Dicionário de Filosofia
 8434405008, 8434405016, 8515018691

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JOSÉ FERRATER MORA



DICIONARIO DE FILOSOFIA TOMO 1 (A-D)

TíTULO ORIGINAL: Diccionario de Filosofía, tomo I (A-D)

Nueva edición revisada, aumentada y actualizada por e! profesor Josep-Maria Terricabras (director de la Cátedra Ferrater Mora de Pensamiento Contemporáneo de la Universitat de Girona) Supervisión de la profesora Priscilla Cohn Ferrater Mora (Penn State University)

© 1994: Priscilla Cohn Ferrater Mora © da revisão atualizada: Josep-Maria Terricabras Direitos exclusivos: © 1994, Editorai Ariel, S.A., ISBN: 84-344-0500-8 (obra completa) 84-344-0501-6 (tomo 1)

Barcelona

A presente edição foi traduzida mediante ajuda da DIRECCIÓN GENERAL DEL LIBRO, ARCHIVOS

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BIBLIOTECAS DEL MINISTERIO DE EDUCACIÓN

EDIÇÃO Marcos Marcionilo TRADUÇÃO Maria Stela Gonçalves Adail U. Sobral Marcos Bagno Nico/ás Nyimi Campanário PREPARAÇÃO Nico/ás Nyimi Campanário Luciana Pudenzi REVISÃO Renato da Rocha Carlos DIAGRAMAÇÃO Maurélio Barbosa

Edições Loyola Rua 1822 nº 347 Ipiranga 04216-000 São Paulo, SP Caixa Postal 42.335 04299-970 São Paulo, SP Fone (O**11) 6914-1922 Fax (0**11) 6163-4275 -

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ISBN:

©

85-15-01869-1

EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil,

2000

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CULTURA DE EsPANA.

APRESENTAÇÃO

F

oi para mim uma satisfação poder encarregar-me de supervisionar a nova edição atualizada do Dicionário de Filosofia de meu falecido marido. Na realidade, não faço mais que cumprir seu desejo: em diversas ocasiões ele falou da atualização do DICIONÁRIO, que deveria refletir e dis­ cutir a investigação acadêmica e as conquistas científicas mais recentes. Mas não queria fazê-lo ele próprio. "Quero fazer outras coisas" - dizia. Entretanto, continuava a manter-se a par das últimas publicações e preenchia inumeráveis fichas para a nova bibliografia do DICIONÁRIO. Durante a última década de sua vida, e já sem a pressão de ter de trabalhar no DICIONÁRIO, José continuou a desenvolver mais plenamente suas idéias filosóficas originais em livros como De la materia a la razón, Ética aplicada ou F undamentos de Filosofia, ao mesmo tempo que publicou novas edições revistas de El ser y la muerte. Ele continuou a escrever numerosos artigos, também para jornais, alguns dos quais foram publicados em Ventana ai mundo e no póstumo Mariposas y supercuerdas. Aperfeiçoou suas habilidades narrativas em Siete relatos capitales e Voltaire en Nueva York, até sentir-se suficientemente seguro para escrever cinco romances Claudia, mi Claudia, Hecho en Carona, El juego de la verdad, Regreso dei infierno e La seiíorita Goldie , assim como o livro de pequenas narrativas Mujeres ai borde de la leyenda. Ele chegara a começar um livro de pequenas narrativas intitulado Hombres ai borde de la !acura. Entre as "outras coisas que queria fazer", estava El mundo dei escritor, um livro que planejara por pelo menos vinte anos. Embora o tivesse desejado, ele não pôde chegar a ver a revisão do DICIONÁRIO. E depois de sua morte a magnitude da tarefa tomava essa revisão desalentadora, ainda que eu soubesse que ele gostaria de uma nova edição. Quem poderia tomar as decisões que, em minha opinião, somente José podia tomar? Quem teria os conhecimentos, o talento e a habilidade necessários? Que pessoas estariam dispostas a dedicar tanto tempo, a gastar tanta energia numa obra tão imponente? Não esperava encontrar um substituto para meu falecido marido, mas pensei que talvez uma equipe de pessoas fosse capaz de fazer a atualização. Então me lembrei de que José recusara essa idéia, possivelmente porque uma equipe assim não entenderia a unidade de pensamento que constitui uma das grandes conquistas do DICIONÁRIO. Penso, pois, que a pessoa ideal para trabalhar no DICIONÁRIO foi a mesma pessoa que tão habilmente dirigiu a Cátedra Ferrater Mora da Universidade de Girona, a pessoa que com tanto interesse cuidou também da instalação da Biblioteca Ferrater Mora e da coleção de cartas que ele conservou durante, ao menos, os últimos quarenta anos de sua vida. -

Apresentação

VIII

Estou satisfeita de ver publicada uma nova edição do DICIONÁRIO, especialmente quando recordo quanto ele me ajudou não só nos meus tempos de estudante, quando meus conhecimentos de filosofia eram, digamos, escassos, mas também quando eu me preparava para os exames de doutorado, e até muito depois. Parecia que, quanto mais sabia, tanto mais eu descobria nos diversos verbetes do DICIONÁRIO. Também estou satisfeita porque sei que estou realizando a vontade de meu marido. Num testamento muito informal, ele escreveu: "Desejo que minha querida esposa tenha a força necessária para viver ainda por muitos anos e para fazer, no decorrer deles, tudo o que julgar melhor para manter viva a memória dos pensamentos que expressei em meus escritos". Assim procurei fazê-lo e continuarei fazendo. Estou certa: José estaria satisfeito por seu DICIONÁRIO continuar vivo. PRISCILLA COHN viúva de Ferrater Mora Penn State University

PRÓLOGO À NOVA EDIÇÃO

J

osé Ferrater Mora morreu repentinamente no dia 30 de janeiro de 1991, em Barcelona, sua cidade natal, à qual fora para uma breve visita, partindo de Bryn Mawr (Pensilvânia), onde residia havia mais de quarenta anos. Para conhecer de fato a obra filosófica que Ferrater Mora deixa atrás de si é preciso conhecer as dúzias de livros e as centenas de verbetes que escreveu. São eles os melhores fiadores do Ferrater filósofo: ao longo destas páginas, descobrimos seu vastíssimo saber, o rigor e a origi­ nalidade de seu pensamento, a clareza e o brilhantismo de seu estilo. O pensamento de Ferrater é sempre exemplo de honestidade intelectual, nos antípodas de todo sectarismo, tanto quando ele exercita o integracionismo como quando apenas compila - com precisão e naturalidade - o que de melhor encontra nas idéias e opiniões dos outros, mesmo quando se distanciam muito das suas. Recordemos suas palavras: "Como o próprio Leibniz disse em certa ocasião: je ne méprise presque rien; nada ou 'quase nada' deve ser menosprezado; tudo, ou 'quase tudo', pode ser integrado e harmonizado; o 'mundo melhor' é, de todo modo, 'o mundo mais pleno"' O DICIONÁRIO DE FILOSOFIA ocupou um espaço importante na vida de Ferrater por mais de quarenta anos. A primeira edição, num único volume, foi publicada em 1941; a sexta e última edição, já em quatro volumes, em 1979. Além disso, Ferrater foi preparando, até meados dos anos 1980, idéias e fichas para uma nova edição. Desde o primeiro momento, o DICIONÁRIO foi concebido e redigido pessoalmente por ele. Não surpreende, pois, que esta obra, única em seu gênero, se tenha transformado, com o passar dos anos, no testemunho mais compacto e impres­ sionante das virtudes e da estatura filosóficas de seu autor; nem sequer surpreende que essa estatura e essas virtudes tenham obtido reconhecimento unânime, ultrapassando os países de língua espanhola. O objetivo desta nova edição - 15 anos após a última edição preparada por Ferrater pode ser formulado de um modo simples: desejou-se atualizar o DICIONÁRIO conservando fiel­ mente o caráter da obra e, de maneira muito especial, dois aspectos sublinhados já pelo autor em seu Prólogo à Sexta Edição: por um lado, o rigor e a exatidão da informação; por outro, a abertura ampla e ecumênica do DICIONÁRIO. Nesse sentido - e afora a inevitável introdução de correções -, a atualização consistiu basicamente em: a) atualização de datas e dados bio­ gráficos, assim como das listas bibliográficas; b) incorporação de novo texto quando o requeriam a evolução recente do pensamento de um autor ou a nova interpretação de um conceito, assim como a incorporação de alguns verbetes novos sobre pessoas e conceitos. Apenas nos casos de novas incorporações - isto é, só no que se refere ao item b) -, o texto acrescentado foi

Prólogo à nova edição

X

explicitamente marcado como tal com um duplo ponto (••) no início e no final do texto. Pre­ tendeu-se com isso enfatizar, precisamente, a escrupulosa fidelidade mantida em relação ao texto original. Na atualização da obra, tive a sorte de contar com a ajuda de numerosos amigos e especialistas dos cinco continentes, que me enviaram suas valiosas informações e sugestões. É-me impossível citar nomes sem correr o risco de esquecer-me de algum. Meus agradecimentos a todos eles. Sou particularmente grato aos colegas da Cátedra Ferrater Mora de Pensamento Contemporâneo da Universitat de Girona, no interior da qual se elaborou a atualização do DICIONÁRIO. Devo mencio­ nar, com especial reconhecimento, a dedicação e eficiência da senhora Marta Masergas, bolsista da Cátedra, de cuja abnegada colaboração esta edição se beneficiou grandemente. ]OSEP-MARIA TERRICABRAS

Diretor da Cátedra Ferrater Mora de Pensamento Contemporâneo da Universitat de Girona Girona, 30 de outubro de 1994

PRÓLOGO À SEXTA EDIÇÃO

A

edição anterior em dois volumes deste DICIONÁRIO é a quinta, publicada em 1965 e concluída em 1963. A partir de 1965, ele foi reimpresso três vezes - em 1969, 1972 e 1975 -, mas como só foram introduzidas ligeiras correções deve-se continuar a conside­ rar como quinta a edição anterior, de 1965. (Para a diferença entre 'edição' e 'reimpressão', vejam-se as "Advertências para o uso das bibliografias", 5B.) São as seguintes as mudanças que esta edição - sexta, em quatro volumes - apresenta em relação à anterior: 1. 756 verbetes novos, incluindo-se artigos sobre pessoas, conceitos e correntes. 2. Modificaram-se, ampliaram-se ou reescreveram-se por completo 542 verbetes. 3. A bibliografia foi corrigida, comprovada, ampliada, atualizada e reordenada. O número de títulos novos passa de 6.000. 4. Corrigiram-se milhares de erratas da edição e das reimpressões precedentes. O número total de verbetes desta edição é de 3.154, que se distribuem da seguinte maneira: pessoas, 1.756; conceitos, incluindo locuções e termos especiais, 1.398. As remissões em ordem alfabética entre verbetes são mais de 2.000. Em termos absolutos, esta edição tem cerca de cinqüenta por cento de material novo em re­ lação à anterior. Se se levam em conta as mudanças a que me refiro no item 2 acima, é possível que cerca de sessenta ou sessenta e cinco por cento do material desta obra seja novo. Uma parcela considerável do novo material se refere à filosofia contemporânea, mas continuei atento a todos os períodos da história da filosofia e mantive a tendência das edições an­ teriores de apresentar os conceitos em sua história. Incluí bom número de autores e conceitos que não são demasiado conhecidos, mas sem os quais não se poderia delinear o vasto quadro do pensamento filosófico. Conservei igualmente a tendência de incluir algumas figuras, conceitos e tendências que, embora não estritamente filosóficos do ponto de vista convencional, me pa­ recem ter um inegável interesse filosófico. Numa obra deste tipo, ao contrário das monográficas, não é possível dizer tudo sobre uma única coisa, mas é preciso dizer algo sobre muitas coisas. O especialista em matemática ou em lógica julgará insuficiente o verbete sobre o axioma da escolha, mas espero que encontre algo interessante no verbete sobre a vontade de poder; o especialista em ética mostrará perspicácia em não consultar os verbetes (ou em não prestar muita atenção a eles) sobre a noção de impe­ rativo ou sobre a falácia naturalista, mas talvez aprenda algo com o verbete sobre o teorema de

Prólogo à sexta edição

XII

Craig; o medievalista não verá muita utilidade nos verbetes sobre Apelação, Apelativo ou sobre Henrique de Harclay, mas pode aprender algo consultando os verbetes sobre estruturalismo, ma­ terialismo histórico ou a indeterminação da tradução. Neste DICIONÁRIO diz-se algo sobre tantas coisas, que isso pode até constituir uma especialidade. De todo modo, a obra contém uma multiplicidade de informações que não é fácil encontrar em outras obras. Desse ponto de vista, não se deve avaliar a importância de um verbete por sua extensão. Muitos verbetes remetem a outros num sistema de remissões que dá à obra uma es­ trutura (informalmente) sistemática. Não se pode escrever o equivalente a trinta volumes de tamanho comum e cuidar do estilo como se se tratasse de um ensaio. Mas procurei ser o mais claro possível. Para ser honesto, desejo observar que em certas ocasiões a falta de clareza pode dever-se antes ao fato de alguns pen­ samentos de vários dos filósofos transcritos serem obscuros. Embora eu prefira a este DICIONÁRIO alguns outros escritos meus que considero mais origi­ nais, não me arrependo de ter dedicado a ele um esforço sistemático. Creio que obras como estas são necessárias ao avanço da filosofia e que, além disso, podem contribuir para reduzir o notório déficit entre as importações e as exportações culturais entre países de língua espanhola* Mesmo tendo progredido nos últimos tempos, essa língua não alcançou ainda a reputação intelectual de várias das línguas que ultrapassaram as fronteiras dos países em que são normal­ mente usadas. Estas línguas são, em proporção bem diversa da difusão cultural, o inglês, o francês, o alemão e o russo (por várias razões - algumas simplesmente pedagógicas -, ainda não se pode dizer o mesmo de línguas de tão grande alcance demográfico e cultural como o árabe e o chinês). Não é excepcional encontrar pessoas procedentes de países de língua espanhola que conheçam uma ou várias línguas, pelo menos no que tange às três primeiras mencionadas. Mas é ainda bastante raro encontrar entre os usuários de quaisquer delas pessoas que, para propósitos culturais e científicos distintos das especialidades classificadas como "estudos hispâ­ nicos" ou "hispano-americanos", conheçam, ou leiam, o espanhol. (Consultem-se as listas de "Livros recebidos" em algumas revistas filosóficas de grande prestígio e impecável impressão: a negligência na impressão de pessoas e de títulos hispânicos é quase patética.) O caráter relativamente marginal do espanhol em esferas culturais distintas da literatura ou das artes se deve a diferentes fatores - entre eles, políticos e econômicos -, mas igualmente ao fato de não haver ainda em espanhol a abundância e a qualidade de trabalhos de pesquisa e de repertórios científicos e filosóficos que existem nas línguas supracitadas, especialmente em inglês, francês, alemão e russo. Tudo o que contribuir para aumentar a quantidade e a qualidade de trabalhos desse tipo e de repertórios deverá sem dúvida redundar em beneficio para a língua, bem como para a cultura em que forem produzidos. Quero fazer constar que, por si só, isso não constituiria razão para empenhar-se em pro­ duzir semelhantes trabalhos e repertórios, nem sequer para criar a infra-estrutura educativa e cultural que permita a formação de um grande número de pessoas capazes de levá-los a cabo. Fazer estas coisas por motivos nacionais ou, como no caso do espanhol, plurinacionais, seria suspeito. O importante é que o beneficio seja não apenas nacional, ou plurinacional, mas tam­ bém, e sobretudo, social. De todo modo, no atual estado de coisas, nenhuma língua - e, com isso, nenhuma cultura - é inteiramente respeitada se, por maiores que sejam suas contribuições em termos estéticos e literários, não se faz acompanhar de contribuições criativas e ordenadoras suficientes nos aspectos filosófico e científico. Este DICIONÁRIO destina-se principalmente à circulação entre usuários da língua em que está escrito. Mas espera-se que seja consultado também por pessoas de outras línguas. Ele oferece * O que se diz aqui do espanhol vale igualmente para o português [ n. do E.].

XIII

Prólogo à sexta edição

a esse respeito uma vantagem que nem sempre é encontrada nos grandes repertórios produzidos em algumas das línguas mais ou menos universais antes citadas. É comum que esse tipo de re­ pertório - especialmente em filosofia, na qual pesam tanto as tradições nacionais, e às vezes até as meramente provinciais - se restrinja a temas, problemas, figuras e referências bibliográ­ ficas dos respectivos países. Tampouco é raro, ademais, que os autores recortem a paisagem de maneira a vê-la apenas da cor do cristal através do qual a olham. Creio que esta obra é mais ampla e ecumênica que muitas das mencionadas. Tem evidentemente suas limitações. Embora contenha informações sobre figuras e conceitos básicos da chamada "filosofia oriental", ela trata principalmente da denominada "filosofia ocidental'', a partir da Grécia. Nela prevalecem, além das filosofias nas línguas grega e latina, as que procedem de autores usuários - sejam ou não nativos dos países correspondentes - das línguas alemã, francesa, inglesa, italiana, russa e línguas hispânicas, assim como, embora em menor proporção, das línguas holandesa, polonesa e escandinavas. Dentro dessas limitações, contudo, procurei ampliar ao máximo o horizonte, dando abrigo, na medida de meus conhecimentos, a figuras, tendências e conjuntos de conceitos proce­ dentes de regiões, línguas e culturas bastante diversas. Em particular, e ainda que eu tenha minhas preferências filosóficas - de resto, pouco dogmáticas -, procurei ser eqüitativo com variadas cor­ rentes. Eu o fiz em nome não do ecletismo, mas do rigor e da exatidão da informação. O término da preparação desta edição coincidiu com o último dia do ano de 1976. Entre a conclusão de uma obra das proporções desta e sua publicação há tempo suficiente para que o autor sinta com freqüência a tentação de fazer acréscimos e mudanças: uns, por corresponder ao período entre o encerramento do manuscrito e sua publicação; outras, por se terem descoberto omissões. De todo modo, é certo que no ínterim haverá aumentado a já esmagadora bibliografia filosófica. Salvo um pequeno número de acréscimos de última hora, rejeitei a tentação citada, porque numa obra como esta o único jeito é fixar um limite temporal - de qualquer maneira, sabe-se de antemão que é incompleta - e também porque os acréscimos ou modificações, durante o período de impressão e correção de provas, são onerosos para o editor. J. FERRATER MORA Bryn Mawr, Pensilvânia, dezembro de 1976.

NOTA: Leopoldo Montoya pôs em ordem cronológica, e em ordem histórico-cronológica, as fichas bibliográficas que preparei desde a publicação da edição anterior desta obra; ele introduziu subdivisões temáticas em muitas bibliografias e verificou a correção de nume­ rosos títulos e datas de obras. Sugeriu também que se seguissem as duas importantes regras expressas nas seções l e 2 das "Advertências para o uso das bibliografias", tendo redi­ gido, para isso, essas seções.

ADVERTÊNCIAS PARA O USO DESTA OBRA

1.

A posição do verbete no alfabeto é determinada pela primeira palavra do verbete, quando há mais de uma palavra. Assim, por exemplo, A PRIORI precede ADEQUADO. Em verbetes nos quais a primeira palavra é a mesma, a posição no alfabeto é determinada pela palavra seguinte. Assim, A PRIORI precede A SE. Os hífens contam como espaços em branco. Por conseguinte, em verbetes nos quais figura uma palavra com hífen, a posição no alfabeto é determinada pela expressão que figura antes do hífen. Para facilitar a consulta de certos verbetes cujos nomes costumam ser escritos com hífen, dupli­ cou-se a letra. Assim, CO-REFERÊNCIA e NEO-RACIONALISMO figuram como CORREFERÊNCIA e NEORRA­ CIONALISMO. No corpo dos verbetes correspondentes, no entanto, conservou-se amiúde o hífen.

2.

Os nomes de autores em que figuram partículas como 'de', 'del', 'von', 'van' etc. se acham no lugar que corresponde à letra inicial do sobrenome depois da partícula. Nos autores antigos ou medievais em que partículas como 'de' figuram depois do nome de batismo, este nome figura como nome inicial (ver 3). Os nomes que contêm trema (ã, õ, ü) são ordenados alfabeticamente sem levar em conta este último. Assim, por exemplo, BôHM precede BOHR e HÃBERLIN precede HABERMAS.

3. Os nomes de autores medievais, e de alguns do século XV, figuram geralmente na letra que corresponde a seu nome de batismo (Adelardo de Bath; Domingos Gundisalvo; Guilherme de Champeaux; Guilherme de Ockham; João Gerson; Pedro Lombardo; Roberto Kilwardby etc.). Não obstante, há algumas exceções (Abelardo [Pedro]; Bacon [Rogério]; Duns Scot [John]; Scot Erígena [John]; Lúlio [Ramon] etc.), casos em que nos ativemos a critérios muito disseminados pelo menos em textos de língua espanhola. Em alguns casos, o crité­ rio adotado é flutuante (assim, Marlini [João]; Swineshead [Ricardo], mas Tomás Bradwar­ dine); isso se baseia em usos anteriores já bastante arraigados. Para evitar perplexidades na localização desses nomes, introduzimos indicações nos lugares em que alguns leitores poderiam esperar encontrar o verbete correspondente. Algumas indicações desse tipo foram introduzidas também para certos nomes de autores fora da época citada. Os nomes de autores canonizados figuram no lugar habitual (Boaventura [São]; Tomás de Aquino [Santo] etc.; observemos, todavia, Moro [Santo Tomás]).

Advertências para o uso desta obra

XVI

4. Exceto em casos nos quais, sob a aparência de rigor, se teria caído no pedantismo, levou-se em conta a distinção entre o uso e a menção dos sinais. Ativemo-nos, pois, na maioria dos casos, ao artificio indicado no verbete MENÇÃO. Não se empregaram aspas simples ao se mencionarem expressões em língua não-espanhola. Sua impressão em itálico ou em alfabeto distinto do latino é suficiente para indicar que essas expressões são usadas, sobretudo quando anunciadas por 'O termo .. .', 'A voz...', 'A palavra .. .' e locuções similares. 5. Para a leitura dos sinais lógicos, ver o verbete NOTAÇÃO SIMBÓLICA. Informações comple­ mentares a esse respeito se encontram em outros verbetes como: ÁRVORE; CLASSE; CONECT1vo; QUANTIFICAÇÃO, QUANTIFICACIONAL; QUANTIFICADOR; DESCRIÇÕES ( TEORIA DAS) ; FUNÇÃO; IDENTI­ DADE; LETRA; MODALIDADE; PARÊNTESES; PROPOSIÇÃO; SILOGISMO. 6. Para as transcrições de nomes árabes, hebraicos, sânscritos e chineses, usaram-se as regras mais comuns em português. Na transcrição de nomes russos, seguimos normas facilmente reconhecíveis pelas pessoas familiarizadas com o idioma. Na grande maioria dos casos, os nomes gregos não foram transcritos. Nas poucas ocasiões em que nos afastamos dessa norma, poder-se-ão reconhecer facilmente os caracteres gregos dos quais procede a transcri­ ção, mas advertimos que 'x', foi transcrito por 'eh' 7. Usaram-se iniciais minúsculas em termos abstratos que designam ramos do saber (fisica, biologia etc.), disciplinas filosóficas (ética, lógica etc.), atividades humanas ou setores da realidade (cultura, ciência, vida etc.). Entretanto, usou-se inicial maiúscula em 'Natureza', quando esta designa a realidade natural, para distingui-la de 'natureza', empregada para referir-se à forma ou à índole de um ser; em 'História', quando designa a ciência histórica, para distingui-la de 'história', referente à realidade histórica; em 'Direito', quando designa a ciência do Direito, para distingui-lo de 'direito', usado em contextos como 'o direito de fazer algo'; em 'Estado', quando designa certa organização social humana, para distingui-lo de 'estado', utilizado em contextos como 'o estado da questão' Também se usaram iniciais maiúsculas nos casos em que o termo correspondente desempenha um papel especial ou fundamental num sistema (a Idéia em Hegel, a Vontade em Schopenhauer etc.) ou nos quais se desejam ressaltar certos conceitos (Absoluto, Causa primeira etc.). 8. Transcreveram-se os nomes de autores gregos e latinos de acordo com as normas habituais. Em muitos casos, os nomes originais latinos foram indicados em seguida. Transcreveram-se igualmente os nomes latinos de autores medievais, embora se tenham indicado quase sempre na seqüência os nomes originais latinos e, na maioria dos casos, os nomes (com freqüência muito variados) de origem "nacional". Esses autores aparecem na ordem indicada no item 1. Quando se tratava de um nome russo muito conhecido em português sob uma transcrição determinada, adotamos esta última sem prejuízo de acrescentar em seguida nossa própria transcrição. Para os nomes de autores chineses, seguiram-se as normas usuais; às vezes, foram latinizados (como, por exemplo, em Mêncio ), embora indicando-se depois, neste caso, a transcrição portuguesa da expressão original chinesa; às vezes se empregou diretamente a transcrição portuguesa (como em Chuang Tsé). Quando o nome chinês cons­ ta de três partículas, a primeira (que designa o nome de família ou sobrenome principal) é escrita separadamente das outras duas. Estas duas últimas estão ligadas por um hífen, usando-se para a inicial da primeira uma letra maiúscula e para a inicial da segunda uma letra minúscula.

XVII

Advertências para o uso desta obra

9. Em sua maioria as abreviaturas usadas nesta obra podem ser lidas sem dificuldade (assim, 'vol.' ['volume']; 't.' ['tomo']; 'p.' e 'pp.' ['página' e 'páginas']; 'nasc.' ['nascido em' ou 'nasceu em']; 'cad.' ['caderno']; 'op. cit.' ['obra opus 'citada']; 'cf.' ['conferir'] etc.). Não obstante, indicamos em seguida a leitura de algumas abreviaturas que podem apresentar dificuldades. 'ca.' - lê-se circa ('aproximadamente', 'em tomo de'). 'jl.' - lê-se jloruit. Designa a data ou as datas em que se supõe que determinado autor tenha "florescido" ou tido sua 'acmé' ou 'apogeu' 'jl.' só é usado quando se desconhecem as datas de nascimento ou de falecimento de um autor, mas se possuem sobre ele, em con­ trapartida, informações cronológicas habitualmente mais completas que simplesmente o século ao qual - ou os séculos aos quais - pertence. 'rev.' - lê-se 'revisto' ou 'revista' 'aum.' - lê-se 'aumentado' ou 'aumentada' 'N. S.' - lê-se 'Nova série' (ou Nueva Serie, Nouvelle série, New Series etc.). 'N. F.' - lê-se Neue Folge (Nova série). 'Proc.' - lê-se Proceedings. 'PL' - lê-se Patrologia latina (da série Patrologia latina, de Migne; ver PATRÍSTICA). 'PG' - lê-se Patrologia graeca (da série Patrologia graeca, de Migne; ver PATRÍSTICA). 'ed.' lê-se edidit.; 'ed.' - lê-se 'edição', 'editor', 'editado por' etc. Advertimos que usamos 'editado por' (ou seus equivalentes) no sentido de 'edição aos cuidados de' ou 'edição dirigida por' e que se deve distinguir 'editado por' de 'publicado por' Esta última expressão é reservada exclusivamente à pessoa, empresa ou instituição que teve a seu cargo a impressão material e a distribuição comercial da obra. O duplo ponto(••) no começo e no final de um texto indica que o fragmento ou verbete foi acrescentado na nova edição atualizada de 1994. Os colchetes que se encontrarão em certos nomes que dão título ao verbete respectivo como, por exemplo, AUSTIN (1[0HN] L[ANGSHAw]) - têm por finalidade esclarecer esses nomes, mas salvaguardando a forma como o autor assina seus livros. Para a leitura completa de 'Diels-Kranz', 'Pauly-Wissowa', 'Prantl' e 'Ueberweg-Heinze', ver os verbetes PRÉ-SOCRÁTICOS, FILOSOFIA GREGA, PRANTL (KARL) e FILOSOFIA (HISTÓRIA DA). -

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10. Não se usaram abreviaturas (de revistas ou livros), exceto nos casos em que o título cor­ respondente foi mencionado algumas linhas antes ou em que se trata de obras muito co­ nhecidas que costumam ser citadas de acordo com normas universalmente aceitas na li­ teratura filosófica; por exemplo: Kr V (para Kritik der reinen Vernunft, ou Crítica da razão pura, de Kant); S. theol. (Summa theologica, de Santo Tomás); Met. (Metaphysica, de Aris­ tóteles); Soph. (Sophistes ou O Sofista, de Platão) etc. Quando no texto do verbete se men­ cionou alguma obra que não pertence ao grupo anterior com o título abreviado ou reduzido, a própria obra, com seu título completo, figura na bibliografia. De acordo com a norma habitual, usaram-se abreviaturas de títulos latinos para as obras de autores clássicos gregos, em particular Platão e Aristóteles. Para maiores informações sobre o assunto, ver os verbetes ARISTÓTELES e PLATÃO. 1 1.

As citações das obras em que há consenso com referência à paginação (Platão, Aristóteles, Kant etc.) seguem as normas habituais. O mesmo ocorre com as citações de obras em que há acordo sobre a divisão em livros, partes, capítulos, seções, tratados, artigos, parágrafos etc. (Plotino, Santo Agostinho, Santo Tomás etc.). Para outras obras, assinalam-se a data da primeira edição (ou de edições posteriores se houve mudanças) e o livro, capítulo ou

Advertências para o uso desta obra

XVIII

parágrafo correspondente, em alguns casos, ou o número ou números de página ou páginas, em outros. Em citações procedentes de edições críticas, indicaram-se em grande número de casos o nome ou nomes dos editores. Às vezes se indicam ao mesmo tempo o livro, capí­ tulo, seção etc. e o volume e página ou páginas procedentes de uma edição crítica (é o que ocorre, por exemplo, com a edição de Adam e Tannery para Descartes, com a edição de H. Glockner para Hegel, com a série das Husserliana para Husserl etc.). 12.

No corpo da maioria dos verbetes figuram remissões a outros verbetes; sua função é suplementar a informação que figura no verbete correspondente. No entanto, com o fim de não sobrecarregar a obra com remissões, não as introduzimos sempre que aparecem o nome de um autor, um conceito ou um tema a que se dedicaram verbetes, especialmente quando se trata de autores ou de conceitos ou temas acerca dos quais praticamente não há dúvidas de terem sido tratados nesta obra.

13.

Além das remissões no corpo dos verbetes, há remissões a nomes de autores, conceitos ou temas aos quais não se dedicaram verbetes, mas que são tratados no corpo de outros. Essas remissões figuram em parágrafos à parte entre verbetes ou entre outras remissões. Essas remissões, assim como as indicadas no parágrafo anterior, não podem ser tão comple­ tas como as que constariam num "Índice de autores" e num "Índice de temas" exaustivos, mas esperamos que o uso regular desta obra crie um hábito que permita ao leitor não menospre­ zar esses "Índices" De qualquer forma, sobre um autor, conceito ou tema, há sempre mais informações do que as que figuram nos verbetes correspondentes.

14.

No final da obra, há um "Quadro cronológico" As advertências para seu uso aparecem no começo deste mesmo "Quadro"

15.

Para o uso das bibliografias, ver as "Advertências" que vêm a seguir. Algumas das que cons­ tam desta série servem igualmente para a próxima.

ADVERTÊNCIAS PARA O USO DAS BIBLIOGRAFIAS

1.

Os verbetes sobre autores incluem uma bibliografia razoavelmente completa das obras do autor em ordem cronológica e uma bibliografia, também em ordem cronológica, de escri­ tos sobre o autor. Indicam-se também, quando os há, repertórios bibliográficos, índices, léxicos, comentários a obras determinadas e edições de obras selecionadas e completas, assim como edições críticas.

2.

Se não aparecem em seções, as bibliografias sobre conceitos ou temas estão ordenadas cronologicamente. Quando a bibliografia sobre um conceito ou tema o requeria, seja pela natureza do conceito ou do tema, seja pela amplitude da bibliografia, ela foi dividida em várias seções separadas por parágrafos e de acordo com subtemas. Há quase sempre uma divisão entre obras sistemáticas e obras históricas. As primeiras estão ordenadas cronologi­ camente dentro de cada parágrafo. As últimas estão ordenadas historicamente; assim, todas as obras sobre Platão precedem as obras sobre Aristóteles, Plotino, Santo Tomás, Descartes, Kant, Hegel etc.

3.

Em muitos verbetes sobre conceitos ou temas devem ser igualmente levados em conta os dados bibliográficos que possam figurar no corpo do verbete.

4.

Embora as bibliografias, tanto sobre autores como sobre conceitos ou temas, costumem ser extensas, foi necessário proceder a uma seleção. Como regra geral, a ênfase na seleção é maior no que se refere a trabalhos recentes do que no que diz respeito a trabalhos mais antigos.

5.

Com relação aos dados de publicação, devem ser levados em conta os seguintes pontos: A) Não se mencionaram os lugares de publicação e os nomes de empresas ou instituições responsáveis por ela, pois isso teria ampliado excessivamente as bibliografias. Em várias obras atuais, além disso, há mais de uma empresa ou instituição responsável pela publica­ ção, inclusive tendo sido a obra publicada simultaneamente em diversos lugares. Não se seguiu essa regra no que se refere a lugares de publicação quando, como ocorre no princípio da época moderna, esse dado pode ter um interesse histórico. B) Indicou-se a data de publicação da primeira edição e, quando existente, da última edição, entendendo-se por edição, neste último caso, toda publicação da obra que tenha sido

Advertências para o uso das bibliografias

XX

revista ou ampliada e não simplesmente reimpressa. Em vários casos indicaram-se datas de algumas edições intermediárias entre a primeira e a última. C) A data entre parênteses que figura às vezes depois da expressão 's.d.' é a data provável de publicação da obra correspondente. D) A prática seguida em edições anteriores deste DICIONÁRIO de indicar as séries a que pertencem muitas das obras citadas foi suprimida nesta edição por razões análogas às indicadas no item A acima. Suprimiram-se, pois, as referências a séries como Corpus Platonicum Medii Aevi, Monographien zur Philosophischen Forschung, lnternational Encyclopedia of Unified Science, Que sais-je?, Zetemata, Janua linguarum, Phaenome­ nologica, Epimeleia, Biblioteca di filosofia, Acta Salmaticensia, Breviarios etc. Às razões mencionadas acrescenta-se a de que na época atual muitos nomes de séries são simplesmente rótulos de classificação de publicações em catálogos. Fez-se exceção a essa regra em alguns casos em que, tanto no que se refere à catalogação em bibliotecas como no que tange à prática acadêmica, as obras de que se trata são encontradas por referência à série e não ao título particular de um livro dado. Isso ocorre, por exemplo, nos Kant-Studien (Ergãnzungshefte), University of California Publications in Philosophy, Goteborgs Hogskolas Ârskrift e, em alguns casos, nos Beitriige zur Philosophie (und Theologie) des Mittelalters. E) Nas datas de publicação de livros das últimas décadas, especialmente em primeiras edições, encontrar-se-á às vezes um ano de diferença em relação a datas mencionadas em outros repertórios. Isso se deve ao fato de que em vários casos há duas datas: uma de registro da obra e outra de publicação. 6. As menções a ensaios ou artigos em revistas, anuários etc. seguem a norma generalizada na prática acadêmica internacional de citar, nesta mesma ordem, o nome do autor, o título do trabalho em letra comum e entre aspas, o título da revista, anuário etc. em itálico, o número do volume ou tomo, se o houver, o ano de publicação (entre parênteses) e a paginação do trabalho. 7. Para obras coletivas, indicaram-se os nomes de dois ou mais autores seguidos da expressão et ai. (e outros) e, no final, o nome do editor ou dos editores no sentido de 'editor' ou 'editores' assinalado nas "Advertências para o uso desta obra" 8. Os títulos em línguas estrangeiras de obras de autores aos quais foram dedicados verbetes específicos foram traduzidos nesses verbetes e figuram (entre parênteses) depois dos títulos originais e das datas de publicação, exceto quando se trata de obras em francês, inglês, ita­ liano, português, catalão e latim, que se deixaram sem traduzir, ou exceto também quando, mesmo escritos em idiomas distintos dos mencionados, o original se parece muito com o que seria sua tradução. Os títulos em línguas estrangeiras sobre autores ou os que figuram nas bibliografias dos conceitos não foram traduzidos, salvo quando às vezes se desejou chamar a atenção do leitor para a existência de determinado título em algum idioma menos facilmen­ te acessível que outros (polonês, russo, japonês, sueco, holandês, grego moderno etc.). 9. Quando há tradução portuguesa de uma obra tanto de autores como sobre autores e con­ ceitos, esta foi expressamente indicada depois do título original. 10. Algumas das advertências que constam nas "Advertências para o uso desta obra" servem igualmente para esta série relativa à bibliografia.

A. A letra maiúscula 'A' tem vários usos em textos filosóficos. 1) Aristóteles emprega-a muitas vezes (por exem­ plo, em Analytica Priora) para representar o predica­ do de uma proposição em fórmulas como 'A B , que se lê 'A é predicado de B ' Ao apresentar os silogis­ mos categóricos, a letra 'A 'faz parte do condicional:

3) Em muitos textos usa-se a letra 'A' como um dos termos componentes da fórmula que expressa o chama­ do "princípio de identidade". Na maioria dos textos clás­ sicos esse princípio é expresso pela fórmula:

'

Se A é predicado de todo B, que constitui a premissa maior do silogismo em modo Barbara (vER) e na literatura lógica posterior se apre­ senta de diversas formas, em algumas das quais se ex­ prime a estrutura condicional dessa premissa, como em:

É freqüente (ver IDENTIDADE) interpretar 'A' na fórmula (!) como representando um obj eto qualquer. Neste caso, (1) equivale a uma das chamadas not oi nes communes, Kotval evvo1a1, especificamente a que anuncia: 'Toda coisa é igual a si mesma' A lógica atual expressa (1) mediante as fórmulas: p--? p, pHp,

Se todo B é A e outras nas quais (erroneamente) ela é omitida, como em: Todo B é A . 2) O s escolásticos e todos o s tratadistas lógicos posteriores usaram a letra 'A '(primeira vogal do ter­ mo a ffirmo) para simbolizar a proposição universal afirmativa (a ffirmatio universalis), que tem como um de seus exemplos o enunciado:

Todos os homens são mortais. Em textos escolásticos encontra-se com freqüência o exemplo dado por Boécio: Omnis homo iustus est. E em grande quantidade de textos lógicos a letra 'A' substitui o esquema 'Todo S é P' , sobretudo quan­ do se introduz o chamado "quadro de oposição" (vER). Nos textos escolásticos diz-se de A que asserit uni­ versaliter ou generaliter (afirma universalmente, ou geralmente). Também se usa a letra 'A 'para simbolizar as proposições modais em modus afirmativo e dictum negativo (ver MODAL), isto é, as proposições do tipo: É necessário que p, na qual 'p' representa um enunciado declarativo.

( ! ).

A =A

se a identidade se refere à lei ou ao princípio de iden­ tidade apresentado na lógica sentenciai, ou mediante a fórmula: /\

x

(x

)

= x ,

se a identidade se refere à lei de reflexividade repre­ sentada na lógica da identidade. A fórmula (1) é a mesma que se usa na lógica atual para expressar a lei de identidade na lógica das classes, em vista do uso de 'A 'para representar uma classe (cf. infra, seção 5). 4) A letra 'A 'foi usada por vários idealistas ale­ mães, especialmente Fichte e Schelling, nas fórmulas que servem de base para suas especulações sobre a identidade de sujeito e objeto. Às vezes, Fichte usa 'A = A ' como se fosse um condicional, interpretando-o assim: ' Se A existe, A existe ' . Schelling usou a letra 'A ' acompanhada de outros sinais diversos. Mencionamos dois casos. a) Os sinais '+', ' - ' e '= ' antepostos ou sobre­ postos à letra. Exemplos disso são '-A ', que representa o ser em si, '+A' , que representa o ser fora de si, e '=A ' , que representa o ser consigo mesmo, ou, como diz Schelling, o suj eito-objeto ou totalidade. Outro exemplo é a fórmula:

A,AB,AD

2 +

+

A = B

A = B A=A

que é, segundo esse filósofo, a forma do ser da abso­ luta identidade. Nesta fórmula, '+' se lê 'o predomí­ nio de um sobre o outro' (Darstellung meines Systems der Philosophie, 1 80 1 ). b) Os expoentes acrescentados a 'A' , tal como em 'A1' , 'A2', 'A3' , que representam, no vocabulário de Schelling, potências de A . Assim, esse filósofo usa fór­ mulas como 'A = A1' , 'A = A2' , 'A = A3' . Referimo-nos a este uso no verbete POTÊNCIA. 5) A letra 'A' é usada em muitos textos lógicos co­ mo símbolo de uma classe (VER) e constitui então uma abreviatura dos chamados "abstratos simples". Às vezes, emprega-se essa letra em minúscula, 'a', com o mesmo propósito. Além de 'A' ou 'a' usam-se igualmente como símbolos de classes 'B ' ou 'b' , 'C' ou 'e' 6) Jan Lukasiewicz usa 'A' para representar o conec­ tivo 'ou' ou disjunção (vER) exclusiva, que simboliza­ mos por 'v' 'A' antepõe-se às fórmulas, de modo que 'p v q ' se escreve na notação de Lukasiewicz 'A p q' O mesmo autor usa às vezes 'A' como uma das cons­ tantes da lógica quantificacional (além de 'E ', 'I', 'O ') . Com a letra 'A', forma-se a função expressa mediante 'Aab', que se lê 'Todo a é b 'ou 'b pertence a todo a' 7) Jean de la Harpe usa 'A' como sinal de asser­ ção (VER). A, AB, AD. As preposições latinas a. ab (= a antes de vogal) e ad figuram em numerosas locuções latinas usadas na literatura filosófica, principalmente escolás­ tica, em língua latina, mas também em outras línguas; algumas dessas locuções, de resto - como a priori, a posteriori, ad hominem -, são de uso corrente. A seguir oferecemos uma lista de várias dessas locuções, seguindo a ordem alfabética. Em alguns casos traduzimos ou parafraseamos a locução ou assi­ nalamos cm que contexto ou contextos é usada ou pode ser usada. Em outros, remetemos aos verbetes que fo­ ram dedicados a locuções determinadas ou aos verbe­ tes em que algumas locuções foram introduzidas ou usadas. A contrario - A pari. Essas duas locuções foram usadas originalmente na linguagem juridica para indicar que um argumento usado com respeito a determinada espécie é aplicável a outra espécie do mesmo gênero. No argumento a contrario procede-se por divisão; no a pari por identificação. Da esfera juridica essas expres­ sões foram levadas para outras disciplinas. O raciocinio a contrario foi definido como o que procede de uma oposição encontrada numa hipótese a uma oposição nas conseqüências dessa hipótese. O raciocínio a pari foi definido como o que passa de um caso (ou de um tipo de caso) a outro.

A dieta secundum quid ad dictum simpliciter [ou "de uma afirmação relativa para uma afirmação abso­ luta": Tiapà To àTIÀwç µi] Kvp1ws]. Esta locução se refere a um raciocínio que consiste em afirmar que, se um predicado pertence a um sujeito sob algum aspecto ou de modo relativo, ele lhe pertence em todos os aspectos ou de modo absoluto (se S é P em relação a algo, S é sempre e em todos os casos P). O raciocí­ nio em questão é um sofisma (vER) chamado "sofisma por acidente" Para indicar que esse raciocínio não é válido, usa-se a fórmula A dieta secundum quid ad dictum simpliciter non valet consequentia. A digniori (ver infra). A fortiori (vER). A non esse etc. (ver infra). A pari (ver supra). A parte ante, a parte post (vER). A parte mentis (ver infra). A parte rei (vER). Enquanto a parte rei indica "segundo a própria coisa'', a parte mentis indica "se­ gundo a mente" ou "segundo o entendimento" (secun­ dum intellectum). A parte rei e a parte mentis são formas de distinção (vER). Em vez de a parte rei, diz­ se também ex natura rei [distinctio ex natura rei] . A perfectiori (ver infra). A posteriori (ver A PRIORI). A potiori - A digniori - A perfectiori. A definição de uma coisa a potiori é a que se efetua levando em conta o melhor [o mais digno; o perfeito] que há na coisa definida. A priori (vER). A quo - Ad quem. Ao falar do movimento (vER) como movimento local, a locução a quo é usada para indicar o ponto de partida, e a locução ad quem para indicar o ponto de chegada do movimento de um móbil. A quo e ad quem podem também se referir a um raciocínio em que indicam respectivamente o ponto de partida e o fim ou a conclusão. A se (VER). A simultaneo (ver DEUs; ONTOLÓGICA [PROVA]). Ab absurdo - Ab absurdis. Estas locuções são usadas para indicar que uma proposição parte de algo absurdo ou de coisas absurdas. Ab alio (ver A SE). Ab esse ad posse. Na teoria das conseqüências (ver CONSEQÜÊNCIA) modais, usou-se uma série de locuções por meio das quais se indica se uma conseqüência é ou não válida. Eis algumas: Ab esse ad posse valet [tenet} consequentia [iliatio} e também Ab ilia de inesse (vER) valet [tenet} ilia de possibili. Pode-se concluir da realidade a possibilidade, isto é, se X é real, então X é possível. Ab oportere ad esse valet [tenet} consequentia [illatio]. Pode-se concluir da necessidade a realidade, isto é, se X é necessário, então X é real.

3

Ab oportere ad posse valet [tenet] consequentia [illatio]. Pode-se concluir da necessidade a possibili­ dade, isto é, se X é necessário, então X é possível. A non posse ad non esse valet [tenet] consequentia [illatio]. Pode-se concluir da impossibilidade a não­ -realidade, isto é, se X é impossível, então X não é real. Podem ser formuladas outras conseqüências mo­ dais do tipo anterior, cada uma das quais corresponde a um teorema da lógica modal. Ab universali ad particularem. Esta locução se refere ao raciocínio em que se passa de uma propo­ sição universal (como 'todo S é P') a uma proposição particular (como 'alguns S são P'). O raciocínio é válido, o que se expressa mediante a locução Ab uni­ versali ad particularem valet [tenet] consequentia [illatio]. Também é válido o raciocínio que passa de uma proposição particular a uma infinita[indefinida] ou uma singular; a fórmula completa reza: Ab univer­ sali ad particularem, sive infinitam sive singularem valet [tenet] consequentia [illatio]. Não é válida, em contrapartida, a passagem de uma proposição particu­ lar a uma universal, o que se expressa por: A parti­ culari ad universalem non valet [tenet] consequentia [illatio]. Ab uno disce omnes. A partir de um, conhecem­ -se os outros. Esta locução, usada originalmente refe­ rindo-se a pessoas (e especialmente a uma pessoa de um grupo, representativa do grupo), pode ser usada de forma mais ampla para indicar que a partir de um exemplo é possível conhecer todos os outros exemplos (ao menos da mesma classe); que a partir de uma en­ tidade se podem conhecer todas as outras entidades (ao menos da mesma classe). Ad absurdum (ver ABSURDO). Ad aliquid. Esta locução equivale a 'relativo a', 'relativamente a' e se refere ao ser relativo, õv rrpos TI (ver RELAÇÃO). Usa-se de várias formas, entre as quais mencionamos as seguintes: Ad aliquid ratione alterius (= secundum aliquid). O que tem relação com algo segundo outra coisa. Ad aliquid secundum se. O que tem relação com algo segundo seu próprio ser[= modo de ser essencial]. Ad aliquid secundum rationem tantum. O que tem relação com algo segundo a mente ou segundo o en­ tendimento. Ad aliquid secundum rem. O que tem relação com algo segundo a própria coisa. Ad extra - Ad intra. Ad extra refere-se a um mo­ vimento transitivo ou transcendente; ad intra, a um movimento imanente (ver EM ANAÇÃO; IMANÊNCIA; TRANSCENDÊNCIA). Ad hoc (VER). Ad hominem (vER).

A

FORTIORI

Ad humanitatem. Um argumento ad humanitatem é aquele que se supõe válido para todos os homens sem exceção. Ele é considerado, às vezes, um argumento que vai além de todo indivíduo particular e, enquanto tal, um argumento ad rem, isto é, segundo a própria coisa considerada. Ad ignorantiam (vER). Ad impossibile (ver ABSURDO). Ad intra (ver supra: Ad extra). Ad judicium (vER). Ad personam. Um argumento ad personam é, na verdade, um argumento contra determinada pessoa, fundando-se em suas efetivas ou supostas fraquezas. Ad quem (ver supra: A quo). Ad rem (ver supra: Ad humanitatem). Ad valorem. Pode ser denominado ad valorem um argumento que se funda no valor da coisa ou das coisas consideradas ou defendidas. Ad verecundiam (VER). A FORTIORI. A expressão a fortiori é definida de vários modos, que podem ser reduzidos a dois. 1 ) Diz-se que u m raciocínio é a fortiori quando contém certos enunciados que, segundo se supõe, reforçam a verdade da proposição que se tenta demonstrar, de tal maneira que se diz que essa proposição é a fortiori verdadeira. O a fortiori representa o tanto mais que com que se exprime gramaticalmente o fato de que a uma parte do que se alega como prova vem acrescen­ tar-se a outra parte, corroborando o afirmado. Usa-se com freqüência este tipo de raciocínio quando se quer anular toda objeção possível (e considerada verossí­ mil) contra o anunciado. Um exemplo de raciocínio a fortiori nesse sentido é: "Lope de Vega é um poeta, tanto mais que nas passagens de sua obra em que não pretendia exprimir-se poeticamente empregou uma lin­ guagem predominantemente lírica" 2) Argumento a fortiori é também o nome dado a um raciocínio em que se usam adjetivos comparativos tais como "maior que", "menor que" etc., de tal modo que se passa de uma proposição à outra em virtude do caráter transitivo desses adj etivos. Um exemplo de argumento afortiori nesse sentido é: "Como João é mais velho que Pedro, e Pedro é mais velho que Antônio, João é mais velho que Antônio''. Na lógica clássica considera-se às vezes esse argumento uma das formas do silogismo chamado entimema (vER). Mas, como os adjetivos comparativos citados exprimem na maioria das vezes relações, daí decorre que o estudo do argumento a fortiori pode ser realizado dentro da lógica atual na teoria das relações (ver RELAÇÃO). O sentido 1) é predominantemente retórico; o 2), lógico. Este último sentido foi examinado por Arthur N. Prior ("Argument a fortion"', Analysis, 9 [ 1 948- 1 949], 49-50). Prior indica que, embora um argumento como

A PARTE ANTE, A PARTE POST "Tudo o que é maior que algo maior que C é maior que C" seja um modo de dizer "Os argumentos afortiori são válidos'', pode-se efetuar a redução requerida sem inserir nenhuma premissa e limitando-se a reformular as premis­ sas dadas. Aplicada ao caso anterior, a reformulação tem o seguinte resultado: "Todo o tamanho que B tem é tamanho que A tem, e A tem algo de tamanho que B não tem; Todo o tamanho que C tem é tamanho que B tem, e B tem algo de tamanho que C não tem; Portanto, todo o tamanho que C tem é tamanho que A tem, e A tem algo de tamanho que C não tem" A PARTE ANTE, A PARTE POST. Na literatura

escolástica distingue-se a expressão a parte ante de a parte post. Por exemplo, diz-se que a alma existiu a parte ante (a parte ante perpetua), se seu ser é ante­ rior ao corpo, e a parte post (a parte post perpetua), se não antecede o corpo, mas antes começa com este. Em ambos os casos se supõe, entretanto, que a alma permanece depois da dissolução do corpo (post dis­ solutionem a corpore maneai, durei post perpetuo a corpore separata). A PARTE REI. Os escolásticos usam a expressão a parte rei para significar que algo é segundo a própria coisa, isto é, segundo a natureza da coisa ou, de ma­ neira mais simples, segundo ela mesma. Por exemplo, pode-se perguntar se as coisas naturais são a parte rei ou se resultam tão-somente da operação do entendi­ mento. Por conseguinte, o ser a parte rei opõe-se ao ser secundum intellectum. A POSTERIORI. Ver A PRIORI. A PRIORI. Em Met. /}. 1 1 , 1 0 1 8b 30-35, Aristóteles

fala do anterior, rrpÓTepov, e do posterior, ÜCJTepov, e afirma que o anterior segundo a razão, KaTà Tov Myov, se distingue do anterior segundo a sensação, KaTà n']v a'ía8T]mv. Segundo a razão, o anterior é o universal; segundo a sensação, o individual. Disso pode­ -se depreender que segundo a razão o individual é pos­ terior, ao passo que segundo a sensação o universal é posterior. Em An. post. l,2, 7 1 b 30-72 a 9, Aristóteles distingue o anterior por natureza, cpúoe1, e o anterior com respeito a nós, rrpàs J͵ãç, assim como entre o que é mais conhecido por natureza e o que é mais co­ nhecido por nós. Os objetos mais próximos da sensação - os objetos sensíveis - são anteriores e mais conhe­ cidos por nós. As coisas mais afastadas dos sentidos, em contrapartida, são anteriores e conhecidas de modo "abso­ luto" (prévio a todo conhecer). Essas distinções aristoté­ licas encontram-se na base de grande número de distin­ ções similares entre vários filósofos medievais, ao tratar de que coisas são anteriores, priora, ou posteriores, pos­ teriora, seja na ordem da realidade, seja na do conheci­ mento. No que diz respeito a esta última, Alfarabi,

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Averróis e outros filósofos árabes seguiram a distinção aristotélica entre o "saber que", 0T1, e o "saber por quê", ÔIÓT1. Este último é um conhecimento de causas; o pri­ meiro, de efeitos. O saber por que ou que parte de causas, propter quid, é anterior, porque vai da causa ao efeito: é um conhecimento a priori. O saber que ou que parte de efeitos, quia, é posterior, porque vai do efeito à causa: é um conhecimento a posteriori. As expressões a priori e a posteriori são atribuídas a Alberto da Saxônia, mas se encontram igualmente em Santo Tomás e em Guilherme de Ockham. Contudo, a definição formal dos dois tipos de demonstratio - a priori e a posteriori - procede de Alberto da Saxônia (Prantl, IY, 78; comentário de Alberto a An. post. : ln An. Post. 1, q. 9): a demonstratio ex causis ad effectum (prova que vai das causas ao efeito) é chama­ da demonstratio a priori e demonstratio propter quid, enquanto a demonstratio ab effectibus ad causas (prova que vai dos efeitos às causas) é denominada demonstratio a posteriori e demonstratio quia. Esse uso terminoló­ gico persiste em escolásticos posteriores, assim como em autores como Zabarella, Descartes e Leibniz. A transição entre esse modo de entender a distinção entre a priori e a posteriori e as disputas sobre a natureza e a origem do conhecimento humano na época moderna clássica não é brusca. Com Descartes, Leibniz e Locke, a atenção se volta para o papel desempenhado pela ra­ zão e pela experiência no conhecimento. Na medida em que o conhecimento pela razão é um conhecimento se­ gundo princípios que se apreendem clara e distintamen­ te, é um conhecimento a priori. O conhecimento por experiência é, em contrapartida, conhecimento a pos­ teriori. Para os empiristas o conhecimento a posteriori é um conhecimento anterior, no sentido de que é prévio ao conhecimento de causas e de princípios de todo tipo. Para os racionalistas o conhecimento a priori é anterior, por não ser simplesmente derivável da experiência ou dos sentidos. Nesse sentido a linha que separa raciona­ lismo e empirismo não é, contudo, perfeitamente clara. É possível admitir que os conhecimentos são adquiridos a posteriori ou por experiência e ao mesmo tempo man­ ter que só podem justificar-se a priori ou mediante a razão. Os autores modernos em que se percebe com mais clareza a distinção entre a priori e a posteriori, antes de Kant, são Hume e Leibniz, que diferem radical­ mente num aspecto e coincidem em outro. É preciso levar em conta para isso outra distinção introduzida por esses autores: a proposta por Hume em Enquiry, IV, 1 , de "todos os objetos da razão ou da investigação humana" entre "relações de idéias" (Relations of ldeas) e "fatos" (Matters ofFact) e a estabelecida por Leibniz entre ver­ dades de razão e verdades de fato (ver VERDADES DE RAZÃO, VERDADES DE FAlD) . Trata-se de duas distinções semelhantes à estabelecida entre enunciados analíticos e sintéticos (ver ANALÍTICO E SINTÉTICO) . Para Hume, as

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relações de idéias são, como os enunciados analíticos, a priori, isto é, não procedem da experiência. Por outro lado, não proporcionam nenhuma informação sobre a realidade. São descobertas pela "mera operação do pen­ samento" e podem ser comparadas a regras de lingua­ gem. Para Leibniz, as verdades de razão são eternas, ne­ cessárias, inatas e a priori, ao contrário das verdades de fato, que são empíricas e contingentes: "A razão - es­ creve Leibniz - é a verdade conhecida cujo enlace com outra verdade menos conhecida leva-nos a dar nosso assentimento à última. Mas de modo particular, e por excelência, é chamada de razão se é a causa não apenas de nosso julgamento, mas também da própria verdade que se chama igualmente razão a priori, e a causa nas coisas corresponde à razão nas verdades" (Théodicée, IV, xvii, !). As verdades a priori não se acham, contu­ do, sempre presentes na mente; são as verdades que devem ser reconhecidas como evidentes quando se apre­ sentam, como diria Descartes, a "um espírito atento" No sentido kantiano (cf. infra) de 'sintético', os enuncia­ dos a priori não são sintéticos, nem em Hume nem em Leibniz. Em nenhum caso os predicados nesses enun­ ciados são contingentes ou exprimem fatos contingentes. Nisto, Hume e Leibniz coincidem. Diferem, em con­ trapartida, no seguinte: enquanto para Hume os enuncia­ dos a priori são tautologias, para Leibniz são verdades eternas. Se as verdades eternas estão "na mente", parecerá haver estreita relação entre o sentido de a priori em Leibniz e em Kant. E os autores que insistiram no caráter "leibniziano" da epistemologia de Kant enfati­ zaram essa relação. Não obstante, há diferenças básicas entre o a priori leibniziano e o kantiano. A noção de a priori em Kant representa uma nova fase na história deste conceito, a tal ponto que é comum referir-se sem maiores preâmbulos a Kant quando se fala dele. Para Kant, os conceitos e os juízos a priori têm de ser pensados com caráter de necessidade absoluta. Isso não quer dizer que eles sejam puramente formais. Se assim fosse, seria preciso desistir de pretender enun­ ciar proposições universais e necessárias relativas a fe­ nômenos naturais. Não significa tampouco que sejam verdades eternas no sentido de Leibniz, verdades acer­ ca da realidade tal como ela é em si mesma. Toda me­ tafisica baseada em puros conceitos de razão a priori transcende a experiência possível e resulta de uma pura especulação racional, na qual não há nenhum elemen­ to empírico. Kant considera o conceito de a priori em relação com o problema da dependência da experiên­ cia. O conhecimento a priori é independente da expe­ riência, ao contrário do conhecimento a posteriori, que tem origem na experiência (Kr V 8 2). A indepen­ dência da experiência deve ser entendida de modo absoluto, não com referência a determinados aspectos

A PRIORI ou partes da experiência. Os modos de conhecimento a priori são puros quando não há neles nenhuma mes­ cla de elementos empíricos (op. cit. , 8 3). "Toda mu­ dança tem uma causa" não é para Kant uma proposi­ ção absolutamente a priori, porque a noção de mu­ dança procede da experiência. Por outro lado, a noção de causa é um elemento a priori que penetra em nosso conhecimento e sem o qual não se poderiam formular enunciados universais e necessários de caráter causal como os que se formulam na ciência da Natureza. A rigor, falar de "conhecimento a priori" é impró­ prio. O conhecimento não é a priori, nem há partes do conhecimento que sejam a priori. O que é a priori é antes o que toma possível o conhecimento. Por isso, o conceito kantiano de a priori não é nem metafisico nem psicológico, mas epistemológico (ou "transcen­ dental"). O problema de que Kant se ocupa na Crítica da razão pura não é o da origem do conhecimento ( co­ mo em Locke ou em Hume), mas o de sua validade, ou validação (ou justificação). Depois de introduzir as noções de a priori e a posteriori, Kant introduz uma distinção entre juízos analíticos e sintéticos (ver ANALÍTICO E SINTÉTICO). Todos os juízos a posteriori são sintéticos. Por diversas razões, avaliara-se que os juízos a priori são analíticos. Mas se todos os juízos sintéticos fossem a posteriori não haveria possibilidade de um conhecimento univer­ sal e necessário. Esse tipo de conhecimento requer, se­ gundo Kant, a existência de juízos sintéticos a priori. Portanto, o a priori não é sempre e unicamente analí­ tico. Se assim fosse, nenhum conhecimento relativo à Natureza poderia constituir-se em ciência. Nem mesmo o senso comum pode prescindir de modos de conheci­ mento a priori. Perguntar se há juízos sintéticos a priori na matemática e na ciência da Natureza (fisica) equivale a perguntar se essas ciências são possíveis, e como o são. A resposta de Kant é afirmativa em am­ bos os casos, mas isso se deve ao fato de que o a priori não se refere às coisas em si (ver COISA EM SI), mas às aparências (ver APARÉNCIA). Os elementos a priori condicionam a possibilidade de proposições univer­ sais e necessárias. Em contrapartida, não há na meta­ fisica juízos sintéticos a priori porque o a priori não se aplica aos noumena (ver NúMENO). Kant trata na Crítica da razão pura (na qual elaborou com mais de­ talhes a idéia da aprioridade) das formas a priori da in­ tuição (espaço e tempo) e dos conceitos a priori do entendimento ou categorias. Mikel Dufrenne (cf. op. cit., infra, pp. l l ss.) in­ dicou que se podem distinguir dois grupos de proble­ mas relativos à concepção kantiana do a priori. Por um lado, problemas relativos à natureza do sujeito en­ quanto "portador" do a priori. O a priori funda a obje­ tividade na medida em que um suj eito constituinte

A

PRIORI

(ver CONSTITUIÇÃO, CONSTITUTIVO) possibilita a experiên­ cia. Mas há aqui, a rigor, dois elementos: uma condição surgida da natureza subjetiva e uma condição formal da experiência como tal. Se se acentua o primeiro ele­ mento, tende-se a uma concepção psicológica do su­ jeito transcendental; se se enfatiza o segundo, a tendên­ cia é uma eliminação de todo suj eito como sujeito. Por outro lado, há problemas concernentes à relação entre sujeito e objeto. Essa relação é para Kant transcen­ dental (VER); não se trata de produção do ente, mas de determinação da objetividade do objeto (de sua cognos­ cibilidade enquanto objeto). Mas aqui se pode consi­ derar ou que o sujeito transcendental absorve o objeto em sua objetividade de modo total, de maneira que as condições do objeto são equivalentes às modificações do sujeito, ou que o obj eto absorve por inteiro o sujei­ to. Parece, de todo modo, que, admitindo-se que o a priori tem sua fonte num sujeito de conhecimento, é impossível evitar as questões ontológicas que Kant se propunha justamente evitar até ter desobstruído por completo o caminho para a metafisica mediante a filo­ sofia transcendental. A doutrina kantiana foi ao mesmo tempo critica­ da e elaborada pelos idealistas alemães pós-kantianos. Exemplo dessa dupla atitude é a de Hegel. Por um lado, Hegel aceita a concepção do a priori, na medida em que admite (ao menos ao expor a doutrina de Kant) que a universalidade e a necessidade devem ser encontra­ das a priori, isto é, na razão ( Vorlesungen über die Geschichte der Philosophie. Teil III, Abs. iii. B; Glo­ ckner, 1 9 : 557). Por outro lado, Hegel considera que as expressões a priori e ' sintetizar' usadas por Kant são vagas e até mesmo vazias (Logik, Buch I, Abs. II, Kap. ii. A. Anm. 1 ; Glockner, 4: 250). De modo surpreen­ dentemente semelhante ao modo pelo qual a noção de a priori foi elaborada pelos fenomenólogos, Hegel avalia que até a determinação do sentimento possui ele­ mentos (ou "momentos") a priori (toe. cit. ), esten­ dendo com isso a noção de aprioridade ao que não é exclusivamente intelectual. Entre as novas maneiras de considerar a noção de a priori que circularam no primeiro terço do século XX, destaca-se a de Husserl. Desde as Investigações lógicas (Investigação Quinta, § 45), Husserl distinguira intui­ ções sensíveis de intuições categoriais. A possibilidade de uma intuição categorial - e da "percepção catego­ rial" - equivale à possibilidade de apreender "mo­ mentos não-reais" Estes não são, contudo, estruturas puramente formais, vazias de todo conteúdo. Eles não têm, portanto, um conteúdo real ou, de todo modo, não têm um conteúdo sensível. Mas são objetos de intuição, logo, correlatos de um ato de apreensão. Trata-se de uni­ dades ideais de significação (ou de significações com formas categoriais). A intuição categorial é a priori,

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mas não por ser puramente "analítica'', e menos ainda meramente tautológica, nem tampouco por ser o resul­ tado da atividade de um sujeito transcendental. A intui­ ção de essências no sentido husserliano de 'essência' (VER) é uma intuição categorial a priori. O a priori não é simplesmente identificável com o puramente formal. Não é tampouco um conjunto de formas que moldam uma matéria sensível dada à experiência. O a priori é independente do real (sensível), na medida em que as significações podem não se "realizar"; ao mesmo tempo, no real (sensível), o a priori (a intuição categorial) pode encontrar sua "realização". Husserl fala de uma "percep­ ção do universal" (op. cit., § 52); "o vermelho, o triângulo da mera fantasia, é especificamente o mesmo que o ver­ melho, o triângulo da percepção". Não há diferença entre o conceito de algo real e o de algo não real (como de resto Kant já, ou também, o afirmara); as intuições a priori podem ser sintéticas (no sentido de ter um conteú­ do). Não é preciso que o conteúdo seja sensível. Há, como diz Husserl em ldeen (§ 1 6), verdades essenciais sinté­ ticas. Trata-se de verdades a priori que não são especi­ ficações de verdades ontológico-formais. O domínio do a priori inclui verdades formais e verdades "materiais" As materiais são as que correspondem a ontologias re­ gionais: abrangem axiomas regionais que definem siste­ mas de categorias regionais. Têm seu próprio fundamento ontológico; é um erro pensar que um axioma em sua on­ tologia regional é uma simples variável que, substituída por uma constante, dá lugar a um axioma em ontologia formal. Em suma, fica invalidada toda identificação entre o a posteriori, o empírico e o material, por um lado, e o a priori e o formal, por outro. Estas idéias de Husserl foram desenvolvidas na longa seção sobre "formalismo e apriorismo" que cons­ tituía o fundamento ontológico e metodológico da ética axiológica de Scheler (cf. Der Formalismus in der Ethik, Parte I, ii, Gesammelte Werke, 2, pp. 68- 1 30). "Desig­ namos como a priori - escreve Scheler - todas as uni­ dades ideais de significação e proposições que negli­ genciam todo tipo de posição [Setzung, possivelmente no sentido transcendental kantiano] dos sujeitos que as pensam e de sua constituição natural real, e que negli­ genciam todo tipo de posição de um objeto a que são aplicáveis, e que são dadas pelo conteúdo de uma in­ tuição imediata. " Como se negligencia toda "posição", prescinde-se de "posições" como o ser real, não-real, aparente, efetivo etc. Enganemo-nos ou não ao consi­ derar um ser vivente, em ambos os casos temos a essên­ cia intuitiva da "vida" O elemento a priori não é nenhu­ ma forma de proposição ou ato de julgar, como pensava Kant; pertence à esfera do "dado" Há, como afirma Scheler nessa e em outras obras, "fatos fenomenológi­ cos" (ver FATO) suscetíveis de ser apreendidos a priori. Esses fatos são fatos "puros", objeto de intuição essen-

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cial a priori e não de induções com base em observa­ ções. "Fica bem claro - prossegue Scheler - que o domínio do a priori-evidente nada tem a ver com o do 'formal ' e que a oposição 'a priori-a posteriori' nada tem a ver com a oposição 'formal-material'" Segundo Scheler, o domínio dos valores não resulta de uma apre­ ciação subjetiva nem de alguma imposição (subjetiva) a priori; é um conjunto de "fatos" de caráter peculiar, apreensíveis mediante "intuição emotiva" C. I. Lewis admite a necessidade do a priori (em virtude do fato de não haver conhecimento possível sem interpretação) e o proclama independente da experiên­ cia, "não porque prescreva uma forma que a experiência deva cumprir ou antecipe alguma harmonia preestabe­ lecida do dado com as categorias da mente, mas preci­ samente porque não prescreve nada ao conteúdo da ex­ periência" (Mind and the World Order, 1 929, p. 1 97). O a priori é verdadeiro não importando a que se refere. Todavia, segundo acrescenta Lewis, o a priori antecipa caracteres do real (sem o que careceria de toda simpli­ ficação), mas do real enquanto "categorialmente inter­ pretado" Isso tem três conseqüências. Primeiro: recu­ sa das concepções tradicionais - entre elas, a kantiana - do a priori. Segundo: caráter formal do conheci­ mento a priori. Terceiro: negação de que o mencionado caráter formal equivalha a ausência de significação. Os princípios a priori representam, de acordo com Lewis, "princípios de ordem" e "critérios do real" (op. cit., p. 23 1 ). Ao determinar as significações, a mente engendra um tipo de verdade sem o qual não haveria outra verda­ de possível. Os critérios últimos desse tipo de verdade são pragmáticos. A concepção do a priori de C. I. Lewis expressa seu "pragmatismo conceituai" Isso não equi­ vale a submeter o "formal" a uma decisão arbitrária, mas é o resultado do fato de que toda classificação cate­ gorial e interpretação do real são "nossa" classificação e "nossa" interpretação. Em suma: há diversos modos de entender a noção de a priori (e a noção correlata de a posteriori). É pos­ sível ligar o a priori ao analítico e ao necessário, e o a posteriori ao sintético e ao contingente. Pode-se con­ siderar então que todos os enunciados (juízos, verda­ des etc.) a priori são analíticos e necessários e que todos os enunciados (juízos, verdades etc.) a posteriori são sintéticos e contingentes. Isso se refere às vezes à estrutura dos enunciados correspondentes (juízos, proposições etc.), às vezes a seu status epistemológi­ co - isto é, ao fato de serem dependentes ou inde­ pendentes da experiência - e às vezes a ambas as coisas ao mesmo tempo. Leibniz e Hume se interes­ saram principalmente, ainda que por razões diversas, pela natureza dos enunciados a priori e a posteriori (ou, concomitantemente, pelas verdades de razão e pelas verdades de fato; pelas relações de idéias e pelos

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próprios fatos). Entretanto, o interesse pela natureza desses enunciados ligava-se igualmente ao problema de seu lugar, ou de sua origem, na mente humana. Kant mostrou especial interesse pela questão do a priori do ponto de vista epistemológico. Em todo caso, enquanto para Leibniz e Hume não podia haver enun­ ciados que fossem a um só tempo a priori e sintéticos, a noção de "sintético a priori" é básica para a funda­ mentação da matemática e da ciência natural em Kant, bem como para uma possível fundamentação da me­ tafisica. Para Husserl, cabe dissociar o a priori do não-empírico, em virtude das aprioridades "materiais" Na época contemporânea, os positivistas lógicos se­ guiram a tradição de Hume e acrescentaram a ela a equiparação da aprioridade ao caráter tautológico dos enunciados analíticos. Não tardaram a se manifestar, entretanto, opiniões muito diversas, quatro das quais menc10naremos: Por um lado, o interesse pelos chamados "esque­ mas conceituais" - de quadros específicos de concei­ tos a amplos paradigmas - na constituição do conhe­ cimento primeiro - e depois na validação de teorias - levou a considerar que os fatos estão "carregados de teoria" Se isso ocorre, pode-se recorrer novamente, mutatis mutandis, à noção kantiana de sintético a priori. Ao contrário de Kant, não se trata de um domínio trans­ cendental que conforma o material da experiência tendo em vista o conhecimento, mas simplesmente do fato de que a constituição de teorias e as mudanças de teorias não estão ligadas, como acreditava o empirismo tradi­ cional, a verificações estritas, e inclusive a falseamentos, de teorias por fatos. As teorias continuam aplicando-se aos fatos, mas não são admitidas, ou abandonadas, me­ ramente por falta de verificações adequadas, ou por con­ tra-exemplos. Em segundo lugar, as dúvidas relativas à dicotomia "analítico-sintético" (ver ANALÍTICO E SINTÉTICO) levaram a rejeitar a equiparação "a priori-analítico" e "a poste­ riori sintético" Isso não significa ainda admitir, ou readmitir, as opiniões kantianas ou neo-kantianas, mas equivale a supor que, se não há ruptura entre analítico e sintético, não se pode simplesmente associar a priori ou a posteriori a nenhum deles. Em terceiro lugar, tendências expressas em várias vertentes do estruturalismo e na hipótese inatista de Chomsky supõem que há estruturas profundas no conhe­ cimento (ou na linguagem). Não há uma relação biuní­ voca entre os dados proporcionados pelos sentidos, ou os estímulos, e as respostas a esses dados ou estímulos. Em virtude disso, poder-se-ia supor que o sujeito forne­ ce elementos do tipo dos que se designaram como a priori. Há certa relação entre uma tese apriorística e uma tese estruturalista ou inatista, embora esta última seja empírica e não especulativa. -

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A SE Por fim, puseram-se em dúvida tanto a equipara­ ção entre o a priori e o necessário como a idéia de que não pode haver nenhuma relação entre necessário e a posteriori. Se, como indicou Kripke, determinado fato poderia ter sido diferente de como é, mas ao mesmo tempo não pode ter tido outras causas que não as que efetivamente teve, ter tido essas causas, e não outras, é uma verdade necessária. Não é, no entanto, uma verda­ de a priori, mas a posteriori, isto é, as causas de re­ ferência são conhecidas a posteriori. Em outros ter­ mos, Kripke mantém que a priori não é (necessaria­ mente) equivalente a 'necessário' e que a posteriori não é (necessariamente) equivalente a 'contingente' Isso torna possível falar de um enunciado que é a priori e contingente, assim como de um que é a posteriori e necessário. '"Pode ser conhecido a priori' não signifi­ ca 'deve ser conhecido a priori' ." Dito de outro modo: "Há ao mesmo tempo verdades necessárias a posterio­ ri e provavelmente verdades contingentes a priori" ("Naming and Necessity", em Semantics of Natural Language, 2ª ed., ed. Donald Davidson e Gilbert Har­ man, 1 972, pp. 26 1 .263). Ora, embora qualquer verdade necessária seja a priori ou a posteriori, ela não pode ter-se tornado distinta do que é: "No caso de algumas verdades necessárias a posteriori, podemos dizer que, em determinadas situações de evidência qualitativamen­ te idênticas, determinado enunciado qualitativo corres­ pondente poderia ter sido falso" (op. cit. , p. 333). Esta mesa que está em meu quarto e é feita de madeira (ver PROPRIEDADE) possui, por ter sido feita de madeira, a propriedade essencial de ser (ou de ter sido feita) de madeira, mas, "numa situação qualitativamente idêntica a esta mesma com respeito a toda a evidência prévia", a casa podia ter contido uma mesa feita de gelo em vez desta mesa feita de madeira (op. cit., pp. 332-333). Além dos textos a que se fez referência no verbete, podem ser consultadas as obras que se seguem. :> Análise da noção de a priori: Narziss Ach, Ueber die Erkenntnis a priori, insbesondere in der Arithmetik, 1 9 1 3 . - Nicolai Hartmann, "Ueber die Erkennbarkeit des Apriorischen", Logos 5 ( 1 9 1 4- 1 9 1 5), 290-329; reimp. em Kleinere Schriften, III, 1 958, pp. 1 86-2 1 8. - A. Pap, "The Different Kinds of A Priori", Philoso­ phical Review, 53 ( 1 944), 464-484. Héctor Neri Castaiíeda, "Analytic Propositions, Definitions and the A Priori"', Ratio, 2 ( 1 959), 80- 1 0 ! . - Mikel Dufrenne, La notion d 'a priori, 1 959. - Veja-se também a biblio­ grafia do verbete ANALÍTICO E SINTÉTICO. Para o a priori na teoria fisica: A. Pap, The A Priori in Physical Theory, 1 946. Sobre o a priori em diferentes autores e correntes: M. Guggenheim, Die Lehre vom apriorischen Wissen in ihrer Bedeutung for die Entwicklung der Ethik und der Erkenntnistheorie in der sokratisch-platonischen -

Philosophie, 1 885. - Nicolai Hartmann, Das Problem des Apriorismus in der platonischen Philosophie, 1 936 (Sitzungsber, der preuss. Ak. der Wiss. Phil. hist. Kl. XV [ 1 935]; reimp. em Kleinere Schriften, II, 1 957, pp. 48-85). - Aline Lion, Anamnesis and the A Priori, 1 935. - L. di Rosa, La sintesi a priori: S. Tommaso e Kant, 1 950. - A. Silberstein, Leibniz Apriorismus im Verhãltnis zu seiner Metaphysik, 1 904. - A. Sicker, Der Leibniz-kantische Apriorismus und die neuere Philosophie, 1 900. - C. Hellstrõm, On Hume s apriori begrepp, 1 925. - G. Cesca, La dottrina kantiana dell 'a priori, 1 885. - Rudolf Eisler, Die Weiterbildung der Kantschen Aprioritãtslehre bis zur Gegenwart, 1 895. - Ake Petzãll, Der Apriorismus Kants und die "Phi­ losophia pigrorum , 1 933. - C. Mazzantini, II pro­ blema delle verità necessarie e la sintesi a priori di Kant, 1 93 5 . - Bella K. Milmed, Kant and Current Philosophical Issues: Some Modem Developments of His Theory of Knowledge, 1 96 1 (especialmente caps. 2, 3, 5 e 7). - Hans-Ulrich Hoche, Nichtempirische Erkenntnis. Analytische und synthetische Urteile a priori bei Kant und bei Husserl, 1 964. - Harald Delius, Untersuchungen zur Problematik der sogenannten syn­ thetischen Sãtze a priori, 1 963. - Moltke S. Gram, Kant, Ontology, and the A Priori, 1 968. - Lothar Eley, Die Krise des Apriori in der transzendentalen Phãnome­ nologie E. Husserls, 1 962. J. N. Mohanty et ai., The Phenomenological Realism ofthe Possible Worlds, 1 974, ed. Anna-Teresa Tymieniecka (sobre Husserl). - Inge­ borg Wirth, Realismus und Apriorismus in Nico/ai Hart­ manns Erkenntnistheorie, 1 965. - Z. Vendler, "Sum­ mary: Linguistics and the A Priori", em C. Lyas, ed., Philosophy and Linguistics, 1 97 1 , pp. 245-265. - K. Cramer, "Non-Pure Synthetic A Priori Judgements", em Lewis Beck, ed., Proceedings of the 3rd Internatio­ nal Kant Congress, 1 972, pp. 246-254. S. B. Rosen­ thal, The Pragmatic A Priori: A Study in the Epistemo­ logy ofC. /. Lewis, 1 975. R Christensen, Lebendige Gegenwart und Urerlebnis. Zur Konkretisierung des transzendentalen apriori bei Husserl und Reininger, 1 98 1 . - R. Hahn, Die Theorie der Erfahrung bei Pop­ per und Kant. Zur Kritik des kritischen Rationalismus am transzendentalen Apriori, 1 982. - W Harper, "Kant On the 'a priori ' and Material Necessity", em R. E. Butts, ed., Kant :� Philosophy ofPhysical Science, 1 986, pp. 239-272. e: "

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A SE. No vocabulário latino da escolástica, é comum distinguir as expressões a se e a expressão ab alio. A se significa "por si'', "por si mesmo", "a partir de si", "a partir de si mesmo'', "procedente de si'', "proceden­ te de si mesmo"; ab alio significa "procedente de outro" Por esse motivo, um ser a se é considerado um ser in­ dependente, Çlvapxov. Diz-se que Deus é a se (subs-

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tantia a se) - e também per se, ex se -, pois tem seu princípio (ou causa) de existir em si mesmo. Em contra­ partida, de uma entidade criada se diz ser ab alio, por­ que não tem o princípio (ou causa) de existir em si mes­ ma, mas em outra realidade (em Deus). Esta última dis­ tinção é radical, pois se refere à raiz do ser e do criado. Pode-se, porém, distinguir entre o ser a se e o ser ab alio num sentido menos radical. Assim, por exemplo, se diz que uma entidade procede de outra quando tem sim­ plesmente nesta outra sua origem (com freqüência cau­ sal): lux est a sole (a luz procede do sol). A distinção entre a se e ab alio é com freqüência paralela à distinção en­ tre in se (VER) e in alio, mesmo quando se tende a em­ pregar a primeira ao se fazer referência ao princípio do qual procede uma entidade, e a segunda ao se falar do ser de uma entidade. Quando se sublinha o motivo da pro­ cedência, usam-se as expressões a se moveri (que se contrapõe a ab alio moveri) e a se procedere (que se con­ trapõe a ab alio procedere). Quanto ao mais, o proceder de outra entidade pode ser entendido em dois sentidos: segundo o ser real (secundum esse reale) e segundo o ser intencional (secundum esse intentionale). Para o signi­ ficado de 'ser intencional ' , ver INTENÇÃO, INTENCIONAL, INTENCIONALIDADE. Diz-se também do ser a se que possui asseidade (aseitas). Tal como vimos para o ser a se, a asseidade po­ de ser afirmada, de modo geral, como característica de todo ente que procede de si mesmo - e, portanto, do ente, ou, de modo (ontólogico-formalmente) menos geral, como o constitutivum metaphysicum de um ente determinado, mas único: Deus. Alguns autores se in­ clmam para o primeiro e dão diferentes razões para apoiar sua opinião: que a noção de referência é dema­ siado formal e convém apenas ao ente enquanto ente, que reduzir a asseidade a Deus acarreta o risco de absor­ ver Neste todos os outros entes etc. Outros, ao contrá­ rio, se declaram partidários do segundo e alegam em favor de sua tese que a asseidade pode ser predicada unicamente da realidade na qual a essência subsiste em toda a plenitude do ser, isto é, que possui todas as per­ feições, tanto intensivas como extensivas. Walter Schultz, em sua obra sobre o conceito de Deus na filosofia moderna (tradução esp.: E/ Dios de la metafisica moderna, 1 96 1 , p. 63), enfatiza que tradi­ cionalmente se entendera a se como negação de ab alio, isto é, como non ab alio. Assim entende a se o teólogo tomista Ceterus em sua polêmica contra Descartes, que afirmava que, se se leva em conta a onipotência de Deus, pode-se entender o a se positiva e não negativamente. Um texto das "Respostas às objeções" (AT, VII, 1 1 0) confirma essa concepção positiva de a se, a qual, segun­ do Schultz, pode ter influenciado Spinoza na idéia que ele formulou acerca da causa sui, ou causa de si mesmo. A SIMULTANEO. Ver D Eu s; ONTOLÓGICA (PROVA).

AALL, ANATHON AALL, ANATHON ( 1 897- 1 943), nasc. em Nasseby

(Tromsõ, Noruega), foi Privatdozent em Halle ( 1 904- 1 908) e professor em Cristiânia [Oslo a partir de 1 925] (desde 1 908). Distinguiu-se primeiro por seus estudos de história da filosofia e da religião e depois por estudos de psicologia experimental. Cultivou também a filosofia da Natureza e a metafísica. História da filosofia e "filosofia da existência" enquanto "filosofia da realidade" - estão, segundo Aall, estreitamente relacionadas entre si. A história da filosofia não é apenas exposição cronológica de formu­ lações e sistemas filosóficos, mas também, e principal­ mente, estudo do modo como essas formulações e sis­ temas se desenvolvem em situações históricas dadas. Não é possível separar arbitrariamente a sofística grega e a democracia ateniense, ou a psicologia experimental e a sociedade industrial moderna. A filosofia da Natureza como base para uma fi­ losofia crítica da existência, ou da realidade, apóia-se na investigação psicológica. Particularmente interes­ sante é a psicologia dos sentidos; as conclusões que se tiram dela são opostas a todo reducionismo, seja este mecanicista ou energetista. Aall rejeita o reducionismo como pressuposto que conduz a um inadmissível mo­ nismo metafisico. Os coeficientes fisiológicos obser­ váveis e o exame de atos mentais provam que a reali­ dade é de caráter "funcional" A análise psicológica crítica das noções de energia, tempo e movimento é um ingrediente fundamental de uma "crítica da exis­ tência real". Aall desenvolve uma "filosofia da existên­ cia real" de caráter pluralista, em virtude da qual, se­ gundo escreve ele numa auto-exposição de sua filoso­ fia ( 1 924), "o próprio espírito e sua vida, os próprios conteúdos empíricos de índole não-mecânica possuem uma realidade independente" :> Principais obras: Der Logos. Geschichte seiner En­ twicklung in der griechischen Philosophie und der chris­ tlichen Literatur, 2 vols., 1 896- 1 899; reimp. 1 966 (O Logos, História de sua evolução na filosofia grega e na literatura cristã). - "Om Sansynliget og dens betydning logisk betraktet", Tidskr.f Mathematik og Naturvindens­ kab ( 1 897) ("Sobre a probabilidade e suas condições do ponto de vista lógico"). - Macht und Pjlicht. Eine Natur- und Rechtsphilosophische Untersuchung, 1 902 (Poder e Dever. Uma investigação defilosofia da Natu­ reza e filosofia do Direito). - lbsen og Nietzsche, 1 906. Henrik lbsen ais Dichter und Denker, 1 906 (H L como poeta e pensador). - Logik; 3' ed., 1 92 1 . "Filosofien i Norden", Videnskapselsk, Skr. hist.fil. kl., nº 1 ( 1 9 1 8) ("A filosofia na Noruega"). - Psykologi, 1 926. - Socialpsykologi, 1 938. - Além disso, há nu­ merosos escritos, publicados em revistas, sobre temas de psicologia experimental, de História da filosofia e de filosofia da Natureza. Particularmente importantes para -

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ABAD CARRETERO, LUIS sua filosofia são os escritos: "Gibt es irgendeine andere Wirklichkeit ais die mechanische?", Zeitschrift fiir Philosophie, 1 62 ( 1 9 1 7) ("Há alguma outra realidade além da realidade mecânica?") e "The Problem of Reality'', Journal of Philosophy, 22 ( 1 925), 533-547. Depoimento: em R. Schmidt, ed., Die Philosophie der Gegenwart in Selbstdarstellungen, 1 924, vol. V. Ver: F. Fluge, "A. A.: ln Memoriam", em Norsk pedagogiak tidskrift ( 1 943), 49-54. � ABAD CARRETERO, LUIS. Ver INSTANTE. ABANO, PEDRO DE. Ver PEDRO DE ABANO. ABBAGNANO, NICOLA ( 1 90 1 - 1 990), nasc. em Salerno (Itália); foi professor (desde 1 936) na Univer­ sidade de Turim. Abbagnano é conhecido por seus estudos de história da filosofia medieval, renascentista e moderna, bem como por seu dicionário de filosofia. Sua maior contribuição filosófica é a elaboração de uma forma original de existencialismo (vER) que, embora influenciada pelas correntes existencialistas alemã e francesa, não é um reflexo delas; o mais interessante no existencialismo italiano de Abbagnano é conseqüência de um desenvolvimento "autônomo" a partir da situação, uma vez que elaborou seu existencialismo em oposição a várias teses capitais do existencialismo europeu de sua época. Em seu primeiro livro, Abbagnano rejeitava não só as concepções "clássicas" da verdade como também as propostas pelas correntes irracionalistas, modernis­ tas, intuicionistas, historicistas e idealistas neo-hege­ lianas. Em confronto com elas, preconizava um critério metafisico capaz de superar os relativismos, mas ao mesmo tempo liberto de pressupostos abstratamente racionais - ou apoiados num vago e abstrato "princí­ pio de racionalidade" -, assim como de toda idéia de uma consciência absoluta tal como a postulada pelo idealismo. O critério proposto por Abbagnano não era nem puramente irracional nem puramente racional. Não era um critério inteiramente subjetivo ou comple­ tamente "obj etivo", sem ser tampouco um compromis­ so eclético entre esses extremos. Abbagnano elaborou uma idéia de existência (VER) em que a noção de possibilidade (VER) desempenha um papel capital. Todas as formas de existencialismo são, de acordo com Abbagnano, variantes de um existencia­ lismo negativo: a idéia de possibilidade é nelas elimi­ nada, sendo substituída pela impossibilidade, ou pela potencialidade, que é determinabilidade. Diante dessas formas de existencialismo, Abbagnano defende um exis­ tencialismo positivo, fundado na idéia de possibilidade transcendental. A existência não necessita de nenhum "horizonte" que a delimite, porque é ela mesma seu próprio horizonte, sua própria possibilidade de ser. Os modos no âmbito dos quais "a existência" se manifesta são o esforço (impegno), a decisão (decisione), a escolha

(scelta) e a fidelidade (fedeltà). São modos existenciais, não-subjetivos. A unidade desses modos constitui a es­ trutura da existência. É necessário evitar todo imanen­ tismo idealista e, para isso, deve-se insistir na "trans­ cendência" da existência. Abbagnano elaborou uma concepção própria da relação (rapporto) entre a exis­ tência e o ser. A existência é relação constante com o ser, de modo que os atos existenciais transcendem para o ser - ou para a realidade. Isso permite, segundo Abbagnano, justificar metodologicamente a "objetivi­ dade" real e não meramente abstrata da existência. Em muitos aspectos, Abbagnano aproximou-se do natura­ lismo e do positivismo, embora repudiando o "cienti­ ficismo ingênuo" deste último. � Principais obras: Nomes e temas da filosofia con­ temporânea, Dom Quixote, s.d. - Le sorgenti irrazio­ nali dei pensiero, 1 923. - li problema dell 'arte, 1 925. - li nuovo idealismo inglese e americano, 1 927. Guglielmo de Ockam, 1 93 1 . - La nozione dei tempo in Aristotele, 1 933. - La fisica nuova. Fondamenti di una teoria de/la scienza, 1 934. - ll principio de/la me­ tafisica, 1 936. - Lineamenti di pedagogia, 1 936. La struttura dell 'esistenza, 1 939 (trad. esp.: La estructu­ ra de la existencia, 1 95 8). - B. Telesio (!. Telesio, li. Telesio e la filosofia dei Rinascimento), 1 94 1 . - lntro­ duzione all 'esistenzialismo, 1 942, 2ª ed., 1 947 (trad. esp.: lntroducción ai existencialismo, 1 955). - Filoso­ fia, Religione, Scienza, 1 947 (trad. esp. : Filosofia, reli­ gión y ciencia, 1 9 6 1 ) - Esistenzialismo positivo, 1 948 (trad. esp.: Existencialismo positivo, 1 953). História da filosofia, Presença, 14 vols., várias vezes reeditada. - Storia deipensiero scientifico, 1 95 1 ss. - Possibilità e libertà, 1 956 (trad. esp.: Filosofia de lo posible, 1 957). - Problemi di sociologia, 1 959 (coleção de artigos [ 1 95 1 - 1 958]); 2ª ed. ampliada, 1 966. - Dicionário de Filosofia, Martins Fontes, 1 998 . - Per o contro l 'uomo, 1 968. - Criticai Existencialism, 1 969. - Fra il tutto e il nu/la, 1 973. - Filosofi antichi e nuovi, 1 975. - A sabedoria de vida, Vozes, s.d. - A sabedo­ ria da filosofia, Vozes, 1 99 1 . - Questa pazza filoso­ fia, 1 988. - Scritti esistenziali, 1 988. - Com Aldo Visalberghi: História da pedagogia, Horizonte, 4 vols., s.d.- Com Giovanni Fornero: Filosofi e filosofie nella storia, 3 vols., 1 986. - Bergson - O idealismo anglo­ americano e o italiano, Presença, 1 979. Depoimentos: "Metafisica ed esistenza'', em Filo­ sofi italiani contemporanei, 1 944, pp. 9-25, e em La mia prospettiva filosofica, 1 950, pp. 9-28. - "Sul metodo della filosofia", em La filosofia contemporanea in !ta/ia, 1 958, pp. 9-28. - "La mia prospettiva etica", em Ethi­ ca, 1 965, pp. 39-49. - L'uomo, progetto duemila, 1 980, diálogo com Giuseppe Grieco. Ricordi di un filosofo, 1 990. Bibliografia: 8. Maiorca, Bibliografia degli scritti di e su N. A. (1 923-1973), 1 974. -

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ABDUÇÃO

Ver: V. Fatone, La existencia humana y sus filóso­ fos, 1 953, cap. X. - G. Giannini, L'esistenzialismo positivo di N. A., 1 956. - Maria Angela Simona, La notion de liberté dans l 'existencialisme positifde N. A . , 1 962. - Adriana Dentone, L a ''possibilità " i n N. A . , 1 97 1 . - G . Lesnoff-Caravaglia, Education a s Existen­ tial Possibility, 1 972. - G. De Crescenzo, "Uomo, possibilità e trascendenza: Rilleggendo Nicola Abba­ gnano", Filosofia, 39 ( 1 988) 45-70. - A. Quarta, "Nicola Abbagnano tra esistenzialismo e neoilluminis­ mo", II Protag. ( 1 988- 1 989), 3-30. C

ses do Oriente Próximo, e se diz até que teve contato com os hindus. Finalmente, Leucipo, um dos membros da Escola, não nasceu em Abdera, mas em Mileto, e parece ter sido discípulo de Parmênides. Isso leva à suspeita de que há relação entre os eleatas e a Escola de Abdera, relação que se confirma quando percebe­ mos que cada um dos átomos de Demócrito (ver ATO­ MISMO) parece ter sido concebido por analogia com a esfera de Parmênides. :> Para a bibliografia, ver FILOSOFIA GREGA e PRÉ­ -SOCRÁTICOS. C

ABBT, THOMAS ( 1 73 8- 1 766), nasc. em Ulm, foi professor de filosofia na Universidade de Frankfurt am Oder e de matemática em Rinteln, mudando-se depois para Berlim, onde travou amizade com Moses Mendelssohn e Lessing. Foi também inspetor de en­ sino. Abbt distinguiu-se como um dos filósofos popu­ lares (ver FILOSOFIA POPULAR) , abordando temas que considerava úteis, ao contrário dos filósofos acadêmi­ cos, dados a elucubrações vãs. Defensor dos direitos de Frederico II, Abbt opôs-se ao cosmopolitismo e preconizou o patriotismo prussiano; o amor à pátria é, segundo Abbt, um dos primeiros deveres, se não o primeiro, de todo súdito. Abbt dedicou-se a questões pedagógicas e, em especial, a tipos e caracteres hu­ manos segundo funções e hierarquias sociais, que são, em sua opinião, mais importantes que os temperamen­ tos individuais. :> Obras: Vom Tode fars Vaterland, 1 76 1 (Da morte pela pátria). - Vom Verdienst, 1 765 (Do mérito). Geschichte des menschlichen Geschlechts, 1 766 (His­ tória do gênero humano). - Escritos vários: Vermischte Schriften, ed. por C. F. Nicolai, 5 vols., 1 770- 1 780. Ver: O. Claus, Die historisch-politischen Anschauungen T. Abbts, 1 905. - Gertrud Brück, Die Bedeutung Justus Mosers fars Leben und Denken Th. Abbts, 1 937 (tese). - H. J. Kõrber, Die Staatsanschauung Th. Abbts ais Beispiel for die Moglichkeiten deutschen Staatsdenken im achtzehnten Jarhhundert, 1 94 1 . C

ABDUÇÃO. A teoria da abdução desempenha um papel capital na filosofia de Peirce, que usou vários termos além de 'abdução' - 'retrodução' (VER), 'presunção', 'hipótese', ' inferência hipotética' -, mas o primeiro parece ter a preferência, possivelmente nele mesmo e também em seus comentadores. Peirce começou com um estudo da inferência silo­ gística (e daí sua referência à concepção aristotélica da apagoge [VER] enquanto redução das figuras do silogis­ mo [as três primeiras figuras] à primeira figura [VER] , e em particular a Barbara). Um dos resultados de suas investigações a esse respeito é que, mesmo que cada figura envolva princípios da primeira, a segunda e a terceira têm ao mesmo tempo princípios próprios. Mais tarde, Peirce examinou os princípios de inferência tam­ bém nas relações. As referências de Peirce à abdução, assim como à hipótese e à retradução, são muito numerosas em seus escritos, como o atesta um exame dos índices de temas dos Co/lected Papers. Destacaremos alguns pontos im­ portantes com referência a mudanças experimentadas pela noção de abdução, e especialmente por seu uso em Peirce. Um dos pontos fundamentais na teoria (ou teorias) de Peirce a esse respeito é que os processos mentais, tanto de descoberta como de justificação ou explicação, são inferenciais. Isso quer dizer que pode haver razões para as inferências (que são, elas mesmas, "razões"), até mesmo quando se formulam proposições ou se chega a conclusões aparentemente por mera "conjetu­ ra" ou "intuição". Psicologicamente pode ter havido uma conjetura ou uma intuição, mas estas são explicáveis de modo lógico. A lógica atinge, pois, mais que proces­ sos formais dedutivos. Outro ponto capital é a idéia de que a inferência é classificável de imediato em dois tipos: dedutiva (ou analítica) e sintética. A inferência sintética não é, po­ rém, como muitos autores pensavam (e continuam pen­ sando), só indutiva. Por um lado, há a indução; por outro, a hipótese (entre outros abundantes toei, ver Col­ lected Papers, 2.623). Um exemplo, entre muitos outros, dado por Peirce ajuda a compreender em que consiste cada uma dessas inferências.

ABDERA, ESCOLA DE. À s vezes se encontra nas histórias da filosofia grega a expressão 'Escola de Abdera' para designar o chamado atomismo de alguns dos filósofos pré-socráticos (Leucipo, Demócrito). O nome provém do lugar de nascimento de Demócrito: Abdera, colônia jônica da Trácia (onde também nasceu Protágoras). Por esse motivo, Demócrito é também cha­ mado "o abderita" Entretanto esse nome como a ex­ pressão que designa a escola podem ser considerados tão-somente recursos mnemotécnicos. Com efeito, na época dos atomistas, a atividade filosófica grega estava centrada em Atenas, e o período durante o qual flores­ ceu a Escola de Abdera é o chamado "período ático" Além disso, Demócrito viajou muito por diversos paí-

ABELARDO, PEDRO Se entro num quarto em que há vários sacos que contêm diversos tipos de feijão e, depois de investigar, descubro que um dos sacos contém apenas grãos de feijão branco, posso inferir como probabilidade, ou con­ jetura razoável, que, dado um punhado de feijão branco, este procede do saco que contém somente feijão bran­ co. Com isso, formulo uma hipótese, distinta de uma indução e de uma dedução, isto é, infiro um caso partin­ do de uma regra e um resultado. Consideremos agora os três tipos de inferência com base no exemplo citado: 1 ) Dedução: A regra é : "Todos os tipos de feijão são bran­ cos" O caso é: "Estes grãos de feijão procedem deste saco" Conclusão: "Estes grãos de feijão são brancos" 2) Indução: O caso é: "Estes grãos de feijão procedem deste saco" O resultado é: "Estes grãos de feijão são brancos" Regra: "Todos os grãos de feijão deste saco são brancos". 3) Hipótese (ou seja, abdução): A regra é: "Todos os grãos de feijão deste saco são brancos" O resultado é: "Estes grãos de feijão são brancos" Caso: "Estes grãos de feijão procedem deste saco" Há muitos outros exemplos possíveis de hipótese ou abdução. Se se encontram fósseis de peixes em solo muito profundo, formulo, para explicar esse fenômeno, a hipótese de que em outra época essa terra devia estar coberta pelo mar. Se numerosos documentos se referem a um conquistador chamado Napoleão, embora nunca o tenhamos visto, não podemos explicar os documentos indicados sem formular a hipótese de que Napoleão existiu. Embora durante certo tempo Peirce tenha conside­ rado independentes as três formas de inferência indica­ das, sua crescente inclinação a conceber a lógica como método de investigação, ou ao menos como um conjunto de procedimentos que abrangem os métodos de investi­ gação, levou-o à idéia de um "método dos métodos" e, concomitantemente, à idéia de que cada uma das três formas de inferência é um passo no caminho da investi­ gação. A abdução, ou inferência hipotética, é a forma de inferência que acrescenta algo ao conhecimento, for­ mando teorias. A indução completa o processo da busca, encontrando fatos confirmatórios das teorias. Nem sempre ficam claras em Peirce, se a abdução é uma conjetura, as razões que levam à conjetura ou as razões que, uma vez formulada a conjetura, explicam por que se escolheu essa conjetura e não outra. Nem sempre fica claro, tampouco, se a abdução diz respeito à desco­ berta ou construção de uma conjetura ou hipótese, ou então à seleção ponderada de uma conjetura ou hipótese entre várias. K. T. Fann (Peirce s Theory of Abduction, 1 970) abordou esses assuntos pormenorizadamente, mostrando em que casos Peirce parece inclinar-se por uma ou outra das mencionadas concepções da abdução e em que outros casos inclui várias concepções - por exemplo, descoberta e seleção de uma conjetura ou hipó-

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tese - em uma. Fann trata também da questão da justi­ ficação da abdução, questão que não foi resolvida por Peirce e que até agora permanece irresoluta, já que não parece haver instância superior à abdução. Por suas insistentes investigações sobre a abdução, a função das hipóteses e conjeturas na ciência e no co­ nhecimento em geral, bem como por sua distinção en­ tre abdução e indução, Peirce foi um dos filósofos possivelmente o primeiro - que desenvolveram os temas de uma "lógica da descoberta" (ver DESCOBERTA) . "Embora fale às vezes da abdução como sendo essen­ cialmente um tipo de instinto de conjetura - escreve Fann (op. cit. , p. 55) -, Peirce defende explicitamen­ te que, além de se poder dar conta psicologicamente da descoberta, há definitivamente uma lógica da des­ coberta'', e isso, sobretudo, em virtude de sua concep­ ção normativa, não "descritiva" (e, poder-se-ia acres­ centar, não exclusivamente analítico-formal), da lógica. � Ver: K. T. Fann, Peirce s Theory of Abduction, 1 970. - W. H. Davis, Peirce s Epistemology, 1 972. - P. Skagestad, The Road ofInquiry: Charles Peirce s Pragmatic Realism, 1 98 1 . - Douglas R. Anderson, "The Evolution of Peirce's Concept of Abduction'', Transactions. Charles S. Peirce Society, 22 ( 1 986), 1 45- 1 64. - R. J. Roth, "Anderson on Peirce's Concept of Abduction: Further Reflections", ibid., 24 ( 1 988), 1 3 1 - 1 3 9. Obras: Roger Bacon: the Philosophy of Science in the XIIIth Century, 1 876. - On the Philosophy ofKant, 1 8 1 9. - Fichte, 1 88 1 . - The Development ofModern Philosophy, with other Lectures and Essays, 2 volumes, 1 903 (póstuma, ed. Sorley). - The Development of Greek Philosophy, 1 908 (póstuma, ed. Sorley y Hardie). -A Short History ofLogic, 1 9 1 1 (póstuma, ed. Sorley). Ver: R. Metz, "Das philophische Werk R. Adam­ sons", Archiv für Geschichte der Philosophie, 4 1 ( 1 933), 2 1 4-229. - !d. , "Die philosophischen Stro­ müngen der Gegenwart in Grossbritannien", vol . II, 1 935, pp. 45-48. - D. A. Rees, "R. Adamson", Phi­ losophical Quarterly ( 1 952), 356-3 5 8 . - P. Lamanna, Storia della filosofia. La filosofia dei Novecento, VI, II, 1 964, pp. 25-28. V. Cousin publicou em Fragments philosophiques, II, 385-390, passagens da obra que foi chamada De arte

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dialectica, de A. de 8. Edição do Ars disserendi por L. Minio-Paluello, "The Ars disserendi of Adan ofBalsham 'Parvipontanus"', em Medieval and Renaissance Stu­ dies, ed. E. Hunt e R. Klibansky, 3 ( 1 954), 1 1 6- 1 69. Ver: I. Thomas, "A 1 2th Centucy Paradox ofthe Infini­ te", Joumal of Simbolic Logic, 23 ( 1 958), 1 33- 1 34. Para a afecção no sentido da teoria das afecções, ver: Bemecke, Geschichte des Affektbegriffs, 1 9 1 5 . - W. Dil­ they, Die Affektenlehre des 1 7. Jahrhunderts ( Gesammelte Scriflen, II, 1 923). - H. Herring, Das Problem der Affektion bei Kant, 1 953 (Kantstudien. Ergãnzungshefte 67). - E. G. Schachtel, Metamorphosis: On the Develop­ ment ofAffect, Perception, Attention, and Memory, 1 959. - A. Naess, J. Wetlesen, Conation and Cognition in Spi­ noza s Theory of Affects: A Reconstruction, 1 967. - C. Armon-Jones, Varieties ofAffect, 1 99 1 . Ver também a bibliografia dos verbetes EMoçAo e SENTIMENTO para o conceito de afecção mais relaciona­ do com essas noções. C: AFIRMAR O CONSEQÜENTE (FALÁCIA DE). Ver FALÁCIA DE AFIRMAR o CONSEQÜENTE. AFIRMATIVO. Como vimos no verbete sobre a no­ ção de proposição, as proposições afirmativas são uma das espécies em que se subdividem as proposições sim­ ples (categóricas, predicativas ou atributivas) em razão da forma ou modo de união do predicado e do sujeito no enunciado ou no juízo. O esquema tradicional mais usado para representar as proposições afirmativas é 'S é P', cujo exemplo pode ser 'A rosa é vermelha' As proposições afirmativas são com freqüência definidas como um dos tipos em que se subdividem as proposi­ ções em razão da qualidade (vER) , mas deve-se perceber que quase sempre as expressões 'razão da forma' e 'razão da qualidade' têm o mesmo significado. O que dissemos sobre as proposições afirmativas pode ser dito também acerca dos juízos (ver Juízo) afirmativos. As expressões 'proposição afirmativa' e 'juízo afir­ mativo' - assim como 'proposição negativa' e 'juízo negativo' - são encontradas com mais freqüência nos textos de lógica "clássica" que nos de lógica "moderna" AFORISMO. Um dos modos de expressão ( vER) da fi­ losofia é o aforismo. Na Antiguidade e na Idade Média, os aforismos eram "pensamentos" que constituíam coleções. Uma coleção de aforismos é o "florilégio" (jlorilegium). Esses aforismos podiam ser objeto de comentário. Um exemplo disso é a obra de Guilherme de Doncaster, do século XII, Explicatio aphorismatum philosophicorum, cujo manuscrito foi descoberto por Martin Grabmann em 1 937. Uma edição (anotada com base em um microfilme) da citada Explicatio foi feita por Olga Weijers, em 1 976 (Studien und Texte zur Geis­ tesgeschichte des Mittelalters, 1 1 ).

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AGATOLOGIA

O s aforismos filosóficos abordam quase sempre temas de caráter moral (como os aforismos dos mora­ listas franceses e espanhóis dos séculos XVI e XVII, os Aforismos para a Sabedoria da Vida isto é, a prudência - de Schopenhauer, algumas das obras de Nietzsche). Mas podem também ser expressos aforisti­ camente outros tipos de pensamento: é o caso do Trac­ tatus, das Investigações filosóficas e outros textos de Wittgenstein. Pode-se alegar que um aforismo de Witt­ genstein é algo muito diferente de um aforismo de La Rochefoucauld ou um de Nietzsche. Isso é verdade do ponto de vista do conteúdo. Mas aqui nos interessa o aforismo como forma de expressão e exposição; neste sentido, pode-se dizer que todos os exemplos anterio­ res pertencem à mesma família. Sua caracteristica co­ mum é a de apresentar pensamentos filosóficos numa forma breve, concentrada e "fechada", de modo que cada pensamento possua relativa autonomia e, para usar uma terminologia de cunho leibniziano, possa ser con­ siderado uma "expressão monadológica" Torna-se di­ ficil por esse motivo distinguir os aforismos dos "pen­ samentos" (tais como os de Marco Aurélio e Pascal). Com efeito, em várias ocasiões, os limites entre uns e outros são muito imprecisos. Segundo Julián Marias (Miguel de Unamuno, 1 943, pp. 1 2- 1 3), o aforismo se distingue do pensamento pelo fato de que, enquanto no primeiro "as afirmações são enunciadas com pretensão de validade por si mesmas", no segundo trata-se antes de "um coto que pede uma continuação". Assim, por­ tanto, o aforismo parece ser completo, ao passo que o pensamento parece ser constitutivamente incompleto. Daí decorre, segundo esse autor, que os aforismos sejam "formalmente falsos, já que nada é verdade por si só, e constituem a inversão radical do modo de pensar filosófico" (que seria o sistemático). Cremos que, embora perspicaz, essa caracterização da diferença entre aforismo e pensamento acentua excessivamente o "iso­ lamento" do aforismo e pressupõe, além disso, certa idéia da filosofia. Entendida radicalmente, essa concep­ ção nos conduziria a uma idéia do aforismo análoga à sustentada por José Bergamín (em La cabeza a pájaros e outras obras), quando afirma que "não importa que o aforismo seja certo ou incerto; o que importa é que se­ ja certeiro" Concepção análoga à que parece reger a produção de muitos dos pensamentos de Gracián ou de Salvador Jacinto Polo de Medina, em virtude de um ideal literário-formal segundo o qual o aforismo se constitui principalmente com palavras e não com idéias, motivo pelo qual, quando há conflito entre o uso de uma idéia e o de uma palavra ou um conjunto de palavras, é preciso decidir-se pelo último. Por isso, escreve Ber­ gamín: "Nenhuma palavra supérflua: aforismo perfeito" O aforismo não é, de acordo com esse autor, breve, mas incomensurável; tem uma potência de expressão inesgotável e, nesse sentido, pode ser também "um -

coto que pede uma continuação", mas não segundo as exigências do pensar e sim segundo as da expressão. Ora, esse aforismo é o puramente literário. O aforismo filosófico tem uma pretensão de verdade, chegando mesmo às vezes a desejar exprimir a verdade de um modo mais conciso e compacto que outras formas de exposição, acusadas de prolixidade. Por conseguinte, poderíamos concluir que o aforismo também é justi­ ficado na filosofia e que, tal como o mostram as obras de Wittgenstein, não precisa empregar sempre uma linguagem exortativa ou limitar-se a temas de caráter moral. :> Ver: Kurt Besser, Die Problematik der aphoris­ tischen Form bei Lichtenberg, Fr. Schlegel, Nova/is und Nietzsche, 1 93 5 (ele analisa também o conceito de afo­ rismo em geral). - Heinz Kruger, Studien über den Aphorismus ais philosophische Form, 1 957. 1 Khan, The Sufi Message of Hazrat Jnayat Khan, vol. II: Phi­ losophy, Psychology, Mysticism, Aphorism, 1 964. 8. Vickers, Francis Bacon and Renaissance Prose, 1 968. J. Stephens, Francis Bacon and the Style ofScience, 1 975. G. Hess, "Le Tractatus de Wittgenstein: Consi­ derations sur le systeme numerique et la forme apho­ ristique", Revue de Theologie et de Philosophie, 1 2 1 (4) ( 1 989), 3 89-406. E . Heller, Nietzsches Scheitern am Werk, 1 99 1 . � -

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AGAPE. Ver AMOR. AGAPISMO. Ver AcAso; CATEGORIA. AGATODICÉIA. De modo similar à teodicéia (VER), o termo 'agatodicéia' pode ser empregado para designar uma disciplina ou, pelo menos, uma série de argumentos e reflexões referentes à justificação do bem (de ÜtKaiów, justificar, e TO àya6óv, o bem ou o bom). Há poucos exemplos de agatodicéias (ao contrário dos numerosos exemplos de teodicéias). O mais claro é o de Vladimir Soloviev (VER), em sua obra Opravdanié dobra ou A justificação do bem ( 1 987). A agatodicéia consiste num esforço para explicar como é possível o bem e que formas ele pode adotar. Ela não afirma necessariamente que exista o bem, ou que os bens predominem sobre os males; pode, a rigor, sustentar exatamente o contrário. Ela procura mostrar, entretanto, que o bem é justificável e, por isso, dese­ jável. Isto faz da agatodicéia algo diferente do que se poderia chamar de "kakodicéia" (de TO KaKÓV, o mal ou o mau). Embora se pudesse entender 'kakodicéia' como um esforço para justificar o mal e esse é o sentido que teria o tern10 em contraste exato com 'agato­ dicéia' -, a expressão 'justificação do mal' é entendida antes como explicação do fato de haver males e da "ne­ cessidade" de que os haja no contexto de uma maior abundância de bens. -

AGATOLOGIA. Deu-se às vezes este nome à doutrina do bem (vER) ou do bom, TO àya6óv, como parte da

AGENTE ética ou da moral (o primeiro, quando se tende a desta­ car os aspectos teóricos; o segundo, quando se acentuam os aspectos práticos). Se o bem se identifica com a feli­ cidade, a agatologia pode transformar-se numa eude­ monologia, isto é, na doutrina que considera o bem do ponto de vista do eudemonismo { VER) . O termo 'agatologia' - assim como 'eudemonolo­ gia' - foi muito pouco usado, a ponto de nem sequer se poder dizer que se encontra hoje "em desuso" Para tratar do bem, preferem-se expressões como 'teoria do bem' ou 'doutrina do bem' AGENTE. Em português, usa-se amiúde o termo 'su­ jeito' para referir-se ao chamado "sujeito humano". Este sujeito é especificado às vezes como "o sujeito cog­ noscente", "o sujeito moral" etc. No verbete Sujeito significados 3) e 4) -, detalhamos parte desses usos. Em certa parcela da literatura filosófica contempo­ rânea que analisou os conceitos de ação, deliberação, decisão, escolha etc., usou-se com freqüência o termo 'agente' . Esse uso é adequado, porque dois dos signifi­ cados de 'agente' em português - "Pessoa que execu­ ta a ação do verbo" e "Pessoa ou coisa que opera e tem poder para produzir um efeito" - foram devidamente levados em conta nos estudos sobre o tema. Ambos os significados dizem respeito a pessoas; o segundo se refere, além disso, a coisas. Os estudos indicados se ocu­ param, por exemplo, de elucidar se a execução de uma ação é ou não de natureza causal. Os que afirmam a segunda hipótese consideram que os agentes humanos não procedem diferentemente de outros "agentes" Os que defendem a primeira sustentam que o que se diz de um agente e o que se diz que um agente faz ou pode fazer é fundamentalmente diverso do que se diz, ou se pode dizer, que algo pode causar. Assim, os que preco­ nizam a segunda hipótese aceitam, implícita ou expli­ citamente, a definição "Pessoa ou coisa que opera etc.", enquanto os que defendem a primeira admitem apenas a definição "Pessoa que executa etc.", ou uma defini­ ção parecida. As questões relativas à natureza do agente no que se denominou "teoria do agente" giram, pois, em tomo do problema da relação entre, ou da identificação de, "cau­ sas" e "razões" Os que insistem em causas criticam os que destacam as razões dizendo que seu modo de enten­ der 'agente' é tautológico por definir, em princípio, 'agen­ te' tal como se segue: "Aquele que faz, ou pode fazer, algo diferente do modo como algo causa algo". Os que in­ sistem em razões criticam os que destacam as causas afir­ mando que seu modo de entender 'agente' é puramente redutivo e que por 'agente' entendem 'agente causal' � Ver: J. Macmurray, The Selfas Agent, vol. I, 1 957. Royal lnstitute of Philosophy, ed., The Human Agent, 1 966. R. Binkley, R. Bronaugh, A. Marras, eds., Agent, Action, and Reason, 1 97 1 . - L. W. Beck, The Actor and -

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the Spectator, 1 975. - E. Polis, Meditation on a Priso­ ner: Towards Understanding Action and Mind, 1 975. C: AGNOSTICISMO. Th[omas] H[enry] Huxley (vER) usou pela primeira vez o termo 'agnóstico' (Agnostic) em 1 869, com a finalidade de mostrar que tinha, como todo mundo, uma doutrina (a doutrina que chamou de "agnosticismo" [Agnosticism], em seus Collected Essays [tomo V, 1 889]). Literalmente, 'agnóstico' significa "aquele que não sabe" e 'agnosticismo' , a posição de acordo com a qual "não se sabe" ou "não se pretende saber" O significado de 'agnóstico' em Huxley deve ser entendido em contraposição aos que adotam doutri­ nas segundo as quais é possível saber mais coisas do que as que a ciência permite. Os agnósticos não preten­ dem ultrapassar os limites impostos pelo conhecimento científico em determinada fase da evolução da ciência. Como os dogmas expressos nas religiões positivas, ou em muitas doutrinas metafisicas, transpõem esses limi­ tes, acham-se fora de - e para além de - toda possi­ bilidade de conhecimento. Os agnósticos opõem-se aos "gnósticos", mas os primeiros não defendem nenhuma doutrina, limitando-se a usar um método - o método científico, no qual intervêm a experiência e o raciocínio sobre os dados da experiência - que impede todo pro­ nunciamento religioso ou metafisico. Assim, um agnós­ tico não afirma, por exemplo, que Deus não existe, mas que não sabe se Deus existe ou não. No sentido de Huxley, o agnosticismo não se opõe ao saber, mas unicamente à pretensão de saber o que não se sabe. Uma das coisas que não se podem saber é se algo poderá ser oportunamente sabido ou não, já que não é possível prever o estado futuro dos conhe­ cimentos. Desse ponto de vista, o agnóstico estabelece limites relativos, não absolutos, ao conhecimento. Considerou-se agnóstico, do mesmo modo, um autor como E. Du Bois-Reymond por seu apotegma lgnoramus et ignorabimus (Ignoramo-lo e o ignorare­ mos). Contudo, o "agnosticismo" de Du Bois-Reymond {VER) , justamente por ser absoluto, é dogmático. Du Bois-Reymond não o entendia dessa maneira, porque o citado apotegma se dirigia não apenas contra o dogma­ tismo religioso e metafisico como contra o dogmatis­ mo materialista do tipo de Ernst Haeckel ( vER) . Foi freqüente, no âmbito filosófico, entender o agnos­ ticismo como a posição que sustenta a incognoscibilidade em princípio de toda suposta realidade transcendente e absoluta, realidade que foi às vezes denominada o "in­ cognoscível" (vER) . Na medida em que os teístas decla­ raram possuir um conhecimento de Deus, e na medida em que Deus foi equiparado a uma realidade transcen­ dente e absoluta, o agnosticismo se opôs ao teísmo (VER) . Pode-se também entender o agnosticismo de dois modos: 1 ) O Absoluto, o transcendente, a realidade em si, o númeno etc. não podem ser conhecidos. 2) Toda

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questão relativa a essas supostas realidades carece de sentido. Os agnósticos no primeiro sentido tendem a rejeitar toda proposição de caráter religioso ou metafi­ sico, mas alguns deles enfatizam que essa rejeição tem caráter "racional"; de uma maneira não-racional - por exemplo, mediante o sentimento ou mediante a vonta­ de -, podem admitir-se essas "proposições", as quais, todavia, deixam de ser proposições para transformar-se em crenças que aspiram ao consolo que as realidades "espirituais" podem proporcionar. Cabe perguntar até que ponto esta última tendência é agnóstica. Em con­ trapartida, parece ser completamente agnóstica a atitu­ de segundo a qual não é admissível dar nenhuma res­ posta de qualquer tipo - incluindo "respostas" de caráter "emotivo" - a qualquer pergunta sobre uma realidade transcendente à experiência, porque a própria pergunta deve ser eliminada em virtude de não perten­ cer a nenhuma linguagem cognoscitiva. De acordo com isso, dizer que algo é incognoscível e que é preciso adotar a esse respeito uma atitude agnóstica pressupõe que poderia haver enunciados acerca de algo incognos­ cível que tivessem sentido mesmo que nunca pudessem ser verificados ou falseados. Por outro lado, é dificil aplicar o nome "agnosticismo" a essa suposta atitude agnóstica radical, porque o agnóstico afirma simples­ mente não saber, enquanto aquele que defende a men­ cionada atitude, ao identificar 'proposição cognoscível' com 'proposição significativa' , tem de concluir que uma proposição incognoscível não pode ter significa­ ção e que, portanto, é necessário renunciar a saber o que ultrapassa as possibilidades do conhecimento cien­ tífico, visto como "série de proposições que são (no mínimo) significativas" Em suas origens, o agnosticismo relacionava-se com a renúncia a saber algo de Deus, que se supunha ser o incognoscível por excelência. O agnóstico não era tam­ pouco teísta (ver TEÍSMO) nem deísta (ver DEÍSMO). Em op. cit. infra, E. Tierno Galván estabeleceu uma distinção entre ateísmo e agnosticismo, enfatizando que, enquanto no primeiro caso há uma vontade de que não exista Deus, no segundo não há; o agnosticismo é, segundo Tierno Galván, o "não sentir a falta de Deus'', o que equivale a não precisar senão "viver na finitude'', ou, se se quiser, "neste mundo" � Ver: Leslie Stephen, An AgnostiC:S Apology, 1 893. - James Ward, Naturalism and Agnosticism, 1 899. R. Flint, Agnosticism, 1 903 [Croall Lecture, 1 887]. R. A. Armstrong, Agnosticism and Theism in 1 9th Cen­ tury, 1 905. - Georges Michelet, Dieu et l 'agnosticis­ me contemporain, 1 908. - A. O. J. Cockshut, The Un­ believers: English Agnostic Thought 1 840-1 890, 1 964. - Enrique Tiemo Galván, t Qué es ser agnóstico ?, 2ª ed., 1 976. - E E. Abbot, The Way Out ofAgnosticism or the Philosophy of Free Religion, 1 979. - B. Light­ man, The Origins of Agnosticism: Victorian Unbelief

AGOSTINHO (SANTO) and the Limits of Knowledge, 1 987. - J. Marx, ed., Atheisme et Agnosticisme, 1 987. C AGORA. Ver INSTANTE. AGOSTINHO (SANTO) (354-430), nasc. em Tagaste (província romana da Numídia), de pai pagão e mãe cristã (Santa Mónica). Formado no cristianismo, ele não obstante passou longo tempo afastado da crença cristã antes de sua conversão em 386. Em 365, mudou-se para Madaura, na mencionada província, onde estudou gramática e os clássicos latinos. Depois de residir um ano em Tagaste (369-370), dirigiu-se a Cartago, onde estudou retórica e começou a interessar-se por proble­ mas filosóficos e religiosos, especialmente depois de ler o diálogo perdido Hortensius, de Cícero. Atraiu-o antes de tudo o maniqueísmo (VER) , no qual viu urna so­ lução para o problema da existência do mal e uma explicação das paixões. Em 3 74, voltou a Tagaste e, pouco depois, de novo a Cartago, onde abriu uma escola de retórica. Em 383, partiu para Roma, onde também abriu uma escola da mesma disciplina. Já antes de sua partida para Roma, manifestara dúvidas acerca do dua­ lismo maniqueísta, dúvidas que se intensificaram em sua nova residência. Em 3 84, mudou-se para Milão a fim de ensinar retórica. Em Roma e Milão, travou co­ nhecimento com as doutrinas céticas da Academia pla­ tônica (VER) . Em Milão manifestou suas primeiras e intensas inclinações pelas crenças cristãs, em parte devido à influência dos sermões de Santo Ambrósio. A leitura de vários textos plotinianos na versão latina de Mário Caio Vitorino, "o Africano", transtornou extrema­ mente suas convicções pré-cristãs. O neoplatonismo conduziu-o com maior firmeza ao cristianismo. As lei­ turas dos Evangelhos e de São Paulo o confirmaram em sua nova crença, que se traduziu na conversão citada (Conf, VIII), tendo ele recebido o batismo em 387. Nessa época, teve já início sua intensa atividade de escritor; ele produziu, entre outras obras, os livros Con­ tra academicos, os Soliloquia e o De inmortalitate ani­ mae (indicaremos aqui apenas algumas obras; uma lista mais completa delas, com as datas de composição, pode ser encontrada na bibliografia). Agostinho residiu por um breve período em Roma (De libero arbitrio) e, em 388, mudou-se para Cartago, onde viveu até 3 9 1 como membro de uma comunidade monástica (De vera reli­ gione ). Em 39 1 , foi ordenado sacerdote em Hipona e escreveu uma série de obras contra os maniqueístas, uma contra os donatistas e comentários ao Génesis, a duas Epístolas de São Paulo e vários outros escritos. Em 395, foi eleito bispo auxiliar de Hipona e, em 396, quando da morte do bispo Valério, elegeram-no bispo da referi­ da cidade. Agostinho deu prosseguimento à sua polêmi­ ca contra os donatistas, mas também escreveu obras de interesse teológico geral (como De doctrina christiana) e parte das Confissões. Em 400, começou a redigir os

AGOSTINHO (SANTO) livros De Trinitate e, em 40 l , extensos comentários ao Gênesis (distintos do comentário - incompleto - antes mencionado). A partir de 4 1 1 , sustentou polêmicas con­ tra os pelagianos e, entre 4 1 2 e 426, completou várias de suas mais importantes obras (incluindo De libero arbítrio e De civitate Dei). Até sua morte, continuou a desenvolver intensa atividade literária; faleceu durante o cerco de Hipona pelos vândalos. Os breves dados apresentados propõem-se mostrar que as principais idéias filosóficas (e teológicas) de Santo Agostinho foram geradas no decorrer de uma vida apaixonada e ativa. A maioria dessas idéias surgiu no curso das polêmicas teológicas e tendo em vista o esta­ belecimento e esclarecimento dos credibilia (ou "coisas que devem ser objeto de fé"). Propriamente falando, no entanto, não há "uma filosofia" de Santo Agostinho separável de sua teologia e até de suas experiências pes­ soais. Deve-se levar em conta que em Santo Agostinho a reflexão filosófica procede segundo o Credo, ut intel­ ligam (ver CRENÇA) no sentido formulado, justamente dentro da tradição agostiniana, por Santo Anselmo (VER). Santo Agostinho não crê porque crê, e menos ainda porque o objeto da crença seja absurdo (ver TERTULIANO). Tampouco compreende por compreender, mas crê para comprender (e, poder-se-ia acrescentar, compreende para crer). Por razões óbvias, destacaremos aqui resumi­ damente apenas os elementos filosóficos do pensamento de Santo Agostinho. Prescindiremos da chamada "evo­ lução intelectual de Santo Agostinho", sem dúvida im­ portante, mas impossível de considerar em espaço tão reduzido, e, lastimando bastante, forçaremos o caráter "sistemático" dos pensamentos filosóficos agostinianos. Para completar nossos dados, devem ser levadas em conta as referências a doutrinas agostinianas que figu­ ram em vários outros verbetes deste Dicionário. Mencio­ namos, à guisa de exemplo, os seguintes: ARBÍTRIO (LI­ VRE); C IDADE DE DEus; Ess�Nc1A; ILUMINAÇÃo; M AL; ÜRDEM; TEMPO. Ver igualmente o verbete AGOSTINISMO. Desde suas primeiras perquisições filosóficas, Santo Agostinho procurou não (ou não apenas) uma verdade que satisfizesse sua mente, mas uma que preenchesse seu coração. Só assim ele pôde alcançar a felicidade. Pode-se dizer que Santo Agostinho foi um eudemonista. Mas esse eudemonismo (VER) não consiste em obter algum tipo de bens temporais ou em satisfazer as pai­ xões. Não consiste sequer num prazer ou contentamento estável, moderado e razoável, à maneira dos epicuris­ tas. Todas essas são realidades efêmeras, incapazes de apaziguar o homem. A verdadeira felicidade se encon­ tra unicamente na posse da verdade completa (verdade que deve transcender todas as verdades particulares, pois do contrário não seria, propriamente falando, uma verdade). A Verdade perseguida por Santo Agostinho é a medida (absoluta) de todas as verdades possíveis. Essa Suprema Medida é, e só pode ser, Deus.

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Dessa maneira, a busca agostiniana da Verdade não é apenas contemplativa, mas também eminentemente "ativa"; não implica só conhecimento, mas, como vere­ mos adiante, fé e amor. A verdade deve ser conhecida não simplesmente para saber o que é "O que É"; ela deve ser conhecida para conseguir o repouso completo e a completa tranqüilidade de que a alma necessita. A posse da Verdade, antes de ser objeto de ciência, o é de sapiência ou sabedoria (vER). E a busca da verdade não é um método, mas um "caminho espiritual", uma pere­ grinação, um "itinerário" No âmbito desse itinerário, desenvolve-se o que se poderia denominar a "teoria do conhecimento" de Santo Agostinho (sempre que não consideremos a citada ex­ pressão como designando apenas uma disciplina filosó­ fica particular). Essa teoria do conhecimento orienta­ -se para a noção de certeza. Como esta tem de ser absoluta, não basta basear-se nos sentidos. Neste e em outros aspectos, Santo Agostinho se declara um platôni­ co. Mas, ao contrário de Platão (pelo menos do Platão dualista oferecido pela imagem tradicional), Santo Agos­ tinho não estabelece nenhuma distinção taxativa entre experiência sensível e saber; deve-se ascender da primei­ ra ao segundo, para depois justificar pelo segundo a pri­ meira. Ao examinar os objetos sensíveis, descobrimos que estes possuem propriedades comuns a vários: são os chamados "sensíveis comuns", em cuja percepção há já conhecimento. Como esses "sensíveis comuns" não são diretamente acessíveis aos órgãos dos sentidos, Santo Agostinho supõe a existência de um órgão de percepção deles que não é exterior, mas interior (uma espécie de "sentido íntimo" ou "sentido dos sentidos" que unifica as percepções exteriores). Entretanto, os "sensíveis co­ muns" não são ainda um conhecimento pleno. Ao sen­ tido interno unificador se sobrepõe um órgão que pode ser chamado de "razão" ou "intelecção" A importância do sentido íntimo não consiste tão­ -somente em sua função unificadora. Por meio dele, pode-se mostrar a possibilidade da certeza e, portanto, a necessidade de rejeição do ceticismo. Santo Agostinho tinha muito presentes os argumentos contra a possibi­ lidade de uma certeza completa formulados pelos céti­ cos e, em particular, pelos "acadêmicos" (ver ACADE­ MIA PLATÔNICA). A aceitação desses argumentos impedi­ ria a obtenção da certeza, bem como a felicidade da alma que ela proporciona. Daí decorre que Santo Agos­ tinho se esforce para provar que, no âmbito da própria atitude cética, existe a possibilidade de superá-la. Com efeito, si fallor, sum (ver COGITO, ERGO suM ), isto é, o fato de que todos os enunciados que formulo possam ser falsos não elimina que seja certo formulá-los. A falibilidade é prova de que é falível. Mas Santo Agos­ tinho não se detém aqui. A certeza do próprio errar e do próprio viver são insuficientes. É necessário atingir uma certeza de algo que não seja mutável, da plena

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verdade. E verdade significa para Santo Agostinho, tal como o significou para Platão, o que não muda nem se altera. Só a alma racional pode alcançar a posse de verdades eternas referentes a objetos externos, ou seja, verdadeiramente existentes. Essas verdades constituem um "tesouro interior", encontram-se na alma. Mas não como meros entes de razão ou objetos da imaginação, já que, do contrário, seriam ilusão e engano. A "teoria do conhecimento" de Santo Agostinho representa, com isso, a mescla de dois ingredientes apa­ rentemente em conflito: por um lado, a afirmação da realidade da alma como ser das verdades; pelo outro, a afirmação da realidade da Verdade suprema como foco e origem dessas verdades. Esses dois ingredientes correspondem, em grande parte, aos dois principais elementos com os quais Santo Agostinho elaborou seu pensamento filosófico: o cristianismo e a filosofia gre­ ga, ou, mais exatamente, o neoplatonismo. Afirmou-se às vezes que Santo Agostinho foi o primeiro a integrar plenamente esses dois elementos. Isso é certo se não o interpretamos apenas como um processo histórico, mas também filosófico. A integração desses elementos é conseqüência de uma visão da alma como algo a um só tempo íntimo e racional, isto é, como experiência e razão. A doutrina agostiniana da "iluminação (vER) divina" como "iluminação interior" é a formulação dessa integração de duas verdades: a que vem da alma e a que chega à alma proveniente de Deus. É possível falar de uma "fenomenologia do conheci­ mento" em Santo Agostinho, de um processo que vai da sensação à razão. Mas não se trata nem de uma des­ crição pura nem de uma dialética do conhecimento, mas do já mencionado "itinerário espiritual" Como conclusão dessa "fenomenologia", temos as duas pro­ posições seguintes: 1 ) No interior do homem habita a verdade (De vera religione, 72); 2) a verdade é inde­ pendente da alma e a transcende (De lib. arb., II 1 4). Essas proposições entram em conflito somente quando não se tem presente que a alma se transcende a si mesma na Verdade, isto é, na Vida primeira, na Sabe­ doria primeira e na Realidade eterna e imutável de Deus. Numa das passagens de Santo Agostinho mais freqüentemente citadas, lê-se que apenas duas coisas lhe interessam: a alma e Deus (Sol. , I 2). A integração de referência, ou, como escreveu Gilson (op. cit. infra, 3' ed., 1 949, p. 23, nota ! ), o ter repensado em termos cristãos o itinerário plotiniano da alma rumo a Deus, também é conseqüência desse interesse. A Verdade, porém, não poderia ser alcançada sem a fé, enquanto fé iluminada. Ao contrário dos "empi­ ristas", Santo Agostinho pensa que não se pode conhe­ cer sem a razão. Mas, ao contrário dos "racionalistas", está convencido de não se pode conhecer sem a fé. Esta não é uma fé cega, mas iluminada e iluminadora; a mesma da qual se disse que não seria compreendida

se não se cresse (ver CRENÇA; FÉ). A fé a que se refere Santo Agostinho nada tem de irracional ou de "absur­ do". Não é tampouco fé em algo particular: nos sentidos, na razão, numa autoridade temporal e efêmera. A fé é iluminadora porque é fé em Deus e em Jesus Cristo portanto, em algo que transcende toda inteligência e toma possível, ao mesmo tempo, a inteligência. Aqui deparamos, no entanto, com algo muito diverso de uma "solução" dada ao "problema" da "relação entre fé e razão". De fato, não se trata de um "problema" em que se procurem harmonizar duas coisas em princípio dis­ tintas. A fé agostiniana não é uma questão filosófica, mas aquilo dentro do que se tomam inteligíveis as questões filosóficas. Além disso, a fé está ligada não apenas à razão, mas também, e sobretudo, à caridade (ver AMoR) . A fé toma possível o entendimento; só se penetra na verdade pela caridade. A razão deixada a seu próprio arbítrio é cega; a luz que tem, ela a recebe da fé. Por isso, não se pode provar a fé; só se pode provar na fé. A fé é uma crença amante, descobridora de valores, uma crença da qual brota, como uma luz, a inteligência. Considerações similares poderiam ser feitas a pro­ pósito do "problema de Deus" A existência de Deus não é provada por um raciocínio, mas tampouco é objeto de fé cega. Deus aparece "demonstrado" na mesma estrutura da alma possuidora de fé amante. Mas Deus não é uma idéia puramente imanente na alma. Esta última apreende Deus como verdade necessária e imu­ tável, mas essa apreensão seria impossível sem Sua existência. É claro que esse Deus não é qualquer Deus, ou qualquer divindade, ou qualquer princípio filosófi­ co. Trata-se do Deus cristão revelado (Deus ao mesmo tempo pessoal, eterno e incorruptível). Sobretudo in­ corruptível, que foi como Santo Agostinho o buscou "ideo te, quidquid esses, esse incorruptibilem con­ fitebar" (Conf, VII 4) -, pois do contrário não seria Verdade suprema, mas algo em última análise transitó­ rio, por mais duradouro que fosse. Esse Deus infinita­ mente perfeito possui em si mesmo as rationes das coi­ sas criadas, à maneira das "idéias divinas", arquétipos segundo os quais as coisas criadas foram formadas. Foi a isso que se deu o nome de "exemplarismo" (vER) agostiniano, de raiz neoplatônica, e que tanta influên­ cia exerceu na filosofia da Idade Média; mas há notó­ rias diferenças entre o exemplarismo neoplatônico e o cristão, devido à rejeição por parte deste último da noção de emanação (vER) e à sua admissão da de cria­ ção (VER) . Embora Santo Agostinho tenha prestado menos atenção ao problema da estrutura do mundo que aos do conhecimento, da felicidade, da alma e de Deus, encon­ tram-se em suas obras numerosas referências ao modo de criação do cosmos e à estrutura deste. Importante a es�.e respeito é sua insistência no fato de que não há -

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AGOSTINHO (SANTO) uma suposta matéria sem forma, pois Deus criou tudo do nada. Também é importante, ainda que menos in­ fluente, sua doutrina, ao mesmo tempo neoplatônica e estóica, das rationes seminales, "razões seminais" (VER) ou germes das coisas vindouras. Santo Agostinho deu grande atenção às questões relativas ao mal e à liberdade, ambas, de resto, intima­ mente relacionadas entre si, assim como ao problema do processo histórico do homem enquanto processo teológico. Como já nos estendemos sobre essas ques­ tões nos verbetes já citados, limitar-nos-emos a alguns pontos essenciais. Santo Agostinho não pode admitir que Deus seja o autor do mal. Por outro lado, não pode admitir que haja algum poder capaz de solapar o poder de Deus. Sua luta contra os maniqueístas, depois de ele ter lutado contra o maniqueísmo em sua alma, leva-o, além disso, a excluir por completo toda realidade que não dependa de Deus. Mas, uma vez que o mal existe, este deve ser explicado de modo que nem tenha origem divina nem tampouco origem em algum poder capaz de opor sua própria rea­ lidade à de Deus. Simplificando, diremos que Santo Agostinho considera que o mal se origina no afastamen­ to de Deus, que é ao mesmo tempo o afastamento do ser e da realidade. O mal não é uma substância, mas uma privação, ou, se se quiser, um movimento (o movimento rumo ao não-ser). Por desfrutar livre-arbítrio, a vontade humana pode escolher o mal, isto é, pecar. Com isso, ela faz um mau uso do livre-arbítrio (vER). Pelo pecado ori­ ginal, ademais, o homem se colocou em tal situação que para salvar-se necessita da graça (VER). A salvação do homem não é, pois, algo que se ache inteiramente nas mãos do homem. Mas, ao mesmo tempo, não se pode dizer que o homem se encontre salvo ou condenado, faça o que fizer. O homem é livre, mas é livre para fazer livremente o que Deus sabe que fará livremente. Desse modo, podem harmonizar-se várias coisas que pareciam incompatíveis: o absoluto ser e poder de Deus, e a existência do mal; esse absoluto ser e poder, e o livre­ -arbítrio humano; a graça e a predestinação. É desne­ cessário dizer que essas questões, extremamente difíceis, foram abundantemente discutidas, podendo encontrar­ -se em textos de Santo Agostinho material para diver­ sas opiniões, como o provam os debates teológicos e filosóficos dos séculos XVI e XVII. Não obstante, oca­ sionalmente Santo Agostinho cede na importância con­ cedida ao ser, poder e amor infinitos de Deus, e, a um só tempo, na afirmação da posse, pelo homem, de livre­ -arbítrio. O que ocorre é que esse livre-arbítrio é impo­ tente para escolher o bem sem o auxílio da graça, de maneira que, em última análise, todo bem vem de Deus. As noções anteriores - livre-arbítrio, mal, pecado, salvação, condenação - e outras com elas relaciona­ das - redenção, justiça etc. - constituem os elementos

principais com os quais Santo Agostinho desenvolveu sua filosofia da história, que é simultaneamente uma teologia da história e uma teodicéia. Para Santo Agosti­ nho, a história não é a descrição de certos aconteci­ mentos políticos, mas o modo como todos os acon­ tecimentos políticos - as "histórias dos Impérios" se organizam em torno do processo teológico. A idéia da Cidade de Deus (VER) é aqui fundamental; o signifi­ cado dessa expressão, as principais interpretações que se deram a ela e a forma pela qual foi usada por Santo Agostinho são discutidos no verbete correspondente. :> O primeiro escrito de Santo Agostinho, De pulchro et apto, redigido durante seu período maniqueísta, se perdeu. O plano de redação de uma enciclopédia sobre todas as artes liberais ficou sem execução; os Princi­ pia dialectices, que, segundo se afirmou, pertencem a tal obra de conjunto, não podem ser atribuídos a Santo Agostinho (ou, em todo caso, sua autoria é ainda discu­ tida). A parte da enciclopédia sobre a música, contudo, foi concluída por Santo Agostinho em Tagaste, pouco depois de 388. A seguir, oferecemos uma lista de obras de Santo Agostinho que constitui uma seleção das men­ cionadas, com data ou datas de composição, por M. F. Sciacca no folheto bibliográfico citado infra, lista por sua vez extraída de S. Zarb, "Chronologia operum S. Augustini'', Angelicum, X ( 1 933), XI ( 1 934), ed. à parte, 1 934: Contra Academicos, 386. De beata vita, 386. - De ordine, 386. - Soli/oquia, 3 86/387. - De inmortalitate animae, 387. - De animae quantitate, 387/388. - De moribus Ecclesiae Catholicae et de moribus Manichaeorum, 387/3 89. - De Genesi contra Manichaeos, 388/3 89. - De libero arbitrio, 388/395. De vera religione, 39 1 . - De utilitate credendi, 392. - De duabus animabus, 392/393. - De Genesi ad litteram imperfectus liber, 393/426. - De mendacio, ca. 395. Quaestiones Evangeliorum, 393/399. Contra partem Donati, 396. - De doctrina christiana, 396/397. - Contra Faustum Manichaeum, 397/398. - Confessiones, 397140 1 . - Contra Felicem Mani­ chaeum, 398. - De Trinitate, 399140 1 . De jide rerum quae non videntur, ca. 399. - De sancta virgi­ nitate, 40 1 . - De Genesi ad litteram, 40 1 /4 1 4. Contra Donatistam nescio quem, 406/408. - De pec­ catorum meritis et remissione, 4 1 1 . - De spiritu et /ittera, 4 1 2. - Dejide et operibus, 4 1 3 . - De videndo Deo, 4 1 3 . - Commonitorium ad Fortunatianum, 4 1 3 . - De natura et grafia, 4 1 3 . - De civitate Dei, 4 1 3/ 426. - Tractatus CXXIV in Ioannem, 4 1 614 1 7. - De correctione Donatistarum, 4 1 7. De grafia Christi et de peccato origina/i, 4 1 7. - Enarrationes XX-XII in Psa/mum CXVIII, 4 1 8. - Contra sermonem Arianorum, 4 1 9. - Quaestiones in Heptateuchum, 420. - De ani­ ma et eius origine, 420/42 1 . - Contra mendacium, 422. - Contra duas epistolas Pelagianorum, 422/423 . -

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AGOSTINHO (SANTO)

- Contra lulianum, 423 . - Enchiridion ad Lauren­ tium, 4231424. - De cura pro mortis gerenda, 424/ 425. - De grafia et libero arbitrio, 426. - Retractatio­ nes, 4261427. - Contra Maximinum, 428. - De prae­ destinatione Sanctorum, 429. - De dono perseveran­ tiae, 429. - Tractatus adversus ludaeos, 4291430. Contra secundum luliani responsionem opus imperfec­ tum, 4291430. Entre as edições de obras de Santo Agostinho, mencioneremos: J. Amerbach (Basiléia, 1 506); Erasmo (Basiléia, 1 528- 1 529); a dos teólogos de Louvain, sob a direção de Th. Cozee e J. van der Meulen (Amberes, 1 5 7 1 ); a dos Beneditinos da Congregação de São Mauro, com introduções, sumários e índices (Paris, 1 1 vols., 1 679- 1 700), considerada a primeira edição importan­ te e reproduzida em Migne, PL, XXXII-XLVII ( 1 8441 866); a chamada "edição Vives", com texto latino, trad. francesa e as notas da edição dos Beneditinos da Congregação de São Mauro (Paris, 33 vols., 1 869- 1 878); a edição crítica no Corpus scriptorum ecc/esiasticorum latinorum (Viena, 1 898 ss.), ainda incompleta; a edição do Mosteiro do Escorial, ed. V. Capánaga, A. Custodio Vega et ai. , com texto latino e trad. esp. (Madri, 1 8 vols., 1 946- 1 959); a edição da "Bibliotheque augus­ tinienne", ed. G. Combes, R. Jolivet, L. Labriolle, et ai. (Paris-Bruges, 1 936 ss.), ainda incompleta. Index Verborum de De Civitate Dei, por M . Maguire, B. H. Skahill e F. O'Connell, segundo a edi­ ção de Dombart-Kalb [em preparação] . - Outro Index de Confessiones, por P. C. Hrdlicka, segundo o texto da edição de L. Labriolle, encontra-se em forma de fichário na Universidade Católica de Washington. Em português: A Cidade de Deus, 2 vols., 1 989. - Comentário aos Salmos ( 1 O 1 - 1 50), 1 998. - Comen­ tário aos Salmos, vol. 1 , s.d. - Comentário aos Salmos, vol. 2, 1 997. - Comentário da Primeira Epístola de São João, 1 989. - Confissões, 1 997. O cuidado de­ vido aos mortos, 1 990. - Diálogo sobre a felicidade, 1 998. - A graça, 1 999. - O livre-arbítrio, 1 998. O mestre, 1 995. - O sermão da montanha, 1 992. Sobre a potencia/idade da alma, 1 997. - Solilóquios e a vidafeliz, 1 998. - A Trindade, 1 994. - A verdadei­ ra religião, 1 987. - Vida, 1 997. Bibliografia: E. Nebreda, Bibliographia augusti­ niana, 1 928; reimp., 1 962. - M. F. Sciacca, Augustinus, 1 948 [Bibliographische Einführungen in das Studium der Philosophie, 1 0, ed. 1. M. Bochenski]. - Bibliogra­ fia de obras de S. A. sobre S. A. na "Introducción ge­ neral a las obras de S. A.", publicadas pela Biblioteca de Autores Cristianos, tomo 1 ( 1 946), pp. 1 -327 (2ª ed., ampliada, 1 950). - Tarsicius van Bavel e F. van der Zande, Répertoire bibliographique de Saint Augustin 1950-1960, 1 963 . - T. L. Miethe, Augustinian Biblio­ graphy, 1970-1980: With Essays on the Fundamentais -

of Augustinian Scholarship, 1 982. F. D. Donnelly, M. A. Sherman, Augustine s "De Civitate Dei ": An Anno­ tated Bibliography of Modern Criticism, 1 960-1990, 1 99 1 . - A bibliografia agostiniana deve ser completada com as referências bibliográficas em publicações perió­ dicas total ou parcialmente dedicadas ao estudo de Santo Agostinho e do agostinismo. Citamos a esse respeito Au­ gustinus (Madri) e o Bulletin augustinien, da Revue des Études augustiniennes (Paris). Sobre Santo Agostinho e diversos aspectos de sua vida e de seu pensamento, ver: David Lenfant, Con­ cordantiae Augustinianae sive col/ectio omnium senten­ tiarum quae sparsim reperiuntur in omnibus S. Augustini operibus, 1 656- 1 665; reimp. em 2 vols., 1 963. - Jean Félix Nourrisson, La phi/osophie de S. A., 2 vols., 1 865. - Jules Martin, S. A., 1 90 1 ; 2ª ed., 1 923. - E. Portalié, "Saint Augustin'', em Dictionnaire de Théo/ogie Catho­ lique, ed. Vacant-Mangenot, 1 ( 1 902), cols. 2268-2472. - Ch. Boyer, Christianisme et néo-p/atonisme dans la formation de S. A., 1 920. - !d. , L'idée de vérité dans la phi/osophie de S. A., 1 920. - ld. , Essais sur la doc­ trine de S. A . , 1 932. - Étienne Gilson, lntroduction à / 'étude de S. A . , 1 929; 2ª ed., 1 943; 3ª ed., 1 949. Jacques Maritain, "De la sagesse augustinienne", em Mélanges augustiniens, 1 93 1 , pp. 385-4 1 1 . - J. Hessen, Augustinus Metaphysik der Erkenntnis, 1 93 1 ; 2ª ed., 1 960. - Fulbert Cayré, Les sources de / 'amour divin. La divine présence d 'apres S. A., 1 933. - R. Jolivet, S. A. et /e néoplatonisme chrétien, 1 932. - !d. , Dieu, Solei/ des esprits, 1 934. ld. , Le probléme du mal d 'aprés S. A . , 1 936. - Erich Przywara, A., Die Gestalt ais Gefiige, 1 934. - H. Marrou, S. A. et la fin de la culture antique, 1 938. - !d. , S. A. et / 'augustinisme, 1 955. - Gustave Bardy, S. A., / 'homme et l 'oeuvre, 1 940; 6ª ed., 1 946. - F. J. A. Belgodere, S. A. y su obra, 1 945. - P. Muiioz Vega, lntroducción a la síntesis de S. A., 1 945. - Amato Masnovo, S. Agostino, 1, 1 946. - B. Switalski, Neoplatonism and the Ethics of S. A., 1 946. - J. Burger, S. A., 1 948. - J. M. Le Blond, Les conversions de S. A., 1 948. - Th. Philipps, Das Weltbild des hei/igen A., 1 949. - M. F. Sciacca, S. A. 1: La vita e / 'opera. L'itinerario de/la mente, 1 949. - Félix García, S. A., 1 95 3 . - V. Capánaga, S. A., 1 954. - J. Chaix-Ruy, S. A., Temps et Histoire, 1 956. - G. Vaca, La vida religiosa en S. A., 2 vols., 1 956. - Mary T. Clark, R. S. C. J., A Phi/osopher of Freedom: A Study in Comparative Phi/osophy, 1 959. Paul Henry, S. J., S. A. on Personality, 1 960. - A. Muiioz Alonso, Presencia intelectual de S. A., 1 96 1 . - Ragnar Holte, Béatitude et Sagesse. Saint Augustin et /e probléme de la fin de / 'homme dans la phi/osophie ancienne, 1 962. - R. Berlinger, Augustinus dialogische Metaphysik, 1 962. - Wilhelm Hoffinann, Augustinus. Das Problem seiner Daseinsaus/egung, 1 963. - Vemon -

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AGOSTINISMO J. Bourke, Augustine s View ofReality, 1 963 . James F. Anderson, S. A. and Being: A Methaphysical Essay, 1 965. - John Callahan, A. and the Greek Philosophers, 1 967. - Robert J. O'Connell, S. Augustine s Early Theo­ ry of Man, A. D. 386-391, 1 968. - ld. , S. Augustine s Confessions: The Odyssey of Sou!, 1 969. - Alfred Schõpf, Augustinus, 1 970. O. O'Donovan, The Pro­ blem ofSelf-Love in St. Augustine, 1 980. - J. O'Meara, The Young Augustine, 1 980. - G. R. Evans, Augustine on Evil, 1 982. V. J. Bourke, Wisdomfrom St. Augus­ tine, 1 984. - N. Blázquez, lntroducción a la filosofia de San Augustín, 1 984. J. Pelikan, The Mistery of Continuity: Time and History, Memory and Eternity in the Thought of Saint Augustine, 1 986. L. Hols­ cher, The Reality ofthe Mind: St. Augustine s Philoso­ phical Arguments for the Human Sou/ as a Spiritual Substance, 1 987. R. C. La Croix, Augustine on Mu­ sic, 1 988. - H. A. Meynell, ed., Grace, Politics and Desire: Essays On Augustine, l 990. C. Starnes, Au­ gustine s Conversion: A Guide to the Argument of Con­ fessions 1-lX, 1 990. J. Wetzel, Augustine and the Limits of Virtue, 1 992. Entre as publicações que apareceram por ocasião do décimo quinto centenário de S. A., figuram Mélanges augustiniens (Paris, 1 930); Miscel/anea agostiniana, 2 vols. (Roma, 1 930- 1 94 1 ); Religión y Cultura (Madri, 1 93 1 ); Aurelius Augustinus (Colônia, 1 930). Obras: Moral order and Progress: An Analysis of Ethical Conceptions, 1 889. - Loclce, 1 908. - Space, Time, and Deity, 2 vols., 1 920 [Gifford Lectures, 1 9 1 6- 1 9 1 8]. Reimp., 1 927, com um importante "Preface to New Impression"; nova reimp., 1 966, com prefácio de Dorothy Emmet. - Spinoza and Time, 1 92 1 . - Art and lnstinct, 1 927. - Beauty and other Forms ofValue, 1 933. - Philosophical and Literary Pieces, 1 939 (ed. J. Laird). Ver: A. F. Liddell, Alexander s' Space, Time and Deity, 1 925. - Ph. Devaux, Le systéme d 'Alexander. Exposé critique d 'une théorie néo-realiste du change­ ment, 1 929. - G. van Hall, The Theory ofKnowledge H. Lundholm, The of S. Alexander, 1 936 (tese). Aesthetic Sentiment: A Criticism and an Original Ex-

cursion, 1 94 1 . - M . R. Konvitz, On the Nature of J W. Value: The Philosophy ofS. Alexander, 1 945. McCarthy, The Naturalism of S. Alexander, 1 948. A. P. Stiemotte, God and Space-Time: Deity in the Phi­ losophy of S. Alexander, 1 954. - Bertram D. Bretts­ chneider, The Philosophy of S. Alexander: /dealism in "Space, Time, and Deity ", 1 964. - D. Browning, ed., Philosophers of Process, 1 965. - M. A. Weins­ tein, Unity and Variety in the Philosophy of Samuel A lexander, 1 984. Várias obras de Alexandre foram editadas desde o século XV (Venetiis, 1 495- 1 498, em edição de obras de Aristóteles; ibid. , 1 534, em edição de obras de Temístio). Entre várias edições modernas, figuram: De fato ad imperatores, na trad. de Guillermo de Moerbeke, 1 963, ed. Pierre Thillet. - De mixtione, com trad. e notas, no volume A. of A. on Stoic Physics, 1 976, ed. Robert 8. Todd. - A. P. Fotinis, The De Anima ofAle­ xander ofAphrodisias: A Translation and Commentary, 1 98 1 . - J. Sarnes et ai. , trads. A. ofA . : On Aristotle 's "Prior Analytics " 1: 1 - 7, 1 99 1 . A edição de Alexandre até agora completa é a que figura na série dos Commentaria in Aristotelem Graeca (ver a bibliografia de ARISTOTELISMO) . - Cf. também P. Wilpert, "Reste verlorener Aristoteles-Schriften bei A. von A.", Hermes, 85 ( 1 940), 369-396. Ver: G. Volait, Die Stellung des Alexander von Aphrodisias zur aristotelischen Schlusslehre, 1 907. Paul Moraux, A. d 'Afrodisie, exégete de la poétique d 'Aristote, 1 942. - Jd. , Der Aristotelismus bei den Grie­ chen, von Andronikos bis Alexander von Aphrodisias, 3 vols., 1 973 ss. - Giancarlo Movia, Alesandro di Afro­ disia, tra naturalismo e misticismo, 1 970. - R. W Sharples, A. of A. on Fate, 1 983. Entre os numerosos artigos sobre Alexandre de Afrodisia, destacamos os de J. Freudenthal ( 1 885), Th. H. Martin ( 1 879), O. Apelt ( 1 886, 1 894, 1 906), I. Bruns ( 1 889, 1 890), C. Ruelle ( 1 892), H. von Arnim ( 1 900); K. Radermacher ( 1 900), A. Brinkmann ( 1 902), E. Thou­ verez ( 1 902), H. Diels ( 1 905), K. Praechter ( 1 906, 1 907), W Capelle ( 1 9 1 1 ) . - Artigo de A. Gercke sobre Alexandre (Alexander, 94, von Aphrodisias) em Pauly­ -Wissowa. Sobre a influência de Alexandre de Afrodísia: G. Théry, O. P., Autour du Décret de 1210 (II. A. d 'Aphrodi­ sie, aperçu sur l 'influence de sa noétique), 1 926. C: ALEXANDRE DE AIGAI. Ver P E RIPAT Éncos. ALEXANDRE DE RALES (ca. 1 1 85- 1 245), denomi­ nado o doctor irrefragabilis, nasceu em Hales Owen (Shropshire) e lecionou durante longo tempo (de 1 2 2 1 a 1 229 e d e 1 23 1 provavelmente até sua morte) n a Uni­ versidade de Paris, onde teve como discípulo São Boa­ ventura. Em 1 236, ingressou na ordem dos Francisca­ nos. Em seus comentários às Sentenças de Pedro Lom­ bardo, Alexandre de Hales incorporou grande quanti­ dade de autores: Santo Agostinho, o Pseudo-Dionísio, Boécio, São João Damasceno, Santo Anselmo, São Ber­ nardo, Alain de Lille, Gilberto de la Porrée, Ricardo de São Vítor e outros. Ora, suas fontes não se limitaram ao agostinismo e ao platonismo ou ao neoplatonismo;

ALEXANDRE DE RALES nosso autor foi um dos primeiros a ter à sua disposição quase todos os escritos de Aristóteles. Pode-se dizer, portanto, que Alexandre de Hales foi um dos grandes compiladores e sistematizadores da Idade Média e que sua forma de abordar os problemas teológicos consti­ tuiu um claro precedente da quaestio escolástica e um esquema das posteriores Sumas, com a formulação do problema, a indicação de objeções, a solução e a justi­ ficação destas. Não se trata de uma conciliação de dou­ trinas aristotélicas com doutrinas platônico-agostinia­ nas, mas de um desejo de utilizar todas as orientações filosóficas possíveis admitidas pela ortodoxia para a constituição de uma ampla e sólida teologia. Entre as doutrinas mais importantes aceitas por Alexandre de Hales dotadas de alcance ao mesmo tempo teológico e filosófico, figuram a teoria da composição hilomórfica de todas as criaturas, a teoria criacionista da alma e a posição fundamentalmente realista na questão dos uni­ versais. Atribui-se a Alexandre de Hales a extensa Sum­ ma theologiae também denominada Summa fratris Ale­ xandri; mas, embora essa obra contenha doutrinas do autor, provavelmente procedentes dos ensinamentos de seus últimos anos, trata-se de uma compilação que tal­ vez tenha sido iniciada pelo discípulo de Alexandre, João de la Rochelle, e a que deram prosseguimento ou­ tros autores franciscanos. :> A Summa [Summa universae thelogiae] foi publi­ cada pela primeira vez no século XV (Venetiis, 1 475). Ed. crítica pelos Padres do Colégio de São Boaventura (Ad Claras Aquas, Quaracchi) na Bibliotheca Francis­ cana Scholasticae Medii A evi: Alexandri de Hales, O. F. M., Summa theologica, 4 vols. : !, 1 924; II, 1 928; III, 1 930; IV, 1 948. - Edição crítica dos comentários a Pedro Lombardo na citada Bibliotheca: Glossa in qua­ tuor Libras Setentiarum Petri Lombardi: I (ln librum primum) , 1 95 1 ; II (ln librum secundum), 1 952; III (ln librum tertium), 1 954; IV (ln librum quartum), 1 957. - Ed. na mesma Bibliotheca, 1 9-2 1 : Quaestiones dis­ putatae "antequam essetfrater ", 3 vols., 1 860: 1: Quae­ stiones, 1 -3 3 ; II: /d., 34-59: III: /d., 60-68. - G. E. Mohan, "A Manuscript ofAlexander of Hales", Francis­ can Studies, 5 ( 1 945), 4 1 5-4 1 7. Bibliografia e problemas bibliográficos: I. Herscher, "A Bibliography of A. of Hales", Franciscan Studies, 5 ( 1 945), 435-454. - V. Kempf, "Problemas bibliográ­ ficos en torno das obras de A. de Hales", Revista Ecle­ siástica Brasileira, 6 ( 1 946), 92- 1 05 . - V. Doucet, "A New Source of the ' Summa Fratris Alexandri "', Fran­ ciscan Studies, 6 ( 1 946), 403-4 1 7 . - /d., id. , "The History of the Problem of the Authenticity of the ' Sum­ ma "', ibid., 7 ( 1 94 7), 26-4 1 . Ver: F. Picavet, Abélard et A . de Hales, créateurs de la méthode scholastique, 1 896. - K. Heim, Das Wesen der Gnade und ihr Verhiilnis zu den natürlichen Funk-

ALEXANDRE DE LICÓPOLIS tionen des Menschen bei A. Hales, 1 907. - J. Fuchs, Die Proprietiiten des Seins beiA. von Hales, 1 930 (tese). - Ph. Boehner, O. F. M., "The System of Metaphysics of A. of Hales", Franciscan Studies, 5 ( 1 945), 366-4 14. - E. Bettoni, II problema della conoscibilità di Dia nella scuola francescana, 1 950 (sobre A. de Hales, S. Boaventura, Duns Scot). - W. H. Principe, "The Doctri­ nes of William of Auxerre, Alexander of Hales, Hugh of Saint-Cher and Philip the Chancellor'', Mediaeval Stu­ dies, 24 ( 1 962), 392-394. - E. Gossmann, Metaphysik und Heilsgeschichte: eine Theologische Untersuchung der "Summa Halensis ", 1 964. - Meldon C. Wass, The Infinite God and the Summa Fratris Alexandri, 1 964. I. Brady, "The Distinctions of Lombard's Book of Sen­ tences and Alexander of Hales", Franciscan Studies, 25 ( 1 965), 90- 1 1 6. - Walter H. Principe, Alexander ofHa­ les ' Theology ofthe Hypostatic Union, 1 967 (vol. 2 de The Theology ofthe Hypostatic Union in the Early Thirteenth Century). Ver: Clemens Baeumker, Contra Amaurianos. Ein anonymer wahrsscheinlich dem Garnerius von Roche­ fort zugehoriger Traktat gegen die Amalrikaner aus dem Anjàng des viii Jahrhunderts, 1 926. - C. Capelle, Autour du décret de 1210: III. Amaw)I de Bene, étude sur son panthéismeformel, 1 932. - M. Th. d'Alverny, "Un fragment du proces des Amauriciens", Archives d 'histoire doctrinale et littéraire du moyen âge, 25-26 ( 1 950- 1 95 1 ), 325-336. - Mario dal Pra, Ama/rico di Bene, 1 95 1 . - K. Albert, A. v. B. und der mal. Pantheis­ mus, em A. Zimmermann, ed., Die Auseinandersetzun­ gen an der Pariser Universitiit im XIII. Jh. , 1 976. C AMANUAL. Ver HEIDEGGER, MARTIN. AMBIGÜIDADE. Ver SOFISMA; V AGUIDADE; AMBiGuo. AMBÍGUO. O conceito de vaguidade (vER) está estreita­ mente relacionado ao do ambíguo. Em princípio, não há

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diferença entre ambos os conceitos, podendo-se dizer igualmente que uma idéia é vaga ou ambígua ou que uma proposição (ou a significação de uma proposição) é vaga ou ambígua. Nos dois casos, há, falando em termos fi­ gurados, "falta de definição" (que é falta de limites pre­ cisos) - o vago ou ambíguo não é necessariamente o que está "desfocado"; é o que é "difuso" (foco difuso ou "suave" ou "brando"). O contrário do ambíguo ou vago é, neste caso, o nítido ou o "bem definido" Considerou-se que se deve evitar (em filosofia) a vaguidade. Se assim é, é preciso evitar também os con­ ceitos ambíguos ou as proposições com significação ambígua. No entanto, foi-se reconhecendo crescente­ mente que o vago ou ambíguo pode ser inevitável e até desejável. Isso pode ocorrer de dois modos: ou afirman­ do-se que um conceito é constitutivamente vago ou ambíguo e que é necessário aceitar esse fato suposta­ mente deplorável, ou enfatizando-se que o caráter vago ou ambíguo do conceito é preferivel a seu caráter claro, visto que aquilo que o conceito denota é tão vago e am­ bíguo quanto o conceito. No último sentido, Wittgens­ tein reconhecia que alguns conceitos não têm "arestas claras" ou "bem definidas" ou "agudas" Como o tern10 "vago" costuma ter um sentido pejo­ rativo, escolhemos o termo "ambíguo" para caracterizar idéias, conceitos, noções, significados etc. em que a falta de nitidez e de "definição" não é rejeitada como pre­ judicial, mas admitida como suscetível de tratamento lógico. Falou-se a esse respeito de uma "lógica da va­ guidade" (Saul Kripke, "Naming and Necessity'', em Semantics o/Natural Language, 1 972, ed. G. Herman e D. Davidson); seguindo a terminologia proposta, deno­ minamo-la "lógica do ambíguo" Um passo importante no desenvolvimento dessa lógica é constituído pelo tra­ balho de L. A. Zadeh, "Fuzzy Sets", 1njormation and Contrai, 8 ( 1 965), 3 3 8-353. Como indica David H. Sanford ("Borderline Logic", American Philosophical Quarterly, 12 ( 1 975], 29-39). Nesse tipo de lógica se consideram casos em que os valores de determinadas variáveis se distribuem em pontos intermediários entre valores definidos. Ao contrário da polivalência, a "am­ bigüidade" não consiste na existência de um número de valores tais que formam um contínuo discreto finito ou infinito. É certo que, no âmbito de um contínuo discreto, atribuem-se valores máximos ( 1 ) e mínimos (O) aos ex­ tremos do contínuo. Mas pode-se adscrever um predi­ cado, P (num exemplo de Sanford, "é baixo"), a x e a y sempre que se considere que um suposto "máximo" 1 é maior que x é P (x é baixo), que x é P é maior que y é P (y é mais baixo que x) e que y é P é maior que o "mínimo" O. Dessa maneira, ocorrem casos "fronteiriços" de P. Como não se pode aplicar a uma lógica do ambí­ guo o princípio de bivalência (VER) , formula-se a questão

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AMBRÓSIO (SANTO)

de saber se lógicas como as de B. C. van Fraassen, nas quais há ocos de valores de verdade, não serão exemplos de lógicas do ambíguo. Se assim for, uma lógica do ambíguo será uma das lógicas desviadas (ver DESVIAÇÃO, DESVIADO). Contudo, na medida em que uma lógica do ambíguo ou "lógica do inexato" pode ser suplementar tanto à lógica clássica como às lógicas desviadas, o ca­ ráter plenamente "desviado" da lógica do ambíguo se mostra problemático. Usamos as expressões "lógica do ambíguo'', "lógica do vago'', "lógica do inexato" Não se trata, com efeito, de que a lógica seja ambígua, vaga ou inexata; tal como o indicou Alfredo Deaiio ("La lógica formal hoy", Revis­ ta de Decidente, Terceira época, nº 7, maio 1 976, p. 93), "o vago não é a teoria, mas o objeto que esta estuda. De outro modo, seria como explicar gaguejando uma teoria sobre as causas da gagueira" O mesmo autor usa a expressão "lógica dos enunciados vagos" como versão de fi1zzy logic. Se ocasionalmente se emprega "ambí­ guo" (ou "vago" ou "inexato") como adjetivo que suce­ de a "lógica'', deve-se tomar isso, pois, como uma abre­ viatura cômoda - é o que ocorre com a expressão in­ glesa citada fuzzy logic. Assim, a lógica fuzzy é um cálculo lógico que pretende dar conta, com a maior precisão possível, do modo de raciocinar humano que é, simplesmente, im­ preciso, flexível, analógico. Não se trata, porém, de eliminar os predicados precisos ou nítidos (crisp), tam­ bém usados pelos seres humanos; trata-se tão-somente de inverter a formulação da lógica clássica e de afir­ mar que a precisão só é o limite da vaguidade. É, pois, um cálculo lógico que engloba o cálculo clássico, mas se distancia notavelmente de suas formulações. Ao aban­ donar o raciocínio rigido ("ou isto ou aquilo") e for­ mular o raciocínio aproximado ("isto em grau x", "aqui­ lo em grau y"), a lógica fuzzy perde a independência que fora característica básica da matemática desde a época platônica. Porque agora os cálculos (como os ra­ ciocínios humanos) dependem muito do contexto e, segundo ele, devem ir variando suas conclusões (isto é, perdem "monotonia"). No amplo e complexo campo da inteligência arti­ ficial (vER), a lógica fuzzy é a que conseguiu até agora resultados mais espetaculares: a partir dos anos seten­ ta, nas aplicações que dela se fizeram, por exemplo, com os chamados "sistemas especializados" - em campos tão díspares quanto os diagnósticos clínicos ou a degustação de vinhos -, que simulam precisamente o comportamento inteligente humano em situações que requerem informação, mas também capacidade de adap­ tá-la de forma flexível; na década de 1 980 - particular­ mente graças à indústria japonesa -, a lógica fuzzy entrou também no processo industrial e iniciou a comer­ cialização de múltiplos aparelhos de uso doméstico. ••

:> Ver: Além dos trabalhos citados no texto: E. Trilias, Subconjuntos borrosos, 1 980. - E. Trilias, J. Gutiérrez Ríos, eds., Aplicaciones de la lógica borrosa, 1 992. E. Trilias, ed., Fundamentos e Jntroducción a la Jnge­ niería Fuzzy, 1 993. - !d. , comp., Razonar como la gente: la lógica borrosa, 1 993 [Arbor, set.-out., 1 993). - D. McNeill, P. Freiberger, Fuzzy Logic, 1 993. - E. Trilias, C. Alsina, J. M. Terricabras, Jntroducción a la lógica borrosa, 1 994. Pode-se encontrar uma útil compilação bibliográfica no final do art. de M. Delgado, J. L. Verdegay e M. A. Vi­ la, "Breve historia de la lógicafazzy", em E. Trilias, comp., Razonar como la gente.. , cit. supra, pp. 3 1 -34. Entre os escritos de Santo Ambrósio, destacam-se o Exaemeron, o De officiis ministrorum, De fide, De bano mortis, De fi1ga saeculi. Obras em Migne, PL, XIV-XVII, e no Corpus Christ, XXXII, XLIV.

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AMEAUX, PIERRE

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ANALOGIAS DA EXPERIÊNCIA

phor in Science, 1 974. - O. Breidbach, Der Analo­ gieschluss in den Naturwissenschaften, 1 987. Sobre o raciocínio por analogia: Maurice Dorolle, Le raisonnement par analogie, 1 949. - Ch. Perelman e L. Olbrechts-Tyteca, Traité de / 'argumentation, t. II, 1 958, § § 82-86, pp. 499-534. - R. J. Connell, Logica/ Ana/ysis: A New Approach, 1 973. - D. H. Helman, ed., Analogical Reasoning: Perspectives of Artificial Intel/igence, Cognitive Science, and Philosophy, 1 988. Sobre o conceito de analogia na lógica grega: E.-W Platzeck, La evolución de la lógica griega en el aspecto especial de la analogía, 1 954. Sobre o conceito de analogia em Parmênides e He­ ráclito: Eberhard Jungel, Zum Ursprung der Analogie bei Parmenides und Heraklit, 1 964. Sobre o conceito de analogia em Platão: Paul Gre­ net, Les origines de l 'analogie phi/osophique dans /es dialogues de Platon, 1 948. Sobre o conceito de analogia no Pseudo-Dionísio: Vladimir Lossky, "La notion des 'analogies' chez le Pseudo-Denys l' Areopagite", Archives d 'histoire /itté­ raire et doctrinale du moyen âge ( 1 930), 279-309. Sobre o conceito de analogia em vários autores es­ colásticos: Geral: T. Barth, "Zur Geschichte der Analo­ gie", Franziskanische Studien, 37 ( 1 955), 8 1 -98. Para o conceito scotista: S. Belmond, O. M., 'Tuni­ vocité scotiste", Revue de Philosophie, 2 1 ( 1 9 1 2); ibid. , 22 ( 1 9 1 3). Para o conceito tomista e cajetanista: Petazzi, "Uni­ vocità ed analogia", Rivista di Filosofia neoscolastica ( 1 9 1 1 e 1 9 1 2). - J. Ramírez, De analogia secundum doctrinam aristotelico-thomisthicam, 1 922. - R. Blanche, "La notion d' analogie dans la philosophie de Saint Thomas'', Revue des Sciences phi/osophiques et théologiques ( 1 94 1 ). - G. B. Phelan, St. Thomas and A nalogy, 1 94 1 . - J. F. Anderson, The Bond of Being, 1 949. - A. Goergen, Die Lehre von der Analogie nach Kard. Cajetan und ihr Verhiiltnis zu T v. Aquin, 1 93 8 (tese). - Hampus Lyttkens, The Analogy Between God and the World: An Investigation of lts Background and Interpretation of Its Use by Thomas of Aquino, 1 952. - B. Lakebrink, Hegels dialektische Ontologie und die thomistische Ana/ektik, 1 955 (sobre Cajetano). O. A. Varangot, Analogía de atribución intrínseca y analogía dei ente según Santo Tomás, 1 957. - B. Kelly, The Metaphysical Background ofAnalogy, 1 958 (folhe­ to; principalmente baseado em Santo Tomás e parcial­ mente em Cajetano ). - Albert Krapiec, Teoria analogii bytu, 1 959 ( Teoria da analogia do ser) [em Aristóteles, Santo Tomás, Brentano e outros] . - George P. Kluber­ tanz, St. Thomas Aquinas on Analogy, 1 960. - Yves Simon, "Order in Analogical Sets", New Scholasticism, 24 ( 1 960), 1 -42. - Bruno M. Bellerate, S. D. B., L'ana­ /ogia tomista nei grandi Commentatori di S. Tomasso, 1 960. - R. M. Mclnerny, The Logic of A nalogy. An

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As analogias da experiência são especialmente im­ portantes na doutrina kantiana dos princípios do entendi­ mento, visto que seu exame equivale a um exame das noções de substância, causalidade e reciprocidade, e a uma fundamentação da justificação do emprego das no­ ções de "substância" e "causa" contra o "ceticismo" de Hume. Há três analogias. A primeira afirma: "Em toda mudança de aparências [fenômenos], a substância é per­ manente; sua quantidade na Natureza não aumenta nem diminui" (KrV, B 224) ou "Todas as aparências contêm a (substância) permanente como o próprio objeto, e o mu­ tável como sua mera determinação, isto é, como o modo de existência do objeto" (KrV, A 1 82). A segunda decla­ ra: "Todas as mudanças ocorrem em conformidade com a lei de conexão de causa e efeito" (B 232) ou "Tudo o que acontece, isto é, chega a ser, pressupõe algo a que se segue, de acordo com uma regra" (A 1 89). A terceira reza: "Todas as substâncias, na medida em que se pode perceber que coexistem no espaço, se encontram em es­ tado de completa reciprocidade" (B 256) ou "Todas as substâncias, na medida em que coexistem, encontram-se em completa reciprocidade mútua, isto é, em interação mútua" (A 2 1 1 ). Trata-se, assim, de três "princípios": o princípio de permanência da substância, o de sucessão no tempo segundo lei causal e o de coexistência (simultaneidade) de acordo com a lei de reciprocidade ou comunidade (de ação). Observou-se que há certa correspondência entre esses três princípios e as três leis fundamentais da me­ cânica newtoniana. Seu conteúdo parece, em todo caso, muito semelhante, mas deve-se levar em conta que, en­ quanto em Newton se trata de leis tisicas, em Kant tra­ ta-se de princípios transcendentais, ou princípios a priori do entendimento. :> Quase todas as obras de Kant, e os comentários á Crítica da razão pura, a que nos referimos na biblio­ grafia do verbete KANT, lMMANUEL, tratam das analo­ gias da experiência. Uma obra especialmente dedica­ da a elas é: Arthur Melnick, Kant s A nalogies of Ex­ perience, 1 97 3 . O estudo de Melnick enquadra-se na análise de toda a "Estética transcendental" e da "Ana­ l ítica transcendental" e

ANAMNESE. Ver PLATÃO; REMINISCÊNCIA. ANANCÁSTICO. Ver WRIGHT, GEORG HENRIK voN. ANAPODÍTICOS. Ver lNDEMONSTRÁVEIS. ANARQUISMO. O sentido originário de ãvapxos (anarchos) é "sem chefe"· "anarquia" é o estado de uma comunidade que não tem condutor ou cabeça, ãpxwv, que carece de comando ou de princípio, àp)(IÍ. Isso não quer dizer necessariamente estar num estado de caos, mas significa de qualquer modo encontrar-se num estado de completa flexibilidade. Para alguns autores, a anarquia era a ausência de todo comando e de toda

ANARQUISMO

lei; para outros, a ausência de um chefe. A democracia podia ser caracterizada como anarquia num sentido ne­ gativo ou positivo. Negativamente, como expressão da ausência de toda lei e ordem; positivamente, como ex­ pressão da ausência de um ditador, por serem a lei e a ordem de todos, e não de alguém em particular. Na medida em que ãvapxos indica ausência de um "princípio" e completa falta de sujeição, vários teólogos medievais, de língua grega e latina, usaram ãvapxos como característica de Deus. Com efeito, sendo seu próprio princípio e não necessitando de um princípio alheio a si mesmo, Deus é "anárquico" Na época moderna, os termos 'anarquia' e 'anár­ quico' voltaram a ser empregados em sentido político, para caracterizar a estrutrura ou, pejorativamente, a falta de estrutura de uma comunidade. Foi muito comum, tendo chegado aos nossos dias, a acepção pejorativa de 'anarquia' e, por conseguinte, a do termo com o qual se vem designando a doutrina que defende a anarquia: 'anarquismo' Este foi tido como uma doutrina que prega um estado de dissolução, antes de tudo da socie­ dade, mas também dos "costumes" 'Anarquia' foi amiú­ de equiparada a ' confusão ' , ' dissolução ', 'destruição' etc. Supôs-se que a sociedade não pode existir, ou durar, sem um Estado, e que o Estado é a autoridade, seja esta procedente de Deus ou delegada pelos membros da co­ munidade. Pensadores políticos "autoritários", como Hobbes e Bodin, opinaram que os homens não podem reger-se por si mesmos, isto é, não podem reger-se a si mesmos "diretamente". Hobbes julgou que sem um so­ berano absoluto a sociedade regride a um suposto estado originário de uma luta de todos contra todos. A coerção pode ser penosa, mas é irremediável. A anarquia pode ser pior que a tirania. Em geral, os autores que valorizaram mais a ordem que a liberdade criticaram as tendências "anarquistas" ou julgaram que toda ausência de ordem estrita conduz à "anarquia". Por outro lado, os autores que destacaram a importância da liberdade consideraram que esta se reduz em proporção à dose de intervenção do governo e de seus aparatos coercitivos. Tanto o anarquismo como o liberalismo ressaltaram a importância da dissensão em relação às opiniões estabelecidas e o papel fundamental desempenhado pela crítica e pela oposição diante de todo poder estabelecido e arraigado, o qual tende a per­ petuar-se e a sufocar toda divergência. Visto que o liberalismo, na acepção social e econô­ mica desse termo - ao contrário de uma possível atitu­ de de caráter pessoal e moral -, exprimiu amiúde a ideologia das classes burguesas modernas, produziu-se um crescente distanciamento entre liberalismo e anar­ quismo. Pedir uma intervenção mínima, e até nula, do Estado nas atividades dos cidadãos expressou com fre­ qüência o ideal do laissezjaire, que redundou em bene­ ficio de grupos conjunturalmente opostos ao poder "ofi-

ANARQUISMO

cial" (nem sempre "real") estabelecido e não de toda a sociedade. A atitude política e social liberal distinguiu­ se então da chamada atitude "libertária", própria do anarquismo. Desde o século XVIII pelo menos, especialmente com autores como William Godwin (vER), o anarquismo como doutrina ao mesmo tempo política, social, econô­ mica e moral envolveu não apenas a idéia da diminuição e, no limite, da supressão de toda coação, como também a idéia da libertação de toda tirania e de toda exploração do trabalho alheio. Todo governo é, para Godwin, tirâ­ nico e constitui um obstáculo tanto ao exercício da liber­ dade como à realização da justiça. No século XIX, desenvolveram-se as grandes dou­ trinas anarquistas. John Stuart Mill (VER) não é, formal­ mente, um anarquista, mas há características libertárias, e não só liberais, em sua concepção da sociedade e em particular em sua crítica da tirania e das desigualdades (desigualdades não apenas entre seres humanos, mas também entre homens e mulheres). O pensamento de John Stuart Mill é, em todo caso, emancipacionista (ver EMANCIPAÇÃO; LIBERTAÇÃO). John Stuart Mill seguiu em alguns pontos importantes Jeremy Bentham (vER), um dos mais consistentes e insistentes "libertários" do século XIX. O anarquismo como doutrina política, social e tam­ bém moral foi preconizado por Proudhon ( VER) , que costuma ser apresentado como "o fundador do anar­ quismo". A despeito de sua famosa fórmula "A proprie­ dade é um roubo", Proudhon não se opôs à propriedade privada, mas tão-somente à propriedade a que coubes­ se o nome de "usurpadora" e "exploradora", especial­ mente à propriedade monopolista. Há traços anarquis­ tas em muitos dos socialistas utópicos franceses. Contu­ do, é preciso chegar a Bakunin ( vER) e Kropotkin (VER) para a formulação do anarquismo na forma em que é entendido hoje, como um "anarquismo coletivista", isto é, como um "comunismo libertário" À idéia de "fede­ ração" proposta por Proudhon acrescentou-se a idéia de comuna. O comunismo libertário de Bakunin e espe­ cialmente de Kropotkin encontrou a oposição do marxis­ mo ( VER). Os marxistas julgaram em geral o anarquismo como uma doutrina ingênua que, no fundo, beneficia as instituições existentes, mas houve marxistas que sim­ patizaram com o anarquismo. Embora igualmente co­ munistas, anarquismo e marxismo diferem radicalmente no que diz respeito aos métodos que devem ser segui­ dos para destruir o Estado e atingir o ideal de uma so­ ciedade sem classes na qual impere a justiça e desapa­ reça a desigualdade. Os anarquistas avaliam que a toma­ da do poder pelo proletariado leva à perpetuação desse poder e, portanto, à corrupção, pois todo poder é funda­ mentalmente corrupto. Há grande variedade de doutrinas anarquistas. O comunismo anarquista é uma das mais proeminentes,

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geralmente conhecida pelo nome de comunismo libertá­ rio, ao contrário de várias formas de comunismo e de socialismo. É importante, em especial na Espanha e na França, o anarco-sindicalismo, mas este pode ser consi­ derado uma forma de comunismo libertário. Além dos autores citados, mencionam-se, como anarquistas, Elisée Reclus, Erico Malatesta, Max Nettlau, B. R. Tucker. O interesse dos anarquistas pelo indivíduo e pelo indivi­ dualismo levou a que autores como Max Stirner, Nietzsche e Tolstói fossem tidos como parte da tradição cultural moderna do anarquismo. Há importantes carac­ terísticas anarquistas em vários movimentos atuais que insistem na emancipação e na libertação de todas as formas de opressão. A ampla gama do anarquismo manifesta-se no fato de que, nele, são encontradas tanto doutrinas da chamada "ação direta" como doutrinas de não-violência e não-resistência. As diferenças são mar­ cadas mesmo quando se parte dos mesmos pressupostos, tais como o do chamado "estado de natureza" Pode haver então um anarquismo do "Estado mínimo", social­ mente reacionário, como o de Robert Nozick (Anarchy. State, and Utopia, 1 974), ou um anarquismo adaptado ao Estado da economia industrial avançada, mas funda­ do na coordenação econômica voluntária de agentes numa sociedade em que ninguém reivindica uma auto­ ridade legítima, como o de Robert Paul Wolff (ln De­ fense of'Anarchism, 1 970). :> A bibliografia sobre o anarquismo é muito abundan­ te; já em 1 897, Max Nettlau publicou uma Bibliogra­ phie de l 'anarchie, com prefácio de Elisée Reclus, que continha mais de 5 .000 títulos, incluindo artigos. Ver também: R. Goehlert, "Anarchism: A Bibliography of Articles, 1 900- 1 975", Political The01y, 4 ( 1 976), 1 1 31 27. S . Faure dirigiu em Paris uma Encyclopédie anar­ chiste, da qual há tradução espanhola. Ver: G. Sarno, L'anarchia, 1 948. - P. Heintz, Anar­ chismus und Gegenwart, 1 95 1 . - Robert Paul Wolff, ln Defense ojAnarchism, 1 970. - April Carter, The Politi­ cal Theory ofAnarchism, 1 97 1 . - John Carroll, Break­ Out from the Crystal Palace: The Anarcho-P�ychologi­ cal Critique: Stirner, Nietzsche, Dostoievsky, 1 974. Carlos Díaz, "Diecisiete tesis sobre anarquismo", Siste­ ma, 1 3 (abril de 1 976), 5-25. - J. Joll, The Anarchists, 1 964. - D. Tarizzo, L'anarchia. Storia dei movimenti libertari nel mondo, 1 976. - J. P. Clark, The Philosophi­ cal Anarchism of' William Godwin, 1 977. - P. Thomas, Karl Marx and the Anarchists, 1 980. - A. Ritter, Anar­ chism: A Theoretical Analysis, 1 980. - A. Read, Philoso­ phie des Anarchismus, 1 982. - D. L. Hall, Eros and Irony: A Prelude to Philosophical Anarchism, 1 982. M. P. Smith, The Libertarians and Education, 1 983. J. H. Barker, Individualism and Community: The State in Marx and Early Anarchism, 1 986. - M. Shatz, Statism and Anarchy, 1 99 1 . - C. Gans, Philosophical Anarchism and Political Disobedience, 1 992.

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Para o anarquismo na Espanha: C. Colomer, Histo­ ria dei anarquismo espaiíol, 2 volumes, 1 956. - Ansel­ mo Lorenzo, E! proletariado militante, 1 975. C

ANATÓLIO. Ver PERIPATÉTicos. ANAXÁGORAS. (ca. 499-428 a.C.). Nasc. em Clazô­ menas ( Ásia Menor) e foi para Atenas em 453 . Ligado por amizade e por adesão política a Péricles, foi acusa­ do de impiedade pelos inimigos deste e se viu obrigado a abandonar a cidade em 434, falecendo em Lâmpsaco. Anaxágoras foi, no dizer de Diógenes Laércio, "o pri­ meiro que á matéria (ÜÀTJ) acrescentou a inteligência (vous)". A "tradição jônica" renova-se em Anaxágoras, em cuja opinião nada se gera nem se destrói, havendo simples mescla e separação. A questão fundamental da filosofia pré-socrática, a interrogação relativa ao ser per­ manente tendo em vista a explicação do que acontece e muda, é resolvida por Anáxágoras não mediante a suposição de um princípio único nem mediante a afir­ mação de que só o ser é, à maneira de Parmênides, mas pela hipótese de um número infinito de elementos, de germes ou sementes, que se diferenciam entre si qualitativamente, que possuem propriedades irredutíveis e por cuja mescla e combinação nascem as coisas visí­ veis. Confusão, separação e mescla são o que determina a formação das coisas sobre a base das sementes que Aristóteles denominou homeomerias. Essas sementes estavam no início confundidas e sem ordem; estavam "todas juntas" num caos primitivo que só pôde ser or­ denado pelo espírito, pela inteligência, pela mente, vous. A massa originária das homeomerias foi submetida a um turbilhão impelido pelo espírito, pela "mais fina e pura de todas as coisas" O Naus é, assim, o princípio da ordem, mas também o princípio de animação e de individualização das coisas que constituem a ordem harmoniosa do universo. No entanto, o Naus produz a ordem de um modo previsto desde sempre, não como um destino, mas como uma força mecânica que se desenvolve a partir de seu próprio centro, ou seja, do centro de seu movimento em turbilhão. O Naus é, por­ tanto, princípio do movimento, mas de um movimento que se estende quase cegamente, porque é antes anima­ ção que cumprimento de uma justiça necessária. Por isso, Aristóteles afirma que o pensamento de Anaxágo­ ras carece de clareza, porque, embora explique a passa­ gem do caos à ordem como intervenção no confuso e mesclado do puro e sem mescla, o explica sem justi­ ficar a finalidade desse espírito puro e universal. A percepção das coisas ocorre, segundo Anaxágo­ ras, mediante a sensação das diferenças entre nossos sentidos e os objetos externos. As coisas são percebi­ das por seus contrários; se há uma impossibilidade de captar a realidade em suas partes mínimas, isso se deve unicamente à insuficiência dos órgãos sensoriais, que,

ANAXIMANDRO

por outro lado, refletem com toda exatidão o que se põe em contato com eles. Foram continuadores da filosofia de Anaxágoras Arquelau de Atenas ou de Mileto (jl. ca. 400 a.C.) e Metrodoro de Lâmpsaco (jl. ca. 420 a.C.). Atribui-se ao primeiro um escrito intitulado n Ep\ cpÚOEWS, Sobre a Natureza, na qual afirmava que o caos primitivo, a massa originária de todas as substâncias era formada pelo ar, sendo o Naus seu princípio ordenador. A filo­ sofia natural de Arquelau de Atenas parecia ser, pois, uma combinação das especulações de Anaxágoras e de Anaxímenes. Metrodoro aplicou os conceitos da filoso­ fia natural de Anaxágoras à interpretação de Homero, equiparando, por exemplo, Zeus ao Naus, Aquiles ao Sol, Agamenon ao éter etc. Uma doutrina em alguns aspectos análoga à de Anaxágoras é a de Diógenes de Apolônia (vER). Costuma-se atribuir a Anaxágoras um escrito, n Epl cpÚOEWS, Sobre a Natureza. Fragmentos e testemunhos em Diels-Kranz, 59 (46). Testemunhos de Arquelau de Atenas ou de Mileto e de Metrodoro de Lâmpsaco em ibid. , 69 (47) e 6 1 (48), respectivamente. � Ver a bibliografia dos verbetes FILOSOFIA GREGA e PRÉ-SOCRÁTICOS. Além disso: F. Krohn, Der vous bei A . , 1 907. D. Ciurnelli, La filosofia di Anassagora, 1 947. - Félix M. Cleve, The Philosophy of A . : An Attempt at Reconstruction, 1 948. /d. , The Philoso­ phy of A. as Reconstructed by F M. C. , 1 973. J. Zafiropoulo, A naxagore de Clazomene (/. Le mythe grec traditionnel de Thales a Platon. li. Théorie et frag­ ments), 1 948. - Daniel E. Gershenson e Daniel A. Greenberg, A . and the Birth ofPhysics, 1 964. R. M. Afnan, Zoroaster 's lnfluence on Anaxagoras, the Greek Tragedians, and Socrates, 1 969. - F. M. Cleve, The Philosophy ofA . , 1 973. M. Schofield, An Essay on Anaxagoras, 1 980. S .-T. Teodorsson, Anaxagora 's Theory ofMatter, 1 982. A. J. Capelletti, La filosofia de A . , 1 984. Artigos sobre Anaxágoras de M. Heinze (Ber. der Ges. der Wiss. phil. -hist. Klasse [ 1 890] , 1 -45), H. Diels (Archiv für Ges. der Phil. , 1 0 [ 1 897], 228-237, e Zeitschr. für Phil. und phil. Kritik, 1 1 4, 20 1 -2 1 3), W Capelle (Neue Jahrb. 53 [ 1 9 1 5] , 8 1 - 1 02, 1 69- 1 98), O. Gigon (Philologus, 9 1 [ 1 936], 1 -4 1 ), W. Broecker (Kantstudien, 1 942- 1 943 ). - Art. de E. Wellmann sobre Anaxágoras (Anaxagoras, 4) em Pauly-Wissowa. C -

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ANAXIMANDRO de Mileto (ca. 6 1 0-547 a.e.) foi um dos chamados "fisiólogos j ônicos" (ver F1s10LOGIA). Segundo Diógenes Laércio, Anaximandro afirmou que "o infinito é o princípio" Esse princípio, apx�, é o fundamento da geração das coisas, aquilo que as abarca (mp1ÉXEI) e domina (Kv�Epvã); mas é um fundamento constituído por algo imortal e imperecível, pelo indeter­ minado, pelo indiferenciado, TO ihmpov. Do apeiron (vER) surgem o frio e o quente como separações da

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ANAXÍMENES

substância primordial, e se constituem o fluido, a terra, o ar, os astros. A disposição dos elementos do universo no espaço que ocupam é feita, assim, de acordo com o maior ou menor peso dos elementos componentes: no centro, a terra; cobrindo-a, a água, e recobrindo tudo, o ar e o fogo. Essa ordem que surgiu do caos nas­ ceu em virtude de um princípio, de uma substância úni­ ca, mas de uma substância que não é determinada, mas indeterminada. A indeterminação do "princípio" de Anaximandro, ao contrário da precisa determinação e transparência do "princípio" de Tales, a água, pode de­ ver-se tanto à indiferença qualitativa que corresponde às coisas antes de serem formadas individualmente, como ao fato de que o infinito, isto é, o indeterminado, recubra o determinado, a ordem do mundo. Os mundos nascem e perecem no interior desse infinito, desse princípio e substância universal que faz com que o diverso seja, no fundo, o mesmo. O retomo de toda formação ao informe não é, assim, senão o cumprimento de uma justiça con­ tra a injustiça que representa o fato de as coisas preten­ derem ser subsistentes por si mesmas, pois a j ustiça é, em última instância, a igualdade de tudo na substância única, a imersão, sem diferenças, no seio de uma inde­ terminada infinitude. :l Fragmentos e testemunhos em Diels-Kranz, 1 2 (2).

Ver: F. Lutze, Ueber den ihmpov Anaximanders, ein Beitrag zur richtigen Auffassung desselben ais mate­ rie/len Prinzips, 1 878. - J. Neuhiiuser, Dissertatio de A. Mi/esi natura infinita, 1 879. - L. Otten, A. aus Milet, 1 9 1 2 (tese). - Charles H. Kahn, Anaximander and the origins of Greek Cosmo/ogy, 1 960. - Paul Seligman, The "Apeiron " of"Anaximander: A Study in the origin and Function ofMetaphysical Ideas, 1 962. - Osvaldo N. Guariglia, A. de Mileto, 1 966 (separata de Anafes de G. De Santillana, fi/o/ogía c/ásica, 9, 1 964- 1 965). The Origins of Scientific Tlwught, from Ana.ximander to Proc/us, 600 B. C. to 3 00 A C , 1 96 1 . - U. Holscher, "A. und der Anfang der Philosophie", em /d. , Anfiing/i­ ches Fragen. Studien zurfrühen griechischen Philoso­ phie, 1 968. - H. Schmitz, A. und die Anflinge der grie­ chischen Philosophie, 1 988. Artigos de F. D. E. Schleiermacher ( Werke, II, 1 7 1 -296), G . Teichmüller (Studien zur Geschichte der Be­ griffe , 1 874; reimp., 1 966, pp. 3-70 e 547-588), P. Na­ torp (Phil. Monatshefie, 20 [ 1 884] , 367-398), P. Tanne­ ry (Revue philosophique [ 1 886], 225-27 1 , e Archiv.fii r Ges. der Philosophie, 8 [ 1 895], 443-448), H. Diels (ibid. , 10 [ 1 897], 288-337), J. Dõrfler ( Wien. Stud. 38 [ 1 9 1 6] , 1 89 ss.), R. Montolfo (Logos, 1 1 4- 1 3 0), G. B. Burch (Review of Metaphysics 3 [ 1 949], 13 7- 1 60), M. Heidegger (em Hozwege, 1 950, pp. 296-343 [trad. esp.: Sendas perdidas, 1 960, pp. 269-3 1 2]). Ver também PRÉ-SOCRÁTICOS. Além dos trabalhos citados no verbete, ver, para uma concepção pós-cartesiana do homem e dos animais: L. C. Rosenfield, From Beast-Machine to Man-Machine: Animal Sou! in French Lettersjivm Descartes to La Mettrie, 1 94 1 . - W H. Thorpe, Animal Nature and Human Na­ ture: Uncovering the Uniqueness of Man, 1 974. - D. Radner, M. Radner, Animal Consciousness, 1 989. Para uma consideração do problema da perspectiva moral: P. Singer, Animal Liberation: A New Ethics for Our Treatment ofAnimais, 1 976. - M. von Cranach, Methods oflnference from Animal to Human Behaviour, 1 976. - S. R. Clark, The Moral Status of Animais, 1 977. - H. S. Salt, Animai s Rights, considered in Rela­ tion to Social Progress, 1 980 (trata-se de uma reprodu­ ção de uma obra de 1 892, claramente favorável aos di­ reitos dos animais; incorpora um prefácio de P. Singer e uma extensa bibliografia de escritos sobre direitos dos animais). - B. E. Rollin, Animal Rights and Human Morality, 1 98 1 ; ed. rev. 1 992. - S. R. L. Clark, The Nature of the Beast: Are Animais Mora/?, 1 982. - T. Regan, A li That Dwell Therein: Animal Rights and Environmental Ethics, 1 982. - D. Premack, Gavagai: Or the Future History of the Animal Language Contro­ versy, 1 986. - U. Wolf, Das Tier in der Moral, 1 990. - M . Zimmerman et ai. , eds., Environmental Philo­ sophy: From Animal Rights to Radical Ecology, 1 993. Para uma discussão sobre a legitimidade ou ilegi­ timidade moral de realizar experiências com animais: M . A. Fox, The Case for Animal Experimentation: An Evolutionary and Ethical Perspective, 1 986. - G. Langley, ed., Animal Experimentation: The Consensus Changes, 1 989. - R. E. Baird, ed., Animal Experimen­ tation: The Moral lssue, 1 99 1 . - G. Francione, A. E. Charlton, Vivisection and Dissection in the Classroom: A Guide to Conscientious Objection, 1 992. Bibliografia: C. R. Magel, A Bibliography on Ani­ mal Rights and Related Matters, 1 9 8 1 (contém 3 .2 1 0 verbetes, exclusivamente em inglês, que abrangem desde a época bíblica até 1 98 1 ; há seções sobre animais e leis, literatura, religião, arte e música, bem como listas de organizações interessadas nos animais). - !d. , Key­ guide to lnformation Sources in Animal Rights, 1 989 (completa com eficácia a obra anterior). C:

ANIMISMO. Costuma significar a crença de que tudo está animado e vivificado, de que os objetos da Natureza são, em sua singularidade e em sua totalidade, seres ani­ mados. Esse animismo coexiste nos povos primitivos



sob a forma do antropomorfismo, pelo qual a anima­ ção de todos os seres é concebida em analogia com a do homem. Segundo Edward Bumett Tylor ( 1 832- 1 9 1 7), o animismo é, em termos gerais, a doutrina dos seres espirituais na medida em que abrange a própria essên­ cia de uma filosofia espiritualista oposta a toda filoso­ fia materialista. 'Animismo ' seria então um termo com o qual se designaria toda doutrina de índole espiritualis­ ta. Ora, o animismo se divide, segundo Tylor, em dois grandes dogmas, que fazem parte de uma única doutri­ na consistente: o primeiro refere-se às almas de criaturas individuais, capazes de possuir uma existência que con­ tinua depois da morte ou da destruição do corpo; o se­ gundo diz respeito aos espíritos que possuem a categoria de divindades poderosas ( cf. Primitive Culture, 1 873 ). Contudo, o fato de que o animismo equivalha em grande parte à doutrina de que a alma é, em todos os sentidos, o verdadeiro princípio vital não quer dizer que ele seja inteiramente identificável com essa doutrina. Pois o animismo pode ser entendido também em dois outros sentidos: ou o anímico é princípio do orgânico como sujeito material, ou representa seu princípio sob a forma da causa final de todos os movimentos corporais. Neste último sentido, o animismo equivale ao vitalismo, tal como defendido por Hans Driesch em sua teoria da "causalidade entelequial" e em sua doutrina da entelé­ quia orgânica, assim como à psicologia "hórmica" e teleológica de William McDougall, que denomina pre­ cisamente animismo sua própria teoria psicológica. Mas esta causa final tende então a deixar de ser meramente uma instância exemplar, uma atração, para transformar­ -se num verdadeiro e real princípio ativo. É óbvio, em todo caso, que o termo 'animismo' se revela para essa concepção demasiado vago, sendo conveniente evitá­ -lo, seja para concentrá-lo em sua primeira significa­ ção antropológica, seja para aplicá-lo a toda doutrina segundo a qual a alma, ou uma realidade análoga a ela, constitui o princípio da atividade de todos os seres, e não apenas de todos os corpos orgânicos, mas também, por exemplo, dos próprios astros, e até do universo con­ cebido como unidade. Nesse sentido, podem ser qua­ lificadas de animistas as doutrinas antigas e renas­ centistas que sustentam a existência de uma Alma do Mundo ( vER). :> Ver: E. Saisset, L'âme et la vie; étude sur la renais­ sance de l 'animisme, 1 864. - A. Borchet, Der Ani­ mismus, 1 900. - Clodd, Animisme, 1 9 1 8. - J. Pascher, Der Seelenbegriff im Animismus E. B. Tylors, 1 929. W T. Harris, E. G. Parrinder, The Christian Approach to the Animist, 1 960. - W Me Dougall, Body and Mind. A History and a Defense ofAnimism, 1 96 1 . E. Renner, Eherne Schalen. Über die animistische Denk­ und Erlebnisformen, 1 967. - R. C. Dales, "The De­ -Animation of the Heavens in the Middle Ages", Jour­ nal of the History of ldeas, 4 1 ( 1 980), 53 1 -550. - R.

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Bunge, "Awareness ofthe Unseen: The Indian's Contract with Life", Listening, 1 9 ( 1 984), 1 8 1 - 1 9 1 . - D. Ken­ nedy, "Fools, Young Children, Animism, and the Scien­ tific World-Picture", Philosophy Today, 33(4) ( l 989), 374-3 8 1 . C. Westermann, O anjo de Deus não precisa de asas, Loyola, 2000. Além dos textos citados, ver: E. Souriau, "Valeur actuelle du pari de Pascal'', em L'ombre de Dieu, 1 955, cap. l i . - Georges Brune!, Le pari de Pascal, l 956 (texto e comentários). - R. G. Swinburne, "The Chris­ tian Wager'', Religious Studies, 4, pp. 2 1 7-228. - R. Sternbach, "Pascal and Dr. Johnson on lmmortality", Journal ofthe History of1deas, 39 ( 1 978), 483-489. P. Lonning, Cet ejfrayant pari. Une ' 'pensée " pasca­ lienne et ses critiques, 1 980. - D. Walker, "On Gam­ bling with Pascal'', Teaching Philosophy, 5 ( 1 982), 3 1 1 -3 1 2 . - C. M. Natoli, ''The Role o f the Wager in Pascal 's Apologetics", New Scholasticism, 57 ( 1 983 ), 98- 1 06. - M. Martin, "Pascal 's Wager as an Argument for Not Believing in God", Religious Studies, 1 9 ( 1 983), 57-64. - M. A. Makinde, "Pascal's Wager and the Atheist's Dilemma'', International Journaljàr Philoso­ phy of Religion, 1 7 ( 1 985), 1 1 5- 1 29. - N. Rescher,

Pascal �· Wager: A Study of Practical Reasoning in Phi­ losophical Theology, 1 985. - T. V Morris, "Pascalian Wagering", Canadian Journal ofPhilosophy, 16 ( 1 986 ), 437-45 3 . - A. Duff, "Pascal's Wager and lnfinite Utilities", Analysis, 46 ( 1 986), 1 07- 1 09. - M. J. Wreen, "Passing the Bottle'', Philosophia (Israel), 1 5 ( 1 986), 427-444. - S. A. Hadari, "Rousseau's Wager", History ofEuropean Ideas, 8 ( 1 987), 709-7 1 3 . - T. Bonhoeffer, "Le 'Pari ' de Pascal", Revue de Théologie et de Philo­ sophie, 1 22(2) ( 1 990), 1 89-202 . - S. T. Davis, "Pascal on Self-Caused Belief", Religious Studies ( 1 99 1 ), 2737. - J. Jordan, "Duff and the Wager", Analysis ( 1 99 1 ), 1 74- 1 76. - !d. , id. , "The Many-Gods Objection and Pascal 's Wager", International Philosophical Quarterly ( 1 99 1 ), 309-3 1 7 . - G. Oppy, "On Rescher on Pascal 's Wager'', International Journal for Philosophy of Reli­ gion ( 1 99 1 ), 1 59- 1 68 . e APPELATIO. Ver APELAÇÃO; APELATIVO; PROPRIEDADES DOS TERMOS. APREENSÃO. Ver AssENTIMENTO; PERCEPÇÃO. APRIORISMO. Ver A PRIORI; MATEMÁTICA. APULEIO (Lucius Apuleius). Nascido em 1 25 em Hippo (hoje Bône, Argel). É conhecido na história da literatura sobretudo por seu célebre romance O asno de ouro. Como fi lósofo, era um dos membros da chamada escola platônica eclética de Gaio, embora seja duvidoso que tenha tido relação direta com esse pensador; é mais provável - a julgar por sua obra sobre Platão que tenha sido influenciado por Albino. Em suas obras filosóficas - Sobre o Deus de Sócrates (De deo So­ cratis), Sobre as Opiniões de Platão (De Platone et eius dogmata) e Sobre o Mundo (De mundo) -, Apuleio desenvolveu um sincretismo platonizante no qual se destacam especialmente as tendências místicas e uma demonologia baseada na concepção socrática do demo­ níaco, ômµóv1ov, mas que Apuleio elaborou num sen­ tido místico-religioso, análogo ao de Plutarco e que foi tornando-se cada vez mais comum nos preceitos platô­ nicos e neoplatónicos. A obra sobre as opiniões de Platão tem dois livros: um sobre a física e outro sobre a ética. Uma obra sobre uma terceira parte - a lógica - não foi completada por Apuleio, ou não foi conservada, mas conhece-se o seu possível conteúdo pelo escrito DEp\ i:pµfjvEías, erroneamente atribuído a Apuleio. O De mundo, um comentário ao tratado pseudo-aristotélico n Ep\ KÓOµOV (ver DE MuNDO ) , é também equivocadamente atribuído a Apuleio. :> Edições: Apuleii Madaurensis opuscula quae sunt de philosophia, rec. A. Goldbacher, Wien, 1 876. n Ep\ ÉpµfjVEías, ed. A. Goldbacher, 1 885, e Ph. Meiss, 1 886. - Apuleii Opera, ed. R. Helm, 3 vols., 1 905- 1 907. - L. Apuleii Madaurensis scripta quae sunt de

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philosophia, rec. P. Thomas, Lipsiae, 1 908 (incluindo a obra latina Peri Hermeneias, que parece ser efetiva­ mente de autoria de Apuleio, segundo o testemunho de Cassiodoro: Has formulas categoricum syllogismorum qui plene nosse desiderat, librum legal, qui inscribitur Apuleii [Migne, P. L. , LXX, 1 1 73 A]). Bibliografia: C. Mazzarelli, "Bibliografia Medio­ platonica, parte seconda: Apuleio", Rivista di Filosofia Neo-Scolastica, 73 ( 1 98 1 ), 557-595. Ver: S. Müller, "Das Verhãltnis von Apuleius De Mundo zu seiner Vorlage", Philologus, Supp. Bd. 32, H. 2. - W. Wittmann, Das Isisbuch des Apuleius, 1 940. - Mark W. Sullivan, Apuleian Logic: The Nature, Sources and Influence of Apuleius s Peri Hermeneias, 1 967. - Frank Regen, Apuleius philosophus platonicus. Untersuchungen zur Apologie (De magia) und zur De Mundo, 1 97 1 . - A. Wlosok, "Zur Einheit der Meta­ morphosen des Apuleius", Philologus, 1 1 3 ( 1 969), 7 1 ss. - R. Mortley, "Apuleius and Platonic Theology", American Journal of Philosophy, 93 ( 1 972), 5 84-590. - F. E. Hoevels, Miirchen und Magie in den Meta­ morphosen des Apuleius von Madaura, 1 979. - C. Johanson, "Was the Magician of Madaura a Logician?", Apeiron, 1 7 ( 1 983), 1 3 1 - 1 34. - D. Londey, C. Johan­ son, "Apuleius and the Square of Opposition", Phro­ nesis, 29 ( 1 984), 1 65- 1 73 . - M. O' Brien, "Apuleius and the Concept of Philosophical Rhetoric", Herma­ thena, 1 5 1 ( l 99 1 ), 39-50. Entre os numerosos escritos sobre a obra filosófica de Apuleio, destacamos os de A. Goldbacher ( 1 87 1 ), J. Bernays ( 1 87 1 ), E. Rohde ( 1 885), W. Kroll ( 1 898), P. Thomas ( 1 900 e 1 908), R. Helm ( 1 900), Th. Sinko ( 1 905). Artigo de Schwabe sobre A pulei o (Apuleius, 9) em Pauly-Wissowa. C AQUINO. Ver TOMÁS DE AQUINO (SANTO). ARANGUREN, JOSÉ L[UIS) L [ÓPEZ) . Nasc. ( 1 909) em Ávila. Foi professor de ética e sociologia na Universidade de Madri de 1 955 a 1 965; nesta última data, foi afastado da cátedra por motivos políticos. A partir de 1 965, lecionou por um semestre a cada ano na Universidade da Califórnia (Santa Bárbara). Em 1 976, foi-lhe restituída a cátedra de Madri com todos os direitos, até sua aposentadoria em 1 979. Em 1 993, é nomeado Professor Emérito da Universidade Com­ plutense de Madri . Foi também objeto de numerosas homenagens acadêmicas e institucionais. A influência de Aranguren sobre as jovens gerações de filósofos espanhóis foi considerável. Os primeiros trabalhos de Aranguren em ética e em filosofia da religião enfatizaram a importância da têmpera religiosa. (Para o sentido atribuído por Aran­ guren a este termo, ver TÊMPERA.) Aranguren interessou­ se pelas relações entre ética e religião (vER). Em sua in­ vestigação da ética do protestantismo, mostrou que este

ARANGUREN, JOSÉ L[UIS] L[ÓPEZ]

desliza facilmente para uma excessiva ruptura entre o ético e o religioso. Essa ruptura deve ser rejeitada. Mas deve ser rejeitada igualmente a identificação entre o religioso e o ético tal como a preconizam, consciente ou inconscientemente, algumas tendências filosóficas (as quais, por outro lado, mais que identificar o reli­ gioso com o ético, subordinam este àquele). Aranguren observou que a ética está "aberta à religião", de modo que a possível confluência entre ambas se encontra antes no ponto de partida que no de chegada. Especialmente a partir do exercício de sua cátedra em 1 955, Aranguren difundiu correntes filosóficas con­ temporâneas, acolhendo de modo amplo as discussões de problemas éticos por parte de filósofos de tendência analítica e de outras tendências, como a marxista. Isso não significa que Aranguren tenha se restringido estrita­ mente a qualquer uma dessas correntes, mas antes que introduziu problemáticas até então pouco cultivadas na Espanha em ambientes universitários. Pessoalmente, Aranguren preocupou-se em prover sua teoria ética de uma dimensão social e ligá-la ao debate de questões so­ ciais e políticas fundamentais. Entre outros conceitos, Aranguren introduziu os de "aliedade" e "alteridade" como dois níveis ou aspectos da "outridade" humana em que se dão respectivamente o moral estritamente social e o moral interpessoal. Aranguren pesquisou a constituição social do moral individual numa longa série de estudos literários, históricos e sociológicos sobre vários aspectos da vida moderna e contemporânea. É importante seu conceito do Estado de justiça social, eqüidistante do simples "Estado de bem-estar (social)", por um lado, e de todo "totalitarismo", incluindo o que se apresenta sob a forma de um "socialismo" Tanto no campo das crenças católicas como em todos os outros problemas filosóficos, políticos, sociais e culturais, ca­ racterizaram o pensamento de Aranguren nos últimos anos uma atitude de inconformismo e de "heterodoxia", assim como uma mescla de compromisso intelectual e moral com certo distanciamento que o próprio Aran­ guren qualificou de "irônico" :> Edição de obras seletas: Obras, I, 1 965 (contém reimp. de Catolicismo y protestantismo como formas de existencia, El protestantismo y la moral, Ética, La ética de Ortega, La juventud europea y otros ensayos, El futuro de la universidad, lmplicaciones de la filoso­ fia en la vida contemporánea, Ética y política, bem co­ mo um ensaio sobre Zubiri). - Suas numerosas obras publicadas tiveram diversas edições e reimpressões. Aqui enfatizamos particularmente as primeiras edições: Obras: Obras Completas, 6 vols., 1 994 ss. (!. Filoso­ fia y religión; II. Ética; III e IV, Filosofia moral, so­ ciología y política; V Escritos literários y autobiográ­ ficos; VI. Varia). - La filosofia de Eugenia d 'Ors, 1 945; nova ed., ampl., 1 98 1 . - Catolicismo y protestantismo como formas de existencia, 1 952; nova ed., ampl.,

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ARBÍTRIO (LIVRE)

1 980. - E/ protestantismo y la moral, 1 954. - Cato­ licismo día tras día, 1 95 5 ; nova ed., com o texto antigo e comentários, em Contralectura dei catolicismo, 1 978. - Crítica y meditación, 1 957. - Ética, 1 958. - La ética de Ortega, 1 958; 2ª ed., rev., 1 959. - La juventud europea y afros ensayos, 1 96 1 ; reimp., 1 969 (trad. italia­ na, ampl., 1 962); reatualizado em Bajo e/ signo de la juventud, 1 982. - E/ futuro de la universidad, 1 962. Implicaciones de la filosofia en la vida contempo­ ránea, 1 962; reimp., 1 97 l . - Ética y Política, 1 963; reimp., 1 968. - Remanso de Navidad y examen defin de afio, 1 965. - Moral y sociedad: Introducción a la moral social espaiiola dei sigla XIX, 1 965; reimp., 1 966. - Religiositat intellectual, tr. Gabriel Pas, 1 966. - La comunicación humana, 1 967 (versões simultâneas para várias línguas); nova ed. , ampl ., 1 986. - Lo que sabe­ mos de moral, 1 967; nova ed. , ampl., em Propuestas morales, 1 983, com reimpr. em 1 984 e 1 986. - EI marxismo como moral, 1 968. - La crisis dei catolicis­ mo, 1 969. - Memorias e e�peranzas espaiiolas, 1 969. - EI cristianismo de Dostoievski, 1 970. - Juventud, universidad y sociedad, 1 97 1 . - Erotismo y liberación de la mujer, 1 972. - E/futuro de la universidad y otras polêmicas, 1 973. - Moralidades de hoy y de maiiana, 1 973. - San Juan de la Cruz, 1 973. - La cruz de la monarquía espaiiola actual, 1 974. - Entre Espaiia y América, 1 974. - La cultura espaiiola y la cultura es­ tablecida, 1 975. - Talante, juventud y moral, 1 975. Estudios /iterarias, 1 976. - Qué son los fascismos, 1 976. - La democracia establecida: una crítica intelec­ tual, 1 979. - E/ oficio de intelectual y la crítica de la crítica, 1 979. - Sobre imagen, identidad y heterodoxia, 1 982. - Espaiia: una meditación política, 1 983. - EI buen talante, 1 98 5 . - Moral de la vida cotidiana. personal y religiosa, 1 987. - Ética de la felicidad y otros lenguajes, 1 988. - La vejez como autorrealización personal y social, 1 992. Além disso, A. editou, com amplas introduções, uma A ntología de M. de Unamuno, 1 964, e uma edição de Obras de São João da Cruz, 1 965. Depoimento: Conversaciones con A., por F. Bláz­ quez, 1 976. B ibliografia: F. Blázquez, "J. L. L. Aranguren: ensayo bibliográfico", em 1. Muguerza, F. Quesada, R. Rodríguez Aramayo, eds., Ética día tras día, 1 99 1 , pp. 449-484. - !d., id. , Bibliografia, em Obras Completas, vol. !, pp. 83 1 -838. Ver: VVAA., Teoría y sociedad: Ensayos ofrecidos ao Profesor Aranguren con ocasión de su 60 cumplea­ iios, comp. Francisco Gracia, Javier Muguerza e Víctor Sánchez de Zavala, 1 970, com bibl., pp. 453-465. VVAA., Homenaje a Aranguren, comp. Pedro Laín Entralgo, 1 972. - J. Muguerza, F. Quesada, R. Rodrí­ guez Aramayo, eds., Ética día tras día, 1 99 1 . - J. F. Marsal, La sombra dei poda Intelectuales y políticos -



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en Espaiia, Argentina y México, 1 975, cap. III. - D. Dona-Folongo, Le moralisme politique de 1 L. L. Aran­ guren, Universidad de Toulouse, 1 976 (tese). - E. Bonete Perales, Aranguren: la ética entre la religión y la política, 1 989 (tese). � ARBÍTRIO (LIVRE). A expressão /iberum arbitrium, muito usada por teólogos e filósofos cristãos, tem às vezes o mesmo significado da expressão libertas (ver LIBERDADE). No entanto, em muitos casos elas são distin­ guidas. Essa distinção aparece claramente em Santo Agos­ tinho (Enchiridion, XXXII; Op. imperf contra Julian. , VI, 1 1 ), como acentuou Gilson (Introduction à / 'étude de Saint Augustin [ 1 93 1 ] , 3ª ed. , 1 949, pp. 2 1 2 ss.). A libertas (liberdade) designa o estado de bem-aventu­ rança eterna (sempiterna) na qual não se pode pecar; a libertas distingue-se da possibilidade de bem ou mal voluntários. Em contrapartida, o /iberum arbitrium de­ signa a possibilidade de escolher entre o bem e o mal ; é "a faculdade da razão e da vontade por meio da qual é escolhido o bem, mediante auxílio da graça, e o mal, pela ausência desta" (De lib. arb. l ). "Portanto, é clara a oposição entre o livre-arbítrio do homem, cujo mau uso não destrói a natureza, e a liberdade, que é justa­ mente o bom uso do livre-arbítrio" (Gilson, op. cit. , p. 2 1 2, nota 2). "Deve-se reconhecer que há em nós livre­ arbítrío para fazer o mal e para fazer o bem" (De corruptione et grafia, l, 2; cit. Gilson). Se se tem essa distinção em mente, pode-se entender o que de outra maneira seria um paradoxo: que o homem possa ser livre (/iber) (no sentido de possuir libertas) e possa não ser livre (no sentido do livre-arbítrio). O homem, pois, não é sempre "livre" quando goza do livre-arbítrío; depende do uso que ele faça deste. Cabe perguntar se o livre-arbítrio é equiparável ou não à vontade (voluntas). Santo Tomás trata do assunto em sua elucidação da noção de livre-arbítrio em S. theol. I, q. LXXXII I . De acordo com Santo Tomás, podem-se considerar quatro questões: se o homem tem ou não arbítrío; se o livre-arbítrio é um poder (potentia), um hábito ou um ato; se, no caso de ser um poder, ele é de natureza apetitiva ou cognoscitiva; e se, caso seja de natureza apetitiva, pode distinguir-se da vontade. Depois de considerar as dificuldades suscitadas por cada uma dessas questões, Santo Tomás chega às se­ guintes conclusões: 1) O homem tem livre-arbítrio, porque, caso con­ trário, as exortações, castigos e recompensas carece­ riam de sentido (fi-ustra). Além disso, o homem age segundo juízo (judicio), o qual pode seguir direções opostas quando se aplica a fatos contingentes. 2) Embora a expressão ' l ivre-arbítrio' designe um ato, o livre-arbítrio é, de fato, o princípio de tal ato, isto é, o princípio mediante o qual o homem julga livremen­ te. Daí decorre que o livre-arbítrio não seja, propria­ mente falando, nem ato nem hábito. O livre-arbítrio é

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um poder "pronto para atuar" (potentia ( . .) expedita ad operandum ). 3) Já que o livre-arbítrio é um juízo livre, e uma vez que o juízo é uma força (virtus) cognoscitiva, o livre­ -arbítrio deve parece um poder (potentia) cognoscitivo. Ora, o livre-arbítrio elege; é eleição ( electio ), escolha. Concorrem na escolha elementos apetitivos e cognos­ citivos: os últimos proporcionam as razões, ou "conse­ lho" (consilium), mediante as quais se escolhe um de dois termos de uma alternativa; os primeiros levam a aceitar o que é cognoscitivamente aceito. 4) Como os poderes são conhecidos por seus atos, a eleição, enquanto ato de livre-arbítrio, parece ser dis­ tinta da vontade: a vontade tem por objeto o fim, en­ quanto a escolha leva a esse fim. Ora, a mesma relação que, no poder intelectual cognoscitivo, pode ser encon­ trada entre a inteligência e a razão, pode igualmente encontrar-se, na faculdade apetitiva, entre a vontade e o livre-arbítrio. A inteligência apreende os princípios quando estes são conhecidos por si mesmos, diretamente e sem inferência. Por outro lado, a razão aplica-se às conclusões que se destacam claramente dos princípios. De modo semelhante, enquanto querer é desejar algo, de maneira que a vontade tem como seu objeto um fim dest>jado por si mesmo, escolher é desejar algo com o propósito de obter outra coisa. A escolha tem por objeto os meios que conduzem a um fim. A relação no reino cognoscitivo entre os princípios e as conclusões aceitas em vi rtude dos princípios volta a ser encontrada, no reino apetitivo, entre o fim e os meios usados em vista dele. Uma vez que entender (intelligere) e raciocinar (ratiocinari) pertencem ao mesmo poder (potentia), no mesmo sentido em que repouso e movimento pertencem à mesma força (virtus), cabe concluir que o mesmo ocorre com querer e escolher. Daí que a vontade ( volun­ tas) e o livre-arbítrio (liberum arbitrium) não sejam dois poderes, mas um único (ou, como se diz às vezes, que o livre-arbítrio seja ipsa voluntas). Alegou-se às vezes que a noção de livre-arbítrio é meramente "negativa", uma vez que se designa com ela tão-somente a possibilidade de escolher ou não es­ colher, ou a possibilidade de escolher entre dois termos de uma alternativa, sem que sejam proporcionados os fundamentos ou "razões" para uma escolha definida. De acordo com isso, o livre-arbítrio seria em si mesmo "indiferente", daí decorrendo que se tenha falado de liberum arbitrium indifferentiae, bem como de libertas aequilibrii (literalmente, "liberdade de equilíbrio", liber­ dade que não é tal liberdade, porque deixa sem possi­ bilidade de escolher, justa e precisamente porque, em­ bora soe paradoxal, deixa somente com a possibilidade de escolher). Se assim acontecesse, ficaria dificil exe­ cutar alguma ação "livre" Um exemplo paradigmático das dificuldades apontadas se encontra no paradoxo do "asno de Buridan" (ver BURIDAN [ASNO DE] ) .

ARBÍTRIO (LIVRE)

Muitos escolásticos negaram que o liberum arbi­ trium, inclusive sob a forma do liberum arbitrium indif­ ferentiae, conduza necessariamente a tais conseqüências e afirmaram ser ele a condição para que todo ato possa chamar-se autenticamente livre. A maioria dos autores modernos - pelo menos do século XVII (entre eles, Descartes, Spinoza e Leibniz) - rejeitou a idéia da "li­ berdade de equilíbrio" (que denominaram às vezes liber­ tas indifferentiae) como concepção meramente negativa da liberdade. A noção do livre-arbítrio foi objeto de acalorados debates durante parte da Idade Média e durante os sécu­ los XVI e XVII, especialmente porque era suscitada por ela a famosa questão da declarada incompatibilidade entre a onipotência divina e a liberdade humana. Exami­ namos uma parcela dessa questão nos verbetes dedica­ dos ao problema de Deus (em particular II. Natureza de Deus), à graça, à liberdade, ao ocasionalismo, à pre­ destinação, à vontade e ao voluntarismo. Acrescente­ mos agora que os debates giraram sobretudo em tomo do problema tal como este foi formulado no agostinis­ mo. Uma "solução" que anule um dos dois termos não parece ser uma boa solução. E Santo Agostinho enfati­ zara que a dependência em que se encontram o ser e a obra humana com relação a Deus não significa que o pecado seja obra de Deus. Ora, se considerarmos o mal algo ontologicamente negativo, o resultado será que o ser e a ação que se refere a ele carecem de existência. E se o considerarmos algo ontologicamente positivo haverá a possibilidade de deslizarmos para o mani­ queísmo. Ao mesmo tempo, não se tratava simplesmente de supor que, uma vez outorgada a liberdade ao homem, este podia fazer uso dela sem necessidade de nenhuma intervenção divina. Pelo menos no que diz respeito ao sobrenatural, parecia impossível excluir a ação da graça. Assim, todas as soluções oferecidas para resolver a questão evitavam a supressão de um dos termos. E tal­ vez só em duas posições extremas se postulasse essa supressão: na concepção luterana expressa no De servo arbitrio, por um lado, e na idéia da autonomia radical e absoluta do homem, por outro. Em seu tratado De servo arbitrio ( 1 525), Lutero polemizou contra as idéias desenvolvidas por Erasmo em seu De Libero Arbitrio Ll l ATPIBH ( 1 524). Na ver­ dade, Erasmo não considerava que a questão do livre­ -arbítrio tivesse a importância que lhe atribuíam os teó­ logos. Além disso, sua opinião a esse respeito era mode­ rada: "Concebo aqui o livre-arbítrio como um poder da vontade humana por meio do qual o homem pode dedi­ car-se às coisas que conduzem à salvação eterna ou afas­ tar-se delas''. Assim, Erasmo não negava em princípio o poder e a necessidade da graça. Menos ainda afirma­ va - como fazia o pelagianismo ( VER) extremo - que o livre-arbítrio fosse absolutamente autônomo e decisivo. Mas, como enfatizava "o poder da vontade humana",

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ARBÍTRIO (LIVRE)

Lutero considerou que a doutrina de Erasmo equivalia a uma negação da graça e constituía uma perigosa forma de pelagianismo. Segundo Lutero, a definição do livre­ -arbítrio proporcionada por Erasmo é independente das Escrituras e, portanto, contrária a estas. Baseando-se nas Escrituras, Lutero sustentava que ninguém pode ser salvo se confia apenas no livre-arbítrio, pois um demônio é mais forte que todos os homens juntos; não só a graça é necessária como o é de modo absoluto. Ora, isso não significa para Lutero que o homem se en­ contre dominado pela necessidade, pois o poder de Deus não é uma necessidade natural; é um dom. Entre os pensadores católicos, os debates acerca da noção de livre-arbítrio se mantiveram numa linha que eliminava toda solução radical: nem luteranismo nem pelagianismo. No entanto, em certas ocasiões as posi­ ções adotadas chegaram a extremos. Por um lado, temos a teoria tomista da premoção fisica (VER). Por outro, a doutrina molinista do concurso simultâneo baseado na noção de ciência média (ver CIÊNCIA MÉDIA; FuruRivE1s; MOLINA [Luís DE); PREDESTINAÇÃO). Embora todas essas doutrinas sejam principalmente teológicas, os conceitos nelas elaborados são freqüentemente filosóficos e po­ dem ser utilizados na abordagem dos problemas da causa (vER) e da liberdade (vER). Alguns dos problemas suscitados a propósito do livre-arbítrio, esvaziados de sua substância teológica, subsistem em discussões referentes ao conceito de liber­ dade (vER) e à contraposição "liberdade-determinismo" Essa contraposição é em vários casos equivalente à que existe, ou se supõe que exista, entre livre-arbítrio, como liberdade de escolha (às vezes "liberdade da vontade") e encadeamento causal. Mas como não há razão para supor que as ações chamadas "voluntárias", ou efetuadas por livre-arbítrio ou liberdade de escolha, estejam com­ pletamente fora de todo encadeamento causal, tendo havido até razões para afirmar que essas ações podem ser concebidas como inícios de encadeamentos causais, tendeu-se a evitar falar da relação e, com maior razão, da contraposição entre livre-arbítrio e determinação cau­ sal. O mais comum foi falar em termos de ações huma­ nas e de intenções, com a finalidade de averiguar se e como - cabe distingui-las de acontecimentos e cau­ sas. Assim, algumas das questões classicamente abor­ dadas sob o rótulo de "livre-arbítrio" são examinadas como questões suscitadas pelo conceito de ação (VER), enquanto ação humana, relacionando-se com conceitos como os de escolha, intenção e decisão, assim como com noções tais como as de responsabilidade e impu­ tação. Considerável parte desse exame foi "lingüístico'', mas principalmente no sentido de averiguar o que se quer dizer, e que conseqüências decorrem de fazê-lo, quando se afirma que alguém age ou opera livremente - ou, simplesmente, que alguém, chamado "agente" (vER), age ou opera -, o que, em termos clássicos,



equivale parcialmente a averiguar o que se quer dizer, e que conseqüências decorrem de fazê-lo, quando se afirma que um agente possui livre-arbítrio. O exame lingüístico permitiu chamar a atenção para distinções em que não se costuma reparar quando se formulam os problemas do livre-arbítrio, da liberdade etc. de modo demasiado geral; assim, por exemplo, ele chamou a atenção para o significado, ou uso, de expressões como 'S decide ' , 'S decide-se por' , 'S opta por', 'S tem a intenção de ' , ' S age voluntariamente ' , ' S opera deli­ beradamente' etc. Certas dicotomias "clássicas" desa­ parecem então, ou se atenuam, ou ainda se transfor­ mam; como indicou Austin, por exemplo (em "A Plea for Excuses'', 1 956- 1 957; reimp. em Philosophical Pa­ pers, 1 96 1 ), 'voluntário' contrapõe-se antes a 'coativo ' ('sob coação ' ) que a 'determinado' e até a 'involuntá­ rio ' , ao passo que 'involuntário' contrapõe-se antes a 'deliberado' ou ' feito de propósito ' que a 'voluntário' (ou a ' livre'). :l Sobre o problema do livre-arbítrio: C. L. Fonse­ grive, Essai sur /e libre arbitre, sa théorie et son histoire, 1 887. - E. Naville, Le libre arbitre, 1 894. - Rudolf Kreussen, Die Willensji-eiheit ais religiõses und philoso­ phisches Gnmdproblem, 1 93 5 . - Augustin Jakubisiak, La pensée et /e libre arbitre, 1 936. - Déterminisme et libre arbitre. Entretiens présidés par F Gonseth et rédi­ gés par Gagnebin, 1 944. Yves Simon, Trai/é du libre arbitre, 1 95 1 . - Austin Ferrer, The Freedom of the Will, 1 958 [Gifford Lectures] . - Joseph Lebacqz, S. J., Libre arbitre et jugement, 1 960. - Allan M. Munn, Free Wi/l and Determinism, 1 960. - A. 1 . Melden, Free Action, 1 96 1 . - Thomas Foldesi, The Problem of Free Will, 1 966. - R. L. Franklin, Free Will and Determinism: A Study o{ Rival Conceptions of Man, 1 968. - William H . Davis, The Free Will Ques­ tion, 1 97 1 . - Joseph M. Boyle, Jr., Germain Grisez, Olaf Tollefsen, Free Choice: A Self-Referential Ar­ gument, 1 976. - B. Berofsky, ed., Free Wíll and Deter­ minism, 1 966. - P. N. O ' Sullivan, lntentions, Motives and Human Action: An Argument for Free Wíll, 1 977. - J. Thorp, Free Will, 1 980. P. van lnwagen, An Essay on Free Will, 1 983. A. R. Ruffa, Darwinism and Determinism: The Role of Direction in Evolution, 1 983. - R. Kane, Free Will and Values, 1 985. - J. Earman, A Primer on Determinism, 1 986. - M . Thomton, Do We Have Free Will, 1 989. - M. Strasser, Agency, Free Will, and Moral Responsibility, 1 992. Ver também a bibliografia de DETERMINISMO; LIBERDADE; VONTADE. Sobre o conceito de livre-arbítrio em vários autores: G. Venuta, Libero arbitrio e libertà de/la grazia nel pensiero di San Bernardo, 1 953. - J. Muiioz, Esencia dei libre albedrío y proceso dei acto libre según F Romeo, O. P, Santo Tomás y F Suárez, S. J , 1 948. - Jean -

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ARDAO, ARTURO

Boisset, Érasme et Luther. Libre ou serf-arbitre?, 1 962. - Louis Leahy, Dynamisme volontaire etjugement libre: Le sens du libre arbitre chez quelques commentateurs thomistes de la Renaissance, 1 963. - Antonio Capizzi, La difesa dei libero arbitrio da Erasmo a Kant, 1 963. W. M. Hoffinan, Kant s Theory ofFreedom: A Metaphy­ sical Inquiry, 1 979. - R. Teske, trad., Henry of Ghent: Quodlibetal Questions on Free Will, 1 993. Sobre o livre-arbítrio em Santo Agostinho: K. Kolb, Menschliche Freiheit und gottliches Vorherwissen nach A . , 1 908 (Dis. inaug.). - C. Zimarra, "Die Eigenart des gõttlichen Vorheiwissens nach A.", Freiburger Zeitschriftfiir Philosophie und Theologie, 1 ( 1 954), 359-393. - J. Van Gerven, "Liberté humaine et prescience divine d'apres S. A.", Revue philosophique de Louvain, 55 [3ª série, 47] ( 1 957), 3 1 7-330 (parte de uma tese intitulada Liberté humaine et providence divine d 'apres S. A . ) . - W. L. Rowe, "Augustine on Foreknowledge and Free Will", Review of Metaphysics, 1 8 ( 1 964), 356-363 . - J. Hopkins, "Augustine on Foreknowledge and Free Will'', International Journal of Philosophy and Religion, 8 ( 1 977), 1 1 1 - 1 26. - F. Berthold, "Free Will and Theodicy in Augustine: An Exposition and Criti­ que'', Religious Studies, 1 7 ( 1 98 1 ), 525-536. W. L. Craig, "Augustine on Foreknowledge and Free Will", Augustinian Studies, 1 5 ( 1 984), 4 1 -63. - J. Wetzel, Augustine and the Limits of Virtue, 1 992. Encontram-se informações sobre as doutrinas de Arcesilau em Diógenes Láercio (IV, 28-45), em Filo­ demo de Gadara, em Cícero (Acad. post. , 1 , xii, 45), em Sexto Empírico (Hyp. Pyrr. 1 , 234; adv. Math. , VII, 1 53), e em Suidas.

Ver R. Brodersen, De Arcesilao philosopho acade­ mico, 1 82 1 . - A. Geffers, De Arcesilao, 1 84 1 . - Ch. Huit, "Polémique d'Arcésilas contre les Sto'iciens", L'Instruction publique, 14 ( 1 885), 4 1 4-4 1 6, 430-432, 448-450. - A. Weische, Cícero und die neue Akade­ mie. Untersuchungen zur Entstehung und Geschichte des antiken Skeptizismus, 1 96 1 ; reed., 1 975. - M. F. Burnyeat, "Protagoras and Self-Refutation in Later Greek Philosophy", Philosophical Review, 85 ( 1 976), 44-69. G. Striker, "Sceptical Strategies'', em J. Bames et ai. , Doubt and Dogmatism, 1 980, pp. 54-83. - M. W. Haslam, "Two Philosophic Barbs'', American Jour­ nal of Philosophy, 1 1 3 ( 1 ) ( 1 992), 43-45 . - P. O. Kris­ teller, Greek Philosophers of the Hellenistic Age, 1 993 . Art. de H. von Amim sobre Arcesilau (Arkesilaos, 1 9) em Pauly-Wissowa, II, cols. 1 1 64- 1 1 68. Principais obras: Filosofia pre-universitaria en e! Uruguay, 1 787-1842, 1 945. - La Universidad de Mon­ tevideo. Su evolución histórica, 1 950. - Espiritualismo y positivismo en el Uruguay, 1 950; 2ª ed., 1 968. Batlle y Ordóiíez y e! positivismo filosófico, 1 95 1 . La filosofia en e! Uruguay en el siglo XX, 1 956. Introducción a Vaz Ferreira, 1 96 1 . - Racionalismo y liberalismo en el Uruguay, 1 962. - La filosofia

ARDIGÕ, ROBERTO

polémica de Feijóo, 1 962. - Filosofia de lengua espa­ rzo/a, 1 963 . - Rodá. Su americanismo, 1 970. - Etapas de la inteligencia uruguaya, 1 97 1 . - Espacio e inteli­ gencia, 1 976 (contendo, entre outros trabalhos, "La antropología filosófica y la espacialidad de la psique", reelaboração do folheto ;,Por qué la antropología filo­ sófica ?). - Estudios latinoamericanos de historia de las ideas, 1 978. e ARDIGÓ, ROBERTO ( 1 828- 1 920), nasc. em Castel­ d idone (Cremona, Itália), foi professor da Universidade de Pádua ( 1 88 1 - 1 909). Depois de ter-se ordenado sacer­ dote, abandonou a Igreja ( 1 87 1 ) e se aliou ao movimen­ to positivista italiano, defendido contemporaneamente por Pasquale Vil lari ( 1 827- 1 927), Nicolà Marselli ( 1 822- 1 899) e Andrea Angiulli ( 1 837- 1 890). Esse mo­ vimento fora impulsionado igualmente por autores como Cario Cattaneo (vrn) e Giuseppe Ferrari ( 1 8 1 2- 1 876), assim como, e sobretudo, pelos juristas e criminólogos Enrico Ferri (vrn), Enrico de Marinis ( 1 868- 1 9 1 9) e Cesare Lombroso (vrn). Foram órgãos dessas tendên­ cias a Rivista di .filosofia scientifica, a Ri vista di filo­ so.fia e scienze ajfini e a Rivista di .filosofia, que com­ batiam tanto o idealismo de ascendência hegeliana como a tradição ontologista. Ora, Ardigà fundamentou, aiii­ culou e prolongou essas tendências, representando, por assim dizer, o nível máximo, na Itália, do positivismo da época. Isso permite explicar tanto seu positivismo me­ taempírico como sua "metafisica positivista" Com efei­ to, o positivismo de Ardigà não era um naturalismo dogmático. Na divisão do positivismo estabelecida por Rodolfo Montolfo, segundo a qual não é legítimo con­ fundir a direção objetivi sta - comum a Spencer, a Daiwin, a Littré ou a Comte - com a direção subjetivis­ ta - própria de John Stuart Mill, de Avenarius, Mach e Vaihinger -, Ardigà representa esta última tendência. Isso se devia tanto às condições em que surgira o posi­ tivismo italiano como à evolução pessoal de Ardigà. Por isso, a filosofia não era para este último um mero compêndio das ciências, mas a fonte destas. A rdigà afir­ ma, sem dúvida, a identidade do fisico e do psíquico. Mas sua ênfase no valor da idéia diante das circunstân­ cias mate1iais que concorrem para a formação da evolu­ ção histórica, sua identificação da idéia e da inteligência com a vontade, seu reconhecimento de um feixe de "condições internas" distintas das "condições externas'' lhe permitem superar, a partir de dentro, o determinismo objetivista. Ardigà considerava o "fato" como divino. mas esse fato eram "todos os fatos" Daí a impossibi­ lidade de escolher um fato para transformá-lo no Ab­ soluto. O "Indistinto" de Ardigà é, nesse sentido, dife­ rente do "Incognoscível" de Spencer. "Pois enquanto Spencer" -- diz Mondolfo - "punha esse absoluto na raiz de toda realidade, declarando-o incognoscível ao mesmo tempo que afirmava sua existência real como

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objeto de intuição", Ardigà sustenta que "o caminho de nossa investigação explicativa nos leva sempre de um fato a outros e à sua relação recíproca, isto é, rumo à unidade e solidariedade dos múltiplos, na direção de uma totalidade que antecede uma distinção recíproca" (R. Ardigà y e! positivismo italiano, 1 943, p. 5). O "In­ distinto" aproxima-se, assim, de uma idéia reguladora. Mas o que regula é o metaempírico e não apenas a experiência imediata. Daí a moral de Ardigà, que, embo­ re rejeite todo sobrenaturalismo, recusa igualmente todo dogmatismo, incluindo o naturalista, e acaba por justi­ ficar filosoficamente a contingência, sem a qual nenhu­ ma moralidade autêntica é possível. A maioria dos dis­ cípulos de Ardigà seguiu esse caminho. É o caso de Giu­ seppe Tarozzi (vER), de Giovanni Marchesini (vrn), de Erminio Troilo (vrn). Alguns discípulos de Ardigà dedi­ caram-se à investigação histórica, como Rodolfo Mon­ dolfo (vER). Outros positivistas, como os mencionados Cesare Lombroso (vER) e Enrico ferri (vER), decidiram­ se, em contrapartida, pelo aspecto mais "objetivista" da doutrina e por isso chegaram a conclusões opostas no que tange aos problemas da contingência e da liberdade. :> Principais obras: Discorso s11 Pietro Pomponazzi, 1 869. - Psicologw come scienza positiva, 1 870. - La formazione natura/e ncl .fàtto dei sistema solare, 1 877. - La mora/e dei positivisti, 1 885. - Sociologia, 1 886. -- II vera, 1 89 1 . - La scienza dell 'educazione, 1 893. - La ragione, 1 894. - L'unità della coscienza, 1 898. - Entre outras obras, citamos: L'inconoscibile di H. Spencer e il positivismo. - La coscienza vecchia e !e idee nuove. - Empirismo e 1·cienza. -- L'inconoscibile di Spencer e il Noumeno di Kant. - L'idealismo della wxchia speculazione e il realismo delia filosofia positiva. - La perennità deipositivismo. -- II monismo meta.fisico e il monismo .1·cientifico. - Atto r[flesso e alto volontario. - Tesi meta.fisica, ipotesi scientifica,fatto accertato L'fnconscio. - I presupposti massimi problemi. - Le forme ascendenti della realtá come cosa e come azione e il diritto vera delio spirito. - Lo sp1rito, aspetto spe­ cifico culminante deli 'Energia in fimzione deli 'organismo anima/e. - Filosofia e positivismo. - La .filosofia vagabunda. Edição de obras: Operefilosofiche, 1 1 vols. (Pádua, 1 883- 1 9 1 2 ; vol. XI, 2ª ed , 1 9 1 8 ). É importante para a compreensão da origem do pensamento de Ardigà o escrito intitulado "Guardando il rosso d'una rosa", in­ cluído no vol . 1 O. - Edição de Scritti vari, 1 922, ed. G. Marchesini. Ver: G. Marchesini, La vila e il pensiero di R. A . , 1 907. -- /d. , L o spirilo evangelico di R . A . , 1 9 1 O. /d. , R. A. L'uomo e l 'umanista, 1 922. - E. Ferri, Sul positivismo di R. A . , 1 908. - R. Mondolfo, II pensiero di R. A . , 1 908. - C. Berardi, II pensiero filosofico di R. A . 1 908. - J. Blunstein, Der Positivismus Ardigàs,

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1 9 1 0. - !d. , Die Weltanschauung Ardigàs, 1 9 1 1 . - P. Orano, R. A . , 1 9 1 O. - E. Troilo, li maestro dei positi­ vismo italiano, 1 92 1 . - G. Tarozzi, R. A. Pro.filo, 1 928. - F. Amerio, A., 1 948; 2ª ed., 1 957. - R. Cavallaro, "II presupposto razionalistico nella filosofia deli' A.", Studia patavina ( 1 959), 73- 1 05 . - A. Guerra, li mondo de la sicurezza. Ardigà, Labriola, Croce, 1 964. - S. Mandolfo, l positivisti italiani, 1 966. - Wilhelm Bütte­ meyer, R. A. e la psicologia moderna, 1 969. - !d., Der erkenntnistheoretische Positivismus R. Ardigàs. Mil seinen zeitgeschichtlichen Beziehungen, 1 974. - M. Costenaro, "La 'Rivista di Filosofia Scientifica' e il po­ sitivismo italiano", Giornale Critico della Filosofia Ita­ liana, 5 1 ( 1 972), 92- 1 1 7. - G. Landucci, "Note sulla formazione dei pensiero di Roberto Ardigà", ibid. , 53 ( 1 974), 1 6-60. - M. Costenaro, "Scienza, Filosofia e metafisica nella 'Rivista di Filosofia Scientifica"', ibid. , 54 ( 1 975), 263-30 1 . e: ARGÜELLES, MANUEL. Ver DEúSTUA, ALEJANDRO 0CTAVIO. ARGUMENTO. Trataremos de um sentido especial do termo 'argumento ' no verbete QUANTIFICADOR, QUAN­ TIFICACIONAL, QUANTIFICADOR. Trataremos aqui do sentido mais geral desse termo: o que ele possui como raciocí­ nio mediante o qual se tenta provar ou refutar uma tese, convencendo alguém da verdade ou falsidade desta últi­ ma. Emprega-se também a este respeito o vocábulo 'ar­ gumentação' . A diferença às vezes estabelecida entre o argumento e a argumentação é, em nosso caso, pouco pertinente. Os antigos - sofistas, Platão, Aristóteles, céticos etc. - tinham dado considerável atenção à questão da natureza dos argumentos e de sua validade ou falta de validade. Alguns dos argumentos estudados eram de caráter lógico-formal, mas muitos não se encaixavam plenamente no âmbito da lógica. Isto foi reconhecido por Aristóteles; enquanto nos Analíticos ele abordou principalmente argumentos de tipo estritamente lógico, nos Tópicos e na Retórica tratou dos argumentos chama­ dos "dialéticos" ou argumentos meramente prováveis, ou raciocínios a partir de opiniões geralmente aceitas. Muitos autores modernos aceitaram essa divisão ou ou­ tra similar. Assim, Kant distinguiu o fundamento da prova (Beweisgnmd) e a demonstração (Demonstration). O fundamento da prova é rigoroso, ao passo que a de­ monstração não o é. Pode-se distinguir também prova ( vER) ou demonstração (na medida em que são logica­ mente rigorosas) e argumento (que não o é, ou não pre­ cisa sê-lo). Ao mesmo tempo, quando se fala de argu­ mento, pode-se considerar este: 1 ) como o que Aristó­ teles denominava "provas dialéticas" - por meio das quais se procura refutar um adversário ou convencê-lo da verdade da opinião sustentada pelo argumentador; e

ARGUMENTO

2) como raciocínio ou pseudo-raciocínio voltado antes de tudo para o convencimento ou a persuasão. Os limi­ tes entre essas duas formas de argumento são impreci­ sos, mas se pode considerar que a persuasão é demons­ trativamente mais "fraca" que o convencimento. Na maioria dos estudos dos argumentos, ao contrá­ rio das provas estritas, enfatizou-se a importância que tem o fato de que se consiga assentimento ao que é ar­ gumentado. Santo Tomás exprime essa característica definindo o argumento do seguinte modo: "dicitur, quod arguit mentem ad assentiendum alicui " (Quaestiones disputatae de veritate, q. XIV a. 2 ob. 1 4). A pessoa o aliquis - diante de quem se desenvolve o argumento, o leitor e especialmente o ouvinte ou ouvintes devem ser levados em conta, assim como as diversas circuns­ tâncias que cercam a argumentação. No verbete sobre a Retórica, voltaremos às vicissi­ tudes por que passou esta noção no decorrer dos séculos. Recordemos aqui que durante algum tempo, no passa­ do próximo, se costumava desprezar todo argumento "meramente retórico", mas que nos últimos anos voltou a manifestar-se certo interesse pelos problemas da retó­ rica e, por conseguinte, dos argumentos não estritamente formais. Entre outros exemplos desse tipo de interesse, mencionamos as obras de Ch. Perelman e L. Olbrechts­ Tyteca, e S. Toulmin, assim como o livro de Henry W Johnstone, Jr., relativo à argumentação em filosofia. Isso não ocorreu sem protestos (cf., por exemplo, Raziei Abelson, "ln Defense of Formal Logic", Philosophy and Phenomenological Research, 2 1 ( 1 960- 1 96 1 ], 334-345 ; Héctor Neri Castafi.eda, "On a Proposed Revolu­ tion in Logic", Philosophy ofScience, 27 ( 1 960], 279-292 [ambos relativos à obra de Stephen Toulmin]). Observou-se que o fato de acentuar que a "lógica" tem um aspecto prático não deve conduzir a negligenciar seu aspecto teórico predominante (Abelson, cf. supra, p. 33 8), ou que é melhor ater-se à norma de que "se critica um argumento porque este não é formalmente válido ou então porque tem no mínimo uma premissa falsa" (Castafi.eda, cf. supra, p. 292). Em não poucas ocasiões, é dificil distinguir prova estrita ou demonstração e argumento no sentido aqui abordado. Com freqüência, usam-se indistintamente os mesmos termos. Diz-se, por exemplo, "argumento onto­ lógico" e "prova ontológica" (preferimos esta última ex­ pressão). Também é dificil distinguir argumento e sofis­ ma, visto que alguns dos argumentos habitualmente em­ pregados são de caráter claramente sofistico. É o que acontece, por exemplo, com o chamado argumentum ad hominem: alguns julgam que é um sofisma, outros, que se trata de um argumento perfeitamente lícito. No verbete SOFISMA, arrolamos os chamados "argumentos aparentes" mais conhecidos. Ocuparia muito espaço fornecer uma lista razoavelmente completa dos que poderiam ser quali­ ficados de tipos de "argumentos lícitos" de caráter mais

ARGUMENTO

ou menos "retórico"; limitar-nos-emos a mencionar al­ guns dos registrados por Ch. Perelman e L. Olbrechts­ Tyteca em seu Traité de / 'argumentation. Argumento mediante analogia (não um conceito rigoroso de analogia [vER], mas um conceito frouxo, tal como o exemplificado em Joseph Butler [VER]). Argumento baseado na "autofagia" (que consiste em indicar que o que se diz acerca de uma doutrina não se aplica à doutrina; como um dos argumentos dirigidos contra a noção positivista de verificação [VER]). - Argu­ mento de autoridade (especialmente efetivo quando a au­ toridade invocada mantém em outros aspectos opiniões opostas às do argumentador). - Argumento fundado num caso particular (que se supõe típico, embora às vezes não o seja, ou seja dificil determinar se o é). Argumento ad hominem, também chamado ex concessis (que se refere à opinião sustentada pelo interlocutor, ao contrário do argumento ad rem, que se refere ao próprio assunto), uma de suas formas é o argumento ad huma­ nitatem (quando a opinião a que se refere é considerada a de toda a humanidade); ambos têm em comum o ques­ tionamento dos interesses da pessoa ou pessoas conside­ radas. - Argumento por conseqüências (quando se derivam conseqüências que se supõem inadmissíveis, particularmente na esfera moral, pois do contrário temos o tipo lógico-formal da reductio ad absurdum ). - Argu­ mento a pari (pelo qual se procura aplicar uma opinião ou disposição a outra espécie do mesmo gênero). Argumento a contrario (pelo qual se procura não aplicar uma opinião ou disposição a outra espécie do mesmo gênero). - Argumento do dilema (ver DILEMA)- Ar­ gumento etimológico (no qual o sentido de um termo ou expressão que se supõe mais originário é conside­ rado o sentido capital ou verdadeiro). - Argumento afortiori (ver A FORTIORI ) . - Argumento pelo ridículo (no qual se supõe que ridicularizar a opinião de um in­ terlocutor constitui um argumento contra ela). - Ar­ gumento pelo superfetatório (no qual se rejeita uma opinião por considerar que as conseqüências implícitas ou explícitas do afirmado são desnecessárias). Há muitos outros argumentos do tipo assinalado; no tratado de Perelman e Olbrechts-Tyteca, podem-se en­ contrar não apenas descrições detalhadas da maior parte desses argumentos, como também exemplos deles e va­ riedades desses exemplos. Como observamos antes, discutiu-se igualmente a questão da natureza dos argumentos filosóficos. Muitas são as teses propostas a esse respeito: os argumentos filosóficos devem ser (ou tender a ser) de natureza es­ tritamente lógico-formal; devem ser principalmente (ou exclusivamente) "retóricos" no sentido antes indicado; devem "usar" os procedimentos estabelecidos pela lógi­ ca formal, mas não ser determinados por eles (salvo no que tange à sua validade ou não validade lógica), e sim

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por considerações de tipo "material" ou relativas ao "conteúdo" dos problemas abordados. Indicou-se do mesmo modo que os argumentos filosóficos se baseiam sempre em certos pressupostos em última análise inde­ monstráveis, de maneira que, como indica Henry W. Johnstone, Jr. ( cf. infra, p. 1 1 7), "as considerações lógi­ cas não têm mais peso na crítica ou defesa de um siste­ ma ontológico que as considerações fundadas em fatos" Por isso, "um argumento filosófico construtivo, quando válido, se parece muito com um argumentum ad homi­ nem válido. A única diferença importante é que o filóso­ fo que usa um argumento construtivo considera o que ele mesmo tem de admitir em conformidade com seus próprios princípios de raciocínio ou de acordo com sua própria conduta ou atuação antes de considerar o que outra pessoa tem de admitir" (op. cit. , p. 79). :> Ver: Ch. Perelman e L. Olbrechts-Tyteca, Rhétori­ que et Philosophie, 1 952. - !d., Traité de l 'argumen­ tation. La nouvelle rhétorique, 2 vols., 1 958 (trad. esp. da "Introdução" em: Retórica y Lógica, 1 959 [Suple­ mentos dei Seminario de Problemas Científicos y Filo­ sóficos. Univ. de México, n. 20, Segunda Série]). Stephen E. Toulmin, The Uses of Argument, 1 958. Henry W Johnstone, Jr., Philosophy and Argument, 1 959. - John Passmore, Philosophical Reasoning, 1 96 1 . Ch. Perelman, I. Belaval, H. W Johnstone et ai., artigos sobre 'Targumentation", em Revue Internationale de Philosophie, 1 5 ( 1 96 1 ), 327-342. - David P. Gauthier, Practical Reasoning: The Structure and Foundations of Prudential and Moral Arguments and Their Exemplifi­ cation in Discourse, 1 963. - VV.AA., artigos em Logi­ que et analyse, 6 ( 1 963); reimp. num volume com o titulo de La théorie de / 'argumentation: Perspectives et appli­ cations, 1 963 (Homenagem a Chai'm Perelman). - J. Wahl, N. Rotenstreich, J. Passmore e J. Marias, Simpo­ sium sobre la argumentación filosófica, 1 963 (do XIII Congresso Internacional de Filosofia). - Mauríce Na­ tanson e Henry W Johnstone, Jr., eds., Philosophy, Rhe­ toric and Argumentation, 1 965. - Chai'm Perelman, Le champ de / 'argumentation, 1 970 (coleção de artigos). - Nicolas Rescher, Plausible Reasoning: An lntroduction to the Theory and Practice of Plausibilistic Inference, 1 976. - P. T. Geach, Reason and Argument, 1 977. G. Vignaux, L'argumentation. Essai d 'une logique dis­ cursive, 1 976. - R. Lauth, Theorie des philosophischen Arguments. Der Ausgangspunkt und seine Bedingungen, 1 979. - B. A. Wilson, The Anatomy ofArgument, 1 980. - E. J. Meehan, Reasoned Argument in Social Science, 1 98 1 . - S. N. Thomas, Practical Reasoning in Natural Language, 1 98 1 . - L. Wright, Better Reasoning: Techniques for Handling Argument, Evidence, and A bs­ traction, 1 982. - J. Fahnestock, M. Secor, A Rhetoric of Argument, 1 982. - J. Cederblom, D. W. Paulsen, Criti­ cai Reasoning, 1 982; 3ª ed., 1 99 1 . - J.-C. Anscombe,

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ARISTIPO

O. Ducrot, L 'argumentation dans la tangue, 1 983. - R.

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213 ataraxia, mas também à áÀunía (ausência de pesar), à áq>o(3ía (ausência de temor) e à áná8e1a (apatia, au­ sência de paixões); todas elas constituem simplesmente a liberdade, ánÀwç EÀEU0epía (Diat. , IV 3, 1 -8). A ataraxia é para Pirro o apogeu da suspensão do juízo (ver EPoCHÉ); deve-se praticá-la para alcançar a atara­ xia (Diog. L., X 66), coisa que só pode ser feita por um homem capaz de viver sem preferências. Em contra­ partida, Arcesilau (apud Sexto, Hyp., 1 232) considerou a ataraxia como sintoma da suspensão do juízo e não seu coroamento. A noção de ataraxia funda-se nos mesmos pressu­ postos e suscita os mesmos problemas das noções afins empregadas pelos filósofos mencionados. Ela se funda 1 ) na divisão, sobretudo elaborada pelos estóicos, entre o que está em nossa mão e o exterior a nós e na suposi­ ção de que o último inclui as "paixões"; 2) na confiança de que o homem como ser racional (ou pelo menos os filósofos como seres eminentemente racionais) é capaz de conseguir a eliminação das perturbações; e 3) na idéia de que a tranqüilidade é (pelo menos moralmente) melhor que a experiência. Os problemas suscitados são principalmente os que questionam se esses pressupostos são tão aceitáveis, tão claros ou, em última análise, tão desejáveis quanto se imagina. Além disso, esta noção suscita o problema relativo a se uma definição da 'liber­ dade ' como a apontada por Epicuro não é excessiva­ mente "negativa"

ATEÍSMO. Ser ateu, ou abraçar o ateísmo, é negar que haja Deus, ou negar que haja deuses, ou negar que haj a alguma realidade que possa chamar-se "divina", ou todas essas coisas ao mesmo tempo. Normalmente, cada uma das negações mencionadas deu lugar a alguma forma particular de ateísmo. O ateísmo daquele que nega que haja Deus costuma opor-se ao teísmo (vER) e até ao deísmo (vER), embora H. R. Burkle (cf. bibliogra­ fia) tenha estabelecido uma distinção entre ateísmo e antiteísmo: este último consiste não apenas em negar que Deus existe como também, e sobretudo, em negar que a noção de existência seja aplicável a Deus (como ocorre com Sartre, ou "o primeiro Sartre"). O ateísmo daquele que nega que haja deuses opõe-se ao politeísmo; do ponto de vista politeísta, os cristãos eram vistos como "ateus" ou "sem deuses", á0eoí. É menos claro a que se opõe aquele que nega que haja alguma realidade "di­ vina", mas, como esta é amiúde identificada com algo sobrenatural (vER), o último tipo de ateísmo costuma opor-se ao sobrenaturalismo. Por outro lado, mesmo em cada um dos três casos citados podem ocorrer diferen­ tes formas de ateísmo, real ou imaginado, cuja descri­ ção requer atenção a condições sociais, culturais e his­ tóricas específicas. O próprio nome 'ateísmo' surgiu apenas no fim do século XVI, mas a noção de ateísmo, em alguma de

ATENAS (ESCOLA DE)

suas muitas formas, e sobretudo a acusação de "ateísmo" são bastante anteriores. Alguns filósofos gregos, como Anaxágoras, e depois Sócrates e o próprio Aristóteles, foram denunciados por, ou acusados de, "impiedade'', ácré(3e1a, o que não é muito diferente de "ateísmo", se se entende por isso a negação, suposta negação, ou "ne­ gligência'', dos "deuses da cidade" O averroísmo, ou o que se entendia por isso do século XIII ao século XV, serviu amiúde como acusação de algo semelhante a uma espécie de "ateísmo" Durante muito tempo, 'ateísmo' e ' spinozismo' foram tidos por sinônimos, considerando­ -se também como sinônimos 'ateísmo' e 'panteísmo' (vER). Toda idéia de separação entre a Igreja e o Estado foi equiparada ao ateísmo; por isso, muitos considera­ ram Hobbes ateu. A religião natural, o deísmo (VER) e o livre-pensamento (ver LIVRE-PENSADORES) foram igual­ mente considerados manifestações de um ateísmo mais ou menos pronunciado. De maneira geral, estabeleceu­ -se uma identificação entre ateísmo e materialismo. Na história da filosofia moderna, teve especial ressonância a chamada "disputa do ateísmo" (Atheis­ musstreit), iniciada em virtude da publicação por Fichte, em 1 798, do ensaio intitulado Über den Grund unseres Glaubens an eine gottliche Weltregierung (Sobre o fun­ damento de nossa crença numa ordem [governo} cósmi­ ca), no qual o autor identificou Deus com a ordem, o governo, moral do mundo. Acusado de ateísmo, Fichte teve de abandonar seu posto como docente na Univer­ sidade de lena, transferindo-se em 1 799 para Berlim. O próprio Fichte insistiu no fato de que a "ordem moral" de que falava não era uma ordem moral dada, mas uma ordem ativa, que está se fazendo, de modo que identi­ ficar a ordem moral com Deus não equivale a negar Deus. Deus é para Fichte uma "ordem que ordena" :> Uma história clássica do ateísmo é a de Fritz Mauth­ ner, Der A theismus und seine Geschichte im A bendlan­ de, 4 vols., 1 922- 1 924; repr., 1 963. Deu-lhe prossegui­ mento Werner Gent, Untersuchungen zum Problem des A theismus. Ein Beitrag zur weltanschaulichen Situa­ tion unserer Zeit, 1 964. Outras histórias: Hermann Ley, Geschichte der A ujkliirung und des A theismus, 5 vols., 1 966- 1 972. - G. Girardi, L'Ateismo contemporaneo, 5 vols., 1 967 (trad. esp . : E! ateísmo contemporáneo, 5 vols., 1 97 1 - 1 973). e

ATENÁGORAS. Ver APOLOGISTAS. ATENAS (ESCOLA DE). Na história da filosofia grega, denomina-se às vezes "periodo ateniense" ou também ático o periodo que vai de meados do século V ao final do século IV a.C. Nesse periodo se incluem os sofistas, Sócrates, alguns socráticos, Platão, Aristóteles e vários antigos acadêmicos e peripatéticos. De modo mais próprio, dá-se o nome de Escola de Atenas a um dos ramos do neoplatonismo (vER). Trata­ -se da direção neoplatônica representada por Plutarco de Atenas (que deve ser distinguido de Plutarco de Quero-

ATENÇÃO

néia), Siriano, Domnino Marino, Isidoro e, sobretudo, Proclo, Damáscio, Simplício e Prisciano. Esta escola pertence, por seu turno, à chamada direção metafisico­ -especulativa do neoplatonismo. Caracteriza-se por sua forte tendência teológica e sistemática, por sua aplica­ ção da lógica - ou, melhor dizendo, da dialética - às especulações metafisicas, por sua tendência a desenvol­ ver vários aspectos da teologia dialética e pela atenção dada à idéia de emanação, em especial mediante o uso do sistema triádico. Além disso, os neoplatônicos ate­ nienses se destacaram por seus comentários a obras de Platão e Aristóteles (e Simplício por seu comentário ao Encheiridion de Epicteto). Nem todos os filósofos da escola de Atenas nasceram nessa cidade. Domnino nasceu na Síria; Proclo, em Constantinopla; Marino, em Neápolis (Sichem, Samaria). Expusemos as doutrinas particulares de vários dos filósofos citados nos verbetes sobre Siriano, Marino, Proclo, Damáscio e Simplício, e as tendências gerais no verbete sobre o neoplatonismo. Acrescentemos aqui que Plutarco de Atenas teve influência principal­ mente por seus comentários a diálogos platônicos e ao tratado aristotélico De anima; que Domnino escreveu tratados matemáticos (e nem sempre mostrou fidelidade completa aos princípios neoplatônicos); que Isidoro (bio­ grafado por Damáscio) seguiu os passos de Jâmblico; e que Prisciano escreveu uma compilação (da qual temos a versão latina intitulada Solutiones eorum de quibus dubitavit Chosroes Persarum rex) por incumbência do rei persa Cosroés, em cuja corte se abrigou - junto com Simplício e Damáscio - quando a escola ateniense foi fechada, em 529, por ordem de Justiniano. :> Ver bibliografia de NEOPLATONISMO. Para os comentá­ rios a Aristóteles de alguns dos autores mencionados, ver Commentaria in Aristotelem Graeca indicados em ARIS­ TOTELISMO. Para Domnino: 'EY)(ElpÍÓ!ov àp18µ11T1KfíS eicraywyfiç, ed. Boissonade, Abec. Graeca, IV, 4 1 3-429; nws EcrTl Myov EK Myou àcpeÀe'iv, ed. e. E. Ruelle, Revue de philologie, 7 ( 1 883), 82-94. - As Solutiones e a M ETácppams Twv 8eocppámwv rrep\ aicr0Jícrews de Prisciano foram editadas por I. Bywater em Supp. Aris­ totelicum, I, 2, 1 886. C:

ATENÇÃO. A noção de atenção foi abordada pela maio­ ria dos filósofos em perspectiva psicológica. Ela foi definida muitas vezes como certa capacidade da mente - fundada em processos orgânicos ou pelo menos rela­ cionada com eles - de canalizar os processos psíquicos, e em particular o pensamento, para certas vias. De modo muito geral, ela pode ser definida como concentração de energias psíquicas. A atenção pode ser considerada um processo potencial ou um processo atual, segundo a distinção escolástica entre uma atenção secundum virtu­ tem e uma atenção actualis. Distinguiu-se entre a atenção espontânea e a atenção voluntária. Esta última foi consi­ derada uma atenção consciente. Mas como a consciência da atenção pode, e costuma, distrair a atenção, o conceito

214 de atenção voluntária e consciente foi objeto de muitos debates entre filósofos e psicólogos. Alguns afirmaram que a vontade e a consciência se encontram somente no processo inicial da atenção; outros, que na atenção há sempre, se não uma consciência, pelo menos um ato voluntário. Interessam-nos aqui sobretudo as explicações do conceito de atenção que, embora baseadas em dados psi­ cológicos, têm implicações epistemológicas e, em al­ guns casos, ontológicas, ou pelo menos ontológico-an­ tropológicas. O exame psicológico-epistemológico da atenção foi efetuado especialmente por filósofos do senso comum, ideólogos e "sensacionistas". Assim, por exemplo, Destutt de Tracy supunha que a atenção é antes um estado de ânimo que uma faculdade, de modo que se poderia eliminar em princípio a vontade da aten­ ção. Reid (Intellectual Powers, Essay, I, c. 5) assinalou, em contrapartida, que a atenção é um ato voluntário, sendo a consciência, em contrapartida, involuntária. Condil lac (Essai sur / 'origine des connaissances hu­ maines, c. III) distinguiu atenção ativa e atenção passiva; numa há vontade, na outra não. Laromiguii:re (VER) con­ siderou que a atenção é "a primeira faculdade"; dela derivam todas as restantes. Hamilton comparou a aten­ ção com a abstração (ver ABSTRAÇÃO, ABSTRATO). Embora se achem expressas em linguagem filosófica, as defi­ nições e concepções anteriores estão condicionadas na maioria das vezes por questões de natureza epistemo­ lógica. Em Hamilton, sobretudo, observa-se um interes­ se decididamente epistemológico, pois mediante o es­ tudo do fenômeno da atenção se procuram determinar não apenas os modos de apreensão das ' idéias ' , mas também a natureza - "psicológica" ou "transcenden­ tal" - destas. A atenção como fenômeno primordial capaz de esclarecer não só os modos de operação psíquicos como certas atitudes humanas básicas foi obj eto de reiterada averiguação desde o fim do século XIX. James Ward ( vER) afirmou - contra Bradley - que não se pode identificar a vida psíquica com uma massa indiferen­ ciada, seja de sensações, seja de um "sentimento primá­ rio" ou "experiência imediata". As atividades psíquicas o são de um eu - de um "eu puro" -, e esse eu é principalmente a atenção. Esta última é para Ward a consciência; melhor ainda, é o que dirige toda consciên­ cia em sua atividade. A atenção pode ser maior ou me­ nor, mas não há possibilidade de vida psíquica - e de apresentação de nenhum conteúdo ao eu - sem certa dose de atenção. A atenção não se dissolve nas apresen­ tações, nem na experiência indiferenciada: ela acompa­ nha todas as apresentações e toda experiência. Se se levam as idéias de James Ward a suas conseqüências últimas, e se admite que há no homem um desenvolvi­ mento psíquico máximo, pode-se concluir que o ser humano é definível como "um suj eito em atenção"

215 Santayana chegou a considerar a atenção como a princi­ pal, e talvez a única, via de acesso ao reino das essên­ cias (cf. "The Realm of Essence", cap. I, em The Realms of Being, 1 942, p. l 5), pois, embora essa atenção seja uma "faculdade animal" suscitada pela paixão, pode alcançar no homem o nível de "apreensão ontológica" (Santayana não usa, porém, esta última expressão). Em sentido diferente dos anteriores, Husserl exami­ nou a noção de atenção. Criticando as teorias psicolo­ gistas e ao mesmo tempo nominalistas da abstração formuladas, entre outros autores, por Hamilton e John Stuart Mil!, Husserl observou que "se a teoria que apóia a abstração na atenção (considerada então uma mera operação) é exata; se a atenção a todo objeto e a atenção às partes e caracteristicas do objeto são, no sentido dessa teoria, um só e mesmo ato, que só se distingue pelos objetos a que se dirige, disso decorre que não há espé­ cies para nossa consciência, para nosso saber, para nosso enunciar" Portanto, "o sentido unitário do termo ' aten­ tar' não exige, de forma alguma, 'conteúdos', no senti­ do psicológico, como objetos aos quais atentamos, e ainda rebaixa toda a esfera do pensar". A atenção recai sobre "os objetos mentais que adquirem evidência ' in­ telectiva' na execução dos atos sobre essa base", sobre "os objetos e situações objetivas apreendidos mental­ mente desta ou daquela maneira" Assim, a atenção chega até onde chega o conceito de "consciência de algo" (cf. Investigaciones lógicas, trad. Morente-Gaos, tomo II, cap. ii). Deve-se observar que, apesar da lingua­ gem empregada por Husserl, sua idéia da atenção como consciência é distinta da de James Ward antes apresen­ tada; não é uma idéia psicológica, mas fenomenológica (ou, se se quiser, pré-fenomenológica). Husserl abordou em várias ocasiões a noção de atenção de acordo com a concepção correspondente da consciência (vER), mas destacou essa noção, sobretudo ao falar dos diversos mo­ dos de consciência. Ele afirmou, por exemplo, que há três modos possíveis de consciência: o atual, em que o "objeto intencional" está presente na consciência; o potencial, onde há mera possibilidade de presença; e o atencional, que resulta da "atenção" da consciência ao objeto. Subli­ nhar este modo de atenção significa ao mesmo tempo destacar os aspectos "ativos" da consciência. E quando, em vez de falar de consciência como conjuntos de atos que constituem o puro fluxo do vivido, se fala da consciência como foco dos atos, o modo atencional da consciên­ cia adquire crescente importância. Pode inclusive iden­ tificar-se com o eu puro e ajudar a esclarecer a questão da constituição transcendental da consciência por meio da "atenção" Parece que há em Husserl uma idéia da atenção de caráter antes "ontológico" que psicológico ou até epistemológico. E até parece esboçar-se nas idéias citadas uma noção da atenção como "modo existencial" próprio do homem, na medida em que seu ser consiste principalmente num "estar . no mundo"

ÁTICO

Se seguirmos esta argumentação, poderemos afir­ mar o seguinte: enquanto o animal não possui atenção (ou possui uma "capacidade de atenção" muito peque­ na), o homem se constitui como tal em virtude precisa­ mente de que o "estar atento" lhe permite abrir-se ao mundo como tal mundo, isto é, não apenas como um âmbito em que se dão os estímulos e sobre o qual operam as reações, mas, além disso, como a região em que se dá a possibilidade das objetivações. O estar no mundo e a atenção a ele são condições primárias da existência do homem, e a atenção assume com isso sentido existencial. Assim foi vista a questão por alguns existencialistas ou "fenomenólogos" (especialmente Merleau-Ponty) ao indicar que a atenção não é um simples enfocar os objetos para iluminá-los. O conheci­ mento derivado da atenção é algo que não ocorre pela mera justaposição do real e da consciência atenta. A atenção precisa o horizonte da "visão" � Além das obras dos autores citados no verbete, ver: Théodule Ribot, Psychologie de l 'attention, 1 885. - Harry E. Kohn, Zur Theorie der A ufmerksamkeit, 1 895. W 8. Pillsburg, L'attention, 1 906. - E. Düpp, Die Lehre von der Aufmerksamkeit, 1 907. - Nicolas Apostolescu, Emotivitate si atentie, l 938. - A. Bal, L'at­ tention et ses ma/adies, l 952. - E. G. Schachtel, Meta­ morphosis: On the Development of Affect, Perception, A ttention, and Memory, 1 959. - Alan R. White, Atten­ tion, 1 964. Para o conceito de atributo na filosofia judaica medieval: D. Kaufinann, Geschichte der Attributenlehre in der jüdischen Religionsphilosophie des Mittelalters von Saadja bis Maimuni, 1 877. - David Neumark, Geschichte der jiidischen Philosophie des Mittelalters nach Problemen dargestellt, Bd. II (Attributenlehre), 1 9 1 0. [Refere-se à teoria dos atributos não só nos filóso­ fos judeus medievais, mas também na Grécia, especial­ mente Platão, assim como na Bíblia, em relação "aos nomes de Deus" etc.] . Para o conceito de atributo em Spinoza: E. Becher, Der Begriffdes Attributes bei Spinoza in seiner Entwi­ cklung und seinen Beziehungen zu den Begriffen der Substanz und des Modus, 1 905. Ver também: M . J. Loux, Substance and A ttribute: A Study in Ontology, 1 978. Ver: Manlio Ciardo, Natura e Storia nell 'idealismo attuale, 1 949. - Giovanni Tuni, Filosofia e scienza nell 'attua/ismo, 1 95 8 . Franco Spisani, Natura e spi­ rito nel/ 'idealismo attuale, 1 962. Há numerosos trabalhos sobre atualismo e lógica modal. Ver, por exemplo: A. Plantinga, "Actualism and Possible Worlds'', Theoria, 42 ( 1 976), 1 3 9- 1 60. - R. M. Adams, "Actualism and Thisness", Synthese, 5 7 ( 1 9 8 1 ), 3-42. - A. Me Michael, "A Problem fo r Actua­ lism about Possible Worlds", Philosophical Review, 92 ( 1 983), 49-66. - M. J. White, "Harmless Actualism", Philosophical Studies, 47 ( 1 985), 1 83 - 1 90. - M. Lo­ sonsky, "No Problem for Actualism", Philosophical Review, 95 ( 1 986), 95-97. - A. Me Michael, "Actualism: Still Problematic'', Philosophical Studies, 50 ( 1 986), 283-287. - H. Hodes, "lndividual-Actualism and Three-Va­ lued Modal Logics, Part !: Model-Theoretic Semantics", Journal ofPhilosophical Logic, 1 5 ( 1 986), 369-40 1 ; "Part II: Natural-Deduction Formalizations", ibid. , 1 6 ( 1 987), 1 7-63 . - H. Zellner, "Spinoza's Temporal Argument for Actualism", Philosophy Research Archives, 14 ( 1 988- 1 989), 303-309. - C. Menzel, "Actualism, Ontological Commitment, and Possible World Semantics", Synthese ( 1 990), 355-389. - !d. , id. , "Temporal Actualism and Singular Foreki1owledge", em Philosophical Perspectives, 5: Philosophy of Religion, ed. J. E. Tomberlin, 1 99 1 . C: --

AUGUSTINUS TRIUMPHUS. Ver EGio10 ROMANO. AURIOL, PEDRO. Ver PEDRO AuRIOL. AUROBINDO, GNOSH SRI ( 1 872- 1 950). Foi educa­ do na Inglaterra - em Londres e em Cambridge (King's College) - e, depois de participar das lutas políticas como um dos líderes da ala nacionalista radical do Con­ gress Party indiano, mudou-se para Pondichéri, onde se dedicou à vida espiritual, formando numerosos discí­ pulos e seguidores. Aurobindo desenvolveu uma doutrina metafisico­ -teológica ao mesmo tempo emanatista e evolucionista, incorporando a ela elementos procedentes dos Upanixa­ des (VER) da escola Yoga ( VER) e da tradição idealista

do Ocidente. Antes de tudo, ele acentuou a unidade de Brahrna, que concebeu como um Absoluto reivindicado pela razão se esta deseja sair de si mesma e de sua pró­ pria insuficiência. Brahma é a unidade que se derrama evolutivamente na multiplicidade e tem as três proprie­ dades do Ser, da Força-Consciência e da Beatitude. A realidade é produto da emanação e diferenciação do Absoluto; deste surge, como de uma fonte inesgotável, o mundo todo, que se desenvolve numa série de formas até chegar à matéria. Ao mesmo tempo, a matéria con­ tém em potência as formas superiores, em direção às quais vai evoluindo. O homem representa o momento principal do processo de reabsorção do mundo na "Vida Divina'', mas para que se efetue plenamente essa reabsor­ ção é preciso que o homem supere seu desejo do múl­ tiplo e particular. O instrumento capital dessa superação é a prática do Yoga integral (Hatha Yoga), série de exer­ cícios espirituais que levam o homem à pura vida con­ templativa e à sua imersão na Vida Divina. O primeiro estágio nesse processo de divinização é a formação de um homem superior, de um novo "primeiro homem", germe da transformação e divinização do mundo. :> Principais obras: Basis of Yoga, 1 936. - The Life Divine. The Philosophy of Sri Aurobindo, 3 vols., 1 942. - A System of National Education: Some Preliminary Jdeas, 1 948. - The Human Cycle, 1 949. Lights on Life-Problems, 1 950. - On Yoga. !: The Synthesis of Yoga, 1 950. - Ideal ofHuman Unity, ed. rev., 1 950. Problem of Rebirth, 1 952. - The Man ofLight: Essays Written in the lndian Philosopher 's Later Years for His Ashram Journal on Physical Education, 1 953. The Foundation ofIndian Culture, 1 954. - The Future Evo­ lution of Man: The Divine Life upon Earth, 1 963 . Em português: Sabedoria de Sri Aurobindo, 1 999. Biografia: A. B. Purani, Life ofS. A., 1 958; 2ª ed., 1 960. Ver: S. K. Maitra, An Introduction to the Philosophy ofS. A . , 1 94 l ; reimp., 1 965. - Id. , The Meeting ofEast and West in S. Aurobindo 's Philosophy, 1 956; reimp., 1 968. - N. K. Gupta, The Yoga of S. A., 2 vols., 1 948- 1 950. - S. Bahrati, The Integral Yoga ofS. A . , 1 949. Haridas Chaudhuri, S. A . : The Prophet ofthe Life Divine, 1 95 1 ; 2ª ed., 1 960; reimp., 1 973. - Id. , The Philosophy ofIntegralism, ar the Metaphysical Synthesis inherent in the Teaching ofS. A . , 1 954. - A. C. Das, S. A . and some Modem Problems, 1 958. - H. Chaudhuri e F. Spiegel­ berg, eds., The Integral Philosophy of S. A . , 1 960 (com trinta colaborações de Ch. A. Moore, P.A. Sorokin, N. Smart et ai. ). - V. P. Varma, The Political Philosophy of S. A . , 1 96 1 . - Satprem (pseudônimo), S. A. ou l 'aventure de la conscience, 1 964. - K. W Bolle, The Persistence of Religion: An Essay on Tantrism and S. Aurobindo 's Philosophy, 1 965. - Roque Ferriols, The "Psychic Enti­ ty " in Aurobindo 's The Life Divine, 1 966. - Robert Seilley, Çri A., philosophe du yoga intégral, 1 970. Jesse Roarke, S. A . , 1 973. - Angelo Morretta, A. e il -

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AUSÊNCIA

futuro dell 'uomo, 1 974. - M. P. Pandit, S. A . : A Survey 1 8 72- 1 9 72, 1 974. - S . P. Singh, Sri Aurobindo and Whitehead on the Nature ofGod, 1 972. - S. K. Baner­ j i , Sri Aurobindo and the Future of Man: A Study in Synthesis, 1 974. - W. Cenkner, The Hindu Personality in Education: Tagore, Gandhi, Aurobindo, 1 976. - J. O ' Connor, The Questfor Política! and Spiritual Libe­ ration: A Study in the Thought ofSri Aurobindo Ghose, 1 97 7 . As obras de Avicena são numerosas. Destacamos as seguintes, indicando as edições: A I- Si/à (A Cura), Teerã, 2 vols., 1 303/ 1 886; outra ed., Cairo, 1 952, ed. completa, 2 vols., 1 960-? - A l-Nayãt (A Salvação), Cairo, 1 3 3 1 / 1 9 1 3 , ed. Muhyi al-Din Sabri al-Kurdi, 1 9 1 3 , 2ª ed., 1 93 8 . - Kitãb al-l�ãrãt wa-1 Tanbihãt (Livro de teoremas e avisos para lógica e sabedoria), ed. Forget, Leiden, 1 892; outra ed., Remarks and Admo­ nitions. Part one: Logic, trad., introd. e notas de S. C. Inati, Leiden, 1 984. - Risãlat al-lf udüd (Compêndio das definições), Cairo, 1 326/ 1 908, na coleção Tis ' rasã' il fi-l lfikma wa-1- Tabi 'iyyãt. Há outras obras menores na mesma coleção, das quais é importante filosofica­ mente o escrito intitulado Aqsam ai- 'Ulüm ai- 'aqlyya (Divisões das ciências inteletuais). - Mantiq al-Ma�ri­ qiyyin (Lógica dos orientais), Cairo, 1 328/ 1 9 1 O. - A Cura foi (erroneamente) denominada de Sujficientia na Idade Média e compreende uma lógica, uma física, uma psicologia, uma cosmologia e uma metafísica. Traduções latinas: Opera in fucem redacta ac nuper quantum ars niti potuit per canonicos emmendata. Lo­ gyca. Sujficientia. De coe/o et mundo. De anima. De animalibus. Philosophia prima, Venetiis, 1 495 (reimp., 1 960), 1 508 (reimp., 1 960), 1 546. - Trad. latina de Me­ taphysices compendium, de N. Carama, Roma, 1 926. Transcrição, revista, de De anima, por G. P. Klubertanz, S. J., da ed. de Veneza de 1 508, 1 949 (mimeog.). Avicenna Latinus. Liber de philosophia prima seu scientia divina, !-IV, ed. crítica da trad. latina medieval por S. van Riet, I 977. - Ed. do original persa e trad. inglesa: Avicenna s Treatise on Logic: Part one of Danesh-Name

AVICENISMO Alai (A Concise Philosophical Encyclopaedia) andAuto­ biography, ed. Farhang Zabeeh, 1 97 1 . Bibliografia em A.-M. Goichon, Introduction à Avi­ cenne. Son Êpitre des Définitions, 1 93 3 , pp. xxvi­ -xxxvii (correções em Distinction, pp. xiv e 505), e em M. Cruz Hemández, La metafisica de Avicena, 1 949. - Bibl. em persa por Yahya Mahdavi, 1 954. Osman Ergin, lbín Sina bibliografYasi, 1 956. Ver: 8. Carra de Vaux, Avicenne, 1 900; reimp., 1 974. - C. Sauter, Avicennas Bearbeitung der aristotelischen Metaphysik, 1 9 1 2. - Djémil Saliba, Étude sur la méta­ physique d 'A ., 1 926. A.-M. Goichon, La distinction de l 'essence et de l 'existence d 'apres !bn Sina, 1 937. /d. , Léxique de la langue philosophique d 'lbn Sina, 1 938 (suplemento: 1 939). - /d. , La philosophie d 'A . et son influence en Europe médiévale, 1 944; 2ª ed., ampliada, 1 95 1 . - Também o livro citado no princípio da biblio­ grafia. - M. Amid, Essai sur la psychologie d 'A ., 1 940 (tese). - M. Cruz Hemández, La metafisica de Avicena, 1 949 (tese), e a seleção de textos intitulada Sobre Meta­ fisica ( 1 950), com introdução e notas. - L. Gardet, La pensée religieuse d 'A . , 1 95 1 . - V árias autores, Avicenna: Scientist and Philosopher. Millenary Symposium, 1 952, ed. G. M. Wickens (com bibliografia depois de cada capítulo). - Ernst Bloch, Avicenna und die aristotelische Linke, 1 952, nova ed., 1 963 (trad. esp.: A. y la izquierda aristotélica, 1 968). - Soheil M. Afuan, Avicenna: His Life and Works, 1 958. - Osmart Chanine, Ontologie et théologie chez A., 1 962. - Parviz Morewedge, The Metaphysics ofAvicenna (ibn Sina), 1 973. - William E. Gohlman, Avicenna: The Life of lbn Sina, 1 974. O. C. Gruner, A Treatise on the Canon of Medicine of A . , 1 970. - H. Corbin, A . et /e récit avicennien. Étude sur /e cycle des récits avicenniens, 1 979. - A. Badawi, M. Cruz Hemández et ai. , Milenario de A . , 1 98 1 (Sim­ pósio, Madri, março de 1 980). - G. Verbeke, A. Grun­ dleger einer neuen Metaphysik, 1 98 3 . - S. Kemal, The Poetics of A lfarabi and Avicenna, 1 99 1 . C -

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AVICENISMO. A filosofia de Avicena exerceu grande influência durante o século XIII e parte do século XIV Ela foi, sem dúvida, muito combatida por vários filóso­ fos escolásticos. Mas isso mostra que suas teses se en­ contravam bem vivas na mente dos pensadores dessa época. De resto, o combate não foi possível sem a aco­ lhida de uma importante parte das teses do filósofo. Falou-se por esse motivo de um avicenismo latino. Gilson referiu-se a um agostinismo avicenizante, patente em diversos autores (por exemplo, em Henrique de Gand). Segundo A.-M. Goichon, podem-se distinguir três fases na influência exercida por Avicena: 1 ) Desde a época das primeiras traduções de Aristóteles (ca. 1 1 30) até a reação de Guilherme de Alvémia (por volta de 1 230); 2) Desde o decreto pontifício de 1 23 1 que permitiu o es­ tudo de Aristóteles (e, portanto, de seus comentadores)

AVIDYÃ até as compilações de Alberto Magno (em 1 250, apro­ ximadamente); 3) Desde 1 253 - data do aparecimento de De ente et essentia, de Santo Tomás - até o térmi­ no da síntese tomista. A partir destas últimas datas, a influência de Avicena se fez sentir sobretudo por meio dos comentadores do Aquinate. Não podemos nos esten­ der aqui acerca dos pontos específicos nos quais se reflete melhor a influência do filósofo árabe. Recorda­ remos apenas que um dos mais debatidos aspectos capitais de sua doutrina foi a teoria da essência (VER) e a posição adotada na questão da distinção entre a essência e a existência (vER). Como vimos no verbete dedicado a esta última noção, autores como Guilherme de Alvérnia, São Boaventura, Santo Tomás e outros estavam muito próximos de Avicena a esse respeito. E, tal como o mostrou Gilson, mesmo a doutrina de John Duns Scot, embora não admita essa distinção, não pode ser entendida adequadamente - ao menos no que diz respeito à questão do caráter unívoco (vER) do ser sem a consideração da doutrina avicenista sobre a essên­ cia como pano de fundo. :> Ver: É. Gilson, "Les sources gréco-arabes de l' au­ gustinisme avicennisant'', Archives d 'histoire doctrinale et littéraire du moyen âge, 4 ( 1 930), 74- 1 07. - R. de Vaux, O. P., Notes et textes sur l 'avicennisme latin aux confins des Xll'-Xfff' siecles, 1 934. - A. -M. Goichon, La philosophie d 'Avicenne et son injluence en Europe médiévale, 1 944, 2ª ed., 1 95 1 , pp. 92-93 . - É. Gilson, Jean Duns Scot. lntroduction à ses positions fonda­ mentales, 1 952. C: A VIDY Ã. Ver MAYA. AXELOS, KOSTAS. Nasc. ( 1 925) na Grécia, mudou­ -se aos 20 anos para Paris, onde colaborou e foi du­ rante certo tempo diretor da revista Arguments ( 1 956- 1 962), iniciada por Edgar Morin e Roland Barthes. A revista acolhia as inquietudes de um grupo de autores marxistas não-ortodoxos no período álgido da desesta­ linização. Arguments publicou ensaios de autores de ten­ dências diversas no âmbito de uma orientação geral marxista (marxistas humanistas, sartrianos, marxistas de esquerda etc.). Axelos interessou-se principalmente pela questão da alienação, no sentido do ')ovem Marx", mesmo tendo encontrado nela dificuldades; sob certo aspecto, o pensamento de Axelos inclinou-se para uma espécie de existencialismo marxista. Influenciado por Heidegger, Axelos considerou que a metafisica devia ser superada e que a colusão da metafisica com a téc­ nica numa técnica planetária devia dar lugar a um au­ têntico "pensamento planetário" O "pensamento futu­ ro" é o pensamento que une Heidegger a um Marx que vai além de si mesmo. Mas a opção heideggeriana da Gelassenheit não é mais aceitável que a da Práxis; ambas constituem obstáculos - ao mesmo tempo que

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são pontos de partida - para um pensamento comple­ tamente aberto, planetário e multidimensional. Toda totalização deve ser "aberta" O pensamento de Axelos, que se pretende profun­ do, oculto, aforístico, barroco e lúcido, procura abranger a totalidade do mundo - só refletida parcialmente pelas forças elementares, como a linguagem ou o traba­ lho, e por grandes potências, como a magia, a política, a religião e a própria filosofia -, restabelecendo a unidade lúdica do Homem com o Ser. Axelos recorre a jogos de palavras que, em seu entender, constituem o modo pelo qual, ambiguamente, se ') oga o jogo": o que é lúdico não pode ser "e-ludido"· o pensamen­ to que não é pensamento, mas ser sobrevindo da tota­ lidade fragmentária do mundo, é o "eixo vinculador" (axelien). Desse modo, o pensamento planetário se ins­ taura no sentido duplo de ser total (ou "total-fragmen­ tário") e "errante" como os planetas (que são "planetá­ rios"). Todo o pensado deve ser virado do avesso: inter­ pretar o mundo, transformá-lo, interpretar a transforma­ ção etc. Assim, o pensamento lúdico "eixo-vinculador" é multidimensional e "tenebrosamente criador" :> Obras: Referências ao conceito de axioma e à axiomática são encontradas na maioria dos textos lógicos citados na bibliografia de LOGÍSTICA. Além disso: D. Hilbert, "Axio­ matisches Denken", Mathematische Annalen, 78. - F. Gonseth, Les mathematiques et la réalité. Essai sur la mé­ thode axiomatique, 1 936. - !d. , l'Edification axioma­ tique (t. III de la géométrie et le probleme de / 'espace, 1 937). J. H. Woodger, The Axiomatic Method in Bio­ logy, 1 937. - J. Cavailles, Méthode axiomatique et for­ malisme, 1 938. - Hao Wang, "Quelques notions d'axio­ matique", Revue Philosophique de louvain, 5 1 ( 1 953), 409-443. - R. Blanché, L'axiomatique, 1 955. - J. Hada­ mard e A. D. Alexandrov, Las definiciones axiomáticas en las matemáticas, 1 956. - Leon Henkin e Patrick Sup­ pes, eds., The Axiomatic Method, with Special Rejérence to Geometry and Physics, 1 959 (Proceed. of Int. Symp. Univ. of Calif. Berkeley, 26-XII- 1 957/4-1- 1 958). Arpád Szabó, "Was heisst der matematische Terminus àl;íwµa?'', Mai, 12 ( 1 960), 89- 1 05 . - Heinrich Scholz, "Die Axiomatik der Alten", Bliitter jur deutsche Phi/o­ sophie, 4 ( 1 930- 1 93 1 ), 259-278, reimp. na obra de Scholz, -

Mathesis universa/is, Abhandlungen zur Phi/osophie ais strenger Wissenschafl, 1 96 1 , ed. H. Hermes, F. Kambartel e J. Ritter, pp. 27-44. - Evandro Agazzi, lntroduzione ai problemi dell 'assiomatica, 1 962. - Patrick Suppes, Axiomatic Method in the Empirical Sciences, 1 965. Hermann Schüling, Die Geschichte der axiomatischen Methode im 1 6. und beginnenden 1 7. Jahrhundert, 1 969. - Herbert Stachowiak, Rationa/ismus im Urs­ pnmg. Die Genesis des axiomatischen Denkens, 1 97 1 . - J. de Lorenzo, El método axiomático y sus creencias, 1 980. J. R. Carnes, Axiomatics and Dogmatics, 1 982. - E. M. Barth, E. C. W Krabbe, From Axiom to Dialo­ gue: A Philosophical Study of logics and Argumenta­ tion, 1 982. - H. Moulin, Axioms of Cooperative Deci­ sion Making, 1 988. C: ·-

AXIOMA DE EXTENSIONALIDADE. Ver ExTEN ­ SIONALIDADE. AXIOMAS DA INTUIÇÃO. A parte analítica da lógica transcendental é, segundo Kant, aquela na qual o entendi­ mento e o juízo encontram nessa lógica seu cânon de uso objetivamente válido e correto. A função chamada "enten­ dimento" (VER) refere-se aos conceitos, isto é, aos conceitos do entendimento, ou categorias (ver CATEGORIA) . A função denominada ')uízo" diz respeito aos princípios do enten­ dimento, que são objeto da "doutrina do juízo" Para saber quais são os princípios do entendimento, Kant recorre à tabela de categorias. Sendo tais princí­ pios regras para o uso objetivo das categorias, temos quatro princípios correspondentes aos quatro grupos de categorias: axiomas da intuição, antecipações da per­ cepção (VER) , analogias da experiência (VER) e postulados do pensamento empírico em geral (vER) . Os dois primei­ ros grupos são princípios matemáticos; os dois últimos, princípios dinâmicos. Os axiomas da percepção correspondem às catego­ rias agrupadas sob o nome de "quantidade" (VER ) . O princípio desses axiomas é: "Todas as intuições são magnitudes extensivas" (KrV, B 202) ou 'Todas as apa­ rências [fenômenos] em sua intuição são magnitudes extensivas" (KrV, A 1 62). Kant entende por 'magnitude (quantum) extensiva' "aquela na qual a representação das partes torna possível a do todo" Essa condição da representação se aplica tanto ao espaço como ao tempo, pois nenhuma parte de um momento ou de outro pode ser representada sem traçar-se no pensamento ou repro­ duzir-se sucessivamente. Assim, não se pode representar uma linha, por menor que seja, sem traçá-la no pensa­ mento, isto é, sem engendrar todas as suas partes, uma depois da outra, a partir de um ponto. O princípio cita­ do é um princípio transcendental da ciência matemáti­ ca; através dele, aplica-se a matemática pura com toda precisão aos objetos da experiência. AXIOMATISMO. Ver AXIOMA; MATEMÁTICA.

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AYER, A [LFREDI J [ULIUSI ( 1 9 1 8- 1 989). Nascido em Londres, professor da Universidade de Londres ( 1 946- 1 959) e da de Oxford (até 1 978), defendeu em sua primeira obra sobre a linguagem, a verdade e a lógica ( 1 936) as teses capitais do positivismo (VER) ou empirismo (vER) lógicos, em particular a doutrina estrita da verificação (vER), a separação completa entre enun­ ciados lógicos (tautológicos) e enunciados empírico�, a impossibilidade da metafísica (vER) por constituir um conjunto de pseudoproposições, isto é, de enunciados que não podem ser nem verificados empiricamente nem incluídos no cálculo lógico, e por fim a necessidade de reduzir a filosofia à análise (vER). Na segunda edição da mencionada obra, Ayer revisou algumas das teses cita­ das. Em particular, isto ocorreu com o princípio de veri­ ficação, que ele admitiu não apenas num sentido "forte", mas também, e sobretudo, num sentido "fraco", propor­ cionando, por conseguinte, um critério mais "liberal" de tal princípio. Também revisou sua tese do a priori (vER) como puramente analítico-tautológico e, finalmen­ te, insistiu nos problemas suscitados pelo conhecimento empírico. Estes últimos problemas levaram-no, em sua obra sobre as bases do conhecimento empírico, a um profundo exame dos dados dos sentidos (sense-data; ver PERCEPÇÃO), com a conclusão de que não se trata de estados mentais, mas tampouco de modificações de ne­ nhuma substância, física ou biológica. Pelo contrário, essas substâncias - coisas materiais, conceitos mentais etc. - devem ser entendidas em função dos dados men­ cionados. Isso desemboca numa concepção fenomenista (ver FENOMENISMO) análoga às posições neutralistas da filosofia no começo do século XX, mas apoiada na aná­ lise lógica e evitando tanto o realismo como o idealismo. As influências de Hume tomam-se patentes na análise em questão, especialmente no que tange ao problema da causa (vER). Este problema é um dos mais conside­ ráveis para uma teoria fenomenista, mas Ayer observa que, apesar das dificuldades suscitadas a esse respeito, o fenomenismo pode enfrentá-lo melhor que qualquer outra doutrina. Em sua aula inaugural em Oxford sobre "Filosofia e linguagem", Ayer considera que a filosofia oxfordiana da "linguagem ordinária" não é - nem é desejável que seja - uma pura "filosofia lingüística'', mas uma aná­ lise da linguagem, na medida em que descreve fatos. Caso contrário, a filosofia lingüística se transformaria num fim em si mesma ou, melhor, num meio que pre­ tenderia passar por fim. Pois a filosofia deve interes­ sar-se pelas "fotografias" e não apenas pelo "mecanismo da câmera fotográfica" Por outro lado, a filosofia não deve nem tratar só de fatos, nem só de teorias, mas dos "traços arquitetônicos de nosso sistema conceituai" na

AZCÁRATE [Y MENÉNDEZ], GUMERSINDO DE medida em que esse sistema pretende descrever ou ex­ plicar fatos. Isso caracteriza, como Ayer reconhece, certo "retorno a Kant", embora a um Kant sem nenhuma "an­ tropologia a priori" :> Obras: Language, Truth, and Logic, 1 936; 2ª ed., rev. , 1 946 (trad. esp.: Lenguaje, verdad y lógica, 1 97 1 ) - The Foundations ofEmpirical Knowledge, 1 940. Thin King and Meaning, 1 947. - Philosophical Es­ says, 1 954 (trad. esp.: Ensayos filosóficos, 1 979). The Problem of Knowledge, 1 956 (trad. esp . : E! pro­ blema dei conocimiento, 1 962), ed., Logical Positivism, 1 959 (trad. esp.: E! positivismo lógico, 1 965). - Priva­ cy, 1 960 (separata British-Academy). - Philosophy and Language, 1 96 1 (aula inaugural em Oxford, 1 960). - The Concept of a Person and other Essays, 1 963 (trad. esp.: E! concepto de persona, 1 969). - The Ori­ gins of Pragmatism: Studies in the Philosophy of Char­ les S. Peirce and William Jones, 1 968. - Metaphysics and Common Sense, 1 970 (ensaios). - Russell and Moore: The Analytical Heritage, 1 97 1 . - Bertrand Russell, 1 972 (trad. esp.: R. , 1 973). - Probability and Evidence, 1 972. - The Central Questions of Philoso­ phy, 1 973 (trad. esp.: Los problemas centrales de lafilo­ sojla, 1 979). - Hume, 1 980 (trad. esp., 1 988). - Phi­ losophy in the Twentieth Century, 1 982 (trad. esp.: La filosojía dei siglo XY, 1 983). - Freedom and Morality and Other Essays, 1 984. - Wittgenstein, 1 985 (trad. esp., 1 985). - Voltaire, 1 986 (trad. esp., 1 988). - The Meaning of Life, 1 990 (trad. esp.: E! sentido de la vida y otros ensayos, 1 992) (artigos escolhidos ainda pelo autor que abrangem mais de quarenta anos de produ­ ção intelectual). Biografia: Part ofMy Life: The Memoirs ofa Philo­ sopher, 1 977 (Parte de mi vida, 1 982). - More of my Life, 1 984. Ver: G. M. Gozzelino, La filosofia di A . J A., 1 964. - Suresh Chandra, A Study in Ayer s Epistemology, 1 970. - C. Cigliotti, Studi su A. J A . , 1 975. - M. Dummett, P. F. Strawson et ai. , Perception and Jdentity, Essays to A. J A., with His Replies, 1 979, ed. G. F. MacDonald. - !. Semino, 11 problema della conos­ cenza empirica nel pensiero di A. J A . , 1 98 1 . - J. Foster, A . , 1 985, ed. T. Honderich. - G. MacDonald, C. Wright, eds., Fact, Science and Morality: Essays on A. J Ayer s "Language, Truth and Logic , 1 986. - 8. Gower, Logical Positivism in Perspective. Essays on "Language, Truth and Logic , 1 987. - A. P. Griffiths, ed., A. J Ayer Memorial Essays, 1 99 1 . - L. E. Hahn, ed., The Philosophy of J A. Ayer, 1 992. C: .

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AZC Á RATE [Y MEN É NDEZ) , GUMERSINDO DE. Ver KRAUSISMO.

B. Ver A. (5.) BAADE R, FRANZ XAVIER [BENEDICTI VON ( 1 765- 1 84 1 ) . Nascido em Munique, estudou primeira­ mente medicina, mas dedicou-se depois à teologia e à filosofia. Foi professor de Dogmática Católica na Universidade de Munique de 1 826 a 1 840. Baader recebeu influências diversas, mas todas orien­ tadas para especulações teológicas e "teosóficas". Devem­ se mencionar a esse respeito Bi:ihme, Weigel e Saint­ Martin. Filosoficamente, Fichte e Schelling foram os au­ tores que mais influenciaram Baader, mesmo que ele tenha se oposto a eles em questões teológicas e de filo­ sofia natural. Segundo Baader, a alma é o espelho da divindade e o caminho que conduz diretamente à contemplação de Deus. Baader desenvolveu uma filosofia natural especu­ lativa oposta a todo mecanicismo, que mantém uma concepção puramente passiva da matéria. Mas a matéria, de acordo com Baader, é "fluida" e está submetida a um processo dialético. Baader distingue na Natureza "o substanciante" do "substanciado", por um lado, e o "su­ perior" do "inferior", por outro. No âmbito dessa estru­ tura quaternária, estabelecem-se relações de "ascenso" e "descenso"; cada um dos quatro "aspectos" da realidade citados se interpenetra com todos os outros. A interpe­ netração completa de uma realidade com a outra - ao contrário da "impenetrabilidade" sustentada pela tisica mecanicista - representa a unidade. Esta unidade não é, no material, perfeita, mas o é em Deus, que penetra em todas as coisas. A imagem do universo de Baader é uma imagem "organicista" e não "atomista" Nas obras de Baader, a tendência organicista se revela igualmente acerca da filosofia do Direito e do Estado. Baader defende o Estado cristão como o único Estado universal que toma possível a conciliação de todos os contrários e anula a degeneração do Estado moderno, que, ao pretender desvincular-se de sua relação com Deus, leva cada um de seus componentes a julgar-se, por seu turno, um membro absoluto e independente da sociedade. Mas essa luta de Baader contra o estado "au­ tônomo" é uma conseqüência de sua oposição a toda

"autonomia" do homem, em especial no sentido da auto­ nonúa moral kantiana. O homem é fundamentalmente um ser dependente; tal dependência, porém, não anula por completo sua vontade, mas a faz de certo modo partícipe da vontade divina. Essa participação não é, por outro lado, só uma participação no querer, mas também uma participação no saber. Dessa maneira, o saber é, como Baader afirma explicitamente, co-sapiência. Isso não significa contudo que pensar e querer divino e hu­ mano sejam a mesma coisa; contra toda forma possível de panteísmo - tão freqüentemente insinuada no idealis­ mo romântico -, Baader sublinha sempre a diferença entre o Criador e o criado. O saber é uma co-sapiência porque toda razão humana é uma participação na razão divina, mas não porque o homem e o mundo sejam formas na evolução da divindade. Baader procura solu­ cionar o conflito suscitado pela doutrina do criado como desenvolvimento de Deus e pela doutrina que admite uma criação livre; contra toda afirmação de um mundo "desenvolvido" à maneira hegeliana, Baader sustenta energicamente a liberdade da criação, liberdade à qual se chega somente quando, situando-se para além de todo intelectualismo, se descobre o primado no divino da vontade (de uma vontade "espiritual", porque deve distin­ guir-se de toda matéria, que não passa de queda e degene­ ração da criatura). A realidade propriamente dita é para Baader apenas o reino dos espíritos; tempo e matéria devem ser negados para dar lugar tão-somente à existên­ cia do reino espiritual. � Obras: Beitrãge zur Elementarphysiologie, 1 796 (Contribuições à fisiologia elementar). - Ueber das phythagorische Quadrat in der Natur; 1 798 (Sobre o quadrado pitagórico na Natureza). - Beitrãge zur dy­ namischen Philosophie, 1 809 (Contribuições à filosofia dinâmica). - Ueber den Blitz ais Vater des Lichts, 1 8 1 5 (Sobre o raio como pai da luz). - Ueber den Ur­ ternar, 1 8 1 6 (Sobre o prototernário ) . - Ueber den Be­ griff der Zeit, 1 8 1 8 (Sobre o conceito de tempo). Fermenta cognitionis, 4 vols., 1 822- 1 824. - Vorlesun­ gen über Societãtsphilosophie, 1 832 (Lições sobre a fi­ losofia da sociedade). - Vorlesungen über spekulative

BACHELARD, GASTON Dogmatik, 5 fase. , 1 827- 1 83 8 (Lições sobre dogmática especulativa). Edição de obras: Siimtliche Werke, 1 6 vols., 1 85 1 1 860, editadas por 1 . Hoffinann (discípulo do filósofo), Hamberger et ai. ; reimp. em 1 962 e em 1 987; Hoffinann é autor de uma biografia de Baader, incluída no vol. XV, assim como de um escrito intitulado Spekulative Entwicklung der ewigen Selbsterzeugung Gottes (Evolu­ ção especulativa da eterna autogeraçiio de Deus), 1 835. Biografia: edição de Lettres inédites de Franz von Baader, por E. Susini, 1, 1 942; II, III, 1 95 1 . - Para o diário de Baader, ver: Seele und Welt. Franz Baaders Jugendtagebücher 1 786- 1 792, ed. por D. Baumgardt, 1 927. - F. Lieb, B.s Jugendgeschichte, 1 926. - Josef Siegl, F v. B. Ein Bild seines Lebens und Wirkens, 1 957. Bibliografia: J. Jost, Bibliographie der Schrifien F v. B.s, 1 926. - L. Procesi Xella, B. Rassegna storica degli studi ( 1 786- 1 977), 1 977. Ver: Hamberger, Die Kardinalpunkte der Baaderschen Philosophie, 1 855. - Baumann, Kurze Darstellung der Philosophie Franz Baaders, 1 878. - David Baumgardt, Franz von Baader und die philosophische Romantik, 1 927. - Eugéne Susini, Franz von Baader et le roman­ tisme mystique, 2 vols., 1 942. - Klaus Hemmerle, F v. Baaders philosophischer Gedanke der Schopfimg, 1 963. - Sebastian Helberger-Frobenius, Macht und Gewalt in der Philosophie F v. Baaders, 1 969. Heinz-Jürgen Géirtz, F von Baaders ''Anthropologischer Standpunkt ", 1 977. - H. Sauer, Ferment der Vermit­ tlung. Zum Theologiebegrijf bei F v. B. , 1 977. - L. Procesi Xella, La Dogmatica Speculativa di F v. B. , 1 977. - Willi Lambert, F von Baaders Philosophie des Gebets. Ein Grundriss seines Denkens, 1 978. - G. Wehr, F v. B. Zur Reintegration des Menschen in Reli­ gion, Natur und Erotik, 1 980. - F. Schumacher, Der Begrijf der Zeit hei F v. B. , 1 983. � BACHELARD, GASTON ( 1 884- 1 962). Nascido em Bar-sur-Aube (Champagne, França), professor na Sor­ bonne, trabalhou especialmente no campo da filosofia das ciências naturais (sobretudo da fisica). Em oposição ao substancialismo de muitas teorias contemporâneas, Bachelard insiste no caráter extraordinariamente comple­ xo das teorias científicas. Percebe-se esse caráter tão logo se examinam algumas das grandes tendências; por exem­ plo, o atomismo ou o determinismo (vER). A complexida­ de das teorias reflete a variedade de estruturas do real e obriga o filósofo da ciência a rejeitar as simplificações introduzidas pelas interpretações racionalistas. De acordo com Bachelard, há um novo espírito científico que se opõe tanto ao predomínio antigo e medieval da imagem como ao predomínio moderno do esquema geométrico. Esse novo espírito tende ao concreto, mas não por causa de sua entrega ao irracional, e sim como conseqüência de uma tentativa de ampliar o âmbito e a estrutura da razão. Diante da pretensão de saberes absolutos, Bachelard des-

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taca a necessidade de ater-se a conhecimentos dominados pelo "aproximativismo" e pelo probabilismo ( vER) . Além das investigações das estruturas da razão, devem-se a Bachelard estudos de interpretação psicológico-literária dos "elementos fundamentais" (terra, água, fogo, ar). Uma das idéias mais influentes - se não a mais influente - de Bachelard é a de "corte epistemológico" (ou "ruptura epistemológica") (coupure épistémologique), introduzida em sua obra Laformation de l 'e�prit scienti­ fique ( 1 938). Bachelard considera que há uma ruptura entre o espírito pré-científico e o científico; cada um deles se atém a um modelo conceituai e a um âmbito de refe­ rência próprio, distinto do outro e não comparável estrita­ mente com ele. A ciência emerge de certa prática que produz conceitos não derivados da generalização de observações. Assim, os conceitos de que se vale a ciência são independentes tanto de âmbitos não-científicos como da própria observação. Se esta idéia de Bachelard se apli­ ca à filosofia da ciência, resulta dela a noção de 'observa­ ção carregada de teoria' de que se ocuparam mais tarde numerosos filósofos. Se se aplica ao desenvolvimento da própria ciência, pode-se falar então de "cortes" em diferentes "fases", que são antes "quadros epistemológi­ cos" Neste último sentido, sobretudo, a idéia de corte epistemológico bachelardiana influenciou autores geral­ mente considerados, com ou sem razão, estruturalistas, como Foucault e Althusser. :l Obras: Étude sur l 'évolution d 'un probleme de phy­ sique: La propagation thermique dans les solides, 1 928. - La valeur inductive de la relativité, 1 929. - Essai sur la connaissance approchee, 1 929. - L'intuition de I 'instant, 1 932. - Le pluralisme cohérent de la chimie moderne, 1 932. - Les intuitions atomistiques. Essai de classification, 1 933. - Le nouvel esprit scientifique, 1 93 5 ; nova ed., 1 97 1 . - La dialectique de la durée, 1 936; nova ed., 1 972. - L'expérience de / 'espace dans la physique contemporaine, 1 93 7. - La formation de I 'esprit scientifique: Contribution à une psychanalyse de la connaissance objective, 1 93 8 . - La philosophie du non: Essai d 'une philosophie du nouvel esprit scien­ t/fique, 1 949. - L'aciivité rationaliste de la physique contemporaine, 1 95 1 . - Le matérialisme rationnel, 1 953. As obras não estritamente científico-filosóficas a que nos referimos no texto do verbete são: La psycha­ nalvse du feu, 1 93 8 . - L'eau et les rêves: Essai sur I 'imagination de la matiere, 1 942. - L'air et les son­ ges: Essai sur l 'imagination du mouvement, 1 943. La terre et les rêveries du repas: Essai sur les images de / 'intimité, 1 948. - La poétique de / 'espace, 1 957. - La poétique de la rêverie, 1 960. - La j/amme d 'une chandelle, 1 962. - Também: Lautréamont, 1 939; nova ed., 1 956. Obras póstumas: Le droit de rêver, 1 969 (artigos publicados entre 1 942 e 1 962). - Études, 1 970, ed. Georges Canguilhem (textos de 1 93 1 a 1 934). - L'en-

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gagement rationaliste: Pour une révolution permanen­ te, 1 97 1 , ed. Georges Canguilhem. - Épistémologie, 1 97 1 , ed. Dominique Lecourt (trad. esp . : Epistemo/o­ gía, 1 97 1 ). Em português: A água e os sonhos, 1 989. - O ar e os sonhos, 1 990. - Chama de uma vela, 1 989. Dialética da duração, 1 994. - O direito de sonhar, 1 994. -- Epistemologia, 1 990. - A .filosofia do não, 1 99 1 . - Formação do espírito cientifico, 1 996. Fragmentos de uma poética do .fogo, 1 990. - O mate­ rialismo racional, 1 990. - O novo espírito cientifico, 1 985. - A poética do devaneio, 1 988. - A poética do espaço, 2000. - A psicanálise do.fogo, 1 999. - A terra e os devaneios da vontade, 1 99 l . -- A terra e os deva­ neios do repouso, 1 990. Bibliografia: J. Rummens, "G. B.: Une Bibliogra­ phie", Revue lnternationale de Philosophie, 66 ( 1 963 ). - F. H. Lapointe, "G. B.: A Bibliographical Essay", Journal o.f the British Society.for Phenomenology, 8, n. 3 ( 1 977). Ver: G. Bouligand, G. Canguilhem et ai. , Hommage à G. B. , 1 957. - Augusto Salazar Bondy, La epistemo­ logía de G. B. , 1 958. - E. Minkowski, G. Canguilhem et ai. , artigo sobre G. B. em Revue lnternationale de Philosophie, 1 7 ( 1 963 ), fase. 4, com bibliografia por J. Rummens, pp. 492-504. - Pierre Qui llet, B. , 1 964. François Dagognet, G. B. : Sa vie, son oeuvre, avec un exposé de sa philosophie, 1 96 5 . -- G. Poulet, C. Ramnoux e F. Dagognet, artigos sobre G. B. em Revue de Métaphysique et de Mora/e, 70 ( 1 965), n. 1 . - Michel Mansuy, B. et les éléments, 1 967. -- Jacques Cagey, G. B. ou la conversion à l 'imaginaire, 1 969. - Maurice Lalonde, La théorie de la connaissance scientifique selon G. B. , i 970. - Dominique Lecourt, L 'épistémologie his­ torique de G. B. . 1 970. - Vincent Therrien, La révolu­ tion de G. B. en critique littéraire, 1 970. - Julien Naud, Stmcture et sens du symbole: L'imaginaire chez G. B. , 1 97 1 . - Roberto Dionigi, G. B. . La filosofia come osta­ colo epistemologico, 1 973. - Jean-Claude Margolin, B. , 1 974. - R. Poirier, R. Martin et ai. , B. , 1 974. - G. G. Granger, F. Barone et ai. , artigos sobre G. B. em Nuova Corrente, 64 ( 1 974). - Michel Vadée, G. B. ou /e nouvel idéalisme épistémologique, 1 975 (trad. esp., 1 975). - Francesco Botturi, Struttura e soggetività. Saggio su B. e Althusser, 1 976. - J.-P. Roy, B. ou /e concept contre f 'image, 1 977. - M. Schaettel, B. critique ou l 'alchimie du rêve, 1 977. -- R. C. Smith, G. B. , 1 982. - M. Tiles. Bachelard: Science and Objectivity, 1 985. - M. Castellana, Epistemologia debole: Bachelard. Desanti, Raymond, 1 985. - G. Lafrance, ed., G. B. : Profils Épistémologiques, 1 987. - L. Baumann, G. B. materialischer Transzendentalismus, 1 987. Obras: A Defence of Philosophic Doubt, Being an Essay on the Foundations of Belief, 1 879. - Essays andAddresses, 1 893. - The Foundations ofBeliej Being Notes Introductory to the Study of Theology, 1 895. Reflections suggested by the New Theory of Matter, 1 904. - Theism and Humanism, 1 9 1 5 (Gifford Lectures, 1 9 1 4). - Essays Speculative and Political, 1 920. Theism and Thought, a Study in Familiar Beliefs, 1 923. Bibliografia: T. E. Jessop, A Bibliography ofD. Hume and of Scottish Philosophy from F. Hutcheson to Lord B. , 1 938. Ver: E. O. Raymond, Balfour, 1 928. - Lord Raleigh, Lord Balfour and his Relation to Science, 1 930. - E. Dugdale, Balfour, 2 vols., 1 936. C:

BALLANCHE, PIERRE-SIMON ( 1 776- 1 884). Nas­ cido em Lyon, desenvolveu uma teoria da sociedade como elemento que persiste ao longo de todas as mu­ danças históricas, de todos os nascimentos, renascimen­ tos e decadências. A sociedade carrega em seu interior germes que, embora possam parecer ocasionalmente mortos, ressuscitarão e se desenvolverão em formações sociais muito diversas. O desenvolvimento desses ger­ mes equivale, de acordo com Ballanche, ao progresso, que j amais cessa, visto que continua germinalmente nos momentos de decadência. A sociedade é uma reali­ dade que se renova sem cessar. Nisso consiste a palinge­ nesia (vER) , regeneração ou renascimento. :> A principal obra de B. é Essais de palingénésie so­ ciale, 2 vols., 1 827- 1 829. Edição de Oeuvres ( 1 830- 1 833) e de Oeuvres inédi­ tes ( 1 904) por Inés de Castro, com notas de G. Frainnet. Pensées et fragments, ed. P. Vulliand, 1 907. - La Théodicée et la Virginie romaine (inéditos), 1 959. Ver: G. Frainnet, Essai sur la philosophie de P.-S. B. , 1 903 . - C. Huit, La vie et les oeuvres de B. , 1 904. W. M. Kozlowski, Hoené- Wronki et Ballanche, 1 930. P. Treves, B. , 1 932. J. Roos, Les idées philosophiques de B. et V. Hugo, 1 958. C: --

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BALMES, JAIME (LUCIANO) ( 1 8 1 0- 1 848). Nascido em Vic, estudou no Seminário de Vic e na Universidade de Cervera, ordenando-se sacerdote em 1 834. Passou alguns anos em Barcelona e em Madri, onde interveio, com seus escritos, em questões políticas e sociais, regres­ sando, pouco antes de sua morte, à sua cidade natal. Foi chamado às vezes de doctor humanus. Balmes representa em parte a corrente que contribuiu para a reafirmação e o florescimento da neo-escolástica, e isso a ponto de sua influência se ter exercido de modo preponderante sobre o Cardeal Mercier e a Escola de Louvain, mas de outro ponto de vista significa a reação particular experimentada por um pensador católico da época diante das correntes do pensamento moderno. Estas últimas não influenciaram sua obra de um modo que ela possa ser definida como mera conjunção de filosofia

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BALMES, JAIME [LUCIANO] moderna e tradição escolástica, mas ficaram incorpora­ das a seu pensamento pelo menos nos temas e mesmo no sentido da preconização do que mais tarde será conhe­ cido sob a divisa de vetera novis augere. Nesse sentido, pode-se entender principalmente a parte mais critica de sua obra, dirigida a uma compreensão, mna análise e a mna refutação do empirismo inglês, do kantismo e da fi­ losofia do idealismo alemão, especialmente de Hegel. Em contrapartida, ele mostrou maior afinidade, sem afastar-se da linha tradicional, com Reid e a escola esco­ cesa, assim como com algumas manifestações do espiri­ tualismo francês da época. Isso se revela sobretudo num dos problemas centrais abordados por Balmes: a questão da evidência da verdade. Por outro lado, a aproximação balmesiana a Descartes mostra-se mais na preocupação com o tema que na aceitação do princípio do Cogito, ou, se se quiser, mesmo admitindo com freqüência o Cogito, é dado a este último um sentido diferente. Por isso, a evidência do eu não tem para Balmes nenhuma signifi­ cação propriamente idealista, não apenas em função do realismo gnosiológico tradicional que defende, mas tam­ bém porque o "senso comum" em que se apóia parcial­ mente a evidência procura admitir mais elementos que os aceitos pelo pensamento cartesiano. Para isso, é útil mna distinção fundamental entre dois grupos irredutíveis de verdades: as ideais e as reais. Cada verdade se justi­ fica por meio de um critério diferente, que pode ser o do Cogito - embora concebido como um fato primitivo - nas coisas reais, e o princípio de contradição nos objetos ideais. No primeiro caso, temos a relação da coisa com uma consciência; no segundo, uma evidência propriamente dita. Mas a separação mencionada não pode ser tida como taxativa; na realidade, um dos propósitos de Balmes consiste em buscar um vínculo entre as exigên­ cias empiristas e as racionalistas, e por isso ele rejeita tanto a mera transformação das idéias em entidades pu­ ramente formais como a consideração das coisas do ponto de vista de sua redução a mn material empírico, que somente as sensações poderiam apreender e submeter a mna ordem. A exigência de um instinto intelectual signi­ fica precisamente, na ordem do conhecimento, uma nova tentativa de união da idealidade com a realidade, do ra­ cional com o empírico. E a aproximação ao senso commn é o esforço de evitar tanto o problema da passagem da consciência ao mundo externo como o construtivismo idealista. Podemos resmnir dizendo que, assim como outros autores de sua época, Balmes se propõs salvar os fundamentos da ontologia tradicional escolástica dos em­ bates a que a submeteu a critica kantiana e que, portanto, não pôde admitir que o agnosticismo teórico ficasse asse­ gurado somente pela razão prática, pois esta necessita justamente de mn fundamento teótico. Este fundamento reside na existência de verdades inalteráveis, mas não dadas a um conhecimento direto por meio de mna razão transcendental especulativa, e sim obtidas por uma espé-

cie d e hábito intelectual que à s vezes é interpretado de um ponto de vista psicológico, mas que tem, no entender de Balmes, um fundamento mais seguro e permanente que a psicologia. Com efeito, embora Balmes se carac­ terize por uma forte tendência psicologista na lógica segundo a qual a verdade ou falsidade das proposições é "produzida" em parte por fatores de índole subjetiva, deve-se observar que essa tendência se nota mais nas obras de divulgação - como El Criterio que nas obras filosóficas fundamentais, em que o autor não ignora as dificuldades suscitadas pela excessiva conexão entre o raciocínio teórico e a ação prática. Dois aspectos importantes no trabalho de Balmes que aqui podemos apenas mencionar são suas contri­ buições à filosofia política, em especial tendo em vista situações concretas existentes na Espanha de seu tem­ po, e seu trabalho apologético em favor do catolicismo como elemento civilizador do Ocidente. Pertence a esta última linha de sua atividade sua obra sobre a compa­ ração do protestantismo com o catolicismo, obra que é em grande parte uma crítica à História da civilização européia, de Guizo!. Balmes expressou nela opiniões ao mesmo tempo conservadoras e moderadas, como o mostra sua análise da noção de tolerância ( VER) . :> Ptincipais obras de interesse filosófico: Cartas a un escéptico en materia de religión, 1 84 1 (publicadas antes no j ornal La Sociedad, fundado por Balmes ). - El pro­ testantismo comparado con e! catolicismo en sus rela­ ciones con la civilización europea, 4 vols., I, II, 1 842; III, 1 843 ; IV, 1 844. - El Criterio, 1 845. - Filosofia fundamental, 4 vols., 1 846. - Curso de filosofia e/e­ mentai, 3 vols., 1 847. Algumas obras de interesse político-social : Obser­ vaciones sociales, políticas y económicas sobre los bie­ nes dei clero, 1 840. - Consideraciones políticas sobre la situación de Espaíia, 1 840. - Escritos políticos, 1 847. - Pío IX, 1 847. Alguns importantes escritos políticos de Balmes foram publicados no jornal El pen­ samiento de la Nación, fundado pelo filósofo em 1 844 e publicado até 1 846. Edições de Obras Completas: P. !. Casanovas, Barce­ lona, 33 vols., 1 925- 1 927 (vol. 33 com Efemérides e índices). Reedição na Biblioteca de Autores Cristianos, 8 vols.: I, II, III, 1 948; IV, V, 1 949; VI, VII, VIII, 1 950. - P. Basilio de Rubí, O. F. M . , 2 vols., Barcelona, 1 948 (Obras filosóficas no vol. I). - Edição de El Cri­ terio por E. Ovejero y Maury, Madri, 1 929. - Antología política de Balmes, 2 vols. , Madri, 1 98 1 , ed. J. M . Gar­ cía Escudem. - Poesías póstumas, Barcelona, 1 987. - Política y constitución: selección de textos y estudio preliminar, Madri, 1 988, ed. J. Valera Suances. B ibliografia: !. de Dios Mendoza, Bibliografia Bal­ mesiana, 1 96 l . Ver: A. De Blanche-Raffin, J Balmes. Sa vie et ses oeuvres, 1 849. - J. Riera y Bertrán, B., su vida y sus obras, 1 879. - A. Leclerc, De facultate verum asse-

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quendi secundum Balmesium, 1 900. - González Her­ rero, Estudio histórico-crítico sobre las doctrinas de B. , 1 905. - J. Elías de Molins, B. y su tiempo, 1 906. - N. Roure, La vida y las obras de B. , 1 9 1 0 . - J. Lladó, Nota biográfica y crítica general sobre la perso­ nalidad y obras de B. , 1 9 1 0. - A. Lugan, B. , 1 9 1 1 . M. Schlüter-Hennkes, Die Fundamentalphilosophie des J B. , 1 9 1 9. - !d. , "Die Philosophie des J. B. und ihr Zusammenhang mit der übrigen europãischen Philoso­ phie", Spanische Forschungen der Gorresgesellschafl, série 1, vol. 2 ( 1 93 1 ), 229-275. - P. I. Casanovas, B. , la seva vida, el seu temps, les seves obres, 1 932, 3 vols. - J. Ríos Sarmiento, J B. , pbro. , 1 94 1 . - Joan Manyà, L'estil de B. , 1 936 (em trad. esp . : Balmes, fi­ lósofo: su estilo, 1 944). - J. Zaragüeta, I. González, S. Minguij ón, J. Cortes Grau, B. , filósofo social, apologista y político, 1 945 (prólogo de C. Vifias y Mey). - G. van Riet, L'Épistémologie thomiste, 1 946. Parte I. - V. Félix Egidio, El pensamiento de B. en orden a la filosofia de la historia, 1 952. - P. Font y Puig, La teoría de conocimiento de B. , 1 95 5 . - Manuel Fraga Iribarne, B. , .filndador de la sociología positiva en Es­ pana, 1 95 5 . - Francisco González Cordero, C. M. F. , El instinto intelectual. fuente de conocimiento. Doctrina de Balmes sobre e! instinto ciego, su crítica y valoración en e! orden ético, 1 956. - Herbert Auhofer, Die Sozio­ logie des J B. , 1 953 (tese). - M. Batllori, B. i Casa­ novas. Estudis biogràfics i doctrinals, 1 959. - T1rso Alesanco E! "instinto intelectual " en la epistemología de J B. , i 965 . - J. Tusquets, J B. Son systeme philo­ sophique, 1 969. - J. R. Gironella, B. Filósofo, 1 969. - !d. , "Dos filósofos dei ' Hombre entero' : Balmes y Sciacca", Giornale di Metafisica, 3 1 ( 1 976), 659-67 1 . - E. Forment Giralt, "Balmes y la fundamentación de la metafisica", Espíritu, 33 ( 1 984), 27-52. - M. A. Cervelló, "La definición dei criterio de sentido común o instinto intelectual en J. Balmes'', Sapientia, 46 ( 1 82) ( 1 99 1 ), 305-3 1 7 . Números especiais dedicados a Balmes d e Pensa­ miento, 3 ( 1 947), com bibliografia balmesiana por M . Flori, e d e Ciencia y Fe, 1 6 ( 1 948). Ver também o s vols. 1 , I I e I I I das Actas dei Congreso Internacional de Filosofia de Barcelona ( 1 948). Em 1 949 foi fundado em Barcelona um Instituto Filosófico Balmesiano, sob a direção do P. Fernando Palmés, S. J. C: BAMALIP (Baralipton). É o nome que designa um dos modos (ver Mooo), considerado válido por muitos au­ tores, da quarta figura ( vER) . Um exemplo de Bamalip (Baralipton) pode ser:

Se todas as frutas são comestíveis e todas as coisas comestíveis são apetecíveis, Então algumas coisas apetecíveis são frutas, exemplo que corresponde à seguinte lei da lógica quan­ tificacional elementar:

BÁNEZ, DOMINGO

(A x (Hx -+ Gx) " A x (Gx -+ V x (Fx " Hx)

-+

Fx))

-+

e que, usando-se as letras 'S', 'P' e 'M' da lógica tradicio­ nal, pode exprimir-se mediante o seguinte esquema: (PaM " MaS)

-+

SiP

no qual aparece claramente a seqüência das letras 'A', 'A' , ' ! ' , origem do termo Bamalip (Baralipton), na or­ dem PM-MS-SP. BÁN EZ DOMINGO ( 1 528- 1 604). Nascido em Medi. . na dei Campo (ou em Valladolid), estudou na Umvers1dade de Salamanca, ingressou na Ordem dos Pregadores em 1 547 e foi professor de prima de teologia na citada Universidade de 1 5 8 1 até sua aposentadoria em 1 599. Báfiez é autor de comentários à Summa Theologica de Santo Tomás de Aquino, de comentários a Aristóteles e de vários tratados teológicos e filosóficos. A orienta­ ção geral é a tomista, mas no âmbito d� sta Báfiez �efen� deu várias opiniões próprias, em particular relativas a natureza da causação própria (a seu ver, apenas mate­ rial) das formas criadas. O teólogo e filósofo espanhol é conhecido, porém, sobretudo por sua defesa da noção de premoção ( vER) fisica, a ponto de alguns autores o considerarem o verdadeiro autor dessa noção; de qual­ quer forma, é usual identificar 'sistema da premoção fisica' com 'sistema bafieziano ' Referimo-nos a esse ponto não apenas no verbete citado como també'._11 � m outros desta obra (por exemplo, em Graça). O banez1s­ mo, neste aspecto, opôs-se ao molinismo nas controvér­ sias de auxiliis que se desenvolveram no século XVI e persistiram durante o século XVII. :> Obras: Comentários a Santo Tomás: Scholastica com­ mentaria in primam partem Angelici Doctoris D. Tho­ mae, 2 vols., 1 584- 1 588. - De fide, spe, et charitate, 1 584 (comentários à Secunda secundae). - De iure et justitia decisiones, 1 594 (ibid. ). - Tratados teológicos: Apologiafratrum Praedicatorum in província Hispaniae sacrae Theologiae professorum, adversus quasdam novas assertiones cuiusdam Doctoris Ludovici Molinae nuncu­ pati theologi de Societate Jesu, quas defendit in suo li­ bello cui titulum inscripsit "Concordia liberi arbitrii cum gratiae donis divina praesciantia, provodentia, praedesti­ natione et reprobatione ", et adversus alios eiusdem novae doctrinae sectatores ac defensores eadem Societate, 3 partes, 1 595 (em colaboração com outros autor� s � Ordem). - Relectio de merito et augmento chantat1s, 1 590. - Comentários a Aristóteles: Commentaria et quaestiones in duos Aristotelis Stagyritae de generatione et corruptione libros, 1 585. - Obra lógica: lntutionis minoris Dialecticae quas Summulas vocant, 1 599. Edições atuais dos comentários a Santo Tomás: Scholas­ tica commentaria etc., por L. Urbano, Madri, 1 934 ss. (Biblioteca de Tomistas Espanoles, VIII). - Comentários inéditos à Prima Secundae de Santo Tomás, por V. Beltrán de Heredia, Madri, 3 vols., 1 942- 1 948 (Biblioteca de Teó'

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BANFI, ANTONIO logos Espaíioles, IX, XI e XIV). -- Comentários inéditos à Terceira parte de Santo Tomás, 1 953. Ver: Alberto Bonet, La filosofia de la libertad en las controversias teológicas dei sigla XVI y primera mitad dei XVII, 1 932, pp. 95 ss. - M. Solana, Historia de lajiloso­ fia espaíiola. Época dei Renacimiento (Sigla XVI), vol. III, 1 94 1 , pp. 1 73-202. -W R. O'Oconnor, "Molina and Bá­ fiez as lnterpreters", New Scholasticism, 21 ( 1 947), 243259. - V. Muii.oz Delgado, "D. 8. y las Súmulas en Sala­ manca a fines dei siglo XVI", Estudios, 21 ( 1 965), 3-20. - 8. S. Llamzon, "The Specification of 'esse': A Study in 8áfiez", Modem Schoolman, 41 ( 1 964), 1 23- 1 44. -- !d., id. , "Supposital and Accidental 'esse': A Study in 8áfiez", New Scholasticism, 39 ( 1 965), 1 70- 1 88. - V. 8eltrán de Heredia, D. Báíiez y las controversias sobre la gracia, 1 968. - L. A. Kennedy, "Peter of Ledesma and the Dis­ tinction 8etween Essence and Existence", Modem School­ man, 46 ( 1 968), 25-38. - E. Forment Girai!, "El ser en D. Báfiez", Espíritu, 34 ( 1 985), 25-48. C BANFI, ANTONIO ( 1 886- 1 957). Nascido em Vimer­ cate (Milão), professor da Universidade de Milão (desde 1 93 1 ), defendeu o que ele mesmo denomina um racio­ nalismo critico, isto é, um racionalismo apoiado num ponto de vista transcendental fenomenológico (no sentido gnosiológico-descritivo ) . Esse racionalismo procura abranger toda a experiência possível e, portanto, é exata­ mente o contrário de um esquematismo lógico. Com efeito, 8anfi aspira a superar as antíteses entre o raciona­ lismo e o empirismo, entre o racionalismo clássico e o irracionalismo contemporâneo, por meio de uma ênfase no caráter teórico puro (na teorecità) da filosofia. Ora, esse caráter teórico puro do filosofar significa, em sua opinião, a inteira submissão do dado a uma descrição pura, tomada possível por meio da análise fenomeno­ lógica do ato do conhecimento e, portanto, por meio de uma atividade igualmente afastada da construção do dado e da dissolução - na vida ou na ação - do dado. Só deste modo será possível, de acordo com 8anfi, não sacrificar os aspectos intuitivos da experiên­ cia, sem ter por isso de aceitar um relativismo completo. Uma ontologia crítica deveria constituir, naturalmente, o fundamento dessas análises. Mas semelhante ontolo­ gia deve evitar todo dogmatismo, especialmente o subs­ tancialista e teológico. Em outros termos, a ontologia crítica do racionalismo de 8anfi postula um sistema aberto de categorias, disposto a uma reinterpretação dos conceitos do pensamento clássico, os quais convém, segundo o autor, esvaziar de todo absolutismo, tal como o preconiza, consciente ou inconscientemente, o atualis­ mo italiano. Para 8anfi, o absolutismo corre o perigo de empobrecer sobremodo a vida espiritual ao cercear algumas de suas linhas e atividades essenciais. Por isso, o racionalismo crítico é ao mesmo tempo uma "teoria da vida em suas infinitas linhas de tensão": um conhecimento puro do real tanto quanto uma norma de ação sempre aberta ao futuro. Em filosofia política e ética, i:m particu-

lar durante os últimos anos de sua vida, Banfi foi marxis­ ta, sendo Senador do Partido Comunista Italiano. � Principais obras: La filosofia e la vila spiritua/e, 1 922. - lmmanenza e trascendenza come antinomia filosofica, 1 924. - Principi di una teoria de/la ragione, 1 926. - Pestalozzi, 1 929. - Vita di G. Galilei, 1 930, reed. com o título: G. Gali/ei, 1 949. - Nietzsche, 1 934. - Socrate, 1 942. - Vitta del/'arte, 1 947. - L'uomo copernicano, 1 950. - Storia dei materialismo: !. Spino­ za, 2 vols., 1 952- 1 953. - La filosofia dei Settecento, 1 954 (curso de 1 953- 1 954; lit.). - La filosofia di C. G. F Hegel, 1 956. - La filosofia degli ultimi cinquant 'anni, 1 957. - La ricerca de/la realità, 2 vols., 1 959. - 1 problemi di una estetica filosofica, 1 96 1 , ed. Luciano Anceschi. - Filosofia deli 'arte, 1 962, ed. Dino Foggio. - Studi sulla.filosofia dei Novecento, 1 965. - Jncontro con Hegel, 1 965. - lntroduzione a Nietzsche (aulas 1 9331 934), 2ª ed., 1 977. - Tre generationi dopo, 1 98 1 . Entre seus artigos e comunicações publicados em anais e revistas, podem ser mencionados: "Sui principi di una filosofia della morale" (Rendiconti dei R. Instituto Lombarda di Scienze e Lettere, 1 934); "Veritâ ed umanitâ nella filosofia contemporanea" (Studi fi/osofici, 1 , 1 948). Edição de obras: Opere, desde 1 960 (vol. 1: Principi di una teoria de/la ragione). Em português : Galileu, 1 997. Depoimento: "Per un razionalismo critico", inseri­ do no volume de M. F. Sciacca, Filosofi italiani contem­ poranei, 1 944, pp. 59- 1 04. - "La mia esperienza filo­ sofica", en La .filosofia contemporanea in !ta/ia, 1 958, pp. 37-52. Bibliografia: R. Salemi, Bibliografia banflana, [1 910-1 982], 1 982. Ver: G. M. 8ertini, A. Banji, 1 943 (com bibliogra­ fia). - Fulvio Papi, li pensiero di A. B. , 1 96 1 (com bi­ bliografia). - F. Battaglia, R. Cantoni et ai., A. B. e il pensiero contemporaneo (Atti dei Convegno di Studi Banfiani), 1 969. - L. Rossi, Situazione de/l 'estetica in Banfi, 1 973. - A. Erbetta, L'umanismo critico di A. B. , 1 979. C BARALIPTON. Ver 8AMALIP. BARBARA. É o nome que designa um dos modos (ver Mooo) válidos dos silogismos da primeira figura ( vER) . Um exemplo de Barbara pode ser:

Se todos os homens são mortais e todos os abissínios são homens, então todos os abissínios são mortais, exemplo que corresponde à seguinte lei da lógica quan­ tificacional elementar: (/\ x (Gx -> Hx) A /\ x (Fx -> Gx)) -> -> /\ x (Fx -> Hx) Usando-se as letras ' S ' , 'P' e 'M' da lógica tradicio­ nal, pode exprimir-se mediante o seguinte esquema: (MaP " SaM)

->

SaP

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no qual aparece claramente a seqüência das letras 'A', 'A' , 'A', origem do termo Barbara na ordem MP-SM-SP. Aristóteles considerou os modos da primeira figu­ ra como silogismos perfeitos, mas reduziu os dois últi­ mos - Darii, Ferio - aos dois primeiros: Barbara e Celarent. Lukasiewicz observa a esse respeito que o uso de apenas dois silogismos (considerados axiomas) para construir a teoria silogística corresponde à tendên­ cia da lógica formal moderna de reduzir a um mínimo o número de axiomas numa teoria dedutiva, mas que as leis de conversão utilizadas pelo Estagirita para re­ duzir os modos imperfeitos aos modos perfeitos não podem ser provadas por meio dos silogismos. Por outro lado, como é possível, segundo indica Lukasiewicz, deduzir vinte modos silogísticos sem empregar o modo Barbara, resulta que, enquanto o axioma Barbara é o mais importante do sistema na medida em que é o único silogismo que proporciona uma conclusão afirmativa universal, ele ocupa, em contrapartida, um nível inferior no sistema dos silogismos simples. BARBARO, ERMOLAO (HERMOLAUS BARBA­ RUS) ( 1 454- 1 493). Nascido em Veneza, estudou em Verona e em Roma, sendo discípulo de Teodoro de Gaza. Lecionou durante certo tempo em Pádua. Ermolao Bar­ bara distinguiu-se por sua defesa do que considerava a autêntica tradição aristotélica - a tradução correta e a interpretação justa das obras de Aristóteles -- contra o que avaliava como distorções introduzidas por escolás­ ticos e averroístas, por um lado, e por retóricos huma­ nistas, por outro. Em nome desse "neo-aristotelismo" depurado, Ermolao Barbaro opôs-se também ao plato­ nismo dos filósofos da Academia Florentina. Junto ao modelo contemporâneo de Teodoro de Gaza, ele tinha presentes as interpretações de Alexandre de Afrodísia, Simplício e especialmente Temístio. Os "filósofos bár­ baros", escolastizantes e averroizantes entendiam Aris­ tóteles tão pouco, em sua opinião, quanto os humanis­ tas estetizantes. :l Ermolao Barbaro planejou fazer uma tradução com­ pleta de Aristóteles, mas terminou apenas a de vários li­ vros, sobre retórica e dialética. Ele traduziu o comentá­ rio aristotélico de Temístio e escreveu Comentários, pu­ blicados em 1 544 e freqüentemente reimpressos. De­ vem-se também a ele numerosas cartas: Epistulae, Ora­ tiones et Carmina, 1 943, ed. Vittore Branca. - Ver Scritti scelti em Filosofi. italiani dei '400, com texto e tradução, 1 942. Ver: T. Stickney, De H B. vita atque ingenio, 1 903. Giuseppe Saitta, II pensiero italiano nell 'Umanesimo e nel Rinascimento, vol. I ; L'Umanesimo, 1 949, pp. 439445 . - C . Dionisotti, "E. B. e la fortuna di Suiseth", Medioevo e Rinascimento. Studi in onore di B. Nardi, 1 955, vol. I, pp. 2 1 7-253 . - P. O. Kristeller, Studies in Renaissance: Thought and Letters, 1 956. C:

BARCELONA {ESCOLA DE) BARBELO-GNÓSTICOS. Ver GNOSTICISMO. BARBOZA, ENRIQUE. Ver DEúSTUA, ALEJANDRO 0CTAVIO. BARCELONA (ESCOLA DE). Eduardo Nico! (vER) propôs a expressão ' Escola de Barcelona' para designar uma tradição filosófica desenvolvida principalmen­ te em B arcelona e que, de modo análogo à chamada "Escola de Madri" (ver MADRI, ESCOLA DE), consiste menos na adesão a determinado número de teses filo­ sóficas ou no uso de determinado número de métodos filosóficos que na participação de certo espírito ou modo de filosofar. Esse modo se caracteriza pelos seguintes traços: sentido da realidade e igual oposição à redução da filo­ sofia a mera teoria abstrata ou a simples forma de vida; oposição ao verbalismo; certa inclinação ao senso co­ mum (num sentido muito amplo); desconfiança em re­ lação ao mero brilhantismo em filosofia; sentido da con­ tinuidade histórica. Considerada a Escola em questão, segundo se in­ dica, sobretudo como um modo de filosofar, pertencem a ela autores como Joaquín Llaró Vida! (professor da Universidade de Cervera e fundador, em 1 8 1 5 , da So­ ciedade Filosófica), Antonio Llobet Vallosera, Jaime Balmes (vER), Ramón Martí d'Eixala (vER), Francisco Xavier Llorens i Barba (vER), Ramón Turró (vER), Jaume Serra Hunter (vER), F. Mirabent, Tomàs Carreras Artau, Joaquim Carreras Artau, Jaume Bofill, Joaquim Xirau (vER). Este último, além disso, formou um grupo de dis­ cípulos que não só têm consciência de seguir as orienta­ ções - em sentido amplo - da Escola, como procu­ raram difundir seu espírito. Observemos que a perten­ ça à Escola de Barcelona não significa desvinculação de outras orientações ou tendências; mencionamos no verbete sobre a Escola de Madri que Joaquim Xirau, por exemplo, era filiado a esta última e à de Barcelona. Indiquemos por fim que, embora centrada principalmen­ te na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Barcelona, a Escola de Barcelona tem um alcance mais amplo que o de uma Faculdade universitária deter­ minada. Na lista de nomes apresentada, figuram vários que não foram professores da mencionada Faculdade. A eles pode-se acrescentar o nome de Eugenia d'Ors. Alguns o excluiriam da Escola; outros o teriam como seu principal representante. Em todo caso, é inegável que em seu pensamento se destacam algumas das ca­ racterísticas - especialmente a primeira e a última que enumeramos. José Luis Abellán (Ínsula, n. 328, março 1 974, p. 1 O) observou que vários desenvolvimentos da filosofia em pensadores catalães, e alguns não catalães, que residem ou residiram por longo tempo em Barcelona tornam dificil continuar falando de "Escola de Barce­ lona" Filósofos como Emílio Lledó, Manuel Sacristán,

BARDESANO Xavier Rubert de Ventós, Jesús Mosterín, C. Ulises Moulines, Eugenio Trías e outros ampliam o horizonte de interesses e atitudes filosóficas a ponto de, mesmo com a maior boa vontade, não se poder rastrear o que Abellán denomina, seguindo Nico!, a "série de conota­ ções filosóficas comuns entre os filósofos catalães, que vinham tornando-se evidentes, ao menos desde os tem­ pos de Xavier Llorens i Barba, e que se prolongavam até mesmo nos pensadores do exílio" De fato, as men­ cionadas "conotações filosóficas comuns" tampouco se encontravam facilmente nos pensadores arrolados no parágrafo anterior; poder-se-ia dizer que, a partir de Joaquim Xirau - paradoxalmente, o filósofo no qual se centrava modernamente a "Escola" em questão -, os traços comuns se tornam cada vez mais diluídos. No entanto, continuamos mantendo a expressão que dá título a este verbete por razões de "comodidade" Opor­ tunamente, seria interessante verificar se, a despeito da multiplicidade de orientações, teses, métodos etc., não persiste certa "atitude" filosófica na atividade filosófica centrada em Barcelona e, caso a resposta seja afirmati­ va, dever-se-iam estudar as condições culturais no âm­ bito das quais se manifesta tal atividade. :> Ver: Eduardo Nico!, "La Escuela de Barcelona", en El problema de la filosofia hi:·,pánica, 1 96 1 , pp. 1 64-205. � BARDESANO de Edessa, na Mesopotâmia ( 1 54-222) a antiga Orroe, à qual Seleuco 1 da Síria deu o nome de Edessa e que mais tarde foi chamada de Urfa, na Turquia -, foi um dos gnósticos (ver GNOSTICISMO) de língua síria. Ele desenvolveu uma síntese de idéias cristãs e judaicas, com idéias astrológicas da antiga Me­ sopotâmia e elementos de doutrinas estóicas. Pode ser considerado um eclético. Dedicou-se à astrologia e à astronomia, apresentando no Livro das Leis dos Países a idéia de um Destino cósmico. :> Ver: G. Levi della Vida, Bardesano, il dialogo delle leggi dei paese, 1 92 1 . - H. J. W. Drij vers, Bar­ daisan of Edessa, 1 966. - A. Dilhe, "Zur Schicksal­ Lehre des Bardesanes", em Kerygma und Logos, Fets­ chr. C. Andresen, ed. A. M. Ritter, 1 979, pp. 1 23 - 1 3 5 . - 8 . A. Wilson, "Bardaisan: O n Nature, Fate, and Freedom", lnternational Philosophical Quarterly, 24 ( 1 984), 1 65- 1 78. �

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BARDILI, CHRISTOPH GOTTFRIED ( 1 76 1 - 1 808). Nascido em Blaubeuren, foi professor em Stuttgart de 1 790 até sua morte. Não é fácil situar exatamente o pensamento de Bardili. Por um lado, ele recebeu influên­ cias de Kant e Fichte; ainda, segundo Nicolai Hartmann, o pensamento de Bardili se aproxima do de Schelling em sua "fase média" e do de Hegel em sua "última fase" Por outro lado, Bardili reagiu contra Kant e Fichte, de­ nunciando suas tendências "subjetivistas", sendo, por

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isso, acusado de "dogmático" - no sentido de não ser "crítico-idealista" - pelos idealistas. Bardili estabelece um princípio absoluto: o pensar como pensar no e pelo pensar, isto é, a identidade que se basta a si mesma, sem referência ao outro, à multipli­ cidade. Essa identidade em si consiste na possibilidade de repetir-se indefinidamente. É uma pura Forma, oposta à "matéria" Com isso, Bardili parece seguir de muito perto as pegadas de Fichte. Contudo, o "pensar" de que fala Bardili difere do "eu" de Fichte. Sua funda­ mentação não é, como em Fichte, ética, mas é, primeiro, psicológica - Bardili interessou-se pela analogia entre o "caráter empírico" e o "caráter metafisico'', que se ma­ nifestam, respectivamente, no tato e na representação -, porém passa logo a ser lógica. Esta última coisa assegu­ ra, de acordo com Bardili, a possibilidade de um saber objetivo, ou sej a, de um saber universal e transcenden­ te em relação ao sujeito que conhece. A "coisa em si" é dada, segundo Bardili, no puro processo do pensar, porém não como desenvolvimento imanente do pensa­ mento, mas como trama dinâmica de relações entre objetos. O princípio do "sistema" é o de identidade, ao mesmo tempo lógico e metafisico. Este princípio "põe" o eu e o objeto, até abarcar toda a realidade, culminando na divindade. A lógica é para Bardili "lógica metafisica", denominada "primeira lógica", mas isso significa por sua vez "lógica objetiva" ou "lógica do objeto" A dificuldade de interpretar o pensamento de Bardi­ li deve-se em grande parte à sua extrema obscuridade abstrata. Em seus primeiros tempos, o pensamento de Bardili influenciou Reinhold (vER). :> Principais obras: Epochen der vorzüglichsten philo­ sophischen Begriffe, 1, 1 78 8 (As épocas dos supremos conceitos filosóficos). - Allgemeine praktische Philoso­ phie, 1 795 (Filosofia prática geral). - Ueber die Geset­ ze der Ideenassoziation, 1 796 (Sobre as leis da associa­ ção de idéias). - Briefe iiber den Ursprung der Meta­ physik, 1 798 (Cartas sobre a origem da metafísica). Grundriss der ersten Logik, 1 800 (Esboço da lógica primeira). Correspondência: C. G. Bardilis und C. L. Reinholds Briefwechsel iiber das Wesen der Philosophie und das Unwesen der Spekulation, 1 804, ed. C. L. Reinhold. Bibliografia: F. w. Garbeis, Bibliographie Zll e G. B. , 1 978. Ver: Fritz Karsch, "C. G. Bardilis logischer Realis­ mus'', Kant-studien, 30 ( 1 925), 437-452. - Manfred Zahn, "Fichtes, Schellings und Hegels Auseinanderset­ zung mit dem ' Logischen Realismus' C. G. Bardilis", Zeitschrifl fiir philosophische Forschung, 19 ( 1 965), 20 1 -223, 453-479. � BARN É S, FRANCISCO. Ver KRAUSISMO.

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BARRETO, TOBIAS

BAROCO. É o nome que designa um dos modos (ver Mooo) válidos dos silogismos da segunda figura (vER). Um exemplo de Baroco pode ser: Se todas as bebidas alcoólicas são nocivas e algumas águas minerais não são nocivas, então algumas águas minerais não são bebidas alcoólicas,

exemplo que corresponde à seguinte lei da lógica quan­ tificacional elementar:

(A x (Hx

__. __.

Gx) " V x (Fx A 1 Gx)) V x (Fx A 1 Hx)

__.

e que, usando-se as letras ' S ' , 'P' e 'M' da lógica tradi­ cional, pode expressar-se mediante o seguinte esquema: (PaM " SoM)

__.

SoP

no qual aparece claramente a seqüência das letras 'A' , 'O', 'O', origem do termo Baroco, na ordem PM-SM-SP. BARREDA, GABINO ( 1 820- 1 88 1 ). Nascido em Puebla (México), viajou pela Europa e foi, em Paris, discípulo de Auguste Comte, em seus famosos cursos dominicais. A importância de Barreda na evolução do pensamento mexicano reside sobretudo na introdução e na propa­ gação do positivismo, que ele não entende, todavia, como uma doutrina total sobre a realidade, mas como o único meio para o conhecimento científico da Natu­ reza. O que não permanece nos limites da experiência positiva não pode ser para Barreda afirmado nem nega­ do, devendo ser posto entre parênteses como inacessível. A influência de Barreda manifestou-se em múltiplos aspectos, particularmente na reforma do ensino, tendo ele sido redator da Lei de Instrução Pública de 1 867. No âmbito do positivismo despertado por Barreda, encontram-se Porfirio Parra (vinculado também ao asso­ ciacionismo psicológico e ao empirismo de Stuart Mill) e Agustín Aragón, que defendeu em toda a sua pureza a doutrina de Comte, inclusive em sua fase final. � Principais obras: De la educación moral, 1 863. Opúsculos (publicados pela Sociedade Metodófi la Gabino Barreda, constituída por seus discípulos em 1 87 1 ) . Ver: Estudio de Barreda (seleção de textos por José Fuentes Mares), 1 94 1 . - Leopoldo Zea, El positi­ vismo en México, 1 943 . e BARRETO, TOBIAS ( 1 839- 1 889 ) . Nascido em Sergi­ pe, trabalhou como advogado em Escada, PE e lecio­ nou Direito em Recife. Entusiasta primeiramente das tendências ecléticas de Cousin, passou depois a uma ne­ gação radical delas ao aderir às teses positivistas, desen­ volvidas na época por Luis Pereira Barreto (nasc. no Rio de Janeiro, 1 840- 1 923: Obras .filosóficas, !, 1 967, ed. Roque Spencer Maciel de Barros). Este se limitou, en­ tretanto, ao aspecto filosófico do comtismo, sendo rejei­ tado pela Igreja oficial positivista por sua não-aceitação do culto à humanidade; seu positivismo era, pois, antes um cientificismo destinado a opor-se a todo obscurantis-

mo e a toda ignorância. Entretanto, deparando com um po­ sitivismo insuficiente, Tobias Barreto preconizou um monismo. Influenciado sobretudo pela filosofia alemã, que defendeu contrapondo-se às profundas marcas deixadas pelo pensamento francês no Brasil, Barreto parecia querer estabelecer uma espécie de síntese das teses fundamentais do pensamento germânico moderno. A j ustificação de Kant e de Schopenhauer, assim como de algumas das orientações do idealismo romântico, conduziam Tobias Barreto a uma síntese metafisica que se tornava muito mais surpreendente por se opor tenaz­ mente, às vezes, à metafisica. As chamadas contradições do pensamento de Barreto se tornam notórias sobretudo em virtude dessa passagem de uma oposição a outra, buscando o fundo comum de todas elas, como se ele quisesse ressuscitar nos últimos momentos outra espé­ cie de ecletismo que não o que constituíra sua filosofia juvenil. Sua última posição pode ser qualificada de monismo materialista, mas esse monismo procurava en­ contrar, tal como por outro lado podia fazê-lo Haeckel, o fundamento de uma posição rel igiosa e as bases para uma autêntica metafisica. Daí o irracionalismo que constituía o aparente racionalismo de seu pensar e daí a justificação de todo pensamento religioso, justifi­ cação que se fazia acompanhar de uma crítica de toda religião positiva. A rigor, o que Barreto parecia buscar era um sentimento religioso diferente de todo formulis­ mo e superador de todo rito. Entre os pensadores influenciados por Tobias Barreto estava José Pereira Graça Aranha, que uniu às idéias de Barreto influências bergsonianas e tendeu a uma interpre­ tação estético-dinarnicista do real. Ver R ECIFE (ESCOLA DE). � Durante sua vida, T. B. publicou: Ensaios e estudos de filosofia e crítica, 1 875; 2ª ed., 1 889. - Dias e noites, 1 88 1 (poemas). - Estudos Alemães, 1 882. Menores e loucos, 1 884; 2ª ed., 1 886. - Discursos, 1 887. - Questões vigentes de filosofia e direito, 1 888. Publicaram-se postumamente: Estudos de Direito, 1 892; 2ª ed., 1 898. - Vários escritos, 1 900. - Polêmi­ cas, 1 90 1 . Uma edição geral e completa de obras de T. 8. em 1 2 vols. compreende: 1 (Introdução geral, por vários autores: Hermes Lima, Paulo Mercadante, Antonio Paim, Augusto Meyer); II (Estudos de .filosofia, !); III (Estudos de filosofia, II); IV (Crítica político-social); V (Estudos de Direito, !); VI (Estudos de Direito, II); VII (Crítica de religião); VIII (Estudos alemães); IX (Monografias em alemão); X (Crítica literária); XI (Dias e noites. Poesias); XII (Depoimentos). Ver: Gilberto Amado, T. B. , 1 934. - Hermes Lima, T. B. A época e o homem, 1 939; 2ª ed., 1 957. - Miguel Reale, A doutrina de Kant no Brasil, 1 949. - Paulo Mercadante, Antonio Paim, T. B. na cultura brasileira. Uma reavaliação, 1 972. e

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BARTH, KARL BARTH, KARL ( 1 886- 1 968). Nascido em Basiléia, lecionou em Gi.ittingen ( 1 92 1 - 1 925), Münster ( 1 9251 934 ), Bonn (de 1 934 até sua expulsão pelos nazistas em 1 935) e em Basiléia ( 1 935- 1 962). Barth foi o princi­ pal representante da chamada "escola suíça" da teologia dialética ou teologia da crise. Em oposição a toda doutrina da união do homem com Deus, do imperfeito com o perfeito, do relativo com o absoluto, Barth susten­ ta, com efeito, a tese da separação radical entre ambas as realidades. A tese procede em parte de Kierkegaard, mas não é possível situar todo o movimento dialético­ crítico no âmbito da filosofia kierkegaardiana - em todo caso, o que há aí desta filosofia é a ênfase no "pa­ radoxo absoluto", paradoxo que se revela a partir do momento em que procuramos compreender nossa exis­ tência e sua relação com Deus. Nessa linha, o racional e o lógico não só perdem toda primazia como até per­ dem a significação que lhes é própria. A essencial irra­ cionalidade da fé - dada apenas por meio da reve­ lação -, a contradição e o paradoxo não devem ser considerados, entretanto, mera teoria, mas um fato. A completa separação existente entre o finito e o infinito toma, por outro lado, desnecessário e inútil todo esforço que tenda a uma aproximação que não seja a proporcio­ nada pelo próprio infinito. Pois o finito não pode ser mais que culpa e pecado, orgulho e falso endeusamento. Só o infinito, eterno e absoluto pode, por sua própria vontade e liberalidade, chegar ao finito e atraí-lo para Si, transformando sua imperfeição constitutiva em ma­ nifestação do divino. A anulação da espontaneidade do homem e até de toda autonomia existencial parece ser uma conseqüência imediata dessa doutrina, que acentua em todas as suas partes o "dilaceramento", a "perple­ xidade", a "contradição" e, é claro, o "paradoxo" Por isso, a afirmação da autonomia da moral é considerada o maior pecado da filosofia moderna, uma tentativa fracassada de fazer do homem algo semelhante àquilo que está separado dele por um abismo intransponível em princípio. Assim, a escola suíça de Barth rejeita, por motivos análogos, tanto o lógico-racional como o místico; a única coisa necessária e existente, a própria condição de todo pensamento da existência, é a revela­ ção - - revelação que fende o processo da história em lugar de ser, como o "protestantismo cultural" supunha, a conseqüência última dela. Diante da história e dos va­ lores culturais, predominam então a revelação e a escato­ logia: o homem não é o que pensa, nem o que faz, mas o que está determinado por seus fins, isto é, por seus fins últimos, por suas "postimárias". A escola de Barth poderia ser também denominada, por conseguinte, uma teologia existencial, sempre que os conceitos existen­ ciais relacionados à revelação - tais como a confissão e o testemunho - sejam tomados como modos da re­ velação e não como seus princípios.

Ora, essa teologia dialética e teologia "existencial" representa somente a primeira fase numa complexa evo­ lução filosófica e teológica, que vai das primeiras obras de Karl Barth (os Comentários) de índole escatoló­ gica e nas quais Deus aparece como a única realidade - à Dogmática. A filosofia escatológica do princípio conduziu Barth às posições da teologia dialética. Mas o abismo aberto entre Deus e a criatura foi preenchido cada vez mais, na última doutrina de Barth, pela pessoa de Cristo. Poderíamos, pois, seguindo alguns de seus intérpretes, esquematizar as posições sucessivas de Barth da seguinte maneira: 1 ) Há somente uma realidade ver­ dadeira: Deus. 2) Há Deus e a criatura, separados por um abismo. 3) Há Deus e a criatura, e entre os dois se estabelece um diálogo. 4) Há uma ponte sobre esse abismo e uma possibilidade de "entendimento" median­ te a mensagem de Cristo. Neste verbete, desenvolvemos especialmente as posições 1 ) e 2), que foram as que exerceram maior influência. Entre os discípulos de Barth ou entre aqueles que dele mais se aproximaram no que diz respeito às posições citadas - ainda que em fre­ qüente polêmica com seu mestre - figuram Emil Brun­ ner ( vER) e Friedrich Gogarten ( vER ) . :> Principais obras: Die protestantische Theologie im 1 9. Jahrhundert, 1 9 1 7 (A teologia protestante no século XIX). - Der Romerbrief, 1 9 1 9 (A Epístola aos Roma­ nos). - Biblische Fragen, 1 920 (Questões bíblicas). - Zur inneren Lage des Christentums, 1 920 (Sobre a situação interna do cristianismo). - Die Auferstehung der Toten, 1 924 (A ressurreição dos mortos; trata-se de um comentário a 1 Cor) - Der Christ in der Geschichte, 1 926 (Cristo na história). - Die christliche Dogmatik im Entwurf 1. Prolegomena, 1 927 (Esboço da dogmá­ tica cristã. 1. Prolegômenos). - Die Theologie und die Kirche, 1 928 (A teologia e a Igreja). - Erkliirung des Philipperbrie/és, 1 928 (Explicação da Epístola aos Filipenses). - Fides quarens intellectum. Anselms Be­ weis der Existenz Gottes, 1 93 1 ; 2ª ed., 1 95 8 (F q. i. A prova anselmiana da existência de Deus) - Die kir­ chliche Dogmatik (Dogmática eclesiástica): 11 1 , 1 932; 1/2, 1 938; 11/ 1 , 1 940; 11/2, 1 942; lll/ 1 , 1 945; IIl/2, 1 948; IIl/3, 1 950; III/4, 1 95 1 ; IV/ ! , 1 953; IV/2, 1 95 5 ; IV/3 , 1 959; IV/4, 1 967; i ndice, 1 970. 1 intitula-se Die Lehre vom Worte Gottes; II, Die Lehre von Gott; III, Die Lehre von der SchOp/img; IV, Die Lehre von der Vérsoh­ nung. - Credo, 1 93 5 . Die grosse Barmherzigkeit, 1 93 5 (A grande misericórdia). - Gotteserkenntnis und Gottes Dienst nach reformatorischer Lehre, 1 93 8 ( Co­ nhecimento de Deus e serviço de Deus segundo a dou­ trina reformada). - Rechtfertigung und Recht, 1 938 (Justificação e Direito). - Die christliche Lehre von der Taufe, 1 943 (A doutrina cristã do batismo). Eine Schweizer-Stimme ( 1 93 8- 1 945), 1 945 ( Uma voz suíça). - Dogmatik im Gnmdriss, 1 947. Christliche -

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BARTHES, ROLAND

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Gemeinde im Wechsel der Staatsordnung, 1 948 (A co­ munidade cristã ao longo das mudanças de regime do Estado). - Mensch und Mitmensch, 1 954 (O homem e seu próximo). Obras completas: Gesamtausgabe, I-XVII, em seis partes (I. Predigten, II. Akademische Vortriige, III. Vor­ triige und kleinere Arbeiten, IV: Gespriiche, V. Briefe, e VI. Aus Karl Barths Leben), 1 972- 1 985. Em português: Carta aos Romanos, 1 999. Existem além disso numerosas edições espanholas de escritos de K. B. Dentre elas, mencionaremos: Adviento, 1 970. - Introducción ai pensamiento de Karl Barth, 1 970. - Consideraciones sobre el tiempo de Pasión y Pascua, 1 97 1 . - Ante las puertas de San Pedro, 1 97 1 . - Comprender a Bultmann, 1 97 1 . - Revelación, Iglesia, Teología, 1 972. - La revelación como abolición de la religión, 1 973. - Comunidad cristiana y comu­ nidad civil, 1 976. - Ensayos teológicos, 1 977. - La proclamación dei Evangelio, 1 980. - La oración según los catecismos de la Reforma, 1 980. - AI servido de la palabra, 1 985. Biografia: E. Bush, K. B. Lebenslauf, 3ª ed., 1 978. Bibliografia: H. A. Drewes, H. Wildi, eds., K. B. Bibliographie, 1 984. Ver: Martin Werner, Das Weltanschauungsproblem bei K. Barth und Albert Schweitzer, 1 924. - M. Strau­ ch, Die Theologie K. Barths; 3ª ed., 1 926. - Emil Brunner, Natur und Gnade. Zum Gespriich mil K. Barth, 1 934. - Hans Ullrich, Das Transzendenzproblem bei Karl Barth, 1 936 (tese). - Gerhard Rabes, Christentum und Kultur in besonderer Auseinandersetzung mit Barth und Gogarten, 1 93 7. - F. Gogarten, Gericht oder Skep­ sis. Eine Streitschrifl gegen K. Barth, 1 937. - J. Cull­ berg, Das Problem der Ethik in der dialektischen Theo­ logie, 1 937. - P Halmann Monsma, Karl Barth 's Idea of Revelation, 1 937. - Hermano Volk, Die Kreatu­ raujfassung bei K. Barth, 1 93 8 (tese). - Jean Louis Leuba, Resumé analytique de La dogmatique ecclésias­ tique de K. Barth, !. La doctrine de la parole de Dieu, 1 945. - S. Navarria, S. Kierkegaard e / 'irrazionalismo di K. Barth, 1 946. - J. C. Groot, Karl Barths theo­ logische Bekenntnis, 1 948. - J. Hamer, O. P., K. Barth. L'occasionalisme théologique de K. Barth. Étude sur sa méthode dogmatique, 1 949. H. U. von Balthasar, K. B. Darstellung und Deutung seiner Theologie, 1 95 1 ; 4ª ed. , 1 976. - E. Rivera, La teologia esistenzialistica di K. Barth, 1 955. - C . G. Berkouwer, The Triumph of Grace in the Theology of K. B. , 1 956. - Henri Bouil­ lard, K. B. , 3 vols., 1 957 (!: Genése et évolution de la théologie dialectique; II-III: Parole de Dieu et existence humaine). - S. A. Matczak, K. B. on God, 1 962. Th. F. Torrance, K. B. : An Introduction to His Early Theo­ logy, 1910-193 1 , 1 963. - E. Jüngel, Gottes Sein ist im Werden, 1 966. - Robert E. Willis, The Ethics ofK. B. , -

1 97 1 . - Robert D. Schofner, Anselm Revisited: A Study of the Role of the Ontological Argument in the Writings of K. B. and Charles Hartshorne, 1 974. - U. Danne­ mann, Theologie und Politik im Denken K. B.s, 1 977. - D. E. Phillips, Karl Barth 's Philosophy of Communi­ cation, 1 98 1 . - Th. Freyer, Pneumatologie ais Struktur­ prinzip der Dogmatik. Überlegung im Anschluss an die Lehre von der 'Geisttaufe ' bei K. Barth, 1 982. - E. Jüngel et ai. , eds., Barth-Studien, 1 982. - H. J. Kraus, Theologische Religionskritik, 1 982. - R. W Lovin, Christian Faith and Public Choices: The Social Ethics ofBarth, Brunne and Bonhoejfer, 1 984. - D. P. Henry, The Early Development of the Hermeneutic of K. B. , 1 985. - M. Beintker, Die Dialektik in der "dialektis­ chen Theologie " K. B.s, 1 987. - S. Fisher, Revelatory Positivism: Barth 's Earliest Theology and the Marburg School, 1 988. Ver também a revista Zwischen den Zeiten e a cole­ ção de folhetos intitulada Theologische Existenz heute, editada por K. Barth e Eduard Thurneysen. C BARTHES, ROLAND ( 1 9 1 5- 1 980). Nascido em Cher­ bourg, estudou letras clássicas na Sorbonne. Lecionou no Instituto Francês de Bucareste e na Universidade de Alexandria (Egito). Foi o encarregado de pesquisa no CNRS (Centre Nationale de la Recherche Scientifique) e, a partir de 1 962, diretor de estudos na École prati­ que des Hautes Études, de Paris. Considera-se Barthes "o crítico literário do estruturalismo (vER) francês con­ temporâneo" Ele estendeu a análise estrutural a muitos fenômenos do presente e não apenas aos textos literá­ rios, embora tenha abordado esses fenômenos, em am­ pla medida, como "textos" suscetíveis de "leitura" A propósito de Marx, Barthes afirmou que, assim como Marx declarou ser "contemporâneo filosófico do presen­ te sem ser seu contemporâneo histórico'', Barthes é só o "contemporâneo imaginário de meu próprio presente: contemporâneo de suas linguagens, de suas utopias, de seus sistemas (isto é, de suas ficções); em suma: de sua mitologia ou de sua filosofia, mas não de sua história, na qual habito apenas o reflexo dançante: fantasmagó­ rico" (Barthes par Barthes, p. 63). Mesmo que "a tare­ fa histórica do intelectual" seja cultivar e acentuar a "de­ composição" da consciência burguesa, é necessário con­ servar a imagem "com toda a sua precisão" (op. cit. , p. 67). Isso explica o interesse de Barthes pela "leitura da escritura" (a escritura política, a poética, a burguesa etc.). O fundamento dessa leitura é a semiologia ( vER) , da qual Barthes forneceu os traços principais seguindo os ideais postulados por Ferdinand de Saussure (vER) . São fundamentais na "ciência geral dos signos" a dife­ rença entre significante e significado e a diferença entre sintagma (ver S INTAGMA, SINTAGMÁTico) e sistema. Esta última diferença permite a análise estrutural de tipos

BARZELLOTII, GIACOMO de "discursos" muito diferentes, o estudo das unidades e das regras combinatórias da lingüística dos "discursos": discurso literário, político, discurso dos costumes sociais, discurso da moda etc. Esses discursos constituem um "sistema", que se articula em unidades de sistema ou elementos do vocabulário e em seqüências formadas por esses elementos. O primeiro é aquilo de que se com­ põe o sistema em cada caso; o segundo é o que se faz com as partes componentes. Assim, no "sistema da moda", que Barthes analisou detalhadamente, a língua (no sentido saussuriano do termo) corresponde ao ves­ tido-imagem, enquanto a fala corresponde ao vestido­ escrito (vestido como "escrita"). A semiologia da moda, assim como a de qualquer outro "sistema", não é in­ compatível com a sociologia, mas elas têm finalidades distintas: a última parte de um modelo, que permanece através de tipos de roupas reais, ao passo que a semio­ logia descreve um vestido que continua sendo imagi­ nário ou intelectivo e que "não leva a reconhecer prá­ ticas, mas imagens. A sociologia da moda está comple­ tamente voltada para o vestir real; a semiologia, para um conjunto de representações coletivas" (Systeme de la mode, p. 20). :> Principais obras: Le Degré zéro de l 'écriture, 1 953; reedição em livro de bolso junto com Éléments de sé­ miologie. 1 965; nova reed. junto com Nouveaux Essais critiques, 1 972. - Michelet par l11i-111éme, 1 954. 1\1yth ologies , 1 957 (coleção de artigos). - Sur Racin e , 1 963. - Essais critiques, 1 964. -- Éléments de s é­ miologie, publicados com Le Degré zéro de / 'écriture, 1 965. Critique et vérité, 1 966. - S)'steme de la 111 ode, 1 967. - S!Z, 1 970. - L 'empire des signes, 1 970. Sade, Fourie1; Loyola, 1 97 1 . - Nouveaux Essais criti­ ques, publicados com Le Dégré zéro de l 'écriture, 1 972. - Le p /a is ir du tex te , 1 973. - Rolam/ Barthes par Roland Barthes, 1 975 (com ilustrações comenta­ das). - Fragments d '1111 discours amoureux, 1 977 Leçon, 1 978. - Sollers écrivain, 1 979. - La chamhre claire, 1 980. - Le grain de la voix, 1 98 1 . - L 'ohvie et l 'obtus, 1 982. Em português: Aula, 1 996. - A aventura semiológi­ ca, 1 987. - A câmara clara, s.d., - Crítica e verdade, 1 997. - Elementos de semiologia, 1 996. - Ensaios críticos, 1 997. - Fragmentos de um discurso amoro­ so, 1 5ª ed., 2000. - O grão da voz, 1 995. - O grau zero da escrita, 2000. - Língua, discurso e sociedade, s.d., - Lingüística e literatura, l 9�0. Michelet, 1 99 l . - Mitologias, 1 999. - O óbvio e o obtuso, 1 984. O prazer do texto, 2ª ed., 1 983. - Racine, 1 987. - O rumor da língua, 1 987. - S/Z, 1 992. - Sade, Fourier, Loyola, 1 97 1 . - O sistema da moda, 1 967. Bibliografia: S. Freedman, R. B. : A Bibliographical Reader 's Guide, 1 98 3 . Ver: Guy d e Mallac, Margaret Eberbach, B. , 1 97 1 . - Louis-Jean Calve!, R. B. . un regarei politique sur le

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signe, 1 973. - Stephen Heath, Vertige de déplacement. Lecture de B. . 1 974. - J. B. Fages, Comprendre R. B. , 1 979. - G. Neumann, "B.", em H. Turk, ed., Klassiker der Literaturtheorie. Von Boileau bis Barthes, 1 979. S. Nordhal, L'aventure du signifiant: une lecture de B. , 1 98 1 . - G. R. Wasserman, B. , 1 98 1 . - S. Sontag, L 'écriture même: Á propos de R. B. , 1 982. - A. Levers, R. B .. Structuralism and Ajier, 1 982. - J. Culler, R. B. , 1 983. - G. Ri:ittger-Denker, R. B. zur Einfiihnmg, 1 989. - M. B. Wiseman, Th e Ectasies of R. B. , 1 989. Números especiais sobre B. em Te/ Que/, 47 (outono, 1 97 1 ); L 'Arc, 56 ( 1 974); Colloque de Cerisy, Prétq:te: R. B. , 1 978, " l 0/ 1 8"; Poétique, 4 7 ( 1 98 1 ); Revue d 'esthé­ tique, 2 ( 1 98 1 ) ; Critique, 423-424 ( 1 982); Communica­ tions, 36 ( 1 982). e BARZELLOTTI, GIACOMO. Ver NEOKANTISMO. BAS Í LIDES (jl. 1 30) nasceu em Antioquia e lecionou em Alexandria. Foi um dos principais representantes do gnosticismo (vER ) especulativo e, como Valentino, mesclou muitos elementos filosóficos - platônico-eclé­ ticos e estóicos - com aspectos mitológicos. Também corno Valentino, Basíl ides pregou - segundo afirma Santo Ireneu -- a existência de um Deus supremo, uno e inominável que contém em si as sementes das outras realidades (sementes comparáveis, por um lado, às idéias de Platão e, por outro, aos Àoyo\ ampµaTtKoÍ dos estóicos). Delas Deus extraiu uma série de entidades que permanecem na esfera divina, no Estereoma celeste. Desta esfera surge finalmente um Primeiro Arconte de natureza inferior à das séries contidas no Estereoma, mas que gera o universo supralunar. Assim aparece a Ogdoada, filho do Primeiro Arconte, do qual nascem as entidades características do gnosticismo especulativo: Nous, Logos, Sofia e Dynamis (Força). Outras emana­ ções produzem outros seres que ocupam 365 céus. No último céu há o demiurgo, Deus dos judeus. O processo dramático se desencadeia quando o Primeiro Arconte cai de seu estado e deve redimir-se pela gnose e pelo aparecimento de Jesus, o Redentor. Na transcrição de Santo Hipólito, o sistema de Basílides, embora substan­ cialmente baseado em séries análogas de emanações, aparece um tanto modificado : o Deus absoluto e ino­ minado produz, por emanação, Nous, Logos, Fronesis, Sofia e Dynamis. :> Ver bibliografia de GNOSTICISMO. - Além disso: G. Uhlhorn, Das basilidianische System, 1 85 5 . - 1. Kennedy, "Buddhist Gnosticism, the System of Basili­ des", Journal of the Royal Asiatic Society ( 1 902), 3774 1 5 . - G. Quispel, ''l.:homrne gnostique. (La doctrine de Basilide)", Eranos ( 1 948), 89- 1 39. - H. A. Wolfson, "Negative Attributes in the Church Fathers and the Gnostic Basilides", Harvard Theological Review ( 1 957), 1 45- 1 56. - J. Whittaker, "Catachresis and Negative Theology in Platonism", em S. E. Gersh, ed., Late Anti-

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BATIAGLIA, FELICE

quity, 1 992. - H á uma exposição bastante completa e m Hans Leisegang, Die Gnosis, 1 924, pp. 1 95-256. Obras: El comunismo anárquico y el marxismo, 1 906. - Introdução à ed. russa do livro de E. Butrú, La ciencia y la religión, 1 9 1 0. - Vários ensaios de B. foram publicados no volume intitulado Na dva fronta, 1 9 1 0 (Em duas frentes). - "Sobre la filosofia de la acción", Sobremennik (Contemporâneo), nn . 6, 7, 1 0 ( 1 9 1 3). - B . é também autor d e u m trabalho sobre teoria da relatividade e marxismo: Teoriia Otnositelnosti i mar­ ksizm, 1 923, contra o realismo epistemológico extremo. Ver: G. L. Kline, "'Nietzschean Marxism' in Rus­ sia", em Adelman, ed., Demythologizing Marxism, 1 969, pp. 1 66- 1 83 . e: BEATITUDE. Ver FELICIDADE. BEATTIE, JAMES ( 1 735- 1 803). Nascido em Lawren­ cekirk (Escócia), estudou e lecionou na Universidade de Aberdeen. Membro, com Thomas Reid e outros, do

BEAUVOIR, SIMONE DE Wise Club de Aberdeen, foi um dos mais conhecidos representantes da escola escocesa (vER) do senso co­ mum. A fama que obteve como poeta ( The Minstrel) contribuiu grandemente para popularizar as concep­ ções dessa escola. Beattie ateve-se, no essencial, às idéias de Reid (VER), que em grande parte simplificou. Também simpli­ ficou e popularizou as críticas de Reid aos filósofos cuj as doutrinas eram consideradas opostas à filosofia comum - não apenas Berkeley, mas também Hume, pelo menos na medida em que este último se inclinava ao ceticismo. Beattie enfatizou ao máximo o caráter irre­ futável do senso comum como "poder do espírito que percebe a verdade, ou ordena a crença, não mediante argumentação progressiva, mas por um impulso instan­ tâneo, instintivo e irresistível, o qual não deriva nem da educação nem do hábito, mas da natureza, e opera inde­ pendentemente de nossa vontade tão depressa quanto se apresenta seu objeto" (Essay, l, i, p. 45; cit. S. A. Graves, op. cit. infra, p. 1 1 2). :> Obra capital: Essay on the Nature and lmmutability of Truth in Opposition to Sophistry and Scepticism, 1 770; 3ª ed. 1 772; reed., 1 983. - Outras obras: Essays, 1 776. - Dissertations Moral and Criticai, 1 783. Elements of Moral Science, 2 vols., 1 790- 1 793. Edição de obras: The Philosophical and Criticai Works, 4 vols., 1 974, ed. Bemhard Fabian. Ver: M. Forbes, B. and His Friends, 1 904. - S. A. Grave, The Scottish Philosophy of Common Sense, 1 960. - R. P. Wolff, "Kant's Debt to Hume via Beattie", Journal of the History ofldeas, 2 1 ( 1 960), 1 1 7- 1 23 . L. M. Lacoste, "La défense de l ' immuable dans son rapport avec le changeant: Beattie et Frayssinous", Ca­ nadian Journal of Philosophy, 6 ( 1 976), 229-249. R. Horton, "Understanding African Traditional Reli­ gion: A Reply to Professor Beattie", Second Order, 5 ( 1 976), 3-29. S. C. Patten, "Did Beattie Defer To Hume?", Hume Studies, 6 ( 1 980), 69-75 . - M. Kuehn, "The Early Reception of Reid, Oswald and Beattie in Germany: 1 768- 1 800", Journal of the History of Phi­ losophy, 2 1 ( 1 983), 479-496. Ver também bibliografia de EscocESA [EscoLA]. C: -

.. BEAUVOIR, SIMONE DE ( 1 908- 1 986). Nascida em Paris, concluiu os estudos de filosofia em 1 929, ano em que conheceu Jean-Paul Sartre, com quem com­ partilharia sua vida. Foi professora de filosofia no ensi­ no secundário em Paris, Marselha e Rouen ( 1 929- 1 943), até que o sucesso obtido com seu primeiro romance (L'invitée, 1 943) lhe permitiu dedicar-se profissional­ mente a escrever. Ela foi autora de obras literárias e de ensaios filosóficos e morais nos quais dedicou especial atenção à compreensão da existência humana e, de modo muito concreto, à reflexão sobre a situação da mulher. Beauvoir pensa que, como é a história que configu­ ra a existência humana, o processo histórico de vir-a-ser

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das mulheres é muito mais forte que o dos homens. Com efeito, as possibilidades de realização das mulheres não foram definidas nem aproveitadas historicamente. O segundo sexo - o livro mais célebre de Beauvoir consta de mil páginas, em dois volumes, que repassam a figura histórica da mulher da perspectiva existencia­ lista. O primeiro volume rej eita a idéia de uma natureza feminina fraca, submissa e inferior. Não se nasce mulher - nem homem: chega-se a sê-lo. Pode-se, pois, ser mulher - e homem - de muitas maneiras. Em todo caso, a alienação histórica das mulheres é o resultado de determinadas condições socioculturais. O segundo volume descreve a situação real da vida das mulheres, examina as ideologias que sustentam essa situação e as perspectivas de liberação. A publicação do livro provocou um escândalo que anos mais tarde se transformou em admiração por sua autora. A partir de 1 973, Beauvoir participou ativamente da militância feminista, reforçando assim, com a práti­ ca diária, seus antigos interesses teóricos. Os constantes compromissos sociais e políticos de Beauvoir não fize­ ram mais que reinterpretar existencialmente seus pró­ prios escritos. Ela foi, provavelmente, a intelectual mais influente do período que sucedeu à Segunda Guerra Mundial. :> Obras: Ensaios: Pyrrhus et Cinéas, 1 944. - Pour une mora/e de l 'ambigiiité, 1 947. - L'A mérique au jour le jour, 1 948. - L'existentialisme et la sagesse des nations, 1 948 (compila artigos publicados na revis­ ta Les Temps Modernes, desde sua criação, em 1 945, até 1 947). - Le deuxieme sexe, 2 vols., 1 949 (I, Les faits et les mythes; II, L'expérience vécue). - Privileges, 1 955 (contém três ensaios: "Faut-il bn1ler Sade?", "La pensée de droite aujourd'hui", "Merleau-Ponty et le pseudosartrisme"). - La longue marche, 1 957 (ensaio sobre a China). - La vieillesse, 1 970. - Romances: L'invitée, 1 943. - Le sang des autres, 1 945. - Tous les hommes sont mortels, 1 946. - Les mandarins, 1 954 (Prêmio Goncourt). - Les belles images, 1 966. - La femme rompue, 1 968. - Quand prime !e spirituel, 1 979. - Teatro: Les bouches inutiles, 1 945. Autobiografia: Les mémoires d 'une jeune filie ran­ gée, 1 958 (cobre de 1 908 a 1 929). - La force de l 'âge, 1 960 (de 1 929 a 1 945). - La force des choses, 1 963 (de 1 945 a 1 963). - Une mort tres douce, 1 964 (breve narrativa da morte de sua mãe). - Tout compte fait, 1 972 (de 1 964 a 1 972, mas já não organizado cronolo­ gicamente, e sim tematicamente). - La cérémonie des adieux, suivi de Entretiens avec J.-P. Sartre, 1 98 1 (de 1 970 a 1 980, seus últimos dez anos com Sartre, até a morte deste). - O filme intitulado "Simone de Beau­ voir" ( 1 979), de Josée Dayan e Malka Ribowska, reali­ zado por Josée Dayan, apresenta sua autobiografia em forma de diálogos.

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BECHER, ERICH

Em português: Balanço final, s.d. - As belas ima­ gens s.d. - Cartas a Welson Agren, 2000. - A cerimô­ nia do adeus, 1 98 1 . - A convidada, 4ª ed., 1 985. A força da idade, s.d. - A força das coisas, 1 986. Memórias de uma moça bem-comportada, s.d. - Uma morte muito suave, 1 984. - A mulher desiludida, s.d. - Quando o espiritual domina, 3ª ed., 1 980. - O sangue dos outros, s.d. - O segundo sexo, vol. 1 , 1 1 ª ed., 2000 - O segundo sexo, vol. 2, 1 980. Todos os homens são mortais, s.d. - A velhice, 4ª ed., 2000. Bibliografia: C. Francis, F. Gontier, Les écrits de S. de B. , 1 979. Ver: G. Hourdin, S. de B. et la liberté, 1 962. - F. Jeanson, S. de B. ou l 'entreprise de vivre, 1 966. - L. Gagnebin, S. de B. ou le refus de l 'indifférence, 1 968. - S. Lilar, Le malentendu du deuxieme sexe, 1 969. C. Cayron, La nature chez S. de B. , 1 973. - J. Leighton, S. de B. on Woman, 1 975. - D. Armogathe, S. de B., le deuxieme sexe. Analyse critique, 1 977. - C. Zehl Romeo, S. de B. , 1 978. - C. Francis e J. Niepce, S. de B. et le cours du monde, 1 979. - K. Bieber, S. de B. , 1 979. - A. Withmarsh, B. and the Limits of Commit­ ment, 1 98 1 . - C. Ascher, S. de B. : A Life of Freedom, 1 98 1 . - T. Keefe, S. de B. : A Study of Her Writings, 1 983. - M. Evans, S. de B. A Feminist Mandarin, 1 985. - H. V Wenzel, ed., S. de B. : Witness to a Cen­ tury, 1 986. - C. Savage Brosman, S. de B. Revisited, 1 99 1 . - J.-A. Pilardi, "Philosophy Becomes Autobio­ graphy: The Development of the Self in the Writings of S. de B.", em Writing the Politics of Difference, 1 99 1 . .. e: �

BECCARIA, CESARE [BONESANA] ( 1 73 8- 1 798). Nascido em Milão, interessou-se por questões jurídico­ penais, político-sociais e econômicas sob a influência, entre outros, de Montesquieu, Helvécio e Diderot. Os irmãos Verri, Alessandro e Pietro, com quem ele fim­ dou, em 1 762, a "Accademia de'Pugni" e com os quais discutiu detalhadamente as questões que o preocupa­ vam, impeliram-no a tratar do sistema monetário de Milão. A obra que ele publicou a esse respeito, em 1 762, teve repercussões em reformas introduzidas nes­ se sistema. Foram também os irmãos Verri que induzi­ ram Beccaria a ocupar-se do sistema penal milanês, que ele submeteu a severa crítica. Suas visitas à prisão de Milão persuadiram-no das injustiças desse sistema penal, que incluía torturas: nem os castigos eram pro­ porcionais às penas nem melhoravam os membros da sociedade submetidos a castigo. Beccaria baseou-se nas idéias rousseaunianas do contrato social para abordar não apenas a questão do sistema j urídico-penal, mas também da sociedade como conjunto, no âmbito da qual operam os sistemas penais. Os princípios adotados por Beccaria são utilitários e hedonistas; são também individualistas, mas trata-se de um individualismo que

visa manter a felicidade social como felicidade do maior número possível. O indivíduo cede uma parte de sua liberdade à sociedade: a parte que a sociedade assume para defender a liberdade individual contra a arbitrarie­ dade. Os castigos e as penas devem adaptar-se a estas concepções; a rigor, não são tanto castigos e penas mas meios usados com a finalidade de impedir futuros aten­ tados à liberdade individual e à felicidade social. O tratado de Beccaria sobre os delitos e as penas teve considerável influência, em particular por meio de sua imediata tradução francesa em 1 766, pelo Abade Morellet. A parte básica das idéias de Beccaria foi incorporada ao famoso artigo VIII da "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão", redigido e aprova­ do pela Assembléia Nacional francesa em 1 789. :l Obras: Dei disordine e dei rimedi delle maneie nello Stato di Mi/ano, 1 762. - Dei delitti e delle pene, 1 764; nova ed. de F. Venturi, 1 965, com documentação sobre a repercussão da obra (trad. esp . : De los delitos y de las penas, 1 976). - Ricerche intorno alia natura dello stile, 1 770. - Elementi di economia politica, 1 804 (póstuma). Edição de obras: Opere, 1 854, ed. Pasquale Villari. - A melhor ed. é a de S. Romagnoli, Opere, 2 vols., 1 958, que inclui todos os seus escritos e fragmentos, com o epistolário, além de uma boa introdução e uma ampla bibliografia. É também muito interessante a introdução de Opere scelte di C. B. , 1 925, ed. R. Mondolfo. Em português: Dos delitos e das penas, 1 996. Ver: Cesare Canru, Sul B. e sul diritto pena/e, 1 862. - A. de Marchi, C. B. e il processo pena/e, 1 929. C. A. Vianello, La vila e / 'opera di C. B. , 1 938. - M . Maestro, Voltaire and Beccaria a s Reformers of Crimi­ nal Law, 1 942. - G. De Menasce, G. Leone, F. Valsecchi, B. e i diritti dell 'uomo, 1 965. - E. H. Madden, R. Handy, M . Farber, eds., Philosophical Perspectives on Punishment, 1 968. - M. Maestro, "A Pioneer for the Abolition of Capital Punishment: Cesare Beccaria", Journal of the History of Ideas, 34 ( 1 973), 463-468. - 1 . Primorac, "Kant und Beccaria", Kant­ Studien, 69 ( 1 978), 403-42 l . Para sua relação com Verri, ver: N. Valeri, Pietro Verri, 1 937. C: BECHER, ERICH ( 1 882- 1 929). Nascido em Rein­ shagen (Remscheid), foi professor em Münster e, a partir de 1 9 1 6, em Munique. Interessou-se pelos pro­ blemas da filosofia da natureza, da teoria do conheci­ mento e da classificação das ciências com base em suas investigações sobre as ciências naturais orgânicas e sobre alguns aspectos históricos destas ciências. Seu ponto de partida a esse respeito é de caráter empírico, mas não naturalista, pois o realismo crítico em que de­ semboca em sua teoria do conhecimento está intima­ mente relacionado com o uso, pelo menos implícito,

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BECK, JAKOB SIGISMUND de procedimentos fenomenológicos. São estes, de resto, os que fundamentam sua classificação das ciências e a determinação de suas funções. Ora, o uso desses pro­ cedimentos não significa a adesão às teses explícitas de Husserl. Pelo contrário, as ciências ideais (que, jun­ to com as reais, constituem uma das grandes áreas da investigação e dos objetos científicos) não têm como referentes objetos subsistentes ideais, mas simplesmente mentais. Quanto às ciências reais, sua divisão em ciên­ cias da natureza e ciências do espírito não impede, se­ gundo Becher, a existência de um fundamento comum que se refere tanto às condições da percepção como aos fatores aprióricos que intervêm em todo conheci­ mento de realidades. Uma série de leis reais deve, pois, subjazer a todo conhecimento do real, seja qual for o tipo de objeto no qual se cumpram. Essas leis são de caráter apriórico, mas não logicamente necessário, determinante e não-condicionante. Tanto a metafisica como a filosofia da natureza se baseiam nelas e devem se constituir de um modo que possibil ite unir a refle­ xão e a experiência. Isto permite sustentar sua doutri­ na de um ser supra-individual, ao mesmo tempo espi­ ritual e psíquico-anímico, na natureza "orgânica" ser que é comprovado por meio de uma série de ex­ periências acerca do finalismo das galhas vegetais, mas ao mesmo tempo por meio de uma interpretação desse finalismo à luz da citada reflexão crítica. Uma tendência à "visão diurna" no sentido de Fechner pa­ rece ser a conclusão de tais investigações, sem que elas signifiquem, na opinião do autor, mais que uma "elevada probabilidade" :> Obras: Der Begrif! des Attributes bei Spinoza in seiner Entwick/ung und seinen Beziehungen zu den Be­ griffen der Substanz und des Modus, 1 905 (O conceito de atributo em Spinoza e suas relações com os conceitos de substância e modo). - Philosophische Voraussetzun­ gen der exakten Naturwissenschaften, 1 907 (Pressupos­ tos filosóficos das ciências naturais exatas). - Die Grundfrage der Ethik. Versuch einer Begründung des Prinzips der grossten a//gemeinen Gliickse/igkeitsfor­ derung, sld ( 1 908 ) (A questão fundamenta/ da ética. Busca de uma fundamentação do princípio da maior exigência de felicidade geral). - Der Darwinismus und die sozia/e Ethik, 1 909. - Gehirn und Seele, 1 9 1 1 (Cérebro e alma). - Naturphi/osophie, 1 9 1 4. Die fremddienst/iche Zweckmiissigkeit der Pflanzenga//en und die Hypothese eines überindividue//en Seelischen, 1 9 1 7 (A conformidade finalista das galhas vegetais e a hipótese de uma realidade anímica supra-individual). - Geisteswissenschajien und Naturwissenschajien. Untersuchungen zur Theorie und Eintei/ung der Real­ wissenschaften, 1 92 1 (Ciências do espírito e ciências da Natureza. Investigações para a teoria e divisão das ciências reais). - Einfohrung in die Phi/osophie, 1 926 (Introdução à filosofia). - R. Eucken und seine Phi­ /osophie, 1 927. -

Depoimento e m Deutsche Philosophie der Gegenwart in Se/bstdarstellungen, 1, 1 92 1 ; 2ª ed., 1 923. Ver: Kurt Huber, Erich Bechers Philosophie, 1 93 1 . - Fritz Thone, E. B. ais Vertreter des Eudiimonismus, 1 933. Obras: Erliiuternder Auszug aus Kants kritischen Schriften, 3 vols., 1 793- 1 796 (Sumário explicativo dos escritos críticos de Kant). O tomo III dessa obra, bási­ co para se entender o pensamento de Beck, intitula-se: Einzig miig/icher Standpunkt aus we/chem die kritische Philosophie beurtei/t werden muss (O único ponto de vista possível a partir do qual se deve julgar a filosofia crítica). - Grundriss der kritischen Philosophie, 1 796 (Esboço dafilosofia crítica). - Kommentar über Kants Metaphysik der Sitten, 1 798 (Comentário à Metafisica dos costumes de Kant). - Lehrbuch der Logik, 1 820. - Lehrbuch des Naturrechts, 1 820 (Manual de Direito natural). Ver: M. E. Meyer, Das Verhii/tnis des S. B. zu Kant, 1 896. - W. Potschel, J S. B. und Kant, 1 9 1 O. - Joseph Reiser, Zur Erkenntnis/ehre J S. Becks, 1 934 (tese). J. Schmucker, Das ursprüngliche Vorstellen bei J S. B. , 1 976. Ver também o tomo III da obra de Vleerschauer mencionada em DEDUÇÃO TRANSCENDENTAL. Sobre o bem, tanto em sentido moral como metafi­ sico: C. Stumpf, Das Verhiiltnis des platonischen Gottes zur Idee des Guten, 1 869. - C. Trivero, II problema dei Bene, 1 907. - Hastings Rashdall, The Theory of Good and Evil, 1 907 (inspirado em F. H. Bradley). K. B. R. Aars, Gut und Base, 1 907. - P. Hãberlin, Das Gute, 1 926. - H. J. Paton, The Good Will: A Study in the Coherence Theory of Goodness, 1 927. - W. D. Ross, The Right and the Good, 1 930. - H. Reiner, Der Grnnd der sittlichen Bildung und das sittliche Gute, 1 932. - W. Monod, Le Probleme du Bien. Essai de Théodicée et Journal d 'un Pasteur, 3 vols., 1 934. - L. Nutrimento, La definizione dei Bene in relazione ai problema dell 'ottimismo, 1 936. - C. E. M. Joad, Good and Evil, 1 943. - A. C. Ewing, The Definition of the Good, 1 94 7. - R. B. Rice, On the Knowledge of Good and Evil, 1 95 5 . - E. Dupréel, J. Leclercq, R. Schot­ tlaender, artigos sobre a noção de bem em Revue lnter­ nationale de Philosophie, n. 38 ( 1 956), 385-4 1 4. Brand Blanshard, Reason and Goodness, 1 96 1 [Gifford Lectures, 1 952- 1 953]. - Georg Henrik von Wright, The Varieties ofGoodness, 1 963 [Gifford Lectures, 1 960]. - Helmut Kuhn, Das Sein und das Gute, 1 962. Richard Taylor, Good and Evil: A New Direction, 1 970. - H. J. McCloskey, Good and Evil, 1 974. - R. B. Brandt, A Theory of the Good and the Right, 1 979. W. A. Galston, Justice and the Human Good, 1 980. J. W. Lidz, ed., Philosophy, Being, and the Good, 1 983. - R. Taylor, Good and Evil. A New Direction: A Force­ ful A ttack on the Rationalistic Tradition in Ethics, 1 984. - J. P. Dougherty, ed., The Good Life and Its Pursuit, 1 984. - M. E. Marty, Being Good and Doing Good, 1 984, ed. A. H. Jashmann. - F. Pawelka, Warnm ist der Mench gut und base? Die Naturgeschichte von Gut und Base und die christliche Ethik, 1 987. - R. B. Douglass, Liberalism and the Good, 1 990. - E. F. Paul, F. D. Miller, J. Paul, eds., The Good Life and the Human Good, 1 992. Análises: F. E. Sparshott, An Enquiry into Good­ ness, 1 958. - Paul Ziff, Semantic Analysis, 1 960. Georg Henrik von Wright, op. cit. supra. (Cf. também

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obras d e autores d a escola "emotivista" [ C . L . Stenven­ son et ai. ] em ÉTICA.) Ver também uma bibliografia dos verbetes MAL e TEODICÉIA. Para a significação do termo 'bem' ou 'o bom', ver também a bibliografia de ÉTICA e MORAL. Para a idéia do bem em vários autores e tendências: A. Kastil, Die Frage nach der Erkenntnis des Guten bei Aristoteles und Thomas, 1 900. - J. de Munter, Studie over de zedelije Schoonheid en Goedheid bij Aristoteles, 1 932. - Eugene E. Ryab, The Notion of Good in Books A lpha, Beta, Gamma, and Delta of the Metaphysics ofAristotle, 1 96 1 . - E. Grumach, "Physis und Agathon in der alten Stoa", Problemata, 7 ( 1 932). - H . Luckey, Die Bestimmung von "gut " und "base " bei Thomas von Aquin, 1 930. - Albert Heinekamp, Das Problem des Gutes bei Leibniz, 1 969. - H .-G. Gadamer, Die Idee des Guten zwischen Plato und Aris­ toteles, 1 978. - D. J. Depew, ed., The Greeks and the Good Life: Proceedingsfrom the Ninth A nnual Philoso­ phy Symposium at California State, 1 980. - M. Riedin­ ger, Das Wort 'gut ' in der angelsiichsischen Metaethik, 1 984 [Moore, Ayer, Hare et ai.). - J. M. Cooper, Rea­ son and Human Good in Aristotle, 1 986. - J. J. E. Gracia, The Metaphysics of Good and Evil According to Suárez, 1 989. - G. Graham, Living the Good Life : An Introduction to Moral Philosophy, 1 990. A doutrina de Bernardo de Chartres é conhecida especialmente pelos fragmentos referentes a ela que se encontram no Metalogicon e no Policratius de João de Salisbury. O escrito De mundi universitate sive Mega­ cosmus et Microcosmus, que se atribuía antes a Bernar­ do de Chartres, deve-se a Bernardo Silvestre ( vER) . Ver também: P. E. Dutton, "The Uncovering of the ' Glosae Super Platonem ' of Bernard of Chartres", Me­ dieval Studies, 46 ( 1 984), 1 92-22 1 . Ver: M. D. Chenu, "Un cas de platonisme gram­ matical au XII siêcle", Revue Scientifique, Philosophi­ que et Théologique, 4 1 ( 1 967), 666-668. - E. Jeau­ neau, '"Nani Gigantum Humeris lnsidentes', Essai d'in-

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terpretation de B. de Chartres", Vivarium, 5 ( 1 967), 79-99. As principais obras de Thierry de Chartres são o Heptauteuchon, enciclopédia das sete artes liberais, e um comentário ao Gênesis intitulado De sex dierum operibus. Ver a bibliografia do verbete C HARTRES ( Esco­ LA DE) . C BERNARDO SILVESTRE, Bernardus Silvestris (ou de Sylvestris), Bernardo de Tours (jl. 1 1 50). Um dos filósofos platonizantes do século XII, ele desenvolveu idéias afins às dos seguidores da chamada Escola de Chartres ( vER ) , embora não possa ser tido como for­ malmente ligado a essa escola. É autor de uma obra intitulada De mundi universitate sive Megacosmus et Microcosmus, dedicada a Teodorico de Chartres e du­ rante muito tempo atribuída a Bernardo de Chartres. Essa obra, redigida em prosa e verso, consta de dois livros e é de índole alegórica. No primeiro livro (Mega­ cosmus), Bernardo apresenta a Physis (a Natureza) la­ mentando-se de seu estado caótico (Hyle ). Nous (o Es­ pírito) acorre e forma o mundo com base nos quatro elementos. No segundo livro (Microcosmus) é apresen­ tada a criação do homem. Bernardo Silvestre recebeu influências platônicas principalmente por meio de Macróbio e de Calcídio. Embora suas doutrinas pareçam panteístas, observou­ se que sua descrição se refere (mesmo na forma alegóri­ ca citada) especialmente ao mundo e não a Deus ou à relação entre este e o mundo. Contudo, há na obra em questão pelo menos certas expressões que a aparentam com o emanatismo neoplatónico, como as que se refe­ rem às formas exemplares como causas diretas do real. :l Ed. de C. S. Barach e J. Wrobel : De mundi univer­ sitate libri duo, 1 876 (Bibliotheca philosophorum medii aetatis, !); reimp., 1 964. É melhor a edição de P. Donke, 1 978. Ver: É. Gilson, "La cosmogonie de B. S.", Archives d 'histoire doctrinale et littéraire du moyen âge, 3 ( 1 928), 5-24. - R. B. Wolsey, "B. S. and the Hermetic Ascle­ pius", Traditio, 6 ( 1 948), 340-344. - T. Silverstein, "The Fabulous Cosmogony of B. S.", Modern Philolo­ gy, 46 ( 1 948), 92- 1 1 6. M. F. McCrimmon, The Classi­ cal Philosophical Sources of the "De mundi universi­ tate " of B. S. , 1 953 (tese). - W. Wetherbee, Plato­ nism and Poetry in the 12th Century, 1 972. - B. Stock, Myth and Science in the XIIth Century. A Stu­ dy of B. Silvestre, 1 972 (com bibliografia). Ver também a bibliografia em C HARTRES (E sco­ LA DE ) (especialmente as obras de A. Clerval e J. M. Parent). C BERNARDO TORNIO. Ver M ERTONIANos. BERNAYS, PAUL ( 1 888- 1 977). Nascido em Londres, obteve cidadania suíça, tendo sido professor de mate-

BERNAYS, PAUL mática na Eidgenossische Technische Hochschule de Zurique. É considerado um dos neofriesianos influen­ ciados por Leonhard Nelson. Colaborou no programa esboçado por Gonseth (vER) e divulgado pela revista Dialectica. Suas mais importantes contribuições situam­ se no campo da matemática, especialmente a teoria da prova e a dos conjuntos. Colaborou com Hilbert em sua obra sobre os fundamentos da matemática. Bernays re­ formulou e simplificou a teoria axiomática dos conjun­ tos de Johannes (John) von Neumann; o sistema é co­ nhecido pelo nome de Neumann-Bernays. :l Principais escritos: "Ueber Hilberts Gedanken zur Grundlegung der Arithmetik", Jahresbericht der Deuts­ chen Mathematiker Vereignigung, 3 1 , seção 1 ( 1 922), l 0- 1 9 ("Sobre as idéias de H. acerca do fundamento da aritmética"). - "Axiomatische Untersuchung des Aussagen-Kalküls der ' Principia Mathematica"', Ma­ thematische Zeitschrift, 25 ( 1 926), 305-320 ("Investi­ gação axiomática do cálculo de proposições dos ' P. M."'). - "Sur le platonisme dans les mathématiques", L'enseignement mathématique, 34 ( 1 934), 52-69. Grundlagen der Mathematik, 2 vols., 1 934- 1 939 (com D. Hilbert) (Fundamentos da matemática). - "Quel­ ques points essentiels de la metamathématique", L 'en­ seignement mathématique, 34 ( 1 934), 70-95. - "A System of Axiomatic Set Theory", Journal ofSymbolic Logic, 2 ( 1 937), 65-77; 6 ( 1 94 1 ), 1 - 1 7; 7 ( 1 942), 65-89, 1 3 3- 1 45; 8 ( 1 943), 89- 1 06; 13 ( 1 948), 65-79; 19 ( 1 954), 8 1 -96. - Axiomatic Set Theory, 1 95 8 . Os últimos sete artigos foram compilados n o vo­ lume Sets and Classes: on the Work by P. B. , 1 976, ed. G. H. Müller; o volume contém também o trabalho de B., "On the Problem of Schemata of Infinity in Axiomatic Set Theory", bem como vários artigos (A. Levy, U. Felgner, T. B. Flannagan, K. Gloede, A. Mos­ towski) sobre problemas abordados por B. - Ver tam­ bém: "Comments on Ludwig Wittgenstein's ' Remarks on the Foundations of Mathematics"', Ratio, 2 ( 1 959), 1 -22. - "Die schematische Korrespondenz und die idealisierten Strukturen", Dialectica, 24 ( 1 970), 5366. - "Sprache und Wirklichkeit: Im Vorfeld der Fra­ gestellungen, ibid. , 3 1 ( 1 977), 2 1 7-223 . - "Ueberle­ gungen zu Ferdinand Gonnseths Philosophie", ibid. , 1 1 9- 1 28 . E d . d e escritos variados: A bhandlungen zur Phi­ losophie der Mathematik, 1 976. Ver: L . H . Tharp, "On a Set Theory of Bernays", Journal of Symbolic Logic, 32 ( 1 967), 3 1 9-32 1 . - F. Gonseth, "Ueber die Sprache Sprechen", Dialectica, 27 ( 1 973), 1 79-2 1 7. - G. H. Müller, ed., Sets and Classes: On the Work of P. Bernays, 1 976. - J. Dan­ quah, "The Circularity of the Proof of the Non-Inde­ pendence of the Fourth Axiom of ' Principia Mathe­ matica"', A nalysis, 36 ( 1 976), 1 1 0- 1 1 1 . - J. M.

BERNOULLI

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Brown, "Bernay's Non-Circular Proof of the Non-In­ dependence of the Fourth Axiom of ' Principia Mathe­ matica"', ibid. , 207-208. - E. Engeler, "Zum logischen Wfrk von P. Bernays", Dialectica, 32 ( 1 978), 1 9 1 200. - A . R . Raggio, "Die Rolle der Analogie in Bernays' Philosophie der Mathematik", ibid. , 20 1 -207. P. Lorenzen, "Konstruktive Analysis und das geo­ metrische Kontinuum", ibid. , 22 1 -227. - G. Takeuti , "Work of Paul Bernays and Kurt Gõdel", em L. J. Cohen, ed., Logic, Methodology and Philosophy o( Science, vol. VI, 1 982, pp. 77-88. - M. Yasuhara, "Extensionality in Bernays Set Theory", Notre Dame Journal o/ Formal Logic, 25 ( 1 984), 357-363. - A. R. Raggio, "El cincuentenario de los Grundlagen der Mathematik de Hilbert y Bernays", Revista Latinoame­ ricana de Filosofia ( 1 990), 1 97-2 1 2 . C: -

BERNOULLI. O sobrenome ' Bernoulli ' é famoso na história da ciência; quase todos os cientistas com esse sobrenome apresentam interesse para a história das re­ lações entre a matemática e a fi losofia. JACOB ( 1 654- 1 705). Nascido na Basiléia, foi pro­ fessor de matemática na mesma cidade a partir de 1 687; antes, viajara pela França e pela Inglaterra, onde esta­ beleceu amizade com Robert Boyle e Richard Hooker. Interessado no cálculo infinitesimal iniciado por Leib­ niz, trabalhou no desenvolvimento e no aperfeiçoa­ mento desse cálculo segundo a notação e as diretrizes leibnizianas. Devem-se a ele também trabalhos no cam­ po da geometria analítica e da teoria da probabilidade. Nesta última, formulou o teorema que leva seu nome, segundo o qual, com o aumento do número de casos, a probabilidade de que o desvio relativo continue sen­ do inferior a um limite atribuído arbitrariamente tende a 1 . Jacob manteve correspondência com Leibniz, pu­ blicada nos Mathematische Schri(ten, de Leibniz, I I I , e d . Gerhardt. Seu teorema figura n o Ars coniectandi, publicado, postumamente, em 1 7 1 3 . Seus Opera apa­ receram em 1 744. :> Ver: N. M. Martin, "The Explicandum of the Clas­ sical Concept of Probability", Philosophy o( Science, 1 8 ( 1 95 1 ), 70-84. - S. Blom, "Concerning a Contro­ versy on the Meaning of ' Probability"', Theoria, 2 1 ( 1 955), 65-98. - M . Boudot, "Probabilité et logique de l ' argumentation selon Jacques Bernoulli", Études Philosophiques, 22 ( 1 967), 265-288. 1. Hacking, "Jacques Bernoulli 's Art of Conj ecturing", British Journal for the Philosophy of Science, 22 ( 1 97 1 ), 209229. - !d., The Emergence of Probability: A Philoso­ phical Study of Early Jdeas About Probability, Induc­ tion and Statistical lnference, 1 97 5 . - T. Hailperin, ''The Development of Probability Logic from Leibniz to MacColl", History and Ph ilosophy of Logic, 9 ( 1 988), 1 3 1 - 1 9 1 . e: JOHANN ( 1 667- 1 748). Também nascido na Basi­ léia, sucedeu a seu irmão Jacob na cátedra e teve co-

mo aluno Leonhard Euler. Dedicou-se à astronomia, à tisica e à química, e, especialmente, à matemática, de­ senvolvendo o cálculo de variações. Manteve corres­ pondência com Leibniz, publicada no mesmo tomo supra. Suas Opera omnia, em 4 vols., apareceram em 1 742; reimpr., 1 968- 1 969. :> Ver: M. Beuchot, "Sobre algunas ideas lógicas de Juan Bernoulli", Dianoia, 28 ( l 982), 1 73- 1 77. - T. Boswell, "The Brothers James and John Bernoulli on the Parallelism between Logic and Algebra, History of the Philosophy o( Logic, 1 1 (2) ( 1 990), 1 73- 1 84. C: NIKOLAUS ( 1 662- 1 7 1 6), irmão de Jacob e de Jo­ hann, lecionou matemática em São Petersburgo. Seus três filhos, Nikolaus ( 1 695- 1 726), Daniel ( 1 700- 1 782) e Johann ( 1 7 1 0- 1 790), foram matemáticos, tendo os dois primeiros lecionado em São Petersburgo e o últi­ mo na Basiléia. Dentre os três filhos, distinguiu-se DANIEL, que lecionou na Basiléia, ao regressar, em 1 732, de São Petersburgo. Trabalhou especialmente no cálculo, em equações diferenciais e na teoria da proba­ bilidade. Deve-se a ele um princípio de hidrodinâmi­ ca que leva seu nome e segundo o qual, dentro de um fluido, seja líquido ou gasoso, em condições de fluxo constante (sempre que permaneçam constantes a pres­ são e a velocidade em qualquer de seus pontos), a soma da energia de velocidade, da energia da pressão e da energia potencial de elevação permanece constan­ te. Daniel manteve relações - às vezes de amizade, às vezes de competição - com Euler. Dois dos filhos de Johann (filho de Nikolaus) fo­ ram matemáticos, fisicos e astrônomos: Johann ( 1 7441 807), astrônomo real em Berlim, e Jakob ( 1 759- 1 789), membro da Academia de Matemática e Física de São Petersburgo. BERNSTEIN, EDUARD ( 1 850- 1 932). Nascido em Berlim, Bernstein desenvolveu intensa atividade como fundador e colaborador de publicações nas quais fo­ ram defendidos os pontos de vista do marxismo so­ cial-democrata alemão : Zukun(t, que depois das leis anti-socialistas de Bismarck fo i publicado por alguns anos no estrangeiro (Zurique e Londres); Dokumente des Sozialismus, publicados nos primeiros anos deste século; e os Sozialistische Monatshe(te. Ele foi tam­ bém historiador do socialismo, editor das obras de Lasalle e da correspondência entre Marx e Engels. As concepções marxistas de Bernstein modifica­ ram-se consideravelmente à luz de uma defesa do so­ cialismo "evolutivo" e "gradual", assim como pela in­ fluência da epistemologia e, especialmente, da ética kantianas. Bernstein se opôs aos que consideravam que o socialismo pode advir apenas por meio de uma revo­ lução violenta na qual o proletariado assuma o poder, tendo preconizado a adesão às instituições democráti­ cas no âmbito das quais o socialismo podia desenvol-

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ver-se, em sua opinião, pacífica e gradualmente. Os marxistas mais estritos acusaram Bernstein de "revi­ sionista", a ponto de seu nome ter chegado a ser sinô­ nimo de "revisionismo" ( vER) . O principal opositor de Bernstein foi Karl Kautsky (VER) . :> Além de numerosos artigos nas revistas menciona­ das, deve-se a E. B. a obra Zur Geschichte und Theorie des Sozialismus, 1 90 1 ; 3ª ed. , muito ampliada, 3 vols., 1 904. Destacam-se suas obras polêmicas: Die Voraus­ setzungen des Sozialismus und die A ufgaben der So­ zialdemokratie, 1 899 (Os pressupostos do socialismo e as tarefas da social-democracia) e Wie ist wissens­ chafllicher Sozialismus moglich !, 1 9 1 0 (Como é possí­ vel o socialismo científico!) (na época, o "socialismo científico", segundo a expressão de Marx, era repre­ sentado por Kautsky; no título desta última obra trans­ parece uma alusão a Kant). Ver: P. Gay, The Dilemma of Democratic Socialism; Eduard Bernstein 's Challenge to Marx, 1 952. - H . Schulze, "'Bemstein-Renaissance' Tendenzen, Ziele, Fol­ gen", Deutsche Zeitschrifl for Philosophie, 29 ( 1 98 1 ) , 67 1 -68 1 . - M. Steger, "Historical Materialism and Ethics: Eduard Bemstein's Revisionist Perspectives", His­ tory of European Jdeas, 1 4(5) ( 1 992), 647-663. e BERTALANFFY, LUDWIG VON ( 1 90 1 - 1 972). Nas­ cido em Atzgersdorf ( Á ustria), estudou biologia e filo­ sofia nas Universidades de Innsbruck e de Viena, ten­ do-se doutorado nesta última em 1 926. Lecionou na Universidade de Viena e, a partir de 1 948, na de Otawa. Contribuiu para a fundação, em 1 954, do Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences, de Stan­ ford. De 1 95 5 a 1 95 8 , foi diretor de pesquisas no Hos­ pital Mt. Sinai, de Los Angeles. Em 1 958, foi nomeado professor visitante da Fundação Mcnninger, de Topeka (Kansas). Lecionou depois na Universidade de Alberta (Canadá), no Centro de B iologia Teórica da Universi­ dade do Estado de Nova York, em Búfalo, e no Michael Reese Hospital, da Universidade de Chicago. A variedade da carreira docente e de pesquisador de von Bertalanffy reflete a variedade de seus interes­ ses. Devem-se a ele trabalhos experimentais em biolo­ gia, especialmente em fisiologia celular e em embrio­ logia, estudos de comportamento social, investigações filosóficas e o mais significativo impulso à chamada "teoria geral de sistemas" Em seus estudos de filosofia biológica, von Berta­ lanffy defendeu o que denominou "concepção organís­ mica'', oposta ao mecanicismo, mas também ao vitalis­ mo e ao neovitalismo do tipo de Driesch ( VER) , isto é, a todo vitalismo que pressuponha a noção de alguma enteléquia, orgânica ou psíquica, à qual se atribuam o plano, a formação e o desenvolvimento dos organis­ mos. Von Bertalanffy insistiu no fato de que os orga-

BERTALANFFY, LUDWIG VON nismos biológicos estão organizados e que deste truís­ mo procedem conseqüências importantes, tais como a necessidade de adotar métodos que contemplem seus caracteres de "totalidade" e de "sistematicidade" As totalidades de que falou não são apenas "todos" cujas propriedades se mostrem distintas das propriedades das partes componentes. Os organismos - tanto indi­ viduais como específicos - têm propriedades não re­ dutíveis às de supostos componentes "mecânicos", mas isto porque se trata de propriedades de sistemas. A noção de sistema tem uma importância capital no pensamento de von Bertalanffy. O modelo dos sis­ temas e das organizações (estratificadas) dos sistemas, assim como o estudo dos tipos de sistemas - especial­ mente das diferenças entre sistemas fechados e siste­ mas abertos -, constituem para von Bertalanffy o fun­ damento não apenas da biologia como de todas as ciências, naturais, sociais e históricas. É possível falar então de "unidade da ciência", porém não no sentido do reducionismo das ciências a um único modelo, mas no sentido de uma investigação interdisciplinar das re­ lações entre diversos tipos de sistemas e suas aplicações. Em 1 950, Bertalanffy propôs a "teoria geral de sistemas" a que nos referimos no verbete SISTEMA (ver também S1sTÊM1co) . Entre os filósofos, esta teoria foi desenvolvida e aplicada por Ervin Laszlo ( vER) . :> Principais obras: Kritische Theorie der Formbil­ dung, 1 92 8 . ( Teoria do desenvolvimento biológico) - Nikolas von Kues, 1 92 8 . - Lebenswissenschafl und Bildung, 1 930 (Ciência da vida e desenvolvimen­ to). - Theoretische Biologie, 2 vols., 1 932- 1 942; 2ª ed., 1 95 1 (!: A llgemeine Theorie. Physikochemie, Auf bau und Entwicklung des Organismus. I I : Stojfwechsel Wachstum) (Biologia teórica. 1 : Teoria geral. Físico­ química, estrutura e desenvolvimento do organismo; I I : Crescimento materia[). - Das Gefoge des Lebens, 1 93 7 (A trama da vida). - Biologie und Medizin, 1 946. - Das biologische Weltbild, 1 949. Há trad. ingl . desta obra feita pelo autor: Problems of Life: An Evaluation ofModern Biological and Scientific Thou­ ght, 1 952. - Robots, Men, and Minds, 1 967. Para sua "teoria geral de sistemas": "An outline of General System Theory", British Journal for the Philo­ sophy of Science, 1 ( 1 950), 1 34- 1 65 e, sobretudo: Ge­ neral Systems Theory: Foundations, Development Appli­ cations, 1 968. - Perspectives on General Systems Theory, 1 976, ed. Edgar Taschdj ian. Em colaboração com Anato) Rapoport, L. von B. publica, desde 1 956, General Systems: Yearbook of the Society for General Systems Research. Ver: T. A. Goudge, "Organismic Concepts in Bio­ Jogy and Physics", Review of Metaphysics, 7 ( 1 953), 282-289. - A. Bendmann, v. B.s organismische Auf fassung des Lebens in ihren philosophischen Konse-

BERTHELOT, RENÉ quenzen, 1 967. - Por ocasião de seus 70 anos, foram publicado s : E. Laszlo, ed., The Relevance of General Systems Theory, 1 972. - !d. , Introduction to Systems Philosophy: Toward a New Paradigm ofContempora­ ry Thought, 1 972. - W. M. Johnston, L. L. Whyte et ai. , Unity Through Diversity: A Festschrift for L. v. B. , 2 vols., 1 973, ed. Wi ll iam Gray e Nicholas D. Rizzo (ver especialmente desta obra vol. 1, seção 1 ) . - J. D. Donaldson, "L. v. 8., 1 90 1 - 1 972", American Journal of Psychiatry, 1 3 0 ( 1 973 ). C BERTHELOT, REN É . Ver BERusoNISMO. B ESSARION (CARDEAL) [ BAS Í LIO BESSA­ RION) ( 1 395 ou 1 403 - 1 472). Nascido em Trebisonda (o turco Trabzon), foi um dos autores que mais contri­ buíram para o renascimento das letras gregas no Re­ nascimento clássico italiano. Em sua Adversus calum­ niatorem Platonis ( escri Ía em grego e publ icada em latim em Roma, no ano de 1 469), 8essarion opôs-se não apenas aos adversários de Platão mas também àqueles que, como o cretense Jorge de Trebisonda, ti­ nham contraposto as doutrinas platônicas às aristoté­ licas. Em oposição ao escrito de Jorge de Trebisonda, Comparationes phi/osophorum Aristotelis et Platonis ( 1 523), 8essarion - de acordo, nisso, com Gemistos Plethon ( vrn ) - procurou mostrar que não há razão para atacar a filosofia de Platão em nome da de Aristó­ teles, mas que não hà razão tampouco para fazer o in­ verso. Nesse sentido, o Cardeal 8essarion, embora inclinado, como Plethon e os filósofos humanistas da Academia Florentina, ao platonismo, esforçou-se em mostrar que os dois filósofos, Platão e Aristóteles, es­ tão fundamentalmente de acordo (tese defendida mais tarde por Fox Morcillo [ vrn ] ) . Devem-se também a 8essarion uma tradução da Metafisica de Aristóteles e traduções de obras de Teofrasto e Tenofonte. :> Opera em Migne, P. G. , CUa. Ver: H. Vast, Le Car­ dinal B. , étude sur la Chrétienté et la Renaissance vers le milieu du 15'' siécle, 1 878. - Sadov, B. de Nicée, son rôle au concite de Ferrara-Florence, ses oeuvres théo­ logiques et sa place dans l 'histoire de l 'humanisme, 1 83 3 . - R. Rocholl, B. Studie zur Geschichte der Re­ naissance, 1 904. - L. Mohler, Die Wiederbelebung des Platonstudiums in der Zeit der Renaissance durch Kardinal B. , 1 92 1 [Vereinschrift der Gêirresgessellschaft, 3 ] . - Id., Kard. B. , ais Theologe, Humanist und Staats­ mann, 3 vols.; 1, 1 923; II, 1 927; III, 1 942; reimp. , 1 967. - E. Mioni, "Contributo dei card. 8. all 'inter­ pretazione della metafisica aristotelica", em Aristotelis­ mo padovano e.filosofia aristotelica, Atas do XII Con­ gresso Internacional de Filosofia, Florença, 1 960, pp. 1 73 - 1 82. - H.-G. 8eck, Kirche und theologische Li­ teratur im byzantinischen Reich, 1 964. C

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BESTEI RO [Y FERNÁ NDEZ), JULI Á N. Ver KRAU­ s1sMo. BETH, E [VERT) W[ILLEM) ( 1 908- 1 964). Nascido em Almelo, estudou filosofia e matemática em Utrecht e em Groningen, e Direito na Universidade de Amster­ dã. A partir de 1 946, foi professor de lógica, história da lógica e filosofia da matemática na Universidade Comunitária de Amsterdã, e, a partir· de 1 952, diretor do lnstituut voar Grondslagenonderzoek en Filosofie der Exacte Wetenschappen na citada cidade. 8eth deixou uma obra considerável em lógica, me­ talógica, fundamentos da matemática e epistemologia. Devem-se também a ele alguns trabalhos de história da lógica e da matemática. Entre suas mais conhecidas e influentes - contribuições, figura a construção do que ele denominou "quadros (tableaux) semânticos", aos quais nos referimos no verbete TABELAS (MÉTODO DE) ( vrn ) . 8eth ocupou-se também dos problemas sus­ citados pelas possíveis relações entre a estrutura dos sistemas formais e o pensamento, especialmente no sentido da epistemologia genética ( vrn ) . No que se poderia chamar de "filosofia geral", 8eth reconheceu o fato de haver uma "crise da razão", a ponto de admitir que algumas tendências irracionalistas contemporâneas têm sua razão de ser, mas isso apenas na medida em que possam contribuir para descartar o racionalismo tradicional. É necessário um novo tipo de racionalida­ de, e, em seu âmbito, será preciso poder dar conta das relações entre as estruturas lógicas formais e o saber "intuitivo" :> Dentre os numerosos trabalhos de 8., citamos: Inleiding tot de wijsbegeerte der wiskunde, 1 940; 2ª ed., 1 942 (Introdução à .filosofia da matemática) . Summulae logicales, 1 942. - Geschiedenis der logica, 1 944 (História da lógica). - De wijsbegeerte der wis­ kunde van Parmenides tot Bolzano, 1 944 (A filosofia da matemática de P. a B. ) . - Natuurphilosophie, 1 948. - Lesfondements logiques des mathématiques, 1 950; 2ª ed., 1 954. - Inleiding tot de wijsbegeerte der exacte wetenschappen ais universitair studievak en ais terrein von wetenschappelijk onderzoek, 1 953 (Introdução à filosofia das ciências exatas como tema de estudo acadêmico e como campo de investigação científica). - Semantic Entailment and Formal Derivability, 1 95 5 . - L'existence e n mathématique, 1 956. - Semantic Construction ofIntuitionistic Logic, 1 956. - La crise de la raison et la logique, 1 957. - De weg der wetens­ chap. Inleiding tot de methodeleer der empirische wetenschappen, 1 95 8 (O caminho da ciência. Introdu­ ção à metodologia das ciências empíricas). - The Foundations of Mathematics, 1 959; 2ª ed., 1 965. Beschouwingen over het logisch denken, 1 960 (Intro­ dução ao pensamento lógico). - Formal Methods:

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An lntroduction to Symbolic Logic and to the Study of Effective Operations in A rithmetic and Logic, 1 962. - Mathematical Thought: An lntroduction to the Philo­ sophy of Mathematics, 1 965. - Moderne logica, sld, 1 967 (manuscrito póstumo) (há trad. ingl . : Aspects of Modern Logic, 1 970). Na série de Études d 'épistémologie génétique (ver EPISTEMOLOGIA GENÉTICA), dirigidos por Jean Piaget, B. colaborou nos vais. 1 ( 1 957 [com W. Mays e J. Piaget]), 14 ( 1 96 1 [com J. Piaget]) e 1 6 ( 1 962 [com J. B. Grize, R. Martin, B. Matalon, A. Naess e J. Piaget] ). Bibliografia: J. F. Staal, "Bibliography of E. W. Beth", Synthese, 1 6 ( 1 964), 90- 1 06. Ver: A. Heyting, "ln Memoriam Evert Willem Beth 1 909- 1 964", Notre Dame Journal of Formal Logic, 7 ( 1 966), 289-295 . - W. Kuyk, "Some Questions on the Foundations of Logic", Philosophy Reform, 34 ( 1 969), 1 42- 1 46 . - H . Leblanc, "Three Generalizations of a Theorem of Beth 's", Log A nalyst, 1 2 ( 1 969), 205220. - B. C. Van Fraassen, "On the Extension of Beth's Semantics of Physical Theories'', Philosophy of Science, 37 ( 1 970), 325-339. - J. J. F. Nieland, "Beth's Tableau-Method'', Synthese, 1 6 ( 1 964), 7-26. - N. Tennant, "Beth's Theorem and Reductionism'', Pacific Philosophical Quarterly, 66 ( 1 985), 342-354. - J. Peijnenburg, "De Kant-interpretatie van Evert Willem Beth'', A lg. Ned. Tijdschr. Wijs. ( 1 99 1 ), 1 1 4- 1 2 8 . Principais obras: Posizioni dello spirito rispetto ali 'oggetività, 1 949. - Teoria generale delia interpreta­ zione, 2 vais., 1 95 5 . - Há trad. alemã feita pelo autor com algumas modificações : A llgemeine A uslegungs­ lehre ais Methodik der Geisteswissenschaften, 1 967; 2ª ed., 1 972. Uma versão alemã, resumida, da teoria da interpretação foi publicada um ano antes de sua Teoria generale: Zur Grundlegung einer allgemeinen A usle­ gungslehre, como reimpressão do Festschrift für Ernst Rabel, 1 954, II, pp. 79- 1 68 . - Para hermenêutica ju­ rídica: lnterpretazione della legge e degli atti giuridici (Teoria generale e dogmatica), 2ª ed. , 1 97 1 . Ver: Gerhard Funke, "Problem und Theorie der Her­ meneutik. Auslegen, Deuten, Verstehen in E. Bettis Teo­ ria generale della interpretazione", Zeitschriftfür philo­ sophische Forschung, 1 4 ( 1 960), 1 6 1 - 1 8 1 (também em Studi in honore di E. B. , !, 1 9 6 1 ) . - Richard E. Palmer, Hermeneutics: Interpretation Theory in Schleiermacher, Dilthey, Heidegger, and Gadamer, 1 969, pp. 46-65. J. Vandenbulcke, "Betti-Gadamer: Een Hermeneutische Kontroverse'', Tijdschrift voar Filosofie, 32 ( 1 970), 1 051 1 3 . - J. Bleicher, Contemporary Hermeneutics, 1 980. - S. Noakes, "Emilio Betti's Debt to Vico", New Vico Studies, 6 ( 1 988), 5 1 -57. - J. Grondin, 'Thermeneuti­ que comme science rigoureuse selon Emilio Betti ( 1 8901 968)", Archives de Philosophie, 53(2) ( 1 990), 1 771 98 . - F. Petríllo, 'T equità nell' ermeneutica giuridica di E. Betti", Rivista lnternazionale di Filosofia dei Dirit­ to, 68(2) ( 1 99 1 ), 348-375. Principais obras: Geist der Utopie, 1 9 1 8 ; reimp. 1 97 1 ; nova versão, 1 92 3 ; reimp. 1 964. - Thomas Miinzer ais Theologe der Revolution, 1 92 1 . - Spuren, 1 930 (Marcas). - Erbschaft dieser Zeit, 1 93 5 (Heran­ ça deste tempo). - Freiheit und Ordnung. A briss der Sozial- Utopien, 1 946 (Liberdade e ordem. Sumário de utopias sociais [ou "social-utopias"). - Subjekt­ Objekt. Erliiuterungen zu Hegel, 1 95 1 . - Avicenna und die aristotelische Linke, 1 95 1 . - Das Prinzip Hoffnung, em cinco partes (55 capítulos), 1 954- 1 959. Várias mudanças referentes a esta obra, especialmente no que tange à idéia de progresso, se encontram em Tübinger Einleitung in die Philosophie, 1 970 (Introdu­ ção filosófica de Tiibingen); um segundo vol . da obra foi publicado em 1 964. - Christian Thomasius, 1 95 3 . - Differenzierungen i m BegriffFortschrift, 1 95 6 (Dis­ tinções no conceito de progresso). - Philosophische

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Grnndfragen, vol. 1, 1961 (Questões filosóficas funda­ mentais). - Naturrecht und menschliche Würde, 1 96 1 . - Verfremdungen, 2 vols., 1 963- 1 964 (Estranhamen­ tos). - Literarische Aufsiitze, 1 965 (Ensaios literários). - Über Karl Marx, 1 968. - Widerstand und Friede, 1 968 (Resistência e paz). - Wegzeichen der Hoffnung, 1 967 (Indicadores da esperança). -Atheismus im Chris­ tentum, 1 968. - Philosophische Aufsiitze zur objektiven Phantasie, 1 969 (Ensaios filosóficos sobre a fantasia objetiva) (compila escritos de 1 902 a 1 968 ) . - Das Materialismusproblem, seine Geschichte und Substanz, 1 972 (O problema do materialismo, sua história e subs­ tância). - Vom Hasard zur Katastrophe, 1 972 (Do aca­ so à catástrofe). - Experimentum Mundi, 1 975. Zwischenwelten in der Philosophiegeschichte, 1 977. Tendenz, Latenz, Utopie, 1 978. - Abschied von der Uto­ pie ?, 1 980 (Adeus à utopia ?). -- Leipzifer Vorlesungen zur Geschichte der Philosophie, 4 vols., 1 985. Edição de obras: Gesamtausgabe, 16 vols., 1 9591 975. Postumamente foi publicado o vol. 17 ( 1 978). O vol. 1 3 - Tübinger Einleitung in die Philosophie é básico para a compreensão do pensamento de B. Werkausgabe, 1 978. - Die Expressionismusdebatte, 1 973, ed. H. J. Schmitt. - Além disso, existe desde 1 98 1 um Bloch-A lmanach, ed. pelo Arquivo E. B. da Biblioteca Municipal de Ludwigshafen, a cargo de K. Weigandm, com textos de e sobre B., correspondência, bibliografia etc. - Também D. Sternberger, ed., Bloch­ A lmanach, 1 985. Testemunho pessoal : R. Traub-H. Wieser, eds., Ges­ priiche mit E. B. , 1 975. - S. Markun, E. B. in Selbs­ tzeugnissen und Bilddokumenten, 1 977. Correspondência: E. B. : Briete, 1 903- 1 9 75, 1 98 5 . Bibliografia: T. E. Wren, "An Ernst Bloch Biblio­ graphy for English Readers", Philosophy Today, 1 4 ( 1 970), 272-273. - J.-M. Udina, " E . B. ( 1 8 85- 1 977 ) en el aiio de su muerte. Bibliografia blochiana 1 977'', Actualidad bibliográfica, junho de 1 978, pp. 60-9 1 . - !d., "E. B . entre nosaltres'', Enrahonar, 1 2 ( 1 985 ) , 6 1 -70. - L. Arnold, ed., Text und Kritik. Sonderband E. B. , 1 98 5 . Ver: H. G. Bütow, Phi/osophie und Gesellschaft im Denken E. Blochs, 1 963. - Theodor W. Adorno, Hans Mayer et ai. , E. B. zu Ehren. Beifragen zu seinem Werk, 1 965, ed. Siegfried Unseld. - Heinz Kimmerle, Die Zukunftsbedeutung der Hoffnung. A useinanderset­ zung mil E. Blochs "Prinzip Hojj'n ung " aus philoso­ phischer und theologischer Sicht, 1 966. - E. Roeder von Diersburg, Zur Ontologie und Logik offener Sys­ teme. E. B. vor dem Gesetz der Tradition, 1 967. M. Walser, J. Habermas et ai. , Ueber E. B. , 1 968. Karl Krãnzle, Utopie und ldeologie. Gesellschatskritik und politisches Engagement im Werk E. Blochs, 1 970. - Carl Heinz Ratschow, A theismus im Christentum.

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BLONDEL, MAURICE

Eine Auseinandersetzung mit E. B. , 1 970. - Geertrui­ da Maartje van Asperen, Hope and History: A Criti­ cai Inquiry into the Philosophy of E. B. , 1 973. Hans Heinz Holz, Logos spermatikos. Zur Phi/osophie E. Blochs, 1 975. Laennec Hurbon, E. B. Utopie et espérance, 1 974. - VV. AA., E. B/ochs Wirkung. Ein Arbeitsbuch zum 90. Geburtstag, 1 97 5 . - Hermann Wiegmann, E. Blochs iisthetische Kriterien und ihre intepretative Funktion in seinen literarischen Aufsiit­ zen, 1 976. - VV. AA., Utopie et marxisme se/on E. B. Un systeme de / 'inconstructible. Hommages à E. B. pour son 9ff anniversaire, 1 976, ed. Gérard Raulet. - G. Cunico, Essere come utopia. Jfondamenti dei/a filosofia dei/a speranza di E. B. , 1 976. - José María G. Gómez-Heras, Sociedad y utopia en E. B. , J 977. - J. Pérez dei Corra!, E/ marxismo cálido. E. B. , 1 977. - A. F. Christen, E. Blochs Metaphysik der Materie, 1 97 8 . - G. Witschel, E. B. Literatur und Sprache: Theorie und Leistung, 1 978. - R. Bodei, Multiversum. Tempo e storia in E. B. II confronto di B. con la tradizione filosofica di Platone a Heidegger, 1 979. - J. Gómez Caffarena, Hans Mayer et ai. , En favor de B. , 1 979 (conferências de março de 1 977). - P. Zudeik, Die Welt ais Wirklichkeit und Moglich­ keit. Die Rechtsfertigungsproblematik der Utopie in der Philosophie E. Blochs, 1 980. - W. Hudson, The Marxist Philosophy of Ernst Bloch, 1 982. - E . Si­ mons, Das expressive Denken E. Blochs, 1 98 3 . - J. Jiménez, La estética como utopia antropológica. B. y Marcuse, 1 98 3 . - J. A. Gimbernat, B. Utopia y espe­ ranza (Claves para una interpretación filosófica), 1 983. - H. Deuser, P. Steinãcker, eds., E. Blochs Ver­ mittlungen zur Theologie, 1 98 3 . - H. Gekle, Wunsch und Wirklichkeit. Phi/osophie des Noch-Nicht-Bewus­ sten und Freuds Theorie des Unbewussten, 1 986. 8. Dietschy, Gebrochene Gegenwart. E. B. , Ungleich­ zeitigkeit und das Geschichtsbild der Moderne, 1 98 8 . - H . E. Schiller, B/och-Konstellationen. Utopien der Phi/osophie, 1 99 1 . - J. Zimmer, Die Kritik der Erin­ nerung. Metaphysik, Ontologie und geschichtliche Er­ kenntnis in der Phi/osophie E. B. S, 1 993 (tese). M. Riedel, Tradition und Utopie. E. B.s Philosophie im Licht unserer geschichtlichen Denkerfahrung, 1 994. Ver também: Burghart Schmidt, ed., Materialien zu E. Blochs Prinzip Hoffnung, 1 978 (com bibliografia). - !d., id. , ed., Seminar: Zur Philosophie E. Blochs, 1 983. - H. L. Arnold, ed., E. B. , 1 98 5 (com bibliogra­ fia; núm. especial da coleção Text und Kritik). C: -

BLONDEL, MAURICE ( 1 86 1 - 1 949). Nascido em Dijon, foi professor assistente na Universidade de Lille ( 1 8951 896) e na Universidade de Aix-en-Provence (Bouches du Rhône) , onde em 1 897 foi nomeado professor titu­ lar. Partindo de Léon Ollé-Laprune ( vER ) , Blondel co-

meçou sua obra filosófica original com uma reflexão sobre a ação (vER ) . Segundo B londel, a ação não é um "princípio", mas algo menos e, ao mesmo tempo, algo mais: uma necessidade, uma marcha que não pode ser detida, ao contrário do que ocorre com a atividade es­ peculativa. A ação deve ser entendida, de acordo com Blondel, como "o que é ao mesmo tempo princípio, meio e final de uma operação que pode permanecer imanente em si mesma" Isso significa, como ele j á reconhecia na introdução à sua tese, ou "primeira Ação", que tão logo abordamos a ciência da ação, "não há nada que se possa dar por acertado, nada nem no que se refere aos fatos nem aos princípios nem aos de­ veres" (p. XXI). Isso não significa aceitar um ponto de vista próximo da dúvida metódica. Quase se poderia dizer que o método é oposto: "É preciso acolher" diz Blondel - "todas as negações que se destroem entre si"; "deve-se entrar em todos os preconceitos como se fossem legítimos; em todas as paixões como se tivessem a generosidade de que se vangloriam; em todos os sistemas filosóficos como se cada um deles abraçasse a infinita variedade que pensa abranger" Por isso, o problema da ação não pode admitir nenhum postulado moral determinado, nenhum dado intelec­ tual determinado que lhe sirva de ponto de partida. E por esse motivo, diz Blondel, não é uma questão parti­ cular, por mais importante que seja, mas a questão, aquela sem a qual não pode haver nenhuma outra. O que denominamos o pensamento será sempre algo que se encontra no caminho da ação. Com isto, o pensa­ mento não é negado nem diminuído, mas englobado e justificado em sua verdadeira existência. De certa maneira, o pensamento é o que resulta quando a ação se desenvolve: a idéia permanece no interior da ação, a qual consegue assim superar e unificar a teoria e a prática. Somente uma filosofia da ação poderá, por con­ seguinte, efetuar uma "critica da vida" e erigir uma "ciên­ cia da prática". A filosofia da ação não é um esquema­ tismo fundado em puras idéias abstratas. Mas não é tampouco um pragmatismo que faça da verdade uma função da utilidade. A filosofia blondeliana da ação representa a síntese de todas as contradições entre o pensamento e a vida, entre a idéia e a realidade em que se debateu o pensamento moderno. Blondel afirma que uma compreensão adequada da ação requer duas investigações paralelas: a primeira, uma análise apa­ rentemente nominal da ação ( VER) , mas que, de fato, representa o quadro inteligível no âmbito do qual se dá toda dialética possível; a segunda, a própria dialé­ tica concreta da ação, que é examinada por Blondel, sobretudo na ampliação de sua tese, de um modo muito mais completo do que por meio de uma elucidação das significações. A investigação da ação - assim como a investigação acerca do "pensamento" e do "ser e

BLONDEL, MAURICE dos seres" - leva B londel a considerar a ação tendo presentes várias acepções contrárias e mesmo contra­ ditórias. A noção de ação fica imersa por isso num inextricável emaranhado de "aporias" Por isso, é necessário perseguir a ascensão da ação até onde esta se manifesta do modo mais pleno, rico e concreto; da análise da atividade nos agentes fisicos, e da observa­ ção da insuficiência neles de um "autêntico atuar", ascende-se à análise do atuar na ação humana, com o que se esclarecem concretamente os distintos modos do operar, incluindo o contemplar. Mas o exame dos modos do operar nas causas segundas é apenas pre­ paração para a elucidação do "mistério do puro ope­ rar" Formula-se aqui, de maneira radical, o problema da imanência da ação, uma imanência que engloba toda transcendência possível (cf. L'Action, 1 936, 1, pp. 1 40 ss.; II, pp. 1 75 ss.). Por isso, em sua essência o agir é tão pouco "transitivo" que onde não houvesse mais que vir-a-ser não subsistiria já um agir (ibid. , II, 265). Desse ponto de vista, pode-se compreender me­ lhor a relação entre a teoria e a prática, a transcendên­ cia e a imanência, a causa primeira e as causas segun­ das. Assim, não há tanto um primado do fieri sobre o esse quanto uma dupla atração entre ambos. Contu­ do, pode-se afirmar uma certa primazia do primeiro sobre o segundo se pelo fieri entendemos o puro e autêntico agir distinto tanto de um agir secundário como de todas as formas "estáticas" da ação. Esse primado não se manifesta apenas em seu aspecto me­ tafisico, mas em todas as esferas da ciência e da vida, da moral e da religião. Como o que veio-a-ser é com­ preensível a partir do vir-a-ser, aquele perde seu cará­ ter abstrato. E por representar a ação o princípio da multiplicidade e a sua necessária hierarquia, a filosofia da ação pode transformar-se numa filosofia da contem­ plação ativa, contemplação que adquire sua significa­ ção mais elevada na visão de Deus. A filosofia de Blondel, que manifesta sua confor­ midade com a ortodoxia católica, afirma que a aceita­ ção da visão de Deus é conseqüência necessária dessa filosofia, pois não apenas se torna concreta, dessa ma­ neira, a contemplação de Deus e se satisfaz a vontade que a ação implica, como também se revela a verdade de uma pessoa divina que penetra no interior da pessoa humana. Cumpre-se assim o "método de imanência" que Blondel defendeu na filosofia e na apologética, um método que levou sua doutrina a ser considerada muito próxima do modernismo (vER) , mas que Blondel j ulga o único procedimento eficaz para que a transcen­ dência seja efetivamente dada e não se transforme em resultado abstrato de um intelectualismo puramente es­ quematizante. Na ação ocorre essa peculiar transcen­ dência na imanência que apenas para um ponto de vista intelectualista aparece como um círculo vicioso. Com

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efeito, o sobrenatural emerge n a imanência e n a ação, mas estas são possíveis pela inserção do sobrenatural em nós, pela atração que o infinito exerce sobre o finito. Segundo Blondel, no homem não pode entrar nada que já não esteja nele, mas ao mesmo tempo o que entra no homem não é produzido por este como uma imaginação ou uma simples "especulação" :> Obras: De vinculo substantiali et de substantia com­ posita apud Leibnitium (parte secundária ou comple­ mentar de sua tese), 1 893 ; texto francês ( Une énigme historique: le "vinculum substantiale " d 'apres Leibniz et l 'ébauche d 'un réalisme supérieur), 1 930; texto lati­ no e trad. francesa (Le lien substantiel et la substance composée d 'apres Leibniz), 1 972, ed. Claude Troisfon­ taines. - L'Action. Essai d 'une critique de la vie et d 'une science de la pratique (parte principal de sua tese), 1 893 . - Histoire et dogme, 1 904. - Le probleme de la philosophie catholique, 1 932. - La pensée: 1: La genese de la pensée et les paliers de son ascension spontanée, 1 9 3 3 ; II: Les responsabilités de la pensée et la possibilité de son achevement, 1 934. - L'Être et les Êtres. Essai d 'ontologie concrete et intégrale, 1 93 5 . L'Action, 1: Le probleme des causes secondes et le pur agir, 1 936. II: L'action humaine et les conditions de son aboutissement, 1 93 7 (esta obra é diferente da citada tese de 1 893, embora constitua em parte seu desenvolvi­ mento; a tese de 1 893 costuma receber o nome de "primeira Ação"; a obra publicada em 1 936- 1 937 recebe o nome de "segunda Ação"). - Lutte pour la civili­ sation et philosophie de la paix, 1 939. - La philosophie et l 'esprit chrétien, 2 vols., 1 944- 1 946 (1: A utonomie essentielle et connexion indéclinable; I I : Conditions de la symbiose seu/e norma/e et salutaire). - Exigences philosophiques du christianisme, 1 950. Correspondência: Correspondance [com Auguste Valensin] , 1 899- 1 9 1 2 , 2 vols., 1 95 7 . - Lettres philo­ sophiques de M. B. [a E. Boutroux, V. Delbos, et ai. , 1 8 86- 1 9 1 4), ed. E. Le Roy, 1 96 1 . - Correspondance [com Johannes Wehrle], ed. Henri de Lubac, 2 vols., 1 969. - Correspondance [com Henri Bremond], 3 vols., 1 970- 1 97 1 . - F. Long, "The Blondel-Gilson Correspondence Through Foucault's Mirrar", Philo­ sophy Today, 3 5 (4) ( 1 99 1 ), 3 5 1 -3 6 1 . Os primeiros escritos de Blondel foram reeditados pela associação Les Amis de M. Blondel, fundada em 1 949 (L 'A ction, de 1 893 [ 1 950). Lettre sur les exigen­ ces de la pensée contemporaine en matiere d 'apologé­ tique, de 1 876, e Histoire et Dogme, de 1 904 [ 1 956)). - Documentação sobre Blondel em Les Études blon­ déliennes e em Le Courier des Amis de M. Biande! (ambos desde 1 95 1 ). Bibliografia: A. Hayen, Bibliographie blondélienne, 1888- 1 95 1 , 1 95 3 . - R. Virgoulay, C. Troisfontaines, M. B. : Bibliographie analytique et critique, 2 vols.,

BOA VONTADE

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1 975- 1 976 (!: Oeuvres de M. B . [1880-1 9 73}; I I : Étu­ des sur M. B. [1 893-1975}) . Ver: Joseph de Tonquédec, Immanence. Essai criti­ que sur la doctrine de M. B. , 1 9 1 3 . - !d., Deux études sur "La Pensée " de B. La doctrine de la connaissance, la question du surnaturel. Avec un appendice sur le dé­ sir naturel de la vision de Dieu, 1 936. - Luigi Stefa­ nini, L'azione. Saggio su/la fi/osofia di M. B. , 1 9 1 5 . - F. Lefevre, L'itinéraire phi/oso-phique de M. B. , 1 928. - P. Archambault, Vers un réalisme intégra/. L'oeuvre phi/oso-phique de M. B. , 1 928. - !d., lni­ tiation à la philosophie blondélienne enforme de Court Traité de Métaphysique, 1 946. - T. Gilbert, M. Blon­ del 's Philosophy of Action, 1 92 5 . - Taymans d' Ey­ pernon, Le blondélisme, 1 93 3 . - Giovanna Federici Ajroldi, Interpretazione dei problema deli 'essere in M. B. , 1 936. - Francesco Scivittaro, L 'azione e il pensie­ ro. Saggio su/la filosofia di M. B. , 1 936. - Stefano Polakovic, II problema dei destino: l 'uomo de/la filo­ sofia di B. dinnanzi a/la chiesa di Dio, 1 939. - Blaise Romeyer, La philosophie religieuse de M. B. , 1 943 . - Juan Roig Gironella, La filosofia de la acción, 1 943 . - P. Archambault, P. Bourgarel, B. Romeyer, A. Forest, J. Mercier, P. Lachiêze-Rey, G. Berger, J. Paliarei, "Hommage à M. Blondel" (La Nouve/le Re­ leve, n. 1 2, Paris, 1 946). - F. Salvo, La logica de/la vita mora/e in M. B. , 1 946. - Henry Duméry, La philosophie de "l 'action " Essai sur l 'inte/lectualisme blondélien, 1 948 (com prefácio de M. B. e bibliogra­ fia). - !d., B. et la religion: Essai critique sur la "Let­ tre " de 1 896, 1 954. - !d., Raison et religion dans la philosophie de l 'action, 1 963. - J. Paliarei, M. B. ou !e dépassement chrétien, 1 950. - F. di Petrella, II pensiero di M. B. , 1 950. - Trabalhos sobre B. em Les Études philosophiques (Nouvelle série, a partir de 1 950) e Teoresi (nn. 1 -4, 1 950, em um volume, intitu­ lado Omaggio a B. ). - L. Sarteri, B. e il Cristiane­ simo, 1 95 3 . - R. Crippa, II realismo integra/e di M.

B. , 1 954. - A. Cartier, Existence et vérité, 1 95 5 (sobre B. e o existencialismo). - Maria Ritz, Le probléme de / 'être dans / 'ontologie de M. B. , 1 95 8 . - Jean É cole, La métaphysique de / 'être dans la phi/osophie de M. B. , 1 95 8 . - Henri Bouillard, B. et le christia­ nisme, 1 96 1 . - Romeo Crippa, Profilo della critica b/ondeliana, 1 962. - Jean Lacroix, M. B. , sa vie, son oeuvre, avec un exposé de sa phi/osophie, 1 963. Claude Tresmontant, lntroduction à la métaphysique de M. B. , 1 963. - Marc Renault, Déterminisme et li­ berté dans "/ 'Action " de M. B. , 1 965. - John J. McNeil, The Blondelian Synthesis. A Study of the In­ fluence of German Phi/osophical Sources on the For­ mation of Blondel 's Method and Thought, 1 966. Michel Jouhaud, Le probléme de / 'être et / 'expérience mora/e chez M. B. , 1 970. - Ulrich Hommes, Trans­ zendenz und Personalitiit. Zum Begriff der Action bei

M. B. , 1 972. - A. Raffelt, Spiritualitiit und Philoso­ phie. Zur Vermittlung religioser Erfahrung in M. B. "L'action '', 1 97 8 . - R. Virgouley, B. et !e modernis­ me. La philosophie de l 'action et les sciences religieu­ ses (1 896-1 9 1 3) , 1 980. - J.-M. lsasi, M. B. Una rigurosafi/osofia de la religión, 1 982. - M. Pacheco, A Gênese do problema da ação em B. (1 8 78- 1882). Sentido de um projecto filosófico, 1 982. - O. Kõnig, Dogma ais Praxis und Theorie. Studien zum Begriff des Dogmas in der Religionsphilosophie M. Biandeis vor und wiihrend der modernistischen Krise (18881 908), 1 98 3 . - A. van Hoof, Die Vo/lendung des Menschen, 1 98 3 . - C . Theobald, M. B. und das Pro­ blem der Modernitiit, 1 98 8 . P. Gilbert, "Le phéno­ mêne, la médiation et la métaphysique : le dernier cha­ pitre de T action' ( 1 893) de M. B.", Gregoriarum, 70 ( 1 989), 93- 1 1 9 ( ! ª parte), 29 1 -3 1 9 (2ª parte). Por ocasião do centenário do nascimento de M. B., dedicaram-se números especiais de várias revistas ao pensamento de B.; por exemplo, Teoresi, 1 7, n. 4 ( 1 962) [com bibliografia organizada por Antonina Costa, pp. 295-320] ; Giornale di Metafisica, 1 6, n. 5 ( 1 96 1 ) [com bibliografia organizada por Romeo Crippa, pp. 63 1 659]. H á também u m vol. coletivo de M . Mery, G . E. Ophrys et ai. : Le Centenaire de M. B., 1861 - 1 961, en sa Faculté des Lettres d 'A ux-Marseille, 1 963. Obras: A Theory of Time, 1 899 (tese de doutora­ mento). - Time and Reality, 1 904. - Truth and Rea­ /ity, 1 9 1 1 . - A Rea/istic Universe, 1 9 1 6, ed. revisada, 1 93 1 . - Cosmic Evolution, 1 925. - God and Crea­ tion, 1 934, 2 vols. : 1 . God. A Cosmic Philosophy of Religion; I I . Three Interpretations of the Uni verse. The Social Mind, Foundations of Social Philosophy, 1 939. - Religion of Tomorrow, 1 943. - A Cosmic Philosophy, 1 94 7.

Ver: Eugene Clay Holmes, Social Philosophy and the Social Mind: A Study of the Genetic Methods of J M. Baldwin, G. H. Mead and 1 E. Boodin, 1 942 . - J. A. Martin, Empírica! Philosophies of Religion, with Special Reference to Boodin, Brightman, Hocking, Maclntosh and Wieman, 1 945. - A. J. Reck, "The Philosophy of J. E. 8. ( 1 869- 1 95 0)", Review of Meta­ physics, 1 5 ( 1 96 1 ), 1 48- 1 73 . - J. W. Dye, "J. E. B.'s Theory of Consciousness", Southern Journal of Philo­ sophy, 1 2 ( 1 974), 3 1 3-332. C. H. Nelson, 1 E. Bodin : Philosopher-Poet, 1 987. C: -

BOOLE, GEORGE ( 1 8 1 5- 1 864). Nascido em Lincoln (Inglaterra), foi professor de matemática no Queen 's College, de Cork, de 1 849 até sua morte. É comumente considerado o fundador da lógica simbólica. Embora seja certo que esse título não é inteiramente justo em virtude das importantes contribuições à lógica simbóli­ ca que se descobriram no passado (ver LórncA; Looísr1CA), a verdade é que o movimento lógico contemporâ­ neo, na medida em que possui consciência de sua novi­ dade e importância, costuma remontar a 1 847 e, mais precisamente, a 1 854, data da publicação da obra funda­ mental de Boole. Este desenvolveu sobretudo a álgebra da lógica; o cálculo de classes (ver CLA SSE) é habitual­ mente denominado álgebra booleana de classes. :> As duas obras lógicas fundamentais de Boole são: The Mathematical Analysis of Logic being an Essay toward a Calculus of Deductive Reasoning, 1 847. An Investigation of the Laws of Thought, on which are founded the Mathematica/ Theories ofLogic and Proba­ bilities, 1 854. - Ver igualmente Studies in Logic and Probability, 1 952 (abrange as obras reunidas de Boole, incluindo The Mathematica/ Ana/ysis ofLogic e escritos inéditos). - O artigo de Mary B. Hesse, "Boole's Phi­ losophy of Thought", Annals of Science, 8 ( 1 952), 6 1 82, refere-se a manuscritos d e Boole que lhe deviam servir para escrever uma obra que seria a continuação de The Laws of Thought, na qual ele não empregaria o simbolismo. Correspondência: 1. Grattan-Guinness, "The Corres­ pondence between G. Boole and Stanley Jevons, 1 8631 864", History and Philosophy of Logic ( 1 990), 1 5-35. Ver: E. W. Beth, "Hundred Years of Symbolic Lo­ gic: A Retrospect on the Occasion of the Boole-De Morgan Centenary", Dialectica, 1 ( 1 964), 33 1 -346. - Armando Asti Vera, G. B. , precursor de la lógica simbólica, 1 968. - Theodore Hai lperin, Boole s Logic and Probability, 1 976. - E. Michael, "An Examina­ tion of the Influence of Boole's Algebra on Peirce's De­ velopments in Logic", Notre Dame Journal of Formal Logic, 20 ( 1 979), 80 1 -806. - L. M. Laita, "Boolean Algebra and Its Extra-Logical Sources: The Testimony of Mary Everest Boole", History and Philosophy of Logic, 1 ( 1 980), 3 7-60. - B. Csakany, 1 . Rosenberg,

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eds., Finite A lgebra and Multiple- Valued Logic, 1 98 1 . - D. McHale, G. B. , 1 98 5 . A obra fundamental de 8oscovich intitula-se Philo­ sophiae natura/is theoria redacta ad unicam legem vi­ rium in natura existentium, 1 758, 1 759, 1 764; outra ed., 1 763 . A edição publicada em Veneza em 1 763 contém também dois breves tratados de 8oscovich: De anima e/ Deo e De spatio et tempore. Ed. (texto latino e trad. inglesa) da Philosophiae natura/is theoria por J. M. Chile!, com biografia de 8oscovich por 8ranislav Petro­ nievitch (Manchester, 1 922). Edição de obras científicas: Opera pertinentia ad aplicam et astronomiam, 5 vols., 1 785- 1 786. Ver: F. Evellin, Quid de rebus vel corporeis vel in­ corporeis senserit Boscovich, 1 8 80 (tese de doutora­ mento em latim). - M. Oster, R. J B. ais Naturphilo­ soph, 1 909. Dusan Nedelj kovic, La philosophie naturelle et relati viste de R. J B. , 1 922. - !d., R. B. u svom vremenu i danas, 1 9 6 1 (R. B. em seu tempo e hoje) (coletânea de artigos, 1 93 8- 1 96 1 ). - V. H. Gil!, S . J. , R. B. , S. J (1 71 1 - 1 78 7) Forerunner of Modem Physical Theories, 1 94 1 . - L. L. Whyte, "R. J. 8., S. J. , F. R. S . ( 1 7 1 1 - 1 787), and the Mathematics of Ato­ mism'', Notes and Records of the Royal Society ofLon­ don, 1 3 , n. 1 ( 1 958), 3 8-48 . - Ilij a Poplasen, Zum Problem des integralen Dynamismus bei R. J B. , 1 967. - L. L. Whyte, ed. R. J B. , SJ, FRS, 1 71 1- 1 787: Studies of His Life and Work on the 250 Anniversary of His Birth, 1 9 6 1 (com bibliografia). - Z. Marko­ vic, R. B. , 2 vols., 1 968- 1 969. M. A. Sutton, "J. F. Daniel! and the 8oscovichean Atom", Studies in His­ tory and Philosophy of Science, 1 ( 1 97 1 ), 277-292. - 1 . Supek, "8.'s Philosophy of Nature", Poznan Stu­ dies, 2 ( ! 976), 1 1 2- 1 20. - Vários autores, R. B. , 1 983, ed. G. Vidan. - P. Casini, "Ottica, Astronomia, Relatività: 8. a Roma, 1 73 8- 1 748", Rivista di Filoso­ fia, 7 1 ( 1 9 8 1 ) , 354-3 8 1 . - K. D. Stiegler, "Zur Entste­ hung der Idee der raumlich unausgedehnten Atome von Zenon bis 8oscovich", Ph ilosophia Natura/is, 1 8 ( 1 98 1 ), 327-3 55. e: -

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BOSSU ET, JACQUES-BENIGNE ( 1 62 7 - 1 704). Nascido em Dij on, recebeu a tonsura em 1 63 5 e estu­ dou teologia no j esuíta College de Navarre, de Paris, a partir de 1 642. Defendeu a tese chamada sorbonique, em 1 650. Doutorou-se em teologia em 1 652, iniciando nesse mesmo ano sua residência e pregação em Metz - centro de suas famosas oraisons funebres. Foi bispo de Metz a partir de 1 68 1 e preceptor do Delfim da França a partir de 1 670.

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Bossuet foi um dos grandes apologistas católicos modernos. Considerava que a Igreja católica apostólica romana é a depositária das verdades, a única e autên­ tica mestra universal, à qual devem aderir todos os que, como Leibniz, estão desejosos de unidade e buscam a pacificação dos espíritos. Bossuet opôs-se a todos os que se afastam dos princípios da verdade, como o mostra a chamada "disputa sobre o quietismo" (ajfaire du quié­ tisme), que durou de 1 694 a 1 699, terminando com a condenação, pelo Papa, do livro de Fénelon (que, além disso, Bossuet consagrara bispo de Cambrai em 1 695). Diante a todos os que resistem às verdades de que a Igreja é depositária, alegando ser preciso modificar pelo menos algumas ou discuti-las antes de ingressar, ou de reingressar, na Igreja, Bossuet manteve firmemente a opinião de que apenas dentro da Igreja se pode falar das verdades; o que se deve fazer, portanto, é "obrigá­ los a ingressar": compellere entrare. Bossuet ocupou-se de todos os grandes temas teoló­ gicos de sua época (por exemplo, o problema da relação entre a graça e o livre-arbítrio, que procurou solucionar harmoniosamente, sem levar ao extremo nenhuma po­ sição). Sua mais conhecida contribuição teológica e filosófica é, contudo, o Discurso sobre a História Uni­ versal, que compôs para a instrução e edificação do Delfim. Renovando para a época moderna o que Santo Agostinho fizera com sua Cidade de Deus, Bossuet desenvolveu uma teologia da história destinada a mos­ trar a obra da Providência como guia do curso de toda a humanidade. Bossuet considera que é possível, e desejável , apresentar o "grande espetáculo" da história universal acima de - embora ao mesmo tempo pressu­ pondo - todas as histórias particulares: "Este tipo de história universal" - escreve ele no 'Avant-Propos' para ' Monseigneur le Dauphin ' - "é, em relação às histórias de cada país e de cada povo, o que um mapa geral é em relação aos mapas particulares. Nos mapas particulares, vêem-se todos os detalhes de um reino ou de uma província em si mesma. Nos mapas universais, aprende-se a situar essas partes do mundo em sua tota­ lidade: vê-se o que Paris ou a I le-de-France é no reino, o que o reino é na Europa ou o que a Europa é no uni­ verso". As histórias particulares representam em porme­ nor coisas que aconteceram a um povo, "mas, para en­ tender tudo, é preciso conhecer a relação que cada his­ tória tem com todas as outras mediante uma abreviatu­ ra na qual se veja, de uma única olhada, toda a ordem do tempo" Vista dessa grandiosa perspectiva, a história uni­ versal é a história da redenção do gênero humano pelo sacrificio de Cristo. Não se trata apenas de histó­ ria religiosa; não obstante, o governo civil e a história política - a formação, o desenvolvimento e a queda dos impérios - são compreensíveis somente no âm­ bito do esquema providencial. Bossuet divide o curso

BOSTRÕM, CHRISTOPHER JACOB da história universal em nove grandes épocas (Adão, Noé, a vocação de Abraão, Moisés, a conquista de Tróia, Salomão, Rômulo, Ciro, Cipião ou a derrota de Carta­ go, nascimento de Jesus Cristo, Constantino e Carlos Magno ou o estabelecimento do "novo império") e ter­ mina afirmando que tudo deve ser relacionado com a Providência, pois "tudo depende das ordens secretas da Divina Providência (Discours, Parte III, cap. 8). :> Principais obras de interesse filosófico e teológico: Discours sur l 'histoire universelle, 1 68 1 ; 3ª ed. revisada pelo autor, 1 70 1 ; nova ed. 1 966 por J. Truchet. - Poli­ tique tirée despropres paroles de l 'Écriture Sainte, 1 709. - Traité du libre arbitre, 1 7 1 O (publicado pelo sobrinho do autor, o abade Bossuet, bispo de Troyes) . - Traité de la connaissance de Dieu et de soi-même, 1 722. Entre as muitas edições de obras, citamos: Oeuvres, ed. rev. , 1 9 vols., 1 772- 1 780; Oeuvres completes, ed. F. Lachat, 3 1 vols., 1 862- 1 866; Oeuvres completes, ed. E. N. Guillaume, 1 1 vols., 1 877. Ver: A. Nourrisson, Essai sur la philosophie de B. , 1 852. - C. de Courten, B. e il suo "Discours sur l 'his­ toire universelle ", 1 927. - Roger Labrousse, Introdu­ ção à ed. (texto francês e trad. esp.) do Traité du libre arbitre [Tucumán], ( 1 948), pp. 7-83. - A. Auneau, B. , 1 949. - Therese Goyet, L'humanisme de B. , 2 vols., 1 965. - Jacques Le Brun, La spiritualité de B. , 1 973. - G. Pflug, "The Development of Historical Method in the Eighteenth Century", History and Theory, 1 1 ( 1 97 1 ), 1 -23. - E. J. Kearns, /deas in Seventeenth­ Century France, 1 979. - P. Magnard, T. Goyet et ai. , Journées B. La prédication au XVII' siecle, 1 980 (Jor­ nadas em Dij on, 2-4 de dezembro de 1 977). � BOSTRÔ M, CHRISTOPHER JACOB ( 1 797- 1 866). Nascido em Pitea ( Suécia), professor de 1 83 8 a 1 863 em Uppsala, desenvolveu uma filosofia qualificada de idealismo racional ou pessoal e que em muitos pontos coincide com o teísmo especulativo de B iberg ( vER) e Grubbe ( VER) . Com efeito, Bostrõm opõe-se tanto ao empirismo como ao racionalismo abstrato, que signifi­ cam uma negação da pessoa. A realidade da pessoa é para Bostrõm a realidade verdadeira, a única entidade realmente concreta. Essa realidade pessoal é determi­ nada principalmente por meio da consciência, ou, mais exatamente, por meio do espiritual que nela reside. As coisas naturais e sensíveis são, por conseguinte, um aspecto que a realidade interior oferece, e precisa­ mente o aspecto no qual a percepção de si se encontra reduzida a um mínimo. Se a percepção é o princípio do ser, isso significará que o ser será tanto mais real e concreto quanto maior for a soma das autopercepções por meio das quais se constitui. Quando estas atingem o ponto máximo, encontramo-nos diante do que Bos­ trõm denomina o Absoluto, o Espírito absoluto, o Deus pessoal em cujo âmbito - assim como em Leibniz - se dá a comunidade das pessoas. Ora, essa concep-

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BOUCHARD, JEAN-JACQUES ção do verdadeiramente real introduz no pensamento de Bostrõm algumas dificuldades que haviam sido abor­ dadas já pelo idealismo racional clássico. A primeira e principal delas consiste na concepção que se deve ter, em tal sistema, do espácio-temporal. A solução de Bos­ trõm é imprecisa nesse ponto. Por um lado, ele considera que o espácio-temporal está inteiramente fora do âmbito do Espírito absoluto e de suas idéias ou momentos. Por outro, vê-se obrigado a reconhecer que, de algum modo, é preciso estabelecer uma relação que não rompa a harmonia do conjunto. Esta segunda tendência é a que acaba por triunfar. Em última análise, a única realidade autêntica é, para Bostrõm, a espiritual-pessoal, e, por conseguinte, apenas Deus como espírito absoluto é real. Isto, porém, não significa nem a anulação do sensível nem, menos ainda, a do espírito finito. Ambos estão su­ bordinados, sem dúvida, à vida divina. Contudo, essa subordinação já não mostra dificuldade quando se leva em conta que, como assinalamos antes, o espiritual e o consciente nem sempre significam para Bostrõm a plena consciência pessoal do eu; todo "representar", mesmo o menos consciente, pertence ao plano do espiritual, embora de uma espiritualidade inferior, porque com­ preende também tudo o que de algum modo for subs­ tância, princípio ou individualidade. Assim, as naturezas finitas, que se articulam num mundo de personal idades, acabam por ser manifestações da realidade superior di­ vina, idéias existentes no âmago de Deus. Essas idéias, cuja revelação constitui o mundo da sensibilidade, se entretecem e vivem enquanto pessoas em uma hierar­ quia na qual o grau de perfeição corresponde ao grau de realidade. O idealismo racional e pessoal de Bostrõm, complementado na ética por um racionalismo positivo diferente do apriorismo formal e do utilitarismo eu­ demonista, teve continuidade no trabalho de diversos pensadores. Entre os "discípulos" de Bostrõm, muitos deles muito pouco bostromianos, figuraram Sigurd Ribbing ( 1 8 1 6- 1 899), Hans Edfeldt ( 1 836- 1 909), Axel Nyblaeus ( VER) , P. J. H. Leander ( 1 83 1 - 1 907) e, sobre­ tudo, C. Y. Sahlin ( VER ) e Per Efraim Liljequist ( vER ) . :l Obras: De notionibus re/igionis. sapientiae et vir­ tutis earumque inter se nexu, 1 84 1 . - Siitze iiber Ge­ setz und Gesetzgebung, 1 845 (Proposições sobre a lei e a legislação). - Grund/ineer til/ fi/osofiska Stats­ liiran, 1 859 (Linhas fundamentais das lições sobre.fi­ losofia do Estado). - Foreliisningar i etik varteminen, 1 86 1 (Lições sobre a moral). Outras séries de aulas de Bostrõm publicadas são: Foreliisningar i re/igions­ fi/osofi, 5 vols., 1 906- 1 9 1 3 , ed. G. J. Keij ser (filosofia da religião), e Foreliisningar i etiken, 1 897, ed. S . Ri­ bling (ética) . Escritos reunidos: Skri/ier av C. J B. , 3 vols., 1 8 83- 1 90 1 , ed. H . Edfeldt e G. J. Keijser. Ver: J. J. Borelius, Kritik of ver den Bos/romska _fi/osofien, 1 859. - H. Edfeldt, Om Bostroms idee/iira, -

1 884. E. ZoeIler, Der Gottesbegriff in der neueren schwedischen Philosophie, mil besonderer Beriicksich­ tigung der We/tanschauung Bostroms und Lotzes, 1 888 (O conceito de Deus na nova filosofia sueca, com es­ pecial atenção à cosmovisão de Bostrom e Lotze). C. Landstrõms, B. och hansfi/osofie, 1 903 . - 1. Ljun­ ghoffs, C. J B. Sveriges Platon, 1 9 1 6. - H. Larsson, Minnesteckning ofaer C. J B. , 1 93 1 . - S. Edvard Roh­ de, "Bostrõms Religionsfilosofiska askarning. !. San­ ning och verglighet", Goteborgs Hogskolas Arskrifi, 4 ( 1 949). Obras: Von der mannigfachen Bedeutung des Seien­ den nach Aristoteles, 1 862; reimp . , 1 960 (Da múltipla significação do ser segundo Aristóteles). - Die Psy­ chologie des A ristoteles, 1 867. - Psychologie vom empirischen Standpunkt, i, 1 874. - Ueber die Gründe der Entmutigung auf philosophischem Gebiete, 1 874 (Sobre as razões do desalento na filosofia. - Was für ein Philosoph manchmal Epoche macht, 1 876 (Que tipo de.filósofos às vezes se destacam). - Neue Riitsel von A enigmatias, 1 879 (Novos enigmas de E. ). Ueber den Creationismus des A ristoteles, 1 8 82. Vom Ursprung sittlicher Erkenntnis, 1 889. - Ueber die Zukunft der Ph ilosoph ie. Mit apologetisch ­ kritischer Berücksichtigung der Inaugurationsrede von A. Exner "Ueber politische Bildung , 1 893. - Die vier Phasen der Philosophie und ihr augenblicklicher Stand, 1 895. - Untersuchung zur Sinnespsychologie, 1 907 (Investigação sobre psicologia dos sentidos). - Aristo­ teles und seine Weltanschauung, 1 9 1 1 (trad. esp . : Aristóteles, 1 930; nova ed., 1 983). Edição de obras completas: Gesammelte Schriften, por Alfred Kastil e Oskar Kraus, incluindo alguns es­ critos póstumos, 1 1 vols., 1 92 1 - 1 934. Citamos os se­ guintes tomos desta edição: Die Lehre Jesu und ihre bleibende Bedeutung ( 1 922); Psychologie vom empiris­ chen Standpunkt (!, 1 924; II, 1 92 5 ; III, 1 928; reed., 2 vols., 1 955- 1 959); Versuch über die Erkenntnis ( 1 925); Die vier Phasen etc. ( 1 926); Vom Dasein Gottes ( 1 929). Depois Franziska Mayer-Hillebrand editou os escritos não contidos na ed. anterior: Grundlegung und Aujbau der Ethik, 1 952, aulas de B. sobre filosofia prá­ tica (Fundamentação e estrutura da ética). - Religion und Philosophie, 1 954. - Die Lehre vom richtigen Urteil, 1 956 (Doutrina do reto juízo). - Grundzüge der ÁS thetik, 1 95 9 (Elementos básicos de estética). - Geschichte der griechischen Philosophie, 1 963, au­ las de B. sobre história da filosofia (Historia da filoso­ fia grega). - Warheit und Evidenz, 1 964 ( Verdade e evidência). - Die A bkehr vom Nichtrealen. Nur Dinge sind vorstellbar und konnen existieren, 1 966, corres­ pondência com Marty y Kraus, e artigos 1 904- 1 9 1 7 (Afastamento do não-real. Somente as coisas são re­ presentáveis e podem existir). - Über die Zukunft der Philosophie, 1 968 (Sobre o futuro da filosofia). Untersuchung zur Sinnespsychologie, 2ª ed., 1 979 (In­ vestigação sobre psicologia dos sentidos) . - Philo­ sophische Untersuchungen zu Raum, Zeit und Konti­ nuum, 1 976 (Investigações filosóficas sobre espaço, tempo e contínuo). - Geschichte der mittelalterlichen Philosophie, 1 980 (História da filosofia medieval). - R. M. Chisholm e W. Baumgartner editaram as con­ ferências feitas por B. em Viena, 1 890- 1 89 1 , e sele"

ções de uma versão prévia dessas mesmas conferên­ cias, com o título Deskriptive Psychologie, 1 982. Parte dos manuscritos de B rentano fo i destruída num bombardeio de Leipzig ( 1 942). Massaryk fundou em Praga uma Brentano-Gesellschaft, presidida duran­ te muito tempo por O. Kraus. Bibliografia: P. Gregoretti, F B. Bibliografia com­ pleta (1862- 1 982), 1 98 3 . Ver: O . Kraus, F B., Zur Kenntnis seines Lebens und seiner Lehre, 1 9 1 9. - O. Most, Die Ethik F Brenta­ nos und ihre geschichtlichen Grundlagen, 1 93 1 . - A. Werner, Die psychologisch-erkenntnistheoretischen Grundlagen der Metaphysik F Brentanos, 1 93 1 . - M. Brück, Ueber das Verhiiltnis E. Husserl zu F B. , 1 933 (tese). - E. Rogge, Das Kausalproblem bei F B. , 1 935. - V Hauber, lfáhrheit und Evidenz bei F B. , 1 936 (tese). - E. Seiterich, Die Gottesbeweise bei F B. , 1 936. - 1. Fisch, F Brentanos Lehre vom Urteil, 1 94 1 (tese). - H. Rodriguez Sanz, E! problema de los valores en la teoría dei conocimiento moral de F B. (Acta Salmanti­ censia. Filosofia y Letras, t. IV, 1, 1 948). - A. Kastil, Die Philosophie F Brentanos. Eine Einfiihrung in seine Lehre, nova ed., 1 95 1 , ed. Franziska Mayer-Hillebrand. - M. Cruz Hernández, F Brentano, 1 953. - 1. A. L. Taljaard, B. B. as 1'1J'Sgeer n Bydrae tot die kennis van die neo-positiwisme, 1 955 (tese). - É. Gilson, Méthode et métaphysique selon F Brentano, 1 955. - !d., La psycho­ logie descriptive selon F Brentano, 1 955. - Jan Srzed­ nicki, F Brentano 's Analysis of Truth, 1 965 . - Gustav Bergmann, Realism: A Critique ofB. and Meinong, 1 967. - Adriano Bausola, Conoscenza e moralità in F B. , 1 968. - Antos C. Rancurello, A Study ofF B. : His Psy­ chological Standpoint and His Significance in The History ofPsychology, 1 968. - Aquilina Satué Á lvarez, Doctrina de la intencionalidad en F B. , 1 973. - G. Morscher, S. Komer et ai. , Die Philosophie F B.s, 1 978, ed. R. M. Chisholm y R. Haller (Atas do Simpósio B. de Graz, 4-8 de julho de 1 977). - E. Campos, Die Kantkritik Brentanos, 1 979. - F. Modenato, Coscienza e essere in F B. , 1 979. - R. M. Chisholm, Brentano and Mei­ nong Studies, 1 982. - L. McAlister, The Development of F B.'s Ethics, 1 982. - R. M. Chisholm, B. and In­ trinsic Value, 1 986. - 1. M. Werle, F B. und die Zukunft der Philosophie, 1 989. Obras: Kulturgeschichte der Neuzeit, 2 vols., 1 9001 90 1 (História da cultura moderna). - Der Stufenbau und die Gesetze der Weltgeschichte, 1 905 (Estrutura e leis da história universal). - Geschichte der Mens­ chheit, 2 vols., 1 906- 1 907 (História da humanidade). - Vom geschichtlichen Werden, 3 vols. (!: Personli­ chkeit und Entwicklung, 1 925; I I : Die Macht des Ge­ dankens in der Geschichte, 1 926; I I I : Der Weg der Menschheit, 1 928) (Do vir-a-ser histórico. 1: Persona­ lidade e evolução; I I : O poder da idéia na história; I I I : O caminho da humanidade). - Naturgeschichte und Menschheitsgeschichte, 2 vols., 1 933- 1 934 (Histó­ ria natural e história humana). - Vom Sein und Er­ kennen geistlicher Dinge, 3 vols. (1: Die Geschichte

BRIDGES, JOHN HENRY. Ver C oMTE, A uGUSTE. BRIDGMAN, P[ERCY] W[ILLIAMS] ( 1 882- 1 96 1 ). Nascido em Cambridge, Massachusetts (EUA), lecio­ nou na Universidade de Harvard de 1 908 a 1 954 ( 1 926- 1 950: professor da cátedra Hollis de matemática e filosofia natural; 1 950- 1 954: recebeu o prêmio Nobel de fisica por seus trabalhos sobre a fisica de altas pres­ sões). Sua mais importante contribuição filosófica foi a teoria operacionalista do conhecimento, em particular a teoria operacionalista do conhecimento fisico. Refe­ rimo-nos a ela mais detidamente no verbete OrERACIO­ NALISMO ( vER). Acrescentemos aqui que Bridgman se dedicou também a problemas de filosofia humana e social à luz de sua "análise operacional" :> Obras: The Logic of Modem Physics, 1 927. The Nature ofPhysical Theo1y, 1 936. - The lntelligent Individual and Society, 1 93 8 . - The Nature of Ther­ modynamics, 1 94 1 . - New Vistas for lntelligence, 1 94 7. - Reflections of a Physicist, 1 950, nova edição 1 955. - The Nature ofSome ofour Physical Concepts, 1 952. - The Way Things Are, 1 959. - Póstuma: A So­ phisticate s Primer of Relativity, 1 962 (com prólogo de A. W. Grünbaum). Edição de obras : Philosophical Writings of P. W B. , 1 980. Ver: U. Curi, Analisi operazionale e operaziona­ lismo, 1 970. - A. C. Benjamin, "Operationism. A Criticai Evaluation", Journal ofPhilosophy, 47 ( 1 950), 439-443. - J. Turner, "Professor Benjamin on Bridg­ man. A Rejoinder", ibid. , 774-777. - A. C. Benjamin, Operationism, 1 95 5 (especialmente caps. II e III). J. Bernstein, "P. W. Bridgman, in Revolt Against For­ malism", Synthese, 8 ( 1 949- 1 95 1 ), 3 3 1 -34 1 . - G. Schlesinger, "P. W. B.'s Operational Analysis: The Dif­ ferential Aspect", British Journal for the Philosophy of Science, 9 ( 1 959), 299-306. - H. J. Allen, "P. W. Bridgman and B. F. Skinner on Private Experience", Behaviorism, 8 ( 1 980), 1 5-29. - A. E Moyer, "P. B.'s Operational Perspective on Physics", Studies in History and Philosophy of Science ( 1 99 1 ): 1, "Origins and De­ velopment", pp. 23 7-25 8; I I , "Refinements, Publica-

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BROAD, C[HARLIE) D[UNBAR)

tion, and Reception", p p . 373-397. G. Holton, "A Personal View of P W. B., Physicist and Philosopher", Methodology and Science, 26( 1 ) ( 1 993), 1 -5 . C: -

BRIGHTMAN, E [ DGAR) S[HEFFIELD) ( 1 8 841 952). Nascido em Holbrook, Massachusetts (EUA), foi professor da Universidade de Boston como sucessor de Bowne, deu continuidade aos ensinamentos de seu mestre, defendendo o personalismo (vER). Contudo, ao contrário de Bowne, B rightman reconheceu aspec­ tos do real que haviam sido negligenciados pelos per­ sonalistas das gerações anteriores e que ampliaram consideravelmente o quadro da experiência. A rigor, Brightman insistiu - especialmente em suas últimas obras - na riqueza das experiências humanas, riqueza devida ao fato de ser a própria realidade uma "reali­ dade reluzente", detentora de um sentido - ou, me­ lhor dizendo, de uma multiplicidade e riqueza de sen­ tidos -, que o homem deve empenhar-se em descre­ ver, compreender e explicar, em lugar de tentar "redu­ zi-lo" como se faz nas orientações exclusivamente cien­ tificistas. Brightman admitiu, no âmbito da corrente central personali sta que representa, alguns resultados de outras tendências contemporâneas (incluindo a fe­ nomenologia, a teoria dos valores, a filosofia do espíri­ to e da cultura, bem como o existencialismo). Caracte­ rística de sua posição filosófica é a afirmação de que a verdade tem uma forma total e orgânica e de que as ver­ dades "atômicas" ou parciais são insuficientes para explicar qualquer tipo de realidade. Também é típica da posição de Brightman a afirmação do caráter finito de Deus (vER), com o obj etivo de resolver o problema da existência do mal. :) Obras: The Sources of the Hexateuch, 1 9 1 8 . - An Introduction to Philosophy, 1 925; 3" ed., 1 963 , rev. por Robert N. Beck. - lmmortality in Post-Kantian Idea­ lism, 1 925 (Ingersoll Lecture). - Religious Values, 1 925. A Philosophy ofIdeais, 1 928. - The Problem of God, 1 930. - Moral Laws, 1 933. Personality and Religion, 1 934. The Future of Christianity, 1 937. - A Philosophy of Religion, 1 940. The Spiritual Life, 1 942. Personalism in Theology, 1 943 (Simpó­ sito em homenagem a A. C. Knudson). Nature and Values, 1 945. Person and Reality. An lntroduction to Metaphysics, 1 958 (póstuma, ed. Peter A. Bertocci em col. com Jeanette E. Newhall e Robert S. Brightman; com bibliografia). Bibliografia: J. E. Newhall, "Selected Bibliography of the Writings of E. S. B.", Philosophy Forum, 1 2 ( 1 954), 22-2 8 . Ver: F. H. Ross, Personalism and lhe Problem of Evil: A Study in the Personalism of Bowne, Knudson and B. , 1 940. - J. A. Martin, Empirical Philosophies of Religion, with Special Reference to Boodin, Bright­ man, Hocking, Maclntosh, and Wieman, 1 945. C: -

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BRINCKMANN, CARL. Ver fR1Es, JAKOB fRJEDRICH. BROAD, C [HARLIE) D [UNBAR) ( 1 887- 1 9 7 1 ) . Nas­ cido em Harlesden (Middlesex), estudou no Trinity Col­ lege e foi professor assistente em St. Andrews, professor da Universidade de Bristol, Fellow e Lecturer no Trinity College e, de 1 93 3 a 1 953, Knightbridge Professor de Filosofia Moral em Cambridge. No decorrer de seu ma­ gistério, preparou seus livros, quase todos, como confes­ sa, como resultado de seus cursos. Estreitamente associa­ do a McTaggart (vER), embora não partidário de sua fi­ losofia, editou seus escritos póstumos, tendo exposto e criticado detalhadamente seu pensamento. Broad traba­ lhou sobretudo nos problemas epistemológicos, tanto no sentido do neo-realismo (vER) como do extremo ana­ liticismo do chamado grupo de Cambridge, ao qual, no entanto, não pertenceu formalmente e do qual esteve afastado no que tange a vários pontos importantes. Para Broad, o realismo não é uma posição da qual se deva partir na teoria do conhecimento, mas o resultado de uma maior atenção aos dados empíricos tal como apre­ sentados pelo fenômeno da percepção (vER). Ora, com o realismo abre-se um campo de possibilidades para uma análise exaustiva da relação sujeito-objeto e, por meio disso, da constituição dos próprios obj etos. Uma fenomenologia da percepção, análoga às elaboradas por outros representantes da mesma tendência (T. Percy Nunn, Nonnan Kemp Smith, Cyril E. M. Joad, Henry H. Price etc.), mostra, com efeito, que entre as operações psíquicas do conhecer e o objeto "fisico" conhecido há um reino intermediário: os chamados - com um termo muito usado no pensamento inglês atual sensa. O problema da forma da relação dos sensa com o psíquico ou o fisico foi, portanto, o cavalo de batalha do pensa­ mento neo-realista inglês, pois da decisão referente à natureza dessa realidade depende a maior ou menor inclinação para o realismo ou para o idealismo. Ora, essas .1pecies que são os sensa reformularam não apenas o problema de sua relação com o existente, mental ou fisico, mas também o problema da própria natureza do existente. Tal problema foi resolvido por Broad num sentido que se orienta para domínios muito próximos do fenomenismo. Com efeito, mesmo a ontologia dos elementos da percepção se baseia numa descrição de cunho fenoménico, mas de um fenomenismo "ancora­ do", por assim dizer, nos próprios obj etos, que se produ­ zem continuamente com novas qualidades em virtude da evolução emergente que, assim como grande parte de seus colegas neo-realistas, Broad admitiu e desenvolveu. Daí a tendência de Broad a considerar os sensa como algo que depende, por sua qualidade, da operação mental e, por sua existência, do "mundo externo" Uma análise da relação neste último sentido conduz, além disso, a um esclarecimento do método da ciência natural que Broad elaborou com particular detalhe. No entanto, a fenomenologia da percepção não se detém nesta fase -

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- ela se prolonga com uma análise dos diferentes campos do sensorial, que somente permanecem unifi­ cados quando os diversos elementos se inserem na rea­ lidade quase orgânica do "acontecimento" O realismo fenomenista de Broad leva-o, assim, a uma ontologia dinamicista, e mesmo temporalista, para a qual acaba por desvanecer-se toda diferença entre o mental e o fisico, o espaço e o tempo, e em que a realidade está­ vel não passa da continuação temporal de uma "even­ tualidade", já que o "acontecimento" (event) é uma realidade fundamental que tem como característica pri­ mordial uma multiplicidade infinitamente rica de con­ teúdos concretos. :l Obras: Perception, Physics and Rea/ity, an lnquiry into the lnformation that Physical Science can supply about the Real, 1 9 1 4 . - Scientijic Thought, 1 923. The Mind and lts Place in Nature, 1 925. - The Philo­ sophy ofFrancis Bacon, 1 926. - Five Types of Ethical Theo1J1, 1 930. - Determinism, lndeterminism, and Li­ bertarianism, 1 934 (Aula inaugural em Cambridge). - Examination of Mc- Taggart '.ç Philosophy, l, 1 93 3 ; II (em 2 partes), 1 938. Ethics and the History ofPhi­ losophy, Selected Essays, 1 952. - Re/igion, Philosophy and Psychical Research, 1 95 3 . Human Personality and lts Survival, 1 955 [The Agnes E. and Constantine E. A. Foerster Lecture, 1 954] . - Personal ldentity and Survival, 1 95 8 [The Thirteenth Frederic W. H. Myers Memorial Lecture, 1 958]. - lectures on Psychical Research, 1 962 [The Perrott Lectures. Cambridge University, 1 959- 1 960] . lnduction, Probability and Causation: Selected Papers, 1 968. - Criticai Essays on Moral Philosophy, 1 97 1 , ed. David Cheney ( en­ saios, 1 9 1 4- 1 964). - Leibniz: An lntroduction, 1 975, ed. C. Lewy. - Kant: An lntroduction, 1 978, ed. C. Lewy. - Ethics, 1 985, ed. C. Lewy. Ver: M. Lean, Sense-Perception and Matter: A Cri­ ticai Analysis of C. D. Broad '.ç Theory of Perception, 1 95 3 . - Paul Arthur Schilpp, ed. , The Philosophy of C. D. B. , 1 959 (com colaborações de E. J. Nelson, S . Korner, 8. Blanshard, G. H. von Wright, H. H. Price et ai. , e com uma "Autobiography" [pp. 3-68] e um "A Reply to my Critics" [pp. 7 1 1 -830], além de bibliografia de 1 906 a 1 959, comp. C. Lewy [pp. 833-852]). - R. L . Patterson, The Philosophy of C. D. Broad, 1 959. C: -

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BROCENSE (O). Ver SÁNCHEZ DE LAS B RoZAS, FRANCISCO. BROCHARD, VICTOR. Ver RENOUVIER, CHARLES. B RO K M E Y E R, H E N RY C . [às vezes escrito 'Brockmeyer', como, por exemplo, no próprio Jour­ nal of Speculative Philosophy, 1 ( 1 867), 1 7 8, e XXI ( 1 8 87), 36, 1 5 1 ] ( 1 826- 1 906). Nascido na Alemanha, mudou-se para os Estados Unidos aos 17 anos, tendo estudado primeiramente na Nova Inglaterra, passando depois a Saint Louis. Entusiasta hegeliano, Brokmeyer

é considerado o fundador e a alma inspiradora da So­ ciedade Filosófica de Saint Louis ( VER) . Brokmeyer es­ creveu pouco; sua obra A Mechanic '.ç Diary foi publica­ da apenas postumamente ( 1 9 1 O). Em vida, publicou vários artigos no citado Journal e fez uma tradução da grande logik de Hegel. O começo da influência de Brokmeyer pode ser datado de 1 85 8 , quando travou amizade com Harris ( vER) , encontrando nele um ponto de apoio para a difusão do que foi o hegelianismo nor­ te-americano de Saint Louis. Brokmeyer pregou o he­ gelianismo quase como um profeta; considerando-a simultaneamente norma teórica e regra de ação, ele es­ tendeu a doutrina hegeliana a todos os aspectos da existência. O interesse de Brokmeyer pela ação política levou-o a participar da redação da constituição de Mis­ souri, de cujo governo, além disso, participou. :l Ver bibliografia do verbete SAINT Louis ( SOCIEDADE FILOSÓFICA DE ) . C: BRONSTEIN, B. Ver ARQUITETÔNICA. BROUWER, L [ UITZEN) E [ GBERTUS) J[AN) ( 1 8 8 1 - 1 966). Nascido em Overschie, perto de Rotter­ dam (Holanda), foi professor da Universidade de Ams­ terdã de 1 9 1 2 até sua aposentadoria, em 1 956. Devem­ se a Brouwer importantes trabalhos no domínio da to­ pologia, entre os quais se destaca sua prova, em 1 9 1 1 , da invariância do número de dimensões - sua fama, porém, assenta sobretudo em sua fundamentação e em seu desenvolvimento do intuicionismo ( vER) na mate­ mática, bem como na fundamentação e na filosofia da matemática. Brouwer submeteu a crítica certo número de idéias até então consideradas inalteráveis no âmbito da matemática e da lógica, tal como o princípio do ter­ ceiro excluído. Ele se opôs a praticamente toda a teoria dos conjuntos, de Cantor, assim como ao uso de provas não-construtivas. Contra os que procuraram encaixar a matemática na lógica, Brouwer preconizou o primado da matemática não apenas em relação à lógica, mas também em relação à linguagem. A noção de intuição matemática - próxima da fundamentação feita por Kant da aritmética na intuição do tempo como forma do sentido interno - levou Brouwer a um construtivis­ mo para o qual, grosso modo, uma "entidade" matemá­ tica ou uma prova matemática são aceitáveis apenas na medida em que são passíveis de construção. Brou­ wer desenvolveu detalhadamente diversos ramos da matemática - inclusive o conj untismo - do ponto de vista intuicionista, fundando com isso uma das três grandes escolas de filosofia matemática, na qual teve especial destaque seu discípulo Arend Heyting. A ma­ temática intuicionista é fundamentalmente uma mate­ mática "não-clássica" e, naturalmente, "não-logicista" As considerações filosóficas são muito importantes na fundamentação do intuicionismo matemático, mas são

361 igualmente importantes nas idéias d e Brouwer sobre a "ação matemática", na qual se funda a comunicação. :> Devem-se a Brouwer numerosos trabalhos publicados em várias revistas ( Tijdschrift voar Wijsbegeerte, MathematischeAnnalen etc.). Indicamos aqui apenas al­ guns desses trabalhos, principalmente livros, nos quais, além disso, são amiúde compilados trabalhos isolados: Leven, Kunst, en Mystiek, 1 905 ( Vida, arte e mística). - Over de grondslagen der wiskunde, 1 907 (tese) (So­ bre a fundamentação da matemática). - "Beweis der Invarianz der Dimensionzahl", Mathematische Annalen, 70 ( 1 9 1 1 ), 1 6 1 - 1 65 ("Prova da invariância do número de dimensões"). - lntuitionisme en Formalisme, 1 9 1 2, reimpresso em Wiskunde, Waarheid, Werkelijheid, 1 9 1 9 (Matemática, verdade, realidade). - "Begründung der Funktionslehre unabhii.ngig vom logischen Satz ausges­ chlossenen Dritten", Verhandelingen der Koninklijke Ne­ derlandse Akademie van Wetenschappen, série A, vol. 13 ( 1 923) ("Fundamentação da teoria das funções inde­ pendentemente do princípio lógico do terceiro excluí­ do"). - "Ueber die Bedeutung des Satzes vom ausges­ chlossenen Dritten in der Mathematik, insbesondere in der Funktionentheorie", Journalfiir die reine und ange­ wandte Mathematik, 1 54 ( 1 924), 1 -7 ("Sobre o signifi­ cado do princípio do terceiro excluído na matemática, especialmente na teoria das funções"). - "Zur Begrün­ dung der intuitionischen Mathematik", !, II, III, Mathe­ matische Annalen, 93 ( 1 924), 244-257; 95 ( 1 926), 453473 ; 96 ( 1 927), 45 1 -489 ("Para a fundamentação da ma­ temática intuicionista"). - Die Struktur des Kontinuums, 1 928. - "Consciousness, Philosophy, and Mathematics", Proceedings ofthe Tenth lnternational Congress ofPhi­ losophy (Amsterdã, 1 948), 1 949, pp. 1 235- 1 249. "Historical Background, Principies and Methods of In­ tuitionism", South African Journal ofScience, 49 ( 1 952), 1 39- 1 46. - "Points and Spaces", Canadian Journal of Mathematics, 6 ( 1 954 ), 1 - 1 7. - Brouwer s Cambridge Lectures on lntuitionism, 1 982, ed. D. van Dalen. Brouwer interessou-se também pelo movimento "signí­ fico" (ver SIGNÍFICA) de Gerrit Mannoury ( vER) : "Sy­ nopsis of the Signific Movement in the Netherlands", Synthese, 5 ( 1 946), 20 1 -208; "Address to Professor G. Mannoury", Synthese, 6 ( 1 947), 1 90- 1 94. Ed. de obras em inglês: Collected Works, ed. A. Heyting, 1 975 ss. Ver: H . Gerber, "Brouwer's Bar Theorem and A System of Ordinal Notations", em A. Kino, J. Myhill, R. E. Vesley, eds., lntuitionism and Proo/Theory, 1 970, pp. 327-3 3 8 . - W. P. Van Stigt, B. s /ntuitionism, 1 990 [Studies in the History and Philosophy ofMathematics, vol. 2]. Obras: Observations on the Nature and Tendency of the Doctrine ofMr. Hume concerning the Relation of Cause and Effect, 1 804; 3ª ed., com o título: An lnquiry into the Relation of Cause and Effect, 1 8 1 8 ; reimp. 1 977. - Lectures on the Philosophy ofthe Human Mind, 4 vols., 1 922, ed. D. Welsh, com biografia. Ver: David Welsh, Account of the Life and Writings o{Th. B. , 1 825. - François Rétroré, Critique de la phi­ losophie de Th. B. , 1 863 . - E. Kucera, Die Erkenntnis­ theorie von Th. B. , 1 909. - T. Martin, The Jnstructed Vision: Scottish Common Sense Philosophy and the Origins of American Fiction, 1 96 1 . - B. E. Rollin, "T. B.'s Criticism of Hume on Causation", Archivefür Geschichte der Philosophie, 5 1 ( 1 969), 85- 1 03 . - J. C. Robertson, "A Bacon-Facing Generation: Scottish Philosophy in the Early Nineteenth Century", Journal of the History of Philosophy, 1 4 ( 1 976), 3 7-49. - A. C. Rands, "T. B.'s Theories of Association and Percep­ tion as They Relate to His Theories of Poetry", Journal of A esthetics and A rt Criticism, 28 ( 1 970), 473-483 .

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BRUNER, JEROME S[EYMOURJ

- 1. A. Mills, "T. B.'s Theory of Causation, Journal of the History of Phi/osophy, 22 ( 1 984), 207-228 . Ver também bibliografia de ESCOCESA (ESCOLA). SeP no qual aparece claramente a seqüência das letras 'A' , ' E ' , ' E ' , origem do termo Calemes, na ordem PM­ MS-SP. CALKINS, MARY WHITON. Ver NEO-REALISMo; PERSONALISMO. CALOGERO, GUIDO ( 1 904- 1 986). Nascido em Roma, foi professor em Florença, Pisa e Roma, até sua apo­ sentadoria em 1 97 5 ; distinguiu-se por seus estudos de história da fi losofia e, especialmente, de história da lógica. Merece ser destacada a esse respeito sua inter­ pretação do eleatismo como uma transposição à onto­ logia do plano lógico. Do ponto de vista sistemático, Calogero é um dos principais representantes do grupo de fi lósofos italianos que, partindo do atualismo, con­ tribuiu para sua dissolução pelo desenvolvimento conse­ qüente das exigências internas do movimento. Com efeito, o atualismo ' clássico ' foi infiel, segundo Calo­ gero, à sua própria lei, confiando mais do que o devido em conceitos que não correspondiam a ele. De ime­ diato, ele operou com conceitos (gnosiológicos) que não eram de fato atualistas pela simples razão de que, de acordo com nosso filósofo, a gnosiologia depende da ontologia e da metafisica. Dissolvidas estas duas últimas, a dissolução da primeira mostra-se inevitável. Somente desse modo será possível atender às exigên­ cias que o atualismo da consciência suscita em vez de se deixar levar por falsas objetivações. Contudo, tal atua­ lismo significa que a consciência, não podendo obje­ tivar-se, tampouco pode se transformar em objeto de reflexão teórica. Portanto, o teórico acaba cedendo ter­ reno ao prático; um autonomismo prático absoluto, que é algumas vezes um "moralismo absoluto" e outras vezes um "pedagogismo absoluto", representa a culmi­ nância dessa filosofia do ato puramente vivido. Deve­ se observar, porém, que isso não desemboca no desa­ parecimento da filosofia como conjunto sistemático, pois Calogero procurou j ustamente refazer esse con­ junto, ainda que sobre novas bases. � Obras: !Jondamenti della logica aristotelica, 1 927, 2ª ed., 1 968. - Studi sul! 'eleatismo, 1 932, 2ª ed., 1 977. Compendio di storia dei/a filosofia, 3 vols., 1 93 3 ; 2ª ed. , 1 936. La .filosofia e la vita, 1 936. La logica dei giudice e il suo contrai/o in Cassazione, 1 93 7. - La conclusione della filosofia dei conoscere, -

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CALVINO, JOÃO [JEAN CALVIN 1 93 8 ; 2ª ed., 1 960. - La scuola dell 'uomo, 1 939; 2ª ed., 1 956. - ll metodo deli 'economia e il marxismo, 1 944. - Difesa dei liberalsocialismo con alcuni docu­ menti inediti, 1 94 5 ; 2ª ed., 1 972. La democrazia ai bivia e la terza via, 1 945. L'abbiccí della demo­ crazia, 1 946. - Lezioni di filosofia, 3 vols. (!, Logica, gnoseologia, ontologia, 1 948; II, Etica, giuridica, po­ litica, 1 946; III, Estetica, semantica, istorica, 1 94 7 ) . - Saggi di etica e di teoria dei diritto, 1 947. - La filosofia di Bernardino Varisco, 1 950. - Logo e dia­ logo, 1 950. - Scuola sotto inchiesta, 1 95 7 ; 2ª ed., 1 96 5 . - Filosofia dei dialogo, 1 962. - Storia della logica antica, !: L'età arcaica, 1 967. Quaderno laico, 1 967. - Le regale delia democrazia e le ragioni dei socialismo, 1 968. - Scritti minori di filosofia antica, 1 984. Ver: Renzo Raggiunti, Logica e ling·uistica nel pen­ siero di G. C. , 1 963. - G. Sasso, "L' esegesi parme­ nidea di G. C.", La Cultura, 1 98 8 , pp. 1 89-2 8 5 . Obras: À fase dogmática pertencem: Seis temas de espírito moderno, 1 94 1 . - Descartes e Bergson, 1 943. - À fase crítica: Elementos de metodologia filosófica, 1 956 Gá concluído em 1 949 e depois revisado). - À fase sistemática: Introdução à filosofia cientifica, 1 956. - Ensaios filosóficos, 1 957. - Estética da crí­ tica, 1 963. - Teoria da decisão filosófica (Bases psi­ cológicas da Matemática, da Lingüística e da Teoria do Conhecimento), 1 977. C: CANO, MELCHIOR (ca. 1 509- 1 560). Nascido em Tarancón, estudou na Universidade de Salamanca e no Colégio de São Gregório de Valladolid, onde, além disso, lecionou de 1 536 a 1 542. Em 1 542, ganhou a cátedra de prima de teologia na Universidade de Alca­ lá, e, em 1 546, da mesma disciplina na Universidade de Salamanca. Durante os anos de 1 5 5 1 e 1 5 52, inter­ veio nas deliberações do Concílio de Trento. Em 1 523, tinha ingressado na Ordem dos Pregadores, da qual foi Provincial. Obras: Devem-se a Cano, além de uma obra ascé­ tica intitulada Tratado de la victoria de sí mismo e impressa em 1 550, vários escritos procedentes de con­ ferências ou relectiones: De sacramentis in genere, De poenitentiae sacramento. Sua obra capital e mais in­ fluente é, contudo, o tratado intitulado De toeis theolo­ gicis, publicado pela primeira vez em Salamanca no ano de 1 563 . Trata-se de fazer com a teologia o mesmo que Aristóteles fez nos Tópicos com a filosofia ou o pensamento em geral: expor os "lugares" (/oci) nos quais se acham os argumentos mais apropriados para demonstrar as verdades reveladas. O tratado de Cano divide-se em catorze livros; do ponto de vista filosófi­ co, são especialmente importantes os onze primeiros. No decorrer desses l ivros, Cano examina dez fontes de autoridade para desenvolver os argumentos antes in­ dicados. São as seguintes: as Sagradas Escrituras nos

CÂNON

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livros canônicos; as tradições apostólicas; as decisões da Igreja; as definições conciliares; as declarações da Igreja; os ensinamentos dos Santos Padres; as doutrinas dos doutores escolásticos; as doutrinas dos canonistas; a razão natural; os ensinamentos da história. Nem todas essas fontes possuem o mesmo valor demonstrativo; além disso, convém saber empregá-las. O exame de seu uso correto constitui justamente o eixo do tratado de Cano, que desenvolveu assim uma lógica, uma metodo­ logia e uma epistemologia do conhecimento teológico. :> Ver: Fermín Caballero, Vida dei limo. Melchor Cano, 1 87 1 . - A.-M. Jacquin, O. P. , "Melchior Cano et la théologie moderne", Revue des sciences philosophi­ ques et théologiques, 9 ( 1 920), 1 2 1 - 1 4 1 . - A. Lange, Die Loci theologici des Melchior Cano und die Me­ thode des dogmatischen Beweises, 1 92 5 . M. Sola­ na, Historia de la filosofia espafio/a. Época dei Rena­ cimiento (Siglo XVI), t. III, 1 94 1 , pp. 1 3 1 - 1 50 . E. Marcotte, L a nature de l a théo/ogie d 'aprés M. C. , 1 949. Ver também bibliografia de LUGAR. C: -

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CÂNON. No verbete CANÔNICA, referimo-nos à obra que Diógenes Laércio atribuiu a Epicuro: O Cânon. O termo 'cânon' foi usado em filosofia em outras oca­ siões. Destacaremos quatro delas: 1) Como indica C . Prantl (Geschichte, II, 275), o filósofo bizantino M iguel Psellos empregou o vocábu­ lo 'cânones' (Kavóves ) em sua Sinopse do Organon de Aristóteles (Mich. Psel/i Synopsis Org. A rist. , ed. Ehinger, I, 8, p. 3 3 ) para designar quatro regras que regem a eqüipolência das proposições categóricas, iaoBvva µoiiaai irp0Táae1s. 2) Kant introduziu o termo ' cânon ' n o cap. I I da Metodologia transcendental que figura na Crítica da Razão Pura. Ele entende por 'cânon' os princípios a priori do reto entendimento de certas faculdades de conhecimento. A lógica geral, por exemplo, é, enquan­ to analítica, um "cânon formal" para as faculdades do entendimento e da razão. No mesmo sentido, a Analí­ tica transcendental se propõe a ser um cânon do enten­ dimento puro, já que somente este é considerado capaz de enunciar conhecimentos sintéticos verdadeiros a priori. Kant observa que não pode existir nenhum cânon quando não é possível empregar de modo reto a faculda­ de do conhecimento. E, como se mostrou na parte an­ terior dessa Crítica que o conhecimento sintético da ra­ zão pura especulativa é impossível, deve-se declarar que não pode existir nenhum cânon para o exercício especu­ lativo dessa faculdade (um exercício especulativo mera­ mente dialético). A conclusão é que a lógica transcen­ dental é apenas uma disciplina e não um cânon, e que o único modo correto de usar a faculdade da razão pura e de ter um cânon dessa faculdade é o uso prático da razão, e não o uso especulativo. 3) No Livro III (Sobre a indução), capítulo viii, de sua Lógica, J. Stuart Mill propõe cinco métodos

para a investigação experimental: o método de concor­ dância (VER) , o de diferença (vER), o de combinação de concordância e diferença ( vER), o de resíduos ( VER) e o de variações concomitantes (VER). Cada método tem um cânon que constitui seu princípio regulador. O primeiro cânon (para o método de concordância) diz o seguinte: "Se dois ou mais casos do fenômeno que se investiga possuem apenas uma circunstância em comum, a circunstância única na qual concordam é a causa (ou o efeito) do fenômeno dado" O segun­ do cânon (para o método de diferença) diz o seguinte: "Se um caso no qual ocorre o fenômeno que se inves­ tiga e um caso no qual não ocorre o fenômeno que se investiga possuem todas as circunstâncias em comum exceto uma, que tem lugar unicamente no primeiro, a circunstância única na qual diferem os dois casos é o efeito, ou a causa, ou uma parte indispensável da causa do fenômeno" O terceiro cânon (para o método combinado de concordância e diferença) diz o seguin­ te: "Se dois ou mais casos nos quais ocorre o fenô­ meno possuem somente uma circunstância em comum, enquanto dois ou mais casos nos quais não ocorre o fenômeno não possuem nada em comum exceto a ausência de tal circunstância, a circunstância única na qual os dois grupos de casos diferem é o efeito, ou a causa, ou uma parte indispensável da causa do fenô­ meno" O quarto cânon (para o método de resíduos) diz o seguinte: "Subtraia-se de qualquer fenômeno a parte que, segundo induções prévias, constitui o efeito de certos antecedentes e resultará que o resíduo do fenômeno é o efeito dos antecedentes restantes" O quinto cânon (para o método de variações concomi­ tantes) diz o seguinte: "O fenômeno que varia de al­ gum modo enquanto outro fenômeno varia em algum aspecto particular é ou a causa ou o efeito desse fenô­ meno, ou está relacionado com çle mediante algum fato de índole causal" Para mais detalhes, ver os verbetes CONCORDÂNCIA (MÉTODO DA ) ; DIFERENÇA (MÉTODO DA ) ; CONCORDÂN­ CIA E DIFERENÇA (M ÉTODO DA ) ; VARIAÇÕES CONCOMITAN­ TES (MÉTODO DAS ) . 4) Ogden e Richards propuseram seis cânones do simbolismo para resolver os problemas suscitados pela relação entre os símbolos e os referentes; resumimos esses cânones no verbete "Símbolo e simbolismo" (vER) . CANÔNICA. Como vimos no verbete sobre Epicuro, este filósofo dividia a filosofia em três partes: canô­ nica, tisica e ética TO KOVOVIKÓV Ka\ cpvmKOV Ka\ fjSiKóv (Dióg. Laérc., X, 29-30). A canônica cons­ tituía, segundo Diógenes Laércio, a introdução à filo­ sofia e estava contida numa obra especial de Epicuro denominada O Cânon. Ao que parece, essa obra se ocupava sobretudo das questões de teoria do conheci­ mento - a origem de nossas sensações pelas imagens -

395 (ver IMAGEM) , os diferentes tipos de conhecimento etc. - a que nos referimos no verbete sobre Epicuro to­ mando por base a Carta do filósofo sobre a fisica a seu amigo Heródoto, carta contida em D. Laércio, X, 34-82 (cf. H. Usener, Epicurea, pp. 1 -32). Como vi­ mos, quase toda a teoria do conhecimento se baseava em considerações de caráter psicológico. Mas, como o estudo do organismo fisiológico era por sua vez uma parte da fisica, não surpreende ler em Diógenes Laér­ cio (X, 37-38) que as doutrinas de Epicuro se dispu­ nham de forma que a canônica era combinada com a fisica. Por isso, alguns autores (Cícero, De jin. , l, vii, 22) falam que as partes em que os epicuristas dividem a filosofia são apenas duas: a fisica (incluindo, pois, a canônica) e a ética. Esta opinião, porém, parece descre­ ver melhor as tendências racionalistas (o próprio Epi­ curo, Lucrécio) que as tendências empiristas (Filodemo de Gadara) dentro da escola. Com efeito, os epicuris­ tas de inclinação empírica dedicaram muito mais aten­ ção que os de tendência racionalista aos problemas de caráter propriamente epistemológico (unidos a outros problemas de caráter lógico), de modo que a canônica devia aparecer entre eles como um estudo especial, devendo desempenhar, portanto, um papel mais funda­ mental do que aquele que tivera Epicuro. Para a Canônica no sentido de Adrien Naville, ver CIÊNCIAS ( CLASSIFICAÇÃO DAS ) . CANTONI, CARLO. Ver NEOKANTISMO. CANTOR, GEORG ( 1 845- 1 9 1 8). Nascido em São Petersburgo, mudou-se para a Alemanha, com seus pais, aos 1 1 anos. Estudou na Universidade de Berlim com Karl Weierstrass, doutorando-se em 1 867. Apresentou sua "dissertação inaugural" na Universidade de Halle ( 1 869) e foi "professor assistente" ( 1 872- 1 879) e pro­ fessor titular (a partir de 1 879) na mesma Universidade. Cantor é o criador da teoria dos conj untos, cujas características básicas apresentamos no verbete CON­ JUNTO, que deve ser complementado com vários outros verbetes, como, por exemplo: CoNTÍNuo; CONTÍNUO ( HiróTESE oo) ; INFINITO; NUMERÁVEL. A teoria cantoriana dos conj untos suscitou grande oposição por parte de alguns matemáticos, entre os quais se destacou Leopold Kronecker. Os ataques deste e de outros matemáticos, e os esforços de Cantor para solucionar alguns problemas da teoria - especialmen­ te o problema do contínuo -, arruinaram sua saúde e paralisaram seu trabalho. A teoria cantoriana dos conjuntos provocou muitos debates entre matemáticos, lógicos e filósofos, que se dividiram às vezes em "in­ finitistas" ("cantorianos") e "finitistas" ("anticanto­ rianos"). David Hilbert foi um dos que abraçaram com mais entusiasmo o "paraíso" que Cantor abrira. Uma parcela bastante considerável da matemática e

CAPADÓCIOS da lógica do século XX fundou-se na noção cantoriana de conjunto, que foi amplamente aprimorada, especial­ mente por meio das teorias axiomáticas de que falamos em CONJUNTO. :> Obras: Grundlage einer Mannigfaltigkeitslehre, 1 8 83 (Fundamento de uma teoria da pluralidade). Beitriige zur Begründung der transfiniten Mengenleh­ re, 2 vols., 1 88 5 - 1 892 (Contribuições para a funda­ mentação de uma teoria de conjuntos transfinitos). Edição de obras: Gesammelte Ahhandlungen ma­ thematischen und philosophischen Inhalts. Mit erliiu­ ternden Anmerkungen sowie mil Ergiinzungen aus dem Briefwechsel Cantor-Dedekind, 1 932, ed. E. Zermelo; reimp. , 1 962. - A correspondência com Dedekind ed. por E. Noether e J. Cavailles, 1 93 7 . Ver: H. Meschkowski, Probleme des Unendlichen. Werke und Leben G. C.s, 1 967. - J. A. Faris, Plato 's Theory ofForms and Cantor 's Theory ofSets, 1 968. J. W Dauben, G. C. : His Mathematics and Philosophy of the Infinite, 1 979. - W Purkert, H . J. I lgauds, G. C. , 1 98 5 . - M . Tiles, The Philosophy of Set Theory: A n Historical Introduction to Cantor 's Paradise, 1 989. C: CAPADÓCIOS. Dá-se este nome aos três teólogos: São Basílio Magno, São Gregório de Nissa e São Gre­ gório de Nazianzo. Nos verbetes dedicados a eles, mencionamos suas principais doutrinas filosóficas e teológicas. Limitar-nos-emos aqui a destacar que a im­ portância dos Capadócios - os "três grandes Capa­ dócios" - na história da filosofia consiste essencial­ mente em seu trabalho de esclarecimento e purificação da dogmática teológica no âmbito da qual se inseriu mais tarde o pensamento cristão católico. Contra o ex­ cessivo racionalismo que se infiltrava em algumas das seitas (como o arianismo) e reduzia o valor da fé em beneficio de uma compreensão metafisica dos dogmas, e contra a ênfase exclusiva na pura crença, que descar­ tava toda explicação racional, os Capadócios procura­ ram trilhar um caminho intermediário que fizesse jus­ tiça à fé e à compreensão pela razão dentro das possi­ bilidades do homem. Além disso, os Capadócios particularmente São Gregório de Nissa - desenvolve­ ram motivos místicos que exerceram grande influência sobre a mística medieval. Especialmente importantes, no que diz respeito à influência exercida sobre a Idade Média, são as idéias dos Capadócios acerca da Nature­ za como obra harmoniosa criada por Deus. O nome ' Capadócios' se deve ao lugar de nascimento de São Basílio Magno e de São Gregório de Nissa (Cesaréia, Capadócia), e ao lugar de nascimento de São Gregório de Nazianzo (Arianza, em Nazianzo, Capadócia). :> Além da bibliografia dos três Capadócios, ver: H. Weiss, Die grossen Kappadozier Basilius, Gregor von Nazianz und Gregor von Nyssa ais Exegeten, 1 872. !d., Die Erziehungslehre der drei Kappadozier, 1 903. -

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CAPELLA K. Unterstein, Die natürliche Gotteserkenntnis nach dff Lehre der kappadozischen Kirchenviiter Basilius, Gre­ gor von Nazianz und Gregor von Nyssa, 1 902- 1 903. C. Gronau, D e Basilio, Gregorio Nazianzano Nysseno­ que Platonis imitatoribus, 1 908. - J. Maier, Die Eucha­ ristienlehre der drei grossen Kappadozier, 1 9 1 5 . - C: Gronau, Das Theodizeeproblem in der altchristlichen Aufjàssung, 1 922. - Bruno Salmona, lljilosofàre nei /uminari di Cappadocia, 1 974. C -­

CAPELLA. Ver MARCIANO CAPELLA. CAPREOLO, JO Ã O. Ver JoÃo CAPREOLO. CARABELLESE, PANTALEO ( 1 877- 1 948 ) . Nasc i­ do em Molfetta (Bari), discípulo de Varisco, centrou seu pensamento fi losófico no problema do concreto, isto é, da consciência concreta, o que o levou a trans­ formar o idealismo crítico de Varísco num ontologismo crítico. Carabellese partiu de uma anál ise da consciên­ cia segundo a qual o ambiente da consciência não é o "mundo'', mas a própria consciência. Essa consciên­ cia não deve ser entendida, porém, como uma realidade que absorve as demais e as transforma à sua imagem e semelhança; a consciência se move dentro de um ambiente comum a todas as consciências, situado para aquém de suas determinações individuais ou históri­ cas particulares. O ambiente comum, por outro lado, é essencialmente concreto, e por isso uma dialética Obras: A lista de obras de Caramuel figura em sua Mathesis biceps vetus et nova ( 1 670), classificadas em libri hispanici (como a Declaración mística de las armas de Espaíia, 1 6 1 9, e a Arte nueva de Música, 1 669) e /ibri /atini. Estes últimos incluem /ibri crilici & eniditi, que tratam de filosofia, teologia, astronomia, matemática etc. Entre os livros mais propriamente fi­ losóficos (e teológicos), mencionamos: Rationalis et realis ph i/osophia ( 1 642). - Th eo/ogia mora/is ( 1 643). - Mathesis audax rationa/em, natura/em, su­ pernatura/em, divinamque sapientiam, arithmeticis, geometricis, catoptricis ( ) jimdamentis substniens ex­ ponensque ( 1 644 ). - Theo/ogia fundamenta/is ( 1 65 1 , 1 656 e 1 657). Severa argumentandi Methodus ( 1 643, 1 644 e 1 654). - Meta/ogica [Progreditur ultra Logicae metas, & ex Para//e/ismis ad res Physicas resolvi! Quaestiones de Forma/itatibus} ( 1 654). Grammatica audax ( 1 65 1 ). - Herculis Logici labores Ires (1654). - Apparatus philosophicus ( 1 657 e 1 665). - Theo/ogia (lege, Philosophia) rationa/is; cujus par­ tes sunt Logica Vaca/is, Scripta, Menta/is: Recta, Obli­ qua ( 1 654). - Theo/ogiafimdamentalis ( 1 65 1 , 1 656 e 1 657). - Teologia intentionalis ( 1 654). - Paradoxium Physico-Ethicum, cujus Tomi sunt tres: Primus. Logi­ cam rea/iter, & moraliter examinai ( 1 668); Secundus. Philosophiam, Jurispntdentiam, Astronomian, Medici­ nam & c. rea/iter e/ mora/iler, discuti! (s/d); Tertius. Theo/ogiam analogia serva/a realiter, & moraliter ex­ hibet (s/d). - Mathesis biceps vetus et nova, 2 vols. ( 1 670) (!. Vetus. I I . Nova). Caramuel manteve correspondência com sábios e filósofos ( cf. a esse respeito: R. Ceifai, S. J., "J. C. Su epistolario con Atanasio Kircher, S. J.", Revista de Filo­ sofia, 1 2 [ 1 953], 1 02- 1 47). - A observação de A. Pastore em: "G. C. di L. e la teoria della quantificazione dei predicato", Rivista C/assici e Neolatini ( 1 905). Bibliografia: Ignacio Angelelli, "!. C. de L.: A Bio­ Bibliographical Note", Teorema, 6 ( 1 976), 5 1 3-5 1 7. ..

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Ver: D. Pastine, J C.: Probabilismo ed Enciclo­ pedia, 1 975. - A. Bemardini, "Un redescubrimiento dei probabilismo ético dei siglo XVII", Revista de Filosofia (Costa Rica), 1 5 ( 1 977), 6 1 -72. - P. Ballazzi, J C. , - 1 982. - J. Velarde, "La filosofia de J. C.", E! Basilisco, 1 5 ( 1 983), 1 0-43 . C: CARÁTER. O termo 'caráter' significa marca ou nota que assinala um ser e que por isso o caracteriza diante de todos os outros. Em princípio, o caráter pode ser aplicado, pois, a todo ente, mas desde muito cedo, em especial com Teofrasto, aplicou-se o termo aos seres humanos. Ele foi tornado no mesmo sentido por muitos escritores, particularmente por aqueles que, a partir da situação de sua época, quiseram revalorizar a doutri­ na dos caracteres de Teofrasto: La Bruyere ( 1 6361 696) é, com sua obra Les Caracteres, o exemplo mais freqüentemente citado dessa tendência. Identifi­ ca-se às vezes 'caráter' com ' temperamento ' , porém mais freqüentemente se estabelece uma distinção entre eles. Neste último caso, costuma-se indicar que, en­ quanto o primeiro se refere a todas as notas distintivas, o segundo é o que resulta de alguma forma de "mes­ cla" Essa "mescla" era considerada em termos clássi­ cos como a que ocorre nos humores do corpo dentro de cada indivíduo. Assim, desde H ipócrates se distin­ guiam os indivíduos segundo o predomínio de um dos quatro humores: sangue, fleuma, bílis e atrabílis que dava origem aos temperamentos sangüíneos, fleu­ máticos, biliosos e melancólicos. A doutrina dos tem­ peramentos é considerada hoje do ponto de vista da análise e da descrição do tipo ( vER) psicológico. Ao mesmo tempo, ela se inseriu como um dos elementos da ciência dos caracteres ou caracterologia. Esta última procede sobretudo de Julius Bahnsen ( vER) , que tomou sua doutrina caracterológica principalmente de Scho­ penhauer e F. Paulhan. Contudo, já Ribot e John Stuart Mill, e mesmo antes Herbart, tinham investigado o pro­ blema de um ponto de vista muito semelhante. Na atualidade, a caracterologia não se limita, em geral, à descrição dos diferentes caracteres individuais, mas procura estabelecer, além de uma classificação siste­ mática dos caracteres de um ponto de vista psicofisio­ lógico, um estudo das influências que os determinam, desde a constituição orgânica até a tradição histórica. A caracterologia utiliza, pois, um grupo de ciências, e se, por um lado, parece ser um mero capítulo da psi­ cologia geral, por outro - especialmente quando leva em conta o conjunto de influências efetivas e possí­ veis - ultrapassa o quadro da psicologia. Para Kant, o caráter é uma lei de causalidade da causa eficiente. Pode-se distinguir um caráter empírico e um caráter inteligível. O primeiro é uma manifesta­ ção do último, e por isso o caráter empírico é designa­ do também como caráter fenomenal, isto é, como ca-

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CARBONARA, CLETO ráter cuj as ações são inteiramente dependentes de outros fenômenos de acordo com leis naturais constan­ tes. O caráter inteligível, em contrapartida, é aquele pelo qual o ser considerado é causa de suas próprias ações, sem que possa ser avaliado como fenômeno. Uma doutrina análoga é sustentada por Schopenhauer. que considera que o caráter inteligível é um ato volun­ tário inteiramente livre, situado além de toda feno­ menalidade de tempo e de espaço, além de todo mero operar, visto que se trata, em última análise, de um ser. :> As obras consideradas precursoras da caractero­ logia contemporânea são as seguintes : Julius Bahnsen, Beitriige zur Charakterologie, mil besonderer Beriick­ sichtigung piidagogischer Fragen, 2 vols., 1 867. - F. Paulhan, Les caracteres, 1 89 1 . !d. , Les mensonges du caractere, 1 905. - Para a caracterologia em geral, ver: Ludwig Klages, Prinzipien der Charakterologie, 1 9 1 O. - Emil Utitz, Charakterologie, 1 92 5 . - Lud­ wig Klages, Zur Ausdruckslehre und Charakterkunde. Gesammelte A bhandlungen, 1 927. - !d. , Personlich­ keit. Einfiihrung in die Charakterkunde, 1 927. - Th. Ziehen, Die Grundlagen der Charakterologie, 1 930. - Hans Prinzhorn, Charakterkunde de Gegenwart, 1 93 1 . - Hubert Rohracher, Kleine Einfiihrung in die Charakterologie, 1 934. - Paul Helwig, Charaktero­ logie, 1 936. - R. Heiss, Die Lehre vom Charakter, 1 936; 2ª ed., 1 949. - A. Kriekemans, Moderne Cha­ rakterologie, 1 943. René Le Senne, Traité de carac­ térologie, 1 945. E. Mounier, Traité du caractere, 1 946 (reimp. em Oeuvres, II, 1 96 1 . - J. Bourjade, Principes de caractérologie, 1 959. - Roger Mucchiel­ li, la caractérologie à / 'âge scientifique. Essai sur /es méthodes et les limites de la caractérologie, 1 96 1 . Sobre a relação entre caráter e temperamento, ca­ ráter e estrutura corporal, caráter e destino, caráter e escritura etc . : A. Fouillée, Tempérament et caracteres selon les individus, les sexes et les races, 1 895. Ernst Kretschmer, Korperbau und Charakter, 23" e 24ª eds., 1 96 1 . G. Ewald, Temperament und Charak­ ter, 1 924. - Ludwig Klages, Handschrift und Cha­ rakter, 1 932. Hermann Nohl, Charakter und Schick­ sal. Eine piidagogische Menschenkunde, 1 93 8 . - Ru­ dolf Thiele, Person und Charakter, 1 940. - M . Ver­ dun, Le caractere et ses corrélations, 1 , 1 950. - G. Berger, Traité pratique d 'analyse du caractere, 1 950. !d. , Caractere et personalité, 1 954; 2ª ed., 1 956. - G. Pittaluga, Temperamento, carácter y personalidad, 1 954; 2ª ed., 1 95 8 . - F. Schoeman, ed., Respon­ sibility, Character, and the Emotions: New Essays in Moral Psychology, 1 987. Sobre formação pedagógica do caráter, além do citado livro de Nohl : Georg Kerschensteiner, Charakter und Charakterbildung, 1 9 1 5 . - G. F. McLean et ai. , eds., A ct and Agent: Philosophical Foundations for Moral Education and Caracter Development, 1 986. -

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- T. Van Doan, V. Shen, G. F. McLean, eds., Chinese Foundations for Moral Education and Character De­ velopment, 1 99 1 . Sobre formação moral do caráter: S . Hauerwas, Character and the Christian life: A Study in Theo­ logical Ethics, 1 975. - 8. A. Sichel, Moral Educa­ tion: Character, Community, and Ideais, 1 98 8 . - O. Flanagan, ed., Identity, Character, and Morality: Essays in Moral Psychology, 1 990. Sobre natureza e teoria do caráter: Paul Hiiberlin, Der Charakter, 1 925. - Hartshorne e May, Studies in the Nature of Character, 1 , 1 928. - G. Thibon, La théorie du caractere, 1 93 3 . - W Boven, Introduction à la caractérologie, 1 94 1 . - Josef Becker, Einfiihrung in die Charakterkunde, 1 94 7. - J. Budzizsewski, The Resurrection of Nature: Political Theory and the Human Character, 1 986. - J. Kupperman, Character, 1 99 1 . Sobre o caráter empírico: C . Prat, Le caractere empirique et la personne, 1 906. Sobre tipologia caracterológica, ver a bibliografia no verbete T1Po; além disso: Ph. Lersch, Charaktero­ logische Typologie, 1 934. Obras: Disegno d 'una filosofia critica deli 'espe­ rienza pura, 1 93 8 . La .filosofia di Plotino, 2 vols., -

3 99 1 93 8 - 1 939. - II seco/o XV, 1 943. - Dei belo e deli 'arte, 1 944. - Introduzione alia filosofia, 1 946. - Materialismo storico e idealismo critico, 1 94 7 . Sviluppi e problemi dell 'estetica crociana, 1 947. Ga/ilei, 1 949. - La filosofia greca, 2 vols., 1 95 1 ; 2ª ed. do vol. 1, 1 969; 2ª ed. do vol. II, 1 967. - Ricerche per un 'estetica dei contenuto, 1 960. - L'estetica dei particolare di G. Lukács, 1 960. - L 'estetica dei par­ ticolare di G. Lukács e G. della Vo/pe, 1 96 1 . - La vila e i/ pensiero di Galileo Galilei, 1 963. - L'espe­ rienza e la prassi, 1 964. - Renato Cartesio, 1 965. - L'estetica filosofica di A. Banfi, 1 966. - Hegel e Marx nella polemica dei diritto pubblico, 1 967. La filosofia dell 'esperienza e lafondazione dell 'Uma­ nesimo, 3ª ed., 1 969. - Saggi di storiografia e criti­ ca filosofi.ca, 1 972. - Pensatori moderni, 1 972. Discorso empirico dei/e arti, 1 973. Edição de obras: Publicaram-se as obras mais preeminentes de C . G. numa coleção de 6 vols . : !-IV, 1 973; V, 1 972; VI, 1 974. Os volumes mais importantes do ponto de vista sistemático são : 1 (que inclui o Disegno) e VI (L'empirismo come filosofia deli 'espe­ rienza; Pensiero e realtá). Depoimento: "La filosofia dell'esperienza", em La filosofia contemporanea in /ta/ia, 1 958, pp. 1 67- 1 83 . Ver: Vários autores, L a filosofia deli 'esperienza di C. C. , 1 966, ed. G. Mariano e A. Masullo (com bibliografia). C: CARDANO, GIROLAMO [Hyeronimus Cardanus] (ca. 1 50 1 - 1 576). Nascido em Pavia, distinguiu-se por seus trabalhos matemáticos. No âmbito da filosofia, defendeu uma concepção organológica, hilozoísta e panteísta do mundo, influenciada por diversas corren­ tes do Renascimento (principalmente por Nicolau de Cusa), assim como pelo neoplatonismo e pelo neopi­ tagorismo. Cardano unia a essa concepção, que supu­ nha a existência de uma alma do mundo, um mecani­ cismo pan-matemático e uma teoria do saber, segundo a qual este é próprio apenas de uma minoria i lustrada, cética e crítica, diante da qual uma maioria deve ser mantida, por conveniência social e pol ítica, na credu­ lidade e na ignorância. Tal como Taurellus, e por mo­ tivos análogos, Cardano supunha que o conhecimento verdadeiro das coisas pode ter lugar, em última análi­ se, mediante a união extática com Deus e o mundo inteligível, porém esta união não suprimia, mas impli­ cava, um domínio da Natureza e das coisas, demons­ tração do nível singular e elevado que o homem, al­ guns homens, ocupavam na hierarquia do mundo. :> Obras: De vila prapria, 1 542. - Ars magna, 1 545 [introduzindo números negativos]. - De subtilitate rerum, 1 5 52. - De varietate rerum, 1 5 56. Edição de obras : Opera Omnia, Lyon, 10 vols., 1 663; reimp., 1 966.

CARDILLO DE VILLALPANDO, GASPAR Ver: Salvatore Fimiani, Note ed appunti su la cul­ tura filosofica dei rinascimento. G. Cardano, la vila e !e opere, 1 904. - E. Rivari, La mente di Giro/amo Cardano, 1 906. - A. Simili, G. Cardano nella fuce e nel/ 'ombra dei suo tempo, 1 94 1 (com bibliografia). - Ore Oystein, Cardano, the Gambling Scholar, 1 953 (com tradução do tratado de Cardano sobre os j ogos, introdução e notas). - Markus Fierz, G. C. , Artz, Naturphilosoph, Mathematiker, Astronom und Traum­ deuter, 1 977. C: CARDEAL CAJETANO. Ver CAJETANO (CARDEAL) . CARDILLO DE VILLALPANDO, GASPAR ( 1 5271 5 8 1 ). Nascido em Segóvia, estudou teologia na Uni­ versidade de Alcalá de Henares. Depois de participar ativamente do Concílio de Trento (anos de 1 562 e se­ guintes), foi nomeado ( 1 575) Cônego da Colegial Complutense dos Santos Justo e Pastor. Cardillo de Villalpando distinguiu-se por suas exposições de obras de Aristóteles e por seus minuciosos comentários a elas, especialmente das obras sobre questões lógicas, dialéticas e fisicas. Em seus comentários às Catego­ rias, defendeu uma concepção do ente como equívoco e não-equívoco ou analógico, mas isso não impede, a seu ver, que o ente seja objeto da filosofia primeira. "O ente é equívoco - comenta Marcial Solana (cf. infra) - ab uno atque ad unum, isto é, referindo-se todos os predicamentos a um deles: os acidentes à subs­ tância." Cardillo ocupou-se também da questão da imor­ talidade da alma, recorrendo a argumentos extraídos de Aristóteles para demonstrá-la. :> Obras: Commentarii in quinque voces Porphirii, 1 5 57. - Summula Summularum, 1 5 57. - Isagoge sive Introductio in Aristotelis Dialecticam, 1 5 57. Commentarius in libras de Priori Resolutione A risto­ telis, 1 5 57. - Commentarius in libras Aristote/is de Posteriori Resolutione, 1 5 5 8 . - Commentarius in Ca­ tegorias Aristotelis una cwn questionibus in easdem, 1 558. - Commentarius in librum Periherrneneias Aris­ tote/is, 1 5 5 8 . - Summa Dialecticae A ristoteleae, 1 5 5 8 . - Commentarius in Aristotelis Topica, 1 5 59. - Apologia Aristotelis adversus eos qui aiunt sensisse animam cum corpore extingui, 1 560. - Commentarius in octo libras Physicorum A ristotelis, 2 vols., 1 566. - Disputationes adversus Protestationem triginta quatuor haereticorum A ugustae Confessionis, 1 568. - Commentarius in quatuor libras A ristotelis de coe­ /o, 1 568 ( 1 576). - Commentarius in duas libras Aris­ totelis de ortu atque interitu (. . .) , 1 5 69. - Interro­ gationes naturales, morales et mathematicae, 1 5 73. A obra de M . Solana mencionada supra é Historia de la Filosofia Espafiola, Época del Renacimiento. Sigla XVI, tomo II ( 1 94 1 ), pp. 8 1 - 1 23 , e especial­ mente p. 1 1 8 . Ver: V Muiíoz Delgado, "C. de V y la

CARDOSO, ISAAC lógica renacentista en Alcalá", Estudios, 27 ( 1 97 1 ) , 5 1 1 -5 5 5 . e CARDOSO, ISAAC ( 1 603/ 1 604- 1 683 ) . Nascido em Lisboa (ou, segundo alguns, em Celorico), estudou em Salamanca e lecionou filosofia e depois medicina em Valladolid. Foi médico da corte real até que, em 1 648, mudou-se da Espanha para Veneza, onde fez profissão de fé judaica. De 1 653 até o final de sua vida voltou a exercer a medicina em Verona. Na Philosophia libera, Cardoso combinou ecleti­ camente elementos da escolástica hispânica com outros "modernos" Inclinou-se a favor do atomismo e criti­ cou a fisica hilemórfica aristotélica, acusando-a de criar enganosos entes de ficção. Em contrapartida, o atomismo permite dar uma explicação razoável e sufi­ ciente dos fenômenos naturais. No quadro de sua "fi­ losofia eclética livre", Cardoso desenvolveu uma dou­ trina do conhecimento na qual atribuiu significativo predomínio à informação proporcionada pelos sen­ tidos. Suas idéias atomistas combinaram-se com as doutrinas clássicas dos quatro elementos e dos quatro temperamentos. A partir de sua conversão ao judaísmo, Cardoso rej eitou todos o s elementos fi losóficos e científicos de que se tinha valido para formular sua "filosofia livre" e expôs, no livro As excelências dos hebreus, publicado em Amsterdã em 1 679, um judaísmo ortodo­ xo; só é necessário conhecer a Lei e obedecer a ela. Isaac Cardoso opôs-se, em nome do conhecimento e da obediência estrita à Lei, aos movimentos de "reno­ vação" do judaísmo do tipo dos iniciados por Sabbatai Levi e preconizados e difundidos pelo irmão de Isaac. Abraham. :> Obra fundamental : Phi/osophia libera, in septem libras distributa, in quibus omnia quae ad Philoso­ phum natura/em spectant, melhodice colliguntur, & accurate disputantur, opus non solum Medieis & Phi­ losophis, sed omnium disciplinarum studiosis utilissi­ mum, Venetiis, 1 673. Ver: O. V. Quiroz-Martínez, La introducción de la filosofia moderna en Espaiía, 1 949, passim. - Jose f Hayim Yerushalmi, From Spanish Court to ltalian Ghetto: 1. C. , A Study in Seventeenth-Century Marra­ nism and Jewish Apologetics, 1 97 1 . e CARIDADE. Ver AMoR; COMPAIXÃO. CARLINI, ARMANDO ( 1 878- 1 959 ) . Nascido em Nápoles. Professor a partir de 1 922 na Universidade de Pisa, foi primeiramente um adepto do atualismo de Genti le ( vER), do qual partiu para desenvolver um es­ piritualismo realista que se harmonizasse com o pen­ samento católico. O realismo de Carlini não é, pois, totalmente alheio a alguns pressupostos do idealismo hegeliano. Isto se manifesta de maneira muito especial

400 em sua concepção da religiosidade da arte e da filoso­ fia. Com efeito, a arte une, no plano sensível, o mundo com Deus. Por isso, o artista descobre, na autocons­ ciência que suplanta o histórico e determinado, o trans­ cendente. O mesmo ocorre com a filosofia: manifes­ ta-se claramente nela a natureza dos atos transcenden­ tes que conduzem ao absoluto e unem o pensamento filosófico à vida religiosa. Dessa maneira, todo o esfor­ ço de Carlini parece dirigir-se para um reconhecimento da transcendência, sem ver-se obrigado por isso a aderir a um realismo completo. A metafisica crítica como me­ tafisica da problematicidade é a única que permite aco­ lher certos "mitos" filosóficos no reino da fé. Por isso, ela é, no fundo, uma descrição inteligível dos atos de transcendência, inclusive da transcendência da alma por si mesma. A idéia metafisica pode inclusive ser formu­ lada em termos histórico-sociais, segundo normas tais como "Promova com sua ação a socialidade do mundo histórico" ou "Promova com sua ação a unidade-tota­ lidade dos valores da personalidade humana no mundo social" ( cf. o artigo-auto-exposição citado na bibliogra­ fia; Sciacca, p. 1 95 ) . :> Obras: Dei sistema filosofico dantesco nella Di­ vina Commedia, 1 902. li pensiero fi/osofico-religio­ so in Francesco Petrarca, 1 904. - Le forme di gover­ no nello Stato pressa i Greci, 1 905. - Dei carattere comeformazione psico/ogica, 1 9 1 O. - Fra Michelino e la sua eresia, 1 9 1 2 . - La mente di G. Bovio, 1 9 1 4 . - A vviamento alio studio della.fi/osofia, 1 9 1 4 . - La fi/oso_fia di G. Locke, 2 vols., 1 920- 1 92 1 ; 2ª ed., 1 928. - La vita dello spirito, 1 92 1 , 2ª ed., 1 940. - La nostra scuola, 1 927; 5ª ed. , 1 946. - Neoscolastica, idealismo e spiritualismo, 1 93 3 (em colaboração com F. Olgiati). - La religiosità deli 'arte e della filosofia, 1 934. - Filosofia e religione nel pensiero di Musso­ lini, 1 934. li mito dei realismo, 1 936. - lntroduzio­ ne alia pedagogia, 1 936; 4ª ed. , 1 946. Verso la nuova scuola, 1 94 1 . - Saggio sul pensiero .filosofico e religioso dei fascismo, 1 942. -- Principi metafisichi dei mondo storico, 1 942. - li problema di Cartesio, 1 948. - Perche credo, 1 950; 2ª ed., 1 952. - A lia ricerca di me stesso. Esame critico dei mio pensiero, 1 95 1 . - Filosofia e storia dei/a filosofia, 1 95 1 . Cattolicesimo e pensiero moderno, 1 953 (trad. esp . : Catolicismo y mundo moderno, 2 vols., 1 960- 1 96 1 ). - Breve storia della filosofia, 1 95 7 - Che cos 'e la metafisica ? Polemiche e ricostruzione, 1 95 7 - Studi gentiliani, 1 958. - Le ragioni della fede, 1 959. Testemunho no artigo "Lineamenti di una conce­ zione realistica deli o spirito umano", em Filosofi italiani contemporanei, 1 944, ed. M. F. Sciacca, pp. 1 83- 1 97. Ver: M . F. Sciacca, "II pensiero fi losofico di A. C.", Archivio di storia dellafi/oso_fia italiana, 3 ( 1 937 ) . - /d. , li Seco/o XX, 1 942, col. I I . - L. Pareyson, "Presistenzial ismo di A. C.", Giornale critico della --

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CARNAP, RUDOLF

401 filosofia italiana, 5 ( 1 94 1 ) , 6 ( 1 942). - George Usca­ tescu, "Filosofia italiana contemporánea: A. C.", Re­ vista de Filosofia 1 6 ( 1 957), 303-3 1 9 . M. T. Anto­ nelli, G. Chiavacci, M. Gentile, A. Guzzo et ai. , número especial sobre A. C. em Giornale di Metafisica, 1 5, n. 6 (nov.-dez., 1 960). - G. Micheletti, "A. C.: La trascen­ dentalità esistenziale", Filosofia, 2 1 ( 1 970), 3 89-398. - G. Righi, "A. C. nella critica italiana", Giornale di Metafisica, 28 ( 1 973), 337-362. V. A. Bellezza, "II concetto gentiliano di ' Dio' e la critica di A. C.", Gior­ nale Critico de/la Filosofia Italiana, 56 ( 1 977), 601 00. - V. Sainati, L. Sassi, eds., "Lettere di B. Croce ad A. C.", Theoria, 8 ( 1 988), 3-48. C: -

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CARLYLE, THOMAS ( 1 795- 1 8 8 1 ). Nascido em Ecclefechan (Escócia), é conhecido sobretudo por seu lugar na história da literatura, como romancista (Sartor Resartus, 1 83 3 - 1 834) e crítico. No âmbito da filoso­ fia, destacam-se seus ensaios de crítica social, de fi­ losofia política e de interpretação da história. Carlyle opôs-se ao que considerava um enfraquecimento e afrouxamento da sociedade de seu tempo, influencia­ da pelo que ele avaliava serem idéias superficiais da I lustração, assim como pela crescente entrega aos ideais burgueses do bem-estar e do progresso. Influen­ ciado pela literatura e pela filosofia românticas ale­ mãs, Carlyle combateu as orientações materialistas e naturalistas e, sobretudo, o utilitarismo. Sua concep­ ção da história é essencialmente biográfica. A histó­ ria é feita, a seu ver, por homens individuais, e espe­ cialmente pelos que denomina "heróis" Com as per­ sonalidades dos heróis se tece a história. Os heróis são de muitas espécies, não apenas políticos e religio­ sos, mas também literários. O que importa, segundo Carlyle, é que o herói, ao mesmo tempo que faz a história, está sempre além de seu tempo. Justamente por isso faz a história: porque representa a força e os ideais sem os quais as sociedades humanas estanca­ riam. Os heróis são forças primárias, salvadores da humanidade. :> A obra sobre os heróis de C. intitula-se: On Heroes, Hera Worship, and the Heroic in History, publicada em 1 84 1 . Edição d e obras : Works, 3 0 vols., 1 896- 1 899, ed. H. D. Trai!; reimp., 1 969. Entre a correspondência, é importante The Corres­ pondence o{Th. C. and Ralph Waldo Emerson 1 8341872, 2 vols., 1 894, ed. por J. Slater, 1 965. Autobiografia: J. A. Froude, ed. : T. C. 1 795- 1 835, 2 vols., 1 882; T. e 1 834- 1881, 1 8 84. Bibliografia: J. W. Dyer, A Bibliography of T. C.:S Writings, 1 928, reimpr. , 1 968. R. L. Tarr, T. C. A Bibliography of English-Language Criticism 1 8241 9 74, 1 976. Ver: J. A. Froude, Th. Carlyle, 1 8 82. - Wilhelm Dilthey, Th. Carlyle [Archiv für Geschichte der Phi-

losophie, IV], 1 89 1 ; reimpresso em Ges. Werke, IV. - W. J. Johnson, Th. Carly/e, 1 9 1 2 . Louis Caza­ mican, Th. Carlyle, 1 9 1 3 . F. W. Roe, The Social Phi­ losophy of Carlyle and Ruskin, 1 92 1 . - M. Storrs, The Relation of Carlyle to Kant and Fichte, 1 929. C. F. Harrold, Carlyle and German Thought 1 8 1 91 834, 1 934. - Wilhelm Vollrath, Th. Carlyle und H. St. Chamberlain, 1 93 5 . L. Marvin Young, Th. Carly­ le and the A rt of History, 1 939. Ernest Seilliêre, Un précurseur du National-Socialisme. L'actualité de Carlyle, 1 939. - Hill Shine, Carly/e and the Saint­ Simonians, 1 94 1 . - J. Kedenburg, Te/eologisches Ges­ chichtsbild und theokratische Staatsauffassung im Werke T. C. s , 1 960. - E. R. Bentley, Century of Hera Worship: A Study of the ldea of Heroism in Carlyle and Nietzsche, 1 960. - A. J. La Valley, C. and the ldea of the Modem: Studies in C.:S Prophetic Literature and Its Relation to Blake, Nietzsche, Marx, and Others, 1 968. - A. L. Le Quesne, C. , 1 982. T. Fasbender, T. C., 1 989. E. M. Vida, Romantic Affinities: Ger­ man Authors and Carlyle. A Study in the History of ldeas, 1 993. Unamuno dedicou a Carlyle um ensaio (Maese Pedro. Notas sobre Carlyle), de 1 902, compilado em Ensayos, tomo III, 1 9 1 6. Sobre Unamuno e Carlyle, ver o estudo do mesmo título, de Carlos Claveria (Cua­ dernos Hispanoamericanos, n. 1 0, 1 949, compilado em Temas de Unamuno, 1 953). À relação entre os dois escritores se refere também Alan Carey Taylor em Car­ lyle et la pensée /atine, 1 93 7 (tese). C: -

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CARNAP, RUDOLF ( 1 89 1 - 1 970). Nascido em Runds­ dorf, perto de Barmen (hoj e Wuppertal, Westfalia), foi professor em Viena ( 1 926- 1 93 1 ), Praga ( 1 93 1 - 1 936), Chicago ( 1 938- 1 952), Institute for Advanced Study, de Princeton ( 1 952- 1 954) e Los Angeles ( 1 954- 1 962). Podem ser enfatizados em seu trabalho filosófico, ló­ gico e semiótico cinco aspectos, correspondentes apro­ ximadamente a cinco fases: o aspecto crítico-fi losó­ fico, o aspecto da análise da constituição, o da sintaxe lógica da linguagem, o semântico e o do exame da indução. Nós os mencionaremos brevemente, obser­ vando que se encontrarão informações complementa­ res em vários outros verbetes, entre os quais ANALÍTI­ CO E SINTÉTICO; CONSTITUIÇÃO, CONSTITUTIVO; FISICALIS­ MO; INDUÇÃO; METALINGUAGEM; MODALIDADE; NOME; ONTOLOGIA; PROBABILIDADE; SEMÀNTJCA; SINTAXE; SIGNI­ FICAÇÃO, SIGNIFICAR; SIGNO. O aspecto crítico-filosófico concentra-se em sua primeira análise do problema do espaço. Ressoam nele as influências kantianas - de um Kant interpretado em sentido crítico-fenomenista e lógico-regulativo. A análise da constituição baseia-se numa teoria em que se ordenam os diferentes sistemas de objetos ou conceitos segundo graus. Para Camap, ' constituir'

CARNAP, RUDOLF equivale a ' reduzir', mas essa redução deve ser enten­ dida em sentido lógico-sistemático e não metafisico. A teoria camapiana da constituição pode ser considera­ da uma ontologia de base lógica no decorrer da qual se caracterizam os obj etos mediante "meras proprieda­ des estruturais" ou por "certas propriedades lógico­ formais de relações ou tramas de relações" A teoria da constituição encontra-se no âmbito das orientações do Círculo de Viena (vER) , do qual Camap foi um dos principais representantes. Ligada a essa teoria está sua elaboração do fisicalismo, sua crítica da metafisica e a elaboração da sintaxe lógica da lin­ guagem. De acordo com Camap, é preciso distinguir entre o modo formal e o modo material de falar. Quan­ do tal distinção é esquecida, recai-se na metafisica e, portanto, na confusão entre as proposições e as pseudo­ proposições. Em sua opinião, as proposições metafisi­ cas são, com efeito, pseudoproposições que parecem ter referentes objetivos mas não os têm. É preciso ver, por conseguinte, de que modo se podem formular cor­ retamente proposições, isto é, deve-se examinar em cada caso se as "proposições" formuladas obedecem ou não às regras sintáticas da linguagem. A filosofia acaba sendo definida inclusive como uma "análise ló­ gica da linguagem" A insistência no aspecto sintático conduzia, no en­ tanto, a dificuldades que obrigaram Camap a prestar considerável atenção à semântica. Os detalhados estu­ dos semânticos de Camap abrangeram tanto os proble­ mas semânticos em geral como os da formalização da lógica. A esse respeito, são também importantes os seus estudos sobre a modalidade. Durante os últimos anos, Camap ocupou-se inten­ samente da elaboração de um sistema de lógica indu­ tiva com base num exame da probabilidade como grau de confirmação e do pressuposto de que todo raciocí­ nio indutivo é um raciocínio em termos de probabili­ dade. A lógica indutiva de Camap é antipsicologista e não pressupõe nenhuma das doutrinas que as lógicas indutivas clássicas julgavam indispensáveis, tais como, por exemplo, a da regularidade dos fenômenos natu­ rais. Observaremos que a atenção preponderante dada à elaboração dessa lógica não impediu Camap de dedi­ car-se também, com freqüência, a problemas lógicos e semânticos, bem como a reiterar certos pontos de vista - por exemplo, a oposição à ontologia, a separa­ ção estrita de expressões em analíticas e sintéticas etc. - que j á tinham se manifestado nas fases anteriores. :l Obras: Der Raum. Ein Beitrag zur Wissenschafls­ lehre, l 922 (O espaço. Contribuição à teoria da ciên­ cia). - Physikalische Begriffsbildung, l 926 ( Concei­ tuação fisicalista). - Der logische A ujbau der Welt. Versuch einer Konstitutionstheorie der Begriffe, 1 928 (A estrutura lógica do mundo. Em busca de uma teo­ ria da constituição dos conceitos). - Scheinprobleme

402 in der Philosophie. Das Fremdpsychische und der Rea­ lismusstreit, l 928 (Problemas aparentes na filosofia. O psíquico alheio e a discussão em torno do realismo). - A briss der Logistik, mil besonderer Berücksichti­ gung der Relationstheorie und ihrer A n wendungen, l 929; 2ª ed., l 960 (Compêndio de logística, com espe­ cial consideração da teoria da relação e de suas apli­ cações). - "Ueberwindung der Metaphysik durch lo­ gische Analyse der Sprache", Erkenntnis, 2 ( 1 93 1 ) , 2 1 9-24 1 . - Die Aufgabe der Wissenschaflslogik, 1 934 (A tarefa da lógica da ciência). - Logische Syntax der Sprache, l 934; 2ª ed., 1 968 (Sintaxe lógica da linguagem ; ampliada em trad. ingl . : The Logical Syn­ tax of Language, 1 937). - Foundations of Logic and Mathematics [Intemational Encyclopedia of Unified Science, !, 3 ] . - Studies in Semantics (!. lntroduction to Semantics, l 942; II. Formalization of Logic, l 943 ). É tido como tomo III o l ivro Meaning and Necessity. A Study in Semantics and Modal Logic, 1 947; 2ª ed., l 958. - Logical Foundations of Probability, I, 1 950; 2ª ed. rev., l 962. - The Continuum of lnductive Me­ thods, 1 952. O conteúdo foi antecipado nos artigos "Testability and Meaning", Philosophy of Science, 3 ( 1 936), 4 1 9-47 1 ; 4 ( 1 937), l -40, e "On the Application of lnductive Logic'', Philosophy and Phenomenologi­ cal Research, 3 ( l 94 7). Obra revisada e refundida por Wolfgang Stegmüller, lnduktive Logik und Wahrschein­ lichkeit, 1 959. - Einführung in die symbolische Logik, 1 954; nova ed., 1 960; 3ª ed., 1 968 (Introdução à lógi­ ca simbólica). - Obra póstuma: "A Basic System of Inductive Logic. Part. !", em Studies in lnductive Logic and Probability, ed. R. Camap e Richard C. Jeffrey, l 97 1 [trabalhos de Camap e seus colaboradores R. C. Jeffrey, Jürgen Humburg e Haim Gaifman] . Ver: Sobre a teoria da constituição de Camap: Josef Burg, Konstitution und Gegenstand im logistis­ chen Neupositivismus R. Carnaps, 1 93 5 (tese). Sobre sua teoria da verdade: D. R. Cousin, "Car­ nap 's Theories ofTruth", Mind. , N. S., 64 ( 1 950), 1 -22. Sobre lógica indutiva: E. H. dei Busto, Las teorías modernas de la probabilidad. La probabilidad y la ló­ gica inductiva de C. , 1 95 5 . - P. Filiasi Carcano, L. Apostei, G. Petri, L. Geymonat, artigos em número especial de Rivista critica di storia della filosofia, ano l O, fases. v-vi ( l 955), dedicados a R. C. (bibliografia de e sobre C. por A. Pasquinelli). - Wolfgang Steg­ müller, Das Wahrheitsproblem und die Jdee der Seman­ tik. Eine Einführung in die Theorie von A. Tarski und R. C. 1 95 7 ; 2ª ed., l 968. - Jerzy Pele, Poglady Ru­ dolfa Carnapa na kwestie znazcenia i oznaczania, 1 960 (As idéias de R. C. sobre os problemas do sentido e da denotação). - Número de Synthese, vol . XII, n. 4 (dezembro de 1 960), dedicado a R. C . por ocasião de seu 70º aniversário [ver especialmente artigos de W. v. Quine, "C. and Logical Truth'', e Karl Dürr, "Be-

CARPÓCRATES DE ALEXANDRlA

403 leuchtung von Anwendungen der Logistik in Werken von R. C."] . - Vários autores, Logic and Language: Studies Dedicated to Professor R. C. on the Occasion of His Seventieth Birthday, l 962, ed. B. H. Kazemir e D. Vuysje. - K. R. Popper, W. Sellars et ai. , The Philosophie ofR. C. , 1 963, ed. P. A. Schilpp [com "In­ tellectual Autobiography" (pp. 3-84) e "The Philoso­ pher Replies" (pp. 859- 1 0 1 3) por R. C. e bibliografia de C. (pp. 1 O 1 7- 1 070) por Arthur J. Benson] . - Peter Achinstein, "R. C.", Review ofMetaphysics, l 9 ( 1 966), 5 1 7-549 e 75 8-779. - Alan Hausman e Fred Wilson, C. and Goodman: Two Forma/ists, 1 967. - Richard Butrick, Jr. , C. on Meaning and A nalyticity, 1 970. L. Krauth, Die Philosophie Carnaps, 1 970. - Roger C. Buck e Robert S. Cohen, eds., ln Memory of R. C. , 1 972 [Boston Studies i n the Philosophy of Science, 8]. - C . G. Hempel, A. Wedberg et ai. , R. C. , Logical Empiricist: Materiais and Perspectives, 1 97 5 , ed., Jaakko Hintikka. - Bryan G. Norton, Linguistic Fra­ meworks and Ontology: A Re-Examination of Carnap s Metaphilosophy, 1 977. - E. Tegtmeier, Komparative Begriffe. Eine Kritik der Lehre von C. und Hempel, 1 98 1 . - E. Runggaldier, C.s Early Conventiona/ism: An Inquiry into the Historical Background ofthe Vien­ na Circle, 1 984. - C. U. Moulines, "Hintergründe der Erkenntnistheorie des frühen C.", Grazer Philoso­ phische Studien, 23 ( 1 985), 1 - 1 8 . - J. Proust, Ques­ tions of Form: Logic and the Analytic Proposition from Kant to Carnap, 1 989. - R. Cirera Duocastella, C. i el Cercle de Viena. Empirisme i sintaxi làgica, 1 990. - J. A. Coffa, The Semantic Tradition from Kant to Carnap to the Vienna Station, 1 99 1 . - R. Creath, ed., Dear Carnap, Dear Van : The Quine-Carnap Cor­ respondence and Related Work, 1 99 1 . - W. Spohn, ed., Erkenntnis Orientated: A Centennial Volume for R. C. and Hans Reichenbach, 1 99 1 . Edição:

Karneades. Fragmente, 1 970. Ver: C. Vick, Quaestiones Carneadeae, 1 90 1 . B. Detmer, Karneades und Hume ihre Wahrschein­ /ichkeistheorien, 1 9 1 0. - Ver também V. Brochard, Les sceptiques grecs, 1 887, e D. Armand, Fatalisme et liberté dans l 'antiquité grecque, 1 945. - A. Schütz, "Das Problem des Carneades", em id. , Das Problem der Relevanz, 1 97 1 . - S. Nonvel Pieri, C. , 1 978. W. N. A. Klever, C. Reconstructie en evaluatie van zijn kennistheoretische positie, 1 982. - R. Bett, "C.' Distinction Between Assent and Approval", Monist, 73( 1 ) ( 1 990), 3-20. Ver também: Artigo de H. von Arnim sobre Car­ néades (Karneades) em Pauly-Wissowa. Obras : Du mysticisme du XVIII' siecle, 2 vols., 1 852- 1 854. - L'idée de Dieu et ses nouveaux criti­ ques, 1 864; 7ª ed. , 1 88 3 . - Le matérialisme et la science, 1 868. - Problemes de morale sociale, 1 876. - Le pessimisme au XIX' siecle. Leopardi, Schope­ nhauer, Hartmann, 1 87 8 ; 2ª ed., 1 88 1 . La fin du XVIII' siecle, 1 880. - La philosophie de Goethe, 1 88 3 . - Littré et le positivisme, 1 88 3 . - Philosophie et philosophes, 1 88 8 . Obras: Filosofia dei/a vila, 1 924. - Laberthon­ niere, 1 927. - Filosofia e apologetica (Saggi critici difilosofia dei/a religione), 1 929. Idealismo e solip­ sismo e saggi critici, 1 93 3 . - Commentario ai senso comune, 1 939. - Preludio alia vita di un uomo qua­ lunque, 1 94 1 (com o pseudônimo Dario Reiter) . L'esperienza comune, 1 942. Pensieri e giornate: Diario intimo, 1 945; 2ª ed. , 1 963. II tempo esaurito, 1 947; 2ª ed. , 1 954. - lntroduzione ad una fenomeno­ logia dei/a nostra epoca, 1 948. - Existentialisme théologique, 1 948. - Filosofia e dramma, 1 949. II demoniaco ne/ arte, 1 952. - I presupposti di una teologia dei/a storia, 1 952. - L'indagine quotidiana, 1 956. - Demitizzazione e immagine, 1 962. - Simboli e immagini: Studi di filosofia deli 'arte sacra, 1 966. 11 tempo invertebrato, 1 969. - I paradossi dei sen­ so comune, 1 970. - II tempo inqualificabile. Contri­ buti ali 'ermeneutica dei/a secolarizzazione, 1 975. Testemunho pessoal no artigo 'T orientamento filo­ sofico e il problema dei male", no vol. de M. F. Sciacca, Fi/osofi italiani contemporanei, 1 944, pp. 1 99-206. Ver: A. dei Noce, Senso comune e teologia dei/a storia ne/ pensiero di E. C. , 1 954. - A. Pastore, La morte dei tempo nel pensierofilosofico di E. C. , 1 956. - P. Tomasi, 'Temporalità e dialettica della buona fede nel pensiero di E. Castelli", Giornale Critico dei/a Filosofia Italiana, 55 ( 1 976), 5 84-590. 1-1. 1. Daw­ son, "America and the West at Mid-Century: An Un-­

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published Santayana Essay on the Philosophy of E. C., Journa/ of the History of Philosophy, 1 7 ( 1 979 ) , 449-454. Obras principais: Un estudio sobre la depresión, 1 966; 9ª ed., 1 99 1 . - Dialéctica de la persona, dialéc­ tica de la situación , 1 968; 6ª ed., 1 992 (coletânea de artigos). - La culpa, 1 968; 4ª ed., 1 98 1 . - Psicoaná­ lisis y marxismo, 1 969; 5ª ed. , 1 98 1 . - La incomu­ nicación, 1 970; 1 3ª ed., 1 990. - Cuatro ensayos sobre /a mujer, 1 97 1 ; 1 0ª ed. , 1 989. - Patografias, 1 972; 3" ed., 1 99 1 . - Introducción a la hermenéutica dei /enguaje, 1 972, 3ª ed., 1 975. - Introducción ai maso­ quismo, estudo preliminar a "La Venus de las pieles", de Sacher-Masoch, 1 973; 3ª ed., 1 98 3 . - E/ huma­ nismo "imposible " seguido de "Natura/eza dei saber ", 1 975 (reimp. de 1 968 a 1 970, respectivamente). fntroducción a la psiquiatría, 2 vols., 1 978- 1 980; 4ª ed., 1 993. - Estudios de psico (pato)logía sexual, 1 984; 2ª ed., 1 990. - Teoría de la alucinación, 1 984. - Cuarenta anos de psiquiatría, 1 987 (coletânea de monografias psicológicas, psicopatológicas e psiquia­ tricoclínicas ). - Temas: hombre, cultura, sociedad, 1 989 (coletânea de artigos). Ver: "Carlos Castilla dei Pino. La construcción de una Psiquiatria científica", Anthropos, 1 2 1 ( 1 99 1 ) [nú­ mero monográfico] . KaTOÀflTITIKi] qiavTacría em sua "lógi­ ca" (na parte da "lógica" que corresponderia hoje à teoria do conhecimento). Trata-se de um conceito fun­ damental no pensamento estóico. Traduzimos a citada expressão simplesmente por "fantasia cataléptica", se­ guindo Ortega y Gasset (cf. op. cit. infra), mas há outras traduções possíveis, como, por exemplo, repre­ sentação compreensiva, apreensão direta, evidência imediata etc. O verbo KaTaÀaµ�ÓVEIV pode ser tra­ duzido por "apoderar-se de algo", "apreender algo", "ocupar algo", "comprimir" O nome KaTÓÀfl\jllS designa a ação de apreender, ou tomar posse de algo. A KOTOÀT]TIT1Ki] Obras: Wielosc rzeczywistosci, 1 92 1 (A pluralidade das realidades). - "The Theory of Constructive Types: Principies of Logic and Mathematics", Annales de la Société Polonaise de Mathématique, vol . 2 ( 1 924), pp. 9-48, e vol. 3 ( 1 925), pp. 9 1 - 1 4 1 . - Gra­ nice Nauki: Zarys logiki i Metodologji Nauk Scialych, 1 93 5 (edição ingl. rev. e amp l . : The Limits ofScience: Outline of logic and the Methodology of the Exact Sciences, 1 948; reimp. 1 949). - Zagadnienia Kultury Duchowej w Polska, 1 93 3 (Problemas da cultura in­ telectual na Polônia). - Krytyka Pojecia Zmiennej w Systemie Semantyki Racjona/nej, 1 938 (Crítica do con­ ceito de variável no sistema de semântica racional). - la Méthode générale des sciences positives: l'Es­ prit de la sémantique, 1 946. - Wie/osc Rzeczywistosci w Stuze, ed. K. Estreicher, 1 960 (A pluralidade de realidades na arte). - Pisma Filozoficzne i logiczne, ed. K. Pasenkiewicz, 2 vols., 1 96 1 - 1 963 (Escritos filo­ sóficos e lógicos). Ver: John Myhill, "Report on Some Investigations Concerning the Consistency of the Axioms of Redu­ cibil ity", Journal of Symbolic logic, 14 ( 1 949), 1 1 91 25 ; 1 6 ( 1 95 1 ), 3 5-42 . - M. Black, The Nature of Mathematics: A Criticai Survey, 1 959. - J. Juliusz Jadacki, l. C. - B. Russell 's Scientific Corresponden­ ce, 1 986. - G. Jozefczuk, "La idea dei sentido común en la fi losofia de L. C." (em polonês), Ann. Univ. Maria e Curie-Phil. ( 1 986 ), 22 1 -232 . - H. Hiz, em J. E. Edwards, The Encyclopedia ol Philosophy, vol. 2, s. v. "Chwistek, Leon" C: C IBERN É TICA. Em seu Essai sur la philosophie des sciences ou exposition analytique d 'une classifi­ cation naturelle de toutes les connaissances humaines ( 1 834 ), André Marie Ampere (VER) introduziu o vocá­ bulo cybernétique (do grego KV�EPVfJTIK�) para de­ signar a ciência que se ocupa dos modos de governo. A cibernética é, segundo Ampere, uma das ciências "noológicas" Em sua influente obra Cybernetics, ar Contrai and Communication in the Animal and in the Machine ( 1 949; 2ª ed., 1 96 1 ), Norbert Wiener (t 1 964) denominou "cibernética" (do grego KV�EPVfJT�P = pi loto) a ciência que estuda os sistemas de controle, e

453 especialmente d e autocontrole, tanto n o s organismos como nas máquinas. "O controle - define Wiener ( The Human Use of Human Beings, 1 950, p. 8) não é senão o envio de mensagens que efetivamente mudam o comportamento do sistema receptor." Referimo-nos a alguns dos principais problemas estudados pela cibernética no sentido de Wiener em vários verbetes desta obra (ver especialmente C OMUN I­ CAÇÃO; INFORMAÇÃO). Limitar-nos-emos aqui a destacar, ou a recordar, que a cibernética - ainda em formação e, portanto, sem limites precisos como ciência ou como disciplina científica - ocupa-se de temas muito diver­ sos, embora todos eles de algum modo relacionados entre si. Entre esses temas, mencionamos os seguintes: o estudo do controle e do autocontrole, particularmen­ te com base no conceito de "retroação" (jeedback) portanto, o estudo dos sistemas auto-reguladores, orgâ­ nicos e mecânicos -; o estudo da transmissão de men­ sagens na medida em que servem para realizar o con­ trole e o autocontrole citados; o estudo da informação enquanto transmissão de sinais no âmbito de um sistema de auto-regulação; o estudo de diversas formas do cha­ mado "comportamento com propósito"· o estudo dos paralelismos entre vários sistemas nos quais ocorrem processos de controle e de auto-regulação (como os chamados "servomecanismos"). Pelo que se mencionou, é possível ver a amplitude do campo da cibernética, na qual tem lugar uma série de estudos lógicos, matemá­ ticos, fisicos, neurofisiológicos etc. e que faz uso de conceitos bastante diversos, muitos dos quais proce­ dentes de outros ramos (entropia, estrutura, linguagem, aprendizagem etc.). Por essa razão, alguns autores con­ sideram que o termo "cibernética" é no momento apenas um vocábulo cômodo para agrupar estudos que oportu­ namente se distribuirão entre várias disciplinas cientí­ ficas. Em todo caso, a cibernética parece ser uma típica "ciência-encruzilhada" e um conjunto de "ciências-li­ mítrofes" Nesse sentido, pode ser comparada, no âmbi­ to da ciência, com o que é amiúde a ontologia - pelo menos como "ontologia critica e analítica" - no âm­ bito da filosofia. Para bibliografia, ver a parte correspondente no verbete COMUNICAÇÃO. C Í CERO (M. TULLIUS CICERO) ( 1 06-43 a.e.). Nasceu nas proximidades de Arpino. Sua carreira como orador e político não se enquadra em nosso propósito. Sua carreira como filósofo foi muito discutida: conside­ rado por longo tempo uma das mais preeminentes figu­ ras do pensamento antigo, insistiu-se depois em sua falta de originalidade e se reduziu ao mínimo seu papel na história da filosofia. A verdade acha-se provavelmen­ te entre as duas posições: a filosofia de Cícero não é, sem dúvida, original, mas a influência que exerceu faz dela uma peça indispensável na história. Com efeito,

CÍCERO (M. TULLIUS CICERO) ele não apenas divulgou para o mundo romano o mais importante da tradição intelectual grega, como muitas de suas obras foram lidas com freqüência pelos filósofos posteriores, tanto pagãos como cristãos. A isso se deve acrescentar a influência exercida na formação do voca­ bulário filosófico latino - formação da qual o próprio Cícero tinha plena consciência ao observar que suas obras filosóficas ofereciam ao leitor principalmente "pa­ lavras": verba. . . quibus abundo. No que diz respeito ao conteúdo, o pensamento filosófico de Cícero foi considerado essencialmente eclético, embora seja costume tê-lo como um dos mem­ bros da nova Academia platônica (vER). Discípulo do epicurista Fedro, do acadêmico Fílon, do estóico Dio­ doto, do acadêmico Antíoco de Á scalon, do epicurista Zenão e do estóico Possidônio (a cujas aulas assistiu em Rodes), encontram-se em suas obras as marcas de todas essas doutrinas, além das marcas das obras dos grandes mestres gregos, Platão e Aristóteles principal­ mente. Na doutrina do conhecimento, Cícero rejeitava o ceticismo extremo, pois o moderado tinha, a seu ver, uma razão de ser, como escudo contra o dogmatismo desmedido. As razões dadas por Cícero contra os céticos extremos não eram, porém, de natureza epistemológica, mas antes moral e social; é necessário, pensava ele, que haja noções inatas e consenso universal se se quer que a sociedade mantenha sua coesão. Na moral, Cícero inclinou-se para as doutrinas estóicas, mas desprovidas de seu extremo rigorismo; com efeito, os bens não eram, em sua opinião, inteiramente indiferentes à realização e ao desenvolvimento da virtude. Essas formas de ecle­ tismo podem ser vistas em sua filosofia natural e em sua filosofia política, que parece dominada por uma espécie de "crença sem convicção", unida a um realismo político em nome do qual Cícero defendeu os ideais da República romana diante de todos os falsos realismos que em seu tempo ameaçavam destruir o que ele consi­ derava as verdadeiras realidades: as tradições suscetíveis de transformação contínua e sem violência. O mesmo poderiamos dizer, por fim, de sua filosofia religiosa, mas seria sem dúvida uma simplificação apresentá-la como uma moderna racionalização das tradições. A complexidade do quadro religioso apresentado no famo­ so Sonho de Cipião (vER) mostra que, se temos de con­ tinuar falando de ecletismo, não podemos reduzi-lo a uma composição demasiadamente simples. :> As obras de Cícero mais importantes do ponto de vista filosófico são: De natura deorum, De divinatione, De officiis, De finibus bonorum et malorum, De ami­ citia, Cato maior, De gloria, De fato, Tusculanae dis­ putationes, De republica, De legibus, A cademica prio­ ra et posteriora. Em português : As catilinárias, 1 990. - Da Repú­ blica, 1 995. - Manual do candidato - As eleições

CIDADE DE DEUS

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- Carta do bom, 2000. - Saber envelhecer, 1 997. - Sobre o destino, 1 99 3 . Dicionários: Hugo Merget, Lexikon z u den phi/oso­ phischen Schrifien Ciceros, 3 vols., 1 877- 1 884; reimp., 1 962. - !d. , Lexikon zu den Reden des Cicero, 4 vols., 1 877- 1 884; reimp., 1 962. - !d. , Hand/exikon zu Cicero, 2 vols., 1 905- 1 906; reimp., 1 962. Ver: Rudolf Hirzel, Untersuchungen zu Ciceros philosophischen Schrijien. !. De natura deorum, 1 877; II. Definibus; de officiis, 1 882. III. A cademica Priora. Tuscu/anae Disputationes, 1 883. - C. Thiancourt, Essai sur les traités phi/osophiques de Cicéron et /eurs sources grecques, 1 8 85. - A. Degert, Les idées mo­ ra/es de Cicéron, 1 907. - Karl Müller, Cicero ais Phi/osoph, 1 9 1 1 . - J. C. Rolfe, Cicero and His In­ jluence, 1 923. 1 Moscarini, Cicerone e / 'Etica Stoi­ ca ne// III libra dei De Finibus, 1 930. - Th. Zielinski, Cicero im Wande/ der Jahrhunderte, 4ª ed., 1 929. M. van den Bruwaene, La théologie de Cicéron, 1 93 7 . - E. Ciaceri, C. e i suai tempi, 1 939. - O . Seel, Cicero. Wort, Staat, We/t, 1 95 3 . H. K. Hunt, The Humanism of Cicero, 1 954. - E. Lepore, II Princeps ciceroniano e gli idea/i po/itici de/la tarda republica, 1 954. P. Milton Valente, S. J., L'éthique stoicienne chez Cicéron, 1 956 (tese). - Michel Ruch, Le préam­ bule dans /es oeuvres phi/osophiques de Cicéron. Essai sur la genese et / 'art du dialogue, 1 95 8 . - A. Michel, Les rapports de la réthorique et la philosophie dans / 'oeuvre de Cicéron, 1 960. - A. Weische, Cicero und die Neue A kademie. Untersuchungen zur Entste­ hung und Geschichte des antiken Skeptizismus, 1 96 1 . - Maria Bellincioni, Struttura e pensiero dei Lae/io ciceriano, 1 970 (especialmente Parte II sobre Cícero, Aristóteles e os estóicos). - Virgínia Guazzoni Foa, I fondamenti jilosofici dei/a teologia ciceroniana, 1 970. - Hans-Joachim Hartung, Ciceros Methode bei der Uebersetzung griechischer philosophischer Termini, 1 970. - P. Boyancé, Études sur / 'humanisme cicéronien, 1 970. - K. Büchner, Das neue Cicerobild, 1 97 1 . - Charles B. Schmitt, Cicero Scepticus: A Study of the Influence ofthe Academica in the Renaissance, 1 972. - Woldemar Gõrler, Untersuchungen zu Cice­ ros Phi/osophie, 1 974. E. Rawson, C. : A Portrait, 1 975. - T. N. M itchell, C. : The Ascending Years, 1 979. - G. Acharei, Pratique rhétorique et idéo/ogie politique dans /es discours "optimates " de C., 1 98 1 . - A . Trollope, The Life of C. , 2 vols., 1 98 1 . - J. Mancai, Untersuchung zum Begri[f der Philosophie bei M. T Cicero, 1 982. - P. Grimal, C. , 1 984. - F. Guillaumont, Philosophe et Augure. Recherches sur la théorie cicéronienne de la divination, 1 987. - S. L. Utchenko, C. y su tiempo, 1 987. - N. Wood, C.s Social and Po/itica/ Thought, 1 988. W. W. Forten­ baugh, ed., C.s Know/edge of the Peripatos, 1 989. ·

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Ch. Habicht, C. the Politician, 1 990. - J. M. Dei Pozo, Cicerón: conocimiento y política, 1 993 . C CIDADE DE DEUS. Embora a idéia da Cidade de Deus e de sua oposição à cidade do diabo tenha sido expressa antes de Santo Agostinho (por exemplo, em Ticônio - Ecce duas civitates, unam Dei et unam diabo/i - , de quem Santo Agostinho provavelmente a tomou), somente nos l ivros De civitate Dei escritos pelo Padre da Igreja o problema foi formulado e desen­ volvido com toda a amplitude. Trata-se de um proble­ ma que pode ser relacionado com o da contraposição, já enfatizada por alguns estóicos, entre o ser cidadão de uma Cidade-Estado (ou mesmo do Império) e o ser cidadão do mundo ou do cosmos, mas que não é sim­ plesmente redutível a ela. Com efeito, o cosmos não é, propriamente falando, uma Cidade, de modo que ser cidadão do cosmos equivale sobretudo a sentir-se parte ou membro da Natureza, a qual se supõe ser a reali­ dade que absorve em última análise todos os indiví­ duos. Assim, a contraposição estabelecida por Santo Agostinho entre a Civitas Dei e a Civitas diaboli só pode ser entendida no âmbito de uma concepção que acentua o caráter único da história e que faz do cosmos um cenário no qual se desenvolve o drama da história universal. Contudo, as expressões ' Cidade de Deus' e 'Cidade do diabo ' foram interpretadas de várias manei­ ras, particularmente no que diz respeito a suas relações mútuas. Daremos, primeiramente, uma breve explica­ ção do vocabulário usado por Santo Agostinho e men­ cionaremos depois três diferentes interpretações dos conceitos citados. Santo Agostinho fala de uma cidade celeste espiri­ tual ( civitas coe/estis spiritua/is), de uma cidade terre­ na espiritual (civitas terrena spiritualis) e de uma cida­ de terrena carnal (civitas terrena carna/is). A primeira parece equivaler ao que São Paulo denomina a Jerusa­ lém superior; a segunda, ao que o Apóstolo chama de Jerusalém atual. A última, à cidade (ou cidades) dos pagãos. A cidade celeste espiritual é também deno­ minada cidade santa, civitas sancta ou comunidade dos santos. A cidade terrena espiritual é exemplificada em Sara e Isaac. A cidade terrena carnal é representada por Agar e Ismael. Santo Agostinho fala também da cidade terrena como uma sombra, umbra, da cidade de Deus, ou, melhor dizendo, da cidade de Deus no céu. Uma das interpretações é a que relaciona o esque­ ma de Santo Agostinho com um esquema platônico. Assim, Hans Leisegang indica que a Cidade de Deus no céu é paralela ao reino das idéias; a Cidade de Deus na terra, ou cidade terrena espiritual, é paralela à ima­ gem EiKwv - da idéia, e a cidade terrena carnal ou cidade do diabo, à imagem da imagem, isto é, à som­ bra, umbra - oKÍa - , da Cidade de Deus celeste, que -

455 seria o verdadeiro protótipo. D e modo semelhante, Alfa­ rabi falara de uma Cidade-modelo ou cidade ideal. Outra interpretação é a que sublinha o contraste entre a Cidade de Deus, como representada pelo poder espiritual da Igreja, e a cidade do diabo, como represen­ tada pelo poder terreno (em especial o do Império). As lutas entre o Papado e o Império no decorrer da Idade Média foram com freqüência interpretadas nesse sen­ tido. Muitos historiadores e filósofos apresentam esta interpretação em sua descrição da idéia agostiniana do contraste entre as duas cidades. Outra interpretação, devida a Gilson - e prova­ velmente a mais correta -, é a que destaca o caráter teológico e místico da doutrina agostiniana. Segundo ela, a Cidade de Deus é a cidade dos eleitos, e a cidade do diabo, a dos reprovados. Por conseguinte, a Cidade de Deus não pode ser identificada com a Ci­ dade nesta terra, nem sequer com a Igreja. Com efeito, mesmo dentro da Igreja há homens que são reprovados e não pertencem à Cidade de Deus. Gilson baseia-se para sua interpretação no sentido dado por Santo Agostinho ao termo ' cidade ' : a congregação de ho­ mens que reconhecem algumas crenças comuns. 'Ci­ dade' é, pois, um termo que em Santo Agostinho tem um sentido místico. Assim, os nomes de Cidade divi­ na e Cidade terrena são designações simbólicas que podem ser expressas de outros modos; por exemplo: Jerusalém ou visio pacis e Babilônia ou confusio. A civitas terrena é a cidade dos homens que têm o amor a Deus. As duas cidades acham-se confundidas nesta terra, mas separadas nos desígnios de Deus. São duas cidades místicas, "e seus respectivos povos são o dos eleitos e o dos condenados" Por isso, a cidade terres­ tre não é a cidade temporal e política, mas a cidade da perdição. Podem-se formular dois problemas no que se refe­ re à noção da Cidade de Deus. Um é o da relação entre a idéia de Cidade de Deus e a idéia da República ideal ou utopia ( VER) . Se consideramos a Cidade de Deus agostiniana como um protótipo de caráter platônico, as relações entre as duas idéias são inegáveis. Se a conce­ bemos, em contrapartida, como uma realidade mística, teremos dificuldades em aproximar as duas concepções. As relações entre a idéia da Cidade de Deus e a da República ideal podem ser estudadas, além disso, por meio do contraste de certas analogias e diferenças entre Santo Agostinho, Platão e Cícero. Foi o que fez Dome­ nico Pesce ( op. cit. infra). Segundo esse autor, Santo Agostinho e Platão coincidem em ser pessimistas (e até "radicalmente pessimistas") em sua concepção do homem e da sociedade, enquanto Cícero é otimista e "humanista", pois afirma que o caráter altruísta do ho­ mem se manifesta ao longo da história. Por outro lado,

CIDADE DE DEUS enquanto Platão e Cícero se baseiam no conceito "an­ tigo" da Cidade-Estado, Santo Agostinho sustenta que há uma diferença entre o temporal e o espiritual, entre o político e o ético (diferença já entrevista por Sócra­ tes). Por fim, enquanto Platão parece ocupar-se prin­ cipalmente da sociedade dos filósofos, Cícero tem em vista a sociedade dos cidadãos, e Santo Agostinho, a dos santos. Outro problema é o do prolongamento e da trans­ formação da concepção agostiniana no decorrer da his­ tória. Gilson falou das metamorfoses da Cidade de Deus, incluindo entre elas as idéias da Respublica christiana, de Roger Bacon, da Monarchia ou Império universal, de Dante, da paz da fé (paxfidei), de Nico­ lau de Cusa, da città dei Sole, de Campanella, da idéia da unidade da Europa tal como se manifestou em vá­ rios momentos da época moderna, da cidade leibni­ ziana dos filósofos do século XVIII e da cidade dos sábios dos positivistas comtianos. Em contrapartida, ele não incluiu entre essas metamorfoses nem o mes­ sianismo marxista (por razões que indica expressamen­ te) nem as idéias de Marsílio de Pádua (sem indicar razões). Por outro lado, C. L. Becker já falara da "Cidade de Deus dos filósofos do século XVIII" Po­ der-se-ia argumentar contra isso que, do ponto de vista místico agostiniano estrito, apenas algumas dessas me­ tamorfoses entram no quadro da idéia da Cidade de Deus e que, se para evitar esse inconveniente, se am­ plia o ponto de vista citado, não há motivo para não incluir outras visões, talvez com uma única condição: a de que não sejam exclusivamente imanentes a este mundo. :> Texto de A Cidade de Deus, com base na edição de Dombart-Kalb, revisada, com tradução de Lorenzo Riber, 1 93 3 . Em português: A Cidade de Deus, 2 vols., 1 989. Ver: O. Schilling, Die Staat- und Sozialehre des heiligen A ugustinus, 1 9 1 O. - H . Scholz, Glaube und Ung/aube in der Weltgeschichte. Ein Kommentar zu Augustinus ' De Civitate Dei, mil einem Exkurs: Fruitio Dei, ein Beitrag zur Geschichte der Theologie und der Mystik, 1 9 1 1 . - Ernst Troeltsch, A ugustin, die chris­ tliche A ntike und das Mittelalter. lm A nschluss and der Schrift De Civitate Dei, 1 9 1 5 ; reimp. , 1 963. - J. N. Figgis, The Political Aspects ofSt. A ugustine s City of God, 1 92 1 . - A. Combes, La doctrine politique de Saint A ugustin, 1 927. - V. Stegemann, Augustins Gottesstaat, 1 92 8 . - E. Baker, Church, State and Study, 1 930. - L. Curtis, Civitas Dei, 3 vols., 1 950 (reimp. depois em 1 vol .). - T. H . S . Burleigh, The City of God: A Study of St. A ugustine s Philosophy, 1 949. - G. Ruotolo, La filosofia delta storia e la città di Dia, 1 950. - H. Leisegang, Denkformen, 2ª ed.,

CIÊl\CIA 1 95 1 . - Th. Mommsen, "Saint Augustine and the Christian ldea of Progress", Journal of the History of Ideas, 1 2 ( 1 95 1 ), 346-374. - É. Gilson, Les méta­ morphoses de la cité de Dieu, 1 952. - Domenico Pesce, Città terrena e città celeste nel pensiero antico, 1 957. - Yves Congar, "Civitas Dei et Ecclesia chez Saint Augustin. Histoire de la recherche: son état pré­ sent", Revue des Études augustiniennes, 3 ( 1 957), 1 1 4 . - Manuel García Pelayo, El reino de Dias como arquetipo político, 1 960 (Sobre o "reino de Deus" na alta Idade Média). - Sergio Cotta, La città politica di S. Agostino, 1 960. - Jean-Claude Guy, Unité et stnicture logique de la Cité de Dieu de Saint Augustin, 1 96 1 . - John O' Meara, Charter of Christendom: The Significance of the City of God, 1 96 1 [The Saint Au­ gustine Lecture, Vi llanova University, 1 96 1 ]. - G. L. Keyes, Christian Faith and the lnterpretation of His­ tory: A Study of St. Augustine '.1· Philosophy of History, 1 969. - A. P. Orbán, "Ursprung und lnhalt der Zwei­ Staaten-Lehre in Augustins De civitate Dei", Archiv fiir Begriffsgeschichte, XXIV, 2 ( 1 980), 1 7 1 - 1 94. Além disso: J.-M. del Esta! , A. Custodio Vega et ai. , Estudios sobre la Ciudad de Dios, 2 vols., 1 956 (arts. procedentes de números extraordinários da revista La Ciudad de Dios). C CIÊNCIA. O substantivo scientia procede do verbo scire, que significa "saber"; etimologicamente, ' ciên­ cia' equivale, pois, a ' o saber' Entretanto, não é reco­ mendável ater-se a essa equivalência, pois há saberes que não pertencem à ciência: por exemplo, o saber que às vezes se qualifica de comum, ordinário ou vulgar. Sabem-se, com efeito, muitas coisas que ninguém ou­ saria apresentar como se fossem enunciados científi­ cos. Saber, por exemplo, que o ministro de Obras Pú­ blicas da Islândia foi operado da próstata é saber algo. Mas a proposição ' O ministro de Obras Públicas da Islândia foi operado da próstata ' não é uma proposição científica. A menos que tomemos o termo ' ciência' num sentido muito amplo, não podemos, pois, fazê­ lo sinônimo de ' saber' O próprio Platão, que distin­ guia rigorosamente o saber, ÉmoTÍj µrJ, e a opinião, ôó�a, observava que esta não é mero não-saber - é algo situado entre a perfeita ciência e a absoluta igno­ rância. Parece necessário, portanto, definir que tipo de saber é o científico. Várias respostas nos ocorrem. Por exemplo: que é um saber culto ou desinteressado, que é um saber teórico, suscetível de aplicação práti­ ca e técnica, que é um saber rigoroso e metódico etc. Todas essas respostas nos proporcionam alguma infor­ mação sobre o tipo especial do saber científico, mas não são suficientes; têm, além disso, um inconveniente, em nosso caso importante : não permitem distinguir a ciência e a fi losofia. Por muitos séculos, essa falta de

456 diferenciação não pareceu coisa grave; ainda é árduo separar o propriamente científico (sej a qual for seu valor atual) do propriamente filosófico na Física de Aristóteles, mas isso não nos dificulta mais do que é razoável a compreensão de suas proposiçôes; de certo modo, aj uda-nos a compreender o caráter peculiar do pensamento aristotélico sobre a Natureza. Contudo, à medida que foram sendo organizadas as chamadas ciências particulares e foi se tornando mais intenso o que se qualificou de movimento de autonomia, primei­ ro, e, depois, de independência das ciências, a distinção em causa se tornou cada vez mais importante e urgen­ te: não poder traçar uma linha divisória entre a contri­ buição filosófica e a científica de Descartes ou de Leib­ niz dificulta grandemente, com efeito, a compreensão dessas contribuições. É preciso, por conseguinte, escla­ recer em que consiste o saber científico e quais são as principais diferenças existentes entre esse saber e o saber filosófico. É comum considerar a ciência como um modo de conhecimento que visa formular, mediante linguagens rigorosas e apropriadas - na medida do possível, com o auxílio da linguagem matemática -, leis por meio das quais são regidos os fenômenos. Essas leis são de diversas ordens (ver LEI ) . Todas elas têm, não obstante, vários elementos em comum: a capacidade de descrever séries de fenômenos; a possibilidade de comprovação por meio da observação dos fatos e da experimentação; a capacidade de prever - seja me­ diante previsão completa, seja pela previsão estatística - acontecimentos futuros. De resto, a comprovação e a previsão nem sempre se efetuam da mesma manei­ ra, não apenas em cada uma das ciências, mas também em diversas esferas da mesma ciência. Em grande parte, elas dependem do nível das teorias correspon­ dentes. De modo geral, pode-se dizer que uma teoria (vER) científica mais abrangente obedece com maior facilidade a exigências de natureza interna à estrutura da própria teoria - simplicidade, harmonia, coerência etc. - que uma teoria menos abrangente. As teorias de teorias (como, por exemplo, a teoria da relativida­ de) parecem por isso mais "afastadas" dos fatos, ou, melhor dizendo, menos necessitadas de um grupo rela­ tivamente considerável de fatos a ser confirmados; o motivo disso é que elas traçam quadros gerais no âm­ bito dos quais podem-se reunir agrupamentos teóricos prévios de fatos ou então certos tipos de fatos obser­ vados no decorrer de algum experimentum crucis. A comprovação e a preci são mencionadas dependem também dos métodos empregados (ver MÉTODO), que são também diferentes para cada ciência e para partes diversas da mesma ciência. Em geral, considera-se que uma teoria científica é tanto mais perfeita quando

457 mais formalizada s e acha. Isso não significa, porém, que o único trabalho do cientista que mereça esse nome seja a formalização (vER). A rigor, esta é uma das tendências da ciência: a que ela adota quando se encontra num estado de relativa maturidade. Até agora, falamos apenas da ciência, mas é preci­ so falar também das ciências. Estas são diversas - a tal ponto que, mais de uma vez, levantou-se o problema de saber se é possível que todas as ciências possuam características comuns. Certos autores o negaram; em sua opinião, há pelo menos dois grupos inteiramente diferentes de ciências: as ciências da natureza (vER) e as ciências do espírito (vER) ou da cultura (VER). Outros afirmaram o mesmo, mas fundando-se na limitação das ciências às ciências naturais; outros, por fim, o afirma­ ram fazendo das ciências classicamente qualificadas de morais ciências em última análise naturais, ou estabe­ lecendo uma espécie de pirâmide das ciências na qual ou certas ciências servem de base às outras (a matemá­ tica, base da fisica; a fisica, base da biologia; a biologia, base da psicologia etc.) ou se supõe possível reduzir umas às outras (em geral, as menos simples às mais simples), se não em seus métodos particulares, pelo menos nas estruturas fundamentais de suas respectivas linguagens (ver REouçÃo). A diversidade das ciências levou também a muitas tentativas de classificação (ver CIÊNCIAS [CLASSIFICAÇÃO DAS]). Não podemos nos deter aqui nesses problemas. O que foi dito deve ser consi­ derado suficiente para nosso propósito - dada a nature­ za desta obra, apresenta maior interesse a segunda ques­ tão: a relação entre ciência e filosofia. Três respostas fundamentais são possíveis a esse respeito: 1 ) a ciência e a filosofia carecem de qualquer relação; 2) a ciência e a filosofia encontram-se tão intimamente relacionadas entre si que, de fato, são a mesma coisa; e 3) a ciência e a fi losofia mantêm entre si relações muito complexas. Enumeraremos algumas das razões apresentadas a favor de cada uma dessas opiniões e concluiremos com algumas breves observa­ ções sobre o tipo de relação que consideramos mais plausível. 1) a 1) A ciência progride e nos informa, de modo cada vez mais completo e detalhado, sobre a realida­ de, enquanto a filosofia não progride, porque é um incessante tecer e destecer de sistemas. b 1 ) A ciência é um modo de conhecer, enquanto a fi losofia é um modo de viver. e 1) A ciência refere-se ao ser; a filoso­ fia, ao dever ser ou, em geral, ao valor. d l ) A ciência é conhecimento rigoroso; a filosofia, concepção do mundo exprimível igualmente mediante a religião ou a arte. Por isso, a ciência está de um lado, enquanto a filosofia (com a religião e a arte) está de outro (às vezes considerado oposto). e 1 ) A ciência é conheci-

CIÊNCIA mento limitado; a filosofia, conhecimento ilimitado. j1 ) A ciência opera mediante observação, experimen­ tação, inferência e dedução, enquanto a filosofia opera mediante intuição. Como conseqüência disso, a ciência refere-se somente ao fenoménico, enquanto a filosofia atinge o numênico etc. 2) a2) A filosofia não difere da ciência senão por constituir um estado primitivo (ou preliminar) da ativi­ dade científica: a filosofia é, pois, uma fase da ciência. b2) A filosofia é uma ciência igual às outras no que se refere à estrutura de suas teorias, aos métodos usa­ dos e aos propósitos que a movem. c3) Há uma filo­ sofia que não pode ser denominada ciência, porque não é mais que expressão poética ou concepção do mundo, mas por isso mesmo não pode tampouco ser qualificada seriamente de filosofia; a filosofia que me­ rece esse nome é uma ciência que se ocupa de certos problemas principalmente lógicos e semióticos, cuja análise constitui um auxílio indispensável ao desen­ volvimento das outras ciências. 3) a3) A relação entre a filosofia e a ciência é de tipo histórico: a filosofia foi e continuará sendo a mãe das ciências, por ser a disciplina que se ocupa da for­ mação de problemas, depois tomados pela ciência para ser solucionados. b3) A filosofia é não apenas a mãe das ciências no decorrer da história, mas a rainha das ciências sempre, seja por conhecer mediante o mais elevado grau de abstração, seja por ocupar-se do ser em geral, seja por tratar dos pressupostos das ciências. c3) A ciência - ou as ciências - constitui um dos obj etos da filosofia, ao lado de outros; há por isso uma filosofia da ciência (e das diversas ciências funda­ mentais) tal como há uma filosofia da religião, da arte etc. d3) A filosofia é fundamentalmente a teoria do conhecimento das ciências. e3 ) As teorias científicas mais abrangentes são, como apontamos, teorias de teo­ rias; a filosofia pode ser tida como uma teoria de teorias de teorias. j3) A filosofia acha-se em relação de cons­ tante intercâmbio com a ciência - ela proporciona a esta certos conceitos gerais (ou certas análises), enquan­ to a ciência proporciona a ela dados com base nos quais desenvolve esses conceitos gerais (ou realiza essas aná­ lises). g3) A filosofia examina certos enunciados que a ciência pressupõe, mas que não pertencem à lingua­ gem da ciência. Todos esses argumentos encontram na história da filosofia e da ciência pontos de apoio; tudo depende do modo como se interpretam os dados históricos. Mas a interpretação desses dados depende, por sua vez, de vários modos possíveis de entender a filosofia e a ciên­ cia. Eis um círculo vicioso do qual parece dificil embora não impossível - escapar. As relações entre a filosofia e a ciência constituem somente um aspecto dos problemas filosóficos suscita-

CIÊNCIA dos pela ciência. Outro aspecto é a ciência como tema filosófico: o que se denominou "filosofia da ciência" Trata-se de uma disciplina extremamente ampla, sobre cujos principais temas nem sempre há acordo entre filósofos e cientistas com propensões filosóficas. Alguns avaliam que a filosofia da ciência é funda­ mentalmente a análise da linguagem da ciência (ou das linguagens das diversas ciências); outros conside­ ram que a filosofia da ciência tem de escrutar criti­ camente pressupostos (ontológicos e metodológicos) das ciências; outros inclinam-se a destacar a impor­ tância do estudo da história da ciência (ou das ciên­ cias). Por meio desse estudo, determinam-se os traços da evolução científica e das chamadas "mudanças con­ ceituais", que, quando suficientemente radicais, podem ser mudanças de paradigma (ver PARADIGMA, PARADIG­ MÁTICO ) . Ao mesmo tempo, a história da ciência pode ser estudada de um ponto de vista interno - quando se atende apenas ao desenvolvimento das descobertas e das teorias científicas - ou de um ponto de vista ex­ terno - quando se atende a condições extracientíficas, principalmente históricas, e amiúde sociais (ver ExTER­ NALISMO, INTERNALISMO). Este último deu lugar a estu­ dos, e até a disciplinas especiais, entre as quais se des­ taca a sociologia da ciência. Certos historiadores e so­ ciólogos da ciência avaliam que o que se denominou "filosofia da ciência" é uma pura reconstrução lógica de teorias científicas - que não costuma levar em conta os processos da descoberta ( vrn) - ou uma sim­ ples e infundada especulação, tingida de vagos pressu­ postos metafisicas. Com a finalidade de corrigir alguns desses defeitos, reais ou imaginários, propôs-se o de­ senvolvimento da metaciência ( vrn ) , ou de uma "ciên­ cia da ciência" Na filosofia da ciência das últimas décadas mani­ festaram-se duas direções. Uma é a que se chamou de "filosofia analítica da ciência"; a outra é a denomina­ da "filosofia hermenêutica da ciência" Os filósofos de propensão lógica e epistemológica manifestaram-se sobretudo em favor da primeira; os de propensão his­ tórica e sociológica, em favor da segunda. A chamada "nova filosofia da ciência" emergiu do complexo de técnicas analíticas e nesse sentido continua sendo "ana­ lítica", mas se opôs às interpretações positivistas, "or­ todoxas", da ciência, e em alguns casos se mostrou favorável a correntes "hermenêuticas" :> Sobre filosofia da ciência e das ciências: André Lalande, Lectures sur la phi/osophie des sciences, 1 893; 9ª ed., 1 927. - Werner Heisenberg, Wandlungen in der Grundlagen der Naturwissenschaft, 1 93 5 ; 1 Oª ed., 1 97 3 . - A. Cornelius Benj amin, An Jntroduction to the Phi/osophy ofScience, 1 937. - Albert G. Rams­ perger, Philosophies of Science, 1 942. - W. H. Werk-

458 meister, A Philosophy of Science, 1 940. - J. D. García Bacca, Filosofia de las ciencias, 1 94 1 . - S. Toulmin, The Philosophy of Science: An Jntroduction, 1 95 3 . P. H. van Laer, Philosophy ofScience. Parte I I : A Study ofthe Division and Nature o{Various Groups of Scien­ ces, 1 962. - S. Watanabe, W. von Quine et ai. , Boston Studies in the Philosophy of Science, 1 962, ed. M. W. Wartofsky (Colloquium for the Philosophy of Science, 1 96 1 - 1 962). - William L. Reese e Bernard Baumrin, eds., Philosophy ofScience, vol. !, 1 963 (The Delaware Seminar, 1 96 1 - 1 962); vol. II, 1 964 (The Delaware Se­ minar, 1 962- 1 963). - C. G. Hempel, W. Sellars et ai. , Frontiers of Science and Philosophy, 1 963 , ed. Robert G. Colodny. - Carl G. Hempel, Philosophy ofNatural Science, 1 964. - Peter Caws, The Philosophy ofScien­ ce: A Systematic A ccount, 1 965. - Leônidas Hegen­ berg, Introdução à filosofia da ciência, 1 965. - Ste­ phan Kõrner, Experience and Theory: An Essay in the Philosophy of Science, 1 966. - M. Black, P. K. Feye­ rabend et ai. , Philosophy of Science Today, 1 967, ed. Sidney Morgenbesser. - Peter Achinstein, Concepts of Science: A Philosophical Analysis, 1 968. - Paul R. Durbin, Philosophy o{Science, 1 968. Marx W. Wartofsky, Conceptual Foundations of Scientific Thou­ ght: An lntroduction to the Philosophy of Science, 1 968. - lmre Lakatos e Alan Musgrave, eds., Pro­ blems in the Philosophy ofScience, 1 968 (Proceedings of the International Colloquium in the Philosophy of Science, Londres, 1 965, vol. 3). - Rom Harré, The Phi/osophies ofScience: An Introductory Survey, 1 972; reed. , 1 98 5 . - Larry Laudan, Progress and Jts Pro­ blems: Towards a Theory of Scientific Growth, 1 977. - H. Brown, Perception, Theory and Commitment: The New Philosophy of Science, 1 977 [Popper, Kuhn et ai. ) . - M. Hesse, Revolutions and Reconstructions in the Philosophy of Science, 1 980. - G. Munévar, Radical Knowledge, 1 98 1 [na linha de Feyerabend] . - J. T. Cushing, C. F. Delaney, G. M. Gutting, eds., Science and Reality: Recent Work in the Philosophy of Science, 1 984. A. Rivadulla, Filosofia actual de la ciencia, 1 984 [prólogo de J. Mosterín ] . J. Grun­ feld, Changing Rational Standards: A Survey of Mo­ dern Phi/osophy of Science, 1 98 5 . Ver: R. J . Blackwell, A Bibliography of the Philo­ sophy of Science, 1 945- 1 98 1 , 1 98 3 . - Ver também bibliografia (infra) sobre ciência e filosofia, bem como sobre a ciência atual. Ver também a bibliografia de MÉTODO. Abundante material, com artigos de numerosos au­ tores (H. Feigl, H. Putnam, P. K. Feyerabend etc.), en­ contra-se na série dos Minnesota Studies in the Philo­ sophy of Science, sob a direção geral de H. Feigl e Gro­ ver Maxwell, e com editores especiais para cada volume. -

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CIÊNCIA

459 Sobre a linguagem e a lógica da ciência: K. Pear­ son, The Grammar of Science, 1 892. - W. S. Jevons, The Principies ofScience, 1 905. - H. Poincaré, Science et méthode, 1 908. - E. Meyerson, De l 'explication dans les sciences, 1 92 1 . - Harold R. Smart, The Logic ofScience, 1 93 1 . - Karl Popper, Logik der Forschung. Erkenntnistheorie der modernen Naturwissenschaft, 1 93 5 (trad. ingl., consideravelmente revisada: The Lo­ gic of Scientific Discovery, 1 959). - Leon Chwistek, Granice nauki. Zarys logiki i metodologji nauki scistych, 1 93 5 (trad. ingl . : The Limits of Science, 1 948). Eberhard Zschimmer, Die Logik des wissenschaftlichen Bewusstseins, 1 936. - A. Cornelius Benj amin, The Logical Structure of Science, 1 936. - P. Servien, Le langage des sciences, 1 938. - S. M. Neuschlosz, Aná­ lisis dei conocimiento cientifico, 1 940. F. C. S. Northrop, The Logic of the Sciences and the Humanities, 1 947. - W Szilasi, � Qué es la ciencia ? 1 949. - M. Lins, A evolução lógico-conceitua! da ciência, 1 954. - P. Henry van Laer, The Philosophy ofScience, 1 956. - G. Bergmann, Philosophy of Science, 1 957. - J. R. Kantor, The Logic of Modern Science, 1 957. - Mario Bunge, Metascientific Queries, 1 959. - Norword Russell Hanson, Patterns ofDiscovery: An Inquiry into the Conceptual Foundations of Science, 1 95 8 . - !d. , Perception and Discovery: An Jntroduction to Scientific lnquiry, 1 969. - Rom Harré, An lntroduction to the Logic ofthe Sciences, 1 960. - Ernest Nagel, The Struc­ ture of Science: Problems in the Logic of Scientific Explanation, 1 96 1 . - Henry Margenau, Open Vistas: Philosophical Perspectives of Modern Science, 1 96 1 . - Israel Scheffier, The Anatomy ofInquiry: Philosophi­ cal Studies in the Theory of Science, 1 963. - B. van Rootselaar e J. F. Staat, eds., Logic, Methodology, and Philosophy ofScience, 3 vols., 1 967. - Patrick Suppes, Studies in the Methodology and Foundations ofScience: Selected Papers from 1 951 to 1 969, 1 969. - Peter Achinstein, Law and Explanation: An Essay in the Phi­ losophy ofScience, 1 97 1 . - P. Achinstein, D. Bohm et ai., The Structure of Scientific Theories, 1 973, ed. Fre­ derick Suppe (Simpósio na Universidade de Illinois); 2ª ed., 1 978. - G. Radnitzky, G. Andersson, Progress and Rationality in Science, 1 978. - B. C. van Fraassen, The Scientific lmage, 1 980. - C. Eisele, ed., Historical Perspectives on Peirce s Logic of Science: A History of Science, 2 vols., 1 985. - D. Oldroyd, The Arch ofKnow­ ledge: An lntroductory Study of the History of the Phi­ losophy and Methodology of Science, 1 987. Sobre fundamentos das ciências: W. Sauer, Grund­ lagen der Wissenschaft und der Wissenschaften, 1 926. - Emest Sauberbeck, Vom Wesen der Wissenschaft, ins­ besondere der drei Wirklichkeitswissenschaften, der "Naturwissenschaft ", der "Psychologie " und der "Ges-

chichte , 1 9 1 4 . - Erich Becher, Geisteswissenschaften und Naturwissenschaften. Untersuchungen zur Theorie und Einteilung der Realwissenschaften, 1 92 1 . - Paul Tillich, Das System der Wissenschaft nach Gegenstiin­ den und Methoden, 1 923. - P. Oppenheim, Die natiir­ liche Ordnung der Wissenschaften, 1 926. - Russell Fox, Max Garbuny e Robert Hooke, The Science of Science, 1 964. - Gerard Radnitzky, Contemporary Schools of Metascience, 2 vols., 1 968; 3ª ed., 1 973 (!. A nglo-Saxon Schools of Metascience; li. Continental Schools ofMetascience). - !d. , Preconceptions in Re­ search: A Study, 1 974. - D. J. de Solla Price, Hacia una ciencia de la ciencia, 1 974. - J. Fetzer, Foundations of Philosophy of Science: Recent Developments, 1 993. Sobre a ciência como missão e a missão da ciência: Max Weber, Wissenschaft ais Beruf, 1 9 1 9. - E. von Kahler, Der Beruf der Wissenschaft, 1 93 1 . Sobre ciência e filosofia: Paul Hãberlin, Wissens­ chaft und Philosophie, 2 vols., 1, 1 9 1 0; I I , 1 9 1 2. Hugo Dingler, Grenzen und Ziele der Wissenschaft, 1 9 1 O. - !d. , Der Zusammenbruch der Wissenschaft und der Primai der Philosophie, 1 926. - Moritz Geiger, Die Wirklichkeit der Wissenschaften und die Metaphysik, 1 930. - U. Spirito, Scienza e Filosofia, 1 93 3 ; 2ª ed., 1 950. J. Maritain, Science et sagesse, 1 93 5 . Andrew G. Van Melsen, Natuurwetenschap en Wijsbe­ geerte, 1 946 ( Ciência natural e filosofia) . - Ph. Frank, Modern Science and Jts Philosophy, 1 949 (os capítulos 1 , 2, 3, 4, 5 , 8, 9 e 1 1 desta obra figuram também em Between Physics and Philosophy, 1 94 1 ) . - J . M . Riaza, Ciencia moderna y filosofia, 1 954. Everet W. Hall, Science and Human Values, 1 956. Ph. Frank, Philosophy of Science. The Link Between Science and Philosophy, 1 957. - Carlos París, Cien­ cia, conocimiento, ser, 1 957. - J. G. Kemeny, A Philo­ sopher Looks at Science, 1 959. - David Greenwood, The Nature of Science, 1 960. - Raimundo Paniker, Ontonomía de la ciencia: Sobre el sentido de la ciencia y sus relaciones con la filosofia, 1 96 1 . - Eduardo Nico!, Los principias de la ciencia, 1 965. - Erro! E. Harris, The Foundations of Metaphysics in Science, 1 965 . - Israel Scheffier, Science and Subjectivity, 1 967; 2ª ed., 1 982, com mais dois trabalhos: "ln Praise of Cognitive Emotion" ( 1 977) e "Vision and Revolu­ tion: A Postscript on Kuhn" ( 1 972). - H .-J. Barraud, Science et philosophie, 1 968. - J. C. C. Smart, Be­ tween Science and Philosophy: An lntroduction to the Philosophy ofScience, 1 968. - !. Lakatos, S. Toulmin et ai. , The lnteraction between Science and Philoso­ phy, 1 974 (Homenagem a S. Sambursky). - Joseph Agassi, Science in Flux, 1 97 5 . - M. B unge, J. Ferra­ ter Mora et ai. , La filosofia y la ciencia en nuestros días, 1 976 (do Primeiro Colóquio Nacional de Piloso"

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CIÊNCIA fia, Morélia, 4/9-VIII- 1 975). - Várias das obras men­ cionadas supra em outras epígrafes abordam também a questão aqui introduzida. - W. W. Lowrance, Mo­ dem Science and Human Values, 1 985. - R. H. Schla­ gel, Contextua/ Realism: A Meta-Physical Framework for Modem Science, 1 986. - P. Sherrard, The Eclipse of Man and Nature: An Enquiry into the Origins and Consequences of Modem Science, 1 987. - R. E. Butts, J. R. Brown, eds . , Constructivism and Science: Essays in Recent German Philosophy, 1 989. - P. T. Grier, ed. , Dialectic and Contemporary Science, 1 989. - R. N. Proctor, Value-Free Science ? Purity and Power in Modem Knowledge, 1 99 1 . Sobre a ciência atual: Vários autores, L'orientation actuelle des sciences e De la méthode dans les scien­ ces, 2 vols., Paris, 1 909- 1 9 1 1 . - A. N. Whitehead, Science and the Modem Wor/d, 1 92 5 . - Cyri l E. M . Joad, Philosophical A5pects of Modem Science, 1 93 2 . - Max Planck, (:Adónde v a l a ciencia ?, 1 94 1 . Gaston Bachelard, Le nouvel esprit scientifique, 1 934. - !d. , La philosophie du Non. Essai d 'une philosophie du nouvel e5prit scientifique, 1 940. - !d. , La forma­ tion de / 'e5prit scientifique. Contribution à une p.1ycha­ nalyse de la connaissance objective, 1 93 8 . - Muitas das obras citadas supra (Ph. Frank, G. Bergmann, M. Bunge, N. R. Hanson, E. Nagel, H . Margenau) tam­ bém tratam da "ciência atual" Além disso: H. Feigl e G. Maxwell, eds . , Current lssues in the Philosophy of Science, 1 96 1 . - R. K. Merton, The Sociology of Science: Theoretical and Empirical lnvestigations, 2 vols., 1 97 3 . - J. Mosterín, Conceptos y teorias en la ciencia, 1 984. - P. Achinstein, O. Hannaway, eds., Observation, Experiment, and Hypothesis in Modem Physical Science, 1 985. - J. O. Wisdom, Challengea­ bility in Modem Science, 1 987. Sobre a história da ciência. Histórias de caráter geral: P. Duhem, Le 5ystéme du monde. Histoire des doe trines cosmologiques de Platon à Copemic, 1 O vols. (I, 1 9 1 3 ; II, 1 9 1 4; Ill, 1 9 1 5 ; IV, 1 9 1 6; V, 1 9 1 7 ; VI, 1 954; VII, 1 956; VIII, 1 958; IX, 1 958; X, 1 959). - L. Thorndike, A History o(Magic and Experimental Scien­ ce, I e II, 1 923; 2ª ed., I, II, 1 929; III e IV, 1 934; V, VI, 1 94 1 ; VII, VIII, 1 958. - G. Sarton, lntroduction to the History of Science, I, 1 927; II, 1 , 1 93 1 ; II, 2, 1 93 1 ; III, 1, 1 947; III, 2, 1 948. !d. , A History o( Science (!, 1 952). - William Ceei! Dampier-Wetham, A History of Science and its Relations with Philosophy and Re­ ligion, 1 930. - F. Vera, Historia de la ciencia, 1 937. - F. Enriques e G. de Santillana, Compendio di storia dei pensiero scientifico, 1 93 7 (em fr. : Histoire de la pensée scientifique, I, II, III, 1 936 ). - Charles Singer. A History o(Science, 1 94 1 . - W. T. Sedgwick e H. W. Taylor, A Short History o(Science, 1 939. - J. D. Berna!. Science in History, 4 vols., 1 950; reimp. , 1 97 1 (!, The ·

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Emergence o(Science; II, The Scientific and Industrial Revolutions; III, The Natural Sciences in our Time; IV, The Social Sciences; Conclusion). - A. C. Crombie, Augustin to Galileo. The History of Science A. D. 4001 650, 1 952, caps. !-IV rev. e publicados sob o título: Medieval and Early Modem Science, 2 vols., 1 959 (!, Science in the Middle Ages; II, Science in the Later Middle Ages and Early Modem Times). - Panorama General de Historia de la Ciencia, 1 2 vols., 1 9481 96 1 : vols. I-V, por Aldo Mieli; vols. VI-XII, por Desiderio Papp e José Babini . - René Taton, ed., His­ toire générale des sciences, 3 vols., 1 957- 1 96 1 . Thomas S. Kuhn, The Structure of Scientific Revolu­ tions, 1 962; 2ª ed. ampl . , 1 970. - Juan David García Bacca, Historia filosófica de la ciencia, 1 964 ( cf. tam­ bém a bibliografia do verbete CIÊNCIAS [CLASSIFICAÇÃO DAS]). - D. Papp, ldeas revolucionarias en la ciencia. Su historia desde el Renacimiento hasta promediar el sigla XX, 3 vols. (1, La ciencia clásica de Leonardo a Volta, 1 975; II, La edad de las grandes síntesis. El sigla XIX, 1 977; III, Grandes corrientes de la ciencia contem­ poránea, 1 979). - N. Jardine, The Birth o( History and Philosophy of Science, 1 984. - H. Gardner, The Mind's New Science: A History of the Cognitive Revo­ lution, 1 987. - G. Sarton, The History of Science and the New Humanism, 1 988. - N. S. Hetherington, Science and Objectivity: Episodes in the History ofAs­ tronomy, 1 988. Para a história da ciência na Antiguidade, ver es­ pecialmente: J. Tannery, Science et Philosophie, 3ª ed., 1 9 1 2 . - G . Milhaud, Études sur la pensée scientifique chez les Grecs et chez les Modemes, 1 906. - !d. , Nouvelles études sur / 'histoire de la pensée scientifique, 1 9 1 1 . - A. Rey, La science dans l 'antiquité, 5 vols., 1 930- 1 948. - José Babini, Enciclopedia de historia de la ciencia, 1 4 fases. , 1 967- 1 969 (da Antiguidade ao Renascimento) . - F. Jürss et ai. , Geschichte des wis­ senschafilichen Denkens im Altertum, 1 982. - P. Nico­ lacopoulos, ed. , Greek Studies in the Philosophy and History o( Science, 1 990. - G. E. R. Lloyd, Methods and Problems in Greek Science, 1 99 1 . Para a história da ciência moderna, ver especial­ mente : Leonard Olschki, Geschichte der neusprachli­ chen wissenschafflichen Literatur. L Die Literatur der Technik und der angewandten Wissenschaften vom Mit­ telalter bis zur Renaissance, 1 9 1 8 ; I I . Bildung und Wissenschafi im Zeitalter der Renaissance in ltalien, 1 922. - John Theodore Merz, History o( Scientific Thought in the Nineteenth Century, 4 vols., 1 896- 1 9 1 4 . - R. R. Bolgar, ed. , Classical lnfluences on Westem ThoughtA. D. 1 650- 1 8 70, 1 978. - P. Weimar, ed. , Die Renaissance der Wissenschaffen im 12. Jh. , 1 98 1 . - J. Weinberger, Science, Faith, and Politics: Francis Bacon and the Utopian Roots of the Modem Age, 1 985.

461 Bibliografias: Jean-Dominique Robert, Philoso­ phie et science: Éléments de bibliographie / Philosophy and Science: Elements ofBibliography, 1 968. - Mag­ da Whitrow, !SIS Cumulative Bibliography: A Biblio­ graphy ofthe History ofScience Formedfrom !SIS Cri­ tica/ Bibliographies 1-90, 1913-1 965, 2 vols., 1 9 7 1 (1: Personalities, A-J; II, Part 1: Personalities, K-Z; Part I I : lnstitutions). Informações sobie questões relativas à filosofia da ciência poderão ser encontradas na maioria das revistas filosóficas, mas especialmente em Erkenntnis (que tem continuação no Journal of Unified Science), Philosophy o{ Science, The British Journal for the Philosophy of Science, Studium Generale. Zeitschrift fiir die Einheit der Wissenschaften in Zusammenhang ihrer Begriffsbil­ dungen und Forschungsmethoden, Philosophia natura­ /is. Archivfiir Naturphilosophie und die philosophischen Grenzgebiete der exakten Wissenschafien und Wissens­ chafisgechichte, Theoria, Zagadnienia Naukoznawstwa (ed. ingl . : Problems of the Science o{ Science, com continuação em Science o{ Science: An lnternational Journal o{ Studies on Scientific Reasoning and Scien­ tific Ente1prise), Fundamenta Scientiae. The lnterna­ tional Journal for Criticai Analysis of Science and the Re.1po11sibility o{ Scientists. Do ponto de vista mais estritamente científico, ver a revista Scientia (italiana). Para a história da ciência, ver a revista lsis, fundada e editada por George Sarton em 1 9 1 3 . Essa revista é dedicada à "história da ciência e da civilização" e publi­ ca periodicamente bibliografias de história da ciência. A revista Osiris (desde 1 936), também editada por Geor­ ge Sarton, constitui uma série de volumes suplementares de lsis, volumes que costumam consagrar-se a um único tema ou a trabalhos mais extensos. Devem-se acrescen­ tar às revistas citadas a francesa Thales (desde 1 934 ), Archaion, fundada na Itália por Aldo Mieli e publicada depois na Argentina, e Studies in Hist01y and Philoso­ phy of Science (desde 1 979). C CI ÊNCIA (DOUTRINA DA; TEORIA DA). Literal­ mente, deve-se entender por 'doutrina da ciência' e 'teoria da ciência' algo similar a filosofia da ciência, seja de modo gera! ou em formas especiais, correspondentes às diversas ciências. Segundo isso, 'doutrina da ciência' e 'teoria da ciência' designam o estudo da estrutura da teoria científica (ou, melhor, dos diversos tipos de teo­ rias científicas), o estudo da relação entre termos da lin­ guagem teórica e da linguagem observacional, métodos científicos, lógica da linguagem científica (ou das lin­ guagens científicas) etc. Cabem então nesse contexto os conceitos que figuram em várias partes do Quadro sinótico no fina l desta obra: "Teoria da ciência e meto­ dologia", "Filosofia da ciência", "Filosofia da matemá­ tica", "Filosofia da Natureza" (usado em sentido amplo

CIÊNCIA MÉDIA e não necessariamente especulativo); e numerosos con­ ceitos que figuram em "Lógica e metalógica", "Filoso­ fia da linguagem e semiótica" e 'Teoria do conhecimen­ to" Um dos nomes que mais circularam para designar uma "doutrina da ciência" ou uma "teoria da ciência" é metaciência (vER) , bem como "ciência da ciência" Não obstante, reservam-se historicamente as ex­ pressões "doutrina da ciência" e "Teoria da ciência" a certos sistemas ou séries de sistemas especulativos do tipo dos elaborados por Fichte. As expressões de referência servem de tradução a Wissenschaftslehre. Deve-se observar que a palavra alemã Wissenscha.fi tem amiúde um significado mais amplo (ou mais vago) do que o que possui em espanhol , francês ou inglês "ciência" (ou seus correspondentes) : trata-se de um "saber" ou de um "conhecimento" (supostamente bá­ sico e prévio a todas as ciências). Por outro lado, Wis­ senschaft é usado também em sentido mais restrito. A rigor, a expressão Wissenschaftslehre foi empregada não apenas por Fichte, mas também por Bolzano ( vER) , que não se ocupou da ciência no sentido especulativo do idealismo alemão. CIÊNCIA M É DIA. Os teólogos abordaram o problema da inte/ligentia Dei ou da scientia Dei sob o aspecto dos atributos divinos. Nesse sentido, entenderam antes de tudo que Deus possui a ciência de modo perfeitíssi­ mo. Daí que o objeto primário dessa ciência seja a essência divina, isto é, o próprio Deus, enquanto o objeto secundário são as idéias divinas. O problema da "relação" entre Deus e as idéias, assim como, e sobre­ tudo, o problema do que se denominou "a divina pres­ ciência dos futuros" - essencial para se compreender a questão da liberdade humana -, está, portanto, incluí­ do na scientia Dei. O conceito de ciência média foi formulado precisamente para responder a algumas das maiores dificuldades suscitadas a esse respeito - vere­ mos várias delas em nossa descrição da noção de futu­ rívcl ( VER ) . Digamos agora apenas que os teólogos esta­ beleceram na questão que nos ocupa uma distinção entre a chamada ciência de simples inteligência, ou também ciência divina, e uma ciência de visão. Entende-se pela primeira a forma de intel igência por meio da qual Deus conhece os entes e os atos possíveis como possíveis, estejam ou não no âmbito da possibilidade. O objeto dessa ciência são por isso as essências e os predicados essenciais, as "verdades eternas" (e também, por conse­ guinte, os próprios impossíveis). Pela segunda se enten­ de a inteligência que Deus possui dos existentes como existentes, incluindo, naturalmente, o próprio Deus. Co­ mo já vimos na discussão do conceito de futuríve! , para alguns essa divisão é adequada; para outros, em contra­ partida, é inapropriada. Estes últimos introduziram pre-

CIÊNCIA UNIFICADA cisamente a noção de ciência média como ciência dos futuros condicionados. Como observa Ponce de León, a ciência média define-se de dois modos em última análise concordantes: é um conhecimento certo e infa­ lível dos futuros condicionados, que antecede todo decreto absoluto de Deus (segundo afirma Bastida), ou é um conhecimento divino dos futuros contingentes condicionados, independente de todo meio conectado previamente com esses futuros (como sustenta Henao). Por isso, a ciência média "convém com a simples inte­ ligência em que se dá em Deus independentemente de todo decreto livre atual, e por isso mesmo não se diz ciência livre, mas natural, como a ciência de simples intel igência", mas ao mesmo tempo imita a ciência de visão por versar "sobre verdades contingentes que po­ dem ser ou não ser" O conceito de ciência média, embora conhecido desde a Antiguidade, foi elaborado sobretudo por Fonseca (no livro VI dos Commentarium Petri Fonsecae Lusitani Doctoris Theologi Societatis Jesu, in libras Metaphysicorum Aristote/is Stagiritae, t. I, 1 577; II, 1 5 89; III, 1 604; IV, 1 6 1 2) e por Luis de Molina (vER) em sua Concordia ( 1 588), a ponto de o chamado molinismo ter como uma de suas bases funda­ mentais a citada doutrina, à qual se opuseram Domingo Báiiez, dominicano, e Francisco Zúmel, agostiniano, entre outros, gerando a famosa controvérsia de aiiüliis , que terminou sem que a Congregação formada para esse fim chegasse a nenhuma conclusão e, portanto, sem que se pudessem considerar heréticas as doutrinas molinistas nem tampouco, é evidente, as contrárias. :> São também fundamentais por sua amplitude as duas obras de Gabriel de Henao sobre a ciência média (e a favor dela): Scientia media historice propugnara, seu ventilabrum repurgan.1· veras a falsis nove liis nar­ rationibus circa displllationes celeberrimas, 1 65 5 ; no­ va edição, 1 68 5 ; e Scientia media theologice defensa, 2 vols., 1 674. Ver, além disso, a bibliografia de MouNA (Lu1s DE ) . C CIÊNCIA UNIFICADA. A idéia de uma "ciência uni­ ficada" ou da "unidade da ciência" é encontrada em vários autores anteriores ao século XX. O mais citado a esse respeito é Leibniz. Sua idéia de uma characte­ ristica universalis ( vrn ) equivale à noção de uma lin­ guagem universal para todas as ciências, mas o ideal de uma unificação das ciências e, em geral, dos conhe­ cimentos, a scientia generalis, não é alheio aos propó­ sitos de Leibniz. Não obstante, fala-se de "ciência unificada" e de "unidade da ciência" com referência especificamente a um dos aspectos que apresentou o que poderia cha­ mar-se o "ideário" do Círculo de Viena (vER ) . A idéia de "ciência unificada" (Einheitswissenschafi) e de "uni­ dade da ciência" (Einheit der Wissenschafl) foi desen-

462 volvida por vários autores, mas deve muito de seu impulso a Otto Neurath e Rudolf Carnap. Neurath sobretudo começou a incubar essa idéia por volta de 1 920, como declarou numa carta de 1 93 5 , referente ao projeto de uma Enciclopédia que devia ser a Enci­ clopédia da Ciência Unificada. Segundo informa Charles Morris numa resenha "Sobre a história da Enciclopédia Internac ional de Ciência Unificada" (Synthese, 12 [ 1 960], 5 1 7-52 1 ), Neurath estabeleceu um Instituto de Ciência Unificada dentro do Instituto Mundaneum de Haia em 1 936. Em 1 937, este recebeu o nome de Instituto Internacional para a Unidade da Ciência, sob a égide de Neurath, Philipp Frank e Char­ les Morris. O Instituto devia preparar a "Enciclopé­ dia" indicada, sob a direção de um Comitê integrado por Neurath, Carnap, Frank, Joergen Joergensen, Mor­ ris e Louis Rougier. A série de congressos internacio­ nais para a Unidade da Ciência começou com o primei­ ro Congresso de fi losofia científica, em Paris, no ano de 1 93 5 , no qual se aprovou o proj eto, já elaborado antes, da Enciclopédia. "Unidade da ciência" e "Enci­ clopédia" eram noções estreitamente unidas na mente de Neurath, que, aparentemente inspirado pela Enciclo­ pédia (vER) francesa, mas organizando-a antes em gru­ pos de monografias que alfabeticamente, tinha o pro­ j eto de publicar 26 volumes, com dez monografias por volume, mais dez volumes de um Thesaurus visual, ou "Tesauro Isotipo'', que deviam constituir um "Sumá­ rio do mundo em imagens" ( Weltiibersicht in Bildern). A Enciclopédia deveria ser publicada em alemão, inglês e francês. Quando a maioria dos membros do Círculo de Viena emigrou, o inglês foi crescentemente adotado para real izar os trabalhos e projetos iniciados em Viena (e Berlim). Erkenntnis transformou-se no Journal of Unified Science, e a Enciclopédia neurathiana se desenvolveu na série de monografias que recebeu o título geral de lnternational Encyclopedia of United Science e que, em 1 969, foi reeditada num único volu­ me (dez monografias do primitivo vol. I [ 1 955] e nove do II), sob o título de Foundations of the Unity of Science. Toward an lnternational Encyclopedia of Uni­ ted Science. Entre os autores de monografias figuram, além de Neurath e Carnap, Niels Bohr, Frank, Dewey, Russell, Morris, Nagel, Victor F. Lenzen etc. Nem todos os que contribuíram para a (incompleta) "Enciclopédia" têm uma noção idêntica acerca do senti­ do das expressões "ciência unificada" e "unidade da ciência", mas em todo caso não se trata de uma "sínte­ se metafisica", e sim de uma unidade lógico-epistemo­ lógica e, como indica Neurath, de uma "integração ló­ gico-empírica" Tampouco se trata necessariamente de reducionismo de todas as ciências a um único tipo de ciência, embora seja óbvio que muitos dos que segui­ ram o movimento denominado Ciência Unificada ti-

463 nham como modelo as ciências naturais e, dentro delas, a fisica. No âmbito do movimento, houve autores que sustentaram teses fenomenistas "neutras" (ver FENOME­ NISMO), enquanto outros preconizaram teses fenome­ nistas fundadas numa linguagem descritiva de "dados últimos dos sentidos", e outros, teses de caráter fisica­ lista (ver FISICALISMO). Comum a quase todos os autores do movimento esboçado é a consideração, como escreveu Carnap ("Logical Foundations of the Unity of Science"; reimp. em Foundations of the Unity of Science, 1, p. 49), de que "a questão da unidade da ciência" é "um proble­ ma de lógica da ciência, não de ontologia" Por isso, não se formulam perguntas como "O mundo é uno9" ou "Todos os acontecimentos são fundamentalmente de um único tipo?" - como se faria em sistemas "metafisicos" -, de maneira que não se deve confun­ dir a idéia da ciência unificada com nenhuma ontologia monista. As reduções que se operam no processo de unificação científico são reduções conceituais (ou "lin­ güísticas" e, especificamente, "lingüístico-formais"). Neurath exprimiu as tendências mais gerais do movi­ mento para a ciência unificada, ou unidade da ciência, ao escrever, em seu trabalho sobre "a ciência unifi­ cada como integração enciclopédica", que "a nova versão da idéia de ciência unificada [ao contrário de versões como a da scientia generalis leibniziana) foi criada pela confluência de correntes intelectuais diver­ gentes" e em particular por duas destas : "o trabalho empírico dos cientistas" e "as construções lógicas" Estas últimas já não são manifestações do "raciona­ lismo a priori gerado por sistemas filosófico-religio­ sos" É óbvio que o ideal da ciência unificada está estreitamente ligado, em suas origens, ao "empirismo lógico", ou, como o expressa Neurath, também ao "racionalismo empírico" (termos que já não se mos­ tram incompatíveis entre si). No curso de seu desenvolvimento, o movimento da ciência unificada seguiu os avatares do empirismo ou positivismo lógicos e, portanto, dedicou cada vez menos atenção ao impulso "enciclopédico" originário e, por conseguinte, em larga medida, cada vez menos atenção aos problemas da unificação científica, ainda que estes sejam tidos como problemas de lógica das linguagens das ciências. Uma versão mais recente do ideal da ciência uni­ ficada distinta da positivista e mais próxima da leibni­ ziana foi preconizada por autores como Edward F. Haskell, Harold G. Cassidy, Arthur R. Jensen e outros. Este tipo de "ciência unificada" é antes uma tentativa de síntese de ciências e de formas de cultura do que de redução, seja esta real ou lingüística. Trata-se, de ime­ diato, de integrar as ciências naturais e as culturais, ou as ciências e as "humanidades", isto é, as "duas culturas" no sentido da expressão procedente de C. P.

CIÊNCIAS (CLASSIFICAÇÃO DAS) Snow. Mas a integração e a síntese apontadas não são, na intenção dos autores mencionados, nenhuma síntese de caráter "indutivo": trata-se de uma síntese que se encaixa num sistema. Este pode fundar-se numa teoria de sistemas similar à desenvolvida por Ervin Laszlo. Importante nesse novo movimento voltado para uma ciência unificada - que poderia igualmente denomi­ nar-se "cultura unificada" e, do ponto de vista educa­ tivo, "interdisciplinar" - é a tentativa de integrar va­ lores ao corpo de concepções científicas. CIÊNCIAS (CLASSIFICAÇ Ã O DAS). Num sentido estrito, a classificação das ciências é um tema especi­ ficamente moderno, já que só apareceu quando se reconheceu aquilo que foi chamado de "independência das ciências particulares em relação à filosofia" Num sentido amplo, entretanto, a classificação das ciências é análoga à dos saberes (ver SABER) e às subdivisões da filosofia freqüentemente discutidas pelos filósofos antigos e medievais. Neste verbete, referir-nos-emos principalmente às classificações das ciências na época moderna propostas a partir de Francis Bacon, mas pre­ cederemos essa informação de alguns dados sobre as divisões antigas e medievais. Uma primeira divisão dos saberes foi a estabele­ cida por Platão quando este distinguiu a opinião ( vrn) e o saber propriamente dito. Aristóteles, Eudemo de Rodes e muitos comentadores posteriores do Estagi­ rita dividiram a filosofia em teórica e prática, e com freqüência consideraram a lógica como um simples instrumento (e não uma parte) da filosofia. Aristóteles, além disso, classificou os saberes em três espécies: teóricos, práticos e poéticos (ou produtivos). O objeto dos saberes teóricos é a verdade; o dos saberes práti­ cos, a ação encaminhada a um fim; o dos saberes poé­ ticos ou produtivos, um objeto exterior produzido por um agente. Uma classificação muito comum da filo­ sofia na idade antiga foi aquela popularizada pelos estóicos: a filosofia se divide, segundo estes, em lógi­ ca, fisica e ética (divisão que o próprio Kant ainda considerava adequada "à natureza das coisas"). Uma variante dessa divisão é a epicurista: a divisão da filo­ sofia em canônica ( vrn) , fisica e ética. Entre as classi­ ficações propostas durante a Idade Média, algumas se baseiam na organização do ensino (é o caso da divisão das artes liberais no Trivium e no Quadrivium) e outras seguem precedentes antigos, especialmente aristotéli­ cos. No que tange às últimas, mencionaremos as se­ guintes: a) A classificação de Avicena, que, seguindo Aristóteles, dividiu as ciências em especulativas e prá­ ticas, e as primeiras em c i ência superior (metafisica, filosofia primeira ou ciência divina), ciência média (matemática) e ciência ínfima (fisica). b) A classifica­ ção de Domingo Gundisalvo, que, seguindo a tradição aristotélica árabe, dividiu as ciências em ciência huma-

CIÊNCIAS (CLASSIFICAÇÃO DAS) na ou filosófica e ciência divina ou da revelação. A ciência humana subdividia-se em ciência da eloqüên­ cia, ciência média e ciência da sabedoria. A ciência da sabedoria tinha dois aspectos: a fi losofia teórica e a filosofia prática. A filosofia teórica era subdividida em tisica, matemática e teologia ou fi losofia primeira (de acordo com os graus de abstração [VER]). A filoso­ fia prática, em pol ítica (ou arte do governo civil), eco­ nomia (ou arte do governo famil iar) e ética. e) A classificação de Hugo de São Vítor, segundo a qual a filosofia se divide em ciência teórica (teologia, mate­ mática e tisica, por um lado, e aritmética, música, geo­ metria e astronomia, por outro), cm ciência prática (ética), em ciência mecânica (artes mecânicas) e lógica (subdividida em gramática e ciência dissertativa [a ciência disscrtativa trata da demonstração provável e se subdivide em dialética e em retórica, ou arte da demonstração sofistica]). d) A classificação de Roberto Ki lwardby, segundo a qual a fi losofia se divide em fi­ losofia das coisas divinas (subdividida em natural, matemática e metafísica) e das coisas humanas (subdi­ vidida em ética, artes mecânicas e lógica). e) A classi­ ficação de um autor desconhecido do século XIII, apresentada por M . Grabmann, que consiste em dividir a fi losofia em três ramos: natural, prática ou mora l, e racional. A fi losofia natural subdivide-se cm metafi­ sica, matemática (astronomia, geometria, aritmética, música) e física. A fi losofia prática ou moral subdivi­ de-se em teologia sobrenatural, hipótica (provavelmen­ te, economia), política e ética. A filosofia racional subdivide-se em retórica, gramática e lógica. A estas classificações poderiam ser acrescentadas outras; por exemplo, foi comum na Idade Média a articulação hierárquica do saber em teologia, filosofia e ciência (incluindo arte mecânica), assim como a classificação dos saberes segundo diversos tipos de "luzes": luz superior e inferior, luz exterior e interior (como ocorre em São Boaventura). Tendeu-se com freqüência a orga­ nizar as ciências (como vimos em alguns exemplos anteriores) de acordo com os graus de abstração - o usual foi então apresentar a série: matemática, tisica e metafisica. A classificação mais conhecida no início da época moderna é a de Francis Bacon, que classificou as ciências segundo as faculdades: memória, razão e fan­ tasia. A memória dá origem à História, que se subdi­ vide em sagrada, civi l e natural. A razão dá origem à ciência, que se subdivide em teologia natural, ciência da Natureza e ciência do homem. A ciência da Nature­ za subdivide-se em metafísica, ou estudo das causas formais e finais, e fisica, ou estudo das causas mate­ riais e eficientes. A ciência do homem subdivide-se em lógica, ou ciência da razão propriamente dita, ética, ou ciência da vontade, e ciência da sociedade. A fan-

464 tasia dá origem à poesia, subdividida segundo as nor­ mas da poética clássica. Hobbes subdividiu as ciências em ciências de fatos (ou ciências históricas e empíri­ cas) e ciências de razão (ou ciências científico-filosó­ ficas, que têm por objeto a dedução do que o entendi­ mento sinta como verdadeiro). Ampere dividiu as ciên­ cias em cosmológicas e noológicas. As ciências cos­ mológicas subdividem-se em ciências cosmológicas propriamente ditas (matemática, tisica) e ciências fisio­ lógicas (naturais e médicas). As ciências noológicas subdividem-se em ciências noológicas propriamente ditas (subdivididas em fi losóficas: psicologia, ontolo·· gia, ética; e nootécnicas: tecnestesia, glosologia) e ciências sociais (subdivididas em etnológicas: etnolo­ gia, arqueologia, história; e política: dos meios de go­ verno ou cibernética, do Direito das gentes ou etno­ dicéia e da diplomacia). Schopenhauer dividiu as ciên­ cias em puras e empíricas. As ciências puras abrangem a teoria do principio do ser e a teoria do princípio do conhecer. As ciências empíricas compreendem a teoria das causas, a teoria das excitações e a teoria dos mo­ tivos. Comte erigiu uma hierarquia das ciências de acor­ do com o grau de sua "positividade", ordenando-as nu­ ma série que começa com a matemática e continua com a astronomia, a física, a química, a biologia e a sociologia, com a filosofia como a ciência mais abran­ gente em virtude da concepção comteana do fi lósofo como "o especialista em generalidades" W. Whewell apresentou várias classi ficações das ciências. Segundo R. Blanché, nos manuscritos cantabrigenses de Whe­ well aparece uma parte dedicada às ciências puras, outra às ciências de observação e outra às ciências re­ flexas ( ref/ex sciences). Estas últimas são "fundadas em nosso conhecimento das ações e dos sentimentos de nossas individualidades e não meramente em obser­ vações externas'" trata-se, pois, das ciências morais, também denominadas subjetivas. Em sua obra sobre a filosofia das ciências indutivas, Whewell eliminou as ciências reflexas ou subjetivas e se ateve a uma classificação baseada num certo número de idéias fun­ damentai> (tais como o espaço, o tempo, o número, a causa, a polaridade, a simetria, a causa final etc.). Disso resulta uma classificação das ciências em: ciências puras, ciências mecânicas, ciências mecânicas secundárias, ciên­ cias mecânico-químicas, química, morfologia, ciências classificatórias, biologia e ciências paleoetiológicas (ou baseadas na chamada causação histórica). Balmes afir­ mou que há quatro espécies de seres e que há uma ciência especial que se ocupa de cada uma delas: a filo­ sofia natural, que trata dos seres submetidos à ordem natural estabelecida por Deus; a filosofia moral, que trata dos seres morais submetidos a uma ordem moral constituída pelas leis que, sem forçar o homem, obrigam­ no a usar retamente a razão e o livre-arbítrio que Deus

465 lhe concedeu; a filosofia da história, que trata dos seres históricos ou sociais, seres que pertencem à or­ dem da sociedade humana; e a filosofia religiosa, que trata dos seres que se referem a uma providência ex­ traordinária e estuda os fatos e revelações de uma or­ dem superior à natural e social. Spencer propôs uma divisão das ciências em ciências de formas dos fenô­ menos ou abstratas (que abrangem a lógica e a mate­ mática) e ciências dos próprios fenômenos, que se subdividem em ciências abstrato-concretas (como a física, a química e a mecânica) e em ciências concretas (como a biologia, a psicologia e a sociologia). Wundt dividiu as ciências em formais e reais. As primeiras compreendem a matemática pura. As segundas subdi­ videm-se em ciências da Natureza e ciências do espí­ rito, devendo ser estudadas em seus três aspectos: o fenomenológico, o genérico e o sistemático. Peirce de­ dicou-se muito às classificações das ciências; funda­ mentalmente, dividiu as ciências em dois grandes ra­ mos: ciências teóricas e ciências práticas. As ciências práticas abrangem as ciências de descoberta e as ciên­ cias de revisão (entre estas últimas figura a teoria das classi ficações das ciências). As ciências de descoberta se subdividem em três tipos: matemática, filosofia (que tem caráter cenoscópico [ vER )) e idioscopia. A mate­ mática se subdivide, ao mesmo tempo, em matemática da lógica, matemática das séries discretas e matemá­ tica do contínuo e pseudocontínuo. A filosofia subdivi­ de-se em fenomenologia ( vER ) , ciência normativa (que inclui estética, ética e lógica) e metafisica (que inclui ontologia, metafisica religiosa e metafisica física). A idioscopia tem duas grandes subdivisões: ciências fí­ sicas (física geral, física classificatória, física descriti­ va) e ciências psíquicas (física nomológica ou psicolo­ gia, física classificatória ou etnologia, física descritiva ou História). Esta classificação prossegue mediante nu­ merosas subdivisões. Renouvier classificou as ciências em lógicas e físicas. As ciências lógicas compreendem a poiologia ou investigação da qualidade (subdividida em lógica formal e gramática geral) e a posologia ou investigação do número, posição, sucessão e vir-a-ser (subdividida em álgebra e aritmética, geometria, dinâ­ mica e estática e cálculo de probabilidades). As ciências físicas abarcam a História natural (subdividida em cos­ mologia e geologia, que compreendem geografia, mi­ neralogia, geologia propriamente dita e meteorologia, botanologia ou botânica, análise vegetal e zoologia, an­ tropologia e análise animal) e a física (subdividida em astronomia, físico-química ou física especial, química e análise matemática físico-química, e biologia). Às ciências lógicas e físicas se acrescentam as ciências "im­ perfeitas" ou morais, agrupadas sob o nome geral de Crítica. Esta se subdivide em crítica tética (que com­ preende a !ética do conhecimento em geral ou análise

CIÊNCIAS (CLASSIFICAÇÃO DAS) das categorias das funções humanas e dos elementos da síntese cósmica; a tética das ciências ou tética das ciências lógicas e físicas; e a tética das noções morais ou ética, estética, economia, política) e crítica históri­ ca (ou crítica antropológica, etnologia, lingüística, ar­ queologia e História; crítica especialmente intelectual ou moral ou Históría das ciências, da filosofia, da mo­ ral, das religiões, da arte, do Direito, econômico e po­ lítico etc.). Adrien Naville ( 1 845- 1 930) classificou as ciências de acordo com as respostas a três questões fundamentais. A pergunta referente ao que é possível e ao que não é possível dá lugar às ciências de leis ou teoremática. A pergunta referente ao que é real e ao que não é real dá lugar às ciências de fatos ou Histó­ ria. A pergunta referente ao que é bom e ao que não é bom dá lugar às ciências de regras ou ciências norma­ tivas, isto é, à canônica. As ciências de leis compreen­ dem a nomologia, a matemática, a físico-química, a bio­ logia somática, a psicologia e a sociologia, cada urna das quais é mais complexa do que a anterior. As ciências de fatos abrangem quatro classes quatro espécies de ciências históricas: a do mundo inorgânico (astronomia, geologia, mineralogia etc.), a do mundo vegetal, a do mundo animal com exclusão do homem e a história do homem. A canônica divide-se em canônica da vontade ou teleocanônica e teoria da ação boa ou praxicanônica. Stumpf formula diversas classificações segundo vári­ os princípios. Pelos obj etos, as ciências dividem-se em ciências de funções e ciências de fenômenos psí­ quicos. As primeiras compreendem as ciências do espí­ rito (subdivididas em psicologia como ciência das fun­ ções elementares, e ciências do espírito em geral en­ quanto ciências de funções complexas). A ciência natu­ ral e suas derivações correspondem ao grupo das ciên­ cias que estudam os objetos deduzidos dos fenômenos. As segundas compreendem a fenomenologia, a eidolo­ gia e a ciência das relações. A metafisica examina a mú­ tua dependência entre esses tipos de objetos. Segundo outros critérios, as ciências dividem-se em individuais (ciências de fatos) e gerais (ciências de leis); em homo­ gêneas (como a matemática) e heterogêneas (como as demais ciências); em ciências do que é (como a física) e ciências do que deve ser (como a ética). Para Dilthey, há dois grandes grupos de ciências: as ciências natu­ rais e as ciências do espírito (que são às vezes denomi­ nadas culturais, humanísticas ou morais e políticas). De acordo com Windelband ( VER) , as ciências se divi­ dem em nomotéticas e idiográficas. Segundo Rickert ( VER ) , há ciências generalizantes e ciências individua­ lizantes. Alguns autores propõem dividir as ciências em ciências de obj etos ideais e ciências de objetos reais; outros, em ciências normativas e não normati­ vas ( fáticas). Uma das mais recentes classificações é a de L. Tatarkiewicz. De acordo com esse autor, todas

CIFRA as ciências começam por ter caráter idiográfico (no sentido de Windelband e Rickert), de modo que a divi­ são entre ciências idiográficas e ciências nomotéticas não é aceitável . Ora, as ciências que não são nomotéticas visam sobretudo agrupar os fenômenos, estabelecer seus diferentes tipos. Enfim, temos dois grupos de ciências: ciências nomotéticas, que estabelecem leis, e ciências tipológicas, que estabelecem tipos de fenômenos; entre as últimas figuram as ciências históricas. Contudo, há, segundo Tatarkiewicz, ciências que são tipológicas e não são históricas (como a geografia e a botânica). Quanto às ciências da Natureza, estas dividem-se em nomológicas e tipológicas; estas últimas, por sua vez, subdividem-se em sistemáticas (como a botânica) e his­ tóricas (como a geologia histórica). Uma característica comum a todas as classifica­ ções das ciências é sua transitoriedade. Isso é com­ preensível: as ciências estão continuamente em forma­ ção; certos territórios-limite dão lugar freqüentemen­ te a ciências novas; certas ciências podem inserir-se em duas ou mais classificações etc. Ora, esses incon­ venientes não significam que as classificações em questão sejam inúteis; elas representam esforços para sistematizar e ordenar corpos dispersos de conheci­ mento e poderão ser aceitas sempre que aqueles que as propõem levarem em conta dois limites inevitá­ veis: o primeiro é sua inesgotabilidade; o segundo, seu caráter provisório. � Indicaremos apenas as referências para algumas das classificações apresentadas nos períodos mais recen­ tes. Para Balmes, El Criterio, cap. XII, 1 . - Para Peirce, Collected Papers, 1 1 80- 1 283. - Para Renouvier, Essais de critique générale (III, Les príncipes de la Nature), 1 864. - Para Wundt, Einleitung in die Philosophie, 1 900. - Para A. Naville, Classification des sciences. Les idées maitresses des sciences et leurs rapports, 1 883 (3ª ed., muito modificada, 1 920). - Para Rickert, Kulturwissenschaft und Naturwissenschaft, 1 899. Para Tatarkiewicz, "Sciences nomologiques et typolo­ giques: essai d'une classification des sciences", Proc. of the Xth. Int. Cong. of Philosophy, 1 949, t. II, pp. 62 1 -623. Ver, além disso: E. Goblot, Essai sur la classifi­ cation des sciences, 1 898. - J. Mariétan, Probleme de la classification des sciences d 'Aristote à Saint Thomas, 1 90 1 . - Robert Flint, Philosophy as scientia scientiarum and a History of Class/fication of the Sciences, 1 904. - P. Tillich, Das System der Wissens­ chaften nach Gegenstiinden und Methoden, 1 923. Henry Evelyn Bliss, The Organization of Knowledge and the System of the Sciences, 1 929. - /d. , The Organization of Knowledge in Libraries and the Sub­ ject Approach to Books, 1 93 3 ; 2ª ed. rev., 1 939. - F. Romero, "Nota sobre las clasificaciones de las cien-

466 cias", Cursos y Conferencias, II, 3 ( 1 93 2 ; reimp. em Estudios de historia de las ideas, 1 95 3 , pp. 1 78- 1 87). - 8. M. Kédrov, Klassifikatsia nauk, /, 1 96 1 (trad. francesa: La classification des sciences, l [Engels et ses prédécesseurs], 1 977). - L. Apostei, S. G. Kiria­ koff et ai. , La classification dans les sciences, 1 963 . - S. Dangelmayer, Methode und System. Wissenscha­ ftsklassifikation bei Bacon, Hobbes und Locke, 1 974. - R. Whitley, The lntellectual and Social Organiza­ tion of the Sciences, 1 984. A classificação de W. Oswald é mencionada no verbete sobre esse autor. C: CIFRA. Karl Jaspers (VER) usou o termo 'cifra' (Chiffer) como termo técnico em sua metafisica. Entre os locais em que esse autor abordou detidamente a noção de cifra - e a de "escrito cifrado" (Chif!erschrift) - figuram Philosophie, II ( 1 932) e filn der Wahrheit. l: Philoso­ phische Logik ( 1 947 ) , pp. 632 ss. (et ai. ) . Segundo Jaspers, a realidade empírica (Realitiit) não se basta a si mesma. Por outro lado, a realidade essen­ cial ( Wirklichkeit) ou realidade transcendente parece inacessível. Em vista disso, tentaram-se várias solu­ ções, como a de imaginar a existência de uma faculdade especial capaz de apreender a realidade essencial. Afora o fato de que imaginar uma faculdade especial do tipo indicado não garante a existência dessa faculdade, resta que em muitos casos se requer deixar de lado a exis­ tência do suj eito como existência única e concreta para fazer dele uma entidade não-existencial. Manter a reali­ dade do suj eito como existência única e concreta e ao mesmo tempo afirmar a transcendência exigem, pois, que se pense um modo de relacionar o suj eito com o transcendente a ele - a noção de cifra é uma resposta ao problema. Por meio dela, Jaspers pretende solucionar o dualismo sujeito-objeto e ao mesmo tempo evitar a fusão de suj eito e objeto numa única entidade. Com efeito, a cifra é o modo como se "dá" o objeto como objeto puro, o transcendente, o Ser ou realidade essen­ cial. A cifra não é, pois, a própria transcendência, mas é a "linguagem" na qual nos fala a transcendência. Pode-se dizer que o ser essencial se revela como cifra ou símbolo. Por isso, a cifra não é propriamente conhe­ cida; somente se "escuta" sua mensagem. A cifra ou símbolo é "o modo mais penetrante de o que é estar presente" Naturalmente, é preciso evitar o que se pode­ ria denominar a "depreciação" das cifras, transforman­ do-as em alegorias, figuras estéticas, idéias metafisicas dogmáticas, seres mágicos etc. A cifra ou símbolo em sua plenitude é trans-parência do transcendente, é pre­ ciso saber "ler" a "linguagem cifrada" para saber o que o transcendente comunica. A leitura pode ser feita de di­ versas maneiras, porque há diversas espécies de cifras, de acordo com o conteúdo do que é interpretado. Na

467 "ascensão" à leitura da linguagem cifrada, passa-se por uma série de estágios, tais como a investigação (ciên­ cia), "iluminação", reflexão e afirmação, até encontrar a obj etividade que a cifra revela. CINCO VOZES. Ver PREDICÁVEIS. C Í NICOS. A chamada escola cínica recebe seu nome, segundo alguns autores, do vocábulo ' cão' (Kúcuv), entendendo-se que os cínicos consideravam esse quali­ ficativo como uma honra. Segundo Diógenes Laércio, o nome procede do fato de que Antístenes - usual­ mente tido como o "fundador" da "escola" - dava seus ensinamentos no Cinosargo, um ginásio situado nas proximidades de Atenas. O sentido pejorativo que a palavra adquiriu muito mais tarde se deve, em grande parte, ao desprezo que os cínicos nutriam pelas con­ venções sociais e, em parte, aos adversários da esco­ la, sobretudo desde que alguns de seus "membros" abandonaram a característica ascética e se inclinaram ao hedonismo. De maneira geral, porém, o cínico era considerado o homem indiferente às coisas do mundo. Epicteto chega a dizer que é dificil ser um cínico, e Juliano, o Apóstata, estabelecia uma distinção entre os verdadeiros cínicos, que devem ser imitados, e os falsos cínicos, que devem ser combatidos. Mais que uma filosofia, o cinismo é, sem dúvida, uma forma de vida - evTams Bíov, como já a denominou Dióge­ nes Laércio -, forma "coraj osa" surgida num momen­ to de crise e que, como depois veremos, transforma a correção em dilaceração e até, em casos extremos, em "relaxamento" Discutiu-se muito sobre quem foram os fundado­ res do cinismo. A opinião tradicional - mantida ainda por E. Zeller - é que há uma linha contínua de trans­ missão do pensamento cínico que vai de Antístenes a Diógenes e deste a seus discípulos, tanto diretos (Crates de Tebas, Onesícrito) como indiretos (Mônino de Si­ racusa). Essa linha teve prosseguimento, de acordo com a opinião tradicional, com os cínicos dos séculos III e II a.C. (Bion de Boristenes, Menipo de Gadara e outros). Depois de certa interrupção, o cinismo (sempre consi­ derado como a "escola cínica") ressurgiu no fim do sé­ culo 1 e durante o século II d. C., quando floresceram Dion Crisóstomo, Oinomao, Demonax, Peregrino Pro­ teu, e se estendeu com maiores ou menores vicissitu­ des até o final do mundo antigo, época em que influen­ ciou alguns autores cristãos (pelo menos do ponto de vista do uso metódico da "diatribe"), tendo sido até mesmo adotado por alguns destes, como aconteceu com Salústio, o filósofo, e Máximo de Alexandria. Essa opi­ nião tradicional, que faz do cinismo quase exclusiva­ mente uma escola filosófica, baseia-se, evidentemente, em testemunhos antigos. A relação entre Antístenes e Diógenes, sobretudo, tem seu fundamento em escritores

CÍNICOS da Antiguidade, especialmente em Diógenes Laércio, fundamento do qual parece resultar que Antístenes foi o fundador da escola e Diógenes de Sinope, seu mais popular seguidor e propagador. Ora, todas essas opiniões foram questionadas por investigações recentes. Já antes de discutir-se o papel desempenhado por Antístenes na formação da escola cínica, houve uma série de trabalhos favoráveis ao reconhecimento da importância desse pen­ sador como antiplatónico e como fundador de um ramo particular e original do socratismo (F. Dümmler, K. Joel, H. Kesters). A esses trabalhos sucederam-se outros nos quais se pretendia reduzir a importância de Antís­ tenes e acentuar a de Diógenes (E. Schwartz, U. von Wilamowitz-Moellendorft). Como conseqüência disso, foi-se difundindo a opinião de que a estreita relação entre Antístenes e Diógenes - opinião mantida pelos escritores antigos e sustentada por alguns modernos não correspondia à realidade histórica. D. R. Dudley e F. Sayre levaram essa opinião às últimas conseqüên­ cias. O resultado de sua investigação é que Antístenes não teve nenhuma conexão com os cínicos e, por conse­ guinte, que não se pode dizer que os cínicos sejam des­ cendentes dos socráticos. A relação Antístenes-Diógenes foi, de acordo com isso, inventada por cínicos posterio­ res que tinham interesse em mostrar que sua atitude era conseqüência do socratismo. Assim, Diógenes foi o verdadeiro fundador da escola e dele dependeram, em maior ou menor medida, todos os que mais tarde foram qualificados de cínicos, quaisquer que tenham sido seus propósitos: favorecer a "educação" e servir de modelos, pregar a igualdade social ou o retorno à Natureza, enfatizar a autarquia e a filantropia, desenvol­ ver a forma literária da diatribe ou a vida mendicante e, sobretudo - o que era comum a todos os cínicos -, depreciar as convenções. Estas últimas opiniões com relação às origens do cinismo não foram, contudo, aceitas por todos os auto­ res. Assim, Hoistad afirmou que a imagem da sucessão tradicional Sócrates-Antístenes-Diógenes é ainda a mais adequada. As teses de Dudley e Sayre devem-se a uma excessiva atenção ao caráter anedótico e legendário de Diógenes em detrimento de seu caráter histórico e de seu valor intelectual. Isso obrigou Sayre - indica Hois­ tad - não apenas a rejeitar a conexão de Diógenes com Antístenes, como a negar toda possibilidade de que Diógenes tenha fundado a escola cínica. Com efeito, acentuar demasiadamente o anedótico de Diógenes equi­ vale a duvidar de que sej a um verdadeiro filósofo e a negar o que se tinha, justamente, pretendido demonstrar: que Diógenes, e não Antístenes, foi o fundador do cinis­ mo. Sayre viu-se obrigado a atribuir a fundação da escola cínica a Crates, que teria tomado Diógenes como modelo, mas não como mestre. Estendemo-nos sobre a questão das origens do ci­ nismo por dois motivos: em primeiro lugar, para mos-

CIORAN, ÉMILE M[ICHEL] trar que se trata de um movimento que só até certo ponto pode ser denominado uma Escola; em segundo, para enfatizar que as sucessões dos filósofos ainda tra­ dicionais nas histórias da filosofia oferecem considerá­ veis dificuldades quando submetidas a crítica. Ora, o fato de que o cinismo não tenha partido historicamente de Sócrates não permite concluir que teria sido possí­ vel sem Sócrates. Por esse motivo, atemo-nos à tese ex­ pressa em outro lugar (E! hombre en la encrucijada, 1 952, p. 3 1 ), segundo a qual "a série Sócrates-Antís­ tenes-Diógenes, que alguns historiadores consideram historicamente inadmissível, mostra-se psicologicamen­ te verdadeira" Em todo caso, é muito dificil escrever uma verdadeira história do cinismo, sobretudo quando o consideramos uma atitude vital última e o examina­ mos, como é plausível fazê-lo no cinismo antigo, como uma reação diante de uma situação histórica de exacer­ bação de uma crise ( vER ) . O mais importante aspecto dos cínicos, já apontado anteriormente, o anticonven­ cionalismo, pode ser entendido dessa perspectiva. Mas, como a oposição às convenções é matizada de acordo com as convenções de que se trata, uma história do cinismo encontra-se provavelmente mais entremesclada com a história geral que a de qualquer uma das outras escolas filosóficas antigas. � Ver: Jacob Bernays, lucian und die Kyniker, 1 879. - J. Geffcken, Kynika und Verwandtes, 1 909. - O. Ewald, "Zur Psychologie des Cynikers", logos 5 ( 1 9 1 5). - Donald R. Dudley, A History of Cynicism from Dio­ genes to the 6th Century, 1 93 7. - Farrand Sayre, Dioge­ nes of Sinope: A Study of Greek Cynism, 1 93 8 ; ed. rev. e ampl. com o título: The Greek Cynics, 1 948. - R. Hoistad, Cynic Hera and Cynic King: Studies in the Cy­ nic Conception o( Man, 1 948. - Léonce Paquet, les cyniques grécs. Fragments et témoignages, 1 975. H. Niehues-Prõbsting, Der Kynismus des Diogenes und der Begriffdes Zynismus, 1 979. - P. Sloterdijk, Kritik der zynischen Vernunjí, 2 vols., 1 983. - H. D. Rankin, Sophists, Socratics and Cynics, 1 98 3 . Influência dos cínicos sobre autores cristãos pri­ mevos: A. J. Visser, Cynische filosofie en Christendam, 1 956 (aula inaugural na Univ. de Grõningen). Ver também as bibliografias dos verbetes D 1 óGE N ES DE S 1NOPE; S EXTO EMPiR1rn; e o verbete de Helm (Ky­ niken) em Pauly-Wissowa, XII, cols. 3 -24. C: CIORAN, É MILE M l lCHEL( . Nascido ( 1 9 1 1 ) em Rasinari (Romênia), estudou em Bucareste, onde publi­ cou, em 1 933, seu primeiro livro em romeno. Tendo ido para Paris em 1 93 7, com uma bolsa do Instituto Francês de Bucareste, passou a residir desde então na capital francesa, escrevendo em francês a maioria de seus livros. Cioran é às vezes considerado o pensador, e o poeta, da decomposição, da podridão, do vazio que ao mesmo

468 tempo ameaça e sustenta todas as coisas e todas as atitudes humanas. Toda afirmação considerada positiva, toda crença, toda ideologia, toda doutrina conduz a uma "sangrenta farsa"; da "lógica" passa-se facilmente à "epilepsia" (Précis de décomposition, p. 9); os grandes sistemas são tautologias (ibid. , p. 73). O pensamento de Cioran tem, por vontade do autor, um caráter frag­ mentário e anti-sistemático. Pensar sistematicamente é para Cioran trair-se a si mesmo, justamente porque, ao estabelecer princípios, máximas ou apenas considera­ ções com o propósito de seguir "seu fio", o pensamento fica prisioneiro de si mesmo. Nem mesmo o niilismo e o desespero podem ser objeto de alguma doutrina: o niilismo como doutrina é já uma armadilha. Alguns avaliam que Cioran expressa um pessimismo exacerba­ do; é a imagem que resulta de considerá-lo "o poeta, ou o filósofo, da decomposição" Outros opinam que ele manifesta uma espécie de exaltação vital e quase selvagem. O próprio Cioran inclina-se a pensar que se trata de ambas as coisas, ao afirmar, numa entrevista a Fernando Savater, que "um livro deve ser realmente uma ferida, deve transtornar a vida do leitor de um modo ou de outro. Minha idéia ao escrever um livro é despertar alguém, açoitá-lo" � Obras: Livros em romeno: Pe culmine disperâri, 1 934 (No ápice do desespero). - lacrimi si Sfinti, 1 93 7 (De lágrimas e de santos). - Amurgul Gânduri­ lor, 1 940 (O crepúsculo dos pensamentos). - lndreptar Pâtimaç, 1 944 (Breviário dos vencidos). - Livros em francês: Précis de décomposilion, 1 949. - Syllogismes de l 'amertume, 1 952. - la tentation d 'exister, 1 956. - Histoire et utopie, 1 960. - la chíite dans le temps, 1 9 6 4 . - l e m a u va is demiurge, 1 9 6 9 . - De l 'inconvenienl d 'être né, 1 973. - Écartélement, 1 979. - Exercices d 'admiration, 1 9 8 6 . - A veux et Anathémes, 1 987. - Cioran compilou e fez o prólogo de textos de Joseph Marie Comte de Maistre 1 7531 82 1 , 1 957. Em português: Antologia do retrato, 1 998. - Bre­ viário de decomposição, l 995 . - História e utopia, 1 994. Ver: Seleção de textos em trad. esp . : Contra la historia, l 976, e Adiós a la filos()(ia y oiros textos, 1 980. - Fernando Savater, Ensayo sobre Cioran, l 974. - A entrevista de C. a F. Savater a que nos referimos no texto foi publicada em El País, domingo, 23 de ou­ tubro de 1 977. - A. M. Tripodi, Cioran, metafisico dell 'impossibile, 1 987. - S. Jaudeau, Entretiens, 1 990. - F. Savater, Ensayo sobre Cioran, 1 992 [nova ed. com introdução e uma entrevista, 1 990) . C: C Í RCULO. Este termo pode ser empregado em diver­ sos contextos. 1) Designando, metaforicamente, uma forma bá­ sica, ou até a forma básica, como a realidade se com-

469 porta em sentido metafisico. Diz-se então que tal rea­ lidade opera de modo circular. Exemplo disso é o pro­ cesso de emanação (VER) e retorno ou conversão do es­ piritual em alguns autores neoplatônicos (Plotino e Proclo principalmente) ou influenciados pelo neopla­ tonismo (João Escoto Erígena). O ponto de partida e o ponto de chegada coincidem, manifestando-se às vezes, como em Nicolau de Cusa, uma coincidentia oppositorum. Também em Hegel há a idéia do círculo, embora o caráter tanto idealista como dinâmico-histó­ rico do sistema hegeliano represente uma idéia diferen­ te da circularidade. Além disso, esta última se acentua em Hegel pela importância que adquire a "circulari­ dade" de cada tríade. Como vimos em outra passagem (Ver PERIFILOSOFIA ) , pôde-se inclusive apresentar a fi­ losofia hegeliana como o exemplo mais perfeito do modo de pensar designado por Hans Leisegang como "o círculo de círculos" 2) Como imagem de Deus quando o círculo é "in­ finito" Este é o caso de São Boaventura, quando diz que Deus é "como um círculo cujo centro está em qual­ quer lugar e a circunferência em parte alguma" (Jtine­ rarius mentis ad Deum, 5). Como se usou também a esse respeito a imagem da esfera, remetemos ao verbe­ te correspondente. 3) Nas expressões 'círculo na prova' (circulus in probando) e 'círculo vicioso' (circulus vitiosus). O círculo na prova é um sofisma, ou falácia, de que são exemplos o próprio círculo vicioso e a chamada "petição de princí­ pio" (petitio principii). O círculo vicioso é identificado às vezes com a petição de princípio, mas quase sempre se estabelece uma distinção entre ambos: no círculo vicio­ so, há duas proposições que se "demonstram" uma pela outra, e vice-versa, enquanto na petição de princípio se trata da mesma proposição formulada de modos distintos. Os céticos denominaram "círculo" um defeito do ra­ ciocínio no qual, em sua opinião, incorrem os dogmá­ ticos: "O círculo surge quando aquilo que deve ser con­ firmado da coisa investigada requer a prova extraída da coisa investigada. Como não se pode aceitar nenhum dos dois para provar o outro, suspendemos o juízo acer­ ca de ambos" (Sexto Empírico, Hyp. pyrrh. , I, xv, 1 681 69). O vício do raciocínio circular está vinculado à regressão ao infinito, como se vê em Sexto: "Se se pode dizer algo, perguntamo-nos por meio do que será decidido. Por exemplo, o sensível - já que baseare­ mos nosso argumento antes de tudo nisto - será deci­ dido com base no sensível ou no inteligível? Se é com base no sensível, resulta que, como investigamos as coisas sensíveis, também aquele precisará de outra coisa como prova. Se esta é algo sensível, novamente precisará de prova e assim ao infinito. Se o sensível é decidido com base no inteligível, resulta que, como também os

CÍRCULO inteligíveis divergem, o inteligível necessitará de j uízo e prova. Com base em que será ele provado? Se for no inteligível, cair-se-á de novo na regressão ao infinito; se for no sensível, introduz-se o círculo porque se tomou o inteligível para provar o sensível, e o sensível para provar o inteligível" (ibid. , I, xv, 1 7 1 - 1 72). Os esclarecimentos dos autores antigos sobre a natureza do "círculo na prova" e do "círculo vicioso" passaram à época moderna sem maiores variações: "Demonstrar mediante um círculo é mostrar o mesmo por meio do mesmo, o que não só não é demonstrar, como nem sequer é simplesmente provar, uma vez que toda prova deve ser feita a partir de coisas mais conhe­ cidas" (Goclenius, Lexicon, s. v. "Demonstratio", p. 504). O mesmo autor escreve em "Circulus": "A defi­ nição circular é viciosa porque, se se desse, o mesmo seria no mesmo mais conhecido e menos conhecido, o que não pode acontecer" (ibid. , p. 363). O usual é rej eitar toda forma de raciocínio circular, mas alguns autores (Karl Jaspers, Jeanne Hersch e, por razões distintas, Francisco Romero) indicaram que certa circularidade é às vezes inevitável na abordagem de questões metafisicas. Badi Kasm (L'idée de preuve en métaphysique, 1 959, pp. 224-225) afirma que em meta­ fisica alguns chamados "círculos viciosos" são tolerá­ veis, ou o são em "casos extremos" Deve-se distinguir o raciocínio circular ou qual­ quer forma de "círculo vicioso" e procedimentos tais como os empregados nas definições contextuais. O fato de que essas definições não proporcionam infor­ mação, ou, como se disse, sejam "triviais", não implica que não proporcionem esclarecimento; mas, sobretu­ do, não há nas definições contextuais nenhuma tentati­ va de demonstração ou prova. 4) Na expressão "círculo cartesiano", raciocínio falacioso em que, na opinião de Arnauld y Gassendi, incorreu Descartes nas Meditações metafisicas. Segun­ do Gilson (Descartes, Discours de la méthode. Texte et commentaire, 1 947, pp. 3 6-362. Ver também: Willis Doney, "The Cartesian Circle", Journal of the Histo­ ry of Jdeas, 1 6 [ 1 955], 3 24-3 38, e Henri Gouhier, "La veracité divine dans la Méditation V", Études Philoso­ phiques, 1 1 ( 1 956], 296-3 1 0), a formulação mais pre­ cisa do "círculo cartesiano" se encontra nesta passa­ gem das lnstancias de Gassendi: "Você admite que uma idéia clara e distinta é verdadeira porque Deus, que é o autor dessa idéia e não pode estar enganado, existe; e, por outro lado, você admite que Deus exis­ te, que é criador e veraz, porque tem dele uma idéia clara. O círculo é evidente" (ln Med. , IV, dubit. , 4, Inst., 2, ed. Rochot. Para a formulação de Arnauld, ver "Quartas obj eções" às Meditaciones A T, IX, A, 1 966; resposta de Descartes em A T, IX, A, 1 89- 1 90). 5) Na expressão "círculo hermenêutico", hoje muito difundida. Fala-se de "círculo hermenêutico" em vários

CIRCUNSTÂNCIA sentidos, e especialmente nos dois seguintes. Por um lado, há um círculo hermenêutico - de resto, "inevitá­ vel" - na interpretação de wn texto e, em geral, de toda manifestação simbólica hwnana. Com efeito, uma parte do texto, ou do "sistema simbólico", só pode ser enten­ dida se referida ao todo, que confere significação à parte. Mas a totalidade do texto, ou do "sistema simbólico", é entendida igualmente em função das partes que o cons­ tituem. Desse modo, vai-se da parte ao todo, e do todo à parte, ou partes, sem que nem um nem a outra, ou outras, constituam um ponto de partida suficiente. Por outro lado, há wn círculo hermenêutico - igualmente "inevitável" - em toda tentativa de compreensão de linguagens, estruturas significativas, quadros conceituais, sistemas de pensamentos e de comportamentos e, em geral, formas de vida e de cultura "alheias" Tudo isso precisa de uma interpretação, que se dá dentro da pró­ pria linguagem, cultura, forma de vida etc., os quais são distintos da linguagem, cultura, forma de vida etc. estu­ dados. O "círculo hermenêutico" consiste então em passar do "próprio" ao "alheio" e do "alheio" ao "próprio"· "o próprio" toma inteligível "o alheio", mas ao mesmo tem­ po "o alheio" reverte sobre, e toma inteligível, "o pró­ prio" A interpretação pode ser uma deformação, mas esta é "corrigível" constantemente em virtude da cres­ cente "compreensão" do interpretado. Emerich Coreth (op. cit. bibliografia infra) observa que Schleiermacher enfatizara em sua Hermeneutik ( l , 7) que há um círculo (Kreis, Zirkel) na compreen­ são, porquanto o singular e o todo, assim como o espe­ cial e o geral, remetem-se um ao outro. A relação entre os dois pólos em que se move "o círculo da compreen­ são" ou "círculo hermenêutico" pode ser entendida ou de um modo divinatório, que consiste principalmente numa apreensão do individual para passar ao geral, e vice-versa; ou de um modo comparativo, que consiste principalmente numa apreensão do geral para passar ao individual ou singular, e vice-versa. Os diferentes tipos de círculo hermenêutico depen­ dem grandemente da espécie de hermenêutica conside­ rada. Na hermenêutica em sentido "clássico" e "lite­ ral", o círculo é constituído pela relação recíproca entre um elemento do texto e o contexto. O elemento do texto é determinado pelo contexto e vice-versa. Deve-se levar em conta que um contexto pode servir de elemento em relação a outro contexto mais amplo. Na hermenêutica que se denominou (Gadamer) "ro­ mântica", o círculo é constituído pela relação recíproca entre um sujeito, especialmente um criador, e a obra. O suj eito, por suas "intenções" ou por seu "gênio", é entendido pela obra, que por sua vez serve para enten­ der o suj eito. Na hermenêutica existencial heidegge­ riana, o "círculo" aparece no fato de que em toda compreensão do mundo a existência se compreende

470 com ele, e vice-versa. Como diz Heidegger, toda inter­ pretação, se deve contribuir para produzir uma com­ preensão, deve ter já compreendido o interpretado. Trata-se de um círculo vicioso, mas só se operamos dentro das regras mais elementares da lógica. O círculo hermenêutico como círculo da compreensão ( VER) está arraigado na constituição existencial da Existência (Dasein), isto é, na compreensão que interpreta. Para Gadamer, o círculo hermenêutico é principalmente, embora não de maneira exclusiva, o que se dá entre uma tradição e sua interpretação, que é parte dessa mesma tradição. Só se pode interpretar uma tradição - e, evidentemente, também interpretá-la mal - a partir dela. Tanto no caso de Heidegger como no de Gadamer o círculo hermenêutico é função do caráter finito da existência humana. Em todo caso, ele oferece uma estrutura ontológica que não parece encontrar-se nas hermenêuticas clássica ou literal nem na "român­ tica", mais interessadas na epistemologia e metodolo­ gia da compreensão. 6) Disse-se que o círculo hermenêutico é similar ao chamado "paradoxo da análise" ( vER) : se os termos mediante os quais se analisa uma expressão não são si­ nônimos da expressão, então não há análise da expres­ são, e se são sinônimos repete-se a mesma expressão analisada. Nesse paradoxo entram as definições contex­ tuais antes mencionadas, mas agora se apresenta com elas um problema diferente do citado, pois já não se pode alegar simplesmente que essas definições não ten­ tam provar, mas tão-somente esclarecer. O paradoxo da análise e o que poderia denominar-se "círculo da aná­ lise" se dão no âmbito do processo de esclarecimento. 7) Fala-se às vezes de "círculo" para designar certos tipos, ou "formas", de pensamento. Falamos disto no verbete PERIFILOSOFIA, ao apresentar as duas "formas de pensar" analisadas por Hans Leisegang: "a forma de pensar circular" e "a forma de pensar segundo o círculo dos círculos" 8) Usa-se ' Círculo ' em expressões que designam algum grupo de fi lósofos que, sem constituir formal­ mente uma escola no sentido tradicional, trabalham filosoficamente com base em pressupostos comuns ou com interesses comuns. Exemplos disto são as ex­ pressões 'Círculo de Gõttingen' , ' Círculo de Varsóvia' e, a mais conhecida, 'Círculo de Viena' CIRCUNSTÂNCIA. Este termo foi j á empregado desde a Antiguidade latina para designar o que se encon­ tra ao redor (por exemplo, o ar como algo que se acha ao redor da Terra) . Se se parte de uma coisa determi­ nada, a circunstância (circumstantia) é o que cerca essa coisa na medida em que pertence de alguma maneira ao que depois se denominou "horizonte" ( vER) . 'Cir­ cunstância' significou também "arredor, circuito ou con­ torno de uma coisa"· neste caso, a circunstância é o

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que rodeia a coisa e m relação com ela, mas sem per­ tencer à sua essência. O vocábulo 'circunstância' adquiriu um sentido de­ terminado no pensamento de Ortega y Gasset. Nas Me­ ditaciones dei Quijote ( 1 9 1 4; O. C. , I , 322), Ortega escreveu: "Eu sou eu e minha circunstância". Isso signi­ fica não apenas que o sujeito humano se acha rodeado de circunstâncias, mas também que se constitui como tal suj eito com suas circunstâncias. Nesse sentido, a circunstância é o que o sujeito vive como situação vital, e dentro dela se acha o mundo. O mundo físico ou or­ gânico se incorpora desse modo à circunstância humana como ingrediente seu. Não é legítimo identificar cir­ cunstância e mundo físico ou orgânico. De fato, o que denominamos o suj eito humano ou o eu é, juntamente com a circunstância, um "ingrediente" de uma reali­ dade mais radical, chamada por Ortega de "minha vida" (Historia como sistema, 1 94 1 ; O. C., VI, 34). É dessa perspectiva que se deve compreender a tese orteguiana de que o homem vive sub especie instantis e de que é necessariamente "circunstancial" Eis aqui três citações, em ordem cronológica, que permitem compreender melhor a complexa natureza da noção de circunstância: No "Prólogo" à edição de Obras ( 1 93 5 ), Ortega escreveu: "Sendo, pois, a vida em sua própria substân­ cia circunstancial, é evidente que, embora acreditemos no contrário, tudo o que fazemos, fazemos em vista das circunstâncias. Inclusive quando imaginamos que pensamos ou queremos algo sub specie aeternitatis, imaginamo-lo por necessidade circunstancial. E mais: a idéia de eternidade, do ser incondicionado, ubíquo, brota no homem porque há necessidade dela como contraposto salvador à sua inevitável circunstância" No "Prólogo" à Historia de la Filosofia, de Émile Bréhier (Dos Prólogos, 1 942; O. C., VI, 3 9 1 ), lê-se: "Eis aqui o primeiro princípio de uma ' nova filolo­ gia ' : a idéia é uma ação que o homem realiza em vista de determinada circunstância e com uma finali­ dade precisa ( . . . ) . Toda idéia está adscrita irremedia­ velmente à situação ou circunstância diante da qual representa seu papel ativo e exerce sua função" Num inconcluso "Comentario ai ' Banquete' de Platón" (Obras Completas, tomo IX, 1 962, pp. 747784), Ortega diz: "Este caráter em que, de imediato, consiste o mundo - seu ser-me -, e, por conseqüên­ cia, o estar radicalmente referido a mim, me levou há mais de trinta anos a buscar outro termo com que de­ signá-lo, já que o vocábulo ' mundo' sempre signifi­ cara em filosofia ' o que não consiste em referência a mim (ou Eu) ' Denominei-o circunstância. Esta pala­ vra tem, além disso, outra vantagem. O conjunto do que nos afeta e nos importa - positiva ou negativa­ mente -, em cujo confronto consiste nossa vida de cada instante, é o que homem comum chama 'as cir-

CIRENAICOS cunstâncias ' ou 'a circunstância'", ou seja: "o mundo é que se dá na circunstância (não a circunstância no mundo); o mundo consiste na circunstância" Julián Marías (lntroducción a la filosofia, 3ª ed. , 1 95 3 , § 5 2 , p p . 235-24 1 ) elaborou a doutrina orteguia­ na da circunstância como "tudo o que se encontra em meu horizonte vital". A circunstância pode ter diversos ingredientes: o contorno físico; meu corpo; outros cor­ pos que são, de imediato, coisas, mas que se apresen­ tam como outros tantos centros de outras vidas; a realidade social com a qual tenho de l idar; os produtos humanos de natureza material ou artefatos; a história vivida como "mundo histórico"; os falecidos; o reper­ tório de crenças nas quais se está (ver CRENÇA); as vi­ vências (desejos, emoções etc.); o horizonte da vida individual e, por fim, o horizonte escatológico ou "as ultimidades" Em certos aspectos, a noção orteguiana de circuns­ tância é similar à de situação. Entretanto, não se devem simplesmente confundir ambos os conceitos; referimo­ nos a este ponto no verbete sobre situação ( ad finem). CIRENAICOS. Consideram-se os cirenaicos - assim chamados por causa da cidade de Cirene, onde nasceu e viveu Aristipo - como uma das escolas socráticas (ver SocRÁTicos), uma vez que formularam sua doutri­ na filosófica com base no desenvolvimento de uma das características do socratismo (interpretando-o so­ bretudo como um guia moral para o comportamento do sábio). Os cirenaicos coincidiam com outras escolas socráticas, tais como a dos cínicos (VER) e a dos me­ gáricos (vER), no pressuposto de que a felicidade con­ siste na tranqüilidade do ânimo e de que tal tranqüili­ dade é conseguida por meio da autarquia (vER), isto é, do império do homem sobre si mesmo, única manei­ ra de dominar as coisas (e as circunstâncias) que o cercam. No âmbito desses pressupostos comuns, os cirenaicos mantinham várias doutrinas particulares. Mencionamos três delas. A primeira refere-se à defini­ ção do bem (VER) . Como este era, para os cirenaicos, o prazer imediato, costuma-se qualificar sua doutrina de hedonismo. A segunda diz respeito ao método de alcançar o bem. Influenciados não apenas pelo socra­ tismo, mas também pela sofística (ver SOFISTAS), os cirenaicos usavam a esse respeito uma dialética volta­ da a mostrar de que modos podem utilizar-se as cir­ cunstâncias para conseguir o prazer e ao mesmo tempo libertar-se dos desejos inquietadores produzidos pela aspiração a esse prazer. A terceira refere-se à teoria do conhecimento, que estava baseada na primazia da sensação - e com freqüência da sensação individual, irredutível a todas as outras -, de maneira que os cirenaicos desembocavam por isso muitas vezes num subj etivismo e num sensual ismo (VER) radicais. Ora, nem todos os membros da escola cirenaica defendiam

CIUDAD VÁZQUEZ, MARIO exatamente as mesmas doutrinas. Apresentamos as principais opiniões dos mais destacados cirenaicos nos verbetes sobre Aniceris, Aristipo, Heguesias e Teodoro, o Ateu. � Edições: l Cirenaici. Raccolta dei/e fànti antiche, trad. e estudo preliminar de Gabriele Giannantoni, 1 95 8 (Pubblicazioni dell' Instituto di Filosofia dell' Uni­ versità di Roma, 5). - Aristippi et Cyrenaicorum frag­ menta, ed. Erich Mannebach, 1 96 1 . Ver também bibliografia de AR1sr1ro e SocRAr1cos. Além disso, A. Wendt, De philosophia cyrenaica, 1 84 1 . - H. de Stein, De philosophia Cyrenaica, 1 85 5 (trata sobretudo d e Arístipo). - G. V. Lyng, O m den Kyrenaiske Skole, 1 868 (principalmente sobre Aniceris e Teodoro, o Ateu). - Verbete sobre os Cirenaicos (Kyrenaiker) de J. Stenzel em Pauly-Wissowa. " . A definição assinala: "se q> é uma função que pode tomar um obj eto dado, a, como argumento, e T é o tipo mencionado no axioma anterior, dizer que a classe determinada por q> tem a propriedade f será dizer que há uma função do tipo T formalmente equivalente a q> e que possui a propriedade /'. Assim, uma classe, F, será a totalidade dos obj etos que pos­ suem certa propriedade/; isto é, a totalidade dos obje­ tos x para os quais será verdadeira a expressão f (x) ' ( cf. Introduction to Mathematical Philosophy, 1 9 1 9, pp. 1 84 ss. ). Estendemo-nos sobre as definições e precisões anteriores por serem elas consideradas a base, já tradi­ cional, na qual se apóiam as investigações posteriores acerca da noção de classe. Ora, a lógica contemporânea considera que várias das formulações anteriores pade­ cem de falta de rigor. Portanto, exporemos, conforme anunciamos, os traços fundamentais da atual lógica das classes. Se consideramos o enunciado: "

Oscar é colérico, observaremos que ' é colérico ' pode ser lido de dois modos: 1 ) 'tem a propriedade de ser colérico ' ou 2) ' é u m membro d a classe das entidades coléricas ' o u 'per­ tence à classe das entidades coléricas' No primeiro caso, o enunciado em questão pode ser expresso me­ diante 'Fx ' (ver Q UANTIFICAÇÃO, QUANTIFICACIONAL, QUAN­ TIFICADOR) , em que 'F ' é uma letra predicado que se lê 'é colérico' No segundo caso, o enunciado em questão pode ser expresso mediante:

x e A, onde ' E ' (abreviatura d e ' eoTí' proposta por Peano) se lê 'é um membro da classe ' e 'A ' é uma letra que re­ presenta uma classe (no exemplo em questão, a classe das entidades coléricas). A expressão 'x E A é empre­ gada para substituir um abstrato ou nome de classe. Na lógica das classes, os abstratos designam, com efeito, as classes de todas as entidades que têm certas propriedades. A expressão '

x Fx é um abstrato, que se lê ' a classe de todos os x tais que Fx' O sinal "" sobreposto a 'x ' recebe o nome de "ca­ puz''- 'i ' é chamada por isso "letra encapuzada" O enunciado 'Oscar é colérico', lido, no sentido menciona­ do em 2), como

Oscar E colérico, será, pois, igual a: Oscar

E

i

(x é colérico),

isto é, Oscar é um membro da classe de todos os x tais que x é colérico. De modo geral, usam-se na lógica das classes expressões tais como:

y E x Fx X E i Gzw, etc. , mas, a fim de evitar as complexidades dessas notações, preferem-se abreviaturas tais como : x E A, x E B, etc. As letras 'A ', 'B ' 'C ' etc. são empregadas, portan­ to, para expressar 'a classe A ' , 'a classe B ' , 'a classe C' etc. Observemos que alguns autores preferem as minúsculas latinas cursivas ' a ' , ' b ' , ' c ' ; outros, as le­ tras 'K' , 'L' etc . ; outros, por fim (como Whitehead e Russell), as minúsculas gregas ' a ' , '13' etc. Nós nos ateremos ao primeiro uso. A noção de classe fo i às vezes confundida com as noÇõe'f_de agregado ou d e t�ª-9� E s sa c onfusão deve serev itada, pois, caso contrário, corre-se o risco de equiparar uma entidade concreta com uma entidade abstrata. As classes são entidades abstratas, ainda que os membros de que se compõem sejam entidades con­ cretas. Também se equiparou a noção de classe com a de propriedade. Esta última equiparação tem maior fundamento. Como diz Camap, duas classes - corres­ pondentes a dois predicadores; por exemplo, ' P ' e ' Q ' - são idênticas s e têm os mesmos elementos, isto é , s e ' P ' e ' Q ' são logicamente equivalentes. A intensão do predicador ' P ' é a propriedade P; sua extensão é a classe correspondente. 'Intensão ' e 'propriedade' são usados aqui em sentido obj etivo e não mental. Por sua vez, Quine assinala que classe e atributo são duas entidades abstratas, designadas por termos abstratos. Na álgebra de Boole-Schri:ider, assume-se certo número de idéias elementares (símbolos de classes, ne­ gação, igualdade, produto, classe nula), constroem-se algumas definições (classe universal, soma lógica, in­ clusão) e se propõem vários postulados (operações com classes). Das definições e dos postulados se de­ duzem todas as leis da álgebra de classes. Tudo isso recebe o nome de cálculo de classes. Alguns autores estabelecem uma distinção entre relações de umas clas­ ses com outras (identidade, inclusão, exclusão, interse­ ção) e operações com classes ou cálculo de classes propriamente dito (soma, produto). Nós nos limitare­ mos a mencionar as noções fundamentais da álgebra de classes e a formular algumas leis dessa álgebra.

CLASSE

478

As noções de referência fundamentais são a de complemento, a de inclusão, a de identidade, a de soma, a de produto, a de classe universal e a de classe nula. Excetuando-se as duas últimas, as demais foram apre­ sentadas e definidas nos verbetes correspondentes (ver COMPLEMENTO; INCLUSÃO; IDENTIDADE; SOMA; PRODUTO). Limitar-nos-emos aqui às noções de classe universal e de classe nula e indicaremos em seguida as represen­ tações gráficas usuais de algumas das noções anteriores. A classe universal é a classe de todos os membros no universo do discurso, simbolizada por ' V ' (alguns autores usam I ) A classe universal é definida por meio da seguinte expressão: '

'

.

V

def. i (x = x ) ,

= '

na qual a igualdade

x =

' x é satisfeita por tudo.

A classe nula (também denominada vazia) é a classe à qual não pertence nenhum membro do uni­ verso do discurso, simbolizada por ' /\' (alguns auto­ res usam 'O'). A classe nula é definida por meio da seguinte expressão :

/\

=

def. i (x

/

\ 1 1

A

1

8

/

representa a soma de duas classes, A e B; há, pois, uma classe composta de todas as entidades que per­ tencem a A ou a B ou às duas. O diagrama

8

A

)

x ,

na qual a expressão 'x x ' não é satisfeita por nada. A representação gráfica das classes (muito usada para comprovar a validade ou não-validade dos silogis­ mos a que nos referimos no verbete VENN [DIAGRAMAS DE]) baseia-se no diagrama:

o no qual se representa graficamente a classe A . O dia­ grama:

representa o produto de duas classes, A e B; a área marcada com uma cruz representa a classe de todas as entidades que pertençam ao mesmo tempo a A e a B. O diagrama

o mostra o complemento A, de A ; a área na qual está A representa a classe de todos os membros que não pertencem a A . O diagrama

representa a inclusão de uma classe A numa classe B; todos os membros de A são, pois, membros de 8. O diagrama

o

CLASSE SOCIAL

479 representa a identidade de duas classes, A e B; os mem­ bros da classe A são os mesmos da classe B e vice-versa. As leis da álgebra de classes são expressadas me­ diante fórmulas boolianas, muitas das quais são para­ lelas às tautologias ou leis da lógica sentenciai. Eis algumas das leis da álgebra de classes: AC ! :

A = A,

AC2 : (A íl Ã)

=

/\ ,

AC3 : (A U A )

=

V,

AC4 : A e A , AC5 :

/\ C A ,

AC6 : A e V, AC 7 : A = Ã, AC 8 : ((A n B ) n C) = (A n (B n C) ) , AC 9 : ( A U B)

(A

n

F) ,

AC I O : (A íl B)

(A

u

F) ,

AC ! 1 : A = V, AC 1 2 : V = /\ , AC 1 3 : ( A íl V ) A , AC 1 4 : ( A íl /\ ) = /\ , AC 1 5 : ( A U /\ ) = A , AC 1 6 : (A U V ) = V. A leitura dessas leis se mostrará fácil com a ajuda dos sinais apresentados neste verbete, além dos contidos nos verbetes já citados: COMPLEMENTO; INCLUSÃO; IDEN­ TIDADE; SOMA e PRODUTO. Algumas dessas leis recebem nomes. Assim, AC 1 , AC2 e AC3 chamam-se, respectiva­ mente, leis de identidade, de contradição e do terceiro excluído; AC8 é uma das leis de associação; AC9 e AC I O são denominadas leis de Morgan. CLASSE (CONSCIÊNCIA DE). Ver CLASSE socIAL. CLASSE SOCIAL. Distinguimos o conceito lógico e o conceito sociológico de "classe", falando neste últi­ mo caso de "classe social" Contudo, levando-se em conta apenas o contexto sociológico, pode-se falar sim­ plesmente de "classe" Entende-se por 'classe ' , em sentido amplo, um agrupamento de indivíduos que possuem o mesmo grau, ou a mesma qualidade (social), ou que exercem a mesma atividade. Pode-se falar então da classe dos nobres, da dos guerreiros, da dos comerciantes ou da dos artesãos. Assim concebida, a classe é a denominação comum, embora vaga, de toda espécie de agrupamentos: estados, estamentos, ofícios etc. De modo mais estrito, dá-se o nome de "classe" a certos agrupamentos humanos ca­ racterizados por certos "constitutivos" sociais. Estes podem ser os meios de riqueza (especialmente a posse dos meios de produção), os modos de viver, a estima social em que se tenham seus membros etc.

O nome ' classe' , no sentido de "classe social", é relativamente moderno; começou a ser usado por volta do final do século XVIII, tendo seu uso se estendido desde o começo do século XIX, especialmente a partir da metade do século. Falava-se antes de estamentos, ordens ou "estados''. A divisão da sociedade em grupos correspondentes a algo semelhante ao que depois se entendeu por "classes" parece muito difundida em todas as épocas, chegando-se a duvidar de que o que Marx denominou "comunismo primitivo" tenha sido, efetiva­ mente, comunismo, por mais primitivo que se suponha. Os filósofos se ocuparam amiúde da organização da sociedade em classes, seja descritiva ou criticamente. Foi muito comum falar de uma estrutura tripartite da so­ ciedade; os exemplos vão de Platão e Aristóteles à con­ cepção medieval, e em boa parte moderna, dos "três es­ tamentos" e dos "três estados'', mudando, em cada caso, a natureza desses estamentos ou estados e, com isso, suas relações mútuas. Podem-se comparar as divisões que Platão propõe para sua República (artesãos, auxiliares ou "militares" e guardiães ou "chefes", com o rei filósofo eleito entre os guardiães) com as estruturas sociais geral­ mente aceitas na Idade Média e em grande parte da épo­ ca moderna (trabalhadores, especialmente lavradores, cle­ ro e nobreza; ver TRABALHO) . Falou-se às vezes de divisões bipartites ou dicotômicas. Por exemplo, a classe alta e a classe baixa, a classe rica e a pobre, a classe exploradora e a explorada. Certas divisões, aparentemente tripartites - como classe alta, média e baixa -, podem transfor­ mar-se em bipartites quando se supõe que a classe média tende a fazer parte da baixa e, especificamente, a "prole­ tarizar-se" É comum que, enquanto as divisões tripar­ tites insistem em alguma harmonia entre as classes, ou a pressupõem, as divisões bipartites ou dicotômicas en­ fatizem a tensão e a luta entre as classes. Em boa parte das doutrinas sociais reformadoras e revolucionárias do século XIX, de Babeuf e Saint-Simon a Louis Blanqui e Marx, as concepções bipartites e conflituosas predo­ minaram sobre as tripartites e "harmonizadoras" Sugeriu-se às vezes que, sendo os "constitutivos" que determinam uma classe social distintos em várias épocas, pode haver confusão em empregar indiscrimi­ nadamente o nome de "classe''. Em todo caso, enquanto parece normal o uso de expressões como 'a classe prole­ tária' ou 'a classe burguesa' , podendo-se até admitir ' a classe nobre' o u 'a classe patrícia', parece menos próprio falar da "classe intelectual" Os historiadores tendem a distinguir "classe" e "estado" ou "categoria". Para o úl­ timo, vale a expressão "ter nascido neste ou naquele estado". Alguns sociólogos distinguem "classe" e "gru­ po" Em alguns casos, prefere-se eliminar a noção de classe para substituí-la pela de grupo, falando-se, a esse respeito, de "agrupamentos sociais" (G. Gurvitch,

CLASSE SOCIAL P. Sorokin e outros), que podem ser classificados de formas muito distintas (cf. G. Gurvitch, la vocation actuelle de la sociologie; vers une sociologie différen­ tielle, 1 950; 2ª ed., 1 957). Vários autores se preocuparam em determinar até que ponto a noção de classe social pode ser usada num modelo sociológico que permita explicar as mudanças sociais. Este é o caso de Ralf Dahrendorf (Soziale Klassen und Klassenkonflikt in der industriellen Gesell­ schaft, 1 957). Não se trata aqui de considerar a noção de classe como reflexo de determinada situação social, ou econômico-social, e menos ainda como consciência dessa situação; o conceito de classe funciona antes como uma categoria cuj a aceitação depende do poder explicativo que possua, no âmbito do modelo, para dar conta de mudanças na sociedade (ver José Maria Maravall, "Un intento de reconversión analítica de la categoria de 'clase social "' , em Teoría y sociedad. Ho­ menaje ai projesor Aranguren, 1 970, pp. 2 1 5-229). O termo 'classe' tem uma importância fundamental entre autores marxistas. Segundo Lucien Goldmann (Sciences humaines et philosophie, 1 952, pp. 94 ss.), a noção de classe é primária; só ela tem um caráter dinâ­ mico e histórico, ao contrário da noção de grupo, funda­ mentalmente estática. Numerosos autores não-marxistas seguem os marxistas no que se refere a isso. Discutiu­ se se o fundamento da divisão da sociedade em classes é a diversidade de funçôes sociais ou se é a posse ou não-posse dos meios de produção. Alguns autores afir­ mam que, embora para várias épocas a diversidade de funções sociais possa ser a base de uma divisão da so­ ciedade em classes, para a época moderna, pelo menos, a própria diversidade de funções sociais depende da pos­ se ou não-posse dos meios de produção. Houve discus­ sões sobre o caráter predominantemente "objetivo" ou "subjetivo" da noção de classe. Entre os que preconi­ zam o caráter "objetivo", alguns não descuidam a impor­ tância que pode ter a consciência de classe para a deter­ minação da classe, de modo que essa concepção "obje­ tiva" se acha permeada de "subjetividade" Não obstan­ te, denomina-se "concepção subjetiva" sobretudo aquela que, sem negligenciar por completo as relações econô­ micas como constitutivas da noção de classe, insiste em fatores como a estima, ou os modos de viver, e, em alguns casos, inclusive o modo de falar ou de exprimir-se. Especialmente entre autores marxistas, discutiu-se com freqüência o problema da noção de classe como "consciência de classe" e também a questão da nature­ za da chamada "luta de classes" Jean-Yves Calvez (la pensée de Karl Marx, 1 956, pp. 1 97 ss.) acentua que se encontram em Marx vestígios de concepções de "classe" muito diversas, fundadas em considerações psicológicas, culturais, "raciais" (em certas comunidades antigas ou

480 colonizadas) etc., ou em considerações referentes à divi­ são do trabalho, disparidade de renda etc. Encontram­ se também indicações favoráveis a uma teoria baseada em situações objetivas e também a uma teoria que se apóia na reflexão subjetiva sobre uma situação dada. Embora essa diversidade desapareça, ou se atenue, quando se considera a sociedade capitalista burguesa moderna, e embora seja possível, e até razoável, falar de uma corre­ lação constante entre classe, ou situação objetiva, e cons­ ciência de classe, ou reflexão subjetiva, é compreensí­ vel que tenha havido muitas interpretações do conceito marxista de classe e da noção de consciência de classe. A interpretação adotada dependeu em grande parte da importância que se tenha dado em cada caso ao marxis­ mo como conteúdo mais ou menos fixo ou como mé­ todo aberto, aos aspectos "científicos" ou aos "filosófi­ cos", à maior ou menor preponderância concedida aos elementos hegelianos etc. Em geral, a ênfase nos aspec­ tos metódicos, filosóficos e "hegelianos" do marxismo conduziu a acentuar a noção de classe como consciência de classe. Por outro lado, os aspectos "subjetivos" da noção de classe em forma de consciência de classe não têm por que ser "pessoais"; eles podem oferecer, como acontece em Lukács, um caráter "impessoal", já que então se trata dos propósitos de determinado processo social. Cabe, além disso, como afirma Lukács (Geschi­ chte und Klassenbewusstsein, 1 923, ed. em Werke, 2, p. 235), uma oposição entre consciência de classe e inte­ resse de classe. Essa oposição, que se dá na burguesia, não é, segundo esse autor, contraditória, mas dialética. Observe-se que uma teoria da consciência de classe não tem por que ser "subj etiva"; pode haver uma teoria objetiva da consciência de classe (op. cit. , p. 255). No âmbito dessa teoria obj etiva, a consciência de classe de qualquer classe diferente da proletária não é um reflexo da realidade, nem sequer de sua própria realidade, mas uma deformação. Os que se opõem a Lukács com refe­ rência a esses aspectos - e o próprio Lukács na medida em que desautorizou suas próprias idéias - costumam enfatizar o aspecto objetivo, ou de situação social, da classe; a consciência de classe não fica eliminada, mas é função desse aspecto obj etivo. A idéia da história - da "história até o presente" - como luta de classes é considerada por Marx uma generalização de sua análise da sociedade burguesa capitalista moderna, mas de um modo ou de outro foi uma idéia que se impôs no âmbito do marxismo. For­ mulou-se a esse respeito a questão de saber se pode haver um momento em que as classes desapareçam, e isto pode querer dizer ou desaparecer (por "culmina­ ção") o próprio processo histórico, ou continuar numa forma completamente distinta da que houve até agora. Visto que o programa político-social do marxismo na maior parte de suas variantes visa instaurar uma socie-

481 dade sem classes, parece óbvio que e m tal sociedade não pode haver, por definição, lutas de classes. E, com efeito, pode-se equiparar ' sociedade sem classes' com 'sociedade sem lutas de classes' . Muitas das interpreta­ ções do marxismo admitem esse tipo de equiparação. Porém, como isso parece pressupor que, uma vez reali­ zada a revolução para a eliminação das classes, se terá atingido um estado no qual o problema terá sido resolvi­ do, outras interpretações afirmam que nunca se suprimi­ rá por inteiro a luta de classes. É o que propõem os maoistas. Eles não afirmam com isso que uma sodeda­ de sem classes seja uma sociedade na qual haja lutas de classes; pressupõem unicamente que mesmo numa so­ ciedade sem classes espreita sempre o perigo de que voltem a surgir divisões de classes. Por essa razão ou suposição -, esta interpretação insiste no fato de que a revolução é, ou deve ser, permanente. Disso se segue que mesmo uma sociedade sem classes tem de estar em revolução - não para passar a outra sociedade na qual haja classes, mas para continuar mantendo-se como so­ ciedade sem classes. CLASSES (LUTA DE). Ver CLASSE SOCIAL; MARXISMO; MATERIALISMO HISTÓRICO. CLAUBERG, JOHANNES ( 1 622- 1 665). Nascido em Solingen, foi professor em Herbom ( 1 649- 1 65 1 ) e em Duisburg ( 1 65 1 - 1 665). Clauberg seguiu a tradição aris­ totélica, muito difundida nas universidades alemãs e holandesas de sua época, mas recebeu também influên­ cias cartesianas, transformando-se num dos defensores do ocasionalismo ( vER) . Segundo Clauberg, é necessária a intervenção constante de Deus para produzir, e para se poder entender, a relação entre processos mentais e processos corporais. O que nestes últimos denominamos "causas" são antes "ocasiões" que permitem à alma possuir as idéias correspondentes. Isso não significa que não haja substâncias, mas que elas não se relacio­ nam como se uma fosse causa própria da outra. Clauberg foi o primeiro a usar os termos ' ontolo­ gia' e ' ontosofia' para designar a metaphysica de ente. A ontologia ou ontosofia trata do ser em geral e dos diversos sentidos em que cabe entendê-lo de um ponto de vista formal. :> Obras : Elementa philosophiae sive ontosophia, scientia prima, de iis quae Deo creaturisque seu modo communiter attribuntur, 1 647; 3ª ed., 1 664; edição ano­ tada, com o título Joannis Claubergii ontosophia quae vulgo metaphysica vocatur, 1 694 (com um apêndice que contém o trabalho intitulado Logica contracta). Differentia inter Cartesianam et in scholis vulgo usi­ tatam philosophiam, 1 65 l . - Defensio cartesiana, 1 652. - Excertitationes centum de cognitione Dei et nostri, 1 656. - Logica vetus et nova, 1 658. - Phy­ sica contracta, 1 689.

CLEANTO Edição de obras: Opera omnia philosophica, ante quidem separatim, nunc vero conjunctim edita, multis partibus auctiora et emendatiora; quibus accessere ( . .) . Opuscula quaedam nova, numquam antehac edita ( . .), cura Joh. Theod. Schalbruchii (Amsterdã, 1 96 1 ; reed., 1 968). Contém uma Series Tractatum, entre os quais figuram: Physica Contracta; Disputationes Physicae; Theoria Corporum Viventium; Conjunctio Animae & Corporis; Metaphysica de Ente, cum Notis; Paraphra­ sis in Meditationes Cartesii; Logica Vetus & Nova; Logica Contracta; Defensio Cartesiana. Dubitatio Car­ tesiana; Exercitationes & Epistolae (entre J. C. e Tob. Andrea). Ver: H . Müller, J Clauberg und seine Stellung im Cartesianismus mit besonderer Berücksichtigung seiner Stellung zur occasionalistischen Theorie, 1 89 1 (tese). - E. Giipfert, Clauberg-Studien, I, 1 898. - P. Brosch, Die Ontologie des J Clauberg, 1 926. - E. Viola, "Sco­ lastica e cartesianesimo nel pensiero di J. Clauberg", Rivista di Filosofia Neo-Sco/astica, 67 ( 1 975), 247266. - F. Trevisani, Descartes in Germania: La ricezio­ ne dei cartesianesimo nella Facoltàfilosofica e medica di Duisburg (1 652-1 703), 1 992. Fragmentos: J. von Amim, Stoicorum veterum frag­ menta, I ( 1 92 1 ) , 552-588. Ver: Artigos sobre Cleanto de Th. Gomperz, Zeits­ chrifl for das osterreichischn Gymnasium ( 1 878); U. von Wilamowitz-Moellendorf, Hermes ( 1 940), e G. Verbeke (Verhand. Kon. VI. Acad. von Wetensch. Lett. en Sch. Kunsten von Belgie, Kl . Leteteren, IX, 9, 1 949. - Artigo sobre Cleanto (Kleanthes, 2), de J. von Amim em Pauly-Wissowa. - Ver também: M. Dragona-Mo­ nachou, "Providence and Fate in Stoicism and Prae-Neo­ platonism: Calcidius as an Authority on Cleanthes' Theo­ dicy", Philosophia (Atenas), 3 ( 1 973), 262-306 [comen­ tário a Stoicorum f-éterum Fragmenta, 2, 933]. A mais recente edição de textos e comentários é a de Fritz Wehrli no Caderno I I I de Die Schule des Aristoteles: Klearchos, 1 948; 2ª ed., 1 969. Ver: J. J. Schweighãuser, Animadversiones in Athe­ naei Deipnosophistas post lsaacum Casaubonum cons­ cripsit, 1 905- 1 906. - J. 8. Verraert, Diatribe acad. inaug. de Clearcho Solensi, 1 828. - M. Weber, De Clearchi Solensis vila et operibus, 1 880 (tese). - Art. de W. Kroll sobre Clearco (Klearchos, 1 1 ) em Pauly­ Wissowa. C: CLEMENS. Ver NEO-ESCOLÁSTICA. CLEMENTE de Alexandria (ca. 1 50-ca. 2 1 5 ). Mes­ tre da escola para catequistas da mesma cidade, dedi­ cou-se antes de tudo a inserir a tradição filosófica grega no cristianismo, que é considerado por ele uma verdade total diante de uma verdade parcial, um saber completo diante do saber incompleto, fragmentário e freqüentemente falso do helenismo. No helenismo, e especialmente nos pitagóricos, em Platão e em alguns estóicos, encontram-se, segundo Clemente, verdades encobertas pelo grande erro do paganismo, antecipa­ ções que fazem da filosofia não algo oposto à fé cristã, mas uma preparação para a fé concedida por Deus àqueles que não constituíam até o Novo Testa­ mento o povo eleito. A revelação do Verbo é o verda­ deiro saber, mas um saber que, embora conhecido pela fé, conduz a um assentimento de caráter evidente, à maneira da "fantasia cataléptica" (ver CATALÉPT1co) dos estóicos. Essa revelação foi dada antes parcialmen­ te aos judeus, mas também aos gregos na figura de seus sábios - de todos os sábios, e não apenas dos de determinada escola. Para Clemente, a assimilação da tradição grega é total e constitui em seu conjunto o que ele chama de filosofia, isto é, aquilo que pode preparar para a fé e ao mesmo tempo transformar a fé em conhecimento. Dessa maneira, entre a fé e o saber filosófico não há contradição, pois ambos se comple­ mentam e encontram sua verdade na verdade única do revelado. Mas isso não equivale a uma completa ra­ cionalização da fé, pois há nesta verdades que ultrapas-

482 sam a compreensão. Por isso a filosofia não pode, por exemplo, chegar a um conhecimento positivo da essên­ cia e dos atributos de Deus. :> Obras: Conservaram-se das obras de Clemente o Protréptico aos gregos, o Pedagogo e os Stromata (respectivamente, partes primeira, segunda e terceira de uma grande obra apologética e expositiva), assim como vários escritos menores e fragmentos. Edição de obras: Florença, 1 550; Heidelberg, 1 592; Oxford, 1 7 1 5 . Edição na Patrologia grega de Migne, t. VIII e IX. Nova ed. critica por O. Stãhlin em Die grie­ chischen christlichen Schriftteller der drei ersten Jahr­ hunderte (vol. !. Protréptico e Pedagogo, 1 905; I I . Stro­ mata !- VI, 1 906; III. Stromata, Vll- Vlll; escritos meno­ res e fragmentos, 1 909). Índice da edição de Stãhlin, publicado em 1 934. Ver: J. Cognat, Clément d 'Alexandrie, sa doctrine et sa polémique, 1 85 8 . - E. Freppel, Clément d 'Ale­ xandrie, 1 865. - E. de Faye, Clément d 'A lexandrie. Étude sur les rapports du christianisme et de la philo­ sophie grecque du li" siecle, 1 892; 2ª ed., 1 906; reimp., 1 967. - H. U. Meyboom, Clemens A lexandrinus, 1 9 1 2 . - J. Meifort, Der Platonismus bei C. Alexandri­ nus, 1 928. - J. Munck, Untersuchungen iiber Clemens Alexandrinus, 1 93 3 . - Mondesert, Clément d 'A lexan­ drie. lntroduction à l 'étude de sa pensée religieuse à partir de l 'Écriture, 1 944. - Ih. Camelot, O. P. , Foi et Gnose. lntroduction à l 'étude de la connaissance mystique chez Clément d 'Alexandrie, 1 94 5 . - G. Ca­ talfamo, S. Clemente A lessandrino, 1 95 1 . - E. F. Osborn, The Philosophy of C. ofA . , 1 95 7 . - Andrés Méhat, Étude sur les Stromates de Clément d 'Alexan­ drie, 1 966. - Olivier Prunet, La mora/e de Clément d 'Alexandrie et /e Nouveau Testament, 1 966. - Raoul Mortley, Connaissance religieuse et herméneutique chez Clément d 'A lexandrie, 1 973. - Morton Smith, C. o.fA . and a Secret Gospel of Mark, 1 973. - H. 8. Timothy, The Early Christian Apologists and Greek Philosophy, Exemplified by lrenaeus, Tertullian and C. ofA . , 1 97 3 . - J. Ferguson, C. of A . , 1 974. - G. Apostolopoulou, Die Dialektik bei Klemens von Ale­ xandria. Ein Beitrag zur Geschichte der philosophis­ chen Methoden, 1 977. - R. Hoffmann, Das prinzi­ pielle Denken und seine praktische Anwendung bei C. von A. - Eine Untersuchung zum spiitantiken Plato­ nismus, 1 978. C: CLIFFORD, WILLIAM KINGDON ( 1 845- 1 879). Nascido em Exeter, professor ( 1 87 1 - 1 879) no Univer­ sity College, de Londres, e habitualmente considera­ do um dos representantes do evolucionismo naturalista inglês das últimas décadas do século passado, ele de­ fendeu em filosofia um sensacionismo para o qual to­ do objeto é, em última análise, um complexo de sensa­ ções. Nesse sentido, sua doutrina pode ser qualificada de empirista-fenomenalista e se encontra na linha que

483 vai de Hume a Mach. A redução do ser a impressões não é, porém, para Clifford, uma mera psicologização do obj eto. A rigor, objeto e suj eito pertencem à mesma ordem de realidade, e sua única diferença consiste no fato de que, enquanto o segundo é "sentido'', o primei­ ro é uma ejection ou proj eção do complexo de impres­ sões do eu. Essa realidade "ejetiva" possui, em todo caso, certa obj etividade. Com efeito, as impressões do "eu" nunca permanecem isoladas, mas em indisso­ lúvel conexão com outros complexos de impressões. Em primeiro lugar, e antes de tudo, há os "obj etos sociais" dentro de cuja trama é dado todo eu indivi­ dual; em segundo lugar, há um mundo sem o qual o eu ficaria substancializado e, por conseguinte, elimina­ do. Os processos "ej etivos" estão submetidos, de resto, a uma evolução que percorre todas as ordens da na­ tureza e permite concluir que o último estágio é um complexo de impressões conscientes. Daí a teoria do "tecido mental" (mind-stujj) que constitui a trama úl­ tima da realidade e está destinado, segundo Clifford, a resolver o dualismo de sujeito e obj eto, de espírito e corpo, de consciência e matéria. Assim, o que há, em última análise, é o "sentido", e o "sentido" é o em si, do qual emergem todos os dualismos, concebidos como divisões artificiais praticadas pela inteligência, mas que não correspondem à realidade da coisa. Matéria e psiquismo são, portanto, dois aspectos dife­ rentes do "real" Entretanto, como Clifford se inclina mais a determinar os caracteres do psíquico por meio dos traços pertencentes ao físico do que o inverso, sua metafísica é, em última análise, um pampsiquismo com uma base ontológica materialista e evolucionista estreitamente afim à doutrina de Spencer. :l Obras: Seeing and Thinking, 1 879. - Lectures and Essays, 2 vols., 1 879, ed. L. Stephen e F. Pollock. - The Com monsense of the Exact Sciences, 1 8 85, ed. por K. Pearson; reed. por J. R. Newman, com prefácio de B. Russell, 1 95 5 . - The Ethics of Belief, 1 909. Todas estas obras são coletâneas de artigos e aulas, tendo sido publicadas postumamente. Durante sua vida, Clifford publicou seus principais estudos matemáticos: Preliminary Sketch of Bi-Qua­ ternions, 1 873, e On the Canonical Form and Dissec­ tion of a Riemann 's Surface, 1 877. Obras: Geschichte des Unendlichkeitsprob/ems im abendliindischen Denken bis Kant, 1896; reimp., 1960 (História do problema do infinito no pensamento oci­ dental até Kant). - A llgemeine Aesthetik, 1901 (Esté­ tica geral). - f!óraussetzungen und Zie/e des Erkennens. Untersuchungen iiber die Grundfragen der Logik, 1908 (Pressupostos e fins do conhecer. Investigações sobre as questões fundamentais da lógica). - Der Sinn der gegenwiirtigen Ku/tur. Ein phi/osophischer Versuch, 1 914 (O sentido da cultura atual. Ensaio filosófico). "Relativitiit und ldealismus", Kantstudien, 21 (1917). - Geist der Eerziehung. Piidagogik auf philosophis­ cher Grund/age, 1919. - Die Theorie der Dialektik, Formen/ehre der Philosophie, 1923 (A teoria da dialé­ tica, doutrina das formas de filosofia). - Die Philo­ sophie im Zeitalter des Spezialismus, 1 925 (A filosofia na época do especia/ismo). - Wertwissenschaft, 3 vols., 1 932-1933 (Ciência do valor). - Wirklichkeit ais A uf gabe. A us dem Nachlass (póstumo), 1 955, ed. Jürgen von Kempski (Realidade como tarefa).

Depoimento em Deutsche Phi/osophie der Gegen­ wart in Selbstdarstellungen, II, 192 1 . Ver: R. Klockenbusch, Husserl und Cohn: Widers­ pruch, Reflexion, und Te/os in Phiinomenologie und Dia/ektik, 1989. Obras: O Criacionismo, 1902. - O pensamento criacionista, 1914. - A morte, 1913 . - A luta pela imortalidade, 1 916. A A legria, a Dor e a Graça, 19 1 6. Do A mor e da Morte, 1922. Edição de obras completas, Lisboa, 1957 ss. Ed. de escritos inéditos ("O espírito e a guerra", "A alma'', "A origem e o valor da idéia de vida espiritual'', "Dois humanismos", "Duas liberdades'', "Espíritos l iberais e espíritos reacionários'', "A personalidade espiritual de Guerra Junqueiro") em Revista Portugue­ sa de Filosofia, 12 (1956), 3 60-402 . Esta edição de textos está precedida pelo estudo de A. de Magalhães, "A perenidade do pensamento filosófico de L. C.", ibid. , 3 3 7-359. Ver: José Marinho, O pensamento .filosófico de L. C. , 1 945. - Delfim Santos, "Actualidade e valor do pensamento filosófico de L. C.", separata de Studium generale, 3 ( 1956), 51-67. - M. Spinelli, "O criacio­ nismo de L. C.", Revista Portuguesa de Filosofia, 37 ( 1981) , 3-35. - A. F. Morujão, "O sentido da filosofia em L. C .", ibid. , 39 ( 1983), 345-364. - M. Patricio, "O anti-aristotelismo explícito de L. C. (contribuição para o estudo do problema)'', ibid. , 39 ( 1 983), 408452. - A. Alves, "Leitura Metafisica de A Alegria. a Dor e A Graça Obra-Prima de L. C.", ibid. , 4 1 ( 1 985), 181-20 8 . Obras: O título completo da obra de Collier é Clavis Universalis ar a New Inquiry after Truth, Being a De­ monstration o/ the non-Existence, ar Impossibility, o{ an Externai World, 1 7 1 3 . Em 1 756, ela foi traduzida para o alemão por Eschenbach; uma edição, com outros folhetos da época, foi feita em 1 837 por S. Parr. Edição com notas de Ethel Bowman, 1 909. Reimp. da ed. de 1 7 1 3 , com notas de Heinz Heimsoeth, 1 964. - Collier escreveu, além disso, A Specimen o{ True Philosophy; in a Discourse on Genesis, 1 730, e uma Logology, 1 732. A Clavis destinava-se justamente a servir de introdução a uma compreensão das Escrituras.

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Ver: Robert Benson, A rthur Collier, 1 83 7 . - A. Kowalewski, Kritische A nalyse von A . Co//iers Clavis universa/is, 1 897 (tese). - Ethel Bowman, Prefatory Note à edição da Clavis, 1 909. - G. A. Johnston, "The Relation between Collier and Berkeley", A rchiv für Geschichte der Phi/osophie, 32, N. F., 25 ( 1 9 1 8), 1 62- 1 75 . - F. E . Jordak, "A. C.'s Theory of Possi­ bility", ldealistic Studies, 8 ( 1 978), 253-260. C: COLLINGWOOD, R[OBINf G [ EORGE) ( 1 8891 943). Nascido em Cartwell Fell (Inglaterra), Fellow no Pembroke College (Oxford) e depois professor de Metafisica no Magdalen College (também em Oxford), iniciou sua meditação filosófica com o que denomina­ va uma revisão crítica das principais formas da experiên­ cia humana. Um "Novo tratado da natureza humana" devia constituir, pois, seu fundamento. Essa revisão foi realizada no decurso de um novo idealismo (embora o autor desprezasse esse nome); Collingwood não apenas rejeitava as teses realistas como procurava mostrar os fracos pressupostos destas. Na verdade, o exame das formas da experiência humana - exame mais descri­ tivo que propriamente especulativo - conduz-nos a considerar circularmente - e, até certo ponto, dialeti­ camente - a vida do espírito e, portanto, o "mapa do conhecimento" Collingwood considera que o campo da experiência divide-se em várias regiões: arte, religião, ciência, história, filosofia. Cada região é uma "ativida­ de do espírito cognoscitivo" (Specu/um mentis, II, p. 39). Cada uma é um "erro", isto é, um momento par­ cial da verdade. Não há dúvida de que, ao alcançarmos a história, parecemos chegar a um ponto em que a unificação se toma possível. Com efeito, a história é uma forma de experiência cujo objeto é a realidade concreta. "O objeto da história" - escreve Collingwood - "é o fato enquanto tal" (op. cit. , VI, 2; p. 2 1 1 ), e, em sua opinião, o mundo do fato é o objeto absoluto. Nenhuma atitude do espírito e nenhuma faceta da expe­ riência seriam, assim, alheias à história. Ou, para dizê­ lo na mesma fórmula concentrada do filósofo: "A arte baseia-se na ignorância da realidade; a religião, na igno­ rância do pensamento; a ciência, na ignorância do fato. Mas, com o reconhecimento do fato, reconhece-se tudo o que é real em algum sentido. O fato, tal como está historicamente determinado, é o objeto absoluto" (op. cit. , VI, 3, p. 2 1 8). Ora, se o Absoluto aparece sob a forma do universal concreto, o conhecimento histórico será um conhecimento de um mundo infinito de fatos e, por conseguinte, um conjunto infinito de pensamen­ tos. A dialética nos conduz, uma vez mais, à impossi­ bilidade do que parecia evidente. Mas somente a busca do fundamento do conjunto infinito concreto permite­ nos superar o estágio anterior. Essa busca nos conduz justamente à filosofia, em que o ciclo dialético se fecha, não por esgotamento de todos os obj etos, mas pelo

COLLINGWOOD, H[OBIN] G[EOHGE]

conhecimento deles mediante o autoconhecimento do espírito. Esse espírito não é, todavia, uma idéia, mas uma experiência radical. Daí que a sua descrição equi­ valha à sua vivência; daí que o conhecimento de si mesmo seja a repetição do viver de si mesmo. Uma metafisica, uma filosofia da Natureza, da história, da arte e da vida social humana são conse­ qüências inevitáveis desse movimento cognoscitivo e vivido do espírito. Collingwood admite a metafisica, porém não como uma ciência do puro ser, não como uma ontologia, mas como saber de algo concreto. Essa realidade concreta são as suposições, pressuposições ou pressupostos (ver PREssurosrn ) , e isso de tal ma­ neira que a metafisica se transforma em "ciência das pressuposições absolutas" (A n Essay on Metaphysics, p. 32). Collingwood combate desse ponto de vista o neo-realismo e o analiticismo, afirmando que o pensar sobre o qual estes realizam suas análises é um pensar de grau inferior e que toda análise é, no fim, análise metafisica. Ora, esses pressupostos são, a rigor, pres­ supostos "históricos", motivo pelo qual a própria me­ tafisica se torna "ciência histórica" (op. cit. , p. 49). A consideração do histórico vai se transformando desse modo no tema central da filosofia de Collingwood, cuj as obras propriamente hi stóricas chegam também a fazer parte de seu pensamento. Mas o histórico não se detém, naturalmente, na história propriamente dita, na metafisica e na vida "circular" e "dialética" do es­ pírito - ela atinge igualmente, e em proporção consi­ derável, a própria idéia de Natureza. Esta não é então simplesmente o conjunto das coisas naturais; em todo caso, essas coisas não podem ser vistas nem compreen­ didas senão a partir de uma idéia da Natureza que mostra ser, por sua vez, uma idéia histórica. Com isso, segundo Collingwood, em lugar de relativizar-se, a Natureza adquire a realidade da "historicidade" Em outros termos, a idéia da Natureza não se dá senão por meio de uma concepção histórica, não havendo, por conseguinte, uma Natureza idêntica, prévia a toda con­ sideração e cuj as possíveis idéias não foram senão pontos de vista determinados e parciais. Por isso, a historicidade é um caráter fundamental do real, e, assim, a realidade somente é acessível - e não apenas cognoscitivamente - por meio de uma idéia ou inter­ pretação histórica. :> Obras: Religion and Philosophy, 1 9 1 6 . - Specu­ /um Mentis, 1 924. - Out/ines of a Philosophy ofArt, 1 924. - An Essay on Philosophica/ Method, 1 93 3 . - The Principies ofA rt, 1 93 8 . - An A utobiography, 1 939. - A n Essay on Metaphysics, 1 940. - The New Leviathan, or Man, Society, Civilization, and Barba­ rism, 1 942. - Obras póstumas: The ldea of Nature, 1 945. - The ldea of History, 1 946. - Essays in the Philosophy ofA rt, 1 964, ed. Alan Donagan (artigos de 1 922 a 1 929). - Essays in the Philosophy ofHistory,

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COLLINS, [JOHN] ANTHONY 1 96 5 , ed. W. Debbins. - Faith and Reason: Essays in the Philosophy of Religion, 1 968, ed. Lionel Rubinoff (contém partes de obras j á publicadas, como Speculum Mentis, e artigos não publicados antes em livro). Bibliografia: ! . M. Richmond, "R. G. C.: B iblio­ graphy of Writings on Ancient History and Archaeo­ logy", Proceedings ofthe British A cademy, 29 ( 1 943), 48 1 -4 8 5 . - Michael Krausz, "C. Bibliography", no volume ed. pelo mesmo autor cit. infra, pp. 327-448 . - D . S . Taylor, R. G . C. : A Bibliography, 1 98 8 . - C. Dreisbach, R. G. C. : A Bibliographic Checklist, 1 993 . Ver: Alan Donagan, The Later Philosophy o{ R. G. C. , 1 962. - H. R. Walpole, R. G. C. and the Idea of Language, 1 963. - Merle Elliott Brown, Neo-Idealistic Aesthetics: Croce-Gentile-C. , 1 966. - Albert Shalom, R. G. C., philosophe et historien, 1 967. - W. M. Johns­ ton, The Formative Years of R. G. C. , 1 969. - Louis O. Mink, Mind, History and Dialectic: The Philosophy of R. G. C. , 1 969. - Lionel Rubinoff, C. and the Re­ form o{Metaphysics: A Study in the Philosophy ofMind, 1 970 (com ampla bibliografia). - A. Donagan, L. Rubinoff et ai. , Criticai Essays on the Philosophy of R. G. C. , 1 972, ed. Michael Krausz. - Kenneth Laine Ketner, An Emendation ofR. G. Colling'A'ood s Doctrine ofAbso­ lute Presuppositions, 1 97 3 . - W. J. van der Dussen, History as a Science: The Philosophy of R. G. Colling­ wood, 1 98 l . - A. F. Russell, Logic, Philosophy, and History: A Study in the Philosophy ofHistory Based on the Work o{ R. G. C. , 1 984. - H. Saari, Re-Enactment: A Study in R. G. C.s Philosophy o{ History, 1 984. D. Boucher, The Social and Political Thought of R. G. C. , 1 989. - M. Hinz, Self Creation and History: C. and Nietzsche on Conceptual Change, 1 994. C

COLLINS, [JOHN) ANTHONY ( 1 676- 1 729). Nas­ cido em Hounslow, nas proximidades de Londres. Se­ guidor de Locke, Collins foi um dos mais destacados deístas (ver DEÍSMO) e livre-pensadores ( vER ) , tendo sustentado retumbantes polêmicas contra vários auto­ res que acusou de não submeter a livre exame crítico as crenças religiosas recebidas dogmaticamente. Segundo Collins, essas crenças não têm por que escapar ao livre exame a que se devem submeter todas as afirmações. Esse l ivre exame é conduzido pela razão, que não pode admitir enganos nem fraudes. Collins opõe-se vigorosamente a "argumentos" segun­ do os quais as verdades reveladas são "mistérios" im­ penetráveis à razão; tais "argumentos" são resultado da credulidade infundada e do temor de descobrir a verdade. O "livre-pensamento" é um pensamento não atemorizado pela autoridade e não submetido à supers­ tição, ou ao falso entusiasmo, que Collins denuncia, assim como Shaftesbury, como origem de muitos males. A rigor, o temor e a superstição são piores que

o ateísmo. Aqueles que se opõem ao livre-pensamento são os que manifestam ignorância e desumanidade. Os livre-pensadores, desde Sócrates e Platão, passando por Epicuro e Sêneca, até Bacon, Herbert de Cherbury e Locke, entre outros, são os verdadeiramente sábios e plenos de espírito humano. Ao recusar o que considerava fraudes e superstições nas Escrituras, Collins efetuava a crítica bíblica depois desenvolvida por muitos filósofos e historiadores. Ao mesmo tempo, a eliminação dessas fraudes e supersti­ ções podia, a seu ver, descobrir o que havia na Bíblia de verdadeiro e razoável, que era o que correspondia às verdades morais naturais e universais. :> Entre os escritos de Collins, vários dos quais pu­ blicados anonimamente, figuram: An Essay Concer­ ning the Use of Reason in Propositions, the Evidence where of Depends upon Human Testimony, 1 707. A Discourse on Freethinking, Occasion 'd by the Rise and the Growth of a Sect cal! 'd Free-Thinkers, 1 7 1 3 . - A Philosophical Inquiry Concerning Human Liber­ ty, 1 7 1 5 . - A Discourse of the Grounds and Reasons of the Christian Religion, 1 724. - The Scheme of Li­ teral Prophecy Considered, 1 72 5 . - A Discourse Con­ cerning Ridicule and Irony in Writing, 1 727. - Disser­ tation on Liberty and Necessity, 1 729. Edição de obras : Eds. da Philosophical Inquiry, 1 7 1 7, 1 727, 1 73 5 , 1 749, 1 790 (ed. J. Priestley), 1 890 (notas de G. W. Foote e int. de J. M. Wheeler); ed. de 1 976 por J. O ' H iggins (com " Introdução"), cit. infra. Ver: James O'Higgins, A. C. : The Man and His Works, 1 970. O mesmo autor preparou uma ed. do Phi­ losophical Inquiry com discussão e opiniões de Hobbes, Locke, Bayle, William King e Leibniz, 1 976. - D. Berman, "A. C . : His Thought and Writings", Herma­ thena ( l 975), 49-70. - R. Attfield, "Clarke, Collins and Compounds", Journal ofthe History ofPhilosophy, 1 5 ( 1 977), 45-54. - W. L. Rowe, "Causality and Free Will in the Controversy Between Collins and Clarke", ibid. , 25 ( 1 987), 5 1 -67. e COMELLAS Y CLUET, ANTONIO. Ver Nrn-Esco­

LÁSTICA. COM Ê N I O (COM E N I U S ; KOM E N S KY, JAN AMOS) ( 1 592- 1 670). Nascido em Uhersky Brod (Mo­ rávia, Tchecoslováquia). Membro da Unidade de Ir­ mãos Morávios, que seguia as pregações de João Hus, estudou em Herbom e em Heidelberg. Ordenado pastor na Morávia, teve de exilar-se em conseqüência da per­ seguição de protestantes pelos Habsburgo na Guerra dos Trinta Anos. Comênio dedicou-se a várias maté­ rias, científicas, religiosas e educativas; são abundantes em suas obras influências muito diversas: do neopla­ tonismo, da escolástica, da mística, da magia natural renascentista . . . O estudo de Luis Vives, Campanella e,

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sobretudo, Francis B acon levou Comênio à idéia de uma "Grande Didática", na qual se preconiza e desen­ volve um método universal para a aquisição e o ensi­ namento de todos os conhecimentos. A unidade de todos os conhecimentos e a universalidade do método indutivo empírico são fortemente enfatizadas por Co­ mênio, em quem se combinam os interesses enciclo­ pédico e pedagógico. Comênio é conhecido sobretudo como um dos grandes reformadores da pedagogia, e, com efeito, encontra-se em várias de suas obras, espe­ cialmente na Didática, um grande número de preceitos pedagógicos. Além disso, Comênio defendeu a forma­ ção de um "Colégio Universal", o uso de uma língua internacional e uma reforma educacional que atingis­ se todos os países. Tudo isso, porém, deve ser enten­ dido em função de seu interesse enciclopédico, que era ao mesmo tempo a manifestação de um espírito de ilustração e de ordenação e pacificação dos espíritos. Os preceitos do ensino estavam correlacionados com os princípios das ciências, de maneira que a organiza­ ção pedagógica correspondia à organização lógica das distintas matérias. Comênio foi um dos primeiros a pre­ conizar o caráter ativo da educação, o que supunha a participação do estudante no processo pedagógico. Sua idéia de uma pansophia era ao mesmo tempo a idéia de uma pan-harmonia de todos os homens e de todas as comunidades na paz e no conhecimento universais. :> Obras: Janua linguarum reserata, 1 63 l . - Didac­ tica Magna, escrita em tcheco, traduzida pelo próprio C. para o latim em 1 635- 1 636 e publicada em 1 657, com outra obras, em Opera didactica omnia . - Via Lucis vestigata et vestiganda, 1 668. Edição de obras: J. A. Comenii Opera Omnia / Dílo Jana Amos e Komenského (latim-tcheco), 1 969 ss., ed. A. Skaro. Ver: J. Kvacala, 1 A. C. Sein Leben und seine Schrif­ ten, 1 892, e, sobretudo, do mesmo autor: 1 A . C. , 1 9 1 4 . - Ver também: A. Faggi, II Galileo della pedagogia, 1 902. - F. Orestano, C. , 1 906. - A. Heyberger, 1 A . C. , s a vie e t son oeuvre d 'éducation, 1 928. - Frantisek Zozik, The Sorrowful and Heroic Life ofJ. A. C. , 1 95 8 . - M . Blekastad, Comenius. Versuch eines Umrisses von Leben, Werk, Schicksal des Jan A mos Komensky, 1 969. - H. Trãnker, Die Pansophie der hermeneutis­ chen Bruderschafl vom Rosenkreuz, 1 98 1 . - K. Scha­ ller, ed., Comenius. Erkennen, Glauben, Handeln, 1 987. - Consultar também a introdução de G. Lombardo Radice à trad. italiana da Didactica Magna: Didattica Magna, 1 9 1 3 ; 2ª ed., 1 93 8 . A Comenius Gesellschafl publicou uma série d e comunicações, exposições e monografias desde 1 893 (anos l -28, 1 892- 1 9 1 9, subdivididos em 39 vols.). O Museu Comênio de Uhersky Brod (Tchecoslová­ quia) publica a revista Studia comeniana et historica. , mas estas proporcionam apenas a base primária do conhecer (uma base sobre a qual se montam as idéias gerais). Pode-se adotar um empirismo que foi às vezes denominado

CONHECIMENTO

"total": é o empirismo que recusa ater-se às impressões sensíveis por considerar que estas são apenas uma parte, e não a mais importante, da "experiência" Para esse empirismo, a "experiência" não é apenas experiência sensível: pode ser também experiência "intelectual", ou experiência "histórica", ou experiência "interior", ou todas essas coisas ao mesmo tempo. Pode-se adotar também um empirismo que não deriva das impressões sensíveis do conhecimento das estruturas lógicas e mate­ máticas, justamente porque considera que essas estrutu­ ras não são nem empíricas nem tampouco racionais: são estruturas puramente formais, sem conteúdo. Isso ocorre com Hume e com diversas fomms de positivismo lógico. Pode-se abraçar também um empirismo que parte do ma­ terial dado às impressões sensíveis mas admite a possi­ bilidade de delas abstrair "formas"; é o empirismo de cunho aristotélico e seus derivados. Quanto ao chamado, grosso modo, "racionalismo", adotou igualmente formas muito diversas de acordo com o significado que se te­ nha dado a expressões tais como 'realidade inteligível ' , ' idéias', ' formas ', 'razões' etc. Com efeito, u m raciona­ lismo que parte do inteligível como tal para considerar o sensível como reflexo do inteligível não é a mesma coisa que um racionalismo para o qual o conhecimento se funda na razão mas em que esta não é uma realidade inteligível e sim um conjunto de pressupostos ou "evi­ dências", uma série de "verdades eternas" etc. As posições empiristas e racionalistas, e suas múl­ tiplas variantes, são apenas duas das posições funda­ mentais adotadas na questão do fundamento do conheci­ mento. Outras duas posições capitais são as conhecidas pelos nomes de "realismo" e "idealismo" Referimo-nos a elas de maneira mais detida nos verbetes correspon­ dentes. Indiquemos aqui unicamente que o característi­ co de cada uma dessas posições é a insistência respec­ tiva em tomar um ponto de partida no "objeto" ou no "sujeito" Ainda assim, não é fácil esclarecer o signi­ ficado próprio de 'realismo ' e de ' idealismo' em virtude dos muitos sentidos que assumem no âmbito dessas po­ sições os termos 'objeto ' e ' sujeito' Assim, por exem­ plo, no que diz respeito ao "sujeito", a natureza da posição adotada depende em grande parte de se o sujeito em questão é entendido como sujeito psicológico, como suj eito transcendental no sentido kantiano, como sujeito metafisico etc. Em alguns casos, o fato de partir do su­ j eito pode dar lugar a um subj etivismo, e até a um solipsismo (vER). No entanto, em outros casos, o termo 'sujeito' designa antes uma série de condições do conhe­ cimento como tal, que não são precisamente "subjeti­ vas". Por isso, quando se fala, por exemplo, de idealismo (vER) , não é o mesmo entendê-lo em sentido subjetivis­ ta ou obj etivista, crítico, lógico etc. Em outros casos, o fato de se partir do objeto pode dar lugar ao que se denominou "realismo fotográfico", mas em muitas oca-

CONHECIMENTO

siões admitir que o fundamento do conhecimento está no objeto não equivale a fazer do sujeito um mero "reflexo" do obj eto. Nem todas as atitudes adotadas no problema que nos ocupa podem ser classificadas em posições como as apresentadas. A rigor, todas essas posições possuem em comum o fato de ter, de algum modo, o conheci­ mento por pressuposto. Além disso, quase todas tendem a conceber o conhecimento não apenas como uma ativi­ dade intelectual, mas também como uma atividade fun­ dada em motivos intelectuais, isolados, ou isoláveis, em relação a quaisquer outros motivos. Em contra­ partida, certas posições, especialmente as desenvolvi­ das na época contemporânea, porém precedidas por alguns autores (entre os quais devem-se mencionar Nie­ tzsche e Dilthey), procuraram questionar-se acerca do fundamento do conhecimento em sentido diferente : em função de uma "experiência" mais ampla. Como resul­ tado disso, a teoria do conhecimento não consistiu numa "filosofia da consciência" como "consciência cognos­ cente" Vemos exemplos dessas tentativas em vários autores: pragmatistas (Dewey, James), existencialistas (Sartre) e outros não faci lmente classificáveis, como Ortega y Gasset, Heidegger, Gilles-Gaston Granger etc. Limitar-nos-emos aqui a sublinhar a doutrina de Ortega na qual o conhecimento é examinado como um saber: o "saber a que ater-se" Nega-se com isso que o conheci­ mento seja conatural e consubstancial ao homem, isto é, que o homem seja em última análise "um ser pensan­ te" Isso não equivale a defender uma teoria "irracio­ nalista" do conhecimento - equivale a não dar por su­ posto o conhecimento e a questionar-se sobre o modo como "se funda" Formas do conhecimento. Referimo-nos antes aos chamados "conhecimento sensível" e "conhecimento inteligível'', que correspondem grosso modo ao conhe­ cimento das verdades de fato e ao conhecimento das verdades de razão. Alguns consideram que tanto o conhecimento sensível como o inteligível são "intuiti­ vos", mas dão ao termo 'intuitivo ' um sentido diferente em cada caso; o chamado "conhecimento inteligível intuitivo" é tido como absoluto, ao contrário do "co­ nhecimento intuitivo sensível", que é relativo. Outros julgam que o conhecimento intuitivo inteligível não é absoluto do ponto de vista metafisico, mas é absoluto, ou, melhor dizendo, completo ou adequado, do ponto de vista epistemológico. Falou-se também de conhecimento imediato, que às vezes se equiparou ao mencionado conhecimento sensível, e de conhecimento mediato, que amiúde se equiparou a um conhecimento inteligível, isto é, a um conhecimento de verdades de razão, ou ao conheci­ mento que se adquire por meio de inferências. Falou-se da mesma maneira de um conhecimento a priori e de um conhecimento a posteriori, de um

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conhecimento analítico e de um sintético. Tratamos dessas questões nos verbetes A PRIORI; ANALÍTICO; e

SINTÉTICO. Estabeleceu-se uma distinção entre formas de co­ nhecimento de acordo com os obj etos que se procuram conhecer. Voltou-se novamente a falar, a esse respeito, de conhecimento sensível, enquanto conhecimento de coisas e obj etos apreensíveis pelos sentidos, como as coisas e objetos fisicos (ou macrofisicos ), e de co­ nhecimento inteligível, enquanto conhecimento de re­ lações, objetos abstratos etc. Classificaram-se algumas vezes os possíveis objetos de conhecimento em espé­ cies de obj etos correspondentes a tipos, ou, ao menos, variedades de conhecimento. Foi o que aconteceu quando se falou de conheci­ mento da Natureza, ao contrário do conhecimento do homem e dos "objetos humanos" (ações, avaliações, experiências individuais, obj etos culturais, instituições, processos históricos etc.). Desse modo, estabeleceu-se a divisão entre ciências naturais e ciências do espírito (ou ciências sociais, ciências humanas, ciências da cul­ tura etc.). O problema das formas de conhecimento nes­ se sentido está relacionado com o problema da classi­ ficação de conhecimentos, ou saberes, que abordamos no verbete CIÊNCIAS (CLASSIFICAÇÃO DAS) . Além das for­ mas antes mencionadas de conhecimento imediato e mediato, falou-se de conhecimento por contato ou pre­ sença direta e conhecimento por descrição. Estabele­ ceu-se também uma disitnção entre conhecer algo, co­ nhecer que algo é deste ou daquele modo e conhecer como algo é. Abordamos essa questão - e, com ela, a de algumas formas de conhecimento mencionadas nesta seção - no verbete CONHECER. � Exposições e interpretações da natureza do conhe­ cimento como "teoria do conhecimento": A. Messer, Einführung in die Erkenntnistheorie, 1 909. - Hans Cornelius, Transzendentale Systematik. Untersuchun­ gen zur Begründung der Erkenntnistheorie, 1 9 1 8 . Louis Rougier, Les paralogismes du rationalisme. Essai sur la théorie de la connaissance, 1 920. - !d. , Traité de la connaissance, 1 95 5 . - M. Wentscher, Erkennt­ nistheorie, 2 vols., 1 920 (trad. esp . : Teoría dei conoci­ miento, 1 93 2 [ver do mesmo autor a parte sobre a teoria do conhecimento em seu Lehrbuch ( Tratado) citado em HESSEN (JoHANNEs)] . - H. Lipps, Untersu­ chungen zur Philosophie der Erkenntnis, 2 vols., 1 9271 92 8 . - C . !. Lewis, Mind and the World-Order: Outline ofa Theory ofKnowledge, 1 929; nova ed. (com correções), 1 956. - /d. , An A nalysis of Knowledge and Valuation, 1 946. - W. T. Stace, The Theory of Knowledge and Existence, 1 932. - Arthur Liebert, Er­ kenntnistheorie, 2 vols., 1 932. - A. J. Ayer, The Foun­ dations of Empírica/ Knowledge, 1 940. - Ledger Wood, The A nalysis of Knowledge, 1 94 1 . - M. F. van Steenbergen, Epistémologie, 1 945; 3ª ed., 1 956. -

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W. H . Werkmeister, The Basis and Structure of Know­ ledge, 1 948. - Bertrand Russell, Human Knowledge: Its Scope and Limits, 1 948. - Amerio Franco, Epis­ temología, 1 948. - Eduardo Mayz Vallenilla, Feno­ menología dei conocimiento, 1 956. - !d. , Ontología dei conocimiento, 1 960. - J. Hartland-Swann, An Ana­ lysis of Knowing, 1 95 8 . - Georges Van Riet, Problé­ mes d 'épistémologie, 1 960. - A. Mercier, J. forgen­ sen, et ai. , artigos sobre o conhecimento com o título geral de "Limites et criteres de la connaissance'', em Dialectica, 1 5 1 /2 ( 1 96 1 ) [dos "Entretiens d ' Oberho­ fen" organizados pelo Instituto Internacional de Filoso­ fia] . - Roderick M . Chisholm, The Theory of Know­ ledge, 1 966. - Marj orie Grene, The Knower and the Known, 1 966. - Paul Grenet, Qué es el conocimiento, 1 967 [Esquemas, 80] . - Arthur Danto, Analytic Philo­ sophy ofKnowledge, 1 968. - Panayot Butcharov, The Concept of Knowledge, 1 970. - Carlos Castilla dei Pino, Naturaleza dei saber, 1 970. - D. W. Hamlyn, The Theory ofKnowledge, 1 970. - David Pears, What Is Knowledge ?, 1 97 1 . - VVAA., Problems in the Theory of Knowledge / Problemes de la théorie de la connaissance, 1 972, ed. G. H. von Wright [dos "En­ tretiens de Helsinki" organizados pelo Instituto Inter­ nacional de Filosofia, 24/27-VIII- l 970] . - Jaakko Hintikka, Knowledge and the Known : Historical Pers­ pective in Epistemology, 1 974. - Michael Williams, Groundless Belief A n Essay on lhe Possibility of Epis­ temology, 1 977. - Elizabeth Henkins Wolfgast, Para­ doxes ofKnowledge, 1 977. - R. Rorty, Philosophy and the Mirrar of Nature, 1 979 (trad. br. : A filosofia e o espelho da natureza, 1 994). - F. 1. Fretske, Knowledge and the Flow ofInformation, 1 980. - F. von Kutschera, Grundfragen der Erkenntnistheorie, 1 98 1 . - E. R. Eames, ed., Theory of Knowledge: The 1 9 1 3 Manus­ cript, 1 992 [The Collected Papers of 8. Russell, vol. 7] . - F. Schmitt, Knowledge and Belief, I 992 . - V Potter, On Understanding Understanding: A Philoso­ phy of Knowledge, 1 994. Obras sobre história da teoria do conhecimento ou exposições de teorias do conhecimento de diversos pe­ ríodos, correntes, autores etc.: Paul Natorp, Forschungen zur Geschichte des Erkenntnisproblems im A lter/um, 1 884. - Ernst Cassirer, Das Erkenntnisproblem in der Philosophie und Wissenschafl der neueren Zeit, 4 vols. (!, 1 906; II, 1 907; III, 1 920; IV, 1 957). - Leslie Walker, Theories ofKnowledge, 1 9 1 O. - Ernst von Aster, Ges­ chichte der neueren Erkenntnistheorie, 1 92 1 . - Karl Dürr, Wesen und Geschichte der Erkenntnistheorie, 1 924. - R. Kynast, Logik und Erkenntnistheorie der Gegenwart, 1 930. - Richard Hiinigswald, Geschichte der Erkenntnistheorie, I 933. - T. E. Hill, Contempo­ rary Theories of Knowledge, 1 96 1 [especialmente na

CONHECIMENTO

Inglaterra e nos EUA]. - 8. Bubacz, St. A ugustine :S Theory ofKnowledge, 1 98 1 . - A. Musgrave, Common Sense, Science and Scepticism: A Historical lntroduction to the Theory of Knowledge, 1 993 . Sobre ontologia do conhecimento: Nicolai Hart­ mann, Grundzüge einer Metaphysik der Erkenntnis, 1 92 1 . - Roman Ingarden, Über die Stellung der Erken­ ntnistheorie im System der Philosophie, 1 925. - E. Günther, Die ontologischen Grundlagen der neueren Erkenntnislehre, 1 93 3 . - Eduardo Mayz Vallenilla, op. cit. supra ( Ontología . . . ). Sobre o objeto do conhecimento, o próprio proble­ ma do conhecimento e outros problemas específicos: Heinrich Rickert, Der Gegenstand der Erkenntnis. Ein Beitrag zum Problem der philosophischen Transzen­ denz, 1 892; 6ª ed., 1 92 8 . - L. Nelson, Über das so­ gennante Erkenntnisproblem , 1 904. - Ernst Mach, Erkenntnis und Irrtum, 1 90 5 . - J. Schultz, Die drei Welten der Erkenntnistheorie, 1 907. - R. Reininger, Philosophie des Erkennens. Ein Beitrag zur Geschi­ chte und Fortbildung des Erkenntnisproblems, 1 9 1 1 . - A . Metzger, Der Gegenstand der Erkenntnis, 1 925. - Hans Pichler, Vom Wesen der Erkenntnis, 1 926. M. D. Roland-Gosselin, Essai d 'une étude critique de la connaissance, 1 932. - H. W. Sanford, Concerning Knowledge, Philosophic and Scientific. A Theory of Knowledge which also Jncludes a Criticism ofPresent Scientific Methods and Findings, 1 936. - Simon Frank, La connaissance et l 'être, 1 936. - F. Enriques e G. de Santillana, Le Probleme de la connaissance, 1 93 7 . - K. Boldt, Die Erkenntnisbeziehung, 1 937. - J. Paliarei, Le théoreme de la connaissance, 1 93 8 . - A. Brunner, L a connaissance humaine, 1 943 . É. Gilson, Réa/isme thomiste et critique de la connais­ sance, 1 947. - F. Schneider, Kennen und Erkennen. Ein Lehrbuch der Erkenntnistheorie, 1 949. - H . Meyer, Kennis e n realiteit, 1 949. - A. Sinclair, The Conditions of Knowing, 1 95 1 . - Justus Buchler, Toward a General Theory ofJudgement, 1 95 1 . - ld. , Nature and Judgement, 1 95 5 . - R. Pardo, Dei origen a la esencia dei conocimiento, 1 954. - W. O. Martin, The Order and lntegration of Knowledge, 1 957. Gilles-Gaston Granger, Pensée jórme/le et sciences de l 'homme, 1 960. - Charles F. Wallraff, Philosophical Theory and Psychological Fact: An Attempt at a Syn­ thesis, 1 96 1 . - A. R. White, The Nature ofKnowledge, 1 982. - P. K. De, The Roles of Sense and Thought i Knowledge, 1 992. Sobre a relação entre o conceito aristotélico e o conceito kantiano de conhecimento: Severin Aicher, Kants Begriff der Erkenntnis verg/ichen mil dem des Aristoteles, 1 907 (Kantstudien. Ergiinzungshefte, 7].

CONHECIMENTO (SOCIOLOGIA DO)

Sobre a noção de conhecimento como saber: R. Schaerer, Étude sur les notions de connaissance (Epis­ teme) et d 'art (Techne) d 'Homere à Platon, 1 930. L. Villoro, Creer, saber, conocer, 1 982. C: CONHECIM ENTO (SOCIOLOGIA DO). A obra de Max Scheler originariamente intitulada Versuche zu einer Soziologie des Wissens ( 1 924) e cuja segunda edição, modificada, apareceu com o nome de Die Wis­ sensformen und die Gese//schafi ( 1 926) foi traduzida para o espanhol com o nome de Sociologia dei saber ( 1 935), expn:ssão correspondente à alemã Wissensso­ ziologie. Como ' saber' é uma tradução de Wissen mais adequada que ' conhecimento' , o qual corresponde a Erkenntnis, poder-se-ia considerar a expressão ' socio­ logia do saber' - que foi usada com freqüência (e continua a sê-lo) - para designar o tipo de estudo do qual a mencionada obra de Scheler constitui um exem­ plo. Hoje, contudo, tende-se a empregar a expressão ' sociologia do conhecimento ' por diversas razões, j us­ tificadas de modo melhor ou pior (certo sabor "meta­ fisico" de ' saber'; uso em outras línguas, incluindo o alemão [Erkenntnissoziologie] , de 'conhecimento ' em vez de ' saber' etc.). Atemo-nos a esse uso hoje crescen­ temente difundido. Toda referência às condições sociais no âmbito das quais tem lugar o conhecimento pode ser conside­ rada parte da - ou contribuição à - sociologia do conhecimento, mas esta última só se desenvolveu de maneira sistemática quando se estudaram as mencio­ nadas condições mais detidamente e se apresentaram, além disso, teorias destinadas a explicar a relação entre estruturas e condições sociais e estruturas cognoscitivas, e, em geral, a relação entre estruturas e condições sociais e estruturas culturais de todo tipo. Embora o estudo destas últimas - mais amplas - estruturas dê lugar a discipl inas sociológicas particulares - a sociologia da religião, a sociologia da arte etc . -, os problemas suscitados na soci ologia do conhecimento são típicos dos problemas de toda "sociologia da cul­ tura", motivo pelo qual podem estender-se facilmente a estes, ao menos por analogia. Assim, a sociologia do conhecimento tal como foi desenvolvida no século XX pode servir de modelo - no sentido que possui ' modelo ' como esquema conceituai - para as outras disciplinas sociológicas particulares mencionadas. Foi dado grande impulso à mais tarde chamada "sociologia do conhecimento" no século XIX por todos os autores de tendência "historicista", assim como pelos autores que procuraram buscar urna série de fa­ tores subj acentes aos acontecimentos históricos. Desse amplo ponto de vista, tanto Dilthey como, por exem­ plo, Taine e Gobineau ajudaram a constituir a sociolo­ gia do conhecimento. Inclusive autores que buscaram um fator "espiritual" último de explicação da história

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podem ser considerados precursores dos sociólogos do conhecimento em sentido estrito, visto que, em prin­ cípio, não importa que o motor dos processos históri­ cos e, especificamente, dos processos de conhecimento e das formas que estes podem adquirir seja de natureza "espiritual" ou "material"; em ambos os casos, supõe­ se que não há um modelo eterno e um reino inteligível da "Verdade", já que o conhecimento depende de fato­ res subj acentes ao próprio conhecimento. No entanto, autores de tendência materialista, e especialmente "materialista-histórica", deram o maior impulso à socio­ logia do conhecimento, mesmo que esta se tenha desen­ volvido com freqüência no âmbito de pressupostos não "materialistas" Nesse sentido, cabe mencionar Marx como um Além dos autores citados no verbete, ver: Melchior Palágyi, Naturphilosophische Vorlesungen iiber die Gnmdprobleme des Lebens und des Bewusstseins, l 908. - Hans Annhein, Kants Lehre vom "Bewusstsein iiber­ haupt " und ihre Weiterbildung bis aul die Gegenwart, 1 909 (Kantstudien, Ergiinzungshefte, 1 O). - Johannes Rehmke, Das Bewusstsein, l 9 l O. - Edwin Bissett Holt, The Concept o{Consciousness, 1 9 14. - C. A. Strong, The Origin ol Consciousness. An Attempt to Conceive the Mind as a Product of Evolution, 1 9 1 8 . - Kurt Joachim Grau, Die Entwicklung des Bewusstseinsbe­ griffes im XV und XVIII. Jahrhundert, l 9 1 6. - Lud­ wig Klages, Vom Wesen des Bewusstseins, l 92 l ; 4ª ed., l 955. - León Brunschvicg, Le progres de la cons­ cience dans la philosophie occidentale, 2 vols., 1 927. - N. Tr. Burrow, The Social Basis of Consciousness, l 927. - Charlotte Bühler, Kindheit und Jugend. Eine Genese des Bewusstseins, l 928. - E. R. Jaensch, Ueber den Aufbau des Bewusstseins, l 930. - O. Janssen, Dasein und Bewusstsein, l 933. - B. Ray, Conscious­ ness in Neo-Realism: A Criticai and Historical Study, 1 93 5 . - R. Ruyer, La conscience et /e corps, 1 937. W. Ehrlich, Ontologie des Bewusstseins, l 940. - Curt Weinschenk, Das Bewusstsein und seine Leistung, l 940. - A. M. de Craene, R. S. C. J., L'Engagement à / 'Être: Essai sur la signification de la conscience, 1 94 1 . - G. Madinier, Conscience et signification, l 953. - C. Gat­ tegno, Conscience de la conscience, 1 956. - Aron Gurwitsch, Théorie du champ de la conscience, 1 957 (trad. Michel Butor do texto inglês: The Fie/d of Cons­ ciousness, l 964 ) . - Joseph Moreau, La conscience et l 'être, 1 958. - Henry Ely, La conscience, l 963 . - M. Esther Harding, The " /" and the "Not /" · A Study in the Development ol Consciousness, 1 965. - Günter Ralfs, Stufén des Bewusstseins. Vorlesungen zur Erken­ ntnistheorie, 1 965, ed. Hermann Glockner. - Peter Gorsen, Zur Phãnomenologie des Bewusstseinsstroms. Bergson, Dilthey, Simmel und die lebemphilosophische Antinomien, l 966. - Erich Rothacker, Zur Genealogie des menschlichen Bewusstseins, 1 966. - Kenneth M . Sayre, Consciousness: A Phi/osophical Study o{Minds and Machines, 1 969. - C. O. Evans, The Subject of Consciousness, 1 970. - Pratima Bowes, Consciousness and Freedom: Three Views, 1 97 1 . - Gerhard Funke, Beivusstsein, 1 975. - Ken Wilber, The Spectrum of Consciousness, 1 977. - M . G. Baylor, A ction and Per­ son: Conscience in Late Scholasticism and the Young Luther, l 977. - G. Frey, Theorie des Bewusstseins, 1 980. - T. C. Potts, Conscience in Medieval Philoso­ phy, 1 980. -- J. T. Culbertson, Consciousness: Natural and Artificia/, 1 982. - P. M. Churchland, Matter and

554

Consciousness, 1 984. - E. Põppel, Grenzen des Bewus­ stseins, l 985. - R. Ellis, An Ontology of Conscious­ ness, l 986. - H. D. Kittsteiner, Die Entstehung des modernen Gewissens, l 99 l . Para a "consciência infeliz" e a "má consciência" em Hegel, ver: Jean Wahl, Le malheur de la conscien­ ce dans la philosophie de Hegel, l 929. - Benjamin Fondane, La conscience malheureuse, l 936. - Jean Hyppolite, Gênese e estrutura da Fenomenologia do Espírito, de Hegel, 1 999. - Jean Grenier, L'existence malheureuse, 1 957. - Franz Grégoire, Études hégélien­ nes. Les points capitaux du systeme, 1 95 8 . - Joseph Gabei, La fausse conscience. Essai sur la réification, 1 962. - E. Subirats, Figuras de la consciencia desdi­ chada, 1 979. Sobre consciência de si: Héctor Neri-Castaneda, La dialéctica de la conciencia de sí mismo, 1 960 (sepa­ rata de Rev. Univ. de S. Carlos, n. 52 ) . - Ursula Rohr­ Dietschi, Zur Genese des Selbstbewusstseins. Eine Stu­ die iiber den Beitrag des phãnomenologischen Denkens zur Frage der Entwicklung des Selbstbewusstsein , 1 974. - E. Tugendhat, Selhstbewusstsein und Selhts­ bestimmung - Sprachanalytische lnterpretationen, 1 979. - J. Schnelle, Das Selbstbewusstseinsproblem, l 9 8 5 . Ver: !. M. Bochenski, "De consequentiis scholasti­ corum earumque origine", Angelicum, 1 5 ( 1 938), 921 09. - Ph. Boehner, Medieval Logic, 1 952, especialmen­ te Parte II, cap. iii. - E. A. Moody, Truth and Conse­ quence in Mediaeval logic, 1 95 3 . - N. A. Prior, "On Some Consequentiae in Walter Burleigh", New Scholas­ ticism, 27 ( 1 953), 433-446. - L. Pozzi, Le consequentiae nella logica medievale, 1 978. - J. Etchemendy, The Concept ofLogical Consequence, 1 990. - Para as conse­ qüências modais, ver, além disso, e especialmente: J. Lu­ kasiewicz, "A System of Modal Logic", Joumal of Com­ puting Systems, I ( 1 953), 1 1 2- 1 1 3 . N ,, A resposta afirmativa é a hipótese generalizada do contínuo. Kurt Giidel ( The Consistency o( lhe Axiom o( Choi­ ce and o( lhe Generalized Conlim1um Hypolhesis wilh lhe Axioms o/ Sei Themy, 1 940; reimp. com ligeiras correções. 1 95 1 , 1 953) demonstrou que a hipótese gene­ ralizada do contínuo é consistente com os outros axio­ mas da teoria dos conjuntos (teoria de von Neumann­ Bemays) e com o axioma da escolha. Este último, po­ rém, não é necessário para a consistência. P J. Cohen ('The Independence of the Continuum Hypothesis", I e II, em Proceedings o/lhe Nalional Academy ofScien­ ces, 50 [ 1 963], 1 1 43- 1 1 48 ; 5 1 [ 1 964] , 1 05- 1 1 0; Set Theo1y and lhe Conlinuum Hypolhesis, 1 966) provou que a hipótese general izada do contínuo e o axioma da escolha são independentes dos outros axiomas de qual­ quer teoria axiomática dos conjuntos considerada. A hipótese generalizada do contínuo e o axioma da escolha não são deriváveis dos outros axiomas da teoria dos con­ juntos, cuja consistência é independente dessa hipótese e desse axioma. Pode-se desenvolver uma teoria axiomá­ tica dos conjuntos com ou sem a hipótese generalizada do contínuo, e com ou sem o axioma da escolha. CONTRADIÇÃO. Estudamos o sentido da expressão 'proposições contraditórias' e as relações entre elas nos verbetes CONTRADITÓRIO, OPOSIÇÃO e PROPOSIÇÃO. No primeiro dos verbetes citados, referimo-nos, além disso, à relação de oposição contraditória nas funções de ver­ dade. Nas linhas seguintes, referir-nos-emos à noção de contradição nos vários sentidos que ela recebeu. Essa noção é estudada tradicionalmente sob a forma de um princípio: o chamado "princípio de contradição" (que poderia ser também chamado "princípio de não­ contradição" ). Esse princípio é com freqüência consi­ derado um princípio ontológico, sendo então enunciado do seguinte modo: "É impossível que uma coisa seja e não seja ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto" Outras vezes, ele é considerado um princípio lógico (num sentido amplo deste termo), e então se enuncia

assim: "Não ao mesmo tempo p e não p", em que 'p' é símbolo de um enunciado declarativo. Alguns autores sugeriram que há também um sen­ tido psicológico do princípio, o qual se enunciaria então da seguinte forma: "Não é possível pensar ao mesmo tempo p e não p" (se o conteúdo do pensar é lógico) ou então "não é possível pensar que uma coisa sej a e não seja ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto" (se o conteúdo do pensar é ontológico). Consideramos que o "sentido psicológico" deve ser eliminado; a impossi­ bilidade de pensar algo é um fato e não um princípio. Seria mais justificado considerar o princípio do ponto de vista epistemológico, enquanto lei "mental", "subje­ tiva" ou "transcendental" que conformaria todos os nos­ sos juízos sobre a experiência, mas julgamos que isso equivaleria a introduzir pressupostos que não são neces­ sários numa análise primária do significado e do sentido fundamentais do princípio. Observemos que a expressão 'ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto' , utilizada na fonnulação do sentido ontológico do princípio, é absolu­ tamente necessária para que este seja válido; a ausência desta restrição dá passagem a fáceis objeções a ele. O primeiro pensador a apresentar o princípio de forma suficientemente ampla foi Aristóteles. Várias par­ tes de suas obras são dedicadas ao tema; citamos, entre as mais destacadas: De int. , 1 7 a 23, 1 7 b 1 6 ss. ; An. posl. , 77 a 10 ss., 88 a 3 5 ss.; Met, í 1 005 b 15 ss., e ibid. , 30 ss. O princípio nem sempre é formulado do mesmo modo. À s vezes, apresenta-se como uma das "noções comuns" ou "axiomas" que servem de premissa para toda demonstração sem que possam ser elas mes­ mas demonstradas. À s vezes, o princípio se apresenta como uma "noção comum" usada para a prova de certas conclusões. Outras vezes, apresenta-se como a tese que afirma que se uma proposição dada é verdadeira, sua negação é falsa, e que, se uma proposição é falsa, sua ne­ gação é verdadeira, isto é, como a tese segundo a qual duas proposições contraditórias não podem ser ambas verdadeiras ou ambas falsas. Ora, todas as formulações podem reduzir-se às três interpretações já citadas: a ontológica, a lógica e a metalógica. No primeiro caso, o princípio se refere à realidade; no segundo, transfor­ ma-se numa fórmula lógica ou numa tautologia da lógi­ ca sentencia!, enunciada do seguinte modo :

--, (p

A

--, p)

e que se chama usualmente "lei de contradição" Sendo uma tautologia, sua tabela de verdade dá V para todos os valores de verdade de 'p' No terceiro caso, o princí­ pio é uma regra que permite executar inferências lógicas. As discussões travadas em tomo do princípio de contradição diferiram conforme se tenha acentuado o aspecto ontológico (e principalmente metafisico) ou o as­ pecto lógico e metalógico. Quando houve o predomínio do lado ontológico, procurou-se sobretudo afirmar o prin-

573 cípio como expressão d a estrutura constitutiva d o real, ou então negá-lo por supor-se que a própria realidade é "contraditória" ou que no processo dialético de sua evolução a realidade "supera", "transcende" ou "vai além" do princípio de contradição. A esse respeito é típica a posição de Hegel, que faz da contradição uma das bases do movimento interno da realidade, embora se deva levar em conta que na maioria dos casos os exemplos dados pelo filósofo não se referem a realidades contradi­ tórias, mas contrárias. Quando predominou o lado lógico e metalógico, em compensação, procurou-se sobretudo saber se o princípio deve ser considerado um axioma evidente por si mesmo ou uma convenção de nossa lin­ guagem que nos permite falar acerca da realidade. Fundando-se por um lado em Hegel, e, por outro, no exame da realidade social e histórica (e na ação a desenvolver sobre essa realidade), Marx propôs uma dialética (vER) na qual o princípio ou a lei de contradi­ ção era desbancado. De modo mais sistemático, Engels formulou como duas das três "grandes leis dialéticas" a "lei da negação da negação" e a "lei da coincidência dos opostos" Essas leis pareciam também - e muito determinantemente - negar o princípio lógico de con­ tradição. Em geral, tanto os materialistas dialéticos que podem ser denominados "clássicos" (até a Revolução soviética de 1 9 1 7) como os marxistas-leninistas e os materialistas dialéticos das últimas gerações, especial­ mente os soviéticos, viram com desconfiança o princípio de contradição por supor que este não dá conta do "mo­ vimento dialético da realidade" Ocasionalmente, contu­ do, suscitaram-se debates a esse respeito. Alguns auto­ res afirmaram que, enquanto o princípio "clássico" de contradição deve manter-se na lógica e até na linguagem das ciências, é necessário adotar princípios dialéticos diferentes quando se aborda a realidade humana e social. Outros procuraram derivar leis lógicas das leis dialéti­ cas que rejeitam o princípio clássico ou o põem entre parênteses. A esse respeito, é interessante a discussão ocorrida em Moscou, em 1 958, entre vários materialistas dialéticos soviéticos (embora um deles, E. Kolman, fos­ se tcheco). Segundo informação fornecida por N. Lobkowicz (cf. infra), enquanto certos autores manti­ nham as leis dialéticas "clássicas" com todo o radicalis­ mo e todas as suas conseqüências, outros (como o cita­ do Kolman) assinalaram que, embora haja contradições na realidade, isso não significa que elas devam ser con­ cebidas igualmente no pensamento. Neste, o princípio de contradição (ou não-contradição) é correto. lndicou­ se também que a chamada "contradição" refere-se, a rigor (ver supra), a "contrários", e não a "contraditó­ rios" É plausível supor que esses debates tenham sido suscitados em parte pela importância adquirida pela lógica formal e pela impossibilidade de encaixar nesta última as "leis dialéticas" clássicas.

CONTRADIÇÃO

Para a noção de contradição do ponto de vista lógi­ co e metalógico, consultar os manuais de lógica indica­ dos em LóGICA e LoGiSTICA. :> Indicamos em seguida algumas obras e trabalhos principalmente sobre os problemas ontológicos da noção de contradição: G. Knauer, Kontrar und kontradikto­ risch, 1 868. - J. J. Borelius, Ueber den Satz des Widers­ pruchs und die Bedeutung der Negation, 1 88 1 . F. Paulhan, La logique de la contradiction, 1 9 1 1 . - H. Pichler, Moglichkeit und Widerspruchslosigkeit, 1 9 1 2. - S. Ranulf, Der eleatische Satz vom Widerspruch, 1 924. - R. Heiss, Die Logik des Widerspruchs, 1 932. - B. F. Kimpel, A Critique ofthe Logic of Contradiction as lhe Exclusive Principie o/1nterpretation in an Jdea­ listic Metaphysics, 1 934. - Stéphane Lupasco, Du de­ venir logique et de l 'af!ectivité, 2 vols., 1 93 5 . - !d. , Logique et contradiction, 1 947. !d. , Le príncipe d 'antagonisme et la logique de l 'énergie: Prolégomenes à une science de la contradiction, 1 95 1 . - Galvano della Volpe, Jl prinzipio di contradizione e il concetto di sostanza prima in Aristotele, 1 93 8 . - G. Siegmund, Das Zeichen des Widerspruchs, 1 952. - L. Büchler, L'armonia dei contrari, 1 955. - Arend Kulenkampff, Antinomie und Dialektik. Zur Funktion des Widers­ pruchs in der Philosophie, 1 970. - L. Erdei, Gegensatz und Widerspruch in der Logik, 1 972. Jean Piaget e/ ai. , Recherches sur la contradiction, 2 vols., 1 974. Herbert A. Zwergel, Principium contradictionis. Die aristote/ische Begründung des Prinzips vom zu vermei­ denden Widerspruch und die Einheit der ersten Philo­ sophie, 1 972. Para o conceito de contradição segundo Hegel: A. Bullinger, Hegels Lehre vom Widerspruch, 1 884. M. Wolff, Der Begriff des Widerspruchs. Eine Studie zur Dialektik Kants und Hegels, 1 98 1 . Sobre as discussões acerca da contradição na União Soviética, ver a tradução de textos de G. A. Volkov, N. V Karabanov, A. Kolman, A. A. Zinovév, em N. Lobko­ wicz, Das Widersp111 chsprinzip in der neueren sm1je­ tischen Philosophie, 1 959. - Também em N. Lobko­ wicz, "The Principie of Contradiction", em Studies in Soviet Thought, 1 96 1 , ed. !. M. Bochenski e T. J. Bla­ keley, pp. 44-49. Sobre o conceito de contradição no sentido do mate­ rialismo dialético: E. Conze, Der Satz vom Widerspruch: Zur Theorie des dialektischen Materialismus, 1 932. Gottfried Stiehler, Hegel und der Marxismus über den Widerspruch. Überwindung der idealistischen Dialektik durch die wissenschaftliche materialistischen Dialek­ tik, 1 960 (ponto de vista marxista). - !d. , Der dialektis­ che Widerspruch. Formen und Funktionen, 1 966; 2ª ed., rev., 1 966. - Pierre Fougeyrollas, Contradictionet totalité: Surgissement et déploiments de la dialectique, 1 964. e -

-

-

-

5 74

CONTRADITÓRIO

CONTRADITÓRIO. Estudamos a contradição como princípio ontológico e como regra metalógica em C oN­ TRADIÇÃO ( vER ) . Referimo-nos neste verbete à relação de oposição entre proposições contraditórias e entre fim­ ções de verdade contraditórias. A relação de oposição entre proposições contradi­ tórias (ver PROPOSIÇÃO) é a que se dá entre as proposi­ ções A - O e E l, tal como se mostrou no quadro de Oposição ( vER) , em que também se fez referência à relação de contradição entre proposições modais. Segun­ do a relação de oposição contraditória, duas proposições contraditórias não podem ser ao mesmo tempo verdadei­ ras nem podem ser ao mesmo tempo falsas. Portanto, -

Se Se Se Se

A A E E

é é é é

verdadeira, O é falsa. falsa, O é verdadeira. verdadeira, 1 é falsa. falsa, I é verdadeira.

A contradição diz respeito a proposições, não a idéias. As idéias não são contraditórias entre si; só podem ser contraditórias as proposições nas quais se afirma ou se nega algo. Nas expressões veritativo-funcionais (ver VERITATl­ vo-FUNCIONAL) , a contradição se mostra mediante tabelas de verdade. Se consideramos: (p  q) � p

(1)

e --, ((p  q) � p)

(2)

e damos como tabela de verdade de (1 ) :

V V V V a tabela de verdade de (2) será: F F F F onde se mostra que as expressões em questão são mu­ tuamente exclusivas, não podendo ser as duas verdadei­ ras, e implicando a verdade de uma a falsidade da outra e vice-versa. Para a concepção hegeliana do contraditório e a não­ distinção postulada por Hegel entre o contraditório e o contrário, ver CONTRÁRIO, DIALÉTICA, H EGEL . CONTRAPOSITIVO (do condicional). Ver CoNDJCIONAL. CONTRARIEDADE (LEI DE). Ver Assoc1AçÃo, ASso­

c1Ac10N1sMo. CONTRÁRIO. A relação de oposição entre as proposi­ ções A e E (ver PROPOSIÇÃO ) , tal como foi exposta em Oposição ( vER) , chama-se relação de contrariedade, e essas proposições são denominadas "contrárias" Na

lógica clássica, a relação de contrariedade afirma que duas proposições contrárias não podem ser ao mesmo tempo verdadeiras, mas podem ser ao mesmo tempo falsas. Assim: Se Se Se Se

A A E E

é é é é

verdadeira, E falsa, E pode verdadeira, A falsa, A pode

é falsa. ser falsa. é falsa. ser falsa.

Na lógica clássica, a distinção da matéria da propo­ sição em matéria necessária e matéria contingente intro­ duz uma restrição na afirmação ' Se A é falsa, E pôde ser também falsa' Com efeito, avalia-se que quando a matéria é necessária, ou seja, quando P pertence à essên­ cia de S, duas proposições contrárias não podem ser ao mesmo tempo falsas. A relação de contrariedade ocorre também nos termos e nas proposições modais, como vimos em OPOSIÇÃO. No mesmo verbete, referimo-nos aos dois tipos de proposições contrárias (contrárias sim­ ples e contrárias oblíquas) resultantes do cubo de oposi­ ção proposto por Hans Reichenbach. Na lógica moderna, a interpretação não-existencial de A e E toma inválidas, segundo os lógicos, as inferên­ cias antes mencionadas. Os lógicos clássicos objetam a isso com os argumentos que enfatizamos no verbete

OPOSIÇÃO. Para Hegel (Enz. , § 1 65 ; Glockner 6. 1 3 3 -34), a di­ ferença entre "contrário" e "contraditório" (assim como entre "afirmativo" e "negativo") é uma mera seleção de acordo com as determinabilidades (contingentes) do pensar pertencentes à esfera do ser ou da essência, não tendo nenhuma relação com a esfera conceituai em si. As determinações (lógicas) são unilaterais (Logik, 1 Abt. II Kap; C.c; Glockner, 5 . 1 07), e sua unidade como verdade reside no 'ou . . . ou' do juízo disj untivo. Como se pode perceber, a concepção hegeliana dificilmente se harmoniza com as concepções lógicas usuais e é um resultado da idéia metafisica da lógica, característica desse filósofo. :> Ver: John Peter Anton, Aristotle s Theory of Contra­ riety, 1 957. e CONTRASTAÇÃO. A noção de contrastação está rela­ cionada com as de verificação, confirmação, corrobo­ ração e falseabilidade ( vER) . Em Lógica da pesquisa científica ( 1 935), Popper falou de Prüjbarkeit e Grade der Prüjbarkeit (IV, pp. 67 ss. ) . Prüjbarkeit poderia ser traduzido por 'probabilidade' no sentido de "possibili­ dade de submeter algo a prova", e Grade der Prüjbarkeit poderia traduzir-se congruentemente por 'graus de probabilidade' ( 'contrastação' é igualmente versão de Nachprüfung e Uberpriifung). Na frase ' submeter algo a prova' o termo 'prova' tem o sentido de "tentativa e experiência que se faz de algo", especialmente quando se quer averiguar se o que se diz disso é aceitável ou não. Contudo, o uso corrente de 'prova' em sentido

5 75 lógico induziria a confusões e estas aumentariam ao empregar-se 'probabilidade' , que se usaria antes como o nome que corresponde ao adj etivo 'provável ' Por essas razões, é melhor traduzir Prüjbarkeit por ' con­ trastação' - como ação e efeito de contrastar - e Grade der Prüfbarkeit por 'graus de contrastação ' Outro termo que poderia ser usado para isso seria ' exa­ me' - assim como ' examinabilidade' -, mas ' con­ trastação' e os vocábulos relacionados - ' contrastabi­ lidade ' , 'constrastável ' etc. - parecem preferíveis. De resto, Popper, na versão inglesa ampliada da Logik (Logic of Scientific Discovery, 1 959, VI, pp. 1 1 2 ss.) usa o termo testability (e não provability, que teria um sentido mais estritamente lógico). Este termo obteve legitimidade nos trabalhos de filosofia da ciência em língua inglesa; entre eles, incluem-se alguns importantes trabalhos de autores originariamente de língua alemã. De acordo com Popper, a relação entre contrastação e falseamento - e, portanto, entre contrastabilidade e falseabilidade - é tão estreita que o fato de que uma teoria (ou uma hipótese) seja mais ou menos severamen­ te contrastável equivale a que ela sej a mais ou menos facilmente falseável. Há, segundo isso, graus de contras­ tabilidade em correspondência com graus de falseabili­ dade de uma teoria (ou uma hipótese). A resistência de uma teoria a ser falseável - ou a resistência a falsear uma teoria - faz-se acompanhar por sua resistência a ser contrastável - ou pela resistência a contrastá-la. A contrastação é "contrastação com a experiência" Isso supõe, em princípio, que a chamada "experiência" não está condicionada - ou não o está excessivamente por elementos conceituais prévios, ou, como se disse muitas vezes, não está carregada - ou, ao menos, não está sobrecarregada - de "teoria"· caso contrário, a própria teoria poderia estabelecer as condições de con­ trastação e, desse modo, "imunizar-se" contra o falsea­ mento. Visto que, segundo Popper (op. cit. , VI, § 35), o conteúdo empírico de uma teoria aumenta com seu grau de falseabilidade, com esse aumento se eleva tam­ bém o grau de contrastabilidade (e vice�versa); se a teo­ ria é pouco contrastável, é pouco falseável, e se é pouco falseável, é pouco contrastável. Em seu estudo da contrastabilidade ("Testability and Meaning", Philosophy of Science, 3 [ 1 936] e 4 [ 1 93 7], separata com correções, 1 959), Camap escreve que "distinguimos a contrastação de uma sentença (VER) da sua confirmação, entendendo por contrastação um procedimento - isto é, a realização de certos experi­ mentos - que conduz a uma confirmação em certo grau ou da sentença ou de sua negação. Denominamos uma sentença contrastável se conhecemos o método para contrastá-la, e a chamamos confirmável se sabemos em que condições a sentença poderia ser confirmada" Normalmente, as sentenças (enunciados e, em geral, hipóteses ou teorias) são confirmáveis mediante contras-

CONTRATO SOCIAL

tação, mas, em princípio, uma sentença poderia ser con­ firmável sem ser contrastável - contanto que se saiba que estas ou aquelas observações confirmariam a sen­ tença. A noção de contrastação é desenvolvida por Camap ao longo da substituição da noção de verifica­ ção pela de confirmação - ou, como alguns diriam, ao longo do aprimoramento da noção de verificação. Denominam-se "contrastáveis" os predicados observá­ veis ou os introduzidos por alguma série de contrasta­ ções; esses predicados podem ser ou completamente contrastáveis (se são introduzidos por observação ou por uma série de contrastações de forma molecular) ou incompletamente contrastáveis (nos outros casos) ("De­ finição 20" no art. cit. ). O tipo de contrastação pode variar de acordo com o tipo de linguagem científica adotada e, portanto, de acordo com a determinação de quais termos nessa linguagem têm designata. Temos, por exemplo, na tese fisicalista (ver FISICALISMO) desen­ volvida outrora por Camap, que "todo predicado descri­ tivo da linguagem da ciência é contrastável com base em coisas-predicados observáveis" (art. cit., p. 468). CONTRASTE (LEI DE). Ver AssocIAÇÃO, ASSOCIA­

CIONISMO. CONTRATIPO. Ver TIPO. CONTRATO SOCIAL. A teoria segundo a qual a so­ ciedade humana deve sua origem (ou, melhor, sua pos­ sibilidade enquanto sociedade) a um contrato ou pacto entre indivíduos costuma ser denominada (pelo título da obra de Rousseau a que nos referiremos depois) "a teoria do contrato social" e também "contratualismo" Os defensores dessa teoria em geral não sustentam que a sociedade se originou efetivamente quando os homens, ou melhor, um grupo de homens, se reuniram com o obj etivo de chegar a um acordo sobre fins comuns; eles afirmam simplesmente que, seja qual for a origem da so­ ciedade, seu fundamento e sua possibilidade como sociedade se acham num pacto. Portanto, o contratualis­ mo considera a sociedade como se, em algum momento histórico (ou pré-histórico), houvesse ocorrido um pacto ou contrato. É possível que alguns sofistas tivessem desenvolvido uma teoria contratualista da sociedade, a julgar pelo que afirma Platão (Rep. , II, 359 A) - com o propósito de refutá-la - daqueles que sustentavam que, para evitar as injustiças e os prejuízos que alguns homens infligiam a outros, era mais proveitosa a decisão de entender-se para não cometer nem sofrer a injustiça. Daí nasceram, escreve Platão, os pactos ( ovv6JÍKTJ, que significa pacto, tratado, convenção). Para os autores a que Platão se refere, a justiça não é (como para o filó­ sofo) algo absoluto, um valor em si mesmo, mas resulta­ do de um acordo, de um compromisso. Na obra platô­ nica, a teoria contratualista é posta na boca de Trasímaco e de Glauco. Aristóteles (Pai. , III. 1 280 b 1 0) atribui a teoria a Lícofron (um sofista). Epicuro e os epicuristas

CONTRATO SOCIAL

parecem ter também defendido o contratualismo, ao qual se refere Cícero em seu diálogo De republica. Du­ rante a Idade Média, o contratualismo foi abordado por vários autores, e foi também defendido e elaborado por alguns (como, por exemplo, Marsílio de Pádua), sem que isso signifique que o contratualismo medieval fos­ se idêntico ao antigo, pois o primeiro é com freqüência condicionado pelo modo como se apresentou na Idade Média o conflito entre o poder temporal e o poder es­ piritual, conflito inexistente, ou de pequena importância, no mundo antigo. No século XV encontram-se elemen­ tos da teoria do contrato social em vários autores, entre eles Nicolau de Cusa. Entretanto, esta teoria desenvolveu-se sobretudo na época moderna, em parte como conseqüência da cres­ cente secularização do Estado e em parte como resul­ tado de uma concepção de tipo "atomista'', segundo a qual o Estado é composto principalmente por indiví­ duos cujas relações entre si são comparáveis às relações entre partículas - embora não necessariamente redutí­ veis a elas. Enquanto muitos autores escolásticos (como Santo Tomás e Suárez) fundam o Estado no bem comum ( vER ) , do qual participam os diversos membros, muitos autores modernos tendem a um tipo de relação de cará­ ter menos "organicista" e mais "mecanicista" Um dos exemplos desta última espécie de relação é o contratua­ lismo, estreitamente ligado ao chamado 'jusnatura­ lismo" Entre os autores que elaboraram essa teoria se encontram Grotius, Pufendorf e Locke. Mas os autores contratualistas modernos mais conhecidos são Hobbes e Rousseau, sobre cujas doutrinas discorreremos mais detalhadamente a seguir. Como indica Richard Peters (Hobbes, 1 956, p. 1 94 ), "a concepção a que Hobbes aderiu, segundo a qual a sociedade civil se baseava em alguma forma de contrato ou pacto, era coisa corrente em sua época". Admitiam­ se dois tipos de pacto: o pactum unionis, considerado como a origem da sociedade civil e baseado na aceitação pela maioria das decisões tomadas, e o pactum subjec­ tionis, pelo qual a comunidade se submetia a uma forma particular de governo civil (Peters, loc. cit. ). Hobbes tratou do contrato social como pactum unionis; sua ex­ plicação do contrato social "foi uma tentativa de apli­ car o método resolutivo-compositivo de Galileu à socie­ dade civil, de revelar os princípios básicos pressupos­ tos por sua existência de modo que se pudesse realizar uma reconstrução racional de suas características mais conspícuas" (op. cit. , p. 20 1 ). Tratava-se em Hobbes de uma hipótese explicativa, não de uma hipótese relativa a acontecimentos históricos efetivos. Encontram-se importantes passagens a esse respeito no Leviatã (!. 1 4): "A transferência mútua de direitos é o que os homens chamam de contrato. Há uma diferença entre a transfe­ rência de direitos à coisa e a transferência da tradição,

576 isto é , a entrega d a coisa e m s i mesma" E também: "Os sinais do contrato são ou expressos ou por inferência" Rousseau, por sua vez, afirmou que a ordem social não está fundada na natureza, mas em "convenções" (Contrai social, 1. 1 ). A sociedade mais antiga e natural é a família ( 1 . 2). O primeiro modelo das sociedades políticas é aquele no qual o chefe assume a imagem de um pai. Ora, o mais forte, com a finalidade de continuar a sê-lo, transforma a força em direito e a obediência em dever ( 1 . 3). Em todo caso, para explicar a sociedade é preciso remontar sempre a uma primeira convenção ( 1 . 5). As­ sim se forma o "pacto social", sobre o qual escreve Rousseau: "Suponho que os homens chegaram a este ponto no qual os obstáculos que prejudicam sua conser­ vação no estado de natureza vencem, por meio de sua resistência, as forças que cada indivíduo pode empregar para manter-se nesse estado. Então esse estado primi­ tivo já não pode continuar por mais tempo, e o gênero humano pereceria caso não mudasse seu modo de ser" ( 1 . 6); e também: "Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja com toda a força comum a pessoa e os bens de cada associado, e mediante a qual cada um, unindo-se a todos, não obedeça senão a si mesmo, e fique tão livre quanto antes" é "o problema fundamen­ tal para o qual o Contrato social dá a solução" As cláusulas do contrato reduzem-se a uma: "Total aliena­ ção de cada associado com todos os seus direitos diante de toda a comunidade" (loc. cit. ). A essência do contrato social é: "Cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo o seu poder sob a direção suprema da vontade geral ( . . . ) [e assim] consideramos cada membro como parte indivisível do todo " (loc. cit. ). O contrato social explica a passagem do estado de natureza ao estado civil. É fundamental na concepção de Rousseau a idéia de vontade geral ( volonté générale), ou vontade do corpo civil (ou a maioria de seus membros), a qual "é sempre justa e tende sempre à utilidade pública" (II. 3). Isso não significa que a vontade geral se exprima sempre correta ou adequadamente, pois, "embora se queira sem­ pre o próprio bem, este nem sempre é visto; o povo nunca é corrompido, mas com freqüência é enganado, e somente então parece querer o que é mau" (loc. cit. ) . A s teorias modernas d o contrato social, particular­ mente as expressas por Rousseau, influenciaram nume­ rosos pensadores (por exemplo, Kant e Fichte). Vê-se em Rousseau, além disso, a possibilidade de combinar o contratualismo com uma teoria organicista da socie­ dade, o que não acontece nos contratualistas anteriores a esse filósofo. Uma das manifestações mais recentes do "con­ tratualismo" se encontra na teoria da justiça ( VER ) de John Rawls (ver RAwLs [JottN] ). :> Ver: A. Atger, Essai sur l 'histoire des doctrines du contrai social, 1 906. - J. W. Gough, The Social Con-

577

tract: A Criticai Study oflts Development, 1 936; 2 ª ed., 1 957. - M. D 'Addio, L'idea dei contralto sociale dai Sofisti alia Riforma e il Oi principatu di Maria Salamo­ nio, 1 954. - G. dei Vecchio, Sui vari significati de/la teoria dei contmtto sociale, 2ª ed., 1 956. - VV.AA., Études sur /e Contrai Social de 1 -1 Rousseau, 1 964 [Actes des Journées d ' É tudes tenues à Dijon les 3, 4, 5, et 6 mai, 1 962] . - J. McManners, The Social Con­ tract and Rousseau 's Revolt against Society, 1 967. L. G. Crocker, Rousseau 's Social Contract: An lnterpre­ tive Essay, 1 968. - R. Ardrey, The Social Contract: A Personal lnquiry into the Evolutionary Sources of Order and Disorder, 1 970. - A. Levine, The Politics ofAuto­ nomy: A Kantian Reading ofRousseau 's Social Contract, 1 976. - C. Fried, Contmct as Promise: A Theory of Contractual Obligation, 1 98 1 . - C. H . Kahn, "The Origins of Social Contract Theory in the Fifth Century B. C.", em G. B. Kerferd, ed., The Sophists and Their Legacy, 1 98 1 , pp. 92- 1 08 . - J. 8. Noone, Rousseau 's Social Contract, 1 98 1 . - H. Gildin, Rousseau 's Social Contract: The Design of the A rgument, 1 98 3 . - F. Vallespín Oiia, Nuevas teorias dei contrato social. 1 Rawls, R. Nozik, 1 Buchanan, 1 98 5 . - M. Lessnoff, Social Contract, 1 986. - J. Hampton, Hobbes and the Social Contract Tradition, 1 986. - A. De Jasay, Social Contract, Free Ride: A Study of the Public Goods Problem, 1 989. � CONTRATUALISMO. Ver CONTRATO SOCIAL CONVENCIONALISMO. A distinção proposta pelos sofistas entre o que é por natureza - Obras: por volta de 1 5 1 2, C. compôs um chamado Commentariolus, que circulou em várias cópias manus­ critas e que continha um esboço do sistema. Georg Joa­ chim Rheticus publicou em 1 540 a Narratio Prima, ou "primeira versão" do sistema. Os De revolutionibus or­ bium coelestium libri IV foram publicados em 1 543, com o prefácio antes indicado. Edição de obras por ocasião do quinto centenário do nascimento de C . : Gesamtausgabe, 1 0 vols. em 1 8 tomos, ed. Heribert M . Nobis, a partir de 1 972. Outra edição pela Academia Polonesa de Ciências e pelo Centro Nacional de Investigação Científica, ed. Pawel Czartoryski, a partir de 1 973. Ver: Ludwig Prowe, N. C. , 3 vols., 1 883- 1 885. L. Birkenmajer, N. C. !: Studien über die Arbeiten Co­ pernicus und biographisches Material, 1 90 0 . VV.AA . , N. K. Personlichkeit und Werk. Zum 400 Wiederkehr seines Todestages, 1 943 . - S. P. Mizwa, N. C., 1 543-1 943, 1 943. - Will-Erich Peuckert, N. K. , 1 943. - Thomas S. Kuhn, The Copernican Revolution, 1 957 (trad. port.: A revolução copernicana, 1 990). Jerome R. Ravetz, Astronomy and Cosmology in the Achievement ofN. Copernicus, 1 965. - José A. Coffa, C. , 1 969. - Fred Hoyle, Nicolaus Copernicus: An Essay on His Life and Work, 1 973. - H . Blumenberg, Die Genesis der kopernikanischen Welt, 1 975. - O. Gingerich, ed., The Nature of Scientific Discovery: A Symposium Commemorating the 500th A nniversaiy of the Birth of N. C. , 1 975. Ver: W. L. Craig, The Kalam Cosmological Argu­ ment, 1 979. !d. , The Cosmological A rgumentfi-om Plato to Leibniz, 1 980. Ver também a bibliografia de DEUS. e -

COSSÍO, MANUEL BARTOLOMÉ. Ver KRAUSISMO. COSSMANN, PAUL NICOLAUS. Ver TELEOLOGIA. COSTA, JOAQUÍN. Ver KRAUSISMO. COSTUMES. Denominam-se "costumes" os hábitos, geralmente os hábitos humanos no âmbito de uma co­ munidade, sendo eles, portanto, "coletivos" Os costu­ mes são adquiridos, isto é, são transmitidos por uma comunidade a seus membros, sejam estes membros nascidos na comunidade ou incorporados a ela. Os costumes podem codificar-se em normas. Discu­ tiu-se se, e até que ponto, os costumes são ou não mo­ rais. A resposta a essa questão depende em grande parte do sentido que se dê ao termo ' moral' ( vER), eti­ mologicamente derivado de mos, traduzido por ' costu-

597

COURNOT, ANTOINE AUGUSTIN

m e ' À s vezes, equiparou-se 'ética' a ' ciência dos cos­ tumes' ou 'doutrina dos costumes ' Os costumes foram também investigados d e modo empírico (J. J. Bachofen, E. Durkheim, E. Westermack, B. Malinowski etc.); sob esse aspecto, o problema dos costumes é um tema da chamada "antropologia" ("antro­ pologia social"). Alguns autores consideram que se po­ dem derivar normas éticas do estudo dos costumes, mas a maioria dos antropólogos e sociólogos atuais põe toda questão ética entre parênteses ou admite que são possíveis tantas "éticas" quantos "sistemas de costumes" ou comunidades humanas. Por outro lado, o exame dos costumes teve um significado principalmente ético ou moral. É o que ocorre, por exemplo, com o significado kantiano de Sitten - a "metafisica dos costumes" e a moral são então uma e a mesma coisa. Embora nem sempre seja fácil distinguir o plano ético e o teórico, seria conveniente ou distinguir em cada caso o sentido em que se usa o termo 'costumes' ou empregar dois ter­ mos diferentes para cada um dos dois tipos de investi­ gação citados. Como hoje o vocábulo 'costumes' tem circulação reduzida no âmbito do pensamento ético, pode-se considerar que esse vocábulo adquiriu predo­ minantemente um sentido empírico-antropológico. Em outro sentido, Hume fala do costume ou hábito como o fundamento das inferências derivadas da expe­ riência. O costume opõe-se aqui, portanto, ao raciocínio, e, mesmo que o próprio Hume observe taxativamente que não pretende com esse termo ter dado a razão úl­ tima de tal propensão humana, o fato é que ele constitui "o único princípio que toma útil nossa experiência e nos faz esperar no futuro uma série de efeitos similares aos que tiveram lugar no passado" (Enquiry, V, 1 ). :> Ver: Lucien Lévy-Bruhl, La mora/e et la science des moeurs, 1 903. - Edward Alexander Westermarck, The Origin and DtóVelopment of the Moral Jdeas, 2 vols., 1 906- 1 908. - F. Tõnnies, Die Sitten, 1 909. - C . Cons­ tantin Pavel, L'irréductibilité de la mora/e à la science des moeurs, 1 935. Georges Gurvitch, Mora/e théori­ que et science des moeurs, leurs possibilités, leurs condi­ tions, 1 937; 2ª ed., rev. e corrigida, 1 948; 3ª ed. , 1 96 1 . - B . M. Leiser, Custam, Law, and Morality. Conjlict and Continuity in Social Behaviour, 1 969. - W. Wos­ chak, Zum Begriff der Sitten, 1 988. Obras: Recherches sur les principes mathématiques de la théorie des richesses, 1 83 8 . - Exposition de la théorie des chances et des probabilités, 1 843 . - Essai sur lesfondements de la connaissance et sur les carac­ teres de la critique philosophique, 2 vols., 1 85 1 ; 2ª ed., 1 9 1 2; 3ª ed., 1 922. - Des méthodes dans les sciences de raisonnement, 1 865. - Considérations sur la marche des idées et des événements dans les temps modernes, 1 872. - Matérialisme, Vitalisme, Rationalisme, 1 875. - Traité de / 'enchainement des idées fondamentales dans les sciences et dans l 'histoire, 1 88 1 . Ed. de obras: Oeuvres completes, ed. A . Robinet, 14 vols., 1 975 ss.

COUSIN, VICTOR

Ver: F. Mentre, C. et la Renaissance du probabilis­ me au XIX'' siecle, 1 908, - A. Darbon, Le concept du hasard dans la philosophie de C. , 1 9 1 1 . - E. P. Botti­ nelli, C.. métaphysicien de la connaissance, 1 9 1 3 . Gaston Milhaud, Études sur C. le développement de la pensée de C. , 1 927. - R. Ruyer, l'humanité de l 'avenir d 'apres C. , 1 930. - Jean de la Harpe, De l 'ordre et du hasard. le réalisme critique d 'A . C. , 1 936. - VV AA. (Amoroso, Baudin, Bordin, de Pietri-Tonelli, de la Harpe, Lanzillo, Roy, von Mises), C. nella economia e nella filosofia, 1 939. - S. W. Floss, An Outline of the Philo­ sophy ofA. A . C. , 1 94 1 (tese). - A. Waismann, "Intro­ ducción a la historiografia cournotiana", em Cuatro ensayos sobre el pensamiento histórico, 1 959. - É mile Callot, la philosophie biologique de C. , 1 960. - C. Ménard, la formation d 'une rationalité économique: A. A. C. , 1 978. - G. Jorland, D. Bernouilli et al., A . C. Études pour le centenaire de sa mort (18 77- 1 977), 1 978, ed. J. Brun e A. Robinet [Actes de la Table Ronde, 2 1 -23/IV/ 1 977] . Ver: F. Schneider, "De Crantore Solensis philosophi Academicorum philosophiae addicti libra, qui Dep\ rrév8ovs inscribitur commentatio", Zeitschriftfiir A lter­ tumswissenschaft, 1 04- 1 05 ( 1 836). - M. H. Ed. Meier, Ueber die Schrifi des Krantor TI ep\ rrév8ovs, 1 840. F. Kayser, De Crantore Academico, 1 8 8 1 [com os frag­ mentos] (tese). - Artigo sobre Crantor (Krantor), de J. von Arnim, em Pauly-Wissowa. Ver artigo sobre Crates de Atenas (Krates, 8), de J. vom Arnim, em Pauly-Wissowa. Artigo de J. Stenzel sobre Crates de Tebas (Krates, 6) em Pauly-Wissowa. Fragmentos: Diels-Kranz, 65. Ver: V. Goldschmidt, Essai sur !e Cratyle, 1 940. - J. M. de Estrada, "El oráculo de C.", Revista de Filosofia (La Plata), 4 ( 1 952), 57-73 . - G. S. Kirk, "The Problem of Cratylus", American Journal of Phi­ lology, 72 ( 1 95 1 ), 225-253. - D. J. Allan, "The Pro­ blem of C .", ibid. , 75 ( 1 954), 27 1 -287. - Rodolfo Mondolfo, "Il problema di C. e l ' interpretazione di Eraclito", Rivista critica di storia dellafilosofia ( 1 954), 22 1 -23 1 . - J. Derbolav, Platons Sprachphilosophie im Kratylos und in den spiiteren Schriften, 1 972. - K. Gaiser, Name und Sache in Platons Kratylos. Mit einem Anhang über die Quelle der Zeichentheorie F. de Saus­ sures, 1 978. - D. Markis, "Platon und das Problem der Sprachphilosophie", Zeitschrift .für philosophische Forschung, 32 ( 1 978), 274-289. - T. W Bestor, "Plato's Semantics and Plato 's Cratylus", Phronesis, 25 ( 1 980), 306-3 30. Obras: De corruptelis intellectus a voluntate pen­ dentibus, 1 740 (trad. ai., 1 768). -- De appetitibus insitis voluntati humanae, 1 742. - De usu et limitibus prin­ cipii rationis determinantis, vulgo sufficientis, 1 743 (trad. alemã, 1 744). - Anweisung, verniinfiig zu /ehen, 1 744 (lndicaçiio para viver racionalmente). - Entwurf der notwendigen Vernufiwahrheiten, inwiefern sie de;z zufàlligen entgegensetzt werden, 1 745 (Esboço das ver­ dades necessárias de razão na medida em que se opõem às contingentes). - Weg zur Gewissheit und Zuverliis­ sigkeit der menschlichen Erkenntnis, 1 747 (Caminho para alcançar a certeza e segurança do conhecimento humano). - Anleitung iiber natiirliche Gegebenheiten ordentlich und vorsichtig nachzudenken, 2 vols., 1 749 (Método para refletir com ordem e prudência sobre os acontecimentos naturais). - Opuscula philosophico­ theologica, 1 950. - Die philosophischen Hauptwerke, 4 vols . 1 740- 1 766; reimp., 1 952, e reed. G. Tonelli, 1 964- 1 968. Ver: A. Marquardt, Kant und Crusius. Ein Beitrag zum richtigen Verstiindnis der crusianischen Philoso­ phie, 1 885. - C. Festner, Ch. A. Crusius ais Metaphy­ siker, 1 892. - A. von Seitz, Die Willensfreiheit in der Philosophie des Ch. A. Crusius gegeniiber dem leib­ niz- WolffÇchen Determinismus in historich-psychologis­ cher Begriindung, 1 899. Heinz Heimsoeth, Meta­ physik und Kritik hei Crusius, 1 926. - !d. , id. , Ge­ sammelte Schrifien, !. Studien zur Philosophie Imma.

-

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questione delle fonti arabo-spagnole della Divina Com­ media, 1 949 [trad. do "Libro de la Escala": La Escala de Mahoma, por J. Muiíoz Sandino, 1 949] . Encontra-se abundante informação na edição da Di­ vina Commedia (trad. inglesa) - com detalhado comen­ tário - por Charles S. Singleton, 1 970 ss. C: DARAPTI é o nome que designa um dos modos (ver Mooo ), considerados válidos por muitos autores, da ter­ ceira figura ( vER) . Um exemplo de Darapti pode ser: Se todas as crianças são travessas e todas as crianças são distraídas, então alguns seres distraídos são travessos, exemplo que corresponde à seguinte lei da lógica quan­ tificacional elementar: A x (Gx � Hx) A A x (Gx � Fx) � V x (Fx A Hx)

e que, usando-se as letras ' S ' , 'P' e ' M ' da lógica tradi­ cional, pode ser expresso mediante o seguinte esquema: (MaP

A

MaS) � S i P

n o qual aparece claramente a seqüência das letras 'A' , 'A', T, origem do termo Darapti, na ordem MP-MS-SP. D' ARCY, M[ARTIN) C[YRIL). Ver NEOTOMISMO. DARII é o nome que designa um dos modos (ver Mo­ oo) válidos dos silogismos da primeira figura (vER) . Um exemplo de Darii pode ser: Se todos os chineses são indolentes e alguns residentes de Havana são chineses, então alguns residentes de Havana são indolentes, exemplo que corresponde à seguinte lei da lógica quan­ tificacional elementar: A x (Gx � Hx)

A

� V x (Fx

V x (Fx A

A

Gx)

Hx)

e que, usando-se as letras ' S ' , 'P' e ' M ' da lógica tradi­ cional, pode ser expresso mediante o seguinte esquema: (MaP

A

SiM) � SiP

no qual aparece claramente a seqüência das letras 'A' , ' ! ' , ' ! ' , origem do termo Darii, na ordem MP-SM-SP. DARSANA. O termo darsana, usado na literatura filosó­ fica indiana, significa 'vista' ou 'visão' Os sistemas ou as escolas filosóficas indianas são chamadas darsanas. Num sentido, darsana significa que a doutrina filosófica correspondente pretende ser uma visão direta da realidade e, além disso, uma visão completa. Em outro sentido, darsana significa que se assumiu um ponto de vista de­ terminado sobre a realidade. Esse ponto de vista afeta to­ do o real, mas acentua o que se vê dele quando se con­ templa de determinada perspectiva, que pode ser predomi-

635

nantemente lógica e epistemológica (como nas escolas Nyãya e Vaisqika), ou predominantemente "psíquico­ ética" (como na escola Ioga) etc. O fato de cada darsana ser uma visão e um ponto de vista explica que as diferen­ tes darsanas ou "sistemas" não sejam mutuamente in­ compatíveis; embora completos em si, são ao mesmo tempo de índole parcial. Essa parcialidade, porém, é a da perspectiva, não a do erro. Por isso, embora, seguindo o costume, as denominemos escolas ou sistemas, deve­ se evitar identificar o conceito de darsana com o conceito de escola ou sistema no sentido ocidental. R. Guénon tem razão ao indicar que a atitude daqueles que os identi­ ficam "é inteiramente comparável à de um homem que, não tendo conhecido nada da civilização européia atual, e tendo tido por acaso nas mãos os programas de ensino de uma universidade, extraísse a singular conclusão de que os sábios da Europa estão divididos em várias escolas rivais, cada uma das quais com seu sistema filosófico particular, sendo as principais as dos matemáticos, dos fisicos, dos químicos, dos biólogos, dos lógicos e dos psicólogos" (lntroduction généra/e à / 'étude des doctrines hindoues, 1 92 1 ; 3ª ed., 1 939, trad. esp. de R. Cabrera, lntroducción general ai estudio de las doctrinas hindúes, 1 945, p. 200). Se quisermos continuar comparando as darsanas da filosofia indiana com os sistemas da filosofia européia, o melhor será (mantendo-se grandes diferenças mútuas) recordar, no que diz respeito a estes últimos, as diversas vias da escolástica. DÃRST ÃNTIKA. Ver BUDISMO; FILOSOFIA INDIANA. DARWIN, CHARLES [ROBERT] ( 1 809- 1 882). Nasci­ do em Shrewsbury, neto de Erasmus Darwin ( 1 73 1 - 1 802), estudou medicina em Edimburgo e em Cambridge. Em 1 83 1 , fez uma viagem no Beagle, comandado pelo capi­ tão Robert Fitzroy, pela América do Sul e pelas ilhas do Pacífico. No decorrer da viagem, coletou uma impres­ sionante quantidade de dados geológicos, botânicos e zoológicos, cuja ordenação e sistematização lhe ocupa­ ram vários anos até a completa formulação de sua teoria da evolução (ver EVOLUÇÃO, EVOLUCIONISMO). Já haviam sido formuladas outras teorias da evolução, mas não se chegara a grande clareza com relação à força seletiva, ou às forças seletivas, produtoras das mudanças. Durante certo tempo, pensou-se que Darwin chegara as suas con­ clusões com base na leitura do Essay on the Principie ofPopulation ( 1 798), de Thomas Robert Malthus ( 1 7661 834), obra na qual se observa que a população humana tende a aumentar mais depressa do que os recursos ne­ cessários à subsistência e que, em conseqüência disso, se produz uma "luta pela existência'" em todo caso, tende-se, de acordo com Malthus, a diminuir o nível de vida até um nível mínimo de "subsistência" Ora, embo­ ra seja certo que Darwin leu (como ele próprio diz em sua autobiografia) a obra de Malthus (em 1 83 8), é im­ provável que unicamente as idéias de Malthus tenham

DARWIN, CHARLES [ROBERT]

sido o ponto de partida da teoria darwiniana. O que Darwin extraiu de Malthus é a idéia de que o processo de seleção natural exerce uma pressão que força alguns a "abandonar a partida" e outros a "adaptar-se" e a "sobre­ porem-se" As anotações e os documentos de Darwin mostram que, em 1 837, um ano depois de regressar de sua viagem no Beagle, e antes da leitura da obra de Mal­ thus, Darwin pensou seriamente numa das mais célebres idéias da teoria da evolução: a origem da variedade das espécies de um tronco comum. "Se não estabelecemos limites para nossas conjeturas, podemos supor que os animais, nossos irmãos na dor, na doença, na morte, no sofrimento e na fome - nossos escravos nos trabalhos mais árduos, nossos companheiros em nossas diversões -, participam conosco de um antepassado comum." Em todo caso, Darwin chegou a um princípio fim­ damental: o de que a luta pela existência num mundo orgânico dentro de um ambiente variável gera altera­ ções orgânicas no decorrer das quais sobrevivem so­ mente os mais aptos, que transmitem a seus descenden­ tes as modificações "vitoriosas" Assim se produz a "seleção natural" Darwin pretendeu escrever uma obra muito volumosa na qual essas idéias fossem demonstra­ das de uma maneira completa, mas, ao ler o manuscrito de uma comunicação de Alfred Russell Wallace ( 1 8231 9 1 3) em que eram expostos princípios parecidos, de­ cidiu divulgar seu próprio trabalho, o que fez, em prin­ cípio, num sumário apresentado, junto com a comuni­ cação de Wallace, aos membros da Linneaean Society em 1 85 8 . Pouco depois ( 1 859), apareceu a obra Sobre a origem das espécies ( On the Origin ofSpecies by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life, que o autor pretende­ ra intitular An Abstract of an Essay on the Origin of Species), obra que obteve imediatamente grande sucesso e se transformou no texto fundamental do evolucionismo biológico. Seguiu-se depois uma série de obras, entre as quais destacamos: On the Movements and Habits of C/imbing Plants ( 1 865), The Variation ofAnimais and Plants under Domestication ( 1 868), The Descent ofMan, and Selection in Relation to Sex (2 vols., 1 87 1 ; 2ª ed., rev. e ampl., 1 874), The Expression ofEmotions in Man and Animais ( 1 872), The Formation of Vegetable Mould through the Action of Worms ( 1 8 8 1 ) . Antes da obra fun­ damental citada, Darwin publicara apenas algumas me­ mórias com observações extraídas da viagem no Beagle ( 1 844 ss.) e um diário de viagem intitulado Journal and Remarks (3 vols., 1 832- 1 836), depois conhecido com o nome de A Naturalist s Voyage around the World. Limitamo-nos neste verbete a dados biográficos, assim como à simples menção dos princípios fundamen­ tais propostos por Darwin. Referências mais amplas às doutrinas darwinianas, e em particular às discussões fi­ losóficas suscitadas por elas, se encontram nos verbetes DARWINISMO e EVOLUÇÃO (vER) .

DARWINISMO :l Para as doutrinas de Darwin, ver as bibliografias dos verbetes DARWINISMO e EVOLUÇÃO. De On the Origin of Species foram publicadas seis edições com variantes (afora numerosas reimpressões de cada uma dessas edi­ ções). Ed. com texto das variantes por Morse Peckam, 1 959. Edição da viagem do Beagle por Nora Barlow, Darwin s Diary o.f the Voyage o.f the Beag/e, 1 93 3 . Nora Barlow publicou também uma edição da Autobiography de D. : The Autobiography of Ch. D. , 1 958, com muito material não incluído na "Autobiography" que apareceu no volume Life and Letters of Ch. D. , 1 887. Ed. de escritos: The Collected Papers of Ch. D. , 2 vols., 1 977, ed. Paul H. Barrett. - The Correspondence of Ch. D. , vol. 1 : 182 1 - 1 836, 1 985, ed. F. Birkhardt e S. Smith. Em português: A utobiogrqfia 1 809- 1 882, 2000. - O Beagle na A mérica do Sul, 1 993. - A expressão das emoções nos homens e nos animais, 2000. Origem das espécies, s.d. C:

DARWINISMO. Nos verbetes DARWIN, CHARLES (Ro­ BERT ) e EVOLUÇÃO, EVOLUCIONISMO, referimo-nos à teoria de Darwin como a fase capital na história do evolucio­ nismo moderno. Alfred Russell Wallace (VER ) e Charles Darwin apresentaram, juntamente, em 1 858, suas respec­ tivas teses sobre "as tendências das variedades a desviar­ se indefinidamente do tipo original" e sobre "as tendên­ cias das espécies a formar variedades, e sobre a perpetua­ ção das variedades e das espécies dos processos de sele­ ção natural" As teses de Darwin foram apresentadas com abundante material destinado a confirn1á-las, na Ori­ gem das espécies, de 1 859. Essa obra foi revisada em sucessivas edições: a segunda, no mesmo ano de 1 859, e as outras, em 1 86 1 , 1 866, 1 869 e (a última revisada por Darwin) 1 872, todas elas com abundantes materiais novos. No "esboço histórico sobre o progresso da opi­ nião sobre a origem das espécies", que precede uma das edições de The Origin of Species by Means of Natural Selection or the Preservation of Favoured Races in the Struggle jàr Life, Darwin mencionou alguns dos prece­ dentes de sua teoria, incluindo aqueles que, como La­ marck, mantiveram doutrinas evolucionistas muito dife­ rentes das de Darwin. Além dos nomes mais conhecidos - Lamarck, Geoffroy Saint-H ilaire e Wallace (ver Evo­ LUÇÃO, EVOLUCIONISMO ) -, Darwin menciona w. e. Wells (numa comunicação de 1 8 1 3 ), Grant (em 1 826 e 1 834), Patrick Matthew ( 1 83 1 ), Von Buch ( 1 836 ) , Rafinesque ( 1 836), W. Herbert ( 1 837), Haldeman ( 1 843- 1 844), M . J . d'Omalius d' Halloy ( 1 846) e Owen ( 1 849). Ele se refere igualmente às idéias de Freke ( 1 85 1 ) , de Herbert Spencer (num ensaio de 1 852, reimpresso nos Essays de 1 858), de Naudin ( 1 852), do conde Keyserling [não o filósofo desse nome] ( 1 853), de Schaafthausen ( 1 853), de Lecoq ( 1 854 ), de Von Baer ( 1 859), de Thomas Henry

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Huxley ( 1 859) e de Hooker ( 1 859). Embora não men­ cionados no referido "esboço", eles são muito importan­ tes na formação das idéias de Darwin e, em conseqüência, nas origens do darwinismo, nos trabalhos geológicos de Charles Lyell e nas idéias de Malthus ( VER ) . O darwinismo pode ser entendido em sentido muito amplo ou em sentido mais estrito. Num sentido muito am­ plo, ele constitui um corpo de doutrinas que suscitou grande oposição nos meios teológicos, que considera­ ram que The Origin o{ Species e particularmente The Descent ofMan, and Selection in Relation to Sex ( 1 87 1 ) constituíam um ataque às crenças cristãs fundadas numa interpretação literal da Bíblia. Por outro lado, esse corpo de doutrinas despertou grande entusiasmo não apenas entre geólogos e zoólogos, como também entre autores que viam no darwinismo um apoio contra todas as tra­ dições do ancien régime e a expressão de um pensa­ mento radical e revolucionário. Assim, Marx propôs a Darwin dedicar-lhe o primeiro volume de Das Kapita/, proposta que Darwin rejeitou talvez por considerar que suas próprias doutrinas eram principalmente, se não exclusivamente, de caráter biológico ou "naturalista" Darwin insistia no apoio empírico de sua explicação da seleção natural, sendo esse apoio empírico o que expli­ ca em boa parte tanto a oposição como a acolhida fa­ vorável ao "darwinismo". As idéias de Darwin que mais criavam polêmicas não eram todas novas. Em todo caso, não era nova a idéia de uma evolução e até de uma origem do homem a partir de espécies não-humanas, mas eram novos a grande quantidade de dados empíricos proporcionados por Darwin e as características que ele imprimiu à noção de "seleção natural" A história do darwinismo, nesse sentido muito amplo, é um ingredien­ te essencial da história do evolucionismo moderno a par­ tir de meados do século XIX. O alcance e a profundida­ de da revolução das idéias - não apenas na biologia, mas também nas ciências sociais e nas ideologias polí­ ticas - procedentes de Darwin são comparáveis apenas aos derivados de Marx, Freud e Einstein. Num sentido mais estrito, o darwinismo é uma teo­ ria biológica que procura explicar os mecanismos da evolução, mecanismos a que devem corresponder des­ crições filogenéticas. Neste sentido mais estrito, podem­ se ainda distinguir várias fases do darwinismo. Uma é a teoria, ou o conjunto de teorias, do próprio Darwin - é o chamado "darwinismo clássico" Outra é a teoria evolucionista desenvolvida a partir do começo do século XX sob o nome de "darwinismo genético", "teoria genética da evolução" ou "neodarwinismo" Outra, por fim, é a chamada "teoria sintética" ou "teoria sintética da evolução" A idéia dominante do darwinismo e, em seu interior, do darwinismo clássico é a da seleção natural. O cresci­ mento das populações orgânicas em proporção geomé-

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trica, e o dos meios de subsistência em proporção arit­ mética, obriga as espécies a uma luta pela existência, tanto entre indivíduos e variedades da mesma espécie como entre espécies do mesmo gênero. Nessa luta so­ brevivem apenas os mais aptos. Estes são os que exibem variações favoráveis. A preservação das variações e di­ ferenças individuais favoráveis e a destruição das dani­ nhas é "a seleção natural ou sobrevivência dos mais aptos" As variedades podem aparecer num indivíduo dentro de uma população ou numa população dentro de uma espécie; em todo caso, apenas as variações favo­ ráveis permanecem. Darwin enfatiza (Origin, cap. 4) que a seleção natural não induz a variabilidade, mas "implica somente a preservação das variações que apare­ cem e são benéficas para o ser em suas condições de vida". As variações benéficas constituem características adquiridas que são transmitidas aos descendentes. Além de uma seleção natural há uma seleção sexual. No darwinismo genético, rej eita-se a doutrina das características adquiridas. A principal idéia dessa forma de darwinismo - ou de teoria da evolução - é a in­ trodução das leis genéticas de Mendel no mecanismo de explicação das variedades. É fundamental a esse res­ peito o estudo da distribuição de genes em gerações sucessivas. A teoria genética tem um caráter claramente estatístico. A teoria sintética combina a teoria genética com as doutrinas darwinianas relativas às características fenotí­ picas e dá considerável atenção à relação entre os genes específicos e o fenótipo. Foram numerosas as obj eções empíricas e metodo­ lógicas ao darwinismo em suas várias formas ou fases. Cada uma dessas fases representa uma resposta a diver­ sas obj eções. O próprio Darwin (Origin, caps. 6 e 7) antecipou diversas dificuldades da teoria e obj eções a ela. Uma dessas dificuldades consiste na ausência de variedades transicionais. Darwin assinalou que os dados paleontológicos não são muito completos, e ofereceu dados e argumentos em favor de transições não-bruscas nas espécies naturais (ao contrário de mudanças brus­ cas em raças domésticas), mantendo a idéia de um "de­ senvolvimento progressivo" De um ponto de vista me­ todológico, observou-se que o darwinismo admite, quei­ ra-o ou não, a noção de causas finais, isto é, considera­ ções teleológicas. Entretanto, é preciso levar em conta que essas considerações não implicam necessariamente a introdução de propósitos. Além disso, a noção de "te­ leonomia" (vER) foi introduzida justamente para evitar as dificuldades suscitadas pela noção clássica de "te­ leologia" Indicou-se também que uma teoria evolucio­ nista como a darwiniana não é, propriamente falando, explicativa, ou seja, não se encaixa nos critérios de ex­ plicação (vER) científica. A isso obj etou-se que, se de fato é assim, isso não demonstra, porém, que o darwi-

DARWINISMO

nismo, em qualquer uma de suas formas, especialmente nas últimas, seja incorreto, mas que é necessário modi­ ficar os critérios segundo os quais se estabelece que uma teoria é científica. A objeção de que não há testemunho direto do pro­ cesso de seleção natural vem acompanhada, em geral , da objeção de que não se podem efetuar previsões numa teoria do tipo da darwiniana. A resposta a ambas as obj eções é que, embora não havendo testemunho direto nem previsão do tipo possível em outras teorias, tisicas ou biológicas, o testemunho direto não é o único admis­ sível numa ciência, e que há, em todo caso, mais possi­ bilidades de se verificar, ou falsear, a teoria do que se pensa, especialmente por meio das chamadas "experi­ mentações ecológicas" :> Ver: G. von Gizycki, Philosophische Konsequenzen der Lamarck-darwinistischen Entwicklungstheorie, 1 876. - E. Dreher, Der Darwinismus und seine Stellung in der Philosophie, 1 877. - Gustav Teichmüller, Darwi­ nismus und Philosophie, 1 877. - E. Le Dantec, Lamar­ ckiens et darwiniens, 1 899. - E. Dacqué, Der Deszen­ denzgedanke und seine Geschichte, 1 903. - R. H. Francé, Der heutige Stand der darwinischen Frage, 1 908. - Erich Becker, Der Darwinismus und die sozia­ le Ethik, 1 909. - John Dewey, The lnjluence of Da­ rwin on Philosophy, 1 9 1 O. - Indicam-se somente as obras clássicas mais diretamente relacionadas com o problema filosófico do darwinismo; ver também a bi­ bliografia no verbete EVOLUÇÃO. Entre as obras publicadas por ocasião do centenário da publicação de Origem das espécies, destacamos: J. S. Huxley, R. Niebuhr, O. L. Reiser, Swami Nikhila­ nanda, A Book that Shook the World: Anniversary Essays on Ch. Darwin s Origin of Species, 1 95 8 . - 8. Glass, O. Temkin, W L. Straus, eds., Forerunners of Darwin, 1 745- 1 859, 1 959. - F. Cordón, "Generalización de los principios teóricos dei darwinismo", Cuaderno dei De­ partamento de lnvestigación dei Instituto de Biología y Sueroterapia [Madri], 1 ( 1 96 1 ), 7-74. Além disso: 8. Farrington, What Darwin Really Said, 1 966. - É . Gilson, D 'Aristote à Darwin et retour. Essai sur quelques constantes de la biophilosophie, 1 97 1 . - D . L . Hull, Darwin and ! 9th Century Philosophies ofScience, 1 972. - David L. Hull, ed., Darwin and His Critics: The Reception ofDarwin s Theory ofEvolution by the Scientijic Community, 1 973. - Thomas F. Glick, ed., The Comparative Reception of Darwinism, 1 974. - M. Ruse, The Darwinian Revolution: Science Red in Tooth and Claw, 1 979. - N. C. Gillespie, Ch. D. and the Problem ofCreation, 1 979. - G. Jones, Social Darwi­ nism and English Thought: The Interaction Between Bio­ logical and Social Theory, 1 980. - M. Ruse, Darwi­ nism Defended: A Guide to the Evolution Controversies, 1 982. - B. Norton, 8. Rench et ai., Dimensions of

DARWINISMO SOCIAL

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Darwinism: Themes and Counterthemes in Twentieth­ Century, 1 983, ed. M. Grene. - A. R. Ruffa, Darwinism and Determinism: The Role of Direction in Evolution, 1 983. - M. Ruse, Taking Darwin Seriously: A Natura­ listic Approach to Philosophy, 1 986. - R. J. Richards, Darwin and the Emergence of Evolutionary Theories ofMind and Behaviour, 1 987. -Y. Johannisse, G. Lane, La science comme mythe: pour en finir avec Darwin et les théories de l 'évolution, 1 988. A. Vucinich, Dar­ win in Russian Thought, 1 989. - E. Mayr, One Long Argument: Charles Darwin and the Genesis ofModern Evolutionary Thought, 1 99 1 . C: -

DARWINISMO SOCIAL. Deu-se esse nome a doutri­ nas sociológicas, ou, mais exatamente, a ideologias político-sociais que se apoiaram em algumas das idéias gerais dominantes na teoria da evolução orgânica de Darwin, suplementadas amiúde por idéias procedentes do evolucionismo de Spencer ( VER ) . É preciso distinguir o darwinismo social e o fato de que praticamente todas as doutrinas e ideologias socia­ listas a partir de Darwin reconheceram na teoria darwi­ niana da evolução um elemento libertador de precon­ ceitos e um novo ataque a toda doutrina antropocêntrica, freqüentemente vinculada com ideologias tidas por rea­ cionárias e "providencialistas" O darwinismo social é, a rigor, oposto a todo socialismo. É também distinto do que Walter Bahegot denominou, em Physics and Po­ litics ( 1 873), "fisica social" Fundamentalmente, o darwinismo social pode ser re­ sumido nas seguintes palavras de William Graham Sum­ ner ( 1 840- 1 9 1 O, nasc. em Paterson, New Jersey, EUA), que foi considerado o mais fervoroso e extremado de­ fensor dessa doutrina: "Deve ficar bem claro que não podemos sair desta alternativa: liberdade, desigualda­ de, sobrevivência do mais apto; não-liberdade, igualdade, sobrevivência do menos apto. O primeiro termo da alter­ nativa faz com que a sociedade avance e favorece todos os seus melhores membros; o segundo leva-a a regredir e favorece seus piores membros" (citado por Richard Hofstadter, Social Darwinism in A merican Thought 1 860- 1 915, 1 944, p. 37). Mencionou-se às vezes John Fiske ( vER ) como partidário do darwinismo social; po­ rém, embora esse autor tenha seguido muitas das orien­ tações de Spencer, incorporou à sua própria filosofia elementos éticos de índole altruísta, incompatíveis com o individualismo sumneriano. Para os darwinistas sociais, a sociedade funciona de tal modo que, caso não se dê livre curso à "competên­ cia", favorecem-se os fracos e, com isso, se debilita a própria sociedade. Considerando-se que a "competên­ cia" mencionada é usualmente a que promove o alto capitalismo individualista, o darwinismo social pode ser considerado a ideologia desse tipo de capitalismo,

com elementos "social-naturalistas" e resíduos da cha­ mada "ética do trabalho" ou "ética do esforço" Sumner, por sua vez, via em suas doutrinas a expressão de rea­ lidades que devem ser enfrentadas, em vez de ocultadas com fraseologias mais ou menos piedosas. Sumner "pro­ curou mostrar a seus coetâneos" - escreve Hofstadter (op. cit. , p. 5 1 ) - "que seu otimismo era um desafio insignificante às real idades da luta social; que não se encontravam em nenhuma parte na Natureza seus 'direi­ tos naturais ' ; que seu humanitarismo, sua democracia e sua igualdade não eram verdades eternas, mas as for­ mas sociais de um estágio na evolução social", de ma­ neira que, "tal como um calvinista tardio, pregou a pre­ destinação da ordem social e a salvação dos economica­ mente eleitos mediante a sobrevivência dos mais aptos" Nisso, distinguiam-se seus ataques dos que Nietzsche dirigiu ao igualitarismo e à democracia, que seriam ex­ pressões de "vida decadente", porém num sentido dife­ rente do citado acima. O darwinismo social foi às vezes considerado uma manifestação da chamada "ética evolucionista"; no en­ tanto, embora esta última seja em grande parte uma reflexão ética fundada no fato da evolução, não pode ser confundida com uma racionalização de uma "luta (social) pela vida" Entretanto, o darwinismo social sus­ citou problemas importantes para os éticos evolucionis­ tas, pois, à semelhança do que acontece com toda ética "naturalista", ou se mostra impossível derivar normas morais de fatos ou, então, seu caráter moral se toma muito duvidoso, podendo desembocar justamente num "darwinismo social" Vários éticos evolucionistas pro­ curaram resolver os problemas mencionados enfatizando que, com o desenvolvimento do sistema nervoso central humano, se modificam, ou podem modificar-se, as dire­ ções da evolução. Embora reconhecendo-se o papel que a evolução orgânica desempenha na formação da socie­ dade humana e no desenvolvimento de suas idéias mo­ rais, acentua-se a possibilidade de incorporação de ele­ mentos "culturais" que são a continuação dos "naturais", mas que podem modificar, às vezes substancialmente, estes últimos. DASEIN. No verbete Ex1sTÊNCIA ( vER) , referimo-nos ao modo como esse tema foi abordado por certos filóso­ fos, como Heidegger e Jaspers. Distinguimos o conceito de existência nos dois autores escrevendo "Existência" (com maiúscula) para Heidegger e "existência" para Jaspers (ou também para o conceito heideggeriano de Existenz e para o conceito de existência em geral e na maioria das tendências filosóficas). Também informa­ mos de várias outras maneiras como se traduziu para o português o citado vocábulo heideggeriano. Ora, como o termo alemão Dasein, utilizado por Heidegger, entrou com freqüência na literatura filosófica em seu modo

DAVID DE DINANT

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original, e como Jaspers usa igualmente esse vocábulo com um sentido totalmente distinto - e até contrário - ao de Heidegger, cremos conveniente dizer algumas palavras sobre o próprio termo. Para Heidegger (ver Ex1STÊNCIA), o Dasein (Da-sein) é o único ser que tem seu ser em seu ser. Não é, pois, uma existência em geral. Tampouco é um ser zuhan­ denes, um ser "disponível", ou, como traduz Gaos, um "ser à mão" (tal como ocorre com um utensílio), nem um ser vorhandenes, um ser "presente", ou, como traduz Gaos, um "ser diante dos olhos" Não é uma realidade que tenha de ser submetida a análise existencial, mas a análise existenciária (VER). O Dasein restringe-se ao ser humano (ou, dito de outro modo, o ser humano, a respeito do qual posso dizer é "meu" ou "sou eu mes­ mo", é o único exemplo de Dasein). Sua essência radi­ ca na Existenz, porque não pode fazer senão existir. É o único ser que se pergunta pelo ser (Sein) e pelo sen­ tido do ser (Sinn des Seins). Em contrapartida, para Jaspers, o Dasein é o ser como algo dado, ao contrário da Existenz, que é o único ser que se faz a si mesmo livre. A Existenz em Jaspers é, a rigor, algo anterior e prévio a certos caracteres que poderiam ser considerados superficialmente como ligados ao fazer-se livremente a si mesmo. A consciência, por exemplo, continua per­ tencendo ao reino do Dasein e não ao da Existenz. Nos verbetes sobre Heidegger e Jaspers, além do verbete Ex1STÊNCIA, estendemo-nos mais detidamente sobre o pensamento dos mencionados filósofos em tor­ no do Dasein e da Existenz. Aqui, pretendíamos apenas evitar uma possível confusão. Acrescentemos que, em­ bora a versão mais corrente de Dasein seja 'existência ' , convém indicar em cada caso o sentido e m que esse termo é usado, principalmente ao se tratar de Heide­ gger e Jaspers, mas também de outros filósofos que usaram o mesmo vocábulo em sentido metafisico. Isso é o que ocorre, por exemplo, em Hegel, que concebe Dasein como existência, mas somente enquanto deter­ minada, ou como o ser enquanto se acha determinado no processo dialético do devir ( VER ) . DASGUPTA, SURENDRANATH ( 1 887- 1 952). Nasci­ do em Calcutá, é conhecido sobretudo por sua extensa história da filosofia indiana, a mais completa publicada até esta data. Dasgupta, porém, não é apenas um histo­ riador, mas um pensador sistemático que se esforçou por unir a tradição indiana (especialmente os seus ele­ mentos pluralistas: Sankhya, Jainismo [VER ] ) a certas escolas filosóficas ocidentais (particularmente ao neo­ realismo anglo-americano e às doutrinas da evolução emergente). Destacou a importância da experiência, mas ao mesmo tempo o caráter amplo que deve possuir, incluindo nela a experiência mística. Destacou também a importância do fenomenismo e do racionalismo na compreensão da realidade, concebida por ele como um

constante desenvolvimento desde as formas inferiores até as mais elevadas manifestações espirituais. :> Obras: A Study of Patanja/i, 1 920. - A History of lndian Philosophy, 5 vols. (1, 1 922; II, 1 932; III, 1 940; IV, 1 949; V, 1 955). - Yoga as Philosophy and Religion, 1 924. - Hindu Mysticism, 1 927. - Yoga Philosophy and lts Relation to Other Systems of Thought, 1 930. lndian ldealism, 1 93 3 ; reed. , 1 962. Ed. de quatro séries de fragmentos dos Quaternuli redigidos por D. de D. tendo em vista o De tomis: Davi­ dis de Dinanto Quaternulorum fragmenta primum, ed. Marianus Kurdzialek, 1 963.

DAVIDSON, DONALD

Ver: Gabriel Théry, Autour du décret de 1210: !. David de Dinant, 1 925. - A. Brikenmajer, "Découverte de fragments manuscrits de D. de Dinant", Revue néos­ colastique de philosophie, 35 ( 1 93 3 ), 220-229. - E. Maccagnolo, "D. of D. and Aristotelianism in Paris", em P. Dronke, ed., A History o{Twelfth-Century Western Philosophy, 1 988, pp. 429-442 . Escritos: Decision-Making: An Experimental Approach, 1 95 7 (com Patrick Suppes e a colaboração de Sidney Siegel). - "Actions, Reasons, and Causes", Journal of Philosophy, 60 ( 1 963), 685-700; reimp. em May Brod­ beck, ed., Readings in the Philosophy of the Social Sciences, 1 968, pp. 55-58. - "Causal Relations", Jour­ nal of Philosophy, 64 ( 1 964), 69 1 -703 - "Truth and Meaning", Synthese, 1 7 ( 1 967), 304-323. "Theories of Meaning and Leamable Languages'', em Yehoshua Bar-Hillel, ed., Logic, Methodology, and Philosophy of Science. Proceedings ofthe 1 964 lnternational Congress, 1 965, pp. 3 83-392. - "The Logical Form of Action Sentences", em Nicholas Rescher, ed., The Logic ofDe­ cision and Action, 1 966. - "Truth and Meaning", Syn­ these, 17 ( 1 967), 304-323. - "On Saying That", ibid. , 1 9 ( 1 968- 1 969), 1 30- 1 46 (cf. também Words and Objec­ tions: Essays on the Work of W. v. Quine, 1 969, eds., D. Davidson e J. Hintikka, pp. 1 58- 1 74). - "True to 00

00

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DE MUNDO

Facts", Journal of Philosophy, 66 ( 1 969), 748-764. "The Individuation of Events", em F. B. Fitch, A. Grün­ baum et ai., Essays in Honor of Carl G. Hempel, 1 969, ed. D. Davidson, pp. 2 1 6-234. - "Semantics for Natu­ ral Languages", em Linguaggi nella società e nella tec­ nica, 1 970, pp. 1 77- 1 8 8; reimp. em Gilbert Harman, ed., On Chomsky: Criticai Essays, 1 974. - "Mental Events", em Lawrence Foster e J. W. Swanson, eds., Theorv and Experience, 1 970, pp. 79- 1 0 1 . - "Radical Inte rrretation", Dialectica, 27 ( 1 973), 3 1 3-328. - "ln Defense of Convention T'', em Hugues Leblanc, ed., Semantic Deviations: Truth, Syntax and Modality: Pro­ ceedings ofthe Temple University Conference on A /ter­ native Semantics, 1 973, pp. 76-86 [a "convenção T", de Tarski]. - "Belief and the Basis of Meaning", Syn­ these, 27 ( 1 974), 309-323. - "Hume's Cognitive Theo­ ry of Pride", Journa/ of Philosophy, 73 ( 1 976), 744757. - Essays On Actions and Events, 1 980 [ 1 9631 976] . - "Rational Animais", Dialectica, 36 ( 1 982), 3 1 7-327; reed. em E. Lepore, B. McLaughlin, cit. infra. - Jnquiries into Truth and Interpretation, 1 984. Expressing Evaluations, 1 9 8 4 . - "First Person Authority'', Dialectica, 2, vol . 3 8 ( 1 984). - Plato 's Philebus, 1 990. Dialektik und Dialog: Rede von D. D. anlãsslich der Verleihung des Hegel-Preises, 1 992 (Dialética e diálogo. Discurso de D. D. por ocasião da concessão do Prêmio Hegel). "The Second Person'', em P. A. French, T. E. Uehling, H . R. Wettstein, eds. , Midwest Studies i n Philosophy, vol . X V I I , 1 992. Der Mythos des Subjektiven, 1 993 (O mito do subjeti­ vo) (em alemão). - "Thinking Causes", em J. Hei!, A. Mele, Mental Causation, 1 993, pp. 3- 1 7 . Além dos volumes mencionados supra, D. D. foi edi­ tor (com Gilbert Harman) de: The Logic ofGrammar, 1 975. Ver: E. Lepore, B. McLaughlin, eds. , Actions and Events. Perspectives on the Philosophy ofD. D., 1 985. - 8. Vermazen, M . 8. Hintikka, eds., Essays on Da­ vidson: Actions and Events, 1 98 5 . - E. Lepore, ed., Truth and Jnterpretation. Perspectives on the Philoso­ phy of D. D., 1 985. - R. M. Chisholm, P F. Strawson et ai. , Essays on D. : Actions and Events, 1 98 5 . - B. T. Ramberg, D. D.'s Philosophy of Language: A n Jntroduction, 1 989. - J . P. Murphy, Pragmatism: From Peirce to Davidson, 1 990. J. J:3randl, ed., The Mind of D. D. , 1 989. - S. Evnine, D. D. , 1 99 1 . - J. E. Malpas, D. D. and the Mirrar of Meaning, 1 992. - R. W. Dasenbrock, ed., Literaty Theory Afler Davidson, 1 993 [com o art. de D. "Locating Literary Language'', pp. 295-308]. - R. Stoecker, ed., Reflecting Davidson, 1 993 [com respostas de D. aos dezessete ensaios] . Entre os trabalhos de De Morgan, destacam-se: Formal Logic or the Calculus of Inference, Necessary and Probable, 1 847. - "On Syllogism", Transactions ofthe Cambridge Philosophical Society, 8 ( 1 849), 379408 (este trabalho [o título indicado é uma abreviatura] teve prosseguimento na mesma publicação: 9 [ 1 850], 79- 1 27; 10 [ 1 864] , 1 73-230; 10 [ 1 864] , 33 1 -358; apên­ dice ao anterior, 1 0 [ 1 864], 355-358; vol. 1 0 [ 1 864] , 428-487 [este último é particularmente importante] . Syllabus of a Proposed System of Logic, 1 860. Trabalhos de interesse matemático e lógico: An Es­ say on Probabilities, 1 83 8 . A Budget of Paradoxes, 1 872, 2ª ed., 2 vols., 1 9 1 5 . Ed. W. L. Lorimer, 1 93 3 ; ed. E. Kõnig (com versão síria). Ver: W. L. Lorimer, The Text Tradition of Pseudo­ Aristote/es De mundo, 1 933 (também em int. a ed. supra). - J. P. Maguire, "The Sources of Pseudo­ Aristotle De Mundo", Yale Classical Studies, 6 ( 1 939). A.-J. Festugiêre, La révé/ation d 'Hermes Trismégiste, II, 1 949. Obras: Vvédénié v filosofiú dialéktitchéskovo maté­ rializma, 1 9 1 6; 6ª ed., mais completa, 1 93 1 (Introdução à filosofia do materialismo dialético). - L. Feuerbach. Lichnost i mirovosrenie, 1 923 (L. Feuerbach. Personali­ dade e concepção do mundo). - Lénin kak mislitél, 1 924 (Lenin como pensador). - Dialéktika i éstéstvoznanié, 1 930 (Dialética e ciência natural). - Filosofiá i mark­ sizm, 1 930 (Filosofia e marxismo). - Ocherki po istorii materialisma, vols. 1 7- 1 8, 3ª ed., 1 930 (Ensaios de histó­ ria do materialismo dos séculos XV/1-XVJI[). - Lenin i krisis sovremennoyjiziki, 2ª ed., 1 930 (Lenin e a crise da física atual). - Karl Marx i sobremennost, 1 933 (K. Marx e a atualidade). - Filosofia i politika, 1 960 [cole­ ção de artigos] . Bibliografia: René Ahlberg, A . M. D. , 1 950 (Biblio­ graphische Mitteilungen des Osteuropa-Institutes an der Freien Universitãt Berlins. Heft 2). Ver: René Ahlberg, "Dialektische Phi/osophie" und Gesellschaft in der Sowjetunion, 1 960 (Osteuropa-Ins­ titut [cf. supra] . Philosophische und Soziologische Vero­ ffentlichungen. Band 2). - D. Joravsky, Soviet Marxism and Natural Science, 1 9 1 7- 1 932, 1 96 1 . - L. Labedz, Revisionism: Essays on the History of Marxist ldeas, 1 962. - R. D. Rucker, "A. M. D. : Weltanschauung and Role in the Development of Soviet Philosophy", Studies in Soviet Thought, 1 9 ( 1 979), 1 85-207. - J. B. Bakker, "D.'s Materialist Interpretation of Spinoza, ibid. , 24 ( 1 982), 1 75- 1 84. Para a teoria da decisão: John von Neumann e Oskar Morgenstern, Theory of Games and Economic Behavior, 1 944. Leonard 1. Savage, The Foundations of Sta­ tistics, 1 954. - R. Duncan Luce e Howard Raiffa, Games and Decisions: Introduction and criticai Survey, 1 957. - Donald Davidson, Patrick Suppes e Sidney Siegel, Decision-Making: An Experimental Approach, 1 957. - Wayne Lee, Decision Theory and Human Be­ havior, 1 97 l . - M. Medina, Normative Spieltheorie. Spieltheorestische Modelle fiir rationale Losung von Konjliktsituationen, 1 972. - Franz von Kutschera, Ein­ fiihrung in die Logik der Normen, Werte und Entschei­ dungen, 1 97 3 . John C. Harsanyi, Essays on Ethics, Social Behavio1; and Scientific Explanation, 1 976. -

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DECIDÍVEL

Euryalo Cannabrava, Teoria de decisão.filosófica (Bases psicológicas da Matemática, da Lingüística e da Teo­ ria do Conhecimento), 1 977. - R. L. Keeney, H. Raiffa, Decisions with Multiple Objectives: Preferences and Value Tradeo.ffs , 1 976. - C. A. Hooker, J. J. Leach, E. F. McClennen, eds., Foundations and Applications of Decision Theory, 2 vols., 1 977 (!, Theoretical Founda­ tions; II, Epistemic and Social Applications). - !. Levi, Hard Choices: Decision Making Under Unresolved Conflict, 1 986. - M. D. Resnik, Choices: An lntroduc­ tion to Decision Theory, 1 986. - K. J. Arrow, H. Ray­ naud, Social Choice and Multicriterion Decision-Ma­ king, 1 986. - H. Moulin, Axioms of Cooperative De­ cision Making, 1 988. Para a lógica da decisão: Richard C. Jeffrey, The Logic of Decision, 1 965; 2ª ed., 1 984. - G. Gottlieb, The Logic of Choice, 1 968. - H. A. Simon, G. H. von Wright et ai. , The Logic of Decision and Action, 1 968, ed. Nicholas Rescher. - Vários autores, Utility, Proba­ bility, and Human Decision Making, 1 975, ed. D. Wendt e C. A. J. Vlek (seleção de "Atas" de uma reunião em Roma, 3/6-IX- 1 973). - A. C. Michalos, Foundations of Decision-Making, 1 978. - J. P. Van Gigch, ed., De­ cision Making about Decision Making: Metamodels and Metasystems, 1 987. - J. J. Mechanic, The logic of Decision Making: An lntroduction to Criticai Thinking, 1 988. Ver também bibliografia de DEôNTICO. Artigos sobre decisão na revista Theory and Deci­ sion. An International Journalfor Philosophy and Me­ thodology of the Social Sciences, publicada desde 1 970. Para o sentido existencial de ' decisão ' , cf. a biblio­ grafia de EXISTENCIALISMO, assim como: Alberto Catu­ relli, E! .filosofar como decisión y compromiso, 1 95 8 . - Jean Paumen, Temps e t choix, 1 972. C DECIDÍVEL. Em vários verbetes lógicos deste Dicio­ nário, usamos os termos 'decidível', ' indecidível', 'deci­ dibilidade ' e ' indecidibil idade ' , assim como as expres­ sões ' método de decisão' e ' procedimento de decisão ' Daremos aqui uma breve explicação do significado des­ ses termos com base no esclarecimento do uso do ter­ mo ' decidível' Esse termo pertence ao vocabulário da metalógica e expressa um dos conceitos sintáticos fundamentais nela usados (outros conceitos fundamentais são o de consistência [ver CONSISTENTE ] e o de completude [ver COMPLETO ] ) . Denomina-se "decidível" um cálculo c quando se pode forjar um método ou um procedimento mecânico mediante o qual seja possível decidir - numa série finita de operações - se uma fórmula bem formada de C é ou não um teorema de C. Também se define às vezes o termo ' decidível' indicando-se que se chama "decidível" uma teoria formalizada T quando se pode forj ar um método que permita decidir se uma sentença

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qualquer formulada mediante os símbolos usados em T pode ser provada mediante os recursos proporcionados por T. O procedimento mecânico ou método antes men­ cionado recebe o nome de "procedimento de decisão" ou "método de decisão" O problema que se refere à determinação da existência ou da não-existência, num cálculo C ou numa teoria formalizada T, de um procedi­ mento ou método de decisão é denominado "problema de decisão" Se se encontra esse procedimento ou mé­ todo, o cálculo ou a teoria formalizada recebem o nome de "decidíveis"· caso contrário, o de "indecidíveis" Com relação a esses adjetivos, usam-se os substantivos ' decidibilidade' e ' indecidibilidade ' As definições anteriores não têm caráter formal. Para uma definição formal suficiente do termo ' deci­ dível' aplicado a uma teoria formalizada T, usaremos a formulação de A. Tarski ( Undecidable Theories, 1 95 3 , !, 3): "Uma teoria T é chamada decidível s e o conjunto de todas as suas sentenças válidas é recursivo; caso contrário, é denominada indecidíveI'' Seguindo o mes­ mo autor, diremos que uma teoria formalizada T pode ser: 1 ) decidível; 2 ) indecidível; 3 ) essencialmente inde­ cidível. É essencialmente indecidível uma teoria T na qual são indecidíveis não apenas T, mas toda extensão consistente de T que tenha as mesmas constantes de T. Observemos que toda teoria decidível é axiomatizável, mas nem toda teoria axiomatizável é decidível. Os problemas de decisão ocuparam sobremaneira os lógicos e matemáticos durante os últimos trinta anos. Podemos estabelecer nessa época dois períodos: um, de 1 920 a 1 934, no decorrer do qual se pensou que toda a lógica e toda a matemática eram decidíveis, período em que obteve seus maiores triunfos a chama­ da matemática formalista; outro, de 1 934 aos dias de hoje, ao longo do qual se desvaneceram as esperanças de uma completa decidibilidade dessas disciplinas. A demonstração, por parte de A. Church, de que não se pode elaborar nenhum procedimento de decisão, nem mesmo para o cálculo quantificacional elementar, repre­ sentou um dos momentos decisivos nessa história. Não entraremos aqui na descrição das diversas tentativas e dos resultados nos problemas de decisão no que se refere aos diferentes cálculos lógicos (cálculo sentenciai, cálculo quantificacional elementar, cálculo quantifica­ cional superior). Limitar-nos-emos a indicar, como ilus­ tração de nosso problema, que um dos métodos de deci­ são forjados para demonstrar a decidibilidade de um cálculo é o método das tabelas de verdade ( vER ) . Esse método foi elaborado para provar que o cálculo senten­ ciai é decidível. :l Além da citada obra de A. Tarski (parte da qual em colaboração com A. Mostowski e R. M . Robinson), ver sobre os problemas de decisão em geral: W. v. Quine, "On Decidability and Completeness", Synthese, 7 ( 1 9481 949), 44 1 -446.

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Sobre o problema da decisão no cálculo quantifica­ cional monádico de primeira ordem, ver especialmente: K. Gõdel, "Zum ' Entscheidungsproblem' des logischen Funktionenkalküsl", Monatshefte fiir Mathematik und Physik, 40 ( 1 933), 433-443 . - A. Church, "An Unsol­ vable Problem of Elementary Number Theory", Ame­ rican Journal of Mathematics, 58 ( 1 936), 345-363. Id. , "A Note on Entscheidungsproblem", Journal of Symbolic Logic, 1 ( 1 936), 40-4 1 , 1 0 1 - 1 02 . - Id. , "Special Cases of the Decision Problem", Revue Philo­ sophique de Louvain, 49 ( 1 95 1 ), 203-22 1 . - "Special Cases of the Decision Problem. A Correction", ibid. , 50 ( 1 952), 270-272. - Wolfgang Stegrnüller, Unvolls­ tiindigkeit und Unentscheidbarkeit. Die metamathema­ tischen Resultate von Godel, Kleene, Rosser und ihre erkenntnistheoretische Bedeutung, 1 959. - Richard M . Martin, Intension and Decision, 1 963 . - H. McDa­ niel, An Introduction to Decision Logic Tables, 1 968. - Ver também a bibliografia de GôDEL (KuRT); GôDEL (PROVA DE). A informação dada neste verbete pode ser comple­ mentada com a que figura nos verbetes COMPLETO; CON­ SISTENTE; GôDEL (PROVA DE); METALÓGICA; SINTAXE. C DECISIONISMO. Cabe dar este nome à tese segundo a qual certos problemas só podem ser resolvidos ou, ao menos, enfrentados mediante um ato de decisão em favor de uma dentre duas ou mais alternativas. O ato de decisão está unido a um juízo de valor (para não dizer que consiste em formular um juízo de valor de caráter "decisório" e supostamente "decisivo"). A decisão pode atingir inúmeras áreas da vida humana (política, social, econômica, moral etc.). Com extrema freqüência, ela atinge a área moral. Quando se conhece o fim escolhido, a decisão dos meios a empregar para atingi-lo não é assunto de uma decisão no sentido antes apontado, exceto quando não há informação suficiente sobre as possibilidades ofere­ cidas pelos meios ou sobre conseqüências que podem derivar de seu emprego. O aumento de informação vai eliminando a área de "arbitrariedade" na decisão e vai eliminando, portanto, também o caráter de decisão. A questão de saber se se deve adotar ou não uma deci­ são em sentido próprio, e de se a referida decisão é ou não "última", isto é, se ela é ou não justificada por razões de alguma espécie, costuma dizer respeito aos próprios fins. Um extremo "racionalismo" tende a sustentar que os fins são sempre, ao menos em princípio, justificá­ veis e explicáveis, e que, por conseguinte, cabe sempre encontrar argumentos suficientes em favor de uma al­ ternativa que elimine outras alternativas. No pólo opos­ to, temos um "decisionismo" extremo, que aparece co­ mo um "irracionalismo" Com efeito, o decisioni�mo puro e simples é transracional. A decisão adotada é

DECISIONISMO

considerada ou como subjetivamente "arbitrária", ou então como imposta por uma crença prévia sobre a qual não se têm dúvidas. Entre essas duas posições há uma grande quantida­ de de atitudes intermediárias. Duas delas são importan­ tes. Uma é a atitude de acordo com a qual os fins são "disputáveis", ou seja, pode haver razões a favor ou con­ tra cada um deles. Embora se suponha que nenhuma razão é definitiva, admite-se que certas razões têm mais força, ou são mais persuasivas, que outras. Admite-se também que o futuro pode estar aberto a novas razões; sem dúvida, isso pressupõe que o conhecimento de no­ vos fatos, ou de novas situações, pode alterar razões até então dadas, mas não há inconveniente em admitir que as razões são formuladas levando-se em conta fatos, ainda que não sej am logicamente deriváveis dos fatos. Outra dessas posições intermediárias é a atitude segundo a qual a escolha de um fim - e, portanto, a decisão que se adota em favor dele - não é estrita­ mente racional, ou não é racional no sentido de uma "razão teórica" supostamente pura. Pode ter, entretanto, uma importante dose de racionalidade fundada em "ra­ zões práticas" Pode também fundar-se no "bom senso", recorrer a uma espécie de "consciência moral" ou de "sentimento moral", ou pode afirmar que há uma pos­ sibilidade de um a priori não intelectual, mas "emotivo" Consideremos, por exemplo, a questão de saber se determinada geração tem ou não de sacrificar-se em beneficio de gerações futuras - o que pode significar o sacrificio de vantagens que a geração atual desfruta para que as gerações futuras não fiquem sem meios de subsistência ou sem possibilidades de dispor das quanti­ dades mínimas de energia requeridas, ou então a fim de estabelecer no futuro uma sociedade melhor (mais justa, mais igualitária etc.) que a atual. O racionalista afirmará que se devem encontrar razões ou a favor ou contra o sacrificio da geração atual em beneficio das fu­ turas. O "decisionista" sustentará que não há outro remé­ dio senão decidir-se a favor ou contra esse sacrificio, sem que haj a razões suficientes para apoiar a decisão que se tome. Isso pode ser feito ou em virtude de uma decisão "arbitrária" ou em virtude de crença "última", ela mesma racionalmente injustificada, e injustificável. Os partidários das mencionadas posições intermediárias afirmarão várias teses como as seguintes: é possível, e desejável, encontrar "razões práticas" que conduzam a uma decisão satisfatória, que seja aceitável por todos, ou por quase todos, sem por isso pretender que seja uma decisão absolutamente correta e para sempre; é possí­ vel recorrer a um "sentimento moral" que não é irracio­ nal - embora tampouco, estritamente falando, racional; é possível recorrer à prudência como virtude, e atitude, capaz de proporcionar um critério cujo caráter razoável não deve ser confundido com o racional.

DECOSTER, PAUL

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DECOSTER, PAUL ( 1 886- 1 939). Nascido em Bruxelas, defendeu uma "metafisica única" que pode ser denomi­ nada a metafisica do ato. Essa metafisica não coincide estritamente nem com a filosofia nem mesmo com a ontologia enquanto mera "filosofia primeira" de caráter formal e critico, pois se trata, em última análise, de uma metafisica não-demonstrativa, que começa com o incondicionado e exige todo condicionamento, o qual não pode sair da esfera lógica ou, no máximo, episte­ mológica. O ato é, em contrapartida, o que o pensa­ mento encontra imediatamente diante de si como afir­ mação metafisica - não apenas psicológica - inevi­ tável. Isso não significa, de acordo com Decoster, aceitar um irracionalismo; este ato é, em substância, um "ato intelectual" O fundamento da afirmação não é, assim, a indubitabilidade, mas a inevitabilidade. Daí uma dialé­ tica que passa do ato ao ato em vez de transcorrer no plano puramente formal ou na ordem imanente do idea­ lismo. Porém, ao mesmo tempo, essa dialética atual requer, segundo Decoster, uma "mediação intrínseca ao ato" e, portanto, uma síntese pura ou concreta que possibilita uma adaptação do ato à mediação, os quais serão indistinguíveis, embora não identificáveis. Dessa maneira, o incondicionado metafisico se mostra dado numa espécie de "mediação imediata", que nos defronta com o ato puro. Com isso, a mediação será "a lei não­ escrita de todo pensamento" (De l 'Unité métaphysique, 1 934, p. 74). Mas a linguagem do idealismo que parece empregar-se aqui não corresponde senão muito imper­ feitamente, de acordo com Decoster, à realidade expres­ sa; com isso, preenche-se meramente uma das condições de toda metafisica autêntica, que se vê obrigada a cons­ tituir-se mediante uma dissonância se deseja de fato recobrar sua "unidade" � Obras: La Réjàrme de la Conscience, 1 9 1 9. - Le Régne de la Pensée, 1 922. - Acte et Synthése, 1 928. - "De l 'Analyse réflexive à l ' Expérience métaphy­ sique" ( Travaux du IX Congrés Int. de Philosophie, t. VIII [ 1 93 1 ], 32-38). De l 'Unité métaphysique. Épi­ logue philosophique, 1 934. - Positions et Corifessions, 1 940. Ver: M. A. Cochet, La Métaphysique de Paul De­ coster et la Science, 1 937. - Jacques Gérard, La Méta­ physique de Paul Decoster, 1 945. G. van Molle, La Philosophie de Paul Decoster, 1 946. e -

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DEDEKIND, J U L I U S W I L H ELM R I C H A RD ( 1 83 1 - 1 9 1 6). Nascido em Brunswick, foi discípulo de Gauss e professor no Instituto Politécnico de Zurique ( 1 852- 1 862) e no de Brunswick (desde 1 862 até sua aposentadoria em 1 894 ) . Sua mais conhecida e influente contribuição à matemática está em seu trabalho sobre "continuidade e números irracionais'', no qual apresenta a idéia mais tarde chamada "corte de Dedekind" Esse "corte" consiste numa divisão de todos os números ra­ cionais em dois conjuntos A e B, sendo qualquer número

do conjunto B maior que qualquer número do conjunto A. Quando "se cortam" esses conjuntos, o "corte" pode cair ou não sobre um número racional. Se cai sobre um número racional, ele define esse número, e, se não cai, define um número irracional. Desse modo, todos os nú­ meros reais são definidos por meio de números racio­ nais. São importantes também as contribuições de Dede­ kind à teoria dos números algébricos. Os axiomas que caracterizam a seqüência dos nú­ meros naturais são denominados "axiomas de Peano" (ver PEANO, G1uSEPPE). Eles poderiam ser também cha­ mados de "axiomas de Dedekind", já que foram formu­ lados por este, ou de "axiomas de Dedekind-Peano" � Obras: Stetigkeit und irrationale Zahlen, 1 862; 3ª ed. , 1 905 (Continuidade e números irracionais). Was sind und was sollen die Zahlen ?, 1 888 (O que são e o devem ser os números ?) Edição de obras matemáticas completas: Gesam­ melte mathematische Werke, 1 930. - É importante a correspondência entre D. e Cantor: Briefwechsel Can­ tor-D. , 1 937, ed. E. Noether e Jean Cavailles. Ver: P. Dugac, R. D. et les jàndements des mathé­ matiques, 1 976 (com textos inéditos e bibliografia de e sobre D. ). e DEDUÇÃO. Muitas são as definições que se deram da dedução. Eis algumas delas: 1 ) é um raciocínio de tipo mediato; 2) é um processo discursivo e descendente que passa do geral ao particular; 3) é um processo dis­ cursivo que passa de uma proposição a outras proposi­ ções até chegar a uma proposição que se considera a conclusão do processo; 4) é a derivação do concreto a partir do abstrato; 5) é a operação inversa à indução; 6) é um raciocínio equivalente ao silogismo e, portanto, uma operação estritamente distinta da indutiva; 7) é uma operação discursiva na qual se procede necessariamente de algumas proposições a outras. Cada uma das definições anteriores padece de vá­ rios inconvenientes, mas ao mesmo tempo aponta para uma ou várias características esclarecedoras. Assim, a l ª é insuficiente, pois o vocábulo ' raciocínio' é aqui demasiadamente vago, porém sublinha o caráter mediato e, portanto, não-intuitivo da operação dedutiva. A 2ª definição tem pressupostos ontológicos que não são estritamente necessários e que se mostram patentes na noção de descendente, mas, por outro lado, ela alude à passagem do mais geral ao menos geral. A 3ª é correta, mas esquece a necessidade de "mediação" (termo mé­ dio, regra de inferência etc.). A 4ª mostra o caráter abs­ trato, ao menos no ponto de partida, do processo dedu­ tivo, mas negligencia outros aspectos importantes desse processo. A 5ª é justa sempre que não se interprete em sentido demasiadamente estrito o termo ' inverso' e sem­ pre que não se esqueça que tanto a dedução como a indução são operações de índole formal. A 6ª é aceitá-

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vel apenas na medida em que mostra que o silogismo é uma operação dedutiva, mas falha na afirmação da equi­ valência entre dedução e silogismo, visto que este último é apenas uma das muitas operações dedutivas possíveis. A 7ª é pouco explícita, mas destaca um elemento funda­ mental na operação dedutiva: o de necessidade. Das definições mencionadas, a 1 ª e a 2ª encon­ tram-se em textos não-escolásticos escritos a partir do princípio do século XIX; a 3ª e a 4ª são às vezes usa­ das para completar outras definições; a 5ª foi uma de­ finição muito habitual em autores da época moderna antes que do florescimento (ou reflorescimento) da lógi­ ca formal simbólica; a 6ª foi a definição mais freqüente entre autores de tendência aristotél ico-escolástica, es­ quecendo que, embora o próprio Aristóteles pareça ocu­ par-se em pormenor apenas do silogismo entre os pro­ cessos dedutivos, ele de fato se refere a outras formas de dedução (deduções matemáticas etc.); a 7ª pertence, mais propriamente, ao grupo de definições da dedução nas quais se procura dar uma interpretação dela. Esta última definição é interessante na medida em que enfa­ tiza - como vimos - o caráter necessário do processo dedutivo, mas, para entendê-la bem, é preciso distinguir a necessidade causal, a necessidade ontológica ( ontoló­ gico-essencial, segundo alguns, ontológico-formal de acordo com outros) e a necessidade lógica. É apenas do ponto de vista desta última que podemos falar de ne­ cessidade ao nos referir a um raciocínio dedutivo. Com efeito, este último é necessário no sentido de que, uma vez admitindo-se que uma conclusão C segue-se neces­ sariamente das premissas P, P1 , P2 etc., revela-se contra­ ditório afirmar que essa conclusão não se segue dessas premissas. A noção de necessidade (lógica) está, pois, ligada à da negação de contraditoriedade consigo mes­ ma. Alguns autores afirmam que este é o único tipo de necessidade legítimo, de modo que se devem des­ cartar o aspecto causal e o ontológico (essencial ou formal) da necessidade, os quais poderiam ser, em última análise, reflexos da necessidade lógica mani­ festada na dedução. As investigações atuais sobre a natureza da dedução levam em conta alguns dos elementos antes menciona­ dos, mas procuram reduzi-los a suas justas proporções ou então completá-los mediante outras características sem as quais não se pode proporcionar nenhuma noção medianamente rigorosa das operações dedutivas. Uma definição hoje muito comum que se aplica a todas as formas de dedução é a que afirma que no processo de­ dutivo se derivam certos enunciados de outros enuncia­ dos de modo puramente formal, isto é, em virtude so­ mente da forma (lógica) desses enunciados. O enuncia­ do ou os enunciados do qual ou dos quais se parte para efetuar a derivação são a premissa ou as premissas; o enunciado último derivado dessas premissas é a conclu­ são. A derivação rumo à conclusão efetua-se por meio

DEDUÇÃO

das regras de inferência (vER), que recebem também o nome de regras de dedução. Há uma estreita conexão entre a noção de dedução e a de implicação lógica, chegando-se às vezes a sustentar que a primeira depende da segunda. Esta é a opinião de Whitehead e de Russell ao escrever em Principia Mathematica: "A dedução depende, assim, da relação de implicação, e todo siste­ ma dedutivo deve conter entre suas premissas tantas propriedades de implicação quantas sejam necessárias para legitimar o procedimento ordinário da dedução" Se um enunciado p implica logicamente outro enuncia­ do, q, q é deduzido logicamente de p; e, se um enun­ ciado q é deduzido de um enunciado p, pode-se dizer que p implica logicamente q. O método dedutivo é usado em todas as ciências - matemática, fisica, biologia, ciências sociais -, mas é particularmente apropriado no âmbito das ciências mais formalizadas, tais como a lógica, a matemática e a fisica teórica. Por meio desse método, é possível efe­ tuar nessas ciências provas formais, nas quais se estabe­ lece que as conclusões às quais se chega são formalmen­ te válidas. Entre os problemas suscitados com relação à dedu­ ção, destacaremos um: o que consiste em determinar se todo conjunto de fórmulas primitivas dadas em deter­ minado sistema formal é ou não equivalente aos princí­ pios de dedução de tal sistema. Alguns autores afirmam que sim; nesse caso, as fórmulas primitivas em questão são declaradas materialmente verdadeiras. Outros auto­ res, em contrapartida, afirmam que essa interpretação dessas fórmulas não é necessária, seja porque eles rejei­ tam a expressão ' materialmente verdadeiras ' , seja por­ que distinguem os axiomas ou fórmulas primitivas de um sistema formal - ou cálculo - das regras de de­ dução desse sistema. Essas regras de dedução são consi­ deradas fórmulas metalógicas, enquanto os axiomas pri­ mitivos são fórmulas lógicas. Difunde-se cada vez mais na lógica o método da chamada dedução natural ( v ER) ou inferência natural (cálculo seqüencial, Sequenzenkalkül) proposto por Ger­ hard Gentzen. Esse método usa certos esquemas de deri­ vação em vez dos axiomas e das regras de inferência. Sobre a "dedução transcendental" em sentido kan­ tiano, ver DEDUÇÃO TRANSCENDENTAL. :> Em todos os textos de lógica há referências à noção de dedução. Ver também Gregorio Klimovski, El mé­ todo deductivo y la lógica, 1 973. - M. Dummett, The Justification of Deduction, 1 974. - R. Butrick, De­ duction and Analysis, 1 980. Noção de dedução em Aristóteles e em Santo To­ más, Projeçie deduckcji u A rystotelesa sw. Thomaza z Akwinu, 1 930. - J. Corcoran, "Aristotle's Natural De­ duction System", em id. , id. , ed., Ancient Logic and Its Modern Interpretations, 1 974, pp. 85- 1 3 1 . Ver bibliografia de DEDUÇÃO NATURAL. wv� - se fazia ouvir às vezes em seu interior para impeli-lo a não fazer o que estivera a ponto de fazer (embora nunca o impel isse à ação). Tra­ ta-se, assim, verdadeiramente de um sinal miµElov ( ib id , 4 1 D). O nome usado por Platão é o adjetivo (e às vezes substantivo) omµóv1ov (daimónion) e não o substanti­ vo oaíµwv (daímon). Ambos costumam ser traduzidos para o português pelo mesmo vocábulo, 'demônio', mas convém observar que há uma diferença de signifi­ cado entre os dois termos gregos (diferença confirmada pelo fato de que Platão põe na boca de Sócrates o vo­ cábulo oaíµwv quando quer designar algo muito dife­ rente de omµóv1ov). Encontramos exemplos a esse respeito na citada Apologia (27 C-D), onde se introduz Ôa͵wv (os Ôa͵OVES), significando essas entidades que haviam sido anteriormente concebidas como divin­ dades e que na época de Sócrates designavam uma es­ pécie de "super-homens" - seres filhos dos deuses, mas que não eram deuses nem heróis -, e em O Banquete (202 E ss.), onde o Amor é pintado como um grande demônio, intermediário, como todo o demoníaco, entre o mortal e o imortal. O "demônio" de Sócrates é, pois, uma "voz" Esta pode ser interpretada de vários modos. Por um lado, pode-se insistir no aspecto "externo" dessa voz, atribuin­ do-a a uma entidade divina que providencialmente sus­ surra ao homem certos imperativos. Por outro lado, pode-se insistir no aspecto "interno" da voz, caso em que ela é geralmente identificada com a consciência moral (vrn), em seu sentido mais individual e subjetivo. Por fi m, pode-se conceber a "voz demoníaca" como a expressão da vocação intransferível de cada homem, adotando-se neste caso o ponto de vista existenciário (uR), ao qual nos referimos no citado verbete sobre a consciência moral. Cada uma dessas interpretações tem sua justificação, mas julgamos que o uso delas não deve fazer esquecer o caráter específico que tem o "de­ mônio socrático", caráter que só pode ser adequada­ mente compreendido quando nos situamos no contexto da vida pessoal do Sócrates histórico. Em todo caso, convém ter sempre presente o que o próprio Sócrates afirmava: a voz "demoníaca" é negativa e, em lugar de proclamar o que se deve fazer, indica o que não se deve fazer; o imperativo é, pois - como o é, além disso, a maioria dos imperativos morais -, uma proibição. O sentido às vezes mitológico, às vezes teológico, de ' de­ mônio' (empregado aqui como tradução de oaíµwv) aparece claramente, em contrapartida, numa série de concepçôes que podem suscitar interesse filosófico. Duas dessas concepções merecem ser destacadas aqui. Uma -

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é a que encontramos em textos de autores neopitagóri­ cos, platônicos ecléticos antigos e neoplatónicos (Nu­ mênio de Apaméia, Plutarco, Plotino etc.). Esses textos baseiam-se amiúde em tradições mitológicas gregas (co­ mo aquela a que se aludiu ao se falar do significado de oaíµwv em O Banquete), mas foram usualmente objeto de múltiplas interpretações filosóficas. Os demônios são às vezes concebidos como "intermediários", às vezes como "divindades inferiores" ("gênios" bons ou maus, favoráveis ou desfavoráveis), ocasionalmente como "personalidades divinas" às quais estamos ligados, de tal forma que cada um de nós tem seu próprio "demô­ nio" (ou "gênio"). Esta demonologia é com freqüência muito complexa, sendo difícil desenredar mitologia e especulação conceituai. Outra concepção é a que aparece no judaísmo e de­ pois, sobretudo, no cristianismo. O demônio é concebido aqui como "agente do mal" Os demônios são os anjos que se rebelaram contra Deus (ver ANJO) sob a direção do Maligno por antonomásia, Satanás. Este é o Adversá­ rio por excelência, o Acusador ou Tentador descrito no Antigo Testamento (Gênesis, 3 , 1 ) sob a forma da ser­ pente, o Mentiroso de que fala o Apocalipse ( 1 2,9). "A libertação do mal" pedida no Pai-nosso ( cf. Mateus, 6, 1 3 ) é, a rigor, "a libertação do Maligno", introdutor e administrador do mal no mundo, incapaz de atacar diretamente a Deus, mas ocupado incessantemente em corroer sua obra, em desfazer seu plano de salvação. Na­ da há de surpreendente, pois, no fato de que o Maligno (o Demônio) deva ser exorcizado e que se peça ao ho­ mem que "renuncie a Satanás". Jesus veio (João, 1 2,3 1 ) para expulsar o Príncipe das Trevas, o Maldito. Assim, a concepção do Demônio esboçada aqui está l igada às idéias acerca do mal, do império e do plano de Deus, dos anj os, do pecado. Ela se vincula sobretudo a deter­ minada concepção sobre o ser espiritual, o qual, como não pode voltar atrás, é incapaz - ao contrário do ho­ mem - de arrependimento. Em todo caso, convém observar que, para os autores cristãos, o demônio não está fora do império de Deus: Este inclusive se serve dos demônios para tentar os homens e para pô-los à prova - assim, as tentaçôes constituem uma parte do plano da Providência divina. � Obras: M. Détienne, La notion de Daimon dans /e pythagorisme ancien, 1 963. - Robert Müler-Sternberg, Die Diimonen. Wesen und Wirkung eines Urphiinomens, 1 964. Soren S. Jensen, Dualism and Demonology: The Function of Demonology in Pythagorean and Pla­ tonic Thought, 1 966. - Max Mühl, "Die Traditionges­ chichtlichen Grundlagen in Platons Lehre von den Dãmo­ nen", Archiv fiir Begrif/sgeschichte, 1 O ( 1 966), 24 1 -270. Antonio Camarero, Sócrates y las creencias demó­ nicas griegas, 1 968. - R. C. Neville, The Tao and the Daimon: Segments ol a Religious lnquiry, 1 982. C -

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DEMONSTRAÇÃO. Na teoria platônica, a demonstra­ ção é essencialmente a definição: demonstra-se que uma coisa é o que é quando se toma patente o que essa coisa é. Para Aristóteles, a demonstração equivale a mostrar que algo é necessário. Por esse motivo, a demonstração é o processo por meio do qual se manifestam os princí­ pios das coisas (An. post. , 1 24, 85 b). A demonstração é considerada por Aristóteles um processo superior à simples definição. Esta última delimita o objeto que se pretende apreender mentalmente, enquanto a primeira mostra a origem "formal" de onde o objeto procede. Por isso, o instrumento mais apropriado da demonstra­ ção é o silogismo científico (não o silogismo em geral, cujas premissas podem ser falsas, mas o silogismo ba­ seado no saber, cujas premissas são verdadeiras e, além disso, imediatas). A teoria aristotélica da demonstração baseia-se, portanto, numa busca das causas pelas quais uma coisa é o que é, busca que permite descobrir, ade­ mais, que não é possível que a coisa seja diferente do que é. Assim, o estudo da demonstração equivale à in­ vestigação sobre os princípios da ciência, tanto de toda a ciência (caso em que os princípios são axiomas univer­ salmente válidos, tais como o da não-contradição e o do terceiro excluído) como de ciências particulares (caso em que se usam hipóteses e definições). Os escolásticos aceitaram a seguinte tese: a demons­ tração é uma argumentação mediante a qual se extrai uma conclusão de premissas certas. Por conseguinte, a demonstração se efetuava igualmente, como em Aristó­ teles, por meio do silogismo. Ora, distinguem-se dentro desse quadro diversos tipos de demonstração. Fala-se, com efeito, de demonstração propter quid, procedente de princípios que não apenas são evidentes por si mes­ mos, como são simpliciter a priori e dão a razão com­ pleta e adequada da coisa; de demonstração quia, que não procede desses princípios ou que não dá tal razão adequada. Fala-se também de demonstração ad intellec­ tum e de demonstração ad sensum, segundo a faculda­ de que capte a verdade do enunciado. Introduzem-se às vezes outros tipos de demonstração, em geral baseados numa contraposição, como, por exemplo, demonstração a priori e demonstração a posteriori, demonstração abso­ luta e demonstração relativa. Há certos tipos de demons­ tração que, embora não sejam propriamente demonstra­ ções, ou, pelo menos, não sejam demonstrações certas, continuam a receber esse nome: este é o caso da osten­ sio, que pode ser exemp/aris e também ad hominem . Desta última, em particular, pode-se dizer que não é vera-demonstratio. Dois dois tipos especialmente impor­ tantes de demonstração são a direta e a indireta. Esta úl­ tima é às vezes denominada abdução (vER), entendida como raciocínio apagógico e ocasionalmente qualificada de raciocínio ad absurdum e ad impossibi/e.

DEMPF, ALOIS

Durante a época moderna propuseram-se muitos tipos de demonstração. Grosso modo, eles podem ser classificados em dois grupos: o empirista e o racionalis­ ta. O primeiro efetua a demonstração pela passagem da observação do objeto singular à sua idéia mental, que representa o modo como a mente reflete a "apresenta­ ção" da coisa. O segundo tende a basear toda demonstra­ ção na relação princípio-conseqüência, inclusive redu­ zindo a ela a relação causa-efeito. Alguns autores, como Hegel, propuseram uma demonstração que poderíamos qualificar de dialética e que conduz ao universal concre­ to; demonstrar equivale então a refletir mentalmente a coisa que por si mesma se demonstra num processo que segue certa linha. Muitas são também as formas de demonstração propostas na época contemporânea. Algumas delas se baseiam nas posições clássicas ou em combinações des­ tas. Outras fundam-se numa teoria pragmática da prova segundo a qual se demonstra a verdade de uma proposi­ ção pelos "efeitos" que produz (ou pelo modo como a real idade responde a ela). De maneira geral, pode-se dizer que as análises da demonstração em nossa época dependeram de dois fatores. Por um lado, da maior ou menor insistência no papel desempenhado pelo sujeito no processo da demonstração e na aceitação de uma proposição como demonstrada ou não demonstrada. Por outro lado, do maior ou menor destaque dado ao em­ pírico e ao formal. No que diz respeito ao primeiro ponto, alguns defenderam um psicologismo radical, se­ gundo o qual algo é demonstrado quando se aceita sua val idade, ao passo que outros pretenderam evitar ao má­ ximo possível todo fator psicológico. Quanto ao segun­ do ponto, enquanto a teoria da demonstração relativa ao empírico se baseou na análise de conceitos como a veri­ ficação (VER), a comprovação, a confirmação etc., a teo­ ria da demonstração relativa ao formal fundou-se no estudo do processo de prova na lógica e na matemáti­ ca. Estudaremos brevemente este último aspecto da ques­ tão no verbete PROVA (VER). Observemos aqui, não obs­ tante, que, embora neste último caso se tenha tendido a eliminar todo o psicológico, alguns autores sublinha­ ram que se deve levar em conta que certas proposições ou certos métodos são aceitos por alguns e negados por outros. Bridgman indicou, por exemplo, que a prova pela diagonal de Cantor é aceita como válida por certos matemáticos, enquanto outros duvidam de sua validade. Em vista disso, Bridgman indica que há algo "privado" na aceitação ou não-aceitação de uma prova. Isso con­ duz, aparentemente, a um subjetivismo. Há, porém, ma­ neiras de evitar esse perigo; de acordo com o autor citado, o operacionalismo (VER) é uma das teorias mais adequadas para tal propósito. DEMPF, ALOIS ( 1 89 1 - 1 982). Nascido em Altomünster (Baviera), foi professor de filosofia em Bonn a partir

DENIFLE, HEINRICH

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de 1 926 e em Viena a partir de 1 93 7 . Foi destituído pelos nazistas em 1 93 8 e se reincorporou como professor em Munique em 1 945. Além de seus trabalhos sobre fi­ losofia medieval, Dempf elaborou uma filosofia da cultu­ ra que procurava combinar motivos historicistas com uma concepção do mundo cristã. De acordo com Dempf, as condições históricas e sociais devem ser levadas em conta para uma maior compreensão da natureza da razão hu­ mana, mas esta tem fundamentos metafisicos que expli­ cam, por sua vez, as mencionadas condições. :> Obras: Weltgeschichte ais Tal und Gemeinschaft, 1 924 (A história do mundo como ação e comunidade). - Ku/turphi/osophie, 1 923 . Die Hauptfàrm der mit­ telalterlichen Weltanschauung, 1 925 (A forma princi­ pal da concepção medieval do mundo). - Ethik des Mittelalters, 1 927 ( Ética da Idade Média ). - Sacrum lmperium, 1 929. Metaphysik des Mittelalters, 1 930 (Metafísica da Idade Média). - Corres spricht zu un­ serer Zeit, 1 933 ( G. já/a a nosso tempo). - Meister Eckhart, 1 934. Kierkegaards Folgen, 1 935 (As con­ seqüências de K. ). - Religionsphi/osophie, 1 937. Christliche Staatsphilosophie in Spanien, 1 93 7 (A filo­ sofia cristã de Estado na Espanha). - Christliche Phi­ /osophie, 1 938. - Selbstkritik der Philosophie und ver­ g/eichende Phi/osophiegeschichte, 1 937 (A utocrítica da filosofia e história comparada da.filosofia) . - Theore­ tische Anthropologie, 1 950. - Die Weltidee, 1 955 (A idéia do mundo). - Die Einheit der Wissenschaft, 1 955 (A unidade da ciência). - Kritik der historischen Ver­ nunfi, 1 957 (Crítica da razão histórica). - Die unsicht­ bare Bilderwelt, eine Geistesgeschichte der Kunst, 1 959 (A expressão artística das culturas). - Geitesgeschichte der altchristlichen Kultur, 1 964 (História espiritual da cultura cristã antiga). - Religionssoziologie der Chris­ tenheit, 1 972 (Sociologia religiosa da cristandade). Póstuma: Metaphysik, 1 986. Ver: VV AA. , Festschrift fiir A. D. , Phi/osophia Viva, 1 96 l [com bibliografia completa] . F. Mords­ tein, "Die Philosophie des dialektischen Realismus: A. D. zum 80. Geburtstag", Phi/osophisches Jahrbuch, 78 ( 1 97 l ) , 1 34- 1 44. - R. Specht, "Laudatio für A. D.", Zeitschrift .fiir philosophische Forschung, 36 ( 1 982 ) , 95- 1 00. e --

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DENI FLE, HEINRICH. Ver NEO-ESCOLÁSTICA. DENOTAÇÃO. Já nos referimos à denotação no verbe­ te sobre o conceito de conotação. Completaremos agora com alguns esclarecimentos o que foi ali indicado. Para alguns autores a denotação é algo que se diz dos termos. Para outros, é algo que se diz dos conceitos. Em ambos os casos, porém, o que o termo ou o conceito denotam são entidades. Estas, por sua vez, podem ser concebidas ou como indivíduos ou como pensamentos

das entidades, isto é, como conceitos-objetos. Falaremos da denotação como algo que se refere ao termos; quanto ao denotado, ele será considerado uma entidade ou enti­ dades, sem que nos pronunciemos sobre o status onto­ lógico delas. Usualmente se contrapõe a denotação à conotação. Enquanto a primeira indica a referência do termo às en­ tidades correspondentes, a segunda indica as caracterís­ ticas constitutivas do próprio termo. Por esse motivo, admite-se em geral que a denotação é equivalente à ex­ tensão (VER) e que a conotação é equivalente à com­ preensão ou à intensão (vER). Pode-se observar facilmen­ te que há uma relação inversa entre denotação e conota­ ção, de maneira que um termo denota tanto mais quanto menos conota, e conota tanto mais quanto menos deno­ ta. Assim, o termo ' homem' denota mais que o termo 'árabe ' , e este conota mais que o termo ' homem' Pode­ se observar também que há casos nos quais a denota­ ção ou a conotação desaparecem. Assim, pode haver uma conotação não possuída por nenhuma entidade, ou pode haver denotação em certos termos - como ocorre com os pronomes demonstrativos - que não possuem ne­ nhuma conotação. A denotação foi às vezes equiparada a ' designação' (vrn), mas, como um signo pode ter algo designado (um designatum) sem necessariamente denotar algo, isto é, sem ter um denotatum, propôs-se distinguir denotação de designação. É freqüente relacionar a noção de deno­ tação com a de referência ( vrn), não tanto porque a de­ notação se funde em atos de referência como porque os problemas suscitados pela noção de denotação recaem em muitas das questões que se examinam ao abordar as referências (assim como as descríções). Segundo Quine, a semântica tem dois domínios: um é a teoria da significação e o outro, a da referência. Este autor indicou que a denotação pode ser definida como 'a verdade de' no sentido de que o termo ' azul' denota, ou é verdadeiro de, cada entidade azul. Outros autores, especialmente aqueles que insistiram na distinção entre designação e denotação, não aceitam a opinião de Quine a esse respeito. :> Entre os trabalhos influentes sobre o problema, des­ taca-se o artigo de Bertrand Russell, "On Denoting", Mind, N. S. 14 ( 1 905), compilado no volume de Russell, logic and Knowledge: Essays 1 9/ 0- 1 950, 1 956, ed. R. C. Marsh, e em Essays in A na/ysis, 1 973, ed. Douglas Lackey. Ver também: R. M. Martin, Truth and Denotation: A Study in Semantical Theory, 1 95 8 . - E. Bencivenga, 8. van Fraassen, K. Lambert, Logic Bivalence and De­ notation, 1 986. e DEÔNTICO. Este termo celebrizou-se desde que foi in­ troduzido por Georg Henrík von Wríght em seu artigo

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"Deontic Logic" (Mind, N. S. 40 [ 1 95 1 ] , 29-4 1 ; reimp. em von Wright, Logical Studies, 1 957, pp. 5 8-74) e em seu livro An Essay in Modal Logic ( 1 95 1 ) . Embora se pudesse usar 'deontológico ' em vez de 'deôntico ' , o pri­ meiro desses termos nunca foi muito empregado, e o substantivo 'deontologia' (ver DEONTOLOGIA, DEONTOLÓ­ GICO ) ficou bastante fora de circulação. Acrescente-se a isso que a deontologia, enquanto disciplina que se ocupa dos "deveres", teve no passado propósitos diferen­ tes das atuais investigações deônticas. Tudo isso justi­ fica que se dedique a "deôntico" um verbete específico. Há ainda certa vacilação no vocabulário - 'deôntico' e 'normativo ' usam-se muitas vezes como sinônimos. Por outro lado, o termo ' normativo ' foi utilizado em li­ nhas de pensamento não inteiramente coincidentes com as das investigações deônticas, razão por que também dedicamos um verbete específico a "normativo" (ver NORMA, NORMATIVO). Em todo caso, parte daquele ver­ bete é complemento deste. De acordo com o que indica von Wright, o termo 'deôntico' lhe foi sugerido por C. D. Broad, que o em­ pregou no artigo "Imperatives, Categorical and Hypo­ thetical" ( The Philosopher, 2 [ 1 950], 62-75). A história "oficial" de 'deôntico ' , particularmente na expressão ' lógica deôntica' , data de 1 95 1 , em virtude do citado ar­ tigo de von Wright, mas há numerosos antecedentes, alguns relativamente próximos e outros bastante distan­ tes, dessa lógica e de investigações filosóficas que po­ dem ser denominadas "deônticas" (ou também "norma­ tivas"). Esses antecedentes foram pontualmente apre­ sentados por Miguel Sánchez-Mazas na "Introducción" (pp. 2 1 -65, §§ 1 . 1 , l .2, l .3 , 1 .4) de sua própria lógica deôntica, publicada com o título de Cálculo de normas ( 1 973 ) . Atemo-nos principalmente aos numerosos dados proporcionados por este autor. Enquanto a lógica deôntica apareceu primeiro na esfera da lógica modal, seus antecedentes no pensamen­ to ocidental se encontram em autores que cultivaram logicamente as modalidades, e especificamente as mo­ dalidades temporais, como ocorreu com os megáricos ( vER) e com os estóico-megáricos. Na época moderna, pode-se destacar Leibniz, que é, de acordo com Sán­ chez-Mazas, "o primeiro antecedente direto do que cha­ mamos de Cálculo deôntico" No século XIX, temos Bolzano. No século XX, Jean Ray (Essai sur la struc­ ture logique du Code civilfi-ançais, 1 926). Não é uma casualidade que se trate de um jurista (e tampouco o é que se possa mencionar a esse propósito Hans Kelsen [vER] ). Em sua obra sobre sistemas normativos (Norma­ tive Systems, 1 97 1 ) , Carlos E. Alchourrón e Eugenio Bulygin destacaram a importância que tem a "ciência legal" como "um fundamento pré-analítico para estudos formais (e também como um campo interessante para a aplicação da lógica deôntica)" (op. cit. , p. 2). No cam-

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po juridico, afinal, as normas desempenham um papel fundamental; nesse campo, mais que na lógica em geral - como o haviam considerado alguns autores "nor­ mativistas" no final do século XIX e no começo do sé­ culo XX -, esboçam-se os traços básicos do que pode ser uma ciência normativa, distinta da ciência formal, por um lado, e da ciência empírica, por outro. Por isso, encontramos elementos de investigações deônticas em obras como a lntroducción a la lógica jurídica (publi­ cada no mesmo ano do artigo de von Wright, isto é, em 1 95 1 ), de Eduardo García Máynez, a Lógica jurí­ dica (Juristische Logik, também em 1 95 l ; 3' ed. , 1 966, trad. esp. de uma ed. anterior: Lógica jurídica, 1 96 1 ) , de Ulrich Klug, e trabalhos mais recentes de lógica jurídi­ ca, como os de Antonio Hernández Gil (Marxismo y po­ sitivismo lógico. Sus dimensiones jurídicas, 1 970; Meto­ dología de la ciencia dei Derecho, 2 vols., 1 97 1 ). Voltando agora a um fi lão mais estritamente fi lo­ sófico, ou lógico, encontram-se antecedentes de inves­ tigações deônticas, conforme aponta Sánchez-Mazas, em Alois Hiifler ( vER ) ("Abhiingigskeitsbeziehun­ gen z w i s c h e n den A b h ii n g i s k e i t s b e z i e h u n g e n , Kaiserliche Akademie der Wissenschafien i n Wien, Phi­ losophisch-historische Klasse, Sitzungsberichte 1 8 1 , vol. 4, 1 9 1 7, pp. 1 -56) e em Ernst Mally ( Grundgesetze des Sollens. Elemente der Logik des Willens, 1 926; reimp. em E . Mal ly, Logische Schriften, 1 97 1 , ed. Karl Wol ff, Paul Weingartner), que usou o substantivo Deontik ("Deôntica"). Pode-se acrescentar ainda Kurt Grelling, "Zur Logik der Sollsiitze" ( Unity ofScience Forum, j aneiro de 1 939, 44-4 7). Em geral, os autores que se interessaram pelas estruturas lógicas ou pelo "dever ser" ocuparam-se, tenham ou não usado a ex­ pressão, de "lógica deôntica" Desde a citada data de 1 95 1 , os estudos de lógica deôntica, cálculo deôntico, lógica das normas, sistemas normativos etc. se multipl icaram. Um dos autores que muitos cultivadores da lógica deôntica destacaram pela importância de seus estudos nesse campo, e especial­ mente em lógica jurídica, é Georges Kalinowski . Além dele, e dos autores mencionados nos parágrafos ante­ riores, podem ser citados Alan Ross Anderson, Lennart Aqvist, Robert B lanché, Héctor-Neri Castafieda, T. Cornides, Dagfinn Follesdal, Luis García San Miguel, Risto Hilpinen, Jaakko Hintikka, Franz von Kutschera, Luis Legaz y Lacambra, Chaim Perelman, A. N. Prior, Nicholas Rescher, Jesús Rodríguez Marín, Alf Ross, Zygmunt Ziembinski. Alguns deles tenderam a estudar mais especificamente a lógica jurídica; outros, a lógica deôntica ou a lógica dos sistemas normativos em geral; outros, ainda, as modalidades no âmbito das quais figu­ ram as investigações deônticas. Indicamos na bibliogra­ fia algumas obras que devem ser complementadas com os títulos mencionados no corpo do verbete.

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No verbete MoDALllJADE, assinalamos os tipos de modalidade distinguidos por von Wright e Robert Blan­ ché. Um desses tipos são as chamadas "modalidades deônticas": são as que se referem à execução ou à não­ execução (ou omissão) de atos. Dos atos, cabe dizer que estão "permitidos", que estão "proibidos", que são "obri­ gatórios" (e também, segundo alguns, que são "facul­ tativos" ou que são "indiferentes"). Há relações entre essas modalidades que são como a contrapartida das cláusulas modais 'é necessário que ' , 'é possível que ' , 'é impossível que ' etc. Por exemplo, assim como se diz, na lógica modal, que se algo é necessário é possível, de modo similar se pode dizer, na lógica deôntica, que se algo (um ato) é obrigatório é permissível (contudo, parece dificil aceitar que, se um ato é impossível, então não é permissível). Alguns autores consideraram que a lógica deôntica é apresentável como uma especificação da lógica modal. Em numerosos casos, os problemas suscitados em lógica modal se reproduzem no âmbito da lógica deôntica. En­ tretanto, surgiram dificuldades quando se buscou calcar mecanicamente a lógica deôntica sobre a modal. Um exemplo do desenvolvimento dessas dificulda­ des é oferecido pela obra de von Wright, que passou por várias etapas para enfrentá-las. Em princípio, as ex­ pressões deônticas parecem ser simplesmente paralelas a expressões modais e, além disso, que umas e outras sào simplesmente paralelas a expressões quantificacio­ nais. Em An Essay in Deontic Logic and the General Theory of Action ( 1 968, pp. 1 3- 1 4), von Wright refe­ riu-se a similaridades que encontrara entre três grupos de expressões: 1 ) expressões como 'alguns ' , ' nenhum ' , 'todos', isto é, quantificadores: 2) expressões como 'possíve l ' , ' impossível', 'necessário', isto é, expressões que designam conceitos modais; 3) expressões como 'permitido' 'proibido ' , 'obrigatório', isto é, expressões que designam conceitos deônticos ou normativos. Pode­ se observar o paralelismo de cada um desses grupos de expressões entre si. Com isso, parece haver uma analo­ gia entre lógica deôntica e lógica modal proposicional, de modo que cabe falar de um paralelismo entre ambas: assim, aos valores de verdade (verdadeiro e falso) no cálculo sentenciai corresponderiam valores de execução [atos] (executado e não executado ou omitido) no cálcu­ lo deôntico; às funções de verdade no cálculo sentenciai corresponderiam outras tantas funções de execução ( exe­ cutado estritamente falando, e não executado ou omi­ tido) no cálculo deôntico (com construção de "tabelas de execução" similares às tabelas de verdade); e às modalidades sentenciais (comprovado, falseado, litigio­ so, plausível, indeciso) corresponderiam outras tantas modalidades de execução (permitido, não-obrigatório, indiferente) no cálculo deôntico. Ora, esses paralelismos não parecem funcionar sempre, motivo pelo qual von Wright chegou à conclusão de que "uma lógica deôntica

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análoga à lógica modal proposicional é inadequada co­ mo uma formalização proposta de normas (regras) de ação" Para solucionar esse estado de coisas, ele desen­ volveu o que denominou uma "lógica da ação" - com noções como a de atuar e a de abster-se (de atuar) baseada numa "lógica da mudança" (que inclui símbo­ los que funcionam para descrições de estados de mu­ dança). A lógica da mudança está relacionada com a lógica de tempos (gramaticais). A lógica deôntica ou ló­ gica das normas resultante tem então três camadas: a lógica de proposições clássica, a lógica de mudança e a lógica da ação (Norm and Action: A Logical Enquiry, 1 963, p. 1 29). Embora continue havendo as noções bá­ sicas do tipo das execuções e omissões, a lógica deôntica resultante constitui um desvio mais importante com re­ ferência às teorias lógicas "standard" do que se admi­ tira originariamente. A proliferação de estudos de lógica deôntica condu­ ziu a distinções que no princípio não foram levadas em conta. Há acordo geral em considerar que a lógica deôn­ tica equivale a uma lógica de normas, mas as normas não são (ou não são "ainda") ordens, de maneira que se pode distinguir uma lógica de normas de uma de ordens ou de imperativos. Em todo caso, parece inadequado falar de enunciados imperativos, mas parece perfeita­ mente apropriado falar de enunciados deônticos e afir­ mar, como o faz Héctor-Neri Castaiieda ( The Structure of Morality, 1 974, p. 97), que "os juízos deônticos são enunciados, isto é, proposições" Pode-se falar também de uma lógica da preferência e da escolha. Entre as várias lógicas deônticas como lógicas de normas, limitamo-nos a mencionar as de Miguel Sán­ chez-Mazas, e Carlos E. Alchourrón e Eugenia Bulygin (cf. obras supra). Sánchez-Mazas elaborou um cálculo deôntico geral que combina e integra três cálculos par­ ciais distintos correspondentes a três esferas: a norma­ tiva pura ou esfera de normas; a fálica pura ou esfera de ações: e a esfera deôntica geral ou normativo-fálica. O mencionado autor considera que seu cálculo é passí­ vel de várias interpretações, mas "foi concebido princi­ palmente em vista de suas aplicações jurídicas" (op. cit. supra, p. 64). Ele tem, em todo caso, a vantagem de in­ corporar a esfera fática, que é negligenciada por muitos autores. Alchourrón e Bulygin desenvolvem uma teo­ ria de sistemas normativos na qual se evita a ambigüi­ dade do termo 'permitido ' distinguindo normas de pro­ posições normativas, isto é, proposições acerca de normas. De acordo com esses autores, "um problema normativo pode ser considerado uma questão referente ao status deôntico de certas ações, isto é, sobre se essas ações estão permitidas ou proibidas, se são obrigatórias etc." (op. cit. supra, p. 1 0). � Além dos escritos mencionados no corpo do verbe­ te, ver: Eduardo García Máynez, Los principias de la

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DEÔNTICO

ontologíaformal dei Derecho y su expresión simbólica, 1 95 3 . - !d. , Lógica dei juicio jurídico, 1 95 5 . - !d. , Lógica dei concepto jurídico, 1 959. - A. N. Prior, "The Paradoxes of Derived Obligation", Mind, N. S. 63 ( 1 954), 64-65. - !d. , Time and Moda/ity, 1 957. Alan Ross Anderson, 'The Fonnal Analysis ofNonnati­ ve Systems", em N. Rescher, ed., The Logic ofDecision and A ction, 1 966, pp. 1 47-2 1 3 . !d. , "Reduction of Deontic Logic to Alethic Modal Logic", Mind, N. S. 67 ( 1 958), 1 00- 1 03 . Héctor-Neri Castaiíeda, "On the Logic of Nonns", Methodos, 9 ( 1 957), 209-2 1 5 . !d. , "Un sistema general de lógica normativa", Dianoia, 3 ( 1 957), 303-3 3 3 . /d. , "The Logic of Obligation", Philosophical Studies, 1 9 ( 1 959), 1 7-23 . /d. , "Obli­ gation and Modal Logic", Logique et Anazvse, 3 ( 1 960), 40-48. !d. , "lmperatives, Decisions and Oughts: A Logico-Metaphysical Inquiry Into the Language of Ac­ tion", em H.-N. Castaiíeda e G. Nakhnikian, eds., Mora­ lity and the Language of Conduct, 1 963, pp. 2 1 9-299. !d. , "Acts, the Logic of Obligation, and Deontic Calculi", Crítica, 1 ( 1 967), 77-99, e Philosophical Stu­ dies, 1 9 ( 1 968), 1 3-26. - /d. , "Actions, Imperatives, and Obligations'', Proceedings of the Aristotelian Socie­ ty, 68 ( 1 967- 1 968), 25-48. - K. Jaakko Hintikka, "Quantifiers in Deontic Logic", Societas Scientiarum Fennica., Comm. humanorum litterarum, 23, n. 4 ( 1 957). - /d. , Models for Modalities, 1 969. - /d. , "Some Main Problems in Deontic Logic", em Risto Hilpinen, e d . , Deon tic Logic: ln troductory and Systematic Readings, 1 97 1 , pp. 59- 1 04. - Luis Legaz y Lacambra, "Lógica como posibilidad dei pensamiento jurídico", Anuario de Filosofia dei Derecho ( 1 957). - Nicho las Rescher, "An Axiom System for Deontic Logic", Philo­ sophical Studies, 9 ( 1 958), 24-30. - !d. , "Corrigenda", loc. cit. , p. 64. - !d. , "Conditional Permission in Deon­ tic Logic", Philosophical Studies, 1 3 ( 1 962), 1 -6. /d. , "Recent Developments and Trends in Logic", Lo­ gique et A nalyse, 9 ( 1 966), 269-279 (trad. esp . : "Desar­ rollos y orientaciones recientes en lógica", Teorema, 1 [ 1 97 1 ] , 5 1 -64). - /d. , The Logic oJ Commands, 1 966. - Paul Taylor, Normative Discourse, 1 96 1 . - Robert Nozick e Richard Routley, "Escaping the Good Sama­ ritan Paradox", Mind, N. S., 7 1 ( 1 962), 377-382. Lennart Aqvist, "Postulate Sets and Decision Procedure for Some Systems of Deontic Logic", Theorie (Lund), 1 9 ( 1 963), 1 54- 1 75 . /d. , "Interpretations of Deontic Logic", Mind, N. S. 73 ( 1 964), 246-253. - /d. , '"Next' and ' Ought' Alternative Foundations for von Wright's Tense-Logic, with an Application to Deontic Logic", Logique et Ana/yse, 9 ( 1 966), 23 1 -25 1 . Zygmunt Ziembinski, Normy moralne a normy prawne, 1 963. - W. H. Hanson, "Semantics for Deontic Logic", Lo­ gique et Analyse, 8 ( 1 965), 1 77- 1 90. - E. J. Lemmon, "Deontic Logic and the Logic of lmperatives", ibid. , 8 -

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DEONTOLOGIA, DEONTOLÓGICO

DEONTOLOGIA, DEONTOLÓGICO. O grego

ÔÉov, particípio neutro do impessoal ÔEL, significa "o obrigatório, o justo, o adequado" Jeremy Bentham re­ correu a esse termo para cunhar o vocábulo "deonto­ logy", em seu Deontology, or the Science o{Mora/ity, 1 834 . A de()ntologia é a ciência dos deveres. Em Ben­ tham, ela estuda os deveres que devem ser cumpridos para se atingir o ideal utilitário do maior prazer pos­ sível para o maior número possível de indivíduos. Des­ se ponto de vista, a deontologia é uma ciência de nor­ mas que servem de meios para alcançar normas que se consideram fins. Desde Bentham, foi comum não considerar a deon­ tologia uma disciplina estritamente normativa, mas uma disciplina descritiva e empírica cujo fim é a determi­ nação dos deveres que cabe cumprir em determinadas circunstâncias sociais, e muito especialmente no âmbi­ to de uma profissão determinada. Parece que foi C. D. Broad que introduziu a classificação, agora clássica, das éticas em teleológicas e deontológicas. Josep-Maria Terricabras expõe assim a diferença entre ambos os enfoques: "Os dois aceitam que se deve fazer sempre o bem. O ponto de discussão reside, portanto, apenas no seguinte: ! se uma ação é moralmente boa JillL sL me�111 a . ou/ por causa de suas conseqüências.: O deontologismo\ opina que as conse­ qüências não são decisivas para a bondade ou maldade ' da ação, mas que esta depende de critérios absolutos; daí que às vezes, com referência a esta posição, se fale também de absolutismo. O teleologismo, em contra­ partida, diz que as conseqüências são decisivas para a avaliação moral de um ato e por isso recebe também, ocasionalmente, o nome de "conseqüencial ismo" (op. cit. bibliografia infra, pp. 1 07- 1 08). Terricabras mostra, ademais, que embora certas éticas se apresentem como estritamente deontológicas, amiúde devem recorrer, na prática, a argumentações de caráter teleológico. Em muitos casos, prescindir por completo das conseqüên­ cias dos próprios atos pode mostrar-se um princípio moral de difícil apl icação prática. Rosmini falou de "ciências deontológicas" e "ciên­ cias ontológicas": estas últimas estudam o ser como é, enquanto as primeiras o estudam como deve ser. Entre­ tanto, não há para Rosmini uma separação completa entre essas ciências. A deontologia tem de ser completa­ da pela ontologia e vice-versa. Uma e outra constituem dois itens nas � i as de raciocínio, diferentes das ciên­ _ cias intuitivas, que se ocupam do conhecimento. :> Ver: C. D. Broad, Five Tjipes o/Ethical Theory, 1 930. - J. M. Terricabras, Etica i /libertai, 1 983; 2ª ed., 198 9. Os vocábulos ' deontologia' e 'deontológico' caíram em desuso, embora não tenham sido completamente abandonados ( cf. Peter A. Carmichael, "The Logical ••

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Ground of Deontology", Journal of Philosophy, 46 [ 1 949), 29-4 1 ; Claude Desjardins, Dieu et / 'obligation mora/e. L'argument déontologique dans la scho/astique récente, 1 963; D. A. Rohatyn, Naturalism and Deonto­ /ogy: An Essay on the Problems ofEthics, 1 975, et ai. ) . Por outro lado, nas últimas décadas houve u m crescente uso do termo ' deôntico' de igual maneira, mas, com a finalidade de ajustar-nos ao vocabulário mais difundido, dedicamos um verbete específico a D EôNTICO. ' por · � · . A linha vertical indica o alcance da derivação. Em cima da linha horizontal estão as premissas. Essas premissas são tomadas como pressupostos. Debaixo da linha horizontal se acham as fórmulas que se afirmam dos pressupostos. As expres­ sões à direita dão razão de cada uma das derivações. Aqui, seguiram-se somente os princípios, mas não ainda as regras antes apontadas. O uso das regras faz­ se acompanhar do dos princípios. Ao mesmo tempo, as regras justificam a aceitação dos princípios. No exemplo de derivação mencionado antes, as linhas 4 (B 11 C), 6 (W) e 8 ((B /\ W) � P) são reiterações respectivamente das linhas (que expressam as premissas) 2, 1 e 3 . DERIVAÇÕES. Ver PAREro, V1LFRE00; RE s iouos . DERRIDA, JACQUES. Nascido ( 1 930) em El Biar, Argel, professor na Escola Normal Superior, de Paris, colaborou, entre outras publicações, no Tel Que!, o que levou alguns a filiá-lo ao estruturalismo (VER ) francês contemporâneo. Mas, embora se tenha ocupado de te­ mas abordados por autores estruturalistas (Lévi-Strauss, Lacan) ou afins ao estruturalismo (Foucault), Derrida combinou esses temas com inspirações procedentes da fenomenologia de Husserl, de Heidegger e de Hegel. De todo modo, o método adotado por Derrida é o que ele denominou "desconstrução" Em alguma medida, Derri­ da levou às últimas conseqüências algumas das atitudes do último Heidegger, acentuando o caráter não represen­ tativo da linguagem. Isso equivale a situar-se, de imedia­ to, contra todo "logocentrismo", ou discurso racional . Mas o logocentrismo, por seu turno, faz parte do tecido de todos os discursos, que se encontram todos no mes-

mo nível, não tendo nenhum deles privilégio. A própria desconstrução não é suficiente, e é talvez impossível, porque toda desconstrução é seguida por uma constru­ ção que deverá ser "descontruída", e assim sucessiva­ mente. A linguagem tem de dissolver-se para dar lugar à "escritura" O saber da escritura, a gramatologia, é um saber do que está escrito, e isto é independente do logos e da verdade. A própria escritura é uma con­ dição da episteme (De la grammatologie, p. 43). Por isso, não se trata de elaborar uma ciência, mas de fazer aparecer o horizonte histórico no qual a escritura tem lugar. Não se pode dizer sequer que o "fora" é o "den­ tro", porque o "é" do "fora" e do "dentro" é eliminado, à maneira do "Ser" e possivelmente por iguais motivos. Não se trata, por conseguinte, de reabilitar a escritura, pois esta somente foi possível com a condição de que "a linguagem 'original ' , 'natural ' etc. nunca tenha existi­ do, de que jamais tenha estado intacta, intocada pela escritura, de que ela mesma tenha sido uma escritura" (op. cit. , p. 82). Não há, segundo Derrida, nenhum lugar central pelo qual discorra a filosofia, porque o que há não é nenhum "discorrer" Os temas tratados por Derrida são totalmen­ te opostos aos tradicionais; são temas marginais, mas não são marginais em relação a supostos temas centrais: a marginalidade é a centralidade. Nas "margens", nos comentários, nas notas, aparece o essencial, que é ines­ sencial, o livro que está "fora do livro". A verdade está disseminada ao longo de uma diferença (ver DIFEREN­ ÇA): difere-se tudo porque tudo se dissemina. O escrito (l 'écrit) corre lado a lado com a tela (l 'écran) e esta lado a lado com o cofre (l 'écrin). Os jogos de palavras dei­ xam de ser jogos j ustamente por sê-lo. Não se fala do primeiro nem do último, mas do antepenúltimo. O pen­ samento é a coluna e a encruzilhada. Repetição, polis­ semia, diferença e disseminação são instrumentos para uma "desconstrução" da escrita. Todas as escritas, incluindo a escrita sobre essas es­ critas, entrecruzam-se, fazendo-se e desfazendo-se per­ petuamente. A inclusão desfaz-se; a exclusão constitui­ se com base em um discurso possível (que também é incluível). Derrida margina e fragmenta; não se trata de antologia, nem sequer de fragmentos de antologia, mas de fragmentos desses fragmentos. O que se busca é religar (relier) e reler (relire) a partir de todos os pon­ tos de vista e de todos os fragmentos. Com isso, Derrida almeja "vomitar a filosofia", enviá-la ao campo geral que quis dominar, confrontá-la com a ficção e com ou­ tras práticas de escrita sobre as quais havia almejado exercer o domínio. Com isso procede-se à decapitação da filosofia. Mas situar-se no limite do discurso filosó­ fico é apenas um modo de situar-se no limite de todos os discursos. A desconstrução é acompanhada pela, ou entrecruzada com a, recomposição, pelo deslocamento, pela dissociação de significantes como interrupção de

DESCARTES, RENÉ

sínteses, por todo desejo de uma separação. Os temas antifilosóficos, e antidiscursivos, de Derrida transfor­ mam-se então em palavras, que são as que aparecem e reaparecem, como se fossem obsessões: diferença, espa­ çamento, disseminação, enxerto, marca; margem, phar­ makon, hímen e, é claro, desconstrução. � Obras: La voix et !e phénoméne. lntroduction au probléme du signe dans la phénoménologie de Hus­ serl, 1 967. - L'écriture et la différence, 1 967 (inclui vários escritos, publicados anteriormente em revistas, como "Force et signification", "Cogito et histoire de la folie", "Violence et métaphysique. Essai sur la pensée d ' Emmanuel Lévinas", '"Genése et structure ' et la Phé­ noménologie", "La parole soufflée", "La scéne de l 'écri­ ture", "La clotüre de la représentation", "De l 'économie restreinte à l 'économie générale. Un hégélianisme sans réserve", "La structure, le signe et le j eu", "Ellipse"). - De la gramatologie, 1 967 (a primeira parte intitula­ se : "L'écriture avant la lettre"; a segunda: "Nature, Culture, É criture"). - "La Différence", Bulletin de la Société Française de Philosophie, 62 ( 1 968), 73- 1 0 1 ; reimp. em M. Foucault, J. Derrida et ai. , Théorie d 'en­ semble, 1 968. - La dissémination, 1 972 (inclui: "Hors livre", "La Pharmacie de Platon", "La double séance", "La dissémination"). -- Marges, 1 972. - Positions, 1 972 (entrevistas de Henri Ronse, Julia Kristeva, Jean­ Louis Houdebine e Guy Scarpetta com J. D.). - L'ar­ chéologie dufrivole, 1 973. - Glas, 1 974. - Telepathie, 1 982. - Éperons, 1 978. - La vérité en peinture, 1 978. - La carte posta/e, 1 980. - D 'un ton apocalyptique adopté naguére en philosophie, 1 983. - Parages, 1 986. - De l 'e�prit. Heidegger et la question, 1 98 7 . - Psy­ ché. lnvention de l 'autre, 1 98 7 . E m português: D o e�pírito, 1 990. - Enlouquecer o subjétil, 1 998; - A escritura e a diferença, 2• ed., 1 995. - Espectros de Marx, 1 994. - A farmácia de Platão, 1 99 1 . - Gramatologia, s.d. - Jacques Derrida (em colaboração com G. Bennington), s.d. - Khora, 1 995. - Limited, lnc., s.d. - Margens da filosofia, 1 99 1 . O olho da universidade, 1 999. - Paixões, 1 99 5 . A religião (em colaboração com G. Vattimo), 2000. Salvo o nome, 1 995. - A voz e o fenômeno, 1 994. Bibliografia: J. M. Miller, French Structuralism: A Multidisciplinary Bibliography, 1 98 1 . - W. R. Schultz, L. L. 8. Fried, 1 Derrida: An Annotated Primary and Secondary Bibliography, 1 992. Ver: Luce Fontaine-De Visscher, "Des priviléges d'une grammatologie", Revue philosophique de Lou­ vain, 67 ( 1 969), 46 1 -475. - Lucette Finas, Sarah Kof­ man, R. Laporte, Jean-Michel Rey, Ecarts, quatre essais à propos de 1 D. , 1 97 3 . - F. Laruelle, Machines tex­ tuelles. Déconstruction et libido d 'écriture, 1 976. Clement Rosset, La dé-construction de la pensée, 1 976. - Newton Garver, Richard Rorty, Marjorie Grene, "The

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671 está n o ponto médio, mas e m outro mais capital: n o fato de que Descartes representou, para usar uma expressão de Ortega, um novo "nível" na filosofia, e no fato de que esse nível foi justamente o que chamamos de "moderno" A filosofia de Descartes não pode ser reduzida, como às vezes foi feito, à metodologia. Essa filosofia é um conjuto muito complexo de diversos elementos: método, metafisica, antropologia filosófica, desenvolvi­ mentos científicos (especialmente matemáticos), preo­ cupações religiosas e teológicas etc. É plausível, no en­ tanto, começar destacando a busca cartesiana de um novo método. Este não deve ser, como segundo o nosso fi lósofo era a silogística aristotélica, uma mera ordena­ ção e demonstração lógica de princípios já estabelecidos, mas um caminho para a invenção e para a descoberta. Esse caminho deve estar aberto a todos, isto é, a todos que participam da razão e do "bom senso" O exemplo da matemática, na qual a análise (vER) constitui uma arte inventiva, representa a principal inci­ tação do método cartesiano. A primeira condição para sua realização consiste (Discurso, II) em "não admitir como verdadeira nenhuma coisa que não se saiba com certeza que o é", evitando a precipitação e a prevenção e aceitando somente o que se apresenta clara e distinta­ mente ao espírito; a segunda, em "dividir cada dificul­ dade em quantas partes seja possível e em quantas par­ tes exija sua melhor solução"; a terceira, "em conduzir os pensamentos ordenadamente", começando pelos objetos mais simples e fáceis de conhecer para ascen­ der gradualmente aos mais compostos; e a quarta, "em fazer sempre um inventário tão integral e revisões tão gerais que se fique seguro de não omitir nada" Essas quatro regras célebres resumem todos os caracteres es­ senciais do método. Para Descartes, em princípio não se pode conhecer nenhuma verdade a menos que seja imediatamente evidente. Mas a evidência (vER) como único critério admissível deve possuir as características da clareza e da distinção (ver CLARO). Descartes chama as idéias que possuem essas características de nature­ zas simples (vER) (naturae simplices). Seu conhecimento se efetua por uma intuição direta do espírito; sua verdade é, ao mesmo tempo, sua evidência imediata. Daí a ne­ cessidade de decompor toda questão em seus elementos últimos e mais simples e em reconstruí-la para a prova com os mesmos elementos, isto é, com suas próprias e primárias evidências. Toda verdade é composta, por conseguinte, por evidências originárias, simples, irredu­ tíveis, ou por noções relacionadas a elas. O que o espí­ rito deve fazer é distinguir o simples do composto e investigá-lo ordenadamente até chegar a um sistema de elementos no qual o composto possa ser reduzido pro­ gressivamente a algo mais simples. Essa regra é funda­ mental, "e não há" - diz Descartes explicitamente "outra mais útil, pois ela diz que todas as coisas podem

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ser dispostas em séries distintas, não enquanto se refe­ rem a algum gênero do ente, tal como as dividiram os filósofos conforme suas categorias, mas enquanto umas podem ser conhecidas por outras, de tal modo que, toda vez que ocorrer alguma dificuldade, possamos nos dar conta no momento se talvez seja útil examinar pri­ meiro algumas e quais e em que ordem" (Regulae, VI). Em outros termos, o verdadeiro segredo do método e nenhum saber é possível sem método - consiste em retomar ao mais "absoluto" Descartes busca uma proposição apodítica; não apenas uma verdade fundamental - pois as verdades de fé também possuem esse caráter -, mas uma verdade crível por si mesma, independentemente de toda tradição e autoridade; uma verdade, além disso, da qual se de­ duzam as restantes por meio de uma série de intuições no curso de uma cadeia dedutiva. Essa verdade há de ser, por outro lado, comum a todo espírito pensante, de tal modo que seja acessível a todo pensar, sempre que ele funcione de modo reto e se afaste de tudo o que se inter­ ponha para desviá-lo ou entorpecê-lo, pois "nada pode ser acrescentado à pura luz da razão que de algum modo a obscureça" Em outros termos, o espírito possui, pelo mero fato de ser suj eito pensante, uma série de princípios evidentes por si mesmos, idéias inatas (ver INATISMO), com as quais opera o conhecimento, o qual reduz a elas, mediante relacionamento e comparação, todas as outras noções que surjam da percepção e da representação. Esse afã de clareza e de evidência reve­ la-se no processo da dúvida (vER) metódica, que elimina todas as objeções que poderiam opor-se a essa funda­ mentação nos últimos elementos intuitivos. Na dúvida metódica indaga-se pelo último critério de toda verdade. Não é urna dúvida em um sentido cético com urna fina­ lidade niilista ou com um propósito moral: duvida-se justamente porque somente da dúvida pode nascer a cer­ teza máxima. A dúvida põe apenas entre parênteses os juízos, mas não as ações. Toda irresolução nestas últimas é suprimida pelo que Descartes chama de "moral pro­ visional", indispensável para não converter a atitude du­ bitativa em uma destruição da ordem moral, política e religiosa existente. Descartes passa a duvidar de tudo, e não apenas das autoridades e das aparências do mundo sensível, mas também das próprias verdades matemáticas. O processo da dúvida é levado a suas últimas conseqüências pela hipótese do "gênio maligno" (ma/in génie), introduzido por Descartes para esgotar completamente a série de possíveis dubitações. Poderia existir, indica ele, um gê­ nio maligno onipotente que se propusesse enganar o homem em todos os seus juízos, inclusive naqueles que, como os matemáticos, parecem isentos de toda sus­ peita. Mas, uma vez praticada essa dúvida metódica e radical enquanto o espírito pensa na possibilidade de

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todo tipo de falsidades, ele percebe que há algo de que não é possível duvidar de maneira alguma, isto é, de que o próprio sujeito pensa. A dúvida se detém, final­ mente, nesse pensamento fundamental, no fato primário de que, ao duvidar, pensa-se que se duvida. Esse núcleo irredutível no qual o duvidar se detém é o Cogito ergo sum (VER ) . Penso, logo existo; eu sou, pois, uma coisa pensante, algo que permanece irredutível após o duvidar absoluto (Discurso, IV Meditações, II). O Cogito é, por conseguinte, a evidência primária, a idéia clara e dis­ tinta por antonomásia (idéia distinta, certeza primária, pois, mais que primária realidade). Essa proposição é j ulgada por Descartes como uma verdade inalterável "pelas mais extravagantes suposições dos céticos" O Cogito - que não deve ser interpretado como um mero ato intelectual, mas como um "possuir na consciência" - afirma que "eu sou uma coisa pensante" com com­ pleta independência da coincidência do pensar com a situação objetiva e até mesmo da própria existência dessa situação. Pois bem, o momento imanente do Cogito é trans­ formado rapidamente em um momento transcendente. Isso ocorre na demonstração da existência de Deus e nas sucessivas afirmações da substancia l idade da alma e da extensão dos corpos. Por isso o Cogito representa a posição de um idealismo que não renuncia ao realismo e que, por outro lado, não se satisfaz com o imanen­ tismo da consciência. Daí que sua função seja distinta da que é apresentada no pensamento moderno pelo fenomenalismo espiritualista de Berkeley e pelo criticis­ mo de Kant. Embora Descartes tenha em comum com esses autores a participação nos pressupostos do idea­ lismo moderno, distingue-se deles por admitir, ao mesmo tempo, não poucos pressupostos realistas. Em todo caso, Descartes almeja sair o mais cedo possível do fenõmeno ou da consciência com o fim de encon­ trar uma realidade que lhe garanta a existência das realidades. Isso ocorre por meio da passagem, já indi­ cada, para a demonstração da existência de Deus (vER ) . Somente Deus pode garantir a coincidência entre tais evidências e suas existências correspondentes. Como demonstração principal Descartes usa o argumento ontológico, mas lhe confere um sentido distinto ao deduzir a existência de Deus de sua idéia como ser infinito no ãmago da consciência finita. Somente por­ que uma natureza infinita existe, pode ela põr sua idéia em uma natureza finita que a pensa. Assim, essa de­ monstração é uma superação do solipsismo da cons­ ciência e uma passagem para o reconhecimento da rea­ lidade e da consistência das objetividades. Busca e descoberta do método (e de suas regras), processo metódico da dúvida, evidência do Cogito e de­ monstração da existência de Deus são quatro elementos fundamentais da filosofia cartesiana. O que liga esses

6 72 elementos é o esforço para encontrar proposições apo­ díticas que sejam ao mesmo tempo explicativas do real. A razão na qual Descartes começou a "encerrar-se" não é, com efeito, uma razão puramente formal. Ou, se essa razão é formal, ela o é em um sentido mais pare­ cido com as razões da matemática, nas quais há inven­ ção e descoberta e não apenas ordenação ou pura "dia­ lética" A razão cartesiana pode ser considerada, além disso, intuitiva, no sentido de que parte de intuições (ver INTUIÇÃO) para desembocar em intuições, em uma cadeia que tem de ser perfeitamente transparente. Pois bem, a filosofia de Descartes não se detém na passa­ gem da prova de existência do eu como eu pensante para a prova de Deus como ser infinito capaz de garan­ tir ao eu pensante as verdades, e particularmente as ver­ dades eternas. O eu apreende-se a si mesmo como na­ tureza pensante, e apreendeu a Deus como alguém que "concorre comigo para formar os atos de minha vonta­ de'', mas Descartes julga que se deve considerar tam­ bém se há coisas externas. Essa consideração se faz, é claro, ao fio da idéia clara e distinta do externo. Tal idéia leva à consideração de outra substância também clara e transparente, a substância corporal enquanto substân­ cia extensa. A distinção entre substância pensante e substância extensa é absolutamente clara justamente por­ que cada uma delas se define pela exclusão da outra: o que é pensante não é extenso; o extenso não pensa. A extensão não é a essência do eu pensante; o pensamento não é a essência da realidade extensa. Assim são forma­ das duas substâncias separadas e claramente definidas, na medida em que possamos dizer que são propriamente substâncias, já que, em alguma medida, somente Deus é substância. A conseqüência disso é um dualismo (e, segundo alguns autores, se levarmos em conta Deus, um "trialismo"). Consideremos agora somente o citado dualismo. Este último estabeleceu problemas muito agudos a Descartes, particularmente ao longo da famosa questão da relação entre alma e corpo como relação entre substâncias. Uma parte considerável do pensamento racionalista pós-carte­ siano (Malebranche, ocasionalistas [ver ÜCASIONALISMO], Spinoza, Leibniz) ocupou-se dessa questão, dando-lhe soluções muito diversas. Mas seria errõneo pensar que há no pensamento de Descartes apenas uma metafisica: a separação das duas substâncias, embora metafisica­ mente incômoda, segundo Descartes é cientificamente fecunda. Ela é, em todo caso, o fundamento da doutri­ na do homem (da "psicologia") e da doutrina do mundo (da tisica). Da tisica cartesiana haveria muito a dizer. Podem ser encontradas em várias partes de sua obra - espe­ cialmente nos Princípios de filosofia - elementos que permitem concluir que Descartes não foi tão extremado como pareceu em sua concepção das realidades fisi-

673 cas como puras substâncias extensas; a questão das forças que se manifestam nos corpos é, para Descartes, como para todos os fisicos, uma questão capital. Mas, grosso modo, pode-se dizer que a fisica cartesiana aparece sob a forma de uma estática dominada pelo sistema das relações espaciais. As qualidades e as supostas forças ínsitas na natureza dos corpos são eliminadas; de outro modo não se poderia entender racionalmente a substân­ cia extensa. Isso equivale em grande parte a considerar a fisica do ponto de vista da geometria. Também equi­ vale a adotar o que foi chamado posteriormente de "o método redutivo de análise", ao menos dentro de cada um dos tipos fundamentais de substância. É curioso observar que mesmo quando Descartes se opôs firme­ mente em sua fisica às teorias escolásticas, por consi­ derar que essas teorias se fundavam em certas supostas "virtudes" dos corpos, das quais se procedia a derivar racionalmente suas propriedades, sua própria fisica é em muitos pontos não menos metafisica que a dos esco­ lásticos. Com efeito, Descartes procura derivar certas teorias fisicas - matéria como um complexo de "torve­ linhos" - das propriedades racionais da matéria como substância extensa. A "psicologia" de Descartes não segue inteiramente as linhas da racionalização geometrizante que opera na fisica. Por um lado, há nas idéias psicológicas de Des­ cartes muito mais descrição que dedução racional. Por outro lado, Descartes tem consciência de que, embora todas as operações psíquicas sejam cogitações, a única coisa em comum a todas elas é seu caráter intencional. Os fenômenos da vontade, por exemplo, não se redu­ zem facilmente aos da inteligência. Pois bem, mesmo assim, Descartes busca encontrar em sua "psicologia" um método baseado na clareza e na distinção. Por isso cada uma das variedades dos modos psíquicos tem de ser deduzida da própria essência desse modo. Assim, Descartes define as paixões como "reações" As prin­ cipais "reações" são a admiração (vER), o amor, o ódio, o desejo (vER), a alegria e a tristeza. A vontade (vER) é a faculdade de julgar ou abster-se de julgar, de consen­ tir ou negar o juízo. Essa vontade é infinita e completa­ mente livre para dar ou não sua adesão, pois o enten­ dimento mostra simplesmente à vontade o que ela deve escolher. A infinidade da vontade contrapõe-se à fini­ tude do entendímento: o erro (VER) baseia-se não apenas na adesão às representações confusas e obscuras, mas no ato volitivo que ultrapassa o caráter limitado do en­ tendimento. Mas os pressupostos da filosofia carte­ siana tampouco se esgotam na tendência à redução do complexo ao simples. Há nela a idéia de que é possível reconstruir o universo inteiro com base em elementos simples; há a segurança de que se alcançou pela primeira vez uma segurança intelectual completa; há a confiança em que todo homem, pelo mero fato de sê-lo, pode

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chegar ao conhecimento sempre que utilize o método conveniente. O que importa para a verdade é, pois, menos a penetração espiritual que o adequado uso do método. Há, por fim, o pressuposto de uma ordenação da Natureza ou, mais ainda, de uma ordenação segundo uma lei matemática, pois o método contrapõe-se conti­ nuamente à sorte. Por isso o método é como a chave de uma linguagem. E por isso a filosofia de Descartes é quase o "programa" da época moderna, ao menos en­ quanto exploração das possibilidades da razão. Como em todos os verbetes sobre os grandes filóso­ fos, a exposição aqui apresentada deve ser completada com as referências a Descartes que figuram em outros verbetes deste Dicionário. Já indicamos alguns deles no decorrer da exposição (ANÁLISE; CLARO; COGITO ERGO suM; INATISMO etc.); ao leitor será fácil recorrer a outros conceitos básicos (CRIAÇÃO; ESPAÇO; TEMPO etc.). A filosofia de Descartes foi objeto de numerosas interpretações. Mencionaremos somente três grupos de teorias sobre três pontos considerados centrais. Um desses grupos de teorias se refere a um aspecto sociológico-histórico: trata-se de saber se é preciso inter­ pretar sempre de modo mais ou menos literal o que Des­ cartes escreveu ou de se é preciso considerar Descartes um "filósofo mascarado", que oculta seu verdadeiro pen­ samento (Larvatus prodeo) por medo das conseqüên­ cias que sua manifestação poderia acarretar. A interpre­ tação dos escritos de Descartes como expressão do pensamento autêntico do filósofo é não apenas a tradi­ cional, mas também a geralmente aceita hoj e por todos os expositores do cartesianismo. A interpretação de Descartes como "filósofo mascarado" foi proposta por M. Leroy. Outro desses grupos diz respeito ao interesse predo­ minante de Descartes. Para alguns o único interesse do filósofo consistiu em fundamentar filosoficamente a nova ciência natural, ou mesmo desenvolver pura e sim­ plesmente esta última. Para outros (como Léon Blan­ chet), Descartes pretendeu fazer o mesmo que a Igreja Católica tentou freqüentemente: estabelecer um equilí­ brio entre teologia e filosofia, e entre revelação e razão. Para outros (Cassirer), Descartes se interessava, como filósofo teórico, pela fundamentação filosófica da nova ciência, e, como crente, pela obtenção da pa.x fidei . Para outros (H. Gouhier), pode-se fazer a distinção entre Des­ cartes e o cartesianismo e atribuir a cada um deles não interesses opostos, mas uma certa acentuação desses in­ teresses em um sentido ou em outro. Outro desses grupos, por fim, diz respeito à estru­ tura da obra filosófica de Descartes e à função desem­ penhada nela por certas afirmações (como o Cogito ergo sum). Para alguns (M. Guéroult), Descartes foi sobre­ tudo um raciocinador, cuj a filosofia seguiu uma estrita "ordem das razões"; para outros (F. Alquié), ele conce-

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beu as verdades fundamentais como "experiências ontológicas" :> Obras: Discours de la méthode pour bien conduire la raison et chercher la vérité dans les sciences. Esse Discours apareceu anonimamente em 1 637, junto com os tratados de Dioptrique, Météores e Géométrie dos quais constituía o prefácio -, com o título comum de Essais philosophiques. Tradução latina, revisada por Descartes, do Abbé Étienne de Courcelles, com o nome de Specimina philosophica ( 1 644) com exclusão da Geometria (trad. por Schooten e publicada em 1 649). Meditationes de prima philosophia, ubi de Dei exis­ tentia et animae immortalitate; his adjunctae sunt variae objecrione.1· doctorum virorum in istas de Deo et anima demonstrationes cum responsionibus auctoris, 1 64 1 (as objeções procedem de: Caterus de Amberes; de savants de Paris reunidas por Pe . Mersenne; de Hobbes; de Ar­ nauld; de Gassendi; de vários teólogos e filósofos). A segunda edição ( 1 642) apareceu com o título: Medita­ tiones de prima philosophia, in quibus Dei existentia et animae humanae a corpore distinctio demonstratur, incluindo as "objeções sétimas" do j esuíta Bourdin. Trad. fr. das Medi/aciones pelo Conde de Luynes e das "objeções e respostas" por Clersier em 1 64 7. Renati Descartes Principia philosophiae, 1 644 (trad. fr. por Picot, 1 647). - Le.1· passions de / 'âme, 1 649 (trad. latina 1 650). - Depois da morte de Descartes, apareceu Le monde ou traité de la lumiere, 1 664 (edição mais completa, 1 677). Traité de / 'homme et de la forma­ tion du fóetus, 1 664. - Cartas 1 657- 1 667 (em latim, 1 668, 1 792). - Regulae ad directionem ingenii e ín­ quisitio veritatis per lumen natura/e (ambas em Opera posthuma Cartesii physica et mathematica, 1 70 1 ). Ed. crítica de Giovanni Crapulli da versão holandesa do sé­ culo XVII, 1 966. Ver também Jean-Paul Weber, La constitution du texte des Regulae, 1 964. - Trad. fr. , anotada, das Regulae: Regles utiles et claires pour la direction de / 'e5prit et la recherche de la vérité, 1 976, ed. P. Costabel e Jean-Luc Marion. Edição de obras: Ed. latina das obras filosóficas, Amsterdã, 1 650; ed. em francês: Paris, 1 70 1 . Ed. de Cousin, 1 824- 1 826. Ed. completa de Adam e Tan­ nery, 1 1 vols., 1 897- 1 909; reimp., com notas suplemen­ tares, por É . Gi lson, M. Guéroult et ai. , 1 963 ss. - Ed. de Oeuvres philosophiques, ed. Ferdinand Alquié, 3 vols., 1 967- 1 973. - Correspondência publicada por Ch. Adam e G. Milhaud, 8 vols., 1 936- 1 963. Corres­ pondência entre Descartes e Huyghens: Corre5pondence o( Descartes with Constantyn Huyghens 1 635- 1 64 7 (Oxford, 1 926, ed. Leon Roth). - Para o Discurso do Método, ver especialmente a ed. de É . Gilson, com co­ mentários, 1 925; 3ª ed., 1 930. - Edição de cartas sobre a moral por Jacques Chevalier, Lettres sur la mora/e. Correspondance avec la princesse Elizabeth, Chanut -

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DESCOBERTA

Trevisani, D. in Germania: La ricezione dei cartesia­ nesimo nellà Facoltà filosofica e medica di Duisburg (1 652-1 703), 1 992. - C. Wolf-Devine, D. on Seeing: Epistemology and Visual Perception, 1 993. Desde 1 979, existe a revista anual Studia Cartesia­ na, ed. P. Dibon, G. Rodis-Lewis, G. Sebba et ai. C: DESCOBERTA. Em Experience and Prediction ( 1 938), Hans Reichenbach (VER) propõe que se distingam a ta­ refa da epistemologia e a da psicologia. A última se ocu­ pa da maneira como têm lugar os processos do pensar; a primeira "procura construir os processos do pensar do modo como deveriam ocorrer se tivessem de ser dis­ postos num sistema consistente" (op. cit. , p. 5). Portanto, "a epistemologia trata antes de um substituto lógico que dos processos reais" (loc. cit. ). Trata-se de uma re­ construção racional, mas, como acrescenta Reichenbach, não arbitrária, já que "está ligada ao pensamento efetivo mediante o postulado de correspondência" (op. cit. , p. 6); contudo, "em certo sentido é um modo de pensar melhor do que o que ocorre efetivamente" Para distinguir a tarefa da psicologia e a da episte­ mologia, Reichenbach propõe duas expressões que fica­ ram célebres: o "contexto de descoberta" e o "contexto de justificação" (op. cit. , pp. 6 e 7). Somente o de justi­ ficação - às vezes também denominado "validação" - é de incumbência do epistemólogo. Reichenbach reconhece que há uma "correspondên­ cia" entre o pensar construído (ou reconstruído) logica­ mente e o pensar efetivo, e admite, além disso, que as teorias científicas são só aproximações daquilo que ele entende por "contexto de justificação" Aqueles que admitiram a distinção proposta por Reichenbach, ou dis­ tinções similares - aqueles que elaboraram, seguindo as inspirações lógico-positivistas, o que Hilary Putman chamou, segundo frase já consagrada, "the Received View"; literalmente, "a concepção recebida; mais pro­ priamente, "a concepção ortodoxa"; e, mais propriamen­ te ainda, "a concepção [outrora] vigente" -, alegaram amiúde, contra os que atacaram a distinção, que esta não visa descrever os modos como se desenvolve a ciência, e especificamente as teorias científicas. A análise da ciência - que nesse caso é freqüentemente a análise lógica de linguagens científicas suficientemente maduras e desen­ volvidas para poderem ser axiomatizadas - é uma re­ construção lógica de teorias científicas, ou "uma recons­ trução racional do pensamento" (op. cit. , p. 3 82). De acordo com Reichenbach e outros autores, não desempe­ nham nenhum papel nessa reconstrução as considera­ ções psicológicas - ou, caberia acrescentar, sociológi­ cas e históricas -, que se encontram no contexto da des­ coberta, mas não no da justificação ou validação. Muitos dos autores que se opuseram à "concepção vigente" - ou outrora vigente - negam que exista a

DESCONSTRUÇ.Ã.O

suposta dicotomia entre os dois contextos. Essa nega­ ção pode assumir várias formas: a mais conhecida, representada por R. N. Hanson, entre outros, seguindo precedentes de Peirce (ver ABDUÇÃO), faz-se acompa­ nhar de esforços para constituir o que se denominou uma "lógica da descoberta" Os processos de desco­ berta não seguem necessariamente vias fortuitas nem estão condicionados e, com isso, validados por circuns­ tâncias "externas"; há formas e modelos ou padrões de descoberta (ver do citado autor, Patterns of Discovery, 1 958, passim ). A "lógica da ciência" no sentido indica­ do no princípio é uma "lógica do produto terminado", enquanto uma "lógica da descoberta" é uma lógica que, mesmo que parta do produto terminado, segue os passos que levaram logicamente a tal produto (cf. ainda: "The Logic of Discovery", Journa/ ofPhi/osophy, 55 [ 1 958], 1 073- 1 089; "More on the ' Logic of Discovery'", ibid. , 57 [ 1 960] , 1 82- 1 88 ; "Is There a Logic of Discovery?", em Current Issues in the Phi/osophy of Science, ed. H. Feigl e G. Maxwell, 1 96 1 , pp. 20-3 5, 4-42; "Retroduc­ tive Inference", em Phi/osophy ofScience. The De/aware Seminar, ed. 8. Baumrin, vol. 1, 1 96 1 , pp. 2 1 -37; "Notes Toward a Logic of Discovery", em Perspectives on Peir­ ce, ed. R. J. Bernstein, 1 965, pp. 42-65). É evidente que os modos de desenvolver a "lógica da descoberta" variam dependendo daquilo que se entenda por ' contex­ to' n a expressão 'contexto de descoberta' Esse contexto pode ser entendido de um modo "máximo", caso em que a lógica da descoberta se "dissolve", com efeito, em psicologia ou em sociologia da ciência, perdendo então toda estrutura lógica ou fiando-se em "estruturas lógi­ cas" do contexto a que se recorra em cada caso. Pode­ se também entender o contexto de um modo "mínimo", ou ao menos "moderado", como faz Hanson ao falar da lógica da descoberta "filosoficamente respeitável", a qual inclui, entre outros elementos, estudos de passos inferenciais a partir do reconhecimento de anomalias e a determinação de tipos de hipóteses que possam servir para "explicar" as anomalias; essa lógica da descoberta constitui, em suas palavras, "uma área de investigação, não um manual de conclusões" (ou de receitas) ("Notes etc.", p. 65). Mesmo no sentido "mínimo" ou "modera­ do", porém, postula-se que uma "lógica da descoberta" deve distinguir-se de uma "lógica dos métodos de indu­ ção", que Reichenbach e outros autores "ortodoxos" consideram ser a metodologia apropriada ao estudo da descoberta científica. O fato de que o título original do livro de K. R. Popper, logik der Forschung ( 1 935), tenha sido traduzi­ do para o inglês por logic o/Scientific Discovery, 1 959 (a trad. br. é : lógica da pesquisa científica, 6" ed., 1 996), e o fato de Popper ter empregado essa expressão e de ter havido debates em torno dos problemas que ela

676

suscita podem prestar-se a confusões - por exemplo, o trabalho de Thomas S. Kuhn "Lógica da descoberta ou psicologia da investigação?" (em Criticism and the Growth of Knowledge, 1 9 70 , ed. 1. Lakatos e A. Mus­ grave) poderia levar a pensar que· Kuhn debate o pro­ blema da "lógica da descoberta" na acepção que, como vimos, essa expressão tem em Hanson, ou como a que teve em Peirce. A rigor, Popper não aceita uma "lógica da descoberta" no sentido Peirce-Hanson, e quando fala, em inglês, de "lógica da descoberta", segundo o modelo, mais ou menos modificado, de sua Logik der Forschung, está falando de uma "lógica do conheci­ mento científico" Por outro lado, é justo reconhecer que uma "lógica da descoberta científica'', quando· abandona os últimos resíduos "reconstrucionistas" e "justificacionistas" próprios da filosofia da ciência de­ senvolvida por alguns positivistas, pode - sem trans­ formar-se em "psicologia (ou sociologia) da ciência" - aproximar-se do estudo de passos inferenciais que se dão de fato na investigação científica e não se equi­ param exatamente nem a processós dedutivos nem a indutivos. A distância existente entre o estudo desses passos inferenciais e um exame da psicologia (e de so­ ciologia) da descoberta pode ser tomada tão curta ou tão larga - quanto se queira. Herbert A. Simon segue em parte os passos de Han­ son ao sustentar (cf. "Does Scientific Discovery Have a Logic?", Phi/osophy of Science, 40 [ 1 973], 47 1 -480) que há uma lógica da descoberta entendida como teoria normativa dos processos de descoberta, e acrescenta a esse propósito uma série de exemplos de processos de retrodução (vER). Trata-se, em substância, de descobrir estruturas ou modelos de informação contidos em dados, e de usar a informação obtida para "recodificar" os dados. Para a teoria da verdade como "descoberta'', ver VERDADE. DESCONSTRUÇÃO. Ver DERRIDA, JACQUES; Lúmco. DESCONTINUÍSMO. Ver ATOMISMO; CoNTiNUO. DESCRIÇÃO. Vários autores antigos trataram a des­ crição como uma forma de definição: a chamada "defi­ nição descritiva'', opoç Üia ipETIKÓS e também opoç vnoypaqi1Ki'jç. Tratava-se de uma enumeração de carac­ teristicas de uma coisa mediante a qual era possível dis­ tinguir essa coisa de outra sem por isso chegar à chama­ da "definição essencial" Na lógica medieval, conside­ rou-se a descrição como um discurso por meio do qual se enunciam das coisas características acidentais e pró­ prias: acidentais porque não são essenciais, e próprias porque, em todo caso, pertencem à coisa descrita. Em muitos casos, a descrição, descriptio, foi tida como uma deflnitio secundwm quid, uma defirrição sob deter­ minado aspecto.

677 A descrição não é, desses pontos d e vista, o oposto da definição: é uma definição menos exata, minus accu­ rata dejinitio. Na Lógica de Port Royal, afirma-se que "a definição menos exata (déjinition moins exacte) que se chama descrição é a que proporciona certos conheci­ mentos de uma coisa por meio dos acidentes que lhe são próprios e que a determinam o bastante para dar al­ guma idéia que a distingue de outras (Logique de Port Royal, parte II, cap. XVI). A descrição é suficiente para certos propósitos, mas nunca é completa. Contudo, des­ crição e definição encontram-se estreitamente relacio­ nadas, já que se trata da mesma operação - porém, num caso se recorre a acidentes, e no outro a causas, à matéria, à forma, ao fim etc. A descrição pode ser denominada (como já o fez, entre outros, Petrus Ramus) definitio imperfecta, ao contrário da definição, que é de­ finitio perfecta. Em ambos os casos, trata-se, pois, de definição. Uma definição é uma dejinitio descriptiva. Por outro lado, e crescentemente a partir do século XIX, contrapuseram-se "descrição" e "definição", exa­ minando-se quais funções podem ser desempenhadas pela primeira e não podem ser desempenhadas pela úl­ tima. Também crescentemente, os filósofos ocuparam­ se da noção de explicação (VER), contrastaram-se "expli­ cação" e "descrição", e, em especial, explicação causal e descrição. A partir de numerosos pressupostos, várias tendên­ cias filosóficas se ocuparam da natureza e das condi­ ções, assim como dos "méritos" e das "fraquezas", da descrição. O positivismo clássico de tipo comtiano des­ tacou a importância da descrição dos fenômenos, em oposição à supostamente precipitada e amiúde mera­ mente especulativa explicação dos mesmos. De qualquer modo, destacou-se a importância da descrição fiel dos fenômenos, em contraposição à pretensão de conhecer suas causas (últimas). Certas ciências - como a botâni­ ca, a zoologia e a mineralogia - foram consideradas desde a Antiguidade como ciências nas quais desempe­ nha um papel fundamental o que se chamava "defini­ ção descritiva" ou a definitio secundum quid. No século XVIII, particularmente, essas ciências foram desenvol­ vidas como "ciências descritivas" O positivismo com­ tiano não defendeu que se tomassem essas ciências des­ critivas como modelos, mas sim que se desse maior atenção aos fatos, os quais requerem, de imediato, des­ crição cuidadosa. Autores como Mach, Schlick e, em geral, os neopositivistas também destacaram a im­ portância da descrição dos fenômenos e elaboraram a noção de descrição introduzindo nela refinamentos que não se encontravam em Comte. Em geral, Mach e os neopositivistas avaliaram que há diversll8 operações des­ critivas, e, em particular, duas: uma é a descrição mais completa possível dos fenômenos, e a outra, uma espé-

DESCRIÇÃO

cie de "sumário simbólico" das descrições. Somente no último caso se pode falar de explicação. Alguns autores consideraram, porém, que não se pode passar da descri­ ção à explicação, isto é, que esta última não é conse­ qüência de descrições. Requer-se a formulação de hipó­ teses, verificadas mediante oportunas descrições, mas não obtidas mediante sínteses de descrições. Na classificação das ciências efetuada por Rickert em ciências nomotéticas e ciências idiográficas, a des­ crição desempenha um papel básico nas últimas. Em autores como Brentano, a descrição deve ser entendida como um método distinto, por um lado, da explicação causal e, por outro, de uma explicação (e inclusive de uma descrição) genética. Trata-se de descrever atos in­ tencionais (ver INTENÇÃO, INTENCIONAL, INTENCIONALI­ DADE), que são classificados em três "grupos" de fenô­ menos psíquicos. Características desse tipo de descrição são a ausência de pressupostos e a atenção ao dado na­ quilo que poderia denominar-se "trama da intenciona­ lidade" ou "tecido de vivências" Encaminham-se a uma direção similar os métodos descritivos de Husserl. A fenomenologia é apresentada como um método de pura descrição, mas não se trata da descrição de fenômenos, à maneira positivista, e sim da descrição das essências na medida em que são puramente dadas à consciência intencional. O método de descrição desempenha tam­ bém um papel básico em Dilthey, tanto na psicologia como, em geral, nas "ciências do espírito" Estas são descritivas, ao contrário das ciências naturais, que são ex­ plicativas. Deve-se levar em conta, no entanto, que nem em Dilthey nem nos autores antes mencionados a descri­ ção é concebida como uma espécie de "compreensão deficiente" Pelo contrário, especialmente em Dilthey, há uma estreita relação entre descrição e compreensão (vER). De certa maneira, a descrição é em todos esses autores mais fundamental do que a explicação, que se baseia em pressupostos, enquanto a descrição trata unica­ mente daquilo que ocorre, na medida em que ocorre e justamente como ocorre. A descrição antecede a predi­ cação; não porque a linguagem descritiva não contenha predicações, mas porque estas são entendidas como re­ flexos imediatos do dado. Foi comum em vários autores, seguindo com isso linhas da antiga distinção entre conhecimento imediato ou direto e conhecimento mediato ou indireto, propor uma distinção entre o conhecer algo e o saber acerca de algo. Esta distinção foi proposta por William James em seus Principies of Psychology, 1 909, achando-se também em Bertrand Russell, em várias obras, como Problems of Philosophy, caps. IV e V. O termo acquain­ tance é usado por ambos os autores para caracterizar o conhecimento mediante o qual nos inteiramos de algo. O saber acerca de (about) é justamente o típico das des-

DESCRIÇÕES (TEOHIA DAS)

crições. Embora o obj eto do conhecimento possa conti­ nuar sendo o mesmo, o que se conhece do objeto não é o mesmo em todos os casos. Conhecer Lisboa é diferen­ te de saber (muito, pouco etc.) acerca de Lisboa, ainda que nos dois casos Lisboa seja o "obj eto" que se supõe conhecer ou do qual se supõe saber algo. Nem sempre é fácil determinar os limites entre o conhecimento "direto" e o "indireto", porque os contra­ exemplos são tão abundantes quanto os exemplos. A existência dos verbos 'conhecer' e 'saber' e o fato de ser este último empregado amiúde em contextos nos quais se trata de conhecimento indireto ou descritivo, isto é, de um saber "acerca de" algo, não garantem que os usos verbais constituam um critério seguro (ver, de Ferrater Mora, "El laberinto dei conocimiento", em Homenaje a J L. A ranguren, 1 972, também impresso em Las pa­ labras y los hombres, 1 97 1 , pp. 1 23- 1 38). Métodos descritivos foram freqüentemente usados por muitos dos chamados "filósofos da linguagem co­ mum" Isso se deve a fatores muito diversos, entre os quais figuram a escassa inclinação desses filósofos para construções teóricas com grande aparato de deduções, explicações e inferências, bem como sua simpatia pelos chamados "casos paradigmáticos" Há certas analogias entre as descrições "lingüísticas" e algumas das feno­ menológicas; em todo caso, as descrições de Austin são descrições daquilo que o próprio autor denomina "feno­ menologia lingüística" A inclinação desses fi lósofos, e em particular de Austin, pelas descrições não é, porém, incompatível com sua oposição ao chamado "descri­ tivismo" em virtude do sentido que se deu a este último termo (ver ÜESCRITI\'ISMO). Além das comparações e dos contrastes entre a des­ crição e a explicação, deve-se levar em conta a impor­ tantíssima contraposição entre as descrições e as pres­ crições (ver P RE SCRIÇÃO). O "último Wittgenstein" destacou o caráter "descri­ tivo" da filosofia, pelo menos na medida em que, a seu ver, "a filosofia não explica ( erkliirt) nem deduz ( er­ .fólgt) nada, pois tudo está à vista (alies offen darliegt), de modo que não há nada a explicar" (Philosophische Untersuchungen, 1 26). "Temos de deixar de lado toda explicação, substituindo-a pela simples descrição" (Bes­ chreibung) (op. cit. 1 09). No "Livro azul" ( The Blue and Brown Books, 1 958, p. 1 8), Wittgenstein já denun­ ciara o afã de generalidade que aguilhoou os filósofos, os quais costumam ter constantemente presente como modelo o método da ciência e sucumbem à tentação de formular perguntas e de respondê-las da mesma maneira que o fazem os cientistas. "Essa tendência é a verdadeira fonte da metafisica e leva o filósofo a uma obscuridade completa. Quero dizer aqui que nossa tarefa nunca pode ser a de reduzir algo a algo, ou a de explicar algo. Na realidade, a filosofia é puramente descritiva." A insistên-

678 eia na descrição serve aqui de corretivo às tendências re­ ducionistas, que são, ao mesmo tempo, como se indicou, conseqüências do afã de generalidade. Não obstante, deve-se levar em conta que, em última análise, a descri­ ção é um dos jogos de linguagem (ver L INGUAGEM [JOGOS DE]) - e não apenas isso: há coisas muito diversas que podem ser denominadas "descrição", como "a descrição da posição do corpo mediante suas coordenadas, a des­ crição da expressão facial, a descrição de uma sensação tátil, a descrição de um gosto" (Philosophische Unter­ suchungen, § 24). Para a chamada "teoria das descrições" no sentido de Russell, ver ÜESCRl A maioria de obras sobre filosofia da ciência (vER) discute o problema da natureza e das formas do determi­ nismo. O livro de Emest Nagel citado no texto é The Structure ofScience: Problems in the Logic ofScienti­ fic Explanation, 1 96 1 (ver especialmente pp. 277-335). Encontra-se abundante informação sobre a questão do determinismo nas duas obras de Cassirer, mencionadas na bibliografia do verbete sobre esse filósofo, acerca do problema do conhecimento e acerca do determinis­ mo e indeterminismo na tisica moderna. Também abor­ dam o problema do determinismo muitas das obras citadas nas bibliografias de AcAso; F1M; LIBERDADE; TELEOLOGIA. Sobre determinismo e indeterminismo na história, ver a parte correspondente na bibliografia de HlsTóRIA. Mencionaremos aqui (simplesmente em ordem cro­ nológica) algumas obras relativas à questão do determi-

DEUS

nismo em geral e do determinismo nas ciências natu­ rais e remetemos à bibliografia de INCERTEZA (RELAÇÕES DE) para trabalhos complementares, especialmente os relativos à questão na tisica contemporânea; alguns dos trabalhos, de resto, figuram em ambos os lugares. J. Metallmann, Determinizm w naukach przyrodnic­ czych, 1 934 (O determinismo nas ciências naturais). - A. S. Eddington, Sur le probleme du déterminisme, 1 93 5 . - C. D. Broad, Determinism, Indeterminism and Libertarianism, 1 934 (Aula inaug. em Cambridge). R. S. Lacape, La notion de liberté et la crise du détermi­ nisme, 1 93 5 . - Giuseppe Tarozzi, La libertà umana e la critica dei determinismo, 1 936. - Helmut Groos, Die Konsequenzen und Inkonsequenzen des Determinismus, 1 93 1 ; 2ª ed., com o título: Willensfreiheit oder Schick­ sal?, 1 939. - Déterminisme et libre arbitre. Entretiens présidés par F Gonseth et rédigés par Gagnebin, 1 944. - Yves Simon, Prévoir et Savoir, 1 944. - E. Huant, Des fissures du déterminisme à l 'émergence des fina­ lités, 1 946. - P Césari, Les déterminismes et la contin­ gence, 1 950. - G. Mottier, Déterminisme et liberté, 1 948. - Leonel Franca, Liberdade e determinismo, 1 954. - Paulette Février, Déterminisme et indétermi­ nisme, 1 955. - Pierre Vendryes, Déterminisme et auto­ nomie, 1 956. - Louis de Broglie, Nouvelles perspecti­ ves en microphysique, 1 956, pp. 1 1 5- 1 64. - David Bohm, Causality and Chance in Modern Physics, 1 957. - Louis Bonoure, Déterminisme et finalité, 1 957. M. Black, B. Blanshard, P W. Bridgman, H. L. A. Hart, C. G. Hempel, E. Nagel, P Weiss et ai. , Determinism and Freedom in the Age of Modern Science, 1 958, ed. S . Hook. - Allan M. Munn, Free Will and Determi­ nism, 1 960. - Stanislaw Mazierski, Determinizm i inde­ terminizm w aspekcie fizykalnym i filozoficznym, 1 96 1 ( O determinismo e o indeterminismo sob o aspecto fi­ sico e filosófico). - Anato! von Spakovsky, Freedom, Determinism, Indeterminism, 1 963. - Jacques Moreau, Problemes et pseudoproblemes du déterminisme physi­ que, biologique, psychologique, 1 964. - Sidney Mor­ genbesser, Determinism and Human Behavior, 1 965. - M . R. Ayers. The Refittation of Determinism, 1 968. - R. L. Franklin, Freewill and Determinism: A Study of Rival Conceptions ofMan , 1 968. - Bernard Berofsky, Determinism, 1 97 1 . - Georg Henrik von Wright, Causality and Determinism, 1 97 5. - C. Williams, Free Will and Determinism: A Dialogue, 1 980. - A. R. Ruffa, Daiwinism and Determinism: The Role ofDirec­ tion in Evolution, 1 983. - J. Earman, A Primer on De­ terminism, 1 986. - T. Honderich, A Theory of Deter­ minism: The Mind, Neuroscience, and Life-Hopes, 1 988. - M . Klein, Deterininism, Blameworthiness and De­ privation, 1 990. C: DEUS. Examinaremos (!) o problema de Deus, conside­ rando em especial as principais idéias que Dele teve o

DEUS

homem, pelo menos no Ocidente; (II) a questão da na­ tureza de Deus tal como foi elucidada por teólogos e filósofos; e ( I I I ) as provas da existência de Deus. (III) é logicamente anterior a (II), mas aqui inverteremos a ordem a fim de mostrar o estreito vínculo entre ( I I ) e ( 1 ) . De fato, (!) e (II) entrecruzam-se continuamente, de tal modo que algumas das questões fundamentais rela­ tivas ao problema de Deus pertencem também à questão de Sua natureza. (l) O problema de Deus. Consideraremos aqui três idéias: a religiosa, a fi losófica e a comum. A primeira enfatiza a relação ou, para alguns autores, a falta de relação entre Deus e o homem. Daí a insistência em motivos tais como o sentimento de criaturidade, o cará­ ter pessoal do divino, a dependência absoluta ou a trans­ cendência absoluta etc . A segunda acentua a relação de Deus com o mundo. Por isso, segundo esta idéia, Deus é visto como um absoluto, como fundamento das exis­ tências, como causa primeira, como finalidade suprema etc. A terceira destaca o modo como Deus se dá na exis­ tência cotidiana, seja de uma forma constante, como horizonte permanente da vida, ou de uma forma ocasio­ nal, em meio às "distrações". As maneiras de aproxima­ ção de Deus são também di ferentes de acordo com as correspondentes idéias: na primeira, Deus é sentido como se estivesse no fundo da própria personal idade, a qual, por outro lado, se considera indigna Dele; na segunda, Deus é pensado como Ente supremo; na tercei­ ra, é invocado como Pai . Convém observar que as três idéias em questão não costumam existir separadamente: o homem religioso, o fi lósofo e o homem comum po­ dem coexistir numa mesma personalidade humana. Não obstante, certas relações são mais freqüentes que outras. Assim, por exemplo, há consideráveis analogias entre o Deus do homem religioso e o Deus do homem co­ mum, como percebeu Pascal ao invocar o "Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, não dos filósofos e dos sá­ bios" Deve-se observar ainda que, embora essas três idéias apareçam com especial clareza no que se refere ao Deus dos cristãos e em considerável medida ao "Deus dos hebreus", não deixam de se mostrar em ou­ tras concepções da divindade. I sso ocorre sobretudo quando uma pluralidade de deuses cede lugar a um único Deus: é o caso do deus supremo no âmbito do politeísmo, do chamado monoteísmo primitivo e até do henoteísmo ou da adoração de um deus adscrito a uma tribo ou a um grupo social quando essa tribo ou esse grupo se considera a si mesmos, e por motivos religio­ sos, privilegiados. Das três idéias referidas, interessam-nos aqui espe­ cialmente a religiosa e a filosófica; além disso, tendo em vista a índole desta obra, daremos particular atenção a esta última. Tanto uma como a outra, porém, desem­ penham um papel capital na história da idéia de Deus, ao menos no Ocidente. Mais ainda, pode-se dizer em

694 certa medida que essa história se esclarece sobrema­ neira quando a consideramos à luz de certa tensão quase nunca de uma completa ruptura - entre a idéia de Deus cunhada pelo homem religioso e a idéia de Deus proposta pelo filósofo. Este último tende a fazer de Deus um objeto de especulação racional. Isso ex­ plica as conhecidas concepções dos filósofos, das quais mencionaremos algumas: Deus é um ente infinito; é o que é em si, e por si se concebe; é um absoluto ou, melhor dizendo, o Absoluto; é o princípio do universo, o Primeiro Motor, a causa primeira; é o Espírito ou a Razão universais; é o Bem; é o Uno; é o que está para além de todo ser; é o fundamento do mundo e até o próprio mundo entendido em seu fundamento; é a fina­ lidade a que tudo tende etc. Algumas dessas concepções foram elaboradas e aprimoradas por fi lósofos cristãos; outras procedem da tradição grega; outras estão inseri­ das em certas estruturas "permanentes" da razão huma­ na. O homem religioso, em contrapartida, sem rejeitar sempre as concepções em questão, com freqüência as deixa de lado a fim de permitir que transluza a pura realidade divina, ou então as considera resultado de uma elaboração posterior, que seria impossível sem a reve­ lação ou sem a experiência religiosa e até mística. Trata­ se, por conseguinte, de uma tendência da história es­ piritual do Ocidente tendente a destacar uma ou outra dessas idéias. Assim, por exemplo, podemos dizer que Santo Agostinho enfatizou a idéia religiosa, pois, em­ bora tenha especulado também sobre Deus enquanto Ser onipotente e criador do mundo, deu grande aten­ ção à relação pessoal entre Deus e o homem, e viu em Deus sobretudo essa Pessoa espiritual que se revela ao homem, que alguns místicos espanhóis denominaram "o estado de ocultamento" por causa de Sua bondade infinita. Em contrapartida, Santo Tomás, embora não tenha de modo algum deixado de filosofar sobre Deus com base nos dados da revelação e não tenha excluído a possibilidade da contemplação mística (declarada no fim de sua vida a suprema via), dedicou uma parte considerável de sua obra ao exame filosófico e racio­ nal do conceito de Deus. Este contraste reiterou-se na filosofia moderna. Muitos filósofos, em particular os de tendência racionalista, pareceram sacrificar o Deus Pai ao Deus abstrato, o Deus absconditus ao Deus racio­ nalmente compreensível, e até a suma Existência à suma Essência. Contudo, houve tentativas de não levar essa tendência a suas últimas conseqüências e de atingir certo equilíbrio entre a idéia religiosa e a filosófica. No âm­ bito da filosofia moderna, um exemplo destacado a esse respeito é o de Leibniz, pois esse filósofo não apenas concebeu Deus como Mónada suprema, mas também como o Pai - e o Monarca - que rege o mundo dos espíritos. Em compensação, autores como Pascal ou Kant, por motivos muito distintos, acentuaram a tendên­ cia à idéia religiosa. Pascal exprimiu isso de modo

695 explícito em muitas passagens de sua obra, entre as quais se destaca a anteriormente citada. Kant manifes­ tou-o ao criticar a validade dos argumentos racionais em favor da existência de Deus e ao fazer de Deus um postulado da razão prática, isto é, ao afastar a razão para deixar lugar, como ele mesmo indicou, à fé. Os re­ sultados desta última posição não se mantiveram, porém, durante muito tempo. Os sucessores de Kant tennina­ ram por acentuar o aspecto filosófico da idéia de Deus ao fazer Dele, como Fichte, a ordem moral do mundo, ao transformar Deus, como fez Schelling, no Infinito, ou ao convertê-lo, como Hegel, na Idéia (Idéia que o cristão deve ter "a humildade de conhecer"). Contrastes e tentativas de conciliação análogos manifestaram-se nos últimos cento e cinqüenta anos. Kierkegaard e a teologia dialética, por exemplo, insistiram no aspecto re­ ligioso de Deus; os racionalistas e, por motivos diferen­ tes, os neo-escolásticos de orientação intelectualista des­ tacaram o aspecto filosófico. (II) A natureza de Deus. Vários problemas são le­ vantados a esse respeito. Entre eles, destacamos: a) a questão da diferença entre Deus e o divino; b) a questão do caráter infinito de Deus; e) a questão da relação entre a onipotência divina e a liberdade humana; d) a questão da relação entre a onisciência e a onipotência. Esta úl­ tima questão permitirá que se formule formalmente o problema do constitutivum de Deus. a) Alguns autores avaliam que Deus e o divino são a mesma realidade. Outros consideram que "Deus" é apenas um nome para designar o divino. Outros, por fim, indicam que o divino é uma das qualidades de Deus. A primeira opinião é neutra com relação à natureza pes­ soal ou impessoal de Deus. A segunda opinião tende a considerar a Deus como um ente impessoal. A terceira opinião inclina-se a conceber a Deus como uma reali­ dade pessoal . A segunda e a terceira opiniões foram as mais discutidas. Os adversários da segunda opinião en­ fatizaram que ela não só é impessoalista como também panteísta. Os adversários da terceira opinião assinalaram que com sua adoção corre-se o risco de estabelecer se­ parações demasiadamente taxativas entre Deus e suas qualidades. À primeira objeção respondeu-se que admi­ tir o divino como objeto primário de descrição ou de análise não significa aceitar nenhuma teoria específica sobre a divindade. À segunda objeção respondeu-se que a análise do divino como qualidade de Deus deve ser compreendida do ponto de vista do constitutivum se­ gundo nosso intelecto. Iremos nos ater a essa resposta ao examinar a questão e). b) Embora esta questão mantenha estreita depen­ dência em relação à que examinaremos depois, tratamo­ la à parte para fins de maior clareza. Ela consiste essen­ cialmente no problema de saber se Deus é infinito ou finito. A sentença quase universalmente aceita é a que afirma a infinitude. Como essa infinitude se refere,

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porém, não apenas à bondade mas também ao poder de Deus, parece que enfrentamos dificuldades insuperá­ veis. Entre elas, mencionamos as seguintes: (A) se Deus é infinitamente poderoso, o tempo e o drama do mundo mostram-se inúteis, num sentido semelhante a como, de acordo com Bergson, a evolução mecanicista toma inútil o tempo num universo que em princípio teria de estar já inteiramente "dado"; (B) se Deus é infinitamente pode­ roso, o problema da teodicéia (vER) é insolúvel, pois não se entende por que existe o mal (vER) num mundo que poderia ter sido perfeito. Com o objetivo de resolver essas dificuldades, foram propostas diversas soluções, às quais nos referiremos em e) . Limitar-nos-emos aqui apenas a mencionar, por ser menos conhecida, a teoria defendida por J. S. Mil!, que afirma a existência de um Deus finito, isto é, nos termos de E. S. Brightrnan, outro dos defensores desta tese, a doutrina que opõe a concen­ tração (finitude) à expansão (infinitude) de Deus. Essa doutrina é aceita hoje, de modo geral, apenas por alguns filósofos pertencentes à seita metodista. e) Duas posições fundamentais confrontaram-se no decorrer da história. De acordo com uma delas, a onipo­ tência de Deus suprime por inteiro a liberdade huma­ na. Segundo a outra, a liberdade hwnana não é incompa­ tível com a onipotência de Deus, sendo, pelo contrário, confirmada por ela. A primeira posição pode ser formu­ lada com propósitos muito diversos: com o fim de en­ fatizar pura e simplesmente a impossibilidade de com­ parar os atributos de Deus com os do homem ou com os de qualquer uma das coisas criadas e de destacar assim a intimidante grandeza de Deus; com o fim de mostrar que, se se quiser manter a liberdade humana, a única solução é atenuar a doutrina da absoluta onipotência, talvez aceitando a doutrina do Deus finito antes apresen­ tada; com o fim de acentuar que o arbítrio é inteiramente servo e que a salvação do homem depende por completo do "arbítrio divino" etc. A segunda posição, em contra­ partida, é usualmente formulada com um único propó­ sito: o desejo de salvar ao mesmo tempo um dos atribu­ tos de Deus considerados mais essenciais e uma das pro­ priedades humanas mais insistentemente enfatizadas. Para isso, argumenta-se que, por ter criado o mundo num ato de amor, unido a um ato de poder e de sabedoria, Deus outorgou ao homem uma liberdade da qual este pode usar ou abusar, que o aproxima ou o afasta de Deus, mas que lhe concede em todo caso uma dignidade su­ prema à qual o homem não pode renunciar sem deixar de ser homem - pois um "homem" que carecesse de liberdade não seria criação tão valiosa quanto wn ho­ mem livre. Esse problema é abordado em vários verbetes (ver ARBÍTRIO [LIVRE-]; GRAçA; LIBERDADE). Limitar-nos­ emos aqui a indicar que essa questão é tão fundamental que, por pouco que sej a aprofundada, obriga a efetuar uma análise completa do problema que constituirá o objeto do último item: o do constitutivum próprio de

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Deus. Além disso, a questão da relação entre a onipotên­ cia divina e a liberdade humana está com freqüência vinculada ao problema da existência ou inexistência de intermediários entre Deus e o mundo. Os partidários da onipotência que negam a liberdade inclinam-se, com efeito, a suprimir todo intermediário. Os que mantêm ao mesmo tempo a onipotência divina e a liberdade hu­ mana, em contrapartida, enfatizam que os intermediá­ rios - sejam eles quais forem: seres, idéias etc. - são necessários, pois os intermediários podem ser conside­ rados .filosoficamente como as condições que a criação "impõe" a Deus e se impõe a si mesma quando não quer desembocar no puro absurdo. d) Abordaremos aqui o que foi tradicionalmente chamado o constitutivum metaphysicum da natureza di­ vina. Entretanto, devemos observar que não se trata de saber o que Deus é realiter, mas tão-somente o que é quoad nos, segundo nosso intelecto. É somente levando em conta essa restrição que se podem entender as diver­ sas sentenças que se propuseram a esse respeito. Essas sentenças podem se reduzir às seguintes po­ sições: 1 ) a essência divina é constituída, como propu­ seram alguns autores nominal istas, pela reunião atual de todas as perfeições divinas, com o que o constituti­ rnm se transforma de relativo em absoluto; 2) a essência de Deus está constituída pelo "grau máximo de intelec­ tualidade" · 3) a essência de Deus é a asseidade ou o ser um ens a se (vER); 4) a essência de Deus é a infini­ tude; 5) a Pessoa divina é radicalmente onipotente; 6) a Pessoa divina é, acima de tudo, onisciente. Comum a essas posições é a idéia de que Deus é uma realidade incorpórea, simples, uma personalidade, atualidade pura e perfeição radical . Também comum a elas é a afirma­ ção de que Deus é infinitude, bondade, verdade e amor supremos. As diferenças consistem sobretudo nos vários modos de constituição metafisica. As posições mais fun­ damentais a esse respeito são as duas últimas menciona­ das, posições sobre as quais daremos em seguida alguns esclarecimentos históricos, a maioria procedente dos grandes debates sobre o constilutivwn metaphysicum de Deus que ocorreram durante a I dade Média e no século XVII. Observamos, contudo, que apresentaremos aqui em particular as formas mais radicais das teorias cor­ respondentes, não por terem sido as mais freqüentes, mas porque podem esclarecer-nos melhor a base e as dificuldades de cada uma das grandes concepções a esse respeito. Por um lado, há aqueles que sustentaram que a oni­ potência de Deus não pode ser limitada por nada, que se trata de uma potentia absoluta. As próprias "verdades eternas" têm de estar submetidas ao poder de Deus; me­ lhor dizendo, elas são o resultado de um decreto divino arbitrário. O constitutivo da natureza de Deus é, portan­ to, a vontade absoluta: as verdades eternas, as leis da na-

696 tureza e a liberdade humana dependem dessa Vontade. Esta é, em substãncia, a opinião atribuída a John Duns Scot, Guilherme de Ockham, Gabriel Biel, ou Descartes. Das três caracteristicas que, no âmbito da unidade, se atribuem a Deus - poder, saber, amor -, a primeira obtém um completo predomínio. Esta concepção é de­ nominada por isso voluntarismo (vER); segundo ela, Deus poderia ser definido até como "o que quer ser" Os inimigos dessa concepção alegam que, se ela fosse certa, se chegaria a conseqüências absurdas: a in­ finita potência de Deus lhe permitiria não apenas esta­ belecer, por exemplo, que '2 + 2 = 5' ou que 'p /\ 1 p ' , como também fazer com que o que foi não seja ou fazer com que o que se mostra ao homem como imoral seja moral e vice-versa. Os partidários dessa concepção, em contrapartida, assinalam que Deus não pode ser li­ mitado por nada, e que a pretensa falta de racionalida­ de de Deus se deve simplesmente a uma idéia dema­ siadamente restrita de nossa própria razão. Por outro lado, há aqueles que acentuam menos o poder que o saber de Deus. Quando essa posição é levada a suas últimas conseqüências, termina-se por identificar Deus com as "verdades eternas" ou com as "leis do universo" Por esse motivo, os inimigos dessa concepção argumentam que ela leva imediatamente à negação da existência (ou "vida") de Deus. Seus parti­ dários, em compensação, observam que Deus não pode deixar de ser Saber sumo e que, portanto, se há Nele uma potentia, trata-se de uma potentia ordinata. De maneira geral, a concepção em questão recebeu o nome de intelectualista. Ora, quase todos os que costumam ser agrupados nessa corrente enfatizam que a acentua­ ção do saber de Deus não pretende destruir Sua unidade, e, por conseguinte, não retira Dele os constitutivos do poder e do amor. Um eminente exemplo deste modo de pensar é o de Santo Tomás. De acordo com esse filó­ sofo, Deus pode produzir por si mesmo todos os efeitos naturais, e é, portanto, uma verdadeira Causa primeira. No entanto, Deus possui uma bondade infinita, razão pela qual desejou comunicar às coisas Sua semelhança. Com isso, as coisas não só são como podem ser causas. Dessa maneira, procura-se salvar a "consistência" pró­ pria da Natureza, das verdades eternas e da liberdade humana sem necessidade de retirar de Deus a onipotên­ cia. Os que não admitem essa solução afirmam que uma coisa é o propósito e outra, o resultado. Mas os que a defendem e desenvolvem assinalam que a discrepância entre propósito e resultado aparece unicamente quando se parte (de forma equivocada) da criatura e não de Deus. Paul Vignaux, por exemplo, escreveu que o que parece contraditório no tomismo é que, depois de ter estabele­ cido que as coisas têm seu próprio ser e sua possibili­ dade de atuar em conseqüência da infinita bondade de Deus, Santo Tomás não erige em seguida uma ciência

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da razão pura ou uma pura sapientia naturalis, ou seja, não vai da criatura à criatura ou da criatura ao Criador, mas do Criador à criatura. Mas a contradição se desva­ nece - acrescenta ele - quando se observa que a aná­ lise filosófica foi realizada no quadro da fé e que, por­ tanto, a própria fé nos mostra que o detrahere e o sub­ trahere as coisas de seu ser e de seu agir seriam incom­ patíveis com a bondade de Deus. E, visto que o consti­ tutivum da bondade parece recuperar o primado no âm­ bito dos outros constitutivos metafísicos, mostra-se plausível enunciar que a posição intelectualista pode se transformar numa ponte sobre um pretenso abismo que teria como bordas a suma arbitraiiedade das decisões e a eternidade da verdade e das leis. Convém observar, para concluir este item, que na mente dos escolásticos e de muitos dos filósofos do século XVII que se ocuparam do problema anterior há algo que ninguém, qualquer que seja sua posição filosó­ fica, pode evitar ao enfrentar este tipo de questão: o uso da analogia. Para esse fim, é indiferente que a posição seja voluntarista radical ou intelectualista extrema: nem num caso nem no outro se pretende dizer de Deus o que é realiter (embora tampouco se pretenda reduzir a ciência dos constitutivos metafísicos de Deus a um mero exame das características atribuíveis ao divino em geral). Podemos dizer, pois, que em todos os pensadores men­ cionados se tende a evitar dois obstáculos. Em primeiro lugar, o de fundir Deus como entidade real com seu modo de consideração. Em segundo, o de desembocar na tese da completa inacessibilidade de Deus pelo co­ nhecimento. Somente quando se abandona o modo de consideração analógico surgem as conseqüências que a maioria dos teólogos pretende evitar, sobretudo as duas mais retumbantes: a da completa identificação entre Deus e o mundo ou a da completa separação entre ambos. (III) Provas da existência de Deus. Já aludimos ao fato de que a questão do que é Deus quid sid Deus é considerada classicamente como posterior à questão de se Deus é - an Deus sit -, mas que, por conveniên­ cia de nossa exposição, decidimos abordar a primeira questão antes da segunda. Se tomarmos a expressão 'provas da existência de Deus' em toda a sua amplitude, deveremos incluir nela a possibilidade tanto de que a prova oferecida fracasse ou sej a inaceitável, como a possibilidade de que se pos­ sam oferecer provas de que Deus não existe; neste último caso, naturalmente, seria mais próprio falar de "provas da não-existência de Deus" Como na maioria dos casos se procurou provar que Deus existe - e, quando se rej eitou um tipo de prova, foi por se ter pro­ posto outro, tido por mais adequado -, concentrar­ nos-emos nas "provas da existência" É preciso levar em conta que todos os tipos de prova sugeridos, incluin­ do as provas da não-existência, pressupõem que o pro-

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blema formulado tem sentido, isto é, que se pode provar, ou não provar, que Deus existe, ou que não existe. Alguns filósofos negaram a mencionada pressupo­ sição, alegando que como a expressão ' Deus existe' não é nem analítica nem sintética, e não há outras expressões admissíveis (numa linguagem cognoscitiva) senão as analíticas ou as sintéticas, essa expressão carece de sen­ tido, e, por conseguinte, carece de sentido procurar pro­ vá-la, ou refutá-la. Vários filósofos do início do positi­ vismo lógico mantiveram essa tese. Eles não apenas rejeitaram todas as provas apresentadas como também um ponto de vista como o "crítico" adotado por Kant. Outros filósofos, anteriores e posteriores aos positivistas lógicos, incluindo alguns que tinham partido do positi­ vismo lógico, negaram-se a admitir que a proposição ' Deus existe ' carece de sentido. Pode ser que não se possa provar, mas não se acha fora das regras do uso da linguagem (pelo menos da linguagem comum). Xavier Zubiri afirmou que a questão de provar (racionalmente) a existência de Deus não coincide formalmente com o que denominou "o problema de Deus" Este último sur­ ge sobretudo "quando se elucida o pressuposto de toda 'demonstração' , assim como de toda ' negação ' , ou, até, de todo 'sentimento ' da existência de Deus" Ora - e de acordo com o mesmo autor --, a constitutiva e ontológica religação da existência e o fato de que a religação seja "a possibilitação da existência enquan­ to tal" mostram que tanto os que negam como os que afirmam a existência de Deus se movem na mesma "dimensão" Os tipos de prova da existência de Deus podem ser classificados de vários modos. As chamadas "provas tradicionais" podem ser classificadas em três grandes grupos. 1) A prova chamada "anselmiana" e, a partir de Kant, "ontológica" Quem primeiro a expôs foi Santo Ansel­ mo. Muitos filósofos aderiram depois, de uma maneira ou de outra, a ela: Descartes, Malebranche, Leibniz, Hegel. Examinamos esta prova de maneira detalhada no verbete sobre a prova ontológica (ver ONTOLÓGICA [PROVA]); limitar-nos-emos aqui a indicar que este tipo de prova coincide com o argumento chamado a simul­ taneo e é distinta da simples prova a priori. 2) A prova a posteriori. Usualmente não é uma prova empírica, pois se baseia num argumento ou numa série de argumentos a posteriori de caráter racional. Os defensores desta prova - entre eles, Santo Tomás - insistem que a existência de Deus é algo evidente per se, mas não o é quoad nos, no que se refere a nós. Os partidários desta prova dividem, com efeito, toda pro­ posição per se nota, ou analítica imediata, em dois grupos: a) proposição per se nota somente em si, isto é, proposição cujo predicado está incluído no conceito do sujeito (conceito que não possuímos); b) proposição per se nota etiam quoad nos, isto é, proposição analíti-

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ca imediata também com respeito a nosso entendimen­ to. Ora, visto que a proposição ' Deus existe' é analítica imediata apenas considerada em si, já que em Deus são uma mesma coisa real e formalmente a essência e a exis­ tência, é preciso buscar para sua demonstração argu­ mentos que difiram do de declará-la evidente quoad nos. Entre esses argumentos, destacam-se as cinco vias (quin­ que viae) de Santo Tomás a que nos referimos no ver­ bete sobre esse filósofo. 3) A prova a priori, tal como defendida por John Duns Scot e outros autores. Segundo eles, para que uma proposição seja per se nota é preciso não só que careça de meio em si mesma como que possamos co­ nhecê-la também imediatamente e enunciá-la pela mera explicação de seus termos. Os teólogos escolásticos com freqüência distinguem as provas citadas atendendo ao papel que nelas desempe­ nha o termo médio. Assim, Ponce de León (Curso de filosofia, vol. VI: Teodicéia, pp. 24 ss.), indica que a prova a simultaneo ocorre "quando o termo médio não tem prioridade nem posterioridade em relação à con­ clusão, sendo estes simultâneos ontologicamente. A coisa se demonstra por sua essência ou por sua noção, ou por um predicado que não pode ser dito causa nem efeito seu" O exemplo máximo desta prova é a ontoló­ gica. A prova a posteriori ocorre ou se mostra possível "quando o termo médio não tem prioridade nem poste­ rioridade em relação à conclusão. O termo médio são os efeitos, como quando se prova a natureza da alma por suas operações" A prova a priori ocorre "quando o termo médio tem prioridade ontológica (na ordem real, seja tisica ou metafisica) em relação à conclusão. O termo médio é a causa tisica do predicado da conclusão (prioridade tisica) ou é sua razão (prioridade metafisica), que não se distingue realmente do predicado, mas se concebe como sua raiz e fundamento, que é a espiritua­ lidade da alma com respeito à imortal idade" Observou-se às vezes que a escolha do tipo de prova depende da concepção que se tenha de Deus (ou, pelo menos, de Sua relação com a criatura) e da inteligência humana que o apreende. Assim, por exemplo, afirmou­ se que, enquanto para Santo Tomás a inteligência huma­ na não vê intuitivamente a Deus por sua própria consti­ tuição, para John Duns Scot ela não o vê porque Deus ··se ocultou" Por outro lado, até dentro do mesmo tipo de prova há divergências entre os filósofos: a compa­ ração entre Santo Anselmo e Descartes apresenta a esse respeito razões suficientes. Isso faz com que cada tipo de prova possa ser considerado sob diversos aspectos. Tomemos, por exemplo, a prova a posteriori. Os autores escolásticos falam dela em vários sentidos. Como prova extrínseca, funda-se no consenso do gênero humano, engendrando com freqüência um argumento de índole moral. Como prova intrínseca, está fundada na própria

698 natureza das criaturas. Como as criaturas, por sua vez, podem ser consideradas de um ponto de vista relativo ou absoluto, temos duas formas de argumento denomi­ nadas respectivamente física e metafisica. Por fim, o ar­ gumento metafisico pode ser dividido em simplesmente metafisico e em psicológico ( cf. Zigliara, Summa philo­ sophica: Theologia, § 3). Além dos tipos de prova indicados, há outros três. 1 º) A chamada "prova pelo sentimento" Consiste em enfatizar que, deixando de lado quaisquer conside­ rações racionais, há um "sentimento da existência de Deus" que constitui em si mesmo uma prova. O nome 'prova' não é muito adequado neste caso, visto que não intervém aqui nenhum argumento. Afirma-se que Deus existe, porque, por assim dizer, "se sente" que existe. A existência de Deus e o sentimento dessa existência são, pois, uma e a mesma coisa. Alguns autores negam que isto seja em algum caso uma prova, enquanto outros sustentam ou que é a única "prova" possível, ou efetiva, ou que constitui a condição indispensável a toda prova. 2º) A chamada "prova pela tradição" Consiste ou em afirmar que todos os povos da terra acreditaram na existência de Deus ("tradição universal" ou suposta­ mente universal) ou em sustentar que há uma série de "dados históricos" incorporados "à tradição" que são mais básicos e fundamentais que todo argumento racio­ nal. Também aqui se alegou que não se trata de nenhu­ ma prova, por não haver argumento; porém, o que não há é um argumento racional, mas antes uma espécie de comprovação empírica, ou uma interpretação dessa com­ provação empírica. 3º) Há uma série de provas da existência de Deus que podem ser incluídas no item 2) mencionado ante­ riormente, isto é, nas chamadas "provas a posteriori" Não obstante, alguns as incluíram nas "provas a priori"', ou, melhor dizendo, na seção dessas provas que consiste em apresentar provas de caráter relativo (que têm, entre­ tanto, a pretensão de ser absolutas). Falou-se a esse propósito de prova moral (às vezes identificada com a "prova pelo sentimento", mas mais propriamente funda­ da na tentativa de justificação da ordem moral pela exis­ tência de Deus), de prova tisico-teológica, teleológica, cosmológica, psicoteológica, prova pelo desígnio etc. De uma maneira ou de outra, todas essas provas foram apresentadas por filósofos antigos e medievais, mas foram objeto de grandes debates na época moderna, es­ pecialmente durante os séculos XVII e XVIII. Há gran­ des semelhanças entre a prova tisico-teológica e a cos­ mológica, mas, em função do lugar central ocupado pela chamada "prova cosmológica" (e também "argumento cosmológico") na época moderna, e especialmente em Kant, dedicamos um verbete específico a essa prova (ver CosMOLóGICA [PROVA]), embora parte da informação possa ser encontrada - ou ser encontrada também -

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699 no verbete sobre físico-teologia (vER). Dedicamos tam­ bém um verbete à prova pelo desígnio (ver DEsiGNIO [PROVA PELO]), embora parte do que se diz no verbete sobre físico-teologia e uma boa parte do que se diz no verbete sobre a prova teleológica (ver TELEOLÓGICA [PRO­ VA]) possam ser úteis a esse respeito. Houve uma tentativa de provar (demonstrar) a exis­ tência de Deus com o auxílio da lógica contemporânea. Trata-se da prova proposta por Frederic B. Fitch em seu artigo "On God and Immortality" (Philosophy and Phenomenological Research, 8 [ l 948], 688-693 ) Ela pode ser resumida do seguinte modo: Cada espécie de fato no universo tem uma explica­ ção se existe uma teoria consistente (vER) de tal índole que cada fato dessa espécie seja dedutível da teoria. Isto é, se uma espécie de fato tem uma explicação, essa explicação é uma teoria consistente que implica todos os fatos da espécie. Concluiremos, assim, que cada fato ou tipo de fato tem pelo menos uma explicação. Ora, um corolário disso é que a espécie de todos os fatos tem uma expl icação. Há, em suma, uma teoria consistente que implica (e, daí, explica) todos os fatos do universo. Essa teoria, de acordo com Fitch, deve ser não apenas consistente como também verdadeira, pois, se implicas­ se o contraditório de qualquer fato, deveria ainda impli­ car o próprio fato (já que implica todos os fatos), e por isso seria inconsistente. Além disso, só pode haver uma teoria verdadeira consistente que explique todos os fatos do universo, já que, se houvesse duas teorias ou duas explicações distintas, o fato de que uma fosse verdadeira constituiria um fato que deveria ser explicado pela outra, de tal maneira que se implicariam mutuamente (elas se equivaleriam). A explicação última em questão pode ser denominada Primeira Causa ou Deus. Desse modo, te­ ríamos um novo argumento a posteriori, o qual é, como Fitch reconhece, afim a várias das provas cosmológi­ cas tradicionais, mas baseado numa linguagem mais explicativa que causal. Charles A. Baylis criticou o argumento de Fitch (ibid. , pp. 694-697), e este respondeu à crítica desen­ volvendo os argumentos lógicos relativos à sua prova em The Journal of Symbolic Logic ( 1 3, n. 2 [ 1 948]). Alonzo Church (Journal etc. , 13 [ 1 948], 1 48) indicou que o argumento de Fitch, cujo interesse é inegável, im­ plica realismo e absolutismo com referência a qual teoria última é verdadeira. Além disso, o Deus de Fitch não é um Deus pessoal, mas uma "primeira causa" im­ pessoal ou mesmo o "todo" divinizado. :l Sobre o problema de Deus: Joseph Geyser, Das philosophische Gottesproblem in seinen wichtigsten Auf fassungen, 1 899. - R. Garrigou-Lagrange, Dieu, son existence et sa nature, 1 9 l 5; l l ª ed., 1 950. - A. Titius, Natur und Gott, 1 926. - É douard Le Roy, Le proble­ me de Dieu, 1 939. E. S. Brightman, The problem of .

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God, 1 930. - Xavier Zubiri, "En tomo ai problema de Dias", Revista de Decidente, n. 1 49 ( 1 935), 1 29- 1 59, compilado, com ampliações e correções, em Naturaleza, É . Gilson, God Historia, Dias, 1 944, pp. 423-467 . and Philosophy, l 94 l. - Charles Harshome, Man s Vision of God and the Logic of Theism, 1 94 1 . - /d., The Divine Relativity: A Social Conception of God, l 964. - E. L. Mascall, He Who Is. A Study in Traditio­ nal Theism, 1 943 . - /d. , Existence and Analogy. A Sequei to He Who Is, 1 949. - Julián Marias, San Anselmo y e! insensato y oiros estudios de filosofia, l 944. - VV.AA., li problema di Dia (Publicazioni dei Centro Romano di Studi, Roma), l 949. - L. Franca, O problema de Deus, 1 95 3 . - H. Urs von Balthasar, Die Gottesfrage des heutigen Menschen, l 955. - J. Daniélou, Dieu et naus, 1 950. - R. Jolivet, Le Dieu des philosophes et des savants, 1 956. - H. de Lubac, Sur les chemins de Dieu, l 956. - Vicente Fatone, E/ hombre y Dias, 1 956. - Diamantino Martins, O proble­ ma de Deus, 1 957. - Ch. de Moré-Pontgibaud, Du fini à / 'infini, 1 957. - Henri Duméry, Le probleme de Dieu et la philosophie de la religion. Examen critique de la catégorie d 'Absolu et du scheme de transcen­ dance, 1 957. - H.-D. Lewis, Our Experience o{God, 1 959. - E. Some, J. Guitton et ai., Dieu, número especial de Les Études Philosophiques, N. S. 14 ( 1 959), 273-340. - J. Vanneste, Le mystere de Dieu, 1 959. Frederick Sontag, Divine Perfection: Possible ldeas of God, 1 962. - Arnold J. Benedetto, Fundamentais in the Philosophy of God, 1 962. - Jean-Dominique Robert, Approche contemporaine d 'une afjirmation de Dieu, 1 963 . - Paul Weiss, The God We Seek, 1 964; reimp. 1 973. - Jean Nabert, Le désir de Dieu, 1 966 (prefácio de Paul Ricoeur). - Anthony Flew, God and Philosophy, 1 966. - Geddes MacGregor, God Beyond Doubt: An Essay in the Philosophy of Religion, 1 966. - Alvin Plantinga, God and Other Minds: A Study of the Rational Justification of Belief in God, l 968. Wilhelm Weischedel, Der Gott der Philosophen. Gnm­ dlegung einer philosophischen, Theologie im Zeitalter des Nihilismus, 1 968. - C. E. Fuller, R. E. Carter et ai. , God in Contempormy Thought, l 977, ed. S. A. Metczak. - A. Kenny, The God of the Philosophers, 1 979. X. Zubiri , EI hombre y Dias, l 984. - A. Case-Winters, God s Power: Traditional Understandings and Contem­ porary Challenges, 1 990. - F. J. Beckwith, S. E. Par­ rish, The Mormon Concept of God: A Philosophical Analysis, 1 99 1 . - R. C. Neville, Behind the Masks of God: A n Essay Toward Comparative Theology, 1 99 1 . - T. V. Morris, Our /dea of God: A n /ntroduction to Philosophical Theology, 1 99 1 . - E. Joos, God and Existence, 1 99 1 (em húngaro). - R. C. Neville, God the Creator: On the Tronscendence and Presence ofGod, 1 992. J. F. Harris, ed., Logic, God and Metaphysics, 1 992. -

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DEUS

Sobre a concepção, o conhecimento, a idéia, a natu­ reza e a existência de Deus: Alphonse Gratry, De la connaissance de Dieu, 1 855. - Josiah Royce, The Con­ ception of God: An Address, com comentários de Sidney Edward Meres et ai. , 1 895; ed. ampliada, The Concep­ tion of God: A Philosophica/ Discussion Concerning the Nature of the Divine Jdea as a Demonstrab/e Rea­ lity, 1 897. - Albert Farges, L 'idée de Dieu d 'apres la raison et la science, 1 894. - G. Class, Die Rea/itiit der Gottesidee, 1 904. - Rudolf ütto, Das Heilige, 1 9 1 7 . - Clement Ch. J. Webb. God and Personality, 1 9 1 9 . - !d. , Divine Personality and Human Life, 1 920. L. R. Farnell, The Attributes of God, 1 925. - Jules Lagneau, De / 'existence de Dieu, 1 925; reimp. em Cé­ lebres leçons et fragments, 1 950, pp. 223-3 1 O (estas páginas procedem de um curso dado no Liceu Michelet em 1 892- 1 893 ) . - J. Mausbach, Dasein und Wesen Gottes, 2 vols., 1 930. - Georg Simmel, "La perso­ nalidad de Dios", Revista de Decidente, n. 43 [ 1 934), 4 1 -65; incluído no vol. Cultura fémenina y afros en­ sayos, trad. esp., 1 934. - A. Rubino, La .filosofia e il problema dell 'esistenza di Dio, 1 949. - W. M . Urban, Humanify and Deity, 1 95 1 . - E. Souriau, L'ombre de Dieu, 1 95 5 . - Lace 1 . Matson, The Existence of God, 1 964. - Claude Tresmontant, Comment se pose au­ jourd 'hui /e probleme de / 'existence de Dieu, 1 966. A. Plantinga, Does God Have a Nature?, 1 980. - W. P. Alston, Perceiving God: The Epistemology ofReligious Experience, 1 99 1 . - K. E. Borresen, ed., Jmage of God and Gender Models: in Judaeo-Christian Tradition, 1 99 1 . - J. Hallman, The Descent of God: Divine Su/fé­ ring in History and Theo/ogy, 1 99 1 . - R. M. Gale, On the Nature and Existence of"God, 1 99 1 . -- K. J. Clark, ed., Our Know/edge ol God, 1 992. - V Brummer, Speaking ofa Persona/ God: An Essay in Philosophical Theology, 1 993. Sobre Deus na história: Hermann Schwarz, Der Gottesgedanke in der Geschichte der Philosophie. 1. Von Heraklit bis Bohme, 1 9 1 3 . - L. O. J. Soderblom, Das Werden des Gottesglaubens, 1 9 1 6. - Leopold Ziegler, Gestaltwandel der Gotter, 1 920. - W. Schmidt, Der Ursprung der Gottesidee, 6 vols., 1 926- 1 93 5 . - A. Schüt, Gott in der Geschichte. Eine Geschichtsmetaphy­ sik und Theo/ogie, 1 936 (trad. do húngaro). - Robert Aron, Histoire de Dieu: Le Dieu des origines, 1 964. Sobre demonstrações da existência de Deus (levan­ do-se em conta que várias das obras mencionadas no princípio se referem também a este ponto, e ainda que várias das obras assinaladas a seguir tratem também do problema, da concepção, do conhecimento, da idéia, da natureza e da existência de Deus): Ch. Dilio, Der sittli­ che Gottesbeweis, 1 899. - Karl Stab, Die Gottesbe­ weise in der katho/ischen deutschen Literatur von 18501 900, 1 9 1 O. - F. Sawicki, Die Gottesbeweise, 1 926.

700 - Franz Brentano, Vom Dasein Gottes, ed. A. Kastil, 1 929. - A. Breuer, Der Gottesbeweis hei Thomas und Suarez, 1 929 (tese). - A. E. Taylor, Does God exist?, 1 945. - E. Whittaker, Space and Spirit: Theories of lhe Universe, and the Arguments for the Existence of God, 1 946. - E. A. Milne, Modem Cosmology and the Christian ldea ofGod, 1 952 [E. Cadbury Lectures 1 950) . -. J. Defever, La preuve réelle de Dieu, étude critique, 1 95 3 . - J. M. Dorta-Duque, En torno a la existencia de Dias. Génesis y evolución histórica de los argu­ mentos metafisicos de la existencia de Dias hasta San­ to Tomás, 1 95 5 . - F. Grégoire, Phénoméno/ogie des preuves métaphysiques de Dieu, 2ª ed., 1 95 5 . - Johan­ nes Bendiek, "Zur logischen Struktur der Gottesbe­ weise", Franziskanische Studien, 38 ( 1 956), 1 -38, 29632 1 . - J. Salamucha, "Do wód 'ex motu' na istnienie Boga. Analiza logiczna argumentacj i sw. Tomasza z Akwinu", Collectanea theologica, 1 5 ( 1 934), 53-92; trad. inglesa: "The Proof ' Ex Motu' for the Existence of God: Logical Analysis of St. Thomas' Argument", The New Scholasticism, 32 ( 1 958), 334-3 72. - Bruce R. Reichenbach, The Cosmological Argument: A Reas­ sessment, 1 972. --- R. R. N. Ross, The Non-Existence of God: Linguistic Paradox in Tillich �· Thought, 1 978. - R. Swinburne, The Existence of God, 1 979. - J. P. Moreland, Does God Exist7 The Great Debate, 1 990. T. Miethe, A. Flew, Does God Exist7: A Believer and an Atheist Debate, 1 99 1 . - A. Nichols, A Grammar of Con­ sent: the E>:istence of God in Christian Tradition, 1 99 1 . Sobre o conceito de Deus e as provas da existência de Deus em diferentes correntes, autores e comunidades: A. Mollard, Le Dieu d 'fsrael, 1 93 3 . - C . M . Rechen­ berg, Die Entwicklung des Gottesbegriffes in der grie­ chischen Philosophie, 1 872 (tese). - T. Pesch, Der Gottesbegriff in der heidnischen Religion des A lter­ tums, 1 885. - Adolfo Muiíoz Alonso, La trascendencia de Dias en /a filosofía griega, 1 947. - G. M. Sciacca, G/i dei in Protagora, 1 95 8 . - R. Hack, God in Greek Philosophy in the Time of Socrates, 1 93 1 . - H. J. Rose, P. Chantraine, B. Snell et ai., La notion du divin depuis Homere jusqu 'à Platon, 1 95 5 [Deus e o divino em Hesíodo, Homero, pré-socráticos, trágicos, Platão). - P. Bovet, Le Dieu de Platon d 'apres l 'ordre chrono­ logique des dialogues, 1 902. - Marcelino Legido Ló­ pez, E/ problema de Dias en P/atón: La teo/ogía dei demiurgo, 1 963. - René Mugnier, Le sens du mot 8EloS chez Platon, 1 930 (tese). - J. van Camp e P. Canart, Le sens du mot GEios chez Platon, 1 956. - P. J. G. M. van Litsenburg, God en het godde/ike in de Dialogen van Plato, 1 95 5 . - L. H. Grondj s, La conception de Dieu, 1 965 [em Platão, Aristóteles, Plotino, Proclo, Da­ máscio] (ver também bibliografia de DEMIURGO). - A. Boehm, Die Gottesidee hei Aristoteles aul ihrem reli­ giosen Charakter untersucht, 1 9 1 4. - H. von Arnim, Die Entstehung der Gotteslehre des A ristoteles, 1 93 1 .

DEUS

701 - A. Noite, Het Godsbegrip bij A ristoteles, 1 940. Ambroglio Manno, II problema di Dio in Aristotele e nei suai maggiori interpreti, 1 962. - R. Amou, Le désir de Dieu dans la philosophie de Plotin, 1 92 1 . Walter Hoeres, Der Wille ais reine Vollkommenheit nach Duns Scotus, 1 962. - H. Weertz, Die Gotteslehre des Pseudo-Dyonisios Areop. und ihre Einwirkung aufTho­ mas von Aquin, 1 908. - Lucien Lévy-Bruhl, Quid de Deo Seneca senserit, 1 884 (tese). - Johannes Hessen, Die unmittelbare Gotteserkenntnis nach dem heiligen Augustinus, 1 9 1 9. - !d., Der augustinische Gottesbe­ weis, 1 920. - G. L. Prestige, God in Patristic Thought, 1 936; 2ª ed., 1 952 (em particular sobre a patrística grega). - H. Crouzel, Théologie de l 'image de Dieu chez Origene, 1 956. - A. J. Wensinck, Les preuves de l 'existence de Dieu dans la théologie musulmane, 1 936. - S. Nierenstein, The Problem ofthe Existence ofGod in Maimonides, A lanus, and Averroes, 1 924. - O. Jas­ niewicz, Der Gottesbegriff und die Erkennbarkeit Got­ tes von A nselm von Canterbury zu René Descartes, 1 906. - G. Grünwald, Geschichte der Gottesbeweise im Mittelalter bis zum A usgang der Hochscholastik, 1 907. - Para outras obras sobre o argumento ansel­ miano (Daniels, Runze, Paschen, Essner, Barth, Lamm, Henrich), ver bibliografia do verbete ONTOLÓGICA (PRO­ VA). - A. Koyré, L'idée de Dieu dans la philosophie de Saint Anselme, 1 923. - E. Rolfes, Die Gottesbewei­ se hei Thomas von Aquin und Aristoteles, 1 898. - A. Cappellazzi, Qui est. Studio comparativo tra la seconda questione de/la somma teologica di Santo Tomasso e le conclusioni dei sistemi.filosofici, 1, 1 902. - S. Weber, Der Gottesbeweis aus der Bewegung hei Thomas von Aquin auf seinem Wortlaut untersucht. Ein Beitrag zur Textkritik und Erkliirung der Summa Contra Gentiles, 1 907. - Cl. Baeumker, Witelo, 1 908 [Baeumker refere­ se nesta edição e comentário do De intelligentiis atri­ buído a Witelo às provas tomistas e à crítica tomista do argumento anselmiano em diversos pontos] . - Robert D. Patterson, The Conception of God in the Philosophy ofS. T Aquinas, 1 93 3 . - W. Bryar, St. Thomas and the Existence of God: Three Interpretations, 1 95 1 (sobre a prova pelo movimento). - Alexander M. Horváth, Stu­ dien zum Gottesbegriff, 1 954 (2ª ed. de Der thomistische Gottesbegrijf). - Thomas Bonhoeffer, Die Gotteslehre des Thomas von Aquin ais Sprachproblem, 1 96 1 . Anthony Kenny, The Five Ways: St. Thomas A quinas ' Proa{ of God 's Existence, 1 969. - Dennis Bonnette, A quinas ' Proofs for God 's Existence: St. Thomas Aqui­ nas on " The Per Accidens Necessarily Jmplies the Per Se '', 1 972. R. Bauer, Gotteserkenntnis und Gottesbe­ weise hei Kardinal Kajetan, 1 95 5 . - J. M. Rovira Belloso, La visión de Dias según Enrique de Gante, 1 960. - S. Belmond, Études sur la philosophie de Duns Scot. 1. Dieu, existence et cognoscibilité, 1 93 1 . -

- J. Klein, Der Gottesbegriff des Duns Scotus, vor allen nach seiner ethischen Seite betrachtet, 1 9 1 3 . F. P. Fackler, Der Seinsbegriff in seiner Bedeutung für die Gotteserkenntnis hei Duns Scotus, 1 93 3 (tese). F. Bettoni, L'ascenso a Dio in Duns Scoto, 1 943 . - F. Bruckrnüller, Die Gotteslehre, W von Ockam, 1 9 1 1 (tese). 8. Nardi, II problema di Dia nella filosofia medioevale, 1 95 1 . - 8. Peters, Der GottesbegriffMeis­ ter Eckharts. Ein Beitrag zur Bestimmung der Methode der Eckharts-Jnterpretation, 1 936. - V Lossky, Théo­ logie négative et connaissance de Dieu chez Maítre Eckhart, 1 96 1 . F. Lamanna, II concetto di Dia nel pensiero di Pico della Mirando/a, 1 930. - E. Namer, Les aspects de Dieu dans la philosophie de Giordano Bruno, 1 926. - José Hellín, La analogía dei ser y dei conocimiento de Dias en Suárez, 1 937. - A. Koyré, L'idée de Dieu et les preuves de son existence chez Descartes, 1 923. - E. Albert Fraysse, L'idée de Dieu dans Spinoza, 1 870. - E. E. Powell, Spinozas Got­ tesbegriff, 1 899. - G. Huan, Le Dieu de Spinoza, 1 870. - W. R. Brakel-Buys, Het Godsbegrip bij Spinoza, 1 934. - P. Lachiéze-Rey, Les origines cartésiennes du Dieu de Spinoza, 1 934; 2ª ed., 1 950. - Joseph Ratner, Spinoza on God, 1 930. - G. Gliickner, Der Gottesbe­ griff bei Leibniz, 1 906. - J. lwanicky, Leibniz et les preuves mathématiques de l 'existence de Dieu, 1 933. - E. Rolland, Le déterminisme monadique et le pro­ bleme de Dieu dans la philosophie de Leibniz, l 935. - Jacques Jelabert, Le Dieu de Leibniz, 1 960. - M. Guéroult, Berkeley. Quatre études sur la perception et sur Dieu, 1 956. - E. A. Sillem, G. Berkeley and the Proofs for the Existence of God, 1 95 7 . - P. Blanchard, L'attention à Dieu selon Malebranche, 1 956. - T. Pesch, Der Gottesbegriff in der heidnischen Religion der Neuzeit, 1 888. Walter Schulz, Der Gott der neuzeitlichen Metaphysik, 1 957 (de Nicolau de Cusa a Nietzsche). - Kumetaro Sasao, Prolegomena zur Bes­ timmung des Gottesbegriffes bei Kant, 1 900. - Julius Guttmann, Kants Gottesbegriffe in seiner positiven Entwicklung, 1 906. - F. Lienhard, Die Gottesidee in Kants Opus postumum, 1 92 3 . - F. E. England, Kant 's Conception of God: A Criticai Exposition oflts Meta­ physical Development Together with a Translation of the Nova Dilucidatio, 1 929; reimp. 1 968. - R. W. Stine, The Doctrine of God in the Philosophy ofFichte, 1 945. - K. Domke, Das Problem der metaphysischen Gottes­ beweise in der Philosophie Hegels, 1 940. - G. Dul­ ckheit, Die Jdee Gottes im Geiste der Philosophie He­ gels, 1 947. - W. Ogiermann, Hegels Gottesbegrif!, 1 948. - E . Schmidt, Hegels Lehre von Gott. Eine kri­ tische Darstellung, 1 952. - Wolfgang Albrecht, Hegels Gottesbeweis. Eine Studie zur Wissenschaft der Logik, 1 958. - Francesco Petrini, L'idea di Dia in Hegel, 1 976. - M. Wentscher, Lotzes Gottesbegriff, 1 893. -

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702

A. Darligne, L'idée de Dieu dans le néocriticisme, 1 9 1 0 (tese). - Adrian J. Boekraad e Henry Tristam, The A r­ gumentfrom Conscience to the Existence of God accor­ ding to J H. Newman, 1 96 1 [ cap. IV contém ed. do texto, até então inédito, de Newman sobre o problema abordado] . - E. Seiterich, Die Gottesbeweise bei Franz Brentano, 1 936. - Edward A. Jarvis, The Conception of' God in the Later Royce, 1 975. - R. Rideau, Le Dieu de Bergson, 1 932. - M. T. L. Penido, Dieu dans le bergsonisme, 1 934. - William A. Smith, Giovanni Gentile on the Existence of' God, 1 969. - Sabastián A. Matczak, Karl Barth on God: The Knowledge of' the Divine Existence, 1 962. - G. Th. Baskfield, The Jdea of God in British and American Personal Jdealism, 1 93 3 . - A. Seth (Pringle-Pattison), The ldea ofGod in the Light ofRecent Philosophy, 1 9 1 7 [Gifford Lectures 1 9 1 2- 1 9 1 3] ; 2ª ed., 1 920. - P. A. Bertocci, The Em­ pírica! Argument of' God in Late British Thought, 1 93 8 (sobre Martineau, Pringle-Pattison, J . Ward, W. R. Sor­ ley, Frederick de Tennant). - R. Jolivet, Études sur le probléme de Dieu dans la philosophie contemporaine, 1 923. - M. F. Sciacca, 11 problema di Dia e della re­ ligione nella filosofia attuale, 1 944; 2ª ed., revisada e ampliada, 1 946. - James Collins, God in Modem Philosophy, 1 959. - A. C. Cochrane, The Existentialists and God, 1 956 (em Kierkegaard, Jaspers, Heidegger, Sartre, Tillich, Gilson, K. Barth). - A. González Mar­ tínez, El tema de Dios en la filosofia existencial, 1 945. - H. Paissac, Le Dieu de Sartre, 1 950. - G. Saitta, II problema de Dio e la filosofia dell 'immanenza, 1 953 (imanentismo neo-atualista). - Q. Huonder, Die Gottes­ beweise. Geschichte und Schicksal, 1 968. - A. Kenny, The Five Ways: Saint Thomas Aquinas ' Proof's of God 's Existence, 1 969. - F. Petrini, L 'idea di Dio in Hegel. !. Stoccarda e Tubinga, 1 976. - F. v. Steenberghen, Le probléme de l 'existence de Dieu dans les écrits de Saint Thomas d 'Aquin, 1 980. Q. Lauer, Hegel 's Concept of God, 1 982. - D. M. Orange, Peirce s' Conception of God, 1 984. G. Kovacs, The Question of God in Heidegger 's Phenomenology, 1 990. G. F. O ' Hanlon, The lmmutabili(v of' God in the Theology of Hans Urs v. Balthasar, 1 990. Para as idéias de Kant, na Crítica da razão prática e na Fundamentação da metafisica dos costumes. As de H. Cohen, em Kritik des reinen Willens. Para Simmel, ver seu Ein/eitung in die Mora/wissenschaft. Para N. Hartmann, seu Ethik (datas das edições nas bibliografias dos verbetes sobre os respectivos autores). Sobre ser e dever ser: A. Kitz, Sein und Sol/en, 1 864. - Sobre a lógica do dever ser: E. Mally, Grundgesetze des So//ens. Elemente der Logik des Willens, 1 926. M. White, What Is and What Ought to Be Dane: A n Essay o n Ethics and Epistemology, 1 98 1 . Ver tam­ bém a bibliografia de IMPERATIVO. Ver bibliografia de ' É ' - ' DEVE' e -

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DEVIR. A significação do termo "devir" não é unívoca. É usado às vezes como sinônimo de ' tomar-se' ; às vezes, é considerado o equivalente de 'vir a ser' ; às vezes, é empregado para designar de um modo geral o mudar ou o mover-se (que, além disso, costumam ser expressos por meio do uso dos substantivos correspondentes: ' mu­ dança' e ' movimento '). Nessa multiplicidade de signi­ ficações parece haver, contudo, um núcleo significativo invariável no vocábulo ' devir' : é o que destaca o proces­ so do ser, ou, se se quiser, o ser como processo. Por isso, é habitual que se contraponha o devir ao ser num senti­ do análogo a como no vocabulário tradicional se contra­ pôs o in jieri ao esse; em que in fieri exprime, a rigor, o fato de estar se jàzendo. Escolhemos aqui o vocábulo ' devir' porque nos pa­ rece apropriado para discutir da forma mais geral pos­ sível as questões fundamentais implicadas em toda ope­ ração na qual se produz mudança. Poder-se-ia ter esco­ lhido para o mesmo propósito o termo ' mudança' Con­ tudo, como veremos adiante, convém usar esse termo num sentido mais restrito do que aquele que correspon­ de a ' devir' , a fim de que possamos distingui-lo do ter-

mo 'movimento' (VER). O vocábulo 'devir' oferece várias vantagens; enumeraremos duas delas. A primeira é o fato de ser capaz de designar todas as formas do tornar­ se, do vir a ser, do modificar-se, do acontecer, do passar, do mover-se etc. A segunda é o fato de ser suscetível de assumir um sentido mais propriamente filosófico que outros vocábulos, em parte porque sua significação se mostra mais natural que a dos outros. O problema do devir é um dos problemas capitais da especulação filosó­ fica. Isso é observado já no pe!lS.a!Tlento grego, que se propôs a questão do devir em estreito vínculo com a questão do ser (vER). Com efeito, esse pensamento sur­ giu em grande parte como um assombro diante do fato da mudança das coisas e como a necessidade de encon­ trar um princípio que pudesse explicar isso. O devir como tal se revelava inapreensível para a razão; por isso, era preciso descobrir a existência de um ser que devém. A isso tendiam já os filósofos jônicos. Seu àpx�, ou princípio da realidade, tinha como uma de suas carac­ terísticas o fato de ser uma entidade que subjaz a toda mudança e que explica, juntamente com a mudança, a multiplicidade das coisas. !É até possível dizer que os principais tipos de filosofia pré-socrática podem ser descritos com base nas correspondentes concepções mantidas por seus representantes sobre o problema do devir. Assim, os jônicos buscaram, como indicamos, o que permanece dentro do que devém, e julgaram en­ contrá-lo numa substância material. Os pitagóricos fi­ zeram o mesmo, mas pensaram encontrar o princípio do devir e do múltiplo numa realidade ideal : as rela­ ções matemáticas. Heráclito fez do próprio devir, do yíyvw8m, o princípio da realidade, introduzindo no pensamento filosófico, com isso, uma virada que foi às vezes considerada "heterodoxa"; é preciso observar, contudo, que l_o devir em Herácl ito, embora seja um puro fluir, está submetido a uma lei: a da "medida", que regula o incessante iluminar-se e extinguir-se dos mun­ dos. Parmênides e os eleatas (VER) adotaram a esse res­ peito uma posição oposta à de Heráclito: como a razão não alcança o devir, eles afirmaram que a realidade que devém é puramente aparente; o ser verdadeiro é imóvel - diante do "tudo flui" de Heráclito, os eleatas proclamaram, pois, o "tudo permanece" Os pluralistas procuraram estabelecer um compromisso entre essas duas posições. Alguns - como Empédocles e Anaxágo­ ras - admitiram a existência de várias substâncias (as de Empédocles, em quantidade limitada; as de Anaxá­ goras, em quantidade ilimitada) que não devêm, mas cujas combinações permitem explicar o fato do devir. No mesmo sentido desenvolveu-se o atomismo de De­ mócrito; porém, enquanto Empédocles e Anaxágoras en­ tenderam o devir num sentido qualitativo (devir é mu­ dar de qualidades), Demócrito entendeu-o num sentido quantitativo (devir é deslocamento de átomos em si

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mesmos invariáveis, sobre um fundo de não ser ou ex­ tensão indeterminada). Observemos a esse respeito que essa diferença entre o qualitativo e o quantitativo no devir mostrou-se fundamental na filosofia. Alguns auto­ res chegam a indicar que o defeito da filosofia democri­ tiana consiste em "reduzir" o devir como devir qualita­ tivo (que se pode chamar "mudança") ao devir como devir quantitativo (que pode ser qualificado de "movi­ mento"). Outros autores rejeitam essa acusação, pois assinalam que a idéia de Demócrito da subj etividade das qualidades secundárias permite explicar todo devir em termos de movimento e reduzir este a medida quanti­ tativa. A tendência geral da fi losofia grega depois de Demócrito, com algumas exceções (como a dos epicu­ ristas), consiste em enfatizar o primado da mudança diante do "simples" movimento. Em parte, isso foi afirmado também por Platão e por Aristóteles. Não obstante, a fi losofia do devir desses filósofos é dema­ siadamente complexa para que possa ser inserida como­ damente nos esquemas anteriores. É necessário, por­ tanto, desenvolver alguns de seus conceitos, especial­ mente no caso de Aristóteles, que abordou de maneira particularmente detalhada o problema que nos ocupa. A tendência geral de Platão é fazer do devir yíyvrn8m uma propriedade das coisas enquanto reflexos ou cópias das idéias. Essas coisas são às vezes chamadas justamente o engendrado ou devindo, y1yvóµEva. Podemos dizer, desse ponto de vista, que na filosofia de Platão somente o ser e a imobil idade do ser (ou das idéias) é "verdadeiramente real'', enquanto o devir per­ tence ao mundo do participado. Considerando a questão do ponto de vista do conhecimento, pode-se dizer que o ser imóvel é objeto do saber, ao passo que o ser que devém é objeto da opinião. Podem ser citadas muitas passagens em apoio a essa contraposição. Uma das mais esclarecedoras encontra-se em Tim. , 27 E: " É preciso estabelecer uma distinção e perguntar: o que é que é sempre e nunca devém, e o que é o que sempre devém e nunca é?" Entretanto, seria um erro simplificar exces­ sivamente o pensamento platônico. O estaticismo da realidade proclamado por Platão não o leva a esquecer por um único momento que os sólidos argumentos cons­ truídos em sua defesa pelos eleatas e pelos pitagóricos enfrentam argumentos não menos poderosos propostos pelos fi lósofos que defendem a mobilidade do real. Por isso, Platão às vezes concebe o Movimento e o Repouso como participando no ser - já que são "gêneros supre­ mos do ser" - sem que o próprio ser seja movimento ou repouso (Soph , 247 E ss.). À s vezes, inclusive como neste mesmo diálogo -, Platão define o ser por meio do conceito de possibilidade - ôúvaµ1s -, de tal modo que a idéia de atividade se revela essencial para o ser. É claro que em outros lugares ( cf. Crat. , 440 A ss.) a imutabilidade parece obter a primazia, de ma-

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neira que a interpretação do platonismo nesse ponto capital enfrenta todo tipo de dificuldades. Contudo, seja qual for a interpretação adotada, é indubitável que Platão dá uma atenção muito maior ao problema do devir do que poderia dar a entender a simples - e quase sempre superficial - equiparação entre o ser e o imó­ vel, e a aparência e o móvel. Prova disso é que há em Platão, particularmente em seus últimos diálogos, não apenas uma preocupação constante em averiguar a re­ lação - ou a falta de relação - entre o ser verdadeiro e o devir, como também uma tentativa de entender as di­ versas formas nas quais pode dar-se este último. Assim, por exemplo, em Phil. , 54 C, o filósofo fala do devir co­ mo destruição, q>8opá , e gênese, yÉVEOI). E no Theait. , 1 8 1 D, indica-nos que há duas formas de devir (ou mo­ vimento, KÍVTJOI)): a alteração, Ó:ÀÀoíwms, e a translação, q>opá (distinção usada também em Parm. , 1 3 8 8 ss.). Esta última distinção é importante, sobretudo, porque volta a formular a questão nos termos anteriormente indicados do devir como movimento qualitativo ou mu­ dança e do devir como processo quantitativo ou movi­ mento. Ora, foi Aristóteles quem deu as maiores e mais influentes indicações sobre essas significações. Estudaremos, pois, seus conceitos a esse respeito em pormenor. Aristóteles criticou antes de tudo as concepções sobre o devir propostas pelos filósofos anteriores ( cf. Phys. , 1 e II, passim). Essas concepções podem ser re­ duzidas a quatro: 1 ) a solução eleática, que pretende dar conta do devir negando-o; 2) a solução pitagórica e platônica, que tende a separar os entes que se movem das realidades imóveis, para depois - sem consegui-lo - deduzir os primeiros das segundas; 3) a solução he­ raclitiana (e sofistica), que proclama que a realidade é devir; e 4) a solução pluralista, que reduz as distintas for­ mas do devir a uma única, seja qualitativa (Empédocles, Anaxágoras) ou quantitativa (Demócrito). Os defeitos dessas concepções são principalmente dois: a) a não­ observação de que o devir é um fato que não pode ser negado ou reduzido a outros ou afirmado como substân­ cia (esquecendo-se neste caso que o devir é devir de uma substância), e h) a não-observação de que 'devir' , como ' ser' , é um termo que tem várias significações. Esses defeitos procedem em larga medida do fato de que os filósofos, embora sem perder de vista que para haver devir é necessário algum fator, condição ou elemento, não perceberam, em contrapartida, que se necessita de mais um.fator. Por esse motivo, o problema do devir in­ clui a questão das diferentes espécies de causa (cf. Phys. , II 3, 1 94 b 1 6, 1 95 a 3 ; De anima, II 4, 4 1 5 b, 8- 1 0; Mel. , /\ 3, 983 a 26-3 3 ; ti 2, 1 0 1 3 a 24 ss.). Com efei­ to, todas as formas de causa são operantes na produção do devir, o que não significa, porém, que haja tantos gêneros de devir quantos são os tipos de causalidade.

709 Os gêneros do devir seguem uma classificação distinta. Aristóteles dedicou ao assunto um bom número de pá­ ginas de suas obras. Mencionaremos aqui as passagens que nos parecem fundamentais. Em Cat. , 1 3, 1 5 a 1 4, Aristóteles apresenta seis tipos de devir (às vezes se chama "mudança" ou "movimento", mas recordamos ao leitor o ponto de vista mais geral e neutro que adotamos ao propor nosso termo). São os seguintes: geração ou gêne­ se, yÉvm1s; destruição, qi8opá; aumento, avl;11ms; di­ minuição, qi8íms; alteração, aÀÀoíc.ums ; e translação, deslocamento, mudança de lugar, ou movimento local, qiopá . Em Phys. , III 1, 20 1 a 5-7, o devir é 1 ) substan­ cial (posse e privação [mas não, observemos, geração e corrupção ou destruição]); 2) qualitativo (como em branco e preto); 3) quantitativo (completo e incompleto [aumento e diminuição]); 4) local (para cima, para bai­ xo, ou leve, pesado [mas não, observemos, para a direi­ ta, para a esquerda, sempre que consideremos o movi­ mento local um movimento natural]). De fato, segundo indica Aristóteles, há tantos tipos de devir quantos são os significados do vocábulo 'é' Em Phys. , V 224 a 2 1 ss., o devir é : a) por acidente, b) com relação a outra coisa, e e) em si mesmo. Se consideramos agora e), podemos classificar o devir em quatro classes, que são as que parecem mais fundamentais de todas: (!) de algo a algo, (II) de algo a não-algo, (III) de não-algo a algo, e (IV) de não-algo a não-algo. (IV) deve ser excluído, pois os termos que intervêm nele não são nem contrários nem contraditórios; (III) e (II) são casos de geração e corrupção (ou gênese e destruição), mas, como somente o que é pode devir, apenas (I) merece figurar como caso de movimento. De fato, (II) e (III) são formas de (!), e, como (I) pode ser concebido ou com relação à qualida­ de ou com relação à quantidade, restam apenas o movi­ mento qualitativo (alteração) e o quantitativo (aumento e diminuição). A eles deve se acrescentar, contudo, o movimento local - com isso, temos três sentidos pri­ mários do devir. Pode-se perguntar agora se algum deles tem primazia sobre os outros. A resposta a essa questão é, sem dúvida, diticil. Por um lado, o devir qualitativo parece ter a primazia se observamos o fato de que Aris­ tóteles parece ter-se preocupado sobretudo em explicar o sentido ontológico da mudança, evitando toda redução desta ao deslocamento de partículas no espaço. Se assim o fazemos, então a explicação do devir estará determi­ nada pela famosa definição do movimento como atuali­ zação do possível qua possível (Phys. , III, l , 20 1 a 9), uma definição que requer, para ser devidamente enten­ dida, uma análise das noções de ato (vER) e de potência (VER), pois o devir ou mudança consiste em última aná­ lise na passagem do possível ao atual. Por outro lado, é possível considerar que o sentido primário do devir é a translação ou movimento local: a forma mais elevada do mudar, à parte o Primeiro Motor, que move sem ser

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movido, é o movimento circular; somente muito mais embaixo, no reino sublunar, se dá o devir qualitativo e depois o ciclo da geração e da corrupção, cada um dos quais, como indica Bergson, não são senão reflexos do primitivo movimento circular original perfeito. Não po­ demos estender-nos devidamente acerca deste ponto. Digamos apenas que algumas das maiores dificuldades que a doutrina aristotélica do devir oferece devem-se não apenas ao problema anterior (pois, em última análi­ se, ele poderia ser solucionado observando-se que em alguns casos Aristóteles trata do devir como questão tisica e, em outros, elucida-o como questão metafisica) mas também a algumas imprecisões que encontramos em sua obra, as quais neutralizam as vantagens ofere­ cidas por sua constante atenção à classificação e ao es­ clarecimento das significações. Entre essas impreci­ sões, sublinhamos duas. Uma afeta o vocabulário e con­ siste em que, enquanto às vezes emprega o vocábulo KÍVfJOIS num sentido mais geral, e o vocábulo µna[30M1 num sentido mais particular, às vezes Aristóteles tam­ bém considera µna[3oÀÍj num sentido mais geral que KÍVfJOI). Outra imprecisão refere-se à questão da mu­ dança na substância. Com efeito, Aristóteles diz às vezes que não há com relação a ela movimento, mas às vezes afirma que só há movimento com relação à substância, à qualidade, à quantidade e ao lugar. Nem todas essas imprecisões têm a mesma gravidade. A primeira é bas­ tante grave, pois o uso ambíguo do vocabulário afeta todas as análises posteriores. A segunda pode ser resolvi­ da adotando-se uma das possibilidades: a que consiste em admitir o sentido mais geral de KÍVfJOIS e o mais estrito de µna[3oÀÍj, pois então se pode dizer que na substância não pode haver KÍVfJOI), mas, em contrapar­ tida, pode haver µna[3oÀÍj. Os escolásticos de tendência aristotélica trataram de aprimorar e esclarecer os conceitos anteriores. Assim, Santo Tomás assinalava que a mudança é a atualização da potência enquanto potência, e por isso há devir quan­ do uma causa eficiente leva, por assim dizer, a potên­ cia à atualidade, e outorga ao ser sua perfeição entitativa. O sujeito não muda assim por um mero desenvolvimen­ to de algo que tinha implícito, nem tampouco pelo apa­ recimento ex nihilo de uma qualidade, mas pela ação de uma causa que, se se quiser, se "interioriza" no ser. Daí que o ato e a potência enquanto fatores do devir não sej am propriamente seres ou princípios constituti­ vos, mas, como dizem os escolásticos (pelo menos os tomistas), realidades complementares. Nega-se com isso que o ato seja o elemento dinâmico do ser e a potência, o elemento estático, mas também que o ato seja o ele­ mento estático do ser - o ser "já cumprido" - e a potência, o elemento dinâmico - o ser "em vias de realizar-se". Ato e potência são igualmente necessários para que o devir ocorra - ao menos o devir dos entes

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criados. Pode-se dizer, pois, que a escolástica, e em par­ ticular a escolástica tomista, procura manter-se a igual distância entre uma fi losofia inteiramente estaticista e uma fi losofia completamente dinamicista; uma e outra são, segundo esta tendência, maneiras de evitar o proble­ ma do devir efetivo. Em contrapartida, em certas direções da filosofia moderna se tendeu a considerar o próprio devir como o motor de todo movimento e como a única explicação plausível de toda mudança. Avaliou-se, com efeito, que a ontologia tradicional - tanto grega como escolástica era excessivamente "estaticista" e que sob sua in­ fluência ficaram sepultadas todas as tentativas de trans­ formar o devir numa noção filosófica central. Encontra­ mos vislumbres desse dinamicismo em algumas filoso­ fias renascentistas, mas em sua plena maturidade ele se revelou somente dentro do pensamento romântico. Entretanto, este se manifestou de duas maneiras: ou co­ mo uma constante afirmação do primado do devir, ou como uma tentativa de "racionalizar" o devir de alguma maneira. Encontramos um exemplo eminente desta últi­ ma posição em Hegel, para quem o devir ( Werden ) re­ presenta a superação do puro ser e do puro nada, os quais são, cm última análise, idênticos. "A verdade escreve Hegel - não é nem o ser nem o nada, mas o fato de que o ser se transforme, ou melhor, tenha se transformado em nada e vice-versa. A verdade, porém, não é tampouco sua indiscernibilidade, e sim o fato de que não sejam o mesmo, de que sejam absolutamente distintos, mas ao mesmo tempo separados e separáveis, desaparecendo cada um em seu contrário. Sua verdade é, por conseguinte, esse movimento do imediato desapa­ recer de um no outro: o devir, um movimento no qual ambos os termos são distintos, mas com uma espécie de diferença que, por sua vez, dissolveu-se imediata­ mente" (logik, ed. G. Lasson, 1 , p. 67). Hegel afirma, além disso, que esse devir "não é a unidade feita por abstração do ser e do nada, mas que, como unidade do ser e do nada, essa unidade é determinada, isto é, algo no qual se encontram tanto nada como ser" No decorrer do século XX irromperam diversas fi­ losofias para as quais o devir é uma real idade primária - ou, se se quiser, para as quais o ser existe somente na medida em que devém. Em alguns casos, chegou­ se a conceber o ser como uma imobilização do devir. Encontramos um exemplo disso em Bergson (vER ) e no bergsonismo (vER) . Em outros casos, opôs-se o devir (concebido como idêntico à vida) ao ser - ou, melhor, ao "devindo" (tido como idêntido à morte). Temos um exemplo disso em Spengler, para o qual o devindo é o que se encontra impregnado de extensão e "se encarna no número matemático", enquanto o devir é o orgânico, o que possui direção, irreversibilidade e história. Em outros casos, por fim, considerou-se que há duas espé-

71 0 cies de devir: o devir fisico - que, pela impossibilidade de conservar o passado, se reduz a um contínuo nasci­ mento e aniquilação do ser - e o devir espiritual que permanece sem ser idêntico. Exemplo desta última concepção é a de Alberto Rougés (vER) . Freqüente em todas essas concepções é a afirmação de um primado do devir e até a redução de todo ser a devir, o que equi­ vale, na maioria dos casos, a uma tentativa de explicar o movimento pelo crescimento, o mecânico pelo orgâni­ co e, em última análise, o fisico pelo espiritual. Ver também DIALÉTICA. � Além das obras citadas, ver Karl Kiilln, Sein und Werden, 1 934. - A. Cosentino, Temps, Espace, Devi!; Moi: les Sosies du Néant, 1 93 8 . - Para o devir na história: S. Hering, Das Werden ais Geschichte, 1 939. - D. J. B. Hawkins, Being and Becoming: An Essay Towards a Criticai Metaphysic, 1 954. - D. A. Cardone, II divenire, 1, 1 956 (sobre a individualidade como "mo­ mento" do devir). Para o devir na filosofia grega: A. Rivaud, le pro­ bléme du devir et la notion de matiere dans la philo­ sophie grecque depuis les origines jusqu 'à Théophraste, 1 906. - Para o devir em Platão: Victor Brocharei, Étu­ des de philosophie ancienne et de philosophie moderne, 1 9 1 2 (pp. 95- 1 1 2 : "Le devir dans la philosophie de Platon"). - J. B. Skemp, The Theory ofMotion in Pia­ /o '.\- later Dialogues, 1 942. Para o devir em Aris­ tóteles: M. Kappes, Die aristotelische Lehre iiber Be­ griff und Ursache der KÍVTJOIS, 1 887. W. J. Verde­ nius e J. H. Waszink, Aristotle On Coming-to-be and Passing-away, 1 946; 2ª ed., 1 965. - Cario Giacon, Jl divenire in Aristotele (textos e comentários}, 1 947. M. Schramm, Die Bedeutung der Bewegungslehre des Aristoteles fiir seine beide liisungen der zenonischen Paradoxien , 1 9 6 2 . - R. J. Conne l l , Matter and Becoming, 1 966 [Aristóteles e Tomás de A., à luz da filosofia da ciência contemporânea] . O devir em Hegel é abordado por praticamente todas as obras sobre esse fi lósofo mencionadas no ver­ bete correspondente; ver, além disso, Giuseppe Fichera, ll problema dei cominciamento logico e la categoria dei devire in Hegel e nei suoi critici, 1 956. Sobre o devir em Nietzsche: Walter Briiker, Das was kommt, gesehen von Nietzsche und Holderlin, 1 963 . - L. J. Hatab, Nietzsche and Eternal Recurrence: The Redemption of Time and Becoming, 1 97 8 . Ver também a bibliografia do verbete MOVIMENTO. e -

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DEWEY, JOHN ( 1 859- 1 952). Nascido em Burlington (Vermont), lecionou em Michigan ( 1 884- 1 888), Minne­ sota ( 1 888- 1 889), Michigan (l 889- 1 894), Chicago ( 1 8941 904) e Columbia University (Nova York). Influenciado em parte pelo idealismo alemão, especialmente pelo hegelianismo - que representa para Dewey a "outra face", a sistemática e unificadora, de seu pensamento, orientado sobretudo para a mobilidade da experiência,

71 1 e que o levou a superar as divisões do real subj acentes na herança da cultura da Nova Inglaterra -, ele não tar­ dou a ser inscrito, pela filosofia de James e pela necessi­ dade de outros métodos e vias para a realização de seus propósitos de reforma e "reconstrução", na "nova filoso­ fia" - uma filosofia que, em sua opinião, distingue­ se da tradicional não apenas por considerar a experiência como realidade central, mas também, e muito especial­ mente, pela nova inflexão que dá a essa mesma expe­ riência (vER). O próprio Dewey, além disso, expôs numa breve autobiografia intelectual os "motivos" capitais que moldaram ou orientaram seu pensamento. Em pri­ meiro lugar, a importância atribuída à teoria e prática da educação. Em segundo lugar, o desejo de superar o dualismo entre a "ciência" e a "moral" por meio de uma lógica que seja um "método de investigação efeti­ va" e não rompa a continuidade das diversas regiões da experiência. Em terceiro, a célebre influência de James. Por fim, a intuição da necessidade de uma integração do pensar que compreenda os problemas desenvolvidos pelas ciências sociais e permita resolver ao mesmo tempo as situações derivadas de tais problemas. A insis­ tência na experiência só adquire sentido a partir dessas bases, pois a experiência não é, para Dewey, o mera­ mente experimentado por um suj eito, e menos ainda o que este experimenta a fim de adquirir um saber, mas sim o resultado de uma relação que para o sujeito tem como termo ao mesmo tempo oposto e complementar o objeto e o meio, mas que pode ser concebida em sua maior generalidade como relação entre objetos, como sua forma própria de manter uma conexão. O ponto de vista "biológico" de Dewey não é, de acordo com isso, senão uma conseqüência de sua ampla noção da expe­ riência, noção ampla por sua compreensão, mas não no sentido de que constitui o objeto de um absoluto. Daí o método empírico ou "denotativo" que Dewey util iza, ou, se se quiser, o método empírico que deveria usar se se ativesse sempre a seus próprios postulados - pois, como se observou com freqüência, Dewey é "tecnica­ mente" um filósofo empirista, ainda que, de fato, o curso de seus raciocínios se edifique muitas vezes ao longo de uma dialética. Em todo caso, a filosofia pos­ tulada por ele é uma filosofia que renuncia a todo absoluto, que procura averiguar em cada processo a múltipla trama de relações entre os meios e os fins de que está composto, e que não se limita a considerar o instrumentalismo pragmatista como simples método, tal como ainda pretendia James. Apenas dentro desse quadro é possível então compreender o que Dewey entende por naturalismo (vER). Com efeito, o próprio filósofo qualificou seu pensamento de "naturalismo empírico", de "empirismo naturalista" Contudo, "Natu­ reza" não é aqui simplesmente um conjunto de coisas regidas mecanicamente; é história, acontecimento e

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drama. Por isso, e somente por isso, o pragmatismo não é apenas um método, mas uma filosofia, isto é, uma maneira de se aproximar de uma realidade que se supõe infinitamente múltipla. Por todas as partes, Dewey tende ao concreto; isso, porém, não só em virtude de um pos­ tulado filosófico, mas como resultado de uma crítica da cultura moderna, cujo intelectualismo parcial Dewey deseja corrigir em todas as suas dimensões, particular­ mente nas educacionais e sociais. Sua teoria do pensa­ mento, seu pragmatismo e seu instrumentalismo não têm, em última análise, outro propósito. Dewey parte do reconhecimento de que o homem se sente inseguro no mundo e busca algo permanente e estável. Tal perma­ nência lhe é dada de múltiplas formas no decorrer da história: por ritos mediante os quais ele crê propiciar­ se das forças da Natureza, pelas artes com que domina essa mesma Natureza, e também pelos objetos tradicio­ nais do saber e da filosofia, por essa atividade filosófi­ ca que busca o imóvel por detrás da contingência e da mudança. Entretanto, a filosofia esqueceu que o pensa­ mento não funciona meramente tendo em vista um sa­ ber, mas tendo em vista um "domínio", pois, em geral, todo conhecimento é um instrumento forjado pela vida para sua adaptação ao meio, e por isso o pensar não começa, como acreditava o racionalismo clássico, com premissas, mas com dificuldades. O que o pensar busca não é uma certeza intelectual, mas uma hipótese que se torne verdadeira mediante o resultado e a sanção prag­ mática. A noção de verdade (vrn), tão próxima da de James, é conseqüência da substituição do conceptualis­ mo do conhecer por um funcionalismo e um operacio­ nismo do pensar. O pensamento funciona entre dificul­ dades que oprimem o homem, porém; mais do que rela­ tivizar o pensamento, o instrumentalismo de Dewey pre­ tende justificá-lo de um modo concreto e não por qual­ quer absoluto transmundano. Por isso, o pensamento e a teoria são elementos imanentes à vida humana, "progra­ mas" que o homem forja para responder a situações fu­ turas. A orientação para o futuro, tão vigorosa em Dewey, não se limita, porém, à ciência e à filosofia: ela impregna todo o esforço social e educativo desse pensamento e é como o norte para o qual se dirigem todos os seus pen­ samentos. A busca do concreto, contudo, conduziu Dewey, nos últimos tempos, a uma retomada de sua primitiva in­ fluência hegeliana: sua inclinação para a metafisica, que se toma tão patente nos últimos trabalhos sobre questões lógicas, não desmente a concepção pragmática e instru­ mentalista em torno da qual gira sua teoria do pensar, mas a toma ainda mais vinculada a certas correntes do existen­ cialismo metafisico e a todos os esforços últimos para conseguir uma unidade da razão com a vida, pois isso é a única coisa que pode terminar com o divórcio da teoria e da prática tão característico da filosofia clássica e do in­ telectualismo moderno, o que pode levar a uma vida har­ moniosa que é para Dewey o ideal último da educação.

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DEWEY, JOHN :> Obras: Psychology, 1 886. - Outlines o{a Criticai Theory of'Ethics, 1 89 1 . - The School and Society, 1 900. - Studies in Logical Theory, 1 903. - Experience and Objective /dealism, 1 907. - Ethics (em colaboração com J. H. Tufts}, 1 908. - The Jnfluence ofDarwin on Philo­ sophy and Other Essays, 1 9 1 0. - How We Think, 1 9 1 0. - Brief Studies in Realism, 1 9 1 1 . - Democracy and Education, 1 9 1 6. - Essays in Experimental Logic, 1 9 1 6. - "The Need for a Recovery in Philosophy", no volume coletivo: Creative lntelligence, 1 9 1 7. - Recons­ tn1ction in Philosophy, 1 920. - Human Nature and Conduct. An lntroduction to Social Psychology, 1 922. - Experience and Nature, 1 92 5 ; nova ed., 1 929. The Public and lts Problems, 1 927. - The Quest for Certainty, 1 929. - Individualism, Old and New, 1 930. - Philosophy and Civilization, 1 93 1 . - A Common Faith, 1 934. - Art as Experience, 1 934. - Liberalism and Social Action, 1 938. - Freedom and Culture, 1 939. - Theory o{ Valuation (lnternational Encyclopedia of Unified Science, 1 1 ,4), 1 939. - Problems ofMen, 1 946. - Knowing and the Known, 1 949 (em col. com A. P. Bentley). - Essays in Experimental Logic, 1 954. Philosophy, Psychology and Social Practice, 1 963, ed. J. Ratner. Edição de obras completas, incluindo textos inéditos: Works, em mais de 40 vols., 1 969 ss. : The Early Works ofJ D I ( 1 882- 1 888), 1 969; II ( I 887), 1 967; III ( 1 8891 892), 1 969; IV ( 1 893- 1 894), 1 97 I ; V ( 1 895- 1 898), 1 972. - The Middle Works o{ J D.: I ( 1 899- 1 90 1 ) , 1 976; II ( 1 902- I 903), 1 976; III ( 1 903- 1 906), 1 977; IV ( 1 907- 1 909), 1 977; V ( 1 908), 1 978; VI ( 1 9 1 0- 1 9 1 1 ), 1 978; VII ( 1 9 1 2- 1 9 1 4), 1 979; VIII ( 1 9 1 5), 1 979; IX ( 1 9 1 6 ), 1 980; X ( 1 9 1 6- 1 9 1 7), 1 980; XI ( 1 9 1 8- 1 9 1 9), 1 982; XII ( 1 920), 1 982; XIII ( 1 92 1 - 1 922), 1 983; XIV ( 1 922), 1 983; XV ( 1 923- 1 924), 1 984. - The Later Works ofl D. : I ( 1 925), 1 98 1 ; II ( 1 925- 1 927), 1 984; III ( 1 9271 928), 1 984; VII 1 985; XII ( 1 938), 1 986. - The Poems of l D. , 1 977. Correspondência: J. D. e Arthur F. Bentley, A Philo­ sophical Correspondence, 1 932- 1 95 1 , 1 964, sel. e ed. por Sidney Ratner e Jules Altman. Bibliografia: Milton H. Thomas, A Bibliography of J Dewey 1882- 1 939, 1 929 (introdução de H. W. Schnei­ der). - ld. , J D. : A Centennial Bibliography, 1 962. lo Ann Boydston e Robert L. Andresen, D. : A Check­ list of'Translations 1 900- 1 967, 1 969. - lo Ann Boyds­ ton e Kathleen Poules, Checklist of Writings about J D. , 1887- 1 9 73, 1 974; 2ª cd. ampl. ( 1 887- 1 977), 1 97 8 . Ver: D. T. Howard, John Dewey 's Logical Theory, 1 9 1 8 . - William Taft Feldmann, The Philosophy ofl D. : A Criticai Analysis, 1 934. - Sidney Hook, J D. : an lntellectual Portrait, l 939. - F. Leander, The Philo­ sophy ofl D. : a Criticai Study, l 939. - J. H. Randall, Jr. , B. Russell et ai. . The Philosophy of J D., cd. Paul . .

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DIACRÔNICO. Em diversas ciências - na lingüística, na antropologia etc. -, e também na filosofia, introdu­ ziu-se uma distinção entre "diacrônico" e "sincrônico" Considera-se que um método, um ponto de vista, uma consideração etc. são diacrônicos quando se levam em conta principalmente a ordem e a sucessão cronólogicas e, por conseguinte, quando se atribui especial importân­ cia à noção de mudança, à de evolução e a outras si-

milares (incluindo noções concomitantes como as de ruptura ou corte [ver FECHAMENTO; CORTE] no tempo). Conforme indica a etimologia do vocábulo, "diacrônico" se refere ao que tem lugar "através" ou "ao longo do" (diá) tempo. Em termos específicos, trata-se do chama­ do "tempo histórico" ou da "história", de modo que o método diacrônico é fundamentalmente um método his­ tórico. Assim, o estudo diacrônico de uma linguagem, de uma comunidade humana etc. é um estudo cronoló­ gico, e especificamente cronológico-histórico, dessa co­ munidade. Supõe-se então que as estruturas mudam em função do tempo, ou que há equiparação entre mudanças estruturais e mudanças temporais. Por outro lado, um método, um ponto de vista ou uma consideração são sincrônicos quando o objeto estudado é tratado em sua estrutura "atual" ou efetiva, e especialmente em sua es­ trutura "profunda" ou mais "básica" Em função dessa estrutura, examina-se o processo de mudança e evolu­ ção temporais, ou histórico-temporais, e não o inverso. Assim, o estudo sincrônico de uma linguagem, de uma comunidade humana, é um estudo fundamentalmente estrutural. O estruturalismo (VER) e várias diretrizes pós-estru­ turalistas destacaram, e acentuaram de maneira conside­ rável, os aspectos sincrônicos, razão pela qual o estrutu­ ralismo, equiparado com um "sincronismo", foi tido como anti-histórico e anti-historicista. Alegou-se a esse propósito, porém, que não se trata, num estudo sincrô­ nico, de prescindir de mudanças e evoluções, mas de integrá-las. Assim, o que se poderia chamar "sincronis­ mo" considera que a dimensão diacrônica é um aspecto da estrutura estudada sincronicamente, e às vezes que a dimensão diacrônica é uma dimensão "superficial", embora não por isso desprovida de importância; o que se procura fazer é explicar essa dimensão mediante a estrutura, isto é, por procedimentos sincrônicos. O que se poderia denominar "diacronismo" avalia, por sua vez, que a dimensão sincrônica é um aspecto, e especifica­ mente um "corte", da dimensão diacrônica, que é fun­ damental e determinante, embora não necessariamente determinada. Cabe perguntar se, dadas duas ou mais estruturas, elas não poderiam ser consideradas diacronicamente, isto é, em sua sucessão cronológica. Se se responde que sim, pode-se concluir que a dimensão diacrônica é mais básica do que a sincrônica, mas também que a sucessão cronológica de estruturas pode ocorrer de acordo com alguma lei estrutural, que seria, por isso mesmo, sin­ crônica. Cabe perguntar também se o que se chama "his­ tória" não será uma história de estruturas analisáveis sincronicamente. Se se responde que sim, pode-se con­ cluir que a dimensão sincrônica é a fundamental, mas também que, visto poder haver uma história de estru­ turas, a dimensão diacrônica tem primazia sobre a sin-

DI.Á DICO

crônica. Assim, dadas duas comunidades humanas, C e C 1 , pode-se dizer que elas estão ligadas por alguma história e que o que é sincrônico nelas é cada comuni­ dade tomada isoladamente, mas pode-se dizer também que, ainda que estejam ligadas por alguma história, essa história pode ter uma estrutura, que engloba as estru­ turas de c e C I . Tanto essas formulações como as diversas respostas a elas têm, de início, um ar muito abstrato, mas podem tomar-se mais precisas com base em exemplos determi­ nados. Especialmente fecundos a esse respeito são os exemplos derivados da lingüística. Embora a fi lologia tradicional tenda a ser diacrônica, e tanto a lingüística estrutural como a chomskyana (por mais distintas que sejam entre si em quase todos os outros aspectos) ten­ dam a ser sincrônicas, alguns lingüistas reconheceram a necessidade ou de definir o sentido de 'diacrônico' e ' sincrônico' aplicado a casos específicos, ou então, pelo contrário, de procurar aproximar as dimensões diacrô­ nica e sincrônica. Uma dessas aproximações se encon­ tra nas tentativas de estabelecer as bases de gramáticas de mudanças sintáticas. Os "diacronistas", e em parti­ cular os mais "historicistas" entre eles, podem, não obs­ tante, alegar que desse modo se subordina a dimensão diacrônica à sincrônica, já que uma gramática de mu­ danças sintáticas equivale a um conjunto de regras estru­ turais que dêem conta de processos normalmente consi­ derados objetos de estudos diacrônicos. No livro do autor desta obra lndagaciones sobre e! lenguaje ( 1 970, p. 2 1 5, nota 1 8), recorda-se que a distin­ ção entre ' sincrônico' e 'diacrônico ' , que foi proposta por Ferdinand de Saussure e depois se estendeu a outras ciências além da lingüística, e em particular às ciências sociais, tem antecedentes em Comte, Brentano e Wilhelm Humboldt, entre outros, conforme indica Hans-Heinrich Lieb em "' Synchronic ' versus ' Diachronic ' Linguistics: A Historical Note", Linguistics, 36 ( 1 967), 1 8-26. Em outro livro do autor desta obra, Las palahras y los hom­ hres ( 1 97 l ), pp. 7 1 -83, propõe-se uma aproximação entre as noções de "estrutura" e de "história", conside­ radas conceitos-limite, que pode ser aplicada às noções de "sincrônico" e "diacrônico" De acordo com vários pressupostos do autor, a afirmação de que as noções em questão podem ser ao mesmo tempo contrapostas e complementares indica, num primeiro momento, sim­ plesmente que elas não são mutuamente redutíveis e sugere que podem ser funcionais (se se quiser, "diale­ ticamente funcionais"). DIÁDICO. Ver PoUDIÁDICO. DIÁDOCO. Na historiografia filosófica antiga, deno­ mina-se diádoco o chefe de uma escola filosófica que sucede a outro diádoco ou que vem imediatamente de­ pois do fundador da escola. Como (especialmente depois

71 4 de Sócrates) grande parte das atividades filosóficas se desenvolveu no interior das escolas, chegou-se a conside­ rar a descrição das doutrinas dos diádocos e de sua su­ cessão cronológica como um método adequado de expo­ sição da história da filosofia. Esse método foi fomenta­ do pelo peripatético Sócio de Alexandria, que redigiu alguns Diádocos (ou Sucessões) dos.filósofos - 61á8001 cp1Àooócpwv - nas primeiras décadas do século II a.C. Ele foi seguido por vários autores, entre os quais mencio­ namos Heráclides Lembos, de meados do século II a.C. o peripatético Antístenes de Rodes, da mesma época, au­ tor de uma coletânea com o mesmo título da de Sócio; o estóico Jasão de Rodes, das últimas décadas do século II a.C., que escreveu alguns Entre as obras (principalmente as de interesse filo­ sófico) publicadas durante a vida do autor, menciona­ mos: Essai sur le mérite et la vertu, 1 745. - Pensées philosophiques, 1746 (anônimo). - Les Bijoux indiscrets, 1 748. - Lettres sur les Aveugles à l 'usage de ceux qui voient, 1 749. - Lettre sur les sourds et muets à l 'usage de ceux qui entendent et qui parlent, 1 75 1 . - Pensées sur / 'interprétation de la nature, 1 754. - Ver as Oeu­ vres philosophiques, littéraires et dramatiques publica­ das em 1 773 (junto com obras de Morelly, Coyer etc.).

DIDEROT, DENIS

- Entre as obras póstumas (nas quais figuram vários de seus importantes contos filosóficos), mencionamos: Salons (publicados a cada 2 anos, de 1 759 a 1 77 1 , 1 775 e 1 78 1 ) , 1 795 e 1 798. - Supplément au voyage de Bougainville, 1 796 (escrito em 1 772; ver a edição do Supplément, segundo os manuscritos de Leningrado, por Gilbert Chinard, 1 93 5 ) . - La religieuse, 1 796 (es­ crita em 1 760) . - Jacques, le Fataliste, 1 796 (escrita em 1 773 ) . - Le Neveu de Rameau, escrito em 1 76 1 , publicado pela primeira vez em trad. alemã de Goethe, em 1 805, e em francês em 1 823 (tomo XXI da edição de Oeuvres de Briere). - Entretien de d 'A lembert et de Diderot; le Rêve de d 'A lembert, suite de / 'Entretien, 1 830. - Paradoxe sur le Comédien, 1 830. - Est-il bon, est-il méchant?, 1 834. Primeiras edições (muito imperfeitas): Oeuvres phi­ losophiques de D. D. (Amsterdã, 1 772, 6 vols.); Collec­ tion complete des oeuvres philosophiques, littéraires et dramatiques de D. D. (Londres, 1 773, 5 vols., provavel­ mente impressa no continente). Primeiras edições mais completas: Oeuvres, por Jacques-André Naigeon, 1 798, 15 volumes; Oeuvres, por J. L. Briere, 1 82 1 - 1 823, 2 1 vais. (o tomo XXI compreende obras até então inéditas); Oeuvres completes, por J. Assérat e Tourneaux, 1 8751 877, 20 vais.; Oeuvres, por A. Billy ("La Pléiade"), 1 93 5 . - Ed. de Oeuvres completes, em 33 vols., 1 956 ss., ed. P. Verniere. Correspondência: Correspondance inédite, ed. A. Babelon, 1 93 1 , e Lettres à Sophie Valand, ed. A. Babe­ lon, 1 930. Ed. completa de Correspondance de D. Dide­ rot, ed. G. Roth: I ( 1 95 5 ) ; II ( 1 956) ; III ( 1 957 ) . Bibliografia: F. A. Spear, Bibliographie de D. Reper­ toire analytique international, 1 980. Em português: Carta sobre os surdos-mudos, 1 993. - Da interpretação da natureza e outros escritos, 1 989. - Diderot, Obras 1: Filosofia e política, 2000. Diderot, Obras 2: Poética e contos, 2000. - Ensaios sobre a pintura, s.d. - Jacques, o fatalista, e seu amo, 1 993. - As jóias indiscretas, 1 976. - Obras filosófi­ cas, 1 989. - A religiosa, 1 973. Ver: K. Rosenkrantz, Diderots Leben und Werke, 1 866. - J. Morley, D. and the Encyclopaedists, 1 878; 2ª ed., 1 886. - E. H . A. Scherer, D. , 1 880. - É mile Faguet, "Diderot", em Études littéraires, 1 890- 1 894, vol. 3. - Joseph Reinach, D. , 1 894. - L. Lucros, D., l 'homme et l 'écrivain, 1 894. - A. Gollignon, D., 1 895. - J. Mauveaux, D., l 'encyclopédiste et le penseur, 1 9 14. - K. von Roretz, Diderots Weltanschauung, 1 9 1 4 (tese). - Werner Leo, D. ais Kunstphilosoph, 1 9 1 8 (tese). I. K. Luppol, D. , 1 924, 1 934, ed. rev., 1 960. - J. V Johansson, Études sur D. D. , 1 927. - Joseph Le Gras, D. et / 'Encyclopédie, 3ª ed., 1 928. - H. Dieckmann, Stand und Problem der Diderots-Forschung, 1 93 1 . Jean Thomas, L'humanisme de D. , 1 932. - André Billy, D. , 1 932. - Otto Engelmayer, Romantische Tendenzen -

DIELS, HERMANN

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im künstlerischen, kritischen und kunstphilosophischen Werke Diderots, 1 93 3 (tese). - Hubert Gillot, D. D. L'homme. Ses idées philosophiques, esthétiques, littérai­ res, 1 937. - J. J. M. Pommier, D. avant Vincennes, 1 939. - !. K. Luppol, D. , !. - Jean Luc, Diderot, II. - Eric M. Steel, Diderot 's Jmagery: a Study ofLiterary Personality, l 94 l . - Joseph Edmund Barber, Diderot 's Treatment ofthe Christian Religion in the Encyclopédie, 1 94 1 (tese). - Daniel Momet, D. , / 'homme et / 'oeuvre, 1 94 1 . - Mary Lane Charles, The Growth of Diderot s' Fame in France from 1 784 to 1875, 1 942 (tese). - D. H. Gordon e N. L. Torrey, The Censoring o{ Diderot 's Encyclopédie and lhe Reestablished Te.xi, l 947. - H. Lefebvre, D. , l 949. - P. Mesnard, Le Cas D., 1 952. O. E. Fellows e N. L. Torrey, eds., D. Studies, I, 1 949; li, 1 953. Arthur M. Wilson, D.: The Testing Years, 1 713- 1 759, 1 957; reimp. junto com a segunda parte: The Appeal to Posterity, 1 759- 1 784, no vol. D., 1 972. ­ J. Mayer, D. , homme de science, 1 959. - P. Cassini, D. , "philosophe ", 1 962. - József Szigeti, D. D. Une gran­ defigure du matéria/isme militan/ du xvm· siecle, 1 962. - Jacques Proust, D. et / 'Encyclopédie, 1 963. - Lester G. Crocker, D.: The Embattled Philosopher, 1 966. !d. , Diderot 's Chaotic Order: Approach to Synthesis, 1 974. - R. Pomeau, D. , 1 967. - Anthony Strugnell, Diderot 's Politics: A Study of the Evolution of Diderot 's Political Thought Afier the Encyclopédie, 1 973. - Carol Bium, D. . The Virtue of a Philosopher, 1 974. - J. Un­ dank, D. : lnside, Outside, and ln-Between, 1 979. - E. B. Potulicki, La modernité de la pensée de D. dans les Oeuvres philosophiques, 1 980. - W F. Edmiston, D. and the Family: A Conjlict of"Nature and Law, 1 985. S. L. Pucci, D. and a Poetics o{ Science, 1 986. C -

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DIELS, HERMANN ( 1 848- 1 922). Nascido em B ie­ brich a. Rhein, estudou em Berlim com Hermann Use­ ner (vER) e foi professor na Universidade de Berlim a partir de 1 866. Diels é conhecido sobretudo por sua edição dos pré-socráticos, à qual se faz referência cons­ tantemente no estudo desses filósofos, citando-se como "Diels" e - mais tarde "Diels-Kranz" Acrescenta­ se a isso sua edição dos doxógrafos gregos. Devem-se a ele igualmente trabalhos fundamentais de investigação sobre o aristotelismo, incluindo o comentário de Simplí­ cio à Physica, e estudos sobre a técnica no mundo anti­ go e a medicina hipocrática. :> Para as edições dos pré-socráticos, ver a bibliografia de PRÉ-SCX'RÁT1cos, desde sua primeira edição: Die Fragmente der Vorsokratiker, 3 vols., 1 903 . - Doxographi graeci, l 879; 2ª ed., 1 929. - Elementum, 1 879. - Parmenides, 1 897. - Herakleitos, 1 90 1 . - Poetae philosophi, 1 902. Escritos menores: Kleine Schifien zur Geschichte der antiken Philosophie, ed. Walter Burkert, 1 967. C -�

DIETRICH DE FREIBERG, Theodoricus Teutonicus de Vriberg (ca. 1 250-ca. 1 3 1 0). Nascido em Vriberg

(Freiberg), Saxônia, estudou e lecionou em Paris (onde teve ocasião de ouvir Henrique de Gante). Membro da Ordem dos Pregadores, foi prior em Würzburg e pro­ vincial na Alemanha. Suas obras se caracterizam pela abundância e amplitude de seus temas; Dietrich de Frei­ berg escreveu, com efeito, sobre questões naturais, lógi­ cas, psicológicas, éticas, teológicas, metafisicas e ecle­ siásticas. Fortemente inclinado à observação dos fenô­ menos naturais, elaborou uma teoria na qual se explicava a formação do arco-íris por meio da refração dos raios de luz nas gotas de chuva suspensas na atmosfera; de resto, tratava-se de uma das várias doutrinas de ótica - especialmente sobre as propriedades da luz e a for­ mação das cores - formuladas pelo autor. Do ponto de vista filosófico e metafisico, Dietrich desenvolveu suas idéias sob influências não somente aristotélicas e agosti­ nianas, como também, e de maneira especial, neoplatô­ nicas (sobretudo de Proclo e Avicena). Ora, a insistência no processo de emanação (vER) e na irradiação de sua substância pelas inteligências por causa de sua própria superabundância não significa que o pensamento de Dietrich de Freiberg seja estritamente emanatista ou mo­ nista. Por um lado, ele destaca o ato primário de criação divina; por outro, defende a substancialidade e indepen­ dência (relativas) das criaturas. O primeiro ponto exige uma idéia de criação que possa ser derivada, sem que se produza um salto conceituai demasiado brusco, da noção de transfusão; o segundo ponto exige uma idéia de independência substancial que possa ser derivada, sem salto brusco, da noção de intelecto agente. A difi­ culdade de combinar esses dois aspectos constitui uma das dificuldades mais óbvias, ainda que também um dos aspectos mais interessantes, do pensamento de Dietrich de Freiberg. No âmbito das tensões citadas, seu pensa­ mento filosófico aparece, não obstante, como notavel­ mente consistente. Com efeito, o que acontece no reino das inteligências primeiras e agentes ocorre igualmente no reino das almas individuais. Nesse terreno, Dietrich parece sustentar a doutrina agostiniana da iluminação interior. Mas o que ele faz, a rigor, é interpretar essa doutrina à luz do neoplatonismo de Proclo, de tal forma que a alma em sua intimidade última aparece como um intelecto em ato capaz de conhecer por si mesmo as essências. Neste e em muitos outros aspectos, o pensa­ mento de Dietrich opõe-se ao tomista. O mesmo ocorre com a questão da distinção entre a essência e a existên­ cia; Dietrich negou a distinção real tomista para afirmar uma mera distinção racional. :> Entre os numerosos escritos de Dietrich, menciona­ mos os seguintes: De iride et radialibus impressionibus, De fuce et eius origine, De coloribus, De origine rerum praedicamentalium, De magis et minus, De esse et essen­ tia, De quidditatibus entium, De accidentibus, De natura contrariorum, De miscilibus in mixto, De elementis cor­ porum naturalium, De intelligentiis et motoribus caelo-

DIFERENÇA

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rum, D e tribus diffici/ibus articulis, D e intellectu e t in­ telligibili, De cognitione entium separatorum, De univer­ sitate entium, Quod substantia spiritualis non sit com­ posita ex materia etforma (a doutrina de Dietrich de que apenas as substâncias corporais têm composição hile­ mórfica desempenha um papel central em seu pensa­ mento), De tempore, De causis, De substantia orbis, De habitibus, De voluntate, De ejficientia Dei, De viri­ bus inferioribus intellectu in angelis, De theologia quod est scientia secundum perfectam rationem scientiae, De subiecto theologiae. Entre as edições de obras de Dietrich com comen­ tários criticos, mencionamos: E. Krebs, Meister Dietrich (Theodoricus Teutonicus de Vriberg) . Sein Leben, seine Werke, seine Wissenschafi, 1 906 [contém texto de De in­ tellectu et intelligibili e De habitibus] . - 1d., "Le traité De ente et essentia de Thierry de Fribourg", Revue Néos­ colastique, 1 8 ( 1 9 1 1 ), 5 1 6-536. - J. Würschmidt, D. von Freiberg. Ueber den Regenbogen und die durch Strahlen erzeugten Eindrücke, 1 9 1 4 [Beitriige etc., XII, 5-6] (contém texto de De iride et radialibus impressioni­ bus). - F Stegmüller, "Meister Dietrich von Freiberg über die Zeit und das Sein", A rchives d 'histoire doctrinale et littéraire du moyen âge, 1 3 ( 1 940- 1 942), 1 53-22 1 [contém textos de De tempore e de De mensuris durationis]. Ed. de obras: Opera omnia, ed. Kurt Flash, 4 vols., 1 977 ss. Inclui: De visione beatifica, De intellectu et in­ telligibili (vol. !); De habitibus, De ente et essentia, De magis et minus, De natura contrariorum, De corpore Christi mortuo, De cognitione entium separatorum et maxime animarum separatarum, De dotibus corporum gloriosorum, De substantiis spiritualibus et corporibus futurae resurrectionis, De intelligentiis et motoribus cae­ lorum, De corporibus caelestibus quoad naturam eorum corpora/em (vol. II); De animatione cae/i, De acciden­ tibus, De quidditatibus entium, De origine rerum prae­ dicamentalium, De mensuris, De natura et propietate continuorum, De subjecto theologiae, Quaestio utrum in Deo sit aliqua vis cognitiva inferior intellectu, Utrum substantia spiritualis sit composita ex ma teria etforma, Quaestiones de philosophia, Quaestiones de theologia (vol. lll); De fuce et eius origine, De miscibilibus in mixto, De elementis corporum naturalium, De iride, de coloribus, Epistula ad 1oannem Cardinalem Tuscula­ num, Epistula ad Summum Poenitentiarium (vol. IV). Ver: L. Gauthier, "Un psychologue inconnu de la fin du XIII' siécle", Revue Augustinienne, 1 5 ( 1 909), 657-673, 16 ( 1 9 1 O), 1 78-206, 54 1 -566. - William A. Wallace, O. P., The Scientific Methodology ofTheodoric de Freiberg: A Case Study of the Relationship between Science and Philosophy, 1 959. - Pasquale Mazzarella, Metafisica e gnoseologia nel pensiero di Teodorico di Vriberg, 1 967. - B. Mojsisch, Die Theorie des 1ntel­ lekts bei D. von F., 1 977 [incluído em Opera omnia, cit. supra, Beiheft 1 ] . Sobre as questões disputadas e questões quodlibé­ ticas em Santo Tomás, ver: A. Portmann, "Die Syste­ matik in den Quaestiones disputatae des heiligen Tho­ mas von Aquin", Jahrbuch fiir Philosophia und speku­ lative Theologie, 6 ( 1 892), 48-64, 1 27- 1 49. - W. Schneider, Die Quaestiones disputatae de veritate des heiligen Thomas von Aquin in ihrer philosophiegeschi­ chtlichen Beziehung zu Augustinus, 1 930. - B. Jansen, Die Quodlibeta des heiligen Thomas von Aquin. Ein Beitrag zu ihrer Würdigung und eine Beurteilung ihrer A usgaben, 1 9 1 2 . - P. Mandonnet, "Saint Thomas d'Aquin, créateur de la dispute quodlibétique", Revue des sciences philosophiques et théologiques, 1 5 ( 1 926), 477-505; 1 6 ( 1 926), 5-3 8 . - S. Simonson, "The Aris­ totelian Forms of Disputation", New Scholasticism, 1 9 ( 1 944), 385-390. - A. M . Landgraf, "Zur Technik und Ü berlieferung der Disputation", Collectanea Francis­ cana, 20 ( 1 950), 1 73 - 1 88. V. Cilento, La forma aristotelica in una "Quaestio " medioevale, s/d ( 1 960). Sobre a literatura quodlibética: P. Glorieux, La littérature quodlibétique de 1260 a 1320, 2 vols., 1 9251 93 5 . Edição crítica por H. Keil, Grammatici latini, IV, ii, 1 864; reimp. , 1 9 1 3 . Ver: T. Borsche, "Quid est? Quid accidunt? Notizen zur Bedeutung und Entstehung des Begriffs der gram­ matischen Akzidentien bei Donatus", Zeitschriflfar Lite­ raturwissenschafl und Linguistik, 1 9 ( l 989), 1 3-28. C DONOSO CORTÉS, JUAN, marquês de Valdegamas ( 1 809- 1 853). Nascido no Valle de la Serena (Extremadu­ ra), distinguiu-se como político, escritor, orador e diplo­ mata (ministro plenipotenciário em Berlim em 1 849 e embaixador em Paris em 1 853). Representou na ação a ala direita dos cristinos e isabelinos, mas na teoria a de­ fesa dos princípios dos carlistas. Depois de uma primeira época em que esteve próximo das teses do l iberalismo doutrinário, "converteu-se" em paladino do ultramonta­ nismo, representando na Espanha um papel análogo ao que foi desempenhado por Joseph de Maistre e Louis de Bonald na França, ou até por Joseph Gorres na Prús­ sia. Suas idéias, expressas sistematicamente no Ensayo sobre e/ catolicismo, e/ liberalismo y el socialismo, cen­ traram-se em torno das seguintes afirmações: a políti­ ca depende da teologia; o processo de secularização da Idade Moderna é um erro gigantesco, engendrado pelo orgulho; o homem se julgou suficiente, desligou-se de sua fonte divina e produziu a série das revoluções; Deus é o Alfa e o Ômega de todas as coisas, sendo a po­ lítica secular um contra-senso; a verdadeira teologia é a católica; portanto, o catolicismo é a civilização; o dogma católico não é um em meio a outros, como crêem os mo-

DONOSO CORTÉS, JUAN

demos: é o único verdadeiro e está depositado na Igreja; sendo esta infalível, não pode tolerar o erro. Esse pensamento está baseado numa argumentação dialética (Ensayo, l ivro 1, cap. iii) que, juntamente com a afirmação e demonstração de que há "secretas analo­ gias entre as perturbações físicas e as morais, derivadas todas da liberdade humana" (op. cit. , livro II, cap. v ), constitui o mais original no pensamento político-fi­ losófico-teológico de Danoso. Reproduzimos seus ar­ gumentos com referência ao primeiro ponto no verbete TOLERÂNCIA. Quanto ao segundo, baseia-se na crítica da idéia de que o visível só se explica pelo visível, e o natural pelo natural (op. cit. , livro 1, cap. vii); tão logo vemos no sobrenatural o fundamento do natural, admiti­ mos que a concupiscência da carne e o orgulho do es­ pírito são o mesmo: o pecado. Este culmina na pretensa deificação do homem por si mesmo (conseqüência da negação de um Deus transcendente). Mas essa deifica­ ção não destrói a ordem moral e física perfeita instituída por Deus. A negação dessa ordem é, pois, vã; sua única conseqüência é tornar mais pesado o jugo do homem por meio das catástrofes, "que são dadas sempre na pro­ porção das negações" (op. cit. , Conclusão). A primeira edição do Ensayo apareceu simultanea­ mente em espanhol (Madri, 1 85 1 ) e em tradução france­ sa (Paris, 1 85 1 ). A obra dirigia-se contra o ateísmo revo­ lucionário da época, especialmente contra o de Prou­ dhon, mas há também ataques (respeitosos) à doutrina de Guizot sobre o desenvolvimento da civilização na Europa. :> Edição de obras: Madri, 1 848, 2 vols.; Madri, 1 8541 856, 5 vols. (Gabino Tejada); Madri, 1 89 1 - 1 983, 3 vols. (Manuel Ortí y Lara); reimp. em 1 903- 1 904, 4 vols. A melhor e mais completa edição é a dirigida por Juan Ju­ retschke: Obras completas, Madri, 1 946, 2 vols. (o En ­ sayo figura no tomo II, pp. 347-55 1 ) . Entre os escritos de Donoso filosoficamente interessantes que figuram na última edição citada - além do Ensayo -, menciona­ mos: "La rel igión, la libertad, la inteligencia" ( 1 837, em 1, 375-379; "Filosofia de la historia. Juan Bautista Vico" ( 1 838), em 1, 53 7-572; "Consideraciones sobre el cristianismo" ( 1 83 8), em 1, 573-582; "Pensamientos varias", em I I , 823-827. Correspondência em torno do Ensayo, em II, 5 53-562. Ver também a "Carta a Sua Santidade Pio IX", em II, 565-570. Ver: Juan Valera, artigo sobre o Ensayo publicado em 1 850 e compilado no tomo XXXIV ( 1 9 1 3 ) , intitu­ lado Estudios críticos sobre filosofia y religión ( 1 8561 863 ), pp. 9-6 1 da edição de Obras completas, de Va­ lera. - Joaquín Costa, "Filosofia política de Danoso Cortés", em Estudios jurídicos y políticos, 1 884. Carl Schmitt, "Der unbekannte Donoso Cortés", Hoch­ land, 27 ( 1 929), reproduzido em Positionen und Begrif .fé, 1 9 l O. - !d. , Danoso Cortés. Su posicion en la his­ toria de la filosofia dei Estado europeo (Conferencias

DORADO MONTERO, PEDRO en el Centro de Intercambio intelectual Germano-Es­ paiiol, de Madri, XXVI), 1 930. - !d. , Interpretación europea de D. C. , 1 952. - Edmund Schramm, Donoso Cortés. Lehen und Werk eines spanischen Antiliheralen, 1 83 5 . - Francisco Ayala, Estudio preliminar a su edi­ ción dei Ensavo (Buenos Aires, 1 943). - Luis Díez dei Corra!, El liberalismo doctrinario, 1 945 . - G. de Ar­ mas, Donoso Cor/és, 1 95 3 . - J. Chaix-Ruy, D Obras: La légende socratique et les sources de Pla­ ton, 1 922. - Traité de mora/e, 2 vols., 1 932. - Es­ quisse d 'une philosophie des valeurs, 1 939. - Les so­ phistes, 1 948. Sociologie générale, 1 948. - Similitude et dépassement, 1 968. Bibliografia no volume coletivo: Essais pluralistes, 1 949, por ocasião do 70º aniversário de D. Ver: M. Barzin, F. Gonseth, Ch. Perelman et ai. , E. D., l 'homme et l 'oeuvre, 1 968 (com "extrait des Carnets inédits" de E. D. selecionados por Jean Dupréel). Arts. de M. Barzin, G. Bastide, J. Paumen, M. Ossows­ ka, H. Janne, G. Davy, A. Sauvy, S. de Coster, T. Kotar­ binski, F. Gonseth, P. M. Schuhl, G. Calogero, P. Auben­ que, J. Croissant e Ch. Perelman no número especial de Revue 1nternationale de Philosophie, 22 ( 1 968), que inclui uma "Bibliographie des travaux du Prof. E. D." nas pp. 23 8-240. e DURAÇÃO. A definição mais usual de 'duração' é: "Persistência de uma realidade no tempo" Essa defini­ ção pode ser interpretada de várias maneiras. Por um lado, pode-se não apenas insistir no caráter temporal da duração, mas também supor que o tempo da duração consiste em sucessão (sucessão de momentos). Por outro lado, pode-se destacar o permanecer - manere na existência. Essas interpretações deram lugar a muitos debates sobre o conceito de duração, especialmente freqüentes entre os escolásticos e os filósofos modernos do século XVII. Apresentaremos algumas das atitudes típicas adotadas a esse respeito. Quando se insistiu no fato do "permanecer", vincu­ lou-se o conceito de duração ao de eternidade (vER ) . Alguns autores concluíram que o significado de ambos os conceitos é idêntico em vista do caráter fundamental que a noção de permanência tem para a eternidade. Outros, em contrapartida, sem ignorar as estreitas rela­ ções entre os dois conceitos, introduziram uma série de distinções. Assim, para Santo Tomás, por exemplo, o conceito de duração é como um gênero do qual os con­ ceitos de eternidade e de eviternidade (o aevum) são espécies. Por esse motivo, o conceito de duração não inclui necessariamente o de sucessão, mas apenas o da permanência do ser que dura. O tempo é uma duração -

DlR\ND DE SAINT POURÇAIN

que tem começo e fim (começo e fim das coisas das quais o tempo é a medida). A eternidade é duração sem começo nem fim, e é, portanto, interminável (cf. S. Theol. , I, q. X a 5 ) . Esta última concepção foi a mais difundida entre os autores escolásticos, tendo sido consi­ derada por muitos a única que permite evitar a completa separação entre os conceitos de eternidade e de tem­ po, separação que surge sempre que se insiste no caráter temporal sucessivo da duração e ao mesmo tempo na índole atemporal da eternidade. Muitos dos fi lósofos modernos compilaram as ela­ borações escolásticas - em particular a noção de "per­ manência" -, mas fizeram-nas servir para outros fins. Segundo Descartes, a duração de cada coisa é um modo pelo qual consideramos essa coisa na medida em que continua sendo (Princ. phil. 1, 56). I sso equivale a supor que o tempo é uma maneira de pensar a duração, bem como a distinguir a duração, a ordem e o número. Spinoza distingue a eternidade e a duração: a eternidade é o atributo mediante o qual concebemos a infinita existência de Deus, e a duração é "o atributo mediante o qual concebemos a existência das coisas criadas na medida em que perseveram em sua existência atual" ( Cog. mel. , 1 , iv). Mais precisamente (e laconicamente). a duração ''é a continuidade indefinida de existência" (Eth. II, def. v) - indefinida porque "nunca pode ser determinada pela própria natureza da coisa existente, nem pela causa eficiente, que põe necessariamente a existência da coisa, mas não a suprime". A duração dis­ tingue-se do tempo e da eternidade : do primeiro, por ser este um modus cogitandi da duração; da segunda, por­ que a duração é justamente algo fundado na eternidade. Também os autores empiristas fazem uso de concei­ tos tradicionais. mas a tendência metafisica é gradual­ mente substituída por uma orientação psicológica (e epistemológica). Assim, Locke define a duração - ou, melhor dizendo, a idéia da duração - como "as partes fugazes e conti nuamente transitórias da sucessão" (Essay, II, XIV, sec. 1). Mais adiante, porém, observa que a reflexão sobre "as aparências de várias idéias umas após as outras em nossos espíritos é o que nos pro­ porciona a idéia de sucessão, e a distância entre quais­ quer partes dessa sucessão ou entre as aparências de duas idéias quaisquer em nossos espíritos é que denomi­ namos duração" (sec. 3). Essa tendência a "interiorizar" a noção de duração é freqüente no pensamento contem­ porâneo, mas a "interiorização" nem sempre foi entendi­ da num sentido simplesmente "psicológico" ou "episte­ mológico" Isso é o que ocorre em Bergson. Para esse fi lósofo, a duração pura, concreta ou real é o tempo real em oposição à espacialização do tempo. Ao dizer, por exemplo, que o psíquico tem, entre outros caracteres, o de duração, ele não quer indicar senão que o psíquico é irredutível à espacial ização a que é submetido o tem­ po por meio da matemática. O tempo matemático e o

782 fisico-matemático são por seu turno o resultado da ne­ cessidade que tem a vida de dominar pragmaticamente a realidade. A duração é, porém, a própria realidade, para além dos esquemas espaciais - aquilo que é intui­ tivamente vivido e não simplesmente compreendido ou entendido pelo intelecto. Por isso, o absoluto, entendido à maneira de Bergson, não pode ser um absoluto eterno, mas um absoluto que dura. Da concepção do absoluto como eterno - eternidade que Bergson entende mais como um recorte no devir que como um recolhimento autêntico do devir - decorrem as clássicas dificulda­ des metafisicas do problema do nada (vER): a concepção do absoluto como algo que dura elimina a possibilida­ de de confundi-lo com uma essência lógica ou mate­ mática intemporal. " É preciso acostumar-se" - escre­ ve Bergson - "a pensar o ser diretamente, sem fazer um rodeio, sem dirigir-se desde o primeiro instante ao fantasma do nada que se interpõe entre ele e nós. É necessário procurar aqui ver por ver e não já ver para agir. O absoluto se revela então muito perto de nós e, de certo modo, em nós. Ele é de natureza psicológica e não matemática ou lógica - vive conosco, como nós, mas, sob certos aspectos, infinitamente mais concentra­ do e mais recolhido sobre si, dura" (L 'évolution créa­ trice, 1 907, p. 323. � Ver: Alfred Eggenspieler, Durée et instant. Essais sur le caractere analytique de / 'être, 1 93 3 . - Gaston Bache­ lard, La dialectique de la durée, 1 936. - Émile Lubac, Présent conscient et cycles de durée, 1 936. - E. Parsons, Time Devoured: A Materialistic Discussion of Dwution, 1 964. - C. Peter, Participated Eternity in the Vision of God: A Study ofthe Opinion of7h. A quinas and His Com­ menta/01:1· 011 lhe Duration of lhe Acts of G/ory, 1 964. Ver também a bibliografia de ETERNIDADE. C DURAND DE SAINT POURÇAIN, Durandus de Sancto Porciano (t 1 3 34), dominicano, bispo de Le Puy e de Meaux, denominado o doctor resolutissimus, por causa da tenacidade com que defendeu suas opiniões, opôs-se em múltiplos pontos ao realismo tomista (o que lhe valeu freqüentes censuras por parte de comissões de sua Ordem e até por parte de uma comissão pontificia) e tendeu a um nominalismo, ao menos na medida em que distinguiu realmente o sujeito e a relação, categoria que compreende os últimos seis predicamentos aristo­ télicos. Durand concebeu o universal como uma abstra­ ção da mente, como uma forma indeterminada ou que designa o indeterminado do indivíduo. A distinção entre o universal e o indivíduo é, pois, apenas mental. Esta doutrina devia enfrentar dificuldades, sobretudo ao refe­ rir-se à concepção da alma e da inteligência; isso condu­ zia, com efeito, a uma eliminação das formas das ope­ rações da mente, formas indevidamente multiplicadas, de acordo com Durand, que não só produzem confusão como também impedem uma coincidência do ser com o ser conhecido.

783 :> A principal obra de Durand são seus comentários às Sentenças: ln sententias theologicas Petri Lombardi i Libri IV (Veneza, 1 572); reimp., 1 963. Além disso: De visione Dei. Edição de obras: Edição de J. Koch, Durandis de S. Porciano, O. P. Quaestio de natura cognitionis et dis­ puta/ia cum anonymo quodam necnon Determinatio Hervaei Nata/is, O. P., 1 929; 2ª ed., 1 93 5 . - Também a de Takeshiro Takeda, Tractatus de habitibus (q. 1 -q. 3), 1 963 . - Além disso, a de P. T. Stella, Magistri Duran­ di a Sancto Porciano, O. P., Quodlibeta Avenionensia tria, additis Correctionibus Hervaei Nata/is supra dieta Durandi in primo Quodlibet, 1 965 (os três Quodlibeta sustentados por Durand em Avinhão, 1 3 1 4 a 1 3 1 6). Ver: J. Koch, Durandus de Saneio Porciano, O. P. Forschungen zum Streit um Thomas von Aquin zu Beginn des 14. Jahrhunderts, i, 1 927. - Maria Teresa Beonio­ Brocchieri Fumagalli, Durando di S. Porziano: Elementi filosofici dei/a terza redazione dei Commento alie Sen­ tenze, 1 969. - M. T. Beonio-Brocchieri, "II De Origi­ ne lurisdictionum di D. di S. P.", Rivista di Filosofia Neo-Scolastica, 70 ( 1 978), 1 93-206. C:

DURKHEIM, ÉMILE ( 1 85 8- 1 9 1 7) . Nascido em Êpi­ nal (Alsácia), lecionou a partir de 1 896 em Bordeaux e, a partir de 1 902, na Sorbonne. Pretendendo conferir um caráter estritamente positivo à sociologia, opôs-se a toda tentativa de transformar a investigação sociológi­ ca numa dedução a partir de leis universais do tipo das estabelecidas por Comte em sua teoria dos três estados. A sociologia deve, segundo Durkheim, ater-se a um mé­ todo científico - deve buscar leis, porém não gene­ ralidades abstratas, e sim expressões precisas das rela­ ções descobertas entre os diversos grupos sociais. A fidelidade aos fatos leva a reconhecer que a sociedade é uma realidade que tem suas próprias carac­ terísticas e a que correspondem categorias próprias. As categorias mais próximas das sociais são as orgãnicas ou biológicas. Isso não significa, porém, que aquelas possam ser derivadas destas, mas apenas que pode haver conceitos comuns a ambas. O que ocorre com os tipos de realidade ocorre também com os métodos usados para a pesquisa. Tanto nas ciências biológicas como nas ciências sociais a noção de função desempenha um papel importante. Entretanto, é preciso especificar de que modo se pode entender essa função nas ciências sociais. Para Durkheim, uma explicação funcional nes­ sas ciências permite relacionar diversos fatores ou siste­ mas; em particular, permite ver de que modo as ativi­ dades, instituições, sistemas de crenças etc. que existem, ou se desenvolvem, numa sociedade se relacionam com a sociedade em conjunto. O exame das funções não substitui o das causas; porém, uma vez estabelecidas estas últimas, é necessário comprovar de que maneira contribuíram para a formação de relações funcionais.

DURKHEIM, ÉMILE

O método funcional de Durkheim corresponde à sua idéia da sociedade como um conjunto que possui uma consciência coletiva, e, ao mesmo tempo, essa idéia da sociedade condiciona o método; os dois estão correlacionados. A mencionada "consciência coletiva" não deve ser entendida como uma "reificação" de repre­ sentações e comportamentos individuais: trata-se de um traço constituinte dos fatos sociais. Ela não deve ser entendida, tampouco, como uma espécie de "consciên­ cia geral" independentemente das atividades, das nor­ mas, das instituições etc. A rigor, estas últimas são os fatos sociais por meio dos quais se pode descobrir a citada consciência coletiva. Entre as contribuições de Durkheim à sociologia figura sua tipologia social, isto é, sua classificação das formas sociais, das mais primitivas, ou simples, às mais complexas, e desde as que podem ser consideradas normais até as que devem ser declaradas anormais ou patológicas. A anormalidade pode surgir em qualquer forma social e resulta principalmente, se não exclusiva­ mente, de uma falta, ou enfraquecimento, de relações funcionais. A obra de Durkheim exerceu, sobretudo na França, uma grande influência, favorecendo grandemente a ten­ dência empírica na investigação sociológica, porém sem implicar uma formação estritamente naturalista. Mais ainda: a atenção ao fato e ao dado contribuía às vezes para libertar o pensamento sociológico de alguns pressu­ postos unilateralmente naturalistas. Desse modo, desen­ volveu-se uma "Escola" à qual pertenceu a maioria dos sociólogos franceses da época. Entretanto, a vinculação a ela não significa sempre a adesão estrita às teses de Durkheim, pelo menos não às que não tinham um sim­ ples caráter metodológico. Desse ponto de vista e com estas reservas, podem-se considerar continuadores da obra de Durkheim sociólogos como George-Ambroise Davy ( 1 883- 1 976, nasc. em Bernay, Normandia), que aplicou sobretudo o método ao domínio do Direito (Le Droit, l 'idéalisme et l 'expérience, 1 922; La Foi jurée. Étude sociologique du probléme du contrai. La forma­ tion du lien contractuel, 1 922), François Simiand ( 1 8731 936, nasc. em Saint-Raphael), que se ocupou dos pro­ blemas sociológicos na economia (La méthode positive en science économique, 1 9 1 2), Henri-Pierre-Eugene Hu­ bert ( 1 872- 1 927) e Marcel Mauss ( 1 872- 1 950, nasc. em É pinal), que deram importantes contribuições à sociolo­ gia e à história das religiões ( cf. sua obra em colabora­ ção: Mélanges d 'histoire des religions, 1 909), Célestin Bouglé (vER ) , Maurice Halbwachs, que estudou a me­ mória do ponto de vista social (Les cadres sociaux de la mémoire, 1 925), e Paul Fauconnet, autor de uma teo­ ria da responsabilidade social (La responsibilité. Étude de sociologie, 1 920). A maior parte dos primeiros traba­ lhos da Escola de Durkheim apareceram em L'A nnée Sociologique ( 1 898- 1 908).

DÜRR, ERNST

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:> Obras: Éléments de sociologie, 1 889. - De la divi­ sion du travai/ social, 1 893 (tese). - Les régles de la méthode sociologique, 1 895. - le suicide, 1 897. les fonnes élémentaires de la vie religieuse, 1 9 1 2 . Education et sociologie, 1 922. - l'éducation mora/e, 1 923. - Sociologie et philosophie, 1 925. - le socialis­ me, 1 928. - Pragmatisme et sociologie, 1 955 (curso na Sorbonne, 1 9 1 3- 1 9 1 4, ed. segundo anotações de estudan­ tes por A. Cuvillier). - Journal sociologique, 1 969 (estu­ dos 1 896- 1 9 1 2, com e notas de Jean Duvignaud). - la science sociale et / 'action, 1 970 (artigos 1 885- 1 9 1 4). Em português: Ciência social e a ação, 1 97 5 . Da divisão do trabalho social, 2" ed., 1 999. - Dur­ kheim, 1 998. - Evolução pedagógica, 1 995. - As formas elementares da vida religiosa, 1 996. - As regras do método sociológico, 2ª ed. , 1 999. - Socialismo, 1 993. - O suicídio, 2000. Ver: C. E. Gehlke, E. Durkheim :� Contribution to Sociological Theo1y, 1 9 1 5 . - G. Richards, l'athéisme dogmatique en sociologie, 1 923. - Roger Lacombe, la méthode sociologique de Durkheim, 1 926. - G. Davy, E. Durkheim (seleção de textos e comentário), 1 927. E. Marika, E. Durkheim. Soziologie und Soziologismus, 1 932. - G. Simpson, E. Durkheim on the Division of labor, 1 93 3 . - J. Vialatoux, De Durkheim à Bergson, 1 93 8 . - Harry Alpert, E. Durkheim and His Sociology, 1 939 (trad. esp., 1 945 ) . - Ch. Peterson, E. Durkheim. Ein historisk-kritisk Studie, 1 944. - Kurt H. Wolff, E. D. 1858- 1 9 1 7, 1 960 (série de estudos, com bibl . ) . Franciszek Indan, Pozytywism etyczny E. Durkheima, 1 960 (O positivismo ético de E. D. ). - Guy Aimard, D. et la science économique: l'apport de la sociologie à la théorie économique moderne, 1 962. - Jean Duvignaud, D. , 1 965. - Jerzy Szacki, D. , 1 965 (em polonês). Dominick Lacapra, E. D. . Socio/ogist and Philosopher, 1 972. - Steven Lukes, E. D. . His Life and Work, 1 972. - Ernest Wallwork, D.. Morality and Milieu, 1 972. Robert Nisbet, The Sociology of E. D. , 1 974. - W Pope, D.'s Suicide: A Classic Analyzed, 1 976. - M. Fabris, Mora/e e religione in É. D. , 1 98 l . - K. Thompson, E. D. , 1 982. - R. A. Jones, É. D. . An lntroduction to Four Major Works, 1 986. - R. T. Hall, É. D. . Ethics and the Sociology of Morais, 1 987. - M. Gane, On D.'s Rufes of Sociological Method, 1 989. C: -·

DÜRR, ERNST. Ver KüLPE, OswALD. DÚVIDA. O termo 'dúvida' significa principalmente "vacilação'', "irresolução", "perplexidade" Estas signi­ ficações encontram-se já no vocábulo latino dubitatis. Na dubitatio há sempre pelo menos duas proposições ou teses entre as quais a mente se sente flutuante; ela vai, com efeito, de uma a outra sem deter-se. Por esse mo­ tivo, a dúvida não significa falta de crença, mas inde­ cisão com respeito às crenças.

Há na dúvida um estado de suspensão que a toma a atitude própria do cético (ver Crnc1sMo), sempre que este último seja entendido não como aquele que não crê em nada, mas como o que põe entre parênteses seus juízos em vista da impossibilidade em que se encontra de decidir-se. No âmbito dessa significação geral, a dúvida ou, melhor dizendo, o estado de dúvida - pode ser entendida de vários modos. A nosso ver, estes se redu­ zem aos seguintes: 1 ) a dúvida como atitude; 2 ) a dú­ vida como método; 3 ) a dúvida como elemento necessá­ rio à fé. É pouco freqüente encontrar exemplos puros de qualquer uma dessas três significações na história da filosofia, mas pode-se falar de várias concepções da dúvida nas quais se manifesta a tendência a enfatizar uma delas. A dúvida como atitude é freqüente entre os céticos gregos e os renascentistas. É também bastante habitual entre aqueles que, sem pretender elaborar nenhuma filo­ sofia, se negam a aceitar qualquer crença firme e espe­ cífica, ou que consideram que não há nenhuma propo­ sição cuja validade possa ser provada de maneira sufi­ ciente para engendrar uma convicção completa. É carac­ terístico dessa forma de dúvida considerar o estado de irresolução como permanente, mas ao mesmo tempo encontrar nele certa satisfação psicológica. Na dúvida como atitude, a mente regozija-se "em não dar nenhu­ ma resposta e em não produzir nenhuma convicção", como, de acordo com Hume (Enquiry, sec. 1 2 ) , ocorre quando adotamos argumentos "meramente céticos'', do tipo dos de Bayle ou Berkeley. Afirmou-se que a atitude da dúvida, tal como se manifestou pelo menos entre os céticos gregos, é uma "conclusão" à qual se chega de­ pois de se terem rej eitado como válidos todos os argu­ mentos que demonstram a absoluta verdade de qualquer proposição. Contudo, pode-se dizer também que ela é um ponto de partida sem o qual não se produziria tal ceticismo. De fato, a dúvida como atitude se encontra em ambos os extremos: parte-se dela para chegar a ela. A questão que se formula então é a de saber se é fac­ tível permanecer sempre no estado de dúvida. Pode-se responder a isso afirmando que, se a dúvida fosse sim­ plesmente uma não-crença, o estado em questão seria provavelmente pouco duradouro. Porém, como a dúvida enquanto atitude é uma forma de "crença" - a crença de que não é possível decidir-se -, sua plausibilidade psicológica permanece assegurada. A dúvida como método foi empregada por muitos filósofos. Afirmou-se até mesmo que ela é o método fi­ losófico por excelência, na medida em que a filosofia consiste em esclarecer todo tipo de "pressupostos" (o que não pode ser feito sem submetê-los à dúvida). En­ tretanto, apenas em alguns casos se adotou explicita­ mente a dúvida como método. Entre eles, destacam-se Santo Agostinho e Descartes: o primeiro na proposição

785

DYROFF, ADOLF

Si fallor, sum, pela qual aparece como indubitável a existência do sujeito que erra; e o segundo na proposi­ ção Cogito, ergo sum ( vER ) , por meio da qual fica asse­ gurada a existência do ser que duvida. Nesses exem­ plos, pode-se dizer que a dúvida é um ponto de partida, já que a evidência (do eu) surge do próprio ato de du­ vidar da redução do pensamento da dúvida ao fato fundamental e aparentemente inegável de que alguém pensa ao duvidar. A concepção da dúvida como elemento necessário à fé consiste em supor que a fé autêntica não é um mero crer em algo de olhos fechados, mas um crer acompanhado da dúvida e, em larga medida, alimentado pela dúvida. Vários pensadores enfatizaram este aspecto da dúvida, destacando-se entre eles Unamuno. Com efeito, de acordo com esse autor, uma fé que não vacila não é uma fé: é um mero automatismo psicológico. Por conseguinte, nesta idéia da dúvida, a fé e a dúvida são inseparáveis. As posições 1) e 3 ) são predominantemente de ín­ dole vital, ou, ainda, existencial; a posição 2), especial­ mente na forma cartesiana, é predominantemente de natureza intelectual. Destacamos 'predominantemente' porque na questão da dúvida não se podem traçar linhas divisórias demasiadamente rígidas entre o vital e o inte­ lectual. Aqueles que adotam a dúvida como atitude ou como elemento subjacente à fé empregam igualmente inumeráveis argumentos. Aqueles que duvidam meto­ dicamente por meio de argumentos têm previamente uma atitude de dúvida. Uma última questão que surge com referência à dúvida é, uma vez adotando-a, como sair dela. Os céti­ cos radicais afirmam que essa saída é impossível. Os céticos metódicos declaram que no próprio âmago da dúvida se encontra a possibilidade de descobrir uma proposição indubitável: pode-se duvidar de tudo menos de que se duvida de que se duvida. Os céticos por mo­ tivos de fé assinalam que não é conveniente sair da dúvida se se quer manter a vitalidade de uma crença. A essas respostas - correspondentes, grosso modo, às posições 1 ) , 2) e 3 ) - pode-se acrescentar outra, muito própria das filosofias que podem ser qualificadas de ati­ vistas: consiste em enfatizar que a ação ( VER ) é a única possibilidade para se vencer a dúvida. De acordo com esta posição, a dúvida emerge apenas quando perma­ necemos no plano intelectual - no plano vital, em contrapartida, as decisões são inevitáveis, de sorte que o estado de flutuação e irresolução que caracteriza a dúvida pode ocorrer somente de modo transitório. :> Ver: Rodolfo Mondolfo, II dubbio metodico e la Storia de/la filosofia, 1 905. - Charles Francis How­ land, Doubt. A Study of Knowledge, 1 93 3 . - Sven Edvard Rohde, Zweifel und Erkenntnis. Ueber das Pro­ blem des Skeptizismus und den Begriff des Absoluten, 1 945. J. Barnes et ai. , eds. , Doubt and Dogmatism: -

Studies in Hellenistic Epistemology, 1 980. - P. Hoff­ man, Doubt, Time, Violence, 1 987. Sobre o problema da dúvida em Descartes e em Francisco Sánchez: Karlheinz, Der Zweifelbeweis des Descartes. Eine Darstellung und methodologische Inter­ pretation, 1 93 5 (tese). - Joaquín lriarte, Kartesischer oder Sanchezischer Zweifel? Ein kritischer und philoso­ phischer Vergleich zwischen dem Kartesischen Discours de la méthode und dem Sanchezischen Quod nihil scitur, 1 93 5 (tese). - J. M. Arias Azpiezu, La certeza dei yo dubitante en la filosofia prekantiana, 1 974. - F. Bader, Descartes ' Erste Philosophie. Die Systematik des me­ thodischen Zweifels, 1 982. Sobre a dúvida no sentido existencial: Emilio Goui­ ran, Interpretación existencial de la duda, 1 937. Sobre a doutrina clássica do eidos: Nicolai Hart­ mann, Zur Lehre vom Eidos bei Platon und A ristoteles [ Abhandlungen der Preuss. Akademie der Wissenschaf­ ten ] , 1 94 1 (reimpresso em Kleinere Schrifien, II, 1 957). Sobre eidética em sentido psicológico: A. Riekel, Eidética. La memoria sensorial y su investigación, 1 990. Sobre Jaensch: M. Krudewig, Die Lehren von der vi­ suellen Wahrnehmung und Vorstellung bei E. R. Jaensch un seinen Schülern, 1 95 3 . C

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EIDOS. Em vários artigos desta obra, especialmente em EssÊNCIA; FoRMA E I DÉ IA, nos referimos ao termo grego eThos e a suas diversas significações, sobretudo em autores que o utilizaram como termo técnico (Pla­ tão, Aristóteles, Husserl). Indiquemos aqui simplesmen­ te que na raiz de múltiplos significados de eidos encon­ tra-se a noção de "aspecto" (species), que ofeiece uma reali dade quando esta é vista naquilo que a constitui co­ _mo tal realidade. Segundo um ponto de vista, o eidos é o tipo de realidade a que pertence, ou que é, uma coisa dada. Como o tipo de real idade que algo é é "visível", ou supostamente apreensível, por meio de alguma ope­ ração intelectual, o eidos é entendido também como a idéia da realidade. Assim, ele é um "aspecto essencial" que pode oferecer, por sua vez, dois aspectos essenciais: o da realidade e o da apreensão inteligível, conceituai etc., da realidade. Quando esses dois aspectos são fundi­ dos em um só temos a idéia do eidos como uma essência que é ao mesmo tempo um conceito: o conceito de eidos é simultaneamente algo "real" e algo "conceituai" ( obje­ tivo ou formal). O eidos pode ser interpretado de diversas maneiras. Como exemplos ou interpretações clássicas menciona­ mos as de Platão e de Aristóteles. A diferença capital entre essas duas interpretações é a da separabilidade: para Platão, o eidos é separável dos indivíduos que par­ ticipam do eidos, enquanto para Aristóteles ele está, por assim dizer, encarnado, ou realizado, nos indiví­ duos. Mas j unto a essas duas interpretações podem ser mencionadas outras. Assim, por exemplo, o eidos pode ser tomado como momento específico (separável ou não) de uma realidade, ou como momento constitutivo de uma realidade. No primeiro caso, e para continuar utilizando a terminologia grega, ele é visto a partir do logos; no segundo caso, a partir da physis enquanto realidade. Visto a partir do logos, o eidos pode ser, por sua vez, uma apreensão mental ou um conceito ou algo entre os dois (segundo a posição adotada na doutrina dos universais); também pode ser ou uma intenção ou o final de um ato intencional . Visto a partir da physis en­ quanto real idade, o eidos pode ser sujeito individual ou realidade supostamente fundamental à qual podem ser "reduzidas" as demais realidades etc. EINFÜH LUNG. Ver ENDOPATIA, EMPATIA, SIMPATIA. EINSTEIN, A LBERT ( 1 879- 1 95 5 ) , nascido em Ulm, realizou seus estudos técnicos no I nstituto Federal de Tecnologia de Zurique. Entre 1 902 e 1 909 trabalhou no departamento de patentes de Berna - trabalho que, segundo seu próprio depoimento, foi muito estimulante para suas atividades científicas teóricas - e durante esse período doutorou-se na Universidade de Zurique ( 1 905). Foi professor na Universidade de Zurique ( 1 9091 9 1 0), na Universidade alemã de Praga ( 1 9 1 0- 1 9 1 2), no citado Instituto de Zurique ( 1 9 1 2- 1 9 1 3 ) e na Univer-

EINSTEIN, ALBERT

sidade de Berlim ( 1 9 1 3- 1 933) (em cuja cidade foi no­ meado, além disso, diretor de fisica teórica do Kaiser Wilhelm Institut). Contrário ao nazismo por suas con­ vicções políticas l iberais e por sua origem j udaica, fo­ ram-lhe retiradas sua cátedra e sua cidadania. No mes­ mo ano aceitou ser membro do Institute of Advanced Studies, de Princeton, onde residiu quase ininterrupta­ mente, mesmo depois de aposentar-se ( 1 945). Em 1 92 1 recebeu o prêmio Nobel por suas investigações fisicas. Estas são fundamentais. Em 1 905 apresentou sua teoria especial da relatividade, postulou a existência dos fótons como quanta de luz e expl icou o chamado efeito fotoelé­ trico. Em 1 907 estabeleceu a nova equação entre energia e massa (E = mc2 ) [ver ENERGIA] . Em 1 9 1 6 apresentou, já completa, a teoria geral da relatividade, que tinha sido antecipada em 1 9 1 1 com sua teoria da equivalência da gravidade e da inércia. Durante muitas décadas trabalhou na chamada teoria unificada do campo, que permitiria unir em um único grupo de equações os fenômenos gra­ vitacionais e os eletromagnéticos; a formulação matemá­ tica foi apresentada em 1 950. São importantes os traba­ lhos de Einstein em cosmologia e também em epistemo­ logia; entre os últimos se destaca sua defesa do determi­ nismo diante da opinião de muitos contemporâneos. O presente artigo se limita aos dados biográficos; uma expl icação sumária da teoria da relatividade de Einstein e de algumas das controvérsias filosóficas em torno dela será encontrada no artigo Relatividade ( vER) . Também nos referimos a doutrinas de Einstein em ou­ tros artigos (ver, por exemplo, CosMOLOGIA; ENERGIA; FiSICA; MATEMÁTICA; MOVIMENTO; TEMPO ) . :> Entre os escritos científicos mais importantes de Einstein mencionamos: Eine neue Bestimmung der Mo­ lekiildimensionen, 1 905 (folheto; também publicado em Annalen der Physik, série 4, vol . 1 9 [ 1 906], 289-306). - "Ueber einen die Erzeugung und Verwandlung der Lichtes betreffenden heuristischen Gcsichtspunkt", Annalen, etc. , série 4, 1 7 ( 1 905), 1 32- 1 48 . - "Elektro­ dynamik bewegter Kêirper", Annalen, série 4, 1 7 ( 1 905), 89 1 -92 1 . - "Zur Theorie der Brownschen Bewegung", Anna/en, série 4, 1 9 ( 1 906), 3 7 1 -3 8 1 . - "Theorie der Lichterzeugung und Lichtabsorption", Annalen, série 4, 20 ( 1 906), 1 99-206. - "Relativitiitsprinzip und die aus demselben gezogenen Folgerungen", Jahrbuch der Radioaktivitiit, 9 ( 1 907), 4 1 1 -462; 1 O ( 1 907), 98-99 [importante pelas fórmulas de equivalência de massa inercial e gravitacional e pela equação E = mc 2 ] . Entwurfeiner verallgemeinerten Relativitiitstheorie und eine Theorie der Gravitation, 1 9 1 3 (reimpressão de Zeitschrijifiir Mathematik und Physik, 62 [ 1 9 1 3 ] , 225244 [parte matemática por M. Grossmann, pp. 24526 1 ] ) . - Grundlage der allgemeinen Relativitiitstheo­ rie, 1 9 1 7. - Vier Vorlesungen iiber Relativitiitstheorie, gehalten im Mai, 1 92 1 , an der Universitiit Princeton, 1 922 (apareceu primeiro em inglês, sob o título: The

EISLER, HU DOLF

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meaning olRelativity: Four lectures delivered at Prin­ ceton University, 1 92 1 , do texto alemão traduzido por E. P. Adams; a edição de 1 950 da mesma obra em inglês contém a formulação aludida no texto do presente arti­ go; 5ª ed. definitiva [incluindo "The relativistic Theory of the Non-Symmetric Field"] publicada em 1 956. Geometrie und Erfahrung, 1 92 1 (folheto; reimp. de Sit­ ::ungsberichte da Preuss. Ak. der Wiss. , parte I [ 1 92 1 ] , 1 23 - 1 30). - "Einheitliche Feldtheorie", Preuus. A k. der Wiss. [ 1 929], 2-7. - Die Physik ais A benteuer der Erkenntnis, 1 93 8 (em colaboração com L. lnfeld. "Motion of Particles in General Relativity Theory", Ca­ nadian Journal of'Mathematics, 3 ( 1 949), 209-24 1 [em colaboração com L. lnfeld] . Entre as obras de Einstein de caráter geral citamos: Mein Weltbild, 1 934 e Out of' Mv Later Years, 1 950. Em português: Como vejo o mundo, 23ª ed., 1 999. - Escritos da maturidade, 3ª ed. , 1 994. - A evolução da .física, 2ª ed. , 1 984. - Notas al//obiográ(icas, 1 982. -O poder nu, 1 994. - Por que a grierm ?, com S. Freud., 1 997. Teoria da relatividade especial e geral, 1 999. Edição de obras: The Collected Papers o/A. E. , l 987ss .. ed. John Stachel [publ icação nas línguas ori­ ginais, com notas em inglês] . Destacamos das muitas obras sobre Einstein: A. Moszkowski, A . E . Einhlicke in seine Gedankenwelt. Entwickelt aus Ge.1priichen mit E. , 1 922. - Ph. Frank, E. His Li/e and Times, 1 947. -- L. Barnett, The Universe and D1: E. , 1 948. - VVAA. (A. Sommerfeld, L. de Broglie, W. Pauli, M. Bom, N. Bohr, H. Reichenbach, P. W. Bridgman, V F. Lenzen, E. A. M i lne, G. E. Lemaitre, H. Dingle, K . Gõdel, e outros), A . E. : Philo­ sopher-Scientist, ed. P. A. Schilpp (com respostas de Einstein). - L. Infeld, A. E. : His Work and lts lnfluence 011 Our World, 1 950. - Cornelius Lanczos, A. E. and the Cosmic World Order, 1 96 5 . - Jeremy Bernstein. E . 1 973. W. Bcrkson, Fields of' Force: The Deve­ lopment o/'a ltbrld Vieu'finm Faraday to E. , 1 974. P. C. Aichelburg, R. Sexl, eds. , A. E. Sein Einfluss auf' Physik, Philosophie und Politik, 1 979. -- E. Nagel, G . Holton, J . A. Whcclcr, H . Bcthe e t ai. , A Centennial Sv111posi11111, cd. H . Woolf, 1 980 [em Institute for Advan­ ced Study, de Princeton, 4-9 de março de 1 979] . - A. Fine, The Sha/9• Game: E . Realism and lhe Quantum Theorr, 1 986. - D. P. Ryan, ed., E. and the Humanities, 1 987. --- M. Sachs, E. 1•ersus Bohr: The Continuing Co/l/ro\'ersies in Physics, 1 98 8 . - B. Kanitscheider, Das Welthild A. E. s, 1 9 8 8 . - E. Zahar, E.:1· Revolution: A Stl/((\' in Heuristic, 1 989. M . Ghins, L ' inertie et I ' e.1pace-te111p.1· ahsolu de Newton â Einstein , 1 990. Para as obras sobre a teoria da relatividade, ver REL/\Tl\' J [)AllL. Ver: Heinrich Maier, Psychologie des emotionalen Denkens, 1 908. - John Mac Murray, Reason and Emo­ tion, 1 93 5 ; 2ª ed., 1 96 2 . - Marius Latour, Premiers principes d ' une théorie générale des émotions, l 935ss. - R. Lacroze, L ' angoisse et /' émotion, 1 93 8 . - H. M. Gardiner, Ruth Clark Metcalf, John G. Beebe-Cen­ ter, Feeling and Emotion. A History ofTheories, 1 937. - Frederick H . Lund, Emotions, Their psychological, physiological and educative Implications, 1 939. Jean-Paul Sartre, Esquisse d ' une théorie des émotions, 1 939. - Paul Thomas Young, Emotion in Man and Animal, 1 943. - J. Barnier, Émotion, émotivité, consti­ tution émotive, 1 94 7. - Fernand Jason, La vie ajfective et / ' intelligence, 1 948. - V J. McGill, Emotions and Reason, 1 954 (A merican Lectures in Philosophy, ed. M. Farber). - S. Strasser, Das Gemüt. Grundgedanken zu einer phiinomenologischen Phi/osophie und Theorie des menschlichen Gefiihlslebens, 1 956. - Erik Gõtlind, Three Theories o/Emotions: Some Views on Philosophi­ cal Method, 1 95 8 . - James Hillman, Emotion, 1 960. - Anthony Kenny, A ction, Emotion and Will, 1 963. J. R. S. Wilson, Emotion and Object, 1 972. - Warren Shibles, Emotion: The Method ofPhilosophical Thera­ py, 1 974. - F. Bergmann, R. C. Solomon et ai. , Unders­ tanding Human Emotions, 1 979 (vol. 1 de Bowling Green Studies in Applied Philosophy). P. D. Mac­ Lean, J. R. Averill et ai., Explaining Emotions, 1 980, ed. A. Oksenberg Rorty. - W. Lyons, Emotion, 1 980. - R. De Sousa, The Rationality o/Emotion, 1 987. B. H. Boruah, Fiction and Emotion : A Study in A esthe­ tics and the Philosophy of Mind, 1 98 8 . - F. Sontag, Emotion: Its Role in Understanding and Decision, l 989. - R. C. Solomon, Lave: Emotion, Myth and Metaphor, 1 990. - J. MacMurray, Reason and Emo­ tion, 1 992. - D. N. Walton, The Place of Emotion in Argument, 1 992. Para Aristóteles, ver W. W. Fortenbaugh, Aristotle on Emotion, 1 97 5 . Para M. Scheler, ver sobretudo : Ética e Essência e formas da simpatia (referências bibliográficas mais -

completas em SCHELER [MAx]). - Ver também biblio­ grafia de PAIXÃO e SENTIMENTO. Sobre Sartre, ver Joseph P. Fel!, Emotion in the Thou­ ght of Sartre, 1 965. Antologia: C. Calhoun, R. C. Solomon, eds., What is an Emotion: C/assic Readings in Philosophica/ Psycho­ /ogy, 1 984 (contém fragmentos clássicos de Aristóteles, Descartes, Spinoza e Hume na primeira parte; de Darwin, James e Freud na segunda; de autores contemporâneos na 3ª e 4ª partes. Tem uma extensa bibliografia). C

EMOTIVISMO. Caso se aceite, como muitos positi­ vistas lógicos, que todas as proposições podem ser clas­ sificadas em proposições puramente analíticas e pro­ posições empiricamente verificáveis, deve-se concluir que certas "proposições", tais como "roubar é ruim", "ajudar o próximo é bom", "isto é injusto", "isto é justo" etc . , não são, propriamente, proposições. A objeção de que elas são proposições porque podem ser traduzidas em proposições empiricamente verificáveis - a "pro­ posição" "roubar é ruim", por exemplo, pode ser tra­ duzida pela proposição "não aprovo o roubo" - foi refutada mostrando-se que a desaprovação (ou aprova­ ção) de algo não é de modo algum incompatível com a asserção de que esse algo é mau (ou bom). Por conse­ guinte, parece que se deve negar às expressões éticas o caráter de proposições ou então introduzir um novo tipo destas. Alguns autores propuseram que as expressões éticas, mesmo que não sejam empíricas, são emotivas, isto é, manifestam sentimentos de índole ética. Como tais elas não podem ser declaradas verdadeiras ou fal­ sas. Mas isso não significa que tenham necessariamente caráter "arbitrário" ou "subjetivo". Os enunciados éticos e, em geral, valorati vos não podem ser confirmados por não serem empíricos, mas nem por isso deixam de ser apenas manifestações de humor pessoal. A doutrina em questão recebeu os nomes de emo­ tivismo e também de teoria emotiva. Foi proposta e desenvolvida sobretudo por autores anglo-saxões (A. J. Ayer, C. L. Stevenson; VER) em oposição a outras múl­ tiplas doutrinas éticas (ética "metafisica'', ética axioló­ gica, naturalismo, intuicionismo etc . ) . As dificuldades com que essa doutrina se defrontou foram examinadas detalhadamente pelos próprios autores que a propuse­ ram. Chamou-se a atenção, por exemplo, para o fato de que os enunciados éticos não são inúteis, porque têm um caráter de "mando" e de "incitação" à ação. Também foi dito (C. L. Stevenson) que, embora os termos utili­ zados em enunciados éticos não sejam termos descriti­ vos, eles são, em contrapartida, termos dinâmicos que produzem (ou podem produzir) reações afetivas. Em suma, tentou-se eludir as objeções apresentadas por na­ turalistas e por intuicionistas dizendo que os enunciados éticos são "imperativos" ou ao menos "recomendativos''.

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Uma teoria emotivista foi proposta também - e antes que Ayer e Stevenson o fizessem - por Axel Hagerstrõm (vER), que se opôs à distinção entre expe­ riências emotivas e j uízos de valor introduzida por Meinong e Ehrenfels. Segundo Hagerstrõm não existe tal diferença e tampouco hájuízos de valor. As valora­ ções não podem ser nem verdadeiras, nem falsas. Por outro lado, as valorações são atos subjetivos mediante os quais emoções são projetadas em objetos exteriores. Não ficava claro em Hagerstrõm se tais emoções proje­ tadas eram subjetivamente apreendidas ao mesmo tem­ po como se fossem qualidades do objeto; se assim fosse, não se poderia distinguir entre uma qualidade real e uma qualidade projetada. As dificuldades em que desembocou o emotivismo induziram R. M. Hare a propor o que se chama de "pres­ critivismo" (vER). Segundo esse mesmo autor, as ex­ pressões na l inguagem moral continuam sendo, como sustentam os emotivistas, não-informativas, mas, ao contrário do que eles supõem, tais expressões não inci­ tam ou influem, mas servem de guia e de aviso. Outra correção ao emotivismo é a que foi proposta por J. O. Urmson, especialmente no que se refere à dimensão valo­ rativa da linguagem moral prescritiva. Segundo Urmson, valorar não é simplesmente expressar uma emoção, mas é uma atividade comparável a "graduar", isto é, a esco­ lher de acordo com certos critérios (ver GRAU). :l Ver: A. J. Ayer, Language, Truth and Logic, 1 936; 2ª ed., rev. , 1 946 (ed. port.: Linguagem, verdade e lógica, 1 99 1 ). - C. L. Stevenson, Ethics and Language, 1 945. - A . N. Prior, Logic and the Basis o(Ethics, 1 949. J. O. Urmson, "On Grading'', Mind, N. S . , 69 ( 1 950), 1 45- 1 69. (Ver também bibliografia de GRAU.) - !d., The emotive Theory ofEthics, 1 968. - Sõren Halldén, Emotive Propositions, 1 952 (crítica de Hagerstrõm). - R. M. Hare, The Language ofMorais, 1 952 (ed. port.: A linguagem da moral, 1 996). - Avrum Stroll, The Emotive Theory o( Ethics, 1 954 (University of Califor­ nia Publications in Philosophy, vol . 28, n. 1 , pp. 1 -92). - P.-H. Nowell-Smith, Ethics, 1 954. - Mary Warno­ ck, Ethics since 1 900, 1 960, especialmente pp. 79- 1 40. - S . Satris, Ethical Emotivism, 1 987. C:

EMPATIA. Ver ENDOPATIA, SIMPATIA. EM PÉDOCLES de Agrigento ( ca. 483/482-430 a.C.) foi considerado durante toda a Antiguidade um tauma­ turgo e um profeta; parece ter percorrido as cidades da Magna Grécia como orador e mago, e o próprio Dióge­ nes Laércio diz que há uma variedade de opiniões sobre sua morte, sendo que uma das versões mais difundidas é a de que ele teria se suicidado jogando-se na cratera do Etna. Seguindo a tradição dos jônicos, Empédocles de­ senvolveu uma explicação do universo, na qual todo fenômeno natural é considerado a mistura de quatro ele­ mentos ou "princípios" - água, fogo, ar e terra -,

EMPÉDOCLES

quali ficados com nomes divinos (Nestis, Zeus, Hera, Edoneu). Estes princípios ou elementos são eternos e irredutíveis; são, como diz Aristóteles, "eternamente subsistentes e não-gerados". Todas as coisas nascem e perecem por união e separação dos elementos, de tal modo que a qualidade de cada objeto reside na pro­ porção em que cada um desses elementos entra na mis­ tura. "Há apenas - afirma Empédocles - mistura e separação do misturado, mas não nascimento, que é uma simples maneira de dizer dos homens''. Isto posto, o que faz com que os elementos se misturem e sepa­ rem são duas forças externas - o Amor e o Ódio -, que representam um poder natural e divino; eles são respectivamente o Bem e o Mal, a Ordem e a Desor­ dem, a Construção e a Destruição. O que existia no começo era o Bem e a Ordem, o absoluto predomínio do Amor, por meio do qual existia uma mistura com­ pleta dos quatro elementos na unidade orgânica de uma "esfera". A intervenção do Ódio foi a origem das coisas, dos seres individuais, que se diversificam até a separa­ ção absoluta e o domínio absoluto do mal . Mas nesse estado tampouco há coisas particulares; ao mesmo tem­ po em que é a culminação do império do Ó dio, este estado é também o princípio do Amor que torna a con­ fundi-lo e misturá-lo todo até que haja uma só coisa, essa perfeita esfera que também se chama Deus. Essa perfeição encontra-se assim na origem do mundo atual e em seu termo; o mundo atual, no qual há seres indivi­ duais e, portanto, ódio e inj ustiça, é, no fundo, uma expiação, um processo de purificação que terminará apenas quando o Amor triunfar novamente; mas esse triunfo também é precário e a evolução dos mundos não é senão um processo no qual se manifesta inexo­ ravelmente um domínio alternativo do Ó dio e do Amor, do Bem e do Mal. Embora tenhamos apresentado sumariamente "a" doutrina de Empédocles segundo consta nos fragmentos conservados do filósofo, deve-se chamar a atenção para o fato de que suas duas obras - Acerca da Natureza (TI Ep\ qivoEws) e As Purificações (Ka8apµoí) - pa­ recem revelar duas distintas tendências: uma, "científi­ ca" (e até mesmo "materialista"), e a outra, religiosa (e até mesmo mística). Já se debateu se Empédocles pas­ sou da primeira para a segunda ou vice-versa por meio de uma espécie de "conversão", ou se ambas as tendên­ cias coexistiram na mente do fi lósofo. Neste último caso - o mais provável - também se discutiu se de­ vem ser consideradas ambas as tendências como filoso­ ficamente independentes entre si ou se há alguma tese ou intuição filosófica que as vincule. Alguns autores (E. R. Dodds, Gregory Vlastos) opinam que as duas ten­ dências não podem ser combinadas. Outros (F. M. Corn­ ford, K. S. Guthrie) acreditam que não apenas as duas tendências em questão coexistiram sem estranheza mú-

EMPÍRICO

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tua no pensamento de Empédocles, mas também que alguns elementos de uma (como a idéia de Amor [ou amizade] que liga e une as coisas) são interpretáveis ao mesmo tempo materialista e misticamente. Os partidários desta última opinião apóiam-se no fato de que na cultura grega da época não havia necessariamente conflito entre o filosófico (ou "científico") e o rel igioso, e, em geral, entre o racional e o irracional. :> Dos escritos de Empédocles conservam-se apenas fragmentos. Edição em Diels-Kranz, 3 1 (2 1 ). Outras edições: Ettore Bignone, Empedocle, Studio critico, 1 9 1 6 (com comentário). - Jean Bollack, Empe­ docle, 1 969 (com trad. francesa e comentário). - Cario Gallavotti, Poemafisico e lustra/e, 1 95 1 , ed. com trad. italiana e notas (pp. 1 6 1 -340). - N. van der Ben, The Poem ofEmpedocles 'Peri Physeos, Towards a New Edi­ tion o/Ali the Fragments. Thirty-One Fragments, 1 97 5 . Ver: E . Baltzer, Empedokles, eine Studie zur Philo­ sophie der Griechen, 1 879. - Joseph Bidez, La bio­ graphie d ' Empédocle, 1 894. - E. Brodero, II princi­ pio fondamentale dei sistema di Empedocle, 1 90 5 . Clara E. M i llerd, On the Interpretation ofEmpedocles, 1 908. - U. von Wilamowitz-Moellendorff, Die Kathar­ moi (As purificações) des Empedokles [Sitzungsbe­ richte der Preuss Ak. der Wissenschaften, Philhist, Klas­ se ], 1 929. - J. Souilhé, L' énigme d ' Empédocle (separa­ ta dos A rchives de Philosophie, vol . IX, caderno 3). W. Kranz, Empedokles. Antike Gesta// und romantische Neuschopfimg, 1 94 7 . - F. Hõlderin, Empedokles, 1 948. - A.-J. Festugiere, L' enfant d 'Agrigente, 1 950. - J. Zafiropoulo, Empédocle d ' Agrigente, 1 95 3 . Gilles Nelod, Empédocle d ' Agrigente, 1 96 1 . - Jean Bollack, Empédocle, 4 vols. (!: lntroduction à / ' ancienne physique; I I : Les origines [com ed. e trad. de fragmen­ tos] ; III, 1 e 2 : Les origines [comentário]), 1 965ss. Jean Brun, Empédocle, 1 966. - D. O' Brien, Empe­ docles ' Cosmic Cycle: A Reconstructionfrom the Frag­ ments and Secondary Sources, 1 969. - Johann Chris­ toph Lüth, Die Struktur des Wirklichen im empedokleis­ chen System über di Natur, 1 970. - Helle Lambridis, E. : A Philosophical lnvestigation, 1 976. - N. Van der Ben, The Proem of E. , Peri Physeos, 1 97 5 . - R. A. Prier, Archaic Logic: Symbol and Structure in Herac­ litus, Parmenides and E. , 1 976. - E. Brodero, II prin­ cipio fondamentale dei sistema di E. , 1 978. - D. O ' Brien, Pour interpréter Empédocle, 1 98 1 . Além das obras de Avenarius, ver: G. Wobbermin, Theologie und Metaphysik, 1 90 1 (Parte II: Ueber den Empiriokritizismus vom Standpunkt des theologischen Interesses aus). F. van Cauwelaert, 'Tempirio-criticis­ me", Revue néo-scolastique, 1 3 ( 1 906) e 1 4 ( 1 907). Sobre & epoché em sentido antigo, ver P. Couisson, ''!..: origine et l ' évolution de l ' époché", Revue des Études grecques ( 1 929). Também tratam do problema todas as obras sobre os céticos gregos a que nos referimos na bibliografia de CrncisMo; entretanto, destacamos delas Léon Robin, Pyrrhon et le scepticisme grec, 1 944. Para a epoché nos céticos modernos, ver Richard H. Hopkin, The Histo1y of Scepticismfrom Erasmus to Descartes, 1 960. Para a epoché em sentido fenomenológico, ver as obras mencionadas nas bibliografias de FENO ME NO LO­ GIA e HussERL; e também: R. Boehm, Vom Geschtspunkt der Phiinomenologie, II. Studien zur Phiinomenologie der Epoche, 1 98 1 . C

EQÜIPOLÊNCIA. A expressão grega ioo5vvaµovom npoTáoetç costuma ser traduzida por 'proposições

eqüipolentes' ou 'enunciados eqüipolentes ' . Ela foi uti­ lizada por Galeno (Prantl, 1, 568) Apuleio usou a ex­ pressão propositiones aequipol/entes. Depois, nos tex­ tos lógicos escolásticos e boa parte dos modernos, em­ pregou-se freqüentemente a expressão aequipollentia enuntiationum . A eqüipolência das proposições ou enunciados po­ de ser entendida de vários modos. Gramaticalmente, duas ou mais proposições ou enunciados são eqüipolen­ tes entre si quando diferem apenas nos vocábulos. As­ sim, Ensis est ferreus e Gladis est ex ferro (exemplo dado por Jungius; cf. infra) são gramaticalmente eqüi­ polentes. Logicamente, duas ou mais proposições são eqüipolentes entre si quando têm o mesmo predicado .

mas diferem na forma. Segundo Jungius (Logica Ham­ burgensis, pp. 1 34- 1 3 7; ed. R. W. Meyers, pp. 88-89), que seguiu nisto muitos tratadistas anteriores, a eqüipo­ lência lógica pode ser entendida de dois modos: ou em relação aos termos sincategoremáticos ou em relação às partes significativas do enunciado. A eqüipolência lógica em relação aos termos sincategoremáticos (ou constantes lógicas) é a que ocorre entre dois enunciados que pos­ suem o mesmo sujeito e o mesmo predicado quando se dão certas condições relativas à quantidade e à qualidade dos enunciados. Desse modo, 1 ) dados dois enunciados com o mesmo sujeito e predicado e a mesma quantidade, eles são eqüipolentes quando um enunciado afirma uni­ versalmente S e nega P e o outro enunciado nega univer­ salmente S e afirma P (exemplo [usando ' = ' como sím­ bolo de 'é eqüipolente com ' ] : Nenhum livro é chato = Todo livro é não-chato). Também, 2) dados dois enun­ ciados contraditórios (exemplos: ' Todo livro é chato ' ; 'Algum livro não é chato ' ) , o segundo dos enunciados mencionados é eqüipolente com o primeiro enunciado quando se antepõe o signo de negação ao sujeito deste último (exemplo: 'Não todo livro é chato ' = 'Algum livro não é chato ' ) . Também, 3) dados dois enunciados contrários (exemplos: ' Todo livro é chato ' ; 'Nenhum livro é chato '), o segundo dos enunciados é eqüipolente com o primeiro quando se antepõe o signo de negação ao predicado deste último (exemplo: ' Todo livro não é chato ' = ' Nenhum livro é chato '). Finalmente, 4) dados dois enunciados subalternos (exemplos: ' Todo livro é chato ' ; 'Algum livro é chato ' ) , o segundo dos enuncia­ dos mencionados é eqüipolente com o primeiro quando se antepõem signos de negação ao sujeito e ao predica­ do deste último (exemplo: ' Não todo livro não é chato ' = 'Algum livro é chato ' ) . Quanto à eqüipolência rela­ tiva às partes significativas do enunciado, deve-se a Jungius (op. cit., supra), como indicou H. Scholz (Ges­ chichte der Logik, 1 93 1 ), ter destacado uma das formas mais importantes de tal eqüipolência: a chamada aequi­ pollentia per inversionem re/ationis. Jungius indica que ela se dá quando a parte principal do predicado em um enunciado se comporta como o correlato da parte prin­ cipal do sujeito em outro enunciado. Um dos exemplos dados por Jungius ( ' Davi é o pai de Salomão ' = ' Salo­ mão é o fi lho de Davi ' ) permite ver que a cqüipolência em questão pode ocorrer quando ocorrem relações que têm certas propriedades (como ser irreflexivas, ou assi­ métricas, ou intransitivas [de todas as quais é exemplo a relação pai de] ) . A aequipollentia per inversionem relationis de que falava Jungius é simbolizada na lógica atual por meio do bicondicional : xRy = yR.x, em que R é o converso de R.

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EQUIVALÊNCIA

Mencionaremos dois exemplos do uso do termo ' eqüipolência' na lógica contemporânea. Um deles pode ser encontrado em R. Carnap. Segundo esse autor, R , e R, (onde ' R ' substitui 'classe sentenciai ' ) são eqüi­ pol e ntes quando coincidem em seu conteúdo, chaman­ do-se de conteúdo de R , a classe de sentenças não vá­ lidas que são conseqüência de R , . A definição de Car­ nap é sintática. O outro exemplo encontra-se em H . Reichenbach. Segundo esse autor, duas fórmulas são eqüipolentes quando uma delas é derivável da outra e vice-versa. Assim, 'Fx' e '/\x(Fx) ' são, segundo Rei­ chenbach, fórmulas eqüipolentes porque de 'Fx' pode­ se derivar 'A'C(Fx) ' e de '/\x(Fx) ' pode-se derivar 'Fx ' . Reichenbach indica que esta eqüipolência é uma gene­ ralização da equivalência tautológica. As fórmulas tau­ tologicamente equivalentes também são eqüipolentes. Mas não, porém, inversamente.

EQUIVALÊNCIA. No verbete B1cONDICIONAL (vER) le­ mos ' H ' como ' se e somente se ' . Essa leitura recebe freqüentemente o nome de "interpretação material do bicondicional" ou também o de "equivalência material". Entretanto, assim como acontece com o condicional ( vER) , há outra leitura de ' H ' . É a que ocorre quando se coloca ' H ' entre nomes de enunciados em vez de colocá-lo entre enunciados. Desse modo, enquanto a expressão: se lê:

p se e somente se q

a expressão: s e lê:

'p ' H 'q ' 'p' é equivalente a ' q ' ,

o que pode ser traduzido por: p é logicamente equivalente a q. No cálculo de impl icação ( VER) estrita de C. 1 . Lewis, a expressão ' logicamente equivalente a' é simbo­ lizada por ''ª' (que lembra o símbolo ' .,, ' , antes utilizado no lugar do atual ' H ' , e é "reforçado" com mais uma linha). ·�' é chamada de "equivalência estrita" ou "equi­ valência lógica". Do mesmo modo que ocorre com o condicional, a leitura de 'p H q' ('p 'ª q') como 'p ;;; q ' deve ser admitida somente quando ' p H q ' ( 'p ;;; q ' ) é logicamente verdadeiro.

EQUIVOCAÇÃO. Ver Sm1sMA. EQUÍVOCO. Ver ANALOGIA; S 1NôN1Mo; UNivoco. ERASMO, DESIDÉRIO ( 1 467- 1 536), de Rotterdam, ingressou no convento dos Cônegos Regulares de Emmaus ( Steyn), ordenou-se sacerdote e foi tutor de Henrique de Bergen, a cujo serviço realizou numerosas viagens (Inglaterra, França, Suíça, Itália). Em 1 5 1 7 foi dispen-

sado d o s votos, m a s continuou no sacerdócio, travan­ do amizade com os maiores humanistas de sua época. O próprio Erasmo foi um dos principais representan­ tes do humanismo renascentista. Sua obra de humanista, manifestada em suas edições de autores clássicos e em seus trabalhos críticos sobre o Antigo e o Novo Testa­ mentos, representou, entretanto, apenas um aspecto de sua atividade intelectual. Embora não possa ser consi­ derado propriamente um filósofo, ao menos um filó­ sofo sistemático, Erasmo esteve no centro de muitas das discussões filosóficas de sua época. Entre elas cabe mencionar especialmente a que teve como eixo o pro­ blema do l ivre-arbítrio ( vER) . Contra os que acentua­ vam excessivamente a submissão do arbítrio humano à vontade divina, Erasmo defendeu a existência e o po­ der desse arbítrio. Foi isto, além do mais, que o opôs a Lutero (em seu desej o de introduzir uma reforma na Igreja, Erasmo considerara favoravelmente algumas de suas teses). Por esse motivo produziu-se uma ruptura entre Erasmo e Lutero, definitiva a partir da publicação, por parte do último, de seu tratado De servo arbitrio ( 1 525) contra o De libero A rbitrio Ll l ATPIBH, publicado por Erasmo um ano antes. A defesa do livre-arbítrio não significa, porém, que Erasmo estivesse a favor de teses naturalistas ou neopelagianas extremas. O que ele pretendia era, antes, encontrar um justo meio que, ao mesmo tempo que salvasse a liberdade, confirmas­ se a ligação do homem com Deus. E sse justo meio foi, além disso, muito característico da atitude filosófica e humana de Erasmo em todos os problemas importan­ tes. Assim, por exemplo, às vezes ele parece inclinar­ se para o "Deus único" manifestado em todas as reli­ giões e caro a certos espíritos renascentistas. Mas essa inclinação é corrigida por sua insistência no caráter peculiar da vida cristã e em sua opinião de que apenas dentro dessa vida se dá a possibilidade de uma concilia­ ção e de um verdadeiro humanismo. O mesmo ocorre com suas aspirações de reforma. Tratava-se, com efeito, para Erasmo, de conseguir a tão esperada paxfidei, de que falara Nicolau de Cusa, por meio de uma philoso­ phia Christi, baseada no desenvolvimento da vida inter­ na do cristianismo, mas sem destruir - antes revita­ lizando - a vida e a organização da Igreja. O huma­ nismo, e a atitude tolerante que lhe era inerente, devia constituir justamente, para Erasmo, uma das bases para tal reforma. As doutrinas e opiniões de Erasmo exerceram em sua época uma enorme influência. O erasmismo trans­ formou-se em um dos grandes temas de discussão. A forma adotada por ele dependeu em grande medida da situação histórica do país no qual encontrava adeptos. Em muitas partes da Europa ele se transformou em uma doutrina destinada a impulsionar o saber e a manter a unidade da fé. Em outras partes apareceu como uma doutrina filosófica que mesclava sabiamente humanis-

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mo e cristianismo. Em u m a delas, como na Espanha, foi quase sempre, como observou Américo Castro, uma vontade. Hoje chama a atenção a discrepância existente entre a "insignificância" filosófica do erasmismo e a influência exercida em sua época sobre os filósofos. Entretanto, essa discrepância toma-se menos acusada se levamos em conta que na época de Erasmo a filoso­ fia buscava não apenas novas idéias, mas também novas formas de expressão, e que Erasmo contribuiu notavel­ mente para estas últimas. :> As obras mais significativas da posição filosófica de Erasmo são: Enchiridion militis christiani, 1 502. Encomium moriae seu laus stultitiae, 1 509. - De Libe­ ro A rbítrio Ll l AT P I B H , 1 524. Edição de obras: as edições das obras de Erasmo consideradas clássicas são as de B eatus Rhenanus (9 tomos, Basiléia, 1 540- 1 54 1 ) e a de Clericus ( 1 1 tomos, Leyden, 1 703- 1 706; reimp., 1 96 1 - l 962ss.). - A obra mais editada e traduzida é o Elogio da loucura (ou "es­ tultice"). - Edição do Enquiridión o Manual dei ca­ ballero cristiano, por Dámaso Alonso, com prólogo de Marcel Bataillon, na Revista de Filología Espanola, Ane­ jo XVI, 1 932 (ver o ensaio de Dámaso Alonso, "El cre­ púsculo de Erasmo", em Revista de Occidente, 1 1 2 [ 1 932], 3 1 -53). - Obras escogidas, trad. esp. de Lo­ renzo Riber ( 1 956). - Importante para o conhecimento de Erasmo é sua correspondência: Opus Epistolarum Erasmi, 1-XII, Oxford, 1 906- 1 958, ed. por P. S. Allen (t. XII com índices de B. Flower). Erasmo por suas próprias palavras: A. J. Gail, E. v. R. in Selbstzeugnissen und Bilddokumenten, 1 974. Em português: Elogio da loucura, 3ª ed. , 2000. Bibliografia: F. Vander Haeghen, Bibliotheca Eras­ miana. Repertoire des oeuvres d 'Érasme, reimp., 1 96 1 . - Jean-Claude Margolin, Douze années de bibliogra­ phie érasmienne (/950-1 961), 1 963 . - Id., Neufannées de bibliographie érasmienne (1 962- 1 9 70), 1 977. Ver: H . Durand de Laur, Érasme, précurseur et ini­ tiateur de l 'esprit moderne, 2 vols., 1 872. - R. B. Drummond, Erasmus: His Life and Character as Shown in His Correspondence and Works, 1 87 3 . - E. Amiel, Érasme. Un libre penseur au XVI' siécle, 1 890. - A. Richter, Erasmus-Studien, 1 89 1 . - P. S . Allen, The Age ofErasmus, 1 9 1 4 . - Preserved Smith, Erasmus: A Study ofHis Life, Ideais and Place in History, 1 92 3 . - J . B. Pineau, Érasme. Sa pensée religieuse, 1 924. - 1 Huizinga, Erasmus, 1 924. - A. Renaudet, Études Érasmiennes, 1 939. - N. Petruzzellis, Erasmo, pensa­ tore, 1 948. - A. Flitner, Erasmus im Urteil seiner Na­ chwelt, 1 952. - S. A. Nulli, Erasmo e il Rinacimento, 1 95 5 . - Pierre Mesnard, Érasme, 1 969. - Dietrich Harth, Philologie und praktische Philosophie. Unter­ suchungen zum Sprach - und Traditionsverstiindnis des Erasmus von Rotterdam, 1 97 1 . - Manfred Hoff­ man, Erkenntnis und Verwirklichung der wahren Theo.

ERDMANN, BENNO

logie nach Erasmus von Rotterdam, 1 972. - R. Stup­ perich, E. v. R. und seine Welt, 1 977. - VVAA., Essays on the Works ofE. , 1 978, ed. Richard L. DeMolen. - R. H. Popkin, The History of Scepticism from Erasmus to Spinoza, 1 979. - Z. Pavlovskis, The Praise of Folly: Structure and Irony, 1 983. Para a questão de Erasmo na Espanha, ver: Marcel Bataillon, Érasme et l 'Espagne, 1 93 7 (trad. esp., com algumas modificações: Erasmo y Espana, 2 vols., 1 950), e Américo Castro, Lo hispânico y el erasmismo, 1 942 (reelaboração desta obra no livro intitulado Aspectos dei vivir hispânico. Mesianismo, espiritualismo y actitudper­ sonal en los siglas XIV ai XVI, s/d.[ 1 949]). Além dos trabalhos citados de Victor Brochard e de Max Scheler, ver: F. Marhenke, "The Problem of Error", University of'Califàrnia Publications in Philo­ sophy, vol. 1 0, 1 928, pp. 1 43- 1 74. - Balduin Schwarz, Der lrrtum in der Philosophie, 1 934. Sobre o erro em diferentes autores e tendências filosóficas, ver os seguintes trabalhos: Leo W. Keeler, The Problem o/'Errosfrom Plato to Kant. A Historical and Criticai Study, 1 934. - Adolfo Levi, série de arti­ gos sobre o problema do erro em vários autores e cor­ rentes; mencionamos: "li Problema dell ' errore nella filosofia di A. Rosmini" (Ri vista di filosofia, 1 925); "di Descartes" (Logos, 1 928); "nella teoria stoica" (Re­ vue d 'histoire de la philosophie, 1 928); "di Leibniz" (Rendiconti Ist. Lomb. , l 929); "di Platone" (Athaeneum, l 930); "di Antistene" (Revue d 'histoire de la philoso­ phie, l 930); "nella fi losofia neo-criticista, !. Renou­ vier, l i . V. Brochard" (Rendiconti Acc. lombard. , 1 93 1 ); "nella filosofia del l ' immanenza" (Arch. di filosofia, 1 932); "nella scuola di Megara" (Rendiconti A cc. Naz. dei Lincei, 1 932); "di Locke" (A rchivo di .filosofia, 1 933); "di Spinoza" (Sophia, 1 933); "di G. Windel­ band" (Arch. storia dellajilosofia italiana, 1 934); "in Filone d' Alessandria" (Ri vista di storia dellajilosofia, l 950). - !d. . Il problema dell 'errore nella metafisica e nella gnoseologia di Platone, 1 970, ed. Giovanni Reale (póstuma). - Gofredo Quadri, Il pensiero .filosofico

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di S. Agostino, con particolare risguardo ai problema dell 'errore, 1 934. - M. D. Roland-Gosselin, "La théo­ rie thomiste de l 'erreur", Mélanges thomistes, 1 923, pp. 253-274. - !d. . "Erreur et péché", Revue de philo­ sophie, 28 ( 1 928), 466-478 . - John F. Skinner, The Logocentric Predicament: An Essay 011 the Problem of Error in the Philosophy ofJosiah Royce, 1 96 5 . - V. J. Fecher, Error, Deception and lncomplete Truth, 1 97 5 . - W. Berkson, J . Wettersten, Learningfrom Error: Karl Popper s Psychology ofLearning, 1 984. - D. V. Stump, J. A. Arieti, L. Gerson e E. Stump, Hamartia: The Con­ cept ofError in the Western Tradition, 1 984. - R. Ka­ lechofsky, The Persistence ofError: Essays in Develop­ mental Epistemology, 1 987. - M. E. Moss, Benedetto Croce Reconsidered: Truth and Error in Theories of Art, Literature and History, 1 987. Ver: Paul Foulquié, L'Existencialisme, 1 947, pp. 1 1 5- 1 25 . - F. Meyer, Essentialism, 1 950. - M iguel Oromí, lntroducción a la jilosojía esencialista, 1 96 1 . - F. Mayer, Essentialism, 1 95 1 . - G . Forbes et ai, Studies in Essentialism, 1 986, eds. P. A. French, T. E . Uehling, H . K. Weintraub e t a i. . Para o "essencialismo" medieval v e r É. G ilson, L 'Être et L'Essence, 1 948; nova ed., 1 962; nova ed. aum., 1 98 1 . Para a doutrina de Zubiri ver Sobre la esencia, 1 962, passim. A contraposição entre "fatos" e "essências" e entre "ciências fáticas" e "ciências eidéticas" é estudada por quase todos os que trataram do pensamento de Husserl ( VER) e da fenomenologia ( VER) ; remetemos especial­ mente a Theodor Celms, Derphiinomenologische ldea­ lismus Husserls, 1 928. Para o essencialismo contemporâneo ver bibliogra­ fia de KRIPKE, SAUL A. Além disso: David K. Lewis, Counterfactuals, 1 973 . - M ichael A. S lote, Metaphy­ sics And Essence. - Alvin Plantinga, The Nature of Necessity, 1 974. - Keith S . Donnellan, Saul Kripke, H ilary Putnam et ai. , Naming, Necessity, and Natural Kinds, 1 977, ed. Stephen P. Schwartz. - B. A. Brody, Jdentity and Essence, 1 980. - N. U. Salmon, Referen­ ce and Essence, 1 982. G. L. Hallett, Essentialism: A Wittgensteinian Critique, 1 99 1 . R. Vergauwen, A Metalogical Theory of Reference: Realism and Essen­ tialism in Semantics, 1 993. Para o exame do "essencialismo" de Aristóteles do ponto de vista do essencialismo de Kripke : Robert Bolton, "Essentialism and Semantic Theory in Aristo­ tle", Posterior Analytics, I I , 7- 1 O, Philosophical Review, 85 ( 1 976 ) , 5 1 4-544. e -

-

ESTADO. O Estado foi tema de reflexão filosófica em quase todos os grandes pensadores, os quais, particular­ mente a partir de Platão, tentaram definir sua essência e sua missão no que diz respeito ao indivíduo e à socie­ dade. Na Antiguidade, o problema do Estado era um caso particular do problema mais geral da justiça ( VER ) . Por isso tanto na discussão platônica sobre o Estado ideal como nos escritos políticos de Aristóteles, que relembram, por outro lado, os temas postos em circula­ ção pelos sofistas, fala-se do Estado como a melhor or­ ganização da sociedade, como a forma ou articulação dos indivíduos e das classes que permite realizar na medida do possível a idéia da j ustiça, dando a cada um o que de dire ito lhe pertence. Com isso Platão e Aris­ tóteles se opunham a alguns sofistas, que acreditavam

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que o Estado não está fundado na j ustiça, mas no "in­ teresse do mais forte" (Trasímaco em Platão, Rep., I), antecipando com isso alguns dos temas do maquia­ velismo, da teoria do contrato social (vER) e do totali­ tarismo modernos. Para esses sofistas, o Estado encon­ tra-se ligado basicamente ao "poder". Especialmente a partir de Platão, os gregos se ocu­ param muito da questão dos diversos tipos possíveis de Estado de acordo com o grupo ou grupos que exer­ cessem o poder, isto é, a questão da "constituição polí­ tica". Fala-se a esse respeito de timocracia, oligarquia, democracia, aristocracia, tirania etc., e se discutia qual era o melhor regime. Tanto Platão (ver especialmente Rep., VIII) como Aristóteles (Pol. , passim) discutiram amplamente esses problemas e tentaram encontrar o fundamento da legitimidade do poder no Estado em um tipo de constituição que estivesse distante da anar­ quia e da oligarquia. Que o poder do governo no Estado seja patrimônio de "poucos" não significa, nem em Pla­ tão nem em Aristóteles, que ele seja um poder oligárqui­ co. O poder dos governantes não está fundado nos inte­ resses particulares destes, mas no interesse do Estado na medida em que este é composto de distintos grupos cujas relações entre si estão determinadas pela j ustiça. Na I dade Média, a discussão sobre a natureza do Estado versou sobretudo em torno da supremacia do Es­ tado sobre a Igrej a ou vice-versa, entendendo-se pelo primeiro uma comunidade temporal e histórica, e pela segunda uma comunidade espiritual que está na história mas a transcende. As teorias de Santo Agostinho (ver CIDADE DE DEUS) e de Santo Tomás de Aquino sobre o Estado, relacionadas com a visão cristã da história, con­ cluem pela inferioridade do Estado em relação à Igreja, mas, enquanto para o primeiro deles o Estado freqüen­ temente é algo mau, para o segundo ele é um reflexo da Igreja, uma comunidade que representa os interesses temporais, mas que deve ser guiada pelos fins espiri­ tuais da Igreja. No Renascimento dá-se uma mudança radical na concepção do Estado; como reação contra a pretensão de predomínio da Igreja e como conseqüência da formação dos Estados nacionais, a filosofia do Esta­ do tende - como, por exemplo, em Maquiavel (como já ocorreu em Marsílio de Pádua) - a uma exigência de separação rigorosa entre o Estado e a Igreja, à qual se nega qualquer soberania temporal como transição para o primado do Estado. Com isso o Estado é desvin­ culado, por um lado, de seu fundamento divino e é de­ cididamente inserido na temporalidade e na história. Assim se enlaçam diversas teorias utópicas acerca do Estado ideal - Campanella, Tomás Morus - que, continuando o caminho iniciado por Platão, tentam en­ contrar uma organização de tal índole que nela sejam possíveis a paz e a j ustiça. Durante os séculos XVII e XVIII predomina a teoria do Estado como pacto (ver CONTRATO SOCIAL), ora enquanto contrato realizado pelos

ESTADO

homens para evitar o aniquilamento final que produziria a guerra de todos contra todos (Hobbes), ora como re­ núncia ao egoísmo produzido pelo estado inatural de civilização, e pela conseqüente submissão à vontade geral (Rousseau). Paralelamente se desenvolve a teoria do Estado como comunidade dos homens livres, os quais são mais l ivres precisamente porque vivem no Estado "segundo o decreto comum" (Spinoza). Desse modo, o Estado é a organização da sociedade que garante a liberdade, cujo fim é, com efeito, a liberdade, com a qual se entende quase sempre a liberdade de pensamento ou, melhor, a l iberdade de professar uma religião sem submissão forçada à religião oficial do Estado. O Estado já aparece aqui em grande parte como um equi­ líbrio, equilíbrio das distintas seitas religiosas por um lado, e das classes, por outro. Durante a Ilustração, mui­ tas vezes o Estado é concebido, de acordo com a doutri­ na do "despotismo i lustrado'', como a organização que pode conduzir os homens pelo caminho da razão diante do obscurantismo, da névoa e das superstições do passa­ do. Para Kant, o Estado deve ser constituído de tal modo que, sej a qual for sua origem histórica, a lei corresponda a uma organização estabelecida pelo pacto e pelo con­ trato. A l iberdade também é o fim do Estado, mas essa liberdade não deve ser entendida como uma arbitrarie­ dade subj etiva, mas como o respeito da l iberdade moral de cada um pela l iberdade moral do conj unto, tornada possível mediante a lei. Os componentes do Estado são pessoas, isto é, fins em si; elas não devem ser utilizadas em nenhum caso como meios. A filosofia romântica desenvolvida na Alemanha seguindo a linha dos nacio­ nalismos e das tradições tende a identificar a nação com o Estado e a atribuir a este último, como verdadeiro representante daquela, da comunidade de todos os ho­ mens unidos por um mesmo fim, todas as funções que poderiam corresponder tanto a uma classe como a um indivíduo ou a uma Igreja. O Estado, para Hegel, é o lugar no qual o espírito obj etivo, vencida a oposição entre família e sociedade civil, chega a realizar-se plena­ mente. Aquele que rege o Estado deve ser, conforme a teoria romântica, o representante do "espírito do povo" ( vER) ou "espírito nacional" ( Volksgeist), aquele que cumpre os fins objetivos levantados por esse espírito. A discussão sobre o Estado se move durante quase todo o século XIX dentro dos trilhos da luta entre o indi­ vidualismo e o coletivismo. Nesses dois casos o Estado é concebido como um equilíbrio, mas, enquanto para o primeiro ele é o equilíbrio da tensão entre as vontades particulares, para o segundo é o equilíbrio resultante da supressão dessas vontades, cuja presença e atuação su­ postamente são nocivas para o Estado. No marxismo, o Estado (burguês) representa o domínio de uma classe, que exerce a partir do poder, sob a máscara do equilíbrio e da justiça, a sua própria e particular dominação, e por isso nessa doutrina se defende o desaparecimento do Es-

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tado uma vez conseguida, mediante a ditadura do proleta­ riado, a abolição definitiva das classes. A supressão da tensão entre as classes mediante uma ditadura aparece de novo nos chamados Estados totalitários, nos quais toda atividade é integrada no corpo do Estado, identificado com o partido que pretende representar, por sua vez, a nação, a raça, o povo etc. No Estado totalitário exclui-se tudo o que não esteja a serviço do Estado, toda atividade espontânea desenvolvida à sua margem, considerada si­ multaneamente oposta a ele. A ascendência hegeliana desses tipos de Estado toma-se evidente sobretudo na propensão à divinização do Estado e à sua confusão com todas as instâncias - sociedade, nação, povo - que significam realidades muito diferentes, por mais íntima que seja sua vinculação com a organização estatal. Segundo Ortega y Gasset, o Estado é um "modo" ou "porção" da sociedade; no Estado são potencializa­ das todas as vigências sociais, até o ponto em que "a ordem estatal é a forma extrema do coletivo", o "super­ lativo do social". O Estado, sempre que não pretenda substituir a sociedade, limita-se a intervir nela quando, dentro das atividades sociais que surgiram espontanea­ mente, encontra algumas que são inelutáveis, que de­ vem ser conservadas, mantidas e ordenadas. A atividade social espontânea é então estratificada, oficializada. Por isso o Estado é, no fundo, a fixação e determinação de toda espontaneidade social. A filosofia do Estado tem como missão definir a essência do Estado e determinar suas formas efetivas e possíveis. Para isso, ela deve procurar sobretudo estabe­ lecer uma distinção entre o que aparece quase sempre confundido e misturado - Estado, nação, povo, socieda­ de - e precisar a função do Estado dentro de cada uma dessas realidades e como reunião parcial de todas elas. Em suas investigações, a filosofia do Estado relaciona­ se intimamente com a filosofia do Direito, com a sociolo­ gia e, evidentemente, com a ciência e com a filosofia da história. Não se deve confundir, porém, a filosofia do Es­ tado com a ciência do Estado; a primeira é a reflexão filosófica sobre a realidade chamada de "Estado", reali­ dade que aparece na vida humana e deve ser compreendi­ da como uma forma dessa vida; a segunda inclui, em con­ trapartida, o estudo concreto da organização e da estrutu­ ra dü Estado, a teoria geral de sua constituição. � Teorias jurídicas e filosófico-jurídicas sobre o Esta­ do: Georg Jellinek, Allgemeine Staatslehre, 1 900. - L. T. Hobhouse, The Metaphysical Theory ofthe State, 1 9 1 8 ( Parte 1 d e seus Principies o/Sociology). R . Carré de Malberg, Contribution à la théorie générale de l 'État, 2 vols., 1 920- 1 922. - Othmar Spann, Der wahre Staat, 1 92 1 . - Oskar Georg Fischbach, Allgemeine Staatslehre, 1 922; 2ª ed. , 1 928. - Hans Freyer, Der Staat, 1 925. Hans Kelsen, Allgemeine Staatslehre, 1 925. - F. Oppe­ nheimer, System der Soziologie, I I : Der Staat, 1 926. Harold J. Laski, The State in Theory and Practice, 1 93 5 . -

- Karl Petrashek, System der Phi/osophie des Staates und des Volkerrechts, 1 938. - R. G. Collingwood, The New Leviathan, or Man, Society, Civilization and Barba­ rism, 1 942. - Agustín Basave Femández dei Valle, Teo­ ría dei Estado: fandamentos de filosofia política, 1 95 5 . - Helmut Kuhn, Der Staat. Eine philosophische Dars­ tel/ung, 1 967. Y Leclerq, Théories de l 'État, 1 977 [de Hobbes a Lenin] . - W. W. Willoughby, An Examination ofthe Nature ofthe State: a Study in Political Philosophy, 1 978. - M. Camoy, The State and Political Theory, 1 984. M. Fisk, The State and Justice: An Essay in Political Theory, 1 989. - K. Lee, The Legal-Rational State: A Comparison of Hobbes, Bentham and Kelsen, 1 990. Conceito sociológico e conceito jurídico: Hans Kel­ sen, Der soziologische und derjuristische Staatsbegriff, 1 928. - G. Lock, The State and !: Hypotheses on Juri­ dical and Technocratic Humanism, 1 98 1 . - A. de Jasay, The State, 1 98 5 . Fenomenologia d o Estado: Edith Stein, Eine Unter­ suchung über den Staat, 1 925 [Jahrbuch für Philoso­ phie und phãnomenologische Forschung, 7]. Filosofia do Estado: Holstein e Larenz, Staatsphi­ losophie, 1 93 3 . - Arnold Gehlen, Der Staat und die Philosophie, 1 934. Kurt Schilling, Der Staat. Seine geistige Grundlagen, seine Entstehung und Entwick­ lung, 1 93 5 . - P. Lakeland, The Politics of Salvation: the Hege/ian ldea of the State, 1 984. B. Jordan, The State: A uthority and A utonomy, 1 98 5 . P. Weiss, Toward a Perfected State, 1 986. História das doutrinas filosóficas do Estado: L. Gumplowicz, Geschichte der Staatstheorien, 1 926. E. von Hippel, Geschichte der Staatsphilosophie in Hauptkapiteln, 2 vols., 1 95 5 - 1 958. Filomusi Guelfi, La dottrina dei/o Stato nell 'antiquità greca nei suo rap­ porti con l 'etica, 1 874. Leopold Ziegler, ftón Platons Staatheit zum christlichen Staat, 1 948. - Adolfo Rava, Le teoriefilosofiche sul/o Stato, 1 933. - Harold J. Lars­ ki, A Grammar of Po/itics, 1 925. - Robert Morrison Maclver, The Modem State, 1 926. - A. Weber, La crisis de la idea moderna dei Estado en Europa, 1 932. - Karl Larenz, Rechts- und Staatsphi/osophie der Gegenwart, 1 932. - Antonio Truyol e Serra, Historia de lafilosofia dei Derecho y dei Estado, 1 : De los orígenes a la Baja Edad Media, 1 95 3 ; 4ª ed., 1 970; I I : Dei Renacimiento a Kant, 1 976. - P. J. Kain, Schiller; Hegel, and Marx: State, Society, and theA esthetic Ideal ofAncient Greece, 1 982. - H. Münkler, lm Namen des Staates. Die Begrün­ dung der Staatsraison in der Neuzeit, 1 987. Para o desenvolvimento histórico das teorias polí­ ticas: Ernst Cassirer, The Myth of the State, 1 946. K. H. F. Dyson, The State Tradition in Western Europe: A Study of an ldea and lnstitution, 1 980. Sentido do termo: Paul-Ludwig Weinacht, Staat. Studien zur Bedeutungsgeschichte des Wortes von den Anfangen bis ins 1 9. Jahrhundert, 1 968. � -

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ESTADO (STATUS), ESTAR. O vocábulo ' estado' que escrevemos com uma minúscula para distingui-lo de ' Estado' (vER) - designa o modo de ser de uma rea­ lidade, a situação em que se encontra uma realidade. O estado é o fato de estar, isto é, de encontrar-se em certa situação ou condição, de encontrar-se em certo modo. Pode-se utilizar ' estado ' para traduzir a categoria (VER) aristotélica KE!o0m (como ' lançado' , 'assentado '). Esta categoria é traduzida também por ' situação ' ou 'postu­ ra' . Também se poderia empregar ' estado' para traduzir a categoria aristotélica TIÓOXEIV (como ' cortado'). Essa categoria também é traduzida por 'paixão' . A possibili­ dade de usar o mesmo termo para traduzir várias cate­ gorias indica que há vários modos de "estado", ou, mais precisamente ainda, vários modos de "estar". Pode-se dizer que o "estar" é uma das maneiras do "ser". Mas ao mesmo tempo pode-se admitir o "estar'· como um modo distinto do "ser". Segundo Julián Marias (Ensayos de convivencia, 1 95 5 ; reimp. em Obras completas, l l l [ 1 959], pp. 1 72- 1 73), o uso (e, além disso, a possibili­ dade de freqüência do uso) do verbo ' estar' permite expressar conceitos que permanecem velados, ou, ao menos, não suficientemente claros em idiomas que não possuem uma clara distinção entre ' ser' e 'estar'. As­ sim, por exemplo, o ' estar' e várias locuções nas quais está presente ' estar' (como ' estar em', ' estar a' etc.) tor­ nam possível, entre outras coisas, dar maior precisão à idéia heideggeriana do Dasein (ver DASEIN; EXISTÊNCIA), enquanto "estar" pode ser analisado e, ao mesmo tempo, ser enriquecido, em comparação e contraste com as idéias de "ser", do "ser assim'', do "ser tal ou qual" e outras. Em sua forma substantiva, o vocábulo ' estado' poderia, em princípio, dar muito jogo em comparação e contras­ te com os vocábulos ' essência', 'existência', 'ser' , ' ente', 'hábito ' , 'condição ' etc. Poder-se-ia então dar a ' estado' uma significação mais ampla que a que tem quando se utiliza essa palavra para traduzir uma das categorias aris­ totélicas citadas, quer seja a situação ou postura, ou (como ocorre com uma freqüência especial) a (décima) categoria da "paixão" ou "hábito". No verbete SITUAÇÃO ( VER ) aludimos ao uso medieval de status, que é, segundo Renato Lazzarini (vER), um antecedente do conceito atual (ou de alguns dos concei­ tos atuais) de "situação". Aqui acrescentamos que o termo status foi utilizado freqüentemente na Idade Média em relação com expressões como status naturae, "estado de natureza", que teve um sentido teológico e também um sentido antropológico. De um modo pre­ ciso Duns Scot definiu (apud É. Gilson, Jean Duns Scot [ 1 9 5 2 ] , p. 6 1 ) o "estado" (status) como uma permanência estável assegurada pelas leis da sabedo­ ria divina (stabilis permanentia legibus divinae sa­ pientiae jirmata ). As entidades encontram-se no esta­ do que corresponde à sua natureza na medida em que ela foi estabelecida, e afirmada, pela sabedoria de Deus.

ESTATÍSTICA

Em certo sentido, pode-se dizer então que o ser de cada coisa é propriamente (e até mesmo formalmente) seu "estado" ou "estar". As idéias sobre o status naturae ou "estado de na­ tureza" - ou seja, o suposto estado natural do homem antes da sociedade - foram abundantes na época mo­ derna; referimo-nos a essa questão em verbetes como CONTRATO SOCIAL e JUSNATURALISMO (e também GROCIO [HUGO] , HOBBES [THOMAS] e ROUSSEAU [JEAN-JACQUES] . Acrescentemos que o termo ' estado ' aparece em alguns autores ingleses em um sentido bastante preci­ so na expressão state ofaf!airs. O state ofajfairs é "o que diz respeito ao caso" como correlato de uma pro­ posição e equivale em alemão a Sachverhalt, utilizado em sentidos parecidos por Husserl e por Wittgenstein (a expressão Sachverhalt no Tractatus 2.0 1 foi traduzi­ da j ustamente por state ofaffa irs). O state ofaffairs ou estado de coisas é, de certo modo, um fato (vER), sem­ pre que este seja interpretado não como o ser do fato, mas j ustamente como seu "estar" ou "estar sendo" (o que ele é, tal como é). ESTAR. Ver E S TA DO (STATUS), ESTAR; Ex1sTÉNC1A; SER.

ESTATÍSTICA. Neste verbete nos limitaremos a desta­ car o problema geral levantado pelo uso do método es­ tatístico nas ciências. Prescindiremos de questões técni­ cas e das diferentes formas que o método estatístico adota. É conveniente completar este verbete com o que foi dito nos verbetes dedicados às noções de indução (vER) e de probabil idade (vER). O ideal da ciência durante a época moderna foi a formulação de leis nas quais se sustente que um fenô­ meno ou grupo de fenômenos sempre se segue ao apa­ recimento de outro fenômeno ou grupo de fenômenos dados. A filosofia subjacente a esse ideal foi o determi­ nismo (vER). Pois bem, tão logo se suprime da consi­ deração anterior o vocábulo 'sempre ' , é preciso abando­ nar o citado ideal. Se, por exemplo, estabelecemos que um fenômeno dado segue-se a um grupo de fatos dados 90 vezes em cada 1 00, formulamos uma lei de tipo distinto da lei causal determinista: é uma lei estatística. Observemos que na formulação dessa lei não se supõe que, a cada 1 00 vezes que tivermos o grupo de fatos em questão, teremos 90 vezes o referido fenômeno (nem que o teremos 9 em cada 1 O vezes). Na lei estatística se declara que, dado um número suficientemente gran­ de de repetições do processo considerado, tende-se a obter uma razão de 90/ l 00. Por meio do método estatís­ tico definimos, por conseguinte, certa área de incerteza, que vai se restringindo à medida que aumentamos o número de casos. O método estatístico torna, pois, possível a obtenção de um termo médio e, com isso, a realização de um dos propósitos essenciais das ciências e da ação humana: a predição. O método estatístico hoje é utilizado em todas as ciências. À s vezes se considera que a certeza alcança-

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ESTÁTUA DE CONDI L LAC

da nas leis macrofisicas se deve à restrição ao máximo da área de incerteza definida na área microfísica. Todavia, embora haja acordo no uso dos métodos, nem sempre ele exi ste na interpretação desses métodos. Alguns autores supõem que se utiliza o método esta­ tístico porque ainda não se aprendeu a suprimir a área de incerteza. Outros, em contrapartida, assinalam que a citada área de incerteza é uma realidade obj etiva, que o método estatístico se limita a descrever. Estes últi­ mos afirmam que, ao menos em certas esferas da rea­ lidade, há acaso e não determinação. Deve-se ter o cui­ dado, contudo, de não confundir o acaso com a liberda­ de : falar, por exemplo, da "liberdade de um elétron" é uma µETá�amç EÍS aÀÀo yÉVOÇ, contra a qual O filó­ sofo e o cientista devem precaver-se. O método estatístico é um dos métodos da probabi­ l idade : o que se refere a fenômenos objetivos. Não se deve confundir este método com os métodos indutivos, que se referem a proposições sobre tais fenômenos obje­ tivos. Embora nas ciências sejam utilizados esses dois métodos, é conveniente distingui-los. Seguindo Carnap, diremos que o método estatístico está ligado ao conceito de probabil idade como freqüência relativa, enquanto o método indutivo refere-se ao conceito de probabilidade como grau de confirmação. � Ver: R. von Mises, Wahrscheinlichkeit, Statistik und Wahrheit, 1 928. - M. R. Cohen, Ernest Nagel, An lntro­ duction to Logic and Scientific Method, 1 934, cap. XVI. - H . Schorer, Grundlegung und Einfiihrung in die sta­ tistische Methode, 1 946. - Lancelot Hogben, Statistical Theory: the Relationship ofProbability, Credibility, and Errar, 1 957. - Henry E. Kyburg, Probability and the Logic of'Rational Belief; 1 96 1 . - ld., The Logical Foun­ dations of Statistical Explanations and Statistical Re­ levance, 1 97 1 , ed. W. C. Salmon. - Wolfgang Steg­ müller, Persone/le und statistische Wahrscheinlichkeit, 2 vols., 1 97 3 . - lan Hacking, Logic og Statistical ln­ ference, 1 976. - T. Porter, The Rise of'Statistical Thin­ king, 1 986. - D. W. Baird, lnductive Logic: Proba­ bility and Statistics, 1 990. Ver também bibliografias de IN DUÇÃO; PROBABI­ L I DADE. �

ESTÁTUA DE CONDILLAC. Em seu Traité des sen­ sations ( 1 754 ), Condillac (vER) utiliza constantemente a idéia, ou imagem, de uma estátua que é "organizada interiormente como nós", mas cujo exterior, de mármo­ re, não lhe permite o uso de nenhum dos sentidos. Os sentidos lhe são agregados pouco a pouco, de modo que a estátua recebe sucessivamente diversos tipos de impressões. O que se trata de saber é o que "a estátua" faz ao ser limitada a um dos sentidos e o que ela faz quando lhe são "agregados" outros sentidos; o aumento ou diminuição do número basta, afirma Condillac, para nos persuadir de que podem ser formulados j uízos

"muito distintos dos que são hoje tão naturais para nós" (op. cit., 1, 1 , § 4). Começando com o sentido do olfato, os conheci­ mentos da estátua só podem chegar aos odores. A está­ tua não pode ter idéias de extensão, figura, "nem de nada que estej a fora de si, ou fora de suas sensações" (1, 1 , § 1 ). "Se lhe apresentarmos uma rosa ela será em relação a nós uma estátua que cheira uma rosa, mas em relação a si será somente o odor dessa flor" (1, 1 , § 2). Entretanto, as operações do entendimento da está­ tua - ou, o que dá no mesmo, de um homem cujos sentidos se limitam ao olfato - são muito considerá­ veis. Surgem a atenção, a capacidade de gozar ou sofrer, a memória, "que é uma maneira de sentir" (1, 1 , § 8), a comparação, o juízo, a surpresa, a necessidade. A está­ tua não pode, todavia, apreciar a diferença entre memó­ ria e imaginação, mesmo que esta última seja muito mais ativa que a nossa (limitada pelas naturais opera­ ções de nossos outros sentidos, que nos oferecem quali­ dades "reais" e que não precisamos então imaginar). A estátua que apenas cheire, ou um homem limitado ao sentido do olfato, pode formar idéias, e abstrair, ou separar uma idéia de outra (1, 4, § 2). Ela forma idéias particulares - como a de um odor particular - e idéias gerais - como as de modos de ser agradável e desagra­ dável; forma a idéia do possível e talvez do impossível, a idéia de duração (incluindo a de duração indefinida). Apenas com o olfato forma-se o "eu", ou uma "perso­ nalidade" : "Já que nossa estátua é capaz de memória, ela não sente um odor a menos que recorde ter sentido outro. Eis aí sua personalidade: pois, se pudesse dizer eu, ela o diria em todos os momentos de sua duração e a cada vez seu eu abarcaria todos os momentos de que tem recordação" (1, 4, § 1 ) Condillac conclui deste modo: "Depois de ter provado que nossa estátua é capaz de dirigir sua atenção a algo, de recordar, de comparar, julgar, discernir, imaginar; que tem noções abstratas, idéias de número e de duração; que con hece verdades gerais e particulares; que forma desejos, tem paixões, ama, odeia, quer; que é capaz de ter esperança, medo e surpresa, e que, por fim, adquire hábitos, depois de ter provado tudo isso, devemos concluir que com apenas um sentido o entendimento tem tantas faculdades quanto com os cinco juntos. Veremos que as faculdades que nos parecem particulares são as mesmas faculdades aplica­ das a um número maior de obj etos, desenvolvendo-se então mais e mais" (1, 7, § 1 ), com o que se pode afirmar que a sensação abarca todas as faculdades da alma. Trata-se então de ver como ocorre o desenvolvimen­ to indicado dotando a estátua somente com audição, com­ binando o olfato e a audição, ou dotando-a somente com o paladar e combinando o paladar com o olfato e a audi­ ção, limitando-a ao tato, combinando o tato (que ensina os demais sentidos a julgar os objetos exteriores) com o olfato, considerando que é cega de nascimento, dotando.

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a com a visão, combinando a visão com o tato etc. Trata­ se de ver também como atua, pensa, aprende a satisfazer suas necessidades, manifesta previsão, julga a bondade e a beleza dos objetos à sua volta, adquire crenças (in­ cluindo superstições), generaliza etc., essa estátua - ou homem - dotada de todos os sentidos, mas isolada de seus semelhantes. "A história das faculdades de nossa estátua" - conclui Condillac - "torna sensível o pro­ gresso de todas essas coisas. Quando estava limitado ao sentimento fundamental todo o seu ser, todo o seu conhe­ cimento, todo o seu prazer era uma sensação uniforme. Ao dar-lhe sucessivamente novas maneiras de ser e novos sentidos, vimos que se formavam os desejos, que apren­ dia com a experiência a regulá-los ou a satisfazê-los, que passava de uma necessidade a outra, de um conhecimento a outro, de um prazer a outro: a estátua não é, pois, nada que não tenha sido adquirido. Por que não pensar que o mesmo acontece com o homem?" (IV, 8, § 3). Em um "Avis important au lecteur'', Condillac adverte que "é muito importante colocar-se exatamente no lugar da estátua que vamos observar. .. Creio que os leitores que se ponham exatamente em seu lugar não terão dificuldade para entender esta obra; os demais me farão incontáveis objeções". Esse "Aviso" de Con­ dillac é muito importante para compreender o anda­ mento de sua "reconstrução".

ESTÉTICA. Na medida em que deriva de a'ío8T]ot), sensação, Kant chama de "Estética transcendental" a "ciência de todos os princípios a priori da sensibilidade" (KrV, B 35/ A 2 1 ) . Na "Estética transcendental" assim entendida, Kant considera, em primeiro lugar, a sensibi­ lidade separada do entendimento e, em segundo, separa da intuição tudo o que pertence à sensação, "com o fim de ficarmos apenas com a intuição pura e com a forma do fenômeno, que é a única coisa que a sensibilidade por dar a priori" (op. cit., B 36/A 22). A "Estética transcen­ dental" distingue-se da "Lógica transcendental", que examina os princípios do entendimento puro e tem pouco a ver, portanto, com aquilo que na atualidade se chama de estética, ciência do belo ou filosofia da arte. Nesse úl­ timo sentido, o termo ' estética' foi utilizado por Alexan­ der G. Baumgarten ( vER) , e desde então a estética foi considerada uma disciplina filosófica sem que isso ex­ clua a existência de reflexões e mesmo de sistemas esté­ ticos na filosofia anterior. O problema capital da estética no sentido de Baumgarten é, com efeito, o da essência do belo. Segundo Baumgarten, a estética, enquanto theoria liberalium artium, gnoseologia inferior, arspulchre cogi­ tandi, ars analogi rationis, é a cientia cognitionis sensi­ tivae (Aesthetica, § 1 ). Isto é, o fim da estética é a perfec­ tio cognitionis sensitivae qua talis (ibid., § 1 4) . O proble­ ma já foi elucidado na Antiguidade especialmente por Platão, Aristóteles e Plotino, os quais, ao lado de conside­ rações estéticas mais ou menos "puras", seguiram a anti­ ga tendência à identificação do belo com o bom na uni-

ESTÉTICA

dade do real perfeito e, portanto, subordinaram na maior parte dos casos, ao tentar definir a essência do belo e não simplesmente averiguar em detalhe os problemas estéti­ cos, o valor da beleza a valores extra-estéticos e particu­ larmente a entidades metafisicas. A identificação do bom com o belo também é própria da filosofia inglesa do sen­ timento moral, particularmente de Shaftesbury, e se encontra em algumas tendências do idealismo romântico. Na verdade, somente há relativamente pouco tempo ten­ tou-se erigir uma estética independente, distanciada de considerações de tipo predominantemente metafisico, lógico, psicológico ou gnosiológico. Os germes dessa estética como disciplina independente encontram-se em grande quantidade na própria Antiguidade e na Idade Média, mas foram desenvolvidos sobretudo com a críti­ ca kantiana do juízo, que é em parte uma delimitação de esferas axiológicas. Enquanto para Baumgarten o estético era, seguindo a tendência geral da escola Leibniz-Wolff, uma forma de conhecimento inferior e confuso diante do consciente e racional (a cognitio sensitiva), Kant tratou o juízo estético ao lado do juízo teleológico examinando o que há de a priori no sentimento. Esses dois juízos são reflexivos; caracterizam-se pela finalidade, mas, enquan­ to esta é objetiva no juízo teleológico propriamente dito, que se refere ao que é orgânico, no j uízo estético ela é subjetiva, porque a finalidade da forma do objeto é ade­ quada em relação ao sujeito, o que não significa precisa­ mente o sujeito individual, mas todo sujeito, razão pela qual pode ser chamada de unidade da natureza subjetiva. O juízo estético é, pois, evidentemente, um juízo de valor, distinto, por conseguinte, não apenas dos juízos de exis­ tência, mas também dos demais juízos axiológicos; po­ rém, enquanto nestes últimos há a satisfação de um de­ sejo ou uma correspondência com a vontade moral, na adequação do belo ao sujeito, isto é, no juízo estético por meio do qual encontramos algo belo, não há satisfação, mas agrado desinteressado. O desinteresse caracteriza a atitude estética no mesmo sentido em que o jogo é a atividade puramente desinteressada, a complacência sem finalidade útil ou moral. Por isso o estético é independen­ te e não pode estar a serviço de fins alheios a ele; ele é, em suas próprias palavras, "finalidade sem fim". O belo não é reconhecido objetivamente como um valor absolu­ to, mas tem relação apenas com o sujeito; o fato das dis­ tintas contraditórias apreciações sobre o belo não é, toda­ via, o produto dessa necessária referência à subjetividade, mas o fato de que a atitude do sujeito seja sempre plena e puramente desinteressada, dedicada à contemplação. A prioridade do juízo estético requer, apesar de sua referên­ cia ao sujeito, o desprendimento neste último de tudo o que for alheio ao desinteresse e à finalidade sem fim. Essa concepção, chamada de subjetiva, da estética, foi levada adiante ao longo do século XIX e durante boa parte do século atual por muitos pensadores, os quais, entretanto, misturaram as teses subjetivas com as objeti-

ESTÉTICA

vas ou tenderam a uma concepção puramente axiológica como, por outro lado, a que j á está pré-formada no próprio Kant. Considerada a partir do sujeito, a estética foi elaborada sobretudo atentando para o que faz do j uízo estético o produto de uma vivência, tanto se esta é concebida como obscura intuição quanto apresentada como uma clara apreensão, como mera contemplação ou como uma proj eção sentimental . Por outro lado, a estética desenvolvida a partir do objeto tendeu particu­ larmente a uma redução do estético ao extra-estético, à definição da estrutura do belo mediante características alheias a ele. Este é, por exemplo, o caso do idealismo alemão quando Schell ing reduz a beleza à identidade dos contrários no seio do Absoluto, à síntese do suj etivo e do obj etivo, ou quando Hegel transforma o belo em manifestação da Idéia. Uma tendência análoga se revela em Schopenhauer ao fazer da arte a revelação mais pró­ pria das idéias eternas, pois o artista é, em comparação ao homem vulgar, aquele que contempla serenamente as obj etivações da Vontade metafisica. Nas últimas décadas foram propostas muitas defini­ ções da estética, algumas das quais não fizeram mais que reformular em uma nova linguagem as antigas concep­ ções antes mencionadas. Assim, pode-se falar de con­ cepções absolutistas e relativistas, subjetivistas e objeti­ vistas, da estética segundo se considere respectivamente a natureza dos objetos estéticos ou a origem dos juízos estéticos. Outras concepções que foram propostas e das quais diremos algumas palavras são as seguintes: a for­ malista e a intu icionista, a psicológica e a sociológica, a axiológica e a semiótica. As concepções formalistas con­ sideram exclusivamente a forma dos objetos estéticos no sentido em que analisamos o problema do formal no ar­ tigo Formalismo (vrn). As concepções intuicionistas reduziram ao mínimo o papel dos elementos puramente formais e estabeleceram uma linha divisória muito rígi­ da entre a intuição estética e a expressão (vrn) dessa intuição. As concepções psicológicas e sociológicas têm em comum o fato de que tentaram reduzir o significado dos juízos estéticos à sua origem - individual e coletiva. Mais complexas - e sobretudo mais influentes -- são as duas últimas concepções mencionadas em nossa lista: a axiológica e a semiótica, razão pela qual nos alongare­ mos um pouco mais sobre elas. A estética axiológica considera a estética como a ciência de um grupo de valo­ res ( o belo, o feio, o ordenado, o desordenado, o alusivo, o expressivo etc.). Seus principais problemas são: pri­ meiro, a descrição desses valores; segundo, a interpreta­ ção deles. Este último problema deu origem a múltiplas discussões, paralelas às que ocorreram na teoria do valor (VER) em geral. Com efeito, examinou-se se os valores em questão são absolutos ou relativos, se dependem do indivíduo ou da coletividade, se estão ou não ligados a outros valores e questões análogas. Foi inevitável , pois, a reintrodução na estética axiológica dos problemas tra-

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dicionais aos quais nos referimos. Quanto à estética se­ miótica, ela considera a estética como uma parte da semiótica geral, razão pela qual foi chamada algumas vezes de uma semiótica não-lógica. Sua principal mis­ são é a análise dos chamados signos estéticos icônicos, e sua finalidade é a consideração do objeto estético como um veículo de comunicação. Deve-se notar que a estética semiótica não é obrigatoriamente incompatível com a estética axiológica; alguns autores defenderam a tese de que uma teoria estética completa se apóia tanto na teoria dos signos como em uma teoria dos valores. Algumas vezes se distingue a estética da filosofia da arte. Outras vezes se considera que as duas formam uma única disciplina. Se consideramos agora o conjunto dos problemas que se delineiam para o tratadista de es­ tética, podemos dar (sem nenhuma pretensão exaustiva) a seguinte enumeração: 1 ) A fenomenologia dos proces­ sos estéticos; 2) a análise da linguagem estética compa­ rada às demais linguagens; 3) a ontologia regional dos valores estéticos, qualquer que sej a o status ontológi­ co que se adscreva a eles; 4) a origem dos juízos estéti­ cos; 5 ) a relação entre forma e matéria; 6) o estudo da função dos juízos estéticos dentro da vida humana e 7) o exame da função de pressupostos de índole estética em juízos não-estéticos (como, por exemplo, os da ciência). � Obras sistemáticas gerais, introduções e tratados: F. Th. Vischer, Aesthetik oder Wissenschaft des Schonen, 1 847- 1 858, 6 vols. - G. Th. Fechner, Zur experimenta­ len Aesthetik, 1 872. -- Id., Vorschule derAesthetik, 1 876. - 8. Croce, Estetica come scienza de/l 'espressione e linguistica generale, 1 902. - ld., Breviario di Estetica, 1 9 1 3 (ed. br. : Breviário de estética, 1 997). - Th. Lipps, Aesthetik. P�ychologie des Schonen und der Kunst, 2 vols., 1, 1 903 ; I I , 1 906. -- J. Volkelt, System derAesthetik, 3 vols. (1, 1 905; I I , 1 9 1 0; I I I , 1 9 1 4). - M. Dessoir, Aes­ the1ik und allgemeine Kunstwissenschaft, 1 906. - Char­ les Lalo, Les sentiments esthétiques, 1 909. - !d., lntro­ duction à l 'esthétique, 1 902; nova ed., 1 92 5 . - E. Utitz, Grundlegung der allgemeinen Kunstwissenschaft, 2 vols., 1 9 1 4- 1 920. - !d., Aesthetik und Kunstphilosophie, 1 923. - ! . A. Richards, C. K. Ogden, J. Woos, The Foundations �f'Aesthetics, 1 922. Th. Ziehen, Vorlesungen über Aes­ thetik, 2 vols., 1 923- 1 925 . - F. Challaye, Esthétique, 1 925. - P. Hiiberl in, AllgemeineAesthetik, 1 929. - Her­ mann Nohl, Die aesthetische Wírklichkeit, 1 93 5 ; 2ª ed., 1 954. - E. Galli, L'Estetica e i suai problemi, 1 936. A. Gõrland, Aesthetik. Kritische Philosophie des Stils, 1 937. - E H. Heinemann, Essay on the Foundations of Aesthetics: Analysis oj'Aesthetical Form, 1 939. - Milton C. Nahm, Aesthetic Experience and lts Presupositions, 1 946. - J. Segond, Traité d 'Esthétique, 1 947. - F. Kainz, A es"thetik, 1 948. J. K. Feibleman, A esthetics, 1 940. - E. F. Carritt, An Jntroduction to Aesthetics, 1 949. - Luis Farré, Estética, 1 950. - A. P. Ushenko, Dyna­ mics �fArt, 1 95 3 . - M. Nédoncelle, lntroduction à l 'es-

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thétique, 1 953. - S. K. Langer, .Fee/ing and Form, 1 953. - N. Hartmann, Aesthetik, 1 953; 2ª ed., 1 966. - Max Bense, Aesthetik, 1 953. - ld., Aesthetica. Metaphysische Betrachtungen am SchOnen, 1 954. - L. Pareyson, Este­ tica: teoria de/laformatività, 1 954. - D. Huisman, L'es­ thétique, 1 954. - E. Verom, L'esthétique, 1 95 5 . - L Stefanini, Trattato di Estetica, 1, 1 95 5 . - Raymond Bayer, Traité d 'Esthétique, 1 956. - F. Mirabent Vilapla­ na, Estudios estéticos y otros ensayosfi/osóficos, 2 vols., 1 957- 1 958. - M . C. Beardsley, A esthetics: Problems in the Philosophy of Criticism, 1 958. - ld., The Possibility ofCriticism, 1 970. -- Juan Luis Guerrero, Estética ope­ ratoria, 3 vols . : 1, 1 958; II, 1 960; I I I , 1 967. - Gyõrgy Lukács, Aesthetik, !: Die Eigenart des Aesthetischen, 2 vols., 1 963. - F. E. Sparshott, The Structure o{Aesthe­ tics, 1 963. -- Mikel Dufrenne, Esthétique et philosophie, 2 vols., 1 967- 1 976. - Xavier Rubert de Ventós, Teoria de la Sensibilitat, 2 vols., 1 969. - !d., La estética y sus herejías, 1 974. - Th. W. Adorno, A"esthetische Theorie, 1 970 (ed. port.: Teoria estética, 1 996). - J. Jiménez, lmágenes dei hombre. Fundamentos de estética, 1 986. - B. H . Boruah, Fiction and Emotion: A Study in A es­ theticas and lhe Philosophy ofMind, 1 988. Ver também as bibliografias de ARTE; BELO. História da estética: R. Zimmermann, Aesthetik, 2 vols., 1 858- 1 865. - M. Menéndez y Pelayo, Historia de las ideas estéticas en Espaiia, 1 882- 1 8 86; reelaboração: 1, 1, 1 890; 1, 2, 1 89 1 ; II, 1 894; I I I , 1 896; IV, 1 90 1 . Reedi­ ção na Edición Nacional de Obras Completas do autor, 5 vols., 1 946- 1 947. - B. Bosanquet. A HistoryofAesthe­ tics, 1 892 . - E. Bergmann, Geschichte der Aesthetik und Kunstphilosophie, 1 9 14. - E. Utitz, Geschichte der Aesthetik, 1 932. - Katherine E. Gilbert e Helmut Kuhn, A Histo1y ofAesthetiks, 1 939; 2ª ed., 1 954. - Gyiirgy Lukács, Beitriige zur Geschichte der Aesthetik, 1 954. - Wladislaw Tatarkiewicz, Historia Estetyki, 3 vols., 1 960- 1 967 (textos, trad. polaca e comentários) (trad. ingl . : History o{A esthetics, 3 vols., 1 970- 1 974). - !d., Dzieje szesciu pojec: sztuka piekno�formatwórc-zosc­ odtwórczosc-przezycie estetyczne, 1 975 (História de seis noç Os fragmentos cios antigos estóicos foram recolhi­ dos e editados por I. von Arnim: Stoicorum veterumfrag­ menta collegit /ohannes ab Arnim, 4 vols. : 1 . Zeno et Ze­ nonis discipu/i, 1 905; II. Chrysippifragmenta /ogica et physica, 1 903; I I I . Chrysippi fragmenta mora/ia. Frag­ menta sucessorum Chrysippi, 1 903; IV. [índices prepara­ dos por M. Acllcr] , 1 924 (reimp., 1 964ss. ) . Há outras edições separadas (como a de A. C. Pearson: The Frag­ ments o{Zeno and C/eanthes, 1 89 1 ). Edição mais recente de N. Festa: 1 frammenti deg/i stoici antichi, 1 932. As edições dos filósofos cio estoicismo médio (Possidônio, Panécio) e novo (Epicteto, Sêneca, Marco Aurélio) estão indicadas na bibliografia de cada um deles. Sobre a doutrina estóica em geral: P. Weigoldt, Die Phi/osophie der Stoa, 1 883. - P. Ogéreau, Essai sur /e systeme phi/osophique des Stoi"ciens, 1 885. Paul Baith, Die Stoa, 1 903 ; 6ª ed., reel. por Goedeckemeyer, 1 946. - R. D. Hicks, Stoic and Epicurean, 1 9 1 0. - Gilbert Murray, The Stoic Phi/osophy (Conway Memorial Lec­ ture), 1 9 1 5 . - Id., Stoic, Christian and Humanist, 1 950. - R. K. Hack, "La Sintesi stoica. 1 . Tonos'', Richerche re/igiose ( 1 925 ) , pp. 505-5 1 3; "II. Pneuma", ibid. ( 1 929 ) , pp. 297-325. - - Robert Mark Wenley, Stoicism and Its Influence, 1 927. - K. H. E. de Jong, De Stoa, een were/d phi/osophie, 1 937. - Jean Brun, Le stoicisme, 1 958. J. Christensen, An Essay on the Unity o{Stoic Phi/osophy, 1 962. - André Bridoux, Le stoi"cisme et son injluence, 1 966. - Ludwig Edelstein, The meaning of Stoicism, 1 966. - John M. Rist, Stoic Phi/osophy, 1 969. - Eleute­ rio Elorduy, E/ estoicismo, 2 vols., 1 972 (em colaboração com J. Pérez Alonso). - F. H. Sandbach, The Stoics, 1 978, ed. J. M. Rist [coleção de trabalhos] . Sobre a história da escola: G. Rodier, Histoire exté­ rieure et interieure du stoi"cisme (Études de phi/osophie grecque), 1 926. - Max Pohlenz, Die Stoa. Die Geschi­ chte einer geistigen Bewegung, 2 vols., 1 949; 4ª ed., 1 972. - M . L. Colish, The Stoic Tradition. From Anti­ quity to the Early Middle Ages: I, Stoicism in Classical Latin Literature, 1 98 5 ; li, Stoicism in Christian Latin Thought through the Sixth Century, 1 985. -

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ESTOIQUEOLOGIA

Sobre o estoicismo médio: A. Schmekel, Die Philo­ sophie der mittleren Stoa, in ihrem geschichtlichen Zu­ sammenhange, 1 892. Sobre o estoicismo novo: E. Vernon Arnold, Roman Stoicism, Being Lectures on the History o{the Stoic Phi­ losophy with Special Rejérence to Its Development wi­ thin the Roman Empire, 1 9 1 1 . - V E. Alfieri, Lo stoi­ cismo dei mondo greco ai mondo romano, 1 950. Sobre o estoicismo e Plotino: Andreas Graeser, Plo­ tinus and the Stoics: A Preliminary Study, 1 972. Sobre estoicismo e Patrística: Michel Spanneut, Le stoicisme des Peres de l 'Église, 1 957. Sobre o estoicismo e a filosofia medieval: G. Verbe­ ke, The Presence o{Stoicism in Medieval Thought, 1 983. Sobre o renascimento do estoicismo no século XVI : Leontine Zanta, La Renaissance du stoiCisme au XVI" siecle, 1 9 1 4 . - J. L. Saunders, J Lipsius. The Philoso­ phy of Renaissance Stoicism, 1 954. - Julien-Eymard Chesneau d' Anger (Charles Chesneau), Recherches sur le StoiCisme au XVf'" et XVII" siecles, 1 976 (coleção de trabalhos). - Henry Ettinghausen, Francisco de Que­ vedo and the Neostoic Movement, 1 972. - G. Abel, Stoizismus undfrühe Neuzeit, 1 978. - A. Chew, Stoicism in Renaissance English Literature: An Introduction, 1 988. Sobre fisica estóica: S. Sambursky, Physics of the Stoics, 1 959 (com trad. ingl . de textos gregos e latinos relativos à fisica estóica [pp. 1 1 6- 1 45)). - David E. Hahm, The Origins o{Stoic Cosmology, 1 977. Sobre ética estóica: M . Heinze, Stoicorum Ethica ad origines suas relata, 1 889. - A. Dyroff, Die Ethik Der alten Stoa, 1 890. - Otto Rieth, Gnmdbegrifjé der stois­ chen Ethik: Eine traditionsgechicht/iche Untersuchung, 1 933. - Guido Mancini, L'etica stoica da Zenone a Cri­ sippo, 1 940. - Genévieve Rodis-Lewis, La mora/e stoi� cienne, 1 970. - M. Forschner, Die stoische Ethik. Über den Zusammenhang von Natur-, Sprach- und Moralphi­ losophie im altstoischen System, 1 98 1 . - B. Inwood, Ethics and Human Action in Early Stoicism, 1 985. Sobre psicologia estóica: Ludwig Stein, Die Psy­ chologie der Stoa, 1 886. Sobre a teoria do conhecimento estóica: Ludwig Stein, Die Erkenntnistheorie der Stoa, 1 888. - Alain, La théorie de la connaissance des Stoi"ciens, 1 96 5 . Sobre filosofia social estóic a : Eleuterio Elorduy, Die Sozialphilosophie der Stoa, 1 93 6 (tese). - Arthur Bodson, La mora/e sacia/e des derniers StoiCiens: Sé­ neque, Epictete et Marc A urete, 1 967. Sobre a doutrina estóica da alma e suas partes: K. Schindler, Die stoische Lehre von den Seelenteilen und Seenlenvermogen insbesondere bei Panaitios und Pa­ seidonios, und ihre Verwendung bei Cícero, 1 934. Sobre a moral estóica e a moral cristã: A. Bonhõffer, Epiktet und das neue Testament, 1 9 1 1 . - J. Stelsen­ berger, Die Beziehungen der frühchrist/ichen Sitten­ lehre zur Ethik der Stoa, 1 93 3 . - M ichel Spanneut, Le

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stoiCisme des Feres de / 'Église: De Cláment de Rome à Clément d 'A lexandrie, 1 95 7 . Sobre lógica estóica: J. Lukasiewicz, "Z historj i logiki zdaJÍ.", Przegladfilozoficzny, 2 7 ( 1 934), 369-377. Tradução alemã em "Zur Geschichte der Aussagenlo­ gik", Erkenntnis, 5 ( 1 935- 1 936), 1 1 1 - 1 3 1 . - A. Kro­ kiewicz, "O logice stoików", Kwartalnikfilozoficzny, 1 7 ( 1 948), 1 73 - 1 97. - A. Virieux-Reymond, La logi­ que et l 'épistémologie des stoiciens, 1 949. - 1. M . Bochenski, A ncient Formal Logic, 1 95 1 . - 8 . Mates, Stoic Logic, 1 95 3 ; reimp. 1 973. - Jürgen Mau, "Stois­ che Logik. Ihre Stellung gegenüber der Aristotel ischen Syllogistik und dem modernen Aussagenkalkül", Her­ mes, 85 ( 1 957), 1 47- 1 5 8. - M ichael Frede, Die stois­ che Logik, 1 974. Sobre estoicismo e linguagem: R. T. Schmidt, Die Grammatik der Stoiker, 1 979. - R. Loebl, Die Relation in der Phi/osophie der Stoiker, 1 986. - C. Atherton, The Stoics on A mbiguity, 1 993.

ESTOIQUEOLOGIA. Poder-se-ia chamar desse mo­ do a toda doutrina que se ocupasse de e lementos (de oTOLXEiov = elemento [VER )) , por oposição a doutrinas que se ocupam de estruturas ou de funções. William Hamilton chama desse modo a uma parte da lógica pura, a que se ocupa dos elementos do pensamento no sentido dos "processos elementares ou constituintes" (Lectures on Logic, V). A estoiqueologia subdivide-se, por sua vez, em noética e em dinâmica (ver ENOEMÁTICA). ESTRANHAMENTO. Este termo exprime o fato, ou suposto fato, de que alguém esteja, ou possa estar (vi­ ver), não "em si mesmo", mas em alguma realidade alheia a ele. ' Estranhamento' traduz vários termos que expressam o conceito de achar-se em uma realidade alheia. Contudo, na literatura filosófica que aceitou ou destacou o conceito de ' estranhamento' foi-se usando com freqüência crescente o termo 'alienação' e as ex­ pressões 'estar alienado ' , ' achar-se alienado ' . I sto é aceitável, porquanto 'alienação' tem origem etimológi­ ca no vocábulo alius (feminino: alia; neutro: aliud), isto é, "outro", "diferente". Estar ou achar-se alienado é, pois, originariamente, estar ou achar-se "em outro'', sendo este outro algo estranho. Por razões de uso, preferimos o vocábulo 'alienação ' , ao qual remetemos. Esse uso tem a vantagem de distinguir a util ização de ' estranhamento ' como "loucura" e 'alienação' como termo "técnico". ESTRATIFICAÇÃO (LEI OU PRINCÍPIO DE). Ver CATEGORIA. ESTRATÃO DE LÂMPSACO. Foi escolarca do Liceu durante dezoito anos, como sucessor de Teofrasto, a partir 288/287 ou 287/286 a.C. É conhecido pelo nome de o fisico, por ter-se dedicado principalmente (e exten­ samente) a ciências naturais (fisica, mecânica, cosmolo­ gia, meteorologia, geografia, zoologia, fisiologia, psico­ logia, medicina), mesmo que também tenha se dedicado

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à ética, à lógica e à teologia. A tendência de Estratão foi naturalista e até mesmo mecanicista; tentando combinar as teorias de Aristóteles com as de Demócrito, defen­ deu o atomismo. Mas os átomos de que falava Estratão eram infinitamente divisíveis, e, além disso, eram do­ tados - contrariamente aos de Demócrito - de qua­ lidades, especialmente das qualidades do quente e do frio. Em psicologia, Estratão manteve a doutrina da união da percepção (que é movimento) e do pensar, assim como a fundamentação somática de todos os pro­ cessos psíquicos. Pois bem, isso não significava um corporalismo completo, mas a afirmação do fato de que a alma, como suporte das afecções psíquicas, é a unidade do corpo. Os trabalhos de Estratão influencia­ ram consideravelmente os investigadores da época ale­ xandrina, especialmente em fisica e medicina. :> Texto e comentário por Fritz Wehrli no Caderno V de Die Schule des Aristoteles: Straton von Lampsakos, 1 950; 2ª ed., 1 969. Ver também: C. Nauwerk, De Stratone Lampsceno, 1 836. - G. Rodier, La physique de Straton de Lampsa­ que, 1 8 80. - H. Diels, "Ueber das physikalische Sys­ tem des Straton", Sitzungsberichte der Preuss. A kade­ mie der Wissenschaflen ( 1 893). - Matthias Gatzemeier, Die Naturphilosophie des Straton von Lampsakos. Zur Geschichte des Problems der Bewegung im Bereich des frühen Peripatos 1 970. Artigos de W. Capelle sobre Estratão de Lâmpsaco (Straton, 25 ) em PAULY-W1ssowA, e de O. Regenbogen so­ bre o mesmo autor em Supplementband VII de P.-W. C

ESTRUTURA. Se se entende ' estrutura ' de um modo excessivamente amplo, será dificil encontrar algo de que não se possa dizer que tem uma estrutura. Desse modo, até mesmo uma série numérica completamente casual - ou que pareça sê-lo - terá, grosso modo, uma estrutura: a estrutura serial, que tornará possível ads­ crever um ordinal a cada um dos membros da série. Também terão estrutura uma "enumeração caótica", um conjunto desordenado de obj etos. Disse-se por isso que apenas o que é completamente amorfo carecerá, por definição, de estrutura, mas com isso diz-se apenas que se algo não tem estrutura, não a tem. Se considerarmos que uma estrutura é composta de elementos, quaisquer que sejam eles, então um ele­ mento dado de uma estrutura dada não será uma estrutu­ ra justamente por ser introduzido como elemento como elemento dessa estrutura. Contudo, o elemento em questão pode ser, por sua vez, uma estrutura composta de elementos, de modo que o fato de que algo seja ou não considerado uma estrutura depende do modo como funcione e da posição que ocupe. O fato de que não seja recomendável definir ' estru­ tura' de um modo excessivamente amplo não quer dizer que não seja conveniente defini-la de um modo abstra-

ESTRUTURA

to. Desde a teoria dos grupos de Evariste Gallois até Bourbaki o conceito de estrutura desempenhou um papel fundamental em vários aspectos da matemática. É comum introduzir informalmente na matemática o conceito de estrutura como um conjunto de elementos, como O e 1 , e uma ou mais operações, como as indica­ das por ' + ' , ou por ' + ' e '-' . A estrutura é descrita por todas as operações que possam ser descritas utilizando o operador ou operadores selecionados. Também se fala de estrutura como um conjunto de operações efetuadas sobre um grupo ou elementos de um grupo, de tal modo que qualquer operação efetuada deve dar como resulta­ do um membro do grupo. Deve-se a Bourbaki o ter sis­ tematizado um conjunto de disciplinas matemáticas com base na noção de estrutura, e especialmente com base nas chamadas "estruturas-mães" (estruturas-ma­ trizes ou estruturas matriciais). Destas são mencionadas as estruturas algébricas - entre as quais figuram os grupos -, as estruturas de ordem - em particular, as chamadas "grades" - e as estruturas topológicas. Uma consideração abstrata das estruturas atenta para a forma pela qual se relacionam elementos dentro de um domínio de obj etos não especi ficados e a como se relacionam entre si as relações de relações, e assim sucessivamente. Não importam nem os objetos, nem o caráter das relações entre eles; importa apenas o padrão segundo o qual os obj etos, sejam eles quais forem, e as relações, quaisquer que sej am, estão articulados. Dependendo do sujeito - no sentido de "matéria a ser estudada" - de que se trate, falou-se em estruturas abstratas e estruturas concretas, assim como em estrutu­ ras matemáticas e lógicas, e estruturas fisicas, biológi­ cas, psicológicas, sociais, lingüísticas etc. É preciso levar em conta, todavia, que essa divisão entre estruturas é de caráter mais pedagógico que científico. Se as estru­ turas matemáticas e lógicas são identificadas com es­ truturas abstratas, então será preciso presumir que todas as estruturas não matemáticas e lógicas seguem os pa­ drões destas últimas. Se a matemática e a lógica consti­ tuem um domínio especi ficável de objetos - ainda que sejam objetos abstratos -, a própria matemática e a lógica seguirão padrões de estruturas abstratas. Para definir a noção de estrutura apelou-se freqüen­ temente a noções como as de totalidade, forma, configu­ ração, trama, complexo, grupo, sistema, função, conexão ou interconexão etc. Nenhuma dessas noções é equipará­ vel à de estrutura, mas podem ser encontradas afinidades entre seus traços e alguns dos traços da noção de estrutura. Tanto no presente verbete como em ESTRUTURALIS­ MO, falaremos principalmente de estruturas de domínios específicos de objetos. Isso se deve a que as teorias de caráter estrutural, e estruturalista, erigiram-se em rela­ ção a esses domínios. Tendo-os em conta, e tendo como pressuposto que em todos os casos as estruturas de que se fala terão de moldar-se segundo os padrões que con-

ESTRUTURA

formam qualquer estrutura "abstratamente", podere­ mos considerar duas noções mais ou menos intuitivas de estrutura. Por um lado, entende-se por 'estrutura' algum con­ j unto ou grupo de elementos relacionados entre si se­ gundo certas regras, ou algum conjunto ou grupo de elementos funcionalmente correlacionados. Os elemen­ tos em questão são considerados mais como membros que como partes. O conj unto ou grupo é um todo e não uma ·'mera soma". Assim, os membros de um todo des­ se tipo cumprem os requisitos assentados por Husserl para os "todos": estão ligados entre si de modo a que se pode falar de não-independência relativa de uns em relação aos outros e também de compenetração mútua. Por isso na descrição de uma estrutura desse tipo desta­ cam-se vocábulos como 'articulação ' , 'compenetração funcional' e, algumas vezes, ' sol idariedade ' . Por outro lado, uma estrutura pode ser entendida como um conjunto ou grupo de sistemas . A estrutura não é então uma real idade "composta" por membros; é um modo de ser dos sistemas, de tal modo que os sistemas fimcionam em virtude da estrutura que têm. Desse modo, podem existir vários sistemas, digamos A, B, C, que difiram por sua composição material, mas que executem funções que, embora distintas, sejam sig­ nificativamente comparáveis, isto é, funções tais que tenham significações correlativas. Um desses sistemas pode aliás servir de modelo para o outro (como a passa­ gem de um fluido por um canal pode servir de modelo para o tráfego em uma estrada e vice-versa). Podem existir também, e se espera geralmente que existam, regras de transformação que permitam que se passe de um sistema para outro. A noção de estrutura foi entendida nos dois senti­ dos indicados anteriormente, mas com a tendência de se adotar o segundo, que é, além disso, aquele que é próprio dos que se consideram estruturalistas. É óbvio que a idéia de estrutura como modelo de um conjunto de sistemas que têm funções distintas mas comparáveis (e até "transfo1máveis"), em virtude da estrutura co­ mum que possuem, é mais refinada que a idéia de estru­ tura como "realidade" composta de membros funcional­ mente relacionados entre si. Há grandes semelhanças entre a teoria das estruturas no pri meiro sentido e a teoria geral dos sistemas (ver S1sTEMA ) . A idéia geral de estrutura é antiga: sob outros no­ mes ou amparada em outros conceitos ela seguramente pode ser encontrada em muitos autores. O que deve ser chamado de "estruturalismo avant la lettre" se contra­ pôs freqüentemente ao que foi chamado de "atomismo", este último entendido em um sentido muito geral. Tam­ bém se contrapôs ao associacionismo (ver Assoc1AÇÃO, ASSOCIACIONJSMO) . Na medida em que na época moderna "clássica" predominou a "análise" ( VER) e prestou-se atenção a elementos supostamente últimos, descobertos

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por meio de análise e de "decomposição", não foram muito fortes as tendências "estruturalistas", embora de modo algum tenham estado ausentes. Em uma acepção muito geral (e vaga) de 'estrutura' houve, por outro lado, tendências "estruturais" e "antiatomísticas" du­ rante o romanticismo, embora fosse melhor falar aqui de "totalismo" e de "organicismo" em contraposição ao aludido "atomismo". A noção de (assim como o próprio termo) "estru­ tura" e as conseguintes tendências "estruturalistas" ganharam espaço a partir do começo do século XX. Para efeito de continuidade histórica seria preciso falar de '·estrutura" e de "estruturalismo" em todo o século. Contudo, como se falou especificamente de estrutura­ l ismo cm relação a determinados métodos (e teorias), sobretudo depois da segunda guerra mundial, adotare­ mos um procedimento eclético. Trataremos de estrutura e de estruturalismo neste verbete para nos referir a certo número de pesquisas e de concepções desde aproxi­ madamente o começo do século até depois da segunda guerra mundial. Incluiremos neste tratamento várias discussões sobre modos de entender a noção de estrutura. No verbete ESTRUTURALISMO consideraremos sobretudo a tendência assim chamada, que floresceu em diversas discipl inas e teve ressonâncias filosóficas depois da se­ gunda guerra mundial. Entretanto, incluiremos neste último tratamento pesquisas (especialmente lingüísti­ cas) chamadas de "estruturais", porque, embora os es­ truturalistas stricto sensu geralmente se tenham oposto a elas, a distinção entre modos distintos de estrutura­ lismo entra naturalmente neste último conceito. Acres­ centaremos também ao citado verbete EsTRUTURALISMO várias discussões sobre a noção de estrutura que não são consideradas no presente artigo. Esse procedimen­ to eclético pode prestar-se a confusões, mas ao final é mais tolerável que a inclusão das noções de estrutura e de estruturalismo em um único verbete, seja ele cha­ mado de "Estrutura", "Estruturalismo'' ou "Estrutura e Estrutural ismo". De todo modo, o que hoje é chamado de "estruturalismo". particularmente sob a figura do "estruturalismo francês'', poderá ser encontrado mais faci lmente em um verbete especial (ainda que não demasiadamente excludente). Costumou-se dar como exemplos de estruturas os organismos biológicos, as espécies biológicas, as cole­ tividades humanas, os produtos culturais de espécies muito diversas (particularmente as linguagens). O ponto de vista estrutural consistiu grosso modo em estudar as mencionadas realidades como totalidades e não com base em seus elementos componentes, ou supostamente componentes. Por isso esse ponto de vista foi equipara­ do freqüentemente com um ponto de vista "totalista". Contudo, uma vez que se especifique o sentido de ' es­ trutura ' descobre-se que tal equiparação é insuficiente.

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Os modos de entender a noção de estrutura variam segundo os tipos de pesquisa levados a cabo. Um dos mais importantes e influentes usos dessa noção é encon­ trado na psicologia, dentro da chamada Gestaltpsycho­ logie, expressão traduzida algumas vezes por 'psicolo­ gia da estrutura' e outras por 'psicologia da forma' . O "gestaltismo", como também é chamado, é uma das grandes manifestações do estruturalismo do século XX e contribuiu para o florescimento deste ao menos tanto quanto as concepções estruturais lingüísticas, já a partir de Ferdinand de Saussure (as quais se ligam mais direta­ mente com alguns dos vários sentidos do estruturalismo contemporâneo). Os principais promotores do gestal­ tismo, ou psicologia da estrutura (forma, configuração), foram Max Wertheimer ( vER), Kurt Koffka ( vER) e Wolf­ gang Kõhler ( vER). A psicologia gestaltista não é, como às vezes se supôs, uma reação completa contra certas concepções "associacionistas". Segundo o que subli­ nhamos (ver ASSOCIAÇÃO, ASSOCIACIONISMO ), os estrutu­ ralistas ou gestaltistas criticaram diversos pressupostos do associacionismo, mas aproveitaram muitos trabalhos da "escola associacionista'', integrando-os em suas pró­ prias concepções. Ao lado do associacionismo contri­ buíram para a formação da teoria da estrutura as pesqui­ sas de Meinong e de Ehrenfels sobre as "qualidades de forma" e em parte (menor) as pesquisas de Husserl às quais nos referimos no verbete Tooo. Mas o precedente mais imediato das teorias dos citados psicólogos encon­ tra-se uos trabalhos de Ehrenfels, Lipps e especialmente F. Krüger e J. Volkelt. Os trabalhos experimentais de Krüger sobre a noção de totaiidade psíquica procedem de 1 905- 1 906; os de Volkelt, de 1 9 1 2 . Este é considera­ do o ano 1 na história da teoria psicológica da estrutura. Ao longo do mesmo ano, Wertheimer publicou seu tra­ balho "Experimentelle Studien über das Sehen von Be­ wegungen" (Zeitschnji für Psychologie, 61 ). Koffka publicou em 1 9 1 3 suas "Beitrãge zur Psychologie der Gestalt - und Bewegungserlebnisse" (ibid. , 67). As contribuições para a teoria da estrutura a partir dessas datas foram abundantes. O mais importante do ponto de vista filosófico foi a extensão dada ao conceito de estrutura por Kõhler em 1 920 com seu escrito Die phy­ sischen Gestalten im Ruhe und im stationiiren Zustand. Foram, além do mais, escritos desse tipo, mais que os propriamente psicológico-experimentais, os que susci­ taram numerosos debates. Muitos psicólogos que admi­ tem os resultados experimentais da teoria da estrutura negam-se a admitir as correspondentes implicações on­ tológicas e lógicas. Por outro lado, a suposição de que na base dessa teoria encontra-se o realismo tradicional aparece para alguns como demasiadamente vaga; com efeito, as implicações ontológicas e lógicas da teoria psicológica da estrutura (e de sua aplicação à realidade inteira) são mais complexas. Em vista disso se poderia

ESTRUTURA

declarar que é necessário estabelecer uma completa dis­ tinção entre a teoria psicológica estruturalista e a filoso­ fia geral estruturalista. Pois bem, muitos pesquisadores -- não apenas filósofos, mas também psicólogos e, em geral, cientistas - rejeitam uma distinção demasia­ damente radical e indicam que a noção de estrutura poderia ser aplicada a todas as ciências. Isso se vê espe­ cialmente no livro coletivo sobre o conceito de forma mencionado na bibliografia ( ed. L. L. Whyte, 1 95 1 ). Partindo da psicologia estruturalista alguns supõem, com efeito, a possibilidade de uma "física estruturalista" ou "gestaltista", cujo "modelo" é a biologia. Também imaginam a possibilidade de que tanto a física como a biologia se desenvolvam segundo conceitos "estrutura­ listas". Outros autores falam de um "estruturalismo" na matemática - ou, pelo menos, na topologia e em outros ramos não estritamente "quantitativos" da matemática. Dentro da psicologia es trutural ista Kurt Lewin ( vFR) desenvolveu uma "psicologia topológica". Uma espécie de "estruturalismo topológico" foi apresentado por Raymon Ruyer ( vrn) em sua obra Esquisse d 'une philosophie de la structure ( 1 930). Ruyer modificou depois seu ponto de vi sta, mas na obra citada ele aspi­ rou defender um "mecanismo integral" fundado em uma concepção geométrico-mecãnica, "isto é [são suas próprias palavras] , estrutural", da realidade. Esta foi concebida por esse autor como um conjunto de formas. A forma, por sua vez, era definida como "um conjunto de posições no espaço e no tempo". Nas ciências do espírito (ver ESPÍRITO, ESPIRITUAL) a noção de estrutura foi desenvolvida sobretudo por Dilthey e por sua escola. Enquanto na psicologia da estrutura esta última é principalmente uma "configura­ ção", em Dilthey e em autores diltheyanos ela aparece sobretudo como uma "conexão significativa" (Sinnzu­ sammenhang). Tal conexão é própria tanto dos comple­ xos psíquicos como dos objetos culturais e até do siste­ ma completo do "espírito objetivo". Na idéia de estru­ tura como conexão significativa desempenha um papel fundamental o elemento temporal e, em última instân­ cia, histórico. Subjetivamente, as totalidades estruturais aparecem como vivências (ver VIVÊNCIA), objetivamente elas aparecem como formas do espírito (objetivo). As estruturas como conexões significativas não podem ser propriamente explicadas; em vez da explicação há descrição e compreensão ( vER ) . Nem todas as tendências da filosofia contemporâ­ nea estão de acordo em conceber do mesmo modo a estrutura. V :irios autores declaram que a concepção es­ trutural, tal como utilizada na psicologia e, em geral, nas ciências do espírito, sofre do defeito de uma insufi­ ciente elucidação lógica da noção de estrutura. Russell indicou, por exemplo, que a noção de estrutura não pode ser aplicada a conj untos ou a coleções - em que o to-

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do "determina" a parte -, mas apenas a relações. A es­ trutura é então função de sistemas relacionais; a estru­ tura comum de dois ou mais desses sistemas equivale à referência de cada um dos "elementos" de um sistema a cada um dos de outro ou outros. Outros autores con­ cordam com isso e têm opiniões parecidas. S. K. Langer indica que a estrutura é "a ponte que une todos os diver­ sos significados da forma" (em que "forma", ou "forma lógica", designa "o modo mediante o qual é construída uma coisa"); assim, "qualquer coisa que possua uma forma definida é construída de uma maneira também definida" (An lntroduction to Symbolic Logic, 1 937, p. 24). K. Grelling e P. Oppenheim declaram que a noção de estrutura deve ser analisada em estreita relação com a noção de correspondência. A aplicação da análise ló­ gica permite, além disso, em sua opinião, traduzir para uma linguagem mais formal proposições de caráter es­ truturalista que até agora tinham sido interpretadas em um sentido demasiadamente metafisico. Assim ocorre, por exemplo, com uma proposição como "A estrutura (Gestalt) é mais que a soma das partes", expressa mais rigorosamente mediante a proposição "O sistema de ações é mais que o agregado". Em geral, estes e outros autores tenderam a aproximar, pois, a noção de estru­ tura a noções como as de correspondência (VER) , ordem (formal) ( vER) e isomorfismo ( vER ) . Se prescindirmos, por enquanto, das concepções es­ truturais iniciadas com Ferdinand de Saussure e da lin­ güística estrutural bloomfeldiana e especialmente pós­ bloomfeldiana, teremos três noções de estrutura que abri­ ram caminho desde o começo do século até a segunda guerra mundial : a que foi elaborada por alguns filósofos (Ehrenfels) e psicólogos (Kotlka, Krüger); a que foi ofe­ recida pelos filósofos da escola de Dilthey, e a que foi proposta por vários lógicos. Perguntou-se algumas vezes se há relações entre as três noções. Por um lado, podem ser relacionados os conceitos psicológico e lógico por causa de seu traço funcional comum e, no vocabulário atual, sincrônico, à diferença do sentido temporal e diacrônico das estruturas ou "com­ plexos" diltheyanos. Por outro lado, podem ser aproxi­ madas as concepções psicológica e diltheyana por não serem, como as lógicas, de índole completamente abs­ trata. Finalmente, pode-se considerar que a noção lógi­ ca abstrata de estrutura é o esquema formal dentro do qual podem ser encaixadas noções mais específicas de estruturas, isto é, conteúdos específicos, ou exemplos determinados de relações estruturais. Indicou-se no começo deste verbete que a equipara­ ção entre a noção de "todo" e a de "estrutura" é insufi­ ciente. Entretanto, é possível comparar as duas noções, como fez Knut Erik Tranõy em sua obra Wholes and Structures: A n A ttempt at a Philosophical Analysis ( 1 959). Segundo esse autor, esses termos podem ser

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aplicados a diversas entidades que consideramos como todos e estruturas, mas o significado que adquirem os citados termos em suas diversas aplicações é tão distinto que parece quebrar-se a "unidade do uso". Se conside­ rarmos os obj etos de pesquisa científica (ou científica e filosófica) como um "contínuo", em um de cujos ex­ tremos se encontrem a matemática e a lógica, e no outro extremo as disciplinas humanísticas (e no final prova­ velmente a estética), poderemos perceber que há uma transformação contínua do uso do vocábulo 'estrutura' desde um conceito puramente formal no qual predo­ mina a noção de "sistema de relações entre elementos" que formam a estrutura, até a noção de todo "holístico", no qual a noção de relação entre elementos perde impor­ tância (ou se torna sumamente vaga), de modo que os componentes chamados de "elementos" ou "partes" vão se tornando cada vez mais variados e heterogêneos. Acontece como se nas estruturas formais os elementos (e suas relações) determinassem a estrutura, e como se nas estruturas não-formais os todos "holísticos" deter­ minassem o tipo dos elementos e as relações que devem ser mantidas entre eles. Em ambos os casos a noção de estrutura é mantida, mas a forma de relação entre o todo e as partes inverte-se quase totalmente. :> Sobre a noção de estrutura em várias disciplinas: Eugen Herrigel, Urstojf und Urform. Ein Beitrag zur philosophischen Strukturlehre, 1 926. - Francisco Ro­ mero, Vieja y nueva concepción de la realidad, 1 93 2 ; reimp. com o título "Dos conceptos de la realidad", em Filosofia contemporánea: Estudios y notas, 1 94 1 , pp. 57-8 1 . - Kurt Grelling e Paul Oppenheim, "Der Ges­ taltbegritf im Lichte der neuen Logik'', Erkenntnis, 6 ( 1 93 7- 1 938), 2 1 1 -225. - Jakob Sulser, Die Struktur­ logik, 1 944. - É douard Morot-Sir, La pensée négative: Recherche logique sur la structure et ses démarches, 1 946. - L. L. Whyte, S. P. F. Humphreys-Owen et ai. , Aspects of Form, 1 95 1 ; 2ª ed., 1 968, ed. Lanceio! Law Whyte. - M. de Gandillac, L. Goldmann et ai. , Les notions de genese et de structure, 1 959 ["Entretiens" em Cérisy-la-Salle, julho 1 959]. - C. Lévy-Strauss, H. Lefevre et ai. , Sens et usages du terme "structure" dans les sciences humaines et sociales, 1 962. - L. Apostei, J.-8. Grize et ai. , La filiation des structures, 1 963 [ Études d'épistémologie génétique, 1 5] . - E . Paci, G. Dorfles et ai. , artigos em Revue lnternationale de Philosophie, 1 9 ( 1 965), 25 1 -448. - Robert B lanché, Structures intellectuelles, 1 966. - Stéphane Lupasco, Qu 'est-ce qu 'une structure?, 1 967. - Lanceio! Law Whyte, Mario Bunge, Albert G. Wilson et al. , Hierar­ chical Structures, 1 969, eds. L. L. Whyte, Albert G. Wilson, Donna Wilson [Simpósio en Huntington Beach, Calif. l 8/ l 9-X- 1 968] . - VV. AA., Der Moderne Struk­ tuebegriff. Materialen zu seiner Entwicklung 1 9301 960, ed. Hans Naumann, 1 973. - W. H. Newton-Smi-

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ESTRUTURALISMO

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Ver também a bibliografia do verbete ESTRUTU­ RALISMO. C:

ESTRUTURALISMO. Se se dá a este termo o sentido muito geral de quaisquer estruturas em quaisquer dos sentidos que podem ser dados a 'estrutura' (vER), será preciso chamar de "estruturalistas" muitas doutrinas e opiniões, talvez a todas. Adotar esse ponto de vista pode desembocar na pergunta que José Alberto Marín Mo­ rales se formula no artigo "Averroes y su proyección en el estructuralismo" (Arbor, 94 [3 66] [ 1 976] , 2 1 52 3 5 [63 - 8 3 ] : " É o Colliget de Averróis precursor do atual estruturalismo?" O autor mencionado responde afirmativamente: o Colliget de Averróis (ou o Kitab a/-Kulliyyat fi-1-tibb, Tratado universal de medicina) é precursor do atual estruturalismo em virtude de que "o conceito atual de estrutura procede de Aristóteles, especialmente quando fala de que os princípios on­ tológicos podem estar em íntima relação com os ló­ gicos", e continua dizendo que "é esse conceito, reela­ borado por Averróis, que constitui ou parece consti­ tuir o ponto de partida do atual estruturalismo, por meio dos conceitos de mistura, equilíbrio e predomínio, e de que tudo o que existe está misturado em tudo, e especialmente do conceito da temperança, equilíbrio entre as almas ou faculdades, o espírito e o calor" (art. cit., p. 23 1 [79]). Obviamente é preciso um conceito menos generoso de "estruturalismo". Sem remontar aos árabes, aos gre­ gos, alguns comentadores consideraram que se deve chamar de "estruturalistas" a todas as doutrinas opostas ao "atomismo" - entendendo este termo em um senti­ do também muito geral e vago -, mas mesmo assim permanece muito esfumada a acepção do nosso termo. Outra alternativa, mais em consonância com as pos­ sibilidades de descrever o alcance do estruturalismo, é destacar a importância que adquiriu em algumas disci­ plinas a noção de estrutura e chamar de "estruturalistas" as pesquisas de tais disciplinas que façam uso predomi­ nante da noção a que nos referimos, ou às análises ou especulações filosóficas que esse uso tenha suscitado. Desse ponto de vista pode-se falar de estruturalismo na matemática a partir da teoria dos grupos de Gaulois, destacando-se então a álgebra de relações e a topolo­ gia. A culminação desse estruturalismo é a série de tra­ tados matemáticos conhecidos com o nome (coletivo) de Bourbaki. O estruturalismo matemático, embora possa propor­ cionar, como de fato proporciona, instrumentos concei­ tuais para o desenvolvimento de outras espécies de es­ truturalismo, não é o único. No verbete ESTRUTURA nos referimos a várias orientações em que o conceito de es­ trutura desempenhou um papel central. O exemplo mais conhecido é a psicologia da estrutura (ou da forma, ou

ESTRUTURALISMO da configuração), a Gestaltpsychologie, ou "gestaltismo''.

Outro exemplo é o da lingüística na tendência que lhe imprimiu Ferdinand de Saussure (vER), de tão decisiva influência no que hoje é chamado de "estruturalismo". Convencionamos, para evitar confusões, tratar vá­ rias formas de "estruturalismo" anteriores ao final da segunda guerra mundial no corpo do verbete ESTRU­ TURA. reservando o presente verbete para um conjunto de correntes contemporâneas em várias disciplinas, e com as correspondentes ressonâncias filosóficas. Desse modo, chamaremos de "estruturalismo" por antono­ másia o tipo de pesquisas e idéias que floresceram, espec ialmente na França, com autores como Lévi­ Strauss, Jacques Lacan, Louis Althusser, Michel Fou­ catilt, Roland Barthes (alguns dos quais, além disso, como acontece freqüentemente nesses casos, negam ser, ou ser apenas, estruturalistas ). Isso restringe nosso conceito consideravelmente, mas pensamos ser melhor esse procedimento que o da extensão desmesurada. Ademais, a restrição apontada não significa que sejam esquecidos aqueles que os próprios estruturalistas con­ sideram antecedentes importantes em sua própria obra: Saussure -já mencionado -, Freud e Marx. São ain­ da menos esquecidos antecedentes mais imediatos do estruturalismo em nosso sentido: o chamado "estrutu­ ralismo lingüístico" dos críticos formalistas russos e das Escolas de Praga e de Copenhagen, especialmente com Roman Jakobson, N. S. Trubetzkoy (Troubetzkoy), L. Hj elmslev. Há autores que não costumam ser inclu­ ídos entre os estrnturalistas stricto sensu, mas cuja obra é em muitos pontos paralela à deles e que antecipa não poucos de seus temas. I sso ocorre com Jean Piaget. Também há autores que procedem de outra tradição mas desenvolvem temas de interesse para o estrutura­ lismo contemporâneo a que fizemos alusão. O mais destacado é Noam Chomsky. A menção a Chomsky neste contexto requer um esclarecimento quanto ao uso do termo ' estrutural is­ mo ' . É freqüente que ele seja utilizado para referir-se sobretudo, se não exclusivamente, ao "estruturalismo europeu" e a seus antecedentes no continente. Mas hou­ ve, e continua havendo, dentro da lingüística um movi­ mento estruturalista norte-americano, o da chamada "l ingüística estrutural", representada eminentemente por Leonard Bloomfield e seus seguidores (os lingüis­ tas norte-americanos "pós-bloomfieldianos"). A lin­ güística estrutural norte-americana conta entre seus cultivadores com Zellig Harris, o mestre de Chomsky. Este partiu de certos contextos próprios da menciona­ da lingüística, e especialmente dos de Harris - com o interesse predominante pelas questões sintáticas e pela "análise de constituintes imediatos; ao mesmo tempo, encontram-se em Harris antecipações no sentido da contrução de modelos generativos. Contudo, Chomsky

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logo se separou da l ingüística estrutural e atacou suas bases behavioristas e suas orientações taxionômicas, figurando então, por essa razão, como "antiestrutura­ lista". Em vista disso é compreensível a sua atitude em relação a Lévi-Strauss, tal como a expressa em Lan­ guage and Mind ( 1 968). Chomsky considera interes­ sante a tentativa de Lévi-Strauss de estender o estudo das estruturas lingüísticas a outros sistemas de configu­ ração parecida com a dos lingüísticos (como, por exem­ plo, o estudo de Lévi-Strauss sobre os sistemas de pa­ rentesco e do pensamento primitivo). Todavia, ele objeta a Lévi-Strauss ter tomado como modelo a lingüística estrutural do tipo de Trubetzkoy e Jakobson. "Mas deve­ se fazer várias reservas quando a lingüística estrutural é aplicada como modelo dessa maneira. Para começar, a estrutura de um sistema fonológico é de pouquíssimo interesse como objeto formal. . . Contudo, a importância da fonologia estruturalista, tal como desenvolvida por Trubetzkoy, Jakobson e outros, não reside nas proprie­ dades formais de sistemas fonêmicos, mas no fato de que, ao que parece, um número bastante reduzido de ca­ racterísticas especificáveis em termos absolutos, inde­ pendentes da linguagem, proporcionarem a base para a organização de todos os sistemas fonológicos" (op. cit., p. 65). Chomsky reconhece assim a importância dos re­ sultados alcançados pela fonologia estruturalista, espe­ cialmente a de Jakobson, ao mostrar que "as regras fo­ nológicas de uma grande variedade de linguagens se aplicam a classes de elementos que podem ser simples­ mente caracterizados em tennos dessas características (loc. cit. ). O primado da dimensão sincrônica sobre a diacrônica, no qual tanto insistiram os estruturalistas co­ mo Lévi-Strauss, é admitido por Chomsky ao menos como uma noção que promete. Se acrescentamos a isso certas afinidades entre Lévi-Strauss e Chomsky - a despeito de que o primeiro seguiu modelos estruturais aos quais Chomsky se opôs - se compreenderá que Chomsky possa ser considerado um "antiestruturalista" - especialmente no que diz respeito ao estruturalismo lingüístico bloomfieldiano - e que, ao mesmo tempo, algumas das idéias de Chomsky tenham sido considera­ das favoravelmente por vários estruturalistas europeus. Pois bem, mesmo restringindo o significado de 'es­ truturalismo ' do modo como foi sugerido no começo, é dificil - embora não mais que no caso de qualquer outro movimento filosófico amplo - definir seus prin­ cipais traços. Nas exposições do estruturalismo, alguns se baseiam principalmente em Lévi-Strauss, que pare­ ce, com efeito, acumular a maior parte de suas carac­ terísticas; outros combinam os traços comuns a vários autores, como Lévi-Strauss e Louis Althusser, ou Lévi­ Strauss e Jacques Lacan, ou Michel Foucault e Roland Barthes. Mesmo correndo o risco de que alguns dos traços mencionados a seguir não estejam presentes em

ESTRUTURALISMO

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alguns autores, ou que vários deles sejam mais percep­ tíveis ou estejam mais desenvolvidos em autores que não figuram entre outros "estruturalistas franceses" Piaget, ou Chomsky, ou Jakobson -, consideramos que com base neles pode ser compreendida a tendência geral estruturalista. Embora alguns estruturalistas tenham se oposto ao funcionalismo - como ocorre com Lévi-Strauss em relação a Malinowski -, a idéia de função desempenha um papel importante no estruturalismo. De todo modo, existem certas características no estruturalismo próxi­ mas da noção de função em autores como Durkheim. Outras não são completamente distintas da noção de tipo ideal tal como foi proposta e desenvolvida por Max Weber. Várias estão muito próximas da generalização funcionalista de A. R. Radcliffe-Brown. O importante, porém, é a idéia de estrutura entendida como um siste­ ma ou como um conjunto de sistemas. Há sistemas de classes muito diversas: o sistema que constitui as re­ gras de urbanidade ou de etiqueta em uma sociedade, ou em uma classe social, o sistema de sinais para regu­ lar o trânsito, o sistema das relações familiares, o sis­ tema da linguagem etc. De alguma forma todos os siste­ mas que constituem uma estrutura são sistemas lingüís­ ticos, de modo que estrutura é mutatis mutandis estru­ tura lingüística. Isso não quer dizer que se trate exclusi­ vamente de estruturas verbais; quer dizer apenas que o modelo repetidamente utilizado para examinar a nature­ za e o funcionamento das estruturas é um modelo que pode ser reduzido, na maior parte das vezes, a um mo­ delo de linguagem verbal . O estruturalismo insiste normalmente e m que se trata de um modelo de compreensão da realidade - e especificamente das realidades humanas socialmente constituídas -, mas é freqüente que haja, para além dos programas metodológicos, pressupostos de natu­ reza ontológica, de acordo com os quais as realidades de que se trata estão conformadas estruturalmente. Não se nega em princípio que haja causas e relações causais, nem tampouco se nega em princípio que haja mudan­ ças, e especi ficamente mudanças de caráter histórico. Entretanto, tanto as relações causais como os desenvol­ vimentos diacrônicos (ver D 1 AC R ôN 1 co) são entendidos em função de relações de significação e de formações sincrônicas. O estruturalismo se opõe geralmente ao causalismo e ao historicismo. Na maior parte dos estruturali stas manifesta-se a tendência a supor que por baixo de certas estruturas que podem ser consideradas superficiais há estruturas profundas. Por um lado, há uma correlação entre os dois tipos de estruturas. Por outro, as estruturas superficiais não são simplesmente manifestação de estruturas pro­ fundas. A correlação de referência consiste em que para toda estrutura superficial há alguma estrutura profunda

(assim as estruturas superficiais da linguagem enquanto séries de dizeres estão correlacionadas com as estrutu­ ras profundas da linguagem enquanto conjunto de re­ gras). Mas isso não forma uma relação biunívoca; a vários modos de falar que parecem desconectados entre si pode corres p onder uma única regra estrutural pro­ funda, e ao mesmo tempo um modo de falar que pare­ ce ser único é interpretável em função de várias possí­ veis estruturas profundas. A linguagem é aqui apenas um exemplo, embora um exemplo freqüentemente pre­ dominante (se se leva em conta a abundante referência dos estruturalistas a "sinais", "significantes" etc., assim como à distinção entre sintagma [ver SINTAGMA, SINTAG­ MÁTICO] e paradigma, tomada do domínio lingüístico). Todavia, seria um erro caracterizar exclusivamente o estruturalismo de que aqui falamos como uma transfe­ rência de modelos l ingüísticos a vários domínios das ciências humanas. A linguagem obedece a regras estru­ turais do mesmo modo que quaisquer outros fenômenos humanos. Em todos eles funcionam sistemas de substi­ tuição cuja fonnalização tem geralmente um caráter combinatório. Alguns estruturalistas tendem a reduzir ao mínimo, e até mesmo a eliminar por completo, ao menos do ponto de vista metodológico, o homem como sujeito e as infinitas circunstâncias e mudanças da história. Se há mudanças, não são alterações dentro de uma conti­ nuidade histórica, mas antes "cortes". Isso quer dizer que os homens estão "submetidos" às estruturas e não ao contrário. Fala-se por isso algumas vezes de "meca­ nismos" --· sem que se deva dar a esse termo um senti­ do "mecanicista" clássico que atuam como forças estruturantes e aliás podem ser qualificados de "inatos". Não há nada humano -- e possivelmente nada orgâni­ co - que seja infinitamente maleável. O número de possíveis estruturas em cada caso é limitado. Sob um grande número de variações superficiais há uma quan­ tidade limitada de estruturas profundas. Os próprios modelos de relações são ou podem ser distintas ma­ nifestações de um único sistema estrutural. Contudo, algumas vezes se fala de modelo como correspondente a uma estrutura e se define o modelo como uma série de caracteres recorrentes. As estruturas são inacessíveis à observação e a des­ crições observacionais. Por outro lado, não são resulta­ do de nenhuma indução generalizadora. Por esse motivo às vezes se alegou que, propriamente falando, não há estruturas. Em alguma medida, elas não existem, ao menos no sentido de que existem obj etos ou proprieda­ des de objetos. As estruturas não são, portanto, equi­ paráveis a realidades últimas, de caráter metafisico. Elas são, metodologicamente falando, princípios de expli­ cação, e, ontologicamente falando, formas segundo as quais as realidades se articulam. -·

ESTRUTURALISMO

Segundo Jean Piaget, "uma estrutura é um sistema de transfonnações que comporta leis enquanto sistema (em oposição a propriedades de elementos) e que se conser­ va ou enriquece por meio do próprio jogo de suas trans­ formações sem que estas andem além de suas frontei­ ras ou recorram a elementos exteriores. Em suma, uma estrutura abarca, pois, os três caracteres de totalidade, de transformações e de auto-regulação" (op. cit. infra, pp. 6-7). Esta definição de Piaget foi considerada por alguns demasiadamente ampla e destinada a mostrar que há algo em comum em estruturas de índole muito diversa (matemáticas e lógicas, físicas e biológicas, psi­ cológicas, lingüísticas e sociais). Parece, em todo caso, que um dos caracteres apontados - o de totalidade ultrapassa as concepções estruturalistas, e outro, o de auto-regulação, corresponde somente a certas estrutu­ ras. Mas o caráter da transformabilidade não pode ser eliminado das estruturas. Os estudos estruturalistas con­ sistem em grande parte em levar a cabo transformações que tornam possível passar de uma estrutura para outra mediante mudanças em seus elementos que não alteram o sistema estrutural. John Mepham indicou que "em geral é verdade que as formas de regularidade empírica, cujo estudo pode permitir o descobrimento da coerência subjacente a um sistema semântico, não são correlações nem general izações empíricas (como freqüentemente se pensou ser o caso no que diz respeito aos sistemas estudados pela física e pela química), mas são trans­ formações (op. cit. infra, p. 1 5 8 da trad. esp.). No caso das estruturas sociais - que foram as mais abundante­ mente investigadas pelos estruturalistas contemporâ­ neos - se pressupõe existir modelos de vida social que têm de ser explicados sincronicamente. Há uma distinção que pode ser básica entre estrutu­ ralismo, por um lado, e "atomismo" (no sentido muito geral do termo) e organicismo, por outro. Uma concep­ ção inteiramente "atomista" tenderá a conceber toda en­ tidade como composta de elementos nos quais a entida­ de pode ser analisada ou "decomposta", de modo que se encontramos qualquer entidade E e qualquer um dos elementos que a compõem, e , , e, . . . e,,, todo E será composto por e " c2 . . . e,, Uma concepção organicista tenderá a conceber que as entidades são como orga­ nismos e que nenhum deles pode ser anali sado ou de­ composto em elementos. Uma concepção estruturalis­ ta tenderá a pensar que, mesmo que haja elementos últimos, estes formam conjuntos em virtude de suas relações mútuas. Mas, além disso, tenderá a pensar que, uma vez constituído um conjunto, este se relacionará com outros. Desse modo, o estruturalismo em geral não se opõe em princípio à anál ise de um conj unto de elementos. Ele afirma, porém, que os conjuntos podem relacionar-se entre si funcionalmente, sem a necessi­ dade de que em cada caso eles sejam decompostos em seus elementos.

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Dado o tom geral das considerações precedentes, é óbvio que ou podem ser encaixados facilmente dentro delas todos os estruturalistas ou nenhum deles é razoa­ velmente caracterizado por elas. Paradoxalmente, o único modo de entender corretamente em que consiste o estruturalismo contemporâneo é descrevê-lo diacroni­ camente e, além disso, esboçar as idéias principais daqueles que foram chamados, freqüentemente a des­ peito deles, "estruturalistas". Roland Barthes indicou que o estruturalismo não é (ainda) uma escola ou um movimento: é uma atividade, de modo que cabe falar da atividade estruturalista do mesmo modo que se fala da atividade surrealista. Essa atividade, mais que um gru­ po de idéias comuns, caracteriza a obra dos autores men­ cionados no começo do verbete. A obra que foi identi­ ficada mais plenamente com esse estruturalismo é, co­ mo foi indicado, a de Lévi-Strauss. Segue-se a ela, em ordem de aproximação, a de Roland Barthes. Fala-se às vezes do "grupo Te! Que!" ou dos colaboradores da revista Te! Que!, que representaram um estruturalismo "textual" ou estudo estruturalista de textos - daí a muito repetida expressão 'a escritura de' : L 'écriture de (e, correlativamente, leitura de: lecture de) -, mas entre os colaboradores dessa revista figuram M ichel Foucault e Jacques Derrida, nenhum dos quais, e particularmente o segundo, quer ser identificado com o estruturalismo. Assim como Lévi-Strauss representa o estruturalis­ mo antropológico, Roland Barthes representa o estrutu­ ralismo "literário" ou, melhor, o estruturalismo "crítico". Nesses dois casos são óbvios os empréstimos feitos à tradição lingüística estrutural na linha Saussure-Jakob­ son. A psicanálise estruturalista é representada por Jac­ ques Lacan. Fala-se de um estruturalismo marxista, ou de um marxismo estruturalista, no caso de Louis Althus­ ser, o qual utilizou métodos estruturalistas, mas sem adotar nenhuma "filosofia" estruturalista stricto senso. Alguns consideram que M ichel Foucault é o filósofo do estruturalismo; o próprio Foucault nega ser estrutu­ ralista, embora dentro das correntes filosóficas contem­ porâneas o estruturalismo seja a mais afim com sua análise. Expomos as doutrinas principais desses autores nos verbetes consagrados a eles, os quais podem servir de complemento ao presente. Há uma considerável afi­ nidade entre os estudos com maior ou menor razão qualificados de estruturalistas e o desenvolvimento da semiologia ( vER ) na época atual . � E m todas a s obras sobre o s autores a que nos referi­ mos no texto há exposições e interpretações do estrutu­ ralismo contemporâneo. Mencionamos também: Man­ fred Bierwisch, "Der Strukturalismus", Kursbuch (maio 1 966). - Jean-Marie Auzias, Clefs pour !e structura­ lisme, 2ª ed., rev., 1 967. - Jean Piaget, Le structuralis­ me, 1 968; 3ª ed., aum., 1 968 (último trimestre) ( ed. br. : O estruturalismo, 3ª ed., 1 979). - Oswald Ducrot,

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ÉTICA

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EUNÁPIO DE SARDES (nasc. ca. 345/346) foi discí­ pulo e amigo do neoplatónico Crisâncio de Sardes

(vER), com quem aprendeu, entre outras coisas, as "dou­ trinas secretas" de Jâmblico. Como seu mestre, Euná­ pio defendeu, especialmente sob a égide dos "impera­ dores pagãos", a "fé antiga" e a tradição helênica diante do e contra o cristianismo. Devem-se a Eunápio umas Vidas de sofistas, Bío1 ooq>10Twv, Vitae sophistarum do século IV - 'sofistas' entendido no sentido de ' filó­ sofos' e ' sábios' - e uma crônica histórica. :> As Vitae em J.-F. Boissonade, Philostratorum, Eu­ napii, Homerii reliquiae, 1 849. - Fragmentos da crôni­ ca em C. Muller, Fragmenta hist. graec. , IV, 7ss. Artigo de W. Schmid sobre Eunápio em Pauly-Wissowa, s. v. "Eunapios". Í ndice: 1. Avotins, M. M . Avotins, eds., Jndex in Eunapii Vilas Sophistarum, 1 98 3 . C:

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EUSÉBIO DE CESARÉIA, Eusebius Pamphili (ca. 265-339/340). Nascido em Cesaréia (Palestina), bispo da mesma cidade (a partir de ca. 3 1 4), é conhecido sobretudo como historiógrafo, especialmente por sua fundamental História da Igreja ( ' E KKÀf]OJOOT1Ki] loTopía), mas é importante na hi stória da fi losofia por suas obras apologéticas, a Praeparatio evangelica ( EúayyEÀtKi] TipoTiapaoKEVTÍ ) e a Demonstratio evangelica ( EúayyEÀtKi] àTiófü1!;1s). A signi ficação filosófica dessas obras reside em dois aspectos. Primei­ ro, na quantidade de dados que Eusébio proporciona sobre doutrinas filosóficas gregas. A Prepara tio, parti­ cularmente, constitui-se como uma das fontes básicas para o conhecimento de um bom número dessas doutri­ nas. Segundo, na atitude filosófica do autor. Sua atitude é claramente apologética, de tal modo que Eusébio pode ser considerado um dos continuadores da obra dos apo­ logistas (vER) do século I I . Mas existem marcadas dife­ renças em relação a eles. Sobretudo, Eusébio utilizou muitos dos elementos e dos métodos dos cristãos ale­ xandrinos, particularmente de São C lemente e de Pan­ filio de Cesaréia. Portanto, existe em sua obra uma certa quantidade de elementos de caráter alegórico. Logo, seus juízos sobre o pensamento grego coincidem apenas em parte com os de outros apologistas que o precede­ ram. São j uízos extremamente críticos, na formulação dos quais Eusébio utilizava argumentos céticos. Ao mesmo tempo, porém, interpretava uma parte desse pensamento como uma clara "preparação" para os ensi­ namentos cristãos - essa parte é o platonismo (entendi­ do quase sempre em um sentido platônico-eclético e até neoplatónico). Eusébio, assim como outros autores, con­ siderou Platão como um Moisés que falara em língua ática, e interpretou as "idéias" platônicas como pensa­ mentos divinos. Também encontrou em Platão outros precedentes cristãos, como a doutrina da imortalidade da alma, e certos vislumbres do dogma da Trindade. Não obstante, esses precedentes eram, em seu entender,

EVANGELHO ETERNO

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:l Fragmentos em F. Jacoby, Die Fragmente der grie­ insuficientes diante da verdade completa da revelação chischen Historiker, !, 300ss. Jacoby também é au­ cristã, e estavam, além disso, maculados por doutrinas tor do artigo sobre Evêmero ( Euhemeros) em Pauly­ errôneas, particularmente pelas tendências emanatistas, Wissowa. Ver: Mats Furberg, Locutionary and lllocucionary Acts: A Main Theme in J. L. A ustin s Philosophy, 1 963 (tese). - Lennart Âqvist, Performatives and Verifia­ bility by the Use of Language: A Study in the Applied Logic of lndexicals and Conditionais, 1 97 l . Sven Danielson, Some Conceptions ofPerformativity, 1 973. - F. Recanati, Les énoncés performatifs, 1 98 1 . Ver também bibliografia de AUSTIN, J [OHN l L [ANG­ S HAW ] . e -

EXEGESE. Ver HERMENÊUTICA. EXEMPLARISMO. O termo ' exemplo' é utilizado comumente para designar um caso particular que serve para comprovar uma afirmação. Ele também é empre­ gado para designar um caso que ocorreu, ou que se supõe ter ocorrido, e que é proposto para imitação. Este último é o sentido que tem 'exemplar ' , que serve para formar o substantivo ' exemplarismo ' . N o último sentido, ' exemplar' é equivalente a mo­ delar ou arquetípico. Em virtude disso cabe chamar de "exemplarismo" toda doutrina segundo a qual as coisas ou as realidades - e especificamente as coisas ou rea­ lidades "sensíveis" - são trasladas, cópias, manifes­ tações, imitações etc., de realidades exemplares ou ar­ quétipos. Então essas realidades servem de exemplo e podem ser consideradas, na acepção introduzida por último, como "exemplos''. O mais ilustre "exemplo" - no primeiro sentido de ' exemplo' - de exempla­ rismo, ou doutrina exemplarista, é o de Platão. Todo o platonismo e o neoplatonismo são manifestações de exemplarismo filosófico. Ocorre o mesmo com Fílon, Santo Agostinho e toda a tradição agostiniana. André de Muralt falou do "exemplarismo" de Husserl (L'idée de la phénoménologie. L'exemplarisme husserlien , 1 958). Evidentemente, pois, há diversos casos possí­ veis, ou diversos exemplos - e também casos típicos - de exemplarismo na história da filosofia. EXISTÊNCIA. Enquanto derivado do termo latino existentia, o vocábulo 'existência' significa "o que está aí", o que "está fora" (exsistit). Algo existe porque a coisa está, in re; a existência, nesse sentido, é equipa­ rável à realidade. O que dizemos nos verbetes REAL e REALIDADE, SER e também ESSÊNCIA (na medida em que esta se contrapõe à existência) pode ajudar a compreen­ der o conceito aqui explicado - contudo, não basta, razão pela qual consideraremos agora em pormenor a noção de existência como tal. O termo ' existência' pode se referir a qualquer en­ tidade; pode-se falar de existência real e ideal, de exis-

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tência física e matemática etc. Contudo, como essa uni­ versalidade do significado de ' existência' se presta a confusões, é melhor examinar o modo como, ao longo da história da filosofia, o conceito de existência foi en­ tendido como conceito filosófico técnico. A noção de existência se aplica às "entidades existentes" - tam­ bém chamadas de "os existentes" -, mas cabe distin­ guir os existentes da existência (ou o fato de que os exis­ tentes existem). Trata-se aqui, portanto, de esclarecer a questão da natureza ou essência da existência e não de nenhum dos existentes, embora provavelmente este esclarecimento só seja possível com base em uma análi­ se de entidades existentes; ou supostamente existentes. Nos primeiros momentos da história da filosofia grega, os pensadores não pareciam interessados em sa­ ber qual era a natureza do existente; eles estavam mais preocupados em indicar que entidade ou entidades eram, em seu entender, existentes - ou "realmente existen­ tes" -, por oposição às entidades que pareciam ter existência real mas eram, no fundo, modos ou manifes­ tações dessa existência. Dizer que "o que há" é água, ar, apeiron e até mesmo números ainda não é dizer o que é haver algo, isto é, o que é existir. Depois, com Parmênides e sobretudo com Platão, o problema da existência como tal foi levantado várias vezes; se o que existe é o inteligível, o mundo das idéias, e se esse mundo não é "o que está aí", mas "além de todo af', a questão da natureza da existência e do existir é suscita­ da com toda a agudeza. Todavia, somente Aristóteles elaborou um sistema de conceitos que parecia capaz de explicar o ser da existência como tal em relação com, ou em contraste com, o ser da essência, da substância etc. Para Aristóteles, a existência é entendida como substância, isto é, como entidade. Para que algo exista, ele tem de possuir um "haver", uma ousia (vER). Além disso, ela tem de lhe ser própria. A existência é a subs­ tância (vER) primeira enquanto aquilo de que se pode dizer algo e "onde" residem as propriedades. Quando a existência está unida à essência temos um ser. Dele podemos saber o que é justamente porque sabemos que é. Aristóteles tem interesse em averiguar o que se pode chamar de "requisitos" da existência. Os conceitos de matéria (VER) e forma (vER) e de potência (VER) e ato (vER) desempenham um papel importante. Mas como não se pode falar da existência a menos que ela seja inteligível, e como a existência é inteligível somente a partir daquilo que a faz ser, já a partir deste momento temos assentadas as bases de muitas das ulteriores dis­ cussões sobre a relação entre a existência e o que faz a existência ser. Se chamamos o que foi dito por último de "essência", temos a base dos debates sobre a relação entre essência e existência. Muitos desses debates ocorreram durante a Idade Média. Para entendê-los adequadamente é preciso levar em conta os significados, e as mudanças de significa-

dos, de vários termos básicos: não somente essentia e existentia, mas também substantia, esse etc. Referên­ cias a esses significados e às mudanças poderão ser en­ contradas em vários verbetes; remetemos, entre outros, aos verbetes ENTE EssÊNCIA, HECCEIDADE, HlPóSTASE, OusiA, PESSOA, QürnIDADE, SER, SussTÂNCIA. Aqui nos limitaremos a algumas indicações sobre as tendências gerais assumidas por tais debates. Embora os autores medievais tivessem presente o sistema de conceitos gregos e particularmente os "sis­ temas" platônico, aristotélico e neoplatônico, há dife­ renças básicas entre certas concepções gregas de 'exis­ tência' e a maior parte das concepções medievais. Os gregos tenderam a conceber a existência como coisa (por mais "refinada" e "sutil" que ela fosse). Os filóso­ fos medievais, especialmente os de inspiração cristã, consideraram que há existências que não são propria­ mente coisas, nem sequer podem ser compreendidas por analogia com alguma "coisa", e que, contudo, são mais "existentes" que outras entidades (Deus, as pes­ soas etc.). Segundo muitos autores medievais, o existir é propriamente o esse; melhor ainda, "existir" é ipsum esse. A compreensão da existência parece então exigir que se note a "atualidade" (ver Arn). Gilson (L'Être et l 'Essence [ 1 948], especialmente pp. 88ss.) destacou que a ambigüidade do termo esse levantou vários proble­ mas para a filosofia medieval, incluindo problemas re­ lativos à "natureza da existência" e ainda particular­ mente esses problemas. Com efeito, o termo esse denota algumas vezes a essência e outras vezes o ato de existir. De acordo com isso, há duas concepções fundamentais da essência em sua relação com a existência. Uma des­ sas concepções pode ser designada como o "primado da essência sobre a existência". De acordo com ela, a existência é concebida até mesmo como um acidente da essência (Avicena e filósofos mais ou menos "avi­ cenianos"). Outra dessas concepções pode ser designa­ da como "primado da existência sobre a essência". De acordo com esta última, a essência é algo como a inte­ ligibilidade da existência. Existir não seria neste caso algo "simplesmente dado" e menos ainda algo "irracio­ nal", mas seria, segundo indica Gilson (op. cit. ), como "um ponto de energia de intensidade dada, que gera um cone de força do qual constituiria o cume, sendo a essência a base". Todos os autores medievais concordam em dizer, ou supor, que a essência é uma resposta à pergunta quid sit res (o que é a coisa) enquanto a existência é uma resposta à pergunta an res sit (se a coisa é). Todavia, dizer o que a coisa é pode significar não, ou não apenas, predicar dela algo - e algo "universal" -, mas indi­ car o que é a coisa enquanto é. Ora, mesmo neste últi­ mo caso não se definiu exatamente o que se entende por ' existência'. Vários autores propuseram, por causa disso, definições da existência, sobretudo em termos ,

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de ' existir' . Entre tais autores destaca-se Ricardo de São Vítor, que escreve, em De Trinitate, IV, ii, 1 2 : "Quanto ao termo exsistere, ele implica não apenas a posse do ser, mas certa origem ( . . ) É isso que dá a en­ tender, no verbo composto, a preposição ex que vai adj unta. Com efeito, o que é existir [exsistere] senão ser ' de ' alguém, ter de alguém seu ser substancial?". Isso leva à consideração de que o modelo da existência não é a coisa, mas a pessoa. De fato, em relação à pessoa pode-se determinar a diferença entre o quê e o onde, que na coisa podem ser equiparáveis. Os autores medievais que, como Santo Tomás, acen­ tuaram o momento da "atualidade" na existência, defini­ ram esta última como a atualidade da essência, a última atualidade da coisa, a presença atual da coisa na ordem "tisica", isto é, na ordem "real". Existir não é então simplesmente "estar aí", mas "estar fora das causas" - extra causas - enquanto estar "fora do nada" extra nihilum -, da simples potência. Os debates em torno do significado de 'existência' e de 'existir' na filosofia medieval estiveram freqüente­ mente ligados à questão da chamada "relação entre a essência e a existência", primeiro em Deus e depois nas criaturas. Mencionemos aqui algumas das principais "sentenças" sobre esse assunto. Alguns autores escolásticos - como Guilherme de Auvergne, Alexandre de Hales, Boaventura, Alberto Magno, Tomás de Aquino e, mais tarde, Fonseca e os Conimbricenses - sustentaram a chamada "distinção real entre essência e existência" na ordem do criado. A essência não implica a existência, mas é, como indica­ mos anteriormente, a inteligibilidade desta última. Outros autores - como Duns Scot, Ockham, Aurelo, Gabriel Biel, Suárez - negaram essa distinção real. A negação da distinção real não equivale ao nominalismo ou ao terminal ismo. Além disso, pode-se não admitir uma distinção real e não admitir tampouco uma mera distinção conceituai. Assim, por exemplo, Duns Scot propunha uma distinção atual formal por meio da natu­ reza da coisa (ver DISTINÇÃO). Quando - como ocorreu na maior parte dos casos - existência e esse foram equiparados, suscitou-se a questão de se, uma vez dado algo que exista, se pode ou não predicar desse algo o próprio existir. Alguns autores sustentam que a existência é o primeiro predi­ cado de qualquer entidade existente, sendo secundários todos os demais predicados. Isso significa que "a exis­ tência não existe", mas existem todas as entidades existentes. Algumas vezes se disse que, se a prova ontológica (ver 0NTOLóGicA [PROVA]) for admitida, dever-se-á adotar um conceito de existência distinto do que deve ser aceito quando essa prova é rej eitada. Se isso fosse verdade, a concepção da existência em Santo Anselmo seria distin­ ta da de Santo Tomás. Por outro lado, a concepção da .

existência em Santo Anselmo seria comparável à de autores como Spinoza e Hegel, enquanto a concepção da existência de Santo Tomás seria comparável à de autores como Hume e Kant. Porém o assunto nessa matéria é complexo. É possível defender que tanto os que admitem a prova ontológica como aqueles que a rejeitam poderiam em princípio distinguir uma noção de existência aplicável unicamente ao ens realissimum de uma noção de existência aplicável a qualquer entidade que não seja o ens realissimum. Também é possível sustentar que a noção de existência aplicável ao ens rea­ lissimum tem de servir de padrão ou modelo para a noção de existência em qualquer outra entidade. Na época moderna, tratou-se a questão da noção de existência por um lado em relação com os problemas levantados pela aceitação ou recusa da prova ontológica e por outro em relação com a questão de se há ou não diferença entre conceber uma entidade e conceber a exis­ tência dessa entidade. O problema da existência foi, por isso, um problema ao mesmo tempo metafisico e lógico. Para Hume ( Treatise, I iii, 7) não há diferença entre conceber algo e conceber sua existência. Se se diz que algo existe não são mencionadas duas idéias: a do "algo" do qual se fala e a de sua existência, mas apenas uma, isto é, a idéia do "algo" que, além disso, é sempre esta ou aquela coisa. A famosa opinião de Kant ao longo de sua crítica à prova ontológica não é substancialmente distinta da de Hume; onde Hume fala da diferença entre conceber algo e acreditar em sua existência, Kant fala da diferença entre conceber algo e "pôr" sua existência. O ponto central da discussão de Kant sobre o assunto é sua afirmação de que o ser (Sein) - que aqui pode ser entendido como "existir" - não é um predicado real do mesmo modo que podem ser outros predicados tais como 'é branco' , 'é pesado' etc. "' Ser' não é eviden­ temente um predicado real, ou seja, não é o conceito de algo que possa ser agregado ao conceito de uma coisa; é meramente a posição (Setzung) de uma coisa ou de cer­ tas determinações enquanto existentes em si mesmas. Logicamente é a cópula de um juízo" (KrV, A 598, 8 526). Referir-se a algo e dizer que esse algo existe é uma redundância. Se a existência fosse um atributo, todas as proposições existenciais afirmativas não seriam mais que tautologias, e todas as proposições existenciais ne­ gativas seriam meras contradições. Por outro lado, dizer que algo é não significa dizer que ele exista. O "é" não pode subsistir por si mesmo: ele sempre alude a um modo no qual se supõe que ele é isto ou aquilo. E se preenche­ mos o predicado por meio do existir, dizendo que uma entidade determinada "é existente", ainda faltará es­ clarecer a maneira, o como, o quando ou o onde da existência. De modo que, de acordo com essas bases, o "ser existente" não pode possuir nenhuma significa­ ção se não se dá dentro de um contexto. Isso supõe que

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o conceito que descreve algo existente e o conceito que descreve algo fictício não são, enquanto concei­ tos, distintos: o possível e o real estão, no que diz res­ peito ao conceito, por assim dizer, no mesmo modo de referência. Em outras palavras, o referente do conceito não introduz nenhuma forma particular no conceito por meio da qual nos seja possível determinar se um refe­ rente existe ou não. Determinar o modo de concepção depende de condições não inerentes ao conceito. Brentano considerou que, por um lado, não há dife­ rença entre um juízo existencial (como "S é" ou "S existe") e um juízo predicativo (como "S é P''). Por outro lado, ponderou que o j uízo existencial não é re­ dutível ao predicativo, isto é, que não se pode admitir que 'é' e ' existe' sejam predicados. Desse modo, Bren­ tano seguiu as orientações de Hume e de Kant na me­ dida em que rejeitou que a existência fosse um pre­ dicado, mas admitiu que se pode dizer que é ou não é o caso de que este ou aquele predicado possa sê-lo de um sujeito, o que equivale a sustentar que se pode di­ zer que S é P existe ou não existe. Os autores que examinaram questões ontológicas relativas à existência em estreita relação com estruturas lógicas influenciaram muito aquilo que, no final deste verbete, será tratado como concepções predominante­ mente lógicas da noção de existência. Isso ocorreu com autores como Meinong (que influenciou primeiro posi­ tivamente e depois negativamente, mas em todo caso de modo determinado, autores como Bertrand Russell). Na época aludida eles continuaram, especialmente em círculos neo-escolásticos, os debates clássicos sobre a relação entre essência e existência, e esses debates fo­ ram reavivados quando começaram a se desenvolver fi­ losofias de corte "existencial". Na conj unção entre a tradição filosófica escolástica e a filosofia existencial podem ser vistas posições relativas à redutibilidade ou à irredutibilidade mútua da existência e da essência. Ci­ tamos aqui duas opiniões relativas a isso: a de Gilson e a de Maritain. Gilson sustentou a irredutibilidade fim­ damental da essência e da existência, ao menos quando a existência é indicada pelo conceito. Nesse caso é possí­ vel até mesmo apreender a essência da existência, mas não o próprio ato de existir, que, como objeto da existência, somente poderia ser acessível para uma "experiência" (experiência não necessariamente de índole irracional, pois, em última análise, representaria a possibilidade do ')uízo existencial"). Com efeito, é o juízo que, como diz Maritain, "se enfrenta com o ato do existir". Assim, o conceito de existência não poderia ser, mais uma vez, separado do conceito de essência. "Inseparável dele" - escreve Maritain (Court Traité de l 'existence et de l 'existant, 1 948, p. 46) -, "não constitui com ele mais que um só e único conceito simples, embora intrinseca­ mente variado, um só e mesmo conceito essencialmente

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análogo, o do ser, que é o primeiro de todos e do qual todos os demais são variantes ou determinações, por­ quanto surge no espírito no primeiro despertar do pensa­ mento, na primeira apreensão inteligível operada na ex­ periência dos sentidos que transcende os sentidos." Desse modo não se cairia na irracionalidade da existência ou na redução unilateral da existência a um existente -, pois a idéia do ser precederia todo juízo de existência na ordem da causalidade material ou subjetiva, e o juízo de existência precederia a idéia do ser na ordem da causa­ lidade formal. Não se poderia dizer, em suma, que não há um conceito de existência. Pelo contrário, seria inevi­ tável haver tal conceito, no qual a existência apareceria como significada ao espírito, ao modo de uma essência mesmo sem ser uma essência (op. cit., p. 58). Nas tendências que, a partir de Kierkegaard, se cha­ maram "existenciais" e que incluem o intitulado "exis­ tencialismo" (VER), a noção de existência ocupa lugar central. Cabe perguntar, primeiro, se essa noção pode se relacionar com as noções "clássicas" antes tratadas, e, em segundo lugar, se há um significado comum ou um uso comum nas variadíssimas tendências existenciais e existencialistas. No que diz respeito à primeira questão, sustentou­ se que não há nenhuma relação entre as duas noções de "existência" indicadas, ou que, se há alguma, as diferen­ ças entre as duas noções superam muito as possíveis similaridades. Gilson (lntroduction à la philosophie chrétienne, 1 960, p. 20 1 ) escreveu que "existência evo­ ca hoje conotações distintas das que outrora tinha o termo existentia, sobretudo, por exemplo, em uma dou­ trina como a de Báiiez, na qual o sentido da palavra não se distinguia, em absoluto, do sentido do verbo ou do substantivo verbal esse". Numerosos comentadores, especialmente na época de auge do existencialismo, destacaram a diferença, e até a incompatibilidade, entre as duas noções de "existência" mencionadas - a "clás­ sica" e a contemporânea de corte "existencial" -, espe­ cialmente nas dimensões mais notadamente kierkegaar­ dianas do existencialismo, mas também em autores que, como Heidegger, distinguiram, como logo veremos, o Dasein (às vezes traduzido por "existência" ou "Exis­ tência") da existência na acepção tradicional. Entretan­ to, também se reparou que o uso de ' existência' por parte de vários autores, por mais distinto que seja do "clássico", tem muito a ver com ele. Arthur C. Danto (Sartre, 1 975, pp. 7ss.) indica que a existência que se revelou a Roquentin na célebre passagem de A náusea (ver NÁUSEA) é compreensível dentro de uma tradição filosófica na qual as noções de "existência" e de "essên­ cia" se contrapõem. Ao menos no que diz respeito aos entes criados, em grande parte da tradição escolástica (e também moderna), sua existência não é necessária, e eles são, portanto, "supérfluos", no sentido do de trop

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sartriano. Além disso, a existência como tal é indes­ critível; em todo caso, para essa tradição filosófica ela é descritível, ou compreensível, somente a partir das essências. Nesse ponto separam-se completamente a tradição em questão e toda filosofia "existencial", mas, por outro lado, quando as duas usam os termos 'existên­ cia' e 'essência ' , fazem-no dentro de um horizonte con­ ceituai que tem muitos elementos em comum. Descreveremos aqui o sentido do conceito de exis­ tência em vários autores que podem ser situados dentro de uma tendência "existencial", usando esse termo em um sentido muito amplo, visto que incluiremos, entre eles, Heidegger - cuja interpretação da existência é fundamentalmente ontológica e "existenciária" - e outros autores que, por diversos motivos, recusam ser qualificados de existencialistas. Cronologicamente, o primeiro desses autores é Kierkegaard. A existência é, para esse filósofo, sobre­ tudo o existente (o existente humano). Trata-se daquele cujo "ser" consiste na subjetividade, isto é, na pura liberdade de "escolha". Não se pode falar, a rigor, da essência da existência. Sequer se pode falar da existên­ cia. Deve-se falar apenas "deste existente" ou "daque­ le existente" ("existentes" cuja verdade é a "subj etivi­ dade"). Existir significa, para Kierkegaard, tomar uma "decisão última" em relação à absoluta transcendência divina. Essa decisão determina o "momento", que não é nem a mera fluência do "tempo universal", nem tam­ pouco uma participação qualquer em um mundo inte­ ligível eterno. Por isso a fi losofia não é especulação, é "decisão"; não é descrição de essências, é afirmação de existências. Há em Kierkegaard um "primado da existência" (e, em termos tradicionais, um "primado da existência sobre a essência"). Nesse sentido há ecos, ou motivos, kierkegaardianos em vários autores já a partir do final do século XIX. Isso não significa que todos esses auto­ res tenham se inspirado em Kierkegaard; significa ape­ nas que, como Kierkegaard, mas com pressupostos dis­ tintos, e orientações muito di ferentes, numerosos auto­ res "contemporâneos" estão inclinados a reconhecer que de algum modo "a existência precede a essência". A esse respeito mencionamos autores tão diversos quanto Nietzsche, Dilthey, Unamuno, Bergson, Simmel, James, Marcel, Lavelle, Jaspers, Griscbach, Ortega, Sartre e até mesmo, em alguns aspectos, ou pelo menos em um certo nível, Heidegger. O "primado da existência sobre a essência" foi afirmado com tanta freqüência e com tons tão diversos no pensamento contemporâneo que vários pensadores próximos a tendências em princípio muito distintas de toda fi losofia "existencial" reclama­ ram para si a originalidade na afirmação de tal primado. Este é o caso de alguns representantes do neotomismo; para eles, o tomismo é a "verdadeira filosofia existen­ cial" (uma filosofia que enfatiza a importância da exis-

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tência sem p o r isso suprimir a essência ou a natura das entidades existentes). Em vista disso conviria restringir o significado da expressão 'primado da existência sobre a essência' aos autores que se referiram explicitamente a ele. Como exemplos mencionamos aqui dois deles: Sartre e Lavelle. O primeiro chegou até mesmo a definir o significado de 'existencialismo' como a afirmação desse primado (ver L'existentialisme est un humanisme [trad. bras. : O existencialismo é um humanismo, na Col. "Os pensadores", vol. Sartre], embora Sartre tenha decla­ rado depois que isso representava uma simplificação excessiva de sua própria doutrina existencialista). La-. velle proclamou que "o ser é a unidade da essência com a existência" (De / 'Acte, cap. VI, art. 1 ), mas ao mesmo tempo declarou que "se deve alterar a relação clássica entre a existência e a essência e considerar existência como o meio de conquistar a minha essência" (ibid. , art. 3). "A existência" - escreveu Lavelle - "é, se se preferir, essa aptidão real e até mesmo atual que pos­ suo para dar a mim mesmo a minha essência mediante um ato cuj a realização depende de mim" (/oc. cit. ). Isso não significa, para Lavelle, que a "inversão do prima­ do" seja universal : "Há inversão das relações entre a essência e a existência conforme se trate de coisas ou de seres livres" (ibid. , art. 4). Sartre e Lavelle não debateram somente o conceito de existência e sua relação com o de essência, mas uti­ lizaram em suas filosofias o termo ' existência' em sen­ tido técnico. Há outros filósofos que não usaram o ter­ mo nesse sentido, mas empregaram outros vocábulos em um sentido próximo ao "existencial". Isso ocorre com as expressões 'o homem de carne e osso' (Unamu­ no) e ' nossa vida' (Ortega y Gasset). Remetemos o leitor para os verbetes sobre esses filósofos assim como aos outros nos quais nos referimos a suas doutrinas (Ex1s­ TENCIALISM0; VmA etc.). Aqui nos limitaremos a com­ plementar a informação iniciada referindo-nos ao ter­ mo ' existência' tal como foi utilizado por dois autores: Heidegger e Jaspers. Heidegger emprega o termo Dasein, que é às vezes traduzido por ' existência ' , mas, como indica o autor, não significa existentia no sentido tradicional. Por causa disso, foram propostas várias traduções: 'estar em algo' (Zubiri), ' realidade-de-verdade' (Garcia Bacca), ' o humano estar' (Laín Entralgo) , o 'estar' (Manuel Sacris­ tán Luzón), ' ser-aí' (Gaos). Esta última versão é bastan­ te apropriada (e é freqüentemente utilizada em outros idiomas - être-là, being-there - porque permite ver os elementos que integram o conceito: Da e Sein . O Da do Dasein é, com efeito, fundamental para Heideg­ ger. Contudo, esse Da não significa propriamente "aí", mas a abertura de um ente (o ente humano) ao ser (Sein). Nós traduzimos Dasein por 'Existência' (com inicial maiúscula, para diferenciá-lo de ' existência '), porque consideramos esse artificio ortográfico suficiente para

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os propósitos da presente obra. Tratamos a significação de ' Existência' (Dasein) em Heidegger no verbete sobre esse filósofo e em outro sobre o termo Dasein. Assinale­ mos aqui apenas que, para Heidegger, o que é caracterís­ tico da Existência é que seu ser está em seu ser. Por isso a análise da Existência possibilita a ontologia funda­ mental, que deve constituir a base para uma ontologia geral e para uma resposta à pergunta sobre o sentido do ser (Sein ). Ao mesmo tempo, para distinguir a noção tradicional de existência (que corresponde aos entes que não têm a forma da Existência [Dasein] ) do modo de existir que corresponde à Existência (Dasein ), Hei­ degger propõe para esta última o vocábulo Existenz (ver infra) . A Existência não é algo que já é, ou que já é dado ; é um poder-ser. Sua própria compreensão, e com isso a compreensão do ser, é sua própria determi­ nação. Por isso "o caráter distintivo da Existência con­ siste em que ela é ontológica". "Chamamos de existên­ cia (Existenz) o próprio ser com o qual a Existência se enfrenta ou pode enfrentar-se sempre de algum modo. E como a determinação essencial desse ente não pode se real izar mediante a indicação de um quê objetivo, mas já que, antes, sua essência consiste no fato de que possui seu próprio ser como seu, foi escolhido o vocá­ bulo Existência (Dasein) como pura expressão do ser desse ente" (Ser e tempo, § 4). A Existência é ontica­ mente preeminente (pois é definida por sua Existenz); é ontologicamente preeminente (por ser ela mesma on­ tológica); e constitui, por fim, a condição ôntico-onto­ lógica de todas as ontologias. Portanto, toma-se compreensível que, como diz Heidegger, o ser do Dasein consista em sua Existenz. Aparentemente trata-se da transposição do argumento ontológico para a realidade do Dasein e, por isso mes­ mo, de uma divinização da Existência. Todavia, como A. de Waelhens destacou (La philosophie de M. Heideg­ ger, 1 942, pp. 27-28), isso significa apenas que "a essên­ cia da Existência é sua maneira de existir", que ser algo determinado significa para a Existência (Dasein) existir segundo um determinado modo. Pois a "Existência cujo ser é existir" no sentido de ser algo existencial não é uma realidade dada para sempre. Existenz como algo constitutivo do Dasein significa aqui uma antecipação de si constituída fundamentalmente pelo cuidado, de tal modo que poderíamos até mesmo dizer (op. cit., p. 308) que a essência da Existência radica no cuidado. Em todo caso, a analítica existenciária será a base para uma compreensão do ser que se toma possível em virtude do fato de que essa compreensão não é algo alheio, extrínseco, meramente acidental à Existência, mas pre­ cisamente uma determinação ôntica dessa Existência. Em termos que recordam os de Kierkegaard - ainda que não possam ser exatamente sobrepostos aos de Heidegger -, todo pensamento inclui o ser que o pensa, sua existência ou "subjetividade".

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Jaspers já qualificou sua filosofia de "filosofia da existência", mas - como indicamos em Dasein (VER) - devemos ser cuidadosos com o vocabulário. Com efeito, Jaspers chama de Dasein o que existe no nível do sensível (em nós). O ser do Dasein, assim como o da consciência do espírito da alma etc., é de algum modo "obj etivo", embora de uma obj etividade distinta daquilo que está fora de nós enquanto "mundo". O que é realmente "existencial" é chamado por Jaspers de Existenz. Essa existência é o que eu sou; é o ato de pôr­ me a mim mesmo como livre; "o ser que não é, mas que pode ser e deve ser" (Philosophie, II, 1 ). Por isso pode-se dizer que meu Dasein não é Existenz, mas que o homem é no Dasein da existência (Existenz) possível. O ser da existência não pode ser apreendido de modo algum; pode-se apenas viver o existir enquanto é "meu". A apreensão da existência requer a obj etividade, e esta destrói o caráter irredutível do existir. Não há, portanto, para Jaspers, uma ontologia da existência. A existência não é um nível de "realidade"; é, no máximo, o que liga todos os níveis. Temos na filosofia atual, portanto, diversos signifi­ cados de 'existência' que são, por um lado, distintos dos significados tradicionais e, por outro, distintos entre si. Essa distinção pode ser interpretada sobretudo a partir destas duas possibilidades: uma interpretação da exis­ tência como raiz do existir e uma interpretação da existên­ cia como fundamento de uma ontologia. Alguns autores, como Jean-Paul Sartre, parecem participar das duas in­ terpretações. Sua noção de "para-si" é ao mesmo tempo (utilizando o vocabulário de Heidegger) ôntica e onto­ lógica. Em vista disso, pode-se perguntar se há algum significado comum no uso atual do vocábulo 'existên­ cia' inclusive dentro das filosofias chamadas de "exis­ tenciais" em sentido lato. Acreditamos que sim: é o que se deriva de conceber a existência como um modo de "ser" que nunca é "dado", mas que tampouco é "pos­ to" (como afirmaria o idealismo transcendental); um modo de ser que constitui seu próprio ser, que se faz a si mesmo. A existência é então o que forja sua própria essência, o que cria sua própria inteligibilidade e até mesmo a do mundo em que está imersa. Por essa razão a maior parte dos pensadores pertencentes à tendência citada têm propensão a situar-se ou "além" ou "aquém" do plano lógico, que, entretanto, ainda preocupara muito os filósofos que seguiram a ontologia "tradicional". Se há elementos comuns na maior parte dos modos de tratar a noção de "existência" até agora descritos, é provável que eles também sej am encontrados no que é algumas vezes chamado de "ponto de vista lógico" carac­ terístico da filosofia analítica em geral. Em todo caso, assim como muitos autores - desde os gregos até Hume, Kant e Brentano - não prescindiram dos aspectos lógi­ cos da noção de existência, as tendências que abordare-

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mos a seguir nem sempre prescindiram dos aspectos metafísicos e ontológicos. Entretanto, para efeito de clareza pode-se distinguir o tratamento clássico, o trata­ mento existencial e o tratamento lógico da noção de existência. Cada um deles utiliza um vocabulário filo­ sófico distinto. Muitos dos debates analíticos sobre a noção de exis­ tência têm seu ponto de partida em Frege e Russell. Em Os fimdamentos da aritmética (Die Grundlagen der Arithmetik, 1 884, § 53), Frege indica que as proprie­ dades afirmadas de um conceito não são as caracterís­ ticas que compõem o conceito. Essas características são propriedades das coisas que caem sob o conceito, não propriedades do conceito. Por isso o ser retangular não é uma propriedade do conceito triângulo retângulo. Mas a proposição segundo a qual não há nenhum triân­ gulo retângulo, eqüilátero e escaleno expressa uma pro­ priedade do conceito triângulo retângulo eqüilátero es­ caleno: ela lhe confere um O. Partindo disso pode-se entender o conceito de existência como afim ou análo­ go ao de número. Desse modo, a afirmação da existên­ cia "não é nada mais que a negação do O". Sendo, pois, a existência uma propriedade dos conceitos, o argumen­ to ontológico torna-se inadmissível. Frege admite que seria errôneo concluir de tudo isso que é impossível em princípio deduzir de um conceito, isto é, de suas características, algo que seja propriedade do conceito . Não é preciso ir tão longe a ponto de afirmar que jamais se pode inferir das características de um conceito a exis­ tência ou a particularidade (Einzigkeit); o que Frege sustenta é que isso não ocorre do mesmo modo imediato como atribuímos ou indicamos a característica de um con­ ceito, como propriedade, a um objeto que recai sob ele. Bertrand Russell tratou a questão da existência ou do sentido de ' existe' - em vários escritos. Suas idéias mais influentes a esse respei to são as que foram apresentadas em sua teoria das descrições, resenhada em DESCRI ÇÕ E S (TEORIA DAS). Recordemos alguns aspec­ tos dessa teoria selecionando para tal efeito a Introdu­ ção à .filosofia matemática (lntroduction to Mathema­ tical Phi/osophy, 2ª ed., 1 920, especialmente cap. XVI). A análise lógica da noção de existência gira em torno da noção de "algumas vezes verdadeiro". A teoria dos objetos, de Meinong, admitira entidades inexistentes, correspondentes a um universo do discurso, por meio do qual tais entidades podiam ser afirmadas significa­ tivamente; o centauro, por exemplo, não existe, mas subsiste. Russell assinala, em contrapartida, que não po­ demos formar proposições cuj o sujeito seja do tipo "a montanha de ouro" ou "o quadrado redondo". Esses "entes" não possuem um ser lógico e, portanto, nenhu­ ma "subsistência" própria. "Dizemos" - escreve Rus­ sell - "que um argumento a ' satisfaz' uma função cpx se cpa é verdadeiro; este é o mesmo sentido no qual se diz que as raízes de uma equação ' satisfazem' a equação. -­

Se cpx algumas vezes é verdadeiro, podemos dizer que há x para os quais é verdadeiro, ou podemos dizer ' argu­ mentos que satisfazem cpx existem ' . Essa é a significa­ ção fundamental do vocábulo ' existência' . As outras significações derivam dela ou implicam uma mera con­ fusão do pensamento." Desse modo, poderemos dizer "os homens existem" se queremos dizer que "x é um homem" é às vezes verdadeiro. Mas se dizemos "os ho­ mens existem. Sócrates é um homem; portanto Sócrates existe", não diremos nada que tenha significação, pois "Sócrates" não é, como "homens", meramente um argu­ mento indeterminado para uma função (VER) proposi­ cional dada. Seria como dizer: "Os homens são numero­ sos. Sócrates é um homem; portanto Sócrates é nume­ roso". Daí que seja correto dizer "os homens existem", mas seria incorreto atribuir existência a um x particular dado que é um homem. Por conseguinte, a expressão ' termos que satisfazem Ver: H . Kefferstein, Die Realitiit der A ussenwelt in der Philosophie von Descartes bis Fichte, 1 8 83 (tese). W. Dilthey, "Beitrage zur Lõsung der Frage vom Ursprung unseres Glaubens an die Realitat der Aussen­ welt und ihr Recht", Sitzungsberichte der Preussischen Akademie der Wiss ( 1 890). - Johannes Rehmke, Unse­ re Gewissheit von der A ussenwelt. Ein Wort an die Ge­ bildeten unserer Zeit, 1 894. - Rudolf Eisler, Das Be­ wusstsein der A ussenwelt, 1 900. - G. E. Moore, "The Refutation of Idealism", Mind, N. S . , 1 2 ( 1 903, 433453, reimp. em Philosophical Studies, 1 922). !d., "Proof of an Externa! World", British A cademy Pro­ ceedings, 25 ( 1 929). V. Kraft, "Das Problem der Aussenwelt'', A rchivjiir systematische Philosophie, 1 O ( 1 904), 269-3 1 7 . - Willy Freytag, Die Erkliirung der A ussenwelt, 1 904. - Bertrand Russell, Our Knowled­ ge of the Externai World, 1 9 1 4; 2ª ed., 1 929. - John Dewey, "The Existence of the World as Problem", -

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Philosophical Review, 24 ( 1 9 1 5), 3 5 7-370. - Hedwig Conrad-Martius, "Zur Ontologie und Erkenntnislehre der realen Aussenwelt", Jahrbuchfiir Philosophie und phiinomenologische Forschung, 3 ( 1 9 1 6), 345-542. E. Study, Die realistische Weltanschauung und die Lehre vom Raume, Geometrie, A nschauung, 2ª ed., vol . 1 : Das Problem der A ussenwelt, 1 92 3 . - Nicolai Hart­ mann, "Jenseits von Realismus und Idealismus" ( 1 924 ), reimp. em Kleinere Schriflen, t. II, 1 95 7 (e outras obras de N. Hartmann tais como as dedicadas ao estudo dos fundamentos da ontologia, da estrutura do mundo real etc . ; ver HARTMANN [N1coLA1]). - Günter Jacoby, A ll­ gemeine Ontologie der Wirklichkeit, I (4 fases.), 1 9281 93 2 . - Moritz Schlick, Les énoncés scientifiques et la réalité du monde extérieur, 1 934. - Alfred J. Ayer, The Foundations of Empirical Knowledge, 1 940. Roman Ingarden, Spór oistnienie swiata, 2 vais., 1 94 71 948; 2ª ed., 1 960- 1 96 1 ( ed. alemã muito elaborada: Der Streit um die Existenz der Welt, 3 vais. em 4 tomos, 1 964- 1 974) (A controvérsia sobre a existência do mun­ do). - Ottokar Braham, Das unmittelbare Wissen ins­ besondere um die materielle A ussenwelt, 1 959. Don Locke, Perception and Our Knowledge ofthe Externai World, 1 967. Wilhelm Halbfass, Descartes ' Frage nach der Existenz der Welt, 1 968. R. Zimmermann, Der "Skandal der Philosophie " und die Semantik. Kri­ tische und systematische Untersuchungen zur analytis­ chen Ontologie und Erfahrunstheorie, 1 9 8 1 . B. Aune, Knowledge of the Externai World, 1 99 1 . q Se afirmamos 'q' e concluímos que com isso se afir­ ma p obtemos uma inferência incorreta; em símbolos: '

',

p -'; q q p Essa inferência incorreta recebe o nome de "falá­ cia da afirmação do conseqüente". Ela pode ser enten­ dida de um modo intuitivo com o exemplo: Se tenho dor de cabeça (então) tomo aspirina Tomo aspirina Tenho dor de cabeça. Pode-se ver que "não há razão" pela qual quando e sempre que tomo aspirina tenho dor de cabeça; eu poderia, em princípio, tomar aspirina sem ter a menor dor de cabeça.

FALÁCIA DA NEGAÇÃO DO AN TECEDENTE. Consideremos o condicional, em símbolos: p -'; q Se negamos 'p ' e concluímos que com isso se nega ' q ' , obtemos uma inferência incorreta; em símbolos: p -'; q lp lq Essa inferência incorreta recebe o nome de "falácia da negação do antecedente". Ela pode ser entendida de um modo intuitivo com o exemplo: Se tenho dor de cabeça (então) tomo aspirina Não tenho dor de cabeça Não tomo aspirina. Pode-se ver que "não há razão" pela qual eu deva deixar de tomar aspirina se não tenho dor de cabeça; eu poderia, em princípio, tomar aspirina sem ter a menor dor de cabeça.

FALÁCIA GENÉTICA. Costuma-se chamar deste modo o tipo de raciocínio que tenta dar conta de algo

mediante uma descrição do processo que esse algo se­ guiu para chegar ao estado em que se encontra e que se trata justamente de explicar. Dizemos ' algo' porque quando se fala simplesmente de falácia genética não fica claro aquilo sobre o que se supõe que se comete a falácia. Pode-se tratar, com efeito, de realidades ou de proposições referentes a realidades e, especificamente, de teorias. Caso se trate de alguma realidade, diz-se que se comete uma falácia genética quando, para expli­ car sua estrutura, se apela para o processo que precedeu a formação dessa estrutura. De acordo com isso, come­ te-se uma falácia genética quando se tenta explicar a estrutura do sistema solar mediante uma mera descrição de sua formação, ou quando se tenta explicar a estrutura das relações humanas de parentesco mediante uma mera descrição de sua evolução ao longo da história. Embora uma descrição da formação do sistema solar possa ser pertinente para entender a estrutura de tal sistema, su­ põe-se que urna compreensão adequada dessa estrutura implica uma referência a leis fisicas. De modo similar, embora uma descrição da história das relações humanas de parentesco possa ser pertinente para uma compreen­ são dessas relações. supõe-se que um entendimento ade­ quado delas pressupõe uma referência a leis antropoló­ gicas (e possivelmente biológicas). O mais comum é falar de falácia genética em rela­ ção a alguma proposição ou teoria (mesmo que se en­ tenda que toda proposição ou teoria é proposição ou teoria de alguma realidade, ou de alguma estrutura real). Dada uma teoria T, diz-se que se comete uma falácia genética quando se tenta expl icar o significado, o alcan­ ce explicativo etc. de T apelando para as condições ou circunstâncias, geralmente humanas e históricas, que con­ tribuíram para a formulação de T. A falácia genética é aqui, pois, uma apelação a fatores extrateóricos, e fre­ qüentemente extracognitivos. Aqueles que se opõem a toda falácia genética rela­ tiva a T consideram que é possível reconstruir T meto­ dologicamente de um modo intrateórico, o que significa considerando unicamente fatores "lógicos" (que po­ dem, e costumam, incluir verificações e comparações de T com a experiência). Evidenciou-se que, quando se se presta atenção aos processos de descoberta de T, a gênese de T não é alheia à explicação do significado de T, de modo que apelar para sua gênese nem sempre é necessariamente - embora às vezes possa sê-lo cometer uma falácia genética. Esta última opinião se funda ou no postu lado de uma lógica da descoberta ( vER) ou na idéia de que a estrutura lógica e metodoló­ gica de T é apenas uma parte, por mais importante que seja, de T. A questão de se cometer ou não uma falácia gené­ tica aponta para o debate entre aqueles que consideram legítima a divisão entre um contexto de descoberta e um contexto de justificação, ou validação, e aqueles

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que consideram essa divisão inoperante em todos os casos ou apenas em alguns casos. Os que mantêm com todo o rigor a distinção apontada costumam acusar os que não a mantêm de cometer falácias genéticas. Os que não defendem a distinção, ou a atenuam, indicam que ape­ lar para a "gênese" - que é, na maioria dos casos, apelar para os processos de descoberta - não constitui uma falácia.

FALÁCIA IDEALISTA. Em um sentido análogo ao que demos à falácia naturalista (vrn) como passagem indevida de expressões nas quais figura ' . . . é .. .' para expressões nas quais figura ' . . . deve .. .' (ver ' É ' - ' DEvr ' ), poderíamos falar de falácia idealista. Esta consiste em inverter o processo antes mencionado e em passar inde­ vidamente de expressões nas quais figura ' . . . deve .. .' para expressões nas quais figura ... é . . . ' . Cabe expressar algo simi lar dizendo que em uma falácia idealista ten­ ta-se passar de prescrições para descrições. A expressão ' deve ' pode ser considerada uma indicação do que al­ guém tem de fazer para cumprir alguma norma, precei­ to, regra, máxima, ordem, série de instruções etc. (como nas instruções dadas para se util izar um aspirador ou para abrir uma lata; em um sistema de regras de pronún­ cia ou de pontuação; nas recomendações para atuar des­ te ou daquele modo nestas ou naquelas situações so­ ciais). Contudo, em nenhum desses casos ' deve ' tem o sentido de uma obrigação moral. Conseqüentemente, em nenhum desses casos se poderia falar de falácia ideal ista. Esta surge unicamente quando se dá à expres­ são ' .. deve .. .' um sentido moral. A falácia ideal ista pode adotar várias formas. Cabe supor que tudo o que é bom, justo etc. se realiza neces­ sariamente, de modo que quando se diz que algo deve ser deste ou daquele modo se enuncia que ele o será. Pode-se supor, também, que o "dever ser" está ligado ao "ser" de tal maneira que o último dependa, em sua própria existência, do primeiro. Pode-se postular tam­ bém que o sentido fundamental de tudo o que é é algu­ ma "realidade" moral. É dificil encontrar exemplos de fi lósofos que te­ nham cometido plenamente falácias ideal istas em qual­ quer uma das formas indicadas anteriormente, mas se existe algum, esse exemplo é o de Fichte. Mesmo esse autor, porém, não cometeu essa falácia no sentido de supor que o que deve ser será necessariamente, já que isso entraria em confl ito com sua idéia (ideal) da ação corajosa, da "façanha" (ver TATllANDLUNG). Com efeito, o ato puro não pressupõe nenhum obj eto, mas o "pro­ duz" (hervorhringt) (Ausgewiilte Werke, ed. F. Medicus, 1 [ 1 962], p. 52). A indicada falácia ideal ista está pres­ suposta no conceito de uma ação "que se torna possível somente por meio dessa intuição intelectual do eu auto­ ativo", sendo "o único conceito que une os dois mundos que existem para nós, o sensível e o inteligível" (ihid. , p. 5 1 ). Em Fichte, portanto, o "dever ser" não atua por '

si só, produzindo um "ser"; é o eu auto-ativo que faz a mediação e intervém com o fim de levar o "ser" para o "dever ser". Mas, na medida em que o fato de que algo deve ser explica por que oportunamente "é" (ou chega a ser), efetua-se o processo i nverso ao que caracterizou uma das formas da falácia naturalista.

FALÁCIA NATURALISTA. A chamada "falácia na­ turalista" na ética pode ser entendida sobretudo das se­ guintes maneiras. 1 ) Em seus Principia Ethica, G. E . Moore denun­ ciou o erro que, em seu entender, é cometido quando se tenta definir uma propriedade como "amarelo" nos ter­ mos de seus equivalentes fisicos. Pode ser verdade que quando certas vibrações da luz estimulam o nervo ótico produzem a percepção da cor amarela. E ntretanto, o olho percebe a cor e não essas vibrações de luz. Proprie­ dades como "amarelo" são, portanto, indefiníveis, ou irredutíveis, mesmo se podem ser correlacionadas a determinados fenômenos fisicos e fisiológicos. De modo similar, afirma Moore, comete-se um erro quando se tenta definir "bom" (ou propriedades do mes­ mo gênero: "justo", "mau" etc.) nos termos de outras propriedades. É verdade que as coisas que são boas tam­ bém são outra coisa. Desse modo, por exemplo, as coisas prazerosas são boas. Mas as outras coisas que as coi­ sas boas são não definem seu ser bom. Embora haja uma correlação entre o que é prazeroso e o que é bom, po­ dendo-se inclusive dizer que o prazer é bom, o bom não é definível mediante o prazeroso ou não é redutível a ele. Definir "bom" por meio de uma propriedade natu­ ral é, segundo Moore, cometer uma falácia: a falácia na­ turalista. "Bom" continua sendo uma propriedade, mas não é uma propriedade natural (ou é uma propriedade "não-natural"). "Bom" é uma qualidade simples, que é o que queremos dizer com "bom" sem que queiramos dizer outra coisa. Além disso, a propriedade ou qualida­ de de ser bom não é possuída por uma única coisa, mas por muitas. Richard Price (vER) j á denunciara as doutrinas éti­ cas para as quais a bondade era redutível a alguma pro­ priedade natural. Moore refinou as idéias de Price sobre o assunto, destacando o caráter não-analisável de "bom" e, ao mesmo tempo, o caráter não-natural de "bom" em contraposição a propriedades também não-analisáveis, mas naturais, como "amarelo". O caráter não-analisável, não-redutível e não-natural de "bom" é a única coisa que, segundo Moore, pode dar um fundamento à ética; o desconhecimento desse triplo caráter dá lugar a uma ética naturalista, que não é, propriamente, ética. Embora "bom" sej a um predicado não-natural, ao contrário de um predicado natural como "amarelo", ou de um como "prazeroso", e embora a diferença entre os dois tipos de predicados seja suficientemente radical

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para tornar impossível toda redução mútua, o fato é que Moore continua considerando-os predicados ou, me­ lhor, propriedades. "Bom" não é uma propriedade como "amarelo" ou como "prazeroso", mas isso apenas de­ monstra que é outra propriedade, ou outro tipo de pro­ priedade. Os juízos morais, nos quais entram termos como 'bom ' , 'mau ' , 'justo ' , ' injusto ' etc . , continuam sendo j uízos, isto é, descrições (descrições de um certo gênero de propriedades). A falácia naturalista consiste aqui em confundir esse gênero de propriedades com outro radicalmente distinto e irredutível a ele. Mas, de algum modo, tanto os j uízos morais como os juízos não­ morais, referentes a propriedades naturais, são formu­ lados dentro do mesmo tipo de linguagem, a saber, uma linguagem na qual se diz que algo é F. Curiosamente, pois, Moore poderia ser acusado de ter cometido uma falácia naturalista em outro sentido fundamental, e tal­ vez mais freqüentemente discutido, dessa falácia. 2) Em outro sentido se afirma cometer a falácia naturalista quando se passa de enunciados descritivos para enunciados prescritivos, ou seja, de expressões for­ ma ' . . . é .. .' para a forma ' . . . deve . . . ' . Tratamos dessa fa­ lácia no verbete ' É ' -' DEVE ' , e remetemos, além disso, ao verbete FALÁCIA IDEALISTA, que também poderia ser esquematizado sob a expressão ' Deve ' - ' é ' .

FALCKENBERG, RICHARD. Ver LorzE, RuDOLF HERMANN. FALI B IL ISMO. Uma das formas do probabilismo ( vER) contemporâneo é o que Peirce ( vrn ) chama, refe­ rindo-se à sua própria doutrina, de falihilismo OVTaoía) foi concebida como uma atividade da mente por meio da qual são pro-· Ver: 1 . L. Marres, De FavoriniArelatensis vita stu­ diis scriptis, 1 8 5 3 . - 1. Gabrielson, Ueber Favorinus und seine n avToÔam'l ÍcrTopía, 1 906. - Exposições em A. Goedeckemeyer, Geschichte des griechischen Skeptizismus, 1 905, 248ss., e L. Robin, Pyrrhon et le scepticisme grec, 1 944, 1 54 e 230. - A. M. loppolo, "The Academic Position of Favorinus ofAre late'', Phro­ nesis, 38 (2) ( 1 993), 1 83 -2 1 3 . C:

FAVRE, FRANÇOIS. Ver LIBERTINOS. FAWCETT, EDWARD DOUGLAS. Ver IMAGINAÇÃO. FAZIO-ALLMAYER VITO. Ver GENTILE, G1ovANNI . F É . No início d o verbete CRENÇA, aludimos à questão da fé, pois em muitos textos filosóficos os termos 'cren­ ça' e ' fé ' são utilizados aproximadamente com o mesmo significado. Assim, a expressão 'creio para compreen­ der' pode ser traduzida por 'tenho fé para compreender' . O vocábulo ' fé ' é às vezes preferido a 'crença ' . Damos a seguir alguns exemplos. Em certas ocasiões utiliza-se ' fé ' para traduzir o vo­ cábulo alemão Glaube (que também significa 'crença' ) . Dois exemplos são notórios. Por u m lado, emprega-se ' fé' na expressão ' filosofia da fé ' , que designa o pensa­ mento de Jacobi e de autores de tendências análogas, isto é, de todos os que consideram a fé uma fonte de co­ nhecimento supra-sensível ou uma apreensão direta (me­ diante "intuição intelectual") do real enquanto tal . Por outro lado, emprega-se ' fé ' na frase 'tive de deslocar a razão para dar lugar à fé ' que aparece em Kant. Deve-se observar que esse uso de ' fé ' em vez de 'crença' é resul­ tado de um simples costume terminológico. Com efeito, em outros casos nos quais Kant fala de Glaube (como quando distingue pragmatischer Glaube, notwendiger Glaube e doktrinaler Glaube) esse vocábulo costuma ser vertido por 'crença' . E a expressão ' filosofia da cren­ ça' no caso de Jacobi não seria menos aceitável que a mencionada ' filosofia da fé' . Por outro lado, não s e trata d e u m mero costume terminológico quando se usa ' fé ' para designar algo distinto de 'crença' . Dos vários exemplos possíveis aqui mencionamos quatro. Um deles é o que atribui a 'cren­ ça' um significado mais amplo que a ' fé ' . Nesse caso, a crença é tomada como uma asserção - com conven­ cimento íntimo da verdade e até evidência desta - de caráter muito geral, dentro da qual a fé é considerada uma variante religiosa. Outro é o que pretende distinguir

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formalmente crença e fé indicando que são dois tipos irredutíveis do crer. A isso se refere Gabriel M arcel ao destacar - sobretudo em Le Mystere de l 'Être - que, enquanto a crença é um "mero" crer que, a fé é um crer em. Não há na fé, portanto, um encerramento em um universo dado no qual a fé se refere a conteúdos especí­ ficos que se crêem, mas um abrir-se para possibilidades nas quais se crê (e, também se poderia dizer, nas quais se espera). Por isso a fé abarca, segundo Marcel, a estru­ tura fundamental da pessoa, entendida como estrutura interpessoal e intersubjetiva. Outro caso é a definição de ' fé ' como o conteúdo da crença. Outro, por fim, é aquele no qual a fé é definida como uma virtude teologal (junta­ mente com a esperança e a caridade). Esta última signi­ ficação é a mais própria da teologia, mas, como exerceu uma notável influência em vários usos do vocábulo ' fé' na literatura filosófica, daremos sobre ela maiores de­ talhes e exporemos, além disso, várias distinções pro­ postas pelos teólogos. A base principal para a última concepção de fé men­ cionada é a famosa passagem de São Paulo (He breus , 1 1 , 1 ) na qual a fé, TrÍoTIS, é definida como EÀmÇoµÉvwv

ÚTTÓOTams, TTpayµáTwv EÀEYXºS ou [3ÀrnoµÉvc..w, a substância das coisas que se esperam e que nos con­ vence das que não podemos ver. Esta passagem foi co­ mentada por muitos teólogos. Enh·e eles, por Santo Tomás, que sustenta qu e a fé ,fides , é um hábito da mente por meio do qual a vida eterna começa em nós na medida em que torna possível que o intelecto dê seu assentimen­ to a coisas que não se vêem. A fé é, por causa disso, uma evidência, distinta de toda opinião ou suspeita, às quais falta a adesão firme do entendimento. A vontade é levada ao assentimento pelo ato do entendimento ge­ rado pela fé (cf. S. theo/., II-lia, q. I V, 1 e 2c). Com isso, a fé, embora impossível sem a firme adesão e assenti­ mento do entendimento, não é algo meramente "subje­ tivo", ao menos no sentido moderno desse termo. Nessa idéia de fé se basearam as aludidas distinções teoló­ gicas. Entre as mais importantes figuram as duas se­ guintes; a distinção entre .fé? implicita efé explícita e a distinção entre (;; co nfitsa e fé distinta . A fé implícita é a fé em uma verdade contida em outra verdade que é obje\o de fé exp lícita, de tal modo que a crença explí­ cita na segunda verdade implica a crença implícita na p r imei ra. A fé c o n fus a é a fé do "simples crente", que vive em uma "comunidade de fé", >em que pareça n e­ cessário passar do viver a fé ao conhecimento dela. A fé distinta é a fé do "douto", que aspira a um conheci­ mento que, sem separar-se da fé, contribua para sua precisão na medida do possível. Como se pode observar, não é legítimo equiparar - como às vezes se fez - a fé implícita com a confusa e a fé explícita com a distinta. Aqueles que sustentaram essa equiparação definiram ' implícito ' no sencido de 'o que ainda não está esclare-

cido' e ' explícito' como ' o que j á foi esclarecido ' , es­ quecendo, por conseguinte, que a relação entre fé implí­ cita e fé explícita não é urna relação entre menor e maior clareza, mas uma relaç ão de implicação. :> Sobre a relação entre saber e fé, e razão e fé: Th. Heitz, Essai historique sur les rapports entre la philoso­ phie et la foi, 1 909. -- Henri Delacroix, La religion et lafoi, 1 92 1 . - ld., Foi et Science au Moyen Âge, 1 926. - George Galloway, Faith and Reason in Religion, 1 927. - W. Betzendõrfer, Glauben und Wissen hei den grossen Denkern des Mittelalters, 1 93 1 . - A. Lang, Die Wege der Gaubensbegründung hei den Scholastikern des XIV Jahrhunderts, 1 932. - Dorothy M ary Emmet, Phi­ losophy and Faüh, 1 936. - B. Martinetti, Ragione e fede, 1 942. - R. C. Roberts, Faith, Reason, and His­ tory: Rethinking Kierkegaard s Philosophical Fragments, 1 986. - R. H. Nash , Faith and Reason: Searchingfor a Ralional Faith, 1 988. - D. Hoitenga, Faith and Reason from Plato to Plantinga, 1 99 1 . - W. J. Abraham, ed., How to Play Theological Ping-Pong: And Other Essays on Faith and Reaso11, 1 99 1 . Sobre os fundamentos filosóficos da fé: M . J. Brad­ shaw, Philosophical Foundations ofFaith, 1 94 1 . -- Nels Ferré, Faith and Reason , 1 946. -- K. Bendall e F. P. Ferré , faploring the Logic of Faith: A Dialogue on the Relation ofModem Philosophy to Christian Faith, 1 962. - James Richmond, Faith and Philosophy, 1 966. Andrew J. Burgess, Passion, "Knowing How ", and Un­ derstanding.· An Essay 011 the Concept of'Faith, 1 975. Sobre a natureza da fé : C ha rles J. Callan , What is Faith ?, 1 947. - A Decout, L 'ac te defoi. Ses éléments /ogiques. Ses é/éments psyclwlogiques, 1 947. - R. Au­ b e rt, Le probleme de / 'acte defoi, 1 952. - H. Dumé­ ry, foi et interrogatio n, 1 95 3 . - R. R. e H. R. Niebuhr, Faith on Earth: An Inquüy into the Structure of'Human Faith, 1 989. -- E. S. Radcliffe e C. J. White, eds. , Faith in Theory and Practice, 1 993. Sobre a fé como "crença filosófica": Hans Reiner, Das Phiinomen des G/aubens dwgestellt im Hinblick auf'das Problem seines metap hys isch en Gehalts, 1 934. -- G. C. Meilaender, Faith and Faithf'ulness: Basic The­ mes in Christian Ethics, 1 99 ! . Sobre a relação entre o conhecimento filosófico e a verd ade religiosa: Erich Frank, Philosophical Unders­ tanding and Re!igious Truth, 1 945. - R . M. Adams, The Virtue of' Faith and Other Essays in Philosophica! Theo!ogy, 1 987 . - L. Dornisch, Faith and Philosophy in the Writings of' Paul Ricoeur, 1 99 1 . Sobre o conhecimento da fé : H . Brunner, O{f'en­ ba rung und Vernunfi. Die Lehre von der christlichen G/aubenserkenntnis, 1 944. Sobre a psicologia da te: P. Leonel Franca, La psi­ cologia de la .fe, 1 934. Sobre a fé em Santo Agostinho : M . Ui hrer, Der Giaubensbegriffdes hl. Augustinus in seinen ersten Sch­ rifien zu de n Confessiones, 1 95 5 . .

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Sobre a graça e a luz da fé em Santo Tomás: Anselm Stolz, Glaubensgnade und Glaubenslicht nach Thomas von Aquin, 1 93 3 . - 1. Barad, Consent: the Means to an Active Faith According to St. Thomas Aquinas, 1 992. Sobre a fé em Pascal : Jeanne Roussier, Lajoi selon Pascal, 2 vols., 1 950. Sobre a fé na "segunda escolástica": E. G. Mori, Il motivo delta fede da Caetano a Suarez, 1 95 3 . - Ver também a bibliografia do verbete CRENÇA. e

FÉ MÁ. Ver MÁ-FÉ. FECHNER, GUSTAV THEODOR ( 1 80 1 - 1 887). Nas­ cido em Gross-Sãrchen bei Muskau (N iederlausitz, Prússia), foi professor de tisica na Universidade de Leipzig a partir de 1 834. Em 1 83 9 foi obrigado, por motivo de saúde, a suspender seu ensino e durante três anos -· chamados de seus "anos de crise" - dedicou­ se a desenvolver seu pensamento, especialmente sobre questões psicológicas e religiosas. É característica da filosofia de Fechner a intenção de elaborar um sistema metafísico de base indutiva. A metafisica não é, para ele, um saber absoluto a priori, como sustenta a filosofi a romântica, mas tampouco é algo que se deva eliminar forçosamente do espírito hu­ mano, como pretende o positivismo. A ciência natural proporciona uma série de imagens do universo por meio das quais o pensador pode se elevar no mundo do que não pode ser diretamente experimentado. O fato da exis­ tência do psíquico nos seres vivos não permite que essa qualidade seja negada na natureza inorgânica, pois o tisico e o psíquico não são realidades distintas e irredu­ tivelmente opostas, mas aspectos de uma mesma reali­ dade essencial, assim como um semicírculo apresenta, do ponto de vista daquele que o observa, o lado côncavo e o convexo. O universo é, por conseguinte, uma reali­ dade única, um conjunto de seres finitos que têm seu suporte na infinitude de Deus. Este é, por assim dizer, o continente do conteúdo do mundo, o qual se mostra em todas as suas partes como um conj unto vivificado. Essa animação de todos os seres do universo se diferen­ cia por seu grau, desde a consciência inferior daquilo que aparece para nós como inorgânico até a superior consciência divina. Cada alma superior contém a infe­ rior, mas suas distintas condições não representam ne­ nhuma descontinuidade nesse pampsiquismo universal; elas são simpl esmente o modo de ligação de uma série de realidades essencialmente idênticas. Os próprios as­ tros são seres animados, na medida em que possuem em si mesmos uma unidade interna. Desse modo, a Terra possui uma alma que contém as almas dos ho­ mens, assim como a alma da Terra está contida na alma do universo, que é a própria divindade. Fechner opõe esta "visão diurna" à "visão noturna" da ciência natural mecanicista, que resolve o universo em quantidade e em medida sem levar em conta a realidade das chama-

FECHNER, GUSTAV THEODOR

das "qualidades secundárias", sem dar a devida atenção ao fato da existência universal da vida psíquica. Sob esse titulo, a "visão diurna" não é o produto de uma dedução racional nem de uma intuição intelectual que encontra o Absoluto de uma vez para sempre: é o resul­ tado de uma reflexão sobre a Natureza suscetível de progresso indefinido. O mecânico, por conseguinte, não é rejeitado na concepção de Fechner, mas concebido como a manifes­ tação do que é animado. Deste modo, Fechner pôde re­ lacionar a metafisica do pampsiquismo (vER) com uma psicologia experimental, com uma psicofisica que obte­ ve seu triunfo mais destacado na formulação matemá­ tica da chamada lei de Weber-Fechner. A psicologia obteve imediatamente a primazia na influência exerci­ da por Fechner; a ela se seguiu sua estética de tendência psicologista e apenas de um modo relativo a metafisica. Sob esta influência encontram-se o psicólogo holandês Gerardus Heymans (vER), em parte Friedrich Paulsen (vER), assim como Bruno Wille (ver MONISMO). :> Obras: Das Büchlein vom Leben nach dem Tode, 1 83 6 (O pequeno livro da vida depois da morte). Ueber das hOchste Gut, 1 846 (Sobre o Bem supremo). - Nanna oder über das Seelenleben der Pflanzen, 1 848 (Nanna ou sobre a vida psíquica dasplantas). -- Zend­ Avesta oder über die Dinge des Himmels und des Jen­ seits, 1 85 1 (Zend ,1vesta ou sobre as coisas do céu e do além). - Ueber die physikalische und philosuphische A tomenlehre, 1 85 5 ; 2ª ed., rev., 1 864 (Sobre a doutrina atômicafísica efilosófica). - Elemente der Psychophy­ sik, 2 vols., 1 860. - Ueber die Seelenfrage, ein Gang durch die sichtbare Welt, um die unsichbare zufinden, 1 86 1 (Sobre o problema da alma. Viagem através do mundo visível para descobrir o mundo invisível). Die drei Motive und Gründe des Glaubens, 1 863 (Os três motivos e razões da fé). - Zur experimentalen Aesthetik, 1 873 (Para a estética experimenta[). - Eini­ ge Jdeen zur Schopjimgs. und Entwicklungsgeschichte der Organismen, 1 873 (Algumas idéias sobre a história da criação e do desenvolvimento dos organismos). Vorschule der Aesthetik, 1 876 (Curso e/ementar de esté­ tica). - ln Sacher1 der Psychophysik, 1 877 (Nas coisas da psicofísica). - Die Tagesansicht gegenüber der Nach­ tansicht, 1 879 (A visão diurna diante da visão noturna). - Revision der Hauptpunkte der Psychophysik, 1 882 (Revisão dos pontos capitais da psicofísica). "Ueber die psychophysischen Massprinzipien und das Webers­ che Gesetz", Philosophische Studien, VI ( 1 887) ("Sobre os princípios psicofisicos da massa e a lei de Weber"). Koliektivmasslehre ( Teoria da massa coletiva), pós­ tuma, ed. por G . E Lipps, 1 897. -- Sob o pseudônimo àe Doctor Mises, Fechner publicara uma série de obras, algumas delas de caráter fantástico-humorístico: Beweis, dass der Mond aus Jodine bestehe, 1 82 1 (Demonstração -­

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Fl�DON DE ÉLIDA

de que a Lua éfeita de iodeto) . - Panegyrikus derjetz­ tigen Medizin und Naturgeschichte, 1 822 (Panegírico da medicina atual e História natural). - Strapelia mix­ ta, 1 824. - Vergleichende Anatomie der Engel, 1 825 (Anatomia comparada dos anjos) . - Rdtselhiichlein , 1 8 78 (O pequeno livro dos enigmas). - Também um tomo de poesias: Gedichte, 1 84 1 . Ver: J. E. Kuntze, G. Th. Fechner, 1 892. - Theodor Simon, Leih und Seele hei Fechner und Lotze ais Ver­ treter zweier massgehender Weltansschauungen, 1 894. - K. Lasswitz, G. Th. Fechner, 1 896; 2ª ed. , 1 902. W. Wundt, G. Th. Fechne1: Rede zur Feier seines hun­ dertjdhrigen Gehurtstages mil Beilagen, 1 90 1 . - R. Liebe, Fechners Metaphysik. !111 Umriss dargestellt und heurteilt, 1 903. - A . Goldschmidt, Fechners metaphy­ sische Anschauungen, 1 903 (tese ). - Hans Freuden­ reich, Fechners psvchologische Anschauungen , 1 904 (tese). - B. Leisering, Studien zu Fechners Metaphy­ sik der Pfànzenseele, 1 907. - K. von Hollander, Ueher die Bedeutung von Fechners Nanna flir die Gegenwart, 1 908 (tese). - S. Hochfeld, Fechner ais Religion1phi­ losoph, 1 909. - E. Dennert, Fechner ais Naturfàrscher und Christ. Ein Beitrag zur Kritik des Pantheismus, 1 9 1 3 . - H. Adolph, Die Weltanschauung G. Th. Fech­ ners, 1 923. - E. Wentscher, Fechner und Lotze, 1 924. - J. Hermann, Fechner, 1 926. - F. A. E. Meyer, Philo­ sophie, Metaphysik und christlicher Glauhe hei G. Th. Fechner, 1 937 (tese). - L. e H. Sprung, "Weber-Fe­ chner-Wundt", em W. Meischncr e A. Metge, eds . , W Wundt, 1 980, pp. 282-30 1 [sobre o pampsiquismo de F. ] . - M. Thiel, F., Emerson, Feuerhach, 1 982. - M . E. Marshal l, "Physics, Metaphysics and Fechner's Psy­ chophysics", em R. Woodward, M. Ash, eds., The Pm­ hlematic Science: Psychology in l 9th Century Thought, 1 982. - L. e H. Sprung, G. Th. F. in der Geschichte der Psychologie, 1 987. C

FÉ DON DE ÉLIDA, discípulo de Sócrates e persona­ gem principal no diálogo de Platão intitulado Fédon, fundou em É lida aproximadamente em 399 a.C. uma das escolas socráticas: a "escola él ido-erétrica'', assim chamada por ter-se estendido até Erétria, onde foi repre­ sentada, entre outros, pelo amigo e discípulo de Fédon de É lida, Menedemo de Erétria (VER). A escola fundada por Fédon de É lida era afim à dos megáricos (vER) mas com forte insistência nas questões morais e cívicas prá­ ticas. Segundo Diógenes Laércio ( I I , 1 05), Fédon de É lida escreveu dois diálogos, que se perderam, mas dos quais há notícia e alguns fragmentos em Séneca, Ep. , 94,4 1 . � Além das obras sobre a escola de Megara, e particular­ mente do livro de C. Mallet citados na bibliografia de M1°­ GAR1cos, ver U. von Wilamowitz-Moellendorff, "Phaidon von Elis", Hermes, 14 ( 1 879), 1 87- 1 93 e 476-477. C

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FEIBLEMAN, JAMES KIERN] ( 1 904- 1 987 ) . Nasci­ do em New Orleans ( Louisiana), sentiu vocação para a fi losofia em meio a uma vida de negócios e em grande parte como reflexão sobre a finalidade de uma existên­ cia consagrada à prática. Em 1 943 começou a ensinar na Universidade de Tulane, primeiro como professor de inglês e depois, a partir de 1 945, de filosofia. Em 1 976 foi nomeado Bingham Professor de Humanidades na Universidade de Louisville ( Kentucky). O pensamento de Feibleman é considerado um realismo axiológico radical. Feibleman nega qualquer separação entre ser e valor. Por outro lado, tanto o ser como o valor consti­ tuem um reino separado das coisas particulares, que par­ ticipam, platonicamente, desse reino. Isso não significa rei ficar conceitos universais; junto à influência de Pla­ tão marca-se em Feibleman a de Whitehead. Confron­ tando a sua posição com a do positivismo e do empiris­ mo lógicos, Feibleman pretendeu mostrar que essas ten­ dências são alheias a seu pensamento na medida em que este constitui um "positivismo ontológico" ou uma "ontologia finita". Para esse autor a ontologia não é um sistema de conceitos inaplicável à realidade; os argu­ mentos contra a ontologia afetam apenas as pretensões que esta teve de ser dogmática, absolutista e não empí­ rica. Os fatos de que trata a ontologia são qualidades e relações, e elas são dadas na experiência. Desse modo, a ontologia de Feibleman tenta incorporar o positivismo e o empirismo. Sobre essa base Feibleman construiu um sistema no qual a noção de "poder", identificada com a de "ser", desempenha um papel capital. O ser é o po­ der em si mesmo. Esse "poder" é neutro, razão pela qual devem-se examinar os modos como ele opera na relação entre o possível e o atual. Para isso, Feibleman elaborou as noções de essência, existência e destino. A essência é o poder de afetar ou de ser afetado, e tem duas dimen­ sões: os valores e os universais. A existência é o que afeta ou é afetado, é o resultado de uma possibilidade da existência, que se manifesta na Natureza. O destino é a direção da existência rumo à essência; esse direcio­ namento ocorre de vários modos, que seguem uma es­ pécie de lógica dos acontecimentos. Embora Feibleman considere que sua ontologia seja "verdadeira'', ele a concebe também como "aberta". Como ao mesmo tem­ po admite que em uma cultura existe o que ele chama de uma "ontologia dominante implícita", surge a ques­ tão de se sua própria ontologia não seria então o desen­ volvimento de uma ontologia dominante implícita parti­ cular. A resposta - implícita - do autor é que o posi­ tivismo ontológico e o realismo axiológico que ele pro­ pôs e desenvolveu permitem dar conta e razão da natu­ reza das ontologias dominantes implícitas, incluindo possivelmente a sua própria. Ver MATERIALISMO. � Obras: Science and the Spirit ofMan : A New Orde­ ring of Experience, 1 93 8 (em colaboração com Julius

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FEIGL, H ERBERT

W. Friend). - The Unlimited Community: A Study of the Possibility ofSocial Science, 1 93 6 (com J. W. Friend). - What Science Really Means: An Explanation of the Hist01y and Empirical Method o{General Science, 1 937 (com J. W. Friend). - Christianity, Communism, and Ideal Society: A Philosophical Approach to Modem Politics, 1 937. - ln Praise of Commedy: A Study ofIts Theory and Practice, 1 939. - Positive Democracy, 1 940. An Introduction to Peirce �· Philosophy Interpreted as a System, 1 946; nova ed., An Introduction to the Philoso­ phy ofCh. P, 1 970. The Reviva/ ofRealism: Criticai Studies in Contemporary Philosophy, 1 946. - The Theo1y of Human Culture, 1 946. - Aesthetics: A Study of the Fine Arts in Theory and Practice, 1 949. - Ontology, 1 95 1 . Philosophers Lead Sheltered Lives: A First Volu­ me ofMemoirs, 1 952. - The Jnstitutions o{Society, 1 956. - Inside the Great Mirror: A Criticai Examination ofthe Philosophy ofRussell, Wittgenstein, and Their Follo:.Vers, 1 958; reimpressão, 1 969. - The Pious Scientist. Nature, God and Man in Religion, 1 958. Religious Platonism: The Injluence o/Religion on Piara and the Injluence of Plato 011 Religion, 1 959. - Foundations o/Empiricism, 1 962; reimpressão, 1 969. - Biosocial Facts in Mental I/lness, 1 962. - Mankind Behaving: Human Needs and Material Culture, 1 963. The Two-Storv World: Selec­ ted Writings, 1 966, ed. Huntington Caims � Moral Stra­ tegy: An Introduction to the Ethics of Confi"ontation, 1 967. - The New Materialism, 1 970. - Scientific Me­ thod: The Hypothetico-Experimental Laborato1y Proce­ dure of the Physical Sciences, 1 972. - The Stages of Human Lije: A Biography ofEntire Man, 1 975. - Un­ derstanding Civilizations: The Shape of History, 1 975. - Understanding Philosophy: A Popular Histo1y of Ideas, 1 975. - Understanding Oriental Philosophy: A PopularAccountfor the Western World, 1 976. -Adaptive Knowing: Epistemology finm a Realistic Standpoint, 1 976. - Assumptions o{Grand Logics, 1 978. - Tech­ nology and Reality, 1 982. From Hegel to Terrorism: and Other Essays on the Dynamic Nature of Philoso­ phy, 1 985. J. K. F. reuniu suas obras em um chamado "System of Philosophy" em 1 8 vols., desde Mankind Behaving ( 1 963 ). O vol . 1 trata de lógica (Assumptions of Grand Logics, 1 978), o II de ontologia ( Ontology, 1 95 1 ); conti­ nuando, nessa ordem: metafisica, epistemologia, ética, estética, psicologia, política, sociologia, antropologia, filosofia da vida, fi losofia da Natureza, filosofia da linguagem, filosofia da ciência, cosmologia, filosofia do Direito, filosofia da educação e filosofia da rel igião. Bibliografia: Anônimo, "Writings by J. K. F.", Stu­ dium Generale, 24 ( 1 97 1 ), 842-850. - R. C. Whitte­ more, "Writings by J. K. F. 1 922- 1 976", Tulane Studies in Philosophy, 25 ( 1 976), 1 07- 1 1 8 . Ver: Andrew J. Beck, The New American Philosophers: An Exploration o{Thought since World War II, 1 968, pp. -

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22 1 -254. - Robert C. Whittemore, ed., The Reach of . Philosophy: Essays in Honor ofJ K. F, 1 977. Obras: Theorie und Erfahrung in der Physik, 1 929 ( Teoria e experiência nafísica) . - The "Mental " and the "Physical ": The Essay and a Postscript, 1 967 ( "The 'Mental ' and the 'Physical ' " foi publicado originalmen­ te no vol . II de Minnesota Studies in the Philosophy of Science: Concepts, Theories, and the Mind-Body Pro­ blem, 1 958, pp. 3 70-497, edição de H. Feigl, Michael Scriven e Grover Maxwell). Feigl escreveu numerosos artigos, entre os quais mencionamos: "Wahrscheinlichkeit und Erfahrung", Erkenntnis, 1 ( 1 930- 1 93 1 ), 249-259 ("Probabilidade e experiência"). - "Logical Positivism'', Journal o/Phi­ losophy, 28 ( 1 93 1 ), 28 1 -296 (com A. E. Blumbe ;g). "Logical Empiricism'', em Twentieth Centurv Philoso­ phy, 1 943, ed. D. D. Runes, pp. 3 7 1 -4 1 6 . _: "De prin­ cipiis no disputandum . . . ?'', em Max Black, ed., Philo­ sophical Analysis, 1 950, pp. 1 1 3- 1 47. - "Scientific Mehod Without Metaphysical Presuppositions", Philo­ sophical Studies, 5 ( 1 954), 1 7-29. - "Other Minds

FEIJOO, BENITO J ERÓNIMO

and the Egocentric Predicament'', Journal ofPhilosophy, 55 ( 1 958), 978-987. - "Critique of lntuition According to Scientific Empiricism", Philosophy Easr and West., 8 ( ! 958), 1 - 1 6. - "Philosophical Embarrassments of Psy­ chology", American Psychologist, 14 ( 1 959), 1 1 5- 1 28. - "Mind-Body, Not a Pseudoproblem", em S. Hook, ed., Dimensions of Min d, 1 960. - "Why Ordinary Language Needs Reforming", Journal ofPhi/osophy., 54 ( l 96 1 ), 48R-498 (com G. Maxwell). - "The Power of Positive Thinking", ProceedinljS ofthe American Philo­ sophicalAssociation, 36 ( 1 963), 2 1 -4 1 . -- - "Physicalism, Unity of Science and the Foundations of Psychology", em P. A. Schilpp., ed., The Philosophy ofRudol{Carnap, 1 963. -- 'Trom Logical Positivism to 1-Iypercritical Rea­ lism", em A ctas dei XII Congreso Internacional de Fi/o­ so/ía (México), 5 ( 1 964), 427-436. F. colaborou em vários tornos dos Minnesota Stu­ dies in the Phi!osophy ofScience: "Some Maj or I ssues and Developments in the Philosophy of Science of Lo­ gical Empiricism", 1 ( 1 956), edição de H. Feigl e M. Scriven, pp. 3-37; "The ' Orthodox ' View of Theories: Remarks in Defense as well as Critique", 4 ( 1 966), edi­ ção de M. Rudner e S . Winokur, pp. 3-37; "Beyond Peacefui Coexistence", 5 ( 1 970), ed. R. H. Stuewer, pp. 3 - 1 1 . Também colaborou na edição de alguns tomos dessa série de "Estudos": 1 ( 1 956), 2 ( 1 958), 3 ( 1 962). É co-autor de duas antologias de fi losofia anal ítica: Readings in Philosophical A nalysis, 1 949 (com Wilfrid Sellars) e New Readings in Phi/osophical Analysis, 1 972 (com Wi lfrid Sellars e Keith Lehrer); e de duas de filosofia da ciência: Readings in the Philosophy of Science, 1 953 (com M . Brodbeck), e Current Jssues in the Phi/osophy os Science, 1 9 6 1 (com G. Maxwell). - Também publicou uma "Selected Bibliography of Logical Empiricism", Revue lntemationale de Philo­ sophie, 4 ( 1 950), 95- 1 02 . Edição d e escritos: lnquiries a n d Provocations. Selected Wrilings 1 929- 1 9 74, 1 98 1 , edição de R. S. Co­ hen [Vienna Circle Collection, 1 4] . Ver: Paul K. Feyerabend e G . Maxwell, eds . , Mind, Matte1; and Method: Essays in the Philosophy ofScien­ ce in Honor o/H F, 1 966. Obras: Theatro crítico universal o discursos varias en todo género de materias para desengano de errares comunes, 8 vais . . 1 727 a 1 739; nova impressão, 1 773. - Cartas eruditas y curiosas en que por la mayor parte se continúa el designio dei T C. U, impugnando o re­ duciendo a dudosas varias opiniones comunes, 5 vais. , 1 742 a 1 760; nova i mpressão, 1 774. - Seleção de Car­ tas eruditas por Millares Cario, 3 vais., 1 923- 1 925. Obras completas, 1 98 1 , edição de J. Caso González. - Teatro crítico universal, 1 986, edição de G. Stiffoni. Bibliografia: W. J. Cameron, A Bib/iography in Short­ Title Catalogs Form of Editions 1 71 9- 1 764 ofthe Wri­ tings ofB. J F, 3 vais., 1 98 5 . Ver: M . Morayta, E I P. Feijoa y sus obras, 1 9 1 3 . - G . Marafión, las ideas biológicas dei P Feijoa, 1 934. - G. Delpy, l'Espagne et I 'esprit européen. l 'oeuvre

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FELICIDADE

de F. (1 725-1 760), 1 936. F. Lázaro Carreter, Las ideas lingüísticas en Espaiía durante el sigla XVJJJ, 1 949. - Arturo Ardao, La filosofia polémica de Feijoa, 1 962. - F. Lázaro Carreter, Significación cultural de F., 1 977. - VV. AA., Simposio sobre el P. F. y su sigla, 2 vols., 1 98 1 - 1 98 3 . A partir d e 1 955 a Cátedra Feijoo d a Universidade de Oviedo publica uma revista, Cuadernos. A Cátedra foi criada em 1 954 e inaugurada com uma conferência de Gregorio Maraiíón que depois foi publicada como o pri­ meiro Cuaderno da série. O Cuaderno n. 1 8 é resultado de um Simpósio celebrado em 1 964 por ocasião do segun­ do centenário da morte de Feijoo: El P. Feijoa y su sigla, 3 vols., 1 966. Em 1 972 a Cátedra criou um órgão de pes­ quisa chamado Centro de Estudos do Século XVIII, que por sua vez publica um Boletín e tem uma "Biblioteca Feij oniana". O Boletín e o resto das edições da Cátedra Feijoo facilitam a atualização bibliográfica. C -

FELAPTO é o nome que designa um dos modos (ver Mooo), por muitos autores considerado válido, da ter­ ceira Figura ( vER ) . Um exemplo de Felapto pode ser: Se nenhum automóvel é lento e todos os automóveis são úteis, então algumas coisas úteis não são lentas. Exemplo que corresponde à seguinte lei da lógica quan­ tificacional elementar:

(/\x ( Gx

� �

1 Hx) 11 /\x ( Gx Vx (Fx /\ 1 Hx)



Fx))

que, empregando-se as letras ' S ' , ' P ' e ' M ' da lógica tradicional, pode ser expressa mediante o seguinte es­ quema: (MeP

11

MaS)



SoP

em que aparece claramente a seqüência das letras ' E ' , 'A' , ' O ' , origem d o termo Felapto, n a ordem MP - M S - SP.

FELICIDADE. No verbete EuoEMONISMO nos referi­ mos às diversas morais chamadas de "materiais" ou "concretas" que consideram a felicidade, Evomµovía, como o supremo bem. A felicidade consiste na posse desse bem, qualquer que seja ele. Neste verbete nos estenderemos sobre o próprio conceito de felicidade, embora se deva observar que, em muitos casos, a feli­ cidade é definida pelos filósofos como equivalente à obtenção de um certo bem ou de certos bens, de modo que o que é dito neste verbete coincide parcialmente com o que foi indicado em EuoEMONISMO. Referir-nos-emos apenas a algumas das concepções básicas da felicidade. Aristóteles declarou que a felici­ dade foi identificada com bens muito diversos: com a virtude, com a sabedoria prática, com a sabedoria filo­ sófica, ou com todas elas, acompanhadas ou não por

prazer, ou com a prosperidade (Eth. Nic. , 1, 8, 1 098 b 24-9). A conclusão de Aristóteles é complexa: as melho­ res atividades são identificáveis com a felicidade. Mas, como se trata de saber quais são essas "melhores ativi­ dades", o conceito de felicidade é vazio, a menos que se refira aos bens que a produzem. De qualquer manei­ ra, Aristóteles tende a identificar a felicidade com certas atividades de caráter ao mesmo tempo intelectual e mo­ derado (ou, melhor, racional e moderado). Boécio tam­ bém se deu conta da índole "composta" da felicidade; esta é "o estado em que todos os bens se encontram j untos". A felicidade, portanto, não tem sentido sem os bens que fazem feliz. Mas já a partir de Boécio tendeu­ se a distinguir várias classes de felicidade (beatituda); pode-se falar de uma "felicidade animal" (que, propria­ mente, não é felicidade, mas, no máximo, "felicidade aparente"), de uma "felicidade eterna" (que é a da vida contemplativa), de uma "felicidade final" ou "última" ou "perfeita", que é o que se chamaria de "beatitude". Santo Agostinho falou da felicidade como o fim da sa­ bedoria; a felicidade é a posse do verdadei ro absoluto e, em última análise, a posse (jruitio) de Dem. Todas as demais "felicidades" são subordinadas a ela. Assim também São Boaventura, para o qual a felicidade é o ponto final e a consumação do itinerário que leva a alma a Deus. A felicidade não é então nem voluptuosi­ dade nem poder, mas conhecimento, amor e posse de Deus. Santo Tomás utilizou o termo beatituda como equivalente ao vocábu lo.felicitas e o definiu (S. theol., 1 , q. LXVII a 1) como "um bem perfeito de natureza intelectual". A felicidade não é simplesmente um estado de alma, mas algo que a alma recebe de fora, pois, caso contrário, a felicidade não estaria ligada a um bem verdadeiro. Embora os autores modernos tenham tratado da felicidade de uma forma distinta da dos filósofos anti­ gos e medievais, há algo comum a todos eles: a felici­ dade nunca é apresentada como um bem em si mesmo, já que para saber o que é felicidade deve-se conhecer o bem ou os bens que a produzem. Até mesmo aqueles que fazem depender a felicidade de um estado de âni­ mo independente dos possíveis "bens" ou "males" su­ postamente "externos" chegam à conclusão de que não se pode definir a felicidade se não é definido um certo bem (ainda que este sej a "subj etivo"). Kant destacou esse ponto muito c laramente ao declarar na Crítica da razão prática que a felicidade é "o nome das razões subjetivas da determinação" e, portanto, não é redutível a nenhuma razão particular. A felicidade é um conceito que pertence ao entendimento; não é o fim de nenhum impulso, mas o que acompanha toda satisfação. A maior parte das obras sobre problemas éticos (Ver ÉTICA) e sobre a questão da natureza do bem ( vER ) trata da noção de felicidade. Também se referem a ela

FÉNELON, FHANÇOIS DE SAUGNAC

DE

LA MOTHE

numerosas obras sobre os fi lósofos que mencionamos no texto. No que diz respeito a Kant, são pertinentes os comentários à Crítica da razão prática menciona­ dos na bibliografia do verbete dedicado a esse fi lósofo. :> Sobre o termo: Lothar Zieske, Felicitas. Eine Wortuntersuchung, 1 972. A seguir nos limitamos a mencionar algumas obras especialmente consagradas ao conceitos de felicidade e beatituda em vários autores ou em geral: V. J. McGill, The ldea of Happiness, 1 96 1 [de Platão aos nossos dias] . - J. Léonard, le bonheur chez A ristote, 1 948. - Jean Vanier, le bonheur. principe et.fin de la mora/e aristoté/icienne, 1 965. - P. Massolo, li problema de/la .felicitá in Epicuro, 1 95 1 . - Eilhelm H i mmerich, Eu­ daimonia. Die lehre des Plotins von der Se/bstverwir­ klichung des Menschen, 1 959. - M . - D. Roland-Gos­ selin, "Béatitude et désir naturel d' apres saint Thomas d'Aquin'', Revue des sciences théologiques et philoso­ phiques, 1 3 ( 1 929), 1 93-222. -- J.-M. Ramirez, De ho­ minis beatitudine. Tractatus theologicus, 3 vols., 1 9421 94 7 . - Robert Manzi, L'idée de bonheur dans la litté­ rature et la pensée françaises au XV/li'" siécle, 1 960. - M. W. Rombout, La conception stofr:ienne du bo­ nheur chez Montesquieu et chez que/quesuns de ses contemporains, 1 95 8 . - L. Vander Kerken, Het men­ selijk Geluk, 1 952. - Josep Pieper, Gliick und Kontem­ plation, 1 957. - Raymond Polin, Le bonheur considéré comme l 'un des beaux arts, 1 965. - Jean Cazeneuve, Bonhew· et civilization, 1 966. V. J. McGill, The ldea of Happiness, 1 967. - Giovanni Biandino, Bernard H arind et ai., Una discussione su l 'etica de/la felicitá, 1 968. - Paul Kurtz, Exuberance: A Philosophy o.f Happiness, 1 977. - E. Telfer, Happiness, 1 980. - U. Schneider, Grundziige einer Philosophie des Gliicks bei Nietzsche, 1 98 3 . - J.-E. Pleines, Eudaimonia zwis­ chen Kant und Aristoteles. G/iickse/igkeit ais hochstes Gut menschlichen Handelns, 1 984. F. R. Berger, Happiness, Justice and Freedom: the Moral and Poli­ tical Philosophy ofJ Stuart Mil/, 1 984. - R. W. Hibler, Happiness Through Tranquility: The Schoo/ o/Epicunts, 1 984. - R. Warner, Freedom, Enjoyment. and Happi­ ness: An Essay on Moral P.1:vchology, 1 9 87. - A. O. Ebenstein, The Greatest Happiness Principie: A n Exa­ mination Obras: Traité de / 'éducation des filies, 1 687. Exp/ication des maximes des Saints sur la vie intérieure, 1 697. - les aventures de Télémaque, 1 899. Dé­ monstration de / 'éxistence de Dieu et de ses attributs tirée des preuves intelectue/les et de / 'idée de / 'infini même, 1 7 1 2 . - Dialogues des morts, 1 7 1 2 . - Dialo­ gue sur l 'éloquence, 1 7 1 8 . - Ré.futation du systeme de la nature et de la grâce, 1 720 (em oposição a Malebran­ che ). - Fab/es, 1 734. - Vários escritos fi losóficos (entre eles a Demonstração etc.) apareceram no volume Oeuvres phi/osophiques, 1 7 1 9. Obras completas. Oeuvres completes, 1 O vols. (Paris, 1 848- 1 852). Correspondência: Correspondance de F. , edição de Jean Orcibal, 5 vols., 1 972ss. - Mme. Guyon et Féne­ lon, La correspondance secrete, 1 982. Ver: A. Chérel, F. au XVIII' siecle en France, son pres­ tige, son influence, 1 9 1 7. - !d., F. et la religion du pur amour, 1 934. - G. Joppin, F. et la mystique du pur amour, 1 93 8 . - E. Carcassone, F., / 'homme et / 'oeuvre, 1 946. - K. D. Little, F. de F., 1 95 1 . - J.-L. Goré, La notion d 'ind(flerence chez F. et ses sources, 1 956. - Robert Spaeman, Reflexion und Spontaneitii.t. Studien iiber F. und seine Wirkungsgeschichte, 1 964. - H . Hillenaar, -

FENOMENISMO

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F. et les Jésuites, 1 967. - Pietro Zovatto, F. e il quietis­ mo, 1 968. - Henri Gouhier, F. philosophe, 1 977. C

FENIAS (FAINIAS). Ver EsTóicos. FENOMENISMO. Chama-se de "fenomenismo" e também, às vezes, "fenomenalismo" - as doutrinas que se fundam nas seguintes teses: 1 ) todas as realidades são fenômenos (ver FENÔMENO); não há nenhuma reali­ dade "em si" que se encontre além dos fenômenos ou seja subj acente a eles; 2) há realidades em si, mas estas são incognoscíveis; a única coisa que pode ser conhe­ cida são os fenômenos, ou as realidades enquanto fenô­ menos; 3) não é necessário sustentar nem que há nem que não há realidades em si subj acentes aos fenômenos, e tampouco que há somente fenômenos: afirma-se apenas a possibilidade de reconstrução lógica a partir de fenômenos ou de experiências sensíveis. As teses !) e 2) são afirmações ao mesmo tempo ontológicas e epistemológicas, com o predomínio do aspecto ontológico em 1 ) e do aspecto epistemológico em 2). Algumas variantes de 3 ) têm traços ontológicos, e quase todas as variantes têm traços epistemológicos, mas se podem real izar esforços para eliminar parcial­ mente - ou até totalmente - tais traços. As doutrinas fenomenistas foram freqüentemente classificadas em metafisicas (ou ontológicas) e episte­ mológicas ou gnosiológicas. O fenomenismo metafisico (ou ontológico) afirma que não há coisas em si; o gnosiológico afirma que, se há coisas em si, elas não podem ser conhecidas. Essas duas espécies de fenomenismo combinam-se com fre­ qüência no mesmo filósofo. Certos autores, especial­ mente os de tendência positivista e empirista, negam que seu próprio fenomenismo possa ser qualificado de me­ tafisico (ou ontológico) ou gnosiológico; a interpreta­ ção metafisica (ou ontológica) ou gnosiológica é, para eles, posterior à atitude fenomenista; esta consiste em aceitar "o dado" (vER) como fenômeno (VER) e este como o que é percebido ou perceptível ou (segundo a expres­ são de J. Stuart Mill) como "possibilidades permanen­ tes de sensação". Este último tipo de fenomenismo algu­ mas vezes recebe o nome de "radical" ou "absoluto". As doutrinas fenomenistas são abundantes na his­ tória da fi losofia. Entre os filósofos antigos podem ser considerados fenomenistas muitos sofistas e céticos. O fenomenismo antigo é em geral realista, isto é, admite que os fenômenos são a realidade e não distingue, por­ tanto, uma suposta realidade em si de seu aspecto ou de seus aspectos fenoménicos. Entre os filósofos mo­ dernos são fenomenistas vários empiristas; os mais des­ tacados são Hobbes, Berkeley e Hume. O fenomenismo de Hobbes é mecanicista, ou, melhor, seu fenomenismo - a idéia de que "tudo o que computamos são apenas nossas representações" (phantasms) está justaposto -

a seu mecanicismo, provavelmente mais fundamental que o primeiro. O fenomenismo de Berkeley é idealista e espiritualista; o de Hume pode ser qualificado de "sen­ sacionista". Também são fenomenistas de tipo "sensa­ cionista" autores como Condillac e vários "ideólogos" (vER). Uma das possíveis interpretações de Kant faz desse autor um filósofo fenomenista; isso ocorre quando se insiste em que para Kant o númeno ou coisa em si (VER) é no máximo um conceito-limite. O próprio Kant consi­ dera sua posição um idealismo transcendental, mas o ca­ ráter fenomenista desse idealismo pode ser acentuado. Isso certamente se choca com uma dificuldade: esquecer que para Kant as aparências (ver APARÊNCIA) são conjun­ tos de representações, e esquecer que o conhecimento não se constitui simplesmente com as aparências, embora se baseie nelas. Certos positivistas, como Comte, também são fenomenistas na medida em que rejeitam o conceito de coisa e de possibilidade de explicação da coisa. O mesmo ocorre com autores como Renouvier (com seu "princípio da relatividade"), J. S. Mil! (ver supra), E. Mach, R. Avenarius e, em geral, os autores de tendência "neutralista", isto é, que afirmam que a realidade é sim­ plesmente o dado. Pode-se mencionar também a esse respeito Schuppe, Schubert-Soldem, J. Rehmke e algu­ mas das primeiras posições de Bertrand Russell, sobre­ tudo quando ele define 'coisa' como ' classe de aparên­ cias' (ou fenômenos). O fenomenismo teve seu grande auge, especialmente na época contemporânea, em autores de língua inglesa de tendência empirista (ver PERCEPÇÃO). W. T. Stace (op. cit. infra) declarou que o fenome­ nismo foi quase sempre uma "atitude" (a kind ofspirit or jlavour) que se revelou esporadicamente no trata­ mento de problemas isolados e, particularmente, de pro­ blemas de teoria do conhecimento e filosofia da ciência. É, pois, necessário, em sua opinião, "conferir-lhe uma metafisica". Essa metafisica foi chamada por Stace de "a teoria das células". A hipótese básica dessa metafisi­ ca é a seguinte: "O universo é uma pluralidade de célu­ las, todas elas com a mesma estrutura fundamental, em­ bora oferecendo, além de sua estrutura, variações em quantidade indefinida. Assim, há apenas uma espécie de realidade concreta no mundo. Desse ponto de vista [a metafisica aqui apresentada] é um monismo. Pois o universo não apenas contém células, mas é composto exclusivamente delas. Apenas as células existem" (op. cit., p. 34). O termo 'célula' é um termo metafórico de índole biológica e designa "os constituintes concretos da realidade". Assim, Stace se opõe tanto ao atomismo quando ao monadismo. O atomismo, que a matéria é con­ creta. O monadismo afirma que os espíritos são concre­ tos. Mas não há nem "concretos materiais" nem "con­ cretos espirituais": há apenas esses "concretos" que são as "células" (op. cit., p. 3 5 ) . Contra a tendência a fundar o fenomenismo em uma metafisica, Cosmo Guastella

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FENOMENISMO

(vER) considera que o fenomenismo (como "fenomenis­ mo absoluto") é essencialmente antimetafisico. Na época atual, e especialmente em autores ingleses ou de língua inglesa, o fenomeni smo é comumente tra­ tado do ponto de vista "lingüístico". Afirma-se sobretu­ do que todo enunciado sobre uma coisa ou obj eto ma­ terial pode ser traduzido, em princípio, em enunciados relativos a dados dos sentidos. As chamadas "coisas materiais" são vistas como construções lógicas com ba­ se em dados "sensíveis". Quando se examina como po­ de ser efetuada aquela tradução, encontram-se não pou­ cas dificuldades. Entre elas cabe mencionar a necessi­ dade de um número em princípio infinito de enuncia­ dos para descrever "uma coisa" de modo puramente fenomênico ou fenomenista. Há, com e feito, um núme­ ro em princípio infinito, ou ao menos indefinido, de "aspectos" de uma suposta "coisa". Os fenomenistas argumentaram que essa dificuldade não é suficiente para descartar o fenomenismo. Embora a tradução in­ dicada seja dificil, ela não é afi rma-se -- impossível. Além disso, a descrição fenomenista da realidade apro­ xima-se mais desta que a descrição da realidade como "coisas'', visto que estas são sempre construções. A lin­ guagem fenomenista, em suma, adapta-se ao dado mais que qualquer outra linguagem. Contra esta última afir­ mação, assinalou-se que a l inguagem não-fenomenista - por exemplo, a li nguagem comum, que fala de coi­ sas e de objetos - não é menos adequada que a feno­ menista, ao menos na medida em que diz tudo o que se propõe a dizer. "Dizer" - escreve G. J. Warnock (Ber­ keley, 1 953, p. 2450) - "que um enunciado não se adapta aos fatos equivale tão somente dizer que não é verdadeiro. Se digo ' há uma mesa no meu escritóri o ' , isso não se adapta aos fatos s e , por exemplo, não h á em meu escritório nenhuma mesa mas apenas uma escriva­ ninha. Por outro lado, se o que digo é verdadeiro, então adapta-se aos fatos exatamente ( . . . ) Há, evidentemente, um número indefinido de fatos que não estão expressos em nenhum enunciado, mas seria muito pouco razoável levantar obj eções contra um enunciado porque deixa de expressar fatos que não expressa ( . . . ) Os físicos e os fisiólogos não estabeleceram de modo nenhum que o enunciado ' Ouço um carro ' jamais é verdadeiro . O que talvez esteja estabelecido é que ao se ouvir um carro ocorre um número surpreendentemente complexo de acontecimentos fisicos; foram descobertos numerosos fatos sobre tal acontecimento dos quais as gerações an­ teriores sequer haviam suspeitado. Mas o enunciado 'ouço um carro ' não afirma nem nega qualquer um des­ ses fatos; simplesmente afirma, de modo inteiramente tautológico, o fato de que ouço um carro." Essa obj eção ao fenomenismo é lingüística. Outras obj eções à mesma doutrina são antes de caráter psicológico ou, ao menos, psicognoseológico; elas afirmam que os fenomenistas -

erram na interpretação que dão às expressões ' percep­ ção ' e ' ser percebido ' . Segundo W van Orman Quine (From a Logical Point ofView, 1 95 1 , pp. 44ss.), o fenomenismo e o "fisicalis­ mo" (ou "coisismo") fundam-se em duas ontologias cuja verdade não se pode, em última anál ise, demonstrar, mas, no máximo, pode-se escolher. A escolha não con­ siste simplesmente em pronunciar-se sobre o que é a realidade, mas, e sobretudo, em escolher um modo de falar sobre ela. A decisão última seria, nesse caso, de caráter pragmático; decidir-se a favor do fenomenismo ou contra ele dependeria do que se pode e do que não se pode dizer com a linguagem fenomenista em compara­ ção com o que pode e com o que não pode ser dito com a linguagem "fisicalista" ou "coisista". De acordo com isso, o fenomenismo não é "neutralista" (como tendiam a sustentar certos autores como Mach, Avenarius etc . ) . E l e é uma ontologia - e u m a l inguagem - - ou uma linguagem - e uma ontologia - em virtude da interde­ pendência entre a realidade (ou "o que existe") e o que se diz sobre a realidade (ou "o que se diz que existe"). Em oposição à maior parte das idéias sobre o feno­ menismo até agora examinadas, C. Ulises Moulines (vrn) propõe uma concepção chamada por ele de '·pro­ grama fenomenalista", que não é nem uma concepção do mundo nem, propriamente falando, uma fi losofia, mas um método . Em autores como Mach e Russell o fenomenismo tinha dimensões ontológicas e epistemo­ lógicas. A mesma coisa ocorria com Carnap, embora esse autor tivesse consciência de que estava desenvol­ vendo um "sistema construcional" (Aufbau, I, A, 1 ) aplicável a uma multiplicidade de conteúdos. Nelson Goodman foi seguramente o primeiro a co­ meçar a entender corretamente o fenomenismo como, segundo a expressão de Moulines, "um programa de reconstrução lógica de conceitos empíricos a partir de uma base única e homogênea constituída por experiên­ cias sensíveis ou ' fenômenos' " (La estructura dei mun­ do sensible. Sistemas fenomenistas, 1 973, p. 1 5 ). Um programa fenomenista (ou fenomenalista) aceitável, e, sobretudo, capaz de funcionar não almeja desenvolver em si mesmo questões ontológicas, epistemológicas ou psicológicas; em todo caso, quaisquer problemas onto­ lógicos e epistemológicos que surj am deverão ser trata­ dos dentro e não fora do sistema. Isso significa que não são introduzidas hipóteses "externas" relativas ao status ontológico dos elementos básicos do sistema. O fato de que tais elementos sejam "sensoriais" (fenomênicos) não permite concluir que sejam "subj etivos" (nem tam­ pouco "objetivos" [se por isso se entende algo contra­ posto ao que é "subj etivo"] ou "neutros" [se por isso se entende algo "prévio" ao que é subj etivo e ao que é obj etivo, ao psíquico e ao físico etc.]). Os termos p1imi­ tivos de um si stema fenomenista são, segundo Ulises

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FENÔMENO

Moulines, "aparências-para-um-suj eito", mas não como contrapostas a "coisas em si"; os "objetos", assim como os "suj eitos", são construções do sistema. Este parte dos elementos fenomênicos, ou fenomenal istas, básicos, ma5 não limita a "realidade" a esses elementos; desse modo, escreve Moulines, "uma classe de coisas-que­ aparecem ( . . . ) não é uma coisa-que-aparece, mas uma classe" (op. cit., p. 1 6). Aquele que constrói um siste­ ma fenomenalista não tem por que ocupar-se da natu­ reza do que é "imediatamente dado à consciência": "Ao construir um sistema fenomenalista não se trata de resolver uma questão epistemológica universal, mas de tomar uma decisão sistemática, após a qual, em todo caso, poderão ser reformuladas certas questões episte­ mológicas. A decisão consiste em aplicar um sistema formal no qual os indivíduos e os predicados primitivos (os quais são indefiníveis) serão, por estipulação, o pon­ to de partida, 'o que é imediatamente dado ' , se se prefe­ rir. Naturalmente, para que esse sistema mereça o quali­ ficativo de ' fenomenalista ' , será preciso supor, a partir defora do sistema, que os conceitos primitivos se refe­ rem a certos elementos sensívei s ou fenomênicos. Mas com isso não se pretende estabelecer prioridades epistê­ micas nem uma hierarquia de princípios cognitivos" (op. cit. , p. 1 9; a expressão 'a partir de fora do sistema' foi destacada por nós). C. Ulises Moulines apresenta, além dos sistemas de Mach, Russell (Whitehead-Nicod), Carnap e Good­ man, um "sistema T-S'', que consiste em uma "recons­ trução" do sistema de Carnap e no qual as relações pri­ mitivas ' T ' e ' S ' são lidas respectivamente como 'tem­ poralidade ' e ' semelhança' (op. cit., pp. 1 93-267). :> Ver: Wilhelm Windelband, Über Sinn und Wert des Phiinomenalismus, em Sitzungsberichte der Heidelberg. Akademie der Wissenschaften, 1 9 1 2. - Hans Kleinpe­ ter, Der Phiinomenalismus. Eine naturwissenschajiliche Weltanschauung, 1 9 1 3 . - Cosmo Guastella, Le ragioni dei fenomenismo, 3 vols. (I. Preliminari, 1 92 1 ; I I . La cosa in se, 1 922; III. Le antinomie, 1 923). - Calogero Angelo Sacheli, Fenomenismo, 1 926. -- Alfonso Sam­ martino, !!fenomenismo nel suo sviluppo storico, 1 936. - W. T. Stace, The Nature of the World: An Essay in Phenomenalist Metaphysics, 1 940. - W. F. R. Hardie, "The Paradox of Phenomenalism", em Aristotelian So­ ciety Proceedings, 46 ( 1 945- 1 946 ). - A. J. Ayer, "Phe­ nomenalism'', ibid. , 47 ( 1 946- 1 947). - W. van Orman Quine, op. cit. supra. Peter Alexander, Sensationa­ lism and Scientific Explanation, 1 963. - J. Foster, The Casefor Idealism, 1 982 [título enganoso: trata-se antes de um "case for phenomenalism"] . - R. L. Greenwood, "C. I. Lewis and the lssue of Phenomenalism", Philoso­ phy Research Archives, 1 1 ( 1 985), 44 1 -45 1 . - D. W. Aiken, "Essence and Existence, Transcendentalism and Phenomenalism: Aristotle 's Answers to the Question -·

of Ontology", Review of Metaphysics ( 1 99 1 ), 29-5 5. - L. E . Goodman, "The Trouble with Phenomena­ lism'', American Philosophical Quarterly, 29 (3) ( 1 992), 237-252. Para o fenomenismo em Hobbes: Bruno Wille, Der Phiinomenalismus des Th. H. , 1 888 ( tese). - Giovan­ ni Cesca, 11,fenomenismo di Hobbes, 1 89 l . Ver também a bibliografia de FENÔMENO. C:

FENÔMENO. O termo ' fenômeno ' provém do grego

cpmvÓµEvov (plural : cpmvÓµEva). Seu significado é "o que aparece"; ' fenômeno' equivale, portanto, a ' apa­ rência ' . Os fenômenos ou aparências são contrapostos por Platão à realidade verdadeira ou aos "seres", ovTa (Rep. , X 596 E et ai.). O mundo dos fenômenos ou aparências é o mundo das "meras representações", cpavTáoµaTa (ver FANTASIA). Também pode ser des­ crito como o mundo das "aparências": phenomena sive apparitiones (Leibniz; Gerhardt VII, 3 1 9) . Alguns au­ tores relacionaram o termo cpmvÓµEvov e o termo cpa ívw8m (que significa ' aparecer' , 'manifestar-se ' , ' revelar-se ' ) com outros vocábulos cuj a raiz é cpv-; assim, por exemplo (e sobretudo), com cpúc:.:i, "surgir" (daí Edição de obras - as obras de F. foram publicadas em Philosophical Works ofthe Late J F. F., 3 vols., 1 8751 888, edição de A. Grant e E. L. Lushington. O primei­ ro volume compreende Institutes of"Metaphysic, publi­ cado originalmente em 1 854. O vol. II inclui suas lições sobre filosofia grega e se intitula Greek Philosophy. O vol. I I I , intitulado Philosophical Remains, inclui os men­ cionados artigos do Blackwood s Magazine. Durante sua vida, F. também publicou uma breve obra com o título: Scottish Philosophy, the O/d and the New, 1 856. Ver: E. S . Haldane, J F. F., 1 894. - A. Thomson, "The Philosophy ofJ. F. Ferrier", Philosophy, 39 ( 1 964), 46-62 . -- L. Urbani Ulivi, "L'ignoranza sistematica nella filosofia di J. F. F.", Rivista di Filosofia Neo-Sco­ lastica, 70 ( 1 978), 440-449. e FESAPO é o nome que designa um dos modos (ver Mooo), considerado válido por muitos autores, dos si­ logismos da quarta figura (vER ) . Um exemplo de Fesapo pode ser: Se nenhum corpo é inextenso e todas as coisas inextensas são invisíveis, então algumas coisas invisíveis não são corpos, exemplo que corresponde à seguinte lei da lógica quan­ tificacional elementar: ( A x (Hx

� �

1 Gx) A A x ( Gx V x (Fx A 1 Hx)



Fx))

e que, empregando-se as letras ' S ' , ' P ' e ' M ' da lógica tradicional, pode ser expresso mediante o seguinte es­ quema: ( Pe M A MaS)



SoP

FEUERBACH, LUDWIG [ANDREAS]

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n o qual aparece c laramente a seqüência d a s letras ' E ' , 'A' , ' O ' , origem do termo Fesapo, na ordem PM - S M - SP.

FESTINI, N ELLY. Ver D E usrú A, ALEJANDRO OcrAv10. FESTINO é o nome que designa um dos modos (ver Mooo) válidos dos silogismos da segunda figura (vER). Um exemplo de Festino pode ser: Se nenhum sábio é corajoso e alguns nadadores são coraj osos, então alguns nadadores não são sábios, exemplo que corresponde à seguinte lei da lógica quan­ tificacional elementar:

(/\ x (Hx

� �

1

Gx) 11 V x (Fx (Fr: 11 1 Hx)



Gx))

\/ x

e que, empregando-se as letras ' S ' , ' P ' e ' M ' da lógica tradicional, pode ser expressa mediante o seguinte es­ quema: (PeM

11

SiM)



SoP

no qual aparece claramente a seqüência das letras ' E · , ' ! ' , ' O ' , origem do termo Festino, na ordem PM SM - SP.

FESTUGIERE, A[NDRÉ-MARIE] J [EAN ] . Ver L E SAlJLCHOIR. FEUERBACH, LUDWIG [ANDREAS] ( 1 804- 1 872). Nascido em Landshut (Baviera). Depois de estudar teo­ logia em Heidelberg e filosofia em Berlim, com Hegel ( 1 824- 1 825), continuou seus estudos em Erlangen ( 1 8261 828), onde foi Privatdozent. Não conseguiu uma cáte­ dra titular e viveu retirado em Bruckberg ( 1 824- 1 860) e em Rechenberg, perto de Munique ( 1 860- 1 872). Integrante da "esquerda hegeliana", foi durante al­ gum tempo o mais destacado e influente representante dessa tendência. Durante alguns anos, um grupo de jovens filósofos, entre os quais figurava Marx, foram "todos feuerbachianos". Alcançaram grande repercus­ são os seus Pensamentos sobre a morte e a imortalida­ de, que apareceram, anonimamente, em 1 830 e consti­ tuíam um violento ataque contra toda teologia especu­ lativa. Durante seus anos de Bruckberg, Feuerbach realizou numerosos estudos de história e de crítica re­ ligiosa e filosófica. Mesmo quando Feuerbach foi se afastando de Hegel, as marcas hegelianas não desapa­ receram completamente de seu pensamento e de seu vocabulário. Em um de seus "fragmentos filosóficos", Feuer­ bach escreveu: "Meu primeiro pensamento foi Deus; o segundo, a razão; o terceiro e último, o homem. O sujei­ to da divindade é a razão, mas o da razão é o homem" (Siimtliche Werke, edição de Wilhelm Bolin e Friedrich Jodl, II [nova ed., 1 959], p. 388). Essas palavras podem

servir de fórmula para caracterizar toda a evolução fi­ losófica de Feuerbach. O "terceiro pensamento" é o mais importante de sua obra e o que exerceu a maior influência. A teologia, e até a própria filosofia, deve converter-se em "antropologia", em ciência - filosófi­ ca - do homem, única capaz de esclarecer os "misté­ rios" teológicos e provar que se trata de "crenças em fantasmas". A teologia "comum" descobre seus fantas­ mas por meio da imaginação sensível; a teologia espe­ culativa os descobre por meio da abstração não-sensível, mas as duas teologias erram porque não conseguem descobrir o real. Feuerbach escreve, em seus aforismas intitulados "Para a reforma da filosofia", que se deve reconhecer que "o princípio da filosofia não é Deus, nem o Absoluto, nem o ser como predicado do Absoluto ou a Idéia; seu princípio é o finito, o determinado, o real" (op. cit. , p. 230). O infinito, em todo caso, é pen­ sado por meio do finito. Por isso "a verdadeira filoso­ fia" não se ocupa do infinito como finito, mas do fini­ to como infinito (isto é, do homem como realidade absoluta). Para partir desse pri ncípio, e ao mesmo tem­ po para chegar a esse resultado, Feuerbach considerou necessário desmascarar a teologia especulativa de He­ gel, pois em seu entender o fantasma da teologia percor­ re de ponta a ponta o pensamento hegeliano. Deve-se denunciar sobretudo a suposta obj etivação do espírito por meio da religião. Diante da tese da produção do mundo pelo espírito, Feuerbach sustenta que este últi­ mo não é senão o nome que designa o conjunto dos fenômenos históricos e, em última análi se, o nome que designa o universo, isto é, a Natureza, que é a reali­ dade primária. A inversão da tese hegeliana não impede, contudo, que se reconheça o valor do espiritual; como última e mais elevada manifestação da Natureza, o es­ pírito é o valor superior. O espírito porém nasce do ho­ mem enquanto ser natural, e todas as entidades trans­ cendentes não são mais que hipóstases dos conceitos humanos. O homem se di ferencia de um mero ser natu­ ral no fato de ser capaz de pensar seres ir.finitos, mas esse pensamento da infinitude não demonstra a efetiva existência dos universais filosóficos e religiosos. O ho­ mem cria seus deuses à sua imagem e semelhança; ele os cria de acordo com suas necessidades, desejos e an­ gústias. As formas da divindade em cada uma das cultu­ ras e em cada um dos homens são o signo de suas ten­ dências íntimas, modos de sua secreta autenticidade. Mas, justamente por causa disso, o conteúdo das reli­ giões não deve ser simplesmente criticado, mas com­ preendido. A redução da teologia à antropologia é a condição fundamenta l para a compreensão da história e do homem. A tese da naturalidade do homem ni'ío anula, para Feuerbach, a tese de sua historicidade e de sua "espiritualidade", mas essa espiritualidade já não é entendida, como em Hegel, como a participação do na­ tural no espírito, e sim como a concepção do espírito

FELEH BACll, Ll JDWIG IAN D H EAS]

como a última etapa, como a forma valiosa da Nature­ za. A crítica da religião, o estudo psicológico-histórico da origem das religiões, conduz ao ateísmo; contudo, em primeiro lugar, o ateísmo não é uma atitude natu­ ral, mas produto de uma realidade histórica e, em segun­ do lugar, esse ateísmo não consiste na supressão pura e simples da religião. O ateísmo é, para Feuerbach, o estado em que o homem chega à consciência de sua li­ mitação, mas, ao mesmo tempo, de seu poder. A limi­ tação é dada pela consciência de sua imersão na Natu­ reza; o poder, pelo conhecimento desse mesmo estado, pelo fato de poder libertar-se, finalmente, do transcen­ dente. Por isso o ateísmo de Feuerbach, nutrido de idea­ lismo ético, é uma negação da divindade que pretende assimilar o conteúdo das crenças, "a verdadeira e autên­ tica interpretação do cristianismo". Por sua assimilação do conteúdo espiritual da rel igião, por sua afirmação da plena consciência do poder e da limitação do homem, a filosofia de Feuerbach tende sensivelmente a transfor­ mar-se em um culto à humanidade. "A existência, a vida é o bem supremo, a suprema Natureza; o Deus primi­ gênio do homem" (Das wesen der Religion, Ergiinzungen und Erliiuterungen [ 1 845], S. W, VII, p. 39 1 ). Em conformidade com sua concepção do homem e da Natureza, Feuerbach desenvolveu uma teoria sen­ si sta do conhecimento, talvez mais acentuada pela oposição a Hegel. Todavia, a sensibilidade não é, para Feuerbach, uma negação da razão, mas seu fundamento. A razão deve ordenar o que a sensibilidade oferece; sem a razão nào há propriamente conhecimento, mas sem a sensibil idade não há nenhuma possibil idade de alcan­ çar o mínimo saber verdadeiro. Em sua última época, Feuerbach pareceu aderir ao materialismo (vER) tal co­ mo era representado, entre outros, por M oleschott. A fi losofia de Feuerbach - especialmente sua crí­ tica da religião dogmática e a derivação do culto à hu­ manidade - alcançou logo uma difusão extraordinária. Os hegelianos de esquerda, entre eles Engels e M arx, manifestaram-se em sua juventude como entusiastas feuerbachianos. Desse modo, essa filosofia influenciou não apenas a teologia protestante crítica, mas também o marxismo. À parte essas influências difusas no pensa­ mento geral da época, estão mais ou menos próximos de Feuerbach os seguintes autores: Max Stirner (vER), F. Th. Vischer (vrn) e, mais recentemente, Friedrich Jodl (vrn). :> Obras: De ratione una, uniwrsali, infinita, 1 828. Gedanken iiber Tod und Unsterblichkeit aus den Pa­ pieren eines Denkers nebst A nhang theologisch-saty­ rischer Xenien, 1 830 (publicado anonimamente). Geschichte der neueren Philosophie von Bacon von Vendam bis Benedikt Spinoza, 1 83 3 ; 2ª ed., 1 844; 3" ed. no vol . IV de S. W (História da /iloso/ia moderna). - Darstellung, En tll'icklung und Kritik der Leib-

1 02 4

nitz 'schen Philosophie, 1 837; 2ª ed. , 1 844 (Exposição, evolução e crítica da filosofia leibniziana). - Pierre Bayle, 1 83 8 ; 3ª ed., rev. , no vol VI de S. W - Ueber Philosophie und Christentum, em Beziehungen aufden der Hegelschen Philosophie gemachten Vorwwj' der Unchristlichkeit, 1 839 (VII, 4 l ss . ) . - Das Wesen des Christentums, 1 84 1 ; 3ª ed., 1 848- 1 849 ( ed. crítica com base nesta última por W. Schuffenhaver, 1 956). - Vor­ liiu/é Thesen zur Reform der Philosophie, 1 842. Grundsiitze der Philosophie der Zukun/i, 1 843. - Das Wesen der Religion, 1 845 (A essência da religião). Vorlesungen iiber das Wesen der Religion, 1 857 (Lições sobre a essência da religião). Edição de obras: Siimtliche Werke, 1 O vols., 1 8461 866; edição de W. Bolin e F. Jodl, 1 O vols., 1 903- 1 9 1 1 ; reimp . , 1 3 vols., 1 959- 1 964 (prólogo de K . Liiwith), com 3 Ergiinzung1·biinde: XI (Jugenschrifien, ed. M ar­ tin Sass, 1 962 [inclui bibliografia 1 833- 1 960); X I I e XIII (Ausgewiihlte Briefé, Ed. Martin Sass, 1 962 e 1 964 respectivamente). - Gesammelte Werke, 20 vais., edi­ ção de Werner Schuffenhauer et ai., desde 1 967, única ed. crítica existente. - Werke in sechs Biinden, l 975ss., ed. E. Thies. - Kleine Schri/ien, 1 966, ed. K. Liiwith. Em português: A essência do cristianismo, 2ª ed., 1 997. - Preleçôes sobre a essência da religião, 1 989. - Princípios da /ilosofia do fitturo, 1 98 8 . Bibl iografia: H. M . Sass, L. F. Literatur 1 9601 9 73, em H. Lübbe, H.-M. Saas, eds., A theismus in der Diskussion. Kontroversen um L. F., 1 975, pp. 263-280 [completa a bibliografia do vol. XI de Obras completas ed. por H . - M . Sass] . Ver: K. Grün, L. F., 1 874. - F. Engels, L. F. und derAusgang der klassichen deutchen Philosophie, 1 888 (trad. bras . : "Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã", em K. M arx & F. Engels, Obras esco­ lhidas, 1 980). W. Bolin, L. F., sein Wirken und seine Zeitgenossen , 1 890. - F. Jodl, L. F., 1 904. - Albert Lévy, La philosophie de F. et son injluence sur la litté­ rature a/lemande, 1 904 (tese). - Hans Aengeneyndt, Der Begriffder Anthropologie bei L. F., 1 923 (tese). S. Rawidowicz, L. Feuerbachs Philosophie. Unprung und Schicksal, 1 93 1 ; 2ª ed., 1 964. - Gregor Nüdling, Ludwig Feuerbachs Religio11.1philosophie. "Die A uflo­ sung der Theologie in A nthropologie , 1 936; reed. , 1 96 1 . - R. Mondolfo, F. y Marx, 1 936, reimp. em Marx y marxismo, 1 960. - Y. Ahlberg, Kristendom­ kritiken hos L. F., 1 947. - Henri Arvon, L. F. ou la trans/ormation du sacré, 1 95 7 . W. Schilling, F. und die Religion, 1 957. - Claudio Cesa, li giovane F., 1 963. - Henrik Jankowski, Etyka L. F. Uzródel marksistows­ kiego humanizmu, 1 963 (A .filosofia moral de L. F.: Rumo às fontes do humanismo marxista). - Werner Schuffenhauer, F. und derjunge Marx. Zur Entstehungs­ geschichte der marxistischen Weltanschauung, 1 965; --

-

"

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FEYERABEND, PAUL K.

1 02 5

2 ª ed., rev., 1 972. - Enrico Rambaldi, L a critica antis­ peculativa di L. A. F, 1 966. - Eugene Kamenka, The Philosophy o/L. F, 1 970. - Ugo Perone, Teologia ed esperienza religiosa di F, 1 972. Giulio Severino, Origine e.figure dei processo teogonico in F, 1 972. Alfred Schmidt, Emanzipa torische Sinnlichkeit. L. Feuerbachs anthropologischer Materialismus, 1 973. Uve Schott, Die Jugendentwicklung L. Feuerbachs bis zum Fakultiitenwedzsel 1 825. Ein Beitrag zur Genese der Feuerbachsen Religionkritik, 1 97 3 . - Leonardo Casini, Storia e umanesimo in F, 1 974. - Manuel Caba­ da Castro, E! humanismo premarxista de L. F, 1 975. A. Alessi, L'ateismo di F Fondamenti metafisici, 1 975. Marx W. Wartofsky, F, 1 977. - G. Amengual, Críti­ ca de la religión y antropología en L. F La reducción antropológica de la teología como paso dei idealismo ai materialismo, 1 980. - F. Tomasoni, F e la dialettica dell 'essere, 1 982. - G. Biedermann, L. A. F, 1 986. U. Reitemeyer, Philosophie der Leiblichkeit: L. Fs En­ twurfeiner Philosophie der Zukun/i, 1 988. C. A. Wil­ son, Feuerbach and the Search .fàr Otherness, 1 989. para ca­ racteria1r afilosofia moderna). Grundziige zum Sys­ tem da Philosophie ( Traçosfitndamentais para o siste­ ma dafilosofia) , dividida em três partes: 1. Das Erken­ nen ais Selhsterkennen , 1 83 3 (O conhecimento como autoconhecimento ); I I . Die Ontologie, 1 83 6 ; I I I . Die .1pek11/ative Theologie oder allgemeine Religionslehre, 1 846 (A teologia e.1peculatirn 011 teoria geral da reli­ gião) . Die ldee der Persünlichkcit und der indivi­ duellen Fortdaucr, l 834 (A idéia da personalidade e da sobrevivência individual). --- Ueher Gegensatz. Vli.·n­ depunkt und Ziel der heutigen Philosophie, 1 834 (Sobre oposiçiio, ponto decisivo efinalidade da filosofia atual). - Üher die Bedi11gu11gen cines s1iek11/ative11 Theis11111s, l 8 3 5 (Sohre as condiçiies de u111 teísmo esppcu/ativo ). -- Sr.item der Ethik, 3 vols. ( ! , 1 8 50; I I , 1 , 1 8 5 1 ; I I , 2, 1 853). Anthropologie, dic Lehrc 1·on der mrnschli­ chen S!!ele, hegriindet au{ naturll'issenschafilichen: Wege, 1 856 (A ntropologia, a doutrina da ulma humana, júndada de modo científico-natura/). - Zur Seel?nfi-a­ gc>. fine philosopliische Konfession , ! 859 ( Para a que.1tâo da alma: confis.1·iio filosófirn). - Ps rchologie, die Lehre 1'011 dcm he\\'ussren Geisle d!!s Mrnschen , 2 pm·­ tes. 1 864- 1 8 73 (Psicologia: a doutrina do e.1pírilo cons­ ciente do homun ). Vermischte Schrijien zur Phi/0.1·0phie. Theologit um/ Ethik, 2 vo ls., 1 8 69 ( Oh.1 erva('iies di1 ·er.rns sohre filoso/ia, /eo/ogiu e ética ). - Die !heis­ tische ff(,ltanschauung und ihre Berecluigung. Ein kritis­ ches Muni/és! úll ihre Gegner, 1 873 (A concepçiio teí.1ta do 1111111do e sua justificação. Manifesto critico a seus inimigos ) . -- Der 11euere Spiritualismus, sein Wert 1111d seine Tiiuschungen , 1 8 78 (0 novo espiritualismo. Seu \'a/or e seus enganos). -

--

Ver: C . C. Scherer, !. H. F. und seine Gotteslehre, 1 902. - G. Spiegal , !. H. Fichtes Lehre vom Genius, 1 927. Hildegard Herrmann, Die Philosophie !. H. Fichtes. Ein Beitrag zur Geschichte der nachhegelschen Spekulation, 1 928 (tese). - M. Horstmeier, Die Jdee der Personlichkeit bei !. H. F., 1 930. - J. Ebert, Sein und Sol/en des Menschen bei !. H. F., 1 9 3 8 . - Dimitri Najdanovic, Der Geschichtsphilosoph /. H. F., 1 940. - G. Wolandt, "!. H. F.", em 150 Jahre Rheinische Friedrich- Wilhelms Universitiit zu Bonn, 1 968 (com bibliografia). - H. Ehret, !. H. F. - Ein Denker gegen seine Zeit, 1 987. Obras: Versuch einer Kritik al/er Of/enbarung (a

1 792,

do obstáculo: sem este não há, no fundo, nem aspiração

primeira edição,

infinita nem realização. Portanto, o Eu se oferece na esfe­

(Tentativa de uma crítica de toda revelação). - Zuriickfàrderung der Denkji·eiheit von den Fiirsten Europas, die sie bisher unterdriickten. Eine Rede. Heliopolis im letzten Jahre der alten Finsternis, 1 793 (apareceu anonimamente) (Pedi­ do de liberdade de pensamento dos príncipes da Europa que até agora a oprimiram. Discurso. Heliópolis nos últimos anos das antigas trevas). - Beitriige zur Beri­ chtigung der Urteile eles Publikums iiber diejiw1zàsis­ che Revolution. !. Zur Beurteilung ihrer Rechtnu'issig­ keit, 1 793 (anônimo) ( Contribuições para a emenda dos juízos do público sobre a Revolução Francesa. !. Para um.juízo de sua legitimidade) . - "Rezension von

ra prática como uma vontade que necessita de uma resis­ tência para continuar existindo. Sem resistência o Eu não pode independentizar-se e, portanto, libertar-se. Justa­ mente porque se sente limitada, a vontade pode aspirar sem descanso a suprimir sua limitação. A produção da resistência e a síntese da tensão entre ela e a aspiração infinita seguem, por conseguinte, um processo seme­

lhante ao que é oferecido na doutrina teórica da ciência.

Mas o que diferencia esta última da doutrina prática, o que abre entre elas um abismo aparentemente insupe­ rável, é que, enquanto a dialética dos contrários exige a síntese de tal oposição, a vida humana concreta não pode,

gunda, em

1 793,

apareceu anonimamente; a se­

com o nome do autor)

sem suprimir sua própria ação, chegar ao termo que re­

Aenesidemus oder über die Fundamente der von Hern

presenta a completa e absoluta aniquilação do determina­

Prof. Reinhold in Jena gelieferten Elementarphiloso­

do pelo Eu. A doutrina prática é, pois, a seu modo, uma

phie",

nova primazia da razão prática sobre a teórica. E, se

1 794

Fichtc chega finalmente a sacrificar para a realização

tos da filosofia elementar explicada em lena pelo profes­

da necessidade da dialética a infinita afirmação do Eu

sua filosofia da história. A ação incansável do Eu con­

- Ueber den Begriffder Wissenschafis­ lehre oder der sogenannten ersten Philosophie, 1 794: 2" ed., ampl., 1 798 (Sobre o conceito de teoria da ciência ou da chamada/ilosojia primeira). - Grundlage der gesamten Wissenschafislehre, 1 794; ed. corrigida, 1802 (Fundamentos de toda a teoria da ciência). - Einige Vorlesungen iibff die Bestimmzmg des Gelehrten, 1 794 (Algumas lições sobre o destino do sábio). - Grundriss des Eigentiimlichen in der Wissenschafislehre, 1 795; ed. corrigida, 1 802 (Exposição do peculiar da teoria da ciência). - Grundlage des Naturrechts nach Prinzipien der Wissenschafislehre, 1 796 (Fundamentos do direito natural segundo os princípios da teoria da ciência).

verte-se na aspiração ao conhecimento de Deus; o pro­

-

gresso rumo ao iluminismo converte-se em um processo

te Einleitung in die Wissenschaftslehre, für Leser, die

em sua luta contra

o

que lhe opõe resistência, isso não

é feito sem uma profunda transformação de sua própria concepção moral. O valor e a dignidade moral do homem consistem na marcha da progressiva desvinculação do obstáculo, que jamais deverá desaparecer sem resíduo. Porém na definitiva supressão do obstáculo reside um valor superior e transcendente: a beatitude. A passagem da teoria do esforço contínuo e infinito para a fundamentação da consciência e da lei moral em uma realidade divina superior já se revela na nova forma dada à sua filosofia da religião e na última forma de

Jaener Al/gemeine Literatur Zeitung, nn. 47-49,

("Resenha de Enesídemo ou sobre os fundamen­

sor Reinhold").

"Erste Einleitung in die Wissenschaftslehre", "Zwei­

que, rejeitando-o como uma queda e um pecado, parte

schon ein philosophisches System haben", "Versuch

de um estado primitivo de razão natural instintiva e che­

einer neuen Darstellung der Wissenschaftslehre" (três

ga a um estado de perfeição e de santificação comple­

longos artigos publicados no

tas no qual a liberdade já não é mera potência e possi­

em

1 79 7 :

Philosophisches Journal

"Primeira introdução à teoria da ciência",

bilidade de ação, mas conformidade com o próprio des­

"Segunda introdução à teoria da ciência para leitores

tino racional. Por isso o conceito do Eu absoluto paula­

que já têm um sistema filosófico", 'Tentativa de uma

tinamente dá lugar à noção da divindade como conhe­

cimento absoluto e razão absoluta. Além do eu empíri­ co está o Eu absoluto, mas além desse Eu está um Abso­ luto que não é, como cm Schelling, condição da diferen­ ça, e sim uma entidade transcendente: somente a dificul­ dade implicada na noção de um Absoluto semelhante e

- Das System der Sittenlehre nach den Prinzipien der Wissenschafis­ lehre, 1 798 (O sistema da moral segundo os princípios da teoria da ciência). "Ueber den Grund unseres Glaubens an eine gi:ittliche Weltregierung", Phil. Jour­ nal, 1 798 ("Sobre o fundamento de nossa crença em

nova exposição da teoria da ciência").

-

FICIITE .JOHANN GOTl'LIEB

1 033



uma providência divina"). Este último escrito, que de­ sencadeou a chamada "disputa do ateísmo", deu lugar a outros escritos polêmico-apologéticos de Fichte em 1 799. - Die Bestimmung des Menschen, 1 800 (O desti­ no do homem) . - Der geschlossene Handelsstaat, ein philosophischer Entwurf ais Anhang zur Rechtslehre, 1 800 (O Estado comercia/fechado, um esboçofilosófi­ co como apêndice à teoria do direito). - F. Nico/ais Leben und sonderbare Meinungen, 1 80 1 (A vida e sin­ gulares opiniões de F Nico/ai) . - Sonnenklarer Bericht andas Publikum über das eigentliche Wesen der neues­ ten Philosophie: ein Versuch, den Leser zum Verstiindnis zu zwingen, 1 80 1 (Relato claríssimo ao público sobre a verdadeira natureza da novíssima filosofia: uma ten­ tativa de.forçar a compreensão do leitor) . - Darstel­ lung der Wissenschafislehre, 1 80 1 (Exposição da teoria da ciência) . - Die Grundziige des gegenwiirtigen Zeitalters (Lições em Berl im de 1 804- 1 805), 1 806 ( Os caracteres da idade contemporânea) . - Die Anweisung zum seligen Leben (Lições de 1 806), 1 806 (Advertência para a vida beata) . - Deduzierter Plan einer zu Berlin zu errichtenden hOhern Lehmnstalt, 1 8 1 7 (escrito em 1 807) (Plano para fundar em Berlim uma instituição educativa superior) . -Reden an die deu/sche Nation, 1 808 (Discursos à naçcio alenui) . - Die Wissenschafis­ lehre in ihrem allgemeinen Umrisse, 1 8 1 O (Esboço ge­ ral da teoria da ciência) . - Ueber die cinzig mügliche Stürung der akademischen Freiheil, 1 8 1 2 (Discurso como reitor em 1 8 1 1 ) (Sobre a única possível pertur­ bação da liberdade acadêmica) . Edição de obras: Siimtliche Werke, por seu filho 1.

H. Fichte, 8 vols., 1 845- 1 846; reimpr. , 1 965- 1 966, 1 97 1 . - Edição de obras póstumas: Nachgelassene Werke, pelo mesmo, 3 vols., 1 834- 1 83 5 ; reimp., 1 963, 1 97 1 (compreende : !. Einleitungsvorlesungen in die Wissens­ chafislehre, de 1 8 1 3 ; Ueber das Verhiiltnis der Logik zur Philosophie oder transzendentale Logik, 1 8 1 2 ; Die Tat­ sachen der Bewuss/seins, 1 8 1 3 ; II. Wissenschaftslehre, 1 804; Wissenschafislehre, 1 8 1 2; System der Rechtslehre, 1 8 1 2 ; Ili. Sittenlehre, 1 8 1 2; Aesthetik, 1 798; Vorlesungen iiber dic Bcstimmung des Gelehrten, 1 8 1 1 ; Predigt, 1 79 1 ; Der Patriotismus und sein Gegenteil, 1 807; ldeen iiber die innere Organisation der Universitiit Erlangen, 1 8051 806; Tagebuch iiber animal Magnetismus, 1 8 1 3 ; Vermis­ chte Aua f iitze und Fragmente; Ueber Machiavelli). Ed. crítica completa: Gesamtausgahe, pela Bayerische

-

Akademie der Wissenschaften, a cargo de Reinhard Lauth, Hans Jacob e Manfred Zahn, I 964ss. Esta ed. é com­ posta por aproximadamente 30 volumes distribuídos em 4 séries: 1 ) Werke [obras publ icadas durante a vida do filósofo]; 2) Nachgelassene Schrifíen; 3) Briefe, e 4) Kollegnachschriften. - Edição de obras escolhidas: Auswa}ll, 6 vols., publ . por F. Medicus, 1 908- 1 9 1 2, nova ed., 7 vols., 1 9 1 1 - 1 92 5 . - Edição, por Hans Jacob, das Lições de lena dos anos 1 790- 1 800.

Correspondência: Ed. I. H. Fichte, 1 830; ed. M. Wei­ nhold, 1 862, correspondência entre Fichte e Schiller, por 1. H. Fichte, 1 847; entre Fichte e Schelling, por I. H. Fichte e Fr. A. Schelling, 1 856; edição posterior de cor­ respondência, por H. Schulz, 2 vols., 1 925; reedição ampl., 1 930; reed. , 1 96 7. - Ver também Wil ly Kabitz, Studien zur Entwicklungsgeschichte derfichteschen Wis­ senschafislehre aus der kantischen Philosophie, 1 902. Depoimento : W. G. Jacobs, J. G. F. in Selbstzeug­ nissen und Bilddokumenten, 1 984.

Em português: volume "Fichte'', col. "Os pensado­ res", 1 ed., 1 980 (contém Sobre o conceito da doutrina­ da-ciência ou da assim chamadafilosofia [ 1 794 ]; A dou­ ª

trina-da-ciência de 1794; O princípio da doutrina-da­ ciência [ 1 797]; O programa da doutrina-da-ciência [ 1 800] ; Comunicado claro como o sol ao grande público onde se mostra em que consiste propriamente a novíssima .filosofia [ 1 80 1 ]; A doutrina-da-ciência e o saber absoluto [ 1 80 1 ] ; Introdução à teoria do Estado [ 1 8 1 3]; traduções de Rubens Rodrigues Torres Filho). Por uma universi­ dade orgânica, 1 999. Traduções para o espanhol: Doctrina de la ciencia e Discursos a la nación a/emana, nos tomos 36, 37, 3 8 e 39 d a "Biblioteca Económica Filosófica"; Primera ln­ troducción a la teoría de la ciencia, Segunda lntroduc­ ción a la teoría de la ciencia ( 1 934), Caracteres de la edad contemporánea, em 'Revista de Occidente, 1 934; Destino dei hombre e Destino dei sabio, em V Suárez, 1 9 1 3 ; outra edição dos Discursos em "Americalee", 1 943. Trad. de E! conceplo de la teoria de la ciencia. De la exposición de la teoría de la ciencia de 1801 (Buenos

Aires, 1 949). - Trad. de "Plan razonado para erigir en Berlin un establecimiento de enseiianza superior que esté en conexión adecuada con una Academia de Cien­ cias", em La idea de la universalidad, 1 959, pp. 1 5 1 1 5 . - Antología de Fichte, por Joaquín Xirau, 1 943 . - Eds. e trads. mais recentes em espanhol : Discursos a la nación a/emana, 1 968 e 1 977; E/ destino dei hom­ bre, 1 976; Los caracteres de la edad contemporánea, 1 976; Reseiia de Enesidemo, 1 982; Reivindicación de la liberdad de pensamiento y oiros escritos, 1 986; lntro­ ducciones a la Doctrina de la ciencia, 1 987; E/ estado comercial cerrado, 1 99 1 ; Para una filosofia de la inter­ subjetividad, 1 99 3 . Bibliografia: Hans Michael Baumgartner e Wilhelm G. Jacobs, J. G. Fichte: Bibliographie, 1 968. - G. U. Gabei, Fichte: Ein /!érzeichnis Westeuropiiischer und nor­ damerikanischer Hochschulschrifien 1885-1980, 1 985. - Em relação à "disputa do ateísmo", ver: F. Bockel­ mann, ed., Die Schrifíen zu J. G. Fichtes Atheismus­ Streit, 1 969. Ver: F. Harms, Die Philosophie Fichtes nach ihrer geschichtlichen Stellung und ihrer Bedeutung. 1 862. - O. Pfeiderer, J. G. Fichte, Lebensbild eines deutschen Denkers und Patrioten, 1 8 77. - A. Spir, J. G. Fichte

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FICINO, MARS ÍLIO

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1 05 4 mais um pano d e fundo que u m verdadeiro alicerce. Quase contemporaneamente desenvolvem-se as doutri­ nas idealistas; a partir de Laurens Perseus Hickok ( 1 7981 888), que introduziu e expôs sistematicamente o idea­ lismo alemão pós-kantiano, a corrente i dealista esten­ de-se sobretudo com a Saint-Louis School e a Concord School o/Philosophy (ver HEGELIANISMO) . Esse idealis­ mo adota desde cedo diversos aspectos: é personalista (como em Bowne), especulativo objetivo (com James E. Creighton), dinâmico (como em George Sylvester Morris), absoluto (como em Royce). Sem dúvida, é a luta entre o absolutismo e o personalismo que polemi­ camente vivifica durante muitos anos o idealismo norte­ americano. Esse idealismo é tanto moral como metafísico e gnosiológico, mas, seja por esgotamento interno ou pela influência de outras correntes, especialmente das pragmatistas e realistas, o idealismo torna-se cada vez mais, como dirá Brightman, uma "filosofia dos ideais''. Desse modo, idealistas como Boodin, Cunningham, De Laguna, Sheldon ou Urban negarão o idealismo episte­ mológico, que considerarão supérfluo; outros o reduzirão a uma anál ise metódica (Blanshard), e outros, sem dúvi­ da, negarão o absolutismo do idealismo e acentuarão os momentos personalistas, temporalistas, processua­ listas e finitistas do real (Brightman, Hocking, Adams, Parker e vários dos citados anteriormente). Entre as cor­ rentes idealistas inserem-se, cada vez com mais força, as tendências que em algumas décadas alcançarão um triunfo decisivo; sobretudo o pragmatismo, que não é, porém, uma corrente unitária e se cinde em várias tendên­ cias segundo os distintos modos de considerar pragmati­ camente a inteligência. Os trabalhos de Peirce (que tam­ bém pertencem ao realismo e à nova lógica), a filosofia de William James, o instrumentalismo de Dewey, o pen­ samento de Mead, os primeiros trabalhos de Woodbridge pertencem a essas novas tendências, às quais se agrega­ rá logo o empirismo radical . Desde então se dão todas as combinações possíveis: idealismo empírico, pragmatis­ mo naturalista, instrumentalismo racionalista etc. Quanto às tendências norte-americanas mais recen­ tes é extremamente difícil estabelecer um i nventário. No que diz respeito às grandes figuras do passado ime­ diato, a influência de James e de Santayana é pouco perceptível . Por outro lado, aumentou muito a de Peirce, cuja filosofia não apenas foi explorada, mas em muitos aspectos continuada. Por ter lecionado nos EUA e publi­ cado naquele país algumas de suas obras filosóficas mais destacadas, Whitehead é às vezes considerado uma das grandes figuras norte-americanas, mas ele é mais estudado que seguido. A influência de Dewey tem de­ crescido. Autores como C. !. Lewis, M . R. Cohen conti­ nuam sendo muito considerados e respeitados, mas já não estão no proscênio filosófico. Grande parte do im­ pulso da fi losofia norte-americana nos últimos trinta

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FILOSOFIA AMERICANA

anos veio d e fora. Depoi s dos debates dos rea l istas e neo-realistas a que nos referimos em outro verbete (ver NEO-REALISMO), o positivismo lógico, primeiramente, teve grande influência, e depois a fi losofia analítica e a filosofia da linguagem comum, principalmente a cultivada em Oxford. É indubitável que as últimas cor­ rentes citadas deixaram fortes marcas no pensamento filosófico norte-americano (marcas que se manifestam freqüentemente nos modos de expressão, isto é, na lin­ guagem filosófica adotada). Contudo seria equivocado identificar a filosofia norte-americana com determina­ do tipo, ou até com uma variedade de tipos, de filosofia analítica. De início, as tradições pragmatistas, especial­ mente as derivadas de Peirce, continuam exercendo grande influência nesse pensamento. Depois, e salvo alguns períodos de relativa concentração em determi­ nadas correntes, foi e aparentemente continuará a ser - típico da atividade filosófica norte-americana, ou, especi ficamente, estadunidense, o fato de acolher tendências muito variadas. A fenomenologia, a filosofia existencial e a hermenêutica são cultivadas por um bom número de fi lósofos. Hegel suscita grande interesse; menos difundidos nos meios filosóficos - ao contrário dos literários e sociológicos respectivamente - foram o estruturalismo e o marxismo. O cultivo de disciplinas filosóficas também é ecumênico, e são abundantes os trabalhos em lógica, fundamentação da matemática, fi­ losofia da linguagem e filosofia da ciência, mas não são descuidadas a ética, a filosofia política e, embora em menor proporção que em países como a Alemanha, França e Itália, a história da filosofia. :> Obras gerais: E . Molina, Filosofia americana, 1 9 1 2 . - L . Zea, En torno a una filosofia americana, 1 945. - !d., A mérica como consciencia, 1 95 3 . -- E. Mayz Val lenilla, "El problema de América (Apuntes para una filosofia americana)", Episteme (Caracas), 1 ( 1 957), 465-50 1 . - Francisco Larroyo, La filosofia americana; su razón y su sinrazón de ser, 1 95 8 . Obras gerais sobre filosofia hispano-americana e ibero-americana: A. Sánchez Reulet, "Panorama de las ideas filosóficas en Hispanoamérica", Tierra Firme, Ano I I , n. 2, 1 936, 1 8 1 -209, e Letras (Lima), 2º quadri­ mestre, 1 936, 3 1 4-33 1 . - R. Frondizi, "Panorama de la filosofia latinoamericana contemporánea'', Minerva, n. 3, 1 944. - !d., "lHay una filosofia iberoamericana?", Realidad, 3, n. 8 ( 1 948), 1 5 8- 1 70, vol . I (n. 2, j ulho­ agosto de 1 944), 95- 1 22 (reimp. como folheto no mes­ mo ano). - W. Rex Crawford, A Century ofLatin A me­ rican Thought, 1 944, 2ª ed., 1 96 1 . - J. Gaos, Pensa­ miento de lengua espaiwla, 1 945 (antologia e comen­ tários). - !d., El pensamiento hispanoamericano, 1 946. - R. lnsúa Rodríguez, Historia de lafilosofia en Hispa­ noamérica, 1 945. -- L. Recaséns Siches, Apêndice à última ed. de sua trad. da Filosofia dei Derecho, de ·-

Dei Vecchio, e a seus Estudios defilosofia dei Derecho, I I , 1 946. - E. Cannabrava, "Present Tendencies in Latin American Philosophy'', Journal of Philosophy, 46 ( 1 949), 1 1 3 - 1 1 9. - L. Zea, Dos etapas dei pensa­ miento en Hispanoamérica: Dei Romanticismo ai Posi­ tivismo, 1 949. - ld., Esquema para una historia de las ideas en lberoamérica, 1 956. - !d., Las ideas en lbe­ roamérica en el sigla XIX, 1 956. - A. Wagner de Reyna, La filosofia en lberoamérica, 1 949. -- F. Romero, Sobre la filosofia en lberoamérica, 1 952. - A Catu­ relli, La filosofia en Hispanoamérica ( ed. separada do Boletín defilosofia americana, I, 1 95 3 , da Universida­ de de Córdoba, Argentina). - Víctor Frank!, Espíritu y camino de Hispanoamérica. !: La cultura hispa­ noamericana y la filosofia europea, 1 95 3 . - F. Miró Quesada, M. Reale et ai. "lEs possible una filosofia americana?", em Sociedad Cubana de Filosofia, Conver­ sacionesfilosóficas interamericanas, 1 955, pp. 1 1 1 - 1 78. - J. Hernández Luna, A. Ardao et al. , arts. sobre filoso­ fia h ispano-americana (mexicana, uruguaia, chilena, boliviana, peruana, colombi ana, cubana) em Cursos y conferencias, 48 ( 1 956). - Robert G. Mead, Breve his­ toria dei ensayo hispanoamericano, 1 956; 2ª ed. , rev. e amp l . , com Peter G. Earle, Historia dei ensayo hispa­ noamericano, 1 97 3 . - Manfredo Kempff Mercado, Historia de la filosofia en Latino-América, 1 956. R. Romero, J. Gaos et ai. , "Aspects de la pensée ibéro­ americaine", em Les Études philosophiques. N. S. 1 3 ( 1 958), 275-322. - - Alfredo Carrillo N., L a trayectoria dei pensamiento filosófico en Latino-A mérica, 1 959. - F. Romero e J. L . Romero, "Amérique Latine'', em Les Grands Courants de la pensée mondiale contempo­ raine. Panoramas nationaux, 1 959, pp. 68- 1 3 8 . - ! . Hõllhuber, Geschichte der Philosophie i m spanischen Kulturbereich, 1 967. -- Augusto Salazar Bondy, Existe una.filosofia de nuestra América ?, 1 968. - !d., Sentido y problema dei pensamiento filosófico hispanoameri­ cano, 1 969 (folheto, com trad. ingl. e comentários de Fernando Salmerón e Arthur Berndtson). - Robert N. Beck, Arthur P. Whilaker et ai. , The lbero-American Enlightenment, 1 97 1 , ed. A. Owen Aldridge. --- Harold Eugene Davis, Latin A merican Thought: An Historical lntroduction, 1 972. - Laureano Robles, ed., Filosofia !beroamericana en la época dei Encuentro, 1 992 [Enci­ clopedia lberoamericana de Filosofia, ! ] . Bibliografia: E . Lassalle, Philosophic Thought in La­ tin A merica, 1 94 1 , e no Handbook of Latin American Studies, l 939ss. - A. Ardao, C. Betancur et ai., Fuentes de la.filosofia latinoamericana, 1 967. - A. Correia Pa­ checo, A. Salazar Bondy et ai., Los 'fundadores " en la .filosofia de A mérica Latina, 1 970. Walter 8. Red­ mond, Bibliography ofthe Philosophy in the !berian Co­ lonies ofAmerica, 1 972 (sobre o período de 1 492-ca. 1 8 1 0). - Risieri Frondizi e Jorge 1. E. Gracia, eds., El --

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FI LOSOFIA A M EH I C\'.'/A

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FILOSOFIA AMERICANA

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FILOSOFIA ANAL ÍTICA

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Bibliografia n o l ivro citado d e H . W. Schneider (excluindo as correntes contemporâneas a partir do neo­ realismo e do neonaturalismo) e em R. W. Winn, A m e­ rikanische Phi/osophie (Bibliographische Einfiihrungen in das Studium der Philosophie, ed. I. M. Bochenski, vol. 2, 1 948). e

FILOSOFIA ANAL Í TICA. Os nomes de ' análise ' , ' a Análise ' , ' filosofia analítica' e outros - ' análise lógica' , ' análise filosófica' etc. -- foram dados a varia­ dos modos de fazer fil osofia que constituem, vistos cm uma perspectiva histórica, um amplo movimento, tendência ou circuito, que inclui autores de diversas pro­ cedências - sobretudo das línguas alemã, polonesa e inglesa -- e passou por várias fases desde sua origem, no começo deste século. Usamos o nome de ' fi losofia analítica' por ser este o que alcançou até agora a mais ampla difusão. Os nomes ' anál ise' e ' analítico' revelam que há algo nesse movimento que se relaciona com a tendência a usar métodos próprios de várias formas da análise ( vER) clássica, mas convém distinguir esta última da própria filosofia analítica, não apenas porque muitas vezes se entende a análise de modo distinto da dos clássicos, mas também, e sobretudo, porque há em tal filosofia pressupostos e finalidades que somente são entendidos em seu próprio contexto histórico. Historicamente, a filosofia analítica surge na Ingla­ terra com G. E. Moore e Bertrand Russel l e, no caso de Russell, está estreitamente relacionada com os desen­ volvimentos na lógica desde Boole e Frege. Isso fez com que às vezes se tivesse quase identificado ' filosofia analítica' com ' lógica' (a "lógica moderna", "simbólica" ou ''matemática", que durante algum tempo foi chama­ da de "logística") e com que se chegasse à conclusão de que todo lógico é um filósofo analítico e que todo filósofo analítico está pelo menos interessado em lógi­ ca. Porém, embora isso seja verdadeiro em numerosos casos, não o é em outros: alguns consideram que a lógi­ ca formal é uma disciplina neutra em relação a toda tomada de posição filosófica e outros, que a filosofia é o exame da linguagem comum ou ordinária, sem re­ lação com o aparato da lógica formal. Na própria ori­ gem da filosofia analítica na Inglaterra, com Russell e Moore, temos duas das grandes orientações dessa fi lo­ sofia, centradas, respectivamente, na lógica ("lingua­ gem ideal") e na linguagem comum. Outra fonte histórica da filosofia analítica encontra­ se nos trabalhos que vão de Mach e Hertz até o Círculo de Viena e o positivismo lógico. A lógica e a filosofia da ciência são elementos importantes nesse desenvolvi­ mento, e muito particularmente a lógica, se se leva em conta também o Círculo de Varsóvia; mas não há traços simples que caracterizem esses desenvolvimentos. Des­ se modo, de uma perspectiva externa, podem parecer

1 05 9 insignificantes as diferenças entre o Círculo d e Viena e o primeiro Wittgenstein; contudo, vistas com maior atenção, elas podem ser consideráveis. Algumas vezes se caracterizou a filosofia analítica por uma série de "simpatias e diferenças": tendência an­ tiidealista, rejeição da especulação e da metafisica, aten­ ção a questões suscitadas na e pela linguagem, desmas­ caramento de problemas tradicionais enquanto confusões causadas pelas ambigüidades ou pelo uso inapropriado da linguagem comum etc. Mas, embora em muitos auto­ res tenha havido uma importante dose de antiidealismo (especificamente, de anti-hegelianismo), houve também, em outros, doses de fenomenismo; a rejeição da especu­ lação e da metafisica depende em boa parte do que se entenda por essas palavras. A atenção à linguagem mani­ festou-se de formas muito distintas; a linguagem comum pode produzir imbróglios, mas alguns a consideraram o ponto de partida para a análise etc. Nenhuma tendência filosófica de alguma ampli­ tude é redutível a traços simples ou típicos. I sso ocorre com a fenomenologia, o existencialismo, o marxismo, o estruturalismo (mencionando apenas correntes de con­ siderável peso no pensamento contemporâneo). A cha­ mada "filosofia analítica" não é uma exceção. Contudo, há "semelhanças familiares" na maior parte dos filósofos analíticos que se reconhecem na preferência por certos problemas, na escolha de certo vocabulário e de cer­ tos "exemplos" etc. Ora, melhor que indicar tais prefe­ rências e escolhas é esboçar um breve quadro histórico e complementá-lo com várias classificações propostas da "análise". Seguindo a enumeração apresentada em meu livro, Cambio de marcha en filosofia (1, 2: "Variedades dei análisis"), temos as seguintes formas, que se sucederam mais ou menos em ordem cronológica: 1) Análise lógica no sentido de Russell, com o poste­ rior desenvolvimento do atomismo lógico e o uso dos recursos da lógica formal. Isso conduz a tentativas de construção da chamada "linguagem ideal". 2) Simultaneamente, anál ises de Moore e seus discípu­ los, às vezes próx imas do "neo-realisrno". As incor­ reções expressas na linguagem comum são elimina­ das por meio de uma análise dessa linguagem, sem recorrer a linguagens formalizadas. 3) A "Liga de Mach" e o fenomenismo na Áustria, com especial atenção ao estudo da linguagem ciemífica. Originados em parte nesta tendência, formam-se o Círculo de Viena e o positivismo lógico (empirismo lógico), com forte tendência antimetafisica, divisão de todos os enunciados em tautologias e em .'!nun­ cia Ver sobretudo a bibliografia do verbete FILOSOFIA (His16RIA DA), na qual são indicadas várias obras de his­ tória geral da filosofia que também contêm uma parte contemporânea. A filosofia contemporânea, tanto em sentido amplo (desde a morte de Hegel) como em senti­ do restrito (séc. XX), também é tratada na maior parte das obras mencionadas na bibliografia do verbete FILO­ SOFIA MODERNA. Com efeito, o estudo da filosofia con­ temporânea é inseparável do estudo de seus temas espe­ cíficos; a respectiva bibliografia está nos verbetes cor­ respondentes. Aqui nos limitamos a assinalar algumas obras especialmente dedicadas à exposição do pensa­ mento atual. Ver: Guido de Ruggiero, La filosofia con­ temporanea, 1 9 1 2 ; 7ª ed. , 1 962. - Id., Filosofia dei Novecento, 1 934; 2ª ed., 1 942; 3" ed., 1 946. Karl Joel, Die philosophische Krise der Gegenwart, 1 9 1 4; 3ª ed. , 1 922. - T. Marvin, Recent Developments in European Thought, 1 920. - T. K. Oesterreich, Die phi­ losophischen Srromungen der Gegenwart, em Kultur der Gegenwart, 1, 6; 3ª ed., 1 92 1 . - R. Müller-Freien­ fels, Die Philosophie des 20. Jahrh. in ihren Haupstro­ mungen, 1 923. - E. L. Schab, Philosophy Today, 1 928. - Fritz Heinemann, Neue Wege der Philosophie. Eine Einfurung in die Philosophie der Gegenwart, 1 929. Henri Sérouya, Jnitiation à la philosophie contempo­ raine, 1 93 3 . - H . .1. de Vleerschauwer, Stroomingen in de hedengaagsche Wijbegeerte, 1 934. - F. Sassen, Wijbegeerte van onze Tijd, 1 934. - Ernst von Aster, Die Philosophie der Gegenwart, 1 93 5 . - Johannes Hessen, Die Geistestromungen der Gegenwart, 1 93 7. - M. E Sciacca, La .filosofia oggi, 1 945; 4ª ed. rev. e ampl., 1 963. - 1. M. Bochenski, Europiiische Philoso­ phie der Gegenwart, 1 947. - A. Hübscher, Philosophen der Gegenwart, 1 949 (a partir de Hegel). - H. Lafer, Tendencias filosóficas contemporáneas, 1 950. - D. M. Datta, The ChiefCurrents ofContemporary Philoso­ phy, s/d. ( 1 950). - J. M. Grevillot, Les grands courants de la pensée contemporaine, 1 950 (apenas existencia­ lismo, marxismo, personalismo cristão). - L. Land­ grebe, Philosophie der Gegenwart, 1 952. - W. Steg·-

FILOSOFIA CONTEMPOH Â NEA

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müller, Hauptstriimungen der Gegenwartsphilosophie, 1 952 (trad. bras. : A .filosofia contemporânea, 2 vols., 1 977) (ver a bibliografia de Stegmüller, W. ). - P. Filiasi Carcano, Problematica dei/a filosofia moderna, 1 953 (séc. XX). - Juan Carlos Torchía Estrada, La. filosofia dei siglo XX, 1 95 5 . - F. Copleston, Contemporary Phi­ losophy: Studies ofLogical Positivism and Existencia­ lism, 1 95 6 . - Morton White, Toward Reunion in Phi­ losophy, 1 95 6 [filósofos analíticos, positivistas e prag­ matistas] . - G. Lehmann, Die Philosophie im eresten Drittel des 20. Jahrh. , 1, 1 957 (continuação de: Die Phi­ losophie des 1 9. Jahrh. , 2 vols., 1 953). - John Passmo­ re, A Hundred Years ofPhilosophy, 1 957; 2ª ed., 1 966. - Enzo Paci, La .filosofia contemporanea, 1 95 7 . Antonio Banfi, La .filosofia degli ultimi cinquant 'anni, 1 95 7 . - F. C. Copleston, B. Delfgaauw, G. A Wetter, J. Wahl et ai., artigos no número especial de Revista portuguesa de.filosofia, 1 4, nn. 3-4 ( 1 958) [sobre filo­ sofia contemporânea inglesa, belga, holandesa, alemã, polonesa, soviética, francesa, austríaca, italiana, espa­ nhola, portuguesa, suíça] . - F. Heinemann, ed. , Die Philosophie im 20. Ja/11: Eine enzyklopiidische Darstel­ lung ihrer Geschichte, Disziplinen 1111d Aufgaben, 1 959 (contribuições de Duyvendak, F. Kaufmann, Knitter­ meyer, Wilpert et ai. ). - José Ferrater Mora, Philoso­ phy Today: Conflicting Tendencies in Contemporary Thought, 1 960 (trad. esp. parcial: La .filoso.fia en e! mundo de hoy, 1 959: trad. esp. completa com amplia­ ções, 1 963) - ld., La .filoso.fia actual, 1 969; 3' ed. , rev., 1 97 3 . - Juan Antonio Nuno, Sentido de la filo­ sofia contemporánea, 1 965. - A. J. Ayer, Philosophy in the Twentieth Century, 1 982. A. O' Hear, Whal Philosophy is: An 1ntroduction to Contemporary Philo­ sophy, 1 985. - VV AA., Contempora1y Philosophy: A New Survey, 4 vols., 1 986, ed. G. Floistad. - K. 1-Ialbasch, Philosophy: A Tough-Minded Contempormy Approach, 1 987. - R. Bhaskar, Reclaiming Reality: A Criticai 1n­ troduction to Contempora1y Philosophy, 1 989. Entre as publicações sobre filosofia contemporânea mencionamos: Raymond Klibansky, ed., Philosophy in the Mid-Century: A Survey - La philosophie au milieu du vingtieme siecle: Chroniques, 4 vols., 1 958. - Die philosophischen Bemiihungen eles 20. Jarhrhunderts, a partir de 1 962. S . V Rovighi, História da .filosofia contemporâ­ nea, 1 999. Também podem ser consultadas as partes ou os úl­ timos volumes de histórias gerais da fi losofia e de his­ tórias da filosofia moderna mencionadas nos verbetes FILOSOFIA (H ISTÓRIA DA) e FILOSOFIA MODERNA. Destaca­ mos: o último tomo da história da filosofia de A. Mes­ ser; o apêndice de 1-Ieinz 1-Ieimsoeth à de W. Windel­ band; o tomo I I I , parte 2, da história de Jacques Cheva­ lier; o último tomo da história de É . Bréhier; os dois tomos de É tienne Gi lson e Thomas Langan, 1 963. -

Na nova edição do Überweg-1-Ieinze (ver FILOSOFIA [l-11s­ TÓRIA DA] ) concede-se atenção especial à filosofia con­ temporânea em todo o mundo. Entre as "histórias nacionais" especialmente consa­ gradas à fi losofia contemporânea podem ser incluídas algumas das mencionadas em FILOSOFIA MODERNA. Vá­ rias das obras indicadas anteriormente inclusive apre­ sentam preferências por determinado país (em geral, o do autor). Complementaremos a informação com outros trabalhos sobre "filosofias nacionais". Para a filosofia alemã: Wil ly Moog, Die deutsche Philosophie des 20. Jahrh. in ihren Hauptrichtungen und ihren Grundproblemen, 1 922. - A. Messer, Deuts­ che Philosophie der Gegenwart, 1 926. - 1-Ians Lei­ segang, Deutsche Philosophie im 20. Jahrh . , 1 92 8 . W. Tudor Jones, Contemporwy Thought of Germany, 2 vols., 1 930. - G. Gurvitch, Les tendances actuelles de la ph ilosophie allemande, 1 93 0 . - P. Menzer, Deutsche Metaphysik der Gegenwart, 1 93 1 . - Werner Brock, An 1ntroduction to Contemporary German Phi­ losophy, 1 93 5 . - Gerhard Lehmann, Die deutsche Phi­ losophie der Gegenwart, 1 939. - W. dei Negro, Die Philosophie der Gegenwart in Deutschland, 1 942. J. Dewey, German Philosophy anel Politics, 1 942. H. Albrecht, Deutsche Philosophie heute, 1 969. - C. Sutton, The German Tradition in Philosophy, 1 974. 1-1 . M. Baumgartner, 1-1.-M. Sass, Philosophie in Deuts­ chland 1 945- 1 9 75. Standpunkte, Entwick/ungen, Lile­ ratur, 1 97 8 ; 3' ed., 1 980. - D. E. Christensen et ai., eds., Contemporary German Philosophy, 2 vols . : 1, 1 982; II, 1 98 3 . - 1-1 . Schniidelbach, Philosophie in Deutschland 183 1 - 1 933, 1 983. - E. Colomer, Historia dei pensamiento alemán. De Kant a Heidegger, 3 vols., 1 986. - F. C. Beiser, The Fale of Reason: German Philosophy from Kant to Fichte, 1 987. - J. Roberts, German Philosophy: An 1ntroduction, 1 98 8 . - H . -L . Ollig, ed., Philosophie ais Zeildiagnose. A nsiitze der deutschen Gegenwartsphilosophie, 1 99 1 . - L. Greens­ pan, G. Nicholson, eds., German Philosophy anel Jewish Thought, 1 992. - N. Kapferer, ed., lnnenansichten ostdeutscher Philosophen, 1 994. - Além disso: G. U. Gabei, 1ndex to Theses on German Philosophy A ccep­ ted by lhe Universities of Greal Britain and lreland, 1 900- 1 985, 1 990. Filosofia austríaca: W. Sauer, Ôsterreichische Phi­ losophie zwischen A u.fkliirung und Reslauration, 1 982. - W. G . e M . Stock, Psychologie und Philosophie der Grazer Schule: eine Dokumentalion, 1 990 [ Internatio­ nal Bibliography of Austrian Philosophy] . - Além dis­ so: T. Binder, R. Fabian, J. Valent, eds., International Bibliography ofA ustrian Philosophy 1 9 76- 1 9 79, 1 993. Filosofia húngara: L. Steindler, Ungarische Philo­ sophie im Spiegel ihrer Geschichtsschreibung, 1 98 8 . Filosofia tcheca: Boris Jakowenko, La phi/osophie thécoslovaque contemporaine, 1 93 5 .

1 073 Filosofia iugoslava: A. Pavkovic, ed., Contempo­ rary Yugoslav Philosophy: the A nalytic Approach, 1 988. Filosofia espanhola: Joaquín Iriarte, Estudios sobre la filosofia espaiiola, 2 vols., 1 94 7. - Julián Marías, Lafilosofia espaiiola actual. Unamuno, Ortega, Moren­ te, Zubiri, 1 948; reimp. em Filosofia actual y existen­ cialismo en Espaiia, 1 95 5 , pp. l - 1 3 e 5 1 - 1 02, 255-33 3 . - Tomás Carreras y Artau, Estudios sobre médicos­ filósofos espaiioles dei sigla XIX, 1 95 2 . - Ramón Ceiial, "La filosofia espaiiola en la segunda mitad dei siglo XIX", Revista de Filosofia, 1 5 ( 1 956), 403-444. Alain Guy, Philosophes espagnols d 'hier et d 'au­ jourd 'hui, 2 vols., 1 956 (!. Époques et auteurs; li. Textes choisis) (trad. esp.: Los.filósofos de ayer y de hoy, 1 966). - L . Díez dei Corral, J. L. L. Aranguren et ai. , E/ mundo clásico en e/ pensamiento espaiiol contemporá­ neo, 1 960. - Juan José Gil Cremades, E! reformismo espaiiol: Krausismo, escue/a histórica, neotomismo, 1 969. - A. López Quintás, Filosofia espaiiola contem­ poránea. Temas y autores, 1 970. - Elías Díaz, Notas para una historia dei pensamiento espaiiol actual (1 9391973), 1 974. - J. A. Maravall, Estudios de historia dei pensamiento espaiio/. Serie primera, Edad media, 1 973; 3ª ed. ampl., 1 98 3 ; serie segunda, La época dei Rena­ cimiento, 1 984; serie tercera, E! siglo dei Barroco, 1 97 3 ; 2ª ed. ampl., 1 984; Siglo XVlll, 1 99 1 . - A. Guy, Histoire de la philosophie espagno/e, 1 98 3 . - J. L . Abellán, Historia crítica dei pensamiento espaiiol, 5 vols., em 6 tomos, 1 979- 1 989. - Além disso : G. Díaz Díaz, C. S antos Escudero, Bibliografía filosófica hispánica (1 901 - 1 9 70), 1 982 [mais de 3 5 .700 obras] . Filosofia francesa: D. Parodi, La philosophie con­ temporaine en France; 2ª ed., 1 926. - Max Müller, Die .fi'anzosische Phi/osophie der Gegenwart, 1 926. - J. Benrubi, Phi/osophische Stromungen der Gegenwart in Frankreich, 1 92 8 (trad. francesa: Les sources et les courants de la phi/osophie contemporaine en France, 2 vols., 1 933). - G. Hess, Franzosische Philosophie der Gegenwart, 1 933. - A. Etchéverry, L'idéalismefran­ çais contemporain, 1 934. - Louis Lavelle, La phi/o­ sophiefrançaise entre /es deux guerres, 1 942. - Victor Delbos, La phi/osophie française, 1 949. - Francesco Valentino, Lafilosofiafrancese contemporanea, 1 95 8 . - A. Montefiore, ed. , Phi/osophy and Persona/ Rela­ tions: A n Ang/o-French Study, 1 97 3 . - V Descombes, Le Même et l 'autre: quarante-cinq and de philosophie française 1 933- 1 9 78, 1 979. - G. Sauder, J. Schlobach, eds., Aufkliirungen. Frankreich und Deutschland em 1 8. Jah. , vol . 1 , 1 986. - J. Allen, ! . M. Young, eds., The Thinking Muse: Feminism and Modem French Philo­ sophy, 1 989. Filosofia holandesa: G. von Antal, Die holliindis­ che Phi/osophie im 1 9. Jahrh. , 1 88 8 . - F. Sassen, Wijs­ gerig leven in Nederland in de twentigste eeuw, 1 94 1 .

FILOSOFIA CONTEMPOR ÂNEA

- P. Dibon, La philosophie néer/andaise au siecle d 'or, 1, 1 950. Filosofia inglesa: Adrian Costes, A Sceptical Exa­ mination of Contemporary British Philosophy, 1 929. J. E. Salomaa, ldealismus und Realismus in der englis­ chen Philosophie der Gegenwart, 1 939. - RudolfMetz, Die phi/osophischen Stromungen der Gegenwart in Gros­ sbritanien, 2 vols., 1 93 5 (trad. ingl. ampl. : A Hundred Years of British Philosophy, 1 938). - P. Ginestier, La pensée ang/o-saxone depuis 1 900, 1 956. - John Pass­ more, op. cit. supra. - G. J. Warnock, Eng/ish Phi/oso­ phy since 1 900, 1 958; 2ª ed., 1 969. - N. Rotenstreich, Phi/osophy, Hist01y and Politics: Studies in Contempo­ raiy English Philosophy of History, 1 976. Filosofia australiana: S . A. Graves, The History of Philosophy in A ustralia, 1 98 5 . Para a filosofia americana (ibero-americana e nor­ te-americana) ver o verbete FILOSOFIA AMERICANA. Filosofia italiana: Giovanni Gentil e, Le origini de/­ la .filosofia contemporanea in ltalia, 3 vols., 1 9 1 7 ; 2ª ed., 1 92 5 ; nova ed. , 4 vols., 1 95 7 (vols. XXXI-XXXIV de Opere complete). - A. Crespi, Contemporary Thou­ ght in lta/y, 1 926. - G. Mehlis, ltalienische Phi/oso­ phie der Gegenwart, 1 93 2 . - R. Micceli, La.filosofia italiana, 1 93 7 . - F. L . Mueller, La pensée contempo­ raine en ltalie et / 'injluence de Hegel, 1 94 1 . - M. F. Sciacca, li Secolo XX, 1 945. - Id., La filosofia nell 'età dei risorgimento, 1 948 (sobre filosofia italiana no sécu­ lo XIX). - Franco Lombardi, Lafilosofia italiana negli ultimo cento anni, s/d. ( 1 960). - V Mathieu, La.filoso­ _fia italiana contemporanea, 1 97 8 . - B ibliografia por M. F. Sciacca, ltalienische Philosophie der Gegenwart, 1 948, em Bibliographische Einfuhrungen in das Stu­ dium der Philosophie, ed. !. M. Bochenski, vol. 7 . Filosofia polonesa: S . Zawiski, "Les tendances actuelles de la philosophie polonaise", Revue de Synthe­ se, 1 O ( 1 935). - F. Grégoite, "La philosophie polonaise contemporaine", Revue philosophique de la France et de l 'Étranger, ano 67 ( 1 952), 53-7 1 . - Z. Jordan, Phi­ losophy and !deology: The Development ofPhilosophy and Marxism-Leninism in Poland since the Second Wor/d War, 1 962. - Ver também bibliografia do verbete VARSÓVIA ( CiRCULO DE ) . Filosofia romena: Phi/osophes roumains contem­ porains, ed. Académie de la République Populaire Rou­ maine, 1 95 8 . Para a filosofia russa: L. J . Shein, Readings in Rus­ sian Philosophical Thought, 1 968. - Z. A. Kamenskij , Moskovskij kruzok ljubomudrov (O círculo moscovita dos amantes da sabedoria [ = os filósofos]), 1 980. - A. Walicki, A Histo'ry ofRussian Thought. From Enlighten­ ment to Marxism, 1 980. - H. Dahm, Der gescheiterte A usbruch. Entideoligisierung und ideologische Gegen­ reformation in Osteropa 1 960- 1 980, 1 9 8 2 . - W.

FILOSOFIA DA FILOSOFIA

Goerdt, Russische Philosophie. Zugii.nge und Durch­ blicke, 1 984. - A. Haardt, Husserl in Russland. Die Philosophie von Sprache und Kunst bei G. Spet und A . Losev, 1 986. - F. C. Copleston, Philosophy i n Russia. From Herzen to Lenin and Berdyaev, 1 986. - W. Goerdt, Russische Philosophie. Texte, 1 989. Para a filosofia soviética, ver a bibliografia do ver­ bete FILOSOFIA MARXISTA NA UNIÃO SOVIÉTICA. Obras sobre filosofia contemporânea com a consi­ deração de aspectos ou problemas específicos: H. He­ genwald, Gegenwartsphilosophie und christliche Reli­ gion, 1 9 1 3 . - D. H. Kerler, Die auferstandene Meta­ physik, 1 92 1 . - H. A. Slaatte, Contemporary Philoso­ phies of Religion, 1 986. R. M. Baird et ai., eds., Conlempormy Essays on Greek Ideas: The Kilgore Festschri{t, 1 987. P T. Grier, ed., Dialectic and Con­ lempormy Science, 1 989. -· A. Maclntyre, Firsl Prin­ cipies, Final Ends and Conlemporary Philosophical Issues, l 990. - J. Bender, G. H. B locker, Contempo­ rary Philosophy o/Art, 1 993. Obras sobre o século XIX especificamente: John Theodore Merz, Histmy of lhe European Thought in lhe X/Xth Century, 4 vols., 1 896- 1 9 1 4 . - Th. Ziegler, Die geistigen und sozialen Slromungen des neunzehnten Jahrhunderts, 1 899. -- A. Riehl, Einfiihrung in die Phi­ losophie der Gegenwart, 1 90 3 . - O. Ewald, Welche wirkliche Forlschritte hat die Metaphysik seit Hegels und Herbarts Zeit in Deutschland gemacht?, 1 920 (Kantsludien, Ergi.inzungshefte, 53). - G. Güttler, Ein­ jiihrung in die Geschichte der Philosophie seit Hegel, 1 92 1 . - G. Lehmann, Geschichte der nachkantischen Philosophie, 1 93 1 . - Adolfo Ravà, La.filosofia euro­ pea nel seco/o decimonono, 1 93 2 (trad. esp . : La filo­ sofia europea en e/ sigla XIX, 1 943). - Maurice Man­ delbaum, History, Man, and Reason: A Study in Nine­ leenth Century Thought, 1 97 l . - W. Hogrebe, Deuts­ che Philosophie im 1 9. Jah. , 1 987. Para os repertórios bibliográficos, ver a bibliografia do verbete FILOSOFIA. e: -

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FILOSOFIA DA FILOSOFIA. Ver FILOSOFIA. FILOSOFIA DA LINGUAGE M . No desenvolvi­ mento da filosofia analítica (vER) manifestaram-se duas orientações. Uma delas - Bertrand Russell até a tercei­ ra década deste século aproximadamente, o primeiro Wittgenstein, os positivistas lógicos, muitos filósofos da ciência, um bom número de lógicos etc. - manifes­ tou desconfiança com relação à linguagem às vezes cha­ mada de "comum", às vezes "ordinária" e às vezes "coti­ diana". Outra orientação - G. E. Moore, o último Witt­ genstein, Gibert Ryle, Strawson, Austin etc. - expres­ sou, ao contrário, grande confiança nessa linguagem. Esta última orientação recebeu o nome de "filosofia da linguagem". O contraste entre as duas orientações indi-

1 074 cadas apresentou-se freqüentemente como o contraste entre "a linguagem ideal" (especialmente a l inguagem lógica) e a comum. ' Expressar grande confiança na l inguagem comum' é uma fórmula muito geral que serve apenas para carac­ terizar certa atitude: a que consiste em supor que muitos dos problemas filosóficos, se não todos, podem ser elu­ cidados - não necessariamente resolvidos, porém mais freqüentemente dissolvidos - mediante um exame de expressões comumente utilizadas. Isso não significa necessariamente que todas as expressões da l inguagem comum suscitem problemas filosóficos (não os susci­ tam as palavras 'janela', ' mesa' ou ' nuvem' , mas podem suscitá-los as palavras 'causa', 'vontade' ou 'ação'). Eles são suscitados especialmente por certo número de locu­ ções e de frases, como ' necessariamente ' , 'delibera­ damente ' , 'em razão de' etc. Isso tampouco significa que, como indicou Austin, a linguagem comum seja a "última palavra", mas significa dizer, ao menos, que é "a primeira palavra", i sto é, o ponto de partida da aná­ lise filosófica, que se transforma então em análise da linguagem comum, ou de certas expressões dessa l in­ guagem. A filosofia da l inguagem exibe diversas va­ riantes, que se manifestaram até mesmo nos próprios filósofos da chamada "Escola de Oxford" (VER), que foi o posto avançado mais conhecido da filosofia da linguagem aqui mencionada. Um filósofo da l inguagem radical pode sustentar que, se o que interessa princi­ palmente é o uso (vER) de expressões, este se manifesta concreta e especificamente em uma l inguagem deter­ minada (o inglês, o russo ou o turco). Um filósofo da l inguagem menos radical não confi nará seu i nteresse a determi nada linguagem - embora provavelmente não possa deixar de trabalhar dentro de uma -, e declarará que o que interessa não são as próprias palavras, ou apenas elas, mas os conceitos que as palavras podem designar. O único ponto no qual todos os filósofos da l inguagem estão de acordo é que o trabalho filosófico é efetuado mais em, e sobre, l inguagens naturai s que em, e sobre, l inguagens "artificiais". A multiplicidade de dimensões da filosofia da lin­ guagem revela-se nos autores que provavelmente mais influíram em impulsioná-la: o último Wittgenstein e Aus­ tin. O indubitável interesse que esses dois autores expres­ sam pelos modos comuns de falar não é incompatível com um concomitante e talvez mais intenso interesse pelos contextos dentro dos quais funciona a l inguagem comum. Esses contextos são respectivamente o das for­ mas de vida e o da "situação lingüística total''. Desse modo, a intitulada "filosofia da l inguagem" pôde funcionar de duas maneiras muito distintas, depen­ dendo em grande parte daqueles que foram seus culti­ vadores. Por um lado, pôde conduzir a uma trivialização do pensamento filosófico, confinado a análises lingüís-

1 075 ticas de reduzido alcance e escassas conseqüências. Por outro lado, pôde conduzir a uma espécie de "libertação" do pensamento filosófico em relação a rígidos marcos positivistas. A filosofia da linguagem, particularmente as for­ mas desenvolvidas pelos autores citados por último, não deve ser confundida com uma possível "fi losofia lin­ güística" (que é uma das formas que pode ser adotada pela filosofia da linguagem). Entretanto, ela se rela­ cionou com certas tendências da lingüística e da filoso­ fia da l inguagem e também da filosofia da l ingüística: as que dedicaram atenção particular às dimensões prag­ máticas e comunicativas da l inguagem, ao contrário das dimensões que poderíamos chamar de "estruturais". Nesse sentido a filosofia da linguagem é um estudo da linguagem como função; seus termos-chave são termos como 'uso ' , 'proferição ' ou ' ato l ingüístico ' , ' intenção (comunicativa)', ' força ilocucionária (ou inlocutiva) ' etc. Segundo John Searle ( The Philosophy ofLanguage, ed. J. R. Searle, 1 97 1 , p. 1 2), há três correntes principais na filosofia da linguagem: a que ele qualifica de "en­ foque neopositivista-lógico simbólico", ao modo de Quine; a "filosofia da linguagem comum", de Wittgens­ tein e Austin, e o enfoque mediante gramática gerativa de Chomsky e de seus seguidores. Searle considera que o mais provável é que a união das duas últimas correntes produza o futuro desenvolvimento na filosofia da lin­ guagem. Não acreditamos que haja motivo para excluir um enfoque como o de Quine - e tampouco um como o de Montague -, mas é interessante notar que um fi­ lósofo da linguagem que segue a segunda das corren­ tes mencionadas julgue que não há uma oposição de princípio entre eia e outra que antes teria sido conside­ rada como totalmente alheia à filosofia da linguagem dos primeiros tempos. Além disso, é possível que uma filosofia suficientemente ampla da l inguagem tenha de levar em conta não apenas a linguagem como fun­ ção e comunicação - que é o campo rumo ao qual parece ter se encaminhado a que outrora foi "mera fi­ losofia lingüística" -, mas também a linguagem como atividade perceptiva, isto é, como um conj unto de atos por meio dos quais um organismo constitui seu mundo como "sistema de realidade", o que equivale a consi­ derar que "o papel da l inguagem na comunicação [que a filosofia da l inguagem considera essencial] desen­ volveu-se sobretudo como um efeito secundário de seu papel básico na construção da realidade pela espécie" (cf. Jerry !. Jerison, "Paleoneurology and the Evolution of Mind", Scientific American, 234 [julho de 1 976), p . 1 0 1 , col. 1 ).

FILOSOFIA EXATA. De modo muito geral, a noção de filosofia exata e da "filosofia rigorosa" são equiva­ lentes; além disso, ambas podem ser consideradas espé-

FILOSOFIA GRECO-ROMANA

cies, ou "maneiras'', da chamada "filosofia científica"

(vER). Contudo, a expressão ' filosofia exata' foi utiliza­

da mais especificamente por Mario Bunge como desig­ nação de uma forma de filosofia (ou também de meta­ fisica: 'metafisica exata' ) que utiliza instrumentos lógi­ cos e matemáticos e que, se pode se converter, isolada­ mente, em uma série de exercícios formalistas, combi­ nada com urna cuidadosa atenção à ciência permite cons­ tituir uma filosofia científica. Exemplos de filosofia ("metafisica") exata são, segundo esse autor, o "cálcu­ lo de indivíduos" e várias teorias da possibilidade e do tempo estabelecidas por meios matemáticos e lógicos. Bunge iniciou urna série de reuniões e de publicações sob a designação de "Filosofia exata". Segundo um dos programas apresentados: "A exatidão, embora desej ável, não deve ser considerada um fim: é um meio para real­ çar a clareza e a sistematicidade, e com isso o controle. Tanto na filosofia como na ciência, a exatidão não ga­ rante a certeza; facilita a descoberta do erro e sua corre­ ção. A exatidão não assegura a profundidade e, com isso, o interesse, mas certifica a possibilidade de escrutínio racional. O ideal seria enfrentar problemas autênticos e profundos de modo exato. Entretanto, antes que se possa solucionar qualquer problema na filosofia exata, é pre­ ciso acumular um sortimento de teorias exatas". :l A expressão ' filosofia exata' já havia sido usada no século XIX por alguns filósofos da escola herbartiana (ver HERBART [JOHANN FRIEDRICH ]), como Otto Flügel (VER). Tratava-se de um movimento filosófico que se considerava "realista" e se opunha a todo idealismo. De 1 86 1 a 1 893 foram publicados vinte volumes da revista Zeitschriftfiir exakte Philosophie, im Sinne des neueren philosophis­ chen Realismus (Revista de filosofia exata no sentido do realismo filosófico moderno) (em 1 973 começou uma reimpressão desses voltunes). A revista estava a cargo de F. H. Allihn, Th. Ziller e Otto Flügel. �

FILOSOFIA EXISTENCIAL. Ver EXISTÊNCIA (FILO­ soFIA DA); EXISTENCIALISMO. FILOSOFIA GRECO-ROMANA. Assim é chamado o período posterior à filosofia grega (VER) propriamente dita. O marco dentro do qual se desenvolve esse período já não é o da Grécia e das colônias, mas o de todos os países compreendidos no I mpério romano e nas regiões helenizadas do I mpério de Alexandre. O que caracteriza essa época, na qual se inserem a constante cultural do alexandrinismo como forma histórica e o sincretismo greco-romano-j udeu-oriental, é a relativa ausência dos grandes sistemas de tipo platônico e aristotélico, com sua pretensão de alcançar a verdade fundada primor­ dialmente no logos. A tendência sistemática, que se re­ vela nos estóicos e culmina no neoplatonismo, tem um maior fundamento religioso - positivo ou não - e uma mai s acurada tendência moral. Na primeira fase desse

FILOSOFIA GHEGA

período, que pode ser qualificado simplesmente de he­ lenístico, surgem as escolas filosóficas pós-aristotéli­ cas que, com diferentes vicissitudes, atravessam a época imperial romana até perder-se na corrente do cristianis­ mo: os estóicos, os epicuristas, os céticos. Na segunda fase da assimilação romana da tradição grega e das correntes orientais, o trabalho filosófico centra-se nas escolas mencionadas e no platonismo, seja na tradição platônica pura, seja na Academia (vER). São caracterís­ ticas dessa fase o sincretismo e a formação dos grandes sistemas neoplatónicas, que representam o último flo­ rescimento da especulação grega e vêm inserir-se pro­ fundamente na especulação teológico-metafisica do pensamento cristão (ver CRISTIANISMO). As tendências pitagorizantes e a interpretação puramente metafisico­ rel igiosa de Platão triunfam com os neopitagóricos, com a especulação judeu-alexandrina de Fílon e com os su­ cessores de Plotino, principalmente com os neoplató­ nicos sírios, como Jâmbl ico. Na filosofia grego-roma­ na, que não constitui uma unidade propriamente filosó­ . fica, mas o resultado da atividade de um círculo cultural de significação muito complexa, também se insere a fase da passagem do paganismo para o cristianismo e a progressiva "fusão" da noção grega do logos com a noção cristã do Filho de Deus. A ativa intervenção das rel igiões e especulações orientais, especialmente sírias e egípcias, manifesta-se tanto em suas influências dire­ tas sobre o neoplatonismo e o cristianismo primitivo como no fato de que os próprios representantes das es­ colas filosóficas propriamente gregas e romanas não são sempre originários das províncias do Ocidente, mas pensadores procedentes do Oriente (além de Jâmblico, Porfirio e Possidônio, que são sírios, podem-se mencio­ nar os gregos alexandrinos de origem judaica, como Fí­ lon; os estóicos provinciais, como Sêneca; os apologis­ tas de origem africana, como Tertuliano etc.). Ver as partes dedicadas a esse período nas princi­ pais histórias gerais da fi losofia citadas na bibliografia do verbete FILOSOFIA (H1sT6RIA DA) e especialmente nas histórias da filosofia grega, citadas no verbete corres­ pondente. Além disso, ver a bibliografia do verbete CRISTIANISMO, particularmente as obras relativas ao he­ lenismo e ao cristianismo. :> Obras especificamente sobre a cultura e a filoso­ fia desse período : A . Schmekel, Die hellenistisch­ romische Philosophie, em Grosse Denker, ed. E. von Aster, 1 907. - E. Zingg, La philosophie pendant la période de l 'empire romain, 1 907. - P. Wendland, Die hellenistisch-riimische Kultur in ihren Beziehungen zu Judentum und Christentum , 1 90 7 . - D. G. Sunne, Some Phases in the Development of'the Subjective Point of View during the Post-Aristotelian Period, 1 9 1 1 . - J. Kaerst, "Das Wesen des Hellenismus", em Geschichte des hellenistischen Zeitalters, I I , 1 , 1 909. - Rudolf

1 076 Glaser, Griechische Ethik auf riimischem Boden, 1 9 1 4 (epicuristas e estóicos). - E . Neustadt, Die religiiise­ philosophische Bewegung des Hellenismus und der Kai­ serzeit, 1 9 1 4 . - Paul Elmer More, Hellenistic Philo­ sophies, 1 92 3 . - A. Schmekel, Die positive Philoso­ phie in ihrer geschichtlichen Entwicklung. !. Forschun­ gen zur Philosophie des Hellenismus, 1 93 8 . - Giulio Bonafede, Storia delia filosofia greco-romana, 1 949. - Alfonso Reyes, La .filosofia helenística, 1 959. Ph. Merlan, H. Chadwick et ai., The Cambridge History ofLater Greek and Early Mediaeval Philosophy, 1 967, ed. A . A . Armstrong. - John Herman Randal l Jr. , Hellenistic Ways ofDeliverance and the Making of' the Christian Synthesis, 1 970. - A. A. Long, Hellenistic Philosophy: Stoics, Epicureans, Sceptics, 1 974. - G. Reale, História da.filosofia antiga, 5 vols., 1 99 1 - 1 995 (ver bibliografia de FILOSOFIA GREGA). - G. Maurach, ed., Riimische Philosophie, 1 976. - J.-M. André, La philosophie à Rome, 1 977. - E . Rawson, lntellectual Life in the Late Roman Republic, 1 98 5 . - M. Griffin, J. Barnes, eds. , Philosophia Toga/a: Essays on Philoso­ phy and Roman Society, 1 989. - D. Furley, Cosmic Problems: Essays on Greek and Roman Philosophy of Nature, 1 989. - Ver também a obra, ainda fundamental hoje, de Fr. Susemihl, Geschichte der griechischen Li­ teratur in der A lexandrinerzeit, 2 vols., 1 89 1 - 1 892. Para a escola de Alexandria, ver a bibliografia de ALEXAN DRIA ( ESCOLA DE) e NEOPLATONISMO. Desde 1 984 existe a revi sta A ncient Philosophy, ed. Ronald M. Polansky. i::

FI LOSOFIA GREGA. Se se entende por ' fi losofia grega' o pensamento filosófico expresso em grego, deve-se incluir nela a chamada "filosofia grega clássi­ ca" (dos pré-socráticos a Aristóteles), a "filosofia hele­ nística" - às vezes em conjunção com a chamada "filo­ sofia greco-romana" -, a filosofia bizantina e a filoso­ fia em língua grega moderna. Em geral estas duas últi­ mas são excluídas e as duas primeiras, i ncluídas; toda­ via, como dedicamos um verbete especificamente à se­ gunda, sob o nome de "filosofia greco-romana", a filo­ sofia grega abarcará apenas o período clássico, com re­ ferências às escolas pós-aristotélicas e à influência do pensamento grego. Na medida em que se confina, justificadamente ou não, a história da filosofia à h istória da filosofia ocidental, considera-se que a filosofia começou na Gré­ cia - principalmente nas colônias gregas da Ásia me­ nor - e que a filosofia grega é o primeiro período dessa história. Esse período é freqüentemente conside­ rado o mais importante, uma vez que a maior parte dos problemas filosóficos fundamentais foram estabeleci­ dos na Grécia. Debateu-se até que ponto a filosofia grega é inde­ pendente de outras tradições culturais (da Mesopotâ-

1 077 mia, do Egito etc.). Influências dessas tradições podem ser encontradas, mas, ao mesmo tempo, também se po­ de afirmar que a filosofia grega se constituiu, em boa parte, independentemente. Também se discutiu se há ou não traços comuns a toda a filosofia grega, ao menos ao período "clássico". Se eles existem, expressam-se em um certo tipo de questão como "O que é 'o ser' (a realidade, o mundo)?", "Como pode ser conhecida a verdade (sem se consultarem os deuses ou o destino)?", "Em que linguagem ou median­ te que faculdades se pode falar sobre o que é, na verdade, 'o ser' (a realidade, o mundo)?". Estas perguntas não são as únicas - especialmente a partir do chamado "pe­ ríodo antropológico"; a filosofia grega interessou-se por questões acerca da natureza do ser humano, da lingua­ gem, da sociedade, do Estado j usto etc., mesmo que em muitos casos se considerasse que o ser humano era um componente ou elemento da realidade cósmica. Para os primeiros filósofos gregos, os milésios, a chamada, para abreviar, "questão do ser" foi respondi­ da a partir de um ponto de vista cosmológico e "mate­ rial". Por isso sua filosofi a é aproximadamente uma física, mas uma física que não se preocupa com a medi­ ção, e sim com a descoberta da matéria que é dentro da matéria que acontece. Na série de filósofos pré-socrá­ ticos posteriores aos jônicos, a pergunta pelo ser vai se definindo; no pitagorismo já encontramos como ser as relações harmônicas e, em última análise, os números. Heráclito de Éfeso acentua o perpétuo fluir do devir e vê no fogo - que muda constantemente e, contudo, per­ manece idêntico - o símbolo do processo cósmico. Parmênides, ao assinalar os caracteres ontológicos do ser e ao identificá-lo com o pensar, já formula a questão em toda a sua madureza; ele é propriamente o fundador da metafísica ocidental e aquele que orienta o sentido da posterior especulação filosófica. Com o século V a.C. aparecem, por um lado, os continuadores do cha­ mado período cosmológico (Empédocles, Anaxágoras, Demócrito), que elaboraram sistemas coerentes de ex­ plicação do universo baseados na constância do mes­ mo problema, e por outro, a corrente dos sofi stas que, ao dirigir o interesse da reflexão para o homem e para os problemas humanistas, dão um novo curso à história do pensamento grego. Esse novo curso culmina em Só­ crates, que antepõe a todas as demais questões o proble­ ma da salvação do homem concebido como o problema da consecução de sua felicidade. Durante essa época predominam as reflexões morais em torno da pergunta pelo lugar do homem no universo. Platão unifica essas duas preocupações - a preocupação pelo ser e a preo­ cupação pela salvação - em seu sistema das idéias e em sua identifi cação da idéia suprema com o Bem. Aristóteles representa a primeira grande recapitulação do espírito grego, recapitulação que se manifesta não

FILOSOFIA GREGA

somente no fato de já conceber a evolução do pensa­ mento helênico a partir de um distanciamento histórico, mas também, e muito especialmente, no fato de que nele cheguem a uma culminação e a uma relativa conci­ l iação correntes diversas. O pensamento de Aristóteles desenvolve-se desse modo em dois planos: no da ampli­ tude, como recapitulação, e no da profundidade, como ataque direto às questões centrais da filosofia primeira e particularmente à questão fundamental do movimento. A diversificação de tendências que se acentua após Aristóteles parece expressar uma decadência do espírito grego, mas é antes a primeira grande crise dentro da crise quase permanente da filosofia. Por isso, se de um ponto de vista histórico pode-se falar de uma filosofia greco-romana (vER), que compreende desde Aristóte­ les até o final do mundo antigo, esse período não deixa de fazer parte de uma tradição grega agora dissolvida na unidade superior de uma tradição "antiga". E, por outro lado, não se pode confundir esse término da filo­ sofia grega propriamente dito com o término da tradição grega. Por um lado, esta última perdura até nossos dias, não apenas como um momento necessário na história da cultura, mas como a primeira manifestação da matu­ ridade filosófica; por outro, a filosofia grega experi­ menta sua primeira grande queda quando, com o cristia­ nismo, irrompe no mundo um princípio novo: o princí­ pio que pode ser chamado de um filosofar partindo do nada como possibilidade da criação. Por isso pode-se falar propriamente de uma culminação e, ao mesmo tempo, de uma derrubada da filosofia grega em Santo Agostinho. No cristianismo toma-se patente o novo tipo de preocupação, que é ao mesmo tempo preocupação com a alma como intimidade absoluta e preocupa­ ção com Deus. Isto é o que dá o tom da filosofia medie­ val, principalmente em suas orientações místicas, e o que a diferencia essencialmente da grega. Nela sobrevi­ vem os temas fundamentais da especulação grega, mas seu sentido e, portanto, suas respostas são diferentes. (Ver FILOSOFIA MEDIEVAL.) Em vários verbetes deste Dicionário nos estende­ mos sobre certos subperíodos da filosofia grega (como nos verbetes sobre os itálicos, j ônicos, pré-socráticos). Em outros nos referimos a certas importantes tendên­ cias que tiveram seu ponto de partida na filosofia grega e influenciaram o pensamento posterior do Ocidente (como nos verbetes sobre o aristotelismo e o platonismo). Também dedicamos verbetes a todas as escolas gregas importantes ( cirenaicos, epicuristas, estóicos, pitagóri­ cos etc.), assim como a tendências desenvolvidas na chamada filosofia greco-romana e que também podem ser inscritas no marco do pensamento grego (neopita­ gorismo, neoplatonismo etc.). Certos conceitos de inte­ resse especi ficamente histórico-filosófico relativos à filosofia grega também foram tratados separadamente

FILOSOFIA GREGA

(como nos verbetes sobre diádoco, escolarca etc.). É conveniente, pois, complementar a presente caracteriza­ ção dessa filosofia com a leitura dos verbetes a que fi­ zemos alusão. Terminaremos agora com algumas pala­ vras sobre a questão da significação da filosofia grega. Essa significação é única para a história do pensa­ mento (ao menos do pensamento ocidental). Com efei­ to, os filósofos gregos mostraram com toda a transpa­ rência um bom número das condições a partir das quais foi posteriormente erigido todo pensamento filosófico. Por exemplo, que a filosofia se move continuamente em uma peculiar tensão interna porque, sendo uma crença que substitui outra crença, quer ser ao mesmo tempo um conjunto de idéias claras que dissolvem toda cren­ ça como tal. Na Grécia essa condição se manifestou no fato de que a fi losofia surgiu para preencher um vazio que a mitologia já não podia preencher completamente, mas ao mesmo tempo serviu para apoiar racionalmen­ te uma parte substancial das crenças míticas. Mas, além disso, os fi lósofos gregos j á haviam adotado, mais ou menos rudimentarmente, as posições metafísicas últi­ mas, às quais se retorna sempre que se exige uma deci­ são fundamental acerca do que é o ser, o conhecimen­ to e mesmo o sujeito na medida em que conhece. Falou­ se por isso do "milagre grego", do que Renan chamou da "aparição si multânea ocorrida na raça helênica de tudo o que constitui a honra e o ornamento do espírito humano" - ou, com menos retórica, poder-se-ia dizer que na cultura e particularmente na filosofia grega temos um exemplo eminente de uma desproporção entre as causas e os grandiosos efeitos produzidos. Isso não significa, como pretendem alguns autores, que toda a fi losofia se reduza à filosofia grega ou que todo pro­ gresso filosófico tenha de ser um retorno às raízes do pensamento grego. Embora a filosofia não progrida da mesma fo rma que a ciência, tampouco se pode dizer que foi dada inteiramente desde suas origens. A repre­ sentação dessas origens por meio do exame da filosofia grega, no entanto, 0 cm geral mais fecunda que a refe­ rência a qualquer outro período da fi losofia. A ocupa­ ção com a fi losofia grega é, por isso, não apenas o resultado de uma curiosidade histórica, mas também, e sobretudo, de uma exigência filosófica. As principais fontes para o estudo da filosofia grega foram mencionadas no começo do verbete F1 Lo s oF IA (H1s1óR1A DA). Aqui nos limitaremos a dar conta das prin­ cipais edições críticas de textos historiogràficos e de compilações de fragmentos. :l Doxographi graeci, ed. H. Diels, Berolini, l 879 (nova ed., l 929), nos quais figuram a maior parte dos fragmentos doxogràficos que restaram das obras men­ cionadas no verbete citado anteriormente, assim como trechos de outros autores (p. ex. , Cícero) que servem para fins historiográficos. Várias edições de textos ser-

1 078 vem de complemento á compilação de Diels: P. Wend­ land ( 1 897), R. v. Scala ( 1 898), A. Baumstark ( 1 897), G . Pasquali ( l 9 l O). Cf. também E . Reitzenstein, Theo­ phrast bei Epikur und Lukrez, 1 924. - Fragmentos de Eudemo de Rodes em L. Spengel, Eudemii Rhodii Peri­ patetici fragmenta, 1 866, reed. 1 870. Outros fragmen­ tos de peripatéticos, na série editada por F. Wehrli : Die Schule des A risloteies (l. Dikaiarchos, 1 944; l i . A risto­ xenos, 1 945; I l i . Klearchos, 1 948; IV: Demetrios von Phaleron, 1 949; V: Straton von lampsakos, 1 950; VI. Lykon und A riston von Keos, 1 952; V II. Herakleides Pontikos, 1 95 3 ; V I I I , Eudemos von Rhodos, 1 95 5 ; I X. Phainias von Eresos, Chamaileon, Praxiphanes, 1 957; X. Hieronymos von Rhodos, Kritolaos und seine Schü­ ler. Riickblick: Der Peripatos in vorchristlicher Zeít. Re­ gister, 1 959). - Fragmenta philosopharum graecorum, ed. F. W. A. Mullach, 1. Lutetia Parisiorum, 1 860; li, id., 1 86 7; Ili, id., 1 8 8 1 , reimp. 1 966 (contém pré-socrá­ ticos, pitagóricos, sofistas, cínicos, platônicos, peripaté­ ticos ). - Poetarum philosophorumquefragmenta, ed. H. Diels, Berolini , 1 90 1 . - Fragmenta historicum grae­ corum, ed. C. Müller, Lutetia Parisiorum , 4 vols., 1 84 1 1 85 1 ; vol. 5 , l 870 (ver especialmente o vol . 3 para os fragmentos de interesse filosófico). Esta obra foi supe­ rada por Die Fragmente der griechischen Historiker, ed. F. Jacoby, Berlim, l 923ss. - Fragmentos de inte­ resse filosófico também podem ser encontrados nas edições de textos médicos, assim como nos Scriptores physiognomonici Graeci et latini, ed. R. Foerster, Lip­ siae, 2 vols., 1 893, e outros. - As edições de D. Laércio foram mencionadas no verbete correspondente. Ver tam­ bém, para informação sobre edições, as bibliografias de D1Áooco, ITÁLICOS, JóN1cos, M1LÉs1os, PRÉ-socRÁTl­ cos. Em cada bibliografia dos diferentes filósofos pré­ socráticos indicamos os capítulos correspondentes da edição de Fragmentos por Diels-Kranz (o capítulo da quinta edição - as edições posteriores à quinta são reedições - e, entre parênteses, o da primeira). Para os outros fi lósofos gregos também pode ser encontrada indicação das edições nos verbetes correspondentes. A isso deve ser acrescentada a informação contida nas bi­ bliografias de ARISTOTELISMO, CiN1cos, ClRENAICOS, Er1CURISTAS, ESTÓICOS, NEOPLATONISMO, NEOPITAGORISMO, PLATON ISMO, PERIPATÉT!COS etc. - Informação abundan­ te se encontra em A. F. von Pauly, Real-Enzyklopiidie der klassischen Altertumswissenschaft, reelaborado por G. A. Wissowa (citado como Pauly-Wissowa), W. Kroll, K. Mittelhaus, K. Ziegler, l 894ss. - Muito usada é a compi lação de H. Ritter e L. Preller, Historia philoso­ phiae Graecae et Romanae ex fontium locis contexta (citada como P. L.), ed. Preller ( Hamburg, 1 838); 1 0ª ed. , muito melhorada, por E. Wellmann, 1 9 1 4. Mais moderna e conveniente é a compilação de C. J. de Vogel, Greek Philosophy, 1, 1 950, 4ª ed. 1 969; li, 1 95 3 , 3ª ed.

1 079 1 967; III, 1 959, 3ª ed. 1 973, com textos gregos e notas em inglês. Repertórios bibliográficos: O. Gigon, Antike Philo­ sophie, em Bibliographische Einfiihrnngen in das Stu­ dium der Philosophie, ed. !. M. Bochenski, vol. 5, 1 948. - Rodolfo Mondolfo, Guía bibliográfica de la filosofia antigua, 1 959 [suplemento a E/ pensamiento antiguo, cf. infra]. Sebastián Cirac Estopaiíán, t\ O í O I . Mono­ grafia y síntesis bibliográfica de filosofia griega, 1 960. - J. A. Nuiío Montes, Filosofia antigua, 1 962. Obras gerais sobre o espírito grego: U. von Wilamo­ witz-Moellendorff, Der G/aube der Hellenen, 2 vols., 1 93 1 - 1 93 2 . -- Werner Jaegger, Paideia, die Formung des griechischen Menschen, 1 ( 1 933); II ( 1 944); III ( 1 945) (trad. bras. : Paideia. A formação do homem gre­ go, 1 995). - Rodolfo Mondolfo, E/ genio helénico y los caracteres de sus creaciones espirituales, 1 943. !d., E/ genio helénico, 1 956 (obra distinta da anterior). - Eduardo Nico!, La idea dei hombre, 1 947. - M. Pohlenz, Der hellenische Mensch, 1 948. Ver também "Estudos de interpretação", infra. - Para aspectos ou problemas particulares, ver as bibliografias dos dife­ rentes verbetes deste dicionário (ATOMISMO, CIÊNCIA, ÉncA, INFINITO, MATÉRIA, METAFis1cA, RELIGIÃO, Suss­ TÃNCIA etc.); nelas nos referimos a obras do tipo das de Pierre Duhem ( s i stemas cosmológicos), Rodo l fo Mondolfo ( infinito), Nartorp (conhecimento), Heinze, Aall (Logos), Brochard (ceticismo), Teichmüller (ca­ tegoria) etc. Obras gerais sobre a filosofia grega: Depois de Ch. August Brandi s (Handbuch der Geschichte der griechisch-romischen Philosophie, Parte !, 1 83 5 ; Parte II, Seç. 1 , 1 844; Parte I I , Seç. 2. Primeira metade, 1 85 3 ; !d., Segunda metade, 1 857; Parte I I I , Seç. 1 , 1 860), apareceu a obra que ainda hoje continua sendo conside­ rada fundamentai : Eduard Zeller, Die Philosophie der Grieschen. Eine Untersuchung über Charakter, Gang und Hauptmomente ihrer Entwicklung (Parte 1. A llge­ meine Einleitung. Vorsokratische Philosophie. l i . So­ krates, Plato, A ristoteles. III . Die nacharistote/ische Philosophie), 1 844, 1 846, 1 852. A segunda edição, mo­ dificada, apareceu sob o título: Die Phi/osophie der Grieschen in ihrer Entwicklung dargestellt, 5 vols., 1 859- 1 868. As últimas edições são: 1, 1. Vorsokratiker, erste Hiilfte, 7ª ed. , ed. W. Nestle, 1 92 3 . 1, 2. Vorsokra­ tiker, zweite Hiilfte, 6ª ed., ed. W. Nestle, 1 920. I I , 1 . Sokrates, Sokratiker. P/aton, A lte Akademie, 5" ed., com apéndice de E. Hoffmann, 1 922. I I , 2. A ristoteles. a/te Peripatetiker, 4ª ed., 1 92 1 . I I I , 1 . Nacharistelische Phi­ losophie, erste Hiilfte, 4ª ed., ed. E. Wellmann, 1 909. III, 2 . Nacharistotelische Philosophie, zweite Hii/fte, 5ª ed, 1 92 3 ; reed. F. Lortzing, W. Nestle, E. Wellmann, 6 vols., l 962ss. Há trad. italiana, com muitas ampl ia­ ções, por Rodolfo Mondolfo: La filosofia dei Greci,

FILOSOFIA GREGA

l 932ss. - É importante também: Theodor Gomperz, Griechische Denker, 3 vols., 1 893- 1 902 (! e II na 3" ed. , 1 9 1 1 , 1 9 1 2; III na 3ª e 4ª, 1 94 1 ) (trad. esp . : Pensa­ dores griegos, 3 vols., 1 952- 1 953). - W. K. C. Gu­ thrie, A History of Greek Philosophy, 6 vols. (!, 1 962; II, 1 965; III, 1 969; I V, 1 97 5 ; V, 1 978; VI, 1 98 1 ) . - G. Reale, História da filosofia antiga, 5 vols. (!: Das ori­ gens a Sócrates, 3ª ed., 1 999; I I : Platão e A ristóteles, 2ª ed. , 1 997; I I I : Os sistemas da era helenística, 2ª ed., 1 998; IV: As escolas da era imperial, 1 994; V: Léxico, índices, bibliografia, 1 995). As histórias gerais da filosofia são citadas no ver­ bete FILOSOFIA (HISTÓRIA DA); também podem ser con­ sultados especialmente o tomo 1 de Ueberweg-Heinze e, para a história dos problemas, a obra de Windelband. - Ver: Hans von Arnim, Die europiiische Philosophie des A ltertums, 1 909 (em Die Kultur der Gegenwart, ed. P. Hinneberg, !, 5). - Richard Hiinigswald, Die Philosophie des A ltertums. Problemgeschichtliche und systematische Untersuchungen, 1 9 1 7. W. T. Stace, A Criticai History ofGreek Philosophy, 1 920. - Karl Joel, Geschichte der antiken Philosophie, 1 92 1 . W. Capelle, Die griechische Philosophie, 4 vols., 1 9301 934; 2ª ed. , 1 953- 1 954; 3ª ed .. 2 vols., 1 97 1 . - W. Kranz, Die griechische Philosophie, 1 939. - A. H . Armstrong, A n lntroduction t o A ncient Philosophy, 1 947; 2ª ed., 1 949. - C. Carbonara, La filosofia greca, 1 95 1 ss. - D. Gal li, li pensiero greco, 1 954. - G. R. de Yurre, Historia de la filosofia griega desde Tales hasta A ristóteles, 1 954. - Jacques Chevalier, Histoire de la pensée ( 1 . La pensée antique, 1 95 5 ) . - Ch. Re­ nouvier, Manuel de philosophie ancienne, 2 vols., 1 844. W. A. Butler, Lectures on the History of Ancient Phi/osophy, 1 856; 2ª ed., por W. T. Thomson, 2 vols., 1 866. - W. Windelband Geschichte der alten Philo­ sophie nebst einem A nhang: A briss der Geschichte der Mathematik und der Naturwissenschafi im Altertum, 1 8 88; 3ª ed., por A. Bonhiiffer, 1 9 1 2 . - Para uma história com base em textos ver Rodolfo Mondolfo, li pensiero antico: Storia dei/a filosofia greco-romana, 1 928 (trad. bras. : O pensamento antigo. História da filosofia greco-romana, 2 vols., 2ª ed., 1- i 966/Il- 1 967). Muito numerosas são as obras especialmente consa­ gradas à filosofia pré-socrática ou anterior a Platão; ver PRÉ-SOCRÁTICOS. Estudos de interpretação: V. Brochard, Études de philosophie ancienne et de philosophie moderne, 1 9 1 2. - G. Rodier, Études de philosophie grecque (compi­ lados por É. Gilson), 1 926. - Ettore Bignone, Studi sul pensiero antico, 1 93 8 . - X. Zubiri , "Grecia y la pervivencia dei pasado fi losófico", em Naturaleza, Historia. Dios, 1 944 . - Bruno Snel l, Die Entdeckung des Geistes. Srudien zur Entstehung des europiiischen Denkens bei den Grieschen , 1 946; 3ª ed., ampl., 1 95 5 . -

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FILOSOFIA HEBRAICA

- E. R. Dodds, The Greeks and the lrrational, 1 95 1 . - É . Bréhier, Études de philosophie antique, 1 95 5 . Julius Stenzel, Kleine Schr!fien zur griechischen Philo­ sophie, 1 956, ed. Bertha Stenzel, com a ajuda de Hans Diller e Gerhard Mül ler. - Olof Gigon, Grundpro­ bleme der antiken Philosophie, 1 959. - George Boas, Rationalism in Greek Philosophy, 1 96 1 . - Robert Brumbaugh, The Philosophers of Greece, 1 967. - C. J. de Vogel, Philosophia, !: Studies in Greek Philosophy, 1 970 (coletânea de trabalhos). - D. E. Gerber, ed., Greek Poet1y and Philosophy: Studies in Honour of Leonard Woodbury, 1 984. - R. M . Baird et ai., eds., Contemporary Essays on Greek ldeas: The Kilgore Festschriji, 1 987. - D. Furley, Cosmic Problems: Es­ says on Greek and Roman Philosophy ofNature, 1 989. - P. Nicolacopoulos, ed., Greek Studies in the Philoso­ phy and Histo1)1 of Science, 1 990. Desde 1 984 existe a revista Ancien t Philosophy, ed. Ronald. M. Polansky. As primeiras histórias "formais" e "completas" da filosofia, distintas da mera referência ao passado filosó­ fico, apareceram no século XVIII, embora somente após Hegel tenha se constituído uma história da filosofia como disciplina específica (às vezes considerada inclu­ sive a mais essencial) e como algo distinto de uma des­ crição de "seitas" que se repetem continuamente ou, segundo a expressão de Brucker, como infinita falsae philosophiae exempla. A obra The History ofPhiloso­ phy, de Thomas Stanley (trad. latina por G. Olearius, 1 7 1 1 ) , trata apenas da filosofia pré-cristã e, como a maior parte das obras histórico-fi losóficas antes de He­ gel, em um sentido semelhante ao de Diógenes Laércio, como compêndios de placita philosophorum e com in­ sistência em aspectos anedóticos. O l ivro de Jacobus Thomasius, Schediasma historicum, quo varia discu­ tiuntur ad historiam tum philosophicam, tum ecclesias­ ticam pertinentia, 1 665, assim como as Origenes histo-

1 083 riae philosophicae et ecclesiasticae, ed. Ch. Thomasius, 1 699, apresentam o passado filosófico na fonna de exem­ plos para discussão. As "primeiras histórias" são as de D. (Deslandes), Histoire critique de la philosophie, 3 vols., 1 730- 1 736, e Johann Jakob Brucker, Kurze Fra­ gen aus derphilosophischen Histoire, 7 vols., 1 73 1 - 1 736 (com suplementos, 1 73 7 ) , Historia critica philosophiae a mundi incunabulis ad nostram usque aetatem deducta, 5 vols., 1 742- 1 744; 2ª ed., 6 vols., 1 766- 1 767, e Insti­ tutiones historiae philosophicae usui acad. juventutis adornatae, 1 747 (das quais a Historia critica philoso­ phiae é considerada a principal). A obra de Brucker con­ sidera a filosofia leibniziana como a verdadeira e todas as demais "seitas" como "história de erros". Depois apa­ receram Agatopisto Cromaziano (Appiano Buonafede), Della istoria e della indo/e di ognifilosofia, 1 766- 1 78 1 . - Chr. Meiners, Grundriss der Geschichte der Weltweis­ heit, 1 786. - Dietrich Tiedemann, Geist der spekula­ tiven Philosophie, 7 vols., 1 79 1 - 1 797. - Johann Gottlieb Buhle, Lehrbuch der Geschichte der Philosophie und einer kritischen Literatur derselben, 8 vols., 1 796- 1 804; Geschichte der neueren Philosophie seit der Epoche der Wiederherstellung der Wissenschaften , 6 vols., 1 800- 1 805. - Tomás Lapeiía, Ensayo sobre la historia de la filosofia, 1 806. As obras subseqüentes parecem ter um espírito mais histórico: Johann Andreas Ortloff, Handbuch der Literatur der Geschichte der Philosophie, 1 798, reimp. 1 967. - Wilhelm Gottlieb Tennemann, Geschichte der Philosophie, 1 1 vols., 1 798- 1 8 1 9 (incompleta, pois de­ via chegar aos 1 3 tomos); versão reduzida em Grundriss der Geschichte der Philosophie fiir den akademischen Unterricht, 1 8 1 2; 3ª ed. elaborada por Amadeus Wendt; 5ª ed., 1 829. - Friedrich Ast, Grundriss einer Geschi­ chte der Philosophie, 1 802. - Joseph Marie Degéran­ do, Histoire comparée des systemes de la philosophie, 3 vols., 1 822- 1 82 3 . - T. Anselm Rixner, Handbuch der Geschichte der Philosophie, zum Gebrauche seiner Vorlesungen, 3 vols., 1 822- 1 823 (suplemento por Victor Philipp Gumposch, 1 85 0 ) . - Ernst Reinhold, Hand­ buch der allgemeinen Geschichte der Philosophie, 3 vols., 1 828- 1 830; Lehrbuch der Geschichte der Philo­ sophie, 1 836; Geschichte der Philosophie nach den Hauptmomenten ihrer Entwicklung, 3 vols.; 5ª ed., 1 858. - A elas se seguiu a muito utilizada obra de Heinrich Ritter, Geschichte der Philosophie, 12 vols. , 1 829- 1 853 (até Kant; completada a partir de Kant em 1 853 ) ; o mesmo Ritter editou as l ições de Schleierma­ cher: Geschichte der Philosophie, 1 839. -- Uma descri­ ção de todas essas "primeiras histórias" encontra-se no § 4 da Bibliografia da História de Ueberweg (tomo 1), que citaremos abaixo. - Uma análise dessas primei­ ras histórias e do problema estabelecido por elas para o estudo da história da filosofia pode ser encontrada

FILOSOFIA (HISTÓRIA DA)

no livro de Francisco Romero, Sobre la historia de la filosofia, 1 943 (especialmente a parte intitulada A mundi incunabulis, título extraído precisamente da obra de Brucke r) . Também de F. Romero, "La historia de la filosofia según Hegel, N. Hartmann y G. Kafka'', Cua­ dernos Americanos, ano 2 1 , n. 2 ( 1 962 ) , 1 27- 1 47, reimp. em La estructura de la historia de la filosofia y otros ensayos, 1 967. A mudança decisiva na orientação histórico-filosó­ fica é constituída, como já foi dito, pelas lições de He­ gel: Vorlesungen über die Geschichte der Philosophie, editadas por Karl Ludwig M ichelet, 3 vols. (vols. XIII­ XV da edição de Werke, 1 833- 1 835; 2ª ed., 1 840- 1 843; trad. esp . : Lecciones de historia de lafilosofia, 3 vols., 1 95 5 ) . Desde então os hegelianos (na Alemanha) e os cousinianos (na França) desenvolveram consideravel­ mente os estudos histórico-filosóficos, incluindo estu­ dos parciais de autores ou épocas e edições críticas de filósofos. Um ponto de vista hegeliano tem G. Oswald Marbach, Lehrbuch der Geschichte der Philosophie (1. Geschichte der griechischen Philosophie, 1 83 8 . II. Ges­ chichte der Philosophie des Mittelalters, 1 84 1 ); o mes­ mo ocorre com Julius Braniss, Geschichte der Philoso­ phie seit Kant, 1, 1 842. As histórias mencionadas a se­ guir já são consideradas "modernas" e algumas delas foram utilizadas há até pouco tempo: H. C. W. Sigwart, Geschichte der Philosophie, 3 vols., 1 844. - Albert Schwegler, Geschichte der Philosophie im Umriss, ein Leitfaden zur Übersicht, 1 848; 1 6ª ed., elaborada por R. Koeber, 1 90 5 . - Martin von Deutinger, Geschichte der Philosophie, 1 852- 1 85 3 . - Ludwig Noack, Ges­ chichte der Philosophie in gedriingter Übersicht, 1 853. - F. Michelis, Geschichte der Philosophie von Thales bis aufunsere Zeit, 1 865. -- Johann E. Erdmann, Grun­ driss der Geschichte der Philosophie, 2 vols., 1 866; 4ª ed., elaborada por Benno Erdmann, 1 896. - Deve-se levar em conta que a maior parte das histórias eram re­ digidas a partir do ponto de vista de alguma escola ou filósofo; desse modo, a de Erdmann é principalmente hegeliana; a de Alb. Stõckl ( 1 870 ) , católica; a de Düh­ ring, materialista; a de F. Ch. Põter ( 1 873- 1 882 ), schleier­ machiana; as de O. Flügel ( 1 876) e Chr. A. Thilo ( 1 876 ) , herbartianas etc. Nos países latinos teve especial in­ fluência a edição dos Cursos e fragmentos de Cousin mencionados na bibliografia do verbete dedicado a esse filósofo. Em francês também apareceram: J. F. Nourri­ son, Tableau des progres de la pensée humaine depuis Thales jusqu 'à Hegel, 1 85 8 . - N. J. Laforet, Histoire de la philosophie (1. Antique), 1 867. - Alfred Weber, Histoire de la philosophie européenne, 1 874 (atualizada por vários autores na ed. de D. Huisman); a muito utili­ zada história de Alfred Fouillée, Histoire de la philoso­ phie, 1 874; a de P. Janet e Gabriel Séailles, Histoire de la philosophie. Les problemes et les écoles, 1 8 87. -

FILOSOFIA ( HISTÓRIA DA)

Em inglês destacaram-se : George Henry Lewes, A Bi­ bliographical History of Philosophy from lts Origin in Greece down to the Present Day, 4 vols., 1 845- 1 846. - Robert Blakey, History of"the Philosophy of Mind, fiwn the Earliest Period to the Present Time, 4 vols., 1 848. - J. Haven, A History of Ancient and Modern Philosophy, 1 876. - Asa Mahan, A Criticai History ofPhilosophy, 1 884. - W. Turner, History ofPhiloso­ phy, 1 903. - Em italiano, além dos estudos histórico­ filosóficos dos neokantianos e hegelianos, destacaram­ se as obras de R. Bobba, Storia dellafilosofia rispetto alia conoscenza di Dio da Taletefino di giorni nostri, 4 vols., 1 873 - 1 874. - A. Conti , Storia dellafilosofia, 2 vols., 1 882. - Cario Cantoni, Storia compendiosa della filosofia, 1 8 87. - Na Espanha, a história de Ceferino González, Historia de lafilosofia, 4 vols. , 1 879, muito util izada, sobretudo nos meios neo-escolásticos. A partir dos últimos anos do século XIX, aumentou consideravelmente o número de histórias publicadas (e o número de estudos histórico-filosóficos parciais aos quais nos referimos nos distintos verbetes deste Di­ cionário). Indicamos apenas as mais importantes. A obra fundamental é, evidentemente, o Grundriss der Geschichte der Philosophie de Ueberweg, 1 863- 1 866, várias vezes reelaborado e ampliado, primeiro por Max Heinze (costuma ser citado como Ueberweg-Heinze), depois por vários autores; a última edição, completada em 5 vols., compreende: 1 . Das A ltertum, por K. Praech­ ter, 1 2ª ed., 1 926; II. Die patristische und scholastische Zeit, por B. Geyer, 1 1 ª ed., 1 928; III. Die Neuzeit bis zum Ende des achtzehnten Jahrhunderts, por M. Frischei­ sen-Kiihler e W. Moog, 1 2ª ed. , 1 924; IV Die deutsche Philosophie im 1 9. Jahrhundert und die Gegenwart, por T. K. Oesterreich, 1 2ª ed. , 1 92 3 ; V (muito i nferior ao resto), Die Philosophie des Auslandes im 1 9. Jah­ rhundert und die Gegenwart, por T. K. Oesterreich e vários outros autores, 1 2ª ed. , 1 92 8 . Existe uma nova edição do Ueberweg-Heinze muito modificada e am­ pliada em 7 vols. , redigida por numerosos colaborado­ res sob a direção de Wilpert, Geyer, Meyer, Lübbe, Ha­ cker, Barth e outros, l 972ss. - Fundamental para a história da filosofia como história dos problemas é Wi­ lhelm Windelband, lehrbuch der Geschichte der Philo­ sophie, 1 892; várias edições: a última ( 1 5ª) com apêndi­ ce sobre o pensamento do século XX por Heinz Heim­ soeth, 1 95 7 (trad. esp. de uma ed. anterior: Historia de la filosofia, I , I I , 1 94 1 ; I I I , 1 942; IV, 1 943; V, VI, 1 942; VII, 1 943). - Muito centrada em Kant é J. Bergmann, Geschichte der Philosophie (!. Die Philosophie von Kant, 1 892; I I . Die deutsche Philosophie von Kant bis Beneke, 1 893). - Chega apenas até uma parte da filosofia grega e é importante especialmente para o pensamento orien­ tal a chamada História geral da filosofia de Deussen (citada no verbete F I LOSOFI A ORIENTAL ) . - Muito com-

1 084 pielas, embora sem muita unidade, são as coleções de história da filosofia escritas por vários autores: a A llge­ meine Geschichte der Philosophie (em Die Kultur der Gegenwart, ed. por P. Hinneberg), na qual colaboraram W. Wundt (filosofia dos povos primitivos), H. Olden­ berg (filosofia i ndiana), W. Grube (filosofia chinesa), T. I nouye (filosofia j aponesa), H . von Arnim (filosofia européia antiga), CI. Baueumker (filosofia patrística), 1. Goldzihep ( filosofia muçulmana e j udaica), C l . Baueumker (fi losofia cristã medieval), W. Windelband (filosofia moderna); a Geschichte der Philosophie (Teubner, 7 vols.), na qual colaboraram E. Hoffmann, K. Kroner, S. Marck, Jonas Cohn; A Geschichte der Phi­ losophie, em 1 1 vol s . : volumes !-IV, Die griechische Philosophie, por Wilhelm Capelle (!, 2ª ed., 1 95 3 ; I I , 2 ª e d . , 1 95 3 ; I I I , 2 ª ed. , 1 954; I V, 2 ª e d . , 1 954); V Die Philosophie des Mittelalters, por Josef Koch; VI, Von der Renaissance bis Kant, por Kurt Schilling, 1 954; VII, lmmanuel Kant, por Gerhart Lehmann; VIII-IX, Philosophie des I 9. Jahrh. , por Gerhart Lehmann, par­ tes 1 e 2, 1 95 3 ; X-XI, Die Philosophie im ersten Drittel des 20. Jahrhunderts, por Gerhard Lehmann, parte 1 , 1 957, parte 2 , 1 960. - Muito detalhado em relação a Kant e ao neokantismo e muito utilizado durante um tempo em países de língua espanhola é o manual de Karl Vorlander, Geschichte der Philosophie, 1 902; 7ª ed., 3 vols., 1 927; reed. aos cuidados de E. Metzke, 1 949; 9ª ed. , revisada por H. Knittermeyer, 1 95 5 . H istórias relativamente extensas: August Messer, Geschichte der Philosophie, 3 vols., 1 9 1 2- 1 926. - Guido de Ruggiero, Storia dellafilosojia, 1 4 vols., 1 920- 1 934 (várias eds. de tomos soltos). - Émile Bréhier, Histoire de la philosophie, 2 vols., 1 926- 1 932. - Ernst von Aster, Geschichte der Philosophie, 1 93 3 ; 1 5" ed., 1 968. - E . Paolo Lamanna, Storia della .filosofia, 4 vols., 1 940- 1 964. - Julián Marías, Historia de la filosofia, 1 94 1 ; 27ª ed. , 1 97 5 . - K. Schilling, Geschichte der Philosophie, 2 vols., 1 943- 1 944; 2ª ed., 1 95 1 - 1 954. Frederick C. Copleston, A History ofPhilosophy, 9 vols., 1 946- 1 975 (várias eds. de tomos soltos). - W. Tatarkie­ wicz, Historiafilozofi, 3 vols., 1 946- 1 950; 2ª ed. , 1 958. - Émile Gouiran, Historia de la .filosofia, 1 947. Bertrand Russell, A History ofWestern Philosophy, 1 947 (trad. bras. : História da .filosofia ocidental, 3 vols., 1 957). - Albert Rivaud, Histoire de la philosophie, 5 vols., 1 948- 1 968. - Nicola Abbagnano, Storia della ilosofia, 3 vols., 1 949- 1 95 3 ; 2ª ed. , 1 963. - Johannes f Hirschberger, Geschichte der Philosophie, 2 vols., 1 949- 1 952; 8ª ed. , 1 969. - A. Aróstegui , Esquemas para una historia de la .filosofia occidental, 1 95 3 . Jacques Chevalier, Histoire de la pensée, 4 vols., 1 9551 966. - M. A. Dynnik et ai. , Jstoriya_filosofii, 6 vols., 1 957- 1 965 . - C. Ottaviano, Manuale di storia della filosofia, i, 1 95 8 . - Anders Wedberg, Filosofins histo-

FILOSOFIA (HISTÓ RIA DA)

1 085 ria. A ntiken och medeltiden, 1 95 8 [antiga e medieval; tratamento "lógico" dos filósofos] . - É tienne Gilson, ed., A History of Philosophy. I: Anton Pegis, Ancient Philosophy, 1 96 1 ; I I : Armand A. Maurer, C. S. B., Me­ dieval Philosophy, 1 962; I l i : É. Gilson e Thomas Lan­ gan, Modern Philosophy: Descartes to Kant, 1 963; IV: É. Gilson e Thomas Langan, Recent Philosophy: Hegel to the Present, 1 966. - John Herman Randall Jr., The Career ofPhilosophy, I : 1 962; I I : 1 965 (cf. Chapters for the Career o/Philosophy III, and Other Essays, 1 977). - Wilhelm Totok, Handbuch der Geschichte der Philo­ sophie, 5 vols., 1 964- 1 986. - R. L. Shaw, G. J. Warnock et ai., A Criticai History of Western Philosophy, 1 964, ed. D. J. O'Connor. - Juan David García Bacca, Leccio­ nes de historia de la filosofia, 2 vols., 1 972- 1 973 (!: Filosofias de interpretación y reinterpretación dei uni­ verso [Demócrito, Platão, Aristóteles, Tomás de Aquino, Duns Scot, Descartes]; II: Filosofias de transformación dei universo [Kant, Hegel, Marx]. - Augusto Guzzo, Storia dellafilosofia e della civiltà, per Saggi, 1 2 vols., 1 973- 1 976. - VV. AA., Historia general de lafilosofia, 1 976 ss. ( ! : La filosofia presocrática, ed. Fernando Montero Moliner). - L. Geymonat, Storia dei pensie­ ro .filosofico e scientifico, 7 vols., 1 972. - G. Santi­ nello, ed., Storia delle storie generali della.filosofia, 5 vais., l 979ss. (!. Dalle origini rinascimentali alia "his­ toria philosophica "; I I , Dell 'età cartesiana a Brucker; III, !/ secando illuminismo e / 'età kantiana; IV, L 'età hegeliana; V, II secando Ottocento ). - Enciclopedia Iberoamericana de Filosofia, 3 5 vols., l 992ss. Sobre o problema da história da filosofia (além do prefácio de J. Ortega y Gasset à edição espanhola da História de Bréhier, e dos trabalhos de Francisco Rome­ ro e J. Freyer, vid. supra): Gustav Kafka, Geschichtsphi­ losophie der Philosophiegeschichte, 1 93 3 . - Nicolai Hartmann, Derphilosophische Gedanke und seine Ges­ chichte, 1 936, reimp. em Kleinere Schriften, II, 1 957, pp. 1 -48. - Hunter Guthrie, Introduction au probléme de l 'histoire de la philosophie: La métaphysique de / 'individualité a priori de la pensée, 1 93 7 (tese). - É . Bréhier, La philosophie et son passé, 1 940; 2ª ed., 1 950. - Henri Gouhier, La philosophie et son histoire, 1 94 7. - Armando Carlini, Filos()fia e storia delia .filosofia, 1 95 1 . - E. Husserl, H. Gouhier et ai. , La filosofia della storia delia filosofia, 1 954 [o texto de Husserl procede de um manuscrito até então inédito]. A mesma obra em francês com algumas modificações : La philo­ sophie de / 'histoire de la philosophie, 1 956. - Arturo Massolo, La storia della .filosofia come problema ed altri saggi, 1 95 5 . - Béla von Brandenstein, Vom Sinn der Philosophie und ihrer Geschichte, 1 957. - Harold R. Smart, Phi/osophy and Its History, 1 962. - Giorgio Tonelli, "Qu 'est-ce que l ' histoire de la philosophie?", Revue philosophique de la France et de l 'Étranger, 1 52

( 1 962), 290-306. - John Herman Randall Jr., How Philosophy Uses Its Past, 1 963. - J. Hyppolite, P.-M. Schuhl et ai., Hommage à Martial Guéroult: / 'histoire de la philosophie, ses problémes, ses méthodes, 1 964. - Adolfo P. Carpio, E! sentido de la historia de la filosofia, 1 965. - Walter Ehrlich, Philosophie der Ges­ chichte der Philosophie, 1 965. - John Passmore, "The Idea of a History of Philosophy", History and Theory, Beiheft 5 ( 1 965), 1 -32. - Walter E. Ehrhardt, Philoso­ phiegeschichte und geschichtlicher Skeptizismus. Un­ tersuchungen zur Frage " Wie ist Philosophiegeschichte moglich ? , 1 967. - Francisco Romero, La estructura de la historia de la.filosofia y otros ensayos, 1 967. Maria Teresa Antonelli, Filosofia e storia delia .filoso­ .fia, 1 968. - Lutz Geldsetzer, Die Philosophie der Phi­ losophiegeschichte im XIX. Jahrhundert. Zur Wissens­ chftstheorie der Philosophiesgeschichtsschreibung und­ betrachtung, 1 968. - Lucien Braun, Histoire de / 'his­ toire de la philosophie, 1 97 3 . - E. Castelli, V. Verra et ai., La filosofia della storia dellafilosofia: I suai nuovi aspetti, 1 974, ed. Enrico Castelli. - Charles A. Corr, "Toward an Improved Understanding of the History of Philosophy", Metaphilosophy, 6 ( 1 975), 54-7 1 . - A. P. Carpio, E/ sentido de la historia de lafilosofia, l 977. - J. Rée, M. Ayers, A. Westoby, Philosophy and lts Past, 1 978. - M . Guéroult, Dianoématique. Livre li: Philosophie de / 'histoire de la philosophie, 1 979. - F. Copleston, On the History of Philosophy, 1 980. - K. Düsing, Hegel und die Geschichte der Philosophie, 1 983. - Q. Skinner, J. Schneewind et ai. , Philosophy in Histo­ ry: Essays on the Historiography of Philosophy, 1 984, eds. R. Rorty, J. Schneewind, Q. Skinner. - Y. Honde­ rich, Philosophy Through lts Past, 1 984. - M. Gué­ roult, Dianoétique. Livre I: Histoire de / 'histoire de la philosophie, vai. 1 : En Occident des origines jusqu 'à Condillac, 1 984. - J. J. E. Gracia, Philosophy and Its History: lssues in Philosophical Historiography, 1 992. Algumas das muitas obras sobre "filosofias nacio­ nais" modernas foram mencionadas na bibliografia dos verbetes FILOSOFIA MODERNA e FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA, assim como FILOSOFIA AMERICANA. Excetuamos aqui, por não abarcar totalmente o período moderno, a Historia de la filosofia espaíiola, de A. Bonilla y San Martín ( 1 908), prosseguida por Tomás e Joaquín Carreras Artau (Historia de la filosofia espaíiola: filosofia cristiana de los siglas XIII ai XV; 1, 1 939; I I , 1 943) e por Mar­ cial Solana (Historia de la filosofia espaíiola: Época dei Renacimiento, sigla XVI, 3 vols., 1 94 1 ); a obra pós­ tuma de Guillermo Fraile, Historia de la filosofia es­ paíio/a, 2 vais., 1 97 1 - 1 972, ed. Teófilo Urdanoz; a obra de Lothar Thomas, Geschichte der Philosophie in Por­ tugal. Ein Versuch (!. Die Geschichte der Philosophie in Portugal von den A nflingen bis Ende des 1 6. Jahrhun­ derts, aussch/iesslich der Renegeration der Scholastik, "

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FILOSOFIA IBERO-AMERICANA

1 944 ) ; a parte sobre a filosofia do Renascimento na história da filosofia italiana (La filosofia, 2 vols., 1 948) de Eugenio Garin (na Storia dei generi letterari italia­ ni); e os l ivros que se referem à tradição platônica na filosofia anglo-saxônica, principalmente na época mo­ derna, mas também anteriormente: J. H. Muirheacl, The Platonic Tradition in A nglo-Saxon Philosophy ( 1 93 1 ), e H. Gauss, La tradition platonicienne dans la pensée anglaise ( 1 948). Sobre os métodos histórico-filosóficos e sua biblio­ grafia, ver: Rodolfo Mondolfo, Problemas y métodos de la investigación en historia de la filosofia, 1 949. Werner Goldschmidt, "Los quehaceres dei historiador de la filosofi a", em Estudios de historia de la filoso­ fia . Em homenagem ao professor R. Mondolfo, ed. J. A. Vásquez, fase. 1 , 1 957, pp. 1 1 -50. - Lewis White Beck, bibl iografia de metodologia de história da filo­ sofia, Monist, 53 ( 1 969), 527-53 1 , com suplemento de Giorgio Tonelli em Journal o.fthe History o.fPhilosophy, 1 0 ( 1 972), 456-45 8. - M. Gentile, Compiti e metodi delta storia della .filos(!fia oggi. A tti dei 25 Convegno nazionale di.filosofia, Pavia 1 9 75, 1 975. - L. Malusa, La storiografia.filosofica italiana nella metà dell 'otto­ cento. 1: Tra positivismo e neokantismo, 1 977. - V. Mathieu, "La storiografia filosofica", em id., Lafilvso­ fia italiana contemporanea, 1 978, pp. 223 -263 . - G. Santinello, ed., La storiografia filosofica e la sua sto­ ria, 1 982. -- Y. Lafranc, Méthode et exégése en histoire de la philosophie, 1 98 3 . - G. Piaia, Vestigia philoso­ pho111m. ll medioevo e la storiogra.fia.filosofica, 1 98 3 . - M . Longo, Historia philosophiae philosophica. Teorie e metodi delta .1·toria delta filosofia Ira seicento e settecento, 1 986. Muitas revistas filosóficas contêm artigos de inte­ resse no campo da hi stória da filosofia. Destacamos, entretanto, as seguintes revistas: A rchivfür Geschichte der Philosophie, fundada por Ludwig Stein (com H . Diels, W. Dilthey, B. Erdmann e E. Zeller), vols. 1-XL I , 1 8 88- 1 93 2 . A publicação do A rchiv foi reassumida em 1 960 (com o vol . 42), eds. Glenn Morrow e Paul Wil­ pert. - Revue des sciences humaines, desde 1 927, com vários títulos (Revue d 'histoire de la philosophie, 1 9271 93 3 ; Revue d 'histoire de la philosophie et d 'histoire générale de la civilization, 1 933- 1 946). - Revue d 'his­ toire et de philosophie religieuses, 1 897- 1 9 1 5 e desde 1 92 1 . Rivista critica di storia delta filosofia, desde 1 946. - Sophia. Rivista internazionale di filoso,fia e storia delta .filo.wdia, desde 1 93 3 . - Journal o.f the History o.fldeas, desde 1 940. - Journal ofthe History o.fPhilosophy, desde 1 963 . - History o,fPhilosophical Quarterly. desde 1 984. - Também mencionamos o Ar­ chiv fiir Begr(ffsgeschichte. Bausteine zu einem his­ torischen W6rterbuch der Philosophie, ed. E. Rothacker desde 1 95 5 . C: �-

FILOSOFIA IBERO-AMERICANA. Ver FILOSOFIA AMERICANA.

FILOSOFIA INDIANA. Empregamos esse nome, e

não o de ' filosofia hindu ' , para nos referir ao pensa­ mento filosófico da Í ndia. Com efeito, ' filosofia hin­ du ' designa uma parte da filosofia da Í ndia: a que tem como base a tradição rel igiosa considerada ortodoxa na linha do vedismo-bramanismo-hinduísmo. Por ou­ tro lado, ' filosofia indiana' significa a filosofia produ­ zida por pensadores do citado país, qualquer que seja sua orientação no que diz respeito à ortodoxia ou o período no qual tenham desenvolvido sua atividade. No verbete FILOSOFIA ORIENTAL examinamos alguns dos problemas levantados pelas filosofias orientais mais importantes, aplicando-se também, pois, à filosofia in­ diana. Aqui concentraremos nossa atenção em dois pon­ tos: a divisão da filosofia indiana segundo períodos e escolas, e os traços mais gerai s dessa filosofia. Os períodos mais gerais em que se costuma dividir a filosofia ind iana são dois. 1 ) Período védico, desde o início (em data indetermi­ nada, mas muito remota) até uma época não bem estabelecida, mas que pode ser fixada em torno do ano 500 a.C. Esse período costuma ser dividido em outros dois: o védico ou do Veda (VER) e o upanishá­ dico ou das Upanishad (vER). O período védico é às vezes também qualificado de período pré-upanishá­ dico, especialmente quando se quer destacar o fato de que, mesmo dentro da tradição védica, as Upani­ shad con stituem a principal base para o desenvolvi­ mento de grande parte da filosofia indiana posterior. O período upanishádico é também qualificado de ve­ dântico ou do Vedanta, sendo esse termo entendido agora como ' fim do Veda' . 2) Período pós-védico. D e modo geral abarca desde o fim da época das principais Upanishad até o momen­ to atual. Contudo, como esse período ficaria grande demais, convencionou-se subdividi-lo em três épo­ cas: a) a época pós-védica primitiva, que compreen­ de sobretudo a primeira forma de budismo (vER) e o estabelecimento do j ainismo (VER); b) a época dos sistemas ou escolas (darsanas), que enumeraremos adiante e aos quais foram dedicados verbetes especí­ ficos; e c) a época moderna, no curso da qual foram continuados os sistemas a que aludimos anterior­ mente, algumas vezes combinados com outros ele­ mentos, até mesmo da filosofia ocidental, alteradas às vezes consideravelmente pela mudança das cir­ cunstâncias históricas e sociais. É dificil demarcar com precisão limites temporais para essas épocas. A época pós-védica abarca desde 500 a.C., aproxi­ madamente, até o começo da nossa era; a época dos sistemas ou escolas experimentou um grande flores­ cimento durante os primeiros séculos da era cristã;

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FILOSOFIA INDIANA

quanto à cronologia d a época moderna, e l a foi esta­ belecida mais em função da história ocidental que da história da Í ndia, mas pode ser conservada por conveniência. Os mencionados sistemas ou escolas de filosofia são, propriamente, pontos de vista ou "visões imediatas da verdade" (ver DARSANA). Seguindo a tradição, classi­ ficá-los- emos nos seguintes grupos. I ) Sistemas ortodoxos (astika) que aceitam de um modo ou de outro a autoridade védica. Eles são seis: Niaia (VER), Vaisesica (VER), Sanquia (vER), Ioga (VER), mimansa (ou Purva-mimansa) (VER) e Vedanta (às ve­ zes, Uttara-mimansa [vER] ). Esses sistemas podem ser combinados em três grupos, cada um dos quais possuin­ do características comuns: Niaia- Vaisesica, Sanquia­ Ioga, mimansa- Vedanta (ou Purva-mimansa e Uttara­ mimansa ou Vedanta de Badaraiana). Também podem ser classificados em dois grupos: um constituído por sistemas baseados principal ou exclusivamente no Veda, e outro que, embora aceitando o Veda, não se apóia tão insistentemente nele. O primeiro desses grupos abarca um sistema de índole preferentemente ritualista (mi­ mansa) e um de índole predominantemente especula­ tiva ( Vedanta) . O segundo compreende os quatro men­ cionados sistemas ortodoxos restantes: Niaia, Vaisesica, Sanquia, Ioga. II) Sistemas heterodoxos (nastica), que rejeitam a autoridade védica, embora sej am precedidos, em parte, por idéias que abrem caminho - ou ao menos são mencionadas - nas Upanishad. Estes sistemas são três: Charvaka ( Calilaka) (VER) - ou materialismo -, budis­ mo (vER) e j ainismo (vER). Como o budismo (posterior) se subdivide algumas vezes em outros quatro sistemas füibhasika, Sautrantika, Vijnanavda ( fogacara) e Ma­ dhyamika , diz-se também que há seis sistemas hetero­ doxos paralelos aos seis sistemas ortodoxos. Limitar-nos­ emos, no que diz respeito aos "sistemas heterodoxos", aos três apontados no começo deste parágrafo. Quanto aos traços mais gerais da filosofia indiana, logo se compreenderá que é dificil defini-los dada sua ampl itude geográfica e cronológica. Todavia, assim co­ mo assinalamos no caso da filosofia oriental (VER), a dificuldade diminui quando falamos em termos de ten­ dências. Algumas destas são determinadas pelo quadro de características gerais da filosofia oriental. Apresen­ taremos a seguir um breve esboço das mais destacadas, correspondentes especificamente à fi losofia indiana. Uma delas é o que pode ser qualifi cado de tendên­ cia sintética. Consiste em rejeitar a adscrição de deter­ minados problemas a disciplinas filosóficas determi­ nadas e precisas, assim como o isolamento de um tema ou problema qualquer. A visão total determina o méto­ do seguido em cada caso. Esta visão é a mencionada apreensão imediata da verdade mediante o ponto de -

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vista, darsana. No amplo círculo traçado por este último situam-se os distintos problemas e o modo específico de tratá-los. Outra tendência é seu espírito aberto para conside­ rar opiniões adversas. Não é apenas o espírito aberto de cada sistema ortodoxo em relação aos outros, mas dos sistemas ortodoxos em relação aos heterodoxos e vice­ versa. Esse espírito deve-se, contudo, menos a uma orien­ tação eclética que a dois fatos: primeiro, o fato de que a literatura tradicional védica e upanishádica contém uma enorme quantidade de opiniões distintas, incluin­ do, como percebemos, ao menos na forma de menção, algumas opiniões próximas da heterodoxia; segundo, o fato de que, uma vez constituída, cada darsana é completa em sua perspectiva e pode se referir às demais "impunemente". Tendência muito acusada na filosofia indiana é a que já foi assinalada no caso da filosofia oriental em geral: a "despersonalização" da produção filosófica. Isso permite compreender as formas de expressão filosófi­ cas características da fi losofia indiana: textos conside­ rados básicos, elaboração conceituai desses textos me­ diante explicações ou interpretações de seus significa­ dos, sutras (ou "fios") por meio dos quais são estabele­ cidas "vias" que permitem ligar algumas opiniões com outras e ver seu fundamento comum, comentários às sutras, organização de todos esses materiais em um corpo doutrinal no qual colaboram muitos pensadores ao longo de numerosos comentários. Em um sentido geral de 'escolástico ' , podemos dizer que na forma de expressão grande parte do pensamento filosófico india­ no tem um ar escolástico (o que não significa sempre um ar fechado). Além da citada "despersonalização" há uma acentuação do valor da personalidade criadora, porém não tanto como produtora de determinados pen­ samentos objetivos do que como um "modelo" cujos tra­ ços históricos e humanos desaparecem pouco a pouco. Outra tendência acusada na filosofia indiana é o fato de que todas as suas escolas partem de uma situação humana - o caráter miserável e angustiado da existên­ cia neste mundo - para elevar-se rumo a um impulso de purificação. O fundamento último de boa parte da filosofia indiana é, pois, moral ou, melhor, religioso­ moral. Trata-se, com efeito, de alcançar o máximo do­ mínio possível sobre si próprio e sobre o mundo (me­ diante forças espirituai s) com o fim de libertar-se da mi­ séria do real-aparente e de alcançar a quietude do real­ verdadeiro. A final idade última das escolas é, desse modo, a salvação e a libertação (ver MoKsA); mesmo em um sistema como o materialista de Charvaka há uma certa libertação no prazer e um fim de todo desgos­ to da existência na morte. Finalmente, um motivo muito importante em quase todo o pensamento filosófico indiano é o predomínio da

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FILOSOFIA J U DAICA

concepção da filosofia como "via" (ou modo de exis­ tência) sobre sua concepção como série de proposições que pretendem unicamente descrever objetivamente o real . Essas duas concepções coexistem na Í ndia (como, além disso, no Ocidente); a segunda, ademais, não é totalmente insignificante se nos limitamos ao trabalho fi losófico de caráter específico que, dentro do marco geral da darsana correspondente, realizaram muitos pensadores indianos; a primeira concepção, todavia, acaba por imperar sobre a segunda. Como indica M. Hiriyanna, a máxima fundamental jainista - "Não viva para conhecer, mas conheça para viver" - poderia ser aplicada a todas as demais "escolas" indianas. :> Ver as bibliografias de FILOSOFIA ORIENTAL; VEDA; U PANISHAD; BUDISMO; JAINISMO e das várias escolas men­ cionadas no texto do verbete. Obras gerais sobre a filo­ sofia indiana e sobre a história da filosofia indiana: P. Deussen, A llgemeine Geschichte der Philosophie, mit besonderer Beriicksichtigung der Religionen, 6 vols., 1 894- 1 9 1 8 . - Max Müller, The Six Systems of1ndian Philosophy, 1 899. - R. Guénon, lntroduction généra­ le à / "étude des doctrines hindoues, 1 92 1 ; 3ª ed. , 1 939. - ld., Les philosophies indiennes. Les :,ystemes, 2 vols., 1 93 1 . - Surendranath Dasgupta, A History of1ndian Philosophy, 5 vols. (1, 1 922; I I , 1 932; I I I , 1 940; IV, 1 949; V, 1 955). - P. Masson-Oursel, Esquisse d 'une histoire de la philosophie indienne, 1 92 3 . - S. Radha­ krishan, lndian Philosophy, 2 vols. (1, 1 92 3 ; I I , 1 927). - O. Strauss, lndische Philosophie, 1 92 5 . - S . K. Belkalvar e R. D. Ranade, History oflndian Philosophy, 1 927. - M. Hiriyanna, Essentials of1ndian Philoso­ phy, 1 932. - !d., Outlines o/1ndian Philosophy, 1 932. - A. Schweitzer, Die Weltanschauung der indischen Denker: Mystik und Ethik, 1 93 5 . T. R. V. Murti, M. Hiriyanna et ai. , The Cultural Heritage of" Jndia, I I I : The Philosophies, ed. Haridas Bhattacharyya, 1 937; 2ª ed, rev. e ampl., 1 953. - S. C. Chatterjee e D. M. Datta, An lntroduction to lndian Philosophy, 1 939; 7ª ed. , 1 968. - Jwala Prasad, lndian Epistemology, 1 939. V. Fatone, lntroducción ai conocimiento de la filosofia en la índia, 1 942. - W. Ruben, Die Philosophen der Upanishaden, 2 vols., 1 947 ( 1 . Vorphilosophische Phi­ losophie; l i . Philosophie und Mystik der Upanischa­ den) . - !d., Geschichte der indischen Philosophie, 1 954. - H. von Glasenapp, Die Philosophie der índer. Eine Ein/ührung in ihre Geschichte und ihre Lehren, 1 949; 2ª ed. , 1 95 8 . - Jadunath Sinha, A History of" índian Philosophy, 2 vols., 1 949- 1 952; 2ª ed. , 1 9581 962. - Heinrich Zimmer, Philosophies of1ndia. T. Bernard, Hindu Philosophy, 1 95 1 . - K. S. Murty, Evolution o/Philosophy in índia, 1 952. - E. Frauwal­ ler, Geschichte der indischen Philosophie. !. Die Philo­ sophie des Veda und des Epos. Buddha und Jina. Das Samkhya und das Yoga-System, 1 95 3 ; I I , 1 956. - Ma-

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FILOSOFIA JUDAICA. É, por um lado, a filosofia da tradição religiosa do j udaísmo, que elabora os con­ ceitos metafísicos derivados da Lei ou pretende j usti­ ficá-los racionalmente, e, por outro l ado, as produções filosóficas derivadas de pensadores de origem j udaica. No primeiro sentido, são incluídos dentro da filosofia j udaica grande parte dos comentários à Cabala e ao Tal­ mude e, sobretudo, os pensadores medievais que tenta­ ram uma conciliação da Lei com a tradição filosófica grega, especialmente aristotélica, e tiveram seu maior re­ presentante em Maimônides. No segundo sentido, muito

1 089 mais impreciso, designa-se como filosofia j udaica des­ de o platonismo de Fílon de Alexandria até o sistema de Spinoza a filosofia transcendental de Salomão Mai­ mônides e o pensamento de K. Rosenzweig e M . Buber. Somente com grandes reservas se pode dar a este último conceito o nome de filosofia j udaica. Deve-se entender por filosofia j udaica a filosofia que, admitindo a noção de Lei como uma maneira peculiar de relação do ho­ mem com a divindade, esforça-se para entendê-la me­ diante o pensamento racional . Essa relação é também um dos motivos do pensamento cristão, e com as devidas reservas pode-se dizer que ambos partem de um proble­ ma similar. As diferenças, todavia, são consideráveis. Em primeiro lugar, como observa Renan, o judeu esco­ lheu como base da comunhão religiosa a prática e não os dogmas. "O cristão está vinculado ao cristianismopor uma mesma crença. O j udeu está vinculado ao judaísmo pelas mesmas observâncias" (Hist. des orig. du Christian. , VI, cap. XIII). Daí que o cristão tenha assimi­ lado quase necessariamente a tradição helênica enquanto o judaísmo permaneceu - com algumas exceções dentro de si mesmo, eliminando quase seguidamente as possibilidades de uma filosofia, e isso de tal modo que essa filosofia surgiu unicamente quando, abando­ nando sua atitude peculiar, ela examinou a relação entre Deus e o homem por meio da Lei de maneira muito distinta da imposta por sua tradição religiosa. Isso ocorre, por exemplo, com o cabalismo, do qual tratamos em outro ponto (ver CABALA), que contém provavelmente muitos outros elementos além da simples relação entre o homem e a Lei. A exposição da história da filosofia j udaica depen­ de, naturalmente, de que nela sejam incluídos - como faz a maior parte dos historiadores da filosofia - so­ mente os pensadores judeus medievais, especialmente na medida em que se relacionaram com a filosofia árabe e cristã, ou de que abarque a história inteira do pensa­ mento ocidental, desde os problemas filosóficos levan­ tados pela relação entre filosofia e Lei até as questões de filosofia da religião tratadas por muitos pensadores judeus modernos. O esquema que surge em cada caso é, evidentemente, distinto. Assim, podemos por exem­ plo comparar duas exposições de conj unto da filosofia judaica, a de J. Husik e a de Guttmann, que podem ser­ vir como amostras de uma exposição geral cronológica (a exposição de Neumark segue o fio de certos proble­ mas, especialmente os da relação entre matéria e forma e aqueles estabelecidos pela teoria dos atributos). Husik considera a filosofia judaica, de acordo com o propósito de seu livro, essencialmente como "filosofia j udaica medieval". Deste modo ele aborda os séculos que estão entre o X e o XV, i sto é, desde Isaac l sraeli até I:Iasdai Crescas e Josep Albó. Temos então, em ordem cronoló­ gica aproximada, Isaac lsraeli (ca. 870-920), Davi ben

FILOSOFIA J UDAICA

Mervan AI Mukamas, aproximadamente da mesma épo­ ca de l sraeli e Saadia (892-942), considerado por muitos o "fundador" da filosofia j udaica medieval e por Husik "o primeiro filósofo j udeu importante" após Fílon de Alexandria; José Al Basir (século XI) e seu discípulo Jesuá ben Judá, Abengabirol ou Avicebron (ca. 1 0201 070), Abenpakuda, aproximadamente uma geração posterior a Avicebron, Abraham bar Hiyya ou Abraham Savasorda, da mesma época, Abensadik (t 1 1 49), Yehu­ da-Ha-Levi (ca. 1 080- 1 1 43), os Abenezras (Abraham ibn Ezra, 1 092- 1 1 67, e Moisés ibn Ezra, ca. 1 070-ca. 1 1 38), Abendaud (século XII), Maimônides ( 1 1 35- 1 204), Hillel ben Samuel e Levi ben Gerson, ambos posteriores em um século ou um século e meio a Maimônides, Sem Tob Falaquera ( 1 25 5 - 1 290), I:Iasdai Crescas ou Hasdai ben Abraham Crescas ( 1 340- 1 4 1 O) e Josep Albó ( 1 3 801 444 ). (Deve-se destacar que a transcrição dos nomes [alguns conhecidos, além disso, por sua forma em ára­ be] difere consideravelmente nos diversos textos.) Por outro lado, Guttmann, mais interessado na "filosofia do j udaísmo" (título de sua história), entende esta últi­ ma em um sentido extremamente amplo. A rigor, ele define a história da filosofia judaica como "a história das distintas recepções de tesouros intelectuais alheios". Essa filosofia poderia ser dividida em três grande par­ tes. A primeira compreenderia os problemas filosóficos que - postos em contato com alguma tradição intelec­ tual - a evolução religiosa do povo j udeu poderia sus­ citar na Antiguidade (religião bíblica, filosofia greco­ judaica e a especulação talmúdica). A segunda parte abarcaria a filosofia da religião judaica na Idade Média, desde Isaac l sraeli e Saadia - também considerado "fundador" da filosofia j udaica medieval - até Gerson e Crescas, assim como as elaborações filosóficas do judaísmo no Renascimento, especialmente na Espanha e na Itália. Especial importância deveria ser dada então aos embates entre as diferentes seitas religiosas, e espe­ cialmente à maior ou menor inclinação de cada uma ao "racionalismo", assim como aos problemas relativos à relação - ou à ausência de relação - entre e a Lei e a sua interpretação filosófica. Externamente, por ou­ tro lado, essa história seria determinada por orientações como a influência neoplatónica ( Israeli, Avicebron e depois Leão Hebreu) e a influência aristotélica (Maimô­ nides). A terceira parte abarcaria a filosofia judaica moderna, que seria por um lado a filosofia dos pensado­ res j udeus e, por outro, a filosofia daqueles em que a questão do j udaísmo chegasse a possuir - tanto positi­ va como negativamente - alguma importância. Nesse grupo entrariam figuras como Spinoza, Moisés Men­ delssohn, Salomão Formstecher, Samuel Hirsch, Moritz Lazarus, Hermann Cohen e - poderíamos acrescen­ tar - K. Rosenzweig e Martin Buber no pensamento propriamente contemporâneo.

FILOSOFIA LATINO-AMERICANA :> Enciclopédias com informação geral sobre a histó­ ria, a cultura e o pensamento hebraicos: The Jewish Encyclopaedia, New York, 1 90 1 ss. -- Encyclopaedia Judaica. Das Judentum in Geschichte und Gegenwart, Berlim, l 928ss. Enciclopédias bíblicas: J. Vigouroux, Dictionnaire de la Bible, Paris, 1 89 1 . - J. Hastings e Selbie, A Dictio­ nary ofthe Bible, Edimburgo, 4 vols., l 898ss. - Chayne e Black, Encyclopaedia biblica, Londres, 4 vols., 1 899ss. Para o Talmude, ver: A. Nager, Die Religionsphilo­ sophie des Talmud, 1 864. - E. Deutsch, Der Talmud, 1 869. - Jacobsohn, Versuch einer Psychologie des Tal­ mud, 1 87 5 . - A. Schwarz, Der hermeneutische Syllo­ gismus in der talmudischen literatur. Ein Beitrag zur Geschichte der logik im Morgenland, 1 90 1 . - !d., Die hermeneutische lnduktion in der talmudischen literatur. Ein Beitrag zur Geschichte der Logik, 1 909. Para a Cabala, ver bibliografia de CABALA. Para a história do pensamento filosófico, ver, além do livro de S. Munk, Mélanges de philosophie juive et arabe, 1 8 59; nova ed., 1 927, reimp. 1 95 5 , e da biblio­ grafia dos verbetes sobre diversos pensadores j udeus: M . Eisler, Vorlesungen iiber diejiidischen Philosophen des Mittelalters, 3 vols., !, 1 870; II, 1 876; I I I , 1 884. D. Neumark, Geschichte derjiidischen Philosophie des Mittelalters nach Problemen dargestellt, 2 vols., 1 9071 9 1 O. - J. Husik, A History ofJewish Mediaeval Philo­ sophy, 1 9 1 6. - J. Guttmann, Die Philosophie des .!uden­ tums, 1 93 3 . - Georges Vajda, lntroduction à la pensée juive du moyen âge, 1 947. - Ermenegi ldo Bertola, La .filosofia ebraica, 1 94 7. - León D uj ovne, lntroducción a la historia de lafilosofiajudía, 1 949. - C. Tresmon­ tant, Essai sur la pensée hébraique, 1 95 3 . - !d., Étu­ des de métaphysique biblique, 1 95 5 . - Joseph Blau, The Story ofJewish Philosophy, 1 962. - I srael !. Efros, Ancient Jewish Philosophy: A Study in Metaphysics and Ethics, 1 964. - André Chouraqu i, La pensée juive, 1 968. - Nathan Rotenstreich, Jewish Philosophy in Modern Times: From Mendelssohn to Rosenzweig, 1 969. -- Henri Sérouya, Les étapes de la philosophie juive, !: Antiquité hébraique, 1 969. - F. Pinkuss, Tipos de pensamiento judaico, 1 975. - S. T. Katz, Jewish Philosophers, 1 97 5 . - L. D. Stitskin, Jewish Philoso­ phy. A Study in Personalism, 1 976. - F. Niewõhner, "Vorüberlegungen zu einem Stichwort 'Philosophie, Jü­ dische , A rchiv.fiir Begrilfsgeschichte, XXIV, 2 ( 1 980), 1 95-220. - C. S irat, La philosophie juive au moyen âge, 1 98 3 . - E. Seidel, 'Jiidische Philosophie ' in ni­ chtjüdischer und jüdischer Philosophie-Schreibung, 1 984. - H. M. Simon, Geschichte derjüdischen Philo­ sophie, 1 984. - A. A. Cohen, P. Mendes-Flohr, eds. , Contemporary Jewish Religious Thought, 1 987. - N. M . Samuelson, ed. , Studies in Jewish Philosophy: Cal"'

1 090 lected Essays of the A cademy for Jewish Philosophy, 1 980- 1 985, 1 98 7 . - Z . Levy, Between Yafeth and Shem: On the Relationship between Jewish and General Philosophy, 1 987. - K. Seeskin, Jewish Philosophy in a Secular Age, 1 990. - L . E. Goodman, On Justice: An Essay in Jewish Philosophy, 1 99 1 . - L. Greenspan, G. Nicholson, eds., German Philosophy and Jewish Thought, 1 992. Ver também a bibliografia dos verbetes ESCOLÁS­ TICA e FILOSOFIA MEDIEVAL, assim como a bibliografia de alguns verbetes nos quais se faz referência a concei­ tos tratados no âmbito da tradição filosófica hebraica ( ATRIBUTO; D E U S ) . B ibliografia: G . Vajda, Jiidische Philosophie (em Bibliographische Einfiihrungen in das Studium der Phi­ losohpie, ed. I. M. Bochenski, vol. 1 9, 1 950). C:

FILOSOFIA LATINO-AMERICANA. Ver FILOSOFIA AMERICANA. FILOSOFIA MARXISTA NA UNIÃ O SOVIÉTICA. A filosofia marxista na União Soviética - que, para abreviar, chamaremos de "filosofia soviética" -- é em parte um desenvolvimento do marxismo (v ER ), mas é conveniente distinguir um e outro, pois há certos as­ pectos importantes no pensamento de Marx - e mes­ mo no de Marx e Engels - que não estão incluídos na filosofia soviética, e ao mesmo tempo esta apresenta aspectos que não aparecem em Marx. Por esse motivo dedicamos um verbete especificamente à fi losofia so­ viética, centrando nossa atenção nas discussões ocorri­ das até o XX Congresso ( 1 956). Segundo .1. M . Bochenski ("On Soviet Studies", Studies in Soviet Thought, 1 96 1 , pp. 5ss. ), pode-se dis­ tinguir a marxologia (o estudo do pensamento de Marx e também de Marx e Engels), a leninologia (o estudo do pensamento de Lenin) e a sovietologia (ou estudo da filosofia soviética propriamente dita). Seguimos essas sugestões, mas pedindo ao leitor que considere ao mes­ mo tempo a filosofia soviética como fundada em grande parte no marxismo e no leninismo. Escrevemos sobre Lenin no verbete dedicado a ele e no final do verbete MARXISMO. Aqui nos limitaremos, pois, à apresentação dos momentos fundamentais da história da fil osofia soviética e suporemos o conhecimento de seus elemen­ tos ideológicos mais importantes: o materialismo dia­ lético, o materialismo histórico, o real ismo epistemo­ lógico etc. Também presumiremos o conhecimento de vários elementos filosóficos básicos, como o realismo epistemológico, o cientificismo, a doutrina das três leis dialéticas, a doutrina da ditadura do proletariado, a dou­ trina (além disso discutida) do eventual desaparecimen­ to do Estado quando for formada a sociedade sem clas­ ses etc. Acrescentemos que em nossa apresentação nos

1 09 1 estenderemos principalmente sobre o s desenvolvimen­ tos filosóficos na União Soviética. Alguns autores in­ cluem dentro da epígrafe "filosofia soviética" a "filo­ sofia marxista chinesa" e os desenvolvimentos filosó­ ficos marxistas em países como Polônia, Tchecoslová­ quia, Hungria etc. Há, evidentemente, muitas coinci­ dências, mas o quadro resultante, caso fossem incluídas todas essas manifestações do "pensamento soviético" contemporâneo, seria demasiadamente complexo. Além disso hoje j á se pode distinguir a "filosofia sov iética" estrita da "filosofia marxista chinesa". Referimo-nos a este ponto no final do verbete FILOSOFIA CHINESA. Uma característica da filosofia soviética é o esforço para manter o que foi chamado de "a l inha geral". Isso fez que se lutasse contra as discrepâncias, considerando­ as "desvios" (geralmente "para a direita" ou "para a esquerda"). Os "desvios para a direita" são usualmente considerados "revisionismos" ou "reformismos", como Lenin criticou as doutrinas de Plekhanov. Os "desvios para a esquerda" são usualmente considerados "radica­ lismos" ou "doenças infantis do comunismo", também como Lenin argumentou contra alguns de seus adversá­ rios políticos. A "linha geral" é, pois, um "centro'', mas não necessariamente o resultado de uma composição eclética ou de um compromisso. Essa "linha geral" muda. Não poucas das mudanças se devem àquilo que os fi lósofos não-soviéticos (ou, em geral, não-marxis­ tas) chamariam de "circunstâncias políticas", mas que os filósofos soviéticos consideram resultado da estreita união da teoria com a prática (ou praxis) . Outra característica d a fil osofia soviética é a impor­ tância que. têm na discussão filosófica os "textos funda­ mentais", especialmente de Marx, Engels e Lenin, o que faz dessa filosofia um pensamento essencialmente "dogmático", ou, melhor, baseado em dogmas prévios aceitos sem discussão. Gustav Wetter pôde dizer que há uma semelhança entre a filosofia soviética e o pensa­ mento católico, ainda que se deva sublinhar que essa semelhança se desvanece não somente quando nos re­ ferimos ao conteúdo, mas também quando levamos em conta que o caráter dogmático do pensamento católico se refere a sua teologia e não necessariamente à sua filosofia, na qual podem ser admitidos, em princípio, métodos e conteúdos muito variados . Como conseqüência d a importância dos "textos" a filosofia soviética tende freqüentemente a manifestar­ se na forma "escolástica" que Blakeley descreveu. Dis­ cussões de indole "escolástica" ocorrem sobretudo em pontos como a relação entre a doutrina materialista e o método dialético; entre o materialismo dialético em ge­ ral e o materialismo histórico; entre uma teoria do co­ nhecimento rigorosamente "fotográfica" e outra que contém alguns elementos "construtivistas"; entre a lógi-

FILOSOFIA MARXISTA NA UNIÃO SOVI ÉTICA

ca dialética e a lógica formal; entre uma teoria segundo a qual há uma relação imediata e direta da estrutura com as superestruturas e teorias segundo as quais essa rela­ ção é menos direta e mais "livre" etc. No que diz respeito aos períodos em que a filosofia soviética pode ser dividida, apresentaremos os seguin­ tes: 1 9 1 7- 1 93 1 ; 1 93 1 - 1 947; 1 947- 1 953 e, muito sucin­ tamente, a partir de 1 95 3 . O principal acontecimento d o primeiro período foi o debate entre mecanicistas e idealistas. Após alguns anos de discussão consideravelmente l ivre dentro do materialismo dialético, e ao longo dos quais pareciam inserir-se no marxismo soviético elementos muito diver­ sos -- alguns deles, e não dos menos i mportantes, pro­ cedentes da tradição intelectual russa e das discussões filosóficas ocorridas na Rússia no século XIX e no iní­ cio do XX -, tendeu-se a buscar a citada "linha geral" por meio de uma rejeição de dois "desvios": o "meca­ nicista" e o "idealista". Os mecanicistas, representados, entre outros, por Ivan lvanovitch Skvortson-Stepanov ( 1 870- 1 928), Arkady Klimentovich Timirazev ( ! 8801 955) e em grande parte por Lubov I saakovna Axelrod ( vrn ) , enfatizaram tanto o componente materialista e tão pouco o componente dialético no marxismo, que se "desviaram" para "um cientificismo positivista" nega­ dor do essencial "movibilismo" da realidade em bene­ ficio do "passivismo" da matéria (entendida de modo "mecanicista"). Os idealistas (chamados de "idealistas menchevizantes"), representados por Abram Moisee­ . vitch Deborin ( VER) e pelos redatores da revista Pod znaménem marksizma (Sob a bandeira do marxismo), fundada em 1 922 - N. 1. Karev, V. F. Asmus, 1. K. Luppol, M. L. Levin, Y. Sten -, ressaltaram tanto o componente dialético e tão pouco o materiali sta que foram denunciados (em 1 93 1 ) como "idealistas'' e "he­ gelianos". Assim foi fixada a "linha geral", produzindo uma "fixação" do pensamento filosófico. Essa fixação perdurou de 1 93 1 até 1 947. O segundo período da filosofia soviética caracteriza-se por sua imobil idade. Os fi lósofos ocuparam-se sobretudo em evitar serem acusados por "desvios", consagrando-se a estudos de detalhe e a muito minuciosos esclarecimen­ tos dos "textos". Durante todo o período citado predo­ minaram quase absolutamente as diretivas dadas no decreto do Comitê Central do Partido Comunista (bol­ chevique) da URSS em 25 de janeiro de 1 93 1 , no qual se estabeleceu que o marxismo-leninismo era o marxis1110 -leninismo-stalinismo e que "todo avanço na teoria marxista--leninista", incluindo qualquer avanço na dou­ trina fi losófica marxista, est�va associado necessaria­ mente ao nome de Stalin, a seus esc1 itos e realizações. Dentro da geral imobilidade característica do citado pe­ ríodo podem ser distinguidas, contudo, duas fases: a de

FI LOSOFIA MAHXISTA NA UNI ÃO SOVI ÉTICA

1 93 1 a 1 93 6 e a de 1 93 6 a 1 947. A primeira fase revela certa atividade filosófica, com numerosos trabalhos, entre eles o de P. Dosev sobre a epistemologia do mate­ rialismo dialético e os de M. B. M itin sobre o materia­ lismo dialético e histórico. A segunda fase (inaugura­ da com a nova Constituição staliniana de novembro de 1 936) manifesta uma notória queda da produção filosó­ fica, que consiste quase inteiramente em repetições. A terceira fase iniciou-se em 1 94 7 com um discurso de Andrei A. Zdanov (assim citado comumente em por­ tuguês; em nossa transcrição: Jdanov) ( 1 896- 1 948) re­ sumindo e acentuando as críticas dirigidas contra o to­ mo de G. F. Alexandrov consagrado à fi losofia européia (lstoria zapadnoevropéskoifilosofii: História da filo­ sofia ocidental européia, publicado cm 1 946 e recom­ pensado com o "prêmio Stalin"). Zdanov e outros consi­ deraram essa "História" como demasiadamente "cos­ mopol ita'', "neutralista" e "obj etivista", isto é, distante das necessidades combativas que obrigam a "desmas­ carar" a filosofia ocidental como "burguesa" e "reacio­ nária". Nesse di scurso (ver trad. esp. em Arbor, n. 30 [ 1 948], 269-292) ataca-se não somente a obra de Ale­ xandrov, mas muitas das produções dos membros do Instituto fi losófico da Academia de Ciências. Zdanov alega que esses fi lósofos renunciaram acr "espírito de partido" em favor de um falso "ecletismo obj etivista". A "frente fi losófica", assinala Zdanov, não se parece em nada com o que deve ser: um campo de batalha no combate pelo comunismo. É necessário que o "coletivo" dos filósofos remova as águas mortas e se decida a trabalhar intensamente, por meio da "autocrítica" e da "denúncia" dos erros ocidentais (entre eles: a ciência bur­ guesa, o fideísmo, o existencialismo, o idealismo "pseu­ docientífico", o formal ismo positivista etc). Com isso a "frente fi losófica" se agitou. É certo que, como indi­ cou Bochenski, as novas diretivas não representaram nenhuma mudança essencial na estrutura das teses da fi losofia soviética tal como haviam sido expostas em Kratkiyfilosof.i·kiy slovar (trad. esp.: Pequeno Dicioná­ rio fi/osófico, várias edições), de P. F. Yudin e M . M . Rozental. Mas a produção fi losófica aumentou notavel­ mente; fundou-se (em 1 949) a revista Voprosifilosofii (ainda publicada) e foram debatidos mais intensamente diversos temas. O acontec imento mais importante de­ pois do discurso de Zdanov até o falec imento de Stalin, em 1 95 3 , foi o artigo do próprio Stal in a respeito da doutrina lingüística de N ikolai Y. Marr ( 1 864- 1 934 ). Marr, que se converteu ao marxismo após a revolução, declarou que a linguagem é uma "ideologia" e, portanto, pertence à "superestrutura". As mudanças l ingiiísticas refletem o processo dialético, de tal modo que, quando a sociedade sem classes advier, formar-se-á uma lingua­ gem unitária distinta da l inguagem articulada e que não

1 092 dependerá da expressão fonética. Em uma série de car­ tas, iniciadas com a que se i ntitula "Sobre o marxismo em lingüística" (20 de j unho de 1 950), Stalin atacou a doutrina de Marr e sua escola e insistiu no "enorme pa­ pel que desempenha a superestrutura na destruição do velho sistema e no fortalecimento e desenvolvimento do sistema novo" (ver The Current Digest o{the Soviet Press, 1 4-X- 1 950, vol. I I , n. 35). A estrutura econômica básica não é abandonada, mas insiste-se na "influência ativa da superestrutura sobre a base" (ibid. , II, 37) com o fim de afirmar o poder da ideologia revolucionária. A superestrutura deve possuir um caráter "classista'', mas isso significa simplesmente que deve estar a servi­ ço das "necessidades" da base, não que sej a um mero reflexo. A l inguagem não é criada, segundo Stalin, por uma classe, mas por uma sociedade inteira. Motivos na­ cionalistas russos e pan-russos aliavam-se nessas ma­ nifestações de Stalin com o senso comum e com idéias de Engels sobre a relação nada unívoca e direta entre estrutura e superestrutura. Tai s manifestações estavam, além disso, de acordo com a persistente luta dos filóso­ fos soviéticos contra o positivismo, o idealismo e o for­ malismo "característicos" da sociedade ocidental . Entre os incidentes dessa luta destaca-se a denúncia da Lógica de Asmus, considerada "formali sta" apesar de ser uma lógica de tipo "clássico" sem referência aos trabalhos de lógica matemática. O leitor pode consultar, a esse respeito, a resenha de G. L . Kline em The Journal ol Symbolic Logic, 1 4 ( 1 949), 243 -244, de duas obras de L. P. Gokieli, publicadas em 1 94 7, uma sobre o proble­ ma da axiomatização da lógica e outra sobre os manus­ critos matemáticos de M arx e os problemas da funda­ mentação da matemática. Da citada resenha e outras publ icações (cf. várias comunicações de autores sovié­ ticos ao X Congresso I nternacional de Filosofia, de Amsterdã) percebe-se que a tentativa de eliminar a "ló­ gica objetiva" ou "material" está condenada ao fracasso. A prova de Giidel é considerada a prova da impotência do formalismo (isso não significa que os cientistas rus­ sos tenham deixado de cultivar a lógica matemática, mas que esse cultivo ocorria nas Faculdades de Ciências Exatas e não nas Faculdades ou I nstitutos de Filosofia). Parecia que ia ser fixada uma mais firme e estrita "linha geral" quando sobreveio o acontecimento que inaugurou outra fase da filosofia soviética: o falecimen­ to de Stalin ( 1 953). O chamado "processo de desestali­ nização", acentuado especialmente a partir do XX Con­ gresso do Partido Comunista (bolchevique), em feve­ reiro de 1 956, e inteiramente cumprido, permitiu muitas mudanças. Ainda há algo como uma "linha geral", mas esta é incomparavelmente mais "fluida" que antes. A desestalinização manifestou-se fi losoficamente sobre­ tudo por meio de um "retorno ao leninismo", de modo

1 093 que a linha filosófica "marxismo-leninismo-stalinismo" voltou a ser a linha "marxismo-leninismo". Produziu­ se certa "liberalização" no ambiente filosófico, paralela à "liberalização" na frente política. É possível que cer­ tos trabalhos originais, publicados na fase anterior, mas imediatamente denunciados (como o trabalho de A. M . Markov "Sobre a natureza d o conhecimento fisico", de 1 947, no qual se declara que nosso conhecimento da realidade microfisica é "determinado" por nossa lei­ tura das indicações de instrumentos em nível macrofi­ sico e, portanto, em alguma medida "condicionado" por essa leitura), voltem a suscitar interesse e produzam novos desenvolvimentos, de início epistemológicos. Por outro lado, a citada "liberalização" não segue um curso geral. Em 1 956, G. L. Kline escrevia ("Recent Soviet Philosophy", The Annals of the A merican A cademy of Political and Social Science [ 1 956], 1 26- 1 3 8 ) que em­ bora houvesse ocorrido um efetivo processo de "libe­ ral ização" em certos estudos, especialmente na história da fi losofia (na qual manifestou-se um crescente inte­ resse pela fi losofia ocidental e pelo pensamento filosó­ fico russo pré-marxista), por outro lado mantém-se ain­ da uma grande rigidez em outros campos (na filosofia geral, na fi losofia da lógica etc.). Porém desde 1 956 houve diversas mudanças e em ritmo alternado : a um período de maior "liberdade" sucedeu-se outro de maior "constrição", seguido por outro de maior "liberdade" etc. Em geral, a filosofia soviética manteve uma "linha" mais estrita que a fil osofia de vários países da Europa do Leste (Polônia, Tchecoslováquia), nos quais se ten­ tou renovar o marxismo, por assim dizer, "a partir de dentro", paralelamente às tentativas de renovação que ocorreram em países não-sovietizados. De qualquer mo­ do, nos últimos anos ocorreram vários debates de grande ressonância sobre o método, sobre o princípio de contra­ dição (VER), sobre a natureza da dialética ( vER), sobre o caráter das três "leis básicas", sobre a importância e a função da lógica matemática etc. " A ampla - embora freqüentemente inflada corrente de obras marxistas-leninistas publicadas ante­ riormente na Rússia reduziu-se, a partir da União Sovié­ tica em 1 99 1 , a um pequeno gotejamento. Em seu lugar, os livros e revistas russos, no campo da fi losofia, ado­ tam alguma das quatro formas seguintes: 1 ) republica­ ção, com comentários, de obras de pensadores russos previamente ignorados ou depreciados, autores identifi­ cados com as tradições do pensamento especulativo e religioso, ou secular e liberal, mas, em todo caso, antimar­ xista; 2) traduções russas, com comentários, das obras de pensadores ocidentais previamente ignorados ou de­ preciados, como Kierkegaard, Nietzsche, Unamuno, Or­ tega, Whitehead, Husserl, Heidegger e Gadamer; 3) re­ latos francos sobre a supressão do pensamento filosófi­ co na União Soviética, particu l armente durante os anos

FILOSOFIA MARXISTA NA lJNI ÃO SOVI ÉTICA

trinta - a revista moscovita Voprosy filosofii tomou em 1 99 1 uma decisão sem precedentes: publicar por assinatura os livro Podavleniefilosofii v SSSR, do emi­ grado soviético 1. Yakhot, l ivro que antes só havia sido publicado no estrangeiro (Nova York, 1 98 1 ); 4) discus­ são direta - quase invariavelmente não-marxista de temas-chave de ética, filosofia política, filosofia da história, filosofia da ciência, filosofia da cultura e filo­ sofia da religião, e também discussão da crítica situação atual da Rússia, tanto no aspecto econômico como no político, social e cultural. De fato, decresce, por parte dos fi lósofos e estudantes da filosofia russa, o pequeno interesse existente pelas obras de Marx, inclusive pelo "Marx mais j ovem possível". :> Algumas das obras indicadas na bibliografia do verbete MARXISMO, especialmente as que apresentam "os princípios fundamentais da filosofia marxista", re­ ferem-se à filosofia soviética ou a levam em conta nas exposições. Para trabalhos mais especificamente con­ cernentes ao nosso tema, damos aqui uma lista: W. Gu­ rian, Der Bolschewismus. Einfiihrung in die Geschich­ te und Lehre, 1 93 1 . - G. Miche, Manuale di.filosofia bolcevica, 1 946. - J. Somerville, Soviet Philosophy. A Survey o/Principies, 1 946. - Gustav A. Wetter, li materialismo dialettico sovietico, 1 948; 5" ed. alemã: Der dialektische Materialismus, 1 960; ed. ingl . rev. pelo autor: Dialectical Materialism, 1 95 8 . - ld., Die Um­ kehrung Hegels. Grundzüge und Urspriinge der Sowjet­ philosophie, 1 963 . - J. M . Bochenski, Der Sowjetrus­ sische dialektische Materialismus (Diamat), 1 950; 2ª ed., 1 956; 3ª ed., 1 960. - H. Chambre, Le man:isme en Union Soviétique. ldéologie et institutions de 1 9 1 7 à nosjours, 1 95 5 . - Herbert Marcuse, Soviet Marxism: A Criticai A nalysis, 1 95 8 ; 2ª ed. , 1 96 l (trad. bras. : Mar­ xismo soviético. Uma análise crítica, 1 969). - Richard T. De George, Patterns ofSoviet Thought: The Origins and Development of Dialectical and Historical Mate­ rialism, 1 966. - B. Jeu, La philosophie soviétique et l 'Occident, 1 969. - VV. AA., Soviet Philosophy Revi­ sited, 1 977, ed. Frederick Adelmann. - J. Yakhot, Po­ davleniefilosofii v SSSR (20-30 gody) , 1 98 1 (A opres­ são da filosofia na URSS nos anos 20-30); a obra apareceu na União Soviética em três números suces­ sivos da revista Voprosy filosofii, 9- l 0- 1 1 [ 1 99 1 ]. R. Zapata, Luttes ph ilosophiques en URSS: 1 9221 93 1 , 1 98 3 . - J. P. Scanlan, Marxism in the USSR: A Criticai Survey of Current Soviet Thought, 1 98 5 . H. Sheehan, Marxism and the Philosophy o[Science: A Criticai History, 1 9 8 5 . - D. Bakhurst, Conscious­ ness and Revolution in Soviet Philosophy: From the Bolsheviks to Evald llyenkov, 1 99 1 . Enciclopédia filosófica soviética em ordem alfabé­ tica: Filosofskaá Entsiklopediá, 5 vols., 1 960- 1 970, di­ rigida por F. V. Konstantinof. ••

1 094

FILOSOFIA MEDIEVAL

Em Friburgo (Suíça) funciona um "lnstitute of East­ European Studies", muitos anos sob a direção de J. M . Bochenski. S o b o título geral d e Sovietica, o "lnstitute" publica obras sobre filosofia soviética, incluindo algu­ mas sobre "filosofia soviética fora da União Soviética". Entre elas figuram: Siegfried Müller-Markus, Einstein und die Sowjetphilosophie, 2 vols., 1 960- 1 966. - N. Lobkowicz, Das Widerspn1chsprinzip in der neueren SOltjetischen Phi/osophie. Die Moskauer Tagung zur Frage der dialektischen Wide1:çpriiche, 21-26April 1 958, 1 960 [trad. de textos] . - J. M. Bochenski, Th. J. B la­ keley, G. Küng, N. Lobkowicz et ai., Studies in Soviet Thought, I, 1 96 1 , eds. J. M. Bochenski e Th. J. Blakeley. - Thomas J. Blakeley, Soviet Philosophy: A General Introduction to Contemporary Soviet Thought, 1 964. - Id., Soviet Theory of'Knowledge, 1 964. - M. Lob­ kowicz, Marxismus-Leninismus in der CSR , 1 962 . L. Vrtac ic, Einflihrung in den jugos!awishen Mar­ xismus-Leninismus, 1 963. - Z. Jordan, Philosophy and Jdeology: The Developm e n t of' Philosophy and Mar­ xism-Leninism in Poland since the Second World War, 1 9 6 2 . - B. V Birj ukov, Two Soviet Studies on Frege, 1 964, ed. e trad. Ignacio Angelelli (publicados em russo em 1 959 e I 960). -- Karl G. Bal lestrem, Russian Philo­ sophical Terminology!Russkaá jilosofska á terminolo­ giá/Russische p h ilos op his ch e Term in ologie/Te rm in o­ logie russe de ph i los op hie , I 9 6 4 . -- Jd., Die so 11je ­ tische Erkenntnismetaphysik und ihr Verhiiltnis zu He ­ gel, I 968. -- Guy Planty-Bonj our, Les catégories du matérialisme dialectiq11e: L 'ontologie s ovié tiqu e con­ temp ora ine , 1 96 5 . - O "lnstitute" publica uma revista: Studies in Soviet Th o ugh t , ed. J. M. Bochenski, desde 1 96 l [desde 1 99 3 , Studies in East European Tho ugh t] , e uma coleção bibliográfica intituiada B ihliograph ie der sowjetischen Phi !os oph ie , desde 1 959 [com listas de trabalhos a partir de 1 947]. - Ervin L aszlo. Phi/oso­ p h.1 · in the So v ie t Union : A Su rvey of' the Mid-Sixties, 1 967. --- P T. Grier, Marxist Ethical Tht:my in the Soviet U11io11 , 1 97 8 . - E. M. Swiderski, Th e Philosopliical Foundations ofSrl1'iet A esthetics, 1 979. -- Y. G laziv, The Russian Mi1U/ Since Stalin :S· Death , 1 9 8 5 . -- H. Dahm, T. J. Blakcley, G. L. Kline, eds. , Ph ilos op h ica l Sovie­ tology: Th e P11rsuit ol a Sc ie n c e , 1 9 8 8 . B ibl iogra fia sov ié t ica de tra balhos lógicos : G . Küng, ''Bibliography of Soviet Work i n the Fielel o f Ma­ thematical Logic anel the Foundations of Mathematics -­

from

gic, 3

1 9 1 7- 1 95 7" ,

No!ri' Dume Jo u rmd ofForn;a/

Lo­

( 1 962), l -40. Dicioná rio: Kurt Marko, Sic !'! nrm . Kritisches Wiir­

terh u ch dn soH ietmssischen Marxismus-Leninismus di'!' Gegen wart,

1 962. C

FI LOSO F I A MEDIEVAL. Com esse nome é desig­ nado o período da história da fi losofia que abarca do

século IX ao XIV Esses limites temporais são de certo modo didáticos. Por um lado, já que vários temas da filosofia medieval procedem de Santo Agostinho, às vezes os limites da filosofia medieval foram estendi­ dos até o século V Por outro lado, j á que depois do século XIV persistem não poucas formas e não poucos temas medievais na filosofia, às vezes se estendeu o citado período até os séculos XV e XVI. Contudo, tal extensão é excessiva. Os séculos imediatamente ante­ riores ao IX podem ser designados mais propriamente como os da Patrística (vER); os séculos imediatamente posteriores ao XIV podem ser designados mais propria­ mente como a filosofia do Renascimento (VER). As ra­ zões dadas para estender o período em questão nos dois sentidos poderiam, além disso, ser alteradas. Já que no início da filosofia medieval persistem não poucos temas antigos, e já que desde o século XII revelam-se vários temas modernos, poder-se-ia concluir que a filosofia medieval limita-se aos séculos IX, X, XI e, no máximo, XII e XIII. É conveniente, portanto, adotar a convenção apresentada, que tem bases sólidas pelo fato de que a maior parte dos filósofos que viveram entre os séculos IX e XIV podem ser considerados, sem demasiada im­ propriedade, medievais. A questão das divisões que cabe estabelecer dentro elo citado período presta-se ao debate. No quadro crono­ lógico inserido no final da presente obra pode-se ver quais são os fi lósofos medievais mais importantes em cada um dos séculos, do IX ao XIV Vemos assim que no século IX está John Scot Erígena; no X, Alfarabi, Gerberto de Aurillac; no XI, Avicena, Avicebron, Santo Anselmo, Rosceiino; no XII, Abelardo, São Bernardo, Pedro Lombardo, Averróis, Maimónides; no XIII, Ale­ xandre de Bales, Santo Alberto Magno, Roger Bacon. Pedro Hispano, São Boaventura, Santo Tomás de Aqui­ no, Sigério de Brabante, Raimundo Lúlio, Mestre Eckart, John Duns Scot; no XIV N icolau de Autrecourt, João Ruysbroek, Guilherme de Ockham, João Buridan, Ni­ colau de Oresme, Abenjaldun, João Gerson (indicamos somente alguns nomes para dar uma idéia geral; alguns, além disso, como John Duns Scot, embora, segundo nosso cômputo, pertençam cronologicamente ao século XI l i , costumam figurar em muitas histórias da filosofia medieval como fi lósofo� do século XIV). Contudo uma organização ela filosofia medieval de acordo com os séculos é um expedi.ente tão cómodo quanto pouco es­ clarecedor. Os historiadores buscaram, pois, outras arti­ culações. Falou-se, desse modo, dos primeiros grandes filósofos medievais (cristãos), como John Scot Erígena e Santo Anselmo, e se tentou classificar outras produções filosóficas sob capítulos gerais: platonismo do século X I I ; misticismo, disp uta dos univcrsai�; grandes obras teológicas do século X I I I ; disputas lógicas e semânticas

1 095 do século XIII; escola franciscana; averroísmo latino; neoplatonismo; escolas agostinianas; nominalismo etc., com capítulos especiais para a filosofia árabe (ou mu­ çulmana) e judaica. Alguns autores identificaram a filo­ sofia medieval com a escolástica, mas essa identifica­ ção carece de base suficiente, pois o misticismo especu­ lativo, o platonismo humanista e outras correntes difi­ cilmente se encaixam na segunda. Isso não significa que a escolástica não desempenhe um papel fundamen­ tal na fi losofia medieval; mas, j ustamente devido à sua importância, é conveniente tratá-la separadamente, o que fizemos no verbete EscoLÁSTICA, no qual, além dis­ so, apresentamos divisões dela em períodos que em al­ guma medida correspondem a váríos períodos da filoso­ fia medieval. Outros autores articularam a filosofia me­ dieval de acordo com grandes vias (viae), mas, além de restringir demasiadamente o período medieval ao es­ colástico, isso tem o inconveniente de que se insiste mui­ to em ce1ias grandes figuras e em suas "escolas" (tomis­ mo, scotismo, ockhamismo etc.). Tratamos dessas esco­ las em verbetes separados, que no caso podem ser consi­ derados complementares deste verbete. Também dedi­ camos verbetes a vários aspectos do pensamento rnedie·· vai, como os dedicados a Chartres (Escola de), aos Vito­ rinos, aos Tradutores de Toledo (Escola de) etc. Certos autores identificaram completamente a fi losofia medie­ val com a filosofia cristã, considerando como no máxi­ mo incitadore s ou supleme ntares os grandes movimen­ tos da f iloso fia árabe e j udaica na Idade Média. Em número cada vez maior, todavia, os hi storiadores da fi losofia medieval se deram conta da importância des­ ses movimentos, de tal modo que j á não se pode dizer que a fi losofia medieval seja exclusivamente a fi losofia medieval cristã, mesmo que esta ainda s eja considerada a parte mais importante e influente dela. Também dedi­ camos verbetes específicos à Filosofia árabe e à Fi loso­ fia judaica, destacando seus períodos medievais. Além disso, mesmo que, por exemplo, Avicena e Averróis não sejam simplesmente "precurso res " de alguns dos grandes escolásticos c ristã o s, é certo que muitos dos te­ mas capitais da filosofia medieval árabe e judaica coin­ cidem com os da fi losofia medieval cristã Em primeiro l ugar, é caracierístico da fi losofia me­ dieval o fato rle não ser, como a fi losofia grega, um originar-se do pensame n t o fi losófico ah ovo (ou quase ah ovo ), mas em gran d e medi da uma conti n u ação . por mais importante s que sejam as mo d i fi c aç ões introdu­ zidas, de uma tra dição anterior. Essa tradição é a grega, e a chamada greco-romana. É verdade que niío poucas das intuições fun d amentais da fi losofia medieval - p. ex. as expressas no pensament o agostiniano -- não são de modo algum gregas ou greco-romanas. Porém, na medida em que se expressam e elaboram fi losofica­ mente, não aparecem como ind e pendentes da tradição

FILOSOFIA MEDIEVAL

anterior. No caso da escolástica, as "fixações" gregas aparecem com maior clareza ainda; platonismo e aris­ totelismo não são aqui elementos estranhos, mas às vezes muito plenamente incorporados ao pensamento filosófico medieval. Em segundo lugar, mesmo continuando a men­ cionada tradição, a filosofia medieval não é uma re­ petição dela. De qualquer modo, é uma continuação a partir de um horizonte intelectual e afetivo distinto. Este horizonte é, em geral, o religioso, e, no caso que nos ocupa principalmente, o cristão. Portanto, há na filosofia medieval um importante componente teoló­ gico que não existe na grega. Ou, melhor, enquanto nesta última filosofia incluindo o neoplatonismo -- os elementos teológicos são como que um coroa­ mento da reflexão filosófica, na filosofia medieval eles constituem um ponto de partida. Não se pode descartar da fi losofia medieval a Revelação (e isso corresponde tanto ao pensamento cristão como ao muçulmano e ao j udaico). Ao mesmo tempo, surgem no pensamento fi­ losófico medieval questões que não eram estabeleci­ das no pensamento grego - a questão da re lação entre teologia e filosofia é precisamente uma das mais des­ tacadas. Essa relação foi apresentada de diversas for­ mas: como uma fusão completa, como uma subordi­ nação da segunda à primeir a, da primeira em relação à segunda, como um equi l íbrio etc. Em terceiro lugar. as preocupações mais constantes na filosofia medieval são as que se centram na questão da natureza e das propriedades de Deus e da " relação " entre Deus e o mundo enquanto criador (e especial­ mente da "rel Entre as "primeiras histórias" da filosofia moderna mencionamos: Johann Eduard Erdmann, Versuch einer wissenschajilichen Darstellung der Geschichte der neue­ ren Philosophie, 6 vols., 1 834- 1 85 3 , reimp., em 7 vols., ed. H . Glockner, 1 93 1 ss. - Charles Renouvier, Manuel de philosophie moderne, 1 842. - Hermann Ulrici, Ges­ chichte und Kritik der Prinzipen der neueren Philoso­ phie, 1 845 . - Uma história "clássica", hoje considerada ultrapassada, mas com abundantes dados, é a de Kuno Fischer, Geschichte der neueren Philosophie, 1 0 vols., l 854 s s. ; nova ed. (Jubiliiumsausgabe), l 897ss. (vai de Descartes a Schopenhauer). - Além disso: F. Papillon, Histoire de la philosophie moderne dans ses rapports avec /e développement des sciences de la nature, 1 876. - F. Bowen, Modem Philosoph_v .fi-e>m Descartes to Schopenhauer and Hartmann, 1 877 . - W. Windelbancl, Die Geschichte der neueren Philosophie in ihrem Zusa­ mmenhang mil der allgemeinen Ku/tur und den besonde­ ren Wissenschafien. 1. Von der Renaissance bis Kant, 1 878; II. Die Bliitezeit der deutschen Philosophie, 1 8 80 (vá­ ria s eds . ; do mesmo autor, a parte de filosofia moderna em Die Philosophie der Gegenwurt, ed. P Hinneberg, I , V, 1 909). - G. M . Bert i n i , Storia dellajilosofia moder­ na. I (dai 1 596 ai 1 690), 1 88 L -- A. Stock!, Gesclzichte der neueren Philosophie von Bacon und Cartesius bis zur Gegenwart, 2 vo ls. , 1 8 83. - R. Falckenberg, Ges­ chichte der neueren Philosophie 1 •011 Nikvlaus von Kues bir zur Gegenwart, 1 886. - H . H êi ffd ing , Der nyere Fi­ /osofie Histoire. l 894ss. - E. Blanc, Histoire de la phifosophie et particulierement de la phi/o.1ophie con ­ lemporaine, 3 vols., 1 8 9 7. - R. Ad am son . The Develop­ ment of'!vlodern Philosophy with other Lectures and Es­ says, 2 vols., 1 903 .

1 099 Entre as histórias posteriores mencionamos: Lud­ wig 8usse, Die Weltanschauung der grossen Philoso­ phen der Neuzeit, 1 905. - 8. 8auch, Neuere Philoso­ phe bis Kant, 1 908. -- J. Freyer, Geschichte der Ges­ chichte der Philosophie im achtzenten Jahrhundert, 1 9 1 1 . - E. von Aster, Grasse Denker, 2 vols., 1 9 1 2 . - A Messer, Geschichte der Philosophie vom Beginn der Neuzeit bis zum Ende des 1 8. Jahrh. , 1 9 1 2 . - F. Jõdl, Geschichte der neueren Philosophie, 1 924. -- M. Gentil e, Jl problema della filosofia moderna, I , 1 950. - Francisco Romero, Historia de lafilosofia moderna, 1 959. -- John Hermann Randall Jr. , The Career o{Phi­ losophy, 3 vols., l 962ss. - Stefan Swiezawski, Dzieje filozofii europejskiej w XV wieku, 5 vols., l 974ss. [sobre o século XV] . - R. Kearney, Modern Movements in European Philosphy, 1 986. - J. Collins, A History of Modern European Philosoplzy, 1 986. - G . Vesey, ed., Philosophers Ancient and Modern, 1 986. - S . V Ro­ vighi, História da.filosofia moderna, 2ª ed., 2000. Em verbetes separados foram indicadas as obras mais importantes relativas à história de distintos concei­ tos ou disciplinas filosóficas na época moderna. - Ver também ILUSTRAÇÃO para obras sobre o século XVI I I . Para a história d o espírito moderno: John Hermann Randall Jr. , The Making ofthe Modern Mind, 1 926. W. W. Lowrance, Modern Science and Human Values, 1 985. - R. J. Connell, Substance and Modern Scien­ ce, 1 988. -- S. H. Daniel, Myth and Modern Philo­ sophy, 1 990. Sobre o caráter da filosofia moderna: Josiah Royce, The Spirit o{Modern Philosophy, 1 892. - 8. Croce, // carattere della filosofia moderna, 1 94 1 . Para o conceito do moderno: Rudolf Eucken, "Zum Begriff des Modernen", Gestige Stromungen der Ge­ genwart, 1 904, pp. 273ss. Para as "filosofias nacionais", além das obras men­ cionadas nos verbetes FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA e F I LO­ SOFIA ( HISTÓRIA DA) (por exemplo: as relativas à filosofia espanhola e à portuguesa desde antes da época moderna e no século XVI), ver os seguintes l ivros: Para a filosofia alemã: J. Willm, Histoire de la phi­ losophie allemande depuis Kantjusqu 'à Hegel, 4 vols.: I, 1 846; II, III, 1 847; IV, 1 849. - É. 8réhier, Histoire de la philosophie allemande, 1 92 1 ; 3' ed., atualizada por P. Ricoeur, 1 954. - E. 8echer, Deutsche Philoso­ phen, 1 929. - Jean-Édouard Spenlé, La pensée alle­ mande de Luther à Nietzsche, 1 934. - Max 8ense, Vom Wesen deutscher Denker, 1 93 8 . - Hermann Glo­ ckner, Vom Wesen der deutschen Philosophie, 1 94 1 . Lewis White 8eck, Early German Philosophy: Kant and His Predecessors, 1 969. Para a filosofia belga: M . de Wulf, Histoire de la philosophie en Belgique, 1 9 1 O. -

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FILOSOFIA MODERNA

Para a filosofia espanhola: Mario Méndez 8eja­ rano, Historia de la filosofia en Espaiia, s/d. ( 1 920). - Alain Guy, Esquisse des progres de la spéculation philosophique et théologique à Salamanque au cours du XVI' siecle, 1 943 (tese) . - Olga Victoria Quiroz­ Martínez, La introducción de la filosofia moderna en Espaiia, 1 949. - Luis Martínez Gómez, "Bosquejo de historia de la filosofia espaiíola", em Johannes Hirs­ chbcrger, Historia de lafilosojla, trad. esp., 4ª ed., 1 960, vol. 2, pp. 403-486. - 8ernice Hamilton, Political Thought in Sixteenth Century Spain: A Study ofthe Po­ litical Ideas o/Vitoria, De Soto, Suárez, and Molina, 1 964. - Vicente Muiíoz Delgado, La lógica nominalista en la Universidad de Salamanca (1 5 1 0- 1 530), 1 964. José Maria López Piiíero, Ciencia y medicina moder­ nas en la Espaiia de! sigla XVII, 1 966. -- Ivo Hõlhuber, Geschichte der Philosophie im spanischen Kulturbe­ reich, 1 967. - Guil lermo Fraile, Historia de lafiloso­ ;7a espaiiola, 2 vol s., 1 97 1 - 1 972. - Carlos G. Noreiía, Studies in Spanish Renaissance Thought, 1 97 5 . - J. L. Abellán, Historia crítica de! pensamiento espaiiol, vol . 3, 1 98 1 . - Para filosofia catalã: Tomas Carreras i Artau, lntroducció a la historia dei pensament.filàsofic a Catalunya, 1 93 1 . Para a filosofia francesa: A. Cresson, Les couranrs de la pensée philosophiquefrançaise, 2 vols., 1 927. Naguib 8aladi, Les constantes de la pensée française, 1 948. - Henri Gouhier, Les grandes avenues de la pen­ sée philosophique en France depuis Descartes, 1 966. Para a filosofia holandesa: G . von Anta!, Die hol­ liindische Philosophie im 1 9. Jahrhundert, 1 888. - J. P. N. Land, De Wijsbegeerte in de Nederlanden, 1 899. - L. 8rulez, Holliindische Philosophie, 1 926. - Fer­ dinand Sassen, De Wijsbegeerte der Middeleeuwen in de Nederlanden, 1 944. -- Id., Geschiedenis van de Wijs­ begeerte in Nederland tot het einde der negentiende eeuw, 1 959. - J. J. Poortman, Repertorium der Neder­ landse Wijsbegeerte, 1 948. - P. Dibon, La philoso­ phie néerlandaise, I, 1 954. Para filosofia grega moderna: Th. 8oreas, Neugrie­ chische Philosophie, 1 92 8 . - K. Axelos, "Philosophie néohellénique", Les É tudes Philosophiques, N. S. nn. 3-4 ( 1 950) (refere-se ao artigo sobre filosofia neo-he­ lênica publ icado por G. S. 8oumblinopoulos na rev ista grega Idea e à Breve história da filosofia neohelénica, de Dimis Apostopoulos, de 1 950). - E. P. Papanout­ sos, ed., N E O E /\ /\ H N I K H Obras: Outlines of Cosmic Philosophy Based on the Doctrine of'Evolution, With Criticism on the Positive Philosophy, 2 vols . , 1 874. - The Unseen World, 1 876. - Excursions of'an Evo/utionist, 1 88 3 . - The Destiny o/Man Viewed in the Light ofHis Origin, 1 884. - The !dea of God as Ajfected by Modem Knowledge, 1 88 5 . - Darwinism and Other Essays, 1 8 8 8 . - Through Nature to God, 1 899. -- A Cenflll}' of'Science, and other Essays, 1 899. - Live Everlasting, 1 90 1 . - Miscel/a­ neous Writings, 1 902. Correspondência: John Spencer Clark, The Life and Letter.1· ofJ F, 2 vols., 1 9 1 7, e Ethel E Fisk, ed. , The Let­ ters o/'J F, 1 940. Ver, além da obra de Schneider supra (pp. 32 1 ss. ) : E. D. Mead, J F as a Philosopher, 1 886. - Gustav Reese, Evolutionismus und Theismus bei J F, 1 909 [ Abhand­ lungen zur Philosophie und ihrer Geschichte, ed. K. Falckenberg, 9] . - M ilton Berman, J F The Evolution of' a Popularizer, 1 96 1 . Obras: lnstitutionum Dialecticarum libri octo, 1 567. Ed. crítica: Instituições dialéticas: Jnstitutionum Dialecti­ ca111m /ibri octo, com trad. portuguesa e notas, por Joa­ quim Ferreira Gomes, 2 vols., 1 964. - Commentario­ rum . . . in libras Metaphysicorum A ristotelis Stagiritae tomi quatuor, Colônia (1, 1 5 77; li, 1 5 89; l l l , 1 604; IV, 1 6 1 2). Reimp. da edição de Colônia (4 vols., 1 6 1 5- 1 629), 2 vols. , 1 964. - lsagoge Philosophica, 1 59 1 . Ver: M . Uedelhofen, Die Logik Petrus Fonseca.1-, 1 9 1 6 (Caderno X I I I da série Renaissance und Philoso­ phie, ed. A. Dyroff). - M. Solana, Historia de lafilo­ sofia e:,pafíola. Época dei Renacimiento (Siglo XVI) , volume I I I , 1 94 1 , pp. 3 3 9-366. - VV AA., número especial de Revista Portuguesa de Filosofia, tomo IX (fase. iv), 1 95 3 , com o título geral : Pedro da Fonseca, o "Aristóteles português, l 52R- l 599 . - Custódio Au­ gusto Ferreira da Silva, Teses fundamentais da gno­ seologia de Pedro da Fonseca, 1 959. - E. J. Asch­ worth, "P. F. and Material lmplication", Notre Dame Journal of Formal Logic, 9 ( 1 968), 227-228 . - A. A. Coxito, "Método e ensino em P. da F. e nos conim­ bricenses", Revista Portuguesa de Filosofia, 36 ( 1 980), 88- 1 07 . e "

FONTE DA VIDA. Ver Av1cEIJRON . FONTE N E LL E , B E RNARD LE BOV I E R DE ( 1 657- 1 757). Nascido em Rouen, secretário perpétuo da Académie des Sciences, defendeu e popularizou a fi losofia cartesiana, e em particular a fisica e a astrono­ mia de Descartes (ver CARIL·.SIANISMo) . Expôs também para o grande público as doutrinas astronômicas de Co­ pérnico e de Gal ileu. Embora tenha publicado um elo­ gio de Newton, opôs-se ao conceito de gravitação como incomprovável "causa distante" e defendeu a teoria car­ tesiana dos "tourbillons". Fontenelle declarou-se parti­ dário dos "modernos" na "querela entre os antigos e os modernos", mas reconheceu o valor dos escritores do passado para sua própria época. Com isso contribuiu para a fundamentação da doutrina do "progresso", tão discutida durante o século XVI I I . Em seus escritos de interpretação histórica, procurou explicar mitos e fábu­ las antigos como tentativas de dar conta de um modo primitivo dos fenômenos da Natureza. Em suas idéias religiosas declarou-se partidário do deísmo tanto contra o ateísmo como contra as crenças religiosas positivas. Em seus últimos escritos, Fontenelle inclinou-se para o empirismo e para uma teoria do conhecimento funda­ da nos sentidos, o que o induziu a rej eitar as idéias uni­ versais e a manter uma doutrina nominalista.

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FORÇA � Obras: Entretiens sur la pluralité des mondes, 1 686. - Doutes sur les causes occasionelles, 1 686 [crítica de Malebranche]. Histoire des oracles, 1 68 7 . Éloge de Newton, 1 727. - Outros escritos: Digression sur les anciens et les modernes. - Sur / 'histoire. De ! 'origine des fables. - Du honheur. - De / 'exis­ tence de Dieu. - Éléments de la géométrie de l 'infini. -- Fragments d 'un Traité de la raison humaine. - De la connaissance de l 'esprit humain. - Théorie des tour­ billoons cartésiens. Edição de obras: Oeuvres, 1 724; 1 742; 1 752- 1 757; 1 758- 1 766; 1 76 1 - 1 767; 1 78 5 ; 1 790; 1 8 1 8 . Ed. crítica, 5 vols. (Paris, 1 924- 1 935). Bibliografia: S . Delorne, "Contribution à la biblio­ graphie de F.", Revue d 'Histoire des Sciences et de Leurs Applications, 1 O ( 1 957). Ver: A. Laborde-Milan, F. , 1 90 5 . L . Maigron, F. l 'homme, l 'oeuvre, l 'influence, 1 906. - J. R. Carré, La philosophie de F ou !e sourire de la raison, 1 932. F. Grégoire, F., 1 947. --- S. Delorme, G. Canghilehm et ai. , Fontenelle 1 65 7- 1 75 7, em número especial de Re­ vue d 'Histoire des Sciences et de leurs applications, 1 O ( 1 957), 289-384. - Giuseppe Lissa, Cartesianis­ mo e anticartesianismo in F, 1 97 1 . - Alain Niderst, F à la recherche de lui-même (1 65 7-1 702), 1 972. - G . Lissa, F Ira scetticismo e nuova critica, 1 97 3 . - M . T. Marcialis, F Un.filosojó mundano, 1 97 8 . - B. Femmer, "Vernünftige Skepsis, skeptische Vernunft. F. und die Anfange der Aufkliirung", Germanisch-Romanische Monatschrifi. 63 ( 1 982). C: -

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FORÇA. Ver ENERGIA; MATI°'. RIA; POTÊNCIA. FORÇA ILOCUCION Á RIA (INLOCUTIVA). Ver lLOCCCIONÁRIO. FOREST, A I M É . Ver NrnmMISMO. FORGE, LOUIS DE LA, médico em Saumur por volta de 1 666, foi um dos mais destacados cartesianos do sé­ culo XVII e um dos que prepararam a tendência filo­ sófica conhecida pelo nome de ocasionalismo (vER). Como vimos no verbete citado. De la Forge parte do dualismo cartesiano corpo-alma e destaca que somente a intervenção de Deus como causa principal pode fazer compreender a interação entre as duas substânc ias (e, de modo geral, entre quaisquer substâncias). razão pela qual o que geralmente se chama de causas deve ser co­ nhecido como causas ocasionais. Contudo. ao contrário do que outros ocasional istas sustentaram, De la Forge não supõe que a intervenção divina seja constante, mas, analogamente a Leibniz, consi dera que basta uma in­ tervenção no início para estabelecer uma harmonia nas ações entre substâncias; o que chamamos de relação causa-efeito é, nesse caso, resultado de uma harmonia preestabelecida.

� Louis d e l a Forge editou, e m colaboração com o cartesiano Claude Clerselier ( 1 6 1 4- 1 684), o Traité de l 'homme, de Descartes ( 1 664) . Como continuação desse Tratado, Louis de la Forge escreveu: Traité de / 'Esprit de l 'homme, de sesfacultés etfonctions et de son union avec !e corps suivant les principes de René Descartes, 1 666. - Há ed. latina com o título Tractatus de mente humana, 1 669. Ed. de obras : Oeuvres philosophiques, 1 974, ed. Pierre Clair (com estudo bio-bibliográfico). Ver: F. Bouillier, Histoire de la philosophie carté­ sienne, 2 vols., 1 854; 3ª ed., 1 868. - H. Seyfarth, L. de Forge und seine Stellung im Occasionalismus, 1 887 (tese). - E . Wolff, De la Forges Psychologie und ihre Abweichung von Descartes, 1 894 (tese). - A. G. A. Balz, Cartesian Studies, 1 95 1 , pp. 80- 1 95 . Ver também a bibliografia d e OCASIONALISMO. C:

FORL i , JACOB DE. Ver JACOB DE FoRLi. FORMA. Trataremos neste verbete da forma ! ) no sen­ tido filosófico geral e particularmente metafísico, II) no sentido lógico, I li) no sentido epistemológico, IV) no sentido metodológico e V) no sentido estético. 1) Sentidofilosófico geral e particularmente metafi­ sico . Em FIGURA observamos que às vezes se distingue figura de forma. Essa distinção corresponde à existen­ te entre a figura externa e a figura interna de um objeto. O primeiro conceito conduz freqüentemente ao segun­ do. Isso ocorreu entre os gregos; ao supor que um objeto tem não somente uma figura patente e visível, mas tam­ bém uma figura latente e invisível, forjou-se a noção de forma enquanto figura interna apreensível apenas pela mente. Essa figura interna é chamada às vezes de idéia e às vezes de forma. O vocábulo mais usualmente empregado por Platão para esse propósito é eToos , ver­ tido para o latim, de acordo com o caso, por forma, species. notio e genus. Ele é encontrado em numerosas passagens dos diálogos de Platão. Mencionamos, entre as mais significativas, as seguintes: Charm. , 1 54 D; Critias, 1 1 6 D; Prot., 352 A; Symp. , 1 89 E, 1 96 A, 205 B, 2 1 O B ; Phaed. , 73 A; Phaedr., 1 02 B, 1 03 E, 229 D. 246 B, 263 B, 265 C ; Theait. , 1 48 D, 1 78 A, 204 A; Rep. (Pol.) , II 402 D, I V 424 C, V I 5 1 0 D; Parm . , 1 32 D, 1 49 E; Soph . , 2 1 9 A, 246 B, 440 B; Phil. , 1 9 B; Tim . , 51 A, 5 7 C; Leg., 1 645 A. Não podemos nos ocu­ par aqui da interpretação dos diversos sentidos da forma platônica (como idéia, noção, espécie, gênero etc.); refe­ rências a ela encontram-se nos verbetes I DÉIA e PLATÃO. Em contrapartida, trataremos com alguma extensão da concepção aristotél ica da forma antes de nos referir­ mos às classificações escolásticas e a vários dos proble­ mas que suscita para a época moderna a contraposição clássica entre a forma e a matéria. Aristóteles i ntroduz a noção de forma, doos, às vezes µopcp� . Tà TÍ �v elvm . Tà TÍ ecrn, em muitas

1 1 27 passagens d e suas obras, mas especialmente n a Física e na Metafisica. A forma é entendida às vezes como a causa (vER) formal, em oposição à causa material; essa contraposição entre os dois tipos de causa é paralela à contraposição mais geral entre a causa formal e a ma­ téria (vER). A matéria é aquilo com o que se faz algo, a forma é o que determina a matéria para ser algo, i sto é, aquilo pelo que algo é o que é. Assim, em uma mesa de madeira a madeira é a matéria com a qual é feita a mesa, e o modelo que o carpinteiro seguiu é sua forma. Desse ponto de vista, a relação entre matéria e forma pode ser comparada com a relação entre potência e ato (vER). Com efeito, sendo a forma o que é aquilo que é, ela será a atualidade do que era potencialmente. Ora, convém distinguir os dois pares de conceitos menciona­ dos. Enquanto a relação matéria-forma se aplica à rea­ lidade em um sentido muito geral e, por assim dizer, estático, a relação potência-ato aplica-se à real idade na medida em que essa realidade está em movimento (ou seja, em estado de devir [VER] ). A relação potência­ ato nos faz compreender como mudam ( ontologicamen­ te) as coisas; a relação matéria-forma nos permite en­ tender como são compostas as coisas. Por esse motivo, o problema do par de conceitos matéria-forma é equi­ valente à questão da composição das substâncias e, a rigor, de todas as realidades. Por exemplo, enquanto as substâncias sublunares mudam e se movem, e os astros se movem (com movimento circular local), e mesmo o Primeiro motor, embora não se mova, constitui um cen­ tro de atração para todo movimento, as entidades mate­ máticas nem mudam nem se movem nem constituem centros de atração para o movimento. E, contudo, tai s entidades também tem matéria e forma. Em uma linha, por exemplo, a extensão é a matéria e a "pontualidade" (ou fato de ser constituída por uma série de pontos), a forma, a qual pode ser extraída da matéria mesmo que nunca tenha existência separada. Assim, o problema da forma pode ser estudado de modo universal, o que não significa que as distintas classes de formas não exijam investigação particular. São vários os problemas suscitados a respeito da noção aristotélica da forma. Aqui nos limitaremos aos mais significativos. Em primeiro lugar, o problema de haver ou não formas separadas. Aparentemente não, já que toda rea­ lidade é composta de forma e matéria. Mas Aristóteles declara que a filosofia primeira tem por missão exami­ nar a forma verdadeiramente separável, e sabe-se que o Primeiro Motor é forma pura sem nada de matéria. Pode-se, por conseguinte, admitir a existência, dentro do aristotelismo, daquilo que foi chamado de formas subsistentes por si mesmas. Em segundo lugar, há o problema do significado do termo ' forma' dentro do par de conceitos ma téria ­ forma. Em nosso entender, esse significado é mais bem

FORMA

compreendido quando tomamos, provisoriamente, o ter­ mo ' forma' como um termo relativo (relativo ao termo ' matéria'). Isso permite entender como determinada "entidade" pode ser, de acordo com o caso, forma ou matéria. Desse modo, a madeira, que é matéria para uma mesa, é forma em relação à extensão. A extensão, que é matéria para a madeira, é forma em relação à possibilidade. Isso estabelece para Aristóteles um pro­ blema: se não há modo de deter-se na mencionada su­ cessão (pois a possibilidade de extensão espacial pode transformar-se em forma para a possibilidade da possi­ bilidade de extensão espacial etc.) cairemos em uma re­ gressão ao infinito. Com o fim de evitá-la, podemos interpretar o par matéria-forma no sentido platônico, isto é, conceber a matéria como o indeterminado e a forma como o determinado. M atéria e forma seriam então equivalentes, respectivamente, ao Não-Ser e ao Ser, ao que é essencialmente Incognoscível e ao que é essencialmente Cognoscível. Mas com isso deveríamos admitir que matéria e forma não são termos relativos, e sim realidades plenas. x não seria forma em relação a y, e matéria em relação a w, mas x seria mais forma que y, e w seria mais forma que x (ou, se se prefe1ir, x seria mais real que y, e w mais real que x). Uma vez que isso não é admissível à luz da filosofia de Aristóteles, deve-se encontrar um modo de evitar tanto a regressão ao infini­ to como o platonismo. A solução que propomos pode ser esclarecida mediante as duas observações seguintes. a) A matéria pura é impensável, pois não pode ser racionalmente apreendida. Até a possibilidade nunca é mera possibil idade : é sempre "possibil idade de . . .". Assim, o receptáculo indeterminado platônico, disposto para receber qualquer forma, deve ser excluído. Isso, seja dito de passagem, explica por que, segundo Aris­ tóteles, nem todas as matérias são igualmente aptas para receber todas as formas. Há, de fato, diferentes classes de matéria (matéria para o movimento local; matéria para a mudança substancial etc.; cf. Phys. , 260 b 4). A madeira é matéria para uma estátua, uma mesa ou uma casa, e não para uma sinfonia; a tinta é matéria para os signos, e não para os astros etc. Desse modo, a matéria é sempre qualificada, não porque tenha sempre certas qualidades dadas, mas ao menos porque sempre há matéria para certas qual idades que excluem outras qualidades. b) A forma pura é pensável, pois o Primeiro Motor é forma pura. Dir-se-á que esse Pri meiro Motor é uma exceção, já que o universo de Aristóteles parece com­ posto de Primeiro Motor e de substâncias compostas. Mas se, em vez de uma concepção transcendente do Primeiro Motor, defendemos uma concepção imanente, a questão antes levantada torna-se menos aguda. Em terceiro lugar, há o problema de até que ponto a forma constitui o princípio de indiviàuação. Excluí­ mos aqui essa questão, por termos tratado dela separa­ damente (ver I N DiVI DUAÇÃo).

FOHMA

Por fim, pode-se estabelecer o problema - já cita­ do anteriormente - das diversas classes de forma. Esse problema, embora tratado por Aristóteles, foi elaborado com mais ampl itude e precisão pelos autores escolás­ ticos, razão pela qual agora os abordaremos. Mencio­ naremos aqui algumas das classes principais. Temos : a) formas artificiais, como a forma da mesa ou da está­ tua; b) formas naturais, como a alma; e) formas s ubs ­ tanciais, como as que compõem as substâncias cor­ póreas e que são estudadas detalhadamente na doutrina do hilemorfismo (vrn); d) formas acidentais, que se acrescentam ao ser substancial para individualizá-lo, como a cor; e) formas puras ou separadas (ou subsis­ tentes), que se caracterizam por sua pura atualidade ou realidade;_/) formas inerentes, que se entendem somente na medida em que se aplicam a uma matéria; g) formas individuais; h) formas exemplares etc . Essa classifica­ ção não significa que um ser ou seres determinados que consideramos como formas pertençam exclusivamen­ te a uma classe de formas. Assim, por exemplo, a alma humana é ao mesmo tempo forma separada e inerente, porque é um ente imortal e uma enteléquia do orgânico. Por outro lado, às vezes se agrupam as mencionadas classes de formas, e outras que aqui não mencionamos, em classes mais amplas. Alguns autores indicam, com efeito, que há formas.fís icas (como a substancial ou aci­ dental) e formas metafisicas (como a diferença de gêne­ ro). Em tudo isso se percebe, seja dito de passagem, que embora o termo ' forma' seja considerado (ao relacio­ nar-se com o de ' matéria') um termo relativo, isso não esgota o significado do conceito de forma nem dispensa que se considere a forma, em casos importantes, como realidade. Por isso examinamos antes o problema do significado como um dos problemas e avisamos, além disso, que o tomamos enquanto termo relativo apenas "provisoriamente". Entre os problemas debatidos pelos escolásticos em que aparece a noção de forma destacaremos o da unidade ou pluralidade de formas, em particular no ser humano . Esse problema recebeu diversas soluções: há apenas uma forma, que é a alma racional; há uma forma rac ional e uma forma do corpo ou da corporalidade; há uma série de formas que se organizam hierarquica­ mente. A questão, porém, adquiriu particular veemên­ cia a partir dos debates que, por volta de 1 270, fizeram Tomás de Aquino e João Pecham se enfrentar. Segundo Gi lson, esses debates foram suscitados não somente pelo problema antropológico da unidade substancial entre corpo e alma, mas também, e especialmente, pelo problema teológico da natureza do corpo de Cristo entre o momento da morte e o da ressurreição. As atitudes adotadas com relação a isso pelos filósofos escolásti­ cos e os argumentos formulados para defendê-las são de índole muito complexa. Aqui nos limitaremos sim­ plesmente a indicar que uma série de pensadores, como

1 1 28 Tomás d e Aquino, Egídio Romano, Egídio d e Lessines e outros, inclinaram-se a favor da tese da unidade da forma, enquanto vários outros, como João Pecham, Roberto Kilwardby, Ricardo de Middleton, declararam­ se a favor da tese da pluralidade. Observemos, contudo, que a afirmação da unidade substancial entre corpo e alma não foi interpretada por todos os autores do mesmo modo. Tomás de Aquino, por exemplo, deu-lhe uma in­ terpretação que podemos qualificar de moderada, pois, embora supusesse que a matéria é em princípio somen­ te um ser passivo, admitia que ela participa da forma convertendo-se em ser vivo, enquanto Egídio Romano sustentou uma interpretação extremista, segundo a qual a forma do corpo - ou alma - e o corpo são entidades separáveis e não se necessita em absoluto de qualquer forma da corporalidade, nem sequer como forma aciden­ tal . A variedade de interpretações também é muito grande entre os partidários da doutrina da pluralidade das for­ mas, desde aqueles que se aproximam em alguns pon­ tos das teses da unidade substancial até os que a rejei­ tam por inteiro. Com exceção das orientações escolásticas ou das tendências parcialmente influenciadas por elas, a época moderna manifestou ou pouca inclinação a util izar o vocábulo 'forma' para designar um conceito metafisico fundamental ou escasso interesse em precisar seu signi­ ficado. É verdade que Francis Bacon deu considerável importância à noção de forma, entendendo por ela a essência ou a natureza e propondo que a fisica investi­ gasse essas formas por meio de um processo indutivo. Mas, à parte esse conceito ter ficado insuficientemente delineado, ele não exerceu influência aprec iável. As complexidades no uso do termo aumentaram, além dis­ so, porque se adotou freqüentemente o par matéria­ .forma corno equivalente do par conteúdo-.forma. Em alguns casos, a precisão estrita não é necessária pois o próprio uso permite entender o que significam os vocá­ bulos. Assim ocorre, por exemplo, em Kant, quando este chama de matéria do fenômeno o que nele corres­ ponde à sensação, e de forma ao "que faz que o que há no fenômeno de diverso possa ser ordenado em certas relações". O mesmo ocorre quando o c itado filósofo er­ gue a doutrina das formas puras da sensibilidade ( espa­ ço e tempo), das formas puras do entendimento ( catego­ rias) e das formas da razão ( idéias) que permitem a ordenação da "matéria" que em cada caso é dada a elas. Mas já nas expressões "forma da moralidade" e "moral formal" penetra urna boa quantidade de arnbigüidades. Pouco a pouco o termo ' forma' foi sendo entendido não como a atualidade nem tampouco corno o a priori, mas corno o que é suscetível de abarcar qualquer con­ teúdo. Alguns fi lósofos contemporâneos aproximaram a noção de forma da de possibilidade e a de matéria ou conteúdo da de realidade dada em todas as suas espécies,

1 1 29 inclusive nas formais. Por isso s e disse que existem formas de formas, ou seja, formas que se aplicam a "conteúdos formais" que nos envolvem sem nos pene­ trar. Um caso no qual se rastreia esse uso é o de Emil Lask, que fala da forma primitiva ou originária da cate­ goria suprema e única não suscetível de ser envolta por nenhuma outra forma categorial. Em outras ocasiões tende-se a usar ' forma' para designar certas proprie­ dades ou notas; por exemplo, o inerte nos organismos vivos ou nas estruturas sociais. Então a forma designa o que é estático em uma realidade. Daí que se fale do que possui "meramente forma" como se carecesse de conteúdo e de existência obj etiva, ao contrário do uso tradicional de ' forma ' , no qual o vocábulo denota justa­ mente o que possui real idade e atualidade. Conseqüên­ cia disso é a oposição freqüente entre o formal e o em­ pírico, entre o que é considerado in concreto e in abs­ tracto. Alguns pensadores (como os fenomenólogos) re­ jeitaram, porém, a equiparação da forma com o a priori. No entender destes últimos, a idealidade pode ser tanto formal como material, e as individual idades empíricas podem existir em virtude de sua participação em essên­ cias materiais e não necessariamente formais. Em vista disso, convém definir cuidadosamente o vocábulo ' for­ ma' cada vez que seja empregado, especialmente quan­ do, como é freqüente, se tende a considerar a forma como a propriedade do que é formal, com a conseqüên­ cia de confundir uma noção metafisica com uma no­ ção lógica. II) Sentido lógico. Na lógica clássica faz-se a dis­ tinção entre a forma e a matéria do juízo. A matéria é o que muda no juízo; assim, o suj eito ' João ' e o predi­ cado 'bom' no j uízo 'João é bom ' constituem a maté­ ria. A forma é o que continua inalterável. Desse modo, no juízo anterior a cópula 'é' constitui a forma. Na ló­ gica atual costuma-se chamar de constante (vER) (ou elemento constante) a forma, e de variável (ou elemento variável) a matéria. Assim, na proposição 'Todos os homens são mortais ' , o quantificador universal 'todos' e o verbo ' são ' chamam-se constantes (ou formas) e 'homens ' e ' mortais' são qualificados de variáveis (ou matéria) da proposição. As formas também são chama­ das de partículas lógicas, qualificando-se de estrutura lógica a estrutura composta dessas partículas ou for­ mas. Pode-se entender com isso a freqüente afirmação de que a lógica se ocupa somente de proposições ver­ dadeiras ou falsas a priori em virtude de sua fi!rma, e o fato de que as deduções que a lógica efetua sejam consideradas deduções formais. A noção de forma lógi­ ca suscita, além disso, outros problemas; a alguns deles nos referimos nos verbetes FORMALISMO e FoRMALIZA\ÀO. I l i ) Sentido epistemológico. Pode-se dar um sentido epistemológico à noção de forma mentis (literalmente "forma da mente") enquanto estrutura mental que colo-

FORMA

ca as real idades, os fenômenos, os dados, os fatos etc., dentro de um contexto conceituai. O sentido epistemológico mais conhecido de 'forma' é o que tem esse termo em Kant (vER) quando esse autor fala das "formas a priori", e especificamente das "for­ mas a priori da sensibilidade" (espaço e tempo) . Em geral, trata-se de estruturas que tornam possível ordenar o material da experiência - ou do "dado" na experiên­ cia - convertendo-o em objeto de conhecimento. Se­ gundo Kant, a matéria no fenômeno corresponde à sensa­ ção; sobre ela se impõe a forma para ordená-la. É de se notar que num outro momento em que Kant introduz a noção de forma - a forma suprema da lei mo­ ral que é o imperativo (VER) categórico - trata-se de um conteúdo: o próprio conteúdo da pura lei moral. Mas o termo 'forma' não tem então um sentido epistemológico. IV) Sentido metodológico. Esse sentido aparece em algumas das análises do conceito de forma nos quais se apresenta o problema do conhecimento. Aqui nos li­ mitaremos a destacar uma das interpretações do sentido metodológico do termo ' forma ' : o que foi posto em cir­ culação por Cassirer. Esse autor assinalou que ao longo da história da fi losofia destacaram-se dois métodos gerais de conce­ ber a realidade : um baseado na causa (vrn) e outro ba­ seado na forma. A fi losofia antiga e a medieval tende­ ram ao último; a fi losofia e a ciência modernas, ao primeiro. Mas a crise contemporânea da ciência natural forçou alguns autores a se desviar um tanto das orienta­ ções modernas. I sso se manifesta na tendência de usar conceitos como os de estrutura, campo e totalidade, sem que isso implique transformar as causas eficientes em causas finais. O uso destes conceitos na ciência na­ tural tornou possível que não se considerasse impróprio aplicá-los à ciência cultural. Mais ainda: as ciências culturais são aquelas nas quais o emprego do método da forma permite alcançar resultados mais efetivos. As ciências culturais também se referem, naturalmente, ao devir, e nesse sentido não se pode excluir delas a consi­ deração causal. Mas esse devir é somente o conjunto dos processos seriais e não o princípio de qualquer série. Assim, ao contrário das ciências naturais (mesmo nos casos em que a noção de estrutura é nelas util izada), as ciências culturais dedicam atenção a certas formas que podem ser entendidas por analogia com os U1phano111e­ ne goethianos. Por isso Cassirer diz que a origem da função simbólica - que é para ele o objeto capital das ciências culturais, de acordo com sua idéia do homem como animal symholicum - não é compreensível por meios "científicos", isto é, predominantemente causais. No âmbito cultural, "todo devir permanece dentro de determinado ser", ou seja, dentro da "forma" em geral. Por isso esse devir pode ser designado, empregando uma expressão platônica, como um yÉvrn1s Eis oúoíav, co­ mo "um devir rumo ao ser''.

FORMA

(V) Sentido estético. Na estética costuma-se distin­ guir a forma do conteúdo. Essa distinção é semelhante à estabelecida na metafisica entre forma e matéria, mas, enquanto metafisicamente a forma é não-sensível (é "in­ telectual", conceituai etc .), esteticamente é sensível. Além disso, enquanto metafisicamente a matéria é aquilo com que se faz algo que alcança esta ou aquela forma, o que é determinado por esta ou aquela forma, na esté­ tica o conteúdo é o que se faz, ou o que se apresenta, dentro de uma forma. Na metafisica a forma é geralmente universal - mesmo as chamadas "formas singulares" supostamente possuem sua própria "formalidade" -, enquanto na estética é singular. O caráter singular, par­ ticular e único da forma estética não lhe retira, entretan­ to, sua dimensão significante. Alguns estetas falaram de "formas significantes" a esse respeito. Discutiu-se que relações há entre a forma e o con­ teúdo, e foram propostas numerosas doutrinas que po­ dem ser reduzidas às duas seguintes: 1 ) a forma é sepa­ rável do conteúdo pelo menos no sentido de que pode ser descrita e j ulgada independentemente dele; 2) for­ ma e conteúdo são inseparáveis. Aqueles que defendem a primeira idéia podem di scordar na importância dada à forma ou ao conteúdo (o que se manifesta comumente quando se fala daqueles que dão mai s importância ao modo como se diz [descreve, pinta etc.] algo em oposi­ ção àqueles que dão mais importância àquilo que se diz [descreve, pinta etc.]). Usualmente se entende por ' for­ ma' o "estilo'', a "maneira", a "linguagem" etc . ; por conteúdo entende-se o "assunto", o "significado" etc. Aqueles que defendem a segunda noção destacam que não se pode falar significativamente de formas sem conteúdos nem de conteúdos sem formas, de modo que ou ambos estão "fundidos" na "obra" ou são contínuos. Classicamente se considerou que uma obra de arte deveria ter uma '"boa forma"; a isso se chamoujàrm o ­ sus, do que deriva ' formoso ' . O que éjàrmosus ou bem proporc ionado opõe-se ao disforme, freqüentemente identificado ao que é feio. O termo ' forma' também é utilizado na estética para designar a ordem na qual estão dispostos os elementos em um conj unto (por exemplo, para falar de simetria). Nesse caso a forma não se contrapõe ao conteúdo. Uma das razões para a con fusão freqüente na ter­ minologia estética é que várias noções, como as de or­ dem, proporção, simetria etc . , aplicam-se por igual à noção de forma como contrarosta à de conteúdo, e à no­ ção de forma como contraposta a elementos dispostos em um conjunto. A confusão deve-se em parte a que às vezes a ordem em que estão dispostas as partes determi­ na uma "'figura" que pode ser identificada com a forma que foi dada a um "conteúdo". Outra distinção comum na estética é a efetuada en­ tre forma e sentimento . Também nesse caso discutiu-

1 1 30 se se em uma obra de arte predomina (ou "deve predo­ minar") o sentimento ou a forma, se é adequado classi­ ficar as obras de arte, e os estilos, de acordo com a su­ posta polaridade "sentimento-forma", e se não seria melhor abster-se de falar de tal polaridade. Esta última é a opinião de Susane K. Langer, que indica que a fre­ qüente associação do sentimento com a espontaneidade, desta com a informalidade ou indiferença pela forma e desta com a ausência de forma, por um lado; e a asso­ ciação da forma com a formalidade, a regulação, a re­ pressão e, em última análise, com a ausência de senti­ mento, por outro, são a conseqüência de se ter elevado à dignidade de princípio uma mera confusão lógica. "A polaridade entre sentimento e forma é em si mesma um problema, pois a relação entre os dois 'pólos ' não é realmente ' polar', isto é, uma relação entre positivo e negativo, já que sentimento e forma não são comple­ mentos lógicos" (S. K. Langer, Feeling and Form : A Theory ofArt, i, 1 95 3 , p. 1 7) . :> Sobre a noção d e forma em diferentes autores e correntes, especialmente no aristotelismo e na escolás­ tica: R. Loriaux, L 'Être et laforme selon Platon: Essai sur la dialectique platonicienne, 1 95 5 . - Edith Watson Schipper, Forms in Plato 's Later Dialogues, 1 96 5 . E. Rolfes, Die substantielle Form und der Begriff der Seele bei Aristoteles, 1 892. - E. Neubauer, Der aristo­ telische Formbegriff, 1 909. - 1 . Husik, Matter and Form in A ristotle, 1 9 1 1 . - L. Schmol ler, Die scholastische Lehre von Materie und Form , 1 903. - A. Perier, Ma­ tiere e/forme: Quelques objections contre l 'aristotélis­ me ancien f'I moderne, 1 927. - Fernando Inciarte, For­ ma formarum. Strukturmomente der Humanistischen Seinlehre im Rückgri/TaufA ristoteles, 1 970. - H. Fro­ nober, Die Lehre von der Materie und Form nach dem A lbert dem Grasse, 1 909. - J. Goheen, The Problem of Matter and Form in the De ente et essentia of Tho­ mas Aquinas, 1 940 (refere-se também a Avicebrón). -- G. Stella, L'i/emor/ismu di G. Duns Scoto, 1 95 5 . A. Mitterer, Das Ringen der alten Stojf-Form-Metaphy­ sik und der heutigen Stoff�Physik, 1 93 5 . - N. E . Emer­ ton, The Scientific Reinterpretation of Form, 1 984. M. Furth, Substance, Form and P;,ychf': An A ristotelian Metaphysics, 1 98 8 . - F. Schroeder, Form and Trans­ jórmation: A Study in lhe Philosophy ofPlotinus, 1 992. - Ver também a bibliografia de H l l.EMORFISMO. Sobre ' foima' no sentido lógico: G. H . von Wright, Fórm and Co'1tent in Logic, 1 949 (aula inaugural de 26-V- 1 949 em Cambridge ; reimp. no vol. do autor: Lo­ gical Studies, 1 957, pp. 1 -2 1 ). - R. May, Logical Form: Jts Structure and Derivation, 1 98 5 . - J. Proust, Ques­ tions o/Form : Logic and the A nalytic Propositionfrom Kant to Carnap, 1 989. Para a teoria de Cassirer: "Formproblem und Kau­ salprobiem", no trabalho Logik der Kulturwis;, enschal

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FORMALISMO

ten, publicado em Gõteborgs Hõgskolas Arskrift, 48 ( 1 942), pp. 69- 1 1 2 (trad. esp. do trabalho completo em Las ciencias de la cultura, 1 95 1 ). Obras nas quais são expostas "filosofias da forma" no sentido da estrutura em geral: P. Carus, The Philoso­ phy ofForm, ed. separada de Introduction to Philosophy as a Science, 1 9 1 O. - E. Herrigel, Urstoffund Urform. Ein Bt!itrag zur philosophischen Strukturlehre, 1 926. R. Ruyer, Esquisse d 'une philosophie de la structu­ re, 1 930. E. I. Watkin, A Phi/osoph)' ofForm, 1 93 5 . - R. Ingarden, Esencjalne Zgadnienic Formy i Jej Podstawowe Projecia, 1 946. - Carl Oluf Gj erlov­ Knudsen, Formens jilosoji, 1 956 (trad. ingl . : The Phi­ losophy of Form, 1 962). - J. Zaragüeta, A. González Ávarez e/ ai. , La forma, 1 959 (IV Semana Espaiiola de Filosofia. Instituto Luis Vives e Sociedad E spaiiola de Filosofia). - A. Berndtson, Power, Form, and Mind, 1 98 1 . - R. 8. Pippin, Kant j· Theory ofForm: An Essay on the Critique of Pure Reason, 1 982. O. Kenshur, Open Form and the Shape ofIdeas: Literary Structures as Representations of Philosophical Concepts. Seven­ teenth and Eighteen th Centuries, 1 9 8 6 . B. Falkenburg, Die Form der Materie: Zur Metaphysik der Natur bei Kant und Hegel, 1 987. - H . White, The Con ten t of the Form : Narrative Discourse and Historical Representation, 1 987. - L. Lermond, The Form ofMan .· Human essence in Spinoza j· Ethic, 1 98 8 . Para a psicologia d a forma, ver ESTRUTURA. A filosofia da forma de J. Geyser (à qual nos referi­ mos em Eidético [VER]) é exposta em Eidologie oder Philosophie ais Formerkenntnis, 1 92 1 . Ver: Melchior Palágyi, Der Streit der Psychologis­ chen und Formalisten in der modernen Logik, 1 902. - L. E. J. Brouwer, "lntuitionism and Formalism", Bull. Am. Math. Society, 20 ( 1 9 1 3 ) . Richard Baldus, For­ malismus und /ntuitionismus in der Mathematik, 1 924. - Jean Cavailles, Méthode axiomatique etformalisme, -

1 93 8 . - Jean Ladriere, Les /imitations internes desfor­ malismes: Étude sur la signification du théoreme de Godel et des théoremes apparentés dans la théorie des fondements des mathématiques, 1 95 7 (trad. esp . : Las limitaciones internas de los formalismos, 1 97 1 ). - A. Mercier, A nalytical and Canonical Formalism in Phy­ sics, 1 959. - T. Bennett, Formalism and Marxism, 1 979, ed. T. Hawkes. - J. T. Bergner, The Origin of Formalism in Social Science, 1 9 8 1 . J. O ' Ne i l l , Worlds Without Content: Against Formalism, 1 992. Ver também a bibliografia dos verbetes INTUICIONISMO; MATEMÁTICA; PSICOLOG ISMO. C -

FORMALITER. Os escolásticos (e muitos autores mo­ dernos) utilizaram vários advérbios latinos como termos técnicos; entre eles, e de modo muito proeminente, figura o vocábulo órmaliter ( ' formalmente'). Definiremos bre­ vemente seu significado e, ao mesmo tempo, o de vários outros advérbios latinos empregados pelos escolásticos para precisar o sentido de suas expressões. Os outros advérbios a que nos referimos são materia/iter ( ' mate­ rialmente ' ), metaphorice ( 'metaforicamente'), virtualiter ( ' virtualmente '), eminenter ( ' eminentemente ' ) . Enuncia-se algo fórmaliter quando s e fa l a d e um modo próprio, de acordo com seu significado preciso. Uma definição de uma coisafórmaliter é uma definição da natureza específica da coisa. Um termo entendido fórmaliter é um termo entendido como tal. Enuncia-se algo metaphorice quando se fala de um modo impróprio e translativo. Ver M ETÁFORA. Enuncia-se algo materialiter quando se fala que pertence ao obj eto completo. Enuncia-se algo virtualiter quando se faz referência à causa capaz de produzi-lo. Para eminenter, ver EMINENTE. Exemplos desses usos: Um homem é formalmente um homem e metaforicamente uma ave de rapina. O Ser e o Bem são formalmente distintos, mas material­ mente idênticos. O efeito encontra-se virtualmente na causa. A racionalidade encontra-se formalmente no ho­ mem, e eminentemente em Deus. f

FORMALIZAÇ Ã O. Formal izar uma l inguagem L equivale a especificar, mediante uma metalinguagem (vER) L 1 , a estrutura de L. Para tal efeito especifica-se por meio de L 1 exclusivamente a forma das expressões de L. A formal ização de L mediante L , não necessaria­ mente converte L em uma série de expressões sobre formas de expressão. As expressões da l inguagem for­ mal izada L 1 podem se referir a qualquer "conteúdo". L pode ser a linguagem comum (ou um dos aspectos da l inguagem comum: a linguagem desportiva, a lingua­ gem da "vida social", a linguagem da crítica literária, a linguagem da diplomacia etc.). L pode ser a linguagem filosófica, ou a de um sistema filosófico determinado e, evidentemente, L pode ser determi nada l inguagem

FOHMALIZAÇ ÃO

1 1 33 científica (a da tisica, a da biologia, a da sociologia etc.) ou uma parte dessa linguagem (a teoria da relatividade, a genética etc.), a linguagem matemática (ou de um ramo da matemática), a linguagem lógica (ou de um ramo da lógica ou de uma parte da lógica) etc . A formalização de uma linguagem é realizada segundo certos requisitos. Destes, mencionamos os seguintes: a enumeração de to­ dos os signos não-definidos de L; a especificação das condições em que uma fórmula dada pertence a L; a enumeração dos axiomas utilizados como premissas; a enumeração das regras de inferências aceitas para efe­ tuar deduções em L. Apesar da possibilidade de se formalizar qualquer linguagem, os resultados mais fecundos foram obtidos na formalização de linguagens lógicas e matemáticas. Nesse tipo de formalização pode-se ver mais clara­ mente que em qualquer outro que, como escreve Hao Wang ("On Formalization", Mind, N. S . , 64 [ 1 955], 226-238), "não há uma linha divisória estrita entre for­ malizar e descobrir uma prova". Por meio de Gi:idel (ver GüoEL [TEOREMA D E ]) sabe­ mos que, dado um sistema lógico razoavelmente rico, S, pode-se provar que haverá sempre ao menos um teo­ rema, t, indecidível dentro do sistema. A formalização de S mediante S1 pode tornar t decidível, mas então haverá em S1 ao menos um teorema, t 1 , não decidível em S1 e assim sucessivamente com qualquer sistema, s,, S3 s,,. Os resultados de Gi:idel levaram alguns au­ tores (por exemplo, alguns materialistas dialéticos e vários membros da chamada "Escola de Zurique" [VER]) a sustentar que o "formali smo" é "impotente" e que deve ser, portanto, "abandonado". Mas a verdade é que os resultados de Gi:idel não se opõem à formalização : simplesmente mostram o que acontece quando ela é rea­ lizada. Esses resultados tampouco constituem uma de­ monstração de que o processo lógico depende "do con­ creto". Naturalmente não apóiam nenhum tipo de "irra­ cionalismo". Os resultados de Gi:idel são resultados ló­ gicos; não procedem de nenhuma "intuição" sobre a na­ tureza da lógica e da matemática. Não se pode falar, pois, de uma "decadência dos absolutos lógico-matemá­ ticos", como fazem Georges Bouligand e Jean Desgran­ ges (Le déclin des absolus mathématicologiques, 1 949), seguindo Ferdinand Gonseth. Como indica H . Leblanc (cf. Isis, 42 ( 1 95 1 ] , 72), "o resultado de Gi:idel mostrou a impossibilidade de transformar a lógica em um abso­ luto; ele nos lembrou que a lógica é meramente um sis­ tema de convenções, que podem ser ampliadas ou res­ tringidas segundo a vontade do matemático e os riscos que este decida correr", mas mostrou ao m � smo tem­ po que o marco da lógica "continua sendo o único no qual pode ser inserida a matemática". Não se deve confundir ' formalização ' com ' forma­ lismo ' quando este último termo designa uma das esco­ las ou tendências da lógica e da fi losofia matemática • . .

contemporâneas (ver FORMALISMO; MATEMÁTICA). Todas as escolas matemáticas e lógicas praticam a formaliza­ ção, tanto no caso dos "formalistas" propriamente ditos como no dos "intuicionistas". Desse modo, a matemá­ tica intuicionista de Brouwer (ver INTu1c10NISMO) foi formalizada em grande parte por Heyting. Alguns pensadores (por exemplo, Gabriel Marcel em Le mystere de l 'être) assinalaram que, por ser a filo­ sofia menos um sistema para provar verdades que um auxílio para o descobrimento de verdades, o fi lósofo que descobre certas verdades e as expõe em suas cone­ xões "dialéticas ou sistemáticas" corre o risco de "alte­ rar profundamente a natureza das verdades que desco­ briu". Se essas opiniões de Marcel forem aceitas poder­ se-á facilmente sucumbir à tentação de considerá-las expressão de uma oposição à formalização. Contudo, isso não ocorre. Independentemente de se o próprio Marcel (caso se interessasse pelo assunto) se oporia ou não à formalização, as opiniões resenhadas não se re­ ferem à formal ização, mas ao "espírito de sistema", es­ pecialmente àquele que se revela em alguns fi lósofos quando "traem" suas próprias "intuições" alojando-as em um sistema fi losófico "artificial". A formalização no sentido aqui tratado não consiste em impor uma es­ trutura sistemática a um corpo de doutrina dado se a estrutura sistemática pertence à mesma linguagem que o corpo de doutrina. Tampouco consiste, de acordo com o que foi dito no início, em transformar esse corpo de doutrina em um conj unto de expressões "puramente formais". Desse modo, as idéias fi losóficas de Marcel podem ser formalizadas sem que tais idéias se conver­ tam em um discurso sobre formas de expressão. Outra questão é a de se é mais fácil formalizar um sistema fi­ losófico como o de Santo Tomás, o de Hegel e outros, do que um corpo de doutrina como o de Marcel ou o de N ietzsche. Não há dúvida de que é mais fácil for­ malizar os primeiros - porém em nenhum dos casos a formalização afeta o "conteúdo" da série de expressões formalizadas. Para a diferença entre "sistema logístico formaliza­ do" (ou "cálculo") e "sistema de linguagem formalizado" (ou "linguagem interpretada") ver o verbete SISTEMA, ad .finem. O termo ' formalização ' foi utilizado por Xavier Zubiri em um sentido diferente do exposto até agora. A formalização é, segundo Zubiri, o processo mediante o qual um sistema nervoso complexo apresenta situações novas ao organismo. O cérebro é o órgão desse proces­ so. "A função da formalização" - escreve Francisco Javier Conde em Homenaje a Xavier Zuhiri, 1 953, p. 59 - "é integrada por várias funções, especialmente três: a) Organizar o quadro perceptivo. O sistema nervoso vai organizando as percepções do animal em um cam­ po progressivamente ordenado. Ele vai, portanto, for­ malizando os estímulos que o animal recebe e vai des-

FORMEY, J EAN HENRI SAMUEL

se modo individualizando progressivamente os estados sensitivos do animal . b) Criar o repertório das respostas motrizes do animal . É a formalização dos esquemas de resposta. e) Organizar os estados do animal, seus esta­ dos afetivos, o tono vital. É a formal ização do tono bio­ lógico do animal ." Por mais avançada que se encontre a formalização, ela não constitui ainda, segundo Zubiri, o que é característico do homem. Com efeito, o homem constitui-se como tal somente quando um organismo não pode responder adequadamente a uma situação me­ diante a formalização e requer um novo elemento : a "inteligência".

FORMEY, JEAN HENRI SAMUEL ( 1 7 1 1 - 1 797). Nascido em Berlim, foi a partir de 1 748 secretário e de­ pois histo1iador oficial da Academia de ciências de Ber­ lim. Formey apresenta o interessante caso de um autor enormemente fecundo, ao qual se devem quase quinhen­ tos livros -- certamente de todos os tamanhos -- e milha­ res de resenhas, sem contribuir praticamente nada para o pensamento fi losófico, mas servindo de foco e ponte de ligação, e exercendo, sob esse aspecto, considerável influência sobre muitos de seus contemporâneos. Não podemos resistir à tentação de citar uma passagem da his­ tória da psicologia moderna, de Max Dessoir, que extraí­ mos de Lewis White Beck (Early German Philosophy, 1 969, p. 3 1 5, nota 1 7), sobre Formey: "Esse homem pro­ duziu de fato quase seiscentos livros, além de uma quantidade esmagadora de resenhas muito solicitadas, em parte porque só se sentia feliz trabalhando e em parte pour donner un peu d 'aisance a ses enfants. Além disso, manteve a mais extensa correspondência conhecida na Alemanha desde Leibniz. E por volta do final de sua vida deu um golpe genial : incapaz de produzir qualquer obra criadora, mas ao mesmo tempo incapaz de não fazer nada, ele mesmo publicou suas Oeuvres posthumes". To­ das as obras de Formey são uma divulgação da filosofia de Wolff com idéias e passagens de Locke e Hume. :> Formey foi o mais popular vulgarizador de Wolff com seus 6 volumes de la bel/e wolfienne, 1 74 1 - 1 75 3 . Também escreveu - - entre tantas d e suas muitas obras - uma Encyclopédie portative, um Anti-Émile, em vá­ rios volumes, l 762ss., e um Émile chrétien, em "ape­ nas" 2 vols., 1 764. Foi um dos diretores da Bibliothé­ que Germanique e (com Pérard) do Journal littéraire D 'Allemagne. � FORONOM IA. No século XVIII o termo Phoronomia foi utilizado para designar a parte da fisica que se ocupa das leis (vóµoç, "lei") do movimento (q>opá) dos cor­ pos, tanto sólidos como líquidos. Temos um exemplo desse uso em Jacob Hermann ( 1 678- 1 73 3 ) em sua Pho­ ronomia, sive de viribus et motibus corporum solidonim et fluidorum. Samuel Clarke (VER) refere-se à obra de Hermann em sua quinta carta (resposta à quinta carta) da chamada "correspondência Leibniz-Clarke'', refu-

1 1 34 tando suas opiniões, que representavam as de Leibniz, sobre as leis da queda dos corpos. Lambert (vER) refe­ riu-se à foronomia em seu Neues Organon, de 1 764. Provavel mente a palavra não figuraria em nenhum índi­ ce, ou em nenhum dicionário, se não tivesse sido utili­ zada por Kant nos Princípios metafisicas da ciência natural (Metaphysische A nfangsgründe der Naturwis­ senschafi, 1 786) como um dos modos de estudar a ma­ téria, j untamente com a dinâmica, a mecânica e a feno­ menologia (VER).

FOSSAMBRUNO, ANGELO DE. Ver MERTONIANOS. FOUCAU LT, MICHEL ( 1 926- 1 9 84). Nascido em Poitiers, foi professor do College de France a partir de 1 970. É comum considerar Foucault um dos principais representantes do estruturalismo (VER) francês. Também é comum considerá-lo o filósofo do estruturalismo, di­ ferentemente de Lévi-Strauss, que é antropólogo, e de Roland Barthes, crítico. Embora o pensamento de Fou­ cault se encaixe melhor no estruturalismo que em qual­ quer outro movimento fi losófico contemporâneo, e embora Foucault esteja de acordo com os estruturalistas ao recusar-se a ater-se - ou deter-se - aos fenômenos superficiais de que se ocupam habitualmente os histo­ riadores e os cultivadores das ciências sociais e das ciências humanas, há consideráveis diferenças entre a noção de estrutura nos autores mencionados e o tipo de indagação feita por Foucault em seus estudos da história da loucura e da origem da clínica. Os trabalhos de Foucault sobre a arqueologia das ciências humanas, sobre a arqueologia do saber e sobre a ordem do discur­ so proporcionam a base filosófica daquilo que foi cha­ mado seu estruturalismo e permitem ver até que ponto este último nome não é completamente adequado para descrever seus trabalhos; de qualquer modo, podem dar uma idéia dos fundamentos daquilo que Jean Piaget chamou, ao referir-se a Foucault, de "um estruturalismo sem estruturas". Estendemo-nos sobre as idéias de Foucault nos ver­ betes ARQUEOLOGIA; DISCURSO; ENUNCIADO; EPISTEME e SIMPATIA, que podem ser considerados como parte ou complemento deste. Desses verbetes depreende-se que, embora Foucault se apóie em dados históricos para ex­ pressar suas idéias, ele ao mesmo tempo nega que as idéias, enquanto supostos modos de ver e representar, ou figurar, ou simbolizar, o mundo, sej am função da his­ tória. Não são sequer função de um ser humano, que seria sujeito da história. A rigor, não existe para Foucault um tal sujeito. O que é assim chamado é uma realidade insta­ lada em uma episteme, algo que "desliza", por assim di­ zer, no "discurso" da episteme. Se cabe falar de estrutu­ ras, trata-se de estruturas que não têm sujeitos. Foucault tenta evitar o mal-entendido que, em seu entender, consiste em adscrever sua empresa simples­ mente no campo estruturalista: "Não se trata de transfe-

1 1 35 rir para o domínio da história, e especialmente da histó­ ria dos conhecimentos, um método estruturalista que foi testado em outros campos da análise. Trata-se de de­ preender os princípios e as conseqüências de uma trans­ formação autóctone que está em vias de se cumprir no domínio do saber histórico ( . . . ) não se trata (e menos ainda) de utilizar as categorias de totalidades culturais (sejam elas visões do mundo, tipos ideais, espírito par­ ticular das épocas) para impor à história, e a despeito dela, as formas da análise estrutural" (l'archéologie du savoir, pp. 25-26). Por isso Foucault nega que suas obras se inscrevam - ao menos fundamentalmente - no debate sobre a estrutura, como contraposta à gênese, à hi stória e ao devir, mas admite que se trata de deslindar um campo em que também são suscitados os problemas da estrutura. Foucault se opõe a todo "narcisismo", particular­ mente ao narcisismo das ciências humanas, que fizeram acreditar que o homem é "o problema mais constante do saber humano''. "O homem" - escreve Foucault - "é uma invenção cuja recente data é facilmente mostrada pela arqueologia de nosso pensamento. E com isso talvez se mostre seu fim" (les mots et les choses, p. 398). Falou­ se, por causa disso, da "morte do homem" e considerou­ se que o pensamento de Foucault não somente está de acordo com o estruturalismo, mas o leva a suas últimas conseqüências. Em todo caso, o pensamento de Foucault tem em comum com o de alguns estruturalistas a tendência a procurar "campos" dentro dos quais se alojem os pen­ samentos e os comportamentos humanos de acordo com regras que não são feitas pelos próprios homens, ou que não estão em um nível consciente. Os campos de referência são para Foucault positivos, porque não con­ sistem em restringir a l iberdade, mas em tomar possí­ vel a iniciativa dos sujeitos. As mudanças de episteme não são produzidas por atos humanos, individuais ou coletivos. Tampouco são, porém, mudanças produzidas mecanicamente, ou das quais não seja possível dar ne­ nhuma explicação. Há descontinuidade entre epistemes, mas há uma razão das mudanças que pode ser encon­ trada no que Foucault chama de "condições de possibi­ lidade". A arqueologia do saber tem de mostrar o "espa­ ço geral do saber", mas com i sso já se definem "siste­ mas de simultaneidade, assim como a série de mutações necessárias e suficientes para circunscrever o limiar de uma nova possibilidade" (Les mots et les choses, p. 1 4). •• A partir da aula inaugural de Foucault no "Colle­ ge de France" costuma-se considerar que começa a eta­ pa genealógica que teria como principais obras Vigiar e punir e História da sexualidade. A maior parte dos autores divide o pensamento de Foucault em três etapas. seguindo um modelo basicamente cronológico: a etapa arqueológica (desde Folie et déraison até A arqueologia do saber, i sto é, de l 96 l a 1 969); a etapa genealógica

FOUCAULT, MICHEL

(desde Ordem do discurso até 9 primeiro volume da His­ tória da sexualidade, 1 97 1 - 1 976) e finalmente a etapa da govemabi lidade ou das técnicas ou tecnologias do eu, do sujeito (a partir de 1 978). O próprio G. Deleuze resumiu o percurso de Foucault em três perguntas: 'o que posso saber? ' , 'o que posso fazer? ' e 'o que sou eu? ' . Dreyfus e Rabinow consideram, por exemplo, que a passagem para a etapa genealógica deu-se por causa do fracasso do método arqueológico. Entretanto, embo­ ra essa classificação seja cômoda e às vezes pareça ser ratificada pelo próprio Foucault (p. ex. em Vigiar e pu­ nir), é preciso dizer que ela comporta vários proble­ mas. Por exemplo, é evidente que Folie et déraison está muito mais próxima do conteúdo e do estilo de Vigiar e punir que de As palavras e as coisas. Foi por essa razão que alguns intérpretes (p. ex . , Miguel Morey) consideraram mais pertinente contemplar a evolução do pensamento de Foucault não como a sucessão de métodos que se substituem, mas antes como círculos cada vez maiores que integram as etapas anteriores dan­ do-lhes novas possibilidades de interpretação. Nesse sentido é importante constatar que as principais obras de Foucault começam anunciando uma invenção recen­ te (as disciplinas psi-, a clínica, as ciências humanas, a prisão, a sexualidade) e terminam anunciando seu pos­ sível fim. É possível, pois, contemplar todo o pensa­ mento de Foucault como diferentes aberturas de uma mesma tarefa geral. Foucault, desde o início, esteve in­ teressado em mostrar como se formaram alguns dos fundamentos de nosso presente, delineando seu contex­ to discursivo e institucional; perguntou-se pela maneira segundo a qual se constituem os discursos chamados de verdadeiros, sobretudo no âmbito das ciências huma­ nas. E tudo isso de forma a não implicar em absoluto uma legitimação do presente por meio daquilo que Nietzsche chamou de "racionalidade retrospectiva". Foucault pergunta-se constantemente pelas condições de possibilidade de certas experiências (a doença, a loucu­ ra, a prisão, a sexualidade), tentando mostrar quando, por que e em que circunstâncias apareceram. Rejeita, portanto, qualquer a priori universal, substituindo-o por uma rede de a priori históricos. As obras de Foucault .mostram que nossas experiências, nossas práticas e nos­ sos discursos sobre o doente, o louco, o delinqüente ou a sexual idade são invenções recentes que apareceram a partir de certas relações entre o saber e o poder que as tomou possíveis, e indicam que, se essas disposições que permitiram a sua emergência desaparecessem, leva­ riam consigo tai s realidades. Dito de outro modo: Fou­ cault não tenta legitimar a razão moderna; não se trata de afirmar nossos conhecimentos, mas de tentar expe­ rimentar até que ponto é possível "penser autrement''. Por i sso sua ontologia do presente foi qualificada pelo próprio Foucault como uma tentativa de "criação de liberdade". Foucault mostra a origem de certas práti-

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FOUCAULT, M ICllEL

cas ou discursos que chegaram a ser considerados "nor­ mais" graças a uma complexa trama de inércias que limitam estreitamente a criação de novas possibilidades. Daí que mostrar a origem de nosso presente e pensar de outro modo sejam em Foucault duas idéias inter-re­ lacionadas. O presente delineia o que somos, dizemos e fazemos, e esse presente tem sua história, embora a doxa queira nos fazer acreditar no contrário por meio da racional idade retrospectiva. O efeito global que produz ou tenta produzir o pen­ samento de Foucault - que deve ser relacionado com o de N ietzsche para poder ser captado em sua essência - é a defesa da dissensão e do "direito à diferença", com uma recusa enérgica da confusão (comum) entre o normal e o moral. Pode-se dizer que Foucault tenta plasmar não tanto aquilo que nos impede de ser o que somos como mostrar os mecanismos que possibilitaram que sej amos o que somos. É por isso que o tema do su­ jeito é um tema-chave em Foucault, j á que se trata de analisar as diversas formas de sujeição a que nos vemos submetidos por meio de certos discursos e práticas, por meio de certas relações entre o saber e o poder.•• :> Obras: Ma/adie menta/e et personalité, 1 954; reed. como Ma/adie menta/e et psychologie, 1 966. - Folie et déraison. Histoire de lafolie à l 'âge classique, 1 96 1 ; ed. abrev., Histoire de la folie à l 'âge classique, 1 96 1 ; 2ª ed., seguida de dois novos textos, "Mon corps, ce papier, ce feu", "La folie, l ' absence d ' oeuvre", 1 972. Raymond Roussel, 1 963 . - Naissance de la clinique. Une archéo/ogie du regard médica/, 1 963. - Nietzs­ che, Marx, Freud, 1 965. - Les mots et /es choses. Une archéologie des sciences humaines, 1 966. - L'ar­ chéologie du savoir, 1 969. - L'ordre du discours, 1 97 1 (Aula inaugural no College de France, 2-XI I - 1 970). - "N ietzsche, la Généalogie, l ' H i stoire", em VV. AA., Hommage à Hyppolite, 1 97 1 . - Moi, Pierre Riviere, ayant égorgé ma mere, ma soeur et monfrere. . . , 1 973. Ceei n 'est pas une pipe, 1 973. - Surveiller et punil: Naissance de la prison, 1 9 7 5 . Histoire de la sexualité, 3 vols.: 1, La volonté de savoir, 1 976; II, L'usa­ ge des plaisirs; I I I , Le souci de soi, 1 984. La pensée du dehors, 1 986. - Sept propos sur le septieme ange, 1 986. - Les anormaux. Cours au College de Fra nce, 1 999. A verdade e as formas jurídicas, 1 97 8 . Résumés des cours au College de France, 1 9 70-1 982, 1 989. - Dits et écrits, 1 954- 1 988, editado por D. Deferi e F. Ewald, 4 vols., s./d. Foucault também escreveu uma longa introdução ( 1 28 páginas) e as notas da trad. fr. de Ludwig Binswan­ ger, Traum und Existenz (Le rêve et / 'existence, 1 954). Em português: A arqueologia do saber, 6ª ed., 2000. Doença mental e psicologia, 1 994. - Em defesa da sociedade, 1 999. - Eu, Pierre Riviere, que degolei minha mãe. minhã irmã e meu irmão, 6ª ed., 2000. História da loucura, 4ª ed., 1 995. - História da sexua-

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/idade, 1 : A vontade de saber, 1 3ª ed., 1 999. - História da sexualidade 2: O uso dos prazeres, 8ª ed., 1 998. História da sexualidade 3: O cuidar de si, 1 999. - O homem e o discurso, s.d. - Isto não é um cachimbo, 2ª ed., 1 989. - Microfisica do poder, 1 2ª ed., 1 996. - A mulher e os rapazes, 1 997. - O nascimento da clínica, 5ª ed., 1 998. - Nietzsche, Freud e Marx - Theatrum philosophicum, 1 997. - A ordem do discurso, 5" ed., 2000. - As palavras e as coisas, 8ª ed., 1 999. - O pensamento do exterior, 1 990. - Raymond Roussel, 1 999. - Resumo dos cursos do College de France 19701 982, 1 994. - A verdade e asformasjurídicas, 2ª ed., 1 999. - Vigiar e punir, 22ª ed., 2000. - Um diálogo sobre os prazeres do sexo, 2000. Debate entre M. F. e Noam Chomsky : "La natura­ leza humana. Justicia o poder?", trad. para o espanhol em Cuadernos Teorema, 6 ( 1 976), com o título indicado. Procede do livro Rejlexive Water: The Basic Concerns of Mankind, 1 974. Entrevistas com F. : Madeleine Chapsal, "Entretien: M . F.", La Quinzaine Littéraire, 5 ( 1 5-V- 1 966), 1 4- 1 5 . - Raymond Bellour, "Entretien: M. F. ' Les mots et les choses"', Les Lettres Françaises, 1 1 25 (3 1 -I I I/6-IV1 966), 3-4. - !d., "Deuxiéme entretien avec M. F. : Sur les façons d ' écrire l ' histoire", ibid. , 1 1 87 ( ! 5/2 1 -VI1 967), 6-9; reimp. em Raymond Bellour, Le livre des autres, 1 97 1 , pp. 1 3 5- 1 44 e 1 89-207. - John K. Simon, "A Conversation with M. F.", Partisan Review, 2 ( 1 97 1 ), 1 92-20 1 . - "Les intellectuels et le pouvoir: Entretien M. F.-Gilles Deleuze", L 'A rc, 49 (2° trimestre de 1 972), 3 - 1 O. - "C' est demain la veille. Entretiens avec M . F.", 1 973, sem ed. (Editions du Seuil). Sexo, Poder; Ver­ dad, ed. de .entrevistas por M. Morey, 1 978; reed. com uma nova introd. : Diálogo sobre el Poder, 1 98 1 . Bibliografia: François H . Lapointe e Claire Lapointe, "Bibliography on M. F.", Diálogos, 26 ( 1 974), 1 53 - 1 57. - !d., "Foucault Writings. Suplement to Bibliography on M. F.", ibid., 29-30 ( 1 977). - M. Clark, M. F.: An Annotated Bibliography. Too/ Kit for a New Age, 1 983. - J. Lagrange, "Les oeuvres de M . F.", Critique, 47 1 472 ( 1 986). - Bibliografia preparada por T. Keenan em J. Bernauer e D. Rasmusen, eds., The Final Foucault, 1 988. Ver: Gilles Deleuze, "Un nouvel archiviste", Criti­ que, n. 274 (março de 1 970), pp. 1 95-209; cf. o opúscu­ lo do mesmo autor: Un nouvel archiviste, 1 972. - Karl Baltheiser, Die Wegbereiter des linguistischen Struk­ turalismus und dessen sprachphilosophische Aspekte hei F. , 1 97 1 . - Annie Guédez, F. , 1 972. - R. Bakker, Her anonieme denken. F. en het structuralisme, 1 973 . - A. Kremer-Marietti, M. F., 1 974. - D. Eribon, M. F. (1 9261 984), 1 989. - E. Kurzweil, "M. F.: Ending the Era of Man", Theory and Society, 4 ( 1 977), 395-420. - A. Sheridan, M. F.: The Will to the Truth, 1 980. - C. C. Lemert, M. F.: Social Theory as Transgression, 1 982. K. Racevskis, M. F. and the Subversion oflntellect, 1 983. -

1 1 37 - H . L . Dreyfus, P. Rabinow, M. F.: Beyond Structura­ /ism and Hermeneutics, 1 983; nova ed. ampl., 1 984. M. Morey, Lectura de F., 1 983. - P. Maj or-Poetzl, M. Foucault �- A rcheology ofWestern Culture: Toward a New Science of History, 1 983. - M. Cousins, A. Hussain, M. F., 1 984. - 8. Smart, F., Marxism and Critique, 1 984. - 1. Raj chman, M. F.: The Freedom ofPhilosophy, 1 985. - J. Bernauer, D. Rasmussen, eds. , The Final Foucault, 1 988. - R. García dei Pozo, M. F.: un arqueólogo dei humanismo, 1 988. - G. Gutting, M. Fs Archaeology of Scientific Reason, 1 989. - M . Mahon, Fs Nietzschean Genealogy: Truth, Powe1; and the Subject, 1 992. - J. Rajchman, Truth and Eros: F., Lacan, and the Question of Ethics, 1 99 1 . Obras: Le marxisme en question, 1 959. - La phi­ losophie en question, 1 960. - La conscience politique dans la France contemporaine, 1 963. - Contradiction

FOU I LL É E, ALFRED

et totalité (Surgissement et déploiements de la dialectique), 1 964. - L'enseignement du français au service de la nation sénégalaise, 1 967. - Modernization des hommes: / 'exemple du Sénégal, 1 967. - La révolutionfreudienne, 1 970. - Le jeu de Kostas Axelos, 1 973 (com Henri Le­ febvre). - Contre Lévi-Strauss, Lacan, Althusser, 1 976. - Savoirs et idéologie dans les sciences sociales, 2 vols.; 1 , Sciences sociales et marxisme, 1 979; II, Les processus sociaux contemporains, 1 980. - Les Métamorphoses de la crise: racismes et révolutions au X1"' siécle, 1 985. La nation: essor et déclin des sociétés modernes, 1 987. - Marx, 2ª ed. rev., 1 992. - L'A ttractiun dufutur: essai sur la signification du présent, 1 992. ele ao mesmo tempo parece suge­ rir que há algo em potência porque a regra em questão não é apl icavel sempre e em todos os casos. A respeito

1 1 62 das doutrinas fatalistas e deterministas, Aristóteles põe em dúvida que seja necessário admitir que, se agora é verdade que certo acontecimento ocorrerá, é falso que não ocorrerá; e que, se agora é falso que ocorrerá, é verdade que não ocorrerá. As razões que movem Aris­ tóteles a duvidar dessa tese são complexas; não obede­ cem unicamente a uma análise dos predicados 'é verda­ deiro ' , 'é falso ' , ' não é verdadeiro nem falso ' , mas às doutrinas sustentadas sobre o que é real sobre o movi­ mento e sobre o acaso (vER). Os estóicos seguiram a opinião difundida de que o princípio de bivalência constitui uma prova de deter­ minismo, e ao mesmo tempo de que o encadeamento necessário e universal dos fenômenos obriga a aceitar sem nenhuma exceção possível o princípio de bivalên­ cia. O assunto foi examinado por não poucos filósofos da Antiguidade, tanto do período imediatamente pos­ terior a Aristóteles como do chamado "período greco­ romano". Em parte era tratado como uma questão meta­ fisica, em parte como uma questão lógica; freqüente­ mente era tratado dentro de um estudo das modalidades, que eram, por sua vez, entendidas metafisicamente (ou "ontologicamente") ou logicamente, ou de ambos os modos. Neste problema encontram-se implicadas, com efeito, as questões da natureza do necessário e do con­ tingente, e da natureza das proposições modais que são assim formuladas: 'É necessário que p', ' Não é necessá­ rio que p ' , ' É possível que p ' , ' É possível que não-p ' , ' É contingente que p ' etc. (ver MODALIDADE). Muitos filósofos medievais ocuparam-se do proble­ ma dos futuros contingentes, seja do ponto de vista teológico, do ponto de vista lógico, ou de ambos. Foi ca­ racterístico desses filósofos considerar que a questão dos futuros necessários e dos futuros contingentes esta­ va muito estreitamente relacionada com a questão das verdades eternas e das verdades não-eternas ou tempo­ rais, respectivamente. Freqüentemente consideraram que algo necessário é algo para sempre - ab aeterno - verdadeiro; se não é necessário, não é verdadeiro para sempre. Uma proposição sobre o passado ou uma proposição sobre o presente são definitivamente falsas ou definitivamente verdadeiras. Uma proposição de contingentifitturo não pode ser definitivamente verda­ deira ou definitivamente falsa, mas pode ser verdadeira se o que diz do futuro ocorre e falsa se o que diz do fu­ turo não ocorre. Até aqu i parece tratar-se somente de uma questão de lógica e especificamente de lógica mo­ dal . Mas logo esses debates se ligaram aos problemas teológicos, particularmente com os dois problemas se­ guintes: o do conhecimento dos futuros por Deus e o da predeterminação ou não-predeterminação dos homens (à salvação eterna ou à condenação eterna). Referirno­ nos a esses problemas mais detalhadamente a luz de vários debates teológicos modernos (ver FuruRíVEIS), mas resenharemos aqui algumas das mais importantes

1 1 63 posições adotadas sobre esses assuntos por vários filó­ sofos medievais. Trata-se, evidentemente, de uma se­ leção, pois os problemas a que nos referimos foram tratados por quase todos os escolásticos. Santo Tomás destaca que Deus tem um conheci­ mento dos acontecimentos futuros distinto do que po­ deriam ter as criaturas (caso o possuíssem). Com efeito, Deus não conhece propriamente um futuro, mas conhe­ ce um "presente". O futuro, em suma, é futuro apenas para nós. Pensar o contrário é negar que Deus seja eter­ no, e, como se sabe, o eterno transcende tudo o que é temporal (S. theo/. 1 , q. XIV, 1 3 ad 2). Essa opinião j á havia sido defendida p o r outros autores; p o r exemplo, por Santo Anselmo, que escreveu : summa essentia non secundum praeteritum ve/futurum fuit aut erit (Medi­ tatio, ! . E. 1 0, 1 3 -24). Segundo Santo Tomás, a propo­ sição que afirma o conhecimento de determinado futuro contingente por Deus é uma proposição absolutamente necessária. Além disso, ele sustenta que dada a proposi­ ção ' Se Deus conhece algo, esse algo será ' , o conse­ qüente é tão necessário quanto o antecedente. Em con­ trapartida, Duns Scot sustentava que o futuro (assim como o passado) também é futuro (ou passado) do pon­ to de vista da eternidade divina, já que de outra maneira não haveria distinção possível entre passado e futuro. Duns Scot afirmava, além disso, que as proposições nas quais são introduzidas expressões modais tais como 'é contingente ' , ' não é necessário', 'é possível que ' , 'é possível que não ' , 'não é impossível que não ' e que se referem ao conhecimento de um futuro por Deus são proposições contingentes; assim, por exemplo, a propo­ sição 'É contingente que Deus conheça que A será ' é uma proposição contingente. Em seu Tractatus de praedestinatione et de praes­ cientia Dei et de futuris contingentibus (impresso pela primeira vez na Expositio aurea de Ockham a cargo de Frei Marco de Beneveto; ed. crítica anotada por Philo­ theus B oehner, 1 945), Ockham assume algumas das opiniões de Duns Scot contra Santo Tomás, mas difere de ambos em vários aspectos importantes. Como a maior parte das análises dos escolásticos a esse respeito, a citada obra de Ockham revela dois aspectos: um teoló­ gico e outro lógico. Do ponto de vista teológico, é inte­ ressante notar que Ockham sustenta que Deus conhece todos os futuros contingentes. Como indica Boehner, ele conhece que parte de uma contradição relativa a futuros contingentes é verdadeira e que parte é falsa. Ora, Deus conhece a parte verdadeira porque a quer como verdadeira e a parte falsa porque a quer como falsa, isto é, porque não a quer como verdadeira. Isso não significa que o conhecimento em questão dependa da "arbitrariedade" de Deus, depende antes da causa­ lidade divina. Como indica Boehner, para Ockham "a vontade de Deus é a causa da verdade, mas não do conhecimento que Deus tem desse fato contingente".

FUTURO, FUTUROS

Do ponto de vista lógico, afirmou-se (Michalski) que nas idéias de Ockham sobre os futuros contingentes encontra-se o germe da posterior lógica trivalente, tal como foi desenvolvida por Lukasiewicz (cf. infra). Essa afirmação é considerada um exagero ( cf. W. Kneale e M. Kneale, The Development of Logic, 1 962, p. 238, nota [trad. port . : O desenvolvimento da lógica, 2ª ed. , I 980]), pois Ockham não parece ter admitido que uma proposição sobre o futuro não sej a nem determinada­ mente verdadeira nem determinadamente falsa. Boeh­ ner indica que Ockham derivou da opinião de Aristóte­ les antes resenhada certas conclusões "que constituem elementos de uma lógica tri-valente" (op. cit., p. 62), mas reconhece que se trata de um desenvolvimento "pri­ mitivo e cru" (op. cit. , p. 65) e de modo algum uma sistematização da lógica trivalente no sentido moderno. Entre os autores medievais que se ocuparam da ques­ tão dos futuros contingentes figuram, j unto a Santo To­ más, Duns Scot e Ockham (e, antes, Abelardo), Gregó­ rio de Rimini, Ricardo de Middeltown, Pedro Auriol, Walter Burleigh, Francisco de Meyronnes, João de Bas­ solis, Pedro de Ailly e Alberto da Saxônia (ver exposição da doutrina destes e de alguns outros autores nos comen­ tários de Boehner à sua ed. do Tractatus de Ockham). Infelizmente não podemos nos referir a todos esses au­ tores. Além disso, alguns deles limitaram-se a seguir, em grande parte, as opiniões dos grandes mestres. Assim, por exemplo, Gregório de Rimini tenta eliminar a questão do "conhecimento dos acontecimentos futuros por Deus de modo semelhante ao de Santo Tomás: alegando que para Deus não há, propriamente falando, futuro" (ver Gordon Leff, Gregory ofRimini, 1 96 1 , pp. 1 08ss. ) Por outro lado, ao se referir ao status lógico das proposições sobre futuros contingentes, Gregório de Rimini indicou que, contrariamente às conclusões (ou supostas conclu­ sões) de Aristóteles, toda proposição sobre o futuro é verdadeira ou falsa (Leff, op. cit., p. I 1 2). Como indicamos no início, dedicamos o verbete FuTURiVEIS ao exame das opiniões de vários teólogos modernos, especialmente dos séculos XVI e XVII , so­ bre os futuros condicionados. Para a continuidade his­ tórica, pode-se considerar que o conteúdo daquele ver­ bete faz parte deste, mas efetuamos essa separação por razões de comodidade na consulta. Indicamos aqui so­ mente que, enquanto nos autores medievais antes intro­ duzidos o aspecto teológico do problema está ligado a uma análise lógica, os autores modernos parecem se interessar quase exclusivamente pelo especto teológico. Alguns filósofos modernos não-escolásticos também se ocuparam do problema (Malebranche e, particular­ mente, Leibniz; cf. por exemplo Theod. , 1, § 37), que, entretanto, ocupou neles um lugar menos central que durante a Idade Média. Na época contemporânea foi novamente levantado o problema dos futuros contingentes - também chama.

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Fl;TLRO, Fl'lTHOS

dos de "futuros condicionados" e de "futuros condi­ cionais" - em um sentido similar ao encontrado em Aristóteles e referindo-se freqüentemente ao exemplo aristotél ico da "batalha naval de amanhã" e à questão da verdade ou da falsidade do enunciado concernente a essa batalha. Muitas opiniões foram emitidas sobre o assunto. A lguns autores (Ryle, Anscombe) examina­ ram o problema como uma ambigüidade lingü ística. Outros adotaram um ponto de vista lógico e uma solu­ ção lógica (Lukasiewicz e o emprego de uma lógica trivalente em vez de uma bivalente). Perguntou-se se ' torna-se verdadeiro ' é um predicado aceitável . Alguns negaram que haja sentido em falar de predições e que se possa afirmar que elas "tornam-se verdadeiras", porque não é possível determinar "quando a predição torna-se verdadeira". Outros opinaram que uma predi­ ção torna-se verdadeira se, e somente se, o aconteci­ mento predito ocorre, já que em caso contrário não haveria sentido em util izar expressões como ' ocorrer' e 'acontecer'. Alguns consideraram que 'torna-se ver­ dadeiro ' não é um predicado. O autor deste dicionário tratou o problema dentro do marco de alguns conceitos usados na teoria da informação. O problema dos futuros contingentes parece estar relacionado com os paradoxos chamados de "o homem condenado à morte" e "o lenço inesperado". Contudo, como parece depreender-se desses paradoxos, o fato de que se possa e que não se possa predizer um aconteci­ mento futuro não é exatamente o mesmo caso que o dos futuros contingentes, mas pode ser formulado de modo muito parecido. Por outro lado, uma das maneiras suge­ ridas para esclarecer o sentido desse paradoxo está rela­ cionada não apenas com a questão geral dos futuros con­ tingentes, mas também com a questão desses futuros do ponto de vista teológico (ver FuruRiVEIS). Com efeito, parece que nos chamados "futuríveis" ocorre efetivamen­ te que enquanto alguém - o que "produz" ou "prepara" o acontecimento futuro - pode naturalmente predizê­ los, o outro - aquele que "experimenta" esses aconteci­ mentos futuros - não pode. Tendo-se mencionado no verbete alguns dos textos "clássicos" sobre a matéria, limitamo-nos a oferecer uma seleção de trabalhos contemporâneos. A eles de­ vem ser acrescentados vários dos escritos da biblio­ grafia do verbete PouvALJ'.NTE, e em particular os de J. Lukasiewicz. � Ver: A. C. Baylis, "Are Some Propositions Neither True nor False?", Philosophy ofScience, 3 ( 1 936 ), 1 56-

1 66. - L. Baudry, La querei/e des .futurs contingents, Louvain 1465- 1 4 75. Textes inédits, 1 950 [ Études Philo­ sophiques méd. 38] (trad. inglesa: The Quarrel over Fu­ ture Contingents, Louvain 1465- 1475, 1 989). - Donald Williams, "The Sea Fight Tomorrow", em Structure, Method, and Meaning, 1 95 1 , eds. P Henle, H. M. Kallen, S. K. Langer, pp. 280-306. - A . N. Prior, "Three-Valued Logic and Future Contingents", Philosophical Quarterly, 3 ( 1 953), 3 1 7-326. - Gilbert Ryle, "It Was To Be", em Dilemmas, 1 954, pp. 1 5-35. - G. E. M. Anscombe, "Aristotle and the Sea Battle", Mind, N. S., 65 ( 1 956), 1 - 1 5 . - Richard Taylor, "The Problem of Future Con­ tingencies", Philosophical Review, 66 ( 1 957), 1 -28. Colin Strang, "Aristotle and the Sea Battle", Mind, N. S., 69 ( 1 960), 447-465. P-M. Schuhl, Le dominateur et les possibles, 1 960. - José Ferrater Mora, "lnfor­ mación y comunicación: Enfoque nuevo de un viejo pro­ blema", em Actas de! XIII Congreso Internacional de Filosofia [México] , 1 963; reimp., com o título "Viejos problemas, nuevos enfoques", em Obras selectas, 1 1 , 1 967, pp. 285-293 . - John Robert Cassidy, Logic and Determinism: A History of the Problem of Future Con­ tingent Propositions jrom A ristotle to Ockham, 1 965 (tese). - J. E. Tomberlin, "The Sea Battle Tomorrow and Fatalism", Phi/osophy and Phenomenological Re­ search, 3 1 ( 1 97 1 ), 352-357. - P A. Streveler, "The Problem of Future Contingents", New Scholasticism, 47 ( 1 973), 233-247. - M. F. Lowe, "Aristotle on the Sea Battle: A Clarification", Analysis, 40 ( 1 980), 55-59. A. Back, "Sailing Through the Sea Battle", A ncient Philosophy, 12 ( 1 ) ( 1 992), 1 3 3- 1 5 1 . Para o paradoxo ao qual nos referimos no final do verbete, ver P ARADoxo. O trabalho de P. M. Schuhl refere-se especialmen­ te ao problema tal como foi discutido na Antiguidade. Acrescente-se: David Armancl, Fatalisme et liberté dans l 'antiquité grecque, 1 945. - M. Baumer, "The Role of ' lnevitabil ity at Time T' in Aquinas' Solution to the Problem of Future Contingents", New Scholasticism, 53 ( 1 979), 1 47- 1 67. - W. L. Craig, "J. D. Scotus on God's Foreknowledge and Future Contingents", Fran­ ciscan Studies, 47 ( 1 987), 98- 1 22. - C. G. Normore, "Petrus Aureoli and His Contemporaries on Future Con­ tingents and Excluded Middle", Synthese, 96 ( 1 ) ( 1 993), 83-92. - R. Gaskin, "Alexander's Sea Battle: A Discus­ sion of Alexander of Aphrodisias De Fato 1 0", Phro­ nesis, 38 ( ! ) ( 1 993), 75-94. Ver também a bibliografia do verbete F u TU R Í VEI S . e -

G. A letra maiúscula ' G' é utilizada com freqüência para representar a conclusão no esquema do juízo ou da pro­ posição que constitui a conclusão de um si logismo. Portanto a letra 'G' exerce a mesma função que a letra 'P' . Para o uso de ' G' na lógica quantificacional, ver F.

GABRIEL BIEL ( 1 425- 1 495). Nascido em Speyer, ingressou em 1 45 7 na Congregação de Cônegos Regu­ lares de Santo Agostinho ou Irmãos da Vida em Co­ mum. Em 1 484 fundou a Faculdade de Teologia da Uni­ versidade de Tübingen. Seguidor do ockhamismo e da via moderna, a ponto de ter sido considerado um dos mais fiéis expositores e comentadores do Venerabilis Inceptor, Gabriel Biel influenciou muitos teólogos dos séculos XVI e XVII - os chamados gabrie/istae -, especialmente nas Universidades de Erfurt e de Witten­ berg. Entre essas influências destaca-se a que exerceu sobre Lutero, cuja doutrina da predestinação foi elabo­ rada em grande parte seguindo o fio de uma meditação sobre os comentários às Sentenças de Biel. Com efeito, a fim de se opor às conseqüências do pelagianismo (vER), ao qual pareceu inclinar-se ao discutir o problema da ação moral humana, sublinhou a absoluta vontade e "arbitrariedade" divinas ao tocar a questão da graça (vER) e das virtudes teologais. Com efeito, estas últimas foram por ele consideradas independentes das morais. A aceitação do homem por Deus é, assim, inteiramen­ te "gratuita"; não depende do que o homem faça, de sua vida virtuosa ou pecadora, mas da vontade última de Deus. :> A obra capital e mais influente de Gabriel Biel é a Epitome et Collectorium ex Occamo super quatuor libras sententiantm, 1 495, 1 50 1 , 1 5 1 2, 1 5 1 4, 1 52 l ; com o cha­ mado Suplementum Gabrie/is Biel, 1 568, 1 574. Outras obras: Sermones dominicales de tempore, 1 490, 1 5 1 O. Defensorium oboedientiae aposto/icae. - Tractatus de potestate et utilitate monetarum, 1 542, 1 605. Edições recentes: Collectorium circa quattuor libras Sententiarum. Prologus et /iber primus, 1 97 3 , eds. W. Werbeck e U. Hofmann; ibid., Libri quarti pars secunda -

(dist. 15-22), 1 977, eds. W. Werbeck e U. Hofmann, com a colaboração de Renata Steiger. Ver: C. Feckes, Die Rechtfertigungslehre des Ga­ briel Bieis und ihre Stellung innerhalb der nominalistis­ chen Schule, 1 925. - E. Bonke, "Doctrina nominalis­ tica de fundamento ordinis moralis apud Galielmum de Ockham et Gabriel Biel'', Collectanea Franciscana ( 1 944 ), pp. 57-83 . - J. L. L. Aranguren, El protestantis­ mo y la moral, 1 954, pp. 50-73. - L. Grane, Contra Ga­ brielem, 1 962. - Heiko Augustinus Oberman, The Har­ vest ofMedieval Theology: G. B. and Late Medieval No­ mina/ism, 1 963 . - Franz Joseph Burkhard, Philoso­ phische Lehrgehalte in G. Bieis Sentenzenkommentar unter besonderer Beriicksichtigung seiner Erkenntnis­ lehre, 1 974. - M. Schulze, "Contra rectam rationem, Gabriel Biel 's reading of Gregory of Rimini, versus Gregory", em Via Augustini. Augustine in the !ater Mid­ dle Ages, Renaissance and Refàrmation, ed. H . A. Oberman, 1 99 1 , pp. 55-7 1 . - Ver também: P. Vignaux, Luther, commentateur des sentences (Libre /, Distinc­ tion xvii), 1 93 5 . C:

GABRIEL, LEO. Nascido ( 1 902) em Viena, foi pro­ fessor do "Instituto Filosófico" da Universidade de Vie­ na. Influências muito diversas - escolástica, fenome­ nológica, heideggeriana etc. - resultaram na formação de um "pensamento integral" que aspira a superar o que Gabriel chama de forma de pensar "analítico-aditiva (ou somatória)". A "lógica integral", para cuja constru­ ção Gabriel apela a métodos procedentes da psicologia da estrutura ( Gestaltpsychologie), supera tanto a lógica "dos conteúdos" (inhaltliche) como a lógica fonnal; ela se apresenta como uma síntese do formalismo lógico e da lógica "material" da fenomenologia. Enquanto a fi­ losofia moderna, de Descartes a Kant, deixa escapar o sentido e com i sso esquece, ou põe de lado, a unidade do pensamento com o ser, a lógica integral orienta-se pelo todo da realidade. A unidade concreta do real en­ contra-se, segundo Gabriel, em um pensar fundado na totalidade e na forma ( Gestalt). Gabriel considera que muitos sistemas de caráter "total ista" consistem em uma

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GADAMER, HANS-GEORG

absolutização de uma parte do todo; a lógica integral não absolutiza nenhuma parte, mas tampouco consiste em absorver o todo como se ele já estivesse constituído ou como se fosse formado por oposições dialéticas. Gabriel chama seu modo de pensar de "ideológico", na medida em que é uma "razão da idéia''. É um pensar, além disso, dialógico e não monológico. A totalidade que a "lógica integral" aspira a compreender é uma totalidade aberta, que leva em conta a realização do singular. � Obras: Logik der Weltanschauung, 1 949 (lógica da concepção do mundo). - Vom Brahma zur Existenz, 1 949, 2ª ed., 1 954 (De Brahma à existência). - Exis­ tenzphilosophie. Von Kierkegaard bis Sartre, 1 95 l ; 2ª ed., 1 968 (Filosofia da existência, de K. a S. , 1 974). Geschichte der indischen Philosophie, 1 957 (História dafilosofia indiana). - Mensch und ltélt in der Entschi­ dung, 1 96 1 (Homem e mundo na encruzilhada, 1 963). - Integra/e Logik, 1 965 (Lógica integral, 1 97 l ). - F. Wiplinger, O. Muck et ai., Die Wahrheit des Ganzen, 1 976, ed. H. Kohlenberger (A verdade do todo) (dedicado a L. G., com uma auto-exposição do homenageado). Neue Sicht des Leib-Seele-Problems, 1 978 (Nova visão do problema corpo-a/ma). Ver: E. Albrecht, "Ueber die Grenzen des Versuchs zur Entwicklung einer integralen Logik", Deutsche Zeitschrififiir Philosophie, 1 6 ( 1 968), 83 9-847. - Vá­ rios autores, Wahrheit und Wirklichkeit, ed. P. Kampits, G. Pi:iltner, H . Vetter, 1 983 (homenagem a L. G. em seu 80º aniversário). Devem-se a G.: Lógica simbólica, 1 974, nova ed. 1 977, 6ª reimp. revisada 1 983 (com bibliografia nas pp. 403 -424 ), e vários ensaios de fi losofia da ciência, entre os quais citamos: "Metafilosofia dei racional is­ mo" ( 1 97 1 ); "El teorema de Gi:idel y la fi losofia" ( 1 97 1 ); "Física cuántica y filosofia" ( 1 97 1 ); "La lógica matemática en Espaiía ( 1 960- 1 970)" ( 1 972); "La lógi­ ca dei mundo" ( 1 972); "Biología y mecanicismo" ( 1 973); "Ego cogito" ( 1 974 ) ; "El principio de indeterminación en la semántica de Quine" ( 1 975); "La lógica de la existencia" ( 1 977). - Além disso, realizou traduções e edições de textos, por exemplo de W. V. O. Quine, La relatividad ontológica y otros ensayos ( 1 977, com J. L. B iasco), e de Carnap ( 1 992). Principais obras: Le sens commun, la philosophie de l 'Être et les.formules dogmatiques, 1 909, 4ª ed. 1 936. - Dieu, son existence et sa nature, 1 9 1 5 , 1 1 ª ed. 1 950. - Le réalisme du principe de finalité, 1 93 2 . - Le sens du mystere et le clair obscur intellectuel, naturel et surnaturel, 1 934. - La synthese thomiste, 1 945, 2ª ed. 1 950 . - Além disso, o Commentarium in Summam Theologiae S. Thomae A quinatis, 7 vols., 1 93 8- 1 95 l (De Deo Uno, De Deo trino et Creatore, De Grafia, De Christo Salvatore, De Eucharistia, De Revelatione) e o tratado De sanctificatione sacerdotum, secundum nostri temporis exigentias, 1 948. Ver: F. M. Braun, L 'oeuvre du Pere Lagrange. Étude et bibliographie, 1 948. - M . Elizabeth, "Two Contem­ porary Philosophers and the Concept of Being", Mo­ dem Schoolman, 25 ( 1 948), 224-237. - VV. AA., arti­ gos em A ngelicum, 42, fascículos 1 -2 ( 1 965), com bi­ bliografia estabelecida por B. Zercolo, pp. 1 4 1 - 1 94. - F. Bertoldi, "II dibattito sulla verità tra Blondel e Garrigou-Lagrange", Sapienza ( 1 990), 293-3 1 0. Principais obras: Über die Verbindung der Moral mit der Politik, 1 788 (Sobre a união da moral com a política). - Versuch iiber verschiedene Gegenstiinde aus der Moral, Literatur und dem gesellschafilichen Leben, 5 vols., 1 792; 2' ed. , 1 802 (Ensaio sobre assun­ tos diversos relativos à moral, à literatura e à vida social). - Vermischte Auf�iitze welche einzeln oder in Zeitschrifien erschienen sind, 2 partes, 1 796- 1 800 (Arti­ gos vários publicados separadamente ou em revistas). - Über Gesellschafi und Einsamkeit, 2 vols., 1 797- 1 800 (Sobre sociedade e solidão). - Übersicht der vorneh­ msten Prinzipien der Stittenlehre, 1 798 (Sumário dos princípios básicos da doutrina dos costumes [moral]). - Einige Betrachtungen iiber die allgemeinen Gnmd­ siitze der Sittenlehre, 1 798 (Algumas considerações sobre os princípios gerais da doutrina dos costumes). Edição de obras: Populiirphilosophische Schriften. Eine A us1rnhl in zwei Bdnden, 1 974, ed. Kurt Wolfel. Sobre Garve, especialmente em sua relação com Kant, ver: A. Stern, Über die Beziehungen Ch. Garves zu K. , 1 884. - P. Müller, Ch. Garves Moralphilosophie und seine Stellungsnahme zu Kants Ethik, 1 905. - Ver também : M . Stolleis, "Ueber die Verbindung der Moral mit der Politik", A rchivfiir Rechts- und Sozialphiloso­ phie, 55 ( 1 969), 269-277. - P. Laberge, "Ou passagc de la philosophie moralc populaire à la métaphysique des moeurs". Kant-Studien, 7 1 ( 1 980), 4 1 8-444. Principais obras: E/ementa metaphysicae mathema­ ticum in morem adornata. Pars prior. Ontosophia, 1 743. - Appendix ad priorem Metaphysicae partem, 1 744. - Principia philosophiae, 1 747 [segunda parte dos E/ementa]. - Principia theosophiae natura/is, 1 747 [ter­ ceira parte dos E/ementa] . - Elementorum metaphysicae tomus quartus sive De Principiis legis natura/is, 1 752 [quarta parte dos E/ementa] . - Elementorum artis logi­ co-criticae lihri V, 1 745. Di.1putatio physico-historica de rerum COIJJorearum origine et constitutione, 1 745. - Discono sopra il vemfine dei/e lettere e dei/a scienza, 1 75 3 . - Meditazioni.filosofiche sul/a religione e sul/a mora/e, 1 758; ed. rev. , 1 78 1 . - Lettere.filosofiche ad un amico provinciale per servire di rischiaramento agli Ele­ menti metajisici, 1 759. - Dei/a diceosina o sia dei/a.fi­ losofia dei giusto e de// 'onesto, 2 partes, 1 766- 1 777. Letterejàmiliari, ed. Domenico Forges Davanzati, 1 775. Ver: G. Genti le, Dai Genovesi ai Galuppi, 1 903, reimp. em Storia dei/a.filosofia italiana, 1 , 1 930. - E . Gambini, A . G. , la sua.filosofia e / 'istruzione a Napoli -

1 1 88 nel seco/o XVIII, 1 9 1 O. - A. Tisi, li pensiero religioso di A. G. , 1 932. - Paola Zambelli, La formazione filo­ sofica di A . G. , 1 972. - E. Garin, "Antonio Genovesi metafisico e storico", Giornale Critico dei/a Filosofia Italiana, 65 ( 1 986), 1 - 1 5 . - !d. , id. , "A. Genovesi: The Napolitan Enlightenment and Political Economy", Histo1y of'Political Thought, 8 ( 1 987), 3 3 6-344. C

GENTILE, GIOVANNI ( 1 875- 1 944) . Nascido em Cas­ telvetrano (Trapani, Itália), foi professor nas Universida­ des de Palermo ( 1 906- 1 9 1 3), Pisa ( 1 9 1 4- 1 9 1 6) e Roma (a partir de 1 9 1 7), colaborando com Croce ( VER ) em La Critica. Em 1 920 fundou o Giornale critico dei/a.filoso­ fia italiana, que deixou de dirigir em 1 943. De 1 922 a 1 925 foi Ministro da Instrução Pública, e em 1 923 iniciou a reforma escolar chamada de "reforma Gentile". Idealista e hegeliano, em um sentido análogo ao de Croce, Gentile define sua filosofia como um atualismo ( VER ) no qual o Absoluto, como ato criador do Espíri­ to, não representa nada transcendente ao pensamento, pois tudo aquilo que é de alguma forma - inclusive o que é representado como externo e alheio -, é dentro da esfera do sujeito. No Espírito identificam-se a forma e o conteúdo concreto, pois o Absoluto espiritual não é mais que o ato puro que se real iza no curso concreto de toda realidade. A filosofia de Gentile centra-se em grande medida, portanto, em torno da noção de ato ( vER ) puro, que ele entende, evidentemente, como uma pura atividade ou, melhor, como o puro automover-se do eu. O idealismo atual, ou atualismo, sustenta, por conse­ guinte, o primado ontológico da atividade como tal, que é causa de si mesma e, por esse motivo, liberdade. Assim, o ato opõe-se radicalmente ao fato, ao efeito e à coisa submetidos ao mecanicismo e, no caso mais favorável, à contingência, mas impossibilitados de reali­ zar-se a si mesmos, pois seu ser é meramente seu ser já dado. Enquanto as coisas são, a atividade e o eu devêm; por isso, as primeiras são múltiplas e impl icam sua nu­ merabilidade, enquanto os últimos são únicos e supõem a radical unidade. O idealismo atualista permite, no en­ tender de Genti le, superar dialeticamente todas as opo­ sições sem suprimi-las, pois é uma dialética do pensa­ mento pensante e não simplesmente do pensamento pen­ sado. Mais ainda, o idealismo atual ista é o verdadeiro misticismo, ao contrário do misticismo habitual, que é de natureza intelectualista. A ontologia dinâmica que está na base dessa concepção de Gentile só pode ser compreendida, contudo, na medida em que o ato é visto do ponto de vista do Espírito concreto que, por sua vez, representa o ponto no qual se centra a atividade de sua história. Do Espírito não se pode dizer propriamente que seja, a menos que entendamos então o ser em um sentido claramente distinto e mesmo oposto ao que cor­ responde à definição do fato e da coisa; o devir absoluto do Espírito é, com efeito, o movimento que rompe todos

1 1 89 os marcos do ser. Ora, a dialética do pensamento pen­ sante não é, pelo que foi dito anteriormente, uma mera sucessão arbitrária. A j ustificação de cada um dos mo­ mentos do Espírito absoluto realiza-se seguindo o pre­ cedente da dialética: a filosofia, como síntese da arte e da rel igião, é para Gentile o momento superior e de­ finitivo de uma oposição entre o subjetivo e o objetivo, oposição que conserva, naturalmente, cada um dos con­ trários. Na passagem do transcendente para o imanente ou, melhor, na supressão do transcendente como desne­ cessário reside, segundo Gentil e, a solução do problema da metafisica, pois esta trata então de um modo direto com um Absoluto experimentável, dado imediatamente no ato criador da atividade espiritual . A fi losofia de Gentile é, com efeito, uma tentativa de superação, a partir de dentro, das dificuldades que implica o imanen­ tismo de um espírito que não somente não exclui um certo transcender, mas que tende a reconhecer, sem o sacrificio da identidade essencial do ato puro do pensar, a peculiaridade e a di ferença. O fundamento dessa filo­ sofia é, naturalmente, o reconhecimento de que tudo, mesmo o que é impensável, necessita ser pensado para ser reconhecido. Mas a anterioridade do pensar como ato puro não é a anterioridade de uma consciência sub­ jetiva diante de um mundo objetivo. Sujeito e objeto não são nada mais que ulteriores distinções real izadas precisamente pelo ato de pensar. O pensar puro, a abso­ luta atualidade, que Gentile afirma continuamente con­ trapondo-a a tudo o que é meramente pensado e a tudo o que j á foi feito, é um pensar que transcende toda mera subjetividade: é pensar transcendental e não sujeito que conhece, e menos ainda suj eito psicológico. A filosofia de Gentile l iga-se, deste modo, mesmo sem propô-lo deliberadamente, com algumas das tendências mais ca­ racterísticas do pós-hegelianismo : o predomínio do pen­ sar como ato puro e absolutamente atual é, no fundo, o predomínio de uma ação destinada a resolver as con­ tradições suscitadas pelo próprio pensamento. Daí que a última fase do pensamento de Gentile não desminta a conclusão de suas primeiras teses acerca do pensar co­ mo ato puro. A conclusão a que chegará sempre o idea­ lista atual é, com efeito, a de que "eu jamais sou eu sem estar inteiramente no que penso, e o que penso é sempre uno, enquanto sou eu". Por isso, "a mera multiplicidade pertence sempre ao conteúdo da consciência abstrata­ mente considerado e na verdade é sempre resolvida na unidade do Eu. A verdadeira história não é, assim, a que se desdobra no tempo, mas a que se recolhe no eterno do ato do pensar no qual de fato se realiza" ( Teoria de/lo Spirito, XVIII, 1 4) . :> Continuadores d o pensamento d e Gentile são, entre outros, o pedagogo Giuseppe Lombardo-Radice ( l 8791 93 8 : Studi platonici, 1 905. - Saggi di propaganda po­ litica e pedagogia, 19 l O. - Lezioni di Didattica e ricordi

GENTILE, GIOVANNI

di esperienza magistrale, 1 9 1 1 . - L'ideale educativo e la scuola nazionale, 1 9 1 5 . - Saggi di critica didattica, 1 927. - II problema dell 'educazione infantile, 1 928. - Pedagogia di apostoli e di operai, 1 93 7); Vito Fazio­ Allmayer (nasc. 1 88 5 : Materia e sensazione, 1 9 1 3 . La teoria delta libertà nellafilosofia di Hegel, 1 920. Moralità deli 'arte, 1 953 ) ; Giuseppe Saitta (nasc. 1 88 1 : Lo spirito come eticità, 1 92 1 ; 2ª ed., l 947 . - Filosofia italiana e Umanesimo, 1 928. - La personalità umana e la nuova coscienza illuminislica, 1 938. - La libertà uma­ na e l 'esistenza, 1 940. - lipensiero italiano nel/ 'Umane­ simo e nel Rinascimento, 3 vols., 1 949- 1 95 1 . - liproble­ ma di Dia e la filosofia dell 'immanenza, 1 953 ) ; Ernesto Codignola (nasc. 1 8 8 5 : La riforma della cu/lura magis­ trale, 1 9 1 7. - La pedagogia rivoluzionaria, 1 9 1 9; 2ª ed., 1 925. - La rigorma scolastica, 1 927. - li problema educativo, 3 vols., 1 935; 3ª ed., 1 952. -Carteggi di gian­ senistri liguri, 3 vols., 1 94 1 - 1 942) e outros. Pode-se con­ siderar como "órgão" da escola gentiliana o citado Gior­ nale critico dellafilosofia italiana. Gentile também in­ fluenciou outros autores, como Armando Carl ini ( vER ) e Augusto Guzzo (VER ) . As obras de Genti le são numerosas; citamos: Ros­ mini e Gioberti, 1 898. - la filosofia di Marx. Studi cri­ tici, 1 899. - Dai Genovesi ai Galluppi, 1 903. - la filosofia, 1 904- 1 9 1 5 (história da filosofia italiana). II modernismo e i rapporti fra religione e filosofia, 1 909. - II problemi de/la scolaslica, 1 9 1 3 . - la rifor­ ma dei/a dialettica hegeliana, 1 9 1 3 (inclui a conferên­ cia dada em 1 9 1 1 : L 'a/to dei pensare come atto puro, publicada em 1 9 1 2) ; 3ª ed., 1 924. - Sommario di peda­ gogia come scienza filosofica, 2 vols., 1 9 1 3 - 1 9 1 4 . Studi vichiani, 1 9 1 5 . - Teoria generale dei/o Spirito, 1 9 1 6. - Ifondamenti dei/a filosofia dei diritto, 1 9 1 6 . - Sistema di logica come teoria dei conoscere, 2 vols., 1 9 1 7- 1 92 3 . - Le origini della.filosofia contemporanea in !ta/ia, 4 vols., 1 9 1 7- 1 92 3 . - Discorsi di religione, 1 920. - La riforma dei/ 'educazione, 1 920. - Educa­ zione e scuola laica, 1 92 1 . - G. Capponi e la cultura toscana dei seco/o XIX, l 922. - Studi sul Rinascimento, 1 92 3 . - Dante e Manzoni, 1 92 3 . - ! profeti dei Risor­ gimento italiano, 1 92 3 . - A lbori della nuova !ta/ia, 2 vols., l 923. - Preliminari alio studio dei .fànciullo, l 924. - Difesa dei/a .filosofia, 1 924. - B. Spavenla, 1 924. - La nuova scuola media, 1 92 5 . - L'eredi!á di V. A lfieri, 1 926. - Manzoni e Leopardi, l 928. - la ri/arma della scuola in !ta/ia, l 932. - lntroduzione alia .filosofia, 1 93 3 . - li pensiero italiano dei Rinascimento, 1 940. - Genesi e strut/ura de/la società. Saggio di.filosofia prattica, 1 946; 2ª ed., 1 954. - Entre as obras de caráter mais diretamente político mencionamos: Dopo la vittoria, 1 920. - Che cosa e il fascismo, 1 925. Fascismo e cultura, 1 928. - Memorie italiane, 1 936. A maior parte das obras foi reeditada.

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GENTZEN, GERHARD

Edições de obras: Opere di G. G. , 1 929- 1 932, ed. R. Treves. - Opere complete, 1 928 ss., em 59 vols., divididas em cinco grupos, a cargo de M . Vito e V. A . Bellezza: obras d e filosofia sistemática (9 vols.); traba­ lhos históricos (26 vols.); obras variadas ( 1 1 vols.); frag­ mentos de obras ou obras inacabadas (8 vols.); cor­ respondência (3 vol s . : I, 1 896- 1 900; I I , 1 90 1 - 1 906; III, 1 907- 1 909, ed. Simona Giannantoni). B ibliografia: A. Bellezza, Bibliografia deg/i scritti di G. G. , 1 950. Ver: J. A. Smith, The Phi/osophy ofG. G. , 1 9 1 9. E. Chiochetti, la filosofia di G. G. , 1 922. - Vicenzo La Via, l 'idea/ismo attuale di G. G. , 1 92 5 . - Johan­ nes Baur, G. Gentiles Philosophie und Piidagogik, 1 935 (tese). R. W. Holmes, The ldealism of" G. G. , 1 93 7 . - Patrick Romanell, Gentile: The Philosophy of G. Genti/e, 1 93 8 . ld., Croce versus Genti/e. A Dialogue on Conlempora1y ltalian Phi/osophy, 1 946. - V. A. Bellezza, G. G. la vila e il pensiero, 1 950. - U. Spirito, Note sul pensiero di G. G. , 1 954 (três ensaios). - Id., G. G. , 1 969. - F. Puglisi, la concezione estetico-filo­ scdica di G. G. , 1 95 5 . - A. Carl ini, G. G. : la vila e il pensiero, 1 95 7 . -Domenico d ' Orsai, lo spirito come atto puro in G. G. , 1 95 7 . M. A. Giganti, Storia e storia de/la .filosofia in G. G. , 1 959. H. S. Harris, The Social Philosophy of G. G. , 1 960. A. Negri, A. Capizzi et a i , G. G. , la vila e i/pensiem, 1 962. - William A. Smith, G. G. on lhe Exislence of"God, 1 970. - Aldo Lo Schiavo, la .filosofia po/itica di G. G. , 1 97 1 . Cario Bonomo, G. G. : la vila e i/ pensiero, 1 972. Ferrucio Pardo, lafi/osofia di G. G. : Genesi, sviluppo, unilà sislematica, critica, 1 97 3 . Lino di Stefano, la .filosofia di G. G. , 1 974. - Antimo Negri, G. G. , 2 vols., 1 97 5 . - M. Di Lalla, Vila di G. G. , 1 97 5 . P. P. Druet, "La 'pol itisation' de la métaphysique idéaliste: le cas de Gentile'', Revue phi/osophique de louvain, 74, n. 2 1 ( 1 976). - A. Agosti, Filosofia e re/igione ne// 'at­ tua/ismo genti/iano, 1 977. - Vários autores, li pen­ siero di G. G. , 2 vols., 1 977. - M. Ostenc, l 'éducation en llalie pendant le fascisme, 1 980. - F. S. Chesi, Genlile e Heidegger: A I di là de pensiero, 1 992. Há uma série de volumes com o título G. G. La vila e i/ pensiero, iniciados em 1 948 e dos quais, até 1 972, foram publicados catorze. A série é patroc inada pela "Fondazione G. G . per gli studi fi losofici". Ver também a série do Giornale critico de/lafiloso­ fia italiana (desde janeiro de 1 94 7 aparece a Terceira Série do Giornale com artigos de discípulos de Gentile, incluindo páginas inéditas do filósofo. O Giornale é pu­ blicado pela Fondazione, cujo Comitê diretor é formado por Pantaleo Carabellese, G. Chiavacci, V. Fazio-All­ mayer, E. Garin, B. Nardi, G. Saitta e Ugo Spirito). C: -

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GENTZEN, GERHARD ( 1 909- 1 945 ) . Nascido em Grei fswald ( Pomerânia), estudou em Greifswald, Gõt-

tingen, Munique, Berli m e, novamente, em Greifswald, onde trabalhou com Hermann Weyl. Em 1 934 foi nomea­ do ajudante de H ilbert, em Gõttingen, continuando no posto após a aposentadoria de H ilbert. Recrutado pelo exército alemão no início da guerra de 1 939- 1 945, foi­ lhe perm itido, por razões de saúde, l icenciar-se do exér­ cito e dedicar-se ao ensino. Em 1 943 recebeu seu douto­ rado em Gõttingen e nesse mesmo ano foi nomeado Dozent na Universidade alemã de Praga. Ao ser ocupada a cidade pelo Exército soviético, foi preso juntamente com outros professores, falecendo de inanição na cadeia. Gentzen é conhecido sobretudo por sua reformulação da lógica de predicados mediante um sistema de infe­ rência de que falamos no verbete DEDUÇÃO NATURAL. As regras de inferência de Gentzen ou "regras de Gent­ zen" substituíram em muitos casos os métodos de dedu­ ção lógica "clássicos" procedentes dos Principia Ma­ themalica. Mediante a dedução natural podem-se deri­ var conclusões de pressupostos que depois são eliminá­ veis mediante outras regras de inferência. As regras ou cálculo seqüencial de Gentzen constituíram a base para uma reformulação do sistema de dedução com base nos quadros semânticos propostos por E. W. Beth e outros autores (ver Á RVORE ) . Entre outros trabalhos de Gentzen destaca-se sua prova de consistência da aritmética mediante um proce­ dimento de i ndução transfinita. A conjetura de que é possível reduzir provas lógicas a uma forma "normal'', na qual os conceitos uti lizados na prova aparecem de algum modo em sua conclusão, conduziu Gentzen a for­ mular um teorema análogo a outro proposto por Jacques Herbrand - razão pela qual ambos os teoremas são freqüentemente citados como "teorema de Herbrand­ Gentzen". :> A seguinte lista de trabalhos de Gentzen segue a bibliografia na tradução inglesa: The Co//ected Papers of G. G. , 1 969, ed. M. E. Szabo: " Ü ber di Existenz unabhãngiger Axiomensysteme zu unendlicher Satzsys­ temen", Mathematische A nnalen, 1 07 ( 1 932), 329-350 ("Sobre a existência de sistemas axiomáticos indepen­ dentes para sistemas de proposições infinitas"). " Über das Verhãltnis zwischen intuitionistischer und klassischer Arithmetik", impresso em provas para Ma­ thematische Annalen ( 1 933), mas retirado pelo autor ao conhecer o descobrimento simi lar de· Gõdel ("Sobre a relação entre a aritmética clássica e a intuicionista"). - "Untersuchungen über das logische Schliessen", Ma­ thematische Zeitschrifi, 39 ( 1 93 5 ), 1 76-2 1 O, 405-43 1 (aceito como dissertação inaugural em Gõttingen) ("In­ vestigações sobre a dedução [conclusão] lógica"). "Die Widerspruchsfreiheit der rei nen Zahlentheorie", Mathematische A nnalen, 1 1 2 ( 1 936), 493-565 ("A au­ sência de contradição [mais comumente traduzida por 'consistência ' , como será feito inf"ra] da teoria numéri­ ca elementar"). Szabo também menciona provas das

GERAÇÃO

1 1 91 seções I V e V desse trabalho para Mathematische A nnalen ( 1 93 5 ) . - "Die Widerspruchsfreiheit der Stu­ fenlogik", Mathematische Zeitschrift, 4 1 , 2 ( 1 936), 357366 ("A consistência da lógica de graus [teoria simples dos tipos]"). - "Der Unendlichkeitsbegriff in der Ma­ thematik", informe semestral, Münster i. W., i nverno de 1 936- 1 93 7, pp. 65-80 ("O conceito de infinito na matemática"). - "Die gegenwãrtige Lage in der mathe­ matischen Grundlagenforschung", Forschungen zur Lo­ gik und zur Grundlegung der exakten Wissenschaften, N. S., 4 ( 1 938), 5 - 1 8, e também Deutsche Mathematik, 3 ( 1 939), 255-268 ("A situação atual na fundamentação da matemática"). - "Neue Fassung des Widerspruchs­ freiheitsbeweises für die reine Zahlentheorie", Fors­ chungen zur Logik und zur Grundlegung der exakten Wissenschaften, N. S . , 4 ( 1 938), 1 9-44 ("Nova concep­ ção da prova de consistência para a teoria numérica elementar"). - "Beweisbarkeit und Unbewei sbarkeit von Anfangsfâllen der transfiniten Induktion in der rei­ nen Zahlentheorie", Mathematische A nnalen , 1 1 9, 1 ( 1 94 3 ) , 1 40- 1 6 1 (submetido como tese de doutorado em Gõttingen) ("Demonstrabilidade e não-demonstra­ bilidade de casos especiais de indução transfinita na teoria numérica elementar" [ ' Demonstrabi lidade ' Probabilidade ' na acepção de ' suscetível de ser prova­ do ']). - "Zusammenfassung von mehreren vollstãndi­ gen lnduktionen zu einer einzigen", A rchiv for mathe­ matische Logik und Grundlagenforschung, 2, 1 ( 1 954 ), 1 -3 (póstumo, dedicado a Heinrich Scholz por seus 60 anos em 1 7 de dezembro de 1 944) ("de várias induções completas em uma única"). Ver: W. W. Tait, "lnfinitely Long Terms of Transfi­ nite Type I", em Formal Sustems and Recursive Func­ tions, 1 76- 1 85, ed. J. N. Crossley, M. A. E. Dummet, 1 965. - V. G. Kirin, "Gentzen's Method for the Many­ Valued Propositional Calculi'', Zeitschriftfor Mathema­ tische Logik und Grundlagen der Mathematik, 12 ( 1 966), 3 1 7-332. - J. Riser, "A Gentzen-Type Calculus of Se­ quents for Single-Operator Propositional Logic", Journal of Symbolic Logic, 32 ( 1 967), 75-80. - H. Leblanc, "Subformula Theorems for N-Sequents", Journal ofSym­ bolic Logic, 33 ( 1 968), 1 6 1 - 1 79. - F. Kutschera, "Ein verallgemeinerter Widerlegungsbegriff für Gentzen­ kalküle", Archivfor mathematische Logik und Grundla­ genforschung, 1 2 ( 1 969), 1 04- 1 1 8. - P. Zahn, "Eine Verallgemeinerung des Hauptsatzes von Gentzen", ibid., 1 34- 1 50. - P. Nidditch, "Is Natural Deduction Natu­ ral?", 1 ª parte, Aristotelian Society, 43 ( 1 969), 49-68 . 8. Rundle, "Is Natural Deduction Natural?", 2ª parte, ibid. , 69-84. - R. Beneyto, "Un aspecto natural de la deducción natural", Teorema, 5 ( 1 975), 3 6 1 -3 8 1 . - 1 . Hacking, "What i s Logic?", Journal of Philosophy, 76 ( 1 979), 285-3 1 9 . - A. Wasilewska, "On the Gentzen Type Formalizations", Zeitsch. for math. Logik und Grundlagen der Math. , 26 ( 1 980), 439-444. - P. Minari, =

"Le dimostrazioni di non-contradittorietà deli' aritme­ tica'', Rivista di Filosofia, 72 ( 1 98 1 ), 1 -3 1 . C:

GENUS. Ver GÊNERO. GEOFFROY, SAINT-HILAIRE ( É TIENNE). Ver EVOLUÇÃO, EVOLUCIONISMO. GERAÇ Ã O. Muitos filósofos gregos ocuparam-se de como uma coisa se transforma em outra. Trata-se do problema da mudança ou devir ( vER) , em contraposição ao problema do movimento propriamente dito ou loco­ moção. Se existisse uma única substância, e só pudesse existir uma única substância, esta nunca se transforma­ ria em outra, de modo que seria dificil explicar a mu­ dança. No máximo se poderia dizer que a substância única experimenta modificações, que teriam de ser sem­ pre acidentais. Os pluralistas (Empédocles, Anaxágoras, Demócrito) tentaram resolver o problema afirmando a existência de uma pluralidade de "substâncias" ou "ele­ mentos"; toda mudança é então explicada pela combina­ ção e mistura de tais "substâncias" ou "elementos". Essa combinação e essa mistura podem ser de natureza qua­ litativa (como em Empédocles e Anaxágoras) ou podem estar fundadas em características quantitativas ou "po­ sicionais" (como em Demócrito). No verbete DEVIR referimo-nos às doutrinas de Pla­ tão e de Aristóteles sobre a geração, yévems, e à mudança contraposta à geração: a corrupção, Obras: Teorica dei sovrannaturale, 1 83 8 ; 2" ed., 1 850. - lntroduzione a/lo studio de/la filosofia, 1 8391 840; nova ed. , 1 86 1 . - Considerazioni sul/e dottrine religiose di V. Cousin, 1 840. - Dei bel/o, 1 84 1 . Degli errori.filosofici di Antonio Rosmini, 1 84 1 ( 1 0 car­ tas) ; 2ª ed., com outras 2 cartas e os três diálogos "Tri­ logia de lia formo la ideale e del i ' ente possibile", 3 vols., 1 843- 1 844. - Dei buono, 1 842. - Dei prima/o mo­ ra/e e civi/e deg/i lta/iani, 1 842- 1 843. - Pro/egomeni ai prima/o, 1 845. - li gesuita moderno, 5 vols., 1 8461 84 7. - Apologia dei libro intitolato "II Gesuita mo­ derno ", con a/cune considerazioni intorno ai Risorgi­ mento italiano, 1 848. - Discorso pre/iminare sul/a teoria dei sovrannatura/e, 1 850. - Opuscu/i po/itici, 1 850. - Dei rinnovamento civi/e d '!ta/ia, 2 vols., 1 85 1 . Obras póstumas: Proto/ogia e La filosofia de/la rivelazione - da qual devia fazer parte La ri/i>rma cattolica de/la Chiesa - são obras importantes nas quais Gioberti trabalhou durante anos, mas que estavam incompletas quando morreu. Dos manuscritos inéditos da Proto/ogia, G. Massari extraiu uma coletânea de ano­ tações publicadas com o título De/la Proto/ogia, 2 vols., 1 95 7 . É melhor a coletânea de G. Balsamo-Crivelli, Protologia, 1 924. - As anotações relativas às outras duas obras mencionadas foram publ icadas por G. Mas­ sari, Opere inedite, 1 856. Mas também é melhor a edi­ ção de G. Balsamo-Crivelli, lframmenti de/la "Ri/i>rma catto/ica . . .", 1 924, com prefácio de G. Gentile. - Cours de phi/osophie, 1 947, curso dado em 1 84 1 - 1 842 no Ins­ tituto Gaggia. Todos os manuscritos giobertianos estão na Biblio­ teca Civica de Turim. Edição de obras: Obras completas em 3 5 vols., 1 8 77. - Edizione naziona/e de/le opere, 1 93 8 ss. Ver: A. Rosmini, V. G. e i/ panteismo, 1 848. - D i Giovanni, Sul/a riforma catto/ica e sullafi/osofia de/la rivelazione di V. G. , 1 859. - B. Spaventa, La .filosofia di G. , 1 863. - G. Prisco, G. e / 'ontologismo, 1 867. B. Labanca, Dei/a mente di V. G. , 1 87 1 . - G. Gentile, Rosmini e Gioberti, 1 898. - D. Zachinelli, li pensiero civile di G. , 1 90 1 . - A. Bruers, G. , 1 924. - U. A. Pa­ dovani, V. G. ed i/ cattolicesimo, 1 92 8 . - F. Palhoriés, G. , 1 929. - Ilario Rinieri, S. J., La.filosofia di G. , 1 93 1 . - L . Stefanini, Gioberti, 1 947. - G . Saitta, II pensie­ m di G. , 1 947. - A . Anzi lloti i, G. , 1 947. - G. Bianchi,

1 2 04 li problema mora/e in V. G. La rea/ità come alto crea­

tivo, 1 960. - G. de Crescenzo, La fortuna di V. G. nel mezzogiorno d 'ltalia, 1 964. - G. Derossi, La teoria giobertiana dei linguaggio come dono divino e il suo significa/o storico e speculativo, 1 97 1 . - A. Gal im­ berti, "Gioberti, Gentile, Rosmini", Giornale Critico de/la Filosofia Italiana, 9 ( 1 978), 1 72- 1 87. Obras: les jondements des mathématiques: De la géométrie d 'Euclide à la re/ativité généra/e e à / 'intui­ tionisme, 1 926. - les mathématiques et la réalité. Es­ sai sur la méthode axiomatique, 1 936. - Qu 'est-ce que la /ogique?, 1 93 7 . - Phi/osophie mathématique (com comentários de A. Church et ai.). - la géométrie et /e probléme de / 'espace (fase. 1 : la doctrine préa/ab/e, 1 945; fase. I I : les trais aspects de la géométrie, 1 946; fase. 1 1 1 : l'éd!fication axiomatique, 1 946; fase. IV: la �ynthése dialectique, 1 949; fase. V: les géométries non euclidiennes, 1 952; fase. V I : le probléme de / 'espace, 1 95 5 ). - A nalytische Geometrie der Ebene in moder­ ner Behandlung, 1 948 (em colaboração com Marcel Ruetl). - les sciences et la phi/osophie, 1 950. - É"tu­ des de phi/osophie des sciences, 1 950. - Le probléme du temps: Essai sur la méthodologie de la recherche, 1 964. - la métaphysique et / 'ouverture à / 'expérience, 1 973 (com comentários de J. Gawronski et ai. ). - Le réjérentiel, univers obligé de médiatisation, 1 975. Auto-exposição: "Mon itinéraire philosophique", Revue lnternationale de Phi/osophie, 24 ( 1 970), 39843 3 . - "Entretien avec Ferdinand Gonseth", Giornale di Metafisica, 28 ( 1 973), 1 3 7- 1 57, com Z. Kourim. Ver também os editoriais e artigos que apareceram na revista Dialectica (fundada por Gonseth junto com Gaston Bachelard e Paul Bernays) a partir de 1 947. Ver os artigos de S . Gagnebin, M . Aebi e P. Bernays sobre F. G. em Dialectica, 1 4 ( 1 960), pp. 1 05-276, com bibl . de F. G. - E. Bertholet, W. Servais et ai., artigos na Revue Internationa/e de Philosophie, 24 ( 1 970), fases. 3 -4. - Vários autores, artigos em Dialectica, 24, fases. 1 -3 ( 1 970); Dialectica, 3 1 , fases. 1 -2 ( 1 977). - G. Heinzmann, "Konstruktivistische Gesichtpunkle der Phi­ losophie der Mathematik von F. G .", Conceptus, 1 6 ( 1 982), 73-80. - H. Lauener, "Gaston Bachelard et F. G., philosophes de la dialectique scientifique", Dialectica, 39 ( 1 985), 5 - 1 8. - J. Vuillemin, "Sur la méthode de F.

1 22 1 G.", ibid. ( 1 990), 225-228. - L . Witkowski, "On the Phenomenon of Marginality in Epistemology: Gonseth and His Tradition", ibid. , 3 1 3-322. - B. Morei, "Gon­ seth et le discours théologique", ibid. , 3 5 3-36 l . Obras: Estudios religiosos, f ilosóficos, científicos y sociales, 2 vols., l 873. - Estudios sobre la filosofia de Santo Tomás, 3 vols., 1 864; 2ª ed., l 866. - Historia de la filosofía, 3 vols., 1 878- 1 879; 2ª ed., 4 vols., 1 885, fre­ qüentemente reimpressa. - Também é autor do manual intitulado Philosophia e/ementaria ad usum academicae ac praesertim ecclesiasticae juventutis, 3 vols., 1 868; 2ª ed., l 877; há uma trad. esp . : Filosofia e/ementai, 1 894. Ver: Guillermo Fraile, O. P., "E! P. Ceferino Gon­ zález y Díaz Tunón ( 1 83 1 - 1 894)", Revista de Filosofía, 1 5 ( 1 956), 465-488. - Francisco Díaz de Cerio, "La filosofia de la historia dei Cardenal Fray C. G . , O. P. ( 1 83 1 - 1 894)", Gregorianum, 44 ( 1 963 ), 543-5 59. Ver: Alexander Gerarei, An Essay on Taste, 1 759, reimp., 1 97 1 ; 2ª ed., rev., 1 764, reimp. 1 970; 3ª ed., ampL, 1 780, reimp. 1 963 . P.-G. de Roujoux, Histoire des révolutions arrivées dans les sciences et les beaux­ arts depuis les temps héroiquesjusqu 'à nosjours, 1 8 1 1 . - Archibald Alison, Essays on the Nature and Princi­ pies ofTaste, 1 8 1 0; 6ª ed., 1 8 1 7- 1 825. - Ximenes Dou­ dan, Des révolutions du goút, 1 85 5 ; reed., por Henri Moncel, 1 924 (de Racine a Hugo). L Marchand, Le goút, 1 906. - Moritz Geiger, "Beitrage zur Phanome­ nologie des asthetischen Genusses", Jahrbuchfür Phi­ losophie und phiinomenologische Forschung, 1 ( 1 9 1 3 ), 5 67-684. - S. Rocheblave, Le goút en France, les arts et les lettres de 1 600 à 1 900, 1 9 1 4 ; nova ed., com o título L 'art et le goút en France de 1 600 à 1 900, 1 923. - Resenha das opiniões sobre o problema do gosto em autores espanhóis e não-espanhóis dos séculos XVIII e XIX encontra-se em M . Menéndez y Pelayo, Historia de las ideas estéticas, tomos III e IV da Edição Nacio-

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G Õ TTINGEN (C ÍRCULO DE)

nal, ed. E. Sánchez Reyes. - F. P. Chambers, Cycles of Tas te, an Unacknowledged Problem in Ancient A rt and Criticism, 1 92 8 . - The History ofTaste, 1 93 2 . Fr. Schummer, "Die Entwicklung des Geschmackbe­ gri ffs in der Philosophie des 1 7. und 1 8 . Jahrhunderts", A rchiv für Begriffsgeschichte, 1 ( 1 955), 1 20- 1 4 1 . Galvano della Volpe, Critica dei gusto, 1 960. - Lia Formigari, L'estetica dei gusto nel Settecento inglese, 1 962. - R. G. Saisselin, Taste in Eighteenth Century France: Criticai Reflrctions on the Origins o{A esthe­ tics, 1 965. - Christopher Browne, Taste: An Essay in Criticai Imagination, 1 968. Teddy Brunius, Theory and Taste, 1 969. Jean-Bertrand Barrere, L 'idée de gout de Pascal à Valéry, 1 972. - R. Peacock, Criticism and Personal Taste, 1 972. - P. Bourdieu, La distinc­ tion: critique sociale du jugement, 1 979. - P Guyer, Kant and the Claims of" Tas te, 1 979. - R. Suter, Six A nswers to the Problem o/" Taste, 1 979. - G. Kohler, Geschmacksurteil und iisthetische Erf"ahrung. Beitriige ::: ur A uslegung von Kant.1· "Kritik der iisthetischen Ur­ teilskraji", 1 980. - C. Wegener, The Discipline o/Tas/e and Feeling, 1 992. C -

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G Õ TTINGEN (C Í RCULO DE). Um dos grupos fe­ nomenológicos que fazem parte do que Herbert Spie­ gelberg chama de "o antigo movimento fenomenoló­ gico" ( The Phenomenological Movement, t. ! , 1 960, pp. 1 68 ss.) é o "Círculo de Gõttingen", em cuja Univer­ sidade Husserl começou a dar aulas em 1 90 1 . Como in­ dica Spiegelberg, em 1 905 chegaram de Munique Adolf Reinach, Moritz Geiger e alguns outros. Em 1 907 che­ gou a Gõttingen Dietrich von Hi ldebrand e em 1 9 1 1 , Hedwig Conrad-Martius. Depois chegaram Alexandre Koyré, Jean Hering, Roman Ingarden, Fritz Kraufmann e Edith Stein. O Círculo começou a se formar em 1 907, reunin­ do-se, freqüentemente sem a presença de Husserl , para discutir questões relacionadas com a fenomenologia e com a possibil idade de se aplicar o método fenomeno­ lógico. O principal interesse dos membros do Círculo era antes a descrição fenomenológica de essências que o estudo da essência da consciência. Os membros do Círculo tinham escassa simpatia pelas tendências do próprio Husserl à fenomenologia transcendental. Influente no Círculo foi Adolf Reinach. Max Sche­ ler também assistiu a muitas reuniões a partir de 1 9 1 O. O Círculo se dissolveu por volta do início da primeira guerra mundial, quando Husserl mudou-se para a Uni­ versidade de Friburgo i.B. À s vezes também se dá o nome de "Grupo de Gõt­ tingen" (ou "Escola de Gõttingen") à tendência filosó­ fica desenvolvida por Leonard Nelson (vER), também conhecida como "neofriesianismo" (ver FRIES [JAKOB FRIEDRICH ] ) . Sobre o círculo fenomenológico d e Giittingen, além da obra de H . Spiegelberg (supra), ver Franz Georg

1 22 6 Schmucker, Phiinomenologie ais Methode der Wesen­ serkenntnis, 1 956.

GOUHIER, HENRI ( 1 898- 1 994 ). Nascido em Auxer­ re (Yonne, França), professor na Universidade de Lille ( 1 929- 1 94 1 ) e na Sorbonne (a partir de 1 94 1 ), desta­ cou-se por suas contribuições à história da filosofia, particularmente da filosofia francesa moderna (Descar­ tes, Malebranche, Saint-Simon, Comte, Maine de Bi­ ran ). Em outro lugar nos referimos à sua interpretação do biranismo. Do ponto de vista sistemático, destacam­ se especialmente as contribuições de Gouhier ao estudo do problema suscitado pela história da filosofia (estudo que também impl ica uma análise do problema suscita­ do pela filosofia da história). Segundo Gouhier, as filo­ sofias não podem ser desligadas das visões de mundo (que são modos distintos de descobrir o mundo). Por isso a fi losofia, embora possua suas próprias técnicas e seus próprios métodos, não vive de sua própria subs­ tância: seu élan vital é de origem científica ou religiosa. Isso não significa que todas as filosofias possuam o mesmo caráter: há, com efeito, certas filosofias que pre­ tendem dar razão da realidade e explicá-la (filosofias da verdade, que tendem para o abstrato) e outras que querem estabelecer contato com o que é (filosofias da real idade, que tendem para o concreto). "O histórico" que banha todas as filosofias do passado nâo apaga essas diferenças; mas "o histórico" é o que há de comum a todas, porque expressa, segundo Gouhier, uma dimen­ são existencial relativamente independente dos valores atemporais. Por isso deve-se distinguir a importância atual de uma filosofia e seu alcance histórico. O histó­ rico de uma filosofia é aquele ponto no qual coincidem uma doutrina filosófica e a existência que lhe deu ori­ gem. Por isso "o histórico" não é nem simplesmente "o que passou" nem "a historicidade": é um elemento con­ creto, não uma hipóstase ou uma abstração. � Obras: La pensée religieuse de Descartes, 1 924; 2ª ed., 1 972. - La vocation de Malebranche, 1 926. - La philosophie de Malebranche et son expérience religieuse, 1 926. - Notre ami Maurice Barres, 1 928. - La vie d 'A. Com/e, 1 93 1 ; 2ª ed., 1 965. - Lajeunesse d 'A. Comte et lajàrmation du positivisme, 3 vols. (!. Sous /e signe de la liberté, 1 93 3 ; I I . Saint-Simon jusqu 'à la Restauration, 1 936; III. S. Comte et Saint-Simon, 1 94 1 ). - Essais sur Descartes, 1 937; 2ª ed. , 1 949. - L'essence du Théatre, 1 943 . - La philosophie et son histoire, 1 944. - Les conversions de Maine de Biran, 1 948. - L'histoire et sa philosophie, 1 952. - Le Théatre et / 'existence, 1 952. L'oeuvre théâtrale, 1 958. - Les premieres pensées de Descartes. Contribution à / 'histoire de / 'anti-renaissance, 1 958. - Bergson et /e Christ des Evangiles, l 96 1 . - La pensée métaphysique de Descartes, 1 962. - Blaise Pas­ cal: Commentaires, 1 966 (artigos, 1 953- 1 962). - Les grandes avenues de la pensée philosophique en France

1 22 7 depuis Descartes, 1 966. - Les méditations métaphysi­ ques de Jean-Jacques Rousseau, 1 970. - A ntonin A rtaud et l 'essence du théatre, 1 974. - Études d 'histoire de la philosophiefrançaise, 1 974. - Pascal et les humanistes chrétiens: L 'ajfaire Sainte-Ange, 1 974. - Fénelon, philosophe, 1 977. - Cartésianisme et augustinisme au XVII' siecle, 1 978. - Études sur l 'histoire des idées en France depuis le XVII' siecle, 1 980. - Rousseau et Voltaire. Portraits dans deux miroirs, 1 98 3 . C

GOURD, JEAN-JACQUES ( 1 850- 1 909). Nascido em Le Fleix (Dordogne ), professor a partir de 1 8 8 1 em Ge­ nebra, desenvolveu, sob a influência de Renouvier, uma filosofia explicitamente qualificada de fenomenista. Com efeito, o ponto de partida de toda fi losofia não é para Gourd nem a experiência sensível externa nem tampouco um conjunto de transcendentais supostamen­ te captados pela inteligência ou pela razão, mas o campo da consciência. Na consciência é dada a realidade como fenômeno; e mesmo o eu, encarregado de submeter essa realidade à anàlise, surge dela como a parte ativa, livre, finita. O monismo da consciência não significa, deste modo, a supressão de um certo dualismo do conheci­ mento, pois a dualidade se introduz assim que a reali­ dade é analisada dialeticamente. Gourd assinala que o real apresenta uma série de "incoordenàveis" ao lado de uma série de "coordenáveis". Estes se manifestam por intermédio do exame da ciência, que é uma dialé­ tica teórica, e da moral, que é uma dialética prática. A ciência dos coordenáveis segue, pois, uma orientação assimilista e involucionista parecida com a defendida por Lalande. Mas a assimilação nunca é absoluta, e por isso emerge a incoordenabilidade como o fundamento da dialética religiosa. Daí que uma "filosofia da religião" seja a culminação da primeira filosofia da ciência e do coordenável em geral, e daí também que o fenomenis­ mo absoluto não elimine, antes afirme, segundo Gourd, a possibil idade do Absoluto e da personalidade divina. :> Principais obras: Le phénomene, 1 8 88. - Les trois dialectiques, 1 897. - Philosophie de la religion, 1 9 1 2 . Ver: Ch. Werner, La philosophie de Jean-Jacques Gourd, 1 9 1 O. - H. Bockwitz, "Jean-Jacques Gourds philosophisches System", 1 9 1 2 (em A bhandlungen zur Philosophie und ihrer Geschichte, 1 8). - Gottlob Spür­ ri, Das lncoordinable. Die Bedeutung J J Gourds jiir Geschichlsphilosophie und Theologie, 1 929 (em Fors­ chungen zur Geschichte und Lehre der Protestanlis­ chen Religion, I I , 4). - Samuel Berthoud, Trois doc­ trines: Ch. Secrétan, J J Gourd, L. Brunsch vicg, 1 939. - Marcel Reymond, La philosophie de Jean-Jacques Gourd (1 850- 1 909), 1 949. C GRABMANN, MARTIN ( 1 875- 1 949). Nascido em Winterzhofen (Baviera), foi professor em Eichstãdt (a partir de 1 906), na Universidade de Viena (a partir de

GRABMANN, MARTIN

1 9 1 3) e na de Munique ( 1 9 1 8- 1 939). Sob a inspiração de H. Denifle e F. Ehrle, que conheceu durante sua es­ tada em Roma ( 1 900- 1 902), Grabmann dedicou-se a pesquisas em história da fil osofia e teologia medievais, e chegou a ser um dos mais destacados e influentes me­ dievalistas. Devem-se a Grabmann numerosíssimos tra­ balhos: sobre Santo Tomás, Alberto Magno, a influência do aristotelismo na Idade Média, a gramática especu­ lativa, o método escolástico, a relação entre problemas filosóficos e teológicos na Idade Média etc. Deve-se também a ele a descoberta de manuscritos, edições crí­ ticas destes e numerosas e importantes correções e pre­ cisões de datas e autores medievais. A partir de 1 925 Grabmann dirigiu os Beitriige zur Geschichte der Philo­ sophie und Theologie des Mittelalters; desde sua funda­ ção em 1 929 dirigiu (com E. Pelster) a Series scholas­ tica das Opuscula et Textus historiam Ecclesiae ejusque vitam atque doctrinam illustrantia. :> Dos numerosos escritos de Grabmann limitamo­ nos a mencionar: Der Genius der Werke des heiligen Thomas und die Gottesidee, 1 899. - Die philosophis­ che und theologische Erkenntnislehre des Kardinals Matyhaus von A quasparta, 1 906. - Die Geschichte der scholastischen Methode, 2 vols., 1 909- 1 9 1 1 ; reimp., 1 957 e 1 96 1 . - Thomas von Aquin, 1 9 1 2. Der Ge­ genwartswert der geschichtlichen Erforschung der mit­ telalterlichen Philosophie, 1 9 1 3 . - Forschungen iiber die lateinischen A ristotelesiibersetzungen des 13. Jahrh. , 1 9 1 6. Die Grundgedanken des heiligen A ugustinus iiber Seele und Gott, 1 9 1 6. - Die Philosophia paupe­ rum und ihr Verfasser A lbert von Orlamiinde, 1 9 1 8 . Die echten Schriften des hl. Thomas von A quin, 1 9 1 9 . - Die Philosophie des Mittelalters, 1 9 1 9. -- Die Jdee des Lebens in der Theologie des hl. Th. von Aquin, 1 922. - Wesen und Grundlagen der katholischen Mystik, 1 922. - Neueafgefundene Werke des Siger von Brabanl und Boethius von Dacien, 1 924. - Die Kulturphilosophie des hl. Thomas von Aquin, 1 925. - Mittelalterliches Geistesleben. Abhandlungen zur Geschichte der Scholas­ tik und Mystik, 3 vols. (!, 1 926; II, 1 93 5 ; I l i [ ed. L. Ott] , 1 956). - Der lateinischen Averroismus des 13. Jahrh. und seine Stellung zur christlichen Weltanschauung, 1 93 1 . - Der hl. A lbert der Grasse, 1 932. Die Geschichte der katholischen Theologie sei! dem Ausgang der Viiter­ zeil, 1 93 3 . - Handschrifiliche Forschungen und Funde zu den philosophischen Schriften des Petrus Hispanus, des spiiteren Papstes Johannes XX/ (t 1 2 7 7), 1 936. Mittelalterliche Deutung und Umbildung der aristote­ lischen Lehre vom N O Y :L N O H T I K O :L nach einer Zusammenstellung in Cod. B Ili 2 der Universitiitsbiblio­ thek Base!. Untersuchung und Textausgabe, 1 936. Ed. de escritos vários: GesammelteAkademieabhand­ lungen, 2 vols., 1 976. Muitas obras foram reeditadas; várias foram trad. para o espanhol (Santo Tomás; His-

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GRAÇA

toria de la teología católica etc.). Referimo-nos a escri­ tos ou edições de M. G. em diversos verbetes sobre autores ou temas medievais. Bibliografia de M. G. no tomo III de Mittelalterli­ ches Geistesleben, e na miscelânea Aus der Geisteswelt des Mitte/alters, 2 vols., 1 935, que contém mais de du­ zentos títulos de artigos e livros publicados antes de 1 934. Ver: L. Ott, M. G. zum Gediichtnis, 1 949. - F. J. Von Rintelen, Values in European Thought, vol. /: An­ tiquity and Middle Ages, 1 972. C

GRAÇA. O termo ' graça' possui interesse filosófico principalmente em dois sentidos: o estético e o teológi­ co. Há certos elementos comuns aos dois sentidos: a graça aparece como um dom, como uma concessão que se recebe sem esforço ou mérito, como algo que se tem ou não se tem. Contudo, esses elementos comuns do conceito de graça dizem muito pouco a seu respeito. Além disso, nem por isso se desvanecem as importantes diferenças entre o sentido estético e o teológico. Tratare­ mos, portanto, os dois sentidos separadamente. Pelos muitos debates que propiciou aos teólogos, filósofos de propensão teológica e teólogos com inclinações filo­ sóficas, trataremos o sentido teológico de ' graça' com maior detalhamento que o estético. /. Sentido estético. Já desde antigamente (especial­ mente em Platão e em Platino) se ligou a idéia de graça à de beleza. As duas foram freqüentemente identifica­ das : algo é belo, KaÀÓS (e, além disso, bom, àya8ói;), se tem graça, xápti;, e vice-versa. À s vezes se deu o nome de 'graça' ao "aspecto interno" do belo. Esse "aspecto interno" pode consistir ou em um elemento inteligível ou em uma certa proporção ou harmonia, ou em ambas as coisas a um só tempo. A harmonia, em particular, muitas vezes foi estreitamente vinculada à graça; con­ siderou-se que era dificil (ou impossível) que algo fosse gracioso e ao mesmo tempo desarmônico. O conceito de graça como conceito de algum modo irredutível a outras categorias estéticas foi introduzido no pensamento estético em meados do século XVI I I . Em seu ensaio sobre a origem d e nossas idéias acerca do belo e do sublime (ver Sum.tME), Edmund Burke definiu a graça como uma harmonia. Mas, em contraste com as concepções "clássicas", Burke ligava essa har­ monia ao movimento. A graça aparece então como uma beleza em movimento, especialmente, e sobretudo, em um movimento de algum modo contínuo (não brusco) e pausado (não violento). Essas idéias de Burke alcança­ ram grande vigência durante algumas décadas. Parte delas volta a ser encontrada no conhecido ensaio de Friedrich Schiller (vrn) sobre a graça (A nmut) e a digni­ dade ( Wiirde). Schiller distingue a beleza fixa e a be­ leza em movimento - a primeira é a beleza derivada da necessidade; a segunda, a beleza derivada da liber­ dade. A graça opera como uma síntese dos dois tipos de beleza e, portanto, como uma síntese de necessidade

1 22 8 (natural) e liberdade (moral). Essa síntese é voluntária (é produto da liberdade dos movimentos voluntários). Por esse motivo a graça se distingue da dignidade, na qual predominam os movimentos involuntários. As idéias de Schiller sobre essa questão aproveitaram alguns resulta­ dos dos estudos históricos e teóricos de Johann Joachim Winckelmann ( 1 7 1 7- 1 768), mas Schiller difere de Win­ ckelmann ao estabelecer uma distinção entre graça e dig­ nidade; para Winckelmann, por outro lado, ambas são similares e às vezes não se pode distingui-las. II. Sentido teológico. O problema da realidade, da natureza e das formas da graça em sentido teológico é levantado em diversas rel igiões: cristianismo, maome­ tismo, j udaísmo. Mas foi tratado e discutido de modo particularmente detalhado por teólogos e filósofos cris­ tãos, razão pela qual nos referiremos principalmente a estes últimos. No Antigo Testamento vários termos são utilizados para expressar a "boa vontade" de Deus, especialmente sua "boa vontade", fidelidade e amor clemente para com Israel. Um desses termos é hen, que pode ser traduzido , para o grego por xá pt), gratia, 'graça . xáp1s_significa "dom", "favor'', "gratidão", "agrado" e também "bele­ za" (daí o sentido estético tratado supra). Tanto hen co­ mo xá pis têm freqüentemente usos "ordinários" no Antigo Testamento e em São Lucas e São João do Novo Testamento. Esses usos se tornam "extra-ordinários" quando se trata da boa vontade, do favor, do dom ou do amor clemente de Deus. No entanto, xápis - de agora em diante, 'graça' - como termo teológico "técnico" aparece explicitamente nas Epístolas de São Paulo e nos Atos dos Apóstolos. São Paulo refere-se freqüentemen­ te à graça; ele mesmo se converteu não por convicção racional, ou por algum motivo passível de "explicação'', mas pela irresistível graça de Jesus Cristo ( 1 Cor 1 5, 1 O; At 9, 1 - 1 9). A graça, afirma São Paulo, é "gratuita", não se deve nem às obras nem à "Lei" (Rm 4,4- 1 6, entre outras passagens). A única condição necessária para a graça é a fé (Rm 3,22). São Paulo refere-se especialmente à nova ordem instaurada pela encarnação, vida e morte de Jesus Cristo na cruz, e afirma que, ao redimir o ho­ mem, Jesus Cristo o transformou radicalmente. Os Padres gregos e latinos elaboraram a noção de graça de acordo com as respectivas propensões aos aspectos "teóricos" ou "especulativos", por um lado, e à vida "prática" do cristão, por outro. Isso não significa que os Padres latinos não tenham elaborado a noção de graça - de fato, muitas das sutis distinções de que tra­ taremos a seguir foram desenvolvidas por eles e depois pelos Doutores latinos da Igrej a -; significa unicamen­ te que, enquanto a elaboração conceituai grega foi mais na direção de um exame da "divinização" do homem por meio da graça (sem que isso equivalesse a "deificar" o homem), a elaboração conceituai latina foi mais na

1 22 9 direção d a relação entre o perdão dos pecados por meio da graça e a "reação" do homem diante desse perdão. Os problemas suscitados a respeito da graça referi­ ram-se principalmente à relação entre graça e natureza, graça e l ivre-arbítrio (VER), graça e predestinação (VER). Apresentaremos depois um resumo de certas discussões básicas sobre o problema da graça desde Santo Agosti­ nho até aproximadamente o século XVII, mas precede­ remos esse resumo com definições breves de algumas formas básicas de graça introduzidas pelos teólogos. Uma primeira distinção é a estabelecida entre graça santificante e graça carismática. A primeira (chamada gratia gratum faciens) é um dom de Deus tendo em vista a santificação daquele que o recebe. Por meio dessa graça, indica Santo Tomás (S. theol., !-lia, q. CXI, a 1 [as quaestiones C IX-CXI da S. theol. !-lia tratam todas da questão da graça]), o homem se une a Deus. A segunda (ou grafia gratis data) é um dom de Deus tendo em vista o bem comum da Igreja; por meio desta graça os infiéis são levados a crer, e os cristãos, a perse­ verar. Em ambos os casos a noção de graça exclui as no­ ções de dívida, recompensa e outras similares. A graça carismática é essencialmente uma gratia gratuita (razão pela qual também lhe é dado este último nome). Segun­ do Santo Tomás (entre outros), a graça santificante acrescenta algo ao que chamamos de "graça carismáti­ ca'', isto é, "faz que o homem agrade a Deus''. À s vezes se distingue a graça santificante da graça atual. Como a graça santificante também foi chamada de graça habitual, a distinção é feita freqüentemente em termos de graça habitual e graça atual . A graça habi­ tual (santificante) é a que Deus outorga ao homem tor­ nando possível que este possa realizar atos conformes ao caráter sobrenatural da alma. Por isso a graça habi­ tual, ao tornar o homem partícipe da natureza divina, o santifica. Poder-se-ia dizer que o "diviniza", mas os teó­ logos destacam que isso não deve ser entendido no sen­ tido de deificar ninguém, ou de fazer do homem um Deus. A graça habitual não é a graça "comum" ou "uni­ versal" à qual aludiremos adiante e que corresponde à criatura pelo mero fato de ser criatura. Há diversos graus de graça habitual de acordo com as disposições daquele que a recebe. A graça habitual não basta; é necessária uma graça atual, que Deus (o Espírito Santo) outorga ao homem de modo "passageiro", por ocasião de certos atos e tendo em vista permitir-lhe operar sobrenatural­ mcnte, ou seja, atuar para sua salvação. Enquanto a graça habitual (santificante) expressa a ordem dentro da qual o homem renasce em Jesus Cristo, a graça atual é a luz intelectual e a determinação volitiva que encaminha o homem para a salvação. A graça atual pode ser graça suficiente ou graça eficaz. A graça suficiente outorga ao homem a capaci­ dade de atuar. O nome 'graça suficiente' se presta a equí­ vocos, já que alguns autores indicam que não produz

GRAÇA

efeito, ou pode não produzir efeito, se faltam o consenti­ mento ou a cooperação daquele que a recebe. Por isso a graça suficiente parece ser uma "graça insuficiente", isto é, insuficiente para a salvação. A graça eficaz (tam­ bém chamada de eficiente) é a que faz que o próprio ato se realize; é uma graça à qual o livre-arbítrio consente. Levantou-se, porém, o problema de se a vontade pode, de fato ou em princípio, resistir a essa graça, problema que figurou de modo proeminente nos debates teológi­ cos dos séculos XVI e XVII. Falou-se também de graça preveniente e de graça subseqüente, conforme a graça venha ou não antes do efeito. Santo Tomás (S. theol. !-lia, CXI a 3) referiu-se a Santo Agostinho (De nat. et grat. , xxxi) em sua explica­ ção de que a graça é preveniente com respeito ao remé­ dio que proporciona e subseqüente no sentido de que, uma vez curados, estamos fortalecidos. De modo singu­ lar, a graça é preveniente na medida em que somos esco­ lhidos e subseqüente na medida em que somos glorifi­ cados. Estabeleceu-se também uma distinção entre graça operante e graça cooperante. Santo Tomás explica essa distinção estabelecendo uma diferença entre o ato interno e o ato externo da vontade. No primeiro, a vontade é mo­ vida por Deus; esse ato implica a graça operante. Um ato exterior também é comandado pela vontade, mas Deus assiste esse ato de dois modos: 1 ) fortalecendo nossa von­ tade interiormente e 2) concedendo externamente a capa­ cidade de atuar. Um ato exterior implica a graça coope­ rante. Santo Tomás cita novamente Santo Agostinho (De grat. et lib. arb. , XVII): "Deus faz que queiramos e, quan­ do queremos, coopera para que possamos realizar o ato" (S. theol. !-lia, CXI a 2). Entre outras espécies - ao que parece, incontáveis - de graça também se mencionam a graça côngrua, a graça incôngrua, a graça sacramental. A graça irre­ sistível às vezes é utilizada para caracterizar um tipo de graça e às vezes para determinar um certo caráter em tipos de graça diversamente qualificados. A maioria das discussões sobre a natureza da gra­ ça e seus efeitos refere-se, direta ou indiretamente, a Santo Agostinho. Começaremos, pois, o anunciado re­ sumo com uma breve exposição das opiniões agostinia­ nas sobre o assunto e de algumas das questões por elas suscitadas. Antes de mais nada, cabe dizer que, bastando-se Deus a si mesmo, tudo o que vem de Deus é resultado de uma graça. Há, portanto, uma graça comum que se confunde com a natureza: é a graça que foi conferida a toda realidade por tê-la feito criatura. Entretanto, há uma noção de graça menos geral, e mais elevada: é a que vem de Deus por meio de Jesus Cristo. Em virtude dela alguns homens são salvos, isto é, respondem ao chamado que Deus lhes faz. Essa graça que opera após a Queda é uma graça sobrenatural e se distingue daquele "concurso universal" que Deus presta a todas as cria-

GRAÇA

turas. Contudo, como quase todas as discussões dos teó­ logos e filósofos cristãos em torno da graça se referem à mencionada graça sobrenatural, pode-se dar a esta sim­ plesmente o nome de "graça". Segundo Santo Agostinho, a graça restabelece a natureza. A graça é uma condição necessária para a sal­ vação. A graça é imerecida (pois se fosse merecida não seria graça, ou seja, dom verdadeiramente "gratuito"). Uma vez admitido isto, suscita-se uma série de proble­ mas. Por um lado, ao sublinhar-se a "gratuidade" parece que se prescinde por inteiro do próprio conceito de "es­ colha''. Por outro lado, se a graça é um dom gratuito e não resulta dos méritos (nem sequer dos "méritos futu­ ros" previstos por Deus em sua onisciência), as noções de "mérito" e até de "resposta a um chamado de Deus pela graça" parecem carecer de sentido. Referimo-nos a alguns desses problemas nos verbetes sobre as noções de livre-arbítrio (ver ARBÍTRIO [LIVRE-]) e predestinação, assim como em verbetes sobre vários autores ou tendên­ cias nos quais desempenha um papel importante a ques­ tão da graça. Limitemo-nos aqui a indicar que, segundo Santo Agostinho, a graça não suprime a liberdade, mas a possibilita. Com efeito, a graça dá à vontade a força de querer o bem e de realizá-lo. Ao mesmo tempo, a liberdade não é querer o mal e realizá-lo, mas querer e realizar o bem; portanto, pode-se dizer que a graça é a liberdade . Quem recebe a graça, segundo Santo Agostinho, não é uma entidade passiva, mas o livre-arbítrio. A graça muda a orientação da vontade e torna possível que esta use bem o livre-arbítrio (o que equivale, na concepção agostiniana, à liberdade ). Não se pode dizer, portanto, que a graça é incompatível com o livre-arbítrio, já que este recebe a graça, sem a qual se dirigiria para o mal . Os textos nos quais Santo Agostinho trata d a ques­ tão da graça são numerosos; destacamos como especial­ mente importantes: De libero arbitrio; De grafia et li­ bero arbitrio ad Valentinum; De correctione et grafia; Opus imperfectum contra Julianum. Também podem ser consultadas várias partes de De civitate Dei ( cf. XII, XIV) e de Retractationes (cf. 1 ) . (Para datas de compo­ sição, ver a bibliografia de A G O ST I N l-1 0 ( SANTO ] ) . Em PELAGIAN ISMO nos referimos às opiniões de Pe­ lágio sobre o assunto, que se opõem a Santo Agostinho e foram combatidas por ele (e por São Jerônimo). Ca­ racterística geral do pelagianismo é a tese de que a graça está nos bens naturais. Já que, segundo Pelágio, Adão não transmitiu o pecado, o homem pode fazer o bem sem a necessidade de uma graça especial sobrenatural e apenas com o "concurso universal" divino. Para a história do conceito de graça são importantes, além das já mencionadas, as opiniões de Santo Anselmo e de Santo Tomás de Aquino. Em suas obras Cur deus homo e De concordia praescientiae et praedestinationis et gratiae Dei cum libero arbítrio, Santo Anselmo de-

1 2 30 clara que nenhuma criatura possui uma vontade reta senão pela graça de Deus. De certo modo, pois, tudo pode ser imputado à graça. Ao mesmo tempo, Santo An­ selmo indica que a graça "auxilia" o livre-arbítrio, de tal modo que "a graça e o livre-arbítrio não estão em dis­ córdia, mas concorrem parajustificar e salvar o homem". Parece que se consegue então um equilíbrio (ademais já freqüentemente procurado por Santo Agostinho) na me­ dida em que Deus predestina (à salvação) somente aque­ les que sabe (antecipadamente) que terão uma vontade reta (ou que atenderão ao chamado da graça). Santo To­ más, por sua vez, considera a graça um auxílio, um socor­ ro, um dom outorgado a quem sem ele ficaria irremedia­ velmente perdido. Isso não significa que o livre-arbítrio seja desnecessário. "A conversão do homem a Deus reali­ za-se por meio do livre-arbítrio. Ao mesmo tempo se manda o homem converter-se a Deus. Mas o livre-arbítrio não pode converter-se a Deus se Deus não o converte por sua vez" (S. theol., 1-Ila, q. CIX, a 6 ad 1 ) . As opiniões de Santo Anselmo e de Santo Tomás coincidem em grande parte com as de Santo Agostinho. Entretanto, as dos dois primeiros - e especialmente as de Santo Tomás - estão muito intimamente ligadas a uma metafisica que explica o modo de intervenção de Deus nas criaturas que atuam. Deve-se, pois, levar em conta que nesses autores o problema se apresenta de forma muito distinta da dos modos "psicológicos" e "antropológicos" que foram empregados costumeiramente. Praticamente todos os teólogos e filósofos cristãos, e muito particularmente os escolásticos medievais, ocu­ param-se da questão da graça e, naturalmente, da ques­ tão da "relação" entre a graça divina e o livre-arbítrio humano. Desde Santo Tomás até os debates teológicos nos séculos XVI e XVI I , de que nos ocuparemos adian­ te, houve numerosas doutrinas e debates a esse respeito. Destacaremos aqui, pela importância que adquiriram nesses debates, apenas algumas das teses de Ockham e de Gabriel Biel. Ockham e os chamados "ockhamis­ tas" admitiram que o homem pode por si mesmo enca­ minhar-se para o bem mas não pode se salvar a menos que Deus "aceite" as disposições humanas. Essa "acei­ tação" divina se efetua de acordo com um decreto abso­ luto de Deus. Portanto, Deus pode justificar ou não o homem independentemente do que o homem faça: amar a Deus ou não amá-lo, pecar ou não pecar. Gabriel Biel seguiu os ockhamistas nesse aspecto e salientou ao ex­ tremo a "potência absoluta" de Deus na justificação do homem, seja ele pecador ou não, "merecendo" ou não (do ponto de vista "racional") a graça. As doutrinas de Gabriel Biel sobre essa questão influenciaram Lutero, que declarou que a graça se funda na fé, de modo que "aquele que crê tem a graça", parecendo retornar, com isso, à "primitiva" idéia de São Paulo. E, com efeito, as­ sim era em grande medida, mas não sem passar por mui­ tos dos argumentos apresentados por Gabriel Biel em

1 23 1 seus Comentarii in quattor Sententiarum libras (os Comentários aos quatro livros de Sentenças de Pedro Lombardo). Os historiadores da teologia estão de acordo em sa­ lientar a importância que tiveram na questão da graça os debates sustentados por teólogos e filósofos durante os séculos XVI e XVII . I ntervieram nesses debates (e por sua vez determinaram significativamente a orienta­ ção que tomaram suas próprias doutrinas) os protestan­ tes (Lutero, Calvino), os "humanistas" (Erasmo), os jan­ senistas, os j esuítas etc. Particularmente importantes a esse respeito são a controvérsia entre Lutero e Erasmo, o desenvolvimento do j ansenismo e as polêmicas entre tomistas e molinistas, j ansenistas e jesuítas. Referimo­ nos a essas questões em vários verbetes citados anterior­ mente, aos quais adicionamos os que são dedicados a CONCURSO; CONGRUÍSMO; P REMOÇÃO; MOLINA (Lu1s DE). Acrescentaremos que as posições sustentadas foram muito diversas, situando-se entre dois extremos: a afir­ mação da graça como puro dom irresistível de Deus (luteranos, especialmente calvinistas, e j ansenistas com certas modificações) e a negação ou quase negação da graça ou a afirmação de que esta se encontra infundida na criação (racionalistas, socinianos, naturalistas, huma­ nistas, semipelagianos, pelagianos). Entre essas posi­ ções extremas oscilaram muitas outras: a afirmação da necessidade de uma graça irresistível dada somente dentro da Igreja e nunca à consciência individual (janse­ nistas ) ; a afirmação de uma influência intrínseca de Deus ou doutrina da premoção física (tomistas); a afir­ mação de uma influência extrínseca (agostinianos); a afirmação do concurso simultâneo (molinistas e, com modificações, congruístas). Como o problema da graça afetava fundamentalmente o l ivre-arbítrio, as posições acerca da natureza da primeira eram paralelas às ado­ tadas acerca do segundo. Muitas doutrinas foram for­ muladas sobre o livre-arbítrio, desde a afirmação de que o livre-arbítrio é "servo" (luteranos) até a tese da com­ pleta ou quase completa "liberdade" (humanistas, natu­ ralistas, neopelagianos ), com as correspondentes teses intermediárias. Já aludimos à questão da relação da graça com a natureza. Indiquemos agora que durante a época moder­ na manifestaram-se várias posições sobre o assunto. Três delas são essencialmente importantes. 1 ) Não há nenhuma ordem da graça, mas somente da natureza ("natural ismo" em sentido amplo). 2) Há uma ordem da graça e outra da natureza, muito separadas ou inteira­ mente separadas. Se a separação é completa, chega-se a uma doutrina análoga à propugnada pela teologia dia­ lética; se é muito acentuada, chega-se a doutrinas que se aproximam do jansenismo. O dualismo da graça e da natureza pode conduzir a um abandono da primeira em vista da impossibilidade de sua concordância com a segunda, ou a uma exclusiva acentuação da primeira

GRAÇA

em detrimento da segunda. 3) Há uma ordem da graça e outra da natureza, harmonizadas a ponto de se poder dizer que a graça aperfeiçoa a natureza. Esta última opinião foi a mais comum; são conhecidas sobretudo as defesas que dela fizeram os tomistas e os leibni­ zianos. Citaremos dois textos a esse respeito. Um deles é o de Santo Tomás, que afirma: "A graça pressupõe, preserva e aperfeiçoa a natureza" (S. theol., I, q. II-lia, q. X). O outro é de Leibniz, que afirma que no Estado perfeito, no qual há tanto infinita j ustiça como infinita misericórdia, "há tanta virtude e felicidade quanto é pos­ sível haver, e isso não por causa de um desvio da natu­ reza, como se o que Deus prepara para as almas pertur­ basse as leis dos corpos, mas pela própria ordem das coisas naturais, em virtude da harmonia preestabelecida desde sempre entre os reinos da natureza e da graça, entre Deus como arquiteto e Deus como monarca, de modo que a natureza conduz à graça e a graça aperfei­ çoa a natureza usando-a" (Principes de la nature et de la grâcefondés en raison, § 1 5 ; cf. Mon., § 87). No texto de Leibniz, contudo, o sentido de 'graça' é mais geral que o sentido que a noção possui enquanto dom especial sobrenatural. .. Na época contemporânea caberia destacar a im­ portante contribuição de Karl Rahner ao debate sobre a graça na teologia católica (ver RAHNER) . :> Sobre o problema da graça: L. Soukoup, Natur und Gnade. Eine niihere Bestimmung ihres gegenseitiges Verhiiltnisses, 1 948. - J.-H. Nicolas, Le mystere de la grâce, 1 95 1 . - Charles Journet, The Meaning of Grace, 1 960. Conceito de graça em vários autores, tendências e períodos: H. Rondet, Grafia Christi, 1 948 (principal­ mente história do dogma da graça] . -� T. F. Torrance, The Doctrine of Grace in the Aposto/ic Fathers, 1 948. - Benj amin Drewery, Origin and the Doctrine of Gra­ ce, 1 960. - Augusto Guzzo, Agostino e il problema de/la grazia, 1 930; nova ed. : Agostino contra Pelagio, 1 934. - A. Niebergall, A ugustinus A nschauung von der Gnade. Ihre Entstehung und Entwicklung vor dem pe!agianischer Streit (bis zu A bschluss der Conféssio­ nen) , 1 95 1 . - A. Landgraf, "Die Erkenntnis der hei­ ligmachenden Gnade in der Frühscholastik", Scholastik, 3 ( 1 928). - Antonio Briva Miravent, La gloria y su relación con la gracia según las obras de San Buena­ ventura, 1 95 7 [Col lectanea San Paciano, Série teol., 2]. - H. Dome, Die Gnadenlehre des Albertus Magnus, 1 929. - G. Ladril le, Grâce et motion divine chez Saint Thomas d 'A quin , 1 950. - H. Lais, Die Gnadenlehre des heiligen Thomas in der Summa contra Gentiles und der Kommentar des Franzisku.1· Sylvestris von Ferrara, 1 95 1 . - W. van Roo, Grace and Original Justice accor­ ding to St. Thomas Aquinas, 1 95 5 . - J. Auer, Die En­ twicklung der Gnadenlehre in der Hochscholastik, 1 95 1 ( I I . Das Wirken der Gnade). - B . A. Gerrish, Grace ••

GRACL\ N, R\ l:rASAH

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and Reason: A Study in the Theology of Luther, 1 962. - F. Litt, La question des rapports de la nature et de la gràce de Baius au Synode de Pistoie, 1 934. - Lucien Labbas, La gràce et la liherté dans Malebranche, 1 932. - Kurt Hildebrandt, Leibniz und das Reich der Gnade, 1 95 3 . R. Guardini, Freiheit, Gnade, Schicksal, 1 948. - J. Brinktrine, Die lehre von der Gnade, 1 95 7 . W. Hãrle, Sein und Gnade, 1 97 5 . - J. R. Lucas, Free­ dom and Grace, 1 976. - J. W. Woelfel, A ugustinian Humanism: Studies in Human Bondage and Earthly Grace, 1 979. - R. Haight, The Experience and Lan­ guage of'Grace, 1 979. - J. Stêihr, Zur Friihgeschichte des Grandenstreites, 1 980. As principais obras sobre os autores mencionados em geral tratam também da questão da graça. � -

GRACI Á N, BALTASAR ( 1 60 1 - 1 658). Nascido em Bel­ monte de Calatayud (Aragão), ingressou na Companhia de Jesus e desenvolveu uma atividade de escritor de ca­ ráter moralista crítico. Suas idéias - quase todas sobre os homens e seu papel no "teatro do mundo" - são com­ postas por elementos muito diversos: certo otimismo de caráter renascentista e humanista, certa amargura daquele que trabalha com afã para conhecer os homens a partir de dentro, um "Desengano que parece confundir-se com a Discrição" (José F. Montesinos}, um certo "afastamento" em relação aos homens unido a um vivo interesse por eles. Isso torna difícil sistematizar as idéias de Gracián. Há uma certa unidade nessas idéias enquanto "unidade de estilo" ou, como diria Unamuno, "unidade de tom e acento". Mas é preciso levar em conta a importante fun­ ção desempenhada pelo motivo da variedade em Gracián. O próprio autor revelou claramente sua atitute sobre o assunto ao salientar uma decidida aversão à unidade dos tipos e aos modos de atuar: "falar sempre atento" escreveu em EI Discreto - "causa enfado; sempre gra­ cejar, desprezo; sempre filosofar entristece, e sempre satirizar indispõe". Segundo José Luis L. Aranguren, a falta de unidade da obra de Gracián deve-se a seu cará­ ter "crítico". Essa obra, diz Aranguren, manifesta-se em três planos separados: o primeiro (com EI Héroe, EI Discreto, EI Orárnlo) formula a moral adequada para triunfar no mundo; o segundo (com EI Criticón) enfren­ ta-se criticamente com o mundo; o terceiro (com E! Co­ mulgatorio) enfrenta o problema do transmundo. Arangu­ ren chama o primeiro plano de moral-utilitário; o segundo, de ético-filosófico; o terceiro, de religioso. :> Obras: EI Héroe, 1 63 7 (a primeira edição que che­ gou até nós é de I 639). - EI Político Fernando, I 640 (id. , id. , 1 646 ). - A rte de ingenio, 1 642 (esta obra, re­ fundida, apareceu em 1 648 com o título: Tratado de la Agude::a y Arte dei lngenio en que se explican todos los modos y diferencia.1· de Conceptos). - EI Discreto, 1 646. - Oráculo manual y arte de prudencia, 1 647 (primeira edição disponível, 1 653). EI Criticón, parte 1 , 1 65 1 ; parte I I , 1 65 3 ; parte I I I , 1 65 7 . - Entre as principais --

edições modernas de Gracián figuram: E! Héroe, ed. A. Coster ( 1 9 1 1 ). -E! Criticón, ed. J. Cej ador ( 1 9 1 3- 1 9 1 4 ). - Tratados (antologia), ed. A. Reyes ( 1 9 1 8). - Agude­ za y arte de ingenio, ed. Ovejero y Maury ( 1 929). El Criticón, ed. M. Romera y Navarro (3 vols., 1 93 8 - 1 940). Obras completas, ed. E. Correa Calderón (Madri, 1 947). - Obras completas, ed. e estudo preliminar por Arturo de! Hoyo (Madri, 1 960). - Obras completas, 1, eds. M. Batllori e C. Peralta (Biblioteca de Autores Espa­ iíoles, n. 229, Madri, 1 969). - Obras completas, 2 vols., ed. E. Blanco, Madri, 1 993 . Ver: N. J. Liiíán y Heredia, Baltasar Gracián, 1 902. - M. M. de Pareja y Navarro, Lasfuentes políticas de Baltasar Gracián, 1 908 (sobre as "fontes arábicas" ver o estudo de E. Garcia Gómez). - Frederic Rahola y Tremols, Baltasar Gracián, escriptor satírich, moral, politich dei segle XVII, 1 902. - A. Morei-Fatio, "Cours du College de France 1 909- 1 9 l O sur les moralistes es­ pagnols du XVIl' siecle et en particulier sur B. Gracián", Bulletin Hi5panique, 1 2 ( 1 9 1 0), 20 1 -204, 330-334. /d. , "Liste chronologique des lettres de B. Gracián dont l ' existence a été signalé ou dont le texte a été publié'', ibid. , 12 ( 1 9 1 O), 204-206. - /d. , "Gracián, interprété par Schopenhauer", ibid. , 1 2 ( 1 9 1 0) , 3 77-40 7 . Adolphe Coster, "Balthasar Gracián I 60 1 - I 658", Revue Hi:,panique, 29 ( 1 9 1 3 ), 347-752 (trad. esp. no volume: Baltasar Gracián, I 947). -· A. F. G. Bel!, B. Gracián, 1 92 1 . - G. Marone, Mora/e e política di B. Gracián, 1 92 5 . - Victor Bouillier, "Baltasar Gracián et Nietzs­ che", Revue de Littérature comparée, ano 6 ( 1 926), 3 80-40 1 . - Werner Kraus, Gracians Lebenslehre, 1 947 (trad. esp . : E! sentido de la vida según B. G. , 1 963). Hellmut Jensen, Die Grundhegri{f'e des B. G. , 1 95 8 . Miguel Batllori, S. J., G. y e! barroco, 1 95 8 . - F. M. de Guevara, J. L . L . Aranguren, P. Mesnard, J. A. Mara­ vall, artigos sobre G. em Revista de la Universidad de Madrid, 7 ( 1 958), 27 1 -445, especialmente o artigo de Aranguren nas pp. 33 1 -354 (esse art. foi reimpresso no livro de A . : Estudios literarios, 1 97 5 , com um Ane­ xo: Nota sobre "El Criticón"). - Arturo dei Hoyo, "In­ troducción" à sua ed. de G. cit. supra, 1 960 (há sepa­ rata). - Munroe Z. Hafter, G. and Perf'ection: Spanish Moralists of'the Seventeenth Century, 1 966. - Gerhard Schrêider, B. Graciáns Criticón. Eine Untersuchung zur Beziehung zwischen Manierismus und Moralistik, 1 966. - M. Batllori, C. Peralta, B. G. en su vida y en sus obras, 1 969. - E. Hidalgo-Serna, Filosofia dei ingenio y dei concepto en B. G. , 1 976 (com bibliografia). - J. L. Abel­ lán, "El pensamiento de B. G. como antecedente de la filosofia orteguiana", Homenaje a 1 A. Maravall, Madri, 1 985, 1, pp. 55-6 1 . - J. M. Ayala, Gracián: vida, estilo y reflexión, Madri, 1 987. - M. Batllori, B. G. , em id. , Obra completa, vol. VII. � -

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G RAM Á TICA ESPECU LATIVA. Desde a Antigui­ dade - e especialmente a partir de Platão ( Crátilo) e

1 233 dos sofistas (vER) - o s filósofos deram atenção a "ques­ tões gramaticais". Essas questões estão ligadas a pro­ blemas relativos à natureza e às formas da linguagem ( vER) e a problemas concernentes à lógica ( vE R ) . As rela­ ções entre formas lógicas e formas gramaticais foram objeto de muita investigação e debate. As Categoriae e o De interpretatione, de Aristóteles, suscitam questões fundamentais a esse respeito. Em alguns casos é difícil ver uma linha divisória entre o "gramatical" e o "lógico"; em outros, é difícil ver uma linha divisória entre eles e o "ontológico". A isso devem-se as diversas interpreta­ ções de que foram objeto as categorias aristotélicas (ver CATEGORIA), que aparecem como modos de articular a realidade e também como modos de classificar termos na linguagem. Autores platônicos, aristotélicos, céticos, estóicos e neoplatónicos contribuíram muito para a elu­ cidação dessas questões "lógico-ontológico-gramati­ cais". As diversas doutrinas acerca da natureza dos signos (ver S1