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DICIONÁRIO DE FILOSOFIA
DICIONÁRIOS Dicionário bíblico-teológico
Johannes B. Bauer
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Dicionário cultural da Bíblia
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VV. AA.
Dicionário cultural do cristianismo Dicionário de direito canônico Dicionário de filosofia
(4
Dicionário de psicologia
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vols.)
(3
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vols.)
VV. AA.
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Carlos C. Salvador, José Embil José Ferrater Mora
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W. Arnold; H. J. Eysenck; R. Neili
Dicionário de teologia bíblica (2 vols.)
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J. B. Bauer
JOSÉ
FERRATER MORA
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DICIONARIO DE FILOSOFIA TOMO II (E-J)
Edi�ões loyola
TíTULO ORIGINAL:
Diccionario de Filosofía, tomo II (E-J) Nueva edición revisada, aumentada y actualizada por e! profesor Josep-Maria Terricabras (director de la Cátedra Ferrater Mora de Pensamiento Contemporáneo de la Universitat de Girona) Supervisión de la profesora Priscilla Cohn Ferrater Mora (Penn State University) ©1994: Priscilla Cohn Ferrater Mora ©da revisão atualizada: Josep-Maria Terricabras Direitos exclusivos: ©1994, Editorai Ariel, S.A., Barcelona ISBN:
84-344-0500-8 84-344-0502-4
(obra completa) (tomo II)
A presente edição foi traduzida mediante ajuda da DIRECCIÓN GENERAL DEL LIBRO, ARCHIVOS Y BIBLIOTECAS DEL MINISTERIO DE EDUCACIÓN Y CULTURA DE ESPANA.
EDIÇÃO
Marcos Marcionilo TRADUÇÃO
Maria Stela Gonçalves Adail U. Sobral Marcos Bagno Nico/ás Nyimi Campanário PREPARAÇÃO
Nico/ás Nyimi Campanário Luciana Pudenzi REVISÃO
Renato da Rocha Carlos DIAGRAMAÇÃO
Maurélio Barbosa
Edições Loyola
1822 nº 347 Ipiranga 04216-000 São Paulo, SP Caixa Postal 42.335 04299-970 São Paulo, SP Fone (0**11) 6914-1922 Fax (0**11) 6163-4275 Rua
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85-15-02005-X
©EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil,
2001
E. A letra maiúscula 'E' (primeira vogal do termo nego) é utilizada na literatura lógica para representar simbolica mente a proposição universal negativa, negatio univer salis, da qual a seguinte proposição é um dos exemplos: Nenhum homem é mortal. Em textos escolásticos encontra-se freqüentemen te o exemplo (apresentado por Boécio): Nullus homo iustus est,
e em numerosos textos lógicos a letra E substitui o es quema 'Nenhum S é P ' , sobretudo quando se introduz o chamado quadro de oposições ( vER) . Nos textos escolásticos diz-se de E que negat uni versaliter ou generaliter, nega universalmente ou geral mente. A letra ' E ' também é utilizada nesses textos para simbolizar as proposições modais em modus afir mativo e dictum negativo (ver MODALIDADE), ou seja, as proposições do tipo: É impossível que p, em que 'p' simboliza um enunciado declarativo. A letra ' E' (em itálico) é utilizada por Lukasiewicz para representar o conectivo 'se e somente se ' ou bicondicional ( vER ) , que nós simbol izamos com ' H '. 'E' antepõe-se às fórmulas, de modo que 'p H q' é escrito, na notação de Lukasiewicz E p q. O mesmo autor utilizou 'E' para representar o quan tificador universal negativo. 'E' antepõe-se às variáveis 'a', 'b', 'e' etc., de tal modo que 'E a b' deve ser lido como 'b não pertence a nenhum a' ou ' nenhum a é b'. Para distinguir entre 'E' no sentido do último e do penúltimo parágrafos, Lukasiewicz às vezes utilizou 'Y' no lugar do quantificador universal negativo 'E'.
EBBINGHAUS, HERMANN ( 1 850- 1 909), nascido em Barmen, foi Privatdozent na Universidade de Berlim ( 1 880- 1 894) professor "extraordinário" em Breslau ( 1 894- 1 905) e professor titular em Halle ( 1 905- 1 909). Ebbinghaus destacou-se por suas investigações e aná lises psicológicas. Seus trabalhos experimentais segui,
ram as orientações iniciadas por Fechner no campo da psicofisica e fundamentaram-se na suposição de um rigoroso paralelismo entre fenômenos mentais e pro cessos do sistema nervoso, os quais estão em estreita união, Verband; com efeito, ambos são aspectos de uma mesma realidade. As investigações experimentais de Ebbinghaus incluem trabalhos sobre a fisiologia dos órgãos dos sentidos, mas ele utilizou assim mesmo o método de questionários e provas, especialmente em seus trabalhos - alguns deles antecedentes de tipos de investigação logo amplamente difundidos - sobre o desenvolvimento da capacidade mental de crianças em idade escolar. Do mesmo modo, devem-se a ele tra balhos - nos quais ele próprio atuou como suj eito de experimentação - sobre a memória, particularmente sobre a memorização de sílabas e expressões sem signi ficado com o fim de estabelecer sobre sólidas bases os fundamentos da associação de "idéias". :> Obras: Über die Hartmannsche Philosophie des Un bewussten, 1 873 (Sobre a filosofia hartmanniana do in consciente). -Über das Gediichtnis, 1 885 (Sobre a me mória). - Theorie des Farbensehens, 1 893 ( Teoria da percepção visual da cor). - Neue Methode zur Prüfung geistiger Fiihigkeit, 1 897 (Novos métodos para a com provação da capacidade mental). - Grundzüge der Psychologie, l, 1 897; 4ª ed., aos cuidados de Karl Bühler, 1 9 1 9 (Fundamentos da psicologia). - Abriss der Psy chologie, 1 908; 9" ed., 1 932 (Esboços de psicologia). Em 1 890 Ebbinghaus fundou, com Arthur Kõnig, a influente Zeitschrifi fi'ir Psychologie und Physiologie der Sinnesorgane, para a qual colaboraram, entre ou tros, Helmholtz, G. E. Müller e C. Stumpf. Ver: Jacques Laminne, Les quatre éléments: le feu, l 'air, l 'eau, la terre. Histoire d ' une hypothése, 1 904. - W. Volgraff, "Elementum", Mnemos, 4, 2 ( 1 949), 89- 1 1 5 . - H . Kõller, "Stoicheion", Glotta, 34 ( 1 955), 1 6 1 - 1 74. - W. Burkert, "2:To1xelov. Eine semasiolo gische Studie", Philologus, 1 03 ( 1 959), 1 67- 1 97. - F. Solmsen, Aristotle s System ofthe Physical World, 1 960. - Adolf Lumpe, "Der Begriff 'Element' im Altertum", Archiv für Begriffsgeschichte, 7 ( 1 962), 285-293 . Gustav Adolf Seeck, Ueber die Elemente in der Kosmo logie des Aristoteles. Untersuchungen zu De generatio ne et corrutione und De caelo, 1 964. - A. P. Bos, On the Elements: A ristotle s Early Cosmology, 1 972. W. Schwabe, "Mischung" und "Element" im Griechis chen bis Platon. Wort - und begriffsgeschichtliche Un tersuchungen, insbesondere zur Bedeutungsentwicklung von OTOlXELoV, 1 980. C
ELENCO. O termo grego eÀeyxos significa "prova", "modo de prova'', "modo de contraste", "exame". Como mediante prova ou exame se pode confutar ou refutar uma opinião, eÀEYXOS também é usado no sentido de "refutação". A obra de Aristóteles intitulada Dep\ OO Ver: Heinrich Maier, Psychologie des emotionalen Denkens, 1 908. - John Mac Murray, Reason and Emo tion, 1 93 5 ; 2ª ed., 1 96 2 . - Marius Latour, Premiers principes d ' une théorie générale des émotions, l 935ss. - R. Lacroze, L ' angoisse et /' émotion, 1 93 8 . - H. M. Gardiner, Ruth Clark Metcalf, John G. Beebe-Cen ter, Feeling and Emotion. A History ofTheories, 1 937. - Frederick H . Lund, Emotions, Their psychological, physiological and educative Implications, 1 939. Jean-Paul Sartre, Esquisse d ' une théorie des émotions, 1 939. - Paul Thomas Young, Emotion in Man and Animal, 1 943. - J. Barnier, Émotion, émotivité, consti tution émotive, 1 94 7. - Fernand Jason, La vie ajfective et / ' intelligence, 1 948. - V J. McGill, Emotions and Reason, 1 954 (A merican Lectures in Philosophy, ed. M. Farber). - S. Strasser, Das Gemüt. Grundgedanken zu einer phiinomenologischen Phi/osophie und Theorie des menschlichen Gefiihlslebens, 1 956. - Erik Gõtlind, Three Theories o/Emotions: Some Views on Philosophi cal Method, 1 95 8 . - James Hillman, Emotion, 1 960. - Anthony Kenny, A ction, Emotion and Will, 1 963. J. R. S. Wilson, Emotion and Object, 1 972. - Warren Shibles, Emotion: The Method ofPhilosophical Thera py, 1 974. - F. Bergmann, R. C. Solomon et ai. , Unders tanding Human Emotions, 1 979 (vol. 1 de Bowling Green Studies in Applied Philosophy). P. D. Mac Lean, J. R. Averill et ai., Explaining Emotions, 1 980, ed. A. Oksenberg Rorty. - W. Lyons, Emotion, 1 980. - R. De Sousa, The Rationality o/Emotion, 1 987. B. H. Boruah, Fiction and Emotion : A Study in A esthe tics and the Philosophy of Mind, 1 98 8 . - F. Sontag, Emotion: Its Role in Understanding and Decision, l 989. - R. C. Solomon, Lave: Emotion, Myth and Metaphor, 1 990. - J. MacMurray, Reason and Emo tion, 1 992. - D. N. Walton, The Place of Emotion in Argument, 1 992. Para Aristóteles, ver W. W. Fortenbaugh, Aristotle on Emotion, 1 97 5 . Para M. Scheler, ver sobretudo : Ética e Essência e formas da simpatia (referências bibliográficas mais -
completas em SCHELER [MAx]). - Ver também biblio grafia de PAIXÃO e SENTIMENTO. Sobre Sartre, ver Joseph P. Fel!, Emotion in the Thou ght of Sartre, 1 965. Antologia: C. Calhoun, R. C. Solomon, eds., What is an Emotion: C/assic Readings in Philosophica/ Psycho /ogy, 1 984 (contém fragmentos clássicos de Aristóteles, Descartes, Spinoza e Hume na primeira parte; de Darwin, James e Freud na segunda; de autores contemporâneos na 3ª e 4ª partes. Tem uma extensa bibliografia). C
EMOTIVISMO. Caso se aceite, como muitos positi vistas lógicos, que todas as proposições podem ser clas sificadas em proposições puramente analíticas e pro posições empiricamente verificáveis, deve-se concluir que certas "proposições", tais como "roubar é ruim", "ajudar o próximo é bom", "isto é injusto", "isto é justo" etc . , não são, propriamente, proposições. A objeção de que elas são proposições porque podem ser traduzidas em proposições empiricamente verificáveis - a "pro posição" "roubar é ruim", por exemplo, pode ser tra duzida pela proposição "não aprovo o roubo" - foi refutada mostrando-se que a desaprovação (ou aprova ção) de algo não é de modo algum incompatível com a asserção de que esse algo é mau (ou bom). Por conse guinte, parece que se deve negar às expressões éticas o caráter de proposições ou então introduzir um novo tipo destas. Alguns autores propuseram que as expressões éticas, mesmo que não sejam empíricas, são emotivas, isto é, manifestam sentimentos de índole ética. Como tais elas não podem ser declaradas verdadeiras ou fal sas. Mas isso não significa que tenham necessariamente caráter "arbitrário" ou "subjetivo". Os enunciados éticos e, em geral, valorati vos não podem ser confirmados por não serem empíricos, mas nem por isso deixam de ser apenas manifestações de humor pessoal. A doutrina em questão recebeu os nomes de emo tivismo e também de teoria emotiva. Foi proposta e desenvolvida sobretudo por autores anglo-saxões (A. J. Ayer, C. L. Stevenson; VER) em oposição a outras múl tiplas doutrinas éticas (ética "metafisica'', ética axioló gica, naturalismo, intuicionismo etc . ) . As dificuldades com que essa doutrina se defrontou foram examinadas detalhadamente pelos próprios autores que a propuse ram. Chamou-se a atenção, por exemplo, para o fato de que os enunciados éticos não são inúteis, porque têm um caráter de "mando" e de "incitação" à ação. Também foi dito (C. L. Stevenson) que, embora os termos utili zados em enunciados éticos não sejam termos descriti vos, eles são, em contrapartida, termos dinâmicos que produzem (ou podem produzir) reações afetivas. Em suma, tentou-se eludir as objeções apresentadas por na turalistas e por intuicionistas dizendo que os enunciados éticos são "imperativos" ou ao menos "recomendativos''.
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Uma teoria emotivista foi proposta também - e antes que Ayer e Stevenson o fizessem - por Axel Hagerstrõm (vER), que se opôs à distinção entre expe riências emotivas e j uízos de valor introduzida por Meinong e Ehrenfels. Segundo Hagerstrõm não existe tal diferença e tampouco hájuízos de valor. As valora ções não podem ser nem verdadeiras, nem falsas. Por outro lado, as valorações são atos subjetivos mediante os quais emoções são projetadas em objetos exteriores. Não ficava claro em Hagerstrõm se tais emoções proje tadas eram subjetivamente apreendidas ao mesmo tem po como se fossem qualidades do objeto; se assim fosse, não se poderia distinguir entre uma qualidade real e uma qualidade projetada. As dificuldades em que desembocou o emotivismo induziram R. M. Hare a propor o que se chama de "pres critivismo" (vER). Segundo esse mesmo autor, as ex pressões na l inguagem moral continuam sendo, como sustentam os emotivistas, não-informativas, mas, ao contrário do que eles supõem, tais expressões não inci tam ou influem, mas servem de guia e de aviso. Outra correção ao emotivismo é a que foi proposta por J. O. Urmson, especialmente no que se refere à dimensão valo rativa da linguagem moral prescritiva. Segundo Urmson, valorar não é simplesmente expressar uma emoção, mas é uma atividade comparável a "graduar", isto é, a esco lher de acordo com certos critérios (ver GRAU). :l Ver: A. J. Ayer, Language, Truth and Logic, 1 936; 2ª ed., rev. , 1 946 (ed. port.: Linguagem, verdade e lógica, 1 99 1 ). - C. L. Stevenson, Ethics and Language, 1 945. - A . N. Prior, Logic and the Basis o(Ethics, 1 949. J. O. Urmson, "On Grading'', Mind, N. S . , 69 ( 1 950), 1 45- 1 69. (Ver também bibliografia de GRAU.) - !d., The emotive Theory ofEthics, 1 968. - Sõren Halldén, Emotive Propositions, 1 952 (crítica de Hagerstrõm). - R. M. Hare, The Language ofMorais, 1 952 (ed. port.: A linguagem da moral, 1 996). - Avrum Stroll, The Emotive Theory o( Ethics, 1 954 (University of Califor nia Publications in Philosophy, vol . 28, n. 1 , pp. 1 -92). - P.-H. Nowell-Smith, Ethics, 1 954. - Mary Warno ck, Ethics since 1 900, 1 960, especialmente pp. 79- 1 40. - S . Satris, Ethical Emotivism, 1 987. C:
EMPATIA. Ver ENDOPATIA, SIMPATIA. EM PÉDOCLES de Agrigento ( ca. 483/482-430 a.C.) foi considerado durante toda a Antiguidade um tauma turgo e um profeta; parece ter percorrido as cidades da Magna Grécia como orador e mago, e o próprio Dióge nes Laércio diz que há uma variedade de opiniões sobre sua morte, sendo que uma das versões mais difundidas é a de que ele teria se suicidado jogando-se na cratera do Etna. Seguindo a tradição dos jônicos, Empédocles de senvolveu uma explicação do universo, na qual todo fenômeno natural é considerado a mistura de quatro ele mentos ou "princípios" - água, fogo, ar e terra -,
EMPÉDOCLES
quali ficados com nomes divinos (Nestis, Zeus, Hera, Edoneu). Estes princípios ou elementos são eternos e irredutíveis; são, como diz Aristóteles, "eternamente subsistentes e não-gerados". Todas as coisas nascem e perecem por união e separação dos elementos, de tal modo que a qualidade de cada objeto reside na pro porção em que cada um desses elementos entra na mis tura. "Há apenas - afirma Empédocles - mistura e separação do misturado, mas não nascimento, que é uma simples maneira de dizer dos homens''. Isto posto, o que faz com que os elementos se misturem e sepa rem são duas forças externas - o Amor e o Ódio -, que representam um poder natural e divino; eles são respectivamente o Bem e o Mal, a Ordem e a Desor dem, a Construção e a Destruição. O que existia no começo era o Bem e a Ordem, o absoluto predomínio do Amor, por meio do qual existia uma mistura com pleta dos quatro elementos na unidade orgânica de uma "esfera". A intervenção do Ódio foi a origem das coisas, dos seres individuais, que se diversificam até a separa ção absoluta e o domínio absoluto do mal . Mas nesse estado tampouco há coisas particulares; ao mesmo tem po em que é a culminação do império do Ó dio, este estado é também o princípio do Amor que torna a con fundi-lo e misturá-lo todo até que haja uma só coisa, essa perfeita esfera que também se chama Deus. Essa perfeição encontra-se assim na origem do mundo atual e em seu termo; o mundo atual, no qual há seres indivi duais e, portanto, ódio e inj ustiça, é, no fundo, uma expiação, um processo de purificação que terminará apenas quando o Amor triunfar novamente; mas esse triunfo também é precário e a evolução dos mundos não é senão um processo no qual se manifesta inexo ravelmente um domínio alternativo do Ó dio e do Amor, do Bem e do Mal. Embora tenhamos apresentado sumariamente "a" doutrina de Empédocles segundo consta nos fragmentos conservados do filósofo, deve-se chamar a atenção para o fato de que suas duas obras - Acerca da Natureza (TI Ep\ qivoEws) e As Purificações (Ka8apµoí) - pa recem revelar duas distintas tendências: uma, "científi ca" (e até mesmo "materialista"), e a outra, religiosa (e até mesmo mística). Já se debateu se Empédocles pas sou da primeira para a segunda ou vice-versa por meio de uma espécie de "conversão", ou se ambas as tendên cias coexistiram na mente do fi lósofo. Neste último caso - o mais provável - também se discutiu se de vem ser consideradas ambas as tendências como filoso ficamente independentes entre si ou se há alguma tese ou intuição filosófica que as vincule. Alguns autores (E. R. Dodds, Gregory Vlastos) opinam que as duas ten dências não podem ser combinadas. Outros (F. M. Corn ford, K. S. Guthrie) acreditam que não apenas as duas tendências em questão coexistiram sem estranheza mú-
EMPÍRICO
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tua no pensamento de Empédocles, mas também que alguns elementos de uma (como a idéia de Amor [ou amizade] que liga e une as coisas) são interpretáveis ao mesmo tempo materialista e misticamente. Os partidários desta última opinião apóiam-se no fato de que na cultura grega da época não havia necessariamente conflito entre o filosófico (ou "científico") e o rel igioso, e, em geral, entre o racional e o irracional. :> Dos escritos de Empédocles conservam-se apenas fragmentos. Edição em Diels-Kranz, 3 1 (2 1 ). Outras edições: Ettore Bignone, Empedocle, Studio critico, 1 9 1 6 (com comentário). - Jean Bollack, Empe docle, 1 969 (com trad. francesa e comentário). - Cario Gallavotti, Poemafisico e lustra/e, 1 95 1 , ed. com trad. italiana e notas (pp. 1 6 1 -340). - N. van der Ben, The Poem ofEmpedocles 'Peri Physeos, Towards a New Edi tion o/Ali the Fragments. Thirty-One Fragments, 1 97 5 . Ver: E . Baltzer, Empedokles, eine Studie zur Philo sophie der Griechen, 1 879. - Joseph Bidez, La bio graphie d ' Empédocle, 1 894. - E. Brodero, II princi pio fondamentale dei sistema di Empedocle, 1 90 5 . Clara E. M i llerd, On the Interpretation ofEmpedocles, 1 908. - U. von Wilamowitz-Moellendorff, Die Kathar moi (As purificações) des Empedokles [Sitzungsbe richte der Preuss Ak. der Wissenschaften, Philhist, Klas se ], 1 929. - J. Souilhé, L' énigme d ' Empédocle (separa ta dos A rchives de Philosophie, vol . IX, caderno 3). W. Kranz, Empedokles. Antike Gesta// und romantische Neuschopfimg, 1 94 7 . - F. Hõlderin, Empedokles, 1 948. - A.-J. Festugiere, L' enfant d 'Agrigente, 1 950. - J. Zafiropoulo, Empédocle d ' Agrigente, 1 95 3 . Gilles Nelod, Empédocle d ' Agrigente, 1 96 1 . - Jean Bollack, Empédocle, 4 vols. (!: lntroduction à / ' ancienne physique; I I : Les origines [com ed. e trad. de fragmen tos] ; III, 1 e 2 : Les origines [comentário]), 1 965ss. Jean Brun, Empédocle, 1 966. - D. O' Brien, Empe docles ' Cosmic Cycle: A Reconstructionfrom the Frag ments and Secondary Sources, 1 969. - Johann Chris toph Lüth, Die Struktur des Wirklichen im empedokleis chen System über di Natur, 1 970. - Helle Lambridis, E. : A Philosophical lnvestigation, 1 976. - N. Van der Ben, The Proem of E. , Peri Physeos, 1 97 5 . - R. A. Prier, Archaic Logic: Symbol and Structure in Herac litus, Parmenides and E. , 1 976. - E. Brodero, II prin cipio fondamentale dei sistema di E. , 1 978. - D. O ' Brien, Pour interpréter Empédocle, 1 98 1 . Além das obras de Avenarius, ver: G. Wobbermin, Theologie und Metaphysik, 1 90 1 (Parte II: Ueber den Empiriokritizismus vom Standpunkt des theologischen Interesses aus). F. van Cauwelaert, 'Tempirio-criticis me", Revue néo-scolastique, 1 3 ( 1 906) e 1 4 ( 1 907). Sobre & epoché em sentido antigo, ver P. Couisson, ''!..: origine et l ' évolution de l ' époché", Revue des Études grecques ( 1 929). Também tratam do problema todas as obras sobre os céticos gregos a que nos referimos na bibliografia de CrncisMo; entretanto, destacamos delas Léon Robin, Pyrrhon et le scepticisme grec, 1 944. Para a epoché nos céticos modernos, ver Richard H. Hopkin, The Histo1y of Scepticismfrom Erasmus to Descartes, 1 960. Para a epoché em sentido fenomenológico, ver as obras mencionadas nas bibliografias de FENO ME NO LO GIA e HussERL; e também: R. Boehm, Vom Geschtspunkt der Phiinomenologie, II. Studien zur Phiinomenologie der Epoche, 1 98 1 . C
EQÜIPOLÊNCIA. A expressão grega ioo5vvaµovom npoTáoetç costuma ser traduzida por 'proposições
eqüipolentes' ou 'enunciados eqüipolentes ' . Ela foi uti lizada por Galeno (Prantl, 1, 568) Apuleio usou a ex pressão propositiones aequipol/entes. Depois, nos tex tos lógicos escolásticos e boa parte dos modernos, em pregou-se freqüentemente a expressão aequipollentia enuntiationum . A eqüipolência das proposições ou enunciados po de ser entendida de vários modos. Gramaticalmente, duas ou mais proposições ou enunciados são eqüipolen tes entre si quando diferem apenas nos vocábulos. As sim, Ensis est ferreus e Gladis est ex ferro (exemplo dado por Jungius; cf. infra) são gramaticalmente eqüi polentes. Logicamente, duas ou mais proposições são eqüipolentes entre si quando têm o mesmo predicado .
mas diferem na forma. Segundo Jungius (Logica Ham burgensis, pp. 1 34- 1 3 7; ed. R. W. Meyers, pp. 88-89), que seguiu nisto muitos tratadistas anteriores, a eqüipo lência lógica pode ser entendida de dois modos: ou em relação aos termos sincategoremáticos ou em relação às partes significativas do enunciado. A eqüipolência lógica em relação aos termos sincategoremáticos (ou constantes lógicas) é a que ocorre entre dois enunciados que pos suem o mesmo sujeito e o mesmo predicado quando se dão certas condições relativas à quantidade e à qualidade dos enunciados. Desse modo, 1 ) dados dois enunciados com o mesmo sujeito e predicado e a mesma quantidade, eles são eqüipolentes quando um enunciado afirma uni versalmente S e nega P e o outro enunciado nega univer salmente S e afirma P (exemplo [usando ' = ' como sím bolo de 'é eqüipolente com ' ] : Nenhum livro é chato = Todo livro é não-chato). Também, 2) dados dois enun ciados contraditórios (exemplos: ' Todo livro é chato ' ; 'Algum livro não é chato ' ) , o segundo dos enunciados mencionados é eqüipolente com o primeiro enunciado quando se antepõe o signo de negação ao sujeito deste último (exemplo: 'Não todo livro é chato ' = 'Algum livro não é chato ' ) . Também, 3) dados dois enunciados contrários (exemplos: ' Todo livro é chato ' ; 'Nenhum livro é chato '), o segundo dos enunciados é eqüipolente com o primeiro quando se antepõe o signo de negação ao predicado deste último (exemplo: ' Todo livro não é chato ' = ' Nenhum livro é chato '). Finalmente, 4) dados dois enunciados subalternos (exemplos: ' Todo livro é chato ' ; 'Algum livro é chato ' ) , o segundo dos enuncia dos mencionados é eqüipolente com o primeiro quando se antepõem signos de negação ao sujeito e ao predica do deste último (exemplo: ' Não todo livro não é chato ' = 'Algum livro é chato ' ) . Quanto à eqüipolência rela tiva às partes significativas do enunciado, deve-se a Jungius (op. cit., supra), como indicou H. Scholz (Ges chichte der Logik, 1 93 1 ), ter destacado uma das formas mais importantes de tal eqüipolência: a chamada aequi pollentia per inversionem re/ationis. Jungius indica que ela se dá quando a parte principal do predicado em um enunciado se comporta como o correlato da parte prin cipal do sujeito em outro enunciado. Um dos exemplos dados por Jungius ( ' Davi é o pai de Salomão ' = ' Salo mão é o fi lho de Davi ' ) permite ver que a cqüipolência em questão pode ocorrer quando ocorrem relações que têm certas propriedades (como ser irreflexivas, ou assi métricas, ou intransitivas [de todas as quais é exemplo a relação pai de] ) . A aequipollentia per inversionem relationis de que falava Jungius é simbolizada na lógica atual por meio do bicondicional : xRy = yR.x, em que R é o converso de R.
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EQUIVALÊNCIA
Mencionaremos dois exemplos do uso do termo ' eqüipolência' na lógica contemporânea. Um deles pode ser encontrado em R. Carnap. Segundo esse autor, R , e R, (onde ' R ' substitui 'classe sentenciai ' ) são eqüi pol e ntes quando coincidem em seu conteúdo, chaman do-se de conteúdo de R , a classe de sentenças não vá lidas que são conseqüência de R , . A definição de Car nap é sintática. O outro exemplo encontra-se em H . Reichenbach. Segundo esse autor, duas fórmulas são eqüipolentes quando uma delas é derivável da outra e vice-versa. Assim, 'Fx' e '/\x(Fx) ' são, segundo Rei chenbach, fórmulas eqüipolentes porque de 'Fx' pode se derivar 'A'C(Fx) ' e de '/\x(Fx) ' pode-se derivar 'Fx ' . Reichenbach indica que esta eqüipolência é uma gene ralização da equivalência tautológica. As fórmulas tau tologicamente equivalentes também são eqüipolentes. Mas não, porém, inversamente.
EQUIVALÊNCIA. No verbete B1cONDICIONAL (vER) le mos ' H ' como ' se e somente se ' . Essa leitura recebe freqüentemente o nome de "interpretação material do bicondicional" ou também o de "equivalência material". Entretanto, assim como acontece com o condicional ( vER) , há outra leitura de ' H ' . É a que ocorre quando se coloca ' H ' entre nomes de enunciados em vez de colocá-lo entre enunciados. Desse modo, enquanto a expressão: se lê:
p se e somente se q
a expressão: s e lê:
'p ' H 'q ' 'p' é equivalente a ' q ' ,
o que pode ser traduzido por: p é logicamente equivalente a q. No cálculo de impl icação ( VER) estrita de C. 1 . Lewis, a expressão ' logicamente equivalente a' é simbo lizada por ''ª' (que lembra o símbolo ' .,, ' , antes utilizado no lugar do atual ' H ' , e é "reforçado" com mais uma linha). ·�' é chamada de "equivalência estrita" ou "equi valência lógica". Do mesmo modo que ocorre com o condicional, a leitura de 'p H q' ('p 'ª q') como 'p ;;; q ' deve ser admitida somente quando ' p H q ' ( 'p ;;; q ' ) é logicamente verdadeiro.
EQUIVOCAÇÃO. Ver Sm1sMA. EQUÍVOCO. Ver ANALOGIA; S 1NôN1Mo; UNivoco. ERASMO, DESIDÉRIO ( 1 467- 1 536), de Rotterdam, ingressou no convento dos Cônegos Regulares de Emmaus ( Steyn), ordenou-se sacerdote e foi tutor de Henrique de Bergen, a cujo serviço realizou numerosas viagens (Inglaterra, França, Suíça, Itália). Em 1 5 1 7 foi dispen-
sado d o s votos, m a s continuou no sacerdócio, travan do amizade com os maiores humanistas de sua época. O próprio Erasmo foi um dos principais representan tes do humanismo renascentista. Sua obra de humanista, manifestada em suas edições de autores clássicos e em seus trabalhos críticos sobre o Antigo e o Novo Testa mentos, representou, entretanto, apenas um aspecto de sua atividade intelectual. Embora não possa ser consi derado propriamente um filósofo, ao menos um filó sofo sistemático, Erasmo esteve no centro de muitas das discussões filosóficas de sua época. Entre elas cabe mencionar especialmente a que teve como eixo o pro blema do l ivre-arbítrio ( vER) . Contra os que acentua vam excessivamente a submissão do arbítrio humano à vontade divina, Erasmo defendeu a existência e o po der desse arbítrio. Foi isto, além do mais, que o opôs a Lutero (em seu desej o de introduzir uma reforma na Igreja, Erasmo considerara favoravelmente algumas de suas teses). Por esse motivo produziu-se uma ruptura entre Erasmo e Lutero, definitiva a partir da publicação, por parte do último, de seu tratado De servo arbitrio ( 1 525) contra o De libero A rbitrio Ll l ATPIBH, publicado por Erasmo um ano antes. A defesa do livre-arbítrio não significa, porém, que Erasmo estivesse a favor de teses naturalistas ou neopelagianas extremas. O que ele pretendia era, antes, encontrar um justo meio que, ao mesmo tempo que salvasse a liberdade, confirmas se a ligação do homem com Deus. E sse justo meio foi, além disso, muito característico da atitude filosófica e humana de Erasmo em todos os problemas importan tes. Assim, por exemplo, às vezes ele parece inclinar se para o "Deus único" manifestado em todas as reli giões e caro a certos espíritos renascentistas. Mas essa inclinação é corrigida por sua insistência no caráter peculiar da vida cristã e em sua opinião de que apenas dentro dessa vida se dá a possibilidade de uma concilia ção e de um verdadeiro humanismo. O mesmo ocorre com suas aspirações de reforma. Tratava-se, com efeito, para Erasmo, de conseguir a tão esperada paxfidei, de que falara Nicolau de Cusa, por meio de uma philoso phia Christi, baseada no desenvolvimento da vida inter na do cristianismo, mas sem destruir - antes revita lizando - a vida e a organização da Igreja. O huma nismo, e a atitude tolerante que lhe era inerente, devia constituir justamente, para Erasmo, uma das bases para tal reforma. As doutrinas e opiniões de Erasmo exerceram em sua época uma enorme influência. O erasmismo trans formou-se em um dos grandes temas de discussão. A forma adotada por ele dependeu em grande medida da situação histórica do país no qual encontrava adeptos. Em muitas partes da Europa ele se transformou em uma doutrina destinada a impulsionar o saber e a manter a unidade da fé. Em outras partes apareceu como uma doutrina filosófica que mesclava sabiamente humanis-
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mo e cristianismo. Em u m a delas, como na Espanha, foi quase sempre, como observou Américo Castro, uma vontade. Hoje chama a atenção a discrepância existente entre a "insignificância" filosófica do erasmismo e a influência exercida em sua época sobre os filósofos. Entretanto, essa discrepância toma-se menos acusada se levamos em conta que na época de Erasmo a filoso fia buscava não apenas novas idéias, mas também novas formas de expressão, e que Erasmo contribuiu notavel mente para estas últimas. :> As obras mais significativas da posição filosófica de Erasmo são: Enchiridion militis christiani, 1 502. Encomium moriae seu laus stultitiae, 1 509. - De Libe ro A rbítrio Ll l AT P I B H , 1 524. Edição de obras: as edições das obras de Erasmo consideradas clássicas são as de B eatus Rhenanus (9 tomos, Basiléia, 1 540- 1 54 1 ) e a de Clericus ( 1 1 tomos, Leyden, 1 703- 1 706; reimp., 1 96 1 - l 962ss.). - A obra mais editada e traduzida é o Elogio da loucura (ou "es tultice"). - Edição do Enquiridión o Manual dei ca ballero cristiano, por Dámaso Alonso, com prólogo de Marcel Bataillon, na Revista de Filología Espanola, Ane jo XVI, 1 932 (ver o ensaio de Dámaso Alonso, "El cre púsculo de Erasmo", em Revista de Occidente, 1 1 2 [ 1 932], 3 1 -53). - Obras escogidas, trad. esp. de Lo renzo Riber ( 1 956). - Importante para o conhecimento de Erasmo é sua correspondência: Opus Epistolarum Erasmi, 1-XII, Oxford, 1 906- 1 958, ed. por P. S. Allen (t. XII com índices de B. Flower). Erasmo por suas próprias palavras: A. J. Gail, E. v. R. in Selbstzeugnissen und Bilddokumenten, 1 974. Em português: Elogio da loucura, 3ª ed. , 2000. Bibliografia: F. Vander Haeghen, Bibliotheca Eras miana. Repertoire des oeuvres d 'Érasme, reimp., 1 96 1 . - Jean-Claude Margolin, Douze années de bibliogra phie érasmienne (/950-1 961), 1 963 . - Id., Neufannées de bibliographie érasmienne (1 962- 1 9 70), 1 977. Ver: H . Durand de Laur, Érasme, précurseur et ini tiateur de l 'esprit moderne, 2 vols., 1 872. - R. B. Drummond, Erasmus: His Life and Character as Shown in His Correspondence and Works, 1 87 3 . - E. Amiel, Érasme. Un libre penseur au XVI' siécle, 1 890. - A. Richter, Erasmus-Studien, 1 89 1 . - P. S . Allen, The Age ofErasmus, 1 9 1 4 . - Preserved Smith, Erasmus: A Study ofHis Life, Ideais and Place in History, 1 92 3 . - J . B. Pineau, Érasme. Sa pensée religieuse, 1 924. - 1 Huizinga, Erasmus, 1 924. - A. Renaudet, Études Érasmiennes, 1 939. - N. Petruzzellis, Erasmo, pensa tore, 1 948. - A. Flitner, Erasmus im Urteil seiner Na chwelt, 1 952. - S. A. Nulli, Erasmo e il Rinacimento, 1 95 5 . - Pierre Mesnard, Érasme, 1 969. - Dietrich Harth, Philologie und praktische Philosophie. Unter suchungen zum Sprach - und Traditionsverstiindnis des Erasmus von Rotterdam, 1 97 1 . - Manfred Hoff man, Erkenntnis und Verwirklichung der wahren Theo.
ERDMANN, BENNO
logie nach Erasmus von Rotterdam, 1 972. - R. Stup perich, E. v. R. und seine Welt, 1 977. - VVAA., Essays on the Works ofE. , 1 978, ed. Richard L. DeMolen. - R. H. Popkin, The History of Scepticism from Erasmus to Spinoza, 1 979. - Z. Pavlovskis, The Praise of Folly: Structure and Irony, 1 983. Para a questão de Erasmo na Espanha, ver: Marcel Bataillon, Érasme et l 'Espagne, 1 93 7 (trad. esp., com algumas modificações: Erasmo y Espana, 2 vols., 1 950), e Américo Castro, Lo hispânico y el erasmismo, 1 942 (reelaboração desta obra no livro intitulado Aspectos dei vivir hispânico. Mesianismo, espiritualismo y actitudper sonal en los siglas XIV ai XVI, s/d.[ 1 949]). Além dos trabalhos citados de Victor Brochard e de Max Scheler, ver: F. Marhenke, "The Problem of Error", University of'Califàrnia Publications in Philo sophy, vol. 1 0, 1 928, pp. 1 43- 1 74. - Balduin Schwarz, Der lrrtum in der Philosophie, 1 934. Sobre o erro em diferentes autores e tendências filosóficas, ver os seguintes trabalhos: Leo W. Keeler, The Problem o/'Errosfrom Plato to Kant. A Historical and Criticai Study, 1 934. - Adolfo Levi, série de arti gos sobre o problema do erro em vários autores e cor rentes; mencionamos: "li Problema dell ' errore nella filosofia di A. Rosmini" (Ri vista di filosofia, 1 925); "di Descartes" (Logos, 1 928); "nella teoria stoica" (Re vue d 'histoire de la philosophie, 1 928); "di Leibniz" (Rendiconti Ist. Lomb. , l 929); "di Platone" (Athaeneum, l 930); "di Antistene" (Revue d 'histoire de la philoso phie, l 930); "nella fi losofia neo-criticista, !. Renou vier, l i . V. Brochard" (Rendiconti Acc. lombard. , 1 93 1 ); "nella filosofia del l ' immanenza" (Arch. di filosofia, 1 932); "nella scuola di Megara" (Rendiconti A cc. Naz. dei Lincei, 1 932); "di Locke" (A rchivo di .filosofia, 1 933); "di Spinoza" (Sophia, 1 933); "di G. Windel band" (Arch. storia dellajilosofia italiana, 1 934); "in Filone d' Alessandria" (Ri vista di storia dellajilosofia, l 950). - !d. . Il problema dell 'errore nella metafisica e nella gnoseologia di Platone, 1 970, ed. Giovanni Reale (póstuma). - Gofredo Quadri, Il pensiero .filosofico
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di S. Agostino, con particolare risguardo ai problema dell 'errore, 1 934. - M. D. Roland-Gosselin, "La théo rie thomiste de l 'erreur", Mélanges thomistes, 1 923, pp. 253-274. - !d. . "Erreur et péché", Revue de philo sophie, 28 ( 1 928), 466-478 . - John F. Skinner, The Logocentric Predicament: An Essay 011 the Problem of Error in the Philosophy ofJosiah Royce, 1 96 5 . - V. J. Fecher, Error, Deception and lncomplete Truth, 1 97 5 . - W. Berkson, J . Wettersten, Learningfrom Error: Karl Popper s Psychology ofLearning, 1 984. - D. V. Stump, J. A. Arieti, L. Gerson e E. Stump, Hamartia: The Con cept ofError in the Western Tradition, 1 984. - R. Ka lechofsky, The Persistence ofError: Essays in Develop mental Epistemology, 1 987. - M. E. Moss, Benedetto Croce Reconsidered: Truth and Error in Theories of Art, Literature and History, 1 987. Ver: Paul Foulquié, L'Existencialisme, 1 947, pp. 1 1 5- 1 25 . - F. Meyer, Essentialism, 1 950. - M iguel Oromí, lntroducción a la jilosojía esencialista, 1 96 1 . - F. Mayer, Essentialism, 1 95 1 . - G . Forbes et ai, Studies in Essentialism, 1 986, eds. P. A. French, T. E . Uehling, H . K. Weintraub e t a i. . Para o "essencialismo" medieval v e r É. G ilson, L 'Être et L'Essence, 1 948; nova ed., 1 962; nova ed. aum., 1 98 1 . Para a doutrina de Zubiri ver Sobre la esencia, 1 962, passim. A contraposição entre "fatos" e "essências" e entre "ciências fáticas" e "ciências eidéticas" é estudada por quase todos os que trataram do pensamento de Husserl ( VER) e da fenomenologia ( VER) ; remetemos especial mente a Theodor Celms, Derphiinomenologische ldea lismus Husserls, 1 928. Para o essencialismo contemporâneo ver bibliogra fia de KRIPKE, SAUL A. Além disso: David K. Lewis, Counterfactuals, 1 973 . - M ichael A. S lote, Metaphy sics And Essence. - Alvin Plantinga, The Nature of Necessity, 1 974. - Keith S . Donnellan, Saul Kripke, H ilary Putnam et ai. , Naming, Necessity, and Natural Kinds, 1 977, ed. Stephen P. Schwartz. - B. A. Brody, Jdentity and Essence, 1 980. - N. U. Salmon, Referen ce and Essence, 1 982. G. L. Hallett, Essentialism: A Wittgensteinian Critique, 1 99 1 . R. Vergauwen, A Metalogical Theory of Reference: Realism and Essen tialism in Semantics, 1 993. Para o exame do "essencialismo" de Aristóteles do ponto de vista do essencialismo de Kripke : Robert Bolton, "Essentialism and Semantic Theory in Aristo tle", Posterior Analytics, I I , 7- 1 O, Philosophical Review, 85 ( 1 976 ) , 5 1 4-544. e -
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ESTADO. O Estado foi tema de reflexão filosófica em quase todos os grandes pensadores, os quais, particular mente a partir de Platão, tentaram definir sua essência e sua missão no que diz respeito ao indivíduo e à socie dade. Na Antiguidade, o problema do Estado era um caso particular do problema mais geral da justiça ( VER ) . Por isso tanto na discussão platônica sobre o Estado ideal como nos escritos políticos de Aristóteles, que relembram, por outro lado, os temas postos em circula ção pelos sofistas, fala-se do Estado como a melhor or ganização da sociedade, como a forma ou articulação dos indivíduos e das classes que permite realizar na medida do possível a idéia da j ustiça, dando a cada um o que de dire ito lhe pertence. Com isso Platão e Aris tóteles se opunham a alguns sofistas, que acreditavam
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que o Estado não está fundado na j ustiça, mas no "in teresse do mais forte" (Trasímaco em Platão, Rep., I), antecipando com isso alguns dos temas do maquia velismo, da teoria do contrato social (vER) e do totali tarismo modernos. Para esses sofistas, o Estado encon tra-se ligado basicamente ao "poder". Especialmente a partir de Platão, os gregos se ocu param muito da questão dos diversos tipos possíveis de Estado de acordo com o grupo ou grupos que exer cessem o poder, isto é, a questão da "constituição polí tica". Fala-se a esse respeito de timocracia, oligarquia, democracia, aristocracia, tirania etc., e se discutia qual era o melhor regime. Tanto Platão (ver especialmente Rep., VIII) como Aristóteles (Pol. , passim) discutiram amplamente esses problemas e tentaram encontrar o fundamento da legitimidade do poder no Estado em um tipo de constituição que estivesse distante da anar quia e da oligarquia. Que o poder do governo no Estado seja patrimônio de "poucos" não significa, nem em Pla tão nem em Aristóteles, que ele seja um poder oligárqui co. O poder dos governantes não está fundado nos inte resses particulares destes, mas no interesse do Estado na medida em que este é composto de distintos grupos cujas relações entre si estão determinadas pela j ustiça. Na I dade Média, a discussão sobre a natureza do Estado versou sobretudo em torno da supremacia do Es tado sobre a Igrej a ou vice-versa, entendendo-se pelo primeiro uma comunidade temporal e histórica, e pela segunda uma comunidade espiritual que está na história mas a transcende. As teorias de Santo Agostinho (ver CIDADE DE DEUS) e de Santo Tomás de Aquino sobre o Estado, relacionadas com a visão cristã da história, con cluem pela inferioridade do Estado em relação à Igreja, mas, enquanto para o primeiro deles o Estado freqüen temente é algo mau, para o segundo ele é um reflexo da Igreja, uma comunidade que representa os interesses temporais, mas que deve ser guiada pelos fins espiri tuais da Igreja. No Renascimento dá-se uma mudança radical na concepção do Estado; como reação contra a pretensão de predomínio da Igreja e como conseqüência da formação dos Estados nacionais, a filosofia do Esta do tende - como, por exemplo, em Maquiavel (como já ocorreu em Marsílio de Pádua) - a uma exigência de separação rigorosa entre o Estado e a Igreja, à qual se nega qualquer soberania temporal como transição para o primado do Estado. Com isso o Estado é desvin culado, por um lado, de seu fundamento divino e é de cididamente inserido na temporalidade e na história. Assim se enlaçam diversas teorias utópicas acerca do Estado ideal - Campanella, Tomás Morus - que, continuando o caminho iniciado por Platão, tentam en contrar uma organização de tal índole que nela sejam possíveis a paz e a j ustiça. Durante os séculos XVII e XVIII predomina a teoria do Estado como pacto (ver CONTRATO SOCIAL), ora enquanto contrato realizado pelos
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homens para evitar o aniquilamento final que produziria a guerra de todos contra todos (Hobbes), ora como re núncia ao egoísmo produzido pelo estado inatural de civilização, e pela conseqüente submissão à vontade geral (Rousseau). Paralelamente se desenvolve a teoria do Estado como comunidade dos homens livres, os quais são mais l ivres precisamente porque vivem no Estado "segundo o decreto comum" (Spinoza). Desse modo, o Estado é a organização da sociedade que garante a liberdade, cujo fim é, com efeito, a liberdade, com a qual se entende quase sempre a liberdade de pensamento ou, melhor, a l iberdade de professar uma religião sem submissão forçada à religião oficial do Estado. O Estado já aparece aqui em grande parte como um equi líbrio, equilíbrio das distintas seitas religiosas por um lado, e das classes, por outro. Durante a Ilustração, mui tas vezes o Estado é concebido, de acordo com a doutri na do "despotismo i lustrado'', como a organização que pode conduzir os homens pelo caminho da razão diante do obscurantismo, da névoa e das superstições do passa do. Para Kant, o Estado deve ser constituído de tal modo que, sej a qual for sua origem histórica, a lei corresponda a uma organização estabelecida pelo pacto e pelo con trato. A l iberdade também é o fim do Estado, mas essa liberdade não deve ser entendida como uma arbitrarie dade subj etiva, mas como o respeito da l iberdade moral de cada um pela l iberdade moral do conj unto, tornada possível mediante a lei. Os componentes do Estado são pessoas, isto é, fins em si; elas não devem ser utilizadas em nenhum caso como meios. A filosofia romântica desenvolvida na Alemanha seguindo a linha dos nacio nalismos e das tradições tende a identificar a nação com o Estado e a atribuir a este último, como verdadeiro representante daquela, da comunidade de todos os ho mens unidos por um mesmo fim, todas as funções que poderiam corresponder tanto a uma classe como a um indivíduo ou a uma Igreja. O Estado, para Hegel, é o lugar no qual o espírito obj etivo, vencida a oposição entre família e sociedade civil, chega a realizar-se plena mente. Aquele que rege o Estado deve ser, conforme a teoria romântica, o representante do "espírito do povo" ( vER) ou "espírito nacional" ( Volksgeist), aquele que cumpre os fins objetivos levantados por esse espírito. A discussão sobre o Estado se move durante quase todo o século XIX dentro dos trilhos da luta entre o indi vidualismo e o coletivismo. Nesses dois casos o Estado é concebido como um equilíbrio, mas, enquanto para o primeiro ele é o equilíbrio da tensão entre as vontades particulares, para o segundo é o equilíbrio resultante da supressão dessas vontades, cuja presença e atuação su postamente são nocivas para o Estado. No marxismo, o Estado (burguês) representa o domínio de uma classe, que exerce a partir do poder, sob a máscara do equilíbrio e da justiça, a sua própria e particular dominação, e por isso nessa doutrina se defende o desaparecimento do Es-
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tado uma vez conseguida, mediante a ditadura do proleta riado, a abolição definitiva das classes. A supressão da tensão entre as classes mediante uma ditadura aparece de novo nos chamados Estados totalitários, nos quais toda atividade é integrada no corpo do Estado, identificado com o partido que pretende representar, por sua vez, a nação, a raça, o povo etc. No Estado totalitário exclui-se tudo o que não esteja a serviço do Estado, toda atividade espontânea desenvolvida à sua margem, considerada si multaneamente oposta a ele. A ascendência hegeliana desses tipos de Estado toma-se evidente sobretudo na propensão à divinização do Estado e à sua confusão com todas as instâncias - sociedade, nação, povo - que significam realidades muito diferentes, por mais íntima que seja sua vinculação com a organização estatal. Segundo Ortega y Gasset, o Estado é um "modo" ou "porção" da sociedade; no Estado são potencializa das todas as vigências sociais, até o ponto em que "a ordem estatal é a forma extrema do coletivo", o "super lativo do social". O Estado, sempre que não pretenda substituir a sociedade, limita-se a intervir nela quando, dentro das atividades sociais que surgiram espontanea mente, encontra algumas que são inelutáveis, que de vem ser conservadas, mantidas e ordenadas. A atividade social espontânea é então estratificada, oficializada. Por isso o Estado é, no fundo, a fixação e determinação de toda espontaneidade social. A filosofia do Estado tem como missão definir a essência do Estado e determinar suas formas efetivas e possíveis. Para isso, ela deve procurar sobretudo estabe lecer uma distinção entre o que aparece quase sempre confundido e misturado - Estado, nação, povo, socieda de - e precisar a função do Estado dentro de cada uma dessas realidades e como reunião parcial de todas elas. Em suas investigações, a filosofia do Estado relaciona se intimamente com a filosofia do Direito, com a sociolo gia e, evidentemente, com a ciência e com a filosofia da história. Não se deve confundir, porém, a filosofia do Es tado com a ciência do Estado; a primeira é a reflexão filosófica sobre a realidade chamada de "Estado", reali dade que aparece na vida humana e deve ser compreendi da como uma forma dessa vida; a segunda inclui, em con trapartida, o estudo concreto da organização e da estrutu ra dü Estado, a teoria geral de sua constituição. � Teorias jurídicas e filosófico-jurídicas sobre o Esta do: Georg Jellinek, Allgemeine Staatslehre, 1 900. - L. T. Hobhouse, The Metaphysical Theory ofthe State, 1 9 1 8 ( Parte 1 d e seus Principies o/Sociology). R . Carré de Malberg, Contribution à la théorie générale de l 'État, 2 vols., 1 920- 1 922. - Othmar Spann, Der wahre Staat, 1 92 1 . - Oskar Georg Fischbach, Allgemeine Staatslehre, 1 922; 2ª ed. , 1 928. - Hans Freyer, Der Staat, 1 925. Hans Kelsen, Allgemeine Staatslehre, 1 925. - F. Oppe nheimer, System der Soziologie, I I : Der Staat, 1 926. Harold J. Laski, The State in Theory and Practice, 1 93 5 . -
- Karl Petrashek, System der Phi/osophie des Staates und des Volkerrechts, 1 938. - R. G. Collingwood, The New Leviathan, or Man, Society, Civilization and Barba rism, 1 942. - Agustín Basave Femández dei Valle, Teo ría dei Estado: fandamentos de filosofia política, 1 95 5 . - Helmut Kuhn, Der Staat. Eine philosophische Dars tel/ung, 1 967. Y Leclerq, Théories de l 'État, 1 977 [de Hobbes a Lenin] . - W. W. Willoughby, An Examination ofthe Nature ofthe State: a Study in Political Philosophy, 1 978. - M. Camoy, The State and Political Theory, 1 984. M. Fisk, The State and Justice: An Essay in Political Theory, 1 989. - K. Lee, The Legal-Rational State: A Comparison of Hobbes, Bentham and Kelsen, 1 990. Conceito sociológico e conceito jurídico: Hans Kel sen, Der soziologische und derjuristische Staatsbegriff, 1 928. - G. Lock, The State and !: Hypotheses on Juri dical and Technocratic Humanism, 1 98 1 . - A. de Jasay, The State, 1 98 5 . Fenomenologia d o Estado: Edith Stein, Eine Unter suchung über den Staat, 1 925 [Jahrbuch für Philoso phie und phãnomenologische Forschung, 7]. Filosofia do Estado: Holstein e Larenz, Staatsphi losophie, 1 93 3 . - Arnold Gehlen, Der Staat und die Philosophie, 1 934. Kurt Schilling, Der Staat. Seine geistige Grundlagen, seine Entstehung und Entwick lung, 1 93 5 . - P. Lakeland, The Politics of Salvation: the Hege/ian ldea of the State, 1 984. B. Jordan, The State: A uthority and A utonomy, 1 98 5 . P. Weiss, Toward a Perfected State, 1 986. História das doutrinas filosóficas do Estado: L. Gumplowicz, Geschichte der Staatstheorien, 1 926. E. von Hippel, Geschichte der Staatsphilosophie in Hauptkapiteln, 2 vols., 1 95 5 - 1 958. Filomusi Guelfi, La dottrina dei/o Stato nell 'antiquità greca nei suo rap porti con l 'etica, 1 874. Leopold Ziegler, ftón Platons Staatheit zum christlichen Staat, 1 948. - Adolfo Rava, Le teoriefilosofiche sul/o Stato, 1 933. - Harold J. Lars ki, A Grammar of Po/itics, 1 925. - Robert Morrison Maclver, The Modem State, 1 926. - A. Weber, La crisis de la idea moderna dei Estado en Europa, 1 932. - Karl Larenz, Rechts- und Staatsphi/osophie der Gegenwart, 1 932. - Antonio Truyol e Serra, Historia de lafilosofia dei Derecho y dei Estado, 1 : De los orígenes a la Baja Edad Media, 1 95 3 ; 4ª ed., 1 970; I I : Dei Renacimiento a Kant, 1 976. - P. J. Kain, Schiller; Hegel, and Marx: State, Society, and theA esthetic Ideal ofAncient Greece, 1 982. - H. Münkler, lm Namen des Staates. Die Begrün dung der Staatsraison in der Neuzeit, 1 987. Para o desenvolvimento histórico das teorias polí ticas: Ernst Cassirer, The Myth of the State, 1 946. K. H. F. Dyson, The State Tradition in Western Europe: A Study of an ldea and lnstitution, 1 980. Sentido do termo: Paul-Ludwig Weinacht, Staat. Studien zur Bedeutungsgeschichte des Wortes von den Anfangen bis ins 1 9. Jahrhundert, 1 968. � -
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ESTADO (STATUS), ESTAR. O vocábulo ' estado' que escrevemos com uma minúscula para distingui-lo de ' Estado' (vER) - designa o modo de ser de uma rea lidade, a situação em que se encontra uma realidade. O estado é o fato de estar, isto é, de encontrar-se em certa situação ou condição, de encontrar-se em certo modo. Pode-se utilizar ' estado ' para traduzir a categoria (VER) aristotélica KE!o0m (como ' lançado' , 'assentado '). Esta categoria é traduzida também por ' situação ' ou 'postu ra' . Também se poderia empregar ' estado' para traduzir a categoria aristotélica TIÓOXEIV (como ' cortado'). Essa categoria também é traduzida por 'paixão' . A possibili dade de usar o mesmo termo para traduzir várias cate gorias indica que há vários modos de "estado", ou, mais precisamente ainda, vários modos de "estar". Pode-se dizer que o "estar" é uma das maneiras do "ser". Mas ao mesmo tempo pode-se admitir o "estar'· como um modo distinto do "ser". Segundo Julián Marias (Ensayos de convivencia, 1 95 5 ; reimp. em Obras completas, l l l [ 1 959], pp. 1 72- 1 73), o uso (e, além disso, a possibili dade de freqüência do uso) do verbo ' estar' permite expressar conceitos que permanecem velados, ou, ao menos, não suficientemente claros em idiomas que não possuem uma clara distinção entre ' ser' e 'estar'. As sim, por exemplo, o ' estar' e várias locuções nas quais está presente ' estar' (como ' estar em', ' estar a' etc.) tor nam possível, entre outras coisas, dar maior precisão à idéia heideggeriana do Dasein (ver DASEIN; EXISTÊNCIA), enquanto "estar" pode ser analisado e, ao mesmo tempo, ser enriquecido, em comparação e contraste com as idéias de "ser", do "ser assim'', do "ser tal ou qual" e outras. Em sua forma substantiva, o vocábulo ' estado' poderia, em princípio, dar muito jogo em comparação e contras te com os vocábulos ' essência', 'existência', 'ser' , ' ente', 'hábito ' , 'condição ' etc. Poder-se-ia então dar a ' estado' uma significação mais ampla que a que tem quando se utiliza essa palavra para traduzir uma das categorias aris totélicas citadas, quer seja a situação ou postura, ou (como ocorre com uma freqüência especial) a (décima) categoria da "paixão" ou "hábito". No verbete SITUAÇÃO ( VER ) aludimos ao uso medieval de status, que é, segundo Renato Lazzarini (vER), um antecedente do conceito atual (ou de alguns dos concei tos atuais) de "situação". Aqui acrescentamos que o termo status foi utilizado freqüentemente na Idade Média em relação com expressões como status naturae, "estado de natureza", que teve um sentido teológico e também um sentido antropológico. De um modo pre ciso Duns Scot definiu (apud É. Gilson, Jean Duns Scot [ 1 9 5 2 ] , p. 6 1 ) o "estado" (status) como uma permanência estável assegurada pelas leis da sabedo ria divina (stabilis permanentia legibus divinae sa pientiae jirmata ). As entidades encontram-se no esta do que corresponde à sua natureza na medida em que ela foi estabelecida, e afirmada, pela sabedoria de Deus.
ESTATÍSTICA
Em certo sentido, pode-se dizer então que o ser de cada coisa é propriamente (e até mesmo formalmente) seu "estado" ou "estar". As idéias sobre o status naturae ou "estado de na tureza" - ou seja, o suposto estado natural do homem antes da sociedade - foram abundantes na época mo derna; referimo-nos a essa questão em verbetes como CONTRATO SOCIAL e JUSNATURALISMO (e também GROCIO [HUGO] , HOBBES [THOMAS] e ROUSSEAU [JEAN-JACQUES] . Acrescentemos que o termo ' estado ' aparece em alguns autores ingleses em um sentido bastante preci so na expressão state ofaf!airs. O state ofajfairs é "o que diz respeito ao caso" como correlato de uma pro posição e equivale em alemão a Sachverhalt, utilizado em sentidos parecidos por Husserl e por Wittgenstein (a expressão Sachverhalt no Tractatus 2.0 1 foi traduzi da j ustamente por state ofaffa irs). O state ofaffairs ou estado de coisas é, de certo modo, um fato (vER), sem pre que este seja interpretado não como o ser do fato, mas j ustamente como seu "estar" ou "estar sendo" (o que ele é, tal como é). ESTAR. Ver E S TA DO (STATUS), ESTAR; Ex1sTÉNC1A; SER.
ESTATÍSTICA. Neste verbete nos limitaremos a desta car o problema geral levantado pelo uso do método es tatístico nas ciências. Prescindiremos de questões técni cas e das diferentes formas que o método estatístico adota. É conveniente completar este verbete com o que foi dito nos verbetes dedicados às noções de indução (vER) e de probabil idade (vER). O ideal da ciência durante a época moderna foi a formulação de leis nas quais se sustente que um fenô meno ou grupo de fenômenos sempre se segue ao apa recimento de outro fenômeno ou grupo de fenômenos dados. A filosofia subjacente a esse ideal foi o determi nismo (vER). Pois bem, tão logo se suprime da consi deração anterior o vocábulo 'sempre ' , é preciso abando nar o citado ideal. Se, por exemplo, estabelecemos que um fenômeno dado segue-se a um grupo de fatos dados 90 vezes em cada 1 00, formulamos uma lei de tipo distinto da lei causal determinista: é uma lei estatística. Observemos que na formulação dessa lei não se supõe que, a cada 1 00 vezes que tivermos o grupo de fatos em questão, teremos 90 vezes o referido fenômeno (nem que o teremos 9 em cada 1 O vezes). Na lei estatística se declara que, dado um número suficientemente gran de de repetições do processo considerado, tende-se a obter uma razão de 90/ l 00. Por meio do método estatís tico definimos, por conseguinte, certa área de incerteza, que vai se restringindo à medida que aumentamos o número de casos. O método estatístico torna, pois, possível a obtenção de um termo médio e, com isso, a realização de um dos propósitos essenciais das ciências e da ação humana: a predição. O método estatístico hoje é utilizado em todas as ciências. À s vezes se considera que a certeza alcança-
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ESTÁTUA DE CONDI L LAC
da nas leis macrofisicas se deve à restrição ao máximo da área de incerteza definida na área microfísica. Todavia, embora haja acordo no uso dos métodos, nem sempre ele exi ste na interpretação desses métodos. Alguns autores supõem que se utiliza o método esta tístico porque ainda não se aprendeu a suprimir a área de incerteza. Outros, em contrapartida, assinalam que a citada área de incerteza é uma realidade obj etiva, que o método estatístico se limita a descrever. Estes últi mos afirmam que, ao menos em certas esferas da rea lidade, há acaso e não determinação. Deve-se ter o cui dado, contudo, de não confundir o acaso com a liberda de : falar, por exemplo, da "liberdade de um elétron" é uma µETá�amç EÍS aÀÀo yÉVOÇ, contra a qual O filó sofo e o cientista devem precaver-se. O método estatístico é um dos métodos da probabi l idade : o que se refere a fenômenos objetivos. Não se deve confundir este método com os métodos indutivos, que se referem a proposições sobre tais fenômenos obje tivos. Embora nas ciências sejam utilizados esses dois métodos, é conveniente distingui-los. Seguindo Carnap, diremos que o método estatístico está ligado ao conceito de probabil idade como freqüência relativa, enquanto o método indutivo refere-se ao conceito de probabilidade como grau de confirmação. � Ver: R. von Mises, Wahrscheinlichkeit, Statistik und Wahrheit, 1 928. - M. R. Cohen, Ernest Nagel, An lntro duction to Logic and Scientific Method, 1 934, cap. XVI. - H . Schorer, Grundlegung und Einfiihrung in die sta tistische Methode, 1 946. - Lancelot Hogben, Statistical Theory: the Relationship ofProbability, Credibility, and Errar, 1 957. - Henry E. Kyburg, Probability and the Logic of'Rational Belief; 1 96 1 . - ld., The Logical Foun dations of Statistical Explanations and Statistical Re levance, 1 97 1 , ed. W. C. Salmon. - Wolfgang Steg müller, Persone/le und statistische Wahrscheinlichkeit, 2 vols., 1 97 3 . - lan Hacking, Logic og Statistical ln ference, 1 976. - T. Porter, The Rise of'Statistical Thin king, 1 986. - D. W. Baird, lnductive Logic: Proba bility and Statistics, 1 990. Ver também bibliografias de IN DUÇÃO; PROBABI L I DADE. �
ESTÁTUA DE CONDILLAC. Em seu Traité des sen sations ( 1 754 ), Condillac (vER) utiliza constantemente a idéia, ou imagem, de uma estátua que é "organizada interiormente como nós", mas cujo exterior, de mármo re, não lhe permite o uso de nenhum dos sentidos. Os sentidos lhe são agregados pouco a pouco, de modo que a estátua recebe sucessivamente diversos tipos de impressões. O que se trata de saber é o que "a estátua" faz ao ser limitada a um dos sentidos e o que ela faz quando lhe são "agregados" outros sentidos; o aumento ou diminuição do número basta, afirma Condillac, para nos persuadir de que podem ser formulados j uízos
"muito distintos dos que são hoje tão naturais para nós" (op. cit., 1, 1 , § 4). Começando com o sentido do olfato, os conheci mentos da estátua só podem chegar aos odores. A está tua não pode ter idéias de extensão, figura, "nem de nada que estej a fora de si, ou fora de suas sensações" (1, 1 , § 1 ). "Se lhe apresentarmos uma rosa ela será em relação a nós uma estátua que cheira uma rosa, mas em relação a si será somente o odor dessa flor" (1, 1 , § 2). Entretanto, as operações do entendimento da está tua - ou, o que dá no mesmo, de um homem cujos sentidos se limitam ao olfato - são muito considerá veis. Surgem a atenção, a capacidade de gozar ou sofrer, a memória, "que é uma maneira de sentir" (1, 1 , § 8), a comparação, o juízo, a surpresa, a necessidade. A está tua não pode, todavia, apreciar a diferença entre memó ria e imaginação, mesmo que esta última seja muito mais ativa que a nossa (limitada pelas naturais opera ções de nossos outros sentidos, que nos oferecem quali dades "reais" e que não precisamos então imaginar). A estátua que apenas cheire, ou um homem limitado ao sentido do olfato, pode formar idéias, e abstrair, ou separar uma idéia de outra (1, 4, § 2). Ela forma idéias particulares - como a de um odor particular - e idéias gerais - como as de modos de ser agradável e desagra dável; forma a idéia do possível e talvez do impossível, a idéia de duração (incluindo a de duração indefinida). Apenas com o olfato forma-se o "eu", ou uma "perso nalidade" : "Já que nossa estátua é capaz de memória, ela não sente um odor a menos que recorde ter sentido outro. Eis aí sua personalidade: pois, se pudesse dizer eu, ela o diria em todos os momentos de sua duração e a cada vez seu eu abarcaria todos os momentos de que tem recordação" (1, 4, § 1 ) Condillac conclui deste modo: "Depois de ter provado que nossa estátua é capaz de dirigir sua atenção a algo, de recordar, de comparar, julgar, discernir, imaginar; que tem noções abstratas, idéias de número e de duração; que con hece verdades gerais e particulares; que forma desejos, tem paixões, ama, odeia, quer; que é capaz de ter esperança, medo e surpresa, e que, por fim, adquire hábitos, depois de ter provado tudo isso, devemos concluir que com apenas um sentido o entendimento tem tantas faculdades quanto com os cinco juntos. Veremos que as faculdades que nos parecem particulares são as mesmas faculdades aplica das a um número maior de obj etos, desenvolvendo-se então mais e mais" (1, 7, § 1 ), com o que se pode afirmar que a sensação abarca todas as faculdades da alma. Trata-se então de ver como ocorre o desenvolvimen to indicado dotando a estátua somente com audição, com binando o olfato e a audição, ou dotando-a somente com o paladar e combinando o paladar com o olfato e a audi ção, limitando-a ao tato, combinando o tato (que ensina os demais sentidos a julgar os objetos exteriores) com o olfato, considerando que é cega de nascimento, dotando.
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a com a visão, combinando a visão com o tato etc. Trata se de ver também como atua, pensa, aprende a satisfazer suas necessidades, manifesta previsão, julga a bondade e a beleza dos objetos à sua volta, adquire crenças (in cluindo superstições), generaliza etc., essa estátua - ou homem - dotada de todos os sentidos, mas isolada de seus semelhantes. "A história das faculdades de nossa estátua" - conclui Condillac - "torna sensível o pro gresso de todas essas coisas. Quando estava limitado ao sentimento fundamental todo o seu ser, todo o seu conhe cimento, todo o seu prazer era uma sensação uniforme. Ao dar-lhe sucessivamente novas maneiras de ser e novos sentidos, vimos que se formavam os desejos, que apren dia com a experiência a regulá-los ou a satisfazê-los, que passava de uma necessidade a outra, de um conhecimento a outro, de um prazer a outro: a estátua não é, pois, nada que não tenha sido adquirido. Por que não pensar que o mesmo acontece com o homem?" (IV, 8, § 3). Em um "Avis important au lecteur'', Condillac adverte que "é muito importante colocar-se exatamente no lugar da estátua que vamos observar. .. Creio que os leitores que se ponham exatamente em seu lugar não terão dificuldade para entender esta obra; os demais me farão incontáveis objeções". Esse "Aviso" de Con dillac é muito importante para compreender o anda mento de sua "reconstrução".
ESTÉTICA. Na medida em que deriva de a'ío8T]ot), sensação, Kant chama de "Estética transcendental" a "ciência de todos os princípios a priori da sensibilidade" (KrV, B 35/ A 2 1 ) . Na "Estética transcendental" assim entendida, Kant considera, em primeiro lugar, a sensibi lidade separada do entendimento e, em segundo, separa da intuição tudo o que pertence à sensação, "com o fim de ficarmos apenas com a intuição pura e com a forma do fenômeno, que é a única coisa que a sensibilidade por dar a priori" (op. cit., B 36/A 22). A "Estética transcen dental" distingue-se da "Lógica transcendental", que examina os princípios do entendimento puro e tem pouco a ver, portanto, com aquilo que na atualidade se chama de estética, ciência do belo ou filosofia da arte. Nesse úl timo sentido, o termo ' estética' foi utilizado por Alexan der G. Baumgarten ( vER) , e desde então a estética foi considerada uma disciplina filosófica sem que isso ex clua a existência de reflexões e mesmo de sistemas esté ticos na filosofia anterior. O problema capital da estética no sentido de Baumgarten é, com efeito, o da essência do belo. Segundo Baumgarten, a estética, enquanto theoria liberalium artium, gnoseologia inferior, arspulchre cogi tandi, ars analogi rationis, é a cientia cognitionis sensi tivae (Aesthetica, § 1 ). Isto é, o fim da estética é a perfec tio cognitionis sensitivae qua talis (ibid., § 1 4) . O proble ma já foi elucidado na Antiguidade especialmente por Platão, Aristóteles e Plotino, os quais, ao lado de conside rações estéticas mais ou menos "puras", seguiram a anti ga tendência à identificação do belo com o bom na uni-
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dade do real perfeito e, portanto, subordinaram na maior parte dos casos, ao tentar definir a essência do belo e não simplesmente averiguar em detalhe os problemas estéti cos, o valor da beleza a valores extra-estéticos e particu larmente a entidades metafisicas. A identificação do bom com o belo também é própria da filosofia inglesa do sen timento moral, particularmente de Shaftesbury, e se encontra em algumas tendências do idealismo romântico. Na verdade, somente há relativamente pouco tempo ten tou-se erigir uma estética independente, distanciada de considerações de tipo predominantemente metafisico, lógico, psicológico ou gnosiológico. Os germes dessa estética como disciplina independente encontram-se em grande quantidade na própria Antiguidade e na Idade Média, mas foram desenvolvidos sobretudo com a críti ca kantiana do juízo, que é em parte uma delimitação de esferas axiológicas. Enquanto para Baumgarten o estético era, seguindo a tendência geral da escola Leibniz-Wolff, uma forma de conhecimento inferior e confuso diante do consciente e racional (a cognitio sensitiva), Kant tratou o juízo estético ao lado do juízo teleológico examinando o que há de a priori no sentimento. Esses dois juízos são reflexivos; caracterizam-se pela finalidade, mas, enquan to esta é objetiva no juízo teleológico propriamente dito, que se refere ao que é orgânico, no j uízo estético ela é subjetiva, porque a finalidade da forma do objeto é ade quada em relação ao sujeito, o que não significa precisa mente o sujeito individual, mas todo sujeito, razão pela qual pode ser chamada de unidade da natureza subjetiva. O juízo estético é, pois, evidentemente, um juízo de valor, distinto, por conseguinte, não apenas dos juízos de exis tência, mas também dos demais juízos axiológicos; po rém, enquanto nestes últimos há a satisfação de um de sejo ou uma correspondência com a vontade moral, na adequação do belo ao sujeito, isto é, no juízo estético por meio do qual encontramos algo belo, não há satisfação, mas agrado desinteressado. O desinteresse caracteriza a atitude estética no mesmo sentido em que o jogo é a atividade puramente desinteressada, a complacência sem finalidade útil ou moral. Por isso o estético é independen te e não pode estar a serviço de fins alheios a ele; ele é, em suas próprias palavras, "finalidade sem fim". O belo não é reconhecido objetivamente como um valor absolu to, mas tem relação apenas com o sujeito; o fato das dis tintas contraditórias apreciações sobre o belo não é, toda via, o produto dessa necessária referência à subjetividade, mas o fato de que a atitude do sujeito seja sempre plena e puramente desinteressada, dedicada à contemplação. A prioridade do juízo estético requer, apesar de sua referên cia ao sujeito, o desprendimento neste último de tudo o que for alheio ao desinteresse e à finalidade sem fim. Essa concepção, chamada de subjetiva, da estética, foi levada adiante ao longo do século XIX e durante boa parte do século atual por muitos pensadores, os quais, entretanto, misturaram as teses subjetivas com as objeti-
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vas ou tenderam a uma concepção puramente axiológica como, por outro lado, a que j á está pré-formada no próprio Kant. Considerada a partir do sujeito, a estética foi elaborada sobretudo atentando para o que faz do j uízo estético o produto de uma vivência, tanto se esta é concebida como obscura intuição quanto apresentada como uma clara apreensão, como mera contemplação ou como uma proj eção sentimental . Por outro lado, a estética desenvolvida a partir do objeto tendeu particu larmente a uma redução do estético ao extra-estético, à definição da estrutura do belo mediante características alheias a ele. Este é, por exemplo, o caso do idealismo alemão quando Schell ing reduz a beleza à identidade dos contrários no seio do Absoluto, à síntese do suj etivo e do obj etivo, ou quando Hegel transforma o belo em manifestação da Idéia. Uma tendência análoga se revela em Schopenhauer ao fazer da arte a revelação mais pró pria das idéias eternas, pois o artista é, em comparação ao homem vulgar, aquele que contempla serenamente as obj etivações da Vontade metafisica. Nas últimas décadas foram propostas muitas defini ções da estética, algumas das quais não fizeram mais que reformular em uma nova linguagem as antigas concep ções antes mencionadas. Assim, pode-se falar de con cepções absolutistas e relativistas, subjetivistas e objeti vistas, da estética segundo se considere respectivamente a natureza dos objetos estéticos ou a origem dos juízos estéticos. Outras concepções que foram propostas e das quais diremos algumas palavras são as seguintes: a for malista e a intu icionista, a psicológica e a sociológica, a axiológica e a semiótica. As concepções formalistas con sideram exclusivamente a forma dos objetos estéticos no sentido em que analisamos o problema do formal no ar tigo Formalismo (vrn). As concepções intuicionistas reduziram ao mínimo o papel dos elementos puramente formais e estabeleceram uma linha divisória muito rígi da entre a intuição estética e a expressão (vrn) dessa intuição. As concepções psicológicas e sociológicas têm em comum o fato de que tentaram reduzir o significado dos juízos estéticos à sua origem - individual e coletiva. Mais complexas - e sobretudo mais influentes -- são as duas últimas concepções mencionadas em nossa lista: a axiológica e a semiótica, razão pela qual nos alongare mos um pouco mais sobre elas. A estética axiológica considera a estética como a ciência de um grupo de valo res ( o belo, o feio, o ordenado, o desordenado, o alusivo, o expressivo etc.). Seus principais problemas são: pri meiro, a descrição desses valores; segundo, a interpreta ção deles. Este último problema deu origem a múltiplas discussões, paralelas às que ocorreram na teoria do valor (VER) em geral. Com efeito, examinou-se se os valores em questão são absolutos ou relativos, se dependem do indivíduo ou da coletividade, se estão ou não ligados a outros valores e questões análogas. Foi inevitável , pois, a reintrodução na estética axiológica dos problemas tra-
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dicionais aos quais nos referimos. Quanto à estética se miótica, ela considera a estética como uma parte da semiótica geral, razão pela qual foi chamada algumas vezes de uma semiótica não-lógica. Sua principal mis são é a análise dos chamados signos estéticos icônicos, e sua finalidade é a consideração do objeto estético como um veículo de comunicação. Deve-se notar que a estética semiótica não é obrigatoriamente incompatível com a estética axiológica; alguns autores defenderam a tese de que uma teoria estética completa se apóia tanto na teoria dos signos como em uma teoria dos valores. Algumas vezes se distingue a estética da filosofia da arte. Outras vezes se considera que as duas formam uma única disciplina. Se consideramos agora o conjunto dos problemas que se delineiam para o tratadista de es tética, podemos dar (sem nenhuma pretensão exaustiva) a seguinte enumeração: 1 ) A fenomenologia dos proces sos estéticos; 2) a análise da linguagem estética compa rada às demais linguagens; 3) a ontologia regional dos valores estéticos, qualquer que sej a o status ontológi co que se adscreva a eles; 4) a origem dos juízos estéti cos; 5 ) a relação entre forma e matéria; 6) o estudo da função dos juízos estéticos dentro da vida humana e 7) o exame da função de pressupostos de índole estética em juízos não-estéticos (como, por exemplo, os da ciência). � Obras sistemáticas gerais, introduções e tratados: F. Th. Vischer, Aesthetik oder Wissenschaft des Schonen, 1 847- 1 858, 6 vols. - G. Th. Fechner, Zur experimenta len Aesthetik, 1 872. -- Id., Vorschule derAesthetik, 1 876. - 8. Croce, Estetica come scienza de/l 'espressione e linguistica generale, 1 902. - ld., Breviario di Estetica, 1 9 1 3 (ed. br. : Breviário de estética, 1 997). - Th. Lipps, Aesthetik. P�ychologie des Schonen und der Kunst, 2 vols., 1, 1 903 ; I I , 1 906. -- J. Volkelt, System derAesthetik, 3 vols. (1, 1 905; I I , 1 9 1 0; I I I , 1 9 1 4). - M. Dessoir, Aes the1ik und allgemeine Kunstwissenschaft, 1 906. - Char les Lalo, Les sentiments esthétiques, 1 909. - !d., lntro duction à l 'esthétique, 1 902; nova ed., 1 92 5 . - E. Utitz, Grundlegung der allgemeinen Kunstwissenschaft, 2 vols., 1 9 1 4- 1 920. - !d., Aesthetik und Kunstphilosophie, 1 923. - ! . A. Richards, C. K. Ogden, J. Woos, The Foundations �f'Aesthetics, 1 922. Th. Ziehen, Vorlesungen über Aes thetik, 2 vols., 1 923- 1 925 . - F. Challaye, Esthétique, 1 925. - P. Hiiberl in, AllgemeineAesthetik, 1 929. - Her mann Nohl, Die aesthetische Wírklichkeit, 1 93 5 ; 2ª ed., 1 954. - E. Galli, L'Estetica e i suai problemi, 1 936. A. Gõrland, Aesthetik. Kritische Philosophie des Stils, 1 937. - E H. Heinemann, Essay on the Foundations of Aesthetics: Analysis oj'Aesthetical Form, 1 939. - Milton C. Nahm, Aesthetic Experience and lts Presupositions, 1 946. - J. Segond, Traité d 'Esthétique, 1 947. - F. Kainz, A es"thetik, 1 948. J. K. Feibleman, A esthetics, 1 940. - E. F. Carritt, An Jntroduction to Aesthetics, 1 949. - Luis Farré, Estética, 1 950. - A. P. Ushenko, Dyna mics �fArt, 1 95 3 . - M. Nédoncelle, lntroduction à l 'es-
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ESTOIQUEOLOGIA
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ESTOIQUEOLOGIA. Poder-se-ia chamar desse mo do a toda doutrina que se ocupasse de e lementos (de oTOLXEiov = elemento [VER )) , por oposição a doutrinas que se ocupam de estruturas ou de funções. William Hamilton chama desse modo a uma parte da lógica pura, a que se ocupa dos elementos do pensamento no sentido dos "processos elementares ou constituintes" (Lectures on Logic, V). A estoiqueologia subdivide-se, por sua vez, em noética e em dinâmica (ver ENOEMÁTICA). ESTRANHAMENTO. Este termo exprime o fato, ou suposto fato, de que alguém esteja, ou possa estar (vi ver), não "em si mesmo", mas em alguma realidade alheia a ele. ' Estranhamento' traduz vários termos que expressam o conceito de achar-se em uma realidade alheia. Contudo, na literatura filosófica que aceitou ou destacou o conceito de ' estranhamento' foi-se usando com freqüência crescente o termo 'alienação' e as ex pressões 'estar alienado ' , ' achar-se alienado ' . I sto é aceitável, porquanto 'alienação' tem origem etimológi ca no vocábulo alius (feminino: alia; neutro: aliud), isto é, "outro", "diferente". Estar ou achar-se alienado é, pois, originariamente, estar ou achar-se "em outro'', sendo este outro algo estranho. Por razões de uso, preferimos o vocábulo 'alienação ' , ao qual remetemos. Esse uso tem a vantagem de distinguir a util ização de ' estranhamento ' como "loucura" e 'alienação' como termo "técnico". ESTRATIFICAÇÃO (LEI OU PRINCÍPIO DE). Ver CATEGORIA. ESTRATÃO DE LÂMPSACO. Foi escolarca do Liceu durante dezoito anos, como sucessor de Teofrasto, a partir 288/287 ou 287/286 a.C. É conhecido pelo nome de o fisico, por ter-se dedicado principalmente (e exten samente) a ciências naturais (fisica, mecânica, cosmolo gia, meteorologia, geografia, zoologia, fisiologia, psico logia, medicina), mesmo que também tenha se dedicado
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à ética, à lógica e à teologia. A tendência de Estratão foi naturalista e até mesmo mecanicista; tentando combinar as teorias de Aristóteles com as de Demócrito, defen deu o atomismo. Mas os átomos de que falava Estratão eram infinitamente divisíveis, e, além disso, eram do tados - contrariamente aos de Demócrito - de qua lidades, especialmente das qualidades do quente e do frio. Em psicologia, Estratão manteve a doutrina da união da percepção (que é movimento) e do pensar, assim como a fundamentação somática de todos os pro cessos psíquicos. Pois bem, isso não significava um corporalismo completo, mas a afirmação do fato de que a alma, como suporte das afecções psíquicas, é a unidade do corpo. Os trabalhos de Estratão influencia ram consideravelmente os investigadores da época ale xandrina, especialmente em fisica e medicina. :> Texto e comentário por Fritz Wehrli no Caderno V de Die Schule des Aristoteles: Straton von Lampsakos, 1 950; 2ª ed., 1 969. Ver também: C. Nauwerk, De Stratone Lampsceno, 1 836. - G. Rodier, La physique de Straton de Lampsa que, 1 8 80. - H. Diels, "Ueber das physikalische Sys tem des Straton", Sitzungsberichte der Preuss. A kade mie der Wissenschaflen ( 1 893). - Matthias Gatzemeier, Die Naturphilosophie des Straton von Lampsakos. Zur Geschichte des Problems der Bewegung im Bereich des frühen Peripatos 1 970. Artigos de W. Capelle sobre Estratão de Lâmpsaco (Straton, 25 ) em PAULY-W1ssowA, e de O. Regenbogen so bre o mesmo autor em Supplementband VII de P.-W. C
ESTRUTURA. Se se entende ' estrutura ' de um modo excessivamente amplo, será dificil encontrar algo de que não se possa dizer que tem uma estrutura. Desse modo, até mesmo uma série numérica completamente casual - ou que pareça sê-lo - terá, grosso modo, uma estrutura: a estrutura serial, que tornará possível ads crever um ordinal a cada um dos membros da série. Também terão estrutura uma "enumeração caótica", um conjunto desordenado de obj etos. Disse-se por isso que apenas o que é completamente amorfo carecerá, por definição, de estrutura, mas com isso diz-se apenas que se algo não tem estrutura, não a tem. Se considerarmos que uma estrutura é composta de elementos, quaisquer que sejam eles, então um ele mento dado de uma estrutura dada não será uma estrutu ra justamente por ser introduzido como elemento como elemento dessa estrutura. Contudo, o elemento em questão pode ser, por sua vez, uma estrutura composta de elementos, de modo que o fato de que algo seja ou não considerado uma estrutura depende do modo como funcione e da posição que ocupe. O fato de que não seja recomendável definir ' estru tura' de um modo excessivamente amplo não quer dizer que não seja conveniente defini-la de um modo abstra-
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to. Desde a teoria dos grupos de Evariste Gallois até Bourbaki o conceito de estrutura desempenhou um papel fundamental em vários aspectos da matemática. É comum introduzir informalmente na matemática o conceito de estrutura como um conjunto de elementos, como O e 1 , e uma ou mais operações, como as indica das por ' + ' , ou por ' + ' e '-' . A estrutura é descrita por todas as operações que possam ser descritas utilizando o operador ou operadores selecionados. Também se fala de estrutura como um conjunto de operações efetuadas sobre um grupo ou elementos de um grupo, de tal modo que qualquer operação efetuada deve dar como resulta do um membro do grupo. Deve-se a Bourbaki o ter sis tematizado um conjunto de disciplinas matemáticas com base na noção de estrutura, e especialmente com base nas chamadas "estruturas-mães" (estruturas-ma trizes ou estruturas matriciais). Destas são mencionadas as estruturas algébricas - entre as quais figuram os grupos -, as estruturas de ordem - em particular, as chamadas "grades" - e as estruturas topológicas. Uma consideração abstrata das estruturas atenta para a forma pela qual se relacionam elementos dentro de um domínio de obj etos não especi ficados e a como se relacionam entre si as relações de relações, e assim sucessivamente. Não importam nem os objetos, nem o caráter das relações entre eles; importa apenas o padrão segundo o qual os obj etos, sejam eles quais forem, e as relações, quaisquer que sej am, estão articulados. Dependendo do sujeito - no sentido de "matéria a ser estudada" - de que se trate, falou-se em estruturas abstratas e estruturas concretas, assim como em estrutu ras matemáticas e lógicas, e estruturas fisicas, biológi cas, psicológicas, sociais, lingüísticas etc. É preciso levar em conta, todavia, que essa divisão entre estruturas é de caráter mais pedagógico que científico. Se as estru turas matemáticas e lógicas são identificadas com es truturas abstratas, então será preciso presumir que todas as estruturas não matemáticas e lógicas seguem os pa drões destas últimas. Se a matemática e a lógica consti tuem um domínio especi ficável de objetos - ainda que sejam objetos abstratos -, a própria matemática e a lógica seguirão padrões de estruturas abstratas. Para definir a noção de estrutura apelou-se freqüen temente a noções como as de totalidade, forma, configu ração, trama, complexo, grupo, sistema, função, conexão ou interconexão etc. Nenhuma dessas noções é equipará vel à de estrutura, mas podem ser encontradas afinidades entre seus traços e alguns dos traços da noção de estrutura. Tanto no presente verbete como em ESTRUTURALIS MO, falaremos principalmente de estruturas de domínios específicos de objetos. Isso se deve a que as teorias de caráter estrutural, e estruturalista, erigiram-se em rela ção a esses domínios. Tendo-os em conta, e tendo como pressuposto que em todos os casos as estruturas de que se fala terão de moldar-se segundo os padrões que con-
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formam qualquer estrutura "abstratamente", podere mos considerar duas noções mais ou menos intuitivas de estrutura. Por um lado, entende-se por 'estrutura' algum con j unto ou grupo de elementos relacionados entre si se gundo certas regras, ou algum conjunto ou grupo de elementos funcionalmente correlacionados. Os elemen tos em questão são considerados mais como membros que como partes. O conj unto ou grupo é um todo e não uma ·'mera soma". Assim, os membros de um todo des se tipo cumprem os requisitos assentados por Husserl para os "todos": estão ligados entre si de modo a que se pode falar de não-independência relativa de uns em relação aos outros e também de compenetração mútua. Por isso na descrição de uma estrutura desse tipo desta cam-se vocábulos como 'articulação ' , 'compenetração funcional' e, algumas vezes, ' sol idariedade ' . Por outro lado, uma estrutura pode ser entendida como um conjunto ou grupo de sistemas . A estrutura não é então uma real idade "composta" por membros; é um modo de ser dos sistemas, de tal modo que os sistemas fimcionam em virtude da estrutura que têm. Desse modo, podem existir vários sistemas, digamos A, B, C, que difiram por sua composição material, mas que executem funções que, embora distintas, sejam sig nificativamente comparáveis, isto é, funções tais que tenham significações correlativas. Um desses sistemas pode aliás servir de modelo para o outro (como a passa gem de um fluido por um canal pode servir de modelo para o tráfego em uma estrada e vice-versa). Podem existir também, e se espera geralmente que existam, regras de transformação que permitam que se passe de um sistema para outro. A noção de estrutura foi entendida nos dois senti dos indicados anteriormente, mas com a tendência de se adotar o segundo, que é, além disso, aquele que é próprio dos que se consideram estruturalistas. É óbvio que a idéia de estrutura como modelo de um conjunto de sistemas que têm funções distintas mas comparáveis (e até "transfo1máveis"), em virtude da estrutura co mum que possuem, é mais refinada que a idéia de estru tura como "realidade" composta de membros funcional mente relacionados entre si. Há grandes semelhanças entre a teoria das estruturas no pri meiro sentido e a teoria geral dos sistemas (ver S1sTEMA ) . A idéia geral de estrutura é antiga: sob outros no mes ou amparada em outros conceitos ela seguramente pode ser encontrada em muitos autores. O que deve ser chamado de "estruturalismo avant la lettre" se contra pôs freqüentemente ao que foi chamado de "atomismo", este último entendido em um sentido muito geral. Tam bém se contrapôs ao associacionismo (ver Assoc1AÇÃO, ASSOCIACIONJSMO) . Na medida em que na época moderna "clássica" predominou a "análise" ( VER) e prestou-se atenção a elementos supostamente últimos, descobertos
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por meio de análise e de "decomposição", não foram muito fortes as tendências "estruturalistas", embora de modo algum tenham estado ausentes. Em uma acepção muito geral (e vaga) de 'estrutura' houve, por outro lado, tendências "estruturais" e "antiatomísticas" du rante o romanticismo, embora fosse melhor falar aqui de "totalismo" e de "organicismo" em contraposição ao aludido "atomismo". A noção de (assim como o próprio termo) "estru tura" e as conseguintes tendências "estruturalistas" ganharam espaço a partir do começo do século XX. Para efeito de continuidade histórica seria preciso falar de '·estrutura" e de "estruturalismo" em todo o século. Contudo, como se falou especificamente de estrutura l ismo cm relação a determinados métodos (e teorias), sobretudo depois da segunda guerra mundial, adotare mos um procedimento eclético. Trataremos de estrutura e de estruturalismo neste verbete para nos referir a certo número de pesquisas e de concepções desde aproxi madamente o começo do século até depois da segunda guerra mundial. Incluiremos neste tratamento várias discussões sobre modos de entender a noção de estrutura. No verbete ESTRUTURALISMO consideraremos sobretudo a tendência assim chamada, que floresceu em diversas discipl inas e teve ressonâncias filosóficas depois da se gunda guerra mundial. Entretanto, incluiremos neste último tratamento pesquisas (especialmente lingüísti cas) chamadas de "estruturais", porque, embora os es truturalistas stricto sensu geralmente se tenham oposto a elas, a distinção entre modos distintos de estrutura lismo entra naturalmente neste último conceito. Acres centaremos também ao citado verbete EsTRUTURALISMO várias discussões sobre a noção de estrutura que não são consideradas no presente artigo. Esse procedimen to eclético pode prestar-se a confusões, mas ao final é mais tolerável que a inclusão das noções de estrutura e de estruturalismo em um único verbete, seja ele cha mado de "Estrutura", "Estruturalismo'' ou "Estrutura e Estrutural ismo". De todo modo, o que hoje é chamado de "estruturalismo". particularmente sob a figura do "estruturalismo francês'', poderá ser encontrado mais faci lmente em um verbete especial (ainda que não demasiadamente excludente). Costumou-se dar como exemplos de estruturas os organismos biológicos, as espécies biológicas, as cole tividades humanas, os produtos culturais de espécies muito diversas (particularmente as linguagens). O ponto de vista estrutural consistiu grosso modo em estudar as mencionadas realidades como totalidades e não com base em seus elementos componentes, ou supostamente componentes. Por isso esse ponto de vista foi equipara do freqüentemente com um ponto de vista "totalista". Contudo, uma vez que se especifique o sentido de ' es trutura ' descobre-se que tal equiparação é insuficiente.
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Os modos de entender a noção de estrutura variam segundo os tipos de pesquisa levados a cabo. Um dos mais importantes e influentes usos dessa noção é encon trado na psicologia, dentro da chamada Gestaltpsycho logie, expressão traduzida algumas vezes por 'psicolo gia da estrutura' e outras por 'psicologia da forma' . O "gestaltismo", como também é chamado, é uma das grandes manifestações do estruturalismo do século XX e contribuiu para o florescimento deste ao menos tanto quanto as concepções estruturais lingüísticas, já a partir de Ferdinand de Saussure (as quais se ligam mais direta mente com alguns dos vários sentidos do estruturalismo contemporâneo). Os principais promotores do gestal tismo, ou psicologia da estrutura (forma, configuração), foram Max Wertheimer ( vER), Kurt Koffka ( vER) e Wolf gang Kõhler ( vER). A psicologia gestaltista não é, como às vezes se supôs, uma reação completa contra certas concepções "associacionistas". Segundo o que subli nhamos (ver ASSOCIAÇÃO, ASSOCIACIONISMO ), os estrutu ralistas ou gestaltistas criticaram diversos pressupostos do associacionismo, mas aproveitaram muitos trabalhos da "escola associacionista'', integrando-os em suas pró prias concepções. Ao lado do associacionismo contri buíram para a formação da teoria da estrutura as pesqui sas de Meinong e de Ehrenfels sobre as "qualidades de forma" e em parte (menor) as pesquisas de Husserl às quais nos referimos no verbete Tooo. Mas o precedente mais imediato das teorias dos citados psicólogos encon tra-se uos trabalhos de Ehrenfels, Lipps e especialmente F. Krüger e J. Volkelt. Os trabalhos experimentais de Krüger sobre a noção de totaiidade psíquica procedem de 1 905- 1 906; os de Volkelt, de 1 9 1 2 . Este é considera do o ano 1 na história da teoria psicológica da estrutura. Ao longo do mesmo ano, Wertheimer publicou seu tra balho "Experimentelle Studien über das Sehen von Be wegungen" (Zeitschnji für Psychologie, 61 ). Koffka publicou em 1 9 1 3 suas "Beitrãge zur Psychologie der Gestalt - und Bewegungserlebnisse" (ibid. , 67). As contribuições para a teoria da estrutura a partir dessas datas foram abundantes. O mais importante do ponto de vista filosófico foi a extensão dada ao conceito de estrutura por Kõhler em 1 920 com seu escrito Die phy sischen Gestalten im Ruhe und im stationiiren Zustand. Foram, além do mais, escritos desse tipo, mais que os propriamente psicológico-experimentais, os que susci taram numerosos debates. Muitos psicólogos que admi tem os resultados experimentais da teoria da estrutura negam-se a admitir as correspondentes implicações on tológicas e lógicas. Por outro lado, a suposição de que na base dessa teoria encontra-se o realismo tradicional aparece para alguns como demasiadamente vaga; com efeito, as implicações ontológicas e lógicas da teoria psicológica da estrutura (e de sua aplicação à realidade inteira) são mais complexas. Em vista disso se poderia
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declarar que é necessário estabelecer uma completa dis tinção entre a teoria psicológica estruturalista e a filoso fia geral estruturalista. Pois bem, muitos pesquisadores -- não apenas filósofos, mas também psicólogos e, em geral, cientistas - rejeitam uma distinção demasia damente radical e indicam que a noção de estrutura poderia ser aplicada a todas as ciências. Isso se vê espe cialmente no livro coletivo sobre o conceito de forma mencionado na bibliografia ( ed. L. L. Whyte, 1 95 1 ). Partindo da psicologia estruturalista alguns supõem, com efeito, a possibilidade de uma "física estruturalista" ou "gestaltista", cujo "modelo" é a biologia. Também imaginam a possibilidade de que tanto a física como a biologia se desenvolvam segundo conceitos "estrutura listas". Outros autores falam de um "estruturalismo" na matemática - ou, pelo menos, na topologia e em outros ramos não estritamente "quantitativos" da matemática. Dentro da psicologia es trutural ista Kurt Lewin ( vFR) desenvolveu uma "psicologia topológica". Uma espécie de "estruturalismo topológico" foi apresentado por Raymon Ruyer ( vrn) em sua obra Esquisse d 'une philosophie de la structure ( 1 930). Ruyer modificou depois seu ponto de vi sta, mas na obra citada ele aspi rou defender um "mecanismo integral" fundado em uma concepção geométrico-mecãnica, "isto é [são suas próprias palavras] , estrutural", da realidade. Esta foi concebida por esse autor como um conjunto de formas. A forma, por sua vez, era definida como "um conjunto de posições no espaço e no tempo". Nas ciências do espírito (ver ESPÍRITO, ESPIRITUAL) a noção de estrutura foi desenvolvida sobretudo por Dilthey e por sua escola. Enquanto na psicologia da estrutura esta última é principalmente uma "configura ção", em Dilthey e em autores diltheyanos ela aparece sobretudo como uma "conexão significativa" (Sinnzu sammenhang). Tal conexão é própria tanto dos comple xos psíquicos como dos objetos culturais e até do siste ma completo do "espírito objetivo". Na idéia de estru tura como conexão significativa desempenha um papel fundamental o elemento temporal e, em última instân cia, histórico. Subjetivamente, as totalidades estruturais aparecem como vivências (ver VIVÊNCIA), objetivamente elas aparecem como formas do espírito (objetivo). As estruturas como conexões significativas não podem ser propriamente explicadas; em vez da explicação há descrição e compreensão ( vER ) . Nem todas as tendências da filosofia contemporâ nea estão de acordo em conceber do mesmo modo a estrutura. V :irios autores declaram que a concepção es trutural, tal como utilizada na psicologia e, em geral, nas ciências do espírito, sofre do defeito de uma insufi ciente elucidação lógica da noção de estrutura. Russell indicou, por exemplo, que a noção de estrutura não pode ser aplicada a conj untos ou a coleções - em que o to-
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do "determina" a parte -, mas apenas a relações. A es trutura é então função de sistemas relacionais; a estru tura comum de dois ou mais desses sistemas equivale à referência de cada um dos "elementos" de um sistema a cada um dos de outro ou outros. Outros autores con cordam com isso e têm opiniões parecidas. S. K. Langer indica que a estrutura é "a ponte que une todos os diver sos significados da forma" (em que "forma", ou "forma lógica", designa "o modo mediante o qual é construída uma coisa"); assim, "qualquer coisa que possua uma forma definida é construída de uma maneira também definida" (An lntroduction to Symbolic Logic, 1 937, p. 24). K. Grelling e P. Oppenheim declaram que a noção de estrutura deve ser analisada em estreita relação com a noção de correspondência. A aplicação da análise ló gica permite, além disso, em sua opinião, traduzir para uma linguagem mais formal proposições de caráter es truturalista que até agora tinham sido interpretadas em um sentido demasiadamente metafisico. Assim ocorre, por exemplo, com uma proposição como "A estrutura (Gestalt) é mais que a soma das partes", expressa mais rigorosamente mediante a proposição "O sistema de ações é mais que o agregado". Em geral, estes e outros autores tenderam a aproximar, pois, a noção de estru tura a noções como as de correspondência (VER) , ordem (formal) ( vER) e isomorfismo ( vER ) . Se prescindirmos, por enquanto, das concepções es truturais iniciadas com Ferdinand de Saussure e da lin güística estrutural bloomfeldiana e especialmente pós bloomfeldiana, teremos três noções de estrutura que abri ram caminho desde o começo do século até a segunda guerra mundial : a que foi elaborada por alguns filósofos (Ehrenfels) e psicólogos (Kotlka, Krüger); a que foi ofe recida pelos filósofos da escola de Dilthey, e a que foi proposta por vários lógicos. Perguntou-se algumas vezes se há relações entre as três noções. Por um lado, podem ser relacionados os conceitos psicológico e lógico por causa de seu traço funcional comum e, no vocabulário atual, sincrônico, à diferença do sentido temporal e diacrônico das estruturas ou "com plexos" diltheyanos. Por outro lado, podem ser aproxi madas as concepções psicológica e diltheyana por não serem, como as lógicas, de índole completamente abs trata. Finalmente, pode-se considerar que a noção lógi ca abstrata de estrutura é o esquema formal dentro do qual podem ser encaixadas noções mais específicas de estruturas, isto é, conteúdos específicos, ou exemplos determinados de relações estruturais. Indicou-se no começo deste verbete que a equipara ção entre a noção de "todo" e a de "estrutura" é insufi ciente. Entretanto, é possível comparar as duas noções, como fez Knut Erik Tranõy em sua obra Wholes and Structures: A n A ttempt at a Philosophical Analysis ( 1 959). Segundo esse autor, esses termos podem ser
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aplicados a diversas entidades que consideramos como todos e estruturas, mas o significado que adquirem os citados termos em suas diversas aplicações é tão distinto que parece quebrar-se a "unidade do uso". Se conside rarmos os obj etos de pesquisa científica (ou científica e filosófica) como um "contínuo", em um de cujos ex tremos se encontrem a matemática e a lógica, e no outro extremo as disciplinas humanísticas (e no final prova velmente a estética), poderemos perceber que há uma transformação contínua do uso do vocábulo 'estrutura' desde um conceito puramente formal no qual predo mina a noção de "sistema de relações entre elementos" que formam a estrutura, até a noção de todo "holístico", no qual a noção de relação entre elementos perde impor tância (ou se torna sumamente vaga), de modo que os componentes chamados de "elementos" ou "partes" vão se tornando cada vez mais variados e heterogêneos. Acontece como se nas estruturas formais os elementos (e suas relações) determinassem a estrutura, e como se nas estruturas não-formais os todos "holísticos" deter minassem o tipo dos elementos e as relações que devem ser mantidas entre eles. Em ambos os casos a noção de estrutura é mantida, mas a forma de relação entre o todo e as partes inverte-se quase totalmente. :> Sobre a noção de estrutura em várias disciplinas: Eugen Herrigel, Urstojf und Urform. Ein Beitrag zur philosophischen Strukturlehre, 1 926. - Francisco Ro mero, Vieja y nueva concepción de la realidad, 1 93 2 ; reimp. com o título "Dos conceptos de la realidad", em Filosofia contemporánea: Estudios y notas, 1 94 1 , pp. 57-8 1 . - Kurt Grelling e Paul Oppenheim, "Der Ges taltbegritf im Lichte der neuen Logik'', Erkenntnis, 6 ( 1 93 7- 1 938), 2 1 1 -225. - Jakob Sulser, Die Struktur logik, 1 944. - É douard Morot-Sir, La pensée négative: Recherche logique sur la structure et ses démarches, 1 946. - L. L. Whyte, S. P. F. Humphreys-Owen et ai. , Aspects of Form, 1 95 1 ; 2ª ed., 1 968, ed. Lanceio! Law Whyte. - M. de Gandillac, L. Goldmann et ai. , Les notions de genese et de structure, 1 959 ["Entretiens" em Cérisy-la-Salle, julho 1 959]. - C. Lévy-Strauss, H. Lefevre et ai. , Sens et usages du terme "structure" dans les sciences humaines et sociales, 1 962. - L. Apostei, J.-8. Grize et ai. , La filiation des structures, 1 963 [ Études d'épistémologie génétique, 1 5] . - E . Paci, G. Dorfles et ai. , artigos em Revue lnternationale de Philosophie, 1 9 ( 1 965), 25 1 -448. - Robert B lanché, Structures intellectuelles, 1 966. - Stéphane Lupasco, Qu 'est-ce qu 'une structure?, 1 967. - Lanceio! Law Whyte, Mario Bunge, Albert G. Wilson et al. , Hierar chical Structures, 1 969, eds. L. L. Whyte, Albert G. Wilson, Donna Wilson [Simpósio en Huntington Beach, Calif. l 8/ l 9-X- 1 968] . - VV. AA., Der Moderne Struk tuebegriff. Materialen zu seiner Entwicklung 1 9301 960, ed. Hans Naumann, 1 973. - W. H. Newton-Smi-
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ESTRUTURALISMO
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Ver também a bibliografia do verbete ESTRUTU RALISMO. C:
ESTRUTURALISMO. Se se dá a este termo o sentido muito geral de quaisquer estruturas em quaisquer dos sentidos que podem ser dados a 'estrutura' (vER), será preciso chamar de "estruturalistas" muitas doutrinas e opiniões, talvez a todas. Adotar esse ponto de vista pode desembocar na pergunta que José Alberto Marín Mo rales se formula no artigo "Averroes y su proyección en el estructuralismo" (Arbor, 94 [3 66] [ 1 976] , 2 1 52 3 5 [63 - 8 3 ] : " É o Colliget de Averróis precursor do atual estruturalismo?" O autor mencionado responde afirmativamente: o Colliget de Averróis (ou o Kitab a/-Kulliyyat fi-1-tibb, Tratado universal de medicina) é precursor do atual estruturalismo em virtude de que "o conceito atual de estrutura procede de Aristóteles, especialmente quando fala de que os princípios on tológicos podem estar em íntima relação com os ló gicos", e continua dizendo que "é esse conceito, reela borado por Averróis, que constitui ou parece consti tuir o ponto de partida do atual estruturalismo, por meio dos conceitos de mistura, equilíbrio e predomínio, e de que tudo o que existe está misturado em tudo, e especialmente do conceito da temperança, equilíbrio entre as almas ou faculdades, o espírito e o calor" (art. cit., p. 23 1 [79]). Obviamente é preciso um conceito menos generoso de "estruturalismo". Sem remontar aos árabes, aos gre gos, alguns comentadores consideraram que se deve chamar de "estruturalistas" a todas as doutrinas opostas ao "atomismo" - entendendo este termo em um senti do também muito geral e vago -, mas mesmo assim permanece muito esfumada a acepção do nosso termo. Outra alternativa, mais em consonância com as pos sibilidades de descrever o alcance do estruturalismo, é destacar a importância que adquiriu em algumas disci plinas a noção de estrutura e chamar de "estruturalistas" as pesquisas de tais disciplinas que façam uso predomi nante da noção a que nos referimos, ou às análises ou especulações filosóficas que esse uso tenha suscitado. Desse ponto de vista pode-se falar de estruturalismo na matemática a partir da teoria dos grupos de Gaulois, destacando-se então a álgebra de relações e a topolo gia. A culminação desse estruturalismo é a série de tra tados matemáticos conhecidos com o nome (coletivo) de Bourbaki. O estruturalismo matemático, embora possa propor cionar, como de fato proporciona, instrumentos concei tuais para o desenvolvimento de outras espécies de es truturalismo, não é o único. No verbete ESTRUTURA nos referimos a várias orientações em que o conceito de es trutura desempenhou um papel central. O exemplo mais conhecido é a psicologia da estrutura (ou da forma, ou
ESTRUTURALISMO da configuração), a Gestaltpsychologie, ou "gestaltismo''.
Outro exemplo é o da lingüística na tendência que lhe imprimiu Ferdinand de Saussure (vER), de tão decisiva influência no que hoje é chamado de "estruturalismo". Convencionamos, para evitar confusões, tratar vá rias formas de "estruturalismo" anteriores ao final da segunda guerra mundial no corpo do verbete ESTRU TURA. reservando o presente verbete para um conjunto de correntes contemporâneas em várias disciplinas, e com as correspondentes ressonâncias filosóficas. Desse modo, chamaremos de "estruturalismo" por antono másia o tipo de pesquisas e idéias que floresceram, espec ialmente na França, com autores como Lévi Strauss, Jacques Lacan, Louis Althusser, Michel Fou catilt, Roland Barthes (alguns dos quais, além disso, como acontece freqüentemente nesses casos, negam ser, ou ser apenas, estruturalistas ). Isso restringe nosso conceito consideravelmente, mas pensamos ser melhor esse procedimento que o da extensão desmesurada. Ademais, a restrição apontada não significa que sejam esquecidos aqueles que os próprios estruturalistas con sideram antecedentes importantes em sua própria obra: Saussure -já mencionado -, Freud e Marx. São ain da menos esquecidos antecedentes mais imediatos do estruturalismo em nosso sentido: o chamado "estrutu ralismo lingüístico" dos críticos formalistas russos e das Escolas de Praga e de Copenhagen, especialmente com Roman Jakobson, N. S. Trubetzkoy (Troubetzkoy), L. Hj elmslev. Há autores que não costumam ser inclu ídos entre os estrnturalistas stricto sensu, mas cuja obra é em muitos pontos paralela à deles e que antecipa não poucos de seus temas. I sso ocorre com Jean Piaget. Também há autores que procedem de outra tradição mas desenvolvem temas de interesse para o estrutura lismo contemporâneo a que fizemos alusão. O mais destacado é Noam Chomsky. A menção a Chomsky neste contexto requer um esclarecimento quanto ao uso do termo ' estrutural is mo ' . É freqüente que ele seja utilizado para referir-se sobretudo, se não exclusivamente, ao "estruturalismo europeu" e a seus antecedentes no continente. Mas hou ve, e continua havendo, dentro da lingüística um movi mento estruturalista norte-americano, o da chamada "l ingüística estrutural", representada eminentemente por Leonard Bloomfield e seus seguidores (os lingüis tas norte-americanos "pós-bloomfieldianos"). A lin güística estrutural norte-americana conta entre seus cultivadores com Zellig Harris, o mestre de Chomsky. Este partiu de certos contextos próprios da menciona da lingüística, e especialmente dos de Harris - com o interesse predominante pelas questões sintáticas e pela "análise de constituintes imediatos; ao mesmo tempo, encontram-se em Harris antecipações no sentido da contrução de modelos generativos. Contudo, Chomsky
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logo se separou da l ingüística estrutural e atacou suas bases behavioristas e suas orientações taxionômicas, figurando então, por essa razão, como "antiestrutura lista". Em vista disso é compreensível a sua atitude em relação a Lévi-Strauss, tal como a expressa em Lan guage and Mind ( 1 968). Chomsky considera interes sante a tentativa de Lévi-Strauss de estender o estudo das estruturas lingüísticas a outros sistemas de configu ração parecida com a dos lingüísticos (como, por exem plo, o estudo de Lévi-Strauss sobre os sistemas de pa rentesco e do pensamento primitivo). Todavia, ele objeta a Lévi-Strauss ter tomado como modelo a lingüística estrutural do tipo de Trubetzkoy e Jakobson. "Mas deve se fazer várias reservas quando a lingüística estrutural é aplicada como modelo dessa maneira. Para começar, a estrutura de um sistema fonológico é de pouquíssimo interesse como objeto formal. . . Contudo, a importância da fonologia estruturalista, tal como desenvolvida por Trubetzkoy, Jakobson e outros, não reside nas proprie dades formais de sistemas fonêmicos, mas no fato de que, ao que parece, um número bastante reduzido de ca racterísticas especificáveis em termos absolutos, inde pendentes da linguagem, proporcionarem a base para a organização de todos os sistemas fonológicos" (op. cit., p. 65). Chomsky reconhece assim a importância dos re sultados alcançados pela fonologia estruturalista, espe cialmente a de Jakobson, ao mostrar que "as regras fo nológicas de uma grande variedade de linguagens se aplicam a classes de elementos que podem ser simples mente caracterizados em tennos dessas características (loc. cit. ). O primado da dimensão sincrônica sobre a diacrônica, no qual tanto insistiram os estruturalistas co mo Lévi-Strauss, é admitido por Chomsky ao menos como uma noção que promete. Se acrescentamos a isso certas afinidades entre Lévi-Strauss e Chomsky - a despeito de que o primeiro seguiu modelos estruturais aos quais Chomsky se opôs - se compreenderá que Chomsky possa ser considerado um "antiestruturalista" - especialmente no que diz respeito ao estruturalismo lingüístico bloomfieldiano - e que, ao mesmo tempo, algumas das idéias de Chomsky tenham sido considera das favoravelmente por vários estruturalistas europeus. Pois bem, mesmo restringindo o significado de 'es truturalismo ' do modo como foi sugerido no começo, é dificil - embora não mais que no caso de qualquer outro movimento filosófico amplo - definir seus prin cipais traços. Nas exposições do estruturalismo, alguns se baseiam principalmente em Lévi-Strauss, que pare ce, com efeito, acumular a maior parte de suas carac terísticas; outros combinam os traços comuns a vários autores, como Lévi-Strauss e Louis Althusser, ou Lévi Strauss e Jacques Lacan, ou Michel Foucault e Roland Barthes. Mesmo correndo o risco de que alguns dos traços mencionados a seguir não estejam presentes em
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alguns autores, ou que vários deles sejam mais percep tíveis ou estejam mais desenvolvidos em autores que não figuram entre outros "estruturalistas franceses" Piaget, ou Chomsky, ou Jakobson -, consideramos que com base neles pode ser compreendida a tendência geral estruturalista. Embora alguns estruturalistas tenham se oposto ao funcionalismo - como ocorre com Lévi-Strauss em relação a Malinowski -, a idéia de função desempenha um papel importante no estruturalismo. De todo modo, existem certas características no estruturalismo próxi mas da noção de função em autores como Durkheim. Outras não são completamente distintas da noção de tipo ideal tal como foi proposta e desenvolvida por Max Weber. Várias estão muito próximas da generalização funcionalista de A. R. Radcliffe-Brown. O importante, porém, é a idéia de estrutura entendida como um siste ma ou como um conjunto de sistemas. Há sistemas de classes muito diversas: o sistema que constitui as re gras de urbanidade ou de etiqueta em uma sociedade, ou em uma classe social, o sistema de sinais para regu lar o trânsito, o sistema das relações familiares, o sis tema da linguagem etc. De alguma forma todos os siste mas que constituem uma estrutura são sistemas lingüís ticos, de modo que estrutura é mutatis mutandis estru tura lingüística. Isso não quer dizer que se trate exclusi vamente de estruturas verbais; quer dizer apenas que o modelo repetidamente utilizado para examinar a nature za e o funcionamento das estruturas é um modelo que pode ser reduzido, na maior parte das vezes, a um mo delo de linguagem verbal . O estruturalismo insiste normalmente e m que se trata de um modelo de compreensão da realidade - e especificamente das realidades humanas socialmente constituídas -, mas é freqüente que haja, para além dos programas metodológicos, pressupostos de natu reza ontológica, de acordo com os quais as realidades de que se trata estão conformadas estruturalmente. Não se nega em princípio que haja causas e relações causais, nem tampouco se nega em princípio que haja mudan ças, e especi ficamente mudanças de caráter histórico. Entretanto, tanto as relações causais como os desenvol vimentos diacrônicos (ver D 1 AC R ôN 1 co) são entendidos em função de relações de significação e de formações sincrônicas. O estruturalismo se opõe geralmente ao causalismo e ao historicismo. Na maior parte dos estruturali stas manifesta-se a tendência a supor que por baixo de certas estruturas que podem ser consideradas superficiais há estruturas profundas. Por um lado, há uma correlação entre os dois tipos de estruturas. Por outro, as estruturas superficiais não são simplesmente manifestação de estruturas pro fundas. A correlação de referência consiste em que para toda estrutura superficial há alguma estrutura profunda
(assim as estruturas superficiais da linguagem enquanto séries de dizeres estão correlacionadas com as estrutu ras profundas da linguagem enquanto conjunto de re gras). Mas isso não forma uma relação biunívoca; a vários modos de falar que parecem desconectados entre si pode corres p onder uma única regra estrutural pro funda, e ao mesmo tempo um modo de falar que pare ce ser único é interpretável em função de várias possí veis estruturas profundas. A linguagem é aqui apenas um exemplo, embora um exemplo freqüentemente pre dominante (se se leva em conta a abundante referência dos estruturalistas a "sinais", "significantes" etc., assim como à distinção entre sintagma [ver SINTAGMA, SINTAG MÁTICO] e paradigma, tomada do domínio lingüístico). Todavia, seria um erro caracterizar exclusivamente o estruturalismo de que aqui falamos como uma transfe rência de modelos l ingüísticos a vários domínios das ciências humanas. A linguagem obedece a regras estru turais do mesmo modo que quaisquer outros fenômenos humanos. Em todos eles funcionam sistemas de substi tuição cuja fonnalização tem geralmente um caráter combinatório. Alguns estruturalistas tendem a reduzir ao mínimo, e até mesmo a eliminar por completo, ao menos do ponto de vista metodológico, o homem como sujeito e as infinitas circunstâncias e mudanças da história. Se há mudanças, não são alterações dentro de uma conti nuidade histórica, mas antes "cortes". Isso quer dizer que os homens estão "submetidos" às estruturas e não ao contrário. Fala-se por isso algumas vezes de "meca nismos" --· sem que se deva dar a esse termo um senti do "mecanicista" clássico que atuam como forças estruturantes e aliás podem ser qualificados de "inatos". Não há nada humano -- e possivelmente nada orgâni co - que seja infinitamente maleável. O número de possíveis estruturas em cada caso é limitado. Sob um grande número de variações superficiais há uma quan tidade limitada de estruturas profundas. Os próprios modelos de relações são ou podem ser distintas ma nifestações de um único sistema estrutural. Contudo, algumas vezes se fala de modelo como correspondente a uma estrutura e se define o modelo como uma série de caracteres recorrentes. As estruturas são inacessíveis à observação e a des crições observacionais. Por outro lado, não são resulta do de nenhuma indução generalizadora. Por esse motivo às vezes se alegou que, propriamente falando, não há estruturas. Em alguma medida, elas não existem, ao menos no sentido de que existem obj etos ou proprieda des de objetos. As estruturas não são, portanto, equi paráveis a realidades últimas, de caráter metafisico. Elas são, metodologicamente falando, princípios de expli cação, e, ontologicamente falando, formas segundo as quais as realidades se articulam. -·
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Segundo Jean Piaget, "uma estrutura é um sistema de transfonnações que comporta leis enquanto sistema (em oposição a propriedades de elementos) e que se conser va ou enriquece por meio do próprio jogo de suas trans formações sem que estas andem além de suas frontei ras ou recorram a elementos exteriores. Em suma, uma estrutura abarca, pois, os três caracteres de totalidade, de transformações e de auto-regulação" (op. cit. infra, pp. 6-7). Esta definição de Piaget foi considerada por alguns demasiadamente ampla e destinada a mostrar que há algo em comum em estruturas de índole muito diversa (matemáticas e lógicas, físicas e biológicas, psi cológicas, lingüísticas e sociais). Parece, em todo caso, que um dos caracteres apontados - o de totalidade ultrapassa as concepções estruturalistas, e outro, o de auto-regulação, corresponde somente a certas estrutu ras. Mas o caráter da transformabilidade não pode ser eliminado das estruturas. Os estudos estruturalistas con sistem em grande parte em levar a cabo transformações que tornam possível passar de uma estrutura para outra mediante mudanças em seus elementos que não alteram o sistema estrutural. John Mepham indicou que "em geral é verdade que as formas de regularidade empírica, cujo estudo pode permitir o descobrimento da coerência subjacente a um sistema semântico, não são correlações nem general izações empíricas (como freqüentemente se pensou ser o caso no que diz respeito aos sistemas estudados pela física e pela química), mas são trans formações (op. cit. infra, p. 1 5 8 da trad. esp.). No caso das estruturas sociais - que foram as mais abundante mente investigadas pelos estruturalistas contemporâ neos - se pressupõe existir modelos de vida social que têm de ser explicados sincronicamente. Há uma distinção que pode ser básica entre estrutu ralismo, por um lado, e "atomismo" (no sentido muito geral do termo) e organicismo, por outro. Uma concep ção inteiramente "atomista" tenderá a conceber toda en tidade como composta de elementos nos quais a entida de pode ser analisada ou "decomposta", de modo que se encontramos qualquer entidade E e qualquer um dos elementos que a compõem, e , , e, . . . e,,, todo E será composto por e " c2 . . . e,, Uma concepção organicista tenderá a conceber que as entidades são como orga nismos e que nenhum deles pode ser anali sado ou de composto em elementos. Uma concepção estruturalis ta tenderá a pensar que, mesmo que haja elementos últimos, estes formam conjuntos em virtude de suas relações mútuas. Mas, além disso, tenderá a pensar que, uma vez constituído um conjunto, este se relacionará com outros. Desse modo, o estruturalismo em geral não se opõe em princípio à anál ise de um conj unto de elementos. Ele afirma, porém, que os conjuntos podem relacionar-se entre si funcionalmente, sem a necessi dade de que em cada caso eles sejam decompostos em seus elementos.
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Dado o tom geral das considerações precedentes, é óbvio que ou podem ser encaixados facilmente dentro delas todos os estruturalistas ou nenhum deles é razoa velmente caracterizado por elas. Paradoxalmente, o único modo de entender corretamente em que consiste o estruturalismo contemporâneo é descrevê-lo diacroni camente e, além disso, esboçar as idéias principais daqueles que foram chamados, freqüentemente a des peito deles, "estruturalistas". Roland Barthes indicou que o estruturalismo não é (ainda) uma escola ou um movimento: é uma atividade, de modo que cabe falar da atividade estruturalista do mesmo modo que se fala da atividade surrealista. Essa atividade, mais que um gru po de idéias comuns, caracteriza a obra dos autores men cionados no começo do verbete. A obra que foi identi ficada mais plenamente com esse estruturalismo é, co mo foi indicado, a de Lévi-Strauss. Segue-se a ela, em ordem de aproximação, a de Roland Barthes. Fala-se às vezes do "grupo Te! Que!" ou dos colaboradores da revista Te! Que!, que representaram um estruturalismo "textual" ou estudo estruturalista de textos - daí a muito repetida expressão 'a escritura de' : L 'écriture de (e, correlativamente, leitura de: lecture de) -, mas entre os colaboradores dessa revista figuram M ichel Foucault e Jacques Derrida, nenhum dos quais, e particularmente o segundo, quer ser identificado com o estruturalismo. Assim como Lévi-Strauss representa o estruturalis mo antropológico, Roland Barthes representa o estrutu ralismo "literário" ou, melhor, o estruturalismo "crítico". Nesses dois casos são óbvios os empréstimos feitos à tradição lingüística estrutural na linha Saussure-Jakob son. A psicanálise estruturalista é representada por Jac ques Lacan. Fala-se de um estruturalismo marxista, ou de um marxismo estruturalista, no caso de Louis Althus ser, o qual utilizou métodos estruturalistas, mas sem adotar nenhuma "filosofia" estruturalista stricto senso. Alguns consideram que M ichel Foucault é o filósofo do estruturalismo; o próprio Foucault nega ser estrutu ralista, embora dentro das correntes filosóficas contem porâneas o estruturalismo seja a mais afim com sua análise. Expomos as doutrinas principais desses autores nos verbetes consagrados a eles, os quais podem servir de complemento ao presente. Há uma considerável afi nidade entre os estudos com maior ou menor razão qualificados de estruturalistas e o desenvolvimento da semiologia ( vER ) na época atual . � E m todas a s obras sobre o s autores a que nos referi mos no texto há exposições e interpretações do estrutu ralismo contemporâneo. Mencionamos também: Man fred Bierwisch, "Der Strukturalismus", Kursbuch (maio 1 966). - Jean-Marie Auzias, Clefs pour !e structura lisme, 2ª ed., rev., 1 967. - Jean Piaget, Le structuralis me, 1 968; 3ª ed., aum., 1 968 (último trimestre) ( ed. br. : O estruturalismo, 3ª ed., 1 979). - Oswald Ducrot,
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EUNÁPIO DE SARDES (nasc. ca. 345/346) foi discí pulo e amigo do neoplatónico Crisâncio de Sardes
(vER), com quem aprendeu, entre outras coisas, as "dou trinas secretas" de Jâmblico. Como seu mestre, Euná pio defendeu, especialmente sob a égide dos "impera dores pagãos", a "fé antiga" e a tradição helênica diante do e contra o cristianismo. Devem-se a Eunápio umas Vidas de sofistas, Bío1 ooq>10Twv, Vitae sophistarum do século IV - 'sofistas' entendido no sentido de ' filó sofos' e ' sábios' - e uma crônica histórica. :> As Vitae em J.-F. Boissonade, Philostratorum, Eu napii, Homerii reliquiae, 1 849. - Fragmentos da crôni ca em C. Muller, Fragmenta hist. graec. , IV, 7ss. Artigo de W. Schmid sobre Eunápio em Pauly-Wissowa, s. v. "Eunapios". Í ndice: 1. Avotins, M. M . Avotins, eds., Jndex in Eunapii Vilas Sophistarum, 1 98 3 . C:
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EUSÉBIO DE CESARÉIA, Eusebius Pamphili (ca. 265-339/340). Nascido em Cesaréia (Palestina), bispo da mesma cidade (a partir de ca. 3 1 4), é conhecido sobretudo como historiógrafo, especialmente por sua fundamental História da Igreja ( ' E KKÀf]OJOOT1Ki] loTopía), mas é importante na hi stória da fi losofia por suas obras apologéticas, a Praeparatio evangelica ( EúayyEÀtKi] TipoTiapaoKEVTÍ ) e a Demonstratio evangelica ( EúayyEÀtKi] àTiófü1!;1s). A signi ficação filosófica dessas obras reside em dois aspectos. Primei ro, na quantidade de dados que Eusébio proporciona sobre doutrinas filosóficas gregas. A Prepara tio, parti cularmente, constitui-se como uma das fontes básicas para o conhecimento de um bom número dessas doutri nas. Segundo, na atitude filosófica do autor. Sua atitude é claramente apologética, de tal modo que Eusébio pode ser considerado um dos continuadores da obra dos apo logistas (vER) do século I I . Mas existem marcadas dife renças em relação a eles. Sobretudo, Eusébio utilizou muitos dos elementos e dos métodos dos cristãos ale xandrinos, particularmente de São C lemente e de Pan filio de Cesaréia. Portanto, existe em sua obra uma certa quantidade de elementos de caráter alegórico. Logo, seus juízos sobre o pensamento grego coincidem apenas em parte com os de outros apologistas que o precede ram. São j uízos extremamente críticos, na formulação dos quais Eusébio utilizava argumentos céticos. Ao mesmo tempo, porém, interpretava uma parte desse pensamento como uma clara "preparação" para os ensi namentos cristãos - essa parte é o platonismo (entendi do quase sempre em um sentido platônico-eclético e até neoplatónico). Eusébio, assim como outros autores, con siderou Platão como um Moisés que falara em língua ática, e interpretou as "idéias" platônicas como pensa mentos divinos. Também encontrou em Platão outros precedentes cristãos, como a doutrina da imortalidade da alma, e certos vislumbres do dogma da Trindade. Não obstante, esses precedentes eram, em seu entender,
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:l Fragmentos em F. Jacoby, Die Fragmente der grie insuficientes diante da verdade completa da revelação chischen Historiker, !, 300ss. Jacoby também é au cristã, e estavam, além disso, maculados por doutrinas tor do artigo sobre Evêmero ( Euhemeros) em Pauly errôneas, particularmente pelas tendências emanatistas, Wissowa. Ver: Mats Furberg, Locutionary and lllocucionary Acts: A Main Theme in J. L. A ustin s Philosophy, 1 963 (tese). - Lennart Âqvist, Performatives and Verifia bility by the Use of Language: A Study in the Applied Logic of lndexicals and Conditionais, 1 97 l . Sven Danielson, Some Conceptions ofPerformativity, 1 973. - F. Recanati, Les énoncés performatifs, 1 98 1 . Ver também bibliografia de AUSTIN, J [OHN l L [ANG S HAW ] . e -
EXEGESE. Ver HERMENÊUTICA. EXEMPLARISMO. O termo ' exemplo' é utilizado comumente para designar um caso particular que serve para comprovar uma afirmação. Ele também é empre gado para designar um caso que ocorreu, ou que se supõe ter ocorrido, e que é proposto para imitação. Este último é o sentido que tem 'exemplar ' , que serve para formar o substantivo ' exemplarismo ' . N o último sentido, ' exemplar' é equivalente a mo delar ou arquetípico. Em virtude disso cabe chamar de "exemplarismo" toda doutrina segundo a qual as coisas ou as realidades - e especificamente as coisas ou rea lidades "sensíveis" - são trasladas, cópias, manifes tações, imitações etc., de realidades exemplares ou ar quétipos. Então essas realidades servem de exemplo e podem ser consideradas, na acepção introduzida por último, como "exemplos''. O mais ilustre "exemplo" - no primeiro sentido de ' exemplo' - de exempla rismo, ou doutrina exemplarista, é o de Platão. Todo o platonismo e o neoplatonismo são manifestações de exemplarismo filosófico. Ocorre o mesmo com Fílon, Santo Agostinho e toda a tradição agostiniana. André de Muralt falou do "exemplarismo" de Husserl (L'idée de la phénoménologie. L'exemplarisme husserlien , 1 958). Evidentemente, pois, há diversos casos possí veis, ou diversos exemplos - e também casos típicos - de exemplarismo na história da filosofia. EXISTÊNCIA. Enquanto derivado do termo latino existentia, o vocábulo 'existência' significa "o que está aí", o que "está fora" (exsistit). Algo existe porque a coisa está, in re; a existência, nesse sentido, é equipa rável à realidade. O que dizemos nos verbetes REAL e REALIDADE, SER e também ESSÊNCIA (na medida em que esta se contrapõe à existência) pode ajudar a compreen der o conceito aqui explicado - contudo, não basta, razão pela qual consideraremos agora em pormenor a noção de existência como tal. O termo ' existência' pode se referir a qualquer en tidade; pode-se falar de existência real e ideal, de exis-
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tência física e matemática etc. Contudo, como essa uni versalidade do significado de ' existência' se presta a confusões, é melhor examinar o modo como, ao longo da história da filosofia, o conceito de existência foi en tendido como conceito filosófico técnico. A noção de existência se aplica às "entidades existentes" - tam bém chamadas de "os existentes" -, mas cabe distin guir os existentes da existência (ou o fato de que os exis tentes existem). Trata-se aqui, portanto, de esclarecer a questão da natureza ou essência da existência e não de nenhum dos existentes, embora provavelmente este esclarecimento só seja possível com base em uma análi se de entidades existentes; ou supostamente existentes. Nos primeiros momentos da história da filosofia grega, os pensadores não pareciam interessados em sa ber qual era a natureza do existente; eles estavam mais preocupados em indicar que entidade ou entidades eram, em seu entender, existentes - ou "realmente existen tes" -, por oposição às entidades que pareciam ter existência real mas eram, no fundo, modos ou manifes tações dessa existência. Dizer que "o que há" é água, ar, apeiron e até mesmo números ainda não é dizer o que é haver algo, isto é, o que é existir. Depois, com Parmênides e sobretudo com Platão, o problema da existência como tal foi levantado várias vezes; se o que existe é o inteligível, o mundo das idéias, e se esse mundo não é "o que está aí", mas "além de todo af', a questão da natureza da existência e do existir é suscita da com toda a agudeza. Todavia, somente Aristóteles elaborou um sistema de conceitos que parecia capaz de explicar o ser da existência como tal em relação com, ou em contraste com, o ser da essência, da substância etc. Para Aristóteles, a existência é entendida como substância, isto é, como entidade. Para que algo exista, ele tem de possuir um "haver", uma ousia (vER). Além disso, ela tem de lhe ser própria. A existência é a subs tância (vER) primeira enquanto aquilo de que se pode dizer algo e "onde" residem as propriedades. Quando a existência está unida à essência temos um ser. Dele podemos saber o que é justamente porque sabemos que é. Aristóteles tem interesse em averiguar o que se pode chamar de "requisitos" da existência. Os conceitos de matéria (VER) e forma (vER) e de potência (VER) e ato (vER) desempenham um papel importante. Mas como não se pode falar da existência a menos que ela seja inteligível, e como a existência é inteligível somente a partir daquilo que a faz ser, já a partir deste momento temos assentadas as bases de muitas das ulteriores dis cussões sobre a relação entre a existência e o que faz a existência ser. Se chamamos o que foi dito por último de "essência", temos a base dos debates sobre a relação entre essência e existência. Muitos desses debates ocorreram durante a Idade Média. Para entendê-los adequadamente é preciso levar em conta os significados, e as mudanças de significa-
dos, de vários termos básicos: não somente essentia e existentia, mas também substantia, esse etc. Referên cias a esses significados e às mudanças poderão ser en contradas em vários verbetes; remetemos, entre outros, aos verbetes ENTE EssÊNCIA, HECCEIDADE, HlPóSTASE, OusiA, PESSOA, QürnIDADE, SER, SussTÂNCIA. Aqui nos limitaremos a algumas indicações sobre as tendências gerais assumidas por tais debates. Embora os autores medievais tivessem presente o sistema de conceitos gregos e particularmente os "sis temas" platônico, aristotélico e neoplatônico, há dife renças básicas entre certas concepções gregas de 'exis tência' e a maior parte das concepções medievais. Os gregos tenderam a conceber a existência como coisa (por mais "refinada" e "sutil" que ela fosse). Os filóso fos medievais, especialmente os de inspiração cristã, consideraram que há existências que não são propria mente coisas, nem sequer podem ser compreendidas por analogia com alguma "coisa", e que, contudo, são mais "existentes" que outras entidades (Deus, as pes soas etc.). Segundo muitos autores medievais, o existir é propriamente o esse; melhor ainda, "existir" é ipsum esse. A compreensão da existência parece então exigir que se note a "atualidade" (ver Arn). Gilson (L'Être et l 'Essence [ 1 948], especialmente pp. 88ss.) destacou que a ambigüidade do termo esse levantou vários proble mas para a filosofia medieval, incluindo problemas re lativos à "natureza da existência" e ainda particular mente esses problemas. Com efeito, o termo esse denota algumas vezes a essência e outras vezes o ato de existir. De acordo com isso, há duas concepções fundamentais da essência em sua relação com a existência. Uma des sas concepções pode ser designada como o "primado da essência sobre a existência". De acordo com ela, a existência é concebida até mesmo como um acidente da essência (Avicena e filósofos mais ou menos "avi cenianos"). Outra dessas concepções pode ser designa da como "primado da existência sobre a essência". De acordo com esta última, a essência é algo como a inte ligibilidade da existência. Existir não seria neste caso algo "simplesmente dado" e menos ainda algo "irracio nal", mas seria, segundo indica Gilson (op. cit. ), como "um ponto de energia de intensidade dada, que gera um cone de força do qual constituiria o cume, sendo a essência a base". Todos os autores medievais concordam em dizer, ou supor, que a essência é uma resposta à pergunta quid sit res (o que é a coisa) enquanto a existência é uma resposta à pergunta an res sit (se a coisa é). Todavia, dizer o que a coisa é pode significar não, ou não apenas, predicar dela algo - e algo "universal" -, mas indi car o que é a coisa enquanto é. Ora, mesmo neste últi mo caso não se definiu exatamente o que se entende por ' existência'. Vários autores propuseram, por causa disso, definições da existência, sobretudo em termos ,
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de ' existir' . Entre tais autores destaca-se Ricardo de São Vítor, que escreve, em De Trinitate, IV, ii, 1 2 : "Quanto ao termo exsistere, ele implica não apenas a posse do ser, mas certa origem ( . . ) É isso que dá a en tender, no verbo composto, a preposição ex que vai adj unta. Com efeito, o que é existir [exsistere] senão ser ' de ' alguém, ter de alguém seu ser substancial?". Isso leva à consideração de que o modelo da existência não é a coisa, mas a pessoa. De fato, em relação à pessoa pode-se determinar a diferença entre o quê e o onde, que na coisa podem ser equiparáveis. Os autores medievais que, como Santo Tomás, acen tuaram o momento da "atualidade" na existência, defini ram esta última como a atualidade da essência, a última atualidade da coisa, a presença atual da coisa na ordem "tisica", isto é, na ordem "real". Existir não é então simplesmente "estar aí", mas "estar fora das causas" - extra causas - enquanto estar "fora do nada" extra nihilum -, da simples potência. Os debates em torno do significado de 'existência' e de 'existir' na filosofia medieval estiveram freqüente mente ligados à questão da chamada "relação entre a essência e a existência", primeiro em Deus e depois nas criaturas. Mencionemos aqui algumas das principais "sentenças" sobre esse assunto. Alguns autores escolásticos - como Guilherme de Auvergne, Alexandre de Hales, Boaventura, Alberto Magno, Tomás de Aquino e, mais tarde, Fonseca e os Conimbricenses - sustentaram a chamada "distinção real entre essência e existência" na ordem do criado. A essência não implica a existência, mas é, como indica mos anteriormente, a inteligibilidade desta última. Outros autores - como Duns Scot, Ockham, Aurelo, Gabriel Biel, Suárez - negaram essa distinção real. A negação da distinção real não equivale ao nominalismo ou ao terminal ismo. Além disso, pode-se não admitir uma distinção real e não admitir tampouco uma mera distinção conceituai. Assim, por exemplo, Duns Scot propunha uma distinção atual formal por meio da natu reza da coisa (ver DISTINÇÃO). Quando - como ocorreu na maior parte dos casos - existência e esse foram equiparados, suscitou-se a questão de se, uma vez dado algo que exista, se pode ou não predicar desse algo o próprio existir. Alguns autores sustentam que a existência é o primeiro predi cado de qualquer entidade existente, sendo secundários todos os demais predicados. Isso significa que "a exis tência não existe", mas existem todas as entidades existentes. Algumas vezes se disse que, se a prova ontológica (ver 0NTOLóGicA [PROVA]) for admitida, dever-se-á adotar um conceito de existência distinto do que deve ser aceito quando essa prova é rej eitada. Se isso fosse verdade, a concepção da existência em Santo Anselmo seria distin ta da de Santo Tomás. Por outro lado, a concepção da .
existência em Santo Anselmo seria comparável à de autores como Spinoza e Hegel, enquanto a concepção da existência de Santo Tomás seria comparável à de autores como Hume e Kant. Porém o assunto nessa matéria é complexo. É possível defender que tanto os que admitem a prova ontológica como aqueles que a rejeitam poderiam em princípio distinguir uma noção de existência aplicável unicamente ao ens realissimum de uma noção de existência aplicável a qualquer entidade que não seja o ens realissimum. Também é possível sustentar que a noção de existência aplicável ao ens rea lissimum tem de servir de padrão ou modelo para a noção de existência em qualquer outra entidade. Na época moderna, tratou-se a questão da noção de existência por um lado em relação com os problemas levantados pela aceitação ou recusa da prova ontológica e por outro em relação com a questão de se há ou não diferença entre conceber uma entidade e conceber a exis tência dessa entidade. O problema da existência foi, por isso, um problema ao mesmo tempo metafisico e lógico. Para Hume ( Treatise, I iii, 7) não há diferença entre conceber algo e conceber sua existência. Se se diz que algo existe não são mencionadas duas idéias: a do "algo" do qual se fala e a de sua existência, mas apenas uma, isto é, a idéia do "algo" que, além disso, é sempre esta ou aquela coisa. A famosa opinião de Kant ao longo de sua crítica à prova ontológica não é substancialmente distinta da de Hume; onde Hume fala da diferença entre conceber algo e acreditar em sua existência, Kant fala da diferença entre conceber algo e "pôr" sua existência. O ponto central da discussão de Kant sobre o assunto é sua afirmação de que o ser (Sein) - que aqui pode ser entendido como "existir" - não é um predicado real do mesmo modo que podem ser outros predicados tais como 'é branco' , 'é pesado' etc. "' Ser' não é eviden temente um predicado real, ou seja, não é o conceito de algo que possa ser agregado ao conceito de uma coisa; é meramente a posição (Setzung) de uma coisa ou de cer tas determinações enquanto existentes em si mesmas. Logicamente é a cópula de um juízo" (KrV, A 598, 8 526). Referir-se a algo e dizer que esse algo existe é uma redundância. Se a existência fosse um atributo, todas as proposições existenciais afirmativas não seriam mais que tautologias, e todas as proposições existenciais ne gativas seriam meras contradições. Por outro lado, dizer que algo é não significa dizer que ele exista. O "é" não pode subsistir por si mesmo: ele sempre alude a um modo no qual se supõe que ele é isto ou aquilo. E se preenche mos o predicado por meio do existir, dizendo que uma entidade determinada "é existente", ainda faltará es clarecer a maneira, o como, o quando ou o onde da existência. De modo que, de acordo com essas bases, o "ser existente" não pode possuir nenhuma significa ção se não se dá dentro de um contexto. Isso supõe que
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o conceito que descreve algo existente e o conceito que descreve algo fictício não são, enquanto concei tos, distintos: o possível e o real estão, no que diz res peito ao conceito, por assim dizer, no mesmo modo de referência. Em outras palavras, o referente do conceito não introduz nenhuma forma particular no conceito por meio da qual nos seja possível determinar se um refe rente existe ou não. Determinar o modo de concepção depende de condições não inerentes ao conceito. Brentano considerou que, por um lado, não há dife rença entre um juízo existencial (como "S é" ou "S existe") e um juízo predicativo (como "S é P''). Por outro lado, ponderou que o j uízo existencial não é re dutível ao predicativo, isto é, que não se pode admitir que 'é' e ' existe' sejam predicados. Desse modo, Bren tano seguiu as orientações de Hume e de Kant na me dida em que rejeitou que a existência fosse um pre dicado, mas admitiu que se pode dizer que é ou não é o caso de que este ou aquele predicado possa sê-lo de um sujeito, o que equivale a sustentar que se pode di zer que S é P existe ou não existe. Os autores que examinaram questões ontológicas relativas à existência em estreita relação com estruturas lógicas influenciaram muito aquilo que, no final deste verbete, será tratado como concepções predominante mente lógicas da noção de existência. Isso ocorreu com autores como Meinong (que influenciou primeiro posi tivamente e depois negativamente, mas em todo caso de modo determinado, autores como Bertrand Russell). Na época aludida eles continuaram, especialmente em círculos neo-escolásticos, os debates clássicos sobre a relação entre essência e existência, e esses debates fo ram reavivados quando começaram a se desenvolver fi losofias de corte "existencial". Na conj unção entre a tradição filosófica escolástica e a filosofia existencial podem ser vistas posições relativas à redutibilidade ou à irredutibilidade mútua da existência e da essência. Ci tamos aqui duas opiniões relativas a isso: a de Gilson e a de Maritain. Gilson sustentou a irredutibilidade fim damental da essência e da existência, ao menos quando a existência é indicada pelo conceito. Nesse caso é possí vel até mesmo apreender a essência da existência, mas não o próprio ato de existir, que, como objeto da existência, somente poderia ser acessível para uma "experiência" (experiência não necessariamente de índole irracional, pois, em última análise, representaria a possibilidade do ')uízo existencial"). Com efeito, é o juízo que, como diz Maritain, "se enfrenta com o ato do existir". Assim, o conceito de existência não poderia ser, mais uma vez, separado do conceito de essência. "Inseparável dele" - escreve Maritain (Court Traité de l 'existence et de l 'existant, 1 948, p. 46) -, "não constitui com ele mais que um só e único conceito simples, embora intrinseca mente variado, um só e mesmo conceito essencialmente
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análogo, o do ser, que é o primeiro de todos e do qual todos os demais são variantes ou determinações, por quanto surge no espírito no primeiro despertar do pensa mento, na primeira apreensão inteligível operada na ex periência dos sentidos que transcende os sentidos." Desse modo não se cairia na irracionalidade da existência ou na redução unilateral da existência a um existente -, pois a idéia do ser precederia todo juízo de existência na ordem da causalidade material ou subjetiva, e o juízo de existência precederia a idéia do ser na ordem da causa lidade formal. Não se poderia dizer, em suma, que não há um conceito de existência. Pelo contrário, seria inevi tável haver tal conceito, no qual a existência apareceria como significada ao espírito, ao modo de uma essência mesmo sem ser uma essência (op. cit., p. 58). Nas tendências que, a partir de Kierkegaard, se cha maram "existenciais" e que incluem o intitulado "exis tencialismo" (VER), a noção de existência ocupa lugar central. Cabe perguntar, primeiro, se essa noção pode se relacionar com as noções "clássicas" antes tratadas, e, em segundo lugar, se há um significado comum ou um uso comum nas variadíssimas tendências existenciais e existencialistas. No que diz respeito à primeira questão, sustentou se que não há nenhuma relação entre as duas noções de "existência" indicadas, ou que, se há alguma, as diferen ças entre as duas noções superam muito as possíveis similaridades. Gilson (lntroduction à la philosophie chrétienne, 1 960, p. 20 1 ) escreveu que "existência evo ca hoje conotações distintas das que outrora tinha o termo existentia, sobretudo, por exemplo, em uma dou trina como a de Báiiez, na qual o sentido da palavra não se distinguia, em absoluto, do sentido do verbo ou do substantivo verbal esse". Numerosos comentadores, especialmente na época de auge do existencialismo, destacaram a diferença, e até a incompatibilidade, entre as duas noções de "existência" mencionadas - a "clás sica" e a contemporânea de corte "existencial" -, espe cialmente nas dimensões mais notadamente kierkegaar dianas do existencialismo, mas também em autores que, como Heidegger, distinguiram, como logo veremos, o Dasein (às vezes traduzido por "existência" ou "Exis tência") da existência na acepção tradicional. Entretan to, também se reparou que o uso de ' existência' por parte de vários autores, por mais distinto que seja do "clássico", tem muito a ver com ele. Arthur C. Danto (Sartre, 1 975, pp. 7ss.) indica que a existência que se revelou a Roquentin na célebre passagem de A náusea (ver NÁUSEA) é compreensível dentro de uma tradição filosófica na qual as noções de "existência" e de "essên cia" se contrapõem. Ao menos no que diz respeito aos entes criados, em grande parte da tradição escolástica (e também moderna), sua existência não é necessária, e eles são, portanto, "supérfluos", no sentido do de trop
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sartriano. Além disso, a existência como tal é indes critível; em todo caso, para essa tradição filosófica ela é descritível, ou compreensível, somente a partir das essências. Nesse ponto separam-se completamente a tradição em questão e toda filosofia "existencial", mas, por outro lado, quando as duas usam os termos 'existên cia' e 'essência ' , fazem-no dentro de um horizonte con ceituai que tem muitos elementos em comum. Descreveremos aqui o sentido do conceito de exis tência em vários autores que podem ser situados dentro de uma tendência "existencial", usando esse termo em um sentido muito amplo, visto que incluiremos, entre eles, Heidegger - cuja interpretação da existência é fundamentalmente ontológica e "existenciária" - e outros autores que, por diversos motivos, recusam ser qualificados de existencialistas. Cronologicamente, o primeiro desses autores é Kierkegaard. A existência é, para esse filósofo, sobre tudo o existente (o existente humano). Trata-se daquele cujo "ser" consiste na subjetividade, isto é, na pura liberdade de "escolha". Não se pode falar, a rigor, da essência da existência. Sequer se pode falar da existên cia. Deve-se falar apenas "deste existente" ou "daque le existente" ("existentes" cuja verdade é a "subj etivi dade"). Existir significa, para Kierkegaard, tomar uma "decisão última" em relação à absoluta transcendência divina. Essa decisão determina o "momento", que não é nem a mera fluência do "tempo universal", nem tam pouco uma participação qualquer em um mundo inte ligível eterno. Por isso a fi losofia não é especulação, é "decisão"; não é descrição de essências, é afirmação de existências. Há em Kierkegaard um "primado da existência" (e, em termos tradicionais, um "primado da existência sobre a essência"). Nesse sentido há ecos, ou motivos, kierkegaardianos em vários autores já a partir do final do século XIX. Isso não significa que todos esses auto res tenham se inspirado em Kierkegaard; significa ape nas que, como Kierkegaard, mas com pressupostos dis tintos, e orientações muito di ferentes, numerosos auto res "contemporâneos" estão inclinados a reconhecer que de algum modo "a existência precede a essência". A esse respeito mencionamos autores tão diversos quanto Nietzsche, Dilthey, Unamuno, Bergson, Simmel, James, Marcel, Lavelle, Jaspers, Griscbach, Ortega, Sartre e até mesmo, em alguns aspectos, ou pelo menos em um certo nível, Heidegger. O "primado da existência sobre a essência" foi afirmado com tanta freqüência e com tons tão diversos no pensamento contemporâneo que vários pensadores próximos a tendências em princípio muito distintas de toda fi losofia "existencial" reclama ram para si a originalidade na afirmação de tal primado. Este é o caso de alguns representantes do neotomismo; para eles, o tomismo é a "verdadeira filosofia existen cial" (uma filosofia que enfatiza a importância da exis-
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tência sem p o r isso suprimir a essência ou a natura das entidades existentes). Em vista disso conviria restringir o significado da expressão 'primado da existência sobre a essência' aos autores que se referiram explicitamente a ele. Como exemplos mencionamos aqui dois deles: Sartre e Lavelle. O primeiro chegou até mesmo a definir o significado de 'existencialismo' como a afirmação desse primado (ver L'existentialisme est un humanisme [trad. bras. : O existencialismo é um humanismo, na Col. "Os pensadores", vol. Sartre], embora Sartre tenha decla rado depois que isso representava uma simplificação excessiva de sua própria doutrina existencialista). La-. velle proclamou que "o ser é a unidade da essência com a existência" (De / 'Acte, cap. VI, art. 1 ), mas ao mesmo tempo declarou que "se deve alterar a relação clássica entre a existência e a essência e considerar existência como o meio de conquistar a minha essência" (ibid. , art. 3). "A existência" - escreveu Lavelle - "é, se se preferir, essa aptidão real e até mesmo atual que pos suo para dar a mim mesmo a minha essência mediante um ato cuj a realização depende de mim" (/oc. cit. ). Isso não significa, para Lavelle, que a "inversão do prima do" seja universal : "Há inversão das relações entre a essência e a existência conforme se trate de coisas ou de seres livres" (ibid. , art. 4). Sartre e Lavelle não debateram somente o conceito de existência e sua relação com o de essência, mas uti lizaram em suas filosofias o termo ' existência' em sen tido técnico. Há outros filósofos que não usaram o ter mo nesse sentido, mas empregaram outros vocábulos em um sentido próximo ao "existencial". Isso ocorre com as expressões 'o homem de carne e osso' (Unamu no) e ' nossa vida' (Ortega y Gasset). Remetemos o leitor para os verbetes sobre esses filósofos assim como aos outros nos quais nos referimos a suas doutrinas (Ex1s TENCIALISM0; VmA etc.). Aqui nos limitaremos a com plementar a informação iniciada referindo-nos ao ter mo ' existência' tal como foi utilizado por dois autores: Heidegger e Jaspers. Heidegger emprega o termo Dasein, que é às vezes traduzido por ' existência ' , mas, como indica o autor, não significa existentia no sentido tradicional. Por causa disso, foram propostas várias traduções: 'estar em algo' (Zubiri), ' realidade-de-verdade' (Garcia Bacca), ' o humano estar' (Laín Entralgo) , o 'estar' (Manuel Sacris tán Luzón), ' ser-aí' (Gaos). Esta última versão é bastan te apropriada (e é freqüentemente utilizada em outros idiomas - être-là, being-there - porque permite ver os elementos que integram o conceito: Da e Sein . O Da do Dasein é, com efeito, fundamental para Heideg ger. Contudo, esse Da não significa propriamente "aí", mas a abertura de um ente (o ente humano) ao ser (Sein). Nós traduzimos Dasein por 'Existência' (com inicial maiúscula, para diferenciá-lo de ' existência '), porque consideramos esse artificio ortográfico suficiente para
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os propósitos da presente obra. Tratamos a significação de ' Existência' (Dasein) em Heidegger no verbete sobre esse filósofo e em outro sobre o termo Dasein. Assinale mos aqui apenas que, para Heidegger, o que é caracterís tico da Existência é que seu ser está em seu ser. Por isso a análise da Existência possibilita a ontologia funda mental, que deve constituir a base para uma ontologia geral e para uma resposta à pergunta sobre o sentido do ser (Sein ). Ao mesmo tempo, para distinguir a noção tradicional de existência (que corresponde aos entes que não têm a forma da Existência [Dasein] ) do modo de existir que corresponde à Existência (Dasein ), Hei degger propõe para esta última o vocábulo Existenz (ver infra) . A Existência não é algo que já é, ou que já é dado ; é um poder-ser. Sua própria compreensão, e com isso a compreensão do ser, é sua própria determi nação. Por isso "o caráter distintivo da Existência con siste em que ela é ontológica". "Chamamos de existên cia (Existenz) o próprio ser com o qual a Existência se enfrenta ou pode enfrentar-se sempre de algum modo. E como a determinação essencial desse ente não pode se real izar mediante a indicação de um quê objetivo, mas já que, antes, sua essência consiste no fato de que possui seu próprio ser como seu, foi escolhido o vocá bulo Existência (Dasein) como pura expressão do ser desse ente" (Ser e tempo, § 4). A Existência é ontica mente preeminente (pois é definida por sua Existenz); é ontologicamente preeminente (por ser ela mesma on tológica); e constitui, por fim, a condição ôntico-onto lógica de todas as ontologias. Portanto, toma-se compreensível que, como diz Heidegger, o ser do Dasein consista em sua Existenz. Aparentemente trata-se da transposição do argumento ontológico para a realidade do Dasein e, por isso mes mo, de uma divinização da Existência. Todavia, como A. de Waelhens destacou (La philosophie de M. Heideg ger, 1 942, pp. 27-28), isso significa apenas que "a essên cia da Existência é sua maneira de existir", que ser algo determinado significa para a Existência (Dasein) existir segundo um determinado modo. Pois a "Existência cujo ser é existir" no sentido de ser algo existencial não é uma realidade dada para sempre. Existenz como algo constitutivo do Dasein significa aqui uma antecipação de si constituída fundamentalmente pelo cuidado, de tal modo que poderíamos até mesmo dizer (op. cit., p. 308) que a essência da Existência radica no cuidado. Em todo caso, a analítica existenciária será a base para uma compreensão do ser que se toma possível em virtude do fato de que essa compreensão não é algo alheio, extrínseco, meramente acidental à Existência, mas pre cisamente uma determinação ôntica dessa Existência. Em termos que recordam os de Kierkegaard - ainda que não possam ser exatamente sobrepostos aos de Heidegger -, todo pensamento inclui o ser que o pensa, sua existência ou "subjetividade".
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Jaspers já qualificou sua filosofia de "filosofia da existência", mas - como indicamos em Dasein (VER) - devemos ser cuidadosos com o vocabulário. Com efeito, Jaspers chama de Dasein o que existe no nível do sensível (em nós). O ser do Dasein, assim como o da consciência do espírito da alma etc., é de algum modo "obj etivo", embora de uma obj etividade distinta daquilo que está fora de nós enquanto "mundo". O que é realmente "existencial" é chamado por Jaspers de Existenz. Essa existência é o que eu sou; é o ato de pôr me a mim mesmo como livre; "o ser que não é, mas que pode ser e deve ser" (Philosophie, II, 1 ). Por isso pode-se dizer que meu Dasein não é Existenz, mas que o homem é no Dasein da existência (Existenz) possível. O ser da existência não pode ser apreendido de modo algum; pode-se apenas viver o existir enquanto é "meu". A apreensão da existência requer a obj etividade, e esta destrói o caráter irredutível do existir. Não há, portanto, para Jaspers, uma ontologia da existência. A existência não é um nível de "realidade"; é, no máximo, o que liga todos os níveis. Temos na filosofia atual, portanto, diversos signifi cados de 'existência' que são, por um lado, distintos dos significados tradicionais e, por outro, distintos entre si. Essa distinção pode ser interpretada sobretudo a partir destas duas possibilidades: uma interpretação da exis tência como raiz do existir e uma interpretação da existên cia como fundamento de uma ontologia. Alguns autores, como Jean-Paul Sartre, parecem participar das duas in terpretações. Sua noção de "para-si" é ao mesmo tempo (utilizando o vocabulário de Heidegger) ôntica e onto lógica. Em vista disso, pode-se perguntar se há algum significado comum no uso atual do vocábulo 'existên cia' inclusive dentro das filosofias chamadas de "exis tenciais" em sentido lato. Acreditamos que sim: é o que se deriva de conceber a existência como um modo de "ser" que nunca é "dado", mas que tampouco é "pos to" (como afirmaria o idealismo transcendental); um modo de ser que constitui seu próprio ser, que se faz a si mesmo. A existência é então o que forja sua própria essência, o que cria sua própria inteligibilidade e até mesmo a do mundo em que está imersa. Por essa razão a maior parte dos pensadores pertencentes à tendência citada têm propensão a situar-se ou "além" ou "aquém" do plano lógico, que, entretanto, ainda preocupara muito os filósofos que seguiram a ontologia "tradicional". Se há elementos comuns na maior parte dos modos de tratar a noção de "existência" até agora descritos, é provável que eles também sej am encontrados no que é algumas vezes chamado de "ponto de vista lógico" carac terístico da filosofia analítica em geral. Em todo caso, assim como muitos autores - desde os gregos até Hume, Kant e Brentano - não prescindiram dos aspectos lógi cos da noção de existência, as tendências que abordare-
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mos a seguir nem sempre prescindiram dos aspectos metafísicos e ontológicos. Entretanto, para efeito de clareza pode-se distinguir o tratamento clássico, o trata mento existencial e o tratamento lógico da noção de existência. Cada um deles utiliza um vocabulário filo sófico distinto. Muitos dos debates analíticos sobre a noção de exis tência têm seu ponto de partida em Frege e Russell. Em Os fimdamentos da aritmética (Die Grundlagen der Arithmetik, 1 884, § 53), Frege indica que as proprie dades afirmadas de um conceito não são as caracterís ticas que compõem o conceito. Essas características são propriedades das coisas que caem sob o conceito, não propriedades do conceito. Por isso o ser retangular não é uma propriedade do conceito triângulo retângulo. Mas a proposição segundo a qual não há nenhum triân gulo retângulo, eqüilátero e escaleno expressa uma pro priedade do conceito triângulo retângulo eqüilátero es caleno: ela lhe confere um O. Partindo disso pode-se entender o conceito de existência como afim ou análo go ao de número. Desse modo, a afirmação da existên cia "não é nada mais que a negação do O". Sendo, pois, a existência uma propriedade dos conceitos, o argumen to ontológico torna-se inadmissível. Frege admite que seria errôneo concluir de tudo isso que é impossível em princípio deduzir de um conceito, isto é, de suas características, algo que seja propriedade do conceito . Não é preciso ir tão longe a ponto de afirmar que jamais se pode inferir das características de um conceito a exis tência ou a particularidade (Einzigkeit); o que Frege sustenta é que isso não ocorre do mesmo modo imediato como atribuímos ou indicamos a característica de um con ceito, como propriedade, a um objeto que recai sob ele. Bertrand Russell tratou a questão da existência ou do sentido de ' existe' - em vários escritos. Suas idéias mais influentes a esse respei to são as que foram apresentadas em sua teoria das descrições, resenhada em DESCRI ÇÕ E S (TEORIA DAS). Recordemos alguns aspec tos dessa teoria selecionando para tal efeito a Introdu ção à .filosofia matemática (lntroduction to Mathema tical Phi/osophy, 2ª ed., 1 920, especialmente cap. XVI). A análise lógica da noção de existência gira em torno da noção de "algumas vezes verdadeiro". A teoria dos objetos, de Meinong, admitira entidades inexistentes, correspondentes a um universo do discurso, por meio do qual tais entidades podiam ser afirmadas significa tivamente; o centauro, por exemplo, não existe, mas subsiste. Russell assinala, em contrapartida, que não po demos formar proposições cuj o sujeito seja do tipo "a montanha de ouro" ou "o quadrado redondo". Esses "entes" não possuem um ser lógico e, portanto, nenhu ma "subsistência" própria. "Dizemos" - escreve Rus sell - "que um argumento a ' satisfaz' uma função cpx se cpa é verdadeiro; este é o mesmo sentido no qual se diz que as raízes de uma equação ' satisfazem' a equação. -
Se cpx algumas vezes é verdadeiro, podemos dizer que há x para os quais é verdadeiro, ou podemos dizer ' argu mentos que satisfazem cpx existem ' . Essa é a significa ção fundamental do vocábulo ' existência' . As outras significações derivam dela ou implicam uma mera con fusão do pensamento." Desse modo, poderemos dizer "os homens existem" se queremos dizer que "x é um homem" é às vezes verdadeiro. Mas se dizemos "os ho mens existem. Sócrates é um homem; portanto Sócrates existe", não diremos nada que tenha significação, pois "Sócrates" não é, como "homens", meramente um argu mento indeterminado para uma função (VER) proposi cional dada. Seria como dizer: "Os homens são numero sos. Sócrates é um homem; portanto Sócrates é nume roso". Daí que seja correto dizer "os homens existem", mas seria incorreto atribuir existência a um x particular dado que é um homem. Por conseguinte, a expressão ' termos que satisfazem Ver: H . Kefferstein, Die Realitiit der A ussenwelt in der Philosophie von Descartes bis Fichte, 1 8 83 (tese). W. Dilthey, "Beitrage zur Lõsung der Frage vom Ursprung unseres Glaubens an die Realitat der Aussen welt und ihr Recht", Sitzungsberichte der Preussischen Akademie der Wiss ( 1 890). - Johannes Rehmke, Unse re Gewissheit von der A ussenwelt. Ein Wort an die Ge bildeten unserer Zeit, 1 894. - Rudolf Eisler, Das Be wusstsein der A ussenwelt, 1 900. - G. E. Moore, "The Refutation of Idealism", Mind, N. S . , 1 2 ( 1 903, 433453, reimp. em Philosophical Studies, 1 922). !d., "Proof of an Externa! World", British A cademy Pro ceedings, 25 ( 1 929). V. Kraft, "Das Problem der Aussenwelt'', A rchivjiir systematische Philosophie, 1 O ( 1 904), 269-3 1 7 . - Willy Freytag, Die Erkliirung der A ussenwelt, 1 904. - Bertrand Russell, Our Knowled ge of the Externai World, 1 9 1 4; 2ª ed., 1 929. - John Dewey, "The Existence of the World as Problem", -
-
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Philosophical Review, 24 ( 1 9 1 5), 3 5 7-370. - Hedwig Conrad-Martius, "Zur Ontologie und Erkenntnislehre der realen Aussenwelt", Jahrbuchfiir Philosophie und phiinomenologische Forschung, 3 ( 1 9 1 6), 345-542. E. Study, Die realistische Weltanschauung und die Lehre vom Raume, Geometrie, A nschauung, 2ª ed., vol . 1 : Das Problem der A ussenwelt, 1 92 3 . - Nicolai Hart mann, "Jenseits von Realismus und Idealismus" ( 1 924 ), reimp. em Kleinere Schriflen, t. II, 1 95 7 (e outras obras de N. Hartmann tais como as dedicadas ao estudo dos fundamentos da ontologia, da estrutura do mundo real etc . ; ver HARTMANN [N1coLA1]). - Günter Jacoby, A ll gemeine Ontologie der Wirklichkeit, I (4 fases.), 1 9281 93 2 . - Moritz Schlick, Les énoncés scientifiques et la réalité du monde extérieur, 1 934. - Alfred J. Ayer, The Foundations of Empirical Knowledge, 1 940. Roman Ingarden, Spór oistnienie swiata, 2 vais., 1 94 71 948; 2ª ed., 1 960- 1 96 1 ( ed. alemã muito elaborada: Der Streit um die Existenz der Welt, 3 vais. em 4 tomos, 1 964- 1 974) (A controvérsia sobre a existência do mun do). - Ottokar Braham, Das unmittelbare Wissen ins besondere um die materielle A ussenwelt, 1 959. Don Locke, Perception and Our Knowledge ofthe Externai World, 1 967. Wilhelm Halbfass, Descartes ' Frage nach der Existenz der Welt, 1 968. R. Zimmermann, Der "Skandal der Philosophie " und die Semantik. Kri tische und systematische Untersuchungen zur analytis chen Ontologie und Erfahrunstheorie, 1 9 8 1 . B. Aune, Knowledge of the Externai World, 1 99 1 . q Se afirmamos 'q' e concluímos que com isso se afir ma p obtemos uma inferência incorreta; em símbolos: '
',
p -'; q q p Essa inferência incorreta recebe o nome de "falá cia da afirmação do conseqüente". Ela pode ser enten dida de um modo intuitivo com o exemplo: Se tenho dor de cabeça (então) tomo aspirina Tomo aspirina Tenho dor de cabeça. Pode-se ver que "não há razão" pela qual quando e sempre que tomo aspirina tenho dor de cabeça; eu poderia, em princípio, tomar aspirina sem ter a menor dor de cabeça.
FALÁCIA DA NEGAÇÃO DO AN TECEDENTE. Consideremos o condicional, em símbolos: p -'; q Se negamos 'p ' e concluímos que com isso se nega ' q ' , obtemos uma inferência incorreta; em símbolos: p -'; q lp lq Essa inferência incorreta recebe o nome de "falácia da negação do antecedente". Ela pode ser entendida de um modo intuitivo com o exemplo: Se tenho dor de cabeça (então) tomo aspirina Não tenho dor de cabeça Não tomo aspirina. Pode-se ver que "não há razão" pela qual eu deva deixar de tomar aspirina se não tenho dor de cabeça; eu poderia, em princípio, tomar aspirina sem ter a menor dor de cabeça.
FALÁCIA GENÉTICA. Costuma-se chamar deste modo o tipo de raciocínio que tenta dar conta de algo
mediante uma descrição do processo que esse algo se guiu para chegar ao estado em que se encontra e que se trata justamente de explicar. Dizemos ' algo' porque quando se fala simplesmente de falácia genética não fica claro aquilo sobre o que se supõe que se comete a falácia. Pode-se tratar, com efeito, de realidades ou de proposições referentes a realidades e, especificamente, de teorias. Caso se trate de alguma realidade, diz-se que se comete uma falácia genética quando, para expli car sua estrutura, se apela para o processo que precedeu a formação dessa estrutura. De acordo com isso, come te-se uma falácia genética quando se tenta explicar a estrutura do sistema solar mediante uma mera descrição de sua formação, ou quando se tenta explicar a estrutura das relações humanas de parentesco mediante uma mera descrição de sua evolução ao longo da história. Embora uma descrição da formação do sistema solar possa ser pertinente para entender a estrutura de tal sistema, su põe-se que urna compreensão adequada dessa estrutura implica uma referência a leis fisicas. De modo similar, embora uma descrição da história das relações humanas de parentesco possa ser pertinente para uma compreen são dessas relações. supõe-se que um entendimento ade quado delas pressupõe uma referência a leis antropoló gicas (e possivelmente biológicas). O mais comum é falar de falácia genética em rela ção a alguma proposição ou teoria (mesmo que se en tenda que toda proposição ou teoria é proposição ou teoria de alguma realidade, ou de alguma estrutura real). Dada uma teoria T, diz-se que se comete uma falácia genética quando se tenta expl icar o significado, o alcan ce explicativo etc. de T apelando para as condições ou circunstâncias, geralmente humanas e históricas, que con tribuíram para a formulação de T. A falácia genética é aqui, pois, uma apelação a fatores extrateóricos, e fre qüentemente extracognitivos. Aqueles que se opõem a toda falácia genética rela tiva a T consideram que é possível reconstruir T meto dologicamente de um modo intrateórico, o que significa considerando unicamente fatores "lógicos" (que po dem, e costumam, incluir verificações e comparações de T com a experiência). Evidenciou-se que, quando se se presta atenção aos processos de descoberta de T, a gênese de T não é alheia à explicação do significado de T, de modo que apelar para sua gênese nem sempre é necessariamente - embora às vezes possa sê-lo cometer uma falácia genética. Esta última opinião se funda ou no postu lado de uma lógica da descoberta ( vER) ou na idéia de que a estrutura lógica e metodoló gica de T é apenas uma parte, por mais importante que seja, de T. A questão de se cometer ou não uma falácia gené tica aponta para o debate entre aqueles que consideram legítima a divisão entre um contexto de descoberta e um contexto de justificação, ou validação, e aqueles
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que consideram essa divisão inoperante em todos os casos ou apenas em alguns casos. Os que mantêm com todo o rigor a distinção apontada costumam acusar os que não a mantêm de cometer falácias genéticas. Os que não defendem a distinção, ou a atenuam, indicam que ape lar para a "gênese" - que é, na maioria dos casos, apelar para os processos de descoberta - não constitui uma falácia.
FALÁCIA IDEALISTA. Em um sentido análogo ao que demos à falácia naturalista (vrn) como passagem indevida de expressões nas quais figura ' . . . é .. .' para expressões nas quais figura ' . . . deve .. .' (ver ' É ' - ' DEvr ' ), poderíamos falar de falácia idealista. Esta consiste em inverter o processo antes mencionado e em passar inde vidamente de expressões nas quais figura ' . . . deve .. .' para expressões nas quais figura ... é . . . ' . Cabe expressar algo simi lar dizendo que em uma falácia idealista ten ta-se passar de prescrições para descrições. A expressão ' deve ' pode ser considerada uma indicação do que al guém tem de fazer para cumprir alguma norma, precei to, regra, máxima, ordem, série de instruções etc. (como nas instruções dadas para se util izar um aspirador ou para abrir uma lata; em um sistema de regras de pronún cia ou de pontuação; nas recomendações para atuar des te ou daquele modo nestas ou naquelas situações so ciais). Contudo, em nenhum desses casos ' deve ' tem o sentido de uma obrigação moral. Conseqüentemente, em nenhum desses casos se poderia falar de falácia ideal ista. Esta surge unicamente quando se dá à expres são ' .. deve .. .' um sentido moral. A falácia ideal ista pode adotar várias formas. Cabe supor que tudo o que é bom, justo etc. se realiza neces sariamente, de modo que quando se diz que algo deve ser deste ou daquele modo se enuncia que ele o será. Pode-se supor, também, que o "dever ser" está ligado ao "ser" de tal maneira que o último dependa, em sua própria existência, do primeiro. Pode-se postular tam bém que o sentido fundamental de tudo o que é é algu ma "realidade" moral. É dificil encontrar exemplos de fi lósofos que te nham cometido plenamente falácias ideal istas em qual quer uma das formas indicadas anteriormente, mas se existe algum, esse exemplo é o de Fichte. Mesmo esse autor, porém, não cometeu essa falácia no sentido de supor que o que deve ser será necessariamente, já que isso entraria em confl ito com sua idéia (ideal) da ação corajosa, da "façanha" (ver TATllANDLUNG). Com efeito, o ato puro não pressupõe nenhum obj eto, mas o "pro duz" (hervorhringt) (Ausgewiilte Werke, ed. F. Medicus, 1 [ 1 962], p. 52). A indicada falácia ideal ista está pres suposta no conceito de uma ação "que se torna possível somente por meio dessa intuição intelectual do eu auto ativo", sendo "o único conceito que une os dois mundos que existem para nós, o sensível e o inteligível" (ihid. , p. 5 1 ). Em Fichte, portanto, o "dever ser" não atua por '
si só, produzindo um "ser"; é o eu auto-ativo que faz a mediação e intervém com o fim de levar o "ser" para o "dever ser". Mas, na medida em que o fato de que algo deve ser explica por que oportunamente "é" (ou chega a ser), efetua-se o processo i nverso ao que caracterizou uma das formas da falácia naturalista.
FALÁCIA NATURALISTA. A chamada "falácia na turalista" na ética pode ser entendida sobretudo das se guintes maneiras. 1 ) Em seus Principia Ethica, G. E . Moore denun ciou o erro que, em seu entender, é cometido quando se tenta definir uma propriedade como "amarelo" nos ter mos de seus equivalentes fisicos. Pode ser verdade que quando certas vibrações da luz estimulam o nervo ótico produzem a percepção da cor amarela. E ntretanto, o olho percebe a cor e não essas vibrações de luz. Proprie dades como "amarelo" são, portanto, indefiníveis, ou irredutíveis, mesmo se podem ser correlacionadas a determinados fenômenos fisicos e fisiológicos. De modo similar, afirma Moore, comete-se um erro quando se tenta definir "bom" (ou propriedades do mes mo gênero: "justo", "mau" etc.) nos termos de outras propriedades. É verdade que as coisas que são boas tam bém são outra coisa. Desse modo, por exemplo, as coisas prazerosas são boas. Mas as outras coisas que as coi sas boas são não definem seu ser bom. Embora haja uma correlação entre o que é prazeroso e o que é bom, po dendo-se inclusive dizer que o prazer é bom, o bom não é definível mediante o prazeroso ou não é redutível a ele. Definir "bom" por meio de uma propriedade natu ral é, segundo Moore, cometer uma falácia: a falácia na turalista. "Bom" continua sendo uma propriedade, mas não é uma propriedade natural (ou é uma propriedade "não-natural"). "Bom" é uma qualidade simples, que é o que queremos dizer com "bom" sem que queiramos dizer outra coisa. Além disso, a propriedade ou qualida de de ser bom não é possuída por uma única coisa, mas por muitas. Richard Price (vER) j á denunciara as doutrinas éti cas para as quais a bondade era redutível a alguma pro priedade natural. Moore refinou as idéias de Price sobre o assunto, destacando o caráter não-analisável de "bom" e, ao mesmo tempo, o caráter não-natural de "bom" em contraposição a propriedades também não-analisáveis, mas naturais, como "amarelo". O caráter não-analisável, não-redutível e não-natural de "bom" é a única coisa que, segundo Moore, pode dar um fundamento à ética; o desconhecimento desse triplo caráter dá lugar a uma ética naturalista, que não é, propriamente, ética. Embora "bom" sej a um predicado não-natural, ao contrário de um predicado natural como "amarelo", ou de um como "prazeroso", e embora a diferença entre os dois tipos de predicados seja suficientemente radical
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para tornar impossível toda redução mútua, o fato é que Moore continua considerando-os predicados ou, me lhor, propriedades. "Bom" não é uma propriedade como "amarelo" ou como "prazeroso", mas isso apenas de monstra que é outra propriedade, ou outro tipo de pro priedade. Os juízos morais, nos quais entram termos como 'bom ' , 'mau ' , 'justo ' , ' injusto ' etc . , continuam sendo j uízos, isto é, descrições (descrições de um certo gênero de propriedades). A falácia naturalista consiste aqui em confundir esse gênero de propriedades com outro radicalmente distinto e irredutível a ele. Mas, de algum modo, tanto os j uízos morais como os juízos não morais, referentes a propriedades naturais, são formu lados dentro do mesmo tipo de linguagem, a saber, uma linguagem na qual se diz que algo é F. Curiosamente, pois, Moore poderia ser acusado de ter cometido uma falácia naturalista em outro sentido fundamental, e tal vez mais freqüentemente discutido, dessa falácia. 2) Em outro sentido se afirma cometer a falácia naturalista quando se passa de enunciados descritivos para enunciados prescritivos, ou seja, de expressões for ma ' . . . é .. .' para a forma ' . . . deve . . . ' . Tratamos dessa fa lácia no verbete ' É ' -' DEVE ' , e remetemos, além disso, ao verbete FALÁCIA IDEALISTA, que também poderia ser esquematizado sob a expressão ' Deve ' - ' é ' .
FALCKENBERG, RICHARD. Ver LorzE, RuDOLF HERMANN. FALI B IL ISMO. Uma das formas do probabilismo ( vER) contemporâneo é o que Peirce ( vrn ) chama, refe rindo-se à sua própria doutrina, de falihilismo OVTaoía) foi concebida como uma atividade da mente por meio da qual são pro-· Ver: 1 . L. Marres, De FavoriniArelatensis vita stu diis scriptis, 1 8 5 3 . - 1. Gabrielson, Ueber Favorinus und seine n avToÔam'l ÍcrTopía, 1 906. - Exposições em A. Goedeckemeyer, Geschichte des griechischen Skeptizismus, 1 905, 248ss., e L. Robin, Pyrrhon et le scepticisme grec, 1 944, 1 54 e 230. - A. M. loppolo, "The Academic Position of Favorinus ofAre late'', Phro nesis, 38 (2) ( 1 993), 1 83 -2 1 3 . C:
FAVRE, FRANÇOIS. Ver LIBERTINOS. FAWCETT, EDWARD DOUGLAS. Ver IMAGINAÇÃO. FAZIO-ALLMAYER VITO. Ver GENTILE, G1ovANNI . F É . No início d o verbete CRENÇA, aludimos à questão da fé, pois em muitos textos filosóficos os termos 'cren ça' e ' fé ' são utilizados aproximadamente com o mesmo significado. Assim, a expressão 'creio para compreen der' pode ser traduzida por 'tenho fé para compreender' . O vocábulo ' fé ' é às vezes preferido a 'crença ' . Damos a seguir alguns exemplos. Em certas ocasiões utiliza-se ' fé ' para traduzir o vo cábulo alemão Glaube (que também significa 'crença' ) . Dois exemplos são notórios. Por u m lado, emprega-se ' fé' na expressão ' filosofia da fé ' , que designa o pensa mento de Jacobi e de autores de tendências análogas, isto é, de todos os que consideram a fé uma fonte de co nhecimento supra-sensível ou uma apreensão direta (me diante "intuição intelectual") do real enquanto tal . Por outro lado, emprega-se ' fé ' na frase 'tive de deslocar a razão para dar lugar à fé ' que aparece em Kant. Deve-se observar que esse uso de ' fé ' em vez de 'crença' é resul tado de um simples costume terminológico. Com efeito, em outros casos nos quais Kant fala de Glaube (como quando distingue pragmatischer Glaube, notwendiger Glaube e doktrinaler Glaube) esse vocábulo costuma ser vertido por 'crença' . E a expressão ' filosofia da cren ça' no caso de Jacobi não seria menos aceitável que a mencionada ' filosofia da fé' . Por outro lado, não s e trata d e u m mero costume terminológico quando se usa ' fé ' para designar algo distinto de 'crença' . Dos vários exemplos possíveis aqui mencionamos quatro. Um deles é o que atribui a 'cren ça' um significado mais amplo que a ' fé ' . Nesse caso, a crença é tomada como uma asserção - com conven cimento íntimo da verdade e até evidência desta - de caráter muito geral, dentro da qual a fé é considerada uma variante religiosa. Outro é o que pretende distinguir
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formalmente crença e fé indicando que são dois tipos irredutíveis do crer. A isso se refere Gabriel M arcel ao destacar - sobretudo em Le Mystere de l 'Être - que, enquanto a crença é um "mero" crer que, a fé é um crer em. Não há na fé, portanto, um encerramento em um universo dado no qual a fé se refere a conteúdos especí ficos que se crêem, mas um abrir-se para possibilidades nas quais se crê (e, também se poderia dizer, nas quais se espera). Por isso a fé abarca, segundo Marcel, a estru tura fundamental da pessoa, entendida como estrutura interpessoal e intersubjetiva. Outro caso é a definição de ' fé ' como o conteúdo da crença. Outro, por fim, é aquele no qual a fé é definida como uma virtude teologal (junta mente com a esperança e a caridade). Esta última signi ficação é a mais própria da teologia, mas, como exerceu uma notável influência em vários usos do vocábulo ' fé' na literatura filosófica, daremos sobre ela maiores de talhes e exporemos, além disso, várias distinções pro postas pelos teólogos. A base principal para a última concepção de fé men cionada é a famosa passagem de São Paulo (He breus , 1 1 , 1 ) na qual a fé, TrÍoTIS, é definida como EÀmÇoµÉvwv
ÚTTÓOTams, TTpayµáTwv EÀEYXºS ou [3ÀrnoµÉvc..w, a substância das coisas que se esperam e que nos con vence das que não podemos ver. Esta passagem foi co mentada por muitos teólogos. Enh·e eles, por Santo Tomás, que sustenta qu e a fé ,fides , é um hábito da mente por meio do qual a vida eterna começa em nós na medida em que torna possível que o intelecto dê seu assentimen to a coisas que não se vêem. A fé é, por causa disso, uma evidência, distinta de toda opinião ou suspeita, às quais falta a adesão firme do entendimento. A vontade é levada ao assentimento pelo ato do entendimento ge rado pela fé (cf. S. theo/., II-lia, q. I V, 1 e 2c). Com isso, a fé, embora impossível sem a firme adesão e assenti mento do entendimento, não é algo meramente "subje tivo", ao menos no sentido moderno desse termo. Nessa idéia de fé se basearam as aludidas distinções teoló gicas. Entre as mais importantes figuram as duas se guintes; a distinção entre .fé? implicita efé explícita e a distinção entre (;; co nfitsa e fé distinta . A fé implícita é a fé em uma verdade contida em outra verdade que é obje\o de fé exp lícita, de tal modo que a crença explí cita na segunda verdade implica a crença implícita na p r imei ra. A fé c o n fus a é a fé do "simples crente", que vive em uma "comunidade de fé", >em que pareça n e cessário passar do viver a fé ao conhecimento dela. A fé distinta é a fé do "douto", que aspira a um conheci mento que, sem separar-se da fé, contribua para sua precisão na medida do possível. Como se pode observar, não é legítimo equiparar - como às vezes se fez - a fé implícita com a confusa e a fé explícita com a distinta. Aqueles que sustentaram essa equiparação definiram ' implícito ' no sencido de 'o que ainda não está esclare-
cido' e ' explícito' como ' o que j á foi esclarecido ' , es quecendo, por conseguinte, que a relação entre fé implí cita e fé explícita não é urna relação entre menor e maior clareza, mas uma relaç ão de implicação. :> Sobre a relação entre saber e fé, e razão e fé: Th. Heitz, Essai historique sur les rapports entre la philoso phie et la foi, 1 909. -- Henri Delacroix, La religion et lafoi, 1 92 1 . - ld., Foi et Science au Moyen Âge, 1 926. - George Galloway, Faith and Reason in Religion, 1 927. - W. Betzendõrfer, Glauben und Wissen hei den grossen Denkern des Mittelalters, 1 93 1 . - A. Lang, Die Wege der Gaubensbegründung hei den Scholastikern des XIV Jahrhunderts, 1 932. - Dorothy M ary Emmet, Phi losophy and Faüh, 1 936. - B. Martinetti, Ragione e fede, 1 942. - R. C. Roberts, Faith, Reason, and His tory: Rethinking Kierkegaard s Philosophical Fragments, 1 986. - R. H. Nash , Faith and Reason: Searchingfor a Ralional Faith, 1 988. - D. Hoitenga, Faith and Reason from Plato to Plantinga, 1 99 1 . - W. J. Abraham, ed., How to Play Theological Ping-Pong: And Other Essays on Faith and Reaso11, 1 99 1 . Sobre os fundamentos filosóficos da fé: M . J. Brad shaw, Philosophical Foundations ofFaith, 1 94 1 . -- Nels Ferré, Faith and Reason , 1 946. -- K. Bendall e F. P. Ferré , faploring the Logic of Faith: A Dialogue on the Relation ofModem Philosophy to Christian Faith, 1 962. - James Richmond, Faith and Philosophy, 1 966. Andrew J. Burgess, Passion, "Knowing How ", and Un derstanding.· An Essay 011 the Concept of'Faith, 1 975. Sobre a natureza da fé : C ha rles J. Callan , What is Faith ?, 1 947. - A Decout, L 'ac te defoi. Ses éléments /ogiques. Ses é/éments psyclwlogiques, 1 947. - R. Au b e rt, Le probleme de / 'acte defoi, 1 952. - H. Dumé ry, foi et interrogatio n, 1 95 3 . - R. R. e H. R. Niebuhr, Faith on Earth: An Inquüy into the Structure of'Human Faith, 1 989. -- E. S. Radcliffe e C. J. White, eds. , Faith in Theory and Practice, 1 993. Sobre a fé como "crença filosófica": Hans Reiner, Das Phiinomen des G/aubens dwgestellt im Hinblick auf'das Problem seines metap hys isch en Gehalts, 1 934. -- G. C. Meilaender, Faith and Faithf'ulness: Basic The mes in Christian Ethics, 1 99 ! . Sobre a relação entre o conhecimento filosófico e a verd ade religiosa: Erich Frank, Philosophical Unders tanding and Re!igious Truth, 1 945. - R . M. Adams, The Virtue of' Faith and Other Essays in Philosophica! Theo!ogy, 1 987 . - L. Dornisch, Faith and Philosophy in the Writings of' Paul Ricoeur, 1 99 1 . Sobre o conhecimento da fé : H . Brunner, O{f'en ba rung und Vernunfi. Die Lehre von der christlichen G/aubenserkenntnis, 1 944. Sobre a psicologia da te: P. Leonel Franca, La psi cologia de la .fe, 1 934. Sobre a fé em Santo Agostinho : M . Ui hrer, Der Giaubensbegriffdes hl. Augustinus in seinen ersten Sch rifien zu de n Confessiones, 1 95 5 . .
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Sobre a graça e a luz da fé em Santo Tomás: Anselm Stolz, Glaubensgnade und Glaubenslicht nach Thomas von Aquin, 1 93 3 . - 1. Barad, Consent: the Means to an Active Faith According to St. Thomas Aquinas, 1 992. Sobre a fé em Pascal : Jeanne Roussier, Lajoi selon Pascal, 2 vols., 1 950. Sobre a fé na "segunda escolástica": E. G. Mori, Il motivo delta fede da Caetano a Suarez, 1 95 3 . - Ver também a bibliografia do verbete CRENÇA. e
FÉ MÁ. Ver MÁ-FÉ. FECHNER, GUSTAV THEODOR ( 1 80 1 - 1 887). Nas cido em Gross-Sãrchen bei Muskau (N iederlausitz, Prússia), foi professor de tisica na Universidade de Leipzig a partir de 1 834. Em 1 83 9 foi obrigado, por motivo de saúde, a suspender seu ensino e durante três anos -· chamados de seus "anos de crise" - dedicou se a desenvolver seu pensamento, especialmente sobre questões psicológicas e religiosas. É característica da filosofia de Fechner a intenção de elaborar um sistema metafísico de base indutiva. A metafisica não é, para ele, um saber absoluto a priori, como sustenta a filosofi a romântica, mas tampouco é algo que se deva eliminar forçosamente do espírito hu mano, como pretende o positivismo. A ciência natural proporciona uma série de imagens do universo por meio das quais o pensador pode se elevar no mundo do que não pode ser diretamente experimentado. O fato da exis tência do psíquico nos seres vivos não permite que essa qualidade seja negada na natureza inorgânica, pois o tisico e o psíquico não são realidades distintas e irredu tivelmente opostas, mas aspectos de uma mesma reali dade essencial, assim como um semicírculo apresenta, do ponto de vista daquele que o observa, o lado côncavo e o convexo. O universo é, por conseguinte, uma reali dade única, um conjunto de seres finitos que têm seu suporte na infinitude de Deus. Este é, por assim dizer, o continente do conteúdo do mundo, o qual se mostra em todas as suas partes como um conj unto vivificado. Essa animação de todos os seres do universo se diferen cia por seu grau, desde a consciência inferior daquilo que aparece para nós como inorgânico até a superior consciência divina. Cada alma superior contém a infe rior, mas suas distintas condições não representam ne nhuma descontinuidade nesse pampsiquismo universal; elas são simpl esmente o modo de ligação de uma série de realidades essencialmente idênticas. Os próprios as tros são seres animados, na medida em que possuem em si mesmos uma unidade interna. Desse modo, a Terra possui uma alma que contém as almas dos ho mens, assim como a alma da Terra está contida na alma do universo, que é a própria divindade. Fechner opõe esta "visão diurna" à "visão noturna" da ciência natural mecanicista, que resolve o universo em quantidade e em medida sem levar em conta a realidade das chama-
FECHNER, GUSTAV THEODOR
das "qualidades secundárias", sem dar a devida atenção ao fato da existência universal da vida psíquica. Sob esse titulo, a "visão diurna" não é o produto de uma dedução racional nem de uma intuição intelectual que encontra o Absoluto de uma vez para sempre: é o resul tado de uma reflexão sobre a Natureza suscetível de progresso indefinido. O mecânico, por conseguinte, não é rejeitado na concepção de Fechner, mas concebido como a manifes tação do que é animado. Deste modo, Fechner pôde re lacionar a metafisica do pampsiquismo (vER) com uma psicologia experimental, com uma psicofisica que obte ve seu triunfo mais destacado na formulação matemá tica da chamada lei de Weber-Fechner. A psicologia obteve imediatamente a primazia na influência exerci da por Fechner; a ela se seguiu sua estética de tendência psicologista e apenas de um modo relativo a metafisica. Sob esta influência encontram-se o psicólogo holandês Gerardus Heymans (vER), em parte Friedrich Paulsen (vER), assim como Bruno Wille (ver MONISMO). :> Obras: Das Büchlein vom Leben nach dem Tode, 1 83 6 (O pequeno livro da vida depois da morte). Ueber das hOchste Gut, 1 846 (Sobre o Bem supremo). - Nanna oder über das Seelenleben der Pflanzen, 1 848 (Nanna ou sobre a vida psíquica dasplantas). -- Zend Avesta oder über die Dinge des Himmels und des Jen seits, 1 85 1 (Zend ,1vesta ou sobre as coisas do céu e do além). - Ueber die physikalische und philosuphische A tomenlehre, 1 85 5 ; 2ª ed., rev., 1 864 (Sobre a doutrina atômicafísica efilosófica). - Elemente der Psychophy sik, 2 vols., 1 860. - Ueber die Seelenfrage, ein Gang durch die sichtbare Welt, um die unsichbare zufinden, 1 86 1 (Sobre o problema da alma. Viagem através do mundo visível para descobrir o mundo invisível). Die drei Motive und Gründe des Glaubens, 1 863 (Os três motivos e razões da fé). - Zur experimentalen Aesthetik, 1 873 (Para a estética experimenta[). - Eini ge Jdeen zur Schopjimgs. und Entwicklungsgeschichte der Organismen, 1 873 (Algumas idéias sobre a história da criação e do desenvolvimento dos organismos). Vorschule der Aesthetik, 1 876 (Curso e/ementar de esté tica). - ln Sacher1 der Psychophysik, 1 877 (Nas coisas da psicofísica). - Die Tagesansicht gegenüber der Nach tansicht, 1 879 (A visão diurna diante da visão noturna). - Revision der Hauptpunkte der Psychophysik, 1 882 (Revisão dos pontos capitais da psicofísica). "Ueber die psychophysischen Massprinzipien und das Webers che Gesetz", Philosophische Studien, VI ( 1 887) ("Sobre os princípios psicofisicos da massa e a lei de Weber"). Koliektivmasslehre ( Teoria da massa coletiva), pós tuma, ed. por G . E Lipps, 1 897. -- Sob o pseudônimo àe Doctor Mises, Fechner publicara uma série de obras, algumas delas de caráter fantástico-humorístico: Beweis, dass der Mond aus Jodine bestehe, 1 82 1 (Demonstração -
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Fl�DON DE ÉLIDA
de que a Lua éfeita de iodeto) . - Panegyrikus derjetz tigen Medizin und Naturgeschichte, 1 822 (Panegírico da medicina atual e História natural). - Strapelia mix ta, 1 824. - Vergleichende Anatomie der Engel, 1 825 (Anatomia comparada dos anjos) . - Rdtselhiichlein , 1 8 78 (O pequeno livro dos enigmas). - Também um tomo de poesias: Gedichte, 1 84 1 . Ver: J. E. Kuntze, G. Th. Fechner, 1 892. - Theodor Simon, Leih und Seele hei Fechner und Lotze ais Ver treter zweier massgehender Weltansschauungen, 1 894. - K. Lasswitz, G. Th. Fechner, 1 896; 2ª ed. , 1 902. W. Wundt, G. Th. Fechne1: Rede zur Feier seines hun dertjdhrigen Gehurtstages mil Beilagen, 1 90 1 . - R. Liebe, Fechners Metaphysik. !111 Umriss dargestellt und heurteilt, 1 903. - A . Goldschmidt, Fechners metaphy sische Anschauungen, 1 903 (tese ). - Hans Freuden reich, Fechners psvchologische Anschauungen , 1 904 (tese). - B. Leisering, Studien zu Fechners Metaphy sik der Pfànzenseele, 1 907. - K. von Hollander, Ueher die Bedeutung von Fechners Nanna flir die Gegenwart, 1 908 (tese). - S. Hochfeld, Fechner ais Religion1phi losoph, 1 909. - E. Dennert, Fechner ais Naturfàrscher und Christ. Ein Beitrag zur Kritik des Pantheismus, 1 9 1 3 . - H. Adolph, Die Weltanschauung G. Th. Fech ners, 1 923. - E. Wentscher, Fechner und Lotze, 1 924. - J. Hermann, Fechner, 1 926. - F. A. E. Meyer, Philo sophie, Metaphysik und christlicher Glauhe hei G. Th. Fechner, 1 937 (tese). - L. e H. Sprung, "Weber-Fe chner-Wundt", em W. Meischncr e A. Metge, eds . , W Wundt, 1 980, pp. 282-30 1 [sobre o pampsiquismo de F. ] . - M. Thiel, F., Emerson, Feuerhach, 1 982. - M . E. Marshal l, "Physics, Metaphysics and Fechner's Psy chophysics", em R. Woodward, M. Ash, eds., The Pm hlematic Science: Psychology in l 9th Century Thought, 1 982. - L. e H. Sprung, G. Th. F. in der Geschichte der Psychologie, 1 987. C
FÉ DON DE ÉLIDA, discípulo de Sócrates e persona gem principal no diálogo de Platão intitulado Fédon, fundou em É lida aproximadamente em 399 a.C. uma das escolas socráticas: a "escola él ido-erétrica'', assim chamada por ter-se estendido até Erétria, onde foi repre sentada, entre outros, pelo amigo e discípulo de Fédon de É lida, Menedemo de Erétria (VER). A escola fundada por Fédon de É lida era afim à dos megáricos (vER) mas com forte insistência nas questões morais e cívicas prá ticas. Segundo Diógenes Laércio ( I I , 1 05), Fédon de É lida escreveu dois diálogos, que se perderam, mas dos quais há notícia e alguns fragmentos em Séneca, Ep. , 94,4 1 . � Além das obras sobre a escola de Megara, e particular mente do livro de C. Mallet citados na bibliografia de M1° GAR1cos, ver U. von Wilamowitz-Moellendorff, "Phaidon von Elis", Hermes, 14 ( 1 879), 1 87- 1 93 e 476-477. C
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FEIBLEMAN, JAMES KIERN] ( 1 904- 1 987 ) . Nasci do em New Orleans ( Louisiana), sentiu vocação para a fi losofia em meio a uma vida de negócios e em grande parte como reflexão sobre a finalidade de uma existên cia consagrada à prática. Em 1 943 começou a ensinar na Universidade de Tulane, primeiro como professor de inglês e depois, a partir de 1 945, de filosofia. Em 1 976 foi nomeado Bingham Professor de Humanidades na Universidade de Louisville ( Kentucky). O pensamento de Feibleman é considerado um realismo axiológico radical. Feibleman nega qualquer separação entre ser e valor. Por outro lado, tanto o ser como o valor consti tuem um reino separado das coisas particulares, que par ticipam, platonicamente, desse reino. Isso não significa rei ficar conceitos universais; junto à influência de Pla tão marca-se em Feibleman a de Whitehead. Confron tando a sua posição com a do positivismo e do empiris mo lógicos, Feibleman pretendeu mostrar que essas ten dências são alheias a seu pensamento na medida em que este constitui um "positivismo ontológico" ou uma "ontologia finita". Para esse autor a ontologia não é um sistema de conceitos inaplicável à realidade; os argu mentos contra a ontologia afetam apenas as pretensões que esta teve de ser dogmática, absolutista e não empí rica. Os fatos de que trata a ontologia são qualidades e relações, e elas são dadas na experiência. Desse modo, a ontologia de Feibleman tenta incorporar o positivismo e o empirismo. Sobre essa base Feibleman construiu um sistema no qual a noção de "poder", identificada com a de "ser", desempenha um papel capital. O ser é o po der em si mesmo. Esse "poder" é neutro, razão pela qual devem-se examinar os modos como ele opera na relação entre o possível e o atual. Para isso, Feibleman elaborou as noções de essência, existência e destino. A essência é o poder de afetar ou de ser afetado, e tem duas dimen sões: os valores e os universais. A existência é o que afeta ou é afetado, é o resultado de uma possibilidade da existência, que se manifesta na Natureza. O destino é a direção da existência rumo à essência; esse direcio namento ocorre de vários modos, que seguem uma es pécie de lógica dos acontecimentos. Embora Feibleman considere que sua ontologia seja "verdadeira'', ele a concebe também como "aberta". Como ao mesmo tem po admite que em uma cultura existe o que ele chama de uma "ontologia dominante implícita", surge a ques tão de se sua própria ontologia não seria então o desen volvimento de uma ontologia dominante implícita parti cular. A resposta - implícita - do autor é que o posi tivismo ontológico e o realismo axiológico que ele pro pôs e desenvolveu permitem dar conta e razão da natu reza das ontologias dominantes implícitas, incluindo possivelmente a sua própria. Ver MATERIALISMO. � Obras: Science and the Spirit ofMan : A New Orde ring of Experience, 1 93 8 (em colaboração com Julius
1 005
FEIGL, H ERBERT
W. Friend). - The Unlimited Community: A Study of the Possibility ofSocial Science, 1 93 6 (com J. W. Friend). - What Science Really Means: An Explanation of the Hist01y and Empirical Method o{General Science, 1 937 (com J. W. Friend). - Christianity, Communism, and Ideal Society: A Philosophical Approach to Modem Politics, 1 937. - ln Praise of Commedy: A Study ofIts Theory and Practice, 1 939. - Positive Democracy, 1 940. An Introduction to Peirce �· Philosophy Interpreted as a System, 1 946; nova ed., An Introduction to the Philoso phy ofCh. P, 1 970. The Reviva/ ofRealism: Criticai Studies in Contemporary Philosophy, 1 946. - The Theo1y of Human Culture, 1 946. - Aesthetics: A Study of the Fine Arts in Theory and Practice, 1 949. - Ontology, 1 95 1 . Philosophers Lead Sheltered Lives: A First Volu me ofMemoirs, 1 952. - The Jnstitutions o{Society, 1 956. - Inside the Great Mirror: A Criticai Examination ofthe Philosophy ofRussell, Wittgenstein, and Their Follo:.Vers, 1 958; reimpressão, 1 969. - The Pious Scientist. Nature, God and Man in Religion, 1 958. Religious Platonism: The Injluence o/Religion on Piara and the Injluence of Plato 011 Religion, 1 959. - Foundations o/Empiricism, 1 962; reimpressão, 1 969. - Biosocial Facts in Mental I/lness, 1 962. - Mankind Behaving: Human Needs and Material Culture, 1 963. The Two-Storv World: Selec ted Writings, 1 966, ed. Huntington Caims � Moral Stra tegy: An Introduction to the Ethics of Confi"ontation, 1 967. - The New Materialism, 1 970. - Scientific Me thod: The Hypothetico-Experimental Laborato1y Proce dure of the Physical Sciences, 1 972. - The Stages of Human Lije: A Biography ofEntire Man, 1 975. - Un derstanding Civilizations: The Shape of History, 1 975. - Understanding Philosophy: A Popular Histo1y of Ideas, 1 975. - Understanding Oriental Philosophy: A PopularAccountfor the Western World, 1 976. -Adaptive Knowing: Epistemology finm a Realistic Standpoint, 1 976. - Assumptions o{Grand Logics, 1 978. - Tech nology and Reality, 1 982. From Hegel to Terrorism: and Other Essays on the Dynamic Nature of Philoso phy, 1 985. J. K. F. reuniu suas obras em um chamado "System of Philosophy" em 1 8 vols., desde Mankind Behaving ( 1 963 ). O vol . 1 trata de lógica (Assumptions of Grand Logics, 1 978), o II de ontologia ( Ontology, 1 95 1 ); conti nuando, nessa ordem: metafisica, epistemologia, ética, estética, psicologia, política, sociologia, antropologia, filosofia da vida, fi losofia da Natureza, filosofia da linguagem, filosofia da ciência, cosmologia, filosofia do Direito, filosofia da educação e filosofia da rel igião. Bibliografia: Anônimo, "Writings by J. K. F.", Stu dium Generale, 24 ( 1 97 1 ), 842-850. - R. C. Whitte more, "Writings by J. K. F. 1 922- 1 976", Tulane Studies in Philosophy, 25 ( 1 976), 1 07- 1 1 8 . Ver: Andrew J. Beck, The New American Philosophers: An Exploration o{Thought since World War II, 1 968, pp. -
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22 1 -254. - Robert C. Whittemore, ed., The Reach of . Philosophy: Essays in Honor ofJ K. F, 1 977. Obras: Theorie und Erfahrung in der Physik, 1 929 ( Teoria e experiência nafísica) . - The "Mental " and the "Physical ": The Essay and a Postscript, 1 967 ( "The 'Mental ' and the 'Physical ' " foi publicado originalmen te no vol . II de Minnesota Studies in the Philosophy of Science: Concepts, Theories, and the Mind-Body Pro blem, 1 958, pp. 3 70-497, edição de H. Feigl, Michael Scriven e Grover Maxwell). Feigl escreveu numerosos artigos, entre os quais mencionamos: "Wahrscheinlichkeit und Erfahrung", Erkenntnis, 1 ( 1 930- 1 93 1 ), 249-259 ("Probabilidade e experiência"). - "Logical Positivism'', Journal o/Phi losophy, 28 ( 1 93 1 ), 28 1 -296 (com A. E. Blumbe ;g). "Logical Empiricism'', em Twentieth Centurv Philoso phy, 1 943, ed. D. D. Runes, pp. 3 7 1 -4 1 6 . _: "De prin cipiis no disputandum . . . ?'', em Max Black, ed., Philo sophical Analysis, 1 950, pp. 1 1 3- 1 47. - "Scientific Mehod Without Metaphysical Presuppositions", Philo sophical Studies, 5 ( 1 954), 1 7-29. - "Other Minds
FEIJOO, BENITO J ERÓNIMO
and the Egocentric Predicament'', Journal ofPhilosophy, 55 ( 1 958), 978-987. - "Critique of lntuition According to Scientific Empiricism", Philosophy Easr and West., 8 ( ! 958), 1 - 1 6. - "Philosophical Embarrassments of Psy chology", American Psychologist, 14 ( 1 959), 1 1 5- 1 28. - "Mind-Body, Not a Pseudoproblem", em S. Hook, ed., Dimensions of Min d, 1 960. - "Why Ordinary Language Needs Reforming", Journal ofPhi/osophy., 54 ( l 96 1 ), 48R-498 (com G. Maxwell). - "The Power of Positive Thinking", ProceedinljS ofthe American Philo sophicalAssociation, 36 ( 1 963), 2 1 -4 1 . -- - "Physicalism, Unity of Science and the Foundations of Psychology", em P. A. Schilpp., ed., The Philosophy ofRudol{Carnap, 1 963. -- 'Trom Logical Positivism to 1-Iypercritical Rea lism", em A ctas dei XII Congreso Internacional de Fi/o so/ía (México), 5 ( 1 964), 427-436. F. colaborou em vários tornos dos Minnesota Stu dies in the Phi!osophy ofScience: "Some Maj or I ssues and Developments in the Philosophy of Science of Lo gical Empiricism", 1 ( 1 956), edição de H. Feigl e M. Scriven, pp. 3-37; "The ' Orthodox ' View of Theories: Remarks in Defense as well as Critique", 4 ( 1 966), edi ção de M. Rudner e S . Winokur, pp. 3-37; "Beyond Peacefui Coexistence", 5 ( 1 970), ed. R. H. Stuewer, pp. 3 - 1 1 . Também colaborou na edição de alguns tomos dessa série de "Estudos": 1 ( 1 956), 2 ( 1 958), 3 ( 1 962). É co-autor de duas antologias de fi losofia anal ítica: Readings in Philosophical A nalysis, 1 949 (com Wilfrid Sellars) e New Readings in Phi/osophical Analysis, 1 972 (com Wi lfrid Sellars e Keith Lehrer); e de duas de filosofia da ciência: Readings in the Philosophy of Science, 1 953 (com M . Brodbeck), e Current Jssues in the Phi/osophy os Science, 1 9 6 1 (com G. Maxwell). - Também publicou uma "Selected Bibliography of Logical Empiricism", Revue lntemationale de Philo sophie, 4 ( 1 950), 95- 1 02 . Edição d e escritos: lnquiries a n d Provocations. Selected Wrilings 1 929- 1 9 74, 1 98 1 , edição de R. S. Co hen [Vienna Circle Collection, 1 4] . Ver: Paul K. Feyerabend e G . Maxwell, eds . , Mind, Matte1; and Method: Essays in the Philosophy ofScien ce in Honor o/H F, 1 966. Obras: Theatro crítico universal o discursos varias en todo género de materias para desengano de errares comunes, 8 vais . . 1 727 a 1 739; nova impressão, 1 773. - Cartas eruditas y curiosas en que por la mayor parte se continúa el designio dei T C. U, impugnando o re duciendo a dudosas varias opiniones comunes, 5 vais. , 1 742 a 1 760; nova i mpressão, 1 774. - Seleção de Car tas eruditas por Millares Cario, 3 vais., 1 923- 1 925. Obras completas, 1 98 1 , edição de J. Caso González. - Teatro crítico universal, 1 986, edição de G. Stiffoni. Bibliografia: W. J. Cameron, A Bib/iography in Short Title Catalogs Form of Editions 1 71 9- 1 764 ofthe Wri tings ofB. J F, 3 vais., 1 98 5 . Ver: M . Morayta, E I P. Feijoa y sus obras, 1 9 1 3 . - G . Marafión, las ideas biológicas dei P Feijoa, 1 934. - G. Delpy, l'Espagne et I 'esprit européen. l 'oeuvre
1 00 7
FELICIDADE
de F. (1 725-1 760), 1 936. F. Lázaro Carreter, Las ideas lingüísticas en Espaiía durante el sigla XVJJJ, 1 949. - Arturo Ardao, La filosofia polémica de Feijoa, 1 962. - F. Lázaro Carreter, Significación cultural de F., 1 977. - VV. AA., Simposio sobre el P. F. y su sigla, 2 vols., 1 98 1 - 1 98 3 . A partir d e 1 955 a Cátedra Feijoo d a Universidade de Oviedo publica uma revista, Cuadernos. A Cátedra foi criada em 1 954 e inaugurada com uma conferência de Gregorio Maraiíón que depois foi publicada como o pri meiro Cuaderno da série. O Cuaderno n. 1 8 é resultado de um Simpósio celebrado em 1 964 por ocasião do segun do centenário da morte de Feijoo: El P. Feijoa y su sigla, 3 vols., 1 966. Em 1 972 a Cátedra criou um órgão de pes quisa chamado Centro de Estudos do Século XVIII, que por sua vez publica um Boletín e tem uma "Biblioteca Feij oniana". O Boletín e o resto das edições da Cátedra Feijoo facilitam a atualização bibliográfica. C -
FELAPTO é o nome que designa um dos modos (ver Mooo), por muitos autores considerado válido, da ter ceira Figura ( vER ) . Um exemplo de Felapto pode ser: Se nenhum automóvel é lento e todos os automóveis são úteis, então algumas coisas úteis não são lentas. Exemplo que corresponde à seguinte lei da lógica quan tificacional elementar:
(/\x ( Gx
� �
1 Hx) 11 /\x ( Gx Vx (Fx /\ 1 Hx)
�
Fx))
que, empregando-se as letras ' S ' , ' P ' e ' M ' da lógica tradicional, pode ser expressa mediante o seguinte es quema: (MeP
11
MaS)
�
SoP
em que aparece claramente a seqüência das letras ' E ' , 'A' , ' O ' , origem d o termo Felapto, n a ordem MP - M S - SP.
FELICIDADE. No verbete EuoEMONISMO nos referi mos às diversas morais chamadas de "materiais" ou "concretas" que consideram a felicidade, Evomµovía, como o supremo bem. A felicidade consiste na posse desse bem, qualquer que seja ele. Neste verbete nos estenderemos sobre o próprio conceito de felicidade, embora se deva observar que, em muitos casos, a feli cidade é definida pelos filósofos como equivalente à obtenção de um certo bem ou de certos bens, de modo que o que é dito neste verbete coincide parcialmente com o que foi indicado em EuoEMONISMO. Referir-nos-emos apenas a algumas das concepções básicas da felicidade. Aristóteles declarou que a felici dade foi identificada com bens muito diversos: com a virtude, com a sabedoria prática, com a sabedoria filo sófica, ou com todas elas, acompanhadas ou não por
prazer, ou com a prosperidade (Eth. Nic. , 1, 8, 1 098 b 24-9). A conclusão de Aristóteles é complexa: as melho res atividades são identificáveis com a felicidade. Mas, como se trata de saber quais são essas "melhores ativi dades", o conceito de felicidade é vazio, a menos que se refira aos bens que a produzem. De qualquer manei ra, Aristóteles tende a identificar a felicidade com certas atividades de caráter ao mesmo tempo intelectual e mo derado (ou, melhor, racional e moderado). Boécio tam bém se deu conta da índole "composta" da felicidade; esta é "o estado em que todos os bens se encontram j untos". A felicidade, portanto, não tem sentido sem os bens que fazem feliz. Mas já a partir de Boécio tendeu se a distinguir várias classes de felicidade (beatituda); pode-se falar de uma "felicidade animal" (que, propria mente, não é felicidade, mas, no máximo, "felicidade aparente"), de uma "felicidade eterna" (que é a da vida contemplativa), de uma "felicidade final" ou "última" ou "perfeita", que é o que se chamaria de "beatitude". Santo Agostinho falou da felicidade como o fim da sa bedoria; a felicidade é a posse do verdadei ro absoluto e, em última análise, a posse (jruitio) de Dem. Todas as demais "felicidades" são subordinadas a ela. Assim também São Boaventura, para o qual a felicidade é o ponto final e a consumação do itinerário que leva a alma a Deus. A felicidade não é então nem voluptuosi dade nem poder, mas conhecimento, amor e posse de Deus. Santo Tomás utilizou o termo beatituda como equivalente ao vocábu lo.felicitas e o definiu (S. theol., 1 , q. LXVII a 1) como "um bem perfeito de natureza intelectual". A felicidade não é simplesmente um estado de alma, mas algo que a alma recebe de fora, pois, caso contrário, a felicidade não estaria ligada a um bem verdadeiro. Embora os autores modernos tenham tratado da felicidade de uma forma distinta da dos filósofos anti gos e medievais, há algo comum a todos eles: a felici dade nunca é apresentada como um bem em si mesmo, já que para saber o que é felicidade deve-se conhecer o bem ou os bens que a produzem. Até mesmo aqueles que fazem depender a felicidade de um estado de âni mo independente dos possíveis "bens" ou "males" su postamente "externos" chegam à conclusão de que não se pode definir a felicidade se não é definido um certo bem (ainda que este sej a "subj etivo"). Kant destacou esse ponto muito c laramente ao declarar na Crítica da razão prática que a felicidade é "o nome das razões subjetivas da determinação" e, portanto, não é redutível a nenhuma razão particular. A felicidade é um conceito que pertence ao entendimento; não é o fim de nenhum impulso, mas o que acompanha toda satisfação. A maior parte das obras sobre problemas éticos (Ver ÉTICA) e sobre a questão da natureza do bem ( vER ) trata da noção de felicidade. Também se referem a ela
FÉNELON, FHANÇOIS DE SAUGNAC
DE
LA MOTHE
numerosas obras sobre os fi lósofos que mencionamos no texto. No que diz respeito a Kant, são pertinentes os comentários à Crítica da razão prática menciona dos na bibliografia do verbete dedicado a esse fi lósofo. :> Sobre o termo: Lothar Zieske, Felicitas. Eine Wortuntersuchung, 1 972. A seguir nos limitamos a mencionar algumas obras especialmente consagradas ao conceitos de felicidade e beatituda em vários autores ou em geral: V. J. McGill, The ldea of Happiness, 1 96 1 [de Platão aos nossos dias] . - J. Léonard, le bonheur chez A ristote, 1 948. - Jean Vanier, le bonheur. principe et.fin de la mora/e aristoté/icienne, 1 965. - P. Massolo, li problema de/la .felicitá in Epicuro, 1 95 1 . - Eilhelm H i mmerich, Eu daimonia. Die lehre des Plotins von der Se/bstverwir klichung des Menschen, 1 959. - M . - D. Roland-Gos selin, "Béatitude et désir naturel d' apres saint Thomas d'Aquin'', Revue des sciences théologiques et philoso phiques, 1 3 ( 1 929), 1 93-222. -- J.-M. Ramirez, De ho minis beatitudine. Tractatus theologicus, 3 vols., 1 9421 94 7 . - Robert Manzi, L'idée de bonheur dans la litté rature et la pensée françaises au XV/li'" siécle, 1 960. - M. W. Rombout, La conception stofr:ienne du bo nheur chez Montesquieu et chez que/quesuns de ses contemporains, 1 95 8 . - L. Vander Kerken, Het men selijk Geluk, 1 952. - Josep Pieper, Gliick und Kontem plation, 1 957. - Raymond Polin, Le bonheur considéré comme l 'un des beaux arts, 1 965. - Jean Cazeneuve, Bonhew· et civilization, 1 966. V. J. McGill, The ldea of Happiness, 1 967. - Giovanni Biandino, Bernard H arind et ai., Una discussione su l 'etica de/la felicitá, 1 968. - Paul Kurtz, Exuberance: A Philosophy o.f Happiness, 1 977. - E. Telfer, Happiness, 1 980. - U. Schneider, Grundziige einer Philosophie des Gliicks bei Nietzsche, 1 98 3 . - J.-E. Pleines, Eudaimonia zwis chen Kant und Aristoteles. G/iickse/igkeit ais hochstes Gut menschlichen Handelns, 1 984. F. R. Berger, Happiness, Justice and Freedom: the Moral and Poli tical Philosophy ofJ Stuart Mil/, 1 984. - R. W. Hibler, Happiness Through Tranquility: The Schoo/ o/Epicunts, 1 984. - R. Warner, Freedom, Enjoyment. and Happi ness: An Essay on Moral P.1:vchology, 1 9 87. - A. O. Ebenstein, The Greatest Happiness Principie: A n Exa mination Obras: Traité de / 'éducation des filies, 1 687. Exp/ication des maximes des Saints sur la vie intérieure, 1 697. - les aventures de Télémaque, 1 899. Dé monstration de / 'éxistence de Dieu et de ses attributs tirée des preuves intelectue/les et de / 'idée de / 'infini même, 1 7 1 2 . - Dialogues des morts, 1 7 1 2 . - Dialo gue sur l 'éloquence, 1 7 1 8 . - Ré.futation du systeme de la nature et de la grâce, 1 720 (em oposição a Malebran che ). - Fab/es, 1 734. - Vários escritos fi losóficos (entre eles a Demonstração etc.) apareceram no volume Oeuvres phi/osophiques, 1 7 1 9. Obras completas. Oeuvres completes, 1 O vols. (Paris, 1 848- 1 852). Correspondência: Correspondance de F. , edição de Jean Orcibal, 5 vols., 1 972ss. - Mme. Guyon et Féne lon, La correspondance secrete, 1 982. Ver: A. Chérel, F. au XVIII' siecle en France, son pres tige, son influence, 1 9 1 7. - !d., F. et la religion du pur amour, 1 934. - G. Joppin, F. et la mystique du pur amour, 1 93 8 . - E. Carcassone, F., / 'homme et / 'oeuvre, 1 946. - K. D. Little, F. de F., 1 95 1 . - J.-L. Goré, La notion d 'ind(flerence chez F. et ses sources, 1 956. - Robert Spaeman, Reflexion und Spontaneitii.t. Studien iiber F. und seine Wirkungsgeschichte, 1 964. - H . Hillenaar, -
FENOMENISMO
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F. et les Jésuites, 1 967. - Pietro Zovatto, F. e il quietis mo, 1 968. - Henri Gouhier, F. philosophe, 1 977. C
FENIAS (FAINIAS). Ver EsTóicos. FENOMENISMO. Chama-se de "fenomenismo" e também, às vezes, "fenomenalismo" - as doutrinas que se fundam nas seguintes teses: 1 ) todas as realidades são fenômenos (ver FENÔMENO); não há nenhuma reali dade "em si" que se encontre além dos fenômenos ou seja subj acente a eles; 2) há realidades em si, mas estas são incognoscíveis; a única coisa que pode ser conhe cida são os fenômenos, ou as realidades enquanto fenô menos; 3) não é necessário sustentar nem que há nem que não há realidades em si subj acentes aos fenômenos, e tampouco que há somente fenômenos: afirma-se apenas a possibilidade de reconstrução lógica a partir de fenômenos ou de experiências sensíveis. As teses !) e 2) são afirmações ao mesmo tempo ontológicas e epistemológicas, com o predomínio do aspecto ontológico em 1 ) e do aspecto epistemológico em 2). Algumas variantes de 3 ) têm traços ontológicos, e quase todas as variantes têm traços epistemológicos, mas se podem real izar esforços para eliminar parcial mente - ou até totalmente - tais traços. As doutrinas fenomenistas foram freqüentemente classificadas em metafisicas (ou ontológicas) e episte mológicas ou gnosiológicas. O fenomenismo metafisico (ou ontológico) afirma que não há coisas em si; o gnosiológico afirma que, se há coisas em si, elas não podem ser conhecidas. Essas duas espécies de fenomenismo combinam-se com fre qüência no mesmo filósofo. Certos autores, especial mente os de tendência positivista e empirista, negam que seu próprio fenomenismo possa ser qualificado de me tafisico (ou ontológico) ou gnosiológico; a interpreta ção metafisica (ou ontológica) ou gnosiológica é, para eles, posterior à atitude fenomenista; esta consiste em aceitar "o dado" (vER) como fenômeno (VER) e este como o que é percebido ou perceptível ou (segundo a expres são de J. Stuart Mill) como "possibilidades permanen tes de sensação". Este último tipo de fenomenismo algu mas vezes recebe o nome de "radical" ou "absoluto". As doutrinas fenomenistas são abundantes na his tória da fi losofia. Entre os filósofos antigos podem ser considerados fenomenistas muitos sofistas e céticos. O fenomenismo antigo é em geral realista, isto é, admite que os fenômenos são a realidade e não distingue, por tanto, uma suposta realidade em si de seu aspecto ou de seus aspectos fenoménicos. Entre os filósofos mo dernos são fenomenistas vários empiristas; os mais des tacados são Hobbes, Berkeley e Hume. O fenomenismo de Hobbes é mecanicista, ou, melhor, seu fenomenismo - a idéia de que "tudo o que computamos são apenas nossas representações" (phantasms) está justaposto -
a seu mecanicismo, provavelmente mais fundamental que o primeiro. O fenomenismo de Berkeley é idealista e espiritualista; o de Hume pode ser qualificado de "sen sacionista". Também são fenomenistas de tipo "sensa cionista" autores como Condillac e vários "ideólogos" (vER). Uma das possíveis interpretações de Kant faz desse autor um filósofo fenomenista; isso ocorre quando se insiste em que para Kant o númeno ou coisa em si (VER) é no máximo um conceito-limite. O próprio Kant consi dera sua posição um idealismo transcendental, mas o ca ráter fenomenista desse idealismo pode ser acentuado. Isso certamente se choca com uma dificuldade: esquecer que para Kant as aparências (ver APARÊNCIA) são conjun tos de representações, e esquecer que o conhecimento não se constitui simplesmente com as aparências, embora se baseie nelas. Certos positivistas, como Comte, também são fenomenistas na medida em que rejeitam o conceito de coisa e de possibilidade de explicação da coisa. O mesmo ocorre com autores como Renouvier (com seu "princípio da relatividade"), J. S. Mil! (ver supra), E. Mach, R. Avenarius e, em geral, os autores de tendência "neutralista", isto é, que afirmam que a realidade é sim plesmente o dado. Pode-se mencionar também a esse respeito Schuppe, Schubert-Soldem, J. Rehmke e algu mas das primeiras posições de Bertrand Russell, sobre tudo quando ele define 'coisa' como ' classe de aparên cias' (ou fenômenos). O fenomenismo teve seu grande auge, especialmente na época contemporânea, em autores de língua inglesa de tendência empirista (ver PERCEPÇÃO). W. T. Stace (op. cit. infra) declarou que o fenome nismo foi quase sempre uma "atitude" (a kind ofspirit or jlavour) que se revelou esporadicamente no trata mento de problemas isolados e, particularmente, de pro blemas de teoria do conhecimento e filosofia da ciência. É, pois, necessário, em sua opinião, "conferir-lhe uma metafisica". Essa metafisica foi chamada por Stace de "a teoria das células". A hipótese básica dessa metafisi ca é a seguinte: "O universo é uma pluralidade de célu las, todas elas com a mesma estrutura fundamental, em bora oferecendo, além de sua estrutura, variações em quantidade indefinida. Assim, há apenas uma espécie de realidade concreta no mundo. Desse ponto de vista [a metafisica aqui apresentada] é um monismo. Pois o universo não apenas contém células, mas é composto exclusivamente delas. Apenas as células existem" (op. cit., p. 34). O termo 'célula' é um termo metafórico de índole biológica e designa "os constituintes concretos da realidade". Assim, Stace se opõe tanto ao atomismo quando ao monadismo. O atomismo, que a matéria é con creta. O monadismo afirma que os espíritos são concre tos. Mas não há nem "concretos materiais" nem "con cretos espirituais": há apenas esses "concretos" que são as "células" (op. cit., p. 3 5 ) . Contra a tendência a fundar o fenomenismo em uma metafisica, Cosmo Guastella
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FENOMENISMO
(vER) considera que o fenomenismo (como "fenomenis mo absoluto") é essencialmente antimetafisico. Na época atual, e especialmente em autores ingleses ou de língua inglesa, o fenomeni smo é comumente tra tado do ponto de vista "lingüístico". Afirma-se sobretu do que todo enunciado sobre uma coisa ou obj eto ma terial pode ser traduzido, em princípio, em enunciados relativos a dados dos sentidos. As chamadas "coisas materiais" são vistas como construções lógicas com ba se em dados "sensíveis". Quando se examina como po de ser efetuada aquela tradução, encontram-se não pou cas dificuldades. Entre elas cabe mencionar a necessi dade de um número em princípio infinito de enuncia dos para descrever "uma coisa" de modo puramente fenomênico ou fenomenista. Há, com e feito, um núme ro em princípio infinito, ou ao menos indefinido, de "aspectos" de uma suposta "coisa". Os fenomenistas argumentaram que essa dificuldade não é suficiente para descartar o fenomenismo. Embora a tradução in dicada seja dificil, ela não é afi rma-se -- impossível. Além disso, a descrição fenomenista da realidade apro xima-se mais desta que a descrição da realidade como "coisas'', visto que estas são sempre construções. A lin guagem fenomenista, em suma, adapta-se ao dado mais que qualquer outra linguagem. Contra esta última afir mação, assinalou-se que a l inguagem não-fenomenista - por exemplo, a li nguagem comum, que fala de coi sas e de objetos - não é menos adequada que a feno menista, ao menos na medida em que diz tudo o que se propõe a dizer. "Dizer" - escreve G. J. Warnock (Ber keley, 1 953, p. 2450) - "que um enunciado não se adapta aos fatos equivale tão somente dizer que não é verdadeiro. Se digo ' há uma mesa no meu escritóri o ' , isso não se adapta aos fatos s e , por exemplo, não h á em meu escritório nenhuma mesa mas apenas uma escriva ninha. Por outro lado, se o que digo é verdadeiro, então adapta-se aos fatos exatamente ( . . . ) Há, evidentemente, um número indefinido de fatos que não estão expressos em nenhum enunciado, mas seria muito pouco razoável levantar obj eções contra um enunciado porque deixa de expressar fatos que não expressa ( . . . ) Os físicos e os fisiólogos não estabeleceram de modo nenhum que o enunciado ' Ouço um carro ' jamais é verdadeiro . O que talvez esteja estabelecido é que ao se ouvir um carro ocorre um número surpreendentemente complexo de acontecimentos fisicos; foram descobertos numerosos fatos sobre tal acontecimento dos quais as gerações an teriores sequer haviam suspeitado. Mas o enunciado 'ouço um carro ' não afirma nem nega qualquer um des ses fatos; simplesmente afirma, de modo inteiramente tautológico, o fato de que ouço um carro." Essa obj eção ao fenomenismo é lingüística. Outras obj eções à mesma doutrina são antes de caráter psicológico ou, ao menos, psicognoseológico; elas afirmam que os fenomenistas -
erram na interpretação que dão às expressões ' percep ção ' e ' ser percebido ' . Segundo W van Orman Quine (From a Logical Point ofView, 1 95 1 , pp. 44ss.), o fenomenismo e o "fisicalis mo" (ou "coisismo") fundam-se em duas ontologias cuja verdade não se pode, em última anál ise, demonstrar, mas, no máximo, pode-se escolher. A escolha não con siste simplesmente em pronunciar-se sobre o que é a realidade, mas, e sobretudo, em escolher um modo de falar sobre ela. A decisão última seria, nesse caso, de caráter pragmático; decidir-se a favor do fenomenismo ou contra ele dependeria do que se pode e do que não se pode dizer com a linguagem fenomenista em compara ção com o que pode e com o que não pode ser dito com a linguagem "fisicalista" ou "coisista". De acordo com isso, o fenomenismo não é "neutralista" (como tendiam a sustentar certos autores como Mach, Avenarius etc . ) . E l e é uma ontologia - e u m a l inguagem - - ou uma linguagem - e uma ontologia - em virtude da interde pendência entre a realidade (ou "o que existe") e o que se diz sobre a realidade (ou "o que se diz que existe"). Em oposição à maior parte das idéias sobre o feno menismo até agora examinadas, C. Ulises Moulines (vrn) propõe uma concepção chamada por ele de '·pro grama fenomenalista", que não é nem uma concepção do mundo nem, propriamente falando, uma fi losofia, mas um método . Em autores como Mach e Russell o fenomenismo tinha dimensões ontológicas e epistemo lógicas. A mesma coisa ocorria com Carnap, embora esse autor tivesse consciência de que estava desenvol vendo um "sistema construcional" (Aufbau, I, A, 1 ) aplicável a uma multiplicidade de conteúdos. Nelson Goodman foi seguramente o primeiro a co meçar a entender corretamente o fenomenismo como, segundo a expressão de Moulines, "um programa de reconstrução lógica de conceitos empíricos a partir de uma base única e homogênea constituída por experiên cias sensíveis ou ' fenômenos' " (La estructura dei mun do sensible. Sistemas fenomenistas, 1 973, p. 1 5 ). Um programa fenomenista (ou fenomenalista) aceitável, e, sobretudo, capaz de funcionar não almeja desenvolver em si mesmo questões ontológicas, epistemológicas ou psicológicas; em todo caso, quaisquer problemas onto lógicos e epistemológicos que surj am deverão ser trata dos dentro e não fora do sistema. Isso significa que não são introduzidas hipóteses "externas" relativas ao status ontológico dos elementos básicos do sistema. O fato de que tais elementos sejam "sensoriais" (fenomênicos) não permite concluir que sejam "subj etivos" (nem tam pouco "objetivos" [se por isso se entende algo contra posto ao que é "subj etivo"] ou "neutros" [se por isso se entende algo "prévio" ao que é subj etivo e ao que é obj etivo, ao psíquico e ao físico etc.]). Os termos p1imi tivos de um si stema fenomenista são, segundo Ulises
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FENÔMENO
Moulines, "aparências-para-um-suj eito", mas não como contrapostas a "coisas em si"; os "objetos", assim como os "suj eitos", são construções do sistema. Este parte dos elementos fenomênicos, ou fenomenal istas, básicos, ma5 não limita a "realidade" a esses elementos; desse modo, escreve Moulines, "uma classe de coisas-que aparecem ( . . . ) não é uma coisa-que-aparece, mas uma classe" (op. cit., p. 1 6). Aquele que constrói um siste ma fenomenalista não tem por que ocupar-se da natu reza do que é "imediatamente dado à consciência": "Ao construir um sistema fenomenalista não se trata de resolver uma questão epistemológica universal, mas de tomar uma decisão sistemática, após a qual, em todo caso, poderão ser reformuladas certas questões episte mológicas. A decisão consiste em aplicar um sistema formal no qual os indivíduos e os predicados primitivos (os quais são indefiníveis) serão, por estipulação, o pon to de partida, 'o que é imediatamente dado ' , se se prefe rir. Naturalmente, para que esse sistema mereça o quali ficativo de ' fenomenalista ' , será preciso supor, a partir defora do sistema, que os conceitos primitivos se refe rem a certos elementos sensívei s ou fenomênicos. Mas com isso não se pretende estabelecer prioridades epistê micas nem uma hierarquia de princípios cognitivos" (op. cit. , p. 1 9; a expressão 'a partir de fora do sistema' foi destacada por nós). C. Ulises Moulines apresenta, além dos sistemas de Mach, Russell (Whitehead-Nicod), Carnap e Good man, um "sistema T-S'', que consiste em uma "recons trução" do sistema de Carnap e no qual as relações pri mitivas ' T ' e ' S ' são lidas respectivamente como 'tem poralidade ' e ' semelhança' (op. cit., pp. 1 93-267). :> Ver: Wilhelm Windelband, Über Sinn und Wert des Phiinomenalismus, em Sitzungsberichte der Heidelberg. Akademie der Wissenschaften, 1 9 1 2. - Hans Kleinpe ter, Der Phiinomenalismus. Eine naturwissenschajiliche Weltanschauung, 1 9 1 3 . - Cosmo Guastella, Le ragioni dei fenomenismo, 3 vols. (I. Preliminari, 1 92 1 ; I I . La cosa in se, 1 922; III. Le antinomie, 1 923). - Calogero Angelo Sacheli, Fenomenismo, 1 926. -- Alfonso Sam martino, !!fenomenismo nel suo sviluppo storico, 1 936. - W. T. Stace, The Nature of the World: An Essay in Phenomenalist Metaphysics, 1 940. - W. F. R. Hardie, "The Paradox of Phenomenalism", em Aristotelian So ciety Proceedings, 46 ( 1 945- 1 946 ). - A. J. Ayer, "Phe nomenalism'', ibid. , 47 ( 1 946- 1 947). - W. van Orman Quine, op. cit. supra. Peter Alexander, Sensationa lism and Scientific Explanation, 1 963. - J. Foster, The Casefor Idealism, 1 982 [título enganoso: trata-se antes de um "case for phenomenalism"] . - R. L. Greenwood, "C. I. Lewis and the lssue of Phenomenalism", Philoso phy Research Archives, 1 1 ( 1 985), 44 1 -45 1 . - D. W. Aiken, "Essence and Existence, Transcendentalism and Phenomenalism: Aristotle 's Answers to the Question -·
of Ontology", Review of Metaphysics ( 1 99 1 ), 29-5 5. - L. E . Goodman, "The Trouble with Phenomena lism'', American Philosophical Quarterly, 29 (3) ( 1 992), 237-252. Para o fenomenismo em Hobbes: Bruno Wille, Der Phiinomenalismus des Th. H. , 1 888 ( tese). - Giovan ni Cesca, 11,fenomenismo di Hobbes, 1 89 l . Ver também a bibliografia de FENÔMENO. C:
FENÔMENO. O termo ' fenômeno ' provém do grego
cpmvÓµEvov (plural : cpmvÓµEva). Seu significado é "o que aparece"; ' fenômeno' equivale, portanto, a ' apa rência ' . Os fenômenos ou aparências são contrapostos por Platão à realidade verdadeira ou aos "seres", ovTa (Rep. , X 596 E et ai.). O mundo dos fenômenos ou aparências é o mundo das "meras representações", cpavTáoµaTa (ver FANTASIA). Também pode ser des crito como o mundo das "aparências": phenomena sive apparitiones (Leibniz; Gerhardt VII, 3 1 9) . Alguns au tores relacionaram o termo cpmvÓµEvov e o termo cpa ívw8m (que significa ' aparecer' , 'manifestar-se ' , ' revelar-se ' ) com outros vocábulos cuj a raiz é cpv-; assim, por exemplo (e sobretudo), com cpúc:.:i, "surgir" (daí Edição de obras - as obras de F. foram publicadas em Philosophical Works ofthe Late J F. F., 3 vols., 1 8751 888, edição de A. Grant e E. L. Lushington. O primei ro volume compreende Institutes of"Metaphysic, publi cado originalmente em 1 854. O vol. II inclui suas lições sobre filosofia grega e se intitula Greek Philosophy. O vol. I I I , intitulado Philosophical Remains, inclui os men cionados artigos do Blackwood s Magazine. Durante sua vida, F. também publicou uma breve obra com o título: Scottish Philosophy, the O/d and the New, 1 856. Ver: E. S . Haldane, J F. F., 1 894. - A. Thomson, "The Philosophy ofJ. F. Ferrier", Philosophy, 39 ( 1 964), 46-62 . -- L. Urbani Ulivi, "L'ignoranza sistematica nella filosofia di J. F. F.", Rivista di Filosofia Neo-Sco lastica, 70 ( 1 978), 440-449. e FESAPO é o nome que designa um dos modos (ver Mooo), considerado válido por muitos autores, dos si logismos da quarta figura (vER ) . Um exemplo de Fesapo pode ser: Se nenhum corpo é inextenso e todas as coisas inextensas são invisíveis, então algumas coisas invisíveis não são corpos, exemplo que corresponde à seguinte lei da lógica quan tificacional elementar: ( A x (Hx
� �
1 Gx) A A x ( Gx V x (Fx A 1 Hx)
�
Fx))
e que, empregando-se as letras ' S ' , ' P ' e ' M ' da lógica tradicional, pode ser expresso mediante o seguinte es quema: ( Pe M A MaS)
�
SoP
FEUERBACH, LUDWIG [ANDREAS]
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n o qual aparece c laramente a seqüência d a s letras ' E ' , 'A' , ' O ' , origem do termo Fesapo, na ordem PM - S M - SP.
FESTINI, N ELLY. Ver D E usrú A, ALEJANDRO OcrAv10. FESTINO é o nome que designa um dos modos (ver Mooo) válidos dos silogismos da segunda figura (vER). Um exemplo de Festino pode ser: Se nenhum sábio é corajoso e alguns nadadores são coraj osos, então alguns nadadores não são sábios, exemplo que corresponde à seguinte lei da lógica quan tificacional elementar:
(/\ x (Hx
� �
1
Gx) 11 V x (Fx (Fr: 11 1 Hx)
�
Gx))
\/ x
e que, empregando-se as letras ' S ' , ' P ' e ' M ' da lógica tradicional, pode ser expressa mediante o seguinte es quema: (PeM
11
SiM)
�
SoP
no qual aparece claramente a seqüência das letras ' E · , ' ! ' , ' O ' , origem do termo Festino, na ordem PM SM - SP.
FESTUGIERE, A[NDRÉ-MARIE] J [EAN ] . Ver L E SAlJLCHOIR. FEUERBACH, LUDWIG [ANDREAS] ( 1 804- 1 872). Nascido em Landshut (Baviera). Depois de estudar teo logia em Heidelberg e filosofia em Berlim, com Hegel ( 1 824- 1 825), continuou seus estudos em Erlangen ( 1 8261 828), onde foi Privatdozent. Não conseguiu uma cáte dra titular e viveu retirado em Bruckberg ( 1 824- 1 860) e em Rechenberg, perto de Munique ( 1 860- 1 872). Integrante da "esquerda hegeliana", foi durante al gum tempo o mais destacado e influente representante dessa tendência. Durante alguns anos, um grupo de jovens filósofos, entre os quais figurava Marx, foram "todos feuerbachianos". Alcançaram grande repercus são os seus Pensamentos sobre a morte e a imortalida de, que apareceram, anonimamente, em 1 830 e consti tuíam um violento ataque contra toda teologia especu lativa. Durante seus anos de Bruckberg, Feuerbach realizou numerosos estudos de história e de crítica re ligiosa e filosófica. Mesmo quando Feuerbach foi se afastando de Hegel, as marcas hegelianas não desapa receram completamente de seu pensamento e de seu vocabulário. Em um de seus "fragmentos filosóficos", Feuer bach escreveu: "Meu primeiro pensamento foi Deus; o segundo, a razão; o terceiro e último, o homem. O sujei to da divindade é a razão, mas o da razão é o homem" (Siimtliche Werke, edição de Wilhelm Bolin e Friedrich Jodl, II [nova ed., 1 959], p. 388). Essas palavras podem
servir de fórmula para caracterizar toda a evolução fi losófica de Feuerbach. O "terceiro pensamento" é o mais importante de sua obra e o que exerceu a maior influência. A teologia, e até a própria filosofia, deve converter-se em "antropologia", em ciência - filosófi ca - do homem, única capaz de esclarecer os "misté rios" teológicos e provar que se trata de "crenças em fantasmas". A teologia "comum" descobre seus fantas mas por meio da imaginação sensível; a teologia espe culativa os descobre por meio da abstração não-sensível, mas as duas teologias erram porque não conseguem descobrir o real. Feuerbach escreve, em seus aforismas intitulados "Para a reforma da filosofia", que se deve reconhecer que "o princípio da filosofia não é Deus, nem o Absoluto, nem o ser como predicado do Absoluto ou a Idéia; seu princípio é o finito, o determinado, o real" (op. cit. , p. 230). O infinito, em todo caso, é pen sado por meio do finito. Por isso "a verdadeira filoso fia" não se ocupa do infinito como finito, mas do fini to como infinito (isto é, do homem como realidade absoluta). Para partir desse pri ncípio, e ao mesmo tem po para chegar a esse resultado, Feuerbach considerou necessário desmascarar a teologia especulativa de He gel, pois em seu entender o fantasma da teologia percor re de ponta a ponta o pensamento hegeliano. Deve-se denunciar sobretudo a suposta obj etivação do espírito por meio da religião. Diante da tese da produção do mundo pelo espírito, Feuerbach sustenta que este últi mo não é senão o nome que designa o conjunto dos fenômenos históricos e, em última análi se, o nome que designa o universo, isto é, a Natureza, que é a reali dade primária. A inversão da tese hegeliana não impede, contudo, que se reconheça o valor do espiritual; como última e mais elevada manifestação da Natureza, o es pírito é o valor superior. O espírito porém nasce do ho mem enquanto ser natural, e todas as entidades trans cendentes não são mais que hipóstases dos conceitos humanos. O homem se di ferencia de um mero ser natu ral no fato de ser capaz de pensar seres ir.finitos, mas esse pensamento da infinitude não demonstra a efetiva existência dos universais filosóficos e religiosos. O ho mem cria seus deuses à sua imagem e semelhança; ele os cria de acordo com suas necessidades, desejos e an gústias. As formas da divindade em cada uma das cultu ras e em cada um dos homens são o signo de suas ten dências íntimas, modos de sua secreta autenticidade. Mas, justamente por causa disso, o conteúdo das reli giões não deve ser simplesmente criticado, mas com preendido. A redução da teologia à antropologia é a condição fundamenta l para a compreensão da história e do homem. A tese da naturalidade do homem ni'ío anula, para Feuerbach, a tese de sua historicidade e de sua "espiritualidade", mas essa espiritualidade já não é entendida, como em Hegel, como a participação do na tural no espírito, e sim como a concepção do espírito
FELEH BACll, Ll JDWIG IAN D H EAS]
como a última etapa, como a forma valiosa da Nature za. A crítica da religião, o estudo psicológico-histórico da origem das religiões, conduz ao ateísmo; contudo, em primeiro lugar, o ateísmo não é uma atitude natu ral, mas produto de uma realidade histórica e, em segun do lugar, esse ateísmo não consiste na supressão pura e simples da religião. O ateísmo é, para Feuerbach, o estado em que o homem chega à consciência de sua li mitação, mas, ao mesmo tempo, de seu poder. A limi tação é dada pela consciência de sua imersão na Natu reza; o poder, pelo conhecimento desse mesmo estado, pelo fato de poder libertar-se, finalmente, do transcen dente. Por isso o ateísmo de Feuerbach, nutrido de idea lismo ético, é uma negação da divindade que pretende assimilar o conteúdo das crenças, "a verdadeira e autên tica interpretação do cristianismo". Por sua assimilação do conteúdo espiritual da rel igião, por sua afirmação da plena consciência do poder e da limitação do homem, a filosofia de Feuerbach tende sensivelmente a transfor mar-se em um culto à humanidade. "A existência, a vida é o bem supremo, a suprema Natureza; o Deus primi gênio do homem" (Das wesen der Religion, Ergiinzungen und Erliiuterungen [ 1 845], S. W, VII, p. 39 1 ). Em conformidade com sua concepção do homem e da Natureza, Feuerbach desenvolveu uma teoria sen si sta do conhecimento, talvez mais acentuada pela oposição a Hegel. Todavia, a sensibilidade não é, para Feuerbach, uma negação da razão, mas seu fundamento. A razão deve ordenar o que a sensibilidade oferece; sem a razão nào há propriamente conhecimento, mas sem a sensibil idade não há nenhuma possibil idade de alcan çar o mínimo saber verdadeiro. Em sua última época, Feuerbach pareceu aderir ao materialismo (vER) tal co mo era representado, entre outros, por M oleschott. A fi losofia de Feuerbach - especialmente sua crí tica da religião dogmática e a derivação do culto à hu manidade - alcançou logo uma difusão extraordinária. Os hegelianos de esquerda, entre eles Engels e M arx, manifestaram-se em sua juventude como entusiastas feuerbachianos. Desse modo, essa filosofia influenciou não apenas a teologia protestante crítica, mas também o marxismo. À parte essas influências difusas no pensa mento geral da época, estão mais ou menos próximos de Feuerbach os seguintes autores: Max Stirner (vER), F. Th. Vischer (vrn) e, mais recentemente, Friedrich Jodl (vrn). :> Obras: De ratione una, uniwrsali, infinita, 1 828. Gedanken iiber Tod und Unsterblichkeit aus den Pa pieren eines Denkers nebst A nhang theologisch-saty rischer Xenien, 1 830 (publicado anonimamente). Geschichte der neueren Philosophie von Bacon von Vendam bis Benedikt Spinoza, 1 83 3 ; 2ª ed., 1 844; 3" ed. no vol . IV de S. W (História da /iloso/ia moderna). - Darstellung, En tll'icklung und Kritik der Leib-
1 02 4
nitz 'schen Philosophie, 1 837; 2ª ed. , 1 844 (Exposição, evolução e crítica da filosofia leibniziana). - Pierre Bayle, 1 83 8 ; 3ª ed., rev. , no vol VI de S. W - Ueber Philosophie und Christentum, em Beziehungen aufden der Hegelschen Philosophie gemachten Vorwwj' der Unchristlichkeit, 1 839 (VII, 4 l ss . ) . - Das Wesen des Christentums, 1 84 1 ; 3ª ed., 1 848- 1 849 ( ed. crítica com base nesta última por W. Schuffenhaver, 1 956). - Vor liiu/é Thesen zur Reform der Philosophie, 1 842. Grundsiitze der Philosophie der Zukun/i, 1 843. - Das Wesen der Religion, 1 845 (A essência da religião). Vorlesungen iiber das Wesen der Religion, 1 857 (Lições sobre a essência da religião). Edição de obras: Siimtliche Werke, 1 O vols., 1 8461 866; edição de W. Bolin e F. Jodl, 1 O vols., 1 903- 1 9 1 1 ; reimp . , 1 3 vols., 1 959- 1 964 (prólogo de K . Liiwith), com 3 Ergiinzung1·biinde: XI (Jugenschrifien, ed. M ar tin Sass, 1 962 [inclui bibliografia 1 833- 1 960); X I I e XIII (Ausgewiihlte Briefé, Ed. Martin Sass, 1 962 e 1 964 respectivamente). - Gesammelte Werke, 20 vais., edi ção de Werner Schuffenhauer et ai., desde 1 967, única ed. crítica existente. - Werke in sechs Biinden, l 975ss., ed. E. Thies. - Kleine Schri/ien, 1 966, ed. K. Liiwith. Em português: A essência do cristianismo, 2ª ed., 1 997. - Preleçôes sobre a essência da religião, 1 989. - Princípios da /ilosofia do fitturo, 1 98 8 . Bibl iografia: H. M . Sass, L. F. Literatur 1 9601 9 73, em H. Lübbe, H.-M. Saas, eds., A theismus in der Diskussion. Kontroversen um L. F., 1 975, pp. 263-280 [completa a bibliografia do vol. XI de Obras completas ed. por H . - M . Sass] . Ver: K. Grün, L. F., 1 874. - F. Engels, L. F. und derAusgang der klassichen deutchen Philosophie, 1 888 (trad. bras . : "Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã", em K. M arx & F. Engels, Obras esco lhidas, 1 980). W. Bolin, L. F., sein Wirken und seine Zeitgenossen , 1 890. - F. Jodl, L. F., 1 904. - Albert Lévy, La philosophie de F. et son injluence sur la litté rature a/lemande, 1 904 (tese). - Hans Aengeneyndt, Der Begriffder Anthropologie bei L. F., 1 923 (tese). S. Rawidowicz, L. Feuerbachs Philosophie. Unprung und Schicksal, 1 93 1 ; 2ª ed., 1 964. - Gregor Nüdling, Ludwig Feuerbachs Religio11.1philosophie. "Die A uflo sung der Theologie in A nthropologie , 1 936; reed. , 1 96 1 . - R. Mondolfo, F. y Marx, 1 936, reimp. em Marx y marxismo, 1 960. - Y. Ahlberg, Kristendom kritiken hos L. F., 1 947. - Henri Arvon, L. F. ou la trans/ormation du sacré, 1 95 7 . W. Schilling, F. und die Religion, 1 957. - Claudio Cesa, li giovane F., 1 963. - Henrik Jankowski, Etyka L. F. Uzródel marksistows kiego humanizmu, 1 963 (A .filosofia moral de L. F.: Rumo às fontes do humanismo marxista). - Werner Schuffenhauer, F. und derjunge Marx. Zur Entstehungs geschichte der marxistischen Weltanschauung, 1 965; --
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"
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FEYERABEND, PAUL K.
1 02 5
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--
Ver: C . C. Scherer, !. H. F. und seine Gotteslehre, 1 902. - G. Spiegal , !. H. Fichtes Lehre vom Genius, 1 927. Hildegard Herrmann, Die Philosophie !. H. Fichtes. Ein Beitrag zur Geschichte der nachhegelschen Spekulation, 1 928 (tese). - M. Horstmeier, Die Jdee der Personlichkeit bei !. H. F., 1 930. - J. Ebert, Sein und Sol/en des Menschen bei !. H. F., 1 9 3 8 . - Dimitri Najdanovic, Der Geschichtsphilosoph /. H. F., 1 940. - G. Wolandt, "!. H. F.", em 150 Jahre Rheinische Friedrich- Wilhelms Universitiit zu Bonn, 1 968 (com bibliografia). - H. Ehret, !. H. F. - Ein Denker gegen seine Zeit, 1 987. Obras: Versuch einer Kritik al/er Of/enbarung (a
1 792,
do obstáculo: sem este não há, no fundo, nem aspiração
primeira edição,
infinita nem realização. Portanto, o Eu se oferece na esfe
(Tentativa de uma crítica de toda revelação). - Zuriickfàrderung der Denkji·eiheit von den Fiirsten Europas, die sie bisher unterdriickten. Eine Rede. Heliopolis im letzten Jahre der alten Finsternis, 1 793 (apareceu anonimamente) (Pedi do de liberdade de pensamento dos príncipes da Europa que até agora a oprimiram. Discurso. Heliópolis nos últimos anos das antigas trevas). - Beitriige zur Beri chtigung der Urteile eles Publikums iiber diejiw1zàsis che Revolution. !. Zur Beurteilung ihrer Rechtnu'issig keit, 1 793 (anônimo) ( Contribuições para a emenda dos juízos do público sobre a Revolução Francesa. !. Para um.juízo de sua legitimidade) . - "Rezension von
ra prática como uma vontade que necessita de uma resis tência para continuar existindo. Sem resistência o Eu não pode independentizar-se e, portanto, libertar-se. Justa mente porque se sente limitada, a vontade pode aspirar sem descanso a suprimir sua limitação. A produção da resistência e a síntese da tensão entre ela e a aspiração infinita seguem, por conseguinte, um processo seme
lhante ao que é oferecido na doutrina teórica da ciência.
Mas o que diferencia esta última da doutrina prática, o que abre entre elas um abismo aparentemente insupe rável, é que, enquanto a dialética dos contrários exige a síntese de tal oposição, a vida humana concreta não pode,
gunda, em
1 793,
apareceu anonimamente; a se
com o nome do autor)
sem suprimir sua própria ação, chegar ao termo que re
Aenesidemus oder über die Fundamente der von Hern
presenta a completa e absoluta aniquilação do determina
Prof. Reinhold in Jena gelieferten Elementarphiloso
do pelo Eu. A doutrina prática é, pois, a seu modo, uma
phie",
nova primazia da razão prática sobre a teórica. E, se
1 794
Fichtc chega finalmente a sacrificar para a realização
tos da filosofia elementar explicada em lena pelo profes
da necessidade da dialética a infinita afirmação do Eu
sua filosofia da história. A ação incansável do Eu con
- Ueber den Begriffder Wissenschafis lehre oder der sogenannten ersten Philosophie, 1 794: 2" ed., ampl., 1 798 (Sobre o conceito de teoria da ciência ou da chamada/ilosojia primeira). - Grundlage der gesamten Wissenschafislehre, 1 794; ed. corrigida, 1802 (Fundamentos de toda a teoria da ciência). - Einige Vorlesungen iibff die Bestimmzmg des Gelehrten, 1 794 (Algumas lições sobre o destino do sábio). - Grundriss des Eigentiimlichen in der Wissenschafislehre, 1 795; ed. corrigida, 1 802 (Exposição do peculiar da teoria da ciência). - Grundlage des Naturrechts nach Prinzipien der Wissenschafislehre, 1 796 (Fundamentos do direito natural segundo os princípios da teoria da ciência).
verte-se na aspiração ao conhecimento de Deus; o pro
-
gresso rumo ao iluminismo converte-se em um processo
te Einleitung in die Wissenschaftslehre, für Leser, die
em sua luta contra
o
que lhe opõe resistência, isso não
é feito sem uma profunda transformação de sua própria concepção moral. O valor e a dignidade moral do homem consistem na marcha da progressiva desvinculação do obstáculo, que jamais deverá desaparecer sem resíduo. Porém na definitiva supressão do obstáculo reside um valor superior e transcendente: a beatitude. A passagem da teoria do esforço contínuo e infinito para a fundamentação da consciência e da lei moral em uma realidade divina superior já se revela na nova forma dada à sua filosofia da religião e na última forma de
Jaener Al/gemeine Literatur Zeitung, nn. 47-49,
("Resenha de Enesídemo ou sobre os fundamen
sor Reinhold").
"Erste Einleitung in die Wissenschaftslehre", "Zwei
que, rejeitando-o como uma queda e um pecado, parte
schon ein philosophisches System haben", "Versuch
de um estado primitivo de razão natural instintiva e che
einer neuen Darstellung der Wissenschaftslehre" (três
ga a um estado de perfeição e de santificação comple
longos artigos publicados no
tas no qual a liberdade já não é mera potência e possi
em
1 79 7 :
Philosophisches Journal
"Primeira introdução à teoria da ciência",
bilidade de ação, mas conformidade com o próprio des
"Segunda introdução à teoria da ciência para leitores
tino racional. Por isso o conceito do Eu absoluto paula
que já têm um sistema filosófico", 'Tentativa de uma
tinamente dá lugar à noção da divindade como conhe
cimento absoluto e razão absoluta. Além do eu empíri co está o Eu absoluto, mas além desse Eu está um Abso luto que não é, como cm Schelling, condição da diferen ça, e sim uma entidade transcendente: somente a dificul dade implicada na noção de um Absoluto semelhante e
- Das System der Sittenlehre nach den Prinzipien der Wissenschafis lehre, 1 798 (O sistema da moral segundo os princípios da teoria da ciência). "Ueber den Grund unseres Glaubens an eine gi:ittliche Weltregierung", Phil. Jour nal, 1 798 ("Sobre o fundamento de nossa crença em
nova exposição da teoria da ciência").
-
FICIITE .JOHANN GOTl'LIEB
1 033
•
uma providência divina"). Este último escrito, que de sencadeou a chamada "disputa do ateísmo", deu lugar a outros escritos polêmico-apologéticos de Fichte em 1 799. - Die Bestimmung des Menschen, 1 800 (O desti no do homem) . - Der geschlossene Handelsstaat, ein philosophischer Entwurf ais Anhang zur Rechtslehre, 1 800 (O Estado comercia/fechado, um esboçofilosófi co como apêndice à teoria do direito). - F. Nico/ais Leben und sonderbare Meinungen, 1 80 1 (A vida e sin gulares opiniões de F Nico/ai) . - Sonnenklarer Bericht andas Publikum über das eigentliche Wesen der neues ten Philosophie: ein Versuch, den Leser zum Verstiindnis zu zwingen, 1 80 1 (Relato claríssimo ao público sobre a verdadeira natureza da novíssima filosofia: uma ten tativa de.forçar a compreensão do leitor) . - Darstel lung der Wissenschafislehre, 1 80 1 (Exposição da teoria da ciência) . - Die Grundziige des gegenwiirtigen Zeitalters (Lições em Berl im de 1 804- 1 805), 1 806 ( Os caracteres da idade contemporânea) . - Die Anweisung zum seligen Leben (Lições de 1 806), 1 806 (Advertência para a vida beata) . - Deduzierter Plan einer zu Berlin zu errichtenden hOhern Lehmnstalt, 1 8 1 7 (escrito em 1 807) (Plano para fundar em Berlim uma instituição educativa superior) . -Reden an die deu/sche Nation, 1 808 (Discursos à naçcio alenui) . - Die Wissenschafis lehre in ihrem allgemeinen Umrisse, 1 8 1 O (Esboço ge ral da teoria da ciência) . - Ueber die cinzig mügliche Stürung der akademischen Freiheil, 1 8 1 2 (Discurso como reitor em 1 8 1 1 ) (Sobre a única possível pertur bação da liberdade acadêmica) . Edição de obras: Siimtliche Werke, por seu filho 1.
H. Fichte, 8 vols., 1 845- 1 846; reimpr. , 1 965- 1 966, 1 97 1 . - Edição de obras póstumas: Nachgelassene Werke, pelo mesmo, 3 vols., 1 834- 1 83 5 ; reimp., 1 963, 1 97 1 (compreende : !. Einleitungsvorlesungen in die Wissens chafislehre, de 1 8 1 3 ; Ueber das Verhiiltnis der Logik zur Philosophie oder transzendentale Logik, 1 8 1 2 ; Die Tat sachen der Bewuss/seins, 1 8 1 3 ; II. Wissenschaftslehre, 1 804; Wissenschafislehre, 1 8 1 2; System der Rechtslehre, 1 8 1 2 ; Ili. Sittenlehre, 1 8 1 2; Aesthetik, 1 798; Vorlesungen iiber dic Bcstimmung des Gelehrten, 1 8 1 1 ; Predigt, 1 79 1 ; Der Patriotismus und sein Gegenteil, 1 807; ldeen iiber die innere Organisation der Universitiit Erlangen, 1 8051 806; Tagebuch iiber animal Magnetismus, 1 8 1 3 ; Vermis chte Aua f iitze und Fragmente; Ueber Machiavelli). Ed. crítica completa: Gesamtausgahe, pela Bayerische
-
Akademie der Wissenschaften, a cargo de Reinhard Lauth, Hans Jacob e Manfred Zahn, I 964ss. Esta ed. é com posta por aproximadamente 30 volumes distribuídos em 4 séries: 1 ) Werke [obras publ icadas durante a vida do filósofo]; 2) Nachgelassene Schrifíen; 3) Briefe, e 4) Kollegnachschriften. - Edição de obras escolhidas: Auswa}ll, 6 vols., publ . por F. Medicus, 1 908- 1 9 1 2, nova ed., 7 vols., 1 9 1 1 - 1 92 5 . - Edição, por Hans Jacob, das Lições de lena dos anos 1 790- 1 800.
Correspondência: Ed. I. H. Fichte, 1 830; ed. M. Wei nhold, 1 862, correspondência entre Fichte e Schiller, por 1. H. Fichte, 1 847; entre Fichte e Schelling, por I. H. Fichte e Fr. A. Schelling, 1 856; edição posterior de cor respondência, por H. Schulz, 2 vols., 1 925; reedição ampl., 1 930; reed. , 1 96 7. - Ver também Wil ly Kabitz, Studien zur Entwicklungsgeschichte derfichteschen Wis senschafislehre aus der kantischen Philosophie, 1 902. Depoimento : W. G. Jacobs, J. G. F. in Selbstzeug nissen und Bilddokumenten, 1 984.
Em português: volume "Fichte'', col. "Os pensado res", 1 ed., 1 980 (contém Sobre o conceito da doutrina da-ciência ou da assim chamadafilosofia [ 1 794 ]; A dou ª
trina-da-ciência de 1794; O princípio da doutrina-da ciência [ 1 797]; O programa da doutrina-da-ciência [ 1 800] ; Comunicado claro como o sol ao grande público onde se mostra em que consiste propriamente a novíssima .filosofia [ 1 80 1 ]; A doutrina-da-ciência e o saber absoluto [ 1 80 1 ] ; Introdução à teoria do Estado [ 1 8 1 3]; traduções de Rubens Rodrigues Torres Filho). Por uma universi dade orgânica, 1 999. Traduções para o espanhol: Doctrina de la ciencia e Discursos a la nación a/emana, nos tomos 36, 37, 3 8 e 39 d a "Biblioteca Económica Filosófica"; Primera ln troducción a la teoría de la ciencia, Segunda lntroduc ción a la teoría de la ciencia ( 1 934), Caracteres de la edad contemporánea, em 'Revista de Occidente, 1 934; Destino dei hombre e Destino dei sabio, em V Suárez, 1 9 1 3 ; outra edição dos Discursos em "Americalee", 1 943. Trad. de E! conceplo de la teoria de la ciencia. De la exposición de la teoría de la ciencia de 1801 (Buenos
Aires, 1 949). - Trad. de "Plan razonado para erigir en Berlin un establecimiento de enseiianza superior que esté en conexión adecuada con una Academia de Cien cias", em La idea de la universalidad, 1 959, pp. 1 5 1 1 5 . - Antología de Fichte, por Joaquín Xirau, 1 943 . - Eds. e trads. mais recentes em espanhol : Discursos a la nación a/emana, 1 968 e 1 977; E/ destino dei hom bre, 1 976; Los caracteres de la edad contemporánea, 1 976; Reseiia de Enesidemo, 1 982; Reivindicación de la liberdad de pensamiento y oiros escritos, 1 986; lntro ducciones a la Doctrina de la ciencia, 1 987; E/ estado comercial cerrado, 1 99 1 ; Para una filosofia de la inter subjetividad, 1 99 3 . Bibliografia: Hans Michael Baumgartner e Wilhelm G. Jacobs, J. G. Fichte: Bibliographie, 1 968. - G. U. Gabei, Fichte: Ein /!érzeichnis Westeuropiiischer und nor damerikanischer Hochschulschrifien 1885-1980, 1 985. - Em relação à "disputa do ateísmo", ver: F. Bockel mann, ed., Die Schrifíen zu J. G. Fichtes Atheismus Streit, 1 969. Ver: F. Harms, Die Philosophie Fichtes nach ihrer geschichtlichen Stellung und ihrer Bedeutung. 1 862. - O. Pfeiderer, J. G. Fichte, Lebensbild eines deutschen Denkers und Patrioten, 1 8 77. - A. Spir, J. G. Fichte
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FICINO, MARS ÍLIO
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1 05 4 mais um pano d e fundo que u m verdadeiro alicerce. Quase contemporaneamente desenvolvem-se as doutri nas idealistas; a partir de Laurens Perseus Hickok ( 1 7981 888), que introduziu e expôs sistematicamente o idea lismo alemão pós-kantiano, a corrente i dealista esten de-se sobretudo com a Saint-Louis School e a Concord School o/Philosophy (ver HEGELIANISMO) . Esse idealis mo adota desde cedo diversos aspectos: é personalista (como em Bowne), especulativo objetivo (com James E. Creighton), dinâmico (como em George Sylvester Morris), absoluto (como em Royce). Sem dúvida, é a luta entre o absolutismo e o personalismo que polemi camente vivifica durante muitos anos o idealismo norte americano. Esse idealismo é tanto moral como metafísico e gnosiológico, mas, seja por esgotamento interno ou pela influência de outras correntes, especialmente das pragmatistas e realistas, o idealismo torna-se cada vez mais, como dirá Brightman, uma "filosofia dos ideais''. Desse modo, idealistas como Boodin, Cunningham, De Laguna, Sheldon ou Urban negarão o idealismo episte mológico, que considerarão supérfluo; outros o reduzirão a uma anál ise metódica (Blanshard), e outros, sem dúvi da, negarão o absolutismo do idealismo e acentuarão os momentos personalistas, temporalistas, processua listas e finitistas do real (Brightman, Hocking, Adams, Parker e vários dos citados anteriormente). Entre as cor rentes idealistas inserem-se, cada vez com mais força, as tendências que em algumas décadas alcançarão um triunfo decisivo; sobretudo o pragmatismo, que não é, porém, uma corrente unitária e se cinde em várias tendên cias segundo os distintos modos de considerar pragmati camente a inteligência. Os trabalhos de Peirce (que tam bém pertencem ao realismo e à nova lógica), a filosofia de William James, o instrumentalismo de Dewey, o pen samento de Mead, os primeiros trabalhos de Woodbridge pertencem a essas novas tendências, às quais se agrega rá logo o empirismo radical . Desde então se dão todas as combinações possíveis: idealismo empírico, pragmatis mo naturalista, instrumentalismo racionalista etc. Quanto às tendências norte-americanas mais recen tes é extremamente difícil estabelecer um i nventário. No que diz respeito às grandes figuras do passado ime diato, a influência de James e de Santayana é pouco perceptível . Por outro lado, aumentou muito a de Peirce, cuja filosofia não apenas foi explorada, mas em muitos aspectos continuada. Por ter lecionado nos EUA e publi cado naquele país algumas de suas obras filosóficas mais destacadas, Whitehead é às vezes considerado uma das grandes figuras norte-americanas, mas ele é mais estudado que seguido. A influência de Dewey tem de crescido. Autores como C. !. Lewis, M . R. Cohen conti nuam sendo muito considerados e respeitados, mas já não estão no proscênio filosófico. Grande parte do im pulso da fi losofia norte-americana nos últimos trinta
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anos veio d e fora. Depoi s dos debates dos rea l istas e neo-realistas a que nos referimos em outro verbete (ver NEO-REALISMO), o positivismo lógico, primeiramente, teve grande influência, e depois a fi losofia analítica e a filosofia da linguagem comum, principalmente a cultivada em Oxford. É indubitável que as últimas cor rentes citadas deixaram fortes marcas no pensamento filosófico norte-americano (marcas que se manifestam freqüentemente nos modos de expressão, isto é, na lin guagem filosófica adotada). Contudo seria equivocado identificar a filosofia norte-americana com determina do tipo, ou até com uma variedade de tipos, de filosofia analítica. De início, as tradições pragmatistas, especial mente as derivadas de Peirce, continuam exercendo grande influência nesse pensamento. Depois, e salvo alguns períodos de relativa concentração em determi nadas correntes, foi e aparentemente continuará a ser - típico da atividade filosófica norte-americana, ou, especi ficamente, estadunidense, o fato de acolher tendências muito variadas. A fenomenologia, a filosofia existencial e a hermenêutica são cultivadas por um bom número de fi lósofos. Hegel suscita grande interesse; menos difundidos nos meios filosóficos - ao contrário dos literários e sociológicos respectivamente - foram o estruturalismo e o marxismo. O cultivo de disciplinas filosóficas também é ecumênico, e são abundantes os trabalhos em lógica, fundamentação da matemática, fi losofia da linguagem e filosofia da ciência, mas não são descuidadas a ética, a filosofia política e, embora em menor proporção que em países como a Alemanha, França e Itália, a história da filosofia. :> Obras gerais: E . Molina, Filosofia americana, 1 9 1 2 . - L . Zea, En torno a una filosofia americana, 1 945. - !d., A mérica como consciencia, 1 95 3 . -- E. Mayz Val lenilla, "El problema de América (Apuntes para una filosofia americana)", Episteme (Caracas), 1 ( 1 957), 465-50 1 . - Francisco Larroyo, La filosofia americana; su razón y su sinrazón de ser, 1 95 8 . Obras gerais sobre filosofia hispano-americana e ibero-americana: A. Sánchez Reulet, "Panorama de las ideas filosóficas en Hispanoamérica", Tierra Firme, Ano I I , n. 2, 1 936, 1 8 1 -209, e Letras (Lima), 2º quadri mestre, 1 936, 3 1 4-33 1 . - R. Frondizi, "Panorama de la filosofia latinoamericana contemporánea'', Minerva, n. 3, 1 944. - !d., "lHay una filosofia iberoamericana?", Realidad, 3, n. 8 ( 1 948), 1 5 8- 1 70, vol . I (n. 2, j ulho agosto de 1 944), 95- 1 22 (reimp. como folheto no mes mo ano). - W. Rex Crawford, A Century ofLatin A me rican Thought, 1 944, 2ª ed., 1 96 1 . - J. Gaos, Pensa miento de lengua espaiwla, 1 945 (antologia e comen tários). - !d., El pensamiento hispanoamericano, 1 946. - R. lnsúa Rodríguez, Historia de lafilosofia en Hispa noamérica, 1 945. -- L. Recaséns Siches, Apêndice à última ed. de sua trad. da Filosofia dei Derecho, de ·-
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FILOSOFIA AMERICANA
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FILOSOFIA ANAL ÍTICA
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.
Bibliografia n o l ivro citado d e H . W. Schneider (excluindo as correntes contemporâneas a partir do neo realismo e do neonaturalismo) e em R. W. Winn, A m e rikanische Phi/osophie (Bibliographische Einfiihrungen in das Studium der Philosophie, ed. I. M. Bochenski, vol. 2, 1 948). e
FILOSOFIA ANAL Í TICA. Os nomes de ' análise ' , ' a Análise ' , ' filosofia analítica' e outros - ' análise lógica' , ' análise filosófica' etc. -- foram dados a varia dos modos de fazer fil osofia que constituem, vistos cm uma perspectiva histórica, um amplo movimento, tendência ou circuito, que inclui autores de diversas pro cedências - sobretudo das línguas alemã, polonesa e inglesa -- e passou por várias fases desde sua origem, no começo deste século. Usamos o nome de ' fi losofia analítica' por ser este o que alcançou até agora a mais ampla difusão. Os nomes ' anál ise' e ' analítico' revelam que há algo nesse movimento que se relaciona com a tendência a usar métodos próprios de várias formas da análise ( vER) clássica, mas convém distinguir esta última da própria filosofia analítica, não apenas porque muitas vezes se entende a análise de modo distinto da dos clássicos, mas também, e sobretudo, porque há em tal filosofia pressupostos e finalidades que somente são entendidos em seu próprio contexto histórico. Historicamente, a filosofia analítica surge na Ingla terra com G. E. Moore e Bertrand Russel l e, no caso de Russell, está estreitamente relacionada com os desen volvimentos na lógica desde Boole e Frege. Isso fez com que às vezes se tivesse quase identificado ' filosofia analítica' com ' lógica' (a "lógica moderna", "simbólica" ou ''matemática", que durante algum tempo foi chama da de "logística") e com que se chegasse à conclusão de que todo lógico é um filósofo analítico e que todo filósofo analítico está pelo menos interessado em lógi ca. Porém, embora isso seja verdadeiro em numerosos casos, não o é em outros: alguns consideram que a lógi ca formal é uma disciplina neutra em relação a toda tomada de posição filosófica e outros, que a filosofia é o exame da linguagem comum ou ordinária, sem re lação com o aparato da lógica formal. Na própria ori gem da filosofia analítica na Inglaterra, com Russell e Moore, temos duas das grandes orientações dessa fi lo sofia, centradas, respectivamente, na lógica ("lingua gem ideal") e na linguagem comum. Outra fonte histórica da filosofia analítica encontra se nos trabalhos que vão de Mach e Hertz até o Círculo de Viena e o positivismo lógico. A lógica e a filosofia da ciência são elementos importantes nesse desenvolvi mento, e muito particularmente a lógica, se se leva em conta também o Círculo de Varsóvia; mas não há traços simples que caracterizem esses desenvolvimentos. Des se modo, de uma perspectiva externa, podem parecer
1 05 9 insignificantes as diferenças entre o Círculo d e Viena e o primeiro Wittgenstein; contudo, vistas com maior atenção, elas podem ser consideráveis. Algumas vezes se caracterizou a filosofia analítica por uma série de "simpatias e diferenças": tendência an tiidealista, rejeição da especulação e da metafisica, aten ção a questões suscitadas na e pela linguagem, desmas caramento de problemas tradicionais enquanto confusões causadas pelas ambigüidades ou pelo uso inapropriado da linguagem comum etc. Mas, embora em muitos auto res tenha havido uma importante dose de antiidealismo (especificamente, de anti-hegelianismo), houve também, em outros, doses de fenomenismo; a rejeição da especu lação e da metafisica depende em boa parte do que se entenda por essas palavras. A atenção à linguagem mani festou-se de formas muito distintas; a linguagem comum pode produzir imbróglios, mas alguns a consideraram o ponto de partida para a análise etc. Nenhuma tendência filosófica de alguma ampli tude é redutível a traços simples ou típicos. I sso ocorre com a fenomenologia, o existencialismo, o marxismo, o estruturalismo (mencionando apenas correntes de con siderável peso no pensamento contemporâneo). A cha mada "filosofia analítica" não é uma exceção. Contudo, há "semelhanças familiares" na maior parte dos filósofos analíticos que se reconhecem na preferência por certos problemas, na escolha de certo vocabulário e de cer tos "exemplos" etc. Ora, melhor que indicar tais prefe rências e escolhas é esboçar um breve quadro histórico e complementá-lo com várias classificações propostas da "análise". Seguindo a enumeração apresentada em meu livro, Cambio de marcha en filosofia (1, 2: "Variedades dei análisis"), temos as seguintes formas, que se sucederam mais ou menos em ordem cronológica: 1) Análise lógica no sentido de Russell, com o poste rior desenvolvimento do atomismo lógico e o uso dos recursos da lógica formal. Isso conduz a tentativas de construção da chamada "linguagem ideal". 2) Simultaneamente, anál ises de Moore e seus discípu los, às vezes próx imas do "neo-realisrno". As incor reções expressas na linguagem comum são elimina das por meio de uma análise dessa linguagem, sem recorrer a linguagens formalizadas. 3) A "Liga de Mach" e o fenomenismo na Áustria, com especial atenção ao estudo da linguagem ciemífica. Originados em parte nesta tendência, formam-se o Círculo de Viena e o positivismo lógico (empirismo lógico), com forte tendência antimetafisica, divisão de todos os enunciados em tautologias e em .'!nun cia Ver sobretudo a bibliografia do verbete FILOSOFIA (His16RIA DA), na qual são indicadas várias obras de his tória geral da filosofia que também contêm uma parte contemporânea. A filosofia contemporânea, tanto em sentido amplo (desde a morte de Hegel) como em senti do restrito (séc. XX), também é tratada na maior parte das obras mencionadas na bibliografia do verbete FILO SOFIA MODERNA. Com efeito, o estudo da filosofia con temporânea é inseparável do estudo de seus temas espe cíficos; a respectiva bibliografia está nos verbetes cor respondentes. Aqui nos limitamos a assinalar algumas obras especialmente dedicadas à exposição do pensa mento atual. Ver: Guido de Ruggiero, La filosofia con temporanea, 1 9 1 2 ; 7ª ed. , 1 962. - Id., Filosofia dei Novecento, 1 934; 2ª ed., 1 942; 3" ed., 1 946. Karl Joel, Die philosophische Krise der Gegenwart, 1 9 1 4; 3ª ed. , 1 922. - T. Marvin, Recent Developments in European Thought, 1 920. - T. K. Oesterreich, Die phi losophischen Srromungen der Gegenwart, em Kultur der Gegenwart, 1, 6; 3ª ed., 1 92 1 . - R. Müller-Freien fels, Die Philosophie des 20. Jahrh. in ihren Haupstro mungen, 1 923. - E. L. Schab, Philosophy Today, 1 928. - Fritz Heinemann, Neue Wege der Philosophie. Eine Einfurung in die Philosophie der Gegenwart, 1 929. Henri Sérouya, Jnitiation à la philosophie contempo raine, 1 93 3 . - H . .1. de Vleerschauwer, Stroomingen in de hedengaagsche Wijbegeerte, 1 934. - F. Sassen, Wijbegeerte van onze Tijd, 1 934. - Ernst von Aster, Die Philosophie der Gegenwart, 1 93 5 . - Johannes Hessen, Die Geistestromungen der Gegenwart, 1 93 7. - M. E Sciacca, La .filosofia oggi, 1 945; 4ª ed. rev. e ampl., 1 963. - 1. M. Bochenski, Europiiische Philoso phie der Gegenwart, 1 947. - A. Hübscher, Philosophen der Gegenwart, 1 949 (a partir de Hegel). - H. Lafer, Tendencias filosóficas contemporáneas, 1 950. - D. M. Datta, The ChiefCurrents ofContemporary Philoso phy, s/d. ( 1 950). - J. M. Grevillot, Les grands courants de la pensée contemporaine, 1 950 (apenas existencia lismo, marxismo, personalismo cristão). - L. Land grebe, Philosophie der Gegenwart, 1 952. - W. Steg·-
FILOSOFIA CONTEMPOH Â NEA
1 072
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Na nova edição do Überweg-1-Ieinze (ver FILOSOFIA [l-11s TÓRIA DA] ) concede-se atenção especial à filosofia con temporânea em todo o mundo. Entre as "histórias nacionais" especialmente consa gradas à fi losofia contemporânea podem ser incluídas algumas das mencionadas em FILOSOFIA MODERNA. Vá rias das obras indicadas anteriormente inclusive apre sentam preferências por determinado país (em geral, o do autor). Complementaremos a informação com outros trabalhos sobre "filosofias nacionais". Para a filosofia alemã: Wil ly Moog, Die deutsche Philosophie des 20. Jahrh. in ihren Hauptrichtungen und ihren Grundproblemen, 1 922. - A. Messer, Deuts che Philosophie der Gegenwart, 1 926. - 1-Ians Lei segang, Deutsche Philosophie im 20. Jahrh . , 1 92 8 . W. Tudor Jones, Contemporwy Thought of Germany, 2 vols., 1 930. - G. Gurvitch, Les tendances actuelles de la ph ilosophie allemande, 1 93 0 . - P. Menzer, Deutsche Metaphysik der Gegenwart, 1 93 1 . - Werner Brock, An 1ntroduction to Contemporary German Phi losophy, 1 93 5 . - Gerhard Lehmann, Die deutsche Phi losophie der Gegenwart, 1 939. - W. dei Negro, Die Philosophie der Gegenwart in Deutschland, 1 942. J. Dewey, German Philosophy anel Politics, 1 942. H. Albrecht, Deutsche Philosophie heute, 1 969. - C. Sutton, The German Tradition in Philosophy, 1 974. 1-1 . M. Baumgartner, 1-1.-M. Sass, Philosophie in Deuts chland 1 945- 1 9 75. Standpunkte, Entwick/ungen, Lile ratur, 1 97 8 ; 3' ed., 1 980. - D. E. Christensen et ai., eds., Contemporary German Philosophy, 2 vols . : 1, 1 982; II, 1 98 3 . - 1-1 . Schniidelbach, Philosophie in Deutschland 183 1 - 1 933, 1 983. - E. Colomer, Historia dei pensamiento alemán. De Kant a Heidegger, 3 vols., 1 986. - F. C. Beiser, The Fale of Reason: German Philosophy from Kant to Fichte, 1 987. - J. Roberts, German Philosophy: An 1ntroduction, 1 98 8 . - H . -L . Ollig, ed., Philosophie ais Zeildiagnose. A nsiitze der deutschen Gegenwartsphilosophie, 1 99 1 . - L. Greens pan, G. Nicholson, eds., German Philosophy anel Jewish Thought, 1 992. - N. Kapferer, ed., lnnenansichten ostdeutscher Philosophen, 1 994. - Além disso: G. U. Gabei, 1ndex to Theses on German Philosophy A ccep ted by lhe Universities of Greal Britain and lreland, 1 900- 1 985, 1 990. Filosofia austríaca: W. Sauer, Ôsterreichische Phi losophie zwischen A u.fkliirung und Reslauration, 1 982. - W. G . e M . Stock, Psychologie und Philosophie der Grazer Schule: eine Dokumentalion, 1 990 [ Internatio nal Bibliography of Austrian Philosophy] . - Além dis so: T. Binder, R. Fabian, J. Valent, eds., International Bibliography ofA ustrian Philosophy 1 9 76- 1 9 79, 1 993. Filosofia húngara: L. Steindler, Ungarische Philo sophie im Spiegel ihrer Geschichtsschreibung, 1 98 8 . Filosofia tcheca: Boris Jakowenko, La phi/osophie thécoslovaque contemporaine, 1 93 5 .
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FILOSOFIA CONTEMPOR ÂNEA
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FILOSOFIA DA FILOSOFIA
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FILOSOFIA DA FILOSOFIA. Ver FILOSOFIA. FILOSOFIA DA LINGUAGE M . No desenvolvi mento da filosofia analítica (vER) manifestaram-se duas orientações. Uma delas - Bertrand Russell até a tercei ra década deste século aproximadamente, o primeiro Wittgenstein, os positivistas lógicos, muitos filósofos da ciência, um bom número de lógicos etc. - manifes tou desconfiança com relação à linguagem às vezes cha mada de "comum", às vezes "ordinária" e às vezes "coti diana". Outra orientação - G. E. Moore, o último Witt genstein, Gibert Ryle, Strawson, Austin etc. - expres sou, ao contrário, grande confiança nessa linguagem. Esta última orientação recebeu o nome de "filosofia da linguagem". O contraste entre as duas orientações indi-
1 074 cadas apresentou-se freqüentemente como o contraste entre "a linguagem ideal" (especialmente a l inguagem lógica) e a comum. ' Expressar grande confiança na l inguagem comum' é uma fórmula muito geral que serve apenas para carac terizar certa atitude: a que consiste em supor que muitos dos problemas filosóficos, se não todos, podem ser elu cidados - não necessariamente resolvidos, porém mais freqüentemente dissolvidos - mediante um exame de expressões comumente utilizadas. Isso não significa necessariamente que todas as expressões da l inguagem comum suscitem problemas filosóficos (não os susci tam as palavras 'janela', ' mesa' ou ' nuvem' , mas podem suscitá-los as palavras 'causa', 'vontade' ou 'ação'). Eles são suscitados especialmente por certo número de locu ções e de frases, como ' necessariamente ' , 'delibera damente ' , 'em razão de' etc. Isso tampouco significa que, como indicou Austin, a linguagem comum seja a "última palavra", mas significa dizer, ao menos, que é "a primeira palavra", i sto é, o ponto de partida da aná lise filosófica, que se transforma então em análise da linguagem comum, ou de certas expressões dessa l in guagem. A filosofia da l inguagem exibe diversas va riantes, que se manifestaram até mesmo nos próprios filósofos da chamada "Escola de Oxford" (VER), que foi o posto avançado mais conhecido da filosofia da linguagem aqui mencionada. Um filósofo da l inguagem radical pode sustentar que, se o que interessa princi palmente é o uso (vER) de expressões, este se manifesta concreta e especificamente em uma l inguagem deter minada (o inglês, o russo ou o turco). Um filósofo da l inguagem menos radical não confi nará seu i nteresse a determi nada linguagem - embora provavelmente não possa deixar de trabalhar dentro de uma -, e declarará que o que interessa não são as próprias palavras, ou apenas elas, mas os conceitos que as palavras podem designar. O único ponto no qual todos os filósofos da l inguagem estão de acordo é que o trabalho filosófico é efetuado mais em, e sobre, l inguagens naturai s que em, e sobre, l inguagens "artificiais". A multiplicidade de dimensões da filosofia da lin guagem revela-se nos autores que provavelmente mais influíram em impulsioná-la: o último Wittgenstein e Aus tin. O indubitável interesse que esses dois autores expres sam pelos modos comuns de falar não é incompatível com um concomitante e talvez mais intenso interesse pelos contextos dentro dos quais funciona a l inguagem comum. Esses contextos são respectivamente o das for mas de vida e o da "situação lingüística total''. Desse modo, a intitulada "filosofia da l inguagem" pôde funcionar de duas maneiras muito distintas, depen dendo em grande parte daqueles que foram seus culti vadores. Por um lado, pôde conduzir a uma trivialização do pensamento filosófico, confinado a análises lingüís-
1 075 ticas de reduzido alcance e escassas conseqüências. Por outro lado, pôde conduzir a uma espécie de "libertação" do pensamento filosófico em relação a rígidos marcos positivistas. A filosofia da linguagem, particularmente as for mas desenvolvidas pelos autores citados por último, não deve ser confundida com uma possível "fi losofia lin güística" (que é uma das formas que pode ser adotada pela filosofia da linguagem). Entretanto, ela se rela cionou com certas tendências da lingüística e da filoso fia da l inguagem e também da filosofia da l ingüística: as que dedicaram atenção particular às dimensões prag máticas e comunicativas da l inguagem, ao contrário das dimensões que poderíamos chamar de "estruturais". Nesse sentido a filosofia da linguagem é um estudo da linguagem como função; seus termos-chave são termos como 'uso ' , 'proferição ' ou ' ato l ingüístico ' , ' intenção (comunicativa)', ' força ilocucionária (ou inlocutiva) ' etc. Segundo John Searle ( The Philosophy ofLanguage, ed. J. R. Searle, 1 97 1 , p. 1 2), há três correntes principais na filosofia da linguagem: a que ele qualifica de "en foque neopositivista-lógico simbólico", ao modo de Quine; a "filosofia da linguagem comum", de Wittgens tein e Austin, e o enfoque mediante gramática gerativa de Chomsky e de seus seguidores. Searle considera que o mais provável é que a união das duas últimas correntes produza o futuro desenvolvimento na filosofia da lin guagem. Não acreditamos que haja motivo para excluir um enfoque como o de Quine - e tampouco um como o de Montague -, mas é interessante notar que um fi lósofo da linguagem que segue a segunda das corren tes mencionadas julgue que não há uma oposição de princípio entre eia e outra que antes teria sido conside rada como totalmente alheia à filosofia da linguagem dos primeiros tempos. Além disso, é possível que uma filosofia suficientemente ampla da l inguagem tenha de levar em conta não apenas a linguagem como fun ção e comunicação - que é o campo rumo ao qual parece ter se encaminhado a que outrora foi "mera fi losofia lingüística" -, mas também a linguagem como atividade perceptiva, isto é, como um conj unto de atos por meio dos quais um organismo constitui seu mundo como "sistema de realidade", o que equivale a consi derar que "o papel da l inguagem na comunicação [que a filosofia da l inguagem considera essencial] desen volveu-se sobretudo como um efeito secundário de seu papel básico na construção da realidade pela espécie" (cf. Jerry !. Jerison, "Paleoneurology and the Evolution of Mind", Scientific American, 234 [julho de 1 976), p . 1 0 1 , col. 1 ).
FILOSOFIA EXATA. De modo muito geral, a noção de filosofia exata e da "filosofia rigorosa" são equiva lentes; além disso, ambas podem ser consideradas espé-
FILOSOFIA GRECO-ROMANA
cies, ou "maneiras'', da chamada "filosofia científica"
(vER). Contudo, a expressão ' filosofia exata' foi utiliza
da mais especificamente por Mario Bunge como desig nação de uma forma de filosofia (ou também de meta fisica: 'metafisica exata' ) que utiliza instrumentos lógi cos e matemáticos e que, se pode se converter, isolada mente, em uma série de exercícios formalistas, combi nada com urna cuidadosa atenção à ciência permite cons tituir uma filosofia científica. Exemplos de filosofia ("metafisica") exata são, segundo esse autor, o "cálcu lo de indivíduos" e várias teorias da possibilidade e do tempo estabelecidas por meios matemáticos e lógicos. Bunge iniciou urna série de reuniões e de publicações sob a designação de "Filosofia exata". Segundo um dos programas apresentados: "A exatidão, embora desej ável, não deve ser considerada um fim: é um meio para real çar a clareza e a sistematicidade, e com isso o controle. Tanto na filosofia como na ciência, a exatidão não ga rante a certeza; facilita a descoberta do erro e sua corre ção. A exatidão não assegura a profundidade e, com isso, o interesse, mas certifica a possibilidade de escrutínio racional. O ideal seria enfrentar problemas autênticos e profundos de modo exato. Entretanto, antes que se possa solucionar qualquer problema na filosofia exata, é pre ciso acumular um sortimento de teorias exatas". :l A expressão ' filosofia exata' já havia sido usada no século XIX por alguns filósofos da escola herbartiana (ver HERBART [JOHANN FRIEDRICH ]), como Otto Flügel (VER). Tratava-se de um movimento filosófico que se considerava "realista" e se opunha a todo idealismo. De 1 86 1 a 1 893 foram publicados vinte volumes da revista Zeitschriftfiir exakte Philosophie, im Sinne des neueren philosophis chen Realismus (Revista de filosofia exata no sentido do realismo filosófico moderno) (em 1 973 começou uma reimpressão desses voltunes). A revista estava a cargo de F. H. Allihn, Th. Ziller e Otto Flügel. �
FILOSOFIA EXISTENCIAL. Ver EXISTÊNCIA (FILO soFIA DA); EXISTENCIALISMO. FILOSOFIA GRECO-ROMANA. Assim é chamado o período posterior à filosofia grega (VER) propriamente dita. O marco dentro do qual se desenvolve esse período já não é o da Grécia e das colônias, mas o de todos os países compreendidos no I mpério romano e nas regiões helenizadas do I mpério de Alexandre. O que caracteriza essa época, na qual se inserem a constante cultural do alexandrinismo como forma histórica e o sincretismo greco-romano-j udeu-oriental, é a relativa ausência dos grandes sistemas de tipo platônico e aristotélico, com sua pretensão de alcançar a verdade fundada primor dialmente no logos. A tendência sistemática, que se re vela nos estóicos e culmina no neoplatonismo, tem um maior fundamento religioso - positivo ou não - e uma mai s acurada tendência moral. Na primeira fase desse
FILOSOFIA GHEGA
período, que pode ser qualificado simplesmente de he lenístico, surgem as escolas filosóficas pós-aristotéli cas que, com diferentes vicissitudes, atravessam a época imperial romana até perder-se na corrente do cristianis mo: os estóicos, os epicuristas, os céticos. Na segunda fase da assimilação romana da tradição grega e das correntes orientais, o trabalho filosófico centra-se nas escolas mencionadas e no platonismo, seja na tradição platônica pura, seja na Academia (vER). São caracterís ticas dessa fase o sincretismo e a formação dos grandes sistemas neoplatónicas, que representam o último flo rescimento da especulação grega e vêm inserir-se pro fundamente na especulação teológico-metafisica do pensamento cristão (ver CRISTIANISMO). As tendências pitagorizantes e a interpretação puramente metafisico rel igiosa de Platão triunfam com os neopitagóricos, com a especulação judeu-alexandrina de Fílon e com os su cessores de Plotino, principalmente com os neoplató nicos sírios, como Jâmbl ico. Na filosofia grego-roma na, que não constitui uma unidade propriamente filosó . fica, mas o resultado da atividade de um círculo cultural de significação muito complexa, também se insere a fase da passagem do paganismo para o cristianismo e a progressiva "fusão" da noção grega do logos com a noção cristã do Filho de Deus. A ativa intervenção das rel igiões e especulações orientais, especialmente sírias e egípcias, manifesta-se tanto em suas influências dire tas sobre o neoplatonismo e o cristianismo primitivo como no fato de que os próprios representantes das es colas filosóficas propriamente gregas e romanas não são sempre originários das províncias do Ocidente, mas pensadores procedentes do Oriente (além de Jâmblico, Porfirio e Possidônio, que são sírios, podem-se mencio nar os gregos alexandrinos de origem judaica, como Fí lon; os estóicos provinciais, como Sêneca; os apologis tas de origem africana, como Tertuliano etc.). Ver as partes dedicadas a esse período nas princi pais histórias gerais da fi losofia citadas na bibliografia do verbete FILOSOFIA (H1sT6RIA DA) e especialmente nas histórias da filosofia grega, citadas no verbete corres pondente. Além disso, ver a bibliografia do verbete CRISTIANISMO, particularmente as obras relativas ao he lenismo e ao cristianismo. :> Obras especificamente sobre a cultura e a filoso fia desse período : A . Schmekel, Die hellenistisch romische Philosophie, em Grosse Denker, ed. E. von Aster, 1 907. - E. Zingg, La philosophie pendant la période de l 'empire romain, 1 907. - P. Wendland, Die hellenistisch-riimische Kultur in ihren Beziehungen zu Judentum und Christentum , 1 90 7 . - D. G. Sunne, Some Phases in the Development of'the Subjective Point of View during the Post-Aristotelian Period, 1 9 1 1 . - J. Kaerst, "Das Wesen des Hellenismus", em Geschichte des hellenistischen Zeitalters, I I , 1 , 1 909. - Rudolf
1 076 Glaser, Griechische Ethik auf riimischem Boden, 1 9 1 4 (epicuristas e estóicos). - E . Neustadt, Die religiiise philosophische Bewegung des Hellenismus und der Kai serzeit, 1 9 1 4 . - Paul Elmer More, Hellenistic Philo sophies, 1 92 3 . - A. Schmekel, Die positive Philoso phie in ihrer geschichtlichen Entwicklung. !. Forschun gen zur Philosophie des Hellenismus, 1 93 8 . - Giulio Bonafede, Storia delia filosofia greco-romana, 1 949. - Alfonso Reyes, La .filosofia helenística, 1 959. Ph. Merlan, H. Chadwick et ai., The Cambridge History ofLater Greek and Early Mediaeval Philosophy, 1 967, ed. A . A . Armstrong. - John Herman Randal l Jr. , Hellenistic Ways ofDeliverance and the Making of' the Christian Synthesis, 1 970. - A. A. Long, Hellenistic Philosophy: Stoics, Epicureans, Sceptics, 1 974. - G. Reale, História da.filosofia antiga, 5 vols., 1 99 1 - 1 995 (ver bibliografia de FILOSOFIA GREGA). - G. Maurach, ed., Riimische Philosophie, 1 976. - J.-M. André, La philosophie à Rome, 1 977. - E . Rawson, lntellectual Life in the Late Roman Republic, 1 98 5 . - M. Griffin, J. Barnes, eds. , Philosophia Toga/a: Essays on Philoso phy and Roman Society, 1 989. - D. Furley, Cosmic Problems: Essays on Greek and Roman Philosophy of Nature, 1 989. - Ver também a obra, ainda fundamental hoje, de Fr. Susemihl, Geschichte der griechischen Li teratur in der A lexandrinerzeit, 2 vols., 1 89 1 - 1 892. Para a escola de Alexandria, ver a bibliografia de ALEXAN DRIA ( ESCOLA DE) e NEOPLATONISMO. Desde 1 984 existe a revi sta A ncient Philosophy, ed. Ronald M. Polansky. i::
FI LOSOFIA GREGA. Se se entende por ' fi losofia grega' o pensamento filosófico expresso em grego, deve-se incluir nela a chamada "filosofia grega clássi ca" (dos pré-socráticos a Aristóteles), a "filosofia hele nística" - às vezes em conjunção com a chamada "filo sofia greco-romana" -, a filosofia bizantina e a filoso fia em língua grega moderna. Em geral estas duas últi mas são excluídas e as duas primeiras, i ncluídas; toda via, como dedicamos um verbete especificamente à se gunda, sob o nome de "filosofia greco-romana", a filo sofia grega abarcará apenas o período clássico, com re ferências às escolas pós-aristotélicas e à influência do pensamento grego. Na medida em que se confina, justificadamente ou não, a história da filosofia à h istória da filosofia ocidental, considera-se que a filosofia começou na Gré cia - principalmente nas colônias gregas da Ásia me nor - e que a filosofia grega é o primeiro período dessa história. Esse período é freqüentemente conside rado o mais importante, uma vez que a maior parte dos problemas filosóficos fundamentais foram estabeleci dos na Grécia. Debateu-se até que ponto a filosofia grega é inde pendente de outras tradições culturais (da Mesopotâ-
1 077 mia, do Egito etc.). Influências dessas tradições podem ser encontradas, mas, ao mesmo tempo, também se po de afirmar que a filosofia grega se constituiu, em boa parte, independentemente. Também se discutiu se há ou não traços comuns a toda a filosofia grega, ao menos ao período "clássico". Se eles existem, expressam-se em um certo tipo de questão como "O que é 'o ser' (a realidade, o mundo)?", "Como pode ser conhecida a verdade (sem se consultarem os deuses ou o destino)?", "Em que linguagem ou median te que faculdades se pode falar sobre o que é, na verdade, 'o ser' (a realidade, o mundo)?". Estas perguntas não são as únicas - especialmente a partir do chamado "pe ríodo antropológico"; a filosofia grega interessou-se por questões acerca da natureza do ser humano, da lingua gem, da sociedade, do Estado j usto etc., mesmo que em muitos casos se considerasse que o ser humano era um componente ou elemento da realidade cósmica. Para os primeiros filósofos gregos, os milésios, a chamada, para abreviar, "questão do ser" foi respondi da a partir de um ponto de vista cosmológico e "mate rial". Por isso sua filosofi a é aproximadamente uma física, mas uma física que não se preocupa com a medi ção, e sim com a descoberta da matéria que é dentro da matéria que acontece. Na série de filósofos pré-socrá ticos posteriores aos jônicos, a pergunta pelo ser vai se definindo; no pitagorismo já encontramos como ser as relações harmônicas e, em última análise, os números. Heráclito de Éfeso acentua o perpétuo fluir do devir e vê no fogo - que muda constantemente e, contudo, per manece idêntico - o símbolo do processo cósmico. Parmênides, ao assinalar os caracteres ontológicos do ser e ao identificá-lo com o pensar, já formula a questão em toda a sua madureza; ele é propriamente o fundador da metafísica ocidental e aquele que orienta o sentido da posterior especulação filosófica. Com o século V a.C. aparecem, por um lado, os continuadores do cha mado período cosmológico (Empédocles, Anaxágoras, Demócrito), que elaboraram sistemas coerentes de ex plicação do universo baseados na constância do mes mo problema, e por outro, a corrente dos sofi stas que, ao dirigir o interesse da reflexão para o homem e para os problemas humanistas, dão um novo curso à história do pensamento grego. Esse novo curso culmina em Só crates, que antepõe a todas as demais questões o proble ma da salvação do homem concebido como o problema da consecução de sua felicidade. Durante essa época predominam as reflexões morais em torno da pergunta pelo lugar do homem no universo. Platão unifica essas duas preocupações - a preocupação pelo ser e a preo cupação pela salvação - em seu sistema das idéias e em sua identifi cação da idéia suprema com o Bem. Aristóteles representa a primeira grande recapitulação do espírito grego, recapitulação que se manifesta não
FILOSOFIA GREGA
somente no fato de já conceber a evolução do pensa mento helênico a partir de um distanciamento histórico, mas também, e muito especialmente, no fato de que nele cheguem a uma culminação e a uma relativa conci l iação correntes diversas. O pensamento de Aristóteles desenvolve-se desse modo em dois planos: no da ampli tude, como recapitulação, e no da profundidade, como ataque direto às questões centrais da filosofia primeira e particularmente à questão fundamental do movimento. A diversificação de tendências que se acentua após Aristóteles parece expressar uma decadência do espírito grego, mas é antes a primeira grande crise dentro da crise quase permanente da filosofia. Por isso, se de um ponto de vista histórico pode-se falar de uma filosofia greco-romana (vER), que compreende desde Aristóte les até o final do mundo antigo, esse período não deixa de fazer parte de uma tradição grega agora dissolvida na unidade superior de uma tradição "antiga". E, por outro lado, não se pode confundir esse término da filo sofia grega propriamente dito com o término da tradição grega. Por um lado, esta última perdura até nossos dias, não apenas como um momento necessário na história da cultura, mas como a primeira manifestação da matu ridade filosófica; por outro, a filosofia grega experi menta sua primeira grande queda quando, com o cristia nismo, irrompe no mundo um princípio novo: o princí pio que pode ser chamado de um filosofar partindo do nada como possibilidade da criação. Por isso pode-se falar propriamente de uma culminação e, ao mesmo tempo, de uma derrubada da filosofia grega em Santo Agostinho. No cristianismo toma-se patente o novo tipo de preocupação, que é ao mesmo tempo preocupação com a alma como intimidade absoluta e preocupa ção com Deus. Isto é o que dá o tom da filosofia medie val, principalmente em suas orientações místicas, e o que a diferencia essencialmente da grega. Nela sobrevi vem os temas fundamentais da especulação grega, mas seu sentido e, portanto, suas respostas são diferentes. (Ver FILOSOFIA MEDIEVAL.) Em vários verbetes deste Dicionário nos estende mos sobre certos subperíodos da filosofia grega (como nos verbetes sobre os itálicos, j ônicos, pré-socráticos). Em outros nos referimos a certas importantes tendên cias que tiveram seu ponto de partida na filosofia grega e influenciaram o pensamento posterior do Ocidente (como nos verbetes sobre o aristotelismo e o platonismo). Também dedicamos verbetes a todas as escolas gregas importantes ( cirenaicos, epicuristas, estóicos, pitagóri cos etc.), assim como a tendências desenvolvidas na chamada filosofia greco-romana e que também podem ser inscritas no marco do pensamento grego (neopita gorismo, neoplatonismo etc.). Certos conceitos de inte resse especi ficamente histórico-filosófico relativos à filosofia grega também foram tratados separadamente
FILOSOFIA GREGA
(como nos verbetes sobre diádoco, escolarca etc.). É conveniente, pois, complementar a presente caracteriza ção dessa filosofia com a leitura dos verbetes a que fi zemos alusão. Terminaremos agora com algumas pala vras sobre a questão da significação da filosofia grega. Essa significação é única para a história do pensa mento (ao menos do pensamento ocidental). Com efei to, os filósofos gregos mostraram com toda a transpa rência um bom número das condições a partir das quais foi posteriormente erigido todo pensamento filosófico. Por exemplo, que a filosofia se move continuamente em uma peculiar tensão interna porque, sendo uma crença que substitui outra crença, quer ser ao mesmo tempo um conjunto de idéias claras que dissolvem toda cren ça como tal. Na Grécia essa condição se manifestou no fato de que a fi losofia surgiu para preencher um vazio que a mitologia já não podia preencher completamente, mas ao mesmo tempo serviu para apoiar racionalmen te uma parte substancial das crenças míticas. Mas, além disso, os fi lósofos gregos j á haviam adotado, mais ou menos rudimentarmente, as posições metafísicas últi mas, às quais se retorna sempre que se exige uma deci são fundamental acerca do que é o ser, o conhecimen to e mesmo o sujeito na medida em que conhece. Falou se por isso do "milagre grego", do que Renan chamou da "aparição si multânea ocorrida na raça helênica de tudo o que constitui a honra e o ornamento do espírito humano" - ou, com menos retórica, poder-se-ia dizer que na cultura e particularmente na filosofia grega temos um exemplo eminente de uma desproporção entre as causas e os grandiosos efeitos produzidos. Isso não significa, como pretendem alguns autores, que toda a fi losofia se reduza à filosofia grega ou que todo pro gresso filosófico tenha de ser um retorno às raízes do pensamento grego. Embora a filosofia não progrida da mesma fo rma que a ciência, tampouco se pode dizer que foi dada inteiramente desde suas origens. A repre sentação dessas origens por meio do exame da filosofia grega, no entanto, 0 cm geral mais fecunda que a refe rência a qualquer outro período da fi losofia. A ocupa ção com a fi losofia grega é, por isso, não apenas o resultado de uma curiosidade histórica, mas também, e sobretudo, de uma exigência filosófica. As principais fontes para o estudo da filosofia grega foram mencionadas no começo do verbete F1 Lo s oF IA (H1s1óR1A DA). Aqui nos limitaremos a dar conta das prin cipais edições críticas de textos historiogràficos e de compilações de fragmentos. :l Doxographi graeci, ed. H. Diels, Berolini, l 879 (nova ed., l 929), nos quais figuram a maior parte dos fragmentos doxogràficos que restaram das obras men cionadas no verbete citado anteriormente, assim como trechos de outros autores (p. ex. , Cícero) que servem para fins historiográficos. Várias edições de textos ser-
1 078 vem de complemento á compilação de Diels: P. Wend land ( 1 897), R. v. Scala ( 1 898), A. Baumstark ( 1 897), G . Pasquali ( l 9 l O). Cf. também E . Reitzenstein, Theo phrast bei Epikur und Lukrez, 1 924. - Fragmentos de Eudemo de Rodes em L. Spengel, Eudemii Rhodii Peri patetici fragmenta, 1 866, reed. 1 870. Outros fragmen tos de peripatéticos, na série editada por F. Wehrli : Die Schule des A risloteies (l. Dikaiarchos, 1 944; l i . A risto xenos, 1 945; I l i . Klearchos, 1 948; IV: Demetrios von Phaleron, 1 949; V: Straton von lampsakos, 1 950; VI. Lykon und A riston von Keos, 1 952; V II. Herakleides Pontikos, 1 95 3 ; V I I I , Eudemos von Rhodos, 1 95 5 ; I X. Phainias von Eresos, Chamaileon, Praxiphanes, 1 957; X. Hieronymos von Rhodos, Kritolaos und seine Schü ler. Riickblick: Der Peripatos in vorchristlicher Zeít. Re gister, 1 959). - Fragmenta philosopharum graecorum, ed. F. W. A. Mullach, 1. Lutetia Parisiorum, 1 860; li, id., 1 86 7; Ili, id., 1 8 8 1 , reimp. 1 966 (contém pré-socrá ticos, pitagóricos, sofistas, cínicos, platônicos, peripaté ticos ). - Poetarum philosophorumquefragmenta, ed. H. Diels, Berolini , 1 90 1 . - Fragmenta historicum grae corum, ed. C. Müller, Lutetia Parisiorum , 4 vols., 1 84 1 1 85 1 ; vol. 5 , l 870 (ver especialmente o vol . 3 para os fragmentos de interesse filosófico). Esta obra foi supe rada por Die Fragmente der griechischen Historiker, ed. F. Jacoby, Berlim, l 923ss. - Fragmentos de inte resse filosófico também podem ser encontrados nas edições de textos médicos, assim como nos Scriptores physiognomonici Graeci et latini, ed. R. Foerster, Lip siae, 2 vols., 1 893, e outros. - As edições de D. Laércio foram mencionadas no verbete correspondente. Ver tam bém, para informação sobre edições, as bibliografias de D1Áooco, ITÁLICOS, JóN1cos, M1LÉs1os, PRÉ-socRÁTl cos. Em cada bibliografia dos diferentes filósofos pré socráticos indicamos os capítulos correspondentes da edição de Fragmentos por Diels-Kranz (o capítulo da quinta edição - as edições posteriores à quinta são reedições - e, entre parênteses, o da primeira). Para os outros fi lósofos gregos também pode ser encontrada indicação das edições nos verbetes correspondentes. A isso deve ser acrescentada a informação contida nas bi bliografias de ARISTOTELISMO, CiN1cos, ClRENAICOS, Er1CURISTAS, ESTÓICOS, NEOPLATONISMO, NEOPITAGORISMO, PLATON ISMO, PERIPATÉT!COS etc. - Informação abundan te se encontra em A. F. von Pauly, Real-Enzyklopiidie der klassischen Altertumswissenschaft, reelaborado por G. A. Wissowa (citado como Pauly-Wissowa), W. Kroll, K. Mittelhaus, K. Ziegler, l 894ss. - Muito usada é a compi lação de H. Ritter e L. Preller, Historia philoso phiae Graecae et Romanae ex fontium locis contexta (citada como P. L.), ed. Preller ( Hamburg, 1 838); 1 0ª ed. , muito melhorada, por E. Wellmann, 1 9 1 4. Mais moderna e conveniente é a compilação de C. J. de Vogel, Greek Philosophy, 1, 1 950, 4ª ed. 1 969; li, 1 95 3 , 3ª ed.
1 079 1 967; III, 1 959, 3ª ed. 1 973, com textos gregos e notas em inglês. Repertórios bibliográficos: O. Gigon, Antike Philo sophie, em Bibliographische Einfiihrnngen in das Stu dium der Philosophie, ed. !. M. Bochenski, vol. 5, 1 948. - Rodolfo Mondolfo, Guía bibliográfica de la filosofia antigua, 1 959 [suplemento a E/ pensamiento antiguo, cf. infra]. Sebastián Cirac Estopaiíán, t\ O í O I . Mono grafia y síntesis bibliográfica de filosofia griega, 1 960. - J. A. Nuiío Montes, Filosofia antigua, 1 962. Obras gerais sobre o espírito grego: U. von Wilamo witz-Moellendorff, Der G/aube der Hellenen, 2 vols., 1 93 1 - 1 93 2 . -- Werner Jaegger, Paideia, die Formung des griechischen Menschen, 1 ( 1 933); II ( 1 944); III ( 1 945) (trad. bras. : Paideia. A formação do homem gre go, 1 995). - Rodolfo Mondolfo, E/ genio helénico y los caracteres de sus creaciones espirituales, 1 943. !d., E/ genio helénico, 1 956 (obra distinta da anterior). - Eduardo Nico!, La idea dei hombre, 1 947. - M. Pohlenz, Der hellenische Mensch, 1 948. Ver também "Estudos de interpretação", infra. - Para aspectos ou problemas particulares, ver as bibliografias dos dife rentes verbetes deste dicionário (ATOMISMO, CIÊNCIA, ÉncA, INFINITO, MATÉRIA, METAFis1cA, RELIGIÃO, Suss TÃNCIA etc.); nelas nos referimos a obras do tipo das de Pierre Duhem ( s i stemas cosmológicos), Rodo l fo Mondolfo ( infinito), Nartorp (conhecimento), Heinze, Aall (Logos), Brochard (ceticismo), Teichmüller (ca tegoria) etc. Obras gerais sobre a filosofia grega: Depois de Ch. August Brandi s (Handbuch der Geschichte der griechisch-romischen Philosophie, Parte !, 1 83 5 ; Parte II, Seç. 1 , 1 844; Parte I I , Seç. 2. Primeira metade, 1 85 3 ; !d., Segunda metade, 1 857; Parte I I I , Seç. 1 , 1 860), apareceu a obra que ainda hoje continua sendo conside rada fundamentai : Eduard Zeller, Die Philosophie der Grieschen. Eine Untersuchung über Charakter, Gang und Hauptmomente ihrer Entwicklung (Parte 1. A llge meine Einleitung. Vorsokratische Philosophie. l i . So krates, Plato, A ristoteles. III . Die nacharistote/ische Philosophie), 1 844, 1 846, 1 852. A segunda edição, mo dificada, apareceu sob o título: Die Phi/osophie der Grieschen in ihrer Entwicklung dargestellt, 5 vols., 1 859- 1 868. As últimas edições são: 1, 1. Vorsokratiker, erste Hiilfte, 7ª ed. , ed. W. Nestle, 1 92 3 . 1, 2. Vorsokra tiker, zweite Hiilfte, 6ª ed., ed. W. Nestle, 1 920. I I , 1 . Sokrates, Sokratiker. P/aton, A lte Akademie, 5" ed., com apéndice de E. Hoffmann, 1 922. I I , 2. A ristoteles. a/te Peripatetiker, 4ª ed., 1 92 1 . I I I , 1 . Nacharistelische Phi losophie, erste Hiilfte, 4ª ed., ed. E. Wellmann, 1 909. III, 2 . Nacharistotelische Philosophie, zweite Hii/fte, 5ª ed, 1 92 3 ; reed. F. Lortzing, W. Nestle, E. Wellmann, 6 vols., l 962ss. Há trad. italiana, com muitas ampl ia ções, por Rodolfo Mondolfo: La filosofia dei Greci,
FILOSOFIA GREGA
l 932ss. - É importante também: Theodor Gomperz, Griechische Denker, 3 vols., 1 893- 1 902 (! e II na 3" ed. , 1 9 1 1 , 1 9 1 2; III na 3ª e 4ª, 1 94 1 ) (trad. esp . : Pensa dores griegos, 3 vols., 1 952- 1 953). - W. K. C. Gu thrie, A History of Greek Philosophy, 6 vols. (!, 1 962; II, 1 965; III, 1 969; I V, 1 97 5 ; V, 1 978; VI, 1 98 1 ) . - G. Reale, História da filosofia antiga, 5 vols. (!: Das ori gens a Sócrates, 3ª ed., 1 999; I I : Platão e A ristóteles, 2ª ed. , 1 997; I I I : Os sistemas da era helenística, 2ª ed., 1 998; IV: As escolas da era imperial, 1 994; V: Léxico, índices, bibliografia, 1 995). As histórias gerais da filosofia são citadas no ver bete FILOSOFIA (HISTÓRIA DA); também podem ser con sultados especialmente o tomo 1 de Ueberweg-Heinze e, para a história dos problemas, a obra de Windelband. - Ver: Hans von Arnim, Die europiiische Philosophie des A ltertums, 1 909 (em Die Kultur der Gegenwart, ed. P. Hinneberg, !, 5). - Richard Hiinigswald, Die Philosophie des A ltertums. Problemgeschichtliche und systematische Untersuchungen, 1 9 1 7. W. T. Stace, A Criticai History ofGreek Philosophy, 1 920. - Karl Joel, Geschichte der antiken Philosophie, 1 92 1 . W. Capelle, Die griechische Philosophie, 4 vols., 1 9301 934; 2ª ed. , 1 953- 1 954; 3ª ed .. 2 vols., 1 97 1 . - W. Kranz, Die griechische Philosophie, 1 939. - A. H . Armstrong, A n lntroduction t o A ncient Philosophy, 1 947; 2ª ed., 1 949. - C. Carbonara, La filosofia greca, 1 95 1 ss. - D. Gal li, li pensiero greco, 1 954. - G. R. de Yurre, Historia de la filosofia griega desde Tales hasta A ristóteles, 1 954. - Jacques Chevalier, Histoire de la pensée ( 1 . La pensée antique, 1 95 5 ) . - Ch. Re nouvier, Manuel de philosophie ancienne, 2 vols., 1 844. W. A. Butler, Lectures on the History of Ancient Phi/osophy, 1 856; 2ª ed., por W. T. Thomson, 2 vols., 1 866. - W. Windelband Geschichte der alten Philo sophie nebst einem A nhang: A briss der Geschichte der Mathematik und der Naturwissenschafi im Altertum, 1 8 88; 3ª ed., por A. Bonhiiffer, 1 9 1 2 . - Para uma história com base em textos ver Rodolfo Mondolfo, li pensiero antico: Storia dei/a filosofia greco-romana, 1 928 (trad. bras. : O pensamento antigo. História da filosofia greco-romana, 2 vols., 2ª ed., 1- i 966/Il- 1 967). Muito numerosas são as obras especialmente consa gradas à filosofia pré-socrática ou anterior a Platão; ver PRÉ-SOCRÁTICOS. Estudos de interpretação: V. Brochard, Études de philosophie ancienne et de philosophie moderne, 1 9 1 2. - G. Rodier, Études de philosophie grecque (compi lados por É. Gilson), 1 926. - Ettore Bignone, Studi sul pensiero antico, 1 93 8 . - X. Zubiri , "Grecia y la pervivencia dei pasado fi losófico", em Naturaleza, Historia. Dios, 1 944 . - Bruno Snel l, Die Entdeckung des Geistes. Srudien zur Entstehung des europiiischen Denkens bei den Grieschen , 1 946; 3ª ed., ampl., 1 95 5 . -
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FILOSOFIA HEBRAICA
- E. R. Dodds, The Greeks and the lrrational, 1 95 1 . - É . Bréhier, Études de philosophie antique, 1 95 5 . Julius Stenzel, Kleine Schr!fien zur griechischen Philo sophie, 1 956, ed. Bertha Stenzel, com a ajuda de Hans Diller e Gerhard Mül ler. - Olof Gigon, Grundpro bleme der antiken Philosophie, 1 959. - George Boas, Rationalism in Greek Philosophy, 1 96 1 . - Robert Brumbaugh, The Philosophers of Greece, 1 967. - C. J. de Vogel, Philosophia, !: Studies in Greek Philosophy, 1 970 (coletânea de trabalhos). - D. E. Gerber, ed., Greek Poet1y and Philosophy: Studies in Honour of Leonard Woodbury, 1 984. - R. M . Baird et ai., eds., Contemporary Essays on Greek ldeas: The Kilgore Festschriji, 1 987. - D. Furley, Cosmic Problems: Es says on Greek and Roman Philosophy ofNature, 1 989. - P. Nicolacopoulos, ed., Greek Studies in the Philoso phy and Histo1)1 of Science, 1 990. Desde 1 984 existe a revista Ancien t Philosophy, ed. Ronald. M. Polansky. As primeiras histórias "formais" e "completas" da filosofia, distintas da mera referência ao passado filosó fico, apareceram no século XVIII, embora somente após Hegel tenha se constituído uma história da filosofia como disciplina específica (às vezes considerada inclu sive a mais essencial) e como algo distinto de uma des crição de "seitas" que se repetem continuamente ou, segundo a expressão de Brucker, como infinita falsae philosophiae exempla. A obra The History ofPhiloso phy, de Thomas Stanley (trad. latina por G. Olearius, 1 7 1 1 ) , trata apenas da filosofia pré-cristã e, como a maior parte das obras histórico-fi losóficas antes de He gel, em um sentido semelhante ao de Diógenes Laércio, como compêndios de placita philosophorum e com in sistência em aspectos anedóticos. O l ivro de Jacobus Thomasius, Schediasma historicum, quo varia discu tiuntur ad historiam tum philosophicam, tum ecclesias ticam pertinentia, 1 665, assim como as Origenes histo-
1 083 riae philosophicae et ecclesiasticae, ed. Ch. Thomasius, 1 699, apresentam o passado filosófico na fonna de exem plos para discussão. As "primeiras histórias" são as de D. (Deslandes), Histoire critique de la philosophie, 3 vols., 1 730- 1 736, e Johann Jakob Brucker, Kurze Fra gen aus derphilosophischen Histoire, 7 vols., 1 73 1 - 1 736 (com suplementos, 1 73 7 ) , Historia critica philosophiae a mundi incunabulis ad nostram usque aetatem deducta, 5 vols., 1 742- 1 744; 2ª ed., 6 vols., 1 766- 1 767, e Insti tutiones historiae philosophicae usui acad. juventutis adornatae, 1 747 (das quais a Historia critica philoso phiae é considerada a principal). A obra de Brucker con sidera a filosofia leibniziana como a verdadeira e todas as demais "seitas" como "história de erros". Depois apa receram Agatopisto Cromaziano (Appiano Buonafede), Della istoria e della indo/e di ognifilosofia, 1 766- 1 78 1 . - Chr. Meiners, Grundriss der Geschichte der Weltweis heit, 1 786. - Dietrich Tiedemann, Geist der spekula tiven Philosophie, 7 vols., 1 79 1 - 1 797. - Johann Gottlieb Buhle, Lehrbuch der Geschichte der Philosophie und einer kritischen Literatur derselben, 8 vols., 1 796- 1 804; Geschichte der neueren Philosophie seit der Epoche der Wiederherstellung der Wissenschaften , 6 vols., 1 800- 1 805. - Tomás Lapeiía, Ensayo sobre la historia de la filosofia, 1 806. As obras subseqüentes parecem ter um espírito mais histórico: Johann Andreas Ortloff, Handbuch der Literatur der Geschichte der Philosophie, 1 798, reimp. 1 967. - Wilhelm Gottlieb Tennemann, Geschichte der Philosophie, 1 1 vols., 1 798- 1 8 1 9 (incompleta, pois de via chegar aos 1 3 tomos); versão reduzida em Grundriss der Geschichte der Philosophie fiir den akademischen Unterricht, 1 8 1 2; 3ª ed. elaborada por Amadeus Wendt; 5ª ed., 1 829. - Friedrich Ast, Grundriss einer Geschi chte der Philosophie, 1 802. - Joseph Marie Degéran do, Histoire comparée des systemes de la philosophie, 3 vols., 1 822- 1 82 3 . - T. Anselm Rixner, Handbuch der Geschichte der Philosophie, zum Gebrauche seiner Vorlesungen, 3 vols., 1 822- 1 823 (suplemento por Victor Philipp Gumposch, 1 85 0 ) . - Ernst Reinhold, Hand buch der allgemeinen Geschichte der Philosophie, 3 vols., 1 828- 1 830; Lehrbuch der Geschichte der Philo sophie, 1 836; Geschichte der Philosophie nach den Hauptmomenten ihrer Entwicklung, 3 vols.; 5ª ed., 1 858. - A elas se seguiu a muito utilizada obra de Heinrich Ritter, Geschichte der Philosophie, 12 vols. , 1 829- 1 853 (até Kant; completada a partir de Kant em 1 853 ) ; o mesmo Ritter editou as l ições de Schleierma cher: Geschichte der Philosophie, 1 839. -- Uma descri ção de todas essas "primeiras histórias" encontra-se no § 4 da Bibliografia da História de Ueberweg (tomo 1), que citaremos abaixo. - Uma análise dessas primei ras histórias e do problema estabelecido por elas para o estudo da história da filosofia pode ser encontrada
FILOSOFIA (HISTÓRIA DA)
no livro de Francisco Romero, Sobre la historia de la filosofia, 1 943 (especialmente a parte intitulada A mundi incunabulis, título extraído precisamente da obra de Brucke r) . Também de F. Romero, "La historia de la filosofia según Hegel, N. Hartmann y G. Kafka'', Cua dernos Americanos, ano 2 1 , n. 2 ( 1 962 ) , 1 27- 1 47, reimp. em La estructura de la historia de la filosofia y otros ensayos, 1 967. A mudança decisiva na orientação histórico-filosó fica é constituída, como já foi dito, pelas lições de He gel: Vorlesungen über die Geschichte der Philosophie, editadas por Karl Ludwig M ichelet, 3 vols. (vols. XIII XV da edição de Werke, 1 833- 1 835; 2ª ed., 1 840- 1 843; trad. esp . : Lecciones de historia de lafilosofia, 3 vols., 1 95 5 ) . Desde então os hegelianos (na Alemanha) e os cousinianos (na França) desenvolveram consideravel mente os estudos histórico-filosóficos, incluindo estu dos parciais de autores ou épocas e edições críticas de filósofos. Um ponto de vista hegeliano tem G. Oswald Marbach, Lehrbuch der Geschichte der Philosophie (1. Geschichte der griechischen Philosophie, 1 83 8 . II. Ges chichte der Philosophie des Mittelalters, 1 84 1 ); o mes mo ocorre com Julius Braniss, Geschichte der Philoso phie seit Kant, 1, 1 842. As histórias mencionadas a se guir já são consideradas "modernas" e algumas delas foram utilizadas há até pouco tempo: H. C. W. Sigwart, Geschichte der Philosophie, 3 vols., 1 844. - Albert Schwegler, Geschichte der Philosophie im Umriss, ein Leitfaden zur Übersicht, 1 848; 1 6ª ed., elaborada por R. Koeber, 1 90 5 . - Martin von Deutinger, Geschichte der Philosophie, 1 852- 1 85 3 . - Ludwig Noack, Ges chichte der Philosophie in gedriingter Übersicht, 1 853. - F. Michelis, Geschichte der Philosophie von Thales bis aufunsere Zeit, 1 865. -- Johann E. Erdmann, Grun driss der Geschichte der Philosophie, 2 vols., 1 866; 4ª ed., elaborada por Benno Erdmann, 1 896. - Deve-se levar em conta que a maior parte das histórias eram re digidas a partir do ponto de vista de alguma escola ou filósofo; desse modo, a de Erdmann é principalmente hegeliana; a de Alb. Stõckl ( 1 870 ) , católica; a de Düh ring, materialista; a de F. Ch. Põter ( 1 873- 1 882 ), schleier machiana; as de O. Flügel ( 1 876) e Chr. A. Thilo ( 1 876 ) , herbartianas etc. Nos países latinos teve especial in fluência a edição dos Cursos e fragmentos de Cousin mencionados na bibliografia do verbete dedicado a esse filósofo. Em francês também apareceram: J. F. Nourri son, Tableau des progres de la pensée humaine depuis Thales jusqu 'à Hegel, 1 85 8 . - N. J. Laforet, Histoire de la philosophie (1. Antique), 1 867. - Alfred Weber, Histoire de la philosophie européenne, 1 874 (atualizada por vários autores na ed. de D. Huisman); a muito utili zada história de Alfred Fouillée, Histoire de la philoso phie, 1 874; a de P. Janet e Gabriel Séailles, Histoire de la philosophie. Les problemes et les écoles, 1 8 87. -
FILOSOFIA ( HISTÓRIA DA)
Em inglês destacaram-se : George Henry Lewes, A Bi bliographical History of Philosophy from lts Origin in Greece down to the Present Day, 4 vols., 1 845- 1 846. - Robert Blakey, History of"the Philosophy of Mind, fiwn the Earliest Period to the Present Time, 4 vols., 1 848. - J. Haven, A History of Ancient and Modern Philosophy, 1 876. - Asa Mahan, A Criticai History ofPhilosophy, 1 884. - W. Turner, History ofPhiloso phy, 1 903. - Em italiano, além dos estudos histórico filosóficos dos neokantianos e hegelianos, destacaram se as obras de R. Bobba, Storia dellafilosofia rispetto alia conoscenza di Dio da Taletefino di giorni nostri, 4 vols., 1 873 - 1 874. - A. Conti , Storia dellafilosofia, 2 vols., 1 882. - Cario Cantoni, Storia compendiosa della filosofia, 1 8 87. - Na Espanha, a história de Ceferino González, Historia de lafilosofia, 4 vols. , 1 879, muito util izada, sobretudo nos meios neo-escolásticos. A partir dos últimos anos do século XIX, aumentou consideravelmente o número de histórias publicadas (e o número de estudos histórico-filosóficos parciais aos quais nos referimos nos distintos verbetes deste Di cionário). Indicamos apenas as mais importantes. A obra fundamental é, evidentemente, o Grundriss der Geschichte der Philosophie de Ueberweg, 1 863- 1 866, várias vezes reelaborado e ampliado, primeiro por Max Heinze (costuma ser citado como Ueberweg-Heinze), depois por vários autores; a última edição, completada em 5 vols., compreende: 1 . Das A ltertum, por K. Praech ter, 1 2ª ed., 1 926; II. Die patristische und scholastische Zeit, por B. Geyer, 1 1 ª ed., 1 928; III. Die Neuzeit bis zum Ende des achtzehnten Jahrhunderts, por M. Frischei sen-Kiihler e W. Moog, 1 2ª ed. , 1 924; IV Die deutsche Philosophie im 1 9. Jahrhundert und die Gegenwart, por T. K. Oesterreich, 1 2ª ed. , 1 92 3 ; V (muito i nferior ao resto), Die Philosophie des Auslandes im 1 9. Jah rhundert und die Gegenwart, por T. K. Oesterreich e vários outros autores, 1 2ª ed. , 1 92 8 . Existe uma nova edição do Ueberweg-Heinze muito modificada e am pliada em 7 vols. , redigida por numerosos colaborado res sob a direção de Wilpert, Geyer, Meyer, Lübbe, Ha cker, Barth e outros, l 972ss. - Fundamental para a história da filosofia como história dos problemas é Wi lhelm Windelband, lehrbuch der Geschichte der Philo sophie, 1 892; várias edições: a última ( 1 5ª) com apêndi ce sobre o pensamento do século XX por Heinz Heim soeth, 1 95 7 (trad. esp. de uma ed. anterior: Historia de la filosofia, I , I I , 1 94 1 ; I I I , 1 942; IV, 1 943; V, VI, 1 942; VII, 1 943). - Muito centrada em Kant é J. Bergmann, Geschichte der Philosophie (!. Die Philosophie von Kant, 1 892; I I . Die deutsche Philosophie von Kant bis Beneke, 1 893). - Chega apenas até uma parte da filosofia grega e é importante especialmente para o pensamento orien tal a chamada História geral da filosofia de Deussen (citada no verbete F I LOSOFI A ORIENTAL ) . - Muito com-
1 084 pielas, embora sem muita unidade, são as coleções de história da filosofia escritas por vários autores: a A llge meine Geschichte der Philosophie (em Die Kultur der Gegenwart, ed. por P. Hinneberg), na qual colaboraram W. Wundt (filosofia dos povos primitivos), H. Olden berg (filosofia i ndiana), W. Grube (filosofia chinesa), T. I nouye (filosofia j aponesa), H . von Arnim (filosofia européia antiga), CI. Baueumker (filosofia patrística), 1. Goldzihep ( filosofia muçulmana e j udaica), C l . Baueumker (fi losofia cristã medieval), W. Windelband (filosofia moderna); a Geschichte der Philosophie (Teubner, 7 vols.), na qual colaboraram E. Hoffmann, K. Kroner, S. Marck, Jonas Cohn; A Geschichte der Phi losophie, em 1 1 vol s . : volumes !-IV, Die griechische Philosophie, por Wilhelm Capelle (!, 2ª ed., 1 95 3 ; I I , 2 ª e d . , 1 95 3 ; I I I , 2 ª ed. , 1 954; I V, 2 ª e d . , 1 954); V Die Philosophie des Mittelalters, por Josef Koch; VI, Von der Renaissance bis Kant, por Kurt Schilling, 1 954; VII, lmmanuel Kant, por Gerhart Lehmann; VIII-IX, Philosophie des I 9. Jahrh. , por Gerhart Lehmann, par tes 1 e 2, 1 95 3 ; X-XI, Die Philosophie im ersten Drittel des 20. Jahrhunderts, por Gerhard Lehmann, parte 1 , 1 957, parte 2 , 1 960. - Muito detalhado em relação a Kant e ao neokantismo e muito utilizado durante um tempo em países de língua espanhola é o manual de Karl Vorlander, Geschichte der Philosophie, 1 902; 7ª ed., 3 vols., 1 927; reed. aos cuidados de E. Metzke, 1 949; 9ª ed. , revisada por H. Knittermeyer, 1 95 5 . H istórias relativamente extensas: August Messer, Geschichte der Philosophie, 3 vols., 1 9 1 2- 1 926. - Guido de Ruggiero, Storia dellafilosojia, 1 4 vols., 1 920- 1 934 (várias eds. de tomos soltos). - Émile Bréhier, Histoire de la philosophie, 2 vols., 1 926- 1 932. - Ernst von Aster, Geschichte der Philosophie, 1 93 3 ; 1 5" ed., 1 968. - E . Paolo Lamanna, Storia della .filosofia, 4 vols., 1 940- 1 964. - Julián Marías, Historia de la filosofia, 1 94 1 ; 27ª ed. , 1 97 5 . - K. Schilling, Geschichte der Philosophie, 2 vols., 1 943- 1 944; 2ª ed., 1 95 1 - 1 954. Frederick C. Copleston, A History ofPhilosophy, 9 vols., 1 946- 1 975 (várias eds. de tomos soltos). - W. Tatarkie wicz, Historiafilozofi, 3 vols., 1 946- 1 950; 2ª ed. , 1 958. - Émile Gouiran, Historia de la .filosofia, 1 947. Bertrand Russell, A History ofWestern Philosophy, 1 947 (trad. bras. : História da .filosofia ocidental, 3 vols., 1 957). - Albert Rivaud, Histoire de la philosophie, 5 vols., 1 948- 1 968. - Nicola Abbagnano, Storia della ilosofia, 3 vols., 1 949- 1 95 3 ; 2ª ed. , 1 963. - Johannes f Hirschberger, Geschichte der Philosophie, 2 vols., 1 949- 1 952; 8ª ed. , 1 969. - A. Aróstegui , Esquemas para una historia de la .filosofia occidental, 1 95 3 . Jacques Chevalier, Histoire de la pensée, 4 vols., 1 9551 966. - M. A. Dynnik et ai. , Jstoriya_filosofii, 6 vols., 1 957- 1 965 . - C. Ottaviano, Manuale di storia della filosofia, i, 1 95 8 . - Anders Wedberg, Filosofins histo-
FILOSOFIA (HISTÓ RIA DA)
1 085 ria. A ntiken och medeltiden, 1 95 8 [antiga e medieval; tratamento "lógico" dos filósofos] . - É tienne Gilson, ed., A History of Philosophy. I: Anton Pegis, Ancient Philosophy, 1 96 1 ; I I : Armand A. Maurer, C. S. B., Me dieval Philosophy, 1 962; I l i : É. Gilson e Thomas Lan gan, Modern Philosophy: Descartes to Kant, 1 963; IV: É. Gilson e Thomas Langan, Recent Philosophy: Hegel to the Present, 1 966. - John Herman Randall Jr., The Career ofPhilosophy, I : 1 962; I I : 1 965 (cf. Chapters for the Career o/Philosophy III, and Other Essays, 1 977). - Wilhelm Totok, Handbuch der Geschichte der Philo sophie, 5 vols., 1 964- 1 986. - R. L. Shaw, G. J. Warnock et ai., A Criticai History of Western Philosophy, 1 964, ed. D. J. O'Connor. - Juan David García Bacca, Leccio nes de historia de la filosofia, 2 vols., 1 972- 1 973 (!: Filosofias de interpretación y reinterpretación dei uni verso [Demócrito, Platão, Aristóteles, Tomás de Aquino, Duns Scot, Descartes]; II: Filosofias de transformación dei universo [Kant, Hegel, Marx]. - Augusto Guzzo, Storia dellafilosofia e della civiltà, per Saggi, 1 2 vols., 1 973- 1 976. - VV. AA., Historia general de lafilosofia, 1 976 ss. ( ! : La filosofia presocrática, ed. Fernando Montero Moliner). - L. Geymonat, Storia dei pensie ro .filosofico e scientifico, 7 vols., 1 972. - G. Santi nello, ed., Storia delle storie generali della.filosofia, 5 vais., l 979ss. (!. Dalle origini rinascimentali alia "his toria philosophica "; I I , Dell 'età cartesiana a Brucker; III, !/ secando illuminismo e / 'età kantiana; IV, L 'età hegeliana; V, II secando Ottocento ). - Enciclopedia Iberoamericana de Filosofia, 3 5 vols., l 992ss. Sobre o problema da história da filosofia (além do prefácio de J. Ortega y Gasset à edição espanhola da História de Bréhier, e dos trabalhos de Francisco Rome ro e J. Freyer, vid. supra): Gustav Kafka, Geschichtsphi losophie der Philosophiegeschichte, 1 93 3 . - Nicolai Hartmann, Derphilosophische Gedanke und seine Ges chichte, 1 936, reimp. em Kleinere Schriften, II, 1 957, pp. 1 -48. - Hunter Guthrie, Introduction au probléme de l 'histoire de la philosophie: La métaphysique de / 'individualité a priori de la pensée, 1 93 7 (tese). - É . Bréhier, La philosophie et son passé, 1 940; 2ª ed., 1 950. - Henri Gouhier, La philosophie et son histoire, 1 94 7. - Armando Carlini, Filos()fia e storia delia .filosofia, 1 95 1 . - E. Husserl, H. Gouhier et ai. , La filosofia della storia delia filosofia, 1 954 [o texto de Husserl procede de um manuscrito até então inédito]. A mesma obra em francês com algumas modificações : La philo sophie de / 'histoire de la philosophie, 1 956. - Arturo Massolo, La storia della .filosofia come problema ed altri saggi, 1 95 5 . - Béla von Brandenstein, Vom Sinn der Philosophie und ihrer Geschichte, 1 957. - Harold R. Smart, Phi/osophy and Its History, 1 962. - Giorgio Tonelli, "Qu 'est-ce que l ' histoire de la philosophie?", Revue philosophique de la France et de l 'Étranger, 1 52
( 1 962), 290-306. - John Herman Randall Jr., How Philosophy Uses Its Past, 1 963. - J. Hyppolite, P.-M. Schuhl et ai., Hommage à Martial Guéroult: / 'histoire de la philosophie, ses problémes, ses méthodes, 1 964. - Adolfo P. Carpio, E! sentido de la historia de la filosofia, 1 965. - Walter Ehrlich, Philosophie der Ges chichte der Philosophie, 1 965. - John Passmore, "The Idea of a History of Philosophy", History and Theory, Beiheft 5 ( 1 965), 1 -32. - Walter E. Ehrhardt, Philoso phiegeschichte und geschichtlicher Skeptizismus. Un tersuchungen zur Frage " Wie ist Philosophiegeschichte moglich ? , 1 967. - Francisco Romero, La estructura de la historia de la.filosofia y otros ensayos, 1 967. Maria Teresa Antonelli, Filosofia e storia delia .filoso .fia, 1 968. - Lutz Geldsetzer, Die Philosophie der Phi losophiegeschichte im XIX. Jahrhundert. Zur Wissens chftstheorie der Philosophiesgeschichtsschreibung und betrachtung, 1 968. - Lucien Braun, Histoire de / 'his toire de la philosophie, 1 97 3 . - E. Castelli, V. Verra et ai., La filosofia della storia dellafilosofia: I suai nuovi aspetti, 1 974, ed. Enrico Castelli. - Charles A. Corr, "Toward an Improved Understanding of the History of Philosophy", Metaphilosophy, 6 ( 1 975), 54-7 1 . - A. P. Carpio, E/ sentido de la historia de lafilosofia, l 977. - J. Rée, M. Ayers, A. Westoby, Philosophy and lts Past, 1 978. - M . Guéroult, Dianoématique. Livre li: Philosophie de / 'histoire de la philosophie, 1 979. - F. Copleston, On the History of Philosophy, 1 980. - K. Düsing, Hegel und die Geschichte der Philosophie, 1 983. - Q. Skinner, J. Schneewind et ai. , Philosophy in Histo ry: Essays on the Historiography of Philosophy, 1 984, eds. R. Rorty, J. Schneewind, Q. Skinner. - Y. Honde rich, Philosophy Through lts Past, 1 984. - M. Gué roult, Dianoétique. Livre I: Histoire de / 'histoire de la philosophie, vai. 1 : En Occident des origines jusqu 'à Condillac, 1 984. - J. J. E. Gracia, Philosophy and Its History: lssues in Philosophical Historiography, 1 992. Algumas das muitas obras sobre "filosofias nacio nais" modernas foram mencionadas na bibliografia dos verbetes FILOSOFIA MODERNA e FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA, assim como FILOSOFIA AMERICANA. Excetuamos aqui, por não abarcar totalmente o período moderno, a Historia de la filosofia espaíiola, de A. Bonilla y San Martín ( 1 908), prosseguida por Tomás e Joaquín Carreras Artau (Historia de la filosofia espaíiola: filosofia cristiana de los siglas XIII ai XV; 1, 1 939; I I , 1 943) e por Mar cial Solana (Historia de la filosofia espaíiola: Época dei Renacimiento, sigla XVI, 3 vols., 1 94 1 ); a obra pós tuma de Guillermo Fraile, Historia de la filosofia es paíio/a, 2 vais., 1 97 1 - 1 972, ed. Teófilo Urdanoz; a obra de Lothar Thomas, Geschichte der Philosophie in Por tugal. Ein Versuch (!. Die Geschichte der Philosophie in Portugal von den A nflingen bis Ende des 1 6. Jahrhun derts, aussch/iesslich der Renegeration der Scholastik, "
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FILOSOFIA IBERO-AMERICANA
1 944 ) ; a parte sobre a filosofia do Renascimento na história da filosofia italiana (La filosofia, 2 vols., 1 948) de Eugenio Garin (na Storia dei generi letterari italia ni); e os l ivros que se referem à tradição platônica na filosofia anglo-saxônica, principalmente na época mo derna, mas também anteriormente: J. H. Muirheacl, The Platonic Tradition in A nglo-Saxon Philosophy ( 1 93 1 ), e H. Gauss, La tradition platonicienne dans la pensée anglaise ( 1 948). Sobre os métodos histórico-filosóficos e sua biblio grafia, ver: Rodolfo Mondolfo, Problemas y métodos de la investigación en historia de la filosofia, 1 949. Werner Goldschmidt, "Los quehaceres dei historiador de la filosofi a", em Estudios de historia de la filoso fia . Em homenagem ao professor R. Mondolfo, ed. J. A. Vásquez, fase. 1 , 1 957, pp. 1 1 -50. - Lewis White Beck, bibl iografia de metodologia de história da filo sofia, Monist, 53 ( 1 969), 527-53 1 , com suplemento de Giorgio Tonelli em Journal o.fthe History o.fPhilosophy, 1 0 ( 1 972), 456-45 8. - M. Gentile, Compiti e metodi delta storia della .filos(!fia oggi. A tti dei 25 Convegno nazionale di.filosofia, Pavia 1 9 75, 1 975. - L. Malusa, La storiografia.filosofica italiana nella metà dell 'otto cento. 1: Tra positivismo e neokantismo, 1 977. - V. Mathieu, "La storiografia filosofica", em id., Lafilvso fia italiana contemporanea, 1 978, pp. 223 -263 . - G. Santinello, ed., La storiografia filosofica e la sua sto ria, 1 982. -- Y. Lafranc, Méthode et exégése en histoire de la philosophie, 1 98 3 . - G. Piaia, Vestigia philoso pho111m. ll medioevo e la storiogra.fia.filosofica, 1 98 3 . - M . Longo, Historia philosophiae philosophica. Teorie e metodi delta .1·toria delta filosofia Ira seicento e settecento, 1 986. Muitas revistas filosóficas contêm artigos de inte resse no campo da hi stória da filosofia. Destacamos, entretanto, as seguintes revistas: A rchivfür Geschichte der Philosophie, fundada por Ludwig Stein (com H . Diels, W. Dilthey, B. Erdmann e E. Zeller), vols. 1-XL I , 1 8 88- 1 93 2 . A publicação do A rchiv foi reassumida em 1 960 (com o vol . 42), eds. Glenn Morrow e Paul Wil pert. - Revue des sciences humaines, desde 1 927, com vários títulos (Revue d 'histoire de la philosophie, 1 9271 93 3 ; Revue d 'histoire de la philosophie et d 'histoire générale de la civilization, 1 933- 1 946). - Revue d 'his toire et de philosophie religieuses, 1 897- 1 9 1 5 e desde 1 92 1 . Rivista critica di storia delta filosofia, desde 1 946. - Sophia. Rivista internazionale di filoso,fia e storia delta .filo.wdia, desde 1 93 3 . - Journal o.f the History o.fldeas, desde 1 940. - Journal ofthe History o.fPhilosophy, desde 1 963 . - History o,fPhilosophical Quarterly. desde 1 984. - Também mencionamos o Ar chiv fiir Begr(ffsgeschichte. Bausteine zu einem his torischen W6rterbuch der Philosophie, ed. E. Rothacker desde 1 95 5 . C: �-
FILOSOFIA IBERO-AMERICANA. Ver FILOSOFIA AMERICANA.
FILOSOFIA INDIANA. Empregamos esse nome, e
não o de ' filosofia hindu ' , para nos referir ao pensa mento filosófico da Í ndia. Com efeito, ' filosofia hin du ' designa uma parte da filosofia da Í ndia: a que tem como base a tradição rel igiosa considerada ortodoxa na linha do vedismo-bramanismo-hinduísmo. Por ou tro lado, ' filosofia indiana' significa a filosofia produ zida por pensadores do citado país, qualquer que seja sua orientação no que diz respeito à ortodoxia ou o período no qual tenham desenvolvido sua atividade. No verbete FILOSOFIA ORIENTAL examinamos alguns dos problemas levantados pelas filosofias orientais mais importantes, aplicando-se também, pois, à filosofia in diana. Aqui concentraremos nossa atenção em dois pon tos: a divisão da filosofia indiana segundo períodos e escolas, e os traços mais gerai s dessa filosofia. Os períodos mais gerais em que se costuma dividir a filosofia ind iana são dois. 1 ) Período védico, desde o início (em data indetermi nada, mas muito remota) até uma época não bem estabelecida, mas que pode ser fixada em torno do ano 500 a.C. Esse período costuma ser dividido em outros dois: o védico ou do Veda (VER) e o upanishá dico ou das Upanishad (vER). O período védico é às vezes também qualificado de período pré-upanishá dico, especialmente quando se quer destacar o fato de que, mesmo dentro da tradição védica, as Upani shad con stituem a principal base para o desenvolvi mento de grande parte da filosofia indiana posterior. O período upanishádico é também qualificado de ve dântico ou do Vedanta, sendo esse termo entendido agora como ' fim do Veda' . 2) Período pós-védico. D e modo geral abarca desde o fim da época das principais Upanishad até o momen to atual. Contudo, como esse período ficaria grande demais, convencionou-se subdividi-lo em três épo cas: a) a época pós-védica primitiva, que compreen de sobretudo a primeira forma de budismo (vER) e o estabelecimento do j ainismo (VER); b) a época dos sistemas ou escolas (darsanas), que enumeraremos adiante e aos quais foram dedicados verbetes especí ficos; e c) a época moderna, no curso da qual foram continuados os sistemas a que aludimos anterior mente, algumas vezes combinados com outros ele mentos, até mesmo da filosofia ocidental, alteradas às vezes consideravelmente pela mudança das cir cunstâncias históricas e sociais. É dificil demarcar com precisão limites temporais para essas épocas. A época pós-védica abarca desde 500 a.C., aproxi madamente, até o começo da nossa era; a época dos sistemas ou escolas experimentou um grande flores cimento durante os primeiros séculos da era cristã;
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FILOSOFIA INDIANA
quanto à cronologia d a época moderna, e l a foi esta belecida mais em função da história ocidental que da história da Í ndia, mas pode ser conservada por conveniência. Os mencionados sistemas ou escolas de filosofia são, propriamente, pontos de vista ou "visões imediatas da verdade" (ver DARSANA). Seguindo a tradição, classi ficá-los- emos nos seguintes grupos. I ) Sistemas ortodoxos (astika) que aceitam de um modo ou de outro a autoridade védica. Eles são seis: Niaia (VER), Vaisesica (VER), Sanquia (vER), Ioga (VER), mimansa (ou Purva-mimansa) (VER) e Vedanta (às ve zes, Uttara-mimansa [vER] ). Esses sistemas podem ser combinados em três grupos, cada um dos quais possuin do características comuns: Niaia- Vaisesica, Sanquia Ioga, mimansa- Vedanta (ou Purva-mimansa e Uttara mimansa ou Vedanta de Badaraiana). Também podem ser classificados em dois grupos: um constituído por sistemas baseados principal ou exclusivamente no Veda, e outro que, embora aceitando o Veda, não se apóia tão insistentemente nele. O primeiro desses grupos abarca um sistema de índole preferentemente ritualista (mi mansa) e um de índole predominantemente especula tiva ( Vedanta) . O segundo compreende os quatro men cionados sistemas ortodoxos restantes: Niaia, Vaisesica, Sanquia, Ioga. II) Sistemas heterodoxos (nastica), que rejeitam a autoridade védica, embora sej am precedidos, em parte, por idéias que abrem caminho - ou ao menos são mencionadas - nas Upanishad. Estes sistemas são três: Charvaka ( Calilaka) (VER) - ou materialismo -, budis mo (vER) e j ainismo (vER). Como o budismo (posterior) se subdivide algumas vezes em outros quatro sistemas füibhasika, Sautrantika, Vijnanavda ( fogacara) e Ma dhyamika , diz-se também que há seis sistemas hetero doxos paralelos aos seis sistemas ortodoxos. Limitar-nos emos, no que diz respeito aos "sistemas heterodoxos", aos três apontados no começo deste parágrafo. Quanto aos traços mais gerais da filosofia indiana, logo se compreenderá que é dificil defini-los dada sua ampl itude geográfica e cronológica. Todavia, assim co mo assinalamos no caso da filosofia oriental (VER), a dificuldade diminui quando falamos em termos de ten dências. Algumas destas são determinadas pelo quadro de características gerais da filosofia oriental. Apresen taremos a seguir um breve esboço das mais destacadas, correspondentes especificamente à fi losofia indiana. Uma delas é o que pode ser qualifi cado de tendên cia sintética. Consiste em rejeitar a adscrição de deter minados problemas a disciplinas filosóficas determi nadas e precisas, assim como o isolamento de um tema ou problema qualquer. A visão total determina o méto do seguido em cada caso. Esta visão é a mencionada apreensão imediata da verdade mediante o ponto de -
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vista, darsana. No amplo círculo traçado por este último situam-se os distintos problemas e o modo específico de tratá-los. Outra tendência é seu espírito aberto para conside rar opiniões adversas. Não é apenas o espírito aberto de cada sistema ortodoxo em relação aos outros, mas dos sistemas ortodoxos em relação aos heterodoxos e vice versa. Esse espírito deve-se, contudo, menos a uma orien tação eclética que a dois fatos: primeiro, o fato de que a literatura tradicional védica e upanishádica contém uma enorme quantidade de opiniões distintas, incluin do, como percebemos, ao menos na forma de menção, algumas opiniões próximas da heterodoxia; segundo, o fato de que, uma vez constituída, cada darsana é completa em sua perspectiva e pode se referir às demais "impunemente". Tendência muito acusada na filosofia indiana é a que já foi assinalada no caso da filosofia oriental em geral: a "despersonalização" da produção filosófica. Isso permite compreender as formas de expressão filosófi cas características da fi losofia indiana: textos conside rados básicos, elaboração conceituai desses textos me diante explicações ou interpretações de seus significa dos, sutras (ou "fios") por meio dos quais são estabele cidas "vias" que permitem ligar algumas opiniões com outras e ver seu fundamento comum, comentários às sutras, organização de todos esses materiais em um corpo doutrinal no qual colaboram muitos pensadores ao longo de numerosos comentários. Em um sentido geral de 'escolástico ' , podemos dizer que na forma de expressão grande parte do pensamento filosófico india no tem um ar escolástico (o que não significa sempre um ar fechado). Além da citada "despersonalização" há uma acentuação do valor da personalidade criadora, porém não tanto como produtora de determinados pen samentos objetivos do que como um "modelo" cujos tra ços históricos e humanos desaparecem pouco a pouco. Outra tendência acusada na filosofia indiana é o fato de que todas as suas escolas partem de uma situação humana - o caráter miserável e angustiado da existên cia neste mundo - para elevar-se rumo a um impulso de purificação. O fundamento último de boa parte da filosofia indiana é, pois, moral ou, melhor, religioso moral. Trata-se, com efeito, de alcançar o máximo do mínio possível sobre si próprio e sobre o mundo (me diante forças espirituai s) com o fim de libertar-se da mi séria do real-aparente e de alcançar a quietude do real verdadeiro. A final idade última das escolas é, desse modo, a salvação e a libertação (ver MoKsA); mesmo em um sistema como o materialista de Charvaka há uma certa libertação no prazer e um fim de todo desgos to da existência na morte. Finalmente, um motivo muito importante em quase todo o pensamento filosófico indiano é o predomínio da
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FILOSOFIA J U DAICA
concepção da filosofia como "via" (ou modo de exis tência) sobre sua concepção como série de proposições que pretendem unicamente descrever objetivamente o real . Essas duas concepções coexistem na Í ndia (como, além disso, no Ocidente); a segunda, ademais, não é totalmente insignificante se nos limitamos ao trabalho fi losófico de caráter específico que, dentro do marco geral da darsana correspondente, realizaram muitos pensadores indianos; a primeira concepção, todavia, acaba por imperar sobre a segunda. Como indica M. Hiriyanna, a máxima fundamental jainista - "Não viva para conhecer, mas conheça para viver" - poderia ser aplicada a todas as demais "escolas" indianas. :> Ver as bibliografias de FILOSOFIA ORIENTAL; VEDA; U PANISHAD; BUDISMO; JAINISMO e das várias escolas men cionadas no texto do verbete. Obras gerais sobre a filo sofia indiana e sobre a história da filosofia indiana: P. Deussen, A llgemeine Geschichte der Philosophie, mit besonderer Beriicksichtigung der Religionen, 6 vols., 1 894- 1 9 1 8 . - Max Müller, The Six Systems of1ndian Philosophy, 1 899. - R. Guénon, lntroduction généra le à / "étude des doctrines hindoues, 1 92 1 ; 3ª ed. , 1 939. - ld., Les philosophies indiennes. Les :,ystemes, 2 vols., 1 93 1 . - Surendranath Dasgupta, A History of1ndian Philosophy, 5 vols. (1, 1 922; I I , 1 932; I I I , 1 940; IV, 1 949; V, 1 955). - P. Masson-Oursel, Esquisse d 'une histoire de la philosophie indienne, 1 92 3 . - S. Radha krishan, lndian Philosophy, 2 vols. (1, 1 92 3 ; I I , 1 927). - O. Strauss, lndische Philosophie, 1 92 5 . - S . K. Belkalvar e R. D. Ranade, History oflndian Philosophy, 1 927. - M. Hiriyanna, Essentials of1ndian Philoso phy, 1 932. - !d., Outlines o/1ndian Philosophy, 1 932. - A. Schweitzer, Die Weltanschauung der indischen Denker: Mystik und Ethik, 1 93 5 . T. R. V. Murti, M. Hiriyanna et ai. , The Cultural Heritage of" Jndia, I I I : The Philosophies, ed. Haridas Bhattacharyya, 1 937; 2ª ed, rev. e ampl., 1 953. - S. C. Chatterjee e D. M. Datta, An lntroduction to lndian Philosophy, 1 939; 7ª ed. , 1 968. - Jwala Prasad, lndian Epistemology, 1 939. V. Fatone, lntroducción ai conocimiento de la filosofia en la índia, 1 942. - W. Ruben, Die Philosophen der Upanishaden, 2 vols., 1 947 ( 1 . Vorphilosophische Phi losophie; l i . Philosophie und Mystik der Upanischa den) . - !d., Geschichte der indischen Philosophie, 1 954. - H. von Glasenapp, Die Philosophie der índer. Eine Ein/ührung in ihre Geschichte und ihre Lehren, 1 949; 2ª ed. , 1 95 8 . - Jadunath Sinha, A History of" índian Philosophy, 2 vols., 1 949- 1 952; 2ª ed. , 1 9581 962. - Heinrich Zimmer, Philosophies of1ndia. T. Bernard, Hindu Philosophy, 1 95 1 . - K. S. Murty, Evolution o/Philosophy in índia, 1 952. - E. Frauwal ler, Geschichte der indischen Philosophie. !. Die Philo sophie des Veda und des Epos. Buddha und Jina. Das Samkhya und das Yoga-System, 1 95 3 ; I I , 1 956. - Ma-
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FILOSOFIA JUDAICA. É, por um lado, a filosofia da tradição religiosa do j udaísmo, que elabora os con ceitos metafísicos derivados da Lei ou pretende j usti ficá-los racionalmente, e, por outro l ado, as produções filosóficas derivadas de pensadores de origem j udaica. No primeiro sentido, são incluídos dentro da filosofia j udaica grande parte dos comentários à Cabala e ao Tal mude e, sobretudo, os pensadores medievais que tenta ram uma conciliação da Lei com a tradição filosófica grega, especialmente aristotélica, e tiveram seu maior re presentante em Maimônides. No segundo sentido, muito
1 089 mais impreciso, designa-se como filosofia j udaica des de o platonismo de Fílon de Alexandria até o sistema de Spinoza a filosofia transcendental de Salomão Mai mônides e o pensamento de K. Rosenzweig e M . Buber. Somente com grandes reservas se pode dar a este último conceito o nome de filosofia j udaica. Deve-se entender por filosofia j udaica a filosofia que, admitindo a noção de Lei como uma maneira peculiar de relação do ho mem com a divindade, esforça-se para entendê-la me diante o pensamento racional . Essa relação é também um dos motivos do pensamento cristão, e com as devidas reservas pode-se dizer que ambos partem de um proble ma similar. As diferenças, todavia, são consideráveis. Em primeiro lugar, como observa Renan, o judeu esco lheu como base da comunhão religiosa a prática e não os dogmas. "O cristão está vinculado ao cristianismopor uma mesma crença. O j udeu está vinculado ao judaísmo pelas mesmas observâncias" (Hist. des orig. du Christian. , VI, cap. XIII). Daí que o cristão tenha assimi lado quase necessariamente a tradição helênica enquanto o judaísmo permaneceu - com algumas exceções dentro de si mesmo, eliminando quase seguidamente as possibilidades de uma filosofia, e isso de tal modo que essa filosofia surgiu unicamente quando, abando nando sua atitude peculiar, ela examinou a relação entre Deus e o homem por meio da Lei de maneira muito distinta da imposta por sua tradição religiosa. Isso ocorre, por exemplo, com o cabalismo, do qual tratamos em outro ponto (ver CABALA), que contém provavelmente muitos outros elementos além da simples relação entre o homem e a Lei. A exposição da história da filosofia j udaica depen de, naturalmente, de que nela sejam incluídos - como faz a maior parte dos historiadores da filosofia - so mente os pensadores judeus medievais, especialmente na medida em que se relacionaram com a filosofia árabe e cristã, ou de que abarque a história inteira do pensa mento ocidental, desde os problemas filosóficos levan tados pela relação entre filosofia e Lei até as questões de filosofia da religião tratadas por muitos pensadores judeus modernos. O esquema que surge em cada caso é, evidentemente, distinto. Assim, podemos por exem plo comparar duas exposições de conj unto da filosofia judaica, a de J. Husik e a de Guttmann, que podem ser vir como amostras de uma exposição geral cronológica (a exposição de Neumark segue o fio de certos proble mas, especialmente os da relação entre matéria e forma e aqueles estabelecidos pela teoria dos atributos). Husik considera a filosofia judaica, de acordo com o propósito de seu livro, essencialmente como "filosofia j udaica medieval". Deste modo ele aborda os séculos que estão entre o X e o XV, i sto é, desde Isaac l sraeli até I:Iasdai Crescas e Josep Albó. Temos então, em ordem cronoló gica aproximada, Isaac lsraeli (ca. 870-920), Davi ben
FILOSOFIA J UDAICA
Mervan AI Mukamas, aproximadamente da mesma épo ca de l sraeli e Saadia (892-942), considerado por muitos o "fundador" da filosofia j udaica medieval e por Husik "o primeiro filósofo j udeu importante" após Fílon de Alexandria; José Al Basir (século XI) e seu discípulo Jesuá ben Judá, Abengabirol ou Avicebron (ca. 1 0201 070), Abenpakuda, aproximadamente uma geração posterior a Avicebron, Abraham bar Hiyya ou Abraham Savasorda, da mesma época, Abensadik (t 1 1 49), Yehu da-Ha-Levi (ca. 1 080- 1 1 43), os Abenezras (Abraham ibn Ezra, 1 092- 1 1 67, e Moisés ibn Ezra, ca. 1 070-ca. 1 1 38), Abendaud (século XII), Maimônides ( 1 1 35- 1 204), Hillel ben Samuel e Levi ben Gerson, ambos posteriores em um século ou um século e meio a Maimônides, Sem Tob Falaquera ( 1 25 5 - 1 290), I:Iasdai Crescas ou Hasdai ben Abraham Crescas ( 1 340- 1 4 1 O) e Josep Albó ( 1 3 801 444 ). (Deve-se destacar que a transcrição dos nomes [alguns conhecidos, além disso, por sua forma em ára be] difere consideravelmente nos diversos textos.) Por outro lado, Guttmann, mais interessado na "filosofia do j udaísmo" (título de sua história), entende esta últi ma em um sentido extremamente amplo. A rigor, ele define a história da filosofia judaica como "a história das distintas recepções de tesouros intelectuais alheios". Essa filosofia poderia ser dividida em três grande par tes. A primeira compreenderia os problemas filosóficos que - postos em contato com alguma tradição intelec tual - a evolução religiosa do povo j udeu poderia sus citar na Antiguidade (religião bíblica, filosofia greco judaica e a especulação talmúdica). A segunda parte abarcaria a filosofia da religião judaica na Idade Média, desde Isaac l sraeli e Saadia - também considerado "fundador" da filosofia j udaica medieval - até Gerson e Crescas, assim como as elaborações filosóficas do judaísmo no Renascimento, especialmente na Espanha e na Itália. Especial importância deveria ser dada então aos embates entre as diferentes seitas religiosas, e espe cialmente à maior ou menor inclinação de cada uma ao "racionalismo", assim como aos problemas relativos à relação - ou à ausência de relação - entre e a Lei e a sua interpretação filosófica. Externamente, por ou tro lado, essa história seria determinada por orientações como a influência neoplatónica ( Israeli, Avicebron e depois Leão Hebreu) e a influência aristotélica (Maimô nides). A terceira parte abarcaria a filosofia judaica moderna, que seria por um lado a filosofia dos pensado res j udeus e, por outro, a filosofia daqueles em que a questão do j udaísmo chegasse a possuir - tanto positi va como negativamente - alguma importância. Nesse grupo entrariam figuras como Spinoza, Moisés Men delssohn, Salomão Formstecher, Samuel Hirsch, Moritz Lazarus, Hermann Cohen e - poderíamos acrescen tar - K. Rosenzweig e Martin Buber no pensamento propriamente contemporâneo.
FILOSOFIA LATINO-AMERICANA :> Enciclopédias com informação geral sobre a histó ria, a cultura e o pensamento hebraicos: The Jewish Encyclopaedia, New York, 1 90 1 ss. -- Encyclopaedia Judaica. Das Judentum in Geschichte und Gegenwart, Berlim, l 928ss. Enciclopédias bíblicas: J. Vigouroux, Dictionnaire de la Bible, Paris, 1 89 1 . - J. Hastings e Selbie, A Dictio nary ofthe Bible, Edimburgo, 4 vols., l 898ss. - Chayne e Black, Encyclopaedia biblica, Londres, 4 vols., 1 899ss. Para o Talmude, ver: A. Nager, Die Religionsphilo sophie des Talmud, 1 864. - E. Deutsch, Der Talmud, 1 869. - Jacobsohn, Versuch einer Psychologie des Tal mud, 1 87 5 . - A. Schwarz, Der hermeneutische Syllo gismus in der talmudischen literatur. Ein Beitrag zur Geschichte der logik im Morgenland, 1 90 1 . - !d., Die hermeneutische lnduktion in der talmudischen literatur. Ein Beitrag zur Geschichte der Logik, 1 909. Para a Cabala, ver bibliografia de CABALA. Para a história do pensamento filosófico, ver, além do livro de S. Munk, Mélanges de philosophie juive et arabe, 1 8 59; nova ed., 1 927, reimp. 1 95 5 , e da biblio grafia dos verbetes sobre diversos pensadores j udeus: M . Eisler, Vorlesungen iiber diejiidischen Philosophen des Mittelalters, 3 vols., !, 1 870; II, 1 876; I I I , 1 884. D. Neumark, Geschichte derjiidischen Philosophie des Mittelalters nach Problemen dargestellt, 2 vols., 1 9071 9 1 O. - J. Husik, A History ofJewish Mediaeval Philo sophy, 1 9 1 6. - J. Guttmann, Die Philosophie des .!uden tums, 1 93 3 . - Georges Vajda, lntroduction à la pensée juive du moyen âge, 1 947. - Ermenegi ldo Bertola, La .filosofia ebraica, 1 94 7. - León D uj ovne, lntroducción a la historia de lafilosofiajudía, 1 949. - C. Tresmon tant, Essai sur la pensée hébraique, 1 95 3 . - !d., Étu des de métaphysique biblique, 1 95 5 . - Joseph Blau, The Story ofJewish Philosophy, 1 962. - I srael !. Efros, Ancient Jewish Philosophy: A Study in Metaphysics and Ethics, 1 964. - André Chouraqu i, La pensée juive, 1 968. - Nathan Rotenstreich, Jewish Philosophy in Modern Times: From Mendelssohn to Rosenzweig, 1 969. -- Henri Sérouya, Les étapes de la philosophie juive, !: Antiquité hébraique, 1 969. - F. Pinkuss, Tipos de pensamiento judaico, 1 975. - S. T. Katz, Jewish Philosophers, 1 97 5 . - L. D. Stitskin, Jewish Philoso phy. A Study in Personalism, 1 976. - F. Niewõhner, "Vorüberlegungen zu einem Stichwort 'Philosophie, Jü dische , A rchiv.fiir Begrilfsgeschichte, XXIV, 2 ( 1 980), 1 95-220. - C. S irat, La philosophie juive au moyen âge, 1 98 3 . - E. Seidel, 'Jiidische Philosophie ' in ni chtjüdischer und jüdischer Philosophie-Schreibung, 1 984. - H. M. Simon, Geschichte derjüdischen Philo sophie, 1 984. - A. A. Cohen, P. Mendes-Flohr, eds. , Contemporary Jewish Religious Thought, 1 987. - N. M . Samuelson, ed. , Studies in Jewish Philosophy: Cal"'
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FILOSOFIA LATINO-AMERICANA. Ver FILOSOFIA AMERICANA. FILOSOFIA MARXISTA NA UNIÃ O SOVIÉTICA. A filosofia marxista na União Soviética - que, para abreviar, chamaremos de "filosofia soviética" -- é em parte um desenvolvimento do marxismo (v ER ), mas é conveniente distinguir um e outro, pois há certos as pectos importantes no pensamento de Marx - e mes mo no de Marx e Engels - que não estão incluídos na filosofia soviética, e ao mesmo tempo esta apresenta aspectos que não aparecem em Marx. Por esse motivo dedicamos um verbete especificamente à fi losofia so viética, centrando nossa atenção nas discussões ocorri das até o XX Congresso ( 1 956). Segundo .1. M . Bochenski ("On Soviet Studies", Studies in Soviet Thought, 1 96 1 , pp. 5ss. ), pode-se dis tinguir a marxologia (o estudo do pensamento de Marx e também de Marx e Engels), a leninologia (o estudo do pensamento de Lenin) e a sovietologia (ou estudo da filosofia soviética propriamente dita). Seguimos essas sugestões, mas pedindo ao leitor que considere ao mes mo tempo a filosofia soviética como fundada em grande parte no marxismo e no leninismo. Escrevemos sobre Lenin no verbete dedicado a ele e no final do verbete MARXISMO. Aqui nos limitaremos, pois, à apresentação dos momentos fundamentais da história da fil osofia soviética e suporemos o conhecimento de seus elemen tos ideológicos mais importantes: o materialismo dia lético, o materialismo histórico, o real ismo epistemo lógico etc. Também presumiremos o conhecimento de vários elementos filosóficos básicos, como o realismo epistemológico, o cientificismo, a doutrina das três leis dialéticas, a doutrina da ditadura do proletariado, a dou trina (além disso discutida) do eventual desaparecimen to do Estado quando for formada a sociedade sem clas ses etc. Acrescentemos que em nossa apresentação nos
1 09 1 estenderemos principalmente sobre o s desenvolvimen tos filosóficos na União Soviética. Alguns autores in cluem dentro da epígrafe "filosofia soviética" a "filo sofia marxista chinesa" e os desenvolvimentos filosó ficos marxistas em países como Polônia, Tchecoslová quia, Hungria etc. Há, evidentemente, muitas coinci dências, mas o quadro resultante, caso fossem incluídas todas essas manifestações do "pensamento soviético" contemporâneo, seria demasiadamente complexo. Além disso hoje j á se pode distinguir a "filosofia sov iética" estrita da "filosofia marxista chinesa". Referimo-nos a este ponto no final do verbete FILOSOFIA CHINESA. Uma característica da filosofia soviética é o esforço para manter o que foi chamado de "a l inha geral". Isso fez que se lutasse contra as discrepâncias, considerando as "desvios" (geralmente "para a direita" ou "para a esquerda"). Os "desvios para a direita" são usualmente considerados "revisionismos" ou "reformismos", como Lenin criticou as doutrinas de Plekhanov. Os "desvios para a esquerda" são usualmente considerados "radica lismos" ou "doenças infantis do comunismo", também como Lenin argumentou contra alguns de seus adversá rios políticos. A "linha geral" é, pois, um "centro'', mas não necessariamente o resultado de uma composição eclética ou de um compromisso. Essa "linha geral" muda. Não poucas das mudanças se devem àquilo que os fi lósofos não-soviéticos (ou, em geral, não-marxis tas) chamariam de "circunstâncias políticas", mas que os filósofos soviéticos consideram resultado da estreita união da teoria com a prática (ou praxis) . Outra característica d a fil osofia soviética é a impor tância que. têm na discussão filosófica os "textos funda mentais", especialmente de Marx, Engels e Lenin, o que faz dessa filosofia um pensamento essencialmente "dogmático", ou, melhor, baseado em dogmas prévios aceitos sem discussão. Gustav Wetter pôde dizer que há uma semelhança entre a filosofia soviética e o pensa mento católico, ainda que se deva sublinhar que essa semelhança se desvanece não somente quando nos re ferimos ao conteúdo, mas também quando levamos em conta que o caráter dogmático do pensamento católico se refere a sua teologia e não necessariamente à sua filosofia, na qual podem ser admitidos, em princípio, métodos e conteúdos muito variados . Como conseqüência d a importância dos "textos" a filosofia soviética tende freqüentemente a manifestar se na forma "escolástica" que Blakeley descreveu. Dis cussões de indole "escolástica" ocorrem sobretudo em pontos como a relação entre a doutrina materialista e o método dialético; entre o materialismo dialético em ge ral e o materialismo histórico; entre uma teoria do co nhecimento rigorosamente "fotográfica" e outra que contém alguns elementos "construtivistas"; entre a lógi-
FILOSOFIA MARXISTA NA UNIÃO SOVI ÉTICA
ca dialética e a lógica formal; entre uma teoria segundo a qual há uma relação imediata e direta da estrutura com as superestruturas e teorias segundo as quais essa rela ção é menos direta e mais "livre" etc. No que diz respeito aos períodos em que a filosofia soviética pode ser dividida, apresentaremos os seguin tes: 1 9 1 7- 1 93 1 ; 1 93 1 - 1 947; 1 947- 1 953 e, muito sucin tamente, a partir de 1 95 3 . O principal acontecimento d o primeiro período foi o debate entre mecanicistas e idealistas. Após alguns anos de discussão consideravelmente l ivre dentro do materialismo dialético, e ao longo dos quais pareciam inserir-se no marxismo soviético elementos muito diver sos -- alguns deles, e não dos menos i mportantes, pro cedentes da tradição intelectual russa e das discussões filosóficas ocorridas na Rússia no século XIX e no iní cio do XX -, tendeu-se a buscar a citada "linha geral" por meio de uma rejeição de dois "desvios": o "meca nicista" e o "idealista". Os mecanicistas, representados, entre outros, por Ivan lvanovitch Skvortson-Stepanov ( 1 870- 1 928), Arkady Klimentovich Timirazev ( ! 8801 955) e em grande parte por Lubov I saakovna Axelrod ( vrn ) , enfatizaram tanto o componente materialista e tão pouco o componente dialético no marxismo, que se "desviaram" para "um cientificismo positivista" nega dor do essencial "movibilismo" da realidade em bene ficio do "passivismo" da matéria (entendida de modo "mecanicista"). Os idealistas (chamados de "idealistas menchevizantes"), representados por Abram Moisee . vitch Deborin ( VER) e pelos redatores da revista Pod znaménem marksizma (Sob a bandeira do marxismo), fundada em 1 922 - N. 1. Karev, V. F. Asmus, 1. K. Luppol, M. L. Levin, Y. Sten -, ressaltaram tanto o componente dialético e tão pouco o materiali sta que foram denunciados (em 1 93 1 ) como "idealistas'' e "he gelianos". Assim foi fixada a "linha geral", produzindo uma "fixação" do pensamento filosófico. Essa fixação perdurou de 1 93 1 até 1 947. O segundo período da filosofia soviética caracteriza-se por sua imobil idade. Os fi lósofos ocuparam-se sobretudo em evitar serem acusados por "desvios", consagrando-se a estudos de detalhe e a muito minuciosos esclarecimen tos dos "textos". Durante todo o período citado predo minaram quase absolutamente as diretivas dadas no decreto do Comitê Central do Partido Comunista (bol chevique) da URSS em 25 de janeiro de 1 93 1 , no qual se estabeleceu que o marxismo-leninismo era o marxis1110 -leninismo-stalinismo e que "todo avanço na teoria marxista--leninista", incluindo qualquer avanço na dou trina fi losófica marxista, est�va associado necessaria mente ao nome de Stalin, a seus esc1 itos e realizações. Dentro da geral imobilidade característica do citado pe ríodo podem ser distinguidas, contudo, duas fases: a de
FI LOSOFIA MAHXISTA NA UNI ÃO SOVI ÉTICA
1 93 1 a 1 93 6 e a de 1 93 6 a 1 947. A primeira fase revela certa atividade filosófica, com numerosos trabalhos, entre eles o de P. Dosev sobre a epistemologia do mate rialismo dialético e os de M. B. M itin sobre o materia lismo dialético e histórico. A segunda fase (inaugura da com a nova Constituição staliniana de novembro de 1 936) manifesta uma notória queda da produção filosó fica, que consiste quase inteiramente em repetições. A terceira fase iniciou-se em 1 94 7 com um discurso de Andrei A. Zdanov (assim citado comumente em por tuguês; em nossa transcrição: Jdanov) ( 1 896- 1 948) re sumindo e acentuando as críticas dirigidas contra o to mo de G. F. Alexandrov consagrado à fi losofia européia (lstoria zapadnoevropéskoifilosofii: História da filo sofia ocidental européia, publicado cm 1 946 e recom pensado com o "prêmio Stalin"). Zdanov e outros consi deraram essa "História" como demasiadamente "cos mopol ita'', "neutralista" e "obj etivista", isto é, distante das necessidades combativas que obrigam a "desmas carar" a filosofia ocidental como "burguesa" e "reacio nária". Nesse di scurso (ver trad. esp. em Arbor, n. 30 [ 1 948], 269-292) ataca-se não somente a obra de Ale xandrov, mas muitas das produções dos membros do Instituto fi losófico da Academia de Ciências. Zdanov alega que esses fi lósofos renunciaram acr "espírito de partido" em favor de um falso "ecletismo obj etivista". A "frente fi losófica", assinala Zdanov, não se parece em nada com o que deve ser: um campo de batalha no combate pelo comunismo. É necessário que o "coletivo" dos filósofos remova as águas mortas e se decida a trabalhar intensamente, por meio da "autocrítica" e da "denúncia" dos erros ocidentais (entre eles: a ciência bur guesa, o fideísmo, o existencialismo, o idealismo "pseu docientífico", o formal ismo positivista etc). Com isso a "frente fi losófica" se agitou. É certo que, como indi cou Bochenski, as novas diretivas não representaram nenhuma mudança essencial na estrutura das teses da fi losofia soviética tal como haviam sido expostas em Kratkiyfilosof.i·kiy slovar (trad. esp.: Pequeno Dicioná rio fi/osófico, várias edições), de P. F. Yudin e M . M . Rozental. Mas a produção fi losófica aumentou notavel mente; fundou-se (em 1 949) a revista Voprosifilosofii (ainda publicada) e foram debatidos mais intensamente diversos temas. O acontec imento mais importante de pois do discurso de Zdanov até o falec imento de Stalin, em 1 95 3 , foi o artigo do próprio Stal in a respeito da doutrina lingüística de N ikolai Y. Marr ( 1 864- 1 934 ). Marr, que se converteu ao marxismo após a revolução, declarou que a linguagem é uma "ideologia" e, portanto, pertence à "superestrutura". As mudanças l ingiiísticas refletem o processo dialético, de tal modo que, quando a sociedade sem classes advier, formar-se-á uma lingua gem unitária distinta da l inguagem articulada e que não
1 092 dependerá da expressão fonética. Em uma série de car tas, iniciadas com a que se i ntitula "Sobre o marxismo em lingüística" (20 de j unho de 1 950), Stalin atacou a doutrina de Marr e sua escola e insistiu no "enorme pa pel que desempenha a superestrutura na destruição do velho sistema e no fortalecimento e desenvolvimento do sistema novo" (ver The Current Digest o{the Soviet Press, 1 4-X- 1 950, vol. I I , n. 35). A estrutura econômica básica não é abandonada, mas insiste-se na "influência ativa da superestrutura sobre a base" (ibid. , II, 37) com o fim de afirmar o poder da ideologia revolucionária. A superestrutura deve possuir um caráter "classista'', mas isso significa simplesmente que deve estar a servi ço das "necessidades" da base, não que sej a um mero reflexo. A l inguagem não é criada, segundo Stalin, por uma classe, mas por uma sociedade inteira. Motivos na cionalistas russos e pan-russos aliavam-se nessas ma nifestações de Stalin com o senso comum e com idéias de Engels sobre a relação nada unívoca e direta entre estrutura e superestrutura. Tai s manifestações estavam, além disso, de acordo com a persistente luta dos filóso fos soviéticos contra o positivismo, o idealismo e o for malismo "característicos" da sociedade ocidental . Entre os incidentes dessa luta destaca-se a denúncia da Lógica de Asmus, considerada "formali sta" apesar de ser uma lógica de tipo "clássico" sem referência aos trabalhos de lógica matemática. O leitor pode consultar, a esse respeito, a resenha de G. L . Kline em The Journal ol Symbolic Logic, 1 4 ( 1 949), 243 -244, de duas obras de L. P. Gokieli, publicadas em 1 94 7, uma sobre o proble ma da axiomatização da lógica e outra sobre os manus critos matemáticos de M arx e os problemas da funda mentação da matemática. Da citada resenha e outras publ icações (cf. várias comunicações de autores sovié ticos ao X Congresso I nternacional de Filosofia, de Amsterdã) percebe-se que a tentativa de eliminar a "ló gica objetiva" ou "material" está condenada ao fracasso. A prova de Giidel é considerada a prova da impotência do formalismo (isso não significa que os cientistas rus sos tenham deixado de cultivar a lógica matemática, mas que esse cultivo ocorria nas Faculdades de Ciências Exatas e não nas Faculdades ou I nstitutos de Filosofia). Parecia que ia ser fixada uma mais firme e estrita "linha geral" quando sobreveio o acontecimento que inaugurou outra fase da filosofia soviética: o falecimen to de Stalin ( 1 953). O chamado "processo de desestali nização", acentuado especialmente a partir do XX Con gresso do Partido Comunista (bolchevique), em feve reiro de 1 956, e inteiramente cumprido, permitiu muitas mudanças. Ainda há algo como uma "linha geral", mas esta é incomparavelmente mais "fluida" que antes. A desestalinização manifestou-se fi losoficamente sobre tudo por meio de um "retorno ao leninismo", de modo
1 093 que a linha filosófica "marxismo-leninismo-stalinismo" voltou a ser a linha "marxismo-leninismo". Produziu se certa "liberalização" no ambiente filosófico, paralela à "liberalização" na frente política. É possível que cer tos trabalhos originais, publicados na fase anterior, mas imediatamente denunciados (como o trabalho de A. M . Markov "Sobre a natureza d o conhecimento fisico", de 1 947, no qual se declara que nosso conhecimento da realidade microfisica é "determinado" por nossa lei tura das indicações de instrumentos em nível macrofi sico e, portanto, em alguma medida "condicionado" por essa leitura), voltem a suscitar interesse e produzam novos desenvolvimentos, de início epistemológicos. Por outro lado, a citada "liberalização" não segue um curso geral. Em 1 956, G. L. Kline escrevia ("Recent Soviet Philosophy", The Annals of the A merican A cademy of Political and Social Science [ 1 956], 1 26- 1 3 8 ) que em bora houvesse ocorrido um efetivo processo de "libe ral ização" em certos estudos, especialmente na história da fi losofia (na qual manifestou-se um crescente inte resse pela fi losofia ocidental e pelo pensamento filosó fico russo pré-marxista), por outro lado mantém-se ain da uma grande rigidez em outros campos (na filosofia geral, na fi losofia da lógica etc.). Porém desde 1 956 houve diversas mudanças e em ritmo alternado : a um período de maior "liberdade" sucedeu-se outro de maior "constrição", seguido por outro de maior "liberdade" etc. Em geral, a filosofia soviética manteve uma "linha" mais estrita que a fil osofia de vários países da Europa do Leste (Polônia, Tchecoslováquia), nos quais se ten tou renovar o marxismo, por assim dizer, "a partir de dentro", paralelamente às tentativas de renovação que ocorreram em países não-sovietizados. De qualquer mo do, nos últimos anos ocorreram vários debates de grande ressonância sobre o método, sobre o princípio de contra dição (VER), sobre a natureza da dialética ( vER), sobre o caráter das três "leis básicas", sobre a importância e a função da lógica matemática etc. " A ampla - embora freqüentemente inflada corrente de obras marxistas-leninistas publicadas ante riormente na Rússia reduziu-se, a partir da União Sovié tica em 1 99 1 , a um pequeno gotejamento. Em seu lugar, os livros e revistas russos, no campo da fi losofia, ado tam alguma das quatro formas seguintes: 1 ) republica ção, com comentários, de obras de pensadores russos previamente ignorados ou depreciados, autores identifi cados com as tradições do pensamento especulativo e religioso, ou secular e liberal, mas, em todo caso, antimar xista; 2) traduções russas, com comentários, das obras de pensadores ocidentais previamente ignorados ou de preciados, como Kierkegaard, Nietzsche, Unamuno, Or tega, Whitehead, Husserl, Heidegger e Gadamer; 3) re latos francos sobre a supressão do pensamento filosófi co na União Soviética, particu l armente durante os anos
FILOSOFIA MARXISTA NA lJNI ÃO SOVI ÉTICA
trinta - a revista moscovita Voprosy filosofii tomou em 1 99 1 uma decisão sem precedentes: publicar por assinatura os livro Podavleniefilosofii v SSSR, do emi grado soviético 1. Yakhot, l ivro que antes só havia sido publicado no estrangeiro (Nova York, 1 98 1 ); 4) discus são direta - quase invariavelmente não-marxista de temas-chave de ética, filosofia política, filosofia da história, filosofia da ciência, filosofia da cultura e filo sofia da religião, e também discussão da crítica situação atual da Rússia, tanto no aspecto econômico como no político, social e cultural. De fato, decresce, por parte dos fi lósofos e estudantes da filosofia russa, o pequeno interesse existente pelas obras de Marx, inclusive pelo "Marx mais j ovem possível". :> Algumas das obras indicadas na bibliografia do verbete MARXISMO, especialmente as que apresentam "os princípios fundamentais da filosofia marxista", re ferem-se à filosofia soviética ou a levam em conta nas exposições. Para trabalhos mais especificamente con cernentes ao nosso tema, damos aqui uma lista: W. Gu rian, Der Bolschewismus. Einfiihrung in die Geschich te und Lehre, 1 93 1 . - G. Miche, Manuale di.filosofia bolcevica, 1 946. - J. Somerville, Soviet Philosophy. A Survey o/Principies, 1 946. - Gustav A. Wetter, li materialismo dialettico sovietico, 1 948; 5" ed. alemã: Der dialektische Materialismus, 1 960; ed. ingl . rev. pelo autor: Dialectical Materialism, 1 95 8 . - ld., Die Um kehrung Hegels. Grundzüge und Urspriinge der Sowjet philosophie, 1 963 . - J. M . Bochenski, Der Sowjetrus sische dialektische Materialismus (Diamat), 1 950; 2ª ed., 1 956; 3ª ed., 1 960. - H. Chambre, Le man:isme en Union Soviétique. ldéologie et institutions de 1 9 1 7 à nosjours, 1 95 5 . - Herbert Marcuse, Soviet Marxism: A Criticai A nalysis, 1 95 8 ; 2ª ed. , 1 96 l (trad. bras. : Mar xismo soviético. Uma análise crítica, 1 969). - Richard T. De George, Patterns ofSoviet Thought: The Origins and Development of Dialectical and Historical Mate rialism, 1 966. - B. Jeu, La philosophie soviétique et l 'Occident, 1 969. - VV. AA., Soviet Philosophy Revi sited, 1 977, ed. Frederick Adelmann. - J. Yakhot, Po davleniefilosofii v SSSR (20-30 gody) , 1 98 1 (A opres são da filosofia na URSS nos anos 20-30); a obra apareceu na União Soviética em três números suces sivos da revista Voprosy filosofii, 9- l 0- 1 1 [ 1 99 1 ]. R. Zapata, Luttes ph ilosophiques en URSS: 1 9221 93 1 , 1 98 3 . - J. P. Scanlan, Marxism in the USSR: A Criticai Survey of Current Soviet Thought, 1 98 5 . H. Sheehan, Marxism and the Philosophy o[Science: A Criticai History, 1 9 8 5 . - D. Bakhurst, Conscious ness and Revolution in Soviet Philosophy: From the Bolsheviks to Evald llyenkov, 1 99 1 . Enciclopédia filosófica soviética em ordem alfabé tica: Filosofskaá Entsiklopediá, 5 vols., 1 960- 1 970, di rigida por F. V. Konstantinof. ••
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FILOSOFIA MEDIEVAL
Em Friburgo (Suíça) funciona um "lnstitute of East European Studies", muitos anos sob a direção de J. M . Bochenski. S o b o título geral d e Sovietica, o "lnstitute" publica obras sobre filosofia soviética, incluindo algu mas sobre "filosofia soviética fora da União Soviética". Entre elas figuram: Siegfried Müller-Markus, Einstein und die Sowjetphilosophie, 2 vols., 1 960- 1 966. - N. Lobkowicz, Das Widerspn1chsprinzip in der neueren SOltjetischen Phi/osophie. Die Moskauer Tagung zur Frage der dialektischen Wide1:çpriiche, 21-26April 1 958, 1 960 [trad. de textos] . - J. M. Bochenski, Th. J. B la keley, G. Küng, N. Lobkowicz et ai., Studies in Soviet Thought, I, 1 96 1 , eds. J. M. Bochenski e Th. J. Blakeley. - Thomas J. Blakeley, Soviet Philosophy: A General Introduction to Contemporary Soviet Thought, 1 964. - Id., Soviet Theory of'Knowledge, 1 964. - M. Lob kowicz, Marxismus-Leninismus in der CSR , 1 962 . L. Vrtac ic, Einflihrung in den jugos!awishen Mar xismus-Leninismus, 1 963. - Z. Jordan, Philosophy and Jdeology: The Developm e n t of' Philosophy and Mar xism-Leninism in Poland since the Second World War, 1 9 6 2 . - B. V Birj ukov, Two Soviet Studies on Frege, 1 964, ed. e trad. Ignacio Angelelli (publicados em russo em 1 959 e I 960). -- Karl G. Bal lestrem, Russian Philo sophical Terminology!Russkaá jilosofska á terminolo giá/Russische p h ilos op his ch e Term in ologie/Te rm in o logie russe de ph i los op hie , I 9 6 4 . -- Jd., Die so 11je tische Erkenntnismetaphysik und ihr Verhiiltnis zu He gel, I 968. -- Guy Planty-Bonj our, Les catégories du matérialisme dialectiq11e: L 'ontologie s ovié tiqu e con temp ora ine , 1 96 5 . - O "lnstitute" publica uma revista: Studies in Soviet Th o ugh t , ed. J. M. Bochenski, desde 1 96 l [desde 1 99 3 , Studies in East European Tho ugh t] , e uma coleção bibliográfica intituiada B ihliograph ie der sowjetischen Phi !os oph ie , desde 1 959 [com listas de trabalhos a partir de 1 947]. - Ervin L aszlo. Phi/oso p h.1 · in the So v ie t Union : A Su rvey of' the Mid-Sixties, 1 967. --- P T. Grier, Marxist Ethical Tht:my in the Soviet U11io11 , 1 97 8 . - E. M. Swiderski, Th e Philosopliical Foundations ofSrl1'iet A esthetics, 1 979. -- Y. G laziv, The Russian Mi1U/ Since Stalin :S· Death , 1 9 8 5 . -- H. Dahm, T. J. Blakcley, G. L. Kline, eds. , Ph ilos op h ica l Sovie tology: Th e P11rsuit ol a Sc ie n c e , 1 9 8 8 . B ibl iogra fia sov ié t ica de tra balhos lógicos : G . Küng, ''Bibliography of Soviet Work i n the Fielel o f Ma thematical Logic anel the Foundations of Mathematics -
from
gic, 3
1 9 1 7- 1 95 7" ,
No!ri' Dume Jo u rmd ofForn;a/
Lo
( 1 962), l -40. Dicioná rio: Kurt Marko, Sic !'! nrm . Kritisches Wiir
terh u ch dn soH ietmssischen Marxismus-Leninismus di'!' Gegen wart,
1 962. C
FI LOSO F I A MEDIEVAL. Com esse nome é desig nado o período da história da fi losofia que abarca do
século IX ao XIV Esses limites temporais são de certo modo didáticos. Por um lado, já que vários temas da filosofia medieval procedem de Santo Agostinho, às vezes os limites da filosofia medieval foram estendi dos até o século V Por outro lado, j á que depois do século XIV persistem não poucas formas e não poucos temas medievais na filosofia, às vezes se estendeu o citado período até os séculos XV e XVI. Contudo, tal extensão é excessiva. Os séculos imediatamente ante riores ao IX podem ser designados mais propriamente como os da Patrística (vER); os séculos imediatamente posteriores ao XIV podem ser designados mais propria mente como a filosofia do Renascimento (VER). As ra zões dadas para estender o período em questão nos dois sentidos poderiam, além disso, ser alteradas. Já que no início da filosofia medieval persistem não poucos temas antigos, e já que desde o século XII revelam-se vários temas modernos, poder-se-ia concluir que a filosofia medieval limita-se aos séculos IX, X, XI e, no máximo, XII e XIII. É conveniente, portanto, adotar a convenção apresentada, que tem bases sólidas pelo fato de que a maior parte dos filósofos que viveram entre os séculos IX e XIV podem ser considerados, sem demasiada im propriedade, medievais. A questão das divisões que cabe estabelecer dentro elo citado período presta-se ao debate. No quadro crono lógico inserido no final da presente obra pode-se ver quais são os fi lósofos medievais mais importantes em cada um dos séculos, do IX ao XIV Vemos assim que no século IX está John Scot Erígena; no X, Alfarabi, Gerberto de Aurillac; no XI, Avicena, Avicebron, Santo Anselmo, Rosceiino; no XII, Abelardo, São Bernardo, Pedro Lombardo, Averróis, Maimónides; no XIII, Ale xandre de Bales, Santo Alberto Magno, Roger Bacon. Pedro Hispano, São Boaventura, Santo Tomás de Aqui no, Sigério de Brabante, Raimundo Lúlio, Mestre Eckart, John Duns Scot; no XIV N icolau de Autrecourt, João Ruysbroek, Guilherme de Ockham, João Buridan, Ni colau de Oresme, Abenjaldun, João Gerson (indicamos somente alguns nomes para dar uma idéia geral; alguns, além disso, como John Duns Scot, embora, segundo nosso cômputo, pertençam cronologicamente ao século XI l i , costumam figurar em muitas histórias da filosofia medieval como fi lósofo� do século XIV). Contudo uma organização ela filosofia medieval de acordo com os séculos é um expedi.ente tão cómodo quanto pouco es clarecedor. Os historiadores buscaram, pois, outras arti culações. Falou-se, desse modo, dos primeiros grandes filósofos medievais (cristãos), como John Scot Erígena e Santo Anselmo, e se tentou classificar outras produções filosóficas sob capítulos gerais: platonismo do século X I I ; misticismo, disp uta dos univcrsai�; grandes obras teológicas do século X I I I ; disputas lógicas e semânticas
1 095 do século XIII; escola franciscana; averroísmo latino; neoplatonismo; escolas agostinianas; nominalismo etc., com capítulos especiais para a filosofia árabe (ou mu çulmana) e judaica. Alguns autores identificaram a filo sofia medieval com a escolástica, mas essa identifica ção carece de base suficiente, pois o misticismo especu lativo, o platonismo humanista e outras correntes difi cilmente se encaixam na segunda. Isso não significa que a escolástica não desempenhe um papel fundamen tal na fi losofia medieval; mas, j ustamente devido à sua importância, é conveniente tratá-la separadamente, o que fizemos no verbete EscoLÁSTICA, no qual, além dis so, apresentamos divisões dela em períodos que em al guma medida correspondem a váríos períodos da filoso fia medieval. Outros autores articularam a filosofia me dieval de acordo com grandes vias (viae), mas, além de restringir demasiadamente o período medieval ao es colástico, isso tem o inconveniente de que se insiste mui to em ce1ias grandes figuras e em suas "escolas" (tomis mo, scotismo, ockhamismo etc.). Tratamos dessas esco las em verbetes separados, que no caso podem ser consi derados complementares deste verbete. Também dedi camos verbetes a vários aspectos do pensamento rnedie·· vai, como os dedicados a Chartres (Escola de), aos Vito rinos, aos Tradutores de Toledo (Escola de) etc. Certos autores identificaram completamente a fi losofia medie val com a filosofia cristã, considerando como no máxi mo incitadore s ou supleme ntares os grandes movimen tos da f iloso fia árabe e j udaica na Idade Média. Em número cada vez maior, todavia, os hi storiadores da fi losofia medieval se deram conta da importância des ses movimentos, de tal modo que j á não se pode dizer que a fi losofia medieval seja exclusivamente a fi losofia medieval cristã, mesmo que esta ainda s eja considerada a parte mais importante e influente dela. Também dedi camos verbetes específicos à Filosofia árabe e à Fi loso fia judaica, destacando seus períodos medievais. Além disso, mesmo que, por exemplo, Avicena e Averróis não sejam simplesmente "precurso res " de alguns dos grandes escolásticos c ristã o s, é certo que muitos dos te mas capitais da filosofia medieval árabe e judaica coin cidem com os da fi losofia medieval cristã Em primeiro l ugar, é caracierístico da fi losofia me dieval o fato rle não ser, como a fi losofia grega, um originar-se do pensame n t o fi losófico ah ovo (ou quase ah ovo ), mas em gran d e medi da uma conti n u ação . por mais importante s que sejam as mo d i fi c aç ões introdu zidas, de uma tra dição anterior. Essa tradição é a grega, e a chamada greco-romana. É verdade que niío poucas das intuições fun d amentais da fi losofia medieval - p. ex. as expressas no pensament o agostiniano -- não são de modo algum gregas ou greco-romanas. Porém, na medida em que se expressam e elaboram fi losofica mente, não aparecem como ind e pendentes da tradição
FILOSOFIA MEDIEVAL
anterior. No caso da escolástica, as "fixações" gregas aparecem com maior clareza ainda; platonismo e aris totelismo não são aqui elementos estranhos, mas às vezes muito plenamente incorporados ao pensamento filosófico medieval. Em segundo lugar, mesmo continuando a men cionada tradição, a filosofia medieval não é uma re petição dela. De qualquer modo, é uma continuação a partir de um horizonte intelectual e afetivo distinto. Este horizonte é, em geral, o religioso, e, no caso que nos ocupa principalmente, o cristão. Portanto, há na filosofia medieval um importante componente teoló gico que não existe na grega. Ou, melhor, enquanto nesta última filosofia incluindo o neoplatonismo -- os elementos teológicos são como que um coroa mento da reflexão filosófica, na filosofia medieval eles constituem um ponto de partida. Não se pode descartar da fi losofia medieval a Revelação (e isso corresponde tanto ao pensamento cristão como ao muçulmano e ao j udaico). Ao mesmo tempo, surgem no pensamento fi losófico medieval questões que não eram estabeleci das no pensamento grego - a questão da re lação entre teologia e filosofia é precisamente uma das mais des tacadas. Essa relação foi apresentada de diversas for mas: como uma fusão completa, como uma subordi nação da segunda à primeir a, da primeira em relação à segunda, como um equi l íbrio etc. Em terceiro lugar. as preocupações mais constantes na filosofia medieval são as que se centram na questão da natureza e das propriedades de Deus e da " relação " entre Deus e o mundo enquanto criador (e especial mente da "rel Entre as "primeiras histórias" da filosofia moderna mencionamos: Johann Eduard Erdmann, Versuch einer wissenschajilichen Darstellung der Geschichte der neue ren Philosophie, 6 vols., 1 834- 1 85 3 , reimp., em 7 vols., ed. H . Glockner, 1 93 1 ss. - Charles Renouvier, Manuel de philosophie moderne, 1 842. - Hermann Ulrici, Ges chichte und Kritik der Prinzipen der neueren Philoso phie, 1 845 . - Uma história "clássica", hoje considerada ultrapassada, mas com abundantes dados, é a de Kuno Fischer, Geschichte der neueren Philosophie, 1 0 vols., l 854 s s. ; nova ed. (Jubiliiumsausgabe), l 897ss. (vai de Descartes a Schopenhauer). - Além disso: F. Papillon, Histoire de la philosophie moderne dans ses rapports avec /e développement des sciences de la nature, 1 876. - F. Bowen, Modem Philosoph_v .fi-e>m Descartes to Schopenhauer and Hartmann, 1 877 . - W. Windelbancl, Die Geschichte der neueren Philosophie in ihrem Zusa mmenhang mil der allgemeinen Ku/tur und den besonde ren Wissenschafien. 1. Von der Renaissance bis Kant, 1 878; II. Die Bliitezeit der deutschen Philosophie, 1 8 80 (vá ria s eds . ; do mesmo autor, a parte de filosofia moderna em Die Philosophie der Gegenwurt, ed. P Hinneberg, I , V, 1 909). - G. M . Bert i n i , Storia dellajilosofia moder na. I (dai 1 596 ai 1 690), 1 88 L -- A. Stock!, Gesclzichte der neueren Philosophie von Bacon und Cartesius bis zur Gegenwart, 2 vo ls. , 1 8 83. - R. Falckenberg, Ges chichte der neueren Philosophie 1 •011 Nikvlaus von Kues bir zur Gegenwart, 1 886. - H . H êi ffd ing , Der nyere Fi /osofie Histoire. l 894ss. - E. Blanc, Histoire de la phifosophie et particulierement de la phi/o.1ophie con lemporaine, 3 vols., 1 8 9 7. - R. Ad am son . The Develop ment of'!vlodern Philosophy with other Lectures and Es says, 2 vols., 1 903 .
1 099 Entre as histórias posteriores mencionamos: Lud wig 8usse, Die Weltanschauung der grossen Philoso phen der Neuzeit, 1 905. - 8. 8auch, Neuere Philoso phe bis Kant, 1 908. -- J. Freyer, Geschichte der Ges chichte der Philosophie im achtzenten Jahrhundert, 1 9 1 1 . - E. von Aster, Grasse Denker, 2 vols., 1 9 1 2 . - A Messer, Geschichte der Philosophie vom Beginn der Neuzeit bis zum Ende des 1 8. Jahrh. , 1 9 1 2 . - F. Jõdl, Geschichte der neueren Philosophie, 1 924. -- M. Gentil e, Jl problema della filosofia moderna, I , 1 950. - Francisco Romero, Historia de lafilosofia moderna, 1 959. -- John Hermann Randall Jr. , The Career o{Phi losophy, 3 vols., l 962ss. - Stefan Swiezawski, Dzieje filozofii europejskiej w XV wieku, 5 vols., l 974ss. [sobre o século XV] . - R. Kearney, Modern Movements in European Philosphy, 1 986. - J. Collins, A History of Modern European Philosoplzy, 1 986. - G . Vesey, ed., Philosophers Ancient and Modern, 1 986. - S . V Ro vighi, História da.filosofia moderna, 2ª ed., 2000. Em verbetes separados foram indicadas as obras mais importantes relativas à história de distintos concei tos ou disciplinas filosóficas na época moderna. - Ver também ILUSTRAÇÃO para obras sobre o século XVI I I . Para a história d o espírito moderno: John Hermann Randall Jr. , The Making ofthe Modern Mind, 1 926. W. W. Lowrance, Modern Science and Human Values, 1 985. - R. J. Connell, Substance and Modern Scien ce, 1 988. -- S. H. Daniel, Myth and Modern Philo sophy, 1 990. Sobre o caráter da filosofia moderna: Josiah Royce, The Spirit o{Modern Philosophy, 1 892. - 8. Croce, // carattere della filosofia moderna, 1 94 1 . Para o conceito do moderno: Rudolf Eucken, "Zum Begriff des Modernen", Gestige Stromungen der Ge genwart, 1 904, pp. 273ss. Para as "filosofias nacionais", além das obras men cionadas nos verbetes FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA e F I LO SOFIA ( HISTÓRIA DA) (por exemplo: as relativas à filosofia espanhola e à portuguesa desde antes da época moderna e no século XVI), ver os seguintes l ivros: Para a filosofia alemã: J. Willm, Histoire de la phi losophie allemande depuis Kantjusqu 'à Hegel, 4 vols.: I, 1 846; II, III, 1 847; IV, 1 849. - É. 8réhier, Histoire de la philosophie allemande, 1 92 1 ; 3' ed., atualizada por P. Ricoeur, 1 954. - E. 8echer, Deutsche Philoso phen, 1 929. - Jean-Édouard Spenlé, La pensée alle mande de Luther à Nietzsche, 1 934. - Max 8ense, Vom Wesen deutscher Denker, 1 93 8 . - Hermann Glo ckner, Vom Wesen der deutschen Philosophie, 1 94 1 . Lewis White 8eck, Early German Philosophy: Kant and His Predecessors, 1 969. Para a filosofia belga: M . de Wulf, Histoire de la philosophie en Belgique, 1 9 1 O. -
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FILOSOFIA MODERNA
Para a filosofia espanhola: Mario Méndez 8eja rano, Historia de la filosofia en Espaiia, s/d. ( 1 920). - Alain Guy, Esquisse des progres de la spéculation philosophique et théologique à Salamanque au cours du XVI' siecle, 1 943 (tese) . - Olga Victoria Quiroz Martínez, La introducción de la filosofia moderna en Espaiia, 1 949. - Luis Martínez Gómez, "Bosquejo de historia de la filosofia espaiíola", em Johannes Hirs chbcrger, Historia de lafilosojla, trad. esp., 4ª ed., 1 960, vol. 2, pp. 403-486. - 8ernice Hamilton, Political Thought in Sixteenth Century Spain: A Study ofthe Po litical Ideas o/Vitoria, De Soto, Suárez, and Molina, 1 964. - Vicente Muiíoz Delgado, La lógica nominalista en la Universidad de Salamanca (1 5 1 0- 1 530), 1 964. José Maria López Piiíero, Ciencia y medicina moder nas en la Espaiia de! sigla XVII, 1 966. -- Ivo Hõlhuber, Geschichte der Philosophie im spanischen Kulturbe reich, 1 967. - Guil lermo Fraile, Historia de lafiloso ;7a espaiiola, 2 vol s., 1 97 1 - 1 972. - Carlos G. Noreiía, Studies in Spanish Renaissance Thought, 1 97 5 . - J. L. Abellán, Historia crítica de! pensamiento espaiiol, vol . 3, 1 98 1 . - Para filosofia catalã: Tomas Carreras i Artau, lntroducció a la historia dei pensament.filàsofic a Catalunya, 1 93 1 . Para a filosofia francesa: A. Cresson, Les couranrs de la pensée philosophiquefrançaise, 2 vols., 1 927. Naguib 8aladi, Les constantes de la pensée française, 1 948. - Henri Gouhier, Les grandes avenues de la pen sée philosophique en France depuis Descartes, 1 966. Para a filosofia holandesa: G . von Anta!, Die hol liindische Philosophie im 1 9. Jahrhundert, 1 888. - J. P. N. Land, De Wijsbegeerte in de Nederlanden, 1 899. - L. 8rulez, Holliindische Philosophie, 1 926. - Fer dinand Sassen, De Wijsbegeerte der Middeleeuwen in de Nederlanden, 1 944. -- Id., Geschiedenis van de Wijs begeerte in Nederland tot het einde der negentiende eeuw, 1 959. - J. J. Poortman, Repertorium der Neder landse Wijsbegeerte, 1 948. - P. Dibon, La philoso phie néerlandaise, I, 1 954. Para filosofia grega moderna: Th. 8oreas, Neugrie chische Philosophie, 1 92 8 . - K. Axelos, "Philosophie néohellénique", Les É tudes Philosophiques, N. S. nn. 3-4 ( 1 950) (refere-se ao artigo sobre filosofia neo-he lênica publ icado por G. S. 8oumblinopoulos na rev ista grega Idea e à Breve história da filosofia neohelénica, de Dimis Apostopoulos, de 1 950). - E. P. Papanout sos, ed., N E O E /\ /\ H N I K H Obras: Outlines of Cosmic Philosophy Based on the Doctrine of'Evolution, With Criticism on the Positive Philosophy, 2 vols . , 1 874. - The Unseen World, 1 876. - Excursions of'an Evo/utionist, 1 88 3 . - The Destiny o/Man Viewed in the Light ofHis Origin, 1 884. - The !dea of God as Ajfected by Modem Knowledge, 1 88 5 . - Darwinism and Other Essays, 1 8 8 8 . - Through Nature to God, 1 899. -- A Cenflll}' of'Science, and other Essays, 1 899. - Live Everlasting, 1 90 1 . - Miscel/a neous Writings, 1 902. Correspondência: John Spencer Clark, The Life and Letter.1· ofJ F, 2 vols., 1 9 1 7, e Ethel E Fisk, ed. , The Let ters o/'J F, 1 940. Ver, além da obra de Schneider supra (pp. 32 1 ss. ) : E. D. Mead, J F as a Philosopher, 1 886. - Gustav Reese, Evolutionismus und Theismus bei J F, 1 909 [ Abhand lungen zur Philosophie und ihrer Geschichte, ed. K. Falckenberg, 9] . - M ilton Berman, J F The Evolution of' a Popularizer, 1 96 1 . Obras: lnstitutionum Dialecticarum libri octo, 1 567. Ed. crítica: Instituições dialéticas: Jnstitutionum Dialecti ca111m /ibri octo, com trad. portuguesa e notas, por Joa quim Ferreira Gomes, 2 vols., 1 964. - Commentario rum . . . in libras Metaphysicorum A ristotelis Stagiritae tomi quatuor, Colônia (1, 1 5 77; li, 1 5 89; l l l , 1 604; IV, 1 6 1 2). Reimp. da edição de Colônia (4 vols., 1 6 1 5- 1 629), 2 vols. , 1 964. - lsagoge Philosophica, 1 59 1 . Ver: M . Uedelhofen, Die Logik Petrus Fonseca.1-, 1 9 1 6 (Caderno X I I I da série Renaissance und Philoso phie, ed. A. Dyroff). - M. Solana, Historia de lafilo sofia e:,pafíola. Época dei Renacimiento (Siglo XVI) , volume I I I , 1 94 1 , pp. 3 3 9-366. - VV AA., número especial de Revista Portuguesa de Filosofia, tomo IX (fase. iv), 1 95 3 , com o título geral : Pedro da Fonseca, o "Aristóteles português, l 52R- l 599 . - Custódio Au gusto Ferreira da Silva, Teses fundamentais da gno seologia de Pedro da Fonseca, 1 959. - E. J. Asch worth, "P. F. and Material lmplication", Notre Dame Journal of Formal Logic, 9 ( 1 968), 227-228 . - A. A. Coxito, "Método e ensino em P. da F. e nos conim bricenses", Revista Portuguesa de Filosofia, 36 ( 1 980), 88- 1 07 . e "
FONTE DA VIDA. Ver Av1cEIJRON . FONTE N E LL E , B E RNARD LE BOV I E R DE ( 1 657- 1 757). Nascido em Rouen, secretário perpétuo da Académie des Sciences, defendeu e popularizou a fi losofia cartesiana, e em particular a fisica e a astrono mia de Descartes (ver CARIL·.SIANISMo) . Expôs também para o grande público as doutrinas astronômicas de Co pérnico e de Gal ileu. Embora tenha publicado um elo gio de Newton, opôs-se ao conceito de gravitação como incomprovável "causa distante" e defendeu a teoria car tesiana dos "tourbillons". Fontenelle declarou-se parti dário dos "modernos" na "querela entre os antigos e os modernos", mas reconheceu o valor dos escritores do passado para sua própria época. Com isso contribuiu para a fundamentação da doutrina do "progresso", tão discutida durante o século XVI I I . Em seus escritos de interpretação histórica, procurou explicar mitos e fábu las antigos como tentativas de dar conta de um modo primitivo dos fenômenos da Natureza. Em suas idéias religiosas declarou-se partidário do deísmo tanto contra o ateísmo como contra as crenças religiosas positivas. Em seus últimos escritos, Fontenelle inclinou-se para o empirismo e para uma teoria do conhecimento funda da nos sentidos, o que o induziu a rej eitar as idéias uni versais e a manter uma doutrina nominalista.
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FORÇA � Obras: Entretiens sur la pluralité des mondes, 1 686. - Doutes sur les causes occasionelles, 1 686 [crítica de Malebranche]. Histoire des oracles, 1 68 7 . Éloge de Newton, 1 727. - Outros escritos: Digression sur les anciens et les modernes. - Sur / 'histoire. De ! 'origine des fables. - Du honheur. - De / 'exis tence de Dieu. - Éléments de la géométrie de l 'infini. -- Fragments d 'un Traité de la raison humaine. - De la connaissance de l 'esprit humain. - Théorie des tour billoons cartésiens. Edição de obras: Oeuvres, 1 724; 1 742; 1 752- 1 757; 1 758- 1 766; 1 76 1 - 1 767; 1 78 5 ; 1 790; 1 8 1 8 . Ed. crítica, 5 vols. (Paris, 1 924- 1 935). Bibliografia: S . Delorne, "Contribution à la biblio graphie de F.", Revue d 'Histoire des Sciences et de Leurs Applications, 1 O ( 1 957). Ver: A. Laborde-Milan, F. , 1 90 5 . L . Maigron, F. l 'homme, l 'oeuvre, l 'influence, 1 906. - J. R. Carré, La philosophie de F ou !e sourire de la raison, 1 932. F. Grégoire, F., 1 947. --- S. Delorme, G. Canghilehm et ai. , Fontenelle 1 65 7- 1 75 7, em número especial de Re vue d 'Histoire des Sciences et de leurs applications, 1 O ( 1 957), 289-384. - Giuseppe Lissa, Cartesianis mo e anticartesianismo in F, 1 97 1 . - Alain Niderst, F à la recherche de lui-même (1 65 7-1 702), 1 972. - G . Lissa, F Ira scetticismo e nuova critica, 1 97 3 . - M . T. Marcialis, F Un.filosojó mundano, 1 97 8 . - B. Femmer, "Vernünftige Skepsis, skeptische Vernunft. F. und die Anfange der Aufkliirung", Germanisch-Romanische Monatschrifi. 63 ( 1 982). C: -
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FORÇA. Ver ENERGIA; MATI°'. RIA; POTÊNCIA. FORÇA ILOCUCION Á RIA (INLOCUTIVA). Ver lLOCCCIONÁRIO. FOREST, A I M É . Ver NrnmMISMO. FORGE, LOUIS DE LA, médico em Saumur por volta de 1 666, foi um dos mais destacados cartesianos do sé culo XVII e um dos que prepararam a tendência filo sófica conhecida pelo nome de ocasionalismo (vER). Como vimos no verbete citado. De la Forge parte do dualismo cartesiano corpo-alma e destaca que somente a intervenção de Deus como causa principal pode fazer compreender a interação entre as duas substânc ias (e, de modo geral, entre quaisquer substâncias). razão pela qual o que geralmente se chama de causas deve ser co nhecido como causas ocasionais. Contudo. ao contrário do que outros ocasional istas sustentaram, De la Forge não supõe que a intervenção divina seja constante, mas, analogamente a Leibniz, consi dera que basta uma in tervenção no início para estabelecer uma harmonia nas ações entre substâncias; o que chamamos de relação causa-efeito é, nesse caso, resultado de uma harmonia preestabelecida.
� Louis d e l a Forge editou, e m colaboração com o cartesiano Claude Clerselier ( 1 6 1 4- 1 684), o Traité de l 'homme, de Descartes ( 1 664) . Como continuação desse Tratado, Louis de la Forge escreveu: Traité de / 'Esprit de l 'homme, de sesfacultés etfonctions et de son union avec !e corps suivant les principes de René Descartes, 1 666. - Há ed. latina com o título Tractatus de mente humana, 1 669. Ed. de obras : Oeuvres philosophiques, 1 974, ed. Pierre Clair (com estudo bio-bibliográfico). Ver: F. Bouillier, Histoire de la philosophie carté sienne, 2 vols., 1 854; 3ª ed., 1 868. - H. Seyfarth, L. de Forge und seine Stellung im Occasionalismus, 1 887 (tese). - E . Wolff, De la Forges Psychologie und ihre Abweichung von Descartes, 1 894 (tese). - A. G. A. Balz, Cartesian Studies, 1 95 1 , pp. 80- 1 95 . Ver também a bibliografia d e OCASIONALISMO. C:
FORL i , JACOB DE. Ver JACOB DE FoRLi. FORMA. Trataremos neste verbete da forma ! ) no sen tido filosófico geral e particularmente metafísico, II) no sentido lógico, I li) no sentido epistemológico, IV) no sentido metodológico e V) no sentido estético. 1) Sentidofilosófico geral e particularmente metafi sico . Em FIGURA observamos que às vezes se distingue figura de forma. Essa distinção corresponde à existen te entre a figura externa e a figura interna de um objeto. O primeiro conceito conduz freqüentemente ao segun do. Isso ocorreu entre os gregos; ao supor que um objeto tem não somente uma figura patente e visível, mas tam bém uma figura latente e invisível, forjou-se a noção de forma enquanto figura interna apreensível apenas pela mente. Essa figura interna é chamada às vezes de idéia e às vezes de forma. O vocábulo mais usualmente empregado por Platão para esse propósito é eToos , ver tido para o latim, de acordo com o caso, por forma, species. notio e genus. Ele é encontrado em numerosas passagens dos diálogos de Platão. Mencionamos, entre as mais significativas, as seguintes: Charm. , 1 54 D; Critias, 1 1 6 D; Prot., 352 A; Symp. , 1 89 E, 1 96 A, 205 B, 2 1 O B ; Phaed. , 73 A; Phaedr., 1 02 B, 1 03 E, 229 D. 246 B, 263 B, 265 C ; Theait. , 1 48 D, 1 78 A, 204 A; Rep. (Pol.) , II 402 D, I V 424 C, V I 5 1 0 D; Parm . , 1 32 D, 1 49 E; Soph . , 2 1 9 A, 246 B, 440 B; Phil. , 1 9 B; Tim . , 51 A, 5 7 C; Leg., 1 645 A. Não podemos nos ocu par aqui da interpretação dos diversos sentidos da forma platônica (como idéia, noção, espécie, gênero etc.); refe rências a ela encontram-se nos verbetes I DÉIA e PLATÃO. Em contrapartida, trataremos com alguma extensão da concepção aristotél ica da forma antes de nos referir mos às classificações escolásticas e a vários dos proble mas que suscita para a época moderna a contraposição clássica entre a forma e a matéria. Aristóteles i ntroduz a noção de forma, doos, às vezes µopcp� . Tà TÍ �v elvm . Tà TÍ ecrn, em muitas
1 1 27 passagens d e suas obras, mas especialmente n a Física e na Metafisica. A forma é entendida às vezes como a causa (vER) formal, em oposição à causa material; essa contraposição entre os dois tipos de causa é paralela à contraposição mais geral entre a causa formal e a ma téria (vER). A matéria é aquilo com o que se faz algo, a forma é o que determina a matéria para ser algo, i sto é, aquilo pelo que algo é o que é. Assim, em uma mesa de madeira a madeira é a matéria com a qual é feita a mesa, e o modelo que o carpinteiro seguiu é sua forma. Desse ponto de vista, a relação entre matéria e forma pode ser comparada com a relação entre potência e ato (vER). Com efeito, sendo a forma o que é aquilo que é, ela será a atualidade do que era potencialmente. Ora, convém distinguir os dois pares de conceitos menciona dos. Enquanto a relação matéria-forma se aplica à rea lidade em um sentido muito geral e, por assim dizer, estático, a relação potência-ato aplica-se à real idade na medida em que essa realidade está em movimento (ou seja, em estado de devir [VER] ). A relação potência ato nos faz compreender como mudam ( ontologicamen te) as coisas; a relação matéria-forma nos permite en tender como são compostas as coisas. Por esse motivo, o problema do par de conceitos matéria-forma é equi valente à questão da composição das substâncias e, a rigor, de todas as realidades. Por exemplo, enquanto as substâncias sublunares mudam e se movem, e os astros se movem (com movimento circular local), e mesmo o Primeiro motor, embora não se mova, constitui um cen tro de atração para todo movimento, as entidades mate máticas nem mudam nem se movem nem constituem centros de atração para o movimento. E, contudo, tai s entidades também tem matéria e forma. Em uma linha, por exemplo, a extensão é a matéria e a "pontualidade" (ou fato de ser constituída por uma série de pontos), a forma, a qual pode ser extraída da matéria mesmo que nunca tenha existência separada. Assim, o problema da forma pode ser estudado de modo universal, o que não significa que as distintas classes de formas não exijam investigação particular. São vários os problemas suscitados a respeito da noção aristotélica da forma. Aqui nos limitaremos aos mais significativos. Em primeiro lugar, o problema de haver ou não formas separadas. Aparentemente não, já que toda rea lidade é composta de forma e matéria. Mas Aristóteles declara que a filosofia primeira tem por missão exami nar a forma verdadeiramente separável, e sabe-se que o Primeiro Motor é forma pura sem nada de matéria. Pode-se, por conseguinte, admitir a existência, dentro do aristotelismo, daquilo que foi chamado de formas subsistentes por si mesmas. Em segundo lugar, há o problema do significado do termo ' forma' dentro do par de conceitos ma téria forma. Em nosso entender, esse significado é mais bem
FORMA
compreendido quando tomamos, provisoriamente, o ter mo ' forma' como um termo relativo (relativo ao termo ' matéria'). Isso permite entender como determinada "entidade" pode ser, de acordo com o caso, forma ou matéria. Desse modo, a madeira, que é matéria para uma mesa, é forma em relação à extensão. A extensão, que é matéria para a madeira, é forma em relação à possibilidade. Isso estabelece para Aristóteles um pro blema: se não há modo de deter-se na mencionada su cessão (pois a possibilidade de extensão espacial pode transformar-se em forma para a possibilidade da possi bilidade de extensão espacial etc.) cairemos em uma re gressão ao infinito. Com o fim de evitá-la, podemos interpretar o par matéria-forma no sentido platônico, isto é, conceber a matéria como o indeterminado e a forma como o determinado. M atéria e forma seriam então equivalentes, respectivamente, ao Não-Ser e ao Ser, ao que é essencialmente Incognoscível e ao que é essencialmente Cognoscível. Mas com isso deveríamos admitir que matéria e forma não são termos relativos, e sim realidades plenas. x não seria forma em relação a y, e matéria em relação a w, mas x seria mais forma que y, e w seria mais forma que x (ou, se se prefe1ir, x seria mais real que y, e w mais real que x). Uma vez que isso não é admissível à luz da filosofia de Aristóteles, deve-se encontrar um modo de evitar tanto a regressão ao infini to como o platonismo. A solução que propomos pode ser esclarecida mediante as duas observações seguintes. a) A matéria pura é impensável, pois não pode ser racionalmente apreendida. Até a possibilidade nunca é mera possibil idade : é sempre "possibil idade de . . .". Assim, o receptáculo indeterminado platônico, disposto para receber qualquer forma, deve ser excluído. Isso, seja dito de passagem, explica por que, segundo Aris tóteles, nem todas as matérias são igualmente aptas para receber todas as formas. Há, de fato, diferentes classes de matéria (matéria para o movimento local; matéria para a mudança substancial etc.; cf. Phys. , 260 b 4). A madeira é matéria para uma estátua, uma mesa ou uma casa, e não para uma sinfonia; a tinta é matéria para os signos, e não para os astros etc. Desse modo, a matéria é sempre qualificada, não porque tenha sempre certas qualidades dadas, mas ao menos porque sempre há matéria para certas qual idades que excluem outras qualidades. b) A forma pura é pensável, pois o Primeiro Motor é forma pura. Dir-se-á que esse Pri meiro Motor é uma exceção, já que o universo de Aristóteles parece com posto de Primeiro Motor e de substâncias compostas. Mas se, em vez de uma concepção transcendente do Primeiro Motor, defendemos uma concepção imanente, a questão antes levantada torna-se menos aguda. Em terceiro lugar, há o problema de até que ponto a forma constitui o princípio de indiviàuação. Excluí mos aqui essa questão, por termos tratado dela separa damente (ver I N DiVI DUAÇÃo).
FOHMA
Por fim, pode-se estabelecer o problema - já cita do anteriormente - das diversas classes de forma. Esse problema, embora tratado por Aristóteles, foi elaborado com mais ampl itude e precisão pelos autores escolás ticos, razão pela qual agora os abordaremos. Mencio naremos aqui algumas das classes principais. Temos : a) formas artificiais, como a forma da mesa ou da está tua; b) formas naturais, como a alma; e) formas s ubs tanciais, como as que compõem as substâncias cor póreas e que são estudadas detalhadamente na doutrina do hilemorfismo (vrn); d) formas acidentais, que se acrescentam ao ser substancial para individualizá-lo, como a cor; e) formas puras ou separadas (ou subsis tentes), que se caracterizam por sua pura atualidade ou realidade;_/) formas inerentes, que se entendem somente na medida em que se aplicam a uma matéria; g) formas individuais; h) formas exemplares etc . Essa classifica ção não significa que um ser ou seres determinados que consideramos como formas pertençam exclusivamen te a uma classe de formas. Assim, por exemplo, a alma humana é ao mesmo tempo forma separada e inerente, porque é um ente imortal e uma enteléquia do orgânico. Por outro lado, às vezes se agrupam as mencionadas classes de formas, e outras que aqui não mencionamos, em classes mais amplas. Alguns autores indicam, com efeito, que há formas.fís icas (como a substancial ou aci dental) e formas metafisicas (como a diferença de gêne ro). Em tudo isso se percebe, seja dito de passagem, que embora o termo ' forma' seja considerado (ao relacio nar-se com o de ' matéria') um termo relativo, isso não esgota o significado do conceito de forma nem dispensa que se considere a forma, em casos importantes, como realidade. Por isso examinamos antes o problema do significado como um dos problemas e avisamos, além disso, que o tomamos enquanto termo relativo apenas "provisoriamente". Entre os problemas debatidos pelos escolásticos em que aparece a noção de forma destacaremos o da unidade ou pluralidade de formas, em particular no ser humano . Esse problema recebeu diversas soluções: há apenas uma forma, que é a alma racional; há uma forma rac ional e uma forma do corpo ou da corporalidade; há uma série de formas que se organizam hierarquica mente. A questão, porém, adquiriu particular veemên cia a partir dos debates que, por volta de 1 270, fizeram Tomás de Aquino e João Pecham se enfrentar. Segundo Gi lson, esses debates foram suscitados não somente pelo problema antropológico da unidade substancial entre corpo e alma, mas também, e especialmente, pelo problema teológico da natureza do corpo de Cristo entre o momento da morte e o da ressurreição. As atitudes adotadas com relação a isso pelos filósofos escolásti cos e os argumentos formulados para defendê-las são de índole muito complexa. Aqui nos limitaremos sim plesmente a indicar que uma série de pensadores, como
1 1 28 Tomás d e Aquino, Egídio Romano, Egídio d e Lessines e outros, inclinaram-se a favor da tese da unidade da forma, enquanto vários outros, como João Pecham, Roberto Kilwardby, Ricardo de Middleton, declararam se a favor da tese da pluralidade. Observemos, contudo, que a afirmação da unidade substancial entre corpo e alma não foi interpretada por todos os autores do mesmo modo. Tomás de Aquino, por exemplo, deu-lhe uma in terpretação que podemos qualificar de moderada, pois, embora supusesse que a matéria é em princípio somen te um ser passivo, admitia que ela participa da forma convertendo-se em ser vivo, enquanto Egídio Romano sustentou uma interpretação extremista, segundo a qual a forma do corpo - ou alma - e o corpo são entidades separáveis e não se necessita em absoluto de qualquer forma da corporalidade, nem sequer como forma aciden tal . A variedade de interpretações também é muito grande entre os partidários da doutrina da pluralidade das for mas, desde aqueles que se aproximam em alguns pon tos das teses da unidade substancial até os que a rejei tam por inteiro. Com exceção das orientações escolásticas ou das tendências parcialmente influenciadas por elas, a época moderna manifestou ou pouca inclinação a util izar o vocábulo 'forma' para designar um conceito metafisico fundamental ou escasso interesse em precisar seu signi ficado. É verdade que Francis Bacon deu considerável importância à noção de forma, entendendo por ela a essência ou a natureza e propondo que a fisica investi gasse essas formas por meio de um processo indutivo. Mas, à parte esse conceito ter ficado insuficientemente delineado, ele não exerceu influência aprec iável. As complexidades no uso do termo aumentaram, além dis so, porque se adotou freqüentemente o par matéria .forma corno equivalente do par conteúdo-.forma. Em alguns casos, a precisão estrita não é necessária pois o próprio uso permite entender o que significam os vocá bulos. Assim ocorre, por exemplo, em Kant, quando este chama de matéria do fenômeno o que nele corres ponde à sensação, e de forma ao "que faz que o que há no fenômeno de diverso possa ser ordenado em certas relações". O mesmo ocorre quando o c itado filósofo er gue a doutrina das formas puras da sensibilidade ( espa ço e tempo), das formas puras do entendimento ( catego rias) e das formas da razão ( idéias) que permitem a ordenação da "matéria" que em cada caso é dada a elas. Mas já nas expressões "forma da moralidade" e "moral formal" penetra urna boa quantidade de arnbigüidades. Pouco a pouco o termo ' forma' foi sendo entendido não como a atualidade nem tampouco corno o a priori, mas corno o que é suscetível de abarcar qualquer con teúdo. Alguns fi lósofos contemporâneos aproximaram a noção de forma da de possibilidade e a de matéria ou conteúdo da de realidade dada em todas as suas espécies,
1 1 29 inclusive nas formais. Por isso s e disse que existem formas de formas, ou seja, formas que se aplicam a "conteúdos formais" que nos envolvem sem nos pene trar. Um caso no qual se rastreia esse uso é o de Emil Lask, que fala da forma primitiva ou originária da cate goria suprema e única não suscetível de ser envolta por nenhuma outra forma categorial. Em outras ocasiões tende-se a usar ' forma' para designar certas proprie dades ou notas; por exemplo, o inerte nos organismos vivos ou nas estruturas sociais. Então a forma designa o que é estático em uma realidade. Daí que se fale do que possui "meramente forma" como se carecesse de conteúdo e de existência obj etiva, ao contrário do uso tradicional de ' forma ' , no qual o vocábulo denota justa mente o que possui real idade e atualidade. Conseqüên cia disso é a oposição freqüente entre o formal e o em pírico, entre o que é considerado in concreto e in abs tracto. Alguns pensadores (como os fenomenólogos) re jeitaram, porém, a equiparação da forma com o a priori. No entender destes últimos, a idealidade pode ser tanto formal como material, e as individual idades empíricas podem existir em virtude de sua participação em essên cias materiais e não necessariamente formais. Em vista disso, convém definir cuidadosamente o vocábulo ' for ma' cada vez que seja empregado, especialmente quan do, como é freqüente, se tende a considerar a forma como a propriedade do que é formal, com a conseqüên cia de confundir uma noção metafisica com uma no ção lógica. II) Sentido lógico. Na lógica clássica faz-se a dis tinção entre a forma e a matéria do juízo. A matéria é o que muda no juízo; assim, o suj eito ' João ' e o predi cado 'bom' no j uízo 'João é bom ' constituem a maté ria. A forma é o que continua inalterável. Desse modo, no juízo anterior a cópula 'é' constitui a forma. Na ló gica atual costuma-se chamar de constante (vER) (ou elemento constante) a forma, e de variável (ou elemento variável) a matéria. Assim, na proposição 'Todos os homens são mortais ' , o quantificador universal 'todos' e o verbo ' são ' chamam-se constantes (ou formas) e 'homens ' e ' mortais' são qualificados de variáveis (ou matéria) da proposição. As formas também são chama das de partículas lógicas, qualificando-se de estrutura lógica a estrutura composta dessas partículas ou for mas. Pode-se entender com isso a freqüente afirmação de que a lógica se ocupa somente de proposições ver dadeiras ou falsas a priori em virtude de sua fi!rma, e o fato de que as deduções que a lógica efetua sejam consideradas deduções formais. A noção de forma lógi ca suscita, além disso, outros problemas; a alguns deles nos referimos nos verbetes FORMALISMO e FoRMALIZA\ÀO. I l i ) Sentido epistemológico. Pode-se dar um sentido epistemológico à noção de forma mentis (literalmente "forma da mente") enquanto estrutura mental que colo-
FORMA
ca as real idades, os fenômenos, os dados, os fatos etc., dentro de um contexto conceituai. O sentido epistemológico mais conhecido de 'forma' é o que tem esse termo em Kant (vER) quando esse autor fala das "formas a priori", e especificamente das "for mas a priori da sensibilidade" (espaço e tempo) . Em geral, trata-se de estruturas que tornam possível ordenar o material da experiência - ou do "dado" na experiên cia - convertendo-o em objeto de conhecimento. Se gundo Kant, a matéria no fenômeno corresponde à sensa ção; sobre ela se impõe a forma para ordená-la. É de se notar que num outro momento em que Kant introduz a noção de forma - a forma suprema da lei mo ral que é o imperativo (VER) categórico - trata-se de um conteúdo: o próprio conteúdo da pura lei moral. Mas o termo 'forma' não tem então um sentido epistemológico. IV) Sentido metodológico. Esse sentido aparece em algumas das análises do conceito de forma nos quais se apresenta o problema do conhecimento. Aqui nos li mitaremos a destacar uma das interpretações do sentido metodológico do termo ' forma ' : o que foi posto em cir culação por Cassirer. Esse autor assinalou que ao longo da história da fi losofia destacaram-se dois métodos gerais de conce ber a realidade : um baseado na causa (vrn) e outro ba seado na forma. A fi losofia antiga e a medieval tende ram ao último; a fi losofia e a ciência modernas, ao primeiro. Mas a crise contemporânea da ciência natural forçou alguns autores a se desviar um tanto das orienta ções modernas. I sso se manifesta na tendência de usar conceitos como os de estrutura, campo e totalidade, sem que isso implique transformar as causas eficientes em causas finais. O uso destes conceitos na ciência na tural tornou possível que não se considerasse impróprio aplicá-los à ciência cultural. Mais ainda: as ciências culturais são aquelas nas quais o emprego do método da forma permite alcançar resultados mais efetivos. As ciências culturais também se referem, naturalmente, ao devir, e nesse sentido não se pode excluir delas a consi deração causal. Mas esse devir é somente o conjunto dos processos seriais e não o princípio de qualquer série. Assim, ao contrário das ciências naturais (mesmo nos casos em que a noção de estrutura é nelas util izada), as ciências culturais dedicam atenção a certas formas que podem ser entendidas por analogia com os U1phano111e ne goethianos. Por isso Cassirer diz que a origem da função simbólica - que é para ele o objeto capital das ciências culturais, de acordo com sua idéia do homem como animal symholicum - não é compreensível por meios "científicos", isto é, predominantemente causais. No âmbito cultural, "todo devir permanece dentro de determinado ser", ou seja, dentro da "forma" em geral. Por isso esse devir pode ser designado, empregando uma expressão platônica, como um yÉvrn1s Eis oúoíav, co mo "um devir rumo ao ser''.
FORMA
(V) Sentido estético. Na estética costuma-se distin guir a forma do conteúdo. Essa distinção é semelhante à estabelecida na metafisica entre forma e matéria, mas, enquanto metafisicamente a forma é não-sensível (é "in telectual", conceituai etc .), esteticamente é sensível. Além disso, enquanto metafisicamente a matéria é aquilo com que se faz algo que alcança esta ou aquela forma, o que é determinado por esta ou aquela forma, na esté tica o conteúdo é o que se faz, ou o que se apresenta, dentro de uma forma. Na metafisica a forma é geralmente universal - mesmo as chamadas "formas singulares" supostamente possuem sua própria "formalidade" -, enquanto na estética é singular. O caráter singular, par ticular e único da forma estética não lhe retira, entretan to, sua dimensão significante. Alguns estetas falaram de "formas significantes" a esse respeito. Discutiu-se que relações há entre a forma e o con teúdo, e foram propostas numerosas doutrinas que po dem ser reduzidas às duas seguintes: 1 ) a forma é sepa rável do conteúdo pelo menos no sentido de que pode ser descrita e j ulgada independentemente dele; 2) for ma e conteúdo são inseparáveis. Aqueles que defendem a primeira idéia podem di scordar na importância dada à forma ou ao conteúdo (o que se manifesta comumente quando se fala daqueles que dão mai s importância ao modo como se diz [descreve, pinta etc.] algo em oposi ção àqueles que dão mais importância àquilo que se diz [descreve, pinta etc.]). Usualmente se entende por ' for ma' o "estilo'', a "maneira", a "linguagem" etc . ; por conteúdo entende-se o "assunto", o "significado" etc. Aqueles que defendem a segunda noção destacam que não se pode falar significativamente de formas sem conteúdos nem de conteúdos sem formas, de modo que ou ambos estão "fundidos" na "obra" ou são contínuos. Classicamente se considerou que uma obra de arte deveria ter uma '"boa forma"; a isso se chamoujàrm o sus, do que deriva ' formoso ' . O que éjàrmosus ou bem proporc ionado opõe-se ao disforme, freqüentemente identificado ao que é feio. O termo ' forma' também é utilizado na estética para designar a ordem na qual estão dispostos os elementos em um conj unto (por exemplo, para falar de simetria). Nesse caso a forma não se contrapõe ao conteúdo. Uma das razões para a con fusão freqüente na ter minologia estética é que várias noções, como as de or dem, proporção, simetria etc . , aplicam-se por igual à noção de forma como contrarosta à de conteúdo, e à no ção de forma como contraposta a elementos dispostos em um conjunto. A confusão deve-se em parte a que às vezes a ordem em que estão dispostas as partes determi na uma "'figura" que pode ser identificada com a forma que foi dada a um "conteúdo". Outra distinção comum na estética é a efetuada en tre forma e sentimento . Também nesse caso discutiu-
1 1 30 se se em uma obra de arte predomina (ou "deve predo minar") o sentimento ou a forma, se é adequado classi ficar as obras de arte, e os estilos, de acordo com a su posta polaridade "sentimento-forma", e se não seria melhor abster-se de falar de tal polaridade. Esta última é a opinião de Susane K. Langer, que indica que a fre qüente associação do sentimento com a espontaneidade, desta com a informalidade ou indiferença pela forma e desta com a ausência de forma, por um lado; e a asso ciação da forma com a formalidade, a regulação, a re pressão e, em última análise, com a ausência de senti mento, por outro, são a conseqüência de se ter elevado à dignidade de princípio uma mera confusão lógica. "A polaridade entre sentimento e forma é em si mesma um problema, pois a relação entre os dois 'pólos ' não é realmente ' polar', isto é, uma relação entre positivo e negativo, já que sentimento e forma não são comple mentos lógicos" (S. K. Langer, Feeling and Form : A Theory ofArt, i, 1 95 3 , p. 1 7) . :> Sobre a noção d e forma em diferentes autores e correntes, especialmente no aristotelismo e na escolás tica: R. Loriaux, L 'Être et laforme selon Platon: Essai sur la dialectique platonicienne, 1 95 5 . - Edith Watson Schipper, Forms in Plato 's Later Dialogues, 1 96 5 . E. Rolfes, Die substantielle Form und der Begriff der Seele bei Aristoteles, 1 892. - E. Neubauer, Der aristo telische Formbegriff, 1 909. - 1 . Husik, Matter and Form in A ristotle, 1 9 1 1 . - L. Schmol ler, Die scholastische Lehre von Materie und Form , 1 903. - A. Perier, Ma tiere e/forme: Quelques objections contre l 'aristotélis me ancien f'I moderne, 1 927. - Fernando Inciarte, For ma formarum. Strukturmomente der Humanistischen Seinlehre im Rückgri/TaufA ristoteles, 1 970. - H. Fro nober, Die Lehre von der Materie und Form nach dem A lbert dem Grasse, 1 909. - J. Goheen, The Problem of Matter and Form in the De ente et essentia of Tho mas Aquinas, 1 940 (refere-se também a Avicebrón). -- G. Stella, L'i/emor/ismu di G. Duns Scoto, 1 95 5 . A. Mitterer, Das Ringen der alten Stojf-Form-Metaphy sik und der heutigen Stoff�Physik, 1 93 5 . - N. E . Emer ton, The Scientific Reinterpretation of Form, 1 984. M. Furth, Substance, Form and P;,ychf': An A ristotelian Metaphysics, 1 98 8 . - F. Schroeder, Form and Trans jórmation: A Study in lhe Philosophy ofPlotinus, 1 992. - Ver também a bibliografia de H l l.EMORFISMO. Sobre ' foima' no sentido lógico: G. H . von Wright, Fórm and Co'1tent in Logic, 1 949 (aula inaugural de 26-V- 1 949 em Cambridge ; reimp. no vol. do autor: Lo gical Studies, 1 957, pp. 1 -2 1 ). - R. May, Logical Form: Jts Structure and Derivation, 1 98 5 . - J. Proust, Ques tions o/Form : Logic and the A nalytic Propositionfrom Kant to Carnap, 1 989. Para a teoria de Cassirer: "Formproblem und Kau salprobiem", no trabalho Logik der Kulturwis;, enschal
1 1 31
FORMALISMO
ten, publicado em Gõteborgs Hõgskolas Arskrift, 48 ( 1 942), pp. 69- 1 1 2 (trad. esp. do trabalho completo em Las ciencias de la cultura, 1 95 1 ). Obras nas quais são expostas "filosofias da forma" no sentido da estrutura em geral: P. Carus, The Philoso phy ofForm, ed. separada de Introduction to Philosophy as a Science, 1 9 1 O. - E. Herrigel, Urstoffund Urform. Ein Bt!itrag zur philosophischen Strukturlehre, 1 926. R. Ruyer, Esquisse d 'une philosophie de la structu re, 1 930. E. I. Watkin, A Phi/osoph)' ofForm, 1 93 5 . - R. Ingarden, Esencjalne Zgadnienic Formy i Jej Podstawowe Projecia, 1 946. - Carl Oluf Gj erlov Knudsen, Formens jilosoji, 1 956 (trad. ingl . : The Phi losophy of Form, 1 962). - J. Zaragüeta, A. González Ávarez e/ ai. , La forma, 1 959 (IV Semana Espaiiola de Filosofia. Instituto Luis Vives e Sociedad E spaiiola de Filosofia). - A. Berndtson, Power, Form, and Mind, 1 98 1 . - R. 8. Pippin, Kant j· Theory ofForm: An Essay on the Critique of Pure Reason, 1 982. O. Kenshur, Open Form and the Shape ofIdeas: Literary Structures as Representations of Philosophical Concepts. Seven teenth and Eighteen th Centuries, 1 9 8 6 . B. Falkenburg, Die Form der Materie: Zur Metaphysik der Natur bei Kant und Hegel, 1 987. - H . White, The Con ten t of the Form : Narrative Discourse and Historical Representation, 1 987. - L. Lermond, The Form ofMan .· Human essence in Spinoza j· Ethic, 1 98 8 . Para a psicologia d a forma, ver ESTRUTURA. A filosofia da forma de J. Geyser (à qual nos referi mos em Eidético [VER]) é exposta em Eidologie oder Philosophie ais Formerkenntnis, 1 92 1 . Ver: Melchior Palágyi, Der Streit der Psychologis chen und Formalisten in der modernen Logik, 1 902. - L. E. J. Brouwer, "lntuitionism and Formalism", Bull. Am. Math. Society, 20 ( 1 9 1 3 ) . Richard Baldus, For malismus und /ntuitionismus in der Mathematik, 1 924. - Jean Cavailles, Méthode axiomatique etformalisme, -
1 93 8 . - Jean Ladriere, Les /imitations internes desfor malismes: Étude sur la signification du théoreme de Godel et des théoremes apparentés dans la théorie des fondements des mathématiques, 1 95 7 (trad. esp . : Las limitaciones internas de los formalismos, 1 97 1 ). - A. Mercier, A nalytical and Canonical Formalism in Phy sics, 1 959. - T. Bennett, Formalism and Marxism, 1 979, ed. T. Hawkes. - J. T. Bergner, The Origin of Formalism in Social Science, 1 9 8 1 . J. O ' Ne i l l , Worlds Without Content: Against Formalism, 1 992. Ver também a bibliografia dos verbetes INTUICIONISMO; MATEMÁTICA; PSICOLOG ISMO. C -
FORMALITER. Os escolásticos (e muitos autores mo dernos) utilizaram vários advérbios latinos como termos técnicos; entre eles, e de modo muito proeminente, figura o vocábulo órmaliter ( ' formalmente'). Definiremos bre vemente seu significado e, ao mesmo tempo, o de vários outros advérbios latinos empregados pelos escolásticos para precisar o sentido de suas expressões. Os outros advérbios a que nos referimos são materia/iter ( ' mate rialmente ' ), metaphorice ( 'metaforicamente'), virtualiter ( ' virtualmente '), eminenter ( ' eminentemente ' ) . Enuncia-se algo fórmaliter quando s e fa l a d e um modo próprio, de acordo com seu significado preciso. Uma definição de uma coisafórmaliter é uma definição da natureza específica da coisa. Um termo entendido fórmaliter é um termo entendido como tal. Enuncia-se algo metaphorice quando se fala de um modo impróprio e translativo. Ver M ETÁFORA. Enuncia-se algo materialiter quando se fala que pertence ao obj eto completo. Enuncia-se algo virtualiter quando se faz referência à causa capaz de produzi-lo. Para eminenter, ver EMINENTE. Exemplos desses usos: Um homem é formalmente um homem e metaforicamente uma ave de rapina. O Ser e o Bem são formalmente distintos, mas material mente idênticos. O efeito encontra-se virtualmente na causa. A racionalidade encontra-se formalmente no ho mem, e eminentemente em Deus. f
FORMALIZAÇ Ã O. Formal izar uma l inguagem L equivale a especificar, mediante uma metalinguagem (vER) L 1 , a estrutura de L. Para tal efeito especifica-se por meio de L 1 exclusivamente a forma das expressões de L. A formal ização de L mediante L , não necessaria mente converte L em uma série de expressões sobre formas de expressão. As expressões da l inguagem for mal izada L 1 podem se referir a qualquer "conteúdo". L pode ser a linguagem comum (ou um dos aspectos da l inguagem comum: a linguagem desportiva, a lingua gem da "vida social", a linguagem da crítica literária, a linguagem da diplomacia etc.). L pode ser a linguagem filosófica, ou a de um sistema filosófico determinado e, evidentemente, L pode ser determi nada l inguagem
FOHMALIZAÇ ÃO
1 1 33 científica (a da tisica, a da biologia, a da sociologia etc.) ou uma parte dessa linguagem (a teoria da relatividade, a genética etc.), a linguagem matemática (ou de um ramo da matemática), a linguagem lógica (ou de um ramo da lógica ou de uma parte da lógica) etc . A formalização de uma linguagem é realizada segundo certos requisitos. Destes, mencionamos os seguintes: a enumeração de to dos os signos não-definidos de L; a especificação das condições em que uma fórmula dada pertence a L; a enumeração dos axiomas utilizados como premissas; a enumeração das regras de inferências aceitas para efe tuar deduções em L. Apesar da possibilidade de se formalizar qualquer linguagem, os resultados mais fecundos foram obtidos na formalização de linguagens lógicas e matemáticas. Nesse tipo de formalização pode-se ver mais clara mente que em qualquer outro que, como escreve Hao Wang ("On Formalization", Mind, N. S . , 64 [ 1 955], 226-238), "não há uma linha divisória estrita entre for malizar e descobrir uma prova". Por meio de Gi:idel (ver GüoEL [TEOREMA D E ]) sabe mos que, dado um sistema lógico razoavelmente rico, S, pode-se provar que haverá sempre ao menos um teo rema, t, indecidível dentro do sistema. A formalização de S mediante S1 pode tornar t decidível, mas então haverá em S1 ao menos um teorema, t 1 , não decidível em S1 e assim sucessivamente com qualquer sistema, s,, S3 s,,. Os resultados de Gi:idel levaram alguns au tores (por exemplo, alguns materialistas dialéticos e vários membros da chamada "Escola de Zurique" [VER]) a sustentar que o "formali smo" é "impotente" e que deve ser, portanto, "abandonado". Mas a verdade é que os resultados de Gi:idel não se opõem à formalização : simplesmente mostram o que acontece quando ela é rea lizada. Esses resultados tampouco constituem uma de monstração de que o processo lógico depende "do con creto". Naturalmente não apóiam nenhum tipo de "irra cionalismo". Os resultados de Gi:idel são resultados ló gicos; não procedem de nenhuma "intuição" sobre a na tureza da lógica e da matemática. Não se pode falar, pois, de uma "decadência dos absolutos lógico-matemá ticos", como fazem Georges Bouligand e Jean Desgran ges (Le déclin des absolus mathématicologiques, 1 949), seguindo Ferdinand Gonseth. Como indica H . Leblanc (cf. Isis, 42 ( 1 95 1 ] , 72), "o resultado de Gi:idel mostrou a impossibilidade de transformar a lógica em um abso luto; ele nos lembrou que a lógica é meramente um sis tema de convenções, que podem ser ampliadas ou res tringidas segundo a vontade do matemático e os riscos que este decida correr", mas mostrou ao m � smo tem po que o marco da lógica "continua sendo o único no qual pode ser inserida a matemática". Não se deve confundir ' formalização ' com ' forma lismo ' quando este último termo designa uma das esco las ou tendências da lógica e da fi losofia matemática • . .
contemporâneas (ver FORMALISMO; MATEMÁTICA). Todas as escolas matemáticas e lógicas praticam a formaliza ção, tanto no caso dos "formalistas" propriamente ditos como no dos "intuicionistas". Desse modo, a matemá tica intuicionista de Brouwer (ver INTu1c10NISMO) foi formalizada em grande parte por Heyting. Alguns pensadores (por exemplo, Gabriel Marcel em Le mystere de l 'être) assinalaram que, por ser a filo sofia menos um sistema para provar verdades que um auxílio para o descobrimento de verdades, o fi lósofo que descobre certas verdades e as expõe em suas cone xões "dialéticas ou sistemáticas" corre o risco de "alte rar profundamente a natureza das verdades que desco briu". Se essas opiniões de Marcel forem aceitas poder se-á facilmente sucumbir à tentação de considerá-las expressão de uma oposição à formalização. Contudo, isso não ocorre. Independentemente de se o próprio Marcel (caso se interessasse pelo assunto) se oporia ou não à formalização, as opiniões resenhadas não se re ferem à formal ização, mas ao "espírito de sistema", es pecialmente àquele que se revela em alguns fi lósofos quando "traem" suas próprias "intuições" alojando-as em um sistema fi losófico "artificial". A formalização no sentido aqui tratado não consiste em impor uma es trutura sistemática a um corpo de doutrina dado se a estrutura sistemática pertence à mesma linguagem que o corpo de doutrina. Tampouco consiste, de acordo com o que foi dito no início, em transformar esse corpo de doutrina em um conj unto de expressões "puramente formais". Desse modo, as idéias fi losóficas de Marcel podem ser formalizadas sem que tais idéias se conver tam em um discurso sobre formas de expressão. Outra questão é a de se é mais fácil formalizar um sistema fi losófico como o de Santo Tomás, o de Hegel e outros, do que um corpo de doutrina como o de Marcel ou o de N ietzsche. Não há dúvida de que é mais fácil for malizar os primeiros - porém em nenhum dos casos a formalização afeta o "conteúdo" da série de expressões formalizadas. Para a diferença entre "sistema logístico formaliza do" (ou "cálculo") e "sistema de linguagem formalizado" (ou "linguagem interpretada") ver o verbete SISTEMA, ad .finem. O termo ' formalização ' foi utilizado por Xavier Zubiri em um sentido diferente do exposto até agora. A formalização é, segundo Zubiri, o processo mediante o qual um sistema nervoso complexo apresenta situações novas ao organismo. O cérebro é o órgão desse proces so. "A função da formalização" - escreve Francisco Javier Conde em Homenaje a Xavier Zuhiri, 1 953, p. 59 - "é integrada por várias funções, especialmente três: a) Organizar o quadro perceptivo. O sistema nervoso vai organizando as percepções do animal em um cam po progressivamente ordenado. Ele vai, portanto, for malizando os estímulos que o animal recebe e vai des-
FORMEY, J EAN HENRI SAMUEL
se modo individualizando progressivamente os estados sensitivos do animal . b) Criar o repertório das respostas motrizes do animal . É a formalização dos esquemas de resposta. e) Organizar os estados do animal, seus esta dos afetivos, o tono vital. É a formal ização do tono bio lógico do animal ." Por mais avançada que se encontre a formalização, ela não constitui ainda, segundo Zubiri, o que é característico do homem. Com efeito, o homem constitui-se como tal somente quando um organismo não pode responder adequadamente a uma situação me diante a formalização e requer um novo elemento : a "inteligência".
FORMEY, JEAN HENRI SAMUEL ( 1 7 1 1 - 1 797). Nascido em Berlim, foi a partir de 1 748 secretário e de pois histo1iador oficial da Academia de ciências de Ber lim. Formey apresenta o interessante caso de um autor enormemente fecundo, ao qual se devem quase quinhen tos livros -- certamente de todos os tamanhos -- e milha res de resenhas, sem contribuir praticamente nada para o pensamento fi losófico, mas servindo de foco e ponte de ligação, e exercendo, sob esse aspecto, considerável influência sobre muitos de seus contemporâneos. Não podemos resistir à tentação de citar uma passagem da his tória da psicologia moderna, de Max Dessoir, que extraí mos de Lewis White Beck (Early German Philosophy, 1 969, p. 3 1 5, nota 1 7), sobre Formey: "Esse homem pro duziu de fato quase seiscentos livros, além de uma quantidade esmagadora de resenhas muito solicitadas, em parte porque só se sentia feliz trabalhando e em parte pour donner un peu d 'aisance a ses enfants. Além disso, manteve a mais extensa correspondência conhecida na Alemanha desde Leibniz. E por volta do final de sua vida deu um golpe genial : incapaz de produzir qualquer obra criadora, mas ao mesmo tempo incapaz de não fazer nada, ele mesmo publicou suas Oeuvres posthumes". To das as obras de Formey são uma divulgação da filosofia de Wolff com idéias e passagens de Locke e Hume. :> Formey foi o mais popular vulgarizador de Wolff com seus 6 volumes de la bel/e wolfienne, 1 74 1 - 1 75 3 . Também escreveu - - entre tantas d e suas muitas obras - uma Encyclopédie portative, um Anti-Émile, em vá rios volumes, l 762ss., e um Émile chrétien, em "ape nas" 2 vols., 1 764. Foi um dos diretores da Bibliothé que Germanique e (com Pérard) do Journal littéraire D 'Allemagne. � FORONOM IA. No século XVIII o termo Phoronomia foi utilizado para designar a parte da fisica que se ocupa das leis (vóµoç, "lei") do movimento (q>opá) dos cor pos, tanto sólidos como líquidos. Temos um exemplo desse uso em Jacob Hermann ( 1 678- 1 73 3 ) em sua Pho ronomia, sive de viribus et motibus corporum solidonim et fluidorum. Samuel Clarke (VER) refere-se à obra de Hermann em sua quinta carta (resposta à quinta carta) da chamada "correspondência Leibniz-Clarke'', refu-
1 1 34 tando suas opiniões, que representavam as de Leibniz, sobre as leis da queda dos corpos. Lambert (vER) refe riu-se à foronomia em seu Neues Organon, de 1 764. Provavel mente a palavra não figuraria em nenhum índi ce, ou em nenhum dicionário, se não tivesse sido utili zada por Kant nos Princípios metafisicas da ciência natural (Metaphysische A nfangsgründe der Naturwis senschafi, 1 786) como um dos modos de estudar a ma téria, j untamente com a dinâmica, a mecânica e a feno menologia (VER).
FOSSAMBRUNO, ANGELO DE. Ver MERTONIANOS. FOUCAU LT, MICHEL ( 1 926- 1 9 84). Nascido em Poitiers, foi professor do College de France a partir de 1 970. É comum considerar Foucault um dos principais representantes do estruturalismo (VER) francês. Também é comum considerá-lo o filósofo do estruturalismo, di ferentemente de Lévi-Strauss, que é antropólogo, e de Roland Barthes, crítico. Embora o pensamento de Fou cault se encaixe melhor no estruturalismo que em qual quer outro movimento fi losófico contemporâneo, e embora Foucault esteja de acordo com os estruturalistas ao recusar-se a ater-se - ou deter-se - aos fenômenos superficiais de que se ocupam habitualmente os histo riadores e os cultivadores das ciências sociais e das ciências humanas, há consideráveis diferenças entre a noção de estrutura nos autores mencionados e o tipo de indagação feita por Foucault em seus estudos da história da loucura e da origem da clínica. Os trabalhos de Foucault sobre a arqueologia das ciências humanas, sobre a arqueologia do saber e sobre a ordem do discur so proporcionam a base filosófica daquilo que foi cha mado seu estruturalismo e permitem ver até que ponto este último nome não é completamente adequado para descrever seus trabalhos; de qualquer modo, podem dar uma idéia dos fundamentos daquilo que Jean Piaget chamou, ao referir-se a Foucault, de "um estruturalismo sem estruturas". Estendemo-nos sobre as idéias de Foucault nos ver betes ARQUEOLOGIA; DISCURSO; ENUNCIADO; EPISTEME e SIMPATIA, que podem ser considerados como parte ou complemento deste. Desses verbetes depreende-se que, embora Foucault se apóie em dados históricos para ex pressar suas idéias, ele ao mesmo tempo nega que as idéias, enquanto supostos modos de ver e representar, ou figurar, ou simbolizar, o mundo, sej am função da his tória. Não são sequer função de um ser humano, que seria sujeito da história. A rigor, não existe para Foucault um tal sujeito. O que é assim chamado é uma realidade insta lada em uma episteme, algo que "desliza", por assim di zer, no "discurso" da episteme. Se cabe falar de estrutu ras, trata-se de estruturas que não têm sujeitos. Foucault tenta evitar o mal-entendido que, em seu entender, consiste em adscrever sua empresa simples mente no campo estruturalista: "Não se trata de transfe-
1 1 35 rir para o domínio da história, e especialmente da histó ria dos conhecimentos, um método estruturalista que foi testado em outros campos da análise. Trata-se de de preender os princípios e as conseqüências de uma trans formação autóctone que está em vias de se cumprir no domínio do saber histórico ( . . . ) não se trata (e menos ainda) de utilizar as categorias de totalidades culturais (sejam elas visões do mundo, tipos ideais, espírito par ticular das épocas) para impor à história, e a despeito dela, as formas da análise estrutural" (l'archéologie du savoir, pp. 25-26). Por isso Foucault nega que suas obras se inscrevam - ao menos fundamentalmente - no debate sobre a estrutura, como contraposta à gênese, à hi stória e ao devir, mas admite que se trata de deslindar um campo em que também são suscitados os problemas da estrutura. Foucault se opõe a todo "narcisismo", particular mente ao narcisismo das ciências humanas, que fizeram acreditar que o homem é "o problema mais constante do saber humano''. "O homem" - escreve Foucault - "é uma invenção cuja recente data é facilmente mostrada pela arqueologia de nosso pensamento. E com isso talvez se mostre seu fim" (les mots et les choses, p. 398). Falou se, por causa disso, da "morte do homem" e considerou se que o pensamento de Foucault não somente está de acordo com o estruturalismo, mas o leva a suas últimas conseqüências. Em todo caso, o pensamento de Foucault tem em comum com o de alguns estruturalistas a tendência a procurar "campos" dentro dos quais se alojem os pen samentos e os comportamentos humanos de acordo com regras que não são feitas pelos próprios homens, ou que não estão em um nível consciente. Os campos de referência são para Foucault positivos, porque não con sistem em restringir a l iberdade, mas em tomar possí vel a iniciativa dos sujeitos. As mudanças de episteme não são produzidas por atos humanos, individuais ou coletivos. Tampouco são, porém, mudanças produzidas mecanicamente, ou das quais não seja possível dar ne nhuma explicação. Há descontinuidade entre epistemes, mas há uma razão das mudanças que pode ser encon trada no que Foucault chama de "condições de possibi lidade". A arqueologia do saber tem de mostrar o "espa ço geral do saber", mas com i sso já se definem "siste mas de simultaneidade, assim como a série de mutações necessárias e suficientes para circunscrever o limiar de uma nova possibilidade" (Les mots et les choses, p. 1 4). •• A partir da aula inaugural de Foucault no "Colle ge de France" costuma-se considerar que começa a eta pa genealógica que teria como principais obras Vigiar e punir e História da sexualidade. A maior parte dos autores divide o pensamento de Foucault em três etapas. seguindo um modelo basicamente cronológico: a etapa arqueológica (desde Folie et déraison até A arqueologia do saber, i sto é, de l 96 l a 1 969); a etapa genealógica
FOUCAULT, MICHEL
(desde Ordem do discurso até 9 primeiro volume da His tória da sexualidade, 1 97 1 - 1 976) e finalmente a etapa da govemabi lidade ou das técnicas ou tecnologias do eu, do sujeito (a partir de 1 978). O próprio G. Deleuze resumiu o percurso de Foucault em três perguntas: 'o que posso saber? ' , 'o que posso fazer? ' e 'o que sou eu? ' . Dreyfus e Rabinow consideram, por exemplo, que a passagem para a etapa genealógica deu-se por causa do fracasso do método arqueológico. Entretanto, embo ra essa classificação seja cômoda e às vezes pareça ser ratificada pelo próprio Foucault (p. ex. em Vigiar e pu nir), é preciso dizer que ela comporta vários proble mas. Por exemplo, é evidente que Folie et déraison está muito mais próxima do conteúdo e do estilo de Vigiar e punir que de As palavras e as coisas. Foi por essa razão que alguns intérpretes (p. ex . , Miguel Morey) consideraram mais pertinente contemplar a evolução do pensamento de Foucault não como a sucessão de métodos que se substituem, mas antes como círculos cada vez maiores que integram as etapas anteriores dan do-lhes novas possibilidades de interpretação. Nesse sentido é importante constatar que as principais obras de Foucault começam anunciando uma invenção recen te (as disciplinas psi-, a clínica, as ciências humanas, a prisão, a sexualidade) e terminam anunciando seu pos sível fim. É possível, pois, contemplar todo o pensa mento de Foucault como diferentes aberturas de uma mesma tarefa geral. Foucault, desde o início, esteve in teressado em mostrar como se formaram alguns dos fundamentos de nosso presente, delineando seu contex to discursivo e institucional; perguntou-se pela maneira segundo a qual se constituem os discursos chamados de verdadeiros, sobretudo no âmbito das ciências huma nas. E tudo isso de forma a não implicar em absoluto uma legitimação do presente por meio daquilo que Nietzsche chamou de "racionalidade retrospectiva". Foucault pergunta-se constantemente pelas condições de possibilidade de certas experiências (a doença, a loucu ra, a prisão, a sexualidade), tentando mostrar quando, por que e em que circunstâncias apareceram. Rejeita, portanto, qualquer a priori universal, substituindo-o por uma rede de a priori históricos. As obras de Foucault .mostram que nossas experiências, nossas práticas e nos sos discursos sobre o doente, o louco, o delinqüente ou a sexual idade são invenções recentes que apareceram a partir de certas relações entre o saber e o poder que as tomou possíveis, e indicam que, se essas disposições que permitiram a sua emergência desaparecessem, leva riam consigo tai s realidades. Dito de outro modo: Fou cault não tenta legitimar a razão moderna; não se trata de afirmar nossos conhecimentos, mas de tentar expe rimentar até que ponto é possível "penser autrement''. Por i sso sua ontologia do presente foi qualificada pelo próprio Foucault como uma tentativa de "criação de liberdade". Foucault mostra a origem de certas práti-
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FOUCAULT, M ICllEL
cas ou discursos que chegaram a ser considerados "nor mais" graças a uma complexa trama de inércias que limitam estreitamente a criação de novas possibilidades. Daí que mostrar a origem de nosso presente e pensar de outro modo sejam em Foucault duas idéias inter-re lacionadas. O presente delineia o que somos, dizemos e fazemos, e esse presente tem sua história, embora a doxa queira nos fazer acreditar no contrário por meio da racional idade retrospectiva. O efeito global que produz ou tenta produzir o pen samento de Foucault - que deve ser relacionado com o de N ietzsche para poder ser captado em sua essência - é a defesa da dissensão e do "direito à diferença", com uma recusa enérgica da confusão (comum) entre o normal e o moral. Pode-se dizer que Foucault tenta plasmar não tanto aquilo que nos impede de ser o que somos como mostrar os mecanismos que possibilitaram que sej amos o que somos. É por isso que o tema do su jeito é um tema-chave em Foucault, j á que se trata de analisar as diversas formas de sujeição a que nos vemos submetidos por meio de certos discursos e práticas, por meio de certas relações entre o saber e o poder.•• :> Obras: Ma/adie menta/e et personalité, 1 954; reed. como Ma/adie menta/e et psychologie, 1 966. - Folie et déraison. Histoire de lafolie à l 'âge classique, 1 96 1 ; ed. abrev., Histoire de la folie à l 'âge classique, 1 96 1 ; 2ª ed., seguida de dois novos textos, "Mon corps, ce papier, ce feu", "La folie, l ' absence d ' oeuvre", 1 972. Raymond Roussel, 1 963 . - Naissance de la clinique. Une archéo/ogie du regard médica/, 1 963. - Nietzs che, Marx, Freud, 1 965. - Les mots et /es choses. Une archéologie des sciences humaines, 1 966. - L'ar chéologie du savoir, 1 969. - L'ordre du discours, 1 97 1 (Aula inaugural no College de France, 2-XI I - 1 970). - "N ietzsche, la Généalogie, l ' H i stoire", em VV. AA., Hommage à Hyppolite, 1 97 1 . - Moi, Pierre Riviere, ayant égorgé ma mere, ma soeur et monfrere. . . , 1 973. Ceei n 'est pas une pipe, 1 973. - Surveiller et punil: Naissance de la prison, 1 9 7 5 . Histoire de la sexualité, 3 vols.: 1, La volonté de savoir, 1 976; II, L'usa ge des plaisirs; I I I , Le souci de soi, 1 984. La pensée du dehors, 1 986. - Sept propos sur le septieme ange, 1 986. - Les anormaux. Cours au College de Fra nce, 1 999. A verdade e as formas jurídicas, 1 97 8 . Résumés des cours au College de France, 1 9 70-1 982, 1 989. - Dits et écrits, 1 954- 1 988, editado por D. Deferi e F. Ewald, 4 vols., s./d. Foucault também escreveu uma longa introdução ( 1 28 páginas) e as notas da trad. fr. de Ludwig Binswan ger, Traum und Existenz (Le rêve et / 'existence, 1 954). Em português: A arqueologia do saber, 6ª ed., 2000. Doença mental e psicologia, 1 994. - Em defesa da sociedade, 1 999. - Eu, Pierre Riviere, que degolei minha mãe. minhã irmã e meu irmão, 6ª ed., 2000. História da loucura, 4ª ed., 1 995. - História da sexua-
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-
/idade, 1 : A vontade de saber, 1 3ª ed., 1 999. - História da sexualidade 2: O uso dos prazeres, 8ª ed., 1 998. História da sexualidade 3: O cuidar de si, 1 999. - O homem e o discurso, s.d. - Isto não é um cachimbo, 2ª ed., 1 989. - Microfisica do poder, 1 2ª ed., 1 996. - A mulher e os rapazes, 1 997. - O nascimento da clínica, 5ª ed., 1 998. - Nietzsche, Freud e Marx - Theatrum philosophicum, 1 997. - A ordem do discurso, 5" ed., 2000. - As palavras e as coisas, 8ª ed., 1 999. - O pensamento do exterior, 1 990. - Raymond Roussel, 1 999. - Resumo dos cursos do College de France 19701 982, 1 994. - A verdade e asformasjurídicas, 2ª ed., 1 999. - Vigiar e punir, 22ª ed., 2000. - Um diálogo sobre os prazeres do sexo, 2000. Debate entre M. F. e Noam Chomsky : "La natura leza humana. Justicia o poder?", trad. para o espanhol em Cuadernos Teorema, 6 ( 1 976), com o título indicado. Procede do livro Rejlexive Water: The Basic Concerns of Mankind, 1 974. Entrevistas com F. : Madeleine Chapsal, "Entretien: M . F.", La Quinzaine Littéraire, 5 ( 1 5-V- 1 966), 1 4- 1 5 . - Raymond Bellour, "Entretien: M. F. ' Les mots et les choses"', Les Lettres Françaises, 1 1 25 (3 1 -I I I/6-IV1 966), 3-4. - !d., "Deuxiéme entretien avec M. F. : Sur les façons d ' écrire l ' histoire", ibid. , 1 1 87 ( ! 5/2 1 -VI1 967), 6-9; reimp. em Raymond Bellour, Le livre des autres, 1 97 1 , pp. 1 3 5- 1 44 e 1 89-207. - John K. Simon, "A Conversation with M. F.", Partisan Review, 2 ( 1 97 1 ), 1 92-20 1 . - "Les intellectuels et le pouvoir: Entretien M. F.-Gilles Deleuze", L 'A rc, 49 (2° trimestre de 1 972), 3 - 1 O. - "C' est demain la veille. Entretiens avec M . F.", 1 973, sem ed. (Editions du Seuil). Sexo, Poder; Ver dad, ed. de .entrevistas por M. Morey, 1 978; reed. com uma nova introd. : Diálogo sobre el Poder, 1 98 1 . Bibliografia: François H . Lapointe e Claire Lapointe, "Bibliography on M. F.", Diálogos, 26 ( 1 974), 1 53 - 1 57. - !d., "Foucault Writings. Suplement to Bibliography on M. F.", ibid., 29-30 ( 1 977). - M. Clark, M. F.: An Annotated Bibliography. Too/ Kit for a New Age, 1 983. - J. Lagrange, "Les oeuvres de M . F.", Critique, 47 1 472 ( 1 986). - Bibliografia preparada por T. Keenan em J. Bernauer e D. Rasmusen, eds., The Final Foucault, 1 988. Ver: Gilles Deleuze, "Un nouvel archiviste", Criti que, n. 274 (março de 1 970), pp. 1 95-209; cf. o opúscu lo do mesmo autor: Un nouvel archiviste, 1 972. - Karl Baltheiser, Die Wegbereiter des linguistischen Struk turalismus und dessen sprachphilosophische Aspekte hei F. , 1 97 1 . - Annie Guédez, F. , 1 972. - R. Bakker, Her anonieme denken. F. en het structuralisme, 1 973 . - A. Kremer-Marietti, M. F., 1 974. - D. Eribon, M. F. (1 9261 984), 1 989. - E. Kurzweil, "M. F.: Ending the Era of Man", Theory and Society, 4 ( 1 977), 395-420. - A. Sheridan, M. F.: The Will to the Truth, 1 980. - C. C. Lemert, M. F.: Social Theory as Transgression, 1 982. K. Racevskis, M. F. and the Subversion oflntellect, 1 983. -
1 1 37 - H . L . Dreyfus, P. Rabinow, M. F.: Beyond Structura /ism and Hermeneutics, 1 983; nova ed. ampl., 1 984. M. Morey, Lectura de F., 1 983. - P. Maj or-Poetzl, M. Foucault �- A rcheology ofWestern Culture: Toward a New Science of History, 1 983. - M. Cousins, A. Hussain, M. F., 1 984. - 8. Smart, F., Marxism and Critique, 1 984. - 1. Raj chman, M. F.: The Freedom ofPhilosophy, 1 985. - J. Bernauer, D. Rasmussen, eds. , The Final Foucault, 1 988. - R. García dei Pozo, M. F.: un arqueólogo dei humanismo, 1 988. - G. Gutting, M. Fs Archaeology of Scientific Reason, 1 989. - M . Mahon, Fs Nietzschean Genealogy: Truth, Powe1; and the Subject, 1 992. - J. Rajchman, Truth and Eros: F., Lacan, and the Question of Ethics, 1 99 1 . Obras: Le marxisme en question, 1 959. - La phi losophie en question, 1 960. - La conscience politique dans la France contemporaine, 1 963. - Contradiction
FOU I LL É E, ALFRED
et totalité (Surgissement et déploiements de la dialectique), 1 964. - L'enseignement du français au service de la nation sénégalaise, 1 967. - Modernization des hommes: / 'exemple du Sénégal, 1 967. - La révolutionfreudienne, 1 970. - Le jeu de Kostas Axelos, 1 973 (com Henri Le febvre). - Contre Lévi-Strauss, Lacan, Althusser, 1 976. - Savoirs et idéologie dans les sciences sociales, 2 vols.; 1 , Sciences sociales et marxisme, 1 979; II, Les processus sociaux contemporains, 1 980. - Les Métamorphoses de la crise: racismes et révolutions au X1"' siécle, 1 985. La nation: essor et déclin des sociétés modernes, 1 987. - Marx, 2ª ed. rev., 1 992. - L'A ttractiun dufutur: essai sur la signification du présent, 1 992. ele ao mesmo tempo parece suge rir que há algo em potência porque a regra em questão não é apl icavel sempre e em todos os casos. A respeito
1 1 62 das doutrinas fatalistas e deterministas, Aristóteles põe em dúvida que seja necessário admitir que, se agora é verdade que certo acontecimento ocorrerá, é falso que não ocorrerá; e que, se agora é falso que ocorrerá, é verdade que não ocorrerá. As razões que movem Aris tóteles a duvidar dessa tese são complexas; não obede cem unicamente a uma análise dos predicados 'é verda deiro ' , 'é falso ' , ' não é verdadeiro nem falso ' , mas às doutrinas sustentadas sobre o que é real sobre o movi mento e sobre o acaso (vER). Os estóicos seguiram a opinião difundida de que o princípio de bivalência constitui uma prova de deter minismo, e ao mesmo tempo de que o encadeamento necessário e universal dos fenômenos obriga a aceitar sem nenhuma exceção possível o princípio de bivalên cia. O assunto foi examinado por não poucos filósofos da Antiguidade, tanto do período imediatamente pos terior a Aristóteles como do chamado "período greco romano". Em parte era tratado como uma questão meta fisica, em parte como uma questão lógica; freqüente mente era tratado dentro de um estudo das modalidades, que eram, por sua vez, entendidas metafisicamente (ou "ontologicamente") ou logicamente, ou de ambos os modos. Neste problema encontram-se implicadas, com efeito, as questões da natureza do necessário e do con tingente, e da natureza das proposições modais que são assim formuladas: 'É necessário que p', ' Não é necessá rio que p ' , ' É possível que p ' , ' É possível que não-p ' , ' É contingente que p ' etc. (ver MODALIDADE). Muitos filósofos medievais ocuparam-se do proble ma dos futuros contingentes, seja do ponto de vista teológico, do ponto de vista lógico, ou de ambos. Foi ca racterístico desses filósofos considerar que a questão dos futuros necessários e dos futuros contingentes esta va muito estreitamente relacionada com a questão das verdades eternas e das verdades não-eternas ou tempo rais, respectivamente. Freqüentemente consideraram que algo necessário é algo para sempre - ab aeterno - verdadeiro; se não é necessário, não é verdadeiro para sempre. Uma proposição sobre o passado ou uma proposição sobre o presente são definitivamente falsas ou definitivamente verdadeiras. Uma proposição de contingentifitturo não pode ser definitivamente verda deira ou definitivamente falsa, mas pode ser verdadeira se o que diz do futuro ocorre e falsa se o que diz do fu turo não ocorre. Até aqu i parece tratar-se somente de uma questão de lógica e especificamente de lógica mo dal . Mas logo esses debates se ligaram aos problemas teológicos, particularmente com os dois problemas se guintes: o do conhecimento dos futuros por Deus e o da predeterminação ou não-predeterminação dos homens (à salvação eterna ou à condenação eterna). Referirno nos a esses problemas mais detalhadamente a luz de vários debates teológicos modernos (ver FuruRíVEIS), mas resenharemos aqui algumas das mais importantes
1 1 63 posições adotadas sobre esses assuntos por vários filó sofos medievais. Trata-se, evidentemente, de uma se leção, pois os problemas a que nos referimos foram tratados por quase todos os escolásticos. Santo Tomás destaca que Deus tem um conheci mento dos acontecimentos futuros distinto do que po deriam ter as criaturas (caso o possuíssem). Com efeito, Deus não conhece propriamente um futuro, mas conhe ce um "presente". O futuro, em suma, é futuro apenas para nós. Pensar o contrário é negar que Deus seja eter no, e, como se sabe, o eterno transcende tudo o que é temporal (S. theo/. 1 , q. XIV, 1 3 ad 2). Essa opinião j á havia sido defendida p o r outros autores; p o r exemplo, por Santo Anselmo, que escreveu : summa essentia non secundum praeteritum ve/futurum fuit aut erit (Medi tatio, ! . E. 1 0, 1 3 -24). Segundo Santo Tomás, a propo sição que afirma o conhecimento de determinado futuro contingente por Deus é uma proposição absolutamente necessária. Além disso, ele sustenta que dada a proposi ção ' Se Deus conhece algo, esse algo será ' , o conse qüente é tão necessário quanto o antecedente. Em con trapartida, Duns Scot sustentava que o futuro (assim como o passado) também é futuro (ou passado) do pon to de vista da eternidade divina, já que de outra maneira não haveria distinção possível entre passado e futuro. Duns Scot afirmava, além disso, que as proposições nas quais são introduzidas expressões modais tais como 'é contingente ' , ' não é necessário', 'é possível que ' , 'é possível que não ' , 'não é impossível que não ' e que se referem ao conhecimento de um futuro por Deus são proposições contingentes; assim, por exemplo, a propo sição 'É contingente que Deus conheça que A será ' é uma proposição contingente. Em seu Tractatus de praedestinatione et de praes cientia Dei et de futuris contingentibus (impresso pela primeira vez na Expositio aurea de Ockham a cargo de Frei Marco de Beneveto; ed. crítica anotada por Philo theus B oehner, 1 945), Ockham assume algumas das opiniões de Duns Scot contra Santo Tomás, mas difere de ambos em vários aspectos importantes. Como a maior parte das análises dos escolásticos a esse respeito, a citada obra de Ockham revela dois aspectos: um teoló gico e outro lógico. Do ponto de vista teológico, é inte ressante notar que Ockham sustenta que Deus conhece todos os futuros contingentes. Como indica Boehner, ele conhece que parte de uma contradição relativa a futuros contingentes é verdadeira e que parte é falsa. Ora, Deus conhece a parte verdadeira porque a quer como verdadeira e a parte falsa porque a quer como falsa, isto é, porque não a quer como verdadeira. Isso não significa que o conhecimento em questão dependa da "arbitrariedade" de Deus, depende antes da causa lidade divina. Como indica Boehner, para Ockham "a vontade de Deus é a causa da verdade, mas não do conhecimento que Deus tem desse fato contingente".
FUTURO, FUTUROS
Do ponto de vista lógico, afirmou-se (Michalski) que nas idéias de Ockham sobre os futuros contingentes encontra-se o germe da posterior lógica trivalente, tal como foi desenvolvida por Lukasiewicz (cf. infra). Essa afirmação é considerada um exagero ( cf. W. Kneale e M. Kneale, The Development of Logic, 1 962, p. 238, nota [trad. port . : O desenvolvimento da lógica, 2ª ed. , I 980]), pois Ockham não parece ter admitido que uma proposição sobre o futuro não sej a nem determinada mente verdadeira nem determinadamente falsa. Boeh ner indica que Ockham derivou da opinião de Aristóte les antes resenhada certas conclusões "que constituem elementos de uma lógica tri-valente" (op. cit., p. 62), mas reconhece que se trata de um desenvolvimento "pri mitivo e cru" (op. cit. , p. 65) e de modo algum uma sistematização da lógica trivalente no sentido moderno. Entre os autores medievais que se ocuparam da ques tão dos futuros contingentes figuram, j unto a Santo To más, Duns Scot e Ockham (e, antes, Abelardo), Gregó rio de Rimini, Ricardo de Middeltown, Pedro Auriol, Walter Burleigh, Francisco de Meyronnes, João de Bas solis, Pedro de Ailly e Alberto da Saxônia (ver exposição da doutrina destes e de alguns outros autores nos comen tários de Boehner à sua ed. do Tractatus de Ockham). Infelizmente não podemos nos referir a todos esses au tores. Além disso, alguns deles limitaram-se a seguir, em grande parte, as opiniões dos grandes mestres. Assim, por exemplo, Gregório de Rimini tenta eliminar a questão do "conhecimento dos acontecimentos futuros por Deus de modo semelhante ao de Santo Tomás: alegando que para Deus não há, propriamente falando, futuro" (ver Gordon Leff, Gregory ofRimini, 1 96 1 , pp. 1 08ss. ) Por outro lado, ao se referir ao status lógico das proposições sobre futuros contingentes, Gregório de Rimini indicou que, contrariamente às conclusões (ou supostas conclu sões) de Aristóteles, toda proposição sobre o futuro é verdadeira ou falsa (Leff, op. cit., p. I 1 2). Como indicamos no início, dedicamos o verbete FuTURiVEIS ao exame das opiniões de vários teólogos modernos, especialmente dos séculos XVI e XVII , so bre os futuros condicionados. Para a continuidade his tórica, pode-se considerar que o conteúdo daquele ver bete faz parte deste, mas efetuamos essa separação por razões de comodidade na consulta. Indicamos aqui so mente que, enquanto nos autores medievais antes intro duzidos o aspecto teológico do problema está ligado a uma análise lógica, os autores modernos parecem se interessar quase exclusivamente pelo especto teológico. Alguns filósofos modernos não-escolásticos também se ocuparam do problema (Malebranche e, particular mente, Leibniz; cf. por exemplo Theod. , 1, § 37), que, entretanto, ocupou neles um lugar menos central que durante a Idade Média. Na época contemporânea foi novamente levantado o problema dos futuros contingentes - também chama.
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Fl;TLRO, Fl'lTHOS
dos de "futuros condicionados" e de "futuros condi cionais" - em um sentido similar ao encontrado em Aristóteles e referindo-se freqüentemente ao exemplo aristotél ico da "batalha naval de amanhã" e à questão da verdade ou da falsidade do enunciado concernente a essa batalha. Muitas opiniões foram emitidas sobre o assunto. A lguns autores (Ryle, Anscombe) examina ram o problema como uma ambigüidade lingü ística. Outros adotaram um ponto de vista lógico e uma solu ção lógica (Lukasiewicz e o emprego de uma lógica trivalente em vez de uma bivalente). Perguntou-se se ' torna-se verdadeiro ' é um predicado aceitável . Alguns negaram que haja sentido em falar de predições e que se possa afirmar que elas "tornam-se verdadeiras", porque não é possível determinar "quando a predição torna-se verdadeira". Outros opinaram que uma predi ção torna-se verdadeira se, e somente se, o aconteci mento predito ocorre, já que em caso contrário não haveria sentido em util izar expressões como ' ocorrer' e 'acontecer'. Alguns consideraram que 'torna-se ver dadeiro ' não é um predicado. O autor deste dicionário tratou o problema dentro do marco de alguns conceitos usados na teoria da informação. O problema dos futuros contingentes parece estar relacionado com os paradoxos chamados de "o homem condenado à morte" e "o lenço inesperado". Contudo, como parece depreender-se desses paradoxos, o fato de que se possa e que não se possa predizer um aconteci mento futuro não é exatamente o mesmo caso que o dos futuros contingentes, mas pode ser formulado de modo muito parecido. Por outro lado, uma das maneiras suge ridas para esclarecer o sentido desse paradoxo está rela cionada não apenas com a questão geral dos futuros con tingentes, mas também com a questão desses futuros do ponto de vista teológico (ver FuruRiVEIS). Com efeito, parece que nos chamados "futuríveis" ocorre efetivamen te que enquanto alguém - o que "produz" ou "prepara" o acontecimento futuro - pode naturalmente predizê los, o outro - aquele que "experimenta" esses aconteci mentos futuros - não pode. Tendo-se mencionado no verbete alguns dos textos "clássicos" sobre a matéria, limitamo-nos a oferecer uma seleção de trabalhos contemporâneos. A eles de vem ser acrescentados vários dos escritos da biblio grafia do verbete PouvALJ'.NTE, e em particular os de J. Lukasiewicz. � Ver: A. C. Baylis, "Are Some Propositions Neither True nor False?", Philosophy ofScience, 3 ( 1 936 ), 1 56-
1 66. - L. Baudry, La querei/e des .futurs contingents, Louvain 1465- 1 4 75. Textes inédits, 1 950 [ Études Philo sophiques méd. 38] (trad. inglesa: The Quarrel over Fu ture Contingents, Louvain 1465- 1475, 1 989). - Donald Williams, "The Sea Fight Tomorrow", em Structure, Method, and Meaning, 1 95 1 , eds. P Henle, H. M. Kallen, S. K. Langer, pp. 280-306. - A . N. Prior, "Three-Valued Logic and Future Contingents", Philosophical Quarterly, 3 ( 1 953), 3 1 7-326. - Gilbert Ryle, "It Was To Be", em Dilemmas, 1 954, pp. 1 5-35. - G. E. M. Anscombe, "Aristotle and the Sea Battle", Mind, N. S., 65 ( 1 956), 1 - 1 5 . - Richard Taylor, "The Problem of Future Con tingencies", Philosophical Review, 66 ( 1 957), 1 -28. Colin Strang, "Aristotle and the Sea Battle", Mind, N. S., 69 ( 1 960), 447-465. P-M. Schuhl, Le dominateur et les possibles, 1 960. - José Ferrater Mora, "lnfor mación y comunicación: Enfoque nuevo de un viejo pro blema", em Actas de! XIII Congreso Internacional de Filosofia [México] , 1 963; reimp., com o título "Viejos problemas, nuevos enfoques", em Obras selectas, 1 1 , 1 967, pp. 285-293 . - John Robert Cassidy, Logic and Determinism: A History of the Problem of Future Con tingent Propositions jrom A ristotle to Ockham, 1 965 (tese). - J. E. Tomberlin, "The Sea Battle Tomorrow and Fatalism", Phi/osophy and Phenomenological Re search, 3 1 ( 1 97 1 ), 352-357. - P A. Streveler, "The Problem of Future Contingents", New Scholasticism, 47 ( 1 973), 233-247. - M. F. Lowe, "Aristotle on the Sea Battle: A Clarification", Analysis, 40 ( 1 980), 55-59. A. Back, "Sailing Through the Sea Battle", A ncient Philosophy, 12 ( 1 ) ( 1 992), 1 3 3- 1 5 1 . Para o paradoxo ao qual nos referimos no final do verbete, ver P ARADoxo. O trabalho de P. M. Schuhl refere-se especialmen te ao problema tal como foi discutido na Antiguidade. Acrescente-se: David Armancl, Fatalisme et liberté dans l 'antiquité grecque, 1 945. - M. Baumer, "The Role of ' lnevitabil ity at Time T' in Aquinas' Solution to the Problem of Future Contingents", New Scholasticism, 53 ( 1 979), 1 47- 1 67. - W. L. Craig, "J. D. Scotus on God's Foreknowledge and Future Contingents", Fran ciscan Studies, 47 ( 1 987), 98- 1 22. - C. G. Normore, "Petrus Aureoli and His Contemporaries on Future Con tingents and Excluded Middle", Synthese, 96 ( 1 ) ( 1 993), 83-92. - R. Gaskin, "Alexander's Sea Battle: A Discus sion of Alexander of Aphrodisias De Fato 1 0", Phro nesis, 38 ( ! ) ( 1 993), 75-94. Ver também a bibliografia do verbete F u TU R Í VEI S . e -
G. A letra maiúscula ' G' é utilizada com freqüência para representar a conclusão no esquema do juízo ou da pro posição que constitui a conclusão de um si logismo. Portanto a letra 'G' exerce a mesma função que a letra 'P' . Para o uso de ' G' na lógica quantificacional, ver F.
GABRIEL BIEL ( 1 425- 1 495). Nascido em Speyer, ingressou em 1 45 7 na Congregação de Cônegos Regu lares de Santo Agostinho ou Irmãos da Vida em Co mum. Em 1 484 fundou a Faculdade de Teologia da Uni versidade de Tübingen. Seguidor do ockhamismo e da via moderna, a ponto de ter sido considerado um dos mais fiéis expositores e comentadores do Venerabilis Inceptor, Gabriel Biel influenciou muitos teólogos dos séculos XVI e XVII - os chamados gabrie/istae -, especialmente nas Universidades de Erfurt e de Witten berg. Entre essas influências destaca-se a que exerceu sobre Lutero, cuja doutrina da predestinação foi elabo rada em grande parte seguindo o fio de uma meditação sobre os comentários às Sentenças de Biel. Com efeito, a fim de se opor às conseqüências do pelagianismo (vER), ao qual pareceu inclinar-se ao discutir o problema da ação moral humana, sublinhou a absoluta vontade e "arbitrariedade" divinas ao tocar a questão da graça (vER) e das virtudes teologais. Com efeito, estas últimas foram por ele consideradas independentes das morais. A aceitação do homem por Deus é, assim, inteiramen te "gratuita"; não depende do que o homem faça, de sua vida virtuosa ou pecadora, mas da vontade última de Deus. :> A obra capital e mais influente de Gabriel Biel é a Epitome et Collectorium ex Occamo super quatuor libras sententiantm, 1 495, 1 50 1 , 1 5 1 2, 1 5 1 4, 1 52 l ; com o cha mado Suplementum Gabrie/is Biel, 1 568, 1 574. Outras obras: Sermones dominicales de tempore, 1 490, 1 5 1 O. Defensorium oboedientiae aposto/icae. - Tractatus de potestate et utilitate monetarum, 1 542, 1 605. Edições recentes: Collectorium circa quattuor libras Sententiarum. Prologus et /iber primus, 1 97 3 , eds. W. Werbeck e U. Hofmann; ibid., Libri quarti pars secunda -
(dist. 15-22), 1 977, eds. W. Werbeck e U. Hofmann, com a colaboração de Renata Steiger. Ver: C. Feckes, Die Rechtfertigungslehre des Ga briel Bieis und ihre Stellung innerhalb der nominalistis chen Schule, 1 925. - E. Bonke, "Doctrina nominalis tica de fundamento ordinis moralis apud Galielmum de Ockham et Gabriel Biel'', Collectanea Franciscana ( 1 944 ), pp. 57-83 . - J. L. L. Aranguren, El protestantis mo y la moral, 1 954, pp. 50-73. - L. Grane, Contra Ga brielem, 1 962. - Heiko Augustinus Oberman, The Har vest ofMedieval Theology: G. B. and Late Medieval No mina/ism, 1 963 . - Franz Joseph Burkhard, Philoso phische Lehrgehalte in G. Bieis Sentenzenkommentar unter besonderer Beriicksichtigung seiner Erkenntnis lehre, 1 974. - M. Schulze, "Contra rectam rationem, Gabriel Biel 's reading of Gregory of Rimini, versus Gregory", em Via Augustini. Augustine in the !ater Mid dle Ages, Renaissance and Refàrmation, ed. H . A. Oberman, 1 99 1 , pp. 55-7 1 . - Ver também: P. Vignaux, Luther, commentateur des sentences (Libre /, Distinc tion xvii), 1 93 5 . C:
GABRIEL, LEO. Nascido ( 1 902) em Viena, foi pro fessor do "Instituto Filosófico" da Universidade de Vie na. Influências muito diversas - escolástica, fenome nológica, heideggeriana etc. - resultaram na formação de um "pensamento integral" que aspira a superar o que Gabriel chama de forma de pensar "analítico-aditiva (ou somatória)". A "lógica integral", para cuja constru ção Gabriel apela a métodos procedentes da psicologia da estrutura ( Gestaltpsychologie), supera tanto a lógica "dos conteúdos" (inhaltliche) como a lógica fonnal; ela se apresenta como uma síntese do formalismo lógico e da lógica "material" da fenomenologia. Enquanto a fi losofia moderna, de Descartes a Kant, deixa escapar o sentido e com i sso esquece, ou põe de lado, a unidade do pensamento com o ser, a lógica integral orienta-se pelo todo da realidade. A unidade concreta do real en contra-se, segundo Gabriel, em um pensar fundado na totalidade e na forma ( Gestalt). Gabriel considera que muitos sistemas de caráter "total ista" consistem em uma
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GADAMER, HANS-GEORG
absolutização de uma parte do todo; a lógica integral não absolutiza nenhuma parte, mas tampouco consiste em absorver o todo como se ele já estivesse constituído ou como se fosse formado por oposições dialéticas. Gabriel chama seu modo de pensar de "ideológico", na medida em que é uma "razão da idéia''. É um pensar, além disso, dialógico e não monológico. A totalidade que a "lógica integral" aspira a compreender é uma totalidade aberta, que leva em conta a realização do singular. � Obras: Logik der Weltanschauung, 1 949 (lógica da concepção do mundo). - Vom Brahma zur Existenz, 1 949, 2ª ed., 1 954 (De Brahma à existência). - Exis tenzphilosophie. Von Kierkegaard bis Sartre, 1 95 l ; 2ª ed., 1 968 (Filosofia da existência, de K. a S. , 1 974). Geschichte der indischen Philosophie, 1 957 (História dafilosofia indiana). - Mensch und ltélt in der Entschi dung, 1 96 1 (Homem e mundo na encruzilhada, 1 963). - Integra/e Logik, 1 965 (Lógica integral, 1 97 l ). - F. Wiplinger, O. Muck et ai., Die Wahrheit des Ganzen, 1 976, ed. H. Kohlenberger (A verdade do todo) (dedicado a L. G., com uma auto-exposição do homenageado). Neue Sicht des Leib-Seele-Problems, 1 978 (Nova visão do problema corpo-a/ma). Ver: E. Albrecht, "Ueber die Grenzen des Versuchs zur Entwicklung einer integralen Logik", Deutsche Zeitschrififiir Philosophie, 1 6 ( 1 968), 83 9-847. - Vá rios autores, Wahrheit und Wirklichkeit, ed. P. Kampits, G. Pi:iltner, H . Vetter, 1 983 (homenagem a L. G. em seu 80º aniversário). Devem-se a G.: Lógica simbólica, 1 974, nova ed. 1 977, 6ª reimp. revisada 1 983 (com bibliografia nas pp. 403 -424 ), e vários ensaios de fi losofia da ciência, entre os quais citamos: "Metafilosofia dei racional is mo" ( 1 97 1 ); "El teorema de Gi:idel y la fi losofia" ( 1 97 1 ); "Física cuántica y filosofia" ( 1 97 1 ); "La lógica matemática en Espaiía ( 1 960- 1 970)" ( 1 972); "La lógi ca dei mundo" ( 1 972); "Biología y mecanicismo" ( 1 973); "Ego cogito" ( 1 974 ) ; "El principio de indeterminación en la semántica de Quine" ( 1 975); "La lógica de la existencia" ( 1 977). - Além disso, realizou traduções e edições de textos, por exemplo de W. V. O. Quine, La relatividad ontológica y otros ensayos ( 1 977, com J. L. B iasco), e de Carnap ( 1 992). Principais obras: Le sens commun, la philosophie de l 'Être et les.formules dogmatiques, 1 909, 4ª ed. 1 936. - Dieu, son existence et sa nature, 1 9 1 5 , 1 1 ª ed. 1 950. - Le réalisme du principe de finalité, 1 93 2 . - Le sens du mystere et le clair obscur intellectuel, naturel et surnaturel, 1 934. - La synthese thomiste, 1 945, 2ª ed. 1 950 . - Além disso, o Commentarium in Summam Theologiae S. Thomae A quinatis, 7 vols., 1 93 8- 1 95 l (De Deo Uno, De Deo trino et Creatore, De Grafia, De Christo Salvatore, De Eucharistia, De Revelatione) e o tratado De sanctificatione sacerdotum, secundum nostri temporis exigentias, 1 948. Ver: F. M. Braun, L 'oeuvre du Pere Lagrange. Étude et bibliographie, 1 948. - M . Elizabeth, "Two Contem porary Philosophers and the Concept of Being", Mo dem Schoolman, 25 ( 1 948), 224-237. - VV. AA., arti gos em A ngelicum, 42, fascículos 1 -2 ( 1 965), com bi bliografia estabelecida por B. Zercolo, pp. 1 4 1 - 1 94. - F. Bertoldi, "II dibattito sulla verità tra Blondel e Garrigou-Lagrange", Sapienza ( 1 990), 293-3 1 0. Principais obras: Über die Verbindung der Moral mit der Politik, 1 788 (Sobre a união da moral com a política). - Versuch iiber verschiedene Gegenstiinde aus der Moral, Literatur und dem gesellschafilichen Leben, 5 vols., 1 792; 2' ed. , 1 802 (Ensaio sobre assun tos diversos relativos à moral, à literatura e à vida social). - Vermischte Auf�iitze welche einzeln oder in Zeitschrifien erschienen sind, 2 partes, 1 796- 1 800 (Arti gos vários publicados separadamente ou em revistas). - Über Gesellschafi und Einsamkeit, 2 vols., 1 797- 1 800 (Sobre sociedade e solidão). - Übersicht der vorneh msten Prinzipien der Stittenlehre, 1 798 (Sumário dos princípios básicos da doutrina dos costumes [moral]). - Einige Betrachtungen iiber die allgemeinen Gnmd siitze der Sittenlehre, 1 798 (Algumas considerações sobre os princípios gerais da doutrina dos costumes). Edição de obras: Populiirphilosophische Schriften. Eine A us1rnhl in zwei Bdnden, 1 974, ed. Kurt Wolfel. Sobre Garve, especialmente em sua relação com Kant, ver: A. Stern, Über die Beziehungen Ch. Garves zu K. , 1 884. - P. Müller, Ch. Garves Moralphilosophie und seine Stellungsnahme zu Kants Ethik, 1 905. - Ver também : M . Stolleis, "Ueber die Verbindung der Moral mit der Politik", A rchivfiir Rechts- und Sozialphiloso phie, 55 ( 1 969), 269-277. - P. Laberge, "Ou passagc de la philosophie moralc populaire à la métaphysique des moeurs". Kant-Studien, 7 1 ( 1 980), 4 1 8-444. Principais obras: E/ementa metaphysicae mathema ticum in morem adornata. Pars prior. Ontosophia, 1 743. - Appendix ad priorem Metaphysicae partem, 1 744. - Principia philosophiae, 1 747 [segunda parte dos E/ementa]. - Principia theosophiae natura/is, 1 747 [ter ceira parte dos E/ementa] . - Elementorum metaphysicae tomus quartus sive De Principiis legis natura/is, 1 752 [quarta parte dos E/ementa] . - Elementorum artis logi co-criticae lihri V, 1 745. Di.1putatio physico-historica de rerum COIJJorearum origine et constitutione, 1 745. - Discono sopra il vemfine dei/e lettere e dei/a scienza, 1 75 3 . - Meditazioni.filosofiche sul/a religione e sul/a mora/e, 1 758; ed. rev. , 1 78 1 . - Lettere.filosofiche ad un amico provinciale per servire di rischiaramento agli Ele menti metajisici, 1 759. - Dei/a diceosina o sia dei/a.fi losofia dei giusto e de// 'onesto, 2 partes, 1 766- 1 777. Letterejàmiliari, ed. Domenico Forges Davanzati, 1 775. Ver: G. Genti le, Dai Genovesi ai Galuppi, 1 903, reimp. em Storia dei/a.filosofia italiana, 1 , 1 930. - E . Gambini, A . G. , la sua.filosofia e / 'istruzione a Napoli -
1 1 88 nel seco/o XVIII, 1 9 1 O. - A. Tisi, li pensiero religioso di A. G. , 1 932. - Paola Zambelli, La formazione filo sofica di A . G. , 1 972. - E. Garin, "Antonio Genovesi metafisico e storico", Giornale Critico dei/a Filosofia Italiana, 65 ( 1 986), 1 - 1 5 . - !d. , id. , "A. Genovesi: The Napolitan Enlightenment and Political Economy", Histo1y of'Political Thought, 8 ( 1 987), 3 3 6-344. C
GENTILE, GIOVANNI ( 1 875- 1 944) . Nascido em Cas telvetrano (Trapani, Itália), foi professor nas Universida des de Palermo ( 1 906- 1 9 1 3), Pisa ( 1 9 1 4- 1 9 1 6) e Roma (a partir de 1 9 1 7), colaborando com Croce ( VER ) em La Critica. Em 1 920 fundou o Giornale critico dei/a.filoso fia italiana, que deixou de dirigir em 1 943. De 1 922 a 1 925 foi Ministro da Instrução Pública, e em 1 923 iniciou a reforma escolar chamada de "reforma Gentile". Idealista e hegeliano, em um sentido análogo ao de Croce, Gentile define sua filosofia como um atualismo ( VER ) no qual o Absoluto, como ato criador do Espíri to, não representa nada transcendente ao pensamento, pois tudo aquilo que é de alguma forma - inclusive o que é representado como externo e alheio -, é dentro da esfera do sujeito. No Espírito identificam-se a forma e o conteúdo concreto, pois o Absoluto espiritual não é mais que o ato puro que se real iza no curso concreto de toda realidade. A filosofia de Gentile centra-se em grande medida, portanto, em torno da noção de ato ( vER ) puro, que ele entende, evidentemente, como uma pura atividade ou, melhor, como o puro automover-se do eu. O idealismo atual, ou atualismo, sustenta, por conse guinte, o primado ontológico da atividade como tal, que é causa de si mesma e, por esse motivo, liberdade. Assim, o ato opõe-se radicalmente ao fato, ao efeito e à coisa submetidos ao mecanicismo e, no caso mais favorável, à contingência, mas impossibilitados de reali zar-se a si mesmos, pois seu ser é meramente seu ser já dado. Enquanto as coisas são, a atividade e o eu devêm; por isso, as primeiras são múltiplas e impl icam sua nu merabilidade, enquanto os últimos são únicos e supõem a radical unidade. O idealismo atualista permite, no en tender de Genti le, superar dialeticamente todas as opo sições sem suprimi-las, pois é uma dialética do pensa mento pensante e não simplesmente do pensamento pen sado. Mais ainda, o idealismo atual ista é o verdadeiro misticismo, ao contrário do misticismo habitual, que é de natureza intelectualista. A ontologia dinâmica que está na base dessa concepção de Gentile só pode ser compreendida, contudo, na medida em que o ato é visto do ponto de vista do Espírito concreto que, por sua vez, representa o ponto no qual se centra a atividade de sua história. Do Espírito não se pode dizer propriamente que seja, a menos que entendamos então o ser em um sentido claramente distinto e mesmo oposto ao que cor responde à definição do fato e da coisa; o devir absoluto do Espírito é, com efeito, o movimento que rompe todos
1 1 89 os marcos do ser. Ora, a dialética do pensamento pen sante não é, pelo que foi dito anteriormente, uma mera sucessão arbitrária. A j ustificação de cada um dos mo mentos do Espírito absoluto realiza-se seguindo o pre cedente da dialética: a filosofia, como síntese da arte e da rel igião, é para Gentile o momento superior e de finitivo de uma oposição entre o subjetivo e o objetivo, oposição que conserva, naturalmente, cada um dos con trários. Na passagem do transcendente para o imanente ou, melhor, na supressão do transcendente como desne cessário reside, segundo Gentil e, a solução do problema da metafisica, pois esta trata então de um modo direto com um Absoluto experimentável, dado imediatamente no ato criador da atividade espiritual . A fi losofia de Gentile é, com efeito, uma tentativa de superação, a partir de dentro, das dificuldades que implica o imanen tismo de um espírito que não somente não exclui um certo transcender, mas que tende a reconhecer, sem o sacrificio da identidade essencial do ato puro do pensar, a peculiaridade e a di ferença. O fundamento dessa filo sofia é, naturalmente, o reconhecimento de que tudo, mesmo o que é impensável, necessita ser pensado para ser reconhecido. Mas a anterioridade do pensar como ato puro não é a anterioridade de uma consciência sub jetiva diante de um mundo objetivo. Sujeito e objeto não são nada mais que ulteriores distinções real izadas precisamente pelo ato de pensar. O pensar puro, a abso luta atualidade, que Gentile afirma continuamente con trapondo-a a tudo o que é meramente pensado e a tudo o que j á foi feito, é um pensar que transcende toda mera subjetividade: é pensar transcendental e não sujeito que conhece, e menos ainda suj eito psicológico. A filosofia de Gentile l iga-se, deste modo, mesmo sem propô-lo deliberadamente, com algumas das tendências mais ca racterísticas do pós-hegelianismo : o predomínio do pen sar como ato puro e absolutamente atual é, no fundo, o predomínio de uma ação destinada a resolver as con tradições suscitadas pelo próprio pensamento. Daí que a última fase do pensamento de Gentile não desminta a conclusão de suas primeiras teses acerca do pensar co mo ato puro. A conclusão a que chegará sempre o idea lista atual é, com efeito, a de que "eu jamais sou eu sem estar inteiramente no que penso, e o que penso é sempre uno, enquanto sou eu". Por isso, "a mera multiplicidade pertence sempre ao conteúdo da consciência abstrata mente considerado e na verdade é sempre resolvida na unidade do Eu. A verdadeira história não é, assim, a que se desdobra no tempo, mas a que se recolhe no eterno do ato do pensar no qual de fato se realiza" ( Teoria de/lo Spirito, XVIII, 1 4) . :> Continuadores d o pensamento d e Gentile são, entre outros, o pedagogo Giuseppe Lombardo-Radice ( l 8791 93 8 : Studi platonici, 1 905. - Saggi di propaganda po litica e pedagogia, 19 l O. - Lezioni di Didattica e ricordi
GENTILE, GIOVANNI
di esperienza magistrale, 1 9 1 1 . - L'ideale educativo e la scuola nazionale, 1 9 1 5 . - Saggi di critica didattica, 1 927. - II problema dell 'educazione infantile, 1 928. - Pedagogia di apostoli e di operai, 1 93 7); Vito Fazio Allmayer (nasc. 1 88 5 : Materia e sensazione, 1 9 1 3 . La teoria delta libertà nellafilosofia di Hegel, 1 920. Moralità deli 'arte, 1 953 ) ; Giuseppe Saitta (nasc. 1 88 1 : Lo spirito come eticità, 1 92 1 ; 2ª ed., l 947 . - Filosofia italiana e Umanesimo, 1 928. - La personalità umana e la nuova coscienza illuminislica, 1 938. - La libertà uma na e l 'esistenza, 1 940. - lipensiero italiano nel/ 'Umane simo e nel Rinascimento, 3 vols., 1 949- 1 95 1 . - liproble ma di Dia e la filosofia dell 'immanenza, 1 953 ) ; Ernesto Codignola (nasc. 1 8 8 5 : La riforma della cu/lura magis trale, 1 9 1 7. - La pedagogia rivoluzionaria, 1 9 1 9; 2ª ed., 1 925. - La rigorma scolastica, 1 927. - li problema educativo, 3 vols., 1 935; 3ª ed., 1 952. -Carteggi di gian senistri liguri, 3 vols., 1 94 1 - 1 942) e outros. Pode-se con siderar como "órgão" da escola gentiliana o citado Gior nale critico dellafilosofia italiana. Gentile também in fluenciou outros autores, como Armando Carl ini ( vER ) e Augusto Guzzo (VER ) . As obras de Genti le são numerosas; citamos: Ros mini e Gioberti, 1 898. - la filosofia di Marx. Studi cri tici, 1 899. - Dai Genovesi ai Galluppi, 1 903. - la filosofia, 1 904- 1 9 1 5 (história da filosofia italiana). II modernismo e i rapporti fra religione e filosofia, 1 909. - II problemi de/la scolaslica, 1 9 1 3 . - la rifor ma dei/a dialettica hegeliana, 1 9 1 3 (inclui a conferên cia dada em 1 9 1 1 : L 'a/to dei pensare come atto puro, publicada em 1 9 1 2) ; 3ª ed., 1 924. - Sommario di peda gogia come scienza filosofica, 2 vols., 1 9 1 3 - 1 9 1 4 . Studi vichiani, 1 9 1 5 . - Teoria generale dei/o Spirito, 1 9 1 6. - Ifondamenti dei/a filosofia dei diritto, 1 9 1 6 . - Sistema di logica come teoria dei conoscere, 2 vols., 1 9 1 7- 1 92 3 . - Le origini della.filosofia contemporanea in !ta/ia, 4 vols., 1 9 1 7- 1 92 3 . - Discorsi di religione, 1 920. - La riforma dei/ 'educazione, 1 920. - Educa zione e scuola laica, 1 92 1 . - G. Capponi e la cultura toscana dei seco/o XIX, l 922. - Studi sul Rinascimento, 1 92 3 . - Dante e Manzoni, 1 92 3 . - ! profeti dei Risor gimento italiano, 1 92 3 . - A lbori della nuova !ta/ia, 2 vols., l 923. - Preliminari alio studio dei .fànciullo, l 924. - Difesa dei/a .filosofia, 1 924. - B. Spavenla, 1 924. - La nuova scuola media, 1 92 5 . - L'eredi!á di V. A lfieri, 1 926. - Manzoni e Leopardi, l 928. - la ri/arma della scuola in !ta/ia, l 932. - lntroduzione alia .filosofia, 1 93 3 . - li pensiero italiano dei Rinascimento, 1 940. - Genesi e strut/ura de/la società. Saggio di.filosofia prattica, 1 946; 2ª ed., 1 954. - Entre as obras de caráter mais diretamente político mencionamos: Dopo la vittoria, 1 920. - Che cosa e il fascismo, 1 925. Fascismo e cultura, 1 928. - Memorie italiane, 1 936. A maior parte das obras foi reeditada.
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GENTZEN, GERHARD
Edições de obras: Opere di G. G. , 1 929- 1 932, ed. R. Treves. - Opere complete, 1 928 ss., em 59 vols., divididas em cinco grupos, a cargo de M . Vito e V. A . Bellezza: obras d e filosofia sistemática (9 vols.); traba lhos históricos (26 vols.); obras variadas ( 1 1 vols.); frag mentos de obras ou obras inacabadas (8 vols.); cor respondência (3 vol s . : I, 1 896- 1 900; I I , 1 90 1 - 1 906; III, 1 907- 1 909, ed. Simona Giannantoni). B ibliografia: A. Bellezza, Bibliografia deg/i scritti di G. G. , 1 950. Ver: J. A. Smith, The Phi/osophy ofG. G. , 1 9 1 9. E. Chiochetti, la filosofia di G. G. , 1 922. - Vicenzo La Via, l 'idea/ismo attuale di G. G. , 1 92 5 . - Johan nes Baur, G. Gentiles Philosophie und Piidagogik, 1 935 (tese). R. W. Holmes, The ldealism of" G. G. , 1 93 7 . - Patrick Romanell, Gentile: The Philosophy of G. Genti/e, 1 93 8 . ld., Croce versus Genti/e. A Dialogue on Conlempora1y ltalian Phi/osophy, 1 946. - V. A. Bellezza, G. G. la vila e il pensiero, 1 950. - U. Spirito, Note sul pensiero di G. G. , 1 954 (três ensaios). - Id., G. G. , 1 969. - F. Puglisi, la concezione estetico-filo scdica di G. G. , 1 95 5 . - A. Carl ini, G. G. : la vila e il pensiero, 1 95 7 . -Domenico d ' Orsai, lo spirito come atto puro in G. G. , 1 95 7 . M. A. Giganti, Storia e storia de/la .filosofia in G. G. , 1 959. H. S. Harris, The Social Philosophy of G. G. , 1 960. A. Negri, A. Capizzi et a i , G. G. , la vila e i/pensiem, 1 962. - William A. Smith, G. G. on lhe Exislence of"God, 1 970. - Aldo Lo Schiavo, la .filosofia po/itica di G. G. , 1 97 1 . Cario Bonomo, G. G. : la vila e i/ pensiero, 1 972. Ferrucio Pardo, lafi/osofia di G. G. : Genesi, sviluppo, unilà sislematica, critica, 1 97 3 . Lino di Stefano, la .filosofia di G. G. , 1 974. - Antimo Negri, G. G. , 2 vols., 1 97 5 . - M. Di Lalla, Vila di G. G. , 1 97 5 . P. P. Druet, "La 'pol itisation' de la métaphysique idéaliste: le cas de Gentile'', Revue phi/osophique de louvain, 74, n. 2 1 ( 1 976). - A. Agosti, Filosofia e re/igione ne// 'at tua/ismo genti/iano, 1 977. - Vários autores, li pen siero di G. G. , 2 vols., 1 977. - M. Ostenc, l 'éducation en llalie pendant le fascisme, 1 980. - F. S. Chesi, Genlile e Heidegger: A I di là de pensiero, 1 992. Há uma série de volumes com o título G. G. La vila e i/ pensiero, iniciados em 1 948 e dos quais, até 1 972, foram publicados catorze. A série é patroc inada pela "Fondazione G. G . per gli studi fi losofici". Ver também a série do Giornale critico de/lafiloso fia italiana (desde janeiro de 1 94 7 aparece a Terceira Série do Giornale com artigos de discípulos de Gentile, incluindo páginas inéditas do filósofo. O Giornale é pu blicado pela Fondazione, cujo Comitê diretor é formado por Pantaleo Carabellese, G. Chiavacci, V. Fazio-All mayer, E. Garin, B. Nardi, G. Saitta e Ugo Spirito). C: -
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GENTZEN, GERHARD ( 1 909- 1 945 ) . Nascido em Grei fswald ( Pomerânia), estudou em Greifswald, Gõt-
tingen, Munique, Berli m e, novamente, em Greifswald, onde trabalhou com Hermann Weyl. Em 1 934 foi nomea do ajudante de H ilbert, em Gõttingen, continuando no posto após a aposentadoria de H ilbert. Recrutado pelo exército alemão no início da guerra de 1 939- 1 945, foi lhe perm itido, por razões de saúde, l icenciar-se do exér cito e dedicar-se ao ensino. Em 1 943 recebeu seu douto rado em Gõttingen e nesse mesmo ano foi nomeado Dozent na Universidade alemã de Praga. Ao ser ocupada a cidade pelo Exército soviético, foi preso juntamente com outros professores, falecendo de inanição na cadeia. Gentzen é conhecido sobretudo por sua reformulação da lógica de predicados mediante um sistema de infe rência de que falamos no verbete DEDUÇÃO NATURAL. As regras de inferência de Gentzen ou "regras de Gent zen" substituíram em muitos casos os métodos de dedu ção lógica "clássicos" procedentes dos Principia Ma themalica. Mediante a dedução natural podem-se deri var conclusões de pressupostos que depois são eliminá veis mediante outras regras de inferência. As regras ou cálculo seqüencial de Gentzen constituíram a base para uma reformulação do sistema de dedução com base nos quadros semânticos propostos por E. W. Beth e outros autores (ver Á RVORE ) . Entre outros trabalhos de Gentzen destaca-se sua prova de consistência da aritmética mediante um proce dimento de i ndução transfinita. A conjetura de que é possível reduzir provas lógicas a uma forma "normal'', na qual os conceitos uti lizados na prova aparecem de algum modo em sua conclusão, conduziu Gentzen a for mular um teorema análogo a outro proposto por Jacques Herbrand - razão pela qual ambos os teoremas são freqüentemente citados como "teorema de Herbrand Gentzen". :> A seguinte lista de trabalhos de Gentzen segue a bibliografia na tradução inglesa: The Co//ected Papers of G. G. , 1 969, ed. M. E. Szabo: " Ü ber di Existenz unabhãngiger Axiomensysteme zu unendlicher Satzsys temen", Mathematische A nnalen, 1 07 ( 1 932), 329-350 ("Sobre a existência de sistemas axiomáticos indepen dentes para sistemas de proposições infinitas"). " Über das Verhãltnis zwischen intuitionistischer und klassischer Arithmetik", impresso em provas para Ma thematische Annalen ( 1 933), mas retirado pelo autor ao conhecer o descobrimento simi lar de· Gõdel ("Sobre a relação entre a aritmética clássica e a intuicionista"). - "Untersuchungen über das logische Schliessen", Ma thematische Zeitschrifi, 39 ( 1 93 5 ), 1 76-2 1 O, 405-43 1 (aceito como dissertação inaugural em Gõttingen) ("In vestigações sobre a dedução [conclusão] lógica"). "Die Widerspruchsfreiheit der rei nen Zahlentheorie", Mathematische A nnalen, 1 1 2 ( 1 936), 493-565 ("A au sência de contradição [mais comumente traduzida por 'consistência ' , como será feito inf"ra] da teoria numéri ca elementar"). Szabo também menciona provas das
GERAÇÃO
1 1 91 seções I V e V desse trabalho para Mathematische A nnalen ( 1 93 5 ) . - "Die Widerspruchsfreiheit der Stu fenlogik", Mathematische Zeitschrift, 4 1 , 2 ( 1 936), 357366 ("A consistência da lógica de graus [teoria simples dos tipos]"). - "Der Unendlichkeitsbegriff in der Ma thematik", informe semestral, Münster i. W., i nverno de 1 936- 1 93 7, pp. 65-80 ("O conceito de infinito na matemática"). - "Die gegenwãrtige Lage in der mathe matischen Grundlagenforschung", Forschungen zur Lo gik und zur Grundlegung der exakten Wissenschaften, N. S., 4 ( 1 938), 5 - 1 8, e também Deutsche Mathematik, 3 ( 1 939), 255-268 ("A situação atual na fundamentação da matemática"). - "Neue Fassung des Widerspruchs freiheitsbeweises für die reine Zahlentheorie", Fors chungen zur Logik und zur Grundlegung der exakten Wissenschaften, N. S . , 4 ( 1 938), 1 9-44 ("Nova concep ção da prova de consistência para a teoria numérica elementar"). - "Beweisbarkeit und Unbewei sbarkeit von Anfangsfâllen der transfiniten Induktion in der rei nen Zahlentheorie", Mathematische A nnalen , 1 1 9, 1 ( 1 94 3 ) , 1 40- 1 6 1 (submetido como tese de doutorado em Gõttingen) ("Demonstrabilidade e não-demonstra bilidade de casos especiais de indução transfinita na teoria numérica elementar" [ ' Demonstrabi lidade ' Probabilidade ' na acepção de ' suscetível de ser prova do ']). - "Zusammenfassung von mehreren vollstãndi gen lnduktionen zu einer einzigen", A rchiv for mathe matische Logik und Grundlagenforschung, 2, 1 ( 1 954 ), 1 -3 (póstumo, dedicado a Heinrich Scholz por seus 60 anos em 1 7 de dezembro de 1 944) ("de várias induções completas em uma única"). Ver: W. W. Tait, "lnfinitely Long Terms of Transfi nite Type I", em Formal Sustems and Recursive Func tions, 1 76- 1 85, ed. J. N. Crossley, M. A. E. Dummet, 1 965. - V. G. Kirin, "Gentzen's Method for the Many Valued Propositional Calculi'', Zeitschriftfor Mathema tische Logik und Grundlagen der Mathematik, 12 ( 1 966), 3 1 7-332. - J. Riser, "A Gentzen-Type Calculus of Se quents for Single-Operator Propositional Logic", Journal of Symbolic Logic, 32 ( 1 967), 75-80. - H. Leblanc, "Subformula Theorems for N-Sequents", Journal ofSym bolic Logic, 33 ( 1 968), 1 6 1 - 1 79. - F. Kutschera, "Ein verallgemeinerter Widerlegungsbegriff für Gentzen kalküle", Archivfor mathematische Logik und Grundla genforschung, 1 2 ( 1 969), 1 04- 1 1 8. - P. Zahn, "Eine Verallgemeinerung des Hauptsatzes von Gentzen", ibid., 1 34- 1 50. - P. Nidditch, "Is Natural Deduction Natu ral?", 1 ª parte, Aristotelian Society, 43 ( 1 969), 49-68 . 8. Rundle, "Is Natural Deduction Natural?", 2ª parte, ibid. , 69-84. - R. Beneyto, "Un aspecto natural de la deducción natural", Teorema, 5 ( 1 975), 3 6 1 -3 8 1 . - 1 . Hacking, "What i s Logic?", Journal of Philosophy, 76 ( 1 979), 285-3 1 9 . - A. Wasilewska, "On the Gentzen Type Formalizations", Zeitsch. for math. Logik und Grundlagen der Math. , 26 ( 1 980), 439-444. - P. Minari, =
"Le dimostrazioni di non-contradittorietà deli' aritme tica'', Rivista di Filosofia, 72 ( 1 98 1 ), 1 -3 1 . C:
GENUS. Ver GÊNERO. GEOFFROY, SAINT-HILAIRE ( É TIENNE). Ver EVOLUÇÃO, EVOLUCIONISMO. GERAÇ Ã O. Muitos filósofos gregos ocuparam-se de como uma coisa se transforma em outra. Trata-se do problema da mudança ou devir ( vER) , em contraposição ao problema do movimento propriamente dito ou loco moção. Se existisse uma única substância, e só pudesse existir uma única substância, esta nunca se transforma ria em outra, de modo que seria dificil explicar a mu dança. No máximo se poderia dizer que a substância única experimenta modificações, que teriam de ser sem pre acidentais. Os pluralistas (Empédocles, Anaxágoras, Demócrito) tentaram resolver o problema afirmando a existência de uma pluralidade de "substâncias" ou "ele mentos"; toda mudança é então explicada pela combina ção e mistura de tais "substâncias" ou "elementos". Essa combinação e essa mistura podem ser de natureza qua litativa (como em Empédocles e Anaxágoras) ou podem estar fundadas em características quantitativas ou "po sicionais" (como em Demócrito). No verbete DEVIR referimo-nos às doutrinas de Pla tão e de Aristóteles sobre a geração, yévems, e à mudança contraposta à geração: a corrupção, Obras: Teorica dei sovrannaturale, 1 83 8 ; 2" ed., 1 850. - lntroduzione a/lo studio de/la filosofia, 1 8391 840; nova ed. , 1 86 1 . - Considerazioni sul/e dottrine religiose di V. Cousin, 1 840. - Dei bel/o, 1 84 1 . Degli errori.filosofici di Antonio Rosmini, 1 84 1 ( 1 0 car tas) ; 2ª ed., com outras 2 cartas e os três diálogos "Tri logia de lia formo la ideale e del i ' ente possibile", 3 vols., 1 843- 1 844. - Dei buono, 1 842. - Dei prima/o mo ra/e e civi/e deg/i lta/iani, 1 842- 1 843. - Pro/egomeni ai prima/o, 1 845. - li gesuita moderno, 5 vols., 1 8461 84 7. - Apologia dei libro intitolato "II Gesuita mo derno ", con a/cune considerazioni intorno ai Risorgi mento italiano, 1 848. - Discorso pre/iminare sul/a teoria dei sovrannatura/e, 1 850. - Opuscu/i po/itici, 1 850. - Dei rinnovamento civi/e d '!ta/ia, 2 vols., 1 85 1 . Obras póstumas: Proto/ogia e La filosofia de/la rivelazione - da qual devia fazer parte La ri/i>rma cattolica de/la Chiesa - são obras importantes nas quais Gioberti trabalhou durante anos, mas que estavam incompletas quando morreu. Dos manuscritos inéditos da Proto/ogia, G. Massari extraiu uma coletânea de ano tações publicadas com o título De/la Proto/ogia, 2 vols., 1 95 7 . É melhor a coletânea de G. Balsamo-Crivelli, Protologia, 1 924. - As anotações relativas às outras duas obras mencionadas foram publ icadas por G. Mas sari, Opere inedite, 1 856. Mas também é melhor a edi ção de G. Balsamo-Crivelli, lframmenti de/la "Ri/i>rma catto/ica . . .", 1 924, com prefácio de G. Gentile. - Cours de phi/osophie, 1 947, curso dado em 1 84 1 - 1 842 no Ins tituto Gaggia. Todos os manuscritos giobertianos estão na Biblio teca Civica de Turim. Edição de obras: Obras completas em 3 5 vols., 1 8 77. - Edizione naziona/e de/le opere, 1 93 8 ss. Ver: A. Rosmini, V. G. e i/ panteismo, 1 848. - D i Giovanni, Sul/a riforma catto/ica e sullafi/osofia de/la rivelazione di V. G. , 1 859. - B. Spaventa, La .filosofia di G. , 1 863. - G. Prisco, G. e / 'ontologismo, 1 867. B. Labanca, Dei/a mente di V. G. , 1 87 1 . - G. Gentile, Rosmini e Gioberti, 1 898. - D. Zachinelli, li pensiero civile di G. , 1 90 1 . - A. Bruers, G. , 1 924. - U. A. Pa dovani, V. G. ed i/ cattolicesimo, 1 92 8 . - F. Palhoriés, G. , 1 929. - Ilario Rinieri, S. J., La.filosofia di G. , 1 93 1 . - L . Stefanini, Gioberti, 1 947. - G . Saitta, II pensie m di G. , 1 947. - A . Anzi lloti i, G. , 1 947. - G. Bianchi,
1 2 04 li problema mora/e in V. G. La rea/ità come alto crea
tivo, 1 960. - G. de Crescenzo, La fortuna di V. G. nel mezzogiorno d 'ltalia, 1 964. - G. Derossi, La teoria giobertiana dei linguaggio come dono divino e il suo significa/o storico e speculativo, 1 97 1 . - A. Gal im berti, "Gioberti, Gentile, Rosmini", Giornale Critico de/la Filosofia Italiana, 9 ( 1 978), 1 72- 1 87. Obras: les jondements des mathématiques: De la géométrie d 'Euclide à la re/ativité généra/e e à / 'intui tionisme, 1 926. - les mathématiques et la réalité. Es sai sur la méthode axiomatique, 1 936. - Qu 'est-ce que la /ogique?, 1 93 7 . - Phi/osophie mathématique (com comentários de A. Church et ai.). - la géométrie et /e probléme de / 'espace (fase. 1 : la doctrine préa/ab/e, 1 945; fase. I I : les trais aspects de la géométrie, 1 946; fase. 1 1 1 : l'éd!fication axiomatique, 1 946; fase. IV: la �ynthése dialectique, 1 949; fase. V: les géométries non euclidiennes, 1 952; fase. V I : le probléme de / 'espace, 1 95 5 ). - A nalytische Geometrie der Ebene in moder ner Behandlung, 1 948 (em colaboração com Marcel Ruetl). - les sciences et la phi/osophie, 1 950. - É"tu des de phi/osophie des sciences, 1 950. - Le probléme du temps: Essai sur la méthodologie de la recherche, 1 964. - la métaphysique et / 'ouverture à / 'expérience, 1 973 (com comentários de J. Gawronski et ai. ). - Le réjérentiel, univers obligé de médiatisation, 1 975. Auto-exposição: "Mon itinéraire philosophique", Revue lnternationale de Phi/osophie, 24 ( 1 970), 39843 3 . - "Entretien avec Ferdinand Gonseth", Giornale di Metafisica, 28 ( 1 973), 1 3 7- 1 57, com Z. Kourim. Ver também os editoriais e artigos que apareceram na revista Dialectica (fundada por Gonseth junto com Gaston Bachelard e Paul Bernays) a partir de 1 947. Ver os artigos de S . Gagnebin, M . Aebi e P. Bernays sobre F. G. em Dialectica, 1 4 ( 1 960), pp. 1 05-276, com bibl . de F. G. - E. Bertholet, W. Servais et ai., artigos na Revue Internationa/e de Philosophie, 24 ( 1 970), fases. 3 -4. - Vários autores, artigos em Dialectica, 24, fases. 1 -3 ( 1 970); Dialectica, 3 1 , fases. 1 -2 ( 1 977). - G. Heinzmann, "Konstruktivistische Gesichtpunkle der Phi losophie der Mathematik von F. G .", Conceptus, 1 6 ( 1 982), 73-80. - H. Lauener, "Gaston Bachelard et F. G., philosophes de la dialectique scientifique", Dialectica, 39 ( 1 985), 5 - 1 8. - J. Vuillemin, "Sur la méthode de F.
1 22 1 G.", ibid. ( 1 990), 225-228. - L . Witkowski, "On the Phenomenon of Marginality in Epistemology: Gonseth and His Tradition", ibid. , 3 1 3-322. - B. Morei, "Gon seth et le discours théologique", ibid. , 3 5 3-36 l . Obras: Estudios religiosos, f ilosóficos, científicos y sociales, 2 vols., l 873. - Estudios sobre la filosofia de Santo Tomás, 3 vols., 1 864; 2ª ed., l 866. - Historia de la filosofía, 3 vols., 1 878- 1 879; 2ª ed., 4 vols., 1 885, fre qüentemente reimpressa. - Também é autor do manual intitulado Philosophia e/ementaria ad usum academicae ac praesertim ecclesiasticae juventutis, 3 vols., 1 868; 2ª ed., l 877; há uma trad. esp . : Filosofia e/ementai, 1 894. Ver: Guillermo Fraile, O. P., "E! P. Ceferino Gon zález y Díaz Tunón ( 1 83 1 - 1 894)", Revista de Filosofía, 1 5 ( 1 956), 465-488. - Francisco Díaz de Cerio, "La filosofia de la historia dei Cardenal Fray C. G . , O. P. ( 1 83 1 - 1 894)", Gregorianum, 44 ( 1 963 ), 543-5 59. Ver: Alexander Gerarei, An Essay on Taste, 1 759, reimp., 1 97 1 ; 2ª ed., rev., 1 764, reimp. 1 970; 3ª ed., ampL, 1 780, reimp. 1 963 . P.-G. de Roujoux, Histoire des révolutions arrivées dans les sciences et les beaux arts depuis les temps héroiquesjusqu 'à nosjours, 1 8 1 1 . - Archibald Alison, Essays on the Nature and Princi pies ofTaste, 1 8 1 0; 6ª ed., 1 8 1 7- 1 825. - Ximenes Dou dan, Des révolutions du goút, 1 85 5 ; reed., por Henri Moncel, 1 924 (de Racine a Hugo). L Marchand, Le goút, 1 906. - Moritz Geiger, "Beitrage zur Phanome nologie des asthetischen Genusses", Jahrbuchfür Phi losophie und phiinomenologische Forschung, 1 ( 1 9 1 3 ), 5 67-684. - S. Rocheblave, Le goút en France, les arts et les lettres de 1 600 à 1 900, 1 9 1 4 ; nova ed., com o título L 'art et le goút en France de 1 600 à 1 900, 1 923. - Resenha das opiniões sobre o problema do gosto em autores espanhóis e não-espanhóis dos séculos XVIII e XIX encontra-se em M . Menéndez y Pelayo, Historia de las ideas estéticas, tomos III e IV da Edição Nacio-
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G Õ TTINGEN (C ÍRCULO DE)
nal, ed. E. Sánchez Reyes. - F. P. Chambers, Cycles of Tas te, an Unacknowledged Problem in Ancient A rt and Criticism, 1 92 8 . - The History ofTaste, 1 93 2 . Fr. Schummer, "Die Entwicklung des Geschmackbe gri ffs in der Philosophie des 1 7. und 1 8 . Jahrhunderts", A rchiv für Begriffsgeschichte, 1 ( 1 955), 1 20- 1 4 1 . Galvano della Volpe, Critica dei gusto, 1 960. - Lia Formigari, L'estetica dei gusto nel Settecento inglese, 1 962. - R. G. Saisselin, Taste in Eighteenth Century France: Criticai Reflrctions on the Origins o{A esthe tics, 1 965. - Christopher Browne, Taste: An Essay in Criticai Imagination, 1 968. Teddy Brunius, Theory and Taste, 1 969. Jean-Bertrand Barrere, L 'idée de gout de Pascal à Valéry, 1 972. - R. Peacock, Criticism and Personal Taste, 1 972. - P. Bourdieu, La distinc tion: critique sociale du jugement, 1 979. - P Guyer, Kant and the Claims of" Tas te, 1 979. - R. Suter, Six A nswers to the Problem o/" Taste, 1 979. - G. Kohler, Geschmacksurteil und iisthetische Erf"ahrung. Beitriige ::: ur A uslegung von Kant.1· "Kritik der iisthetischen Ur teilskraji", 1 980. - C. Wegener, The Discipline o/Tas/e and Feeling, 1 992. C -
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G Õ TTINGEN (C Í RCULO DE). Um dos grupos fe nomenológicos que fazem parte do que Herbert Spie gelberg chama de "o antigo movimento fenomenoló gico" ( The Phenomenological Movement, t. ! , 1 960, pp. 1 68 ss.) é o "Círculo de Gõttingen", em cuja Univer sidade Husserl começou a dar aulas em 1 90 1 . Como in dica Spiegelberg, em 1 905 chegaram de Munique Adolf Reinach, Moritz Geiger e alguns outros. Em 1 907 che gou a Gõttingen Dietrich von Hi ldebrand e em 1 9 1 1 , Hedwig Conrad-Martius. Depois chegaram Alexandre Koyré, Jean Hering, Roman Ingarden, Fritz Kraufmann e Edith Stein. O Círculo começou a se formar em 1 907, reunin do-se, freqüentemente sem a presença de Husserl , para discutir questões relacionadas com a fenomenologia e com a possibil idade de se aplicar o método fenomeno lógico. O principal interesse dos membros do Círculo era antes a descrição fenomenológica de essências que o estudo da essência da consciência. Os membros do Círculo tinham escassa simpatia pelas tendências do próprio Husserl à fenomenologia transcendental. Influente no Círculo foi Adolf Reinach. Max Sche ler também assistiu a muitas reuniões a partir de 1 9 1 O. O Círculo se dissolveu por volta do início da primeira guerra mundial, quando Husserl mudou-se para a Uni versidade de Friburgo i.B. À s vezes também se dá o nome de "Grupo de Gõt tingen" (ou "Escola de Gõttingen") à tendência filosó fica desenvolvida por Leonard Nelson (vER), também conhecida como "neofriesianismo" (ver FRIES [JAKOB FRIEDRICH ] ) . Sobre o círculo fenomenológico d e Giittingen, além da obra de H . Spiegelberg (supra), ver Franz Georg
1 22 6 Schmucker, Phiinomenologie ais Methode der Wesen serkenntnis, 1 956.
GOUHIER, HENRI ( 1 898- 1 994 ). Nascido em Auxer re (Yonne, França), professor na Universidade de Lille ( 1 929- 1 94 1 ) e na Sorbonne (a partir de 1 94 1 ), desta cou-se por suas contribuições à história da filosofia, particularmente da filosofia francesa moderna (Descar tes, Malebranche, Saint-Simon, Comte, Maine de Bi ran ). Em outro lugar nos referimos à sua interpretação do biranismo. Do ponto de vista sistemático, destacam se especialmente as contribuições de Gouhier ao estudo do problema suscitado pela história da filosofia (estudo que também impl ica uma análise do problema suscita do pela filosofia da história). Segundo Gouhier, as filo sofias não podem ser desligadas das visões de mundo (que são modos distintos de descobrir o mundo). Por isso a fi losofia, embora possua suas próprias técnicas e seus próprios métodos, não vive de sua própria subs tância: seu élan vital é de origem científica ou religiosa. Isso não significa que todas as filosofias possuam o mesmo caráter: há, com efeito, certas filosofias que pre tendem dar razão da realidade e explicá-la (filosofias da verdade, que tendem para o abstrato) e outras que querem estabelecer contato com o que é (filosofias da real idade, que tendem para o concreto). "O histórico" que banha todas as filosofias do passado nâo apaga essas diferenças; mas "o histórico" é o que há de comum a todas, porque expressa, segundo Gouhier, uma dimen são existencial relativamente independente dos valores atemporais. Por isso deve-se distinguir a importância atual de uma filosofia e seu alcance histórico. O histó rico de uma filosofia é aquele ponto no qual coincidem uma doutrina filosófica e a existência que lhe deu ori gem. Por isso "o histórico" não é nem simplesmente "o que passou" nem "a historicidade": é um elemento con creto, não uma hipóstase ou uma abstração. � Obras: La pensée religieuse de Descartes, 1 924; 2ª ed., 1 972. - La vocation de Malebranche, 1 926. - La philosophie de Malebranche et son expérience religieuse, 1 926. - Notre ami Maurice Barres, 1 928. - La vie d 'A. Com/e, 1 93 1 ; 2ª ed., 1 965. - Lajeunesse d 'A. Comte et lajàrmation du positivisme, 3 vols. (!. Sous /e signe de la liberté, 1 93 3 ; I I . Saint-Simon jusqu 'à la Restauration, 1 936; III. S. Comte et Saint-Simon, 1 94 1 ). - Essais sur Descartes, 1 937; 2ª ed. , 1 949. - L'essence du Théatre, 1 943 . - La philosophie et son histoire, 1 944. - Les conversions de Maine de Biran, 1 948. - L'histoire et sa philosophie, 1 952. - Le Théatre et / 'existence, 1 952. L'oeuvre théâtrale, 1 958. - Les premieres pensées de Descartes. Contribution à / 'histoire de / 'anti-renaissance, 1 958. - Bergson et /e Christ des Evangiles, l 96 1 . - La pensée métaphysique de Descartes, 1 962. - Blaise Pas cal: Commentaires, 1 966 (artigos, 1 953- 1 962). - Les grandes avenues de la pensée philosophique en France
1 22 7 depuis Descartes, 1 966. - Les méditations métaphysi ques de Jean-Jacques Rousseau, 1 970. - A ntonin A rtaud et l 'essence du théatre, 1 974. - Études d 'histoire de la philosophiefrançaise, 1 974. - Pascal et les humanistes chrétiens: L 'ajfaire Sainte-Ange, 1 974. - Fénelon, philosophe, 1 977. - Cartésianisme et augustinisme au XVII' siecle, 1 978. - Études sur l 'histoire des idées en France depuis le XVII' siecle, 1 980. - Rousseau et Voltaire. Portraits dans deux miroirs, 1 98 3 . C
GOURD, JEAN-JACQUES ( 1 850- 1 909). Nascido em Le Fleix (Dordogne ), professor a partir de 1 8 8 1 em Ge nebra, desenvolveu, sob a influência de Renouvier, uma filosofia explicitamente qualificada de fenomenista. Com efeito, o ponto de partida de toda fi losofia não é para Gourd nem a experiência sensível externa nem tampouco um conjunto de transcendentais supostamen te captados pela inteligência ou pela razão, mas o campo da consciência. Na consciência é dada a realidade como fenômeno; e mesmo o eu, encarregado de submeter essa realidade à anàlise, surge dela como a parte ativa, livre, finita. O monismo da consciência não significa, deste modo, a supressão de um certo dualismo do conheci mento, pois a dualidade se introduz assim que a reali dade é analisada dialeticamente. Gourd assinala que o real apresenta uma série de "incoordenàveis" ao lado de uma série de "coordenáveis". Estes se manifestam por intermédio do exame da ciência, que é uma dialé tica teórica, e da moral, que é uma dialética prática. A ciência dos coordenáveis segue, pois, uma orientação assimilista e involucionista parecida com a defendida por Lalande. Mas a assimilação nunca é absoluta, e por isso emerge a incoordenabilidade como o fundamento da dialética religiosa. Daí que uma "filosofia da religião" seja a culminação da primeira filosofia da ciência e do coordenável em geral, e daí também que o fenomenis mo absoluto não elimine, antes afirme, segundo Gourd, a possibil idade do Absoluto e da personalidade divina. :> Principais obras: Le phénomene, 1 8 88. - Les trois dialectiques, 1 897. - Philosophie de la religion, 1 9 1 2 . Ver: Ch. Werner, La philosophie de Jean-Jacques Gourd, 1 9 1 O. - H. Bockwitz, "Jean-Jacques Gourds philosophisches System", 1 9 1 2 (em A bhandlungen zur Philosophie und ihrer Geschichte, 1 8). - Gottlob Spür ri, Das lncoordinable. Die Bedeutung J J Gourds jiir Geschichlsphilosophie und Theologie, 1 929 (em Fors chungen zur Geschichte und Lehre der Protestanlis chen Religion, I I , 4). - Samuel Berthoud, Trois doc trines: Ch. Secrétan, J J Gourd, L. Brunsch vicg, 1 939. - Marcel Reymond, La philosophie de Jean-Jacques Gourd (1 850- 1 909), 1 949. C GRABMANN, MARTIN ( 1 875- 1 949). Nascido em Winterzhofen (Baviera), foi professor em Eichstãdt (a partir de 1 906), na Universidade de Viena (a partir de
GRABMANN, MARTIN
1 9 1 3) e na de Munique ( 1 9 1 8- 1 939). Sob a inspiração de H. Denifle e F. Ehrle, que conheceu durante sua es tada em Roma ( 1 900- 1 902), Grabmann dedicou-se a pesquisas em história da fil osofia e teologia medievais, e chegou a ser um dos mais destacados e influentes me dievalistas. Devem-se a Grabmann numerosíssimos tra balhos: sobre Santo Tomás, Alberto Magno, a influência do aristotelismo na Idade Média, a gramática especu lativa, o método escolástico, a relação entre problemas filosóficos e teológicos na Idade Média etc. Deve-se também a ele a descoberta de manuscritos, edições crí ticas destes e numerosas e importantes correções e pre cisões de datas e autores medievais. A partir de 1 925 Grabmann dirigiu os Beitriige zur Geschichte der Philo sophie und Theologie des Mittelalters; desde sua funda ção em 1 929 dirigiu (com E. Pelster) a Series scholas tica das Opuscula et Textus historiam Ecclesiae ejusque vitam atque doctrinam illustrantia. :> Dos numerosos escritos de Grabmann limitamo nos a mencionar: Der Genius der Werke des heiligen Thomas und die Gottesidee, 1 899. - Die philosophis che und theologische Erkenntnislehre des Kardinals Matyhaus von A quasparta, 1 906. - Die Geschichte der scholastischen Methode, 2 vols., 1 909- 1 9 1 1 ; reimp., 1 957 e 1 96 1 . - Thomas von Aquin, 1 9 1 2. Der Ge genwartswert der geschichtlichen Erforschung der mit telalterlichen Philosophie, 1 9 1 3 . - Forschungen iiber die lateinischen A ristotelesiibersetzungen des 13. Jahrh. , 1 9 1 6. Die Grundgedanken des heiligen A ugustinus iiber Seele und Gott, 1 9 1 6. - Die Philosophia paupe rum und ihr Verfasser A lbert von Orlamiinde, 1 9 1 8 . Die echten Schriften des hl. Thomas von A quin, 1 9 1 9 . - Die Philosophie des Mittelalters, 1 9 1 9. -- Die Jdee des Lebens in der Theologie des hl. Th. von Aquin, 1 922. - Wesen und Grundlagen der katholischen Mystik, 1 922. - Neueafgefundene Werke des Siger von Brabanl und Boethius von Dacien, 1 924. - Die Kulturphilosophie des hl. Thomas von Aquin, 1 925. - Mittelalterliches Geistesleben. Abhandlungen zur Geschichte der Scholas tik und Mystik, 3 vols. (!, 1 926; II, 1 93 5 ; I l i [ ed. L. Ott] , 1 956). - Der lateinischen Averroismus des 13. Jahrh. und seine Stellung zur christlichen Weltanschauung, 1 93 1 . - Der hl. A lbert der Grasse, 1 932. Die Geschichte der katholischen Theologie sei! dem Ausgang der Viiter zeil, 1 93 3 . - Handschrifiliche Forschungen und Funde zu den philosophischen Schriften des Petrus Hispanus, des spiiteren Papstes Johannes XX/ (t 1 2 7 7), 1 936. Mittelalterliche Deutung und Umbildung der aristote lischen Lehre vom N O Y :L N O H T I K O :L nach einer Zusammenstellung in Cod. B Ili 2 der Universitiitsbiblio thek Base!. Untersuchung und Textausgabe, 1 936. Ed. de escritos vários: GesammelteAkademieabhand lungen, 2 vols., 1 976. Muitas obras foram reeditadas; várias foram trad. para o espanhol (Santo Tomás; His-
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GRAÇA
toria de la teología católica etc.). Referimo-nos a escri tos ou edições de M. G. em diversos verbetes sobre autores ou temas medievais. Bibliografia de M. G. no tomo III de Mittelalterli ches Geistesleben, e na miscelânea Aus der Geisteswelt des Mitte/alters, 2 vols., 1 935, que contém mais de du zentos títulos de artigos e livros publicados antes de 1 934. Ver: L. Ott, M. G. zum Gediichtnis, 1 949. - F. J. Von Rintelen, Values in European Thought, vol. /: An tiquity and Middle Ages, 1 972. C
GRAÇA. O termo ' graça' possui interesse filosófico principalmente em dois sentidos: o estético e o teológi co. Há certos elementos comuns aos dois sentidos: a graça aparece como um dom, como uma concessão que se recebe sem esforço ou mérito, como algo que se tem ou não se tem. Contudo, esses elementos comuns do conceito de graça dizem muito pouco a seu respeito. Além disso, nem por isso se desvanecem as importantes diferenças entre o sentido estético e o teológico. Tratare mos, portanto, os dois sentidos separadamente. Pelos muitos debates que propiciou aos teólogos, filósofos de propensão teológica e teólogos com inclinações filo sóficas, trataremos o sentido teológico de ' graça' com maior detalhamento que o estético. /. Sentido estético. Já desde antigamente (especial mente em Platão e em Platino) se ligou a idéia de graça à de beleza. As duas foram freqüentemente identifica das : algo é belo, KaÀÓS (e, além disso, bom, àya8ói;), se tem graça, xápti;, e vice-versa. À s vezes se deu o nome de 'graça' ao "aspecto interno" do belo. Esse "aspecto interno" pode consistir ou em um elemento inteligível ou em uma certa proporção ou harmonia, ou em ambas as coisas a um só tempo. A harmonia, em particular, muitas vezes foi estreitamente vinculada à graça; con siderou-se que era dificil (ou impossível) que algo fosse gracioso e ao mesmo tempo desarmônico. O conceito de graça como conceito de algum modo irredutível a outras categorias estéticas foi introduzido no pensamento estético em meados do século XVI I I . Em seu ensaio sobre a origem d e nossas idéias acerca do belo e do sublime (ver Sum.tME), Edmund Burke definiu a graça como uma harmonia. Mas, em contraste com as concepções "clássicas", Burke ligava essa har monia ao movimento. A graça aparece então como uma beleza em movimento, especialmente, e sobretudo, em um movimento de algum modo contínuo (não brusco) e pausado (não violento). Essas idéias de Burke alcança ram grande vigência durante algumas décadas. Parte delas volta a ser encontrada no conhecido ensaio de Friedrich Schiller (vrn) sobre a graça (A nmut) e a digni dade ( Wiirde). Schiller distingue a beleza fixa e a be leza em movimento - a primeira é a beleza derivada da necessidade; a segunda, a beleza derivada da liber dade. A graça opera como uma síntese dos dois tipos de beleza e, portanto, como uma síntese de necessidade
1 22 8 (natural) e liberdade (moral). Essa síntese é voluntária (é produto da liberdade dos movimentos voluntários). Por esse motivo a graça se distingue da dignidade, na qual predominam os movimentos involuntários. As idéias de Schiller sobre essa questão aproveitaram alguns resulta dos dos estudos históricos e teóricos de Johann Joachim Winckelmann ( 1 7 1 7- 1 768), mas Schiller difere de Win ckelmann ao estabelecer uma distinção entre graça e dig nidade; para Winckelmann, por outro lado, ambas são similares e às vezes não se pode distingui-las. II. Sentido teológico. O problema da realidade, da natureza e das formas da graça em sentido teológico é levantado em diversas rel igiões: cristianismo, maome tismo, j udaísmo. Mas foi tratado e discutido de modo particularmente detalhado por teólogos e filósofos cris tãos, razão pela qual nos referiremos principalmente a estes últimos. No Antigo Testamento vários termos são utilizados para expressar a "boa vontade" de Deus, especialmente sua "boa vontade", fidelidade e amor clemente para com Israel. Um desses termos é hen, que pode ser traduzido , para o grego por xá pt), gratia, 'graça . xáp1s_significa "dom", "favor'', "gratidão", "agrado" e também "bele za" (daí o sentido estético tratado supra). Tanto hen co mo xá pis têm freqüentemente usos "ordinários" no Antigo Testamento e em São Lucas e São João do Novo Testamento. Esses usos se tornam "extra-ordinários" quando se trata da boa vontade, do favor, do dom ou do amor clemente de Deus. No entanto, xápis - de agora em diante, 'graça' - como termo teológico "técnico" aparece explicitamente nas Epístolas de São Paulo e nos Atos dos Apóstolos. São Paulo refere-se freqüentemen te à graça; ele mesmo se converteu não por convicção racional, ou por algum motivo passível de "explicação'', mas pela irresistível graça de Jesus Cristo ( 1 Cor 1 5, 1 O; At 9, 1 - 1 9). A graça, afirma São Paulo, é "gratuita", não se deve nem às obras nem à "Lei" (Rm 4,4- 1 6, entre outras passagens). A única condição necessária para a graça é a fé (Rm 3,22). São Paulo refere-se especialmente à nova ordem instaurada pela encarnação, vida e morte de Jesus Cristo na cruz, e afirma que, ao redimir o ho mem, Jesus Cristo o transformou radicalmente. Os Padres gregos e latinos elaboraram a noção de graça de acordo com as respectivas propensões aos aspectos "teóricos" ou "especulativos", por um lado, e à vida "prática" do cristão, por outro. Isso não significa que os Padres latinos não tenham elaborado a noção de graça - de fato, muitas das sutis distinções de que tra taremos a seguir foram desenvolvidas por eles e depois pelos Doutores latinos da Igrej a -; significa unicamen te que, enquanto a elaboração conceituai grega foi mais na direção de um exame da "divinização" do homem por meio da graça (sem que isso equivalesse a "deificar" o homem), a elaboração conceituai latina foi mais na
1 22 9 direção d a relação entre o perdão dos pecados por meio da graça e a "reação" do homem diante desse perdão. Os problemas suscitados a respeito da graça referi ram-se principalmente à relação entre graça e natureza, graça e l ivre-arbítrio (VER), graça e predestinação (VER). Apresentaremos depois um resumo de certas discussões básicas sobre o problema da graça desde Santo Agosti nho até aproximadamente o século XVII, mas precede remos esse resumo com definições breves de algumas formas básicas de graça introduzidas pelos teólogos. Uma primeira distinção é a estabelecida entre graça santificante e graça carismática. A primeira (chamada gratia gratum faciens) é um dom de Deus tendo em vista a santificação daquele que o recebe. Por meio dessa graça, indica Santo Tomás (S. theol., !-lia, q. CXI, a 1 [as quaestiones C IX-CXI da S. theol. !-lia tratam todas da questão da graça]), o homem se une a Deus. A segunda (ou grafia gratis data) é um dom de Deus tendo em vista o bem comum da Igreja; por meio desta graça os infiéis são levados a crer, e os cristãos, a perse verar. Em ambos os casos a noção de graça exclui as no ções de dívida, recompensa e outras similares. A graça carismática é essencialmente uma gratia gratuita (razão pela qual também lhe é dado este último nome). Segun do Santo Tomás (entre outros), a graça santificante acrescenta algo ao que chamamos de "graça carismáti ca'', isto é, "faz que o homem agrade a Deus''. À s vezes se distingue a graça santificante da graça atual. Como a graça santificante também foi chamada de graça habitual, a distinção é feita freqüentemente em termos de graça habitual e graça atual . A graça habi tual (santificante) é a que Deus outorga ao homem tor nando possível que este possa realizar atos conformes ao caráter sobrenatural da alma. Por isso a graça habi tual, ao tornar o homem partícipe da natureza divina, o santifica. Poder-se-ia dizer que o "diviniza", mas os teó logos destacam que isso não deve ser entendido no sen tido de deificar ninguém, ou de fazer do homem um Deus. A graça habitual não é a graça "comum" ou "uni versal" à qual aludiremos adiante e que corresponde à criatura pelo mero fato de ser criatura. Há diversos graus de graça habitual de acordo com as disposições daquele que a recebe. A graça habitual não basta; é necessária uma graça atual, que Deus (o Espírito Santo) outorga ao homem de modo "passageiro", por ocasião de certos atos e tendo em vista permitir-lhe operar sobrenatural mcnte, ou seja, atuar para sua salvação. Enquanto a graça habitual (santificante) expressa a ordem dentro da qual o homem renasce em Jesus Cristo, a graça atual é a luz intelectual e a determinação volitiva que encaminha o homem para a salvação. A graça atual pode ser graça suficiente ou graça eficaz. A graça suficiente outorga ao homem a capaci dade de atuar. O nome 'graça suficiente' se presta a equí vocos, já que alguns autores indicam que não produz
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efeito, ou pode não produzir efeito, se faltam o consenti mento ou a cooperação daquele que a recebe. Por isso a graça suficiente parece ser uma "graça insuficiente", isto é, insuficiente para a salvação. A graça eficaz (tam bém chamada de eficiente) é a que faz que o próprio ato se realize; é uma graça à qual o livre-arbítrio consente. Levantou-se, porém, o problema de se a vontade pode, de fato ou em princípio, resistir a essa graça, problema que figurou de modo proeminente nos debates teológi cos dos séculos XVI e XVII. Falou-se também de graça preveniente e de graça subseqüente, conforme a graça venha ou não antes do efeito. Santo Tomás (S. theol. !-lia, CXI a 3) referiu-se a Santo Agostinho (De nat. et grat. , xxxi) em sua explica ção de que a graça é preveniente com respeito ao remé dio que proporciona e subseqüente no sentido de que, uma vez curados, estamos fortalecidos. De modo singu lar, a graça é preveniente na medida em que somos esco lhidos e subseqüente na medida em que somos glorifi cados. Estabeleceu-se também uma distinção entre graça operante e graça cooperante. Santo Tomás explica essa distinção estabelecendo uma diferença entre o ato interno e o ato externo da vontade. No primeiro, a vontade é mo vida por Deus; esse ato implica a graça operante. Um ato exterior também é comandado pela vontade, mas Deus assiste esse ato de dois modos: 1 ) fortalecendo nossa von tade interiormente e 2) concedendo externamente a capa cidade de atuar. Um ato exterior implica a graça coope rante. Santo Tomás cita novamente Santo Agostinho (De grat. et lib. arb. , XVII): "Deus faz que queiramos e, quan do queremos, coopera para que possamos realizar o ato" (S. theol. !-lia, CXI a 2). Entre outras espécies - ao que parece, incontáveis - de graça também se mencionam a graça côngrua, a graça incôngrua, a graça sacramental. A graça irre sistível às vezes é utilizada para caracterizar um tipo de graça e às vezes para determinar um certo caráter em tipos de graça diversamente qualificados. A maioria das discussões sobre a natureza da gra ça e seus efeitos refere-se, direta ou indiretamente, a Santo Agostinho. Começaremos, pois, o anunciado re sumo com uma breve exposição das opiniões agostinia nas sobre o assunto e de algumas das questões por elas suscitadas. Antes de mais nada, cabe dizer que, bastando-se Deus a si mesmo, tudo o que vem de Deus é resultado de uma graça. Há, portanto, uma graça comum que se confunde com a natureza: é a graça que foi conferida a toda realidade por tê-la feito criatura. Entretanto, há uma noção de graça menos geral, e mais elevada: é a que vem de Deus por meio de Jesus Cristo. Em virtude dela alguns homens são salvos, isto é, respondem ao chamado que Deus lhes faz. Essa graça que opera após a Queda é uma graça sobrenatural e se distingue daquele "concurso universal" que Deus presta a todas as cria-
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turas. Contudo, como quase todas as discussões dos teó logos e filósofos cristãos em torno da graça se referem à mencionada graça sobrenatural, pode-se dar a esta sim plesmente o nome de "graça". Segundo Santo Agostinho, a graça restabelece a natureza. A graça é uma condição necessária para a sal vação. A graça é imerecida (pois se fosse merecida não seria graça, ou seja, dom verdadeiramente "gratuito"). Uma vez admitido isto, suscita-se uma série de proble mas. Por um lado, ao sublinhar-se a "gratuidade" parece que se prescinde por inteiro do próprio conceito de "es colha''. Por outro lado, se a graça é um dom gratuito e não resulta dos méritos (nem sequer dos "méritos futu ros" previstos por Deus em sua onisciência), as noções de "mérito" e até de "resposta a um chamado de Deus pela graça" parecem carecer de sentido. Referimo-nos a alguns desses problemas nos verbetes sobre as noções de livre-arbítrio (ver ARBÍTRIO [LIVRE-]) e predestinação, assim como em verbetes sobre vários autores ou tendên cias nos quais desempenha um papel importante a ques tão da graça. Limitemo-nos aqui a indicar que, segundo Santo Agostinho, a graça não suprime a liberdade, mas a possibilita. Com efeito, a graça dá à vontade a força de querer o bem e de realizá-lo. Ao mesmo tempo, a liberdade não é querer o mal e realizá-lo, mas querer e realizar o bem; portanto, pode-se dizer que a graça é a liberdade . Quem recebe a graça, segundo Santo Agostinho, não é uma entidade passiva, mas o livre-arbítrio. A graça muda a orientação da vontade e torna possível que esta use bem o livre-arbítrio (o que equivale, na concepção agostiniana, à liberdade ). Não se pode dizer, portanto, que a graça é incompatível com o livre-arbítrio, já que este recebe a graça, sem a qual se dirigiria para o mal . Os textos nos quais Santo Agostinho trata d a ques tão da graça são numerosos; destacamos como especial mente importantes: De libero arbitrio; De grafia et li bero arbitrio ad Valentinum; De correctione et grafia; Opus imperfectum contra Julianum. Também podem ser consultadas várias partes de De civitate Dei ( cf. XII, XIV) e de Retractationes (cf. 1 ) . (Para datas de compo sição, ver a bibliografia de A G O ST I N l-1 0 ( SANTO ] ) . Em PELAGIAN ISMO nos referimos às opiniões de Pe lágio sobre o assunto, que se opõem a Santo Agostinho e foram combatidas por ele (e por São Jerônimo). Ca racterística geral do pelagianismo é a tese de que a graça está nos bens naturais. Já que, segundo Pelágio, Adão não transmitiu o pecado, o homem pode fazer o bem sem a necessidade de uma graça especial sobrenatural e apenas com o "concurso universal" divino. Para a história do conceito de graça são importantes, além das já mencionadas, as opiniões de Santo Anselmo e de Santo Tomás de Aquino. Em suas obras Cur deus homo e De concordia praescientiae et praedestinationis et gratiae Dei cum libero arbítrio, Santo Anselmo de-
1 2 30 clara que nenhuma criatura possui uma vontade reta senão pela graça de Deus. De certo modo, pois, tudo pode ser imputado à graça. Ao mesmo tempo, Santo An selmo indica que a graça "auxilia" o livre-arbítrio, de tal modo que "a graça e o livre-arbítrio não estão em dis córdia, mas concorrem parajustificar e salvar o homem". Parece que se consegue então um equilíbrio (ademais já freqüentemente procurado por Santo Agostinho) na me dida em que Deus predestina (à salvação) somente aque les que sabe (antecipadamente) que terão uma vontade reta (ou que atenderão ao chamado da graça). Santo To más, por sua vez, considera a graça um auxílio, um socor ro, um dom outorgado a quem sem ele ficaria irremedia velmente perdido. Isso não significa que o livre-arbítrio seja desnecessário. "A conversão do homem a Deus reali za-se por meio do livre-arbítrio. Ao mesmo tempo se manda o homem converter-se a Deus. Mas o livre-arbítrio não pode converter-se a Deus se Deus não o converte por sua vez" (S. theol., 1-Ila, q. CIX, a 6 ad 1 ) . As opiniões de Santo Anselmo e de Santo Tomás coincidem em grande parte com as de Santo Agostinho. Entretanto, as dos dois primeiros - e especialmente as de Santo Tomás - estão muito intimamente ligadas a uma metafisica que explica o modo de intervenção de Deus nas criaturas que atuam. Deve-se, pois, levar em conta que nesses autores o problema se apresenta de forma muito distinta da dos modos "psicológicos" e "antropológicos" que foram empregados costumeiramente. Praticamente todos os teólogos e filósofos cristãos, e muito particularmente os escolásticos medievais, ocu param-se da questão da graça e, naturalmente, da ques tão da "relação" entre a graça divina e o livre-arbítrio humano. Desde Santo Tomás até os debates teológicos nos séculos XVI e XVI I , de que nos ocuparemos adian te, houve numerosas doutrinas e debates a esse respeito. Destacaremos aqui, pela importância que adquiriram nesses debates, apenas algumas das teses de Ockham e de Gabriel Biel. Ockham e os chamados "ockhamis tas" admitiram que o homem pode por si mesmo enca minhar-se para o bem mas não pode se salvar a menos que Deus "aceite" as disposições humanas. Essa "acei tação" divina se efetua de acordo com um decreto abso luto de Deus. Portanto, Deus pode justificar ou não o homem independentemente do que o homem faça: amar a Deus ou não amá-lo, pecar ou não pecar. Gabriel Biel seguiu os ockhamistas nesse aspecto e salientou ao ex tremo a "potência absoluta" de Deus na justificação do homem, seja ele pecador ou não, "merecendo" ou não (do ponto de vista "racional") a graça. As doutrinas de Gabriel Biel sobre essa questão influenciaram Lutero, que declarou que a graça se funda na fé, de modo que "aquele que crê tem a graça", parecendo retornar, com isso, à "primitiva" idéia de São Paulo. E, com efeito, as sim era em grande medida, mas não sem passar por mui tos dos argumentos apresentados por Gabriel Biel em
1 23 1 seus Comentarii in quattor Sententiarum libras (os Comentários aos quatro livros de Sentenças de Pedro Lombardo). Os historiadores da teologia estão de acordo em sa lientar a importância que tiveram na questão da graça os debates sustentados por teólogos e filósofos durante os séculos XVI e XVII . I ntervieram nesses debates (e por sua vez determinaram significativamente a orienta ção que tomaram suas próprias doutrinas) os protestan tes (Lutero, Calvino), os "humanistas" (Erasmo), os jan senistas, os j esuítas etc. Particularmente importantes a esse respeito são a controvérsia entre Lutero e Erasmo, o desenvolvimento do j ansenismo e as polêmicas entre tomistas e molinistas, j ansenistas e jesuítas. Referimo nos a essas questões em vários verbetes citados anterior mente, aos quais adicionamos os que são dedicados a CONCURSO; CONGRUÍSMO; P REMOÇÃO; MOLINA (Lu1s DE). Acrescentaremos que as posições sustentadas foram muito diversas, situando-se entre dois extremos: a afir mação da graça como puro dom irresistível de Deus (luteranos, especialmente calvinistas, e j ansenistas com certas modificações) e a negação ou quase negação da graça ou a afirmação de que esta se encontra infundida na criação (racionalistas, socinianos, naturalistas, huma nistas, semipelagianos, pelagianos). Entre essas posi ções extremas oscilaram muitas outras: a afirmação da necessidade de uma graça irresistível dada somente dentro da Igreja e nunca à consciência individual (janse nistas ) ; a afirmação de uma influência intrínseca de Deus ou doutrina da premoção física (tomistas); a afir mação de uma influência extrínseca (agostinianos); a afirmação do concurso simultâneo (molinistas e, com modificações, congruístas). Como o problema da graça afetava fundamentalmente o l ivre-arbítrio, as posições acerca da natureza da primeira eram paralelas às ado tadas acerca do segundo. Muitas doutrinas foram for muladas sobre o livre-arbítrio, desde a afirmação de que o livre-arbítrio é "servo" (luteranos) até a tese da com pleta ou quase completa "liberdade" (humanistas, natu ralistas, neopelagianos ), com as correspondentes teses intermediárias. Já aludimos à questão da relação da graça com a natureza. Indiquemos agora que durante a época moder na manifestaram-se várias posições sobre o assunto. Três delas são essencialmente importantes. 1 ) Não há nenhuma ordem da graça, mas somente da natureza ("natural ismo" em sentido amplo). 2) Há uma ordem da graça e outra da natureza, muito separadas ou inteira mente separadas. Se a separação é completa, chega-se a uma doutrina análoga à propugnada pela teologia dia lética; se é muito acentuada, chega-se a doutrinas que se aproximam do jansenismo. O dualismo da graça e da natureza pode conduzir a um abandono da primeira em vista da impossibilidade de sua concordância com a segunda, ou a uma exclusiva acentuação da primeira
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em detrimento da segunda. 3) Há uma ordem da graça e outra da natureza, harmonizadas a ponto de se poder dizer que a graça aperfeiçoa a natureza. Esta última opinião foi a mais comum; são conhecidas sobretudo as defesas que dela fizeram os tomistas e os leibni zianos. Citaremos dois textos a esse respeito. Um deles é o de Santo Tomás, que afirma: "A graça pressupõe, preserva e aperfeiçoa a natureza" (S. theol., I, q. II-lia, q. X). O outro é de Leibniz, que afirma que no Estado perfeito, no qual há tanto infinita j ustiça como infinita misericórdia, "há tanta virtude e felicidade quanto é pos sível haver, e isso não por causa de um desvio da natu reza, como se o que Deus prepara para as almas pertur basse as leis dos corpos, mas pela própria ordem das coisas naturais, em virtude da harmonia preestabelecida desde sempre entre os reinos da natureza e da graça, entre Deus como arquiteto e Deus como monarca, de modo que a natureza conduz à graça e a graça aperfei çoa a natureza usando-a" (Principes de la nature et de la grâcefondés en raison, § 1 5 ; cf. Mon., § 87). No texto de Leibniz, contudo, o sentido de 'graça' é mais geral que o sentido que a noção possui enquanto dom especial sobrenatural. .. Na época contemporânea caberia destacar a im portante contribuição de Karl Rahner ao debate sobre a graça na teologia católica (ver RAHNER) . :> Sobre o problema da graça: L. Soukoup, Natur und Gnade. Eine niihere Bestimmung ihres gegenseitiges Verhiiltnisses, 1 948. - J.-H. Nicolas, Le mystere de la grâce, 1 95 1 . - Charles Journet, The Meaning of Grace, 1 960. Conceito de graça em vários autores, tendências e períodos: H. Rondet, Grafia Christi, 1 948 (principal mente história do dogma da graça] . -� T. F. Torrance, The Doctrine of Grace in the Aposto/ic Fathers, 1 948. - Benj amin Drewery, Origin and the Doctrine of Gra ce, 1 960. - Augusto Guzzo, Agostino e il problema de/la grazia, 1 930; nova ed. : Agostino contra Pelagio, 1 934. - A. Niebergall, A ugustinus A nschauung von der Gnade. Ihre Entstehung und Entwicklung vor dem pe!agianischer Streit (bis zu A bschluss der Conféssio nen) , 1 95 1 . - A. Landgraf, "Die Erkenntnis der hei ligmachenden Gnade in der Frühscholastik", Scholastik, 3 ( 1 928). - Antonio Briva Miravent, La gloria y su relación con la gracia según las obras de San Buena ventura, 1 95 7 [Col lectanea San Paciano, Série teol., 2]. - H. Dome, Die Gnadenlehre des Albertus Magnus, 1 929. - G. Ladril le, Grâce et motion divine chez Saint Thomas d 'A quin , 1 950. - H. Lais, Die Gnadenlehre des heiligen Thomas in der Summa contra Gentiles und der Kommentar des Franzisku.1· Sylvestris von Ferrara, 1 95 1 . - W. van Roo, Grace and Original Justice accor ding to St. Thomas Aquinas, 1 95 5 . - J. Auer, Die En twicklung der Gnadenlehre in der Hochscholastik, 1 95 1 ( I I . Das Wirken der Gnade). - B . A. Gerrish, Grace ••
GRACL\ N, R\ l:rASAH
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and Reason: A Study in the Theology of Luther, 1 962. - F. Litt, La question des rapports de la nature et de la gràce de Baius au Synode de Pistoie, 1 934. - Lucien Labbas, La gràce et la liherté dans Malebranche, 1 932. - Kurt Hildebrandt, Leibniz und das Reich der Gnade, 1 95 3 . R. Guardini, Freiheit, Gnade, Schicksal, 1 948. - J. Brinktrine, Die lehre von der Gnade, 1 95 7 . W. Hãrle, Sein und Gnade, 1 97 5 . - J. R. Lucas, Free dom and Grace, 1 976. - J. W. Woelfel, A ugustinian Humanism: Studies in Human Bondage and Earthly Grace, 1 979. - R. Haight, The Experience and Lan guage of'Grace, 1 979. - J. Stêihr, Zur Friihgeschichte des Grandenstreites, 1 980. As principais obras sobre os autores mencionados em geral tratam também da questão da graça. � -
GRACI Á N, BALTASAR ( 1 60 1 - 1 658). Nascido em Bel monte de Calatayud (Aragão), ingressou na Companhia de Jesus e desenvolveu uma atividade de escritor de ca ráter moralista crítico. Suas idéias - quase todas sobre os homens e seu papel no "teatro do mundo" - são com postas por elementos muito diversos: certo otimismo de caráter renascentista e humanista, certa amargura daquele que trabalha com afã para conhecer os homens a partir de dentro, um "Desengano que parece confundir-se com a Discrição" (José F. Montesinos}, um certo "afastamento" em relação aos homens unido a um vivo interesse por eles. Isso torna difícil sistematizar as idéias de Gracián. Há uma certa unidade nessas idéias enquanto "unidade de estilo" ou, como diria Unamuno, "unidade de tom e acento". Mas é preciso levar em conta a importante fun ção desempenhada pelo motivo da variedade em Gracián. O próprio autor revelou claramente sua atitute sobre o assunto ao salientar uma decidida aversão à unidade dos tipos e aos modos de atuar: "falar sempre atento" escreveu em EI Discreto - "causa enfado; sempre gra cejar, desprezo; sempre filosofar entristece, e sempre satirizar indispõe". Segundo José Luis L. Aranguren, a falta de unidade da obra de Gracián deve-se a seu cará ter "crítico". Essa obra, diz Aranguren, manifesta-se em três planos separados: o primeiro (com EI Héroe, EI Discreto, EI Orárnlo) formula a moral adequada para triunfar no mundo; o segundo (com EI Criticón) enfren ta-se criticamente com o mundo; o terceiro (com E! Co mulgatorio) enfrenta o problema do transmundo. Arangu ren chama o primeiro plano de moral-utilitário; o segundo, de ético-filosófico; o terceiro, de religioso. :> Obras: EI Héroe, 1 63 7 (a primeira edição que che gou até nós é de I 639). - EI Político Fernando, I 640 (id. , id. , 1 646 ). - A rte de ingenio, 1 642 (esta obra, re fundida, apareceu em 1 648 com o título: Tratado de la Agude::a y Arte dei lngenio en que se explican todos los modos y diferencia.1· de Conceptos). - EI Discreto, 1 646. - Oráculo manual y arte de prudencia, 1 647 (primeira edição disponível, 1 653). EI Criticón, parte 1 , 1 65 1 ; parte I I , 1 65 3 ; parte I I I , 1 65 7 . - Entre as principais --
edições modernas de Gracián figuram: E! Héroe, ed. A. Coster ( 1 9 1 1 ). -E! Criticón, ed. J. Cej ador ( 1 9 1 3- 1 9 1 4 ). - Tratados (antologia), ed. A. Reyes ( 1 9 1 8). - Agude za y arte de ingenio, ed. Ovejero y Maury ( 1 929). El Criticón, ed. M. Romera y Navarro (3 vols., 1 93 8 - 1 940). Obras completas, ed. E. Correa Calderón (Madri, 1 947). - Obras completas, ed. e estudo preliminar por Arturo de! Hoyo (Madri, 1 960). - Obras completas, 1, eds. M. Batllori e C. Peralta (Biblioteca de Autores Espa iíoles, n. 229, Madri, 1 969). - Obras completas, 2 vols., ed. E. Blanco, Madri, 1 993 . Ver: N. J. Liiíán y Heredia, Baltasar Gracián, 1 902. - M. M. de Pareja y Navarro, Lasfuentes políticas de Baltasar Gracián, 1 908 (sobre as "fontes arábicas" ver o estudo de E. Garcia Gómez). - Frederic Rahola y Tremols, Baltasar Gracián, escriptor satírich, moral, politich dei segle XVII, 1 902. - A. Morei-Fatio, "Cours du College de France 1 909- 1 9 l O sur les moralistes es pagnols du XVIl' siecle et en particulier sur B. Gracián", Bulletin Hi5panique, 1 2 ( 1 9 1 0), 20 1 -204, 330-334. /d. , "Liste chronologique des lettres de B. Gracián dont l ' existence a été signalé ou dont le texte a été publié'', ibid. , 12 ( 1 9 1 O), 204-206. - /d. , "Gracián, interprété par Schopenhauer", ibid. , 1 2 ( 1 9 1 0) , 3 77-40 7 . Adolphe Coster, "Balthasar Gracián I 60 1 - I 658", Revue Hi:,panique, 29 ( 1 9 1 3 ), 347-752 (trad. esp. no volume: Baltasar Gracián, I 947). -· A. F. G. Bel!, B. Gracián, 1 92 1 . - G. Marone, Mora/e e política di B. Gracián, 1 92 5 . - Victor Bouillier, "Baltasar Gracián et Nietzs che", Revue de Littérature comparée, ano 6 ( 1 926), 3 80-40 1 . - Werner Kraus, Gracians Lebenslehre, 1 947 (trad. esp . : E! sentido de la vida según B. G. , 1 963). Hellmut Jensen, Die Grundhegri{f'e des B. G. , 1 95 8 . Miguel Batllori, S. J., G. y e! barroco, 1 95 8 . - F. M. de Guevara, J. L . L . Aranguren, P. Mesnard, J. A. Mara vall, artigos sobre G. em Revista de la Universidad de Madrid, 7 ( 1 958), 27 1 -445, especialmente o artigo de Aranguren nas pp. 33 1 -354 (esse art. foi reimpresso no livro de A . : Estudios literarios, 1 97 5 , com um Ane xo: Nota sobre "El Criticón"). - Arturo dei Hoyo, "In troducción" à sua ed. de G. cit. supra, 1 960 (há sepa rata). - Munroe Z. Hafter, G. and Perf'ection: Spanish Moralists of'the Seventeenth Century, 1 966. - Gerhard Schrêider, B. Graciáns Criticón. Eine Untersuchung zur Beziehung zwischen Manierismus und Moralistik, 1 966. - M. Batllori, C. Peralta, B. G. en su vida y en sus obras, 1 969. - E. Hidalgo-Serna, Filosofia dei ingenio y dei concepto en B. G. , 1 976 (com bibliografia). - J. L. Abel lán, "El pensamiento de B. G. como antecedente de la filosofia orteguiana", Homenaje a 1 A. Maravall, Madri, 1 985, 1, pp. 55-6 1 . - J. M. Ayala, Gracián: vida, estilo y reflexión, Madri, 1 987. - M. Batllori, B. G. , em id. , Obra completa, vol. VII. � -
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G RAM Á TICA ESPECU LATIVA. Desde a Antigui dade - e especialmente a partir de Platão ( Crátilo) e
1 233 dos sofistas (vER) - o s filósofos deram atenção a "ques tões gramaticais". Essas questões estão ligadas a pro blemas relativos à natureza e às formas da linguagem ( vER) e a problemas concernentes à lógica ( vE R ) . As rela ções entre formas lógicas e formas gramaticais foram objeto de muita investigação e debate. As Categoriae e o De interpretatione, de Aristóteles, suscitam questões fundamentais a esse respeito. Em alguns casos é difícil ver uma linha divisória entre o "gramatical" e o "lógico"; em outros, é difícil ver uma linha divisória entre eles e o "ontológico". A isso devem-se as diversas interpreta ções de que foram objeto as categorias aristotélicas (ver CATEGORIA), que aparecem como modos de articular a realidade e também como modos de classificar termos na linguagem. Autores platônicos, aristotélicos, céticos, estóicos e neoplatónicos contribuíram muito para a elu cidação dessas questões "lógico-ontológico-gramati cais". As diversas doutrinas acerca da natureza dos signos (ver S1