própria noção de força, considerada ou como "metafisica" ou como só "mental"). Outras teorias igualmente incluí das na "mecânica" são teorias dinâmicas, isto é, teo rias que estudam as causas das mudanças nos movi mentos dos corpos. Em vista disso, alguns autores con sideraram inapropriado denominar "mecânicas" as teo rias cinemáticas e as teorias dinâmicas - idéia que se reforça por uma contraposição clássica entre "mecâni co" e "dinâmico". Não obstante, deve-se levar em conta que um sistema pode ser mecânico inclusive se os mo vimentos do sistema são explicados cinematicamente ou então dinamicamente. Assim considerado, um siste ma é mecânico se a explicação do sistema - que se supõe que corresponde à estrutura do sistema - consis te num estudo dos movimentos dos corpos em vários es tados. Desse ponto de vista, distingue-se entre teorias mecânicas e teorias não mecânicas. As teorias eletro-
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magnéticas, por exemplo, não são mecânicas - o que não impede, ou não impediu, de procurar apresentá-las no âmbito do esquema conceituai da chamada "mecâni ca", e especificamente .da "mecânica clássica". Tudo isso indica que o uso de 'mecânico' e 'mecâni ca' pode prestar-se a confusões; nem sempre se sabe se se fala de um sistema tisico, de uma teoria ou de um modelo ou esquema de explicação. Na história da filosofia, costuma-se dar o nome de "mecanicismo" a um tipo de doutrina segundo a qual toda realidade, ou ao menos toda realidade natural, tem uma estrutura comparável à de uma máquina, de modo que pode ser explicada com base em modelos de máqui nas. Este é o sentido que se dá a 'mecanicismo' quando se trata da "filosofia natural" de autores como Descar tes, Boyle, Huygens, Newton, Hobbes etc. Nem todos esses autores entendem o mecanicismo do mesmo mo do, ou dão ao mecanicismo a mesma importância. As sim, por exemplo, Descartes era mecanicista no que diz respeito à "substância extensa", mas não à "substância pensante". Hobbes, em contrapartida, era mecanicista em todos os sentidos, já que sua filosofia pode receber o nome de "filosofia dos corpos". Alguns mecanicistas, como Gassendi e Boyle, eram ao mesmo tempo atomis tas; Descartes, em compensação, não o era, ou não o era totalmente. Certos autores que se interessaram mais em elaborar a "ciência da mecânica" do que pela filoso fia mecanicista (Huygens, Newton etc.) foram mecani cistas científicos e só em parte mecanicistas filosóficos. Para Mersenne e alguns autores de sua época, o meca nicismo era incompatível com o "naturalismo", conce bido como o conjunto de doutrinas organicistas, ocul tistas etc., próprias de alguns pensadores do Renasci mento. Por esses exemplos, pode-se ver como o mecani cismo é complexo e como é errôneo supor que ele pode reduzir-se a uns tantos princípios fixos. Por uma parte, entende-se por 'mecanicismo ' uma série de idéias pró prias da mecânica (a "mecânica moderna") em seus três aspectos fundamentais de estática, cinemática e dinâmica. Por outra parte, entende-se por 'mecanicis mo ' uma série de idéias filosóficas, quer relativas a toda a realidade natural - "corpos e espíritos" -, quer confinadas à realidade corpórea e material. Essas idéias costumaram estar em estreita relação com o desenvol vimento da mecânica. Por fim, entende-se por 'mecani cismo' uma concepção do mundo que às vezes - como indicamos - foi independente do naturalismo, e até hostil a este, mas que com freqüência se vinculou com doutrinas de caráter naturalista e materialista. Como no quadro desta obra não podemos fazer justiça a todos os aspectos e a todas as complexidades do mecanicismo, nós o consideraremos sobretudo como uma doutrina filosófica e como uma concepção do mundo.
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S. C. Pepper indicou que há no "mecanicismo" uma "metáfora radical": a da máquina. Esta pode ser do tipo de um relógio ou do tipo de um dínamo; em ambos os casos, opina Pepper, temos um mecanicismo, embora de diferentes formas. De acordo com Pepper, o meca nicismo se opõe ao "formismo", ao "organicismo" e a teorias similares. Em suma, o mecanicismo pode defi nir-se como uma doutrina que aborda a realidade ou, segundo o caso, uma parte da realidade - como se fosse uma máquina ou como se pudesse ser explicada com base num "modelo de máquina" (o chamado "mo delo mecânico"). Ser uma máquina ou ser explicável com base numa máquina não é, naturalmente, a mesma coisa. Foi freqüente que o mecanicismo, em especial enquanto concepção do mundo, fosse ao mesmo tempo uma doutrina sobre a natureza da realidade e uma dou trina sobre o melhor modo de explicar a realidade, mas em principio se deveria distinguir entre "concepção me canicista" e "explicação mecanicista". O mecanicismo como "concepção" avalia que a realidade considerada - ou, no mecanicismo radical, toda realidade - consiste em corpos em movimento. Esses corpos podem às vezes ser tidos como um único corpo regido por leis mecânicas, mas é mais freqüente que se admita uma pluralidade em princípio infinita de corpos elementares; por isso, o mecanicismo foi muito amiúde atomista, isto é, combinou-se com uma "filoso fia corpuscular" (Boyle, por exemplo, julgava que "fi losofia corpuscular" e "filosofia mecânica" eram a mes ma coisa). Esses corpos elementares carecem de força própria, ou tende-se a concebê-los como se carecessem de força própria. Toda força possuída por um corpo lhe foi impressa por outro corpo por meio do choque. Neste caso, o mecanicismo é uma generalização da mecânica, que foi definida como "a ciência do movimento". Essa ciência se compõe de leis tais como as "leis newtonianas do movimento" (vER) . Imagina-se que não há senão uma constante fisica - a massa do corpo -, que, ao contrário do postulado pela teoria da relatividade, é in dependente da velocidade. Característica do mecanicismo é a admissão de que todo movimento se efetua segundo uma rigorosa lei cau sal. O mecanicismo é, neste sentido, antifinalista e, des de sempre, desconfia radicalmente de toda "qualidade oculta". Além disso, procura reduzir as chamadas "qua lidades secundárias", ou qualidades da sensação, a "qualidades primárias" (se possível, a propriedades geo métricas). Isso não significa que todos os autores meca nicistas tenham sido completamente antifinalistas. Exem plos de autores que procuraram combinar uma concep ção mecanicista com uma concepção teleológica da rea lidade foram Leibniz e Locke. O primeiro, sobretudo, não se cansou de afirmar que a realidade natural é com preendida por meio de razões baseadas na figura e no
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movimento dos corpos, e não por meio de "formas incor póreas"; que "tudo acontece na Natureza mecanica mente"; que se devem eliminar as formas substanciais, as idéias operativas etc. Mas ao mesmo tempo indicou que todos os mecanismos são regidos, em última análi se, por finalidades. Entretanto, quase todos os autores mecanicistas, ou assim chamados, o foram de uma forma mais radical; especialmente os mecanicistas do tipo de Hobbes, e não poucos filósofos e homens de ciência dos séculos XVIII e XIX, desterraram toda finalidade. O mecanicismo como modo de explicação consiste grosso modo na doutrina segundo a qual uma explicação - ao menos uma explicação dos fenômenos naturais - é em última instância uma explicação que segue um "modelo mecânico". Em que consiste esse modelo é algo menos claro. Com efeito, tão logo se procuram determinar as condições que uma explicação mecâni ca deve satisfazer, enfrentam-se várias dificuldades. De imediato, a chamada "explicação mecânica" não tem o mesmo sentido preciso quando é, ou acaba por ser, uma explicação de caráter muito geral, onde a única coisa a servir de orientação é a vaga idéia de "máquina", e quando é uma explicação dada no âmbito do corpo teorético de uma ciência. O primeiro tipo de explica ção é dificilmente analisável; o último, em contraparti da, é analisável. Por outro lado, mesmo no caso de obter se clareza suficiente sobre o que se entende por 'expli cação mecânica' , há explicações desse tipo cujas con dições são mais estritas do que outras. Assim, por exem plo, alguns av.aliam que a explicação mecânica dada no sistema de Newton é suficiente, constituindo até o tipo exemplar de toda explicação mecânica. Outros, em con trapartida (entre eles, o próprio Newton), consideraram haver ainda nesse sistema pelo menos uma noção - a de "ação à distância" - que não satisfazia os requisitos da explicação mecânica. O fato de não ter levado em conta a complexidade da natureza da explicação mecânica - ou, se se deseja, das várias explicações mecânicas possíveis - permite compreender em grande parte o caráter interminável das discussões sobre se o mecanicismo moderno chegou ou não a seu fim. Alguns autores alegaram que tanto a evolução da ciência em geral, e da fisica em particular, como as novas idéias filosóficas permitem falar de uma "decadência do mecanicismo" na ciência e na filosofia. Assim, por exemplo, as filosofias de tendência fenome nista e qualitativista, por um lado, e a crescente impor tância de noções como as de "estrutura", "campo", "fim ção" etc., por outro, são, na opinião desses autores, uma prova de que é anacrônico continuar mantendo uma con cepção mecanicista ou esforçar-se por continuar a dar explicações mecânicas. Enfatizou-se, além disso, que as explicações mecânicas são uma manifestação das ten dências reducionistas (ver REouçÃo) em que foi pró-
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diga a época moderna, mas que provaram ser uma falá cia na ciência e na filosofia contemporâneas. Outros au tores, em compensação, afirmam que a ciência pelo me nos progride tão-somente na medida em que possa dar explicações mecânicas, e que, se estas parecem hoje impossíveis para algumas ciências, ou partes de ciên cias, serão possíveis no futuro. A nosso ver, tais discus sões padecem de uma dilucidação insuficiente do signi ficado de 'explicação mecânica' e, ademais, de uma re dução ilegítima do sentido da explicação mecânica ao tipo de explicação usado no passado. É mais plausível adotar a esse respeito uma atitude flexível que pode consistir em admitir: 1) que há vários tipos possíveis de explicação mecânica, de sorte que algumas dessas ex plicações podem ser mais complexas do que outras; 2) que há uma evolução efetiva nas ciências, evolução que torna possível a existência de explicações mecânicas em certos períodos e impossível em outros; 3) que a possibilidade de dar explicações mecânicas de certas realidades não garante de modo algum que se possam dar explicações mecânicas de todas as realidades. Um dos aspectos mais importantes e discutidos do mecanicismo é sua doutrina acerca da natureza e com portamento das realidades orgânicas. Neste caso, o me canicismo se opôs ao "organicismo", ao "vitalismo" (ou "neovitalismo") e ao "biologismo". Estendemo-nos sobre esse ponto sobretudo nos verbetes ORGÂNICO e VITALISMO. Os precedentes do mecanicismo moderno foram investigados por autores como Pierre Duhem, Anne liese Maier, A. Koyré, M. Clagett, E. A. Moody e outros; ver alguns de seus escritos a esse respeito nas biblio grafias de MERTONIANOS e PARIS (ESCOLA DE). � Em muitas das obras citadas na bibliografia de Fí SICA, em especial no que se refere à física moderna, estuda-se a história do mecanicismo moderno, ou partes dela. Além disso, ver: Ernst Mach, Die Mechanik in ihrer Entwicklung, historischkritisch dargestellt, 1 883. - E. Meyerson, ldentité et Réa/ité, 1 908. - Id., De / 'exp/ication dans les sciences, 1 92 1 . - L. von Renthe Fink, Magisches und naturwissenschaflliches Denken in der Renaissance. Eine geistesgeschichtlichanthropo logische Studie über die Ursprünge des mechanistis chen Weltbildes, 1 934 (tese). - Anneliese Maier, Die Mechanisierung des Weltbildes im 1 7. Jahrhundert, 1 938. - A. Koyré, Études galiléennes, 1 940. - ld., From the Closed World to the lnfinite Universe, 1 957. - R. Lenoble, Mersenne et la naissance du mécanis me, 1 943 . - E. J. Dijksterhuis, De mechanisiering von het werelbeeld, 1 950. - E. A. Moody, "Galileo and Leaning Tower Experiment", Journal of the History of ldeas, 1 2 ( 1 95 1 ), 1 63- 1 93 , 375-422. - R. E. Scho field, Mechanism and Materialism: British Natural Phi losophy in an Age ofReason, 1 970. - G. Freudenthal,
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A tom and Individual in the Age ofNewton: On the Ge nesis of the Mechanistic World View, 1 985. Sobre a "metáfora do mecanicismo": Stephen C. Pepper, World Hypotheses, 1 942, cap. IX. - Colin M. Turbayne, The Myth ofMetaphor, 1 962 [principalmente sobre o mecanicismo de Descartes e Newton] . Sobre os filósofos e as máquinas: Paolo Rossi, l filosofi e le macchine (1400-1 700) , 1 962. Entre as muitas discussões sobre mecanicismo e an timecanicismo na época atual, ver: L. P. Jacks, The Re volt against Mechanism, 1 934 [Hibbert Lectures 1 933). - Ph. Frank, Das Ende der mechanistischen Physik, 1 935. - A. D' Abro, The Decline ofMechanism in Mo dern Physics, 1 939; 2ª ed. com o título: The Rise of the New Physics: lts Mathematical and Physical Theories, 2 vols., 1 95 1 . - Ernest Nagel, The Structure ofScience: Problems in the Logic of Scientific Explanation, 1 96 1 , pp. 1 53-202. - Milic Capek, Th e Phi/osophical lmpact of Contemporary Physics, 1 96 1 , pp. 1 35 - 1 40, 289-332. - D. M. MacKay, lnformation, Mechanism and Mea ning, 1 969. - D. C. Dennett, "Mechanism and Res ponsibility", em T. Honderich, ed., Essays on Freedom ofAction, 1 973, pp. 1 57- 1 84. - D. L. Schindler, ed., Beyond Mechanism: The Universe in Recent Physics and Catholic Thought, 1 986. Sobre a natureza e mecanicismo: Robert Hainard, Nature et Mécanisme, 1 947. Para bibliografia sobre vitalismo e mecanicismo, ver VITALISMO. e: MEDIAÇÃO, MEDIATO. O conceito de mediação foi usado, explícita ou implicitamente, por vários filósofos antigos, que tiveram necessidade de encontrar um modo de relacionar dois elementos distintos; nesse sentido, a mediação foi entendida como a atividade própria de um agente mediador que era ao mesmo tempo uma realidade "intermediária". Assim, por exemplo, temos a idéia de mediação na atividade do demiurgo (VER) de Platão. Também temos essa idéia na concepção de que há intermediários entre Deus (ou o Uno) e a alma. Esses intermediários cuja função é "mediar" podem ser pou co numerosos, como afirma Plotino (Enn. , V, 1 , iii), ou podem ser muito numerosos, como ocorre em algumas das "religiões orientais". As hipóstases (vER) podem ser entendidas também como "mediadoras" em vários dos sistemas neoplatônicos. No cristianismo, Cristo é con cebido como perfeito mediador. A noção de mediação desempenha igualmente um papel importante na lógica clássica e, em especial, na aristotélica. O chamado "termo médio" no silogismo exerce uma função mediadora no raciocínio, visto que torna possível a conclusão a partir da premissa. Em ge ral, a mediação num raciocínio é o que torna possível esse raciocínio; com efeito, num processo discursivo, tanto dedutivo como indutivo, são necessários termos,
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ou 'juízos", que "façam a mediação" entre o ponto de partida e a conclusão. Fala-se também de conhecimento mediato por opo sição a conhecimento imediato; referimo-nos a esse ponto no verbete IMEDIATO. No mesmo verbete, trata mos da idéia de imediatidade em Hegel e da diferença estabelecida por esse autor entre conhecimento imedia to e conhecimento mediato. Hegel concebe o conheci mento mediato em relação com sua idéia da reflexão. Assim como a luz é refletida por um espelho e volta à sua fonte, o pensamento é também refletido ao ricoche tear sobre a realidade ou as coisas "em sua imediati dade". Transforma-se então em saber mediato ou "re flexivo". Nesse sentido, o saber mediato é superior ao imediato. Mas, em outro sentido, o saber imediato é superior ao mediato, embora então a imediatidade de que se trata já não seja a das coisas que estão simples mente "aí", mas a das coisas em sua conexão racional com o Todo. Por isso, em Hegel, o que se pode denomi nar "imediatidade superior" não é possível sem a me diatidade, isto é, sem mediação. Observemos que este foi um dos pontos em que se manifestou com maior insistência a hostilidade de Kirkegaard contra Hegel. Com efeito, para Kierkegaard, a idéia de mediação é resultado de ter concebido a realidade como racional. Na mediação, não há "salto". A rigor, a idéia de media ção, pelo menos tal como empregada por Hegel - e, em ampla escala, como foi adotada pelo marxismo , opõe-se tanto ao "salto" em sentido kierkegaardiano como à "continuidade" em sentido leibniziano. A me diação, entendida metafisicamente, resulta de uma idéia da realidade como processo dialético racionalmente ar ticulável e explicável. Tanto os hegelianos como os mar xistas - ainda que por motivos diferentes - tendem a afirmar que a idéia de mediação permite expressar as "relações concretas" e não simplesmente as "relações abstratas" (como ocorre com a idéia de mediação na lógica clássica). MEDIDA. O conceito de medida foi usado em diversos sentidos e em vários contextos na literatura filosófica e científica. Em geral, a medida é definida como "uma expressão comparativa de dimensões ou quantidades" e, mais precisamente, como "a expressão de uma rela ção entre uma dimensão ou quantidade e um determina do padrão adotado para esse efeito": a chamada "uni dade de medida". Discutiu-se às vezes se a unidade de medida deve ser ou não homogênea com o medido. Em princípio, parece que essa homogeneidade é uma condição indis pensável: os átomos não podem medir as virtudes nem as paixões podem medir as flores. No entanto, pode se, por assim dizer, proceder a uma "homogeneização" do medido com a unidade de medida. Essa homogenei zação costuma ter lugar por meio da "redução" do que
MÉDIO (TERMO MÉDIO)
se procura medir a uma quantidade e pela mediação numérica dessa quantidade. A medida em sentido numérico é a normal em me diações de caráter tisico. Contudo, o conceito de medida foi usado também - de maneira adequada ou inadequa da - em sentido não-numérico. Denominaremos este segundo conceito de medida "conceito ontológico". Temos um exemplo de tal conceito em todas as doutri nas filosóficas nas quais se adota certo padrão de rea lidade com o fim de "medir" outras realidades, ou seja, com o fim de determinar em que proporção - ou me dida - estas últimas realidades se aproximam do pa drão escolhido. Assim, na doutrina platônica, a Idéia "mede ontologicamente" o que participa da Idéia, e as próprias Idéias se "medem ontologicamente" entre si e com relação a alguma Idéia que se suponha suprema ou "mais real" do que as outras. É claro que nesse caso o conceito de medida está relacionado com noções como as de "ordem" (VER), "hierarquia (ontológica)" etc. Há outro sentido de ' medida' que não pode ser re duzido a nenhum dos anteriores, embora mostre alguns elementos deles, especialmente da noção de medida ontológica: é a idéia de medida não apenas como pro porção, mas também como "boa proporção". Esta idéia acha-se estreitamente relacionada com a de justo meio (ver MEIO [Jusro]). Temos um exemplo disso na célebre máxima atribuída aos "Sete Sábios": µri o ev 8:yav, ne quid nimis, "de nada, demasiado". Temos aqui uma me dida que é em parte "real" e em parte "moral". A medida é então um justo meio "nas coisas" e, em particular, nas atividades humanas. A medida indica aqui a posição que se deve adotar entre dois extremos possíveis; indica, além disso, que nenhum extremo é aceitável, porque todo extremo é desmedido. O conceito de medida isoladamente é, pois, pouco claro, a menos que se restrinja seu significado e se de fina precisamente. Temos um exemplo de precisão do significado de 'medida' na idéia de medida como algo resultante de uma operação ou série de operações ne cessárias para obter um dos chamados "enunciados de medida". Ora, um dos problemas que se formularam na tisica e, em geral, na ciência é o significado dos "enunciados de medida". Este significado depende em grande parte do padrão usado para medir. Depende tam bém do papel atribuído ao observador ou medidor e, de maneira geral, do significado de 'operações tisicas ' . O s enunciados d e medida costumam ser tidos como enunciados básicos, mas isso não quer dizer que sejam simples; como indicou Cassirer (Determinismus und In determinismus, etc. , cap. III), os chamados "enunciados de medida" são já complicados enunciados tisicos e não supostas "observações puras" da realidade tisica. MEDINA, BARTOLOMÉ. Ver PROBABILISMO. MÉDIO (fERMO MÉDIO). Ver SILOGISMO; TERMO.
MEDITAÇÃO (MEDITATIO) MEDITAÇÃO (MEDITATIO). Ver Dr sPUTA. MEGÁRICOS. A escola dos megáricos (ca. 400-ca. 300 a.C.) é uma das chamadas escolas socráticas. Con tudo, à influência de Sócrates devem-se acrescentar outras, especialmente a dos eleatas (VER), que se mani festa de maneira particular em dois aspectos: na idéia da distinção - e oposição - entre o mundo sensível e aparencial, e o mundo inteligível e real, e nos argu mentos (desenvolvidos em especial por Diodoro Cro nos, com base nos proporcionados por Zenão de Eléia) contra o movimento. A citada separação era tão zelo samente mantida por alguns que (como ocorre com Estilpão de Megara) se criticava o platonismo justa mente por pretender explicar o mundo sensível como cópia do inteligível. Característica do pensamento de muitos megáricos (como acontece com o mencionado Diodoro Cronos) foi uma idéia metafisica várias vezes combatida por Aristóteles: a de que só se pode falar do ser enquanto ser atual; do potencial (ou do futuro) não se pode enunciar nada. É fácil ver que esta idéia se relaciona com os referidos argumentos contra o movi mento. Igualmente típica da maioria dos megáricos foi sua propensão aos exercícios dialéticos e sua preferên cia pelo tratamento de sutilezas lógicas e semióticas. Argumentou-se contra essa propensão que os megáricos deram origem a (ou difundiram) sofismas tais como o do velho e do calvo, mas deve-se levar em conta que, ao lado deles, apresentaram (ou propagaram) alguns im portantes paradoxos semânticos (ver PARAooxo) , como o de "O Mentiroso", aparentemente desenvolvido por Eubúlides de Mileto. No campo da lógica, devem-se aos megáricos algumas contribuições à constituição de uma lógica formalista como a desenvolvida mais tarde pelos estóicos, em tão estreita conexão com os megá ricos que às vezes se fala de uma escola lógica estóico megárica. Inclusive alguns autores (I. M. Bocheri.ski) afirmam que os megáricos se distinguiram em lógica ainda mais do que os estóicos, não apenas pelo núme ro de seus lógicos (Eubúlides, Diodoro, Fílon) e pelo fato de que Zenão aprendeu a lógica de Diodoro, mas também porque muitas das doutrinas importantes da lógica proposicional atribuídas aos estóicos parecem dever-se, a rigor, aos megáricos. Como exemplo do trabalho lógico dos megáricos, podemos mencionar as idéias de Fílon de Megara sobre o condicional, nas quais aparece claramente uma interpretação material deste úl timo, e as de Diodoro sobre o mesmo conectivo, das quais resulta uma interpretação estrita. No que diz res peito às questões éticas, alguns megáricos (como Es tilpão) tenderam a doutrinas do tipo das defendidas pelo cínico Antístenes. Entre os megáricos, mencionamos o fundador, Euclides de Megara, amigo de Sócrates; seu discípulo
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Ichtias, de quem não se conservaram obras nem inven tário de doutrinas; Eubúlides de Mileto; o discípulo deste, Fílon de Megara; Estilpão de Megara, mestre de Zenão de Cítio, o fundador da escola estóica, e de Bri são, que parece ter sido mestre de Pirro e ter transmiti do influências megáricas ao ceticismo.•• (David Sedley afirmou que Diodoro não deveria ser associado à escola megárica, mas à chamada "escola dialética". Klaus Dõ ring (ver bibliografia) negou a existência desta escola, que é, segundo ele, uma construção de alguns histo riadores da filosofia.)•• Afim à escola dos megáricos é a chamada escola élico-erétrica, assim designada por ter sido fundada em Elis e ter-se estendido por Erétria. Seu fundador foi Fé don de Elis (vER). Sucessores de Fédon foram seus dis cípulos Flistano, Anquililo e Mosco. Em Erétria, as doutrinas de Fédon foram difundidas por Menedemo (vER) e seu amigo Asclepíades, ambos também discí pulos de Fédon. Embora interessados em questões dia léticas, os élico-erétricos pareceram inclinar-se cada vez mais à abordagem de problemas éticos e práticos, apro ximando-se consideravelmente de concepções cínicas. :l Para fontes sobre megáricos, ver: Diógenes Laércio, II, III, VII, IX; Platão, Theat., Phaid., Soph. ; Aristóteles, Met. , IX; Sexto Empírico, Adv. Math. , I, IX, X, e Hyp. Pyrr. , II, III, Aul Gel., Noct. Att. ; Plutarco, Anim. tranq. , 6; Cícero, Ac. , II; Alexandre, De an. , II; Clemente, Str. , IV; Sêneca, Ep. , 9 . 1 . Edição de textos com notas por Klaus Dõring, Die Megariker. Kommentierte Sammlung der Testimonien, 1 972. - L. Montoneri, Megarici. Studio storico-critico e traduzione delle testimonianze antiche, 1 984. Ver: F. Deyck, De Megaricorum doctrina, 1 827. - D. Henne, École de Mégare, 1 843 . - C. Mallet, Histoire de l 'école de Mégare et des écoles d 'Élie et d 'Erétrie, 1 845. - G. Hartenstein, "Ueber die Bedeu tung der megarischen Schule für die Geschichte der me taphysischen Probleme", Verhandlungen der siichsischen Gesellschaft der Wissenschaften ( 1 848). - A. Rüstow, Der Lügner: Theorie, Geschichte undAujlosung, 1 9 1 0 (tese). - C . M . Gillespie, "On the Megarians", Archiv for Geschichte der Philosophie, 24 ( 1 9 1 1 ) , 2 1 7-24 1 . - A. Levi, "Le dottrine filosofiche d i Megara", Reale Acc. Naz. dei Lincei. Rendiconti della Classe di scienze morali, storiche e filologiche, série VI, vol. 3, fase. 56 ( 1 932), 463-499. - N. Hartmann, "Der Megarische und der Aristotelische Mõglichkeitsbegriff, ein Beitrag zur Geschichte des ontologischen Modalitãtsproblems", Sitzungsberichte der Preuss. Ak. der Wissenschaften, 1 937. - G. Cambiano, "La scuola megarica nelle inter pretazioni modeme", Rivista di Filosofia, 62 ( 1 97 1 ), 227-253. - B. Calvert, "Aristotle and the Megarians on the Potentiality-Actuality Distinction", Apeiron, 1 0 ( 1 97 6), 34-4 1 .
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Para a discussão sobre a adscrição de Diodoro à "es cola dialética'', ver: K. Dõring, "Gab es eine Dialektis che Schule?", Phronesis, 34(3) ( 1 989), 293-3 1 0 . C: MEIER, GEORG FRIEDRICH ( 1 7 1 8- 1 777). Nascido em Ammendorf, estudou na Universidade de Halle com Baumgarten (vER) , a quem sucedeu em sua cátedra de Halle em 1 740. Meier costuma ser apresentado como "membro da escola Leibniz-Wolff" e como um segui dor de Baumgarten. Mas embora isso seja certo em al guns sentidos, não é completamente adequado. Com efeito, em sua "psicologia" e teoria do conhecimento, pelo menos, Meier seguiu Locke tanto ou mais do que Wolff e Baumgarten. É plausível descrever o sistema da razão de Meier como um sistema eclético no qual se reforça racionalmente, com base em Wolff e Baumgar ten, a doutrina das "idéias" de Locke. Segundo Meier, o conteúdo do conhecimento são as "representações", as quais têm algo das idéias de Locke e algo das repraesen tationes de Leibníz, visto ser imagens objetivas das coisas possuídas por um sujeito. As representações ( Vorstellun gen) são ao mesmo tempo cópias das coisas e causas das imagens que produzem em nós. As próprias coisas são descritas como complexos de representações, pelo menos na medida em que estas são "objetivas". Com base nas representações, formam-se os conceitos, que são re presentações pensadas. Há diferentes níveis de represen tação e diferentes formas de pensamento, e o sistema da razão é o sistema desses níveis e formas. Por meio da ra zão, podem-se determinar as essências, os modos e rela ções das coisas representadas e podem-se estabelecer suas conexões causais na medida em que são necessárias e se fundam, portanto, em princípios lógicos. Além de sua psicologia, teoria do conhecimento e metafisica, Meier elaborou uma estética, na qual aplicou certas idéias fundamentais de Baumgarten à poesia. A estética era para Meier, tal como para Baumgarten, uma ciência do "conhecimento inferior" ou "confuso", isto é, do "conhecimento sensitivo". :> Obras: Beweis der vorherbestimmten Harmonie, 1 743 (Prova da harmonia preestabelecida). - Theore tische Lehre von den Gemütsbewegungen, 1 744 (Dou trina teórica das emoções). - Gedanken vom Zustande der Seele nach dem Tode, 1 746 (Pensamentos acerca do estado da alma depois da morte). - A nfangsgründe a/ler schonen Künste und Wissenschaften, 3 vols., 1 7481 750, reed., 1 867 (reimp. desta, 1 966) (Princípios de todas as belas artes e ciências). - Vernunftlehre, 1 752 (Doutrina da razão) [no mesmo ano apareceu um resu mo com o título: Auszug aus der Vernunftlehre ]. - Phi losophische Sittenlehre, 5 vols., 1 753- 1 76 1 (Ética filo sófica). - Metaphysik, 4 vols., 1 755- 1 759. - Versuch einer allgemeinen Auslegungskunst, 1 757 (reimp. 1 965) (Ensaio de uma arte geral da interpretação) [ver o arti go HERMENÊUTICA] .
MEINECKE, FRIEDRICH
Biografia: S. G. Langen, Leben G. F Meiers, 1 778. Ver: E. Bergmann, Die Begründung der deutschen ÂS thetik durch A. G. Baumgarten und G. F M , 1 9 1 1 . - Josef Schaffrath, Die Philosophie des G. F Meiers, 1 940 (tese). C: MEINECKE, FRIEDRICH ( 1 862- 1 954). Nascido em Salzwedel, foi professor de história nas Universidades de Estrasburgo, Freiburg i.B. e Berlim, e, a partir de 1 945, professor na "Freie Universitãt" de Berlim Oriental. As duas principais contribuições filosóficas de Meinecke são suas idéias sobre os fatores históricos e seu exame e crítica do historicismo. Com relação ao primeiro ponto, Meinecke enfatizou que, ao menos na época moderna na Europa, os processos históricos não são a conseqüência apenas da ação de grandes perso nalidades, mas o resultado da intervenção, direta ou indireta, de todos os membros da comunidade (ou do Estado). De resto, o próprio Estado tem e manifesta cer ta "individualidade" em sua ação histórica; na realidade, o complexo jogo de relações entre o Estado como indi vidualidade e os indivíduos da comunidade permite ex plicar em grande parte os processos históricos. No que se refere ao segundo ponto, Meinecke reconheceu que o historicismo, embora tenha produzido uma con cepção relativista dos valores, ajudou a livrar-se de me ras abstrações e a examinar e compreender a verdadeira natureza dos processos históricos. O historicismo não precisa necessariamente desembocar num relativismo; tal como Mannheim (vER) , ainda que nem sempre pelas mesmas razões ou apoiando-se nos mesmos dados, Meinecke crê que o relativismo se supera justamente quando se reconhece lealmente a consciência como "consciência histórica". Isso não quer dizer que a "cons ciência histórica" seja um "Absoluto"; para além dessa consciência há, ou pode haver, uma realidade transcen dente, mas esta é de natureza religiosa, sendo do domí nio da fé e não do conhecimento. :> Obras: Weltbürgertum und Nationalstaat, 1 908 ( Ci dadania universal e Estado nacional). - Die Idee der Staatsraison in der neueren Geschichte, 1 924 (A idéia da razão de Estado na Idade Moderna). - Die Entste hung des Historismus, 2 vols., 1 936 (Gênese do histori cismo). - Vom geschichtlichen Sinn und vom Sinn der Geschichte, 1 939 (Do sentido histórico e do sentido da história). - Die deutsche Katastrophe, 1 946 (A catás trofe alemã). - Schaffender Spiel, 1 948 (Jogo criador). Edição de obras: Werke, ed. Herzfeld, Hinrichs y Ho fer, 9 vols., 1 957- 1 979 [inclui correspondência, vol. VI]. A maioria das obras citadas na bibliografia de HISTORICISMO se refere às idéias de Meinecke. Além disso, ver: W Hofer, Geschichtschreibung und Weltans chauung. Betracht zum Werk F Meineckes, 1 950. VV. AA., "Das Hauptproblem in der Geschichte" [no 90º aniversário de M.], em Historische Zeitschrift, 1 74
MEINONG, ALEXIUS (VON)
( 1 952). - R. W. Sterling, Ethics in a World of Power: The Political Ideas ofF. M. , 1 958. - W. Bussmann, F. M. , 1 963. Ver: Diels-Kranz, 30 (20), e A. Pabst, De Melissi Samii fragmentis, 1 889. - O tratado De Xenophane, Zenone, Gorgia, cuja primeira parte trata de Melisso e que se inclui nas obras de Aristóteles como um escrito pseudo-aristotélico, não foi escrito por Aristóteles, nem por Teofrasto, mas por um peripatético posterior: ed. critica do texto por Barbara Cassin, 1 980. Ed. de textos com notas: Testimonianze eframmen ti, por Giovanni Reale, 1 97 1 . Ver: F. Kern, "8EO Além da obra de Gerard Radnitzky mencionada su pra, ver, do mesmo autor: Gegenwiirtige Perspektiven der Wissenschaftstheorie, 2 vols., 1 976. -Ver também: Thomas J. Hickey, Introduction to Metascience: An lnfor mation Science Approach to Methodology of Scientific Research, 1 976. - 8. Gholson et ai. , eds., Psychology of Science: Contributions to Metascience, 1 989. e
METAÉTICA. O estudo de enunciados morais recebe o nome de "metaética". Distingue-se às vezes entre metaé tica e ética, considerando-se a última o estudo do conteú do dos enunciados morais. Entretanto, como nem sempre se pode distinguir entre 'enunciado moral' e 'conteúdo de enunciado moral', deve-se admitir que não pouco do que
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se denomina "metaética" pode ser ética e não pouco do que se denomina "ética" pode ser metaética. Não obstante, consideram-se especialmente metaé ticas as orientações contemporâneas na teoria ética que se ocuparam de questões tais como a de saber se os enun ciados morais expressam certos fatos e se, portanto, são cognoscitivos, ou se não expressam fatos - no sentido de que se possa dizer que são verdadeiros ou falsos e se são então não cognoscitivos. A maioria das investi gações que seguem as orientações do emotivismo (vER) e do prescritivismo (VER) é de caráter metaético. As investigações metaéticas caracterizam-se, em bora não exclusivamente, por ocupar-se da linguagem, ou das linguagens, ou dos tipos, ou formas, ou jogos de linguagem, mediante os quais se produzem enunciações que se chamam "éticas" ou "morais''. O estudo de or dens, recomendações; a análise de 'bom', 'justo' ; o exa me da diferença entre 'é' e 'deve' ou da possibilidade ou impossibilidade de estender uma ponte entre 'é' e ' deve ' ; a averiguação do tipo de argumentos usados em moral ou ética e dos efeitos produzidos ou produtí veis mediante esses argumentos costumam ser conside rados do domínio da metaética. Ainda que, tal como se indicou, nem sempre seja fácil distinguir entre ética e metaética, pode-se estabelecer certa linha de separação em tomo do caráter, respectivamente, normativo e não normativo de uma e da outra. Supõe-se, em todo caso, que a metaética não é normativa. :> A maioria de trabalhos de ética de tendência analí tica até 1 973, aproximadamente, ocupa-se da metaética ou de questões metaéticas. Ver os trabalhos citados em ÉncA e LINGUAGEM sobre linguagem ética e linguagem moral. Além disso: Torbjõm Tãnnsjõ, The Relevance of Metaethics to Ethics, 1 974. e
METAFILOSOFIA. O que denominamos "Perifilo sofia" (vER) poderia ser designado também como "Me tafilosofia''. Contudo, distinguimos entre esses dois ter mos: enquanto consideramos que a perifilosofia é um estudo de formas ou tipos filosóficos de pensar, es pecialmente no decorrer da história, a metafilosofia é uma análise da "atividade filosófica''. Esta deve ser en tendida num sentido amplo e abrange pelo menos três tipos de estudos: 1) Estudos nos quais se atende principalmente à linguagem filosófica. Num sentido semelhante a como a metaética examina expressões formuladas em doutri nas éticas, tipos de raciocínios usados nestas doutrinas etc., a metafilosofia examina expressões formuladas em doutrinas filosóficas, raciocínios usados nessas doutri nas etc. Esta idéia de "metafilosofia" desenvolveu-se em certas direções da virada analítica. Na revista Meta philosophy, publicada desde 1 969 sob a direção de Ter reli Ward Bynum e William L. Reese - revista que pu blica outros trabalhos além dos "metafilosóficos" em sentido mais ou menos estrito -, Morritz Lazerowitz
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publicou uma nota ("A Note on ' Metaphilosophy'", Metaphilosophy, 1 [ 1 970], p. 9 1 ) em que explicou de modo bastante detalhado a origem do termo 'metafilo sofia' no sentido aqui abordado: "Os diretores de Meta philosophy pediram-me que escrevesse um artigo sobre a palavra que adotaram como nome da revista. A pala vra tem uma história breve. Eu a cunhei em 1 940 com a finalidade de poder referir-me sem ambigüidade a um tipo especial de investigação que Wittgenstein des crevera como um dos 'herdeiros' da filosofia. O termo 'metafilosófico' foi publicado pela primeira vez em julho de 1 942 numa resenha do livro de C. J. Ducasse, Philosophy as a Science: lts Matter and Its Method, resenha que G. E. Moore me pediu que escrevesse para Mind. Metafilosofia é a investigação da natureza da filosofia, com o propósito fundamental de chegar a uma explicação satisfatória da ausência de alegações e ar gumentos filosóficos não impugnados. Descobri que para alguns filósofos esta palavra se transformou no nome do ponto de vista especial que propus e elaborei durante anos: o que considera que uma teoria filosófica é um fragmento arbitrário de linguagem que, por ser apresentado em forma ontológica, gera a ilusão de que se produziu uma teoria sobre coisas e também de que se deu expressão a um feixe de idéias inconscientes. Pondo à parte o ponto de vista especial com o qual che gou a ser associada a palavra 'metafilosofia' , não se po de já questionar, no que se refere a filósofos que tratem seriamente a sua disciplina, ser preciso ter uma melhor compreensão da filosofia, do que é e de como funciona". Pelo que foi dito, pode-se ver que, mesmo no âmbi to de determinada "virada filosófica", pode-se entender 'metafilosofia' de vários modos, e que ela já foi entendi da seja como uma análise lingüística destinada a desem baraçar-se, a dissolver aqueles que se consideram "pseu doproblemas", seja como um estudo da natureza da pró pria filosofia. Neste último sentido, numerosos filóso fos, e não só os de inclinação analítica, fizeram, e con tinuam fazendo, metafilosofia. 2) Estudos que partem da idéia de que a filosofia, tal como se entendeu - ou se continua a entender -, desapareceu, ou está prestes a desaparecer, o que não a impede de ter "sucessores" ou "herdeiros". Como Laze rowitz indicou, o "último Wittgenstein" partira dessa idéia. Esta se encontra claramente em alguns estudos de Ortega y Gasset, especialmente em seus "Apuntes sobre el pensamiento. Su teurgia y su demiurgia", Logos (Bue nos Aires), 1, 1 , 1 942; cf. também Origen y epílogo de la filosofia ( 1 960). Ortega y Gasset enfatiza que a filosofia é um acontecimento histórico, que surgiu para responder a certas necessidades - nas quais falharam outras ativi dades -, não havendo, pois, razão para ter a filosofia como pressuposta, como algo que "está aí". A filosofia, em suma, tem uma origem e pode ter um fim. Ela pode de saparecer por completo, ou ser "sucedida" por outros ti-
METAFÍSICA pos de atividade, que serão então seus herdeiros. Ver a filosofia desse modo é fazer metafilosofia. Embora por razões diferentes, alguns autores afir maram que a filosofia, tal como foi entendida, ou conti nua a ser entendida, no mundo anterior a uma revolução socialista (ou comunista), tem de desaparecer para dar lugar a outro tipo de atividade que consiste numa análise crítica da "cotidianidade alienadora". Segundo Henri Lefebvre (Métaphilosophie, 1 965, p. 76), essa atividade não é, ou não é apenas, "reflexiva" e "imitadora", por que é "ato" e "criação". Desse modo, a metafilosofia é a sucessora da filosofia em sentido "tradicional". Heidegger não fala explicitamente de "metafiloso fia", mas algumas de suas reflexões (por exemplo, em Was heisst Denken ?, 1 954) conduzem a uma visão de um modo de pensar, o pensar comemorativo, que já não pode ser denominado, estritamente falando, "filosófi co"; com ele, vai-se para além, meta, da filosofia. 3) Coincidindo com algumas das idéias antes expos tas, e em particular com a idéia da metafilosofia como estudo da filosofia, seja estruturalmente, seja historica mente, ou ambas as coisas ao mesmo tempo, pode-se da mesma maneira considerar que a metafilosofia consti tui parte integrante, e não só propedêutica, da filosofia, isto é, considerar que a filosofia comporta um exame de si mesma e, portanto, do que se denominou às vezes "uma dimensão metafilosófica". Nesse sentido, a estru tura dos estudos metafilosóficos não coincide exatamente com a dos estudos de metaciência e nem sequer com os de metaética. McCloskey (Meta-Ethics and Normative · Ethics, 1 969, p . 2) indicou que sem ciência não haveria metaciência, mas que mesmo sem ética poderia haver metaética, uma vez que basta haver uma linguagem moral na qual se formulem juízos morais (independentemente de toda teoria moral possível). A metafilosofia difere da metaciência pelo fato de que, tal como ocorre com a me taética, lhe é suficiente a existência de uma linguagem em que se expressem enunciados de interesse ou alcan ce filosóficos, sem necessidade de uma teoria filosófi ca. Por outro lado, ela difere da metaética pelo fato de que, tal como ocorre com a metaciência, consiste em grande parte num exame de certas noções que são em pregadas em filosofia, embora na maioria das vezes só implicitamente.
METAFÍSICA. Segundo uma idéia ainda muito difun dida, o termo 'metafisica' foi o nome dado por Andrô nico de Rodes, no século I a.C., à série de livros de Aris tóteles, ordenados por letras do alfabeto grego, que se referiam ao que o próprio Aristóteles denominou "filo sofia primeira", npwTT] cp1Àocrocp[a (prima philoso phia), "teologia", SeoÀoy[a, ou "sabedoria", crocp[a. Como foram colocados, na classificação e publicação de obras do Estagirita, atrás dos oito livros da Física, os livros em questão receberam o nome de Tà µETà Tà
METAFÍSICA
q>VotKá, tá metá tá physicá, isto é, "os que estão atrás da fisica", ou, mais exatamente, "as coisas que estão atrás das coisas tisicas". Costuma-se considerar que esta designação, que teve no princípio uma função meramente classificatória, se mostrou muito adequada, porque com os estudos objeto da "filosofia primeira" se constitui um saber que aspira a penetrar "para além dos" ou "atrás dos" estudos "fisicos", isto é, dos estudos referentes à "Natureza'', de modo que a metafisica é um saber que transcende o saber tisico ou "natural". A opinião vigente foi criticada por Hans Reiner em dois artigos: "Die Entstehung und ursprüngliche Bedeutung des Namens Metaphysik" (Zeitschrift for philosophische Forschung, 9 [ 1 954], 2 1 0-237) e "Die Entstehung der Lehre vom bibliothekarischen Ursprung des Namens Metaphysik" (ibid. , 9 [ 1 955], 77-99). Ao que sabemos, a crítica de Reiner teve ressonância ape nas no livro de Takatura Ando, Metaphysics: A Criticai Survey of Its Meaning ( 1 963, 2ª ed., ampl., 1 974). Aparentemente, Franciscus Patricius (Francesco Patrízi) ( 1 4 1 3- 1 494) foi um dos primeiros, se não o primeiro, a manter a origem "bibliotecária" de 'meta fisica' em suas Discussiones peripateticae, 1. Uma das razões que o induziram a sustentar essa opinião é que a expressão µETà q>vmKá é posterior a Aristóteles; se tivesse tido uma idéia definida da metafisica como saber que vai "além da tisica", o Estagirita teria adotado esse nome, ou algum similar, em vez de falar de "filosofia primeira". Em termos modernos, a opinião sobre o ca ráter não estritamente unitário da "Metafisica" de Aris tóteles e sobre a origem do nome como designação de uma ordem seqüencial na edição de obras do Estagirita deve-se principalmente a Johann Gottlieb Buhle ( 1 7631 82 1 ), em sua obra Ueber die Aechtheit der Metaphysik des Aristoteles ( 1 788). Essas opiniões foram incorpora das à edição ( 1 793 ), por Fabricius, da Bibliotheca Grae ca. Hans Reiner indica que a opinião vigente exposta no princípio e adotada por eminentes conhecedores de Aristóteles, como Bonitz, Brandis, Zeller no século XIX, e Werner Jaeger, W D. Ross, Octave Hamelin e Heideg ger no século XX, constitui uma aceitação pouco crítica de Buhle, que desconhecia as interpretações gregas e os dois sentidos de metaphysica, como post physica e como trans physica, na época medieval, a que nos refe rimos infra. De acordo com Reiner, tudo isso se revela surpreendente sobretudo porque Kant, em algumas aulas sobre metafisica (ed. M. Heinze, 1 894), manifes tara dúvidas de que o termo 'metafisica' tivesse uma origem meramente "bibliotecária", já que se mostrava demasiado apropriado para atribuí-lo a um acaso. As opiniões de Reiner podem ser, por seu turno, criticadas pelo menos em dois pontos: dada a tendência de Aristóteles a usar adjetivos que caracterizam um tipo de investigação, como ocorre com "lógico", Àoy1KÍ], e
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"tisico", q>votKÍ], pode-se perguntar se, caso tivesse tido uma idéia bem definida do caráter das investigações depois denominadas "metafisicas", ele não teria cu nhado o adjetivo correspondente ou não teria vacilado na adoção de nomes. Johann Gottlieb Buhle foi um se guidor da filosofia kantiana e, embora isso não garan ta a adoção das opiniões de Kant em todos os aspectos, surpreende um pouco que tenha sido justamente Buhle o originador da opinião hoje vigente. Pode-se acrescen tar a isso que o desconhecimento das interpretações gregas e dos sentidos medievais pode ser imputado a Fa brício, mas é mais dificil atribuí-lo a autores como Bo nitz, Brandis, Zeller, Jaeger, Ross etc. Não obstante, há na tese de Reiner pontos importantes. Em An. post. 7 1 b 33-72 a 5, Aristóteles estabeleceu uma distinção entre dois sentidos de 'anterior' e 'mais conhecido ' . Anterior por natureza, q>Úoe1, não é o mes mo que anterior para nós, npàç fiµãç, como não são a mesma coisa o que é mais conhecido por natureza e o que é mais conhecido· para nós. São anteriores e mais conhecidos para nós, segundo Aristóteles, os objetos mais próximos da sensação, e são anteriores e mais co nhecidos simplesmente ou absolutamente, ànÀwç, os objetos afastados dos sentidos. As causas mais univer sais são as mais afastadas dos sentidos, embora sejam as mais fundamentais na ordem real. O que é primeiro para nós, npàç iiµãç npÓTEpov, opõe-se ao que é úl timo para nós, npàç J͵ãç ÜoTepov. Mas o primeiro para nós é contrário ao primeiro por natureza. Segundo Reiner, toda uma série de autores antigos, como Alexandre de Afrodísia, Asclépio, Temístio e Simplício, tinha clara consciência de que a disposição e organização dos livros "metafisicos" era função das dis tinções apontadas. Do ponto de vista da ordem dos prin cípios, ou o que é primeiro por natureza, os livros me tafisicos constituem q que Aristóteles denominou "filo sofia primeira". São, pois, "anteriores". Mas, do ponto de vista do modo como conhecemos, isto é, "para nós'', esses livros são posteriores aos fisicos, daí que sejam µETà Tà q>vo1Ká. Assim, a "metafisica" vem "depois da tisica" de uma forma mais fundamental do que o apare cer mais ou menos casualmente atrás "dos (livros) fisi cos" numa ordem de biblioteca. Na realidade, Andrônico de Rodes seguiu Eudemo - e, com isso, o próprio "espí rito aristotélico" - ao empregar o nome 'metafisica' , j á que 'filosofia primeira', embora mais adequado "em si", é inadequado na ordem dos conhecimentos. Segundo Aristóteles, "há uma ciência que estuda o ser enquanto ser, Tà õv ií õv, e o que lhe pertence ca racteristicamente. Esta ciência não se confunde com ne nhuma das chamadas ciências particulares, pois nenhu ma delas considera em geral o ser enquanto ser, mas unicamente uma parte do ser" (Met. , r, !, 1 003 a 20). Em contrapartida, essa ciência investiga "os primeiros
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princípios e as causas mais elevadas" (op. cit. , 1 003 a 25). Por isso, ela merece ser chamada de "filosofia primeira", irpwTTJ cp1Àooocpía, ao contrário de toda "filosofia segunda", ÕeÚTEpa cp1Àooocpía (op. cit. , 2, 1 004 a 1 ). A filosofia - diz Aristóteles - tem tantas partes quantas substâncias há; assim, a parte que trata da substância natural é a "tisica" (VER), uma "filosofia segunda". Acima dessas partes, há uma ciência na qual se estuda o que é enquanto é e não nenhuma espécie ou forma particular desse ser. O que é enquanto é tem certos princípios, que são os "axiomas", e estes se aplicam a toda substância como substância e não a este ou àquele tipo de substância. Desde que Aristóteles determinou o objeto da "filo sofia primeira" e desde que se usou, além disso, o termo 'metafisica' (metaphysica) como equivalente a 'filoso fia primeira' , suscitaram-se muitos problemas. Um de les, que abordaremos a seguir, é o do objeto próprio da "metafisica". Há no próprio Aristóteles uma vacilação que determinará muitas das discussões posteriores a esse respeito. Por um lado, o que ele chama "filosofia primeira" (ou a "metafisica"), ao ocupar-se do ser como ser, de suas determinações, princípios etc., ocupa-se de "algo" que é, desde logo, superior, e até supremo, na ordem "do que é" e na ordem também de seu conheci mento. Mas esse "ser superior ou supremo" pode ser entendido de dois modos: ou como estudo formal do que depois se denominarão "formalidades", caso em que a metafisica será o que se chamará depois "ontologia", ou então como estudo da substância separada e imóvel - o primeiro motor, Deus -, caso em que será, tal como Aristóteles a denomina, "filosofia teológica'', cp1Àooocpía 8eoÀoy1K�, isto é, teologia, 8eoÀoyía (Met. , E, 1, 1 026 a 1 9). Admitam-se ou não os resultados da pesquisa de Reiner a que nos referimos supra, parece que a meta physica teve, desde (relativamente) cedo, dois sentidos: um, "transnatural", o de post physica, e o outro "sobre natural'', o de trans physica. O primeiro sentido pode ser visto em Domingo Gundisalvo, com base provavel mente em Avicena (e Averróis). Em seu tratado De divi sione philosophiae, diz-se que a metafisica é post physi cam quia id est de eo, quod est post naturam. O segundo sentido acha-se difundido em vários autores. Os dois sentidos pareceram unir-se em Pedro Fonseca, para quem a metafisica estuda simultaneamente as post na tura/ia e as super natura/ia. Mas, ao mesmo tempo, nunca se perdeu no termo 'metafisica' o sentido de uma investigação formal, estreitamente relacionada com a lógica (embora não identificável com ela), de temas tais como o ser (e a analogia ou unívocidade do ser), os transcendentais, a substância, os modos, a essência, a existência etc., todos eles tradicionalmente considera dos "objetos" da metafisica. O estudo desses temas era tido como fundamental para estabelecer as bases de
METAFÍSICA qualquer "filosofia segunda", mas era também conside rado fundamental para a teologia, pelo menos enquanto "teologia racional". Deve-se a isso o fato de em algum momento começar a usar-se a expressão 'metafisica geral ' , ao contrário dos ramos dessa metafisica geral, um dos quais era justamente a teologia. De todo modo, os escolásticos medievais ocupa ram-se com freqüência da questão do objeto próprio da metafisica. E como o conteúdo da teologia era deter minado primariamente pela revelação, eles também se dedicaram amiúde às relações entre metafisica e teolo gia. Foram muitas as opiniões sobre esses dois proble mas. Ocupamo-nos de algumas das que se mantiveram na Idade Média sobre a relação entre metafisica (ou, simplesmente, filosofia) e teologia nos verbetes Esco LÁSTICA e FILOSOFIA MEDIEVAL. Agora, elucidaremos um pouco as concepções que se mantiveram acerca da me tafisica para completar as esboçadas supra. Muitos escolásticos medievais consideraram que a metafisica é "a ciência primeira" e "a filosofia primei ra"; a metaphysica é uma dissertação de ente, sobre o ente. Santo Tomás escreveu que a filosofia primeira, prima philosophia, é "a ciência da verdade, não de qual quer verdade, mas da verdade que é a origem de toda verdade, isto é, que pertence ao primeiro princípio pelo qual todas as coisas são. A verdade que pertence a esse princípio é, evidentemente, a fonte de toda verdade" (Contra Gent. , 1, 1 , 2). A filosofia primeira, na medida em que considera as causas primeiras (in quantum pri mas rerum causas considerat) ( 1 met. pr. ), tem como objeto de estudo essas causas, embora a causa primeira real seja Deus. A metafisica trata do ser, que é "conver tível" com a verdade, mas, sendo Deus a fonte de toda verdade, Deus é o objeto da metafisica. Por outro lado, a metafisica é a ciência do ser como ser e como substân cia, de ente sive de substantia. Neste sentido, ela não se "limita" a tratar do ser mais real, ens realissimum; ocupa-se do "ente em comum e do primeiro ente, sepa rado da matéria", de ente in communi et de ente primo, quod est a materia separatum. Parece então que se trata de duas ciências distintas, mas constitui sobretudo dois modos de considerar a metafisica. Num deles, a metafi sica tem um conteúdo teológico, que não é dado pela própria metafisica, mas pela revelação. No outro, a me tafisica é a ciência do ens, ente, na medida em que é o primeiro que "cai sob o entendimento". Ainda assim, ela continua subordinada à teologia - e, portanto, à revelação -, mas tem sua "razão própria". Isso é possí vel pelo acordo fundamental que, segundo Santo Tomás, há entre teologia e filosofia (metafisica). Examinando em outro lugar a natureza da metafisica, Santo Tomás escreve: "Há, além disso, alguns objetos de ciência in dependentes da matéria em seu ser, pois ou existem sempre sem matéria (como Deus e as substâncias espiri tuais) ou se acham às vezes na matéria e às vezes não
METAFÍSICA (por exemplo, a substância, a qualidade, a capacidade, a atualidade, a pluralidade, a unidade etc.). Esses objetos são tratados pela ciência divina que tem também o nome de metafísica, isto é, para além da física, pois, dado que temos necessariamente de proceder dos objetos sensí veis ao supra-sensíveis, temos de ocupar-nos dela depois da física. Ela é denominada do mesmo modo filosofia primeira, pois todas as outras ciências a pressupõem (Opusc. XVI, Exposição, De Trinitate, vol. 1 ). Segundo Duns Scot, a metafísica é primária e for malmente ciência do ente enquanto ens communissimum: é a prima scientia scibilis primi - "ciência primeira do primeiro cognoscível" - (Quaest. in Met. VII, q. 4, 3). Para Duns Scot, como antes para Avicena, a metafísica é prévia à teologia, não porque o objeto desta última se ache realmente subordinado ao objeto da primeira, mas porque, sendo a metafísica ciência do ser, o conhecimento deste último é fundamento do conhecimento do ser infi nito. Para Occam, a metafísica não é propriamente nem ciência nem ciência de Deus nem ciência do ser, mas isso se deve ao fato de se poder dizer dela que tem por objeto o ser como objeto primeiro com primado de atribuição, e tem por objeto Deus como objeto primeiro com prima do de perfeição. Suárez (Disp. met. , !) resumiu e analisou quase to das as opiniões acerca da metafísica propostas pelos es colásticos. Segundo Suárez, uma primeira opinião sus tenta que o objeto total da metafísica é o ente considera do na maior abstração possível, na medida em que en cerra não só a soma de entes reais, substanciais e aci dentais, como também na medida em que compreende os entes de razão. Uma segunda opinião afirma que o objeto da metafísica é o ente real em toda a sua exten são, considerado de tal modo que não inclua diretamen te os entes de razão por causa de sua carência de entida de e de realidade. Outra opinião assinala como único objeto da metafísica Deus como supremo ser real. Uma quarta opinião indica que a metafísica se ocupa da subs tância ou ente imaterial, compreendendo neles exclusi vamente Deus e as inteligências. Existe igualmente uma doutrina segundo a qual o objeto próprio dessa ciência é o ente classificado nos dez predicamentos, quer as substâncias imateriais finitas e seus acidentes se in cluam nas categorias e se exclua do objeto da metafísi ca, embora não totalmente, o ser sumo, quer só se mos tre como objeto do saber metafísico o ente divino nos dez predicamentos. Por fim, há a opinião segundo a qual o objeto da metafísica é a substância enquanto substân cia, isto é, na medida em que abstrai do material e do imaterial, do finito e do infinito. Todas essas opiniões têm algumajustificação, mas ao mesmo tempo são par ciais. Resumindo assim uma longa tradição escolástica, Suárez indica que a noção de metafísica não é tão ampla quanto alguns supõem, nem tão pouco extensa quanto outros admitem; a metafísica é, em suma, tal como a
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definiram Aristóteles e Santo Tomás, o estudo do ente enquanto ente real, isto é, a ciência do ser enquanto ser, não concebido à maneira do gênero supremo e, portan to, sob a espécie da mera abstração total, mas concebido como o ser que, ultrapassando todo gênero, pode ser denominado com toda propriedade um transcendens. O princípio ens est transcendens é, assim, para Suárez, uma fórmula capital da metafísica, que é ciência primei ra na ordem dos saberes e ciência última na ordem do ensino (ou aprendizagem). Na época moderna, mantiveram-se numerosas opi niões acerca da metafísica, incluindo a opinião de que ela não é uma ciência nem nunca poderá sê-lo. Francis Bacon considerava que a metafísica é a ciência das cau sas formais e finais, ao contrário da física, que é ciência das causas materiais e eficientes. Para Descartes, a me tafísica é uma prima philosophia que aborda questões como "a existência de Deus e a distinção real entre a alma e o corpo do homem". Caracteristico de muitas das me ditações ou reflexões denominadas "metafísicas" na época moderna é que nelas se procuram dilucidar racio nalmente problemas transfísicos e que nessa dilucidação se começa com a questão da certeza e das "primeiras verdades", ou, com freqüência, da "primeira verdade". A metafísica é possível como ciência apenas quando se apóia numa verdade indubitável e absolutamente certa, por meio da qual se podem alcançar as "verdades eter nas". A metafísica continua a ser em grande medida ciência "do transcendente", mas essa transcendência se apóia em muitos casos na absoluta imediaticidade e imanência do eu pensante. Outros autores rejeitaram a possibilidade do conheci mento metafísico e, em geral, de toda realidade tida por transcendente. O caso mais conhecido na época moderna é o de Hume. A distribuição de todo conhecimento em conhecimento ou de fatos ou de "relações de idéias" dei xa sem base o conhecimento de qualquer objeto "me tafisico"; não há metafisica, porque não há objeto de que essa pretensa ciência possa ocupar-se. Em outra linha de pensamento, muitos autores procuraram "for malizar" a metafísica; ou seja, abordar as questões me tafísicas como questões acerca de conceitos básicos tratados formalmente. Isso já acontecera entre os esco lásticos e continuara até Suárez, Fonseca e outros. Du rante o século XVII e começo do século XVIII, essa ten dência se fortaleceu. Muitos autores se dedicaram a es tudar o objeto da metafisica e a distinguir entre meta physica e logica. Ambas as disciplinas são, como escre ve Johannes Clauberg (Ontosophia [ 1 647] , p. 288), disciplinae primae, mas por seu objeto afastam-se infi nitamente uma da outra, já que a metafisica sabe tudo (omnia scit) e a lógica não sabe nada (nihil scit). Outros autores tenderam a estabelecer uma distinção entre me taphysica e ontologia. Referimo-nos a esse ponto no verbete ONTOLOGIA; assinalemos aqui tão-somente que
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na ontologia se abriga o aspecto mais formal da me tafisica. A ontologia é concebida como uma philosophia prima que se ocupa do ente em geral. Por isso, a ontolo gia pode ser equiparada (como o foi depois por autores que fundiram a tradição escolástica com a wolffiana) a uma metaphysica generalis. As dificuldades que muitas das definições anteriores de 'metafisica' suscitaram pa reciam desvanecer-se em parte: a metafisica como onto logia não era ciência de nenhum ente determinado, mas podia "dividir-se" em certos "ramos" (como a teologia, a cosmologia e a psicologia racionais) que se ocupavam de entes determinados, embora num sentido "muito geral" e como princípio de estudo desses entes; isto é, num sentido "metafisico". A persistente e crescente tendência das "ciências positivas" ou "ciências particulares" com relação à filo sofia, e em especial com relação à parte mais "primor dial" da filosofia, isto é, a metafisica, exacerbou as questões fundamentais que tinham sido formuladas so bre a metafisica, e em particular as duas questões se guintes: 1) se a metafisica é possível (como ciência); 2) de que se ocupa ela. Central na discussão desses dois problemas é a filosofia de Kant, que levou a sério os embates de Hume contra a pretensão de atingir um saber racional e completo da realidade, mas ao mesmo tem po levou a sério o problema da possibilidade de uma metafisica. De maneira particular, Kant se interessou pela questão de como é possível fundamentar a meta fisica de um modo definitivo com a finalidade de dei xar ela de ser o que foi até agora: uma "tentativa" (Herumtappen ). A metafisica foi até agora "uma ciência racional especulativa completamente isolada", baseada unicamente nos conceitos e não, "como a matemática, na aplicação dos conceitos à intuição" (KrV, B, xiv). A metafisica foi até agora "a arena das discussões sem fim"; edificada no ar, não produziu senão castelos de cartas. Não se pode, pois, continuar a trilhar o mesmo caminho e favorecer as especulações sem fundamento. Por outro lado, não é possível simplesmente aderir ao ceticismo; é preciso fundar a metafisica para que esta "chegue a transformar-se em ciência", e para isso é necessário proceder a uma crítica das limitações da ra zão. A metafisica, em suma, deve submeter-se ao tribu nal da crítica, à qual nada escapa nem deve escapar. Kant nega, pois, a metafisica, mas com o fim de "fundá la". O modo como essa fundamentação se realiza no âmbito do pensamento de Kant é complexo e não pode ser apresentado aqui. Limitar-nos-emos a indicar que, de imediato, Kant mostra que não há possibilidade de juízos sintéticos a priori em metafisica. Por conseguin te, a metafisica não parece poder ser uma "ciência teóri ca" em nenhum caso. Daí a passagem à "razão prática'', na qual parece dar-se a metafisica não como uma ciên cia, mas como uma realidade moral. Mas esta posição tampouco é satisfatória se se deseja que a metafisica
METAFÍSICA se transforme realmente em ciência. Uma parcela da obra de Kant, a partir da Crítica do Juízo, pode ser compreen dida como uma tentativa de responder a esse desafio da metafisica como ciência. Assim como durante a Idade Média, a metafisica foi, durante a época moderna (e depois ao longo da con temporânea), um dos grandes temas de debate filosófico. E isso a ponto de a maioria das posições filosóficas de Kant até hoje poder ser compreendida em função de sua atitude diante da filosofia primeira. As tendências ads critas ao que poderíamos denominar a filosofia tradicio nal não negaram em nenhum momento a possibilidade da metafisica. O mesmo ocorreu com o idealismo ale mão, embora o próprio termo 'metafisica' não tenha recebido com freqüência grandes homenagens. Em contrapartida, a partir do momento em que se acentuou a necessidade de ater-se a um saber positivo, a metafi sica foi submetida a uma constante crítica. Na filosofia de Comte, isso é evidente: a metafisica é um modo de "conhecer" próprio de uma "época da humanidade", destinada a ser superada pela época positiva. Ora, essa negação da metafísica implicava às vezes a negação do próprio saber filosófico. Por esse motivo, surgiram no fim do século XIX e começo do século XX várias ten dências antipositivistas que, embora hostis em princí pio à metafísica, acabaram por aceitá-la. O criticismo neokantiano é um exemplo particularmente elucidador dessa posição. Mas também o são o neocriticismo fran cês e, em particular, o chamado positivismo espiritua lista. Em todos esses movimentos, a metafisica é com freqüência ro:valorizada "a partir de dentro", isto é, a partir do interior de um saber positivo. O mesmo ocor re em Bergson. A reabilitação bergsoniana da metafi sica não supõe a adesão ao conhecimento racional do inteligível; supõe precisamente a negação ou limitação desse conhecimento e a possibilidade de uma apreen são intuitiva e imediata do real, que a ciência decom põe e mecaniza. Alguns negaram a metafísica no sen tido tradicional e reconheceram, em contrapartida, a existência de uma aspiração metafísica insuspeitada no homem. Isso ocorre com Dilthey e com todos os au tores que de um modo ou de outro tendem a transformar a metafísica numa "concepção do mundo", ao mesmo tempo inevitável e indemonstrável. Numa direção se melhante, ainda que de modo algum idêntica, à de Dil they, moveu-se Collingwood ao considerar que o único modo de abordar a questão da possibilidade da metafí sica é observar que a metafísica deve ter consciência de que é história. Outros autores não se ocuparam expli citamente da questão da natureza e possibilidade da me tafisica, mas seu pensamento filosófico pode ser consi derado fundamentalmente metafisico (ou assim é con siderado, ao menos, por todas as tendências explicita mente antimetafisicas). É o que ocorre, por exemplo, com o existencialismo e com todas as filosofias exis-
METAFÍSICA tenciais. Outros autores não seguiram, ou seguiram mui to pouco, as tendências tradicionais relativas à natureza, finalidade ou possibilidade da metafísica, mas desen volveram um pensamento decididamente metafísico, no qual a metafísica não é "ciência primeira" nem "ciên cia do ente", mas "saber da realidade radical". Isso acontece com Ortega y Gasset, que podia afirmar que a metafísica não é propriamente uma ciência, porque é o saber no âmbito do qual se dão os outros saberes (sem que estes, de resto, procedam necessariamente daquele, já que não é o mesmo "basear-se em" e "estar fundado ou radicado em"). Um modo de considerar a metafísica em sentido diferente do tradicional ou de muitos dos sentidos modernos é igualmente o de Heidegger; com efeito, o conceito de ser (VER) em Heidegger não é com parável, ou não é comparável em muitos aspectos, ao conceito de ser "tradicional", motivo pelo qual uma "introdução à metafísica" como "introdução ao ser" não é a mesma coisa que uma introdução à ciência do ente enquanto tal . Existencialismo, bergsonismo, atualismo e muitas outras correntes de nosso século são ou de caráter decla radamente metafísico ou reconhecem que o que se faz primariamente em filosofia é um pensar de algum modo "metafísico". Em contrapartida, outras correntes con temporâneas se opuseram de maneira taxativa à metafí sica, considerando-a uma pseudociência. Isso ocorre com alguns pragmatistas, com os marxistas e, em parti cular, com os positivistas lógicos (neopositivistas) e muitos dos chamados "analistas". Comum aos positi vistas é o fato de terem adotado uma posição sensivel mente análoga à de Hume. Eles acrescentaram à posi ção de Hume considerações de caráter "lingüístico". Assim, manteve-se que a metafísica surge unicamente como conseqüência das ilusões em que nos envolve a linguagem. As proposições metafísicas não são nem verdadeiras nem falsas; simplesmente carecem de sen tido. A metafisica não é, pois, possível, porque não há "linguagem metafisica". A metafisica é, em suma, "um abuso da linguagem". Nos últimos anos, foi possível observar que inclu sive no âmbito das correntes positivistas e "analíticas" foram suscitadas questões que podem ser consideradas metafisicas, ou então se atenuou o rigor contra a possi bilidade de toda metafísica. Alguns (Charles Morris) admitem a metafisica enquanto uma forma de "discur so" (vER) : o "discurso metafísico", semelhante ao lógico ou ao gramatical, mas, ao contrário destes, possuidor de um tipo "formativo". Contudo, a noção de verdade (ou falsidade) não pode ser aplicada a esse "discurso", que tem por finalidade organizar o comportamento humano. Outros (Bertrand Russell) disseram que "o completo agnosticismo metafísico não é compatível com a manu tenção de proposições lingüísticas". Einstein declarou
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uma vez que "o medo da metafísica" é uma "enfermi dade da atual filosofia empírica", enfermidade que é apenas "o contrapeso àquele filosofar anterior nas nu vens que acreditava poder desfazer-se do que é dado aos sentidos e prescindir dele". Outros distinguiram entre uma "boa metafísica" e uma "má metafisica". Assim, N. Hartmann estabeleceu uma distinção entre ontologia especulativa e ontologia crítica. Essa distinção pode aplicar-se à metafísica. Segundo ele, a metafisica espe culativa é a metafísica construtiva, mais inclinada a edi ficar sistemas do que a examinar os pressupostos e im plicações dos conceitos usados. A metafisica crítica, em contrapartida, é fundamentalmente uma análise lógica. P. F. Strawson distinguiu entre uma metafisica revisionis ta e uma metafisica descritiva. A metafisica revisionista (cultivada, embora não sem considerações de tipo des critivo, por Descartes, Leibniz e Berkeley, entre outros) é a que visa erigir a melhor estrutura conceituai possível para a compreensão e explicação do real e de suas diver sas formas. A metafisica descritiva (cultivada, ainda que não sem intenções de tipo revisionista, por Aris tóteles e Kant, entre outros) é a que descreve "a estrutura efetiva de nosso pensamento acerca do mundo". De acordo com Strawson, a metafísica revisionista cria pro dutos conceituais de interesse permanente, mas se en contra a serviço da metafisica descritiva. Esta última é parecida com a "análise conceituai" no sentido da escola de Oxford ( VER) , embora difira dela por seu alcance e generalidade. Mário Bunge indicou que a metafisica é legítima se preenche certas condições de rigor e está estreitamente vinculada com a ciência, mas a metafisica rigorosa não é suficiente, devendo ser igualmente exata. Falou-se também (N. Rescher) de metafisica taxonô mica, metafísica arquitetônica e metafisica avaliativa. Alguns autores indicaram que é admissível uma análise metafisica ou uma metafisica analítica. Nenhuma dessas concepções da metafísica admitiria a famosa frase (ou boutade) de Bradley - "A metafisica é a descoberta de más razões para aquilo que cremos por instinto, mas o encontrar essas razões já não é um instinto" - porque alegaria que, se as razões são más, a metafisica deve sê-lo igualmente. A oposição à metafísica, assim como o reconheci mento da legitimidade ou interesse da metafísica, diz muito pouco acerca do que se entende em cada caso por 'metafisica' . Com efeito, um autor como Camap se opôs em geral à metafisica. O mesmo fez um autor como Hei degger. Mas as tendências filosóficas de cada um desses autores são tão diferentes que se pode ter dúvidas so bre se é o mesmo o que cada um entende por 'metafi sica ' . E se por acaso entendem por 'metafisica' o mes mo - por exemplo, a "tradição metafisica ocidental" -, ambos se situam com relação a ela em posições mui to distintas; as razões da rejeição dessa tradição em Hei-
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degger mal são comparáveis com as razões da rejeição da mesma tradição em Carnap. Quando falam de me tafisica, certos autores de tendência analítica não enten dem por ela o mesmo que autores de outras tendências. É possível concordar com a crítica da metafisica (racio nal) formulada por Kant e ao mesmo tempo elaborar teses metafisicas. É igualmente possível, e bastante fre qüente, estar de acordo com o modo de fazer metafisica (ou "filosofia primeira") de Aristóteles sem por isso seguir em quase nenhum aspecto as metafisicas escolás ticas. Afirmar que a metafisica (ou, sem rodeios, a on tologia) se ocupa dos traços mais gerais da realidade não leva necessariamente a elaborar metafisicas de caráter predominantemente especulativo; uma metafisica do tipo sugerido pode ser científica. Por outro lado, há tipos de pensamento que se declaram a si mesmos metafisicas e que não são analíticos ou científicos, mas tampouco são especulativos no sentido pejorativo dessa palavra. Tendo em vista a variedade de opiniões sobre a metafisica, é quase óbvio que não há nada que se possa denominar "a metafisica". Há modos de pensar filosó ficos muito diferentes que envolvem diversos tipos de metafisicas, amiúde incompatíveis entre si. Parece ra zoável então ou abster-se de discutir sobre se "a" meta fisica é legítima ou não, ou eliminar, na medida do pos sível, essa palavra do vocabulário filosófico. O que se fizer então filosoficamente será o importante, não se se chama ou não "metafisica". :l Conceito de metafisica e exposições de doutrinas metafisicas: Henri Bergson, "Introduction à la métaphy sique", Revue de Métaphysique et de Mora/e, 1 1 ( 1 903), 1 -36 (reimp. em La pensée et !e mouvant, 1 934). - C. Guastella, Filosofia de/la Metafisica, 2 vols., 1 905. O. Janssen, Vorstudien zur Metaphysik, 2 vols., 1 92 1 1 927. - G . von Hertling, Várlesungen über Metaphysik, 1 922. - Joseph Geyser, Einige Hauptprobleme der Me taphysik, 1 923. - Hans Driesch, Metaphysik, 1 924. - Hermann E. Oberhuber, Die Geltungsgrundlagen metaphysischer Urteile, 1 928. - Martin Heidegger, Was ist Metaphysik?, 1 929. - !d., Einleitung in die Me taphysik, 1 953. - Hugo Dingler, Metaphysik ais Wis senschaft vom Letzen, 1 929. - Cardeal Mercier, Méta physique générale ou Ontologie [de seu Cours de philo sophie] . - R. G. Collingwood, An Essay on Metaphy sics, 1 940. - E. Gilson, L'Être et l 'Essence, 1 948. Louis Marie Régis, L'Odyssée de la Métaphysique, 1 949. - J. Wahl, Traité de Métaphysique, 1 95 3 . - A. Ancel, Métaphysique générale, 1 953. - J. Marias, Jdea de la metafisica, 1 954. - Hans Reiner, arts. cits. texto verbete, supra. - W. Ehrlich, Metaphysik, 1 955. Morris Lazerowitz, The Structure ofMetaphysics, 1 955. Id., Studies in Metaphilosophy, 1 964 ["continuação" do livro anterior] . - Wolfgang Stegmüller, Metaphysik, Wissenschaft, Skepsis, 1 955. - D. M. Emmet, The Na-
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METÁFORA comparação (instrumento subalterno) e o mito (culmi nação da exposição figurada). Daí a dificuldade de tra çar limites precisos para ela, bem como de saber quais são exatamente as metáforas platônicas. O autor citado considera que, para chegar a um claro conhecimento da questão, é necessário antes de tudo formular uma defi nição da metáfora melhor e mais precisa do que a apre sentada por Aristóteles em Poet. , XII, 1 457 b, e em Rhet. , III, 4, 1 406 b (e ainda mantida por Hegel em Aes thetik, ed. Glockner 1 2 : 533 a 540): a metáfora consiste em dar a uma coisa um nome que corresponde a outra coisa, produzindo-se uma transferência ( ÉTit-q>opá) do gênero à espécie ou da espécie ao gênero, ou da espécie à espécie, ou segundo relações de analogia. A compara ção é também uma metáfora, mas enquanto a primeira é explícita (diz-se, por exemplo, que Aquiles lutou como um leão), a segunda é implícita (diz-se que Aquiles era um leão). Não basta, com efeito - indica Louis -, fazer da metáfora uma comparação sintetizada; é preci so acrescentar que enquanto a comparação aparece co mo algo externo, a metáfora é interna à frase e faz par te dela, não podendo ser eliminada nem substituída. Por tanto, nesse sentido a metáfora não explica, mas descre ve. Ora, quando se trata de examinar as metáforas platô nicas, torna-se difícil isolá-las por inteiro da comparação, do mito e das imagens; a enumeração feita por P. Louis das metáforas platônicas é, efetivamente, tão exaustiva que compreende quase toda a linguagem figurada dos Diálogos. Eis algumas das mais características: a causa é uma fonte; oselementos opostos são contrários que lu tam entre si; o raciocínio "caminha" (bem ou mal, lenta ou apressadamente etc.); o diálogo é uma caça (à verda de); a vida é uma corrida num estádio; o educador é um semeador; a alma é um ser alado ou uma harmonia; a razão é um guarda, um bom ginete que domina o desen freado corcel do corpo; a ignorância é uma enfermida de; as idéias estão enlaçadas com outras idéias e com as coisas; o Estado é um ser vivo; a matéria é uma cera mole etc. É necessário levar em conta que muitas dessas metáforas representam os modos costumeiros por meio dos quais se expressavam em grego, na época de Platão, certas realidades; seu caráter metafórico não se mostra va, pois, claramente ao escritor ou ao ouvinte, de modo que elas não eram mais metafóricas do que os usos que fazemos de certos vocábulos e expressões em nossa linguagem cotidiana. Para o filólogo, que os analisa, são de índole figurada; para nós, expressam apenas a relação do vocábulo com a coisa. Por isso, Unamuno dizia que a filosofia de Platão é o desenvolvimento das metáforas seculares do idioma grego, e que "o discorrer em metá foras é um dos mais naturais e espontâneos, ao mesmo tempo que um dos mais filosóficos, modos de discussão. Os que se crêem mais libertos delas andam enredados em suas malhas" (Ensayos, V [ 1 9 1 7], pp. 44-45).
METÁFORA Diante da abundância da linguagem figurada em Platão, Aristóteles preconizou a necessidade de uma ex trema sobriedade. É verdade que em diversas passagens da Retórica (por exemplo: 1 404 b, 32; 1 405 b 20), Aris tóteles formulou normas para o uso da metáfora. Mas isso se referia à linguagem poética, onde o bom uso metafórico é uma mostra do gênio (ibid. , 1 459 a 5-7). Na linguagem científica, em contrapartida, a metáfora deve ser suprimida se se deseja evitar a ambigüidade e a equivocidade. Duas passagens muito significativas a esse respeito se encontram em An. post. (97 b 37-39) e Top. ( 1 58 b 1 7), nos quais se diz respectivamente que "se na discussão dialética se devem evitar as metáforas, é óbvio igualmente que não se devem usar metáforas nem expressões metafóricas na definição" e que "em todos os casos em que um problema se mostra dificil de abordar, é preciso supor que ele necessita de uma definição ou foi expresso multivocamente ou em senti do metafórico". Não é só, pois, que Aristóteles rejeite as metáforas de Platão - segundo opina Ortega y Gasset - por considerar que certos termos por ele usados co mo rigorosos não passam de metáforas; a oposição ao metafórico é constante e formal e se acha em muitos outros passos do Corpus artistotélico ( 1 407 b 32; 1 45 8 a 7, 3 2 , b 1 3 , 1 8, 1 4 6 1 a 3 1 , e, sobretudo, 1 39 b 34, onde se lê que "tudo o que se diz mediante metáforas é obscuro"). Os filósofos de orientação aristotélica se guiram essa tendência, ao contrário dos filósofos de in clinação platônica, que usaram com freqüência a metá fora. Ora, mesmo os platônicos tenderam a empregá-la antes à maneira de símile ou comparação do que com vistas à expressão formal de seu pensamento. É o caso de Plotino: a abundância de certas metáforas deve ser entendida deste último ponto de vista. Os filósofos escolásticos, em especial os que mais se inclinaram ao aristotelismo, evitaram a metáfora na medida do possível. Santo Tomás, por exemplo, criticou a linguagem de Platão a esse respeito em ln I de An. , lect. 8 in princ. , em ln Phys. , lect. 1 5, de modo seme lhante a como o fizera Aristóteles. Também as metáforas de Santo Tomás tendiam antes à comparação ou símile do que a outra coisa. A enumeração apresentada por M. D. Chenu (ver a bibliografia) mostra-o de maneira con vincente. Eis as principais metáforas usadas pelo Aquinate: 1) Metáfora da razão que se ergue à sombra da inteligência, de acordo com a fórmula de Isaac Israeli (II Sent. d. 3 q. 1 a. 6; d. 7, q. ! , a. 2; III Sent. , d. 14, q. 1 a.3 obj . e ad 3; De verit. , q. 8, a. 3, ad 3; q. 24 a.3; q. 26, a. 9, ad 3 e outras passagens). 2) Metáfora da esfera infinita. 3) Comparação da difusão dos raios do sol com a difusão criadora de Deus, segundo a tradição platônica (! Sent. , d. 43, q. 3, a. ! , ad 1 ; De pot. , q. 3, a. 15, ad !; q. 1 9, a. 4, ad !; q. 24, a. 4, ad !; ln lib. de
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div. nom. , c. 4, lect. !, in med. ). 4) Comparação entre o espelho e o pensamento de Deus sobre as coisas (De verit. , q. 1 2 , n. 6 , passim.) 5) Comparação entre o arte são que pensa em sua obra e o Deus criador (/ Sent. , d. 38, q. 1 a. 3, ad 1 ). 6) Comparação entre a água transmu tada em vinho e a razão assumida pela fé em teologia (ln Boet. de Trin. q. 2, a. 3, ad 5). 7) Comparação entre a corrida e o movimento, e a razão perseguindo a inteli gência (De verit. , q. 1 5 , a. ! ) . Tampouco estão inteira mente ausentes da obra de Santo Tomás os exemplos destinados a ilustrar um problema de dificil compreen são. Não obstante, na opinião de Chenu, isso se reduz a um mínimo; todas as metáforas usadas foram "trans mitidas por uma tradição venerável" e "são usadas mais como ilustração de uma exposição teórica do que em sua potência originária", de tal sorte que se pode dizer que elas "foram já intelectualizadas" (cf. obra na biblio grafia, p. 1 00; também 1 45 e 1 46, em especial com re ferência à famosa imagem da luz para descrever a inte ligência, de acordo com o texto aristotélico, em De an. , III, 5, 430 a 1 5). Na época moderna, o problema da expressão me tafórica não preocupou excessivamente os filósofos, apesar do predomínio das questões epistemológicas. Contudo, houve críticas da linguagem metafórica por parte de autores como Hobbes e Hume: o primeiro, em virtude de seu nominalismo; o segundo, por causa de seu empirismo. Pode-se dizer que, em geral, não se deu grande importância à metáfora e à linguagem figura da, mesmo por parte daqueles, como os idealistas ale mães, que as empregavam na raiz de sua metafisica. Isso não significa que a linguagem metafórica tenha sido abandonada por completo: uma coisa é a opinião que porventura se tenha acerca da função ou da falta de função da metáfora na linguagem filosófica; outra, muito diferente, é o uso que se faça, ou se deixe de fazer, da metáfora. Apesar da hostilidade geral com relação à metáfora em filosofia durante a época moderna, não poucas das metáforas antes mencionadas persistiram na literatura filosófica. Além disso, formaram-se novas metáforas ou se deu novo impulso a velhas metáforas. Seria longa a lista que se poderia apresentar a esse respei to. Recordemos apenas as metáforas usadas por Francis Bacon ao falar do "teatro'', do "palácio do espírito" (ver Í oow), ou as metáforas usadas por Bacon e outros au tores relativas à Natureza, a qual se supunha que "dá sal tos" (ou não os dá), ou relativas à Verdade, a qual se su punha que "se esconde'', "se retira'', "se conquista" etc. (ver Hans Blumenberg, op. cit. infra, pp. 27ss.). Repetimos, porém, que poucos autores na época moderna defenderam o uso da metáfora na expressão filosófica como "uso próprio". Uma das exceções a esse respeito foi Schopenhauer. A "filosofia acadêmica"
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foi por muito tempo hostil à metáfora. Assim, o inter dito em que Nietzsche foi mantido durante várias déca das por parte dos "filósofos acadêmicos" obedecia não só ao conteúdo do seu pensar e aos "gêneros literários" nos quais se traduzia, mas também a seu uso da metá fora como algo mais do que uma figuração consciente. No século XX, manifestaram-se opiniões opostas sobre o papel da metáfora e, em geral, da linguagem figurada na filosofia. Os autores de tendência positi vista rejeitaram a legitimidade do uso metafórico na aná lise filosófica, e inclusive alguns deles, como Camap, acusaram um de seus grandes mentores, Wittgenstein, de ter sucumbido a esse uso em várias passagens do Tractatus (que são aproximadamente as mesmas pas sagens que Camap denunciou como "metafisicas"). Foi habitual entre os autores em questão considerar que a metáfora pertence à linguagem emotiva, que não enun cia nada e se limita a expressar estados psicológicos do falante. Ogden e Richards observaram que, embora se possa usar a linguagem metafórica, é preciso ter cuidado com sua interpretação "literal". Por outro lado, a partir do momento em que o empirismo ou positivismo lógico, no âmbito do movimento analítico, deu lugar a outras correntes, entre elas a chamada "filosofia da linguagem ordinária", e a partir do momento em que vários filóso fos começaram a interessar-se por questões propriamen te "lingüísticas", aumentou o interesse pela noção de metáfora e, subseqüentemente, pelo problema da legiti midade e do alcance de seu uso em filosofia. Entre os muitos filósofos que se ocuparam da metá fora, figuram Bergson, W. M. Urban, Martin Foss, Orte ga y Gasset, I. A. Richards (em escritos distintos do publicado em colaboração com Ogden), Max Black, M. Maclver e Philip Wheelright. As teses de Bergson sobre a linguagem metafórica e figurada são uma conseqüência de sua teoria da intui ção (VER) como ato de penetração na fluência do real, e da inteligência ( vER) enquanto faculdade mecaniza dora e espacializadora. A inteligência usa a linguagem simbólica, mas também a linguagem do senso comum - que se constituiu em sobreposição à da inteligência; a intuição, em contrapartida, usa a linguagem metafó rica. Ora, a metáfora não é aqui um modo de atingir o fundo da realidade que se mostra inevitável quando não se encontram outros meios de penetrá-la; é um mé todo para cujo uso se requer o trabalho, prévio e poste rior, da inteligência. A intuição bergsoniana se desenca deia como o resultado de um esforço intelectual. Ao mesmo tempo, a intuição conseguida comunica-se tão somente pela inteligência. Mas a captação intuitiva da realidade é expressa mediante a linguagem figilrada. Há um texto de Bergson muito explícito a esse respeito: "As comparações e as metáforas sugerirão aqui o que
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[a inteligência] não conseguirá expressar. Não será um rodeio, não será senão um ir diretamente até o fim. Se se falasse constantemente numa linguagem abstrata, pretensamente 'científica', não se daria do espírito mais que sua imitação pela matéria, pois as idéias abstratas foram extraídas do mundo exterior e implicam sempre uma representação espacial. E, não obstante, acreditar se-ia haver analisado o espírito. Portanto, as idéias abs tratas por si sós nos convidariam, aqui, a representar o espírito segundo o modelo da matéria e a pensá-lo por transposição, isto é, no sentido preciso do vocábulo, por metáfora. Mas não nos deixemos enganar pelas apa rências: há casos em que a linguagem figurada é a que fala conscientemente em sentido próprio, e em que a linguagem abstrata fala inconscientemente de um modo figurado. Tão logo abordamos o mundo espiritual, a imagem, se só procura sugerir, pode dar-nos a visão direta, na medida em que o termo abstrato, que é de origem espacial e que pretende expressar algo, nos dei xa quase sempre na metáfora." Assim, Bergson justifica o uso da metáfora, mas em sua doutrina há importantes restrições. Antes de tudo, a metáfora é apropriada espe cialmente ao mundo espiritual (que, de resto, pode ser considerado o "fundo da realidade"). Por outro lado, a metáfora deve sugerir e não descrever ou representar. A contraposição entre o material-espacial e o espiritual temporal toma possível inclusive o paradoxo menciona do: a linguagem simbólica-abstrata pode ser metafórica quando pretende expressar a realidade do espírito, que só a metáfora. pode sugerir e, em certa medida, exprimir de fato. W. M. Urban segue as direções do que denomina a philosophia perennis e, em particular, das tendências que admitem dentro dela a predicação analógica. Ele acrescenta a isso noções derivadas da filosofia da lin guagem, de Cassirer, Meinong e outros autores. Com base nessas noções, afirma que os termos são usados metaforicamente tanto pelos homens comuns como pe los filósofos. Mas a predicação analógica não predica apenas uma emoção daquele que usa a linguagem; ela designa fatos, como quando dizemos: 'a recepção foi fria' . Os adversários da metáfora argumentam que toda predicação analógica é ambígua ou equívoca. Urban res ponde a isso dizendo que as metáforas descrevem carac terísticas da realidade que só elas podem manifestar. Uma tradução da linguagem metafórica para a lingua gem literal, portanto, nem sempre é possível. Por isso, ao ver de Urban, a linguagem metafórica (que coincide em sua doutrina com a linguagem figurada) diz algo acerca da realidade. O símbolo metafisico é uma "metá fora fundamental", isto é, uma metáfora extraída dos "domínios primários e irredutíveis do conhecimento". Daí a conclusão: a linguagem é inevitavelmente meta fórica e simbólica. As teorias que não a reconhecem
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dessa forma, ou aqueles que pretendem - como Fritz Mauthner - que o progresso da filosofia coincide com "a lenta dissolução do metafórico" e que, por conse guinte, a metáfora só é inevitável nos estágios primitivos do conhecimento, esquecem, segundo Urban, que a me táfora é constitutiva da linguagem (de toda linguagem). A base dessas afirmações se acha, como é notório, na tendência a destacar a linguagem natural e pô-la acima das linguagens formalizadas. Com efeito, tão logo as lin guagens se formalizam, o metafórico se dissolve, como apontava Mauthner, que não por acaso manteve a esse respeito teses muito próximas das de todas as tendên cias contemporâneas analíticas e lógico-positivistas. Para Martin Foss, a metáfora é uma forma de ex pressão que atinge uma região distinta da descrita pela imagem e pelo símbolo (expressões, respectivamente, das tendências filosóficas sensacionista-dinâmica e ra cionalista-estática). Imagem e símbolo vêem-se força dos a sacrificar uma parte fundamental do real. A ima gem sacrifica a inteligibilidade; o símbolo, a universali dade (substituída pelos conceitos de totalidade e com pletude). Esse sacrificio é às vezes necessário. Isso ocor re sobretudo quando o símbolo se mostra útil para orga nizar e dominar o real. Mas ao mesmo tempo que or ganiza a realidade, o símbolo reduz a sua plenitude. Em contrapartida, a metáfora nos conduz, segundo Foss, a um reino - o reino da "personalidade" - que cresce sem cessar e que é capaz de abranger a vida do uni verso. Com essa finalidade, a metáfora deve ser pu rificada de tudo o que a simbolização nela introduziu. Redução, comparação, símile, alegoria etc. nem sempre são, com efeito, procedimentos metafóricos. A metáfora é "um processo de tensão e energia", a esfera metafó rica transcende a identificação e a multiplicidade, assim como a contraposição entre o todo e a parte. Por isso, a representação metafórica cria e, ao criar, destrói as fixa ções simbólicas que ameaçavam restringir a expansão da realidade pessoal, que não é típica, nem intercam biável, mas sempre única, dinâmica e insubstituível. Para Ortega y Gasset, "a metáfora é um instrumento mental imprescindível, é uma forma do pensamento científico". O mau uso dela não constitui uma objeção à sua utilização. O importante é não interpretar a expres são metafórica de forma literal ou vice-versa. Com esse cuidado, o emprego da metáfora fica, segundo Ortega y Gasset, plenamente justificado. Pois a metáfora é em pregada quando surge uma nova significação à qual é preciso dar um nome - ou aplicar uma expressão sem forjar um neologismo ou utilizar uma fórmula sim bólica, mas, pelo contrário, empregando o "repertório da linguagem usual". Parece, assim, que a metáfora é uma transposição. Mas nem toda transposição implica uma metáfora. Na transposição, passa-se de um sentido a outro; na metáfora, passa-se a um sentido novo sem
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abandonar totalmente o antigo. A metáfora consiste no uso de uma expressão com consciência de sua duplici dade; é um meio sui generis de expressão e também um meio essencial de intelecção. "A metáfora é um pro cedimento intelectual por meio do qual conseguimos apreender o que se acha mais distante de nossa potência conceituai." A metáfora exerce na ciência um oficio su plente e não, como na poesia, um oficio constituinte. No entanto, além disso, a metáfora científica baseia-se num "uso às avessas do instrumento metafórico", pois em vez de afirmar identidades entre coisas concretas, sustenta identidades entre partes abstratas das coisas. A metáfora poética vai do menos ao mais; a científica, do mais ao menos. O fato de a metáfora ser usada na arte e na ciência não deve fazer-nos esquecer, segundo Ortega, que sua função em cada caso é diferente. Richards mantém que a metáfora é objeto de estudo da retórica (VER) (no sentido dado por esse autor a tal disciplina). Richards concorda que a metáfora é uma ex pressão onipresente na linguagem e que seu uso implica a expressão de dois pensamentos distintos através de uma expressão única. Mas ele se opõe à limitação habitual da expressão metafórica a alguns modos - quase sem pre verbais; a metáfora é, em sua opinião, um emprésti mo entre pensamentos e uma transação entre conceitos. Por isso, pode-se dizer que o próprio pensamento, e não apenas a expressão verbal do pensamento, é metafórico. Portanto, é necessário estudar a fundo a relação entre a idéia original (denominada por Richards teor) e a deriva da ou emprestada (denominada veículo), pois uma teoria completa da metáfora só pode erigir-se com base numa compreensão suficiente dessas "duas partes". A. M. Maclver opôs-se a muitas teorias contempo râneas que, guiadas pelo ideal de uma linguagem per feita entendida como sistema de símbolos com signifi cados fixados por definição, esquecem o processo de extensão contínua - e decorrente estado de fluência constante - da linguagem. O que muitas vezes nos pa rece destituído de metáfora é - tal como os lingüistas observam - uma metáfora morta. O significado de cada termo da linguagem como sistema de comunica ção - não simplesmente como um sistema formal não pode ser representado por um ponto fixo, mas por uma área, que se contrai e se distende, e que, desde logo, se comunica com áreas às vezes contíguas e às vezes remotas. Em conclusão, pode-se dizer que, afora alguns termos formulados convencionalmente para pro pósitos científicos, não há termo de uma linguagem natural qualquer que não seja ou não tenha sido metafó rico, pelo menos num sentido "antiquário", isto é, "no sentido de que, se se pudesse remontar a sua história a um ponto suficientemente distante, se veria que sua sig nificação atual se originou numa extensão de uma signi ficação mais antiga, mesmo que esta possa achar-se completamente esquecida na atualidade".
METÁFORA
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Segundo Max Black, o estudo da metáfora perten ce à semântica, e mais ainda à pragmática. Há duas con cepções usuais da metáfora. Segundo uma delas, a me táfora se baseia na idéia de substituição, a qual conside ra a expressão metafórica "aproximadamente''. De acordo com a outra, a metáfora se baseia na compara ção; neste caso, o conteúdo da metáfora se dá por enten dido implicitamente. Black alega que nenhuma dessas concepções é completamente aceitável. Para substituí las, ele propõe uma terceira concepção, baseada na idéia de interação. Esta supõe, entre outras coisas: a) que há dois termos: um, principal; outro, subordinado; b) que ambos os termos são "sistemas de coisas'', mas não coisas; e) que há uma "implicação associada" do termo subordinado com o principal; e que d) na metáfora se efetua sempre uma determinada seleção. Philip Wheelright afirma que a metáfora é essencial na linguagem filosófica, que é (ou tem de ser) uma "lin guagem aberta", ao contrário da "esteno-linguagem", que é uma linguagem fechada. Esta última é o tipo de linguagem corrente e científica. A primeira, em contra partida, é uma "linguagem tensiva''. A linguagem fecha da não suscita problemas filosóficos, enquanto a lingua gem aberta formula-os sem cessar. Só a linguagem "ten siva" pode dar conta "Do que É''. Esta linguagem é flexível e precisa, portanto, da metáfora. O termo 'metáfora' foi utilizado também na filoso fia por S. C. Pepper quando este falou das "metáforas radicais" (root metaphors) que subjazem a toda grande doutrina filosófica. Dilucidamos este uso no verbete Perifilosofia (vER) . A distinção estabelecida por Ferdinand de Saussure (vER) entre "sintagma" e "relação associativa" foi conti nuada, modificada e aprimorada por vários autores: lin güistas (L. Hjelmslev, Roman Jakobson), antropólogos (Lévi-Strauss) e críticos (Roland Barthes). A partir de Jakobson, é comum distinguir entre sintagma (e sintag mático) e paradigma (e paradigmático). O primeiro sur ge de continuidades (seqüências, justaposições, séries lineares); o segundo, de similaridades. Lévi-Strauss usou freqüentemente os termos 'metá fora' e 'metafórico ' como equivalentes aproximados de 'paradigma' e 'paradigmático' nos sentidos antes apon tados. A metáfora (paradigma, sistema) contrapõe-se à metonímia (sintagma) e é complementada por ela. Nes se sentido, a metáfora é um sistema segundo o qual se organizam os fatos sociais e culturais, bem como a forma pela qual determinadas entidades ocupam uma posição social. Pode-se falar nesse caso de posições so ciais metafóricas e metonímicas. O ser metafórico ou metonímico não é uma distinção taxativa, mas num complexo dado (não verbal tanto como verbal) há rela ções predominantemente metafóricas e relações predo minantemente metonímicas. Os modos de classifica ção encontram-se estreitamente ligados à estrutura me-
tafórica ou metonímica dos objetos considerados. As sim, ao falar dos cães e do gado como fazendo parte da sociedade humana - ainda que de uma maneira "a social" -, Lévi-Strauss escreve (La pensée sauvage, 1 962 , pp. 274-275) que "se ... os pássaros são humanos metafóricos e os cães são humanos metonímicos, o gado é um inumano metonímico e os cavalos de corrida são inumanos metafóricos. O gado é contíguo [metonímico, sintagmático] só por falta de semelhança, e os cavalos de corrida são semelhantes [metafóricos] só por falta de contigüidade. Cada uma dessas categorias oferece a imagem 'oca' das duas outras categorias, que se acham numa relação de simetria invertida". Lévi-Strauss (op. cit. , p. 276) traça o seguinte diagrama, que representa um sistema de três dimensões: 1 __ cavalos - pássaros .__ -- ------- --- cães -- gado -1
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e afirma que "no plano horizontal a linha superior corres ponde à relação metafórica, positiva ou negativa, entre as sociedades humana e animal (pássaros) ou entre a so ciedade dos homens e a anti-sociedade dos cavalos; a linha inferior corresponde à relação metonímica entre a sociedade dos homens, por um lado, e os cães e o gado, por outro, que são membros da primeira, seja a título de sujeitos ou de objetos". E "no plano vertical, a coluna da esquerda associa os pássaros e os cães, que têm com a vida social uma relação, seja metafórica, seja meto nímica. A coluna da direita associa os cavalos e o gado, que se acham sem relação com a vida social, embora o gado seja parte dela (metonímia) e os cavalos de corrida ofereçam com ela uma semelhança negativa (metáfora)''. Por fim, "é preciso acrescentar dois eixos oblíquos, pois os nomes dados aos pássaros e ao gado se encontram for mados por prévio desconto metonímico (seja sobre um conjunto paradigmático, seja sobre uma cadeia sintagmá tica), enquanto os nomes dados aos cães e aos cavalos são formados por reprodução metafórica (seja de um conjun to paradigmático, seja de uma cadeia sintagmática). Li damos, pois, com um sistema coerente". :> Origem da metáfora do ponto de vista psicológico: Heinz Wemer, "Die Ursprünge der Metaphor'', Arbeiten zur Entwicklungspsychologie 3 ( 1 9 1 9). Origem da metáfora do ponto de vista lingüístico: H. Konrad, Étude sur la métaphore, 1 939; 2ª ed., 1 95 8 (muitos dos livros d e filosofia d a linguagem citados em Linguagem [VER] se referem igualmente ao problema). J. E. O 'Neill, "The Metaphorical Mode: Image, Me taphor, Symbol", Thought, 3 1 ( 1 956), 79- 1 1 3 . Estudo sobre a evolução d a metáfora n a história da literatura: A. Biese, Die Philosophie des Metaphoris chen, 1 893. -
META-HISTÓRIA
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MEYERHOF, OTTO. Ver FRIES, JAKOB FRIEDRICH. MEYERSON, ÉMILE ( 1 859- 1 933). Nascido em Lu blin, estudou ciências, principalmente química, na Ale manha, e foi em 1 882 para a França, onde estabeleceu residência, desempenhando várias tarefas (químico, secretário do Instituto Psicológico da Universidade de Paris). De um ponto de vista puramente epistemológico e em nome de um realismo que, em sua opinião, foi o patrimônio comum de todos os cientistas, Meyerson criticou o positivismo em todas as suas formas. Segundo ele, o processo do pensar científico tende a sacrificar a realidade no altar da identidade; essa tendência à iden tificação, notavelmente manifesta no causalismo, não equivale, porém, a um uso meramente pragmático. O cientista busca uma verdadeira explicação dos fenôme nos; a teoria científica não é uma ficção nem uma hipó tese indiferente, mas uma tentativa de alcançar a verda deira causa. Ora, o pensar científico não pode eludir sua tendência natural à identidade, tendência que é, no ftm do, a própria exigência da razão. Isso conduz a ciência, quando remonta a seus princípios e se aproxima com isso da especulação filosófica, a uma idéia do mundo que, levada às suas últimas conseqüências, se sobrepõe exatamente à "esfera" de Parmênides. Por meio dos pos tulados da unidade da matéria, do espaço uniforme e vazio, a ciência acaba por substituir o diverso pelo único e, por conseguinte, acaba por abolir uma realidade em que, ausentes os fenômenos, sobra a própria lei. O desa parecimento da realidade ontológica equivale ao desapa recimento da própria legalidade; o positivismo erra, pois, se crê que uma subsiste sem a outra. A racionalidade da ciência requer a racionalidade do real, e a missão
MICHALCEV, DIMITRI
do cientista consiste, de imediato, em adaptar sucessi vamente suas identificações à experiência. E, por outro lado, essa tendência unificadora da razão não é própria apenas da ciência, mas também do pensamento comum do homem, que faz do múltiplo e do diverso algo unifi cado e que consegue, no decorrer desse esforço, uma adequação parcial entre o real e o idêntico; pois a subs tituição do real pelo idêntico não é senão um termo extremo e, por assim dizer, um secreto postulado da mente. Por uma parte, a própria ciência, em sua ambi ção de compreender o real, chega à compreensão do irracional. Por outra parte, o homem de ciência, quando concebe adequadamente a missão desta, não se nega a desconhecer as realidades que a filosofia estuda. O que se deve fazer, de todo modo, é não permitir que a filo sofia se lance sem peias pelas vias de uma especulação desenfreada. A ambição de Meyerson era, como ele mesmo confessou, contribuir para os prolegômenos de toda metafisica futura. :l Obras: ldentité et Réalité, 1 908. - De l 'explication dans les sciences, 1 92 1 . - La déduction relativiste, 1 925. - Du cheminement de la pensée, 3 vols., 1 93 1 . - Essais, 1 936. - Ver também Correspondance entre Harold Hojfding et Émile Meyerson (Copenhague, 1 939). Ver: A. Metz, Une nouvelle philosophie des sciences, 1 928. - George Boas, A Critica/Analysis ofthe Philoso phy ofE. M. , 1 930. - León Dujovne, La filosofia y las teorías científicas, 1 930. - M. Gillet, La philosophie de É. M. : Étude critique, 1 93 1 . - A. Lalande, Philoso phie de l 'intellect. Les Essais d 'É. M. , 1 936. - Th. R. Kelly, Explanation and Reality in the Philosophy of E. M., 1 937 -Antonio Caso, M. y lafisica modern a, 1 940. M. A. Denti, Scienza efilosofia in M., 1 940. - Mau rice Gex, 'Tépistémologie d' É . M.", Revue de Théologie et de Philosophie, 9 ( 1 959), 33 8-356. - George Mouré los, L'épistémologie positive et la critique meyersonienne, 1 962. - Joseph La Lumia, The Ways ofReason: A Cri ticai Study of the Work ofE. M. , 1 966. - Claudio Man zoni, L'epistemologia di E. M. , 1 97 1 . C: .
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MICHALCEV, DIMITRI. Ver REHME, JoHANNES. MICHELET, KARL LUDWIG ( 1 80 1 - 1 893). Nascido em Berlim, foi, a partir de 1 829, "professor extraordiná rio" na Universidade de Berlim. Em colaboração com o Conde Cieszkowski, fundou a "Berliner Philosophis che Gesellschaft" e foi diretor de seu informativo, Der Gedanke ( 1 860- 1 884). Michelet foi um dos mais fiéis seguidores de Hegel, tendo-o defendido - "o filósofo universal irrefutado" - contra seus adversários. Costuma filiar-se Michelet à "direita hegeliana", embora se pudesse também in cluí-lo num "centro hegeliano" ou numa "centro-direi ta" hegeliana. Não obstante, Michelet opôs-se a todas as interpretações de Hegel que, a seu ver, falseavam o
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pensamento do filósofo. Ele procurou restaurar o sis tema de Hegel e ver como se podia aplicar esse sistema às ciências empíricas e como se podia harmonizá-lo com o cristianismo. Neste último sentido, Michelet equi parou a tríade dialética hegeliana com a Trindade cris tã pelo menos sob forma analógica. Foram importan tes na obras de Michelet seus estudos de história da fi losofia, em particular de história da filosofia moderna. :l Obras: Die Ethik des Aristoteles in ihrem Verhãltnis zum System der Moral, 1 828 (A ética de A. em sua relação com o sistema da moral). - System der philoso phischen Moral, 1 828 (Sistema de moral filosófica). - Geschichte der letzten Systeme der Philosophie in Deutschland von Kant bis Hegel, 2 partes, 1 83 7- 1 838 (História dos últimos sistemas da filosofia na A lema nha, de K. a H.). - A nthropologie und Psychologie oder die Philosophie des subjectiven Geistes, 1 840 (An tropologia e psicologia ou afilosofia do Espírito subje tivo). - Vorlesungen über die Personlichkeit Gottes und Unsterblichkeit der Seele, 1 84 1 [de um curso dado em Berlim; verão de 1 840) (Lições sobre a personalida de de Deus e a imortalidade da alma). - Entwicklungs geschichte der neuesten deutschen Philosophie, 1 843 (História evolutiva dafilosofia alemã recente) [em par ticular contra os ataques de Schelling ao hegelianismo]. Die Epiphanie der ewigen Personlichkeit des Geis tes. Eine philosophische Trilogie. Erstes Gesprãch: Über die Personlichkeit des Absoluten, 1 844; Zweites Gesprã ch: Der historische Christus und das neue Christentum, 1 84 7; Drittes Gesprãch: Über die Zukunft der Mensch heit und die Unterblichkeit der Seele oder die Lehre von den letzten Dingen, 1 852 (A epifania da eterna persona lidade do Espírito. Trilogiafilosófica. Primeiro diálogo: Sobre a personalidade do Absoluto; Segundo diálogo: O Cristo histórico e o novo cristianismo; Terceiro diálogo: Sobre o futuro da humanidade e a imortalidade da al ma ou a doutrina das ultimidades). - Die Losung der gesellschaftlichen Frage, 1 849 (A solução da questão social). - Esquisse de logique, 1 856. - Die Geschi chte der Menschheit in ihrem Entwicklungsganze von 1 775 bis auf die neuesten Zeiten, 2 vols., 1 859- 1 860 (A história da humanidade no conjunto de sua evolu ção de 1 775 aos tempos mais recentes). - Naturrecht oder Rechtsphilosophie ais die praktische Philosophie, 2 vols., 1 866 (Direito natural ou filosofia do Direito como filosofia prática) . - Hegel, der unwiderlegte Weltphilosoph, 1 870 (reimp. , 1 970) (H., o filósofo uni versal irrefutado). - Das System der Philosophie ais exakter Wissenschaft, 4 vols., 1 876- 1 879 (O sistema dafilosofia como ciência exata). - Historisch-kritische Darstellung der dialektischen Methode Hegel 's, 1 888 [em col. com G. H. Hãring). Ver: E. H. Schmitt, M. und das Geheimnis der He gel 'schen Dialektik, 1 888. C: -
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MICHELSTAEDTER, CARLO ( 1 887- 1 9 1 0). Nascido em Gorizia. Formado numa atmosfera em que se mes clavam as tradições intelectuais do Risorgimento italia no e as tradições hebraicas, Michelstaedter elaborou um pensamento filosófico-poético que parecia seguir os passos de Schopenhauer. Segundo Michelstaedter, a vida aspira sempre a algo distinto de si e, não conse guindo-o, experimenta uma profunda desilusão. Esta, entretanto, constitui a fonte para impulsos que transcen dem a própria existência rumo a um absoluto. A irra cionalidade do viver e a desilusão do fracasso dão ori gem a criações, que são racionalizações de ilusões, mas que chegam a ter uma existência e um valor próprios. Considera-se que Michelstaedter antecipou algumas das teses básicas de Heidegger, assim como algumas das idéias unamunianas acerca do "sentimento trágico da vida". Ora, o pessimismo de Michelstaedter não parecia incompatível com um impulso para a obtenção de uma salvação, que às vezes se manifestava na paz interna e às vezes numa ação destinada a fazer a própria indivi dualidade ultrapassar seus estreitos limites. Michels taedter suicidou-se ainda muito jovem; discutiu-se so bre se esse ato foi uma realização de seu pessimismo ou uma conseqüência de uma intensidade de vida exces siva que se manifestou, paradoxalmente, num estado de depressão profunda. � Os escritos de M. foram publicados postumamente: Scritti, 2 vols., 1 9 1 2- 1 9 1 3 , revisados por V. Arangio Ruiz. Esses escritos contêm, entre outros trabalhos: La persuasione e la retorica e Dialogo de/la salute. Ver: G. Chiavacci, "II pensiero di M." ( 1 946) e U. Segre, "11 personalismo di M." ( 1 945), ambos reprodu zidos em Enzo Paci, Lafilosofia contemporanea, 1 957. - Ver também: Maria A. Raschini, C. M. , 1 965. - S. Campailla, Pensiero e poesia di C. M. , 1 973. C: MICHURIN, I [ VANJ V[LADIMIROVICHJ . Ver EVOLUÇÃO. MICKIEWICZ, ADAM. Ver MESSIANISMO. MICROCOSMO. Ver MACROCOSMO. MIGUEL PSELLOS. Ver PsELLOS, MIGUEL. MILAGRE. Gregos e romanos falaram de TÉpaç, sig num, como anúncio de algo, em especial de algum acon tecimento futuro que se supunha importante para uma pessoa, uma família, uma comunidade etc. T épaç é o que serve de sinal e presságio, como uma constelação ou um meteoro; é também um portento ou "monstro", monstrum. Quando os "sinais" são freqüentes, não pa rece haver nada anormal neles; pelo contrário, o "nor mal" é que haja em toda parte sinais, ou que possam "arrancar-se" sinais da Natureza, ou de certas pessoas. Mas quando os "sinais" não são freqüentes, parecem "anormais": o "sinal" é então algo "estranho", algo "ma ravilhoso" e "portentoso". Só neste segundo sentido se
MILAGRE
pode falar de milagre, miraculum. A noção de milagre é importante no cristianismo, uma vez que nos Evange lhos Jesus Cristo aparece fazendo alguns milagres. Os milagres realizados por Jesus Cristo são como o selo divino dado à Palavra de Deus. Nesse sentido, os mila gres em questão distinguem-se daqueles que, segundo se supunha, eram feitos pelos taumaturgos e milagrei ros. Os primeiros destinam-se a confirmar a Palavra de Deus nos que já nela acreditam; os segundos desti nam-se a assombrar com a manifestação de certos "po deres ocultos" sobre a Natureza. Entre os teólogos e filósofos cristãos, admitiu-se o milagre, ou a possibilidade de milagre, como um "fato extraordinário" que sai do curso chamado "normal" dos acontecimentos, ou que, como se disse, está "fora do jogo das causas segundas". A razão fundamental do mi lagre em sentido cristão é a crença de que Deus criou o mundo e, portanto, sua ação não está submetida à ordem natural das coisas. Isso não significa em todos os casos que se admita a ordem natural, e ordem das causas segundas, como um perpétuo milagre. Embora alguns autores se inclinem a esta última opinião, a maio ria dos teólogos e filósofos cristãos afirma que a ordem natural, embora produzida por Deus, tem uma realidade própria, ainda que "secundária". Como autor da Nature za, Deus pode atuar fora da ordem natural, o que acon tece quando realiza milagres, ou faz realizar milagres. Por outro lado, supõe-se que os milagres não são uma "pura arbitrariedade" de Deus, mas que têm sua "ra zão": os milagres são feitos com vistas a um fim supe rior a detentlinada natureza. Os milagres podem ser fisicos ou morais. Os primeiros são de alguma maneira "indiretos"; os segundos se devem à ação direta da Palavra de Deus sobre a consciência. Na época moderna, especialmente durante os sécu los XVII e XVIII, foram abundantes as discussões sobre a natureza e, em particular, sobre a possibilidade ou im possibilidade dos milagres. Em princípio, os deístas, li vre-pensadores, "libertinos" etc. negaram a possibilida de dos milagres, enquanto os "religiosos", os "crentes" etc. afirmaram essa possibilidade. Mas o que interessa filosoficamente não são tanto as posições adotadas a esse respeito quanto os argumentos produzidos. Impor tantes passagens a esse propósito foram, entre os filóso fos, o cap. VI do Tractatus theologico-politicus, de Spi noza, e a seção X da Enquiry concerning Human Un derstanding, de Hume (que escreveu também um en saio, Of Miracles ( 1 748)). Segundo Spinoza, "tudo o que Deus quer ou determina implica uma necessidade e uma verdade eterna"; as leis naturais são "decretos divinos procedentes da necessidade e da perfeição da natureza divina". Não se podem conhecer a essência, a existência nem a providência de Deus pelos milagres, sendo elas melhor mediante "a ordem fixa e imutável da Natureza". Os milagres exprimem apenas potências
MILÃO (ESCOLA DE)
limitadas, não a potência ilimitada de Deus. De acordo com Hume, todo milagre supõe uma experiência unifor me da qual o milagre é, ou se supõe ser, uma exceção. Não há, pois, razão para crer nos milagres, já que então se crê contra um testemunho mais provável. A máxima estabelecida por Hume é "que nenhum testemunho é su ficiente para estabelecer um milagre, a menos que o testemunho seja de tal espécie que sua falsidade seria mais milagrosa do que o fato que ele procura estabele cer". Assim, se alguém me diz que um morto ressusci tou, devo considerar o que é o mais provável : que essa pessoa tenha sido enganada, ou que se engane a si mes ma, ou que o fato que relata tenha de fato ocorrido. Com parando um milagre com o outro, diz Hume, rejeito sempre o milagre maior. "Se a falsidade de seu testemu nho for mais milagrosa do que o acontecimento que relata, então, e só então, o testemunho poderá preten der mandar sobre minha crença ou opinião." Raciocí nio s semelhantes aos de Spinoza foram formulados por autores que podem ser denominados, grosso modo, "ra cionalistas" ou "mecanicistas". Raciocínios semelhan tes aos de Hume foram feitos por alguns positivistas lógicos ( cf., por exemplo, Richard von Mises en Kleines Lehrbuch des Positivismus [ 1 939], § 1 6, 1 ) . Em con trapartida, os filósofos que crêem na possibilidade (em bora não necessariamente na freqüência) dos milagres indicaram que raciocínios como os antes esboçados se aplicam somente à série das causas segundas, sem le var em conta que Deus é o autor de Natureza e, sobre tudo, sem levar em conta que o milagre é um sinal divino realizado com vistas a um fim que transcende a Natureza, ou pelo menos determinada natureza. � Ver: R. M. Burns, The Great Debate on Miracles from Joseph Granvill to David Hume, 1 98 1 . � MILÃO (ESCOLA DE). Por volta de 1 909, alguns pensadores católicos italianos, encabeçados por Agos tino Geme Ili (VER), decidiram combater o positivismo e o idealismo hegeliano por meio de uma renovação da es colástica tomista que não fosse simplesmente uma repe tição de suas teses, mas o resultado de seu aprofunda mento e constante confronto com o pensamento moderno e, em particular, com o processo de formação e resulta dos das ciências. Uma tend.ência análoga à da Escola de Lovaina (VER) desenvolveu-se desse modo em Milão, tendo por centro a Rivista di filosofia neo-scolastica fundada em 1 909. Nela colaboraram sobretudo Giulio Canella, G. Tredici, L. Necchi, A. Masnovo (vER), Fran cesco Olgiati, Giuseppe Amedeo Rossi, Zamboni (VER), assim como vários colaboradores da Revue néo-sco lastique de Philosophie. Esse gruppo di studiosi forta leceu-se e não tardou a estender-se, especialmente desde a fundação, em 1 92 1 , da Universidade do Sagrado Coração, de Milão, cujo reitor foi o mencionado Agos tino Gemelli. De acordo com os princípios estabeleci dos por este, e correspondentes à situação filosófica
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da Itália, o grupo neo-escolástico e neotomista de Milão se dedicou de maneira bastante particular ao estudo histórico-filosófico, com especial atenção à filosofia moderna e ao idealismo, único modo não apenas de compreendê-lo e poder enfrentá-lo com a neo-escolás tica, como também de tornar possível a esta superar o idealismo "a partir de dentro". O histórico e o espe culativo mesclaram-se dessa maneira, não sem produzir algumas dissensões e polêmicas dentro do próprio gru po. A esse respeito, é sobretudo importante a polêmica entre Olgiati e Zamboni, bem como o "caso Zamboni" a que esta deu lugar subseqüentemente. A polêmica decorre de imediato das posições assumidas por esses dois pensadores, posições que apresentamos nos ver betes dedicados a eles, em especial da critica de Olgiati e também da de Rossi . A tendência "histórica" pare ceu, em todo caso, triunfar no âmbito da Escola, não, sem dúvida, como uma finalidade última, mas como um ponto de partida indispensável para a completa re valorização do neotomismo. � Ver especialmente A. Gemelli, "Une orientation nou velle de la scolastique'', Revue néoscolastique de philo sophie, 1 9 ( 1 9 1 2), e os "Indirizzi e conquiste della filo sofia neoscolastica italiana", suplemento à Rivista difilo sofia neo-scolastica, 26 ( 1 934). - Sobre o "caso Zambo ni'', ver, além das obras citadas nos verbetes correspon dentes: Gemelli, Olgiati, Rossi, "II caso Zamboni", ibid. ( 1 935), 3 93-427. - C. Ranwez, "La controverse gnoséologique en ltalie", Revue néoscolastique de phi losophie, 38 ( 1 935). - G. Zamboni, "Chiarimenti per la controversia sulla gnoseologia pura", Divus Thomas, 42 ( 1 939). - A principal obra polêmica de A. Rossi a esse respeito é: La gnoseologia (o psicologia pura) dei Prof G. Zamboni. Studio critico, 2ª ed., 1 935. - H. Kramer, 'Tinterpretazione di Platone della Scuola di Tubinga e della Scuola di Milano", Rivista di Filosofia Neo-Scolastica, 84 (2-3) ( 1 992), 203-2 1 8. � MILESIANOS. No âmbito dos jônicos (vER), ocupam um lugar de destaque os milesianos (Tales, Anaximan dro, Anaxímenes [VER]). O nome 'milesianos' procede do fato de que todos os assim chamados nasceram e desenvolveram sua atividade filosófica em Mileto, na costa da Á sia Menor. São com freqüência qualificados de cpvmKoÍ, fisicos, e também de cpvmoÀoyoí, fisiólo gos, no sentido de "filósofos da Natureza", cpúms, mes mo tendo-se presente que o vocábulo 'Natureza' deve ser entendido num sentido diferente daquele que tem em nossos dias. Por isso, W. Jaeger diz que, apesar de "fisicos", os milesianos não podem deixar de ser consi derados "teólogos", a menos que se procure modernizar indevidamente seu pensamento. Consideram-se os mi lesianos fundadores da filosofia, pelo menos da filoso fia grega (vER) e avalia-se que uma das características mais importantes de seu pensamento é o hilozoísmo (vER). Com os pré-socráticos (vER), até Demócrito, for-
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mam a chamada tendência cosmológica da filosofia grega, mas se distinguem dos demais pré-socráticos pela forma que poderíamos denominar "pré-ontológica" de seu pensamento. Alguns historiadores da filosofia consideram que certos pensadores, tais como Hipon, Idao e Diógenes de Apolônia (VER), representam prolon gamentos da filosofia dos milésios. :l Ver a bibliografia de FILOSOFIA GREGA e a de PRÉ SOCRÁTICOS. C: MILHAUD, GASTON (1 858- 1 9 1 8). Nascido em Nimes, foi professor de matemática no Liceu de Montpellier e de filosofia na Universidade de Montpellier. Milhaud destacou o papel criador - ou, para empregar o vocabu lário criticista, "constitutivo" - da consciência no de senvolvimento dos conceitos científicos, com o que, mesmo dependendo do positivismo de Comte e do neo criticismo de Renouvier, transpôs decididamente o pla no de um simples fenomenismo (vER). Daí uma crítica desta última posição, tal como foi sobretudo represen tada pelo comtismo, e uma acentuação da autonomia da atividade espiritual que o conduziu em parte a teses análogas às defendidas pelo pragmatismo e convencio nalismo atenuados de Poincaré e Duhem. O que os con ceitos científicos - em especial no terreno da tisica matemática - têm de mais rigoroso é, segundo Mi lhaud, o que o espírito previamente depositou neles. O espírito não gera, sem dúvida, a realidade, mas produz o âmbito no interior do qual essa realidade se toma inteligível. A crítica do determinismo e do puro empi rismo não é, no entanto, tão-somente o produto de uma atitude filosófica. Milhaud procurou mostrar que o caráter criador do espírito se manifesta de um modo efetivo ao longo da história da ciência. Nesse caso, o positivismo não seria mais do que uma etapa à qual sucederia o reconhecimento da inteligibilidade criada pelo espírito sob a forma do que Milhaud denomina "a etapa da interioridade". :l Obras: Leçons sur les origines de la science grec que, 1 893 . - Num Cartessi Methodus tantum valet in suo opere illustrando quantum ipse senserit, 1 894 (tese latina). - Essai sur les conditions et les limites de la certitude logique, 1 898. - Le Rationnel, 1 898. - Les philosophes-géométres de la Gréce. Platon et ses pré décesseurs, 1 900. - Le Positivisme et le progrés de l 'esprit. Études critiques sur Auguste Comte, 1 902. Études sur la pensée scientifique chez les Modernes, 1 906. - Nouvelles études sur l 'histoire de la pensée scientifique, 1 9 1 1 . - É autor também de obras sobre Descartes (Descartes, savant, 1 92 1 ), Renouvier (La philosophie de Charles Renouvier, 1 927) e Coumot (Études sur Cournot. Le développement de la pensée de Cournot, 1 927). Além dos escritos citados, ver: R. Garrigou-La grange, Le sens du mystere et le clair-obscur intellec tuel, naturel et surnaturel, 1 934. - P. Ricoeur, G. Mar cel e K. Jaspers, Philosophie du mystére et phi/osophie du paradoxe, 1 947. - S. D. Ross, Philosophical Mys teries, 1 98 1 . C: MÍSTICA. A definição mais geral que se pode dar da mística é: "atividade espiritual que aspira a efetuar a união da alma com a divindade por diversos meios (as cetismo, devoção, amor, contemplação)." São muito di versas as manifestações místicas: houve-as e as há em todas as grandes religiões universais e em algumas filo sofias (como o neoplatonismo) de cunho religioso. Nes te verbete, referir-nos-emos em especial à mística tal co mo se manifestou nessas filosofias e no cristianismo, mas sem esquecer que alguns de seus caracteres corres pondem igualmente a outros tipos de mística (mística judaica, árabe, oriental etc.). De acordo com os neoplatônicos, a mística é a ati vidade que produz o contato, àq>f], da alma individual com o princípio divino. Esse contato suscita uma ilumi nação interior dessa alma, que a faz conhecer (embora não lhe permita enunciar) a essência e a existência isto é, o ser - da realidade divina. No ato místico, a alma participa da divindade, estabelecendo-se com ela uma "unidade de vida". Para alcançar esse fim, é ne cessário que a alma se desprenda de todo o obscuro e sensível, ou então - o que equivale praticamente ao mesmo - que considere todo o obscuro e sensível do ponto de vista do puramente inteligível. Assim, o obscu ro e o sensível não ficam, propriamente falando, elimi nados, mas iluminados (e, sobretudo, transfigurados). Como no processo que conduz à união mística a inteli gência desempenha um papel fundamental (ainda que seja a "inteligência intuitiva" e não meramente "discur siva"), falou-se de um "intelectualismo" na mística neo platônica e, em geral, helênica. Deve-se levar em conta, porém, que os processos intuitivo-intelectuais são usa dos na maioria dos casos como uma espécie de trampo lim a partir do qual a alma "salta" rumo à participação com a divindade. Em certa medida, a tradição mística neoplatônica culminou nos escritos do Pseudo-Dionísio e exerceu grande influência sobre a mística cristã medieval do Ocidente. Foram numerosos os representantes desta úl tima (São Bernardo, vitorinos, "agostinhos" etc.). Mas a mística cristã medieval une com freqüência ao compo nente "intelectualista" outro componente "voluntarista" e às vezes "afetivista" e "ativista". Acentuam-se nela, além disso, certos motivos que a mística helênica esque-
MÍSTICA
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cera ou preterira. É o que ocorre com o motivo do amor (VER) e com o do "vôo''. O último se destaca com par ticular intensidade em certos místicos modernos, dos quais mencionaremos São João da Cruz. Este pede a Deus, no Cântico, que afaste as coisas para ir "voando". O ascetismo pode colaborar com o processo, mas não é justo confundir, como às vezes se faz, a mística e a ascé tica. A contemplação mística - que é amiúde uma com binação de "união contemplativa" com "união amoro sa" e "união volitiva" - efetua-se por meio de um cons tante ímpeto transcendente, diante do qual as coisas são ao mesmo tempo meios e obstáculos. As coisas se vão, com efeito, "atravessando" e "transcendendo"; vão sendo submersas no que deve mostrar-se como um nada perante a viva e suprema luz de Deus, que envolve a alma no que é ao mesmo tempo transparente e inefável. Por isso, São João da Cruz escreve (Noite escura, II, cap. 5) que quando "as coisas divinas são em si mais claras e mani festas, tanto mais parecem à alma obscuras e ocultas na turalmente; assim como a luz, quanto mais clara é, tanto mais ofusca e obscurece a pupila da coruja". Discutiu-se muito até que ponto é possível falar de "conhecimento" na mística. Certos autores o negam; assim, Ortega y Gasset afirma que "qualquer teologia me parece transmitir-nos muito mais quantidade de Deus, mais vislumbres e noções da divindade, do que todos os êxtases juntos de todos os místicos juntos''. Outros indicam que há conhecimento na mística, mas não no sentido habitual; o conhecimento é, de todo mo do, um "supraconhecimento". Outros declaram que a mística não pode revelar nada transcendente, mas muito com relação à alma do místico; neste último caso, a mís tica é a designação de uma série de experiências excep cionais que o psicólogo e o filósofo devem submeter a análise. Outros, por fim, como Jean Baruzi, proclamam que é necessário distinguir entre a mística e o pensa mento místico: a primeira não tem história (ou consiste em atos de transcendência que por sua própria nature za são trans-históricos) ; o segundo pertence à história. "Na medida em que é original e criadora - escreveu Jean Baruzi -, a mística é elaborada em profundidades que, se às vezes são inexeqüíveis, não estão com fre qüência vinculadas entre si por nada que permita efetuar um discernimento entre ela e o que a precedeu ou a seguiu. Em contrapartida, o exame dos textos em que se escreve essa mística, isto é, o exame do pensamento místico, é suscetível de ser considerado historicamente, como se se tratasse de diversas traduções verbais do pensamento criador, mas talvez com maiores dificulda des no que tange à fixação de dados textuais e na discri minação do que é uma fonte ou uma repetição monó tona" (Curso no College de France sobre o pensamento místico, 1 946- 1 94 7.) Na significação dada por Wittgenstein ao "místico", este é o indizível, pois, de acordo com seu apotegma,
"aquilo de que não se pode falar deve-se silenciar". En tretanto, é curioso comprovar que, na opinião de Witt genstein - pelo menos antes de seu atual afastamento dessa parte de seu pensamento -, o inexprimível ( Unaussprechliches) "mostra-se a si mesmo" e pode ser tanto aquilo de que se tem uma vivência imediata e intraduzível a uma linguagem intersubjetiva - o que, considerado em termos radicais, conduziria ao "solip sismo lingüístico" que o fisicalismo (VER) pretendeu justamente superar -, como o que resulta quando, uma vez compreendidas as proposições que conduzem a um esclarecimento da linguagem, se chega à conclusão de que elas também carecem de sentido e contituem, no máximo, a "escada" que "se deve jogar fora depois de ter subido por ela" (cf. Tractatus, 6.54). O místico apa receria então sob duas formas: ou antes da linguagem ideal correta ou depois dela, e isso de tal sorte que a linguagem com sentido ficaria sempre comprimida sob duas espécies de mística. Isto distinguiria Wittgenstein das conclusões a que chegam simplesmente aqueles que em sua teoria da linguagem (vER) rejeitam, por moti vos opostos, as estruturas lingüísticas depositadas pela tradição histórica, assim como de conclusões semelhan tes às de Bergson, que considera que o ato místico é o que rompe ou "abre" os quadros da sociedade fechada e, em geral, de toda imanência para seguir o impulso criador que conduz ao transcendente e que constitui o próprio ser da pessoa. :> Problemas da mística: Evelyn Underhill, Mysticism, 1 9 1 1 . - C. Clemen, Die Mystik nach Wesen, Entwick lung und Bedeutung, 1 923. - Roger Bastide, Les pro blemes de la vie mystique, 1 93 1 . H. Sérouya, Le mys ticisme, 1 956. R. C. Zaehner, Mysticism, Sacred and Profane, 1 957. J. Chrisci, Mysticism: The Search for Ultimate Meaning, 1 986. - T. Chapman, ln Defense -
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MISTURA
bém o livro de Jean Baruzi citado infra). - G. C. Heard, Mystical and Ethical Experience, 1 985. - M. L. Furse, Experience and Certainty: W. E. Hocking and Philoso phical Mysticism, 1 988. Prática mística: Radhakamal Mukerjee, Theory and Art of Mysticism, 1 937.
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Mística alemã: W. Preger, Geschichte der deuts chen Mystik im Mittelalter, 3 vols., 1 874- 1 893 . - H. Delacroix, Essai sur /e mysticisme spéculatif en Alle magne au XVI' siécle, 1 900. - Id., Études d 'histoire et de psychologie du mysticisme, 1 908. - D. Walsh, The Mysticism of Innerwordly Fulfillment: A Study of Jacob Bohme, 1 983. - J. Hopkins, Nicho/as ofCusa s Dialectical Mysticism, 1 985. - J. Koeppel, Edith Stein: Philosopher and Mystic, 1 990 [The Way of the Chris tian Mystics, vol. 12]. Ver também: W. Schwabe, "Mischung" und "Ele ment" im Griechischen bis Platon. Wort -und begriffs geschichtliche Untersuchungen, insbesondere zur Be deutungsentwicklung von 0To1xelov, 1 980. �
MITO. Denomína-se "mito" um relato de algo fabuloso que se supõe ocorrido num passado remoto e quase sem pre impreciso. Os mítos podem referir-se a grandes feitos heróicos (no sentido grego de 'heróicos') que com fre qüência são tidos como o fundamento e o começo da his tória de uma comunidade ou do gênero humano em geral. Podem ter como conteúdo fenômenos naturais, caso em que costumam ser apresentados em forma alegórica (co mo ocorre com "os mítos solares"). Muito freqüentemen te, os mitos comportam a personificação de coisas ou acontecimentos. Pode-se crer de boa fé, e até literalmente, no conteúdo de um mito, ou tomá-lo como relato alegóri co, ou desprezá-lo alegando que todo o mítico é falso. Quanto tomado alegoricamente, o mito transforma se num relato que tem dois aspectos, ambos igualmente necessários: o· fictício e o real. O fictício consiste em que, de fato, não ocorreu o que o relato mítico diz. O real consiste em que de alguma maneira o que o relato mítico diz corresponde à realidade. O mito é como um relato do que poderia ter acontecido se a realidade coin cidisse com o paradigma da realidade. Por isso, José Echeverria (cf. art. citado na bibliografia) escreveu que "o mito deve expressar de forma sucessiva e anedótica o que é supratemporal e permanente, o que jamais deixa de ocorrer e que, como paradigma, vale para todos os tempos. Mediante o mito, é fixada a essência de uma situação cósmíca ou de uma estrutura do real. Mas como o modo de fixá-la é um relato, é preciso encontrar uma maneira de indicar ao ouvinte ou leitor mais lúcido que o tempo em que se desenvolvem os fatos é um falso tempo, é necessário saber incitá-lo a buscar, para além desse tempo em que o relatado parece transcorrer, o arquetípico, o sempre presente, o que não transcorre". Os pré-socráticos consideraram o mito de um modo ambivalente. Por um lado, descartaram o mythos em no me do logos. Por outro lado, fizeram crescer esse logos sobre o solo de um mythos prévio. O mais freqüente foi entrelaçar os dois, ao menos na linguagem. Os sofistas, em contrapartida, tenderam a separar o mito da razão, mas nem sempre para sacrificar inteiramente o primeiro,
MITO
pois amiúde admitiram a narrativa mitológica como invólucro da verdade filosófica. Essa concepção foi retomada por Platão especialmente na medida em que este considerou o mito um modo de expressar certas verdades que escapam ao raciocínio. Nesse sentido, o mito não pode ser eliminado da filosofia platônica, pois, como indica Victor Brocharei, desapareceriam então dela a doutrina do mundo, da alma e de Deus, assim como parte da teoria das idéias. Portanto, para Platão o mito é com freqüência algo mais do que uma opinião provável. Mas ao mesmo tempo o mito aparece em Platão como um modo de exprimir o reino do vir-a-ser. Vários autores neoplatônicos abordaram a questão da natureza e das espécies de mitos, assim como da justificação (filosófica) do caráter divino dos mitos. Dessa maneira, o filósofo neoplatônico Salústio (vER) considerava, em seu tratado Sobre os deuses e sobre o mundo (D ep\ 8ewv Ka\ KÓoµov), que os mitos podem representar os deuses e as operações efetuadas pelos deuses no mundo. Há, segundo Salústio, várias espécies de mitos: os teológicos, os físicos, os psíquicos, os ma teriais e os mistos. Os mitos teológicos (usados pelos filósofos) são os essencialmente "intelectuais" e "incor póreos", os que consideram os deuses em sua essência. Os mitos físicos (usados pelos poetas) são os que procu ram explicar o modo, ou modos, como os deuses ope ram. Os mitos psíquicos (também usados pelos poetas) explicam as operações da alma. Os mitos materiais são os próprios das pessoas sem instrução quando estas pretendem entender a natureza dos deuses e do mundo. Os mitos mistos são os usados por aqueles que ensinam ou praticam ritos de iniciação. Na Antigüidade e na Idade Média, prestou-se parti cular atenção ao próprio conteúdo dos mitos e a seu poder explicativo. Desde o Renascimento, apresentou se um problema que, embora já tratado na Antigüidade, ficara um pouco negligenciado: o problema da realidade e, por conseguinte, o problema da verdade, ou grau de verdade, dos mitos. Na medida em que múltiplas tendên cias céticas desacreditaram não poucas crenças, desacre ditaram também os mitos. Vários autores modernos ne garam-se a considerar os mitos dignos de menção; a "ver dadeira história", proclamaram eles, nada tem de mítico. Por isso, o historiador deve depurar a história de mitos e lendas. Assim pensaram, por exemplo, entre outros, Voltaire e todos os "ilustrados" do século XVIII. Não obstante, à medida que se procurou estudar a história empiricamente, percebeu-se que os mitos podem não ser "verdadeiros" no que contam, mas que são "verda deiros" em outro sentido: no fato de contarem algo real mente acontecido na história, isto é, a crença em mitos. Em outras palavras, os mitos foram considerados "fatos históricos": sua "verdade" é uma "verdade histórica". Assim pensou (também) Voltaire, que, apesar de sua
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mitofobia, não negligenciou os mitos quando se tratava de descrever o passado histórico. Dois autores modernos deram grande importância ao fenômeno do mito e dos mitos: Vico e Schelling. Vico fundamentou epistemologicamente a atitude antes apre sentada de que o mito é "uma verdade histórica"; com efeito, o mito é para Vico um modo de pensar que tem suas próprias características e que condiciona, ou pelo menos expressa, certas formas de vida humana básicas. Vico identificou o modo de pensar mítico com o modo de pensar "poético" (Scienza Nuova, VI). Schelling con siderou que a mitologia é uma forma de pensamento que representa um dos modos pelos quais o Absoluto se re vela no processo histórico; o mito é, portanto, revelação divina (Philosophie der Mythologie, passim). Na época contemporânea, prevaleceu o estudo do mito como elemento possível e, de todo modo, ilustra tivo da história humana, ou de certas formas ou fases na história de uma comurudade humana. Desse ponto de vista, e como o veremos depois em autores como Ernst Cassirer, um mito pode ser algo como um "pressupos to cultural". Não importa então que um mito seja "fabri cado" e que o "conteúdo" - em geral sob forma narra tiva - de um mito seja "falso", isto é, que não corres ponda a nada que tenha efetivamente acontecido. Esta concepção do mito não está muito afastada da de vários autores modernos antes mencionados - e muito dife rentes entre si -, como Voltaire ou Vico. Entretanto, não se pode contrapor sequer a "verdade histórica" do mito - ou o "mito como realidade histórica" - à sua verdade "real". Historicamente falando, é real tudo o que ocorreu numa comunidade humana, ou, pelo menos, tudo o que contribui para o entendimento das estruturas so ciais e culturais dessa comunidade. Por conseguinte, os mitos são "reais" enquanto "historicamente reais". Pode-se falar do mito em geral, ou seja, de um con ceito de "mito", ou então de diversas espécies de mitos. Ao se fazer isto, pode-se chegar à conclusão de que todos os mitos têm algo em comum ou de que é necessá rio distinguir entre as diversas espécies mencionadas. Neste último caso, distinguem-se entre mitos religiosos, mitos poéticos, mitos culturais etc. No sentido que lhe deu Rudolf Bultmann (VER), o mito não é uma maneira de falar mais ou menos oblíqua ou analogicamente sobre o divino. Bultmann denomina "mito" um tipo de discurso acerca do divino que usa os conceitos que não correspondem a ele. Assim, é mítico falar do divino em termos científicos. Também o é falar dele em termos históricos. Por isso, Bultmann propôs e desenvolveu o programa do que chamou de "desmiti ficação" (vER) ou "desmitologização". Esta última pode ser entendida, contudo, em sentidos diferentes do bult manniano, tal como enfatizamos no verbete citado.
1 98 1
A noção de mito e o fato d e que o homem tenha fa bricado - e continue a fazê-lo - mitos suscitou inte resse entre vários filósofos contemporâneos, assim co mo entre sociólogos e lingüistas interessados numa interpretação geral do mito. O mencionado Ernst Cassi rer considerou que o mito não é objeto unicamente de pesquisas empírico-descritivas tampouco uma manifes tação histórica de algo "absoluto". Embora necessárias, as investigações e descrições empíricas acham-se deli mitadas pela idéia do mito como modo de ser ou forma da consciência: a "consciência mítica", que explica a persistência, reiteração e estrutura similar de muitos mitos. Segundo esse autor, há um princípio de formação dos mitos que faz que estes sejam algo mais do que um conjunto acidental de imaginações e fabulações. A for mação de mitos obedece a uma espécie de necessidade inerente à cultura, de maneira que os mitos podem ser considerados pressupostos culturais. As idéias de Cassirer sobre o mito e a função cul tural do mito coincidem com as pesquisas estruturalis tas no que se refere à mútua oposição às concepções de caráter puramente histórico e sociológico-descritivo e também no que diz respeito à sua revalorização da importância da função produtora de mitos. Há, porém, diferenças fundamentais entre Cassirer e os estruturalis tas, e especificamente entre Cassirer e Claude Lévi Strauss, a quem se deve uma elaborada teoria dos mitos, especialmente em sua série de "Mitológicas" (cf. bibl iografia). Lévi-Strauss reconhece que um mito muda no decorrer de uma história, produzindo-se numerosas variantes, e até que certas mudanças na estrutura do mito podem fazer que ele se desintegre, ou que se trans forme em outro mito. No entanto, dentro de certo âm bito de variantes, um mito possui uma estrutura inde pendente inclusive de seus conteúdos específicos, isto é, dos tipos de entidades às quais o mito se refere, ou acerca das quais introduz suas narrações. Fundamen tal no mito é um sistema de oposições ou "dualidades". Os elementos básicos de que ele se compõe são os cha mados "mitemas'', que se combinam em diversos níveis até constituir um sistema. Embora os mitos não sejam estruturas lógicas, sua constituição, desenvolvimento e transformação estão submetidos a regras operacio nais que podem ser expressas logicamente. Não há, de resto, análise estrutural de um só mito, mas sempre de grupos de mitos. Lévi-Strauss rejeita as interpretações dos mitos como explicações de fenômenos naturais, como expressões de atitudes psíquicas e até como for mas simbólicas. Embora haja relações entre mitos e realidades sociais, não são relações causais. Em últi ma análise, as estruturas míticas são estruturas "ina tas" da mente, isto é, conjuntos de disposições com regras próprias.
MITO
Quine sugeriu que todos os pressupostos epistemo lógicos básicos - trate-se de mitos stricto sensu ou de concepções tais como a de que existem objetos fisicos, a de que o que há são fenômenos etc. - são de índole "mítica'', ou seja, podem ser tratados como mitos. Se gundo Quine, esses "mitos" podem diferir entre si so bremaneira no que tange a seu grau, mas têm a mesma natureza - ou exercem função análoga. :> Função mitológica e simbolização mítica: Hermann Usener, Gotternamen. Vérsuch einer Lehre von der reli giosen Begriffsbildung, 1 895; 2ª ed., 1 929; 3ª ed., 1 948. - E. Cassirer, Philosophie der symbolischen Formen (t. II, Das mythische Denken, 1 925). - ld., Sprache und Mythos. Ein Beitrag zum Problem der Gotternamen, 1 925. - Id., The Myth of the State, 1 946. - Roger Caillois, Le mythe et l 'homme, 1 938. - C. G. Jung e K. Kerényie, Einfiihrung in das Wesen der Mythologie, 1 94 1 . - S. Schott, M. Forderer, W. Brocker, M. Thiel, H. Kranz et ai. , "Mythos", Cuademos 5 e 6, ano 8 ( 1 955), de Studium Generale. - José Echeverría, "Eri tis sicut dii", Asomante, 1 7, nº 3 ( 1 96 1 ), 7-36. - Miguel de Femandy, En torno ai pensar mítico, 1 96 1 . - Lud wig Schajowicz, Mito y existencia: Preliminares a una teoria de las iniciativas espirituales, 1 962. - Mircea Eliade, Aspects du mythe, 1 963. - S. C. Ausband, Myth and Meaning, Myth and Order, 1 983. - C. Falck, Myth, Truth and Literature: Towards a True Post-Modernism, 1 99 1 . - J. Mali, The Rehabilitation of Myth, 1 992. Mito e conhecimento: G. F. Lipps, Mythenbildung und Erkennt"(lis, 1 907. - E. Unger, Wirklichkeit, My thos, Erkenntnis, 1 930. - W. F. Otto, Die Abhandlun gen über den Mythos und seine Bedeutungfiir die Mens chen, 1 95 5 .
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MITIASCH, ALWIN
1 982
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Mito em vários períodos, autores e correntes: M. Untersteiner, Lafisiología dei mito, 1 946. - M. Eliade, Le mythe de l 'éternel retour, 1 949; reed., 1 969. - F. Buffiere, Les mythes d 'Homére et la pensée grecque, 1 956. - Jean Pépin, Mythe et allégorie: Les origines grecques et les contestations judéo-chrétiennes, 1 958. - Klaus Heinrich, Parmenides und Jona. Vier Studien über das Verhii.ltnis von Philosophie und Mythologie, 1 966. - G. S. Kirk, Myth: lts Meaning and Function in Ancient and Other Cultures, 1 970. - Id., The Nature of Greek Myths, 1 974. - J. A. Stewart, The Myths of Plato, 1 905, reed. G. R. Levy, 1 960. - Victor Brocharei, Études de philosophie ancienne et de philosophie mo derne, 1 9 1 2, ed. V Delbos, pp. 46-59: "Les mythes dans la philosophie de Platon". - P. Frutiger, Les mythes de Platon, 1 930. - P. Stocklein, Ueber die philosophische Bedeutung von Platons Mythen, 1 937. - A. Levi, I miti platonici sull 'anima e suai destini, 1 93 9 . - E. R. Dodds, The Greeks and the Irrational, 1 95 1 . - Josef Pieper, Ueber die platonischen Mythen, 1 965. - Walter Hirsch, Platons Weg zum Mythos, 1 9 7 1 (tese de habili tação). - F. Rebecheau, L'interpretazione stoica dei mito, 1 944. - Peter Dronke, Fabula: Explorations into the Use ofMyth in Medieval Platonism, 1 974. - Franco Alessio, Mito e scienza in Ruggero Bacone, 1 957. G. Villa, Lafilosofia dei mito secondo G. B. Vico, 1 949. Giuseppe Prestipino, La teoria dei mito e la moder nità di Vico, 1 962. - Adolf Allwohn, Der Mythos bei Schelling, 1 927 [Kantstudien. Ergãnzunsbãnde, 6 1 ] . Hans Czuma, Der philosophische Standpunkt in Schel lings Philosophie der Mythologie und Offenbarung, 1 969. - Karl-Heinz Volkrnann-Schluck, Mythos und Logos. Interpretationen zu Schellings Philosophie der Mythologie, 1 969. - Hans-Otto Rebstock, Hegels Auf fassung des Mythos in seinen Frühschriften, 1 97 1 . E. Ruprecht, Der Mythos bei Wagner und Nietzsche, 1 938. -Aloys Klein, Glaube und Mythos. Eine kritische, religionsphilosophisch-theologische Untersuchung des Mythos-Begriffs bei Karl Jaspers, 1 973. G. Krüger, Eros und Mythos bei Plato, 1 978, ed. R. Schaeffler. H. Dõrrie, Sinn und Funktion des Mythos in der grie chischen und der romischen Dichtung, 1 978. - R. Zas lavsky, Platonic Myth and Platonic Writing, 1 98 1 . N. J. Girardot, Myth and Meaning in Early Taoism: The Theme of Chaos (Hun-Tun), 1 983. - J.-P. Vernant, -
-
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C. Lévi-Strauss tratou dos mitos em muitas de suas obras. A série de "Mitológicas" a que nos referimos no texto é: Mythologiques. !: Le cru et /e cuit, 1 964; My thologiques. II: Du miei aux cendres, 1 967; Mythologi ques. III: L'origine des maniéres de table, 1 968; Mytho logiques. IV: L'homme nu, 1 97 1 . - Detalhado exame
das idéias de L.-S. sobre os mitos em Pedro Gómez García, "La estructura mitológica en L.-S.", Teorema, 6 ( 1 976), 1 1 9- 1 46.
Para mito em sentido de Quine: From a Logical Point of View, 1 953, pp. 1 8ss. e 44ss.
Para o problema da desmitificação e desmitologi zação, ver DESMITIF!CAÇÃO. MITTASCH, ALWIN ( 1 869- 1 953). Nascido em Lud wisghafen, químico de profissão, desenvolveu uma série de pensamentos filosóficos com base em observações feitas sobre os processos catalíticos. Antes de tudo, Mit tasch distinguiu a noção de causalidade como conser vação (Erhaltungskausalitii.t), na qual há equivalência de causa e efeito, da noção de causalidade como libera ção ou descarga (Auslosungskausalitii.t), em que não há essa equivalência, mas desequilíbrio entre causa e efeito. Este último tipo de causalidade é o que se mani festa nos fenômenos catalíticos, onde há aceleração, retardo, seleção etc. Mittasch estendeu essas idéias à filosofia do orgânico, desenvolvendo uma concepção da enteléquia similar à proposta por Driesch, mas dife rente desta em vários aspectos. Estendemo-nos sobre esse ponto no verbete ENTELÉQUIA; recordemos agora apenas que na concepção de Mittasch o comportamento da enteléquia não é assunto exclusivamente do orgânico, atingindo na verdade toda a esfera dos processos fisi co-químicos. :> Obras: Katalitische Gedanken, 1 939 (Pensamentos catalíticos). -J. R. Mayers Kausalbegriff, 1 940 (O con ceito de causa de J. R. M. ) . - Von der Chemie zur Philo sophie, 1 948, ed. H. Schüller (Da química à filosofia). - Entelechie, 1 952 [Glauben und Wissen, 1 0] . - F Nietzsche ais Naturphilosoph, 1 952 (F N como filósofo
da natureza). - Erlosung und Vollendung (Gedanken über die letzten Fragen) , 1 952 (Redenção e morte. Pensa mentos sobre as questões últimas). � MITTERER, ALBERT. Ver HrLEMORFISMo; HrLEssrs TEMISMO. MNESARCO DE ATENAS. Ver EsTórcos.
MODAL, MODALIDADE
1 983
MO-TSÉ (ca. 468-ca. 376 a.C.). Nascido provavel
não distinguir entre as últimas modalidades citadas, ao contrário do que faz Hamelin (Systeme d 'Aristote, 1 93). Para entender a noção aristotélica de proposição modal, é preciso referir-se a duas distinções, que se en contram já no Estagirita, mas que aparecem com mais clareza quando usamos o vocabulário e as definições escolásticas: a distinção entre proposições inesse e pro posições modais, assim como a distinção nestas últimas entre o modus e o dictum. As proposições de inesse são as simplesmente atri butivas, isto é, aquelas nas quais se afirma ou se nega que P seja atribuível a S (ou estejam em [in est] S). As proposições modais são aquelas nas quais não só se atri bui P a S, como se indica também o modo como P se
mente no estado de Lu (Xantung, China), desenvolveu um pensamento filosófico baseado em ensinamentos confucionistas (ver CONFUCIONISMO) , dando com isso origem a uma escola filosófico-religiosa e filosófico política chamada mohismo, de considerável importân cia na história da cultura chinesa. O princípio funda mental do mohismo é a afirmação do amor universal, bem como a decorrente defesa do pacifismo. Ao lado disso, há no mohismo uma moral que se baseia na fruga lidade. Segundo Fung Yu-lan, o mohismo de Mo-Tsé é de caráter utilitário, pois este último admitia apenas o que podia ter um proveito (moral). Em seu desenvolvi mento ulterior, o utilitarismo de Mo-Tsé foi considera velmente modificado. Começou-se a prestar atenção a outros problemas, tais como os do conhecimento; foi freqüente a esse respeito uma epistemologia baseada no senso comum e hostil à "dialética".
une a S ou modo que determina a composição de P e S.
O termo 'composição' é fundamental. Com efeito, pode haver três modos de determinação: a) um modo que determina S ('O homem branco é belo'); b) um modo que determina P ( 'Sócrates é um ho mem branco'); c) um modo que determina a composição de P e S ('É contingente que Sócrates seja um homem branco').
MÕBIUS, JULIUS. Ver WUNDT, WrLHELM. MODAL, MODALIDADE. Examinaremos neste ver
bete a noção de modalidade (I) na lógica antiga, to mando como exemplos a) Aristóteles, complementado com as definições escolásticas mais correntes; b) os es tóicos; e c) Boécio. Depois examinaremos (II) os juízos modais em Kant e (III) diversas interpretações da mo dalidade no pensamento contemporâneo, com particular atenção ao sistema de C. I. Lewis. la. Lógica antiga: Aristóteles (complementado por definições escolásticas). Examinaremos aqui somente a noção de proposição modal (cf. entre outras passagens: An. pr. , A 1 3ss.; De int. , 1 3 ,2 l ss.), deixando de lado a oposição e conversão das proposições modais, assim como os silogismos modais. Esses aspectos são analisa dos nos verbetes sobre as noções de Conversão, Oposi ção e Silogismo (vER). Segundo Aristóteles, é preciso examinar o modo como se relacionam entre si as negações e as afirmações que expressam o possível (To ovvaTÓv) e o não-possí vel (TO µfj OVVOTÓV), O contingente (TO EvOEXÓµEVOV) e o não-contingente (To µi] évoexóµevov), o impossí vel (To àoúvaTOv) e o necessário (To àvayKalov). Temos com isso quatro modalidades: 1) Possibilidade: 'É possível que S seja P ' ; 2 ) Impossibilidade: ' É impossível que S seja P ' ; 3) Contingência: 'É contingente que S seja P' ; 4 ) Necessidade: 'É necessário que S seja P ' . Não obstante, como à s vezes é difícil distinguir entre contingência e possibilidade, não-contingência e não possibilidade, há diferenças de opinião com referência ao número de modalidades admitidas. Assim, em seu comentário ao Organon (I,375), Th. Waitz inclina-se a
·
Só em c) temos proposição modal, porque para que a haja, é indispensável que o modo não afete simples mente um dos componentes da proposição (como em 'O homem bom é necessariamente prudente'), mas a composição çle P e S (como em 'É necessário que o ho mem bom seja prudente'). Em vez de usar, como fazem os autores tradicionais, os esquemas ' S é P ' , seria por tanto melhor usar letras que representam as proposi ções - 'p ', 'q ' etc. - e dizer, por exemplo, 'É necessá rio que p ' , 'É possível que p' etc. Deve-se distinguir na proposição modal entre o mo dus e o dictum. O modus refere-se à atribuição: é uma determinação que, segundo os escolásticos, afeta a có pula. O dictum é uma qualidade do enunciado que une ou separa P e S. Assim, em 'É impossível que Sócrates não seja um homem branco' , o modus ('É impossível que') é afirmativo, enquanto o dictum ('Sócrates não é um homem branco') é negativo. Usamos essa distinção na análise da oposição (VER) nas proposições modais. A afirmação ou a negação nessas proposições deve refe rir-se ao modus e não ao dictum, ao contrário do que acontece com as proposições simplesmente atributivas. Muitos lógicos escolásticos concordam em repre sentar as proposições modais mediante as vogais maiús culas 'A', 'E', 'I', 'U'. 'A' indica modus afirmativo e dictum afirmativo; 'E', modus afirmativo e dictum ne gativo; 'I', modus negativo e dictum afirmativo; 'U', modus negativo e dictum negativo. Os versos mnemo técnicos de Santo Tomás:
MODAL, MODALIDADE
Destruit U totum, sed A confirmat utrumque, Destruit E dictum, destruit !que modum,
assim como os de Pedro Fonseca: E dictum negat !que modum Nihil A, sed U totum,
permitem ver as relações entre o modus e o dictum. Para as conseqüências modais escolásticas, ver o verbete CONSEQÜÊNCIA. Entre as questões suscitadas com referência à noção antes exposta de modalidade, acentuemos as duas se guintes. Em primeiro lugar, o problema de saber se a moda lidade se refere primariamente às proposições ou aos fatos. No primeiro caso, trata-se de uma modalidade em sentido lógico; no segundo, de uma modalidade em sen tido ontológico. Observemos que ambos os aspectos são considerados na doutrina aristotélico-escolástica, mes mo quando parece atingir a primazia nas exposições mais correntes o sentido lógico da modalidade, tal como surge da análise da estrutura das proposições modais. Em segundo lugar, o problema da diferença que existe entre sublinhar o modo nos termos e sublinhá-lo nas proposições. Afirmou-se às vezes que essa diferen ça é a que estabelece a linha divisória entre a lógica aris totélica (ou "escolástica") e a lógica estóica (ou "mo derna"). Entretanto, não se pode negar que, ao abordar o silogismo modal, Aristóteles sublinhou o segundo as pecto e que os escolásticos o seguiram por esse cami nho. Portanto, a modalidade aristotélica não é, em al guns aspectos, fundamentalmente distinta da moderna. ib. Lógica antiga: os estóicos. Segundo 1. M. Bo cheIÍski, podem-se atribuir com grande probabilidade a Teofrasto duas mudanças importantes na lógica aristo télica: (I) a substituição de 'É contingente que' por ' É possível que' nos silogismos; e (II) a afirmação d o prin cípio peiorem semper sequitur conclusio partem. Este último princípio se explica, segundo Albrecht Becker, se supomos que Teofrasto e Eudemo conceberam que a modalidade afetava a cópula. A. Becker apóia-se para isso nos comentários de Alexandre de Afrodísia comple mentados por alguns Scholia (cf. Scholia in A ristotelem, coll. A. Brandis, apud Aristotelis Opera IV, Berolini, 1 836; textos reunidos por H. Maier em Die Syllogis tik des Aristoteles, II a 43ss., 1 24ss., 206ss.). Contudo, é dificil comprovar com exatidão todas essas suposi ções; a única coisa que se pode dizer com certa segu rança é que o próprio Teofrasto percebeu a necessi dade de alterar o sistema modal aristotélico em alguns pontos importantes. A alteração principal foi efetuada, porém, pelos es tóicos, e isso de um modo consciente e explícito. As teo rias modais estóicas devem ser estudadas, de resto, em relação com os trabalhos lógicos dos megáricos. Po dem-se erigir a esse respeito três teorias diferentes, que
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exporemos, de acordo com Benson Mates e 1. M. Bo cheIÍski, da seguinte forma: 1 ) Diodoro Crono definiu as proposições modais mediante' o uso de uma variável temporal. As defini ções a esse respeito, tal como se acham em Boécio (De lnt. , 234), são, segundo Mates, as quatro seguintes. � p (t) � é possível no tempo t.. � p (t) � é impossível no tempo t" � p (t) � é necessário no tempo t" � p (t) � é não necessário no tempo t" �p (t) � lê-se �p no tempo t�, · � · e · � ' se empregam, seguindo BocheIÍski, para indicar que há dúvidas sobre o status lógico dos símbolos empregados. Todas essas definições são funções modais que formam um quadro de oposição análogo ao aristotélico. 2) Segundo Fílon de Megara, uma proposição é possível se e somente se pode ser verdadeira em virtude de sua natureza interna. 3) A opinião de Crisipo parece ser igual à de Fílon, segundo o que indica Cícero (Defato, 1 2). Não obstante, Mates sugere (seguindo Dióg. Laér. VII, 75) que para Crisipo uma proposição possível é a que admite ser ver dadeira quando as circunstâncias externas não a impedem de ser verdadeira, e uma proposição necessária é a que, sendo verdadeira, não pode ser admitida como falsa, ou as circunstâncias externas a impedem de ser falsa. Ic. Lógica antiga: Boécio. Segundo Karl Dürr, a teoria modal de Boécio, exposta em seu tratado sobre os silogismos hipotéticos, pode ser considerada como fazendo parte da lógica proposicional. Para Boécio tal como para a lógica aristotélico-escolástica -, há duas espécies de proposições: as simples ou predicativas, e as modais (cum modo). São seis as expressões modais construídas por Boécio: ( 1 ), Não é possível que não p Não é possível que não seja o caso que não p (2), Não é o caso que não seja possível que não p (3), (4), É possível que p (5), É possível que não p Não é possível que p (6). ( ! ), (2) e (3) formam um grupo; (4), (5) e (6). Pri meiros membros de cada grupo são ( 1 ) e (4); segun dos membros, (2) e (5), terceiros membros, (3) e (6). Como indica Dürr, os primeiros membros de cada gru po são afirmativos. O segundo membro do primeiro grupo é a negação necessária; o terceiro, a negação do necessário. O segundo membro do segundo grupo é a negação contingente; o terceiro membro, a negação do contingente. Os teoremas correspondentes às seis expressões modais são: a) Os membros primeiro e terceiro de ambos os grupos não podem ser ao mesmo tempo falsos nem podem ser ao mesmo tempo verdadeiros;
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b) Os membros grupo podem e) Os membros grupo podem
primeiro e segundo do primeiro ser ambos falsos; primeiro e segundo do segundo ser ambos verdadeiros. Esses teoremas podem ser complementados pelos dois seguintes: d) Os membros primeiro e segundo do primeiro grupo não podem ser ambos verdadeiros; e) Os membros primeiro e segundo do segundo grupo não podem ser ambos falsos. II. Os juízos modais em Kant. Kant considerou a modalidade nos juízos como "uma função completa mente particular desses juízos, cuja característica distin tiva consiste em não contribuir em nada para a matéria do juízo (porque essa matéria não se compõe senão de quantidade, qualidade e relação), mas em referir-se so mente ao valor da cópula em sua relação com o pensa mento em geral". Os juízos modais são, segundo Kant, juízos de realidade (ou assertóricos ), juízos de contin gência (ou problemáticos) e juízos de necessidade (ou apodíticos). Com isso, Kant separa-se da lógica consi derada "clássica", pois inclui entre os juízos modais os juízos de realidade ou assertóricos, que são juízos sim plesmente atributivos. Nos juízos assertóricos não há, com efeito, segundo a lógica "tradicional", nenhum mo dus que afete a cópula. A razão da doutrina kantiana acha-se em sua teoria das categorias, baseada por sua vez numa doutrina dos juízos como atos de julgar. As sim, a modalidade kantiana pode ser descrita como epis temológica e não como lógica ou ontológica (ou me lhor, como epistemológica na medida em que permite estabelecer o nexo de união entre o lógico e o ontológi co). Essa modalidade é a que dá lugar, na dedução trans cendental das categorias, às categorias de possibilidade impossibilidade Uuízos problemáticos), de existência não existência Uuízos assertóricos) e de necessidade contingência Uuízos apodíticos). III. Interpretações contemporâneas. Alguns autores afirmaram que a modalidade pode ser entendida de três pontos de vista: o psicológico, o lógico e o ontológico. De acordo com isso, ocorre com a modalidade o mesmo que com os chamados "grandes princípios" da lógica: identidade, contradição, terceiro excluído. Contudo, esses mesmos autores prescindem com freqüência do "ponto de vista psicológico" para ater-se aos dois res tantes. O mais plausível é distinguir entre estes, mas isso nem sempre é fácil. Certos pensadores assinalam que há uma espécie de primado da modalidade ontológica sobre a lógica. É o caso de Francisco Romero quando afirma que "é inevitável recorrer a referências ontoló gicas para compreender a modalidade", visto que "de pende da situação objetiva e não de um modo de ser peculiar do juízo". Outros pensadores (como A. Pfân der) procuram basear a modalidade no que denomi-
MODAL, MODALIDADE
nam "maior ou menor ímpeto ou peso lógico da enun ciação", de acordo com a concepção segundo a qual a modalidade do juízo "se refere à maneira da enunciação e é a expressão do grau de certeza dessa enunciação". Assim, os juízos assertóricos são, segundo Pfânder, aqueles nos quais o peso lógico da enunciação é pleno e completo, reservando-se o nome de problemáticos aos juízos em que se acha atenuado esse ímpeto ou peso. Ora, como de acordo com isso corresponderia aproxi madamente o mesmo "peso" aos juízos assertóricos e aos apodíticos, toma-se necessário recorrer ao funda mento ontológico para assinalar quando um juízo de modalidade pode ser qualificado de assertórico (vali dade efetiva ou de fato da enunciação) ou de apodítico (validade não só efetiva, mas de direito). A noção de "ímpeto" ou "peso lógico" é, no entan to, obscura. Alguns filósofos preferem, em vista disso, interpretar a modalidade resolutamente em sentido on tológico. Entre esses autores, figura Nicolai Hartmann, que considera os graus da modalidade como expressivos das categorias mais fundamentais do ente e de seu co nhecimento, de maneira que o estudo da modalidade se mostra prévio ao das categorias enquanto princípios constitutivos do real. Segundo N. Hartmann, a distinção kantiana entre o constitutivo e o regulativo não pode sobrepor-se exatamente, ao contrário do que acontece entre o constitutivo e o modal. A modalidade revela se então a expressão dos modos de ser (Seinsmodi), ao contrário dos momentos do ser (Seinsmomente) e das formas ou maneiras do ser (Seinswesen ). Os modos são a possibilidade, a realidade e a necessidade; os momen tos, a existência e a essência; as maneiras ou formas, a realidade e a idealidade. O aspecto ontológico também é acentuado por Her mann Weyl, mesmo que este não parta, como N. Hartmann, de uma ontologia analítica e crítica, mas de um exame dos problemas suscitados pela modalidade na lógica contemporânea à qual nos referiremos detalhamente adiante. Weyl destaca, com efeito, que os estudos lógi cos de Frege e de Whitehead-Russell excluíram o mo dal. As dificuldades a que isso conduziu obrigaram a "reabrir o caminho para uma lógica da modalidade" (trabalhos de Oscar Becker, sistema de C. I. Lewis, ló gicas polivalentes e probabilitárias, por um lado; lógi ca topológica, por outro). As primeiras tentativas citadas para "precisar o fantasma da modalidade" não deram, segundo Weyl, os resultados desejados. Vejamos o que ocorre com "a topologia e o mais ou menos". "Em vista da inevitável vaguidade da localização num contínuo - escreve Weyl -, a lógica dos predicados ou séries é de aplicação duvidosa se o espaço c.v é um contínuo, em particular para o espaço de um sistema fisico." Mas "a topologia teórica das séries pôde, associando a cada ponto suas 'vizinhanças', tratar de um modo aproxima do a estrutura de um contínuo, de maneira que se elimi-
MODAL, MODALIDADE
ne o isolamento de um ponto individual. Por exemplo, no caso de um plano, uma vizinhança do ponto x é qualquer círculo em torno do ponto x. Assim, x é um ponto interior a uma série dada, a, se todos os pontos de uma certa vizinhança de x pertencem a a; x é um pon to limite de a se cada vizinhança de x contém pontos de a. Seguindo a indicação de Aristóteles de que para um ponto sobre o limite comum de a e seu complemen to 1 prevalece a incerteza sobre se pertence a a ou a 1 a, pode-se arriscar esta terminologia: Um ponto, x, se acha certamente na série a se x é um ponto interior a a; está possivelmente em a se é um ponto limite de a. Entre tanto, inclusive esta análise topológica enfrentou várias dificuldades. Com a finalidade de solucioná-las, recor reu-se ao intuicionismo (vER) matemático e depois à noção de indeterminação na lógica aplicável à teoria quântica. Mas como, segundo Weyl, nenhum dos "arti ficios lógicos" conseguiu eliminar por inteiro os proble mas metafisicos (ou ontológicos) do que Aristóteles denominava "os modos oblíquos", deve-se concluir que a "potencialidade" metafisica constitui uma saída ine vitável para a compreensão do problema modal. A rigor, "ao usar o contínuo ou a seqüência de números cardeais, projetamos o atualmente dado sobre o fundo do possível a priori, sobre um campo de possibilidade construído de acordo com um procedimento definido, mas aberto à infinitude". Dessa maneira, poder-se-á incluir numa lógica modal a própria potencialidade da história, que resistiria a todo tratamento conceituai se o modal não se baseasse, em última análise, na citada "potenciali dade" metafisica. A consideração lógica da modalidade foi, porém, a que alcançou maior desenvolvimento na época con temporânea. Entre outros autores, contribuíram para ela os citados O. Becker e C. I. Lewis, assim como R. Carnap, J. Lukasiewicz, R. Feys, J. C. C. McKinsey e G. H. von Wright. Referir-nos-emos, por ora, aos traba lhos de C. I. Lewis e R. Carnap para concluir com al guns conceitos sobre os diversos grupos de modalidades devidos a von Wright. Desde Lewis, é usual apresentar a doutrina das mo dalidades no âmbito da lógica proposicional (ou, em nos so caso, lógica sentenciai). A lógica modal ocupa-se, com efeito, de certos tipos de sentença, tais como 'É necessário que p', 'É possível que p', 'É impossível que p', nas quais 'p' simboliza um enunciado declarativo. Como a sentença 'É contingente que p' pode ser reduzida à conjunção de 'É possível que p' e 'É possível que não p', a noção de contingência costuma ser eliminada dos atuais sistemas de lógica modal. 'É necessário que p' é simbolizado mediante ' D p' (alguns autores, po rém, usam ' r · ou então 'N' em vez de ' D '). 'É possível que p' é simbolizado mediante 'O p'. Em vez de usar-se um símbolo especial para 'É necessário que' , pode-se todavia definir 'É necessário que p' mediante 'l lp ' .
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Por sua vez, 'É impossível que p' pode ser definido através de '1 p ' . 'Não é possível que não seja o caso de que se p, então q', simbolizada por meio da fórmula 'l 1 (p -t q)' , é abreviada pela expressão 'p implica estritamente q', que se simboliza por meio de (p --l q). Com isso, introduz-se a noção de implicação (vER) estrita ou implicação lógica, isto é, a interpretação es trita do condicional 'se p, então q ' . Com base em ' O ' e ' --l ', ao lado dos conectivos sentenciais e dos parên teses, podem-se formular vários axiomas, tais como: (p /\ q) --J p, p --l (p /\ p) , (p A q) --l p, etc. O cálculo modal de Lewis inclui igualmente várias regras de inferência, sobre as quais não nos estendere mos aqui. Como em todo cálculo, as últimas fórmulas bem formadas de uma prova são teoremas. São muitos os teoremas da lógica modal de Lewis; citamos como exemplos: p --l p, 1 p --l 1 p, 1 0 1 p H ( l p --J p) .
O sistema de Lewis constituiu a base para muitos trabalhos da lógica modal. Destacam-se entre eles os efetuados por Carnap. Esse autor propõe buscar uma explicação da modalidade com base no que denomina conceitos-L (lógicos) semânticos. Carnap distingue com esse objetivo entre a propriedade modal de uma proposição (necessário, impossível, contingente, não necessário, possível, não contingente) e a propriedade semântica de uma sentença (L-verdadeiro, L-falso, fático, não L-verdadeiro, não L-falso, L-determinado, em que 'L' se lê ' logicamente'). Dessa maneira, uma proposição possui uma das propriedades modais se, e somente se, qualquer sentença que a proposição expres sa tem a correspondente propriedade semântica. Ora, cada proposição com referência a um sistema dado, S, é ou necessária, ou impossível, ou contingente. "Esta classificação - escreve Carnap - é, de acordo com nossa interpretação das modalidades, análoga à classifi cação de sentenças de S nas três espécies de sentenças L-verdadeiras, sentenças L-falsas e sentenças fáticas. No entanto, há uma diferença importante entre as duas classificações. O número de sentenças L-verdadeiras pode ser infinito, e é, sem dúvida, infinito para cada um dos sistemas [semânticos] discutidos. Por outro lado, há apenas uma proposição necessária, porque todas as sentenças L-verdadeiras são L-equivalentes entre si, e por isso possuem a mesma intensão . . . De modo aná logo, há só uma proposição impossível, porque todas as sentenças L-falsas são L-equivalentes. Mas o número de proposições contingentes (com referência a um siste-
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ma com um número infinito de indivíduos) é infinito, assim como o das sentenças fáticas." As lógicas modais em que mais se trabalhou até hoje são lógicas modais sentenciais. Alguns autores pro curaram também, contudo, elaborar lógicas modais quantificacionais; limitamo-nos a mencionar aqui essa tentativa, de resto ainda submetida a discussão. Terminemos indicando que os conceitos de que fa lamos até agora (conceitos do necessário, do possível, do impossível, do contingente) são considerados por G. H. von Wright somente uma parte dos conceitos de modalidade. Com efeito, há segundo esse autor quatro grupos de conceitos modais: Primeiro grupo (modalidades a/éticas), composto pelos conceitos antes assinalados: necessário, possível, contingente, impossível.
Segundo grupo (modalidades epistêmicas), compos to pelos conceitos de comprovado ou sabe-se que é ver dadeiro, não decidido, falseado ou sabe-se que é falso. Terceiro grupo (modalidades deônticas), compos to pelos conceitos de obrigatório, permitido, indiferente, proibido.
Quarto grupo (modalidades existenciais), composto pelos conceitos de universal, existente, vazio. R. Blanché ampliou o quadro de conceitos modais propostos por von Wright introduzindo estes novos conceitos: Para o primeiro grupo (modalidades aléticas): des necessário.
Para o segundo grupo (modalidades epistêmicas):
plausível, discutível.
Para o terceiro grupo (modalidades deônticas) :
facultativo.
Um dos problemas suscitados é o de saber se os atributos existenciais mencionados devem ser ou não considerados modais. Se se responde afirmativamente, temos a já citada teoria modal quantificacional. De todo modo, pode-se observar, de acordo com von Wright, que há similaridades essenciais entre as modalidades aléticas, epistêmicas e deônticas, por um lado, e os quantificadores, por outro. Os diferentes grupos de mo dalidades podem, de resto, combinar-se; uma das com binações estudadas pelo citado autor é a que há entre as modalidades epistêmicas e as existenciais. Alguns filósofos que praticaram a análise da lin guagem ordinária falaram de expressões "modais" (e, em forma substantivada, de "modais"). É o que acontece com Alan R. White (op. cit. na bibliografia infra), que indica que os lógicos se limitaram a estudar noções co mo as de possibilidade e necessidade ou outras na me dida em que são definíveis em termos daquelas. Um estudo lingüístico de expressões modais é muito mais amplo, porque inclui o exame de expressões como 'po de', 'cabe', 'deve', 'necessita', 'requer' etc., e inclui ex pressões tais como 'espera-se que' , 'teme-se que' e ou-
MODAL, MODALIDADE
tras semelhantes. O exame dessas expressões, e em es pecial o de seus usos, pode levar a considerar os pro blemas filosóficos mais gerais (ou abstratos) da possi bilidade, da necessidade, da certeza, da probabilidade etc. Pode-se falar de um "pensamento modal" ao contrá rio de outros tipos de pensamento, como o descritivo. A "semântica dos mundos possíveis" (ver MUNDO POSSÍVEL), às vezes denominada, para abreviar, "semân tica de Kripke" (ver KRIPKE [S AUL A.], constitui um cálculo no qual se define 'é verdadeiro' como 'é ver dadeiro em algum mundo possível' . De acordo com isso, 'é necessariamente verdadeiro' equivale a 'é verda deiro em todos os mundos possíveis'. Aqueles que não admitem a noção de "mundo possível" - ou os que consideram que essa noção é filosoficamente suspeita, ou pouco satisfatória - alegam que é injustificado dar preferência à lógica modal para a definição de 'é verda deiro ' . Ao mesmo tempo, a rejeição da lógica modal - pelo menos como base para a definição de 'é verda deiro' - leva a não admitir, ou a considerar como sus peita, a noção de "mundo possível''. :l Mencionamos alguns trabalhos sistemáticos - vá rios deles brevemente comentados no texto do verbete - sobre a noção lógica de modalidade: C. I. Lewis, A Survey ofSymbolic Logic, 1 9 1 8. - C. I. Lewis e C. H. Langford, Symbo/ic Logic, 1 932. - O. Becker, "Zur Logik der Modalitãten", Jahrbuchfiir Philosophie und phiinomenologische Forschung, 1 1 ( 1 930). - Id., "Das formate System der ontologischen Modalitãten", Bliit terfür deutsçhe Philosophie, 1 6 ( 1 943), 387-422 [crí tica da obra de N. Hartmann mencionada infra] . - Id., "Ein 'natürliches' formales System der logisch-onto logischen Modalitãten, ibid. , 1 8 ( 1 944), 82-93 . - R. Feys, "Les logiques nouvelles des modalités", Revue néo-scolastique de Philosophie, 35 ( 1 937), 36 ( 1 938). - Id., "Resultaten en mogelijkheden van de geforma liseerde logica", Tijdschrift voar Philosophie, 1 2 ( 1 950), 237-245. - Id., Modal Logics, 1 965, ed. Joseph Dopp. - R. Carnap, Meaning and Necessity: A Study in Se mantics and Modal Logic, 1 947; 2ª ed. , 1 958. - G. H. von Wright, An Essay in Modal Logic, 1 95 1 . - R. Blanché, "Quantity, Modality and Other Kindred Sys tems of Categories", Mind, N. S., 61 ( 1 952), 369-375. - J. Lukasiewicz, "A System of Modal Logic", The Journal of Computing Systems, I ( 1 953), 1 1 1 - 149. A. N. Prior, Time and Modality, 1 957 [John Locke Lec tures 1 955- 1 956] . - A. R. Anderson, P. T. Geach, S. Hallden et ai., Modal and Many- Valued Logics, 1 963 [do "Colóquio sobre lógicas modais e polivalentes", celebrado em Helsinki 23/26-8- 1 962] . - G. H. Hughes e M. J. Cresswell, An Introduction to Modal Logic, 1 968. - Jaakko Hintikka, Models for Modalities: Selected Essays, 1 969. - Id., The Intention of Intentionality and Other New Modelsfor Modalities, 1 975 (ensaios).
MODELO
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problem und die historische Handlung. Ein Vergleich zwischen Aristoteles und Hegel, 1 969. - Jaakko Hin tikka, Time and Necessity: Studies in Aristot/e :S Theory of Moda/ity, 1 973. - B. Mates, "Diodorean Implica tion", The Phi/osophica/ Review, 58 ( 1 949), 234-242. - A. N. Prior, "Diodorean Modalities", Phi/osophical Quarter/y, 5 ( 1 955), 205-2 1 3 . - K. Dürr, The Proposi tiona/ Logic of Boethius, 1 95 1 , pp. 60-62. - Hans Poser, Zur Theorie der Modalbegriffe bei G. W. Leib niz, 1 969. - G. Seel, Die aristote/ische Modaltheorie. Eine Rekonstruktion in kritischem Ausgang von der Mo daltheorie N Hartmanns, 1 980. - J. Hintikka, M. Rohr et ai. , Reforging the Great Chain of Being: Studies of the History ofModal Theories, 1 980, ed. S. Knuuttila. - S. Waterlow, Passage and Possibility: A Study of Aristotle :S Modal Concepts, 1 982. - S. Knuuttila, ed., Modern Modalities: Studies of the History of Modal Theoriesfrom Medieval Nominalism to Logica/ Positi vism, 1 988. - R. Bradley, The Nature ofAli Being: A Study of Wittgenstein :S Modal Atomism, 1 992. e MODELO. O termo 'modelo' pode ser empregado em diversos sentidos. Metafisicamente, 'modelo' pode designar o modo de ser de certas realidades, ou supostas realidades, do tipo das idéias ou formas platônicas. Essas idéias ou formas são, com efeito, paradigmas e, por conseguinte, modelos de tudo o que é na medida em que é. Sendo o modelo de uma realidade equivalente a essa realidade em seu estado de perfeição, o modelo é aquilo a que tende toda realidade para ser o que é, ou seja, para ser plenamente si mesma em vez de ser uma sombra, cópia, diminuição ou desvio do que é. Neste sentido, 'modelo' equivale a 'realidade como tal' . Modelo, nesse aspecto, é também o "primeiro motor" (ver) e, em geral, todo ser cujo modo de "mover-se" consiste em "mover (por atração) todo o resto". Esteticamente, 'modelo' é um vocábulo empregado em vários contextos e com diversos propósitos. Por um lado, o modelo estético pode ser equiparado ao que o ar tista procura (esteticamente) reproduzir. Por outro lado, pode ser equiparado ao que o artista tem em sua mente como um ideal do qual procura aproximar-se o máximo
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possível. Por fim, pode ser equiparado a um valor ou sé rie de valores, objetivos ou supostamente objetivos, que seriam os modelos últimos de toda realização estética. Eticamente - e também "vitalmente" e, em geral, "humanamente" -, 'modelo' designa a pessoa que, por seu comportamento e até simplesmente por seu modo de ser o que é - por seu próprio ser -, exerce uma atração sobre outras pessoas. A noção de modelo neste sentido foi abordada por vários autores, entre os quais se destacam Nietzsche, Bergson e Scheler, e em espe cial os dois últimos. Bergson fala "do chamado" do herói, do santo e, em geral, "da personalidade moral". Esses "modelos" não exercem pressão sobre seus seme lhantes; seu modo de agir é antes o que procede de se rem personalidades às quais se aspira (e que se aspira a imitar). Por isso, os modelos pertencem às sociedades abertas. Scheler distingue entre "modelos" ( Vorbilder) e "chefes" (Führer). O modelo não precisa querer ser modelo e nem sequer saber que o é; o chefe, em contra partida, deseja sê-lo e sabe o que é. A relação entre o modelo e os imitadores não é consciente; a que existe entre chefe e seus subordinados é consciente. Os mode los podem ser muito variados: pode tratar-se de uma pessoa presente, de uma personalidade do passado e até de uma personagem criada por um poeta. Os modelos requerem de seus imitadores ou seguidores um modo de ser, um estado de espírito ou disposição, e não (como os chefes de seus subordinados) uma atividade. Epistemologicamente, a noção de modelo foi, por seu turno, empregada em vários outros sentidos. Falou-se às vezes (vagamente) de modelo como de um modo de explicação da realidade, e especialmente da realidade física. Por exemplo, falou-se de "modelo mecânico" equivalente ao mecanicismo (VER) e consi derou-se que autores como Galileu e Newton seguiram esse modelo. É possível que este fosse o sentido no qual Lord Kelvin afirmou que só se podia entender uma espécie de processos físicos quando se podia apresentar um "modelo mecânico" desses processos. Levantou se então a questão de saber se podiam ou não apresen tar-se "modelos mecânicos" em áreas como a teoria do campo eletromagnético. Falou-se igualmente de modelo como de alguma forma de representação de alguma realidade ou série de realidades, de algum processo ou série de processos etc. Exemplo de um modelo pode ser um desenho, um projeto, uma maquete etc. Afirmou-se às vezes que um modelo é equivalente a uma teoria. Indicou-se ocasio nalmente que há diferenças entre modelo e teoria; e às vezes se sugeriu que uma teoria pode ter diversos mo delos ou pode "modelar-se" de diversas maneiras. Um modo muito comum de entender 'modelo' é tomar como modelo um sistema que sirva para entender outro sistema, como quando se toma a passagem de um
MODELO
fluido por um canal como modelo de tráfego. Neste caso, o sistema que se toma como modelo tem um valor heurístico. Outro modo de entender 'modelo' é tomar como tal um sistema do qual se trate de apresentar uma teoria. O modelo é então a realidade - efetiva ou suposta que a teoria procura explicar. Pode haver várias teorias para um modelo e discutir-se que teoria explica inais satisfatoriamente o modelo. Pode haver de igual manei ra uma teoria para a qual se busque um modelo, assim como uma teoria que, tendo-se mostrado satisfatória na explicação de um modelo, seja capaz de aplicar-se a outros modelos. :> As teses de Bergson acham-se em Les deux sources de la morale et de la religion, 1 932, caps. II e III. - As de Scheler, em seu trabalho "Vorbilder und Führer", in cluído em Schriften aus dem Nachlass, 1, e reimp. em Gesammelte Schriften, vol. 1 0 ( 1 957), 255-344. Quase todas as obras sobre epistemologia e filoso fia da ciência se ocupam da noção de modelo; recomen damos em especial: Max Black, Models and Meta phors: Studies in Language and Philosophy, 1 96 1 , cap. XIII. - Leo Apostei, Richard C. Atkinson et ai., The Concept and the Role of the Model in Mathematics and Natural and Social Sciences, 1 96 1 , ed. Hans Freu
denthal [Colóquio de Utrecht, janeiro de 1 960]. - R. B. Braithwaite, H. Putnam et al. , "Symposium on Models in the Empirical Sciences", no vol. Logic, Methodology, and Philosophy of Science, 1 962, pp. 224-264, ed. E. Nagel, P. SuP.pes, A. Tarski [Proceedings of the 1 960 International Congress] . - Mary B. Hesse, Models and A nalogies in Science, 1 963. - J. W. Addison, A. Robinson et al. , The Theory ofModels, 1 965, ed. J. W. Addison, L. Henkin e A. Tarski, 1 965 [Proceedings of the 1 963 International Symposium at Berkeley] . - C. C. Chang e H. J. Keisler, Continuous Model Theory, 1 966. - Id. , Model Theory, 1 973. - Alain Badiou, Le concept de modele: lntroduction à une épistémologie matérialiste des mathématiques, 1 969. [crítica do estru
turalismo de Lévi-Strauss] . - J. L. Bell e A. B. Slom son, Models and Ultraproducts: An lntroduction, 1 969. - Mario Bunge, Method, Model, and Matter: Topics in Scientific Philosophy, 1 973 [especialmente Parte 2]. Herbert Stachowiak, Allgemeine Modelltheorie, 1 973. - C. C. Chang, H. J. Keisler, Model Theory, 1 973. W. E. Leatherdale, The Role ofAnalogy, Model, and Me taphor in Science, 1 974. - J. Bridge, Beginning Model Theory: The Completeness Theorem and Some Conse quences, 1 977. - J. Czelakowski, Model- Theoretic Methods in Methodology ofPropositional Calculi, 1980. - M. W. Wartofsky, Models: Representation and Scien tific Understanding, 1 979 [ensaios]. - J. Sanmartín, Una introducción constructiva a la teoría de modelos, 1 984. - M. Manzano, Teoría de modelos, 1 989. C:
MODERATO DE GADES
MODERATO DE GADES (jl. no século 1). Um dos neopitagóricos, deu uma interpretação simbólica à nu merologia de Pitágoras. Para Moderato, os números são, na realidade, expressões simbólicas dos princípios, num sentido semelhante ao das letras como expressões simbólicas cujas combinações formam os vocábulos. Assim, os números proporcionam uma imagem simbó lica das realidades inteligíveis. Segundo Moderato, o "Um" é antes de tudo o Um que se encontra além do ser; vem em seguida o Um que é a idéia inteligível da uni dade; por fim, vem o Um como alma. Ao Um em sua constituição triádica sucede a Díade enquanto matéria. Todas essas concepções coincidiam tanto com idéias análogas de Nicômaco de Gerasa como com opiniões já sustentadas por alguns dos membros da antiga Acade mia. Tal como estes últimos, Moderato se valia dos quadros de oposição proporcionados pelos números e daquilo que, em seu entendimento, estes simbolizam, a fim de explicar a origem e a hierarquia das realidades. :> Há referências aos nv0ayomKaí crxo>-.aí de Mo derato na Vida de Pitágoras de Porfirio. Ver: artigos de F. Bücheler emReinisches Museum (1 882 e 1 908), de P. Tannéry em Revue de philologie ( 1 889) e de V. de Falco em Rivista indo-greca-italiana ( 1 922). San tiago Montero Díaz, "M. de G. en la crisis dei pensamiento antiguo", em De Calicles a Trajano, 1 948. e MODERNISMO. A palavra "modernismo" é entendi
da em dois sentidos: um amplo e outro estrito. No sen tido amplo, "modernismo" designa toda tendência a acolher e mesmo a exaltar o moderno, seja este o que corresponde ao período histórico chamado "moderno" ou tudo o que é mais novo e recente em qualquer época. No sentido estrito, "modernismo" é uma tendência que se manifestou no âmbito de várias religiões -judaísmo, protestantismo, catolicismo - e que se configurou como um afã por transformar de maneiras sobremodo radicais certas estruturas tradicionais, não só de pensamento e de interpretação como também dogmáticas. Teve especial ressonância o "movimento modernista" no âmbito do catolicismo - a que adiante vamos nos referir com mais detalhes -: definido como um desejo imoderado de pro gressismo que solapou os alicerces da fé, esse modernis mo - como também veremos a seguir - foi condenado pela Igreja, que, no entanto, condenou igualmente o mo vimento estritamente oposto ao modernismo, a saber, o chamado "integrismo". Deve-se levar em conta que essas condenações só afetam os aspectos religiosos e dogmáti cos, e não os políticos ou político-sociais. Estritamente falando, consideram-se modernistas as teorias que defendem o simbolismo, ou seja, a opi nião segundo a qual os dogmas são meros símbolos da vida moral e religiosa; o pragmatismo na interpretação do dogma; as conseqüências religiosas do chamado Re formkatholizismus, no qual a introdução de correntes modernas, especialmente as de caráter idealista, afeta
1 990
alguma coisa além da posição exclusivamente filosófi ca; o imanentismo, que deixa de ser um simples método para tornar-se uma metafisica que chega a ponto de, de liberadamente ou não, perder as estribeiras ao tratar do transcendente ... Em conseqüência disso, várias das dire ções da filosofia contemporânea a filosofia da ação levada a conseqüências extremas ou o imanentismo radical, as correntes da chamada "metafisica cristã" quando pretende orientar-se como um "agostinianismo puro", o historicismo etc. - podem ser consideradas modernistas. Disso decorre a inclusão formal no moder nismo de autores como Édouard Le Roy (VER), P. La berthonniére (vER), Antonio Fogazzaro ( 1 842- 1 9 1 1 ), Er nesto Buonaiuti (VER), parte da produção de Friedrich von Hugel (VER), Hermann Schell (vER), George Tyrrel (VER) etc. Desse ponto de vista exegético, o modernismo se manifesta por meio de umà tendência ao historicismo extremo no sentido de defender a opinião de que o histó rico é o que domina principalmente o conteúdo dogmá tico. A. Loisy (VER) pode ser considerado o mais signi ficativo representante dessa corrente. Também na teo logia protestante veio à luz uma forma de modernismo que (como ocorre com Auguste Sabatier) influenciou o modernismo católico. Este último foi formalmente condenado pela Igreja no chamado (por analogia com o de 1 864) Syllabus de Pio X, de 1 907. Trata-se na rea lidade de uma série de condenações contidas no Decreto Lamentabili sane exitu, de 3 de junho de 1 907, decisão doutrinal do Santo Oficio que se opõe, em 65 proposi ções, as teses modernistas; na Encíclica ?ascendi Do mini gregis, de 8 de novembro de 1 907, e no "Jura mento antimodernista", de 1 9 1 0, no qual convém desta car especialmente, do ponto de vista filosófico, a corre ção do antiintelectualismo em que havia desembocado grande parte das correntes modernistas, igualmente opostas ao fideísmo, ao intelectualismo e ao ontologis mo. As mencionadas condenações devem ser obedeci das pelos católicos, mas alguns teólogos assinalam que são unicamente decisões doutrinais da Congregação romana, não estando, por conseguinte, isentas de erro. A condenação de 1 907 pode ser considerada uma espé cie de prolongamento do chamado Syllabus de 1 864 con tra os erros religiosos modernos, Syllabus que tam bém recebeu dos teólogos católicos diversas interpre tações, o que não implica permissão para professar as doutrinas condenadas. Usou-se ainda o termo "modernismo" como refe rência às tendências renovadoras do pensamento latino americano no século XVIII e parte do XIX. Fala-se es pecificamente de modernismo para caracterizar o pen samento de Juan Benito Díaz de Gamarra, do México, cujos Elementos defilosofia moderna, seguidos de Er rores dei entendimiento humano, exprimem uma atitude eclética, com imporantes elementos cartesianos (a ponto de Gamarra ser descrito como "cartesiano" e como "eclé-
MODO
1 99 1
tico", a depender da importância atribuída a certas par tes das citadas obras, da primeira em particular). De todo modo, e com relação à filosofia tradicional esco lástico-aristotélica, a obra de Gamarra e de outros au tores filiou-se ao "modernismo" enquanto "introdução à filosofia moderna" (cf. Maria Victoria Tapia García, Juan Benito Díaz de Gamarra y e/ modernismo en Méxi co, 1 966; Victoria Junco de Meyer, Gamarra o e/ eclecti cismo en México, 1 974). � Ver as obras a seguir, pertinentes a diversas tendên
cias (católicas ortodoxas: as de Mercier, Riviere; não católicas: as de Holl, Kubel, Houtin): Karl Holl, Der Modernismus, 1 908. - J. Kubel, Geschichte des katolis chen Modernismus, 1 909. - Cardeal Mercier, Le Moder nisme, 1 909. - G. Gentile, II modernismo e i rapporti tra religione e filosofia, 1 909. - J. Bessmer, Philosophie und Theologie des Modernismus, 1 9 1 2. - A. Houtin, Histoire du modernisme catholique, 1 9 1 34. - L. C. Lewis, The Philosophical Principies ofFrench Moder nism, 1 925. - Jean Riviere, Le modernisme dans l 'Égli se. Études d 'histoire religieuse contemporaine, 1 929. Émile Poulat, Histoire, dogme et critique dans la crise moderniste, 1 962. - D. Dubarle, Le modernisme, 1 980. R. Virgulay, Blondel et /e modernisme. La philosophie -
de l 'action et les sciences religieuses (1896-1913), 1 980. - G. Daly, Transcendence and Immanence: A Study in Catholic Modernism and Integralism, 1 980. Documento: Au coeur de la crise moderniste. Le dossier inédit d 'une controverse, 1 960 [Cartas a M. Blondel, H. Brémond, F. von Hügel, A. Loisy, F. Mour
ret, J. Wehrlé, apresentadas por René Marlé] . As obras de Édouard Le Roy, P. L. Laberthonniere, Ernesto Buonaiuti, Friedrich von Hügel, Hermann Schell, Gerge Tyrrel e Alfred Loisy foram mencionadas na bibliografia dos verbetes correspondentes. � MODISTI. Ver GRAMÁTICA ESPECULATIVA.
MODO. Examinaremos neste verbete a noção de mo do do ponto de visto lógico, metafisico (e ontológico) e semântico. Do ponto de vista lógico, o modo é tratado na doutri na do silogismo (VER). Na parte referente ao silogismo categórico, chama-se modo a disposição das premissas de acordo com a quantidade (vER) e a qualidade (vER) . As premissas podem ser do tipo A (universais afirmativas), E (universais negativas), 1 (particulares afirmativas) e O (particulares negativas). As disposições das premissas acham-se no seguinte quadro:
P. mai, P. men.
AAAA
EEEE
1111
1 1 1 1
1 1 11
1111 1 1 11
AEIO
AEIO
AEIO A E I O
0000
Temos assim 1 6 modos (42). Cada um desses modos está presente em cada uma das quatro figuras do silogis-
mo (ver FIGURA). Portanto, 1 6 x 4 64 modos possí veis. Se em vez de levar em conta apenas a disposição das premissas, consideramos também a conclusão, te mos 64 modos (43). Como cada um desses modos está nas quatro figuras do silogismo, o número total de mo dos resultante é de 64 x 4 256 . Só se consideram válidos alguns modos. Segundo alguns autores, são 1 5 . De acordo com outros (a maio ria), 1 9. Os modos são representados por meio de termos latinos nos quais aparecem as vogais "A", "E'', "I", "O" numa certa ordem. Assim, o modo chamado Barbara mos tra a sucessão AAA; o modo chamado Celarent, a suces são EAE; o modo chamado Darii, a sucessão Ali; o mo do chamado Ferio, a sucessão EIO. A relação dos 1 5 modos é dada nos seguintes termos: 1 ª figura: Barbara, Celarent, Darii, Ferio; 2ª figura: Cesare, Camestres, Festino, Baroco; 3ª figura: Datisi, Ferison, Disamis, Bocardo; 4ª figura: Calemes, Fresison, Dimatis. =
=
Os outros 1 9 modos são: 3ª figura: Darapti, Felapton; 4ª figura: Bamalip, Fesapo.
A fórmula mnemônica usada para os dezenove modos é a seguinte: Barbara, Celarent, primae Darii Ferioque. Cesare, Camestres, Festino, Baroco secundae. Tertia grande sonans recitat: Darapti, Felapton, Disamis, Datisi, Bocardo, Ferison, Quartae Sunt Bamalip, Calemes, Dimatis, Fesapo, Fresison.
Deve-se considerar que alguns lógicos não conside ram a quarta figura, considerando-a a primeira figura indireta. Nesse caso, pertencem à primeira figura indire ta Bamalip, Calemes, Dimatis, Fesapo, Fresison, se se admitem 19 modos, e Calemes, Fresison, Dimatis, se são admitidos 1 5 . Na doutrina do silogismo disjuntivo, apresentam-se quatro modos para a primeira figura (modusponendo tol lens) e quatro modos para a segunda (modus to/lendo po nens). No silogismo hipotético (por vezes chamado con dicional), apresentam-se quatro modos para a primeira fi gura (modus ponendo ponens) e quatro para a segunda (modus to/lendo tollens). (No silogismo hipotético, o ter mo "figura" é usado somente por analogia, já que a figura depende não só da função do termo médio na argumenta ção como também do papel que o termo médio desempe nha entre as premissas [quer dizer, seu papel como condi ção, como afirmação e como eliminação]. Ver referên cias a esses modos no verbete Moous PONENS, TOLLENS. O modo (modus) é também considerado uma expres são aplicável a uma proposição inteira (quando se diz, por exemplo, que dada proposição é necessária, possível, im possível, verdadeira, falsa etc.). Os modos podem ser clas sificados de diversas maneiras. De imediato, pode-se
MODO
distinguir entre modos como "necessário", "contingente", "impossível", "possível" e modos como "verdadeiro", "fal so", "ignorado", "acreditado", "duvidoso". Depois disso, podem-se distribuir os modos de acordo com as relações que mantêm entre si: exclusão mútua (como necessário contingente), subordinação (como necessário-possível), ausência de relação ou impertinentia (como duvidoso possível). Ocupamo-nos dos modos como expressões que caracterizam as chamadas "proposições modais" e da opo sição entre estas últimas em MODALIDADE e 0Pos1çÃo. Do ponto de vista metafisico, fala-se de modos co muns (equiparados aos transcendentais [vER]), modos metafisicos em geral e modos de ser (metafisicos, fisi cos etc.). Da perspectiva metafisica, os modos são "mo dos reais". Tanto os escolásticos como muitos filósofos modernos ocuparam-se extensamente dos modos como modos reais. Segundo J. I. Alcorta (La teoria de los mo dos en Suárez) [ 1 949] (I, 55), há indicações para uma doutrina dos modos reais em São João Damasceno, mas só os escolásticos posteriores a Santo Tomás, especial mente os pensadores da chamada "segunda escolástica" - Cajetano, Suárez, João de Santo Tomás, os conim bricenses etc. - trataram amplamente do problema. Os modos reais são afecções entitativas que não pos suem consistência própria independente de outra entida de. Sua realidade ontológica é, pois, mais débil que a dos acidentes. Mas eles são importantes, porque permi tem estabelecer - mediante a distinção chamada modal - distinções entre uma entidade e algumas de suas modificações reais. Os modos reais podem ser de várias classes: modos substanciais, modos acidentais, modos de inerência etc. Duns Scot falou de "modos intrínse cos'', entendendo por isso certas determinações intrín secas da essência; o modo intrínseco exprime o modo como um sujeito é o que é. Assim, "audível" em "som audível" não designa um modo intrínseco, que pode ou não ser audível. Mas "forte" em "som forte" designa um modo intrínseco do som, visto que pertence intrin secamente ao som a possibilidade de ser ou não forte. Alguns dos mais importantes filósofos modernos deram, como já dissemos, grande atenção ao problema dos modos reais. Assim, por exemplo, Descartes cha mou às vezes de modos os atributos ou qualidades da substância. Às vezes, como nos Princípios, ele estabele ceu uma distinção entre modos, atributos e qualidades. "Quando considero - escreve Descartes - que a subs tância é disposta e diversificada de outra forma por eles, sirvo-me particularmente do termo modo; quando esta variação faz que possa ser assim chamada, chamo-a de qualidade. quando penso que essas qualidades ou mo dos estão na substância sem considerá-las de outra ma neira além de dependentes dela, chamo-as atributos" (I, 55). Os atributos são, pois, modos fundamentais (como a extensão nos corpos) ou simples qualidades (como a
1 992
forma exterior do corpo). Os modos são, em suma, modi ficações do atributo fundamental, mas atuam de tal for ma que cada substância individual é um modo desse atributo. Por isso Descartes denomina "modos da exten são" e "modos do pensamento" as coisas extensas e pensantes, com o que o modo constitui, por assim dizer, a individualidade da substância. Essa concepção criou um grave problema concernente à individualidade mes ma, visto que equivalia a supor que só o substancial é individual. Disso decorreu a conclusão de Spinoza. Ele denominava modos as "afecções da substância, isto é, aquilo que existe em outro e mediante o qual é conce bido" (Eth., I, def. 5). Mas os modos não são simples mente finitos enquanto manifestação da substância infi nita, mas apenas enquanto há separação entre essência e existência, limitação ou delimitação. Em contrapartida, os modos infinitos caracterizam-se pela mútua implica ção entre existência e essência, "constituindo" os modos finitos, que estão, com relação a eles, numa relação de de pendência e contingência. Locke entendia os modos co mo uma variedade daquilo a que dava o nome de "idéias complexas", ao lado das substâncias e das relações. "Denomino modos - escreveu Locke - as idéias complexas que, independentemente da maneira como se compõem, não contêm em si a suposição de subsis tir por si mesmas, sendo antes consideradas dependên cias ou afecções de substâncias (tal como as idéias sig nificadas pelos vocábulos "triângulo", "gratidão" etc.). E se nisso uso o vocábulo 'modo' com um sentido algo distinto do comum, peço que me desculpem, visto que, quando se fala de forma diferente da comum, é inevitá vel introduzir novas palavras ou usar palavras antigas com uma significação relativamente nova" (Ensaio, II, xii, 4). Os modos no sentido de Locke são, pois, manei ras de designar idéias de qualidade e complexos de qua lidade pouco importando as substâncias a que aderem ou podem aderir. Segundo Locke, há dois tipos de mo do: 1 ) modos simples ou variações ou combinações de uma mesma idéia simples (como "uma dezena"); mo dos mistos, ou compostos de idéias simples de vários gêneros postas juntas a fim de formar uma idéia com plexa (como "a beleza", que consiste numa certa combi nação de cor, formato etc. que causa deleite (op. cit. , II., xii, 5). Entre os modos simples, Locke trata das idéias de espaço, duração, número, infinitude e de outros mo dos (de movimento, som, cores, assim como alguns que não possuem nome próprio), modos de idéias simples de prazer e dor, modos de poder ou potência (power). Entre os modos mistos, Locke trata de idéias complexas como a de obrigação, a de mentira etc. A doutrina lockia na dos modos - que é uma espécie de "teoria dos obje tos [e das representações]" - exerceu grande influên cia, já que mesmo autores hostis ao pensamento de Locke adotaram sua terminologia. Isso ocorre com Leibniz
MODUS PONENS, TOLLENS
1 993
no Livro II ("Sobre as idéias") dos Nouveaux Essais. Embora se oponha a Locke na maioria das vezes, Leibniz fala dos modos simples do espaço e da duração e de outros modos simples formados com base em idéias sim ples (modos de movimento, como "deslizar"), de modos relativos ao pensamento ou modos advindos da refle xão; de modos do prazer e da dor. Fala ainda de modos mistas que se distinguem dos mais simples porque, enquanto estes "só são compostos de idéias simples da mesma espécie'', aqueles "são certas combinações de idéias simples que não se consideram como marcas características de nenhum ser real que possua existência fixa, mas como idéias separadas e independentes que o espírito experimenta em coajunto, no que se distin guem das idéias complexas de substâncias" (op. cit. , II, xxii, § 1 ). O que pode ser chamado de "doutrina dos modos" teve escassa ressonância a partir do final do século XVIII; o próprio uso de "modo" como "modo real" (em qualquer dos sentidos possíveis de "modo real") desapa receu, sendo substituído em alguns casos por outros conceitos que, embora se assemelhem, não são idênticos ao modo - assim, por exemplo, o conceito de "traço" - cf. em Kant o uso de Merkmal como "característica" e, de maneira mais específica, "característica fenomê nica"). Hegel referiu-se aos modos como modos reais, mas os tratou no âmbito da doutrina das modalidades lógicas como "modalidades reais". Entre os filósofos contemporâneos, trataram da no ção de modo, entre outros, Nicolai Hartmann e Paul Weiss. Nicolai Hartmann entende por "modos de ser" (Seinsmodi) modos como a possibilidade e a realidade, a necessidade e a causalidade, a impossibilidade e a realidade. O problema dos modos de ser (distinto dos chamados "momentos do ser" e das chamadas "manei ras de ser") foi investigado por Hartmann no contexto da "análise modal (ontológica)" ou doutrina da moda lidade (vER) [ontológica] . Para Paul Weiss (Modes of Being, 1 958), os modos do ser não pertencem propria mente a este (de maneira "realista") nem exclusivamen te ao pensamento (de maneira "idealista"). São modos de interpretação, parecidos com categorias, que abran gem tanto o sujeito como o objeto. Há para esse autor quatro modos fundamentais: atualidade, idealidade, existência e Deus. Cada um desses modos refere-se aos outros três e os completa. A atualidade é o modo de ser espácio-temporal, a idealidade abarca as normas; a exis tência inclui a energia (ou aspecto dinâmico da reali dade), Deus é a unidade (atemporal e a-espacial). O conceito de modo do ponto de vista semântico foi tratado sobretudo pelos gramáticos especulativos (ver GRAMÁTICA ESPECULATIVA), que investigaram detalhada mente os chamados "modos de significar" (modi signi ficandi), como, por exemplo, o nome (vER). Segundo
alguns autores, os modos de significar constituíam uma parte dos modos, havendo a seu lado os modos de co nhecer (modi intelligendi) e os modos de ser (modi es sendi). Outros autores, em contrapartida, recusavam essas distinções e propunham que os únicos modos que podiam ser objeto de pesquisa são os modi significandi. MODUS. Ver MODALIDADE; MoDo; MoDus PONENS, TOLLENS; OPOSIÇÃO; PROPOSIÇÃO. MODUS PONENS, TOLLENS. Entre as tautologias da lógica sentenciai, encontram-se as seguintes:
[(p [(p
--7 --7
q) A p] --7 q q) A 1 q] --7 l p
(1) (2).
( 1) é chamada modus ponens; segundo essa tautologia, pode-se afirmar o conseqüente de um condicional se se afirmar seu antecedente. (2) é chamado modus tol lens; de acordo com ela, pode-se negar o antecedente de uma condicional se se negar seu conseqüente. Convém não confundir as tautologias em questão com as regras de inferência. As primeiras pertencem à lógica; as segundas, à metalógica. Assim, por exemplo, a chamada regra de separação, segundo a qual se um condicional e seu antecedente são tomados como pre missas, o conseqüente pode ser inferido como conclu são, é uma regra metalógica cujos exemplos podem ser os mesmos que correspondem à tautologia ( 1 ), cha mada modus ponens. Na lógica tradicional, os modi chamados modus po nendo ponens, modus tollendo tollens, modus tollendo ponens e modus ponendo tollens são apresentados como
modos compostos equivalentes às regras de inferência que regem os silogismos condicionais e disjuntivos. Os esquemas desses modos são:
Modus ponendo ponens: Se p, então q; p; q. Modus tollendo tollens: Se p, então q; não p; não q; não q. Modus tollendo ponens: Ou p ou q; não p q. Modus ponendo tollens: Não p e não q; q não p.
Na literatura lógica tradicional, usam-se, em vez de letras sentenciais ("p", "q"), os conhecidos esquemas ("S é P'', "M é Q"). O uso das letras sentenciais oferece a vantagem de se poder antepor mais facilmente a nega ção ou a disjunção a toda a sentença; por esse motivo, preferimo-las no caso presente. "Ponens" significa "que põe" ou "que afirma"; "tol lens", "que anula" ou "que nega". Assim, "modus ponen do ponens" pode ser traduzido como "modo que afirma afirmando'', "modus tollendo tollens" como "modo que nega negando", "modus tollendo ponens", como "modo que afirma negando" e "modus ponendo tollens" como "modo que nega afirmando''. Modus ponens pode ser tra duzido como "modo que afirma" ou "modo afirmativo"; modus tollens, "modo que nega" ou "modo negativo".
MOHISMO
A não-observação das citadas regras dá ocasião a conclusões incorretas. Demos um exemplo em Sofisma (VER) . Indicamos aqui quatro esquemas dos raciocínios incorretos mais freqüentes. Se p, então q; q; p. Se p, então q; não p; não q. Ou p ou q; q; não p. Não p e não q; não q; p. MOHISMO. Ver Mo-TsÉ. MOK�A. Uma das principais finalidades - se não a principal - da atividade humana, segundo quase todos os sistemas da filosofia indiana (vER) é o que se chama mok!fa. A tradução mais habitual de mok!fa é "liberta ção". Trata-se na realidade de alcançar um estado de perfeição - que tanto pode ocorrer nesta vida como remeter a outra - no qual tenham desaparecido as in quietudes, as paixões, a ignorância e outras máculas da existência humana. É também muito freqüente con ceber a mok!fa como libertação da ilusão produzida pela multiplicidade das coisas. O único sistema para o qual não há mok!fa é o sistema de Chãrvãka; mas mesmo neste se fala de libertação da dor - que, embora impos sível em princípio, deve-se procurar alcançar por meio da mistura da dor com o prazer -, bem como de uma libertação - por certo pouco desejável - de todos os males por meio da morte. Observemos que a idéia de mok!fa é importante na filosofia indiana para explicar a função do conhecimento: este serve justamente para alcançar a mok!fa ou libertação. MOLESCHOTT, JAKOB ( 1 822- 1 893). Nascido em
s'Hertogendbosch (Holanda), estudou medicina na Uni versidade de Heidelberg, onde deu aulas de 1 84 7 a 1 854, quando teve de abandonar a cátedra devido à hostilidade das autoridades para com suas idéias materialistas. De 1 856 a 1 86 1 ensinou fisiologia no colégio Politécnico de Zurique e, a partir de 1 86 1 , lecionou em Turim até mudar-se para Roma em 1 879. Moleschott foi, ao lado de Brüchner (vER) , um dos mais destacados materia listas do século XIX. Inimigo do idealismo, do espiri tualismo e, de modo geral, de toda doutrina não estrita mente materialista, Moleschott defendeu não só o ma terialismo como também o mecanicismo, avaliando que há somente uma realidade - a matéria - que possui por si mesma a força ou energia. Estas últimas não são no entanto propriedades da matéria: a energia não pode existir sem a matéria, assim como esta não pode existir sem ela. Moleschott negou a existência de Deus e afir mou que a "ciência moderna" não somente terminaria por provar que Deus não existe como também por destruir todas as idéias mais ou menos antropomórficas ocultas nos sistemas não materialistas. A um só tempo materialista e mecanicista, Moleschott foi determinista e declarou ser empirista, tendo sustentado que se obtém
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todo o conhecimento da ação de substâncias corporais sobre os sentidos. Foi grande por algum tempo a influên cia de Moleschott, sobretudo na Alemanha e na Itália, onde foi traduzido e difundido por Cesare Lombroso. Suas idéias filosóficas eram em parte próximas das de Ludwig Feuerbach, a quem ele celebrou como o princi pal filósofo da época. :> Obras: Physiologie des Stofwechsels in Pjlanzen und Tieren, 1 85 1 (Fisiologia das mudanças materiais nas plantas e nos animais). - Der Kreislauf des Lebens, 1 852; 5ª ed., 2 vols., 1 875- 1 886 (O circuito da vida). Licht und Leben, 1 856 (Luz e vida). - Die Enheit des Le bens, 1 864 (A unidade da vida). - Autobiografia: Für meine Freunde, Lebenserinnerungen, 1 894. Ver: F. Gregory, Scientific Materialism in Nineteenth Century Germany, 1 977. C: MOLINA, ENRIQUE ( 1 87 1 - 1 956). Nascido em La
Serena, Chile, foi professor e reitor da Universidade de Concepción. Propõe decididamente, como resumo de sua posição filosófica, o problema que considera capi tal: a relação entre ser e consciência. Enrique Molina recusa igualmente o idealismo e o materialismo meca nicista; o ser tem o primado sobre a consciência por ser temporalmente anterior a ela, mas essa sua primazia não exclui, antes admite, a afirmação de um espírito em potência no interior do ser, maximamente realizado pelo homem. Por outro lado, o primado do ser não é uma tese arbitrária nem o resultado de uma exploração da consciência por si mesma: o ser é afirmado por ser primeiramente vivido pela consciência como uma tota lidade de que ela é parte. Ao "penso, logo existo'', deve se contrapor um "penso, logo existo e existe o ser", que se deve entender, desde o início, como uma existên cia e não como o reflexo de uma essência intemporal. O ser se orienta para o valor, não só porque a realidade constitui uma série de graus não estáticos como porque, sem o valor e o espírito, o ser careceria de sentido. Co laborar na valorização e espiritualização do ser é por conseguinte a única atitude capaz de superar o otimismo ingênuo e o pessimismo suicida; a vida é uma ilusão obstinada, talvez porque, embora reconhecendo sua fi nitude, o homem traz em si o impulso infinito do ser. Daí que o problema primordial do homem seja a reali zação de sua vida espiritual, entendida tanto ontológi ca como eticamente e que, num mundo sem sentido em que só o homem costuma manifestar desígnios, a atitu de mais aconselhável é a harmonia entre a ação e a con templação, no âmbito da finalidade de "fazer bem as coisas", com as criações espirituais que as acompanham. O trabalho filosófico no Chile é desenvolvido igual mente por diversos pensadores de outra espécie de orien tação: Pedro León Loyola (nasc. 1 889), cujo trabalho docente no Instituto Pedagógico formou novas gerações de estudiosos: Eugenia González, professor do mesmo Instituto; Jorge Millas (VER) ; Clarence Finlayson ( 1 9 1 3-
MOLINOS, MIGUEL DE
1 995
1 954): Analítica de contemplación, Los nombres meta fisicas de Dias, Expedición a la muerte), discípulo de Yves Simon (VER) , ex-professor da Universidade Cató
lica Bolivariana, que seguiu a tradição neotomista e tra balhou sobretudo com os problemas metafisicos de Deus e da morte; Humberto Díaz Casanueva, orientado para o existencialismo ("E! filósofo y la existencia concreta", A tenea, nº 204); Félix Schwartzmann, que pesquisou detalhadamente os problemas do homem e da cultura na América como base para uma antropologia filosó fica geral; Mario Ciudad Vásquez (Schopenhauer oculto: la estraneza existencial, 1 96 1 ). A atividade filosófica chilena se concretizou com a fundação da Sociedade Chilena de Filosofia, constituída por, entre outros, Ma rio Ciudad Vázquez, Armando Ros, Santiago Vida!, Juan de Dios Via!; o informativo da Sociedade é a Revis ta de Filosofia, Santiago do Chile, a partir de 1 95 1 ) . � Obras: Filosofia americana, 1 9 1 2. - La filosofia
de Bergson, 1 9 1 6. - Dos filósofos contemporáneos: Guyau, Bergson, 1 925. - Proyecciones de la intuición, 1 934. - La herencia moral de lafilosofia griega, 1 934. - De lo espiritual en la vida humana, 1 936. - Por los valores espirituales, 1 939. - Confesiónfilosófica. Lla mado de superación a la América Hispana, 1 942. Nietzsche, dionisíaco y asceta, 1 945. - La filosofia en Chile en laprimera mitad dei sigla XX, 1 95 1 . - Tragedia y realización dei espíritu. Dei sentido de la muerte e dei sentido de la vida, 1 952. C: MOLINA, LUIS DE ( 1 535- 1 600). Nascido em Cuenca, entrou em 1 553 na Companhia de Jesus. Estudou no
Colégio jesuíta de Coimbra, onde deu aulas de filosofia. Em seguida, lecionou na Universidade de Évora. No ano de sua morte, fora nomeado professor do Colégio Imperial de Madri. Molina desenvolveu uma doutrina teológica para a solução do problema da relação entre a onipotência divina e o livre-arbítrio (VER) humano, que constituiu a base de grandes debates ao longo do século XVII e até na época atual. O molinismo opu nha-se tanto à tese da premoção (vER) fisica, defendida pelo tomismo puro, como a tese agostiniana extrema ou baseada em diversas interpretações do agostinia nismo. Segundo ele, não se pode considerar o livre-arbí trio como algo fisica e intrinsecamente determinado; a criatura humana não se acha, ao ver de Molina, comple tamente determinada para o bem ou para o mal, poden do em vez disso, em última análise, decidir se exerce ou não a faculdade de decisão. O que não significa, veja se bem, a adesão a uma tese que suprimiria a onipotên cia divina ou, melhor dizendo, as formas da predestina ção. Com efeito, Deus exerce uma ação sobre a liber dade humana por meio do "concurso simultâneo", que afeta a constituição mesma do livre-arbítrio e até seus movimentos, mas não sua "indiferença". Por outro lado, Deus predetermina os atos por meio do seu conheci mento. Este é o mesmo da chamada ciência média (VER)
à qual nos referimos quando tratamos desse conceito e ao fazer menção à noção de futurivel (vER). Deus sabe, em outros termos, o que o homem fará justamente por que sabe o que ele pode fazer em todos os mundos pos síveis nos quais esteja. Os partidários da tese da premo ção fisica combateram de maneira muito especial essa doutrina, que acusavam de acentuar de modo excessivo a autonomia humana e do conseqüente sacrificio das prerrogativas da onipotência de Deus. � A obra na qual se expõem as doutrinas fundamentais de Luis de Molina sobre os pontos mencionados é a Concordia liberi arbitrii cum gratiae donis, divinapraes cientia, providentia, praedestinatione et reprobatione, ad nonnullos primae partis Divi Thomae articulas (Lisboa, 1 5 88). Além disso, Luis de Molina escreveu: Commen tario in Primam Divi Thomae Partem (Cuenca, 1 592). - De Justitia et Jure (Cuenca, I, 1 593; II, 1 597; III, 1 600; as partes IV-V foram publicadas postumamente).
Da numerosa bibliografia sobre Luis de Molina e o molinismo, destacamos: R. P. Schneemann, Controver
siae de divina grafia liberique arbitrii concordia, initia etprogressus, 1 88 1 . - Th. de Régnon, Bannez et Molina, histoire, doctrine, critique métaphysique, 1 883. H. Gay raud, Providence et libre arbitre. Thomisme et Molinisme, 1 892. - W Hentrich, Gregor von Valencia und der Moli nismus. Ein Beitrag zur Geschichte des Priimolinismus mit Benützung ungreduckter Quellen, 1 928. - Alberto Bonet, La filosofia de la liberdad en las controversias teológicas dei sigla XVIy primera mitad dei XVII, 1 932, pp. 79ss. - Friedrich Stegmüller, Geschichte des Moli nismus, 1 935. '--- M. Fraga, L. de Molina y e! derecho de guerra, 1 947. - C. Giacon. La seconda scolastica, vol. 2, 1 949, pp. 67- 1 68. J. M. Díez-Alegria, E! desarrollo de la doctrina de la ley natural em L. de Molina y en los maestros de la Universidade de Évora de 1565 a 1591 , 1 952. - V. Mufioz, Zumel y e! molinismo, 1 953 (edição -
do informe de Francisco Zumel sobre a doutrina de Luis de Molina em julho de 1 595). B. Hamilton, Political -
Thought in Sixteenth Century Spain: A Study of the Po litical ldeas ofVitoria, De Soto, Suárez and Molina, 1 964. - G. Smith, Freedom in Molina, 1 966. - E B. Costello, The Political Philosophy ofLuis de Molina, S. J. (15351 600), 1 974. - Ver também as duas obras sobre a ciência
média de Gabriel de Henao citadas na bibliografia deste teólogo; embora publicadas no século XVII, continuam úteis a uma compreensão de certos aspectos fundamen tais do molinismo. C: MOLINISMO. Ver ARBÍTRIO (LIVRE) ; CIÊNCIA MÉDIA; FuTURÍvEL; MoLINA, Luis DE; PREMOÇÃO FÍSICA; PREDES TINAÇÃO. MOLINOS, MIGUEL DE ( 1 628- 1 696). Nascido em Muniesa (Teruel), estudou em Valença. Mudou-se em 1 663 para Roma, onde permaneceu até sua morte. Mi guel de Molinos alcançou grande celebridade em Roma
MOLINOSISMO
por suas pregações. Publicou-se em 1 675, em italiano, seu Guia Espiritual, no qual expõe as doutrinas conhe cidas pela designação de quietismo (vER), nome origi nado da idéia de que a alma deve ficar completamente "aquietada", esvaziada de todo conteúdo, a fim de dis por-se a amar a Deus, o que era para Miguel de Molinos mais importante do que falar de Deus ou pensar em Deus, como fazem os teólogos. O Cardeal D' Estrées, embaixador da França em Roma, denunciou o Guia à Inquisição. Condenado ao cárcere, o autor abjurou de suas doutrinas. Estas tiveram influência especialmente na França, por obra de Madame Guyon e de vários escritos de Fénélon. :l Edições do Guia Espiritual por R. Urbano, 1 906 e C. Lendínez, 1 974. Vejam-se as obras sobre Miguel de Molinos e o quietismo mencionadas no verbete QUIETISMO. Ver: Michael Morgan, Molyneux s Question: Vision, Touch and the Philosophy ofPerception, 1 977. J.-B. Mé rian, Sur /e probleme de M., 1 984 (com posfácio de Fran cine Markovits, "Diderot, Mérian et l'aveugle"). C: MOMENTO. 1 ) Em fisica, "momento" (vocábulo usa
do nesse sentido desde Galileu) designa a força que um corpo em movimento exerce para mantê-lo. A referida força se compõe de massa mais velocidade do corpo. Por isso, define-se mais precisamente "momento" como "a quantidade de movimento do corpo" ou "o produto da massa pela velocidade". O momento de um corpo muda quando uma força externa atua sobre ele. O mo mento não muda quando não há força externa que atue sobre o corpo; nisso reside o chamado "princípio de con servação do momento". As relações de força num siste ma de corpos nos quais se tem em conta o momento são formuladas levando-se em consideração a direção (sen tido vetorial). A isso obedece a freqüente definição de "momento" como "produto da intensidade de uma força por sua distância de um ponto ou de uma linha". Enquanto na "fisica clássica" (a que aludimos aci ma) a lei de conservação da matéria e a lei de conserva ção do momento são duas leis distintas, na teoria espe cial da relatividade (segundo a qual a massa é função da velocidade), essas duas leis são unificadas. Para mais informações sobre a noção fisica de mo mento na fisica clássica e contemporânea, ver INÉRCIA e INCERTEZA (RELAÇÕES DE), este último ver-bete com rela ção ao uso da noção de velocidade (ou momento) de uma partícula elementar em contraste com a sua posição. 2) "Momento" (Moment) foi usado por Hegel e é ainda hoje empregado por alguns autores, para designar uma fase num processo dialético. Hegel fala de "mo mentos da realidade" (Enc. , § 1 45), bem como do ser e do nada como "momentos do vir-a-ser" (VER). 3) Dilucidamos o sentido de "momento" como ins tante no verbete dedicado a esta última noção. Tanto a noção de momento como a de instante estão relaciona das com a noção de "agora", de que também falamos em INSTANTE. Em princípio, podem-se usar indistin tamente "momento" e "instante" para o grupo de signi ficações a que nos referimos nesta seção. "Instante" é quase sempre preferido, mas às vezes usa-se "momen-
MÔNADA, MONADOLOGIA
to" para traduzir o vocábulo kierkegaardiano @jeblikket, que é definível (segundo as Migalhas Filosóficas, cap. IV) como a inserção da eternidade no tempo. Essa inser ção do eterno no termpo faz do "momento" (ou do "ins tante") de Kierkegaard algo parecido com o "presente eterno" de que falou Unamuno, ou seja, do momento que "passa ficando" e que "fica passando". Há igual mente semelhanças com certos usos do conceito de pre sença (vER) (por exemlo, o emprego que dele faz Louis Lavelle). Referimo-nos a esse ponto com mais detalhes no verbete PRESENÇA. MÓNADA, MONADOLOGIA. Segundo Hipólito (Philosophoumena, I, 2), Pitágoras - ou, em todo caso,
os pitagóricos - falara de uma TTPWTTJ µovás, "pri meira mônada" ou "primeira unidade". Ele entendia por isso a unidade fundamental e última da qual derivam os números. Como estes eram para os pitagóricos rea lidades mais tarde chamadas "inteligíveis" ou "metafisi cas", cumpre supor que µovás - cujo significado cor rente é "só'', "solitário", "único" - era concebida como um princípio. A "mônada" é a "unidade", mas não é unidade por ser o uno, ou o número um, mas é o uno, ou o número um, por ser a unidade, isto é, o fundamento de todo "um". Em algum momento, Platão denominou µováoeç, "mônadas", as Idéias ou Formas; é bem pos sível que o significado de "mônadas" fosse nesse caso "unidades inteligíveis". Vários autores neoplatônicos, e alguns pitagorizantes ou neopitagorizantes, usdaram as expressões µovás e evás para designar o caráter da unidade inteli �ível ou das unidades inteligíveis. Plotino indica que a unidade não é propriamente um número (Enn. , V, v, 4; V vi, 4); é antes o fundamento de todo número e, a rigor, a base de todo ser inteligível, possi velmente em virtude da equiparação, explícita ou im plícita, entre "inteligibilidade" e "unidade" (metafisica). O Um (ver UM, UNo, UNIDADE) pode ser então enten dido como "Unidade". Siriano e outros autores falavam de µovás em sentido semelhante ao dos pitagóricos. Tenha ou não sofrido a influência destes, Macróbio de clarava que mona non est numerus. . . sed origo nume rorum (Comm. II, ii [Lipsiae, 1 893, p. 55]). Há estreita relação entre o conceito de mônada e o de hênada, a que nos referimos no verbete HÊNADA, sobretudo no tocante a Proclo. Segundo Clemente de Alexandria (Strom. , V, xi, 2), a mônada é o resultado de uma abstra ção efetuada sobre todas as qualidades "fisicas", in cluindo as "primárias". Orígenes disse (De principiis, I, i, 6) que Deus Pai é µovás, unidade, e eváç, unicidade, não como algo situado fora de toda relação com o múl tiplo, mas como princípio que gera, ou mediante o qual se gera, o múltiplo. Ora, o conceito de mônada só adquiriu um sentido filosófico central em certos autores do começo da Idade Moderna. Destacam-se entre eles Nicolau de Cusa e Giordano Bruno. Nicolau de Cusa desenvolve uma espé-
MÔNADA, MONADOLOGIA
cie de monadologia fundada no princípio de que "tudo está em tudo'', princípio que atribui a Anaxágoras (De docta ignorantia, V). Segundo Nicolau de Cusa, a unida de de todas as coisas (o Universo) existe na pluralidade (o Os trabalhos de M. considerados interessantes da perspectiva filosófica e da lingüística são (em ordem cro nológica): "That", Philosophical Studies, 1 0, 1 959, pp. 54-6 1 (em colaboração com D. Kalish); "A Paradox Re gained", Notre Dame Journal ofFormal Logic, I, 1 960, pp. 79-90 (em colaboração com D. Kaplan); "Logical Necessity, Physical Necessity, Ethics and Quantifiers", Inquiry, 4, 1 960, pp. 259-269; "Deterministic Theories", no volume Decisions, Values, and Groups, 2, 1 962, pp.
MONTAIGNE, MICHEL DE
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325-270; "Syntactical Treatments of Modalities, with Corollaries ofReflexion Principies and Finite Axioma bility", Acta Philosophica Fennica, 1 6, 1 963, pp. 1 531 67; "Pragrnatics", em R. Klibansky, ed., Contemporary Philosophy: A Survey, 1 , 1 968, pp. 1 02- 1 22; "On the Nature of Certain Philosophical Entities", Review of Metaphysics, 23, 1 969, pp. 1 65- 1 66; "Pragmatics and Intensional Logic", Synthese, 22, 1 970, pp. 68-94; "En glish as a Formal Language", em B. Visentini et ai. , Linguaggi nella società e nella tecnica, 1 970, pp. 1 89224; "Universal Grammar", Theoria, 36, 1 970, pp. 373398; "The Proper Treatment of Quantification in Ordi nary English", em J. Hintikka, J. Moracsick e P. Suppes, eds., Approaches to Natural Language: Proceedings of the 1 9 70 Stanford Workshop on Grammar and Seman tics, 1 973, pp. 22 1 -242. Esses trabalhos foram publica dos (em ordem não cronológica) no volume Formal Philosophy: Selected Papers of R. M. , 1 974, ed. com uma introdução (pp. 1 -69) de Richmond H. Thomason.
Bibliografia de trabalhos de M. (com menção a nume rosas resenhas) no mesmo volume, pp. 3 60-364. Ed. por M. e Donald S. Kalish de Logic: The Tech
niques of Formal Reasoning.
Ver: David Lewis, Barbara H. Partee, Richmond H. Thomason et ai. , Montague Grammar, 1 976, ed. por Barbara H. Partee. S. Davis, M. Mithun, Linguistics, Philosophy and Montague Grammar, 1 979. - D. R. Dowty, Word Meaning and M. Grammar: The Semantics ofVerbs and Times in Generative Semantics and in Mon tague 's PTQ, 1 979. - D. R. Dowty, R. E. Wall, S. Pe ters, lntroduction to Montague Semantics, 1 9 8 1 [livro texto]. - T. Janssen, Foundations and Applicatjons of M. Grammar, 1 983. - H. H. Hack et ai. , "Una se
mántica computacional dei idioma espaíi.ol usando las teorías de R. Montague", Theoria, 5 ( 1 2- 1 3 ) , 1 990, pp. 1 7 1 - 1 8 1 . e:
MONTAGUE, WILLIAM PEPPERELL ( 1 873- 1 953). Nascido em Chelsea (Massachusetts, Estados Unidos), estudou na Universidade de Harvard com J. Royce. Até aposentar-se, em 1 937, Montague foi professor do Bar nard College (Nova York). Como o assinalou o próprio Montague, o problema que sempre o preocupou foi o da relação entre a consciência e o corpo e, de modo geral, do psíquico com o tisico; isso no entanto não excluiu, e ao contrário implicou, a preocupação com outras ques tões, bem como o tratamento destas. Em primeiro lugar, a questão epistemológica. A adesão ao neo-realismo (VER) , de que foi uma das principais figuras, não era, contudo, uma resposta ao problema central, mas a ela boração de um método. Porque, no tocante ao conteúdo mesmo das doutrinas de seus representantes, as diver gências eram consideráveis. Montague se opunha tanto à interpretação comportamentalista da consciência co mo ao realismo a um só tempo tisico e ingênuo de vá rios colegas seus. O motivo essencial dessa divergência
era, de um lado, a própria atitude tomada diante do neo realismo e, do outro, a perseguição, no fundo do pensa mento, do problema central já aludido. Quanto ao pri meiro ponto, Montague considera o neo-realismo sim plesmente como um método que não pressupõe nenhum conteúdo metafisico. No que se refere ao segundo, sua meditação posterior o leva a uma metafisica que ele mesmo qualifica como materialismo animista e que se caracteriza como um "espiritualismo que pode ser ex presso em categorias tisicas". Segundo Montague, o psíquico exprime a região do intenso e do denso, o rei no do potencial - num sentido essencialmente positivo do termo -, e o faz de modo tal que, em vez de contra por-se ao tisico como o irredutível, nele penetra por todas as suas partes. A tradução do movimento externo na atualidade da experiência interna torna-se então possível, mas sem que se destrua, por assim dizer, a presença efetiva do processo tisico. Esta doutrina, na qual não se pretende simplesmente falar sobre a realida de, mas diretamente dela, poderia ter como conclusão última um organicismo. � Obras: Time and the Fourth Dimension, 1 925. -
The Ways of Knowing or the Methods of Philosophy, 1 925. The Ways of Things: A Philosophy of Know ledge Nature, and Value. - Great Visions of Philoso phy: Varieties of Speculative Thought in the West from the Greeks to Bergson, 1 950. -
Ver; H. H. Parkhusrt, R. B. Perry, W. H. Sheldon, I. Edman, P. Romanell, H. A. Overstreet, arts. em The Journal of Philosophy, 52, 1 954, pp. 593-637. C: MONTAIGNÊ, MICHEL DE ( 1 533-1 592). Nascido no castelo de Montaigne, em Périgord. A partir de 1 557, foi conselheiro do Parlamento de Bordéus e, de 1 570 a 1 5 8 1 ,
prefeito da mesma cidade. N a vida e n a obra de Mon taigne, patenteiam-se com o maior vigor e clareza as ca racterísticas do subjetivismo e do humanismo renascen tista do século XVI, unidos a um ceticismo que, embora procedente, em seu aspecto exterior, do ceticismo antigo, originou-se de uma experiência deveras distinta. A expe riência de Montague ocorre sobretudo em termos da des coberta da insignificância do homem que, ao avaliar-se equivocadamente superior às outras coisas, esquece-se dos vínculos que o unem à Natureza. O viver conforme a Natureza, que Montaigne assimila dos estóicos e epi curistas, mas que sente como uma necessidade indivi dual e não apenas como verdade doutrinal, ressoa de modo constante no âmbito desse pessimismo que não é, no fundo, mais do que uma preparação para conse guir, mediante a eliminação de toda atitude presunçosa, a tranqüilidade de ânimo e a prudência em todas as coi sas. Vida segundo a Natureza, eliminação da inquietude produzida pela ambição e pelo egoísmo, consideração de todas as coisas como transitórias, discrição na ciência e no comportamento humano, cumprimento da lei e dos usos vigentes para evitar os males maiores gerados pela
MONTAIGNE, MICHEL DE
rebelião - todas essas normas não têm outro sentido que o de contribuir para a felicidade individual, que é a única felicidade efetiva e concreta diante das pretensas grandezas e das enganosas abstrações, visto que "deve mos emprestar-nos aos outros e dar-nos a nós mesmos" (Ensaios, III, 1 0). Ou, como indica R. Sáenz Hayes, "Montaigne reduz ao justo aquilo que costumamos avul tar no desejo de nos mostrar como filhos diletos do infor túnio. Ensina o culto ao relativo e enaltece as virtudes da dúvida''. Dúvida que não se deve confundir, como o indica o referido autor, com uma negação, visto que a dúvida e o tão repetido que sei eu? de Montaigne refe rem-se antes à própria pessoa, da qual se pretende ex cluir o fácil dogmatismo com relação às coisas externas e o afã de domínio a que isso com freqüência leva. Desse modo, Montaigne corrige continuamente as negações por meio de afirmações. Entre estas, destaca a proposição de uma norma de vida para si e para os poucos que dele desejam aproximar-se, mas trata-se de uma norma de vida que supõe justamente a existência da afirmação e do domínio no mundo e que busca a única atitude que cabe ao sábio assumir diante do inevitável. A descrição anterior das idéias e das experiências de Montaigne não pode fazer crer que ele possa ser apre sentado simplesmente como um "ensaísta" que emprega pensamentos "antigos" (principalmente estóicos e pirrô nicos) e " renascentistas", adaptando-os à sua situação particular e formando com tudo isso uma espécie de "filosofia subjetivista" na qual todo juízo aparece como relativo. Tudo isso está em certa medida correto, particu larmente se levarmos em conta as intenções "apologéti cas" de Montaigne; com efeito, o citado relativismo con firma as verdades da fé, já que, assim sendo, estas não dependem de argumentos, mas apenas de uma vida sã e simples: a vida de um "católico pirrônico". Mas isso também é insuficiente, visto que, feito o inventário daqui lo que Montaigne utilizou para exprimir suas intuições sobre o homem e a vida, fica um resíduo que mostra sua originalidade bem como sua aguda percepção de ques tões que hoje chamaríamos de "existenciais". Ao declarar que todo homem traz em si o peso da condição humana, Montaigne parece apegar-se a um conceito "naturalista" e "universalista" da existência humana; eis, parece dizer nos, o homem; eis aqui, portanto, sua "natureza". Mas essa condição humana nunca é para ele invariável: "Na realidade, é sujeito maravilhosamente vão, diverso e on dulante o homem" (Ensaios, I, 1 ). O ser "ondulante" (ondoyant) é aqui fundamental: o homem não "é", ele "se faz''. E se faz, além disso, "em direção" ao futuro. No século XVI, Montaigne já nos fala, por conseguinte, do "projetar humano": "Nunca estamos em casa; estamos sempre além dela" (ibid. , I, iii). O "estar além de nós mes mos", o projetar-nos na direção do futuro a fim de nos realizar a nós mesmos, é possível justamente por causa da condição "ondulante" antes referida. Não há dúvida
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de que M. fala continuamente da "natureza", escrevendo com freqüência que "assim procede a natureza" (ver, por exemplo, III, iv ). Mas não se trata de uma natureza inva riável; é um chegar a ser o que se é enquanto se vem a ser. .. A interpretação de M. passou por várias etapas: depois de um período de modernização histórica e filo lógica, dominada pelo espírito dos autores (Norton, Vil ley, Strowski) da Edição Municipal (ver a bibliografia, infra), houve um enorme esforço por extrair o autêntico autor que se encondia no texto dos Ensaios, pleno de inteligência desconcertante e barroca. Surgem assim comentários como os de Dreano, Frame ou Sayce (ver bibliografia, infra). Foi em 1 969 que Jean-Yves Pouil loux (ver infra), professor da Universidade de Paris VII, propôs uma nova maneira de abordar a obra de M.: abandonar o rastreamento das possíveis (porém duvido sas) verdades que podem ocultar-se nela a fim de aco lher o texto em sua evidente desordem. Seu trabalho su põe uma mudança de orientação nos estudos sobre M., cujos Ensaios adquirem uma importância de primeira ordem, não somente para a literatura e a história do pen samento como também para a filosofia estritamente contemporânea . .. :l Edição de obras: a primeira edição de Les Essais foi publicada em 1 580 e compreendia apenas parte do texto atual, que corresponde à edição póstuma de 1 595 (com variantes das edições de 1 5 82 e 1 588). A edição crítica chamada Edição Municipal, atualmente considerada a base de todas as edições, é a de F. Strowski (5 vols., 1 906- 1 933 ); o vol. IV inclui notas de P. Villey e o vol. V, um léxico de Grace Norton. Edição da Journal de Voyage de Montaigne, 1 932. - As edições manuais mais difundidas são: Essais, 2 vols., 1 962, ed. M. Rat; 1 ª ed. em 3 vols., 1 942. Essais, 2 vols., 1 952, ed. S. de Sacy. Essais, 3 vols., ed. P. Michel. Oeuvres completes, 1 962, ed. A. Thibaudet e M. Rat. - Ouvres com pletes, 1 967, ed. R. Barrai e P. Michel. Em português: Ensaios, 1 987. - Sobre a vaidade, -
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1 998. - Três ensaios: do professorado, da educação das crianças, da arte de discutir, 1 993. Bibliografia: P. Bonnet, Bibliographie méthodique et analytique des ouvrages et documents rélatifs à M. Ousqu 'à 1975), 1 983. Ver: A. Leveau, Étude sur les Essais de M. , 1 870. H. Thimme, Der Skeptizismus Montaignes, 1 876 (tese inaug.). -Arend Henning, Der Skeptizismus Montaignes und seine geschichtliche Ste/lung, 1 879 (tese inaug. ). P. Bonnefon, M., l 'homme et l 'ouvre, 1 893 . - Id., M. et ses amis, 1 898. P. Stapfer, M. de M. , 1 898. - P. Schwabe, M. aisphilosophischer Charakter, ein Beitrag zur Kultur geschichte der Renaissance, 1 899 (tese). - G. Guizot, M. Études etfragments, 1 899. - E. Kühn, Die Bedeu tung Montaignes fiir unsere Zeit, 1 904. - G. Norton, Studies in M. Early Writings, 2 vols., 1 906. - Fortunat Strowski, Montaigne, 1 906; 2ª ed., 1 93 1 . P. Villey, -
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Les sources et l 'évolution des Essais de M., 2 vols., 1 908 (!. Les sources et la chronologie des Essais; li. L'évolu tion des Essais). - H. Navon, Montaignes Lebensans chauung und ihre Nachwirkung, 1 908 (tese). - W. Weig nand, M. , 1 9 1 1 . E. Sichel, M. de M. , 1 9 1 1 . - 1. C. Willis, M., 1 927. - Jean Plattard, M. et son temps, 1 933. Id., Étatprésent des études sur M. , 1 935. - Bruno Rech, Grundbegriffe und Wertbegriffe bei M. de M. , 1 934. Pierre Villey, M. devant la postérité, 1 935. - Maturin Dreano, La pensée religieuse de M., 1 936. - Ricardo Sáenz Hayes, M. de M. , 1 939. - L. Brunshchvicg, Des cartes et Pascal, lecteurs de M. , 1 942. - Maurice Weiler, La pensée de M. , 1 948. Hugo Friedrich, M. , 1 949. P. Moreau, M., l 'homme et l 'ouvre, 1 953. - D. M. Frame, Montaigne s Discovery ofMan, 1 955. - Marcel Conche, M. ou La conscience heureuse, 1 964. - Donald M. Frame, M.: A Biography. Philip P. Hallie, The Scar of M. : An Essay in Personal Philosophy, 1 966. - S. Solmi, La salute di M. , 1 966. - Michael Baraz, L'être et la connaissance selon M. , 1 968. - J. Y. Pouilloux, Lire les Essais de Montaigne, 1 969. - R. Sayce, The Essays of M. A Criticai Exploration, 1 972. - T. Cave, The Cornu copian Text, 1 979. -A. Toumon, M. La glose et l 'essai, 1 983. P. J. Chamizo Domínguez, La doctrina de la verdad en M. de M. , 1 984. - J. Casais, La filosofia de M., 1 986. - M. G. Paulson, The Possible Influence of Montaigne s Essais on Descartes ' Treatise on the Pas sions, 1 988. - "M. et la critique espagnole", Bulletin de la Société des Amis de M., VII série, pp. 1 1 - 1 2, 1 988 -
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[num. espec. da Société Intemationale des Amis de M. de Paris, dedicado a estudiosos espanhóis de M.]. - C. Bium, La répresentation de la mort dans la littérature française de la Renaissance, 1 989. - D. L. Schaefer, The Política/ Philosophy of M. , 1 990. - F. Garavini, Mostri i chimere. M., il testo, il fantasma, 1 99 1 . C: MONTÃO (SOFISMA DO). Ver SoRITES. MONTERO MOLINER, FERNANDO. ( 1 922) Nasci do em Valença, foi catedrático de Fundamentos de Filoso fia na Universidade de Santiago de Compostela ( 1 9501 964) e de História da Filosofia na Universidade de Valença, de 1 967 até a aposentadoria. Ele realizou seus trabalhos no âmbito de uma orientação fenomenológica, conciliando a última etapa husserliana com a fenome nologia de Heiddeger e de Merleau-Ponty, bem como com a análise lingüística de Austin e de Strawson. Isso o levou a considerar a linguagem como o fenômeno ori ginário da presença do homem no mundo. A iniciativa em que consiste essa presença só pode ser fixada por meio de objetividades faladas (reais, ideais ou fictícias) resultantes da projeção das atividades humanas. Essas objetividades são tanto o produto do dinamismo que se manifesta com a linguagem como da regularidade em pírica que lhe serve de fundamento ou que canaliza e solicita as funções verbais. Isso supõe uma objetivação
da própria palavra, que dissimula seu caráter de signo e passa a integrar o objeto, ao lado de seus eventuais momentos empíricos. Esse objeto, longe de postular uma identidade ôntica absoluta, constitui-se como uma "mesmidade", identificável pela coordenação progres siva de suas determinações verbais e empíricas, vincu lada com a situação que lhe confere significado e que foi organizada pela iniciativa humana. Os estudos de história da filosofia feitos por Mon tem Moliner estão orientados pelos mencionados mo tivos fenomenológicos. Montem Moliner examinou os sistemas especulativos a partir da dilucidação do mundo e das situações originárias em que se configura a exis tência humana, situações que incluem os condiciona mentos sociais de cada período. O propósito é dilucidar como se conjugam as estruturas empíricas com o dina mismo lingüístico que formula os princípios que regem a ontologia de um sistema ou os que marcam os mode los do comportamento prático em geral. Dessa perspec tiva, Montem Moliner realizou uma revisão do pensa mento de Parmênides, destacando de modo positivo sua "interpretação das opiniões das morais", opiniões que não se opõem à "via da verdade". Ele reinterpretou igual mente a filosofia kantiana, destacando que Kant indicou no plano fenomênico estruturas sensíveis congruentes com as formas e conceitos puros a priori. Aquilo que a razão "põe" sobre o material sensível é o sistema das funções que instituem os princípios universais e neces sários determinados da constituição dos objetos a partir da regularidade que o referido material empírico mani festa. O a prio.ri é por conseguinte a formulação sistemá tica e rigorosa de estruturas empíricas que são as que conferem sentido e significação aos conceitos puros e que apresentam, com a mediação dos esquemas transcen dentais do tempo, os critérios de seu uso. � Obras: Parménides, 1 960. - La presencia humana, 1 97 1 . - El empirismo kantiano, 1 973. - Objetos y palabras, 1 97 6. - La filosofia pre-socrática, 1 97 6. Retorno a la fenomenología, 1 987. C: MONTESQUIEU, CHARLES DE SECONDAT, BA RÃO DE ( 1 689- 1 755). Nascido em La Brede, nas pro
ximidades de Bordéus. Em suas viagens pela Itália, pe los Países Baixos e especialmente pela Inglaterra, con cebeu suas idéias políticas e histórico-juridicas, cuja ex pressão e sistematização culminou em O Espírito das Leis ( 1 748). Montesquieu aborda o problema da lei em seus aspectos natural e histórico, demostrando que o natural e o positivo não são forçosamente contraditórios na legislação, mas correlativos. Cada povo tem o con junto de leis que convém à sua natureza e ao estágio histórico no qual se encontra, e as diferenças de legisla ção só demonstram as diferenças entre os próprios povos. Desse modo, toda lei advém das circunstâncias nas quais se desenvolve a vida de um povo, circunstân cias que não se acham determinadas precisamente por
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uma necessidade natural, por um completo determinis mo, mas que são primordialmente o produto da liberda de humana. Nas leis de cada um dos povos se exprime o alcance de sua própria liberdade. O ideal consiste jus tamente em alcançar a liberdade máxima dentro das pos sibilidades ditadas pelas circunstâncias naturais e históri cas. Para isso é necessária, em primeiro lugar, uma sepa ração entre os poderes legislativo, executivo e judiciá rio, na forma encontrada por Montesquieu na Inglaterra de sua época, em cuja constituição viu o ideal político desejável para a França. Só a mencionada separação fun damenta uma liberdade suficiente, que se vê destruída tão logo os poderes se unificam, seja nas mãos de um só indivíduo ou nas de todo o povo. Entre as três formas de governo possíveis - despótica, monárquica e democrá tica -, Montesquieu inclina-se decididamente pela se gunda, já que, não vendo possibilidades de estabelecer uma democracia do tipo antigo, a monarquia se lhe afi gura como o ideal de sua época. Mas a monarquia deve desvincular-se de todo despotismo, deve afastar-se o má ximo possível das formas orientais e daquelas que a francesa ia adotando pouco a pouco, sobretudo a partir do auge do poder real com Luís XIV. Entre a democracia como forma lícita mas impossível e o despotismo como uma degeneração da monarquia, encontra-se a consti tuição na qual as hierarquias são regidas pela lei e em que os diferentes poderes se harmonizam e se equilibram segundo as normas legais. As idéias de Montesquieu, que foi influenciado em larga medida pelas doutrinas políti cas de Locke, são características das tendências "mode radas" do primeiro período da Ilustração Francesa e que prepararam o grande movimento de idéias políticas, so ciais e históricas que prosseguiu ao longo da grande Revolução e mesmo depois dela. :> Obras: Em sua biografia de M. (M. A Criticai Bio graphy, 1 96 1 ), Roberto Shackleton oferece uma biblio grafia completa das obras originais de M. em ordem cronológica de redação. Figuram nessa relação vários manuscritos perdidos de que há referências nessas obras, de M. ou de outros autores, ou das quais existem resumos; assim, por exemplo, Les Prêtres dans /e paga nisme (escrita em 1 7 1 1 ); Discours sur /e systeme des idées (esc. em 1 7 1 6). De la différence des génies (esc. em 1 7 1 7); Dissertation sur /e mouvement relatif(esc. em 1 723). Vários outros escritos foram publicados pela primeira vez em Mélanges inédits de M., 1 892. ed. Ba rão de Montesquieu [e R. Celeste], como De la politique ( esc. em 1 725); Essai sur les causes qui peuvent affecter les esprits et les caracteres (esc. em 1 726- 1 732). Alguns outros foram publicados em Pensées etfragments iné dits, 2 vols., 1 889- 1 90 1 , ed. Barão de Montesquieu [e H. Barckhausen] . As obras de M. mais importantes para os nossos pro pósitos são: Lettres persanes ( esc. em 1 7 1 7/ 1 72 1 ; eds.
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críticas: H. Barckhausen, 1 897, 1 9 1 3 ; E. Carcasonne, 1 929; A. Adam, 1 954; P. Verniere, 1 950). - De l 'esprit des /ois (esc. ca. 1 734/1 748, publicada em 1 748; ed. crít.: J. Brethe de La Gressaye, 1 950 ss.). - Défense de l 'esprit des /ois (esc. em 1 750, publicada em 1 754; ed. crít.: C. Jullian, s/d; H. Barckhausen, 1 900). Edição de obras: Oeuvres de M., Paris, ano IV [ 1 796], 5 vols.; Oeuvres completes de M., ed. A. Masson, 3 vols., 1 950, 1 954, 1 955; Oeuvres completes de M., ed. Roger Callois, 2 vols., 1 949- 1 95 1 . - Ver ainda L. Desgraves, Catalogue de La Bibliotheque de Montesquieu, 1 954. Bibliografia: D. Feiice, Montesquieu in /ta/ia (18001985), 1 986. Em português: Cartas persas, 1 99 1 . - Considera ções sobre as causas da grandeza de Roma, 1 997. O espírito das leis, 1 996. - Grandeza e decadência dos romanos, 1 995. - História verdadeira, 1 997. Ver: A. Sorel, M., 1 888. - H. Barckhausen, M., ses idées et ses oeuvres, 1 907. - V. Klemperer, M. , 2 vols., 1 9 1 1 - 1 9 14. - J. Dedieu, M., 1 9 1 3. - G. Lanson, M., 1 932. - I. Berlin, M. , 1 956. - LouisAlthusser, M: La po litique et l 'histoire, 1 959. - W Stark, M., Pioneer ofthe Sociology ofKnowledge, 1 960. - Mark H. Waddicor, M. and the Philosophy of Natural Law, 1 970. - Simone Goyard-Fabre, Lafilosophie du droit de M. , 1 973. -Tho mas L. Pangle, Montesquieu s Philosophy ofLiberalism: A Commentary on the Spirit ofthe Laws, 1 974. - S. M. Mason, M.s Jdea ofJustice, 1 975. - M. Richter, The Po litical Theory ofM., 1 977. - A. Baum, Montesquieu and Social Theory, 1 979. - S. Goyard-Fabre, La philosophie du droit de Montesquieu, 1 98 1 . - C.-P. Clostermeyer, Zwei Gesichter der Aujkliinmg. Spannungslagen in M.s Esprit des !ois, 1 983. - M. C. Iglesias, E/pensamiento de M. Política e ciencia natural, 1 984. - L. Desgraves, M., 1 986. - P. Gasear, M. , 1 989. - D. Feiice, Pour l 'histoire de /afortune de M. en Jtalie (1 789-1945), 1 990. C: MOORE, G [EORGEJ E [ DWARDJ ( 1 873 - 1 958). Nascido em Upper Norwood (cercanias de Londres), foi primeiro fellow no Trinity College, de Cambridge, e mais tarde Lecturer ( l 9 1 l - l 925) e professor ( 1 925- 1 939) na Universidade de Cambridge. Moore interessou-se particularmente pela análise da significação de expressões usadas na linguagem cor rente, e pela averiguação daquilo que os filósofos dese javam dizer ao falar o que falaram e que razões há para supor que aquilo que disseram é verdadeiro ou falso. Trata-se em ambos os casos de uma "análise", sendo por esse motivo que o método de Moore foi considerado um método analítico e seu autor, um dos principais repre sentantes do movimento filosófico denominado "Aná lise", particularmente na forma da por vezes qualificada como "Escola de Cambridge" (VER) . Contudo, trata-se em cada caso de uma análise específica. De fato, na análise da significação de expressões da linguagem cor-
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rente, não se trata de verificar se são verdadeiras visto que Moore supõe que quase sempre são -, nem da significação que têm - pois sua significação é cla ra -, mas do resultado alcançado mediante a análise dessa significação. Em contrapartida, na análise da quilo que os filósofos quiseram dizer, trata-se não ape nas de dilucidar sua significação - aquilo que os pró prios filósofos muitas vezes ignoraram - mas igual mente de revelar a verdade ou falsidade do que foi dito. O método analítico de Moore consiste em grande parte mais numa "prática" do que numa dilucidação do método próprio. Isso não quer dizer que não se possa também averiguar em que consiste o método, mas que é preciso aceitar o fato de que nenhuma formulação do método em termos de "regras" tem condições de esgo tá-lo. Por outro lado, o duplo interesse de Moore antes descrito faz que, embora não sejam dois métodos distin tos, sejam ao menos duas partes bem diferentes entre si do mesmo método, partes que não é legítimo, nem conve niente, confundir. Em conseqüência, toda exposição do "pensamento" de Moore, ainda que somente de seu "pen samento metódico", depara com a dificuldade de que este só pode sobrepor-se com a prática do método - tomando mais dificil expor que seguir o método de Moore. Deve-se ter em conta que o interesse demonstrado por Moore em pôr em prática seu método - ou das duas principais partes deste - não significa nem que ele se desinteresse de toda proposição filosófica enquanto descrição da realidade nem que estejam ausentes de seu método pressupostos filosóficos. O próprio Moore assi nalou que a filosofia tem por missão "dar uma descrição geral de todo o universo", incluindo-se aí as principais classes de "coisas boas" que existem no universo. Por ou tro lado, no curso de sua análise das significações, Moore presupõe que haja um universo de significações mani festado nas expressões da linguagem. Essas significações são os conceitos ou as proposições representados ou no meados por meio de expressões. As indicações anteriores acerca do método analí tico de Moore e das idéias filosóficas nele propostas não constituem todo o pensamento de Moore. De um lado, deve-se considerar que na própria análise das sig nificações há várias operações propostas, ou melhor, executadas, por Moore. Com efeito, em alguns casos, ele procura analisar um conceito em termos da divisão do conceito em certas unidades significativas julgadas básicas. Noutros casos, em contrapartida, ele procurou distinguir um conceito de outros. Afirma-se por vezes que o tipo de análise praticado por Moore assemelha se ao propugnado por Russell. Diz-se noutras ocasiões que é similar ao que realizou o "segundo Wittgenstein". Certo é que Moore fez os dois gêneros de análise e que, em conseqüência, há nele algo de russelliano e algo de neowittgensteiniano. Isso não quer dizer que ele tenha
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sempre seguido Russell e o "segundo Wittgenstein"; a bem dizer, em questões de precedência, Moore pode ria tê-la reivindicado em inúmeros casos. É no entanto preferível não evocar aqui questões de precedência, mas simplesmente chamar a atenção para os pontos simila res. Quanto ao mais, os antecedentes de Moore - do ponto de vista histórico - são antes filósofos como Berkeley e Thomas Reid. Moore avaliava que, mesmo que não se possa pro var (ou refutar) as proposições do senso comum, é me lhor ater-se a elas, visto que, do contrário, deparamos com muitos paradoxos. Essa crença de Moore levou alguns a pensar ser ele um "filósofo do senso comum". Mas isso só é certo num sentido, referente ao fato de ele usar o senso comum em sua análise do que os filóso fos quiseram dizer e em sua aceitação ou recusa do que eles quiseram dizer. Dessa perspectiva, temos de levar em conta sua conhecida "Refutação do idealismo" (sua análise da fórmula esse est percipi, cujo resultado é que em nenhum dos sentidos propostos ou proponíveis o esse é identificável com o percipi). Moore por certo defende a filosofia do senso comum, bem como, em conseqüência, o chamado "realismo do senso comum", mas isso só constitui uma parcela e, de certo modo, uma parcela ancilar, de seu pensamento metódico. Deve-se igualmente à prática do método analítico o que recebeu o nome de "a doutrina ética de Moore". Esta se compõe de duas partes: é antes de tudo uma ave riguação das "coisas boas" e, em segundo lugar, uma análise do significado de "bom", sendo esta última aná lise capital para a referida doutrina. Dado que não é pos sível decompor a significação de "bom" noutras signifi cações supostamente mais primárias, deve-se aceitar ser "bom" um predicado básico, predicado correspon dente a um conceito que designa algo não natural. Os filósofos que se empenharam em reduzir a outro o con ceito de "bom", ou que buscaram identificá-lo com ou tro conceito, cometeram aquilo que a partir de Moore é conhecido como "falácia naturalista". Isso não implica que "bom" seja o nome de uma qualidade misteriosa: "bom" designa uma qualidade irredutível (como é irre dutível, por exemplo, a qualidade designada pelo nome "amarelo"). Deve-se todavia ter em conta que Moore não se deteve nessa análise de "bom"; mais tarde, ele admitiu que "bom" pode ser o nome que designa certa "atitude": a de aprovação. Com isso, Moore deu a im pressão de ter sucumbido à própria "falácia naturalis ta" que denunciara. Mas a aprovação de referência não se configura como, ou não precisa ser, uma "atitude natural" adotada por um "sujeito natural"; ela é, ou pode ser, resultado de um "uso lingüístico", num sentido bem amplo de "lingüístico". :> Obras: indicamos a seguir os principais escritos de Moore, incluindo artigos. Após o títulos de alguns des ses artigos figura, entre colchetes, um número; referir-
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MOORE, G[EORGE] E[DWARD]
nos-emos oportunamente a esses números para indicar quais artigos foram reunidos nas duas coleções que re ceberam respectivamente os títulos Philosophical Stu dies e Philosophical Papers. "ln What Sense, if any, do Past and Future Time Exist?" (Simpósio), Mind, N. S., 6, 1 897, pp. 235-240. - "Freedom'', ibid. , N. S., 7, 1 898, pp. 1 79-204. "The Nature of Judgement'', ibid. , N. S., 8, 1 899, pp. 1 76- 193. - "Necessity'', ibid. , N. S., 9, 1 900, pp. 289304. - "Identity", Proceedings ofthe Aristotelian So ciety, 1 , 1 90 1 , pp. 1 03- 1 27. - "The Value ofReligion", 1nternational Journal ofEthics, 1 2, 1 90 1 , pp. 8 1 -98. "Mr. McTaggart's ' Studies in Hegelian Cosmology' ", Proceedings, etc. , 2, 1 902, 1 77-2 14. - Principia Ethica, 1 903. - "Experience and Empiricism'', Proceedings, etc. , 3, 1 903, pp. 80-95. - "Mr. McTaggart's Ethics", 1ntern. Journa/, etc. , 1 3 , 1 903, pp. 341 -370. - "The Refutation ofldealism", Mind, N. S., 12, 1 903, pp. 433453 [ 1 ] . - "Kant's ldealism", Proceedings, etc. , 4, 1 904, pp. 1 27- 1 40. - "Jahresbericht über 'Philosophy in the United Kingdom for 1 902' '', Archivfiir systema tische Philosophie, 1 O, 1 904, pp. 242-264. - "The Na ture and Reality ofObjects of Perception", Proceedings, etc. , 6, 1 905, pp. 60- 1 27 [2]. - "Mr. Joachim 's 'Nature ofTruth"', Mind, N. S., 1 6, 1 907, pp. 229-235. - "Pro fessor James 's 'Pragmatism "', Proceedings, etc. , 8, 1 908, pp. 38-77 [3]. - "Hume's Philosophy'', The New Quar ter/y, novembro de 1 909 [4] . - "The Subject Matter of Psychology", Proceedings, etc. , 8, 1 909, pp. 36-62. Ethics, 1 9 1 2 . - "The Status of Sense-Data" (Simpó sio), Proceedings, etc. , 1 4, 1 9 1 4, pp. 355-380 [5] . "The Implications of Recognition" (Simpósio), Procee dings, etc. , 1 6, 1 9 1 6, pp. 20 1 -223 . - "Are the Materiais of Sense Affections of the Mind?" (Simpósio), Pro ceedings, etc. , 17, 1 9 1 7, pp. 4 1 8-429. - "The Concept of Reality", Proceedings, etc. , 1 8, 1 9 1 7, pp. 1 0 1 - 1 20 [6]. - "Some Judgements of Perception", Proceedings, etc. , 19, 1 9 1 8, pp. 1 -29 [7]. - "Is There Knowledge by Acquaintance?" (Simpósio), Proceedings, etc. , Supl., vol 2, 1 9 1 9, pp. 1 79- 193. - "Externai and Internai Re lations", Proceedings, etc. , 20, 1 9 1 9, pp. 40-62 [8]. "Is the 'Concrete Universal' the True Type ofUniversa lity?" (Simpósio), Proceedings, etc. , 20, 1 920, pp. 1 321 40. - "The Character of Cognitive Acts" (Simpósio), Proceedings, etc. , 2 1 , 1 92 1 , pp. 1 32- 1 40. - Philosophi cal Studies, 1 922 (inclui 1 -8 e os artigos ''The Concep tion oflntrinsec Value", de 1 9 14- 1 9 17, e ''The Nature of Moral Philosophy", de 1 920- 1 92 1 ]. - "Are the Charac teristics of Particular Things Universal or Particular?" (Simpósio), Proceedings, etc. , Suppl., vol. 3, 1 923, pp. 95-1 1 3 [9]. -"A Defense ofCommon Sense", no volu me coletivo Contemporary British Philosophy, 2ª série, ed. J. H. Muirhead, 1 925 [ 1 0]. - "The Nature of Sensi ble Appearances" (Simpósio), Proceedings, etc. , Suppl., vol. 6, 1 926, pp. 1 79- 1 89. - "Facts and Propositions"
(Simpósio), Proceedings, etc. , Suppl., vol. 7, 1 927, pp. 1 7 1 -206 [ 1 1]. - "Indirect Knowledge" (Simpósio), Pro ceedings, etc. , Suppl.. vol. 9, 1929, pp. 1 9-50. - "Is Good ness a Quality?" (Simpósio), Proceedings, etc. , Suppl. 1 1 , 1 932, pp. 1 1 6- 1 3 1 [ 1 2]. - "lmaginary Objects" (Simpó sio), Proceedings, etc. , Suppl., vol. 12, 1 933, pp. 55-70 [ 1 3]. - "The Justification of Analysis", Analysis, 1, 1 933, pp. 28-30. - "Is existence a Predicate?" (Simpó sio), Proceedings, etc. , Suppl., vol. 1 5 , 1 936, pp. 1 751 88 [ 1 4]. - "Proofofan Externai World'', Proceedings of the British Academy, 25, 1 939, pp. 273-300 [ 1 5] . "Russell's 'Theory of Descriptions"', em H. Reichen bach, M. Weitz, K. Gõdel et ai. , The Philosophy ofBer trand Russel, 1 944, ed. P. A. Schilpp, pp. 1 75-225 [ 1 6]. - Some Main Problems i n Philosophy, 1 953 [escrito em 1 9 1 0]. - "Wittgenstein's Lectures in 1 930- 1 933'', 1, Mind, N. S., 63, 1 954, pp. 1 - 1 5 ; ibid. , II, Mind, N. S., 63, 1 954, pp. 289-3 1 6; ibid. , III, Mind, N. S., 64, 1 955, pp. 1 -27 [ 1 7] . - "Visual Sense-Data", no volume coletivo British Philosophy in the Mid-Century, 1 957, ed. C. A. Mace. Philosophica/ Papers [inclui 9- 1 7 e os textos "Certainty", de 1 94 1 , e "Four Forms od Scepti cism'', de 1 944]. - The Commonplace Book og G. E. M., 1919-1953, 1 962, ed. Casimir Lewy. - Lectures on Philosophy, 1 966, ed. Casimir Lewy [seleções de três séries de conferências em Cambridge, 1 925- 1 926, 1 928- 1 929 e 1 933- 1 934]. - The Early Essays, 1 986, ed. T. Regan [ensaios inéditos]. - Lectures on Metaphy sics, 1934-1935: G. E. Moore, 1 992, ed. A. Ambrose. - M. escreveu artigos: Cause and Effect; Change; Nati vism; Quality; Real; Reason; Relation; Relativity of Knowledge; Substance; Spirit; Teleology; Truth, para o Dictionary of Philosophy de Baldwin, 1 902. Biografia e autobiografia em: "Autobiography" e "Reply to my Critics'', em The Philosophy of G. E. Moore (cf. infra), pp. 3-39 e 535-677, respectivamente; "addendum to Reply to my Critics'', em ibid. , 2ª ed. P. Levy, G. E. M. and the Cambidge Apostles, 1 979 (entre os "apóstolos" ou membros de "The Society" figuram H. Sidgwick, E. McTaggart, A. N. Whitehead, J. Ward, J. Sterling, R. Fry). Em português: Princípios éticos; Escritos filosó ficos; Problemas fundamentais da filosofia, Os Pensa dores, 1 985. Ver: C. D. Broad, Ch. L. Stevenson, N. Malcolm et at. , The Philosophy ofG. E. M., 1 942, ed. P. A. Schilpp; 3ª ed. rev., 1 969. - Ingjald Nissen, Moraljilosofi og hers keteknikk; en studie over Moore :S verdilaere, 1 948. Alan R. White, G. E. M. : A Criticai Exposition, 1 958. M. White, E. Nagel, A. Ambrose, arts. em Journal ofPhi losophy, 57, 1 960, 805-824. C. D. Broad, "G. E. Moore's Lates! Published Views on Ethics", Mind. N. S., 70, 1 96 1 , 435-457. - Ivan Kuvacic, Filozofija G. E. M. , 1 96 1 (em croata). - Domenico Campanale, Filosofia ed etica scien tifica nel pensiero di G. E. M. , 1 962. - Normal Malcolm, -
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"G. E. M.", no volume Knowledge and Certainty: Essays and Lectures, 1 963. - R. B. Braithwaite, G. E. M., 18731938, 1 963 [conferência]. - LairdAddis e Douglas Lewis, M. and Ryle: Two Ontologists, 1 965. - E. D. Klemke, The Epistemology ofG. E. M. , 1 969. - Alberto Granese, G. E. M. e lafilosofia analitica inglese, 1 970. - G. Ryle, A. J. Ayer et. ai. , G. E. M. Essays in Retrospect, 1 970, ed. A. Ambrose e M. Lazerowitz. - A. J. Ayer, Russell and M.: The Analytical Heritage, 1 97 1 . - John Hill, The Ethics ofG. E. M. : A New lnterpretation, 1 976. - S. Bharadwaja, Philosophy ofCommon Sense: A Study in G. E. M.'s Metaphysics and Epistemology, 1 977. - P. Levy, Moore, 1 979. - S. Sarkar, Epistemology and Ethics of G. E. M. : A Criticai Evaluation, 1 98 1 . - D. O'Connor, The Metaphysics of G. E. M. , 1 982. - M. Borioni, La gnoseologia di G. E. M. Un esame della letteratura cri tica (1 942-1982), 1 984. - T. Regan, Bloomsbury 's Prophet: G. E. M. and the Development of His Moral Philosophy, 1 986. - D. Rohatyn, The Reluctant Natu ralist: A Study ofG. E. M.'s Principia Ethica, 1 987. - T. Baldwin, G. E. M. , 1 992, ed. T. Honderich. - A. Stroll, Moore and Wittgenstein on Certainty, 1 994. C: MORAL deriva de mos, "costume", do mesmo modo como ética vem de �8os; sendo por essa razão que "éti ca" e "moral" são empregadas às vezes indistintamente. Como disse Cícero (Defato, I, 1 ), "posto que se refere aos costumes, que os gregos denominam �8os. costu mamos chamar esta parte da filosofia filosofia dos cos tumes, mas convém enriquecer a língua latina e deno miná-la moral". Contudo, o termo "moral" costuma ter uma significação mais ampla que o vocábulo "ética". Em algumas línguas, o moral opõe-se ao fisico, o que explica o fato de as ciências morais compreenderem, em oposição às ciências naturais, tudo aquilo que não é puramente fisico no homem (a história, a política, a arte etc.), isto é, tudo aquilo que corresponde às produ ções do espírito subjetivo e mesmo o próprio espírito subjetivo. As ciências morais, ou, como são tradicional mente denominadas, ciências morais e políticas, com preendem assim os mesmos temas e objetos das ciências do espírito, sobretudo quando estas são entendidas co mo ciências do espírito objetivo e de sua relação com o subjetivo, excluindo-se com freqüência o saber do espírito subjetivo, ou psicologia, considerado outro tipo de ciência. Por vezes opõem-se igualmente moral a inte lectual a fim de fazer referência àquilo que corresponde ao sentimento e não à inteligência ou ao intelecto. Por fim, o moral é oposto de modo geral ao imoral e ao amoral, na medida em que aquilo que se acha inserido na esfera ética se opõe ao que é adversário dessa esfera ou que se mantém indiferente a ela. Nesse caso, é moral aquilo que se submete a um valor, ao passo que o imo ral e o amoral são, respectivamente, aquilo que se opõe a todo valor e aquilo que é inferente ao valor.
MORAL
Kant distinguiu entre moralidade e legalidade; es tendemo-nos a esse respeito no verbete LEGALIDADE. Hegel diferenciou a moralidade enquanto moralidade subjetiva (Moralitiit) da moralidade enquanto moralida de objetiva (Sittlichkeit). Traduz-se por vezes Moralitiit por "moralidade" e Sittlichkeit por "eticidade". A distin ção hegeliana entre Moralitiit e Sittlichkeit é em certos aspectos análoga à aludida diferenciação kantiana. De fato, enquanto a Moralitiit consiste no cumprimento do dever por um ato de vontade, a Sittlichkeit é a obediên cia à lei moral enquanto fixada pelas normas, leis e cos tumes da sociedade, que representa por sua vez o espíri to objetivo ou uma das formas deste. Contudo, Hegel diverge de Kant, chegando mesmo a opor-se a ele, con siderando que a mera boa vontade "subjetiva" é insufi ciente; a rigor, essa boa vontade pode obter recompen sas que não passam de "folhas secas que jamais foram verdes" (Philosophie des Rechts, § 1 29). É preciso que a boa vontade "subjetiva" não se perca em si mesma ou, se se preferir, não tenha apenas a consciência de que aspira ao bem. O "subjetivo" é aqui simplesmente "abs trato". Para vir a ser concreto, precisa integrar-se ao "objetivo", que se manifesta moralmente como Sittlich keit. Ora, mas a Sittlichkeit também não é uma ação mo ral simplesmente "mecânica": é a racionalidade da moral universal concreta que pode conferir conteúdo à mo ralidade subjetiva da "mera consciência moral". O termo "moral" foi usado muitas vezes como adje tivo quando aplicado a uma pessoa determinada, da qual se diz então que "é moral". Isso evocou vários proble mas: 1 ) em qüe consiste ser moral? É possível ser mo ral? 3) Deve-se ser moral? Este último problema foi de batido na forma de "se se deve (ou não) fazer o que é justo (enquanto moralmente justo)". A resposta parece óbvia: deve-se ser moral ou fazer o (moralmente) justo. Contudo, tão logo se procura encontrar uma razão que explique por que se deve ser moral, surge toda espécie de dificuldades. Trata-se de dificuldades inerentes ao "fundamento da moralidade", de que tratamos em di versos verbetes de temática ética (verbetes como BEM; BOA VONTADE; BOAS RAZÕES; DEVER; DEôNTico; ÉTICA; IMPERATIVO; ÜBRIGAÇÃo; SANÇÃO; SENTIDO MORAL etc.)
Assinalemos agora apenas que a razão ou razões apre sentadas para responder afirmativamente à pergunta em questão têm natureza vária; assim, por exemplo: deve se ser moral porque isso é justo, adequado, conveniente, conforme ao Bem; porque é ordenado ou mandado por alguém ou algo; porque é uma ordem divina; porque nos dá satisfação ou nos deixa felizes; porque é útil à sociedade; porque é um imperativo da razão ou porque é um imperativo da consciência (moral), da vocação etc .. A análise de cada uma das respostas implica um minucioso exame das questões éticas fundamentais, bem como um exame do modo, ou modos, de compreender a razão da moralidade.
MORALES. JOSÉ RICARDO
Tratamos da distinção entre "moral" e "amoral" (ou "não-moral") e entre "moral" e "imoral" nos verbetes AMo RAL, AMORALISMO; IMORAL, IMORALISMO, especialmente no final do primeiro desses verbetes, com relação ao caráter descritivo ou avaliativo dos termos "moral" e "imoral". :> A maior parte das obras mencionada na bibliografia de ÉTICA trata de moral e de moralidade. Vejam-se além disso, e especialmente, as obras a seguir, que va mos apresentar em ordem simplesmente cronológica: L. Lévy-Bruhl, La mora/e et la science des moeurs, 1 903 . - L. Y. H. Hobhouse, Moral in Evolution, 2 vols., 1 906. - Hastings Rashdall, The Theory of Good and Evil, 1 907. - Herman Schwarz, Die Sittlichen Grund begrifen, 1 925. - Jean Baruzi, Le probteme moral, 1 926 [coleção: Philosophie générale et métaphysique, t. III]. - Hans Driesch. Die sittliche Tat. Ein moralphiloso phischer Versuch, 1 927. - Eugene Dupréel, Traité de Mora/e, 2 vols., 1 932. -A. Gresson, Le probléme moral et les philosophies, 1 933. - Yves Simon, Critique de la connaissance mora/e, 1 934. - Giovanni Semeria, La mora/e e le morali, 1 934. - Karl Menger, Moral, Wille und Weltgestaltung. Grundlegung zur Logik der Sitten, 1 934. - Friedrich Wagner, Geschchite des Sittlichkeits begr!lfes, 1 936. - G. Gurvitch, Mora/e théorique et scien ces des moeurs, 1 937; 3ª ed., 1 96 1 . - Octavio Nicolás Derisi, Los fundamentos metafisicas dei orden moral. 1 940. - R. Le Senne, Traité de mora/e générale, 1 942. - Luis Rouzic, E/ contenido de la moral, 1 946. - Geor ges Gusdorf, Traité de / 'existence mora/e, 1 949. - Ra fael Virasoro, Vocación y moralidad: Contribución ai es tudo de los valores morales, 1 949. - M. Mandelbaum, The Phenomenology of Moral Experience, 1 95 5 . - G. Morris, On the Diversity of Morais, I, 1 956. - Ángel Vassalo, E/ problema moral, 1 957. - Kurt Baier, The Moral Point ofView, 1 958. - J. Maritain, La philosophie mora/e, 1 960. - Eric Weil, Philosophie mora/e, 1 96 1 . - Georges Bastide, Traité de / 'action mora/e, 2 vols., 1 96 1 (!: Analytique de / 'action mora/e; II. Dynamique de / 'action mora/e). - W. K. Frankena, H. D. Aiken et ai. , Morality and the Language ofConduct, 1 963, ed. Héctor Neri Castafieda y G. Nakhnikian. - G. J. Warnock, The Object ofMorality, 1 974. - Gilbert Harman, The Nature ofMora/ity, 1 97 1 . - Héctor-Neri Castafieda, The Struc ture ofMorality, 1 977. - J. M. Brennan, The Open Tex ture ofMoral Concepts, 1 977. - J. Raz, The Morality of Freedom, 1 986. - M. Rhonheimer, Natur ais Grundlage der Moral, 1 987. - J. Finnis, Mora/Absolutes: Tradition, Revision, and Truth, 1 99 1 . - M. Wagner, ed., An Histo rical lntroduction to Moral Philosophy, 1 99 1 . - S. Fleis chacker, lntegrity and Moral Relativism, 1 992. - 8. Herman, The Practice ofMoral Judgement, 1 993. - M. DePaul, Balance and Refinement: Beyond Coherence Methods ofMoral Inquiry, 1 993. - A. Edel, ln Search of the Ethical: Moral Theory in Twentieth Century Ame rica, 1 993. C:
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MORALES. JOSÉ RICARDO. Ver ARQUITETÔNICA, IMITAÇÃO. MORE GEOMETRICO. Ver ÜRDINE ÜEOMETRICO. MORE, HENRY ( 1 6 1 4- 1 687). Nascido em Grantham (Lincolnshire, Inglaterra), estudou no Christ's College, de Cambridge, do qual foi Fellow até o final da vida. More é considerado um dos principais representantes da chamada "Escola de Cambridge" ou "platonismo de Cambridge". Interessado pela filosofia e em correspon dência com vários pensadores da época (entre os quais estão Descartes, F. M. van Helmont e John Norris), também demonstrou grande interesse pelas tradições herméticas, cabalísticas e teosóficas. A rigor, alguns autores consideram More só do ponto de vista de suas tendências cabalísticas, teosóficas e espiritualistas e do seu interesse por fantasmas, aparições e bruxarias. Con tudo, mais importante do que essas tendências e esse interesse é em More sua inclinação pela especulação filosófica; seu interesse pelos fantasmas e as aparições advinham em parte de seu desejo de provar, mediante sua existência, a realidade do espírito. No começo de suas especulações filosóficas, More considerou muito meritória a filosofia de Descartes, que considerou muito adequada para combater o deísmo e o materialismo de Hobbes e de outros autores. Não obstante, logo More passou a considerar que o dualismo cartesiano e a definição da matéria pela extensão leva vam a resultados contrários aos esperados. Em vista disso, insistiu que, contrariamente ao que muitos pen sam, a idéia de um espírito "é uma idéia tão fácil quanto a de qualquer outra substância" (An Antidote, IV, 3); pelo menos suas "propriedades essenciais e insepará veis" (autopenetrabilidade, automovimento, dilatação, indivisibilidade) são perfeitamente concebíveis. Na verdade, o que caracteriza o espírito são propriedades contrárias às que caracterizam a matéria (que é impe netrável, não se move por si mesmo, é divisível e sepa rável etc.). Pode-se derivar de tudo isso a idéia da exis tência de uma substância espiritual como substância que não é uma mera modificação do corpo. Ainda as sim, More parece afirmar um dualismo do tipo cartesia no (cf., por exemplo, The lmortality, III, 1 , em que "es pírito" é definido como a substance penetrable and in discerptib/e, ao contrário de "corpo", a substance pene trabele and discerptible; ele nega aí que haja alguma "essência" dotada de uma "condição intermediária" en tre as substâncias incorpórea e corporal). Verifica-se contudo que a chamada "matéria" se move, o que não seria possível a não ser que o espírito a tivesse dotado de movimento. Portanto, o espiritual precede o corpo ral, do mesmo modo como o espiritual infinito precede o espiritual finito e o corporal. Assim, a "animação" da Natureza é em última instância de índole espiritual.
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Característica de More, e considerada sua idéia mais original, é a afirmação, e a tentativa de provar, que o corporal não é equiparável ao extenso, mas que a extensão (o espaço) se distingue da matéria. A extensão (o espaço) é para More infinita e não material; o espaço é real e, enquanto espaço infinito, é um dos atributos divinos; ou, pelo menos, os atributos do espaço infinito, uno e simples, são paralelos, senão idênticos, aos atribu tos, ou a alguns dos atributos, de Deus. More elaborou um sistema ético fundado no caráter inato dos princípios morais; entre esses princípios so bressai o da concepção da felicidade como realização da bondade que tem por finalidade a beatitude. � Obras: Philosophical Poems, 1 674 (nova ed. : The Complete Poems ofDr. H. M , 1 876, ed. A. B. Grosart). -AnAntidote againstAtheism, or anAppeal to the Natu ral Faculties of the Mind ofMan, wheter there be not a God, 1 652; 3ª ed., 1 962. - Conjectura Cabalistica, 1 653; outra ed., 1 679. - Enthusiasmus triumphatus, 1 656; ou tra ed., 1 679 [com o pseudônimo "Philophilus Parre siastes"]. - The Immortality ofthe Sou!, so/arreforth as it is demonstrablefrom the knowledge ofnature and the light ofreason, 1 659; outra ed., 1 679. -An Explanation ofthe Grand Mistery ofGodliness, 1 660. - Enchiridion Ethicum, praecipua Mora/is Philoshiae Rudimenta com plectens, 1 667; 2ª ed., 1 669. - Enchiridium metaphysi cum: sive, De Rebus Incorporeis Succinta & Luculenta Dissertatio, 1 67 1 . Edição de obras: Opera omnia, tum quae Latine, tum quae Anglice scripta sunt; nunca vero Latinitate donata, 3 vols., Londres, 1 675- 1 679, reimp., 1 963. A Collection of Severa! Philosophical Writings of Dr. H. M. , 2ª ed., aum., 1 662; 4 [ ed., aum., 1 703. - The Theo logical Works of the Most Pious and Learned Dr. H. M., D. D. , 1 708. - Edição de Philosophical Writings ofH. M. , 1 925, por Flora Isabel Mackinnon [com bibliogra fia, pp. 233-256, e esboço das teses filosóficas de More, pp. 257-27 1 ] . Além da introdução e notas de F. I . Mackinnon à ci tada ed., ver: P. R. Anderson, H. M. , 1 933. - H. Rei mann, H. Mores Bedeutung for die Gegenwart. Sein Kampffor Wirken und Freiheit des Geistes, 1 94 1 . - E. Neumann, Die Archetypische Welt H. Mores, 1 96 1 . Aharon Lichtenstein, H. M : The Rational Theology ofa Cambridge Platonist, 1 962 [com um "Essay on Biblio graphy", pp. 2 1 5- 1 44]. - Serge Hutin, H. M Essai sur les doctrines théosophiques ches les platoniciens de Cambridge, 1 966. - Paolo Cristofolini, Cartesiani e sociniani: Studio sur H. M. , 1 974. - A. Jacob, H. M : The Immortality of the Sou!, 1 987. - Id., "The Neopla tonic Conception ofNature'', em S. Gaukroger, More, Cudworth, and Berkeley in the Uses ofAntiquity, 1 99 1 . Ver ainda a bibliografia de CAMBRIDGE (PLATôNI cos DE). Cf. A. Koyré, From thew Closed World to the lnfinite Universe, 1 957, cap. VI. C:
MORE, THOMAS
MORE, THOMAS ( 1 478- 1 535). Nascido em Londres; estudou direito, latim e grego. Suas tendências e traba lhos humanistas levaram-no a ter contato com grandes humanistas de sua época, como Colet, Erasmo, Vivres e Lefebvre d'Étaples. Esteve a serviço de Henrique VIII e foi seu "Lord Chancellor" de 1 529 a 1 53 3 . Quando se negou a assinar o chamado "Ato de Supremacia'', que desafiava a autoridade do Papa e fazia de Henrique VIII o chefe da igreja inglesa, foi encarcerado ( 1 534), declarado traidor e decapitado. Foi beatificado por Leão XIII ( 1 866) e canonizado por Pio XI ( 1 935). More defendeu o humanismo e o retorno às fontes gregas e a Aristóteles contra aqueles que Vives denomi nou "pseudodialéticos''. Mais tarde, inclinou-se pelas doutrinas de Santo Tomás e de outros grandes escolás ticos, avaliando que, ao contrário dos escolásticos "de cadentes", aqueles representavam as verdadeiras doutri nas antigas. More é conhecido sobretudo, senão exclusi vamente, por sua "Utopia" (Sobre a Melhor Condição do Estado e sobre a Nova Ilha de Utopia). Trata-se da descrição de um Estado ideal, bem como de uma críti ca à situação social da Inglaterra de sua época. Sob a influência de Platão, More introduziu em sua Utopia as idéias da comunidade de bens, de igualdade entre ho mens e mulheres e do papel supremo da sabedoria no governo. Ao contrário de Platão, porém, More estendeu a comunidade de bens a toda a sociedade. Esse afasta mento de Platão mostra-se ainda mais pronunciado no tocante à estrutura social, visto que, enquanto a República platônica é formada por classes e se apresenta altamente hierarquizada; a utopia de More elimina as classes ou castas sociais. More admitiu a tolerância e se opôs a toda perseguição por razões de crença, mas fez uma exceção com relação aos que negam a existência de Deus e a imortalidade da alma; não havia lugar para estes no "Estado ótimo''. More criou o termo "utopia" ("em parte alguma"). O "Estado ótimo" não está em parte alguma, mas cons titui o ideal de todos os Estados. É fundamental nele a estreita união entre religião e moral, o bem e a virtude. Esse "Estado ótimo" funda-se na virtude. More introdu ziu em sua utopia numerosos detalhes da organização do estado, bem como formas de distribuição do trabalho. Graças a estas últimas, elimina-se toda servidão econô mica, dando oportunidade ao ócio moral e intelectual. O prazer moderado, no sentido epicurista, desempenha um importante papel na utopia de More. Os cidadãos são felizes porque podem gozar prazeres simples e não têm nenhuma ânsia de obtenção de coisas supérfluas. � A referida obra capital de Santo Thomas More é in titulada, no original em latim: De optimo reipublical statu deque nova insula Utopia libellus uere aureus, 1 5 1 6 [ ed. com Epigramatta de Thomas More e de Erasmo]. Edição de obras: Thomae Mori Opera omnia, 1 543, 1 689 e outras [reimp. da ed. de 1 689: Thomae Mori
MORENO, JOSÉ LUIS
Opera omnia latina, 1 962]. Igualmente: The Works of Sir Thomas More, 1 557. - The Complete Works of T. M. , 14 vols., 1 963 ss. Correspondência: The Correspondence ofSir Tho mas More, 1 947, ed. Elisabeth Frances Rogers. Concordância: Concordance to Th. More s Utopia, 1 978, ed. L. J. Bolchazy, em col. com G. Gichan e F.
Theobald. Em português: Epigramas, 1 996. - Utopia, 1 999. Bibliografias: Frank Sullivan e M. P. Sullivan, Mo reana 1478-1 945, 1 946. - R. M. Gibson, St. Thomas
More: A Preliminary Bibliography ofHis Works and Mo reana to the Year 1 750, 1 96 1 . Biografia: Andrés Vasquez de Prada, Sir T. M., Lord Canciller de Inglaterra, 1 962.
Entre as primeiras obras sobre Thomas More figuram: Fernando de Herrera, Tomás Moro, Sevilha, 1 592. Sobre o pensamento de T. M, ver além disso: M. J. Walter, Sir Th. M. : His Life and Times, 1 839. - Karl Kautsky, Th. More und seine Utopie mil einer historischen Einlei tung, 1 888. - Theobald Ziegler, Thomas Moros und sei ne Schrift von der lnsel Utopia, 1 889. - Thomas Morus und seine Utopie, 1 896. - Raymond Wilson Chambers, Thomas More, 1 935; nova ed., 1 948. -Alfonso Erb, Tho mas Moros, 1 935. - Russell Ames, Citizen Thomas More and His Utopia, 1 949. - F. Battaglia. Saggio sulll 'Uto pia di T. Moro, 1 949. - J. H. Hexter, More s Utopia: The Biography ofan ldea, 1 952. - Paul Huber, Traditions festigheit und Traditionskritik bei Thomas Morus, 1 953. Edward Louis Surtz, The Praise ofPleasure. Philosophy, Education, and Communism in More s Utopia, 1 957. !d., The Praise of Wisdom. A Commentary on the Reli gious and Moral Problems and Backgrounds ofSt. Tho mas More s Utopia, 1 957. - Germain Marc'hadour, L'u nivers de Thomas More: Chronologie critique de More, Erasme et leur époque (144 7-1536), 1 963. - Robbin S. Johnson, More s Utopia; Ideal and Jllusion, 1 969. J. H. Hexter, The Vision of Politics on the Eve of the Reformation: More, Machiavelli and Seyssel, 1 973 . M. Fleischer, Radical Reform and Political Persuasion in the Life and Writings ofTh. M. , 1 973. - A. Kenny, Th. M. , 1 983. - G. M. Logan, The Meaning ofMore s Uto pia, 1 983. - H. P. Heínrich, Th. M. , 1 984.
Sobre a influência de Thomas More na América: Síl vio Zavala, La Utopia de Tomás Moro en la Nueva Espa na, y otros estudios, 1 937 [refere-se a Vasco de Quiroga]. Ver ainda a bibliografia do verbete UTO P IA. C: MORENO, JOSÉ LUIS. Ver PSICANÁLISE MORENO ESPINOSA,ALFONSO. Ver KRAusisMo.
MORFOLOGIA. Chama-se com freqüência "morfo
logia" o estudo geral das formas ou estruturas dos seres vivos. Este estudo pode ser realizado de duas maneiras: acentuando os aspectos estáticos, situação na qual a morfologia equivale a uma tipologia, ou acentuando os
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aspectos dinãmicos, situação na qual o desenvolvimento dos seres vivos é incluído no estudo morfológico. Este último foi o método de Goethe ao propor a doutrina das protoformas (por exemplo, da protoplanta). A pro toforma é um modelo a partir do qual se desenvolvem diversas formas (em princípio infinitas) do reino orgâni co, algumas das quais são realmente existentes e outras possíveis, mas não excluíveis no futuro. A morfologia permite assim examinar as metamorfoses dos seres vi vos e estabelecer comparações entre "partes" de seres vivos de diferentes espécies que se desenvolveram a partir do mesmo modelo originário. A doutrina goethea na da morfologia supõe a possibilidade do "livre" de senvolvimento das formas orgânicas. O estudo e o método morfológicos foram aplicados posteriormente ao mundo da cultura como pesquisa das formas culturais (morfologia da cultura) e históricas (morfologia da história). Segundo Spengler, "todos os métodos de compreensão do universo podem ser denonú nados, em última análise, 'morfologia"'. Distingue-se uma morfologia da existência, do mecânico, do que está submetido à lei da causalidade (sistemática) e uma mor fologia do orgânico e da história (fisiognônúca). A apli cação das categorias biológicas à história é um dos mais patentes resultados dessa concepção morfológica, que reduz as culturas a organismos, a estruturas orgânicas submetidas aos mesmos processos que os seres vivos. !) Ver: A. Meyer, Logik der Morphologie im Rahmen einer Logik der gesamten Biologie, 1 926. C: MORGAN, C[ONWY) LLOYD ( 1 852- 1 936). Nasci do em Londres, estudou metalurgia. De 1 878 a 1 883, foi professor no Diocesan College de Rondesbosch (Cidade do Cabo); a partir de 1 884, foi professor de zoologia e geologia no University College, de Bristol. Há uma estreita relação entre os estudos zoológicos, biológicos e psicológicos de Morgan e seu pensamento filosófico; esses dois planos se influenciaram mutua mente. Morgan estudou pormenorizadamente o com portamento animal e concluiu que há características co muns dos animais inferiores aos superiores, aí incluído o homem. Isso não significa, a seu ver, que exista, como afirmou Bergson, algum élan vital (VER) ou alguma espécie de "psiquismo" que abarque todo o reino orgâni co ou ao menos o reino animal. De toda forma, não há para Morgan nenhuma finalidade ou teleologia (a que de resto Bergson também se opunha, considerando-o o an verso do determinismo). Ao mesmo tempo, não se podem explicar os processos orgânicos, e os comportamentos orgânicos, em termos exclusivamente físico-químicos e menos ainda em termos mecanicistas. As "característi cas comuns" de referência devem-se ao fato de todas as espécies se terem desenvolvido no curso da evolução (ver EVOLUÇÃO, EVOLUCIONISMO) . Mas a evolução é enten dida como evolução emergente (vER) . Morgan coincide nesse aspecto com autores como G. H. Lewes e Samuel
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Alexander, que podem ser qualificados como "emergen tistas". Coincide ainda com eles na posição epistemoló gica, a do realismo, ou neo-realismo. Morgan influenciou Alexander, de quem também recebeu influências. A re lação epistemológica entre sujeito e objeto é compreen sível também, segundo Morgan, do ponto de vista do evolucionismo emergentista. Produz-se ao longo da evolução uma hierarquia de terminada pelos elementos emergentes ou "novos". Há, portanto, ao mesmo tempo, uma "unidade" da natureza e uma diversificação de manifestações exteriores que estão a um só tempo coordenadas e subordinadas. Se gundo Morgan, existem dois modos de explicação dos fenômenos: o científico-natural e o "dramático-históri co". O primeiro explica os processos por meio de fato res naturais, e o segundo os explica por meio de atos de agentes. Não se pode desprezar por inteiro nenhuma dessas explicações, já que cada uma funciona adequada mente de acordo com o aspecto da realidade que se exa minar. Contudo, Morgan se inclina pelo segundo tipo de explicação quando se trata de apresentar um quadro me tafisico geral. De fato, no seu entender, o processo da evolução emergente parece mostrar que há um agente - um "quem" - que o dirige por inteiro e não é sim plesmente o termo final da evolução. Este "agente últi mo" pode receber o nome de "Deus". � Obras: Animal Life and Intelligence, 1 890- 1 89 1 . lntroduction to Comparative Psychology, 1 894. - Psycho logy for Teachers, 1 895. - Habit and Instinct, 1 896. Animal Behavior, 1 900. - The Interpretation ofNature, 1 905. - lnstinct and Experience, 1 9 1 2. - Herbert Spencer s Philosophy ofScience, 1 9 1 3. - Emergent Evo lution, 1 923 (Gifford Lectures). - Life, Mind and Spirit, 1 926. - Mind at the Crossways, 1 929. - The Animal Mind, 1 930. - The Emergence ofNovelty, 1 933. Ver: D. Browning, ed., Philosophers ofProcess, 1 965
[Bergson, Peirce, Alexander, Morgan, Dewey, Mead, Whitehead] . C: MORGAN, THOMAS. Ver LIVRE-PENSADORES.
MORGOTT, FRANZ. Ver Nrn-EscoLÁSTICA. MORIN, EDGAR ( 1 92 1 ). Nascido em Paris, foi um dos fundadores e colaboradores da revista Arguments.
Pertenceu ao grupo marxista heterodoxo ou neomarxis mo, de que também fizeram parte, entre outros, Kostas Alexos e Pierre Fougeyrollas. Membro, durante a Resis tência e no pós-guerra, do Partido Comunista Francês, Morin foi expulso em 1 952 devido à sua posição contrá ria à posição chamada "ortodoxa". Mesmo quando era do Partido Morin sentira pouca ou nenhuma simpatia pelas tendências estritamente dialético-materialistas, tendo-se sentido atraído por Hegel, pelo marxismo he geliano de Lukács e por Sartre. Essa atração se mani festou abertamente depois de sua expulsão; liberto da "má fé" que o mantivera no Partido, Morin concluiu que
MORIN, EDGAR
tinha de assumir inteira responsabilidade por seu pen samento. Ele recusou a visão das contradições capi talistas no sentido marxista "tradicional" (ou "oficial"), bem como toda pregação de uma escatologia fundada numa sociedade sem classes da qual fora eliminada toda alienação, a fim de destacar que as contradições são mui to mais profundas, alcançando o fundo da cultura con temporânea e impondo, por assim dizer, um corte verti cal por todas as classes sociais. O marxismo "oficial" representa, segundo Morin, um mascaramento dos ver dadeiros problemas. É sem dúvida necessário fazer uma revolução, mas esta não é apenas política e social, mas total. Por outro lado, nenhuma revolução poderá um dia suprimir as contradições. A revolução total e a total transformação da cultura consistem antes na consciên cia de que sempre vão surgir novas contradições. Como Kostas Alexos e, em parte, Pierre Fougeyrollas, Morin propugnou uma totalidade "aberta" e um pensamento "planetário". A última possibilidade que resta é a de uma revisão e de uma crítica constantes; trata-se da única coisa capaz de evitar o dogmatismo, a reificação e a tendência à imutabilidade. � Obras: L'an zero de l 'Allemagne, 1 946 (com prefácio de Bernard Groethuysen). - A llemagne, notre souci, 1 947. - Une cornerie, 1 948. - L'homme et la mort, 1 95 1 ; nova ed., 1 970. - Les stars, 1 957. - Autocriti que, 1 959; 2ª ed., 1 970. - L'esprit du temps, essais sur la culture des masses, 1 962. - Chronique d 'un été, 1 962 (em colaboração com Jean Rouch). - Marxisme et socio logie, 1 963. - Le cinéma ou l 'homme imaginaire. Essai d 'anthropologie, 1 965. - Introduction à une politique de l 'homme, suivi de Arguments politiques, 1 965. - Com mune en France: la métamorphose de Plodemet, 1 967. - Mai 1 968, i. e., mil neufcent soixante-huit: la Breche. Premieres réjlexions sur les événements, 1 968 (em cola boração com Claude Lefort e Jean-Marc Coudray). La prise de la parole, 1 968. - Le vifdu sujet, 1 969. - La rumeur d 'Orléans, 1 969 (em colaboração com Bernard
Paillard, Evelyne Burguiére, Claude Capulier, Suzanne de Lusignan et ai.). - Journal de Californie, 1 970. -
Le paradigme perdu; la nature humaine, 1 973. - La Méthode, 4 vols.: La nature de la nature, 1 977; II, La Vie de la vie. 1 980; III, La connaissance de la connaissan ce: antrhopologie de la connaissance, 1 986; IV, Les Idées: leur habitat, leur vie, /eurs moeurs, leur organisa tion, 1 99 1 . - L'Unité de l 'homme, 3 vols., 1 978 [coed.
com M. Piatelli-Palmarini, a partir do Colóquio "A uni dade do homem: invariantes biológicas e universos cultu rais", Abadia de Royaumount, 1 972] : vol. I, Le Primate et l 'homme; vol. II, Le Cerveau Humain; vol. III, Por une
anthropologiefondamentale. - Introduction à une politi que de l 'homme, 1 980. - Pour sortir du XX' siecle, 1 98 1 . - Science avec conscience, 1 982. - La Croyance astro logique moderne. -Age d 'homme, 1 982. - De la natu re de / 'URSS: complexe totalitaire et nouvel empire,
MORRIS, CHARLES W.
1 983. - Terre-pathie, 1 983 (com A.-B. Kem). - New York: la vil/e des villes, 1 984. - Le Rose et /e noir, 1 984. - Sociologie, 1 984. - Penser l 'Europe, 1 987. - Mai 68, la bréche: Vingt ans aprés, 1 988 (com Claude Lefort, Comelius Castoriadis). - Vida/ et les siens, 1 889 (com V. Grappe-Nahoum e H. Vida) Sephiha). - Introduction à la pensée complexe, 1 990. Un Nouveau commence ment, 1 99 1 (com G. Bocchi, M. Ceruti). Em português: Amor, poesia, sabedoria, 1 998. Um ano Sísifo - Diário de um fim de século, 1 998. A cabeça bem{eita, 2000. - Ciência com consciência, 1 996. - O cinema ou o homem imaginário, 1 970. Cultura de massas no século XX, vol. 1 , A neurose, 1 997. - Cultura de massas no século XX, vol. 2, s.d. - Cultu ra e comunicação de massas, 1 972. - Da natureza da URSS, 1 983. - A decadência do futuro e a construção do presente, com J. Baudrillard e M. Mattesoli, s.d. As estrelas - mito e sedução no cinema, 1 989. - As grandes questões do nosso tempo, 1 994. - O homem e a morte, 1 997. -A inteligência da complexidade, 2000. - Introdução à política do homem e argumentos filo sóficos, 1 969. - Introdução ao pensamento complexo, 1 990. - O método, I, 1 997. - O método, II, s.d. - O método, III, s.d. - O método, IV, s.d. - Meus demônios, 1 997. - Para sair do século XX, 1 986. - Paradigma perdido, s.d., - Pensar a Europa, 1 997. - Problema epistemológico de complexidade, 1 996. - Saberes glo bais e saberes locais, 2000. - Os sete saberes necessá rios à educação do futuro, 2000. - Sociologia, 1 984. - Terra-pátria, com A. B. Kem, 1 996. Ver: J.-B Fagés, Comprendre E. M. , 1 980. - J.-L. Aranguren, "Lectura de E. M.", Revista de Decidente, 9, 1 98 1 , pp. 1 27- 1 32. - A. Sánchez, "Los dos sexos,
las dos culturas ... por una epistemología no dicotómi ca", Cuadernos de Filosofia de la Ciencia, 1 5- 1 6, 1 989, pp. 379-3 85. e:
MORRIS, CHARLES W. ( 1 90 1 - 1 979). Nascido em Denver, Colorado (EUA), foi "instrutor" de filosofia no Rice Institute (Houston, Texas) ( 1 925- 1 93 1 ) , professor assistente e mais tarde professor titular na Universidade de Chicago ( 1 93 1 - 1 960), bem como, a partir de 1 96 1 , Research Professor na Universidade da Flórida. Morris trabalhou, em estreita relação com os principais represen tantes do empirismo lógico e do pragmatismo, na teoria dos signos (ver SIGNO). Deve-se a ele a influente sistema tização dessa teoria numa semiótica (VER) e a conhecida divisão desta em sintaxe (VER) , semântica (VER) e pragmá tica (VER) . Morris desenvolveu em pormenor os conceitos semióticos fundamentais; e trabalhou em particular com o problema do uso dos signos e das diferentes espécies de comportamento humano relativas a esse uso. Contri buição importante no tocante a isso foi a teoria geral do discurso (VER) e a análises dos diferentes tipos de discur so. Com base nessas pesquisas, Morris ocupou-se tam-
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bém de problemas éticos, políticos e de problemas de comportamento, destacando o papel desempenhado pela linguagem nesses problemas. Sendo o homem concebido como um ser que vive num universo de signos, o exame da relação entre estes e o homem termina por ser, da pers pectiva humana, a questão mais importante. :l Obras: Six Theories ofMind, 1 932. - Logical Po sitivism, Pragmatism and Scientific Empirism, 1 957. - Foundations of the Theory of Signs, 1 938 (Interna tional Encyclopedia ofUnified Sciences, I, 2. - Paths of Life: Preface to a World Religion, 1 942. - Signs: Language and Behavior, 1 946. - The Open Self, 1 948. - Varieties ofHuman Value, 1 956. - Signification and Significance:A Study on the Relations ofSigns and Va lues, 1 964; reimp., 1 970. - The Pragmatic Movement in American Philosophy, 1 970. - Writings on the Gene ral Theory ofSigns, 1 97 1 (inclui reimps. de Foundations of the Theory ofSigns; Signs, Language ans Behavior, o primeiro capítulo de Significatiion and Significance
e outros textos). Ver: F. Rossi-Landi, Ch. Morris, 1 953. - L. N. Ro berts, "Art as Icon. An Interpretation of C. W. Morris", en Studies inAmerican Philosophy, 1 95 5 [Tulane Studies in Philosophy, 4, pp. 75-82]. - Richard A. Fiordo, Stu dies in Semiotics: Ch. Morris and the Criticism ofDiscour se, 1 977. VV. AA., Zeichen über Zeichen über Zeichen. 15 Studien über Ch. W. M, ed. por A. Eschbach. C:
MORTE. Platão afirmou que a filosofia é uma medita ção sobre a morte. Toda vida filosófica, escreveu mais tarde Cícero, é uma commentatio mortis. Vinte séculos depois, Santayana afirmou que "uma boa maneira de pro var o valor de uma filosofia consiste em perguntar o que ela pensa acerca da morte". De acordo com estas opi niões, uma história das formas da "meditação sobre a morte" poderia coincidir com uma história da filosofia. Ora, essas opiniões podem ser entendidas em dois senti dos: em primeiro lugar, no sentido de que a filosofia é exclusiva ou primariamente uma reflexão sobre a morte. Em segundo, no sentido de que a pedra de toque de inú meros sistemas filosóficos é constituída pelo problema da morte. Só este segundo sentido parece plausível. Por outro lado, pode-se entender a morte de duas maneiras. Antes de tudo, de modo ambíguo, e em segui da de modo restrito. Entendida em termos amplos, a morte é a designação de todo fenômeno no qual se pro duz uma cessação. Em sentido restrito, em contrapar tida, a morte é considerada exclusivamente como a mor te humana. O habitual tem sido ater-se a este último significado, às vezes por uma razão puramente termino lógica e outras vezes porque se considerou que apenas na morte humana o ato de morrer adquire plena signi ficação. Isso é evidente, de forma especial, nas orienta ções mais "existencialistas" do pensamento filosófico, tanto as atuais como as passadas. Poder-se-ia de certo modo dizer que o significado da morte tem oscilado en-
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tre duas concepções extremas: uma que concebe o mor rer em analogia com a desintegração do inorgânico e aplica à morte do homem essa desintegração, e a outra que, em contrapartida, concebe inclusive toda cessa ção em analogia com a morte humana. Uma história das idéias acerca da morte supõe, em nossa opinião, uma detalhada análise das diversas con cepções de mundo - e não só das filosofias - existen tes no curso do pensamento humano. Supõe além disso um exame dos problemas relativos ao sentido da vida e à concepção da imortalidade, sej a na forma de sua afirmação ou no aspecto de sua negação. Em todos os casos, vem com efeito disso uma determinada idéia da morte. Vamos limitar-nos aqui a indicar que uma dilu cidação suficientemente ampla do problema da morte implica um exame de todas as formas possíveis de ces sação, mesmo que só se considere como cessação no sentido autêntico, em última análise, a morte humana. Fizemos em outro lugar esse exame (cf. El sentido de la muerte, 1 947, especialmente o cap. I). Disso resul ta, de imediato, que existe uma idéia distinta do fenôme no da cessação de acordo com certas concepções últi mas sobre a natureza da realidade. O atomismo materia lista, o atomismo espiritualista, o estruturalismo mate rialista e o estruturalismo espiritualista defendem, com efeito, uma idéia de morte diferente. Ora, nenhuma des sas concepções entende a morte num sentido suficiente mente amplo, justo porque, a nosso ver, diz-se a morte de várias maneiras (da cessação à morte humana), de modo tal que pode-se até mesmo falar de uma forma de morte específica para cada região da realidade. A analo gia mortis que é a partir disso destacada pode ser expli cada porque - para citar casos extremos -, a concep ção atomista materialista é capaz de entender o fenôme no da cessação do inorgânico, mas não o processo da morte humana, ao passo que a concepção estruturalista espiritualista entende bem o processo da morte humana, mas não o fenômeno da cessação do inorgânico. Não é portanto o caso de adotar determinada idéia do sentido da cessação em determinada esfera da rea lidade e aplicá-la por extensão a todas as outras (por exemplo, de conceber a morte principalmente como cessação da natureza inorgânica, aplicando-se mais tarde esse conceito à realidade humana, nem, inversa mente, de partir da morte humana e em seguida conce ber todas as outras formas de cessação como espécies, talvez "inferiores", da morte humana). Trata-se antes de ver de que maneiras distintas "cessam" várias for mas de realidade e de tentar ver que graus de "cessa bilidade" há no contínuo da Natureza. Em El ser y la muerte ( 1 962), formulei várias proposições relativas à propriedade de "ser mortal", nas quais a expressão "ser mortal" resume todas as maneiras de deixar de ser: " 1 ) Ser real é ser mortal; 2 ) H á diversos graus d e mortali dade, que vão da mortalidade mínima à máxima; 3) A
MORTE
mortalidade mínima é a da natureza inorgânica; 4) A mortalidade máxima é a do ser humano; 5) Cada um dos tipos, por ser incluído 'na realidade', é compreensí vel e analisável, em virtude de sua situação ontológica no âmbito de um conjunto determinado, por duas ten dências contrapostas: uma vai do menos ao mais mortal e outra que segue a direção inversa" (op. cit. , §9). Aquilo que se denomina "morte" é entendido aqui como um fenômeno, ou uma "propriedade", que permite "situar" tipos de entidades no citado "contínuo da Natureza". Tem sido comum estudar filosoficamente o proble ma da morte como problema da morte humana. São abundantes atualmente os estudos biológicos, psicológi cos, sociológicos, médicos, legais etc. sobre a morte, levando em conta casos concretos, as maneiras como, em diferentes comunidades e em diferentes classes so ciais, é encarado o fato de que os seres humanos mor rem. Esses estudos são importantes, visto evidenciarem que a morte humana é, a um só tempo, fenômeno social e natural. Por esse motivo, consideram-se não apenas os "moribundos" e "falecidos" como os sobreviventes. A pesquisa própria a que nos referimos não deixa de lado os citados estudos, mas centra-se na noção de "mor te" (ou de "cessação") como noção geral filosófica e não só como fenômeno humano. Quanto a este último ponto, têm-se contraposto duas teses extremas: segundo uma delas, a morte é simples cessação; de acordo com a outra, a morte é "a própria morte", irredutível e intrans ferível. De nossa parte, julgamos que a chamada "mera cessação" e a morte "propriamente humana" funcionam como conceitos-limite. Da morte humana pode-se dizer que é "mais própria" do que outras forma de cessação, mas, a menos que se separe por inteiro a pessoa humana de suas raízes naturais, deve-se admitir que essa proprie dade nunca é completa. Ao lado da investigação filosófica da morte, pode se proceder a uma descrição e a uma análise das diversas idéias da morte ao longo da história e, de modo parti cular, no curso da história da filosofia. Pode-se então examinar a idéia da morte no naturalismo, no estoicis mo, no platonismo, no cristianismo etc. Também se po dem estudar as diferentes idéias da morte em diversos "círculos culturais" ou em vários períodos históricos. Na maioria dos casos, esse estudo está ligado a um exame das diversas idéias acerca da sobrevivência e da imortalidade (VER) . :l Sobre o problema geral da morte: O. Bloch, Vom Tode. Eine allgemeineverstiindliche Darstellung, 2 vols., 1 909. - G. Simmel, "Zur Metaphisik des Todes", Logos, 1 ( 1 9 1 0- 1 9 1 1 ), pp. 57-70 [reproduzido em Le bensanschauung. Vier metaphysische Kapitel. Cap. III: "Tod und Unsterblichkeit'', 1 9 1 8; 2ª ed., 1 922. - M. Heidegger, Sein und Zeit, I, 1 927, §§ 46-53 . - A. F. Dina, La destinée, la mort et ses hypothéses, 1 927. R. Ruyer, "La morte et l 'existence absolute", Recherches
MORTE
philosophiques, 2 ( 1 932- 1 933), pp. 1 3 1 - 1 74. - Max Scheler, "Tod und Fortleben", em Schriften aus dem Nach/ass, 1, 1 933, reimp. em Gesammelte Werke, vol. 1 0, 1 957. - P. L. Landsberg, Die Erfahrung des Todes, 1 937. - Leopold Ziegler, Vom Tod, 1 937. - 1. Feier, Essais sur la mort, 1 939. - J.-P. Sartre, L'Être et /e Néant, 1 94 3, parte IV. - Romano Guardini, Tod, Aufers tehung, Ewigkeit, 1 946. - Paul Chauchard, La mort, 1 94 7. - José Ferrater Mora, op. cit. no texto do verbete. - R. Troisfontaines, M. d'Halluin et ai. , La mort, 1 948. - Raoul Montandon, La mort, acte inconnu, 1 948. J. Vuillemin, Essai sur la signification de la mort, 1 949. - Béla von Brandenstein, Lehen und Tod. Grundlagen der Existenz, 1 949. - C. J. Ducasse, Nature, Mind and Death, 1 95 1 [The Paul Carus Lectures], 1 949] . - Ed gar Morin, L'homme et la mort, 1 95 1 ; nova ed., 1 970. - F. K. Feigel, Das Prohlem des Todes, 1 952. - José Echeverría, Réjlexions métaphysiques sur la mort et le prohleme du sujet, 1 952. - A. Metzger, Freiheit und Tod, 1 955. - Ursula von Mangoldi, Der Tod ais Antwort aufder Lehen, 1 957. - Ewald Wasmuth, Vom Sinn des Todes, 1 959. - M. F. Sciacca, Morte ed immortalità, 1 959 [Opere complete, vo. 9]. - Jacques Choron, Mo dem Man and Mortality, 1 964. - Ph. Merlan, H. Free man et ai. , Rejlections on Life and Death, 1 965 [arti gos em número especial de Pacific Philosophy Forum ] . -Vladimir Jankélévicht, L a mort, 1 966. - Eugen Fink, Metaphysik und Tod, 1 969. - D. Z. Phillips, Death and Immortality, 1 970. - Fridolin Wiplinger, Der personal verstandene Tod. Todeserfahrung ais Se/hsterfahrung, 1 970. - Warren Shibles, Death: An Interdisciplinary Analysis, 1 974. - Louis-Vincent Thomas, Anthropolo gie de la mort, 1 975. VV. AA., artigos em número espe cial de The Monist, 59, vol. 2, 1 975, intitulado "Philo
sophical Problems ofDeath". - Johannes Schwartlãn der, Hans Heimann et ai. , Der Mensch und sein Tod, 1 976, ed. Johannes Schwartlãnder. - Peter Koesten baum, Is There an Answer to Death ?, 1 976. - Robert M. Veatch, Death, Dying, and the Biological Evolution: Our Last Questfo rResponsahility, 1 976. - R. M. Chi sholm, P. Edwards et ai. , Language, Metaphysics, and Death, 1 978, ed. J. Donnelly. - G. Scherer, Das Pro hlem des Todes in der Philosophie, 1 979; 2ª ed., 1 988. - H. Ebeling, Freiheit, Gleichheit, Sterhlichkeit, 1 982. - J. F. Rosenberg, Thinking Clearly Ahout Death, 1 983. - Ph. Ariés, E! homhre ante la muerte, 1 983. - A. Hartle, Death and the Disinterested Spectator: An Inqui ry into the Nature ofPhilosophy, 1 986. - R. F. Alme der, Death and Personal Survival: The Evidence for Life After Death, 1 992. - J. M. Fischer, ed., The Meta physics of Death, 1 993 . É preciso acrescentar a essa bibliografia os trabalhos de autores que, sem ter dedicado obras especiais ao pro blema da morte, consideraram-no central; é o caso de
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Unamuno em Dei sentimiento trágico de la vida, Jaspers etc. Ver também a bibliografia do verbete IMORTALIDADE. Sobre o problema da morte especialmente no senti do biológico: A. Weismann, Die Dauer des Lehens, 1 882. - A. Dastre, La vie et la mort, 1 909. - Doflein, Das Unsterhlichkeitsprohlem in Tzerreich, 1 9 1 3 . (Para um re sumo em linguagem não especializada das investigações sobre o chamado problema da imortalidade da célula, ver Metalnikof, La lucha contra la muerte; nele, faz-se referência às pesquisas de Metchnikoff, Maupas, Wood ruff, Calkins etc.) - Lipschütz, Allgemeine Physiologie des Todes, 1 9 1 5. - P. Kammerer, Einzeltod, Volkertod, hiologische Unsterhlichkeit, 1 9 1 8. - G. Bohn, Les pro hlemes de la vie et de la mort, 1 925. - M. Vemet, La vie et la mort, 1 952 (contra as teses mecanicistas de A. Das tre). - D. N. Walton, On Defining Death: An Analytic Study of the Concept of Death in Philosophy and Me dical Ethics, 1 979. - D. Lamb, Death, Brain, and Ethics, 1 985. - R. M. Zaner, ed., Death: Beyond Whole-Brain Criteria, 1 988. - M. P. Battin, The Least Worst Death: Essays in Bioethics on the End of Life, 1 993.
Sobre o problema da morte, com atenção especial à questão do envelhecimento: Ewald, Ueher A ltern and Sterhen, 1 9 1 3 . - Eugen Korschelt, Lehensdauer, Altern und Tod, 1 9 1 7; 3ª ed. aum., 1 924. - Rafael Virasoro, Envejecimiento y muerte, 1 939. - Hans Driesch, Zur Prohlematik des Alterns, 1 942. - Roger Mehl, Le vieil lissement et la mort, 1 955; nova ed., 1 962. - M. Amiou, A. Berge, R. Biot et ai. , La vieillesse, prohleme d 'au jourd 'hui, 1 96 1 [Groupe lyonnais d'études médicales philosophiques et biologiques ]. - R. F. Weir, ed., Ethical lssues in Death and Dying, 1 977. - B. R. Barber, Advan ce Directives and the Pursuit ofDeath with Dignity, 1 993. O problema da morte em diversas culturas, épocas e autores: F. Lexa, Das Verhii.ltnis des Geistes, der Seele und Leihes hei den Aegyptern des alten Reiches, 1 9 1 8. - E. Stettner, Die Seelenwanderung hei Griechen und Romern, 1 954. - E. Benz, Das Todesprohlem in des stoischen Philosophie, 1 929. - J. Fallot, Le plaisir et la mort dans la philosophie d 'Épicure, 1 952. - J. Fis cher, Studien zum Todesgedanken in der alten Kirche, 1, 1 954. - Jaroslav Pelikan, The Shape of Death: Life, Death, and Immortality in the Early Fathers, 1 96 1 . Philippe Aries, Western Attitudes Toward Death; From the Middle Ages to the Present, 1 974 [conferências na Johns Hopkins University, 1 973, pronunciadas em fran cês] . - Maria Josefa González-Haba, La muerte en e! pensamiento dei Maestro Eckhart, 1 959. - Mario J. Valdés, Death in the Literature of Unamuno, 1 964. J. Wach, Das Prohlem des Todes in der Philosophie un serer Zeit, 1 934. - A. Sternberger, Der verstandene Tod. Eine Untersuchung üher M. Heideggers Existentia lontologie, 1 934. - James M. Demske, Sein, Mensch und Tod. Das Todesprohlem hei M. Heidegger, 1 963
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MOTIVO
(há também edição inglesa). - K. Lehman, Der Tod bei Heidegger und Jaspers. Ein Beitrag zur Frage: Exis tentialphilosophie, Existenzphilosophie und protestan tische Theologie, 1 939. - Régis Jolivet, Le probléme de la mort chez M. Heidegger et J-P. Sartre, 1 950. Ugo Maria Ugazio, II problema dei/a morte nellafilo sofia di Heidegger, 1 976. - Ferdinand Reisinger, Der Tod in marxisten Denken heute, 1 977. - P. Edwards, Heidegger and Death: A Criticai Evaluation, 1 980. P. Ariés, La muerte en Occidente, 1 982. - R. Boothby, Death and Desire: Psychoanalytic Theory in Lacan s Return to Freud, 1 99 1 . Bibliografia: S . Southard, Death and Dying: A Bi bliographical Survey, 1 99 1 . � -
MORTE DE DEUS. Ver DEus, MoRTE DE. MOSCA, GAETANO ( 1 858- 1 94 1 ). Nascido em Paler mo, ensinou Direito Constitucional na Universidade de Turim (a partir de 1 896) e História das Instituições e das Doutrinas Políticas na Universidade de Roma (a partir de 1 924). Mosca elaborou uma teoria da sociedade segundo a qual toda sociedade se acha sempre governada por uma minoria organizada a que dá o nome de "classe política". A minoria nem sempre é necessariamente a detentora dos meios de produção, do poder militar ou de um "poder herdado" ou qualquer outra forma de domínio. No curso da história se manifestaram muitos tipos distintos de "classes políticas''. É comum a todas elas a formulação de princípios - a chamada "fórmula política" - que justificam o exercício do poder. Embora a classe domi nante, a minoria ou élite, possa ser considerada a "aristo cracia" e a classe dominada, a "democracia", e ainda que haja entre estas uma luta permanente, bem como, por ve zes, a substituição da primeira por um grupo organizado da segunda, não é necessário que essa classe dominante seja autocrática ou ditatorial. Há limites na posse e no exercício do poder: limites gerais e limites específicos das épocas ou classes envolvidas. Comparou-se a filosofia política de Mosca com a doutrina das élites de Pareto e com as teorias de "circu lação das élites" como motor das mudanças históricas. :> Obras: Sul/a teorica dei governi e sul governo par lamentare, 1 884; 2ª ed., 1 925. - Le costituzioni mo derne, 1 887. - Elementi di scienza politica, 1 895; 2ª ed., 1 896; 3ª ed., 1 923; 4ª ed., 1 947; 6ª ed., 1 953. - l/
principio aristocratico ed il democratico nel passato e nell 'avvenire, 2 vols., 1 902- 1 903. - Lezione di storia dei/e istituzioni e dei/e dottrine politiche, 1 932; nova ed., com o título Historia dei/e dottrine politiche, 1 937. Partiti e sindacati nella crisi dei regime parlamen tare, 1 949 (coletânea de vários escritos já publicados -
em revistas e de alguns outros inéditos). Bibliografia: M. delle Piane, Bibliografia di G. M. , 1 949.
Ver: M. delle Piane, G. M. : classe politica e libera lismo, 1 952 (com bibliografia aumentada com relação à de 1 949). - James H. Meisel, The Myth ofthe Ruling Class: G. M. and the Elite, 1 958. - M. Finocchiaro, "Logic, Democracy, and Mosca", em E. C. W Krabbe, ed., Empírica/ Logic and Public Debate, 1 993. � MOSTERÍN, JESÚS. Ver ANALÍTICO e SINTÉTico; CoN JUNTo; RACIONALIDADE. MOSTRAÇÃO. Ver DEMONSTRAÇÃO; DESCRJÇÃO. MOTIVO. Pode-se entender por "motivo", motivum, "aquilo que move" ou "algo que move''. Nesse sentido, um motivo é um produtor de movimento. Nessa qualida de, é uma causa, chamada causa motivadora. Essa causa foi por vezes concebida como causa direta (num sujeito humano, o motivo que o impele a fazer o que faz) ou como causa final (a razão pela qual o sujeito humano faz o que faz). Veremos adiante se há razão para estabelecer uma distinção entre "razão" - no sentido de "razão de (ou pela qual)" - e "motivo''. A tendência originária é de estabelecer uma estreita relação entre motivo e cau sa que move. Costuma-se citar Aristóteles (De an. , III, 1 O, 433 b 1 3-30) com respeito à noção de motivo. Aristóteles indica que todo movimento contém três fatores: "o que dá origem ao movimento, aquilo por meio de que o ori gina e aquilo que é movido''. Ele escreve que há ambi güidade na expressão "o que dá origem ao movimento", já que pode ser algo que em si mesmo não se mova ou que ao mesmo- tempo move e é movido. O que move sem ser movido é o bem; o que move e ao mesmo tempo é movido é a faculdade do apetite (VER). Esta última parece a mais próxima do que se veio mais tarde a de nominar "motivo''. Ser capaz de apetite é ser capaz de movimento por si mesmo, ou automovimento. O apeti te faz que o sujeito se mova (em Aristóteles, não só os homens como também os animais). É sua causa motora ou ao menos uma de suas causas motoras. Aristóteles se referia não só a uma produção de mo vimento por um instrumento psíquico ou mental como por um corporal. Mais tarde tendeu-se a entender o moti vo como "motivo psíquico", isto é, como motor que, em bora possa ser posto em movimento por algum processo corporal, tem natureza mental. Compreendeu-se freqüen temente "motivo" como algo que move a vontade ou é a causa de atos voluntários. Se se consideram apenas apenas atos ou estados mentais, o motivo como causa de atos voluntários pode ser determinado ato ou estado mental em virtude do qual se executa o ato voluntário. Muitas das discussões relativas à natureza e ao modo de operação dos motivos ocorreram no âmbito dos debates sobre a natureza e os modos de operação da vontade (ver VONTADE, VoLUNTARJSMO). Muitos autores têm opinado que o intelecto move a vontade e isso que
MOULINES, CARLOS ULISES
dizer, de modo geral, que se executa um ato voluntário em virtude de algum fim expresso, ou exprimível, ra cionalmente. Outros têm julgado que é errôneo pre tender que o intelecto, mesmo entendido como "razão" ou "fim" mova a vontade, tendo afirmado que a única coisa que ele pode fazer é "incliná-la". Os que insistem no caráter motor, ou motriz ("motivo" como adjetivo), do intelecto foram denunciados como "intelectualistas". No tocante a isso, diz-se que cabe falar de motivos não intelectuais e, de modo particular, de motivos afetivos ou sentimentais (tendo inclusive havido referências a "motivos inconscientes"). Fala-se ainda de motivos internos e motivos exter nos, mas nem sempre ficou claro o que se pode entender por uns e por outros. Se os motivos são mentais - se estão na mente de um sujeito, ou de um organismo -, podemos chamá-los de motivos "internos"'. Por outro lado, os motivos podem ser apresentados como "razões" ou "móveis" que, embora internalizados por um sujei to ou organismo, são de algum modo "externos" ao conjunto de atos mentais. Apesar do sentido original de "motivo" como fator motriz, tem havido a tendência de distinguir motivos de causas: o motivo pelo qual alguém faz o que faz não é necessariamente, alegou-se, a causa que o faz fazer o que faz. Isso não quer dizer que haja uma espécie de "reino dos motivos" que independa por inteiro do "reino das causas". É possível admitir que há motivos sem desprezar as explicações causais. Contudo, uma análise de expressões da forma " . . . causa . . ." mostra que nem sempre é possível traduzi-las em expressões da forma " . . . é o motivo de . . .". Para esclarecer o sentido de "motivo", propuseram se várias distinções. Mencionamos dois exemplos delas. Jean-Paul Sartre (L'Être et /e Néant, 1 943, pp. 522-523) indica que "entende-se ordinariamente por motivo a razão de um ato, isto é, o conjunto das considerações ra cionais que o justificam", como quando se diz que um governo decide reduzir os gastos públicos dando-se como motivo de sua decisão o equilíbrio orçamentário. Assim, cabe chamar de "motivo" a "apreensão subj eti va de uma situação determinada enquanto esta se revela, à luz de certa finalidade, como algo que pode servir de meio para alcançar esse fim". O motivo se distingue do "móvel", que "é considerado ordinariamente como um fato subjetivo", como um "conjunto de desejos, de emoções e de paixões que me impelem a realizar dado ato". Os psicólogos, afirma Sartre, se interessam por móveis, ao contrário dos historiadores, que procuram motivos. Kurt Baier ( The Moral Point of View: A Ra tional Basis for Ethics, 1 958, pp. 1 56- 1 62) distingue entre razões e motivos. O termo "razão", escreve Baier, faz sua aparição quando se trata de deliberações, justi ficações e explicações; em contrapartida, "motivo" é
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usado apenas propriamente quando se trata de explica ções. "Quando distinguimos entre 'razão' e 'motivo' - continua a dizer o autor -, distinguimos, portanto, simplesmente entre 'razão' e 'motivo' usados na expli cação, como em 'a razão pela qual eu . . . ' e 'a razão por que . .. ' . A primeira expressão implica certa classe de comportamentos, isto é, um comportamento deliberado, e um tipo correspondente de explicação, ou seja, uma explicação por meio das próprias razões do agente. A segunda expressão é sinônima de 'a explicação de . . . . ' Trata-se de dois níveis distintos de complexidade. Em alguns casos, as razões podem ser tratadas co mo causas, mas isso ocorre porque elas exprimem de fato causas. Noutros casos, distinguem-se razões de cau sas, mas nesse caso se está apresentando o problema tradicional - de saber se e até que ponto as razões são de algum modo "determinantes" e em que consiste seme lhante "determinação". Pode haver uma ampla gama de casos que vão de algo semelhante, senão idêntico, à cau sação, até algo que se aproxima de uma justificação. � Ver: Julius Bahnsen, Zum Verhiiltnis zwischen Wille und Motiv, 1 870. - Paul Diel, Psychologie de la motiva tion. Théorie et application thérapeutique, 1 948; 2ª ed., 1 962. - R. S. Peters, The Concept ofMotivation, 1 958. - L. Ancona, F. V. Buytendijk et ai. , La motivation, 1 959 [Symposium Florencia, 1 958]. - K. 8. Madsen, Theo ries of Motivation: A Comparative Study of Modern Theories ofMotivation, 1 959; 2ª ed., 1 96 1 (tese). - R. Lawrence, Motive and Intention: An Essai in the Appre ciation ofAction, 1 972. - M. Nowakowska, Language of Motivation and Languages of Actions, 1 973. - R. Martin, Contribution à l 'étude du concept de "motiva tion , 1 975 (tese). - J. R. Royce, W Day et al. , Nebraska Symposium on Motivation (19 75), 1 976, ed. James K. Cole, William J. Arnold. F. Schick, Having Reasons, 1 984. - S. Chandrasekhar, Truth and Beauty: Aesthetic and Motivations in Science, 1 987. � "
.. MOULINES, CARLOS ULISES ( 1 946). Nascido em Caracas (Venezuela), foi (de 1 976 a 1 983) profes
sor do Instituto de Investigações Filosóficas da Univer sidade Autônoma do México (UNAM), da Universida de de Bielefeld (de 1 984 a 1 988) e da Universidade Li vre de Berlim (de 1 988 a 1 993), sendo, a partir de 1 993, professor e diretor do Instituto de Filosofia, Lógica e Teoria da Ciência da Universidade de Munique, na qua lidade de sucessor de Wolfgang Stegmüller. Embora seja possível considerar Moulines filósofo da ciência, suas contribuições abarcam a teoria do conhe cimento, a ontologia e a história da ciência. Numa pri meira fase, plasmada em seu La estructura dei mundo sensible ( 1 973), Moulines critica o realismo e, depois de analisar os sistemas fenomenalistas de Russell, Car nap e Goodman, propõe um sistema fenomenalista (ver FENOMENISMO) que vai além do de Camap.
MOUNIER, EMMANUEL
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Numa segunda fase, abandona o fenomenalismo estrito para defender um programa estruturalista que, além disso, conta como principais representantes com Sneed, Stegmüller (VER) e Balzer. É esse o momento em que se manifesta mais claramente a perspectiva meta filosófica adotada por Moulines, exposta nos primei ros capítulos de Exploraciones metacientíficas ( 1 982) e de Pluralidade y recursión ( 1 99 1 ). Trata-se de uma perspectiva "gradualista" e "recursivista" que tem seme lhanças com o integracionismo (vER) de Ferrater Mora - e que foi por ele influenciada. No plano metateórico, são as seguintes as principais contribuições de Mouli nes: a introdução do conceito de "princípio orientador", a formalização dos mecanismos de aproximação empí rica, a categorização geral das relações interteóricas e o esboço de uma "pragmática diacrônica" das teorias. No campo da ontologia, Moulines defende duas te ses independentes porém combináveis: 1) a de que não é possível separar a a ontologia da semântica (vindo daí a denominação "onto-semântica"); e 2) a de que não é plausível supor uma só categorização ontológica funda mental (sendo por isso que fala de "pluralismo ontológi co" e por que rejeitou o materialismo como monismo ontológico). Na esfera da história da ciência, Moulines ocupou se sobretudo dos pressupostos metodológicos e episte mológicos de Newton, Helmholtz e Gibbs. :> Obras: La estructura del mundo sensible. Sistemas fenomenalistas, 1 973 . - Zur logischen Rekonstruktion der Thermodynamic. - Eine wissenschaftstheoretischen Analyse, 1 975 (Para a reconstrução lógica da termodi nâmica. Uma análise teórico-científica). - Exploracio nes metacientíficas. Estructura, desarollo y contenido de la ciencia, 1 982. - An Architectonic for Science. The Structuralist Program, 1 987 (com W. Balzer e J. D. Sneed). - Pluralidad y recursión. Estudios episte mológicos, 1 99 1 . - Moulines é igualmente editor de La ciencia: estructura y desarollo, 1 993 [Enciclopedia
lberoamericana de Filosofia, vol . 4] .
.. C:
MOUNIER, EMMANUEL ( 1 905- 1 950). Nascido em Grenoble, foi agregé de filosofia em 1 928. Muito im
pressionado com o pensamento e a personalidade de Charles Péguy, Mounier enfrentou a crise histórica de sua época - crise real, social e política, não menos que intelectual - por meio de uma resoluta atitude de cristão personalista. Mounier pode ser qualificado como "revolucionário cristão"; ele se opõe a toda desperso nalização e é inimigo acérrimo tanto do conservadoris mo reacionário como do pseudo-revolucionarismo fas cista. Filosoficamente, Mounier é apresentado como um dos principais, e mais ativos, representantes do perso nalismo cristão na França. Para difundi-lo, e sobretudo para tratar à luz dele de todas as questões políticas,
sociais e educativas que se iam sucedendo, Mounier fundou em 1 932 a revista Esprit, que continuou a ser publicada depois de sua morte e cuja publicação foi suspensa apenas entre 1 94 1 e 1 944, durante a ocupação alemã. Mounier considera que é dever dos cristãos en frentar os grandes problemas de sua época sem se refu giar em cômodas posições conservadoras: o cristianismo é antes de tudo uma doutrina de renovação das almas, mas isso não exclui que seja ao mesmo tempo o fermento para uma renovação da realidade. Daí o interesse de Mounier por posições como o marxismo, na medida em que aspira a combater a reificação do homem, em bora não na medida em que nega a pessoa. Do ponto de vista estritamente filosófico, o pensamento de Mounier se aproxima em diversos aspectos do de Jaspers, espe cialmente no tocante à questão da comunicação. In dicamos no verbete Personalismo (vER) as caracteristi cas que, segundo Mounier, "o universo pessoal" apre senta, destacando aqui duas condições que ele menci onava com freqüência: a eminente dignidade da pes soa e o motivo da transcendência. Sem este último que explica a pessoa como "o movimento do ser na direção do ser" -, o caráter pessoal se desfaria por falta de apoio ou, melhor dizendo, de "radicação". Ver também EXISTENCIALISMO. :> Obras: La pensée de Charles Péguy, 1 932. Révolu tion personnaliste et communautaire, 1 934. - De la pro prieté capitaliste à la proprieté humaine, 1936. - Mani feste au service du personnalisme, 1 936. - L'affronte ment chrétien,- 1 944. - Liberté sous conditions, 1946. Traité du caractere, 1 946. - Introduction aux existencia lismes, 1 946. - Qu 'est-ce que le personnalisme?, 1 947. - La petite peur du XX' siécle, 1 949. - Le personnalis me, 1 949. - Carnet de route, 1950. Feu de la chrétienté, 1 950. - Emmanuel Mounier et sa génération, 1 956 (no
tas, diários, cartas e recordações de E. Mounier]. Edição de obras: Oeuvres Complétes: !. Oeuvres, 1931-1939, 1961 ; !!. Traité du caractére, 1 96 1 ; /II. Oeu vres, 1944-1 95 O, 1 962; Jv. Recueils posthumes. Corres pondance, 1 963 [com bibliografia]. Em português: A esperança dos desesperados: Malraux, Camus, Sartre, 1 972. Quando a cristan dade morre, 1 972. O personalismo, 1 964. - Ma nifesto ao serviço do personalismo, 1 967. Ver: N. Zaza, Étude critique de la notion d 'engage ment chez E. M. , 1 955. A Rigobello, Jl contributo filosofico di E. M. , 1 957. - Candide Moix, La pensée d 'E. M., 1 960. - Lucien Glissard, M., 1 963. - G. Cam parini, li pensiero politico di E. M. , 1 968. Carlos Díaz Hemández, Personalismo obrero: Presencia viva de M. , 1 969. - !d., M. : Ética y política, 1 975. Michel Barlow, Le socialisme d 'E. M. , 1 97 1 . - Jean Marie Domenach, E. M. , 1 972. - H. Meléndez, De la -
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propiedad a la revolución: Ensayo de interpretación
MOVIMENTO
dei pensamiento social de E. M. , 1 972. - R. Rauch, Politics and Belief in Modern France: E. M. and teh Christian Democratic Movement, 1932-1950, 1 972. Jean-Marie Roy, M. aux prises avec son siécle. !. L'expérience spirituelle, 1 972. VV. AA., M. a los 25 anos de su muerte, 1 975, ed. A. H. Sariano. - J. Amato, M. and Maritain: A French Catholic Understanding of the Modern World, 1 975. - P. Rangel, E. M. : Um pen samento dentro da vida, 1 976. - J. Hellman, E. M. and the New Catholic Left, 1930-1950, 1 98 1 . - G. Goisis, L. Biagi, M. fra impegno e profezia, 1 990. É publicado ainda hoje um Bulletin des amis d 'E. M C: MOVIMENTO. O termo "movimento" tem com fre
qüência a mesma significação de "mudança" e de "de vir". Em princípio, o que dissemos acerca do conceito de devir (vER) pode aplicar-se ao conceito de movimento. Falar-se-á então das diversas espécies de movimento a que se referia Aristóteles (geração, corrupção, aumento, diminuição, alteração, translação), bem como do pro blema do movimento como um dos problemas funda mentais da filosofia. Contudo, pode-se adotar a convenção de usar "mo vimento" para referir-se a dois conceitos mais especí ficos: um, o de translação, deslocamento ou movimento local; o outro, o de movimento no sentido em que essa noção tem sido empregada na moderna ciência da Na tureza e na filosofia dessa ciência. Esses dois conceitos se acham além disso estreitamente vinculados entre si. De fato, uma das características dessa ciência é a de negar-se a tratar do problema da "mudança ontológica" e de reduzir a questão da mudança à do deslocamento de partículas no espaço. Os atomistas gregos já haviam antecipado essa redução, visto que os átomos não se "al teravam" em termos de sua natureza e as mudanças dos corpos eram explicadas por meio de translações espa ciais. E o próprio Aristóteles seguiu por vezes o mesmo caminho, sobretudo ao tratar com detalhes aquilo a que dava o nome de "movimento local". O movimento no sentido assinalado tem sido um tema central da ciência e da filosofia modernas da Na tureza; como o indicou Einstein, ele tem sido uma das chaves fundamentais da "leitura do livro da Natureza". As noções mais importantes no tocante a isso têm sido as seguintes: 1) O princípio de inércia ( VER) de Galileu ( VER) , an tecipado em parte pela concepção medieval do ím peto (VER) . 2) A concepção da relatividade dos movimentos na fisica moderna anterior à teoria da relatividade: os movimentos dos sistemas são relativos, porém no interior de dois sistemas absolutos de referência (o espaço e o tempo) [e depois o éter]. 3) O princípio cartesiano da conservação do movimen to. De acordo com ele, a quantidade de movimento (produto da massa pela velocidade) é constante.
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4) A correção leibniziana do princípio de Descartes: a
constância assinalada vale somente para o produto da massa pelo quadrado da velocidade. 5) As leis newtonianas do movimento: 1. Todo corpo se mantém em seu estado de repouso ou de movi mento uniforme e em linha reta a não ser quando muda de estado obrigado por forças externas (inér cia galileana). II. A mudança do movimento é pro porcional à força motora impressa, efetuando-se na linha reta em direção à qual se imprime a referida força. III. A toda ação opõe-se uma ação contrária e igual, isto é, as ações entre dois corpos são sem pre iguais entre si e dirigidas em sentido contrário. 6) A teoria da relatividade (vER) einsteiniana: todos os movimentos são relativos ao sistema de referên cia no qual se acha o observador que os mede. Eins tein declara além disso ser necessário distinguir entre a imagem estática e a imagem dinâmica do mo vimento: a primeira "consiste em imaginar o movi mento como uma série de eventos no contínuo uni dimensional do espaço, sem combiná-lo com o tem po"; a segunda, em considerar o movimento efetuan do-se num contínuÓ bidimensional espaço-tempo. No primeiro caso, há simples movimento e, no se gundo, "o movimento é representado como algo que é, que existe no referido contínuo" (cf. La fisi ca, aventura dei pensamiento, cap. III).
� Conceito de movimento: Filippo Masci, Sul concet to dei movimento, 1 892. - Eugen Fink, Zur ontologis chen Frühgeschichte vom Raum, Zeit, Bewegung, 1 957. - L. C. Beckett, Movement and Emptiness, 1 968. H. A. Pieters, A Psychologist Looks at Space, Motion and Time: An Essay, 1 972. - W. C. Salmon, Space, Time, and Motion: A Philosophica/ Introduction, 1 975. Realidade do movimento: Jean Rivaud, La realité du mouvement (tomo II da obra De la matiére à l 'es prit), 1 946. Princípios do movimento fisico: Von Dungern, Ue ber die Prinzipien der Bewegung, das Wesen der Ener gie und die Ursache des Stossgesetzes, 1 92 1 .
Evolução histórica do conceito de movimento: L. Lange, Die geschichtliche Entwicklung des Bewegungs
begriffs und ihr voraussichtliches Endergebnis. Ein Bei trag zur historischen Kritik der mechanischen Prinzi pien, 1 886.
O movimento em vários autores e épocas: M. T. A. O'Neill, The Presocratic Use of àpxfi as Termfor the Principie of Motion, 1 9 1 5 (tese). - W. Barrett, Aris
totle s Analysis ofMovement: lts Significancefor Its Time, 1 93 8 (tese). - Friedrich Kaulbach, Der philosophische Begriff der Bewegungs. Studien zu Aristoteles, Leibniz und Kant, 1 965. - Matthias Gatzmeier, Die Naturphi losophie des Stratos vom Lampsakos. Zur Geschichte des Problems der Bewegung im Bereich desfrühen Peri patos, 1 970. - Ernst Borchert, Die Lehre von der Be-
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wegung hei Nicolaus Oresme, 1 934. - Hans Reichenba ch, Die Bewungslehre in Newton, Leibniz und Huyghens, 1 9 1 3 [Kantstudien, Ergãnzungshefte, 29]. - H. Shapiro, Motion, Time and Place According to William Ockam, 1 956. - A. Koyré, ChUte des corps et mouvement de la terre de Kepler à Newton (Histoire et documents d 'un probleme), 1 973. - J. A. Weisheipl, Nature and Motion in the MiddleAges; Studies in Philosophy and the History of Philosophy, vol. II, 1 985, ed. W E. Carrol!.
O movimento na teoria da relatividade: Karl Vog therr, Das Problem der Bewegung in naturphiloso phischer und physikalischer Sicht, 1 956. - P. K. Ma chamer, R. G. Tumbull, eds., Motion and Time, Space and Matter: The Interrelations in the History ofPhiloso phy and Science, 1 976. Ver também a bibliografia do verbete DEVIR. e MUGUERZA, JAVIER. Ver "É "-"DEvE"; INTERPARA DIGMÁTico; PREFERIDOR RACIONAL. MUIRHEAD, JOHN HENRY. Ver HEGELIANISMO. MÜLLER, ALOYS ( 1 879- 1 952). Nascido em Euskir chen (Renânia), estudou e se "habilitou" na Universi dade de Bonn ( 1 92 1 ), da qual foi "professor extraordi nário" a partir de 1 927. Aloys Müller interessou-se so bretudo pelo problema da relação entre a filosofia e as ciências. Hostil, por um lado, ao irracionalismo e de ou tro, ao cientificismo positivista, Aloys Müller tendeu cada vez mais a considerar a filosofia da ciência com uma análise ontológica dos conceitos científicos capi tais. Ele defendeu uma teoria do conhecimento realista, uma teoria dos valores objetivista e uma ontologia ba seada numa classificação geral prévia de tipos de obje tos. Esta última classificação, segundo a qual os objetos se distribuem em reais, ideais, metafisicas e valores, teve notória influência nos países de língua espanhola por meio da tradução e difusão da introdução à filosofia de Müller. Típico do pensamento deste é considerar que a verdade é uma forma de realidade e não um valor. � Obras: Das problem des absoluten Raumes, 1 9 1 1 ; 2ª ed. com o título Die philosophischen Probleme der
Einsteinschen Relativitiitstheorie, 1 922 (O problema do espaço absoluto; 2ª ed., Os problemasfilosóficos da teoria da relatividade de Einstein). - Wahrheit und Wir klichkeit, 1 9 1 3 ( Verdade e realidade). - Die Gegens tand der Mathematik, mit besonderer Beziehung aufdie Relativitiitstheorie, 1 922 (O objeto da matemática, com especial referência à teoria da relatividade). - Einlei tung in die Philosophie, 1 925; 2ª ed. aum., 1 93 1 . Refundição desta obra no livro Welt und Mensch in ihrem irrealen Aujbau, 1 947; 4ª ed., 1 95 1 (Mundo e homem em sua estrutura irreal). Psychologie, 1 927. Obra póstuma: Schriften zur Philosophie, 2 vols., 1 967- 1 969, ed. Comei J. Bock. Ver: F. Kluge, Die Philosophie der Mathematik und der Naturwissenschaft beiA. Müller, 1 935 (tese). - H. Stoffer,
MÜLLER-FREIENFELS, RICHARD
"Die gegenstandstheoretische Naturphilosophie A. Mül lers", Philosophia Natura/is, º 3, 1 954, pp. 98- 1 50. e MÜLLER, JOHANNES ( 1 80 1 - 1 858). Nascido em Co blenza, foi professor de fisiologia, a partir de 1 826, em Bonn e, de 1 933, em Berlim, tendo exercido grande in
fluência sobre a psicologia e a teoria do conhecimento, especialmente no tocante à sua doutrina da energia espe cífica dos sentidos. Referimo-nos a esta última no verbete sobre a noção de energia (VER) . Acrescentemos aqui que a afirmação de que há uma subjetividade das qualidades sensíveis não significa em Johannes Müller que haja qua lidades "inatas"; em seu propósito, a doutrina em questão refere-se à estrutura dos nervos sensoriais. Müller traba lhou ainda com o problema das afecções como manifes tações do impulso de autoconservação. � Obras: Zur vergleichenden Physiologie des Gesichts sines der Menschen und der Tiere, 1 826 (Para afisiolo gia comparada do sentido da visão no homem e nos ani mais). - Ueber die phantastischen Gesichtserschei nungen, 1 826 (Sobre osfenômenos visuaisfantásticos). - Handbuch der Phisiologie des Menschen, 2 vols., 1 883- 1 840 (Manual de fisiologia humana). Ver: K. Post, 1 Müllers philosophische Anschauun gen, 1 905. - M. Müller, Ueber die philosophischeAns chauungen des Naturforschers 1 Müller, 1 927. - U. Ebbecke, 1 M., dergrasse rheinische Physiologue, 1 95 1 . - G . Koller, Das Leben des Biologen 1 M. , 1 958. e MÜLLER-FREIENFELS, RICHARD ( 1 882- 1 949).
Nascido em Bad Ems. A partir de 1 930 foi professor da Academia· Pedagógica de Stettin; a partir de 1 93 3 , professor da Escola Superior de Comércio, de Berlim; e, a partir de 1 946, da Universidade de Berlim. Müller-Freienfels interessou-se pela psicologia da arte, recusando as orientações positivistas e sensualistas e apoiando-se numa concepção da vida psíquica como uma "totalidade que inclui, estreitamente vinculados entre si, os fenômenos voluntários e os emotivos. Trata se, portanto, de uma "psicologia vital", para a qual Mül ler-Freienfels encontrou apoio em Nietzsche e Klages, bem como em algumas orientações pragmatistas (como as de James). Isso o conduziu a uma teoria do conheci mento fundada na idéia de que a chamada "objetiva ção" é somente, no máximo, um momento derivado de uma "posição do real" efetuada pelo sujeito. O conhe cimento do real é determinado por uma série de "intenções" que não precisam ser forçosamente "fina lidades úteis". As "intenções" são a expressão do su jeito como "sujeito total". Müller-Freienfels se opôs aos que descartam os elementos irracionais presentes ao conhecimento, procurando mostrar que todo conhe cimento - e, de modo geral, toda atividade humana - está fundado em complexos nos quais os dados racionais são apenas um aspecto ou elemento.
MÚLTIPLO. MULTIPLICIDADE
Müller-Freienfels desenvolveu uma psicologia e uma metafisica da individualidade enquanto ligada a um mundo e à "visão de mundo". Trata-se de uma "me tafisica do irracional" na qual as "forças irracionais" formam um sistema. Este é em última instância "o siste ma das vivências", cuja divisão em aspectos ou mesmo em atividades específicas é, ao ver de Müller-Freienfels, inadequada. :l Obras principais: Psychologie der Kunst, 2 vols., 1 9 1 2 (Psicologia da arte). A segunda edição desta obra ( 1 920) foi sobremodo ampliada: I. Allgemeine Grundle gung und Psychologie des Kunstgeniessens (Fundamento geral e psicologia da fruição artística); II. Psychologie des Kunstschaffens, des Stils und der Wertung (Psicologia da criação artística, do estilo e da valoração); Ill System der Künste. Die psychologischen Grundlagen der ein zelnen Kunstweige (Sistema das artes. Os fundamentos psicológicos dos diversos ramos artísticos). - Poetik aufpsychologischer Grundlage, 1 9 1 4 (Poética comfun damento psicológico). - Individualitiit und Weltans chauung. Differentialpsychologische Untersuchungen zur Religion, Kunst und Philosophie, 1 9 1 6 (Individuali dade e visão de mundo. Investigações de psicologia dife rencial da religião, da arte e dafilosofia). - Psychologie der Religion, 2 vols., 1 920. - Bildungs- und Erzierun gsideale in Vergangenheit, Gegenwart und Zukunft, 1 92 1 (Ideais da educação e da formação cultural n o passado, no presente e no futuro). - Philosophie der Individua litiit, 1 92 1 . - Irrationalismus. Umrisse einer Erkenntnis lehre, 1 922 (Irracionalismo. Esboços de uma teoria do conhecimento). - Das Gefohls- und Willensleben, 1 923 (A vida emotiva e volitiva). - Das Denken und die Phan tasie, 1 925 (O pensamento e afantasia). Estas duas últi
mas obras são consideradas pelo autor como parte das
Grundzüge einer Lebenspsychologie (Características fundamentais de uma psicologia da vida). - Metaphy sik des Irrationalen, 1 927 (Metafisica do irracional). Allgemeine Sozial und Kulturpsychologie, 1 930 (Psicolo gia geral social e cultural). - Psychologie der Wissens chaft, 1 936 (Psicologia da ciência). - Der Mensch und das Universum. Philosophischen Antworten auf kosmo logische Fragen, 1 948 (O homem e o universo. Respos tas filosóficas a questões cosmológicas). Schicksal und Zufall, 1 949 (Destino e acaso). Ver: VV. AA., R. M. -F. zum Gediichnis, 1 950, ed.
H. G. Bõhme.
C
MÚLTIPLO. MULTIPLICIDADE. O conceito do múltiplo e da multiplicidade, ou conceito dos ''muitos" ou das "muitas coisas", TIOÀÀá, multa, multiplicitas, tem estreita relação com o conceito do uno ou da unida de. Trata-se primariamente de uma relação de correla ção e de contraposição: o múltiplo acha-se correlacio nado com o uno, sendo ao mesmo tempo contraposto a ele. Pode-se entender o múltiplo de duas maneiras: co-
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mo multiplicidade de um só elemento (assim, por exem plo, multiplicidade de átomos) ou multiplicidade de vá rios elementos (assim, por exemplo, multiplicidade de átomos, de planetas, de árvores etc.). No primeiro caso, a multiplicidade equivale simplesmente ao "muito", multum; no segundo, equivale ao vário, multitudo. Consideraremos aqui o conceito do múltiplo como o vário, porque a relação entre este tipo de multiplici dade e a unidade é a que mais problemas tem apresen tado aos filósofos. Pode-se de certo modo dizer (e, a rigor, tem-se dito) que a relação entre o múltiplo (en quanto o vário) e o uno é o problema capital da filosofia. De fato, muitos filósofos procuraram reduzir de alguma maneira o múltiplo ao uno em pelo menos dois sentidos: metafisicamente, ou redução real, e gnosiologicamente, ou redução cognoscitiva. Alguns pensadores julgaram que esta última redução depende da primeira; outros consideraram que a redução do múltiplo ao uno é uma questão gnosiológica e não metafisica. De todo modo, encontramos numerosos exemplos de esforços tendentes a praticar uma ou outra dessas reduções ou as duas ao mesmo tempo. O problema fundamental a esse respeito tem sido, desde as origens do pensamento filosófico, o seguinte: como é possível tratar o múltiplo do ponto de vista do um (ou de "algum uno") e, ao mesmo tempo, admitir que a "realidade" se dá como multiplicidade? Referimo-nos a esses pontos em vários verbetes des ta obra: remetemos especialmente aos verbetes IDÉIA, NúMERO e UNo (O). Restringir-nos-emos aqui a algumas indicações do conceito de multiplicidade tal como se manifestam em vários autores. A contraposição do múltiplo ao uno e o predomínio deste último sobre o primeiro foram dois temas vitais da filosofia de Parmênides e dos eleatas, ao ver dos quais só o Uno é objeto de saber; a multiplicidade e a varie dade são objetos da opinião e da sensação. Um compro misso entre a multiplicidade e a unidade foi alcançado pelos pluralistas. Em contrapartida, muitos sofistas in sistiram na realidade do múltiplo e do vário diante do Uno. De todo modo, o problema da multiplicidade em correlação com a unidade e em contraposição a ela era uma "velho" problema já na época de Platão, como este faz constar do Filebo ( 1 4 D e seguintes) ao falar "das maravilhas em torno do uno e do múltiplo", TWV SavµaoTwv mp\ TO Êv Ka\ TIOÀÀá. Platão tratou com freqüência do que veio a receber o nome de "o problema do Uno e do Múltiplo'', especialmente na for ma da questão: como é possível que o múltiplo seja uno e o uno, múltiplo? ( cf., por exemplo, Sof, 25 1 C). Com efeito, alguns haviam proclamado que não se pode dizer que o homem seja bom porque o bom é o bom e o ho mem é o homem; não existe, pois, "homem bom" como unidade de uma multiplicidade (ou, nesse caso, duali dade), mas duas unidades, homem e bom. Esta dificulda-
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de decorre, segundo Platão, do esquecimento do fato de que duas propriedades exprimem duas essências e que essas essências não se identificam com o sujeito ao qual são inerentes. Por esse motivo, pode-se dizer que Só crates é alto e baixo: alto quando comparado a alguém baixo e alto quando comparado a alguém alto. Em ou tros termos, ser alto e baixo não é uma contradição, mas o resultado do participar de duas essências que nesse caso são de caráter "relacional"'. Isso não significa que as essências (idéias, formas) concordem entre si; há essências que se excluem mutuamente. Assim, Platão enfocou o problema do Uno e do Múltiplo do ponto de vista de sua doutrina das idéias. A idéia mesma (a forma, a essência) pode ser considerada a unidade (visível inte ligivelmente) da multiplicidade. Mas, ao mesmo tempo em que resolveu o problema em questão, Platão apresen tou outro: o de como se enlaçam, por assim dizer, o Múl tiplo e o Uno. No caso das idéias mesmas, esse enlace é possível graças à hierarquia das idéias. Mas no caso da relação entre cada idéia e a multiplicidade, a solução platônica parecia pouco satisfatória. Ela consistia na verdade em justapor o uno ao múltiplo, Tiapà Tà TioÀÀá, o que fazia o múltiplo ficar separado do uno. Para evitar essa dificuldade, Aristóteles propôs a doutrina segundo a qual o uno é imanente ao múltiplo, aTà Twv TioÀÀwv, como destacamos no verbete IDÉIA. Desde então, "o problema do Uno e do Múltiplo" foi resolvido de maneiras distintas segundo se destacasse a noção de "justaposição" ou a de "imanência". Mas este problema veio a ser complicado por muitos outros. Já não era su ficiente dizer que o múltiplo equivale ao sensível e o uno ao inteligível; de fato, podia-se admitir uma plura lidade de inteligíveis, se bem que arraigados na unidade (cf. Plotino, Enn., V, iii, 6 et al. ). Entre os filosófos cristãos, especialmente os esco lásticos, achamos a idéia da unidade tratada sob vários aspectos: como multiplicidade (multitudo) de coisas; como a multiplicidade numérica; como multiplicidade transcendental etc. A multiplicidade de coisas advém, (lógica e metafisicamente) de uma divisão do ente. A multiplicidade numérica pode advir da divisão (como na linha) ou da multiplicação (como no número). A multiplicidade numérica ou multiplicidade medida é aplicável à multiplicidade das coisas. Tem especial im portância o conceito de multiplicidade absoluta ou transcendente, que se contrapõe rigorosamente ao con ceito de unidade transcendente. Alguns escolásticos fa laram de multiplicidade extrínseca e intrinseca como es pécies da multiplicidade transcendente. Em todos esses casos, a noção de multiplicidade é idêntica (ou ao me nos paralela) à noção de multitude, que é por sua vez uma espécie da pluralidade. Fugiria ao escopo deste Dicionário a simples refe rência às principais idéias formuladas na época moder-
MUNDANO (INTRAMUNDANO, TRANSMUNDANO).
na sobre a idéia da multiplicidade. Lembraremos apenas que, de acordo com a tendência, de muitos autores mo dernos, de destacar as questões gnosiológicas em detri mento das ontológicas, o citado "problema do Uno e do Múltiplo" tem sido amiúde tratado, na época mo derna, no âmbito da questão da possibilidade da síntese (VER) . O exemplo mais eminente é o de Kant, em cuja teoria do conhecimento a noção de multiplicidade (Mannigfaltigkeit) como "material para a síntese" de sempenha um papel fundamental. Com efeito, o conhe� cimento se constitui, segundo Kant, à medida que se sintetizam multiplicidades: o múltiplo é um dos carac teres do dado (VER) diante do uno, que é um dos ca racteres do posto. Como o dado e o posto são não só correlativos como também relativos (relativos ao nível em que algo é dado com relação a algo que é posto), a multiplicidade apresenta diversos aspectos: multiplici dade de sensações, de percepções etc. Deve-se no entan to considerar que nem todas as idéias sobre o múltiplo e a multiplicidade na filosofia moderna são, de modo ex clusivo ou mesmo primário, gnosiológicas. Há também noções ontológicas do múltiplo e da multiplicidade, co mo as que encontramos em, por exemplo, Wolff, que define o múltiplo (multum) como a simultaneidade de vários elementos, cada um dos quais é uno sem que ne nhum seja igual ao outro (Ontologia, § 33 1 [definição retirada pelo autor dos Elementi Arithmeticae, § 7]. :> Ver: Jacques Rolland de Renéville, Essai sur le probleme de l 'un multiple et l 'attribution chez Platon et les sophistes, 1 962 (tese). e MUNDANO (INTRAMUNDANO, TRANSMUN DANO). Na linguagem filosófica, "mundano" significa
"pertencente ao mundo'', "relativo ao mundo"' e, por vezes, '"relativo a este mundo". "Intramundano" signi fica literalmente "dentro do mundo", tendo no entanto adquirido um sentido mais determinado em Heidegger, que distingue entre "intramundano" (innerweltlich) e "mundano" (weltlich). Uma coisa é "mundana" quando é uma forma de ser do Dasein (VER) ; uma coisa é '"in tramundana" ou "pertencente ao mundo" (weltzugeho rig) quando está no mundo à maneira como o estão os entes "presentes", quando é uma maneira de estar-"em" do ente presente (vorhandenes Seiendes). Ora, empregou-se ainda "intramundano" para fazer referência às realidades que estão no mundo, distinguin do-se do "transmundano", que se refere a uma realida de, ou a realidades, que se acham além do mundo. Nesse caso, o intramundano contrapõe-se de certo modo ao transmundano. Fala-se, por exemplo, de uma metafisica intramundana, que seria uma metafisica de todas as rea lidades do mundo como mundo. Permanece como tema de debate o que incluir nessas realidades. Alguns ten dem a incluir apenas as chamadas realidades "naturais" ou, de modo geral, as realidades "fisicas" (abarcando as
MUNDO
"mentais"); outros incluem a consciência; e seria pos sível incluir, em alguma medida, os entes da razão, os valores etc. Mas a contraposição entre o intramundano e o transmundano não significa que eles se oponham entre si: o transmundano pode ser concebido como fun damento do intramundano, ou este pode ser concebido (ao menos quoad nos) como ponto de partida de uma "metafisica transmundana". MUNDO. O termo "mundo" designa: a) o conjunto de
todas as coisas; b) o conjunto de todas as coisas criadas; c) o conjunto das entidades de uma classe ("o mundo das idéias", "o mundo das coisas fisicas"); d) uma zona geográfica ("o Velho Mundo", "o Novo Mundo"); e) uma zona geográfica num dado período histórico ("o mundo antigo"); um horizonte ou quadro no qual estão certos conhecimentos, coisas, acontecimentos etc. ("o mundo da fisica'', "o mundo dos sonhos"). Convém esclarecer, em cada instância de uso do vocábulo "mun do", sua significação. Os sentidos mais empregados em filosofia são a), b), c) ej), sendo mais freqüentes a) e b) . O sentido a) é o que predominou entre os antigos; mas mesmo no âm bito desse sentido foram dadas várias definições de "mundo" (cf., por exemplo, as que se encontram em Homero, //. , VI, 492; em Hesíodo, Teog. , 5 8 7; em Ana xímenes, 1 3 B 2; em Fisolau, 44 B 2). "Mundo" por vezes designa a ordem do ser, KÓoµos. É esse o signifi cado que tem o termo entre os pitagóricos. Mas mesmo no âmbito do conceito de ordem ou mundo ordenado, podem-se encontrar várias ordens. Foram predominan tes duas delas: a do mundo sensível (mundus sensibilis) e a do mundo inteligível (mundus intelligibilis). Esses dois "mundos" foram com frequência apresentados co mo contrapostos, embora se reconhecesse igualmente haver uma unidade que os fundamenta e mesmo que os toma possíveis como distintos: a existência humana. De fato, cada um deles é definido pela relação que mantém com o ser humano, que costuma estar "submerso" no mundo sensível, mas vive em contínua transcendência rumo ao mundo do pensamento e das "coisas verdadei ras''. Os estóicos distinguiam, como o revela Diógenes Laércio (VII, 13 7 ss. ), três significados do termo KÓOµos: 1 ) o próprio Deus; 2) a disposição ordenada dos corpos celestes; 3) o conjunto do qual os dois anteriores são partes. Também se define o mundo como um ser indivi dual que qualifica o conjunto da substância ou, como diz Possidônio em seu tratado sobre os Fenômenos Ce lestes, um composto de céu e terra e das naturezas que neles há, ou um sistema constituído por deuses e ho mens e por todas as coisas que estes criaram. No cristia nismo, persiste a oposição entre os mundos, porém com um caráter peculiar que chega a destruir as bases da concepção antiga. O mundo como tal parece identificar se de imediato com "este mundo". Transcendente a ele,
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mas ao mesmo tempo com ele relacionado como criação sua, está o "mundo de Deus", que já não pode ser chama do propriamente mundo no sentido preciso de mundus intelligibilis. Achar-se no mundo, viver no mundo, signi fica, de acordo com isso, viver "aqui embaixo", seja no pecado, caso em que este mundo é o objeto mais direto do amor do homem, seja em estado de graça, caso no qual a alma humana transcende o mundo para dirigir-se a Deus. Ora, este transcender o mundo nem por isso significa sua aniquilação. O amor a Deus não se contrapõe, como se vê claramente em Agostinho, ao amor ao mundo; pelo contrário: é possível "amar a Deus no mundo", bem como "amar o mundo em Deus". É pois "o ponto de vista" de Deus que pode justificar "este mundo" e inclusive fazer dele objeto de amor por um meio divino. De todo modo, a "relação" entre o mundo e Deus é um dos temos capitais do pensamento cristão. E isso a ponto de a afirmação de que o mundo possui uma razão própria de existência, isto é, a afirmação de que o mundo é a se, é o que conduz sempre à máxima heterodoxia: ao panteísmo. O termo mundus designa então um "todo" a um só tempo completo e finito, um verdadeiro "composto". Ora, mesmo nesse caso o mun do designa uma soma de seres existêntes ou, como diz Leibniz, "toda a série e toda a coleção de todas as coisas existentes, a fim de que não se diga que poderia haver diversos mundos em diferentes tempos e em diferentes lugares" ( Teodicéia, 1, § 8). O mundo entendido como essa coleção é o objeto da cosmologia (vER) ou, mais exatamente, daquilo que os filósofos da "Escola de Leibniz-Wolff" denominaram "cosmologia racional", cosmologia rationalis. Essa cosmologia trata o mundo como um todo, de sua origem e composição, ao con trário das ciências que tratam de partes determinadas do mundo. Kant enfrentou o problema da cosmologia racional ao propor-se a questão da significação de "mundo" ( Welt). Segundo ele, há duas expressões - "mundo" e "Natureza" - que às vezes coincidem. Contudo, em bora "mundo" possa ser usado mais propriamente para designar a "soma total de todas as aparências e a tota lidade de sua síntese", "Natureza" - ou "o mundo enquanto Natureza" - pode ser usado para designar o próprio mundo anterior como um todo dinâmico. Neste último caso, "não nos ocupamos do agregado no espaço e no tempo com vistas a determiná-lo como magnitude, mas da unidade na existência das aparências (KrV, A 4 1 9/B 447). O mundo como "todo dinâmico" mostra dois gêneros de causas: a causa natural ou causalidade condicionada, e a liberdade, ou causa incondicionada. Ora, trata-se de saber em que medida se pode falar do mundo como um todo dinâmico sem ultrapassar os limi tes da experiência possível. Segundo Kant, não se pode fazê-lo, porque então a razão entra em choque com as antinomias cosmológicas (ver ANTINOMIA) . Em suma,
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não podemos determinar por meio d a pura razão s e o mundo teve ou não um começo no espaço e no tempo e se é ou não composto de partes simples: tanto a tese como a antítese podem ser "demonstradas". As outras antinomias cosmológicas - a que se refere à liberdade e a pertinente à suposta existência de um ser absoluta mente necessário concebido como parte ou como causa do mundo - são solúveis, por sua vez, mediante a dis tinção entre fenômeno e númeno (VER). Sendo assim, o que Kant chama de "a idéia cósmica" é para ele uma idéia demasiado ampla ou demasiado restrita para que lhe possamos aplicar os conceitos do entendimento (as categorias). A idéia do mundo não é, pois, ao contrário dos conceitos do entendimento, uma idéia constituti va. Contudo, pode ser considerada uma idéia regula dora, visto que todo falar sobre os conteúdos do mundo pressupõe de algum modo uma idéia do mundo que pode orientar a investigação. A idéia do mundo como totalidade foi tratada por inúmeros filósofos depois de Kant, alguns dos quais equipararam o conceito com o de realidade. Outros en tenderam o mundo como uma "realidade objetiva", cor relativa a "eu" ou, segundo o caso, a ele contraposta. Continuou-se a falar de diversos "mundos" ou de diver sos conceitos de "mundo". São importantes a esse res peito as idéias do mundo forjadas por autores como Hegel e Schopenhauer. Ora, o conceito de mundo foi ainda investigado filosoficamente como um conceito muito central na filosofia por vários autores contempo râneos como, por exemplo, Dilthey, Husserl, Scheler, Heidegger e Ortega y Gasset. Tem especial importância em todos esses casos o problema de como o sujeito se insere, por assim dizer, no mundo. As pesquisas dos ci tados autores relacionam-se com a freqüente aspiração a superar as dificuldades evocadas pelas posições realis ta e idealista: a primeira considerando o sujeito como uma parte do mundo e a segunda considerando o mundo como "conteúdo" (pensante) do sujeito. Dentre os con ceitos elaborados pelos autores indicados tratamos se paradamente o do chamado "mundo da vida" (ver L E BENSWELT). Resumamos agora brevemente a idéia do mundo em Heidegger. Como o assinalou Walter Bie mel (op. cit. infra), seguindo o próprio Heidegger, o con ceito de mundo tem várias significações de que se des tacam quatro: 1 ) "Mundo" empregado como termo ôn tico que designa a totalidade dos entes; 2) "Mundo" em pregado como termo ontológico que designa o ser dos entes e, com freqüência, o ser de uma região determina da de entes; 3) "Mundo" empregado como termo ônti co, porém enquanto se refere ao próprio Dasein; 4) "Mundo" como conceito que designa a noção ontológi co-existencial da mundanidade ( Weltlichkeit). As signi ficações 3) e 4) são as mais importantes em Heidegger. Numa delas, percebe-se o sentido da concepção do Da sein como um "estar-no-mundo", em que "mundo" não
MUNDO
é uma coisa (nem totalidade de coisas) na qual se acha o Dasein, porque este consiste em seu "estar". O mundo não é, pois, algo "objetivo" que se contraporia a algo "subjetivo". Por essa razão, não se pode dizer que essa concepção de "mundo" seja idealista; mas também não se pode afirmar que seja "realista". Na outra significa ção, vê-se a possibilidade de uma descrição do ser do ente intramundano distinta de qualquer outra descrição (da ciência, do senso comum) ou, melhor dizendo, pré via a toda outra descrição. A "mundanidade" do mundo não é uma característica comum a todos os objetos do mundo, mas o modo de ser do mundo. Zubiri considera "mundo" um transcendental (VER). De fato, o termo "mundo" designa aqui o que este autor denomina "a respectividade com relação à realidade", ao contrário da "respectividade com relação à talidade" - sendo esta última que caracteriza o cosmos em dife renciação com respeito ao mundo. :l Sobre as idéias de "mundo" e de "cosmos" na anti güidade: W. Franz, "Kosmos ais philosophischer Begriff frühgríechischer Zeit", Philologus, 93, 1 939, 430ss. Id., "Kosmos'', Archiv for Begriffsgeschichte, 2, 1 955, pp. 5- 1 1 3. - Ernst Cassirer, "Logos, Dike, Kosmos in der Entwicklung des griechischen Philosophie'', Güte bergs Hiigskolas Arskrift, 47, 1 94 1 . - R. B. Onians, The Origins of European Thought about the Body, the Mind, the Sou!, the World, Time, and Fate, 1 95 1 . - J. Moreau, L'idée d 'Univers dans la pensée antique, 1 953.
- H. Diller, "Der philosophische Gebrauch von KÓ Obras principais: "Die kritische Methode und das Verhãltnis der Psychologie zur Philosophie", Abhan dlungen der Friesschen Schu/e, N. F., 1 ( 1 904) ("O mé todo crítico e a relação entre a psicologia e a filosofia"). - "Ueber die nichteuklidische Geometrie und den Ursprung der geometrischen Gewissheit", ibid. , 1 ( 1 904) ("Sobre a geometria não-euclidiana e a origem da certeza geométrica"). - "lst metaphysikfreie Natur wissenschaft mõglich?", ibid. , 1 ( 1 904) (" É possível a ciência natural sem metafisica?"). - "Über das sogen nante Erkenntnisproblem", ibid. , 1 ( 1 904) ("Sobre o chamado problema do conhecimento"). - "Die Unmõ glichkeit der Erkenntnistheorie", ibid. , 3 ( 1 905) ("A impossibilidade da teoria do conhecimento"). - "Die Theorie des Interesses", ibid. , 4 ( 1 905) ("A teoria do interesse"). - "Die kritische Ethik bei Kant, Schiller und Fries. Eine Revision ihrer Prinzipien", ibid. , 4
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( 1 905) ("A ética crítica em K., S. e F. Revisão de seus princípios"). - Kant und die nichteuklidische Geome trie, 1 906 (Kant e a geometria não-euclidiana). Ethische Methodenlehre, 1 9 1 5 (Metodologia ética). Vorlesungen über die Grundlagen der Ethik. !. Kritik der praktischen Vernunft, 1 9 1 7 (Lições sobre osfunda mentos da ética. !. Crítica da razão prática). - Die Rechtswissenschaft ohne Recht. Kritische Betrachtun gen über die Grundlagen des Staats- und Volkerrechts insbesondere über die Lehre von Souveriinitiit, 1 9 1 7 (A ciência do Direito sem Direito. Considerações crí ticas sobre osfundamentos do Direito público e do Es tado, especialmente sobre a doutrina da soberania). - Die neue Reformation. I. Die Reformation der Ge sinnung. Die Erziehung zum Selbstvertrauen; II. Die Reformation der Philosophie durch die Kritik der Ver nunft, 1 9 1 8 (A nova reforma. I. A reforma da atitude. A educação para a autoconfiança. II. A reforma da fi losofia mediante a crítica da razão). - Vom Berufder Philosophie unserer Keitfür die Erneuerung des offen tlichen Lebens, 1 9 1 8 (Da missão dafilosofia de nosso tempo para a renovação da vida pública). - Ôffentli ches Leben, 1 9 1 8 ( Vida pública). - Demokratie und Führerschaft, 1 920 (Democracia e caudilhismo ). System der philosophischen Rechtslehre, 1 920 (Siste ma da doutrina jurídica filosófica). - Ethischer Rea lismus, 1 92 1 (Realismo ético). - Vorlesungen über die Grundlagen der Ethik, 3 vols., 1 924 (Lições sobre os fundamentos da ética). - Die bessere Sicherheit. Ker tzereien eines revolutioniiren Revisionisten, 1 927 (A melhor segurança. Heresias de um revolucionário revi sionista). - Póstumas: Fortschritte und Rückschritte der Philosophie. Vom Hume und Kant bis Hegel und Fries, 1 962. - Recht und Staat, 1 972. - Vom Selbst vertrauen der Vernunft, 1 975. Há ed. de obras: Gesammelte Schriften, 9 vols., 1 970- 1 972, incluindo escritos póstumos, ed. por Paul Bemays, Willi Eichler et ai. Ver também o volume Bei triige zur Philosophie der Logik und Mathematik, 1 959, com prefácios e notas de W. Ackermann, P. Bemays, D. Hilbert [reimp. de vários trabalho de L. N., incluindo "Über die nicht-euklidische Geometrie" (ver supra)] . Ver: A. Kronfeld, "Zum Gedãchtnis L. Nelsons", Abhandlungen der Friesschen Schule, N. F., 5 ( 1 906). - 8. von Selchow, L. N , ein Bild seines Lebens, 1 938, ed. W. Eichler e M. Hart. - O. W. von Tegelen, L. Nelsons Rechts- und Staatslehre, 1 958. - Antonio M. Battro, "Los esquemas dialécticos de L. N. ( 1 882- 1 927) y su aplicación en la teoria dei conocimiento", Revista de Filosofia [La Plata], 1 6 ( 1 966), 46-64. - G. Wes termann, Recht und Pflicht bei L. N , 1 969 (tese). - P. Schrõder, ed., Vernunft, Erkenntnis, Sittlichkeit, 1 979 [Simpósio Internacional no 50º aniversário de sua mor te, Gõttingen, 27-29 de outubro de 1 977]. - V. Kamuf, Die philosophische Piidagogik L. N s , 1 985.
NEMÉSIO
Ver no verbete sobre Fries a bibliografia sobre a escola neofriesiana. Além dos textos citados no verbete e da bibliografia do verbete NEOTOMISMO, ver: Denifle, Grabmann, Geyer, Gilson, M. de Wulf, Introduction à la philosophie néos colastique, 1 904. - Joseph Louis Perrier, The Reviva! of Scholastic Philosophy in the Nineteenth Century, 1 909. - Juan Zara:güeta Bengoechea, Una introduc ción moderna a la filosofia escolástica ( 1 946). Edward Lowyck, Substantiiile Verandering en Hylemor phisme. Een Kritische Studie over de Neo-scolastik, 1 948. - J. Collins, "The German Neo-Scholastic Approach to Heidegger", Modern Schoolman, 2 1 ( 1 944), 1 43- 1 52. - J. H . Hamett, "D. J. Mercier and the Neo-Scholastic Reviva!", New Scholasticism, 1 8 ( 1 944), 303-333. - J. Collins, "The Neo-Scholastic Critique ofNicolai Hartmann", Philosophy and Pheno menological Research, 6 ( 1 945), 1 09- 1 32. - G. Berger, "The Different Trends of Contemporary French Philo sophy", Philosophy and Phenomenological Research, 7 ( 1 946), 1 - 1 1 . -A. R. Caponigri, "Italian Philosophy, 1 943- 1 950", ibid. , 1 1 ( 1 95 1 ), 489-509. - P. Wyser, Der Thomismus, 1 95 1 . - J. A. Mann, "Neo-Scholastic Philosophy in the United States", Proceedings. Ameri can Catholic Philosophical Association, 33 ( 1 959), 1 27- 1 36. - R. F. Harvanek, "The Crisis in the Neo Scholastic Philosophy", Thought, 38 ( 1 963), 529-546. -T. J. A. Hartley, Thomistic Reviva! and the Modernist Era, 1 97 1 . - G. F. Rossi, "La neoscolastica italiana dalle sue prime manifestazioni ali' enciclica Aeterni Pa tris", Rivista de Filosofia Neo-Scolastica ( 1 990), 3654 1 1 . H. M. Schmidinger, "La disputa sulle origini della neoscolastica italiana: Salvatore Roselli, Vincenzo Buz zetti e Gaetano Sanseverino", ibid. , 353-364. - Para a influência da escolástica sobre a filosofia moderna, ver os títulos citados na bibliografia do verbete EscOLÁSTICA. Bibliografia: T. L. Miethe, V. J. Bourke, Thomistic Bibliography, 1940-1978, 1 980. - M. Grajewski, "Sco tistic Bibliography of the Last Decade ( 1 929- 1 939)": 1, II e III, Franciscan Studies, 1 ( 1 94 1 ), 73-78, 55-72, 7 1 -76; IV e V, ibid. , 2 ( 1 942), 6 1 -7 1 , 1 58- 1 73 . - J. Alexander, "Aeterni Patris: 1 879- 1 979. A Bibliography of American Responses", Thomist, 43 ( 1 979), 480-48 1 . - R . lngardia, Thomas Aquinas: International Biblio graphy, 19 77-1 990, 1 993. - Ver também J. de Vries, Grundbegriffe der Scholastik, 1 980; 2ª ed. rev. , 1 983. Entre as revistas que seguem e apresentam o movi mento neo-escolástico, e especialmente neotomista,
NEOKANTISMO
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assinalamos: a Revue Thomiste (Paris, desde 1 893 ) , os Archives de Philosophie (publicados em Valsprês-Le Puy, Haute-Loire, desde 1 923 ) , a Revue néo-scolasti que de Philosophie ( 1 894- 1 945, desde 1 946 se intitula Revue philosophique de Louvain), Divus Thomas (de Friburgo, Suíça, 1 886 ss .. ), Divus Thomas (Piacenza), Criterion (de Barcelona), o Angelicum (de Roma), a Revue des sciences philosophiques et théologiques (de Paris), o Tijdschrifi voor philosophie (de Lovaina), o Antonianum (de Roma), Scholastik (Eupen, Bélgica), Wíssenschaft und Weisheit (de Freiburg i. B.), Ciencia Tomista (de Salamanca), Razón y Fe (de Madri), Estudis Franciscans (de Barcelona), The Thomist (Washington), The Modern Schoolman (S. Louis), Rivista di Filosofia Neoescolastica (Milão), os cadernos Philosophie: Étu des et Recherches (publicados pelo College Dominicain de Ottawa), Pensamiento: Revista Trimestral de lnvesti gaciones e informaciónfilosófica (de Madri), Sapientia: Revista tomista de filosofia (La Plata-Buenos Aires), em parte o Giornale di Metafisica (de Turim, desde 1 946) e Philosophia (de Mendoza). Nem todas são es tritamente neo-escolásticas e menos ainda estritamente neotomistas: os Archives de Philosophie ou Pensamien to se inclinam muito ao suarismo; a informação mais ampla poderá ser encontrada nas coleções da Revue de Lovaina e da Rivista di filosofia neoescolastica. C: NEO-ESTOICISMO e NEO-ESTÓICOS. Ver Esró1cos. NEOFRIESIANISMO. Ver FRJES, JAKOB FRIEDRICH; NELSON, LEONARD. NEO-HEGELIANISMO. Ver HEGELIANISMO. NEOKANTISMO. O neokantismo - que surgiu na Alemanha aproximadamente a partir de 1 860 deve ser distinguido do kantismo em sentido estrito, não só pela data de seu desenvolvimento, mas também por seu conteúdo e intenção. Por 'kantismo ' se entende, em geral, a influência direta ou indireta de Kant sobre o pensamento moderno e contemporâneo; por 'neokantis mo' , uma tentativa de superar tanto o positivismo e o materialismo como o construtivismo da filosofia ro mântica mediante uma consideração crítica das ciências e uma fundamentação gnosiológica do saber. Nas ori gens do neokantismo alemão se acham, em primeiro lugar, o impulso dado ao estudo de Kant pela exposição kantiana na História da filosofia moderna, de Kuno Fischer ( 1 860) (VER) , pela História do materialismo, de F. A. Lange ( 1 866 ) (VER) e pelo livro de Otto Lieb mann, Kant e os epígonos ( 1 965 ) (vER), manifesto em favor de Kant contra os românticos pós-kantianos, cujos capítulos terminavam todos com a frase: "E, além disso, creio que se deve voltar a Kant". Esse movimento, de nominado de "volta a Kant", foi apoiado em parte por alguns cientistas, como Hermann von Helmholtz (VER) e J. K. F. Zõllner ( 1 834- 1 882 ) , cuja epistemologia coin-
cidia em alguns pontos com a gnosiologia kantiana. O movimento chegou de imediato a um grande auge na Alemanha, onde, por um lado, o retomo a Kant foi in terpretado de um ponto de vista filológico, como mero comentário e crítica às obras do filósofo; por outro lado, do ponto de vista de uma volta à posição estrita de Kant, e, finalmente, em sua direção predominante, co mo uma verdadeira renovação do kantismo, como um aprofundamento de Kant por meio de sua compreensão correta. Representantes desta última tendência, que é a que se pode denominar com mais propriedade neokan tiana, foram as escolas de Baden e Marburgo ( VER) , cujas consideráveis diferenças mútuas não anulam o fato de ambas terem entendido a filosofia, sobretudo, como teoria do conhecimento, e de ter objetivado, por assim dizer, até um limite extremo, o idealismo trans cendental. Afora essas escolas e seus representantes (Cohen, Natorp, Cassirer, Windelband, Rickert etc.), o neokantismo influenciou diversas correntes positivistas, que, por sua vez, penetraram de maneira muito profunda na direção neokantiana. Essa penetração foi completada com a efetuada pela especulação, contra a qual se diri giu primitivamente o neokantismo, dos pós-kantianos, que teve como resultado a formação sucessiva de uma tendência neofichtiana, e sobretudo, de uma tendência neo-hegeliana, particularmente importante na escola de Baden. O neokantismo também influenciou a teologia protestante (escola de Albrech Ritschl [ VER]) e mesmo a católica. No campo da filosofia do direito, a figura capital do neokantismo é Rudolf Stammler (vER) . Uma direção particular foi a representada por Franz Stau dinger e Karl Vorlãnder ( 1 860- 1 928 ) , que tentaram aproximar o kantismo e o marxismo. Na França, a reno vação de Kant se desenvolveu de modo independente e bem distante do conteúdo do neokantismo alemão. O que há de kantismo em Lachelier ( vER) , assim como em Renouvier {VER) e em seus discipulos, mostra de manei ra suficiente que se pode falar de "neokantismo" de vários modos. A renovação kantiana na Itália e na Ingla terra alcançou particular importância e amplitude. Na Itália, os precedentes deAlfonso Testa (vER) foram segui dos por diversos autores; limitar-nos-emos a indicar aqui os nomes de Cario Cantoni ( 1 840- 1 906: Corso elemen tare di filosofia, 1 896; E. Kant. I. La filosofia teorica. II. La filosofia prattica. III. La filosofia religiosa, la critica dei giudizio e !e dottrine minore, 1 879- 1 884) ; Filippo Masci ( 1 844- 1 923 ) : Una polemica su Kant, l 'Estetica trascendentale e !e Antinomie, 1 872; Leforme dell 'intuizione, 1 88 1 ; Coscienza, volontà, libertà. Studi di psicologia mora/e, 1 884; Sul senso dei tempo, 1 890; Sul concetto dei movimento, 1 892; Pensiero e conoscen za, 1 922 etc.) e Giacomo Barzellotti ( 1 844- 1 9 1 7 ) : La nuova scuola de Kant e la filosofia scientifica contem poranea in Germania, 1 880; L'opera historica dellafi losofia, 1 9 1 7 ) . Testa se distinguiu sobretudo por sua
NEOPELAGIANISMO
grande exposição e crítica do kantismo, que tentou valorizar em detrimento das correntes filosóficas pre dominantes na Itália da época e, portanto, não só em detrimento do ontologismo mas também do sensualis mo. Cantoni opôs o kantismo ao positivismo e ao me canicismo, a seu ver incapazes de explicar não só certas realidades como até as bases de seu próprio pensamen to. Masci inclinou-se em parte a um subjetivismo di namicista que acentuava a qualidade e resolvia o proble ma da relação entre o pensamento e a experiência fazen do desta última algo não inteiramente independente do pensamento, mas ao mesmo tempo não redutível a ele. Seu ponto de vista inclinou-se cada vez mais à interpre tação idealista crítica do kantismo. Na Inglaterra, a renovação kantiana, defendida por, entre outros, Edward Caird (vER), tornou-se em seguida um idealismo e um neo-hegelianismo. Em termos gerais, pode-se conside rar o movimento neokantiano antes de tudo uma vigoro sa reação ao positivismo e ao romantismo, reação que, por sua vez, não ficou imune à influência das correntes combatidas. O neokantismo acentua a importância da teoria do conhecimento na filosofia; tanto em sua ver tente idealista (escola de Marburgo) como em suas ma nifestações realistas (Riehl, Külpe, Volkelt, Messer etc.). Tanto em quem rejeita a metafísica como nos que defendem uma metafísica indutiva ou fazem da "coisa em si" a porta natural de escape para todo afã transcen dente, a teoria do conhecimento constitui a disciplina fundamental, o campo próprio da filosofia, único capaz de evitar a dissolução desta num materialismo dogmá tico ou numa especulação completamente afastada das ciências positivas. Num de seus aspectos essenciais, o neokantismo se associa ao naturalismo; seu encontro com o positivismo e, de modo especial, com certa es pécie de positivismo crítico é, portanto, uma conse qüência natural de sua ontofobia. Noutro aspecto, con tudo, o neokantismo foi se aproximando de várias outras direções da filosofia, como ocorreu com quem chegou, vindo do campo neokantiano, à fenomenologia, à filo sofia do espírito ou à teoria dos valores. Desse modo, o neokantismo e suas principais vertentes, as escolas de Baden e de Marburgo, foram perdendo o predomínio que tiveram, especialmente na Alemanha até mais ou menos 1 9 1 4; a irrupção da fenomenologia, os trabalhos voltados para a constituição de uma ontologia e os em preendimentos metafísicos mais recentes, assim como, de maneira geral, tudo o que faz parte da crise filosófica aberta a partir do começo do século, foram se afastando do neokantismo, ao mesmo tempo que conservavam seus elementos mais sólidos e definitivos. � Ver a bibliografia dos verbetes KANTISMO, BADEN (ESCOLA DE), MARBURGO (ESCOLA DE), assim como, e so bretudo, a coleção dos Kantstudien, revista fundada por Hans Vaihinger em 1 896 (primeira série: 1 896- 1 936; segunda série: 1 942- 1 944; terceira série: 1 954 ss . . ), e
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nos "Ergãnzungshefte" dos Kantstudien, iniciados em 1 906 (vols. 1 -44, 1 906- 1 936; vols. 45 ss .. , 1 953 ss . . ). Além disso: Raffaelo Mariano, Jl ritorno a Kant e i neokantiani, 1 887. - Johannes Hessen, Die Religions philosophie des Neukantianismus, 1 9 1 9; 2ª ed. , 1 924. - VV. AA., Eine Sammlung von Beitriigen aus der Welt des Neukantianismus, ed. F. Myrho, 1 926. - E. Keller, Das Problem des Irrationalen im wertphiloso phischen Idealismus der Gegenwart, 1 93 1 . - Kurt Sternberg, Neokantische Aufgaben, 1 93 1 . - A. Wil lmson, Zur Kritik des logischen Transzendentalismus, 1 93 5 . - Arthur Liebert, Die Krise des Jdealismus, 1 936. - T. Yura, Geisteswissenschaft und Willensge setz. Kritische Untersuchung der Methodenlehre der Geisteswissenschaft in der Badischen, Marburger und Dilthey-Schule, 1 93 8 (tese). - Mariano Campo, Schiz zo storico delia esegesi e critica kantiana. Dai "ritorno a Kant " alia fine dell 'Ottocento, 1 959 [sobre O. Lieb mann, F. A. Lange, H. von Helmholtz, H. Cohen, A. Riehl, H. Vaihinger, W. Windelband, A. Adickes et ai. ] - 1. Klein, Die Grundlegung der Ethik in der Philoso phie Hermann Cohens und Paul Natorps. Eine Kritik des Neukantianismus, s/d (tese de 1 942). - H. Blan kertz, Der Begriffder Piidagogik im Neukantianismus, 1 959. - T. E. Willey, Back to Kant: the Reviva! of Kantianism in German Social and Historical Thought, 1860-1914, 1 978 [escola de Marburgo e Baden, e seus antecedentes] . - H. Holzhey, W. Flach, Erkenntnis theorie und Logik im Neukantianismus, 1 979. - K. Ch. Kõhnke, Entstehung undAufstieg des Neukantianis mus. Die deutsche Universitiits-Philosophie zwischen Jdealismus und Positivismus, 1 986. - H.-L. Ollig, ed., Materialen zu Neukantianismus Diskussion, 1 987. e NEOPELAGIANISMO. Ver PELAGIANISMO. NEOPITAGORISMO. No verbete sobre o pitagoris mo (VER), referimo-nos ao que se denominou às vezes a escola pitagórica clássica e às pesquisas científicas efe tuadas por membros dessa escola. O pitagorismo foi renovado a partir do século I a.C. e exerceu considerável influência durante os três séculos subseqüentes. Essa renovação recebe o nome de neopitagorismo. Ora, em bora os neopitagóricos - ou filósofos influenciados por eles - tenham continuado a considerar Pitágoras o fundador da escola e proclamassem em várias oca siões que o que pretendiam era fazer reviver as doutrinas pitagóricas originais, o certo é que se trata de um mo vimento sob muitos aspectos diferente do pitagorismo clássico. A rigor, é uma mescla de doutrinas pitagóricas, platônicas, aristotélicas, estóicas e, em alguma medida, originadas do Oriente Médio, possivelmente judeu-ale xandrinas. Por esse motivo, alguns historiadores da filo sofia consideram o neopitagorismo uma das formas do ecletismo e do sincretismo antigos.
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Diante da variedade de fontes das tendência neopi tagóricas, é dificil reduzi-las a um sistema único. Já entre os antigos (por exemplo, em Sexto Empírico) se encontra a observação de que há muitas formas de neo pitagorismo. Contudo, há algumas teses comuns a todos os pensadores neopitagóricos. As principais são: a idéia de que a realidade suprema é uma unidade (cuja mani festação é a unidade numérica); de que essa unidade gera por meio de um movimento, que depois será conce bido como uma emanação (vER), as outras realidades; de que a unidade é absolutamente pura e transcendente. A isso se adicionam vários elementos de caráter moral, como a tendência à purificação ascética, e de caráter prático-religioso, como a crença na possibilidade da teurgia (VER) e a concepção da existência de uma hierar quia de espíritos. Acentuou-se algumas vezes que as concepções neopitagóricas estão em estreita relação com as idéias manifestadas nos Oráculos caldeus (VER) e no Corpus Hermeticum (vER). Entre os mais destacados neopitagóricos, figuram Nicômaco de Gerasa [vER] e Numênio de Apaméia [VER] . Como Numênio é por vezes considerado precur sor do neoplatonismo, estabelece-se com freqüência uma relação entre o neopitagorismo e o neoplatonismo, ou ao menos entre o neopitagorismo e o chamado plato nismo médio. Vale a pena assinalar que eram freqüentes entre os neopitagóricos as especulações místico-numé ricas e que, no tocante a isso, teve influência sobre eles a interpretação da doutrina platônica das idéias como idéias-número. Também se relacionam entre os pitagó ricos Apolônio de Tiana (VER) e Nigídio Figulo (VER). :> Ver: Th. Gartner, Neopythagoreorum de beata vita et virtute doctrina eiusquefontes, 1 877 (tese). - H. Jülg, Studien zur neupythagorischen Philosophie, 1 89 1 (publi cado em 1 892 com o título Neupythagorische Studien). - Erich Frank, Platon und die sogennanten Pythagoreer, 1 923; 2ª ed., 1 962. - F. Bõmer, Der lateinische Neupla tonismus und Neupythagorismus und C. Mamertus in Sprache und Philosophie, 1 936. - K. von Fritz, Py thagorean Politics in Southern Italy: An Analysis of the Sources, 1 940. - H. Thesleff, An Introduction to the Py thagorean Writings of the Hellenistic Period, 1 96 1 . S. Skovgaard Jensen, Dualism and Demonology: The Function of Demonology in Pythagorean and Platonic Thought, 1 966. - F. R. Levin, The Harmonics ofNico machus and the Pythagorean Tradition, 1 975. - D. J. O'Meara, Pythagoras Revived. Mathematics and Philo sophy in Late Antiquity, 1 989. C: NEOPLATONISMO. De um lado, é a renovação do platonismo em diversas épocas da história da filosofia e, de outro, uma corrente que, originada na última fase pitagorizante da filosofia platônica, atravessa como uma constante a história do pensamento ocidental. Nes se último sentido, o neoplatonismo acha-se prefigurado na antiga Academia platônica quando Espeusipo e Xe-
NEOPLATONISMO
nócrates fundem a idéia platônica do Bem com a idéia pitagórica do Uno, ou melhor, subordinam a primeira à segunda. Essa subordinação, característica do neopla tonismo, consiste na atribuição ao Uno da suprema per feição e realidade e na derivação de todo o existente a partir dessa unidade originária. Assim, o neoplatonismo se vincula ao neopitagorismo, adicionando à especula ção pitagórica sobre o número os conceitos de hipóstase e emanação. A passagem entre Platão e Platino é feita por uma série de pensadores mais ou menos relaciona dos com as tradições orientais, em que aparecem corren tes judeu-alexandrinas que culminam em Fílon. A partir de Platino, sem esquecer seu mestre Amônio Saccas, o neoplatonismo é representado pelos discípulos de Plati no, Amélio e Porfirio, e por diversas correntes. À s vezes se considera que só Plotino foi propriamente neoplató nico e que os outros autores mencionados que o prece deram ou seguiram teriam misturado o neoplatonismo (um neoplatonismo supostamente "puro") com outras tendências. Nesse caso, chega-se a identificar neoplato nismo a plotinismo, identificação a nosso ver injusti ficada. Em primeiro lugar, não há um "neoplatonismo puro"; o próprio Platino foi tanto platônico como aristo télico e, em algumas ocasiões, até estóico. Em segundo, as diferenças entre Plotino, ou os autores mais plotinia nos, e outros filósofos que também são qualificados como neoplatónicos não conseguem apagar certos ele mentos comuns a todos. Em conseqüência, houve neo platónicos que se inclinaram mais ao místico do que ao intelectual e outros que tomaram o caminho inverso, neoplatónicos que acolheram com simpatia tudo o que fosse "oriental" e outros que o consideraram com certa suspeita. Entre estes últimos, figura por certo o próprio Platino, que insistiu repetidamente no fato de sua me ditação nada ter a ver com as invasões orientalizantes. Essa oposição se percebe em particular no tratado con tra os gnósticos. Se estes falam de "desterros'', de "si nais'', de "arrependimentos", Plotino pergunta, com uma atitude rigorosamente filosófica e elegantemente intelectual se por arrependimento eles designam as afecções da alma que se arrepende, se por sinais desig nam o que está na alma quando contempla as imagens dos seres ou os próprios seres. "São - escreve ele palavras faltas de sentido que empregam, a fim de forjar para si uma doutrina própria. São invenções de pessoas que não estão vinculadas à antiga cultura helênica. Os gregos tinham idéias claras . . ." (Enn. , II, ix, 6). Costumam-se considerar neoplatónicas as seguintes escolas: a escola da Síria (VER), representada por Jâm blico; a escola de Atenas (vER), em que figuram Proclo, Plutarco, Damáscio e Simplício; a chamada escola de Pérgamo (VER) , derivada de Jâmblico, mas fundada por seu discípulo Edésio e à qual deram prosseguimento Eusébio, Máximo e Juliano Apóstata; a escola de Ale xandria (vER), que conta entre seus membros Hipatia,
NEOPOSITIVISMO
Sinésio, Amônio e Olimpiodoro; por fim, os neoplatô nicos latinos, muitos deles intimamente vinculados com o estoicismo: Calcídio, Macróbio e Boécio. O neopla tonismo, que enquanto religião se achava na mais vio lenta oposição ao cristianismo, deu a impressão de desa parecer temporariamente com a vitória cristã, mas a posterior evolução do cristianismo desembocou nas diversas sínteses helênico-cristãs que "culminaram" em Agostinho de Hipona, por meio do qual principalmente o neoplatonismo penetrou na mística da Idade Média e se desenvolveu não só no sistema de Scot Erígena como também em grande parte dos filósofos medievais até o século XIII, em que a corrente aristotélica conseguiu impor-se. A constante presença do neoplatonismo na história da filosofia fica confirmada tanto nessa pene tração ao longo da Idade Média, como em sua irrupção, no próprio umbral do Renascimento e da modernidade, em diversas vertentes: de um lado, a Academia platôni ca florentina, vinculada à tradição bizantina transmitida sobretudo por Psellos; de outro, a filosofia natural de Bruno; finalmente, o inatismo que, advindo diretamente das tendências platônico-agostinianas, deu origem à escola de Cambridge. Prescindindo das vertentes que confessam formalmente sua dependência do neoplato nismo na filosofia moderna, essa corrente se insere da maneira mais profunda no idealismo romântico e, em particular, na filosofia de Schelling, cujo Absoluto in diferenciado é em muitos aspectos semelhante à con cepção do EV, em que neoplatônicos e neopitagóricos viam a expressão mais própria do fundamento de toda diversidade. :> Ver: C. Meiners, Betrachtungen über die neupla tonische Philosophie, 1 792. - I. H. Fichte, De philoso phiae novae Platonis. Origine, 1 8 1 8. - J. Mater, Essai historique sur l 'école d 'Alexandrie, 1 820. - K. Vogt, Neuplatonismus und Christentum, 1 836. -- Jules Si mon, Histoire de l 'éco/e d 'Alexandrie, 2 vols., 1 8431 845. - E. Vacherot, Histoire critique de l 'école d 'Ale xandrie, 3 vols. (1, 1 846; II, III, 1 85 1 ). - Robert Ha merling, Ein Wort über den Neuplatonismus mit Ueber setzungsproben aus Plotin, 1 858. - H. Kellner, Hel lenismus und Christentum oder die geistige Reaktion des antiken Heidentums gegen das Christentum. - Franz Hipler, Neuplatonische Studien, 1 868. - F. Michelis, Ueber die Bedeutung des Neuplatonismus für die En twick/ung der christ/ichen Spekulation, 1 885. - M. J. Monrad, "Ueber den sachlichen Zusamenhang der neuplatonischen Philosophie mit vorhergehenden Den krichtungen, besonders mit dem Skeptizismus", Philo sophische Monatshefte, 24 ( 1 888). - Th. Whittaker, The Neo-Platonists. A Study in the History ofHellenism, 1 90 1 ; 2ª ed., 1 928, reimp., 1 96 1 . - K. Praechter, Rich tungen und Schulen in Neuplatonismus, 1 9 1 0 . - Char les Elsee, Neoplatonism in Relation to Christianity, 1 908. - W. Jaeger, Nemesios von Emesa. Quellenfors-
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chungen zum Neuplatonismus und seinen Anfangen hei Poseidonios, 1 9 14. - F. Heinemann, "Ammonios Sak kas und der Ursprung des Neuplatonismus", Hermes, 6 1 ( 1 926), 1 -27. - E. R. Dodds, "The Parmenides of Plato and the Origin ofthe Neoplatonic 'One '", Classi cal Quarter/y, 22 ( 1 928), 1 29- 1 42. - W. Theiler, Die Vorbereitung des Neuplatonismus, 1 930 (Problemata, Caderno, 1 ) ; 2ª ed., 1 964. - R. E. Witt, A/binus and the History ofMidd/e Platonism, 1 937. - S. Caramella, Platino e il neoplatonismo, 1 940. - P. V. Pistorius, Plo tinus and Neoplatonism: An Introductory Study, 1 952. - Ph. Merlan, From Platonism to Neoplatonism, 1 953. - Willy Theiler, Forschungen zum Neuplatonismus, 1 966. - Pierre Hadot, Porphyre et Victorinus, 2 vols., 1 968. - C. de Vogel, H. Dorrie et ai. , Le néoplatonis me, 1 9 7 1 (Colóquio de Royaumont, 9/ l 3-VI- 1 969). R. T. Wallis, Neoplatonism, 1 972. - Andrew Smith, Porphyry s Place in the Neoplatonic Tradition: A Study in Post-Plotinian Neoplatonism, 1 974. - James A. Coulter, The Literary Microcosm: Theories oflnterpre tation of the Later Neoplatonists, 1 976. - I . Hadot, Le probleme du néoplatonisme alexandrin, 1 978. M. Hirschle, Sprachphilosophie und Namensmagie im Neuplatonismus, 1 979. - A. D. R. Sheppard, A. C. Lloyd et ai., Sou! and the Structure of Being in Late Neoplatonism. Syrianus, Proclus and Symp/icius, 1 982, ed. H. J. Blumenthal e A. C. Lloyd [Colóquio Liverpool, 1 5- 1 6 de abril de 1 982]. - W. Beierwaltes, Denken des Einen. Studien zur neuplatonischen Philosophie und ihrer Wirkungsgeschichte, 1 984. - Ver também a sé rie Studies in Neoplatonism: Ancient and Modern, pro movida pela International Societyfor Neoplatonic Stu dies (vol. I: The Significance of Neoplatonism, 1 976, ed. R. B. Harris; vol. II: Neoplatonism and Christian Thought, 1 982, ed. D. J. O ' Meara; vol. III: Neoplato nism and Indian Thought, 1 982, ed. R. B. Harris; vol. IV: The Structure of Being: A Neoplatonic Approach, 1 982, ed. R. B. Harris). Para o neoplatonismo latino: F. Bõmer, Der lateinis che Neuplatonismus und Neupythagorismus und Clau dianus Mamertus in Sprache und Philosophie, 1 936. Para o neoplatonismo renascentista: Nesca A. Robb, Neoplatonism ofthe Ita/ian Renaissance, 1 935. Para o neoplatonismo e Agostinho de Hipona: Char les Boyer, Christianisme et néoplatonisme dans la formation de SaintAugustin, 1 920. - Régis Jolivet, Saint Augustin et le néop/atonisme chrétien, 1 932. - Bruno Switalski, Neop/atonism and the Ethics ofSt. Augustine, I, 1 946. - F. X. Martin, J. A. Richmond, eds., From Augustine to Eriugena: Essays on Neoplatonism and Christianity in Honor ofJohn O 'Meara, 1 99 1 . � NEOPOSITIVISMO. É outro nome dado por vezes ao positivismo lógico (VER) ou empirismo lógico. Cos tumam-se agrupar sob o termo "positivismo" duas ten dências. Uma, desenvolvida no século XIX, é o pensa-
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mento d e Auguste Comte (vER) e seus, mais o u menos, fiéis sucessores. Outra, desenvolvida no século XX, tem seus antecedentes em, entre outros, Ernst Mach, e floresce entre os membros do Círculo de Viena (ver VIENA [CíRCULO DE)). Embora a segunda tendência seja bastante diferente da primeira, tanto por seus conteú dos como por seu contexto histórico e filosófico, o fato de ter alguns elementos comuns com aquela como o é a oposição à metafisica - e de ter-se desen volvido posteriormente levou alguns a chamá-la de "neopositivista". O nome "neopositivismo" não é melhor nem pior do que muitos outros, e se for usado para designar uma tendência como a do Círculo de Viena e outros movi mentos afins, o designatum - ou os designata - e sua descrição justificam o uso. Em contrapartida, o citado nome poderia ser alvo de reparos quando, como acontece às vezes, é usado: 1) para destacar que se trata de uma "renovação do positivismo" (positivismo "clás sico" comtiano); ou 2) num sentido depreciativo e não descritivo. 1) é injustificado porque, apesar de algu mas possíveis analogias, não se trata de uma renova ção desse tipo, isto é, "neopositivismo" não funciona com relação a "positivismo" como, por exemplo, "neo kantismo" com relação a "kantismo" ou "filosofia de Kant". 2) é admissível na medida em que é admissível exprimir oposição, ou mesmo aversão, a uma ou a várias correntes filosóficas, mas não o é se essa oposição ou aversão consistirem simplesmente no uso de um nome. Nas ocasiões em que, neste Dicionário, se empre garam nomes como "neopositivismo" ou "neopo sitivista", não se fez isso nas formas anteriores 1) ou 2), mas simplesmente como sinônimos das outras ex pressões introduzidas. Seja como for, não se maneja ram as oposições e aversões de uma maneira apenas nominativa. :l Ver: E. Kaiser, Neopositivistische Philosophie im 20. Jh. , 1 979. - R. Haller, Neopositivismus. Eine historische Einführung in die Philosophie des Wiener Kreises, 1 993. - Ver também as bibliografias de EM PIRISMO; POSITIVISMO; VIENA (CÍRCULO DE). C: NEO-RACIONALISMO. Este termo não é de uso muito corrente na literatura filosófica, mas pode ser usado para designar certas tendências ou movimentos. Pode-se qualificar como "neo-racionaíismo" - a fim de distingui-lo do "racionalismo moderno", que oferece já a figura de um "racionalismo clássico" - a vertente filosófica exemplificada em pensadores como André Lalanrle, Léon Brunschvicg (vER) e, de modo geral, todos os autores a que Sartre se referiu como "assimilacionistas", isto é, "engolidores do real" na unidade da razão e de suas categorias. Nesse sentido, os "neo-racionalistas" aparecem como filósofos que defenderam uma "filosofia fechada" (principalmente de ascendência kantiana), distinguindo-se dos filóso-
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fos de orientação ou inspiração fenomenológica, que defenderam uma "filosofia aberta'', isto é, "aberta ao real tal como este se dá e da maneira como se dá". Também é possível qualificar como "neo-raciona lista" a atitude de alguns pensadores que se opuseram às correntes irracionalistas intuicionistas etc. contem porâneas. Isso acontece com alguns autores marxistas - e, em geral, marxistas não completamente "ortodo xos" (ao menos no sentido soviético de "ortodoxo") como Lukács (vER) e alguns outros (talvez Gramsci [vER] e Banfi [VER]). Também se podem considerar "neo-racionalistas" os pensadores de tendência analítica na medida em que se opõem às tendências meramente "especulativas". Bertrand Russell (vER), em todo caso, viu-se a si mes mo como neo-racionalista, como um restaurador da "orientação racional" e mesmo "racionalista" moder na tal como, por exemplo, se manifestou nos séculos XVII e XVIII. À s vezes, qualifica-se também o positi vismo lógico ou empirismo lógico como "neo-raciona lista". Curiosamente, em sua crítica a esse positivismo e à filosofia analítica em geral, Brand Blanshard (vER) tem consciência de que defende "a razão" e de que é uma espécie de "neo-racionalista". Consideraram-se explicitamente neo-racionalistas vários pensadores italianos de tendência empirista, positivista e analítica; o que mais insistiu no aspecto "neo-racionalista" foi Ludovico Geymonat ( 1 908- 1 99 1 ) e m suas obras Studi per u n nuovo razionalismo ( 1 945) e Saggi di filosofia neorazionalistica ( 1 953): para Geymonat, que esteve próximo do. Círculo de Viena (VER), o neo-racionalismo é um neopositivismo e um anti-neo-idealismo. Em sentido semelhante trabalha ram autores como Paolo Filiasi-Carcano, 1 9 1 1 - 1 977 (Antimetafisica e sperimentalismo, 1 94 1 ; Problematica de/la filosofia odierna, 1 953 ) , Giulio Preti, 1 9 1 1 - 1 972 (La crisi del'uso dogmatico de/la ragione, 1 953), Ugo Scarpelli; Sílvio Ceccato; Rossi-Landi e alguns outros - se bem que nem todos eles teriam aceitado o rótulo "neo-racionalista". Podem-se por fim considerar "neo-racionalistas" os filósofos que seguiram as inspirações de Leonard Nelson e da Escola neofriesiana (ver FRIES [JAKOB FRIE DRICH]), os filósofos da chamada "Escola de Zurique" e muitos dos que seguiram K. R. Popper (vER) ou par tiram dele. De modo geral, podem-se considerar "neo racionalistas" os racionalistas críticos de várias espé cies, isto é, os que defenderam a "razão crítica" (ver RAZÃO (TIPOS DE)). NEO-REALISMO. Como vimos no verbete REALIS MO, podem-se chamar de neo-realistas quase todas as tendências do realismo contemporâneo e não só as que adotam explicitamente a designação de neo-realistas. Isso seria, quanto ao mais, conveniente para distinguir do ponto de vista histórico o citado realismo de todos
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os que o precederam e, portanto, não só do realismo como posição adotada no problema dos universais, mas também como atitude gnosiológica que tem ou não, segundo o caso, implicações metafisicas. Assim, a filo sofia de pensadores como Kulpe, Messer, Volkelt, Dil they, Scheler, Rehmke, Nicolai Hartmann e, em parte, Husserl (vER todos eles) etc. poderia ser chamada de neo-realista. Mas costuma-se reservar esse nome a algu mas das tendências da filosofia inglesa e norte-ameri cana atual, inclusive daquela que precedeu ou seguiu o movimento neo-realista propriamente dito. Isso pode ter como razão suficiente o fato de que enquanto no pensamento dos filósofos da Europa continental citados o realismo não é muitas vezes uma posição central, parece constituir nos pensadores ingleses e norte-ame ricanos o verdadeiro ponto de partida. Isso acontece na Inglaterra já com os que se consideram precursores do realismo ou neo-realismo de G. E. Moore e seus discípulos: S. H. Hogdson (vER), RobertAdamson (vER) e Thomas Case ( 1 884- 1 925). Mas a reação antiidealista, a volta ao empirismo e ao naturalismo e a orientação predominante para o realismo se manifestam sobretudo a partir de Moore (vER) e, em parte, de Russell (vER), cujo realismo influi e penetra em quase todas as dire ções posteriores, incluindo o analiticismo da Escola de Cambridge (vER). O mesmo ocorre com os evolucio nistas e neo-evolucionistas e, em particular, com Ale xander e Lloyd Morgan (vER), cujas filosofias são mui tas vezes consideradas manifestações do neo-realismo. Autores como John Laird (VER), e . D. Broad (vER), C. E. M. Joad ( 1 89 1 - 1 953), T. P. Nunn ( 1 870- 1 944), H . H. Price (vER) e outros também s e incluem nessa ten dência, que desenvolveu, entre outros, os problemas relativos à percepção [em cujo verbete examinamos al guns dos citados problemas]. Limitemo-nos agora a indicar que a questão da re lação entre o sujeito e a realidade desencadeou no âm bito do realismo inglês múltiplas discussões. Uns su põem que se devem suprimir o sujeito e o objeto en quanto subsistentes; a isso se inclinava Russell na fase "neutralista" de seu pensamento. Outros separam os dois, como o faz o realismo dualista de Alexander, trans formando as impressões em elementos objetivos esco lhidos pelo sujeito mediante uma espécie de perspecti vismo da percepção, próximo do de Bergson. Outros interpõem os sensa e fazem deles, como Moore e o realismo chamado fenomenalista, os objetos mesmos. Outros (como Broad) fazem dos sensa realidades dos objetos, que surgem no curso de uma "emergência". Outros, por fim, chegam a atribuir espontaneidade não só seletiva como formadora ao sujeito; embora este se defina como um "acontecimento percipiente", é natural que essa posição tenha desencadeado posições neo idealistas (Turner, Ewing etc.). Embora vinculado de modo considerável ao realismo inglês, especialmente
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ao de Moore, o neo-realismo norte-americano tem em contrapartida outros temas capitais e, sobretudo, pressu postos principais. Como assinala William P. Montague ao historiá-lo, o momento em que essa tendência apare ceu não fazia prever seu florescimento; o realismo de Peirce não chamara muito a atenção nem os elementos realistas de alguns pensadores como Paul Carus (vER) haviam tido influência. Por outro lado, tinham-se desva necido as doutrinas da escola escocesa defendidas por James McCosh (VER). Dominava o idealismo em todas as suas formas: o grupo dos hegelianos de Saint Louis (ver SAINT Louis [CiRCULO DE]), o idealismo pluralista de Howisson (vER) e de Thomas Davidson ( 1 840- 1 900), os ensinamentos de James Edwin Creighton ( 1 86 1 1 924), A . T. Ormond ( 1 847- 1 9 1 5 ), G . S . Fullerton ( 1 859- 1 925), M. W. Calkins (ver PERSONALISMO), G. T. Ladd ( 1 842- 1 92 1 ), N. M. Butler ( 1 862- 1 947), G. H. Palmer ( 1 842- 1 933 ), Ch. C. Everett ( 1 829- 1 900), Ho cking e, sobretudo, Bowne (vER) e Royce (vER). Mesmo havendo em alguns deles implicações realistas e, a rigor, seja possível considerar alguns como realistas involun tários, a tendência realista nunca era sustentada. Surgiu, de imediato, a "revolta dos pragmatistas" (James e De wey principalmente) e, em 1 9 1 O, seis professores de filosofia formaram um grupo para defender uma filoso fia real ista: R. B. Perry (vER) e E. B. Holt (vER), de Harvard; W. T. Marvin ( 1 872- 1 924) e E. G. Spaulding ( 1 873- 1 940), de Princeton; W. B. Pitkin ( 1 878- 1 949) e W. P. Montague (vER), de Columbia. Mesmo havendo entre eles consideráveis diferenças em outras esferas, todos concordavam, ao que afirma Montague, nos se guintes pontos: 1 ) os filósofos teriam de seguir o exem plo dos cientistas e trabalhar em cooperação; 2) os filó sofos teriam de seguir o exemplo dos cientistas, iso lando seus problemas e atacando-os um após o outro; 3) pelo menos alguns dos particulares de que temos consciência existem quando não temos consciência deles - realismo particularista ou existencial; 4) pelo menos algumas das essências ou dos universais de que temos consciência subsistem quando não temos cons ciência deles - realismo subsistencial; 5) pelo menos alguns dos particulares e universais reais são apreendi dos, mais direta do que indiretamente, por meio de có pias ou imagens mentais - realismo apresentativo de Reid, distinto do realismo representativo ou dualismo epistemológico de Descartes e Locke. Logo, contudo, marcaram-se as diferenças entre os neo-realistas, inclu sive em alguns pontos de epistemologia e, segundo Montague, centraram-se principalmente em duas ques tões: com relação à natureza "comportamentalista" da consciência e com respeito ao estado "relativista", mas existencial, dos objetos de ilusão e erro. Daí a passagem imediata de alguns realistas a posições sustentadas por outras escolas: a tentativa de solucionar o tradicional problema do dualismo do tisico e do psíquico levou à
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afirmação da "neutralidade" das entidades estudadas pela ciências; as "entidades neutras" foram, assim, mo dos de explicação do real, falando-se precisamente das realidades como de complexos dessas entidades. Che gou-se a uma situação em que o "neo-realismo" quali fica só de maneira muito imperfeita as verdadeiras ati tudes adotadas pelos neo-realistas, situação muito seme lhante à que se produziu mais tarde com os realistas críticos. Eles formaram um grupo que incluía George Santayana (vER), C. A. Strong ( 1 862- 1 940), Durand Drake ( 1 878- 1 933), A. O. Lovejoy (vER), J. B. Pratt ( 1 875- 1 9 1 4), A. K. Rogers ( 1 868- 1 936) e R. W. Sellars (VER). Em 1 920, eles se propuseram completar, na obra coletiva Essays in Criticai Realism, as tendências neo realistas, que julgavam insuficientes e ingênuas. Todos esses pensadores concordavam apenas, contudo, no pressuposto gnosiológico, diferindo grandemente entre si por suas orientações restantes, principalmente metafi sicas (naturalismo ou realismo físico de Sellars; dualis mo e realismo pessoal de Pratt; temporalismo e histo ricismo de Lovejoy etc.). Por isso, o realismo crítico fi cou, tal como o neo-realismo anterior, dividido em muitas tendências variadas, cuj o motor central são quase sem pre instâncias que não as do realismo gnosiológico. :l O volume coletivo dos seis neo-realistas norte-ame ricanos se intitula: New Realism. Studies in Philosophy, 1 9 1 2 . - Além das obras dos autores citados no texto e de alguns dos livros indicados na bibliografia do ver bete REALISMO, ver: René Kramer, Le néoréalisme amé ricain, 1 920. - !d. , La théorie de la connaissance chez les néo-réalistes anglais, 1 928. - Raymond P. Hawes, The Logic of Contemporary Realism, 1 923. - P. S . Zulen, Dei neohegelianismo a i neo-realismo, 1 924. Mary Verda, New Realism in the Light ofScholasticism, 1 926. - D. L. Evans, New Realism and O/d Reality, 1 92 8 . - Arthur O. Lovejoy, The Revolt against Dualism; an Jnquiry Concerning the Existence ofIdeas, 1 930. - Roy Wood Sellars, The Philosophy ofPhysical Realism, 1 932. - Binayendranath Ray, Consciousness in Neo-realism, 1 93 5 . - J. B. Pratt, Personal Realism, 1 937. - G. Dawes Hicks, Criticai Realism. Studies in the Philosophy ofMind and Nature, 1 93 8 . - Charles M. Perry, Towards a Dimensional Realism, 1 939. Herbert W. Schneider, A History ofAmerican Philoso phy, 1 946, repr., 1 957, cap. IX. - L. Bowman, Criti cism and Construction in the Philosophy of the Ameri can New Realism, 1 955. - O artigo de Montague, "The Story of American Realism", foi publicado primeiro em Philosophy, 12 ( 1 937), 1 40- 1 6 1 , e compilado no livro The Ways ofThings, 1 940. - M. Sullivan, "Recent Trends Toward Realism in American Philosophy", Pro ceedings. American Catholic Philosophical Associa tion, 29 ( 1 955), 2 1 8-224. - R. W. Sellars, "American Criticai Realism and British Theories ofSense-Percep tion", lª parte, Methodos, 1 4, pp. 6 1 -88. - !d., ibid. ,
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2ª parte, 1 4, pp. 89- 1 08. !d., Principies ofEmergent Realism, 1 970, ed. W. Preston Warren. - R. G. Milli kan, Language, Thought and Other Biological Catego ries: New Foundations for Realism, 1 984. Bibliografia: Victor E. Harlow, A Bibliography and Genetic Study ofAmerican Realism, 1 93 1 . C: -
NEOTOMISMO. Identificou-se às vezes o neotomis mo com a neo-escolástica (vER) por causa da importân cia central que tem o primeiro no âmbito da segunda. Aqui consideraremos o neotomismo como uma parte, embora a mais importante, da neo-escolástica (ou neo escolasticismo ). Sua importância se manifesta não só no fato de que a maior parte dos filósofos neo-escolásti cos foram, e continuam a ser, neotomistas, mas também no fato de que o neotomismo está na origem do movi mento neo-escolástico. Debateu-se durante algum tempo sobre quais foram as origens do neotomismo (e, dado o que antes se indi cou, da neo-escolástica). Alguns consideraram que o pre cursor do neotomismo foi Balmes (VER); outros, os pensa dores italianos agrupados em tomo da Civiltà Cattolica (ver infra), mencionando nomes como os de Luigi Tapa relli d' Azeglio (VER), Matteo Liberatori (vER) e outros. É bem possível que tenha havido movimentos neoto mistas incipientes em vários países europeus no final do século XVIII e no início do século XIX, movimentos em muitos casos ligados à luta contra o idealismo, o sen sualismo e outras diversas correntes. Mas parece bas tante provável que o primeiro movimento neotomista tenha surgido na Itália. Ora, tem havido quanto a isso duas opiniões.' Segundo a primeira, defendida por Ama to Masnovo (vER), o neotomismo, ou pelo menos o "neotomismo italiano", surgiu com os ensinamentos de Vincenzo Buzzetti (vER), que influenciaram vários autores (por exemplo, Baltasar Masdeu [ 1 74 1 - 1 820] , mas sobretudo Angelo Testa [ 1 788- 1 873]). A segunda, defendida por Giovanni Feiice Rossi, afirma que o neo tomismo surgiu no Collegio Alberoni, de Piacenza, on de estudaram Buzzetti e Testa, podendo-se falar a esse respeito de "os alberonianos". Segundo Rossi, um dos mestres de Buzzetti no Collegio Alberoni foi Bartolo meo Bianchi, que lecionou no Collegio de 1 793 a 1 8 1 O, transmitindo ensinamentos escolástico-tomistas inicia dos no Collegio por volta de 1 75 1 por Francesco Grassi. Cornelio Fabro conclui seu "Prefácio" à obra de G. F. Rossi (cf. bibliografia) dizendo que "o neotomismo teve início no Collegio Alberoni na segunda metade do sécu lo XVIII. Buzzetti não foi um tomista autodidata". Isso não quer dizer que, a partir de então, o neotomismo se tenha desenvolvido de modo contínuo, estendendo-se da Itália a outros países. Na própria Itália temos o que se poderia chamar de "revivescências neotomistas". Uma delas é a que tem origem em Gaetano Sanseverino (VER) e, sobretudo, no grupo de filósofos que publicou a revista quinzenal La Civiltà Cattolica, iniciada em
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Nápoles no ano de 1 850, graças aos esforços de Cario Maria Curei ( 1 809- 1 89 1 ), tendo passado no mesmo ano para Roma e que se publicou de 1 87 1 a 1 897 em Floren ça. Entre os autores que contribuíram para essa "revi vescência neotomista" - uma espécie de "neo-neoto mismo" -, figuram os mencionados Luigi Taparelli d'Azeglio, Matteo Liberatori, Gaetano Sanseverino e outros. A outra e mais definitiva "revivescência" foi a inaugurada oficialmente pela Encíclica Aeterni Patris ( 1 879), de Leão XIII, associada a, entre outros, Joseph Kleutgen (vER). Na referida encíclica, chama-se a aten ção para a importância da obra do Divus (Tomás de Aquino) para o pensamento católico. Embora não se excluíssem, naturalmente, outras "vias", a do tomismo adquiria significação central. Essa importância aumen tou quando se criaram em diversos lugares centros de difusão e irradiação da doutrina, que se somaram aos já existentes. A Escola de Lovaina (VER) com o Institui Supérieur de Philosophie, fundado pelo Cardeal Mer cier (VER). A Escola de Lovaina foi, desde o início, um dos maiores. Mas foram também centros bastante desta cados o do Instituto Católico de Paris, o da Universidade Católica de Milão e da chamada "Escola de Milão" (vER), o da Universidade de Friburgo ( Suíça), o do A n gelicum romano etc. A maior parte das universidades católicas espalhadas pela Europa e pela América tam bém podem ser consideradas centros de difusão do neo tomismo, sempre que não se esqueça a existência de outras "vias" em alguns casos e, é claro, o movimento de difusão do suarismo por muitos jesuítas. O mesmo, e com maior razão, se poderia dizer das "Sociedades Tomistas'', cujas discussões e symposia dos últimos decênios tiveram particular importância para a questão do vínculo entre a neo-escolástica e. de modo geral, o pensamento filosófico católico, e a filosofia contempo rânea, especialmente nas direções de maior impacto como a fenomenologia, o neopositivismo e o existencia lismo. É certo que mesmo dentro do próprio neotomis mo travaram-se consideráveis discussões acerca do que constitui a parte central do pensamento do Divus. A ques tão das "teses tomistas" foi por isso um de seus pro blemas essenciais. Essa questão foi examinada consi deravelmente a partir do instante em que se reconheceu um núcleo fundamental na doutrina de Tomás de Aqui no. A redação por alguns professores de 24 teses subme tidas à Sagrada Congregação de Estudos, ao lado da resposta desta, por ordem do Papa Pio X (27 de julho de 1 9 1 4 ), de que as referidas teses contêm a doutrina do Santo em suas linhas essenciais, sendo por conse guinte tutae normae directive, foram um acontecimen to particularmente significativo para o desenvolvimento do neotomismo. Os debates internos entre tomistas "or todoxos" e tomistas "conciliadores" não conseguiram ultrapassar os liinites indicados. Por isso, o tomismo
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(ou neotomismo) oferece diversos matizes, mas é um movimento "unitário". Alguns neotomistas se destacaram no cultivo da história da filosofia medieval, como foi o caso de auto res como Maurice de Wulf (vER), P. Mandonnet ( 1 8581 936), Martin Grabmann (vER), Étienne Gilson (VER), C. Baeumker (VER), P. Vignaux etc. Alguns deles, como Gilson, chegaram, em larga medida por meio de estudos históricos, a posições sistemáticas que já não são pro priamente tomistas, mas isso foi pouco freqüente. Mui tos outros tomistas, sem descuidar dos aspectos históri cos, interessaram-se mais por desenvolver sistematica mente as posições tomistas, ou outras posições que jul garam perfeitamente conciliáveis com o tomismo, so bretudo quando se entende o tomismo num sentido su ficientemente amplo. Uma lista de autores neotomistas, especialmente se se quisessem compreender diversos matizes, seria longa. Bastará citar como exemplo nomes como D. Mercier (vER), J. Maritain (vER), A.-D Sertil langes (VER), Régis Jolivet (nascido em 1 8 9 1 ), Am broise Gardeil (vER), Aimé Fores! (nascido em 1 898), Léon Noel ( 1 878- 1 955), Charles Sentroul ( 1 876- 1 938), Josef Pieper (VER), R. Garrigou-Lagrange (VER), M. G. Roland-Gosselin (vER), Joseph de Tonquédec (vER), Georges van Riet (nascido em 1 9 1 6), L. de Raeymae ker, Desiré Nys (l 859·· 1 9 1 7), Sándor Horváth ( 1 8941 956 ), Giittlieb Siihngen (nascido em 1 892), Gallus Manser ( 1 866- 1 950), Augustin Mansion ( 1 882- 1 966), Joseph Mausbach ( 1 86 1 - 1 93 1 ), Joseph Gredt (VER), Thomas Greenwood (nascido em 1 90 1 ), Leslie J. Wal ker (nascido em 1 877), Peter Coffey (nascido em 1 876), Al bert Farges ( 1 848- 1 926), Adolf Dyroff (vER), Viktor Cathrein ( 1 845- 1 93 1 ), Konstantin Gutberlet (vER), J. G. Hagemann (vER), Agostino Gemelli (vER), Santiago Ramirez ( 1 89 1 - 1 967), Octavio Nicolás Derisi, M. C. D' Arcy etc. Citamos nomes um pouco ao acaso, sem pretender nem ser medianamente completos nem seguir nenhuma ordem determinada (cronológica ou por "es colas", tais como as de Lovaina, Milão etc.). Quisemos simplesmente enfatizar que tipo de pensadores são con siderados neotomistas em sentido mais ou menos am plo. Há certos autores que são tidos às vezes por neoto mistas, ou tomistas, mas que nem sempre é fácil filiar. É o caso, para dar exemplos, de Francesco Olgiati (vER), Juan Zaragüeta (vER) e até de Joseph Maréchal (VER), Pierre Rousselot (vER), Otto Willman (vER) e Joseph Geyser (vER). No que diz respeito ao conteúdo doutrinal do neo tomismo, há certas teses comuns a todos os autores neotomistas. seja qual for seu "matiz". Isso ocorre no tocante à teoria do ser, uma teoria que não é, como às vezes se supõe, uma defesa do "ser estático", mas antes a acentuação da atualidade do ser que se manifesta na existência. A analogia do ser em lógica e na ontologia, a distinção entre devir e atividade, a doutrina da subs-
NEOTOMISMO
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tância, o hilemorfismo, a concepção imaterial do espí rito, o realismo gnosiológico, a tese da possibilidade de uma abstração transcendental, a concepção de Deus como ato puro e fonte da verdade, a doutrina da pre moção fisica, a ética objetiva dos fins, o personalismo podem ser considerados algumas dessas característi cas. Pode-se afirmar, como escreve Georges van Riet, que a problemática fundamental do tomismo novo se define, pelo menos em suas linhas essenciais, após cem anos de esforço, na compreensão, no aprofundamen to e na comparação com outras filosofias do pensamento de Tomás de Aquino. E se pode dizer, como assinala esse autor, que foram cumpridas as condições que por volta de 1 850 se haviam imposto aos pensadores cris tãos que empreenderam a restauração da filosofia to mista: "Aprender a conhecer o próprio Tomás de Aqui no, situá-lo em seu meio, compreender suas preocupa ções, extrair de suas obras os elementos essenciais para uma síntese filosófica e satisfazer as novas exigências do pensamento moderno" (L 'Épistémologie Thomiste, 1 946, prefácio, p. V). :> Sobre história do neotomismo: A. Viel, "Mouve ment thomiste au XIX' sieclc, aperçu d'apres ses his toriens", Revue Thom iste, 1 7 ( 1 909), 7 3 3 -746; 1 8 ( 1 9 1 0), 95- 1 08. - G. Saitta, Le origine dei neotomismo nel seco/o XIX, 1 9 1 2 . - Amato Masnovo, // neotomis mo in /ta/ia, ! 923 [do mesmo autor, artigos complemen tares em Rivista di filosofia neoesco/astica] . - Paolo Dezza, Alie origine dei neotomismo, 1 940. - P. Nad deo, Le origini dei neotomismo e la scuo!a napoletana di G. Sanseverino, 1 940. M. Batllori, "M. Masdeu y el neoescolasticismo italiano", Analecta Sacra Tarraco nensia ( 1 942), 1 7 1 -202; ( 1 943 ), 24 1 -294. - L. Foucher, La philosophie catholique en France au XIX' siecle avant la renaissance thomiste et dans son rapport avec e/le (1830-1880), 1 95 5 . - Giovanni Feiice Rossi, La filoso fia nel Collegio A/beroni e il neotomismo, 1 959. - Ja mes John Helen, The Thomist Spectrum, 1 966 [análise da metafisica tomista de 1 930 a 1 960] . Sobre o movimento neotomista: M. de Wulf, "Le mouvement thomiste", Revue néoscolastique de philo sophie, 8 ( 1 90 1 ). - M. Arnáiz, "La neo-escolástica ai comenzar e! siglo XX", La Ciudad de Dias, 57 ( 1 902), 53 -64, 1 97-209. - C. Besse, Deux centres du mouve ment thomiste: Rome e1 Louvain, 1 902. - G. García, Tomismo y neotomismo, 1 903, nova ed., 1 906. - F. Picavet, La restauration thomiste au XIX' siecle, 1 905, 2ª ed., 1 907. - !d., "Le mouvement néo-thomiste", Revue philosophique, 33 ( 1 908), 28 1 -309; 35 ( 1 909), 394-442 . - J. L. Perrier, The Reviva/ of Scholastic Philosophy in the Nineteenth Century, 1 909. - L. Noel, "Le mouvement néo-scolastique", Revue néo-scolasti que de philosophie, 1 6 ( 1 909), 1 1 9- 1 28, 282-290; 1 7 ( 1 9 1 O), 93- 1 03 . - G . Gentile , "La filosofia scolastica in Italia", Bo/letino de/la bibliotecafilosofica, 3 ( 1 9 1 1 ), -
497-5 1 9 . - Roger Aubert, "Aspects divers du néo-tho misme sous !e pontificat de Léon XIII", em Aspetti de/la cultura catto/ica ne/l 'Età di Leone XJJI, 1 96 1 , pp. 1 33-227 [Atas do Congresso de Bolonha, dezembro de 1 960] . - G. Biandino, Discussioni sul neo-Tomis mo: Per il progresso de/la Filosofia Cristiana, 1 990. Para algumas obras sistemáticas sobre o conjunto da doutrina tomista ou alguma parte muito importante, ver: Gallus Maria Manser, Das Wesen des Thomismus, 1 9 1 7; 3ª ed., 1 948. - É . Gilson, Le thomisme, 1 920. - E. Hugon, Les vingt-quatre theses thomistes, 1 926. - A. -D. Sertillanges, Les grandes theses de la philosophie thomiste, 1 928. - J. Webert, Essai de métaphysi que thomiste, 1 928. J. de Tonquédec, Les principes de la philosophie thomiste. La critique de la connais sance, 1 929. - L. de Raeymaeker, Introductio gene ralis ad philosophiam thomisticam, 1 93 1 . - Régis Joli vet, Le thomisme et la critique de la connaissance, 1 93 3 . - G. Siewerth, Der Thomismus ais Identitiits system, 1 939. - G. Giacon, Le grandi tesi dei tomismo, 1 945. - R. Garrigou-Lagrange, La synthese thomiste, 1 945. - G. van Riet, L'Épistémologie thomiste. Recher ches sur /e probleme de la connaissance dans / 'école thomiste contemporaine, 1 946. - F. van Steenberghen, Le Thomisme, 1 983. - N. Bathen, Thomistische Onto/o gie und Sprachana/yse, 1 988. - J. F. X. Knasas, The Pre face to Thomistic Metaphysics, 1 990. - A estes títulos devem-se acrescentar os manuais de autores neotomistas (como, por exemplo, Zigliara, Urráburu, Mercier, Mari tain, Jolivet, Gredt, Collin etc.) no corpo do verbete, a alguns dos quâis foram dedicados, de resto, verbetes es peciais. As obras nas quais se estuda a influência da esco lástica sobre o pensamento moderno foram citadas na bi bliografia do verbete EscoLÁSTICA; no que diz respeito especialmente ao tomismo, ver o livro de Octavio Nicolás Derisi, Filosofia moderna y filosofia tomista, 1 94 1 . Ver igualmente a bibliografia do verbete NEO-ESCOLÁS TICA, na qual se indicaram as principais revistas neo-es colásticas e, entre elas, as neotomistas. Para a bibliografia tomista (abrangendo também, e sobretudo, obras sobre Tomás de Aquino e sua influên·· eia): P. Mandonnet e J. Destrez, Bibliographie thomiste, 1 92 1 , que teve prosseguimento no Bulletin Thomiste, 1 924 ss .. ; e Divus Thomas, 1 925 ss .. - Ver também: J. Bourke, Thomistic Bibliography (1 920-1940), 1 943 (su plemento ao vol. 2 1 de The Modern Schoolman ), e P. Wyser, Thomas von Aquin, 1 950, e Der Thomismus, 1 95 1 [em Bibliographische Einführungen in das Stu dium der Philosophie, ed. !. M. BocheIÍ. ski, 1 3/ l 4 e 1 5/ 1 6 respectivamente] . - T� L. Miethe, V. J. Bourke, Tho mistic Bibliography, 1 940- 1 9 78, 1 980. - R. Ingardia, Thomas Aquinas: lnternational Bibliography, 1 9 7 71 990, 1 993. Crítica de Louis Rougier em La Scolastique et /e Tho misme, 1 925, e réplica de Pedro Descoqs, em Thomisme -
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et Scolastique. À propos de L. Rougier, 1 927. - Crítica neo-escotista do neotomismo por Jean Compagnion, La philosophie scolastique au XX" siécle, 1 9 1 6. Entre os romances satíricos de Nicolai, destacam se: Leben und Meinungen des Herrn Magisters Sebal dus Nothanker, 3 vols., 1 773- 1 776 ( Vida e opiniões do senhor professor S. N. ) ; Freuden des jungen Werthers, 1 775 (Alegrias do jovem W,); Sempronius Gundibert, 1 798, e Geschichte eines dicken Mannes, 2 vols., 1 794 (História de um homem gordo). - Deve-se a ele a ex tensa descrição de viagem (com observações críticas) Beschreibung einer Reise durch Deutschland und die Schweiz im lahre 1 781, 1 2 vols., 1 783- 1 796 (Descrição de uma viagem pela A lemanha e pela Suíça no ano de 1 781); a obra de crítica literária Briefe, den jetztigen Zustand der schonen Wissenschaften betreffend, 1 75 5 (Cartas referentes a o estado atual das ciências do es pírito) e numerosos ensaios e artigos, muitos deles agrupados em Philosophische Abhandlungen, 2 vols., 1 808 ( Tratados filosóficos). Ver: Karl Aner, Der Aufkliirer F. N., 1 9 1 2. - M. Sommerfeld, N. und der Sturm und Drang, 1 92 1 . - F. C. A. Philips, Nico/ais literarische Bestrebungen, 1 926. - W Strauss, F. N. und die kritische Philosophie, 1 927. - G. Ost, F. Nico/ais Allgemeine deutsche Bibliothek, 1 928. - Friedrich Meyer, F. N. , 1 93 8 . - H. Mõller, Aufkliirung in Preussen. Der Verleger, Publizist und Geschichtsschreiber F. N., 1 974. C: NICOLAU DE AMIENS. Desde meados do século XII, foi um dos discípulos de Gilberto de la Porrée (VER), isto é, um dos chamados "porretanos" (Porretani). Al guns historiadores distinguem entre esse Nicolau de
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Amiens e um homônimo seu, da mesma época, autor de um De arte seu articulis catholicae fidei, dedicado a Clemente III, e no qual se expõem, em rigorosa ordem, as doutrinas teológicas relativas à existência de Deus, à criação, à redenção, aos sacramentos e à ressurreição, proporcionando-se provas dessas doutrinas com base em definições, postulados e noções comuns (axiomas) à maneira dos geômetras. Em acordo com isso, o filóso fo porretano não teria escrito a citada obra, mas na verdade uma exposição do comentário a Boécio de Gil berto de la Porrée. Outros historiadores falam de um único Nicolau de Amiens, discípulo de Gilberto de la Porrée e autor do mencionado De arte seu articulis catholicae fidei. Por outro lado, essa obra - publicada em Migne, PL, ccx, 595-6 1 8 - é de autor incerto. Na Patrologia Latina de Migne, ela é atribuída a Alano de Lille. M. Grabmann ( Geschichte der scholastischen Me thode, li, 1 9 1 1 , pp. 459-465 e 47 1 -476) a atribui ao Nicolau de Amiens supostamente distinto do porretano, ao passo que Gordon Leff (Medieval Thought: St. Agus tine to Ockham, 1 958, pp. 1 24, 1 32) fala de um único Nicolau de Amiens, porretano, e da possibilidade de voltar a atribuir o De fide a Alano de Lili e. NICOLAU DE AUTRECOURT, Ultricúria ou Autri cúria (t ca. 1 3 50). Estudou artes e teologia em Paris, desempenhando o cargo de mestre de artes até que foi proibido de lecionar em virtude da condenação, em 1 34 7, de um considerável número de teses suas. Seguin do os precedentes de Occam, e em clara oposição ao aristotelismo, Nicolau de Autrecourt admite como ver dadeiras apenas as proposições resultantes da experiên cia imediata e as que podem remontar ao princípio de contradição. Ora, essa afirmação pressupõe a limitação do conhecimento ao fato de que uma coisa seja, mas não de que haja outra coisa derivada dela. A conseqüên cia imediata desse pressuposto é uma crítica da causa lidade e da substância, que fez de Nicolau de Autrecourt um predecessor de Hume. Mas enquanto Hume nega não apenas que a relação causa-efeito seja analítica, mas que tampouco possa ocorrer na experiência imediata, Nicolau de Autrecourt rejeita apenas o caráter analítico dessa relação. Em compensação, pode-se afirmar a pro cedência de um efeito e sua vinculação à causa pela ex periência imediata, única que proporciona o saber ao lado do critério supremo da contradição. O mesmo ocor re, segundo Nicolau de Autrecourt, com a idéia da subs tância e a relação substância-acidente. Em ambos os ca sos, pode-se concluir de uma coisa a outra, mas essa re lação não é necessária; a relação causal e a substancial só podem afirmar-se, pois, com segurança nos limites da experiência, sendo sua ampliação algo meramente provável. Daí a redução das evidências ao existente experimentado e mesmo a negação da substância em seu sentido tradicional, pois o substancial se acha mera mente no que é experimentado. A crítica de Nicolau de
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Autrecourt passa igualmente ao terreno da teologia cons truída com base na filosofia aristotélica, mas, diante da improbabilidade das afirmações referentes ao inexperi mentável ou que não podem deduzir-se do princípio su premo de contradição, remete-se à revelação admitida pela maior probabilidade adscrita à fé. :> Obras: Exigit ordo executionis (Tractatus universa lis magistri Nicho/ai de Ultricuria ad videndum an ser mones Peripateticorumfuerint demonstrati) [escrita em 1 340], 1 939, ed. J. R. O'Donnell, Mediaeval Studies, 1 ( 1 939), 1 79-280. - As cartas de Nicolau d' Autrecourt a Bernardo de Arezzo foram publicadas com outros tex tos: Letters, 1 908, ed. J. Lappe, N. v. A. Sein Leben, seine Philosophie, seine Schriften . - The Universal Treatise ofN. ofA . , 1 97 1 , trad. ingl. L. A. Kennedy et al. [Medie val Texts in Translation, 20] . - As teses condenadas em 1 347 foram impressas em várias edições das senten ças de Pedro Lombardo. Ver, além disso: Paul Vignaux, art. "Nicolás d' Au trecourt", em Dictionnaire de théologie catholique, de Vacant-Mangenot-Amann, t. x1, Pt 1, 1 93 1 , cols. 562587. - E. A. Moody, "Ockham, Buridan, and Nicholas of Autrecourt", Franciscan Studies, 7 ( 1 947), 1 1 3 - 1 46. J. R. Weinberg, Nicolaus ofAutrecourt. A Study in Fourteenth Century Thought, 1 948. - M. dei Pra, Ni co/a diAutrecourt, 1 95 1 . - W P. Sutton, N. v. A. und die altgriechischen Atomisten, 1 959. - T. K. Scott, "N. of A., Buridan and Ockhamism", Journal of the History ofPhilosophy, 9 ( 1 97 1 ), 1 5-4 1 . - F. C. Copleston, "The Logical Empiricism ofN. of A.", Proceedings. Aristote lian Society, 74 ( 1 973- 1 974), 249-262. - A . L. Towns ley, "N. of A. as Anti-Metaphysician: The Principies of the Good and the Etemity ofThings in the Exigit Ordo Executionis", Giornale di Metafisica, 3 1 ( 1 976), 1 331 47. - L. Groarke, "On Nicholas of Autrecourt and the Law of Non-Contradiction", Dialogue, 23 ( 1 984), 1 29- 1 34. Obras: De concordantia catholica ( 1 433). - De reparatione Calendarii ( 1 436). - De docta ignorantia ( 1 440). - De coniecturis ( 1 440). - De quaerendo Deum ( 1 445). De filiatione Dei ( 1 445). - De dato Patris luminum ( 1 446). - De Genesi ( 1 447). - Apolo gia doctae ignorantiae ( 1 449). - Idiota ( 1 450, com De sapientia dialogi duo, De mente, De staticis experimen tis). - De novissimis diebus ( 1 453). - De visione Dei ( 1 453). De pace seu concordantiafidei ( 1 454). Complementum theologicum, figuratum in complemen tis mathematicis ( 1 454). - De beryl/o ( 1 458). - De possest ( 1 460). - De cribatione Alchorani ( 1 46 1 ). De non aliud ( 1 462). - De veneratione sapientiae ( 1 463). - De apice theoriae, De ludo globi ( 1 464). Compendium ( 1 464). Edição de obras: Estrasburgo ( 1 488) [reimp. da mes ma prep. por Paul Wilpert, em Miscellanea Medievalia, 5]; Paris ( 1 5 1 4, reimp., Frankfurt, 1 962); Basiléia ( 1 565). - Ediçã.o crítica organizada pela Heidelberger Akade mie der Wissenschaften e sob a direção de E. Hoffmann, R. Klibansky, J. Koch et ai.: Nicolaii de Cusa Opera Omnia, iussu et auctoritate Academiae Litterarum Hei delbergensis ad Codicum Fidei edita, l 932ss .. (I. De docta ignorantia; II. Apologia doctae ignorantiae; III. De coniecturis; IV. Defiliatione Dei, De Genesi; V. Idiota, De sapientia, De mente, De staticis experimentis; VI. De visione Dei; VII. De pace fidei; VIII. Cribatio Alchora ni; IX De ludo globi; X Compendium, De possest; XI. De beryl/o, De dato Patris luminum, De quaerendo Deum; XII. De venatione sapientiae, De apice theoriae; XIII. De non a/iud seu Directio speculantis; XIV. De con cordantia catholica ). Bibliografia: H. Kleinen, R. Danzer, "Cusanus-Bi bliographie 1 920- 1 96 1 ", Mitteilungen und Forschungs beitriige der Cusanus-Gesel/schaft, 1 ( 1 96 1 ), 95- 1 26. - R. Danzer, "Cusanus-Bibliographie 1 96 1 - 1 964 und Nachtrãge", ibid. , 3 ( 1 964), 223-237. - W. Traut, "Cu sanus-Bibliographie 1 964- 1 967 und Nachtrãge", ibid. ., 6 ( 1 967), 1 78-202. - Eduard Zellinger, Cusanus-Kon kordanz. Unter Zugrundlegung der phi/osophischen und der bedeutensten theologischen Werke, 1 960 [ba seada em edições críticas, ed. de Paris de 1 5 1 4 e vários manuscritos] . - Índice completo dos sermões conser-
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vados nos manuscritos, em J. Koch, Untersuchungen über Datierung, Form, Sprache und Quellen, 1 942. Uma Cusanus-Gesel/schaft publica, desde 1 96 1 , Mit teilungen und Forschungsbeitriige, em forma de anuário. Há, na Universidade de Mainz, um Instituifor Cusanus Forschung, fundado por RudolfHaubst em 1 960. Desde 1 976, são publicadas algumas Acta Cusana. Quel/en zur Lebensgeschichte des Nikolaus von Kues. Ver: F. A. Scharpff, Der Kardina/ und Bischof N. von Cusa, 1 843, reimp., 1 965. - Id., Der Kardinal und Bischof N. von Cusa ais Reformatar in Kirche, Reich und Phi/osophie, 1 87 1 , reimp., 1 965. - R. Falckenberg, Grundzüge der Philosophie des N. Cusanus mit beson derer Berücksichtigung der Lehre vom Erkennen, 1 880. - J. Uebinger, Philosophie des N. Cusanus, 1 88 1 . !d., Die Gotteslehre des N. C. , 1 888 (com edição do texto até então inédito: De non aliud). (Outros escritos de Uebinger sobre as obras de Cusa em Zeitschriftfor Phi /osophie, Philosophisches Jahrbuch e Historisches Jahrbuch, 1 893- 1 894.) - G. Grüning, Wesen und Auf gabe des Erkennens nach N. Cusa, 1 902. - Max Jacobi, Das We/tgebaude des Kardinals N. von Cues, 1 904. Ch. Schmidt,- Kardinal N. Cusanus, 1 907. - K. P. Has se, Nikolaus von Kues, 1 9 1 3 . - Edmund Vansteenber ghe, Le Cardinal N. de Cues: L'action. La pensée, 1 920, reimp. 1 963 [com bibliografia; o mesmo autor publicou, em 1 9 1 O, o texto até então inédito: De ignota literatura, de Juan Wenck de Herrenberg contra Nicolau de Cusa] . - Ernst Cassirer, Individuum und Kosmos in der Phi /osophie der Renaissance, 1 927. - J. Ritter, Docta Ignorantia, Die Theorie des Nichtwissens bei Nicolaus Cusanus, 1 927. - Paolo Rotta, II Cardinale Nico/à di Cusa, la vita ed il pensiero, 1 928. - E. Hoffmann, "Cu sanus-Studien. L Das Universum des N. von Cues" (Sitzungsberichte der Heidelb. Akademie der Wissens chaften, Phil. -Hist. Klasse, 1 929/ 1 930). - P. Menni cken, N. von Cues, 1 932. -- H. Bett, N. of Cusa, 1 932. - H. Rogner, Die Bewegung des Erkennens und das Sein in der Philosophie des Niko/aus von Kues, 1 937. - Hano Kunkel, Schicksal und Liebe des Nikolas von Cusa: Roman, 1 936, reimpr., 1 949. - Rudolf Schultz, Die Staatsphilosophie des Nikolaus von Kues, 1 948. - G. Saitta, N. Cusano e / 'umanesimo italiano, 1 957. - Karl Volkmann-Schluck, N. C. Die Philosophie im Übergang vom Mittelalter zur Neuzeit, 1 957. - Miko laj Tokarski, Filozofia Bytu u Mikolaja z Kuzi, 1 95 8 (A filosofia do ser em Nicolau de Cusa) [com resumo em francês e uma bibliografia bastante completa] . - Char les Hummel, N. Cusanus. Das Individualitiitsprinzip in seiner Philosophie, 1 96 1 . - Paul E. Sigmund, N. of Cusa and Medieval Political Thought, 1 963 . - Feiice Battaglia, Metafisica, religione e politica nel pensiero di N. da Cusa, 1 965. - Pá! Sándor, N. Cusanus, 1 965 (em húngaro; tradução alemã, 1 97 1 ). - Siegfried Dan gelmayr, Gotteserkenntnis und Gottesbegriffin den phi-
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com a expressão KaÀÀoç 'ínnoç, "cavalo bonito". É isso o que acontece nos nomes simples. Nos compostos, a parte contribui para o significado do todo, embora ela mesma não possua significado próprio. O exemplo é énaKTpOKÉÀT]ç, "navio pirata". Segundo Aristóteles, KÉÀT]ç, "navio", não significa nada por si mesmo fora do composto. Deve-se entender isso da seguinte manei ra: "navio" não significa nada fora do composto se pen samos no composto, mas pode significar algo se não le varmos em conta este último. A concepção aristotélica do nome apresenta aspec tos tanto lógicos como gramaticais, sendo dificil distin guir por completo entre eles, o que também se aplica às concepções medievais. A definição do vocábulo nomen dava-se na lógica no âmbito da doutrina dos termos. Essa doutrina, que incluía o estudo das diferentes classes de palavras, era no entanto paralela à gramática. Os filósofos se referiam, no tocante a essa questão, tanto ao texto citado de Aristóteles como à gramática (Ars Grammatica) de Donato (jl. 333), mestre de São Jerô nimo. Ora, como o nome podia ser considerado de três maneiras - ( ! ) como uma palavra significativa, (2) como uma idéia, (3) como umjlattus voeis -, a questão de sua natureza implicava a dos universais (vER) . Muitos dos problemas que se apresentaram quanto a isso foram solucionados, de acordo com as normas escolásticas, mediante discussões precisas. No curso destas, perce beu-se que o paralelismo entre gramática e lógica não podia ser levado longe demais. Com efeito, o nome podia dividir-se em várias classes. Algumas delas como as dos substantivos e adjetivos - parecem perten cer à gramática, ao passo que outras - como a dos no mes abstratos e concretos - parecem pertencer à lógi ca, embora a lógica pudesse em princípio assumir todas essas distinções e reduzi-las a seus próprios termos. Pode-se perceber com clareza a multiplicidade de tipos de nomes na classificação estabelecida por L. Schutz no seu Thomas-Lexikon ( 1 895, v. "Nomen"). Indicam se ali 55 acepções de nomen quando se considera a palavra num sentido análogo ao de Aristóteles em De interpretatione, e prescindindo de algumas outras signi ficações, como as que tem o citado vocábulo ao referir se à concepção do intelecto acerca de uma coisa signi ficada pelo nome. Contudo, todas as definições partem de pressupostos semelhantes, e a principal dificuldade consiste no fato de nem sempre se distinguir entre o nome e outros vocábulos, como o termo (vER) , a locu ção, a dicção. No âmbito da escolástica, foram os gramáticos es peculativos (ver GRAMÁTICA ESPECULATIVA) e os terminis tas aqueles que demonstraram mais interesse pelo pro blema do nome. Os primeiros preocuparam-se sobretu do com os diversos modos de significar do nome, distin guindo entre um modo essencial generalíssimo de signi ficar e modos de significar subalternos que variavam
NOME
em generalidade. Segundo Tomás de Erfurt, em sua Gra mática especulativa, "o modo essencial generalíssimo de significar do nome é um modo de significar enquan to ente e uma apreensão determinada". Distingue-se quanto a isso entre um modo do ente - permanente e um modo de existir - o modo de fluidez e sucessão (caps. VIII e IX). Quanto aos modos essenciais subal ternos gerais do nome, as distinções são de natureza a um só tempo lógica e gramatical: nomes próprios e nomes comuns, que são especiais com relação ao modo genera líssimo e gerais quanto aos outros modos. As classifica ções seguintes contêm outros modos gerais de significar e incluem análises de diversos tipos de adjetivos, prono mes, cognomina ( caps. X a XIII), modos acidentais do nome em comum (XIV), espécie acidental (XV), gênero atual (XVI), número acidental (XVII), figura acidental ou gramatical (XVIII) e caso (XIX). A mistura de ele mentos gramaticais e lógicos é aqui muito acentuada. Mas essa confusão, perturbadora para a lógica, pode mostrar-se iluminadora para dilucidar várias questões da semântica (VER). Quanto aos terministas, eles desen volveram amplamente a teoria dos nomes, porém, como muitas vezes usaram o vocábulo 'termo' , exporemos essa doutrina no verbete sobre esse conceito. De fato, a conhecida divisão de Occam (Logica, 1, XI) dos nomes em nomes de primeira imposição [VER] (que se aplicam a coisas) e de segunda imposição (que se aplicam a pa lavras, se bem que não forçosamente a nomes de nomes, porque por 'palavras' entendem-se pronomes, conjun ções etc.) é paralela à doutrina dos termos. O mesmo ocorre com a divisão dos nomes em nomes de primeira e de segunda intenção (VER) e das freqüentes divisões dos nomes em abstratos, concretos, universais, parti culares etc. II. Época moderna. Na época moderna, o vocábu lo 'nome ' foi usado em sentidos menos técnicos e pre cisos do que na filosofia aristotélica ou na escolástica. Os que mais se ocuparam do problema dos "modos de significar" do nome foram os autores nominalistas ou empiristas, que em muitos casos apenas reelaboraram concepções medievais (terministas) ou lhes deram um sentido psicológico-epistemológico. É o caso de quatro autores que são, quanto a isso, significativos: Hobbes, Locke, John Stuart Mill e Taine. O primeiro definiu o nome, em sua Computação ou lógica, parte 1 , cap. ii ( Works, ed. por W. Molesworth, 1 839, pp. 1 3-28), dizen do que é "uma palavra tomada arbitrariamente que serve como marca capaz de suscitar em nossa mente um pen samento parecido com algumas outras coisas que tínha mos tido antes e que, ao ser pronunciado por outras pessoas, pode tornar-se para elas signo de que pensa mento tinha em sua mente o espectador". Essa definição ampla é a clara expressão de uma atitude terminista com relação ao nome. Os nomes podem ser para Hob-
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bes positivos e negativos; contraditórios; comuns; de primeira e segunda intenção; universais, particulares, individuais e indefinidos; unívocos e equívocos; abso lutos e relativos; simples e compostos. Em todos os ca sos, trata-se de marcas arbitrárias com que nos fazemos entender pelos outros - ou entendemos os outros em virtude de certas convenções que não precisam ser estabelecidas conscientemente, mas que podem estar fundadas na natureza de nossa psique. Seguindo Occam, Hobbes fala também da possibilidade de tomar os nomes em primeira e segunda intenção: os primeiros referem-se a coisas; os segundos, a certos nomes (como 'geral ' , 'particular', 'silogismo' etc.). Portanto, os no mes são, como já dissera Francis Bacon, pontos de refe rência em meio ao constante fluir dos "pensamentos" (as cogitationes). A importância da tese hobbesiana so bre o nome é, no entanto, maior do que ressalta das pas sagens anteriores. No Leviatã (1, c. 4), Hobbes, depois de classificar os nomes - que podem, para ele, ser ex pressos mediante uma ou mais palavras - em próprios e comuns, e de indicar que os únicos universais que há no mundo são os nomes comuns, concede a estes exten são maior e menor (por exemplo, 'corpo' tem maior extensão do que 'homem'), de modo que chega a con ceber "o agrupamento de conseqüências das coisas imaginadas na mente" como "agrupamento das conse qüências de suas designações". Com isso, ele usa os nomes num sentido puramente denotativo-extensional análogo ao que foi proposto por vários lógicos contem porâneos. Assim, por exemplo, as expressões 'um ho mem é uma criatura viva' e ' se é um homem, é uma criatura viva' têm tal natureza que, se 'criatura viva' significa tudo o que significa ' homem' , a afirmação ou conseqüência é verdadeira; do contrário, ela é falsa. Isso é possível porque Hobbes usa implicitamente um conceito semântico do predicado 'é verdadeiro' (ver VERDADE): verdade e falsidade, diz ele, "são atributos da linguagem, não das coisas" (loc. cit. ). Para Locke, não é certo que cada coisa possa ter um nome; ao mesmo tempo, quando se podem designar várias coisas por meio de um nome, este se justifica pragmaticamente, pela comodidade de seu uso. Os no mes podem ser próprios (nomes de cidades, de rios etc.) e comuns (formados por abstração nominal) (En saio, III, iii). De modo geral, os nomes são compreen didos em função das idéias que designam. Assim, pode haver nomes de idéias simples, de idéias complexas, de modos mistos e de substâncias (embora estes últimos sejam duvidosos). Atitudes parecidas às de Hobbes e Locke foram adotadas pelos filósofos das escolas sensualistas, assim como por muitos ideólogos e pensadores pertencentes à chamada "filosofia do senso comum". Mas todos eles acentuaram consideravelmente o aspecto psicológico
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do problema. Os nomes eram para inúmeros desses pen sadores nomes de idéias e não de coisas ou de outros nomes. John Stuart Mill defendeu um retorno à con cepção epistemológica do nome - sem esquecer as implicações lógicas e psicológicas. Sua doutrina· dos nomes está exposta em seu livro Sistema de Lógica: a parte I trata apenas dos nomes, mas também a Parte IV contém algumas indicações a respeito. Para Mill, no mear é uma função (psicológica ou psicológico-episte mológica) de alcance lógico (P. IV, c. iii, § 1 ). Essa fun ção se refere às coisas e não às idéias das coisas. Mill rejeitou assim a concepção dos sensualistas por consi derá-la "metafisica" e adotou a tese segundo a qual um nome dado é o nome de uma coisa e não de (nossa idéia dessa coisa ('sol' é o nome do sol e não de nossa idéia do sol). Ora, a classificação dos "nomes das coisas" segue as leis próprias dos nomes, e não as leis das coisas. Nos termos da tradição escolástica, Mill dividia os no mes em sincategoremáticos (como 'a', 'com' etc.) e categoremáticos (como 'homem' , 'mesa' etc.). Os adje tivos representam um problema. De um lado, parecem não subsistir por si mesmos. Por outro, são nomes de certas expressões, ao menos quando explícitos (por exemplo, 'o branco é agradável'). Ao lado dessa divisão, Mill introduziu outra: os nomes são gerais e individuais (ou singulares), abstratos e concretos , conotativos (que denotam um sujeito e implicam um atributo) e não-co notativos (que significam só um sujeito ou um atributo, razão por que podem também ser chamados absolutos). Segundo o autor, todos os nomes concretos são cono tativos (P. I, cap. ii, § 1 ss. ). Por fim, ele dividiu os nomes em positivos e negativos , relativos e não relativos (ou que expressam ou não relações). A doutrina dos nomes em Mill equivale, pois, a uma doutrina geral dos ter mos e de seus diversos modos de significar. Taine, por sua vez, concebeu os nomes como uma espécie de signo (Da inteligência , P, 1 , 1 , ii). Os nomes designam coisas particulares ou complexos de coisas particulares. Em ambos os casos, substituem imagens (ibid. , iii). ParaTaine, portanto (assim como para os sen sualistas), o aspecto psicológico na concepção do nome prevalece sobre o lógico, ao contrário do que ocorria em Hobbes (que tinha uma aguda compreensão do pro blema do status lógico do nome), em Locke (que pare ceu fundamentar sua concepção numa peculiar mistura entre o lógico e o psicológico) e em J. S. Mill (que atentou principalmente para o epistemológico). III. Época contemporânea. Os problemas relativos à noção de nome foram objeto de investigação de Hus serl - na primeira fase do seu pensamento, a das Inves tigações Lógicas -, Frege, Wittgenstein, Carnap e mui tos outros autores. A maioria deles costuma ser, justi ficadamente ou não, incluída na chamada "tradição ana lítica", na qual é comum inserirem-se, igualmente com
NOME
ou sem justificativa, inúmeras investigações lógicas e semânticas. Entre os pontos de vista adotados por Husserl so bre o problema, dois se destacam. Um deles funda-se numa distinção entre notificação (Kundgabe) e nomi nação (Nennung). Husserl indica (op. cit. , Investiga ção Primeira, § 25) que as expressões podem ser ou sobre objetos nomeados ou sobre vivências psíquicas. No primeiro caso, exprimem o objeto que nomeiam e ao mesmo tempo notificam. No segundo, são expres sões cujo conteúdo nomeado (genanntes) e o notifica do são iguais. Husserl distingue ainda entre nomear e enunciar (op. cit. , Investigação Quarta, § 33). "Por no mes não devemos entender meros substantivos , que não exprimem por si sós nenhum ato completo. Se quere mos compreender claramente o que são e significam aqui os nomes, o melhor será considerar as conexões e principalmente os enunciados em que os nomes funcio nam em sua significação normal. Vemos então que as palavras e os complexos de palavras, que devem ser considerados nomes, só exprimem um ato completo quando representam o sujeito simples completo de um enunciado - caso no qual expressam um ato-sujeito completo - ou quando, prescindindo das formas sintá ticas, podem desempenhar num enunciado a função de sujeito simples, sem alteração de sua essência inten cional" (op. cit. , Investigação Quarta, § 34). Segundo Husserl, existem dois tipos de nomes (ou "atos nomi nais"): os que dão ao nomeado o "valor de algo existen te" e os que não dão ao nomeado este valor. Husserl sus tenta que "u,,; enunciado nunca pode funcionar como nome, nem o nome como enunciado, sem alterar sua na tureza essencial, isto é, sem uma alteração de sua essên cia significativa e, com ela, da significação mesma" (op. cit. , Investigação Quarta, § 36). Grande parte das discussões sobre a noção de nome entre lógicos e filósofos de tendência "analítica" tem antecedentes na filosofia antiga e medieval. Os nomes podem ser comuns (como 'cachorro' , 'casa', 'monta nha' ) ou próprios (como 'Napoleão' , 'Claude Lévi Strauss' , 'Círculo Italiano'). Distinguiu-se entre nomes próprios e descrições (como 'O mais importante estra tegista francês do século XIX ' , 'O autor de O Pensa mento Selvagem' , 'O edificio mais conhecido de São Paulo', que correspondem aos três nomes próprios que acabamos de mencionar). Já que a descrição 'o mais importante estrategista francês do século XIX' descreve um indivíduo cujo nome foi 'Napoleão ' e j á que a frase descritiva de referência apresenta uma significação, levantou-se o problema de saber se o nome correspon dente também tem ou não significação. Esse complexo problema recebeu várias soluções. Uma das mais conhecidas é a doutrina segundo a qual um nome próprio denota uma entidade, ou a ela se re-
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fere, mas não tem significação, quer dizer, um nome próprio está no lugar da entidade nomeada. A doutrina de J. Stuart Mill relativa aos nomes, apresentada na seção precedente, sustenta o caráter denotativo e não significativo (ou conotativo) dos nomes próprios. Frege destacou as dificuldades que logo surgem quando se pergunta se o sinal de identidade '=' relaciona obj etos ou nomes ou signos de objetos. Tratamos desse assunto nos verbetes IDENTIDADE e REFEIIBNCIA; é importante sobretudo o segundo desses verbetes e a breve apresen tação nele feita da distinção que Frege estabelece entre sentido e referência. Segundo Frege, um nome próprio (palavra, signo, combinação de signos, expressão) ex prime seu sentido e designa sua referência. Portanto, Frege opina que os nomes próprios têm um "sentido" ("Sinn"). A doutrina de Frege, desenvolvida e aprimo rada por Alonso Church, sustenta que entre os nomes próprios (ou simplesmente nomes) figuram não só as expressões que assim são comumente consideradas, mas também descrições (ou frases descritivas) e todas as expressões cuja estrutura exprime o modo como se efetua a denotação. Na verdade, deve-se dizer, também ou sobretudo, que as descrições incluem nomes que são descrições disfarçadas. A idéia de que os nomes próprios não têm signifi cação ou de que, se a têm, ela é formada pelo obj eto nomeado, foi desenvolvida por Wittgenstein no Trac tatus. Essa idéia constitui também parte da doutrina de Russell, proposta em sua teoria das descrições (ver DESCRIÇÕES [TEORIA DAS]). Segundo Russell, cumpre distinguir entre nomes próprios e descrições ou frases descritivas. Estas últimas funcionam como predicados de um X quantificado (ver QUANTIFICAÇÃO, QuANTIFICA CIONAL, QUANTIFICADOR). A frase descritiva não nomeia por si mesma; em contrapartida, se a é um nome, tem ele de exercer uma função nominativa. Quine adaptou a teoria russelliana, tendo-a inclu sive "radicalizado'', ao considerar que um nome pró prio é suscetível de ser empregado descritivamente. Em sua substância, a tese consiste em tomar o nome pró prio e dele fazer um predicado; isso pode se exprimir verbalmente, no caso de Sócrates, quando se diz que há um x tal que x "socratiza". As doutrinas de Wittgenstein-Russell, de um lado, e as de Frege-Church, do outro, parecem incompatí veis. Não obstante, fizeram-se esforços por harmonizá las e por admitir a possibilidade de que, embora não seja necessariamente o disfarce de uma descrição, um nome próprio pode ter um sentido. Carnap analisou (cf. Sentido e necessidade, cap. III) o método da "relação de nome". Trata-se, a seu ver, de um método alternativo de análise semântica mais comum do que o método da extensão e da intensão, que consiste em considerar expressões nomes de enti-
dades (concretas ou abstratas) segundo três princípios: 1) cada nome tem exatamente um nominatum; 2) qual quer enunciado (ou melhor, sentença) fala dos nomes que nele aparecem; e 3) se um nome que aparece numa sentença verdadeira é substituído por outro nome com o mesmo nominatum, a sentença continua a ser verda deira. Carnap analisa os problemas oferecidos pela duplicação desnecessária dos nomes manifesta em al guns sistemas em que se usam nomes distintos para propriedades e para as classes correspondentes. Segun do ele, um nome para a propriedade Humano e um nome diferente para a classe Humano têm não apenas a mesma extensão como também a mesma intensidade. Um nome para uma classe deve, pois, ser introduzido por meio de uma regra que se refira exatamente a uma propriedade. Segundo Carnap, a distinção de Frege antes assinalada entre o sentido e o denominado ou nominatum é uma forma particular do citado método da "relação de nome". A complexidade do problema dos nomes, especi ficamente dos nomes próprios, se apresenta tão logo se evoca a questão, tratada pelo segundo Wittgenstein, das relações (ou falta de relações) entre nomear e mostrar. Em princípio, parece que se pode saber o nome de alguma coisa mostrando o nomeado, isto é, dando dele uma "definição ostensiva". Mas a "mostração" não consegue identificar o objeto que leva o nome proposto a não ser que ocorra na trama de uma linguagem comum ao que produz a mostração e ao que procura aprender o que é aquilo a que se dá um nome mostrando um objeto. As complicações aumentam quando se percebe que há nomes que são disfarces de descrições, mas que outros não o são; que há nomes que nomeiam um obje to existente e outros que nomeiam (ou se propõem no mear) algo que não existe - ou ainda não existe - e ao qual se propõem dar determinado nome; que há no mes próprios usados como nomes comuns e nomes co muns que terminaram por adquirir o status de um nome próprio etc. (cf., para todos esses pontos, a obra do autor lnvestigaciones sobre e! lenguaje, 1 970, cap. 8: "Nom brar y mostrar"). 00 Kripke (VER) (Naming and Necessity, 1 980) criti cou a teoria referencial usual e propôs uma nova versão segundo a qual para nomear algo não se precisa estabe lecer uma conexão estrita entre o nome e a descrição que identifica o portador do nome. Para nomear, basta fixar a referência do nome.•• :> Além dos textos e da obra de autores mencionados no verbete, ver: Holger Steen S0rensen, The Meaning of Proper Names, 1 968. Fahrgang Zabeeh, What is in a Name? An Inquiry into the Semantics and Pragmatics ofProper Names, 1 968. Fernando Gil, La logique du nom, 1 97 1 . - Leonard Linsky, Names and Descrip tions, 1 977. H. Brandt Corstius, ed., Grammars for -
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NOMINALISMO
Number Names, 1 968. - H. P. Grice, "Vacuous Na mes", em D. Davidson, J. Hintikka, eds. Words and Objections. Essays on the Work of WV. Quine, 1 969, pp. 1 1 8- 1 45 . - C. Peacocke, "Proper Names, Referen ce, and Rigid Designation", em S. Blackbum, ed., Mea ning, Reference, Necessity, 1 975, pp. 1 09- 1 32. - D. S . Schwarz, Naming and Referring: The Semantics and Pragmatics of Singular Terms, 1 979. - M. Hirschle, Sprachphilosophie und Namensmagie im Neuplatonis mus, 1 979. - A . Gupta, The Logic ofCommon Nouns: An lnvestigation in Quantified Modal Logic, 1 980. G. W. Fitch, Naming and Believing, 1 986. - M. Kraus, Name und Sache. Ein Problem im.frühgriechischen Den ken, 1 987. - H. J. Wendel, Benennung, Sinn, Notwendig keit: Eine Untersuchung über die Grundlagen kausaler Theorien des Gegenstandsbezugs, 1 987. - M. D. Pal mer, Names, Reference and Correctness in Plato s Cra tylus, 1 989. - G. A. Wells, What is in a Name? Rejlec tions on Language, Magic, and Religion, 1 993. Ver também NECESSIDADE; REFERÊNCIA. C: NOME PRÓPRIO. Ver No M E (m). NOMINALISMO. Na disputa sobre os universais (vER), na Idade Média, o nominalismo, posição nomina lista ou "via nominal" consistiu em afirmar que um uni versal - como uma espécie ou gênero - não é nenhu ma entidade real e tampouco está nas entidades reais: é um som da voz,jlatus voeis (cf. infra). Os universais não se acham ante rem - não estão antes da coisa nem a precedem -, como sustenta o realismo (vER) ou o "platonismo". Não estão também in re - na coisa como sustentam o conceptualismo (VER), o realismo moderado ou o "aristotelismo". Os universais são sim plesmente nomina, nomes, voces, vocábulos, ou termi ni, termos. O nominalismo sustenta que só têm existêneia real os indivíduos ou as entidades particulares. As posições filosóficas de Roscelino (vER) exprimem a maioria das características do nominalismo, com desta que para: a) a noção de universal como som da voz; b) a noção de que só são reais os entes particulares, e e) a noção de que uma qualidade não é separável da coisa da qual se diz que "tem" esta qualidade. Em e) vemos que as chamadas "qualidades" ou "propriedades" são nomes de universais. Geralmente se fala de dois períodos de florescimento do nominalismo na Idade Média: um, no século XI, com Roscelino de Compiegne e, o outro, no século XIV, em que se distinguiu Occam. Além disso, nos dois casos, mas em especial neste último, adotava-se essa posição porque se supunha que admitir universais (idéias) na mente de Deus era limitar de algum modo a onipotência divina, e admitir universais (idéias, formas) nas coisas era supor que as coisas têm, ou podem ter, idéias ou modelos próprios, com o que também se limita a onipo-
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tência divina. Mas nessas analogias há diferenças. Dil they indicou que a principal diferença entre as duas cor rentes nominalistas medievais consiste no fato de que, em Occam, o nominalismo está vivificado pelo volun tarismo, coisa que, segundo ele, não acontece em Ros celino. Quanto ao mais, alguns autores (como Paul Vignaux) afirmam que o primeiro tipo claro de nomina lismo medieval não está em Roscelino, mas em Abe lardo (vER) , mas já vimos no verbete correspondente que a posiçãó de Abelardo sobre a questão dos univer sais é complexa, de modo que não é fácil atribuir-lhe uma posição nominalista stricto sensu. Do ponto de vista filosófico, o nominalismo medie val tem antecedentes em posições adotadas por filóso fos antigos. Assim, alguns autores céticos podem ser considerados nominalistas. Além disso, vê-se claramen te na maneira como Porfirio propôs para a Idade Média a questão dos universais (vER) que uma das posições possíveis era a depois chamada "nominalista" ou ao menos "conceptualista": é a posição que Porfirio des creve ao dizer que os gêneros e as espécies podem ser apresentados como "simples concepções do espírito". Contudo, só na Idade Média e depois nas épocas moder na e contemporânea o nominalismo ocupou um lugar central na série de atitudes possíveis acerca da natureza dos universais. Opuseram-se aos nominalistas sobretudo os realis tas, como Santo Anselmo, que qualificava aqueles como os "dialéticos de nossa época". Com efeito, os realistas não podiam admitir que um universal fosse somente uma vox e que esta pudesse ser definida, como o fez Boécio, como sonus et percussio aeris sensibilis, como um "som e percussão sensível do ar". Não podiam admitir, em suma, que um universal fosse apenas um jlatus voeis, um "sopro" (da voz), um "som proferido". A rigor, se um universal fosse apenas isso, seria uma realidade fisica. Neste caso, os nomes seriam um "al go", uma "coisa", res, e, como tal, teriam de dizer algo dela. O que se pudesse dizer dos sons como res seria dito por meio de um "universal", que estaria ao menos "nos sons" enquanto "instituições da natureza". Com isso, o nominalismo ficaria sem base. Essas objeções (ou, para ser mais exato, esse tipo de objeções) de au tores realistas ou ao menos não nominalistas obrigaram os partidários da via nominal a definir o significado de sua posição. Para manter suas posições, o nominalista tem de es clarecer o que entende por nomen, vox etc. Se insiste que um nomen é uma realidade fisica, ele tem de adotar uma posição que se nomeou oportunamente como "ter minismo" (vER) e que se manifestou contemporanea mente como o "inscricionismo" (VER) . Mas então se apre senta a questão de como reconhecer sob diversos termos ou "inscrições" o mesmo nome. Alguns autores falaram, referindo-se a isso, de "similaridade" ou "semelhança",
NOMINALISMO
mas outros indicaram que um nome ou vocábulo pode exprimir-se (oralmente ou por escrito) em diferentes tempos e espaços e continuar a ser, ainda assim, o mesmo nome ou vocábulo, devido à permanência de sua significação. Para um nominalista, esta significação não pode derivar-se das coisas, como se elas mesmas tivessem em si sua significação; ela deverá ser produzi da, pois, por meio de uma "convenção". Mas, de todo modo, não é o mesmo ser nominalista terminista ou inscricionista e um nominalista do tipo que podería mos chamar de "conceptualista" (admitindo que o que caracteriza de imediato um conceito é sua significação). Em todos os casos, os nominalistas afirmam que os nomes não estão extra animam (seja nas coisas mesmas ou num universo independente de nomes e significa ções), mas in anima. Mas o matiz de nominalismo ado tado depende do modo como se entende esse estar in anima. Isso explica que, como já indicava Victor Cousin em sua introdução à sua edição de escritos de Abelardo ( 1 936, p. clxxxii), o nominalismo - ao menos o medie val - tenha oscilado continuamente entre um concep tualismo - que por sua vez se aproxima do realismo moderado - e um terminismo ou nominalista stricto sensu. No final da Idade Média, o nominalismo que se impôs foi o expresso por Occam (ver GUILHERME DE ÜCCAM), chamado por isso e/ princeps nominalium, e pela schola nominalium, também denominada "termi nismo". Esse nominalismo consiste grosso modo em sustentar que os signos têm como função o supponere pro, isto é, o "estar no lugar" das coisas designadas, de modo que os signos não são propriamente das coisas, limitando-se a significá-las. Mas podem-se admitir outras versões do nominalismo da Idade Média e, sobre tudo, pode-se acentuar mais ou menos, no nominalismo, o convencionalismo, o terminismo etc. É freqüente ler que a filosofia moderna tem sido fundamentalmente nominalista. Assim, por exemplo, Jacques Maritain escreveu que grande quantidade de tendências - neokantianas, neopositivistas, idealistas, pragmatistas, neo-espinosistas, neomísticas etc. - são nominalistas e "desconhecem profundamente o valor do abstrato, dessa imaterialidade mais dura do que as coisas, embora impalpável ou inimaginável, que o espí rito busca no coração das coisas"; assim, elas abraçam o nominalismo porque "tendo o gosto do real, carecem do sentido do ser" (Graus do Saber, § 2). Maritain se funda para isso na idéia de que a maioria dos filósofos modernos adere a certa teoria da abstração (ver ABSTRA ÇÃO, ABSTRATO). Essa tese de Maritain padece de gene ralismo. Com efeito, se nos ativermos a uma concepção um pouco estrita do nominalismo, não poderemos dizer que a filosofia moderna (ou moderna e contemporânea) tenha sido fundamentalmente nominalista. É deveras duvidoso, por exemplo, que tenham sido nominalistas autores como Spinoza ou Hegel. Fica claro que Husserl
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não o foi. O próprio Locke não foi nominalista, mas antes conceptualista e até realista moderado. Foram, no entanto, nominalistas autores como Hobbes, Berkeley e Condillac, mesmo que cada um o tenha sido em pro porção distinta e por motivos diferentes. Assim, Hobbes e Condillac foram praticamente "inscricionistas", en quanto Berkeley negava que se pudesse falar com senti do de idéias abstratas, mas admitia as "idéias gerais". Por outro lado, Hobbes e Condillac baseavam seu nomi nalismo em certa idéia da ciência e da linguagem cientí fica, ao passo que Berkeley fundava seu nominalismo em pressupostos teológicos similares aos de Occam. Como indicamos no verbete UNIVERSAIS, pode-se falar de um nominalismo moderado, de um exagerado e de um absoluto. Todas essas espécies de nominalismo afir mam que não existem entidades abstratas (idéias, uni versais) e que só existem entidades concretas (indiví duos). As diferenças manifestam-se na hora de indicar que função têm as entidades abstratas pressupostas. Várias tendências filosóficas contemporâneas foram explicitamente nominalistas. Foi o caso de, por exem plo, diversas formas de neopositivismo (vER) e de várias espécies de intuicionismo e "irracionalistas". Limitar nos-emos aqui a alguns exemplos. Ernst von Aster ( 1 880- 1 948) defendeu o nominalis mo (cf. obra na bibliografia) em oposição à teoria dos universais de Husserl, sustentando que as teorias sobre os objetos universais têm estado dominadas por três concepções falsas: primeiro, pela hipóstase metafisica do universal (realismo no sentido tradicional); segundo, pela hipóstase psicológica do universal (realismo psi cologista); terceiro, pelo equívoco do nominalismo, "que em suas diferentes formas crê poder interpretar o universal pelo que se refere ao objeto e ao ato mental, particularizando-o". Aster rej eita as críticas de Husserl e sustenta que a universalidade concreta das essências de que ele fala é uma ficção. Nelson Goodman (vER) e W. van Quine (VER) defenderam o que denominaram "nominalismo construtivo". Eles afirmam "não crer em entidades abstratas", mas reconhecem que essa decla ração de princípios é demasiado vaga, sendo necessário esclarecê-la. Nelson Goodman, sobretudo, definiu e ela borou a mencionada doutrina como doutrina segundo a qual "o mundo é um mundo de indivíduos". "O nomi nalismo, como o concebo - escreveu ele -... não equi vale à exclusão de entidades abstratas, espíritos, insi nuações de imortalidade ou coisas desse tipo; ele requer unicamente que tudo o que seja admitido como entidade seja concebido como indivíduo. Determinado filósofo, nominalista ou não, pode impor requisitos muito estritos sobre o que vai admitir como entidade. Mas, por razoá veis que sejam, e por mais intimamente ligados que se achem ao nominalismo tradicional, os citados requisitos são, em meu entender, inteiramente independentes do nominalismo. Tal como o descrevo, o nominalismo
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exige apenas que todas as entidades admitidas, sejam o que forem, sejam tratadas como indivíduos" (ver art. de N. Goodman em op. cit. infra, p. 1 7). Isso significa negar-se a conceber qualquer coisa como uma classe, bem como negar que duas entidades distintas se com ponham das mesmas entidades. "No mundo do nomi nalismo, se começamos com quaisquer duas entidades distintas e seccionamos cada uma delas tanto quanto quisermos (tomando partes, partes de partes etc.), che gamos sempre a alguma entidade que está contida nu ma, mas não na outra, das nossas duas entidades origi nais. No mundo do platônico, pelo contrário, há pelo menos duas entidades distintas que podemos seccionar do modo indicado (tomando membros, membros de membros etc.), de modo a chegarmos exatamente às mesmas entidades" (op. cit. , p. 1 9). O "princípio do nominalismo" pode ser por isso: "nenhuma distinção de entidades sem distinção de conteúdo"; isto é, "para um sistema nominalista não há duas coisas distintas que tenham os mesmos átomos; coisas distintas só po dem ser geradas com base em átomos diferentes; todas as não identidades entre coisas são redutíveis a não identidades entre seus átomos" [entendendo por "áto mo" algo como "elemento constitutivo"] (op. cit. , p. 2 1 ) Assim, o nominalismo segue a regra entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem, ao contrário do pla tonismo (realismo), que multiplica, ou tende a multipli car, as entidades prodigiosamente e até ad infinitum. Uma concepção nominalista explícita do mundo foi defendida vigorosamente por Karl Pribram. Pribram afirma que há quatro grandes visões de mundo, ou, me lhor dizendo, quatro grandes "formas de pensamen to". São elas: a concepção universalista (do tipo dos escolásticos medievais); a concepção dialética (do tipo dos marxistas); a concepção intuitivista (do tipo dos fas cistas ou, em geral, dos irracionalistas); e a concepção nominalista. Segundo Pribram, só esta última corres ponde a uma sociedade livre, porque não pretende che gar a nenhuma verdade absoluta e, por conseguinte, permite a tolerância. Deste modo, Pribram interpreta a crise da cultura ocidental não como uma "falta de fé" mas como um "excesso de fé". Todo dogmatismo é, nesse sentido, inimigo do nominalismo, que representa a for ma de pensar correspondente ao empirismo, ao antiabso lutismo e, de modo geral, à aspiração à liberdade. As formas de nominalismo antes descritas são co mumente de caráter "epistemológico"; referem-se mais a juízos de caráter cognoscitivo do que de caráter valo rativo. Mesmo assim, estes últimos também estão impli cados de algum modo em toda concepção nominalista. Pode-se de todo modo falar de um nominalismo rela tivo a valores que Scheler denominou "nominalismo ético": é o nominalismo expresso, por exemplo, no emo tivismo (vER). Contra esse nominalismo - especial mente na forma adotada no relativismo ético - volta.
NOMINALISMO
se Scheler (Der Formalismus in der Ethik, Parte II, cap. 1 , § 2), alegando que ele supõe, em seu entender erro neamente, que não há experiências morais peculiares e que todo juízo de valor é mera apreciação "subjetiva" incapaz de apreender qualquer coisa na realidade moral. :> Sobre o nominalismo medieval: G. Canella, II no minalismo e Guglielmo d 'Occam, 1 908. - J. Reiners, Der Nominalismus in der Frühscholastik, 1 9 1 0. - A. Kühtmann, Zur Geschicht des Terminismus, 1 9 1 1 [Occam, Condillac, Helmholtz, F. Mauthner] . - P. Ho nigsheim, "Zur Soziologie der mittelalterlichen Scho lastik. Die soziologische Bedeutung des Nominalis mus" (em Hauptprobleme der Soziologie. Erinnerung sausgabe fiir Max Weber, ed. W. Palyi, vol. II, 1 923). - P. Vignaux, "Nominalisme", Dictionnaire de Théolo gie catholique, de Vacant-Mangenot-Amann, t. XI, Pt. 1 ( 1 93 1 ), cols. 7 1 7-784; do mesmo Vignaux, o opúscu lo Nominalisme au x1V siecle, 1 948 [Conférence Albert Le Grand] ; também de Vignaux, o artigo: "La problé matique du nominalisme médiéval, peut-elle éclairer des problemes philosophiques actuels?", Revue philoso phique de Louvain, 75 ( 1 977), 293-33 1 . - M. H. Carré, Realists and Nominalists, 1 946. L. M. de Rijk, Lo gica Modernorum: A Contribution to the History of Early Terminit Logic, 2 vols., em 3 tomos, 1 962- 1 967. - H. A. Oberman, The Harvest ofMedieval Theology: Gabriel Biel and Late Medieval Nominalism, 1 963 ; reed., 1 983. - T. de Andrés, El nominalismo de Gui llermo de Ockham, 1 969. - R. Paqué, Das Pariser NominalistenstQtut. Zur Entstehung des Realitiitsbe griffs der neuzeitlichen Naturwissenschaft, 1 970. - J. Largeault, Enquête sur le nominalisme, 1 972. T. Pen ner, The Ascent from Nominalism: Some Existence Ar guments in Plato :S Middle Dialogues, 1 987. - S. Knu uttila, ed. , Modern Modalities: Studies of the History ofModal Theories from Medieval Nominalism to Logi cal Positivism, 1 988. - W. J. Courtenay, "Nominales and Nominalism in the 1 2th Century", em J. Jolivet, Z. Kaluza, A. de Libera, eds., Lectionum Varietates, 1 99 1 , pp. 1 1 -48. Sobre o nominalismo moderno: H. Spitzer, Nomi nalismus und Realismus in der neuesten deutschen Phi losophie mit Berücksichtigung ihres Verhiiltnisses zur modernen Naturwissenschaft, 1 876. - A. von Mei nong, tomo 1 (Zur Geschichte und Kritik des modernen Nominalismus, 1 877), dos Hume-Studien. - K. Grube, Ueber den Nominalismus in der neueren englischen undfranzosischen Philosophie, 1 890 (tese) (e o livro antes citado de A. Kühtrnann). - H. Veatch, Realism and Nominalism Revisited, 1 954. - J. R. Gironella, "Para la historia dei nominalismo y de la reacción anti nominalista de Suárez", Pensamiento, 1 7 ( 1 96 1 ), 2793 1 O. - V. Mufioz Delgado, La lógica nominalista en la Universidad de Salamanca (1510-1530), 1 964. -
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NOMINALISMO METODOLÓGICO
O livro de E. von Aster a que se fez referência no texto do verbete é: Prinzipien der Erkenntnislehre. Versuch einer Neubegründung des Nominalismus, 1 9 1 3 . O artigo de Nelson Goodman e W. van Quine é: "Steps Towards a Constructive Nominalism", The Journal of Symbolic Logic, 1 2 ( 1 947), 105- 1 22. - O de N. Good man é: "A World of Individuais'', em 1. M. Bochenski, A. Church, N. Goodman, The Problem of Universais. A Symposium, 1 956, pp. 1 5-3 1 . - Ver, além disso, U. Saarnio, Untersuchungen zur symbolischen Logik. Kri tik des Nominalismus und Grundlegung der logistischen Zeichentheorie (Symbologie ), 1 93 5 [Acta Philosophica Fennica] . - R. M. Martin, "A Note on Nominalistic Syntax", Journal of Symbo/ic Logic, 14 ( 1 949), 266287. - !d., "A Note on Nominalism and Recursive Functions", Journal ofSymbolic Logic, 14 ( 1 949), 273 1 . - W. Stegmüller, G/auben, Wissen und Erkennen. Das Universalienproblem einst undjetzt, 1 965; 3ª ed., 1 974. - R. A. Eberle, Nominalistic Systems, 1 970. P. Gauchet, Esquisse d 'une théorie nominaliste de la proposition, 1 972. D. M. Armstrong, Universais and Scientific Rea/ism: Nominalism and Rea/ism, vol. 1 , 1 978. - H . H . Field, Science without Numbers: A De fence of Nominalism, 1 980. - S. Hottinger, Nelson Goodmans Nominalismus und Methodologie, 1 988. M. Gosselin, Nominalism and Contemporary Nomi nalism: Ontologica/ and Epistemologica/ Implications ofthe Work ofW. V. O. Quine and ofN Goodman, 1 990. Para a concepção nominalista do mundo: K. Pri bram, Conjlicting Patterns of Thought, 1 950. C: -
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NOMINALISMO METODOLÓGICO. O nomina lismo ( vER) pode ser ontológico - ou, como às vezes é chamado, "substantivo'', isto é, "real" - ou metodo lógico. Neste último caso, não se afirma que não haja entidades abstratas ou não se afirma que somente há en tidades concretas, indivíduos etc., mas que se procede como se não houvesse outras entidades além das con cretas ou dos indivíduos. É possível encontrar no passado alguns exemplos de nominalismo metodológico, mas este parece estar antes em várias tendências da atual filosofia "analítica" e, em particular, em várias tendências da filosofia da linguagem ordinária. Segundo Richard Rorty ("Meta philosophical Difficulties of Linguistic Philosophy", introdução à antologia do mesmo autor intitulada The Linguistic Tum: Recent Essays in Philosophica/ Me thod, 1 967, pp. 1 -39), embora uma leitura do "segundo Wittgenstein" não proporcione nenhuma evidência rela tiva à existência ou inexistência de conceitos e univer sais, há razões para pensar que um exame do modo como se usam as palavras na linguagem ordinária vai fracassar se procurar encontrar algo como conceitos ou universais. Por isso, diz Rorty, o que se pode chamar "nominalismo metodológico" prevaleceu entre os filó sofos da linguagem: "Na forma em que usarei esse
termo, o nominalismo metodológico é a idéia segundo a qual todas as questões que os filósofos apresentaram sobre conceitos, universais subsistentes ou 'naturezas' que a) não possam ser respondidas por meio de uma pesquisa empírica relativa ao comportamento ou a pro priedades de particulares subsumidos em tais conceitos, universais, ou naturezas, e que b) podem ser respondi das de alguma maneira, podem ser respondidas por meio da proposição de questões sobre o uso de expres sões lingüísticas e de nenhuma outra forma. Rorty reco nhece que só um nominalista metodológico poderia ser filósofo da linguagem, e que o nominalismo metodoló gico é, por sua vez, uma tese filosófica "substantiva", razão por que quem se opõe a esse nominalismo tem de provar que sua oposição se justifica. Autores como Ryle e Wamock podem ser conside rados, deste ponto de vista, nominalistas metodológicos. Os autores que não seguem o programa da filosofia da linguagem, mas que seguem alguma tendência "cons trutivista" (ver CoNSTRuc10NISMO) , podem ser ou não no minalistas metodológicos (ou ontológicos). Assim, Gus tav Bergmann é um realista; Quine é um nominalista, exceto no tocante ao status ontológico das classes. NOMOLOGIA, NOMOLÓGICO. Usa-se algumas vezes 'nomologia' para designar a ciência das leis no sentido jurídico de 'leis' -; "nomologia" equivale nesse caso a "ciência do direito", e especialmente à parte mais geral dessa ciência. Ardigó ( VER) distinguiu entre "nomologia" e "nomogonia", entendendo pela pri meira a ciência das leis morais e pela segunda a ciência da origem ou gênese dessas leis. Nas Investigaçõesfilo sóficas, Husserl empregou o termo 'nomologia' , e espe cificamente a expressão 'nomologia aritmética', para designar a matemática geral ou universal. O mesmo au tor usou em Lógica formal e transcendental as expres sões 'ciências nomológicas ' e 'sistema nomológico ' para designar, respectivamente, as ciências e o sistema de natureza dedutiva. Segundo Husserl, os matemáti cos procuram definir "formas de multiplicidade"; a ciência mais geral dessas formas de multiplicidade é uma "nomologia" ou "ciência nomológica". Um sentido de 'nomologia' e 'nomológico' semelhante ao de Hus serl aparece na obra de Jean Cavailles, Sur la logique et la théorie de la science (2ª ed. , p. 70). Nenhum dos usos anteriores prevaleceu. Em contra partida, continua-se a usar (se bem que não com muita freqüência) 'nomológico' como equivalente a "tudo o que concerne a uma lei" ou "tudo o que concerne às leis". A lei ou leis em questão podem ser naturais ou sociais (sociais e jurídicas) ou ambas ao mesmo tempo. Em escritos epistemológicos, os termos 'nomologia' e 'nomológico ' costumam referir-se a leis enquanto leis naturais. Se se incluírem nas leis as "normas", as ciên cias nomológicas serão ao mesmo tempo ciências nor mativas (ver NORMATIVO).
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NOMOLÓGICO-PROBABILÍSTICO
Ver NoMOLóG1co-0Eounvo e NoMOLóGICO-PROBA BILísnco. NOMOLÓGICO-DEDUTIVO. Uma explicação é cha mada "nomológico-dedutiva" quando procede do seguin te modo: se considerar um fato ou acontecimento que se procura explicar como conclusão lógica de premissas constituídas por ( 1) determinado número de fatos e acon teci mentos, e (2) uma ou mais leis gerais. A forma de argumentar nomológico-dedutiva tem a forma: H Hr H . 1
(!) (2)
E
(3)
L I L2"' L.
(3) é chamado de explanandum, ou "o que se tem de explicar". A conjunção de ( ! ) e (2) é chamada de
explanans, ou "o que explica". Embora se fale de fatos ou acontecimentos, o argu mento nomológico-dedutivo é constituído por enuncia dos. Assim, em ( 1) temos enunciados de fatos particula res; em (2) temos enunciados que formulam leis gerais, que exprimem regularidades; e em (3) temos o enuncia do do fato a explicar, que aparece como a conclusão. A diferença entre 'fato' e 'enunciado' é aqui funda mental, não só porque se trata de um argumento dedu tivo, mas também porque explicar por inteiro um fato equivaleria a levar em conta o número (possivelmente infinito) de seus aspectos, o que tornaria dificil, se não impossível, uma explicação completa. Assim, aquilo que se aspira a explicar por completo mediante um ar gumento nomológico-dedutivo não são fatos ou acon tecimentos, mas aspectos de acontecimentos ou fatos acerca de acontecimentos. (3) não é necessariamente uma classe de fatos ou acon tecimentos, mas um enunciado sobre um fato ou aconte cimento singular. Todavia, uma vez explicado (3), podem ser explicados todos os outros fatos ou acontecimentos da mesma classe, ou pelo menos podem-se oferecer prin cípios de explicação deles. (3) não é tampouco necessa riamente um efeito, assim como ( 1 ) não são necessaria mente causas. Embora muitas vezes, especialmente nas ciências naturais, seja causal, a relação entre H. . e E não tem por que sê-lo, e não o é, quando se trata de conexões simultâneas. As explicações nomológico-dedutivas são comple tas quando se exibem todas as premissas necessárias. É comum que se deixem premissas implícitas, o que origina explicações elípticas ou parciais. :l A idéia de explicação nomológico-dedutiva foi ex posta por C. G. Hempel e por P. Oppenheim em "Studies in the Logic of Explanation", Philosophy of Science, 1 5, 1 948, pp. 1 35- 1 75 (ver EXPLICAÇÃO) e foi exposta e aprimorada por Hempel em vários trabalhos, entre os quais se destaca "Deductive-Nomological vs. Statistical Explanation", em H. Feigl et ai. , eds., Minnesota Studies in the Philosophy of Sciences, vol. III, 1 962. .
Hempel indicou várias vezes (por exemplo: "Rea sons and Covering Laws in Historical Explanation'', em Sidney Hook, ed., Philosophy and History: A Sym posium, 1 963, pp. 1 43- 1 63) que o modelo de explica ção nomológico-dedutiva (assim como o modelo de ex plicação nomológico-probabilística [ver NoMOLóGrco PROBABILísT1co]) é um modelo de explicação lógica e não psicológica (ou sociológica), isto é, que não reflete necessariamente o modo como se explica e se argumen ta nas ciências. Alegou-se contra isso que há uma lógi ca da descoberta (vER) que, sem ser uma descrição de processos psicológicos (ou sociológicos), se constitui a partir de outro modelo que não o nomológico-dedu tivo (ou o nomológico-probabilístico ). A aceitação dos modelos hempelianos implica de modo geral a clara dis tinção entre contexto de descoberta e contexto de justi ficação (ou validação). Para Hempel, o contexto de jus tificação é um metacontexto. ' ' . ' = ' lê-se 'é idêntico a', 'é igual a', 'é o mesmo que' etc. ' >' ' lê-se 'é diferente de' , 'não é igual a', 'não é idêntico a' etc. Na lógica das descrições, usa-se (iX), que se lê 'o x tal que ' , 'o x que ' . Usou-se também 'V' para indicar uma expressão vazia, e ' - V ' (ou, na notação aqui apre sentada, ' l V') para indicar uma descrição não vazia. O sinal de classe universal é ' A ' . O sinal de classe nula é 'V' . Esses sinais são de tamanho só um pouco maior do que os introduzidos como quantificadores, sendo isso um inconveniente visual. Ver o verbete CLASSE. Na lógica de relações, usam-se como símbolos de relações as letras 'Q', 'R', 'S' etc. Os sinais usados em álgebra de relações são: 'e' ou sinal de inclusão. Assim, R e S se lê 'a relação R está incluída na relação S' . ' = ' ou sinal de identidade. Assim, R S se lê 'a relação R é idêntica à relação S' . ' ' u ou sinal de "soma de". Assim, R u S se lê 'a soma das relações R e S '. ' ' n ou sinal de "produto de". Assim, R n S se lê 'o produto das relações R e S' . '-' (sobreposto à letra que designa relação ou à fórmula inteira) ou sinal de "complemento de". As sim, R se lê 'o complemento da relação R ' . O sinal d a "relação universal" é ' V ' ; o d a "relação nula", ' A ' . O sinal d e "converso" (VER) d e uma relação é (sobreposto à letra que designa relação) o u o mesmo sinal estendido '-' (quando se aplica a uma fórmula). O sinal de "produto relativo de" é ' I ' . O sinal de "imagem de uma classe com respeito a" uma relação é ' ' ' ' . Mais =
'v'
NOTIFICAÇÃO
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informação sobre esse ponto nos verbetes sobre as no ções de Converso, Produto relativo e Imagem (adfinem). Para funções, ver FuNçÃo. Outros sinais usados em textos lógicos são os seguintes: '= def.', que se lê 'se define' ou 'é definido por' (ver DEFINIÇÃO) ' 1- ' é usado por alguns autores, desde Frege, como sinal de "asserção". '-l ' é usado por Lukasiewicz, seguindo uma su gestão de Ivo Thomas, como sinal de "rejeição". 'Ç foi usado às vezes para expressar ' qualquer proposição de qualquer classe ' . ' � ' foi usado à s vezes para expressar 'todas a s pro posições' . '�' e '�', chamados "esquinas, "ângulos" o u "si nais angulares", foram usados às vezes como sinais para expressões metalógicas. Hoje, usam-se para dar a entender que um enunciado epistêmico não se refere às expressões correspondentes (ver EPISTÊMico). Usam se igualmente para esse propósito as duplas aspas: ' " ' e ' " '. Na lógica combinatória e na lógica lambda, usa ram vários outros símbolos. Por exemplo, a aplicação do símbolo variável 'qi' a a é expresso: ' { qiqi} (a) ' . A aplicação da expressão ' { qi} (a) ' a � é expressa me diante { { qi } (a)} ( � ) ' . O termo inicial entre ' { } ' é o operador ou functor, e o que está entre '( )' é o argu mento, determinado pelo operador. Os sinais metalógicos, '�' e '�' (ou "esquinas"), indicados antes, são usados para indicar que se deixa sem especificar (ao menos provisoriamente) o status lógico dos símbolos correspondentes. As letras 'A' , 'E', T , 'O' são usadas tradicional mente para representar os quatro tipos fundamentais de proposições mencionadas no verbete Proposição (vER). Os termos (ver TERMO) do silogismo (vER) costu mam ser representados pelas letras ' S ' , 'P', 'M' (alguns autores preferem 'F' , ' G ' , 'H'). É freqüente usar letras minúsculas 'a', ' e ' , 'i ', ' o ' , que representam os tipos mencionados de proposições, quando se inserem em esquemas nos quais intervêm duas das letras referidas 'S ', 'P', 'M'. Muitos lógicos escolásticos usam as letras 'A', 'E', ' I ' , 'U' para representar as proposições modais (ver MODALIDADE). Lukasiewicz propôs uma notação na qual se mos tram desnecessários os parênteses. Seu princípio con siste em escrever os correspondentes sinais antes dos argumentos. Os sinais empregados por esse autor como conectivas sentenciais são: 'N' como sinal de negação. Assim, ' l p' se escreve 'Np'. 'K' como sinal de conjunção. Assim, 'p A q' se escreve 'K pq '. 'A 'como sinal de disjunção inclusiva. Assim, 'p v q' se escreve 'A pq ' . .
' C' como sinal de condicional. Assim, 'p -? q' se escreve 'C pq' . 'E ' como sinal d e bicondicional. Assim, 'p H q ' s e escreve 'E p q '. Os quantificadores usados por Lukasiewicz são: ' TI ' ('para tudo'), ' I ' (para algum'). Na lógica das classes, este autor usa 'A ' ('pertence a todos'), 'E' ('não pertence a nenhum'), 'I' ('pertence a alguns'), 'O' ('não pertence a alguns'). Os símbolos de classes 'a', 'b' etc. são tam bém pospostos aos operadores. Um exemplo, dado pelo próprio Lukasiewicz, per mite entender o funcionamento de seu simbolismo. A expressão que na notação por nós adotada se escreve: (p -? q) -? ((q -? r) -? (p -? r)) é escrita por Lukasiewicz:
CCpqCCqrCpr Para várias representações gráficas, no passado e na atualidade, ver ÁRVORES; DIAGRAMA; TABELAS (MÉTODO DE); VENN (DIAGRAMAS DE). NOTIFICAÇÃO. Ver NOME; SINAL NOTITIA. Este termo foi empregado, sobretudo por autores escolásticos, nos sentidos de "idéia'', "noção", "conhecimento" e "ciência" (scientia ). Estes dois últi mos sentidos foram os predominantes, mas notitia foi empregado, além disso, num sentido mais específico, como "modo de conhecimento" enquanto ligado ao "objeto conhecido". Foram vários os modos pelos quais se entendeu notitia. Tomás de Aquino dizia que há quatro modos principais: segundo a natureza cognoscitiva, segundo a potência cognoscitiva, segundo o hábito cognoscitivo e segundo o ato cognoscitivo ou próprio ato de conheci mento (Quod. 7, ! , 4 c). Além disso, pode-se falar de vários tipos de notitia: real ou efetiva; de aprovação ou simples; de visão; completa; arquitetônica (que é o mesmo que principativa ou notitia de princípios); expe rimental; sensível, mental; natural etc. (S. theol. , I, q. XXXIV , 1 ad 2). Occam distinguia entre notitia complexa (sobre enunciados ou demonstrações) e notitia não-com plexa (incomplexa, ou sobre termos ou coisas signi ficadas por eles). É importante em Occam, e em autores por ele influenciados, a noção de notitia intuitiva, ou conhecimento de que uma coisa existe quando existe ou de que não existe quando não existe (Quaestiones in I V Sententiarum, I I , q . 1 5 E ) . Essa notitia s e distingue da notitia abstrativa, que não permite conhecer de modo evidente se uma coisa (contingente) existe ou não existe. A principal discussão acerca do conceito de notitia entre os escolásticos girou em torno de se há ou não no titia direta possível de coisas existentes. Quando se afir ma que sim, pode-se concluir que se pode ter conheci mento direto do individual. Quando se afirma que não, ...
NOVIDADE
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o conhecimento do individual não é direto, mas indire to (por abstração, interposição de species etc.). Sendo a notitia um conhecimento, pode-se dela pre dicar tudo o que se pode predicar do conhecimento, ou, melhor, das diversas formas de conhecimento. Assim, além dos tipos de notitia supra-indicados, pode-se falar de notitia clara, distinta, perfeita, imperfeita, especula tiva; prática etc. NOTUM. Ver PER SE NOTA. NOUS. Dada a freqüência com que é usado em textos filosóficos, o termo grego vous e sua transcrição Nous, daremos aqui alguns esclarecimentos que completem o que se diz no verbete Espírito (VER) . Nous é usado em grego em vários sentidos: 1) como faculdade de pensar, inteligência, espírito, memória e, às vezes, (como na Odisséia, VI, 320), sabedoria; 2) como o pensamento objetivo, a inteligência obj etiva; 3) como uma entidade (penetrada de inteligência) que rege todos os processos do universo. No sentido 1) é freqüente em Aristóteles, que concebe o nous como a parte superior da alma, \j)VXTÍ· Sendo essa parte comum a todos os seres inteli gentes, ela se objetiva, até transformar-se no entendi mento ( VER) agente e com isso adquire a significação. 2) Neste sentido se traduziu vous freqüentemente por intellectus, definindo-o como um hábito (VER) da alma e, por vezes, como a própria alma enquanto unidade de todas as suas atividades. Em alguns autores (como Agostinho), o nous representa a vida interna do espírito e neste sentido equivale à mens. O sentido 3) é próprio de Anaxágoras (ver ANAXÁGORAS e ESPÍRITO). Freqüente mente se constata a combinação do sentido 3) com o 2) nos neoplatônicos. Assim o vemos em Plotino, para quem o vous é a segunda hipóstase (vER) , emanada do Uno e emanadora da alma do mundo. O nous plotiniano é o ato primeiro do Bem, e está para o Uno como o cír culo está para o centro do círculo. O nous é aqui fre qüentemente concebido como a visão (inteligível) do princípio, do Uno, constantemente voltada para ele. Mas não é pura forma: o nous tem matéria e forma, tendo sua matéria caráter inteligível. Para alguns neopitagóricos, o vous é a unidade das idéias (e dos números ou dos "números-idéia", ou "idéias-número"). Segundo Numê nio de Apaméia, considerado por alguns como neopita górico e por outros como antecessor do neoplatonismo, há no segundo Deus uma triade: o primeiro vous, que "pensa por desígnio do segundo Deus", o segundo vous relacionado com o primeiro e criador (pelo desejo) do terceiro, e um terceiro vous, relacionado com o pensa mento humano. :> Sobre o Nous em vários pensadores: R. Schottlaen der, "Nus ais Terminus'', Hermes, 64( 1 929), 228-242. - K. von Fritz, "NO Y.L, NOE IN and Their Derivatives in Presocratic Philosophy (excluding Anaxagoras). I. From the Beginnings to Parmenides", Classical Philolo-
gy,
40( 1 945), 223-242. - Id., lbid. II. The Post-Par minidean Period, ibid. , 4 1 ( 1 946), 1 2-34. - Id., "Der N O Y .L des Anaxagoras", Archiv for Begriffsgeschi chte, 9(1 964), 87- 1 02. - J. H. M. Loenen, De naus in het system van Plata s philasophie, 1 95 1 (tese). - G. Jãger, 'Nus ' in Platons Dialogen, 1 967. - W. Biehl, Ueber den Begrijfvous bei Aristoteles, 1 864. - A. Bul linger, Aristateles; Nus-Lehre, 1 822. - W. Andres, Die Lehre des Aristoteles vom vous, 1 906. - H. Seidl, Der Begrijf des Intelekts (vous) bei Aristateles im philasa phischen Zusammenhang seiner Hauptschriften, 1 97 1 . - O. Perler, Der Nus bei Plotin und das Verbum bei Au gustinus ais vorbildliche Ursache der Welt, 1 9 1 3 . M. V. Wedin, "Tracking Aristotle's 'nous "', em A. Do nagan, ed., Human Nature and Natural Knawledge, 1 985, pp. 1 67- 1 97. - M. L. Silvestre, "Nous, the Con cept ofUltimate Reality and Meaning in Anaxagoras", Ultimate Reality and Meaning, 12(4) ( 1 989), 248-255. - D. Papadis, "Aristotle 's Theory of Nous: A New In terpretation of Chapters 4 and 5 of the Third Book of De Anima", Philosophical Inquiry, 1 5(3-4) ( 1 993), 99- 1 1 1 . Para o Nous como entendimento (ativo e passivo), ver a bibliografia de ENTENDIMENTO; para o Nous como espírito, ver a de ESPÍRITO. Numa acepção ligada à "filosofia do espírito" fran cesa, ver a doutrina do Naus de G. Madinier em seu livro Canscience et amaur. Essai sur le "Naus ", 1 938, 3ª ed., 1 962. - Uma doutrina mais poética que filosó fica sobre o conceito de Nous em E. Oribe, Tearía dei Naus, 1 943. Fragmentos de Oinomao foram conservador na Praeparatio evangelica, de Eusébio (livro v). Ver: Th. Saarmann, De Oinomao Gadareno, 1 887 (tese; com ed. dos restos dos livros de Oinomao cha mados r OJÍTWV yc.upá). C
OKEN, LORENZ (Lorenz Ockenfuss) ( 1 779- 1 851). Nascido em Bohlsbach (Baden), estudou medicina em Gõttingen e foi "professor substituto" ( 1 807- 1 8 1 2) e professor titular (a partir de 18 1 2) de medicina em lena. Em 1 8 1 5, teve de renunciar à cátedra por causa dos ar tigos de teor político publicados na revista científica /ris, por ele fundada em 1 8 1 7 e que circulou até 1848. Em 1 827, foi nomeado professor na Universidade de München e, em 1 832, na Universidade de Zürich. Oken se distinguiu por suas doutrinas em filosofia da natureza, seguindo as inspirações de Schelling, que, por sua vez, aproveitou algumas das teorias de Oken. Quanto aos mais, Schelling e Oken se chocaram, por que Schelling se opunha ao panteísmo de Oken e Oken ao misticismo de Schelling. Segundo Oken, o universo é um todo orgânico, resultado da transformação de Deus; é uma "objetivação" ou "fixação" de Deus, cuja primeira manifestação é a luz, que se transforma em éter e o éter em matéria. O éter é o elemento universal que penetra todas as coisas, que são concebidas como pensamentos ou objetivações divinas. Importante na filosofia natliral de Oken é a concepção dos organismos como resultado de uma evolução surgida de uma massa indiferenciada que se "objetiva" e se "fixa" em diversas formas. A massa indiferenciada é animada por um prin cípio dinâmico que Oken chama "galvanismo" e que tem como causa e pressuposto a luz. No curso da evolu ção, surgem os organismos em estado cada vez mais complexo, até formar-se o organismo humano e, com ele, o entendimento humano, que é por sua vez entendi mento do Todo, e Deus encarnado. Para explicar a dife rença entre os corpos inorgânicos e orgânicos, Oken usa relações numéricas. Os números fracionários corres pondem aos corpos inorgânicos e os números inteiros aos orgânicos. Os números são, além disso, expressões da essência do eterno; logo, "o real é número". Entre as pesquisas de Oken, há algumas interessan tes conjeturas, que ele tentou demonstrar e que depois se tornaram objeto de comprovações empíricas. Há, por exemplo, a conjetura de que os seres vivos são compos tos de células; a conjetura de uma evolução dos seres vivos a partir de um estado primitivo mucilaginoso aquá tico - a "massa indiferenciada" a que nos referimos antes - e do qual surgem as plantas e os animais. A isso Oken acrescentou a idéia de que, uma vez cumprida a evolução, se produz uma "retração" ao estado originá-
OLBRECHTS-TYTECA, L. rio, do qual volta a surgir o universo, possivelmente em um número infinito de vezes. � Obras principais: Übersicht des Grundrisses des Systems der Naturphilosophie, 1 803. - Die Zeugung, 1 805. - Biologie, 1 806. - Über die Bedeutung der Schiidelknocken, 1 807. - Über das Universum ais Fort setzung des Sinnensystems, 1 808. - Erste Ideen zur Theorie des Lichtes, der Farben und der Wiirme, 1 808. - Lehrbuch der Naturphilosophie, 3 vols., 1 809- 1 8 1 1 . - Lehrbuch der Naturgeschichte, 1 3 vols., 1 8 1 3 - 1 826. - Allgemeine Naturgeschichte, 13 vols., 1 83 1 - 1 844. Ver: A. Ecker, L. O., 1 880. - J. Schuster, L. O., der Mann und sein Werk, 1 922. - J. Strohl, L. O. und Georg Büchner, 1 936. - R. Zaunick e M. Pfannens tiehl, L. O. und die Freiburger Universitiit, 1 93 8 . Id., L. O. und Goethe, 1 94 1 . Os escritos pertinentes de P. W. Bridgman foram mencionados no texto do verbete. - Os dois artigos de Bergmann e Hempel são: G. Bergmann, "Sense and Nonsense in Operationism", The Scientific Monthly, 79 ( 1 954), 2 1 0:2 1 4, reimp. em The Validation ofScientific Theories, 1 956, ed. P. G. Frank, pp. 4 1 -52; C. G. Hem pel, "A Logical Appraisal of Operationism", ibid. , 79 ( 1 954), 2 1 5-220, reimp. em The Validation etc. , pp. 5267. Ambos os artigos são comunicações apresentadas no "Symposium" intitulado "The Present State of üpe rationalism" (Boston, 1 953). -A obra de A. C. Benja min é: Operationism, 1 95 5 . - A obra de Ph. Frank é: Between Physics and Philosophy, 1 94 1 . - A obra de A. Rapoport é: Operational Philosophy: lntegrating Knowledge and Action, 1 953, reimp. , 1 965. Ver também: L. Weber et ai., "Pensée symbolique et pensée opératrice'', no Bulletin de la Société Fran çaise de Philosophie, 1 93 5 [sessão de 2 1 - 1 2- 1 935]. C. C. Pratt, The Logic ofModern Psychology, 1 939. H. Feigl, B. F. Skinner et ai. , "Symposium on Opera tionism'', Psychological Review, 52 ( 1 954), 25 1 -277. - U. Curi, Analisi operazionale e operazionalismo, 1 970 (sobre P. W. Bridgman). J. Klüver, Operatio nalismus. Kritik und Geschichte einer Philosophie der exakten Wissenschaften, 1 975. C: -
OPERACIONISMO. Ver 0PERACIONALISMO. OPERADOR. Ver QUANTIFICAÇÃO, QUANTIFICCIONAL, QUANTIFICADOR.
OPINIÃO OPINIÃO. Na República (v, 477 A-480 A), Platão assi nala que o que é absolutamente é também absolutamen te cognoscível, e que o que não existe absolutamente não é conhecido sob nenhum aspecto. Mas, havendo coisas que ao mesmo tempo são e não são, isto é, coisas cujo ser é o estar situadas entre o ser puro e o puro não-ser, deve-se postular para a compreensão dessas coisas a exis tência de algo intermediário entre a ignorância, ãyvoia, e a ciência, emoTJ͵TJ. O que corresponde a esse saber intermediário das coisas também intermediárias é a opinião, Oól;a. Trata-se, segundo Platão, de uma facul dade própria, distinta da ciência, de uma faculdade que nos torna capazes de 'Julgar sobre a aparência" (4 77 E). Como conhecimento das aparências, a opinião é o modo natural de acesso ao mundo do devir e, portanto, não pode ser simplesmente desprezada. No entanto, o que caracteriza o filósofo é o não ser "amigo da opinião", isto é, o estar continuamente voltado para o conheci mento da imutável essência. A concepção platônica da opinião permanecia, pois, estreitamente vinculada com a admissão da existência e do primado do mundo inteli gível; não era simplesmente uma crença, mas, como vimos, uma faculdade especial e irredutível, algo inter mediário para um ser também intermediário. Contudo, o caráter provável da opinião diante da segura certeza da visão intelectual do inteligível tornou possível lenta mente a passagem ao conceito atual de opinião como algo distinto ao mesmo tempo do saber e da dúvida; na opinião não há propriamente um saber, tampouco uma ignorância, mas um modo particular de asserção, que se encontra tanto mais próxima do saber quanto mais prováveis são as razões nas quais se apóia; uma possi bilidade absoluta dessas razões faria a opinião coincidir com o verdadeiro conhecimento. Segundo os escolásticos, na opinião há sempre um assentimento, assensus, mas um assentimento em que existe semprefornido partis oppositae, temor do susten tado pela asserção contrária. Por isso, os escolásticos assinalam que a razão formal da opinião, isto é, aquilo que a distingue da certeza (VER), é justamente o ser assensus informus seu cum formidine contradictorii. Essa concepção da opinião se refere sempre a um sujeito ou indivíduo que a sustenta. É diferente o caso, em contrapartida, em que se trata da chamada opinião pública, investigada sobretudo pela sociologia. A opi nião é então um fenômeno social.que não se acha situa do no mesmo plano do saber ou da certeza, expressando antes uma forma especial de comportamento. A "opi nião pública" é por isso mais um modo de atuar do que de pronunciar-se sobre a realidade, mesmo quando se trate de um atuar que implica sua manifestação em cer tos pronunciamentos. Não obstante, o pronunciamento dessa opinião não se refere, como o enunciado, a um objeto, mas à própria realidade que se pronuncia. En quanto a opinião individual é um ato intencional, a opi-
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nião pública é um estado, e ela mesma se transforma, no âmbito de uma investigação sociológica ou históri co-filosófica, em objeto de qualquer possível opinião no sentido primeiramente indicado. :l Sobre o conceito de opinião em Platão e Aristóte les: O. Ihm, Ueber den Begriffder platonischen Oól;a und deren Verhiiltnis zum Wissen der Ideen, 1 877. L. M. Régis, L'opinion selon Aristote, 1 935. J. Spru te, Der Begriff der ôól;a in der platonischen Philoso phie, 1 962. - Th. Ebert, Meinung und Wissen in der Philosophie Platons. Untersuchungen zu "Charmides ", "Menon " und "Staat '', 1 974. Y Lafrancé, La théorie platonicienne de la doxa, 1 98 1 . Sobre conhecimento e opinião: B . Varisco, Scienza e opinione, 1 90 1 . - J. Laird, Knowledge, Belief, and Opinion, 1 93 1 . -T. J. Cooney, The Difference Between Truth and Opinion: How the Misuse ofLanguage Can Lead to Disaster, 1 99 1 . Sobre a opinião pública: G. Ellinger, Das Verhiiltnis der ojfentlichen Meinung zur Wahrheit und Lüge im 1 0. 1 1 . 12. Jahr., 1 884. G. Tarde, L'Opinion et la Joule, 1 90 1 . - W. Bauer, Die ojfentliche Meinung und ihre geschichtliche Grundlagen, 1 9 1 4. - !d., Die ojfen tliche Meinung in der Weltgeschichte, 1 930. F. Tõn nies, Kritik der ojfentlichen Meinung, 1 922. W. Al big, Public Opinion, 1 939. - A. Sauvy, Le pouvoir et l 'opinion, 1 949. /d., L'opinion publique, 1 956. e -
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OPOSIÇÃO. /. A oposição na lógica. Deve-se distin guir entre a oposição nos termos e a oposição nas pro posições. A oposição nos termos foi analisada por Aris tóteles em Cat. , X 1 1 b 1 5 - 1 3 b 3 5 , bem como em Top. II, 1 09 b 1 8-25 ; 1 1 3 b 1 - 1 5 e em várias passagens da Met. O texto principal é o primeiro; nele são considera dos os opostos àvT18foe1s como um dos pós-predica mentos (VER). Segundo o Estagirita, as acepções habi tuais da oposição são: 1) Oposição de termos relativos, ou do relativo, npos TÍ (como a do dobro à metade); 2) Oposição de termos contrários, ou do contrário, evavTía (como a do mal ao bem); 3) Oposição da privação à posse, KaTà 0Tépno1v Kat ESIV (como a da cegueira à visão); 4) Oposição da afirmação à negação, ou do con traditório KaT' àVTícpamv (como a de "está sentado" a "não está sentado" ou de "justo" a "não-justo"). Seguindo Aristóteles, os escolásticos estudaram a oposição (oppositio) nos termos, ou, como também se diz, nas idéias enquanto idéias não-associáveis. A opo sição exprime a repugnância de uma idéia com relação a outra ou de uma coisa com relação a outra. Há tam bém quatro espécies de oposição:
2 1 59 1 ª) Oposição contraditória (entre urna idéia ou urna coisa e sua negação). Homem e Não-ho mem são idéias contraditórias. 2ª) Oposição privativa (entre a forma ou proprieda de e sua ausência no sujeito). Visão e cegueira no homem são idéias opostas privativas. 3ª) Oposição contrária (entre as idéias ou coisas de um mesmo gênero, mas sem que possam estar presentes simultaneamente num mesmo sujeito. Virtude e vício são idéias opostas contrárias. 4ª) Oposição relativa (entre dois ou mais entes articulados de acordo com urna mesma ordem). Pai e filho são idéias opostas relativas. A oposição nas proposições é estudada nas propo sições categóricas e nas proposições modais. Considere mos antes de tudo as primeiras. A oposição nas proposições categóricas é analisada por Aristóteles em De int. IV 1 7 a 37- 1 8 a 1 3 , e em An. Pr. II 63 b 2 1 -64 b 27. Exporemos a seguir o resultado da análise aristotélica tal como foi elaborado pelos escolásticos. Indiquemos em primeiro lugar que alguns escolás ticos consideram que a oposição nas proposições é de rivável das oposições nos termos ou idéias. Essa hipóte se apóia-se na ambigüidade com que é estudada a oposi ção em Cat. Top e Met. (ao contrário da clareza com que aparece em De int. ). Embora se possa mostrar essa de rivação nos textos de Aristóteles, convém manter a di ferença entre a oposição nos termos e a oposição nas proposições. A oposição nas proposições categóricas é definida como a afirmação e a negação do predicado e do sujeito, chamada ainda de afirmação e negação do mesmo pre dicado relativo ao mesmo sujeito: affirmatio et negatio ejusdem de eodem. Exemplo de oposição de proposi ções é a que existe entre a proposição "João é prudente" e "Não é verdade que João é prudente". Deve-se levar em conta que as proposições opostas não são o mesmo que as proposições díspares. Nestas últimas, não há opo sição lógica, que se exprime mediante as partículas "é" ["verifica-se ser"] e "não é" ["não se verifica ser"] . Os lógicos estabelecem várias classes de oposição lógica de proposições. Considerando os tipos de propo sições designados pelas letras "A'', "E", "I", "O" (ver PROPOSIÇÃO), temos três classes de oposição. 1 b) Oposição contraditória. É a oposição entre A e O e entre E e I. As proposições opõem-se não só em qualidade ( VER) como em quantidade (VER) . 2b) Oposição contrária. É a oposição entre A e E. As proposições se opõem em qualidade, mas não em quantidade, sendo as duas universais. 3b) Oposição subcontrária. É a oposição entre I e O. As proposições se opõem em quantidade, mas não em qualidade, sendo as duas particulares.
OPOSIÇÃO Não se deve confundir a negação de uma proposi ção com a negação de um de seus termos. Assim, por exemplo, sendo O contraditório a A, O equivale à nega ção de A e não à negação de um termo de A. A oposição das proposições A, E, I, O é esquema tizada no quadro a seguir, chamado "quadrado de oposição": A
contrárias
E
subcontrárias
o
O quadrado indica que A e O, de um lado, e E e I, do outro (relação contraditória) estão opostas de tal modo que as duas não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo nem podem ser simultaneamente fal sas; que A e E (oposição contrária) estão opostas de modo que as duas não podem ser verdadeiras ao mes mo tempo, mas podem ser falsas simultaneamente; que I e O (oposição subcontrária) estão opostas de tal modo que as duas podem ser verdadeiras ao mesmo tempo, mas não podem ser falsas simultaneamente; e que A e I e E e O (relação subalterna) estão relaciona das de tal modo que, se A é verdadeira, I é verdadei ra, e que se E é verdadeira, O é verdadeira, mas que, se I é verdadeira, A não é necessariamente verdadeira e que, se O é verdadeira, E não é necessariamente verdadeira. Há uma relação de "oposição" (a subalterna) entre A e I e entre E e O que não tinha sido mencionada. Há nela urna relação entre urna proposição mais universal e uma proposição menos universal. As proposições subal ternas são proposições (afirmativas ou negativas) que diferem somente em quantidade. Quando às vezes se diz que há quatro classes de oposições, entende-se "opo sição" (lógica) em sentido impróprio. Informações complementares sobre essas questões estão em Contraditório, Contrário, Subalterno e Sub contrário ( vER) . A validade da relação subalterna depende da ado ção da interpretação existencial de A e E que analisamos no verbete Proposição (VER). A relação mencionada não é válida no âmbito da interpretação não-existencial de
OPOSIÇÃO
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A e E. Nem todos os autores admitem essas opiniões; assim, alguns dos pensadores do chamado grupo de Oxford (vER) , Strawson e Hart especialmente, susten tam que o quadrado aristotélico continua a ter validade sem que se faça necessário introduzir qualquer cláusula existencial em A e E que faça delas proposições exis tenciais. Alegam eles que as sentenças A, E, 1 e O são usadas pelos lógicos de tendência aristotélica em um contexto que pressupõe a não-vacuidade dos sujeitos dos enunciados. Referimo-nos com mais detalhes a essa questão no verbete Proposição. O quadrado de oposição (por vezes denominado também "quadrado de oposições" ou "quadrado lógi co") foi formalizado (ao lado dos 24 modos válidos de silogismo categórico) por Ivo Thomas, no artigo "The Logical Square and Modes of Categorical Sillogism" ( Contemplations Presented to the Dominican Tertiaries of Glasgow 1924-1929) [ 1 949] . Resumo em The Jour nal of Symbolic Logic, 1 6, 1 95 1 , pp. 74-75 . Entre diversas outras figuras usadas e m conexão com o nosso problema, mencionamos aqui dois: a de H. Reichenbach e a de John J. Doyle. Em seu artigo 'The Syllogism Revised" (Philosophy ofScience, 1 9, 1 952, pp. 1 - 1 6), Reichenback apresentou o seguinte "cubo de oposição":
sip
subcontrárias
SiP
As letras "S" e "P" representam classes; as letras "a" e "i'', expressões de classes; o signo "-" colocado acima de uma letra é lido como "não". Os esquemas que figuram nos oito ângulos do cubo são as relações que podem ser construídas para duas classes. S e P. Em seu artigo 'The Hexagon ofRelationships" (The Modern Schollman, 29, 1 952, pp. 93-94), J. J. Doyle apresentou um hexágono que marca as relações entre as próprias relações. Simbolizam-se a contrariedade, a contradição, a subcontrariedade, a sobreimplicação, a subimplicação, bem como a equivalência e a indepen dência. A figura resultante é:
Contrariedade
Sobreimpl icação
vv
vv FF
FG
FG
v{;
Vf
VF FV
Independência
Equivalência
v{ ;
F {;
Contradição
vG
Subimpl icação FF
Contrariedade
FV
"V" e "F" designam, respectivamente, "Verdadeiro" e "Falso". As definições devem ser lidas como indicamos a seguir. Equivalência. Se a primeira proposição é verdadei ra, a segunda é verdadeira; se a primeira é falsa, a segun da é falsa. Assim, "Todos os homens são mortais" equi vale a "Nenhum homem é imortal". Sobreimplicação. Se a primeira proposição é ver dadeira, a segunda é verdadeira; se a primeira é falsa, a segunda pode ser verdadeira ou falsa. Assim, "Todos os homens são mortais" é uma sobreimplicação de "Al guns mortais são homens". Contrariedade. Se a primeira proposição é verda deira, a segunda é falsa; se a primeira é falsa, a segunda pode ser verdadeira ou falsa. Assim, "Todos os homens são mortais" é contrária a "Nenhum homem é mortal". Contradição. Se a primeira proposição é verdadei ra, a segunda é verdadeira; se a primeira é falsa, a segunda é verdadeira. Assim, "Todos os homens são mortais" é contraditória com "Alguns homens são imortais". Subcontrariedade. Se a primeira proposição é ver dadeira, a segunda pode ser verdadeira ou falsa; se a primeira é falsa, a segunda é verdadeira. Assim, "Al guns homens são mortais" é subcontrária de "Alguns homens são imortais". Subimplicação. Se a primeira proposição é verdadei ra, a segunda pode ser verdadeira ou falsa; se a primeira é falsa, a segunda é falsa. Assim, "Alguns homens são mor tais está subimplicada em "Todos os homens são mortais". Independência. Se a primeira proposição é verda deira, a segunda pode ser verdadeira ou falsa; se a pri meira é falsa, a segunda pode ser verdadeira ou falsa. Assim, "Todos os homens são mortais" é independente de "Todos os mortais são homens". Na lógica quantificacional moderna, as relações de oposição entre proposições categóricas são apresen tadas em forma de leis. As relações de oposição a que nos referimos ao apresentar o quadrado de oposição são chamadas "leis de oposição aristotélica". Elas se expri mem mediante as quatro subcondicionais a seguir:
/\ x (Fx � Gx) /\ x (Fx � 1 Gx) V x (Fx 11 Gx) V x (Fx 11 1 Gx)
H H H H
1 1 1 1
V x (Fx 11 1 Gx) V x (Fx 11 Gx) /\ x (Fx /\ x (Fx
� �
1 Gx) Gx)
As chamadas "leis de oposição simples" se expri mem segundo as quatro subcondicionais a seguir:
OPOSIÇÃO
2 1 61
1 /\ x Fx 1 V x Fx
+-+
V x Fx
+-+
/\ x Fx
+-+
+-+
Vx 1 /\ x 1 1 Vx 1 1 /\ x 1
Fx Fx Fx Fx
Um quadrado de oposição modal octogonal é: É necessário
É impossível que todo S que nenhum seja P' �-----� S seja P
Trataremos agora da oposição nas proposições modais. Essa oposição foi estudada por Aristóteles (em De int. , 22 a 34-23 a 25) e elaborada por muitos lógicos. O quadrado de oposição modal é: A
É necessário
É impossivel
S seja P
S seja P
É possível
É possível
S seja P
S não seja P
que algum
que algum
E
[É necessário
[É impossível
que S seja PJ
que S seja PJ
contrárias
que todo
que todo
É possível que algum S seja P
subcontrárias
[É possível que S seja PJ
o
[É possível que S não seja PJ
Segundo Maritain (Petite Logique, 1 923, II 2, C), este quadro se baseia na abstração da quantidade do dictum e em só considerar a quantidade do modus e a qualidade do dictum e do modus. Além disso, deve-se supor que "contingente" é equiparável a "possível" e que os quatro pares seguintes de proposições à esquerda podem ser expressos pelas quatro proposições à direita:
É impossível que não seja Não é possível que não seja
por É necessário que seja
É necessário que não seja Não é possível que seja
por É impossível que seja
Não é impossível que seja Não é necessário que não seja
por É possível que seja
Não é impossível que não seja Não é necessário que seja
por É possível que não seja
O quadrado de oposição modal, usando-se a nota ção simbólica de C. I. Lewis para os signos modais, é: 1 0 1p =
p
1 0p =
� E 2
-;;; .D
5l
Op = r
lp
lp
"' "'
· "
·e�
�
� Ver: K. -0. Weber, Origenes der Neuplatoniker. Versuch einer lnterpretation, 1 962. C: OROSIO, PABLO [Orosius) . Nasceu por volta de 4 1 5 ; segundo alguns, e m Tarragona, e , segundo outros, em Braga, ao norte de Portugal. Amigo de Santo Agostinho, escreveu, a instâncias deste, uma história universal con tra os pagãos: Historiarum adversus paganos libri septem. Nela, ele desenvolve uma concepção providencialista da história similar à apresentada por Santo Agostinho na Civitas Dei. A obra de Orosio é considerada a primei ra manifestação dessa concepção, pelo menos no âmbito do pensamento cristão, e alguns autores supõem que tenha influenciado o providencialismo histórico agosti niano. Tudo na história caminha, segundo Orosio, para o acontecimento central e capital da vinda de Cristo, e se desenvolve como a realização de um plano divino. :> Edição da obra de O. em Migne, PL XXX l , cols. 663- 1 1 74, e no Corpus Christianorum, vol. V, ed. C. Zangemeister, 1 882. Ver: F. Elias de Tej ada, "Los dos primeros filóso fos hispanos de la historia: Orosio y Draconcio", Anua rios de Historia dei Derecho espaíiol ( 1 953), 1 9 1 -20 1 . - J. V. de Carvalho, "Dependerá san Agostinho de P.
ORREGO, ANTENOR Orosio?'', Revista portuguesa defilosofia ( 1 955), 1 421 53 . - D. Martin, "P. O.", ibid. , pp. 375-3 8 5 . �
ORREGO, ANTENOR. Ver DEúSTUA, ALEJANDRO ÜCTAVIO.
ORS, EUGENIO D' [EUGENIO ORS ROVIRA) ( 1 882- 1 954). Nascido em Barcelona. Deu numerosos cursos e conferências em Universidades espanholas e estrangeiras e foi nomeado, em 1 953, professor de Ciên cia da Cultura da Universidade de Madri, em cátedra criada especialmente para ele. A primeira contribuição filosófica importante de d'Ors consistiu numa tentativa de superação do pragmatismo, que não tardou a condu zi-lo à afirmação de um intelectualismo de cunho novo no qual via a característica principal de todo o movi mento que com freqüência denominou o "novecentis mo". Esse novo intelectualismo se opõe tanto ao predo mínio da mera intuição como ao da razão abstrata. O órgão de captação da realidade é assim a inteligência (seny), igualmente eqü1distante das concepções forma listas e das concepções empírico-sensíveis (afastado, nos termos do autor, tanto da "logística" como da "feno menologia"). O primeiro resultado dessas investigações foi uma "filosofia do homem que trabalha e que brin ca", na qual desempenha um papel fundamental a teoria do eu como liberdade oposta a uma resistência que o constitui, teoria ligada à afirmação religio est libertas. Com esses trabalhos e numerosos artigos e livros, cons tituiu-se um sistema mais amplo, que no princípio com preendia a dialética, a tisica ou tratado da Natureza e a poética ou tratado da criação, mas que depois se arti culou nas três partes seguintes: dialética, poética e paté tica. A dialética é o órgão geral ou novíssimo Organon (vER) da doutrina. A dialética baseia-se no diálogo e na ironia, e contém uma teoria dos princípios destinada a efetuar uma "reforma kepleriana da filosofia". Esses princípios são o de função exigida e o de participação. O primeiro substitui o princípio de razão suficiente, e consiste em suprimir, no vínculo entre dois aconteci mentos, as exigências de procedência causal e de equi valência quantitativa. O segundo substitui o princípio de contradição, e consiste em afirmar que todo ser par ticipa da realidade de outro. A aplicação desses princí pios leva à compreensão, segundo o autor, do caráter peculiar do pensamento figurativo (cujo modelo é o desenho, eqüidistante do sinal e da pintura, de um modo análogo a como a reforma kepleriana consiste em pro por a elipse como figura eqüidistante entre o círculo perfeito e puramente racional e o movimento irregular e completamente irracional). Consegue-se dessa manei ra, como diz o autor, a colonização de Pã por meio do Logos, colonização que se executa em diversos terrenos: na tisica, pelas leis; na história, pelo primado das cons tantes ou "éons" sobre os períodos; na vida humana, pelo predomínio dos ritmos, entendidos como estados
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e não como cronologias. Este modo de operação da inteligência (figurativa), oposta à razão e à irracionali dade, é observado igualmente na poética e na patética. A poética é em ampla medida um desenvolvimento da filosofia do homem que trabalha e que brinca; a patética compreende principalmente a cosmologia. São destaca dos desenvolvimentos da poética a angelologia (teoria da sobreconsciência ou personalidade) e a ciência da cultura, com a investigação das constantes e dos estilos. :> A maioria das obras de E. d'Ors figura nas séries do Glosari, do Nuevo Glosaria e do Novísimo Glosaria. Edições de obras: Glosari, l ( 1 906- 1 9 1 O), 1 950; II ( 1 9061 92 1 ) [antologia], 1 982; Nuevo Glosaria, l ( 1 920- 1 926), 1 947; II ( 1 927- 1 933), 1 947; 111 ( 1 934- 1 943, 1 949; No vísimo Glosaria ( 1 944- 1 945), 1 946. - Seleção de tex tos filosóficos, procedentes quase todos do Glosari e em parte dos primeiros escritos filosóficos (tais como La formule biologique de la logique, Le résidu dans la mesure de la science par l 'action, Religio est libertas), no tomo Lafilosofia dei hombre que trabaja y quejuega ( 1 9 1 4), ed. por R. Rucabado e J. Ferrán y Mayoral, com introdução de M. García Morente e estudos dos edi tores e de Miguel de Unamuno, Diego Ruiz e outros. Títulos de obras dispersas (muitas delas fazendo parte dos Glossários): De la amistad y dei diálogo, 1 9 14. - Fios Sophorum. Ejemplario de la vida de los grandes sabias, 1 9 14. - Aprendizaje y heroísmo, 1 9 1 5 . - Grandeza y servidumbre de la inteligencia, 1 9 1 9. - Las obras y los días, 1 920. - El válle de Josafat, 1 92 1 . - E! Nuevo Glosaria, 1 92 1 . - E! viento en Castilla, 1 92 1 . - Sobre la doctrina de la inteligencia: l: lntroducción a la filosofia, 1 92 1 . - Hambre y sed de verdad, 1 922. - Europa, 1 922. Poussin y el Gre co, 1 922. - U-turn-it, 1 923. - Los diálogos de la pa sión meditabunda, 1 923 . - E! molino de viento, 1 925. - Cinco minutos de silencio, 1 925. - Religio est liber tas, 1 925 (reedição de seu estudo anterior, com uma carta aberta de F. Clascar). - Las ideas y las formas. Estudios sobre morfología de la cultura, 1 928. - Cuan do ya esté tranquilo, 1 930. - El pecado en el mundo fisico, 1 940. - lntroducción a la vida angélica. Cartas a una Soledad, 1 940. - La tradición, 1 94 1 . - Gnó mica, 1 942 (aforismos extraídos de várias obras). La civilización en la historia, 1 943. - Epos de los des tinos (E! vivir de Goya. Los reyes católicos. Eugenia y su demonio), 1 944. - Estilos dei pensar, 1 944. -- E! secreto de la filosofia, 1 94 7. - La civilización en la historia, 1 95 3 . - La ciencia de la cultura, 1 963. Devem-se acrescentar a esses livros seus estudos de filosofia da arte, reeditados em série completa, desde 1 943 (Tres horas en el Museo dei Prado, Tres lecciones en el Museo dei Prado, lntroducción a la Crítica de Ar te, Mis salones, Lo barroco, Cézanne, Picasso, Teoría de los estilos e espejo de la arquitectura etc.). -
ORTEGA Y GASSET, JOSÉ
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Além dos estudos contidos no volume antes citado, La filosofia dei hombre que trabaja y que juega, ver: E. Vogel, "Xenius, der Sokrates des modernen Spa niens", Allgemeine Rundschau ( 1 9 1 7). - S. Schnee berger, E. d 'Ors: Le philosophe et l 'artiste, 1 920. - J. M. Capdevila, "La ideología de E. d'Ors", Revista de las Indias, 37 ( 1 942), 1 55- 1 80. - L. Anceschi, E. d 'Ors e il nuovo classicismo europeo, 1 945. - J. L. L. Aran guren, La filosofia de Eugenia d 'Ors, 1 945; nova ed., ampl. com prólogo de J. L. Abellán, 1 98 1 . - J. L. L. Aranguren, J. A. Gaya Nufio et ai. , artigos em Insula, 1 06 ( 1 5 de outubro de 1 954). - J. L. L. Aranguren, P. L. Entralgo et ai. , Homenaje a E. d 'Ors, 1 95 5 . - E. R. Pérez, La ciencia de la cultura: Teoría historiológica de E. d 'Ors, 1 963 . - E. Jardí, E. d 'Ors: Su mundo de valores estéticos, 1 969. - J. Pia, "Eugeni d' Ors", em Homenots, primeira série, 1 969. - R. Flórez, D 'Ors, 1 970. - A. Amorós, E. d 'Ors crítico /iteraria, 1 97 1 . - A . L . Quintás, El pensamiento filosófico de Ortega y D 'Ors, 1 972. - G. Zanoletti, "La forma estetica come esistenza e arte in E. d'Ors'', Giornale di Metafisica, 29 ( 1 974), 473-536. - G. Díaz-Plaja, El combate por la luz. La haz11iía intelectual de E. d 'Ors, 1 98 1 . Arts. de J. Roura, J. Ayala e L. Jiménez Moreno em III Seminario de Historia de la Filosofia Espaiíola (Sala manca, 1 982), 1 983. - A. Guy, Histoire de la philoso phie espagnole, 1 983, 5ª parte, cap. III. l . - N. Bilbeny, "E. d'Ors, el volum dei pensament", em Filosofia con temporània a Catalunya, 1 985, cap. XVI, pp. 293-3 1 6. - J. L. Abellán, Historia crítica dei pensamiento espa iiol, vol. 5/II (La crisis contemporánea, 1875-1936), 1 989, cap. 23, pp. 1 1 3- 1 3 1 . � -
ORTEGA Y GASSET, JOSÉ ( 1 883- 1 955). Nascido em Madri, foi professor de metafisica a partir de 1 9 1 1 na Universidade Central. Mesmo tendo se aposentado em 1 952, deixara a sala de aula na Universidade desde 1 936. Discípulo de Hermann Cohen em Marburgo e educado, portanto, na tradição do neokantismo, suas idéias filosóficas não correspondem, entretanto, ao sen tido da tradição marburguiana. É verdade que numa primeira etapa do desenvolvimento de seu pensamento, aproximadamente de 1 902 a 1 9 1 O, ele defendeu uma tendência obj etivista que chegava a afirmar o primado das coisas (e das idéias) sobre as pessoas. Mas, a partir de 1 9 1 O, e em especial desde 1 9 1 4, seu pensamento se orientou para a forma ulteriormente desenvolvida. Dentro da continuidade manifestada nesse desenvolvi mento, destacam-se, contudo, dois períodos: o primeiro, que abrange até 1 923, aproximadamente, pode ser de nominado perspectivista; o segundo, a partir de 1 923, raciovitalista. Característico do período 1 9 1 0- 1 923 é o perspecti vismo (VER) , levado a tais conseqüências que Ortega indica que a substância última do mundo é uma perspec tiva. O perspectivismo não é, entretanto, somente uma
doutrina acidental, transformando-se na pedra angular da teoria do conhecimento. Nesta última, Ortega opõe se tanto ao idealismo quanto ao realismo. Contra o idea lismo, afirma que o sujeito não é o eixo em torno do qual gira a realidade; contra o realismo, que não é um simples pedaço da realidade. O sujeito é uma tela que seleciona as impressões ou o dado. Não é um ser abstra to, mas uma realidade concreta que vive aqui e agora. É , portanto, uma vida (v ER). Esta vida não é só bioló gica; a defesa do vital, na qual Ortega insiste com afin co, não equivale à defesa do primitivo. Embora a cultura (VER) seja produzida pela vida e para a vida - e, por conseguinte, a vida é anterior à cultura -, isso não signi fica que os valores culturais sejam secreções de ativi dades vitais e menos ainda meramente biológicas. Signi fica que os valores culturais são funções vitais, embora funções vitais que obedecem a leis objetivas, e que, por conseguinte, há uma continuidade completa entre o vital e o transvital ou cultural. Como conseqüência disso, po de-se afirmar que a razão (VER) não está fora da vida, tampouco é a vida, mas uma função da vida. Portanto, o desenvolvimento dos temas a que o pers pectivismo o conduzira leva Ortega às posições que qualificamos como raciovitalismo. Algumas dessas po sições aparecem claramente numa das primeiras teses filosóficas de Ortega: a tese formulada em 1 9 1 4 segun do a qual "Eu sou: eu e minha circunstância" e que le vara Ortega a uma elaboração do conceito como cultivo da espontaneidade em que a vida consiste, isto é, a uma doutrina do conceito como autêntico "órgão" de conhe cimento. No 11esenvolvimento posterior, a tese em ques tão adquire um papel ainda mais fundamental, porque permite entender a noção de razão vital em torno da qual vai girar sua filosofia. Contra a abstração do racio nalismo e contra as interpretações pragmatistas, biolo gistas e exclusivamente intuitivistas do vitalismo (VER) , Ortega mantém que se se desejar denominá-lo vitalista, será necessário entender por esse adj etivo a posição daquele que afirma que o conhecimento, embora sendo racional, está enraizado na vida. Portanto, a doutrina da razão vital (ou razão vivente), o raciovitalismo, des confia somente de certas interpretações dadas à razão. Em particular, desconfia da redução da razão à razão fisica e abstrata, e afirma que toda razão é razão vital. 'Razão' é, pois, um termo que designa todos os atos que "dão razão de" e especialmente que dão razão dos fatos vitais. Por isso, a filosofia não é um pensamento acerca da vida, mas um partir do fato de que toda razão é vivente. Em suma: 'razão vital ' pode traduzir-se por 'vida como razão ' . Daí que o homem não seja para Or tega um ente dotado de razão, mas uma realidade que tem de usar a razão para viver. Viver é lidar com o mun do e dar conta dele, não de um modo intelectual abstra to, mas de um modo concreto e pleno. Disso procede o saber ( VER) como um saber a que se ater: o homem
ORTEGA Y GASSET, JOSÉ teve de inventar a razão, porque sem ela se sentiria perdido no universo. Ora, a razão vital não é somente um método, mas também uma realidade: é um guia no sistema da realidade e a própria realidade que se guia a si mesma no âmbito do universo. O fato fundamental de que a vida tenha de saber a que se ater explica a diferença entre as idéias e as cren ças (ver CRENÇA). Viver na crença - tal como viver na dúvida - constitui um segmento fundamental - se não o mais fundamental - de nossa existência. A dou trina orteguiana do homem leva-o constantemente em conta. Mas essa doutrina precisa de uma fundamentação ainda mais radical, que se encontra dada na tese de que a vida é a realidade radical, dentro da qual se acham as outras realidades. A vida não é, segundo Ortega, uma coisa, porém tampouco um espírito. A rigor, não "é", propriamente falando, nada: é um fazer-se a si mesma continuamente, um "autofabricar-se". A vida de cada um é a existência particular e concreta que reside entre circunstâncias fazendo-se a si mesma e, sobretudo, orientando-se para sua própria mesmidade, autenticida de ou destino. O homem pode, por certo, afastar-se de sua própria autenticidade, mas então será menos "real". Ao contrário das coisas, a vida humana admite graus de realidade de acordo com sua maior ou menor proxi midade de seu próprio destino. Por isso, a vida pode ser caracterizada por meio da seguinte série de notas: a vida é problema, oficio, preocupação consigo mesma, programa vital e, em última análise, "naufrágio" (um naufrágio do qual o homem anseia por salvar-se agar rando-se a uma tábua de salvação: a cultura). Por isso, a vida é também drama e por isso não pode ser uma realidade biológica, mas biográfica. O método para aproximar-se dela não é a análise, mas a narração. Só assim o homem pode entender que a própria vida é seu fim e que, por conseguinte, não se deve buscar nenhuma transcendência: o transcendente para cada um é a pró pria existência humana, que se descobre, assim, como uma realidade desenganada. A descoberta da vida como "a realidade radical" - não, pois, como "realidade única'', mas como reali dade na qual "radicam" todas as outras - supõe, entre outras coisas, uma superação tanto do idealismo como da fenomenologia. Referimo-nos a esse ponto no verbe te P ôR , POSIÇÃO. Limitar-nos-emos aqui a destacar que, em relação estreita com a idéia da vida como realidade radical, e fundada nela, se encontra em Ortega uma série de idéias filosóficas que afetam as questões funda mentais da metafisica. Uma dessas idéias é a de que aquilo que os filósofos denominaram "ser" é algo inven tado pelo homem (para responder a certa situação vital, especialmente à situação na qual se produziu um vazio deixado pela falta de crença nos deuses). Portanto, Or tega não considera o ser como a realidade, mas o contrá rio: a realidade é anterior ao ser. Este é uma interpre-
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!ação - uma entre outras - "do que há". Ora, "o que há" não é algo que o homem "põe'', mas aquilo que lhe é imposto por si. Descobri-lo, isto é, trazê-lo à luz, equi vale a trazer à luz toda uma série de pressupostos de que se valeram até agora os filósofos (pressupostos tais como "o que há é o racionalmente compreensível", "o que há é o experimentável" etc.). Nessa busca do que subjaz às diversas interpretações que se deram "do que há", Ortega descobre que o que há é sobretudo algo incom pleto (em outros termos, o que há é antes uma "tentati va de ser" do que um ser completo). Com isso, Ortega passa a "desmontar" a própria filosofia, que não aparece como algo pertencente à natureza humana, mas como uma reação diante de certa situação histórica. Superfi cialmente, trata-se de um "historicismo'', ou, se se dese ja, de um "realismo historicista'', mas é preciso levar em conta que para Ortega a própria história é feita de uma série de "invenções" que o homem produz com a finalidade de manter-se à tona. A exposição anterior refere-se principalmente às idéias metafisicas e gnosiológicas de Ortega, mas con vém complementá-la com referência às suas doutrinas que se acham em outros verbetes desta obra (por exem plo: CRENÇA; CULTURA; HISTORICISMO; NAUFRÁGIO; PEN SAR; PERSPECTIVISMO; RACIOVITALISMO; RAZÃO VITAL; VmA; VITALISMO; SABER). Diremos agora algumas pala vras sobre vários dos resultados das análises sociológi cas de Ortega, destacando seus aspectos teóricos. A mais importante delas é constituída pela doutrina da sociedade. Segundo Ortega, não há nenhuma "so ciedade como tal". Em sua descrição dos traços funda mentais da vida humana, Ortega declarara que o homem não tem, propriamente falando, uma natureza, mas uma história. O mesmo cabe dizer da sociedade. O ser desta não pode, pois, captar a razão pura (racionalista ou na turalista), mas a citada razão vital. Depreende-se desta que a sociedade ou mundo social é um elemento no qual o homem vive, que exerce pressão sobre ele por meio de usos (ver Uso), costumes, normas etc.; que essa pres são pode ser social pura e simplesmente, ou então estatal (a pressão estatal é só "o superlativo da social"); que a pressão em questão tem uma dupla característica: aju da-nos a viver, pois o homem não pode fazer tudo so zinho, e nos oprime a ponto de precisarmos sair dela para não nos asfixiar por completo. A última dupla condição permite explicar certos fenômenos concretos da vida histórica das sociedades, especialmente o fato de que o social pode às vezes aparecer como a pele fle xível que adere a todas as articulações do organismo (e a isso podemos chamar liberdade) e às vezes ser como um aparelho ortopédico que nos oprime, mas do qual não podemos prescindir (e a isso podemos chamar adaptação). As dificuldades suscitadas por essa tese e, sobretudo, o conflito entre ela e a doutrina de que a so ciedade é sempre, diante do indivíduo, algo inautêntico
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podem ser solucionadas, segundo parece provável, me diante uma série de distinções. A mais destacada delas é a teoria orteguiana de que junto ás relações sociais há as relações interindividuais (como o amor, a amizade etc.). Desse modo, pode-se entender a relação pessoa sociedade como uma relação não unívoca, mas regida por uma complexa rede de relações e interdependências na qual certas formas de agrupamento poderiam tomar o caminho intermediário entre a vida pessoal e a fran camente "social". O pensamento de Ortega influenciou consideravel mente não só a Espanha e os países de língua espanhola, como também outros países, em especial a Alemanha. Entre os filósofos espanhóis que mais ou menos direta mente foram influenciados por Ortega, ou foram incita dos por seus ensinamentos e seus escritos, menciona mos Manuel García Morente, Xavier Zubiri, Joaquín Xirau, José Gaos, Julián Marías, María Zambrano, Luis Recaséns Siches, Pedro Laín Entralgo, José Luis L. Aranguren, Paulino Garagorri, Manuel Granell (VER todos). Também recebeu sua influência, entre outros: Luís Abad Carretero (nascido em 1 895 em Almería e mais tarde professor da Universidade Nacional do Mé xico: Unafilosofia dei instante, 1 954. - Niíiez yfiloso fia, 1 957. - Instante, querery realidad, 1 958. - Vida y sentido, 1 960. - Presencia dei animal en el hombre, 1 962. - Aparición de la visciencia, 1 963. - Instantes, inventos y humanismo, 1 966, a cujo pensamento nos referimos nos verbetes INSTANTE e VISCIÊNCIA). � Obras: Meditaciones dei Quijote, 1 9 14. - Vieja y nueva política, 1 9 1 4 . - Personas, obras, cosas, 1 9 1 6. - El Espectador, I, 1 9 1 6 . - El Espectador, II, 1 9 1 7. - El Espectador, III, 1 92 1 . - Espaíia invertebrada. Bosquejo de algunos pensamientos históricos, 1 92 1 ; 2ª ed., rev., 1 922; 3ª ed., rev. 1 934. - El tema de nuestro tiempo. El ocaso de las revoluciones. El sentido históri co de la teoría de Einstein, 1 923. - Las Atlántidas, 1 924. - La deshumanización dei arte e ideas sobre la novela, 1 92 5 . - El Espectador, IV, 1 92 5 . - El Espectador, V, 1 927. - El Espectador, VI, 1 927. Espíritu de la letra, 1 927. - Tríptico. 1. Mirabeau o el político, 1 927. - Notas, 1 928. - El Espectador, VII, 1 929. - Kant (1 724-1924): Reflexiones de centenario, 1 929. - Misión de la Universidad, 1 930. - La rebe lión de las masas, 1 930. - Rectificación de la Repú blica, 1 93 1 . - La redención de las provincias y la decencia nacional, 1 93 1 . - Goethe desde dentro, 1 93 3 . - El Espectador, VIII, 1 934. - Ensimismamiento y alteración. Meditación de la técnica, 1 939. - El libra de las misiones, 1 940 [inclui Misión de la Universidadj. - Jdeas y creencias, 1 940. - Estudios sobre el amor, 1 940 [inclui alguns ensaios publicados em obras ante riores] . - Mocedades, 1 94 1 [inclui alguns ensaios pu blicados em Personas, obras; cosas] . - Historia como sistema y Dei Imperio Romano, 1 94 1 . - Teoría deAn-
ORTEGA Y GASSET, JOSÉ dalucía y otros ensayos, 1 942. - Esquema de las crisis, 1 942. - Dos prólogos. A un tratado de montería. A una historia de la filosofia, 1 945. - Papeles sobre Velásquez y Goya, 1 950. - Velázquez, 1 95 5 . - Obras póstumas: El hombre y la gente, 1 957. - Qué esfiloso fia, 1 958 [de um curso dado em 1 929] . - La idea de principio en Leibniz y la evolución de la teoría deduc tiva, 1 958. - Idea dei teatro, 1 958. - Meditación dei pueblo joven, 1 958. - Prólogo para a/emanes, 1 958. - Una interpretación de la historia universal. En torno a Toynbee, 1 960. - Origen y epílogo de la filosofia, 1 960. - Vives-Goethe, 1 96 1 . - Pasado y porvenirpara el hombre actual, 1 962. - Unas lecciones de metafisi ca, 1 966 (curso de 1 932- 1 933). - Sobre la razón histó rica, 1 979 (textos procedentes de dois cursos: "Sobre la razón histórica. Buenos Aires, 1 940" e "Sobre la ra zón histórica. Lisboa, 1 944".). Edição de obras: Obras completas, 1 2 vols. (!, II, 1 946; III, IV, V, VI, 1 947; VII, 1 96 1 ; VIII, IX, 1 962; X, XI, 1 969; XII, 1 983), ed. Paulino Garagorri. - Os 32 vols. ( 1 979- 1 988) de Obras de 1 O. y G. , publicados pela Alianza Editorial sob a direção de P. Garagorri, contêm várias páginas inéditas e o vol. i,Qué es conocimiento? Ortega y Gasset, Antología, 1 99 1 , ed. P. Cerezo Galán. Das Meditaciones dei Quijote há ed. com comentá rio por J. Marías, 1 957; 2ª ed., 1 966. - Segundo Marías (Ortega y la idea de la razón vital, 1 948, p. 32, nota), a idéia metafisica fundamental de Ortega se encontra já formulada no artigo "Adán en el paraíso" ( 1 9 1 0), podendo "tomar-se como etapas sucessivas de sua des coberta: Meãitaciones del Quijote ( 1 9 1 4); "Verdad y perspectiva" ( 1 9 1 6), publicado em El Espectador, I; El tema de nuestro tiempo ( 1 923), "Ni vitalismo ni racio nalismo" ( 1 924), nota publicada na Revista de Deci dente; "Kant, 1 724- 1 924; Reflexiones de centenario" e "Filosofia pura: Anejo a mi folleto sobre Kant"; En torno a Galileo ( 1 933); "Guillermo Dilthey y la idea de la vida" ( 1 933), artigos publicados na Revista de Decidente; Historia como sistema (o livro em castelha no foi publicado em 1 94 1 , mas o estudo é de 1 936: foi publicado em inglês no tomo dedicado a Ernst Cassirer [VER] ); Ideas y creencias ( 1 940); Apuntes sobre el pen samiento ( 1 94 1 ), e os citados Dos prólogos, de 1 945. Correspondência: J. Ortega y Gasset, Cartas de un joven espaíiol (1891-1 908) , 1 99 1 , ed. S. Ortega. Epistolaria, 1 974. - Epistolaria completo Ortega Unamuno, 1 987, ed. L. Robles. Em português: A desumanização da arte, 1 999. História como sistema, s.d. - O homem e a gente, 1 973 . - A idéia do teatro, 1 99 1 . - Meditações do Quixote, 1 967. - Missão da universidade, 1 999. - Origem e epílogo da filosofia, 1 963. - Que é filosofia, 1 97 1 . A rebelião das massas, 1 987. Bibliografia: U. Rukser, Bibliografia de Ortega, 1 97 1 . - A. J. García, "Bibliografia", Aporía. Revista
ORTEGA Y GASSET, JOSÉ
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de actualidad filosófica, 2 1 -24 ( 1 983- 1 984), número monográfico dedicado à proj eção cultural de O. no pri meiro centenário de seu nascimento. - A. Donoso, H. Raley, J O. y G. A Bibliography ofSecondary Sources, 1 986 (com mais de 4.000 títulos). Ver: A. S. Reulet, "El pensamiento de O. y G." (Cursos y Conferencias, Parte 1, vol. 9, 3, 1 937. Parte II, vol. 1 1 , 6, 1 937. Parte III, vol. 12, 7 e 8, 1 937. Parte IV, vol. 1 2, 9 e 1 O, 1 937 e 1 938). - H. D. Casanueva, Das Bild des Menschen bei O. y G. und seine Beziehung zur Erziehungswissenschaft, 1 93 8 . - Joaquín Iriarte, O. y. G., su persona, su pensamiento y su obra, 1 942. Id. , La ruta de O. Crítica de su filosofia, 1 949. - J. S. Villaseii.or, Pensamiento y trayectoria de J O. y G. En sayo de crítica filosófica, 1 94 3. - J. D. García Bacca, Nueve grandes filósofos contemporáneos y sus temas, t. II, 1 94 7. - M. R. Alonso, En torno ai pensamiento de J O. y G. [prólogo de J. Marías. Epílogo de M. Oro mí], 1 948. J. Marías, La filosofia espafiola actual. Unam uno. O., Morente, Zubiri, 1 948 (e o livro antes mencionado sobre O. y la idea de la razón vital, 1 948). Também de J. Marias, O. y tres antípodas. Un ejemp/o de intriga intelectual, 1 950 (análise e crítica dos livros de lriarte, Sánchez Villaseii.or e Roig Gironella contra o pensamento de O., com apêndice de crítica do livro de J. Saiz Barberá, O. y G. ante la crítica, 1 950), e, so bretudo, sua obra: O. Circunstancia y vocación, vol. I, 1 960; vol. II, Las trayectorias, 1 983. M. Granel!, Lógica, 1 949, parte IV. - Id., O. y su filosofia, 1 960 [coletânea de artigos: 1 950- 1 957]. - J.-H. Walgrave, De wijsbegeerte van O. y G. , 1 949; 4ª ed., 1 967. - D. Marrero, E/ Centauro, 1 95 1 . - M. Oromí, O. y lafilo sofia. Seis glosas, 1 95 3 . - J. U. Echevarría, Estudios sobre O. y G. , 3 vols., 1 955- 1 956. - J. M. Hernández Rubio, Socio/ogía y política en O. y G. , 1 956. - J. Gaos, J. Marías, D. Marrero et ai. , artigos sobre O. y G. en La Torre, IV, 1 5- 1 6 ( 1 956) [similares números extraordinários nas revistas Sur, Clavilefio, Atenea, In sula etc.]. - J. Gaos, Sobre O. y G. y otros trabajos de historia de las ideas en Espafia y la América espafio/a, 1 956; reed. como vol. IX ( 1 992) das Obras completas de J. Gaos, ed. F. Salmerón. - J. Ferrater Mora, O. y G. : An Outline ofHis Philosophy, 1 957; 2ª ed. , 1 963 . - Ch. Cascales, L'humanisme d 'O. y Gasset, 1 957. E. Frutos, M. Mindán, C. París, J. Zaragüeta et ai. , arts. sobre O. y G. em Revista de Filosofia, 1 6 ( 1 957), 606 1 . - J. D. García Bacca, M. Granell, L. Luzuriaga, E. Mays Vallenilla, A. Rosenblatt, Homenaje a O. y G. , 1 958. - P. Garagorri, Ortega. Una reforma de lafiloso fia, 1 958. - Id., Relecciones y disputaciones orteguia nas, 1 965. - Id. , Unamuno, O., Zubiri en la filosofia espafio/a, 1 968. - Id., Introducción a O. , 1 970 [inclui reimp. de "O. , una reforma de la filosofia" e outros dois ensaios] . - J. L. L. Aranguren, La ética de O. , 1 958; 2ª ed., rev., 1 959 (reimp. em suas Obras Se/ectas, -
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razón a la razón histórica", em Historia, Literatura, Pensamiento, 1 990, vol. I, pp. 307-343 . O título da Crônica de Oton é: Chronicon sive his toria de duabus civitatibus. Ed. por R. Wilmanns nos Monumenta Germaniae Historica (Scriptores, vol. XX, 1 9 1 2). - Ed. de Gesta Friderici imperatoris, por G. Waitz, 1 884, e B. Simson, 1 9 1 2.
OTfAVlANO, CARMELO Ver: J. Hashagen, O. von F ais Geschichtsphilosoph und Kirchenpolitiker, 1 900. - J. Schmidlin, Die geschi chtsphilosophische und kirchenpolitische Weltanschau ung Ottos von F, 1 906 (Schmidlin é também autor dos artigos: "Die Philosophie O. v. F.", em Philosophisches Jahrbuch [ 1 905], "BischofO. von F. ais Theologe", em Katholik [ 1 905]). - A. Hoffmeister, "Studien über O. von F., Neues Archiv ( 1 9 1 1 - 1 9 1 2), 99- 1 6 1 , 633-768. - C. Mierow, The Two Cities by O., Bishop ofF, 1 928. - K. Haid, O. von F, 1 934. - J. Koch, O. von F, 1 1 58-1 958 [separata de Analecta Sacri Ordinis Cister ciensis, XIV ( 1 958)]. - H.W. Goetz, Das Geschichts bild Os von F, 1 984. Obras principais: Critica dell 'idealismo, 1 936; 2ª ed., 1 948; 4ª ed. , 1 964. -- Metafisica dei 'essere par ziale, 1 942; 2ª ed., 1 947; 3ª ed., 2 vols., 1 954- 1 95 5 . li problema mora/e comefondamento dei problema po litico, 1 952 (do curso de 1 95 1 - 1 952). - Manuale di Storia de/la Filosofia. I (li pensiero antico e medioe vale), 1 958. - Progetto di un disegno di legge per salvare la democrazia da/la dittatura, 1 96 1 . - La tra gicità dei reale ovvero a malinconia delle cose: Sag gio sul/a mia filosofia, 1 964. - Além disso, Ottaviano é autor de múltiplos artigos e ensaios, assim como de obras sobre pensadores medievais, modernos e contem porâneos (por ex. : Pietro Abelardo, la vita, !e opere, il pensiero, 1 929. - Guglielmo d 'A uxerre, la vita, /e ope re, il pensiero, 1 929. -- 'T ars compendiosa di R. Lull, avec une étude sur la bibliographie et le fond Ambrosien de Lull", em Études de philosophie médiévale, XII, 1 930; "Riccardo di S. Vittore, la vita, le opere, il pen siero", em Memorie de/la Reale Accademia naz. dei Lincei, IV, 1 93 3 ; L'unità dei pensiero cartesiano e il cartesianismo in !ta/ia, 1 943; Valutazione critica dei pensiero di B. Croce, 1 953). Ver: Pasquale Mazzarclla, Tra Finito e Infinito: Sag gio sul pensiero di C. O. , 1 96 1 . - F. D ' Ambrosio, "La Swria de/la Filosofia di Carmelo Ottaviano", Sophia (Itália), 41 ( 1 973), 5- 1 5 . C:
OTTO, RUDOLF ( 1 869- 1 937). Nascido em Peine (Hannover), foi "professor extraordinário" em Gõttin gen ( 1 897- 1 907), professor titular de teologia em Breslau ( 1 9 1 5- 1 9 1 7) e em Marburgo ( 1 9 1 7- 1 929). Rudolf Otto seguiu, em sua filosofia da religião, as orientações de Kant, e especialmente de Fries, de tal modo que foi considerado um dos principais adeptos da chamada escola neofriesiana. Assim, a análise filosó fico-religiosa depende, para Otto, da atenção a muitos elementos que até então tinham sido desatendidos e que compreendem não só as formas da consciência in dividual, como também os diversos aspectos da "cons ciência histórica" dentro da possibilidade de um acesso racional ao problema do divino. Este foi tratado por Otto sobretudo em suas conhecidas pesquisas acerca do santo (vER) e do numinoso, assim como em seus es tudos sobre a mística. O "racional e o irracional na idéia de Deus" foram examinados, pois, mediante uma aná lise ao mesmo tempo histórica, sistemática e psicológica do conceito do numinoso, o qual não pode ser definido, mas sim descrito. Essa descrição - que mostra a função das experiências do temor, da fascinação e da aniquila ção - não se detém, no entanto, como poderiam dar a entender as noções usadas, no terreno psicológico; a ex periência religiosa é ao mesmo tempo, para Otto, uma
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experiência do ser e, por conseguinte, uma experiência metafisica que o próprio sentimento como tal é impo tente para expressar. :> Obras: Die Anschauung von hl. Geiste hei Luther, 1 898. - Leben und Wirken Jesu, 1 902; 4ª ed., 1 905. - Naturalistische und religiose Weltansicht, 1 904. Goethe und Darwin, 1 909. -Kantisch-Fries 'sche Reli gionsphilosophie und ihre Anwendung an die Theolo gie, 1 909. - Darwinismus und Religion, 1 9 10. - Das Heilige, 1 9 1 7 ; 35ª ed., 1 963. - Aufsiitze das Numinose betreffend, 1 923. - Westostliche Mystik. Vergleich und Unterscheidung zur Wesensdeutung, 1 926. - Die Gna denreligion Indiens und das Christentum, 1 930. - Sün de und Urschuld, 1 932. - Freiheit und Notwendigkeit, 1 940 (póstuma). Ver: E. Gaede, Die Lehre von dem Heiligen und der Divination hei R. Otto, 1 923. - P. Seifert, Díe Religions philosophie hei R. Otto. Eine Untersuchung über ihre Entwicklung, 1 936. - R. F. Davidson, R. Otto 's Inter pretation ofReligion, 1 94 7. --- A. Paus, Religioser Erken ntnisgrund. Herkunft und Wesen der Aprioritheorie R. Ottos, 1 966. - H.-W. Schütte, Religion und Christentum in der Theologie R. O.s, 1 969. - S. P. Dubey, Rudolf Oto and Hinduism, 1 969. - C. Colpe, ed., Die Diskussion um das "Heilige ", 1 977. - P. C. Almond, R. O. An Intro duction to his Philosophical Theology, 1 984. C:
OUSIA. Em vá1ios verbetes - especialmente ESSÊNCIA; SUBSTÂNCIA - referimo-nos ao termo grego ovoía, que transcrevemos por ousia. Neste verbete, teremos de rei terar algumas das observações feitas nos verbetes men cionados, mas nos ocuparemos principalmente do pró prio termo ousia e dos diversos modos como ele foi usado por vários filósofos gregos, particularmente por Platão e Aristóteles. O vocábulo ovoía é uma substantivação do parti cípio presente feminino, ouoa, do verbo eíµí (infinitivo, ElVat), isto é, "ser". Originariamente, ovoía -- que a partir de agora usaremos em sua transcrição, ousia significou algo que é propriedade de uma pessoa. Como tal propriedade, a ousia é uma riqueza; um homem rico é um homem de ousia, isto é, uma pessoa que tem algo "de seu". H. H. Berger ( op. cit. infra) indica que se pô de passar do particípio feminino de "ser" ao significa do de "propriedade" considerando que se trata das "coi sas que são para mim", isto é, quando o ser implicado em ousia é entendido como um "ser para e por mim mesmo", ou sej a, como um ser "próprio". Berger examinou em detalhe os diversos modos como o termo ousia é usado por Platão. Eis aqui alguns casos. Em Górgias (472 B), ousia refere-se aos "se res", ovTa, dos quais se diz: "Aquele que diz o õv e os ÕvTa diz a verdade". Em Protágoras (349 B), a ousia aparece como peculiar ao que é expresso nela, às coisas enquanto "assuntos", npáyµaTa (ver PRAGMÃr1co). A ousia é aqui algo do "ser" que, independentemente
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de mim é por e em si mesmo. Em Fédon ( 1 0 1 C), a ousia denota o "quê" (a qüididade [VER] peculiar a cada uma das idéias. Em Rep. (VI, 486 A), ousia se refere a "tudo o que é", e em Rep. (IX, 585 B-D), ousia se refere à qualidade de um ser enquanto qualidade essencial (como a brancura para as coisas brancas). Também em Rep. (VI, 509 B 9) se encontra um uso - provavel mente o mais célebre em Platão - de ousia; é o que tem quando se diz que o bem "está para além da ousia" (ÊlTÉKElVO TfíS ouaías), O que geralmente Se traduz por "o bem está para além do ser". Esta famosa propo sição platônica foi interpretada de muitos modos; um deles consiste em entendê-la como se dissesse que o bem não tem nenhum conteúdo especial, mas que é o puro ser, o qual está efetivamente "para além de todo (qualquer) ser". Em Soph. (246 A), a ousia refere-se ao puro "quê" do ser enquanto ser. Pode-se perguntar agora se em meio a tantas e tão diversas significações de ousia - pois as indicadas antes, embora importantes, não são as únicas - há algum sentido de ousia que seja, se não comum a todos os significados, pelo menos predominante, e, em todo caso, mais "filosófico" do que quaisquer outros. Pode se dizer que sim: é o sentido de ousia como "ser idêntico a si mesmo". Pelo menos é o que afirma H. H. Berger, parecendo concordar com ele Rainer Marten (cf. op. cit. na bibliografia) quando enfatiza que a ousia, enquanto ousia "por si mesma'', equivale ao ser próprio de cada coisa, OVOÍa OVT� Ka8' OVT�V, de modo que seja realmente, OVOÍa ElTÓOTOV. Pelo que se disse antes, vimos que o termo ousia não só tem vários sentidos em Platão como também tem alguns sentidos plenamente filosóficos, e um deles pre dominante. Contudo, só Aristóteles deu ao termo ousia uma importância filosófica central, de tal sorte que o conceito de ousia recebeu de Aristóteles sua consa gração definitiva. Ora, não é fácil determinar a signifi cação, ou significações, de ousia no Estagitita. Nos verbetes mencionados, indicamos que ousia em Aristó teles foi traduzido às vezes por "essência" e às vezes por "substância". Essa dupla tradução nem sempre é errônea. Por um lado, é certo que às vezes Aristóteles emprega ousia quando fala de essência e o mesmo vo cábulo quando fala de substância. Por outro lado, pode se entender a substância como essência. Em ambos os casos, o termo ousia é adequado: no primeiro caso, porque se diz 'essência' ou se diz ' substância' de acordo com o que Aristóteles queira significar em cada caso; no segundo, porque se a substância é entendida como essência, é óbvio que a ousia não é nem mais nem menos do que a ousia. Mas deve-se confessar que em bora seja adequada, a dupla tradução em questão induz à confusão. Possivelmente para evitar a confusão, Aris tóteles, ainda que tenha chamado de ousia tanto a subs tância como a essência (e, em geral, todos os predica-
OUSIA mentos), distinguiu-as denominando a primeira ousia primeira e a segunda (e os predicamentos em geral) ousias segundas. Entre as razões que preconizam o uso do mesmo termo para ambas as entidades, menciona remos duas: uma, que é muito possível que haja só uma diferença "gradual" em Aristóteles entre o ente singular e suas determinações; a outra, que nos dois casos se trata efetivamente de entidades (termo com o qual, de resto, se poderia traduzir também ousias). Só ocorre que, num caso, a entidade em questão é aquela que não é afirmada nem de um sujeito nem está num sujeito, e, em outro caso, a entidade está contida num sujeito e, em certos casos, determina esse sujeito no que este essen cialmente é. Parece que a confusão aumenta quando observamos que ousia foi usado às vezes como sinônimo de üM, matéria (vER) , e também como sinônimo de "comunida de", Ko1vwvía. Mas a confusão, sem desaparecer por completo, se atenua quando observamos que, segundo indica Ernst Tugendhat (cf. op. cit. na bibliografia), a "matéria" pode ser concebida como um dos "lados" da "substância", ou como uma das possíveis determina ções da substância, ou quando levamos em conta que se pode denominar ousia (tal como faziam os estóicos) a matéria como "mundo visível", ou quando considera mos que a ousia pode referir-se ao elemento comum em classes de seres materiais (assim, entre os nominalis tas, ousia é o nome comum predicado dos indivíduos que formam uma classe). Em todos esses casos, dá-se um sentido determinado a ousia. A questãu do significado de ousia se complicou, ao que parece, quando alguns teólogos cristãos usaram ousia como sinônimo de 'hipóstase ' ( VER ) , ou então como sinônimo de 'natureza' enquanto ' essência' (e daí os debates teológicos sobre o uso dos termos óµovaía e 6µ01ovaía, formados com base em ousia). A questão se mostra mais complexa se observamos que alguns autores, por exemplo Santo Atanásio, identificavam ousia e "comunidade", e distinguiam de ambas a hipós tase pelas razões que indicamos no verbete sobre este último vocábulo. Segundo Hatch (op. cit. na bibliogra fia), o que ocorreu foi o seguinte: ao separar-se o senti do de ousia do de 'hipóstase ' , ter-se-ia podido traduzir ousia por ' essência' (essentia), que é seu equivalente lingüístico, mas levou tempo para adotar-se essentia. Por isso, ousia foi traduzida por substantia, enquanto hypostasis foi traduzida por pessoa ( vER) . Simplificando as coisas consideravelmente, pode mos dizer o seguinte: o termo ousia, substantivação do particípio presente feminino do verbo 'ser' , significa originariamente "propriedade", "riqueza", "o que uma pessoa tem". Se o tem, ela o terá por si mesma, já que do contrário lhe seria sempre de algum modo "exterior". Por isso, a ousia como riqueza é equivalente ao "ser próprio". Esse "ser próprio" não precisa confinar-se ao
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de uma "pessoa" (ou o que depois foi assim chamado), pode sê-lo de qualquer coisa. O ser próprio de uma coisa faz que essa coisa seja "a que é sendo"; por isso, a coisa tem verdadeiramente "entidade". Essa entidade pode sê-lo da coisa individual e concreta, ou então da coisa na medida em que é determinada por certas pro priedades. No primeiro caso, a ousia é uma substância. Quando essa determinação da substância, que faz que a substância possua entidade, é essencial, a ousia trans forma-se em essência. Só quando há na comunidade uma propriedade que não é comum a todos os seus membros surge o conceito de pessoa. :i Ver: E. Hatch, The lnjluence of Grek ldeas on Christianity, 1 986. - É . Gilson, L'Être et l 'Essence, 1 948. - E. Tugendhat, Ti kata finos. Eine Untersu chung zu Struktur und Ursprung Aristotelischer Grund begriffe, 1 948. - H. H. Berger, Ousia in de dialogen van Plato. Een terminologisch onderzoek, 1 96 1 . - P. Cerezo Galán, El concepto de ousía en Aristóteles, 1 96 1 . - R. Marten, OYL IA im Denken Platons, 1 962. - St. Rehrl, Der Begrif!Usia bei Aristoteles, 1 963 . M. Loux, Primary "Ousia ": An Essay on Aristotle s Metaphysics Z and H, 1 99 1 . >, por Félix Ruiz, pp. 42 1 -425]. - Número especial de Giornale di Metafisica ( 1 7, 6, 1 962). - H. Gouhier, B. P., 1 966 (artigos, 1 953-1 962). - ld., P. et les humanistes chrétiens: L'affaire Sainte Ange, 1 974. - E. A. de Soveral, P.,filósofo cristão, 1 968.
- J. Miei, P. and Theology, 1 969. - T. M. Harrington, Vérité et méthode dans les Pensées de P., 1 972. - E. Morot-Sir, La métaphysique de P., 1 973. - ld., P., 1 973. - P. Magnard, Nature et histoire dans l 'apologétique de P., 1 975. - J.-P. Schobinger, Kommentar zu Pascais
Reflexionen über die Geometrie im Allgemeinen, 1 974.
- M. Heess, B. P. Wissenschaftliches Denken und chris tlicher Glaube, 1 977. - 1. E. Kummer, B. P. Das Hei! im Widerspruch. Studien zu den Pensées im Aspekt philoso
phisch-theologischer Anschauungen, sprachlicher Ges taltung und Reflexion, 1 978. - H. M. Davidson, The Origins of Certainty: Means and Meanings in P.s Pen sées, 1 979. - R. J. Nelson, P.: Adversary andAdvocate, 1 98 1 . - H. S. du Moulin, B. P. Une biographie spiri tuelle, 1 982. - D. Adamson, P. : A Criticai Biography, 1 983. - A. R. Pugh, The Composition ofP.s Apologia. 1 984. - F. X. J. Coleman, Neither Angel nor Beast: The Life and Work of B. P., 1 986. - H. Lõffel, B. P. 1 987. - R. Parish, P.s Lettres Provinciales, 1 989. L. Annour, "Infini Rien ": Pascal s Wager and the Hu man Paradox, 1 993 . Na bibliografia dos verbetes CRISTIANISMO, EscoLÁS TICA, FILOSOFIA MEDIEVAL indicamos os repertórios mais importantes para o estudo da filosofia cristã, entre eles os que correspondem à Patristica. Os repertórios biblio gráficos (com exceção do que se mencionará no final) foram também indicados no verbete CRISTIANISMO. Além disso, as edições principais dos autores patristicos foram mencionadas nos correspondentes verbetes [cf. APOLO GISTAS; AGOSTINHO; JUSTINO, ORiGENES etc.]. Assinalamos aqui somente que a maior parte dos textos dos autores do período se encontra na coleção dirigida por Jacques Paul Migne (citada freqüentemente: "Migne"): Patro logiae cursus completus, series graeca (abreviado: PG), 1 6 1 vols., 1 857ss. ; Patrologiae cursus completus, series latina (abreviado: PL), 29 1 vols., 1 844ss. Muitos dos volumes de PG e PL foram reimpressos. Embora em muitos pontos defeituoso, o cursus de Migne ainda é fonte indispensável para o estudo da Patristica, sobre tudo se se tem em conta para PL, a obra de P. Glorieux, Pour revaloriser Migne. Tables rectificatives, 1 952. Con tudo, é preciso recorrer em muitos casos a textos de edi ção mais cuidada. Para tanto, mencionamos as seguintes coleções: Corpus Christianorum [dos Padres Apostóli cos a São João Damasceno e de Tertuliano a Beda Vene rável, para cujo uso pode se recurrer à Clavis Patrum Latinorum seu Propylaeum ad Corpus Christianorum, 2ª ed., rev., 1 96 1 , ed. E. Dekkers e A. Gaar; Corpus Scriptorum Ecclesiasticorum Latinorum [da Acad. Scient. Austriacae; Sources chrétiennes, dirigidas por H. de Lubac e J. Daniélou; Spicilegium sacrum Lova niense: Opuscula Patrum; Studi e testi; Texte und Unter suchungen; Die griechischie christliche Schrifsteller der ersten drei Jahrhunderte [da Acad. Scient. Beroli ni] . - Para os Padres Apostólicos: Patrum apostolico rum Opera, ed. O. von Gebhardt, A. Harnack, Th. Zahn; Opera Patrum apostolicorum 2 vols., 1 90 1 , ed. F. X. Fubk. Para a Patrologia síria e oriental: Patrologia sy riaca, 1 894 ss., ed. R. Graffin e F. Nau. - Patrologia orienta/is, l 907ss., ed. R. Graflin e F. Nau. - Corpus scriptorum christianorum orientalium, l 903ss., ed. J. B. Chabot, B. Carra de Vaux et ai. [quatro séries: 1 , síria; 2, copta; 3, árabe; 4, etíope) . - Entre as coleções de escritos patrísticos (da patrística grega e latina princi palmente) em tradução (e, freqüentemente, com textos) mencionamos: Biblioteca deAutores Cristianos; Ancient Christian Writers; Fathers of the Church, e as citadas Sources chrétiennes. Para bibliografia: O. Perler, Patristische Philosophie, 1 950 [Bibliographische Einführungen in das Studium der Philosophie, ed. ! . M. Bochenski, 1 8) . - Biblio-
PATRIZZI, FRANCESCO (PATRICIUS, FRANCISCUS)
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graphia Patristica, desde 1 959, ed. K. Aland, L. Bieler et ali. Estado dos estudos patrísticos: Studio Patristica, 2 vols., 1 957, ed. K. Aland e F. L. Cross [trabalhos apre sentados no Segundo Congresso Internacional de Estu dos Patrísticos: Oxford, 1 955] - H. Musurillo, "Ecu menism and Patristic Scholarship: A Survey of Recent Work", Traditio, 20 ( 1 964), 473-490. Instrumentos de trabalho: Instrumenta patrística, a cargo da Abadia de São Pedro de Steenbrugge, desde 1 959. - G. W. H. Lampe, ed., A Patristic Greek Lexi con, desde 1 962. Repertórios para o estudo da Patrística especial mente em forma de exposição histórica: B. Altaner, Pa trologie, 1 938, 2ª ed. , aum., 1 950, reimp., 1 95 1 e 1 95 5 . - F. Cayré, Précis de Patrologie e t d 'histoire de la théo logie, 3 vols., 1 947. - J. Quasten, Patrology, 2 vols., 1 950- 1 953. - M. Greschat, ed., Gestalten der Kirchen geschichite, 2 vols., 1 984. Muitas das obras citadas nas bibliografias de CRIS TIANISMO, FILOSOFIA MEDIEVAL e FILOSOFIA ( HISTÓRIA DA ) estudam a patrística. Ver também: A. Stõckl, Geschichte der Philosophie der patristischen Zeit, 1 859. - J. Hu ber, Die Philosophie der Kirchenviiter, 1 859. - L. M. de Cadiz, Historia de la literatura patristica, 1 954. H. von Campenhausen, Die griechischen Kirchenviiter, 1 95 5 . - H. A. Wolfson, The Philosophy ofthe Church Fathers, !. Faith Trinity, Incarnation, 1 956. - I. Ortiz de Urbina, Patrologia syriaca 1 958. - C. Tresmontant, La métaphysique du christianisme et la naissance de la philosophie chrétienne, Les problemes de la création et de l 'anthropologie, des origines à SaintAugustin, 1 96 1 . -D. S . Wallace-Hadrill, The Greek Patristic View ofNa ture, 1 968. - J. H. Randall, Hellenistic Ways ofDelive rance and the Making ofthe Christian Synthesis, 1 970. - A. Warkotsch, Die antike Philosophie im Urteil der Kirchenviiter, 1 973. - P. Gorday, Principies ofPatristic Exegesis, 1 983. Para a relação entre Patrística e escolástica: J. Hes sen, Patristische und scholastische Philosophie, 1 922. - 1. de Ghellinck, Patristique et Moyen Age, 3 vols.: I. Les Recherches sur les origines du symbole des Apôtres, 1 946; 2ª ed. 1 949; II. Introduction et compléments à l 'étude de la Patristique, 1 947; III. Compléments à l 'étu de de la Patristique, 1 948. - F. P. Cassidy, Mo/ders of the Medieval Mind: The Injluence ofthe Fathers ofthe Church on the Medieval Schoolmen, 1 944. Obras principais: Das Problem des Dinges an sich in der neueren Philosophie, 1 902 (Oproblema da coisa em-si na filosofia moderna). - Az ismeretelméleti ka tegóriák problémája, 1 904 (O problema das categorias gnosiológicas). - Az etikai megismerés, 1 907 (O co nhecimento ético) . - A logikai alapelvek elméletéhez, 1 9 1 1 (Teoria dos princípios lógicos). - Bevezetés afi lozófiába, 1 920 (Princípios de filosofia). - Logika, 1 925. - Aristoteles, 1, 1 93 3 . - Várias das obras de Pauler foram traduzidas para o alemão: Grundlagen der Philosophie, 1 925. - Logik, 1 929. Ver: c. Carbonara, A. V. P. e la logica de/lafilosofia, 1 93 1 . - Gedenkschrift for Akós von Pauler, ed. pela Ungarische Philosophische Gesellschaft, 1 936. Obras: As obras principais de Pedro Damião são, além dos Hinos, o De sancta simplicitate, o De ordine rerum e a obra que possui maior interesse filosófico: o tratado De divina omnipotentia in reparatione corrup tae etfactis infectis reddendis, redigido em 1 067. Edição de obras por Cajetano, Roma, 1 606- 1 6 1 7, 3 tomos; outras edições: Paris, 1 646, 1 663, 1 743 . - Edi ção na Patrologia latina de Migne, t. CXLIV-CXLV. Os Hinos foram publicados por Dreves em Analecta hymnica, 48, Leipzig, 1 905. - Edição do tratado De divina omnipotentia com outros opúsculos por P. Brezzi e 8. Nardi, Florença, 1 943 . Ver: A. Capecelatro, Storia di S. Pier Damiano e dei suo tempo, 1 862. - R. Biron, Saint Pierre Damien, 1 908. - J. A. Endres, Petrus Damianus und die weltli che Wissenschaft, 1 9 1 O. - F. Sekel, Geistige Grundla gen P. D. , 1 93 3 . - V. Poletti, II vero attegiamento an tidialettico di S. Pier Damiani, 1 95 3 . - Id., Pier Da miani e il seco/o decimoprimo: Saggiofilosofico, 1 972. - F. Dressler, Petrus Damiani, Leben und Werk, 1 954. - J. Gonsette, P. Damien et la culture profane, 1 956. - J. J. Ryan, Saint Peter Damiani and His Canonical Sources, 1 956. - G. Miccoli, Due note sul/a tradizione manoscritta di P. D. Antilogus contra ludaeos epistola. II codice di San Pietro D. 206 e il Vat. Lat. 3 797, 1 960. - J. Leclercq, Saint Pierre Damien, ermite et homme d 'église, 1 960. _:____ VV. AA. , Studi su Pier Damiano in onore dei cardinale Amieto Giovanni Cicognani, 1 96 1 [bibliografia: pp. 249-407] . e
PEDRO DE ABANO [PIETRO D' ABANO] ( 1 2571 3 1 5). Nascido em Abano (Pádua), estudou em Pádua. Por volta de 1 300 se transferiu para Paris, onde parece
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ter ensinado; e m 1 307 regressou a Pádua, ensinando medicina e filosofia. Pedro de Abano foi filósófo, médi co e também astrólogo; alguns autores consideraram no averroísta, opinião que outros negam. Pode ser consi derado como um dos pensadores da "Escola de Pádua"; certos historiadores o descrevem inclusive como o pri meiro no tempo dos "paduanos''. Pelo título de uma de suas obras (ver bibliografia) foi chamado de Concilia tor. A "conciliação" se refere sobretudo à dos "filóso fos" e médicos, entre esses principalmente Galeno (VER) , de quem se considerou discípulo. Entre as principais contribuições filosóficas de Pe dro de Abano, encontram-se suas idéias sobre o método nas ciências ("ciências experimentais" ou "ciências da Natureza"). Pedro de Abano insistiu na necessidade de desenvolver o tipo de ciência demonstrativa que busca as causas (a demonstração propter quam a que se referia Aristóteles como uma das duas classes da demonstração quia, ou doctrina compositiva, de que falava Galeno ). Segundo Pedro de Abano, as forças ou virtudes ocultas que se acham em certas coisas são simplesmente efeitos de fenômenos naturais; assim, buscar tais "virtudes" não é especular sobre as coisas, mas averiguar quais são os fenômenos que as causaram. Pedro de Abano consi derou que há uma só forma substancial do composto humano: é a alma intelectiva, da qual são partes o inte lecto possível e o intelecto ativo. Por volta de 1 304, Pedro de Abano foi acusado de heresia, necromancia e magia pelos dominicanos de Pa ris; depois de sua morte, várias de suas proposições foram condenadas. :> Obras principais: Conciliator differentiarum philo sophorum et praecipue medicorum, escrito por volta de 1 3 1 0 (publicado em Veneza, 1 476). - Expositio problematum Aristotelis (Pádua, 1 482). - Liber com pilationis physognomiae (Veneza, 1 482), chamado fre qüentemente de Physiognomia. - Entre outras obras (algumas ainda inéditas; outras, publicadas junto a es critos de outros autores, e várias reproduzidas fragmen tariamente em algumas publicadas), citamos: Lucidator astronomiae. - Dioscorides. - De materia medica. ' - Tractatus Hippocratis medicorum optimi. - De as pectibus plantarum versus /unam. Ver: S. Ferrari, li tempo, la vita, le dottrine di Pietro d 'A bano, 1 900 (do mesmo autor, notas suplementares à citada obra em Per la biografia e per gli scritti di P. d 'A ., 1 9 1 8 [Memoria ... dalla R. Acc. dei Lincei, Anno CCCXV, série V, vol. XV]). - B. Nardi, "La teoria dell'anima e la generazione delle forme secondo P. d' A.", Rivisia di filosofia neoscolastica ( 1 9 1 2), 723-737. !d., Intorno alie dottrinefilosofiche di P. d 'A ., 1 92 1 [ex traído de Nuova Rivista Storica, e reimp. na obra do autor: Saggi sul/ 'aristotelismo padovano dai seco/o XIV ai xv1, 1 958, pp. 1 -74]. As opiniões de B. Nardi sobre P. de A. se opõem em muitos pontos às do citado S. Ferrari.
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- A. Zadro, "Nota per una ricerca sul concetto d i logi ca di Pietro d'A.", Atti dei XII Congresso Internazio nale di Filosofia [Firenze], 1 960, vol. 9, pp. 243-250. Ver também L. Thomdike, A History ofMagic and Experimental Science, vol. II, 1 960, pp. 874-947. Ver bibliografia de PÁDUA (EscoLA DE). C:
PEDRO DE AILLY, Petrus de Alliaco ( 1 350- 1 420). Nascido em Ailly, foi chanceler da Universidade de Paris a partir de 1 3 89 - cargo no qual lhe sucedeu, em 1 395, João Gerson -, em 1 395 foi nomeado bispo de Puy em Velay, em 1 396 bispo de Cambray e, em 1 4 1 1 , cardeal. Teve notável participação no Concílio de Cons tança ( 1 4 1 4- 1 4 1 8); pouco depois de regressar do Concí lio, faleceu como legado papal emAvinhão. Pedro de Ailly se ocupou não somente de teologia e filosofia, mas também de ciências naturais (astronomia, meteorologia, geografia) e de questões políticas e eclesiásticas. O nú mero de suas obras é considerável. Sua base filosófica é o occamismo, do qual é considerado como um dos principais representantes no continente. Este occamis mo se manifesta em Pedro de Ailly não somente no giro nominalista dado à lógica, teoria do conhecimento, psicologia e metafisica, mas também na tese da superio ridade da ordem da vontade divina sobre a ordem de nossa compreensão racional em todas as esferas: a atri buição de bondade a algo, por exemplo, depende de Deus querer. Seguindo Occam, Pedro de Ailly defende, ademais, a tese de que podem existir (se Deus as sus tenta) percepções sensíveis sem a presença dos obj etos externos; só a influência divina e a repetição dos fenô menos naturais toma possível que haja convicção inter na da existência dos objetos percebidos. � Obras: Quaestiones superprimum, tertium et quar tum Sententiarum, publicadas em 1 474 (outras eds., 1 478, 1 490, 1 500) (sobre as Sentenças de Pedro Lom bardo ); Imago mundi, publicada em 1 480 ou possivel mente em 1483; Vigintiloquium de concordia astrono micae veritatis cum theologia, publicado em 1 494; Trac tatus exponibilium, publicado em 1494; Tractatus super libros meteororum et de impressionibus aeris, publica do em 1 504; De anima, publicado em 1 505, ed. por O. Pluta. Seus Tractatus et sermones foram publicados em 1 634 (incluem o já citado De anima). Várias das mencionadas obras de P. de A. mais al gumas outras (como Destructiones modorum signifi candi; Conceptus et insolubilia secundum viam nomi nalium; Tractatus de legibus et sectis contra superstitio sos astronomos) foram publicadas nas Opera omnia, de João Gerson, 5 vols., 1 706, porque eram às vezes atri buídas a Gerson. Ver a ed. inglesa de P. V. Spade, Con cepts and Insolubles: An Annotated Translation, 1 980. Bibliografia: L. Salembier, Bibliographie des oeu vres du cardinal Pierre d 'A illy, évêque de Cambrai (1350-1420), 1 909.
PEDRO DE MARICOURT Ver: P. Tschackert, Peter von Ailly (Petrus de Allia co). Zur Geschichte des grossen abendliindischen Schis ma und der Reformkonzilien von Pisa und Konstanz, 1 877. - L. Salembier, Petrus de Alliaco, 1 886. - !d., Le cardinal Pierre d 'Ailly, 1 932. - E. Buron, Imago mundi, 3 vols., 1 930. - Bernhard Meller, Studien zur Erkenntnislehre des Peter von Ailly. Anhang: Aillys Trak tat De materia Concilii generalis, 1 954. - F. Oakley, The Political Thought ofPierre d 'Ailly: The Voluntarist Tradition, 1 964. - A. E. Bernstein, P. d 'A. and the Blanchard Ajfair: University and Chance/for of Paris at the Beginning ofthe Great Schism, 1 978. - L. Kacz marek, ed., Modi significandi und ihre Destruktionen, 1 980. - L. A. Kennedy, P. of A. and the Harvest of Fourteenth-Century Philosophy, 1 986. C:
PEDRO DE CANDIA (ca. 1 340- 1 4 1 0). Nascido em Creta. Membro da Ordem franciscana, estudou em Ox ford e Paris. Em seguida foi bispo em Piacenza e Vicen za, arcebispo em Milão, cardeal ( 1 405) e papa ( 1 409), com o nome de Alexandre V. Pedro de Candia escreveu Comentários aos quatro livros das Sentenças de Pedro Lombardo, precedidos de uma introdução ou Principia para cada livro. Nesses Principia, o autor trata de sope sar o significado e valor de cada uma das tendências filosóficas e teológicas que se enfrentavam em seu tem po, e em particular o occamismo e o escotismo. Sem ser necessariamente um eclético e ensaiar combinar doutrinas diversas, Pedro de Candia se caracterizou pelo desejo de entender o melhor possível as posições últi mas de occamistas e escotistas. Em certas ocasiões esti mou que tais diferenças eram diferenças de método ou de "enfoque" e que, por conseguinte, não há motivo para seguir insistindo em oposições irreconciliáveis. Contudo, às vezes destacou que se tratava de modos de pensar em cada um dos quais havia sua própria verdade, que dependia em grande parte do ponto de partida. Tem se observado que em vários momentos Pedro de Candia pôs singularmente em destaque as dificuldades implica das na idéia escotista da unívocidade do ser e se mani festou mais inclinado a aceitar algumas das teses occa mistas em teologia. � Ver: F. Ehrle, Der Sentenzenkommentar Peters von Candia, des Pisaner Papstes Alexander V, 1 925. C: PEDRO DE MARICOURT (Petrus Peregrinus de Mahamcuria [Meharicourt, Picardia]). Viveu em meados do século XII e é conhecido sobretudo pelos elogios que lhe dirigiu Rogério Bacon em sua Opus tertium. Rogério Bacon considerava Pedro de Maricourt como um mes tre da "arte experimental" e como um mestre que tinha muito a ensinar aos que aspiravam a corrigir erros nas proposições sobre o comportamento dos corpos natu rais. Pedro de Maricourt proclamou a necessidade de completar o método matemático com o experimental, isto é, de completar o "cálculo mental" com o "manual".
PEDRO HISPANO
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Por isso Pedro de Maricourt é considerado um dos pre cursores da moderna ciência da Natureza ou, pelo menos, de uma das tendências que impulsionaram esta ciência. � Obras: deve-se a Pedro de Maricourt uma Epistola de magnete (na qual tenta resolver o problema do mo vimento perpétuo por meio da explicação com base no magnetismo) e uma Nova compositio Astrolabii parti cularis. A Epistola de magnete foi publicada pela pri meira vez em Eugsburg ( 1 558). Ed. crítica por G. Hell mann em Rara Magnetica 1269-1599, 1 898. Ver: S. P. Thompson, Petrus Peregrinus de M. . 1 907. - E. Schlund, "P. P. von M., sein Leben und seine Schri ften", Archivum Franciscanum Historicum, 4 ( 1 9 1 1 ), 436-455, 633-643 ; 5 ( 1 9 1 2), 22-40. - F. Picavet, Essais sur l 'histoire générale et comparée des théologies et des philosophies médiévales, 1 9 1 3 . C:
PEDRO HISPANO, Petrus Hispanus, Petrus Hispanus Portugalensis (t 1 277). Nascido em Lisboa, estudou em Paris, ensinou em Siena, foi nomeado ( 1 273) bispo cardeal de Tusculum, e elevado à cátedra papal em 1 276 com o nome de João XXI Influente como médico e como comentador de vários tratados naturais de Aristóteles (o De animalibus, o De morte et vita, o De causis longi tudinis et brevitatis vitae e o De anima), foi mais in fluente ainda como lógico. O compêndio que redigiu por volta de 1 246, intitulado Summulae logicales, foi editado 1 66 vezes, sendo usado como texto de estudo e como base de comentário por filósofos de todas as tendências. Durante muito tempo se acreditou que as Summulae fossem uma tradução de uma obra de Miguel Psellos (VER) . Hoje se admite, no entanto, que constituem uma obra inteiramente redigida por Pedro Hispano, ba seada principalmente em Aristóteles (De int., Cat. . a parte dos An. Pr. sobre o silogismo categórico, Top. e De soph. E!. ) e em Porfirio (Isagoge) e mostrando uma forte tendência à forma chamada dialética (vER) . As Summulae se compõem (segundo a ordenação de Grab mann e Bochenski) de onze tratados que se referem: 1 ) à s proposições ou enunciados, 2 ) aos predicáveis, 3) aos predicamentos ou categorias, 4) aos silogismos ca tegóricos, 5) aos lugares dialéticos, 6) às suposições (ou pressupostos), 7) às falácias, 8) aos relativos, 9) às ampliações, 1 O) às restrições e 1 1 ) às distribuições. Im portante é a parte 6), com sua divisão das pressuposi ções em discretas e comuns, subdividindo-se as comuns em naturais e acidentais, e as acidentais em simples e pessoais. Importante também é a parte 1 ), com a atenção prestada à lógica proposicional. O tratado chamado De exponibilius, que às vezes é incluído nas Summulae, não pertence a elas; o mesmo ocorre com os chamados Parva logicalia. Junto às obras citadas, deve-se a Pedro Hispano um tratado De anima (diferente do comentário aristoté lico antes mencionado), no qual ele combina elementos .
avicenianos com a doutrina agostiniana da iluminação interior. � As Summulae foram comentadas com freqüência; entre outros comentadores espanhóis citamos Pedro Ci ruelo (ln Summulas Petri Hispani, 1 537) e Tomás de Mercado (VER) . Ver também ALONSO DE LA VERACRUZ. Edições das Summulae: Martianus Rota, ed. vene ziana de 1 572, reimp. 1 98 1 ; J. P. Mullally, 1 945; I. M. Bochenski (do Códice manuscrito Reg. Lat., 1 205), 1 94 7; L. M. de Rijk, ed. crítica (considerada a melhor), 1 972; do mesmo De Rijk, ver "On the genuine Text of P. of Spain's Summulae Logicales", Vivarium, I e II (6 [ 1 968], 1 -34, 69- 1 0 1 ) , III (8 [ 1 969], 8-6 1 ). - Edição de Obras filosóficas de Pedro Hispano, ao cuidado de M. Alonso, Madrid, Tomo I (Scientia libri de anima), 1 94 1 ; 2ª ed., 1 96 1 ; tomo II (Comentário ao De anima, de Aristóteles), 1 944; tomo III (Expositio libri de anima, De morte et vita et de causis longitudinis et brevitatis vitae, Liber natura/is de rebus principalibus), 1 952. Ver: K. Prantl, Geschichte der Logik im Abendlan de, III, 1 866, cap. XVII. - Id., M. Psellus und P Hispa nus, 1 867. - M. Grabmann, "Mittelalterliche lateinis che Aristotelesübersetzungen und Aristoteleskommen tare in Handschriften spanischer Biblioteken, em Si tzungsberichte der Bayerische Akademie der Wissens chaften, Phil. Hist. Klass, 1 928. - Id., "Handschriftli che Forschungen und Funde zu den philosophischen Schriften des Petrus Hispanus, des spãteren Papstes Jo hannes XXI ibid. , 1 936. - Id., "Johannis XXI Liber de Anima'', Archives d' historie doctrinale et littéraire du moyen-âge (1938), 1 67-208. - T. e J. Carreras y Artau, Historia de la filosofia espaiiola, I, 1 939, pp. 1 0 1 - 1 44. - P. T. Abranches, D. Martins, M. Martins, M. H. Rocha Pereira, L. de Pina et ai. , artigos na Revista Portuguesa de Filosofia, 8 ( 1 952), 233-248. - João Ferreira, Presen ça do agostinismo avicenizante na teoria dos intelectos de Pedro Hispano, 1 959. - J. M. da Cruz Pontes, Pedro Hispano Portugalense e as controvérsias doutrinais do século XII. Novos problemas textuais, 1 972. C: ",
PEDRO JOÃO OUVI, Petrus Joannis Olivi, Pedro Olieu (ca. 1 248- 1 298). Nascido em Sérignan (França), ingressou na Ordem dos Franciscanos e defendeu a po breza evangélica numa série de ressonantes polêmicas que acarretaram a condenação, em 1 282 e 1 283, de vá rias de suas proposições. Do ponto de vista teológico e filosófico, Pedro João Olivi se situa na tradição agosti niana, em cujo quadro discutiu as mais importantes po sições da filosofia escolástica cristã e árabe, com a qual estava muito familiarizado. Partidário da concepção hilemórfica da alma humana e da doutrina da plurali dade das formas, o filósofo sustentou que a alma inte lec.tual, unida ao corpo mediante as almas vegetativa e sensitiva e formando uma unidade substancial com ele, não é, porém, por si mesma, a forma do corpo, proposi ção que foi condenada no Concílio de Viena de 1 3 1 1 .
PEDRO LOMBARDO
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Em defesa da doutrina da pluralidade das formas, Pedro João Olivi considerava que a riqueza das formas é equiva lente à perfeição do ser e que todas as formas estão unidas por uma matéria comum que possui unidade conceituai. Isso é característica de nosso filósofo, que em muitos pontos importantes, mesmo aceitando a doutrina agosti niana tradicional, reconhece a existência de objeções in solúveis contra ela; assim ocorre com a teoria da ilumi nação da alma. Segundo 8. Jansen, Pedro João Olivi foi um dos primeiros, senão o primeiro, a desenvolver a im portante teoria do ímpeto e, por conseguinte, um dos filósofos que seguiram vias diferentes das aristotélicas para a explicação do movimento dos corpos. :> Edição de obras: Petri Joannis Olivi Provencalis Quodlibeta, editados em Veneza, 1 509. - Edição de Questões sobre as Sentenças: Petrus Joannis Olivi, O.F.M., Quaestiones in secundum librum Sententiarum, 3 vols., por B. Jansen, I, 1 922; II, 1 924; III, 1 926. Edições de outros textos: D. Laberge, "P. Joannis Olivi tria scripta ejus apologetica", Archivum Franciscanum Historicum, 28 ( 1 935), 1 1 5- 1 55. - F. Delorme, "Fr. Petri Joannis Olivi tractatus De perlegendis philosophorum libris", Antonia num, 16 ( 1 94 1 ), 3 1 -44. Ver: B. Jansen, "Die Lehre Olivis über das Verhãl tnis von Leib und Seele", Franziskanische Studien , 5 ( 1 9 1 8), 1 53- 1 75, 233-258. - !d., Die Erkenntnistheorie Olivis, 1 92 1 . - !d. , "Die Unsterblichkeitsbeweise bei Olivi und ihre philosophiegeschichtliche Bedeutung", Franziskanische Studien, 9 ( 1 922), 46-69. - !d., "Die Seelenlehre Olivis und ihre Verurteilung auf dem Wie ner Konzil'', ibid., 2 1 ( 1 934), 297-3 14. J. Jarraux, "Pierre Jean Olivi, sa vie, sa doctrine", Étudesfrancis caines, 45 ( 1 933), 1 29- 1 53 , 277-298, 5 1 3-529. - L. Seidel, Natur und Person. Metaphysische Probleme hei Petrus Olivi, 1 93 8 . - B. Echeverría, El problema dei alma humana en la Edad Media. Pedro de Olivi y la de jinición dei Concilio de Viena, 1 94 1 . - F. Simoncioli, li problema della libertà umana in G. O. e Pietro de Tra bibus, 1 956. - E. Bettoni, Le dottrinefilosofiche di P. di G. O. , 1 959. - C. Partee, "Peter John Olivi: Histo rical and Doctrinal Study", Franciscan Studies, 20 ( 1 960), 2 1 5-260. - E. Stadter, "Das Glaubensproblem in seiner Bedeutung für die Ethik bei Petrus Johannis Olivi, O.EM. ( 1 298). Ein Beitrag zur Geschicht der Ethik und Religionsphilosophie des Mittelalters'', Franzis kanische Studien, 42 ( 1 960), 225-296. - H. A. Huning, "Artes liberales und Philosophie in der Olivi-Schule", em Arts libéraux et philosophie au M. A . , 1 969. C: -
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PEDRO LOMBARDO, Petrus Lombardus (ca. 1 1 001 1 60). Chamado magister sententiarum. Nascido em Lu mello (Lombardia), estudou em Bolonha e em Reims, depois em Paris com Hugo de São Vítor e provavelmente também com Abelardo. Um ano antes de morrer, foi nomeado bispo de Paris. Seus Libri quattuor sententia-
rum (chamados também Summa sententiarum) exerce uma enorme influência e foram tomados como base de comentários pelos maiores filósofos escolásticos. A originalidade filosófica e teológica de Pedro Lombardo é escassa; não somente ele copia com freqüência a Sum ma sententiarum atribuída a Hugo de São Vítor e utili za amplamente os textos patrísticos compilados no cha mado Decretum Gratiani (textos reunidos por Gracia no), como utiliza muitas das classificações encontradas no De fide orthodoxa de João Damasceno segundo a versão latina de Burgúndia de Pisa. Contudo, a amplitu de e a sistematização dos livros de Pedro Lombardo são maiores que as oferecidas em quaisquer compilações anteriores, e por isso é compreensível que servisse de base para os comentários ulteriores. Pedro Lombardo inclui em sua Summa textos e opiniões de Agostinho (a principal autoridade da obra), Hilário, Ambrósio, Jerô nimo, Gregório Magno, Cassiodoro, Isidoro, Beda, Boé cio, João Damasceno, entre outros. A obra é dividida em quatro livros. Os três primeiros tratam das coisas (res) que não são símbolos de outras coisas; o quarto trata dos signos (signa) que simbolizam outras coisas (isto é, os sete sacramentos). O livro primeiro trata de Deus; o segundo, das criaturas; o terceiro, das virtudes e da salvação. Alguns autores ressaltam a estima que Pedro Lombardo manifesta em alguns pontos pela razão e o consideram como um dos partidários da "dialética". Outros assinalam que tal razão deve ser entendida como um dom de Deus que permite entender as idéias ou uni versais residentes no seio de Deus e que Pedro Lombar do interpretll em sentido realista. Outros, finalmente, indicam que não há em Pedro Lombardo preocupações filosóficas, mas exclusivamente compilatórias, e que a subordinação das artes liberais à teologia mostra que o autor pretendia unicamente usar de todos os meios pos síveis para a compreensão dos textos patrísticos. :> Obras: Dos livros de Pedro Lombardo foram feitos vários compêndios. Mencionamos entre eles a Abbre viatio magistri Bandini (do mestre Bandino ou Bandi nus) e a Abbreviatio in Sententias Magistri Petri Lom bardi, de Simão de Tournai. Para outros sentenciários, ver SUMAS. Edição de obras: os Libri quattuor sententiarum foram editados freqüentemente (Veneza, 1 477, 1 480; Nurembergue, 1 48 1 . 1 484; Basiléia, 1 486, 1 487, 1 488, 1 489, 1 492, 1 498, 1 502, 1 507, 1 5 1 6; Paris, 1 5 1 0, 1 5 1 8, 1 557, 1 574, 1 892; Lyon, 1 540, 1 553, 1 570; Colônia, 1 566). - Os franciscanos editaram as sentenças com a edição dos comentários às sentenças de Boaventura: Opera omnia, tomos I-IV, Quaracchi, 1 882- 1 889. Na Patrologia latina de Migne figuram as obras de Pedro Lombardo nos tomos CXCI e CXCII. - Ver o repertó rio dos comentários às sentenças de Pedro Lombardo no Repertorium: commentatorium in sententias Petri Lom bardi (t. I: texto; t. II, Índices), 1 947, de F. Stegmüller. ram
PEDRO NEGRO - Ver o Cartularium Universitatis Parisiensis 1, 1 889, de H. Denifle. Ver: F. Protois, Pierre Lombard, son époque, sa vie, ses écrits et son injluence, 1 88 1 . - J. Kõgel, Petrus Lombardus in seiner Stellung zur Philosophie des Mit telalters, 1 897. - M. da Carbonara, Dante e Pier Lom barda, 1 899. - J. N. Espenberger, Die Philosophie des P. Lombardus und ihre Stellung im 12. Jahrhundert, 1 90 1 . - J. de Ghellinck, "Le traité de Pierre Lombard sur les sept ordres ecclésiastiques. Ses sources et ses copistes", Revue d 'histoire ecclésiastique, 1 909 e 1 9 1 0 (outros artigos do mesmo autor sobre Pedro Lombardo no Buli. de littérature ecclésiastique, na Dublin Review e em Byzantinische Zeitschrift); ver também seu livro, baseado em seus estudos anteriores e compilação deles, intitulado Le mouvement théologique du x1f siécle. Etu des, recherches et documents, 1 9 14; 2ª ed. , aumentada, 1 948. E. F. Rogers, Peter Lombard and the Sacramen tal System, 1 9 1 7. - VV. AA., P. L., 1 953 [com biblio grafia lombardiana por J. de Ghellinck, pp. 24ss.]. L. Cassani, C. Castiglioni, P. Glorieux, Jean Leclercq, F. Pelster et ai., Miscel/anea Lombardiana, 1 957. - J. Schneider, Die Lehre vom dreienigen Gott in der Schule des Petrus Lombardus, 1 96 1 . - P. Delhaye, P. L., sa vie, ses oeuvres, sa mora/e, 1 96 1 . - D. E. Luscombe, The School ofPeter Abelard: The lnjluence ofAbelard s Thought in the Early Scholastic Period, 1 969. - M. P. Malloy, Civil Authority in Medieval Philosophy: Lom bard, Aquinas and Bonaventure, 1 985. C: -
PEDRO NEGRO. Ver EscoLÁSTICA. PEDRO RAMO. Ver RAMÉE, PIERRE DE LA. PEIRCE, C[HARLES) S [ANDERS) ( 1 839- 1 9 1 4). Nascido em Cambridge, Massachusetts, ensinou na Universidade de Harvard ( 1 864- 1 865; 1 869- 1 870), na Johns Hopkins University ( 1 879- 1 884) e desenvolveu escassa atividade literária que, além disso, foi quase integralmente publicada em revistas, principalmente em The Monlst e em Popular Science Monthly. Contudo, sua influência e importância têm sido muito maiores do que poderia fazer supor sua atividade docente, e nos últimos tempos sua figura tem se destacado de modo eminente, não só como um dos fundadores do pragma tismo norte-americano e como pensador que influen ciou, por meio do pragmatismo, as figuras mais signifi cativas da filosofia nos Estados Unidos, mas como pen sador que atacou na raiz os problemas centrais da lógi ca e da filosofia. O afã inquisitivo e pouco sistemático que, de modo análogo a Dilthey ou a G. E. Moore, C. S. Peirce mostrou era, aliás, propício para aprofundar se particularmente em certos temas. As influências por ele sofridas foram claramente confessadas: estudo am plo da lógica em todas as direções, de Kant, de Duns Scot; estima pela filosofia clássica alemã como mina de incitações filosóficas, e preferência pelos métodos
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e argumentos da filosofia inglesa; aceitação da idéia da evolução, mas não sob a forma spenceriana. Peirce conce beu, a rigor, a filosofia como uma disciplina análoga às demais da ciência. Mas, diferentemente da ciência, ela tem um objeto universal. Por isso a filosofia é mais difi cil que nenhuma outra ciência, pois tem de prestar aten ção ao mesmo tempo ao observável e ao especulativo. A filosofia tem de utilizar por igual o método da análise e o da síntese. Por isso a filosofia de Peirce é, como o próprio pensador indicou repetidamente, uma "filosofia de laboratório" e não uma "filosofia de seminário". Com efeito, esta filosofia "usa os métodos mais racio nais que pode descobrir para encontrar o pouco que se pode encontrar do universo do espírito e da matéria a partir das observações que cada um pode fazer em qual quer momento de sua vida em vigília" (Collected Pa pers, 1 : 1 26). A filosofia tem de começar com o que se dá. Mas tem de entender o dado - ou o ser - por meio de normas - ou o dever ser - e efetuar com base nisso conclusões de caráter especulativo. A filosofia tem três divisões: a fenomenologia (vER) , a ciência nor mativa e a metafisica (ibid. , 1 : 1 86). A fenomenologia é a doutrina das categorias (ver CATEGORIAS) e tem pres supostos ontológicos. A ciência normativa, apoiada na fenomenologia e na matemática, se subdivide ao mesmo tempo em estética, ética e lógica. A metafisica se divide em metafisica geral ou ontológica, metafisica psíquica ou religiosa e metafisica fisica; Mas ao mesmo tempo a filosofia não é mais do que uma subdivisão numa mais ampla classificação das ciências (ver CIÊNCIAS [ CLASSIFICAÇÃO DAs ]) ; é uma parte das ciências do des cobrimento, que são por sua vez uma subdivisão da ciência teórica (ver AsDuçÃo; RETRODUÇÃO) . As indicações acima oferecem só um esquema de algumas das intenções de Peirce em matéria filosófica. Suas concretas realizações filosóficas, embora fragmen tárias (salvo na lógica), são demasiado extensas para que as possamos descrever esquematicamente. Mencionamos entre as mais importantes as seguintes. No campo da lógica, Peirce combateu o psicologis mo, assim como todas as ingerências que desvirtuam o caráter formal da lógica. Embora o ponto de partida da lógica seja, segundo Peirce, "o fato'', e embora a estrutu ra da lógica seja idêntica, em seu entender, à da ontolo gia, a lógica como ciência tem caráter matemático. En tre as principais contribuições lógicas de Peirce, figu ram a invenção de vários simbolismos e a lógica das relações; da qual pode ser considerado um dos fundado res. No campo da semiótica, deve-se a Peirce uma com plexa teoria dos signos (ver SIGNO) e várias classifica ções dos mesmos. A isso se acrescenta uma teoria do simbolismo que com freqüência vai mais além da se miótica formal e serve como base de uma antropologia filosófica. Semiótica e lógica, ademais, estão estreita mente relacionadas, porquanto a lógica é definida tam-
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bém como a teoria dos signos, da qual a semiótica chamada por Peirce de "gramática especulativa" - é uma parte. No campo da ontologia, Peirce elaborou sua fenomenologia como doutrina das categorias, espe cialmente das categorias faneroscópicas e metafísicas a que nos referimos em Categoria (VER) . A relação entre lógica e ontologia é também muito estreita. Na cosmo logia formulou uma teoria do "tichismo" à qual nos referimos em Acaso (vER) . O pensamento de Peirce deu origem nos últimos anos a múltiplas interpretações. Umas se referem a as pectos particulares de sua filosofia. Por exemplo, tem se discutido muito se a filosofia de Peirce é (como in dicou o próprio filósofo em repetidas ocasiões, especial mente ao referir-se à influência recebida de João Duns Scot) de caráter realista ou se é possível dar-lhe um viés nominalista. Também se discutiu se o mais característi co e valioso de Peirce é seu trabalho lógico ou sua inves tigação ontológica. Outras interpretações se referem ao conjunto de sua filosofia. Entre elas se destacam duas. Segundo uma (defendida em parte pelos editores de Peirce [P. Weiss e Ch. Hartshorne] e especialmente por 1. Feibleman), o pensamento de Peirce é de natureza sistemática. Embora Peirce tenha praticado a filosofia como análise em forma parecida ao método de produ ção científica, e embora a maneira como apresentou suas idéias não seja sistemática, suas idéias mesmas, segundo esta interpretação, são sistemáticas, quando menos se nos ativermos a seus "principios condutores". Segundo outra interpretação (defendida especialmente por Thomas Goudge), o pensamento de Peirce não é sistemático: suas contradições e inconsistências devem ser aceitas tal qual se apresentam sem pretender reduzi las a um sistema. Segundo Goudge, tais inconsistências se devem à existência de duas diferentes fontes no pen samento de Peirce: o naturalismo e o transcendentalismo. Cada uma delas dá origem a uma série diferente de pre missas e, portanto, a uma série diferente de resultados. !) Edição de obras: Co/lected Papers of Charles San ders Peirce, 8 vols.: vols. I-VI, ed. C. Hartshorne e P. Weiss: I (Principies ofPhilosophy), 1 93 1 ; II (Elernents ofLogic), 1 932; III (Exact Logic), 1 933; IV (Fhe Sirnplest Mathernatics), 1 933; v (Pragrnatism and Pragmaticism), 1 934; VI (Scientific Metaphysics), 1 935. Vols. VII-VIII, ed. A. W. Burks: VII (Science and Philosophy), 1 958; VIII (Reviews. Correspondence andBibliography), 1 958. - Reimp. de vols. I-VI en 3 vols., 1 960. - Edição de obras matemáticas: The New Elements ofMathematics, 4 vols., 1 976, ed. C. Eisele (I. Elements ofArithmetic; II. Elements ofAlgebra and Geometry; III. Mathemati cal Miscellanea; IV. Mathernatical Philosophy) . - Ed. cronológica de obras completas: Writings of C. S. P., 1 982ss., ed. M. H. Fisch, Ch. 1. W. Kloesel, E. C. Moore, D. D. Roberts, L. A. Ziegler e N. Atkinson.
PEIRCE, C[HARLES] S[ANDERS] Ed. de correspondência de P. a Lady V. Welby (ver S!GNÍFICA), 1 953, ed. I. c. Lieb. Em português: Semiótica, 1 999. - Escritos coligi dos, Os Pensadores, 1 983. - Semiótica efilosofia, 1 984. Bibliografia: A. W. Burks no vol. VIII, de Selected Papers, cit. supra, pp. 249-330. Esta bibliografia é com pletada por M. H. Fisch: A Bibliography ofWritings about C. S. P., 1 96 1 [mimeo.]. - R. S. Robin, ed., Annotated Catalogue ofthe Papers ofC. S. P., 1 968. - K. L. Ketner, A Comprehensive Bibliography of the Published Works of Ch. S. P. with a Bibliography ofSecondary Sources, 1 977; 2ª ed. rev., 1 986. Ed. de artigos em The Nation, 1 - 1 1 1 , 1 975- 1 979, ed. e anotados por K. L. Ketner e 1. E. Cook. Entre as seleções de escritos de P. mencionamos: M. R. Cohen, ed. , Chance, Lave, and Logic, 1 923. 1. Buchier, ed., Philosophy ofP., 1 940. - Ph. P. Wiener, ed., �lues in a Universe ofChance, 1 950. - N. Houser, Ch. 1. W. Kloesel, eds., The Essential Peirce: Selected Philosophical Writings (1867- 1893), 1 992. Ver: 1. K. Feibleman, An lntroduction to Peirce 's Phi losophy Interpreted as a System, 1 946; nova ed., 1 960, reimp. com o título An Introduction to the Philosophy ofC. S. P. Interpreted as a System, 1 970. - Th. Goudge, The Thought of C. S. P., 1 950. - 1. von Kempski, C. S. P. und der Pragmatisrnus, 1 952. - M. Thompson, The Pragrnatic Philosophy ofC. S. P., 1 933. - Ph. P. Wiener e F. H. Young, eds., Studies in the Philosophy of C. S. P., 1 953. - A. A. Mullin, Philosophical Comments on the Philosophies of C. S. P. and L. Wittgenstein, 1 96 1 . - M. G . Murphey, The Development ofPeirce 's Philo sophy, 1 96 1 . - N. Bosco, Lafilosofiapragmatica di C. S. P., 1 962. - H. Wennerberg, The Pragrnatism of C. S. P.: An Analytical Study, 1 962. - 1. F. Boler, C. S. P. and Scholastic Realism: A Study ofPeirce 's Relation to John Duns Scotus, 1 963 . - 1. Lenz, D. Roberts et ai., Studies in the Philosophy of C. S. P., 1 964, ed. E. C. Moore e R. S. Robin (26 artigos e 2 apêndices biblio gráficos). - N. R. Hanson, P. Weiss et ai., Perspectives on P.: Criticai Essays on C. S. P., 1 965, ed. R. 1. Berns tein. - J. 1. Fitzgerald, Peirce 's Theory ofSigns as Foun dation for Pragmatism, 1 966. - V. C. Potter, C. S. P. on Nouns and Ideais, 1 967. - K. T. Fann, Peirce 's Theory ofAbduction, 1 970. - F. E. Reilly, C. Peirce 's Theory of Scientific Method, 1 970. - W. H. Davis, Peirce 's Epis temology, 1 972. - D. Greenlee, Peirce 's Concept of Sign, 1 973. - D. D. Roberts, The Existential Graphs of C. S. P., 1 973. - W. L. Rosensohn, The Phenomeno logy of C. S. P.: From the Doctrine of Categories to Phaneroscopy, 1 974. - P. Thibaud, La logique de C. S. P. De l 'algebre aux graphes, 1 975. - P. T. Turley, P.'s Cosmology, 1 977. - N. Rescher, P.'s Philosophy ofScience, 1 978. - C. Eisele, Studies in the Scienti fic and Mathematical Philosophy of C. S. P., 1 979, ed. R. M. Martin. - J. L. Esposito, Evolutionary
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Desde muito cedo começou-se a escrever histórias do pelagianismo e das controvérsias em torno do pela gianismo; por exemplo, G. J. Vossius, Historiae de con troversiis quas Pelagius eiusque reliquiae moverunt li bri VII, 1 6 1 8. - Da literatura publicada no século XIX, mencionamos: G. F. Wiggers, Darstellung des Augusti nismus und Pelagianismus, 2 vols., 1 82 1 - 1 823. - F. Klasen, Die innere Entwicklung des Pelagianismus, 1 882. - Da literatura no século XX: H. von Schubert, Der sogenannte Praedestinatus. Ein Beitrag zur Geschi chte des Pelagianismus, 1 903 . - G. de Plinval, Pé/age: ses écrits, sa vie et sa réforme. Études d 'histoire litté raire et religieuse, 1 943 . - J. Ferguson, Pelagius: A Historical and Theological Study, 1 956 [bibliografia, pp. 1 88- 1 92]. -T. Bohlin, Die Theologie des Pelagius und ihre Genesis, 1 957. - G. Leff, Bradwardine and the Pelagians, 1 957. - G. Bonner, Augustine and Mo dern Research on Pelagianism, 1 972. - G. Greshake, Gnade ais konkrete Freiheit. Eine Untersuchung zur Gnadenlehre des P., 1 972. - O. Wermelinger, Rom und Pelagius, 1 975. C:
PENSAMENTO. Freqüentemente se entende por 'pen samento' o mesmo que 'pensar' (VER). Em outras oca siões se distingue entre ambos, mas se reconhece que os significados dos dois termos se acham estreitamente relacionados entre si. O que se entende por 'pensamen to ' depende em grande medida do que se entende por 'pensar' e, ao mesmo tempo, o modo como se entenda 'pensar' está condicionado em boa parte pelo que se entende por 'pensamento ' . Cabe entender por 'pensamento' o que s e tem "em mente" quando se reflete com o propósito de conhecer algo, entender algo etc. Cabe entender também por 'pensamento' o que se tem "em mente" quando se de libera com o propósito de tomar uma decisão. No entan to, não fica claro como saber em nenhum dos casos o que se tem "em mente". Evidentemente, não é um objeto fisico. Por tal razão se diz com freqüência que é um processo mental. Mas com isso não se esclarece muito as coisas. Por uma parte, se queremos distinguir entre "pensamento" e "pensar", não poderemos dizer que o pensamento seja um processo mental, já que é justamente aquilo que se tem quando se leva a cabo um processo mental, isto é, o conteúdo de um processo mental, aquilo a que aponta um processo mental etc. Por outra parte, não sabemos exatamente o que são pro cessos mentais, se os há, ou se podem ser reduzidos a, ou explicados em, termos de comportamentos, proces sos cerebrais etc. Aqui distinguiremos entre 'pensamento' e 'pensar' apenas por razões metodológicas. Por 'pensar' entende remos algum ato ou operação de um sujeito, indepen dentemente de qual seja seu status ontológico. Levare mos, além disso, especialmente em conta os atos ou operações de natureza intelectual. Por 'pensamento'
PENSAMENTO entenderemos o que contém, ou aquilo a que aponta, um ato ou operação intelectual levado a cabo por um su jeito. Pode ser uma imagem, um conceito, uma entidade abstrata, etc., mas em todo caso é distinguível do ato de pensá-lo. Não é necessário que seja uma realidade "independente" de todo pensar; é indispensável, porém, que seja pelo menos algo comunicável ou exprimível, exprimível ao sujeito mesmo que pensa, mas também, e mais freqüentemente, a outros sujeitos. Alguns autores sustentam que, embora se possa falar de pensar, não é legítimo falar de pensamento. Pensar é uma realidade concreta, um processo mental ou uma série de fenômenos neurofisiológicos. Os pensamentos, em contrapartida, não são concretos. Outros autores, em contrapartida, admitem que há pensamentos que, embo ra produzidos pelo processo de pensar, não são redutí veis a atos de pensar e têm uma "realidade" própria. O pensar "apreende", por assim dizer, os pensamentos. Em ambos os casos se mantêm pressupostos ontológicos relativos à natureza do pensar e do pensamento. Esses pressupostos são provavelmente inevitáveis, mas por enquanto os deixamos de lado. Falaremos de "pensa mentos" como resultado de atos "mentais" do pensar, independentemente da concepção que se tenha do modo como se ligam a tais atos. Os pensamentos são conce bidos como se tivessem um modo de ser parecido com o das proposições. Estas são exprimíveis mediante atos lingüísticos, mas não são elas mesmas tais atos. Do ponto de vista adotado, um pensamento é equi parável a uma construção mental. Pode ser um conceito ou então uma proposição. Os pensamentos são designata (ver DESIGNAÇÃO) de certos termos. Esta concepção de "pensamento" é relativamente neutra diante de toda ontologia. Não está muito afastada da concepção moderna clássica de "pensamento" como conteúdo intencional de um ato. Tampouco está afasta da, e por razões similares, da concepção que Brentano desenvolveu e que desenvolveram vários fenomenólo gos do "pensamento" como algo apreendido por um sujeito no ato de pensar. Com efeito, o que se apreende não é uma coisa. Mas tampouco é o ato intencional mesmo. Alguns fenomenólogos sistematizaram e, com isso, simplificaram esta concepção ao falar da necessi dade de distinguir entre um sujeito (que pensa), o pensar do sujeito (que é um processo psíquico temporal), o pensamento que o sujeito pensa ao pensar (que é um "objeto ideal") e aquilo a que se refere o pensamento. A possibilidade de que não haja nenhuma realidade (existente) à qual se refira o pensamento não é conside rada grave pelos autores aludidos, que tendem a pôr entre parênteses (ver EPOCHÉ) a existência. Com efeito, tais autores indicam que o pensamento pode "referir se" a todos os "objetos" e não somente a objetos reais. Este gênero de sistematizações, e simplificações, co meça a afastar-se já consideravelmente da idéia apre-
PENSAR sentada dos pensamentos como construções mentais ou designa/a de certos termos, geralmente termos que expressam conceitos ou proposições. Quando se usa o termo 'pensamento' se pergunta freqüentemente de que tipo de pensamento se trata. Com isso se coloca o problema de se se trata de um pro cesso de natureza intuitiva ou discursiva. Consideramos que este problema pertence ao conceito de "pensar''. Ortega y Gasset empregou o vocábulo 'pensamen to ' numa acepção diferente das que normalmente são admitidas como correspondentes, seja a 'pensamento' , seja a 'pensar'. A rigor, o conceito que mais s e aproxima do de "pensamento" nesse autor é um conceito como o de pressuposto ou pressuposição. Contudo, descrevere mos aqui o sentido que Ortega dá a 'pensamento' por ser o termo que o autor usa. Ortega concorda com a depuração antipsicologista do pensamento (ver Ps1coLOGISMO) que ocorreu na filoso fia contemporânea, desde Brentano e Husserl, mas adver te que sem as funções psicológicas não se poderia pensar. Ora, o pensamento é, como "fazer" do homem, algo úl timo; psicologia e lógica são, por assim dizer, ocultações do pensamento (a primeira é um instrumento, a segunda, uma forma do pensar que não consegue ser coextensiva à realidade total do pensamento). A elas se une, como a mais equívoca ocultação, a freqüente identificação do pensamento com o conhecimento. Esta identificação tem sua razão de ser que encobre a raiz última do pensamen to. Pois enquanto o conhecimento é um saber que pode ser ou não ser necessário, que brotou de uma situação histórica como resposta a ela, o pensamento é algo que o homem faz para alcançar a espécie última de saber: o saber a que ater-se. "Pensamento é quanto fazemos - seja isso o que for - para sair da dúvida em que caímos e chegar de novo a estar no certo". Mas as figu ras do pensamento podem ser muito diferentes. Não há "uma só que o homem possua de uma vez para sempre, que lhe seja 'natural' e que, portanto, com mais ou me nos perfeição haja exercitado continuamente. A única coisa que o homem tem sempre é a necessidade de pensar, porque mais ou menos está sempre em alguma dúvida" ("Apuntes sobre el pensamiento", Logos, Buenos Aires, I, ! , p. 24), O pensar procura alcançar um saber, não um mero saber intelectual, mas um "saber a que ater-se''. O conhecimento é, de acordo com isso, uma das formas do pensamento, um pensar que consiste em fazer funcionar as faculdades mentais que a realida de humana encontra como parte de sua circunstância; não é uma averiguação de se há um ser, mas "uma ope ração ou fazer do homem a que ele não pode dedicar se se antes não está na firme e pré-racional crença de que há um ser" (op. cit. , p. 26). � Ver: J. H. Stirli ng, What is Thought?, 1 900. - J. M. Baldwin, Thought and Things ar Genetic Logic, 3 vols., 1 906- 1 9 1 1 (I. Funcional Logic ar Genetic Theory
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ofKnowledge, 1 906; II. Experimental Logic ar Genetic Theory of Thought, 1 908; III. Interest and Art, 1 9 1 1 ) - A. Pastore, lipensiero puro, 1 9 1 3 . - F. Masci, Pen siero e conoscenza, 1 922. - A. Spaier, La pensée con créte. Essai sur le symbolisme intellectuel, 1 927. Id., La Pensée et la Quantité. Essai sur la signification et la réalité des grandeurs, 1 927. - M. Blondel, La pensée, 2 vols., 1 933- 1 934 (I. La genése de la pensée et les paliers de son ascension spontanée; II. Les res ponsabilités de la pensée et la possibilité de son acheve ment). - J. Kõnig, Sein und Denken. Studien im Grenz gebiet von Logik, Ontologie und Sprachphilosophie, 1 937. - B. Blanshard, The Nature ofThought, 2 vols., 1 940. - J. Benda, Du style d 'Idées. Réflexions sur la pensée. Sa nature, sa réalisation, sa valeur, sa mora/e, 1 948. - N. R. Wolfard, Thinking about Thinking, 1 955. - P. Chauchard, Le langage de la pensée, 1 956. - G. Harman, Thought, 1 973. - J. A. Fodor, The Language ofThought, 1 97 5. - J. M. Moravcsik, Thought and Lan guage, 1 990. - G. Gillet, Representation, Meaning, and Thought, 1 992. - P. K. De, The Roles ofSense and Thou ght in Knowledge, 1 992. - R. Berlinger, Philosophisches Denken: Einübungen, 1 993 . - R. Rashed, Direct Refe rence: From Language to Thought, 1 993 . Ver também a bibliografia do verbete PENSAR; para a relação entre pensar e pensamento no sentido indicado no verbete, cf. os manuais de lógica de A. Pfànder e Romero Pucciarelli citados na bibliografia do verbete LóG1cA. � .
PENSAR. Como assinalamos no verbete PENSAMENTO, distinguimos, por razões puramente metodológicas, entre 'pensamento' e 'pensar'. Consideramos que este último é um ato ou uma operação, principalmente de caráter intelectual. Na medida em que semelhante ato, ou operação, é "mental", parece que deve ser objeto de pesquisa psico lógica. Como as pesquisas psicológicas podem ser conduzidas de maneiras muito diferentes e ser demar cadas por pressupostos muito diferentes, são muito diversos os modos como cabe entender 'pensar' . Pode se falar de "pensar" de um ponto de vista puramente mentalista, de um ponto de vista naturalista, de um pon to de vista comportamentalista etc. São também muito diversas as maneiras como cabe entender 'pensar' se se considera que o ato ou ope ração de pensar tem interesse principalmente epistemo lógico. Neste caso, o que se entenda por 'pensar' depen derá grandemente da interpretação ontológica que se ofereça dos "pensamentos''. Não é o mesmo entender os pensamentos como imagens ou como conceitos de alguma maneira "incorporados" às realidades ou como conceitos completamente abstraídos por si mesmos ou como modelos etc. Quer se entenda 'pensar' psicologicamente ou epistemologicamente, pode haver diversas opiniões
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acerca d o alcance d o pensar, assim como acerca dos tipos de pensar. No que toca ao primeiro ponto, 'pensar' pode ser entendido como equivalente a todo ato intencional, de modo que o pensar inclui, entre outros atos, o querer (é o sentido clássico de cogitare), ou pode ser entendido co mo um tipo particular de ato. Geralmente entendido como um ato intelectual ou, como também se diz às ve zes, conceituai. No que se refere ao segundo ponto, às vezes se ten deu a aproximar o pensar com o perceber. Às vezes, e mais freqüentemente, se tendeu a distinguir nitidamente entre perceber e pensar. Pensar consiste, de acordo com isso, em unir ou relacionar percepções e, em último termo, em julgar. Também se estabeleceu uma distinção entre o pensar como ato intuitivo e o pensar como ato discursivo. Não obstante, como o primeiro foi chamado também de "intuição" (vER), identificou-se freqüente mente 'pensar' com 'pensar discursivamente' (embora não necessariamente de um modo estritamente lógico). Alguns autores deram definições muito gerais de 'pensamento' . Uma delas é a de Martin Honecker (Das Denken, 1 925, p. 5), que escreve que "o pensar é uma atividade interna dirigida para os objetos e tendente a sua apreensão". Esta definição é muito questionável não só por ser demasiado geral, mas também por intro duzir pressupostos como os de 'atividade interna', 'obje to' etc. Embora a definição de Honecker se apóie numa concepção, digna de ser levada em conta, do pensar como ato dirigido a um conteúdo intencional, isto é, do pensar como "pensar algo", "pensar em . . ." etc., não expressa tal concepção com a (relativa) neutralidade ontológica com que é ordinariamente proposta. Entre os problemas que se debateram acerca do pen sar figura o de sua relação com outras atividades psí quicas ou mentais. Mencionaremos a este respeito duas opiniões. Segundo uma, o pensar vai sempre acompa nhado de outras representações psíquicas, em particular de imagens. É a opinião tradicional, seguida ainda por muitas escolas psicológicas. Segundo a outra, o pensar carece de conteúdo sensorial: é um "pensar sem ima gens", tal como o que foi proposto e estudado pela Escola de Würzburg (vER). Uma opinião intermediária sustenta que o pensar se faz acompanhar de representa ções concomitantes (fenômenos volitivos, emotivos, imagens etc.), mas que o pensar mesmo não pode ser reduzido a nenhuma delas. Pode-se dizer de modo geral que as diferentes doutrinas sobre o pensar se formaram na esteira das grandes escolas psicológicas modernas. Mencionaremos quatro teorias a respeito: a associacio nista, a behaviorista, a da Escola de Würzburg, e a es truturalista. Cada uma delas mantém uma idéia sobre o pensar que às vezes acentua a questão de sua gênese e às vezes a de sua estrutura. Os associacionistas sus tentam a tese de que o pensar consiste na combinação
PENSAR de pensamentos (ou de "coisas pensadas") de acordo com as leis da associação (VER). Os behavioristas (ver BEHAVIORISTAS) insistem na redução do pensar às reações orgânico-psíquicas, especialmente por meio dos refle xos condicionados. Os membros da Escola de Würz burg entendem o pensar segundo a noção dos Bewuss tseinslage a que nos referimos no verbete sobre essa escola. Os estruturalistas ou gestaltistas (ver EsrRuruRA) sustentam que o pensar surge como um processo per ceptivo suscitado por um estímulo e que se relaciona, formando um conjunto, com processos anteriores acar retados pela memória. Todas essas escolas estudaram, além disso, a relação entre o pensar e o pensado, e en tre o pensar e a expressão do pensar mediante a lingua gem (vER). Não podemos nos deter aqui nestes pontos; destacaremos somente que o último é o que suscitou mais acirradas controvérsias e maior número de teorias, quase todas elas relacionadas com a questão da cha mada linguagem interna. Nos últimos tempos, houve por parte de certos fi lósofos (especialmente por parte de G. Ryle e dos pen sadores do chamado grupo de Oxford [VER]) uma deci dida tendência a enfatizar a impossibilidade de reduzir o pensar a uma definição precisa. O pensar, indicou Ryle (The Concept ofMind, 1 949, pp. 1 43- 1 44), é uma atividade que se manifesta de muitas formas, 'pensar' é um termo de muitos usos. As formas do pensar são muito diversas, não somente quando examinadas do ponto de vista psicológico, mas também, e especialmen te, quando se submete a exame crítico os usos de 'pen sar'. Por outra lado, reconheceu-se (por exemplo, D. T. McCracken, em Thinking and Valuing, 1 950) que o pensar não pode ser facilmente isolado de outras ativi dades psíquicas, em particular da do valorar. Assim, segundo esse autor, o pensamento não é quase nunca - ao contrário do que crêem alguns - um processo que ocorre in vacuo: a afirmação da Werfreiheit do pen sar representa uma manifestação de determinada valo ração do pensar. Considerável auge tem o estudo do que se chamou de vários modos: psicologia do raciocínio, psicologia do conhecimento, psicologia do pensamento, psicologia do pensar etc. Trata-se de examinar, entre outros proble mas, que relação pode haver entre a lógica e a psicologia do raciocínio. Foram adotadas numerosas posições a respeito: as estruturas lógicas (ou pelo menos algumas delas) estão ligadas a estruturas mais amplas, que fazem parte de um contexto cultural; as estruturas lógicas (ou pelo menos algumas delas) fundam-se nas formas como estão organizadas algumas redes neuronais etc. Não é necessário manter posições "relativistas" para propor posições como as anteriormente mencionadas. Cabe, porém, admitir que, como escreveu Juan A. dei Vai ("Ló gica y psicología dei razonamiento'', em M. Heule, J. Piaget et ai., Investigaciones sobre lógica y psicología,
PENALOZA, WALTER p. 40), os raciocinios dedutivos "constituem uma ativi dade típica dos seres humanos", de modo que "está pressuposta por outras atividades mais complexas". O conhecimento de como se realizam os processos deduti vos pode abrir caminho para o exame de muitos outros problemas em "psicologia do pensar" e, em geral, na "psicologia do conhecimento". Num sentido muito particular Heidegger tomou o termo 'pensar' (cf. "Was heisst Denken?", em Vortriige und Aufsiitze, 1 954, e sobretudo o livro intitulado Was heisst Denken ?, 1 954). Segundo ele, ainda não começa mos a aprender a pensar, e nossa tarefa consiste justa mente em situar-nos - ou voltar a situar-nos - na atmosfera do pensamento. Cremos outra coisa porque imaginamos que pensamos quando filosofamos, ou quando fazemos ciência. Mas filosofar ainda não é pen sar, mas situar-nos na via do pensamento, e fazer ciência não é pensar. As vantagens da ciência, diz Heidegger, residem justamente em ser livre de pensamento. Mas da ciência ao pensamento não há uma ponte; há um salto. Por isso o pensar não é suscetível de demonstra ção, só pode ser mostrado ou, melhor dizendo, desco berto. Com isso Heidegger segue a mesma via trilhada em seus Holzwege; o pensar é um caminho que nos con duz ao pensável, isto é, ao ser, em cujo âmbito, e só em cujo âmbito, há pensamento. Quanto ao problema das formas do pensar, nos limitamos a destacar algumas das mais correntemente mencionadas sem atribuí-las a nenhuma escola psicoló gica ou filosófica determinada. Fala-se de pensar está tico e de pensar dinâmico, de pensar reprodutivo e de pensar criador, de pensar emotivo (ou afetivo) e de pen sar volitivo, de pensar analítico e de pensar sintético. É preciso perceber que na maior parte dos casos a clas sificação adotada depende de se se toma ou não o pen sar como um processo concomitante com o de outras atividades psíquicas. A expressão 'formas de pensar' pode ser entendida também de outro modo, menos psicológico que episte mológico-descritivo ou, como preferimos dizer, perifi losófico. Estudamos esse aspecto, com vários exemplos, no verbete PERIFILOSOFIA (VER). :l Ver: N. Ach, Die Willenstiitigkeit und das Denken, 1 905. - A. Messer, "Experimentell-psychologische Untersuchungen über das Denken", Archivfor die ge samte Psychologie, 8 ( 1 906), 1 -244; 1 O ( 1 907), 409428. K. Bühler, Tatsachen und Probleme zu einer Psychologie der Denkvorgiinge, 1 907. - B. Erdmann, Umrisse zur Psychologie des Denkens, 1 908. - J. Gey ser, Psychologie der Denkvorgiinge, 1 909. - J. Dewey, How lfé Think, 1 9 1 O. - W. Betz, Psychologie des Den kens, 1 9 1 8. - R. Hõnigswald, Die Grundlagen der Den kpsychologie. Studien und Analysen, 1 92 1 . - Id., Prin zipienfragen der Denkpsychologie, 1 9 1 3 . - H. Dela croix, Le langage et la pensée, 1 924. - G. Stõrring, -
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Das urteilende und schliessende Denken i n kausaler Behandlung, 1 926. - G. Dwelshauvers, L'étude de la pensée, méthodes et résultats, 1 934. M. Wertheimer, Productive Thinking, 1 946. - H. H. Price, Thinking and Experience, 1 953. - J. S. Bruner, J. J. Goodnow e G. A. Austin, A Study ofThinking: An Analysis in the Utilizing of Information fOr Thinking and Problem Solving, 1 956. - P. Foulquié, La pensée et l 'action, 1 962. - H. Gipper, Denken ohne Sprache?, 1 97 1 . G. Seebass, Das Problem von Sprache und Denken, 1 98 1 . - R. E. Schaefer, Informationsverarbeitung, ma thematische Modelle und Computersimulation, 1 985. - R. J. Sternberg, ed., The Psychology ofHuman Thou ght, 1 988. - H. Ruchlis, Clear Thinking: A Practical Introduction, 1 990. - M. Sheets-Johnstone, The Roots ofThinking, 1 99 1 . - E. B. Zechmeister, J. E. Johnson, Criticai Thinking: A Functional Approach, 1 992. - F. Schalow, The Renewal of the Heidegger-Kant Dialo gue: Action, Thought, and Responsibility, 1 992. - De Heidegger, também: Aus der Erfahrung des Denkens, 1 954. - Muitas das obras citadas na bibliografia do verbete PENSAMENm se referem também, naturalmente, ao problema do pensar como processo psicológico; re ferências ao problema se encontram também em quase todas as obras citadas no verbete Ps1coLOGIA. C: �
PENALOZA, WALTER. Ver DEúsruA, ALEJANDRO ÜCTAVIO. PEPPER, S [TEPHEN) C [OBURN) ( 1 89 1 - 1 972). Nascido em Newark, New Jersey (EUA), ensinou no Wellesley College ( 1 9 1 7- 1 9 1 8) e na Universidade da Califórnia, Berkeley ( 1 9 1 9- 1 958). Pepper é conhecido por seu trabalhos sobre estética e por suas pesquisas sobre as que ele chama de "hipóteses cósmicas" (World Hypo theses) de que falaremos no verbete PERJFILOSOFIA. Se gundo Pepper, embora a filosofia execute (ainda) certas tarefas de análise e crítica de várias disciplinas ou de várias áreas (filosofia da ciência e da história, filosofia do Direito etc.), sua principal tarefa é a formulação de uma doutrina omnicompreensiva sob forma de "hipóte ses". Há uma pluralidade - limitada - de hipóteses que se caracterizam por fazer uso, em cada caso, de uma "metáfora radical", e que são de maior ou menor alcance e de maior ou menor precisão (sendo a relação entre "alcance" e "precisão" inversa). Às quatro hipóteses es tudadas por Pepper - do realismo, ou idealismo, pla tônico; do mecanicismo, naturalismo ou materialismo; do contextualismo, do organicismo ou do idealismo abso luto ou objetivo, correspondentes, respectivamente, às metáforas radicais da similaridade, da máquina, da ação expressa verbalmente e do organismo - ele acrescenta uma que considera como sua, embora indique que tenha sido insinuada por outros autores, como Whitehead. Esta quinta hipótese cósmica é a do "seletivismo". Consiste em usar como metáfora radical "a estrutura e conteúdo de
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um sistema seletivo dinâmico'', cujas categorias podem ser derivadas da "ação integrativa da estrutura da persona lidade" ou da "ação normativa de uma estrutura social". :> Obras: Aesthetic Quality, 1 938. - World Hypotheses, 1 942. - The Basis of Criticism in the Arts, 1 945 . - A Digest ofPurposive Values, 1 94 7. - Principies of Art Appreciation, 1 950. - The Work ofArt, 1 955. The Sources ofValue, 1 958. - Ethics, 1 960. - Concept and Quality: A World Hypothesis, 1 967. Um resumo do pensamento de Pepper se acha no ensaio "The Search for Comprehension ofWorld Hypotheses'', em The Na ture ofPhilosophical lnquiry, 1 970, ed. Joseph Bobik, pp. 1 5 1 - 1 67. Depoimento: "Autobiography ofanAesthetics'', Jour nal ofAesthetics and Art Criticism, 28 ( 1 970), 275-293 . Ver: L. E. Hahn, E. H. Duncan et ai. , Real Meta phor: The Live Thought of S. C. P., 1 98 1 , ed. A. Efron e J. Herold. e
PEQUENAS PERCEPÇÕES. No "Prefácio" aos Nouveaux Essais sur l 'entendement humain, depois de distinguir entre as percepções (ver PERCEPÇÃO) e o que chama "apercepções" (ver APERCEPÇÃO), Leibniz intro duz a noção das "percepções insensíveis". Segundo Leib niz, há numerosas indicações que fazem pensar haver "em nós em todo momento uma infinidade de percep ções, mas sem apercepção e sem reflexão, isto é, mu danças na própria alma das quais não nos damos conta, porque ou as impressões são demasiado pequenas e de masiado numerosas ou demasiado unidas entre si, de modo que não têm nada que as distinga suficientemen te, embora unidas a outras não deixem de produzir seu efeito e de fazer-se sentir, pelo menos confusamente, no conjunto". Leibniz dá como exemplos o fato de não nos darmos conta do movimento de um moinho ou da queda da água numa cascata quando estamos �costu mados aos ruídos produzidos; não é que não afetem nossos órgãos dos sentidos, mas não são fortes o bastan te para atrair nossa atenção (que, ao contrário, fica alerta quando os ruídos cessam). Leibniz indica que as percep ções insensíveis "são de um uso tão grande na pneumá tica como os corpúsculos insensíveis o são na tisica". Constituem uma nova prova da lei de continuidade, que neste caso vai do insensível e imperceptível ao sensível e perceptível sem saltos bruscos. Leibniz considera que as chamadas "percepções notáveis" (remarquables, no sentido de serem "notadas") vêm por graus desde as que "são demasiado pequenas para ser notadas". Na obra mencionada, as percepções insensíveis pa recem ser unicamente psíquicas ou mentais. Dentro do quadro da monadologia, Leibniz as insere como ele mentos constitutivos de toda realidade enquanto realida de individual. O nome pelo qual se conhecem é o de "pequenas percepções" (petites perceptions). O estado de "aturdimento" (étourdissement) é o que corresponde ao da falta de consciência. Mas a falta de consciência
PERCEPÇÃO não é um estado completamente separado da posse de consciência ou apercepção. Não só os espíritos são môna das, como crêem os cartesianos (Monadologie, § 14); "os brutos e outras enteléquias" possuem também "alma". Portanto, têm "percepções", mesmo quando seja sob a forma das pequenas percepções ou percepções insensí veis. Assim, a noção de percepção (VER) não é unicamen te uma noção psíquica. Os graus de consciência, desde a inconsciência (ou falta de consciência aperceptiva) à consciência ou apercepção, são paralelos aos graus de realidade numa espécie de "escala monadológica".
PERCEPÇÃO. Os gregos usaram vários termos que se traduzem por 'percepção' : àvTÍÀTJIJ.llÇ, KaTÓÀTJIJ.llÇ. O sentido mais comum destes termos é o de "recolhimento" como ação e efeito de recolher algo (que se reclama). Em latim, percipio (percipere) é o mesmo que "tomar posse de", "recolher". Cícero usa a expressão perceptio nes animi, dando a entender com ela uma "apreensão" de notas intelectuais ou traços intelectuais (conceituais), isto é, de noções, notiones. Num sentido semelhante fa lavam os estóicos de KaTÓÀTJIJ.llS, catalepsis. A "fantasia cataléptica'', cpavTacría KaTaÀETTTtKÍ) (ver CATALÉPTI co), é uma "representação compreensiva" ou "representa ção apreensiva" ou, simplesmente, "representação". Ao longo da história da filosofia (ocidental), o significado dos termos cuja designação é a noção de percepção oscilou entre dois extremos: a percepção como percepção sensível e, ao fim e ao cabo, como sensação, e a percepção como percepção nocional ou "mental". Em muitos casos, a percepção foi entendida como uma atividade ou um ato psíquicos que incluem algum elemento sensível ou algum elemento intelectual ou nocional. Foi abrindo passagem a tendência de enten der 'percepção' como "percepção sensível", diferente mente de outras operações mentais estimadas como não-sensíveis (ou, pelo menos, como não diretamente sensíveis). Contudo, ainda neste caso foi muito comum distinguir entre percepção e sensação (VER) em sentido estrito. A distinção adotou freqüentemente a seguinte forma: pode haver sensação sem percepção, mas não pode haver percepção sem sensação. Enquanto os problemas relativos à chamada "ori gem do conhecimento" (ver CONHECIMENTO), à relação entre os sentidos e os conceitos, ou noções etc., foram discutidos nas filosofias antiga e medieval, a questão da natureza da percepção, de como se percebe, do que se percebe etc., é importante nestas filosofias. Contudo, nos limitamos ao conceito de percepção na filosofia moderna, porque nela se prestou especial atenção a ele. Testemunha disso é o abundante uso nas línguas moder nas de termos como 'percepção' , perception, percezio ne, Wahrnehmung etc. Os pensadores chamados "racionalistas", como Descartes e Spinoza, seguiram em parte (apud H. A.
PERCEPÇÃO Wolfson, The Philosophy of Spinoza, cap. XIV, 1 ) as doutrinas de Bernardino Telésio (Telesius) sobre a per cepção e a sensação tal como foram expostas na obra deste autor, De rerum natura (especialmente, VII, 2). Segundo Wolfson, Telésio indica que difere neste pon to de Aristóteles, mas, de fato, está muito próximo dele. "Com freqüência", escreve Wolfson, "as diferenças en tre [Telésio] e Aristóteles, como Cícero disse das dife renças entre Zenão e Aristóteles [De finibus, IV, 9, § 2 1 1 ], consistem meramente numa mudança de termino logia". Uma das diferenças entre Telésio e Aristóteles é que o primeiro não localiza, como o último, a facul dade sensitiva no coração, mas (seguindo Galeno) no cérebro. Com Aristóteles, Telésio afirmou que a sensa ção é a percepção pelo espírito, antes de tudo, de sua própria afecção (produzida pelas coisas externas) e, depois, a percepção pelo espírito da ação exercida por coisas externas. À diferença de Aristóteles, sustentou que a mencionada afecção do próprio espírito por coisas externas tem lugar antes de sua percepção da ação das coisas externas mesmas. Segundo Descartes (Princ. Phil., I, 32), há dois modos de "pensamentos" (cogitationes, num sentido amplo do termo) ou dois modos de "pensar" (cogitare, também num amplo sentido do termo). "Um consiste", escreve Descartes, "em perceber pelo entendimento, e o outro em determinar-se pela vontade. Assim, sentir, imaginar e inclusive conceber coisas puramente inteligí veis são só modos distintos de perceber; mas desejar, ter aversão, assegurar, negar, duvidar são modos diferentes de querer". Spinoza segue de perto Descartes a esse respeito (Princ. Phil. Cartes. I, prop. 1 5 , schol.). Ambos seguem Telésio que, como vimos, seguiu por sua vez em grande parte Aristóteles, inclusive ao entender, por uma parte, que há uma distinção entre sensação e per cepção (talvez "intelecção") e, por outra parte, que a sensação se dá dentro do "quadro da percepção" em Aristóteles, possivelmente mediante o senso comum (VER) , que não é um senso/sentido específico, mas que unifica todos os sentidos. No entanto, não é sempre claro o que Spinoza entende por 'percepção', perceptio, e pode-se alegar que há ambigüidade no uso que ele faz do termo. Em todo caso, embora Spinoza fale de per cepção como incluindo tanto o que se apreende median te os sentidos como na chamada experientia vaga (De intellectu emendatione, 7), avalia que a percepção, à di ferença do "conhecimento", apreende unicamente coi sas singulares (Eth. II, prop. XL, schol.). Wolfson chama a atenção para o fato de Spinoza afirmar que a mens humana "deve perceber tudo o que ocorre no corpo hu mano" (Eth. II, prop. XIV, demonst.), o que, segundo o citado historiador, corresponde a "uma parte do tercei ro elemento na sensação, tal como foi estabelecido por Telésio, isto é, a percepção mediante a mente de suas próprias afecções e movimentos".
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Fiel à sua idéia de continuidade, Leibniz se inclina a pensar que a percepção não é uma operação que se limita à alma humana. Há percepção, assim como ape tência, também nas plantas (Nouveaux Essais, II, ix). Pode-se falar de um "contínuo da percepção" em Leibniz, que vai das percepções insensíveis ou pequenas per cepções (VER) ao mais elevado grau de percepção, ou seja a apercepção (VER) . É improvável que Telésio tenha influenciado os fi lósofos "empiristas" na forma em que, como vimos, in fluenciou vários autores "racionalistas", mas os proble mas tratados em ambos os casos são similares. Locke toma a percepção num sentido muito amplo, muitas vezes análogo ao do cogitare a que nos referimos ante riormente. No Essay (II, ix, I) ele escreve que "como a percepção é a primeira faculdade da mente exercida sobre nossas idéias, é a primeira e a mais simples idéia que temos da reflexão, e é chamada por alguns de pen samento em geral". Considerando o poder ou potência (power) da percepção, esta pode ser chamada de "enten dimento". "A percepção com que identificamos o ato do entendimento é de três classes: 1 ) Percepção de idéias em nossas mentes, 2) Percepção da significação de sig nos, 3) Percepção do acordo e desacordo ('conexão' e 'repugnância') entre nossas idéias" (Essay, II, xxi, 5). Hume dividiu todas as "percepções" em "impressões" e "idéias": "Estas percepções que ingressam com a má xima violência, podemos chamá-las de impressões, e por este nome entendo todas as nossas sensações, pai xões e emoções na medida em que fazem sua primeira aparição na alma. Por idéia quero dizer as tênues ima gens daquelas ao pensar e ao raciocinar. . ." (Treatise, I, i, 1 ). No Enquiry, II, Rume fala das impressões enquan to "nossas percepções mais vívidas, quando ouvimos, ou vemos, ou sentimos, ou amamos, ou odiamos, ou de sejamos, ou queremos". A noção de percepção é fundamental no pensamen to de Berkeley na medida em que para ele ser é "perce ber ou ser percebido" (ver EssE EST PERCIPI) . Uma noção fundamental desta classe é quase sempre muito comple xa, mas há na percepção em Berkeley vários traços per sistentes. No que antes se chamou Commonplace Book e agora Philosophical Commentaries, Berkeley fala da "mente que percebe" enquanto "tem uma passiva recep ção de idéias" ( The Work of George Berkeley, ed. A. A. Luce e T. E. Jessup, I: "Notebook B" 3 0 1 ); a mente é uma "coisa ativa", isto é, "eu mesmo" (ibid. , 362 a); percepção é "a mera recepção passiva ou o ter idéias" (ibid. , 378: 1 0; cf. também "Notebook A" 673). Nos Princípios do conhecimento humano (Principies ofHu man Knowledge, I), Berkeley fala das sensações ou idéias, que existem somente num espírito que as "percebe'', e nos Três diálogos (Three Dialogues between Hylas and Philonous, Dia!. I) expressa a mesma noção. Embora não o indique expressamente, esta noção só parece ser
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entendida em relação com a aludida atividade. Berkeley destaca que o ser percebido não é um "ser inerte" à di ferença da "matéria" de que falam os "ateus". Muitos autores entenderam por 'percepção ' só a percepção sensível ou percepção por órgãos dos senti dos. Outros consideraram que a percepção inclui não somente os sentidos chamados "externos", mas também os "internos" (o querer ou o amar, tanto como o ver ou o tocar). Como se entendeu também por 'sensação' (vER) a "sensação externa" ou então a "sensação exter na" junto com a "interna", não é fácil estabelecer distin ção entre ' sensação' e 'percepção ' . Contudo, esta tem sido uma distinção comum. Às vezes se baseou na idéia de que as sensações são operações simples e geralmente "passivas", enquanto as percepções são complexas e ge ralmente "ativas". A distinção entre sensação e percep ção, por um lado, e percepção e pensamento, por outro, foi proposta por Kant. A sensação é para este autor co mo o conteúdo ao qual a percepção dá forma mediante as intuições do espaço e do tempo. Ao mesmo tempo, as percepções enquanto percepções empíricas constituem o material ordenado pelos conceitos nos atos do juízo. Os conceitos sem percepções (intuições) são, segundo Kant, vazios. Ora, enquanto Kant estimava que os con ceitos se impõem, por assim dizer, desde fora ao mate rial das percepções (sensíveis), Hegel e, em geral, os idealistas propunham que há na percepção um elemento de universalidade. Em geral, os autores cuja tendência em epistemologia foi realista sustentaram que a percep ção tem um caráter imediato. Os autores de propensão idealista destacaram o caráter mediato da percepção. Segundo Colingwood, que representa um ponto de vista idealista, "a imediatidade da percepção não exclui a me diação, não é abstrata imediatidade (sensação), mas sim contém implicitamente um elemento de mediação (pen samento)" (Speculum mentis, VI, 1 ) . D e u m ponto d e vista psicológico, assim como epis temológico, foram propostas várias teorias sobre a per cepção e especialmente sobre o modo como, com as percepções, se "apreendem" realidades "externas". As teorias mais importantes a respeito foram a teoria rea lista da percepção, segundo a qual o conteúdo das per cepções são as realidades mesmas; a teoria causal da percepção, segundo a qual há uma diferença entre per cepção e realidade percebida, já que esta é causa daque la; e a teoria fenomenista, segundo a qual o que se per cebe são fenômenos ou aspectos fenomênicos da reali dade. Esta última teoria pode desembocar numa distin ção entre fenômenos e realidades mediante a introdução de noções como as dos dados dos sentidos (ver SENTIDOS [DADOs DOS]) ou dos chamados "sensíveis" (ver SENSÍVEL, SENSÍVEIS), ou pode, pelo contrário, terminar por uma afirmação de que não há distinção de princípio entre "percepção" e "percebido". Uma diferença básica se acha entre os que sustentam que quando alguém vê um
PERCEPÇÃO objeto, vê a aparência de um objeto (ou o objeto enquan to aparência), mas não o objeto; e os que sustentam que quando alguém vê um objeto, o objeto se lhe apare ce sem distinção entre este e uma "aparência". Discutiu-se também o problema da chamada "inte rioridade" ou "exterioridade" das percepções, ou dos atos de percepção (problema em alguns aspectos similar ao já apontado antes quando se examinou se, e até que ponto, as percepções não são apenas "sensíveis", mas se incluem também atos "internos"). Muitas teorias "in terioristas" da percepção vinculam os atos de percepção à existência de alguma "força". Isso ocorre com Lache lier quando afirma que "o movimento desenvolvido na extensão não tem consciência de si mesmo, porque está, por assim dizer, todo inteiro fora de si mesmo", mas que "o movimento concentrado na força é precisamente a percepção tal como a definiu Leibniz, isto é, a expres são da multiplicidade na unidade" (Du fondement de l 'induction, 1 8 7 1 , ed. 1 924, p. 94). Isso supõe, segundo o autor, duas condições: a) que, em vez de dispersar se no tempo e no espaço, a força e o movimento se jun tem num certo número de sistemas; b) que o detalhe desses sistemas se concentre ainda mais, refletindo-se numa pequena quantidade de "focos" onde a consciên cia se exalta por uma espécie de acumulação e de con densação. Por isso a alma é definida aqui como a "uni dade dinâmica do aparato perceptivo" pela mesma razão por que a vida é definida como a "unidade dinâmica do organismo". Em sua análise da percepção contida em Matiére et Mémoire; Bergson não entende a percepção como apreensão de uma realidade por um sujeito psíquico. A noção de percepção dá origem a duas diferentes con cepções. Por um lado, a noção tradicional de percepção não pode explicar a "ordem da Natureza" para uma consciência "na qual todas as imagens dependem de uma imagem central, nosso corpo, cujas variações elas seguem" a menos que se adote uma hipótese arbitrária: a de consciência como um epifenômeno ou uma espécie de "fosforescência" da matéria. As doutrinas antagôni cas do idealismo e do realismo postulam por igual a no ção gratuita de que "perceber é conhecer". Bergson re jeita essas concepções não só em virtude dos argumen tos apontados, mas também por razões empíricas. O que afirmam essas noções se revela como falso "com base num mero exame da estrutura do sistema nervoso na série animal". Para Bergson, a percepção é, antes de tudo, ação e acarreta "uma relação variável entre o ser vivo e a in fluência mais ou menos distante dos objetos que influem sobre ele". O cérebro opera ao modo de uma central telefônica, indicando "certo número de ações possíveis ao mesmo tempo" ou organizando uma delas. O cérebro não produz imagens mentais; sua função consiste em "receber estímulos, proporcionar os aparatos motores
PERCEPÇÃO e apresentar o maior número possível de tais aparatos a um estímulo dado. Quanto mais se desenvolve, mais distantes ficam os pontos do espaço que ele põe em relação com mecanismos motores cada vez mais com plexos". A percepção, regulada pelo sistema nervoso, está encaminhada à ação e não ao conhecimento puro. Isso explica que a crescente riqueza desta percepção simbolize "o mais amplo raio de indeterminação deixa do à escolha do ser vivo em sua conduta com respeito às coisas". Se houvesse uma pura percepção sem me mória, ela se acharia absolutamente encerrada num pre sente. Seria uma "percepção impessoal" sobre a qual não se imporia a individualidade da memória. Transfor mar uma realidade objetiva numa "imagem representa da" é isolá-la de todas as demais imagens, assim como de sua relação passada e futura com essas imagens. A representação é, portanto, uma diminuição; a represen tação de uma imagem é menos que sua presença. Os seres vivos enquanto "centros de indeterminação" eli minam essas partes dos objetos que não lhes interessam. Bergson compara a percepção a uma reflexão incomple ta, isto é, a uma reflexão onde não fica refletido o objeto inteiro, mas somente seu contorno. O que fica descartado em nossa representação da matéria é o que não tem ne nhum interesse para nossas necessidades. Assim, a repre sentação consciente das coisas se toma possível pelo fato de se refletirem contra os centros de ação espontânea. Em outras palavras, enquanto a consciência elimina, a perceção absorve tudo (embora não o saiba). A percepção não é, pois, "uma fotografia das coisas". Não há diferença só entre percepção e consciência, mas também entre percepção e afecção. Esta surge co mo resultado de um esforço para rejeitar excitações. A percepção mede o poder refletor. A percepção se acha fora do corpo. A afecção se acha no corpo. As coisas inanimadas não são percebidas num sujeito psíquico; até se poderia dizer que "se percebem" umas às outras e que são mutuamente "transparentes". O problema da percepção foi examinado com deta lhe por muitos dos chamados "neo-realistas" ingleses (ver NEO-REALISMO). Estes filósofos não são propriamen te realistas, porquanto não admitem a tese antes rese nhada da imediatez na percepção, tampouco são idea listas, porque não fazem intervir, como termo mediato, nem o pensamento nem a reflexão. Seu neo-realismo se parece em muitos casos com um fenomenismo, pelo menos na medida em que dão considerável importância aos chamados sensa como elementos entre o objeto e o ato de percepção do objeto. Esses sensa foram com parados com as species, e em particular as species sensibiles escolásticas, mas não se deve levar a compa ração a extremos demasiados. Característico dos neo realistas ingleses é a tendência a considerar os atos de percepção e as percepções como "acontecimentos" (events), de tal sorte que, conforme antes apontamos,
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pode-se falar inclusive de um percipient event ou "acon tecimento percipiente" no caso do ato da percepção. Contudo, dentro de uma tendência comum há diferenças nos modos como os neo-realistas ingleses (filósofos como C. D. Broad, T. Percy Nunn, H. A. Prichard, Nor man Kemp Smith, John Laird, H. H. Price) explicam a percepção. Uns, como T. Percy Nunn, se inclinam para o que poderíamos chamar "objetivismo realista" na me dida em que atribuem os citados sensa aos objetos mes mos. Outros, como H. H. Price (VER), supõem que os sensa, ou, melhor, os sense-data, pertencem ao objeto constituindo "famílias" de sense data. Mas assinalam ao mesmo tempo que não se pode dizer grande coisa do "objeto mesmo" e que, só pelas dificuldades que levanta uma teoria "representacionista" da percepção, é melhor ater-se a um certo fenomenismo. Alguns filósofos, como J. E. Turner (nascido em 1 875: A Theory ofDirect Realism, and the Relation of Realism to Idealism, 1 925), chegam a sublinhar o que pode ser chamado de "elementos realistas" na percep ção, que desembocam num claro representacionismo. Reagindo contra esta tendência, certos autores, como A. C. Ewing (nascido em 1 900: Jdealism, a Criticai Survey, 1 934), destacam a impossibilidade de perceber sem de algum modo categorizar o percebido. O exame da percepção pelos neo-realistas ingleses é uma espécie de "fenomenologia da percepção", dife rente das especulações metafisicas e também das teorias psicológicas e neurofisiológicas. O problema da percep ção foi objeto de detalhado tratamento pelos fenome nólogos. Husserl falou de uma percepção interna en quanto "percepção imanente" e de uma percepção exter na enquanto "percepção transcendente". A percepção imanente é a das vivências intencionais cujos objetos pertencem ao mesmo "fluxo vivencial". A percepção transcendente é a das vivências intencionais onde não ocorre semelhante "imediatez". A percepção é sensível quando apreende um objeto real, e categorial quando apreende um objeto ideal. Segundo Husserl, na percep ção sensível "é apreendido diretamente ou está presente in persona um objeto que se constitui de modo simples no ato da percepção". Na categorial, em contrapartida, se constituem novas objetividades. O problema da percepção é central no pensamento de Merleau-Ponty (vER). Segundo o resumo que esse autor ofereceu de sua doutrina (Bulletin de la Société Française de Philosophie, 1 94 7), as bases ontológicas dela podem ser reduzidas a três pontos: 1) A percepção é uma modalidade original da consciência. O mundo percebido não é um mundo de objetos como o que concebe a ciência; no percebido há não só uma matéria, como também uma forma. O sujeito percipiente não é um "interpretador" ou "decifrador" de um mundo su postamente "caótico" e "desordenado". Toda percepção se apresenta num horizonte e no mundo. 2) Tal con-
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cepção da percepção não é só psicológica. Não se pode superpor ao mundo percebido um mundo de idéias. A certeza da idéia não se fundamenta na da percepção, mas sobre ela repousa. 3) O mundo percebido é o fundo sempre pressuposto por toda racionalidade, todo valor e toda existência. As análises de Merleau-Ponty, embora não sejam, estritamente falando, psicológicas, apóiam-se em dados psicológicos, especialmente os oferecidos pela psicolo gia da estrutura (VER) ou Gestaltpsychologie, que dedi cou grande atenção ao estudo das condições e formas das percepções. Um ponto de vista diferente é o adota do por vários filósofos analíticos, que, em lugar de aten tar para resultados psicológicos, prestam especial aten ção à análise de expressões. Um exemplo a respeito é o de Gilbert Ryle, ao manifestar que é errôneo exami nar a percepção filosoficamente supondo que perceber é um processo ou estado corporal, ou que é um processo ou estado psicológico, ou um processo ao mesmo tem po corporal e psicológico. Ryle sustenta que embora a óptica, a acústica, a neurofisiologia etc. revelem impor tantes conexões acerca do ver, do ouvir etc., não é legí timo basear-se em tais crenças para resolver os dilemas da percepção. Estes podem ser resolvidos, em contra partida, mediante uma análise que aclare os sentidos em que se usam expressões como ' Percebo', 'Me parece que' etc. Segundo Ryle, 'perceber' é basicamente dife rente de, por exemplo, 'correr' . 'Correr' não quer dizer 'ter corrido', mas 'estar correndo' . Por outro lado, 'per ceber' é um verbo do tipo de 'encontrar' . Não se pode estar encontrando algo, já que encontrar é de algum modo ter encontrado. Analogamente, não se pode estar percebendo algo. Não há um processo de perceber; há um levar a cabo o "executar" um ato de percepção. Mas embora a análise lingüística de Ryle não se apóie em considerações psicológicas ou neurofisiológicas, ela tem conseqüências psicológicas ou, quando menos, epis temológicas. Com efeito, ao não considerar o perceber como um processo, descarta-se tanto os possíveis "atos internos" quanto todo "intermediário" entre o ato de perceber e o objeto percebido. Descarta-se também toda idéia de que a percepção é "causada" por um obj eto. Outro exemplo de análise da percepção é o de autores como C. J. Ducasse, R. M. Chisholm e Wilfrid Sellars, que defenderam o que se chama "teoria adverbial da percepção". Segundo ela, posto que toda percepção o é de uma pessoa percipiente, é mister analisar o modo como cabe dizer que alguém tem uma percepção me diante tradução de toda expressão do tipo 'A apresenta uma aparência redonda a S' a uma expressão na qual fique claro que o percipiente tem a percepção. O modo mais claro é, segundo tais autores, o adverbial, de sorte que a expressão citada 'A apresenta uma aparência re donda a S' se traduz mediante 'S percebe redondamente a A' . Fez-se notar que os autores que defendem a men-
PERCEPÇÃO cionada teoria aspiram a eliminar toda pretensa reali dade "substantiva" e que a teoria adverbial da percepção pode ser um aspecto de uma teoria mais geral, segundo a qual é preciso descartar todo ato psíquico do qual se possa falar como se existisse por si mesmo. Assim, por exemplo, 'A vive em estado de tristeza' seria uma (ilegí tima) substantivação de 'A vive tristemente' . Em contraste com este tipo d e análise se encontram os trabalhos onde os problemas da percepção, sem per der necessariamente interesse filosófico, são tratados em estreita relação com investigações psicológicas, fisiológicas, neurofisiológicas, ópticas etc. Isso ocorreu em várias orientações psicológicas de interesse ou al cance filosófico, entre as quais se distinguiram o com portamentalismo e o "gestaltismo". Tem-se trabalhado muito no problema das chamadas "bases fisicas" neurofisiológicas - da percepção (W. Grey Walter, W. Pitts, E. D. Adrian, W. Kõhler e outros). Auxiliados pelas técnicas eletroencefalográficas, os neurofisiolo gistas alcançaram resultados já muito satisfatórios. Par ticularmente importante foi a descoberta do chamado "ritmo alfa" emitido pelo córtex cerebral. Este ritmo se registra quando um sujeito se acha em estado de repouso, e fica "perturbado" quando ocorrem percepções ( espe cialmente visuais). O ritmo alfa opera ao modo de uma emissão contínua de ondas sobre a qual se "modulam" outras emissões. Por isso ele foi comparado com o tônus muscular permanente sobre o qual se modulam os diver sos movimentos musculares; e até se falou de um "tônus cortical". Como a emissão contínua cortical oferece ana logias com âs emissões contínuas dos aparelhos emisso res de radar e televisão, pensa-se que, sem necessidade de chegar a "reducionismos" precipitados entre os dois fenômenos, o estudo das segundas pode lançar conside rável luz sobre a compreensão da primeira. Relacionadas em parte com os trabalhos anteriores se acham as investigações da percepção que fizeram uso dos processos perceptivos ou supostamente perceptivos que ocorrem em certas máquinas construídas para tan to. A mais conhecida dessas máquinas é o chamado "Perceptron", que consiste num dispositivo que permite efetuar seleções de estímulos (por exemplo, cores) com base em "percepções" anteriores registradas e armaze nadas pela máquina. As analogias entre as percepções humanas e as "percepções" da máquina foram reforça das por meio de conexões relativamente "arbitrárias", similares às conexões existentes no sistema nervoso e, sobretudo, por meio de conexões nas quais se dão "repe tições" e "redundâncias". É ainda assunto debatido se neste caso estamos às voltas com autênticas "percep ções" ou se se trata unicamente de uma analogia entre dois sistemas, mas não uma igualdade de natureza en tre eles. Uma teoria completamente "fisicalista" da per cepção no sentido apontado, isto é, fundada na idéia de que quaisquer percepções sensíveis - e todas as formas
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da chamada "consciência" - que se acham no homem podem ser produzidas em princípio em máquinas ou robôs, foi proposta por James T. Culbertson (op. cit. , bibliografia). Às vezes se fala também de "percepção extra-sen sível" para designar as percepções ou supostas percep ções que têm lugar independentemente dos marcos nor mais psicológicos e neurofisiológicos. Aos problemas levantados por tal tipo de percepção nos referimos em METAPSIQUICA. Observemos que às vezes foram incluídos entre as chamadas "percepções extra-sensíveis" certos tipos de percepção especialmente aguda, induzida ge ralmente por drogas. � Natureza, análise e fenomenologia da percepção: W. Enoch, Der Begriffder Wahrnehmung, 1 890. - H. Schwarz, Das Wahrnehmungsproblem vom Standpunkt des Physikers, des Physiologen und des Philosophen. Beitrag zur Erkenntnistheorie und empiristischen Psy chologie, 1 892. - K. Twardowski, Idee und Perzeption, 1 892. - H. Bergson, Matiére et Mémoire, 1 896. - W. Schapp, Beitriige zur Phiinomenologie des Wahrneh mens, 1 9 1 0. - C. D. Broad, Perception, Physics, and Reality, 1 9 1 3 . - P. F. Linke, Grundfragen der Wahrneh mungslehre. Untersuchungen über die Bedeutung der Gegenstandstheorie und Phiinomenologiefor die expe rimentei/e Psychologie, 1 9 1 8; 2ª ed., 1 929. - M. Palá gyi, Wahrnehmungslehre, 1 925. - E. Jaensch, Über den Aujbau der Wahrnehmungswelt und die Grundlagen der menschlichen Erkenntnis, 2 vols., 1 927- 1 93 1 . H. H. Price, Perception, 1 932. - C. Fabro, Lafenome nologia de/la percezione, 1 94 1 . - ld., Percezione e pensiero, 1 94 1 . - M. Merleau-Ponty, Phénoménologie de la perception, 1 945. - Y. Reenpãã, Über Wahrneh men, Denken und messendes Versuchen, 1 947. - H. A. Prichard, Knowledge and Perception: Essays and Lectures, 1 950. - J. Paliarei, La pensée et la vie, recher che sur la logique de la perception, 1 95 1 . J. Buchler, Toward a General Theory ofJudgment, 1 95 1 (cap. 1 ). -A. A. Luce, Sense Without Matter, 1 954. - G. Ryle, Dilemmas, 1 954, pp. 93- 1 1 0 (cap. VII: "Perception"). - F. H. Allport, Theories ofPerception and the Concept of Structure, 1 955. - A. Michotte, J. Piaget, H. Piéron et ai., La perception, 1 955. - R. M. Chrisholm, Percei ving: a Philosophical Study, 1 957. - D. W. Hamlyn, The Psychology ofPerception. A Philosophical Exami nation of Gestalt Theory and Derivative Theories of Perception, 1 957. - R. J. Hirst, The Problems ofPer ception, 1 959. - P. Krausser, Untersuchungen über den grundsiitzlichen Anspruch der Wahrnehmung zu sein, 1 960. - J. Moreau, L'horizon des esprits. Essai critique sur la phénoménologie de la perception, 1 960. - L. Paul, Persons and Perception, 1 96 1 . - J. Piaget, Les mécanismes perceptifs, 1 96 1 . - G. Mony, La percep tion comme mode de réaction et instrument de progrés, 1 96 1 . - R. Frances, Le développement perceptif, 1 962. -
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PERELMAN, CILÜM
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PERCEPÇÃO (ANTECIPAÇÕES DA). Ver ANTECI PAÇÕES DA PERCEPÇÃO.
PERCEPÇÕES (PEQUENAS). Ver PEQUENAS PERCEPÇÕES. PEREGRINO PROTEU (século II). Considerado um filósofo da escola cínica, mas sua simpatia pelas corren tes místicas, sua favorável inclinação ao cristianismo, seu entusiasmo pela sabedoria oriental, e em particular pela dos brâmanes, fazem dele, por um lado, um eclé tico e, por outro, uma figura curiosa e até certo ponto romanesca (sobre a qual Wieland escreveu um roman ce em 1 79 1 ). A morte de nosso filósofo foi apoteótica: lançou-se às chamas durante as festas olímpicas do ano 1 65 . Correspondendo a esse temperamento houve em Peregrino Proteu uma acentuação dos traços extremistas do cinismo: desprezo das normas e convenções sociais, até limites incríveis (pelo menos segundo as descrições de Luciano de Samósata). Nesse sentido, Peregrino re presentou uma reação contra a tendência ao cinismo moderado de Demonax de Chipre.
:> Ver: E. Zeller, "Alexander (de Abonuteico) und Pe regrinos, ein Betrüger und ein Schwãrmer", Deutsche Rundschau, 1 877, reimp. em Vórtriige undAbhandlun gen, II, 1 877, pp. 1 54- 1 58. - J. Bemays, Lukian und die Kyniker, 1 879. - M. Croiset, "Un ascéte palen au siécle des Antonins, P. Protée", Académie des sciences et lettres de Montpellier, section Lettres, 6 ( 1 880), 45549 1 . - J. Vahlen, Luciani de Cynicis iudicium. Lucia nus de Peregrinis morte, 1 882. - F. Romero, "El enig ma de Peregrino Proteo" ( 1 955), no volume de F. Rome ro, Ortega y Gasset y e/ problema de la jefatura espiri tual, y oiros ensayos, 1 960, pp. 43-56. e
PEREIRA BARRETO, LUÍS. Ver BARRETO, TOBIAS. PEREIRA, BENITO, Benito Pereyra, Perera ou Pererio (Pererius) ( 1 535- 1 6 1 0). Nascido em Ruzafa (Valencia), ingressou na Companhia de Jesus em 1 552 e viveu grande parte de sua vida em Roma, como professor de Sagrada Escritura no Colégio Romano. Parte muito im portante da obra de Pereira é de caráter exegético; des tacam-se seus comentários ao Génesis e ao livro de Daniel. Em filosofia, Pereira se distinguiu por seus co mentários a Aristóteles. Neles analisou a fundo vários problemas metafísicos, entre eles o do princípio de indi viduação, que Pereira baseou na matéria e na forma ao referir-se à unidade individual e à distinção entre si dos seres, e principalmente na forma ao referir-se à uni dade e distinção dos seres entre si. :> Obras: De communibus omnium rerum naturalium principiis et affectionibus /ibri quindecim, 1 562. - Com mentatorium in Danielem prophetam libri sexdecim, 1 587. - Commentatorium et disputationum in Genesim, 4 vols. (1, 1 589; II, 1 592; III, 1 595; IV, 1 598). - Selecta rum disputationum in Sacram Scripturam, 5 vols., (I, 1 60 1 ; II, 1603; III, 1 606; IV, 1 608; V, 1 6 1 0). Ver: M. Solana, Historia de lafilosofia espanola. Época dei Renacimiento (Sigla XVI}, t. III, 195 1 , pp. 373-400. e PERELMAN, CHAIM ( 1 9 1 2- 1 984). Nascido em Varsóvia, mudou-se, ainda muito jovem, para a Bélgica. Estudou na Universidade de Bruxelas e foi nomeado em seguida professor na mesma Universidade. Perelman trabalhou no campo da lógica, especialmente nos pro blemas suscitados pelos paradoxos lógicos; na análise de conceitos fundamentais morais e políticos, sobretudo no conceito de justiça, e na questão da natureza dos pressupostos do pensamento filosófico. Referimo-nos brevemente a alguns desse� pontos nos verbetes JusTIÇA e PROTOFILOSOFIA. Mas a contribuição mais importante e influente de Perelman foi o estudo da argumentação filosófica e a revalorização da retórica como "teoria da argumentação". Abordamos esse ponto no verbete RETó RJCA, onde expusemos as principais intenções de Perel man a respeito. Indiquemos aqui apenas, como informa ção complementar, que com seus estudos sobre a argu mentação filosófica, Perelman se propõe "romper com
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uma concepção da razão e do raciocínio procedente de Descartes" para pôr em relevo o amplo quadro no qual se inserem os múltiplos e variados "meios discursivos". Perelman não rejeita o que foi chamado de "raciocínio more geometrico"; indica somente que esse raciocínio é um entre outros possíveis modelos de argumentação. Os estudos de Perelman sobre a argumentação filosófi ca baseiam-se, ademais, numa idéia "antiabsolutista" da filosofia. Perelman manifestou que se opõe aos "absolu tismos de toda classe" e que não crê em "revelações de finitivas e imutáveis". Em outros termos, trata-se aqui também de propugnar uma "filosofia aberta" ou uma "filosofia regressiva" contra toda "filosofia primeira" pretensamente absoluta. � Obras principais: De l 'arbitraire dans la connais sance, 1 93 3 . - De la justice, 1 945 (em trad. inglesa, com muitos acréscimos e modificações: The Idea of Justice and the Problem ofArgument, 1 963). - Rhéto rique et philosophie: Pour une théorie de l 'argumen tation en philosophie, 1 952 [com L. Olbrechts-Tyteca] . - Cours de logique, 3 fascículos; 2' ed., 1 956; 3' ed., 1 976. Traité de l 'argumentation: La nouvelle rhéto rique, 2 vols., 1 95 8 [com L. Olbrechts-Tyteca] . - Justi ce et raison, 1 963. - Raisonnement et démarches de l 'histoire, 1 964. - Droit, mora/e et philosophie, 1 968. - Les catégories en histoire, 1 969. - Le champ de l 'argumentation, 1 970. - Logiquejuridique. Nouvelle rhétorique, 1 976. - L'Empire rhétorique: Rhétorique et argumentation, 1 978. - The New Rhetoric and the Humanities: Essays on Rhetoric and its Applications, 1 976. -Justice, Law, andArgument: Essays on Moral and Legal Reasoning, 1 980. Introduction historique à la philosophie mora/e, 1 980. - Le raisonnable et le déraisonnable en droit, 1 984. - Rhétoriques, 1 989. Em português: Ética e direito, 2000. - Lógica jurídica, 1 998. - Tratado da argumentação - a nova retórica, 2000. - Retóricas, 1 997. Bibliografia: L. Olbrechts-Tyteca e E. Griffin-Col lart, "Bibliographie de Ch. P.", Revue Internationale de Philosophie, 3 3 , 1 27- 1 2 8 ( 1 979), 325ss. Ver: N. Bosco, P. e un rinnovamento de/la retorica, 1 95 5 . - VV. AA. , artigos em Logique et analyse, 6, 2 1 -24 ( 1 963), com o título La théorie de l 'argumenta tion: Perspectives et applications (Homenagem a C. P., com bibliografia nas pp. 604-6 1 1 ). - G. L. Bastida, Gli argomenti di P.: Da/la neutralità de/lo scienziato all 'imparzialità dei giudice, 1 973. - Ch. Perelman, H. Zyskind et ai. , "La nouvelle rhétorique. The New Rhetoric", arts. em homenagem a Ch. P. em Revue In ternationale de Philosophie, 3 3 , 1 27- 1 28 ( 1 979). - J. L. Golden, J. J. Pilotta, eds., Practical Reasoning in Human Affairs: Studies in Honor of Ch. P., 1 986. C: -
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PÉREZ Y LÓPEZ, ANTONIO XAVIER. Ver KRAus1sMo. PERFEIÇÃO, PERFEITO. Diz-se que algo é perfeito quando está "acabado" e "completo", de tal sorte que
não lhe falta nada, mas tampouco lhe sobra nada para ser o que é. Neste sentido se diz que algo é perfeito quando é justa e exatamente o que é. Esta idéia de per feição inclui a idéia de "limitação", "acabamento" e "finalidade própria'', e é uma das idéias que ressurgem constantemente no pensamento grego. Disse-se inclusi ve que "perfeito", "terminado", "clássico" e "helênico" são aspectos diversos de um mesmo e único modo de ser segundo o qual tudo o que não é limitado e, por assim dizer, "fechado em si mesmo" é imperfeito. Se o perfeito é o que acabamos de dizer dele, será também o melhor em seu gênero, pois não haverá nada que possa superá-lo; toda mudança no perfeito intro duzirá nele alguma imperfeição. Estas duas significações de 'perfeito ' foram postas em destaque por Aristóteles em sua análise dos sentidos de TÉÀe1ov (Met., f}. 1 6, 1 02 1 b 1 2- 1 022 a 2). A esses dois sentidos Aristóteles acrescentou outro: o que tem 'perfeito' quando se refere a algo que alcançou seu fim, enquanto fim louvável. Aristóteles também ressalta que 'perfeito' se usa às vezes metaforicamente para referir se a algo que é mau, como quando se diz "um perfeito ladrão". O fato de Aristóteles considerar este último uso como simplesmente metafórico já indica que em sua idéia de perfeição, e em todas as significações da mesma, está latente a noção de algo que é, por si, bom. Com efeito, em princípio não deveria haver inconve niente em admitir que algo mau, ou supostamente mau, é perfeito embora seja "mau", pois ainda neste caso é perfeito em seu gênero, que é um gênero da "maldade". Mas excluir o mau do perfeito tem em Aristóteles, e no pensamento grego em geral, uma razão de ser, e é que se considera que o "mau" é de algum modo defeituoso e, portanto, não pode ser perfeito, como não o é nada que possua algum defeito, ou que careça de algo. Se o perfeito é chamado "limitado", então tudo o que for ilimitado será imperfeito. Em virtude disso se disse que os gregos consideravam como imperfeito o infinito, já que só o que é "finito" pode estar "acabado". Referimo-nos em parte a este ponto no verbete lNFINiro; indiquemos aqui somente que, na medida em que o infi nito seja concebido como "o inabarcável'', parece que será preciso identificar o infinito com o imperfeito. Mas o infinito pode ser concebido de outros modos, e em um deles pelo menos pode manifestar-se a idéia de perfei ção: é quando o infinito é algo absoluto. De todo modo, é certo que houve entre os gregos certa tendência a excluir da perfeição a idéia de infinitude, exceto quando se começou a ressaltar que o infinito não é negativo, mas, antes, positivo, isto é, que o infinito não é negação (de limites), mas afirmação (de ser). A idéia de perfeição teve uma importância conside rável em toda a história do pensamento ocidental, espe cialmente a partir do cristianismo, isto é, quando Deus foi concebido como o modelo da perfeição, senão a
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perfeição mesma. Um exemplo disso temos numa das formas da prova ontológica (ver ONTOLÓGICA [PROVA]), em que ser (ou existência) e perfeição são equiparados. A idéia de perfeição foi, ademais, estreitamente relacio nada com os que foram chamados "princípio de ordem" (ver ORDEM) e "princípio de plenitude". Tudo isso não quer dizer que os termos 'perfeição' e 'perfeito' tenham sido ·sempre entendidos do mesmo modo. Os escolás ticos, por exemplo, tiveram muito cuidado em distinguir entre várias formas de perfeição. Em princípio, a perfei ção é equiparada à bondade (bonitas), na medida em que se chama "perfeição" qualquer bem possuído por algo. Posto que se trata de um bem, trata-se também de uma realidade ou atualidade, de sorte que o contrário de perfectus é defectus; a imperfectio é, em suma, uma privatio. O perfectus é concebido também como com pletus. Mas nem toda perfectio é a mesma. Dois tipos de perfeição são claramente distintos entre si: a perfei ção absoluta, segundo a qual o que é declarado perfeito o é de um modo completo, e a perfeição relativa, que é perfeição só com respeito a algo que é absolutamente perfeito ou perfeito em si. Só Deus pode ser considera do como perfeição absoluta; tudo o mais tem (se a tem) uma perfeição relativa. Além disso, distinguiu-se entre diversas formas de perfeição de acordo com aquilo com respeito ao qual se diz que algo é perfeito. A idéia de perfeição foi equiparada com a idéia de ato, de modo que a perfeição absoluta ou perfeição absolutamente pura é aquela que exclui qualquer potência, isto é, qualquer imperfeição. Em todo caso, a ordem do universo foi considerada amiúde como uma "ordem da perfeição", desde a perfeição absoluta e completa, que é a de Deus, até a Terra, que ocupa o lugar inferior na citada ordem. Se se entender a perfeição como "perfeição huma na", pode-se manter a distinção primária entre perfeição num detenninado respeito e perfeição pura e simples. Em sua obra sobre a perfectibilidade do homem (cf. biblio grafia infra, especialmente pp. 1 9, 27), John Passmore indica que, para começar, cabe falar de três diferentes "modos de perfeição": a perfeição "técnica", que "con siste em executar, com máxima eficácia, uma tarefa de terminada"; a perfeição "obedienciária", que "consiste em obedecer aos mandamentos de uma autoridade superior, seja Deus ou um membro da elite", e a perfei ção "teleológica", que "consiste em alcançar esse fim no qual a própria natureza encontra satisfação total". Uma série de distinções mais refinadas se encontra quando esse autor propõe oito modos de entender que o homem é perfectível, a saber: " 1 ) há alguma tarefa na qual todos e cada um dos homens podem aperfeiçoar se tecnicamente; 2) [o homem] é capaz de subordinar-se completamente à vontade de Deus; 3) pode alcançar seu fim natural; 4) pode achar-se inteiramente livre de defeito moral; 5) pode fazer de si mesmo um ser meta físicamente perfeito; 6) pode fazer de si mesmo um
PERFEIÇÃO, PERFEITO ser harmonioso e ordenado; 7) pode viver ao modo de um ser humano idealmente perfeito; 8) pode chegar a ser como Deus". Alguns desses modos de entender que o homem é perfectível estão subordinados a algum outro; assim, por exemplo, certos autores diriam que 5) e 6) são equi valentes a 2), 3) ou 4). Consideremos agora a noção de perfeição com respeito ao que algo é e com respeito ao que algo vale. Por um lado, algo pode ser perfeito no que é. Por outro lado, algo pode ser perfeito no que vale. Finalmente, algo pode ser perfeito ao mesmo tem po no que é e no que vale. Cada um dos três significados acima pode se dar em cada um dos seguintes tipos de perfeição : a perfei ção absoluta (absolute, per se) e a perfeição relativa (secundum quid). De acordo com isso haverá: 1 ) O per feito absolutamente no que é. 2) O perfeito absoluta mente no que vale. 3) O perfeito absolutamente no que é e no que vale. 4) O perfeito relativamente no que é. 5) O perfeito relativamente no que vale. 6) O perfeito relativamente no que é e no que vale. Deve-se observar que o perfeito relativamente em qualquer dos três significados indicados ( 4, 5 e 6) pode ser entendido, por seu turno, de dois modos: como o perfeito em princípio ou simpliciter, e como o perfeito do que há (ou o melhor do que há), que pode ser chama do o perfeito "simplesmente". Essa distinção nos pare ce importante para entender a perfeição em relação com as possibilidades existentes para realizá-la. Como exem plo pode valer o seguinte. Aristóteles considerou que a melhor e mais alta atividade humana é a contemplação. A contemplação é, pois, algo perfeito, sendo um bem para todos os homens, independentemente das circuns tâncias concretas sociais, históricas etc. Ora, essa perfei ção o é, como indicamos, "simplesmente", isto é, dentro do quadro do Estado-cidade tal como o concebia Aristó teles. "Entre o que então havia", a contemplação é o perfeito. Mas se "há outras coisas", a perfeição pode ser outra entre elas. Assim, é possível que dentro do quadro do Estado moderno haja outra possível idéia do que é melhor, ou mais perfeito, para os homens; esta perfeição seria ao mesmo tempo relativa e "simples", mas não deixaria de ser perfeição. � Muitas obras de história da filosofia, especialmente de história da filosofia antiga e cristã, tratam da idéia de perfeição. Limitamo-nos aqui a mencionar alguns títu los particularmente interessantes a respeito: A. O. Lo vejoy, The Great Chain ofBeing; a Study ofthe History ofan ldea, 1 936. - M. Foss, The Idea ofPerfection in the Western World, 1 946. - F. Sontag, Divine Perfec tion: Possible Ideas ofGod, 1 962, especialmente Parte 1. - C. Hartshorne, The Logic ofPerfection, and Other Essays in Neoclassical Metaphysics, 1 962 [para a idéia de perfeição segundo Hartshorne, ver ONTOLÓGICA (PRO VA)]. - J. Passmore, The Perfectibility of Man, 1 970.
PERFECTIHABIA - H. K. La Rondelle, Perfection and Perfectionism: A Dogmatic-Ethical Study ofBiblical Perfection and Phe nomenal Perfectionism, 1 97 1 . - G. Homig, "Perfekta bilitãt", Archiv fiir Begriffsgeschichte, XXIV, 2 ( 1 980), 22 1 -257. - D. Peterson, Hebrews and Perfection: An Examination ofthe Concept ofPerfection in the Epistle to the Hebrews, 1 982. - E. Hansot, Perfection and Progress: Two Modes of Utopian Thought, 1 982. - W. Tatarkiewicz, On Perfection, 1 992. - O. Blanchette, The Perfection of the Universe According to A quinas: A Teleological Cosmology, 1 992. Sobre o termo 'pessoa ' : A. Trendelenburg, "Zur Geschichte des Wortes Person", Kant-Studien, 1 3 ( 1 908). - M . Bergeron, "La structure du concept de personne: histoire de la définition de Boéce", Études d 'histoire littéraire et doctrinale du moyen âge. Deuxié me série [Institut d'Études Médiévales de Montréal] . Sobre a noção de pessoa: S. Schlossmann, Persona und Prosopon im Recht und im christlichen Dogma, 1 906, reimp., 1 968. - W. Temple, The Nature ofPerso nality, 1 9 1 1 . - M. Scheler, "Der Formalismus in der Ethik und die materiale Wertethik. Neuer Versuch der Grundlegung eines ethischen Personalismus" (Jahrh buch for Philosophie und Phiinomenologische Fors chung; também em separata, 1, 1 9 1 3 ; II, 1 9 1 6). - L. Klages, Über den Begriff der Personlichkeit, 1 9 1 6. Von Hoerschelmann, Person und Gemeinschaft, 1 9 1 9. - Nicolai Hartmann, Ethik, 1 926. - F. Hlucka, Das Problem der Personlichkeit. Grundriss einer ganzhei tlichen Weltanschauungslehre, 1 929. - R. Allers, Das Werden der sittlichen Person, 1 93 3 . - R. Müller, Der seelische Aujbau der Personlichkeit. Biologische See lenbetrachtung, 1 934. - G. W. Allport, Personality, 1 937 (com cinqüenta definições do conceito de perso nalidade). - E. Rothacker, Die Schichten der Person lichkeit, 1 938. - G. Zamboni, La persona umana. Sog getto autocosciente nell 'esperienza integra/e, 1 940. B. O. Clifton-Riley, The Philosophy of Personality, 1 940. - Ismael Quiles, La persona humana. Funda mentos psicológicos y metafísicos. Aplicaciones socia les, 1 942; 2' ed., 1 952. - M. Nédoncelle, La Récipro cité des consciences. Essai sur la nature de la personne, 1 942. - F. Romero, Filosofia de la persona, 1 944. L. Dujovne, Psicología yfilosofia de la persona, 1 946. - E. Schneider, Psychologie der Person. Grundzüge einer allgemeinen Psychologie, 1 947. - J. Maritain, La personne et le Bien commun, 1 947. - F. P. Muíiiz, El constitutivo formal de la persona creada en la tra dición tomista, 1 947. - Ch. Blondel, La personnalité, 1 948. J. Roura-Parella, Tema y variaciones de la personalidad, 1 950. - O. N. Derisi, La persona. Su esencia, su vida, su mundo, 1 950. - M. Thiel, Versuch einer Ontologie der Personlichkeit. !. Die Kategorie des Seinzusammenhanges und die Einheit des Seins, -
1 950. - M. Febrer, El concepto de persona y la unión hipostática, c. 1 95 1 . - G. Bastide, Méditations pour une éthique de la personne, 1 95 3 . Ph. Leersch, Aujbau der Person, 6' ed., amp. e rev., 1 954. - A. M. Alonso, Persona humana y sociedad, 1 95 5 . A. Caracciolo, La persona e il tempo, I, 1 95 5 . - A. David, Structure de la personne humaine. Limite actuelle entre la personne et la chose, 1 95 5 . G. Palumbo, La fon dazione critica dei problema de/la persona, 1 956. E. S. Brightman, Person and Reality: An Introduction to Metaphysics, 1 958, ed. P. A. Bertocci, com J. Newhall e E. S. Brightman. - P. F. Strawson, Individuais, 1 959. - P. A. Minkus, Philosophy ofthe Person, 1 960. - 1. Gobry, La personne, 1 96 1 . - J. MacMurray, Persons in Relation, 1 96 1 . - L. Jerphagnon, Qu 'est-ce que la personne humaine?, 1 962. - M. M. Maiiero, La per sonalidad humana. Aspecto filosófico, social y religio so, 1 962. - A. J. Ayer, The Concept of a Person, and Other Essays, 1 963 . - R. S. Downe e E. Telfer, Respect for Persons, 1 969. - D. Park, Persons: Theories and Perceptions, 1 973. - R. M. Chrisholm, Person and Object, 1 976. - D. Dennet, R. de Souza et ai., The Identity ofPersons, 1 976, ed. A. O. Rorty. - G. Vesey, Personal Identity: A Philosophical Analysis, 1 977. R. Abelson, Persons: A Study in Philosophical Psycho logy, 1 977. - G. Ebglebretsen, Speaking of Persons, 1 975. - R. M. Chrisholm, Person and Object: A Meta physical Study, 1 976. - D. Parfit, D. Lewis et ai., The Identities of Persons, 1 976, ed. A. Oksenberg Rorty. - J. Margolis, Persons and Minds: The Prospects of Nonreductive Materialism, 1 977. - R. Abelson, Per sons: A Study in Philosophical Psycho/ogy, 1 977. 1. A. Medeln, Rights and Persons, 1 977. - K. Wojtyla, The Acting Person, 1 979. - R. Harré, Personal Being, 1 983. - D. Parfit, Reasons and Persons, 1 984. - J. L. Pollock, How to Build a Person: A Prolegomenon, 1 989. - D. Braine, The Human Person: Animal and Spirit, 1 992. W. N. Clarke, Person and Being, 1 993 . Ver também as bibliografias de PERSONALISMO e ÜUTRO (o). Laín Entralgo realizou, com uma equipe de colabo radores (Agustín, Albarracín Teulón, lgnacio Ellacuria Beascoechea, Diego Gracia Guillén, José María López Piiiero, José María Maravall Herrero, José Peset Reig), uma obra em 1 1 vols., com o título: Persona y comuni dad. Filosofia-Sociología-Medicina. Sobre a concepção da pessoa em vários autores: Tomás Romera Sanz, Die ontische Struktur der mensch lichen Person nach der Lehre Thomas von Aquin, 1 962 [inclui também uma história do conceito de pessoa] . - O. Schweizer, Person und hypostatische Union bei Thomas von Aquin, 1 958. - H. E. Jones, Kant s Princi pie ofPersonality, 1 97 1 . - E. J. Koehle, Personality: A Study according to the Philosophies of Value and Spirit ofM. Scheler and N Hartmann, 1 94 1 . - P. Mor ris, Sartre s Concept ofa Person: An Analytic Approach, -
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PESTALOZZI, JOHANN HEINRICH 1 975. - Ch. Gill, ed., The Person and the Human Mind: lssue in Ancient Modem Philosophy, 1 989. - R. Perrin, Max Scheler s Concept ofthe Person: An Ethics ofHu manism, 1 99 1 . C:
PESTALOZZI, JOHANN HEINRICH ( 1 746- 1 827). Nascido em Zurique, estudou no Collegium Carolinum, onde na época imperavam os ideais do Iluminismo e on de exerciam grande influência as idéias sociais e educa cionais de Rousseau. Interessado nos problemas da edu cação, Pestalozzi adquiriu grande experiência na educa ção de seu filho único. Em 1 767 se mudou para Brugg, onde fundou uma escola para órfãos e começou a pôr em prática suas idéias pedagógicas. Fechada a escola, por dificuldades econômicas, em 1 778, Pestalozzi se dedicou durante algum tempo a estudar problemas da educação e a escrever sobre eles. A partir de 1 798 se intensificou a atividade educativa de Pestalozzi do pon to de vista prático; especialmente importante para o de senvolvimento de suas idéias pedagógicas foi sua expe riência como diretor do orfanato de Stanz; depois, como diretor de seu instituto de educação no castelo de Burg dorf e, sobretudo, como diretor do Instituto de Yverdon, junto ao lago de Neuchatel, instituto que atraiu a atenção de muitas personalidades da época. Depois de muitas dificuldades, teve de fechar o Instituto, transferindo-se para Neuhof, onde concluiu seus últimos escritos. Demos mais detalhes do que os habituais na presen te obra sobre as atividades de Pestalozzi porque suas teorias educativas estão fundadas em sua atividade co mo educador, de sorte que a biografia de Pestalozzi não é independente de sua ideologia pedagógica. O que interessava especialmente a Pestalozzi era o conheci mento dos meios necessários para dirigir o processo educativo. Influenciado por Rousseau em muitos pon tos, especialmente no da necessidade de desenvolver harmoniosamente as faculdades do indivíduo dentro do mundo natural e humano, enfatizou, contudo muito menos que Rousseau, a individualidade e prestou consi derável atenção à função social da pessoa. Já que a for mação da pessoa acontece nos primeiros anos de seu de senvolvimento, Pestalozzi considerou que os problemas fundamentais da educação se situam na chamada educa ção primária. Embora Pestalozzi não esquecesse o senti do geral e último do processo educativo harmônico das forças internas humanas, sua maior contribuição consis tiu em propor métodos adequados para levá-lo a cabo. Neste trabalho, Pestalozzi influenciou consideravelmen te a pedagogia moderna. :> Entre as obras mais destacadas de Pestalozzi figu ram: Abendstunde eines Einsiedlers, 1 780 (Vésperas [Orações} de um eremita). - Lienhard und Gertrud, Parte I (publicada anonimamente), 1 78 1 ; o resto publi cado em 1 783- 1 787 [romance educativo] . - Meine Na chforschungen über den Gang der natur in der Entwick lung des Menschengeschlechts, 1 797 (Minhas investi-
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gações sobre o processo da Natureza na evolução do gênero humano). - Wie Gertrnd ihre Kinder lehrt, 1 80 1 (Como Gertrud ensina seus filhos). Edição de obras: 1 5 vols. ( 1 8 1 9- 1 826); L. W. Seyf farth, 1 2 vols. ( 1 899- 1 902); A. Buchenau, E. Spranger, H. Stettbacher [crítica], 24 vols. ( 1 927- 1 945). - Edição de obras reunidas: IO vols. ( 1 947- 1 949) (também em 5 vols.). Seleção destas obras: A. Haller (4 vols., 1 946). Correspondência: Siimtliche Briefe, 13 vols., 1 9461 97 1 . Depoimento: M . Liedtke, 1 H. P. in Selbstzeugnis sen und Bilddokumenten, 1 976. Bibliografia: A. Israel, ed. , Bibliographie, 3 vols., 1 903- 1 904, com suplementos, 1 92 1 - 1 923, reimp . , 1 967. J.-G. Klink, Bibliographie 1 H. P. , 1 968. Ver: P. Natorp, Pestalozzi, sein Leben, und seine Jdeen, 1 909. - H. Schõnebaum, Derjunge Pestalozzi, 1 746-1 782, 1 927. - Id., Pestalozzi, 3 vols., 1 927- 1 934. - Pestalozzi-Studien, ed. Buchenau, Spranger e Stett bacher, 4 vols. , 1 927- 1 932. - W. Bachmann, Die an thropologische Grnndlagen zu Pestalozzis Soziallehren, 1 947. - E. Spranger, Pestalozzis Denkformen, 1 947. - E. Otto, P. Werk und Wollen, 1 948. - H. Barth, Pes talozzis Philosophie der Politik, 1 954. - F. J. Wehness, Pestalozzis Elementarmethode, 1 95 5 . - K. Silber, P. the Man and His Work, 1 973. - B. Gemer, ed., P. lnter pretationen zu seiner Anthropologisches Denken und Handeln, 1 984. H. Roth, 1 H. P. Die andere Politik, 1 987. D. Trohler, Philosophie und Piidagogik hei P., 1 98 8 . e: -
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PETIÇÃO DE PRINCÍPIO. Ver SOFISMA. PETITIO PRINCIPII. Ver SOFISMA. PETRONIJEVIC, BRANISLAV ( 1 875- 1 954). Nasci do em Sorljaéa (Sérvia), ensinou em Belgrado. Influen ciado ao mesmo tempo por Leibniz e Spinoza, tentou, num sistema chamado de monopluralismo, conciliar as teses de ambos os filósofos numa metafisica que tem por objeto a explicação da totalidade do real mediante um método simultaneamente indutivo e especulativo, com base na experiência e na síntese racional. Segundo Petronijevic, o mundo evolui desde um estado inseguro e desequilibrado rumo a um equilíbrio onde desapareça toda a instabilidade nas relações entre os elementos par ticulares ou mônadas e a substância universal e única que constitui seu fundamento. Mas se a metafisica é su ficiente para a explicação da realidade, não o é para a elucidação de seu fundamento, isto é, do modo como a realidade surge de sua própria possibilidade. Essa inda gação é, segundo Petronijevic, o tema da "hipermetafi sica", que chega até os elementos últimos e básicos de todo o real. Seu método é uma "nova dialética" que su pera, no entender do autor, as de Hegel e Hamelin, sen do ao mesmo tempo mais complicada e mais "natural" e "lógica" que elas. De acordo com a mesma há um
PETZOLDT, JOSEPH
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processo dialético inicial (tese: o Uno; antítese: o múl tiplo; síntese: a multiplicidade finita de pontos separa dores intensivos), uma divisão do ser em partes (com um ato de negação real quantitativo, dividido em ato extensivo e ato intensivo, e um ato de negação real qua litativo, dividido em ato primário - percepção, vonta de - e ato secundário - emoção, sensação), uma sé rie de categorias simples (reais: intensidade contínua e qualidade; formais: quantidade discreta e ordem; mo dais: existência singular e existência múltipla) e uma série de categorias compostas (divididas nestes grupos: qualidade unificante e qualidade separadora; quantida de discreta extensiva e quantidade discreta intensiva; estado de mudança e estado de permanência; necessida de - interna e externa - e contingência; impossibili dade e possibilidade). :> Obras principais: Der ontologische Beweis for das Dasein des Absoluten, 1 897 (A prova ontológica para a existência do Absoluto). - Der Satz vom Grunde. Eine logische Untersuchung, 1 898 (Oprincípio de razão. Uma investigação lógica). - Prinzipien der Erkenntnislehre. Prolegomena zur absoluten Metaphysik, 1 900 (Princí pios de teoria do conhecimento. Prolegômenos à meta fisica absoluta). - Prinzipien der Metaphysik, 2 vols., 1 904- 1 9 12. - Die typischen Geometrien und das Unen dliche (As geometrias típicas e o infinito). - L'évolution universelle, 1 92 1 . - Além dessas obras, várias em sér vio: uma sobre Schopenhauer, Nietzsche e Spencer ( 1 922); uma sobre o espiritismo ( 1 922), uma sobre He gel e E. von Hartmann ( 1 925). Depoimento sumário sobre sua dialética no artigo "Les trois dialectiques", Revue philosophique de la Fran ce et de l 'Étranger, 61 ( 1 95 1 ), 530-542. Ver: R. Anthony, "Résumé des travaux philosophi ques et scientifiques de B. Petronievitch'', Revue géné rale des sciences pures et appliquées, 50 ( 1 939), 3 1 2 ss. - C . Miodrag, "Die Wissenschaft und Philosophie von B. P.", Zeitschrift for philosophische Forschung, 34 ( 1 980), 656-66 1 . e:
PETRUS RAMUS. Ver RAMÉE, PIERRE DE LA. PETRUZZELIS, NICOLA. Ver SISTEMA. PETZÃ.LL, ÁKE ( 1 90 1 - 1 957). Nascido em Boràs (Sué cia), ensinou ( 1 932- 1 957) na Universidade de Lund. Em 1 93 5 fundou a revista Theoria, da qual foi diretor, em 1 937 contribuiu, com Léon Robin, para a fundação do Institut International de Philosophie. A obra filosófi ca de Petzãll é principalmente crítica e analítica, e pode ser caracterizada tanto com o nome de "crítica da histó ria das idéias" como com o nome de "história crítica das idéias". Petzãll se interessou especialmente em pesqui sar o significado (ou significados) de certos conceitos capitais na teoria do conhecimento, na ética e nas ciên cias jurídicas e sociais, com o fim de mostrar em cada
caso os pressupostos básicos, quase sempre, senão sem pre, ignorados ou desprezados. :> Mencionamos os principais escritos de Petzãll, le vando em conta que alguns foram escritos em sueco, outros em alemão ou em inglês, e outros traduzidos para estas línguas do original sueco: Begreppet medfodda idéer i 1 600-taletsfilosofi, med siirskild hiinsyn til/ John Lockes Kritik, 1 928 [Gõteborgs Hõgskolas Árskrift, 29, 3] (O conceito das idéias inatas na .filosofia desde o século XVll, com especial consideração da crítica de 1 L.). - Logistischer Positivismus. Yérsuch einer Darstel lung und Würdigung der philosophischen Grundans chauungen des sogenannten Wiener Kreises der wis senschaftlichen Weltauffassung, 1 93 1 [ibid., 37,3] (O positivismo lógico. Ensaio de uma exposição e avalia ção das concepçõesfilosóficasfundamentais do assim chamado Círculo de Viena da concepção cientifica do mundo). - DerApriorismus Kants und die "philosophia pigrorum , 1 933 [ibid., 39,3] (O apriorismo de Kant e a "philosophia pigrorum "). - Zum Methodenproblem der Erkenntnisforschung, 1 93 5 [ibid., 4 1 , l ] (Para o pro blema do método da investigação do conh�cimento). - Etikens sekularisering. .. med siirskild hiinsyn til/Au gustinus, 1 93 5 [ibid., 4 1 ,2] (A secularização da ética. . . com especial consideração de Agostinho). - Strauss debaten i Sverige, 1 93 6 (Os debates na Suécia em torno de Strauss [David Friedrich Strauss]). - Ethics and Epistemology in 1 Locke s Essay Concerning Unders tanding, 1 937 [Gõtteborgs Hõgskolas Arskrift, 43,2]. - Filosofiens uppgift i moral- och samhallsforskingen, 1 94 1 (A tarefa da filosofia nas investigações morais e sociais). - Makt och rdtt, 1 942 (Poder e direito). Rdtt och individid, 1 94 3 (Direito e indivíduo). C: "
PETZOLDT, JOSEPH ( 1 862- 1 929). Nascido em Al tenburg (Saxônia), foi Privatdozent ( 1 904- 1 922) e "pro fessor extraordinário" ( 1 922- 1 929) na Escola Técnica Superior, de Charlottenburg. Petzoldt seguiu Mach e Avenarius, em particular a "filosofia da experiência pura" de Avenarius. Segundo Petzoldt, não há diferença entre o "fisico" e o "psíquico", o "externo" e o "inter no", a "coisa em si" e o "fenômeno". 'Físico' e 'psíqui co' são simplesmente nomes que se dá a dois diferentes modos de interpretar a experiência, que é o único que é pura e simplesmente "dado". Petzoldt rejeita como desnecessárias as noções de substância e de causa. A noção de substância procede da necessidade de estabili zar o pensamento. A de causa procede de obscuras con cepções de caráter "animista". As duas noções podem ser substituídas por outras. Assim, a de substância pode ser substituída pela série de elementos que contribuem para produzir um "efeito"; a de causa pode ser substituí da pela de função. Ao dissolver-se toda noção de subs tância parece desaparecer ao mesmo tempo toda idéia de estabilidade, mas não ocorre assim. Como se indicou antes, introduziram-se "substâncias" somente para dar
PEURSEN, C. A. VAN conta de estabilidades. Mas estas se explicam pela ten dência de todo processo, no curso da evolução, rumo a um estado permanente. O estado permanente não se alcança nunca totalmente, mas constitui uma espécie de "finalidade" rumo à qual tendem todos os processos, incluindo o conjunto de "processos" que chamamos "ser humano", com suas atividades intelectuais, sociais e morais. Petzoldt chamou sua filosofia de "positivismo rela tivista". Em alguns aspectos ela se aproxima do "subje tivismo empírico" de Berkeley (sem a metafisica espiri tualista berkeleyana); em outros, das doutrinas chama das "monismo neutro" (ver NEUTRO, NEUTRALISMO) . Para defender e propagar suas doutrinas, Petzoldt fundou em 1 9 1 2 a "Gesellschaft für positivistische Philosophie". � Obras: Maxima, Minima und Okonomie, 1 89 1 . Einführung in die Philosophie der reinen Erfahrung, 2 vols., 1 894- 1 904 (Introdução àfilosofia da experiência pura). - Das Weltproblem vom Standpunkt des relati vistischen Positivismus, 1 906; 4ª ed., 1 924 (Oproblema do mundo do ponto de vista do positivismo relativista). - Die Stellung der Relativitiitstheorie in der geistigen Entwicklung der Menschheit, 1 920 (A posição da teoria da relatividade na evolução espiritual da Humanidade). - Das allgemeinste Entwicklungsgesetz, 1 923 (A lei mais geral da evolução). - P. escreveu também vários trabalhos para os Annalen der Philosophie, em cuja di reção colaborou a partir de 1 92 1 . e
PEURSEN, C. A. VAN. Ver DÊmco. PFÁNDER,ALEXANDER ( 1 870- 1 94 1 ). Nascido em Iserlohn. Depois de seguir as orientações de Theodor Lipps (vER) e de interessar-se principalmente pela psico logia, rebelou-se contra o psicologismo da escola lippsia na e chegou a posições similares às alcançadas, no co meço do século XX, por Husserl. O encontro pessoal de Pfünder com Husserl, em 1 904, uniu os dois pensa dores em interesses comuns. De certo modo, Pfünder pode ser considerado como um fenomenólogo husser liano. E ele realmente participou do movimento feno menológico, colaborando no Jahrbuch, de Husserl, e dirigindo-o de 1 920 a 1 927. Contudo, há diferenças entre Pfánder e Husserl, que permitiram falar de uma "Escola (fenomenológica) de Munique" (vER), inspirada principalmente por Pfünder e nem sempre coincidente com a "escola" fenomenológica de Husserl. Além disso, embora os interesses de Pfünder fossem em muitos as pectos os mesmos que os de Husserl, e embora ele apro veitasse muito das pesquisas de Husserl, não o seguiu em seu caminho rumo ao "idealismo" e manteve-se aferrado a um "realismo" e ao que Husserl chamou de um "ontologismo". Pfünder é muito conhecido por sua Lógica, que foi considerada às vezes como a mais completa exposição da "lógica em sentido fenomenológico". Mas embora
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haj a na Lógica de Pfünder idéias - especialmente idéias acerca do "objeto da lógica", da natureza do "con ceito", etc. - que caracterizam bastante precisamente o pensamento filosófico do autor, este pensamento se desenvolveu sobretudo ao longo de uma reflexão sobre certos "fenômenos" psíquicos, tais como o querer, a motivação, as disposições etc. Alguns dos resultados dessa reflexão são os seguintes. Na reflexão sobre os processos volitivos, estes apa recem para Pfünder como atos que se dão dentro de um "campo", que se diversifica segundo as diferentes for mas do "aspirar a". Na reflexão sobre a motivação, Pfünder distingue entre impulsos e motivos propriamen te ditos. Na reflexão sobre a atenção, Pfünder descreve diversos modos de "atentar para" um objeto. Todas essas reflexões s�o aspectos diversos de uma "fenomenologia dos atos", na qual se presta particular atenção aos mo dos e formas dos atos como fundamento de uma psico logia e não como resultado de investigações psicológi cas empíricas. Importante na fenomenologia de Pfünder foi, sobretudo, sua descrição das disposições (Gesin nungen), que são "sentimentos" enquanto atos intencio nais dirigidos para algo. As disposições oferecem diver sas qualidades segundo os modos de sua intencionalida de (e de sua referência ao objeto). O modo como as dis posições estão referidas ao objeto permite a Pfünder distinguir entre os diversos "sentimentos", mas o esta rem dirigidas para o objeto é só um dos aspectos das disposições; além disso, elas constituem o sujeito e de terminam seu "caráter". As disposições são o que outor ga direção específica ao que se chama comumente de "sentimentos". A esse respeito, Pfünder pesquisou as relações entre a disposição e o pensamento racional, tra tando de mostrar que a primeira dirige o segundo, mas ao mesmo tempo o segundo condiciona diversos modos de "disposição". Com base nessas descrições fenomenológicas e em outras que preparava sobre os atos de percepção, de crença, de valoração, etc., Pfünder desenvolveu uma idéia da fenomenologia na qual desempenhava um papel importante a distinção entre essências básicas e essên cias empíricas. Comparou-se esta distinção à estabeleci da por Kant entre o caráter inteligível e o caráter empí rico da personalidade. � Obras: Phiinomenologie des Wollens, 1 900 (Feno menologia da vontade). - Einführung in die Psycholo gie, 1 904 (Introdução à psicologia). - "Motive und Motivation", Münchener Philosophische Abhandlungen ( 1 9 1 1 ). - "Zur Psychologie der Gesinnungen", Jahr buch for Philosophie und phiinomenologische Fors chung, 1 ( 1 9 1 3) e 3 ( 1 9 1 6) ("Para a psicologia das dis posições"). - "Logik", Jahrbuch etc., 4 ( 1 92 1 ). "Grundprobleme der Charakterologie", em E. Utitz, ed., Jahrbuchfür Charakterologie, I ( 1 924), 289-335 ("Pro blemas fundamentais da caracterologia"). - Die Seele
PHILOSOPHIA PERENNIS
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des Menschen. Yérsuch einer verstehenden Psychologie. 1 93 3 (A alma do homem. Ensaio de psicologia da com preensão). - Philosophie der Lebensziele, 1 948, ed. W. Trillhaas [póstuma] (Filosofia dos fins da vida). Edição de obras: Gesammelte Schriften, a partir de 1 963 . - Schriften zur Phiinomenologie und Ethik, 2 vols., ed. H. Spiegelberg, 1 972. - Pfánder deixou ma nuscritos ainda inéditos que se acham na Bayerische Staatsbibliothek, de Munique. Ver: H. Büttner, "Die phãnomenologische Psycho logie A. Pfánders", Archivfiir die gesamte Psychologie, 94 ( 1 935), 3 1 7-346. - W. Trillhaas, A. P ln Memoriam, 1 942 [com bibliografia] . - H. Spiegelberg, The Pheno menological Movement, t. 1, 1 960, pp. 1 73 - 1 92. - !d., A. Pfanders Phiinomenologie. Nebst einem Anhang: Texte zur phiinomenologischen Philosophie aus dem Nachlass, 1 963. - K. Schumann, Die Dialektik der Phiinomenologie, 1 (Husserl über Pfander), 1 973. VV.AA., P-Studien, 1 982, ed. H. Spiegelberg, E. Avé Lallemant. C: -
PFLEIDERER,EDMUND. Ver LmzE, RuooLF HERMANN . PHALÉN,ADOLF KRISTER ( 1 884- 1 93 1 ). Nascido em Tuna (Suécia), estudou na Universidade de Uppsala e foi Privatdozent ( 1 9 1 2- 1 9 1 6) e professor titular (a partir de 1 9 1 6) na mesma Universidade. Seguidor em parte de Axel Hãgerstrõm (VER) e das tendências da chamada "Escola de Uppsala", Phalén se distinguiu pela análise de conceitos básicos filosóficos, especialmente metafisicos e epistemológicos. Phalén examinou tais conceitos no curso da história da filosofia, mostrando que as dificuldades e contradições que se manifestam ao longo da história são análogas às que aparecem quan do se desenvolvem estes conceitos na reflexão pré-filo sófica. Embora haja muita coisa na obra de Phalén que possa ser considerada como estritamente "analítica" e, em certo modo, "dialética", isto é, sem pretender chegar a conclusões filosóficas definidas, observa-se um espe cial interesse em muitos casos em mostrar as aporias e contradições em que caem as tendências de caráter idealista ou puramente fenomenista, embora tenha reco nhecido que os pressupostos idealistas são mais dificeis de derrubar do que se costuma imaginar. Phalén tentou mostrar sobretudo que toda pretensão de derivar carac terísticas da realidade ou do conhecimento da realidade com base num só conceito está destinada ao fracasso. :> Obras: Mencionamos os principais escritos de A. P., levando em conta que alguns foram escritos em sueco, outros em alemão e outros traduzidos para o alemão de um original sueco: "Kritik af sujektivismen i olika former med sãrskild hãnsyn till transcendental filosofien", em Festskrift tilliignad, E. O. Burman, 1 9 1 0 ("Crítica d o subjetivismo em toda a filosofia anterior, com especial consideração da filosofia transcenden tal"). - Om det kvatitativa betraktelsesiittet i logiken,
1 9 1 1 (Sobre a consideração quantitativa na lógica). - Das Erkenntnisproblem in Hegelsphilosophie. Die Erkenntniskritik ais Metaphysik, 1 9 1 2 (O problema do conhecimento na filosofia de H. A crítica do conheci mento como filosofia). - Beitrag zur Kliirung des Be griffes der inneren Eifahrung, 1 9 1 3 (Contribuição à elu cidação do conceito de experiência interna). - Zur Bes timmung des Begriffs des Psychischen, 1 9 1 4 (Para a de terminação do conceito do psíquico). - Über die Rela tivitiit der Raum- und Zeitbestimmungen, 1 922 (Sobre a relatividade das determinações do espaço e do tempo). Muitas obras de A. P. se acham recolhidas na série Ur efterliimnade Manuskript. Depoimento em Die Philosophie der Gegenwart in Selbstdarstellungen, V ( 1 924). Ver: Homenagem a A. P. em: A. P ln Memoriam. Philosophical Essays, 1 937, ed. 1. Hedenius et ai. [com bibliografia] . C:
PHANTASMATA. Ver FANTASIA; PERCEPÇÃO. PHILOSOPHIA PERENNIS. A expressão philosophia perennis procede da obra de Agostinho [Guido] Steuco ( 1497- 1 548), chamado às vezes - pelo lugar de seu nas cimento: Gubbio - Eugubinus (Steuchus Eugubinus), intitulada De perenni philosophia libri X, publicada em 1 540 e dedicada ao papa Paulo III (reimp., 1 972). O autor entendia por philosophia perennis uma filosofia que as pirava a reconciliar a escolástica medieval com as doutri nas dos filósofos da Escola de Pádua (vER). O nome philosophia perennis começou a ganhar celebridade entre os filósofos como resultado de uma carta de Leibniz a Nicolas Remond (Paris), datada de 26 de agosto de 1 7 1 4. Leibniz escrevia nela: "A verdade se acha mais difundida do que se crê, mas freqüente mente se acha demasiado composta, e também amiúde muito encoberta e até debilitada, mutilada, corrompida por acréscimos que a põem a perder ou a tornam menos útil. Se puséssemos em relevo esses vestígios da verda de nos antigos ou (para falar de modo mais geral) nos [filósofos] anteriores [a nós], extrairíamos o ouro do barro, o diamante de sua mina, e a luz das trevas, e isso seria, com efeito, perennis quaedam Philosophia" (Gerhardt, III, 624-625), "algo assim como uma 'filoso fia perene'". A seguir, Leibniz reitera o que dissera em ocasião anterior acerca do ouro escondido no esterco escolástico, aurum /atere in stercore ilia scholastico bar bariei, e assinala quão desejável seria que "se encontrasse uma pessoa hábil, versada nessa filosofia hibernesa [ irlandesa] e espanhola''. A "filosofia perene" é uma filosofia que trata de integrar o passado no presente e que representa uma espécie de "contínuo histórico"; uma filosofia, portanto, em cada uma de cujas etapas latejam as etapas posteriores e estão patentes as anteriores. Os neo-escolásticos usaram freqüentemente a ex pressão philosophia perennis para designar a "filosofia =
PHILOSOPHIA PRIMA da Escola" ou "filosofia das Escolas". Às vezes a ex pressão em questão foi restringida ao tomismo; às vezes se supôs que a philosophia perennis ficou interrompi da - ou soterrada - durante a época moderna. Em algumas ocasiões, a expressão foi tomada como desig nando uma grande tradição na qual estão incluídos (segundo Gratry pensava) alguns dos grandes metafisi cos do século XVII. A variedade de significações com que se usou a expressão philosophia perennis depende das diversas posições que foram adotadas dentro da neo-escolástica (vER) com respeito ao conteúdo da tradi ção e ao papel desempenhado dentro dela pelo pensa mento moderno. Em seu sentido mais amplo, a philoso phia perennis designa uma parte substancial da ontolo gia grega (Platão e Aristóteles especialmente), medieval e moderna. Este amplo sentido foi o adotado por Leib niz quando quis apresentar sua própria filosofia como uma continuação da perennis philosophia. Num sentido ainda mais amplo Aldous Huxley usou a expressão ao chamar de perennial philosophy (The Perennial Philo sophy, 1 958) um conjunto de tendências (muitas delas místicas) que incluem o pensamento oriental. A expressão de referência em seu sentido mais propriamente filosófico não é usada exclusivamente por autores de tendência escolástica. Assim, por exem plo, Wilbur M. Urban chama philosophia perennis a "Grande Tradição" baseada na teoria da analogia do ser e, sobretudo, na tese da inseparabilidade última de valor e realidade. O lema fundamental desta filosofia, oposta a todo modernismo e a todo nominalismo, seria, portanto, a fórmula ens est unum, verum, bonum ou unum, verum, bonum convertuntur a que nos referiremos em Transcendentais (VER). Da mesma opinião são vários pensadores russos (Berdiaev, Lossky, Frank). � Ver: E. Commer, Die immerwiihrende Philosophie, 1 899. - J. Barion, Philosophia perennis ais Problem und ais Aufgabe, 1 936. - E. Stein, Endliches und ewi ges Sein. Ein Durchblick durch die Philosophia peren nis, 1 950. - P. Hãberlin, Philosophia perennis. Eine Zusammenfassung, 1 952. A obra de Urban está citada em Linguagem (vER). - Referências à filosofia perene em sentido neo-es colástico, em Maritain e outros autores da citada ten dência. e
PHILOSOPHIA PRIMA (= "filosofia primeira") é a expressão que traduz os vocábulos aristotélicos npwTT] q>tÀocroqiía (Met., E, 1 1 026 a, 23-32). Referimo-nos a eles, e à distinção entre "filosofia primeira" e "filo sofia segunda", no verbete METAFÍSICA - ao falar dos "livros meta-fisicos", Tà µETà Tà qivmKá, Metaphy sica, Metaphysicorum libri, os livros de Aristóteles que contêm a idéia e a realização da "filosofia primeira". Acrescentaremos que a expressão philosophia pri ma foi usada por autores escolásticos com o fim de
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intitular a scientia de ente (a "ciência do ente enquanto ente" ou do "ser como ser"). Foi usada também por Francis Bacon para designar a ciência que trata de todos os primeiros princípios das ciências, e por Descartes no título de uma de suas obras capitais, as Meditationes de prima philosophia (Méditations métaphysiques), para referir-se à reflexão sobre Deus, a alma e também os princípios das ciências. A prima philosophia (ou phi losophia prima) é a filosofia realmente primeira, por que é como a raiz de todos os demais conhecimentos. Philosophia prima foi expressão muito corrente en tre os filósofos "acadêmicos" (a chamada Schulphiloso phie, do final do século XVII e século XVIII) para desig nar a philosophia de ente. Rudolf Goclenius (vER) cha mava prima philosophia a filosofia per excellentiam. Outros autores entenderam por prima philosophia algo assim como "a parte mais geral" da filosofia, e também "o fundamento de todas as disciplinas filosóficas". Pri ma philosophia era equivalente em muitos casos a Me taphysica, sempre que por esta última se entendesse a Metaphysica generalis, e não nenhuma classe de Meta physica specialis (como a cosmologia rationalis ). A in sistência no caráter geral e fundamental (ou, melhor, "principal") da philosophia prima acabou por fazer desta expressão um equivalente da chamada "ontologia" (ver ONTOLOGIA), como aparece claramente no título de Wolff, Philosophia prima sive ontologia, e como se ma nifestara em obras ou autores algo anteriores. Por exem plo, Clauberg, que considerava a ontosophia [ontologia] como uma scientia prima [philosophia prima] e, além disso, suprema, catholica etc. A expressão philosophia prima ou seus equivalen tes em línguas modernas (filosofia primeira; firstphilo sophy; erste Philosophie etc.) caiu em desuso durante grande parte do século XIX, exceto entre autores escolás ticos (ou escolástico-wolffianos). Contudo, quando no século XX se fez notar a necessidade de uma "ontolo gia", diferente da "metafisica", reintroduziram-se, em vários idiomas, expressões equivalentes a philosophia prima (assim, por exemplo, erste Philosophie em Hus serl [VER] e em outros autores contemporâneos não ne cessariamente ligados à tradição escolástica). � Além da bibliografia de METAFÍSICA (especialmente as obras nas quais se estuda a concepção aristotélica da metafisica), ver: A. Abarra, La filosofia prima di Aris totele, 1 93 7. - E. Oggioni, Lafilosofia prima di Aristo tele, 1 939. - S. Gómez Nogales, Horizonte teológico de la metafisica aristotélica, 1 948. - A. Mansion, 'Tobjet de la science philosophique supréme d'aprés Aristote E ! ", em Mélanges A. Dies, 1 956, pp. 1 5 1 1 68 . - G. Reale, II concetto difilosofiaprima e l 'unità dellafilosofia antica, 1 962; 3ª ed., 1 967. - L. Routila, Die Aristotelische idee der ersten Philosophie. Untersu chungen zur onto-theologischen Verfassung der Meta physik des Aristoteles, 1 969. e
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PHILOSOPHES. Les philosophes o u "os filósofos" é o nome que se deu freqüentemente na França durante o século XVIII aos pensadores e escritores impregnados pelas "luzes'', defensores da razão e da tolerância e ge ralmente inimigos, em maior ou menor grau, das insti tuições religiosas. Entre esses pensadores estão Voltaire, Diderot, d' Alembert e Holbach, assim como numerosos redatores da Enciclopédia (vER), que foi algo assim co mo o órgão dos philosophes. Foram satirizados por Pa lissot na comédia Les philosophes, de 1 760. O termo continua sendo usado hoje em história da filosofia para designar os "enciclopedistas franceses". Por outro lado, ao se falar dos philosophes pensa-se muito freqüen temente em Voltaire e Diderot e em sua luta contra o obscurantismo. PHYSIS. O termo qiúms é fundamental no pensamento grego, por isso diremos umas palavras sobre ele, que servem como introdução ao verbete NATUREZA. Costuma-se traduzir qiúms por 'natureza' . Assim, o título mpi q>Úcrews - título que se atribui a várias obras, com freqüência em forma de poema, de filósofos pré-socráticos (VER) - costuma ser traduzido por Sobre a natureza ou Da natureza (De natura). Em certo senti do esta tradução é aceitável se nos ativermos ao sentido etimológico de 'natureza' , como termo derivado do la tim Natura. Com efeito, q>Úcrt) é o nome que correspon de ao verbo q>Úw (infinitivo q>Úe1v), que significa "pro duzir", "fazer crescer", "gerar", "crescer", "formar-se" etc., como em q>Úe1v TTTÉpa, "crescer asas" ("lhe cres cem asas") e q>Úe1v ávopas àya6oús ("produzir ho mens bons [valentes]"); daí q>Úcras, "o gerador", "o engendrador", "o progenitor", isto é, "o pai". Analoga mente, natura é o nome que corresponde ao verbo nas cor (infinitivo, nasci), que significa "nascer", "formar se", "começar", "ser produzido", como em ex me natus est, "nasceu de mim (é meu filho)". Daí que qiúms equivalha (pelo menos em grande parte) a natura e seja traduzido por 'natureza' enquanto "o que surge", "o que nasce", "o que é gerado (ou gera)", e por isso tam bém certa qualidade inata, ou propriedade, que_pertence à coisaaeqlie se tratae que faz que esta coisa seja o que é em virtude de um princípio próprio seu. Por conseguinte, se usamos 'natureza' para traduzir q>Úcr.1s será preciso levar em conta estes diversos signifi cados e certos modos como estes significados evoluíram. Tratamos deste ponto no mencionado verbete NATUREZA. O termo q>úms aparece em contextos muito diversos na literatura (filosófica e não-filosófica) grega e pode ser traduzido de diversas maneiras com o fim de que o contexto ganhe sentido. V. W Veazie mostrou que, de certo número de exemplos tomados da literatura grega, q>úms pôde ser traduzido por palavras como 'poder' (ou 'potência'), 'poder próprio', 'força' , 'habilidade inata', 'temperamento', 'função', 'vida que outorga poder', 'na tureza (de uma pessoa)' ou 'caráter' etc. etc. e que muitos
PHYSIS dos exemplos se referem a seres humanos, mas outros se referem a plantas, pássaros, personificações etc. Em vista disso, pode-se concluir que qiúms chegou a signifi car praticamente qualquer coisa, mas resulta que entre a multiplicidade de significações de qiúms se destacam (ao menos filosoficamente) algumas que adquirem certa permanência. Mencionaremos duas dessas significações, especialmente pertinentes para a filosofia pré-socrática. Por um lado, q>ÚCllS - que transcreveremos physis designa algo que tem em si mesmo a força do movimento �êlo quatchega a ser o que é\no curso de um "crescimen to" ou "desenvolvimento". Nesse sentido, disse-se que a physis foi para os pré-socráticos a realidade mesma en quanto algo primário, fundamental e permanente. Por isso se propôs que physis equivale para os pré-socráticos à realidade básica, à substância fundamental de que está feito tudo quanto há (diríamos, "toda a physis" ou "toda a natureza"). Por issQ_também se disse que aphysis equiva _k_110 à exiJ , ao princípio (vER). Por outrolado, -aphysis designa o proéesso mesmo do "emergir", do "nascer", sempre que tal processo surja do ser mesmo que "emer ge" e "nasce". A physis pode seguir sendo então um "princípio", mas é "Q!incípio de movimento" (que no ca so presente é o mesmo que "prÚ!cÍpio deser"). Em tal caso a physis é uma atividade g_ue inclui o fundo do qual Q�OceÚOI). Só com-base nesta revelação puderam vislumbrar o que é a Natureza em sentido estrito. Ver: A. Ritschl, Geschichte des Pietismus, 3 vols., 1 880- 1 886. - W. Hübner, Der Pietismus geschichtlich und dogmatisch beleuchtet, 1 90 1 . - H. Stephan, Der Pietismus ais Triiger des Fortschritts in der Kirche, 1 908. - K. Reinhart, Mystik und Pietismus, 1 925. F. Sammer, A. H. Francke und seine Stiftungen, 1 927. - G. Necco, Lo spiritofilisteo. Storia dei pietismo ger manico fino ai romanticismo, 1 929. - F. Wessely, Die Bedeutung des Pietismus far die Romantik und im be sondern far Schelling, 1 93 1 . - A. Lange, Der Worts chatz des deutschen Pietismus, 1 954. - M. Greschat, ed., Zur neueren Pietismus-Forschung, 1 977. - E. Bey reuther, Geschichte des Pietismus, 1 978. Desde 1 976 se publica Pietismus und Neuzeit, que contém bibliografia anual sobre o pietismo. C:
PILLON, FRANÇOIS. Ver RENouvrER, CHARLES. PINI, ERMENEGILDO. Ver PROTOLOGIA. PINTURA. No Tractatus logico-philosophicus, Witt genstein introduz o termo Bild. Em sua tradução para o espanhol dessa obra Enrique Tierno Galván usa o vo cábulo ' figura', e escreve numa nota a 2.02 1 2 : "A pa lavra alemã Bild tem diferentes traduções. Em nosso ca so, o texto inglês emprega picture. Em castelhano nos pareceu que a palavra que melhor e com mais força traduz Bild é figura". A nova tradução espanhola do Tractatus, de J. Nufiez e 1. Reguera, também propõe
PIQUER [Y ARRUFAT], ANDRÉS figura. Alfredo Deafio, em "La evolución de la filosofia de Wittgenstein'', Man and World, 3 ( 1 970), 83 - 1 0 1 , propõe 'pintura ' . Ambos são perfeitamente adequados, como s e vê nas seguintes passagens do Tractatus: "Seria então im possível traçar uma figura (pintura) do mundo (verda deira ou falsa)" (2.02 1 2); "Fazemos figuras (pinturas) dos fatos" (2. 1 ); "A figura (pintura) é um modelo da realidade" (2 . 1 2), "A figura (pintura) é um fato" (2. 1 4 1 ). 'Figura' tem a vantagem, que a versão de Tierno Galván aproveita, de permitir traduzir Abbildung por ' figuração' e conservar deste modo as conexões fonéti cas e semânticas entre Bild e Abbildung. 'Pintura' tem a vantagem de ser um termo corrente não associado com uma multidão de significados técnicos, como ocorre com o termo 'figura' (VER). Escolhemos 'pintura' princi palmente por essa última razão. O importante na idéia wittgensteiniana de Bild é saber exatamente o que se entende com ela. Muitos intérpretes de Wittgenstein, mesmo analisando correta mente o uso do que aqui chamamos 'pintura' , tendem a associar a pintura com uma representação. Isso dá por resultado uma concepção sub-repticiamente epistemo lógica e às vezes até um tanto "subjetiva" de 'pintura', como se a pintura fosse uma representação que tem o sujeito cognoscente de alguma realidade. Outros autores chamam a atenção para 2. 1 2 . A pintura é um modelo; como assinala Max Black em seu Companion ( 1 964, p. 77), pode-se substituir 'pintura' por modelo em 4.0 1 e 4.463b. Em sua obra Wittgenstein s Vienna ( 1 973, pp. l 83 ss. ), Allan ianik e Stephen Toulmin chamam a aten ção para a estreita relação entre o uso de Bild por Hertz na fisica e o uso de Wittgenstein. Em ambos os casos se trata de uma pintura no sentido de um modelo, isto é, no sentido de uma construção lógica que proporciona uma estrutura geral isomórfica com uma multiplicidade de realidades, ou de descrições de realidades. A pintura é, desse ponto de vista, um sistema que determina uma configuração de obj etos. A introdução de nomes nesse sistema permite sua aplicação a específicas situações reais cuja estrutura corresponde à do sistema. A pintura lógica exibe a forma como a realidade é pintada, mas não é ela mesma um modelo desta forma. Similarmente a uma pintura no sentido corrente do termo, a pintura lógica não diz nada sobre si mesma. A despeito da adoção do termo 'pintura' para traduzir Bild, a expres são na última citada idéia de Wittgenstein fica mais idiomática com o termo ' figura' que propõe Tierno Gal ván, como mostra a passagem: "Mas a figura (Bild) não pode figurar (abbilden) sua forma de figuração (Abbil dung) ; mostra-a (es weist sie auj)" (2. 1 72).
PIQUER [Y ARRUFAT], ANDRÉS ( 1 7 1 1 - 1 772). Nascido em Fórnoles (Teruel), estudou medicina em Valencia e foi professor de medicina na mesma cidade
PIRRO a partir de 1 742. Foi nomeado também médico de câ mara de Fernando VI e depois de Carlos III. Menéndez y Pelayo (Heterodoxos, VI, cap. iii) considera Piquer como um "filósofo crítico" no espírito de Vives e um eclético. Em sua principal obra filosófica, Lógica moderna o arte de hablar la verdad y perfeccionar la razón ( 1 75 1 ; 3ª ed., 1 7 8 1 ), Piquer tratou de combinar os princípios da lógica aristotélica, ou, melhor, aristo télico-escolástica, com tendências procedentes da fi losofia moderna, especialmente de autores que se ha viam ocupado de "regras do método" para executar inferências corretas nas ciências. Mostra tendência eclética similar em sua Física moderna, racional y experimental ( 1 745) e em seu Discurso sobre el siste ma dei mecanismo ( 1 768). Piquer se ocupou também de questões morais e religiosas em Filosofia moral para la juventud espafiola ( 1 755; 3ª ed. , 1 787) e em Discur so sobre la aplicación de la filosofia a los asuntos de la religión ( 1 757; 3ª ed., 1 805), esforçando-se por con ciliar as verdades dogmáticas com princípios morais do senso comum. Devemos também a Piquer diversas obras sobre medicina (como Medicina vetus et nova secundus auris retracta et aucta, 1 73 5 ; 3ª ed. , 1 758; Tratado de calenturas, 1 989, fac-símile da 3ª ed., de 1 768). Uma versão de escritos de Piquer foi publicada num tomo de Obras póstumas ( 1 785) a cargo de seu filho, Juan Crisóstomo Piquer. :> Ver: Manuel Mindán, "La doctrina dei conocimien to en A. P.", Revista de Filosofia [Madrid] , II ( 1 956), 543-567. e:
PIRRO de Élide (ca. 360-270 a. C.). Um dos grandes céticos (VER) antigos, parece ter recebido influências megáricas através de Brisão, filho e discípulo de Estil pão de Megara. É provável também que tenham tido influência sobre ele alguns partidários das doutrinas de Heráclito. É quase segura sua relação com alguns democritianos; segundo Diógenes Laércio, fez uma viagem à Índia com um seguidor de Demócrito e lá entrou em contato, além disso, com os gimnosofistas (vER). Todas essas influências, às quais cabe acrescen tar as sofisticas e as cirenaicas, contribuíram, ao que parece, para a formação de sua própria doutrina cética. Seguindo a distinção sofistica entre o que é por natu reza e o que é por convenção, Pirro afirmava que nos sos juízos sobre a realidade são convencionais. A sen sação constitui a base deles. Mas sendo as sensações cambiantes, só se pode praticar uma abstenção ou epoché (VER) do juízo. Não cabe, portanto, decidir-se por nada; não cabe adotar nenhuma opinião ou crença. O verdadeiro sábio deve encerrar-se em si mesmo e optar pelo silêncio, pois só deste modo alcançará a imperturbabilidade, a ataraxia (vER) e, com ela, a au têntica (e única possível) felicidade. Pode-se dizer, por conseguinte, que a teoria do conhecimento de Pirro
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desemboca numa ética ou, se se quiser, num conjunto de recomendações de natureza ética. Mas pode-se dizer também que a atitude ética constitui a base da citada teoria do conhecimento. Pois, com efeito, o que mais ressalta nas doutrinas atribuídas a Pirro é a insistência nas indiferenças das coisas externas (e dos juízos sobre elas) e a necessidade de ater-se a si mesmo se se quiser alcançar uma estabilidade dentro da constante e impre visível fluência dos fenômenos. Como a doutrina dos estóicos (vER), a de Pirro praticava a retirada. À diferen ça dos estóicos, porém, Pirro não achava necessário edificar nem uma lógica nem uma fisica; a consciência da tranqüilidade que dá a própria reclusão ao negar-se a dar qualquer juízo sobre "o mundo externo" lhe era suficiente para justificar a doutrina. O mais destacado discípulo de Pirro foi Tímon. Entre outros seguidores de Pirro mencionamos Fílon de Atenas e Nausífanes de Téos, o mestre de Epicuro. Sobre outros partidários das doutrinas de Pirro, ver PIRRONISMO. As doutrinas de Pirro são conhecidas sobretudo pela exposição de Sexto Empírico (vER). Ver a biblio grafia do verbete CETICISMO, na parte dedicada às obras sobre os céticos gregos (incluindo o tomo I de Richter). Doxografia em Diels, Dox. graeci, s. v. Pyrrho, Pyrrhoni philosophi (cf. Diógenes Laércio, L, 9, 6 1 ). :> Ver: D. Zimmermann, Darstellung der pyrrhonis chen Philosophie, 1 84 1 . - Id., Über Ursprung und Bedeutung der pyrrhonischen Philosophie, 1 843. Ch. Waddington, Pyrrhon et te pyrrhonisme, 1 876 (reimp. no livro do mesmo autor, La philosophie an cienne et la critique historique, 1 904). - V. Brochard, Les sceptiques grecs, 1 887, Livro I, capítulo iii. - S . Sepp, Pyrrhonische Studien (!. Die philosophische Ri chtung des Cornelius Celsus; II. Untersuchungen auf dem Gebiete der Skepsis), 1 893. - G. Caldi, Lo scet ticismo critico delta scuola Pirroniana, 1 896. - L. Robin, Pyrrhon et le scepticisme grec, 1 944. - J. A. G.-Junceda, "Pirrón y el escepticismo griego: Sem blanza dei apático Pirrón'', Estudios filosóficos, 42 e 43 ( 1 967), 245-292 e 5 1 1 -530, e 44 ( 1 968), 93- 1 23 . M. Conche, P ou l 'apparence. C: -
PIRRONISMO. Num sentido estrito, chama-se "pir ronismo" a doutrina cética de Pirro e de seus seguido res. Quando estes últimos são confinados aos pensa dores da Antiguidade, o pirronismo aparece como uma das formas do ceticismo (VER) antigo. Quase sempre entre os seguidores - ou pelo menos continuadores - de Pirro são incluídos Enesídemo e Sexto Empírico (que resumiu as doutrinas pirrônicas). É freqüente tam bém identificar o pirronismo com o ceticismo antigo. Tal identificação tem vários inconvenientes. Entre eles, um capital: deixar de fora da história do ceticismo an tigo tendências tão importantes quanto as Academias
PISARÉV, DMITRÍ IVANOVICH
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média e nova. É certo que tais períodos da Academia não podem ser considerados céticos num sentido radical; melhor lhes cabe o qualificativo de semi-céticos, plau sibilistas ou probabilistas. Mas tampouco os céticos pro priamente ditos foram sempre radicais. O mais razoá vel, portanto, é agrupar todas essas correntes - como fizemos no verbete sobre o ceticismo - sob o 11.ome comum de 'céticos' , reservando o nome 'pirronismo' para uma parte delas; antes de tudo para Pirro e seus se guidores imediatos. A tendência a estender o significado do vocábulo 'pirronismo' a quase todas as tendências céticas dá ori gem a uma concepção lata desta tendência. Tal concep ção se estendeu sobretudo durante a época moderna. Por isso tratamos agora sob o conceito em questão de várias tendências muito difundidas no pensamento oci dental durante os séculos XVI, XVII e XVIII. Richard H. Popkin fez observar que nas histórias habituais da filo sofia se trata o pirronismo renascentista e moderno de forma precipitada, sem levar em conta que para os filó sofos de tais épocas a influência e propagação do que eles mesmos chamavam "pirronismo" - e os conse qüentes esforços para superá-lo - tiveram considerável importância. Três fatos o mostram. Primeiro, as edições e traduções de céticos antigos (edições e traduções de Sexto em 1 562, 1 569, 1 62 1 , 1 7 1 8, 1 725, 1 735). Segun do, a influência capital de Montaigne - seja para admitir algumas de suas teses, seja para refutá-las em muitos importantes filósofos modernos. Terceiro, o fato de que nas histórias e repertórios de finais do século XVII e início do século XVIII (a Historia critica philosophiae, de Brucker, o Dictionnaire, de Bayle, a Encyclopédie etc.) o tratamento do pirronismo renas centista e moderno e a exposição das disputas a que dera lugar foram detalhados e extensos. Deste ponto de vista, podemos considerar o pirronismo - no sentido amplo antes mencionado - como uma das tendências modernas capitais. Por um lado, achamos influências da mesma em autores como Montaigne, Charron, Gas sendi, Pierre Bayle (e antes, é claro, em Pico della Miran dola, Francisco Sánchez, Agrippa). Por outro lado, vemos que autores como Pascal, Malebranche, Herbert de Cher bury e outros discutiram muito a sério as teses "pirrô nicas''. Finalmente, podemos inclusive estimar que parte do trabalho filosófico de autores como Descartes e Mer senne pode ser explicada não somente como uma tenta tiva de erigir uma nova filosofia correspondente ao novo conceito da Natureza, mas também como uma nova filo sofia que pudesser opor um sólido bloqueio aos ataques pirrônicos. Dentro do século XVIII destacou-se Hume co mo "pirrônico", a quem Popkin considera inclusive como o único pirrônico "consistente''. � Ver a bibliografia do verbete CETICISMO. Também: R. H. Popkin, "The Skeptical Crisis'', Review ofMeta-
physics, 7 ( 1 953), 1 32- 1 5 1 ; 7 ( 1 953), 307-322; 8 ( 1 954), 498-5 1 0. - Id., "D. Hume: His Pyrrhonism and His Critique of Pyrrhonism", Philosophical Quarterly, 1 ( 1 95 1 ), 385-407. - Id., The History ofScepticism From Erasmus to Descartes, 1 960, ed. rev. , 1 964. - J.-P. Dumont, Le scepticisme et le phénoméne: Essai sur la signification et les origines du pyrrhonisme, 1 972. e
PISARÉV, DMITRÍ IVANOVICH ( 1 840- 1 868). Nascido em Znamenskoé, estudou na Universidade de São Petersburgo. Durante quatro anos ( 1 862- 1 866) es teve preso por oposição ao czarismo. Morreu, afogado, aos 28 anos, sem que se saiba se foi acidente ou suicí dio. Pisarév se opôs aos membros das gerações prece dentes, que seguiram uns o voltairianismo, outros o romantismo e outros o hegelianismo. Contra tudo isso, ele pregou o que chamava de "realismo", que se resume em três palavras: "amor'', "conhecimento" e "trabalho''. Defendeu também o materialismo, assim como, e so bretudo, um individualismo extremo, que o levou com freqüência ao niilismo. No final do verbete NIILISMO citamos uma frase de Pisarév que parece, antes, uma boutade, mas deve-se levar em conta que nesta frase está expressa a atitude de quem pensa que só o que resiste à crítica implacável é digno de ser conservado. Em todo caso, Pisarév se opôs a toda "logomaquia", como ele mesmo a chamou, a toda "mera teoria", a tudo o que não correspondia a uma estrita economia de meios. Há em Pisarév uma espécie de dialética entre uma atitude individualista que admite como justifica do só o que Corresponde ao interesse de cada um, que difere dos interesses de outros, e uma atitude "coleti vista", em favor das massas e do "proletariado''. � Pisarév criticou asperamente a religião e o idea lismo (Jdealism Platona, 1 86 1 : O idealismo de Platão), aos quais opunha as idéias do materialismo naturalista de Vogt e Moleschott (Prozess zizni, 1 86 1 : O processo da vida; Fiziologicheskie kartini, 1 862: Estampasfisio lógicas) e a teoria de Darwin (Progress v mire zivotnij i rastienii, 1 864: O progresso no mundo dos animais e das plantas) . Há edição de obras completas: Polonoie sobraniie Sochinénii, 6 vols., 1 894- 1 897; 5' ed., 1 909- 1 9 1 3 . - So chinenia (Obras), 4 vols., 1 955- 1 956. - lzbrannie sochi nenia (Obras escolhidas), 1 968. - Ver também: Selected Philosophical, Social and Political Essays, 1 958 (vários fragmentos deles em Russian Philosophy, II, 1 965, ed. James M. Edie, James P. Scanlan, M.-B. Zeldin, com a colaboração de G. L. Kline, pp. 66- 108). Ver: A. Coquart, Dimitri Pisarev (1840-1868) et l 'idéologie du nihilisme russe, 1 946. A. N. Maslin, "D. I. P. v borbe za materialism i sozialnii progres'', 1 968 (trad. ingl., "D. I. P. in the Struggle for Materialism and Social Progress", Soviet Studies in Philosophy, 8 ( 1 969), ••
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PISTIS SOPHIA 3 1 1 -325. - N. V. Demidova, Pisarev, 1 969. - Y. R. Simkin, Zisn D. !. Pisareva, 1 969 (Vida de Pisarév). 1. K. Pantin, Sozialisticheskaya misl v Rossii: perejod ot utopii k nauke, 1 973 (Opensamento socialista na Rús sia: a passagem da utopia à ciência). C:
PISTIS SOPHIA. Ver GNOSTICISMO; VALENTIM. PITÁGORAS de Samos (jl. 532 a. C.). Foi, segundo alguns, discípulo de Ferécides e de Anaximandro. Pare ce ter visitado o Egito e entrado em contato com as dou trinas dos sacerdotes deste país. Diz-se que fundou em Crotona, por volta de 530, uma comunidade de índole religiosa e político-religiosa e que, por ter despertado a hostilidade dos chefes do partido democrata, produ ziu-se uma rebelião contra Pitágoras que o obrigou a fugir de Crotona e a se estabelecer em Metaponto, onde é provável que tenha falecido. Observe-se que o parágrafo acima está envolto em incertezas. Não por acaso. Tanto a vida de Pitágoras como as doutrinas pitagóricas, especialmente em seus começos, estão cobertas por um espesso véu lendário. Alguns autores inclusive duvidam que Pitágoras tenha existido. Embora essa dúvida seja considerada exagera da, o certo é que todo relato das doutrinas de Pitágoras e dos pitagóricos, assim como das práticas religiosas e ascéticas (as "purificações") que se lhes atribuem, tem de se basear em dados insuficientes ou discutíveis. Muito discutido é, por exemplo, o tipo de relação que os ensinamentos pitagóricos mantiveram com o orfismo ( VER) . Bom número de historiadores se inclinam pela opinião de que Pitágoras renovou e, sobretudo, purifi cou as idéias e os ritos orgiásticos dos órficos, mas outros consideram tal opinião como demasiado arrisca da. Insistiremos especialmente nos aspectos filosóficos da doutrina de Pitágoras, embora tendo presente que no espírito dele e de seus discípulos tais aspectos esta vam estreitamente ligados aos ensinamentos e práticas religiosas e ascéticas. Por outro lado, embora apresente mos os aspectos filosóficos em questão sob o nome de Pitágoras, podemos atribuí-los ao pitagorismo da pri meira época. Para a história - principalmente externa - do pitagorismo, ver PITAGORISMO e NEOPITAGORJSMO. A alguns dos pitagóricos e neopitagóricos dedicamos verbetes especiais. Pitágoras parece ter deduzido várias conseqüências de algumas observações, em particular da observação das relações existentes entre a altura dos sons e os com primentos das cordas da lira. Isso levava a supor a exis tência de uma harmonia ( VER) . Trata-se de um conceito fundamental. Pois embora primitivamente fosse aplica do só à oitava ou a uma escala musical, logo foi apli cado a todas as esferas da realidade. Por exemplo, ao corpo humano, de tal sorte que a função da medicina consiste em ajudar a restabelecer essa harmonia em todas as ocasiões em que tenha sido perturbada. A har-
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monia é, como diz o Catecismo das perfeições, o mais belo que existe. Sendo a música, ademais, uma manifes tação eminente da harmonia, ela pode ser usada com o fim de purificar a alma: a harmonia é, por esse motivo, uma catarse. E como a alma é por sua vez a harmonia do corpo, a música é verdadeiramente uma medicina. Mas a harmonia é aplicada, além disso, e sobretudo, ao cosmo inteiro. A cosmologia de Pitágoras, baseada em parte na de Anaximandro, acentua fortemente a dis posição harmoniosa dos corpos celestes. Estes estão distanciados de um chamado fogo central segundo inter valos que correspondem aos da oitava. Por esse motivo seus movimentos circulares produzem uma música: a música das esferas. A harmonia é musical e é também, e de modo corres pondente, númerica. Segundo Aristóteles (Met , A 5, 985 b 23 - 986 b 8), os pitagóricos supunham "que os ele mentos dos números eram a essência de todas as coisas, e que os céus eram harmonia e número". As propriedades dos números, especialmente ao combiná-los, resultaram tão surpreendentes que os pitagóricos buscaram por toda parte analogias entre os números e as coisas, e chegaram a fundar uma espécie de mística numérica que teve enor me influência em todo o mundo antigo. Fórmulas como a seguinte: 1 + 3 + 5 + ... + (2n - ! ) n2, que mostra que os quadrados podem formar-se como somas dos números ímpares sucessivos, apareciam aos pitagóricos como maravilhosas. Mas muitas outras poderiam se acrescentar. O mais importante, do ponto de vista das analogias filosóficas, foram as divisões dos números: pares, ímpares perfeitos (iguais à soma de seus diviso res), lineares e planos. Os números foram considerados, além disso, como princípios. Segundo diz Aristóteles na mesma passagem supracitada, havia dentro da escola pitagórica uma facção que afirmava a existência de 1 O princípios ou oposições fundamentais, cada uma delas correspondente a cada um dos 1 O primeiros números naturais. Essa correspondência é mostrada na tabela seguinte oferecida por Aristóteles: .
=
1: 2: 3: 4: 5: 6: 7: 8: 9: 10:
Limitado Ímpar Um Direito Masculino Em repouso Reto Luz Bom Quadrado
- Ilimitado - Par - Muitos - Esquerdo - Feminino - Em movimento - Curvo - Treva - Mau - Oblongo (retângulo oblongo)
Trata-se de uma tabela na qual se pode ver uma signifi cação moral: os termos primeiros representam, de fato, algo perfeito; os segundos, algo imperfeito. Ora, o dua lismo pode ser superado quando se considera o perfeito como algo limitante de toda possível imperfeição. Desse
PITAGORISMO
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modo s e pode compreender como é possível estabelecer analogias entre conceitos cujas significações são muito diferentes, tais como, por exemplo, entre o limitado e a luz e o ilimitado e a treva. Em todo caso, a harmonia não existe somente no mundo tisico, mas se faz presente também - e é uma das mais influentes tendências de Pitágoras - na relação entre a ordem cósmica e a or dem· moral. :> Obras: Diel-Kranz, 14 (4), Testimonianze e fram menti, 1 958, ed. M. T. Cardini. - Para as "Vidas" de Pitágoras: Die Pythagoras- Viten des Jamblichos und Porphyrios, ed., trad. e comentários de W. Burkert, [Tex te und Kommentare, Eine Altertumswissenschaftliche Reihe, ed. O. Gigon, F. Heinimann, O. Luschnat] . Atribuía-se a Pitágoras um Hino áureo ( ed. K. E. Gün ther, 1 8 1 6, Carmen aureum) que atualmente se conside ra apócrifo. Sobre Pitágoras e os pitagóricos ver: H. Ritter, Ges chichte des. pythagoreischen Philosophie, 1 826. - Ch. A. Brandis, "Über die Zahlenlehre der Pythagoreer und Platoniker", Rheinisches Museum, II ( 1 828), 208-24 1 . - A. B. Krische, De societatis a Pythagora in urbe Cro toniatarum conditae scopo politico commentario, 1 830. - G. Rathgeber, Grossgriechenland und Pythagoras, 1 866. -A. Rothenbücher, Das System der Pythagoreer nach den Angaben des Aristoteles, 1 867. - A. F. von Thimus, Die harmonikale Symbolik des Altertums ( 1 . Die esoterische Zahlenlehre und Harmonik der Pytha goreer in ihren Beziehungen zu iilteren griechischen und orientalischen Quellen, 1 868; 2. Der technisch harmonikale und theosophischkosmographie Inhalt der kabbalistischen Buchstabensymbole des althebriiischen Büchleins Jezirah, die pythagorisch-platonische Lehre vom Werden des Alls und von der Bildung der Weltseele in ihren Beziehungen zur semitisch-hebriiischen wie chamitisch-altiigyptischen Weisheitslehre und zur heili gen Überlieferung der Urzeit, 1 876). - A. Heinze, Die metaphysischen Grundlehren der iilteren Pythagoreer, 1 87 1 . - A. E. Chaignet, Pythagore et la philosophie pythagoricienne, contenant lesfragments de Philolaus et d 'Archytas, 2 vols., 1 873. - Sobezyk, Das pythago reische System in seinen Grundfragen entwickelt, 1 878. - L. von Schrõder, Pythagoras und die Jnder. Eine Untersuchung über Abkunft und Abstammung der py thagoreischen Lehren, 1 884. - M. Bobber, Pitagora i suoi tempi ed il suo istituto, 1 886. W. Bauer, Der iiltere Pythagoreismus. Eine kritische Studie, 1 897. C. Hõlk, De acusmatis sive symbolis Pythagoricis, 1 899. - A. Covotti, La filosofia nella Magna Grecia e in Sicilia, 1 900. H. A. Naber, Das Theorem des Pythagoras widerhergestellt in seiner ursprünglicher Form und betrachtet ais Grundlage der ganzen pythago reischen Philosophie, 1 908. - A. Gianola, Pitagora e le suoi dottrine negli scrittori latini dei primo seco/o a. Cristo, 1 9 1 1 . - !d., La fortuna di Pitagora pressa i -
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Romani dalle origini fino ai tempo di Augusto, 1 92 1 . - A . Caporali, La natura secando Pitagora, 1 9 14. A. Delatte, Études sur la littérature pythagoricienne, 1 9 1 5 . - Id., Essai sur la politique pythagoricienne, 1 922. - E. Frank, Plato und die sogenannten Pythago reer, 1 923. - I. Lévy, Recherches sur les sources de la légende de Pythagore, 1 926. - W. W. Rathmann, Quaestiones Pythagoreae Orphicae Empedocleae, 1 93 3 . - F. Enriques e G. de Santillana, Le probléme de la matiére: Pythagoriciens et Éléates, 1 936. - L. Brunschvicg, Le rôle du pythagorisme dans l 'évolution des idées, 1 93 7. - K. von Fritz, Pythagorean Politics in Southern Italy, 1 940. - J. E. Raven, Pythagoreans and Eleatics: AnAccount ofthe Interaction between the two Opposed Schools during the Fiftht and Early Fourth Centuries B. C., 1 948. - K. Kerényi, Pythagoras und Orpheus, 1 950. - L. Ferrero, Storia dei pitagorismo nel mondo romano: Dalle origini alia fine de/la repub blica, 1 955. - H. Thesleff, An Introduction to the Pytha gorean Writings of the Hellenistic Period, 1 96 1 [sobre vários escritos pseudepígrafos, como o Peri archon, Peri tou ontos, Peri antikeimon, Peri ton kathoulou logon, De anima mundi, o Anonymus Diodori] . - W. Burkert, Wei sheit und Wissenschaft. Studien zu Pythagoras, Philolaos und Platon, 1 962. - E. Bindel, Pythagoras. Leben und Lehre in Wirklichkeit und Legende, 1 962. - J. A. Philip, Pythagoras and Early Pythagoreanism, 1 966. C. J. de Vogel, Pythagoras and Early Pythagoreanism: An In terpretation ofNeglected Evidence on the Philosopher Pythagoras, 1 966. - I. Gobry, Pythagore ou la naissance de la philosophie, 1 973. - B. L. van der Warden, Die Pythagoreer, 1 979. - P. Gorrnan, P.:A Life, 1 979. - D. J. O'Meara, P. Revived. Mathematics and Philosophy in Late Antiquity, 1 989. Bibliografia: L. E. Navia, P.: An Annotated Biblio graphy, 1 990. Sobre a questão da autenticidade e cronologia dos es critos platônicos, ver (além dos comentários de Schleier macher a sua edição) as obras seguintes, quase todas elas mais pertinentes aos aspectos histórico-filológicos do que aos propriamente filosóficos do platonismo: E. Zel ler, Platonische Studien, 1 839 (cf. também a História de Zeller mencionada no verbete FILOSOFIA GREGA) . - F. Susemihl, Die genetische Entwicklung der platonische Philosophie, einleitend dargestellt, Parte 1 , 1 855; Parte 2, 1 860. - !d., Neue platonische Forschungen, 1 898. - E. Munk, Die natürliche Ordnung der platonischen Schriften, 1 856. - H. Bonitz, Platonische Studien, 2 vols., 1 85 8- 1 860; 3ª ed., 1 886, reimp., 1 963 [com intro dução por F. Dirlmeier] . - F. Übeiweg, Untersuchun gen über die Echtheit und Zeitfolge platonischer Schrif ten und über die Hauptmomente aus Platons Leben, 1 86 1 (reimp., 1 969- 1 970). - E . Alberti, Die Frage nach Geist und Ordnung der platonischen Schriften, beleuchtet aus Aristoteles, 1 864. - K. Schaarschmidt, Die Sammlung derplatonischen Schriften zur Schleidung der echten von den unechten untersucht, 1 866. - H. Schmidt, Beitriige zur Erkliirung platonischer Dialoge, 1 874. - F. Schul tess, Platonische Forschungen, 1 875. - F. Tocco, Ricer che platoniche, 1 876. - G. Teichmüller, Die platonische Frage, eine Streitschrift gegen Zeller, 1 876, reimp., 1 972. - !d., Über die Reihenfolge der platonischen Dialoge, 1 870. - Id., Literarische Fehden im vierten Jahrhun dert vor Chr. , 2 vols., 1 8 8 1 - 1 8 84. - Ch. Waddington, "Mémoire sur l 'authenticité des écrits de Platon", 1 886 (em La philosophie ancienne et la critique historique, 1 904 ). - K. Joel, Zur Erkenntnis der geistigen Entwi cklung und der schrifstellerischen Motive Platons, 1 887. - T. Gomperz, Platonische Aufsiitze. !. Zur Zei tfolge platonischer Schriften, 1 887. - E. Pfleiderer, Zur Losung der platonischen Frage, 1 888. - C. Ritter, Un tersuchungen über Platon, 1 888. - Id., Neue Untersu chungen über Platon, 1 9 1 0. - F. Dümmler, Chrono logische Beitriige zu einigen platonischen Dialogen aus den Reden des lsokrates, 1 890. - F. Horn, Platonstu dien, 1 893. - C. Ritter, Platons Dialoge, 1 , 1 903; 2, 1 909. - M. Hoffmann, "Zur Erklãrung platonischer Dialoge", Zeitschriftfür das Gymnasialwesen ( 1 903), 525-537; ( 1 904), 87-92, 279-288, 478-490, 609-6 14; ( 1 905), 32 1 -3 3 5 . - H. Raeder, Platons philosophische Entwicklung, 1 905. - G. L. Radice, Studi Platonici, 1 906. - F. Th. Olzscha, Platons Jugendlehre als Kriterium far die Chronologie seiner Dialoge, 1 9 1 0 . - O. Apelt, Platonische Aufsiitze, 1 9 1 2 . - H. von Arnim, "Spra chliche Forschungen zur Chronologie der platonischen Dialoge", Sitzber. der Wiener Ak. , 1 69 ( 1 9 1 2). - Id., Platos Jugenddialoge und die Entstehungszeit des Phai-
PLATÃO
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dros, 1 9 14. - J. I . Beare, A New Clue to the Order of the Platonic Dialogues, 1 9 1 3 . - M. Pohlenz, Aus Pla tons Werdezeit, 1 9 1 3 . - A. Dies, Autour de Platon. Essais de critique et d 'histoire, 2 vols., 1 927. - ld., Platon, 1 930. - P. Friedlãnder, Platon, 2 vols. (1: Eidos, Paideia, Dialogas, 1 928; II: Die platonischen Schriften, 1 930); 3ª ed., rev. e aum., 3 vols., 1 975. - P. Brommer, E l f:.OI et lf:.EA. Étude sémantique et chronologique des oeuvres de Platon, 1 940. - R. Simeterre, Introduc tion à l 'étude de Platon, 1 948. - H. Gauss, Philosophis cher Handkommentar zu den Dialogen Platons, 1, 1 , 1 952; II, 1 , 1 956; II, 2 , 1 958; III, 1 , 1 960. - J. Zürcher, Das Corpus academicum, 1 954. - R. Bohme, Von So krates zur Ideenlehre. Beobachtungen zur Chronologie des platonischen Frühwerks, 1 959. - M. Untersteiner, Posidonio nei placita di Platone secando Diogene Laer zio, III, 1 970. - Deve-se levar em conta, no entanto, que várias das obras citadas são também importantes para a compreensão da filosofia platônica, assim como o fato de que a bibliografia que virá a seguir contém igualmente, em muitos casos, amplas referências à questão histórico filosófica (que, aliás, está tratada também nos comentá rios e notas às principais edições de Platão). Uma estrita separação entre a série de obras mencionadas e a que virá a seguir não é, portanto, recomendável. Edição de obras: no tocante às edições de Platão, a primeira impressa é a que contém a versão latina de Marsilio Ficino (Florença, 1 483- 1 484). O texto grego apareceu impresso pela primeira vez em Veneza (Aldus Manutius, 1 5 1 3). A estas edições seguiram as que im primiram Valderus (Basiléia, 1 534) e Petrus (Basiléia, 1 556), a edição de Henricus Stephanus ou Henri Étien ne (Paris, 1 578), em colaboração com Ioannes Serranus. Os números de colunas e as letras A, B, C, D, E em que está subdividida cada coluna nesta edição são as que figuram na maior parte das citações atuais de Platão e as que adotamos neste Dicionário. Para nos limitar às edições dos últimos dois séculos, citaremos a de Imma nuel Bekker (Berolini, 10 vols., 1 8 1 6- 1 823), a de C. F. Hermann (Lipsiae, 6 vols., 1 85 1 ), a de M. Schanz (Lipsiae, 1 875, embora incompleta, muito importante), a de Bar thélémy Saint-Hilaire (Paris, 1 896), a de John Bumet (Oxford, 5 vols., 1 900- 1 906), a da Collection des Uni versités de France (As. Guillaume Budé: 13 vols., 1 920 ss.). Para os comentários platônicos ver PLATONISMO. Entre as traduções destacam-se a alemã de Schleier macher ( 1 804- 1 8 1 O, reed. por L. Schneider, 1 942), a francesa de Victor Cousin ( 1 822- 1 840), a italiana de Ferrari ( 1 873- 1 888) e a inglesa de Jowet ( 1 87 1 ). Estas traduções foram superadas filo logicamente por versões mais recentes, geralmente feitas por vários autores ( co mo a francesa da publicada sob os auspícios da Associa tion Guillaume Budé ["Les Belles Lettres"] e a alemã de Otto Apelt, Gustav Schneider etc.). Citamos ainda: Obras completas, 6 vols., 1 980- 1 982 (texto grego e
espanhol; trad. , prólogo e notas de J. D. García Bacca). - Obras completas, 1 966, trad. de Araújo, García Ya güe, Gil e outros. - Encontram-se numerosos diálogos platônicos, com boas edições e traduções, em diversas editoras, algumas das quais prosseguem sua publicação. Mencionemos entre elas: Instituto de Estudios Políticos ("Clásicos Políticos"), Centro de Estudios Constitucio nales, Gredos ("Biblioteca Clásica"), Espasa-Calpe. Em português: Alcibíades, I e II, s.d. - Apologia de Sócrates, 1 997. - O banquete, 1 999. - Crátilo, 1 963 . - Diálogos, 1 980. - Diálogos, Os Pensadores, 1 983. Fédon, 2000. - Fedro, 1 989. - Górgias, 1 989. - Hípias menor, 1 999. - Laquis, 1 999. -As leis, 1 999. O simpósio, ou do amor, 1 986. - Lísis, 1 995. Menon, s.d. - Protágoras, s.d. - A república, 1 993 . - O simpósio, ou do amor, 1 986. - Teeteto, s.d. Timeu e Crítias, s.d. Para léxicos, ver: G. A. F. Ast, Lexicon Plator.1icum sive vocum Platonicarum index, 3 vols., 1 835- 1 838; reimp., 1 976. - Index Graecitatis Platonicae; acce dunt indices historiei et geographici, 2 vols., 1 832. Plato Dictionary, 1 963, ed. M. Stockhammer. Há índice onomástico dos diálogos (Onomasticum platonicum) na ed. de C. F. Hermann. - J. Zürcher, Lexicon plato nicum, 1 954. - E. des Places, Lexique de la Zangue phi losophique et religieuse de Platon, 2 partes, 1 964 (tomo XIV da ed. de Oeuvres completes, em "Les Belles Let tres") [reconstituído a partir do de Ast] . - H. Perls, Lexikon der platonischen Begriffe, 1 973 . - L. Brand wood, A Word Index to Plato, 1 976. - O. Gigon, L. Zimmermana, P. Lexicon der Namen und Begriffe, 1 975; reed., 1 987. Bibliografia sobre Platão e o platonismo, no tomo I do Überweg-Prachter (ver a bibliografia do verbete FILO SOFIA [HISTÓRIA DA]). - Uma breve introdução biblio gráfica no opúsculo de O. Gigon, Platon, 1 950. - Ver também E. M. Manasse, Bücher über Platon, 2 vols., 1 960- 1 96 1 . - R. D. McKirahan, Plato and Socrates: A Comprehensive Bibliography, 1 978 [de 1 95 8 a 1 973; continuação da bibliografia de H. Chemiss em Lustrum, 1 959- 1 960] . - J. A. Martínez, A Bibliography ofWri tings on Plato, 1900-1967, 1 978. - M. Deschoux, Com prendre P. Bibliographie platonicienne de Zangue.fran çaise, 1 880-1 980, 1 98 1 . Para lista de manuscritos: R. S . Brumbaugh e R. Wells, ed., The Plato Manuscripts: A Catalogue ofMicro films in the Plato Microfilm Project, I [na Bélgica, Dina marca, Inglaterra, Alemanha, Itália], 2 vols., 1 962; II [na Áustria, Tchecoslováquia, França, Holanda, Espanha, e manuscritos depois de 1 600 na Bélgica, Dinamarca, In glaterra, Alemanha, Itália. Addenda ao vol. I], 1 968. Das numerosas obras sobre Platão nos limitamos a assinalar (além das antes mencionadas): F. Ast, Pla tons Leben und Schriften, 1 8 1 6. - G. Grote, Plato and the Other Companions of Socrates, 1 865. - A. E. -
PLATÃO Chaignet, La vie et les écrits de Platon, 1 87 1 . - D. Peipers, Untersuchungen über des System Platons. I. Die Erkenntnistheorie Platons mit besonderer Rücksicht auf den Theaitet untersucht, 1 874. - !d., Ontologia platonica ad notionum terminorumque historiam symbola, 1 883. - A. Fouillée, La philosophie de Pla ton, exposition et critique de la théorie des idées, 1 879 (ampliada e reelaborada em sucessivas edições; cf. os tomos publicados de 1 904 a 1 9 1 2 ; 1. Théorie des idées et de l 'amour, 1 904; II. Esthétique, mora/e et religion platoniciennes, 1 906; III. Histoire du platonisme et de ses rapports avec /e christianisme; IV. Essais de philoso phie platonicienne, 1 9 1 2). - W. Lutoslawski, The Ori gin and Growth ofPlato 's Logic, 1 897. - W. Windel band, Platon, 1 898. - D. G. Ritchie, Plato, 1 902. P. Shorey, The Unity of Plato 's Thought, 1 903. - Id., What Plato Said. A Résumé of the Entire Body of the Platonic Writings, 1 93 3 . - P. Natorp, Platos Ideen lehre. Einfiihrung in den Idealismus, 1 903. - A . Riehl, Platon, 1 905. - C. Piat, Platon, 1 906. - L. Robin, La théorie platonicienne de l 'amour, 1 908. - Id., La théorie platonicienne des idées et des nombres d 'apres Aristote. Étude historique et critique, 1 908, reimp., 1 962. - !d., Platon, 1 935; 2ª ed., 1 968 (Robin traduziu tam bém as obras de Platão na coleção La Pléiade, 1 9501 952). - N. Hartmann, Platons Logik des Seins, 1 909. - C. Ritter, Plato, sein Leben, seine Schriften, seine Lehre, 1, 1 9 1 0; II, 1 923. (!d. , Die Kerngedanken der platonis chen Philosophie, 1 93 1 , pode servir como resumo dos dois tomos antes mencionados). - V. Brochard, Étu des de philosophie ancienne et de philosophie moderne, ed. Delbos, 1 9 12. - M. Wundt, Platons Leben und Werk, 1 9 14. - U. von Wilamowitz-Moellendorff, Platon. Sein Leben und seine Werke, 2 vols., 1 920; 3ª ed., 1 929; 5ª ed., 1 959 [com post-scriptum de B. Snell] . - A. M. Taylor, Plato: The Man and His Work, 1 927 (!d., o impor tante A Commentary on Plato 's Timaeus, 1 928). - P. Friedlãnder, Platon, 2 vols., 1 928- 1 930; 2ª ed., 3 vols. (!, 1 954; II, 1 957; III, 1 960); 3ª ed., 1 975. - J. Stenzel, Platon, der Erzieher, 1 928 (do mesmo autor, as obras sobre conceitos platônicos mencionadas nos verbetes DIALÉTICA e NúMERO). - H. Leisegang, Die Platon-Deu tung der Gegenwart, 1 929. - L. Stefanini, Platone, 2 vols., 1 932- 1 935; 2ª ed., 2 vols., 1 949. - E. Grassi, II problema dei/a metafisica platonica, 1 932. - H. Gaus, Plato 's Conception ofPhilosophy, 1 93 7. - R. Schaerer, La question platonicienne. Étude sur les rapports de la pensée et de l 'expression dans les dialogues, 1 938 (que deve ser incluído também na série sobre a questão da cronologia). - M. F. Sciacca, La metafisica di Platone: !. IIproblema cosmologico, 1 938. - R. Demos, The Phi losophy ofPlato, 1 939. - A. D. Winspear, The Genesis of Plato 's Thought, 1 940; 2ª ed., rev., 1 956. - R. Ro binson, Plato 's Earlier Dialectic, 1 94 1 ; 2ª ed., rev. e amp., 1 953. - F. Solmsen, Plato 's Theology, 1 942. - R.
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Schaerer, Dieu, l 'homme et la vie d 'apres Platon, 1 944. - H. Perl, Platon: sa conception du cosmos, 2 vols., 1 945. - J. Bidez, Eos ou Platon et l 'Orient, 1 945. A. Koyré, Introdliction à la lecture de Platon, 1 945. J. Wild, Plato 's Theory of Man, 1 946. - M. Heideg ger, Platons Lehre von der Wahrheit, 1 947. - K. Schel ling, Platon. Einfiihrung in seine Philosophie, 1 948. - G. C. Field, The Philosophy ofPlato, 1 949. - !d., Platon and His Contemporaries, 1 953. - P. Kucharski, Les chemins du savoir dans les derniers dialogues de Platon, 1 949. - E. Hoffinann, Platon, 1 950. - G. Méautis, Plat9n vivant, 1 950. - W. D. Ross, Plato 's Theory of Ideas, 1 95 1 . - P. M. Schuhl, L'oeuvre de Platon, 1 954; 3ª ed., 1 962. - C. R. Lodge, The Philoso phy ofPlato, 1 956. - A. Tovar, Un libro sobre Platón, 1 956. - M. Vanhoutte, La méthode ontologique de P., 1 956. - L. Robin, Les rapports de l 'être et de la con naissance d 'apres P., 1 957. - R. E. Cushman, Thera peia: Plato 's Conception ofPhilosophy, 1 958. - P.-M. Schuhl, Études platoniciennes, 1 960. - G. R. Morrow, Plato 's Cretan City. A Historical Interpretation of the Laws, 1 960. - M. Stockhammer, Platons Weltanschau ung, 1 962. - W. G. Runcimann, Plato 's Later Episte mology, 1 962. - J. M. Crombie, An Examination of Plato 's Doctrines, 2 vols., 1 962- 1 963. - J. A. Nuíi.o, El pensamiento de Platón, 1 963 . - G. E. Mueller, Plato: Thefonder ofPhilosophy as Dialectic, 1 965. - R. Mar ten, Der Logos der Dialektik. Eine Theorie zu Platons Sophistes, 1 965. - J. E. Raven, Plato 's Thought in the Making: A Study in the Development ofHis Metaphy sics, 1 965. - G. Ryle, Plato 's Progress, 1 966. - H. Gundert, Der platonische Dialog, 1 968. - !d., Dialog und Dialektik. Zur Struktur des platonischen Dialogs, 1 97 1 . - J. H. Randall, Jr., Plato: Dramatist ofthe Life of Reason, 1 969. - G. Martin, Platons Ideenlehre, 1 973. - G. Vlastos, Platonic Studies, 1 973; ed. aum., 1 98 1 . - !d., Plato 's Universe, 1 975. - L. Brisson, Le même et l 'autre dans la structure ontologique du Timée de Platon: Un commentaire systématique du Timée de Platon, 1 974. - A. G. Robledo, Platón: Los seis gran des temas de sua filosofia, 1 974. - J. O. Esteban, Pla tón: Eros, política y educación, 1 98 1 . - K. M. Sayre, Plato 's Late Ontology, 1 983. - E. Lledó, La memoria dei Logos, 1 984. - J. C. B. Gosling, P., 1 984. - G. Müller, Platonische Studien, 1 986. - P. Peíi.alver, Márgenes de P. La estructura dialéctica dei diálogo y la idea de exterioridad, 1 986. - E. Voegelin, Ordine e storie. La filosofia politica di Platone, 1 986. - D. J. Melling, Understanding Plato, 1 987. - J. M. Torrents, "Plato's Philosophy of Science and Trinitarian Theolo gy", em VV. AA., Studia Patristica, 1 989. - J. S. Co derch, Estudis sobre l 'ensenyament platónic. I, Figures i desplaçaments, 1 992. - A estas obras devem-se acres centar algumas que, embora não dedicadas inteiramen te a Platão, referem-se amplamente a sua vida e obra,
PLATONISMO
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assim, a Paideia, d e W. Jaeger (tomo II). - Ver tam bém a bibliografia de PLATONISMO. Sobre as chamadas "doutrinas não-escritas" de Pla tão: F. M . Comford, The Unwritten Philosophy and Other Essays, 1 950. - H. J. Kramer, Arete bei Platon und Aristoteles. Zum Wesen und Geschichte der plato nischen Ontologie, 1 959. - K. Gaiser, Platons unges chriebene Lehre. Studien zur systematischen und ges chichtlichen Begründung der Wissenschaften in derpla tonischen Schule, 1 963. K. Gaiser, H.-G. Gadamer et ai., Idee und Zahl. Studien zur platonischen Philoso phie, 1 968. - J. N. Findlay, Plato. The Written and Un written Doctrines, 1 973; versão abreviada em Plato and Platonism: An lntroduction, 1 978. - G. Reale, Para uma nova interpretação de Platão, 1 997. Obras: O tratado sobre a diferença entre as doutri nas de Aristóteles e de Platão, n ep\ wv 'AptOTOTÉÀTJS npos TIÀáTwva Õlaq>ÉpETm, composto em Florença, foi impresso em grego ( 1 54 1 ) e em latim ( 1 574). Este tratado foi completado pelo autor, ao transferir-se de Florença para Mistra, com três livros Nóµwv avyypaq>JÍ (Código das leis) nos quais dava os fim damentos de sua renovação religiosa do paganismo. O primeiro destes três livros era um TI ep\ eiµapµÉVT]S (Sobre o destino) ou compêndio dos princípios de Zoroastro e Platão; foi publicado em grego ( 1 722) e em latim ( 1 824). Seu Tiep\ á peTwv (Das virtudes) foi publicado em tradução latina em 1 552. Edição de obras em Migne, PG, CLX. Ver: W. Gass, Gennadius und Pletho, 1 844. - F. Schultze, G. G. Plethon, 1 87 1 . - J. W. Taylor, Plethon s Criticism ofPlato andAristotle, 1 92 1 . - F. Massai, Plé thon et /e platonisme de Mistra, 1 956. - C. M. Wood house, G. G. P.: The Last of the Hellenes, 1 986. e
PLOTINO (205-270). Nascido em Licópolis (Egito). Segundo conta seu discípulo e biógrafo Porfirio, foi levado à filosofia por Amônio Saccas, que ensinava em Alexandria e que teve como discípulos não só Ploti no, como também Herênio e Orígenes (o neoplatônico, não o cristão). Após onze anos de estudos na escola de Amônio, Plotino dirigiu-se à Síria e Pérsia com o exérci to do imperador Gordiano, mas quando este se retirou, Plotino se refugiou em Antioquia, de onde foi para Ro ma, por volta de 245 . Na capital do Império fundou sua própria escola, na qual ensinou quase até o fim da vida, escrevendo só em data muito tardia os cinqüenta e quatro tratados, recolhidos por Porfirio em seis Enéadas ou novenas, por conter nove tratados cada uma. Os dis cípulos imediatos de Plotino, além de Porfirio, foram, entre outros, Amélio da Etrúria, o médico alexandrino Eustóquio, que cuidou do mestre no momento de sua morte solitária, o poeta Zotico, o médico Zeto, de ori gem árabe, e alguns senadores, chegando sua influência até os próprios membros da Casa imperial. Tal confluên cia de discípulos dos lugares mais diversos, embora to dos eles das classes mais elevadas, era característica da filosofia deste período, no mesmo sentido em que o era o cosmopolitismo aristocrático do estoicismo imperial. Os ensinamentos de Plotino, por outro lado, não se de senvolveram sem as mais violentas controvérsias; à en tusiasta aceitação por parte de seus discípulos se justa punham as críticas e as queixas procedentes sobretudo dos platônicos de Atenas, que acusavam Plotino de ar bitrário e de plagiário e de imitar abertamente as doutri nas de Numênio de Apaméia, que alguns (por exemplo, K. S. Guthrie) consideram como o verdadeiro pai do neoplatonismo. Contra semelhantes acusações se defen-
PLOTINO deram seus discípulos, em particular Porfirio e não me nos Amélio, que redigiu um tratado Sobre a diferença entre o sistema de P/otino e o de Numênio. De tais lutas não esteve isenta a escola na própria Roma, e disso dá fé, entre outros fatos, a discussão entre o citado Amélio e Longino, que teve durante um tempo Amélio e Porfi rio como discípulos em sua própria escola. A filosofia de Plotino não fica, porém, esgotada com a indicação de que é o fundador do neoplatonismo (vER). A rigor, mais que a Plotino mesmo este nome convém a qualquer outra das tendências que floresceram contemporanea mente, não só porque a notória originalidade de Ploti no toma insuficiente tal denominação, mas porque mais que uma síntese e renovação do platonismo há em Plo tino uma síntese, uma renovação e uma recapitulação da história inteira da filosofia grega. Essa recapitula ção foi levada a cabo, desde logo, em forma tripla: com a especulação sobre o Uno, com a meditação sobre a participação e sobre as naturezas inteligíveis e sua rela ção com as sensíveis, e com o exame da idéia de ema nação. A unidade é para Plotino expressão da perfeição e da realidade: "todos os seres", diz ele, "tanto os pri meiros como aqueles que recebem tal nome, são seres só em virtude de sua unidade". A unidade do ser é seu último fundamento, o que constitui sua realidade verda deira e ao mesmo tempo o que pode fimdar as realidades que a ela se sobrepõem. Daí que todo ser diverso tenha como princípio e fundamento, como modelo ao qual aspira, uma unidade superior, de modo análogo a como o corpo tem sua unidade superior na alma. A unidade é, antes de tttdo, um princípio de perfeição e de realida de superior, senão a perfeição e a realidade mesma, pois o Uno não deve ser concebido exclusivamente co mo uma expressão numérica, mas como uma essência supremamente existente, como o divino princípio do ser. Ora, se o Uno é o princípio, não é a realidade única, muito embora seja o único que possa chamar-se com toda propriedade de real e absoluto. O Uno não é o único, porque funda justamente a diversidade, aquilo que dele emana como podem emanar do real a sombra e o reflexo, os seres cuja forma de existência não é a eterna permanência no alto, recolhendo em seu ser toda existência, mas a queda, a distensão da primitiva, per feita e originária tensão da suma realidade; pois o Uno vive, por assim dizer, em absoluta e completa tensão, recolhido sobre si mesmo e recolhendo com ele a rea lidade restante. O duplo movimento de processão e con versão, de desdobramento e recolhimento, é a conse qüência dessa posição de toda realidade desde o mo mento em que se apresenta a Unidade suprema e, no pólo oposto, o nada: a perfeição gera por sua própria natureza o semelhante, a cópia e o reflexo, que subsis tem graças a estarem voltados contemplativamente para seu modelo original. Só neste sentido pode-se dizer, portanto, que a suprema Unidade contém potencial-
PLOTINO mente o diverso, pois o Uno não é a unidade de todas as potências, mas a realidade que as contém a todas en quanto potências. O Uno é, pois, fundamento de todo ser, realidade absoluta e, ao mesmo tempo, absoluta perfeição. O diverso não está relacionado com o Uno do modo corno a forma aristotélica insufla sua realidade à matéria, porque o Uno é substância enquanto entidade que de nada necessita para existir, exceto ela mesma. O diverso nasce, por conseguinte, por causa de urna supe rabundância do Uno, corno a luz se derrama sem sacrifi cio de si mesma. Esta relação do Uno com o diverso é, propriamente falando, urna emanação (VER) na qual o emanado tende constantemente a manter-se igual a seu modelo, a identificar-se com ele, corno o mundo sensí vel tende a realizar em si mesmo os modelos originais e perfeitos das idéias. Do Uno, dessa suma unidade, trans bordante e indefinível, nasce por emanação a segunda hipóstase, o Inteligível. Este já não é a absoluta indife renciação que caracteriza o Uno, a unicidade absoluta anterior a todo ser, mas o Ser mesmo ou, corno diz Plo tino, a Inteligência (nous). A identificação do Ser inteli gível com a Inteligência é a identificação do ser com o pensar, a racionalização completa do ente. O Uno con templa o Inteligível que, por sua vez, é produto desta mesma contemplação. Por emanação do Inteligível sur ge a terceira hipóstase, a Alma do Mundo (vER) , divisão do Inteligível e princípio de formação do mundo sensí vel, que, portanto, é visão da alma, produto de sua con templação e realização de sua potencial variedade. A Alma anima e unifica todo ser; toma-o partícipe, na medida de sua faculdade, da liberdade que somente o Uno possui de um modo absoluto, pois unicamente o Uno é liberdade real e completa autarquia. Num grau inferior desta série de emanações se encontra a matéria sensível que, à diferença da matéria (vER) inteligível, pode ser equiparada com o indeterminado por princípio, com o receptáculo vazio, com a sombra e o não-ser. A pura ma téria sensível é, além disso, o mal (vER) , o reverso meta fisico da medalha em cujo anverso brilha eternamente o Uno perfeito e absolutamente bom. Perturbação da su ma Ordem, o mal ou a matéria inteiramente sensível são ao mesmo tempo os princípios da absoluta multiplicida de e dispersão. Isso não significa que todo o sensível seja por si mesmo absolutamente mau, embora inspirado pelo desejo de unidade e de recolhimento em si mesmo; o universo descrito por Plotino não produz, como se compraz em dizer o próprio filósofo, um som único. É urna harmonia regida pela unidade e pela aspiração a converter tudo nela, isto é, pelo desejo que tem toda rea lidade de ver-se e contemplar-se em cada unidade supe rior e, em último termo, na Unidade suprema. Por isso Plotino chega a "justificar" os males efetivamente exis tentes neste mundo na medida em que compõem a har mônica totalidade do universo. Só o mal absoluto e
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pretensamente autônomo fica fora de seu quadro, pre cisamente porque semelhante mal é um puro não-ser. A missão do filósofo não é, assim, tanto aniquilar o sensível quanto viver nele corno se estivesse continua mente orientado para o inteligível. O norte da vida do sábio é o "mais além" onde o Uno reina e irradia sua realidade sobre o resto do universo. A realidade corporal e daqui debaixo não fica propriamente supressa, mas transfigurada. Para consegui-lo em toda sua plenitude, o sábio tem de fugir de toda dispersão e evitar confundir o que não é mais que semi-real com a plena realidade. Assim como o tempo deve ser concebido corno recolhi do na eternidade (VER) , o corpo e o sensível devem ser contemplados como residindo no inteligível, atraídos por ele e modificados por ele. Deste modo, o sensível e o temporal, que por si mesmos são perturbações do bem e da ordem, podem manifestar-se corno belos e ordena dos. Mais ainda: o sensível poderá ser instrumento por meio do qual se alcance o inteligível e, com isso, essa fe licidade completa que só é dada ao sábio que sabe corno retirar-se e "onde" retirar-se. A própria razão discursiva não deve ser desdenhada: tem de ser habilmente utilizada, pois através dela pode-se chegar à intuição intelectual do que é (e é um), à contemplação pura e ao êxtase. Emanação das hipóstases, processão (VER) das mes mas e conversão no Uno são, portanto, os conceitos capitais da filosofia plotiniana. Sem eles é impossível compreender por que o sábio deve transcender sempre suas próprias limitações e em vez de recolher-se egoista rnente em si mesmo orientar-se para a ordem eterna do universo. Ora, a purificação (conseguida quase sempre pelo constante exercício da intuição intelectual) é para isso um elemento indispensável. Ao purificar-se, a alma ascende pela escada que conduz à unidade suprema: o ponto de vista do ser (do ser eterno e uno) acaba por predominar sobre todos os demais, sobre a desordem, a gênese, a dispersão e o tempo. Tudo o que não seja contemplação resulta, assim, urna debilitação dela, urna mera sombra. Imitadora dos deuses na terra, a alma do sábio (do sábio neoplatônico) consegue pela purificação e pela contemplação ser o que realmente é: o reflexo exato e fiel da razão universal. � Edição de obras: A primeira edição de Plotino foi a tradução latina de Marsilio Ficino (Florença, 1 492, reim pressa em 1 540 e 1 599). Em grego e latim apareceram as Enéadas em Basiléia ( 1 580 e 1 6 1 5). Edição grega com a tradução de Ficino por D. Wyttenbach, G. H. Mo ser e F. Creuzer (Oxford, 1 835) e por Creuzer e Moser (Paris, 1 855). Entre as edições mais recentes figuram a de Bréhier (7 vols., 1 924- 1 938), considerada hoje corno filologicamente pouco segura; as de V. Cilento (vol. 1. Enn. i-ii; vol. II, Parte 1 , Enn. i-iv, 1 949; vol. III, Parte 2, Enn. v-vi e com urna bibliografia por B. Marien, 1 949, e vol. III, Parte I, Enn. v-vi, 1 949) e G. Faggin (Enn. I, 1 947; II-III, 1 948; reed., 1 986), com texto e aparato
PLOTINO
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crítico muito melhorados. A edição definitiva é a de P. Henry e H.-R. Schwyzer, Opera, 1 [Porphyrii Vita Plo tini; Enn. 1-III], 1 95 1 ; II [Enn. IV-V], 1 959; III [Enn. , VI, Addenda ad 1-11, Índices], 1 973. Além da tradução de Bréhier, existem em francês traduções de M. N. Bouillet ( l 857- 1 86 1 , reimp., 1 968) e A. Alta ( 1 924- 1 926). Traduções alemãs de H. F. Müller ( 1 878- 1 880) e de R. Harder ( 1 930- 1 937), esta última estimada como de consulta indispensável. Há tradução inglesa de Mackenna. Em espanhol começou a publicar se uma tradução de D. García Bacca (1, 1 949), antecedida por um tomo à parte: Introducción general a las Eneadas, 1 948. Os comentários de García Bacca, acrescentados às notas de Bréhier a sua edição, às de Harder e aos comentários de Cilento e de G. Figgin (o qual, além disso, dedicou um tomo a Plotino, 1 945), constituem, com os trabalhos de P. Henry, C. Carbonara e E. R. Dodds (cf. infra), a melhor introdução ao estado presente das investigações plotinianas. Em português: Tratados das Enéadas, 2000. Bibliografia: P. Henry, "Bulletin critique des études plotiniennes'', Nouvelle Revue de Théologie, 59 ( 1 932), 707-925. -A. Mansion, "Travaux sur l 'oeuvre et la phi losophie de Plotin", Revue Néoscholastique de Philoso phie, 42 ( 1 939), 229-25 1 . - B. Marien, Bibliografia critica degli studi Plotiniani con rassegna delle !oro re censioni, 1 949. J. H. Sleeman, G. Pollet, Lexicon Plo tinianum, 1 980. Ver: C. H. Kirchner, Die Philosophie des Plotin, 1 854. - M. N. Bouillet, Les Ennéades de Plotin, 3 vols., 1 857. - E. Brenning, Die Lehre von Schonen hei Plotin, in Zusammenhange seines Systems dargestellt. Ein Bei trag zur Geschichte der Aesthetik, 1 864. - A. Richter, Neuplatonische Studien ( 1 . Über Leben und Geistesen twicklung des Plotin; 2. Plotins Lehre vom Sein und die metaphysische Grundlage seiner Philosophie; 3 . Die Theologie und Physik des Plotin; 4. Die Psychologie des Plotin; 5 . Die Ethik des Plotin), 1 864- 1 867. - H. F. Müller, Ethices Plotinis lineamenta, 1 867 (outros traba lhos do mesmo autor, especialmente em Philosophische Monatshefte). - A. Matinée, Platon et Plotin, 1 879. H. von Kleist, Plotinische Studien. 1. Studien zur 4 En neade, 1 833 (não foram publicados mais volumes) (ou tros trabalhos do mesmo autor sobre Plotino em várias revistas). - M. Besobrasof, Über Plotins G/ückselig keitslehre, 1 887. - L. Pisynos, Die Tugendlehre des Plo tins mit besonderer Berücksichtigung der Begriffe des Bo sen und der Katharsis, 1 895 (tese). - F. Picavet, Plotin et /es mysteres d 'É/eusis, 1 903. - K. Horst, Plotins Aes thetik. Vorstudien zu einer Neuuntersuchung, 1, 1 905. K. Alvermann, Die Lehre Plotins von der A llgegenwart des Gottlichen, 1 905 . - A. Drews, Plotin und der Un tergang der antiken We/tanschauung, 1 907. - H. A. Overstreet, The Dialectics of Plotinus, 1 909. - K. S. Guthrie, Plotinus: His Life, Times and Philosophy, -
1 909. - F. Lettich, Delia sensazione ai pensiero nella filosofia di Platino, 1 9 1 1 . - C. Dreas, Die Usia hei Plotin, 1 9 1 2 (tese). - B. A. G. Fuller, The Problem of Evil in Plotinus, 1 9 12. - H. F. Müller, "Plotinische Studien", Hermes, 48 ( 1 9 1 3 ), 408-425; 49 ( 1 9 1 4), 70-89; 5 1 ( 1 9 1 6), 97- 1 1 9. - W. R. lnge, The Philosophy ofPlotinus, 2 vols., 1 9 1 8; 3ª ed., 2 vols., 1 948. - M. Wundt, Plotin, 1 9 1 9. - F. Heinemann, Plotin, 1 92 1 . - Id., "Die Spie geltheorie der Materie ais Korrelat der Logos-Licht Theorie bei Plotin", Philologus, 80 [ 1 926], 1 - 1 7. G. Mehlis, Plotin, 1 924. - É. Bréhier, La philosophie de Plotin, 1 928; nova ed., 1 96 1 . - G. Nevei, Plotins Kate gorien der intelligibilen Welt, 1 929. - E. Bens, Der Wil lensbegriff von Plotin bis Augustin, 1 93 1 . - J. Guitton, Le temps et l 'éternité chez Plotin et Saint Augustin, 1 933. - É. Krakowski, Plotin et le paganisme religieux, 1 933. - K. Barion, Plotin und Augustin, 1 935. - P. Henry, Études Plotiniennes, 3 vols. : 1 ( 1 938; 2ª ed., 1 96 1 ), Les états du texte de Plotin; II ( 1 94 1 ; 2ª ed., 1 948), Les manuscrits des Énnéades; III, L'enseignement oral de Plotin sur les catégories d 'Aristote d 'apres Dexippe et Simplicius. - C. Carbonara, La filosofia di Plotino (!. II problema della materia e dei mondo sensibile, 1 938; II. II mondo delle cose umane e delle ipostasi eterne, 1 939). C. Becker, Plotin und das Problem der geisti gen Aneignung, 1 940. - A. H. Armstrong, The Archi tecture of the Intelligible Universe in the Philosophy ofPlotinus, 1 940. - Id., The Real Meaning ofPlotinus ' lntelligible World, 1 949. - P. J. Jensen, Plotin, 1 948. - J. Katz, Plotinus ' Search for the Good, 1 950. - M. de Gandillac; La sagesse de Plotin, 1 952. - P. V. Pisto rius, Plotinus and Neoplatonism, 1 952. - J. Trouillard, La procession plotinienne, 1 955. - Id., La purification plotinienne, 1 955. - W. Himmerich, Die Lehre des Plo tins von der Selbstverwirklichlung des Menschen, 1 959. - E. R. Dodds, W. Theiler, P. Henry et ai., Les sources de Plotin, 1 960. - C. Rutten, Les catégories du monde sensible dans les Énnéades de Plotin, 1 96 1 . - P. Hadot, Plotin ou la simplicité du regard, 1 963 ; reed., 1 989. R. Fewerda, La signification des images et des méta phores dans la pensée de Plotin, 1 965. - H. R. Schlet te, Das Eine und das Andere. Studien zur Problematik des Negativen in der Metaphysik Plotins, 1 966. - J. N. Deck, Nature, Contemplation, and the One: A Study in the Phi/osophy ofPlotinus, 1 967. - J. M. Rist, Plo tinus: The Road to Reality, 1 967. - B. Salmona, La libertà in Platino, 1 967. - N. Baladi, La pensée de Plo tin, 1 970. - H. J. Blumenthal, Plotinus ' Psychology: His Doctrines of the Embodied Sou!, 1 970. H. Bu chner, Plotins Moglichkeitslehre, 1 970. - J. Moreau, Plotin ou La gloire de la phi/osophie antique, 1 970. P.-J. About, Plotin, 1 973. - G. J. P. O'Daly, Plotinus ' Phi/osophy ofthe Self, 1 973. - D. J. O'Meara, Struc tures hiérarchiques dans la pensée de Plotin, 1 975. J. Theodorakopoulos, Plotins Metaphysik des Seins, -
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PLOUCQUET, GOTTFRIED 1 976. - F. Bousquet, L'esprit de Plotin. L'itinéraire de / 'âme vers Dieu, 1 976. - M.-1. S. C. de Prunes, La gene se du monde sensible dans la philosophie de Plotin, 1 979. - F. Romano, P. di T Filosofia e cultura nel III seco/o d. C., 1 979. - E. Moutsopoulos, Le probleme de / 'imagi naire chez Plotin, 1 980. -A. H. Armstrong, L'architecture de l 'univers intelligible dans la philosophie de Plotin. Une étude analytique et historique, 1 984. - J. C. Fraisse, L'intériorité sans retrait. Lecutres de Plotin, 1 985. W Beierwaltes, Denken des Einen, 1 985. - U. Bonanate, Orme ed enigmi nella filosofia di P., 1 985. - G. M. Gurtler, P.: The Experience of Unity, 1 988. - E. K. Emilsson, P. on Sense-Perception: A Philosophical Study, 1 988. - J. Alsina, E/ neoplatonismo, 1 989. - A. Cam pillo, La razón silenciosa: una lectura de las Enéadas de P., 1 990. - F. Schroeder, Form and Transformation: A Study in the Philosophy of Plotinus, 1 992. - N. J. Torchia, Plotinus. To/ma ', and the Descent ofBeing: An Exposition and Analysis, 1 993. C:
PLOUCQUET, GOTTFRIED ( 1 7 1 6- 1 790). Nascido em Stuttgart. Professor ( 1 750- 1 782) na Universidade de Tübingen, foi um dos discípulos de Wolff e um dos membros da chamada "escola de Leibniz-Wolff". Um dos problemas que mais o ocuparam foi o da composi ção das substâncias; depois de repelir a teoria mona dológica, considerou mais plausível um dualismo de tipo cartesiano, mas, com o fim de resolver as questões que este coloca, aproximou-se de algumas das posições já mantidas pelo ocasionalismo, e depois da doutrina do chamado influxo fisico. Suas idéias metafisicas culmi naram numa espécie de fenomenalismo idealista. Plouc quet se distinguiu no trabalho lógico no sentido da cha racteristica universa/is leibniziana e é considerado hoje como um dos precursores da lógica matemática, tentando construir um cálculo lógico baseado na intensão. Obras: Primaria monado/ogiae capita accesionibus quibusdam confirmata et ab obiectionibus fortioribus vindicata, 1 748. - Principia de substantiis et phaeno menis, 1 752. - Fundamenta philosophiae specu/ativae, 1 759; nova ed., 1 778; id., 1 782. - lnstitutiones philo sophiae theoreticae, 1 772 (ed. de 1 782 com o título: Ex positiones philosophiae theoreticae). - E/ementa philo sophiae contemplativae, 1 778. - Commentationes phi losophiae selectiores antea seorsim editae, nunc ab ipso auctore recognitae et passim emendatae, 1 7 8 1 . - Tra balhos lógicos em: Sammlung der Schriflen, welche den /ogischen Kalkiil des Herrn Prof Ploucquet betreffen, mit neuen Zusiitzen, ed. A. F. Bõck, 1 766 (incluindo: Me thodus tam demonstrandi directe omens syl/ogismorum species, quam vitaformae detengendi ope unius regulae, 1 763, e Methodus ca/cu/andi in /ogicis, praemissa commentatione de arte characteristica, 1 763). Ver: P. Bornstein, G. Ploucquets Erkenntnistheorie und Metaphysik, 1 898. - K. Aner, G. Ploucquets Leben
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und Lehren, 1 909. - Rülf, G. Ploucquet Urteilslehre, 1 922. - Para as contribuições de P. à lógica: C. 1. Le wis, A Survey of Symbolic Logic, 1 9 1 8, cap. ! . - A. Menne, ed. , "Ztir Logik von G. P.", em Akten des XIV Kongresses for Phi/osophie in Wien, III, 1 968. C:
PLURALIDADE DE FORMAS. Ver AGOSTINISMo; FoRMA. PLURALISMO. A doutrina segundo a qual há só uma realidade, ou só um tipo de realidade, é chamada "mo nismo". Toda doutrina segundo a qual há mais de uma realidade, ou mais de um tipo de realidade, pode ser chamada "pluralismo". Contudo, como há um nome de terminado para as doutrinas segundo as quais há dois tipos de realidade (ver DuALISMo) e até um para as dou trinas segundo as quais há três tipos de realidade ("tria lismo"), dá-se o nome de pluralismo a toda doutrina que afirma que há muitos, possivelmente infinitos, tipos de realidade. Assim como no caso do monismo e do dualismo, o que importa geralmente no pluralismo é mais o tipo de realidade que o número de realidades. No entanto, há casos em que se afirma que há um número considerável, ou talvez infinito, de realidades substan cialmente do mesmo tipo, e se indica que se trata de doutrinas pluralistas. Tal ocorre com o atomismo e com as teorias monadológicas. O pluralismo pode ser metafisico (ou ontológico) ou epistemológico. O pluralismo epistemológico é anti reducionista, enquanto o monismo costuma ser redu cionista (ver REDUÇÃO). É possível manter um monismo ontológico junto com um pluralismo epistemológico. Para tanto é preciso reconhecer que os tipos de realida de e, em todo caso, as linguagens mediante as quais se fala dos que se supõe ser tipos de realidade, não são redutíveis um ao outro, mas que, subjazendo à pluralida de de linguagens há um contínuo (VER) da realidade. Do ponto de vista metafisico (ou ontológico), falou se de diversas espécies de pluralismo: "monopluralis mo" (há uma pluralidade de realidades, ou de tipos de realidade, independentes na medida em que cada uma não necessita de outras, mas inter-relacionadas na medida em que cada uma se acha em interação com outras); "pluralismo absoluto" (não há nenhum elo ou interação entre realidades); "pluralismo harmônico" (cada realida de, ou tipo de realidade, é metafisicamente independente, mas há um princípio de harmonia que conjuga todas as realidades e todos os tipos de realidade entre si). Falou se também de "pluralismo atomista", de "pluralismo mo nadológico" etc., de acordo com o que se supõe ser os constituintes da realidade declarada "plural". A mais conhecida série de doutrinas filosóficas pluralistas é a que se desenvolveu entre os pré-socráti cos, especialmente na medida em que aspiraram a resol ver as dificuldades que levantavam, por um lado, Par mênides e, pelo outro, Heráclito. Tratamos dessas dou trinas no verbete PLURALISTAS.
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N a filosofia moderna e contemporânea s e desen volveram várias formas de pluralismo como reação con tra as tendências monistas do idealismo alemão e do ma terialismo de meados do século XIX. Muitos filósofos que trataram de evitar as conseqüências "deterministas" das doutrinas monistas, e que não aderiam tampouco ao idealismo de tipo fichtiano, elaboraram doutrinas plu ralistas. Exemplos de p!Uralismo são as doutrinas de Teichmüller, Lotze e Wundt (vER) . Em alguns casos, o pluralismo se confinava ao reino psíquico; em outros, estendia-se a toda a realidade, considerando-se que a afirmação da liberdade dos indivíduos humanos tinha de fundar-se num reino de entidades não internamente relacionadas. Renouvier elaborou sistematicamente uma doutrina pluralista de caráter monadológico na qual admitia princípios diversos de séries "livres" de fenô menos. O pluralismo esteve freqüentemente ligado ao personalismo (VER) , especialmente aos aspectos meta fisicos do personalismo. Como toda tendência a negar que haja relações internas leva ao pluralismo, é possível considerar como pluralistas doutrinas do tipo do atomis mo lógico (vER) . Um pluralismo explícito foi defendido por J. H. Boex-Borel (Le pluralisme. Essai sur la discontinuité et l 'hétérogénéité des phénoménes, 1 900; Les sciences et !e pluralisme, 1 922). Este autor rejeitou todo determi nismo e todo monismo e afirmou que a realidade se compõe de elementos heterogêneos e irredutíveis entre si. A ciência deve reconhecer essa pluralidade de reali dades e abster-se de praticar toda "assimilação" da rea lidade a um sistema conceituai determinado. A mais conhecida das doutrinas filosóficas pluralis tas contemporâneas é a de William James. O pluralismo de James se baseia na idéia de uma liberdade interna e constitui, por assim dizer, uma monadologia encaminha da à realização de uma síntese entre a continuidade e a descontinuidade. Por isso, mesmo admitindo "o caráter sublime do monismo noético", James acusa-o de engen drar insolúveis dificuldades: não dar conta da existência da consciência finita, originar o problema do mal, contra dizer o caráter da realidade como algo experimentado perceptivamente, inclinar-se ao fatalismo. O pluralismo, em contrapartida, supera, segundo William James, estas dificuldades e oferece certo número de vantagens: seu caráter mais "científico", sua maior concordância com as possibilidades expressivas morais e dramáticas da vida, seu apoio no mais insignificante fato que mostre al guma pluralidade. A eleição entre o pluralismo e o monis mo parece, apesar disso, ter de resolver-se num dilema, pois o monismo oferece, por outro lado, a vantagem de sua afinidade com certa fé religiosa e o valor emocional enraizado na concepção do mundo como um fato unitá rio; assim, decidir-se pelo pluralismo é para James, sobre tudo, a conseqüência de sua vontade de salvar a possi bilidade de que haja "novidade no mundo".
PLURALISTAS :> Além do livro de Boex-Borel citado no texto: P. Laner, Pluralismus oder Monismus, 1 905 . - W. James, A Plu ralistic Universe, 1 909. - J. Ward, The Realm ofEnds ofPluralism and Theism, 1 9 1 1 . - J. Wahl, Les philo sophes pluralistes d 'Angleterre et d 'A mérique, 1 920. - 8. P. Blood, Pluriverse: An Essay in the Philosophy of Pluralism, 1 920. - 8. Jakowenko, Vom Wesen des Pluralismus, 1 928. - H. A. Myers, Systematic Plura lism. A Study in Metaphysics, 1 96 1 . - A. Naess, The Pluralist and Possibilist Aspect of the Scientific Enter prise, 1 972. - H. F. Spinner, Pluralismus ais Erken ntnismodell, 1 974. - D. Nicholls, Three Varieties of Pluralism, 1 974. - P. A. Roth, Meaning and Method in the Social Sciences: A Case for Methodologica/ Plu ralism, 1 987. - E. Rooney, Seductive Reasoning: Plura lism as the Problematic ofContemporary Literary Theory, 1 989. - W. Sadurski, Moral Pluralism and Legal Neu trality, 1 990. - J. Kekes, The Morality of Pluralism, 1 993. - N. Rescher, Pluralism: Against the Demand for Consensus, 1 993. - Sobre o pluralismo na filosofia indiana, ver o t. IV ( 1 949) da History ofIndian Philoso phy, de Surendranath Dasgupta. C:
PLURALISTAS. Num sentido geral, dá-se o nome de "pluralistas" a todos os que defendem alguma forma de pluralismo ( vER) . Os pluralistas são sempre antimo nistas (ver MONISMO) e com freqüência antidualistas (ver DUALISMO) . Mais especificamente se dá o nome de "plu ralistas" a uma série de filósofos pré-socráticos (VER) , e em particular aos seguintes: Anaxágoras, Empédocles, Leucipo e Demócrito (vER) . Cada um desses filósofos sustentou doutrinas que seria improcedente reduzir sim plesmente ao pluralismo. No entanto, o pluralismo carac teriza também suas doutrinas na medida em que cada um deles afirma que há certo número de elementos ou subs tâncias que compõem a Natureza e que se combinam entre si de modos diversos: são as homeomerias (VER) de Anaxágoras, os quatro elementos (ou qualidades) de Empédocles, e os átomos de Leucipo e Demócrito. O pluralismo pré-socrático pode ser entendido como um modo de fazer frente ao problema da explica ção "do que há", levantado por Heráclito e Parmênides, especialmente por este último. Com efeito, dizer que "tudo se move" equivale a afirmar que o movimento (ou a mudança) é "o real", mas então não parece haver sujeito no qual a mudança seja inerente. Por outro lado, dizer que o ser é nada mais, e que o ser é uno, imutável, eterno, etc., é negar o movimento ou sustentar que é simplesmente questão de "opinião" e não de saber. Mas se se toma o "ser" de Parmênides e se admite a "mudan ça" de Heráclito, parece que o único que se pode fazer é o seguinte: dividir tal "ser" em certo número de "se res", substâncias ou elementos e sustentar que a mudan ça é mudança de uns elementos em outros, ou movimen to de uns elementos com respeito a outros, ou combina ções e recombinações de elementos. O caso mais claro
PLURIVALENTE é possivelmente o de Demócrito: cada átomo pode ser considerado como um "ser" (ou "esfera") parmenídeo, porquanto é sempre o que é e não outra coisa, mas os deslocamentos dos átomos sobre o fundo do espaço ("o vazio") tomam possível compreender o movimento local e as combinações com as quais se formam os di versos corpos. Uma vez resolvido o problema de como explicar a diversidade com base em "unidades", os pluralistas pré socráticos tiveram de explicar o que causa a diversidade. As soluções para tanto consistiram em indicar uma cau sa primária do movimento e da mudança: o Nous (VER) de Anaxágoras; a União e a Separação (Amor e Ódio) de Empédocles; a "Necessidade" (e "causalidade") de Leu cipo e Demócrito.
PLURIVALENTE. Ver POLIVALENTE. PLUTARCO de Queronéia (ca. 45- 1 25). Ele uniu à sua atividade literária uma considerável atividade política e inclinou-se decididamente, do ponto de vista filosófi co, para o platonismo, ao qual considerou num sentido religioso como a base racional das crenças mitológicas dos gregos. Tal coincidência Plutarco não encontrou nem nos estóicos nem nos epicuristas, contra os quais se voltou em várias ocasiões; as doutrinas de uns e outros eram para ele falsas interpretações da verdade religiosa e, o que é pior, uma confusão desta verdade com crenças que, embora pareçam muito próximas, se acham a uma distância infinita dela. A conversão dos deuses em for ças naturais, em heróis ou em mitos era para Plutarco a conseqüência de uma desconfiança que destrói, junto com a velha religião, a velha pátria e a antiga moral. Contudo, o combate contra os estóicos e os epicuristas não significa que eles deixaram de influir na obra de Plutarco, que é, antes, um conjunto eclético formado, certamente, em sua base principal pelo platonismo, mas acolhendo igualmente numerosos elementos estóicos, dos diferentes períodos da Academia e ainda do ceticis mo e, como não podia deixar de ser, do aristotelismo. Mas tudo isso se acha unido na raiz de uma crença re novada, de um restabelecimento das tradições que é ao mesmo tempo uma purificação, já que Plutarco se esfor çava antes de tudo por excluir dos deuses, e especial mente do deus supremo, do Bem que é causa dos bens, todo o sensível, tudo o que pudesse converter-se em causa do mais insignificante mal. :> As obras mais propriamente filosóficas de Plutarco (segundo a classificação de Überweg-Prãchter, 1) são: obras de exegese platônica como os TIÀaTc..:> V tKà ÇnTÍ]µaTa, Quaestiones platonicae, e o tratado Tiep\ Tiis ev T 1µaí� \jNXOYovíaç, De animae procreatione in Timaeo) ; obras polêmicas contra os estóicos e os epicu ristas (como o Tiep\ LTc..:> lKWV evavT1c.uµáTc.uv. De repugnantiis Stoicis; o nep\ TWV KOlVWV EWOlWV npos Tovs LTc..:> t KoÚç, De communibus notionibus adversus
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Stoicos; o ' ÜTJ ovôe Çfiv EOTlV Í]ÔÉc..:>S KaT' 'E TTÍKovpov, Ne suaviter quidem vivi posse secundum Epicurum; o Tipos Kc.uÀWTTJV, Adversus Coiotes; o Ei KaÀwç eipf]Tm TO ;\á0e �1woas. De latenter vivendo); obras várias (como o escrito Tiep\ Tov eµqimvoµÉvov npóoc.unov Tê;l KÚKÀc';l Tiis oeMivfis. Defacie in orbe lunae; o tratado Tiep\ ljNXfis. De anima; o Ei µépos TO TTa0T]TlKOV Ti'jç Õ:v0pwnov \jNXfiS n ÔÚvaµ1ç, Quod in animo humano affectibus subiectum parsne sit eius an facultas; o TióTepov \jNXfiS n owµaTOS ETTITVµ[a Ka\ ÀÚTTT], Ultrum animae an corporis sit libido et aegritudo ) ; os tratados éticos (como o ''OTt ÔlÔaKTov Íj ápeTÍj, Virtutem doceri posse; O TI ep\ Ti'jç Íj0tKfiS ápeTi'jç, De virtute morali; o Tiep\ ápeTJÍs Ka\ KaKías. De virtute et vitio; o Tiep\ ev0vµ[aç, De tranquilitate animi; o Ei avTápKT]S Ti KaK[a npos KOKOÔmµov[av, An vitiositas ad infelicitatem sufjicit; o TióTEpov Tà '
TiiS \jlVKfiS n Tà TOV owµaTOS ná0T] XEÍpov0a, Animime an corporis affectiones sint peiores; o Tiws
Õ:V TIS aio0otTO EOVTOV TTpOKÓTTTOV0oç en'ápeTiJ, De profectibus in virtute; o Tiep\ TÚXTJS. Defortuna; o Tiep\ àopynoías. De cohibendi im; o Tiep\ áooÀeaxías. De garrulitate; o Tiep\ noÀvnpayµooúvns. De cu riositate; o n ep\ Segundo J. Zürcher, Pólemon é o autor do Corpus platonicum tal como hoje é conhecido (ver PLATÃO, ad finem; cf. J. Zürcher, Das Corpus Academicum, 1 954). Ver: Th. Gomperz, "Die herkulanische Biographie des Polemon", Philosophische Aufsiitze, É. Zeller ge widnet, 1 887. C: POLIÁDICO. Na lógica quantificacional (ver QUAN
TIFICAÇÃO, QUANTIFICACIONAL, QUANTIFICADOR) elementar, ou lógica de predicados de primeira ordem - onde se quantificam apenas argumentos, mas não predicados -, temos casos nos quais só há um argumento, e casos em que há mais de um argumento. Os últimos podem ter dois, três, quatro, cinco, seis etc., argumentos e, em geral, n argumentos. Assim: Fx é um esquema lógico aberto (não quantificado). Se 'x' simboliza um indivíduo e 'F simboliza um predicado, 'Fx ' pode ser lido: Celina é invejosa.
É óbvio que, havendo só um argumento, 'x ', pode haver unicamente duas quantificações de 'Fx ': A x (Fx) V x (Fx)
POLISSILOGISMO
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ou seja, respectivamente: Para todos os x, x é F, Para alguns x, x é F, que podem ter como exemplos: Todos os soldados são covardes. Alguns soldados jogam voltarete. Em qualquer destes casos, temos um predicado chamado "monádico". A quantificação corresponden te é chamada "monádica". Por outro lado: Fxy é um esquema lógico aberto no qual aparecem duas letras-argumentos. Se 'x' e 'y' são nomes de indivíduos, e lemos 'x' como 'Rosinha' , 'y' como 'Teresa' e 'F ' co mo 'ama', temos: Rosinha ama Teresa. A quantificação de 'x ' e '.Y ' em 'F x y ' tem mais possibilidades ( quantificacionais) do que as oferecidas por 'x' em 'F x'. Com efeito, podemos escrever:
/\ x y (F x y) V x y (F x y) /\ x V y (F x y) V x /\ y (F x y) que cabe ler respectivamente como segue: Todos amam todos. Alguém ama alguém. Todos amam alguém. Alguém ama todos. Obviamente, 'Rosinha ama Teresa' é um exemplo de 'Alguém ama alguém' . Outro exemplo de 'Alguém ama alguém' é 'Os albaneses amam os turcos' . Em qualquer desses casos, temos um predicado diá dico, isto é, um predicado que afeta dois argumentos. A quantificação correspondente é chamada "diádica". Podem-se formar facilmente exemplos de predica dos triádicos e das correspondentes quantificações triá dicas partindo do esquema lógico aberto:
F x y z, onde, se os argumentos são nomes de indivíduos, e lemos 'x 'como 'um exemplar da Odisséia', '.Y ' como 'Ana' , 'z ' como 'Matilde' e 'F ' como 'entrega a', temos: Ana entrega um exemplar da Odisséia a Matilde. O número de quantificações possíveis vai crescendo ao aumentar-se o número de predicados. Na quantifica ção triádica há mais quantificações que na diádica, mas menos que na tetrádica. Os nomes 'tetrádico' , 'pentádico' e 'hexádico ' po dem ser aplicados aos correspondentes predicados, ou
número de predicados - quatro, cinco, seis, respecti vamente -, e quantificações. Para referir-se a um número maior que um podemos empregar já o termo 'poliádico' ou 'n-ádico' (onde n > 1 ), mas é usual falar de predicados monádicos e diádicos e empregar 'po liádicos' a partir de três.
POLIN, RAYMOND ( 1 9 1 0). Nascido em Briançon, foi professor na Universidade de Lille ( 1 945- 1 96 1 ) e na Sorbonne (a partir de 1 96 1 ), onde foi reitor de 1 976 a 1 98 1 . Em 1 980 foi eleito membro da "Académie des Sciences Morales et Politiques". Influenciado pela feno menologia, assim como pelos trabalhos éticos e axioló gicos de Moore e Perry, Polin desenvolveu uma teoria dos valores fundada em detalhadas descrições de atos valorativos e nas primeiras conclusões que se podem extrair de atos de redução fenomenológica destinados a despojar as valorações de toda classe de concepções e preconcepções. Isso o levou, por uma parte, a uma ati tude "neutra" diante de motivos e pressupostos de valo rações e, por outra parte, a sustentar que não há valores completamente objetivos, independentes dos atos valo rativos. A suposta objetividade dos valores equivaleria paradoxalmente à supressão das valorações como atos livres, já que não pode haver ato livre se consiste no reconhecimento de uma realidade prévia ao ato e talvez determinante do ato. Ora, a "irrealidade" ou "não-reali dade" dos valores torna possível justamente atos valora tivos consistentes em imaginações ou projeções. Os va lores são criados. Isso permite considerá-los como "subjetivos"; mas não se trata, segundo Polin, de uma mera operação com dados "internos". Os dados "inter nos" são tão dados quanto as pretensas objetividades. Os valores são criados no curso da ação livre como pos sibilidades. O fundamento das valorações é a ação, a qual deve ser entendida não como perseguir um fim determinado de antemão, mas como um conjunto de projeções, decisões e opções que comportam riscos e "erros". Valorar não é, por isso, conhecer, mas criar. Do ponto de vista de uma axiologia "subjetivista'', Polin se interessou pela teoria política, e em particular pelos pressupostos e implicações das doutrinas baseadas na idéia de contrato. :> Obras: La création des valeurs, 1 944; 2ª ed., 1 955. - La compréhension des valeurs, 1 945. - Du laid, du mal, dufaux, 1 948. - Philosophie et politique chez Tho mas Hobbes, 1 953. - La politique mora/e de John Lo cke, 1 960. - Le bonheur considéré comme l 'un des beaux-arts, 1 965. - Éthique et politique, 1 968. -L'obli gation politique, 1 97 1 . - La politique de la solitude. Es sai sur la philosophie politique de Jean-Jacques Rous seau, 1 97 1 . - La liberté de notre temps, 1 978. - Pour et contre !e libéralisme, 1 983 (a segunda parte é de seu filho C. Polin). - La Création des cultures, 1 993. Além das obras dos autores referidos no texto aos quais dedicamos verbetes especiais, ver: J. von Kries, Über den Begriffder objektiven Moglichkeit, 1 888. J. M. Verweyen, Phi/osophie des Moglichen. Grundzüge einer Erkenntniskritik, 1 9 1 3 . - S. Buchanan, Possibi lity, 1 927. - A. Faust, Der Moglichkeitsgedanke. Sys temgeschichtliche Untersuchungen, 2 vols., 1 93 1 - 1 932 (!. Antike Phi/osophie; II. Christliche Philosophie). VV. AA., Possibility, 1 934. - L. M. Bandeira de Mello, O real e o possível. Ontologia da possibilidade, 1 954. - N. Abbagnano, "Problemi di una filosofia dei pos sibile'', cap. V de Possibilità e libertà, 1 956. - J. 8. Cer dán, La posibilidad, 1 96 1 . - 1. Pape, Tradition und Transformation der Modalitiit, i: Moglichkeit, Unmogli chkeit, 1 966. - N. Rescher, A Theory ofPossibility: A Constructivistic and Conceptualistic Account ofPossi ble Individuais and Possible Worlds, 1 976. - G. Les noff-Caravaglia, Education as Existencial Possibility, 1 972. - D. Weissman, Eternal Possibilities: A Neutral Ground for Meaning and Existence, 1 977. - D. M. Armstrong, A Combinatorial Theory of Possibility, 1 989. - G. Forbes, Languages of Possibility, 1 989. Sobre a noção de possibilidade em vários autorés, épocas ou correntes: N. Hartmann, "Der Megarische
2332
und der Aristotelische Mõglichkeitsbegriff'', em Sit zungsberichte der Wissenschaften. Phil.-hist. Klasse, 1 937, reimp. em Kleinere Schriften, vol. II, 1 957, pp. 85- 1 00. - H. Buchner, Plotins Moglichkeitslehre, 1 970. - P. M. Schuhl, Le dominateur et les possibles, 1 960. - J. Stallmach, Dynamis und Energeia, 1 960. - G. Funke, Der Moglichkeitsbegriffin Leibnizens Sys tem, 1 93 8 . - C. Gademann, Zur Theorie der Moglich keit bei G. W Leibniz, 1 930. - H. Beck, Moglichkeit und Notwendigkeit. Eine Entfaltung der ontologischen Modalitiitslehre im Ausgang von Nico/ai Hartmann, 196 1 . - W. Müller-Lauter, Moglichkeit und Wirklich keit bei Martin Heidegger, 1 960. - A. Dentone, La "possibilità " in N Abbagnano, 1 97 1 . - U. Wolf, Mo glichkeit und Notwendigkeit bei Aristoteles und heute, 1 979. - S. Waterlow, Passage and Possibility: A Study ofAristotle s Modal Concepts, 1 982. - R. T. Knowles, Human Development and Human Possibility: Erikson in the Light of Heidegger, 1 986. �
POSSIDÓNIO de Apaméia (Síria) (ca. 1 50-35 a.C.). Foi discípulo de Panécio e mestre, em Rodes (onde fim dou o que se chamou às vezes de "Escola estóica de Rodes"), de Cícero e de Pompeu. Junto com Panécio, foi um dos grandes representantes do chamado estoicis mo médio (ver Esró1cos). A característica principal do pensamento e da obra de Possidônio é, segundo K. Rei nhardt, a universalidade. E isso em dois sentidos: pri meiro, por sentir-se já um "cidadão do mundo", segun do, pelas tendências sincretistas e enciclopédicas que se manifestam continuamente em suas opiniões. As ten dências sincretistas se revelam em sua mescla das dou trinas estóicas com as platônicas e as aristotélicas, a tal ponto que, a este respeito, Possidônio antecipou algu mas das formas do sincretismo neoplatônico. Junto com isso, Possidônio aproveitou vários elementos capitais da doutrina de Heráclito, especialmente nas explicações cosmológicas. Com efeito, Possidônio concebeu a reali dade como uma oposição harmônica de contrários que se acha em evolução contínua de acordo com o duplo caminho ascendente e descendente. Por isso, como He ráclito, Possidônio exemplificou no elemento do fogo o caráter ao mesmo tempo dinâmico e constante do processo cósmico. Isso não significa que Possidônio concebesse que todo o real é como um fogo imenso que se dilata e concentra; a realidade se acha organiza da, segundo ele, numa série de graus que vão desde o material até o divino e que encontram no homem ao mesmo tempo o elemento intermediário entre os citados extremos graus e o compêndio de todos os mundos (o homem é, pois, para Possidônio, um microcosmo, isto é, um reflexo do macrocosmo [VER]). Esta tendência à integração do diverso e à harmonia dos contrários não se limitou, contudo, à cosmologia. Em sua doutrina das atividades psicológicas, Possidônio empregou conceitos platônicos e aristotélicos para mostrar que a alma se
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divide e m partes e e m faculdades. Isso não significa que a alma mesma possa ser realmente cindida, a alma é, para Possidônio, uma radical unidade. Tanto é que, ao contrastá-la com o corpo, o filósofo tendeu a um forte dualismo de estilo platônico, dualismo que o levou se é que não constituiu seu fundamento - à afirmação da preexistência e imortalidade das almas separadas. Com isso se confirma, ademais, o espírito religioso ou, se se preferir, cósmico-religioso - da especulação de Possidônio, espírito que explica não somente sua insistência na Providência divina que rege o universo, mas também a afirmação de que o homem, a realidade mais próxima de Deus, pode usar, ainda que com mo deração, dos poderes divinatórios com o fim de conhe cer e propiciar-se a vontade divina. Devemos a Possidônio muitas pesquisas sobre di versas ciências, tanto naturais quanto morais. De fato, não parece haver esfera do saber - astronomia, geogra fia, matemática, retórica, história etc. - na qual ele não imprimisse sua marca. Contudo, de seus escritos hoje não nos restam mais do que fragmentos. A in fluência do filósofo foi considerável. Entre os escritores romanos em quem ela é mais perceptível figura Cícero, que discutiu extensamente as idéias de Possidônio em De natura deorum e em De divinatione. As opiniões re ligiosas e éticas de Possidônio influíram inclusive sobre o neoplatonismo e sobre a patrística. � Ver: F. Schülen, Studien zu Poseidonios, 1 886. Id., Untersuchungen über des Poseidonius Schrift TI ep\ 'f.!Keavov, 1 902. - E. Martini, Quaestiones Posido nianae, 1 895. - M. Arnold, Quaestiones Posidonianae, 1 903. - G. Altmann, De Posidonio Rimae Platonis com mentatore, 1 906. - W. Gerhãuser, Der Protreptikos des Poseidonios, 1 9 1 2 . - G. Rudberg, Forschungen zu Po seidonios, 1 9 1 8. - K. Reinhardt, Poseidonios, 1 92 1 . - !d., Kosmos und Sympathie. Neue Untersuchungen über Poseidonios, 1 926. - !d., Poseidonios über Urs prung und Entartung, 1 928 ( Orient und Antike, Heft 6). - !d., Poseidonios von Apameia, der Rhodier genannt, 1 957. - J. Heinemann, Poseidonios ' metaphysische Schriften, 2 vols., 1 92 1 - 1 928. - P. Schubert, Die Escha tologie des Poseidonios, 1 927. - W. Theiler, "Die Vorbe reitung des Neuplatonismus", Problemata, 1 ( 1 930). Georg Pfligersdorffer, Studien zu Poseidonios, 1 959. - Marie Laffranque, Poseidonios d 'Apamée: Essai de mise au point, 1 964. - M. Untersteiner, Poseidonio nei placita di Platone, secando Diogene Laerzio, III, 1 970. - 1. G. Kidd, "Posidonius on Emotions", em A. A. Long, ed., Problems in Stoicism, 1 97 1 , pp. 200-2 1 5 . - M. Dragona-Manachou, "Posidonius' Hierarchy be tween God, Fate, and Nature and Cicero's De Divina tione", Philosophia, 4 ( 1 974) , 286-305. - K. Schmidt, Kosmologische Aspekte im Geschichtwerk des Poseido nios, 1 980. - J. Malitz, Die Historien des Poseidonios,
1 983. e:
POST HOC, ERGO PROPTER HOC POST, EMIL L. ( 1 897- 1 954). Nascido em Augusto wom (Polônia), mudou-se muito jovem para os Estados Unidos, estudando nas universidades de Princeton e Columbia. Ensinou matemática no City College ofNew York. A Post se devem importantes contribuições na ló gica e na fundamentação da matemática. Mencionamos a respeito: sua demonstração de que o cálculo de propo sições, na versão do mesmo dada nos Principia Mathe matica, de Whitehead-Russell, é consistente, completo e decidível; seu estudo das matrizes bivalentes (ver TABE LAS DE VERDADE); sua elaboração da idéia de completude (ver CoMPLEm) , formulada com um rigor que permite sua aplicação somente ao cálculo proposicional bivalente; sua elaboração de uma lógica infinitamente polivalente (VER), seus estudos de sistemas relacionais (ou as "álge bras de Post") e, em geral, seus estudos sobre a solubili dade e a insolubilidade recursivas. � Escritos principais : "The Generalized Gamma Functions", Annals of Mathematics, 20 ( 1 9 1 9), 2022 1 7. - "Introduction to a General Theory of Elemen tary Propositions", American Journal ofMathematics, 43 ( 1 92 1 ) , 1 65- 1 85 . - "Finite Combinatory Processes. Formulation l ", Journal of Symbolic Logic, 1 ( 1 936), 1 03 - 1 05. - The Two Valued Iterative Systems ofMathe matical Logic, 1 94 1 . - "Formal Reductions ofthe Ge neral Combinatorial Decision Problem", Am. Journ. of Math. , 65 ( 1 943), 1 97-2 1 5 . - "Recursively Enumera ble Sets of Positive Integers and Their Decision Pro blems", Bulletin oftheAmerican Mathematical Society, 50 ( 1 944), 284-3 1 6. - "A Variant ofa Recursively Un solvable Problem", ibid. , 52 ( 1 946), 264-268. - "Note on a Conjecture of Skolem", Journ. Symb. Log. , 1 1 ( 1 946), 73-74. - "Recursive Unsolvability of a Pro blem of True", ibid. , 1 2 ( 1 947), 1 - 1 1 . - "Degrees of Recursive Unsolvability. Preliminary Report", Buli. Am. Math. Soe. , 54 ( 1 948), 64 1 -642. - Póstumo: "The Mo dem Paradoxes", ed. H. Grattan-Guinness, History and Philosophy of Logic, 1 1 ( 1 ) ( 1 990), 85-9 1 . C: POST HOC, ERGO PROPTER HOC. Em Sofisma (VER) nos referimos a vários dos chamados "sofismas extralingüísticos", ou falácias que não se devem sim plesmente à "dicção", tratados por Aristóteles em vários escritos, e especialmente no intitulado Sobre as refuta ções sofisticas ou Sobre os argumentos sofisticas (TI ep\ aoqi10T1Kwv eÀÉyKwv, De sophistis elenchis). Um des ses sofismas é o chamado post hoc, ergo propter hoc. O sofisma chamado non causa, pro causa indica que se confunde algo que não é causa com uma causa e pode ser traduzido como "não é causa, mas é tratado como causa". O post hoc, ergo propter hoc é a forma mais comum da mencionada confusão, já que relaciona o post (depois de) com o propter (por causa de). Um exemplo dado por Aristóteles é: "A alma e a vida não são a mesma coisa. Pois se a geração é contrária à cor rupção, uma forma particular de geração será contrária
POSTO a uma forma particular de corrupção. Mas a morte é uma forma particular de corrupção, e a morte é con trária à vida. Por conseguinte, a vida é uma geração. E como isso é impossível, alma e vida não são a mesma coisa". Podemos tomar outros exemplos; o comum em todos eles será que se A é um antecedente temporal de B, então se considerará que A é a causa de B. Mas A pode preceder a B sem ser causa de B. Analogamente, se B segue temporalmente a A, se considerará A como causa de B. Mas B pode seguir temporalmente a A sem que seja causado por A. Negar que post hoc, ergo propter hoc constitua um sofisma equivale a sustentar que toda relação temporal de antecedente a conseqüente é uma relação causal (de causa a efeito). Um racionalismo e determinismo con seqüentes poderiam negar que post hoc, ergo propter hoc seja um sofisma, mas deveriam ao mesmo tempo sustentar uma noção de causa (VER) na qual houvesse assimetria de A e B e em que não houvesse nenhuma causação simultânea e nenhuma causação retardada. Ver PROPTER HOC, ERGO POST HOC. :> Ver: J. Woods e D. Walton, "Post Hoc, Ergo Propter Hoc", Review ofMetaphysics, 30 ( 1 977), 569-593. e
POSTO. Ver DAoo; PôR, ros1çÃo. POSTULADO. Aristóteles considerava os postulados como proposições não universalmente admitidas, isto é, não evidentes por si mesmas. Com isso os postulados .se distinguem dos axiomas, mas também de certas pro posições que se tomam como base de uma demonstra ção, mas que não têm um alcance "universal". Nos Ele mentos de Euclides a noção do postulado recebeu uma formulação que vigorou durante muitos séculos: o pos tulado é considerado neles como uma proposição de caráter fundamental para um sistema dedutivo que não é (como o axioma) evidente por si mesma e não pode (como o teorema) ser demonstrada. Exemplo de postu lado nessa obra é: "Postula-se que de qualquer ponto a qualquer ponto pode-se traçar uma linha reta". Outro exemplo é o famoso "postulado das paralelas" que du rante muito tempo se tentou, sem êxito, demonstrar e cuja não-admissão deu lugar às diversas geometrias não-euclidianas. O significado original de 'postulado' , ahriµ a , é ' petição' o u 'requerimento ' (do verbo ' aiTeiv', "requerer"). 'Postula-se', em grego, se expres sa por meio de '�TTÍcr8w, o que significa propriamente 'Que tenha sido requerido' (e não simplesmente 'Que seja requerido'). Muitas são as discussões havidas em tomo da noção de postulado. A maior parte dos autores considera hoje que não se pode manter a diferença clássica entre axio ma e postulado. O que se chama "axioma" pode tam bém ser chamado "postulado". Basta descartar a dúbia expressão 'evidente por si mesmo' e ater-se à posição de uma proposição dentro de um sistema dedutivo: "pos-
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tulados" o u "axiomas" são os nomes que recebem as proposições iniciais dentro do sistema. Pode-se distinguir, contudo, entre "postulado" e "axio ma" atendo-se ao grau de generalidade e aplicabilidade dos sistemas. Assim cabe chamar "postulados" às pro posições iniciais em determinada ciência ou ramo da ciência - por exemplo, postulados da tisica óptica e "axiomas" às proposições iniciais num sistema dedu tivo não-interpretado aplicável a várias ciências. O método de postulação - método postulativo ou método postulacional - é o usado quando se introdu zem num sistema novas expressões que servem de ter mos primitivos. Distingue-se o método de postulação do método de construção - método construtivo -, no qual as novas expressões introduzidas no sistema são definidas mediante termos previamente introduzi dos. Houve discussões sobre a chamada "técnica pos tulativa" ou "postulacional", por meio da qual se erigem os sistemas postulacionais (também chamados "axio máticos"). Segundo K. Britton (Mind, N. S. 50 [ 1 94 1 ], 1 69ss.), podem-se distinguir na lógica formal os ele mentos seguintes: a) Uma lógica fundamental ou funda cional, isto é, uma teoria da dedução que trata da deco dificação dos princípios básicos de inferência dedutiva comuns a toda argumentação; b) uma técnica postula cional (postulativa), e c) uma série de intentos para mos trar que os princípios da lógica fundamental geram os das matemáticas puras, ou que os últimos podem ser gerados por meio de processos iguais ou similares aos necessários para a primeira. Por sua vez, b) pode ser: 1 ) Invenção de cálculos para gerar linguagens com o fim de determinar os ramos da matemática ou da ciên cia, 2) invenção e comparação de cálculos que não têm nenhuma relação particular com nenhuma linguagem em seu uso empírico ou matemático.
POSTULADOS DA RAZÃO PRÁTICA. Na Crítica da razão pura, Kant indicava que se há leis práticas absolutamente necessárias, então é preciso admitir que se tais leis pressupõem a existência de um ser que seja a condição da possibilidade de seu poder obrigatório, a existência desse ser deve ser postulada (Kr V., A 634/B 662). Assim, a existência de Deus resulta ser um postu lado das leis práticas absolutamente necessárias, o que é diferente de - e também oposto a - sustentar que tais leis pressupõem a existência de Deus. Na Crítica da razão prática, Kant trata com detalhe do que chama "postulados da razão prática" ou "postulados da razão pura prática". Adverte, antes de tudo, que esses postula dos diferem dos da matemática pura. Estes têm certeza apodítica, enquanto aqueles consistem em postular um objeto, como Deus e a imortalidade da alma, com base em leis práticas apodíticas, mas só para o uso de uma ra zão prática. Não se trata em nenhum caso de uma certeza teórica (Kp V., ed. da Academia, V, 1 2). Kant define 'postulado da razão pura prática' do modo seguinte:
POTAMON
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"Uma proposição teórica, como tal, porém, não demons trável, mas que depende inseparavelmente de uma lei prática incondicionalmente válida" (ibid. , V, 1 22). A imortalidade da alma e de Deus são postulados da razão pura prática. Uma vontade determinável pela lei moral tem como objeto necessário "a realização (Be wirkung) do sumo bem''. "Em semelhante vontade, a adaptabilidade completa das intenções à lei moral é a condição suprema (oberste) do sumo (hochstes) bem. Portanto, esta adaptabilidade deve ser possível como seu objeto, já que se acha contida no mandato que re quer promovê-lo. Mas a complexa adaptabilidade da vontade é a santidade (uma perfeição da qual nenhum ser racional no mundo sensível é capaz em nenhum mo mento do tempo). Mas uma vez que é promovida como praticamente necessária, só pode achar sua completa adaptabilidade num progresso infinito. Segundo os prin cípios da razão prática, é necessário supor tal progres so prático como objeto real de nossa vontade" (ibid. , V, 1 22). O progresso em questão, afirma Kant, é possível só se se pressupõe uma existência e personalidade do mes mo ser racional que dure infinitamente (eternamente). Isso pressupõe a imortalidade da alma, e daí que esta seja um postulado da razão pura prática. Quanto a Deus, a lei moral nos leva a afirmar que o sumo bem requer uma felicidade (que é a "condição de um ser racional no mundo") ajustada a essa moralidade. Isso tem de suce der de um modo puramente desinteressado e em virtude de uma razão puramente imparcial. E "isso pode ser fei to na suposição da existência de uma causa ajustada a este efeito, isto é, deve postular a existência de Deus como pertencendo necessariamente à possibilidade do sumo bem" (op. cit. , V, 1 24). Os postulados da razão pura prática, escreve Kant, "procedem todos do princípio da moralidade, que não é um postulado, mas uma lei mediante a qual a razão imediatamente determina a vontade, vontade que ao mesmo tempo é determinada de tal modo que, enquanto vontade pura, exige essas condições necessárias para a obediência de seu preceito. Estes postulados não são dogmas teóricos, mas pressupostos de alcance necessa riamente prático, os quais, embora, a rigor, não ampliem o conhecimento especulativo, proporcionam às idéias da razão. especulativa em geral (por meio de sua relação com o prático) realidade objetiva, e a justificam de acor do com conceitos dos quais nem sequer se poderia de outro modo atrever-se a afirmar a possibilidade" (op. cit. , V, 1 33). Aos postulados já citados da imortalidade e da existência de Deus se acrescenta o da liberdade considerada positivamente, isto é, como a causalidade de um ser enquanto pertence ao mundo inteligível. O postulado de imortalidade deriva da exigência da dura ção adequada para o cumprimento perfeito da lei moral. O postulado da existência de Deus deriva da exigência de pressupor o sumo bem independente. O postulado da li-
herdade (positiva) deriva do pressuposto necessário de in dependência com respeito ao mundo sensível e da capa cidade de determinar a vontade pela do mundo inteligí vel. Isso constitui, a rigor, a própria lei da liberdade. Embora haja, como às vezes se afirmou, um "salto" da razão teórica para a prática em Kant, esse salto não é nunca grande o bastante para apagar a conclusão es tabelecida pela crítica da razão pura (teórica). Nosso conhecimento, sustenta Kant, se estende, em virtude da razão pura prática, a uma realidade que era transcenden te e inalcançável para a razão teórica. Mas essa extensão de nosso conhecimento não é nunca teórica; trata-se sempre só de um "ponto de vista prático''. Não é por serem postulados da razão pura prática que a natureza da alma, o mundo inteligível e Deus são conhecidos co mo são "em si mesmos''. Seus conceitos se uniram num conceito prático do bem mais alto como objeto de nossa vontade, e isso se fez de um modo inteiramente a priori por razão pura. Contudo, "se uniram só mediante a lei moral e só em relação com ela" (op. cit. , V, 1 33).
POSTULADOS DO PENSAMENTO EMPÍRICO. No verbete AXIOMAS DA INTUIÇÃO nos referimos à doutri na kantiana dos princípios do entendimento (ver tam bém KANT [IMMANUEL]). Os postulados do pensamento empírico em geral correspondem às categorias agrupa das sob o nome de "modalidade" (VER), que em alguns casos se duvidou que sejam autenticamente categorias. De acordo com as categorias de possibilidade (impossi bilidade), existência (não existência) e necessidade (con tingência), os postulados de referência rezam como se gue: " 1 ) O que concorda com as condições formais da experiência (quanto à intuição e aos conceitos) é possí vel. 2) O que está ligado às condições materiais da ex periência (quanto à sensação) é real. 3) O que em cone xão com o atual se acha determinado pelas condições universais da experiência é necessário, isto é, existe como necessário" (KrV, A 2 1 8/B 265-266). Esses postulados são simplesmente, afirma Kant, "explicações da possibilidade, da realidade e da necessi dade em seu uso empírico", devendo aplicar-se unica mente à experiência e à sua unidade sintética. A explicação dos postulados do pensamento empí rico em geral abre o caminho para entender por que, como diz Kant, "no mero conceito de uma coisa não se acha nenhum caráter de sua existência''. Os postulados não determinam o que é possível e o que é real, mas só como se deve entender algo como possível e como real. Abrem também o caminho para entender a oposição de Kant ao idealismo enquanto "idealismo materiaf', seja problemático, como o de Descartes, seja dogmáti co, como o de Berkeley.
POSTURA. Ver CATEGORIA. POTAMON de Alexandria. Viveu durante a época do imperador Augusto (63 a.C.- 14 d.C.); para o propósito
POTÊNCIA de inserção no Quadro cronológico no final desta obra, fixaremos como data: jl. ca. 40 a.C. Diógenes Laércio (Proêmio, 2 1 ) apresenta Potamon como introdutor de uma "escola eclética" (ver ECLETISMO), por ter efetuado uma seleção de opiniões de várias escolas. Segundo Dióge nes Laércio, Potamon escreveu um livro de Elementos, no qual oferecia dois critérios de verdade: o "princípio dominante" (hegemônico) da alma, TO nyeµov1KÓV, que forma o juízo, e o "instrumento" usado ou repre sentação evidente. Pótamon admite, sempre segundo Diógenes Laércio, quatro princípios: a matéria, a ação ou causa, a qualidade e o lugar. O fim de todos os atos é a vida perfeita em virtudes, vantagens naturais do corpo e meio indispensável para chegar ao fim. O Dicionário de Suidas contém um verbete sobre Potamon, com informação muito parecida à que oferece Diógenes Laércio. Às vezes se identificou o Potamon a que se refere Diógenes Laércio e Suidas com um su posto Potamon, mencionado por Porfirio em Vita Plot. , 9, 1 1 . Essa identificação é errônea, não só por razões cronológicas, mas também porque o nome correto em Porfirio é "Pólemon" e não "Potamon".
POTtNCIA. Parte do significado de 'potência' foi já ana
lisado ao considerarmos a noção de ato (VER). Recapitula remos, e completaremos, algumas das idéias apresentadas. A primeira apresentação detalhada da noção de po tência, Oúvaµ1ç, se deve a Aristóteles, que discutiu o problema em várias obras, mas especialmente no livro 8 da Metafisica, no mesmo lugar onde examinou o conceito de possibilidade (VER), em muitos aspectos re lacionado com o de potência, a tal ponto que com fre qüência 'possibilidade' e 'potência' são usados indistin tamente para traduzir ôúvaµ1ç. Como é freqüente em Aristóteles, acumulam-se os significados e os exem plos. Num sentido mais geral, as noções de potência e ato se aplicam não somente aos seres em movimento, mas também aos seres que não estão em movimento. Isso induziu alguns autores a supor que o conceito de potên cia é correlativo ao de matéria (vER), e o de ato ao de forma (VER). Contudo, Aristóteles tende a considerar que potência e ato são noções que se aplicam principal mente à compreensão da passagem de entidades menos formadas a entidades mais formadas, razão por que se sublinham em tais conceitos elementos "dinâmicos", à diferença do aspecto "estático" assumido pelas noções de matéria e forma. Mesmo assim, porém, são várias as significações de 'potência' . Sobretudo há duas. Segun do uma, a potência é o poder que tem uma coisa de produzir uma mudança em outra coisa. Segundo outra, a potência é a potencialidade residente numa coisa de passar a outro estado. Esta última significação é a que Aristóteles considera como a mais importante para sua metafisica. Para entendê-la claramente, as definições não bastam; é necessário recorrer aos exemplos e con tentar-se com "perceber a analogia". Alguns dos exem-
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pios mais destacados a respeito foram mencionados no verbete sobre a noção de ato. Deles se depreende que é perfeitamente legítimo usar (contrariamente ao que pensavam os megáricos) a noção de potência, pois do contrário não poderíamos dar conta do movimento en quanto passagem de uma coisa de um estado a outro es tado (ver DEVIR). Por exemplo, a proposição 'x cresce' é ininteligível se não aceitarmos que a proposição 'x possui a potência de crescer' possui sentido. Em geral, não podemos dizer, segundo Aristóteles, que 'x chega a ser y ' se não admitimos previamente que há em x algu mas das condições que vão tornar y possível. Isso não significa que baste supor uma potência para poder ex plicar sua atualização, como Aristóteles disse com fre qüência, o ato é logicamente anterior à potência. As potências são de muitas espécies: umas residem nos seres animados; outras, nos inanimados; umas são ra cionais; outras, irracionais. O único que têm em comum é esse constituir uma capacidade que pode ser atuada. Deste ponto de vista, pode-se dizer que o ser que possui a vista está em potência para ver, e que a cera está em potência de receber determinada figura. Ora, a distinção entre diver sos tipos de potência constituiu depois de Aristóteles um dos temas mais freqüentes de reflexão filosófica. Os escolásticos distinguiam entre dois tipos de po tência. O primeiro é a potência lógica, chamada também "potência objetiva"; é, a rigor, mera e simples possibili dade, pois pode ser definida como a mera não-repug nância de algo em face da existência. O segundo tipo de potência é a potência propriamente dita: a chamada "potência real", não baseada no mero quadro vazio da possibilidade ideal, mas na entidade real. Esta potência é chamada "subjetiva" (no sentido que tradicionalmente tinha este termo, diferente do que teve o vocábulo a par tir de Kant [ver OBJETO E OBJETIVO]). Sobre essa potência pode-se dizer que ela caracteriza a possibilidade de que algo possua realidades ou perfeições determinadas. A potência subjetiva poderia ser chamada, pois, também, de uma possibilidade real e ser tratada dentro do proble ma da possibilidade se não fosse porque foi justamente a redução do potencial ao possível o que conduziu mui tas vezes a tradição escolástica a acentuar excessiva mente o momento estático, sobretudo quando, como sustentam alguns escolásticos, o possível lógico pode ser também possível real em Deus. Assim, pode-se anunciar que, mesmo quando a potência subjetiva seja equiparável à possibilidade real, ela o é no sentido de que representa um princípio e não simplesmente uma condição. Por outro lado, a potência real pode ser ativa, quando se refere à operação pela qual o ato se realiza, ou passiva, quando se refere ao complemento do ser pelo qual ele é atuado. Enquanto a volição, por exemplo, é uma potência real ativa, a disposição de receber uma figura ou determinação é uma potência real passiva. Em todos os casos, porém, continua permanecendo co-
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mo caráter comum a toda a potência enquanto potência, dentro da direção central da escolástica, certa imperfei ção. "Certa imperfeição" não deve conduzir a identifi car a noção de potência com a de "receptáculo vazio", idêntico ao não-ser. A potência é sempre algo. Mas po de-se destacar nela ou o momento passivo ou o momen to ativo e operativo. O primeiro é próprio dos filósofos influenciados pelo aristotelismo; o segundo é corrente nos pensadores influenciados pelo neoplatonismo. Com efeito, a tradição neoplatônica sustentou a concepção da plenitude operativa da oúvaµtç. Por isso as potências podem ser inclusive hipostasiadas. A noção da potência superativa se acentua sobretudo quando se refere a um ser subsistente por si mesmo; o ser que vive de si e por si é aquele que possui também eminentemente as potên cias (e, portanto, também as atividades) que lhe permi tem ser o que é. A história da oscilação entre as diversas significações da noção de potência está ligada, portanto, à história da oscilação entre o sentido atual e o sentido operativo do ato (VER) . O sentido operativo e ativo ja mais foi inteiramente supresso, até nos instantes de maior aproximação da potência ao quadro vazio da pos sibilidade lógica, certo realismo da potência impediu a identificação racionalista. Mas o certo é que a oscilação existiu, e que num de seus extremos a noção de potência se afastou no grau máximo da noção de oúvaµtç como perfeição potente do ser, como o modo de manifestar a perfeição e a própria superabundância. Esta última concepção foi defendida por alguns dos Padres gregos. Deste ponto de vista, assinala Xavier Zubiri, as potên cias, pode-se dizer, mantinham inclusive uma metafisica ativista. Como são então "manifestações da essência porque são a plenitude ativa de seu ser, e os atos são ma nifestações da potência por idêntica razão; os atos não são senão a ratificação das potências, expansão ou efusão daquilo em que o ser consiste" ("El ser sobrena tural: Dios y la deificación en la teología paulina", em Naturaleza, Historia, Dias, 1 944, p. 492). Enquanto no pensamento inclinado à interpretação do ato como mera atualidade e da potência como sim ples possibilidade a mudança fica explicada pela exis tência do imperfeito, isto é, do que não chegou ainda a ser e tende a . sua própria perfeição, no pensamento orientado para a interpretação do ato como atividade e da potência como manifestação do ser superabundante, o movimento é factível em virtude de surgir da própria perfeição formal. No primeiro caso, o ser se define pelo "é"; no segundo, é preciso supor que o "é" expressa só uma das formas possíveis, e não certamente a mais real e completa, do ser. A discussão sobre o operativo e o não-operativo da potência foi reassumida ao longo de toda a filosofia moderna. Leibniz insistia continuamente, talvez por uma interpretação excessivamente unilateral da noção escolástica, em que esta tendia demasiado ao passivo.
POTÊNCIA Mais de uma vez, com efeito, ele assinalou que as po tentiae da escolástica são ficções. "As verdadeiras potências'', declara, "não são nunca simples possibilida des. Há sempre nelas tendência e ação". Mais ainda: "Podemos dizer", escreve nos Nouveaux Essais (II, xxi, 2 1 ), "que a potência (puissance) em geral é a possibili dade de mudança. Ora, como a mudança ou o ato desta possibilidade é ação num sujeito e paixão no outro, ha verá duas potências: uma ativa e a outra passiva. A ativa pode ser chamada faculdade, e talvez a passiva possa ser chamada capacidade ou receptividade. É certo que a potência ativa é às vezes entendida num sentido supe rior quando, por sobre a simples faculdade, há também uma tendência, nisus, e é assim que a tenho utilizado em minhas comparações dinâmicas. Poderíamos dar-lhe também, quando tem esse significado, o nome de força". Deve-se reconhecer, contudo, que já dentro da própria escolástica surgiram diversas tendências voltadas a trans formar a noção de potência na força propriamente dita em virtude de supor que "nenhuma substância é com pletamente passiva". Assim, para Duns Scot, tanto a forma quanto a matéria podem ser "potência". No pri meiro caso, temos a potência objetiva; no segundo, a potência subjetiva. Em muitos autores modernos a noção de "potência" foi tratada em estreita relação com noções freqüente mente afins, tais como as de "poder" e "capacidade". Não ficou sempre claro se com essas noções se enten deu algo "ativo" ou algo "passivo"; freqüentemente se passou de um sentido a outro. Jean-Luc Marion ("De la divinisation à la domination: Étude sur la sémantique de capable/capax chez Descartes", Revue philosophi que de Louvain, 73 [ 1 975], 263-293) destacou que a idéia de capable (capable de + infinitivo: "capaz de ..."), que tinha em Rabelais ainda o sentido "clássico" de um continente ou recipiente, adquire em Descartes freqüen temente o sentido moderno de um "poder suficiente", de uma "potência disposta à ação". Vimos que este sen tido já estava implícito nos termos Oúvaµtç e potentia, e por isso se pode dizer que se estende agora ao termo 'capacidade' . Potência, poder e capacidade são entendi dos cada vez mais em sentido "ativo". Isso ocorre tanto em autores racionalistas (como Leibniz, cf. supra) como empiristas. A noção de poder (power) de Locke a Ha milton envolve quase sempre a idéia de uma atividade. Os empiristas tenderam a descartar as implicações me tafisicas das idéias de poder e potência para atender aos significados psicológicos e epistemológicos, mas essa tendência·não foi constante. Locke e Hume reconhece ram que a "força" ou a "potência" pode ser dita, ou en tendida, de duas maneiras. Por um lado, é algo capaz de fazer (algo), isto é, capaz de levar a cabo uma ação. Por outro lado, algo capaz de receber uma mudança. No pri meiro caso, é um poder ativo. No segundo, um poder passivo (cf. Essay, II, xxi). Até aqui nada muito diferente
POTÊNCIA da crítica de Leibniz, exceto que este último tem mais presente o aspecto metafisico do problema. Mas Hume já termina por dissolver a noção de potência ao declarar que não possuímos nenhuma idéia própria dela. A força é uma relação que o espírito concebe entre uma coisa anterior e outra posterior. Mas nem a sensação nem a reflexão nos facilitam a idéia de poder no antecedente para produzir o conseqüente. Não há, pois, na metafisi ca, diz Hume, idéia mais obscura que as de poder, força ou energia. "Na realidade", diz ele, "não há nenhuma parte de matéria que nos descubra por suas qualidades sensíveis alguma força ou energia ou que nos dê funda mento para imaginar que poderia produzir algo ou ser seguida por algum outro objeto que nós mesmos podería mos denominar efeito" (Enquiry, VII, 1 ). Hume se opõe, assim, não só ao racionalismo clássico, mas também a Locke, que, como vimos, supunha derivável do fato a idéia da força. Em contrapartida, esta não é para Hume dedutível nem de nenhum fato externo ou interno, nem de nenhum raciocínio: "A conexão que sentimos no espírito", continua ele, "esta costumeira transição da imaginação de um objeto a seu acompanhante usual, é o sentimento ou impressão da qual formamos a idéia de força ou de conexão necessária". A crítica de Hume não podia ser aceita pelos que supunham que o espírito deve possuir alguma força. Berkeley já sustentara essa opinião. Mas também parti ciparam dela os filósofos da escola escocesa. Neles apa receu também a questão da potência sob o aspecto da noção de faculdade (vER) . Hamilton expressa claramen te a distinção já mencionada: o poder ativo é faculdade, o poder passivo é capacidade, e esta distinção corres ponde à mesma estabelecida antigamente entre a OÚVaµt') 1TOlT]TtK{], potentia activa, isto é, aquilo que pode fazer algo, e a OÚVaµt') na8T]TtK{], potentia pas siva, ou seja, aquilo ao qual pode se fazer algo ou no qual pode ocorrer ou suceder algo (Lect. Met. , X). Em alguns casos, nega-se à potência passiva o caráter de um poder, é o caso de Reid (Act. Pow. , ess. 1 , c. 3); em ou tros, por outro lado, se supõe que a passividade não elimina a potência, pelo menos enquanto possibilidade de ser atuada, seja extrínseca seja inclusive intrinseca mente. No primeiro caso, a potência não é ainda poder; no segundo é já um poder. Na medida, aliás, em que o espírito possua uma força, ele terá sempre uma potên cia, e esta potência se inclinará ou para o lado do possí vel ou para o lado do operativo. Por conseguinte, o mes mo problema clássico reaparece em todas estas elucu brações. Não é de surpreender, por outro lado, que na filosofia do idealismo, sobretudo na medida em que se guiu os antecedentes de Leibniz, se tendesse a sublinhar o aspecto metafisico-operativo da potência como verda deira força em todos os entes. Já Descartes insistira em que o pensamento possui potência ativa, e ainda po de, em última instância, ser reduzido a ela. A extensão,
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e m contrapartida, tem d e ser o absolutamente passivo. Leibniz estendeu a potencialidade a toda realidade como tal. O mesmo fez Kant, sobretudo na última fase de sua filosofia, quando o dinâmico prevaleceu defini tivamente sobre o matemático. Fichte seguiu este último caminho, explorando-o até o extremo. E a noção schel lingiana da Potenz não fez senão desembaraçá-lo de alguns obstáculos. À primeira vista, parece que a "po tência" de que fala Schelling nada tem a ver com a ques tão tradicional. No entanto, está em alguns aspectos vin culada à mesma. As Potenzen, define Schelling, são re lacionais determinadas entre o Objetivo e o Subjetivo, entre o Real e o Ideal. Por isso, assinala ele na Exposi ção de meu sistema defilosofia, "cada determinada po tência designa uma diferença quantitativa determinada de subjetividade e objetividade" ( WW, 1 , 4, 1 34). Ora, como o existente é sempre só a indiferença, e não existe nada fora dele, o Absoluto como identidade se acha só sob a forma das potências (ibid. , 1 35). Estas são absolu tamente simultâneas, e sua diferenciação em primeira potência (Natureza), segunda potência (luz) e terceira po tência (o organismo), assim como a subdivisão das potên cias, não desmente uma simultaneidade da potência no eterno. É certo que posteriormente Schelling pareceu insistir no "drama" das potências. Mas, em todo caso, estas são as verdadeiras forças metafisicas que, enquan to oúvaµe1s, constituem o ser no conjunto de suas ope rações. O idealismo volta, assim, continuamente ao operativismo da potência, e se afasta até um limite má ximo de sua concepção como mera possibilidade. Esta será, por outro lado, a tendência que reinará na maior parte das vertentes contemporâneas que utilizaram for malmente esta noção. A potência poderá ser racional ou irracional, assumir um ou outro caráter concreto: em todos os casos ficará como que adscrita indissoluvel mente à noção de uma "força". É o caso da filosofia de Whitehead (vER) . É o caso também de uma filosofia como a de Andrew Paul Ushenko, que assinala que a potência (power) é o verdadeiro invariante na contínua fluência do real. O "acontecimento" é a realização de possibilidades segundo um princípio unificante, que se ria justamente a potência, mas esta não é, como na dou trina tradicional, um princípio complementar, mas é uma realidade intuitiva e, ademais, empiricamente de monstrável por meio de induções realizadas sobre o ma terial oferecido à reflexão. Xavier Zubiri desenvolveu uma teoria das "potên cias" partindo do problema da realidade do passado na história humana. Diante da tese de que a realidade passa da, enquanto passado, não é real, e diante da tese de que é real e, portanto, não passou, Zubiri assinala que uma intelecção adequada do problema exige referir-se não só às realidades como também às possibilidades. Então o presente não será simplesmente "o que o homem faz, mas o que podefazer" ("Grecia y la pervivencia dei pa-
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sado filosófico", 1 942, e m op. cit. , p. 393). Mas, ao mes mo tempo, esta potência que é o poder fazer não será só o que o homem possui em sua natureza e desenvolvi mento, mas será dada também pelo modo de oferecer se as coisas, isto é, pela situação concreta em que se en contra o homem. Por isso, "o passado sobrevive sob for ma de possibilidade" (p. 406), e por isso a história en quanto produção de atos e das próprias possibilidades que condicionam sua realidade é um "fazer um poder" (p. 408). Deste modo, a potência não será a simples pos sibilidade vazia de fazer, tampouco a realidade do que se faz, mas algo que incluirá os dois termos sem sacri ficar nem o quadro das possibilidades nem a efetiva realização do que se dá como "poder fazer". :> Além dos textos citados no verbete, ver as obras seguintes sobre a noção de potência na filosofia anti ga e na escolástica: J. Souilhé, Étude sur /e terme /:!,. Y N A M I I dans /es dialogues de Platon, 1 9 1 9. - J. Stallmach, Dymamis und Energeia. Untersuchungen am Werk des Aristoteles zur Problemgeschichte von Mo glichkeit und Wirk/ichkeit, 1 959. - H. Carteron, La notion deforce dans /e systéme d 'Aristote, 1 923. - E. Berti, Genesi e sviluppo dei/a dottrina dei/a potenza e de//'atto in Aristotele, 1 958. - J. G. Torres, El concepto de potencia y sus diversas acepciones en Suárez, 1 957. - H. P. Kainz, "Active and Passive Potency " in Tho mistic Angelology, 1 972. - Ver também obras de A. Farges, L. Fuetscher, J. R. San Miguel e A. Smets na bibliografia de ATO E ATUALIDADE. Para a noção de potência em Schelling: J. Cohn, "Potenz und Existenz: eine Studie über Schellings letzte Philosophie", em Joels Festschrift, 1 934, pp. 44-69. - V. Jankélévitch, L'Odyssée de la conscience dans la derniére phi/osophie de Schelling, 1 93 3 . Para a teoria d e Ushenko: A. P. Ushenko, Power and Events: An Essay on Dynamics in Philosophy, 1 946. Sobre potência e energia: E. O'Connor, Potentiality and Energy, 1 939. Obras: Critique des conditions de l 'action, 2 vols., 1 909 (título comum de dois escritos: L'erreur mora/e établie par / 'histoire et l 'évolution des systémes e Principes de toute phi/osophie de l 'action ). - Philoso phie de la sensation, 3 vols., 1 928-1 934. - L'Esprit de la religion, 1 94 1 . - Traité de psychologie générale, 2 vols. em 3 tomos, 1 943- 1 946. - L'aventure de / 'esprit dans les espéces, 1 95 5 . - Póstumas: Lafonction per ceptive, 1 98 1 [curso de 1 94 1 ], introd. e notas por R. Guyot. - Le beau voyage. ltinéraire de Paris auxfron tiéres de Jérusa/em, 1 982 [introdução de A. Grappe e comentários de R. Guyot]. Ver: A. Grappe e R. Guyot, M. P. ou / 'épopée de la raison, 1 976. e
PRAEAMBULA FIDEI ou "preâmbulos da fé". Cha mam-se assim as verdades que o homem pode conhecer naturalmente antes das verdades reveladas por Deus. 'Antes' pode ter um sentido "cronológico" ou então um sentido "lógico" ou "gnosiológico". Geralmente, tem o sentido do que é cognoscível previamente ao conteúdo de uma verdade revelada. Tomás de Aquino (Contra Gent. , l, 4) indica que a verdade concernente a Deus, ainda que alcançável pela razão natural, não é toda ela objeto dessa ràzão, por isso é próprio que seja proposta ao homem como objeto de crença. Os praeambula são, portanto, certas evidências que conduzem à fé (ou pre param para a fé), isto é, o que se conhece por razão natural que leva ao sobrenatural ( cf. também S. theol. , Il-Ila, q. I, a 5). Embora as verdades de fé ou verdades sobrenaturais se achem por cima da razão, não é insen sato dar assentimento a elas (Contra Gent. , I, 6): as verdades de razão não se opõem às da fé (ibid. , l, 7). Às vezes se entendeu a expressão praeambula fidei erroneamente, como uma série de verdades de fé ou de crença que logo a razão procede, ou pode proceder, a justificar. Falou-se então de que certos pressupostos fun damentais são, ou são como, praeambulafidei. Atendo nos ao significado original da expressão de referência, se esta quer aplicar-se a outros conteúdos que aos da fé cristã de que falava Tomás de Aquino, será preciso en tendê-la como designando certas evidências racionais que conduzem a proposições não derivadas de tais evi dências, mas preparatórias para alcançá-las ou compreen dê-las. Tanto no sentido original como em qualquer outro dos sentidos aplicáveis a outros conteúdos, os "preâmbu los" podem funcionar ou como "preparações" ou então como 'justificações". Neste último caso se trata de uma espécie de "racionalização prévia".
PRAGMÁTICA PRAGMÁTICA. Vemos no verbete sobre semiótica que uma de suas dimensões é a chamada "pragmática". Esta consiste no estudo da relação existente entre os sig nos e os sujeitos que usam os signos. O que é um signo para o sujeito que o usa equivale à significação ( VER) deste signo; a pragmática é definida, portanto, primor dialmente, como o estudo das significações. A interpre tação dada a essas significações é objeto de muitas dis cussões; quase todas elas se centram em tomo da ques tão dos universais ( vER) . Charles Morris ( VER) definiu a pragmática como o estudo da "relação entre os signos e seus intérpretes" (Foundations of the Theory of Signs [ 1 9 3 8 ] , p. 6). Depois reconheceu que esta definição é insuficiente. Com a finalidade de eliminar certas ambigüidades ine rentes a ela, propôs a seguinte: "Pragmática é a parte da semiótica que trata da origem, usos e efeitos produ zidos pelos signos na conduta dentro da qual aparecem" (Signs, Language and Behavior [ 1 946], p. 2 1 9). Fica claro com isso que Morris sustentou uma concepção behaviorista da pragmática (o mesmo, aliás, para a se miótica inteira). Segundo Camap, os exemplos de pes quisas pragmáticas são: "Uma análise fisiológica dos processos que ocorrem nos órgãos da fala e nos centros nervosos relacionados com as atividades lingüísticas; uma análise psicológica das diversas conotações de uma e da mesma palavra para diferentes indivíduos; estudos etnológicos e sociológicos acerca dos hábitos lingüís ticos e suas diferenças em diferentes tribos, diferentes grupos distribuídos por idades e estratos sociais; estudo dos procedimentos aplicados pelos cientistas ao regis trar os resultados de experimentos, etc." (lntroduction to Semantics [ 1 942], p. 1 O). R. M. Martin coincide no essencial com Camap. No entanto, se ocupa da lingua gem natural, de modo que para ele só há uma "pragmá tica descritiva" e avalia que "os sistemas lingüísticos construídos com propósitos científicos dados são usa dos pelos cientistas como linguagens naturais e, portan to, se acham submetidos à análise pragmática" (Towards a Systematic Pragmatics [ 1 959], p. 3). Além disso, en quanto a pragmática de Carnap é completamente in tensional, a de Martin é inteiramente extensional. Se gundo Martin, há diferentes níveis de pragmática: 1) o estudo de certas relações entre a expressão de uma lin guagem e quem a usa (relações como aceitação, asser ção, formulação e, inclusive, crença); 2) o estudo que leva em conta as ações e a conduta de quem usa os sig nos como resposta a estímulos lingüísticos; 3) o estudo que leva em conta também várias características sociais da linguagem (op. cit. , p. 9). PRAGMÁTICO. O termo npayµaTtKÓS (pragma tikós) foi usado por Políbio para descrever seu próprio modo de escrever a história; a "história [historiografia] pragmática" se distingue nitidamente da "história [histo riografia] lendária". Com efeito, esta última trata de
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"lendas", isto é, de "genealogias'', enquanto a primeira trata de "fatos", npáyµaTa, o que quer dizer: "as coisas que os homens fizeram", "os assuntos humanos", "os negócios [e, sendo também 'assuntos', os ócios] huma nos". Como o homem vive numa sociedade na qual "se faz coisas", e na qual há "assuntos", "negócios", "ócios", etc., Políbio estima que a consideração pragmática da história é a única que pode ensinar aos homens como comportar-se, isto é, como comportar-se enquanto mem bros da comunidade ou do Estado. Em latim o termo pragmaticus foi usado também para referir-se a "assuntos humanos'', e especialmente a "assuntos políticos" (que abarcam, de fato, todos os "assuntos" do homem enquan to membro de uma comunidade). Uma vez que o "prag mático" se refere a "assuntos", a "fatos" - diríamos a "fatos contantes e sonantes" - e não a lendas, sonhos, desejos, imaginações, etc., o adjetivo 'pragmático' teve também o sentido de 'hábil', 'experimentado' . O homem pragmático é o que sabe como devem ser enfocados os assuntos e como se deve resolvê-los. Por isso se chamava também pragmaticus ao homem de leis, ao "advogado". O homem de leis não é um sonhador, é um homem "prag mático", isto é, "útil". Na época moderna, 'pragmático' foi usado por vá rios filósofos como característica de uma filosofia ou de um modo de pensar em que se empregava um méto do apto para entender a realidade. Assim, Andreas Rüdi ger intitulou uma de suas obras Philosophia pragmati ca methodo apodictica et quoad ejus licuit mathema tica conscripta ( 1 723; editio altera, 1 729). Kant usou várias vezes o termo 'pragmático ' . Por exemplo, cha mou "pragmático" o conhecimento que não era mera mente para a escola (blossfür die Schule), mas que era útil para a vida (jür das Leben brauchbar). Também chamou de "pragmático" tudo o que podia produzir "bem-estar" (Wohlfahrt). Empregou também 'pragmáti co' para referir-se à história (historiografia) num sentido semelhante ao de Políbio. Falou de "sanções pragmáti cas", que procedem de leis ditadas para promover o bem-estar da sociedade (a expressão 'sanção pragmáti ca' tem um sentido jurídico, derivado do pragmaticum rescriptum ou pragmaticum, do Imperador; daí a "Prag mática", lei emanada de uma autoridade como especifi cação de um decreto geral). Mais tecnicamente, Kant usou 'pragmático' em vários sentidos, todos eles de al gum modo relacionados entre si. Na Crítica da razão pura (A 823-24/B 85 1 /52) indicou que uma vez aceito um fim, as condições para alcançá-lo são hipoteticamente necessárias. Tal necessidade pode ser subjetivamente su ficiente (quando não se dá nenhuma outra condição den tro da qual se pode obter o fim proposto) ou absolutamen te suficiente (se sei com certeza que ninguém pode ter conhecimento de nenhuma outra condição que possa levar ao fim proposto). No primeiro caso há crença con tingente; no segundo, crença necessária. A crença contin-
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gente - que, d e todo modo, constitui o fundamento para o emprego efetivo dos meios com o fim de levar a cabo certos atos - é chamada por Kant de "crença pragmática". Na Fundamentação da Metafisica dos costumes, Kant diz que os imperativos hipotéticos se subdividem em problemáticos e assertóricos (ver IMPE RATIVO ) . Estes últimos são os imperativos de prudência ou "imperativos pragmáticos". Em A paz perpétua, ma nifesta que um princípio se chama "pragmático'', e não propriamente "moral", quando destinado a regular o uso de um meio para alcançar certo fim. Em outra ocasião, Kant falou de dois modos de considerar Deus: "pragmá tico-moralmente" e "técnico-praticamente"; aqui 'prag mático' se contrapõe a 'prático' enquanto modo de con siderar Deus por meio de ritos, orações, etc. A Antropo logia em sentido pragmático, de Kant, não considera o homem em geral, mas em certas condições dadas (por seus temperamentos, nacionalidades, etc.). A "estrutura pragmática" do homem é análoga aqui ao que Julián Marías (vER) chamou de "estrutura empírica da vida". Na filosofia atual, 'pragmático ' costuma ser usado em dois sentidos predominantes: 1 ) para caracterizar ou qualificar uma idéia dentro de uma forma qualquer de pragmatismo (VER); 2) para caracterizar qualquer dos predicados - 'é plausível ' , 'é pouco plausível ' , ' sa be-se que é verdadeiro ' , 'sabe-se que é falso ' etc. na chamada "pragmática" (VER) como ramo da semió tica (vER).
PRAGMATISMO. A distinção kantiana entre "consti tutivo" (ver CONSTITUIÇÃO E CONSTITUTIVO) e "regulativo" foi interpretada às vezes como uma possível origem da tendência chamada "pragmatismo". A influência de Kant sobre Peirce contribui para essa interpretação. Em todo caso, é possível destacar a função regulativa de certos conceitos - não só dos conceitos do entendi mento, ou categorias (ver CATEGORIA) - e, com isso, acentuar os aspectos pragmáticos, ou pragmatistas, da epistemologia kantiana. Alguns autores falam a esse respeito não só de Kant e Peirce, mas também de Kant e F. C. S. Schiller. Assim ocorre com Josiah Royce, segundo o qual o humanismo e o pragmatismo de Schil ler são formas do que chama de "idealismo empírico", representado, segundo Royce, por Kant. Se nosso co nhecimento está limitado aos fenômenos e, ao mesmo tempo, "a consciência" desempenha um papel ativo e "fundamentante", seja nas "formas" do conhecer, seja no que diz respeito a seus "interesses", haverá uma es treita relação entre epistemologia kantiana e o que de pois se chamou "pragmatismo" (cf. J. Royce, Lectures on Modern ldealism, 1 9 1 9). Independentemente de suas origens, dá-se o nome de "pragmatismo" a um movimento filosófico, ou grupo de correntes filosóficas, que se desenvolveram sobretu do nos Estados Unidos e na Inglaterra, mas que repercu tiram em outros países, ou se manifestaram indepen-
PRAGMATISMO dentemente em outros países com outros nomes. Assim, por exemplo, certos movimentos antiintelectualistas no século XX (Bergson, Blondel, Spengler, etc.) foram con siderados como pragmatistas ou pelo menos como par cialmente pragmatistas. Algumas opiniões de Simmel têm um ar "muito pragmatista''. Foram consideradas também pragmatistas certas tendências dentro do pensa mento de Nietzsche; por exemplo, suas idéias sobre "a utilidade e o dano da história para a vida" e sua concep ção da verdade como equivalente do que é útil para a espécie e a conservação da espécie. Contudo, convém reservar o nome 'pragmatismo' para caracterizar, ou identificar, as correntes filosóficas a que nos referimos no princípio, e sobretudo certas correntes filosóficas nos Estados Unidos e Inglaterra. Pode-se incluir, entre as tendências explicitamente prag matistas, o chamado "pragmatismo italiano", defendido por autores como Mario Calderoni ( 1 879- 1 9 1 4: II prag matismo [com Giovanni Vailati] , 1 920, ed. G. Papini. - Scritti, 2 vols., 1 924 [incompletos]), Giovanni Vailati (vER) e, em sua primeira época, o escritor Giovanni Pa pini ( 1 88 1 - 1 856), todos eles colaboradores da revista Leonardo ( 1 903 a 1 907), na qual também colaboraram Peirce - a quem principalmente seguiam os pragma tistas italianos -, James e Schiller. Mas o pragmatismo italiano (do qual se ocupa U go Spirito na obra citada na bibliografia) não teve nem a amplitude nem a influência do pragmatismo saxão, ou "anglo-americano". Segundo Edward H. Madden (op. cit. na bibliogra fia), o pragmatismo anglo-americano ou, mais especifi camente, norte-americano, foi antecipado ou prenuncia do por Chauncey Wright (VER), especialmente ao longo de sua crítica da filosofia de Spencer e com base numa epistemologia empirista e de uma ética utilitarista. Mas na época em que Wright desenvolvia doutrinas de cará ter pragmatista, começavam a manifestar-se opiniões semelhantes. A rigor, e para não destacar uma só figura, pode-se dizer que o pragmatismo norte-americano sur giu no seio do Metaphysical Club, de Boston ( 1 8721 874) , ao qual pertenciam, entre outros, Chauncey Wri ght, F. E. Abbott ( 1 836- 1 903), Peirce e James. Não se deve desdenhar nessas origens uma certa influência de A. Bain (vER), que definira já a crença como "aquilo sobre o qual o homem está preparado a agir"; definição da qual o pragmatismo, segundo Peirce, é um "coro lário" (cf. Peirce, "The Fixation of Belief", publicado em novembro de 1 877, antes do artigo no Popular Science Monthly, ao qual nos referimos infra). Aos ci tados pensadores convém acrescentar, também: John Fiske ( 1 842- 1 89 1 : Outlines ofCosmic Philosophy, 1 874. - Through Nature to God, 1 899) e Oliver Wendell Hol mes ( 1 809- 1 894). Os propósitos destes pensadores fo ram esclarecidos por Peirce, que formulou em seu arti go "How to Make Our Ideas Clear" (Popular Science Monthly, 1 2 [ 1 878], 286-302; em Collected Papers, 5 :
PRAGMATISMO 53 8-540), como resumo de que "toda a função do pen samento é produzir hábitos de ação" e de que "o que significa uma coisa é simplesmente os hábitos que ela envolve", a chamada "máxima pragmática" (pragmatic maxim: C. P. 5 : 402), que reza: "Concebemos o objeto de nossas concepções considerando os efeitos que po dem ser concebíveis como susceptíveis de alcance práti co. Assim, pois, nossa concepção destes efeitos equivale ao conjunto de nossa concepção do objeto". Contudo, Peirce propôs posteriormente o nome de "pragmaticis mo" (Pragmaticism) para sua doutrina com o fim de opô-la às deformações que, em seu entender, seguiram à mesma e em particular para diferenciá-la do pragma tismo de William James, que não é tanto uma deforma ção quanto uma transposição ao campo ético do que fora primitivamente pensado num sentido puramente científico-metodológico. Peirce distingue seu pragma tismo do pragmatismo defendido por James e por F. C. S. Schiller e, mais ainda, do pragmatismo que "começa a encontrar-se nos periódicos literários", indicando que há pelo menos certa vantagem na concepção original da doutrina que não se encontra nas acepções dos seguido res: a de que se relaciona mais facilmente com uma prova crítica de sua verdade. Pois o pragmatismo não é tanto uma doutrina que expressa conceitualmente o que o homem concreto deseja e postula - ao modo de F. C. S. Schiller -, quanto a expressão de uma teoria que per mite outorgar significação às únicas proposições que podem ter sentido. O chamado "pragmatismo anglo-americano" inclui não só F. C. S. Schiller, William James e Peirce, mas também John Dewey (VER) e George Herbert Mead (VER) . Em certas ocasiões, não se usou, ou se usou moderada mente, o termo 'pragmatismo' , falando-se de preferên cia de "instrumentalismo", "experimentalismo" e até "humanismo". Todas as tentativas de dar uma definição suficiente, ou ao menos adequada, de 'pragmatismo' fracassaram em virtude da multiplicidade de tendências amparadas sob este nome. Parece mais apropriado dis tinguir entre várias formas de pragmatismo ou, como fez Arthur O. Lovejoy, entre vários "pragmatismos". Segundo Lovejoy, embora a palavra 'pragmatismo' alu disse originalmente a uma teoria sobre o significado das proposições, sua ambigüidade logo se resolveu em duas tendências: a primeira afirma que "o significado de uma proposição consiste nas futuras conseqüências de expe riências que (direta ou indiretamente) prediz que vão ocorrer, sem que importe que isso seja ou não crido"; a segunda sustenta que "o significado de uma proposição consiste nas futuras conseqüências de crer nela". A pri meira destas acepções deu origem a uma forma de prag matismo que dizia respeito à natureza da verdade e afir mava que "a verdade de uma proposição é idêntica à ocorrência das séries de experiências que prediz e só se pode dizer que é conhecida quando se completam tais
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séries". Dessas acepções derivam treze formas de prag matismo que Lovejoy enumera logicamente do seguinte modo: "I. Teorias pragmatistas da significação. 1 ) O 'significado' de qualquer juízo consiste inteiramente nas futuras conseqüências por ele preditas, seja ou não crido. 2) O significado de qualquer juízo consiste nas futuras conseqüências de crê-lo. 1 3) O significado de qualquer idéia ou juízo consiste sempre, em parte, na apreensão da relação entre algum objeto e um propósi to consciente. II. Pragmatismo como teoria epistemolo gicamente não funcional referente à 'natureza ' da ver dade. 3) A verdade de um juízo 'consiste na' completa realização da experiência (ou série de experiências) a que anteriormente apontara o juízo; as proposições não são, mas chegam a ser verdadeiras. III. Teorias pragma tistas do critério da validade de umjuízo. 4) São verda deiras as proposições gerais que viram realizadas na experiência passada as predições implicadas, não ha vendo outro critério da verdade de um juízo. 5) São verdadeiras as proposições que mostraram no passado ser biologicamente úteis· a quem viveu por elas." 7) Toda apreensão da verdade é uma espécie de "satisfa ção", pois o verdadeiro juízo corresponde a alguma necessidade, sendo "toda transição da dúvida à convic ção a passagem de um estado de pelo menos parcial in satisfação a um estado de satisfação relativa e de harmo nia". 8) "O critério de verdade de um juízo é sua satis fatoriedade como tal, sendo a satisfação 'pluridimen sional"'. 9) "O critério da verdade de um juízo reside no grau em que corresponde às exigências 'teóricas' de nossa natureza." 1 O) "O único critério de verdade de um juízo é sua utilidade prática como postulado, não haven do mais verdade geral que a postulada resultante de al guma determinação motivada da vontade; não há, pois, verdades 'necessárias' . 1 1 ) Há algumas verdades neces sárias, mas estas não são muitas nem praticamente ade quadas, sendo necessário e legítimo mais além delas aludir aos postulados. 1 2) Entre os postulados que é legítimo tomar como equivalentes da verdade, os que ajudam às atividades e enriquecem o conteúdo da vida moral estética e religiosa ocupam um lugar coordenado com os que pressupõem o senso comum e a ciência fi sica como base das atividades da vida fisica." "IV. Prag matismo como teoria ontológica. 6) Como o temporal é um caráter fundamental da realidade, os processos da consciência têm neste devir sua participação essencial e criadora. O futuro é estritamente não real e seu caráter é parcialmente indeterminado, dependendo de movi mentos da consciência cuja natureza e direção somente podem ser conhecidos nos momentos em que se tornam reais na experiência" ("The Thirteen Pragmatisms", The Journal ofPhilosophy, Psychology, and Scientific Me thod [atualmente: The Journal ofPhilosophy], 5 [ 1 908), 5 - 1 2, 29-39, reimp. na obra de Lovejoy: The Thirteen Pragmatisms, and Other Essays, 1 963, pp. 1 -29).
PRAKRITI E PURU�A
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As diferentes formas de pragmatismo analisadas por Lovejoy cobrem uma quantidade muito considerável de tendências pragmatistas. Tomando o pragmatismo em sentido muito amplo, há formas do mesmo das quais Lovejoy não fala ou às quais meramente alude. Junto ao pragmatismo clássico - ou aos pragmatismos clássicos - de autores como C. S. Peirce, William James e G. H. Mead, podem-se mencionar as seguintes formas ou as pectos de uma inclinação pragmatista muito geral: 1 ) O já mencionado instrumentalismo de Dewey. 2) O "biologismo" enquanto "biologismo epistemo lógico" ou tentativa de interpretação dos processos cog noscitivos em termos de atividade e, sobretudo, "utilida de" biológica. 3) O postulado da economia do pensamento no sentido, entre outros, de Ernst Mach. 4) Alguns aspectos da chamada "filosofia da imanência" em autores como Schuppe e Schubert-Soldem. 5) O ficcionalismo de Hans Vaihinger. 6) O operacionalismo. 7) O pragmatismo conceitualista de C. I. Lewis. 8) Os trabalhos semióticos de Charles Morris. 9) O chamado "totalismo (ou holismo) pragmático" de Quine e os aspectos pragmatistas da "tese de Du hem-Quine". � Além dos autores e obras citados no texto do verbe te, ver: M. Hébert, Le Pragmatisme, 1 908; ed. rev., 1 909. - G. Jacoby, Der Pragmatismus. Neue Bahnen in die Wissenschaftslehre des Auslandes, 1 909. - A. W. Moore, Pragmatism and lts Critics, 1 909. - J. B. Pratt, What is Pragmatism ?, 1 909. - C. Znamierowski, Der Wahrheitsbegriff im Pragmatismus, 1 9 1 2 (tese). - R. Berthélot, Un romantisme utilitaire. Étude sur le mouvement pragmatiste, 3 vols., 1 9 1 3 . - C. Eijman, De Kenisleer van het anglo-amerikaansch Pragmatis me, 1 9 1 3 (tese). G. Vailati, ll pragmatismo, 1 9 1 8. - Id., ll metodo della filosofia, 1 957, ed. F. Rossi Landi. - U. Spiritto, ll pragmatismo nella filosofia contemporanea, 1 92 1 . - E. Leroux, Le pragmatisme américain et anglais, 1 923. - J. Dewey, "The Deve lopment ofAmerican Pragmatism" (Studies in the His tory of ldeas. Columbia University, II [ 1 925]). - S. Hook, The Metaphysics of Pragmatism, 1 927. - E. Baumgarten, Geistige Grundlagen des amerikanischen Gemeinweses (vol. II: Der Pragmatismus: Emerson, Ja mes, Dewey), 1 938. - H. B. Parkes, The Pragmatic Test: Essays in the History ofldeas, 1 94 1 [sobre Jefferson, Emerson, Nietzsche, Bergson, James, Dewey e T. S. Eliot]. - P. P. Wiener, Evolution and the Founders of Prag matism, 1 949. - E. Dupréel, La pragmatologie, 1 955. - E. C. Moore, American Pragmatism: Peirce, James and Dewey, 1 96 1 . - E. H. Madden, Chauncey Wright and the Foundations ofPragmatism, 1 963. - A. Santucci, ll pragmatismo in ltalia, 1 963. - H. S. Thayer, Mea-
ning and A ction: A Criticai History ofAmerican Prag matism, 1 967; 2ª ed., 1 980. - A. J. Ayer, The Origins ofPragmatism: Studies in the Philosophy ofC. S. Peirce and W. James, 1 968. - D. Rucker, The Chicago Prag matists, 1 969 [sobre J. Dewey, G. H. Mead, J. H. Tufts, A. W. Moore, E. S. Ames]. - C. Morris, The Pragmatic Movement in American Philosophy, 1 970. - M. Whi the, Pragmatism and the American Mind: Essays and Reviews in Philosophy and lntellectual History, 1 973. - I. Sheffier, Four Pragmatists: A Criticai Introduction to Peirce, James, Mead, and Dewey, 1 974. - N. Res cher, Methodological Pragmatism, 1 976. - S. M. Ea mes, Pragmatic Naturalism, 1 977. - J. E. Smith, Pur pose and Thought: The Meaning ofPragmatism, 1 978. - S. B. Rosenthal, P. L. Bourgeois, Pragmatism and Phenomenology: A Philosophic Encounter, 1 980. D. H. Mellor, ed., Prospects for Pragmatism, 1 980. R. Rorty, Consequences ofPragmatism: Essays 19721980, 1 982. - R. W. Sleeper, The Necessity ofPragma tism: John Dewey s Conception of Philosophy, 1 986. - S. B. Rosenthal, Speculative Pragmatism, 1 986. C. G. Prado, The Limits of Pragmatism, 1 987. - C. West, The American Evasion ofPhilosophy: A Genea logy ofPragmatism, 1 989. - J. P. Murphy, Pragmatism: from Peirce to Davidson, 1 990. - H. S. Levinson, San tayana, Pragmatism, and the Spiritual Life, 1 99 1 . R. Roth, British Empiricism andAmerican Pragmatism: New Directions and Neglected Arguments, 1 993. Bibliografia: E. Leroux, Bibliographie méthodique du pragmatisme américain, anglais et italien, 1 923. - H. W. Sci'Jneider, A History ofAmerican Philosophy, 1 946; 2ª ed., 1 962. - Também há bibliografia no livro de U. Spirito acima mencionado. C:
PRAKRITI E PURU�A. No verbete sobre o sistema Sãnkhya referimo-nos aos significados primários que têm nele os termos prakriti (prakrti) e puru!fa. Observemos aqui que esses termos têm sido empregados também, já desde as Upanishad, por pensadores indianos que não aceitaram o mencionado sistema (ou a mais moderna e freqüente combinação do mesmo com o Yoga). Muito habitual é conceber prakriti como princípio do universo material - ou pelo menos perceptível - e puru!fa como princípio do universo anímico; muitas vezes, de fato, se qualifica a alma de puru!fa. Outras vezes se concebe prakriti como fundamento do não-vivente, e puru!fa co mo raiz do vivente, psíquico e espiritual (já que estas três noções nem sempre são distintas entre si). Outras vezes, por fim, puru!fa designa a alma na medida em que se a supõe "fechada" no corpo. Numa das escolas Vedãnta, prakriti é comparado com a força gerada por mãyã (VER), sendo ao mesmo tempo o produto do ímpeto criador e o que oculta este ímpeto. Em outra das escolas Vedãnta, prakriti designa a Natureza onicompreensiva enquanto morada da alma, e de Deus.
PRANTL, KARL PRANTL, KARL ( 1 820- 1 888). Nascido em Lands berg am Lech, foi "professor extraordinário" ( 1 8471 859) e professor titular (a partir de 1 859) na Universi dade de Munique. Seguindo o impulso dado à historio grafia filosófica por Hegel, Prantl se distinguiu por seus estudos de história da lógica. Sua história da lógica no Ocidente contém uma grande compilação de materiais, muitos dos quais, especialmente os procedentes da Ida de Média, eram inteiramente desconhecidos. Hoje em dia tem-se criticado a história da lógica de Prantl (Bo chenski, Lukasiewicz) por ser considerada cheia de in terpretações errôneas causadas por preconceitos filosó ficos ou por incompreensão de alguns pontos funda mentais; contudo, o material histórico oferecido por Prantl continua sendo capital para a investigação da his tória da citada disciplina. Prantl trabalhou também no estudo da evolução do pensamento lógico de Pierre de la Ramée (Petrus Ramus). :> Obras: Die geschichtlichen Vorstufen der neueren Rechtsphilosophie, 1 848 (Os estádios preliminares his tóricos dafilosofia moderna do Direito). - Die Bedeu tung der Logikfor denjetztigen Standpunkt der Philoso phie, 1 849, reimp. , 1 972 (A significação da lógica para a perspectiva atual da filosofia). Die gegenwii.rtige Aufgabe der Philosophie, 1 852 (A tarefa atual dafiloso fia). - Übersicht der griechischromischen Philosophie, 1 854 (Panorama dafilosofia greco-romana). - Geschi chte der Logik im Abendlande, 4 vols., 1 855- 1 870 (I. Die Entwicklung der Logik im Altertum, 1 85 5. II-III-IV. Die Logik im Mittelalter), reimp., 1 955 (História da ló gica no Ocidente [I. A evolução da lógica na Antiguida de; II-III-IV. A lógica na Idade Média]). - Die Philoso phie in den Sprichwortern, 1 858 (A filosofia nos provér bios) . - M Psellus und P. Hispanus, 1 867. - Galilei und Kepler ais Logiker, 1 875. - Verstehen und Beur teilen, 1 877 (Entender e julgar). - "Über P. Ramus", Sitz. ber. der München. Ak. Phil. ( 1 878), 1 57- 1 69 . Über die Berechtigung des Optimismus, 1 880 (Sobre a justificação do otimismo). - Kleine Schriften, ed. Igna cio Angelelli, 1 973 (Escritos menores) . C: PRAT, LOUIS. Ver RENouvIER, CHARLES. PRÁTICO. Os gregos chamavam npaKTtKÓS, "prático'', o que era adequado para uma transação ou negócio, o que era efetivo na npã!;1s (ver PRÁXIS). O prático se referia às "coisas práticas", Tà npaKTtKá, e se ocupava dos "assuntos", npáyµaTa, enquanto "assuntos hu manos" em geral. A prática se distingue da teoria (VER), mas isso não quer dizer que não haja possibilidade de um saber prático. A rigor, pode-se falar, segundo Aristó teles, de três tipos de saber: o saber teórico, émoTÍ] µrJ Bec.:>pT]TtKÍ]; o saber prático, én10TÍ]µT] npaKTtKÍ] ; e o saber "poético", émoTÍ]µT] TTOlT]TlKÍ] (ver POESIA, POÉTI CA) (Met., E, ! , 1 025 b 20-22). O primeiro tem por objeto o conhecimento; o segundo tem por objeto a ação, espe-
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cialmente a ação moral (que é também, para Aristóteles, "política"); o terceiro tem por objeto a produção. Em um sentido, porém, pode-se dizer que o saber prático não é uma ciência, mas uma "sabedoria prática", cujo fim é alcançar o bem comum e a felicidade (ou "bem estar") de cada um dos indivíduos da comunidade. Em outro sentido, pode-se dizer que há uma diferença entre sabedoria prática e sabedoria "política"; a primeira que merece propriamente o nome de "sabedoria prática" - diz respeito ao indivíduo; a segunda - que merece o nome de "política" ou "sabedoria política" - diz res peito à comunidade (Eth. Nic. , VIII, 1 1 4 1 b 23 ss.). A diferença entre o "prático" e o "teórico" em Aris tóteles não é radical. Muito menos significa tal diferen ça que o prático exclua o teórico e vice-versa. A rigor, no exercício teórico há muito de "prático", e embora o fim da existência seja a "vida contemplativa" (ou "teóri ca"), [3íos Bec.:>pT]TtKÓS, ela não parece possível sem a "vida prática", [3íos npaKTtKÓS. Em todo caso, assim como há "princípios teóricos'', também há "princípios práticos", isto é, há àpxaí nas npaKTtKá . Os princí pios práticos são formulados por meio da indução (cf. Eth Nic. , VI, 9, 1 1 42 b, 22-26; VII, 3, 1 1 46 b 35 e também An. Post., II, 1 9, 99 b 1 5 ss.). O termo 'prático ' tem sido usado freqüentemente na "classificação das ciências" (ou dos "saberes"). Mui to comum tem sido dividir os saberes em saberes espe culativos (ver ESPECULAÇÃO, ESPECULATIVO) e saberes prá ticos, embora só os primeiros tenham sido considerados propriamente como "saberes", isto é, "ciências". Falou se também freqüentemente da divisão da filosofia em dois grandes ramos: filosofia teórica e filosofia prática. Nesta última se inclui quase sempre a ética e, com fre qüência, a "política" e a "economia". Falou-se às vezes da teologia como uma "ciência prática", dando-se a en tender com isso que não é especulativa e, de certo modo, não é "ciência". O termo 'prático' tem vários sentidos fundamentais na filosofia de Kant. Seguindo a distinção tradicional entre o especulativo e o prático, Kant fala de um uso prático da razão à diferença do uso especulativo. "O prá tico" não diz respeito propriamente ao conhecimento, mas "ao que é possível mediante a liberdade" (Kr V, A 800/B 828). O prático -sensivelmente idêntico ao "moral" - permite, segundo Kant, ir mais além dos li mites da experiência possível, à qual nos confina a crí tica da razão (especulativa). "Prático" se diz, segundo Kant, de tudo o que diz respeito ao livre-arbítrio, como livre-arbítrio de uma vontade determinada independen temente de impulsos sensíveis. Como esta vontade está, em contrapartida, determinada pela razão, será preciso ver de que modo se pode dizer de uma razão que é diferentemente da "razão teórica" - "razão prática". Referimo-nos a este ponto com mais detalhe no verbete RAZÃO ( TIPOS DE) .
PRAXIOLOGIA
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Num sentido não só moral, mas também, por assim dizer, "moral-metafísico", o prático tem uma importãn cia central na filosofia de Fichte, para quem a atividade incessante do Eu como ato de pôr-se a si mesmo equiva le à "atividade prática" do Eu. Em geral, o conceito do prático é fundamental em toda filosofia para a qual a prática é parte integrante do pensamento filosófico e inclusive o fundamento de todo pensar. Muito se discutiu a chamada "relação entre a teoria e a prática", com frases tais como "a prática segue à teoria", "a prática determina (orienta, condiciona, etc.) a teoria'', "isso está bem na teoria, mas não na prática", etc. Nem sempre se esclareceu muito, porém, o que em cada caso se entende por 'prática' (ou por 'prático' , ' o prático ', etc.) e por 'teoria'. Às vezes s e concebeu a teo ria como algum sistema de idéias, noções, proposições etc., concernentes ao conhecimento da realidade, e a prática como aplicação de semelhante sistema "a situa ções concretas". Mas de que teoria se fala? É uma teoria científica ou filosófica? E de que prática se fala? É uma ciência aplicada, ou é a aplicação de um sistema moral ou político? Especialmente amplo, e vago, tem sido o que cabe entender por 'prática' quando se afirmou que esta determina, orienta, condiciona etc., a teoria. Alguns indicaram que é uma prática especificada (o que foi entendido por 'práxis' [VER]) . Outros manifestaram que toda ação humana sobre o mundo é uma prática. Outros, que a prática equivale a um contexto político-social, ou a um cultural, ou à ideologia correspondente a tal con texto. A frase seguinte é de Fénelon: "Não se deve con siderar nenhuma verdade salvo em relação com a práti ca". Evidentemente, essas palavras de Fénelon nada têm a ver com a prática no sentido da práxis nem com a ação no sentido dos pragmatistas, nem com contextos políti co-sociais. Referem-se provavelmente à vida religiosa à diferença de qualquer especulação teológica. Isso mos tra que 'prático' e 'a prática' podem ser expressos de muitas maneiras. :> Obras históricas: W. G. Gallie, The Distinction be tween Theory and Practice from Plato to Wittgenstein, 1 970. - N. Lobkowicz, Theory and Practice: History ofa Conceptfrom Aristotle to Marx, 1 967. - T. Ando, Aristotle s Theory ofPractical Cognition, 1 958; 3' ed., rev., 1 97 1 . - E. M. Michelakis, Aristotle s Theory of Practical Principies, 1 96 1 . - H. Schweitzer, Zur Logik der Praxis. Die geschichtlichen Implikationen und die hermeneutische Reichweite derpraktischen Philosophie des Aristoteles, 1 97 1 . - J. E. Naus, The Nature of the Practical lntellect According to St. Thomas Aquinas, 1 959. - N. Rescher, The Primacy ofPractice: Essays Towards a Pragmatically Kantian Theory ofEmpírica/ Knowledge, 1 973 . - S. Kõrner, ed., Practical Reason, 1 974. - Id., Experience and Conduct: A Philosophical Enquiry into Practical Thinking, 1 976. - D. Rubins tein, Marx and Wittgenstein: Social Praxis and Social
Explanation, 1 98 1 . - L. Salamini, The Sociology of Política/ Praxis: An lntroduction to Gramsci s Theory, 1 98 1 . - R. J. Bernstein, Beyond Objectivism and Re lativism: Science, Hermeneutics, and Praxis, 1 983. J.-E. Pleines, Praxis und Vernunft. Zum Begriffpraktis cher Urteilskraft, 1 983. - G. H. Von Wright, Practical Reason, 1 983. - N. O. Dahl, Practical Reason. Aristo tle and Weakness of the Will, 1 984. - N. Rescher, Pas cal s Wafer: A Study ofPractical Reasoning in Philoso phical Theology, 1 985. - S. N. Thomas, Praciical Rea soning in Natural Language, 1 986. - G. Kitching, Karl Marx and the Philosophy ofPraxis, 1 988. - G. Kõhler, Handeln und Rechtfertigen: Untersuchungen zur Struk tur der praktischen Rationalitiit, 1 988. - O. O'Neill, Constructions ofReason: Explorations ofKant s Practi cal Philosophy, 1 989. - G. Allan, The Realizations of the Future: An Inquiry into the Authority of Praxis, 1 990. - J. Freudiger, Kants Begründung der praktis chen Philosophie, 1 993. C:
PRÁTICO-INERTE. Segundo Sartre (Critique de la raison dialectique, 1 960, p. 1 65), "toda a dialética his tórica se apóia na práxis individual na medida em que estajá é dialética ". Parte-se, pois, da prática individual e não de uma noção abstrata e vazia da prática. Mas a prática individual não contém o processo dialético histó rico de modo puramente mecânico, de modo que so mente necessite desdobrar-se. Muito pelo contrário, a dialética e as totalizações dialéticas (ver TOTALIZAÇÃO, TOTALIZAR) são um constante movimento com o fim de superar as inércias que se vão produzindo. O "prático" não é, por si mesmo, dialético ou, se se quiser, não o é desde o princípio e sem o movimento de totalização. A rigor, o "prático" na prática individual é revelado pela dialética totalizadora como o prático-inerte. Os produ tos dos homens são, desde sempre, totalidades que ne cessitam ser dialeticamente totalizadas. Os homens se unem em simples "séries". No reino do prático-inerte o homem fica prisioneiro de seu próprio ser social. As totalizações dialéticas que se vão efetuando desde a prá xis individual ao prático inerte conduzem da série ao grupo, e do grupo ao coletivo e à história. A função da totalização dialética é desfazer e dis solver o caráter amorfo das formações prático-inertes e da práxis individual. Por meio da dialética, a mera se rialidade da multiplicidade se transcende rumo à agru pação. Contra o que se crê em geral, o amorfo não é, segundo Sartre, flexível, mas inerte. PRATT, JAMES BISSETT. Ver NEO-REALISMo; PER SONALISMO.
PRAXIOLOGIA. Pode-se dar o nome de "praxiolo gia" à ciência que estuda sistematicamente as condições e normas da ação (VER) ou práxis (VER) humanas. Entre muitos autores antigos a ética como doutrina da ação de sempenha a função citada. Mas só na época moderna
PRAXIOLOGIA se tentou fundar urna disciplina especial encarregada de estudar todas as formas da ação. O autor mais conhecido por sua elaboração da pra xiologia é o filósofo polonês Tadeusz Kotarbinski (VER) . Segundo Henryk Skomilowski ("Praxiology: The Science ofAccomplished Acting", The Personalist [46], 1 965, p. 349), houve, antes de KotarbiIÍ.ski, várias tenta tivas de construir um "sistema praxiológico". A primei ra tentativa parece ter sido a de Charles B. Dunoyer em seu livro De la liberté du travai!, ou simple exposé des conditions dans lesquelles les forces humaines s 'exer cent avec le plus de puissance, 3 vols., 1 845. O título parece indicar, contudo, que se trata, antes, de um esfor ço para determinar as condições de otimização da ação. Outro autor a citar a respeito é Louis Bourdeau, em cujo livro Théorie des sciences. Plan de science intégrale, 2 vols., 1 882, se introduz o termo praxéologie para desig nar "a ciência das funções, isto é, das ações". Mais pró ximo do conceito de praxiologia no sentido de Kotar biIÍ.ski é, segundo Skolimowski, o conceito de "pono logia" proposto pelo engenheiro espanhol Melitón Mar tín no livro Le travai! humain, son analyse, ses !ois, son évolution, 1 878. É interessante perceber que em cada um desses casos a idéia de uma praxiologia como ciên cia está relacionada com as questões do trabalho. Skolimowski (art. cit.) e o próprio KotarbiIÍ.ski (Za sady sprawnego dzialania [ 1 960], Os princípios da ação eficaz; trad. ingl. em Praxiology: An lntroduction to the Sciences of Efficient Action, 1 965) indicam que o pri meiro a formular um programa concreto praxiológico foi Alfred Espinas ( VER) em Les origines de la techno logie, 1 897. Cabe mencionar também a respeito A. Bogdanov (VER) e sua "tectologia" ( Tektologiá, 1 9 1 31 9 1 5), e a obra de Michel Petrovitch, Mécanismes com muns aux phénomenes disparates, 1 92 1 , assim como G. H. Mead. Em geral, os autores para quem as questões suscitadas pelo trabalho e a ação são fundamentais po dem ser considerados como interessados na praxiologia; assim ocorre, por exemplo, segundo KotarbiIÍ.ski, com Marx; em O Capital há "palavras muito alentadoras para o praxiólogo interessado na teoria da ação eficaz em seu mais amplo alcance" (op. cit. , cap. I). Num sentido muito geral, portanto, podem ser con siderados como praxiólogos todos os autores que se ocuparam de problemas relativos à ação humana (ver AçÃo) e ao trabalho ( VER) . Isso tem o perigo, no entanto, de dissolver a praxiologia numa miríade de tipos de aná lise, que incluem, entre outros, o marxismo, a filosofia analítica e partes do existencialismo, assim como, é claro, o pragmatismo. Numa acepção mais restrita, pode-se considerar como praxiólogos somente os que elaboraram a praxiologia como uma disciplina especial. O exemplo mais eminente é, como indicamos, Kotar biIÍ.ski. Ele entende por 'praxiologia' "a ciência da ação
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eficaz", ou ciência que "investiga as condições das quais depende a máxima eficácia". Isso implica estudar a idéia de ato simples (que KotarbiIÍ.ski trata de modo similar à noção de "ação básica" ou "ato básico" estuda da por vários autores analíticos, já que considera possí vel examinar toda atividade em termos de atos simples). Implica estudar também as noções de agente e de re sultado, de produto, instrumento e meio, de condições da ação, de ato complexo, ação coletiva, economização ou otimização de ações, valor das ações e cooperação. KotarbiIÍ.ski chama de "proposições praxiológicas" as diretrizes simples, na medida em que são "recomenda ções que tendem a aumentar a eficácia das ações". No entanto, nem todas as diretrizes práticas são proposições praxiológicas; só as que estão incorporadas a um siste ma podem receber legitimamente este nome. As ações humanas de que se ocupa a praxiologia incluem ativida des mentais; estas não subsistem independentemente, nem menos ainda como causas de atos, mas "todo ato inclui elementos que são de natureza mental". As idéias de KotarbiIÍ.ski, elaboradas já desde 1 9 1 O, culminaram no Traktat o dobre} robocie, de 1 955 (Trata do sobre o bom trabalho), do qual o livro mencionado sobre os princípios da ação eficaz ( cf. supra) constitui, como confessa o próprio KotarbiIÍ.ski, uma espécie de "instrumento de propaganda". Os fins e os problemas da praxiologia foram objeto de estudo especializado na revista Materialy Praxeologiczne (Estudos praxiológi cos) publicada em Varsóvia desde 1 962. Segundo Skoli mowski, a praxiologia não é só uma ciência descritiva que estuda os atos básicos simples ou elementares e a composição das atividades compostas ou complexas em diferentes situações (de cooperação positiva, coope ração negativa e cooperação neutra), mas é também uma disciplina normativa. Com efeito, a praxiologia trata de estabelecer "normas para a ação eficaz" e faz uso de um sistema de valores que ela atribui a diversos atos e es pécies de atos. Deve-se observar que os valores praxio lógicos não se confundirão com outros tipos de valores, tais como, por exemplo, os valores éticos ou estéticos. Em princípio, urna atividade determinada pode receber um grau máximo de valor praxiologicamente e um grau mínimo eticamente, ou vice-versa. É óbvio que, a não ser que se decida considerar a praxiologia como uma disciplina primariamente instrumental - ainda que não, como se viu, axiologicamente neutra -, será preci so encarar o problema dos fins, e especificamente o pro blema da relação entre fins praxiológicos e outros. Ludwig von Mises ( 1 8 8 1 - 1 973) considera a praxio logia como a teoria geral da ação humana; a economia é, com isso, uma parte da praxiologia (cf. Human Action: A Treatise on Economics, 1 949; nova ed., revista, 1 963). A concepção praxiológica de von Mises foi elaborada por seu discípulo Murray N. Rothbard no livro Economy and State: A Treatise on Economic Principies, 1 962.
PRÁXIS
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O vocábulo "praxiologia" foi empregado também por Raymond Aron (Paix et guerre entre les nations, 1 962) para designar o estudo das normas que devem ser adotadas com vista a certos fins, e o exame da relação entre estas normas e os valores a cujo serviço se põem. O termo 'praxiologia' foi usado por Víctor Sánchez de Zavala na expressão 'praxiologia lingüística' (V: Sánchez de Zavala, "Perspectivas actuales de una pra xiología lingüística", em Francisco Gracia, ed, Presen tación dei lenguaje, 1 972, pp. 333-368; Indagaciones praxiológicas. Sobre la actividad lingüística, 1 973). Sánchez de Zavala entende por 'praxiologia lingüística' uma série de estudos que culminam numa teoria que "tem por objeto representar num modelo explícito e contrastável com a experiência (muito embora, por en quanto, totalmente provisório) a atividade lingüística", isto é, "a quase-competência de produção do falante ouvinte ideal de uma língua, o saber tácito que se requer para produzir locuções inseridas num discurso". Esta teoria se compõe de duas fases, ou subteorias. Na pri meira se levam em conta os "fatores de situação de que dependem as caràcterísticas gerais do discurso, e se re sumem tais características em certo número de 'parâme tros do discurso"'; na segunda, "se explicita o ato repre sentando num modelo de fluxo sua originação teorética com base em tais parâmetros e em outros fatores ... e se assinala em que lugares aparecem 'entradas' criadoras ou autônomas, isto é, em que opções e até que ponto º· indivíduo falante tem autonomia para dirigir a origi nação do ato e, conseqüentemente, a locução que pro fira". A praxiologia lingüística trata de completar os resultados obtidos na sintaxe e na semântica pelas teo rias sobre competência lingüística mediante uma inves tigação pragmática, que não nega os resultados mencio nados, mas que nega sua pretensa autonomia. Segundo Sánchez de Zavala, contribuíram para a praxiologia lingüística, entre outros, Bar-Hillel, Montague e R. Lakoff, bem como os que criticaram a noção demasia do restrita, e quase exclusivamente sintática, de com petência lingüística.
PRÁXIS. Os gregos chamavam rrpã�LS (práxis) uma tarefa, transação ou negócio, isto é, a ação de levar algo a cabo, rrpáoocu (infinitivo: rrpaooelv). O termo rrpã�1s foi usado também para designar a ação moral. Em um dos sentidos de 'prática' (VER), a práxis designa a atividade prática, à diferença da teórica. A práxis pode ser "exterior", quando se encaminha à realização de algo que transcende o agente, e "interior", quando tem por finalidade o agente mesmo. O termo 'práxis' pode designar também o conjunto das ações levadas a cabo pelo homem. Neste sentido, Platino fala de práxis que é, a seu entender, uma diminuição ou enfraquecimento da contemplação (Enn. III, viii, 5): a práxis se contrapõe deste modo à "teoria".
Para muitos dos sentidos de 'práxis' se usa o vocá bulo 'prática' (ver PRÁTrco). É usual reservar hoje o nome 'práxis' para caracterizar um dos elementos fundamen tais do marxismo (VER), especialmente em algumas de suas vertentes (como, por exemplo, em G. Lukács). O marxismo foi apresentado, aliás, como uma "filosofia da práxis" (A. Gramsci [VER]). Com efeito, no marxismo a chamada "práxis humana" constitui o fundamento de toda possível "teorização". Isso não equivale a subordinar o teórico ao prático, no sentido habitual, ou mais comum, desta última palavra; a rigor, a práxis é no marxismo a união da teoria com a prática. Entre os filósofos atuais que fizeram uso do termo 'práxis' como termo fundamental figura, além de mui tos marxistas, Jean-Paul Sartre. O primeiro tomo de sua Crítica da razão dialética contém uma "teoria dos con juntos práticos". Sartre toma a práxis no sentido de Marx e trata de descobrir na práxis "a racionalidade dialética". A práxis não é, portanto, para Sartre, um conjunto de atividades (individuais) regidas pela razão dialética como uma razão "exterior" à práxis. Tampouco é a ma nifestação da razão dialética. A práxis contém, segundo Sartre, sua própria razão, e esta é justamente razão dia lética (vER). A práxis manifesta, segundo Sartre, uma série de avatares, entre os quais conta o perder-se a si mesma para converter-se em mera "práxis-processo". De um modo que lembra o uso do conceito de "compreen são" (Verstehen) por Heidegger, embora com propósi to muito diferente, Sartre chega a declarar que "a com preensão não é outra coisa senão a translucidez da prá xis a si mesma, seja produzindo, ao constituir-se, suas próprias luzes, ou encontrando-se na práxis do outro" (Critique de la raison dialectique, 1 [ 1 960] , p. 1 60). Sartre considera o que chama "a práxis individual" co mo uma totalização "que transforma praticamente o ambiente numa totalidade" (ibid., p. 1 70). O "prático inerte" (VER) não . é um fundamento da práxis, mas o contrário, o resultado da totalização da própria práxis. � Além das obras referidas no texto, ver: E. L. Burke, Some Early Influences on the Thought of Karl Marx, 1 959 [sumário de uma tese de doutorado: The Notion of Praxis in the Early Works ofKarl Marx (Louvain)] . F. Chatelet, Logos et praxis: Recherches sur la signi fication théorique du marxisme, 1 962. - E. Severino, Studi di filosofia de/la prassi, 1 962. J.-T. Desanti, Phénoménologie et praxis, 1 963 . - M. Sobotka, Die idealistische Dialektik der Praxis bei Hegel, 1 965. D. Benner, Theorie und Praxis. Systemtheoretische Be trachtungen zu Hegel und Marx, 1 966. A. S. Váz quez, Filosofia de la praxis, 1 967; 2ª ed., 1 980. - C. Astrada, Fenomenologia ypraxis, 1 967. - A. Philonen ko, Théorie et praxis dans la philosophie mora/e et po litique de Kant et de Fichte en 1 793, 1 968. - G. Stieh ler, Dialektik und Praxis. Untersuchungen zur "tiitigen Seite " in der vormaxistischen un marxistischen Philo-
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PRAZER
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sophie, 1 968. R. J. Bernstein, Praxis andAction: Con temporary Philosophies ofHuman Activity, 1 97 1 . - O. Schwemmer, Philosophie der Praxis, 1 97 1 . - J. M. Ber mudo, E/ concepto de praxis en e/ joven Marx, 1 975 (tese). - V. Bozal, A. Corazón et ai., Teoría práctica, práctica teórica, 1 975. G. Bueno, "féinte cuestiones sobre teoría y praxis, 1 975. - F. Torres, ed., Teoría y Praxis, 1 977. - E. Nicol, La primera teoría de la praxis, 1 978. - D. Ihde, Technics and Praxis, 1 978. - D. Dangelmayr, Die philosophische Jnterpretation des Theo rie-Praxis-Bezugs bei Karl Marx und ihre Vorgeschichte, 1 979. -VV. AA., Praxis. Yugoslav Essays in the Philoso phy and Methodology of the Social Sciences, 1 979, ed. M. Markovic e G. Petrovic. A Feenberg, Lukács, Marx and the Sources of Criticai Theory, 1 980. - J. Grenier, Penser la praxis, 1 980. - W. Schmied-Kowarzik, Die Dialektik der gesellschaft/ichen Praxis. Zur Genesis und Kernstruktur der Marxschen Theorie, 1 98 1 . J.-E. Pleines, Praxis und Vernunft, 1 983. D. A. Crocker, Praxis and Democratic Socialism: The Criticai Social Theory of Markovic and Stojanovic, 1 983. - C. O. Schrag, Communicative Praxis and the Space ofSubjec tivity, 1 986. - G. Kitching, Karl Marx and the Philoso phy of Praxis, 1 988. Revistas: Praxis, desde 1 964. - Social Theory and Practice, desde 1 972. - Praxis Internationa/, desde 1 98 1 . e -
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PRAZER. Tem sido bastante comum entre os filósofos tomar o conceito de prazer num sentido muito geral que abarca, ou se supõe abarcar, todo tipo de prazeres e de sentimentos de prazer. Assim, considerou-se que certas coisas podem causar prazer porque causam sensações prazenteiras, como ocorre com o sabor de um bom vinho. Considerou-se também que outras coisas podem causar prazer, embora não seja uma sensação de prazer em sen tido estrito, como ocorre com uma conversação com um bom amigo, com a satisfação do dever cumprido etc. Concomitantemente, o conceito de dor foi tomado também num sentido muito geral, incluindo-se em tal conceito a sensação que se experimenta quando se sofre fisicamente, quando se perde uma pessoa amada etc. Tomados nesses sentidos gerais, ocorreram muitos debates sobre os conceitos de prazer e de dor. Por exem plo, sustentou-se que o prazer é o contrário da dor, de modo que se se sente prazer não se pode sentir dor, e vice-versa. Afirmou-se também que é possível sentir ao mesmo tempo prazer e dor, como ocorre em certas situações supostamente anormais ou "mórbidas", nas quais se sente prazer ao sentir-se dor e das quais o exem plo mais citado é o masoquismo. Alguns disseram que sentir prazer e dor ao mesmo tempo quer dizer simples mente sentir prazer por uma coisa e dor por outra dife rente, de modo que o prazer é um certo sentir em deter minado aspecto que exclui a dor no mesmo aspecto.
Por exemplo: se sinto prazer escrevendo um Dicionário defilosofia não posso sentir dor ao escrevê-lo, embora possa senti-la por outras razões, como a de que escrevê lo dá, inclusive literalmente, muitas dores de cabeça. Num nível semelhante de generalidade fizeram-se afirmações de caráter antropológico ou ético como as de que o homem por natureza persegue o prazer e evita a dor, ou que o objetivo do ser humano é aumentar ao má ximo o prazer e reduzir ao mínimo a dor. Isso pode ser entendido de um modo principalmente subjetivo, caso em que temos uma das formas do hedonismo, ou pode ser entendido de um modo que inclua todos os indivíduos de uma comunidade, caso em que temos o utilitarismo. O nível de generalidade até agora referido não foi quase nunca satisfatório. Em vista disso, foram ofere cidas várias definições de 'prazer' que restringiram o significado do termo. Por exemplo, o prazer consiste na satisfação de necessidades; consiste na ausência de mal-estar, sendo a ausência de mal-estar bem-estar; consiste numa espécie de euforia, do corpo ou da mente, ou de ambos etc. Numerosas objeções foram apresenta das contra estas definições e outras similares: se podem satisfazer necessidades sem experimentar prazer; não é legítimo equiparar 'prazer' com 'bem-estar', com ' sa tisfação' , com 'alegria', etc., porque cada um desses termos tem um conjunto de usos próprios não redutíveis estritamente aos outros. Indicou-se também que a noção de prazer se torna menos vaga quando se especificam os tipos de prazer. Dois desses tipos têm sido menciona dos com freqüência: o prazer corporal e o prazer psíqui co ou mental, isto é, o prazer tisico e o prazer espiritual. A isso se respondeu afirmando que nem sempre é fácil distinguir entre esses dois tipos de prazer, que o prazer corporal, pelo menos nos organismos biológicos relati vamente desenvolvidos, pressupõe um "sentimento" deste prazer e este sentimento é psíquico e não tisico; que, por outro lado, não há prazer puramente psíquico ou mental no sentido de ser completamente independen te dos estados do organismo. Alguns sustentaram que somente há prazer, ou dor, quando há consciência deles, mas não é claro o que se entende por 'consciência de' . S e s e restringe demasiadamente o sentido desta expres são, chega-se à conclusão (errada) de que os animais não podem sentir prazer nem dor. Certas doutrinas morais, e especificamente o hedo nismo (VER) e o utilitarismo (VER) , enfatizaram que o prazer de que falam freqüentemente é um prazer "mode rado" ou que, em todo caso, é preciso "calcular" o al cance e as possíveis conseqüências do prazer, de modo que se possa saber se determinado prazer não vai produ zir dor. Neste último caso, descarta-se semelhante pra zer para buscar outro cujas conseqüências sejam mini mamente dolorosas. Num artigo sobre a noção de prazer (cf. infra), Gil bert Ryle alertou contra o que considera duas falsas
PRECONCEITO
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concepções. Uma delas consiste em supor que, junto ao comprazer-se com (ou desfrutar de) algo, há um prazer que se sobrepõe a este comprazer-se (ou desfru tar). O prazer, diz Ryle, expressa sempre algum ato do tipo que outros filósofos chamam "intencional". ' Sentir prazer' (' desfrutar') é, de acordo com isso, um verbo transitivo. Ryle indica que houve três modos de enten der o· conceito de prazer e que em cada um deles se cometeu algum tipo de falácia categorial (VER). Um consistiu em colocar os conceitos de gostar, desfrutar (e, correlativamente, não gostar, não desfrutar) como se pertencessem à mesma categoria que ter uma dor. Mas é possível sentir uma dor e experimentar prazer em senti-lo. Outro consistiu numa concepção "mecâ nica" do prazer e da dor (ou dos verbos que expressam o experimentar prazer ou o sentir dor como ' gozar de ' , ' sofrer', etc.) como s e s e tratasse d e acontecimentos que funcionam como causas e efeitos de outros aconte cimentos. Mas desfrutar de algo (experimentar prazer) não é um processo, como se vê quando consideramos que enquanto um processo pode ser rápido ou lento, um prazer não pode sê-lo. O terceiro consistiu em equipa rar prazer e dor a algum tipo de "paixões" análogas ao terror, ao noj o (e, poderíamos acrescentar, à euforia). Mas há coisas como "arrebatamentos'', "exaltações", etc., que não são comparáveis aos "prazeres". Não parece ser fácil saber a que "categoria" pertence o conceito de prazer. Por outro lado, isso não toma esse conceito totalmente desnecessário. Continua sendo útil para caracterizar certo tipo de experiências entre as quais se sobressaem as de agrado. É curioso, em todo caso, que enquanto alguns filósofos tentaram explicar, e até justi ficar, por que há dor - uma das espécies do mal (VER) - no mundo, não parece necessário justificar por que há, quando há, prazer. Seja o que for, o prazer parece dar-se por óbvio como algo digno de ser perseguido. Para informações complementares sobre os signifi cados de 'prazer' no pensamento grego, ver HEDONISMO. :> Sobre o conceito de prazer em Platão e em Aristóteles: J. Tenkku, The Evaluation ofPleasure in Plato s Ethics, 1 956. H.-D. Voigtlãnder, Die Lust und das Gute hei Platon, 1 960. G. Lieberg, Die Lehre von der Lust in den Ethiken des Aristoteles, 1 958. F. Ricken, Der Lustbegriffin der Nikomachischen Ethik des Aristoteles, 197 6. J. C. B. Gosling, C. C. W Taylor, The Greeks on Pleasure, 1 982. C. Hampton, Pleasure, Knowledge, and Being: An Analysis of Plato s Philebus, 1 990. Análise da noção de prazer: G. Ryle, W B. Gaillie, "Pleasure'', em Proceedings ofthe Aristotelian Society, Supp., 38 ( 1 954) pp. 54-67. - F. Heidsieck, Plaisir et tempérance, 1 962. - D. L. Perry, The Concept ofPlea sure, 1 967. J. L. Cowan, Pleasure and Pain, 1 968. - J. C. B. Gosling, Pleasure and Desire: The Case of Hedonism Reviewed, 1 969. - R. B. Edwards, Pleasures and Pains: A Theory of Qualitative Hedonism, 1 979. -
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- F. Schwanauer, The Flesh ofThought is Pleasure or Pain, 1 982. C:
PRECISÃO, PRECISO. Em geral, a noção de preci são se contrapõe à de vaguidade (VER). Um símbolo vago, uma expressão vaga ou uma proposição vaga são respectivamente um símbolo, uma expressão ou uma proposição que não estão suficiente ou adequadamente "separados" de outros. Um símbolo, uma expressão ou uma proposição precisos são um símbolo, uma expres são ou uma proposição suficiente ou adequadamente "separados" de outros. A precisão é por isso similar à distinção ( vER), na medida em que algo "preciso" é algo "distinto" (entende-se: distinto de outra coisa com a qual poderia se confundir). O que é preciso costuma ser claro (vER), mas, como vimos em CLARO, não se deve confundir a noção de distinção - e, portanto, também de precisão - com a clareza. O claro se contrapõe ao escuro; o preciso, ou distinto, se contrapõe ao confuso. Os escolásticos usaram, e usam, o termo 'precisão' {praecisio) para designar uma forma de "separação" ou "distinção"; 'precisar' significa, em último termo, "cor tar" e, por conseguinte, "separar". A precisão pode ser fi sica ou intencional. A precisão intencional é uma separa ção ou distinção não reais. Dizemos "não real" e também não "mental", porque a precisão intencional pode ainda ser de dois tipos: precisão subjetiva e precisão objetiva (no sentido escolástico de 'subjetivo' e 'objetivo'). A pre cisão subjetiva é a que ocorre quando se tem um conheci mento de um objeto em todos os seus predicados, apreen dendo-se de um modo só confuso (confuse) as diferenças. A precisão objetiva é a que ocorre quando se tem conhe cimento de um predicado de um objeto e não se tem co nhecimento (ou, se se quiser, se "prescinde") dos demais predicados. Os que rejeitam a possibilidade de uma pre cisão objetiva e admitem somente as precisões subjetivas são chamados confundentes. A noção de precisão se acha relacionada com a de abstração (ver ABSTRAÇÃO, ABSTRATO), já que também na abstração se "prescinde" de certas notas de um objeto ou de um conceito. Toda abstração é, portanto, "pre cisiva'', e o modo de precisão depende do tipo conside rado de abstração. PRECONCEITO. Num sentido corrente, um precon ceito é, enquanto pré-conceito, um conceito prévio ao (ou antes do) conhecimento adequado ou cabal de uma coisa. Supõe-se que se trata de alguma idéia, algum sentimento ou alguma crença que formam um conceito antes do conceito, isto é, que determinam o conceito que se formula. Na maioria dos casos, os preconceitos não são percebidos pelos que julgam. Tem sido muito comum na filosofia considerar que os preconceitos constituem um obstáculo para o reto en tendimento do que se trata de julgar, seja para enunciar
PREDESTINAÇÃO o que é, seja para declarar que valor ou falta de valor tem. Supôs-se, portanto, que é necessário descartar, eliminar ou dissolver os preconceitos, o que muitas vezes parece poder conseguir-se dando-se conta de sua existência. Filósofos como Descartes ou Husserl trataram de erigir um saber sem pressupostos. De certo modo, por tanto, trataram de eliminar os juízos prévios ou pré-juí zos. Em alguns casos, como em Brentano, os preconcei tos são certas teses da filosofia idealista especulativa. Vários filósofos consideraram que é impossível li vrar-se de preconceitos, razão pela qual o conhecimen to, ou pelo menos, o conhecimento adequado é impos sível. Os céticos formularam, em suas listas de tropos (vER), listas de outros tantos tipos de preconceitos. Con siderava-se que ou eram insuperáveis ou que quando se percebia sua existência se podia superá-los pelo menos de uma forma: abstendo-se de formular juízos. Outros filósofos consideraram que os preconceitos podem desempenhar uma função no conhecimento, mas com o fim de eliminar o sentido pejorativo que tem o termo 'preconceito' falaram de pressupostos básicos, princípios do senso comum e inclusive idéias inatas. Somente em vários pensadores contemporâneos se levantou em toda a sua amplitude o problema da função dos preconceitos como tais preconceitos. Em Ortega y Gasset encontramos a noção de crença (vER) que não é exatamente a de preconceito em sentido corrente, mas que tampouco coincide com nenhuma noção de pressu posto intelectual. Segundo Ortega, a crença antecede a todo juízo no sentido de que este se formula justa e precisamente quando a crença se desvanece ou camba leia. Em Hans-Georg Gadamer, sobretudo, a noção de preconceito (Vorurteil) ocupa um lugar central. Segundo Gadamer, os homens se acham instalados em precon ceitos, o que quer dizer numa tradição histórica dentro da qual nasceram e se desenvolveram e dentro da qual é possível o diálogo e a comunicação. O próprio desacordo no diálogo e na comunicação se fundamenta num "acor do" constituído pela tradição, pela autoridade e pelo "pre conceito". Longe de ocultar, como supunham os filósofos iluministas, o preconceito constitui a possibilidade de um desvelamento. O preconceito, tal como a tradição, não fecha, ou não fecha necessariamente, o campo da compreensão, mas abre-o. É certo que junto ao perten cimento à tradição existe, segundo Gadamer, um distan ciamento ou estranheza dela, a tal ponto que no jogo entre pertencimento e distanciamento jaz a possibilidade da hermenêutica (vER). Mas o pertencimento é funda mental; em todo caso, é a condição para uma compreen são da realidade histórica do indivíduo. Por isso, Ga damer afirma que "os preconceitos do indivíduo, muito mais que seus juízos, são a realidade histórica de seu ser " ( Wahrheit und Methode, 2ª ed., 1 965, p. 26 1 ) .
PREDESTINAÇÃO. N o verbete sobre o conceito de livre-arbítrio (VER) nos referimos às discussões filosó-
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fico-teológicas suscitadas pelo chamado conflito entre a onipotência divina e a liberdade humana. Completare mos a informação ali oferecida centrando-a agora em tor no do problema teológico da predestinação, tão debatido nas obras de muitos teólogos medievais e filósofos e teó logos modernos, particularmente no século XVII. A predestinação é definida como a predetermina ção por Deus do que Ele fará no tempo. Nisso se inclui a predeterminação dos que serão salvos e dos que estão condenados. Assim, Agostinho define a predestinação, em seu tratado De dono perseverantiae (XXXV), como "a presciência e pré-distribuição de dons pelos quais se toma completamente certa a salvação dos que são salvos". Deve-se observar que tal predeterminação comporta sempre uma presciência, mas que, como há dois elementos na predestinação dos seres humanos - a graça e a glória -, a predestinação é chamada completa ou incompleta segundo afete a graça e a gló ria, ou somente uma delas. Ora, essa doutrina da predes tinação provocou muitos comentários e discussões. Ela mesma se apresentava como uma opinião intermediária entre os que acentuavam tanto a predestinação que che gavam inclusive a negar a liberdade humana (Orígenes, predestinarianismo ), e os que acentuavam tanto a liber dade humana que chegavam a atenuar ou a negar a pre destinação (ver PELAGIANISMO). Portanto, foi tomada co mo base para as discussões subseqüentes. Muitos teólo gos a acolheram quase integralmente. Admitia-se, as sim, que Deus sabe desde a eternidade quem será conde nado, mas que a liberdade destas pessoas persiste, pois embora Deus siga oferecendo-lhes a graça para a salva ção, elas a rejeitam livremente. Admitia-se também que nenhum indivíduo está seguro do que lhe está predesti nado, mas que isso não deve eliminar em seu coração a esperança de sua salvação. A questão, porém, se foi complicando à medida que se apresentavam outras opi niões que defendiam, reforçavam, atenuavam ou nega vam a citada doutrina. Essas opiniões se perfilaram sobretudo nos últimos decênios do século XVI e inícios do século XVII. Uma delas era a agostiniana estrita, que fazia proceder de Deus o poder de agir e não agir, mas que não se considerava como radicalmente predestina cionista no sentido em que Orígenes defendera a predes tinação. Outra delas era a doutrina dos tomistas. Em certo sentido era mais radical que a agostiniana, pois não só sustentava a existência de uma influência extrín seca de Deus, mas também a existência de uma influên cia intrínseca (ver PREMOÇÃO FÍSICA) (uma doutrina rela cionada com a sustentada, por razões distintas, pelo ocasionalismo [VER]). Outra era a dos naturalistas e hu manistas, ansiosos por restaurar a liberdade humana e, portanto, próximos do pelagianismo. O luteranismo, ademais, se apresentou como um agostinismo radicali zado, com sua doutrina antierasmista do servo-arbítrio (De servo arbitrio, 1 525, de Lutero, resposta à Diatribe
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seu collatio de libero arbitrio, 1 524, d e Erasmo). E o calvinismo levou essa posição a suas últimas conse qüências. Embora o Concílio de Trento estabelecesse a doutrina ortodoxa, condenando ao mesmo tempo o lute ranismo e o naturalismo neopelagiano, ainda ficavam pontos a esclarecer. Intervieram então os molinistas (Luis de Molina) e depois os congruístas (Suárez). Suas posições se mantinham eqüidistantes dos extremos. De início, rejeitavam as teses agostinistas radicais e as to mistas. É certo que os tomistas haviam negado que o arbítrio fosse servo; mas (como esclareceu Domingo Báii.ez) declararam não poder abandonar a idéia da premoção física, do contrário se caía no neopelagianis mo, formado pelo racionalismo sociniano. Os molinis tas sustentaram que não era forçoso aderir à premoção física para evitar tais perigos. Estes eram deixados de lado, em seu entender, declarando que a intervenção divina não é uma determinação física, mas um concurso simultâneo pelo qual Deus coopera com o homem (ou causa segunda livre) proporcionando-lhe um movimen to que o homem pode usar bem ou mal. Os argumentos de tomistas e de agostinistas contra os molinistas foram rebatidos por estes mediante a doutrina da ciência média (VER) , para entender a qual convém examinar também a noção de futurível (vER) . A liberdade, escreveu Molina na Concordia (quaestio XIV, a 1 3 , disp. ii), "é uma faculdade que, se se pressupõe tudo o que requer a ação, pode ainda obrar ou não obrar". Certo número de teólogos distinguiram entre os praedestinati - ou "previamente destinados" por Deus à salvação - e os praesciti - que Deus sabe serão condenados ( cf. Leibniz, Théodicée, l, § 82; citado por E. Labrousse, Pierre Bayle, II, 1 964, pp. 388-389, nota 5). Com isso aspiravam a atenuar o que os autores anti predestinacionistas consideravam que seria "responsa bilidade de Deus": sublinha-se que Deus destina (pre destina) a uns enquanto "só" sabe que os outros serão condenados, de modo que não os "predestina", propria mente falando, à condenação. Não houve controvérsias somente entre os teólogos: o problema afetou também a filosofia e a literatura da época. No que toca à primeira, mencionaremos as teses de Pascal contra a posição dos jesuítas molinistas, tal como aparecem nas Provinciales, teses quase coinci dentes com as do agostinismo. No que diz respeito à segunda, mencionaremos como obra destacada a comé dia de Tirso de Molina, El condenado por desconfiado. Discutiu-se muito a posição de Tirso. O mais plausível é admitir que o dramaturgo queria fazer ressaltar o valor do livre-arbítrio sem para tanto manter opiniões neope lagianas. Com efeito, pode-se considerar que os dois protagonistas da obra, Paulo e Enrico, recebem a graça suficiente, de tal modo que o livre-arbítrio deixa liber dade a cada um para usar dessa graça.
PREDICADO PREDICADO. Na lógica qualificada de "clássica" ou "tradicional", o predicado (usualmente representado por 'P' no esquema 'S é P') é definido como o termo que a cópula (VER) aplica ao sujeito. O predicado constitui, junto com o sujeito, a matéria da proposição. O predica do também é definido como aquilo que se enuncia do sujeito. Na lógica de inspiração fenomenológica, o pre dicado costuma ser chamado de "conceito-predicado" e concebido como o conceito que visa à atribuição. Deste modo se distingue entre o predicado e o atributo (vER) , concebido como o modo de ser do objeto (ou do objeto-sujeito). A noção de atributo é, por conseguinte, uma noção ontológica, a de predicado é lógica. A confu são da noção de predicado com a de atributo é corrente em várias tendências da lógica metafisica, em particular nas inspiradas por Hegel. Assim, por exemplo, o predi cado não é para Bradley um conceito que designa a atribuição: é a indicação de parte da realidade, isto é, a propriedade de um ser real expressa no juízo. Segundo alguns autores, há também confusão entre o predicado e o atributo na lógica tradicional. Argumenta-se, com efeito, que a doutrina da proposição nesta lógica é de rivada de determinada metafisica: a metafisica da subs tância-atributo. Contudo, os esforços realizados pelos lógicos de inspiração tradicional para definir o predica do como um termo fazem que a mencionada critica não seja sempre justa. O único que se pode alegar é que em quase toda a citada lógica "clássica" se supõe - e às vezes se afirma - que a mencionada separação entre o lógico e o ontológico não significa que haja entre am bos uma completa falta de relação. Na lógica tradicional, é comum considerar os diver sos tipos de predicação de acordo com a extensão e abrangência do predicado. No que toca à extensão, o predicado pode ser tomado particularmente (nas propo sições afirmativas) e universalmente (nas proposições negativas). Quanto à abrangência, o predicado pode ser tomado totalmente (nas proposições afirmativas) e par cialmente (nas proposições negativas). Por seu lado, baseando-se na classificação dada por Pfánder dos juí zos segundo as classes de conteúdos objetivos postos, Francisco Romero assinala que a classificação deve ser chamada "divisão segundo o alcance e sentido da predi cação", pois o determinante nela é a intenção predica tiva. A divisão em questão compreende, segundo ele, as seguintes classes: (I) A predicação se refere a algo residente no objeto. Há então: a) juízos determinativos ou juízos que enunciam a essência do objeto-sujeito, respondendo à pergunta: "Que é isto?"; b) juízos atri butivos, que respondem à pergunta: "Como é isto?"; c) juízos de ser, nos quais o predicado enuncia a categoria objetiva à qual pertence o objeto-sujeito. (II) A predica ção afirma uma relação que vai mais além do objeto sujeito. Há então: p) juízos de comparação, nos quais se compara o objeto-sujeito com outros; q) juízos de pertinência, nos quais se afirma ou nega uma relação
PREDICADO
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de pertinência entre o objeto-sujeito e outros; r) juízos de dependência, nos quais se afirma que o objeto-sujei to depende em algum modo de outros; s) juízos inten cionais, nos quais se enuncia que o objeto-sujeito recebe uma intenção de outro obj eto. Os modos em que é tomado o predicado de acordo com sua extensão e abrangência tornam desnecessário, e absurdo, segundo os autores de inspiração tradicional, recorrer a uma quantificação do predicado tal como a que foi proposta por W. Hamilton. Segundo este autor, em contrapartida, a suposição de universalidade nas proposições negativas e de particularidade nas afirma tivas é insuficiente : os predicados devem quantificar se expressamente. Chega-se deste modo a uma classifi cação de proposições que, segundo Hamilton, é mais completa que a representada no quadro clássico (propo sições de tipos A, E, I, O às quais nos referimos nas letras citadas e no verbete sobre a noção de proposição). Esta classificação é a seguinte: 1 ) Proposições tolo-totais: a) 'Todo S é todo P ' ; b ) 'Nenhum S é nenhum P ' . 2 ) Proposições tolo-parciais: a i ) 'Todo S é algum P ' ; b l ) 'Nenhum S não é algum P ' . 3) Proposições parti-totais: a2 ') 'Algum S é todo P ' ; b2) 'Algum S não é nenhum P ' . 4 ) Proposições parti-parciais: a 3 ) 'Algum S é al gum P ' ; b3) 'Algum S não é algum P ' . A doutrina d a quantificação d o predicado, e m for ma às vezes parecida à de Hamilton e de forma às vezes semelhante à que mais adiante resenharemos, foi sus tentada, segundo indicou E. W. Beth, por muitos autores já desde a Antiguidade. Entre eles podem-se citar os se guintes: Amônio Saccas, Guilherme de Shyreswood, J. Bentham, A. de Morgan e W. Thompson. A ela se opuse ram Tomás de Aquino, João Gérson, J. Stuart Mill e A. Trendelenburg. Segundo Annibale Pastore, a teoria da quantificação do predicado foi também defendida por G. Caramuel de Lobkowitz. Na lógica atual não se considera como nome de predicado o que se segue a 'é' no esquema tradicional ' S é P ' . Neste esquema a lógica atual considera que ' S ' é o nome d o suj eito e 'é P' o d o predicado. E m geral, considera-se como nomes de predicados todos os que são usados para enunciar algo de um sujeito, sejam propriedades ou relações. Consideremos os exemplos: Cecília vai à missa uma vez a cada dez anos ( 1 ) (2) Wamba XII fo i Imperador da Tanzânia
(3) A pipa está debaixo da mesa Os chimpanzés são mais inteligentes que as (4) centopéias (5) Lola é boa O carteiro entregou ao vizinho um convite para o baile
(6)
A s expressões 'vai à missa uma vez a cada dez anos', 'foi Imperador da Tanzânia', ' está debaixo da mesa' , ' são mais inteligentes que a s centopéias' , 'é boa' e ' en tregou ao vizinho um convite para o baile' são nomes de predicados correspondentes, respectivamente, a ( 1 ), (2), (3), (4), (5) e (6). O esquema usado na lógica para o predicado é ha bitualmente 'Fx ', onde 'F ' simboliza o nome do predica do e é chamada "letra predicado". Outras letras usadas como letras predicados nos esquemas de enunciados predicativos são 'G ', 'H '. 'F ", ' G ", 'H ", 'F ' ", ' G "', 'H '", etc. Fala-se de predicados monádicos, diádicos, triádi cos e, em geral, poliádicos, conforme afetem a um, dois, três ou mais argumentos. Ver PouÁmco. Na lógica de predicados, procede-se à quantificação (ver QUANTIFICAÇÃO, QUANTIFICACIONAL, QUANTIFICADOR). A lógica na qual se quantifica "sujeitos" - os x, y, etc.; em Fx, Gx, Hx, Fxy, Gxy, Hxy, etc. - é a lógica quanti ficacional elementar ou lógica de predicados de primeira ordem. A lógica na qual se quantificam os predicados é a lógica de segunda ordem. Quando se fala de sistemas logísticos, isto é, de cálculos lógicos, empregam-se os nomes "cálculo fi.mcional" de primeira ordem" e "cálculo funcional de segunda ordem", respectivamente. Discutiu-se o problema do que designam (se se su põem que designam algo) as letras predicados, isto é, o problema dos designata de predicados. Este é o pro blema do status ontológico dos predicados. Abordar este problema equivale a enfrentar a questão dos uni versais (VER). À s vezes se distinguiu entre predicado e atributo, considerando-se o primeiro como um traço que não per tence essencial e constitutivamente ao sujeito, enquanto o segundo é considerado como expressando um traço que pertence ao sujeito essencial e constitutivamente. Se se adota essa terminologia, o que os essencialistas (ver EssENCIALISMo) chamam de "propriedades essen ciais" equivale aos atributos. Às vezes se distingue entre predicado e atributo, estimando-se que o primeiro é um termo específico e o segundo é um termo genérico. Enquanto 'predicado' é o termo que se usa normal mente em lógica, 'atributo' e 'propriedade' têm freqüen temente conotações não estritamente lógicas. É comum o uso gramatical de ' atributo' e o uso ontológico de 'propriedade ' . A relação entre o lógico e o ontológico n o predica do foi tratada na lógica atual ao se discutir o problema de designação (vER) das letras predicados. O exame dos designata de letras predicados é equivalente, com efeito, ao exame de seu status ontológico e, portanto, encara as questões antigamente conhecidas com o nome de teoria dos universais (VER). Ora, enquanto nas antigas doutri nas não se dizia claramente dentro de que marco se leva a cabo tal análise, na lógica atual resulta claro que deve efetuar-se no quadro da interpretação semântica.
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:> Ver: A s referências d e E. W. Beth, e m "Hundred Years of Symbolic Logic", Dialectica 1 ( 1 947 ) , 553. - As de A. Pastore, em "G. Caramuel di Lobkowitz e la teoria de lia quantificazione dei predicato", Rivista Classici e Neolatini, 1 905. - Ver também: E. Adam son, The Logical Copula and Quantification ofthe Pre dicate, 1 897. - H. Rickert, Die Logik des Priidikats und das Problem der Ontologie, 1 930. - A. Grote, Über die Funktion der Copula. Eine Untersuchungen der logischen und sprachlichen Grundlage des Urteils, 1 93 5 . - H. Leblanc, "The Semiotic Function of Predi cates'', Journal ofPhilosophy, 46 ( 1 949), 83 8-844. M. Frede, Priidikation und Existenzaussage. Platons Gebrauch von '. . . ist. . .' und '. . . ist nicht. . .' im Sophistes, 1 968. - P. F. Strawson, Subject and Predicate in Logic and Grammar, 1 975. - W. Carl, Existenz und Priidi kation, 1 974. - 1. Angelelli, "Traditional versus Mo dem Logic: Predication Theory'', Crítica (Revista His panoamericana de Filosofia), 12 ( 1 980), 1 03- 1 06. -' G. H. von Wright, "The Logic of Predication", em Tru th, Knowledge and Modality, 1 984, pp. 42-5 1 . Edição da lsagoge em A. Busse, Commentaria in Aristotelem Graeca, IV, 1 , 1 887, pp. 1 -22. Trad. latina de Boécio em id., pp. 25-5 1 . Os três comentários gregos à lsagoge que possuímos são os de Amónio ( Commenta ria, IV, 3, 1 89 1 , ed. A. Busse); de Elias (ibid., XVIII, 1 , 1 900, ed. A . Busse) e David (ibid., XVIII, 2 , 1 904, ed.
A. Busse). Entre os muitos comentários latinos figuram os de Boécio (Migne, PL, LXIV, 7 1 - 1 58), os de J. Pacius ( 1 605) e os de Sylvester Maurus ( 1 688). Esses comentá rios foram usados na versão francesa, com notas, por J. Tricot (Paris, 1 94 7); neles nos baseamos para nosso ver bete. - Ver a bibliografia do verbete CATEGORIA. Edições de obras: Opera (Roma, ca. 1475); Veneza, 1496-1497; Leipzig, 2 vols., 1 8 19-1820; Leipzig, 7 vols., ed. H. Keili, 1855-1 880 [as Jnstitutiones, em vols. II e III]. C: PRIVAÇÃO. Segundo Aristóteles, a oposição com preende a contradição, a contrariedade, a relação e a privação ( aTépnms). Esta última é entendida em vários sentidos: 1 ) "Quando um ser não tem um dos atributos que deve possuir naturalmente; por exemplo, diz-se que uma planta não tem olhos." 2) "Quando devendo encon trar-se naturalmente uma qualidade em um ser ou em seu gênero, ele não a possui; assim, é muito diferente o fato de que se achem desprovidos de vista o homem cego e a toupeira; para esta a privação é contrária ao gênero animal; para o homem, é contrária a sua própria natureza normal." 3) "Quando um ser que deve possuir naturalmente uma qualidade não a tem; assim, a ceguei ra é uma privação, mas não se diz que um ser é sempre cego; só o é quando, tendo alcançado a idade em que deveria possuir a vista, não a tem." 4) "Chama-se cego a um homem se ele não possuir a vista nas circunstâncias em que deveria tê-la." A privação se opõe, portanto, à posse, mas só é privação autêntica no último caso, isto é, quando não existe a qualidade de que se trata concorren-
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do todas as circunstâncias necessárias para que exista. É preciso distinguir a privação da mera ausência; esta é não existência de uma qualidade com independência de sua possibilidade ou impossibilidade, de sua adequa ção ou inadequação, de sua contradição ou conformida de. Só quando há possibilidade, adequação e conformi dade com as circunstâncias dadas pode uma não exis tência ou não posse ser definida. Para outros aspectos do problema da privação, ver o dito nos verbetes NADA e NEGAÇÃO. No verbete sobre a noção de OPOSIÇÃO nos referimos à oposição aristotélica da privação à posse e à chamada "oposição privativa" dos escolásticos. PROAÍRESIS. Ver DELIBERAÇÃO, DELIBERAR; ELEIÇÃO,
ELEGER.
PROBABILIDADE. Na Antiguidade se chamava com freqüência "provável", ev8oi;ov, EvÀoyov, aquilo que, segundo todas (ou a maior parte das) aparências, pode ser declarado verdadeiro ou certo. A probabilidade tem vários graus, segundo sua maior ou menor aproximação da certeza. Esta doutrina do provável é de índole gnosio lógica e é a que exerceu maior influência até época relativamente recente; dentro de seu quadro se origina o probabilismo (vER) defendido pelos céticos modernos. Junto da mesma pode-se formular uma doutrina ontoló gica, que consiste em considerar a probabilidade como um conceito aplicável às coisas mesmas. No primeiro caso, se diz que um juízo é provável; no segundo, se diz que um acontecimento é provável. A concepção gnosiológica é chamada também de subjetiva; a con cepção ontológica, de objetiva. Embora a primeira tenha predominado a tal ponto que uma das definições mais habituais de 'probabilidade' na literatura filosófica de todos os tempos foi 'grau de certeza', a segunda não foi totalmente esquecida. Às vezes, aliás, a primeira se manteve porque a segunda era dada por suposta, cons ciente ou inconscientemente. Argumentou-se, contudo, que a noção de probabilidade não pode ser inteiramen te subjetiva (ou interna) nem inteiramente objetiva (ou externa). Com efeito, se fosse só o primeiro, a probabi lidade consistiria numa falha do conhecimento. Se, em contrapartida, fosse só o segundo, o juízo sobre o pro vável não poderia ser um juízo certo. Por tal motivo se propôs em algumas ocasiões uma concepção da noção de probabilidade que oscilava entre o conceito interno e o conceito externo: a probabilidade seria em tal caso um grau maior ou menor de certeza sobre um aconteci mento ou um grupo de acontecimentos afetado por um índice de probabilidade. O exame do conceito de probabilidade entrou num caminho mais seguro nas investigações empreendidas por matemáticos e filósofos durante os últimos duzentos e cinqüenta anos. Embora já no século XVI se começas se a estudar a questão da probabilidade em relação com a
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teoria do jogo, somente no século XVII (Fermat, Pascal e seus trabalhos sobre a roleta) e inícios do século XVIII, com a publicação do tratado de Jacob Bernoulli intitula do Ars Conjectandi ( 1 7 1 3), atacou-se de forma rigorosa a questão aqui levantada. Tanto a citada obra como os escritos posteriores de Pierre-Simon Laplace ( 1 7491 827: Théorie analytique des probabilités, 1 8 1 2. Essai philosophique sur les probabilités, 1 8 1 4) tinham uma característica comum: a de considerar a doutrina da probabilidade como a arte de julgar sobre a maior ou menor admissibilidade de certas hipóteses com base nos dados possuídos. Apresentaram-se várias classificações de teorias da probabilidade. Mencionamos quatro. A primeira o tempo - se deve a Thomas Greenwood, segundo o qual há as seguintes teorias: 1) Teorias segundo as quais a probabilidade se de fine como uma medida ou grau relativo de crença em fatos ou enunciados. Trata-se de uma consideração aná loga à que chamamos subjetiva ou interna, mas que, quando é tratada matematicamente, pode dar origem às investigações antes referidas sob o nome de probabili dade indutiva. 2) Teorias segundo as quais a probabilidade é defini da como a relativa freqüência dos acontecimentos. Trata se de uma consideração análoga à que chamamos objetiva ou externa. 3) Teorias segundo as quais a probabilidade é defi nida como a freqüência em valor de verdade de tipos de argumentos. Trata-se da probabilidade quando é refe rida às proposições. 4) Teorias segundo as quais a probabilidade se define como o enlace entre uma noção primitiva e sua evidência. Um exemplo destas teorias é a de J. M. Keynes, que de fendeu uma nova versão da probabilidade indutiva. 5) Teorias segundo as quais a noção de probabilida de é uma noção operacional. Não são incompatíveis com várias das anteriormente mencionadas. 6) Teorias segundo as quais a probabilidade é defi nida como um limite de freqüências, de tal modo que a probabilidade de um acontecimento é igual a sua fre qüência total. 7) Teorias segundo as quais a probabilidade é defini da como uma magnitude física determinada por axiomas. Segundo Maurice Fréchet, há três campos possíveis de investigação da probabilidade, que dão origem a ou tras tantas teorias: l a) Problemas relativos a jogos. Ofereceram o mate rial essencial para a escola às vezes chamada a priori, segundo a qual as condições aprióricas - baseadas na natureza da prova e não mediante indução e obtenção de resultados - conduzem a igual possibilidade de al guns acontecimentos. Uma vez classificados e distribuí dos os resultados possíveis em casos mutuamente ex clusivos e igualmente possíveis, temos que a probabi-
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!idade de um acontecimento fortuito, E, é definida como uma razão entre o número de casos favoráveis a E e o número de casos igualmente possíveis. 2a) Problemas demográficos, econômicos e de se guros. Constituem a inspiração da escola estatística. A fórmula geral que rege o cálculo enuncia que a freqüên cia de E em n provas é a razão n entre o número r de casos "favoráveis" a E e o nú mero total de provas. Esta escola estatística se subdivide em duas: (Ea) Escola que concebe a probabilidade como um limite de freqüências. Trata-se de uma interpretação aná loga à [6] da classificação anterior. Foi elaborada e corri gida por Von Mises por meio de sua tese da "seqüência co letiva" dos resultados supostos nas provas, seqüência que ocorre ou quando a freqüência total do acontecimen to, E, na seqüência S existe, sendo chamado seu valor,p, a probabilidade de E em S, ou quando a mesma proprie dade se mantém com o mesmo limite p se a seqüência é substituída por qualquer seqüência extraída dela. (Eb) Escola que concebe a probabilidade como magnitude tisica medida por freqüências. Trata-se de uma interpretação análoga à [7] da classificação ante rior. Segundo Fréchet, é uma "definição axiomática mo dernizada" da probabilidade. 3a) Estudos de natureza lógica. Concebem a probabi lidade como grau de crença adscrito a uma série de fenô menos, de tal sorte que a probabilidade de um aconteci mento E é medida pelo grau de crença em sua ocorrência. Uma classificação mais restrita - pois se refere somente aos trabalhos sobre a probabilidade realiza dos por positivistas lógicos ou pensadores afins a eles - é a de J. R. Weinberg. Segundo este autor, há três doutrinas probabilitárias: 1 b) A concepção da probabilidade como limite de freqüências, proposta por Von Mises e revisada por Wald. 2b) A concepção da probabilidade segundo a qual as expressões é verdadeiro' e 'é falso' designam casos limites de uma série contínua de valores de probabilida de, proposta por Reichenbach. 3b) A teoria segundo a qual o estudo da probabili dade constitui um ramo da lógica (Wittgenstein, Car nap, Waismann). Mario Bunge apresentou uma ampla classificação de concepções sobre a probabilidade (aplicada), que inclui todas as idéias fundamentais até agora mantidas: 1 c) A concepção subjetivista ("pessoal" ou "perso nalista", bayesiana) que, até as origens da teoria quânti ca, era compatível tanto com o "objetivismo" quanto com o "subjetivismo" já que "se podia argumentar que '
as leis básicas são deterministas, e que se exige a proba bilidade só pela ignorância empírica dos detalhes". Com a mecânica e a termodinâmica quânticas, com suas leis estocásticas, mudou a situação do ponto de vista filosó fico, pois a concepção subjetivista da probabilidade resultou compatível só com uma filosofia subjetivista. 2c) A concepção da probabilidade como freqüência, ou probabilidade freqüencial. Originalmente podia ser adotada tanto por realistas quanto por empiristas, mas desde a teoria quântica os realistas não podem sustentá la, já que uma epistemologia realista se nega a admitir que leis atômicas e outras leis similares dependam de atos de observação. 3c) A concepção da probabilidade como propensão ou "proclividade" - o que se poderia chamar também de concepção "tendencial" -, segundo a qual, enuncia da grosso modo, a medida da probabilidade de x equiva le à "força da propensão ou tendência que tem uma coi sa para permanecer no estado ou estados x" (onde "esta do" inclui "fase"). Segundo Bunge, esta concepção per mite eliminar as objeções que é possível formular contra as concepções subjetivista e freqüencial, e encaixa-se tanto com a teoria matemática da probabilidade quanto com as teorias estocásticas da ciência contemporânea. A análise lógica da noção de probabilidade foi proposta por Venn e defendida por Peirce. Em seu artigo "The Doctrine ofChances", originalmente publicado em Po pular Scientific Monthly (março de 1 878), Peirce escre veu: "Há duas certezas concebíveis acerca de qualquer hipótese: a certeza de sua verdade e a de sua falsidade. Os números 1 e O são apropriados, neste cálculo, para designar esses extremos de conhecimentos, enquanto as frações que possuem valores intermediários entre eles indicam, se se nos permite uma expressão vaga, os graus nos quais a evidência se inclina para um ou outro. O problema geral das probabilidades consiste em determi nar, a partir de um estado de fatos dado, a probabilida de numérica de um fato possível. Isso equivale a investi gar até que ponto os fatos dados podem ser considera dos como uma prova para demonstrar o fato possível. E assim o problema das probabilidades é simplesmente o problema geral da lógica". O estudo lógico da noção de probabilidade levou muitos autores a distinguir entre a chamada "probabili dade estatística" (que diz respeito a fenômenos) e a cha mada "probabilidade indutiva" (que diz respeito a pro posições sobre fenômenos). A primeira, elaborada en tre outros por R. von Mises, H. Reichenbach e K. R. Pop per, prediz freqüências. A segunda, estudada em detalhe por Carnap, analisa as certezas possíveis em relação com as hipóteses estabelecidas. Deve-se a Carnap uma investigação detalhada da noção de probabilidade indutiva. Segundo Camap, deve se eliminar do conceito de probabilidade proposto a no ção de freqüência relativa com o fim de ater-se à pro-
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habilidade como grau de confirmação (ou conceito se mântico). O estudo da probabilidade indutiva coincide, portanto, com o estudo do conceito de grau de confir mação. Assim, todo raciocínio indutivo (no amplo sen tido de raciocínio não dedutivo ou não demonstrativo) é um "raciocínio em termos de probabilidade". Mas como todos os princípios e teoremas da lógica indutiva são analíticos, "a validade do raciocínio indutivo não depende de pressuposições sintéticas, tais como o deba tido princípio da uniformidade do mundo". O sistema de Carnap da lógica indutiva adota a forma de um siste ma interpretado e pertence, portanto, à semântica. Entre as novidades importantes introduzidas por Carnap figu ra um método de distribuição estatística de probabilida des em grupos que permite atribuir probabilidades a acontecimentos futuros com base na freqüência com que tais acontecimentos ocorreram no passado. O prin cípio de indiferença (vER) , que não pode ser usado na probabilidade estatística - e segundo o qual se a evi dência obtida não contém nada que favoreça um aconte cimento possível mais do que outro então os aconteci mentos possuem probabilidades iguais relativas a esta evidência -, desempenha um papel fundamental, por que não somente é aplicado indiferentemente aos casos possíveis, mas é aplicável aos grupos de distribuição estatística. Outra importante contribuição de Camap consiste em sua proposição de que para cada significado de 'provável' há três conceitos: o conceito classificató rio (o usual na divisão lógica em sentido clássico); o conceito quantitativo (conceito numérico ou métrico) e o conceito comparativo (conceito topológico ou con ceito de ordem, sem emprego de valores métricos). Es ses três conceitos são de fundamental importância em todos os usos, tanto os pré-científicos quanto os cientí ficos, da noção de probabilidade. Outra novidade, final mente, é constituída pela análise e rejeição do psicolo gismo, não só em lógica dedutiva (o que é já geralmente aceito desde Frege e Husserl), mas também em lógica indutiva, onde pareceu dominar sempre o subjetivismo. Carnap reconhece que o sentido subjetivo psicológico em que pode ser usado o vocábulo 'probabilidade' como conceito do grau de crença efetiva - à diferença da crença racional - é importante para a teoria do com portamento humano em todas as ordens e para as ciên cias correspondentes, mas afirma que não pode servir de base para a lógica indutiva ou para o cálculo de pro babilidades na medida em que este constitui um instru mento geral da ciência. � Sobre o termo 'provável' na filosofia medieval: M.-D. Chenu e Th. Deman, "Notes de lexicographie philosophique médiévale. Sufficiens. Probabilis", Revue des Sciencesphilosophiques et théologiques, 22 ( 1 933), 25 1 -290. História: E. H. dei Busto, Losfandamentos de la pro babilidad de Laplace a nuestros días, 1 955. - E. F. Byr-
PROBABILIDADE
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nung. Eine logische Untersuchung des disjunktiven Ur teils, 1 9 1 0. - O. Sterzinger, Logik und Naturphiloso phie der Wahrscheinlichkeitslehre. Ein umfassender Lo sungsversuch, 1 9 1 1 . - A. von Meinong, Über Mogli chkeit und Wahrscheinlichkeit, 1 9 1 5 . -- J. M. Keynes, A Treatise on Probability, 1 92 1 ; nova ed., 1 962 ["Intro dução" de N. R. Hamson]. - O. Czuber, Die philoso phischen Grundlagen der Wahrscheinlichkeitsrechnung, 1 923. - E. Kaila, Die Prinzipien der Wahrscheinlich keitslogik. Über das System der Wahrscheinlichkeitslo gik, 1 926. - R. von Mises, Wahrscheinlichkeit, Statistik und Wahrheit, 1 928. - H. Reichenbach, R. von Mises, P. Hertz, F. Waismann, H. Feigl, "Wahrscheinlichkeit und Kausalitãt", Erkenntnis, 1 ( 1 930- 1 93 1 ), 1 5 8-285.
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PROBABILISMO
2376
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Sobre probabilidade e indução (além de várias obras supra): R. M. Cohen e E. Nagel, An Introduction to Logic and Scientific Method, 1 934, cap. XIV. - N. Goodman, "A Query on Confirmation", Journal ofPhi losophy, 43 ( 1 946), 383-386. - !d., Fact, Fiction and Forecast, 1 955. - W. C. Kneale, Probabi/ity and In duction, 1 949. - P. Servien, Hasard et probabi/ité, 1 949. - L. Hoghen, Chance and Choice. An Introduc tion to Probabi/ity, 1 949. - R. Carnap, Logica/ Foun dations of Probabi/ity, 1 950; 2ª ed., rev., 1 962. - 1. J. Good, Probability and the Weighting ofEvidence, 1 950. - G. H. von Wright, A Treatise on Induction and Pro bability, 1 95 1 . - R. von Mises, M. Fréchet, G. Hirsch et ai. , Théorie des Probabi/ités. Exposés sur sesfonde ments et ses applications, 1 953. - R. Carnap, R. C. Jeffrey et ai., Studies in Inductive Logic and Probability, 1 989. - J. L. Pollock, Nomic Probabi/ity and the Foun dations of Induction, 1 990. Sobre juízo provável: J. G. Gendre, Introduction à l 'étude du jugement probable, 1 947.
Obras sobre o cálculo de probabilidades: L. Bache lier, Calcul des probabilités, 1, 1 9 12. - E. Borel, Traité de calcul des probabi/ités, 1 924. - Id., Éléments de la théorie des probabilités, 1 950. - R. von Mises, Wahrs cheinlichkeitsrechnung, 1 93 1 ; 2ª ed., 1 95 1 . - A. N. Kolmogoroff, Grundbegrijfe der Wahrscheinlichkeits rechnung, 1 933. - M. Fréchet, Recherches théoriques modernes sur /e calcul des probabilités, !, 1 937. - G. Castelnuovo, La probabilité dans les dijférentes bran ches de la science, 1 937. - J. H. Baptist, Analyse des probabilités, 1, 1 947. - J. Cohen e M. Hansel, Risk and Gambling: the Study of Subjective Probabi/ity, 1 956. S. Spencer Brown, Probabi/ity and Scientific Inference, 1 957. - P. Nolfi, Jdee und Wahrscheinlich keit, 1 957. - J. P. Day, Jnductive Probabi/ity, 1 96 1 . H. Kyburg, Jr., op. cit. supra. H. Leblanc, Statistical and Inductive Probabilities, 1 962. - W. Stegmüller, op. cit. supra. - T. A. F. Kuipers, Studies in Inductive Probability and Rational Expectation, 1 978. - 1. J. Good, Good Thinking: The Foundations ofProbability -
-
and Its Applications, 1 982. - Ver, além disso, a biblio grafia dos verbetes ACASO, CONFIRMAÇÃO, CONTINGÊNCIA, ESTATÍSTICAS, INDUÇÃO e MODALIDADE. C:
PROBABILISMO. Assim se chama a doutrina segun
do a qual só é possível conhecer as coisas de um modo aproximado, excluindo por princípio toda pretensão a um saber absolutamente certo e seguro. Na esfera práti ca, o probabilismo é a norma que manda agir de acordo com o mais provável ou verossímil, o que equivale a reger-se pelo "conveniente", pelo "adequado (às cir cunstâncias)", pelo "plausível". Estas duas formas de probabilismo não permanecem forçosamente separa das; pelo contrário, é habitual a adesão a um duplo pro babilismo prático e teórico e, sobretudo, como aconte ceu na Antiguidade, a adesão a um probabilismo teóri co em virtude precisamente de certas experiências que recomendavam um probabilismo moral ou prático. São consideradas probabilistas as doutrinas das Academias média e nova (Arcesilau, Carnéades, Clitô maco), isto é, doutrinas que se opõem tanto ao dogma tismo como ao ceticismo radical e que acentuam a teoria da verossimilhança no domínio tisico e moral. Segundo elas, nenhuma proposição pode ser admitida como absolutamente certa. Por outro lado, não existindo o cri tério do absolutamente certo, tampouco pode existir o critério do absolutamente falso. Com efeito, uma pro posição absolutamente falsa é a negação de uma propo sição absolutamente certa. Além disso, dizer que uma proposição é absolutamente falsa equivale a dizer que é absolutamente certo que é absolutamente falsa. Por conseguinte, todo critério de verdade (ou falsidade) é simplesmente "crível", m8avóv. O fundamento dessa "mera probabilidade" de qualquer proposição não é, contudo, para a maior parte dos probabilistas antigos, um raciocínio lógico, mas, antes, a idéia de que toda re presentação de uma coisa a representa só parcialmente. Em oposição a toda forma de dogmatismo surgiram durante o Renascimento várias teorias probabilistas (Mon taigne, Sánchez etc.). Em algumas ocasiões, estas teo rias foram modificações do ceticismo pirrônico. Em outro sentido se fala de probabilismo para refe rir-se a certas doutrinas morais desenvolvidas durante o século XVII, especialmente por alguns autores jesuítas, que seguiram as sugestões do dominicano Bartolomé Medina (nascido em Medina de Rioseco [Valladolid] : 1 528- 1 580). Em sua Expositio in Primam Secundae Angelici Doctoris d. Thomae Aquinatis ( 1 577) e em sua Expositio in Tertiam Partem ( 1 578), Medina indicou que quando há em questões morais uma opinião fundamen talmente provável, pode-se admiti-la inclusive no caso de a opinião oposta ser provável. O probabilismo moral do século XVII adotou diversas formas. Se chamamos simplesmente "probabilismo" à doutrina formulada por Bartolomé Medina, poderemos chamar "probabilioris mo" (de probabilior "mais provável") a doutrina se=
PROBLEMA
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gundo a qual entre várias opiniões em questões morais é preciso aceitar e seguir "a mais provável'', e "casuís mo" à doutrina segundo a qual em muitos dos proble mas de natureza moral se apresentam não "princípios", mas "casos", aos quais é preciso adaptar os "princípios". Na época atual, o probabilismo foi tratado sobretu do do ponto de vista das teorias da ciência. Deste ângu lo, não se pode qualificar o probabilismo epistemológi co nem de ceticismo moderado nem de simples conven cionalismo. É, por exemplo, o que sucede com a episte mologia de Meyerson, que desemboca às vezes num "plausibilismo". É o que ocorre também com o "proba bilismo" de Gaston Bachelard, que afirma, com efeito, ser sempre aproximado o conhecimento filosófico, e também o científico, do real. O "conhecimento aproxi mado" explicado no Essai sur la connaissance appro chée ( 1 927) pode, contudo, coincidir até o máximo com uma idéia absoluta do real tal como a postulam, sob di ferentes pressupostos, o idealismo e o realismo natura lista quando, em vez de forjar para cada realidade deter minada idéia, produzem um "grupo" de idéias; o pers pectivismo (vER) poderia ser, por conseguinte, a tendên cia mais própria deste "aproximacionismo" que encon tra na citada forma de conhecer não um defeito, mas a manifestação de sua vitalidade. :> Ver: A. Schmitt, Zur Geschichte des Probabilismus, 1 904. - Além disso, o t. III da obra de E. Baudin cita da na bibliografia do verbete PASCAL, BLAISE. Ver: H. Bergson, "De la position des problemes", em La pensée et le mouvant, 1 934. H. Wein, Untersu chungen über das Problembewusstsein, 1 93 7 [no senti do de N. Hartmann]. - É. Bréhier, "La notion de pro bleme en philosophie", Théorie, 14 ( 1 948), 1 -7, reimp. em Études de philosophie antique, 1 955, pp. 1 0- 1 6. M. Landmann, Problematik. Nichtwissen und Wissens -
verlangen im philosophischen Bewusstsein, 1 949. -
PROBLEMATICISMO
VV. AA., Nature des Problemes et Philosophie, 3 vols., 1 949 [resenha dos "Debates de verão", celebrados em Lund, em 1 937: um volume sobre os problemas em fi losofia geral; outro, sobre os problemas na lógica e nas ciências da Natureza; um terceiro, sobre os problemas nas ciências do espírito]. -A. Cecchini, Problematicità e problemi, 1 957. W. Hartkopf, Die Strukturformen -
der Probleme, 1 95 8 . C:
PROBLEMATICISMO. A tendência da filosofia ita
liana chamada "problematicismo" corresponde, por um lado, a uma situação concreta do pensamento filosófico da Itália e, por outro, a certo estágio da filosofia con temporânea européia. Perante o idealismo atualista e o neo-escolasticismo se teriam manifestado na Itália cor rentes crítico-racionalistas do tipo das de Antonio Ban fi; estas correntes, mescladas com certas tendências atualistas, foram desenvolvidas especialmente por U go Spirito numa filosofia qualificada de "problematicis mo", isto é, num pensamento filosófico para o qual a única "salvação" e ')ustificação" da atividade filosófica consistia em renunciar a medi-la com o padrão dos de mais saberes, e em particular com o padrão das ciências. Com efeito, enquanto estas, segundo o problematicis mo, tendem a resolver problemas, a filosofia tem como missão principal, e talvez única, a problematização de tudo o que se lhe apresenta, da realidade tanto quanto das proposições sobre ela. Em outros termos, a única coisa que a filosofia pode fazer é ver os problemas co mo problemas, isto é, examinar a significação de todos os problemas e de todo o problemático. E como o mais problemático é a filosofia mesma, ela se converte em seu principal problema. Tal concepção da filosofia, opi na o problematicismo, torna impossível por princípio sua dissolução nas demais ciências. De fato, só parecem poder dissolver-se os saberes que esgotam sua missão na resolução de questões, isto é, que possuem um con teúdo próprio. O problematicismo enlaça-se, assim, com o historicismo, e especialmente com os diversos in tentos realizados para resolver a questão posta pelo ce ticismo histórico. Mas ao mesmo tempo em que se vin cula com este, o problematicismo se vincula, conscien temente ou não, com as diversas tentativas realizadas para reduzir a filosofia a uma atividade "esclarecedo ra". Pois a filosofia é, segundo o problematicismo, uma espécie de "consciência suprema de toda crise enquanto crise'', uma atividade ela mesma crítica, perpetuamen te "aberta" diante de qualquer ação ou de qualquer pen samento. Em outras palavras, a problematização equiva le à vivificação e por isso a filosofia problematizante se mostra não só justificada, mas inteiramente "inevitá vel". Ora, é óbvio que o problematicismo tem pelo me nos duas faces. Por um lado, pode ser uma atividade esclarecedora e analítica. Por outro lado, pode ser uma atitude diante da realidade. No primeiro caso, o proble maticismo coincide com a análise (vER) e até com certos
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postulados do empirismo lógico. No segundo caso, aproxima-se do existencialismo. A redução de toda fi losofia e também de toda vida (cf. Ugo Spirito, La vita come ricerca, 1 937; La vila come arte, 1 94 1 ) a "inves tigação" permite as duas interpretações, embora seja mais plausível que o maior acento pessoal do problema ticismo haja empurrado constantemente para a segunda, com o que a filosofia tem sido para o problematicismo menos uma "análise de significações" do que uma "crise pennanente'', menos uma "atividade" no sentido de Witt genstein do que um "compromisso" no sentido de Jaspers ou de Sartre. � M. M. Rossi elaborou uma concepção da filosofia como "problematicismo" em seu livro Per una conce zione attivistica della filosofia ( 1 927) (ver também HISTORICISMO).
Também, de U. Spirito, ver: II problematicismo, e Dall 'attua/ismo ai problematicismo, 1 976. Além disso, os livros de G. Bontadini, Dall 'attua/ismo ai problematicismo, 1 947, e Dai problematicismo alia 1 948,
metafisica, 1 95 3 . C:
PROBLEMÁTICO. Em Sistema (vER) estudamos a atitude problemática em filosofia, à diferença da atitude sistemática. Referências à distinção entre problema e mistério no sentido de Marcel, em Mistério (vER). A ra dical tendência problemática em filosofia foi analisada em Problematicismo (VER). Aqui nos referimos somente ao termo 'problemático' como adjetivo do juízo. Os juízos problemáticos são, segundo Kant, os que expressam uma das modalidades: a da contingência. Assim, os juízos problemáticos se referem à possibilida de dos atos de julgar. Kant foi criticado por causa de tal interpretação, e argumentou-se que nas modalidades aristotélicas se fala da relação (possível ou necessária) expressa nos juízos. Assim ocorre efetivamente. Ora, é plausível supor que o sentido que Kant dá ao juízo pro blemático (e a todos os juízos de sua tabela) é um senti do epistemológico e não lógico nem tampouco "subje tivo". Portanto, o termo 'problemático' não designa em Kant o mesmo que as modalidades aristotélicas; por isso pode-se sustentar o uso de tal termo precisamente em sentido kantiano à diferença dos outros antes aludi dos. A aplicação de 'problemático' ao juízo foi admitida por muitos tratadistas lógicos dos séculos XIX e XX. Na lógica simbólica, não há referências aos juízos pro blemáticos no sentido tradicional, nem tampouco a pro posições problemáticas. O que nela é examinado da questão é tratado na lógica modal (ver MODALISMO). PROCEPÇÃO, PROCEPTO. Ver BucHLER, Jusrns. PROCESSÃO. A relação entre o Uno e as realidades
dele emanadas, assim como, em geral, entre as realida des de ordem superior e as de ordem inferior, é, segundo Plotino, como uma irradiação, mpÍÀaµ\jJlS. O superior irradia, com efeito, sobre o inferior sem perder nada
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de sua própria substância, tal como a luz que se derrama sem se perder, ou do centro do círculo que aponta, sem se mover, para todos os pontos da periferia. Como diz Platino nas Enéadas (V, i, 7), todos os seres produzem necessariamente a seu redor, por sua própria essência, uma realidade que tende para o exterior e depende de seu poder atual. Trata-se, pois, de uma projeção em forma de uma "imagem". Essa forma especial de comu nicação e projeção é a processão, npóoôos, segundo a qual se realiza a emanação das hipóstases. Essa proces são é, de certo modo, um "desvio" (En., I, viii, 7), ou, se se quiser, um "enfraquecimento por transmissão". No entanto, não se deve interpretar sempre como uma "que da" no sentido do gnosticismo (VER) , mas, no máximo, como um descenso, isto é, como uma diminuição da tensão em que consiste a hipóstase superior. "O termo processão", escreve Bréhier, "indica o modo como as formas da realidade dependem umas de outras; a idéia que evoca é comparável, por sua generalidade e impor tância histórica, à idéia atual de evolução. Os homens do final da Antiguidade e da Idade Média pensam as coisas sob a categoria de processão, como os dos séculos XIX e XX as pensam sob a categoria de evolução" (La philo sophie de Plotin, 1 922, IV, p. 85). Assim, o contrário da processão é a conversão ou reversão, émaTpocp�, e é justamente a contraposição e o jogo da processão e da conversão ou reversão que pode explicar todo o mo vimento e geração do universo. Como escreveu Proclo, toda reversão se realiza mediante semelhança dos ter mos revertidos com o que constitui o final do processo de reversão (lnstitutio theologica, prop. 32), e toda pro cessão se realiza mediante semelhança do secundário com o primário (op. cit. , prop. 29). Ora, embora desen volvida especialmente no platonismo, a noção de pro cessão não é exclusiva dele nem fica tampouco confina da aos sistemas emanatistas. A esse respeito pode-se admitir que a noção de processão foi durante muito tem po tão geral quanto Bréhier indicou. Por exemplo, a teologia cristã, especialmente a teologia católica de ins piração helênica, elaborou com particular detalhe e aprofundamento o conceito de processão. Na verdade, a noção de processão - não reduzida então a um só conceito nem relegada a sistemas como o de Escoto Erígena e, em geral, a sistemas de viés panteísta - é uma das que permitem ter acesso intelectual ao mistério da Trindade. Em todo caso, a processão é uma das ma neiras possíveis de produção, juntamente com a trans formação, a emanação ( VER) e a criação (VER) . Já se vê, portanto, com isso que emanação e processão não se acham forçosamente no mesmo plano. Mas processão não tem tampouco uma significação unívoca. Se nos referimos por enquanto só às coisas criadas, veremos que a processão pode ser entendida de dois modos ou, melhor dizendo, veremos que pode ser entendido de duas maneiras diferentes o modo de procedência de uma
PROCESSO
coisa de outra. Em primeiro lugar, a processão pode ser uma operação (chamada processio operationis), do tipo da volição com respeito ao sujeito que quer. Em segun do lugar, a processão pode ser o termo (chamado pro cessio operanti) do tipo de uma obra "exterior" qualquer realizada. Pois bem, mediante uma consideração analó gica poderemos ver de que maneira seria possível enten der a processão dentro de Deus se partirmos do conceito da processio operanti. Esta pode ser, com efeito, de dois tipos: a processão ad extra, chamada também tran sitiva, que ocorre quando o termo ou a obra passam, por assim dizer, para fora do que o produz, e a processão ad intra, chamada também imanente, que ocorre quan do o termo permanece em seu princípio. Neste último caso, temos um conceito da processão - a processio operanti ad intra - que se aproxima da definição tradi cional de comunicação completa sem divisão de subs tância de uma natureza imutável a várias pessoas. Com efeito, a processão em questão é a que ocorre na relação do Espírito Santo e do Filho com o Pai; a que, por ana logia, ocorre com a relação entre o Verbo mental e a inteligência (e talvez por isso o Logos [ VER] possa ser interpretado num sentido muito parecido ao da Palavra com que os hebreus designavam a comunicação). Do ponto de vista filosófico, será preciso limitar-se aqui a enfatizar a necessidade de não confundir processão e emanação, e de distinguir não só entre diversas formas de processão, mas inclusive de distinguir cuidadosa mente entre a operação e o princípio operante. Precisa mente esta última distinção permite até certo ponto de terminar que em Deus a processão não pode ser de ope ração. Por outro lado, dentro da operação não se pode confundir o ato operante com a potência pela qual ele se realiza. No caso da distinção entre Deus e suas faculda des (distinção, sem dúvida, não equivalente à que há simplesmente entre o sujeito e suas potências), as facul dades pelas quais se produzem as operações seriam, na teologia, o modo de relacionar processualmente numa processão de termo ad intra - as Três Pessoas sem negar no Pai o Princípio e admitindo, por conse guinte, sua singular "não procedência". PROCESSO. Equiparou-se às vezes 'processo' (pro cessus) a 'processão' (processio); assim, o que dissemos
sobre processão poderia aplicar-se a processo. Ao mes mo tempo, muito do que se disse sobre 'processo' pode ria aplicar-se a 'processão' . Assim, por exemplo, enten deu-se às vezes 'processão' (processio) como "deriva ção de algo 'principiado' de seu 'princípio"', e essa de rivação (eductio) pode ser entendida tanto em sentido metafisico ou teológico quanto lógico. Em certas oca siões, o conceito de "processo" foi equiparado ao con ceito de "raciocínio"; tal ocorre quando se falou de um processus ad impossibile (ou prova indireta; prova pelo absurdo), ou de um processus compositivus (analítico) ou resolutivus (sintético) (ver ANALÍTICO E SINTÉTICO).
PROCESSO
Embora a noção de processo seja, em princípio, axiologicamente neutra, tem sido comum nas filosofias do processo sustentar que o processo (ou a mudança, o devir etc.) é preferível a toda realidade de caráter "es tático". Por essa razão, supôs-se que o processo equivale a um "progresso". No entanto, Manuel García Morente (Ensayos sobre e/ progreso, 1 934) propôs distinguir en tre "processo" e "progresso". Embora haja progresso quando se incorporam valores no curso de um proces so, não é necessário que haja progresso sempre que há um processo. Às vezes se entendeu por 'processo' não somente todo "progresso", mas também todo acontecimento e toda ação. Evidentemente, o termo 'processo' tem um sentido tão amplo que fica praticamente imanipulável. Embora os autores chamados "processualistas" não te nham estabelecido sempre distinções formais entre 'processo', 'acontecimento' , 'ação' etc., dos contextos nos quais apresentam suas "filosofias do processo", depreende-se um uso relativamente bem circunscrito deste termo. Quando há dúvidas, é mister discernir entre 'processo' e 'acontecimento' (ainda que se considere que um processo se compõe de uma série de aconteci mentos) e, em todo caso, é mister distinguir entre 'pro cesso' e 'ação' (ainda que se suponha que toda ação é um processo ou tem um caráter "processual"). Na filosofia do século XX introduziu-se a noção de processo como equivalente aproximadamente das no ções de devir ( vER) e de mudança. Em conseqüência, as chamadas "filosofias do processo" foram entendidas como filosofias segundo as quais o que há não é redu tível a entidades ou a coisas em princípio invariáveis; as coisas ou entidades são explicáveis, antes, em função de, ou dentro do contexto de, processos. O processo se contrapõe ao ser (estático) ou à substância (vER). Tem se falado de "processualismo" (e também de "processalismo"). As filosofias do processo ou filoso fias processualistas se orientaram para o concreto ( VER) , para o indeterminismo e para o contingentismo (ver CONTINGÊNCIA).
Com freqüência a idéia de processo exerceu um papel importante na psicologia filosófica; assim ocor reu com William James e com Henri Bergson. O pro cessualismo psicológico fez uso das idéias de "fluxo de consciência", de "corrente de consciência", de "tem poralidade", de "consciência como duração" etc. Enquanto as filosofias não-processualistas toma ram como paradigma a noção de "coisa" - e também a de "agente" enquanto substrato de mudanças - e seguiram, implícita ou explicitamente, o ideal de alguns escolásticos, Operari sequitur esse, o operar segue ao ser, as filosofias processualistas tomaram como para digma as noções de "mudança", "movimento" e "novi dade", e delas se pode dizer que seguem o ideal Esse sequitur operari, o ser segue ao operar. Noções básicas
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nas filosofias não-processualistas são as de indivíduo, espaço (ou situação no espaço), atomicidade e desconti nuidade. Noções básicas nas filosofias processualistas são as de totalidade, tempo (especialmente, duração), funcionalidade e continuidade. Exemplo de uma filosofia que destaca, e aspira a abarcar, todas as formas de processo é a de W. H. Shel don, segundo quem o processo é o "oposto polar" da própria polaridade, é o que torna possível para a polari dade "pôr-se em marcha". Sem o processo as polarida des permaneceriam "fixas", sem relacionar-se mutua mente. O processo é, escreve Sheldon, "o grande remé dio da Natureza, a posição terapêutica que suplementa as imperfeições que atrapalham a ordem polar... A mis são do princípio do processo é eliminar o choque e o conflito entre os opostos polares .. O processo intervém para ajudar a polaridade, e com isso se ajuda a si mes mo" (Process and Polarity, 1 944, p. 1 1 e 1 1 8). Entre os autores que promoveram a idéia de proces so destaca-se A. N. Whitehead. Sob sua égide se consti tuiu inclusive uma tendência filosófica chamada "pro cessualismo" ou "filosofia do processo". Segundo Whi tehead, há dois tipos de "fluência", já descobertos no século xvn : aquele que alude à constituição real interna de algo particular existente ( concreção ), e aquele que alude à passagem de algo particular existente a outro algo particular existente (transição). Esses dois significa dos aparecem unificados na teoria das "entidades atuais", que substituem as "coisas" hipostasiadas ou substancia lizadas da "antiga" metafisica, e designam simplesmen te a radical individualidade e novidade de cada coisa em sua concreção "absoluta". Daí duas espécies de pro cesso: o processo macroscópico, ou transição de uma "atualidade alcançada" à "atualidade no alcançar-se", e o processo microscópico, ou conversão das condições que são meramente reais numa atualidade determinada. O primeiro tipo é o processo que vai do atual ao mera mente real; o segundo, o que vai do real ao atual. O pri meiro é, portanto, de natureza eficiente; o segundo, de índole teleológica (Process and Rea/ity, an Essay in Cosmo/ogy, 1 929, cap. X, seção 5). A filosofia do pro cesso é, portanto, uma "filosofia do organismo", mas este organismo deve ser entendido num sentido dinâmi co e não estático, de tal sorte que então "cada entidade atual resulta por si mesma descritível só como um pro cesso orgânico, descrevendo no microcosmo o que é o universo no macrocosmo" (loc. cit.). William A. Christian (An Interpretation of White head s Metaphysics [ 1 959], pp. 28ss.) distingue quatro sentidos do termo 'processo' (process) em Whitehead: 1 ) O mundo temporal ou o mundo das coisas finitas que transcorrem (Process and Rea/ity, p. 3 3 ; Science and the Modern Wor/d, l 02; Modes of Thought, 1 3 1 ); 2) a atividade ou "vida" (Science and the Modern World, 247; Modes ofThought, passim); 3) o crescimento ou .
PROCLO
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mudança interna; 4 ) a mudança de estado em relação com outras coisas. Segundo Christian, os sentidos 1) e 2) são "pré-sistemáticos" e, em certo sentido, "verbais" e incidentais; em contrapartida, os sentidos 3) e 4) são "sistemáticos". No sentido 3) o processo é "a atividade que ocorre dentro de uma entidade atual [real, efetiva]; no sentido 4) é "a transição entre uma ocasião atual [real, efetiva] e o que segue a ela" (Christian, op. cit., p. 29). Uma série bastante longa de fatores - dificuldades com que se choca a idéia de continuidade desde a esfe ra matemática até a da experiência psicológica; a insis tência nos aspectos dinâmicos e mutantes da realidade tanto fisica quanto histórica; a importância da idéia de novidade e descoberta de novidades - e a influência de vários autores - Bergson, William James, Samuel Alexander, C. Lloyd Morgan, John Dewey e, muito espe cialmente, Whitehead - decantaram uma ampla e varia da tendência chamada "filosofia do processo", que se opõe a modelos continuístas e deterministas. A revista Process Studies, dirigida por Lewis S. Ford e John B. Cobb, Jr., que começou a ser publicada em 1 974, aspira a dar voz a essas tendências "processualistas", com mar cada preferência pelo desenvolvimento da noção de pro cesso whiteheadiana. Muitos autores processualistas afir mam que foi um erro equiparar 'continuísmo', 'determi nismo' e 'racionalismo'; em todo caso, uma filosofia pro cessualista não tem por que ser irracional, e pode ser, an tes, um esforço na ampliação da noção de racionalidade. :> Sobre a noção de processo, além dos textos mencio nados no texto do verbete, ver: L. S. Ford, W L. Sessions
et ai., Two Process Philosophers: Hartshorne s Encoun ter with Whitehead, ed. L. S. Ford, 1 973. - J. O. Ben nett, J. Wayne et ai. , Studies in Process Philosophy, ed. Robert C. Whittemore, 1 974, 1 976. - F. B. Wallack, The Epochal Nature of Process in Whitehead s Meta physics, 1 980. - R. S. Brumbaugh, Whitehead, Process Philosophy, and Education, 1 982. - J. R. Gray, Modem Process Thought: A BriefJdeological History, 1 982 [Bra dley, Bergson, Whitehead, etc.]. - Id., Process Ethics, 1 98 3 . - C. Riccati, "Processio " et "explicatio ". La doctrine de la création chez Jean Scot et Nicolas de Cuse, 1 983 . - G. R. Lucas, The Genesis of Modem Process Thought: A Historical Outline with Bibliogra phy, 1 98 3 . - V. Lowe, L. S. Ford et ai. , Whitehead and the Jdea of Process / W und der Prozessbegriff, 1 984, ed. H. Holz e E. Wolf-Gazzo. - R. H. Nash, ed., Pro cess Theology, 1 987. R. Kane, S. H. Phillips, eds., Hartshorne, Process Philosophy, and Theology, 1 989. - G. R. Lucas, The Rehabilitation of Whitehead: An Analytic and Historical Assessment of Process Philo sophy, 1 989. - Ver também a revista Process Studies, desde 1 97 1 (especialmente sobre A. N. Whitehead e Ch. -
Hartshorne). Sobre a noção de progresso: G. Sorel, Les illusions du progrés, 1 908. - J. Delvaille, Essai sur l 'histoire
de l 'idée de progrés jusqu 'à la fin du xvme siécle, 1 9 1 0. - A. Dellepiane, Le progrés et saformule, 1 9 12. - L. Weber, Le rythme du progrés, 1 9 1 3 . -J. B. Bury, The Idea of Progress: An Inquiry into lts Origin and Growth, 1 920. - W R. Inge, The Idea of Progress, 1 920. - F. Tõnnies, Fortschrift und soziale Entwick lung, 1 926. - P. Mouy, L'idée de progrés dans la philo sophie de Renouvier, 1 927. - C. Lalo, L'idée du pro grés dans les sciences et dans les arts, 1 930. - G. Friedmann, La crise duprogrés. Esquisse d 'histoire des idées (1895- 1935), 1 936. - VV. AA., La notion de pro grés devant la science actuelle, 1 93 8 . - A. Dempf, Die Krisis des Fortschrittsglaubens, 1 94 7 . - C. Frankel, The Faith ofReason: The Jdea ofProgress in the French Enlightenment, 1 948. - E. L. Tuveson, Millenium and Utopia. A Study in the Background of the Jdea ofPro gress, 1 949. - N. Berdiaev, E. Mounier, E. d'Ors et ai., Progrés technique, progrés mora/e, 1 948. - J. Bail lie, The Belief in Progress, 1 950. - M. Ginsberg, The ldea of Progress, 1 953. - C. A. Emge, Das Problem des Frotschritts. Was müssten Gedanken über Fortschritt, Weltkritik und Weltverbesserung voraussetzen, damit sie richtig sein konnen ?, 1 95 8 . - R. Franchini, II pro gresso. Storia di un 'idea, 1 960. - M. Ghio, L'idea di progresso nell 'illuminismo francese e tedesco e Maine de Biran e la tradizione biraniana in Francia, 1 962. J. A. Maravall, Antiguos y modernos: La idea de pro greso en el desarrollo inicial de una sociedad, 1 966. - L. Edelstein, The Jdea of Progress in Classical An tiquity, 1 967. - S. Pollard, The Jdea ofProgress: History and Society,. 1 968. - F. C. Green, Rousseau and the Jdea ofProgress, 1 950. - D. W Marcell, Progress and Prag matism: James, Dewey, Beard and theAmerican Jdea of Progress, 1 974. - L. Laudan, Progress and lts Pro blems: Towards a Theory ofScientific Growth, 1 978. R. Nisbet, History of the Jdea ofProgress, 1 979. Th. Olsen, Millenialism, Utopianism, and Progress, 1 982. - E. Hansot, Perfection and Progress: Two Modes of Utopian Thought, 1 982. - E. R. Dodds, The Ancient Concept of Progress, and Other Essays on Greek Lite rature and Belief. 1 985. - W Drost, ed., Fortschritts glaube und Dekadenzbewusstsein im Europa des 19. Jh.s, 1 986. - F. Rapp, Fortschritt. Entwicklung und Sinnge halt einer philosophischen Idee, 1 992. Obras: Os escritos filosóficos de Proclo podem ser agrupados do seguinte modo (segundo a classificação de E. R. Dodds em sua edição da Institutio theologica): 1 ) Comentários conservados, sobre A República, Parmê nides [o final do original grego se perdeu; conserva-se trad. latina descoberta por R. Klibanksy e publicada em Plato Latinus, III], Timeu e Alcibíades !; comentário só parcialmente conservado - sobre o Crátilo, prova velmente extraído de anotações de um aluno. Perderam se comentários sobre o Fédon, sobre os Oráculos Cal deus, e possivelmente outros. 2) A Teologia platônica, em grande parte exegética; perderam-se, neste grupo, a Teologia órfica e a Harmonia de Orfeu, Pitágoras e Pla tão que, além disso, parecem ser compilações feitas por Proclo. 3) Várias obras perdidas sobre o simbolismo reli gioso, sobre a teurgia, contra os cristãos, sobre o mito de Cibele. 4) Vários ensaios (.';obre o lugar, Sobre as três mónadas), três dos quais - o De decem dubitationibus circa providentiam, o De providentia etfato e o De ma lorum subsistentia são conhecidos sobretudo pela versão latina medieval de Guilherme de Moerbeke. 5) Os dois manuais: Elementos de Teologia (L:To1xeíwaç1 8e0Àoy1KÍ]) e Elementos de fisica, este último conhe cido antigamente com o nome de Tiep\ Ktvr']aewç. Edição de obras: As primeiras edições de Proclo são do século XVI (Sobre o movimento ou Física, 1 5 3 1 ) e XVII (Sobre a teologia platônica e Elementos de teolo gia, 1 6 1 8). V. Cousin editou: Procli philosophici Plato nici opera inedita, 6 vols., 1 820- 1 825; 2' ed., em um vol., 1 864, reimp., 1 962 (incluindo De decem dubitatio -
nibus circa providentiam, De providentia etfato, De ma lorum subsistentia, Commentarius in Platonis primum Alcibiadem, Commentarius in Platonis Parmenidem).
Entre as edições de obras separadas mencionamos a da
Institutio physica, por A. Ritzenfeld; os Comentários ao Crátilo, por G. Pasquali, 1 908; o Comentário ao Par mênides, junto com um comentário anônimo sobre as
sete últimas hipóstases, trad. de A. E. Chaignet, 3 vols., 1 900, reimp., 1 962; Comentário ao primeiro Alcibíades, por L. G. Westerink, 1 954; os tratados sobre o sacrificio e a magia, G. Kroll, 1 90 1 ; os três tratados antes mencio nados na trad. latina de G. de Moerbeke (Procli Diado chi Tria Opuscula: De Providentia, libertate, maio), e com texto grego da coleção de escritos de 1. Sebastocratos ( 1 884), ed. H. Boese, 1 864, nova ed. crítica 1 960, e so bretudo a edição de E. R. Dodds antes mencionada da L: To1xeíwms 8e0Àoy1KÍ] (Oxford, 1 933), que fora edi tada por A. Portus ( 1 6 1 8) e por F. Creuzer (3 vols.,
PRODUÇÃO
2383
1 820- 1 822) junto com outras obras. - Trad. esp. dos
Elementos de teologia, 1 965. Ver: A. Berger, Proclus, exposition de sa doctrine, 1 840. H. Kirchner, De Procli neoplatonici metaphy sica, 1 846. - M. Altenburg, Die Methode der Hypo these bei Platon, Aristoteles und Proklos, 1 905 (tese). - N. Hartmann, Des Proklus Diadochus philosophis che Anfangsgründe der Mathematik nach den zwei ers ten Büchern des Euklidkommentars dargestellt, 1 909, reimp., 1 969. H. F. Müller, Dionysos, Proklos, Plati nas: Ein historischer Beitrag zur neuplatonischen Phi losophie, 1 9 1 8; 2ª ed., 1 926. - R. Nazzari, La dialetti ca di Proclo e il sopravvento de/la filosofia cristiana, 1 92 1 . - L. J. Rosan, The Philosophy of Proclus: The Final Phase ofAncient Thought, 1 949. G. Martano, L'uomo e Dia in Proclo, 1 952. E. Elorduy, "El pro blema dei mal en Proclo e el Pseudo Aeropagita", Pen samiento, 9 ( 1 953), 48 1 -490. W. Beierwaltes, Pro klos. Grundzüge seiner Metaphysik, 1 965; 2ª ed., rev., 1 979. - P. Bastid, Proclus et le crépuscule de la pensée grecque, 1 969. - S. E. Gersh, Kívnms Ó:KÍVTJTOS . A Study ofSpiritual Motion in the Philosophy ofProclus, 1 973. - J. Trouillard, L'un et l 'âme selo Proclos, 1 972. - J. Lowry, The Logical Principies of Proclus ' Stoi cheiosis theologiké as ::,ystematic Ground of the Cos mos, 1 980. - J. TrouiUard, La mystagogie de P, 1 982. A Charles-Saget, L'architecture du divin. Mathéma tiques et philosophie chez Plotin et P, 1 982. - E. A. Moutsopoulos, Les structures de l 'imaginaire dans la philosophie de Proclus, 1 985. - G. Boss, ed., Proclus et son influence, 1 987. e -
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PROCÓPIO de Gaza (Palestina) (465-529). Irmão de Zacarias (vER) de Mitilene, e como este da chamada "Escola de Gaza" (vER) , escreveu comentários ao Anti go Testamento (ao Génesis, Êxodo, Números, Deutero nômio, Josué, Reis, Provérbios etc.) com base no exa me e crítica de comentários prévios; trata-se, assim, de uma interpretação ou hermenêutica, ÉpµT)VEÍa. Durante um tempo se atribuiu a Procópio um escrito intitulado Refutação dos Elementos (os Eíementos de teologia, de Proclo), mas ficou provado que este escrito procede de Nicolau de Meton (século xm) . Como Zacarias e Enéias (vER) de Gaza, Procópio defende a doutrina da criação do mundo por Deus contra a idéia da eternidade do mun do. Segundo Procópio, a inspiração, o dom de profecia, o êxtase e o pensamento racional são manifestações igualmente valiosas do estado de perfeição humana. :> Edição dos citados Comentários (in Genesin, Exo dum, Numeras, etc.) em Migne, PG, Lxxxv1r. Edição de Cartas em R. Hercher, Epistolographi graeci, 1 873, pá ginas 533-598. Ver: J. Drãkese, "Nicholaos von Metone ais Beis treiter des Proklos", Theologische Studien und Kritiken [Hamburgo], 68 ( 1 895), 589-6 16. Id., "Prokop von Gaza Wiederlegung des Proklos", Byzantinische Zeits-
[Leipzig], 6 ( 1 897), 55-9 1 . J. Stiglmayr, "Die Streitschrift des Prokops von Gaza gegen den Neuplato niker Proklos", ibid., 8 ( 1 899), 263-301 . - G. Westerink, "Proclus, Procopius, Psellus", Mnemosyne. Tertia Series, 10 ( 1 94 1 - 1 942), 275-280. Ver também bibliografia de GAZA (ESCOLA DE) . e chrift
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PRÓDICO, de Céos. Era da mesma idade que Hípias de Élis e parece ter-se dedicado, como a maior parte dos sofistas, ao ensino da dialética, especialmente em seu aspecto gramatical. Suas próprias concepções eram pes simistas e céticas em matéria religiosa, a ponto de afir mar que os homens divinizam tudo o que necessitam. O mito de Hércules na encruzilhada, que às vezes se atri bui a Antístenes pelos muitos traços cínicos que contém, apresenta Hércules vacilando entre a virtude e o vício; o escrito parece ter um fim estritamente moral, unido a certo eudemonismo ao considerar-se que a escolha da virtude representa a consecução dos bens desejados. De Pródico parece proceder também o argumento contra o temor à morte que foi posteriormente tão utilizado pelos epicuristas: a morte não deve ser temida, pois quem vive ainda não morreu, e quem morreu deixou de ter sensações. :> Fragmentos em Diels-Kranz, 84 (77). Ver: K. Joel, Der echte und der xenophontische Sokrates, t. II, 1 90 1 . F. Riedl, Der Sophist Prodikos -
und die Wanderung seines "Herakles am Scheidewege " durch die romische und deutsche Literatur, 1 908. - J. Alpers, Hercules in biviu, 1 9 1 2. - H. Mayer, "Prodikos
von Keos und die Anfánge der Synonymik bei den Grie chen", Rhetorische Studien, ed. E. Drerup, Cad. 1 , 1 9 1 3 . - A . Momigliano, "Prodico di Ceo e l a dottrina sul lin guaggio da Democrito ai Cinici", em Atti della Accade mia delle Scienza di Torino, 65 ( 1 930). -- W. Nestle, "Die Horen des Prodikos'', Hermes, 71 ( 1 936), 1 5 1 1 70. - G . Cataudella, "Intorno a Prodico di Ceo'', em Studi di antichità classica, 1 940. - P. Rosati, "Intorno a Prodico di Ceo'', Logos (Itália) ( 1 972), 389-414. e
PRODUÇÃO. Num sentido muito amplo, a noção de produção foi tratada na filosofia como a ação e o efeito da operação de algum ser. Em Eth. Nic, VI, 4, 1 140 a 1 -24, Aristóteles estabelece uma influente distinção entre pro duzir, ou fazer, e agir. Por exemplo, na "arte" se produz ou se faz algo, pois a arte não diz respeito a coisas que são, ou que chegam a ser, por necessidade, nem a coisas que têm sua origem em si mesmas. Aristóteles usa o termo noínms ,poiesis (literalmente, "poesia"), para o que chamamos aqui de "produção". Na Antiguidade se discutiu se o fato de uma coisa ser o que é equivale a "produzir"; os neopiatônicos se inclinavam pela afirmativa, enquanto a maioria dos filósofos negava que ser e produzir pudessem identifi car-se. Os escolásticos cunharam a expressão operari se quitur esse, que se traduz normalmente por "o operar
PRODUTO
segue ao ser" e que poderíamos também traduzir por "o produzir segue ao ser'', isto é, "só quando há um ser se pode dizer que este ser produz algo" (o conjunto de suas "operações"). As tendências "dinamicistas" e "ftm cionalistas", assim como as pragmatistas, tenderam a sustentar o contrário, isto é, que o ser é o resultado de algum produzir, ou "produzir-se". A noção de produção num sentido primordialmen te, senão exclusivamente, econômico, e econômico-so cial, foi tratada por filósofos e economistas do século XVIII, tais como Ricardo e Adam Smith. Uma distinção fundamental a respeito foi a estabelecida entre produ ção e consumo; outra distinção básica foi a proposta en tre o trabalho produtivo (que dá lugar a mercadorias) e o trabalho improdutivo (como o trabalho intelectual, e talvez muito do que hoje se chama "serviços"). Marx trouxe a noção de produção para o centro de seu pensa mento filosófico, econômico e político-social. Simpli ficando ao máximo, as idéias de Marx a respeito são estas: enquanto os animais não produzem seus meios de subsistência, o homem os produz. Deste modo pro duz sua vida material. O desenvolvimento da espécie humana pode ser entendido em termos dessa produção dos meios de subsistência. É preciso distinguir entre os meios de produção (os recursos de que se dispõe para produzir), as forças de produção (o trabalho que reali zam os indivíduos, os conhecimentos técnicos aplicá veis, ou aplicados, na produção; os sistemas de organi zação voltados à produção) e as relações de produção (os mecanismos institucionais dentro dos quais operam as forças de produção). O estudo das estruturas nas quais intervêm em distintas formas os meios, as forças e as re lações de produção é o estudo dos aspectos básicos da espécie humana. As citadas estruturas se concretizam em diferentes modos de produção. Citam-se comumente os modos de produção feudal, capitalista e socialista em su cessão histórica, já que Marx se ocupou atentamente das diferenças entre o modo de produção feudal e o capita lista, e prestou especial atenção a este último como eta pa histórica que precede o modo de produção socialista (ou, melhor, comunista), mas é preciso também levar em conta outros modos de produção de que Marx falou, tais como o modo de produção primitivo tribal, o modo de pro dução "antigo" baseado na escravidão e o modo de produ ção "asiático". Em todo caso, é característico de Marx e de boa parte dos marxistas considerar atentamente as es treitas relações de interdependência entre as forças de pro dução e as relações de produção. A noção marxista de produção é uma noção social econômica, mas também, por assim dizer, antropológi co-filosófica enquanto serve para explicar tanto as es truturas das sociedades humanas quanto a natureza das mudanças históricas. Marx entende 'produção' num sentido ao mesmo tempo amplo e determinado. Nos Grundrisse (a parte deste extenso manuscrito já publi-
2 3 84
cada por Karl Kautsky em 1 904 e depois publicado na íntegra em 1 957- 1 958), Marx considera o que chama "produção material" (que não é simplesmente "econô mica" no sentido estrito dado a este termo pelos econo mistas do século XVIII). Marx sublinha freqüentemente o caráter não individual, mas social, da produção contra o individualismo de Adam Smith e Ricardo e o natura lismo de Rousseau. A noção de "produção" é por si mesma uma noção abstrata, já que não há produção em geral, mas modos específicos de produção - determinados pelas condi ções estruturais apontadas antes -, mas é preciso valer se, segundo Marx, de tal noção abstrata com o fim de entender o que há de comum em todos os modos de pro dução. À diferença dos autores que o precederam, Marx indica que o consumo faz parte da produção; as faculda des desenvolvidas na produção são consumidas, afirma Marx, no ato da produção. Mas, além disso, a produção é consumo de meios de produção. Assim, "o ato de pro dução é em todos os aspectos também um ato de consu mo". Embora os "economistas" reconheçam isso sob o nome de "produção consumidora", eles dão ao consumo um aspecto "destrutivo" quando, a rigor, "o consumo é também diretamente produção". Isso não quer dizer, porém, que haja equivalência ou identidade entre produ ção e consumo, há entre eles uma relação que contribui para fazer parte da estrutura social-econômica. As noções desenvolvidas por Marx acerca do con ceito de produção são mais complexas que as esboçadas antes. Assim, por exemplo, cabe distinguir entre meios e condições de produção. Não obstante todas as distinções e refinamentos permanece incólume para Marx a idéia de que a noção de produção tem um caráter social; uma produção não social, indica Marx, é tão absurda quanto a idéia de um desenvolvimento da linguagem sem indiví duos que vivam juntos e se comuniquem entre si. Tam bém permanece incólume para Marx a idéia do conflito entre as forças de produção e o modo de produção. Este conflito gera o mecanismo que leva à transformação de um modo de produção dado em outro modo de produção. PRODUTO. O termo 'produto' é usado na lógica prin
cipalmente em três aspectos. Na álgebra de classes se diz que uma classe C é o produto das classes A e B, quando C é a classe composta de todas as entidades que pertencem ao mesmo tempo a A e a B. O símbolo do produto lógico de classes é 'n', de modo que 'A n B' se lê: 'O produto lógico das classes A e B ' . Exemplo de produto lógico de classes é a classe das sapatilhas vermelhas, que é o produto lógico da classe das sapatilhas e da classe das entidades vermelhas. O produto lógico de classes se define do seguinte modo: A nB
=
def. i (x E A li x E B).
Na álgebra de relações se diz que uma relação Q é o produto lógico de duas relações, R e S, quando Q é a
PROFERIMENTO
2385
relação de todas as entidades x a todas as entidades, y tal que R relaciona x comy e S relaciona x comy. O símbolo do produto lógico de relações também é ' n ' . Exemplo de produto lógico de relações é a relação cidadão hono rário de, que é o produto das relações cidadão de e hon rado por. O produto lógico de relações se define do se guinte modo: R
n
S
=
def. i y (xRy
11
xSy).
O produto anterior é chamado às vezes de produto absoluto. O adjetivo 'absoluto' se emprega com o fim de distinguir tal produto do chamado produto relativo. Chama-se, com efeito, produto relativo de uma relação S à relação de todos os x com todos os y, tais que V z (xRz 11 zRy) . O símbolo do produto relativo é ' I ' . O produ to relativo de duas relações se define do seguinte modo: RIS
=
def. x y V z (xRz
Ry) .
11 z
O produto ' I ' não é sempre comutativo, isto é: (R 1 S)
=
(S 1 R)
não é sempre válido. Mas o produto ' I ' é associativo, isto é: ((R 1 S) 1 Q)
=
(R 1 (S 1 Q))
é válido.
PROFERIMENTO. Usa-se este termo como tradução da palavra inglesa utterance, de ampla circulação entre filósofos da linguagem que se interessaram especialmen te pelo que foi chamado de "atos de fala" (J. L. Austin, John R. Searle, H. P. Grice e outros). 'Proferimento ' se define então como "a ação de dizer", isto é, o que se faz ao proferir no sentido de dizer ou articular palavras. Pode se usar também o termo 'dizer' como substantivação do verbo 'dizer' : o dizer, um dizer e, no plural, dizeres, os dizeres. Propus estes últimos termos em meu livro lnda gaciones sobre e/ lenguaje, 1 970, p. 1 59. Não fica sempre claro se o proferimento, o ato de fala, o ato de dizer, o dizer, etc., é efetivamente este ato ou é o resultado deste ato ou ambos. O mais comum é que seja as duas coisas. De qualquer modo, pode-se dis tinguir entre proferimento ou ato de fala como um aconte cimento (seja o processo deste acontecimento ou o acon tecimento mesmo em seu conjunto) e a classe de proferi mentos ou atos de fala dos quais os proferimentos ou atos de fala únicos são exemplos. Assim, dizer 'falar é vão' é um proferimento, enquanto 'falar em vão' é um exemplo de uma classe de proferimentos que inclui todos os pro ferimentos em que se diz 'falar é vão ' . A diferença entre proferimento ou ato de fala e classe de proferimentos ou de atos de fala é similar à que se estabelece entre os signos-acontecimentos e os signos-modelos. A atenção dada aos proferimentos é resultado de um interesse predominante pela dimensão pragmática da linguagem. Os que fazem desse interesse predomi nante um interesse exclusivo negam que haja na lingua-
gem algo além de proferimentos, ou supõem que as dimensões semântica e até sintática da linguagem são resultados, e até codificações, de proferimentos. Outros autores, em contrapartida, seguindo a direção oposta, estimam que um proferimento é tal somente por seguir regras (sintáticas, semânticas e sintático-semânticas) da linguagem. O mais provável é que haja relações entre as dimensões citadas sem que uma delas seja básica com respeito às outras. O interesse pelo estudo de proferimentos se carac teriza por destacar os "jogos de linguagem" (vER) e, em todo caso, por recusar limitar os atos de fala a expres sões declarativas. Considerando a tradição dentro da qual se moveram autores como os mencionados no início (Austin, Searle, Grice), falou-se às vezes da "teoria analítica do proferi mento" ou "teoria analítica dos atos de fala". Richard La nigan se opôs a esta teoria (ou conjunto de teorias) em seu livro Speech Act Phenomenology ( 1 976) - título desti nado seguramente a evocar o de John R. Searle, Speech Acts: An Essay in the Philosophy of Language, 1 969. Lanigan se opõe a Searle, Grice, Austin e outros autores, e às distinções entre ilocucionário (vER) , locucionário (vER) e perlocucionário (VER) propostas por Austin, mani festando que tais teorias e tais distinções não proporcio nam uma explicação suficiente das relações de "comuni cação". À teoria dos proferimentos ou atos de fala Lani gan opõe uma "fenomenologia dos atos de fala", que in clui uma descrição, uma redução fenomenológica e uma interpretação. Na descrição se incluem aspectos como o pensamento· e o silêncio; na redução se examinam as di mensões sincrônicas e diacrônicas da linguagem; na in terpretação se propõe uma hermenêutica da fala humana. � Além dos trabalhos citados no texto do verbete, ver: D. W. Stampe, H. P. Grice et ai., Syntax and Semantics, vol. 3 : Speech Acts, 1 974, ed. P.r Cole e J. Morgan. - J. M. Sadock, Toward a Linguistic Theory ofSpeech Acts, 1 975. - J. R. Searle, "A Taxonomy of Illocutionary Acts", em Minnesota Studies in the Philosophy ofScien ce, vol. 7 (Language, Mind, and Knowledge), 1 975, ed. K. Gunderson, pp. 344-369. - J. J. Katz, Propositional Structure and Illocutionary Force: A Study of the Con tribution ofSentence Meaning to Speech Acts, 1 977. T. Wetterstrõm, Intention and Communication: An Essay in the Phenomenology of Language, 1 977. - D. Hold croft, Words and Deeds. Problems in the Theory ofSpeech Acts, 1 978 [baseada em Austin]. - K. Bach, R. M. Har nish, Linguistic Communication and Speech Acts, 1 979. - M. Bieiwisch, S. Davis et ai., Speech Act Theories and Pragmatics, 1 980, ed. J. R. Searle, F. Kiefer e M. Bier wisch. - J. T. Kearns, Using Language: The Structure of Speech Acts, 1 984. - S. Petrey, Speech Acts and Literary Theory, 1 990. - D. Vanderveken, Meaning and Speech Acts, 2 vols.: 1, Principies of Language Use, 1 990; II, Formal Semantics ofSuccess and Satisfaction, 1 99 1 . Ver: H. Stekla, Der regressus ad infinitum bei Aris toteles, 1 970. - D. H. Sanford, "Infinite Regress Argu ments", em J. H. Fetzer, ed., Principies ofPhilosophical Reasoning, 1 984, pp. 93- 1 1 7 . - R. Clark, "Vicious Infinite Regress Arguments", em J. E. Tomberlin, ed., Philosophical Perspectives, 1 988, pp. 369-380. C:
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PROJEÇÃO SENTIMENTAL. Ver ENDOPATIA; SIMPATIA. PROJETO. A noção de projeto adquiriu importância em várias filosofias contemporâneas. Assim ocorre em Heidegger ao introduzir em Ser e tempo o termo En twurf O projeto não é aqui simplesmente um plano, pela simples razão de que não se trata de planejar, dispor ou projetar o que se vai fazer. Trata-se, antes, de proje tar-se a si mesmo, ou, se se quiser, de "planejar-se a si mesmo". Por isso se pode falar, para referir-se ao Dasein (vER), de um "ser como projeto". Em outros termos, mais que de viver projetando trata-se de viver como proj eto. O projeto é, portanto, uma antecipação de si mesmo. O Dasein não é uma realidade projetante; é, antes, o projetar-se. Por isso o Dasein projeta na medida em que existe (o que vem a ser o mesmo que dizer que existe na medida que projeta). A projeção de si mesmo, isto é, o projeto, não é, contudo, para Heidegger, um vago antecipar-se a si mesmo. O projeto aparece dentro do que Heidegger chama a "compreensão" (VER) (Vers tehen), que é o original ser dado como uma possibili dade ou, melhor dizendo, como um "poder ser" (Sein konnen) . O projeto neste sentido é inclusive anterior à possibilidade (pelo menos enquanto "possibilidade va zia"). Com efeito, só porque há projeto há possibilidade. Em suma, o Dasein não escolhe em seu proj eto entre o que é dado, mas escolhe a si mesmo em seu projetar-se. A idéia do projeto em sentido não só existencial, mas também, e primariamente, "ontológico" se acha também em Ortega y Gasset, especialmente em suas abundantes referências à vida como "programa vital" e como "o problema de si mesma". Mas enquanto Hei degger entende o projeto dentro do quadro já indicado da "compreensão'', Ortega o entende como manifesta ção da "autodecisão". É certo que para Ortega a vida tem de decidir em todo instante o que vai ser, o que faz da vida, como em Heidegger, um "projeto". Mas, dife rentemente de Heidegger, Ortega entende este quefazer em que consiste a vida como algo mais concreto: o pro jeto como quefazer é "o que há que fazer'', que está de algum modo condicionado por uma situação concreta. Não basta dizer que no projeto alguém se antecipa a si mesmo: é preciso acrescentar qual si mesmo concreta mente tem de projetar-se. Al�m disso, Ortega indica re petidamente que "entre as coisas que se pode fazer com algo, há uma que é a que se devefazer". Assim, o projeto não é, por assim dizer, "fazer qualquer coisa enquanto alguém se faça a si mesmo", porque alguém não se faz a si mesmo fazendo qualquer coisa, mas justamente a que deve fazer. Muito mais similar à idéia heideggeriana de Entwurf é a idéia sartriana de projet (ou pro-jet). Para Sartre, há um "projeto inicial" constantemente aberto a toda mo dificação, de modo que se trata, a rigor, de um projeto que é sempre, por assim dizer, "pré-proj eto". O proje to não está nunca constituído, porque se tal ocorresse
PROPRIEDADE, PRÓPRIO deixaria de ser projetado; o projeto é tal só porque é consciência de liberdade absoluta. Os vocábulos 'projetar' e 'projeção' foram empre gados também em sentido lógico e epistemológico, es pecialmente ao serem analisados os chamados "termos disposicionais". Referimo-nos a estes sentidos nos ver betes DISPOSIÇÃO, D!SPOSIC!ONAL, e INDUÇÃO. O projeto enquanto projeção, do ponto de vista psi canalítico e psicopatológico, foi considerado como uma atividade básica de personalização. Eduard Grünewald (Die personale Projektion. Eine Einfahrung in dieAna lyse projektiver seelischer Vorgiinge, 1 962) indicou que a proj eção é "uma realização existencial para a criação de modelos simbólicos em relação com uma personali zação progressiva". Para a projeção de si mesmo em outro, ou em outra coisa, ver ENDOPATIA; lNTROJEÇÃO.
PROPENSÃO. Ver PROBABILIDADE. PROPRIEDADE, PRÓPRIO. No verbete Predicáveis (VER) vimos que a propriedade (ou o próprio) é um dos modos de relação entre o sujeito e o predicado: aquele no qual a relação é convertível e não essencial. Aristóte les esclarece a noção de propriedade ou do próprio, !Oiov, em Top., I 5, 1 02 a 1 8-30, em que escreve que "o próprio é o que sem expressar a essência da coisa per tence a esta coisa só e pode reciprocar-se com ela". Assim, é uma propriedade do homem ser capaz de aprender a gramática. A reciprocidade ou convertibili dade de suj eito e predicado no exemplo anterior pode se mostrar, segundo Aristóteles, do seguinte modo: "Se A é um homem, é capaz de aprender a gramática; se é capaz de aprender a gramática, é um homem". A perti nência a esta coisa só se mostra mediante o exemplo do dormir, pois embora seja evidente que o homem dorme, que algo durma não significa necessariamente que seja um homem. O caráter não essencial da relação se mos tra, finalmente, no fato de que, diferentemente do gêne ro ou da espécie, a propriedade não expressa a essência da coisa considerada. Na mesma obra (V 1 , l 28b l 5ss. ), Aristóteles ana lisa com mais detalhe a propriedade e suas diferentes formas. Trata-se, em suma, de conhecer quais são os "lugares comuns" da propriedade com o fim de deter minar se um predicado dado é ou não um próprio. As sim, a propriedade pode ser ou por si e sempre, ou re lativamente a outra coisa e por um tempo. Por exemplo, é propriedade em si do homem ele ser um animal na turalmente suave, é propriedade relativa a da alma com respeito ao corpo, pois uma é capaz de mandar e o ou tro de obedecer; é propriedade perpétua ou de sempre a que possui Deus ao dizer-se que ele é um ser vivente imortal, e é uma propriedade temporal ou por um tempo a que tem um homem de passear pelas ruas. Porfirio recolheu a doutrina de Aristóteles e a elabo rou dentro de sua teoria das cinco vozes ou predicáveis.
PROPRIEDADE, PRÓPRIO Segundo Porfirio, há quatro sentidos do próprio. Em primeiro lugar, é o que pertence acidentalmente a uma só espécie, mesmo sem pertencer a toda a espécie (exer cer a medicina para o homem). Em segundo lugar, é o que pertence acidentalmente à espécie inteira, sem per tencer só a ela (ser bípede para o homem). Em terceiro, é o que pertence a uma só espécie, a toda ela e só num momento determinado (branquearem os cabelos ao che gar a velhice). Em quarto lugar, é a concorrência de to das essas condições: pertencer a uma só espécie, a toda ela, e sempre (como o rir no homem). Segundo Porfirio, há na noção de propriedade algo que é comum às de mais vozes: ser um termo atribuído a uma pluralidade de objetos. Há também caracteres comuns entre o gêne ro e o próprio: ser logicamente posteriores às espécies, ser atribuído o gênero por sinonímia às espécies pró prias, assim como o próprio o é àquilo de que é próprio. Há diferenças entre o gênero e o próprio, como o fato de o gênero ser anterior e o próprio, posterior. Há carac teres comuns entre a diferença e o próprio: os seres que participam deles o fazem do mesmo modo; diferença e propriedade estão sempre presentes no sujeito inteiro. Há uma diferença fundamental entre o próprio e a dife rença, e é que enquanto o primeiro somente se aplica a uma só espécie - aquela da qual é propriedade -, a segunda se aplica com freqüência a uma pluralidade de espécies. Há caracteres comuns entre a espécie e o próprio, como o de poderem se atribuir reciprocamente um ao outro. Há diferenças entre a espécie e o próprio, como, por exemplo, que a espécie pode ser gênero de outros termos, enquanto é impossível que o próprio seja propriedade de outros termos. Há caracteres comuns ao próprio e ao acidente (inseparável); por exemplo, sem eles os sujeitos nos quais se consideram não podem sub sistir. Há diferenças entre o próprio e o acidente, pois o próprio está presente somente numa só espécie, enquanto o acidente (inseparável) não está presente somente numa só espécie. Os escolásticos adotaram em geral a doutrina de Porfirio e trataram a noção de propriedade tanto lógica quanto ontologicamente. O próprio (propriurn ou pro prietas) é definido como o que tem a capacidade de estar em (inesse) vários sujeitos e pode predicar-se deles de um modo necessário. Se a expressão 'o que ' designa um termo, a teoria do próprio faz parte da lógica; se designa um ente, faz parte da ontologia. Leibniz distinguiu entre "propriedade" e "modifi cações". As propriedades são "perpétuas" (proprietates sunt perpetuae), enquanto as modificações são "tran sitórias" (rnodificationes sunt transitoriae) (Gerhardt, II, 258). Uma distinção clássica é a distinção entre proprie dades essenciais e propriedades contingentes, ou aci dentais. Essa distinção foi ressuscitada por vários auto res que seguem uma orientação essencialista (ver EssEN-
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CIALISMo) , como Saul A. Kripke. Segundo Kripke (cf. "Naming and Necessity", em Sernantics o/Natural Lan guage, ed. D. Davidson, G. Harman, 2ª ed., 1 972, p. 3 1 4), se falo de determinada pessoa, por exemplo, esta mulher, que calhou ser a rainha da Inglaterra, posso imaginar que poderiam ter-lhe acontecido na vida outras coisas que não as que lhe aconteceram, e que mesmo que tivesse nascido daqueles pais (seus pais) poderia não ter chegado a ser rainha da Inglaterra, mas não que poderia ter nascido de outros pais que não os de quem nasceu, já que então não seria esta mesma mulher de que falo. Ou se falo desta mesa, que é feita de madeira, posso imaginar que, contrariamente ao que suponho, não fosse feita de madeira, mas de alguma substância que parece ser madeira, mas se é feita de madeira o fato de que não fosse feita de madeira faria .com que não fosse esta mesma mesa. Estes são exemplos de proprie dades essenciais. É óbvio que em tal caso, para qualquer coisa, se é o que é, ser o que é é uma propriedade essen cial sua, porque do contrário não seria o que é mas al guma outra coisa. E ter tal origem é uma propriedade essencial da coisa que tem tal origem. Assim, se a má quina na qual escrevo foi fabricada pela IBM, ainda que eu pudesse imaginar que foi fabricada pelo Soviete Su premo, acontece que foi fabricada pela IBM. Tem, as sim, a propriedade essencial de ter sido fabricada pela IBM. Se não a tivesse fabricado a IBM, não a teria fabri cado a IBM, mas, sim, o Soviete Supremo, caso em que ela teria a propriedade essencial de ter sido fabricada pelo Soviete Supremo e não a de ter sido fabricada pela IBM. Isso não quer dizer que tudo tem de ser do modo como é, e menos ainda que tudo tem de ter sido do modo como foi; há certas verdades necessárias a posteriori para as quais se deve levar em conta a possibilidade que certos enuncia dos qualitativos, numa situação qualitativamente idêntica à que se tem presente ao falar de uma propriedade essen cial, se convertam em enunciados falsos (ver A PRJORJ, ad finem). Por outro lado, ser x para x é em todos os casos uma propriedade essencial de x, na opinião de Kri pke: ser uma mesa é uma propriedade essencial de uma mesa, e "não há um caso de essência mais óbvio que o fato de ser urna dor seja uma propriedade essencial de cada dor" (op. cit. , p. 335). Chomsky (Rejlections on Language, 1 975, pp. 5 1 52) admite que se nos ativermos a argumentos intuitivos relativos a propriedades essenciais, eles devem ser su ficientes para cobrir a área de nossas intuições, incluin do as expressas na propriedade de ser uma mesa para uma mesa. Contudo, ele adverte que "têm a ver com a estrutura dos sistemas da compreensão pelo senso co mum e pela linguagem, não com propriedades essen ciais de coisas consideradas com abstração de nossas caracterizações das mesmas em termos desses sistemas de categorização e representação". Pode ocorrer que ai-
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go tenha certa estrutura interna fixa - supondo que tenhamos notícia dela - segundo a qual é um tigre ou um gato, mas mesmo aceitando isso e supondo que algo é um tigre ou um gato, não decorre daí que possuir tal ou qual estrutura interna faça disso uma propriedade essencial dos animais considerados, à parte sua catego rização como tigres ou gatos. Chomsky aponta que os "fato res geradores" de que Aristóteles faz uso para ex plicar a constituição interna de um objeto são semelhan tes às propriedades essenciais de que fala Kripke, mas isso é porque o mundo está constituído, ou se supõe que está constituído, de tal ou qual modo. Assim, escreve Chomsky, "não formulo objeções à construção de teo rias formais que impliquem linguagens com puros no mes que designam entidades com propriedades essen ciais individuantes fora do modo como são designadas ou categorizadas. Contudo, cabe perguntar se o estudo de tais sistemas, qualquer que seja seu interesse, lança muita luz sobre o mecanismo da linguagem humana e do pensamento humano". Para as diferenças e semelhanças entre a noção de propriedade e a de classe, ver CLASSE. Ver também o verbete PREDICADO.
PROPRIEDADES DOS TERMOS. Os escolásticos consideram que os termos podem funcionar de diversos modos dentro da proposição; e suas diversas funções são as propriedades dos termos. As principais propriedades que têm os termos são as seguintes: a suposição (suppo sitio), a copulação (copulatio), a apelação (appelatio), a ampliação (ampliatio), a restrição (restrictio), a transfe rência (alienatio), a diminuição (diminutio) e o relativo (relativus) . Dedicamos u m verbete especial à mais importante destas propriedades: a suposição (vER) . Diremos agora umas palavras sobre as propriedades restantes. A copulação é o modo como são entendidos os pre dicados ou verbos numa proposição. É corrente tratar a copulação na doutrina das suposições, porquanto esta se refere também à função significativa dos predicados. A apelação (ver APELAÇÃO, APELATIVO) é considerada às vezes como uma classe das suposições. A ampliação é uma propriedade pela qual se amplia a extensão de um termo ou, melhor dizendo, o número de indivíduos significados por um termo. Exemplo é a ampliação do número de indivíduos significados por 'plantas' , na proposição 'Todas as plantas têm a função clorofilica' quando 'Todas as plantas' se refere a plantas efetivas ou possíveis, diante da mesma proposição quan do 'Todas as plantas' se refere somente a plantas efeti vas e atualmente existentes. A restrição é a propriedade inversa à anterior. Um termo é usado com propriedade restritiva quando limita o número de indivíduos; assim, 'alto' ao restringir o al cance de 'edificios' na expressão 'Edificios altos' .
PROPOSIÇÃO A transferência é uma propriedade pela qual se trans fere um termo de seu uso próprio para um uso impróprio. Exemplo é 'Goethe' em 'Goethe está pintado a óleo'. A diminuição é uma propriedade pela qual um termo funciona como possuindo menor extensão que o mesmo termo sem a propriedade. Exemplo: 'Todo homem' em 'Todo homem é malicioso' . O relativo é uma propriedade d e certos termos que se referem a outros. No caso de termos como 'este', 'seu', 'mim' etc.
PROPOSIÇÃO. Consideraremos: (I) as diferenças entre "proposição" e "juízo"; (II) a estrutura e divisão das pro posições na lógica tradicional; (III) a estrutura das propo sições na fenomenologia (incluindo os precedentes de Bolzano, Meinong e outros autores); (IV) a estrutura e divisão das proposições na lógica moderna ou atual; (V) a classificação epistemológica das proposições; (VI) o problema da interpretação existencial (e não existencial) de várias proposições, e (VII) a questão da distinção en tre a lógica dos termos e a das proposições. I. Proposição ejuízo. A lógica chamada "clássica" ou "tradicional" (com o que entendemos, muito grosso modo, a de inspiração aristotélico-escolástica) distingue entre a proposição e o juízo ( VER) . Enquanto o juízo é o ato do espírito por meio do qual se afirma ou se nega algo de algo, a proposição é o produto lógico desse ato, isto é, o pensado nesse ato. À s vezes se usa, em vez do termo 'proposição' , o vocábulo 'enunciado' (vER ) . Às vezes se empregam os dois indistintamente. Em alguns manuais escolásticos, a doutrina da proposição se apre senta assim: De enuntiatione seu propositione. Com freqüência, 'enunciado ' designa a proposição enquanto faz parte do silogismo. À s vezes (como em Tomás de Aquino: 1 anal., 5 b) 'proposição ' é tomado em sentido mais estrito que 'enunciado' : este último constitui o as pecto objetivo (em sentido clássico de 'objetivo') da proposição. Contudo, o próprio Tomás de Aquino equi para às vezes 'proposição ' com ' enunciado ' (S. theol., I, q. III, 4 a 2). Às vezes se usa 'enunciado' num senti do neutro, indicando-se que o juízo é seu aspecto subje tivo (no sentido moderno de 'subjetivo') e a proposição seu aspecto objetivo (no sentido moderno de 'objetivo'). Empregamos com freqüência o termo 'enunciado' com esta significação. Quanto à proposição, nós a distingui remos sempre do juízo (VER) , assim como da inscrição (vER) e da sentença (vER) . A distinção entre proposição e juízo, e entre propo sição e enunciado, não aparece sempre claramente des tacada entre os filósofos. O próprio Aristóteles se re fere às vezes a enunciados no sentido de proposições, TipoTáaetç, em Top. e em An. Pr. Em contrapartida, em An. Post. há considerações de índole psicológico epistemológica em que os enunciados são considerados como juízos, oosaí, formulados por um sujeito. Em
PROPOSIÇÃO De int. , a definição dada da proposição, a que nos refe rimos em Apofântica (vER) , e a divisão das proposições, podem ser interpretadas num e noutro sentido, embora o mais próximo à mente do autor seja provavelmente a interpretação "objetivista". Isso mostra que (como indi caram Maier e Ross) se houve confusão da proposição (objeto lógico) com o juízo (objeto psicológico), não se pode imputá-la sempre a Aristóteles. Tampouco cre mos que se possa imputá-lo aos comentadores de Aris tóteles e aos escolásticos, que recolheram e desenvol veram a interpretação objetivista (em sentido moderno de 'objetivo' ) da proposição, dando pé à distinção entre proposição e juízo tal como hoj e em dia se admite. Em contrapartida, na época moderna houve vários exemplos de confusão entre os dois termos. Um é o da Lógica de Port-Royal (VER) . Outro, o de Kant. Outro, o dos idea listas. Outro, o de alguns autores nominalistas (como Hobbes). Contudo, nem sempre cabe interpretar tal con fusão como um desconhecimento completo da nature za de um e outro conceitos. No caso da Lógica de Port Royal, deve-se observar que embora a proposição se definisse nela como um ato de julgar, usava-se quase sempre como o conteúdo significativo de tal ato. No caso de Kant, as objeções que lhe foram dirigidas a respeito perdem parte de seu valor quando se tem pre sente que o filósofo não empregava tais termos como lógico, mas como epistemólogo. No caso dos idealistas (como Bradley), devem-se levar em conta suas inten ções; os argumentos por eles forjados contra a distinção supracitada, e a afirmação do "primado do juízo", de vem-se ao fato de que a base de sua doutrina é metafi sica e não lógica. No caso dos nominalistas, a falta de distinção obedece ao fato de que consideravam propo sição e juízo como igualmente contrapostos à sentença. Assim, pode-se acusar de falta de distinção só os lógicos psicologistas do século XIX, que não dão - ao menos aparentemente - argumentos extralógicos para apoiá la. Contra eles se dirigiram já no mesmo século várias críticas. Entre elas mencionamos as formuladas por Bolzano, pela escola de Meinong, pela fenomenologia, pela neo-escolástica e pela logística. Todas elas, ao criti car o psicologismo na lógica, sublinharam que o ato pelo qual se afirma ou nega algo de algo não é equivalente à afirmação ou à negação mesmas. A logística, além disso, não admite as idéias tradicionais acerca da estrutura das proposições e evita o uso do termo 'juízo' . Este termo se conserva, pois, com sentido lógico, só nos tratados das escolas neo-escolástica e fenomenológica, e no que resta da lógica em parte psicologista, em parte normati vista e em parte epistemologista do século XIX. II. A estrutura e divisão das proposições na lógica clássica. A proposição se define, seguindo Aristóteles, como um discurso (vER) enunciativo perfeito que expres sa um juízo e significa o verdadeiro ou o falso. A propo sição é enunciativa, enquanto o juízo é judicativo. A pri-
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meira expressa a verdade ou a falsidade per modum re praesentationis; o segundo as expressaper modum assen sus. Um exemplo simples de proposição é: Maximiliano é bom, cuj o esquema na lógica clássica é: S é P. Trata-se de uma proposição categórica atributiva pela qual se atribui um predicado (P) ao sujeito (S) por meio da cópula (VER) verbal ' é ' . A proposição em senti do clássico tem, pois, sujeito, verbo (cópula) e atributo. Quando o verbo não é expresso mediante ' é ' , é redu zido a ' é ' . Assim, João fuma é reduzido a: João é fumante. A proposição no sentido da lógica clássica tende a seguir o modelo anterior atributivo, mas o que se chama "divisão das proposições" mostra uma grande variedade destas. Nos autores escolásticos, observam-se dois tipos gerais de classificação. Um desses tipos parte da divisão em proposições simples e proposições compostas. As simples se dividem por razão da matéria, da forma, da quantidade e da qualidade. As compostas se dividem em evidentemente compostas e ocultamente compostas. O outro tipo inclui a divisão das proposições em simples e compostas dentro das proposições por razão da forma. Seguiremos o primeiro tipo. A classificação aqui apre sentada baseia-se nos traços mais comumente aceitos pelos tratadistas escolásticos. Proposições simples. São as proposições em que um conceito (P) se une a um conceito (S) por obra da cópula verbal. São tam bém chamadas categóricas, predicativas ou atributivas. Há quatro razões de divisão destas proposições. 1) Por razão de sua matéria ('matéria' = 'os termos em sua relação mútua, com anterioridade à enunciação efetiva formulada no juízo ' ) se conhecem as razões di versas pelas quais P convém a S. Sendo a matéria tripla (necessária, contingente, remota), as proposições em questão se subdividem em: a) necessárias, nas quais se enuncia algo que não pode ser de outro modo ('S é P' na proposição 'A planta é um ser vivo'); b) contingentes, nas quais se enuncia algo que pode ser de outro modo ( ' S é P' na proposição 'A planta é verde '); c) impossíveis, nas quais se enuncia algo que não pode ser de nenhum modo ( ' S é P' na proposição 'A planta é racional '). Como se percebe, o esquema ' S é P' não basta por si só para determinar de que classe de proposições se
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trata. É preciso acrescentar, s e s e conservar o esquema, os termos determinantes: ' S é necessariamente P ' , ' S é contingentemente [ou possivelmente] P ' , 'S não pode . ser P ' . Quando se usam exemplos, supõe-se que os ter mos indicam a natureza da proposição, mas é óbvio que isso pode dar origem a ambigüidades. Alguns autores dão exemplos nos quais não intervém a partícula ' é ' . Para a ) : '2 + 3 = 5 ' ; para b): ' A água ferve aos 1 00 graus centígrados ' ; para e): '2 + 3 4'. De outros ân gulos, as proposições a) e b) podem ser chamadas res pectivamente analíticas e sintéticas, muito embora essa condição não se cumpra em todos os exemplos que se pode dar. Como a), b) e e) atendem aos modos, são ex pressões da modalidade ( VER) . 2) Por razão daforma ('forma' = 'união do predica do e do sujeito por meio do enunciado do juízo'), ou en tão da cópula que manifesta a composição ou a divisão, pode-se conhecer o nexo entre P e S. As proposições resultantes desta consideração podem ser: a i ) afirmativas ('S é P'); a2) negativas ('S não é P'). Pode-se falar também de proposições: e 1) infinitas (chamadas também às vezes de "indefi nidas"), nas quais se enuncia: ' S é não-P' . Estas proposi ções são, contudo, reduzíveis às afirmativas (como 'O homem não é falível' se reduz a 'O homem é infalível'). A razão da divisão pela forma é uma razão da qua lidade essencial, distinta da qualidade acidental. Alguns autores incluem como subdivisões de [2] as proposições categóricas (simples) e as proposições hipotéticas (compostas). Outros consideram que a mo dalidade pode ser considerada como um aspecto da for ma. A estrutura e divisão das propriedades modais foi tratada em Modalidade (VER) , onde nos referimos à di visão das proposições em proposições in esse ou absolu tas e proposições modais (de re ou de dieta). 3) Por razão da qualidade, as proposições se dividem em: a2) verdadeiras ('S é P' em 'Os corpos são extensos'); b2)falsas ('S é P' em 'O homem é um número primo'). Afirmam muitos lógicos que os termos da proposição permitem ver se é verdadeira ou falsa, mas des tacam também as ambigüidades a que pode dar origem o uso de um mesmo esquema para representar as duas proposições. A divisão por razão da qualidade se refe re, de fato, aos predicados metalógicos agregados à proposição. Dever-se-iam usar, portanto, os esquemas: "S é P ' é verdadeiro' e "S é P ' é falso' respectivamente. 4) Por razão da quantidade ou extensão, as proposições se dividem em: a3) universais ('Todos os S são P'); b3) particulares ('Alguns S são P'); c3) singulares ('Este S é P'). Alguns autores acrescentam a estas proposições as: =
d3) indefinidas ou indeterminadas ('S é P' em 'O homem é risível '). As proposições por razão da quantidade se combi nam com as proposições por razão da forma. Há autores que chamam de qualidade aforma da proposição. Esta terminologia, hoje muito difundida, faz que se fale qua se sempre das proposições obtidas pela combinação da quantidade e da qualidade. Estas proposições são de quatro tipos: ( 1 ) Proposições universais afirmativas, representa das por meio da letra 'A' . Exemplo: 'Todos os homens são mortais'. (2) Proposições universais negativas, representa das pela letra 'E'. Exemplo: 'Nenhum homem é mortal' . (3) Proposições particulares afirmativas, representa das pela letra 'I'. Exemplo: 'Alguns homens são mortais'. (4) Proposições particulares negativas, representadas pela letra 'O'. Exemplo: 'Alguns homens não são mortais'. Como esquemas dessas proposições se usa também respectivamente: 'SaP ' , ' SeP', ' SiP' e 'SoP ' . Na secção IV do presente verbete indicamos a tradução simbóli ca empregada atualmente para os exemplos das propo sições de tipos A, E, I, O. Maiores esclarecimentos so bre este ponto no verbete Q UANTIFICAÇÃO, QUANTIFICA CIONAL, QUANTIFICADOR. Para as relações entre as proposi ções em questão ver o verbete OPosrçÃo. Proposições compostas. São as que resultam de combinar proposições simples com outras proposições simples ou com outros termos. Alguns autores consideram-nas sob o nome de propo sições por matéria remota, à diferença das proposições por matéria próxima. Outros autores incluem entre as proposições compostas as modais. Seguimos a classi ficação das proposições compostas mais universalmen te aceita entre os escolásticos. Ela se baseia em dois grandes tipos. 1 ) Proposições manifestamente (ou evidentemen te) compostas (chamadas também deformalmente hipo téticas). São as proposições cuja estrutura manifesta a presença de duas proposições. Subdividem-se em: a1) copulativas ou conjuntivas, nas quais intervém a conectiva ' e ' : 'P é S e Q ' ; b) disjuntivas, nas quais intervém a conectiva 'ou': 'P é S ou Q'; e ) condicionais, nas quais intervém a conectiva 'se . . . então' : ' Se P é S, então P é Q ' . Alguns autores acrescentam a elas as: d) causais: ' S é P porque é Q ' ; e 1 ) relativas: 'Tal S, tal P ' . 2 1 ) Proposições ocultamente compostas, chamadas também virtualmente hipotéticas. São as proposições cuja estrutura é aparentemente simples, mas na realida de é composta. Subdividem-se em: a,) exclusivas, nas quais intervém 'só ' : ' Só S é P ' ;
PROPOSIÇÃO b) exceptivas, nas quais intervém 'exceto' ; 'Todo S, exceto S 0 , é P ' ; c) reduplicativas, nas quais intervém 'na medida em que ' : 'S, na medida em que S é P ' ; d2 ) comparativas, nas quais intervém 'mais que' ou 'menos que ' : ' S é mais cognoscível que P ' , ' S é menos cognoscível que P ' ; e2 ) exponíveis, nas quais intervém 'nenhum que não ' : 'S é P; nenhum S que não seja S é P ' . H á autores que acrescentam à classificação acima uma divisão de proposições por razão da origem . As proposições são então analíticas ou sintéticas. Outros afirmam que esta divisão não é lógica, mas epistemo lógica. Do ponto de vista lógico, tais proposições são equiparadas por muitos lógicos de tendência clássica às descritas em 1 a) e 1 b). Como muitas das adotadas na lógica tradicional, as classificações anteriores se baseiam primariamente na estrutura da linguagem ordinária. III. A proposição nafenomenologia (e precedentes dela). Não obstante as diferenças que se podem estabe lecer entre as doutrinas acerca da proposição formula das pela fenomenologia e seus precedentes (especial mente Bolzano e Meinong), há algo comum nelas: é o fato de que se sublinhe o aspecto objetivo da proposição. É o sentido que tem a noção de proposição em si (Satz an sich) na Wissenschaftslehre de Bolzano. Bolzano de fine a proposição em si como a noção (Rede) na qual se expressa ou se afirma algo como sendo verdadeiro ou falso: 'Deus é onipotente ' , 'Um quadrado é redondo' etc. Não importa, pois, que a proposição seja verdadeira ou falsa para que seja proposição: basta que algo seja representado (vorstellt) nela. Assim, 'Um quadro é re dondo' é uma proposição, mas 'Um quadrado redondo' não o é (op. cit. , § 1 9, ed. Hõfler, 1 9 1 4, Band 1 , Teil 1 , Erstes Hapstück). Vê-se em seguida que a noção de proposição em si não equivale de imediato a um realis mo das proposições. Bolzano mantém sua idéia dentro da esfera estritamente lógica, desde que se entenda a mesma num sentido suficientemente amplo. Ora, a no ção de proposição em si não era uma novidade com pleta. O próprio Bolzano indicava (op. cit. , § 2 1 ) que vários autores haviam empregado o termo 'proposição ' num sentido semelhante ao seu. Alguns, como Aristó teles (nas noções de npÓTams. ànó Segundo alguns comentadores, as Homilias do Pseu do-Macário têm origem messaliana; outros, em contra partida (como W. Jaeger), negam isso. As Homilias foram publicadas primeiramente por Johannes Picus ( 1 559);
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depois, por H. J. Floss (reprodução em Migne, PG XXXI V, 449-822). Sete homilias a mais foram descober tas por G. L. Marriot e publicadas em 1 9 1 8 : Macari anec dota. Seven Unpublished Homilies ofMacarius. Ver: J. Stoffels, Die mystische Theologie Makarius des Aegypters und die iiltesten Ansiitze christlicher Mys tik, 1 908. J. Stigmayr, vários artigos, dos quais desta camos: "Makarius der Grosse im Lichte der kirchlichen Tradition", Theologie und Glaube, 3 ( 1 9 1 1 ), 274-288, e "Pseudo-Makarius und die Aftermystik der Messa lianer", Zeitschriftfar katholische Theologie, 49 ( 1 925), 244-260. - G. L. Marriot, "The Homilies of Maca rius'', Journal ofTheological Studies, 22 ( 1 92 1 ), 259262. - W. Strothman, Die arabische Makariustradi tion, 1 934 (tese). - A. Kemmer, Charisma Maximum, 1 93 8. - W. Jaeger, Two Rediscovered Works ofAncient Christian Literature: Gregory ofNyssa and Macarius, 1 954, especialmente pp. 208-230. � -
PSEUDO-PLUTARCO. Várias obras antigamente atri buídas a Plutarco (VER) hoje são consideradas apócrifas. A expressão "Pseudo-Plutarco" designa o conjunto de tais obras. Mais especificamente se chama "Pseudo-Plu tarco" ao Epítome doxográfico (ver DoxóGRAFOS), cujo título completo é Tiep\ Twv ápeaKÓVTwv cp1Àócrocpo1s cpvmKwv õoyµáTwv, e que se costuma citar com o nome de Placita philosophorum do Pseudo-Plutarco. Esta coleção de "preceitos" baseia-se na compilação de Aécio (VER) ou Aetii Placita. � Ver o Plutarchi Epitome em Hermann Diels, Doxo graphi graeci, 1 879; editio iterata, 1 929. � PSICANÁLISE. Sigmund Freud (vER) elaborou a psi canálise - às vezes chamada "psicanálise clássica" para distingui-la de muitas de suas derivações e de ou tras formas de psicanálise - como um procedimento para o diagnóstico e tratamento de certas neuroses. A psicanálise é, Jogo de saída, um método, mas é também uma doutrina relativa à natureza do ser humano. Tanto no método como na doutrina se usa certo número de conceitos fundamentais que exporemos sumariamente, sem dar-lhes todavia uma interpretação determinada e sem levar em conta as diversas fases doutrinais no próprio Freud. Freud considera que não há atos de nenhuma classe, incluindo atos verbais e sonhos, que não tenham uma causa. Supõe-se geralmente que os atos que o homem executa, as idéias que tem, as palavras que diz etc. são explicáveis em virtude de motivos relativamente bem determinados ou, em todo caso, determináveis. Sabe se que muitas vezes não se diz o que se tinha querido dizer, ou se faz algo que não se tinha querido fazer, ou se tem sonhos "inexplicáveis" ou "estranhos". Sabe-se também que às vezes se produzem inibições, experi mentam-se angústias, tem-se sentimentos de culpa etc. Freud tratou de dar conta e razão de todas essas manifes-
tações humanas com base num mecanismo constituído por forças e atividades de tal índole que muito do que es tava psiquicamente presente devia remeter a algo que estava ausente e que era, ademais, em princípio, inescru tável. A primeira e principal noção elaborada para tanto foi a do inconsciente (vER) , que pode hipostasiar-se num tipo de realidade ou servir simplesmente de nome para uma série de entidades mentais chamadas "inconscien tes". Estas entidades mentais devem ser distinguidas de atos mentais dos quais não somos conscientes, mas podemos ser conscientes à vontade. Com efeito, é carac terístico do inconsciente freudiano servir como "fundo" no qual se prendem e ao qual remetem entidades men tais que o indivíduo (inconscientemente) recusa mani festar. Para nos limitarmos a um só caso, embora funda mental, o indivíduo vive numa sociedade na qual há pressões de todo tipo voltadas para moldá-lo segundo certos padrões. Para conformar-se a esses padrões, o indivíduo tem de repnmir seus próprios impulsos, que são "desalojados" da área da consciência e "censura dos". Quando a censura e a repressão são muito fortes, podem irromper estados neuróticos. Normalmente, a censura opera de tal modo que o próprio indivíduo en contra maneira de desviar os impulsos, sem que se pro duzam transtornos excessivamente graves. Esses impul sos se manifestam nos sonhos - que devem ser inter pretados -, numa multidão de inumeráveis ignomínias e equívocos, formas de lapsus linguae (e lapsus calami) que parecem meros tropeços mas que são símbolos de desviações, repressões e censuras. O paciente chega a crer que não.é um paciente, que o que lhe ocorre é nor mal - e inclusive "deveria" ser normal -, até o mo mento em que se acentua a gravidade de suas inquieta ções. Quando isso ocorre, é preciso encontrar meios para descobrir as desviações, inibições, repressões, etc. e abrir-lhes o caminho para que se manifestem clara mente. Em certas ocasiões, os impulsos flutuam num subconsciente, e então voltam uma vez e outra vez a produzir os estados de desassossego que podem culmi nar na.neurose. A "análise" consiste, assim, em fazer que o paciente ponha a nu fatos (ou atos) que, de um ponto de vista não psicanalítico, podem parecer perfeitamente normais, mas que, de acordo com a psicanálise, são sintomáticos. No curso da análise, produzem-se transferências, entre as quais se destaca a transferência ao próprio analista das atitudes do paciente acerca de outras pessoas. Desse modo, o analista "assume" as angústias e perplexidades do paciente, a ponto de também necessitar ser "analisa do". Há certos mecanismos chamados "complexos" que mantêm o indivíduo ou num estado de paralisia mental ou num estado de transferência de atitudes e emoções. Os complexos têm de ser desalojados, ou dissolvidos, mas isso é levado a cabo por meios puramente mentais, isto é, fazendo que o próprio paciente chegue não só a
PSICANÁLISE conhecê-los, mas também a decidir enfrentá-los. O me ro conhecimento de que há um complexo não constitui ainda um tratamento. À hipótese de um inconsciente, ou conjunto de en tidades mentais inconscientes, Freud acrescentou a hi pótese de uma série de impulsos, comparáveis a (se não identificáveis com) instintos e que constituem a força motora dos atos psíquicos. Nem sempre é clara a relação entre impulsos e inconsciente, mas é provável que sem os primeiros o segundo permaneceria inativo. A energia dos impulsos é de várias classes e não só, como se su pôs às vezes, sexual. É um erro atribuir a Freud a idéia de que a sexualidade é o motor único dos processos mentais. No entanto, Freud destacou a grande importân cia dos impulsos sexuais, isto é, da chamada "libido", que se manifesta muito cedo no ser humano. Freud tratou de sistematizar os mecanismos de ex plicação do comportamento psíquico mediante várias hipóteses suplementares. A mais destacada é a que pos tula três grandes fatores ou sistemas constituintes da personalidade: o "Id", o "Ego" e o "Superego". O Id é o nome que recebem os impulsos, que aspiram a ser satisfeitos. O Ego é a parte (ou, se se quiser, sistema de funções) da pessoa que trata com o mundo e que re presenta uma espécie de ponte entre o mundo e o Id. No Ego se encontra o Superego; este trata de sobrepor se ao Ego e, com isso, aos esforços do Ego para relacio nar o "Id" com o mundo. O Superego aspira a exercer um controle sobre o Ego do mesmo modo como as nor mais morais aspiram a controlar o comportamento. De fato, o Superego é como o conjunto de normas que fo ram adquiridas desde a infãncia e que aparecem ao mes mo tempo como desejáveis e indesejáveis: desejáveis por sua "racionalidade'', indesej áveis por se oporem à satisfação dos impulsos do ld. A repressão de impulsos pode ser, e freqüentemente é, causa de neurose. Por outro lado, os impulsos, e es pecialmente a libido, podem ser "canalizados" e "subli mados", dando lugar a grandes criações culturais. Mas uma vez que os impulsos não se reduzem à libido, é pre ciso levar em conta outros fatores ou sistemas de impul sos para dar conta tanto das atividades psíquicas indivi duais quanto, e sobretudo, do processo da civilização humana (ou do que chamamos de "civilização"). O "princípio do prazer" fica compreendido num princípio mais vasto e poderoso : o princípio da Vida ou Eros. E este contrasta com um impulso de morte ou impulso de destruição. Boa parte da cultura humana se desenvolve ao longo do conflito entre esses dois impulsos. Há muitas interpretações possíveis dos conceitos básicos propostos por Freud. Numa passagem de suas Lições para a Introdução à Psicanàlise (Vorlesungen zur Einfiihrung in die Psychoanalyse), de 1 9 1 6- 1 9 1 8, Freud diz que é preciso descartar todo pressuposto alheio às questões tratadas, de qualquer índole que seja,
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anatômica, química ou fisiológica, e é preciso usar con ceitos "de caráter puramente psicológico". Isso fez pen sar que a psicanálise de Freud se funda numa psicologia ou metapsicologia puramente "mentalista". Por volta de 1 895, Freud redigiu o rascunho de um texto intitula do Projeto de psicologia científica, onde se propunha investigar as bases fisiológicas do comportamento psí quico, particularmente como estudo das interações de neurônios. Por não se ter publicado esse rascunho du rante muito tempo, por não se ter redigido o texto defi nitivo prometido e, sobretudo, por Freud ter tratado de evitar sua publicação inclusive quarenta e dois anos de pois, concluiu-se que ele abandonou todo "materialis mo" e todo "fisiologismo". No entanto, ainda não está provado que a resistência de Freud a publicar o rascunho se devesse a estar em completo desacordo com o texto. Sugeriu-se que ela se deve ao fato de Freud considerá lo prematuro, dado o estado dos conhecimentos de fisio logia do sistema nervoso na época. Se essa sugestão é correta, o "mentalismo" não-reducionista de Freud é conseqüência de uma série de hipóteses provisórias e não é, em princípio, incompatível com uma concepção "fisiologista" ou "materialista". Os que são a favor des sa última interpretação tentam mostrar que há continui dade entre o projeto científico de referência e o desen volvimento da psicanálise freudiana. AÍ guns mostram, além disso, que a teoria freudiana da psique, embora apresentada em termos "puramente psicológicos'', ba seia-se em modelos conceituais equiparáveis a modelos fisicos, ou químicos, ou neurofisiológicos. Os dois mais destacados discípulos de Freud, Carl Gustav Jung (vER) e Alfred Adler (VER) , se separaram do mestre, formando duas escolas muito influentes. Os psicanalistas de observância freudiana estimam que nem Jung nem Adler podem ser considerados como segui dores, sequer muito heterodoxos, da psicanálise. Alguns autores, contudo, destacam que há em suas doutrinas várias noções - como a de "complexo" e a de "incons ciente coletivo'', em Jung; e a de "sentimento de inferio ridade", ligado a menos-valias orgânicas, em Adler que não teriam podido se desenvolver se não tivessem partido de pressupostos psicanalíticos freudianos. Também se separou de Freud, quando ainda estuda va em Viena, Jacob Levi Moreno ( 1 890- 1 974: nasceu no Mar Negro, foi estudante e psiquiatra em Viena; a partir de 1 935, nos Estados Unidos). Há também, acerca de Moreno, discussões sobre se ele deve pouco, muito ou nada à psicanálise freudiana, mas é muito comum referir-se a ele dentro de uma ampla história da psicaná lise. Moreno foi um dos primeiros iniciadores, e promo tores, da psicanálise de grupo ou psicoterapia coletiva. Em 1 923 criou o chamado "psicodrama" (e sociodra ma). Grosso modo, consiste em deixar que vários indiví duos, ou grupos de indivíduos, se reúnam num recinto comparável a um "cenário" e dêem rédea solta a seus
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impulsos espontâneos - que são, segundo Moreno, "o âmbito de si mesmo" -, não somente por meio de atos verbais, mas também, e especialmente, por meio de "atuações" (o chamado acting out). Moreno rej eitou quase todos os esquemas freudianos e afirmou que o teatro terapêutico e o psicodrama são uma representação consciente e planejada do "teatro do mundo", mas al guns· indicaram que uma psicoterapia coletiva pode sempre alojar-se dentro dos marcos freudianos. Um re sumo das idéias e métodos de Moreno se encontra nos três volumes de Psychodrama ( 1 959- 1 969). Moreno propôs e desenvolveu também o "teste psicométrico" para o estudo de pequenos grupos e das relações entre eles. A teoria do mencionado teste se desenvolve na sociometria (revista Sociometry: A Journal ofInterper sonal Relations, a partir de 1 937, fundada por Moreno. Sobre Sociometria, cf. as obras de Moreno: Sociometry: Experimental Method and the Science ofSociety, 1 95 1 , e Sociometry and the Science of Man, 1 956). A psicanálise de Freud é chamada freqüentemente de "psicanálise clássica". Sofreu muitas mudanças den tro do chamado "neofreudismo". Este é um freudismo metodológico, desenvolvido por psiquiatras que adota ram a psicanálise. Suas manifestações mais "ortodoxas" se encontram nas colaborações do International Journal ofPsychoanalysis. Contra esse metodologismo se diri giram, entre outros, Jacques Lacan e Daniel Lagache. Em suas obras, e nos trabalhos publicados em La Psy chanalyse (fundada por Lacan, a partir de 1 965), se de senvolveu o que ficou conhecido com os nomes de "psi canálise estrutural" e "psicanálise estruturalista" (que alguns consideram um aspecto da psicanálise e outros do estruturalismo [VER]). Tal psicanálise presta grande atenção à informação proporcionada pelo paciente em forma lingüística (que é a forma como o paciente "se revela" ou "se oculta"). Lacan declarou que a estrutura do inconsciente é a estrutura da linguagem. O programa de psicanálise estrutural, ou estruturalista, figura no chamado "Rapport de Rome", em La Psychanalyse, 1 ( 1 956), 8 1 - 1 1 6. A flexibilidade conceituai da psicanálise se mani festa não só nas várias direções apontadas antes e nas formas não freudianas da psicanálise existencial (VER) e da psicanálise intelectu�l (VER), mas também na possi bilidade de uma psicanálise fundamentalmente não di ferente da clássica, mas da qual se eliminou praticamen te toda a terminologia freudiana. Um exemplo é a obra de Roy Schafer, A New Language for Psychoanalysis ( 1 975), onde o autor propõe o que chama de "uma lin guagem de ação", isto é, uma linguagem da qual fiquem eliminados todos os termos associados à psicanálise freudiana: energia, impulso, sublimação etc. Esses ter mos têm o inconveniente, segundo Schafer, de fazer supor que existem as entidades nomeadas. A tradução das explicações e dos métodos psicanalíticos numa lin-
guagem diferente da psicanálise clássica não põe de lado, afirma Schafer, tais explicações e métodos, mas os esvazia de pressupostos metapsicológicos, considera dos desnecessários. :> As obras de Freud, Adler, Jung, Lacan e outros fo ram mencionadas nos correspondentes verbetes. Muita informação sobre a psicanálise se encontra em revistas: Imago. Zeitschrift for die Anwendung der Psychoanalyse aufdie Geisteswissenschaften; Interna tionale Zeitschrift für Psychoanalyse; o International Journal of Psychoanalysis; a Revista de Psicoanálisis (editada pela Associação Psicanalítica Argentina, a par tir de 1 946), e La Psychanalyse, Recherche et enseigne mentfreudiens (da Société Française de Psychanalyse, a partir de 1 956). Sobre a psicanálise em geral e a doutrina de Freud em particular, ver: O. Pfister, Die psychoanalytische Methode, 1 92 1 . - Id., El psicoanálisis y la educación, 1 932). - C. Hãberlin, Grundlinien der Psychoanalyse, 1 925; 2ª ed., 1 927. - P. Fedem e H. Meng, Das psy choanalytische Volksbuch, 2ª ed. , 1 928. - VV. AA., Krisis der Psychoanalyse, ed. H. Prinzhorn e K. Mitten zwey, 1, 1 928. - J. de la Vaissiere, La théorie psychoa nalytique de Freud, 1 930 (com abundante bibliografia até 1 930). - E. Schneider, El psicoanálisis y la peda gogía, 1 932. - M. Dorer, Historische Grundlagen der Psychoanalyse, 1 932. - E. Mira y López, El psicoa nálisis, 2ª ed. , 1 936. - J. J. López lbor, Lo vivo y lo muerto dei psicoanálisis, 1 936. Id., La agonía dei psicoanálisis, 1 95 1 . A. Szalai, Philosophische Grundprobletne der psychoanalytischen Psychologie. Eine dialektische Studie, 1 936. - J. Maritain, Freu dismo y psicoanálisis (em Metafisica de Bergson. Freudismo y psicoanálisis, 1 939). - C. Baudouin, La psychanalyse, 1 93 9 . - K. Horney, New Ways in Psycho-A nalysis, 1 939. - W. Hollitscher, Sigmund Freud: An Introduction, a Presentation of His Theory, and a Discussion of the Relationship between Psychoa nalysis and Sociology, 1 94 7. - R. Dalbiez, La méthode psychanalytique et la doctrine freudienne, 2 vols., reimp., 1 948. - H. Benoit, Métaphysique et Psycho analyse. Essais sur le probléme de la réalisation de l 'homme, 1 949. - C. L. Musatti, Trattato di psicoana lisi, 2 vols., 1 950. - M. Victoria, t: Qué es el psicoanáli sis?, 1 95 3 . - R. L. Monroe, Schools ofPsychoanalytic Thought, 1 95 5 (principalmente sobre o freudismo, mas também sobre as escolas de A. Adler, Erich Fromm, Otto Rank, C. G. Jung, H. S. Sullivan e outros). - J. Nuttin, Psychanalyse et conception spiritualiste de l 'homme, 1 95 5 ; 3ª ed. , 1 962. - E. Glover, Technique ofPsychoanalysis, 1 95 5 . - B. F. Skinner, "Critique of Psychoanalytic Concepts and Theories", e A. Ellis, "An Operational Reformulation of Some of the Basic Prin cipies of Psychoanalysis", em The Foundations ofScien ce and the Concepts ofPsychology and Psychoanalysis, -
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PSICANÁLISE EXISTENCIAL. Tem-se falado de "psicanálise existencial" em dois sentidos. 1 ) Uma psicanálise existencial psiquiátrica, desen volvida, entre outros, por Ludwig Binswanger (VER), Viktor von Gebsattel, Erwin W Strauss, Eutene Min kowski e Rollo May. Binswanger definiu-a como segue: "Entendemos por 'psicanálise existencial ' uma forma antropológica de investigação científica, isto é, uma forma destinada a apreender a essência do ser humano. Seu nome e fundamentação filosófica derivam da aná-
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li se existencial [ existenciária] de Heidegger. Embora não se tenha reconhecido isso devidamente, Heidegger tem o mérito de ter descoberto uma das estruturas fim damentais da existência e de tê-la descrito em suas par tes essenciais, isto é, na estrutura do estar-no-mundo" (op. cit. na bibliografia, p. 1 9 1 ) . As idéias de Binswanger representam uma parte importante do que chamamos "psicanálise existencial psiquiátrica", mas nem todos os psicanalistas existen ciais estão de acordo com elas. Alguns destacam, mais ainda que o próprio Binswanger, os aspectos "ontológi cos" da psicanálise existencial. Outros prestam menor, ou nenhuma, atenção a tais aspectos. Vários se inclinam no rumo da chamada Existenzphilosophie, e alguns li gam a citada psicanálise, em seu aspecto teórico, a vá rias tendências em antropologia filosófica (ver ANTROPO LOGIA). No entanto, todos os psicanalistas existenciais a que nos referimos insistem em dizer que cultivam uma ciência empírica e que têm fins terapêuticos, dife rentemente de qualquer mera especulação filosófica. Os psicanalistas existenciais argumentam contra os psicanalistas "ortodoxos" ou "clássicos" que, embora es tes últimos afirmem não apoiar-se em fundamentos filo sóficos, o certo é que quase todas as suas teses e práticas se fundam numa concepção naturalista do ser humano e num uso de esquemas procedentes das ciências naturais (por exemplo, o esquema da explicação causal). 2 ) Em outro sentido, chama-se "psicanálise existen cial" à psicanálise proposta por Jean-Paul Sartre O ser e o nada (parte IV, cap. II, sec. 1 ) . Nem uma fenomenolo gia ontológica nem uma pura descrição empírica bastam para "decifrar", isto é, "saber interrogar" as condutas, tendências e inclinações humanas. É necessário um "mé todo", que é a análise existencial. Sartre descreve como se segue seu princípio, finalidade, ponto de partida e método: "O princípio ... é que o homem é uma totalidade e não uma coleção: por conseguinte, ele se expressa in teiro na mais insignificante e mais superficial de suas condutas". "A finalidade é decifrar os comportamentos empíricos do homem". "O ponto departida é a experiên cia; seu ponto de apoio é a compreensão pré-ontológica e fundamental que o homem tem da pessoa humana." "Seu método é comparativo; já que, com efeito, cada conduta humana simboliza a seu modo a escolha (choix) fundamental que se deve pôr em destaque, e já que ao mesmo tempo cada conduta oculta tal escolha sob seus caracteres ocasionais e sua oportunidade histórica, pela comparação destas condutas faremos surgir a revelação única que elas expressam de modo diferente." Notar-se-á que em vários aspectos a psicanálise existencial sartriana é parecida com a clássica; em todo caso, ambas coincidem no "princípio" adotado. Sartre reconhece que o esboço primeiro do método da psicaná lise existencial foi oferecido pela psicanálise de Freud e seus discípulos, mas esta é uma razão a mais para es-
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tabelecer em que diferem ambos os tipos de psicanáli se. Uma discrepância fundamental é esta: a psicanálise clássica "decidiu acerca de seu [elemento] irredutível em vez de deixá-lo manifestar-se por si mesmo numa intuição evidente. A libido ou a vontade de poder consti tuem, com efeito, um resíduo psicobiológico que não é por si mesmo claro, e que não nos parece que deva ser o fim irredutível da investigação". Esta discrepância se deve ao que se poderia chamar (paradoxalmente) de "a natureza" da escolha (choix) fundamental, que de sempenha um papel decisivo na idéia sartriana da reali dade humana, e que descarta todas as causações mecâ nicas e, a rigor, todas as causações. A psicanálise exis tencial interroga com o fim de trazer à luz essa escolha, à diferença de qualquer "estado". Uma importante dife rença entre a psicanálise freudiana e a sartriana é que esta última rej eita a hipótese do inconsciente. "O fato psíquico", afirma Sartre, é coextensivo à consciência." :> Sobre psicanálise existencial em sentido 1 ): M. Boss, Psychoanalyse und Daseinanalytik, 1 957. - R. May, E. Nagel e H. F. Ellenberger, ed. , Existence: A New Dimension in Psychiatry and Psychology, 1 95 8 . - H. M. Ruitenbeek, ed. , Psychoanalysis a n d Existen tial Philosophy, 1 962. - L. M. Santos, Libertad, tem poralidad y transferencia en el psicoanálisis existencial, 1 964. - A. D. Weisman, The Existential Core ofPsy choanalysis, "i 965 . Sobre psicanálise existencial no sentido 2): J.-P. Sartre, L'Être et le Néant, 1 943. -A, Stern, Lafilosofia de Sartre y el psicoanálisis existencialista, 1 950; 2' ed. , 1 962. �
PSICANÁLISE INTELECTUAL. Pode-se dar este nome a um tipo de análise que, por tentar buscar algum "complexo" oculto, trazê-lo à superficie e, com isso, mostrar àquele que o tinha (ou sofria) que carecia de sentido, é uma espécie de psicanálise. Contudo, como se usam os procedimentos da análise da linguagem cor rente (ver FILOSOFIA ANALÍTICA), é uma análise conceituai ou intelectual (uma análise verbal). O "complexo" ocul to é algum problema filosófico que o "paciente" crê de verdade ser um problema, razão por que está preocupa do com ele, tratando de ver se tem alguma solução. A análise intelectual mostra que não é um verdadeiro pro blema, mas uma perplexidade, um quebra-cabeças. Em vez de tratar de resolvê-lo, é preciso dissolvê-lo. Em seu artigo "An Appraisal ofTherapeutic Positi vism", Mind, N. S. 55 ( 1 946), 25-48, 1 33 - 1 50, 8. A. Farrell tentou mostrar que o que se chamou de "segunda fase" no pensamento de Wittgenstein - ou as maneiras como alguns praticavam as sugestões wittgensteinianas - era uma manifestação do que ele chamou "positivis mo terapêutico". Chamou-o "positivismo" por várias razões - suas origens nas atitudes categóricas adotadas pelos membros do Círculo de Viena, sua posição anti metafisica -, e "terapêutico", porque seu ânimo era,
PSICANÁLISE INTELECTUAL ao que parece, eliminar as preocupações filosóficas (a rigor, pseudofilosóficas) do "paciente". O próprio Witt genstein repudiou essa interpretação. É dificil encontrar positivistas terapêuticos do tipo descrito por Farrell, e praticamente impossível encontrar alguém que se cha me a si mesmo "positivista terapêutico" (ou, em nosso vocabulário, "praticante da psicanálise intelectual"). Contudo, cabe chamar a atenção para certos aspectos da análise da linguagem corrente que, com intenção ou sem intenção de seus autores, parecem ter como um de seus objetivos eliminar (ou "curar") o "morbo filosófi co" mostrando a inanidade dos problemas filosóficos. Para começar, embora a segunda fase do pensamento de Wittgenstein não possa ser corretamente interpretada do modo acima dito, cabe usar algumas de suas obser vações como base para uma psicanálise intelectual ou filosofia (antifilosófica) terapêutica. O mais adequado a respeito é seguir literalmente suas frases: "Estamos sob a ilusão de que o especial, profundo, o que para nós é essencial de nossa investigação, reside em tratar de apreender a natureza incomparável da linguagem" (Logische Untersuchungen, 97), " . . . está claro que toda proposição em nossa linguagem 'está bem como está"' (ibid., 98). "Os problemas que surgem de uma má inter pretação de nossas formas de linguagem têm o caráter da profundidade. São inquietações profundas . " (ibid. , rn). "Levamos as palavras de seu uso metafisico de volta a seu uso quotidiano" (ibid. , 1 1 6). "Os resultados da fi losofia são a descoberta de quaisquer simples non senses, e dos arranhões que recebe o entendimento em sua corrida Contra os limites da linguagem" (ibid. , 1 1 9). "Um problema filosófico tem a forma: 'Não sei a que ater-me"' (ibid., 1 23). "A filosofia não deve de nenhum modo violar o uso atual da linguagem; quando muito, só pode descobri-lo" (ibid., 1 24), etc. (esquecendo que essas frases se encontram dentro de um contexto e que às vezes este se acha muito perto de alguma delas: por exemplo, os arranhões que o entendimento recebe "nos fazem ver o valor daquela descoberta"). Parece também adequado seguir as denúncias de Wittgenstein contra as generalizações, especialmente as generalizações filo sóficas, resultado de falsas analogias; pois mostrada a falsidade, ou impertinência, da analogia, o suposto pro blema fica pulverizado. O aspecto "psicanalítico" desta demonstração se reforça quando se considera a ativida de dissolvente de pretensos problemas filosóficos não como uma teoria sobre a linguagem, mas como uma atividade dirigida a tais ou quais pessoas. Desse modo se pode originar uma psicoterapia no curso da qual se tenta descarregar e liberar o "paciente" de suas preocupações manifestadas sob a forma de problemas gerais. Mediante análise lingüística se poderá mostrar ao "pa ciente" que seus problemas careciam de sentido e que, portanto, suas preocupações e inquietudes não tinham razão de ser. Ter-se-á devolvido o "paciente" à "vida"; ..
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PSICOFÍSICA terá sido arrancado de seu "confinamento" num mundo onde se havia deixado de usar as palavras em seus sen tidos correntes. Entre os nomes que às vezes são mencionados co mo praticantes de uma psicanálise intelectual no senti do acima esboçado figura o de John Wisdom (VER), dis cípulo de Wittgenstein, mas, de fato, Wisdom considera que embora os problemas filosóficos sejam paradoxos e quebra-cabeças, são ao mesmo tempo iluminadores. Menciona-se também seu quase homônimo John O(ulton) Wisdom, mas o que este faz é usar a técnica psicanalítica -junto com a análise lingüística - apli cando-a ao estudo da obra de vários filósofos. Um autor a quem conviria melhor o título de "positivista terapêu tico" ou, pelo menos, o de "psicanalista intelectual", é Morris Lazerowitz (nascido em 1 909), especialmente em suas obras Studies in Metaphilosophy, 1 964 (e, den tro desta, os ensaios "The Hidden Structure of Philoso� phical Theories", "The Relevance of Psychoanalysis to Philosophy", as pp. 56-76 de "Methods of Philoso phy") e Philosophy and Illusion, 1 968 (e, dentro desta, os ensaios "Wittgenstein: the Nature of Philosophy'', "Understanding Philosophy" e o ensaio que dá o nome ao volume, "Philosophy and Illusion"). Entre outras opiniões, Lazerowitz sustenta a de que "uma teoria fi losófica não é uma teoria, e um argumento filosófico não é nem uma demonstração nem uma refutação. Para começar, uma teoria filosófica consiste em manifestar uma mudança não enunciada, e oculta, de terminolo gia . . . Consiste também numa enganosa aparência apre sentada à nossa atenção consciente de que as palavras indicam uma teoria profunda acerca da existência ou natureza da realidade e, finalmente, consiste numa fan tasia ou num feixe de fantasias inconscientes que têm importância para nosso bem-estar emotivo" (Studies etc., p. 2 1 7). Segundo a "geografia analítica", a mente se compõe de três principais regiões: "uma consciente, uma pré-consciente e uma inconsciente, de modo que podemos dizer que uma teoria filosófica é uma ponte com três pilastras; no nível consciente, isso cria a ilusão intelectual de que se formula uma teoria ou verdadeira ou falsa, acerca do mundo" (loc. cit.) . O filósofo dá rédea solta a fantasias ocultas (op. cit. , p. 23 7). Há uma "ilusão de ciência"; na verdade, "há razões para crer que a filosofia tem a realidade de um espelhismo inte lectual forjado verbalmente e que é um sujeito que só na aparência externa trata de descobrir verdades acerca das coisas" (Philosophy and Illusion, p. 97). Trata-se de fantasias, ilusões, confinamentos, etc. Lazerowitz recor re à psicanálise freudiana para ajudar a desmascarar ilusões, de modo que não há necessidade, em princípio, de uma psicanálise intelectual, mas esta é a que se de preende dos modos como o mencionado autor trata de desenterrar os problemas que se aninham no incons ciente; além disso, a própria psicanálise freudiana é
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interpretada ao modo de uma espécie de psicanálise "lingüística''.
PSICOFÍSICA. Ver FECHNER, G. TH . ; PSICOLOGIA; WEBER-FECHNER (L EI DE) . PSICOLOGIA. O termo 'psicologia' foi usado pela primeira vez como título de uma obra por R. Goclenius em sua \jlVXOÀoyía hoc est de hominum, perfectione, anima, et in primis ortu hujus, commentationes et dis putationes, quarundam Theologorum Philosophorum nostrae aetatis, quos proxime sequens praefationem pagina ostendit (Marpuirgi [Marburgo ], 1 590). Literal mente, psychologia (psicologia) significa o estudo ou ciência da alma, ou da psique ou mente. Este estudo começou a ser levado a cabo muito antes de se usar o mencionado nome. O TT ep\ \jlVXfiS, De anima, de Aristóteles, é um dos primeiros escritos sistemáticos de psicologia. A maior parte dos filósofos, pelo menos a partir de Platão, abrigou opiniões, mais ou menos sistemáticas, sobre a natureza da alma e sobre as atividades anímicas e mentais. Foram especialmente importantes as pesquisas e especulações sobre a relação entre alma e corpo (um dos "problemas permanentes" na tradição filosófica). O vocabulário dos filósofos es teve freqüentemente impregnado de termos com cono tações psicológicas. Isso ocorreu em quase todas as disciplinas filosóficas, mas muito especialmente quan do se tratou de questões que hoje é usual classificar de "epistemológicas''. Não se pode estudar a história da ética, da teologia, da lógica, etc., sem estudar paralela mente a história do que veio a chamar-se "psicologia''. Noções fundamentais na filosofia - como as de aper cepção, apetite, atenção, consciência, desejo, enteléquia, entendimento, eu, faculdade, hábito, idéia, imagem, imaginação, inteligência, intenção, intuição, memória, motivo, paixão, pensamento, percepção, prazer, razão, reflexão, representação, sensação, sentido, vontade e muitas outras - são noções que podem ser considera das, amplamente falando, como psicológicas, ou que estão relacionadas com questões psicológicas mesmo quando tenham sido usadas primariamente para outros propósitos. O leitor pode fazer uma idéia da importância do vocabulário psicológico em sentido tradicional con sultando a lista de termos agrupados (muitas vezes "anacronicamente") sob o título "Psicologia" no "Qua dro cronológico" no tomo IV deste Dicionário. Assim, a "história da psicologia" como história das doutrinas sobre a alma, as atividades anímicas e men tais, a relação entre alma e corpo, a natureza do pensa mento e do sentimento, é parte integrante da história da filosofia. Com o surgimento do termo 'psicologia', esta se foi constituindo como uma disciplina dentro do quadro de estudos filosóficos. Nos séculos XVII e XVIII se estabe leceu e se difundiu a psicologia como "psicologia racio-
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na!" (psychologia rationalis), especialmente dentro do sistema de disciplinas estabelecido na escola de Leibniz Wolff. A psicologia racional era, com a cosmologia e a teologia racionais, uma parte da "metafisica especial". Esta psicologia racional era, portanto, um estudo a priori. Por outro lado, Wolff propôs e desenvolveu o que chamou de psychologia empirica. Esta se baseia na experiência e obtém dela os princípios ou leis segundo as quais se leva a cabo a atividade anímica. Em princípio, a psico logia empírica não era incompatível com a racional, tra tava-se de duas partes distintas da pesquisa filosófica, ou, simplesmente, da "ciência" ou do "conhecimento''. No curso do século XIX e parte do XX o estudo (aca dêmico) da psicologia esteve estreitamente ligado ao da filosofia em bom número de países. A psicologia foi considerada, oficialmente, como uma "disciplina filo sófica". De fato, porém, e a partir pelo menos do século XVIII, a psicologia se tornou cada vez mais indepen dente da filosofia. Os materialistas franceses, os empi ristas britânicos e, em particular no curso do século XIX, os filósofos-psicólogos alemães contribuíram para a independência da psicologia da tutela filosófica. Como ocorreu com outras disciplinas, produziu-se a seguir uma guinada diferente: os filósofos se interessaram por ques tões psicológicas. Mas a "psicologia filosófica" de filó sofos mais recentes tem já pouco a ver com a psicologia como ramo da filosofia - de um modo similar, embora não exatamente igual, ao modo como a filosofia da fi sica é diferente da fisica filosófica ou da filosofia natu ral tradicional. A mencionada independência da psicologia em re lação à filosofia se desenvolveu quase sempre no curso da constituição da psicologia como ciência empírica e dos trabalhos de psicologia experimental, com os "La boratórios de psicologia experimental" do tipo do de Wundt na Alemanha e do de Titchener nos Estados Uni dos. As relações entre a psicologia e a fisiologia, em par ticular a fisiologia do sistema nervoso, se tornaram muito estreitas, com a óptica fisiológica de Helrnholtz e a psi cofisica de Weber e Fechner. Contudo, desenvolveram se concomitantemente trabalhos psicológico-filosóficos que tiveram influência sobre alguns desenvolvimentos da psicologia, como ocorre com os estudos psicológicos de Brentano, William James e Bergson ou com a psicolo gia "científico-espiritual" de Dilthey e Spranger. Na atualidade, e no curso de quase todo o século XX, na maior parte dos países, pode-se falar da psicolo gia como uma ciência, independentemente da filosofia no sentido de que não é estudada já como uma disciplina filosófica, embora esteja relacionada com a filosofia pelo menos na medida em que seus métodos, conceitos e pressupostos podem ser objeto de estudo filosófico. Pode-se falar de uma "filosofia da psicologia", embora, na verdade, esta não tenha prosperado na medida em
PSICOLOGIA que isso ocorreu com a filosofia da fisica, da biologia e até da lingüística. Um dos problemas que se colocam acerca da psico logia, embora desgarrada do antigo "tronco comum fi losófico", é que há tantas tendências e escolas que al guns duvidam que se possa falar de "a" psicologia. Para começar, enquanto alguns tendem a considerar a psico logia como uma ciência natural, vários destacam ramos como a chamada "psicologia social" e tendem a enqua drar a psicologia dentro das ciências sociais. Entre os pesquisadores em psicologia se notam estas diferenças quando se comparam os trabalhos dos que se ocupam de questões relativas à percepção ou à aprendizagem e os daqueles que se ocupam de averiguar a interação psi cológica entre grupos humanos. No último caso, há es treitas conexões entre a psicologia e a sociologia. Mas além da mencionada divisão de interesses, e às vezes correlacionada com ela, há grande diversidade de orientações. Uma história da psicologia dos séculos XIX e XX é em grande medida uma história de "es colas" psicológicas. Algumas destas "escolas" parti lham alguns caracteres exibidos por outras. O traço "ex perimental" é comum à maior parte de escolas e orienta ções, mas isso sobretudo na medida em que contrastam com a tradicional psicologia como disciplina filosófica. Um traço comum à maior parte de escolas e orientações é a psicologia ser cultivada como ciência empírica, mas isso não opõe necessariamente "empírico" a "teórico"; como não o opõe nas ciências naturais, onde a teoria faz parte da "ciência empírica''. Oferecemos a seguir uma lista de orientações, esco las e tendências, várias das quais se entrecruzam. Em alguns casos, trata-se de orientações gerais, comuns a diversas escolas, em outros se trata de tendências em psicologia relativamente bem circunscritas pelos métodos usados ou pelo quadro teórico empregado ou ambas as coisas ao mesmo tempo. 1 ) Psicologia associacionista. Como indicamos em ASSOCIAÇÃO, ASSOCIACIONISMO, esta é uma orientação cujas origens são remotas, mas que alcançou grande es tima dentro do empirismo inglês, de Hume a John Stuart Mil!. Vestígios dessa orientação se encontram em várias tendências na psicologia. À s vezes se contrapôs a psico logia associacionista à "gestaltista" (cf. infra). 2) Psicologia experimental do tipo das escolas de Leipzig (Wundt), Würzburg (Külpe), Paris (Ribot), Freiburg e Harvard (Hugo Münsterberg, William Ja mes), Cornell (Titchener). Trata-se de tendências que se concentraram na investigação de tipos determinados de atividade mental: psicologia do pensar, das emoções, dos atos voluntários, da atenção etc. Como parte impor tante do trabalho psicológico na atualidade é experi mental, este adjetivo não é suficiente para caracterizar as mencionadas escolas, salvo para indicar que estive-
PSICOLOGIA durante um tempo à frente da renovação da psicolo gia como ciência. 3) Psicologia "intencional", cujas origens se acham em Brentano. Encontram-se desenvolvimentos da mes ma em Husserl e vários fenomenólogos. Pode-se cha mar também "psicologia fenomenológica" e "psicologia fenomenológico-existencial". Entre os representantes da última figuram autores como Aron Gurwitsch e M. Merleau-Ponty. Mais que de psicólogos estritos, trata se de filósofos que apelam em parte a métodos e resulta dos de outras escolas psicológicas, principalmente do gestaltismo. 4) Psicologia científico-espiritual (Dilthey, Spran ger), que considera a psicologia como uma das ciências do espírito (VER). 5) Psicologia funcional (ver FUNCIONALISMO). 6) Comportamentalismo (vER) e reflexologia (ver REFLEXO). 7) Psicologia da forma ou da estrutura ou psicologia gestaltista: Gestaltpsycho/ogie (ver ESTRUTURA), princi palmente desenvolvida por Max Wertheimer, Kurt Kof fka e Wolfgang Kiihler. 8) Psicanálise (vER) e suas variantes. 9) Psicologia filosófica ou "nova psicologia filosó fica", praticada por certo número de autores de tendên cia analítica, com inclinação pelo esclarecimento do sentido e uso de termos-chave psicológicos. 1 O) Psicologia de base tisica, fisiológica e neuroló gica (psicofisiológica, psiconeurologia), que tem seus antecedentes na psicotisica, em Johannes Müller e em Hermano von Helmholtz, e que, entre outros trabalhos, levou a cabo pesquisas detalhadas sobre as bases tisicas da percepção. 1 1 ) Psicologia evolutiva e psicologia genética, seja do tipo clássico da psicologia evolucionária de Darwin, ou do tipo das atuais investigações em etologia (VER) e em sociobiologia. Além das citadas orientações, tendências e escolas, há determinadas inclinações metodológicas e pressupos tos teóricos que alcançam várias das primeiras e que em ocasiões são objeto de debate. Assim, por exemplo, se discute se é preferível um método de caráter "atomista" (ou "analítico") ou um método de caráter "global"; se as explicações psicológicas têm de ser - ou simplesmen te são ainda por razão do estágio relativamente pouco avançado da pesquisa psicológica - de caráter "molar" ou de caráter "molecular". Desse último ponto de vista, pode se falar de uma contraposição entre uma "macro psicologia" e uma "micropsicologia". Afora a psicanálise e suas derivações, que se desen volveram também (senão especialmente) no campo mé dico terapêutico e na psiquiatria, as correntes atualmen te mais em voga são o comportamentalismo, a psicolo gia gestaltista, a psicologia evolutivo-genética e a que chamamos de "psicologia de base tisica". O progresso ram
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dos estudos em biologia, genética, neurofisiologia e bioquímica parecem oferecer grandes possibilidades ao último tipo de psicologia mencionado. Deve-se levar em conta, porém, que a intitulada "psicologia de base tisica" (ou, especificamente, neurofisiológica e bioquí mica) é compatível com outras orientações - por exemplo, com a psicologia evolutiva e genética, a etolo gia e a sociobiologia -, às quais pode oferecer funda mentos científicos. O termo 'psicologia' se emprega também em relação com etudos aplicados a vários campos da cultura; a esse respeito, fala-se de psicologia da religião, psicologia fo rense, do trabalho, pedagógica, social, criminal etc. :> Exposições de doutrinas psicológicas pertencentes a diferentes tendências: W. Wundt, Grundzüge derphy sio/ogischen Psycho/ogie, 1 873. - Id., Grundriss der Psycho/ogie, 1 896. - F. Brentano, Psycho/ogie vom empirischen Standpunkt, 1 , 1 874. - H. Hiiffding, Psi ko/ogi i Omrids paa Grundlag of Erfaring, 1 882. W. James, The Principies ofPsychology, 1 890. - Id., A Textbook ofPsychology. Briefer Course, 1 892. - T. Ziehen, Physiologische Psycho/ogie, 1 89 1 . - Id., Die Grundlagen der Psycho/ogie, 1 9 1 5 . - H. Münsterberg, Grundzüge der Psychologie der Psychologie. 1. Die Prin zipien der Psychologie, 1 900. - W. Stern, Die differen tielle Psychologie, 1 9 1 1 ; 3ª ed., 1 92 1 . - D. Roustan, Leçons de philosophie. I. Psychologie, 1 9 12. - K. Büh ler, Handbuch der Psycho/ogie, 1 922. - L. Binswan ger, Einfiihrung in die Probleme der allgemeinen Psy cho/ogie, 1 922. - J. Geyser, Abriss der allgemeinen Psychologie, 1 922. - K. Koftka, Die Grundlagen der psychischen Entwicklung, 1 92 1 ; 2ª ed., 1 925. - Id., "Psychologie", em Lehrbuch der Philosophie, ed. M. Dessoir, II, 1 925, pp.497-603. - Id., Principies ofGes talt Psychology, 1 93 5 . - C. K. Ogden, The Meaning of Psychology, 1 926. - A Müller, Psychologie, 1 927. - G. Dwelshauvers, Traité de psycho/ogie, 1 928; nova ed., 1 934. - A. Pfánder, Die Seele des Menschen. rér such einer verstehenden Psychologie, 1 933. - K. Le win, Principies ofTopo/ogical Psycho/ogy, 1 936. - D. Roustan, Psico/ogía, 1 938. - M. Beck, Psychologie, Wesen und Wirklichkeit der Seele, 1 938. - R. Agra monte, Psico/ogía, 3 vols., 1 939. - L. J. Guerrero, Psi cología, 1 939; 1 8ª ed., 1 963 . - T. de S. Hemández, Psicología, 4' ed., 1 940. - P. Guillaume, lntroduction à la Psychologie, 1 942. - M. Pradines, Traité de Psycholo gie générale, 1 943 . - A. Gemelli e G. Zunini, lntrodu zione alia Psicologia, 1 947. - O. Robles, Introducción a la psico/ogía científica, 1 948. - J. Larstsinin, ;, Qué es la psicología?, 1 953. - M. Victoria, Introducción a la psico/ogía, 1 955. - M. C. Hemández, Lecciones de psicología, 1 960. - J. L. Pinillos, /ntroducción a la psi cología contemporánea, 1 962. - J. Piaget, P. Freisse, eds., Traité de psychologie expérimentale, 1 963ss. - B. Wolman, E. Nagel, eds., Scientific Psycho/ogy, Princi.
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