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JOSÉ FERRATER MORA
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DICIONARIO DE FILOSOFIA TOMO 1 (A-D)
TíTULO ORIGINAL: Diccionario de Filosofía, tomo I (A-D)
Nueva edición revisada, aumentada y actualizada por e! profesor Josep-Maria Terricabras (director de la Cátedra Ferrater Mora de Pensamiento Contemporáneo de la Universitat de Girona) Supervisión de la profesora Priscilla Cohn Ferrater Mora (Penn State University)
© 1994: Priscilla Cohn Ferrater Mora © da revisão atualizada: Josep-Maria Terricabras Direitos exclusivos: © 1994, Editorai Ariel, S.A., ISBN: 84-344-0500-8 (obra completa) 84-344-0501-6 (tomo 1)
Barcelona
A presente edição foi traduzida mediante ajuda da DIRECCIÓN GENERAL DEL LIBRO, ARCHIVOS
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BIBLIOTECAS DEL MINISTERIO DE EDUCACIÓN
EDIÇÃO Marcos Marcionilo TRADUÇÃO Maria Stela Gonçalves Adail U. Sobral Marcos Bagno Nico/ás Nyimi Campanário PREPARAÇÃO Nico/ás Nyimi Campanário Luciana Pudenzi REVISÃO Renato da Rocha Carlos DIAGRAMAÇÃO Maurélio Barbosa
Edições Loyola Rua 1822 nº 347 Ipiranga 04216-000 São Paulo, SP Caixa Postal 42.335 04299-970 São Paulo, SP Fone (O**11) 6914-1922 Fax (0**11) 6163-4275 -
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ISBN:
©
85-15-01869-1
EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil,
2000
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CULTURA DE EsPANA.
APRESENTAÇÃO
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oi para mim uma satisfação poder encarregar-me de supervisionar a nova edição atualizada do Dicionário de Filosofia de meu falecido marido. Na realidade, não faço mais que cumprir seu desejo: em diversas ocasiões ele falou da atualização do DICIONÁRIO, que deveria refletir e dis cutir a investigação acadêmica e as conquistas científicas mais recentes. Mas não queria fazê-lo ele próprio. "Quero fazer outras coisas" - dizia. Entretanto, continuava a manter-se a par das últimas publicações e preenchia inumeráveis fichas para a nova bibliografia do DICIONÁRIO. Durante a última década de sua vida, e já sem a pressão de ter de trabalhar no DICIONÁRIO, José continuou a desenvolver mais plenamente suas idéias filosóficas originais em livros como De la materia a la razón, Ética aplicada ou F undamentos de Filosofia, ao mesmo tempo que publicou novas edições revistas de El ser y la muerte. Ele continuou a escrever numerosos artigos, também para jornais, alguns dos quais foram publicados em Ventana ai mundo e no póstumo Mariposas y supercuerdas. Aperfeiçoou suas habilidades narrativas em Siete relatos capitales e Voltaire en Nueva York, até sentir-se suficientemente seguro para escrever cinco romances Claudia, mi Claudia, Hecho en Carona, El juego de la verdad, Regreso dei infierno e La seiíorita Goldie , assim como o livro de pequenas narrativas Mujeres ai borde de la leyenda. Ele chegara a começar um livro de pequenas narrativas intitulado Hombres ai borde de la !acura. Entre as "outras coisas que queria fazer", estava El mundo dei escritor, um livro que planejara por pelo menos vinte anos. Embora o tivesse desejado, ele não pôde chegar a ver a revisão do DICIONÁRIO. E depois de sua morte a magnitude da tarefa tomava essa revisão desalentadora, ainda que eu soubesse que ele gostaria de uma nova edição. Quem poderia tomar as decisões que, em minha opinião, somente José podia tomar? Quem teria os conhecimentos, o talento e a habilidade necessários? Que pessoas estariam dispostas a dedicar tanto tempo, a gastar tanta energia numa obra tão imponente? Não esperava encontrar um substituto para meu falecido marido, mas pensei que talvez uma equipe de pessoas fosse capaz de fazer a atualização. Então me lembrei de que José recusara essa idéia, possivelmente porque uma equipe assim não entenderia a unidade de pensamento que constitui uma das grandes conquistas do DICIONÁRIO. Penso, pois, que a pessoa ideal para trabalhar no DICIONÁRIO foi a mesma pessoa que tão habilmente dirigiu a Cátedra Ferrater Mora da Universidade de Girona, a pessoa que com tanto interesse cuidou também da instalação da Biblioteca Ferrater Mora e da coleção de cartas que ele conservou durante, ao menos, os últimos quarenta anos de sua vida. -
Apresentação
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Estou satisfeita de ver publicada uma nova edição do DICIONÁRIO, especialmente quando recordo quanto ele me ajudou não só nos meus tempos de estudante, quando meus conhecimentos de filosofia eram, digamos, escassos, mas também quando eu me preparava para os exames de doutorado, e até muito depois. Parecia que, quanto mais sabia, tanto mais eu descobria nos diversos verbetes do DICIONÁRIO. Também estou satisfeita porque sei que estou realizando a vontade de meu marido. Num testamento muito informal, ele escreveu: "Desejo que minha querida esposa tenha a força necessária para viver ainda por muitos anos e para fazer, no decorrer deles, tudo o que julgar melhor para manter viva a memória dos pensamentos que expressei em meus escritos". Assim procurei fazê-lo e continuarei fazendo. Estou certa: José estaria satisfeito por seu DICIONÁRIO continuar vivo. PRISCILLA COHN viúva de Ferrater Mora Penn State University
PRÓLOGO À NOVA EDIÇÃO
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osé Ferrater Mora morreu repentinamente no dia 30 de janeiro de 1991, em Barcelona, sua cidade natal, à qual fora para uma breve visita, partindo de Bryn Mawr (Pensilvânia), onde residia havia mais de quarenta anos. Para conhecer de fato a obra filosófica que Ferrater Mora deixa atrás de si é preciso conhecer as dúzias de livros e as centenas de verbetes que escreveu. São eles os melhores fiadores do Ferrater filósofo: ao longo destas páginas, descobrimos seu vastíssimo saber, o rigor e a origi nalidade de seu pensamento, a clareza e o brilhantismo de seu estilo. O pensamento de Ferrater é sempre exemplo de honestidade intelectual, nos antípodas de todo sectarismo, tanto quando ele exercita o integracionismo como quando apenas compila - com precisão e naturalidade - o que de melhor encontra nas idéias e opiniões dos outros, mesmo quando se distanciam muito das suas. Recordemos suas palavras: "Como o próprio Leibniz disse em certa ocasião: je ne méprise presque rien; nada ou 'quase nada' deve ser menosprezado; tudo, ou 'quase tudo', pode ser integrado e harmonizado; o 'mundo melhor' é, de todo modo, 'o mundo mais pleno"' O DICIONÁRIO DE FILOSOFIA ocupou um espaço importante na vida de Ferrater por mais de quarenta anos. A primeira edição, num único volume, foi publicada em 1941; a sexta e última edição, já em quatro volumes, em 1979. Além disso, Ferrater foi preparando, até meados dos anos 1980, idéias e fichas para uma nova edição. Desde o primeiro momento, o DICIONÁRIO foi concebido e redigido pessoalmente por ele. Não surpreende, pois, que esta obra, única em seu gênero, se tenha transformado, com o passar dos anos, no testemunho mais compacto e impres sionante das virtudes e da estatura filosóficas de seu autor; nem sequer surpreende que essa estatura e essas virtudes tenham obtido reconhecimento unânime, ultrapassando os países de língua espanhola. O objetivo desta nova edição - 15 anos após a última edição preparada por Ferrater pode ser formulado de um modo simples: desejou-se atualizar o DICIONÁRIO conservando fiel mente o caráter da obra e, de maneira muito especial, dois aspectos sublinhados já pelo autor em seu Prólogo à Sexta Edição: por um lado, o rigor e a exatidão da informação; por outro, a abertura ampla e ecumênica do DICIONÁRIO. Nesse sentido - e afora a inevitável introdução de correções -, a atualização consistiu basicamente em: a) atualização de datas e dados bio gráficos, assim como das listas bibliográficas; b) incorporação de novo texto quando o requeriam a evolução recente do pensamento de um autor ou a nova interpretação de um conceito, assim como a incorporação de alguns verbetes novos sobre pessoas e conceitos. Apenas nos casos de novas incorporações - isto é, só no que se refere ao item b) -, o texto acrescentado foi
Prólogo à nova edição
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explicitamente marcado como tal com um duplo ponto (••) no início e no final do texto. Pre tendeu-se com isso enfatizar, precisamente, a escrupulosa fidelidade mantida em relação ao texto original. Na atualização da obra, tive a sorte de contar com a ajuda de numerosos amigos e especialistas dos cinco continentes, que me enviaram suas valiosas informações e sugestões. É-me impossível citar nomes sem correr o risco de esquecer-me de algum. Meus agradecimentos a todos eles. Sou particularmente grato aos colegas da Cátedra Ferrater Mora de Pensamento Contemporâneo da Universitat de Girona, no interior da qual se elaborou a atualização do DICIONÁRIO. Devo mencio nar, com especial reconhecimento, a dedicação e eficiência da senhora Marta Masergas, bolsista da Cátedra, de cuja abnegada colaboração esta edição se beneficiou grandemente. ]OSEP-MARIA TERRICABRAS
Diretor da Cátedra Ferrater Mora de Pensamento Contemporâneo da Universitat de Girona Girona, 30 de outubro de 1994
PRÓLOGO À SEXTA EDIÇÃO
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edição anterior em dois volumes deste DICIONÁRIO é a quinta, publicada em 1965 e concluída em 1963. A partir de 1965, ele foi reimpresso três vezes - em 1969, 1972 e 1975 -, mas como só foram introduzidas ligeiras correções deve-se continuar a conside rar como quinta a edição anterior, de 1965. (Para a diferença entre 'edição' e 'reimpressão', vejam-se as "Advertências para o uso das bibliografias", 5B.) São as seguintes as mudanças que esta edição - sexta, em quatro volumes - apresenta em relação à anterior: 1. 756 verbetes novos, incluindo-se artigos sobre pessoas, conceitos e correntes. 2. Modificaram-se, ampliaram-se ou reescreveram-se por completo 542 verbetes. 3. A bibliografia foi corrigida, comprovada, ampliada, atualizada e reordenada. O número de títulos novos passa de 6.000. 4. Corrigiram-se milhares de erratas da edição e das reimpressões precedentes. O número total de verbetes desta edição é de 3.154, que se distribuem da seguinte maneira: pessoas, 1.756; conceitos, incluindo locuções e termos especiais, 1.398. As remissões em ordem alfabética entre verbetes são mais de 2.000. Em termos absolutos, esta edição tem cerca de cinqüenta por cento de material novo em re lação à anterior. Se se levam em conta as mudanças a que me refiro no item 2 acima, é possível que cerca de sessenta ou sessenta e cinco por cento do material desta obra seja novo. Uma parcela considerável do novo material se refere à filosofia contemporânea, mas continuei atento a todos os períodos da história da filosofia e mantive a tendência das edições an teriores de apresentar os conceitos em sua história. Incluí bom número de autores e conceitos que não são demasiado conhecidos, mas sem os quais não se poderia delinear o vasto quadro do pensamento filosófico. Conservei igualmente a tendência de incluir algumas figuras, conceitos e tendências que, embora não estritamente filosóficos do ponto de vista convencional, me pa recem ter um inegável interesse filosófico. Numa obra deste tipo, ao contrário das monográficas, não é possível dizer tudo sobre uma única coisa, mas é preciso dizer algo sobre muitas coisas. O especialista em matemática ou em lógica julgará insuficiente o verbete sobre o axioma da escolha, mas espero que encontre algo interessante no verbete sobre a vontade de poder; o especialista em ética mostrará perspicácia em não consultar os verbetes (ou em não prestar muita atenção a eles) sobre a noção de impe rativo ou sobre a falácia naturalista, mas talvez aprenda algo com o verbete sobre o teorema de
Prólogo à sexta edição
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Craig; o medievalista não verá muita utilidade nos verbetes sobre Apelação, Apelativo ou sobre Henrique de Harclay, mas pode aprender algo consultando os verbetes sobre estruturalismo, ma terialismo histórico ou a indeterminação da tradução. Neste DICIONÁRIO diz-se algo sobre tantas coisas, que isso pode até constituir uma especialidade. De todo modo, a obra contém uma multiplicidade de informações que não é fácil encontrar em outras obras. Desse ponto de vista, não se deve avaliar a importância de um verbete por sua extensão. Muitos verbetes remetem a outros num sistema de remissões que dá à obra uma es trutura (informalmente) sistemática. Não se pode escrever o equivalente a trinta volumes de tamanho comum e cuidar do estilo como se se tratasse de um ensaio. Mas procurei ser o mais claro possível. Para ser honesto, desejo observar que em certas ocasiões a falta de clareza pode dever-se antes ao fato de alguns pen samentos de vários dos filósofos transcritos serem obscuros. Embora eu prefira a este DICIONÁRIO alguns outros escritos meus que considero mais origi nais, não me arrependo de ter dedicado a ele um esforço sistemático. Creio que obras como estas são necessárias ao avanço da filosofia e que, além disso, podem contribuir para reduzir o notório déficit entre as importações e as exportações culturais entre países de língua espanhola* Mesmo tendo progredido nos últimos tempos, essa língua não alcançou ainda a reputação intelectual de várias das línguas que ultrapassaram as fronteiras dos países em que são normal mente usadas. Estas línguas são, em proporção bem diversa da difusão cultural, o inglês, o francês, o alemão e o russo (por várias razões - algumas simplesmente pedagógicas -, ainda não se pode dizer o mesmo de línguas de tão grande alcance demográfico e cultural como o árabe e o chinês). Não é excepcional encontrar pessoas procedentes de países de língua espanhola que conheçam uma ou várias línguas, pelo menos no que tange às três primeiras mencionadas. Mas é ainda bastante raro encontrar entre os usuários de quaisquer delas pessoas que, para propósitos culturais e científicos distintos das especialidades classificadas como "estudos hispâ nicos" ou "hispano-americanos", conheçam, ou leiam, o espanhol. (Consultem-se as listas de "Livros recebidos" em algumas revistas filosóficas de grande prestígio e impecável impressão: a negligência na impressão de pessoas e de títulos hispânicos é quase patética.) O caráter relativamente marginal do espanhol em esferas culturais distintas da literatura ou das artes se deve a diferentes fatores - entre eles, políticos e econômicos -, mas igualmente ao fato de não haver ainda em espanhol a abundância e a qualidade de trabalhos de pesquisa e de repertórios científicos e filosóficos que existem nas línguas supracitadas, especialmente em inglês, francês, alemão e russo. Tudo o que contribuir para aumentar a quantidade e a qualidade de trabalhos desse tipo e de repertórios deverá sem dúvida redundar em beneficio para a língua, bem como para a cultura em que forem produzidos. Quero fazer constar que, por si só, isso não constituiria razão para empenhar-se em pro duzir semelhantes trabalhos e repertórios, nem sequer para criar a infra-estrutura educativa e cultural que permita a formação de um grande número de pessoas capazes de levá-los a cabo. Fazer estas coisas por motivos nacionais ou, como no caso do espanhol, plurinacionais, seria suspeito. O importante é que o beneficio seja não apenas nacional, ou plurinacional, mas tam bém, e sobretudo, social. De todo modo, no atual estado de coisas, nenhuma língua - e, com isso, nenhuma cultura - é inteiramente respeitada se, por maiores que sejam suas contribuições em termos estéticos e literários, não se faz acompanhar de contribuições criativas e ordenadoras suficientes nos aspectos filosófico e científico. Este DICIONÁRIO destina-se principalmente à circulação entre usuários da língua em que está escrito. Mas espera-se que seja consultado também por pessoas de outras línguas. Ele oferece * O que se diz aqui do espanhol vale igualmente para o português [ n. do E.].
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Prólogo à sexta edição
a esse respeito uma vantagem que nem sempre é encontrada nos grandes repertórios produzidos em algumas das línguas mais ou menos universais antes citadas. É comum que esse tipo de re pertório - especialmente em filosofia, na qual pesam tanto as tradições nacionais, e às vezes até as meramente provinciais - se restrinja a temas, problemas, figuras e referências bibliográ ficas dos respectivos países. Tampouco é raro, ademais, que os autores recortem a paisagem de maneira a vê-la apenas da cor do cristal através do qual a olham. Creio que esta obra é mais ampla e ecumênica que muitas das mencionadas. Tem evidentemente suas limitações. Embora contenha informações sobre figuras e conceitos básicos da chamada "filosofia oriental", ela trata principalmente da denominada "filosofia ocidental'', a partir da Grécia. Nela prevalecem, além das filosofias nas línguas grega e latina, as que procedem de autores usuários - sejam ou não nativos dos países correspondentes - das línguas alemã, francesa, inglesa, italiana, russa e línguas hispânicas, assim como, embora em menor proporção, das línguas holandesa, polonesa e escandinavas. Dentro dessas limitações, contudo, procurei ampliar ao máximo o horizonte, dando abrigo, na medida de meus conhecimentos, a figuras, tendências e conjuntos de conceitos proce dentes de regiões, línguas e culturas bastante diversas. Em particular, e ainda que eu tenha minhas preferências filosóficas - de resto, pouco dogmáticas -, procurei ser eqüitativo com variadas cor rentes. Eu o fiz em nome não do ecletismo, mas do rigor e da exatidão da informação. O término da preparação desta edição coincidiu com o último dia do ano de 1976. Entre a conclusão de uma obra das proporções desta e sua publicação há tempo suficiente para que o autor sinta com freqüência a tentação de fazer acréscimos e mudanças: uns, por corresponder ao período entre o encerramento do manuscrito e sua publicação; outras, por se terem descoberto omissões. De todo modo, é certo que no ínterim haverá aumentado a já esmagadora bibliografia filosófica. Salvo um pequeno número de acréscimos de última hora, rejeitei a tentação citada, porque numa obra como esta o único jeito é fixar um limite temporal - de qualquer maneira, sabe-se de antemão que é incompleta - e também porque os acréscimos ou modificações, durante o período de impressão e correção de provas, são onerosos para o editor. J. FERRATER MORA Bryn Mawr, Pensilvânia, dezembro de 1976.
NOTA: Leopoldo Montoya pôs em ordem cronológica, e em ordem histórico-cronológica, as fichas bibliográficas que preparei desde a publicação da edição anterior desta obra; ele introduziu subdivisões temáticas em muitas bibliografias e verificou a correção de nume rosos títulos e datas de obras. Sugeriu também que se seguissem as duas importantes regras expressas nas seções l e 2 das "Advertências para o uso das bibliografias", tendo redi gido, para isso, essas seções.
ADVERTÊNCIAS PARA O USO DESTA OBRA
1.
A posição do verbete no alfabeto é determinada pela primeira palavra do verbete, quando há mais de uma palavra. Assim, por exemplo, A PRIORI precede ADEQUADO. Em verbetes nos quais a primeira palavra é a mesma, a posição no alfabeto é determinada pela palavra seguinte. Assim, A PRIORI precede A SE. Os hífens contam como espaços em branco. Por conseguinte, em verbetes nos quais figura uma palavra com hífen, a posição no alfabeto é determinada pela expressão que figura antes do hífen. Para facilitar a consulta de certos verbetes cujos nomes costumam ser escritos com hífen, dupli cou-se a letra. Assim, CO-REFERÊNCIA e NEO-RACIONALISMO figuram como CORREFERÊNCIA e NEORRA CIONALISMO. No corpo dos verbetes correspondentes, no entanto, conservou-se amiúde o hífen.
2.
Os nomes de autores em que figuram partículas como 'de', 'del', 'von', 'van' etc. se acham no lugar que corresponde à letra inicial do sobrenome depois da partícula. Nos autores antigos ou medievais em que partículas como 'de' figuram depois do nome de batismo, este nome figura como nome inicial (ver 3). Os nomes que contêm trema (ã, õ, ü) são ordenados alfabeticamente sem levar em conta este último. Assim, por exemplo, BôHM precede BOHR e HÃBERLIN precede HABERMAS.
3. Os nomes de autores medievais, e de alguns do século XV, figuram geralmente na letra que corresponde a seu nome de batismo (Adelardo de Bath; Domingos Gundisalvo; Guilherme de Champeaux; Guilherme de Ockham; João Gerson; Pedro Lombardo; Roberto Kilwardby etc.). Não obstante, há algumas exceções (Abelardo [Pedro]; Bacon [Rogério]; Duns Scot [John]; Scot Erígena [John]; Lúlio [Ramon] etc.), casos em que nos ativemos a critérios muito disseminados pelo menos em textos de língua espanhola. Em alguns casos, o crité rio adotado é flutuante (assim, Marlini [João]; Swineshead [Ricardo], mas Tomás Bradwar dine); isso se baseia em usos anteriores já bastante arraigados. Para evitar perplexidades na localização desses nomes, introduzimos indicações nos lugares em que alguns leitores poderiam esperar encontrar o verbete correspondente. Algumas indicações desse tipo foram introduzidas também para certos nomes de autores fora da época citada. Os nomes de autores canonizados figuram no lugar habitual (Boaventura [São]; Tomás de Aquino [Santo] etc.; observemos, todavia, Moro [Santo Tomás]).
Advertências para o uso desta obra
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4. Exceto em casos nos quais, sob a aparência de rigor, se teria caído no pedantismo, levou-se em conta a distinção entre o uso e a menção dos sinais. Ativemo-nos, pois, na maioria dos casos, ao artificio indicado no verbete MENÇÃO. Não se empregaram aspas simples ao se mencionarem expressões em língua não-espanhola. Sua impressão em itálico ou em alfabeto distinto do latino é suficiente para indicar que essas expressões são usadas, sobretudo quando anunciadas por 'O termo .. .', 'A voz...', 'A palavra .. .' e locuções similares. 5. Para a leitura dos sinais lógicos, ver o verbete NOTAÇÃO SIMBÓLICA. Informações comple mentares a esse respeito se encontram em outros verbetes como: ÁRVORE; CLASSE; CONECT1vo; QUANTIFICAÇÃO, QUANTIFICACIONAL; QUANTIFICADOR; DESCRIÇÕES ( TEORIA DAS) ; FUNÇÃO; IDENTI DADE; LETRA; MODALIDADE; PARÊNTESES; PROPOSIÇÃO; SILOGISMO. 6. Para as transcrições de nomes árabes, hebraicos, sânscritos e chineses, usaram-se as regras mais comuns em português. Na transcrição de nomes russos, seguimos normas facilmente reconhecíveis pelas pessoas familiarizadas com o idioma. Na grande maioria dos casos, os nomes gregos não foram transcritos. Nas poucas ocasiões em que nos afastamos dessa norma, poder-se-ão reconhecer facilmente os caracteres gregos dos quais procede a transcri ção, mas advertimos que 'x', foi transcrito por 'eh' 7. Usaram-se iniciais minúsculas em termos abstratos que designam ramos do saber (fisica, biologia etc.), disciplinas filosóficas (ética, lógica etc.), atividades humanas ou setores da realidade (cultura, ciência, vida etc.). Entretanto, usou-se inicial maiúscula em 'Natureza', quando esta designa a realidade natural, para distingui-la de 'natureza', empregada para referir-se à forma ou à índole de um ser; em 'História', quando designa a ciência histórica, para distingui-la de 'história', referente à realidade histórica; em 'Direito', quando designa a ciência do Direito, para distingui-lo de 'direito', usado em contextos como 'o direito de fazer algo'; em 'Estado', quando designa certa organização social humana, para distingui-lo de 'estado', utilizado em contextos como 'o estado da questão' Também se usaram iniciais maiúsculas nos casos em que o termo correspondente desempenha um papel especial ou fundamental num sistema (a Idéia em Hegel, a Vontade em Schopenhauer etc.) ou nos quais se desejam ressaltar certos conceitos (Absoluto, Causa primeira etc.). 8. Transcreveram-se os nomes de autores gregos e latinos de acordo com as normas habituais. Em muitos casos, os nomes originais latinos foram indicados em seguida. Transcreveram-se igualmente os nomes latinos de autores medievais, embora se tenham indicado quase sempre na seqüência os nomes originais latinos e, na maioria dos casos, os nomes (com freqüência muito variados) de origem "nacional". Esses autores aparecem na ordem indicada no item 1. Quando se tratava de um nome russo muito conhecido em português sob uma transcrição determinada, adotamos esta última sem prejuízo de acrescentar em seguida nossa própria transcrição. Para os nomes de autores chineses, seguiram-se as normas usuais; às vezes, foram latinizados (como, por exemplo, em Mêncio ), embora indicando-se depois, neste caso, a transcrição portuguesa da expressão original chinesa; às vezes se empregou diretamente a transcrição portuguesa (como em Chuang Tsé). Quando o nome chinês cons ta de três partículas, a primeira (que designa o nome de família ou sobrenome principal) é escrita separadamente das outras duas. Estas duas últimas estão ligadas por um hífen, usando-se para a inicial da primeira uma letra maiúscula e para a inicial da segunda uma letra minúscula.
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9. Em sua maioria as abreviaturas usadas nesta obra podem ser lidas sem dificuldade (assim, 'vol.' ['volume']; 't.' ['tomo']; 'p.' e 'pp.' ['página' e 'páginas']; 'nasc.' ['nascido em' ou 'nasceu em']; 'cad.' ['caderno']; 'op. cit.' ['obra opus 'citada']; 'cf.' ['conferir'] etc.). Não obstante, indicamos em seguida a leitura de algumas abreviaturas que podem apresentar dificuldades. 'ca.' - lê-se circa ('aproximadamente', 'em tomo de'). 'jl.' - lê-se jloruit. Designa a data ou as datas em que se supõe que determinado autor tenha "florescido" ou tido sua 'acmé' ou 'apogeu' 'jl.' só é usado quando se desconhecem as datas de nascimento ou de falecimento de um autor, mas se possuem sobre ele, em con trapartida, informações cronológicas habitualmente mais completas que simplesmente o século ao qual - ou os séculos aos quais - pertence. 'rev.' - lê-se 'revisto' ou 'revista' 'aum.' - lê-se 'aumentado' ou 'aumentada' 'N. S.' - lê-se 'Nova série' (ou Nueva Serie, Nouvelle série, New Series etc.). 'N. F.' - lê-se Neue Folge (Nova série). 'Proc.' - lê-se Proceedings. 'PL' - lê-se Patrologia latina (da série Patrologia latina, de Migne; ver PATRÍSTICA). 'PG' - lê-se Patrologia graeca (da série Patrologia graeca, de Migne; ver PATRÍSTICA). 'ed.' lê-se edidit.; 'ed.' - lê-se 'edição', 'editor', 'editado por' etc. Advertimos que usamos 'editado por' (ou seus equivalentes) no sentido de 'edição aos cuidados de' ou 'edição dirigida por' e que se deve distinguir 'editado por' de 'publicado por' Esta última expressão é reservada exclusivamente à pessoa, empresa ou instituição que teve a seu cargo a impressão material e a distribuição comercial da obra. O duplo ponto(••) no começo e no final de um texto indica que o fragmento ou verbete foi acrescentado na nova edição atualizada de 1994. Os colchetes que se encontrarão em certos nomes que dão título ao verbete respectivo como, por exemplo, AUSTIN (1[0HN] L[ANGSHAw]) - têm por finalidade esclarecer esses nomes, mas salvaguardando a forma como o autor assina seus livros. Para a leitura completa de 'Diels-Kranz', 'Pauly-Wissowa', 'Prantl' e 'Ueberweg-Heinze', ver os verbetes PRÉ-SOCRÁTICOS, FILOSOFIA GREGA, PRANTL (KARL) e FILOSOFIA (HISTÓRIA DA). -
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10. Não se usaram abreviaturas (de revistas ou livros), exceto nos casos em que o título cor respondente foi mencionado algumas linhas antes ou em que se trata de obras muito co nhecidas que costumam ser citadas de acordo com normas universalmente aceitas na li teratura filosófica; por exemplo: Kr V (para Kritik der reinen Vernunft, ou Crítica da razão pura, de Kant); S. theol. (Summa theologica, de Santo Tomás); Met. (Metaphysica, de Aris tóteles); Soph. (Sophistes ou O Sofista, de Platão) etc. Quando no texto do verbete se men cionou alguma obra que não pertence ao grupo anterior com o título abreviado ou reduzido, a própria obra, com seu título completo, figura na bibliografia. De acordo com a norma habitual, usaram-se abreviaturas de títulos latinos para as obras de autores clássicos gregos, em particular Platão e Aristóteles. Para maiores informações sobre o assunto, ver os verbetes ARISTÓTELES e PLATÃO. 1 1.
As citações das obras em que há consenso com referência à paginação (Platão, Aristóteles, Kant etc.) seguem as normas habituais. O mesmo ocorre com as citações de obras em que há acordo sobre a divisão em livros, partes, capítulos, seções, tratados, artigos, parágrafos etc. (Plotino, Santo Agostinho, Santo Tomás etc.). Para outras obras, assinalam-se a data da primeira edição (ou de edições posteriores se houve mudanças) e o livro, capítulo ou
Advertências para o uso desta obra
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parágrafo correspondente, em alguns casos, ou o número ou números de página ou páginas, em outros. Em citações procedentes de edições críticas, indicaram-se em grande número de casos o nome ou nomes dos editores. Às vezes se indicam ao mesmo tempo o livro, capí tulo, seção etc. e o volume e página ou páginas procedentes de uma edição crítica (é o que ocorre, por exemplo, com a edição de Adam e Tannery para Descartes, com a edição de H. Glockner para Hegel, com a série das Husserliana para Husserl etc.). 12.
No corpo da maioria dos verbetes figuram remissões a outros verbetes; sua função é suplementar a informação que figura no verbete correspondente. No entanto, com o fim de não sobrecarregar a obra com remissões, não as introduzimos sempre que aparecem o nome de um autor, um conceito ou um tema a que se dedicaram verbetes, especialmente quando se trata de autores ou de conceitos ou temas acerca dos quais praticamente não há dúvidas de terem sido tratados nesta obra.
13.
Além das remissões no corpo dos verbetes, há remissões a nomes de autores, conceitos ou temas aos quais não se dedicaram verbetes, mas que são tratados no corpo de outros. Essas remissões figuram em parágrafos à parte entre verbetes ou entre outras remissões. Essas remissões, assim como as indicadas no parágrafo anterior, não podem ser tão comple tas como as que constariam num "Índice de autores" e num "Índice de temas" exaustivos, mas esperamos que o uso regular desta obra crie um hábito que permita ao leitor não menospre zar esses "Índices" De qualquer forma, sobre um autor, conceito ou tema, há sempre mais informações do que as que figuram nos verbetes correspondentes.
14.
No final da obra, há um "Quadro cronológico" As advertências para seu uso aparecem no começo deste mesmo "Quadro"
15.
Para o uso das bibliografias, ver as "Advertências" que vêm a seguir. Algumas das que cons tam desta série servem igualmente para a próxima.
ADVERTÊNCIAS PARA O USO DAS BIBLIOGRAFIAS
1.
Os verbetes sobre autores incluem uma bibliografia razoavelmente completa das obras do autor em ordem cronológica e uma bibliografia, também em ordem cronológica, de escri tos sobre o autor. Indicam-se também, quando os há, repertórios bibliográficos, índices, léxicos, comentários a obras determinadas e edições de obras selecionadas e completas, assim como edições críticas.
2.
Se não aparecem em seções, as bibliografias sobre conceitos ou temas estão ordenadas cronologicamente. Quando a bibliografia sobre um conceito ou tema o requeria, seja pela natureza do conceito ou do tema, seja pela amplitude da bibliografia, ela foi dividida em várias seções separadas por parágrafos e de acordo com subtemas. Há quase sempre uma divisão entre obras sistemáticas e obras históricas. As primeiras estão ordenadas cronologi camente dentro de cada parágrafo. As últimas estão ordenadas historicamente; assim, todas as obras sobre Platão precedem as obras sobre Aristóteles, Plotino, Santo Tomás, Descartes, Kant, Hegel etc.
3.
Em muitos verbetes sobre conceitos ou temas devem ser igualmente levados em conta os dados bibliográficos que possam figurar no corpo do verbete.
4.
Embora as bibliografias, tanto sobre autores como sobre conceitos ou temas, costumem ser extensas, foi necessário proceder a uma seleção. Como regra geral, a ênfase na seleção é maior no que se refere a trabalhos recentes do que no que diz respeito a trabalhos mais antigos.
5.
Com relação aos dados de publicação, devem ser levados em conta os seguintes pontos: A) Não se mencionaram os lugares de publicação e os nomes de empresas ou instituições responsáveis por ela, pois isso teria ampliado excessivamente as bibliografias. Em várias obras atuais, além disso, há mais de uma empresa ou instituição responsável pela publica ção, inclusive tendo sido a obra publicada simultaneamente em diversos lugares. Não se seguiu essa regra no que se refere a lugares de publicação quando, como ocorre no princípio da época moderna, esse dado pode ter um interesse histórico. B) Indicou-se a data de publicação da primeira edição e, quando existente, da última edição, entendendo-se por edição, neste último caso, toda publicação da obra que tenha sido
Advertências para o uso das bibliografias
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revista ou ampliada e não simplesmente reimpressa. Em vários casos indicaram-se datas de algumas edições intermediárias entre a primeira e a última. C) A data entre parênteses que figura às vezes depois da expressão 's.d.' é a data provável de publicação da obra correspondente. D) A prática seguida em edições anteriores deste DICIONÁRIO de indicar as séries a que pertencem muitas das obras citadas foi suprimida nesta edição por razões análogas às indicadas no item A acima. Suprimiram-se, pois, as referências a séries como Corpus Platonicum Medii Aevi, Monographien zur Philosophischen Forschung, lnternational Encyclopedia of Unified Science, Que sais-je?, Zetemata, Janua linguarum, Phaenome nologica, Epimeleia, Biblioteca di filosofia, Acta Salmaticensia, Breviarios etc. Às razões mencionadas acrescenta-se a de que na época atual muitos nomes de séries são simplesmente rótulos de classificação de publicações em catálogos. Fez-se exceção a essa regra em alguns casos em que, tanto no que se refere à catalogação em bibliotecas como no que tange à prática acadêmica, as obras de que se trata são encontradas por referência à série e não ao título particular de um livro dado. Isso ocorre, por exemplo, nos Kant-Studien (Ergãnzungshefte), University of California Publications in Philosophy, Goteborgs Hogskolas Ârskrift e, em alguns casos, nos Beitriige zur Philosophie (und Theologie) des Mittelalters. E) Nas datas de publicação de livros das últimas décadas, especialmente em primeiras edições, encontrar-se-á às vezes um ano de diferença em relação a datas mencionadas em outros repertórios. Isso se deve ao fato de que em vários casos há duas datas: uma de registro da obra e outra de publicação. 6. As menções a ensaios ou artigos em revistas, anuários etc. seguem a norma generalizada na prática acadêmica internacional de citar, nesta mesma ordem, o nome do autor, o título do trabalho em letra comum e entre aspas, o título da revista, anuário etc. em itálico, o número do volume ou tomo, se o houver, o ano de publicação (entre parênteses) e a paginação do trabalho. 7. Para obras coletivas, indicaram-se os nomes de dois ou mais autores seguidos da expressão et ai. (e outros) e, no final, o nome do editor ou dos editores no sentido de 'editor' ou 'editores' assinalado nas "Advertências para o uso desta obra" 8. Os títulos em línguas estrangeiras de obras de autores aos quais foram dedicados verbetes específicos foram traduzidos nesses verbetes e figuram (entre parênteses) depois dos títulos originais e das datas de publicação, exceto quando se trata de obras em francês, inglês, ita liano, português, catalão e latim, que se deixaram sem traduzir, ou exceto também quando, mesmo escritos em idiomas distintos dos mencionados, o original se parece muito com o que seria sua tradução. Os títulos em línguas estrangeiras sobre autores ou os que figuram nas bibliografias dos conceitos não foram traduzidos, salvo quando às vezes se desejou chamar a atenção do leitor para a existência de determinado título em algum idioma menos facilmen te acessível que outros (polonês, russo, japonês, sueco, holandês, grego moderno etc.). 9. Quando há tradução portuguesa de uma obra tanto de autores como sobre autores e con ceitos, esta foi expressamente indicada depois do título original. 10. Algumas das advertências que constam nas "Advertências para o uso desta obra" servem igualmente para esta série relativa à bibliografia.
A. A letra maiúscula 'A' tem vários usos em textos filosóficos. 1) Aristóteles emprega-a muitas vezes (por exem plo, em Analytica Priora) para representar o predica do de uma proposição em fórmulas como 'A B , que se lê 'A é predicado de B ' Ao apresentar os silogis mos categóricos, a letra 'A 'faz parte do condicional:
3) Em muitos textos usa-se a letra 'A' como um dos termos componentes da fórmula que expressa o chama do "princípio de identidade". Na maioria dos textos clás sicos esse princípio é expresso pela fórmula:
'
Se A é predicado de todo B, que constitui a premissa maior do silogismo em modo Barbara (vER) e na literatura lógica posterior se apre senta de diversas formas, em algumas das quais se ex prime a estrutura condicional dessa premissa, como em:
É freqüente (ver IDENTIDADE) interpretar 'A' na fórmula (!) como representando um obj eto qualquer. Neste caso, (1) equivale a uma das chamadas not oi nes communes, Kotval evvo1a1, especificamente a que anuncia: 'Toda coisa é igual a si mesma' A lógica atual expressa (1) mediante as fórmulas: p--? p, pHp,
Se todo B é A e outras nas quais (erroneamente) ela é omitida, como em: Todo B é A . 2) O s escolásticos e todos o s tratadistas lógicos posteriores usaram a letra 'A '(primeira vogal do ter mo a ffirmo) para simbolizar a proposição universal afirmativa (a ffirmatio universalis), que tem como um de seus exemplos o enunciado:
Todos os homens são mortais. Em textos escolásticos encontra-se com freqüência o exemplo dado por Boécio: Omnis homo iustus est. E em grande quantidade de textos lógicos a letra 'A' substitui o esquema 'Todo S é P' , sobretudo quan do se introduz o chamado "quadro de oposição" (vER). Nos textos escolásticos diz-se de A que asserit uni versaliter ou generaliter (afirma universalmente, ou geralmente). Também se usa a letra 'A 'para simbolizar as proposições modais em modus afirmativo e dictum negativo (ver MODAL), isto é, as proposições do tipo: É necessário que p, na qual 'p' representa um enunciado declarativo.
( ! ).
A =A
se a identidade se refere à lei ou ao princípio de iden tidade apresentado na lógica sentenciai, ou mediante a fórmula: /\
x
(x
)
= x ,
se a identidade se refere à lei de reflexividade repre sentada na lógica da identidade. A fórmula (1) é a mesma que se usa na lógica atual para expressar a lei de identidade na lógica das classes, em vista do uso de 'A 'para representar uma classe (cf. infra, seção 5). 4) A letra 'A 'foi usada por vários idealistas ale mães, especialmente Fichte e Schelling, nas fórmulas que servem de base para suas especulações sobre a identidade de sujeito e objeto. Às vezes, Fichte usa 'A = A ' como se fosse um condicional, interpretando-o assim: ' Se A existe, A existe ' . Schelling usou a letra 'A ' acompanhada de outros sinais diversos. Mencionamos dois casos. a) Os sinais '+', ' - ' e '= ' antepostos ou sobre postos à letra. Exemplos disso são '-A ', que representa o ser em si, '+A' , que representa o ser fora de si, e '=A ' , que representa o ser consigo mesmo, ou, como diz Schelling, o suj eito-objeto ou totalidade. Outro exemplo é a fórmula:
A,AB,AD
2 +
+
A = B
A = B A=A
que é, segundo esse filósofo, a forma do ser da abso luta identidade. Nesta fórmula, '+' se lê 'o predomí nio de um sobre o outro' (Darstellung meines Systems der Philosophie, 1 80 1 ). b) Os expoentes acrescentados a 'A' , tal como em 'A1' , 'A2', 'A3' , que representam, no vocabulário de Schelling, potências de A . Assim, esse filósofo usa fór mulas como 'A = A1' , 'A = A2' , 'A = A3' . Referimo-nos a este uso no verbete POTÊNCIA. 5) A letra 'A' é usada em muitos textos lógicos co mo símbolo de uma classe (VER) e constitui então uma abreviatura dos chamados "abstratos simples". Às vezes, emprega-se essa letra em minúscula, 'a', com o mesmo propósito. Além de 'A' ou 'a' usam-se igualmente como símbolos de classes 'B ' ou 'b' , 'C' ou 'e' 6) Jan Lukasiewicz usa 'A' para representar o conec tivo 'ou' ou disjunção (vER) exclusiva, que simboliza mos por 'v' 'A' antepõe-se às fórmulas, de modo que 'p v q ' se escreve na notação de Lukasiewicz 'A p q' O mesmo autor usa às vezes 'A' como uma das cons tantes da lógica quantificacional (além de 'E ', 'I', 'O ') . Com a letra 'A', forma-se a função expressa mediante 'Aab', que se lê 'Todo a é b 'ou 'b pertence a todo a' 7) Jean de la Harpe usa 'A' como sinal de asser ção (VER). A, AB, AD. As preposições latinas a. ab (= a antes de vogal) e ad figuram em numerosas locuções latinas usadas na literatura filosófica, principalmente escolás tica, em língua latina, mas também em outras línguas; algumas dessas locuções, de resto - como a priori, a posteriori, ad hominem -, são de uso corrente. A seguir oferecemos uma lista de várias dessas locuções, seguindo a ordem alfabética. Em alguns casos traduzimos ou parafraseamos a locução ou assi nalamos cm que contexto ou contextos é usada ou pode ser usada. Em outros, remetemos aos verbetes que fo ram dedicados a locuções determinadas ou aos verbe tes em que algumas locuções foram introduzidas ou usadas. A contrario - A pari. Essas duas locuções foram usadas originalmente na linguagem juridica para indicar que um argumento usado com respeito a determinada espécie é aplicável a outra espécie do mesmo gênero. No argumento a contrario procede-se por divisão; no a pari por identificação. Da esfera juridica essas expres sões foram levadas para outras disciplinas. O raciocinio a contrario foi definido como o que procede de uma oposição encontrada numa hipótese a uma oposição nas conseqüências dessa hipótese. O raciocínio a pari foi definido como o que passa de um caso (ou de um tipo de caso) a outro.
A dieta secundum quid ad dictum simpliciter [ou "de uma afirmação relativa para uma afirmação abso luta": Tiapà To àTIÀwç µi] Kvp1ws]. Esta locução se refere a um raciocínio que consiste em afirmar que, se um predicado pertence a um sujeito sob algum aspecto ou de modo relativo, ele lhe pertence em todos os aspectos ou de modo absoluto (se S é P em relação a algo, S é sempre e em todos os casos P). O raciocí nio em questão é um sofisma (vER) chamado "sofisma por acidente" Para indicar que esse raciocínio não é válido, usa-se a fórmula A dieta secundum quid ad dictum simpliciter non valet consequentia. A digniori (ver infra). A fortiori (vER). A non esse etc. (ver infra). A pari (ver supra). A parte ante, a parte post (vER). A parte mentis (ver infra). A parte rei (vER). Enquanto a parte rei indica "segundo a própria coisa'', a parte mentis indica "se gundo a mente" ou "segundo o entendimento" (secun dum intellectum). A parte rei e a parte mentis são formas de distinção (vER). Em vez de a parte rei, diz se também ex natura rei [distinctio ex natura rei] . A perfectiori (ver infra). A posteriori (ver A PRIORI). A potiori - A digniori - A perfectiori. A definição de uma coisa a potiori é a que se efetua levando em conta o melhor [o mais digno; o perfeito] que há na coisa definida. A priori (vER). A quo - Ad quem. Ao falar do movimento (vER) como movimento local, a locução a quo é usada para indicar o ponto de partida, e a locução ad quem para indicar o ponto de chegada do movimento de um móbil. A quo e ad quem podem também se referir a um raciocínio em que indicam respectivamente o ponto de partida e o fim ou a conclusão. A se (VER). A simultaneo (ver DEUs; ONTOLÓGICA [PROVA]). Ab absurdo - Ab absurdis. Estas locuções são usadas para indicar que uma proposição parte de algo absurdo ou de coisas absurdas. Ab alio (ver A SE). Ab esse ad posse. Na teoria das conseqüências (ver CONSEQÜÊNCIA) modais, usou-se uma série de locuções por meio das quais se indica se uma conseqüência é ou não válida. Eis algumas: Ab esse ad posse valet [tenet} consequentia [iliatio} e também Ab ilia de inesse (vER) valet [tenet} ilia de possibili. Pode-se concluir da realidade a possibilidade, isto é, se X é real, então X é possível. Ab oportere ad esse valet [tenet} consequentia [illatio]. Pode-se concluir da necessidade a realidade, isto é, se X é necessário, então X é real.
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Ab oportere ad posse valet [tenet] consequentia [illatio]. Pode-se concluir da necessidade a possibili dade, isto é, se X é necessário, então X é possível. A non posse ad non esse valet [tenet] consequentia [illatio]. Pode-se concluir da impossibilidade a não -realidade, isto é, se X é impossível, então X não é real. Podem ser formuladas outras conseqüências mo dais do tipo anterior, cada uma das quais corresponde a um teorema da lógica modal. Ab universali ad particularem. Esta locução se refere ao raciocínio em que se passa de uma propo sição universal (como 'todo S é P') a uma proposição particular (como 'alguns S são P'). O raciocínio é válido, o que se expressa mediante a locução Ab uni versali ad particularem valet [tenet] consequentia [illatio]. Também é válido o raciocínio que passa de uma proposição particular a uma infinita[indefinida] ou uma singular; a fórmula completa reza: Ab univer sali ad particularem, sive infinitam sive singularem valet [tenet] consequentia [illatio]. Não é válida, em contrapartida, a passagem de uma proposição particu lar a uma universal, o que se expressa por: A parti culari ad universalem non valet [tenet] consequentia [illatio]. Ab uno disce omnes. A partir de um, conhecem -se os outros. Esta locução, usada originalmente refe rindo-se a pessoas (e especialmente a uma pessoa de um grupo, representativa do grupo), pode ser usada de forma mais ampla para indicar que a partir de um exemplo é possível conhecer todos os outros exemplos (ao menos da mesma classe); que a partir de uma en tidade se podem conhecer todas as outras entidades (ao menos da mesma classe). Ad absurdum (ver ABSURDO). Ad aliquid. Esta locução equivale a 'relativo a', 'relativamente a' e se refere ao ser relativo, õv rrpos TI (ver RELAÇÃO). Usa-se de várias formas, entre as quais mencionamos as seguintes: Ad aliquid ratione alterius (= secundum aliquid). O que tem relação com algo segundo outra coisa. Ad aliquid secundum se. O que tem relação com algo segundo seu próprio ser[= modo de ser essencial]. Ad aliquid secundum rationem tantum. O que tem relação com algo segundo a mente ou segundo o en tendimento. Ad aliquid secundum rem. O que tem relação com algo segundo a própria coisa. Ad extra - Ad intra. Ad extra refere-se a um mo vimento transitivo ou transcendente; ad intra, a um movimento imanente (ver EM ANAÇÃO; IMANÊNCIA; TRANSCENDÊNCIA). Ad hoc (VER). Ad hominem (vER).
A
FORTIORI
Ad humanitatem. Um argumento ad humanitatem é aquele que se supõe válido para todos os homens sem exceção. Ele é considerado, às vezes, um argumento que vai além de todo indivíduo particular e, enquanto tal, um argumento ad rem, isto é, segundo a própria coisa considerada. Ad ignorantiam (vER). Ad impossibile (ver ABSURDO). Ad intra (ver supra: Ad extra). Ad judicium (vER). Ad personam. Um argumento ad personam é, na verdade, um argumento contra determinada pessoa, fundando-se em suas efetivas ou supostas fraquezas. Ad quem (ver supra: A quo). Ad rem (ver supra: Ad humanitatem). Ad valorem. Pode ser denominado ad valorem um argumento que se funda no valor da coisa ou das coisas consideradas ou defendidas. Ad verecundiam (VER). A FORTIORI. A expressão a fortiori é definida de vários modos, que podem ser reduzidos a dois. 1 ) Diz-se que u m raciocínio é a fortiori quando contém certos enunciados que, segundo se supõe, reforçam a verdade da proposição que se tenta demonstrar, de tal maneira que se diz que essa proposição é a fortiori verdadeira. O a fortiori representa o tanto mais que com que se exprime gramaticalmente o fato de que a uma parte do que se alega como prova vem acrescen tar-se a outra parte, corroborando o afirmado. Usa-se com freqüência este tipo de raciocínio quando se quer anular toda objeção possível (e considerada verossí mil) contra o anunciado. Um exemplo de raciocínio a fortiori nesse sentido é: "Lope de Vega é um poeta, tanto mais que nas passagens de sua obra em que não pretendia exprimir-se poeticamente empregou uma lin guagem predominantemente lírica" 2) Argumento a fortiori é também o nome dado a um raciocínio em que se usam adjetivos comparativos tais como "maior que", "menor que" etc., de tal modo que se passa de uma proposição à outra em virtude do caráter transitivo desses adj etivos. Um exemplo de argumento afortiori nesse sentido é: "Como João é mais velho que Pedro, e Pedro é mais velho que Antônio, João é mais velho que Antônio''. Na lógica clássica considera-se às vezes esse argumento uma das formas do silogismo chamado entimema (vER). Mas, como os adjetivos comparativos citados exprimem na maioria das vezes relações, daí decorre que o estudo do argumento a fortiori pode ser realizado dentro da lógica atual na teoria das relações (ver RELAÇÃO). O sentido 1) é predominantemente retórico; o 2), lógico. Este último sentido foi examinado por Arthur N. Prior ("Argument a fortion"', Analysis, 9 [ 1 948- 1 949], 49-50). Prior indica que, embora um argumento como
A PARTE ANTE, A PARTE POST "Tudo o que é maior que algo maior que C é maior que C" seja um modo de dizer "Os argumentos afortiori são válidos'', pode-se efetuar a redução requerida sem inserir nenhuma premissa e limitando-se a reformular as premis sas dadas. Aplicada ao caso anterior, a reformulação tem o seguinte resultado: "Todo o tamanho que B tem é tamanho que A tem, e A tem algo de tamanho que B não tem; Todo o tamanho que C tem é tamanho que B tem, e B tem algo de tamanho que C não tem; Portanto, todo o tamanho que C tem é tamanho que A tem, e A tem algo de tamanho que C não tem" A PARTE ANTE, A PARTE POST. Na literatura
escolástica distingue-se a expressão a parte ante de a parte post. Por exemplo, diz-se que a alma existiu a parte ante (a parte ante perpetua), se seu ser é ante rior ao corpo, e a parte post (a parte post perpetua), se não antecede o corpo, mas antes começa com este. Em ambos os casos se supõe, entretanto, que a alma permanece depois da dissolução do corpo (post dis solutionem a corpore maneai, durei post perpetuo a corpore separata). A PARTE REI. Os escolásticos usam a expressão a parte rei para significar que algo é segundo a própria coisa, isto é, segundo a natureza da coisa ou, de ma neira mais simples, segundo ela mesma. Por exemplo, pode-se perguntar se as coisas naturais são a parte rei ou se resultam tão-somente da operação do entendi mento. Por conseguinte, o ser a parte rei opõe-se ao ser secundum intellectum. A POSTERIORI. Ver A PRIORI. A PRIORI. Em Met. /}. 1 1 , 1 0 1 8b 30-35, Aristóteles
fala do anterior, rrpÓTepov, e do posterior, ÜCJTepov, e afirma que o anterior segundo a razão, KaTà Tov Myov, se distingue do anterior segundo a sensação, KaTà n']v a'ía8T]mv. Segundo a razão, o anterior é o universal; segundo a sensação, o individual. Disso pode -se depreender que segundo a razão o individual é pos terior, ao passo que segundo a sensação o universal é posterior. Em An. post. l,2, 7 1 b 30-72 a 9, Aristóteles distingue o anterior por natureza, cpúoe1, e o anterior com respeito a nós, rrpàs J͵ãç, assim como entre o que é mais conhecido por natureza e o que é mais co nhecido por nós. Os objetos mais próximos da sensação - os objetos sensíveis - são anteriores e mais conhe cidos por nós. As coisas mais afastadas dos sentidos, em contrapartida, são anteriores e conhecidas de modo "abso luto" (prévio a todo conhecer). Essas distinções aristoté licas encontram-se na base de grande número de distin ções similares entre vários filósofos medievais, ao tratar de que coisas são anteriores, priora, ou posteriores, pos teriora, seja na ordem da realidade, seja na do conheci mento. No que diz respeito a esta última, Alfarabi,
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Averróis e outros filósofos árabes seguiram a distinção aristotélica entre o "saber que", 0T1, e o "saber por quê", ÔIÓT1. Este último é um conhecimento de causas; o pri meiro, de efeitos. O saber por que ou que parte de causas, propter quid, é anterior, porque vai da causa ao efeito: é um conhecimento a priori. O saber que ou que parte de efeitos, quia, é posterior, porque vai do efeito à causa: é um conhecimento a posteriori. As expressões a priori e a posteriori são atribuídas a Alberto da Saxônia, mas se encontram igualmente em Santo Tomás e em Guilherme de Ockham. Contudo, a definição formal dos dois tipos de demonstratio - a priori e a posteriori - procede de Alberto da Saxônia (Prantl, IY, 78; comentário de Alberto a An. post. : ln An. Post. 1, q. 9): a demonstratio ex causis ad effectum (prova que vai das causas ao efeito) é chama da demonstratio a priori e demonstratio propter quid, enquanto a demonstratio ab effectibus ad causas (prova que vai dos efeitos às causas) é denominada demonstratio a posteriori e demonstratio quia. Esse uso terminoló gico persiste em escolásticos posteriores, assim como em autores como Zabarella, Descartes e Leibniz. A transição entre esse modo de entender a distinção entre a priori e a posteriori e as disputas sobre a natureza e a origem do conhecimento humano na época moderna clássica não é brusca. Com Descartes, Leibniz e Locke, a atenção se volta para o papel desempenhado pela ra zão e pela experiência no conhecimento. Na medida em que o conhecimento pela razão é um conhecimento se gundo princípios que se apreendem clara e distintamen te, é um conhecimento a priori. O conhecimento por experiência é, em contrapartida, conhecimento a pos teriori. Para os empiristas o conhecimento a posteriori é um conhecimento anterior, no sentido de que é prévio ao conhecimento de causas e de princípios de todo tipo. Para os racionalistas o conhecimento a priori é anterior, por não ser simplesmente derivável da experiência ou dos sentidos. Nesse sentido a linha que separa raciona lismo e empirismo não é, contudo, perfeitamente clara. É possível admitir que os conhecimentos são adquiridos a posteriori ou por experiência e ao mesmo tempo man ter que só podem justificar-se a priori ou mediante a razão. Os autores modernos em que se percebe com mais clareza a distinção entre a priori e a posteriori, antes de Kant, são Hume e Leibniz, que diferem radical mente num aspecto e coincidem em outro. É preciso levar em conta para isso outra distinção introduzida por esses autores: a proposta por Hume em Enquiry, IV, 1 , de "todos os objetos da razão ou da investigação humana" entre "relações de idéias" (Relations of ldeas) e "fatos" (Matters ofFact) e a estabelecida por Leibniz entre ver dades de razão e verdades de fato (ver VERDADES DE RAZÃO, VERDADES DE FAlD) . Trata-se de duas distinções semelhantes à estabelecida entre enunciados analíticos e sintéticos (ver ANALÍTICO E SINTÉTICO) . Para Hume, as
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relações de idéias são, como os enunciados analíticos, a priori, isto é, não procedem da experiência. Por outro lado, não proporcionam nenhuma informação sobre a realidade. São descobertas pela "mera operação do pen samento" e podem ser comparadas a regras de lingua gem. Para Leibniz, as verdades de razão são eternas, ne cessárias, inatas e a priori, ao contrário das verdades de fato, que são empíricas e contingentes: "A razão - es creve Leibniz - é a verdade conhecida cujo enlace com outra verdade menos conhecida leva-nos a dar nosso assentimento à última. Mas de modo particular, e por excelência, é chamada de razão se é a causa não apenas de nosso julgamento, mas também da própria verdade que se chama igualmente razão a priori, e a causa nas coisas corresponde à razão nas verdades" (Théodicée, IV, xvii, !). As verdades a priori não se acham, contu do, sempre presentes na mente; são as verdades que devem ser reconhecidas como evidentes quando se apre sentam, como diria Descartes, a "um espírito atento" No sentido kantiano (cf. infra) de 'sintético', os enuncia dos a priori não são sintéticos, nem em Hume nem em Leibniz. Em nenhum caso os predicados nesses enun ciados são contingentes ou exprimem fatos contingentes. Nisto, Hume e Leibniz coincidem. Diferem, em con trapartida, no seguinte: enquanto para Hume os enuncia dos a priori são tautologias, para Leibniz são verdades eternas. Se as verdades eternas estão "na mente", parecerá haver estreita relação entre o sentido de a priori em Leibniz e em Kant. E os autores que insistiram no caráter "leibniziano" da epistemologia de Kant enfati zaram essa relação. Não obstante, há diferenças básicas entre o a priori leibniziano e o kantiano. A noção de a priori em Kant representa uma nova fase na história deste conceito, a tal ponto que é comum referir-se sem maiores preâmbulos a Kant quando se fala dele. Para Kant, os conceitos e os juízos a priori têm de ser pensados com caráter de necessidade absoluta. Isso não quer dizer que eles sejam puramente formais. Se assim fosse, seria preciso desistir de pretender enun ciar proposições universais e necessárias relativas a fe nômenos naturais. Não significa tampouco que sejam verdades eternas no sentido de Leibniz, verdades acer ca da realidade tal como ela é em si mesma. Toda me tafisica baseada em puros conceitos de razão a priori transcende a experiência possível e resulta de uma pura especulação racional, na qual não há nenhum elemen to empírico. Kant considera o conceito de a priori em relação com o problema da dependência da experiên cia. O conhecimento a priori é independente da expe riência, ao contrário do conhecimento a posteriori, que tem origem na experiência (Kr V 8 2). A indepen dência da experiência deve ser entendida de modo absoluto, não com referência a determinados aspectos
A PRIORI ou partes da experiência. Os modos de conhecimento a priori são puros quando não há neles nenhuma mes cla de elementos empíricos (op. cit. , 8 3). "Toda mu dança tem uma causa" não é para Kant uma proposi ção absolutamente a priori, porque a noção de mu dança procede da experiência. Por outro lado, a noção de causa é um elemento a priori que penetra em nosso conhecimento e sem o qual não se poderiam formular enunciados universais e necessários de caráter causal como os que se formulam na ciência da Natureza. A rigor, falar de "conhecimento a priori" é impró prio. O conhecimento não é a priori, nem há partes do conhecimento que sejam a priori. O que é a priori é antes o que toma possível o conhecimento. Por isso, o conceito kantiano de a priori não é nem metafisico nem psicológico, mas epistemológico (ou "transcen dental"). O problema de que Kant se ocupa na Crítica da razão pura não é o da origem do conhecimento ( co mo em Locke ou em Hume), mas o de sua validade, ou validação (ou justificação). Depois de introduzir as noções de a priori e a posteriori, Kant introduz uma distinção entre juízos analíticos e sintéticos (ver ANALÍTICO E SINTÉTICO). Todos os juízos a posteriori são sintéticos. Por diversas razões, avaliara-se que os juízos a priori são analíticos. Mas se todos os juízos sintéticos fossem a posteriori não haveria possibilidade de um conhecimento univer sal e necessário. Esse tipo de conhecimento requer, se gundo Kant, a existência de juízos sintéticos a priori. Portanto, o a priori não é sempre e unicamente analí tico. Se assim fosse, nenhum conhecimento relativo à Natureza poderia constituir-se em ciência. Nem mesmo o senso comum pode prescindir de modos de conheci mento a priori. Perguntar se há juízos sintéticos a priori na matemática e na ciência da Natureza (fisica) equivale a perguntar se essas ciências são possíveis, e como o são. A resposta de Kant é afirmativa em am bos os casos, mas isso se deve ao fato de que o a priori não se refere às coisas em si (ver COISA EM SI), mas às aparências (ver APARÉNCIA). Os elementos a priori condicionam a possibilidade de proposições univer sais e necessárias. Em contrapartida, não há na meta fisica juízos sintéticos a priori porque o a priori não se aplica aos noumena (ver NúMENO). Kant trata na Crítica da razão pura (na qual elaborou com mais de talhes a idéia da aprioridade) das formas a priori da in tuição (espaço e tempo) e dos conceitos a priori do entendimento ou categorias. Mikel Dufrenne (cf. op. cit., infra, pp. l l ss.) in dicou que se podem distinguir dois grupos de proble mas relativos à concepção kantiana do a priori. Por um lado, problemas relativos à natureza do sujeito en quanto "portador" do a priori. O a priori funda a obje tividade na medida em que um suj eito constituinte
A
PRIORI
(ver CONSTITUIÇÃO, CONSTITUTIVO) possibilita a experiên cia. Mas há aqui, a rigor, dois elementos: uma condição surgida da natureza subjetiva e uma condição formal da experiência como tal. Se se acentua o primeiro ele mento, tende-se a uma concepção psicológica do su jeito transcendental; se se enfatiza o segundo, a tendên cia é uma eliminação de todo suj eito como sujeito. Por outro lado, há problemas concernentes à relação entre sujeito e objeto. Essa relação é para Kant transcen dental (VER); não se trata de produção do ente, mas de determinação da objetividade do objeto (de sua cognos cibilidade enquanto objeto). Mas aqui se pode consi derar ou que o sujeito transcendental absorve o objeto em sua objetividade de modo total, de maneira que as condições do objeto são equivalentes às modificações do sujeito, ou que o obj eto absorve por inteiro o sujei to. Parece, de todo modo, que, admitindo-se que o a priori tem sua fonte num sujeito de conhecimento, é impossível evitar as questões ontológicas que Kant se propunha justamente evitar até ter desobstruído por completo o caminho para a metafisica mediante a filo sofia transcendental. A doutrina kantiana foi ao mesmo tempo critica da e elaborada pelos idealistas alemães pós-kantianos. Exemplo dessa dupla atitude é a de Hegel. Por um lado, Hegel aceita a concepção do a priori, na medida em que admite (ao menos ao expor a doutrina de Kant) que a universalidade e a necessidade devem ser encontra das a priori, isto é, na razão ( Vorlesungen über die Geschichte der Philosophie. Teil III, Abs. iii. B; Glo ckner, 1 9 : 557). Por outro lado, Hegel considera que as expressões a priori e ' sintetizar' usadas por Kant são vagas e até mesmo vazias (Logik, Buch I, Abs. II, Kap. ii. A. Anm. 1 ; Glockner, 4: 250). De modo surpreen dentemente semelhante ao modo pelo qual a noção de a priori foi elaborada pelos fenomenólogos, Hegel avalia que até a determinação do sentimento possui ele mentos (ou "momentos") a priori (toe. cit. ), esten dendo com isso a noção de aprioridade ao que não é exclusivamente intelectual. Entre as novas maneiras de considerar a noção de a priori que circularam no primeiro terço do século XX, destaca-se a de Husserl. Desde as Investigações lógicas (Investigação Quinta, § 45), Husserl distinguira intui ções sensíveis de intuições categoriais. A possibilidade de uma intuição categorial - e da "percepção catego rial" - equivale à possibilidade de apreender "mo mentos não-reais" Estes não são, contudo, estruturas puramente formais, vazias de todo conteúdo. Eles não têm, portanto, um conteúdo real ou, de todo modo, não têm um conteúdo sensível. Mas são objetos de intuição, logo, correlatos de um ato de apreensão. Trata-se de uni dades ideais de significação (ou de significações com formas categoriais). A intuição categorial é a priori,
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mas não por ser puramente "analítica'', e menos ainda meramente tautológica, nem tampouco por ser o resul tado da atividade de um sujeito transcendental. A intui ção de essências no sentido husserliano de 'essência' (VER) é uma intuição categorial a priori. O a priori não é simplesmente identificável com o puramente formal. Não é tampouco um conjunto de formas que moldam uma matéria sensível dada à experiência. O a priori é independente do real (sensível), na medida em que as significações podem não se "realizar"; ao mesmo tempo, no real (sensível), o a priori (a intuição categorial) pode encontrar sua "realização". Husserl fala de uma "percep ção do universal" (op. cit., § 52); "o vermelho, o triângulo da mera fantasia, é especificamente o mesmo que o ver melho, o triângulo da percepção". Não há diferença entre o conceito de algo real e o de algo não real (como de resto Kant já, ou também, o afirmara); as intuições a priori podem ser sintéticas (no sentido de ter um conteú do). Não é preciso que o conteúdo seja sensível. Há, como diz Husserl em ldeen (§ 1 6), verdades essenciais sinté ticas. Trata-se de verdades a priori que não são especi ficações de verdades ontológico-formais. O domínio do a priori inclui verdades formais e verdades "materiais" As materiais são as que correspondem a ontologias re gionais: abrangem axiomas regionais que definem siste mas de categorias regionais. Têm seu próprio fundamento ontológico; é um erro pensar que um axioma em sua on tologia regional é uma simples variável que, substituída por uma constante, dá lugar a um axioma em ontologia formal. Em suma, fica invalidada toda identificação entre o a posteriori, o empírico e o material, por um lado, e o a priori e o formal, por outro. Estas idéias de Husserl foram desenvolvidas na longa seção sobre "formalismo e apriorismo" que cons tituía o fundamento ontológico e metodológico da ética axiológica de Scheler (cf. Der Formalismus in der Ethik, Parte I, ii, Gesammelte Werke, 2, pp. 68- 1 30). "Desig namos como a priori - escreve Scheler - todas as uni dades ideais de significação e proposições que negli genciam todo tipo de posição [Setzung, possivelmente no sentido transcendental kantiano] dos sujeitos que as pensam e de sua constituição natural real, e que negli genciam todo tipo de posição de um objeto a que são aplicáveis, e que são dadas pelo conteúdo de uma in tuição imediata. " Como se negligencia toda "posição", prescinde-se de "posições" como o ser real, não-real, aparente, efetivo etc. Enganemo-nos ou não ao consi derar um ser vivente, em ambos os casos temos a essên cia intuitiva da "vida" O elemento a priori não é nenhu ma forma de proposição ou ato de julgar, como pensava Kant; pertence à esfera do "dado" Há, como afirma Scheler nessa e em outras obras, "fatos fenomenológi cos" (ver FATO) suscetíveis de ser apreendidos a priori. Esses fatos são fatos "puros", objeto de intuição essen-
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cial a priori e não de induções com base em observa ções. "Fica bem claro - prossegue Scheler - que o domínio do a priori-evidente nada tem a ver com o do 'formal ' e que a oposição 'a priori-a posteriori' nada tem a ver com a oposição 'formal-material'" Segundo Scheler, o domínio dos valores não resulta de uma apre ciação subjetiva nem de alguma imposição (subjetiva) a priori; é um conjunto de "fatos" de caráter peculiar, apreensíveis mediante "intuição emotiva" C. I. Lewis admite a necessidade do a priori (em virtude do fato de não haver conhecimento possível sem interpretação) e o proclama independente da experiên cia, "não porque prescreva uma forma que a experiência deva cumprir ou antecipe alguma harmonia preestabe lecida do dado com as categorias da mente, mas preci samente porque não prescreve nada ao conteúdo da ex periência" (Mind and the World Order, 1 929, p. 1 97). O a priori é verdadeiro não importando a que se refere. Todavia, segundo acrescenta Lewis, o a priori antecipa caracteres do real (sem o que careceria de toda simpli ficação), mas do real enquanto "categorialmente inter pretado" Isso tem três conseqüências. Primeiro: recu sa das concepções tradicionais - entre elas, a kantiana - do a priori. Segundo: caráter formal do conheci mento a priori. Terceiro: negação de que o mencionado caráter formal equivalha a ausência de significação. Os princípios a priori representam, de acordo com Lewis, "princípios de ordem" e "critérios do real" (op. cit., p. 23 1 ). Ao determinar as significações, a mente engendra um tipo de verdade sem o qual não haveria outra verda de possível. Os critérios últimos desse tipo de verdade são pragmáticos. A concepção do a priori de C. I. Lewis expressa seu "pragmatismo conceituai" Isso não equi vale a submeter o "formal" a uma decisão arbitrária, mas é o resultado do fato de que toda classificação cate gorial e interpretação do real são "nossa" classificação e "nossa" interpretação. Em suma: há diversos modos de entender a noção de a priori (e a noção correlata de a posteriori). É pos sível ligar o a priori ao analítico e ao necessário, e o a posteriori ao sintético e ao contingente. Pode-se con siderar então que todos os enunciados (juízos, verda des etc.) a priori são analíticos e necessários e que todos os enunciados (juízos, verdades etc.) a posteriori são sintéticos e contingentes. Isso se refere às vezes à estrutura dos enunciados correspondentes (juízos, proposições etc.), às vezes a seu status epistemológi co - isto é, ao fato de serem dependentes ou inde pendentes da experiência - e às vezes a ambas as coisas ao mesmo tempo. Leibniz e Hume se interes saram principalmente, ainda que por razões diversas, pela natureza dos enunciados a priori e a posteriori (ou, concomitantemente, pelas verdades de razão e pelas verdades de fato; pelas relações de idéias e pelos
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próprios fatos). Entretanto, o interesse pela natureza desses enunciados ligava-se igualmente ao problema de seu lugar, ou de sua origem, na mente humana. Kant mostrou especial interesse pela questão do a priori do ponto de vista epistemológico. Em todo caso, enquanto para Leibniz e Hume não podia haver enun ciados que fossem a um só tempo a priori e sintéticos, a noção de "sintético a priori" é básica para a funda mentação da matemática e da ciência natural em Kant, bem como para uma possível fundamentação da me tafisica. Para Husserl, cabe dissociar o a priori do não-empírico, em virtude das aprioridades "materiais" Na época contemporânea, os positivistas lógicos se guiram a tradição de Hume e acrescentaram a ela a equiparação da aprioridade ao caráter tautológico dos enunciados analíticos. Não tardaram a se manifestar, entretanto, opiniões muito diversas, quatro das quais menc10naremos: Por um lado, o interesse pelos chamados "esque mas conceituais" - de quadros específicos de concei tos a amplos paradigmas - na constituição do conhe cimento primeiro - e depois na validação de teorias - levou a considerar que os fatos estão "carregados de teoria" Se isso ocorre, pode-se recorrer novamente, mutatis mutandis, à noção kantiana de sintético a priori. Ao contrário de Kant, não se trata de um domínio trans cendental que conforma o material da experiência tendo em vista o conhecimento, mas simplesmente do fato de que a constituição de teorias e as mudanças de teorias não estão ligadas, como acreditava o empirismo tradi cional, a verificações estritas, e inclusive a falseamentos, de teorias por fatos. As teorias continuam aplicando-se aos fatos, mas não são admitidas, ou abandonadas, me ramente por falta de verificações adequadas, ou por con tra-exemplos. Em segundo lugar, as dúvidas relativas à dicotomia "analítico-sintético" (ver ANALÍTICO E SINTÉTICO) levaram a rejeitar a equiparação "a priori-analítico" e "a poste riori sintético" Isso não significa ainda admitir, ou readmitir, as opiniões kantianas ou neo-kantianas, mas equivale a supor que, se não há ruptura entre analítico e sintético, não se pode simplesmente associar a priori ou a posteriori a nenhum deles. Em terceiro lugar, tendências expressas em várias vertentes do estruturalismo e na hipótese inatista de Chomsky supõem que há estruturas profundas no conhe cimento (ou na linguagem). Não há uma relação biuní voca entre os dados proporcionados pelos sentidos, ou os estímulos, e as respostas a esses dados ou estímulos. Em virtude disso, poder-se-ia supor que o sujeito forne ce elementos do tipo dos que se designaram como a priori. Há certa relação entre uma tese apriorística e uma tese estruturalista ou inatista, embora esta última seja empírica e não especulativa. -
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A SE Por fim, puseram-se em dúvida tanto a equipara ção entre o a priori e o necessário como a idéia de que não pode haver nenhuma relação entre necessário e a posteriori. Se, como indicou Kripke, determinado fato poderia ter sido diferente de como é, mas ao mesmo tempo não pode ter tido outras causas que não as que efetivamente teve, ter tido essas causas, e não outras, é uma verdade necessária. Não é, no entanto, uma verda de a priori, mas a posteriori, isto é, as causas de re ferência são conhecidas a posteriori. Em outros ter mos, Kripke mantém que a priori não é (necessaria mente) equivalente a 'necessário' e que a posteriori não é (necessariamente) equivalente a 'contingente' Isso torna possível falar de um enunciado que é a priori e contingente, assim como de um que é a posteriori e necessário. '"Pode ser conhecido a priori' não signifi ca 'deve ser conhecido a priori' ." Dito de outro modo: "Há ao mesmo tempo verdades necessárias a posterio ri e provavelmente verdades contingentes a priori" ("Naming and Necessity", em Semantics of Natural Language, 2ª ed., ed. Donald Davidson e Gilbert Har man, 1 972, pp. 26 1 .263). Ora, embora qualquer verdade necessária seja a priori ou a posteriori, ela não pode ter-se tornado distinta do que é: "No caso de algumas verdades necessárias a posteriori, podemos dizer que, em determinadas situações de evidência qualitativamen te idênticas, determinado enunciado qualitativo corres pondente poderia ter sido falso" (op. cit. , p. 333). Esta mesa que está em meu quarto e é feita de madeira (ver PROPRIEDADE) possui, por ter sido feita de madeira, a propriedade essencial de ser (ou de ter sido feita) de madeira, mas, "numa situação qualitativamente idêntica a esta mesma com respeito a toda a evidência prévia", a casa podia ter contido uma mesa feita de gelo em vez desta mesa feita de madeira (op. cit., pp. 332-333). Além dos textos a que se fez referência no verbete, podem ser consultadas as obras que se seguem. :> Análise da noção de a priori: Narziss Ach, Ueber die Erkenntnis a priori, insbesondere in der Arithmetik, 1 9 1 3 . - Nicolai Hartmann, "Ueber die Erkennbarkeit des Apriorischen", Logos 5 ( 1 9 1 4- 1 9 1 5), 290-329; reimp. em Kleinere Schriften, III, 1 958, pp. 1 86-2 1 8. - A. Pap, "The Different Kinds of A Priori", Philoso phical Review, 53 ( 1 944), 464-484. Héctor Neri Castaiíeda, "Analytic Propositions, Definitions and the A Priori"', Ratio, 2 ( 1 959), 80- 1 0 ! . - Mikel Dufrenne, La notion d 'a priori, 1 959. - Veja-se também a biblio grafia do verbete ANALÍTICO E SINTÉTICO. Para o a priori na teoria fisica: A. Pap, The A Priori in Physical Theory, 1 946. Sobre o a priori em diferentes autores e correntes: M. Guggenheim, Die Lehre vom apriorischen Wissen in ihrer Bedeutung for die Entwicklung der Ethik und der Erkenntnistheorie in der sokratisch-platonischen -
Philosophie, 1 885. - Nicolai Hartmann, Das Problem des Apriorismus in der platonischen Philosophie, 1 936 (Sitzungsber, der preuss. Ak. der Wiss. Phil. hist. Kl. XV [ 1 935]; reimp. em Kleinere Schriften, II, 1 957, pp. 48-85). - Aline Lion, Anamnesis and the A Priori, 1 935. - L. di Rosa, La sintesi a priori: S. Tommaso e Kant, 1 950. - A. Silberstein, Leibniz Apriorismus im Verhãltnis zu seiner Metaphysik, 1 904. - A. Sicker, Der Leibniz-kantische Apriorismus und die neuere Philosophie, 1 900. - C. Hellstrõm, On Hume s apriori begrepp, 1 925. - G. Cesca, La dottrina kantiana dell 'a priori, 1 885. - Rudolf Eisler, Die Weiterbildung der Kantschen Aprioritãtslehre bis zur Gegenwart, 1 895. - Ake Petzãll, Der Apriorismus Kants und die "Phi losophia pigrorum , 1 933. - C. Mazzantini, II pro blema delle verità necessarie e la sintesi a priori di Kant, 1 93 5 . - Bella K. Milmed, Kant and Current Philosophical Issues: Some Modem Developments of His Theory of Knowledge, 1 96 1 (especialmente caps. 2, 3, 5 e 7). - Hans-Ulrich Hoche, Nichtempirische Erkenntnis. Analytische und synthetische Urteile a priori bei Kant und bei Husserl, 1 964. - Harald Delius, Untersuchungen zur Problematik der sogenannten syn thetischen Sãtze a priori, 1 963. - Moltke S. Gram, Kant, Ontology, and the A Priori, 1 968. - Lothar Eley, Die Krise des Apriori in der transzendentalen Phãnome nologie E. Husserls, 1 962. J. N. Mohanty et ai., The Phenomenological Realism ofthe Possible Worlds, 1 974, ed. Anna-Teresa Tymieniecka (sobre Husserl). - Inge borg Wirth, Realismus und Apriorismus in Nico/ai Hart manns Erkenntnistheorie, 1 965. - Z. Vendler, "Sum mary: Linguistics and the A Priori", em C. Lyas, ed., Philosophy and Linguistics, 1 97 1 , pp. 245-265. - K. Cramer, "Non-Pure Synthetic A Priori Judgements", em Lewis Beck, ed., Proceedings of the 3rd Internatio nal Kant Congress, 1 972, pp. 246-254. S. B. Rosen thal, The Pragmatic A Priori: A Study in the Epistemo logy ofC. /. Lewis, 1 975. R Christensen, Lebendige Gegenwart und Urerlebnis. Zur Konkretisierung des transzendentalen apriori bei Husserl und Reininger, 1 98 1 . - R. Hahn, Die Theorie der Erfahrung bei Pop per und Kant. Zur Kritik des kritischen Rationalismus am transzendentalen Apriori, 1 982. - W Harper, "Kant On the 'a priori ' and Material Necessity", em R. E. Butts, ed., Kant :� Philosophy ofPhysical Science, 1 986, pp. 239-272. e: "
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A SE. No vocabulário latino da escolástica, é comum distinguir as expressões a se e a expressão ab alio. A se significa "por si'', "por si mesmo", "a partir de si", "a partir de si mesmo'', "procedente de si'', "proceden te de si mesmo"; ab alio significa "procedente de outro" Por esse motivo, um ser a se é considerado um ser in dependente, Çlvapxov. Diz-se que Deus é a se (subs-
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tantia a se) - e também per se, ex se -, pois tem seu princípio (ou causa) de existir em si mesmo. Em contra partida, de uma entidade criada se diz ser ab alio, por que não tem o princípio (ou causa) de existir em si mes ma, mas em outra realidade (em Deus). Esta última dis tinção é radical, pois se refere à raiz do ser e do criado. Pode-se, porém, distinguir entre o ser a se e o ser ab alio num sentido menos radical. Assim, por exemplo, se diz que uma entidade procede de outra quando tem sim plesmente nesta outra sua origem (com freqüência cau sal): lux est a sole (a luz procede do sol). A distinção entre a se e ab alio é com freqüência paralela à distinção en tre in se (VER) e in alio, mesmo quando se tende a em pregar a primeira ao se fazer referência ao princípio do qual procede uma entidade, e a segunda ao se falar do ser de uma entidade. Quando se sublinha o motivo da pro cedência, usam-se as expressões a se moveri (que se contrapõe a ab alio moveri) e a se procedere (que se con trapõe a ab alio procedere). Quanto ao mais, o proceder de outra entidade pode ser entendido em dois sentidos: segundo o ser real (secundum esse reale) e segundo o ser intencional (secundum esse intentionale). Para o signi ficado de 'ser intencional ' , ver INTENÇÃO, INTENCIONAL, INTENCIONALIDADE. Diz-se também do ser a se que possui asseidade (aseitas). Tal como vimos para o ser a se, a asseidade po de ser afirmada, de modo geral, como característica de todo ente que procede de si mesmo - e, portanto, do ente, ou, de modo (ontólogico-formalmente) menos geral, como o constitutivum metaphysicum de um ente determinado, mas único: Deus. Alguns autores se in clmam para o primeiro e dão diferentes razões para apoiar sua opinião: que a noção de referência é dema siado formal e convém apenas ao ente enquanto ente, que reduzir a asseidade a Deus acarreta o risco de absor ver Neste todos os outros entes etc. Outros, ao contrá rio, se declaram partidários do segundo e alegam em favor de sua tese que a asseidade pode ser predicada unicamente da realidade na qual a essência subsiste em toda a plenitude do ser, isto é, que possui todas as per feições, tanto intensivas como extensivas. Walter Schultz, em sua obra sobre o conceito de Deus na filosofia moderna (tradução esp.: E/ Dios de la metafisica moderna, 1 96 1 , p. 63), enfatiza que tradi cionalmente se entendera a se como negação de ab alio, isto é, como non ab alio. Assim entende a se o teólogo tomista Ceterus em sua polêmica contra Descartes, que afirmava que, se se leva em conta a onipotência de Deus, pode-se entender o a se positiva e não negativamente. Um texto das "Respostas às objeções" (AT, VII, 1 1 0) confirma essa concepção positiva de a se, a qual, segun do Schultz, pode ter influenciado Spinoza na idéia que ele formulou acerca da causa sui, ou causa de si mesmo. A SIMULTANEO. Ver D Eu s; ONTOLÓGICA (PROVA).
AALL, ANATHON AALL, ANATHON ( 1 897- 1 943), nasc. em Nasseby
(Tromsõ, Noruega), foi Privatdozent em Halle ( 1 904- 1 908) e professor em Cristiânia [Oslo a partir de 1 925] (desde 1 908). Distinguiu-se primeiro por seus estudos de história da filosofia e da religião e depois por estudos de psicologia experimental. Cultivou também a filosofia da Natureza e a metafísica. História da filosofia e "filosofia da existência" enquanto "filosofia da realidade" - estão, segundo Aall, estreitamente relacionadas entre si. A história da filosofia não é apenas exposição cronológica de formu lações e sistemas filosóficos, mas também, e principal mente, estudo do modo como essas formulações e sis temas se desenvolvem em situações históricas dadas. Não é possível separar arbitrariamente a sofística grega e a democracia ateniense, ou a psicologia experimental e a sociedade industrial moderna. A filosofia da Natureza como base para uma fi losofia crítica da existência, ou da realidade, apóia-se na investigação psicológica. Particularmente interes sante é a psicologia dos sentidos; as conclusões que se tiram dela são opostas a todo reducionismo, seja este mecanicista ou energetista. Aall rejeita o reducionismo como pressuposto que conduz a um inadmissível mo nismo metafisico. Os coeficientes fisiológicos obser váveis e o exame de atos mentais provam que a reali dade é de caráter "funcional" A análise psicológica crítica das noções de energia, tempo e movimento é um ingrediente fundamental de uma "crítica da exis tência real". Aall desenvolve uma "filosofia da existên cia real" de caráter pluralista, em virtude da qual, se gundo escreve ele numa auto-exposição de sua filoso fia ( 1 924), "o próprio espírito e sua vida, os próprios conteúdos empíricos de índole não-mecânica possuem uma realidade independente" :> Principais obras: Der Logos. Geschichte seiner En twicklung in der griechischen Philosophie und der chris tlichen Literatur, 2 vols., 1 896- 1 899; reimp. 1 966 (O Logos, História de sua evolução na filosofia grega e na literatura cristã). - "Om Sansynliget og dens betydning logisk betraktet", Tidskr.f Mathematik og Naturvindens kab ( 1 897) ("Sobre a probabilidade e suas condições do ponto de vista lógico"). - Macht und Pjlicht. Eine Natur- und Rechtsphilosophische Untersuchung, 1 902 (Poder e Dever. Uma investigação defilosofia da Natu reza e filosofia do Direito). - lbsen og Nietzsche, 1 906. Henrik lbsen ais Dichter und Denker, 1 906 (H L como poeta e pensador). - Logik; 3' ed., 1 92 1 . "Filosofien i Norden", Videnskapselsk, Skr. hist.fil. kl., nº 1 ( 1 9 1 8) ("A filosofia na Noruega"). - Psykologi, 1 926. - Socialpsykologi, 1 938. - Além disso, há nu merosos escritos, publicados em revistas, sobre temas de psicologia experimental, de História da filosofia e de filosofia da Natureza. Particularmente importantes para -
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ABAD CARRETERO, LUIS sua filosofia são os escritos: "Gibt es irgendeine andere Wirklichkeit ais die mechanische?", Zeitschrift fiir Philosophie, 1 62 ( 1 9 1 7) ("Há alguma outra realidade além da realidade mecânica?") e "The Problem of Reality'', Journal of Philosophy, 22 ( 1 925), 533-547. Depoimento: em R. Schmidt, ed., Die Philosophie der Gegenwart in Selbstdarstellungen, 1 924, vol. V. Ver: F. Fluge, "A. A.: ln Memoriam", em Norsk pedagogiak tidskrift ( 1 943), 49-54. � ABAD CARRETERO, LUIS. Ver INSTANTE. ABANO, PEDRO DE. Ver PEDRO DE ABANO. ABBAGNANO, NICOLA ( 1 90 1 - 1 990), nasc. em Salerno (Itália); foi professor (desde 1 936) na Univer sidade de Turim. Abbagnano é conhecido por seus estudos de história da filosofia medieval, renascentista e moderna, bem como por seu dicionário de filosofia. Sua maior contribuição filosófica é a elaboração de uma forma original de existencialismo (vER) que, embora influenciada pelas correntes existencialistas alemã e francesa, não é um reflexo delas; o mais interessante no existencialismo italiano de Abbagnano é conseqüência de um desenvolvimento "autônomo" a partir da situação, uma vez que elaborou seu existencialismo em oposição a várias teses capitais do existencialismo europeu de sua época. Em seu primeiro livro, Abbagnano rejeitava não só as concepções "clássicas" da verdade como também as propostas pelas correntes irracionalistas, modernis tas, intuicionistas, historicistas e idealistas neo-hege lianas. Em confronto com elas, preconizava um critério metafisico capaz de superar os relativismos, mas ao mesmo tempo liberto de pressupostos abstratamente racionais - ou apoiados num vago e abstrato "princí pio de racionalidade" -, assim como de toda idéia de uma consciência absoluta tal como a postulada pelo idealismo. O critério proposto por Abbagnano não era nem puramente irracional nem puramente racional. Não era um critério inteiramente subjetivo ou comple tamente "obj etivo", sem ser tampouco um compromis so eclético entre esses extremos. Abbagnano elaborou uma idéia de existência (VER) em que a noção de possibilidade (VER) desempenha um papel capital. Todas as formas de existencialismo são, de acordo com Abbagnano, variantes de um existencia lismo negativo: a idéia de possibilidade é nelas elimi nada, sendo substituída pela impossibilidade, ou pela potencialidade, que é determinabilidade. Diante dessas formas de existencialismo, Abbagnano defende um exis tencialismo positivo, fundado na idéia de possibilidade transcendental. A existência não necessita de nenhum "horizonte" que a delimite, porque é ela mesma seu próprio horizonte, sua própria possibilidade de ser. Os modos no âmbito dos quais "a existência" se manifesta são o esforço (impegno), a decisão (decisione), a escolha
(scelta) e a fidelidade (fedeltà). São modos existenciais, não-subjetivos. A unidade desses modos constitui a es trutura da existência. É necessário evitar todo imanen tismo idealista e, para isso, deve-se insistir na "trans cendência" da existência. Abbagnano elaborou uma concepção própria da relação (rapporto) entre a exis tência e o ser. A existência é relação constante com o ser, de modo que os atos existenciais transcendem para o ser - ou para a realidade. Isso permite, segundo Abbagnano, justificar metodologicamente a "objetivi dade" real e não meramente abstrata da existência. Em muitos aspectos, Abbagnano aproximou-se do natura lismo e do positivismo, embora repudiando o "cienti ficismo ingênuo" deste último. � Principais obras: Nomes e temas da filosofia con temporânea, Dom Quixote, s.d. - Le sorgenti irrazio nali dei pensiero, 1 923. - li problema dell 'arte, 1 925. - li nuovo idealismo inglese e americano, 1 927. Guglielmo de Ockam, 1 93 1 . - La nozione dei tempo in Aristotele, 1 933. - La fisica nuova. Fondamenti di una teoria de/la scienza, 1 934. - ll principio de/la me tafisica, 1 936. - Lineamenti di pedagogia, 1 936. La struttura dell 'esistenza, 1 939 (trad. esp.: La estructu ra de la existencia, 1 95 8). - B. Telesio (!. Telesio, li. Telesio e la filosofia dei Rinascimento), 1 94 1 . - lntro duzione all 'esistenzialismo, 1 942, 2ª ed., 1 947 (trad. esp.: lntroducción ai existencialismo, 1 955). - Filoso fia, Religione, Scienza, 1 947 (trad. esp. : Filosofia, reli gión y ciencia, 1 9 6 1 ) - Esistenzialismo positivo, 1 948 (trad. esp.: Existencialismo positivo, 1 953). História da filosofia, Presença, 14 vols., várias vezes reeditada. - Storia deipensiero scientifico, 1 95 1 ss. - Possibilità e libertà, 1 956 (trad. esp.: Filosofia de lo posible, 1 957). - Problemi di sociologia, 1 959 (coleção de artigos [ 1 95 1 - 1 958]); 2ª ed. ampliada, 1 966. - Dicionário de Filosofia, Martins Fontes, 1 998 . - Per o contro l 'uomo, 1 968. - Criticai Existencialism, 1 969. - Fra il tutto e il nu/la, 1 973. - Filosofi antichi e nuovi, 1 975. - A sabedoria de vida, Vozes, s.d. - A sabedo ria da filosofia, Vozes, 1 99 1 . - Questa pazza filoso fia, 1 988. - Scritti esistenziali, 1 988. - Com Aldo Visalberghi: História da pedagogia, Horizonte, 4 vols., s.d.- Com Giovanni Fornero: Filosofi e filosofie nella storia, 3 vols., 1 986. - Bergson - O idealismo anglo americano e o italiano, Presença, 1 979. Depoimentos: "Metafisica ed esistenza'', em Filo sofi italiani contemporanei, 1 944, pp. 9-25, e em La mia prospettiva filosofica, 1 950, pp. 9-28. - "Sul metodo della filosofia", em La filosofia contemporanea in !ta/ia, 1 958, pp. 9-28. - "La mia prospettiva etica", em Ethi ca, 1 965, pp. 39-49. - L'uomo, progetto duemila, 1 980, diálogo com Giuseppe Grieco. Ricordi di un filosofo, 1 990. Bibliografia: 8. Maiorca, Bibliografia degli scritti di e su N. A. (1 923-1973), 1 974. -
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ABDUÇÃO
Ver: V. Fatone, La existencia humana y sus filóso fos, 1 953, cap. X. - G. Giannini, L'esistenzialismo positivo di N. A., 1 956. - Maria Angela Simona, La notion de liberté dans l 'existencialisme positifde N. A . , 1 962. - Adriana Dentone, L a ''possibilità " i n N. A . , 1 97 1 . - G . Lesnoff-Caravaglia, Education a s Existen tial Possibility, 1 972. - G. De Crescenzo, "Uomo, possibilità e trascendenza: Rilleggendo Nicola Abba gnano", Filosofia, 39 ( 1 988) 45-70. - A. Quarta, "Nicola Abbagnano tra esistenzialismo e neoilluminis mo", II Protag. ( 1 988- 1 989), 3-30. C
ses do Oriente Próximo, e se diz até que teve contato com os hindus. Finalmente, Leucipo, um dos membros da Escola, não nasceu em Abdera, mas em Mileto, e parece ter sido discípulo de Parmênides. Isso leva à suspeita de que há relação entre os eleatas e a Escola de Abdera, relação que se confirma quando percebe mos que cada um dos átomos de Demócrito (ver ATO MISMO) parece ter sido concebido por analogia com a esfera de Parmênides. :> Para a bibliografia, ver FILOSOFIA GREGA e PRÉ -SOCRÁTICOS. C
ABBT, THOMAS ( 1 73 8- 1 766), nasc. em Ulm, foi professor de filosofia na Universidade de Frankfurt am Oder e de matemática em Rinteln, mudando-se depois para Berlim, onde travou amizade com Moses Mendelssohn e Lessing. Foi também inspetor de en sino. Abbt distinguiu-se como um dos filósofos popu lares (ver FILOSOFIA POPULAR) , abordando temas que considerava úteis, ao contrário dos filósofos acadêmi cos, dados a elucubrações vãs. Defensor dos direitos de Frederico II, Abbt opôs-se ao cosmopolitismo e preconizou o patriotismo prussiano; o amor à pátria é, segundo Abbt, um dos primeiros deveres, se não o primeiro, de todo súdito. Abbt dedicou-se a questões pedagógicas e, em especial, a tipos e caracteres hu manos segundo funções e hierarquias sociais, que são, em sua opinião, mais importantes que os temperamen tos individuais. :> Obras: Vom Tode fars Vaterland, 1 76 1 (Da morte pela pátria). - Vom Verdienst, 1 765 (Do mérito). Geschichte des menschlichen Geschlechts, 1 766 (His tória do gênero humano). - Escritos vários: Vermischte Schriften, ed. por C. F. Nicolai, 5 vols., 1 770- 1 780. Ver: O. Claus, Die historisch-politischen Anschauungen T. Abbts, 1 905. - Gertrud Brück, Die Bedeutung Justus Mosers fars Leben und Denken Th. Abbts, 1 937 (tese). - H. J. Kõrber, Die Staatsanschauung Th. Abbts ais Beispiel for die Moglichkeiten deutschen Staatsdenken im achtzehnten Jarhhundert, 1 94 1 . C
ABDUÇÃO. A teoria da abdução desempenha um papel capital na filosofia de Peirce, que usou vários termos além de 'abdução' - 'retrodução' (VER), 'presunção', 'hipótese', ' inferência hipotética' -, mas o primeiro parece ter a preferência, possivelmente nele mesmo e também em seus comentadores. Peirce começou com um estudo da inferência silo gística (e daí sua referência à concepção aristotélica da apagoge [VER] enquanto redução das figuras do silogis mo [as três primeiras figuras] à primeira figura [VER] , e em particular a Barbara). Um dos resultados de suas investigações a esse respeito é que, mesmo que cada figura envolva princípios da primeira, a segunda e a terceira têm ao mesmo tempo princípios próprios. Mais tarde, Peirce examinou os princípios de inferência tam bém nas relações. As referências de Peirce à abdução, assim como à hipótese e à retradução, são muito numerosas em seus escritos, como o atesta um exame dos índices de temas dos Co/lected Papers. Destacaremos alguns pontos im portantes com referência a mudanças experimentadas pela noção de abdução, e especialmente por seu uso em Peirce. Um dos pontos fundamentais na teoria (ou teorias) de Peirce a esse respeito é que os processos mentais, tanto de descoberta como de justificação ou explicação, são inferenciais. Isso quer dizer que pode haver razões para as inferências (que são, elas mesmas, "razões"), até mesmo quando se formulam proposições ou se chega a conclusões aparentemente por mera "conjetu ra" ou "intuição". Psicologicamente pode ter havido uma conjetura ou uma intuição, mas estas são explicáveis de modo lógico. A lógica atinge, pois, mais que proces sos formais dedutivos. Outro ponto capital é a idéia de que a inferência é classificável de imediato em dois tipos: dedutiva (ou analítica) e sintética. A inferência sintética não é, po rém, como muitos autores pensavam (e continuam pen sando), só indutiva. Por um lado, há a indução; por outro, a hipótese (entre outros abundantes toei, ver Col lected Papers, 2.623). Um exemplo, entre muitos outros, dado por Peirce ajuda a compreender em que consiste cada uma dessas inferências.
ABDERA, ESCOLA DE. À s vezes se encontra nas histórias da filosofia grega a expressão 'Escola de Abdera' para designar o chamado atomismo de alguns dos filósofos pré-socráticos (Leucipo, Demócrito). O nome provém do lugar de nascimento de Demócrito: Abdera, colônia jônica da Trácia (onde também nasceu Protágoras). Por esse motivo, Demócrito é também cha mado "o abderita" Entretanto esse nome como a ex pressão que designa a escola podem ser considerados tão-somente recursos mnemotécnicos. Com efeito, na época dos atomistas, a atividade filosófica grega estava centrada em Atenas, e o período durante o qual flores ceu a Escola de Abdera é o chamado "período ático" Além disso, Demócrito viajou muito por diversos paí-
ABELARDO, PEDRO Se entro num quarto em que há vários sacos que contêm diversos tipos de feijão e, depois de investigar, descubro que um dos sacos contém apenas grãos de feijão branco, posso inferir como probabilidade, ou con jetura razoável, que, dado um punhado de feijão branco, este procede do saco que contém somente feijão bran co. Com isso, formulo uma hipótese, distinta de uma indução e de uma dedução, isto é, infiro um caso partin do de uma regra e um resultado. Consideremos agora os três tipos de inferência com base no exemplo citado: 1 ) Dedução: A regra é : "Todos os tipos de feijão são bran cos" O caso é: "Estes grãos de feijão procedem deste saco" Conclusão: "Estes grãos de feijão são brancos" 2) Indução: O caso é: "Estes grãos de feijão procedem deste saco" O resultado é: "Estes grãos de feijão são brancos" Regra: "Todos os grãos de feijão deste saco são brancos". 3) Hipótese (ou seja, abdução): A regra é: "Todos os grãos de feijão deste saco são brancos" O resultado é: "Estes grãos de feijão são brancos" Caso: "Estes grãos de feijão procedem deste saco" Há muitos outros exemplos possíveis de hipótese ou abdução. Se se encontram fósseis de peixes em solo muito profundo, formulo, para explicar esse fenômeno, a hipótese de que em outra época essa terra devia estar coberta pelo mar. Se numerosos documentos se referem a um conquistador chamado Napoleão, embora nunca o tenhamos visto, não podemos explicar os documentos indicados sem formular a hipótese de que Napoleão existiu. Embora durante certo tempo Peirce tenha conside rado independentes as três formas de inferência indica das, sua crescente inclinação a conceber a lógica como método de investigação, ou ao menos como um conjunto de procedimentos que abrangem os métodos de investi gação, levou-o à idéia de um "método dos métodos" e, concomitantemente, à idéia de que cada uma das três formas de inferência é um passo no caminho da investi gação. A abdução, ou inferência hipotética, é a forma de inferência que acrescenta algo ao conhecimento, for mando teorias. A indução completa o processo da busca, encontrando fatos confirmatórios das teorias. Nem sempre ficam claras em Peirce, se a abdução é uma conjetura, as razões que levam à conjetura ou as razões que, uma vez formulada a conjetura, explicam por que se escolheu essa conjetura e não outra. Nem sempre fica claro, tampouco, se a abdução diz respeito à desco berta ou construção de uma conjetura ou hipótese, ou então à seleção ponderada de uma conjetura ou hipótese entre várias. K. T. Fann (Peirce s Theory of Abduction, 1 970) abordou esses assuntos pormenorizadamente, mostrando em que casos Peirce parece inclinar-se por uma ou outra das mencionadas concepções da abdução e em que outros casos inclui várias concepções - por exemplo, descoberta e seleção de uma conjetura ou hipó-
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tese - em uma. Fann trata também da questão da justi ficação da abdução, questão que não foi resolvida por Peirce e que até agora permanece irresoluta, já que não parece haver instância superior à abdução. Por suas insistentes investigações sobre a abdução, a função das hipóteses e conjeturas na ciência e no co nhecimento em geral, bem como por sua distinção en tre abdução e indução, Peirce foi um dos filósofos possivelmente o primeiro - que desenvolveram os temas de uma "lógica da descoberta" (ver DESCOBERTA) . "Embora fale às vezes da abdução como sendo essen cialmente um tipo de instinto de conjetura - escreve Fann (op. cit. , p. 55) -, Peirce defende explicitamen te que, além de se poder dar conta psicologicamente da descoberta, há definitivamente uma lógica da des coberta'', e isso, sobretudo, em virtude de sua concep ção normativa, não "descritiva" (e, poder-se-ia acres centar, não exclusivamente analítico-formal), da lógica. � Ver: K. T. Fann, Peirce s Theory of Abduction, 1 970. - W. H. Davis, Peirce s Epistemology, 1 972. - P. Skagestad, The Road ofInquiry: Charles Peirce s Pragmatic Realism, 1 98 1 . - Douglas R. Anderson, "The Evolution of Peirce's Concept of Abduction'', Transactions. Charles S. Peirce Society, 22 ( 1 986), 1 45- 1 64. - R. J. Roth, "Anderson on Peirce's Concept of Abduction: Further Reflections", ibid., 24 ( 1 988), 1 3 1 - 1 3 9. Obras: Roger Bacon: the Philosophy of Science in the XIIIth Century, 1 876. - On the Philosophy ofKant, 1 8 1 9. - Fichte, 1 88 1 . - The Development ofModern Philosophy, with other Lectures and Essays, 2 volumes, 1 903 (póstuma, ed. Sorley). - The Development of Greek Philosophy, 1 908 (póstuma, ed. Sorley y Hardie). -A Short History ofLogic, 1 9 1 1 (póstuma, ed. Sorley). Ver: R. Metz, "Das philophische Werk R. Adam sons", Archiv für Geschichte der Philosophie, 4 1 ( 1 933), 2 1 4-229. - !d. , "Die philosophischen Stro müngen der Gegenwart in Grossbritannien", vol . II, 1 935, pp. 45-48. - D. A. Rees, "R. Adamson", Phi losophical Quarterly ( 1 952), 356-3 5 8 . - P. Lamanna, Storia della filosofia. La filosofia dei Novecento, VI, II, 1 964, pp. 25-28. V. Cousin publicou em Fragments philosophiques, II, 385-390, passagens da obra que foi chamada De arte
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dialectica, de A. de 8. Edição do Ars disserendi por L. Minio-Paluello, "The Ars disserendi of Adan ofBalsham 'Parvipontanus"', em Medieval and Renaissance Stu dies, ed. E. Hunt e R. Klibansky, 3 ( 1 954), 1 1 6- 1 69. Ver: I. Thomas, "A 1 2th Centucy Paradox ofthe Infini te", Joumal of Simbolic Logic, 23 ( 1 958), 1 33- 1 34. Para a afecção no sentido da teoria das afecções, ver: Bemecke, Geschichte des Affektbegriffs, 1 9 1 5 . - W. Dil they, Die Affektenlehre des 1 7. Jahrhunderts ( Gesammelte Scriflen, II, 1 923). - H. Herring, Das Problem der Affektion bei Kant, 1 953 (Kantstudien. Ergãnzungshefte 67). - E. G. Schachtel, Metamorphosis: On the Develop ment ofAffect, Perception, Attention, and Memory, 1 959. - A. Naess, J. Wetlesen, Conation and Cognition in Spi noza s Theory of Affects: A Reconstruction, 1 967. - C. Armon-Jones, Varieties ofAffect, 1 99 1 . Ver também a bibliografia dos verbetes EMoçAo e SENTIMENTO para o conceito de afecção mais relaciona do com essas noções. C: AFIRMAR O CONSEQÜENTE (FALÁCIA DE). Ver FALÁCIA DE AFIRMAR o CONSEQÜENTE. AFIRMATIVO. Como vimos no verbete sobre a no ção de proposição, as proposições afirmativas são uma das espécies em que se subdividem as proposições sim ples (categóricas, predicativas ou atributivas) em razão da forma ou modo de união do predicado e do sujeito no enunciado ou no juízo. O esquema tradicional mais usado para representar as proposições afirmativas é 'S é P', cujo exemplo pode ser 'A rosa é vermelha' As proposições afirmativas são com freqüência definidas como um dos tipos em que se subdividem as proposi ções em razão da qualidade (vER) , mas deve-se perceber que quase sempre as expressões 'razão da forma' e 'razão da qualidade' têm o mesmo significado. O que dissemos sobre as proposições afirmativas pode ser dito também acerca dos juízos (ver Juízo) afirmativos. As expressões 'proposição afirmativa' e 'juízo afir mativo' - assim como 'proposição negativa' e 'juízo negativo' - são encontradas com mais freqüência nos textos de lógica "clássica" que nos de lógica "moderna" AFORISMO. Um dos modos de expressão ( vER) da fi losofia é o aforismo. Na Antiguidade e na Idade Média, os aforismos eram "pensamentos" que constituíam coleções. Uma coleção de aforismos é o "florilégio" (jlorilegium). Esses aforismos podiam ser objeto de comentário. Um exemplo disso é a obra de Guilherme de Doncaster, do século XII, Explicatio aphorismatum philosophicorum, cujo manuscrito foi descoberto por Martin Grabmann em 1 937. Uma edição (anotada com base em um microfilme) da citada Explicatio foi feita por Olga Weijers, em 1 976 (Studien und Texte zur Geis tesgeschichte des Mittelalters, 1 1 ).
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AGATOLOGIA
O s aforismos filosóficos abordam quase sempre temas de caráter moral (como os aforismos dos mora listas franceses e espanhóis dos séculos XVI e XVII, os Aforismos para a Sabedoria da Vida isto é, a prudência - de Schopenhauer, algumas das obras de Nietzsche). Mas podem também ser expressos aforisti camente outros tipos de pensamento: é o caso do Trac tatus, das Investigações filosóficas e outros textos de Wittgenstein. Pode-se alegar que um aforismo de Witt genstein é algo muito diferente de um aforismo de La Rochefoucauld ou um de Nietzsche. Isso é verdade do ponto de vista do conteúdo. Mas aqui nos interessa o aforismo como forma de expressão e exposição; neste sentido, pode-se dizer que todos os exemplos anterio res pertencem à mesma família. Sua caracteristica co mum é a de apresentar pensamentos filosóficos numa forma breve, concentrada e "fechada", de modo que cada pensamento possua relativa autonomia e, para usar uma terminologia de cunho leibniziano, possa ser con siderado uma "expressão monadológica" Torna-se di ficil por esse motivo distinguir os aforismos dos "pen samentos" (tais como os de Marco Aurélio e Pascal). Com efeito, em várias ocasiões, os limites entre uns e outros são muito imprecisos. Segundo Julián Marias (Miguel de Unamuno, 1 943, pp. 1 2- 1 3), o aforismo se distingue do pensamento pelo fato de que, enquanto no primeiro "as afirmações são enunciadas com pretensão de validade por si mesmas", no segundo trata-se antes de "um coto que pede uma continuação". Assim, por tanto, o aforismo parece ser completo, ao passo que o pensamento parece ser constitutivamente incompleto. Daí decorre, segundo esse autor, que os aforismos sejam "formalmente falsos, já que nada é verdade por si só, e constituem a inversão radical do modo de pensar filosófico" (que seria o sistemático). Cremos que, embora perspicaz, essa caracterização da diferença entre aforismo e pensamento acentua excessivamente o "iso lamento" do aforismo e pressupõe, além disso, certa idéia da filosofia. Entendida radicalmente, essa concep ção nos conduziria a uma idéia do aforismo análoga à sustentada por José Bergamín (em La cabeza a pájaros e outras obras), quando afirma que "não importa que o aforismo seja certo ou incerto; o que importa é que se ja certeiro" Concepção análoga à que parece reger a produção de muitos dos pensamentos de Gracián ou de Salvador Jacinto Polo de Medina, em virtude de um ideal literário-formal segundo o qual o aforismo se constitui principalmente com palavras e não com idéias, motivo pelo qual, quando há conflito entre o uso de uma idéia e o de uma palavra ou um conjunto de palavras, é preciso decidir-se pelo último. Por isso, escreve Ber gamín: "Nenhuma palavra supérflua: aforismo perfeito" O aforismo não é, de acordo com esse autor, breve, mas incomensurável; tem uma potência de expressão inesgotável e, nesse sentido, pode ser também "um -
coto que pede uma continuação", mas não segundo as exigências do pensar e sim segundo as da expressão. Ora, esse aforismo é o puramente literário. O aforismo filosófico tem uma pretensão de verdade, chegando mesmo às vezes a desejar exprimir a verdade de um modo mais conciso e compacto que outras formas de exposição, acusadas de prolixidade. Por conseguinte, poderíamos concluir que o aforismo também é justi ficado na filosofia e que, tal como o mostram as obras de Wittgenstein, não precisa empregar sempre uma linguagem exortativa ou limitar-se a temas de caráter moral. :> Ver: Kurt Besser, Die Problematik der aphoris tischen Form bei Lichtenberg, Fr. Schlegel, Nova/is und Nietzsche, 1 93 5 (ele analisa também o conceito de afo rismo em geral). - Heinz Kruger, Studien über den Aphorismus ais philosophische Form, 1 957. 1 Khan, The Sufi Message of Hazrat Jnayat Khan, vol. II: Phi losophy, Psychology, Mysticism, Aphorism, 1 964. 8. Vickers, Francis Bacon and Renaissance Prose, 1 968. J. Stephens, Francis Bacon and the Style ofScience, 1 975. G. Hess, "Le Tractatus de Wittgenstein: Consi derations sur le systeme numerique et la forme apho ristique", Revue de Theologie et de Philosophie, 1 2 1 (4) ( 1 989), 3 89-406. E . Heller, Nietzsches Scheitern am Werk, 1 99 1 . � -
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AGAPE. Ver AMOR. AGAPISMO. Ver AcAso; CATEGORIA. AGATODICÉIA. De modo similar à teodicéia (VER), o termo 'agatodicéia' pode ser empregado para designar uma disciplina ou, pelo menos, uma série de argumentos e reflexões referentes à justificação do bem (de ÜtKaiów, justificar, e TO àya6óv, o bem ou o bom). Há poucos exemplos de agatodicéias (ao contrário dos numerosos exemplos de teodicéias). O mais claro é o de Vladimir Soloviev (VER), em sua obra Opravdanié dobra ou A justificação do bem ( 1 987). A agatodicéia consiste num esforço para explicar como é possível o bem e que formas ele pode adotar. Ela não afirma necessariamente que exista o bem, ou que os bens predominem sobre os males; pode, a rigor, sustentar exatamente o contrário. Ela procura mostrar, entretanto, que o bem é justificável e, por isso, dese jável. Isto faz da agatodicéia algo diferente do que se poderia chamar de "kakodicéia" (de TO KaKÓV, o mal ou o mau). Embora se pudesse entender 'kakodicéia' como um esforço para justificar o mal e esse é o sentido que teria o tern10 em contraste exato com 'agato dicéia' -, a expressão 'justificação do mal' é entendida antes como explicação do fato de haver males e da "ne cessidade" de que os haja no contexto de uma maior abundância de bens. -
AGATOLOGIA. Deu-se às vezes este nome à doutrina do bem (vER) ou do bom, TO àya6óv, como parte da
AGENTE ética ou da moral (o primeiro, quando se tende a desta car os aspectos teóricos; o segundo, quando se acentuam os aspectos práticos). Se o bem se identifica com a feli cidade, a agatologia pode transformar-se numa eude monologia, isto é, na doutrina que considera o bem do ponto de vista do eudemonismo { VER) . O termo 'agatologia' - assim como 'eudemonolo gia' - foi muito pouco usado, a ponto de nem sequer se poder dizer que se encontra hoje "em desuso" Para tratar do bem, preferem-se expressões como 'teoria do bem' ou 'doutrina do bem' AGENTE. Em português, usa-se amiúde o termo 'su jeito' para referir-se ao chamado "sujeito humano". Este sujeito é especificado às vezes como "o sujeito cog noscente", "o sujeito moral" etc. No verbete Sujeito significados 3) e 4) -, detalhamos parte desses usos. Em certa parcela da literatura filosófica contempo rânea que analisou os conceitos de ação, deliberação, decisão, escolha etc., usou-se com freqüência o termo 'agente' . Esse uso é adequado, porque dois dos signifi cados de 'agente' em português - "Pessoa que execu ta a ação do verbo" e "Pessoa ou coisa que opera e tem poder para produzir um efeito" - foram devidamente levados em conta nos estudos sobre o tema. Ambos os significados dizem respeito a pessoas; o segundo se refere, além disso, a coisas. Os estudos indicados se ocu param, por exemplo, de elucidar se a execução de uma ação é ou não de natureza causal. Os que afirmam a segunda hipótese consideram que os agentes humanos não procedem diferentemente de outros "agentes" Os que defendem a primeira sustentam que o que se diz de um agente e o que se diz que um agente faz ou pode fazer é fundamentalmente diverso do que se diz, ou se pode dizer, que algo pode causar. Assim, os que preco nizam a segunda hipótese aceitam, implícita ou expli citamente, a definição "Pessoa ou coisa que opera etc.", enquanto os que defendem a primeira admitem apenas a definição "Pessoa que executa etc.", ou uma defini ção parecida. As questões relativas à natureza do agente no que se denominou "teoria do agente" giram, pois, em tomo do problema da relação entre, ou da identificação de, "cau sas" e "razões" Os que insistem em causas criticam os que destacam as razões dizendo que seu modo de enten der 'agente' é tautológico por definir, em princípio, 'agen te' tal como se segue: "Aquele que faz, ou pode fazer, algo diferente do modo como algo causa algo". Os que in sistem em razões criticam os que destacam as causas afir mando que seu modo de entender 'agente' é puramente redutivo e que por 'agente' entendem 'agente causal' � Ver: J. Macmurray, The Selfas Agent, vol. I, 1 957. Royal lnstitute of Philosophy, ed., The Human Agent, 1 966. R. Binkley, R. Bronaugh, A. Marras, eds., Agent, Action, and Reason, 1 97 1 . - L. W. Beck, The Actor and -
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the Spectator, 1 975. - E. Polis, Meditation on a Priso ner: Towards Understanding Action and Mind, 1 975. C: AGNOSTICISMO. Th[omas] H[enry] Huxley (vER) usou pela primeira vez o termo 'agnóstico' (Agnostic) em 1 869, com a finalidade de mostrar que tinha, como todo mundo, uma doutrina (a doutrina que chamou de "agnosticismo" [Agnosticism], em seus Collected Essays [tomo V, 1 889]). Literalmente, 'agnóstico' significa "aquele que não sabe" e 'agnosticismo' , a posição de acordo com a qual "não se sabe" ou "não se pretende saber" O significado de 'agnóstico' em Huxley deve ser entendido em contraposição aos que adotam doutri nas segundo as quais é possível saber mais coisas do que as que a ciência permite. Os agnósticos não preten dem ultrapassar os limites impostos pelo conhecimento científico em determinada fase da evolução da ciência. Como os dogmas expressos nas religiões positivas, ou em muitas doutrinas metafisicas, transpõem esses limi tes, acham-se fora de - e para além de - toda possi bilidade de conhecimento. Os agnósticos opõem-se aos "gnósticos", mas os primeiros não defendem nenhuma doutrina, limitando-se a usar um método - o método científico, no qual intervêm a experiência e o raciocínio sobre os dados da experiência - que impede todo pro nunciamento religioso ou metafisico. Assim, um agnós tico não afirma, por exemplo, que Deus não existe, mas que não sabe se Deus existe ou não. No sentido de Huxley, o agnosticismo não se opõe ao saber, mas unicamente à pretensão de saber o que não se sabe. Uma das coisas que não se podem saber é se algo poderá ser oportunamente sabido ou não, já que não é possível prever o estado futuro dos conhe cimentos. Desse ponto de vista, o agnóstico estabelece limites relativos, não absolutos, ao conhecimento. Considerou-se agnóstico, do mesmo modo, um autor como E. Du Bois-Reymond por seu apotegma lgnoramus et ignorabimus (Ignoramo-lo e o ignorare mos). Contudo, o "agnosticismo" de Du Bois-Reymond {VER) , justamente por ser absoluto, é dogmático. Du Bois-Reymond não o entendia dessa maneira, porque o citado apotegma se dirigia não apenas contra o dogma tismo religioso e metafisico como contra o dogmatis mo materialista do tipo de Ernst Haeckel ( vER) . Foi freqüente, no âmbito filosófico, entender o agnos ticismo como a posição que sustenta a incognoscibilidade em princípio de toda suposta realidade transcendente e absoluta, realidade que foi às vezes denominada o "in cognoscível" (vER) . Na medida em que os teístas decla raram possuir um conhecimento de Deus, e na medida em que Deus foi equiparado a uma realidade transcen dente e absoluta, o agnosticismo se opôs ao teísmo (VER) . Pode-se também entender o agnosticismo de dois modos: 1 ) O Absoluto, o transcendente, a realidade em si, o númeno etc. não podem ser conhecidos. 2) Toda
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questão relativa a essas supostas realidades carece de sentido. Os agnósticos no primeiro sentido tendem a rejeitar toda proposição de caráter religioso ou metafi sico, mas alguns deles enfatizam que essa rejeição tem caráter "racional"; de uma maneira não-racional - por exemplo, mediante o sentimento ou mediante a vonta de -, podem admitir-se essas "proposições", as quais, todavia, deixam de ser proposições para transformar-se em crenças que aspiram ao consolo que as realidades "espirituais" podem proporcionar. Cabe perguntar até que ponto esta última tendência é agnóstica. Em con trapartida, parece ser completamente agnóstica a atitu de segundo a qual não é admissível dar nenhuma res posta de qualquer tipo - incluindo "respostas" de caráter "emotivo" - a qualquer pergunta sobre uma realidade transcendente à experiência, porque a própria pergunta deve ser eliminada em virtude de não perten cer a nenhuma linguagem cognoscitiva. De acordo com isso, dizer que algo é incognoscível e que é preciso adotar a esse respeito uma atitude agnóstica pressupõe que poderia haver enunciados acerca de algo incognos cível que tivessem sentido mesmo que nunca pudessem ser verificados ou falseados. Por outro lado, é dificil aplicar o nome "agnosticismo" a essa suposta atitude agnóstica radical, porque o agnóstico afirma simples mente não saber, enquanto aquele que defende a men cionada atitude, ao identificar 'proposição cognoscível' com 'proposição significativa' , tem de concluir que uma proposição incognoscível não pode ter significa ção e que, portanto, é necessário renunciar a saber o que ultrapassa as possibilidades do conhecimento cien tífico, visto como "série de proposições que são (no mínimo) significativas" Em suas origens, o agnosticismo relacionava-se com a renúncia a saber algo de Deus, que se supunha ser o incognoscível por excelência. O agnóstico não era tam pouco teísta (ver TEÍSMO) nem deísta (ver DEÍSMO). Em op. cit. infra, E. Tierno Galván estabeleceu uma distinção entre ateísmo e agnosticismo, enfatizando que, enquanto no primeiro caso há uma vontade de que não exista Deus, no segundo não há; o agnosticismo é, segundo Tierno Galván, o "não sentir a falta de Deus'', o que equivale a não precisar senão "viver na finitude'', ou, se se quiser, "neste mundo" � Ver: Leslie Stephen, An AgnostiC:S Apology, 1 893. - James Ward, Naturalism and Agnosticism, 1 899. R. Flint, Agnosticism, 1 903 [Croall Lecture, 1 887]. R. A. Armstrong, Agnosticism and Theism in 1 9th Cen tury, 1 905. - Georges Michelet, Dieu et l 'agnosticis me contemporain, 1 908. - A. O. J. Cockshut, The Un believers: English Agnostic Thought 1 840-1 890, 1 964. - Enrique Tiemo Galván, t Qué es ser agnóstico ?, 2ª ed., 1 976. - E E. Abbot, The Way Out ofAgnosticism or the Philosophy of Free Religion, 1 979. - B. Light man, The Origins of Agnosticism: Victorian Unbelief
AGOSTINHO (SANTO) and the Limits of Knowledge, 1 987. - J. Marx, ed., Atheisme et Agnosticisme, 1 987. C AGORA. Ver INSTANTE. AGOSTINHO (SANTO) (354-430), nasc. em Tagaste (província romana da Numídia), de pai pagão e mãe cristã (Santa Mónica). Formado no cristianismo, ele não obstante passou longo tempo afastado da crença cristã antes de sua conversão em 386. Em 365, mudou-se para Madaura, na mencionada província, onde estudou gramática e os clássicos latinos. Depois de residir um ano em Tagaste (369-370), dirigiu-se a Cartago, onde estudou retórica e começou a interessar-se por proble mas filosóficos e religiosos, especialmente depois de ler o diálogo perdido Hortensius, de Cícero. Atraiu-o antes de tudo o maniqueísmo (VER) , no qual viu urna so lução para o problema da existência do mal e uma explicação das paixões. Em 3 74, voltou a Tagaste e, pouco depois, de novo a Cartago, onde abriu uma escola de retórica. Em 383, partiu para Roma, onde também abriu uma escola da mesma disciplina. Já antes de sua partida para Roma, manifestara dúvidas acerca do dua lismo maniqueísta, dúvidas que se intensificaram em sua nova residência. Em 3 84, mudou-se para Milão a fim de ensinar retórica. Em Roma e Milão, travou co nhecimento com as doutrinas céticas da Academia pla tônica (VER) . Em Milão manifestou suas primeiras e intensas inclinações pelas crenças cristãs, em parte devido à influência dos sermões de Santo Ambrósio. A leitura de vários textos plotinianos na versão latina de Mário Caio Vitorino, "o Africano", transtornou extrema mente suas convicções pré-cristãs. O neoplatonismo conduziu-o com maior firmeza ao cristianismo. As lei turas dos Evangelhos e de São Paulo o confirmaram em sua nova crença, que se traduziu na conversão citada (Conf, VIII), tendo ele recebido o batismo em 387. Nessa época, teve já início sua intensa atividade de escritor; ele produziu, entre outras obras, os livros Con tra academicos, os Soliloquia e o De inmortalitate ani mae (indicaremos aqui apenas algumas obras; uma lista mais completa delas, com as datas de composição, pode ser encontrada na bibliografia). Agostinho residiu por um breve período em Roma (De libero arbitrio) e, em 388, mudou-se para Cartago, onde viveu até 3 9 1 como membro de uma comunidade monástica (De vera reli gione ). Em 39 1 , foi ordenado sacerdote em Hipona e escreveu uma série de obras contra os maniqueístas, uma contra os donatistas e comentários ao Génesis, a duas Epístolas de São Paulo e vários outros escritos. Em 395, foi eleito bispo auxiliar de Hipona e, em 396, quando da morte do bispo Valério, elegeram-no bispo da referi da cidade. Agostinho deu prosseguimento à sua polêmi ca contra os donatistas, mas também escreveu obras de interesse teológico geral (como De doctrina christiana) e parte das Confissões. Em 400, começou a redigir os
AGOSTINHO (SANTO) livros De Trinitate e, em 40 l , extensos comentários ao Gênesis (distintos do comentário - incompleto - antes mencionado). A partir de 4 1 1 , sustentou polêmicas con tra os pelagianos e, entre 4 1 2 e 426, completou várias de suas mais importantes obras (incluindo De libero arbítrio e De civitate Dei). Até sua morte, continuou a desenvolver intensa atividade literária; faleceu durante o cerco de Hipona pelos vândalos. Os breves dados apresentados propõem-se mostrar que as principais idéias filosóficas (e teológicas) de Santo Agostinho foram geradas no decorrer de uma vida apaixonada e ativa. A maioria dessas idéias surgiu no curso das polêmicas teológicas e tendo em vista o esta belecimento e esclarecimento dos credibilia (ou "coisas que devem ser objeto de fé"). Propriamente falando, no entanto, não há "uma filosofia" de Santo Agostinho separável de sua teologia e até de suas experiências pes soais. Deve-se levar em conta que em Santo Agostinho a reflexão filosófica procede segundo o Credo, ut intel ligam (ver CRENÇA) no sentido formulado, justamente dentro da tradição agostiniana, por Santo Anselmo (VER). Santo Agostinho não crê porque crê, e menos ainda porque o objeto da crença seja absurdo (ver TERTULIANO). Tampouco compreende por compreender, mas crê para comprender (e, poder-se-ia acrescentar, compreende para crer). Por razões óbvias, destacaremos aqui resumi damente apenas os elementos filosóficos do pensamento de Santo Agostinho. Prescindiremos da chamada "evo lução intelectual de Santo Agostinho", sem dúvida im portante, mas impossível de considerar em espaço tão reduzido, e, lastimando bastante, forçaremos o caráter "sistemático" dos pensamentos filosóficos agostinianos. Para completar nossos dados, devem ser levadas em conta as referências a doutrinas agostinianas que figu ram em vários outros verbetes deste Dicionário. Mencio namos, à guisa de exemplo, os seguintes: ARBÍTRIO (LI VRE); C IDADE DE DEus; Ess�Nc1A; ILUMINAÇÃo; M AL; ÜRDEM; TEMPO. Ver igualmente o verbete AGOSTINISMO. Desde suas primeiras perquisições filosóficas, Santo Agostinho procurou não (ou não apenas) uma verdade que satisfizesse sua mente, mas uma que preenchesse seu coração. Só assim ele pôde alcançar a felicidade. Pode-se dizer que Santo Agostinho foi um eudemonista. Mas esse eudemonismo (VER) não consiste em obter algum tipo de bens temporais ou em satisfazer as pai xões. Não consiste sequer num prazer ou contentamento estável, moderado e razoável, à maneira dos epicuris tas. Todas essas são realidades efêmeras, incapazes de apaziguar o homem. A verdadeira felicidade se encon tra unicamente na posse da verdade completa (verdade que deve transcender todas as verdades particulares, pois do contrário não seria, propriamente falando, uma verdade). A Verdade perseguida por Santo Agostinho é a medida (absoluta) de todas as verdades possíveis. Essa Suprema Medida é, e só pode ser, Deus.
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Dessa maneira, a busca agostiniana da Verdade não é apenas contemplativa, mas também eminentemente "ativa"; não implica só conhecimento, mas, como vere mos adiante, fé e amor. A verdade deve ser conhecida não simplesmente para saber o que é "O que É"; ela deve ser conhecida para conseguir o repouso completo e a completa tranqüilidade de que a alma necessita. A posse da Verdade, antes de ser objeto de ciência, o é de sapiência ou sabedoria (vER). E a busca da verdade não é um método, mas um "caminho espiritual", uma pere grinação, um "itinerário" No âmbito desse itinerário, desenvolve-se o que se poderia denominar a "teoria do conhecimento" de Santo Agostinho (sempre que não consideremos a citada ex pressão como designando apenas uma disciplina filosó fica particular). Essa teoria do conhecimento orienta -se para a noção de certeza. Como esta tem de ser absoluta, não basta basear-se nos sentidos. Neste e em outros aspectos, Santo Agostinho se declara um platôni co. Mas, ao contrário de Platão (pelo menos do Platão dualista oferecido pela imagem tradicional), Santo Agos tinho não estabelece nenhuma distinção taxativa entre experiência sensível e saber; deve-se ascender da primei ra ao segundo, para depois justificar pelo segundo a pri meira. Ao examinar os objetos sensíveis, descobrimos que estes possuem propriedades comuns a vários: são os chamados "sensíveis comuns", em cuja percepção há já conhecimento. Como esses "sensíveis comuns" não são diretamente acessíveis aos órgãos dos sentidos, Santo Agostinho supõe a existência de um órgão de percepção deles que não é exterior, mas interior (uma espécie de "sentido íntimo" ou "sentido dos sentidos" que unifica as percepções exteriores). Entretanto, os "sensíveis co muns" não são ainda um conhecimento pleno. Ao sen tido interno unificador se sobrepõe um órgão que pode ser chamado de "razão" ou "intelecção" A importância do sentido íntimo não consiste tão -somente em sua função unificadora. Por meio dele, pode-se mostrar a possibilidade da certeza e, portanto, a necessidade de rejeição do ceticismo. Santo Agostinho tinha muito presentes os argumentos contra a possibi lidade de uma certeza completa formulados pelos céti cos e, em particular, pelos "acadêmicos" (ver ACADE MIA PLATÔNICA). A aceitação desses argumentos impedi ria a obtenção da certeza, bem como a felicidade da alma que ela proporciona. Daí decorre que Santo Agos tinho se esforce para provar que, no âmbito da própria atitude cética, existe a possibilidade de superá-la. Com efeito, si fallor, sum (ver COGITO, ERGO suM ), isto é, o fato de que todos os enunciados que formulo possam ser falsos não elimina que seja certo formulá-los. A falibilidade é prova de que é falível. Mas Santo Agos tinho não se detém aqui. A certeza do próprio errar e do próprio viver são insuficientes. É necessário atingir uma certeza de algo que não seja mutável, da plena
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verdade. E verdade significa para Santo Agostinho, tal como o significou para Platão, o que não muda nem se altera. Só a alma racional pode alcançar a posse de verdades eternas referentes a objetos externos, ou seja, verdadeiramente existentes. Essas verdades constituem um "tesouro interior", encontram-se na alma. Mas não como meros entes de razão ou objetos da imaginação, já que, do contrário, seriam ilusão e engano. A "teoria do conhecimento" de Santo Agostinho representa, com isso, a mescla de dois ingredientes apa rentemente em conflito: por um lado, a afirmação da realidade da alma como ser das verdades; pelo outro, a afirmação da realidade da Verdade suprema como foco e origem dessas verdades. Esses dois ingredientes correspondem, em grande parte, aos dois principais elementos com os quais Santo Agostinho elaborou seu pensamento filosófico: o cristianismo e a filosofia gre ga, ou, mais exatamente, o neoplatonismo. Afirmou-se às vezes que Santo Agostinho foi o primeiro a integrar plenamente esses dois elementos. Isso é certo se não o interpretamos apenas como um processo histórico, mas também filosófico. A integração desses elementos é conseqüência de uma visão da alma como algo a um só tempo íntimo e racional, isto é, como experiência e razão. A doutrina agostiniana da "iluminação (vER) divina" como "iluminação interior" é a formulação dessa integração de duas verdades: a que vem da alma e a que chega à alma proveniente de Deus. É possível falar de uma "fenomenologia do conheci mento" em Santo Agostinho, de um processo que vai da sensação à razão. Mas não se trata nem de uma des crição pura nem de uma dialética do conhecimento, mas do já mencionado "itinerário espiritual" Como conclusão dessa "fenomenologia", temos as duas pro posições seguintes: 1 ) No interior do homem habita a verdade (De vera religione, 72); 2) a verdade é inde pendente da alma e a transcende (De lib. arb., II 1 4). Essas proposições entram em conflito somente quando não se tem presente que a alma se transcende a si mesma na Verdade, isto é, na Vida primeira, na Sabe doria primeira e na Realidade eterna e imutável de Deus. Numa das passagens de Santo Agostinho mais freqüentemente citadas, lê-se que apenas duas coisas lhe interessam: a alma e Deus (Sol. , I 2). A integração de referência, ou, como escreveu Gilson (op. cit. infra, 3' ed., 1 949, p. 23, nota ! ), o ter repensado em termos cristãos o itinerário plotiniano da alma rumo a Deus, também é conseqüência desse interesse. A Verdade, porém, não poderia ser alcançada sem a fé, enquanto fé iluminada. Ao contrário dos "empi ristas", Santo Agostinho pensa que não se pode conhe cer sem a razão. Mas, ao contrário dos "racionalistas", está convencido de não se pode conhecer sem a fé. Esta não é uma fé cega, mas iluminada e iluminadora; a mesma da qual se disse que não seria compreendida
se não se cresse (ver CRENÇA; FÉ). A fé a que se refere Santo Agostinho nada tem de irracional ou de "absur do". Não é tampouco fé em algo particular: nos sentidos, na razão, numa autoridade temporal e efêmera. A fé é iluminadora porque é fé em Deus e em Jesus Cristo portanto, em algo que transcende toda inteligência e toma possível, ao mesmo tempo, a inteligência. Aqui deparamos, no entanto, com algo muito diverso de uma "solução" dada ao "problema" da "relação entre fé e razão". De fato, não se trata de um "problema" em que se procurem harmonizar duas coisas em princípio dis tintas. A fé agostiniana não é uma questão filosófica, mas aquilo dentro do que se tomam inteligíveis as questões filosóficas. Além disso, a fé está ligada não apenas à razão, mas também, e sobretudo, à caridade (ver AMoR) . A fé toma possível o entendimento; só se penetra na verdade pela caridade. A razão deixada a seu próprio arbítrio é cega; a luz que tem, ela a recebe da fé. Por isso, não se pode provar a fé; só se pode provar na fé. A fé é uma crença amante, descobridora de valores, uma crença da qual brota, como uma luz, a inteligência. Considerações similares poderiam ser feitas a pro pósito do "problema de Deus" A existência de Deus não é provada por um raciocínio, mas tampouco é objeto de fé cega. Deus aparece "demonstrado" na mesma estrutura da alma possuidora de fé amante. Mas Deus não é uma idéia puramente imanente na alma. Esta última apreende Deus como verdade necessária e imu tável, mas essa apreensão seria impossível sem Sua existência. É claro que esse Deus não é qualquer Deus, ou qualquer divindade, ou qualquer princípio filosófi co. Trata-se do Deus cristão revelado (Deus ao mesmo tempo pessoal, eterno e incorruptível). Sobretudo in corruptível, que foi como Santo Agostinho o buscou "ideo te, quidquid esses, esse incorruptibilem con fitebar" (Conf, VII 4) -, pois do contrário não seria Verdade suprema, mas algo em última análise transitó rio, por mais duradouro que fosse. Esse Deus infinita mente perfeito possui em si mesmo as rationes das coi sas criadas, à maneira das "idéias divinas", arquétipos segundo os quais as coisas criadas foram formadas. Foi a isso que se deu o nome de "exemplarismo" (vER) agostiniano, de raiz neoplatônica, e que tanta influên cia exerceu na filosofia da Idade Média; mas há notó rias diferenças entre o exemplarismo neoplatônico e o cristão, devido à rejeição por parte deste último da noção de emanação (vER) e à sua admissão da de cria ção (VER) . Embora Santo Agostinho tenha prestado menos atenção ao problema da estrutura do mundo que aos do conhecimento, da felicidade, da alma e de Deus, encon tram-se em suas obras numerosas referências ao modo de criação do cosmos e à estrutura deste. Importante a es�.e respeito é sua insistência no fato de que não há -
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AGOSTINHO (SANTO) uma suposta matéria sem forma, pois Deus criou tudo do nada. Também é importante, ainda que menos in fluente, sua doutrina, ao mesmo tempo neoplatônica e estóica, das rationes seminales, "razões seminais" (VER) ou germes das coisas vindouras. Santo Agostinho deu grande atenção às questões relativas ao mal e à liberdade, ambas, de resto, intima mente relacionadas entre si, assim como ao problema do processo histórico do homem enquanto processo teológico. Como já nos estendemos sobre essas ques tões nos verbetes já citados, limitar-nos-emos a alguns pontos essenciais. Santo Agostinho não pode admitir que Deus seja o autor do mal. Por outro lado, não pode admitir que haja algum poder capaz de solapar o poder de Deus. Sua luta contra os maniqueístas, depois de ele ter lutado contra o maniqueísmo em sua alma, leva-o, além disso, a excluir por completo toda realidade que não dependa de Deus. Mas, uma vez que o mal existe, este deve ser explicado de modo que nem tenha origem divina nem tampouco origem em algum poder capaz de opor sua própria rea lidade à de Deus. Simplificando, diremos que Santo Agostinho considera que o mal se origina no afastamen to de Deus, que é ao mesmo tempo o afastamento do ser e da realidade. O mal não é uma substância, mas uma privação, ou, se se quiser, um movimento (o movimento rumo ao não-ser). Por desfrutar livre-arbítrio, a vontade humana pode escolher o mal, isto é, pecar. Com isso, ela faz um mau uso do livre-arbítrio (vER). Pelo pecado ori ginal, ademais, o homem se colocou em tal situação que para salvar-se necessita da graça (VER). A salvação do homem não é, pois, algo que se ache inteiramente nas mãos do homem. Mas, ao mesmo tempo, não se pode dizer que o homem se encontre salvo ou condenado, faça o que fizer. O homem é livre, mas é livre para fazer livremente o que Deus sabe que fará livremente. Desse modo, podem harmonizar-se várias coisas que pareciam incompatíveis: o absoluto ser e poder de Deus, e a existência do mal; esse absoluto ser e poder, e o livre -arbítrio humano; a graça e a predestinação. É desne cessário dizer que essas questões, extremamente difíceis, foram abundantemente discutidas, podendo encontrar -se em textos de Santo Agostinho material para diver sas opiniões, como o provam os debates teológicos e filosóficos dos séculos XVI e XVII. Não obstante, oca sionalmente Santo Agostinho cede na importância con cedida ao ser, poder e amor infinitos de Deus, e, a um só tempo, na afirmação da posse, pelo homem, de livre -arbítrio. O que ocorre é que esse livre-arbítrio é impo tente para escolher o bem sem o auxílio da graça, de maneira que, em última análise, todo bem vem de Deus. As noções anteriores - livre-arbítrio, mal, pecado, salvação, condenação - e outras com elas relaciona das - redenção, justiça etc. - constituem os elementos
principais com os quais Santo Agostinho desenvolveu sua filosofia da história, que é simultaneamente uma teologia da história e uma teodicéia. Para Santo Agosti nho, a história não é a descrição de certos aconteci mentos políticos, mas o modo como todos os acon tecimentos políticos - as "histórias dos Impérios" se organizam em torno do processo teológico. A idéia da Cidade de Deus (VER) é aqui fundamental; o signifi cado dessa expressão, as principais interpretações que se deram a ela e a forma pela qual foi usada por Santo Agostinho são discutidos no verbete correspondente. :> O primeiro escrito de Santo Agostinho, De pulchro et apto, redigido durante seu período maniqueísta, se perdeu. O plano de redação de uma enciclopédia sobre todas as artes liberais ficou sem execução; os Princi pia dialectices, que, segundo se afirmou, pertencem a tal obra de conjunto, não podem ser atribuídos a Santo Agostinho (ou, em todo caso, sua autoria é ainda discu tida). A parte da enciclopédia sobre a música, contudo, foi concluída por Santo Agostinho em Tagaste, pouco depois de 388. A seguir, oferecemos uma lista de obras de Santo Agostinho que constitui uma seleção das men cionadas, com data ou datas de composição, por M. F. Sciacca no folheto bibliográfico citado infra, lista por sua vez extraída de S. Zarb, "Chronologia operum S. Augustini'', Angelicum, X ( 1 933), XI ( 1 934), ed. à parte, 1 934: Contra Academicos, 386. De beata vita, 386. - De ordine, 386. - Soli/oquia, 3 86/387. - De inmortalitate animae, 387. - De animae quantitate, 387/388. - De moribus Ecclesiae Catholicae et de moribus Manichaeorum, 387/3 89. - De Genesi contra Manichaeos, 388/3 89. - De libero arbitrio, 388/395. De vera religione, 39 1 . - De utilitate credendi, 392. - De duabus animabus, 392/393. - De Genesi ad litteram imperfectus liber, 393/426. - De mendacio, ca. 395. Quaestiones Evangeliorum, 393/399. Contra partem Donati, 396. - De doctrina christiana, 396/397. - Contra Faustum Manichaeum, 397/398. - Confessiones, 397140 1 . - Contra Felicem Mani chaeum, 398. - De Trinitate, 399140 1 . De jide rerum quae non videntur, ca. 399. - De sancta virgi nitate, 40 1 . - De Genesi ad litteram, 40 1 /4 1 4. Contra Donatistam nescio quem, 406/408. - De pec catorum meritis et remissione, 4 1 1 . - De spiritu et /ittera, 4 1 2. - Dejide et operibus, 4 1 3 . - De videndo Deo, 4 1 3 . - Commonitorium ad Fortunatianum, 4 1 3 . - De natura et grafia, 4 1 3 . - De civitate Dei, 4 1 3/ 426. - Tractatus CXXIV in Ioannem, 4 1 614 1 7. - De correctione Donatistarum, 4 1 7. De grafia Christi et de peccato origina/i, 4 1 7. - Enarrationes XX-XII in Psa/mum CXVIII, 4 1 8. - Contra sermonem Arianorum, 4 1 9. - Quaestiones in Heptateuchum, 420. - De ani ma et eius origine, 420/42 1 . - Contra mendacium, 422. - Contra duas epistolas Pelagianorum, 422/423 . -
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AGOSTINHO (SANTO)
- Contra lulianum, 423 . - Enchiridion ad Lauren tium, 4231424. - De cura pro mortis gerenda, 424/ 425. - De grafia et libero arbitrio, 426. - Retractatio nes, 4261427. - Contra Maximinum, 428. - De prae destinatione Sanctorum, 429. - De dono perseveran tiae, 429. - Tractatus adversus ludaeos, 4291430. Contra secundum luliani responsionem opus imperfec tum, 4291430. Entre as edições de obras de Santo Agostinho, mencioneremos: J. Amerbach (Basiléia, 1 506); Erasmo (Basiléia, 1 528- 1 529); a dos teólogos de Louvain, sob a direção de Th. Cozee e J. van der Meulen (Amberes, 1 5 7 1 ); a dos Beneditinos da Congregação de São Mauro, com introduções, sumários e índices (Paris, 1 1 vols., 1 679- 1 700), considerada a primeira edição importan te e reproduzida em Migne, PL, XXXII-XLVII ( 1 8441 866); a chamada "edição Vives", com texto latino, trad. francesa e as notas da edição dos Beneditinos da Congregação de São Mauro (Paris, 33 vols., 1 869- 1 878); a edição crítica no Corpus scriptorum ecc/esiasticorum latinorum (Viena, 1 898 ss.), ainda incompleta; a edição do Mosteiro do Escorial, ed. V. Capánaga, A. Custodio Vega et ai. , com texto latino e trad. esp. (Madri, 1 8 vols., 1 946- 1 959); a edição da "Bibliotheque augus tinienne", ed. G. Combes, R. Jolivet, L. Labriolle, et ai. (Paris-Bruges, 1 936 ss.), ainda incompleta. Index Verborum de De Civitate Dei, por M . Maguire, B. H. Skahill e F. O'Connell, segundo a edi ção de Dombart-Kalb [em preparação] . - Outro Index de Confessiones, por P. C. Hrdlicka, segundo o texto da edição de L. Labriolle, encontra-se em forma de fichário na Universidade Católica de Washington. Em português: A Cidade de Deus, 2 vols., 1 989. - Comentário aos Salmos ( 1 O 1 - 1 50), 1 998. - Comen tário aos Salmos, vol. 1 , s.d. - Comentário aos Salmos, vol. 2, 1 997. - Comentário da Primeira Epístola de São João, 1 989. - Confissões, 1 997. O cuidado de vido aos mortos, 1 990. - Diálogo sobre a felicidade, 1 998. - A graça, 1 999. - O livre-arbítrio, 1 998. O mestre, 1 995. - O sermão da montanha, 1 992. Sobre a potencia/idade da alma, 1 997. - Solilóquios e a vidafeliz, 1 998. - A Trindade, 1 994. - A verdadei ra religião, 1 987. - Vida, 1 997. Bibliografia: E. Nebreda, Bibliographia augusti niana, 1 928; reimp., 1 962. - M. F. Sciacca, Augustinus, 1 948 [Bibliographische Einführungen in das Studium der Philosophie, 1 0, ed. 1. M. Bochenski]. - Bibliogra fia de obras de S. A. sobre S. A. na "Introducción ge neral a las obras de S. A.", publicadas pela Biblioteca de Autores Cristianos, tomo 1 ( 1 946), pp. 1 -327 (2ª ed., ampliada, 1 950). - Tarsicius van Bavel e F. van der Zande, Répertoire bibliographique de Saint Augustin 1950-1960, 1 963 . - T. L. Miethe, Augustinian Biblio graphy, 1970-1980: With Essays on the Fundamentais -
of Augustinian Scholarship, 1 982. F. D. Donnelly, M. A. Sherman, Augustine s "De Civitate Dei ": An Anno tated Bibliography of Modern Criticism, 1 960-1990, 1 99 1 . - A bibliografia agostiniana deve ser completada com as referências bibliográficas em publicações perió dicas total ou parcialmente dedicadas ao estudo de Santo Agostinho e do agostinismo. Citamos a esse respeito Au gustinus (Madri) e o Bulletin augustinien, da Revue des Études augustiniennes (Paris). Sobre Santo Agostinho e diversos aspectos de sua vida e de seu pensamento, ver: David Lenfant, Con cordantiae Augustinianae sive col/ectio omnium senten tiarum quae sparsim reperiuntur in omnibus S. Augustini operibus, 1 656- 1 665; reimp. em 2 vols., 1 963. - Jean Félix Nourrisson, La phi/osophie de S. A., 2 vols., 1 865. - Jules Martin, S. A., 1 90 1 ; 2ª ed., 1 923. - E. Portalié, "Saint Augustin'', em Dictionnaire de Théo/ogie Catho lique, ed. Vacant-Mangenot, 1 ( 1 902), cols. 2268-2472. - Ch. Boyer, Christianisme et néo-p/atonisme dans la formation de S. A., 1 920. - !d. , L'idée de vérité dans la phi/osophie de S. A., 1 920. - ld. , Essais sur la doc trine de S. A . , 1 932. - Étienne Gilson, lntroduction à / 'étude de S. A . , 1 929; 2ª ed., 1 943; 3ª ed., 1 949. Jacques Maritain, "De la sagesse augustinienne", em Mélanges augustiniens, 1 93 1 , pp. 385-4 1 1 . - J. Hessen, Augustinus Metaphysik der Erkenntnis, 1 93 1 ; 2ª ed., 1 960. - Fulbert Cayré, Les sources de / 'amour divin. La divine présence d 'apres S. A., 1 933. - R. Jolivet, S. A. et /e néoplatonisme chrétien, 1 932. - !d. , Dieu, Solei/ des esprits, 1 934. ld. , Le probléme du mal d 'aprés S. A . , 1 936. - Erich Przywara, A., Die Gestalt ais Gefiige, 1 934. - H. Marrou, S. A. et la fin de la culture antique, 1 938. - !d. , S. A. et / 'augustinisme, 1 955. - Gustave Bardy, S. A., / 'homme et l 'oeuvre, 1 940; 6ª ed., 1 946. - F. J. A. Belgodere, S. A. y su obra, 1 945. - P. Muiioz Vega, lntroducción a la síntesis de S. A., 1 945. - Amato Masnovo, S. Agostino, 1, 1 946. - B. Switalski, Neoplatonism and the Ethics of S. A., 1 946. - J. Burger, S. A., 1 948. - J. M. Le Blond, Les conversions de S. A., 1 948. - Th. Philipps, Das Weltbild des hei/igen A., 1 949. - M. F. Sciacca, S. A. 1: La vita e / 'opera. L'itinerario de/la mente, 1 949. - Félix García, S. A., 1 95 3 . - V. Capánaga, S. A., 1 954. - J. Chaix-Ruy, S. A., Temps et Histoire, 1 956. - G. Vaca, La vida religiosa en S. A., 2 vols., 1 956. - Mary T. Clark, R. S. C. J., A Phi/osopher of Freedom: A Study in Comparative Phi/osophy, 1 959. Paul Henry, S. J., S. A. on Personality, 1 960. - A. Muiioz Alonso, Presencia intelectual de S. A., 1 96 1 . - Ragnar Holte, Béatitude et Sagesse. Saint Augustin et /e probléme de la fin de / 'homme dans la phi/osophie ancienne, 1 962. - R. Berlinger, Augustinus dialogische Metaphysik, 1 962. - Wilhelm Hoffinann, Augustinus. Das Problem seiner Daseinsaus/egung, 1 963. - Vemon -
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AGOSTINISMO J. Bourke, Augustine s View ofReality, 1 963 . James F. Anderson, S. A. and Being: A Methaphysical Essay, 1 965. - John Callahan, A. and the Greek Philosophers, 1 967. - Robert J. O'Connell, S. Augustine s Early Theo ry of Man, A. D. 386-391, 1 968. - ld. , S. Augustine s Confessions: The Odyssey of Sou!, 1 969. - Alfred Schõpf, Augustinus, 1 970. O. O'Donovan, The Pro blem ofSelf-Love in St. Augustine, 1 980. - J. O'Meara, The Young Augustine, 1 980. - G. R. Evans, Augustine on Evil, 1 982. V. J. Bourke, Wisdomfrom St. Augus tine, 1 984. - N. Blázquez, lntroducción a la filosofia de San Augustín, 1 984. J. Pelikan, The Mistery of Continuity: Time and History, Memory and Eternity in the Thought of Saint Augustine, 1 986. L. Hols cher, The Reality ofthe Mind: St. Augustine s Philoso phical Arguments for the Human Sou/ as a Spiritual Substance, 1 987. R. C. La Croix, Augustine on Mu sic, 1 988. - H. A. Meynell, ed., Grace, Politics and Desire: Essays On Augustine, l 990. C. Starnes, Au gustine s Conversion: A Guide to the Argument of Con fessions 1-lX, 1 990. J. Wetzel, Augustine and the Limits of Virtue, 1 992. Entre as publicações que apareceram por ocasião do décimo quinto centenário de S. A., figuram Mélanges augustiniens (Paris, 1 930); Miscel/anea agostiniana, 2 vols. (Roma, 1 930- 1 94 1 ); Religión y Cultura (Madri, 1 93 1 ); Aurelius Augustinus (Colônia, 1 930). Obras: Moral order and Progress: An Analysis of Ethical Conceptions, 1 889. - Loclce, 1 908. - Space, Time, and Deity, 2 vols., 1 920 [Gifford Lectures, 1 9 1 6- 1 9 1 8]. Reimp., 1 927, com um importante "Preface to New Impression"; nova reimp., 1 966, com prefácio de Dorothy Emmet. - Spinoza and Time, 1 92 1 . - Art and lnstinct, 1 927. - Beauty and other Forms ofValue, 1 933. - Philosophical and Literary Pieces, 1 939 (ed. J. Laird). Ver: A. F. Liddell, Alexander s' Space, Time and Deity, 1 925. - Ph. Devaux, Le systéme d 'Alexander. Exposé critique d 'une théorie néo-realiste du change ment, 1 929. - G. van Hall, The Theory ofKnowledge H. Lundholm, The of S. Alexander, 1 936 (tese). Aesthetic Sentiment: A Criticism and an Original Ex-
cursion, 1 94 1 . - M . R. Konvitz, On the Nature of J W. Value: The Philosophy ofS. Alexander, 1 945. McCarthy, The Naturalism of S. Alexander, 1 948. A. P. Stiemotte, God and Space-Time: Deity in the Phi losophy of S. Alexander, 1 954. - Bertram D. Bretts chneider, The Philosophy of S. Alexander: /dealism in "Space, Time, and Deity ", 1 964. - D. Browning, ed., Philosophers of Process, 1 965. - M. A. Weins tein, Unity and Variety in the Philosophy of Samuel A lexander, 1 984. Várias obras de Alexandre foram editadas desde o século XV (Venetiis, 1 495- 1 498, em edição de obras de Aristóteles; ibid. , 1 534, em edição de obras de Temístio). Entre várias edições modernas, figuram: De fato ad imperatores, na trad. de Guillermo de Moerbeke, 1 963, ed. Pierre Thillet. - De mixtione, com trad. e notas, no volume A. of A. on Stoic Physics, 1 976, ed. Robert 8. Todd. - A. P. Fotinis, The De Anima ofAle xander ofAphrodisias: A Translation and Commentary, 1 98 1 . - J. Sarnes et ai. , trads. A. ofA . : On Aristotle 's "Prior Analytics " 1: 1 - 7, 1 99 1 . A edição de Alexandre até agora completa é a que figura na série dos Commentaria in Aristotelem Graeca (ver a bibliografia de ARISTOTELISMO) . - Cf. também P. Wilpert, "Reste verlorener Aristoteles-Schriften bei A. von A.", Hermes, 85 ( 1 940), 369-396. Ver: G. Volait, Die Stellung des Alexander von Aphrodisias zur aristotelischen Schlusslehre, 1 907. Paul Moraux, A. d 'Afrodisie, exégete de la poétique d 'Aristote, 1 942. - Jd. , Der Aristotelismus bei den Grie chen, von Andronikos bis Alexander von Aphrodisias, 3 vols., 1 973 ss. - Giancarlo Movia, Alesandro di Afro disia, tra naturalismo e misticismo, 1 970. - R. W Sharples, A. of A. on Fate, 1 983. Entre os numerosos artigos sobre Alexandre de Afrodisia, destacamos os de J. Freudenthal ( 1 885), Th. H. Martin ( 1 879), O. Apelt ( 1 886, 1 894, 1 906), I. Bruns ( 1 889, 1 890), C. Ruelle ( 1 892), H. von Arnim ( 1 900); K. Radermacher ( 1 900), A. Brinkmann ( 1 902), E. Thou verez ( 1 902), H. Diels ( 1 905), K. Praechter ( 1 906, 1 907), W Capelle ( 1 9 1 1 ) . - Artigo de A. Gercke sobre Alexandre (Alexander, 94, von Aphrodisias) em Pauly -Wissowa. Sobre a influência de Alexandre de Afrodísia: G. Théry, O. P., Autour du Décret de 1210 (II. A. d 'Aphrodi sie, aperçu sur l 'influence de sa noétique), 1 926. C: ALEXANDRE DE AIGAI. Ver P E RIPAT Éncos. ALEXANDRE DE RALES (ca. 1 1 85- 1 245), denomi nado o doctor irrefragabilis, nasceu em Hales Owen (Shropshire) e lecionou durante longo tempo (de 1 2 2 1 a 1 229 e d e 1 23 1 provavelmente até sua morte) n a Uni versidade de Paris, onde teve como discípulo São Boa ventura. Em 1 236, ingressou na ordem dos Francisca nos. Em seus comentários às Sentenças de Pedro Lom bardo, Alexandre de Hales incorporou grande quanti dade de autores: Santo Agostinho, o Pseudo-Dionísio, Boécio, São João Damasceno, Santo Anselmo, São Ber nardo, Alain de Lille, Gilberto de la Porrée, Ricardo de São Vítor e outros. Ora, suas fontes não se limitaram ao agostinismo e ao platonismo ou ao neoplatonismo;
ALEXANDRE DE RALES nosso autor foi um dos primeiros a ter à sua disposição quase todos os escritos de Aristóteles. Pode-se dizer, portanto, que Alexandre de Hales foi um dos grandes compiladores e sistematizadores da Idade Média e que sua forma de abordar os problemas teológicos consti tuiu um claro precedente da quaestio escolástica e um esquema das posteriores Sumas, com a formulação do problema, a indicação de objeções, a solução e a justi ficação destas. Não se trata de uma conciliação de dou trinas aristotélicas com doutrinas platônico-agostinia nas, mas de um desejo de utilizar todas as orientações filosóficas possíveis admitidas pela ortodoxia para a constituição de uma ampla e sólida teologia. Entre as doutrinas mais importantes aceitas por Alexandre de Hales dotadas de alcance ao mesmo tempo teológico e filosófico, figuram a teoria da composição hilomórfica de todas as criaturas, a teoria criacionista da alma e a posição fundamentalmente realista na questão dos uni versais. Atribui-se a Alexandre de Hales a extensa Sum ma theologiae também denominada Summa fratris Ale xandri; mas, embora essa obra contenha doutrinas do autor, provavelmente procedentes dos ensinamentos de seus últimos anos, trata-se de uma compilação que tal vez tenha sido iniciada pelo discípulo de Alexandre, João de la Rochelle, e a que deram prosseguimento ou tros autores franciscanos. :> A Summa [Summa universae thelogiae] foi publi cada pela primeira vez no século XV (Venetiis, 1 475). Ed. crítica pelos Padres do Colégio de São Boaventura (Ad Claras Aquas, Quaracchi) na Bibliotheca Francis cana Scholasticae Medii A evi: Alexandri de Hales, O. F. M., Summa theologica, 4 vols. : !, 1 924; II, 1 928; III, 1 930; IV, 1 948. - Edição crítica dos comentários a Pedro Lombardo na citada Bibliotheca: Glossa in qua tuor Libras Setentiarum Petri Lombardi: I (ln librum primum) , 1 95 1 ; II (ln librum secundum), 1 952; III (ln librum tertium), 1 954; IV (ln librum quartum), 1 957. - Ed. na mesma Bibliotheca, 1 9-2 1 : Quaestiones dis putatae "antequam essetfrater ", 3 vols., 1 860: 1: Quae stiones, 1 -3 3 ; II: /d., 34-59: III: /d., 60-68. - G. E. Mohan, "A Manuscript ofAlexander of Hales", Francis can Studies, 5 ( 1 945), 4 1 5-4 1 7. Bibliografia e problemas bibliográficos: I. Herscher, "A Bibliography of A. of Hales", Franciscan Studies, 5 ( 1 945), 435-454. - V. Kempf, "Problemas bibliográ ficos en torno das obras de A. de Hales", Revista Ecle siástica Brasileira, 6 ( 1 946), 92- 1 05 . - V. Doucet, "A New Source of the ' Summa Fratris Alexandri "', Fran ciscan Studies, 6 ( 1 946), 403-4 1 7 . - /d., id. , "The History of the Problem of the Authenticity of the ' Sum ma "', ibid., 7 ( 1 94 7), 26-4 1 . Ver: F. Picavet, Abélard et A . de Hales, créateurs de la méthode scholastique, 1 896. - K. Heim, Das Wesen der Gnade und ihr Verhiilnis zu den natürlichen Funk-
ALEXANDRE DE LICÓPOLIS tionen des Menschen bei A. Hales, 1 907. - J. Fuchs, Die Proprietiiten des Seins beiA. von Hales, 1 930 (tese). - Ph. Boehner, O. F. M., "The System of Metaphysics of A. of Hales", Franciscan Studies, 5 ( 1 945), 366-4 14. - E. Bettoni, II problema della conoscibilità di Dia nella scuola francescana, 1 950 (sobre A. de Hales, S. Boaventura, Duns Scot). - W. H. Principe, "The Doctri nes of William of Auxerre, Alexander of Hales, Hugh of Saint-Cher and Philip the Chancellor'', Mediaeval Stu dies, 24 ( 1 962), 392-394. - E. Gossmann, Metaphysik und Heilsgeschichte: eine Theologische Untersuchung der "Summa Halensis ", 1 964. - Meldon C. Wass, The Infinite God and the Summa Fratris Alexandri, 1 964. I. Brady, "The Distinctions of Lombard's Book of Sen tences and Alexander of Hales", Franciscan Studies, 25 ( 1 965), 90- 1 1 6. - Walter H. Principe, Alexander ofHa les ' Theology ofthe Hypostatic Union, 1 967 (vol. 2 de The Theology ofthe Hypostatic Union in the Early Thirteenth Century). Ver: Clemens Baeumker, Contra Amaurianos. Ein anonymer wahrsscheinlich dem Garnerius von Roche fort zugehoriger Traktat gegen die Amalrikaner aus dem Anjàng des viii Jahrhunderts, 1 926. - C. Capelle, Autour du décret de 1210: III. Amaw)I de Bene, étude sur son panthéismeformel, 1 932. - M. Th. d'Alverny, "Un fragment du proces des Amauriciens", Archives d 'histoire doctrinale et littéraire du moyen âge, 25-26 ( 1 950- 1 95 1 ), 325-336. - Mario dal Pra, Ama/rico di Bene, 1 95 1 . - K. Albert, A. v. B. und der mal. Pantheis mus, em A. Zimmermann, ed., Die Auseinandersetzun gen an der Pariser Universitiit im XIII. Jh. , 1 976. C AMANUAL. Ver HEIDEGGER, MARTIN. AMBIGÜIDADE. Ver SOFISMA; V AGUIDADE; AMBiGuo. AMBÍGUO. O conceito de vaguidade (vER) está estreita mente relacionado ao do ambíguo. Em princípio, não há
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diferença entre ambos os conceitos, podendo-se dizer igualmente que uma idéia é vaga ou ambígua ou que uma proposição (ou a significação de uma proposição) é vaga ou ambígua. Nos dois casos, há, falando em termos fi gurados, "falta de definição" (que é falta de limites pre cisos) - o vago ou ambíguo não é necessariamente o que está "desfocado"; é o que é "difuso" (foco difuso ou "suave" ou "brando"). O contrário do ambíguo ou vago é, neste caso, o nítido ou o "bem definido" Considerou-se que se deve evitar (em filosofia) a vaguidade. Se assim é, é preciso evitar também os con ceitos ambíguos ou as proposições com significação ambígua. No entanto, foi-se reconhecendo crescente mente que o vago ou ambíguo pode ser inevitável e até desejável. Isso pode ocorrer de dois modos: ou afirman do-se que um conceito é constitutivamente vago ou ambíguo e que é necessário aceitar esse fato suposta mente deplorável, ou enfatizando-se que o caráter vago ou ambíguo do conceito é preferivel a seu caráter claro, visto que aquilo que o conceito denota é tão vago e am bíguo quanto o conceito. No último sentido, Wittgens tein reconhecia que alguns conceitos não têm "arestas claras" ou "bem definidas" ou "agudas" Como o tern10 "vago" costuma ter um sentido pejo rativo, escolhemos o termo "ambíguo" para caracterizar idéias, conceitos, noções, significados etc. em que a falta de nitidez e de "definição" não é rejeitada como pre judicial, mas admitida como suscetível de tratamento lógico. Falou-se a esse respeito de uma "lógica da va guidade" (Saul Kripke, "Naming and Necessity'', em Semantics o/Natural Language, 1 972, ed. G. Herman e D. Davidson); seguindo a terminologia proposta, deno minamo-la "lógica do ambíguo" Um passo importante no desenvolvimento dessa lógica é constituído pelo tra balho de L. A. Zadeh, "Fuzzy Sets", 1njormation and Contrai, 8 ( 1 965), 3 3 8-353. Como indica David H. Sanford ("Borderline Logic", American Philosophical Quarterly, 12 ( 1 975], 29-39). Nesse tipo de lógica se consideram casos em que os valores de determinadas variáveis se distribuem em pontos intermediários entre valores definidos. Ao contrário da polivalência, a "am bigüidade" não consiste na existência de um número de valores tais que formam um contínuo discreto finito ou infinito. É certo que, no âmbito de um contínuo discreto, atribuem-se valores máximos ( 1 ) e mínimos (O) aos ex tremos do contínuo. Mas pode-se adscrever um predi cado, P (num exemplo de Sanford, "é baixo"), a x e a y sempre que se considere que um suposto "máximo" 1 é maior que x é P (x é baixo), que x é P é maior que y é P (y é mais baixo que x) e que y é P é maior que o "mínimo" O. Dessa maneira, ocorrem casos "fronteiriços" de P. Como não se pode aplicar a uma lógica do ambí guo o princípio de bivalência (VER) , formula-se a questão
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AMBRÓSIO (SANTO)
de saber se lógicas como as de B. C. van Fraassen, nas quais há ocos de valores de verdade, não serão exemplos de lógicas do ambíguo. Se assim for, uma lógica do ambíguo será uma das lógicas desviadas (ver DESVIAÇÃO, DESVIADO). Contudo, na medida em que uma lógica do ambíguo ou "lógica do inexato" pode ser suplementar tanto à lógica clássica como às lógicas desviadas, o ca ráter plenamente "desviado" da lógica do ambíguo se mostra problemático. Usamos as expressões "lógica do ambíguo'', "lógica do vago'', "lógica do inexato" Não se trata, com efeito, de que a lógica seja ambígua, vaga ou inexata; tal como o indicou Alfredo Deaiio ("La lógica formal hoy", Revis ta de Decidente, Terceira época, nº 7, maio 1 976, p. 93), "o vago não é a teoria, mas o objeto que esta estuda. De outro modo, seria como explicar gaguejando uma teoria sobre as causas da gagueira" O mesmo autor usa a expressão "lógica dos enunciados vagos" como versão de fi1zzy logic. Se ocasionalmente se emprega "ambí guo" (ou "vago" ou "inexato") como adjetivo que suce de a "lógica'', deve-se tomar isso, pois, como uma abre viatura cômoda - é o que ocorre com a expressão in glesa citada fuzzy logic. Assim, a lógica fuzzy é um cálculo lógico que pretende dar conta, com a maior precisão possível, do modo de raciocinar humano que é, simplesmente, im preciso, flexível, analógico. Não se trata, porém, de eliminar os predicados precisos ou nítidos (crisp), tam bém usados pelos seres humanos; trata-se tão-somente de inverter a formulação da lógica clássica e de afir mar que a precisão só é o limite da vaguidade. É, pois, um cálculo lógico que engloba o cálculo clássico, mas se distancia notavelmente de suas formulações. Ao aban donar o raciocínio rigido ("ou isto ou aquilo") e for mular o raciocínio aproximado ("isto em grau x", "aqui lo em grau y"), a lógica fuzzy perde a independência que fora característica básica da matemática desde a época platônica. Porque agora os cálculos (como os ra ciocínios humanos) dependem muito do contexto e, segundo ele, devem ir variando suas conclusões (isto é, perdem "monotonia"). No amplo e complexo campo da inteligência arti ficial (vER), a lógica fuzzy é a que conseguiu até agora resultados mais espetaculares: a partir dos anos seten ta, nas aplicações que dela se fizeram, por exemplo, com os chamados "sistemas especializados" - em campos tão díspares quanto os diagnósticos clínicos ou a degustação de vinhos -, que simulam precisamente o comportamento inteligente humano em situações que requerem informação, mas também capacidade de adap tá-la de forma flexível; na década de 1 980 - particular mente graças à indústria japonesa -, a lógica fuzzy entrou também no processo industrial e iniciou a comer cialização de múltiplos aparelhos de uso doméstico. ••
:> Ver: Além dos trabalhos citados no texto: E. Trilias, Subconjuntos borrosos, 1 980. - E. Trilias, J. Gutiérrez Ríos, eds., Aplicaciones de la lógica borrosa, 1 992. E. Trilias, ed., Fundamentos e Jntroducción a la Jnge niería Fuzzy, 1 993. - !d. , comp., Razonar como la gente: la lógica borrosa, 1 993 [Arbor, set.-out., 1 993). - D. McNeill, P. Freiberger, Fuzzy Logic, 1 993. - E. Trilias, C. Alsina, J. M. Terricabras, Jntroducción a la lógica borrosa, 1 994. Pode-se encontrar uma útil compilação bibliográfica no final do art. de M. Delgado, J. L. Verdegay e M. A. Vi la, "Breve historia de la lógicafazzy", em E. Trilias, comp., Razonar como la gente.. , cit. supra, pp. 3 1 -34. Entre os escritos de Santo Ambrósio, destacam-se o Exaemeron, o De officiis ministrorum, De fide, De bano mortis, De fi1ga saeculi. Obras em Migne, PL, XIV-XVII, e no Corpus Christ, XXXII, XLIV.
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AMEAUX, PIERRE
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As analogias da experiência são especialmente im portantes na doutrina kantiana dos princípios do entendi mento, visto que seu exame equivale a um exame das noções de substância, causalidade e reciprocidade, e a uma fundamentação da justificação do emprego das no ções de "substância" e "causa" contra o "ceticismo" de Hume. Há três analogias. A primeira afirma: "Em toda mudança de aparências [fenômenos], a substância é per manente; sua quantidade na Natureza não aumenta nem diminui" (KrV, B 224) ou "Todas as aparências contêm a (substância) permanente como o próprio objeto, e o mu tável como sua mera determinação, isto é, como o modo de existência do objeto" (KrV, A 1 82). A segunda decla ra: "Todas as mudanças ocorrem em conformidade com a lei de conexão de causa e efeito" (B 232) ou "Tudo o que acontece, isto é, chega a ser, pressupõe algo a que se segue, de acordo com uma regra" (A 1 89). A terceira reza: "Todas as substâncias, na medida em que se pode perceber que coexistem no espaço, se encontram em es tado de completa reciprocidade" (B 256) ou "Todas as substâncias, na medida em que coexistem, encontram-se em completa reciprocidade mútua, isto é, em interação mútua" (A 2 1 1 ). Trata-se, assim, de três "princípios": o princípio de permanência da substância, o de sucessão no tempo segundo lei causal e o de coexistência (simultaneidade) de acordo com a lei de reciprocidade ou comunidade (de ação). Observou-se que há certa correspondência entre esses três princípios e as três leis fundamentais da me cânica newtoniana. Seu conteúdo parece, em todo caso, muito semelhante, mas deve-se levar em conta que, en quanto em Newton se trata de leis tisicas, em Kant tra ta-se de princípios transcendentais, ou princípios a priori do entendimento. :> Quase todas as obras de Kant, e os comentários á Crítica da razão pura, a que nos referimos na biblio grafia do verbete KANT, lMMANUEL, tratam das analo gias da experiência. Uma obra especialmente dedica da a elas é: Arthur Melnick, Kant s A nalogies of Ex perience, 1 97 3 . O estudo de Melnick enquadra-se na análise de toda a "Estética transcendental" e da "Ana l ítica transcendental" e
ANAMNESE. Ver PLATÃO; REMINISCÊNCIA. ANANCÁSTICO. Ver WRIGHT, GEORG HENRIK voN. ANAPODÍTICOS. Ver lNDEMONSTRÁVEIS. ANARQUISMO. O sentido originário de ãvapxos (anarchos) é "sem chefe"· "anarquia" é o estado de uma comunidade que não tem condutor ou cabeça, ãpxwv, que carece de comando ou de princípio, àp)(IÍ. Isso não quer dizer necessariamente estar num estado de caos, mas significa de qualquer modo encontrar-se num estado de completa flexibilidade. Para alguns autores, a anarquia era a ausência de todo comando e de toda
ANARQUISMO
lei; para outros, a ausência de um chefe. A democracia podia ser caracterizada como anarquia num sentido ne gativo ou positivo. Negativamente, como expressão da ausência de toda lei e ordem; positivamente, como ex pressão da ausência de um ditador, por serem a lei e a ordem de todos, e não de alguém em particular. Na medida em que ãvapxos indica ausência de um "princípio" e completa falta de sujeição, vários teólogos medievais, de língua grega e latina, usaram ãvapxos como característica de Deus. Com efeito, sendo seu próprio princípio e não necessitando de um princípio alheio a si mesmo, Deus é "anárquico" Na época moderna, os termos 'anarquia' e 'anár quico' voltaram a ser empregados em sentido político, para caracterizar a estrutrura ou, pejorativamente, a falta de estrutura de uma comunidade. Foi muito comum, tendo chegado aos nossos dias, a acepção pejorativa de 'anarquia' e, por conseguinte, a do termo com o qual se vem designando a doutrina que defende a anarquia: 'anarquismo' Este foi tido como uma doutrina que prega um estado de dissolução, antes de tudo da socie dade, mas também dos "costumes" 'Anarquia' foi amiú de equiparada a ' confusão ' , ' dissolução ', 'destruição' etc. Supôs-se que a sociedade não pode existir, ou durar, sem um Estado, e que o Estado é a autoridade, seja esta procedente de Deus ou delegada pelos membros da co munidade. Pensadores políticos "autoritários", como Hobbes e Bodin, opinaram que os homens não podem reger-se por si mesmos, isto é, não podem reger-se a si mesmos "diretamente". Hobbes julgou que sem um so berano absoluto a sociedade regride a um suposto estado originário de uma luta de todos contra todos. A coerção pode ser penosa, mas é irremediável. A anarquia pode ser pior que a tirania. Em geral, os autores que valorizaram mais a ordem que a liberdade criticaram as tendências "anarquistas" ou julgaram que toda ausência de ordem estrita conduz à "anarquia". Por outro lado, os autores que destacaram a importância da liberdade consideraram que esta se reduz em proporção à dose de intervenção do governo e de seus aparatos coercitivos. Tanto o anarquismo como o liberalismo ressaltaram a importância da dissensão em relação às opiniões estabelecidas e o papel fundamental desempenhado pela crítica e pela oposição diante de todo poder estabelecido e arraigado, o qual tende a per petuar-se e a sufocar toda divergência. Visto que o liberalismo, na acepção social e econô mica desse termo - ao contrário de uma possível atitu de de caráter pessoal e moral -, exprimiu amiúde a ideologia das classes burguesas modernas, produziu-se um crescente distanciamento entre liberalismo e anar quismo. Pedir uma intervenção mínima, e até nula, do Estado nas atividades dos cidadãos expressou com fre qüência o ideal do laissezjaire, que redundou em bene ficio de grupos conjunturalmente opostos ao poder "ofi-
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cial" (nem sempre "real") estabelecido e não de toda a sociedade. A atitude política e social liberal distinguiu se então da chamada atitude "libertária", própria do anarquismo. Desde o século XVIII pelo menos, especialmente com autores como William Godwin (vER), o anarquismo como doutrina ao mesmo tempo política, social, econô mica e moral envolveu não apenas a idéia da diminuição e, no limite, da supressão de toda coação, como também a idéia da libertação de toda tirania e de toda exploração do trabalho alheio. Todo governo é, para Godwin, tirâ nico e constitui um obstáculo tanto ao exercício da liber dade como à realização da justiça. No século XIX, desenvolveram-se as grandes dou trinas anarquistas. John Stuart Mill (VER) não é, formal mente, um anarquista, mas há características libertárias, e não só liberais, em sua concepção da sociedade e em particular em sua crítica da tirania e das desigualdades (desigualdades não apenas entre seres humanos, mas também entre homens e mulheres). O pensamento de John Stuart Mill é, em todo caso, emancipacionista (ver EMANCIPAÇÃO; LIBERTAÇÃO). John Stuart Mill seguiu em alguns pontos importantes Jeremy Bentham (vER), um dos mais consistentes e insistentes "libertários" do século XIX. O anarquismo como doutrina política, social e tam bém moral foi preconizado por Proudhon ( VER) , que costuma ser apresentado como "o fundador do anar quismo". A despeito de sua famosa fórmula "A proprie dade é um roubo", Proudhon não se opôs à propriedade privada, mas tão-somente à propriedade a que coubes se o nome de "usurpadora" e "exploradora", especial mente à propriedade monopolista. Há traços anarquis tas em muitos dos socialistas utópicos franceses. Contu do, é preciso chegar a Bakunin ( vER) e Kropotkin (VER) para a formulação do anarquismo na forma em que é entendido hoje, como um "anarquismo coletivista", isto é, como um "comunismo libertário" À idéia de "fede ração" proposta por Proudhon acrescentou-se a idéia de comuna. O comunismo libertário de Bakunin e espe cialmente de Kropotkin encontrou a oposição do marxis mo ( VER). Os marxistas julgaram em geral o anarquismo como uma doutrina ingênua que, no fundo, beneficia as instituições existentes, mas houve marxistas que sim patizaram com o anarquismo. Embora igualmente co munistas, anarquismo e marxismo diferem radicalmente no que diz respeito aos métodos que devem ser segui dos para destruir o Estado e atingir o ideal de uma so ciedade sem classes na qual impere a justiça e desapa reça a desigualdade. Os anarquistas avaliam que a toma da do poder pelo proletariado leva à perpetuação desse poder e, portanto, à corrupção, pois todo poder é funda mentalmente corrupto. Há grande variedade de doutrinas anarquistas. O comunismo anarquista é uma das mais proeminentes,
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geralmente conhecida pelo nome de comunismo libertá rio, ao contrário de várias formas de comunismo e de socialismo. É importante, em especial na Espanha e na França, o anarco-sindicalismo, mas este pode ser consi derado uma forma de comunismo libertário. Além dos autores citados, mencionam-se, como anarquistas, Elisée Reclus, Erico Malatesta, Max Nettlau, B. R. Tucker. O interesse dos anarquistas pelo indivíduo e pelo indivi dualismo levou a que autores como Max Stirner, Nietzsche e Tolstói fossem tidos como parte da tradição cultural moderna do anarquismo. Há importantes carac terísticas anarquistas em vários movimentos atuais que insistem na emancipação e na libertação de todas as formas de opressão. A ampla gama do anarquismo manifesta-se no fato de que, nele, são encontradas tanto doutrinas da chamada "ação direta" como doutrinas de não-violência e não-resistência. As diferenças são mar cadas mesmo quando se parte dos mesmos pressupostos, tais como o do chamado "estado de natureza" Pode haver então um anarquismo do "Estado mínimo", social mente reacionário, como o de Robert Nozick (Anarchy. State, and Utopia, 1 974), ou um anarquismo adaptado ao Estado da economia industrial avançada, mas funda do na coordenação econômica voluntária de agentes numa sociedade em que ninguém reivindica uma auto ridade legítima, como o de Robert Paul Wolff (ln De fense of'Anarchism, 1 970). :> A bibliografia sobre o anarquismo é muito abundan te; já em 1 897, Max Nettlau publicou uma Bibliogra phie de l 'anarchie, com prefácio de Elisée Reclus, que continha mais de 5 .000 títulos, incluindo artigos. Ver também: R. Goehlert, "Anarchism: A Bibliography of Articles, 1 900- 1 975", Political The01y, 4 ( 1 976), 1 1 31 27. S . Faure dirigiu em Paris uma Encyclopédie anar chiste, da qual há tradução espanhola. Ver: G. Sarno, L'anarchia, 1 948. - P. Heintz, Anar chismus und Gegenwart, 1 95 1 . - Robert Paul Wolff, ln Defense ojAnarchism, 1 970. - April Carter, The Politi cal Theory ofAnarchism, 1 97 1 . - John Carroll, Break Out from the Crystal Palace: The Anarcho-P�ychologi cal Critique: Stirner, Nietzsche, Dostoievsky, 1 974. Carlos Díaz, "Diecisiete tesis sobre anarquismo", Siste ma, 1 3 (abril de 1 976), 5-25. - J. Joll, The Anarchists, 1 964. - D. Tarizzo, L'anarchia. Storia dei movimenti libertari nel mondo, 1 976. - J. P. Clark, The Philosophi cal Anarchism of' William Godwin, 1 977. - P. Thomas, Karl Marx and the Anarchists, 1 980. - A. Ritter, Anar chism: A Theoretical Analysis, 1 980. - A. Read, Philoso phie des Anarchismus, 1 982. - D. L. Hall, Eros and Irony: A Prelude to Philosophical Anarchism, 1 982. M. P. Smith, The Libertarians and Education, 1 983. J. H. Barker, Individualism and Community: The State in Marx and Early Anarchism, 1 986. - M. Shatz, Statism and Anarchy, 1 99 1 . - C. Gans, Philosophical Anarchism and Political Disobedience, 1 992.
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ANATÓLIO. Ver PERIPATÉTicos. ANAXÁGORAS. (ca. 499-428 a.C.). Nasc. em Clazô menas ( Ásia Menor) e foi para Atenas em 453 . Ligado por amizade e por adesão política a Péricles, foi acusa do de impiedade pelos inimigos deste e se viu obrigado a abandonar a cidade em 434, falecendo em Lâmpsaco. Anaxágoras foi, no dizer de Diógenes Laércio, "o pri meiro que á matéria (ÜÀTJ) acrescentou a inteligência (vous)". A "tradição jônica" renova-se em Anaxágoras, em cuja opinião nada se gera nem se destrói, havendo simples mescla e separação. A questão fundamental da filosofia pré-socrática, a interrogação relativa ao ser per manente tendo em vista a explicação do que acontece e muda, é resolvida por Anáxágoras não mediante a suposição de um princípio único nem mediante a afir mação de que só o ser é, à maneira de Parmênides, mas pela hipótese de um número infinito de elementos, de germes ou sementes, que se diferenciam entre si qualitativamente, que possuem propriedades irredutíveis e por cuja mescla e combinação nascem as coisas visí veis. Confusão, separação e mescla são o que determina a formação das coisas sobre a base das sementes que Aristóteles denominou homeomerias. Essas sementes estavam no início confundidas e sem ordem; estavam "todas juntas" num caos primitivo que só pôde ser or denado pelo espírito, pela inteligência, pela mente, vous. A massa originária das homeomerias foi submetida a um turbilhão impelido pelo espírito, pela "mais fina e pura de todas as coisas" O Naus é, assim, o princípio da ordem, mas também o princípio de animação e de individualização das coisas que constituem a ordem harmoniosa do universo. No entanto, o Naus produz a ordem de um modo previsto desde sempre, não como um destino, mas como uma força mecânica que se desenvolve a partir de seu próprio centro, ou seja, do centro de seu movimento em turbilhão. O Naus é, por tanto, princípio do movimento, mas de um movimento que se estende quase cegamente, porque é antes anima ção que cumprimento de uma justiça necessária. Por isso, Aristóteles afirma que o pensamento de Anaxágo ras carece de clareza, porque, embora explique a passa gem do caos à ordem como intervenção no confuso e mesclado do puro e sem mescla, o explica sem justi ficar a finalidade desse espírito puro e universal. A percepção das coisas ocorre, segundo Anaxágo ras, mediante a sensação das diferenças entre nossos sentidos e os objetos externos. As coisas são percebi das por seus contrários; se há uma impossibilidade de captar a realidade em suas partes mínimas, isso se deve unicamente à insuficiência dos órgãos sensoriais, que,
ANAXIMANDRO
por outro lado, refletem com toda exatidão o que se põe em contato com eles. Foram continuadores da filosofia de Anaxágoras Arquelau de Atenas ou de Mileto (jl. ca. 400 a.C.) e Metrodoro de Lâmpsaco (jl. ca. 420 a.C.). Atribui-se ao primeiro um escrito intitulado n Ep\ cpÚOEWS, Sobre a Natureza, na qual afirmava que o caos primitivo, a massa originária de todas as substâncias era formada pelo ar, sendo o Naus seu princípio ordenador. A filo sofia natural de Arquelau de Atenas parecia ser, pois, uma combinação das especulações de Anaxágoras e de Anaxímenes. Metrodoro aplicou os conceitos da filoso fia natural de Anaxágoras à interpretação de Homero, equiparando, por exemplo, Zeus ao Naus, Aquiles ao Sol, Agamenon ao éter etc. Uma doutrina em alguns aspectos análoga à de Anaxágoras é a de Diógenes de Apolônia (vER). Costuma-se atribuir a Anaxágoras um escrito, n Epl cpÚOEWS, Sobre a Natureza. Fragmentos e testemunhos em Diels-Kranz, 59 (46). Testemunhos de Arquelau de Atenas ou de Mileto e de Metrodoro de Lâmpsaco em ibid. , 69 (47) e 6 1 (48), respectivamente. � Ver a bibliografia dos verbetes FILOSOFIA GREGA e PRÉ-SOCRÁTICOS. Além disso: F. Krohn, Der vous bei A . , 1 907. D. Ciurnelli, La filosofia di Anassagora, 1 947. - Félix M. Cleve, The Philosophy of A . : An Attempt at Reconstruction, 1 948. /d. , The Philoso phy of A. as Reconstructed by F M. C. , 1 973. J. Zafiropoulo, A naxagore de Clazomene (/. Le mythe grec traditionnel de Thales a Platon. li. Théorie et frag ments), 1 948. - Daniel E. Gershenson e Daniel A. Greenberg, A . and the Birth ofPhysics, 1 964. R. M. Afnan, Zoroaster 's lnfluence on Anaxagoras, the Greek Tragedians, and Socrates, 1 969. - F. M. Cleve, The Philosophy ofA . , 1 973. M. Schofield, An Essay on Anaxagoras, 1 980. S .-T. Teodorsson, Anaxagora 's Theory ofMatter, 1 982. A. J. Capelletti, La filosofia de A . , 1 984. Artigos sobre Anaxágoras de M. Heinze (Ber. der Ges. der Wiss. phil. -hist. Klasse [ 1 890] , 1 -45), H. Diels (Archiv für Ges. der Phil. , 1 0 [ 1 897], 228-237, e Zeitschr. für Phil. und phil. Kritik, 1 1 4, 20 1 -2 1 3), W Capelle (Neue Jahrb. 53 [ 1 9 1 5] , 8 1 - 1 02, 1 69- 1 98), O. Gigon (Philologus, 9 1 [ 1 936], 1 -4 1 ), W. Broecker (Kantstudien, 1 942- 1 943 ). - Art. de E. Wellmann sobre Anaxágoras (Anaxagoras, 4) em Pauly-Wissowa. C -
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ANAXIMANDRO de Mileto (ca. 6 1 0-547 a.e.) foi um dos chamados "fisiólogos j ônicos" (ver F1s10LOGIA). Segundo Diógenes Laércio, Anaximandro afirmou que "o infinito é o princípio" Esse princípio, apx�, é o fundamento da geração das coisas, aquilo que as abarca (mp1ÉXEI) e domina (Kv�Epvã); mas é um fundamento constituído por algo imortal e imperecível, pelo indeter minado, pelo indiferenciado, TO ihmpov. Do apeiron (vER) surgem o frio e o quente como separações da
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ANAXÍMENES
substância primordial, e se constituem o fluido, a terra, o ar, os astros. A disposição dos elementos do universo no espaço que ocupam é feita, assim, de acordo com o maior ou menor peso dos elementos componentes: no centro, a terra; cobrindo-a, a água, e recobrindo tudo, o ar e o fogo. Essa ordem que surgiu do caos nas ceu em virtude de um princípio, de uma substância úni ca, mas de uma substância que não é determinada, mas indeterminada. A indeterminação do "princípio" de Anaximandro, ao contrário da precisa determinação e transparência do "princípio" de Tales, a água, pode de ver-se tanto à indiferença qualitativa que corresponde às coisas antes de serem formadas individualmente, como ao fato de que o infinito, isto é, o indeterminado, recubra o determinado, a ordem do mundo. Os mundos nascem e perecem no interior desse infinito, desse princípio e substância universal que faz com que o diverso seja, no fundo, o mesmo. O retomo de toda formação ao informe não é, assim, senão o cumprimento de uma justiça con tra a injustiça que representa o fato de as coisas preten derem ser subsistentes por si mesmas, pois a j ustiça é, em última instância, a igualdade de tudo na substância única, a imersão, sem diferenças, no seio de uma inde terminada infinitude. :l Fragmentos e testemunhos em Diels-Kranz, 1 2 (2).
Ver: F. Lutze, Ueber den ihmpov Anaximanders, ein Beitrag zur richtigen Auffassung desselben ais mate rie/len Prinzips, 1 878. - J. Neuhiiuser, Dissertatio de A. Mi/esi natura infinita, 1 879. - L. Otten, A. aus Milet, 1 9 1 2 (tese). - Charles H. Kahn, Anaximander and the origins of Greek Cosmo/ogy, 1 960. - Paul Seligman, The "Apeiron " of"Anaximander: A Study in the origin and Function ofMetaphysical Ideas, 1 962. - Osvaldo N. Guariglia, A. de Mileto, 1 966 (separata de Anafes de G. De Santillana, fi/o/ogía c/ásica, 9, 1 964- 1 965). The Origins of Scientific Tlwught, from Ana.ximander to Proc/us, 600 B. C. to 3 00 A C , 1 96 1 . - U. Holscher, "A. und der Anfang der Philosophie", em /d. , Anfiing/i ches Fragen. Studien zurfrühen griechischen Philoso phie, 1 968. - H. Schmitz, A. und die Anflinge der grie chischen Philosophie, 1 988. Artigos de F. D. E. Schleiermacher ( Werke, II, 1 7 1 -296), G . Teichmüller (Studien zur Geschichte der Be griffe , 1 874; reimp., 1 966, pp. 3-70 e 547-588), P. Na torp (Phil. Monatshefie, 20 [ 1 884] , 367-398), P. Tanne ry (Revue philosophique [ 1 886], 225-27 1 , e Archiv.fii r Ges. der Philosophie, 8 [ 1 895], 443-448), H. Diels (ibid. , 10 [ 1 897], 288-337), J. Dõrfler ( Wien. Stud. 38 [ 1 9 1 6] , 1 89 ss.), R. Montolfo (Logos, 1 1 4- 1 3 0), G. B. Burch (Review of Metaphysics 3 [ 1 949], 13 7- 1 60), M. Heidegger (em Hozwege, 1 950, pp. 296-343 [trad. esp.: Sendas perdidas, 1 960, pp. 269-3 1 2]). Ver também PRÉ-SOCRÁTICOS. Além dos trabalhos citados no verbete, ver, para uma concepção pós-cartesiana do homem e dos animais: L. C. Rosenfield, From Beast-Machine to Man-Machine: Animal Sou! in French Lettersjivm Descartes to La Mettrie, 1 94 1 . - W H. Thorpe, Animal Nature and Human Na ture: Uncovering the Uniqueness of Man, 1 974. - D. Radner, M. Radner, Animal Consciousness, 1 989. Para uma consideração do problema da perspectiva moral: P. Singer, Animal Liberation: A New Ethics for Our Treatment ofAnimais, 1 976. - M. von Cranach, Methods oflnference from Animal to Human Behaviour, 1 976. - S. R. Clark, The Moral Status of Animais, 1 977. - H. S. Salt, Animai s Rights, considered in Rela tion to Social Progress, 1 980 (trata-se de uma reprodu ção de uma obra de 1 892, claramente favorável aos di reitos dos animais; incorpora um prefácio de P. Singer e uma extensa bibliografia de escritos sobre direitos dos animais). - B. E. Rollin, Animal Rights and Human Morality, 1 98 1 ; ed. rev. 1 992. - S. R. L. Clark, The Nature of the Beast: Are Animais Mora/?, 1 982. - T. Regan, A li That Dwell Therein: Animal Rights and Environmental Ethics, 1 982. - D. Premack, Gavagai: Or the Future History of the Animal Language Contro versy, 1 986. - U. Wolf, Das Tier in der Moral, 1 990. - M . Zimmerman et ai. , eds., Environmental Philo sophy: From Animal Rights to Radical Ecology, 1 993. Para uma discussão sobre a legitimidade ou ilegi timidade moral de realizar experiências com animais: M . A. Fox, The Case for Animal Experimentation: An Evolutionary and Ethical Perspective, 1 986. - G. Langley, ed., Animal Experimentation: The Consensus Changes, 1 989. - R. E. Baird, ed., Animal Experimen tation: The Moral lssue, 1 99 1 . - G. Francione, A. E. Charlton, Vivisection and Dissection in the Classroom: A Guide to Conscientious Objection, 1 992. Bibliografia: C. R. Magel, A Bibliography on Ani mal Rights and Related Matters, 1 9 8 1 (contém 3 .2 1 0 verbetes, exclusivamente em inglês, que abrangem desde a época bíblica até 1 98 1 ; há seções sobre animais e leis, literatura, religião, arte e música, bem como listas de organizações interessadas nos animais). - !d. , Key guide to lnformation Sources in Animal Rights, 1 989 (completa com eficácia a obra anterior). C:
ANIMISMO. Costuma significar a crença de que tudo está animado e vivificado, de que os objetos da Natureza são, em sua singularidade e em sua totalidade, seres ani mados. Esse animismo coexiste nos povos primitivos
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sob a forma do antropomorfismo, pelo qual a anima ção de todos os seres é concebida em analogia com a do homem. Segundo Edward Bumett Tylor ( 1 832- 1 9 1 7), o animismo é, em termos gerais, a doutrina dos seres espirituais na medida em que abrange a própria essên cia de uma filosofia espiritualista oposta a toda filoso fia materialista. 'Animismo ' seria então um termo com o qual se designaria toda doutrina de índole espiritualis ta. Ora, o animismo se divide, segundo Tylor, em dois grandes dogmas, que fazem parte de uma única doutri na consistente: o primeiro refere-se às almas de criaturas individuais, capazes de possuir uma existência que con tinua depois da morte ou da destruição do corpo; o se gundo diz respeito aos espíritos que possuem a categoria de divindades poderosas ( cf. Primitive Culture, 1 873 ). Contudo, o fato de que o animismo equivalha em grande parte à doutrina de que a alma é, em todos os sentidos, o verdadeiro princípio vital não quer dizer que ele seja inteiramente identificável com essa doutrina. Pois o animismo pode ser entendido também em dois outros sentidos: ou o anímico é princípio do orgânico como sujeito material, ou representa seu princípio sob a forma da causa final de todos os movimentos corporais. Neste último sentido, o animismo equivale ao vitalismo, tal como defendido por Hans Driesch em sua teoria da "causalidade entelequial" e em sua doutrina da entelé quia orgânica, assim como à psicologia "hórmica" e teleológica de William McDougall, que denomina pre cisamente animismo sua própria teoria psicológica. Mas esta causa final tende então a deixar de ser meramente uma instância exemplar, uma atração, para transformar -se num verdadeiro e real princípio ativo. É óbvio, em todo caso, que o termo 'animismo' se revela para essa concepção demasiado vago, sendo conveniente evitá -lo, seja para concentrá-lo em sua primeira significa ção antropológica, seja para aplicá-lo a toda doutrina segundo a qual a alma, ou uma realidade análoga a ela, constitui o princípio da atividade de todos os seres, e não apenas de todos os corpos orgânicos, mas também, por exemplo, dos próprios astros, e até do universo con cebido como unidade. Nesse sentido, podem ser qua lificadas de animistas as doutrinas antigas e renas centistas que sustentam a existência de uma Alma do Mundo ( vER). :> Ver: E. Saisset, L'âme et la vie; étude sur la renais sance de l 'animisme, 1 864. - A. Borchet, Der Ani mismus, 1 900. - Clodd, Animisme, 1 9 1 8. - J. Pascher, Der Seelenbegriff im Animismus E. B. Tylors, 1 929. W T. Harris, E. G. Parrinder, The Christian Approach to the Animist, 1 960. - W Me Dougall, Body and Mind. A History and a Defense ofAnimism, 1 96 1 . E. Renner, Eherne Schalen. Über die animistische Denk und Erlebnisformen, 1 967. - R. C. Dales, "The De -Animation of the Heavens in the Middle Ages", Jour nal of the History of ldeas, 4 1 ( 1 980), 53 1 -550. - R.
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Bunge, "Awareness ofthe Unseen: The Indian's Contract with Life", Listening, 1 9 ( 1 984), 1 8 1 - 1 9 1 . - D. Ken nedy, "Fools, Young Children, Animism, and the Scien tific World-Picture", Philosophy Today, 33(4) ( l 989), 374-3 8 1 . C. Westermann, O anjo de Deus não precisa de asas, Loyola, 2000. Além dos textos citados, ver: E. Souriau, "Valeur actuelle du pari de Pascal'', em L'ombre de Dieu, 1 955, cap. l i . - Georges Brune!, Le pari de Pascal, l 956 (texto e comentários). - R. G. Swinburne, "The Chris tian Wager'', Religious Studies, 4, pp. 2 1 7-228. - R. Sternbach, "Pascal and Dr. Johnson on lmmortality", Journal ofthe History of1deas, 39 ( 1 978), 483-489. P. Lonning, Cet ejfrayant pari. Une ' 'pensée " pasca lienne et ses critiques, 1 980. - D. Walker, "On Gam bling with Pascal'', Teaching Philosophy, 5 ( 1 982), 3 1 1 -3 1 2 . - C. M. Natoli, ''The Role o f the Wager in Pascal 's Apologetics", New Scholasticism, 57 ( 1 983 ), 98- 1 06. - M. Martin, "Pascal 's Wager as an Argument for Not Believing in God", Religious Studies, 1 9 ( 1 983), 57-64. - M. A. Makinde, "Pascal's Wager and the Atheist's Dilemma'', International Journaljàr Philoso phy of Religion, 1 7 ( 1 985), 1 1 5- 1 29. - N. Rescher,
Pascal �· Wager: A Study of Practical Reasoning in Phi losophical Theology, 1 985. - T. V Morris, "Pascalian Wagering", Canadian Journal ofPhilosophy, 16 ( 1 986 ), 437-45 3 . - A. Duff, "Pascal's Wager and lnfinite Utilities", Analysis, 46 ( 1 986), 1 07- 1 09. - M. J. Wreen, "Passing the Bottle'', Philosophia (Israel), 1 5 ( 1 986), 427-444. - S. A. Hadari, "Rousseau's Wager", History ofEuropean Ideas, 8 ( 1 987), 709-7 1 3 . - T. Bonhoeffer, "Le 'Pari ' de Pascal", Revue de Théologie et de Philo sophie, 1 22(2) ( 1 990), 1 89-202 . - S. T. Davis, "Pascal on Self-Caused Belief", Religious Studies ( 1 99 1 ), 2737. - J. Jordan, "Duff and the Wager", Analysis ( 1 99 1 ), 1 74- 1 76. - !d. , id. , "The Many-Gods Objection and Pascal 's Wager", International Philosophical Quarterly ( 1 99 1 ), 309-3 1 7 . - G. Oppy, "On Rescher on Pascal 's Wager'', International Journal for Philosophy of Reli gion ( 1 99 1 ), 1 59- 1 68 . e APPELATIO. Ver APELAÇÃO; APELATIVO; PROPRIEDADES DOS TERMOS. APREENSÃO. Ver AssENTIMENTO; PERCEPÇÃO. APRIORISMO. Ver A PRIORI; MATEMÁTICA. APULEIO (Lucius Apuleius). Nascido em 1 25 em Hippo (hoje Bône, Argel). É conhecido na história da literatura sobretudo por seu célebre romance O asno de ouro. Como fi lósofo, era um dos membros da chamada escola platônica eclética de Gaio, embora seja duvidoso que tenha tido relação direta com esse pensador; é mais provável - a julgar por sua obra sobre Platão que tenha sido influenciado por Albino. Em suas obras filosóficas - Sobre o Deus de Sócrates (De deo So cratis), Sobre as Opiniões de Platão (De Platone et eius dogmata) e Sobre o Mundo (De mundo) -, Apuleio desenvolveu um sincretismo platonizante no qual se destacam especialmente as tendências místicas e uma demonologia baseada na concepção socrática do demo níaco, ômµóv1ov, mas que Apuleio elaborou num sen tido místico-religioso, análogo ao de Plutarco e que foi tornando-se cada vez mais comum nos preceitos platô nicos e neoplatónicos. A obra sobre as opiniões de Platão tem dois livros: um sobre a física e outro sobre a ética. Uma obra sobre uma terceira parte - a lógica - não foi completada por Apuleio, ou não foi conservada, mas conhece-se o seu possível conteúdo pelo escrito DEp\ i:pµfjvEías, erroneamente atribuído a Apuleio. O De mundo, um comentário ao tratado pseudo-aristotélico n Ep\ KÓOµOV (ver DE MuNDO ) , é também equivocadamente atribuído a Apuleio. :> Edições: Apuleii Madaurensis opuscula quae sunt de philosophia, rec. A. Goldbacher, Wien, 1 876. n Ep\ ÉpµfjVEías, ed. A. Goldbacher, 1 885, e Ph. Meiss, 1 886. - Apuleii Opera, ed. R. Helm, 3 vols., 1 905- 1 907. - L. Apuleii Madaurensis scripta quae sunt de
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philosophia, rec. P. Thomas, Lipsiae, 1 908 (incluindo a obra latina Peri Hermeneias, que parece ser efetiva mente de autoria de Apuleio, segundo o testemunho de Cassiodoro: Has formulas categoricum syllogismorum qui plene nosse desiderat, librum legal, qui inscribitur Apuleii [Migne, P. L. , LXX, 1 1 73 A]). Bibliografia: C. Mazzarelli, "Bibliografia Medio platonica, parte seconda: Apuleio", Rivista di Filosofia Neo-Scolastica, 73 ( 1 98 1 ), 557-595. Ver: S. Müller, "Das Verhãltnis von Apuleius De Mundo zu seiner Vorlage", Philologus, Supp. Bd. 32, H. 2. - W. Wittmann, Das Isisbuch des Apuleius, 1 940. - Mark W. Sullivan, Apuleian Logic: The Nature, Sources and Influence of Apuleius s Peri Hermeneias, 1 967. - Frank Regen, Apuleius philosophus platonicus. Untersuchungen zur Apologie (De magia) und zur De Mundo, 1 97 1 . - A. Wlosok, "Zur Einheit der Meta morphosen des Apuleius", Philologus, 1 1 3 ( 1 969), 7 1 ss. - R. Mortley, "Apuleius and Platonic Theology", American Journal of Philosophy, 93 ( 1 972), 5 84-590. - F. E. Hoevels, Miirchen und Magie in den Meta morphosen des Apuleius von Madaura, 1 979. - C. Johanson, "Was the Magician of Madaura a Logician?", Apeiron, 1 7 ( 1 983), 1 3 1 - 1 34. - D. Londey, C. Johan son, "Apuleius and the Square of Opposition", Phro nesis, 29 ( 1 984), 1 65- 1 73 . - M. O' Brien, "Apuleius and the Concept of Philosophical Rhetoric", Herma thena, 1 5 1 ( l 99 1 ), 39-50. Entre os numerosos escritos sobre a obra filosófica de Apuleio, destacamos os de A. Goldbacher ( 1 87 1 ), J. Bernays ( 1 87 1 ), E. Rohde ( 1 885), W. Kroll ( 1 898), P. Thomas ( 1 900 e 1 908), R. Helm ( 1 900), Th. Sinko ( 1 905). Artigo de Schwabe sobre A pulei o (Apuleius, 9) em Pauly-Wissowa. C AQUINO. Ver TOMÁS DE AQUINO (SANTO). ARANGUREN, JOSÉ L[UIS) L [ÓPEZ) . Nasc. ( 1 909) em Ávila. Foi professor de ética e sociologia na Universidade de Madri de 1 955 a 1 965; nesta última data, foi afastado da cátedra por motivos políticos. A partir de 1 965, lecionou por um semestre a cada ano na Universidade da Califórnia (Santa Bárbara). Em 1 976, foi-lhe restituída a cátedra de Madri com todos os direitos, até sua aposentadoria em 1 979. Em 1 993, é nomeado Professor Emérito da Universidade Com plutense de Madri . Foi também objeto de numerosas homenagens acadêmicas e institucionais. A influência de Aranguren sobre as jovens gerações de filósofos espanhóis foi considerável. Os primeiros trabalhos de Aranguren em ética e em filosofia da religião enfatizaram a importância da têmpera religiosa. (Para o sentido atribuído por Aran guren a este termo, ver TÊMPERA.) Aranguren interessou se pelas relações entre ética e religião (vER). Em sua in vestigação da ética do protestantismo, mostrou que este
ARANGUREN, JOSÉ L[UIS] L[ÓPEZ]
desliza facilmente para uma excessiva ruptura entre o ético e o religioso. Essa ruptura deve ser rejeitada. Mas deve ser rejeitada igualmente a identificação entre o religioso e o ético tal como a preconizam, consciente ou inconscientemente, algumas tendências filosóficas (as quais, por outro lado, mais que identificar o reli gioso com o ético, subordinam este àquele). Aranguren observou que a ética está "aberta à religião", de modo que a possível confluência entre ambas se encontra antes no ponto de partida que no de chegada. Especialmente a partir do exercício de sua cátedra em 1 955, Aranguren difundiu correntes filosóficas con temporâneas, acolhendo de modo amplo as discussões de problemas éticos por parte de filósofos de tendência analítica e de outras tendências, como a marxista. Isso não significa que Aranguren tenha se restringido estrita mente a qualquer uma dessas correntes, mas antes que introduziu problemáticas até então pouco cultivadas na Espanha em ambientes universitários. Pessoalmente, Aranguren preocupou-se em prover sua teoria ética de uma dimensão social e ligá-la ao debate de questões so ciais e políticas fundamentais. Entre outros conceitos, Aranguren introduziu os de "aliedade" e "alteridade" como dois níveis ou aspectos da "outridade" humana em que se dão respectivamente o moral estritamente social e o moral interpessoal. Aranguren pesquisou a constituição social do moral individual numa longa série de estudos literários, históricos e sociológicos sobre vários aspectos da vida moderna e contemporânea. É importante seu conceito do Estado de justiça social, eqüidistante do simples "Estado de bem-estar (social)", por um lado, e de todo "totalitarismo", incluindo o que se apresenta sob a forma de um "socialismo" Tanto no campo das crenças católicas como em todos os outros problemas filosóficos, políticos, sociais e culturais, ca racterizaram o pensamento de Aranguren nos últimos anos uma atitude de inconformismo e de "heterodoxia", assim como uma mescla de compromisso intelectual e moral com certo distanciamento que o próprio Aran guren qualificou de "irônico" :> Edição de obras seletas: Obras, I, 1 965 (contém reimp. de Catolicismo y protestantismo como formas de existencia, El protestantismo y la moral, Ética, La ética de Ortega, La juventud europea y otros ensayos, El futuro de la universidad, lmplicaciones de la filoso fia en la vida contemporánea, Ética y política, bem co mo um ensaio sobre Zubiri). - Suas numerosas obras publicadas tiveram diversas edições e reimpressões. Aqui enfatizamos particularmente as primeiras edições: Obras: Obras Completas, 6 vols., 1 994 ss. (!. Filoso fia y religión; II. Ética; III e IV, Filosofia moral, so ciología y política; V Escritos literários y autobiográ ficos; VI. Varia). - La filosofia de Eugenia d 'Ors, 1 945; nova ed., ampl., 1 98 1 . - Catolicismo y protestantismo como formas de existencia, 1 952; nova ed., ampl.,
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ARBÍTRIO (LIVRE)
1 980. - E/ protestantismo y la moral, 1 954. - Cato licismo día tras día, 1 95 5 ; nova ed., com o texto antigo e comentários, em Contralectura dei catolicismo, 1 978. - Crítica y meditación, 1 957. - Ética, 1 958. - La ética de Ortega, 1 958; 2ª ed., rev., 1 959. - La juventud europea y afros ensayos, 1 96 1 ; reimp., 1 969 (trad. italia na, ampl., 1 962); reatualizado em Bajo e/ signo de la juventud, 1 982. - E/ futuro de la universidad, 1 962. Implicaciones de la filosofia en la vida contempo ránea, 1 962; reimp., 1 97 l . - Ética y Política, 1 963; reimp., 1 968. - Remanso de Navidad y examen defin de afio, 1 965. - Moral y sociedad: Introducción a la moral social espaiiola dei sigla XIX, 1 965; reimp., 1 966. - Religiositat intellectual, tr. Gabriel Pas, 1 966. - La comunicación humana, 1 967 (versões simultâneas para várias línguas); nova ed. , ampl ., 1 986. - Lo que sabe mos de moral, 1 967; nova ed. , ampl., em Propuestas morales, 1 983, com reimpr. em 1 984 e 1 986. - EI marxismo como moral, 1 968. - La crisis dei catolicis mo, 1 969. - Memorias e e�peranzas espaiiolas, 1 969. - EI cristianismo de Dostoievski, 1 970. - Juventud, universidad y sociedad, 1 97 1 . - Erotismo y liberación de la mujer, 1 972. - E/futuro de la universidad y otras polêmicas, 1 973. - Moralidades de hoy y de maiiana, 1 973. - San Juan de la Cruz, 1 973. - La cruz de la monarquía espaiiola actual, 1 974. - Entre Espaiia y América, 1 974. - La cultura espaiiola y la cultura es tablecida, 1 975. - Talante, juventud y moral, 1 975. Estudios /iterarias, 1 976. - Qué son los fascismos, 1 976. - La democracia establecida: una crítica intelec tual, 1 979. - E/ oficio de intelectual y la crítica de la crítica, 1 979. - Sobre imagen, identidad y heterodoxia, 1 982. - Espaiia: una meditación política, 1 983. - EI buen talante, 1 98 5 . - Moral de la vida cotidiana. personal y religiosa, 1 987. - Ética de la felicidad y otros lenguajes, 1 988. - La vejez como autorrealización personal y social, 1 992. Além disso, A. editou, com amplas introduções, uma A ntología de M. de Unamuno, 1 964, e uma edição de Obras de São João da Cruz, 1 965. Depoimento: Conversaciones con A., por F. Bláz quez, 1 976. B ibliografia: F. Blázquez, "J. L. L. Aranguren: ensayo bibliográfico", em 1. Muguerza, F. Quesada, R. Rodríguez Aramayo, eds., Ética día tras día, 1 99 1 , pp. 449-484. - !d., id. , Bibliografia, em Obras Completas, vol. !, pp. 83 1 -838. Ver: VVAA., Teoría y sociedad: Ensayos ofrecidos ao Profesor Aranguren con ocasión de su 60 cumplea iios, comp. Francisco Gracia, Javier Muguerza e Víctor Sánchez de Zavala, 1 970, com bibl., pp. 453-465. VVAA., Homenaje a Aranguren, comp. Pedro Laín Entralgo, 1 972. - J. Muguerza, F. Quesada, R. Rodrí guez Aramayo, eds., Ética día tras día, 1 99 1 . - J. F. Marsal, La sombra dei poda Intelectuales y políticos -
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en Espaiia, Argentina y México, 1 975, cap. III. - D. Dona-Folongo, Le moralisme politique de 1 L. L. Aran guren, Universidad de Toulouse, 1 976 (tese). - E. Bonete Perales, Aranguren: la ética entre la religión y la política, 1 989 (tese). � ARBÍTRIO (LIVRE). A expressão /iberum arbitrium, muito usada por teólogos e filósofos cristãos, tem às vezes o mesmo significado da expressão libertas (ver LIBERDADE). No entanto, em muitos casos elas são distin guidas. Essa distinção aparece claramente em Santo Agos tinho (Enchiridion, XXXII; Op. imperf contra Julian. , VI, 1 1 ), como acentuou Gilson (Introduction à / 'étude de Saint Augustin [ 1 93 1 ] , 3ª ed. , 1 949, pp. 2 1 2 ss.). A libertas (liberdade) designa o estado de bem-aventu rança eterna (sempiterna) na qual não se pode pecar; a libertas distingue-se da possibilidade de bem ou mal voluntários. Em contrapartida, o /iberum arbitrium de signa a possibilidade de escolher entre o bem e o mal ; é "a faculdade da razão e da vontade por meio da qual é escolhido o bem, mediante auxílio da graça, e o mal, pela ausência desta" (De lib. arb. l ). "Portanto, é clara a oposição entre o livre-arbítrio do homem, cujo mau uso não destrói a natureza, e a liberdade, que é justa mente o bom uso do livre-arbítrio" (Gilson, op. cit. , p. 2 1 2, nota 2). "Deve-se reconhecer que há em nós livre arbítrío para fazer o mal e para fazer o bem" (De corruptione et grafia, l, 2; cit. Gilson). Se se tem essa distinção em mente, pode-se entender o que de outra maneira seria um paradoxo: que o homem possa ser livre (/iber) (no sentido de possuir libertas) e possa não ser livre (no sentido do livre-arbítrio). O homem, pois, não é sempre "livre" quando goza do livre-arbítrío; depende do uso que ele faça deste. Cabe perguntar se o livre-arbítrio é equiparável ou não à vontade (voluntas). Santo Tomás trata do assunto em sua elucidação da noção de livre-arbítrio em S. theol. I, q. LXXXII I . De acordo com Santo Tomás, podem-se considerar quatro questões: se o homem tem ou não arbítrío; se o livre-arbítrio é um poder (potentia), um hábito ou um ato; se, no caso de ser um poder, ele é de natureza apetitiva ou cognoscitiva; e se, caso seja de natureza apetitiva, pode distinguir-se da vontade. Depois de considerar as dificuldades suscitadas por cada uma dessas questões, Santo Tomás chega às se guintes conclusões: 1) O homem tem livre-arbítrio, porque, caso con trário, as exortações, castigos e recompensas carece riam de sentido (fi-ustra). Além disso, o homem age segundo juízo (judicio), o qual pode seguir direções opostas quando se aplica a fatos contingentes. 2) Embora a expressão ' l ivre-arbítrio' designe um ato, o livre-arbítrio é, de fato, o princípio de tal ato, isto é, o princípio mediante o qual o homem julga livremen te. Daí decorre que o livre-arbítrio não seja, propria mente falando, nem ato nem hábito. O livre-arbítrio é
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um poder "pronto para atuar" (potentia ( . .) expedita ad operandum ). 3) Já que o livre-arbítrio é um juízo livre, e uma vez que o juízo é uma força (virtus) cognoscitiva, o livre -arbítrio deve parece um poder (potentia) cognoscitivo. Ora, o livre-arbítrio elege; é eleição ( electio ), escolha. Concorrem na escolha elementos apetitivos e cognos citivos: os últimos proporcionam as razões, ou "conse lho" (consilium), mediante as quais se escolhe um de dois termos de uma alternativa; os primeiros levam a aceitar o que é cognoscitivamente aceito. 4) Como os poderes são conhecidos por seus atos, a eleição, enquanto ato de livre-arbítrio, parece ser dis tinta da vontade: a vontade tem por objeto o fim, en quanto a escolha leva a esse fim. Ora, a mesma relação que, no poder intelectual cognoscitivo, pode ser encon trada entre a inteligência e a razão, pode igualmente encontrar-se, na faculdade apetitiva, entre a vontade e o livre-arbítrio. A inteligência apreende os princípios quando estes são conhecidos por si mesmos, diretamente e sem inferência. Por outro lado, a razão aplica-se às conclusões que se destacam claramente dos princípios. De modo semelhante, enquanto querer é desejar algo, de maneira que a vontade tem como seu objeto um fim dest>jado por si mesmo, escolher é desejar algo com o propósito de obter outra coisa. A escolha tem por objeto os meios que conduzem a um fim. A relação no reino cognoscitivo entre os princípios e as conclusões aceitas em vi rtude dos princípios volta a ser encontrada, no reino apetitivo, entre o fim e os meios usados em vista dele. Uma vez que entender (intelligere) e raciocinar (ratiocinari) pertencem ao mesmo poder (potentia), no mesmo sentido em que repouso e movimento pertencem à mesma força (virtus), cabe concluir que o mesmo ocorre com querer e escolher. Daí que a vontade ( volun tas) e o livre-arbítrio (liberum arbitrium) não sejam dois poderes, mas um único (ou, como se diz às vezes, que o livre-arbítrio seja ipsa voluntas). Alegou-se às vezes que a noção de livre-arbítrio é meramente "negativa", uma vez que se designa com ela tão-somente a possibilidade de escolher ou não es colher, ou a possibilidade de escolher entre dois termos de uma alternativa, sem que sejam proporcionados os fundamentos ou "razões" para uma escolha definida. De acordo com isso, o livre-arbítrio seria em si mesmo "indiferente", daí decorrendo que se tenha falado de liberum arbitrium indifferentiae, bem como de libertas aequilibrii (literalmente, "liberdade de equilíbrio", liber dade que não é tal liberdade, porque deixa sem possi bilidade de escolher, justa e precisamente porque, em bora soe paradoxal, deixa somente com a possibilidade de escolher). Se assim acontecesse, ficaria dificil exe cutar alguma ação "livre" Um exemplo paradigmático das dificuldades apontadas se encontra no paradoxo do "asno de Buridan" (ver BURIDAN [ASNO DE] ) .
ARBÍTRIO (LIVRE)
Muitos escolásticos negaram que o liberum arbi trium, inclusive sob a forma do liberum arbitrium indif ferentiae, conduza necessariamente a tais conseqüências e afirmaram ser ele a condição para que todo ato possa chamar-se autenticamente livre. A maioria dos autores modernos - pelo menos do século XVII (entre eles, Descartes, Spinoza e Leibniz) - rejeitou a idéia da "li berdade de equilíbrio" (que denominaram às vezes liber tas indifferentiae) como concepção meramente negativa da liberdade. A noção do livre-arbítrio foi objeto de acalorados debates durante parte da Idade Média e durante os sécu los XVI e XVII, especialmente porque era suscitada por ela a famosa questão da declarada incompatibilidade entre a onipotência divina e a liberdade humana. Exami namos uma parcela dessa questão nos verbetes dedica dos ao problema de Deus (em particular II. Natureza de Deus), à graça, à liberdade, ao ocasionalismo, à pre destinação, à vontade e ao voluntarismo. Acrescente mos agora que os debates giraram sobretudo em tomo do problema tal como este foi formulado no agostinis mo. Uma "solução" que anule um dos dois termos não parece ser uma boa solução. E Santo Agostinho enfati zara que a dependência em que se encontram o ser e a obra humana com relação a Deus não significa que o pecado seja obra de Deus. Ora, se considerarmos o mal algo ontologicamente negativo, o resultado será que o ser e a ação que se refere a ele carecem de existência. E se o considerarmos algo ontologicamente positivo haverá a possibilidade de deslizarmos para o mani queísmo. Ao mesmo tempo, não se tratava simplesmente de supor que, uma vez outorgada a liberdade ao homem, este podia fazer uso dela sem necessidade de nenhuma intervenção divina. Pelo menos no que diz respeito ao sobrenatural, parecia impossível excluir a ação da graça. Assim, todas as soluções oferecidas para resolver a questão evitavam a supressão de um dos termos. E tal vez só em duas posições extremas se postulasse essa supressão: na concepção luterana expressa no De servo arbitrio, por um lado, e na idéia da autonomia radical e absoluta do homem, por outro. Em seu tratado De servo arbitrio ( 1 525), Lutero polemizou contra as idéias desenvolvidas por Erasmo em seu De Libero Arbitrio Ll l ATPIBH ( 1 524). Na ver dade, Erasmo não considerava que a questão do livre -arbítrio tivesse a importância que lhe atribuíam os teó logos. Além disso, sua opinião a esse respeito era mode rada: "Concebo aqui o livre-arbítrio como um poder da vontade humana por meio do qual o homem pode dedi car-se às coisas que conduzem à salvação eterna ou afas tar-se delas''. Assim, Erasmo não negava em princípio o poder e a necessidade da graça. Menos ainda afirma va - como fazia o pelagianismo ( VER) extremo - que o livre-arbítrio fosse absolutamente autônomo e decisivo. Mas, como enfatizava "o poder da vontade humana",
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ARBÍTRIO (LIVRE)
Lutero considerou que a doutrina de Erasmo equivalia a uma negação da graça e constituía uma perigosa forma de pelagianismo. Segundo Lutero, a definição do livre -arbítrio proporcionada por Erasmo é independente das Escrituras e, portanto, contrária a estas. Baseando-se nas Escrituras, Lutero sustentava que ninguém pode ser salvo se confia apenas no livre-arbítrio, pois um demônio é mais forte que todos os homens juntos; não só a graça é necessária como o é de modo absoluto. Ora, isso não significa para Lutero que o homem se en contre dominado pela necessidade, pois o poder de Deus não é uma necessidade natural; é um dom. Entre os pensadores católicos, os debates acerca da noção de livre-arbítrio se mantiveram numa linha que eliminava toda solução radical: nem luteranismo nem pelagianismo. No entanto, em certas ocasiões as posi ções adotadas chegaram a extremos. Por um lado, temos a teoria tomista da premoção fisica (VER). Por outro, a doutrina molinista do concurso simultâneo baseado na noção de ciência média (ver CIÊNCIA MÉDIA; FuruRivE1s; MOLINA [Luís DE); PREDESTINAÇÃO). Embora todas essas doutrinas sejam principalmente teológicas, os conceitos nelas elaborados são freqüentemente filosóficos e po dem ser utilizados na abordagem dos problemas da causa (vER) e da liberdade (vER). Alguns dos problemas suscitados a propósito do livre-arbítrio, esvaziados de sua substância teológica, subsistem em discussões referentes ao conceito de liber dade (vER) e à contraposição "liberdade-determinismo" Essa contraposição é em vários casos equivalente à que existe, ou se supõe que exista, entre livre-arbítrio, como liberdade de escolha (às vezes "liberdade da vontade") e encadeamento causal. Mas como não há razão para supor que as ações chamadas "voluntárias", ou efetuadas por livre-arbítrio ou liberdade de escolha, estejam com pletamente fora de todo encadeamento causal, tendo havido até razões para afirmar que essas ações podem ser concebidas como inícios de encadeamentos causais, tendeu-se a evitar falar da relação e, com maior razão, da contraposição entre livre-arbítrio e determinação cau sal. O mais comum foi falar em termos de ações huma nas e de intenções, com a finalidade de averiguar se e como - cabe distingui-las de acontecimentos e cau sas. Assim, algumas das questões classicamente abor dadas sob o rótulo de "livre-arbítrio" são examinadas como questões suscitadas pelo conceito de ação (VER), enquanto ação humana, relacionando-se com conceitos como os de escolha, intenção e decisão, assim como com noções tais como as de responsabilidade e impu tação. Considerável parte desse exame foi "lingüístico'', mas principalmente no sentido de averiguar o que se quer dizer, e que conseqüências decorrem de fazê-lo, quando se afirma que alguém age ou opera livremente - ou, simplesmente, que alguém, chamado "agente" (vER), age ou opera -, o que, em termos clássicos,
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equivale parcialmente a averiguar o que se quer dizer, e que conseqüências decorrem de fazê-lo, quando se afirma que um agente possui livre-arbítrio. O exame lingüístico permitiu chamar a atenção para distinções em que não se costuma reparar quando se formulam os problemas do livre-arbítrio, da liberdade etc. de modo demasiado geral; assim, por exemplo, ele chamou a atenção para o significado, ou uso, de expressões como 'S decide ' , 'S decide-se por' , 'S opta por', 'S tem a intenção de ' , ' S age voluntariamente ' , ' S opera deli beradamente' etc. Certas dicotomias "clássicas" desa parecem então, ou se atenuam, ou ainda se transfor mam; como indicou Austin, por exemplo (em "A Plea for Excuses'', 1 956- 1 957; reimp. em Philosophical Pa pers, 1 96 1 ), 'voluntário' contrapõe-se antes a 'coativo ' ('sob coação ' ) que a 'determinado' e até a 'involuntá rio ' , ao passo que 'involuntário' contrapõe-se antes a 'deliberado' ou ' feito de propósito ' que a 'voluntário' (ou a ' livre'). :l Sobre o problema do livre-arbítrio: C. L. Fonse grive, Essai sur /e libre arbitre, sa théorie et son histoire, 1 887. - E. Naville, Le libre arbitre, 1 894. - Rudolf Kreussen, Die Willensji-eiheit ais religiõses und philoso phisches Gnmdproblem, 1 93 5 . - Augustin Jakubisiak, La pensée et /e libre arbitre, 1 936. - Déterminisme et libre arbitre. Entretiens présidés par F Gonseth et rédi gés par Gagnebin, 1 944. Yves Simon, Trai/é du libre arbitre, 1 95 1 . - Austin Ferrer, The Freedom of the Will, 1 958 [Gifford Lectures] . - Joseph Lebacqz, S. J., Libre arbitre et jugement, 1 960. - Allan M. Munn, Free Wi/l and Determinism, 1 960. - A. 1 . Melden, Free Action, 1 96 1 . - Thomas Foldesi, The Problem of Free Will, 1 966. - R. L. Franklin, Free Will and Determinism: A Study o{ Rival Conceptions of Man, 1 968. - William H . Davis, The Free Will Ques tion, 1 97 1 . - Joseph M. Boyle, Jr., Germain Grisez, Olaf Tollefsen, Free Choice: A Self-Referential Ar gument, 1 976. - B. Berofsky, ed., Free Wíll and Deter minism, 1 966. - P. N. O ' Sullivan, lntentions, Motives and Human Action: An Argument for Free Wíll, 1 977. - J. Thorp, Free Will, 1 980. P. van lnwagen, An Essay on Free Will, 1 983. A. R. Ruffa, Darwinism and Determinism: The Role of Direction in Evolution, 1 983. - R. Kane, Free Will and Values, 1 985. - J. Earman, A Primer on Determinism, 1 986. - M . Thomton, Do We Have Free Will, 1 989. - M. Strasser, Agency, Free Will, and Moral Responsibility, 1 992. Ver também a bibliografia de DETERMINISMO; LIBERDADE; VONTADE. Sobre o conceito de livre-arbítrio em vários autores: G. Venuta, Libero arbitrio e libertà de/la grazia nel pensiero di San Bernardo, 1 953. - J. Muiioz, Esencia dei libre albedrío y proceso dei acto libre según F Romeo, O. P, Santo Tomás y F Suárez, S. J , 1 948. - Jean -
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ARDAO, ARTURO
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ARDIGÕ, ROBERTO
polémica de Feijóo, 1 962. - Filosofia de lengua espa rzo/a, 1 963 . - Rodá. Su americanismo, 1 970. - Etapas de la inteligencia uruguaya, 1 97 1 . - Espacio e inteli gencia, 1 976 (contendo, entre outros trabalhos, "La antropología filosófica y la espacialidad de la psique", reelaboração do folheto ;,Por qué la antropología filo sófica ?). - Estudios latinoamericanos de historia de las ideas, 1 978. e ARDIGÓ, ROBERTO ( 1 828- 1 920), nasc. em Castel d idone (Cremona, Itália), foi professor da Universidade de Pádua ( 1 88 1 - 1 909). Depois de ter-se ordenado sacer dote, abandonou a Igreja ( 1 87 1 ) e se aliou ao movimen to positivista italiano, defendido contemporaneamente por Pasquale Vil lari ( 1 827- 1 927), Nicolà Marselli ( 1 822- 1 899) e Andrea Angiulli ( 1 837- 1 890). Esse mo vimento fora impulsionado igualmente por autores como Cario Cattaneo (vrn) e Giuseppe Ferrari ( 1 8 1 2- 1 876), assim como, e sobretudo, pelos juristas e criminólogos Enrico Ferri (vrn), Enrico de Marinis ( 1 868- 1 9 1 9) e Cesare Lombroso (vrn). Foram órgãos dessas tendên cias a Rivista di .filosofia scientifica, a Ri vista di filo so.fia e scienze ajfini e a Rivista di .filosofia, que com batiam tanto o idealismo de ascendência hegeliana como a tradição ontologista. Ora, Ardigà fundamentou, aiii culou e prolongou essas tendências, representando, por assim dizer, o nível máximo, na Itália, do positivismo da época. Isso permite explicar tanto seu positivismo me taempírico como sua "metafisica positivista" Com efei to, o positivismo de Ardigà não era um naturalismo dogmático. Na divisão do positivismo estabelecida por Rodolfo Montolfo, segundo a qual não é legítimo con fundir a direção objetivi sta - comum a Spencer, a Daiwin, a Littré ou a Comte - com a direção subjetivis ta - própria de John Stuart Mill, de Avenarius, Mach e Vaihinger -, Ardigà representa esta última tendência. Isso se devia tanto às condições em que surgira o posi tivismo italiano como à evolução pessoal de Ardigà. Por isso, a filosofia não era para este último um mero compêndio das ciências, mas a fonte destas. A rdigà afir ma, sem dúvida, a identidade do fisico e do psíquico. Mas sua ênfase no valor da idéia diante das circunstân cias mate1iais que concorrem para a formação da evolu ção histórica, sua identificação da idéia e da inteligência com a vontade, seu reconhecimento de um feixe de "condições internas" distintas das "condições externas'' lhe permitem superar, a partir de dentro, o determinismo objetivista. Ardigà considerava o "fato" como divino. mas esse fato eram "todos os fatos" Daí a impossibi lidade de escolher um fato para transformá-lo no Ab soluto. O "Indistinto" de Ardigà é, nesse sentido, dife rente do "Incognoscível" de Spencer. "Pois enquanto Spencer" -- diz Mondolfo - "punha esse absoluto na raiz de toda realidade, declarando-o incognoscível ao mesmo tempo que afirmava sua existência real como
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objeto de intuição", Ardigà sustenta que "o caminho de nossa investigação explicativa nos leva sempre de um fato a outros e à sua relação recíproca, isto é, rumo à unidade e solidariedade dos múltiplos, na direção de uma totalidade que antecede uma distinção recíproca" (R. Ardigà y e! positivismo italiano, 1 943, p. 5). O "In distinto" aproxima-se, assim, de uma idéia reguladora. Mas o que regula é o metaempírico e não apenas a experiência imediata. Daí a moral de Ardigà, que, embo re rejeite todo sobrenaturalismo, recusa igualmente todo dogmatismo, incluindo o naturalista, e acaba por justi ficar filosoficamente a contingência, sem a qual nenhu ma moralidade autêntica é possível. A maioria dos dis cípulos de Ardigà seguiu esse caminho. É o caso de Giu seppe Tarozzi (vER), de Giovanni Marchesini (vrn), de Erminio Troilo (vrn). Alguns discípulos de Ardigà dedi caram-se à investigação histórica, como Rodolfo Mon dolfo (vER). Outros positivistas, como os mencionados Cesare Lombroso (vER) e Enrico ferri (vER), decidiram se, em contrapartida, pelo aspecto mais "objetivista" da doutrina e por isso chegaram a conclusões opostas no que tange aos problemas da contingência e da liberdade. :> Principais obras: Discorso s11 Pietro Pomponazzi, 1 869. - Psicologw come scienza positiva, 1 870. - La formazione natura/e ncl .fàtto dei sistema solare, 1 877. - La mora/e dei positivisti, 1 885. - Sociologia, 1 886. -- II vera, 1 89 1 . - La scienza dell 'educazione, 1 893. - La ragione, 1 894. - L'unità della coscienza, 1 898. - Entre outras obras, citamos: L'inconoscibile di H. Spencer e il positivismo. - La coscienza vecchia e !e idee nuove. - Empirismo e 1·cienza. -- L'inconoscibile di Spencer e il Noumeno di Kant. - L'idealismo della wxchia speculazione e il realismo delia filosofia positiva. - La perennità deipositivismo. -- II monismo meta.fisico e il monismo .1·cientifico. - Atto r[flesso e alto volontario. - Tesi meta.fisica, ipotesi scientifica,fatto accertato L'fnconscio. - I presupposti massimi problemi. - Le forme ascendenti della realtá come cosa e come azione e il diritto vera delio spirito. - Lo sp1rito, aspetto spe cifico culminante deli 'Energia in fimzione deli 'organismo anima/e. - Filosofia e positivismo. - La .filosofia vagabunda. Edição de obras: Operefilosofiche, 1 1 vols. (Pádua, 1 883- 1 9 1 2 ; vol. XI, 2ª ed , 1 9 1 8 ). É importante para a compreensão da origem do pensamento de Ardigà o escrito intitulado "Guardando il rosso d'una rosa", in cluído no vol . 1 O. - Edição de Scritti vari, 1 922, ed. G. Marchesini. Ver: G. Marchesini, La vila e il pensiero di R. A . , 1 907. -- /d. , L o spirilo evangelico di R . A . , 1 9 1 O. /d. , R. A. L'uomo e l 'umanista, 1 922. - E. Ferri, Sul positivismo di R. A . , 1 908. - R. Mondolfo, II pensiero di R. A . , 1 908. - C. Berardi, II pensiero filosofico di R. A . 1 908. - J. Blunstein, Der Positivismus Ardigàs,
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1 9 1 0. - !d. , Die Weltanschauung Ardigàs, 1 9 1 1 . - P. Orano, R. A . , 1 9 1 O. - E. Troilo, li maestro dei positi vismo italiano, 1 92 1 . - G. Tarozzi, R. A. Pro.filo, 1 928. - F. Amerio, A., 1 948; 2ª ed., 1 957. - R. Cavallaro, "II presupposto razionalistico nella filosofia deli' A.", Studia patavina ( 1 959), 73- 1 05 . - A. Guerra, li mondo de la sicurezza. Ardigà, Labriola, Croce, 1 964. - S. Mandolfo, l positivisti italiani, 1 966. - Wilhelm Bütte meyer, R. A. e la psicologia moderna, 1 969. - !d., Der erkenntnistheoretische Positivismus R. Ardigàs. Mil seinen zeitgeschichtlichen Beziehungen, 1 974. - M. Costenaro, "La 'Rivista di Filosofia Scientifica' e il po sitivismo italiano", Giornale Critico della Filosofia Ita liana, 5 1 ( 1 972), 92- 1 1 7. - G. Landucci, "Note sulla formazione dei pensiero di Roberto Ardigà", ibid. , 53 ( 1 974), 1 6-60. - M. Costenaro, "Scienza, Filosofia e metafisica nella 'Rivista di Filosofia Scientifica"', ibid. , 54 ( 1 975), 263-30 1 . e: ARGÜELLES, MANUEL. Ver DEúSTUA, ALEJANDRO 0CTAVIO. ARGUMENTO. Trataremos de um sentido especial do termo 'argumento ' no verbete QUANTIFICADOR, QUAN TIFICACIONAL, QUANTIFICADOR. Trataremos aqui do sentido mais geral desse termo: o que ele possui como raciocí nio mediante o qual se tenta provar ou refutar uma tese, convencendo alguém da verdade ou falsidade desta últi ma. Emprega-se também a este respeito o vocábulo 'ar gumentação' . A diferença às vezes estabelecida entre o argumento e a argumentação é, em nosso caso, pouco pertinente. Os antigos - sofistas, Platão, Aristóteles, céticos etc. - tinham dado considerável atenção à questão da natureza dos argumentos e de sua validade ou falta de validade. Alguns dos argumentos estudados eram de caráter lógico-formal, mas muitos não se encaixavam plenamente no âmbito da lógica. Isto foi reconhecido por Aristóteles; enquanto nos Analíticos ele abordou principalmente argumentos de tipo estritamente lógico, nos Tópicos e na Retórica tratou dos argumentos chama dos "dialéticos" ou argumentos meramente prováveis, ou raciocínios a partir de opiniões geralmente aceitas. Muitos autores modernos aceitaram essa divisão ou ou tra similar. Assim, Kant distinguiu o fundamento da prova (Beweisgnmd) e a demonstração (Demonstration). O fundamento da prova é rigoroso, ao passo que a de monstração não o é. Pode-se distinguir também prova ( vER) ou demonstração (na medida em que são logica mente rigorosas) e argumento (que não o é, ou não pre cisa sê-lo). Ao mesmo tempo, quando se fala de argu mento, pode-se considerar este: 1 ) como o que Aristó teles denominava "provas dialéticas" - por meio das quais se procura refutar um adversário ou convencê-lo da verdade da opinião sustentada pelo argumentador; e
ARGUMENTO
2) como raciocínio ou pseudo-raciocínio voltado antes de tudo para o convencimento ou a persuasão. Os limi tes entre essas duas formas de argumento são impreci sos, mas se pode considerar que a persuasão é demons trativamente mais "fraca" que o convencimento. Na maioria dos estudos dos argumentos, ao contrá rio das provas estritas, enfatizou-se a importância que tem o fato de que se consiga assentimento ao que é ar gumentado. Santo Tomás exprime essa característica definindo o argumento do seguinte modo: "dicitur, quod arguit mentem ad assentiendum alicui " (Quaestiones disputatae de veritate, q. XIV a. 2 ob. 1 4). A pessoa o aliquis - diante de quem se desenvolve o argumento, o leitor e especialmente o ouvinte ou ouvintes devem ser levados em conta, assim como as diversas circuns tâncias que cercam a argumentação. No verbete sobre a Retórica, voltaremos às vicissi tudes por que passou esta noção no decorrer dos séculos. Recordemos aqui que durante algum tempo, no passa do próximo, se costumava desprezar todo argumento "meramente retórico", mas que nos últimos anos voltou a manifestar-se certo interesse pelos problemas da retó rica e, por conseguinte, dos argumentos não estritamente formais. Entre outros exemplos desse tipo de interesse, mencionamos as obras de Ch. Perelman e L. Olbrechts Tyteca, e S. Toulmin, assim como o livro de Henry W Johnstone, Jr., relativo à argumentação em filosofia. Isso não ocorreu sem protestos (cf., por exemplo, Raziei Abelson, "ln Defense of Formal Logic", Philosophy and Phenomenological Research, 2 1 ( 1 960- 1 96 1 ], 334-345 ; Héctor Neri Castafi.eda, "On a Proposed Revolu tion in Logic", Philosophy ofScience, 27 ( 1 960], 279-292 [ambos relativos à obra de Stephen Toulmin]). Observou-se que o fato de acentuar que a "lógica" tem um aspecto prático não deve conduzir a negligenciar seu aspecto teórico predominante (Abelson, cf. supra, p. 33 8), ou que é melhor ater-se à norma de que "se critica um argumento porque este não é formalmente válido ou então porque tem no mínimo uma premissa falsa" (Castafi.eda, cf. supra, p. 292). Em não poucas ocasiões, é dificil distinguir prova estrita ou demonstração e argumento no sentido aqui abordado. Com freqüência, usam-se indistintamente os mesmos termos. Diz-se, por exemplo, "argumento onto lógico" e "prova ontológica" (preferimos esta última ex pressão). Também é dificil distinguir argumento e sofis ma, visto que alguns dos argumentos habitualmente em pregados são de caráter claramente sofistico. É o que acontece, por exemplo, com o chamado argumentum ad hominem: alguns julgam que é um sofisma, outros, que se trata de um argumento perfeitamente lícito. No verbete SOFISMA, arrolamos os chamados "argumentos aparentes" mais conhecidos. Ocuparia muito espaço fornecer uma lista razoavelmente completa dos que poderiam ser quali ficados de tipos de "argumentos lícitos" de caráter mais
ARGUMENTO
ou menos "retórico"; limitar-nos-emos a mencionar al guns dos registrados por Ch. Perelman e L. Olbrechts Tyteca em seu Traité de / 'argumentation. Argumento mediante analogia (não um conceito rigoroso de analogia [vER], mas um conceito frouxo, tal como o exemplificado em Joseph Butler [VER]). Argumento baseado na "autofagia" (que consiste em indicar que o que se diz acerca de uma doutrina não se aplica à doutrina; como um dos argumentos dirigidos contra a noção positivista de verificação [VER]). - Argu mento de autoridade (especialmente efetivo quando a au toridade invocada mantém em outros aspectos opiniões opostas às do argumentador). - Argumento fundado num caso particular (que se supõe típico, embora às vezes não o seja, ou seja dificil determinar se o é). Argumento ad hominem, também chamado ex concessis (que se refere à opinião sustentada pelo interlocutor, ao contrário do argumento ad rem, que se refere ao próprio assunto), uma de suas formas é o argumento ad huma nitatem (quando a opinião a que se refere é considerada a de toda a humanidade); ambos têm em comum o ques tionamento dos interesses da pessoa ou pessoas conside radas. - Argumento por conseqüências (quando se derivam conseqüências que se supõem inadmissíveis, particularmente na esfera moral, pois do contrário temos o tipo lógico-formal da reductio ad absurdum ). - Argu mento a pari (pelo qual se procura aplicar uma opinião ou disposição a outra espécie do mesmo gênero). Argumento a contrario (pelo qual se procura não aplicar uma opinião ou disposição a outra espécie do mesmo gênero). - Argumento do dilema (ver DILEMA)- Ar gumento etimológico (no qual o sentido de um termo ou expressão que se supõe mais originário é conside rado o sentido capital ou verdadeiro). - Argumento afortiori (ver A FORTIORI ) . - Argumento pelo ridículo (no qual se supõe que ridicularizar a opinião de um in terlocutor constitui um argumento contra ela). - Ar gumento pelo superfetatório (no qual se rejeita uma opinião por considerar que as conseqüências implícitas ou explícitas do afirmado são desnecessárias). Há muitos outros argumentos do tipo assinalado; no tratado de Perelman e Olbrechts-Tyteca, podem-se en contrar não apenas descrições detalhadas da maior parte desses argumentos, como também exemplos deles e va riedades desses exemplos. Como observamos antes, discutiu-se igualmente a questão da natureza dos argumentos filosóficos. Muitas são as teses propostas a esse respeito: os argumentos filosóficos devem ser (ou tender a ser) de natureza es tritamente lógico-formal; devem ser principalmente (ou exclusivamente) "retóricos" no sentido antes indicado; devem "usar" os procedimentos estabelecidos pela lógi ca formal, mas não ser determinados por eles (salvo no que tange à sua validade ou não validade lógica), e sim
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por considerações de tipo "material" ou relativas ao "conteúdo" dos problemas abordados. Indicou-se do mesmo modo que os argumentos filosóficos se baseiam sempre em certos pressupostos em última análise inde monstráveis, de maneira que, como indica Henry W. Johnstone, Jr. ( cf. infra, p. 1 1 7), "as considerações lógi cas não têm mais peso na crítica ou defesa de um siste ma ontológico que as considerações fundadas em fatos" Por isso, "um argumento filosófico construtivo, quando válido, se parece muito com um argumentum ad homi nem válido. A única diferença importante é que o filóso fo que usa um argumento construtivo considera o que ele mesmo tem de admitir em conformidade com seus próprios princípios de raciocínio ou de acordo com sua própria conduta ou atuação antes de considerar o que outra pessoa tem de admitir" (op. cit. , p. 79). :> Ver: Ch. Perelman e L. Olbrechts-Tyteca, Rhétori que et Philosophie, 1 952. - !d., Traité de l 'argumen tation. La nouvelle rhétorique, 2 vols., 1 958 (trad. esp. da "Introdução" em: Retórica y Lógica, 1 959 [Suple mentos dei Seminario de Problemas Científicos y Filo sóficos. Univ. de México, n. 20, Segunda Série]). Stephen E. Toulmin, The Uses of Argument, 1 958. Henry W Johnstone, Jr., Philosophy and Argument, 1 959. - John Passmore, Philosophical Reasoning, 1 96 1 . Ch. Perelman, I. Belaval, H. W Johnstone et ai., artigos sobre 'Targumentation", em Revue Internationale de Philosophie, 1 5 ( 1 96 1 ), 327-342. - David P. Gauthier, Practical Reasoning: The Structure and Foundations of Prudential and Moral Arguments and Their Exemplifi cation in Discourse, 1 963. - VV.AA., artigos em Logi que et analyse, 6 ( 1 963); reimp. num volume com o titulo de La théorie de / 'argumentation: Perspectives et appli cations, 1 963 (Homenagem a Chai'm Perelman). - J. Wahl, N. Rotenstreich, J. Passmore e J. Marias, Simpo sium sobre la argumentación filosófica, 1 963 (do XIII Congresso Internacional de Filosofia). - Mauríce Na tanson e Henry W Johnstone, Jr., eds., Philosophy, Rhe toric and Argumentation, 1 965. - Chai'm Perelman, Le champ de / 'argumentation, 1 970 (coleção de artigos). - Nicolas Rescher, Plausible Reasoning: An lntroduction to the Theory and Practice of Plausibilistic Inference, 1 976. - P. T. Geach, Reason and Argument, 1 977. G. Vignaux, L'argumentation. Essai d 'une logique dis cursive, 1 976. - R. Lauth, Theorie des philosophischen Arguments. Der Ausgangspunkt und seine Bedingungen, 1 979. - B. A. Wilson, The Anatomy ofArgument, 1 980. - E. J. Meehan, Reasoned Argument in Social Science, 1 98 1 . - S. N. Thomas, Practical Reasoning in Natural Language, 1 98 1 . - L. Wright, Better Reasoning: Techniques for Handling Argument, Evidence, and A bs traction, 1 982. - J. Fahnestock, M. Secor, A Rhetoric of Argument, 1 982. - J. Cederblom, D. W. Paulsen, Criti cai Reasoning, 1 982; 3ª ed., 1 99 1 . - J.-C. Anscombe,
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ARISTIPO
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213 ataraxia, mas também à áÀunía (ausência de pesar), à áq>o(3ía (ausência de temor) e à áná8e1a (apatia, au sência de paixões); todas elas constituem simplesmente a liberdade, ánÀwç EÀEU0epía (Diat. , IV 3, 1 -8). A ataraxia é para Pirro o apogeu da suspensão do juízo (ver EPoCHÉ); deve-se praticá-la para alcançar a atara xia (Diog. L., X 66), coisa que só pode ser feita por um homem capaz de viver sem preferências. Em contra partida, Arcesilau (apud Sexto, Hyp., 1 232) considerou a ataraxia como sintoma da suspensão do juízo e não seu coroamento. A noção de ataraxia funda-se nos mesmos pressu postos e suscita os mesmos problemas das noções afins empregadas pelos filósofos mencionados. Ela se funda 1 ) na divisão, sobretudo elaborada pelos estóicos, entre o que está em nossa mão e o exterior a nós e na suposi ção de que o último inclui as "paixões"; 2) na confiança de que o homem como ser racional (ou pelo menos os filósofos como seres eminentemente racionais) é capaz de conseguir a eliminação das perturbações; e 3) na idéia de que a tranqüilidade é (pelo menos moralmente) melhor que a experiência. Os problemas suscitados são principalmente os que questionam se esses pressupostos são tão aceitáveis, tão claros ou, em última análise, tão desejáveis quanto se imagina. Além disso, esta noção suscita o problema relativo a se uma definição da 'liber dade ' como a apontada por Epicuro não é excessiva mente "negativa"
ATEÍSMO. Ser ateu, ou abraçar o ateísmo, é negar que haja Deus, ou negar que haja deuses, ou negar que haj a alguma realidade que possa chamar-se "divina", ou todas essas coisas ao mesmo tempo. Normalmente, cada uma das negações mencionadas deu lugar a alguma forma particular de ateísmo. O ateísmo daquele que nega que haja Deus costuma opor-se ao teísmo (vER) e até ao deísmo (vER), embora H. R. Burkle (cf. bibliogra fia) tenha estabelecido uma distinção entre ateísmo e antiteísmo: este último consiste não apenas em negar que Deus existe como também, e sobretudo, em negar que a noção de existência seja aplicável a Deus (como ocorre com Sartre, ou "o primeiro Sartre"). O ateísmo daquele que nega que haja deuses opõe-se ao politeísmo; do ponto de vista politeísta, os cristãos eram vistos como "ateus" ou "sem deuses", á0eoí. É menos claro a que se opõe aquele que nega que haja alguma realidade "di vina", mas, como esta é amiúde identificada com algo sobrenatural (vER), o último tipo de ateísmo costuma opor-se ao sobrenaturalismo. Por outro lado, mesmo em cada um dos três casos citados podem ocorrer diferen tes formas de ateísmo, real ou imaginado, cuja descri ção requer atenção a condições sociais, culturais e his tóricas específicas. O próprio nome 'ateísmo' surgiu apenas no fim do século XVI, mas a noção de ateísmo, em alguma de
ATENAS (ESCOLA DE)
suas muitas formas, e sobretudo a acusação de "ateísmo" são bastante anteriores. Alguns filósofos gregos, como Anaxágoras, e depois Sócrates e o próprio Aristóteles, foram denunciados por, ou acusados de, "impiedade'', ácré(3e1a, o que não é muito diferente de "ateísmo", se se entende por isso a negação, suposta negação, ou "ne gligência'', dos "deuses da cidade" O averroísmo, ou o que se entendia por isso do século XIII ao século XV, serviu amiúde como acusação de algo semelhante a uma espécie de "ateísmo" Durante muito tempo, 'ateísmo' e ' spinozismo' foram tidos por sinônimos, considerando -se também como sinônimos 'ateísmo' e 'panteísmo' (vER). Toda idéia de separação entre a Igreja e o Estado foi equiparada ao ateísmo; por isso, muitos considera ram Hobbes ateu. A religião natural, o deísmo (VER) e o livre-pensamento (ver LIVRE-PENSADORES) foram igual mente considerados manifestações de um ateísmo mais ou menos pronunciado. De maneira geral, estabeleceu -se uma identificação entre ateísmo e materialismo. Na história da filosofia moderna, teve especial ressonância a chamada "disputa do ateísmo" (Atheis musstreit), iniciada em virtude da publicação por Fichte, em 1 798, do ensaio intitulado Über den Grund unseres Glaubens an eine gottliche Weltregierung (Sobre o fun damento de nossa crença numa ordem [governo} cósmi ca), no qual o autor identificou Deus com a ordem, o governo, moral do mundo. Acusado de ateísmo, Fichte teve de abandonar seu posto como docente na Univer sidade de lena, transferindo-se em 1 799 para Berlim. O próprio Fichte insistiu no fato de que a "ordem moral" de que falava não era uma ordem moral dada, mas uma ordem ativa, que está se fazendo, de modo que identi ficar a ordem moral com Deus não equivale a negar Deus. Deus é para Fichte uma "ordem que ordena" :> Uma história clássica do ateísmo é a de Fritz Mauth ner, Der A theismus und seine Geschichte im A bendlan de, 4 vols., 1 922- 1 924; repr., 1 963. Deu-lhe prossegui mento Werner Gent, Untersuchungen zum Problem des A theismus. Ein Beitrag zur weltanschaulichen Situa tion unserer Zeit, 1 964. Outras histórias: Hermann Ley, Geschichte der A ujkliirung und des A theismus, 5 vols., 1 966- 1 972. - G. Girardi, L'Ateismo contemporaneo, 5 vols., 1 967 (trad. esp . : E! ateísmo contemporáneo, 5 vols., 1 97 1 - 1 973). e
ATENÁGORAS. Ver APOLOGISTAS. ATENAS (ESCOLA DE). Na história da filosofia grega, denomina-se às vezes "periodo ateniense" ou também ático o periodo que vai de meados do século V ao final do século IV a.C. Nesse periodo se incluem os sofistas, Sócrates, alguns socráticos, Platão, Aristóteles e vários antigos acadêmicos e peripatéticos. De modo mais próprio, dá-se o nome de Escola de Atenas a um dos ramos do neoplatonismo (vER). Trata -se da direção neoplatônica representada por Plutarco de Atenas (que deve ser distinguido de Plutarco de Quero-
ATENÇÃO
néia), Siriano, Domnino Marino, Isidoro e, sobretudo, Proclo, Damáscio, Simplício e Prisciano. Esta escola pertence, por seu turno, à chamada direção metafisico -especulativa do neoplatonismo. Caracteriza-se por sua forte tendência teológica e sistemática, por sua aplica ção da lógica - ou, melhor dizendo, da dialética - às especulações metafisicas, por sua tendência a desenvol ver vários aspectos da teologia dialética e pela atenção dada à idéia de emanação, em especial mediante o uso do sistema triádico. Além disso, os neoplatônicos ate nienses se destacaram por seus comentários a obras de Platão e Aristóteles (e Simplício por seu comentário ao Encheiridion de Epicteto). Nem todos os filósofos da escola de Atenas nasceram nessa cidade. Domnino nasceu na Síria; Proclo, em Constantinopla; Marino, em Neápolis (Sichem, Samaria). Expusemos as doutrinas particulares de vários dos filósofos citados nos verbetes sobre Siriano, Marino, Proclo, Damáscio e Simplício, e as tendências gerais no verbete sobre o neoplatonismo. Acrescentemos aqui que Plutarco de Atenas teve influência principal mente por seus comentários a diálogos platônicos e ao tratado aristotélico De anima; que Domnino escreveu tratados matemáticos (e nem sempre mostrou fidelidade completa aos princípios neoplatônicos); que Isidoro (bio grafado por Damáscio) seguiu os passos de Jâmblico; e que Prisciano escreveu uma compilação (da qual temos a versão latina intitulada Solutiones eorum de quibus dubitavit Chosroes Persarum rex) por incumbência do rei persa Cosroés, em cuja corte se abrigou - junto com Simplício e Damáscio - quando a escola ateniense foi fechada, em 529, por ordem de Justiniano. :> Ver bibliografia de NEOPLATONISMO. Para os comentá rios a Aristóteles de alguns dos autores mencionados, ver Commentaria in Aristotelem Graeca indicados em ARIS TOTELISMO. Para Domnino: 'EY)(ElpÍÓ!ov àp18µ11T1KfíS eicraywyfiç, ed. Boissonade, Abec. Graeca, IV, 4 1 3-429; nws EcrTl Myov EK Myou àcpeÀe'iv, ed. e. E. Ruelle, Revue de philologie, 7 ( 1 883), 82-94. - As Solutiones e a M ETácppams Twv 8eocppámwv rrep\ aicr0Jícrews de Prisciano foram editadas por I. Bywater em Supp. Aris totelicum, I, 2, 1 886. C:
ATENÇÃO. A noção de atenção foi abordada pela maio ria dos filósofos em perspectiva psicológica. Ela foi definida muitas vezes como certa capacidade da mente - fundada em processos orgânicos ou pelo menos rela cionada com eles - de canalizar os processos psíquicos, e em particular o pensamento, para certas vias. De modo muito geral, ela pode ser definida como concentração de energias psíquicas. A atenção pode ser considerada um processo potencial ou um processo atual, segundo a distinção escolástica entre uma atenção secundum virtu tem e uma atenção actualis. Distinguiu-se entre a atenção espontânea e a atenção voluntária. Esta última foi consi derada uma atenção consciente. Mas como a consciência da atenção pode, e costuma, distrair a atenção, o conceito
214 de atenção voluntária e consciente foi objeto de muitos debates entre filósofos e psicólogos. Alguns afirmaram que a vontade e a consciência se encontram somente no processo inicial da atenção; outros, que na atenção há sempre, se não uma consciência, pelo menos um ato voluntário. Interessam-nos aqui sobretudo as explicações do conceito de atenção que, embora baseadas em dados psi cológicos, têm implicações epistemológicas e, em al guns casos, ontológicas, ou pelo menos ontológico-an tropológicas. O exame psicológico-epistemológico da atenção foi efetuado especialmente por filósofos do senso comum, ideólogos e "sensacionistas". Assim, por exemplo, Destutt de Tracy supunha que a atenção é antes um estado de ânimo que uma faculdade, de modo que se poderia eliminar em princípio a vontade da aten ção. Reid (Intellectual Powers, Essay, I, c. 5) assinalou, em contrapartida, que a atenção é um ato voluntário, sendo a consciência, em contrapartida, involuntária. Condil lac (Essai sur / 'origine des connaissances hu maines, c. III) distinguiu atenção ativa e atenção passiva; numa há vontade, na outra não. Laromiguii:re (VER) con siderou que a atenção é "a primeira faculdade"; dela derivam todas as restantes. Hamilton comparou a aten ção com a abstração (ver ABSTRAÇÃO, ABSTRATO). Embora se achem expressas em linguagem filosófica, as defi nições e concepções anteriores estão condicionadas na maioria das vezes por questões de natureza epistemo lógica. Em Hamilton, sobretudo, observa-se um interes se decididamente epistemológico, pois mediante o es tudo do fenômeno da atenção se procuram determinar não apenas os modos de apreensão das ' idéias ' , mas também a natureza - "psicológica" ou "transcenden tal" - destas. A atenção como fenômeno primordial capaz de esclarecer não só os modos de operação psíquicos como certas atitudes humanas básicas foi obj eto de reiterada averiguação desde o fim do século XIX. James Ward ( vER) afirmou - contra Bradley - que não se pode identificar a vida psíquica com uma massa indiferen ciada, seja de sensações, seja de um "sentimento primá rio" ou "experiência imediata". As atividades psíquicas o são de um eu - de um "eu puro" -, e esse eu é principalmente a atenção. Esta última é para Ward a consciência; melhor ainda, é o que dirige toda consciên cia em sua atividade. A atenção pode ser maior ou me nor, mas não há possibilidade de vida psíquica - e de apresentação de nenhum conteúdo ao eu - sem certa dose de atenção. A atenção não se dissolve nas apresen tações, nem na experiência indiferenciada: ela acompa nha todas as apresentações e toda experiência. Se se levam as idéias de James Ward a suas conseqüências últimas, e se admite que há no homem um desenvolvi mento psíquico máximo, pode-se concluir que o ser humano é definível como "um suj eito em atenção"
215 Santayana chegou a considerar a atenção como a princi pal, e talvez a única, via de acesso ao reino das essên cias (cf. "The Realm of Essence", cap. I, em The Realms of Being, 1 942, p. l 5), pois, embora essa atenção seja uma "faculdade animal" suscitada pela paixão, pode alcançar no homem o nível de "apreensão ontológica" (Santayana não usa, porém, esta última expressão). Em sentido diferente dos anteriores, Husserl exami nou a noção de atenção. Criticando as teorias psicolo gistas e ao mesmo tempo nominalistas da abstração formuladas, entre outros autores, por Hamilton e John Stuart Mil!, Husserl observou que "se a teoria que apóia a abstração na atenção (considerada então uma mera operação) é exata; se a atenção a todo objeto e a atenção às partes e caracteristicas do objeto são, no sentido dessa teoria, um só e mesmo ato, que só se distingue pelos objetos a que se dirige, disso decorre que não há espé cies para nossa consciência, para nosso saber, para nosso enunciar" Portanto, "o sentido unitário do termo ' aten tar' não exige, de forma alguma, 'conteúdos', no senti do psicológico, como objetos aos quais atentamos, e ainda rebaixa toda a esfera do pensar". A atenção recai sobre "os objetos mentais que adquirem evidência ' in telectiva' na execução dos atos sobre essa base", sobre "os objetos e situações objetivas apreendidos mental mente desta ou daquela maneira" Assim, a atenção chega até onde chega o conceito de "consciência de algo" (cf. Investigaciones lógicas, trad. Morente-Gaos, tomo II, cap. ii). Deve-se observar que, apesar da lingua gem empregada por Husserl, sua idéia da atenção como consciência é distinta da de James Ward antes apresen tada; não é uma idéia psicológica, mas fenomenológica (ou, se se quiser, pré-fenomenológica). Husserl abordou em várias ocasiões a noção de atenção de acordo com a concepção correspondente da consciência (vER), mas destacou essa noção, sobretudo ao falar dos diversos mo dos de consciência. Ele afirmou, por exemplo, que há três modos possíveis de consciência: o atual, em que o "objeto intencional" está presente na consciência; o potencial, onde há mera possibilidade de presença; e o atencional, que resulta da "atenção" da consciência ao objeto. Subli nhar este modo de atenção significa ao mesmo tempo destacar os aspectos "ativos" da consciência. E quando, em vez de falar de consciência como conjuntos de atos que constituem o puro fluxo do vivido, se fala da consciência como foco dos atos, o modo atencional da consciên cia adquire crescente importância. Pode inclusive iden tificar-se com o eu puro e ajudar a esclarecer a questão da constituição transcendental da consciência por meio da "atenção" Parece que há em Husserl uma idéia da atenção de caráter antes "ontológico" que psicológico ou até epistemológico. E até parece esboçar-se nas idéias citadas uma noção da atenção como "modo existencial" próprio do homem, na medida em que seu ser consiste principalmente num "estar . no mundo"
ÁTICO
Se seguirmos esta argumentação, poderemos afir mar o seguinte: enquanto o animal não possui atenção (ou possui uma "capacidade de atenção" muito peque na), o homem se constitui como tal em virtude precisa mente de que o "estar atento" lhe permite abrir-se ao mundo como tal mundo, isto é, não apenas como um âmbito em que se dão os estímulos e sobre o qual operam as reações, mas, além disso, como a região em que se dá a possibilidade das objetivações. O estar no mundo e a atenção a ele são condições primárias da existência do homem, e a atenção assume com isso sentido existencial. Assim foi vista a questão por alguns existencialistas ou "fenomenólogos" (especialmente Merleau-Ponty) ao indicar que a atenção não é um simples enfocar os objetos para iluminá-los. O conheci mento derivado da atenção é algo que não ocorre pela mera justaposição do real e da consciência atenta. A atenção precisa o horizonte da "visão" � Além das obras dos autores citados no verbete, ver: Théodule Ribot, Psychologie de l 'attention, 1 885. - Harry E. Kohn, Zur Theorie der A ufmerksamkeit, 1 895. W 8. Pillsburg, L'attention, 1 906. - E. Düpp, Die Lehre von der Aufmerksamkeit, 1 907. - Nicolas Apostolescu, Emotivitate si atentie, l 938. - A. Bal, L'at tention et ses ma/adies, l 952. - E. G. Schachtel, Meta morphosis: On the Development of Affect, Perception, A ttention, and Memory, 1 959. - Alan R. White, Atten tion, 1 964. Para o conceito de atributo na filosofia judaica medieval: D. Kaufinann, Geschichte der Attributenlehre in der jüdischen Religionsphilosophie des Mittelalters von Saadja bis Maimuni, 1 877. - David Neumark, Geschichte der jiidischen Philosophie des Mittelalters nach Problemen dargestellt, Bd. II (Attributenlehre), 1 9 1 0. [Refere-se à teoria dos atributos não só nos filóso fos judeus medievais, mas também na Grécia, especial mente Platão, assim como na Bíblia, em relação "aos nomes de Deus" etc.] . Para o conceito de atributo em Spinoza: E. Becher, Der Begriffdes Attributes bei Spinoza in seiner Entwi cklung und seinen Beziehungen zu den Begriffen der Substanz und des Modus, 1 905. Ver também: M . J. Loux, Substance and A ttribute: A Study in Ontology, 1 978. Ver: Manlio Ciardo, Natura e Storia nell 'idealismo attuale, 1 949. - Giovanni Tuni, Filosofia e scienza nell 'attua/ismo, 1 95 8 . Franco Spisani, Natura e spi rito nel/ 'idealismo attuale, 1 962. Há numerosos trabalhos sobre atualismo e lógica modal. Ver, por exemplo: A. Plantinga, "Actualism and Possible Worlds'', Theoria, 42 ( 1 976), 1 3 9- 1 60. - R. M. Adams, "Actualism and Thisness", Synthese, 5 7 ( 1 9 8 1 ), 3-42. - A. Me Michael, "A Problem fo r Actua lism about Possible Worlds", Philosophical Review, 92 ( 1 983), 49-66. - M. J. White, "Harmless Actualism", Philosophical Studies, 47 ( 1 985), 1 83 - 1 90. - M. Lo sonsky, "No Problem for Actualism", Philosophical Review, 95 ( 1 986), 95-97. - A. Me Michael, "Actualism: Still Problematic'', Philosophical Studies, 50 ( 1 986), 283-287. - H. Hodes, "lndividual-Actualism and Three-Va lued Modal Logics, Part !: Model-Theoretic Semantics", Journal ofPhilosophical Logic, 1 5 ( 1 986), 369-40 1 ; "Part II: Natural-Deduction Formalizations", ibid. , 1 6 ( 1 987), 1 7-63 . - H. Zellner, "Spinoza's Temporal Argument for Actualism", Philosophy Research Archives, 14 ( 1 988- 1 989), 303-309. - C. Menzel, "Actualism, Ontological Commitment, and Possible World Semantics", Synthese ( 1 990), 355-389. - !d. , id. , "Temporal Actualism and Singular Foreki1owledge", em Philosophical Perspectives, 5: Philosophy of Religion, ed. J. E. Tomberlin, 1 99 1 . C: --
AUGUSTINUS TRIUMPHUS. Ver EGio10 ROMANO. AURIOL, PEDRO. Ver PEDRO AuRIOL. AUROBINDO, GNOSH SRI ( 1 872- 1 950). Foi educa do na Inglaterra - em Londres e em Cambridge (King's College) - e, depois de participar das lutas políticas como um dos líderes da ala nacionalista radical do Con gress Party indiano, mudou-se para Pondichéri, onde se dedicou à vida espiritual, formando numerosos discí pulos e seguidores. Aurobindo desenvolveu uma doutrina metafisico -teológica ao mesmo tempo emanatista e evolucionista, incorporando a ela elementos procedentes dos Upanixa des (VER) da escola Yoga ( VER) e da tradição idealista
do Ocidente. Antes de tudo, ele acentuou a unidade de Brahrna, que concebeu como um Absoluto reivindicado pela razão se esta deseja sair de si mesma e de sua pró pria insuficiência. Brahma é a unidade que se derrama evolutivamente na multiplicidade e tem as três proprie dades do Ser, da Força-Consciência e da Beatitude. A realidade é produto da emanação e diferenciação do Absoluto; deste surge, como de uma fonte inesgotável, o mundo todo, que se desenvolve numa série de formas até chegar à matéria. Ao mesmo tempo, a matéria con tém em potência as formas superiores, em direção às quais vai evoluindo. O homem representa o momento principal do processo de reabsorção do mundo na "Vida Divina'', mas para que se efetue plenamente essa reabsor ção é preciso que o homem supere seu desejo do múl tiplo e particular. O instrumento capital dessa superação é a prática do Yoga integral (Hatha Yoga), série de exer cícios espirituais que levam o homem à pura vida con templativa e à sua imersão na Vida Divina. O primeiro estágio nesse processo de divinização é a formação de um homem superior, de um novo "primeiro homem", germe da transformação e divinização do mundo. :> Principais obras: Basis of Yoga, 1 936. - The Life Divine. The Philosophy of Sri Aurobindo, 3 vols., 1 942. - A System of National Education: Some Preliminary Jdeas, 1 948. - The Human Cycle, 1 949. Lights on Life-Problems, 1 950. - On Yoga. !: The Synthesis of Yoga, 1 950. - Ideal ofHuman Unity, ed. rev., 1 950. Problem of Rebirth, 1 952. - The Man ofLight: Essays Written in the lndian Philosopher 's Later Years for His Ashram Journal on Physical Education, 1 953. The Foundation ofIndian Culture, 1 954. - The Future Evo lution of Man: The Divine Life upon Earth, 1 963 . Em português: Sabedoria de Sri Aurobindo, 1 999. Biografia: A. B. Purani, Life ofS. A., 1 958; 2ª ed., 1 960. Ver: S. K. Maitra, An Introduction to the Philosophy ofS. A . , 1 94 l ; reimp., 1 965. - Id. , The Meeting ofEast and West in S. Aurobindo 's Philosophy, 1 956; reimp., 1 968. - N. K. Gupta, The Yoga of S. A., 2 vols., 1 948- 1 950. - S. Bahrati, The Integral Yoga ofS. A . , 1 949. Haridas Chaudhuri, S. A . : The Prophet ofthe Life Divine, 1 95 1 ; 2ª ed., 1 960; reimp., 1 973. - Id. , The Philosophy ofIntegralism, ar the Metaphysical Synthesis inherent in the Teaching ofS. A . , 1 954. - A. C. Das, S. A . and some Modem Problems, 1 958. - H. Chaudhuri e F. Spiegel berg, eds., The Integral Philosophy of S. A . , 1 960 (com trinta colaborações de Ch. A. Moore, P.A. Sorokin, N. Smart et ai. ). - V. P. Varma, The Political Philosophy of S. A . , 1 96 1 . - Satprem (pseudônimo), S. A. ou l 'aventure de la conscience, 1 964. - K. W Bolle, The Persistence of Religion: An Essay on Tantrism and S. Aurobindo 's Philosophy, 1 965. - Roque Ferriols, The "Psychic Enti ty " in Aurobindo 's The Life Divine, 1 966. - Robert Seilley, Çri A., philosophe du yoga intégral, 1 970. Jesse Roarke, S. A . , 1 973. - Angelo Morretta, A. e il -
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AUSÊNCIA
futuro dell 'uomo, 1 974. - M. P. Pandit, S. A . : A Survey 1 8 72- 1 9 72, 1 974. - S . P. Singh, Sri Aurobindo and Whitehead on the Nature ofGod, 1 972. - S. K. Baner j i , Sri Aurobindo and the Future of Man: A Study in Synthesis, 1 974. - W. Cenkner, The Hindu Personality in Education: Tagore, Gandhi, Aurobindo, 1 976. - J. O ' Connor, The Questfor Política! and Spiritual Libe ration: A Study in the Thought ofSri Aurobindo Ghose, 1 97 7 . As obras de Avicena são numerosas. Destacamos as seguintes, indicando as edições: A I- Si/à (A Cura), Teerã, 2 vols., 1 303/ 1 886; outra ed., Cairo, 1 952, ed. completa, 2 vols., 1 960-? - A l-Nayãt (A Salvação), Cairo, 1 3 3 1 / 1 9 1 3 , ed. Muhyi al-Din Sabri al-Kurdi, 1 9 1 3 , 2ª ed., 1 93 8 . - Kitãb al-l�ãrãt wa-1 Tanbihãt (Livro de teoremas e avisos para lógica e sabedoria), ed. Forget, Leiden, 1 892; outra ed., Remarks and Admo nitions. Part one: Logic, trad., introd. e notas de S. C. Inati, Leiden, 1 984. - Risãlat al-lf udüd (Compêndio das definições), Cairo, 1 326/ 1 908, na coleção Tis ' rasã' il fi-l lfikma wa-1- Tabi 'iyyãt. Há outras obras menores na mesma coleção, das quais é importante filosofica mente o escrito intitulado Aqsam ai- 'Ulüm ai- 'aqlyya (Divisões das ciências inteletuais). - Mantiq al-Ma�ri qiyyin (Lógica dos orientais), Cairo, 1 328/ 1 9 1 O. - A Cura foi (erroneamente) denominada de Sujficientia na Idade Média e compreende uma lógica, uma física, uma psicologia, uma cosmologia e uma metafísica. Traduções latinas: Opera in fucem redacta ac nuper quantum ars niti potuit per canonicos emmendata. Lo gyca. Sujficientia. De coe/o et mundo. De anima. De animalibus. Philosophia prima, Venetiis, 1 495 (reimp., 1 960), 1 508 (reimp., 1 960), 1 546. - Trad. latina de Me taphysices compendium, de N. Carama, Roma, 1 926. Transcrição, revista, de De anima, por G. P. Klubertanz, S. J., da ed. de Veneza de 1 508, 1 949 (mimeog.). Avicenna Latinus. Liber de philosophia prima seu scientia divina, !-IV, ed. crítica da trad. latina medieval por S. van Riet, I 977. - Ed. do original persa e trad. inglesa: Avicenna s Treatise on Logic: Part one of Danesh-Name
AVICENISMO Alai (A Concise Philosophical Encyclopaedia) andAuto biography, ed. Farhang Zabeeh, 1 97 1 . Bibliografia em A.-M. Goichon, Introduction à Avi cenne. Son Êpitre des Définitions, 1 93 3 , pp. xxvi -xxxvii (correções em Distinction, pp. xiv e 505), e em M. Cruz Hemández, La metafisica de Avicena, 1 949. - Bibl. em persa por Yahya Mahdavi, 1 954. Osman Ergin, lbín Sina bibliografYasi, 1 956. Ver: 8. Carra de Vaux, Avicenne, 1 900; reimp., 1 974. - C. Sauter, Avicennas Bearbeitung der aristotelischen Metaphysik, 1 9 1 2. - Djémil Saliba, Étude sur la méta physique d 'A ., 1 926. A.-M. Goichon, La distinction de l 'essence et de l 'existence d 'apres !bn Sina, 1 937. /d. , Léxique de la langue philosophique d 'lbn Sina, 1 938 (suplemento: 1 939). - /d. , La philosophie d 'A . et son influence en Europe médiévale, 1 944; 2ª ed., ampliada, 1 95 1 . - Também o livro citado no princípio da biblio grafia. - M. Amid, Essai sur la psychologie d 'A ., 1 940 (tese). - M. Cruz Hemández, La metafisica de Avicena, 1 949 (tese), e a seleção de textos intitulada Sobre Meta fisica ( 1 950), com introdução e notas. - L. Gardet, La pensée religieuse d 'A . , 1 95 1 . - V árias autores, Avicenna: Scientist and Philosopher. Millenary Symposium, 1 952, ed. G. M. Wickens (com bibliografia depois de cada capítulo). - Ernst Bloch, Avicenna und die aristotelische Linke, 1 952, nova ed., 1 963 (trad. esp.: A. y la izquierda aristotélica, 1 968). - Soheil M. Afuan, Avicenna: His Life and Works, 1 958. - Osmart Chanine, Ontologie et théologie chez A., 1 962. - Parviz Morewedge, The Metaphysics ofAvicenna (ibn Sina), 1 973. - William E. Gohlman, Avicenna: The Life of lbn Sina, 1 974. O. C. Gruner, A Treatise on the Canon of Medicine of A . , 1 970. - H. Corbin, A . et /e récit avicennien. Étude sur /e cycle des récits avicenniens, 1 979. - A. Badawi, M. Cruz Hemández et ai. , Milenario de A . , 1 98 1 (Sim pósio, Madri, março de 1 980). - G. Verbeke, A. Grun dleger einer neuen Metaphysik, 1 98 3 . - S. Kemal, The Poetics of A lfarabi and Avicenna, 1 99 1 . C -
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AVICENISMO. A filosofia de Avicena exerceu grande influência durante o século XIII e parte do século XIV Ela foi, sem dúvida, muito combatida por vários filóso fos escolásticos. Mas isso mostra que suas teses se en contravam bem vivas na mente dos pensadores dessa época. De resto, o combate não foi possível sem a aco lhida de uma importante parte das teses do filósofo. Falou-se por esse motivo de um avicenismo latino. Gilson referiu-se a um agostinismo avicenizante, patente em diversos autores (por exemplo, em Henrique de Gand). Segundo A.-M. Goichon, podem-se distinguir três fases na influência exercida por Avicena: 1 ) Desde a época das primeiras traduções de Aristóteles (ca. 1 1 30) até a reação de Guilherme de Alvémia (por volta de 1 230); 2) Desde o decreto pontifício de 1 23 1 que permitiu o es tudo de Aristóteles (e, portanto, de seus comentadores)
AVIDYÃ até as compilações de Alberto Magno (em 1 250, apro ximadamente); 3) Desde 1 253 - data do aparecimento de De ente et essentia, de Santo Tomás - até o térmi no da síntese tomista. A partir destas últimas datas, a influência de Avicena se fez sentir sobretudo por meio dos comentadores do Aquinate. Não podemos nos esten der aqui acerca dos pontos específicos nos quais se reflete melhor a influência do filósofo árabe. Recorda remos apenas que um dos mais debatidos aspectos capitais de sua doutrina foi a teoria da essência (VER) e a posição adotada na questão da distinção entre a essência e a existência (vER). Como vimos no verbete dedicado a esta última noção, autores como Guilherme de Alvérnia, São Boaventura, Santo Tomás e outros estavam muito próximos de Avicena a esse respeito. E, tal como o mostrou Gilson, mesmo a doutrina de John Duns Scot, embora não admita essa distinção, não pode ser entendida adequadamente - ao menos no que diz respeito à questão do caráter unívoco (vER) do ser sem a consideração da doutrina avicenista sobre a essên cia como pano de fundo. :> Ver: É. Gilson, "Les sources gréco-arabes de l' au gustinisme avicennisant'', Archives d 'histoire doctrinale et littéraire du moyen âge, 4 ( 1 930), 74- 1 07. - R. de Vaux, O. P., Notes et textes sur l 'avicennisme latin aux confins des Xll'-Xfff' siecles, 1 934. - A. -M. Goichon, La philosophie d 'Avicenne et son injluence en Europe médiévale, 1 944, 2ª ed., 1 95 1 , pp. 92-93 . - É. Gilson, Jean Duns Scot. lntroduction à ses positions fonda mentales, 1 952. C: A VIDY Ã. Ver MAYA. AXELOS, KOSTAS. Nasc. ( 1 925) na Grécia, mudou -se aos 20 anos para Paris, onde colaborou e foi du rante certo tempo diretor da revista Arguments ( 1 956- 1 962), iniciada por Edgar Morin e Roland Barthes. A revista acolhia as inquietudes de um grupo de autores marxistas não-ortodoxos no período álgido da desesta linização. Arguments publicou ensaios de autores de ten dências diversas no âmbito de uma orientação geral marxista (marxistas humanistas, sartrianos, marxistas de esquerda etc.). Axelos interessou-se principalmente pela questão da alienação, no sentido do ')ovem Marx", mesmo tendo encontrado nela dificuldades; sob certo aspecto, o pensamento de Axelos inclinou-se para uma espécie de existencialismo marxista. Influenciado por Heidegger, Axelos considerou que a metafisica devia ser superada e que a colusão da metafisica com a téc nica numa técnica planetária devia dar lugar a um au têntico "pensamento planetário" O "pensamento futu ro" é o pensamento que une Heidegger a um Marx que vai além de si mesmo. Mas a opção heideggeriana da Gelassenheit não é mais aceitável que a da Práxis; ambas constituem obstáculos - ao mesmo tempo que
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são pontos de partida - para um pensamento comple tamente aberto, planetário e multidimensional. Toda totalização deve ser "aberta" O pensamento de Axelos, que se pretende profun do, oculto, aforístico, barroco e lúcido, procura abranger a totalidade do mundo - só refletida parcialmente pelas forças elementares, como a linguagem ou o traba lho, e por grandes potências, como a magia, a política, a religião e a própria filosofia -, restabelecendo a unidade lúdica do Homem com o Ser. Axelos recorre a jogos de palavras que, em seu entender, constituem o modo pelo qual, ambiguamente, se ') oga o jogo": o que é lúdico não pode ser "e-ludido"· o pensamen to que não é pensamento, mas ser sobrevindo da tota lidade fragmentária do mundo, é o "eixo vinculador" (axelien). Desse modo, o pensamento planetário se ins taura no sentido duplo de ser total (ou "total-fragmen tário") e "errante" como os planetas (que são "planetá rios"). Todo o pensado deve ser virado do avesso: inter pretar o mundo, transformá-lo, interpretar a transforma ção etc. Assim, o pensamento lúdico "eixo-vinculador" é multidimensional e "tenebrosamente criador" :> Obras: Referências ao conceito de axioma e à axiomática são encontradas na maioria dos textos lógicos citados na bibliografia de LOGÍSTICA. Além disso: D. Hilbert, "Axio matisches Denken", Mathematische Annalen, 78. - F. Gonseth, Les mathematiques et la réalité. Essai sur la mé thode axiomatique, 1 936. - !d. , l'Edification axioma tique (t. III de la géométrie et le probleme de / 'espace, 1 937). J. H. Woodger, The Axiomatic Method in Bio logy, 1 937. - J. Cavailles, Méthode axiomatique et for malisme, 1 938. - Hao Wang, "Quelques notions d'axio matique", Revue Philosophique de louvain, 5 1 ( 1 953), 409-443. - R. Blanché, L'axiomatique, 1 955. - J. Hada mard e A. D. Alexandrov, Las definiciones axiomáticas en las matemáticas, 1 956. - Leon Henkin e Patrick Sup pes, eds., The Axiomatic Method, with Special Rejérence to Geometry and Physics, 1 959 (Proceed. of Int. Symp. Univ. of Calif. Berkeley, 26-XII- 1 957/4-1- 1 958). Arpád Szabó, "Was heisst der matematische Terminus àl;íwµa?'', Mai, 12 ( 1 960), 89- 1 05 . - Heinrich Scholz, "Die Axiomatik der Alten", Bliitter jur deutsche Phi/o sophie, 4 ( 1 930- 1 93 1 ), 259-278, reimp. na obra de Scholz, -
Mathesis universa/is, Abhandlungen zur Phi/osophie ais strenger Wissenschafl, 1 96 1 , ed. H. Hermes, F. Kambartel e J. Ritter, pp. 27-44. - Evandro Agazzi, lntroduzione ai problemi dell 'assiomatica, 1 962. - Patrick Suppes, Axiomatic Method in the Empirical Sciences, 1 965. Hermann Schüling, Die Geschichte der axiomatischen Methode im 1 6. und beginnenden 1 7. Jahrhundert, 1 969. - Herbert Stachowiak, Rationa/ismus im Urs pnmg. Die Genesis des axiomatischen Denkens, 1 97 1 . - J. de Lorenzo, El método axiomático y sus creencias, 1 980. J. R. Carnes, Axiomatics and Dogmatics, 1 982. - E. M. Barth, E. C. W Krabbe, From Axiom to Dialo gue: A Philosophical Study of logics and Argumenta tion, 1 982. - H. Moulin, Axioms of Cooperative Deci sion Making, 1 988. C: ·-
AXIOMA DE EXTENSIONALIDADE. Ver ExTEN SIONALIDADE. AXIOMAS DA INTUIÇÃO. A parte analítica da lógica transcendental é, segundo Kant, aquela na qual o entendi mento e o juízo encontram nessa lógica seu cânon de uso objetivamente válido e correto. A função chamada "enten dimento" (VER) refere-se aos conceitos, isto é, aos conceitos do entendimento, ou categorias (ver CATEGORIA) . A função denominada ')uízo" diz respeito aos princípios do enten dimento, que são objeto da "doutrina do juízo" Para saber quais são os princípios do entendimento, Kant recorre à tabela de categorias. Sendo tais princí pios regras para o uso objetivo das categorias, temos quatro princípios correspondentes aos quatro grupos de categorias: axiomas da intuição, antecipações da per cepção (VER) , analogias da experiência (VER) e postulados do pensamento empírico em geral (vER) . Os dois primei ros grupos são princípios matemáticos; os dois últimos, princípios dinâmicos. Os axiomas da percepção correspondem às catego rias agrupadas sob o nome de "quantidade" (VER ) . O princípio desses axiomas é: "Todas as intuições são magnitudes extensivas" (KrV, B 202) ou 'Todas as apa rências [fenômenos] em sua intuição são magnitudes extensivas" (KrV, A 1 62). Kant entende por 'magnitude (quantum) extensiva' "aquela na qual a representação das partes torna possível a do todo" Essa condição da representação se aplica tanto ao espaço como ao tempo, pois nenhuma parte de um momento ou de outro pode ser representada sem traçar-se no pensamento ou repro duzir-se sucessivamente. Assim, não se pode representar uma linha, por menor que seja, sem traçá-la no pensa mento, isto é, sem engendrar todas as suas partes, uma depois da outra, a partir de um ponto. O princípio cita do é um princípio transcendental da ciência matemáti ca; através dele, aplica-se a matemática pura com toda precisão aos objetos da experiência. AXIOMATISMO. Ver AXIOMA; MATEMÁTICA.
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AYER, A [LFREDI J [ULIUSI ( 1 9 1 8- 1 989). Nascido em Londres, professor da Universidade de Londres ( 1 946- 1 959) e da de Oxford (até 1 978), defendeu em sua primeira obra sobre a linguagem, a verdade e a lógica ( 1 936) as teses capitais do positivismo (VER) ou empirismo (vER) lógicos, em particular a doutrina estrita da verificação (vER), a separação completa entre enun ciados lógicos (tautológicos) e enunciados empírico�, a impossibilidade da metafísica (vER) por constituir um conjunto de pseudoproposições, isto é, de enunciados que não podem ser nem verificados empiricamente nem incluídos no cálculo lógico, e por fim a necessidade de reduzir a filosofia à análise (vER). Na segunda edição da mencionada obra, Ayer revisou algumas das teses cita das. Em particular, isto ocorreu com o princípio de veri ficação, que ele admitiu não apenas num sentido "forte", mas também, e sobretudo, num sentido "fraco", propor cionando, por conseguinte, um critério mais "liberal" de tal princípio. Também revisou sua tese do a priori (vER) como puramente analítico-tautológico e, finalmen te, insistiu nos problemas suscitados pelo conhecimento empírico. Estes últimos problemas levaram-no, em sua obra sobre as bases do conhecimento empírico, a um profundo exame dos dados dos sentidos (sense-data; ver PERCEPÇÃO), com a conclusão de que não se trata de estados mentais, mas tampouco de modificações de ne nhuma substância, física ou biológica. Pelo contrário, essas substâncias - coisas materiais, conceitos mentais etc. - devem ser entendidas em função dos dados men cionados. Isso desemboca numa concepção fenomenista (ver FENOMENISMO) análoga às posições neutralistas da filosofia no começo do século XX, mas apoiada na aná lise lógica e evitando tanto o realismo como o idealismo. As influências de Hume tomam-se patentes na análise em questão, especialmente no que tange ao problema da causa (vER). Este problema é um dos mais conside ráveis para uma teoria fenomenista, mas Ayer observa que, apesar das dificuldades suscitadas a esse respeito, o fenomenismo pode enfrentá-lo melhor que qualquer outra doutrina. Em sua aula inaugural em Oxford sobre "Filosofia e linguagem", Ayer considera que a filosofia oxfordiana da "linguagem ordinária" não é - nem é desejável que seja - uma pura "filosofia lingüística'', mas uma aná lise da linguagem, na medida em que descreve fatos. Caso contrário, a filosofia lingüística se transformaria num fim em si mesma ou, melhor, num meio que pre tenderia passar por fim. Pois a filosofia deve interes sar-se pelas "fotografias" e não apenas pelo "mecanismo da câmera fotográfica" Por outro lado, a filosofia não deve nem tratar só de fatos, nem só de teorias, mas dos "traços arquitetônicos de nosso sistema conceituai" na
AZCÁRATE [Y MENÉNDEZ], GUMERSINDO DE medida em que esse sistema pretende descrever ou ex plicar fatos. Isso caracteriza, como Ayer reconhece, certo "retorno a Kant", embora a um Kant sem nenhuma "an tropologia a priori" :> Obras: Language, Truth, and Logic, 1 936; 2ª ed., rev. , 1 946 (trad. esp.: Lenguaje, verdad y lógica, 1 97 1 ) - The Foundations ofEmpirical Knowledge, 1 940. Thin King and Meaning, 1 947. - Philosophical Es says, 1 954 (trad. esp.: Ensayos filosóficos, 1 979). The Problem of Knowledge, 1 956 (trad. esp . : E! pro blema dei conocimiento, 1 962), ed., Logical Positivism, 1 959 (trad. esp.: E! positivismo lógico, 1 965). - Priva cy, 1 960 (separata British-Academy). - Philosophy and Language, 1 96 1 (aula inaugural em Oxford, 1 960). - The Concept of a Person and other Essays, 1 963 (trad. esp.: E! concepto de persona, 1 969). - The Ori gins of Pragmatism: Studies in the Philosophy of Char les S. Peirce and William Jones, 1 968. - Metaphysics and Common Sense, 1 970 (ensaios). - Russell and Moore: The Analytical Heritage, 1 97 1 . - Bertrand Russell, 1 972 (trad. esp.: R. , 1 973). - Probability and Evidence, 1 972. - The Central Questions of Philoso phy, 1 973 (trad. esp.: Los problemas centrales de lafilo sojla, 1 979). - Hume, 1 980 (trad. esp., 1 988). - Phi losophy in the Twentieth Century, 1 982 (trad. esp.: La filosojía dei siglo XY, 1 983). - Freedom and Morality and Other Essays, 1 984. - Wittgenstein, 1 985 (trad. esp., 1 985). - Voltaire, 1 986 (trad. esp., 1 988). - The Meaning of Life, 1 990 (trad. esp.: E! sentido de la vida y otros ensayos, 1 992) (artigos escolhidos ainda pelo autor que abrangem mais de quarenta anos de produ ção intelectual). Biografia: Part ofMy Life: The Memoirs ofa Philo sopher, 1 977 (Parte de mi vida, 1 982). - More of my Life, 1 984. Ver: G. M. Gozzelino, La filosofia di A . J A., 1 964. - Suresh Chandra, A Study in Ayer s Epistemology, 1 970. - C. Cigliotti, Studi su A. J A . , 1 975. - M. Dummett, P. F. Strawson et ai. , Perception and Jdentity, Essays to A. J A., with His Replies, 1 979, ed. G. F. MacDonald. - !. Semino, 11 problema della conos cenza empirica nel pensiero di A. J A . , 1 98 1 . - J. Foster, A . , 1 985, ed. T. Honderich. - G. MacDonald, C. Wright, eds., Fact, Science and Morality: Essays on A. J Ayer s "Language, Truth and Logic , 1 986. - 8. Gower, Logical Positivism in Perspective. Essays on "Language, Truth and Logic , 1 987. - A. P. Griffiths, ed., A. J Ayer Memorial Essays, 1 99 1 . - L. E. Hahn, ed., The Philosophy of J A. Ayer, 1 992. C: .
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AZC Á RATE [Y MEN É NDEZ) , GUMERSINDO DE. Ver KRAUSISMO.
B. Ver A. (5.) BAADE R, FRANZ XAVIER [BENEDICTI VON ( 1 765- 1 84 1 ) . Nascido em Munique, estudou primeira mente medicina, mas dedicou-se depois à teologia e à filosofia. Foi professor de Dogmática Católica na Universidade de Munique de 1 826 a 1 840. Baader recebeu influências diversas, mas todas orien tadas para especulações teológicas e "teosóficas". Devem se mencionar a esse respeito Bi:ihme, Weigel e Saint Martin. Filosoficamente, Fichte e Schelling foram os au tores que mais influenciaram Baader, mesmo que ele tenha se oposto a eles em questões teológicas e de filo sofia natural. Segundo Baader, a alma é o espelho da divindade e o caminho que conduz diretamente à contemplação de Deus. Baader desenvolveu uma filosofia natural especu lativa oposta a todo mecanicismo, que mantém uma concepção puramente passiva da matéria. Mas a matéria, de acordo com Baader, é "fluida" e está submetida a um processo dialético. Baader distingue na Natureza "o substanciante" do "substanciado", por um lado, e o "su perior" do "inferior", por outro. No âmbito dessa estru tura quaternária, estabelecem-se relações de "ascenso" e "descenso"; cada um dos quatro "aspectos" da realidade citados se interpenetra com todos os outros. A interpe netração completa de uma realidade com a outra - ao contrário da "impenetrabilidade" sustentada pela tisica mecanicista - representa a unidade. Esta unidade não é, no material, perfeita, mas o é em Deus, que penetra em todas as coisas. A imagem do universo de Baader é uma imagem "organicista" e não "atomista" Nas obras de Baader, a tendência organicista se revela igualmente acerca da filosofia do Direito e do Estado. Baader defende o Estado cristão como o único Estado universal que toma possível a conciliação de todos os contrários e anula a degeneração do Estado moderno, que, ao pretender desvincular-se de sua relação com Deus, leva cada um de seus componentes a julgar-se, por seu turno, um membro absoluto e independente da sociedade. Mas essa luta de Baader contra o estado "au tônomo" é uma conseqüência de sua oposição a toda
"autonomia" do homem, em especial no sentido da auto nonúa moral kantiana. O homem é fundamentalmente um ser dependente; tal dependência, porém, não anula por completo sua vontade, mas a faz de certo modo partícipe da vontade divina. Essa participação não é, por outro lado, só uma participação no querer, mas também uma participação no saber. Dessa maneira, o saber é, como Baader afirma explicitamente, co-sapiência. Isso não significa contudo que pensar e querer divino e hu mano sejam a mesma coisa; contra toda forma possível de panteísmo - tão freqüentemente insinuada no idealis mo romântico -, Baader sublinha sempre a diferença entre o Criador e o criado. O saber é uma co-sapiência porque toda razão humana é uma participação na razão divina, mas não porque o homem e o mundo sejam formas na evolução da divindade. Baader procura solu cionar o conflito suscitado pela doutrina do criado como desenvolvimento de Deus e pela doutrina que admite uma criação livre; contra toda afirmação de um mundo "desenvolvido" à maneira hegeliana, Baader sustenta energicamente a liberdade da criação, liberdade à qual se chega somente quando, situando-se para além de todo intelectualismo, se descobre o primado no divino da vontade (de uma vontade "espiritual", porque deve distin guir-se de toda matéria, que não passa de queda e degene ração da criatura). A realidade propriamente dita é para Baader apenas o reino dos espíritos; tempo e matéria devem ser negados para dar lugar tão-somente à existên cia do reino espiritual. � Obras: Beitrãge zur Elementarphysiologie, 1 796 (Contribuições à fisiologia elementar). - Ueber das phythagorische Quadrat in der Natur; 1 798 (Sobre o quadrado pitagórico na Natureza). - Beitrãge zur dy namischen Philosophie, 1 809 (Contribuições à filosofia dinâmica). - Ueber den Blitz ais Vater des Lichts, 1 8 1 5 (Sobre o raio como pai da luz). - Ueber den Ur ternar, 1 8 1 6 (Sobre o prototernário ) . - Ueber den Be griff der Zeit, 1 8 1 8 (Sobre o conceito de tempo). Fermenta cognitionis, 4 vols., 1 822- 1 824. - Vorlesun gen über Societãtsphilosophie, 1 832 (Lições sobre a fi losofia da sociedade). - Vorlesungen über spekulative
BACHELARD, GASTON Dogmatik, 5 fase. , 1 827- 1 83 8 (Lições sobre dogmática especulativa). Edição de obras: Siimtliche Werke, 1 6 vols., 1 85 1 1 860, editadas por 1 . Hoffinann (discípulo do filósofo), Hamberger et ai. ; reimp. em 1 962 e em 1 987; Hoffinann é autor de uma biografia de Baader, incluída no vol. XV, assim como de um escrito intitulado Spekulative Entwicklung der ewigen Selbsterzeugung Gottes (Evolu ção especulativa da eterna autogeraçiio de Deus), 1 835. Biografia: edição de Lettres inédites de Franz von Baader, por E. Susini, 1, 1 942; II, III, 1 95 1 . - Para o diário de Baader, ver: Seele und Welt. Franz Baaders Jugendtagebücher 1 786- 1 792, ed. por D. Baumgardt, 1 927. - F. Lieb, B.s Jugendgeschichte, 1 926. - Josef Siegl, F v. B. Ein Bild seines Lebens und Wirkens, 1 957. Bibliografia: J. Jost, Bibliographie der Schrifien F v. B.s, 1 926. - L. Procesi Xella, B. Rassegna storica degli studi ( 1 786- 1 977), 1 977. Ver: Hamberger, Die Kardinalpunkte der Baaderschen Philosophie, 1 855. - Baumann, Kurze Darstellung der Philosophie Franz Baaders, 1 878. - David Baumgardt, Franz von Baader und die philosophische Romantik, 1 927. - Eugéne Susini, Franz von Baader et le roman tisme mystique, 2 vols., 1 942. - Klaus Hemmerle, F v. Baaders philosophischer Gedanke der Schopfimg, 1 963. - Sebastian Helberger-Frobenius, Macht und Gewalt in der Philosophie F v. Baaders, 1 969. Heinz-Jürgen Géirtz, F von Baaders ''Anthropologischer Standpunkt ", 1 977. - H. Sauer, Ferment der Vermit tlung. Zum Theologiebegrijf bei F v. B. , 1 977. - L. Procesi Xella, La Dogmatica Speculativa di F v. B. , 1 977. - Willi Lambert, F von Baaders Philosophie des Gebets. Ein Grundriss seines Denkens, 1 978. - G. Wehr, F v. B. Zur Reintegration des Menschen in Reli gion, Natur und Erotik, 1 980. - F. Schumacher, Der Begrijf der Zeit hei F v. B. , 1 983. � BACHELARD, GASTON ( 1 884- 1 962). Nascido em Bar-sur-Aube (Champagne, França), professor na Sor bonne, trabalhou especialmente no campo da filosofia das ciências naturais (sobretudo da fisica). Em oposição ao substancialismo de muitas teorias contemporâneas, Bachelard insiste no caráter extraordinariamente comple xo das teorias científicas. Percebe-se esse caráter tão logo se examinam algumas das grandes tendências; por exem plo, o atomismo ou o determinismo (vER). A complexida de das teorias reflete a variedade de estruturas do real e obriga o filósofo da ciência a rejeitar as simplificações introduzidas pelas interpretações racionalistas. De acordo com Bachelard, há um novo espírito científico que se opõe tanto ao predomínio antigo e medieval da imagem como ao predomínio moderno do esquema geométrico. Esse novo espírito tende ao concreto, mas não por causa de sua entrega ao irracional, e sim como conseqüência de uma tentativa de ampliar o âmbito e a estrutura da razão. Diante da pretensão de saberes absolutos, Bachelard des-
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taca a necessidade de ater-se a conhecimentos dominados pelo "aproximativismo" e pelo probabilismo ( vER) . Além das investigações das estruturas da razão, devem-se a Bachelard estudos de interpretação psicológico-literária dos "elementos fundamentais" (terra, água, fogo, ar). Uma das idéias mais influentes - se não a mais influente - de Bachelard é a de "corte epistemológico" (ou "ruptura epistemológica") (coupure épistémologique), introduzida em sua obra Laformation de l 'e�prit scienti fique ( 1 938). Bachelard considera que há uma ruptura entre o espírito pré-científico e o científico; cada um deles se atém a um modelo conceituai e a um âmbito de refe rência próprio, distinto do outro e não comparável estrita mente com ele. A ciência emerge de certa prática que produz conceitos não derivados da generalização de observações. Assim, os conceitos de que se vale a ciência são independentes tanto de âmbitos não-científicos como da própria observação. Se esta idéia de Bachelard se apli ca à filosofia da ciência, resulta dela a noção de 'observa ção carregada de teoria' de que se ocuparam mais tarde numerosos filósofos. Se se aplica ao desenvolvimento da própria ciência, pode-se falar então de "cortes" em diferentes "fases", que são antes "quadros epistemológi cos" Neste último sentido, sobretudo, a idéia de corte epistemológico bachelardiana influenciou autores geral mente considerados, com ou sem razão, estruturalistas, como Foucault e Althusser. :l Obras: Étude sur l 'évolution d 'un probleme de phy sique: La propagation thermique dans les solides, 1 928. - La valeur inductive de la relativité, 1 929. - Essai sur la connaissance approchee, 1 929. - L'intuition de I 'instant, 1 932. - Le pluralisme cohérent de la chimie moderne, 1 932. - Les intuitions atomistiques. Essai de classification, 1 933. - Le nouvel esprit scientifique, 1 93 5 ; nova ed., 1 97 1 . - La dialectique de la durée, 1 936; nova ed., 1 972. - L'expérience de / 'espace dans la physique contemporaine, 1 93 7. - La formation de I 'esprit scientifique: Contribution à une psychanalyse de la connaissance objective, 1 93 8 . - La philosophie du non: Essai d 'une philosophie du nouvel esprit scien t/fique, 1 949. - L'aciivité rationaliste de la physique contemporaine, 1 95 1 . - Le matérialisme rationnel, 1 953. As obras não estritamente científico-filosóficas a que nos referimos no texto do verbete são: La psycha nalvse du feu, 1 93 8 . - L'eau et les rêves: Essai sur I 'imagination de la matiere, 1 942. - L'air et les son ges: Essai sur l 'imagination du mouvement, 1 943. La terre et les rêveries du repas: Essai sur les images de / 'intimité, 1 948. - La poétique de / 'espace, 1 957. - La poétique de la rêverie, 1 960. - La j/amme d 'une chandelle, 1 962. - Também: Lautréamont, 1 939; nova ed., 1 956. Obras póstumas: Le droit de rêver, 1 969 (artigos publicados entre 1 942 e 1 962). - Études, 1 970, ed. Georges Canguilhem (textos de 1 93 1 a 1 934). - L'en-
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gagement rationaliste: Pour une révolution permanen te, 1 97 1 , ed. Georges Canguilhem. - Épistémologie, 1 97 1 , ed. Dominique Lecourt (trad. esp . : Epistemo/o gía, 1 97 1 ). Em português: A água e os sonhos, 1 989. - O ar e os sonhos, 1 990. - Chama de uma vela, 1 989. Dialética da duração, 1 994. - O direito de sonhar, 1 994. -- Epistemologia, 1 990. - A .filosofia do não, 1 99 1 . - Formação do espírito cientifico, 1 996. Fragmentos de uma poética do .fogo, 1 990. - O mate rialismo racional, 1 990. - O novo espírito cientifico, 1 985. - A poética do devaneio, 1 988. - A poética do espaço, 2000. - A psicanálise do.fogo, 1 999. - A terra e os devaneios da vontade, 1 99 l . -- A terra e os deva neios do repouso, 1 990. Bibliografia: J. Rummens, "G. B.: Une Bibliogra phie", Revue lnternationale de Philosophie, 66 ( 1 963 ). - F. H. Lapointe, "G. B.: A Bibliographical Essay", Journal o.f the British Society.for Phenomenology, 8, n. 3 ( 1 977). Ver: G. Bouligand, G. Canguilhem et ai. , Hommage à G. B. , 1 957. - Augusto Salazar Bondy, La epistemo logía de G. B. , 1 958. - E. Minkowski, G. Canguilhem et ai. , artigo sobre G. B. em Revue lnternationale de Philosophie, 1 7 ( 1 963 ), fase. 4, com bibliografia por J. Rummens, pp. 492-504. - Pierre Qui llet, B. , 1 964. François Dagognet, G. B. : Sa vie, son oeuvre, avec un exposé de sa philosophie, 1 96 5 . -- G. Poulet, C. Ramnoux e F. Dagognet, artigos sobre G. B. em Revue de Métaphysique et de Mora/e, 70 ( 1 965), n. 1 . - Michel Mansuy, B. et les éléments, 1 967. -- Jacques Cagey, G. B. ou la conversion à l 'imaginaire, 1 969. - Maurice Lalonde, La théorie de la connaissance scientifique selon G. B. , i 970. - Dominique Lecourt, L 'épistémologie his torique de G. B. . 1 970. - Vincent Therrien, La révolu tion de G. B. en critique littéraire, 1 970. - Julien Naud, Stmcture et sens du symbole: L'imaginaire chez G. B. , 1 97 1 . - Roberto Dionigi, G. B. . La filosofia come osta colo epistemologico, 1 973. - Jean-Claude Margolin, B. , 1 974. - R. Poirier, R. Martin et ai. , B. , 1 974. - G. G. Granger, F. Barone et ai. , artigos sobre G. B. em Nuova Corrente, 64 ( 1 974). - Michel Vadée, G. B. ou /e nouvel idéalisme épistémologique, 1 975 (trad. esp., 1 975). - Francesco Botturi, Struttura e soggetività. Saggio su B. e Althusser, 1 976. - J.-P. Roy, B. ou /e concept contre f 'image, 1 977. - M. Schaettel, B. critique ou l 'alchimie du rêve, 1 977. -- R. C. Smith, G. B. , 1 982. - M. Tiles. Bachelard: Science and Objectivity, 1 985. - M. Castellana, Epistemologia debole: Bachelard. Desanti, Raymond, 1 985. - G. Lafrance, ed., G. B. : Profils Épistémologiques, 1 987. - L. Baumann, G. B. materialischer Transzendentalismus, 1 987. Obras: A Defence of Philosophic Doubt, Being an Essay on the Foundations of Belief, 1 879. - Essays andAddresses, 1 893. - The Foundations ofBeliej Being Notes Introductory to the Study of Theology, 1 895. Reflections suggested by the New Theory of Matter, 1 904. - Theism and Humanism, 1 9 1 5 (Gifford Lectures, 1 9 1 4). - Essays Speculative and Political, 1 920. Theism and Thought, a Study in Familiar Beliefs, 1 923. Bibliografia: T. E. Jessop, A Bibliography ofD. Hume and of Scottish Philosophy from F. Hutcheson to Lord B. , 1 938. Ver: E. O. Raymond, Balfour, 1 928. - Lord Raleigh, Lord Balfour and his Relation to Science, 1 930. - E. Dugdale, Balfour, 2 vols., 1 936. C:
BALLANCHE, PIERRE-SIMON ( 1 776- 1 884). Nas cido em Lyon, desenvolveu uma teoria da sociedade como elemento que persiste ao longo de todas as mu danças históricas, de todos os nascimentos, renascimen tos e decadências. A sociedade carrega em seu interior germes que, embora possam parecer ocasionalmente mortos, ressuscitarão e se desenvolverão em formações sociais muito diversas. O desenvolvimento desses ger mes equivale, de acordo com Ballanche, ao progresso, que j amais cessa, visto que continua germinalmente nos momentos de decadência. A sociedade é uma reali dade que se renova sem cessar. Nisso consiste a palinge nesia (vER) , regeneração ou renascimento. :> A principal obra de B. é Essais de palingénésie so ciale, 2 vols., 1 827- 1 829. Edição de Oeuvres ( 1 830- 1 833) e de Oeuvres inédi tes ( 1 904) por Inés de Castro, com notas de G. Frainnet. Pensées et fragments, ed. P. Vulliand, 1 907. - La Théodicée et la Virginie romaine (inéditos), 1 959. Ver: G. Frainnet, Essai sur la philosophie de P.-S. B. , 1 903 . - C. Huit, La vie et les oeuvres de B. , 1 904. W. M. Kozlowski, Hoené- Wronki et Ballanche, 1 930. P. Treves, B. , 1 932. J. Roos, Les idées philosophiques de B. et V. Hugo, 1 958. C: --
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BALMES, JAIME (LUCIANO) ( 1 8 1 0- 1 848). Nascido em Vic, estudou no Seminário de Vic e na Universidade de Cervera, ordenando-se sacerdote em 1 834. Passou alguns anos em Barcelona e em Madri, onde interveio, com seus escritos, em questões políticas e sociais, regres sando, pouco antes de sua morte, à sua cidade natal. Foi chamado às vezes de doctor humanus. Balmes representa em parte a corrente que contribuiu para a reafirmação e o florescimento da neo-escolástica, e isso a ponto de sua influência se ter exercido de modo preponderante sobre o Cardeal Mercier e a Escola de Louvain, mas de outro ponto de vista significa a reação particular experimentada por um pensador católico da época diante das correntes do pensamento moderno. Estas últimas não influenciaram sua obra de um modo que ela possa ser definida como mera conjunção de filosofia
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BALMES, JAIME [LUCIANO] moderna e tradição escolástica, mas ficaram incorpora das a seu pensamento pelo menos nos temas e mesmo no sentido da preconização do que mais tarde será conhe cido sob a divisa de vetera novis augere. Nesse sentido, pode-se entender principalmente a parte mais critica de sua obra, dirigida a uma compreensão, mna análise e a mna refutação do empirismo inglês, do kantismo e da fi losofia do idealismo alemão, especialmente de Hegel. Em contrapartida, ele mostrou maior afinidade, sem afastar-se da linha tradicional, com Reid e a escola esco cesa, assim como com algumas manifestações do espiri tualismo francês da época. Isso se revela sobretudo num dos problemas centrais abordados por Balmes: a questão da evidência da verdade. Por outro lado, a aproximação balmesiana a Descartes mostra-se mais na preocupação com o tema que na aceitação do princípio do Cogito, ou, se se quiser, mesmo admitindo com freqüência o Cogito, é dado a este último um sentido diferente. Por isso, a evidência do eu não tem para Balmes nenhuma signifi cação propriamente idealista, não apenas em função do realismo gnosiológico tradicional que defende, mas tam bém porque o "senso comum" em que se apóia parcial mente a evidência procura admitir mais elementos que os aceitos pelo pensamento cartesiano. Para isso, é útil mna distinção fundamental entre dois grupos irredutíveis de verdades: as ideais e as reais. Cada verdade se justi fica por meio de um critério diferente, que pode ser o do Cogito - embora concebido como um fato primitivo - nas coisas reais, e o princípio de contradição nos objetos ideais. No primeiro caso, temos a relação da coisa com uma consciência; no segundo, uma evidência propriamente dita. Mas a separação mencionada não pode ser tida como taxativa; na realidade, um dos propósitos de Balmes consiste em buscar um vínculo entre as exigên cias empiristas e as racionalistas, e por isso ele rejeita tanto a mera transformação das idéias em entidades pu ramente formais como a consideração das coisas do ponto de vista de sua redução a mn material empírico, que somente as sensações poderiam apreender e submeter a mna ordem. A exigência de um instinto intelectual signi fica precisamente, na ordem do conhecimento, uma nova tentativa de união da idealidade com a realidade, do ra cional com o empírico. E a aproximação ao senso commn é o esforço de evitar tanto o problema da passagem da consciência ao mundo externo como o construtivismo idealista. Podemos resmnir dizendo que, assim como outros autores de sua época, Balmes se propõs salvar os fundamentos da ontologia tradicional escolástica dos em bates a que a submeteu a critica kantiana e que, portanto, não pôde admitir que o agnosticismo teórico ficasse asse gurado somente pela razão prática, pois esta necessita justamente de mn fundamento teótico. Este fundamento reside na existência de verdades inalteráveis, mas não dadas a um conhecimento direto por meio de mna razão transcendental especulativa, e sim obtidas por uma espé-
cie d e hábito intelectual que à s vezes é interpretado de um ponto de vista psicológico, mas que tem, no entender de Balmes, um fundamento mais seguro e permanente que a psicologia. Com efeito, embora Balmes se carac terize por uma forte tendência psicologista na lógica segundo a qual a verdade ou falsidade das proposições é "produzida" em parte por fatores de índole subjetiva, deve-se observar que essa tendência se nota mais nas obras de divulgação - como El Criterio que nas obras filosóficas fundamentais, em que o autor não ignora as dificuldades suscitadas pela excessiva conexão entre o raciocínio teórico e a ação prática. Dois aspectos importantes no trabalho de Balmes que aqui podemos apenas mencionar são suas contri buições à filosofia política, em especial tendo em vista situações concretas existentes na Espanha de seu tem po, e seu trabalho apologético em favor do catolicismo como elemento civilizador do Ocidente. Pertence a esta última linha de sua atividade sua obra sobre a compa ração do protestantismo com o catolicismo, obra que é em grande parte uma crítica à História da civilização européia, de Guizo!. Balmes expressou nela opiniões ao mesmo tempo conservadoras e moderadas, como o mostra sua análise da noção de tolerância ( VER) . :> Ptincipais obras de interesse filosófico: Cartas a un escéptico en materia de religión, 1 84 1 (publicadas antes no j ornal La Sociedad, fundado por Balmes ). - El pro testantismo comparado con e! catolicismo en sus rela ciones con la civilización europea, 4 vols., I, II, 1 842; III, 1 843 ; IV, 1 844. - El Criterio, 1 845. - Filosofia fundamental, 4 vols., 1 846. - Curso de filosofia e/e mentai, 3 vols., 1 847. Algumas obras de interesse político-social : Obser vaciones sociales, políticas y económicas sobre los bie nes dei clero, 1 840. - Consideraciones políticas sobre la situación de Espaíia, 1 840. - Escritos políticos, 1 847. - Pío IX, 1 847. Alguns importantes escritos políticos de Balmes foram publicados no jornal El pen samiento de la Nación, fundado pelo filósofo em 1 844 e publicado até 1 846. Edições de Obras Completas: P. !. Casanovas, Barce lona, 33 vols., 1 925- 1 927 (vol. 33 com Efemérides e índices). Reedição na Biblioteca de Autores Cristianos, 8 vols.: I, II, III, 1 948; IV, V, 1 949; VI, VII, VIII, 1 950. - P. Basilio de Rubí, O. F. M . , 2 vols., Barcelona, 1 948 (Obras filosóficas no vol. I). - Edição de El Cri terio por E. Ovejero y Maury, Madri, 1 929. - Antología política de Balmes, 2 vols. , Madri, 1 98 1 , ed. J. M . Gar cía Escudem. - Poesías póstumas, Barcelona, 1 987. - Política y constitución: selección de textos y estudio preliminar, Madri, 1 988, ed. J. Valera Suances. B ibliografia: !. de Dios Mendoza, Bibliografia Bal mesiana, 1 96 l . Ver: A. De Blanche-Raffin, J Balmes. Sa vie et ses oeuvres, 1 849. - J. Riera y Bertrán, B., su vida y sus obras, 1 879. - A. Leclerc, De facultate verum asse-
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quendi secundum Balmesium, 1 900. - González Her rero, Estudio histórico-crítico sobre las doctrinas de B. , 1 905. - J. Elías de Molins, B. y su tiempo, 1 906. - N. Roure, La vida y las obras de B. , 1 9 1 0 . - J. Lladó, Nota biográfica y crítica general sobre la perso nalidad y obras de B. , 1 9 1 0. - A. Lugan, B. , 1 9 1 1 . M. Schlüter-Hennkes, Die Fundamentalphilosophie des J B. , 1 9 1 9. - !d. , "Die Philosophie des J. B. und ihr Zusammenhang mit der übrigen europãischen Philoso phie", Spanische Forschungen der Gorresgesellschafl, série 1, vol. 2 ( 1 93 1 ), 229-275. - P. I. Casanovas, B. , la seva vida, el seu temps, les seves obres, 1 932, 3 vols. - J. Ríos Sarmiento, J B. , pbro. , 1 94 1 . - Joan Manyà, L'estil de B. , 1 936 (em trad. esp . : Balmes, fi lósofo: su estilo, 1 944). - J. Zaragüeta, I. González, S. Minguij ón, J. Cortes Grau, B. , filósofo social, apologista y político, 1 945 (prólogo de C. Vifias y Mey). - G. van Riet, L'Épistémologie thomiste, 1 946. Parte I. - V. Félix Egidio, El pensamiento de B. en orden a la filosofia de la historia, 1 952. - P. Font y Puig, La teoría de conocimiento de B. , 1 95 5 . - Manuel Fraga Iribarne, B. , .filndador de la sociología positiva en Es pana, 1 95 5 . - Francisco González Cordero, C. M. F. , El instinto intelectual. fuente de conocimiento. Doctrina de Balmes sobre e! instinto ciego, su crítica y valoración en e! orden ético, 1 956. - Herbert Auhofer, Die Sozio logie des J B. , 1 953 (tese). - M. Batllori, B. i Casa novas. Estudis biogràfics i doctrinals, 1 959. - T1rso Alesanco E! "instinto intelectual " en la epistemología de J B. , i 965 . - J. Tusquets, J B. Son systeme philo sophique, 1 969. - J. R. Gironella, B. Filósofo, 1 969. - !d. , "Dos filósofos dei ' Hombre entero' : Balmes y Sciacca", Giornale di Metafisica, 3 1 ( 1 976), 659-67 1 . - E. Forment Giralt, "Balmes y la fundamentación de la metafisica", Espíritu, 33 ( 1 984), 27-52. - M. A. Cervelló, "La definición dei criterio de sentido común o instinto intelectual en J. Balmes'', Sapientia, 46 ( 1 82) ( 1 99 1 ), 305-3 1 7 . Números especiais dedicados a Balmes d e Pensa miento, 3 ( 1 947), com bibliografia balmesiana por M . Flori, e d e Ciencia y Fe, 1 6 ( 1 948). Ver também o s vols. 1 , I I e I I I das Actas dei Congreso Internacional de Filosofia de Barcelona ( 1 948). Em 1 949 foi fundado em Barcelona um Instituto Filosófico Balmesiano, sob a direção do P. Fernando Palmés, S. J. C: BAMALIP (Baralipton). É o nome que designa um dos modos (ver Mooo), considerado válido por muitos au tores, da quarta figura ( vER) . Um exemplo de Bamalip (Baralipton) pode ser:
Se todas as frutas são comestíveis e todas as coisas comestíveis são apetecíveis, Então algumas coisas apetecíveis são frutas, exemplo que corresponde à seguinte lei da lógica quan tificacional elementar:
BÁNEZ, DOMINGO
(A x (Hx -+ Gx) " A x (Gx -+ V x (Fx " Hx)
-+
Fx))
-+
e que, usando-se as letras 'S', 'P' e 'M' da lógica tradicio nal, pode exprimir-se mediante o seguinte esquema: (PaM " MaS)
-+
SiP
no qual aparece claramente a seqüência das letras 'A', 'A' , ' ! ' , origem do termo Bamalip (Baralipton), na or dem PM-MS-SP. BÁN EZ DOMINGO ( 1 528- 1 604). Nascido em Medi. . na dei Campo (ou em Valladolid), estudou na Umvers1dade de Salamanca, ingressou na Ordem dos Pregadores em 1 547 e foi professor de prima de teologia na citada Universidade de 1 5 8 1 até sua aposentadoria em 1 599. Báfiez é autor de comentários à Summa Theologica de Santo Tomás de Aquino, de comentários a Aristóteles e de vários tratados teológicos e filosóficos. A orienta ção geral é a tomista, mas no âmbito d� sta Báfiez �efen� deu várias opiniões próprias, em particular relativas a natureza da causação própria (a seu ver, apenas mate rial) das formas criadas. O teólogo e filósofo espanhol é conhecido, porém, sobretudo por sua defesa da noção de premoção ( vER) fisica, a ponto de alguns autores o considerarem o verdadeiro autor dessa noção; de qual quer forma, é usual identificar 'sistema da premoção fisica' com 'sistema bafieziano ' Referimo-nos a esse ponto não apenas no verbete citado como també'._11 � m outros desta obra (por exemplo, em Graça). O banez1s mo, neste aspecto, opôs-se ao molinismo nas controvér sias de auxiliis que se desenvolveram no século XVI e persistiram durante o século XVII. :> Obras: Comentários a Santo Tomás: Scholastica com mentaria in primam partem Angelici Doctoris D. Tho mae, 2 vols., 1 584- 1 588. - De fide, spe, et charitate, 1 584 (comentários à Secunda secundae). - De iure et justitia decisiones, 1 594 (ibid. ). - Tratados teológicos: Apologiafratrum Praedicatorum in província Hispaniae sacrae Theologiae professorum, adversus quasdam novas assertiones cuiusdam Doctoris Ludovici Molinae nuncu pati theologi de Societate Jesu, quas defendit in suo li bello cui titulum inscripsit "Concordia liberi arbitrii cum gratiae donis divina praesciantia, provodentia, praedesti natione et reprobatione ", et adversus alios eiusdem novae doctrinae sectatores ac defensores eadem Societate, 3 partes, 1 595 (em colaboração com outros autor� s � Ordem). - Relectio de merito et augmento chantat1s, 1 590. - Comentários a Aristóteles: Commentaria et quaestiones in duos Aristotelis Stagyritae de generatione et corruptione libros, 1 585. - Obra lógica: lntutionis minoris Dialecticae quas Summulas vocant, 1 599. Edições atuais dos comentários a Santo Tomás: Scholas tica commentaria etc., por L. Urbano, Madri, 1 934 ss. (Biblioteca de Tomistas Espanoles, VIII). - Comentários inéditos à Prima Secundae de Santo Tomás, por V. Beltrán de Heredia, Madri, 3 vols., 1 942- 1 948 (Biblioteca de Teó'
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BANFI, ANTONIO logos Espaíioles, IX, XI e XIV). -- Comentários inéditos à Terceira parte de Santo Tomás, 1 953. Ver: Alberto Bonet, La filosofia de la libertad en las controversias teológicas dei sigla XVI y primera mitad dei XVII, 1 932, pp. 95 ss. - M. Solana, Historia de lajiloso fia espaíiola. Época dei Renacimiento (Sigla XVI), vol. III, 1 94 1 , pp. 1 73-202. -W R. O'Oconnor, "Molina and Bá fiez as lnterpreters", New Scholasticism, 21 ( 1 947), 243259. - V. Muii.oz Delgado, "D. 8. y las Súmulas en Sala manca a fines dei siglo XVI", Estudios, 21 ( 1 965), 3-20. - 8. S. Llamzon, "The Specification of 'esse': A Study in 8áfiez", Modem Schoolman, 41 ( 1 964), 1 23- 1 44. -- !d., id. , "Supposital and Accidental 'esse': A Study in 8áfiez", New Scholasticism, 39 ( 1 965), 1 70- 1 88. - V. 8eltrán de Heredia, D. Báíiez y las controversias sobre la gracia, 1 968. - L. A. Kennedy, "Peter of Ledesma and the Dis tinction 8etween Essence and Existence", Modem School man, 46 ( 1 968), 25-38. - E. Forment Girai!, "El ser en D. Báfiez", Espíritu, 34 ( 1 985), 25-48. C BANFI, ANTONIO ( 1 886- 1 957). Nascido em Vimer cate (Milão), professor da Universidade de Milão (desde 1 93 1 ), defendeu o que ele mesmo denomina um racio nalismo critico, isto é, um racionalismo apoiado num ponto de vista transcendental fenomenológico (no sentido gnosiológico-descritivo ) . Esse racionalismo procura abranger toda a experiência possível e, portanto, é exata mente o contrário de um esquematismo lógico. Com efeito, 8anfi aspira a superar as antíteses entre o raciona lismo e o empirismo, entre o racionalismo clássico e o irracionalismo contemporâneo, por meio de uma ênfase no caráter teórico puro (na teorecità) da filosofia. Ora, esse caráter teórico puro do filosofar significa, em sua opinião, a inteira submissão do dado a uma descrição pura, tomada possível por meio da análise fenomeno lógica do ato do conhecimento e, portanto, por meio de uma atividade igualmente afastada da construção do dado e da dissolução - na vida ou na ação - do dado. Só deste modo será possível, de acordo com 8anfi, não sacrificar os aspectos intuitivos da experiên cia, sem ter por isso de aceitar um relativismo completo. Uma ontologia crítica deveria constituir, naturalmente, o fundamento dessas análises. Mas semelhante ontolo gia deve evitar todo dogmatismo, especialmente o subs tancialista e teológico. Em outros termos, a ontologia crítica do racionalismo de 8anfi postula um sistema aberto de categorias, disposto a uma reinterpretação dos conceitos do pensamento clássico, os quais convém, segundo o autor, esvaziar de todo absolutismo, tal como o preconiza, consciente ou inconscientemente, o atualis mo italiano. Para 8anfi, o absolutismo corre o perigo de empobrecer sobremodo a vida espiritual ao cercear algumas de suas linhas e atividades essenciais. Por isso, o racionalismo crítico é ao mesmo tempo uma "teoria da vida em suas infinitas linhas de tensão": um conhecimento puro do real tanto quanto uma norma de ação sempre aberta ao futuro. Em filosofia política e ética, i:m particu-
lar durante os últimos anos de sua vida, Banfi foi marxis ta, sendo Senador do Partido Comunista Italiano. � Principais obras: La filosofia e la vila spiritua/e, 1 922. - lmmanenza e trascendenza come antinomia filosofica, 1 924. - Principi di una teoria de/la ragione, 1 926. - Pestalozzi, 1 929. - Vita di G. Galilei, 1 930, reed. com o título: G. Gali/ei, 1 949. - Nietzsche, 1 934. - Socrate, 1 942. - Vitta del/'arte, 1 947. - L'uomo copernicano, 1 950. - Storia dei materialismo: !. Spino za, 2 vols., 1 952- 1 953. - La filosofia dei Settecento, 1 954 (curso de 1 953- 1 954; lit.). - La filosofia di C. G. F Hegel, 1 956. - La filosofia degli ultimi cinquant 'anni, 1 957. - La ricerca de/la realità, 2 vols., 1 959. - 1 problemi di una estetica filosofica, 1 96 1 , ed. Luciano Anceschi. - Filosofia deli 'arte, 1 962, ed. Dino Foggio. - Studi sulla.filosofia dei Novecento, 1 965. - Jncontro con Hegel, 1 965. - lntroduzione a Nietzsche (aulas 1 9331 934), 2ª ed., 1 977. - Tre generationi dopo, 1 98 1 . Entre seus artigos e comunicações publicados em anais e revistas, podem ser mencionados: "Sui principi di una filosofia della morale" (Rendiconti dei R. Instituto Lombarda di Scienze e Lettere, 1 934); "Veritâ ed umanitâ nella filosofia contemporanea" (Studi fi/osofici, 1 , 1 948). Edição de obras: Opere, desde 1 960 (vol. 1: Principi di una teoria de/la ragione). Em português : Galileu, 1 997. Depoimento: "Per un razionalismo critico", inseri do no volume de M. F. Sciacca, Filosofi italiani contem poranei, 1 944, pp. 59- 1 04. - "La mia esperienza filo sofica", en La .filosofia contemporanea in !ta/ia, 1 958, pp. 37-52. Bibliografia: R. Salemi, Bibliografia banflana, [1 910-1 982], 1 982. Ver: G. M. 8ertini, A. Banji, 1 943 (com bibliogra fia). - Fulvio Papi, li pensiero di A. B. , 1 96 1 (com bi bliografia). - F. Battaglia, R. Cantoni et ai., A. B. e il pensiero contemporaneo (Atti dei Convegno di Studi Banfiani), 1 969. - L. Rossi, Situazione de/l 'estetica in Banfi, 1 973. - A. Erbetta, L'umanismo critico di A. B. , 1 979. C BARALIPTON. Ver 8AMALIP. BARBARA. É o nome que designa um dos modos (ver Mooo) válidos dos silogismos da primeira figura ( vER) . Um exemplo de Barbara pode ser:
Se todos os homens são mortais e todos os abissínios são homens, então todos os abissínios são mortais, exemplo que corresponde à seguinte lei da lógica quan tificacional elementar: (/\ x (Gx -> Hx) A /\ x (Fx -> Gx)) -> -> /\ x (Fx -> Hx) Usando-se as letras ' S ' , 'P' e 'M' da lógica tradicio nal, pode exprimir-se mediante o seguinte esquema: (MaP " SaM)
->
SaP
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no qual aparece claramente a seqüência das letras 'A', 'A' , 'A', origem do termo Barbara na ordem MP-SM-SP. Aristóteles considerou os modos da primeira figu ra como silogismos perfeitos, mas reduziu os dois últi mos - Darii, Ferio - aos dois primeiros: Barbara e Celarent. Lukasiewicz observa a esse respeito que o uso de apenas dois silogismos (considerados axiomas) para construir a teoria silogística corresponde à tendên cia da lógica formal moderna de reduzir a um mínimo o número de axiomas numa teoria dedutiva, mas que as leis de conversão utilizadas pelo Estagirita para re duzir os modos imperfeitos aos modos perfeitos não podem ser provadas por meio dos silogismos. Por outro lado, como é possível, segundo indica Lukasiewicz, deduzir vinte modos silogísticos sem empregar o modo Barbara, resulta que, enquanto o axioma Barbara é o mais importante do sistema na medida em que é o único silogismo que proporciona uma conclusão afirmativa universal, ele ocupa, em contrapartida, um nível inferior no sistema dos silogismos simples. BARBARO, ERMOLAO (HERMOLAUS BARBA RUS) ( 1 454- 1 493). Nascido em Veneza, estudou em Verona e em Roma, sendo discípulo de Teodoro de Gaza. Lecionou durante certo tempo em Pádua. Ermolao Bar bara distinguiu-se por sua defesa do que considerava a autêntica tradição aristotélica - a tradução correta e a interpretação justa das obras de Aristóteles -- contra o que avaliava como distorções introduzidas por escolás ticos e averroístas, por um lado, e por retóricos huma nistas, por outro. Em nome desse "neo-aristotelismo" depurado, Ermolao Barbaro opôs-se também ao plato nismo dos filósofos da Academia Florentina. Junto ao modelo contemporâneo de Teodoro de Gaza, ele tinha presentes as interpretações de Alexandre de Afrodísia, Simplício e especialmente Temístio. Os "filósofos bár baros", escolastizantes e averroizantes entendiam Aris tóteles tão pouco, em sua opinião, quanto os humanis tas estetizantes. :l Ermolao Barbaro planejou fazer uma tradução com pleta de Aristóteles, mas terminou apenas a de vários li vros, sobre retórica e dialética. Ele traduziu o comentá rio aristotélico de Temístio e escreveu Comentários, pu blicados em 1 544 e freqüentemente reimpressos. De vem-se também a ele numerosas cartas: Epistulae, Ora tiones et Carmina, 1 943, ed. Vittore Branca. - Ver Scritti scelti em Filosofi. italiani dei '400, com texto e tradução, 1 942. Ver: T. Stickney, De H B. vita atque ingenio, 1 903. Giuseppe Saitta, II pensiero italiano nell 'Umanesimo e nel Rinascimento, vol. I ; L'Umanesimo, 1 949, pp. 439445 . - C . Dionisotti, "E. B. e la fortuna di Suiseth", Medioevo e Rinascimento. Studi in onore di B. Nardi, 1 955, vol. I, pp. 2 1 7-253 . - P. O. Kristeller, Studies in Renaissance: Thought and Letters, 1 956. C:
BARCELONA {ESCOLA DE) BARBELO-GNÓSTICOS. Ver GNOSTICISMO. BARBOZA, ENRIQUE. Ver DEúSTUA, ALEJANDRO 0CTAVIO. BARCELONA (ESCOLA DE). Eduardo Nico! (vER) propôs a expressão ' Escola de Barcelona' para designar uma tradição filosófica desenvolvida principalmen te em B arcelona e que, de modo análogo à chamada "Escola de Madri" (ver MADRI, ESCOLA DE), consiste menos na adesão a determinado número de teses filo sóficas ou no uso de determinado número de métodos filosóficos que na participação de certo espírito ou modo de filosofar. Esse modo se caracteriza pelos seguintes traços: sentido da realidade e igual oposição à redução da filo sofia a mera teoria abstrata ou a simples forma de vida; oposição ao verbalismo; certa inclinação ao senso co mum (num sentido muito amplo); desconfiança em re lação ao mero brilhantismo em filosofia; sentido da con tinuidade histórica. Considerada a Escola em questão, segundo se in dica, sobretudo como um modo de filosofar, pertencem a ela autores como Joaquín Llaró Vida! (professor da Universidade de Cervera e fundador, em 1 8 1 5 , da So ciedade Filosófica), Antonio Llobet Vallosera, Jaime Balmes (vER), Ramón Martí d'Eixala (vER), Francisco Xavier Llorens i Barba (vER), Ramón Turró (vER), Jaume Serra Hunter (vER), F. Mirabent, Tomàs Carreras Artau, Joaquim Carreras Artau, Jaume Bofill, Joaquim Xirau (vER). Este último, além disso, formou um grupo de dis cípulos que não só têm consciência de seguir as orienta ções - em sentido amplo - da Escola, como procu raram difundir seu espírito. Observemos que a perten ça à Escola de Barcelona não significa desvinculação de outras orientações ou tendências; mencionamos no verbete sobre a Escola de Madri que Joaquim Xirau, por exemplo, era filiado a esta última e à de Barcelona. Indiquemos por fim que, embora centrada principalmen te na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Barcelona, a Escola de Barcelona tem um alcance mais amplo que o de uma Faculdade universitária deter minada. Na lista de nomes apresentada, figuram vários que não foram professores da mencionada Faculdade. A eles pode-se acrescentar o nome de Eugenia d'Ors. Alguns o excluiriam da Escola; outros o teriam como seu principal representante. Em todo caso, é inegável que em seu pensamento se destacam algumas das ca racterísticas - especialmente a primeira e a última que enumeramos. José Luis Abellán (Ínsula, n. 328, março 1 974, p. 1 O) observou que vários desenvolvimentos da filosofia em pensadores catalães, e alguns não catalães, que residem ou residiram por longo tempo em Barcelona tornam dificil continuar falando de "Escola de Barce lona" Filósofos como Emílio Lledó, Manuel Sacristán,
BARDESANO Xavier Rubert de Ventós, Jesús Mosterín, C. Ulises Moulines, Eugenio Trías e outros ampliam o horizonte de interesses e atitudes filosóficas a ponto de, mesmo com a maior boa vontade, não se poder rastrear o que Abellán denomina, seguindo Nico!, a "série de conota ções filosóficas comuns entre os filósofos catalães, que vinham tornando-se evidentes, ao menos desde os tem pos de Xavier Llorens i Barba, e que se prolongavam até mesmo nos pensadores do exílio" De fato, as men cionadas "conotações filosóficas comuns" tampouco se encontravam facilmente nos pensadores arrolados no parágrafo anterior; poder-se-ia dizer que, a partir de Joaquim Xirau - paradoxalmente, o filósofo no qual se centrava modernamente a "Escola" em questão -, os traços comuns se tornam cada vez mais diluídos. No entanto, continuamos mantendo a expressão que dá título a este verbete por razões de "comodidade" Opor tunamente, seria interessante verificar se, a despeito da multiplicidade de orientações, teses, métodos etc., não persiste certa "atitude" filosófica na atividade filosófica centrada em Barcelona e, caso a resposta seja afirmati va, dever-se-iam estudar as condições culturais no âm bito das quais se manifesta tal atividade. :> Ver: Eduardo Nico!, "La Escuela de Barcelona", en El problema de la filosofia hi:·,pánica, 1 96 1 , pp. 1 64-205. � BARDESANO de Edessa, na Mesopotâmia ( 1 54-222) a antiga Orroe, à qual Seleuco 1 da Síria deu o nome de Edessa e que mais tarde foi chamada de Urfa, na Turquia -, foi um dos gnósticos (ver GNOSTICISMO) de língua síria. Ele desenvolveu uma síntese de idéias cristãs e judaicas, com idéias astrológicas da antiga Me sopotâmia e elementos de doutrinas estóicas. Pode ser considerado um eclético. Dedicou-se à astrologia e à astronomia, apresentando no Livro das Leis dos Países a idéia de um Destino cósmico. :> Ver: G. Levi della Vida, Bardesano, il dialogo delle leggi dei paese, 1 92 1 . - H. J. W. Drij vers, Bar daisan of Edessa, 1 966. - A. Dilhe, "Zur Schicksal Lehre des Bardesanes", em Kerygma und Logos, Fets chr. C. Andresen, ed. A. M. Ritter, 1 979, pp. 1 23 - 1 3 5 . - 8 . A. Wilson, "Bardaisan: O n Nature, Fate, and Freedom", lnternational Philosophical Quarterly, 24 ( 1 984), 1 65- 1 78. �
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BARDILI, CHRISTOPH GOTTFRIED ( 1 76 1 - 1 808). Nascido em Blaubeuren, foi professor em Stuttgart de 1 790 até sua morte. Não é fácil situar exatamente o pensamento de Bardili. Por um lado, ele recebeu influên cias de Kant e Fichte; ainda, segundo Nicolai Hartmann, o pensamento de Bardili se aproxima do de Schelling em sua "fase média" e do de Hegel em sua "última fase" Por outro lado, Bardili reagiu contra Kant e Fichte, de nunciando suas tendências "subjetivistas", sendo, por
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isso, acusado de "dogmático" - no sentido de não ser "crítico-idealista" - pelos idealistas. Bardili estabelece um princípio absoluto: o pensar como pensar no e pelo pensar, isto é, a identidade que se basta a si mesma, sem referência ao outro, à multipli cidade. Essa identidade em si consiste na possibilidade de repetir-se indefinidamente. É uma pura Forma, oposta à "matéria" Com isso, Bardili parece seguir de muito perto as pegadas de Fichte. Contudo, o "pensar" de que fala Bardili difere do "eu" de Fichte. Sua funda mentação não é, como em Fichte, ética, mas é, primeiro, psicológica - Bardili interessou-se pela analogia entre o "caráter empírico" e o "caráter metafisico'', que se ma nifestam, respectivamente, no tato e na representação -, porém passa logo a ser lógica. Esta última coisa assegu ra, de acordo com Bardili, a possibilidade de um saber objetivo, ou sej a, de um saber universal e transcenden te em relação ao sujeito que conhece. A "coisa em si" é dada, segundo Bardili, no puro processo do pensar, porém não como desenvolvimento imanente do pensa mento, mas como trama dinâmica de relações entre objetos. O princípio do "sistema" é o de identidade, ao mesmo tempo lógico e metafisico. Este princípio "põe" o eu e o objeto, até abarcar toda a realidade, culminando na divindade. A lógica é para Bardili "lógica metafisica", denominada "primeira lógica", mas isso significa por sua vez "lógica objetiva" ou "lógica do objeto" A dificuldade de interpretar o pensamento de Bardi li deve-se em grande parte à sua extrema obscuridade abstrata. Em seus primeiros tempos, o pensamento de Bardili influenciou Reinhold (vER). :> Principais obras: Epochen der vorzüglichsten philo sophischen Begriffe, 1, 1 78 8 (As épocas dos supremos conceitos filosóficos). - Allgemeine praktische Philoso phie, 1 795 (Filosofia prática geral). - Ueber die Geset ze der Ideenassoziation, 1 796 (Sobre as leis da associa ção de idéias). - Briefe iiber den Ursprung der Meta physik, 1 798 (Cartas sobre a origem da metafísica). Grundriss der ersten Logik, 1 800 (Esboço da lógica primeira). Correspondência: C. G. Bardilis und C. L. Reinholds Briefwechsel iiber das Wesen der Philosophie und das Unwesen der Spekulation, 1 804, ed. C. L. Reinhold. Bibliografia: F. w. Garbeis, Bibliographie Zll e G. B. , 1 978. Ver: Fritz Karsch, "C. G. Bardilis logischer Realis mus'', Kant-studien, 30 ( 1 925), 437-452. - Manfred Zahn, "Fichtes, Schellings und Hegels Auseinanderset zung mit dem ' Logischen Realismus' C. G. Bardilis", Zeitschrifl fiir philosophische Forschung, 19 ( 1 965), 20 1 -223, 453-479. � BARN É S, FRANCISCO. Ver KRAUSISMO.
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BARRETO, TOBIAS
BAROCO. É o nome que designa um dos modos (ver Mooo) válidos dos silogismos da segunda figura (vER). Um exemplo de Baroco pode ser: Se todas as bebidas alcoólicas são nocivas e algumas águas minerais não são nocivas, então algumas águas minerais não são bebidas alcoólicas,
exemplo que corresponde à seguinte lei da lógica quan tificacional elementar:
(A x (Hx
__. __.
Gx) " V x (Fx A 1 Gx)) V x (Fx A 1 Hx)
__.
e que, usando-se as letras ' S ' , 'P' e 'M' da lógica tradi cional, pode expressar-se mediante o seguinte esquema: (PaM " SoM)
__.
SoP
no qual aparece claramente a seqüência das letras 'A' , 'O', 'O', origem do termo Baroco, na ordem PM-SM-SP. BARREDA, GABINO ( 1 820- 1 88 1 ). Nascido em Puebla (México), viajou pela Europa e foi, em Paris, discípulo de Auguste Comte, em seus famosos cursos dominicais. A importância de Barreda na evolução do pensamento mexicano reside sobretudo na introdução e na propa gação do positivismo, que ele não entende, todavia, como uma doutrina total sobre a realidade, mas como o único meio para o conhecimento científico da Natu reza. O que não permanece nos limites da experiência positiva não pode ser para Barreda afirmado nem nega do, devendo ser posto entre parênteses como inacessível. A influência de Barreda manifestou-se em múltiplos aspectos, particularmente na reforma do ensino, tendo ele sido redator da Lei de Instrução Pública de 1 867. No âmbito do positivismo despertado por Barreda, encontram-se Porfirio Parra (vinculado também ao asso ciacionismo psicológico e ao empirismo de Stuart Mill) e Agustín Aragón, que defendeu em toda a sua pureza a doutrina de Comte, inclusive em sua fase final. � Principais obras: De la educación moral, 1 863. Opúsculos (publicados pela Sociedade Metodófi la Gabino Barreda, constituída por seus discípulos em 1 87 1 ) . Ver: Estudio de Barreda (seleção de textos por José Fuentes Mares), 1 94 1 . - Leopoldo Zea, El positi vismo en México, 1 943 . e BARRETO, TOBIAS ( 1 839- 1 889 ) . Nascido em Sergi pe, trabalhou como advogado em Escada, PE e lecio nou Direito em Recife. Entusiasta primeiramente das tendências ecléticas de Cousin, passou depois a uma ne gação radical delas ao aderir às teses positivistas, desen volvidas na época por Luis Pereira Barreto (nasc. no Rio de Janeiro, 1 840- 1 923: Obras .filosóficas, !, 1 967, ed. Roque Spencer Maciel de Barros). Este se limitou, en tretanto, ao aspecto filosófico do comtismo, sendo rejei tado pela Igreja oficial positivista por sua não-aceitação do culto à humanidade; seu positivismo era, pois, antes um cientificismo destinado a opor-se a todo obscurantis-
mo e a toda ignorância. Entretanto, deparando com um po sitivismo insuficiente, Tobias Barreto preconizou um monismo. Influenciado sobretudo pela filosofia alemã, que defendeu contrapondo-se às profundas marcas deixadas pelo pensamento francês no Brasil, Barreto parecia querer estabelecer uma espécie de síntese das teses fundamentais do pensamento germânico moderno. A j ustificação de Kant e de Schopenhauer, assim como de algumas das orientações do idealismo romântico, conduziam Tobias Barreto a uma síntese metafisica que se tornava muito mais surpreendente por se opor tenaz mente, às vezes, à metafisica. As chamadas contradições do pensamento de Barreto se tornam notórias sobretudo em virtude dessa passagem de uma oposição a outra, buscando o fundo comum de todas elas, como se ele quisesse ressuscitar nos últimos momentos outra espé cie de ecletismo que não o que constituíra sua filosofia juvenil. Sua última posição pode ser qualificada de monismo materialista, mas esse monismo procurava en contrar, tal como por outro lado podia fazê-lo Haeckel, o fundamento de uma posição rel igiosa e as bases para uma autêntica metafisica. Daí o irracionalismo que constituía o aparente racionalismo de seu pensar e daí a justificação de todo pensamento religioso, justifi cação que se fazia acompanhar de uma crítica de toda religião positiva. A rigor, o que Barreto parecia buscar era um sentimento religioso diferente de todo formulis mo e superador de todo rito. Entre os pensadores influenciados por Tobias Barreto estava José Pereira Graça Aranha, que uniu às idéias de Barreto influências bergsonianas e tendeu a uma interpre tação estético-dinarnicista do real. Ver R ECIFE (ESCOLA DE). � Durante sua vida, T. B. publicou: Ensaios e estudos de filosofia e crítica, 1 875; 2ª ed., 1 889. - Dias e noites, 1 88 1 (poemas). - Estudos Alemães, 1 882. Menores e loucos, 1 884; 2ª ed., 1 886. - Discursos, 1 887. - Questões vigentes de filosofia e direito, 1 888. Publicaram-se postumamente: Estudos de Direito, 1 892; 2ª ed., 1 898. - Vários escritos, 1 900. - Polêmi cas, 1 90 1 . Uma edição geral e completa de obras de T. 8. em 1 2 vols. compreende: 1 (Introdução geral, por vários autores: Hermes Lima, Paulo Mercadante, Antonio Paim, Augusto Meyer); II (Estudos de .filosofia, !); III (Estudos de filosofia, II); IV (Crítica político-social); V (Estudos de Direito, !); VI (Estudos de Direito, II); VII (Crítica de religião); VIII (Estudos alemães); IX (Monografias em alemão); X (Crítica literária); XI (Dias e noites. Poesias); XII (Depoimentos). Ver: Gilberto Amado, T. B. , 1 934. - Hermes Lima, T. B. A época e o homem, 1 939; 2ª ed., 1 957. - Miguel Reale, A doutrina de Kant no Brasil, 1 949. - Paulo Mercadante, Antonio Paim, T. B. na cultura brasileira. Uma reavaliação, 1 972. e
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BARTH, KARL BARTH, KARL ( 1 886- 1 968). Nascido em Basiléia, lecionou em Gi.ittingen ( 1 92 1 - 1 925), Münster ( 1 9251 934 ), Bonn (de 1 934 até sua expulsão pelos nazistas em 1 935) e em Basiléia ( 1 935- 1 962). Barth foi o princi pal representante da chamada "escola suíça" da teologia dialética ou teologia da crise. Em oposição a toda doutrina da união do homem com Deus, do imperfeito com o perfeito, do relativo com o absoluto, Barth susten ta, com efeito, a tese da separação radical entre ambas as realidades. A tese procede em parte de Kierkegaard, mas não é possível situar todo o movimento dialético crítico no âmbito da filosofia kierkegaardiana - em todo caso, o que há aí desta filosofia é a ênfase no "pa radoxo absoluto", paradoxo que se revela a partir do momento em que procuramos compreender nossa exis tência e sua relação com Deus. Nessa linha, o racional e o lógico não só perdem toda primazia como até per dem a significação que lhes é própria. A essencial irra cionalidade da fé - dada apenas por meio da reve lação -, a contradição e o paradoxo não devem ser considerados, entretanto, mera teoria, mas um fato. A completa separação existente entre o finito e o infinito toma, por outro lado, desnecessário e inútil todo esforço que tenda a uma aproximação que não seja a proporcio nada pelo próprio infinito. Pois o finito não pode ser mais que culpa e pecado, orgulho e falso endeusamento. Só o infinito, eterno e absoluto pode, por sua própria vontade e liberalidade, chegar ao finito e atraí-lo para Si, transformando sua imperfeição constitutiva em ma nifestação do divino. A anulação da espontaneidade do homem e até de toda autonomia existencial parece ser uma conseqüência imediata dessa doutrina, que acentua em todas as suas partes o "dilaceramento", a "perple xidade", a "contradição" e, é claro, o "paradoxo" Por isso, a afirmação da autonomia da moral é considerada o maior pecado da filosofia moderna, uma tentativa fracassada de fazer do homem algo semelhante àquilo que está separado dele por um abismo intransponível em princípio. Assim, a escola suíça de Barth rejeita, por motivos análogos, tanto o lógico-racional como o místico; a única coisa necessária e existente, a própria condição de todo pensamento da existência, é a revela ção - - revelação que fende o processo da história em lugar de ser, como o "protestantismo cultural" supunha, a conseqüência última dela. Diante da história e dos va lores culturais, predominam então a revelação e a escato logia: o homem não é o que pensa, nem o que faz, mas o que está determinado por seus fins, isto é, por seus fins últimos, por suas "postimárias". A escola de Barth poderia ser também denominada, por conseguinte, uma teologia existencial, sempre que os conceitos existen ciais relacionados à revelação - tais como a confissão e o testemunho - sejam tomados como modos da re velação e não como seus princípios.
Ora, essa teologia dialética e teologia "existencial" representa somente a primeira fase numa complexa evo lução filosófica e teológica, que vai das primeiras obras de Karl Barth (os Comentários) de índole escatoló gica e nas quais Deus aparece como a única realidade - à Dogmática. A filosofia escatológica do princípio conduziu Barth às posições da teologia dialética. Mas o abismo aberto entre Deus e a criatura foi preenchido cada vez mais, na última doutrina de Barth, pela pessoa de Cristo. Poderíamos, pois, seguindo alguns de seus intérpretes, esquematizar as posições sucessivas de Barth da seguinte maneira: 1 ) Há somente uma realidade ver dadeira: Deus. 2) Há Deus e a criatura, separados por um abismo. 3) Há Deus e a criatura, e entre os dois se estabelece um diálogo. 4) Há uma ponte sobre esse abismo e uma possibilidade de "entendimento" median te a mensagem de Cristo. Neste verbete, desenvolvemos especialmente as posições 1 ) e 2), que foram as que exerceram maior influência. Entre os discípulos de Barth ou entre aqueles que dele mais se aproximaram no que diz respeito às posições citadas - ainda que em fre qüente polêmica com seu mestre - figuram Emil Brun ner ( vER) e Friedrich Gogarten ( vER ) . :> Principais obras: Die protestantische Theologie im 1 9. Jahrhundert, 1 9 1 7 (A teologia protestante no século XIX). - Der Romerbrief, 1 9 1 9 (A Epístola aos Roma nos). - Biblische Fragen, 1 920 (Questões bíblicas). - Zur inneren Lage des Christentums, 1 920 (Sobre a situação interna do cristianismo). - Die Auferstehung der Toten, 1 924 (A ressurreição dos mortos; trata-se de um comentário a 1 Cor) - Der Christ in der Geschichte, 1 926 (Cristo na história). - Die christliche Dogmatik im Entwurf 1. Prolegomena, 1 927 (Esboço da dogmá tica cristã. 1. Prolegômenos). - Die Theologie und die Kirche, 1 928 (A teologia e a Igreja). - Erkliirung des Philipperbrie/és, 1 928 (Explicação da Epístola aos Filipenses). - Fides quarens intellectum. Anselms Be weis der Existenz Gottes, 1 93 1 ; 2ª ed., 1 95 8 (F q. i. A prova anselmiana da existência de Deus) - Die kir chliche Dogmatik (Dogmática eclesiástica): 11 1 , 1 932; 1/2, 1 938; 11/ 1 , 1 940; 11/2, 1 942; lll/ 1 , 1 945; IIl/2, 1 948; IIl/3, 1 950; III/4, 1 95 1 ; IV/ ! , 1 953; IV/2, 1 95 5 ; IV/3 , 1 959; IV/4, 1 967; i ndice, 1 970. 1 intitula-se Die Lehre vom Worte Gottes; II, Die Lehre von Gott; III, Die Lehre von der SchOp/img; IV, Die Lehre von der Vérsoh nung. - Credo, 1 93 5 . Die grosse Barmherzigkeit, 1 93 5 (A grande misericórdia). - Gotteserkenntnis und Gottes Dienst nach reformatorischer Lehre, 1 93 8 ( Co nhecimento de Deus e serviço de Deus segundo a dou trina reformada). - Rechtfertigung und Recht, 1 938 (Justificação e Direito). - Die christliche Lehre von der Taufe, 1 943 (A doutrina cristã do batismo). Eine Schweizer-Stimme ( 1 93 8- 1 945), 1 945 ( Uma voz suíça). - Dogmatik im Gnmdriss, 1 947. Christliche -
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BARTHES, ROLAND
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Gemeinde im Wechsel der Staatsordnung, 1 948 (A co munidade cristã ao longo das mudanças de regime do Estado). - Mensch und Mitmensch, 1 954 (O homem e seu próximo). Obras completas: Gesamtausgabe, I-XVII, em seis partes (I. Predigten, II. Akademische Vortriige, III. Vor triige und kleinere Arbeiten, IV: Gespriiche, V. Briefe, e VI. Aus Karl Barths Leben), 1 972- 1 985. Em português: Carta aos Romanos, 1 999. Existem além disso numerosas edições espanholas de escritos de K. B. Dentre elas, mencionaremos: Adviento, 1 970. - Introducción ai pensamiento de Karl Barth, 1 970. - Consideraciones sobre el tiempo de Pasión y Pascua, 1 97 1 . - Ante las puertas de San Pedro, 1 97 1 . - Comprender a Bultmann, 1 97 1 . - Revelación, Iglesia, Teología, 1 972. - La revelación como abolición de la religión, 1 973. - Comunidad cristiana y comu nidad civil, 1 976. - Ensayos teológicos, 1 977. - La proclamación dei Evangelio, 1 980. - La oración según los catecismos de la Reforma, 1 980. - AI servido de la palabra, 1 985. Biografia: E. Bush, K. B. Lebenslauf, 3ª ed., 1 978. Bibliografia: H. A. Drewes, H. Wildi, eds., K. B. Bibliographie, 1 984. Ver: Martin Werner, Das Weltanschauungsproblem bei K. Barth und Albert Schweitzer, 1 924. - M. Strau ch, Die Theologie K. Barths; 3ª ed., 1 926. - Emil Brunner, Natur und Gnade. Zum Gespriich mil K. Barth, 1 934. - Hans Ullrich, Das Transzendenzproblem bei Karl Barth, 1 936 (tese). - Gerhard Rabes, Christentum und Kultur in besonderer Auseinandersetzung mit Barth und Gogarten, 1 93 7. - F. Gogarten, Gericht oder Skep sis. Eine Streitschrifl gegen K. Barth, 1 937. - J. Cull berg, Das Problem der Ethik in der dialektischen Theo logie, 1 937. - P Halmann Monsma, Karl Barth 's Idea of Revelation, 1 937. - Hermano Volk, Die Kreatu raujfassung bei K. Barth, 1 93 8 (tese). - Jean Louis Leuba, Resumé analytique de La dogmatique ecclésias tique de K. Barth, !. La doctrine de la parole de Dieu, 1 945. - S. Navarria, S. Kierkegaard e / 'irrazionalismo di K. Barth, 1 946. - J. C. Groot, Karl Barths theo logische Bekenntnis, 1 948. - J. Hamer, O. P., K. Barth. L'occasionalisme théologique de K. Barth. Étude sur sa méthode dogmatique, 1 949. H. U. von Balthasar, K. B. Darstellung und Deutung seiner Theologie, 1 95 1 ; 4ª ed. , 1 976. - E. Rivera, La teologia esistenzialistica di K. Barth, 1 955. - C . G. Berkouwer, The Triumph of Grace in the Theology of K. B. , 1 956. - Henri Bouil lard, K. B. , 3 vols., 1 957 (!: Genése et évolution de la théologie dialectique; II-III: Parole de Dieu et existence humaine). - S. A. Matczak, K. B. on God, 1 962. Th. F. Torrance, K. B. : An Introduction to His Early Theo logy, 1910-193 1 , 1 963. - E. Jüngel, Gottes Sein ist im Werden, 1 966. - Robert E. Willis, The Ethics ofK. B. , -
1 97 1 . - Robert D. Schofner, Anselm Revisited: A Study of the Role of the Ontological Argument in the Writings of K. B. and Charles Hartshorne, 1 974. - U. Danne mann, Theologie und Politik im Denken K. B.s, 1 977. - D. E. Phillips, Karl Barth 's Philosophy of Communi cation, 1 98 1 . - Th. Freyer, Pneumatologie ais Struktur prinzip der Dogmatik. Überlegung im Anschluss an die Lehre von der 'Geisttaufe ' bei K. Barth, 1 982. - E. Jüngel et ai. , eds., Barth-Studien, 1 982. - H. J. Kraus, Theologische Religionskritik, 1 982. - R. W Lovin, Christian Faith and Public Choices: The Social Ethics ofBarth, Brunne and Bonhoejfer, 1 984. - D. P. Henry, The Early Development of the Hermeneutic of K. B. , 1 985. - M. Beintker, Die Dialektik in der "dialektis chen Theologie " K. B.s, 1 987. - S. Fisher, Revelatory Positivism: Barth 's Earliest Theology and the Marburg School, 1 988. Ver também a revista Zwischen den Zeiten e a cole ção de folhetos intitulada Theologische Existenz heute, editada por K. Barth e Eduard Thurneysen. C BARTHES, ROLAND ( 1 9 1 5- 1 980). Nascido em Cher bourg, estudou letras clássicas na Sorbonne. Lecionou no Instituto Francês de Bucareste e na Universidade de Alexandria (Egito). Foi o encarregado de pesquisa no CNRS (Centre Nationale de la Recherche Scientifique) e, a partir de 1 962, diretor de estudos na École prati que des Hautes Études, de Paris. Considera-se Barthes "o crítico literário do estruturalismo (vER) francês con temporâneo" Ele estendeu a análise estrutural a muitos fenômenos do presente e não apenas aos textos literá rios, embora tenha abordado esses fenômenos, em am pla medida, como "textos" suscetíveis de "leitura" A propósito de Marx, Barthes afirmou que, assim como Marx declarou ser "contemporâneo filosófico do presen te sem ser seu contemporâneo histórico'', Barthes é só o "contemporâneo imaginário de meu próprio presente: contemporâneo de suas linguagens, de suas utopias, de seus sistemas (isto é, de suas ficções); em suma: de sua mitologia ou de sua filosofia, mas não de sua história, na qual habito apenas o reflexo dançante: fantasmagó rico" (Barthes par Barthes, p. 63). Mesmo que "a tare fa histórica do intelectual" seja cultivar e acentuar a "de composição" da consciência burguesa, é necessário con servar a imagem "com toda a sua precisão" (op. cit. , p. 67). Isso explica o interesse de Barthes pela "leitura da escritura" (a escritura política, a poética, a burguesa etc.). O fundamento dessa leitura é a semiologia ( vER) , da qual Barthes forneceu os traços principais seguindo os ideais postulados por Ferdinand de Saussure (vER) . São fundamentais na "ciência geral dos signos" a dife rença entre significante e significado e a diferença entre sintagma (ver S INTAGMA, SINTAGMÁTico) e sistema. Esta última diferença permite a análise estrutural de tipos
BARZELLOTII, GIACOMO de "discursos" muito diferentes, o estudo das unidades e das regras combinatórias da lingüística dos "discursos": discurso literário, político, discurso dos costumes sociais, discurso da moda etc. Esses discursos constituem um "sistema", que se articula em unidades de sistema ou elementos do vocabulário e em seqüências formadas por esses elementos. O primeiro é aquilo de que se com põe o sistema em cada caso; o segundo é o que se faz com as partes componentes. Assim, no "sistema da moda", que Barthes analisou detalhadamente, a língua (no sentido saussuriano do termo) corresponde ao ves tido-imagem, enquanto a fala corresponde ao vestido escrito (vestido como "escrita"). A semiologia da moda, assim como a de qualquer outro "sistema", não é in compatível com a sociologia, mas elas têm finalidades distintas: a última parte de um modelo, que permanece através de tipos de roupas reais, ao passo que a semio logia descreve um vestido que continua sendo imagi nário ou intelectivo e que "não leva a reconhecer prá ticas, mas imagens. A sociologia da moda está comple tamente voltada para o vestir real; a semiologia, para um conjunto de representações coletivas" (Systeme de la mode, p. 20). :> Principais obras: Le Degré zéro de l 'écriture, 1 953; reedição em livro de bolso junto com Éléments de sé miologie. 1 965; nova reed. junto com Nouveaux Essais critiques, 1 972. - Michelet par l11i-111éme, 1 954. 1\1yth ologies , 1 957 (coleção de artigos). - Sur Racin e , 1 963. - Essais critiques, 1 964. -- Éléments de s é miologie, publicados com Le Degré zéro de / 'écriture, 1 965. Critique et vérité, 1 966. - S)'steme de la 111 ode, 1 967. - S!Z, 1 970. - L 'empire des signes, 1 970. Sade, Fourie1; Loyola, 1 97 1 . - Nouveaux Essais criti ques, publicados com Le Dégré zéro de l 'écriture, 1 972. - Le p /a is ir du tex te , 1 973. - Rolam/ Barthes par Roland Barthes, 1 975 (com ilustrações comenta das). - Fragments d '1111 discours amoureux, 1 977 Leçon, 1 978. - Sollers écrivain, 1 979. - La chamhre claire, 1 980. - Le grain de la voix, 1 98 1 . - L 'ohvie et l 'obtus, 1 982. Em português: Aula, 1 996. - A aventura semiológi ca, 1 987. - A câmara clara, s.d., - Crítica e verdade, 1 997. - Elementos de semiologia, 1 996. - Ensaios críticos, 1 997. - Fragmentos de um discurso amoro so, 1 5ª ed., 2000. - O grão da voz, 1 995. - O grau zero da escrita, 2000. - Língua, discurso e sociedade, s.d., - Lingüística e literatura, l 9�0. Michelet, 1 99 l . - Mitologias, 1 999. - O óbvio e o obtuso, 1 984. O prazer do texto, 2ª ed., 1 983. - Racine, 1 987. - O rumor da língua, 1 987. - S/Z, 1 992. - Sade, Fourier, Loyola, 1 97 1 . - O sistema da moda, 1 967. Bibliografia: S. Freedman, R. B. : A Bibliographical Reader 's Guide, 1 98 3 . Ver: Guy d e Mallac, Margaret Eberbach, B. , 1 97 1 . - Louis-Jean Calve!, R. B. . un regarei politique sur le
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signe, 1 973. - Stephen Heath, Vertige de déplacement. Lecture de B. . 1 974. - J. B. Fages, Comprendre R. B. , 1 979. - G. Neumann, "B.", em H. Turk, ed., Klassiker der Literaturtheorie. Von Boileau bis Barthes, 1 979. S. Nordhal, L'aventure du signifiant: une lecture de B. , 1 98 1 . - G. R. Wasserman, B. , 1 98 1 . - S. Sontag, L 'écriture même: Á propos de R. B. , 1 982. - A. Levers, R. B .. Structuralism and Ajier, 1 982. - J. Culler, R. B. , 1 983. - G. Ri:ittger-Denker, R. B. zur Einfiihnmg, 1 989. - M. B. Wiseman, Th e Ectasies of R. B. , 1 989. Números especiais sobre B. em Te/ Que/, 47 (outono, 1 97 1 ); L 'Arc, 56 ( 1 974); Colloque de Cerisy, Prétq:te: R. B. , 1 978, " l 0/ 1 8"; Poétique, 4 7 ( 1 98 1 ); Revue d 'esthé tique, 2 ( 1 98 1 ) ; Critique, 423-424 ( 1 982); Communica tions, 36 ( 1 982). e BARZELLOTTI, GIACOMO. Ver NEOKANTISMO. BAS Í LIDES (jl. 1 30) nasceu em Antioquia e lecionou em Alexandria. Foi um dos principais representantes do gnosticismo (vER ) especulativo e, como Valentino, mesclou muitos elementos filosóficos - platônico-eclé ticos e estóicos - com aspectos mitológicos. Também corno Valentino, Basíl ides pregou - segundo afirma Santo Ireneu -- a existência de um Deus supremo, uno e inominável que contém em si as sementes das outras realidades (sementes comparáveis, por um lado, às idéias de Platão e, por outro, aos Àoyo\ ampµaTtKoÍ dos estóicos). Delas Deus extraiu uma série de entidades que permanecem na esfera divina, no Estereoma celeste. Desta esfera surge finalmente um Primeiro Arconte de natureza inferior à das séries contidas no Estereoma, mas que gera o universo supralunar. Assim aparece a Ogdoada, filho do Primeiro Arconte, do qual nascem as entidades características do gnosticismo especulativo: Nous, Logos, Sofia e Dynamis (Força). Outras emana ções produzem outros seres que ocupam 365 céus. No último céu há o demiurgo, Deus dos judeus. O processo dramático se desencadeia quando o Primeiro Arconte cai de seu estado e deve redimir-se pela gnose e pelo aparecimento de Jesus, o Redentor. Na transcrição de Santo Hipólito, o sistema de Basílides, embora substan cialmente baseado em séries análogas de emanações, aparece um tanto modificado : o Deus absoluto e ino minado produz, por emanação, Nous, Logos, Fronesis, Sofia e Dynamis. :> Ver bibliografia de GNOSTICISMO. - Além disso: G. Uhlhorn, Das basilidianische System, 1 85 5 . - 1. Kennedy, "Buddhist Gnosticism, the System of Basili des", Journal of the Royal Asiatic Society ( 1 902), 3774 1 5 . - G. Quispel, ''l.:homrne gnostique. (La doctrine de Basilide)", Eranos ( 1 948), 89- 1 39. - H. A. Wolfson, "Negative Attributes in the Church Fathers and the Gnostic Basilides", Harvard Theological Review ( 1 957), 1 45- 1 56. - J. Whittaker, "Catachresis and Negative Theology in Platonism", em S. E. Gersh, ed., Late Anti-
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BATIAGLIA, FELICE
quity, 1 992. - H á uma exposição bastante completa e m Hans Leisegang, Die Gnosis, 1 924, pp. 1 95-256. Obras: El comunismo anárquico y el marxismo, 1 906. - Introdução à ed. russa do livro de E. Butrú, La ciencia y la religión, 1 9 1 0. - Vários ensaios de B. foram publicados no volume intitulado Na dva fronta, 1 9 1 0 (Em duas frentes). - "Sobre la filosofia de la acción", Sobremennik (Contemporâneo), nn . 6, 7, 1 0 ( 1 9 1 3). - B . é também autor d e u m trabalho sobre teoria da relatividade e marxismo: Teoriia Otnositelnosti i mar ksizm, 1 923, contra o realismo epistemológico extremo. Ver: G. L. Kline, "'Nietzschean Marxism' in Rus sia", em Adelman, ed., Demythologizing Marxism, 1 969, pp. 1 66- 1 83 . e: BEATITUDE. Ver FELICIDADE. BEATTIE, JAMES ( 1 735- 1 803). Nascido em Lawren cekirk (Escócia), estudou e lecionou na Universidade de Aberdeen. Membro, com Thomas Reid e outros, do
BEAUVOIR, SIMONE DE Wise Club de Aberdeen, foi um dos mais conhecidos representantes da escola escocesa (vER) do senso co mum. A fama que obteve como poeta ( The Minstrel) contribuiu grandemente para popularizar as concep ções dessa escola. Beattie ateve-se, no essencial, às idéias de Reid (VER), que em grande parte simplificou. Também simpli ficou e popularizou as críticas de Reid aos filósofos cuj as doutrinas eram consideradas opostas à filosofia comum - não apenas Berkeley, mas também Hume, pelo menos na medida em que este último se inclinava ao ceticismo. Beattie enfatizou ao máximo o caráter irre futável do senso comum como "poder do espírito que percebe a verdade, ou ordena a crença, não mediante argumentação progressiva, mas por um impulso instan tâneo, instintivo e irresistível, o qual não deriva nem da educação nem do hábito, mas da natureza, e opera inde pendentemente de nossa vontade tão depressa quanto se apresenta seu objeto" (Essay, l, i, p. 45; cit. S. A. Graves, op. cit. infra, p. 1 1 2). :> Obra capital: Essay on the Nature and lmmutability of Truth in Opposition to Sophistry and Scepticism, 1 770; 3ª ed. 1 772; reed., 1 983. - Outras obras: Essays, 1 776. - Dissertations Moral and Criticai, 1 783. Elements of Moral Science, 2 vols., 1 790- 1 793. Edição de obras: The Philosophical and Criticai Works, 4 vols., 1 974, ed. Bemhard Fabian. Ver: M. Forbes, B. and His Friends, 1 904. - S. A. Grave, The Scottish Philosophy of Common Sense, 1 960. - R. P. Wolff, "Kant's Debt to Hume via Beattie", Journal of the History ofldeas, 2 1 ( 1 960), 1 1 7- 1 23 . L. M. Lacoste, "La défense de l ' immuable dans son rapport avec le changeant: Beattie et Frayssinous", Ca nadian Journal of Philosophy, 6 ( 1 976), 229-249. R. Horton, "Understanding African Traditional Reli gion: A Reply to Professor Beattie", Second Order, 5 ( 1 976), 3-29. S. C. Patten, "Did Beattie Defer To Hume?", Hume Studies, 6 ( 1 980), 69-75 . - M. Kuehn, "The Early Reception of Reid, Oswald and Beattie in Germany: 1 768- 1 800", Journal of the History of Phi losophy, 2 1 ( 1 983), 479-496. Ver também bibliografia de EscocESA [EscoLA]. C: -
.. BEAUVOIR, SIMONE DE ( 1 908- 1 986). Nascida em Paris, concluiu os estudos de filosofia em 1 929, ano em que conheceu Jean-Paul Sartre, com quem com partilharia sua vida. Foi professora de filosofia no ensi no secundário em Paris, Marselha e Rouen ( 1 929- 1 943), até que o sucesso obtido com seu primeiro romance (L'invitée, 1 943) lhe permitiu dedicar-se profissional mente a escrever. Ela foi autora de obras literárias e de ensaios filosóficos e morais nos quais dedicou especial atenção à compreensão da existência humana e, de modo muito concreto, à reflexão sobre a situação da mulher. Beauvoir pensa que, como é a história que configu ra a existência humana, o processo histórico de vir-a-ser
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das mulheres é muito mais forte que o dos homens. Com efeito, as possibilidades de realização das mulheres não foram definidas nem aproveitadas historicamente. O segundo sexo - o livro mais célebre de Beauvoir consta de mil páginas, em dois volumes, que repassam a figura histórica da mulher da perspectiva existencia lista. O primeiro volume rej eita a idéia de uma natureza feminina fraca, submissa e inferior. Não se nasce mulher - nem homem: chega-se a sê-lo. Pode-se, pois, ser mulher - e homem - de muitas maneiras. Em todo caso, a alienação histórica das mulheres é o resultado de determinadas condições socioculturais. O segundo volume descreve a situação real da vida das mulheres, examina as ideologias que sustentam essa situação e as perspectivas de liberação. A publicação do livro provocou um escândalo que anos mais tarde se transformou em admiração por sua autora. A partir de 1 973, Beauvoir participou ativamente da militância feminista, reforçando assim, com a práti ca diária, seus antigos interesses teóricos. Os constantes compromissos sociais e políticos de Beauvoir não fize ram mais que reinterpretar existencialmente seus pró prios escritos. Ela foi, provavelmente, a intelectual mais influente do período que sucedeu à Segunda Guerra Mundial. :> Obras: Ensaios: Pyrrhus et Cinéas, 1 944. - Pour une mora/e de l 'ambigiiité, 1 947. - L'A mérique au jour le jour, 1 948. - L'existentialisme et la sagesse des nations, 1 948 (compila artigos publicados na revis ta Les Temps Modernes, desde sua criação, em 1 945, até 1 947). - Le deuxieme sexe, 2 vols., 1 949 (I, Les faits et les mythes; II, L'expérience vécue). - Privileges, 1 955 (contém três ensaios: "Faut-il bn1ler Sade?", "La pensée de droite aujourd'hui", "Merleau-Ponty et le pseudosartrisme"). - La longue marche, 1 957 (ensaio sobre a China). - La vieillesse, 1 970. - Romances: L'invitée, 1 943. - Le sang des autres, 1 945. - Tous les hommes sont mortels, 1 946. - Les mandarins, 1 954 (Prêmio Goncourt). - Les belles images, 1 966. - La femme rompue, 1 968. - Quand prime !e spirituel, 1 979. - Teatro: Les bouches inutiles, 1 945. Autobiografia: Les mémoires d 'une jeune filie ran gée, 1 958 (cobre de 1 908 a 1 929). - La force de l 'âge, 1 960 (de 1 929 a 1 945). - La force des choses, 1 963 (de 1 945 a 1 963). - Une mort tres douce, 1 964 (breve narrativa da morte de sua mãe). - Tout compte fait, 1 972 (de 1 964 a 1 972, mas já não organizado cronolo gicamente, e sim tematicamente). - La cérémonie des adieux, suivi de Entretiens avec J.-P. Sartre, 1 98 1 (de 1 970 a 1 980, seus últimos dez anos com Sartre, até a morte deste). - O filme intitulado "Simone de Beau voir" ( 1 979), de Josée Dayan e Malka Ribowska, reali zado por Josée Dayan, apresenta sua autobiografia em forma de diálogos.
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BECHER, ERICH
Em português: Balanço final, s.d. - As belas ima gens s.d. - Cartas a Welson Agren, 2000. - A cerimô nia do adeus, 1 98 1 . - A convidada, 4ª ed., 1 985. A força da idade, s.d. - A força das coisas, 1 986. Memórias de uma moça bem-comportada, s.d. - Uma morte muito suave, 1 984. - A mulher desiludida, s.d. - Quando o espiritual domina, 3ª ed., 1 980. - O sangue dos outros, s.d. - O segundo sexo, vol. 1 , 1 1 ª ed., 2000 - O segundo sexo, vol. 2, 1 980. Todos os homens são mortais, s.d. - A velhice, 4ª ed., 2000. Bibliografia: C. Francis, F. Gontier, Les écrits de S. de B. , 1 979. Ver: G. Hourdin, S. de B. et la liberté, 1 962. - F. Jeanson, S. de B. ou l 'entreprise de vivre, 1 966. - L. Gagnebin, S. de B. ou le refus de l 'indifférence, 1 968. - S. Lilar, Le malentendu du deuxieme sexe, 1 969. C. Cayron, La nature chez S. de B. , 1 973. - J. Leighton, S. de B. on Woman, 1 975. - D. Armogathe, S. de B., le deuxieme sexe. Analyse critique, 1 977. - C. Zehl Romeo, S. de B. , 1 978. - C. Francis e J. Niepce, S. de B. et le cours du monde, 1 979. - K. Bieber, S. de B. , 1 979. - A. Withmarsh, B. and the Limits of Commit ment, 1 98 1 . - C. Ascher, S. de B. : A Life of Freedom, 1 98 1 . - T. Keefe, S. de B. : A Study of Her Writings, 1 983. - M. Evans, S. de B. A Feminist Mandarin, 1 985. - H. V Wenzel, ed., S. de B. : Witness to a Cen tury, 1 986. - C. Savage Brosman, S. de B. Revisited, 1 99 1 . - J.-A. Pilardi, "Philosophy Becomes Autobio graphy: The Development of the Self in the Writings of S. de B.", em Writing the Politics of Difference, 1 99 1 . .. e: �
BECCARIA, CESARE [BONESANA] ( 1 73 8- 1 798). Nascido em Milão, interessou-se por questões jurídico penais, político-sociais e econômicas sob a influência, entre outros, de Montesquieu, Helvécio e Diderot. Os irmãos Verri, Alessandro e Pietro, com quem ele fim dou, em 1 762, a "Accademia de'Pugni" e com os quais discutiu detalhadamente as questões que o preocupa vam, impeliram-no a tratar do sistema monetário de Milão. A obra que ele publicou a esse respeito, em 1 762, teve repercussões em reformas introduzidas nes se sistema. Foram também os irmãos Verri que induzi ram Beccaria a ocupar-se do sistema penal milanês, que ele submeteu a severa crítica. Suas visitas à prisão de Milão persuadiram-no das injustiças desse sistema penal, que incluía torturas: nem os castigos eram pro porcionais às penas nem melhoravam os membros da sociedade submetidos a castigo. Beccaria baseou-se nas idéias rousseaunianas do contrato social para abordar não apenas a questão do sistema j urídico-penal, mas também da sociedade como conjunto, no âmbito da qual operam os sistemas penais. Os princípios adotados por Beccaria são utilitários e hedonistas; são também individualistas, mas trata-se de um individualismo que
visa manter a felicidade social como felicidade do maior número possível. O indivíduo cede uma parte de sua liberdade à sociedade: a parte que a sociedade assume para defender a liberdade individual contra a arbitrarie dade. Os castigos e as penas devem adaptar-se a estas concepções; a rigor, não são tanto castigos e penas mas meios usados com a finalidade de impedir futuros aten tados à liberdade individual e à felicidade social. O tratado de Beccaria sobre os delitos e as penas teve considerável influência, em particular por meio de sua imediata tradução francesa em 1 766, pelo Abade Morellet. A parte básica das idéias de Beccaria foi incorporada ao famoso artigo VIII da "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão", redigido e aprova do pela Assembléia Nacional francesa em 1 789. :l Obras: Dei disordine e dei rimedi delle maneie nello Stato di Mi/ano, 1 762. - Dei delitti e delle pene, 1 764; nova ed. de F. Venturi, 1 965, com documentação sobre a repercussão da obra (trad. esp . : De los delitos y de las penas, 1 976). - Ricerche intorno alia natura dello stile, 1 770. - Elementi di economia politica, 1 804 (póstuma). Edição de obras: Opere, 1 854, ed. Pasquale Villari. - A melhor ed. é a de S. Romagnoli, Opere, 2 vols., 1 958, que inclui todos os seus escritos e fragmentos, com o epistolário, além de uma boa introdução e uma ampla bibliografia. É também muito interessante a introdução de Opere scelte di C. B. , 1 925, ed. R. Mondolfo. Em português: Dos delitos e das penas, 1 996. Ver: Cesare Canru, Sul B. e sul diritto pena/e, 1 862. - A. de Marchi, C. B. e il processo pena/e, 1 929. C. A. Vianello, La vila e / 'opera di C. B. , 1 938. - M . Maestro, Voltaire and Beccaria a s Reformers of Crimi nal Law, 1 942. - G. De Menasce, G. Leone, F. Valsecchi, B. e i diritti dell 'uomo, 1 965. - E. H. Madden, R. Handy, M . Farber, eds., Philosophical Perspectives on Punishment, 1 968. - M. Maestro, "A Pioneer for the Abolition of Capital Punishment: Cesare Beccaria", Journal of the History of Ideas, 34 ( 1 973), 463-468. - 1 . Primorac, "Kant und Beccaria", Kant Studien, 69 ( 1 978), 403-42 l . Para sua relação com Verri, ver: N. Valeri, Pietro Verri, 1 937. C: BECHER, ERICH ( 1 882- 1 929). Nascido em Rein shagen (Remscheid), foi professor em Münster e, a partir de 1 9 1 6, em Munique. Interessou-se pelos pro blemas da filosofia da natureza, da teoria do conheci mento e da classificação das ciências com base em suas investigações sobre as ciências naturais orgânicas e sobre alguns aspectos históricos destas ciências. Seu ponto de partida a esse respeito é de caráter empírico, mas não naturalista, pois o realismo crítico em que de semboca em sua teoria do conhecimento está intima mente relacionado com o uso, pelo menos implícito,
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BECK, JAKOB SIGISMUND de procedimentos fenomenológicos. São estes, de resto, os que fundamentam sua classificação das ciências e a determinação de suas funções. Ora, o uso desses pro cedimentos não significa a adesão às teses explícitas de Husserl. Pelo contrário, as ciências ideais (que, jun to com as reais, constituem uma das grandes áreas da investigação e dos objetos científicos) não têm como referentes objetos subsistentes ideais, mas simplesmente mentais. Quanto às ciências reais, sua divisão em ciên cias da natureza e ciências do espírito não impede, se gundo Becher, a existência de um fundamento comum que se refere tanto às condições da percepção como aos fatores aprióricos que intervêm em todo conheci mento de realidades. Uma série de leis reais deve, pois, subjazer a todo conhecimento do real, seja qual for o tipo de objeto no qual se cumpram. Essas leis são de caráter apriórico, mas não logicamente necessário, determinante e não-condicionante. Tanto a metafisica como a filosofia da natureza se baseiam nelas e devem se constituir de um modo que possibil ite unir a refle xão e a experiência. Isto permite sustentar sua doutri na de um ser supra-individual, ao mesmo tempo espi ritual e psíquico-anímico, na natureza "orgânica" ser que é comprovado por meio de uma série de ex periências acerca do finalismo das galhas vegetais, mas ao mesmo tempo por meio de uma interpretação desse finalismo à luz da citada reflexão crítica. Uma tendência à "visão diurna" no sentido de Fechner pa rece ser a conclusão de tais investigações, sem que elas signifiquem, na opinião do autor, mais que uma "elevada probabilidade" :> Obras: Der Begrif! des Attributes bei Spinoza in seiner Entwick/ung und seinen Beziehungen zu den Be griffen der Substanz und des Modus, 1 905 (O conceito de atributo em Spinoza e suas relações com os conceitos de substância e modo). - Philosophische Voraussetzun gen der exakten Naturwissenschaften, 1 907 (Pressupos tos filosóficos das ciências naturais exatas). - Die Grundfrage der Ethik. Versuch einer Begründung des Prinzips der grossten a//gemeinen Gliickse/igkeitsfor derung, sld ( 1 908 ) (A questão fundamenta/ da ética. Busca de uma fundamentação do princípio da maior exigência de felicidade geral). - Der Darwinismus und die sozia/e Ethik, 1 909. - Gehirn und Seele, 1 9 1 1 (Cérebro e alma). - Naturphi/osophie, 1 9 1 4. Die fremddienst/iche Zweckmiissigkeit der Pflanzenga//en und die Hypothese eines überindividue//en Seelischen, 1 9 1 7 (A conformidade finalista das galhas vegetais e a hipótese de uma realidade anímica supra-individual). - Geisteswissenschajien und Naturwissenschajien. Untersuchungen zur Theorie und Eintei/ung der Real wissenschaften, 1 92 1 (Ciências do espírito e ciências da Natureza. Investigações para a teoria e divisão das ciências reais). - Einfohrung in die Phi/osophie, 1 926 (Introdução à filosofia). - R. Eucken und seine Phi /osophie, 1 927. -
Depoimento e m Deutsche Philosophie der Gegenwart in Se/bstdarstellungen, 1, 1 92 1 ; 2ª ed., 1 923. Ver: Kurt Huber, Erich Bechers Philosophie, 1 93 1 . - Fritz Thone, E. B. ais Vertreter des Eudiimonismus, 1 933. Obras: Erliiuternder Auszug aus Kants kritischen Schriften, 3 vols., 1 793- 1 796 (Sumário explicativo dos escritos críticos de Kant). O tomo III dessa obra, bási co para se entender o pensamento de Beck, intitula-se: Einzig miig/icher Standpunkt aus we/chem die kritische Philosophie beurtei/t werden muss (O único ponto de vista possível a partir do qual se deve julgar a filosofia crítica). - Grundriss der kritischen Philosophie, 1 796 (Esboço dafilosofia crítica). - Kommentar über Kants Metaphysik der Sitten, 1 798 (Comentário à Metafisica dos costumes de Kant). - Lehrbuch der Logik, 1 820. - Lehrbuch des Naturrechts, 1 820 (Manual de Direito natural). Ver: M. E. Meyer, Das Verhii/tnis des S. B. zu Kant, 1 896. - W. Potschel, J S. B. und Kant, 1 9 1 O. - Joseph Reiser, Zur Erkenntnis/ehre J S. Becks, 1 934 (tese). J. Schmucker, Das ursprüngliche Vorstellen bei J S. B. , 1 976. Ver também o tomo III da obra de Vleerschauer mencionada em DEDUÇÃO TRANSCENDENTAL. Sobre o bem, tanto em sentido moral como metafi sico: C. Stumpf, Das Verhiiltnis des platonischen Gottes zur Idee des Guten, 1 869. - C. Trivero, II problema dei Bene, 1 907. - Hastings Rashdall, The Theory of Good and Evil, 1 907 (inspirado em F. H. Bradley). K. B. R. Aars, Gut und Base, 1 907. - P. Hãberlin, Das Gute, 1 926. - H. J. Paton, The Good Will: A Study in the Coherence Theory of Goodness, 1 927. - W. D. Ross, The Right and the Good, 1 930. - H. Reiner, Der Grnnd der sittlichen Bildung und das sittliche Gute, 1 932. - W. Monod, Le Probleme du Bien. Essai de Théodicée et Journal d 'un Pasteur, 3 vols., 1 934. - L. Nutrimento, La definizione dei Bene in relazione ai problema dell 'ottimismo, 1 936. - C. E. M. Joad, Good and Evil, 1 943. - A. C. Ewing, The Definition of the Good, 1 94 7. - R. B. Rice, On the Knowledge of Good and Evil, 1 95 5 . - E. Dupréel, J. Leclercq, R. Schot tlaender, artigos sobre a noção de bem em Revue lnter nationale de Philosophie, n. 38 ( 1 956), 385-4 1 4. Brand Blanshard, Reason and Goodness, 1 96 1 [Gifford Lectures, 1 952- 1 953]. - Georg Henrik von Wright, The Varieties ofGoodness, 1 963 [Gifford Lectures, 1 960]. - Helmut Kuhn, Das Sein und das Gute, 1 962. Richard Taylor, Good and Evil: A New Direction, 1 970. - H. J. McCloskey, Good and Evil, 1 974. - R. B. Brandt, A Theory of the Good and the Right, 1 979. W. A. Galston, Justice and the Human Good, 1 980. J. W. Lidz, ed., Philosophy, Being, and the Good, 1 983. - R. Taylor, Good and Evil. A New Direction: A Force ful A ttack on the Rationalistic Tradition in Ethics, 1 984. - J. P. Dougherty, ed., The Good Life and Its Pursuit, 1 984. - M. E. Marty, Being Good and Doing Good, 1 984, ed. A. H. Jashmann. - F. Pawelka, Warnm ist der Mench gut und base? Die Naturgeschichte von Gut und Base und die christliche Ethik, 1 987. - R. B. Douglass, Liberalism and the Good, 1 990. - E. F. Paul, F. D. Miller, J. Paul, eds., The Good Life and the Human Good, 1 992. Análises: F. E. Sparshott, An Enquiry into Good ness, 1 958. - Paul Ziff, Semantic Analysis, 1 960. Georg Henrik von Wright, op. cit. supra. (Cf. também
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obras d e autores d a escola "emotivista" [ C . L . Stenven son et ai. ] em ÉTICA.) Ver também uma bibliografia dos verbetes MAL e TEODICÉIA. Para a significação do termo 'bem' ou 'o bom', ver também a bibliografia de ÉTICA e MORAL. Para a idéia do bem em vários autores e tendências: A. Kastil, Die Frage nach der Erkenntnis des Guten bei Aristoteles und Thomas, 1 900. - J. de Munter, Studie over de zedelije Schoonheid en Goedheid bij Aristoteles, 1 932. - Eugene E. Ryab, The Notion of Good in Books A lpha, Beta, Gamma, and Delta of the Metaphysics ofAristotle, 1 96 1 . - E. Grumach, "Physis und Agathon in der alten Stoa", Problemata, 7 ( 1 932). - H . Luckey, Die Bestimmung von "gut " und "base " bei Thomas von Aquin, 1 930. - Albert Heinekamp, Das Problem des Gutes bei Leibniz, 1 969. - H .-G. Gadamer, Die Idee des Guten zwischen Plato und Aris toteles, 1 978. - D. J. Depew, ed., The Greeks and the Good Life: Proceedingsfrom the Ninth A nnual Philoso phy Symposium at California State, 1 980. - M. Riedin ger, Das Wort 'gut ' in der angelsiichsischen Metaethik, 1 984 [Moore, Ayer, Hare et ai.). - J. M. Cooper, Rea son and Human Good in Aristotle, 1 986. - J. J. E. Gracia, The Metaphysics of Good and Evil According to Suárez, 1 989. - G. Graham, Living the Good Life : An Introduction to Moral Philosophy, 1 990. A doutrina de Bernardo de Chartres é conhecida especialmente pelos fragmentos referentes a ela que se encontram no Metalogicon e no Policratius de João de Salisbury. O escrito De mundi universitate sive Mega cosmus et Microcosmus, que se atribuía antes a Bernar do de Chartres, deve-se a Bernardo Silvestre ( vER) . Ver também: P. E. Dutton, "The Uncovering of the ' Glosae Super Platonem ' of Bernard of Chartres", Me dieval Studies, 46 ( 1 984), 1 92-22 1 . Ver: M. D. Chenu, "Un cas de platonisme gram matical au XII siêcle", Revue Scientifique, Philosophi que et Théologique, 4 1 ( 1 967), 666-668. - E. Jeau neau, '"Nani Gigantum Humeris lnsidentes', Essai d'in-
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terpretation de B. de Chartres", Vivarium, 5 ( 1 967), 79-99. As principais obras de Thierry de Chartres são o Heptauteuchon, enciclopédia das sete artes liberais, e um comentário ao Gênesis intitulado De sex dierum operibus. Ver a bibliografia do verbete C HARTRES ( Esco LA DE) . C BERNARDO SILVESTRE, Bernardus Silvestris (ou de Sylvestris), Bernardo de Tours (jl. 1 1 50). Um dos filósofos platonizantes do século XII, ele desenvolveu idéias afins às dos seguidores da chamada Escola de Chartres ( vER ) , embora não possa ser tido como for malmente ligado a essa escola. É autor de uma obra intitulada De mundi universitate sive Megacosmus et Microcosmus, dedicada a Teodorico de Chartres e du rante muito tempo atribuída a Bernardo de Chartres. Essa obra, redigida em prosa e verso, consta de dois livros e é de índole alegórica. No primeiro livro (Mega cosmus), Bernardo apresenta a Physis (a Natureza) la mentando-se de seu estado caótico (Hyle ). Nous (o Es pírito) acorre e forma o mundo com base nos quatro elementos. No segundo livro (Microcosmus) é apresen tada a criação do homem. Bernardo Silvestre recebeu influências platônicas principalmente por meio de Macróbio e de Calcídio. Embora suas doutrinas pareçam panteístas, observou se que sua descrição se refere (mesmo na forma alegóri ca citada) especialmente ao mundo e não a Deus ou à relação entre este e o mundo. Contudo, há na obra em questão pelo menos certas expressões que a aparentam com o emanatismo neoplatónico, como as que se refe rem às formas exemplares como causas diretas do real. :l Ed. de C. S. Barach e J. Wrobel : De mundi univer sitate libri duo, 1 876 (Bibliotheca philosophorum medii aetatis, !); reimp., 1 964. É melhor a edição de P. Donke, 1 978. Ver: É. Gilson, "La cosmogonie de B. S.", Archives d 'histoire doctrinale et littéraire du moyen âge, 3 ( 1 928), 5-24. - R. B. Wolsey, "B. S. and the Hermetic Ascle pius", Traditio, 6 ( 1 948), 340-344. - T. Silverstein, "The Fabulous Cosmogony of B. S.", Modern Philolo gy, 46 ( 1 948), 92- 1 1 6. M. F. McCrimmon, The Classi cal Philosophical Sources of the "De mundi universi tate " of B. S. , 1 953 (tese). - W. Wetherbee, Plato nism and Poetry in the 12th Century, 1 972. - B. Stock, Myth and Science in the XIIth Century. A Stu dy of B. Silvestre, 1 972 (com bibliografia). Ver também a bibliografia em C HARTRES (E sco LA DE ) (especialmente as obras de A. Clerval e J. M. Parent). C BERNARDO TORNIO. Ver M ERTONIANos. BERNAYS, PAUL ( 1 888- 1 977). Nascido em Londres, obteve cidadania suíça, tendo sido professor de mate-
BERNAYS, PAUL mática na Eidgenossische Technische Hochschule de Zurique. É considerado um dos neofriesianos influen ciados por Leonhard Nelson. Colaborou no programa esboçado por Gonseth (vER) e divulgado pela revista Dialectica. Suas mais importantes contribuições situam se no campo da matemática, especialmente a teoria da prova e a dos conjuntos. Colaborou com Hilbert em sua obra sobre os fundamentos da matemática. Bernays re formulou e simplificou a teoria axiomática dos conjun tos de Johannes (John) von Neumann; o sistema é co nhecido pelo nome de Neumann-Bernays. :l Principais escritos: "Ueber Hilberts Gedanken zur Grundlegung der Arithmetik", Jahresbericht der Deuts chen Mathematiker Vereignigung, 3 1 , seção 1 ( 1 922), l 0- 1 9 ("Sobre as idéias de H. acerca do fundamento da aritmética"). - "Axiomatische Untersuchung des Aussagen-Kalküls der ' Principia Mathematica"', Ma thematische Zeitschrift, 25 ( 1 926), 305-320 ("Investi gação axiomática do cálculo de proposições dos ' P. M."'). - "Sur le platonisme dans les mathématiques", L'enseignement mathématique, 34 ( 1 934), 52-69. Grundlagen der Mathematik, 2 vols., 1 934- 1 939 (com D. Hilbert) (Fundamentos da matemática). - "Quel ques points essentiels de la metamathématique", L 'en seignement mathématique, 34 ( 1 934), 70-95. - "A System of Axiomatic Set Theory", Journal ofSymbolic Logic, 2 ( 1 937), 65-77; 6 ( 1 94 1 ), 1 - 1 7; 7 ( 1 942), 65-89, 1 3 3- 1 45; 8 ( 1 943), 89- 1 06; 13 ( 1 948), 65-79; 19 ( 1 954), 8 1 -96. - Axiomatic Set Theory, 1 95 8 . Os últimos sete artigos foram compilados n o vo lume Sets and Classes: on the Work by P. B. , 1 976, ed. G. H. Müller; o volume contém também o trabalho de B., "On the Problem of Schemata of Infinity in Axiomatic Set Theory", bem como vários artigos (A. Levy, U. Felgner, T. B. Flannagan, K. Gloede, A. Mos towski) sobre problemas abordados por B. - Ver tam bém: "Comments on Ludwig Wittgenstein's ' Remarks on the Foundations of Mathematics"', Ratio, 2 ( 1 959), 1 -22. - "Die schematische Korrespondenz und die idealisierten Strukturen", Dialectica, 24 ( 1 970), 5366. - "Sprache und Wirklichkeit: Im Vorfeld der Fra gestellungen, ibid. , 3 1 ( 1 977), 2 1 7-223 . - "Ueberle gungen zu Ferdinand Gonnseths Philosophie", ibid. , 1 1 9- 1 28 . E d . d e escritos variados: A bhandlungen zur Phi losophie der Mathematik, 1 976. Ver: L . H . Tharp, "On a Set Theory of Bernays", Journal of Symbolic Logic, 32 ( 1 967), 3 1 9-32 1 . - F. Gonseth, "Ueber die Sprache Sprechen", Dialectica, 27 ( 1 973), 1 79-2 1 7. - G. H. Müller, ed., Sets and Classes: On the Work of P. Bernays, 1 976. - J. Dan quah, "The Circularity of the Proof of the Non-Inde pendence of the Fourth Axiom of ' Principia Mathe matica"', A nalysis, 36 ( 1 976), 1 1 0- 1 1 1 . - J. M.
BERNOULLI
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Brown, "Bernay's Non-Circular Proof of the Non-In dependence of the Fourth Axiom of ' Principia Mathe matica"', ibid. , 207-208. - E. Engeler, "Zum logischen Wfrk von P. Bernays", Dialectica, 32 ( 1 978), 1 9 1 200. - A . R . Raggio, "Die Rolle der Analogie in Bernays' Philosophie der Mathematik", ibid. , 20 1 -207. P. Lorenzen, "Konstruktive Analysis und das geo metrische Kontinuum", ibid. , 22 1 -227. - G. Takeuti , "Work of Paul Bernays and Kurt Gõdel", em L. J. Cohen, ed., Logic, Methodology and Philosophy o( Science, vol. VI, 1 982, pp. 77-88. - M. Yasuhara, "Extensionality in Bernays Set Theory", Notre Dame Journal o/ Formal Logic, 25 ( 1 984), 357-363. - A. R. Raggio, "El cincuentenario de los Grundlagen der Mathematik de Hilbert y Bernays", Revista Latinoame ricana de Filosofia ( 1 990), 1 97-2 1 2 . C: -
BERNOULLI. O sobrenome ' Bernoulli ' é famoso na história da ciência; quase todos os cientistas com esse sobrenome apresentam interesse para a história das re lações entre a matemática e a fi losofia. JACOB ( 1 654- 1 705). Nascido na Basiléia, foi pro fessor de matemática na mesma cidade a partir de 1 687; antes, viajara pela França e pela Inglaterra, onde esta beleceu amizade com Robert Boyle e Richard Hooker. Interessado no cálculo infinitesimal iniciado por Leib niz, trabalhou no desenvolvimento e no aperfeiçoa mento desse cálculo segundo a notação e as diretrizes leibnizianas. Devem-se a ele também trabalhos no cam po da geometria analítica e da teoria da probabilidade. Nesta última, formulou o teorema que leva seu nome, segundo o qual, com o aumento do número de casos, a probabilidade de que o desvio relativo continue sen do inferior a um limite atribuído arbitrariamente tende a 1 . Jacob manteve correspondência com Leibniz, pu blicada nos Mathematische Schri(ten, de Leibniz, I I I , e d . Gerhardt. Seu teorema figura n o Ars coniectandi, publicado, postumamente, em 1 7 1 3 . Seus Opera apa receram em 1 744. :> Ver: N. M. Martin, "The Explicandum of the Clas sical Concept of Probability", Philosophy o( Science, 1 8 ( 1 95 1 ), 70-84. - S. Blom, "Concerning a Contro versy on the Meaning of ' Probability"', Theoria, 2 1 ( 1 955), 65-98. - M . Boudot, "Probabilité et logique de l ' argumentation selon Jacques Bernoulli", Études Philosophiques, 22 ( 1 967), 265-288. 1. Hacking, "Jacques Bernoulli 's Art of Conj ecturing", British Journal for the Philosophy of Science, 22 ( 1 97 1 ), 209229. - !d., The Emergence of Probability: A Philoso phical Study of Early Jdeas About Probability, Induc tion and Statistical lnference, 1 97 5 . - T. Hailperin, ''The Development of Probability Logic from Leibniz to MacColl", History and Ph ilosophy of Logic, 9 ( 1 988), 1 3 1 - 1 9 1 . e: JOHANN ( 1 667- 1 748). Também nascido na Basi léia, sucedeu a seu irmão Jacob na cátedra e teve co-
mo aluno Leonhard Euler. Dedicou-se à astronomia, à tisica e à química, e, especialmente, à matemática, de senvolvendo o cálculo de variações. Manteve corres pondência com Leibniz, publicada no mesmo tomo supra. Suas Opera omnia, em 4 vols., apareceram em 1 742; reimpr., 1 968- 1 969. :> Ver: M. Beuchot, "Sobre algunas ideas lógicas de Juan Bernoulli", Dianoia, 28 ( l 982), 1 73- 1 77. - T. Boswell, "The Brothers James and John Bernoulli on the Parallelism between Logic and Algebra, History of the Philosophy o( Logic, 1 1 (2) ( 1 990), 1 73- 1 84. C: NIKOLAUS ( 1 662- 1 7 1 6), irmão de Jacob e de Jo hann, lecionou matemática em São Petersburgo. Seus três filhos, Nikolaus ( 1 695- 1 726), Daniel ( 1 700- 1 782) e Johann ( 1 7 1 0- 1 790), foram matemáticos, tendo os dois primeiros lecionado em São Petersburgo e o últi mo na Basiléia. Dentre os três filhos, distinguiu-se DANIEL, que lecionou na Basiléia, ao regressar, em 1 732, de São Petersburgo. Trabalhou especialmente no cálculo, em equações diferenciais e na teoria da proba bilidade. Deve-se a ele um princípio de hidrodinâmi ca que leva seu nome e segundo o qual, dentro de um fluido, seja líquido ou gasoso, em condições de fluxo constante (sempre que permaneçam constantes a pres são e a velocidade em qualquer de seus pontos), a soma da energia de velocidade, da energia da pressão e da energia potencial de elevação permanece constan te. Daniel manteve relações - às vezes de amizade, às vezes de competição - com Euler. Dois dos filhos de Johann (filho de Nikolaus) fo ram matemáticos, fisicos e astrônomos: Johann ( 1 7441 807), astrônomo real em Berlim, e Jakob ( 1 759- 1 789), membro da Academia de Matemática e Física de São Petersburgo. BERNSTEIN, EDUARD ( 1 850- 1 932). Nascido em Berlim, Bernstein desenvolveu intensa atividade como fundador e colaborador de publicações nas quais fo ram defendidos os pontos de vista do marxismo so cial-democrata alemão : Zukun(t, que depois das leis anti-socialistas de Bismarck fo i publicado por alguns anos no estrangeiro (Zurique e Londres); Dokumente des Sozialismus, publicados nos primeiros anos deste século; e os Sozialistische Monatshe(te. Ele foi tam bém historiador do socialismo, editor das obras de Lasalle e da correspondência entre Marx e Engels. As concepções marxistas de Bernstein modifica ram-se consideravelmente à luz de uma defesa do so cialismo "evolutivo" e "gradual", assim como pela in fluência da epistemologia e, especialmente, da ética kantianas. Bernstein se opôs aos que consideravam que o socialismo pode advir apenas por meio de uma revo lução violenta na qual o proletariado assuma o poder, tendo preconizado a adesão às instituições democráti cas no âmbito das quais o socialismo podia desenvol-
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ver-se, em sua opinião, pacífica e gradualmente. Os marxistas mais estritos acusaram Bernstein de "revi sionista", a ponto de seu nome ter chegado a ser sinô nimo de "revisionismo" ( vER) . O principal opositor de Bernstein foi Karl Kautsky (VER) . :> Além de numerosos artigos nas revistas menciona das, deve-se a E. B. a obra Zur Geschichte und Theorie des Sozialismus, 1 90 1 ; 3ª ed. , muito ampliada, 3 vols., 1 904. Destacam-se suas obras polêmicas: Die Voraus setzungen des Sozialismus und die A ufgaben der So zialdemokratie, 1 899 (Os pressupostos do socialismo e as tarefas da social-democracia) e Wie ist wissens chafllicher Sozialismus moglich !, 1 9 1 0 (Como é possí vel o socialismo científico!) (na época, o "socialismo científico", segundo a expressão de Marx, era repre sentado por Kautsky; no título desta última obra trans parece uma alusão a Kant). Ver: P. Gay, The Dilemma of Democratic Socialism; Eduard Bernstein 's Challenge to Marx, 1 952. - H . Schulze, "'Bemstein-Renaissance' Tendenzen, Ziele, Fol gen", Deutsche Zeitschrifl for Philosophie, 29 ( 1 98 1 ) , 67 1 -68 1 . - M. Steger, "Historical Materialism and Ethics: Eduard Bemstein's Revisionist Perspectives", His tory of European Jdeas, 1 4(5) ( 1 992), 647-663. e BERTALANFFY, LUDWIG VON ( 1 90 1 - 1 972). Nas cido em Atzgersdorf ( Á ustria), estudou biologia e filo sofia nas Universidades de Innsbruck e de Viena, ten do-se doutorado nesta última em 1 926. Lecionou na Universidade de Viena e, a partir de 1 948, na de Otawa. Contribuiu para a fundação, em 1 954, do Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences, de Stan ford. De 1 95 5 a 1 95 8 , foi diretor de pesquisas no Hos pital Mt. Sinai, de Los Angeles. Em 1 958, foi nomeado professor visitante da Fundação Mcnninger, de Topeka (Kansas). Lecionou depois na Universidade de Alberta (Canadá), no Centro de B iologia Teórica da Universi dade do Estado de Nova York, em Búfalo, e no Michael Reese Hospital, da Universidade de Chicago. A variedade da carreira docente e de pesquisador de von Bertalanffy reflete a variedade de seus interes ses. Devem-se a ele trabalhos experimentais em biolo gia, especialmente em fisiologia celular e em embrio logia, estudos de comportamento social, investigações filosóficas e o mais significativo impulso à chamada "teoria geral de sistemas" Em seus estudos de filosofia biológica, von Berta lanffy defendeu o que denominou "concepção organís mica'', oposta ao mecanicismo, mas também ao vitalis mo e ao neovitalismo do tipo de Driesch ( VER) , isto é, a todo vitalismo que pressuponha a noção de alguma enteléquia, orgânica ou psíquica, à qual se atribuam o plano, a formação e o desenvolvimento dos organis mos. Von Bertalanffy insistiu no fato de que os orga-
BERTALANFFY, LUDWIG VON nismos biológicos estão organizados e que deste truís mo procedem conseqüências importantes, tais como a necessidade de adotar métodos que contemplem seus caracteres de "totalidade" e de "sistematicidade" As totalidades de que falou não são apenas "todos" cujas propriedades se mostrem distintas das propriedades das partes componentes. Os organismos - tanto indi viduais como específicos - têm propriedades não re dutíveis às de supostos componentes "mecânicos", mas isto porque se trata de propriedades de sistemas. A noção de sistema tem uma importância capital no pensamento de von Bertalanffy. O modelo dos sis temas e das organizações (estratificadas) dos sistemas, assim como o estudo dos tipos de sistemas - especial mente das diferenças entre sistemas fechados e siste mas abertos -, constituem para von Bertalanffy o fun damento não apenas da biologia como de todas as ciências, naturais, sociais e históricas. É possível falar então de "unidade da ciência", porém não no sentido do reducionismo das ciências a um único modelo, mas no sentido de uma investigação interdisciplinar das re lações entre diversos tipos de sistemas e suas aplicações. Em 1 950, Bertalanffy propôs a "teoria geral de sistemas" a que nos referimos no verbete SISTEMA (ver também S1sTÊM1co) . Entre os filósofos, esta teoria foi desenvolvida e aplicada por Ervin Laszlo ( vER) . :> Principais obras: Kritische Theorie der Formbil dung, 1 92 8 . ( Teoria do desenvolvimento biológico) - Nikolas von Kues, 1 92 8 . - Lebenswissenschafl und Bildung, 1 930 (Ciência da vida e desenvolvimen to). - Theoretische Biologie, 2 vols., 1 932- 1 942; 2ª ed., 1 95 1 (!: A llgemeine Theorie. Physikochemie, Auf bau und Entwicklung des Organismus. I I : Stojfwechsel Wachstum) (Biologia teórica. 1 : Teoria geral. Físico química, estrutura e desenvolvimento do organismo; I I : Crescimento materia[). - Das Gefoge des Lebens, 1 93 7 (A trama da vida). - Biologie und Medizin, 1 946. - Das biologische Weltbild, 1 949. Há trad. ingl . desta obra feita pelo autor: Problems of Life: An Evaluation ofModern Biological and Scientific Thou ght, 1 952. - Robots, Men, and Minds, 1 967. Para sua "teoria geral de sistemas": "An outline of General System Theory", British Journal for the Philo sophy of Science, 1 ( 1 950), 1 34- 1 65 e, sobretudo: Ge neral Systems Theory: Foundations, Development Appli cations, 1 968. - Perspectives on General Systems Theory, 1 976, ed. Edgar Taschdj ian. Em colaboração com Anato) Rapoport, L. von B. publica, desde 1 956, General Systems: Yearbook of the Society for General Systems Research. Ver: T. A. Goudge, "Organismic Concepts in Bio Jogy and Physics", Review of Metaphysics, 7 ( 1 953), 282-289. - A. Bendmann, v. B.s organismische Auf fassung des Lebens in ihren philosophischen Konse-
BERTHELOT, RENÉ quenzen, 1 967. - Por ocasião de seus 70 anos, foram publicado s : E. Laszlo, ed., The Relevance of General Systems Theory, 1 972. - !d. , Introduction to Systems Philosophy: Toward a New Paradigm ofContempora ry Thought, 1 972. - W. M. Johnston, L. L. Whyte et ai. , Unity Through Diversity: A Festschrift for L. v. B. , 2 vols., 1 973, ed. Wi ll iam Gray e Nicholas D. Rizzo (ver especialmente desta obra vol. 1, seção 1 ) . - J. D. Donaldson, "L. v. 8., 1 90 1 - 1 972", American Journal of Psychiatry, 1 3 0 ( 1 973 ). C BERTHELOT, REN É . Ver BERusoNISMO. B ESSARION (CARDEAL) [ BAS Í LIO BESSA RION) ( 1 395 ou 1 403 - 1 472). Nascido em Trebisonda (o turco Trabzon), foi um dos autores que mais contri buíram para o renascimento das letras gregas no Re nascimento clássico italiano. Em sua Adversus calum niatorem Platonis ( escri Ía em grego e publ icada em latim em Roma, no ano de 1 469), 8essarion opôs-se não apenas aos adversários de Platão mas também àqueles que, como o cretense Jorge de Trebisonda, ti nham contraposto as doutrinas platônicas às aristoté licas. Em oposição ao escrito de Jorge de Trebisonda, Comparationes phi/osophorum Aristotelis et Platonis ( 1 523), 8essarion - de acordo, nisso, com Gemistos Plethon ( vrn ) - procurou mostrar que não há razão para atacar a filosofia de Platão em nome da de Aristó teles, mas que não hà razão tampouco para fazer o in verso. Nesse sentido, o Cardeal 8essarion, embora inclinado, como Plethon e os filósofos humanistas da Academia Florentina, ao platonismo, esforçou-se em mostrar que os dois filósofos, Platão e Aristóteles, es tão fundamentalmente de acordo (tese defendida mais tarde por Fox Morcillo [ vrn ] ) . Devem-se também a 8essarion uma tradução da Metafisica de Aristóteles e traduções de obras de Teofrasto e Tenofonte. :> Opera em Migne, P. G. , CUa. Ver: H. Vast, Le Car dinal B. , étude sur la Chrétienté et la Renaissance vers le milieu du 15'' siécle, 1 878. - Sadov, B. de Nicée, son rôle au concite de Ferrara-Florence, ses oeuvres théo logiques et sa place dans l 'histoire de l 'humanisme, 1 83 3 . - R. Rocholl, B. Studie zur Geschichte der Re naissance, 1 904. - L. Mohler, Die Wiederbelebung des Platonstudiums in der Zeit der Renaissance durch Kardinal B. , 1 92 1 [Vereinschrift der Gêirresgessellschaft, 3 ] . - Id., Kard. B. , ais Theologe, Humanist und Staats mann, 3 vols.; 1, 1 923; II, 1 927; III, 1 942; reimp. , 1 967. - E. Mioni, "Contributo dei card. 8. all 'inter pretazione della metafisica aristotelica", em Aristotelis mo padovano e.filosofia aristotelica, Atas do XII Con gresso Internacional de Filosofia, Florença, 1 960, pp. 1 73 - 1 82. - H.-G. 8eck, Kirche und theologische Li teratur im byzantinischen Reich, 1 964. C
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BESTEI RO [Y FERNÁ NDEZ), JULI Á N. Ver KRAU s1sMo. BETH, E [VERT) W[ILLEM) ( 1 908- 1 964). Nascido em Almelo, estudou filosofia e matemática em Utrecht e em Groningen, e Direito na Universidade de Amster dã. A partir de 1 946, foi professor de lógica, história da lógica e filosofia da matemática na Universidade Comunitária de Amsterdã, e, a partir· de 1 952, diretor do lnstituut voar Grondslagenonderzoek en Filosofie der Exacte Wetenschappen na citada cidade. 8eth deixou uma obra considerável em lógica, me talógica, fundamentos da matemática e epistemologia. Devem-se também a ele alguns trabalhos de história da lógica e da matemática. Entre suas mais conhecidas e influentes - contribuições, figura a construção do que ele denominou "quadros (tableaux) semânticos", aos quais nos referimos no verbete TABELAS (MÉTODO DE) ( vrn ) . 8eth ocupou-se também dos problemas sus citados pelas possíveis relações entre a estrutura dos sistemas formais e o pensamento, especialmente no sentido da epistemologia genética ( vrn ) . No que se poderia chamar de "filosofia geral", 8eth reconheceu o fato de haver uma "crise da razão", a ponto de admitir que algumas tendências irracionalistas contemporâneas têm sua razão de ser, mas isso apenas na medida em que possam contribuir para descartar o racionalismo tradicional. É necessário um novo tipo de racionalida de, e, em seu âmbito, será preciso poder dar conta das relações entre as estruturas lógicas formais e o saber "intuitivo" :> Dentre os numerosos trabalhos de 8., citamos: Inleiding tot de wijsbegeerte der wiskunde, 1 940; 2ª ed., 1 942 (Introdução à .filosofia da matemática) . Summulae logicales, 1 942. - Geschiedenis der logica, 1 944 (História da lógica). - De wijsbegeerte der wis kunde van Parmenides tot Bolzano, 1 944 (A filosofia da matemática de P. a B. ) . - Natuurphilosophie, 1 948. - Lesfondements logiques des mathématiques, 1 950; 2ª ed., 1 954. - Inleiding tot de wijsbegeerte der exacte wetenschappen ais universitair studievak en ais terrein von wetenschappelijk onderzoek, 1 953 (Introdução à filosofia das ciências exatas como tema de estudo acadêmico e como campo de investigação científica). - Semantic Entailment and Formal Derivability, 1 95 5 . - L'existence e n mathématique, 1 956. - Semantic Construction ofIntuitionistic Logic, 1 956. - La crise de la raison et la logique, 1 957. - De weg der wetens chap. Inleiding tot de methodeleer der empirische wetenschappen, 1 95 8 (O caminho da ciência. Introdu ção à metodologia das ciências empíricas). - The Foundations of Mathematics, 1 959; 2ª ed., 1 965. Beschouwingen over het logisch denken, 1 960 (Intro dução ao pensamento lógico). - Formal Methods:
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An lntroduction to Symbolic Logic and to the Study of Effective Operations in A rithmetic and Logic, 1 962. - Mathematical Thought: An lntroduction to the Philo sophy of Mathematics, 1 965. - Moderne logica, sld, 1 967 (manuscrito póstumo) (há trad. ingl . : Aspects of Modern Logic, 1 970). Na série de Études d 'épistémologie génétique (ver EPISTEMOLOGIA GENÉTICA), dirigidos por Jean Piaget, B. colaborou nos vais. 1 ( 1 957 [com W. Mays e J. Piaget]), 14 ( 1 96 1 [com J. Piaget]) e 1 6 ( 1 962 [com J. B. Grize, R. Martin, B. Matalon, A. Naess e J. Piaget] ). Bibliografia: J. F. Staal, "Bibliography of E. W. Beth", Synthese, 1 6 ( 1 964), 90- 1 06. Ver: A. Heyting, "ln Memoriam Evert Willem Beth 1 909- 1 964", Notre Dame Journal of Formal Logic, 7 ( 1 966), 289-295 . - W. Kuyk, "Some Questions on the Foundations of Logic", Philosophy Reform, 34 ( 1 969), 1 42- 1 46 . - H . Leblanc, "Three Generalizations of a Theorem of Beth 's", Log A nalyst, 1 2 ( 1 969), 205220. - B. C. Van Fraassen, "On the Extension of Beth's Semantics of Physical Theories'', Philosophy of Science, 37 ( 1 970), 325-339. - J. J. F. Nieland, "Beth's Tableau-Method'', Synthese, 1 6 ( 1 964), 7-26. - N. Tennant, "Beth's Theorem and Reductionism'', Pacific Philosophical Quarterly, 66 ( 1 985), 342-354. - J. Peijnenburg, "De Kant-interpretatie van Evert Willem Beth'', A lg. Ned. Tijdschr. Wijs. ( 1 99 1 ), 1 1 4- 1 2 8 . Principais obras: Posizioni dello spirito rispetto ali 'oggetività, 1 949. - Teoria generale delia interpreta zione, 2 vais., 1 95 5 . - Há trad. alemã feita pelo autor com algumas modificações : A llgemeine A uslegungs lehre ais Methodik der Geisteswissenschaften, 1 967; 2ª ed., 1 972. Uma versão alemã, resumida, da teoria da interpretação foi publicada um ano antes de sua Teoria generale: Zur Grundlegung einer allgemeinen A usle gungslehre, como reimpressão do Festschrift für Ernst Rabel, 1 954, II, pp. 79- 1 68 . - Para hermenêutica ju rídica: lnterpretazione della legge e degli atti giuridici (Teoria generale e dogmatica), 2ª ed. , 1 97 1 . Ver: Gerhard Funke, "Problem und Theorie der Her meneutik. Auslegen, Deuten, Verstehen in E. Bettis Teo ria generale della interpretazione", Zeitschriftfür philo sophische Forschung, 1 4 ( 1 960), 1 6 1 - 1 8 1 (também em Studi in honore di E. B. , !, 1 9 6 1 ) . - Richard E. Palmer, Hermeneutics: Interpretation Theory in Schleiermacher, Dilthey, Heidegger, and Gadamer, 1 969, pp. 46-65. J. Vandenbulcke, "Betti-Gadamer: Een Hermeneutische Kontroverse'', Tijdschrift voar Filosofie, 32 ( 1 970), 1 051 1 3 . - J. Bleicher, Contemporary Hermeneutics, 1 980. - S. Noakes, "Emilio Betti's Debt to Vico", New Vico Studies, 6 ( 1 988), 5 1 -57. - J. Grondin, 'Thermeneuti que comme science rigoureuse selon Emilio Betti ( 1 8901 968)", Archives de Philosophie, 53(2) ( 1 990), 1 771 98 . - F. Petríllo, 'T equità nell' ermeneutica giuridica di E. Betti", Rivista lnternazionale di Filosofia dei Dirit to, 68(2) ( 1 99 1 ), 348-375. Principais obras: Geist der Utopie, 1 9 1 8 ; reimp. 1 97 1 ; nova versão, 1 92 3 ; reimp. 1 964. - Thomas Miinzer ais Theologe der Revolution, 1 92 1 . - Spuren, 1 930 (Marcas). - Erbschaft dieser Zeit, 1 93 5 (Heran ça deste tempo). - Freiheit und Ordnung. A briss der Sozial- Utopien, 1 946 (Liberdade e ordem. Sumário de utopias sociais [ou "social-utopias"). - Subjekt Objekt. Erliiuterungen zu Hegel, 1 95 1 . - Avicenna und die aristotelische Linke, 1 95 1 . - Das Prinzip Hoffnung, em cinco partes (55 capítulos), 1 954- 1 959. Várias mudanças referentes a esta obra, especialmente no que tange à idéia de progresso, se encontram em Tübinger Einleitung in die Philosophie, 1 970 (Introdu ção filosófica de Tiibingen); um segundo vol . da obra foi publicado em 1 964. - Christian Thomasius, 1 95 3 . - Differenzierungen i m BegriffFortschrift, 1 95 6 (Dis tinções no conceito de progresso). - Philosophische
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Grnndfragen, vol. 1, 1961 (Questões filosóficas funda mentais). - Naturrecht und menschliche Würde, 1 96 1 . - Verfremdungen, 2 vols., 1 963- 1 964 (Estranhamen tos). - Literarische Aufsiitze, 1 965 (Ensaios literários). - Über Karl Marx, 1 968. - Widerstand und Friede, 1 968 (Resistência e paz). - Wegzeichen der Hoffnung, 1 967 (Indicadores da esperança). -Atheismus im Chris tentum, 1 968. - Philosophische Aufsiitze zur objektiven Phantasie, 1 969 (Ensaios filosóficos sobre a fantasia objetiva) (compila escritos de 1 902 a 1 968 ) . - Das Materialismusproblem, seine Geschichte und Substanz, 1 972 (O problema do materialismo, sua história e subs tância). - Vom Hasard zur Katastrophe, 1 972 (Do aca so à catástrofe). - Experimentum Mundi, 1 975. Zwischenwelten in der Philosophiegeschichte, 1 977. Tendenz, Latenz, Utopie, 1 978. - Abschied von der Uto pie ?, 1 980 (Adeus à utopia ?). -- Leipzifer Vorlesungen zur Geschichte der Philosophie, 4 vols., 1 985. Edição de obras: Gesamtausgabe, 16 vols., 1 9591 975. Postumamente foi publicado o vol. 17 ( 1 978). O vol. 1 3 - Tübinger Einleitung in die Philosophie é básico para a compreensão do pensamento de B. Werkausgabe, 1 978. - Die Expressionismusdebatte, 1 973, ed. H. J. Schmitt. - Além disso, existe desde 1 98 1 um Bloch-A lmanach, ed. pelo Arquivo E. B. da Biblioteca Municipal de Ludwigshafen, a cargo de K. Weigandm, com textos de e sobre B., correspondência, bibliografia etc. - Também D. Sternberger, ed., Bloch A lmanach, 1 985. Testemunho pessoal : R. Traub-H. Wieser, eds., Ges priiche mit E. B. , 1 975. - S. Markun, E. B. in Selbs tzeugnissen und Bilddokumenten, 1 977. Correspondência: E. B. : Briete, 1 903- 1 9 75, 1 98 5 . Bibliografia: T. E. Wren, "An Ernst Bloch Biblio graphy for English Readers", Philosophy Today, 1 4 ( 1 970), 272-273. - J.-M. Udina, " E . B. ( 1 8 85- 1 977 ) en el aiio de su muerte. Bibliografia blochiana 1 977'', Actualidad bibliográfica, junho de 1 978, pp. 60-9 1 . - !d., "E. B . entre nosaltres'', Enrahonar, 1 2 ( 1 985 ) , 6 1 -70. - L. Arnold, ed., Text und Kritik. Sonderband E. B. , 1 98 5 . Ver: H. G. Bütow, Phi/osophie und Gesellschaft im Denken E. Blochs, 1 963. - Theodor W. Adorno, Hans Mayer et ai. , E. B. zu Ehren. Beifragen zu seinem Werk, 1 965, ed. Siegfried Unseld. - Heinz Kimmerle, Die Zukunftsbedeutung der Hoffnung. A useinanderset zung mil E. Blochs "Prinzip Hojj'n ung " aus philoso phischer und theologischer Sicht, 1 966. - E. Roeder von Diersburg, Zur Ontologie und Logik offener Sys teme. E. B. vor dem Gesetz der Tradition, 1 967. M. Walser, J. Habermas et ai. , Ueber E. B. , 1 968. Karl Krãnzle, Utopie und ldeologie. Gesellschatskritik und politisches Engagement im Werk E. Blochs, 1 970. - Carl Heinz Ratschow, A theismus im Christentum.
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BLONDEL, MAURICE
Eine Auseinandersetzung mit E. B. , 1 970. - Geertrui da Maartje van Asperen, Hope and History: A Criti cai Inquiry into the Philosophy of E. B. , 1 973. Hans Heinz Holz, Logos spermatikos. Zur Phi/osophie E. Blochs, 1 975. Laennec Hurbon, E. B. Utopie et espérance, 1 974. - VV. AA., E. B/ochs Wirkung. Ein Arbeitsbuch zum 90. Geburtstag, 1 97 5 . - Hermann Wiegmann, E. Blochs iisthetische Kriterien und ihre intepretative Funktion in seinen literarischen Aufsiit zen, 1 976. - VV. AA., Utopie et marxisme se/on E. B. Un systeme de / 'inconstructible. Hommages à E. B. pour son 9ff anniversaire, 1 976, ed. Gérard Raulet. - G. Cunico, Essere come utopia. Jfondamenti dei/a filosofia dei/a speranza di E. B. , 1 976. - José María G. Gómez-Heras, Sociedad y utopia en E. B. , J 977. - J. Pérez dei Corra!, E/ marxismo cálido. E. B. , 1 977. - A. F. Christen, E. Blochs Metaphysik der Materie, 1 97 8 . - G. Witschel, E. B. Literatur und Sprache: Theorie und Leistung, 1 978. - R. Bodei, Multiversum. Tempo e storia in E. B. II confronto di B. con la tradizione filosofica di Platone a Heidegger, 1 979. - J. Gómez Caffarena, Hans Mayer et ai. , En favor de B. , 1 979 (conferências de março de 1 977). - P. Zudeik, Die Welt ais Wirklichkeit und Moglich keit. Die Rechtsfertigungsproblematik der Utopie in der Philosophie E. Blochs, 1 980. - W. Hudson, The Marxist Philosophy of Ernst Bloch, 1 982. - E . Si mons, Das expressive Denken E. Blochs, 1 98 3 . - J. Jiménez, La estética como utopia antropológica. B. y Marcuse, 1 98 3 . - J. A. Gimbernat, B. Utopia y espe ranza (Claves para una interpretación filosófica), 1 983. - H. Deuser, P. Steinãcker, eds., E. Blochs Ver mittlungen zur Theologie, 1 98 3 . - H. Gekle, Wunsch und Wirklichkeit. Phi/osophie des Noch-Nicht-Bewus sten und Freuds Theorie des Unbewussten, 1 986. 8. Dietschy, Gebrochene Gegenwart. E. B. , Ungleich zeitigkeit und das Geschichtsbild der Moderne, 1 98 8 . - H . E. Schiller, B/och-Konstellationen. Utopien der Phi/osophie, 1 99 1 . - J. Zimmer, Die Kritik der Erin nerung. Metaphysik, Ontologie und geschichtliche Er kenntnis in der Phi/osophie E. B. S, 1 993 (tese). M. Riedel, Tradition und Utopie. E. B.s Philosophie im Licht unserer geschichtlichen Denkerfahrung, 1 994. Ver também: Burghart Schmidt, ed., Materialien zu E. Blochs Prinzip Hoffnung, 1 978 (com bibliografia). - !d., id. , ed., Seminar: Zur Philosophie E. Blochs, 1 983. - H. L. Arnold, ed., E. B. , 1 98 5 (com bibliogra fia; núm. especial da coleção Text und Kritik). C: -
BLONDEL, MAURICE ( 1 86 1 - 1 949). Nascido em Dijon, foi professor assistente na Universidade de Lille ( 1 8951 896) e na Universidade de Aix-en-Provence (Bouches du Rhône) , onde em 1 897 foi nomeado professor titu lar. Partindo de Léon Ollé-Laprune ( vER ) , Blondel co-
meçou sua obra filosófica original com uma reflexão sobre a ação (vER ) . Segundo B londel, a ação não é um "princípio", mas algo menos e, ao mesmo tempo, algo mais: uma necessidade, uma marcha que não pode ser detida, ao contrário do que ocorre com a atividade es peculativa. A ação deve ser entendida, de acordo com Blondel, como "o que é ao mesmo tempo princípio, meio e final de uma operação que pode permanecer imanente em si mesma" Isso significa, como ele j á reconhecia na introdução à sua tese, ou "primeira Ação", que tão logo abordamos a ciência da ação, "não há nada que se possa dar por acertado, nada nem no que se refere aos fatos nem aos princípios nem aos de veres" (p. XXI). Isso não significa aceitar um ponto de vista próximo da dúvida metódica. Quase se poderia dizer que o método é oposto: "É preciso acolher" diz Blondel - "todas as negações que se destroem entre si"; "deve-se entrar em todos os preconceitos como se fossem legítimos; em todas as paixões como se tivessem a generosidade de que se vangloriam; em todos os sistemas filosóficos como se cada um deles abraçasse a infinita variedade que pensa abranger" Por isso, o problema da ação não pode admitir nenhum postulado moral determinado, nenhum dado intelec tual determinado que lhe sirva de ponto de partida. E por esse motivo, diz Blondel, não é uma questão parti cular, por mais importante que seja, mas a questão, aquela sem a qual não pode haver nenhuma outra. O que denominamos o pensamento será sempre algo que se encontra no caminho da ação. Com isto, o pensa mento não é negado nem diminuído, mas englobado e justificado em sua verdadeira existência. De certa maneira, o pensamento é o que resulta quando a ação se desenvolve: a idéia permanece no interior da ação, a qual consegue assim superar e unificar a teoria e a prática. Somente uma filosofia da ação poderá, por con seguinte, efetuar uma "critica da vida" e erigir uma "ciên cia da prática". A filosofia da ação não é um esquema tismo fundado em puras idéias abstratas. Mas não é tampouco um pragmatismo que faça da verdade uma função da utilidade. A filosofia blondeliana da ação representa a síntese de todas as contradições entre o pensamento e a vida, entre a idéia e a realidade em que se debateu o pensamento moderno. Blondel afirma que uma compreensão adequada da ação requer duas investigações paralelas: a primeira, uma análise apa rentemente nominal da ação ( VER) , mas que, de fato, representa o quadro inteligível no âmbito do qual se dá toda dialética possível; a segunda, a própria dialé tica concreta da ação, que é examinada por Blondel, sobretudo na ampliação de sua tese, de um modo muito mais completo do que por meio de uma elucidação das significações. A investigação da ação - assim como a investigação acerca do "pensamento" e do "ser e
BLONDEL, MAURICE dos seres" - leva B londel a considerar a ação tendo presentes várias acepções contrárias e mesmo contra ditórias. A noção de ação fica imersa por isso num inextricável emaranhado de "aporias" Por isso, é necessário perseguir a ascensão da ação até onde esta se manifesta do modo mais pleno, rico e concreto; da análise da atividade nos agentes fisicos, e da observa ção da insuficiência neles de um "autêntico atuar", ascende-se à análise do atuar na ação humana, com o que se esclarecem concretamente os distintos modos do operar, incluindo o contemplar. Mas o exame dos modos do operar nas causas segundas é apenas pre paração para a elucidação do "mistério do puro ope rar" Formula-se aqui, de maneira radical, o problema da imanência da ação, uma imanência que engloba toda transcendência possível (cf. L'Action, 1 936, 1, pp. 1 40 ss.; II, pp. 1 75 ss.). Por isso, em sua essência o agir é tão pouco "transitivo" que onde não houvesse mais que vir-a-ser não subsistiria já um agir (ibid. , II, 265). Desse ponto de vista, pode-se compreender me lhor a relação entre a teoria e a prática, a transcendên cia e a imanência, a causa primeira e as causas segun das. Assim, não há tanto um primado do fieri sobre o esse quanto uma dupla atração entre ambos. Contu do, pode-se afirmar uma certa primazia do primeiro sobre o segundo se pelo fieri entendemos o puro e autêntico agir distinto tanto de um agir secundário como de todas as formas "estáticas" da ação. Esse primado não se manifesta apenas em seu aspecto me tafisico, mas em todas as esferas da ciência e da vida, da moral e da religião. Como o que veio-a-ser é com preensível a partir do vir-a-ser, aquele perde seu cará ter abstrato. E por representar a ação o princípio da multiplicidade e a sua necessária hierarquia, a filosofia da ação pode transformar-se numa filosofia da contem plação ativa, contemplação que adquire sua significa ção mais elevada na visão de Deus. A filosofia de Blondel, que manifesta sua confor midade com a ortodoxia católica, afirma que a aceita ção da visão de Deus é conseqüência necessária dessa filosofia, pois não apenas se torna concreta, dessa ma neira, a contemplação de Deus e se satisfaz a vontade que a ação implica, como também se revela a verdade de uma pessoa divina que penetra no interior da pessoa humana. Cumpre-se assim o "método de imanência" que Blondel defendeu na filosofia e na apologética, um método que levou sua doutrina a ser considerada muito próxima do modernismo (vER) , mas que Blondel j ulga o único procedimento eficaz para que a transcen dência seja efetivamente dada e não se transforme em resultado abstrato de um intelectualismo puramente es quematizante. Na ação ocorre essa peculiar transcen dência na imanência que apenas para um ponto de vista intelectualista aparece como um círculo vicioso. Com
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efeito, o sobrenatural emerge n a imanência e n a ação, mas estas são possíveis pela inserção do sobrenatural em nós, pela atração que o infinito exerce sobre o finito. Segundo Blondel, no homem não pode entrar nada que já não esteja nele, mas ao mesmo tempo o que entra no homem não é produzido por este como uma imaginação ou uma simples "especulação" :> Obras: De vinculo substantiali et de substantia com posita apud Leibnitium (parte secundária ou comple mentar de sua tese), 1 893 ; texto francês ( Une énigme historique: le "vinculum substantiale " d 'apres Leibniz et l 'ébauche d 'un réalisme supérieur), 1 930; texto lati no e trad. francesa (Le lien substantiel et la substance composée d 'apres Leibniz), 1 972, ed. Claude Troisfon taines. - L'Action. Essai d 'une critique de la vie et d 'une science de la pratique (parte principal de sua tese), 1 893 . - Histoire et dogme, 1 904. - Le probleme de la philosophie catholique, 1 932. - La pensée: 1: La genese de la pensée et les paliers de son ascension spontanée, 1 9 3 3 ; II: Les responsabilités de la pensée et la possibilité de son achevement, 1 934. - L'Être et les Êtres. Essai d 'ontologie concrete et intégrale, 1 93 5 . L'Action, 1: Le probleme des causes secondes et le pur agir, 1 936. II: L'action humaine et les conditions de son aboutissement, 1 93 7 (esta obra é diferente da citada tese de 1 893, embora constitua em parte seu desenvolvi mento; a tese de 1 893 costuma receber o nome de "primeira Ação"; a obra publicada em 1 936- 1 937 recebe o nome de "segunda Ação"). - Lutte pour la civili sation et philosophie de la paix, 1 939. - La philosophie et l 'esprit chrétien, 2 vols., 1 944- 1 946 (1: A utonomie essentielle et connexion indéclinable; I I : Conditions de la symbiose seu/e norma/e et salutaire). - Exigences philosophiques du christianisme, 1 950. Correspondência: Correspondance [com Auguste Valensin] , 1 899- 1 9 1 2 , 2 vols., 1 95 7 . - Lettres philo sophiques de M. B. [a E. Boutroux, V. Delbos, et ai. , 1 8 86- 1 9 1 4), ed. E. Le Roy, 1 96 1 . - Correspondance [com Johannes Wehrle], ed. Henri de Lubac, 2 vols., 1 969. - Correspondance [com Henri Bremond], 3 vols., 1 970- 1 97 1 . - F. Long, "The Blondel-Gilson Correspondence Through Foucault's Mirrar", Philo sophy Today, 3 5 (4) ( 1 99 1 ), 3 5 1 -3 6 1 . Os primeiros escritos de Blondel foram reeditados pela associação Les Amis de M. Blondel, fundada em 1 949 (L 'A ction, de 1 893 [ 1 950). Lettre sur les exigen ces de la pensée contemporaine en matiere d 'apologé tique, de 1 876, e Histoire et Dogme, de 1 904 [ 1 956)). - Documentação sobre Blondel em Les Études blon déliennes e em Le Courier des Amis de M. Biande! (ambos desde 1 95 1 ). Bibliografia: A. Hayen, Bibliographie blondélienne, 1888- 1 95 1 , 1 95 3 . - R. Virgoulay, C. Troisfontaines, M. B. : Bibliographie analytique et critique, 2 vols.,
BOA VONTADE
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1 975- 1 976 (!: Oeuvres de M. B . [1880-1 9 73}; I I : Étu des sur M. B. [1 893-1975}) . Ver: Joseph de Tonquédec, Immanence. Essai criti que sur la doctrine de M. B. , 1 9 1 3 . - !d., Deux études sur "La Pensée " de B. La doctrine de la connaissance, la question du surnaturel. Avec un appendice sur le dé sir naturel de la vision de Dieu, 1 936. - Luigi Stefa nini, L'azione. Saggio su/la fi/osofia di M. B. , 1 9 1 5 . - F. Lefevre, L'itinéraire phi/oso-phique de M. B. , 1 928. - P. Archambault, Vers un réalisme intégra/. L'oeuvre phi/oso-phique de M. B. , 1 928. - !d., lni tiation à la philosophie blondélienne enforme de Court Traité de Métaphysique, 1 946. - T. Gilbert, M. Blon del 's Philosophy of Action, 1 92 5 . - Taymans d' Ey pernon, Le blondélisme, 1 93 3 . - Giovanna Federici Ajroldi, Interpretazione dei problema deli 'essere in M. B. , 1 936. - Francesco Scivittaro, L 'azione e il pensie ro. Saggio su/la filosofia di M. B. , 1 936. - Stefano Polakovic, II problema dei destino: l 'uomo de/la filo sofia di B. dinnanzi a/la chiesa di Dio, 1 939. - Blaise Romeyer, La philosophie religieuse de M. B. , 1 943 . - Juan Roig Gironella, La filosofia de la acción, 1 943 . - P. Archambault, P. Bourgarel, B. Romeyer, A. Forest, J. Mercier, P. Lachiêze-Rey, G. Berger, J. Paliarei, "Hommage à M. Blondel" (La Nouve/le Re leve, n. 1 2, Paris, 1 946). - F. Salvo, La logica de/la vita mora/e in M. B. , 1 946. - Henry Duméry, La philosophie de "l 'action " Essai sur l 'inte/lectualisme blondélien, 1 948 (com prefácio de M. B. e bibliogra fia). - !d., B. et la religion: Essai critique sur la "Let tre " de 1 896, 1 954. - !d., Raison et religion dans la philosophie de l 'action, 1 963. - J. Paliarei, M. B. ou !e dépassement chrétien, 1 950. - F. di Petrella, II pensiero di M. B. , 1 950. - Trabalhos sobre B. em Les Études philosophiques (Nouvelle série, a partir de 1 950) e Teoresi (nn. 1 -4, 1 950, em um volume, intitu lado Omaggio a B. ). - L. Sarteri, B. e il Cristiane simo, 1 95 3 . - R. Crippa, II realismo integra/e di M.
B. , 1 954. - A. Cartier, Existence et vérité, 1 95 5 (sobre B. e o existencialismo). - Maria Ritz, Le probléme de / 'être dans / 'ontologie de M. B. , 1 95 8 . - Jean É cole, La métaphysique de / 'être dans la phi/osophie de M. B. , 1 95 8 . - Henri Bouillard, B. et le christia nisme, 1 96 1 . - Romeo Crippa, Profilo della critica b/ondeliana, 1 962. - Jean Lacroix, M. B. , sa vie, son oeuvre, avec un exposé de sa phi/osophie, 1 963. Claude Tresmontant, lntroduction à la métaphysique de M. B. , 1 963. - Marc Renault, Déterminisme et li berté dans "/ 'Action " de M. B. , 1 965. - John J. McNeil, The Blondelian Synthesis. A Study of the In fluence of German Phi/osophical Sources on the For mation of Blondel 's Method and Thought, 1 966. Michel Jouhaud, Le probléme de / 'être et / 'expérience mora/e chez M. B. , 1 970. - Ulrich Hommes, Trans zendenz und Personalitiit. Zum Begriff der Action bei
M. B. , 1 972. - A. Raffelt, Spiritualitiit und Philoso phie. Zur Vermittlung religioser Erfahrung in M. B. "L'action '', 1 97 8 . - R. Virgouley, B. et !e modernis me. La philosophie de l 'action et les sciences religieu ses (1 896-1 9 1 3) , 1 980. - J.-M. lsasi, M. B. Una rigurosafi/osofia de la religión, 1 982. - M. Pacheco, A Gênese do problema da ação em B. (1 8 78- 1882). Sentido de um projecto filosófico, 1 982. - O. Kõnig, Dogma ais Praxis und Theorie. Studien zum Begriff des Dogmas in der Religionsphilosophie M. Biandeis vor und wiihrend der modernistischen Krise (18881 908), 1 98 3 . - A. van Hoof, Die Vo/lendung des Menschen, 1 98 3 . - C . Theobald, M. B. und das Pro blem der Modernitiit, 1 98 8 . P. Gilbert, "Le phéno mêne, la médiation et la métaphysique : le dernier cha pitre de T action' ( 1 893) de M. B.", Gregoriarum, 70 ( 1 989), 93- 1 1 9 ( ! ª parte), 29 1 -3 1 9 (2ª parte). Por ocasião do centenário do nascimento de M. B., dedicaram-se números especiais de várias revistas ao pensamento de B.; por exemplo, Teoresi, 1 7, n. 4 ( 1 962) [com bibliografia organizada por Antonina Costa, pp. 295-320] ; Giornale di Metafisica, 1 6, n. 5 ( 1 96 1 ) [com bibliografia organizada por Romeo Crippa, pp. 63 1 659]. H á também u m vol. coletivo de M . Mery, G . E. Ophrys et ai. : Le Centenaire de M. B., 1861 - 1 961, en sa Faculté des Lettres d 'A ux-Marseille, 1 963. Obras: A Theory of Time, 1 899 (tese de doutora mento). - Time and Reality, 1 904. - Truth and Rea /ity, 1 9 1 1 . - A Rea/istic Universe, 1 9 1 6, ed. revisada, 1 93 1 . - Cosmic Evolution, 1 925. - God and Crea tion, 1 934, 2 vols. : 1 . God. A Cosmic Philosophy of Religion; I I . Three Interpretations of the Uni verse. The Social Mind, Foundations of Social Philosophy, 1 939. - Religion of Tomorrow, 1 943. - A Cosmic Philosophy, 1 94 7.
Ver: Eugene Clay Holmes, Social Philosophy and the Social Mind: A Study of the Genetic Methods of J M. Baldwin, G. H. Mead and 1 E. Boodin, 1 942 . - J. A. Martin, Empírica! Philosophies of Religion, with Special Reference to Boodin, Brightman, Hocking, Maclntosh and Wieman, 1 945. - A. J. Reck, "The Philosophy of J. E. 8. ( 1 869- 1 95 0)", Review of Meta physics, 1 5 ( 1 96 1 ), 1 48- 1 73 . - J. W. Dye, "J. E. B.'s Theory of Consciousness", Southern Journal of Philo sophy, 1 2 ( 1 974), 3 1 3-332. C. H. Nelson, 1 E. Bodin : Philosopher-Poet, 1 987. C: -
BOOLE, GEORGE ( 1 8 1 5- 1 864). Nascido em Lincoln (Inglaterra), foi professor de matemática no Queen 's College, de Cork, de 1 849 até sua morte. É comumente considerado o fundador da lógica simbólica. Embora seja certo que esse título não é inteiramente justo em virtude das importantes contribuições à lógica simbóli ca que se descobriram no passado (ver LórncA; Looísr1CA), a verdade é que o movimento lógico contemporâ neo, na medida em que possui consciência de sua novi dade e importância, costuma remontar a 1 847 e, mais precisamente, a 1 854, data da publicação da obra funda mental de Boole. Este desenvolveu sobretudo a álgebra da lógica; o cálculo de classes (ver CLA SSE) é habitual mente denominado álgebra booleana de classes. :> As duas obras lógicas fundamentais de Boole são: The Mathematical Analysis of Logic being an Essay toward a Calculus of Deductive Reasoning, 1 847. An Investigation of the Laws of Thought, on which are founded the Mathematica/ Theories ofLogic and Proba bilities, 1 854. - Ver igualmente Studies in Logic and Probability, 1 952 (abrange as obras reunidas de Boole, incluindo The Mathematica/ Ana/ysis ofLogic e escritos inéditos). - O artigo de Mary B. Hesse, "Boole's Phi losophy of Thought", Annals of Science, 8 ( 1 952), 6 1 82, refere-se a manuscritos d e Boole que lhe deviam servir para escrever uma obra que seria a continuação de The Laws of Thought, na qual ele não empregaria o simbolismo. Correspondência: 1. Grattan-Guinness, "The Corres pondence between G. Boole and Stanley Jevons, 1 8631 864", History and Philosophy of Logic ( 1 990), 1 5-35. Ver: E. W. Beth, "Hundred Years of Symbolic Lo gic: A Retrospect on the Occasion of the Boole-De Morgan Centenary", Dialectica, 1 ( 1 964), 33 1 -346. - Armando Asti Vera, G. B. , precursor de la lógica simbólica, 1 968. - Theodore Hai lperin, Boole s Logic and Probability, 1 976. - E. Michael, "An Examina tion of the Influence of Boole's Algebra on Peirce's De velopments in Logic", Notre Dame Journal of Formal Logic, 20 ( 1 979), 80 1 -806. - L. M. Laita, "Boolean Algebra and Its Extra-Logical Sources: The Testimony of Mary Everest Boole", History and Philosophy of Logic, 1 ( 1 980), 3 7-60. - B. Csakany, 1 . Rosenberg,
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eds., Finite A lgebra and Multiple- Valued Logic, 1 98 1 . - D. McHale, G. B. , 1 98 5 . A obra fundamental de 8oscovich intitula-se Philo sophiae natura/is theoria redacta ad unicam legem vi rium in natura existentium, 1 758, 1 759, 1 764; outra ed., 1 763 . A edição publicada em Veneza em 1 763 contém também dois breves tratados de 8oscovich: De anima e/ Deo e De spatio et tempore. Ed. (texto latino e trad. inglesa) da Philosophiae natura/is theoria por J. M. Chile!, com biografia de 8oscovich por 8ranislav Petro nievitch (Manchester, 1 922). Edição de obras científicas: Opera pertinentia ad aplicam et astronomiam, 5 vols., 1 785- 1 786. Ver: F. Evellin, Quid de rebus vel corporeis vel in corporeis senserit Boscovich, 1 8 80 (tese de doutora mento em latim). - M. Oster, R. J B. ais Naturphilo soph, 1 909. Dusan Nedelj kovic, La philosophie naturelle et relati viste de R. J B. , 1 922. - !d., R. B. u svom vremenu i danas, 1 9 6 1 (R. B. em seu tempo e hoje) (coletânea de artigos, 1 93 8- 1 96 1 ). - V. H. Gil!, S . J. , R. B. , S. J (1 71 1 - 1 78 7) Forerunner of Modem Physical Theories, 1 94 1 . - L. L. Whyte, "R. J. 8., S. J. , F. R. S . ( 1 7 1 1 - 1 787), and the Mathematics of Ato mism'', Notes and Records of the Royal Society ofLon don, 1 3 , n. 1 ( 1 958), 3 8-48 . - Ilij a Poplasen, Zum Problem des integralen Dynamismus bei R. J B. , 1 967. - L. L. Whyte, ed. R. J B. , SJ, FRS, 1 71 1- 1 787: Studies of His Life and Work on the 250 Anniversary of His Birth, 1 9 6 1 (com bibliografia). - Z. Marko vic, R. B. , 2 vols., 1 968- 1 969. M. A. Sutton, "J. F. Daniel! and the 8oscovichean Atom", Studies in His tory and Philosophy of Science, 1 ( 1 97 1 ), 277-292. - 1 . Supek, "8.'s Philosophy of Nature", Poznan Stu dies, 2 ( ! 976), 1 1 2- 1 20. - Vários autores, R. B. , 1 983, ed. G. Vidan. - P. Casini, "Ottica, Astronomia, Relatività: 8. a Roma, 1 73 8- 1 748", Rivista di Filoso fia, 7 1 ( 1 9 8 1 ) , 354-3 8 1 . - K. D. Stiegler, "Zur Entste hung der Idee der raumlich unausgedehnten Atome von Zenon bis 8oscovich", Ph ilosophia Natura/is, 1 8 ( 1 98 1 ), 327-3 55. e: -
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BOSSU ET, JACQUES-BENIGNE ( 1 62 7 - 1 704). Nascido em Dij on, recebeu a tonsura em 1 63 5 e estu dou teologia no j esuíta College de Navarre, de Paris, a partir de 1 642. Defendeu a tese chamada sorbonique, em 1 650. Doutorou-se em teologia em 1 652, iniciando nesse mesmo ano sua residência e pregação em Metz - centro de suas famosas oraisons funebres. Foi bispo de Metz a partir de 1 68 1 e preceptor do Delfim da França a partir de 1 670.
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Bossuet foi um dos grandes apologistas católicos modernos. Considerava que a Igreja católica apostólica romana é a depositária das verdades, a única e autên tica mestra universal, à qual devem aderir todos os que, como Leibniz, estão desejosos de unidade e buscam a pacificação dos espíritos. Bossuet opôs-se a todos os que se afastam dos princípios da verdade, como o mostra a chamada "disputa sobre o quietismo" (ajfaire du quié tisme), que durou de 1 694 a 1 699, terminando com a condenação, pelo Papa, do livro de Fénelon (que, além disso, Bossuet consagrara bispo de Cambrai em 1 695). Diante a todos os que resistem às verdades de que a Igreja é depositária, alegando ser preciso modificar pelo menos algumas ou discuti-las antes de ingressar, ou de reingressar, na Igreja, Bossuet manteve firmemente a opinião de que apenas dentro da Igreja se pode falar das verdades; o que se deve fazer, portanto, é "obrigá los a ingressar": compellere entrare. Bossuet ocupou-se de todos os grandes temas teoló gicos de sua época (por exemplo, o problema da relação entre a graça e o livre-arbítrio, que procurou solucionar harmoniosamente, sem levar ao extremo nenhuma po sição). Sua mais conhecida contribuição teológica e filosófica é, contudo, o Discurso sobre a História Uni versal, que compôs para a instrução e edificação do Delfim. Renovando para a época moderna o que Santo Agostinho fizera com sua Cidade de Deus, Bossuet desenvolveu uma teologia da história destinada a mos trar a obra da Providência como guia do curso de toda a humanidade. Bossuet considera que é possível, e desejável , apresentar o "grande espetáculo" da história universal acima de - embora ao mesmo tempo pressu pondo - todas as histórias particulares: "Este tipo de história universal" - escreve ele no 'Avant-Propos' para ' Monseigneur le Dauphin ' - "é, em relação às histórias de cada país e de cada povo, o que um mapa geral é em relação aos mapas particulares. Nos mapas particulares, vêem-se todos os detalhes de um reino ou de uma província em si mesma. Nos mapas universais, aprende-se a situar essas partes do mundo em sua tota lidade: vê-se o que Paris ou a I le-de-France é no reino, o que o reino é na Europa ou o que a Europa é no uni verso". As histórias particulares representam em porme nor coisas que aconteceram a um povo, "mas, para en tender tudo, é preciso conhecer a relação que cada his tória tem com todas as outras mediante uma abreviatu ra na qual se veja, de uma única olhada, toda a ordem do tempo" Vista dessa grandiosa perspectiva, a história uni versal é a história da redenção do gênero humano pelo sacrificio de Cristo. Não se trata apenas de histó ria religiosa; não obstante, o governo civil e a história política - a formação, o desenvolvimento e a queda dos impérios - são compreensíveis somente no âm bito do esquema providencial. Bossuet divide o curso
BOSTRÕM, CHRISTOPHER JACOB da história universal em nove grandes épocas (Adão, Noé, a vocação de Abraão, Moisés, a conquista de Tróia, Salomão, Rômulo, Ciro, Cipião ou a derrota de Carta go, nascimento de Jesus Cristo, Constantino e Carlos Magno ou o estabelecimento do "novo império") e ter mina afirmando que tudo deve ser relacionado com a Providência, pois "tudo depende das ordens secretas da Divina Providência (Discours, Parte III, cap. 8). :> Principais obras de interesse filosófico e teológico: Discours sur l 'histoire universelle, 1 68 1 ; 3ª ed. revisada pelo autor, 1 70 1 ; nova ed. 1 966 por J. Truchet. - Poli tique tirée despropres paroles de l 'Écriture Sainte, 1 709. - Traité du libre arbitre, 1 7 1 O (publicado pelo sobrinho do autor, o abade Bossuet, bispo de Troyes) . - Traité de la connaissance de Dieu et de soi-même, 1 722. Entre as muitas edições de obras, citamos: Oeuvres, ed. rev. , 1 9 vols., 1 772- 1 780; Oeuvres completes, ed. F. Lachat, 3 1 vols., 1 862- 1 866; Oeuvres completes, ed. E. N. Guillaume, 1 1 vols., 1 877. Ver: A. Nourrisson, Essai sur la philosophie de B. , 1 852. - C. de Courten, B. e il suo "Discours sur l 'his toire universelle ", 1 927. - Roger Labrousse, Introdu ção à ed. (texto francês e trad. esp.) do Traité du libre arbitre [Tucumán], ( 1 948), pp. 7-83. - A. Auneau, B. , 1 949. - Therese Goyet, L'humanisme de B. , 2 vols., 1 965. - Jacques Le Brun, La spiritualité de B. , 1 973. - G. Pflug, "The Development of Historical Method in the Eighteenth Century", History and Theory, 1 1 ( 1 97 1 ), 1 -23. - E. J. Kearns, /deas in Seventeenth Century France, 1 979. - P. Magnard, T. Goyet et ai. , Journées B. La prédication au XVII' siecle, 1 980 (Jor nadas em Dij on, 2-4 de dezembro de 1 977). � BOSTRÔ M, CHRISTOPHER JACOB ( 1 797- 1 866). Nascido em Pitea ( Suécia), professor de 1 83 8 a 1 863 em Uppsala, desenvolveu uma filosofia qualificada de idealismo racional ou pessoal e que em muitos pontos coincide com o teísmo especulativo de B iberg ( vER) e Grubbe ( VER) . Com efeito, Bostrõm opõe-se tanto ao empirismo como ao racionalismo abstrato, que signifi cam uma negação da pessoa. A realidade da pessoa é para Bostrõm a realidade verdadeira, a única entidade realmente concreta. Essa realidade pessoal é determi nada principalmente por meio da consciência, ou, mais exatamente, por meio do espiritual que nela reside. As coisas naturais e sensíveis são, por conseguinte, um aspecto que a realidade interior oferece, e precisa mente o aspecto no qual a percepção de si se encontra reduzida a um mínimo. Se a percepção é o princípio do ser, isso significará que o ser será tanto mais real e concreto quanto maior for a soma das autopercepções por meio das quais se constitui. Quando estas atingem o ponto máximo, encontramo-nos diante do que Bos trõm denomina o Absoluto, o Espírito absoluto, o Deus pessoal em cujo âmbito - assim como em Leibniz - se dá a comunidade das pessoas. Ora, essa concep-
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BOUCHARD, JEAN-JACQUES ção do verdadeiramente real introduz no pensamento de Bostrõm algumas dificuldades que haviam sido abor dadas já pelo idealismo racional clássico. A primeira e principal delas consiste na concepção que se deve ter, em tal sistema, do espácio-temporal. A solução de Bos trõm é imprecisa nesse ponto. Por um lado, ele considera que o espácio-temporal está inteiramente fora do âmbito do Espírito absoluto e de suas idéias ou momentos. Por outro, vê-se obrigado a reconhecer que, de algum modo, é preciso estabelecer uma relação que não rompa a harmonia do conjunto. Esta segunda tendência é a que acaba por triunfar. Em última análise, a única realidade autêntica é, para Bostrõm, a espiritual-pessoal, e, por conseguinte, apenas Deus como espírito absoluto é real. Isto, porém, não significa nem a anulação do sensível nem, menos ainda, a do espírito finito. Ambos estão su bordinados, sem dúvida, à vida divina. Contudo, essa subordinação já não mostra dificuldade quando se leva em conta que, como assinalamos antes, o espiritual e o consciente nem sempre significam para Bostrõm a plena consciência pessoal do eu; todo "representar", mesmo o menos consciente, pertence ao plano do espiritual, embora de uma espiritualidade inferior, porque com preende também tudo o que de algum modo for subs tância, princípio ou individualidade. Assim, as naturezas finitas, que se articulam num mundo de personal idades, acabam por ser manifestações da realidade superior di vina, idéias existentes no âmago de Deus. Essas idéias, cuja revelação constitui o mundo da sensibilidade, se entretecem e vivem enquanto pessoas em uma hierar quia na qual o grau de perfeição corresponde ao grau de realidade. O idealismo racional e pessoal de Bostrõm, complementado na ética por um racionalismo positivo diferente do apriorismo formal e do utilitarismo eu demonista, teve continuidade no trabalho de diversos pensadores. Entre os "discípulos" de Bostrõm, muitos deles muito pouco bostromianos, figuraram Sigurd Ribbing ( 1 8 1 6- 1 899), Hans Edfeldt ( 1 836- 1 909), Axel Nyblaeus ( VER) , P. J. H. Leander ( 1 83 1 - 1 907) e, sobre tudo, C. Y. Sahlin ( VER ) e Per Efraim Liljequist ( vER ) . :l Obras: De notionibus re/igionis. sapientiae et vir tutis earumque inter se nexu, 1 84 1 . - Siitze iiber Ge setz und Gesetzgebung, 1 845 (Proposições sobre a lei e a legislação). - Grund/ineer til/ fi/osofiska Stats liiran, 1 859 (Linhas fundamentais das lições sobre.fi losofia do Estado). - Foreliisningar i etik varteminen, 1 86 1 (Lições sobre a moral). Outras séries de aulas de Bostrõm publicadas são: Foreliisningar i re/igions fi/osofi, 5 vols., 1 906- 1 9 1 3 , ed. G. J. Keij ser (filosofia da religião), e Foreliisningar i etiken, 1 897, ed. S . Ri bling (ética) . Escritos reunidos: Skri/ier av C. J B. , 3 vols., 1 8 83- 1 90 1 , ed. H . Edfeldt e G. J. Keijser. Ver: J. J. Borelius, Kritik of ver den Bos/romska _fi/osofien, 1 859. - H. Edfeldt, Om Bostroms idee/iira, -
1 884. E. ZoeIler, Der Gottesbegriff in der neueren schwedischen Philosophie, mil besonderer Beriicksich tigung der We/tanschauung Bostroms und Lotzes, 1 888 (O conceito de Deus na nova filosofia sueca, com es pecial atenção à cosmovisão de Bostrom e Lotze). C. Landstrõms, B. och hansfi/osofie, 1 903 . - 1. Ljun ghoffs, C. J B. Sveriges Platon, 1 9 1 6. - H. Larsson, Minnesteckning ofaer C. J B. , 1 93 1 . - S. Edvard Roh de, "Bostrõms Religionsfilosofiska askarning. !. San ning och verglighet", Goteborgs Hogskolas Arskrifi, 4 ( 1 949). Obras: Von der mannigfachen Bedeutung des Seien den nach Aristoteles, 1 862; reimp . , 1 960 (Da múltipla significação do ser segundo Aristóteles). - Die Psy chologie des A ristoteles, 1 867. - Psychologie vom empirischen Standpunkt, i, 1 874. - Ueber die Gründe der Entmutigung auf philosophischem Gebiete, 1 874 (Sobre as razões do desalento na filosofia. - Was für ein Philosoph manchmal Epoche macht, 1 876 (Que tipo de.filósofos às vezes se destacam). - Neue Riitsel von A enigmatias, 1 879 (Novos enigmas de E. ). Ueber den Creationismus des A ristoteles, 1 8 82. Vom Ursprung sittlicher Erkenntnis, 1 889. - Ueber die Zukunft der Ph ilosoph ie. Mit apologetisch kritischer Berücksichtigung der Inaugurationsrede von A. Exner "Ueber politische Bildung , 1 893. - Die vier Phasen der Philosophie und ihr augenblicklicher Stand, 1 895. - Untersuchung zur Sinnespsychologie, 1 907 (Investigação sobre psicologia dos sentidos). - Aristo teles und seine Weltanschauung, 1 9 1 1 (trad. esp . : Aristóteles, 1 930; nova ed., 1 983). Edição de obras completas: Gesammelte Schriften, por Alfred Kastil e Oskar Kraus, incluindo alguns es critos póstumos, 1 1 vols., 1 92 1 - 1 934. Citamos os se guintes tomos desta edição: Die Lehre Jesu und ihre bleibende Bedeutung ( 1 922); Psychologie vom empiris chen Standpunkt (!, 1 924; II, 1 92 5 ; III, 1 928; reed., 2 vols., 1 955- 1 959); Versuch über die Erkenntnis ( 1 925); Die vier Phasen etc. ( 1 926); Vom Dasein Gottes ( 1 929). Depois Franziska Mayer-Hillebrand editou os escritos não contidos na ed. anterior: Grundlegung und Aujbau der Ethik, 1 952, aulas de B. sobre filosofia prá tica (Fundamentação e estrutura da ética). - Religion und Philosophie, 1 954. - Die Lehre vom richtigen Urteil, 1 956 (Doutrina do reto juízo). - Grundzüge der ÁS thetik, 1 95 9 (Elementos básicos de estética). - Geschichte der griechischen Philosophie, 1 963, au las de B. sobre história da filosofia (Historia da filoso fia grega). - Warheit und Evidenz, 1 964 ( Verdade e evidência). - Die A bkehr vom Nichtrealen. Nur Dinge sind vorstellbar und konnen existieren, 1 966, corres pondência com Marty y Kraus, e artigos 1 904- 1 9 1 7 (Afastamento do não-real. Somente as coisas são re presentáveis e podem existir). - Über die Zukunft der Philosophie, 1 968 (Sobre o futuro da filosofia). Untersuchung zur Sinnespsychologie, 2ª ed., 1 979 (In vestigação sobre psicologia dos sentidos) . - Philo sophische Untersuchungen zu Raum, Zeit und Konti nuum, 1 976 (Investigações filosóficas sobre espaço, tempo e contínuo). - Geschichte der mittelalterlichen Philosophie, 1 980 (História da filosofia medieval). - R. M. Chisholm e W. Baumgartner editaram as con ferências feitas por B. em Viena, 1 890- 1 89 1 , e sele"
ções de uma versão prévia dessas mesmas conferên cias, com o título Deskriptive Psychologie, 1 982. Parte dos manuscritos de B rentano fo i destruída num bombardeio de Leipzig ( 1 942). Massaryk fundou em Praga uma Brentano-Gesellschaft, presidida duran te muito tempo por O. Kraus. Bibliografia: P. Gregoretti, F B. Bibliografia com pleta (1862- 1 982), 1 98 3 . Ver: O . Kraus, F B., Zur Kenntnis seines Lebens und seiner Lehre, 1 9 1 9. - O. Most, Die Ethik F Brenta nos und ihre geschichtlichen Grundlagen, 1 93 1 . - A. Werner, Die psychologisch-erkenntnistheoretischen Grundlagen der Metaphysik F Brentanos, 1 93 1 . - M. Brück, Ueber das Verhiiltnis E. Husserl zu F B. , 1 933 (tese). - E. Rogge, Das Kausalproblem bei F B. , 1 935. - V Hauber, lfáhrheit und Evidenz bei F B. , 1 936 (tese). - E. Seiterich, Die Gottesbeweise bei F B. , 1 936. - 1. Fisch, F Brentanos Lehre vom Urteil, 1 94 1 (tese). - H. Rodriguez Sanz, E! problema de los valores en la teoría dei conocimiento moral de F B. (Acta Salmanti censia. Filosofia y Letras, t. IV, 1, 1 948). - A. Kastil, Die Philosophie F Brentanos. Eine Einfiihrung in seine Lehre, nova ed., 1 95 1 , ed. Franziska Mayer-Hillebrand. - M. Cruz Hernández, F Brentano, 1 953. - 1. A. L. Taljaard, B. B. as 1'1J'Sgeer n Bydrae tot die kennis van die neo-positiwisme, 1 955 (tese). - É. Gilson, Méthode et métaphysique selon F Brentano, 1 955. - !d., La psycho logie descriptive selon F Brentano, 1 955. - Jan Srzed nicki, F Brentano 's Analysis of Truth, 1 965 . - Gustav Bergmann, Realism: A Critique ofB. and Meinong, 1 967. - Adriano Bausola, Conoscenza e moralità in F B. , 1 968. - Antos C. Rancurello, A Study ofF B. : His Psy chological Standpoint and His Significance in The History ofPsychology, 1 968. - Aquilina Satué Á lvarez, Doctrina de la intencionalidad en F B. , 1 973. - G. Morscher, S. Komer et ai. , Die Philosophie F B.s, 1 978, ed. R. M. Chisholm y R. Haller (Atas do Simpósio B. de Graz, 4-8 de julho de 1 977). - E. Campos, Die Kantkritik Brentanos, 1 979. - F. Modenato, Coscienza e essere in F B. , 1 979. - R. M. Chisholm, Brentano and Mei nong Studies, 1 982. - L. McAlister, The Development of F B.'s Ethics, 1 982. - R. M. Chisholm, B. and In trinsic Value, 1 986. - 1. M. Werle, F B. und die Zukunft der Philosophie, 1 989. Obras: Kulturgeschichte der Neuzeit, 2 vols., 1 9001 90 1 (História da cultura moderna). - Der Stufenbau und die Gesetze der Weltgeschichte, 1 905 (Estrutura e leis da história universal). - Geschichte der Mens chheit, 2 vols., 1 906- 1 907 (História da humanidade). - Vom geschichtlichen Werden, 3 vols. (!: Personli chkeit und Entwicklung, 1 925; I I : Die Macht des Ge dankens in der Geschichte, 1 926; I I I : Der Weg der Menschheit, 1 928) (Do vir-a-ser histórico. 1: Persona lidade e evolução; I I : O poder da idéia na história; I I I : O caminho da humanidade). - Naturgeschichte und Menschheitsgeschichte, 2 vols., 1 933- 1 934 (Histó ria natural e história humana). - Vom Sein und Er kennen geistlicher Dinge, 3 vols. (1: Die Geschichte
BRIDGES, JOHN HENRY. Ver C oMTE, A uGUSTE. BRIDGMAN, P[ERCY] W[ILLIAMS] ( 1 882- 1 96 1 ). Nascido em Cambridge, Massachusetts (EUA), lecio nou na Universidade de Harvard de 1 908 a 1 954 ( 1 926- 1 950: professor da cátedra Hollis de matemática e filosofia natural; 1 950- 1 954: recebeu o prêmio Nobel de fisica por seus trabalhos sobre a fisica de altas pres sões). Sua mais importante contribuição filosófica foi a teoria operacionalista do conhecimento, em particular a teoria operacionalista do conhecimento fisico. Refe rimo-nos a ela mais detidamente no verbete OrERACIO NALISMO ( vER). Acrescentemos aqui que Bridgman se dedicou também a problemas de filosofia humana e social à luz de sua "análise operacional" :> Obras: The Logic of Modem Physics, 1 927. The Nature ofPhysical Theo1y, 1 936. - The lntelligent Individual and Society, 1 93 8 . - The Nature of Ther modynamics, 1 94 1 . - New Vistas for lntelligence, 1 94 7. - Reflections of a Physicist, 1 950, nova edição 1 955. - The Nature ofSome ofour Physical Concepts, 1 952. - The Way Things Are, 1 959. - Póstuma: A So phisticate s Primer of Relativity, 1 962 (com prólogo de A. W. Grünbaum). Edição de obras : Philosophical Writings of P. W B. , 1 980. Ver: U. Curi, Analisi operazionale e operaziona lismo, 1 970. - A. C. Benjamin, "Operationism. A Criticai Evaluation", Journal ofPhilosophy, 47 ( 1 950), 439-443. - J. Turner, "Professor Benjamin on Bridg man. A Rejoinder", ibid. , 774-777. - A. C. Benjamin, Operationism, 1 95 5 (especialmente caps. II e III). J. Bernstein, "P. W. Bridgman, in Revolt Against For malism", Synthese, 8 ( 1 949- 1 95 1 ), 3 3 1 -34 1 . - G. Schlesinger, "P. W. B.'s Operational Analysis: The Dif ferential Aspect", British Journal for the Philosophy of Science, 9 ( 1 959), 299-306. - H. J. Allen, "P. W. Bridgman and B. F. Skinner on Private Experience", Behaviorism, 8 ( 1 980), 1 5-29. - A. E Moyer, "P. B.'s Operational Perspective on Physics", Studies in History and Philosophy of Science ( 1 99 1 ): 1, "Origins and De velopment", pp. 23 7-25 8; I I , "Refinements, Publica-
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BROAD, C[HARLIE) D[UNBAR)
tion, and Reception", p p . 373-397. G. Holton, "A Personal View of P W. B., Physicist and Philosopher", Methodology and Science, 26( 1 ) ( 1 993), 1 -5 . C: -
BRIGHTMAN, E [ DGAR) S[HEFFIELD) ( 1 8 841 952). Nascido em Holbrook, Massachusetts (EUA), foi professor da Universidade de Boston como sucessor de Bowne, deu continuidade aos ensinamentos de seu mestre, defendendo o personalismo (vER). Contudo, ao contrário de Bowne, B rightman reconheceu aspec tos do real que haviam sido negligenciados pelos per sonalistas das gerações anteriores e que ampliaram consideravelmente o quadro da experiência. A rigor, Brightman insistiu - especialmente em suas últimas obras - na riqueza das experiências humanas, riqueza devida ao fato de ser a própria realidade uma "reali dade reluzente", detentora de um sentido - ou, me lhor dizendo, de uma multiplicidade e riqueza de sen tidos -, que o homem deve empenhar-se em descre ver, compreender e explicar, em lugar de tentar "redu zi-lo" como se faz nas orientações exclusivamente cien tificistas. Brightman admitiu, no âmbito da corrente central personali sta que representa, alguns resultados de outras tendências contemporâneas (incluindo a fe nomenologia, a teoria dos valores, a filosofia do espíri to e da cultura, bem como o existencialismo). Caracte rística de sua posição filosófica é a afirmação de que a verdade tem uma forma total e orgânica e de que as ver dades "atômicas" ou parciais são insuficientes para explicar qualquer tipo de realidade. Também é típica da posição de Brightman a afirmação do caráter finito de Deus (vER), com o obj etivo de resolver o problema da existência do mal. :) Obras: The Sources of the Hexateuch, 1 9 1 8 . - An Introduction to Philosophy, 1 925; 3" ed., 1 963 , rev. por Robert N. Beck. - lmmortality in Post-Kantian Idea lism, 1 925 (Ingersoll Lecture). - Religious Values, 1 925. A Philosophy ofIdeais, 1 928. - The Problem of God, 1 930. - Moral Laws, 1 933. Personality and Religion, 1 934. The Future of Christianity, 1 937. - A Philosophy of Religion, 1 940. The Spiritual Life, 1 942. Personalism in Theology, 1 943 (Simpó sito em homenagem a A. C. Knudson). Nature and Values, 1 945. Person and Reality. An lntroduction to Metaphysics, 1 958 (póstuma, ed. Peter A. Bertocci em col. com Jeanette E. Newhall e Robert S. Brightman; com bibliografia). Bibliografia: J. E. Newhall, "Selected Bibliography of the Writings of E. S. B.", Philosophy Forum, 1 2 ( 1 954), 22-2 8 . Ver: F. H. Ross, Personalism and lhe Problem of Evil: A Study in the Personalism of Bowne, Knudson and B. , 1 940. - J. A. Martin, Empirical Philosophies of Religion, with Special Reference to Boodin, Bright man, Hocking, Maclntosh, and Wieman, 1 945. C: -
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BRINCKMANN, CARL. Ver fR1Es, JAKOB fRJEDRICH. BROAD, C [HARLIE) D [UNBAR) ( 1 887- 1 9 7 1 ) . Nas cido em Harlesden (Middlesex), estudou no Trinity Col lege e foi professor assistente em St. Andrews, professor da Universidade de Bristol, Fellow e Lecturer no Trinity College e, de 1 93 3 a 1 953, Knightbridge Professor de Filosofia Moral em Cambridge. No decorrer de seu ma gistério, preparou seus livros, quase todos, como confes sa, como resultado de seus cursos. Estreitamente associa do a McTaggart (vER), embora não partidário de sua fi losofia, editou seus escritos póstumos, tendo exposto e criticado detalhadamente seu pensamento. Broad traba lhou sobretudo nos problemas epistemológicos, tanto no sentido do neo-realismo (vER) como do extremo ana liticismo do chamado grupo de Cambridge, ao qual, no entanto, não pertenceu formalmente e do qual esteve afastado no que tange a vários pontos importantes. Para Broad, o realismo não é uma posição da qual se deva partir na teoria do conhecimento, mas o resultado de uma maior atenção aos dados empíricos tal como apre sentados pelo fenômeno da percepção (vER). Ora, com o realismo abre-se um campo de possibilidades para uma análise exaustiva da relação sujeito-objeto e, por meio disso, da constituição dos próprios obj etos. Uma fenomenologia da percepção, análoga às elaboradas por outros representantes da mesma tendência (T. Percy Nunn, Nonnan Kemp Smith, Cyril E. M. Joad, Henry H. Price etc.), mostra, com efeito, que entre as operações psíquicas do conhecer e o objeto "fisico" conhecido há um reino intermediário: os chamados - com um termo muito usado no pensamento inglês atual sensa. O problema da forma da relação dos sensa com o psíquico ou o fisico foi, portanto, o cavalo de batalha do pensa mento neo-realista inglês, pois da decisão referente à natureza dessa realidade depende a maior ou menor inclinação para o realismo ou para o idealismo. Ora, essas .1pecies que são os sensa reformularam não apenas o problema de sua relação com o existente, mental ou fisico, mas também o problema da própria natureza do existente. Tal problema foi resolvido por Broad num sentido que se orienta para domínios muito próximos do fenomenismo. Com efeito, mesmo a ontologia dos elementos da percepção se baseia numa descrição de cunho fenoménico, mas de um fenomenismo "ancora do", por assim dizer, nos próprios obj etos, que se produ zem continuamente com novas qualidades em virtude da evolução emergente que, assim como grande parte de seus colegas neo-realistas, Broad admitiu e desenvolveu. Daí a tendência de Broad a considerar os sensa como algo que depende, por sua qualidade, da operação mental e, por sua existência, do "mundo externo" Uma análise da relação neste último sentido conduz, além disso, a um esclarecimento do método da ciência natural que Broad elaborou com particular detalhe. No entanto, a fenomenologia da percepção não se detém nesta fase -
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- ela se prolonga com uma análise dos diferentes campos do sensorial, que somente permanecem unifi cados quando os diversos elementos se inserem na rea lidade quase orgânica do "acontecimento" O realismo fenomenista de Broad leva-o, assim, a uma ontologia dinamicista, e mesmo temporalista, para a qual acaba por desvanecer-se toda diferença entre o mental e o fisico, o espaço e o tempo, e em que a realidade está vel não passa da continuação temporal de uma "even tualidade", já que o "acontecimento" (event) é uma realidade fundamental que tem como característica pri mordial uma multiplicidade infinitamente rica de con teúdos concretos. :l Obras: Perception, Physics and Rea/ity, an lnquiry into the lnformation that Physical Science can supply about the Real, 1 9 1 4 . - Scientijic Thought, 1 923. The Mind and lts Place in Nature, 1 925. - The Philo sophy ofFrancis Bacon, 1 926. - Five Types of Ethical Theo1J1, 1 930. - Determinism, lndeterminism, and Li bertarianism, 1 934 (Aula inaugural em Cambridge). - Examination of Mc- Taggart '.ç Philosophy, l, 1 93 3 ; II (em 2 partes), 1 938. Ethics and the History ofPhi losophy, Selected Essays, 1 952. - Re/igion, Philosophy and Psychical Research, 1 95 3 . Human Personality and lts Survival, 1 955 [The Agnes E. and Constantine E. A. Foerster Lecture, 1 954] . - Personal ldentity and Survival, 1 95 8 [The Thirteenth Frederic W. H. Myers Memorial Lecture, 1 958]. - lectures on Psychical Research, 1 962 [The Perrott Lectures. Cambridge University, 1 959- 1 960] . lnduction, Probability and Causation: Selected Papers, 1 968. - Criticai Essays on Moral Philosophy, 1 97 1 , ed. David Cheney ( en saios, 1 9 1 4- 1 964). - Leibniz: An lntroduction, 1 975, ed. C. Lewy. - Kant: An lntroduction, 1 978, ed. C. Lewy. - Ethics, 1 985, ed. C. Lewy. Ver: M. Lean, Sense-Perception and Matter: A Cri ticai Analysis of C. D. Broad '.ç Theory of Perception, 1 95 3 . - Paul Arthur Schilpp, ed. , The Philosophy of C. D. B. , 1 959 (com colaborações de E. J. Nelson, S . Korner, 8. Blanshard, G. H. von Wright, H. H. Price et ai. , e com uma "Autobiography" [pp. 3-68] e um "A Reply to my Critics" [pp. 7 1 1 -830], além de bibliografia de 1 906 a 1 959, comp. C. Lewy [pp. 833-852]). - R. L . Patterson, The Philosophy of C. D. Broad, 1 959. C: -
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BROCENSE (O). Ver SÁNCHEZ DE LAS B RoZAS, FRANCISCO. BROCHARD, VICTOR. Ver RENOUVIER, CHARLES. B RO K M E Y E R, H E N RY C . [às vezes escrito 'Brockmeyer', como, por exemplo, no próprio Jour nal of Speculative Philosophy, 1 ( 1 867), 1 7 8, e XXI ( 1 8 87), 36, 1 5 1 ] ( 1 826- 1 906). Nascido na Alemanha, mudou-se para os Estados Unidos aos 17 anos, tendo estudado primeiramente na Nova Inglaterra, passando depois a Saint Louis. Entusiasta hegeliano, Brokmeyer
é considerado o fundador e a alma inspiradora da So ciedade Filosófica de Saint Louis ( VER) . Brokmeyer es creveu pouco; sua obra A Mechanic '.ç Diary foi publica da apenas postumamente ( 1 9 1 O). Em vida, publicou vários artigos no citado Journal e fez uma tradução da grande logik de Hegel. O começo da influência de Brokmeyer pode ser datado de 1 85 8 , quando travou amizade com Harris ( vER) , encontrando nele um ponto de apoio para a difusão do que foi o hegelianismo nor te-americano de Saint Louis. Brokmeyer pregou o he gelianismo quase como um profeta; considerando-a simultaneamente norma teórica e regra de ação, ele es tendeu a doutrina hegeliana a todos os aspectos da existência. O interesse de Brokmeyer pela ação política levou-o a participar da redação da constituição de Mis souri, de cujo governo, além disso, participou. :l Ver bibliografia do verbete SAINT Louis ( SOCIEDADE FILOSÓFICA DE ) . C: BRONSTEIN, B. Ver ARQUITETÔNICA. BROUWER, L [ UITZEN) E [ GBERTUS) J[AN) ( 1 8 8 1 - 1 966). Nascido em Overschie, perto de Rotter dam (Holanda), foi professor da Universidade de Ams terdã de 1 9 1 2 até sua aposentadoria, em 1 956. Devem se a Brouwer importantes trabalhos no domínio da to pologia, entre os quais se destaca sua prova, em 1 9 1 1 , da invariância do número de dimensões - sua fama, porém, assenta sobretudo em sua fundamentação e em seu desenvolvimento do intuicionismo ( vER) na mate mática, bem como na fundamentação e na filosofia da matemática. Brouwer submeteu a crítica certo número de idéias até então consideradas inalteráveis no âmbito da matemática e da lógica, tal como o princípio do ter ceiro excluído. Ele se opôs a praticamente toda a teoria dos conjuntos, de Cantor, assim como ao uso de provas não-construtivas. Contra os que procuraram encaixar a matemática na lógica, Brouwer preconizou o primado da matemática não apenas em relação à lógica, mas também em relação à linguagem. A noção de intuição matemática - próxima da fundamentação feita por Kant da aritmética na intuição do tempo como forma do sentido interno - levou Brouwer a um construtivis mo para o qual, grosso modo, uma "entidade" matemá tica ou uma prova matemática são aceitáveis apenas na medida em que são passíveis de construção. Brou wer desenvolveu detalhadamente diversos ramos da matemática - inclusive o conj untismo - do ponto de vista intuicionista, fundando com isso uma das três grandes escolas de filosofia matemática, na qual teve especial destaque seu discípulo Arend Heyting. A ma temática intuicionista é fundamentalmente uma mate mática "não-clássica" e, naturalmente, "não-logicista" As considerações filosóficas são muito importantes na fundamentação do intuicionismo matemático, mas são
361 igualmente importantes nas idéias d e Brouwer sobre a "ação matemática", na qual se funda a comunicação. :> Devem-se a Brouwer numerosos trabalhos publicados em várias revistas ( Tijdschrift voar Wijsbegeerte, MathematischeAnnalen etc.). Indicamos aqui apenas al guns desses trabalhos, principalmente livros, nos quais, além disso, são amiúde compilados trabalhos isolados: Leven, Kunst, en Mystiek, 1 905 ( Vida, arte e mística). - Over de grondslagen der wiskunde, 1 907 (tese) (So bre a fundamentação da matemática). - "Beweis der Invarianz der Dimensionzahl", Mathematische Annalen, 70 ( 1 9 1 1 ), 1 6 1 - 1 65 ("Prova da invariância do número de dimensões"). - lntuitionisme en Formalisme, 1 9 1 2, reimpresso em Wiskunde, Waarheid, Werkelijheid, 1 9 1 9 (Matemática, verdade, realidade). - "Begründung der Funktionslehre unabhii.ngig vom logischen Satz ausges chlossenen Dritten", Verhandelingen der Koninklijke Ne derlandse Akademie van Wetenschappen, série A, vol. 13 ( 1 923) ("Fundamentação da teoria das funções inde pendentemente do princípio lógico do terceiro excluí do"). - "Ueber die Bedeutung des Satzes vom ausges chlossenen Dritten in der Mathematik, insbesondere in der Funktionentheorie", Journalfiir die reine und ange wandte Mathematik, 1 54 ( 1 924), 1 -7 ("Sobre o signifi cado do princípio do terceiro excluído na matemática, especialmente na teoria das funções"). - "Zur Begrün dung der intuitionischen Mathematik", !, II, III, Mathe matische Annalen, 93 ( 1 924), 244-257; 95 ( 1 926), 453473 ; 96 ( 1 927), 45 1 -489 ("Para a fundamentação da ma temática intuicionista"). - Die Struktur des Kontinuums, 1 928. - "Consciousness, Philosophy, and Mathematics", Proceedings ofthe Tenth lnternational Congress ofPhi losophy (Amsterdã, 1 948), 1 949, pp. 1 235- 1 249. "Historical Background, Principies and Methods of In tuitionism", South African Journal ofScience, 49 ( 1 952), 1 39- 1 46. - "Points and Spaces", Canadian Journal of Mathematics, 6 ( 1 954 ), 1 - 1 7. - Brouwer s Cambridge Lectures on lntuitionism, 1 982, ed. D. van Dalen. Brouwer interessou-se também pelo movimento "signí fico" (ver SIGNÍFICA) de Gerrit Mannoury ( vER) : "Sy nopsis of the Signific Movement in the Netherlands", Synthese, 5 ( 1 946), 20 1 -208; "Address to Professor G. Mannoury", Synthese, 6 ( 1 947), 1 90- 1 94. Ed. de obras em inglês: Collected Works, ed. A. Heyting, 1 975 ss. Ver: H . Gerber, "Brouwer's Bar Theorem and A System of Ordinal Notations", em A. Kino, J. Myhill, R. E. Vesley, eds., lntuitionism and Proo/Theory, 1 970, pp. 327-3 3 8 . - W. P. Van Stigt, B. s /ntuitionism, 1 990 [Studies in the History and Philosophy ofMathematics, vol. 2]. Obras: Observations on the Nature and Tendency of the Doctrine ofMr. Hume concerning the Relation of Cause and Effect, 1 804; 3ª ed., com o título: An lnquiry into the Relation of Cause and Effect, 1 8 1 8 ; reimp. 1 977. - Lectures on the Philosophy ofthe Human Mind, 4 vols., 1 922, ed. D. Welsh, com biografia. Ver: David Welsh, Account of the Life and Writings o{Th. B. , 1 825. - François Rétroré, Critique de la phi losophie de Th. B. , 1 863 . - E. Kucera, Die Erkenntnis theorie von Th. B. , 1 909. - T. Martin, The Jnstructed Vision: Scottish Common Sense Philosophy and the Origins of American Fiction, 1 96 1 . - B. E. Rollin, "T. B.'s Criticism of Hume on Causation", Archivefür Geschichte der Philosophie, 5 1 ( 1 969), 85- 1 03 . - J. C. Robertson, "A Bacon-Facing Generation: Scottish Philosophy in the Early Nineteenth Century", Journal of the History of Philosophy, 1 4 ( 1 976), 3 7-49. - A. C. Rands, "T. B.'s Theories of Association and Percep tion as They Relate to His Theories of Poetry", Journal of A esthetics and A rt Criticism, 28 ( 1 970), 473-483 .
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BRUNER, JEROME S[EYMOURJ
- 1. A. Mills, "T. B.'s Theory of Causation, Journal of the History of Phi/osophy, 22 ( 1 984), 207-228 . Ver também bibliografia de ESCOCESA (ESCOLA). SeP no qual aparece claramente a seqüência das letras 'A' , ' E ' , ' E ' , origem do termo Calemes, na ordem PM MS-SP. CALKINS, MARY WHITON. Ver NEO-REALISMo; PERSONALISMO. CALOGERO, GUIDO ( 1 904- 1 986). Nascido em Roma, foi professor em Florença, Pisa e Roma, até sua apo sentadoria em 1 97 5 ; distinguiu-se por seus estudos de história da fi losofia e, especialmente, de história da lógica. Merece ser destacada a esse respeito sua inter pretação do eleatismo como uma transposição à onto logia do plano lógico. Do ponto de vista sistemático, Calogero é um dos principais representantes do grupo de fi lósofos italianos que, partindo do atualismo, con tribuiu para sua dissolução pelo desenvolvimento conse qüente das exigências internas do movimento. Com efeito, o atualismo ' clássico ' foi infiel, segundo Calo gero, à sua própria lei, confiando mais do que o devido em conceitos que não correspondiam a ele. De ime diato, ele operou com conceitos (gnosiológicos) que não eram de fato atualistas pela simples razão de que, de acordo com nosso filósofo, a gnosiologia depende da ontologia e da metafisica. Dissolvidas estas duas últimas, a dissolução da primeira mostra-se inevitável. Somente desse modo será possível atender às exigên cias que o atualismo da consciência suscita em vez de se deixar levar por falsas objetivações. Contudo, tal atua lismo significa que a consciência, não podendo obje tivar-se, tampouco pode se transformar em objeto de reflexão teórica. Portanto, o teórico acaba cedendo ter reno ao prático; um autonomismo prático absoluto, que é algumas vezes um "moralismo absoluto" e outras vezes um "pedagogismo absoluto", representa a culmi nância dessa filosofia do ato puramente vivido. Deve se observar, porém, que isso não desemboca no desa parecimento da filosofia como conjunto sistemático, pois Calogero procurou j ustamente refazer esse con junto, ainda que sobre novas bases. � Obras: !Jondamenti della logica aristotelica, 1 927, 2ª ed., 1 968. - Studi sul! 'eleatismo, 1 932, 2ª ed., 1 977. Compendio di storia dei/a filosofia, 3 vols., 1 93 3 ; 2ª ed. , 1 936. La .filosofia e la vita, 1 936. La logica dei giudice e il suo contrai/o in Cassazione, 1 93 7. - La conclusione della filosofia dei conoscere, -
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CALVINO, JOÃO [JEAN CALVIN 1 93 8 ; 2ª ed., 1 960. - La scuola dell 'uomo, 1 939; 2ª ed., 1 956. - ll metodo deli 'economia e il marxismo, 1 944. - Difesa dei liberalsocialismo con alcuni docu menti inediti, 1 94 5 ; 2ª ed., 1 972. La democrazia ai bivia e la terza via, 1 945. L'abbiccí della demo crazia, 1 946. - Lezioni di filosofia, 3 vols. (!, Logica, gnoseologia, ontologia, 1 948; II, Etica, giuridica, po litica, 1 946; III, Estetica, semantica, istorica, 1 94 7 ) . - Saggi di etica e di teoria dei diritto, 1 947. - La filosofia di Bernardino Varisco, 1 950. - Logo e dia logo, 1 950. - Scuola sotto inchiesta, 1 95 7 ; 2ª ed., 1 96 5 . - Filosofia dei dialogo, 1 962. - Storia della logica antica, !: L'età arcaica, 1 967. Quaderno laico, 1 967. - Le regale delia democrazia e le ragioni dei socialismo, 1 968. - Scritti minori di filosofia antica, 1 984. Ver: Renzo Raggiunti, Logica e ling·uistica nel pen siero di G. C. , 1 963. - G. Sasso, "L' esegesi parme nidea di G. C.", La Cultura, 1 98 8 , pp. 1 89-2 8 5 . Obras: À fase dogmática pertencem: Seis temas de espírito moderno, 1 94 1 . - Descartes e Bergson, 1 943. - À fase crítica: Elementos de metodologia filosófica, 1 956 Gá concluído em 1 949 e depois revisado). - À fase sistemática: Introdução à filosofia cientifica, 1 956. - Ensaios filosóficos, 1 957. - Estética da crí tica, 1 963. - Teoria da decisão filosófica (Bases psi cológicas da Matemática, da Lingüística e da Teoria do Conhecimento), 1 977. C: CANO, MELCHIOR (ca. 1 509- 1 560). Nascido em Tarancón, estudou na Universidade de Salamanca e no Colégio de São Gregório de Valladolid, onde, além disso, lecionou de 1 536 a 1 542. Em 1 542, ganhou a cátedra de prima de teologia na Universidade de Alca lá, e, em 1 546, da mesma disciplina na Universidade de Salamanca. Durante os anos de 1 5 5 1 e 1 5 52, inter veio nas deliberações do Concílio de Trento. Em 1 523, tinha ingressado na Ordem dos Pregadores, da qual foi Provincial. Obras: Devem-se a Cano, além de uma obra ascé tica intitulada Tratado de la victoria de sí mismo e impressa em 1 550, vários escritos procedentes de con ferências ou relectiones: De sacramentis in genere, De poenitentiae sacramento. Sua obra capital e mais in fluente é, contudo, o tratado intitulado De toeis theolo gicis, publicado pela primeira vez em Salamanca no ano de 1 563 . Trata-se de fazer com a teologia o mesmo que Aristóteles fez nos Tópicos com a filosofia ou o pensamento em geral: expor os "lugares" (/oci) nos quais se acham os argumentos mais apropriados para demonstrar as verdades reveladas. O tratado de Cano divide-se em catorze livros; do ponto de vista filosófi co, são especialmente importantes os onze primeiros. No decorrer desses l ivros, Cano examina dez fontes de autoridade para desenvolver os argumentos antes in dicados. São as seguintes: as Sagradas Escrituras nos
CÂNON
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livros canônicos; as tradições apostólicas; as decisões da Igreja; as definições conciliares; as declarações da Igreja; os ensinamentos dos Santos Padres; as doutrinas dos doutores escolásticos; as doutrinas dos canonistas; a razão natural; os ensinamentos da história. Nem todas essas fontes possuem o mesmo valor demonstrativo; além disso, convém saber empregá-las. O exame de seu uso correto constitui justamente o eixo do tratado de Cano, que desenvolveu assim uma lógica, uma metodo logia e uma epistemologia do conhecimento teológico. :> Ver: Fermín Caballero, Vida dei limo. Melchor Cano, 1 87 1 . - A.-M. Jacquin, O. P. , "Melchior Cano et la théologie moderne", Revue des sciences philosophi ques et théologiques, 9 ( 1 920), 1 2 1 - 1 4 1 . - A. Lange, Die Loci theologici des Melchior Cano und die Me thode des dogmatischen Beweises, 1 92 5 . M. Sola na, Historia de la filosofia espafio/a. Época dei Rena cimiento (Siglo XVI), t. III, 1 94 1 , pp. 1 3 1 - 1 50 . E. Marcotte, L a nature de l a théo/ogie d 'aprés M. C. , 1 949. Ver também bibliografia de LUGAR. C: -
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CÂNON. No verbete CANÔNICA, referimo-nos à obra que Diógenes Laércio atribuiu a Epicuro: O Cânon. O termo 'cânon' foi usado em filosofia em outras oca siões. Destacaremos quatro delas: 1) Como indica C . Prantl (Geschichte, II, 275), o filósofo bizantino M iguel Psellos empregou o vocábu lo 'cânones' (Kavóves ) em sua Sinopse do Organon de Aristóteles (Mich. Psel/i Synopsis Org. A rist. , ed. Ehinger, I, 8, p. 3 3 ) para designar quatro regras que regem a eqüipolência das proposições categóricas, iaoBvva µoiiaai irp0Táae1s. 2) Kant introduziu o termo ' cânon ' n o cap. I I da Metodologia transcendental que figura na Crítica da Razão Pura. Ele entende por 'cânon' os princípios a priori do reto entendimento de certas faculdades de conhecimento. A lógica geral, por exemplo, é, enquan to analítica, um "cânon formal" para as faculdades do entendimento e da razão. No mesmo sentido, a Analí tica transcendental se propõe a ser um cânon do enten dimento puro, já que somente este é considerado capaz de enunciar conhecimentos sintéticos verdadeiros a priori. Kant observa que não pode existir nenhum cânon quando não é possível empregar de modo reto a faculda de do conhecimento. E, como se mostrou na parte an terior dessa Crítica que o conhecimento sintético da ra zão pura especulativa é impossível, deve-se declarar que não pode existir nenhum cânon para o exercício especu lativo dessa faculdade (um exercício especulativo mera mente dialético). A conclusão é que a lógica transcen dental é apenas uma disciplina e não um cânon, e que o único modo correto de usar a faculdade da razão pura e de ter um cânon dessa faculdade é o uso prático da razão, e não o uso especulativo. 3) No Livro III (Sobre a indução), capítulo viii, de sua Lógica, J. Stuart Mill propõe cinco métodos
para a investigação experimental: o método de concor dância (VER) , o de diferença (vER), o de combinação de concordância e diferença ( vER), o de resíduos ( VER) e o de variações concomitantes (VER). Cada método tem um cânon que constitui seu princípio regulador. O primeiro cânon (para o método de concordância) diz o seguinte: "Se dois ou mais casos do fenômeno que se investiga possuem apenas uma circunstância em comum, a circunstância única na qual concordam é a causa (ou o efeito) do fenômeno dado" O segun do cânon (para o método de diferença) diz o seguinte: "Se um caso no qual ocorre o fenômeno que se inves tiga e um caso no qual não ocorre o fenômeno que se investiga possuem todas as circunstâncias em comum exceto uma, que tem lugar unicamente no primeiro, a circunstância única na qual diferem os dois casos é o efeito, ou a causa, ou uma parte indispensável da causa do fenômeno" O terceiro cânon (para o método combinado de concordância e diferença) diz o seguin te: "Se dois ou mais casos nos quais ocorre o fenô meno possuem somente uma circunstância em comum, enquanto dois ou mais casos nos quais não ocorre o fenômeno não possuem nada em comum exceto a ausência de tal circunstância, a circunstância única na qual os dois grupos de casos diferem é o efeito, ou a causa, ou uma parte indispensável da causa do fenô meno" O quarto cânon (para o método de resíduos) diz o seguinte: "Subtraia-se de qualquer fenômeno a parte que, segundo induções prévias, constitui o efeito de certos antecedentes e resultará que o resíduo do fenômeno é o efeito dos antecedentes restantes" O quinto cânon (para o método de variações concomi tantes) diz o seguinte: "O fenômeno que varia de al gum modo enquanto outro fenômeno varia em algum aspecto particular é ou a causa ou o efeito desse fenô meno, ou está relacionado com çle mediante algum fato de índole causal" Para mais detalhes, ver os verbetes CONCORDÂNCIA (MÉTODO DA ) ; DIFERENÇA (MÉTODO DA ) ; CONCORDÂN CIA E DIFERENÇA (M ÉTODO DA ) ; VARIAÇÕES CONCOMITAN TES (MÉTODO DAS ) . 4) Ogden e Richards propuseram seis cânones do simbolismo para resolver os problemas suscitados pela relação entre os símbolos e os referentes; resumimos esses cânones no verbete "Símbolo e simbolismo" (vER) . CANÔNICA. Como vimos no verbete sobre Epicuro, este filósofo dividia a filosofia em três partes: canô nica, tisica e ética TO KOVOVIKÓV Ka\ cpvmKOV Ka\ fjSiKóv (Dióg. Laérc., X, 29-30). A canônica cons tituía, segundo Diógenes Laércio, a introdução à filo sofia e estava contida numa obra especial de Epicuro denominada O Cânon. Ao que parece, essa obra se ocupava sobretudo das questões de teoria do conheci mento - a origem de nossas sensações pelas imagens -
395 (ver IMAGEM) , os diferentes tipos de conhecimento etc. - a que nos referimos no verbete sobre Epicuro to mando por base a Carta do filósofo sobre a fisica a seu amigo Heródoto, carta contida em D. Laércio, X, 34-82 (cf. H. Usener, Epicurea, pp. 1 -32). Como vi mos, quase toda a teoria do conhecimento se baseava em considerações de caráter psicológico. Mas, como o estudo do organismo fisiológico era por sua vez uma parte da fisica, não surpreende ler em Diógenes Laér cio (X, 37-38) que as doutrinas de Epicuro se dispu nham de forma que a canônica era combinada com a fisica. Por isso, alguns autores (Cícero, De jin. , l, vii, 22) falam que as partes em que os epicuristas dividem a filosofia são apenas duas: a fisica (incluindo, pois, a canônica) e a ética. Esta opinião, porém, parece descre ver melhor as tendências racionalistas (o próprio Epi curo, Lucrécio) que as tendências empiristas (Filodemo de Gadara) dentro da escola. Com efeito, os epicuris tas de inclinação empírica dedicaram muito mais aten ção que os de tendência racionalista aos problemas de caráter propriamente epistemológico (unidos a outros problemas de caráter lógico), de modo que a canônica devia aparecer entre eles como um estudo especial, devendo desempenhar, portanto, um papel mais funda mental do que aquele que tivera Epicuro. Para a Canônica no sentido de Adrien Naville, ver CIÊNCIAS ( CLASSIFICAÇÃO DAS ) . CANTONI, CARLO. Ver NEOKANTISMO. CANTOR, GEORG ( 1 845- 1 9 1 8). Nascido em São Petersburgo, mudou-se para a Alemanha, com seus pais, aos 1 1 anos. Estudou na Universidade de Berlim com Karl Weierstrass, doutorando-se em 1 867. Apresentou sua "dissertação inaugural" na Universidade de Halle ( 1 869) e foi "professor assistente" ( 1 872- 1 879) e pro fessor titular (a partir de 1 879) na mesma Universidade. Cantor é o criador da teoria dos conj untos, cujas características básicas apresentamos no verbete CON JUNTO, que deve ser complementado com vários outros verbetes, como, por exemplo: CoNTÍNuo; CONTÍNUO ( HiróTESE oo) ; INFINITO; NUMERÁVEL. A teoria cantoriana dos conj untos suscitou grande oposição por parte de alguns matemáticos, entre os quais se destacou Leopold Kronecker. Os ataques deste e de outros matemáticos, e os esforços de Cantor para solucionar alguns problemas da teoria - especialmen te o problema do contínuo -, arruinaram sua saúde e paralisaram seu trabalho. A teoria cantoriana dos conjuntos provocou muitos debates entre matemáticos, lógicos e filósofos, que se dividiram às vezes em "in finitistas" ("cantorianos") e "finitistas" ("anticanto rianos"). David Hilbert foi um dos que abraçaram com mais entusiasmo o "paraíso" que Cantor abrira. Uma parcela bastante considerável da matemática e
CAPADÓCIOS da lógica do século XX fundou-se na noção cantoriana de conjunto, que foi amplamente aprimorada, especial mente por meio das teorias axiomáticas de que falamos em CONJUNTO. :> Obras: Grundlage einer Mannigfaltigkeitslehre, 1 8 83 (Fundamento de uma teoria da pluralidade). Beitriige zur Begründung der transfiniten Mengenleh re, 2 vols., 1 88 5 - 1 892 (Contribuições para a funda mentação de uma teoria de conjuntos transfinitos). Edição de obras: Gesammelte Ahhandlungen ma thematischen und philosophischen Inhalts. Mit erliiu ternden Anmerkungen sowie mil Ergiinzungen aus dem Briefwechsel Cantor-Dedekind, 1 932, ed. E. Zermelo; reimp. , 1 962. - A correspondência com Dedekind ed. por E. Noether e J. Cavailles, 1 93 7 . Ver: H. Meschkowski, Probleme des Unendlichen. Werke und Leben G. C.s, 1 967. - J. A. Faris, Plato 's Theory ofForms and Cantor 's Theory ofSets, 1 968. J. W Dauben, G. C. : His Mathematics and Philosophy of the Infinite, 1 979. - W Purkert, H . J. I lgauds, G. C. , 1 98 5 . - M . Tiles, The Philosophy of Set Theory: A n Historical Introduction to Cantor 's Paradise, 1 989. C: CAPADÓCIOS. Dá-se este nome aos três teólogos: São Basílio Magno, São Gregório de Nissa e São Gre gório de Nazianzo. Nos verbetes dedicados a eles, mencionamos suas principais doutrinas filosóficas e teológicas. Limitar-nos-emos aqui a destacar que a im portância dos Capadócios - os "três grandes Capa dócios" - na história da filosofia consiste essencial mente em seu trabalho de esclarecimento e purificação da dogmática teológica no âmbito da qual se inseriu mais tarde o pensamento cristão católico. Contra o ex cessivo racionalismo que se infiltrava em algumas das seitas (como o arianismo) e reduzia o valor da fé em beneficio de uma compreensão metafisica dos dogmas, e contra a ênfase exclusiva na pura crença, que descar tava toda explicação racional, os Capadócios procura ram trilhar um caminho intermediário que fizesse jus tiça à fé e à compreensão pela razão dentro das possi bilidades do homem. Além disso, os Capadócios particularmente São Gregório de Nissa - desenvolve ram motivos místicos que exerceram grande influência sobre a mística medieval. Especialmente importantes, no que diz respeito à influência exercida sobre a Idade Média, são as idéias dos Capadócios acerca da Nature za como obra harmoniosa criada por Deus. O nome ' Capadócios' se deve ao lugar de nascimento de São Basílio Magno e de São Gregório de Nissa (Cesaréia, Capadócia), e ao lugar de nascimento de São Gregório de Nazianzo (Arianza, em Nazianzo, Capadócia). :> Além da bibliografia dos três Capadócios, ver: H. Weiss, Die grossen Kappadozier Basilius, Gregor von Nazianz und Gregor von Nyssa ais Exegeten, 1 872. !d., Die Erziehungslehre der drei Kappadozier, 1 903. -
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CAPELLA K. Unterstein, Die natürliche Gotteserkenntnis nach dff Lehre der kappadozischen Kirchenviiter Basilius, Gre gor von Nazianz und Gregor von Nyssa, 1 902- 1 903. C. Gronau, D e Basilio, Gregorio Nazianzano Nysseno que Platonis imitatoribus, 1 908. - J. Maier, Die Eucha ristienlehre der drei grossen Kappadozier, 1 9 1 5 . - C: Gronau, Das Theodizeeproblem in der altchristlichen Aufjàssung, 1 922. - Bruno Salmona, lljilosofàre nei /uminari di Cappadocia, 1 974. C -
CAPELLA. Ver MARCIANO CAPELLA. CAPREOLO, JO Ã O. Ver JoÃo CAPREOLO. CARABELLESE, PANTALEO ( 1 877- 1 948 ) . Nasc i do em Molfetta (Bari), discípulo de Varisco, centrou seu pensamento fi losófico no problema do concreto, isto é, da consciência concreta, o que o levou a trans formar o idealismo crítico de Varísco num ontologismo crítico. Carabellese partiu de uma anál ise da consciên cia segundo a qual o ambiente da consciência não é o "mundo'', mas a própria consciência. Essa consciên cia não deve ser entendida, porém, como uma realidade que absorve as demais e as transforma à sua imagem e semelhança; a consciência se move dentro de um ambiente comum a todas as consciências, situado para aquém de suas determinações individuais ou históri cas particulares. O ambiente comum, por outro lado, é essencialmente concreto, e por isso uma dialética Obras: A lista de obras de Caramuel figura em sua Mathesis biceps vetus et nova ( 1 670), classificadas em libri hispanici (como a Declaración mística de las armas de Espaíia, 1 6 1 9, e a Arte nueva de Música, 1 669) e /ibri /atini. Estes últimos incluem /ibri crilici & eniditi, que tratam de filosofia, teologia, astronomia, matemática etc. Entre os livros mais propriamente fi losóficos (e teológicos), mencionamos: Rationalis et realis ph i/osophia ( 1 642). - Th eo/ogia mora/is ( 1 643). - Mathesis audax rationa/em, natura/em, su pernatura/em, divinamque sapientiam, arithmeticis, geometricis, catoptricis ( ) jimdamentis substniens ex ponensque ( 1 644 ). - Theo/ogia fundamenta/is ( 1 65 1 , 1 656 e 1 657). Severa argumentandi Methodus ( 1 643, 1 644 e 1 654). - Meta/ogica [Progreditur ultra Logicae metas, & ex Para//e/ismis ad res Physicas resolvi! Quaestiones de Forma/itatibus} ( 1 654). Grammatica audax ( 1 65 1 ). - Herculis Logici labores Ires (1654). - Apparatus philosophicus ( 1 657 e 1 665). - Theo/ogia (lege, Philosophia) rationa/is; cujus par tes sunt Logica Vaca/is, Scripta, Menta/is: Recta, Obli qua ( 1 654). - Theo/ogiafimdamentalis ( 1 65 1 , 1 656 e 1 657). - Teologia intentionalis ( 1 654). - Paradoxium Physico-Ethicum, cujus Tomi sunt tres: Primus. Logi cam rea/iter, & moraliter examinai ( 1 668); Secundus. Philosophiam, Jurispntdentiam, Astronomian, Medici nam & c. rea/iter e/ mora/iler, discuti! (s/d); Tertius. Theo/ogiam analogia serva/a realiter, & moraliter ex hibet (s/d). - Mathesis biceps vetus et nova, 2 vols. ( 1 670) (!. Vetus. I I . Nova). Caramuel manteve correspondência com sábios e filósofos ( cf. a esse respeito: R. Ceifai, S. J., "J. C. Su epistolario con Atanasio Kircher, S. J.", Revista de Filo sofia, 1 2 [ 1 953], 1 02- 1 47). - A observação de A. Pastore em: "G. C. di L. e la teoria della quantificazione dei predicato", Rivista C/assici e Neolatini ( 1 905). Bibliografia: Ignacio Angelelli, "!. C. de L.: A Bio Bibliographical Note", Teorema, 6 ( 1 976), 5 1 3-5 1 7. ..
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Ver: D. Pastine, J C.: Probabilismo ed Enciclo pedia, 1 975. - A. Bemardini, "Un redescubrimiento dei probabilismo ético dei siglo XVII", Revista de Filosofia (Costa Rica), 1 5 ( 1 977), 6 1 -72. - P. Ballazzi, J C. , - 1 982. - J. Velarde, "La filosofia de J. C.", E! Basilisco, 1 5 ( 1 983), 1 0-43 . C: CARÁTER. O termo 'caráter' significa marca ou nota que assinala um ser e que por isso o caracteriza diante de todos os outros. Em princípio, o caráter pode ser aplicado, pois, a todo ente, mas desde muito cedo, em especial com Teofrasto, aplicou-se o termo aos seres humanos. Ele foi tornado no mesmo sentido por muitos escritores, particularmente por aqueles que, a partir da situação de sua época, quiseram revalorizar a doutri na dos caracteres de Teofrasto: La Bruyere ( 1 6361 696) é, com sua obra Les Caracteres, o exemplo mais freqüentemente citado dessa tendência. Identifi ca-se às vezes 'caráter' com ' temperamento ' , porém mais freqüentemente se estabelece uma distinção entre eles. Neste último caso, costuma-se indicar que, en quanto o primeiro se refere a todas as notas distintivas, o segundo é o que resulta de alguma forma de "mes cla" Essa "mescla" era considerada em termos clássi cos como a que ocorre nos humores do corpo dentro de cada indivíduo. Assim, desde H ipócrates se distin guiam os indivíduos segundo o predomínio de um dos quatro humores: sangue, fleuma, bílis e atrabílis que dava origem aos temperamentos sangüíneos, fleu máticos, biliosos e melancólicos. A doutrina dos tem peramentos é considerada hoje do ponto de vista da análise e da descrição do tipo ( vER) psicológico. Ao mesmo tempo, ela se inseriu como um dos elementos da ciência dos caracteres ou caracterologia. Esta última procede sobretudo de Julius Bahnsen ( vER) , que tomou sua doutrina caracterológica principalmente de Scho penhauer e F. Paulhan. Contudo, já Ribot e John Stuart Mill, e mesmo antes Herbart, tinham investigado o pro blema de um ponto de vista muito semelhante. Na atualidade, a caracterologia não se limita, em geral, à descrição dos diferentes caracteres individuais, mas procura estabelecer, além de uma classificação siste mática dos caracteres de um ponto de vista psicofisio lógico, um estudo das influências que os determinam, desde a constituição orgânica até a tradição histórica. A caracterologia utiliza, pois, um grupo de ciências, e se, por um lado, parece ser um mero capítulo da psi cologia geral, por outro - especialmente quando leva em conta o conjunto de influências efetivas e possí veis - ultrapassa o quadro da psicologia. Para Kant, o caráter é uma lei de causalidade da causa eficiente. Pode-se distinguir um caráter empírico e um caráter inteligível. O primeiro é uma manifesta ção do último, e por isso o caráter empírico é designa do também como caráter fenomenal, isto é, como ca-
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CARBONARA, CLETO ráter cuj as ações são inteiramente dependentes de outros fenômenos de acordo com leis naturais constan tes. O caráter inteligível, em contrapartida, é aquele pelo qual o ser considerado é causa de suas próprias ações, sem que possa ser avaliado como fenômeno. Uma doutrina análoga é sustentada por Schopenhauer. que considera que o caráter inteligível é um ato volun tário inteiramente livre, situado além de toda feno menalidade de tempo e de espaço, além de todo mero operar, visto que se trata, em última análise, de um ser. :> As obras consideradas precursoras da caractero logia contemporânea são as seguintes : Julius Bahnsen, Beitriige zur Charakterologie, mil besonderer Beriick sichtigung piidagogischer Fragen, 2 vols., 1 867. - F. Paulhan, Les caracteres, 1 89 1 . !d. , Les mensonges du caractere, 1 905. - Para a caracterologia em geral, ver: Ludwig Klages, Prinzipien der Charakterologie, 1 9 1 O. - Emil Utitz, Charakterologie, 1 92 5 . - Lud wig Klages, Zur Ausdruckslehre und Charakterkunde. Gesammelte A bhandlungen, 1 927. - !d. , Personlich keit. Einfiihrung in die Charakterkunde, 1 927. - Th. Ziehen, Die Grundlagen der Charakterologie, 1 930. - Hans Prinzhorn, Charakterkunde de Gegenwart, 1 93 1 . - Hubert Rohracher, Kleine Einfiihrung in die Charakterologie, 1 934. - Paul Helwig, Charaktero logie, 1 936. - R. Heiss, Die Lehre vom Charakter, 1 936; 2ª ed., 1 949. - A. Kriekemans, Moderne Cha rakterologie, 1 943. René Le Senne, Traité de carac térologie, 1 945. E. Mounier, Traité du caractere, 1 946 (reimp. em Oeuvres, II, 1 96 1 . - J. Bourjade, Principes de caractérologie, 1 959. - Roger Mucchiel li, la caractérologie à / 'âge scientifique. Essai sur /es méthodes et les limites de la caractérologie, 1 96 1 . Sobre a relação entre caráter e temperamento, ca ráter e estrutura corporal, caráter e destino, caráter e escritura etc . : A. Fouillée, Tempérament et caracteres selon les individus, les sexes et les races, 1 895. Ernst Kretschmer, Korperbau und Charakter, 23" e 24ª eds., 1 96 1 . G. Ewald, Temperament und Charak ter, 1 924. - Ludwig Klages, Handschrift und Cha rakter, 1 932. Hermann Nohl, Charakter und Schick sal. Eine piidagogische Menschenkunde, 1 93 8 . - Ru dolf Thiele, Person und Charakter, 1 940. - M . Ver dun, Le caractere et ses corrélations, 1 , 1 950. - G. Berger, Traité pratique d 'analyse du caractere, 1 950. !d. , Caractere et personalité, 1 954; 2ª ed., 1 956. - G. Pittaluga, Temperamento, carácter y personalidad, 1 954; 2ª ed., 1 95 8 . - F. Schoeman, ed., Respon sibility, Character, and the Emotions: New Essays in Moral Psychology, 1 987. Sobre formação pedagógica do caráter, além do citado livro de Nohl : Georg Kerschensteiner, Charakter und Charakterbildung, 1 9 1 5 . - G. F. McLean et ai. , eds., A ct and Agent: Philosophical Foundations for Moral Education and Caracter Development, 1 986. -
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- T. Van Doan, V. Shen, G. F. McLean, eds., Chinese Foundations for Moral Education and Character De velopment, 1 99 1 . Sobre formação moral do caráter: S . Hauerwas, Character and the Christian life: A Study in Theo logical Ethics, 1 975. - 8. A. Sichel, Moral Educa tion: Character, Community, and Ideais, 1 98 8 . - O. Flanagan, ed., Identity, Character, and Morality: Essays in Moral Psychology, 1 990. Sobre natureza e teoria do caráter: Paul Hiiberlin, Der Charakter, 1 925. - Hartshorne e May, Studies in the Nature of Character, 1 , 1 928. - G. Thibon, La théorie du caractere, 1 93 3 . - W Boven, Introduction à la caractérologie, 1 94 1 . - Josef Becker, Einfiihrung in die Charakterkunde, 1 94 7. - J. Budzizsewski, The Resurrection of Nature: Political Theory and the Human Character, 1 986. - J. Kupperman, Character, 1 99 1 . Sobre o caráter empírico: C . Prat, Le caractere empirique et la personne, 1 906. Sobre tipologia caracterológica, ver a bibliografia no verbete T1Po; além disso: Ph. Lersch, Charaktero logische Typologie, 1 934. Obras: Disegno d 'una filosofia critica deli 'espe rienza pura, 1 93 8 . La .filosofia di Plotino, 2 vols., -
3 99 1 93 8 - 1 939. - II seco/o XV, 1 943. - Dei belo e deli 'arte, 1 944. - Introduzione alia filosofia, 1 946. - Materialismo storico e idealismo critico, 1 94 7 . Sviluppi e problemi dell 'estetica crociana, 1 947. Ga/ilei, 1 949. - La filosofia greca, 2 vols., 1 95 1 ; 2ª ed. do vol. 1, 1 969; 2ª ed. do vol. II, 1 967. - Ricerche per un 'estetica dei contenuto, 1 960. - L'estetica dei particolare di G. Lukács, 1 960. - L 'estetica dei par ticolare di G. Lukács e G. della Vo/pe, 1 96 1 . - La vila e i/ pensiero di Galileo Galilei, 1 963. - L'espe rienza e la prassi, 1 964. - Renato Cartesio, 1 965. - L'estetica filosofica di A. Banfi, 1 966. - Hegel e Marx nella polemica dei diritto pubblico, 1 967. La filosofia dell 'esperienza e lafondazione dell 'Uma nesimo, 3ª ed., 1 969. - Saggi di storiografia e criti ca filosofi.ca, 1 972. - Pensatori moderni, 1 972. Discorso empirico dei/e arti, 1 973. Edição de obras: Publicaram-se as obras mais preeminentes de C . G. numa coleção de 6 vols . : !-IV, 1 973; V, 1 972; VI, 1 974. Os volumes mais importantes do ponto de vista sistemático são : 1 (que inclui o Disegno) e VI (L'empirismo come filosofia deli 'espe rienza; Pensiero e realtá). Depoimento: "La filosofia dell'esperienza", em La filosofia contemporanea in /ta/ia, 1 958, pp. 1 67- 1 83 . Ver: Vários autores, L a filosofia deli 'esperienza di C. C. , 1 966, ed. G. Mariano e A. Masullo (com bibliografia). C: CARDANO, GIROLAMO [Hyeronimus Cardanus] (ca. 1 50 1 - 1 576). Nascido em Pavia, distinguiu-se por seus trabalhos matemáticos. No âmbito da filosofia, defendeu uma concepção organológica, hilozoísta e panteísta do mundo, influenciada por diversas corren tes do Renascimento (principalmente por Nicolau de Cusa), assim como pelo neoplatonismo e pelo neopi tagorismo. Cardano unia a essa concepção, que supu nha a existência de uma alma do mundo, um mecani cismo pan-matemático e uma teoria do saber, segundo a qual este é próprio apenas de uma minoria i lustrada, cética e crítica, diante da qual uma maioria deve ser mantida, por conveniência social e pol ítica, na credu lidade e na ignorância. Tal como Taurellus, e por mo tivos análogos, Cardano supunha que o conhecimento verdadeiro das coisas pode ter lugar, em última análi se, mediante a união extática com Deus e o mundo inteligível, porém esta união não suprimia, mas impli cava, um domínio da Natureza e das coisas, demons tração do nível singular e elevado que o homem, al guns homens, ocupavam na hierarquia do mundo. :> Obras: De vila prapria, 1 542. - Ars magna, 1 545 [introduzindo números negativos]. - De subtilitate rerum, 1 5 52. - De varietate rerum, 1 5 56. Edição de obras : Opera Omnia, Lyon, 10 vols., 1 663; reimp., 1 966.
CARDILLO DE VILLALPANDO, GASPAR Ver: Salvatore Fimiani, Note ed appunti su la cul tura filosofica dei rinascimento. G. Cardano, la vila e !e opere, 1 904. - E. Rivari, La mente di Giro/amo Cardano, 1 906. - A. Simili, G. Cardano nella fuce e nel/ 'ombra dei suo tempo, 1 94 1 (com bibliografia). - Ore Oystein, Cardano, the Gambling Scholar, 1 953 (com tradução do tratado de Cardano sobre os j ogos, introdução e notas). - Markus Fierz, G. C. , Artz, Naturphilosoph, Mathematiker, Astronom und Traum deuter, 1 977. C: CARDEAL CAJETANO. Ver CAJETANO (CARDEAL) . CARDILLO DE VILLALPANDO, GASPAR ( 1 5271 5 8 1 ). Nascido em Segóvia, estudou teologia na Uni versidade de Alcalá de Henares. Depois de participar ativamente do Concílio de Trento (anos de 1 562 e se guintes), foi nomeado ( 1 575) Cônego da Colegial Complutense dos Santos Justo e Pastor. Cardillo de Villalpando distinguiu-se por suas exposições de obras de Aristóteles e por seus minuciosos comentários a elas, especialmente das obras sobre questões lógicas, dialéticas e fisicas. Em seus comentários às Catego rias, defendeu uma concepção do ente como equívoco e não-equívoco ou analógico, mas isso não impede, a seu ver, que o ente seja objeto da filosofia primeira. "O ente é equívoco - comenta Marcial Solana (cf. infra) - ab uno atque ad unum, isto é, referindo-se todos os predicamentos a um deles: os acidentes à subs tância." Cardillo ocupou-se também da questão da imor talidade da alma, recorrendo a argumentos extraídos de Aristóteles para demonstrá-la. :> Obras: Commentarii in quinque voces Porphirii, 1 5 57. - Summula Summularum, 1 5 57. - Isagoge sive Introductio in Aristotelis Dialecticam, 1 5 57. Commentarius in libras de Priori Resolutione A risto telis, 1 5 57. - Commentarius in libras Aristote/is de Posteriori Resolutione, 1 5 5 8 . - Commentarius in Ca tegorias Aristotelis una cwn questionibus in easdem, 1 558. - Commentarius in librum Periherrneneias Aris tote/is, 1 5 5 8 . - Summa Dialecticae A ristoteleae, 1 5 5 8 . - Commentarius in Aristotelis Topica, 1 5 59. - Apologia Aristotelis adversus eos qui aiunt sensisse animam cum corpore extingui, 1 560. - Commentarius in octo libras Physicorum A ristotelis, 2 vols., 1 566. - Disputationes adversus Protestationem triginta quatuor haereticorum A ugustae Confessionis, 1 568. - Commentarius in quatuor libras A ristotelis de coe /o, 1 568 ( 1 576). - Commentarius in duas libras Aris totelis de ortu atque interitu (. . .) , 1 5 69. - Interro gationes naturales, morales et mathematicae, 1 5 73. A obra de M . Solana mencionada supra é Historia de la Filosofia Espafiola, Época del Renacimiento. Sigla XVI, tomo II ( 1 94 1 ), pp. 8 1 - 1 23 , e especial mente p. 1 1 8 . Ver: V Muiíoz Delgado, "C. de V y la
CARDOSO, ISAAC lógica renacentista en Alcalá", Estudios, 27 ( 1 97 1 ) , 5 1 1 -5 5 5 . e CARDOSO, ISAAC ( 1 603/ 1 604- 1 683 ) . Nascido em Lisboa (ou, segundo alguns, em Celorico), estudou em Salamanca e lecionou filosofia e depois medicina em Valladolid. Foi médico da corte real até que, em 1 648, mudou-se da Espanha para Veneza, onde fez profissão de fé judaica. De 1 653 até o final de sua vida voltou a exercer a medicina em Verona. Na Philosophia libera, Cardoso combinou ecleti camente elementos da escolástica hispânica com outros "modernos" Inclinou-se a favor do atomismo e criti cou a fisica hilemórfica aristotélica, acusando-a de criar enganosos entes de ficção. Em contrapartida, o atomismo permite dar uma explicação razoável e sufi ciente dos fenômenos naturais. No quadro de sua "fi losofia eclética livre", Cardoso desenvolveu uma dou trina do conhecimento na qual atribuiu significativo predomínio à informação proporcionada pelos sen tidos. Suas idéias atomistas combinaram-se com as doutrinas clássicas dos quatro elementos e dos quatro temperamentos. A partir de sua conversão ao judaísmo, Cardoso rej eitou todos o s elementos fi losóficos e científicos de que se tinha valido para formular sua "filosofia livre" e expôs, no livro As excelências dos hebreus, publicado em Amsterdã em 1 679, um judaísmo ortodo xo; só é necessário conhecer a Lei e obedecer a ela. Isaac Cardoso opôs-se, em nome do conhecimento e da obediência estrita à Lei, aos movimentos de "reno vação" do judaísmo do tipo dos iniciados por Sabbatai Levi e preconizados e difundidos pelo irmão de Isaac. Abraham. :> Obra fundamental : Phi/osophia libera, in septem libras distributa, in quibus omnia quae ad Philoso phum natura/em spectant, melhodice colliguntur, & accurate disputantur, opus non solum Medieis & Phi losophis, sed omnium disciplinarum studiosis utilissi mum, Venetiis, 1 673. Ver: O. V. Quiroz-Martínez, La introducción de la filosofia moderna en Espaiía, 1 949, passim. - Jose f Hayim Yerushalmi, From Spanish Court to ltalian Ghetto: 1. C. , A Study in Seventeenth-Century Marra nism and Jewish Apologetics, 1 97 1 . e CARIDADE. Ver AMoR; COMPAIXÃO. CARLINI, ARMANDO ( 1 878- 1 959 ) . Nascido em Nápoles. Professor a partir de 1 922 na Universidade de Pisa, foi primeiramente um adepto do atualismo de Genti le ( vER), do qual partiu para desenvolver um es piritualismo realista que se harmonizasse com o pen samento católico. O realismo de Carlini não é, pois, totalmente alheio a alguns pressupostos do idealismo hegeliano. Isto se manifesta de maneira muito especial
400 em sua concepção da religiosidade da arte e da filoso fia. Com efeito, a arte une, no plano sensível, o mundo com Deus. Por isso, o artista descobre, na autocons ciência que suplanta o histórico e determinado, o trans cendente. O mesmo ocorre com a filosofia: manifes ta-se claramente nela a natureza dos atos transcenden tes que conduzem ao absoluto e unem o pensamento filosófico à vida religiosa. Dessa maneira, todo o esfor ço de Carlini parece dirigir-se para um reconhecimento da transcendência, sem ver-se obrigado por isso a aderir a um realismo completo. A metafisica crítica como me tafisica da problematicidade é a única que permite aco lher certos "mitos" filosóficos no reino da fé. Por isso, ela é, no fundo, uma descrição inteligível dos atos de transcendência, inclusive da transcendência da alma por si mesma. A idéia metafisica pode inclusive ser formu lada em termos histórico-sociais, segundo normas tais como "Promova com sua ação a socialidade do mundo histórico" ou "Promova com sua ação a unidade-tota lidade dos valores da personalidade humana no mundo social" ( cf. o artigo-auto-exposição citado na bibliogra fia; Sciacca, p. 1 95 ) . :> Obras: Dei sistema filosofico dantesco nella Di vina Commedia, 1 902. li pensiero fi/osofico-religio so in Francesco Petrarca, 1 904. - Le forme di gover no nello Stato pressa i Greci, 1 905. - Dei carattere comeformazione psico/ogica, 1 9 1 O. - Fra Michelino e la sua eresia, 1 9 1 2 . - La mente di G. Bovio, 1 9 1 4 . - A vviamento alio studio della.fi/osofia, 1 9 1 4 . - La fi/oso_fia di G. Locke, 2 vols., 1 920- 1 92 1 ; 2ª ed., 1 928. - La vita dello spirito, 1 92 1 , 2ª ed., 1 940. - La nostra scuola, 1 927; 5ª ed. , 1 946. - Neoscolastica, idealismo e spiritualismo, 1 93 3 (em colaboração com F. Olgiati). - La religiosità deli 'arte e della filosofia, 1 934. - Filosofia e religione nel pensiero di Musso lini, 1 934. li mito dei realismo, 1 936. - lntroduzio ne alia pedagogia, 1 936; 4ª ed. , 1 946. Verso la nuova scuola, 1 94 1 . - Saggio sul pensiero .filosofico e religioso dei fascismo, 1 942. -- Principi metafisichi dei mondo storico, 1 942. - li problema di Cartesio, 1 948. - Perche credo, 1 950; 2ª ed., 1 952. - A lia ricerca di me stesso. Esame critico dei mio pensiero, 1 95 1 . - Filosofia e storia dei/a filosofia, 1 95 1 . Cattolicesimo e pensiero moderno, 1 953 (trad. esp . : Catolicismo y mundo moderno, 2 vols., 1 960- 1 96 1 ). - Breve storia della filosofia, 1 95 7 - Che cos 'e la metafisica ? Polemiche e ricostruzione, 1 95 7 - Studi gentiliani, 1 958. - Le ragioni della fede, 1 959. Testemunho no artigo "Lineamenti di una conce zione realistica deli o spirito umano", em Filosofi italiani contemporanei, 1 944, ed. M. F. Sciacca, pp. 1 83- 1 97. Ver: M . F. Sciacca, "II pensiero fi losofico di A. C.", Archivio di storia dellafi/oso_fia italiana, 3 ( 1 937 ) . - /d. , li Seco/o XX, 1 942, col. I I . - L. Pareyson, "Presistenzial ismo di A. C.", Giornale critico della --
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CARNAP, RUDOLF
401 filosofia italiana, 5 ( 1 94 1 ) , 6 ( 1 942). - George Usca tescu, "Filosofia italiana contemporánea: A. C.", Re vista de Filosofia 1 6 ( 1 957), 303-3 1 9 . M. T. Anto nelli, G. Chiavacci, M. Gentile, A. Guzzo et ai. , número especial sobre A. C. em Giornale di Metafisica, 1 5, n. 6 (nov.-dez., 1 960). - G. Micheletti, "A. C.: La trascen dentalità esistenziale", Filosofia, 2 1 ( 1 970), 3 89-398. - G. Righi, "A. C. nella critica italiana", Giornale di Metafisica, 28 ( 1 973), 337-362. V. A. Bellezza, "II concetto gentiliano di ' Dio' e la critica di A. C.", Gior nale Critico de/la Filosofia Italiana, 56 ( 1 977), 601 00. - V. Sainati, L. Sassi, eds., "Lettere di B. Croce ad A. C.", Theoria, 8 ( 1 988), 3-48. C: -
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CARLYLE, THOMAS ( 1 795- 1 8 8 1 ). Nascido em Ecclefechan (Escócia), é conhecido sobretudo por seu lugar na história da literatura, como romancista (Sartor Resartus, 1 83 3 - 1 834) e crítico. No âmbito da filoso fia, destacam-se seus ensaios de crítica social, de fi losofia política e de interpretação da história. Carlyle opôs-se ao que considerava um enfraquecimento e afrouxamento da sociedade de seu tempo, influencia da pelo que ele avaliava serem idéias superficiais da I lustração, assim como pela crescente entrega aos ideais burgueses do bem-estar e do progresso. Influen ciado pela literatura e pela filosofia românticas ale mãs, Carlyle combateu as orientações materialistas e naturalistas e, sobretudo, o utilitarismo. Sua concep ção da história é essencialmente biográfica. A histó ria é feita, a seu ver, por homens individuais, e espe cialmente pelos que denomina "heróis" Com as per sonalidades dos heróis se tece a história. Os heróis são de muitas espécies, não apenas políticos e religio sos, mas também literários. O que importa, segundo Carlyle, é que o herói, ao mesmo tempo que faz a história, está sempre além de seu tempo. Justamente por isso faz a história: porque representa a força e os ideais sem os quais as sociedades humanas estanca riam. Os heróis são forças primárias, salvadores da humanidade. :> A obra sobre os heróis de C. intitula-se: On Heroes, Hera Worship, and the Heroic in History, publicada em 1 84 1 . Edição d e obras : Works, 3 0 vols., 1 896- 1 899, ed. H. D. Trai!; reimp., 1 969. Entre a correspondência, é importante The Corres pondence o{Th. C. and Ralph Waldo Emerson 1 8341872, 2 vols., 1 894, ed. por J. Slater, 1 965. Autobiografia: J. A. Froude, ed. : T. C. 1 795- 1 835, 2 vols., 1 882; T. e 1 834- 1881, 1 8 84. Bibliografia: J. W. Dyer, A Bibliography of T. C.:S Writings, 1 928, reimpr. , 1 968. R. L. Tarr, T. C. A Bibliography of English-Language Criticism 1 8241 9 74, 1 976. Ver: J. A. Froude, Th. Carlyle, 1 8 82. - Wilhelm Dilthey, Th. Carlyle [Archiv für Geschichte der Phi-
losophie, IV], 1 89 1 ; reimpresso em Ges. Werke, IV. - W. J. Johnson, Th. Carly/e, 1 9 1 2 . Louis Caza mican, Th. Carlyle, 1 9 1 3 . F. W. Roe, The Social Phi losophy of Carlyle and Ruskin, 1 92 1 . - M. Storrs, The Relation of Carlyle to Kant and Fichte, 1 929. C. F. Harrold, Carlyle and German Thought 1 8 1 91 834, 1 934. - Wilhelm Vollrath, Th. Carlyle und H. St. Chamberlain, 1 93 5 . L. Marvin Young, Th. Carly le and the A rt of History, 1 939. Ernest Seilliêre, Un précurseur du National-Socialisme. L'actualité de Carlyle, 1 939. - Hill Shine, Carly/e and the Saint Simonians, 1 94 1 . - J. Kedenburg, Te/eologisches Ges chichtsbild und theokratische Staatsauffassung im Werke T. C. s , 1 960. - E. R. Bentley, Century of Hera Worship: A Study of the ldea of Heroism in Carlyle and Nietzsche, 1 960. - A. J. La Valley, C. and the ldea of the Modem: Studies in C.:S Prophetic Literature and Its Relation to Blake, Nietzsche, Marx, and Others, 1 968. - A. L. Le Quesne, C. , 1 982. T. Fasbender, T. C., 1 989. E. M. Vida, Romantic Affinities: Ger man Authors and Carlyle. A Study in the History of ldeas, 1 993. Unamuno dedicou a Carlyle um ensaio (Maese Pedro. Notas sobre Carlyle), de 1 902, compilado em Ensayos, tomo III, 1 9 1 6. Sobre Unamuno e Carlyle, ver o estudo do mesmo título, de Carlos Claveria (Cua dernos Hispanoamericanos, n. 1 0, 1 949, compilado em Temas de Unamuno, 1 953). À relação entre os dois escritores se refere também Alan Carey Taylor em Car lyle et la pensée /atine, 1 93 7 (tese). C: -
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CARNAP, RUDOLF ( 1 89 1 - 1 970). Nascido em Runds dorf, perto de Barmen (hoj e Wuppertal, Westfalia), foi professor em Viena ( 1 926- 1 93 1 ), Praga ( 1 93 1 - 1 936), Chicago ( 1 938- 1 952), Institute for Advanced Study, de Princeton ( 1 952- 1 954) e Los Angeles ( 1 954- 1 962). Podem ser enfatizados em seu trabalho filosófico, ló gico e semiótico cinco aspectos, correspondentes apro ximadamente a cinco fases: o aspecto crítico-fi losó fico, o aspecto da análise da constituição, o da sintaxe lógica da linguagem, o semântico e o do exame da indução. Nós os mencionaremos brevemente, obser vando que se encontrarão informações complementa res em vários outros verbetes, entre os quais ANALÍTI CO E SINTÉTICO; CONSTITUIÇÃO, CONSTITUTIVO; FISICALIS MO; INDUÇÃO; METALINGUAGEM; MODALIDADE; NOME; ONTOLOGIA; PROBABILIDADE; SEMÀNTJCA; SINTAXE; SIGNI FICAÇÃO, SIGNIFICAR; SIGNO. O aspecto crítico-filosófico concentra-se em sua primeira análise do problema do espaço. Ressoam nele as influências kantianas - de um Kant interpretado em sentido crítico-fenomenista e lógico-regulativo. A análise da constituição baseia-se numa teoria em que se ordenam os diferentes sistemas de objetos ou conceitos segundo graus. Para Camap, ' constituir'
CARNAP, RUDOLF equivale a ' reduzir', mas essa redução deve ser enten dida em sentido lógico-sistemático e não metafisico. A teoria camapiana da constituição pode ser considera da uma ontologia de base lógica no decorrer da qual se caracterizam os obj etos mediante "meras proprieda des estruturais" ou por "certas propriedades lógico formais de relações ou tramas de relações" A teoria da constituição encontra-se no âmbito das orientações do Círculo de Viena (vER) , do qual Camap foi um dos principais representantes. Ligada a essa teoria está sua elaboração do fisicalismo, sua crítica da metafisica e a elaboração da sintaxe lógica da lin guagem. De acordo com Camap, é preciso distinguir entre o modo formal e o modo material de falar. Quan do tal distinção é esquecida, recai-se na metafisica e, portanto, na confusão entre as proposições e as pseudo proposições. Em sua opinião, as proposições metafisi cas são, com efeito, pseudoproposições que parecem ter referentes objetivos mas não os têm. É preciso ver, por conseguinte, de que modo se podem formular cor retamente proposições, isto é, deve-se examinar em cada caso se as "proposições" formuladas obedecem ou não às regras sintáticas da linguagem. A filosofia acaba sendo definida inclusive como uma "análise ló gica da linguagem" A insistência no aspecto sintático conduzia, no en tanto, a dificuldades que obrigaram Camap a prestar considerável atenção à semântica. Os detalhados estu dos semânticos de Camap abrangeram tanto os proble mas semânticos em geral como os da formalização da lógica. A esse respeito, são também importantes os seus estudos sobre a modalidade. Durante os últimos anos, Camap ocupou-se inten samente da elaboração de um sistema de lógica indu tiva com base num exame da probabilidade como grau de confirmação e do pressuposto de que todo raciocí nio indutivo é um raciocínio em termos de probabili dade. A lógica indutiva de Camap é antipsicologista e não pressupõe nenhuma das doutrinas que as lógicas indutivas clássicas julgavam indispensáveis, tais como, por exemplo, a da regularidade dos fenômenos natu rais. Observaremos que a atenção preponderante dada à elaboração dessa lógica não impediu Camap de dedi car-se também, com freqüência, a problemas lógicos e semânticos, bem como a reiterar certos pontos de vista - por exemplo, a oposição à ontologia, a separa ção estrita de expressões em analíticas e sintéticas etc. - que j á tinham se manifestado nas fases anteriores. :l Obras: Der Raum. Ein Beitrag zur Wissenschafls lehre, l 922 (O espaço. Contribuição à teoria da ciên cia). - Physikalische Begriffsbildung, l 926 ( Concei tuação fisicalista). - Der logische A ujbau der Welt. Versuch einer Konstitutionstheorie der Begriffe, 1 928 (A estrutura lógica do mundo. Em busca de uma teo ria da constituição dos conceitos). - Scheinprobleme
402 in der Philosophie. Das Fremdpsychische und der Rea lismusstreit, l 928 (Problemas aparentes na filosofia. O psíquico alheio e a discussão em torno do realismo). - A briss der Logistik, mil besonderer Berücksichti gung der Relationstheorie und ihrer A n wendungen, l 929; 2ª ed., l 960 (Compêndio de logística, com espe cial consideração da teoria da relação e de suas apli cações). - "Ueberwindung der Metaphysik durch lo gische Analyse der Sprache", Erkenntnis, 2 ( 1 93 1 ) , 2 1 9-24 1 . - Die Aufgabe der Wissenschaflslogik, 1 934 (A tarefa da lógica da ciência). - Logische Syntax der Sprache, l 934; 2ª ed., 1 968 (Sintaxe lógica da linguagem ; ampliada em trad. ingl . : The Logical Syn tax of Language, 1 937). - Foundations of Logic and Mathematics [Intemational Encyclopedia of Unified Science, !, 3 ] . - Studies in Semantics (!. lntroduction to Semantics, l 942; II. Formalization of Logic, l 943 ). É tido como tomo III o l ivro Meaning and Necessity. A Study in Semantics and Modal Logic, 1 947; 2ª ed., l 958. - Logical Foundations of Probability, I, 1 950; 2ª ed. rev., l 962. - The Continuum of lnductive Me thods, 1 952. O conteúdo foi antecipado nos artigos "Testability and Meaning", Philosophy of Science, 3 ( 1 936), 4 1 9-47 1 ; 4 ( 1 937), l -40, e "On the Application of lnductive Logic'', Philosophy and Phenomenologi cal Research, 3 ( l 94 7). Obra revisada e refundida por Wolfgang Stegmüller, lnduktive Logik und Wahrschein lichkeit, 1 959. - Einführung in die symbolische Logik, 1 954; nova ed., 1 960; 3ª ed., 1 968 (Introdução à lógi ca simbólica). - Obra póstuma: "A Basic System of Inductive Logic. Part. !", em Studies in lnductive Logic and Probability, ed. R. Camap e Richard C. Jeffrey, l 97 1 [trabalhos de Camap e seus colaboradores R. C. Jeffrey, Jürgen Humburg e Haim Gaifman] . Ver: Sobre a teoria da constituição de Camap: Josef Burg, Konstitution und Gegenstand im logistis chen Neupositivismus R. Carnaps, 1 93 5 (tese). Sobre sua teoria da verdade: D. R. Cousin, "Car nap 's Theories ofTruth", Mind. , N. S., 64 ( 1 950), 1 -22. Sobre lógica indutiva: E. H. dei Busto, Las teorías modernas de la probabilidad. La probabilidad y la ló gica inductiva de C. , 1 95 5 . - P. Filiasi Carcano, L. Apostei, G. Petri, L. Geymonat, artigos em número especial de Rivista critica di storia della filosofia, ano l O, fases. v-vi ( l 955), dedicados a R. C. (bibliografia de e sobre C. por A. Pasquinelli). - Wolfgang Steg müller, Das Wahrheitsproblem und die Jdee der Seman tik. Eine Einführung in die Theorie von A. Tarski und R. C. 1 95 7 ; 2ª ed., l 968. - Jerzy Pele, Poglady Ru dolfa Carnapa na kwestie znazcenia i oznaczania, 1 960 (As idéias de R. C. sobre os problemas do sentido e da denotação). - Número de Synthese, vol . XII, n. 4 (dezembro de 1 960), dedicado a R. C . por ocasião de seu 70º aniversário [ver especialmente artigos de W. v. Quine, "C. and Logical Truth'', e Karl Dürr, "Be-
CARPÓCRATES DE ALEXANDRlA
403 leuchtung von Anwendungen der Logistik in Werken von R. C."] . - Vários autores, Logic and Language: Studies Dedicated to Professor R. C. on the Occasion of His Seventieth Birthday, l 962, ed. B. H. Kazemir e D. Vuysje. - K. R. Popper, W. Sellars et ai. , The Philosophie ofR. C. , 1 963, ed. P. A. Schilpp [com "In tellectual Autobiography" (pp. 3-84) e "The Philoso pher Replies" (pp. 859- 1 0 1 3) por R. C. e bibliografia de C. (pp. 1 O 1 7- 1 070) por Arthur J. Benson] . - Peter Achinstein, "R. C.", Review ofMetaphysics, l 9 ( 1 966), 5 1 7-549 e 75 8-779. - Alan Hausman e Fred Wilson, C. and Goodman: Two Forma/ists, 1 967. - Richard Butrick, Jr. , C. on Meaning and A nalyticity, 1 970. L. Krauth, Die Philosophie Carnaps, 1 970. - Roger C. Buck e Robert S. Cohen, eds., ln Memory of R. C. , 1 972 [Boston Studies i n the Philosophy of Science, 8]. - C . G. Hempel, A. Wedberg et ai. , R. C. , Logical Empiricist: Materiais and Perspectives, 1 97 5 , ed., Jaakko Hintikka. - Bryan G. Norton, Linguistic Fra meworks and Ontology: A Re-Examination of Carnap s Metaphilosophy, 1 977. - E. Tegtmeier, Komparative Begriffe. Eine Kritik der Lehre von C. und Hempel, 1 98 1 . - E. Runggaldier, C.s Early Conventiona/ism: An Inquiry into the Historical Background ofthe Vien na Circle, 1 984. - C. U. Moulines, "Hintergründe der Erkenntnistheorie des frühen C.", Grazer Philoso phische Studien, 23 ( 1 985), 1 - 1 8 . - J. Proust, Ques tions of Form: Logic and the Analytic Proposition from Kant to Carnap, 1 989. - R. Cirera Duocastella, C. i el Cercle de Viena. Empirisme i sintaxi làgica, 1 990. - J. A. Coffa, The Semantic Tradition from Kant to Carnap to the Vienna Station, 1 99 1 . - R. Creath, ed., Dear Carnap, Dear Van : The Quine-Carnap Cor respondence and Related Work, 1 99 1 . - W. Spohn, ed., Erkenntnis Orientated: A Centennial Volume for R. C. and Hans Reichenbach, 1 99 1 . Edição:
Karneades. Fragmente, 1 970. Ver: C. Vick, Quaestiones Carneadeae, 1 90 1 . B. Detmer, Karneades und Hume ihre Wahrschein /ichkeistheorien, 1 9 1 0. - Ver também V. Brochard, Les sceptiques grecs, 1 887, e D. Armand, Fatalisme et liberté dans l 'antiquité grecque, 1 945. - A. Schütz, "Das Problem des Carneades", em id. , Das Problem der Relevanz, 1 97 1 . - S. Nonvel Pieri, C. , 1 978. W. N. A. Klever, C. Reconstructie en evaluatie van zijn kennistheoretische positie, 1 982. - R. Bett, "C.' Distinction Between Assent and Approval", Monist, 73( 1 ) ( 1 990), 3-20. Ver também: Artigo de H. von Arnim sobre Car néades (Karneades) em Pauly-Wissowa. Obras : Du mysticisme du XVIII' siecle, 2 vols., 1 852- 1 854. - L'idée de Dieu et ses nouveaux criti ques, 1 864; 7ª ed. , 1 88 3 . - Le matérialisme et la science, 1 868. - Problemes de morale sociale, 1 876. - Le pessimisme au XIX' siecle. Leopardi, Schope nhauer, Hartmann, 1 87 8 ; 2ª ed., 1 88 1 . La fin du XVIII' siecle, 1 880. - La philosophie de Goethe, 1 88 3 . - Littré et le positivisme, 1 88 3 . - Philosophie et philosophes, 1 88 8 . Obras: Filosofia dei/a vila, 1 924. - Laberthon niere, 1 927. - Filosofia e apologetica (Saggi critici difilosofia dei/a religione), 1 929. Idealismo e solip sismo e saggi critici, 1 93 3 . - Commentario ai senso comune, 1 939. - Preludio alia vita di un uomo qua lunque, 1 94 1 (com o pseudônimo Dario Reiter) . L'esperienza comune, 1 942. Pensieri e giornate: Diario intimo, 1 945; 2ª ed. , 1 963. II tempo esaurito, 1 947; 2ª ed. , 1 954. - lntroduzione ad una fenomeno logia dei/a nostra epoca, 1 948. - Existentialisme théologique, 1 948. - Filosofia e dramma, 1 949. II demoniaco ne/ arte, 1 952. - I presupposti di una teologia dei/a storia, 1 952. - L'indagine quotidiana, 1 956. - Demitizzazione e immagine, 1 962. - Simboli e immagini: Studi di filosofia deli 'arte sacra, 1 966. 11 tempo invertebrato, 1 969. - I paradossi dei sen so comune, 1 970. - II tempo inqualificabile. Contri buti ali 'ermeneutica dei/a secolarizzazione, 1 975. Testemunho pessoal no artigo 'T orientamento filo sofico e il problema dei male", no vol. de M. F. Sciacca, Fi/osofi italiani contemporanei, 1 944, pp. 1 99-206. Ver: A. dei Noce, Senso comune e teologia dei/a storia ne/ pensiero di E. C. , 1 954. - A. Pastore, La morte dei tempo nel pensierofilosofico di E. C. , 1 956. - P. Tomasi, 'Temporalità e dialettica della buona fede nel pensiero di E. Castelli", Giornale Critico dei/a Filosofia Italiana, 55 ( 1 976), 5 84-590. 1-1. 1. Daw son, "America and the West at Mid-Century: An Un-
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published Santayana Essay on the Philosophy of E. C., Journa/ of the History of Philosophy, 1 7 ( 1 979 ) , 449-454. Obras principais: Un estudio sobre la depresión, 1 966; 9ª ed., 1 99 1 . - Dialéctica de la persona, dialéc tica de la situación , 1 968; 6ª ed., 1 992 (coletânea de artigos). - La culpa, 1 968; 4ª ed., 1 98 1 . - Psicoaná lisis y marxismo, 1 969; 5ª ed. , 1 98 1 . - La incomu nicación, 1 970; 1 3ª ed., 1 990. - Cuatro ensayos sobre /a mujer, 1 97 1 ; 1 0ª ed. , 1 989. - Patografias, 1 972; 3" ed., 1 99 1 . - Introducción a la hermenéutica dei /enguaje, 1 972, 3ª ed., 1 975. - Introducción ai maso quismo, estudo preliminar a "La Venus de las pieles", de Sacher-Masoch, 1 973; 3ª ed., 1 98 3 . - E/ huma nismo "imposible " seguido de "Natura/eza dei saber ", 1 975 (reimp. de 1 968 a 1 970, respectivamente). fntroducción a la psiquiatría, 2 vols., 1 978- 1 980; 4ª ed., 1 993. - Estudios de psico (pato)logía sexual, 1 984; 2ª ed., 1 990. - Teoría de la alucinación, 1 984. - Cuarenta anos de psiquiatría, 1 987 (coletânea de monografias psicológicas, psicopatológicas e psiquia tricoclínicas ). - Temas: hombre, cultura, sociedad, 1 989 (coletânea de artigos). Ver: "Carlos Castilla dei Pino. La construcción de una Psiquiatria científica", Anthropos, 1 2 1 ( 1 99 1 ) [nú mero monográfico] . KaTOÀflTITIKi] qiavTacría em sua "lógi ca" (na parte da "lógica" que corresponderia hoje à teoria do conhecimento). Trata-se de um conceito fun damental no pensamento estóico. Traduzimos a citada expressão simplesmente por "fantasia cataléptica", se guindo Ortega y Gasset (cf. op. cit. infra), mas há outras traduções possíveis, como, por exemplo, repre sentação compreensiva, apreensão direta, evidência imediata etc. O verbo KaTaÀaµ�ÓVEIV pode ser tra duzido por "apoderar-se de algo", "apreender algo", "ocupar algo", "comprimir" O nome KaTÓÀfl\jllS designa a ação de apreender, ou tomar posse de algo. A KOTOÀT]TIT1Ki] Obras: Wielosc rzeczywistosci, 1 92 1 (A pluralidade das realidades). - "The Theory of Constructive Types: Principies of Logic and Mathematics", Annales de la Société Polonaise de Mathématique, vol . 2 ( 1 924), pp. 9-48, e vol. 3 ( 1 925), pp. 9 1 - 1 4 1 . - Gra nice Nauki: Zarys logiki i Metodologji Nauk Scialych, 1 93 5 (edição ingl. rev. e amp l . : The Limits ofScience: Outline of logic and the Methodology of the Exact Sciences, 1 948; reimp. 1 949). - Zagadnienia Kultury Duchowej w Polska, 1 93 3 (Problemas da cultura in telectual na Polônia). - Krytyka Pojecia Zmiennej w Systemie Semantyki Racjona/nej, 1 938 (Crítica do con ceito de variável no sistema de semântica racional). - la Méthode générale des sciences positives: l'Es prit de la sémantique, 1 946. - Wie/osc Rzeczywistosci w Stuze, ed. K. Estreicher, 1 960 (A pluralidade de realidades na arte). - Pisma Filozoficzne i logiczne, ed. K. Pasenkiewicz, 2 vols., 1 96 1 - 1 963 (Escritos filo sóficos e lógicos). Ver: John Myhill, "Report on Some Investigations Concerning the Consistency of the Axioms of Redu cibil ity", Journal of Symbolic logic, 14 ( 1 949), 1 1 91 25 ; 1 6 ( 1 95 1 ), 3 5-42 . - M. Black, The Nature of Mathematics: A Criticai Survey, 1 959. - J. Juliusz Jadacki, l. C. - B. Russell 's Scientific Corresponden ce, 1 986. - G. Jozefczuk, "La idea dei sentido común en la fi losofia de L. C." (em polonês), Ann. Univ. Maria e Curie-Phil. ( 1 986 ), 22 1 -232 . - H. Hiz, em J. E. Edwards, The Encyclopedia ol Philosophy, vol. 2, s. v. "Chwistek, Leon" C: C IBERN É TICA. Em seu Essai sur la philosophie des sciences ou exposition analytique d 'une classifi cation naturelle de toutes les connaissances humaines ( 1 834 ), André Marie Ampere (VER) introduziu o vocá bulo cybernétique (do grego KV�EPVfJTIK�) para de signar a ciência que se ocupa dos modos de governo. A cibernética é, segundo Ampere, uma das ciências "noológicas" Em sua influente obra Cybernetics, ar Contrai and Communication in the Animal and in the Machine ( 1 949; 2ª ed., 1 96 1 ), Norbert Wiener (t 1 964) denominou "cibernética" (do grego KV�EPVfJT�P = pi loto) a ciência que estuda os sistemas de controle, e
453 especialmente d e autocontrole, tanto n o s organismos como nas máquinas. "O controle - define Wiener ( The Human Use of Human Beings, 1 950, p. 8) não é senão o envio de mensagens que efetivamente mudam o comportamento do sistema receptor." Referimo-nos a alguns dos principais problemas estudados pela cibernética no sentido de Wiener em vários verbetes desta obra (ver especialmente C OMUN I CAÇÃO; INFORMAÇÃO). Limitar-nos-emos aqui a destacar, ou a recordar, que a cibernética - ainda em formação e, portanto, sem limites precisos como ciência ou como disciplina científica - ocupa-se de temas muito diver sos, embora todos eles de algum modo relacionados entre si. Entre esses temas, mencionamos os seguintes: o estudo do controle e do autocontrole, particularmen te com base no conceito de "retroação" (jeedback) portanto, o estudo dos sistemas auto-reguladores, orgâ nicos e mecânicos -; o estudo da transmissão de men sagens na medida em que servem para realizar o con trole e o autocontrole citados; o estudo da informação enquanto transmissão de sinais no âmbito de um sistema de auto-regulação; o estudo de diversas formas do cha mado "comportamento com propósito"· o estudo dos paralelismos entre vários sistemas nos quais ocorrem processos de controle e de auto-regulação (como os chamados "servomecanismos"). Pelo que se mencionou, é possível ver a amplitude do campo da cibernética, na qual tem lugar uma série de estudos lógicos, matemá ticos, fisicos, neurofisiológicos etc. e que faz uso de conceitos bastante diversos, muitos dos quais proce dentes de outros ramos (entropia, estrutura, linguagem, aprendizagem etc.). Por essa razão, alguns autores con sideram que o termo "cibernética" é no momento apenas um vocábulo cômodo para agrupar estudos que oportu namente se distribuirão entre várias disciplinas cientí ficas. Em todo caso, a cibernética parece ser uma típica "ciência-encruzilhada" e um conjunto de "ciências-li mítrofes" Nesse sentido, pode ser comparada, no âmbi to da ciência, com o que é amiúde a ontologia - pelo menos como "ontologia critica e analítica" - no âm bito da filosofia. Para bibliografia, ver a parte correspondente no verbete COMUNICAÇÃO. C Í CERO (M. TULLIUS CICERO) ( 1 06-43 a.e.). Nasceu nas proximidades de Arpino. Sua carreira como orador e político não se enquadra em nosso propósito. Sua carreira como filósofo foi muito discutida: conside rado por longo tempo uma das mais preeminentes figu ras do pensamento antigo, insistiu-se depois em sua falta de originalidade e se reduziu ao mínimo seu papel na história da filosofia. A verdade acha-se provavelmen te entre as duas posições: a filosofia de Cícero não é, sem dúvida, original, mas a influência que exerceu faz dela uma peça indispensável na história. Com efeito,
CÍCERO (M. TULLIUS CICERO) ele não apenas divulgou para o mundo romano o mais importante da tradição intelectual grega, como muitas de suas obras foram lidas com freqüência pelos filósofos posteriores, tanto pagãos como cristãos. A isso se deve acrescentar a influência exercida na formação do voca bulário filosófico latino - formação da qual o próprio Cícero tinha plena consciência ao observar que suas obras filosóficas ofereciam ao leitor principalmente "pa lavras": verba. . . quibus abundo. No que diz respeito ao conteúdo, o pensamento filosófico de Cícero foi considerado essencialmente eclético, embora seja costume tê-lo como um dos mem bros da nova Academia platônica (vER). Discípulo do epicurista Fedro, do acadêmico Fílon, do estóico Dio doto, do acadêmico Antíoco de Á scalon, do epicurista Zenão e do estóico Possidônio (a cujas aulas assistiu em Rodes), encontram-se em suas obras as marcas de todas essas doutrinas, além das marcas das obras dos grandes mestres gregos, Platão e Aristóteles principal mente. Na doutrina do conhecimento, Cícero rejeitava o ceticismo extremo, pois o moderado tinha, a seu ver, uma razão de ser, como escudo contra o dogmatismo desmedido. As razões dadas por Cícero contra os céticos extremos não eram, porém, de natureza epistemológica, mas antes moral e social; é necessário, pensava ele, que haja noções inatas e consenso universal se se quer que a sociedade mantenha sua coesão. Na moral, Cícero inclinou-se para as doutrinas estóicas, mas desprovidas de seu extremo rigorismo; com efeito, os bens não eram, em sua opinião, inteiramente indiferentes à realização e ao desenvolvimento da virtude. Essas formas de ecle tismo podem ser vistas em sua filosofia natural e em sua filosofia política, que parece dominada por uma espécie de "crença sem convicção", unida a um realismo político em nome do qual Cícero defendeu os ideais da República romana diante de todos os falsos realismos que em seu tempo ameaçavam destruir o que ele consi derava as verdadeiras realidades: as tradições suscetíveis de transformação contínua e sem violência. O mesmo poderiamos dizer, por fim, de sua filosofia religiosa, mas seria sem dúvida uma simplificação apresentá-la como uma moderna racionalização das tradições. A complexidade do quadro religioso apresentado no famo so Sonho de Cipião (vER) mostra que, se temos de con tinuar falando de ecletismo, não podemos reduzi-lo a uma composição demasiadamente simples. :> As obras de Cícero mais importantes do ponto de vista filosófico são: De natura deorum, De divinatione, De officiis, De finibus bonorum et malorum, De ami citia, Cato maior, De gloria, De fato, Tusculanae dis putationes, De republica, De legibus, A cademica prio ra et posteriora. Em português : As catilinárias, 1 990. - Da Repú blica, 1 995. - Manual do candidato - As eleições
CIDADE DE DEUS
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Ch. Habicht, C. the Politician, 1 990. - J. M. Dei Pozo, Cicerón: conocimiento y política, 1 993 . C CIDADE DE DEUS. Embora a idéia da Cidade de Deus e de sua oposição à cidade do diabo tenha sido expressa antes de Santo Agostinho (por exemplo, em Ticônio - Ecce duas civitates, unam Dei et unam diabo/i - , de quem Santo Agostinho provavelmente a tomou), somente nos l ivros De civitate Dei escritos pelo Padre da Igreja o problema foi formulado e desen volvido com toda a amplitude. Trata-se de um proble ma que pode ser relacionado com o da contraposição, já enfatizada por alguns estóicos, entre o ser cidadão de uma Cidade-Estado (ou mesmo do Império) e o ser cidadão do mundo ou do cosmos, mas que não é sim plesmente redutível a ela. Com efeito, o cosmos não é, propriamente falando, uma Cidade, de modo que ser cidadão do cosmos equivale sobretudo a sentir-se parte ou membro da Natureza, a qual se supõe ser a reali dade que absorve em última análise todos os indiví duos. Assim, a contraposição estabelecida por Santo Agostinho entre a Civitas Dei e a Civitas diaboli só pode ser entendida no âmbito de uma concepção que acentua o caráter único da história e que faz do cosmos um cenário no qual se desenvolve o drama da história universal. Contudo, as expressões ' Cidade de Deus' e 'Cidade do diabo ' foram interpretadas de várias manei ras, particularmente no que diz respeito a suas relações mútuas. Daremos, primeiramente, uma breve explica ção do vocabulário usado por Santo Agostinho e men cionaremos depois três diferentes interpretações dos conceitos citados. Santo Agostinho fala de uma cidade celeste espiri tual ( civitas coe/estis spiritua/is), de uma cidade terre na espiritual (civitas terrena spiritualis) e de uma cida de terrena carnal (civitas terrena carna/is). A primeira parece equivaler ao que São Paulo denomina a Jerusa lém superior; a segunda, ao que o Apóstolo chama de Jerusalém atual. A última, à cidade (ou cidades) dos pagãos. A cidade celeste espiritual é também deno minada cidade santa, civitas sancta ou comunidade dos santos. A cidade terrena espiritual é exemplificada em Sara e Isaac. A cidade terrena carnal é representada por Agar e Ismael. Santo Agostinho fala também da cidade terrena como uma sombra, umbra, da cidade de Deus, ou, melhor dizendo, da cidade de Deus no céu. Uma das interpretações é a que relaciona o esque ma de Santo Agostinho com um esquema platônico. Assim, Hans Leisegang indica que a Cidade de Deus no céu é paralela ao reino das idéias; a Cidade de Deus na terra, ou cidade terrena espiritual, é paralela à ima gem EiKwv - da idéia, e a cidade terrena carnal ou cidade do diabo, à imagem da imagem, isto é, à som bra, umbra - oKÍa - , da Cidade de Deus celeste, que -
455 seria o verdadeiro protótipo. D e modo semelhante, Alfa rabi falara de uma Cidade-modelo ou cidade ideal. Outra interpretação é a que sublinha o contraste entre a Cidade de Deus, como representada pelo poder espiritual da Igreja, e a cidade do diabo, como represen tada pelo poder terreno (em especial o do Império). As lutas entre o Papado e o Império no decorrer da Idade Média foram com freqüência interpretadas nesse sen tido. Muitos historiadores e filósofos apresentam esta interpretação em sua descrição da idéia agostiniana do contraste entre as duas cidades. Outra interpretação, devida a Gilson - e prova velmente a mais correta -, é a que destaca o caráter teológico e místico da doutrina agostiniana. Segundo ela, a Cidade de Deus é a cidade dos eleitos, e a cidade do diabo, a dos reprovados. Por conseguinte, a Cidade de Deus não pode ser identificada com a Ci dade nesta terra, nem sequer com a Igreja. Com efeito, mesmo dentro da Igreja há homens que são reprovados e não pertencem à Cidade de Deus. Gilson baseia-se para sua interpretação no sentido dado por Santo Agostinho ao termo ' cidade ' : a congregação de ho mens que reconhecem algumas crenças comuns. 'Ci dade' é, pois, um termo que em Santo Agostinho tem um sentido místico. Assim, os nomes de Cidade divi na e Cidade terrena são designações simbólicas que podem ser expressas de outros modos; por exemplo: Jerusalém ou visio pacis e Babilônia ou confusio. A civitas terrena é a cidade dos homens que têm o amor a Deus. As duas cidades acham-se confundidas nesta terra, mas separadas nos desígnios de Deus. São duas cidades místicas, "e seus respectivos povos são o dos eleitos e o dos condenados" Por isso, a cidade terres tre não é a cidade temporal e política, mas a cidade da perdição. Podem-se formular dois problemas no que se refe re à noção da Cidade de Deus. Um é o da relação entre a idéia de Cidade de Deus e a idéia da República ideal ou utopia ( VER) . Se consideramos a Cidade de Deus agostiniana como um protótipo de caráter platônico, as relações entre as duas idéias são inegáveis. Se a conce bemos, em contrapartida, como uma realidade mística, teremos dificuldades em aproximar as duas concepções. As relações entre a idéia da Cidade de Deus e a da República ideal podem ser estudadas, além disso, por meio do contraste de certas analogias e diferenças entre Santo Agostinho, Platão e Cícero. Foi o que fez Dome nico Pesce ( op. cit. infra). Segundo esse autor, Santo Agostinho e Platão coincidem em ser pessimistas (e até "radicalmente pessimistas") em sua concepção do homem e da sociedade, enquanto Cícero é otimista e "humanista", pois afirma que o caráter altruísta do ho mem se manifesta ao longo da história. Por outro lado,
CIDADE DE DEUS enquanto Platão e Cícero se baseiam no conceito "an tigo" da Cidade-Estado, Santo Agostinho sustenta que há uma diferença entre o temporal e o espiritual, entre o político e o ético (diferença já entrevista por Sócra tes). Por fim, enquanto Platão parece ocupar-se prin cipalmente da sociedade dos filósofos, Cícero tem em vista a sociedade dos cidadãos, e Santo Agostinho, a dos santos. Outro problema é o do prolongamento e da trans formação da concepção agostiniana no decorrer da his tória. Gilson falou das metamorfoses da Cidade de Deus, incluindo entre elas as idéias da Respublica christiana, de Roger Bacon, da Monarchia ou Império universal, de Dante, da paz da fé (paxfidei), de Nico lau de Cusa, da città dei Sole, de Campanella, da idéia da unidade da Europa tal como se manifestou em vá rios momentos da época moderna, da cidade leibni ziana dos filósofos do século XVIII e da cidade dos sábios dos positivistas comtianos. Em contrapartida, ele não incluiu entre essas metamorfoses nem o mes sianismo marxista (por razões que indica expressamen te) nem as idéias de Marsílio de Pádua (sem indicar razões). Por outro lado, C. L. Becker já falara da "Cidade de Deus dos filósofos do século XVIII" Po der-se-ia argumentar contra isso que, do ponto de vista místico agostiniano estrito, apenas algumas dessas me tamorfoses entram no quadro da idéia da Cidade de Deus e que, se para evitar esse inconveniente, se am plia o ponto de vista citado, não há motivo para não incluir outras visões, talvez com uma única condição: a de que não sejam exclusivamente imanentes a este mundo. :> Texto de A Cidade de Deus, com base na edição de Dombart-Kalb, revisada, com tradução de Lorenzo Riber, 1 93 3 . Em português: A Cidade de Deus, 2 vols., 1 989. Ver: O. Schilling, Die Staat- und Sozialehre des heiligen A ugustinus, 1 9 1 O. - H . Scholz, Glaube und Ung/aube in der Weltgeschichte. Ein Kommentar zu Augustinus ' De Civitate Dei, mil einem Exkurs: Fruitio Dei, ein Beitrag zur Geschichte der Theologie und der Mystik, 1 9 1 1 . - Ernst Troeltsch, A ugustin, die chris tliche A ntike und das Mittelalter. lm A nschluss and der Schrift De Civitate Dei, 1 9 1 5 ; reimp. , 1 963. - J. N. Figgis, The Political Aspects ofSt. A ugustine s City of God, 1 92 1 . - A. Combes, La doctrine politique de Saint A ugustin, 1 927. - V. Stegemann, Augustins Gottesstaat, 1 92 8 . - E. Baker, Church, State and Study, 1 930. - L. Curtis, Civitas Dei, 3 vols., 1 950 (reimp. depois em 1 vol .). - T. H . S . Burleigh, The City of God: A Study of St. A ugustine s Philosophy, 1 949. - G. Ruotolo, La filosofia delta storia e la città di Dia, 1 950. - H. Leisegang, Denkformen, 2ª ed.,
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456 diferenciação não pareceu coisa grave; ainda é árduo separar o propriamente científico (sej a qual for seu valor atual) do propriamente filosófico na Física de Aristóteles, mas isso não nos dificulta mais do que é razoável a compreensão de suas proposiçôes; de certo modo, aj uda-nos a compreender o caráter peculiar do pensamento aristotélico sobre a Natureza. Contudo, à medida que foram sendo organizadas as chamadas ciências particulares e foi se tornando mais intenso o que se qualificou de movimento de autonomia, primei ro, e, depois, de independência das ciências, a distinção em causa se tornou cada vez mais importante e urgen te: não poder traçar uma linha divisória entre a contri buição filosófica e a científica de Descartes ou de Leib niz dificulta grandemente, com efeito, a compreensão dessas contribuições. É preciso, por conseguinte, escla recer em que consiste o saber científico e quais são as principais diferenças existentes entre esse saber e o saber filosófico. É comum considerar a ciência como um modo de conhecimento que visa formular, mediante linguagens rigorosas e apropriadas - na medida do possível, com o auxílio da linguagem matemática -, leis por meio das quais são regidos os fenômenos. Essas leis são de diversas ordens (ver LEI ) . Todas elas têm, não obstante, vários elementos em comum: a capacidade de descrever séries de fenômenos; a possibilidade de comprovação por meio da observação dos fatos e da experimentação; a capacidade de prever - seja me diante previsão completa, seja pela previsão estatística - acontecimentos futuros. De resto, a comprovação e a previsão nem sempre se efetuam da mesma manei ra, não apenas em cada uma das ciências, mas também em diversas esferas da mesma ciência. Em grande parte, elas dependem do nível das teorias correspon dentes. De modo geral, pode-se dizer que uma teoria (vER) científica mais abrangente obedece com maior facilidade a exigências de natureza interna à estrutura da própria teoria - simplicidade, harmonia, coerência etc. - que uma teoria menos abrangente. As teorias de teorias (como, por exemplo, a teoria da relativida de) parecem por isso mais "afastadas" dos fatos, ou, melhor dizendo, menos necessitadas de um grupo rela tivamente considerável de fatos a ser confirmados; o motivo disso é que elas traçam quadros gerais no âm bito dos quais podem-se reunir agrupamentos teóricos prévios de fatos ou então certos tipos de fatos obser vados no decorrer de algum experimentum crucis. A comprovação e a preci são mencionadas dependem também dos métodos empregados (ver MÉTODO), que são também diferentes para cada ciência e para partes diversas da mesma ciência. Em geral, considera-se que uma teoria científica é tanto mais perfeita quando
457 mais formalizada s e acha. Isso não significa, porém, que o único trabalho do cientista que mereça esse nome seja a formalização (vER). A rigor, esta é uma das tendências da ciência: a que ela adota quando se encontra num estado de relativa maturidade. Até agora, falamos apenas da ciência, mas é preci so falar também das ciências. Estas são diversas - a tal ponto que, mais de uma vez, levantou-se o problema de saber se é possível que todas as ciências possuam características comuns. Certos autores o negaram; em sua opinião, há pelo menos dois grupos inteiramente diferentes de ciências: as ciências da natureza (vER) e as ciências do espírito (vER) ou da cultura (VER). Outros afirmaram o mesmo, mas fundando-se na limitação das ciências às ciências naturais; outros, por fim, o afirma ram fazendo das ciências classicamente qualificadas de morais ciências em última análise naturais, ou estabe lecendo uma espécie de pirâmide das ciências na qual ou certas ciências servem de base às outras (a matemá tica, base da fisica; a fisica, base da biologia; a biologia, base da psicologia etc.) ou se supõe possível reduzir umas às outras (em geral, as menos simples às mais simples), se não em seus métodos particulares, pelo menos nas estruturas fundamentais de suas respectivas linguagens (ver REouçÃo). A diversidade das ciências levou também a muitas tentativas de classificação (ver CIÊNCIAS [CLASSIFICAÇÃO DAS]). Não podemos nos deter aqui nesses problemas. O que foi dito deve ser consi derado suficiente para nosso propósito - dada a nature za desta obra, apresenta maior interesse a segunda ques tão: a relação entre ciência e filosofia. Três respostas fundamentais são possíveis a esse respeito: 1 ) a ciência e a filosofia carecem de qualquer relação; 2) a ciência e a filosofia encontram-se tão intimamente relacionadas entre si que, de fato, são a mesma coisa; e 3) a ciência e a fi losofia mantêm entre si relações muito complexas. Enumeraremos algumas das razões apresentadas a favor de cada uma dessas opiniões e concluiremos com algumas breves observa ções sobre o tipo de relação que consideramos mais plausível. 1) a 1) A ciência progride e nos informa, de modo cada vez mais completo e detalhado, sobre a realida de, enquanto a filosofia não progride, porque é um incessante tecer e destecer de sistemas. b 1 ) A ciência é um modo de conhecer, enquanto a fi losofia é um modo de viver. e 1) A ciência refere-se ao ser; a filoso fia, ao dever ser ou, em geral, ao valor. d l ) A ciência é conhecimento rigoroso; a filosofia, concepção do mundo exprimível igualmente mediante a religião ou a arte. Por isso, a ciência está de um lado, enquanto a filosofia (com a religião e a arte) está de outro (às vezes considerado oposto). e 1 ) A ciência é conheci-
CIÊNCIA mento limitado; a filosofia, conhecimento ilimitado. j1 ) A ciência opera mediante observação, experimen tação, inferência e dedução, enquanto a filosofia opera mediante intuição. Como conseqüência disso, a ciência refere-se somente ao fenoménico, enquanto a filosofia atinge o numênico etc. 2) a2) A filosofia não difere da ciência senão por constituir um estado primitivo (ou preliminar) da ativi dade científica: a filosofia é, pois, uma fase da ciência. b2) A filosofia é uma ciência igual às outras no que se refere à estrutura de suas teorias, aos métodos usa dos e aos propósitos que a movem. c3) Há uma filo sofia que não pode ser denominada ciência, porque não é mais que expressão poética ou concepção do mundo, mas por isso mesmo não pode tampouco ser qualificada seriamente de filosofia; a filosofia que me rece esse nome é uma ciência que se ocupa de certos problemas principalmente lógicos e semióticos, cuja análise constitui um auxílio indispensável ao desen volvimento das outras ciências. 3) a3) A relação entre a filosofia e a ciência é de tipo histórico: a filosofia foi e continuará sendo a mãe das ciências, por ser a disciplina que se ocupa da for mação de problemas, depois tomados pela ciência para ser solucionados. b3) A filosofia é não apenas a mãe das ciências no decorrer da história, mas a rainha das ciências sempre, seja por conhecer mediante o mais elevado grau de abstração, seja por ocupar-se do ser em geral, seja por tratar dos pressupostos das ciências. c3) A ciência - ou as ciências - constitui um dos obj etos da filosofia, ao lado de outros; há por isso uma filosofia da ciência (e das diversas ciências funda mentais) tal como há uma filosofia da religião, da arte etc. d3) A filosofia é fundamentalmente a teoria do conhecimento das ciências. e3 ) As teorias científicas mais abrangentes são, como apontamos, teorias de teo rias; a filosofia pode ser tida como uma teoria de teorias de teorias. j3) A filosofia acha-se em relação de cons tante intercâmbio com a ciência - ela proporciona a esta certos conceitos gerais (ou certas análises), enquan to a ciência proporciona a ela dados com base nos quais desenvolve esses conceitos gerais (ou realiza essas aná lises). g3) A filosofia examina certos enunciados que a ciência pressupõe, mas que não pertencem à lingua gem da ciência. Todos esses argumentos encontram na história da filosofia e da ciência pontos de apoio; tudo depende do modo como se interpretam os dados históricos. Mas a interpretação desses dados depende, por sua vez, de vários modos possíveis de entender a filosofia e a ciên cia. Eis um círculo vicioso do qual parece dificil embora não impossível - escapar. As relações entre a filosofia e a ciência constituem somente um aspecto dos problemas filosóficos suscita-
CIÊNCIA dos pela ciência. Outro aspecto é a ciência como tema filosófico: o que se denominou "filosofia da ciência" Trata-se de uma disciplina extremamente ampla, sobre cujos principais temas nem sempre há acordo entre filósofos e cientistas com propensões filosóficas. Alguns avaliam que a filosofia da ciência é funda mentalmente a análise da linguagem da ciência (ou das linguagens das diversas ciências); outros conside ram que a filosofia da ciência tem de escrutar criti camente pressupostos (ontológicos e metodológicos) das ciências; outros inclinam-se a destacar a impor tância do estudo da história da ciência (ou das ciên cias). Por meio desse estudo, determinam-se os traços da evolução científica e das chamadas "mudanças con ceituais", que, quando suficientemente radicais, podem ser mudanças de paradigma (ver PARADIGMA, PARADIG MÁTICO ) . Ao mesmo tempo, a história da ciência pode ser estudada de um ponto de vista interno - quando se atende apenas ao desenvolvimento das descobertas e das teorias científicas - ou de um ponto de vista ex terno - quando se atende a condições extracientíficas, principalmente históricas, e amiúde sociais (ver ExTER NALISMO, INTERNALISMO). Este último deu lugar a estu dos, e até a disciplinas especiais, entre as quais se des taca a sociologia da ciência. Certos historiadores e so ciólogos da ciência avaliam que o que se denominou "filosofia da ciência" é uma pura reconstrução lógica de teorias científicas - que não costuma levar em conta os processos da descoberta ( vrn) - ou uma sim ples e infundada especulação, tingida de vagos pressu postos metafisicas. Com a finalidade de corrigir alguns desses defeitos, reais ou imaginários, propôs-se o de senvolvimento da metaciência ( vrn ) , ou de uma "ciên cia da ciência" Na filosofia da ciência das últimas décadas mani festaram-se duas direções. Uma é a que se chamou de "filosofia analítica da ciência"; a outra é a denomina da "filosofia hermenêutica da ciência" Os filósofos de propensão lógica e epistemológica manifestaram-se sobretudo em favor da primeira; os de propensão his tórica e sociológica, em favor da segunda. A chamada "nova filosofia da ciência" emergiu do complexo de técnicas analíticas e nesse sentido continua sendo "ana lítica", mas se opôs às interpretações positivistas, "or todoxas", da ciência, e em alguns casos se mostrou favorável a correntes "hermenêuticas" :> Sobre filosofia da ciência e das ciências: André Lalande, Lectures sur la phi/osophie des sciences, 1 893; 9ª ed., 1 927. - Werner Heisenberg, Wandlungen in der Grundlagen der Naturwissenschaft, 1 93 5 ; 1 Oª ed., 1 97 3 . - A. Cornelius Benj amin, An Jntroduction to the Phi/osophy ofScience, 1 937. - Albert G. Rams perger, Philosophies of Science, 1 942. - W. H. Werk-
458 meister, A Philosophy of Science, 1 940. - J. D. García Bacca, Filosofia de las ciencias, 1 94 1 . - S. Toulmin, The Philosophy of Science: An Jntroduction, 1 95 3 . P. H. van Laer, Philosophy ofScience. Parte I I : A Study ofthe Division and Nature o{Various Groups of Scien ces, 1 962. - S. Watanabe, W. von Quine et ai. , Boston Studies in the Philosophy of Science, 1 962, ed. M. W. Wartofsky (Colloquium for the Philosophy of Science, 1 96 1 - 1 962). - William L. Reese e Bernard Baumrin, eds., Philosophy ofScience, vol. !, 1 963 (The Delaware Seminar, 1 96 1 - 1 962); vol. II, 1 964 (The Delaware Se minar, 1 962- 1 963). - C. G. Hempel, W. Sellars et ai. , Frontiers of Science and Philosophy, 1 963 , ed. Robert G. Colodny. - Carl G. Hempel, Philosophy ofNatural Science, 1 964. - Peter Caws, The Philosophy ofScien ce: A Systematic A ccount, 1 965. - Leônidas Hegen berg, Introdução à filosofia da ciência, 1 965. - Ste phan Kõrner, Experience and Theory: An Essay in the Philosophy of Science, 1 966. - M. Black, P. K. Feye rabend et ai. , Philosophy of Science Today, 1 967, ed. Sidney Morgenbesser. - Peter Achinstein, Concepts of Science: A Philosophical Analysis, 1 968. - Paul R. Durbin, Philosophy o{Science, 1 968. Marx W. Wartofsky, Conceptual Foundations of Scientific Thou ght: An lntroduction to the Philosophy of Science, 1 968. - lmre Lakatos e Alan Musgrave, eds., Pro blems in the Philosophy ofScience, 1 968 (Proceedings of the International Colloquium in the Philosophy of Science, Londres, 1 965, vol. 3). - Rom Harré, The Phi/osophies ofScience: An Introductory Survey, 1 972; reed. , 1 98 5 . - Larry Laudan, Progress and Jts Pro blems: Towards a Theory of Scientific Growth, 1 977. - H. Brown, Perception, Theory and Commitment: The New Philosophy of Science, 1 977 [Popper, Kuhn et ai. ) . - M. Hesse, Revolutions and Reconstructions in the Philosophy of Science, 1 980. - G. Munévar, Radical Knowledge, 1 98 1 [na linha de Feyerabend] . - J. T. Cushing, C. F. Delaney, G. M. Gutting, eds., Science and Reality: Recent Work in the Philosophy of Science, 1 984. A. Rivadulla, Filosofia actual de la ciencia, 1 984 [prólogo de J. Mosterín ] . J. Grun feld, Changing Rational Standards: A Survey of Mo dern Phi/osophy of Science, 1 98 5 . Ver: R. J . Blackwell, A Bibliography of the Philo sophy of Science, 1 945- 1 98 1 , 1 98 3 . - Ver também bibliografia (infra) sobre ciência e filosofia, bem como sobre a ciência atual. Ver também a bibliografia de MÉTODO. Abundante material, com artigos de numerosos au tores (H. Feigl, H. Putnam, P. K. Feyerabend etc.), en contra-se na série dos Minnesota Studies in the Philo sophy of Science, sob a direção geral de H. Feigl e Gro ver Maxwell, e com editores especiais para cada volume. -
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CIÊNCIA
459 Sobre a linguagem e a lógica da ciência: K. Pear son, The Grammar of Science, 1 892. - W. S. Jevons, The Principies ofScience, 1 905. - H. Poincaré, Science et méthode, 1 908. - E. Meyerson, De l 'explication dans les sciences, 1 92 1 . - Harold R. Smart, The Logic ofScience, 1 93 1 . - Karl Popper, Logik der Forschung. Erkenntnistheorie der modernen Naturwissenschaft, 1 93 5 (trad. ingl., consideravelmente revisada: The Lo gic of Scientific Discovery, 1 959). - Leon Chwistek, Granice nauki. Zarys logiki i metodologji nauki scistych, 1 93 5 (trad. ingl . : The Limits of Science, 1 948). Eberhard Zschimmer, Die Logik des wissenschaftlichen Bewusstseins, 1 936. - A. Cornelius Benj amin, The Logical Structure of Science, 1 936. - P. Servien, Le langage des sciences, 1 938. - S. M. Neuschlosz, Aná lisis dei conocimiento cientifico, 1 940. F. C. S. Northrop, The Logic of the Sciences and the Humanities, 1 947. - W Szilasi, � Qué es la ciencia ? 1 949. - M. Lins, A evolução lógico-conceitua! da ciência, 1 954. - P. Henry van Laer, The Philosophy ofScience, 1 956. - G. Bergmann, Philosophy of Science, 1 957. - J. R. Kantor, The Logic of Modern Science, 1 957. - Mario Bunge, Metascientific Queries, 1 959. - Norword Russell Hanson, Patterns ofDiscovery: An Inquiry into the Conceptual Foundations of Science, 1 95 8 . - !d. , Perception and Discovery: An Jntroduction to Scientific lnquiry, 1 969. - Rom Harré, An lntroduction to the Logic ofthe Sciences, 1 960. - Ernest Nagel, The Struc ture of Science: Problems in the Logic of Scientific Explanation, 1 96 1 . - Henry Margenau, Open Vistas: Philosophical Perspectives of Modern Science, 1 96 1 . - Israel Scheffier, The Anatomy ofInquiry: Philosophi cal Studies in the Theory of Science, 1 963. - B. van Rootselaar e J. F. Staat, eds., Logic, Methodology, and Philosophy ofScience, 3 vols., 1 967. - Patrick Suppes, Studies in the Methodology and Foundations ofScience: Selected Papers from 1 951 to 1 969, 1 969. - Peter Achinstein, Law and Explanation: An Essay in the Phi losophy ofScience, 1 97 1 . - P. Achinstein, D. Bohm et ai., The Structure of Scientific Theories, 1 973, ed. Fre derick Suppe (Simpósio na Universidade de Illinois); 2ª ed., 1 978. - G. Radnitzky, G. Andersson, Progress and Rationality in Science, 1 978. - B. C. van Fraassen, The Scientific lmage, 1 980. - C. Eisele, ed., Historical Perspectives on Peirce s Logic of Science: A History of Science, 2 vols., 1 985. - D. Oldroyd, The Arch ofKnow ledge: An lntroductory Study of the History of the Phi losophy and Methodology of Science, 1 987. Sobre fundamentos das ciências: W. Sauer, Grund lagen der Wissenschaft und der Wissenschaften, 1 926. - Emest Sauberbeck, Vom Wesen der Wissenschaft, ins besondere der drei Wirklichkeitswissenschaften, der "Naturwissenschaft ", der "Psychologie " und der "Ges-
chichte , 1 9 1 4 . - Erich Becher, Geisteswissenschaften und Naturwissenschaften. Untersuchungen zur Theorie und Einteilung der Realwissenschaften, 1 92 1 . - Paul Tillich, Das System der Wissenschaft nach Gegenstiin den und Methoden, 1 923. - P. Oppenheim, Die natiir liche Ordnung der Wissenschaften, 1 926. - Russell Fox, Max Garbuny e Robert Hooke, The Science of Science, 1 964. - Gerard Radnitzky, Contemporary Schools of Metascience, 2 vols., 1 968; 3ª ed., 1 973 (!. A nglo-Saxon Schools of Metascience; li. Continental Schools ofMetascience). - !d. , Preconceptions in Re search: A Study, 1 974. - D. J. de Solla Price, Hacia una ciencia de la ciencia, 1 974. - J. Fetzer, Foundations of Philosophy of Science: Recent Developments, 1 993. Sobre a ciência como missão e a missão da ciência: Max Weber, Wissenschaft ais Beruf, 1 9 1 9. - E. von Kahler, Der Beruf der Wissenschaft, 1 93 1 . Sobre ciência e filosofia: Paul Hãberlin, Wissens chaft und Philosophie, 2 vols., 1, 1 9 1 0; I I , 1 9 1 2. Hugo Dingler, Grenzen und Ziele der Wissenschaft, 1 9 1 O. - !d. , Der Zusammenbruch der Wissenschaft und der Primai der Philosophie, 1 926. - Moritz Geiger, Die Wirklichkeit der Wissenschaften und die Metaphysik, 1 930. - U. Spirito, Scienza e Filosofia, 1 93 3 ; 2ª ed., 1 950. J. Maritain, Science et sagesse, 1 93 5 . Andrew G. Van Melsen, Natuurwetenschap en Wijsbe geerte, 1 946 ( Ciência natural e filosofia) . - Ph. Frank, Modern Science and Jts Philosophy, 1 949 (os capítulos 1 , 2, 3, 4, 5 , 8, 9 e 1 1 desta obra figuram também em Between Physics and Philosophy, 1 94 1 ) . - J . M . Riaza, Ciencia moderna y filosofia, 1 954. Everet W. Hall, Science and Human Values, 1 956. Ph. Frank, Philosophy of Science. The Link Between Science and Philosophy, 1 957. - Carlos París, Cien cia, conocimiento, ser, 1 957. - J. G. Kemeny, A Philo sopher Looks at Science, 1 959. - David Greenwood, The Nature of Science, 1 960. - Raimundo Paniker, Ontonomía de la ciencia: Sobre el sentido de la ciencia y sus relaciones con la filosofia, 1 96 1 . - Eduardo Nico!, Los principias de la ciencia, 1 965. - Erro! E. Harris, The Foundations of Metaphysics in Science, 1 965 . - Israel Scheffier, Science and Subjectivity, 1 967; 2ª ed., 1 982, com mais dois trabalhos: "ln Praise of Cognitive Emotion" ( 1 977) e "Vision and Revolu tion: A Postscript on Kuhn" ( 1 972). - H .-J. Barraud, Science et philosophie, 1 968. - J. C. C. Smart, Be tween Science and Philosophy: An lntroduction to the Philosophy ofScience, 1 968. - !. Lakatos, S. Toulmin et ai. , The lnteraction between Science and Philoso phy, 1 974 (Homenagem a S. Sambursky). - Joseph Agassi, Science in Flux, 1 97 5 . - M. B unge, J. Ferra ter Mora et ai. , La filosofia y la ciencia en nuestros días, 1 976 (do Primeiro Colóquio Nacional de Piloso"
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CIÊNCIA fia, Morélia, 4/9-VIII- 1 975). - Várias das obras men cionadas supra em outras epígrafes abordam também a questão aqui introduzida. - W. W. Lowrance, Mo dem Science and Human Values, 1 985. - R. H. Schla gel, Contextua/ Realism: A Meta-Physical Framework for Modem Science, 1 986. - P. Sherrard, The Eclipse of Man and Nature: An Enquiry into the Origins and Consequences of Modem Science, 1 987. - R. E. Butts, J. R. Brown, eds . , Constructivism and Science: Essays in Recent German Philosophy, 1 989. - P. T. Grier, ed. , Dialectic and Contemporary Science, 1 989. - R. N. Proctor, Value-Free Science ? Purity and Power in Modem Knowledge, 1 99 1 . Sobre a ciência atual: Vários autores, L'orientation actuelle des sciences e De la méthode dans les scien ces, 2 vols., Paris, 1 909- 1 9 1 1 . - A. N. Whitehead, Science and the Modem Wor/d, 1 92 5 . - Cyri l E. M . Joad, Philosophical A5pects of Modem Science, 1 93 2 . - Max Planck, (:Adónde v a l a ciencia ?, 1 94 1 . Gaston Bachelard, Le nouvel esprit scientifique, 1 934. - !d. , La philosophie du Non. Essai d 'une philosophie du nouvel e5prit scientifique, 1 940. - !d. , La forma tion de / 'e5prit scientifique. Contribution à une p.1ycha nalyse de la connaissance objective, 1 93 8 . - Muitas das obras citadas supra (Ph. Frank, G. Bergmann, M. Bunge, N. R. Hanson, E. Nagel, H . Margenau) tam bém tratam da "ciência atual" Além disso: H. Feigl e G. Maxwell, eds . , Current lssues in the Philosophy of Science, 1 96 1 . - R. K. Merton, The Sociology of Science: Theoretical and Empirical lnvestigations, 2 vols., 1 97 3 . - J. Mosterín, Conceptos y teorias en la ciencia, 1 984. - P. Achinstein, O. Hannaway, eds., Observation, Experiment, and Hypothesis in Modem Physical Science, 1 985. - J. O. Wisdom, Challengea bility in Modem Science, 1 987. Sobre a história da ciência. Histórias de caráter geral: P. Duhem, Le 5ystéme du monde. Histoire des doe trines cosmologiques de Platon à Copemic, 1 O vols. (I, 1 9 1 3 ; II, 1 9 1 4; Ill, 1 9 1 5 ; IV, 1 9 1 6; V, 1 9 1 7 ; VI, 1 954; VII, 1 956; VIII, 1 958; IX, 1 958; X, 1 959). - L. Thorndike, A History o(Magic and Experimental Scien ce, I e II, 1 923; 2ª ed., I, II, 1 929; III e IV, 1 934; V, VI, 1 94 1 ; VII, VIII, 1 958. - G. Sarton, lntroduction to the History of Science, I, 1 927; II, 1 , 1 93 1 ; II, 2, 1 93 1 ; III, 1, 1 947; III, 2, 1 948. !d. , A History o( Science (!, 1 952). - William Ceei! Dampier-Wetham, A History of Science and its Relations with Philosophy and Re ligion, 1 930. - F. Vera, Historia de la ciencia, 1 937. - F. Enriques e G. de Santillana, Compendio di storia dei pensiero scientifico, 1 93 7 (em fr. : Histoire de la pensée scientifique, I, II, III, 1 936 ). - Charles Singer. A History o(Science, 1 94 1 . - W. T. Sedgwick e H. W. Taylor, A Short History o(Science, 1 939. - J. D. Berna!. Science in History, 4 vols., 1 950; reimp. , 1 97 1 (!, The ·
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Emergence o(Science; II, The Scientific and Industrial Revolutions; III, The Natural Sciences in our Time; IV, The Social Sciences; Conclusion). - A. C. Crombie, Augustin to Galileo. The History of Science A. D. 4001 650, 1 952, caps. !-IV rev. e publicados sob o título: Medieval and Early Modem Science, 2 vols., 1 959 (!, Science in the Middle Ages; II, Science in the Later Middle Ages and Early Modem Times). - Panorama General de Historia de la Ciencia, 1 2 vols., 1 9481 96 1 : vols. I-V, por Aldo Mieli; vols. VI-XII, por Desiderio Papp e José Babini . - René Taton, ed., His toire générale des sciences, 3 vols., 1 957- 1 96 1 . Thomas S. Kuhn, The Structure of Scientific Revolu tions, 1 962; 2ª ed. ampl . , 1 970. - Juan David García Bacca, Historia filosófica de la ciencia, 1 964 ( cf. tam bém a bibliografia do verbete CIÊNCIAS [CLASSIFICAÇÃO DAS]). - D. Papp, ldeas revolucionarias en la ciencia. Su historia desde el Renacimiento hasta promediar el sigla XX, 3 vols. (1, La ciencia clásica de Leonardo a Volta, 1 975; II, La edad de las grandes síntesis. El sigla XIX, 1 977; III, Grandes corrientes de la ciencia contem poránea, 1 979). - N. Jardine, The Birth o( History and Philosophy of Science, 1 984. - H. Gardner, The Mind's New Science: A History of the Cognitive Revo lution, 1 987. - G. Sarton, The History of Science and the New Humanism, 1 988. - N. S. Hetherington, Science and Objectivity: Episodes in the History ofAs tronomy, 1 988. Para a história da ciência na Antiguidade, ver es pecialmente: J. Tannery, Science et Philosophie, 3ª ed., 1 9 1 2 . - G . Milhaud, Études sur la pensée scientifique chez les Grecs et chez les Modemes, 1 906. - !d. , Nouvelles études sur / 'histoire de la pensée scientifique, 1 9 1 1 . - A. Rey, La science dans l 'antiquité, 5 vols., 1 930- 1 948. - José Babini, Enciclopedia de historia de la ciencia, 1 4 fases. , 1 967- 1 969 (da Antiguidade ao Renascimento) . - F. Jürss et ai. , Geschichte des wis senschafilichen Denkens im Altertum, 1 982. - P. Nico lacopoulos, ed. , Greek Studies in the Philosophy and History o( Science, 1 990. - G. E. R. Lloyd, Methods and Problems in Greek Science, 1 99 1 . Para a história da ciência moderna, ver especial mente : Leonard Olschki, Geschichte der neusprachli chen wissenschafflichen Literatur. L Die Literatur der Technik und der angewandten Wissenschaften vom Mit telalter bis zur Renaissance, 1 9 1 8 ; I I . Bildung und Wissenschafi im Zeitalter der Renaissance in ltalien, 1 922. - John Theodore Merz, History o( Scientific Thought in the Nineteenth Century, 4 vols., 1 896- 1 9 1 4 . - R. R. Bolgar, ed. , Classical lnfluences on Westem ThoughtA. D. 1 650- 1 8 70, 1 978. - P. Weimar, ed. , Die Renaissance der Wissenschaffen im 12. Jh. , 1 98 1 . - J. Weinberger, Science, Faith, and Politics: Francis Bacon and the Utopian Roots of the Modem Age, 1 985.
461 Bibliografias: Jean-Dominique Robert, Philoso phie et science: Éléments de bibliographie / Philosophy and Science: Elements ofBibliography, 1 968. - Mag da Whitrow, !SIS Cumulative Bibliography: A Biblio graphy ofthe History ofScience Formedfrom !SIS Cri tica/ Bibliographies 1-90, 1913-1 965, 2 vols., 1 9 7 1 (1: Personalities, A-J; II, Part 1: Personalities, K-Z; Part I I : lnstitutions). Informações sobie questões relativas à filosofia da ciência poderão ser encontradas na maioria das revistas filosóficas, mas especialmente em Erkenntnis (que tem continuação no Journal of Unified Science), Philosophy o{ Science, The British Journal for the Philosophy of Science, Studium Generale. Zeitschrift fiir die Einheit der Wissenschaften in Zusammenhang ihrer Begriffsbil dungen und Forschungsmethoden, Philosophia natura /is. Archivfiir Naturphilosophie und die philosophischen Grenzgebiete der exakten Wissenschafien und Wissens chafisgechichte, Theoria, Zagadnienia Naukoznawstwa (ed. ingl . : Problems of the Science o{ Science, com continuação em Science o{ Science: An lnternational Journal o{ Studies on Scientific Reasoning and Scien tific Ente1prise), Fundamenta Scientiae. The lnterna tional Journal for Criticai Analysis of Science and the Re.1po11sibility o{ Scientists. Do ponto de vista mais estritamente científico, ver a revista Scientia (italiana). Para a história da ciência, ver a revista lsis, fundada e editada por George Sarton em 1 9 1 3 . Essa revista é dedicada à "história da ciência e da civilização" e publi ca periodicamente bibliografias de história da ciência. A revista Osiris (desde 1 936), também editada por Geor ge Sarton, constitui uma série de volumes suplementares de lsis, volumes que costumam consagrar-se a um único tema ou a trabalhos mais extensos. Devem-se acrescen tar às revistas citadas a francesa Thales (desde 1 934 ), Archaion, fundada na Itália por Aldo Mieli e publicada depois na Argentina, e Studies in Hist01y and Philoso phy of Science (desde 1 979). C CI ÊNCIA (DOUTRINA DA; TEORIA DA). Literal mente, deve-se entender por 'doutrina da ciência' e 'teoria da ciência' algo similar a filosofia da ciência, seja de modo gera! ou em formas especiais, correspondentes às diversas ciências. Segundo isso, 'doutrina da ciência' e 'teoria da ciência' designam o estudo da estrutura da teoria científica (ou, melhor, dos diversos tipos de teo rias científicas), o estudo da relação entre termos da lin guagem teórica e da linguagem observacional, métodos científicos, lógica da linguagem científica (ou das lin guagens científicas) etc. Cabem então nesse contexto os conceitos que figuram em várias partes do Quadro sinótico no fina l desta obra: "Teoria da ciência e meto dologia", "Filosofia da ciência", "Filosofia da matemá tica", "Filosofia da Natureza" (usado em sentido amplo
CIÊNCIA MÉDIA e não necessariamente especulativo); e numerosos con ceitos que figuram em "Lógica e metalógica", "Filoso fia da linguagem e semiótica" e 'Teoria do conhecimen to" Um dos nomes que mais circularam para designar uma "doutrina da ciência" ou uma "teoria da ciência" é metaciência (vER) , bem como "ciência da ciência" Não obstante, reservam-se historicamente as ex pressões "doutrina da ciência" e "Teoria da ciência" a certos sistemas ou séries de sistemas especulativos do tipo dos elaborados por Fichte. As expressões de referência servem de tradução a Wissenschaftslehre. Deve-se observar que a palavra alemã Wissenscha.fi tem amiúde um significado mais amplo (ou mais vago) do que o que possui em espanhol , francês ou inglês "ciência" (ou seus correspondentes) : trata-se de um "saber" ou de um "conhecimento" (supostamente bá sico e prévio a todas as ciências). Por outro lado, Wis senschaft é usado também em sentido mais restrito. A rigor, a expressão Wissenschaftslehre foi empregada não apenas por Fichte, mas também por Bolzano ( vER) , que não se ocupou da ciência no sentido especulativo do idealismo alemão. CIÊNCIA M É DIA. Os teólogos abordaram o problema da inte/ligentia Dei ou da scientia Dei sob o aspecto dos atributos divinos. Nesse sentido, entenderam antes de tudo que Deus possui a ciência de modo perfeitíssi mo. Daí que o objeto primário dessa ciência seja a essência divina, isto é, o próprio Deus, enquanto o objeto secundário são as idéias divinas. O problema da "relação" entre Deus e as idéias, assim como, e sobre tudo, o problema do que se denominou "a divina pres ciência dos futuros" - essencial para se compreender a questão da liberdade humana -, está, portanto, incluí do na scientia Dei. O conceito de ciência média foi formulado precisamente para responder a algumas das maiores dificuldades suscitadas a esse respeito - vere mos várias delas em nossa descrição da noção de futu rívcl ( VER ) . Digamos agora apenas que os teólogos esta beleceram na questão que nos ocupa uma distinção entre a chamada ciência de simples inteligência, ou também ciência divina, e uma ciência de visão. Entende-se pela primeira a forma de intel igência por meio da qual Deus conhece os entes e os atos possíveis como possíveis, estejam ou não no âmbito da possibilidade. O objeto dessa ciência são por isso as essências e os predicados essenciais, as "verdades eternas" (e também, por conse guinte, os próprios impossíveis). Pela segunda se enten de a inteligência que Deus possui dos existentes como existentes, incluindo, naturalmente, o próprio Deus. Co mo já vimos na discussão do conceito de futuríve! , para alguns essa divisão é adequada; para outros, em contra partida, é inapropriada. Estes últimos introduziram pre-
CIÊNCIA UNIFICADA cisamente a noção de ciência média como ciência dos futuros condicionados. Como observa Ponce de León, a ciência média define-se de dois modos em última análise concordantes: é um conhecimento certo e infa lível dos futuros condicionados, que antecede todo decreto absoluto de Deus (segundo afirma Bastida), ou é um conhecimento divino dos futuros contingentes condicionados, independente de todo meio conectado previamente com esses futuros (como sustenta Henao). Por isso, a ciência média "convém com a simples inte ligência em que se dá em Deus independentemente de todo decreto livre atual, e por isso mesmo não se diz ciência livre, mas natural, como a ciência de simples intel igência", mas ao mesmo tempo imita a ciência de visão por versar "sobre verdades contingentes que po dem ser ou não ser" O conceito de ciência média, embora conhecido desde a Antiguidade, foi elaborado sobretudo por Fonseca (no livro VI dos Commentarium Petri Fonsecae Lusitani Doctoris Theologi Societatis Jesu, in libras Metaphysicorum Aristote/is Stagiritae, t. I, 1 577; II, 1 5 89; III, 1 604; IV, 1 6 1 2) e por Luis de Molina (vER) em sua Concordia ( 1 588), a ponto de o chamado molinismo ter como uma de suas bases funda mentais a citada doutrina, à qual se opuseram Domingo Báiiez, dominicano, e Francisco Zúmel, agostiniano, entre outros, gerando a famosa controvérsia de aiiüliis , que terminou sem que a Congregação formada para esse fim chegasse a nenhuma conclusão e, portanto, sem que se pudessem considerar heréticas as doutrinas molinistas nem tampouco, é evidente, as contrárias. :> São também fundamentais por sua amplitude as duas obras de Gabriel de Henao sobre a ciência média (e a favor dela): Scientia media historice propugnara, seu ventilabrum repurgan.1· veras a falsis nove liis nar rationibus circa displllationes celeberrimas, 1 65 5 ; no va edição, 1 68 5 ; e Scientia media theologice defensa, 2 vols., 1 674. Ver, além disso, a bibliografia de MouNA (Lu1s DE ) . C CIÊNCIA UNIFICADA. A idéia de uma "ciência uni ficada" ou da "unidade da ciência" é encontrada em vários autores anteriores ao século XX. O mais citado a esse respeito é Leibniz. Sua idéia de uma characte ristica universalis ( vrn ) equivale à noção de uma lin guagem universal para todas as ciências, mas o ideal de uma unificação das ciências e, em geral, dos conhe cimentos, a scientia generalis, não é alheio aos propó sitos de Leibniz. Não obstante, fala-se de "ciência unificada" e de "unidade da ciência" com referência especificamente a um dos aspectos que apresentou o que poderia cha mar-se o "ideário" do Círculo de Viena (vER ) . A idéia de "ciência unificada" (Einheitswissenschafi) e de "uni dade da ciência" (Einheit der Wissenschafl) foi desen-
462 volvida por vários autores, mas deve muito de seu impulso a Otto Neurath e Rudolf Carnap. Neurath sobretudo começou a incubar essa idéia por volta de 1 920, como declarou numa carta de 1 93 5 , referente ao projeto de uma Enciclopédia que devia ser a Enci clopédia da Ciência Unificada. Segundo informa Charles Morris numa resenha "Sobre a história da Enciclopédia Internac ional de Ciência Unificada" (Synthese, 12 [ 1 960], 5 1 7-52 1 ), Neurath estabeleceu um Instituto de Ciência Unificada dentro do Instituto Mundaneum de Haia em 1 936. Em 1 937, este recebeu o nome de Instituto Internacional para a Unidade da Ciência, sob a égide de Neurath, Philipp Frank e Char les Morris. O Instituto devia preparar a "Enciclopé dia" indicada, sob a direção de um Comitê integrado por Neurath, Carnap, Frank, Joergen Joergensen, Mor ris e Louis Rougier. A série de congressos internacio nais para a Unidade da Ciência começou com o primei ro Congresso de fi losofia científica, em Paris, no ano de 1 93 5 , no qual se aprovou o proj eto, já elaborado antes, da Enciclopédia. "Unidade da ciência" e "Enci clopédia" eram noções estreitamente unidas na mente de Neurath, que, aparentemente inspirado pela Enciclo pédia (vER) francesa, mas organizando-a antes em gru pos de monografias que alfabeticamente, tinha o pro j eto de publicar 26 volumes, com dez monografias por volume, mais dez volumes de um Thesaurus visual, ou "Tesauro Isotipo'', que deviam constituir um "Sumá rio do mundo em imagens" ( Weltiibersicht in Bildern). A Enciclopédia deveria ser publicada em alemão, inglês e francês. Quando a maioria dos membros do Círculo de Viena emigrou, o inglês foi crescentemente adotado para real izar os trabalhos e projetos iniciados em Viena (e Berlim). Erkenntnis transformou-se no Journal of Unified Science, e a Enciclopédia neurathiana se desenvolveu na série de monografias que recebeu o título geral de lnternational Encyclopedia of United Science e que, em 1 969, foi reeditada num único volu me (dez monografias do primitivo vol. I [ 1 955] e nove do II), sob o título de Foundations of the Unity of Science. Toward an lnternational Encyclopedia of Uni ted Science. Entre os autores de monografias figuram, além de Neurath e Carnap, Niels Bohr, Frank, Dewey, Russell, Morris, Nagel, Victor F. Lenzen etc. Nem todos os que contribuíram para a (incompleta) "Enciclopédia" têm uma noção idêntica acerca do senti do das expressões "ciência unificada" e "unidade da ciência", mas em todo caso não se trata de uma "sínte se metafisica", e sim de uma unidade lógico-epistemo lógica e, como indica Neurath, de uma "integração ló gico-empírica" Tampouco se trata necessariamente de reducionismo de todas as ciências a um único tipo de ciência, embora seja óbvio que muitos dos que segui ram o movimento denominado Ciência Unificada ti-
463 nham como modelo as ciências naturais e, dentro delas, a fisica. No âmbito do movimento, houve autores que sustentaram teses fenomenistas "neutras" (ver FENOME NISMO), enquanto outros preconizaram teses fenome nistas fundadas numa linguagem descritiva de "dados últimos dos sentidos", e outros, teses de caráter fisica lista (ver FISICALISMO). Comum a quase todos os autores do movimento esboçado é a consideração, como escreveu Carnap ("Logical Foundations of the Unity of Science"; reimp. em Foundations of the Unity of Science, 1, p. 49), de que "a questão da unidade da ciência" é "um proble ma de lógica da ciência, não de ontologia" Por isso, não se formulam perguntas como "O mundo é uno9" ou "Todos os acontecimentos são fundamentalmente de um único tipo?" - como se faria em sistemas "metafisicos" -, de maneira que não se deve confun dir a idéia da ciência unificada com nenhuma ontologia monista. As reduções que se operam no processo de unificação científico são reduções conceituais (ou "lin güísticas" e, especificamente, "lingüístico-formais"). Neurath exprimiu as tendências mais gerais do movi mento para a ciência unificada, ou unidade da ciência, ao escrever, em seu trabalho sobre "a ciência unifi cada como integração enciclopédica", que "a nova versão da idéia de ciência unificada [ao contrário de versões como a da scientia generalis leibniziana) foi criada pela confluência de correntes intelectuais diver gentes" e em particular por duas destas : "o trabalho empírico dos cientistas" e "as construções lógicas" Estas últimas já não são manifestações do "raciona lismo a priori gerado por sistemas filosófico-religio sos" É óbvio que o ideal da ciência unificada está estreitamente ligado, em suas origens, ao "empirismo lógico", ou, como o expressa Neurath, também ao "racionalismo empírico" (termos que já não se mos tram incompatíveis entre si). No curso de seu desenvolvimento, o movimento da ciência unificada seguiu os avatares do empirismo ou positivismo lógicos e, portanto, dedicou cada vez menos atenção ao impulso "enciclopédico" originário e, por conseguinte, em larga medida, cada vez menos atenção aos problemas da unificação científica, ainda que estes sejam tidos como problemas de lógica das linguagens das ciências. Uma versão mais recente do ideal da ciência uni ficada distinta da positivista e mais próxima da leibni ziana foi preconizada por autores como Edward F. Haskell, Harold G. Cassidy, Arthur R. Jensen e outros. Este tipo de "ciência unificada" é antes uma tentativa de síntese de ciências e de formas de cultura do que de redução, seja esta real ou lingüística. Trata-se, de ime diato, de integrar as ciências naturais e as culturais, ou as ciências e as "humanidades", isto é, as "duas culturas" no sentido da expressão procedente de C. P.
CIÊNCIAS (CLASSIFICAÇÃO DAS) Snow. Mas a integração e a síntese apontadas não são, na intenção dos autores mencionados, nenhuma síntese de caráter "indutivo": trata-se de uma síntese que se encaixa num sistema. Este pode fundar-se numa teoria de sistemas similar à desenvolvida por Ervin Laszlo. Importante nesse novo movimento voltado para uma ciência unificada - que poderia igualmente denomi nar-se "cultura unificada" e, do ponto de vista educa tivo, "interdisciplinar" - é a tentativa de integrar va lores ao corpo de concepções científicas. CIÊNCIAS (CLASSIFICAÇ Ã O DAS). Num sentido estrito, a classificação das ciências é um tema especi ficamente moderno, já que só apareceu quando se reconheceu aquilo que foi chamado de "independência das ciências particulares em relação à filosofia" Num sentido amplo, entretanto, a classificação das ciências é análoga à dos saberes (ver SABER) e às subdivisões da filosofia freqüentemente discutidas pelos filósofos antigos e medievais. Neste verbete, referir-nos-emos principalmente às classificações das ciências na época moderna propostas a partir de Francis Bacon, mas pre cederemos essa informação de alguns dados sobre as divisões antigas e medievais. Uma primeira divisão dos saberes foi a estabele cida por Platão quando este distinguiu a opinião ( vrn) e o saber propriamente dito. Aristóteles, Eudemo de Rodes e muitos comentadores posteriores do Estagi rita dividiram a filosofia em teórica e prática, e com freqüência consideraram a lógica como um simples instrumento (e não uma parte) da filosofia. Aristóteles, além disso, classificou os saberes em três espécies: teóricos, práticos e poéticos (ou produtivos). O objeto dos saberes teóricos é a verdade; o dos saberes práti cos, a ação encaminhada a um fim; o dos saberes poé ticos ou produtivos, um objeto exterior produzido por um agente. Uma classificação muito comum da filo sofia na idade antiga foi aquela popularizada pelos estóicos: a filosofia se divide, segundo estes, em lógi ca, fisica e ética (divisão que o próprio Kant ainda considerava adequada "à natureza das coisas"). Uma variante dessa divisão é a epicurista: a divisão da filo sofia em canônica ( vrn) , fisica e ética. Entre as classi ficações propostas durante a Idade Média, algumas se baseiam na organização do ensino (é o caso da divisão das artes liberais no Trivium e no Quadrivium) e outras seguem precedentes antigos, especialmente aristotéli cos. No que tange às últimas, mencionaremos as se guintes: a) A classificação de Avicena, que, seguindo Aristóteles, dividiu as ciências em especulativas e prá ticas, e as primeiras em c i ência superior (metafisica, filosofia primeira ou ciência divina), ciência média (matemática) e ciência ínfima (fisica). b) A classifica ção de Domingo Gundisalvo, que, seguindo a tradição aristotélica árabe, dividiu as ciências em ciência huma-
CIÊNCIAS (CLASSIFICAÇÃO DAS) na ou filosófica e ciência divina ou da revelação. A ciência humana subdividia-se em ciência da eloqüên cia, ciência média e ciência da sabedoria. A ciência da sabedoria tinha dois aspectos: a fi losofia teórica e a filosofia prática. A filosofia teórica era subdividida em tisica, matemática e teologia ou fi losofia primeira (de acordo com os graus de abstração [VER]). A filoso fia prática, em pol ítica (ou arte do governo civil), eco nomia (ou arte do governo famil iar) e ética. e) A classificação de Hugo de São Vítor, segundo a qual a filosofia se divide em ciência teórica (teologia, mate mática e tisica, por um lado, e aritmética, música, geo metria e astronomia, por outro), cm ciência prática (ética), em ciência mecânica (artes mecânicas) e lógica (subdividida em gramática e ciência dissertativa [a ciência disscrtativa trata da demonstração provável e se subdivide em dialética e em retórica, ou arte da demonstração sofistica]). d) A classificação de Roberto Ki lwardby, segundo a qual a fi losofia se divide em fi losofia das coisas divinas (subdividida em natural, matemática e metafísica) e das coisas humanas (subdi vidida em ética, artes mecânicas e lógica). e) A classi ficação de um autor desconhecido do século XIII, apresentada por M . Grabmann, que consiste em dividir a fi losofia em três ramos: natural, prática ou mora l, e racional. A fi losofia natural subdivide-se cm metafi sica, matemática (astronomia, geometria, aritmética, música) e física. A fi losofia prática ou moral subdivi de-se em teologia sobrenatural, hipótica (provavelmen te, economia), política e ética. A filosofia racional subdivide-se em retórica, gramática e lógica. A estas classificações poderiam ser acrescentadas outras; por exemplo, foi comum na Idade Média a articulação hierárquica do saber em teologia, filosofia e ciência (incluindo arte mecânica), assim como a classificação dos saberes segundo diversos tipos de "luzes": luz superior e inferior, luz exterior e interior (como ocorre em São Boaventura). Tendeu-se com freqüência a orga nizar as ciências (como vimos em alguns exemplos anteriores) de acordo com os graus de abstração - o usual foi então apresentar a série: matemática, tisica e metafisica. A classificação mais conhecida no início da época moderna é a de Francis Bacon, que classificou as ciências segundo as faculdades: memória, razão e fan tasia. A memória dá origem à História, que se subdi vide em sagrada, civi l e natural. A razão dá origem à ciência, que se subdivide em teologia natural, ciência da Natureza e ciência do homem. A ciência da Nature za subdivide-se em metafísica, ou estudo das causas formais e finais, e fisica, ou estudo das causas mate riais e eficientes. A ciência do homem subdivide-se em lógica, ou ciência da razão propriamente dita, ética, ou ciência da vontade, e ciência da sociedade. A fan-
464 tasia dá origem à poesia, subdividida segundo as nor mas da poética clássica. Hobbes subdividiu as ciências em ciências de fatos (ou ciências históricas e empíri cas) e ciências de razão (ou ciências científico-filosó ficas, que têm por objeto a dedução do que o entendi mento sinta como verdadeiro). Ampere dividiu as ciên cias em cosmológicas e noológicas. As ciências cos mológicas subdividem-se em ciências cosmológicas propriamente ditas (matemática, tisica) e ciências fisio lógicas (naturais e médicas). As ciências noológicas subdividem-se em ciências noológicas propriamente ditas (subdivididas em fi losóficas: psicologia, ontolo·· gia, ética; e nootécnicas: tecnestesia, glosologia) e ciências sociais (subdivididas em etnológicas: etnolo gia, arqueologia, história; e política: dos meios de go verno ou cibernética, do Direito das gentes ou etno dicéia e da diplomacia). Schopenhauer dividiu as ciên cias em puras e empíricas. As ciências puras abrangem a teoria do principio do ser e a teoria do princípio do conhecer. As ciências empíricas compreendem a teoria das causas, a teoria das excitações e a teoria dos mo tivos. Comte erigiu uma hierarquia das ciências de acor do com o grau de sua "positividade", ordenando-as nu ma série que começa com a matemática e continua com a astronomia, a física, a química, a biologia e a sociologia, com a filosofia como a ciência mais abran gente em virtude da concepção comteana do fi lósofo como "o especialista em generalidades" W. Whewell apresentou várias classi ficações das ciências. Segundo R. Blanché, nos manuscritos cantabrigenses de Whe well aparece uma parte dedicada às ciências puras, outra às ciências de observação e outra às ciências re flexas ( ref/ex sciences). Estas últimas são "fundadas em nosso conhecimento das ações e dos sentimentos de nossas individualidades e não meramente em obser vações externas'" trata-se, pois, das ciências morais, também denominadas subjetivas. Em sua obra sobre a filosofia das ciências indutivas, Whewell eliminou as ciências reflexas ou subjetivas e se ateve a uma classificação baseada num certo número de idéias fun damentai> (tais como o espaço, o tempo, o número, a causa, a polaridade, a simetria, a causa final etc.). Disso resulta uma classificação das ciências em: ciências puras, ciências mecânicas, ciências mecânicas secundárias, ciên cias mecânico-químicas, química, morfologia, ciências classificatórias, biologia e ciências paleoetiológicas (ou baseadas na chamada causação histórica). Balmes afir mou que há quatro espécies de seres e que há uma ciência especial que se ocupa de cada uma delas: a filo sofia natural, que trata dos seres submetidos à ordem natural estabelecida por Deus; a filosofia moral, que trata dos seres morais submetidos a uma ordem moral constituída pelas leis que, sem forçar o homem, obrigam no a usar retamente a razão e o livre-arbítrio que Deus
465 lhe concedeu; a filosofia da história, que trata dos seres históricos ou sociais, seres que pertencem à or dem da sociedade humana; e a filosofia religiosa, que trata dos seres que se referem a uma providência ex traordinária e estuda os fatos e revelações de uma or dem superior à natural e social. Spencer propôs uma divisão das ciências em ciências de formas dos fenô menos ou abstratas (que abrangem a lógica e a mate mática) e ciências dos próprios fenômenos, que se subdividem em ciências abstrato-concretas (como a física, a química e a mecânica) e em ciências concretas (como a biologia, a psicologia e a sociologia). Wundt dividiu as ciências em formais e reais. As primeiras compreendem a matemática pura. As segundas subdi videm-se em ciências da Natureza e ciências do espí rito, devendo ser estudadas em seus três aspectos: o fenomenológico, o genérico e o sistemático. Peirce de dicou-se muito às classificações das ciências; funda mentalmente, dividiu as ciências em dois grandes ra mos: ciências teóricas e ciências práticas. As ciências práticas abrangem as ciências de descoberta e as ciên cias de revisão (entre estas últimas figura a teoria das classi ficações das ciências). As ciências de descoberta se subdividem em três tipos: matemática, filosofia (que tem caráter cenoscópico [ vER )) e idioscopia. A mate mática se subdivide, ao mesmo tempo, em matemática da lógica, matemática das séries discretas e matemá tica do contínuo e pseudocontínuo. A filosofia subdivi de-se em fenomenologia ( vER ) , ciência normativa (que inclui estética, ética e lógica) e metafisica (que inclui ontologia, metafisica religiosa e metafisica física). A idioscopia tem duas grandes subdivisões: ciências fí sicas (física geral, física classificatória, física descriti va) e ciências psíquicas (física nomológica ou psicolo gia, física classificatória ou etnologia, física descritiva ou História). Esta classificação prossegue mediante nu merosas subdivisões. Renouvier classificou as ciências em lógicas e físicas. As ciências lógicas compreendem a poiologia ou investigação da qualidade (subdividida em lógica formal e gramática geral) e a posologia ou investigação do número, posição, sucessão e vir-a-ser (subdividida em álgebra e aritmética, geometria, dinâ mica e estática e cálculo de probabilidades). As ciências físicas abarcam a História natural (subdividida em cos mologia e geologia, que compreendem geografia, mi neralogia, geologia propriamente dita e meteorologia, botanologia ou botânica, análise vegetal e zoologia, an tropologia e análise animal) e a física (subdividida em astronomia, físico-química ou física especial, química e análise matemática físico-química, e biologia). Às ciências lógicas e físicas se acrescentam as ciências "im perfeitas" ou morais, agrupadas sob o nome geral de Crítica. Esta se subdivide em crítica tética (que com preende a !ética do conhecimento em geral ou análise
CIÊNCIAS (CLASSIFICAÇÃO DAS) das categorias das funções humanas e dos elementos da síntese cósmica; a tética das ciências ou tética das ciências lógicas e físicas; e a tética das noções morais ou ética, estética, economia, política) e crítica históri ca (ou crítica antropológica, etnologia, lingüística, ar queologia e História; crítica especialmente intelectual ou moral ou Históría das ciências, da filosofia, da mo ral, das religiões, da arte, do Direito, econômico e po lítico etc.). Adrien Naville ( 1 845- 1 930) classificou as ciências de acordo com as respostas a três questões fundamentais. A pergunta referente ao que é possível e ao que não é possível dá lugar às ciências de leis ou teoremática. A pergunta referente ao que é real e ao que não é real dá lugar às ciências de fatos ou Histó ria. A pergunta referente ao que é bom e ao que não é bom dá lugar às ciências de regras ou ciências norma tivas, isto é, à canônica. As ciências de leis compreen dem a nomologia, a matemática, a físico-química, a bio logia somática, a psicologia e a sociologia, cada urna das quais é mais complexa do que a anterior. As ciências de fatos abrangem quatro classes quatro espécies de ciências históricas: a do mundo inorgânico (astronomia, geologia, mineralogia etc.), a do mundo vegetal, a do mundo animal com exclusão do homem e a história do homem. A canônica divide-se em canônica da vontade ou teleocanônica e teoria da ação boa ou praxicanônica. Stumpf formula diversas classificações segundo vári os princípios. Pelos obj etos, as ciências dividem-se em ciências de funções e ciências de fenômenos psí quicos. As primeiras compreendem as ciências do espí rito (subdivididas em psicologia como ciência das fun ções elementares, e ciências do espírito em geral en quanto ciências de funções complexas). A ciência natu ral e suas derivações correspondem ao grupo das ciên cias que estudam os objetos deduzidos dos fenômenos. As segundas compreendem a fenomenologia, a eidolo gia e a ciência das relações. A metafisica examina a mú tua dependência entre esses tipos de objetos. Segundo outros critérios, as ciências dividem-se em individuais (ciências de fatos) e gerais (ciências de leis); em homo gêneas (como a matemática) e heterogêneas (como as demais ciências); em ciências do que é (como a física) e ciências do que deve ser (como a ética). Para Dilthey, há dois grandes grupos de ciências: as ciências natu rais e as ciências do espírito (que são às vezes denomi nadas culturais, humanísticas ou morais e políticas). De acordo com Windelband ( VER) , as ciências se divi dem em nomotéticas e idiográficas. Segundo Rickert ( VER ) , há ciências generalizantes e ciências individua lizantes. Alguns autores propõem dividir as ciências em ciências de obj etos ideais e ciências de objetos reais; outros, em ciências normativas e não normati vas ( fáticas). Uma das mais recentes classificações é a de L. Tatarkiewicz. De acordo com esse autor, todas
CIFRA as ciências começam por ter caráter idiográfico (no sentido de Windelband e Rickert), de modo que a divi são entre ciências idiográficas e ciências nomotéticas não é aceitável . Ora, as ciências que não são nomotéticas visam sobretudo agrupar os fenômenos, estabelecer seus diferentes tipos. Enfim, temos dois grupos de ciências: ciências nomotéticas, que estabelecem leis, e ciências tipológicas, que estabelecem tipos de fenômenos; entre as últimas figuram as ciências históricas. Contudo, há, segundo Tatarkiewicz, ciências que são tipológicas e não são históricas (como a geografia e a botânica). Quanto às ciências da Natureza, estas dividem-se em nomológicas e tipológicas; estas últimas, por sua vez, subdividem-se em sistemáticas (como a botânica) e his tóricas (como a geologia histórica). Uma característica comum a todas as classifica ções das ciências é sua transitoriedade. Isso é com preensível: as ciências estão continuamente em forma ção; certos territórios-limite dão lugar freqüentemen te a ciências novas; certas ciências podem inserir-se em duas ou mais classificações etc. Ora, esses incon venientes não significam que as classificações em questão sejam inúteis; elas representam esforços para sistematizar e ordenar corpos dispersos de conheci mento e poderão ser aceitas sempre que aqueles que as propõem levarem em conta dois limites inevitá veis: o primeiro é sua inesgotabilidade; o segundo, seu caráter provisório. � Indicaremos apenas as referências para algumas das classificações apresentadas nos períodos mais recen tes. Para Balmes, El Criterio, cap. XII, 1 . - Para Peirce, Collected Papers, 1 1 80- 1 283. - Para Renouvier, Essais de critique générale (III, Les príncipes de la Nature), 1 864. - Para Wundt, Einleitung in die Philosophie, 1 900. - Para A. Naville, Classification des sciences. Les idées maitresses des sciences et leurs rapports, 1 883 (3ª ed., muito modificada, 1 920). - Para Rickert, Kulturwissenschaft und Naturwissenschaft, 1 899. Para Tatarkiewicz, "Sciences nomologiques et typolo giques: essai d'une classification des sciences", Proc. of the Xth. Int. Cong. of Philosophy, 1 949, t. II, pp. 62 1 -623. Ver, além disso: E. Goblot, Essai sur la classifi cation des sciences, 1 898. - J. Mariétan, Probleme de la classification des sciences d 'Aristote à Saint Thomas, 1 90 1 . - Robert Flint, Philosophy as scientia scientiarum and a History of Class/fication of the Sciences, 1 904. - P. Tillich, Das System der Wissens chaften nach Gegenstiinden und Methoden, 1 923. Henry Evelyn Bliss, The Organization of Knowledge and the System of the Sciences, 1 929. - /d. , The Organization of Knowledge in Libraries and the Sub ject Approach to Books, 1 93 3 ; 2ª ed. rev., 1 939. - F. Romero, "Nota sobre las clasificaciones de las cien-
466 cias", Cursos y Conferencias, II, 3 ( 1 93 2 ; reimp. em Estudios de historia de las ideas, 1 95 3 , pp. 1 78- 1 87). - 8. M. Kédrov, Klassifikatsia nauk, /, 1 96 1 (trad. francesa: La classification des sciences, l [Engels et ses prédécesseurs], 1 977). - L. Apostei, S. G. Kiria koff et ai. , La classification dans les sciences, 1 963 . - S. Dangelmayer, Methode und System. Wissenscha ftsklassifikation bei Bacon, Hobbes und Locke, 1 974. - R. Whitley, The lntellectual and Social Organiza tion of the Sciences, 1 984. A classificação de W. Oswald é mencionada no verbete sobre esse autor. C: CIFRA. Karl Jaspers (VER) usou o termo 'cifra' (Chiffer) como termo técnico em sua metafisica. Entre os locais em que esse autor abordou detidamente a noção de cifra - e a de "escrito cifrado" (Chif!erschrift) - figuram Philosophie, II ( 1 932) e filn der Wahrheit. l: Philoso phische Logik ( 1 947 ) , pp. 632 ss. (et ai. ) . Segundo Jaspers, a realidade empírica (Realitiit) não se basta a si mesma. Por outro lado, a realidade essen cial ( Wirklichkeit) ou realidade transcendente parece inacessível. Em vista disso, tentaram-se várias solu ções, como a de imaginar a existência de uma faculdade especial capaz de apreender a realidade essencial. Afora o fato de que imaginar uma faculdade especial do tipo indicado não garante a existência dessa faculdade, resta que em muitos casos se requer deixar de lado a exis tência do suj eito como existência única e concreta para fazer dele uma entidade não-existencial. Manter a reali dade do suj eito como existência única e concreta e ao mesmo tempo afirmar a transcendência exigem, pois, que se pense um modo de relacionar o suj eito com o transcendente a ele - a noção de cifra é uma resposta ao problema. Por meio dela, Jaspers pretende solucionar o dualismo sujeito-objeto e ao mesmo tempo evitar a fusão de suj eito e objeto numa única entidade. Com efeito, a cifra é o modo como se "dá" o objeto como objeto puro, o transcendente, o Ser ou realidade essen cial. A cifra não é, pois, a própria transcendência, mas é a "linguagem" na qual nos fala a transcendência. Pode-se dizer que o ser essencial se revela como cifra ou símbolo. Por isso, a cifra não é propriamente conhe cida; somente se "escuta" sua mensagem. A cifra ou símbolo é "o modo mais penetrante de o que é estar presente" Naturalmente, é preciso evitar o que se pode ria denominar a "depreciação" das cifras, transforman do-as em alegorias, figuras estéticas, idéias metafisicas dogmáticas, seres mágicos etc. A cifra ou símbolo em sua plenitude é trans-parência do transcendente, é pre ciso saber "ler" a "linguagem cifrada" para saber o que o transcendente comunica. A leitura pode ser feita de di versas maneiras, porque há diversas espécies de cifras, de acordo com o conteúdo do que é interpretado. Na
467 "ascensão" à leitura da linguagem cifrada, passa-se por uma série de estágios, tais como a investigação (ciên cia), "iluminação", reflexão e afirmação, até encontrar a obj etividade que a cifra revela. CINCO VOZES. Ver PREDICÁVEIS. C Í NICOS. A chamada escola cínica recebe seu nome, segundo alguns autores, do vocábulo ' cão' (Kúcuv), entendendo-se que os cínicos consideravam esse quali ficativo como uma honra. Segundo Diógenes Laércio, o nome procede do fato de que Antístenes - usual mente tido como o "fundador" da "escola" - dava seus ensinamentos no Cinosargo, um ginásio situado nas proximidades de Atenas. O sentido pejorativo que a palavra adquiriu muito mais tarde se deve, em grande parte, ao desprezo que os cínicos nutriam pelas con venções sociais e, em parte, aos adversários da esco la, sobretudo desde que alguns de seus "membros" abandonaram a característica ascética e se inclinaram ao hedonismo. De maneira geral, porém, o cínico era considerado o homem indiferente às coisas do mundo. Epicteto chega a dizer que é dificil ser um cínico, e Juliano, o Apóstata, estabelecia uma distinção entre os verdadeiros cínicos, que devem ser imitados, e os falsos cínicos, que devem ser combatidos. Mais que uma filosofia, o cinismo é, sem dúvida, uma forma de vida - evTams Bíov, como já a denominou Dióge nes Laércio -, forma "coraj osa" surgida num momen to de crise e que, como depois veremos, transforma a correção em dilaceração e até, em casos extremos, em "relaxamento" Discutiu-se muito sobre quem foram os fundado res do cinismo. A opinião tradicional - mantida ainda por E. Zeller - é que há uma linha contínua de trans missão do pensamento cínico que vai de Antístenes a Diógenes e deste a seus discípulos, tanto diretos (Crates de Tebas, Onesícrito) como indiretos (Mônino de Si racusa). Essa linha teve prosseguimento, de acordo com a opinião tradicional, com os cínicos dos séculos III e II a.C. (Bion de Boristenes, Menipo de Gadara e outros). Depois de certa interrupção, o cinismo (sempre consi derado como a "escola cínica") ressurgiu no fim do sé culo 1 e durante o século II d. C., quando floresceram Dion Crisóstomo, Oinomao, Demonax, Peregrino Pro teu, e se estendeu com maiores ou menores vicissitu des até o final do mundo antigo, época em que influen ciou alguns autores cristãos (pelo menos do ponto de vista do uso metódico da "diatribe"), tendo sido até mesmo adotado por alguns destes, como aconteceu com Salústio, o filósofo, e Máximo de Alexandria. Essa opi nião tradicional, que faz do cinismo quase exclusiva mente uma escola filosófica, baseia-se, evidentemente, em testemunhos antigos. A relação entre Antístenes e Diógenes, sobretudo, tem seu fundamento em escritores
CÍNICOS da Antiguidade, especialmente em Diógenes Laércio, fundamento do qual parece resultar que Antístenes foi o fundador da escola e Diógenes de Sinope, seu mais popular seguidor e propagador. Ora, todas essas opiniões foram questionadas por investigações recentes. Já antes de discutir-se o papel desempenhado por Antístenes na formação da escola cínica, houve uma série de trabalhos favoráveis ao reconhecimento da importância desse pen sador como antiplatónico e como fundador de um ramo particular e original do socratismo (F. Dümmler, K. Joel, H. Kesters). A esses trabalhos sucederam-se outros nos quais se pretendia reduzir a importância de Antís tenes e acentuar a de Diógenes (E. Schwartz, U. von Wilamowitz-Moellendorft). Como conseqüência disso, foi-se difundindo a opinião de que a estreita relação entre Antístenes e Diógenes - opinião mantida pelos escritores antigos e sustentada por alguns modernos não correspondia à realidade histórica. D. R. Dudley e F. Sayre levaram essa opinião às últimas conseqüên cias. O resultado de sua investigação é que Antístenes não teve nenhuma conexão com os cínicos e, por conse guinte, que não se pode dizer que os cínicos sejam des cendentes dos socráticos. A relação Antístenes-Diógenes foi, de acordo com isso, inventada por cínicos posterio res que tinham interesse em mostrar que sua atitude era conseqüência do socratismo. Assim, Diógenes foi o verdadeiro fundador da escola e dele dependeram, em maior ou menor medida, todos os que mais tarde foram qualificados de cínicos, quaisquer que tenham sido seus propósitos: favorecer a "educação" e servir de modelos, pregar a igualdade social ou o retorno à Natureza, enfatizar a autarquia e a filantropia, desenvol ver a forma literária da diatribe ou a vida mendicante e, sobretudo - o que era comum a todos os cínicos -, depreciar as convenções. Estas últimas opiniões com relação às origens do cinismo não foram, contudo, aceitas por todos os auto res. Assim, Hoistad afirmou que a imagem da sucessão tradicional Sócrates-Antístenes-Diógenes é ainda a mais adequada. As teses de Dudley e Sayre devem-se a uma excessiva atenção ao caráter anedótico e legendário de Diógenes em detrimento de seu caráter histórico e de seu valor intelectual. Isso obrigou Sayre - indica Hois tad - não apenas a rejeitar a conexão de Diógenes com Antístenes, como a negar toda possibilidade de que Diógenes tenha fundado a escola cínica. Com efeito, acentuar demasiadamente o anedótico de Diógenes equi vale a duvidar de que sej a um verdadeiro filósofo e a negar o que se tinha, justamente, pretendido demonstrar: que Diógenes, e não Antístenes, foi o fundador do cinis mo. Sayre viu-se obrigado a atribuir a fundação da escola cínica a Crates, que teria tomado Diógenes como modelo, mas não como mestre. Estendemo-nos sobre a questão das origens do ci nismo por dois motivos: em primeiro lugar, para mos-
CIORAN, ÉMILE M[ICHEL] trar que se trata de um movimento que só até certo ponto pode ser denominado uma Escola; em segundo, para enfatizar que as sucessões dos filósofos ainda tra dicionais nas histórias da filosofia oferecem considerá veis dificuldades quando submetidas a crítica. Ora, o fato de que o cinismo não tenha partido historicamente de Sócrates não permite concluir que teria sido possí vel sem Sócrates. Por esse motivo, atemo-nos à tese ex pressa em outro lugar (E! hombre en la encrucijada, 1 952, p. 3 1 ), segundo a qual "a série Sócrates-Antís tenes-Diógenes, que alguns historiadores consideram historicamente inadmissível, mostra-se psicologicamen te verdadeira" Em todo caso, é muito dificil escrever uma verdadeira história do cinismo, sobretudo quando o consideramos uma atitude vital última e o examina mos, como é plausível fazê-lo no cinismo antigo, como uma reação diante de uma situação histórica de exacer bação de uma crise ( vER ) . O mais importante aspecto dos cínicos, já apontado anteriormente, o anticonven cionalismo, pode ser entendido dessa perspectiva. Mas, como a oposição às convenções é matizada de acordo com as convenções de que se trata, uma história do cinismo encontra-se provavelmente mais entremesclada com a história geral que a de qualquer uma das outras escolas filosóficas antigas. � Ver: Jacob Bernays, lucian und die Kyniker, 1 879. - J. Geffcken, Kynika und Verwandtes, 1 909. - O. Ewald, "Zur Psychologie des Cynikers", logos 5 ( 1 9 1 5). - Donald R. Dudley, A History of Cynicism from Dio genes to the 6th Century, 1 93 7. - Farrand Sayre, Dioge nes of Sinope: A Study of Greek Cynism, 1 93 8 ; ed. rev. e ampl. com o título: The Greek Cynics, 1 948. - R. Hoistad, Cynic Hera and Cynic King: Studies in the Cy nic Conception o( Man, 1 948. - Léonce Paquet, les cyniques grécs. Fragments et témoignages, 1 975. H. Niehues-Prõbsting, Der Kynismus des Diogenes und der Begriffdes Zynismus, 1 979. - P. Sloterdijk, Kritik der zynischen Vernunjí, 2 vols., 1 983. - H. D. Rankin, Sophists, Socratics and Cynics, 1 98 3 . Influência dos cínicos sobre autores cristãos pri mevos: A. J. Visser, Cynische filosofie en Christendam, 1 956 (aula inaugural na Univ. de Grõningen). Ver também as bibliografias dos verbetes D 1 óGE N ES DE S 1NOPE; S EXTO EMPiR1rn; e o verbete de Helm (Ky niken) em Pauly-Wissowa, XII, cols. 3 -24. C: CIORAN, É MILE M l lCHEL( . Nascido ( 1 9 1 1 ) em Rasinari (Romênia), estudou em Bucareste, onde publi cou, em 1 933, seu primeiro livro em romeno. Tendo ido para Paris em 1 93 7, com uma bolsa do Instituto Francês de Bucareste, passou a residir desde então na capital francesa, escrevendo em francês a maioria de seus livros. Cioran é às vezes considerado o pensador, e o poeta, da decomposição, da podridão, do vazio que ao mesmo
468 tempo ameaça e sustenta todas as coisas e todas as atitudes humanas. Toda afirmação considerada positiva, toda crença, toda ideologia, toda doutrina conduz a uma "sangrenta farsa"; da "lógica" passa-se facilmente à "epilepsia" (Précis de décomposition, p. 9); os grandes sistemas são tautologias (ibid. , p. 73). O pensamento de Cioran tem, por vontade do autor, um caráter frag mentário e anti-sistemático. Pensar sistematicamente é para Cioran trair-se a si mesmo, justamente porque, ao estabelecer princípios, máximas ou apenas considera ções com o propósito de seguir "seu fio", o pensamento fica prisioneiro de si mesmo. Nem mesmo o niilismo e o desespero podem ser objeto de alguma doutrina: o niilismo como doutrina é já uma armadilha. Alguns avaliam que Cioran expressa um pessimismo exacerba do; é a imagem que resulta de considerá-lo "o poeta, ou o filósofo, da decomposição" Outros opinam que ele manifesta uma espécie de exaltação vital e quase selvagem. O próprio Cioran inclina-se a pensar que se trata de ambas as coisas, ao afirmar, numa entrevista a Fernando Savater, que "um livro deve ser realmente uma ferida, deve transtornar a vida do leitor de um modo ou de outro. Minha idéia ao escrever um livro é despertar alguém, açoitá-lo" � Obras: Livros em romeno: Pe culmine disperâri, 1 934 (No ápice do desespero). - lacrimi si Sfinti, 1 93 7 (De lágrimas e de santos). - Amurgul Gânduri lor, 1 940 (O crepúsculo dos pensamentos). - lndreptar Pâtimaç, 1 944 (Breviário dos vencidos). - Livros em francês: Précis de décomposilion, 1 949. - Syllogismes de l 'amertume, 1 952. - la tentation d 'exister, 1 956. - Histoire et utopie, 1 960. - la chíite dans le temps, 1 9 6 4 . - l e m a u va is demiurge, 1 9 6 9 . - De l 'inconvenienl d 'être né, 1 973. - Écartélement, 1 979. - Exercices d 'admiration, 1 9 8 6 . - A veux et Anathémes, 1 987. - Cioran compilou e fez o prólogo de textos de Joseph Marie Comte de Maistre 1 7531 82 1 , 1 957. Em português: Antologia do retrato, 1 998. - Bre viário de decomposição, l 995 . - História e utopia, 1 994. Ver: Seleção de textos em trad. esp . : Contra la historia, l 976, e Adiós a la filos()(ia y oiros textos, 1 980. - Fernando Savater, Ensayo sobre Cioran, l 974. - A entrevista de C. a F. Savater a que nos referimos no texto foi publicada em El País, domingo, 23 de ou tubro de 1 977. - A. M. Tripodi, Cioran, metafisico dell 'impossibile, 1 987. - S. Jaudeau, Entretiens, 1 990. - F. Savater, Ensayo sobre Cioran, 1 992 [nova ed. com introdução e uma entrevista, 1 990) . C: C Í RCULO. Este termo pode ser empregado em diver sos contextos. 1) Designando, metaforicamente, uma forma bá sica, ou até a forma básica, como a realidade se com-
469 porta em sentido metafisico. Diz-se então que tal rea lidade opera de modo circular. Exemplo disso é o pro cesso de emanação (VER) e retorno ou conversão do es piritual em alguns autores neoplatônicos (Plotino e Proclo principalmente) ou influenciados pelo neopla tonismo (João Escoto Erígena). O ponto de partida e o ponto de chegada coincidem, manifestando-se às vezes, como em Nicolau de Cusa, uma coincidentia oppositorum. Também em Hegel há a idéia do círculo, embora o caráter tanto idealista como dinâmico-histó rico do sistema hegeliano represente uma idéia diferen te da circularidade. Além disso, esta última se acentua em Hegel pela importância que adquire a "circulari dade" de cada tríade. Como vimos em outra passagem (Ver PERIFILOSOFIA ) , pôde-se inclusive apresentar a fi losofia hegeliana como o exemplo mais perfeito do modo de pensar designado por Hans Leisegang como "o círculo de círculos" 2) Como imagem de Deus quando o círculo é "in finito" Este é o caso de São Boaventura, quando diz que Deus é "como um círculo cujo centro está em qual quer lugar e a circunferência em parte alguma" (Jtine rarius mentis ad Deum, 5). Como se usou também a esse respeito a imagem da esfera, remetemos ao verbe te correspondente. 3) Nas expressões 'círculo na prova' (circulus in probando) e 'círculo vicioso' (circulus vitiosus). O círculo na prova é um sofisma, ou falácia, de que são exemplos o próprio círculo vicioso e a chamada "petição de princí pio" (petitio principii). O círculo vicioso é identificado às vezes com a petição de princípio, mas quase sempre se estabelece uma distinção entre ambos: no círculo vicio so, há duas proposições que se "demonstram" uma pela outra, e vice-versa, enquanto na petição de princípio se trata da mesma proposição formulada de modos distintos. Os céticos denominaram "círculo" um defeito do ra ciocínio no qual, em sua opinião, incorrem os dogmá ticos: "O círculo surge quando aquilo que deve ser con firmado da coisa investigada requer a prova extraída da coisa investigada. Como não se pode aceitar nenhum dos dois para provar o outro, suspendemos o juízo acer ca de ambos" (Sexto Empírico, Hyp. pyrrh. , I, xv, 1 681 69). O vício do raciocínio circular está vinculado à regressão ao infinito, como se vê em Sexto: "Se se pode dizer algo, perguntamo-nos por meio do que será decidido. Por exemplo, o sensível - já que baseare mos nosso argumento antes de tudo nisto - será deci dido com base no sensível ou no inteligível? Se é com base no sensível, resulta que, como investigamos as coisas sensíveis, também aquele precisará de outra coisa como prova. Se esta é algo sensível, novamente precisará de prova e assim ao infinito. Se o sensível é decidido com base no inteligível, resulta que, como também os
CÍRCULO inteligíveis divergem, o inteligível necessitará de j uízo e prova. Com base em que será ele provado? Se for no inteligível, cair-se-á de novo na regressão ao infinito; se for no sensível, introduz-se o círculo porque se tomou o inteligível para provar o sensível, e o sensível para provar o inteligível" (ibid. , I, xv, 1 7 1 - 1 72). Os esclarecimentos dos autores antigos sobre a natureza do "círculo na prova" e do "círculo vicioso" passaram à época moderna sem maiores variações: "Demonstrar mediante um círculo é mostrar o mesmo por meio do mesmo, o que não só não é demonstrar, como nem sequer é simplesmente provar, uma vez que toda prova deve ser feita a partir de coisas mais conhe cidas" (Goclenius, Lexicon, s. v. "Demonstratio", p. 504). O mesmo autor escreve em "Circulus": "A defi nição circular é viciosa porque, se se desse, o mesmo seria no mesmo mais conhecido e menos conhecido, o que não pode acontecer" (ibid. , p. 363). O usual é rej eitar toda forma de raciocínio circular, mas alguns autores (Karl Jaspers, Jeanne Hersch e, por razões distintas, Francisco Romero) indicaram que certa circularidade é às vezes inevitável na abordagem de questões metafisicas. Badi Kasm (L'idée de preuve en métaphysique, 1 959, pp. 224-225) afirma que em meta fisica alguns chamados "círculos viciosos" são tolerá veis, ou o são em "casos extremos" Deve-se distinguir o raciocínio circular ou qual quer forma de "círculo vicioso" e procedimentos tais como os empregados nas definições contextuais. O fato de que essas definições não proporcionam infor mação, ou, como se disse, sejam "triviais", não implica que não proporcionem esclarecimento; mas, sobretu do, não há nas definições contextuais nenhuma tentati va de demonstração ou prova. 4) Na expressão "círculo cartesiano", raciocínio falacioso em que, na opinião de Arnauld y Gassendi, incorreu Descartes nas Meditações metafisicas. Segun do Gilson (Descartes, Discours de la méthode. Texte et commentaire, 1 947, pp. 3 6-362. Ver também: Willis Doney, "The Cartesian Circle", Journal of the Histo ry of Jdeas, 1 6 [ 1 955], 3 24-3 38, e Henri Gouhier, "La veracité divine dans la Méditation V", Études Philoso phiques, 1 1 ( 1 956], 296-3 1 0), a formulação mais pre cisa do "círculo cartesiano" se encontra nesta passa gem das lnstancias de Gassendi: "Você admite que uma idéia clara e distinta é verdadeira porque Deus, que é o autor dessa idéia e não pode estar enganado, existe; e, por outro lado, você admite que Deus exis te, que é criador e veraz, porque tem dele uma idéia clara. O círculo é evidente" (ln Med. , IV, dubit. , 4, Inst., 2, ed. Rochot. Para a formulação de Arnauld, ver "Quartas obj eções" às Meditaciones A T, IX, A, 1 966; resposta de Descartes em A T, IX, A, 1 89- 1 90). 5) Na expressão "círculo hermenêutico", hoje muito difundida. Fala-se de "círculo hermenêutico" em vários
CIRCUNSTÂNCIA sentidos, e especialmente nos dois seguintes. Por um lado, há um círculo hermenêutico - de resto, "inevitá vel" - na interpretação de wn texto e, em geral, de toda manifestação simbólica hwnana. Com efeito, uma parte do texto, ou do "sistema simbólico", só pode ser enten dida se referida ao todo, que confere significação à parte. Mas a totalidade do texto, ou do "sistema simbólico", é entendida igualmente em função das partes que o cons tituem. Desse modo, vai-se da parte ao todo, e do todo à parte, ou partes, sem que nem um nem a outra, ou outras, constituam um ponto de partida suficiente. Por outro lado, há wn círculo hermenêutico - igualmente "inevitável" - em toda tentativa de compreensão de linguagens, estruturas significativas, quadros conceituais, sistemas de pensamentos e de comportamentos e, em geral, formas de vida e de cultura "alheias" Tudo isso precisa de uma interpretação, que se dá dentro da pró pria linguagem, cultura, forma de vida etc., os quais são distintos da linguagem, cultura, forma de vida etc. estu dados. O "círculo hermenêutico" consiste então em passar do "próprio" ao "alheio" e do "alheio" ao "próprio"· "o próprio" toma inteligível "o alheio", mas ao mesmo tem po "o alheio" reverte sobre, e toma inteligível, "o pró prio" A interpretação pode ser uma deformação, mas esta é "corrigível" constantemente em virtude da cres cente "compreensão" do interpretado. Emerich Coreth (op. cit. bibliografia infra) observa que Schleiermacher enfatizara em sua Hermeneutik ( l , 7) que há um círculo (Kreis, Zirkel) na compreen são, porquanto o singular e o todo, assim como o espe cial e o geral, remetem-se um ao outro. A relação entre os dois pólos em que se move "o círculo da compreen são" ou "círculo hermenêutico" pode ser entendida ou de um modo divinatório, que consiste principalmente numa apreensão do individual para passar ao geral, e vice-versa; ou de um modo comparativo, que consiste principalmente numa apreensão do geral para passar ao individual ou singular, e vice-versa. Os diferentes tipos de círculo hermenêutico depen dem grandemente da espécie de hermenêutica conside rada. Na hermenêutica em sentido "clássico" e "lite ral", o círculo é constituído pela relação recíproca entre um elemento do texto e o contexto. O elemento do texto é determinado pelo contexto e vice-versa. Deve-se levar em conta que um contexto pode servir de elemento em relação a outro contexto mais amplo. Na hermenêutica que se denominou (Gadamer) "ro mântica", o círculo é constituído pela relação recíproca entre um sujeito, especialmente um criador, e a obra. O suj eito, por suas "intenções" ou por seu "gênio", é entendido pela obra, que por sua vez serve para enten der o suj eito. Na hermenêutica existencial heidegge riana, o "círculo" aparece no fato de que em toda compreensão do mundo a existência se compreende
470 com ele, e vice-versa. Como diz Heidegger, toda inter pretação, se deve contribuir para produzir uma com preensão, deve ter já compreendido o interpretado. Trata-se de um círculo vicioso, mas só se operamos dentro das regras mais elementares da lógica. O círculo hermenêutico como círculo da compreensão ( VER) está arraigado na constituição existencial da Existência (Dasein), isto é, na compreensão que interpreta. Para Gadamer, o círculo hermenêutico é principalmente, embora não de maneira exclusiva, o que se dá entre uma tradição e sua interpretação, que é parte dessa mesma tradição. Só se pode interpretar uma tradição - e, evidentemente, também interpretá-la mal - a partir dela. Tanto no caso de Heidegger como no de Gadamer o círculo hermenêutico é função do caráter finito da existência humana. Em todo caso, ele oferece uma estrutura ontológica que não parece encontrar-se nas hermenêuticas clássica ou literal nem na "român tica", mais interessadas na epistemologia e metodolo gia da compreensão. 6) Disse-se que o círculo hermenêutico é similar ao chamado "paradoxo da análise" ( vER) : se os termos mediante os quais se analisa uma expressão não são si nônimos da expressão, então não há análise da expres são, e se são sinônimos repete-se a mesma expressão analisada. Nesse paradoxo entram as definições contex tuais antes mencionadas, mas agora se apresenta com elas um problema diferente do citado, pois já não se pode alegar simplesmente que essas definições não ten tam provar, mas tão-somente esclarecer. O paradoxo da análise e o que poderia denominar-se "círculo da aná lise" se dão no âmbito do processo de esclarecimento. 7) Fala-se às vezes de "círculo" para designar certos tipos, ou "formas", de pensamento. Falamos disto no verbete PERIFILOSOFIA, ao apresentar as duas "formas de pensar" analisadas por Hans Leisegang: "a forma de pensar circular" e "a forma de pensar segundo o círculo dos círculos" 8) Usa-se ' Círculo ' em expressões que designam algum grupo de fi lósofos que, sem constituir formal mente uma escola no sentido tradicional, trabalham filosoficamente com base em pressupostos comuns ou com interesses comuns. Exemplos disto são as ex pressões 'Círculo de Gõttingen' , ' Círculo de Varsóvia' e, a mais conhecida, 'Círculo de Viena' CIRCUNSTÂNCIA. Este termo foi j á empregado desde a Antiguidade latina para designar o que se encon tra ao redor (por exemplo, o ar como algo que se acha ao redor da Terra) . Se se parte de uma coisa determi nada, a circunstância (circumstantia) é o que cerca essa coisa na medida em que pertence de alguma maneira ao que depois se denominou "horizonte" ( vER) . 'Cir cunstância' significou também "arredor, circuito ou con torno de uma coisa"· neste caso, a circunstância é o
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que rodeia a coisa e m relação com ela, mas sem per tencer à sua essência. O vocábulo 'circunstância' adquiriu um sentido de terminado no pensamento de Ortega y Gasset. Nas Me ditaciones dei Quijote ( 1 9 1 4; O. C. , I , 322), Ortega escreveu: "Eu sou eu e minha circunstância". Isso signi fica não apenas que o sujeito humano se acha rodeado de circunstâncias, mas também que se constitui como tal suj eito com suas circunstâncias. Nesse sentido, a circunstância é o que o sujeito vive como situação vital, e dentro dela se acha o mundo. O mundo físico ou or gânico se incorpora desse modo à circunstância humana como ingrediente seu. Não é legítimo identificar cir cunstância e mundo físico ou orgânico. De fato, o que denominamos o suj eito humano ou o eu é, juntamente com a circunstância, um "ingrediente" de uma reali dade mais radical, chamada por Ortega de "minha vida" (Historia como sistema, 1 94 1 ; O. C., VI, 34). É dessa perspectiva que se deve compreender a tese orteguiana de que o homem vive sub especie instantis e de que é necessariamente "circunstancial" Eis aqui três citações, em ordem cronológica, que permitem compreender melhor a complexa natureza da noção de circunstância: No "Prólogo" à edição de Obras ( 1 93 5 ), Ortega escreveu: "Sendo, pois, a vida em sua própria substân cia circunstancial, é evidente que, embora acreditemos no contrário, tudo o que fazemos, fazemos em vista das circunstâncias. Inclusive quando imaginamos que pensamos ou queremos algo sub specie aeternitatis, imaginamo-lo por necessidade circunstancial. E mais: a idéia de eternidade, do ser incondicionado, ubíquo, brota no homem porque há necessidade dela como contraposto salvador à sua inevitável circunstância" No "Prólogo" à Historia de la Filosofia, de Émile Bréhier (Dos Prólogos, 1 942; O. C., VI, 3 9 1 ), lê-se: "Eis aqui o primeiro princípio de uma ' nova filolo gia ' : a idéia é uma ação que o homem realiza em vista de determinada circunstância e com uma finali dade precisa ( . . . ) . Toda idéia está adscrita irremedia velmente à situação ou circunstância diante da qual representa seu papel ativo e exerce sua função" Num inconcluso "Comentario ai ' Banquete' de Platón" (Obras Completas, tomo IX, 1 962, pp. 747784), Ortega diz: "Este caráter em que, de imediato, consiste o mundo - seu ser-me -, e, por conseqüên cia, o estar radicalmente referido a mim, me levou há mais de trinta anos a buscar outro termo com que de signá-lo, já que o vocábulo ' mundo' sempre signifi cara em filosofia ' o que não consiste em referência a mim (ou Eu) ' Denominei-o circunstância. Esta pala vra tem, além disso, outra vantagem. O conjunto do que nos afeta e nos importa - positiva ou negativa mente -, em cujo confronto consiste nossa vida de cada instante, é o que homem comum chama 'as cir-
CIRENAICOS cunstâncias ' ou 'a circunstância'", ou seja: "o mundo é que se dá na circunstância (não a circunstância no mundo); o mundo consiste na circunstância" Julián Marías (lntroducción a la filosofia, 3ª ed. , 1 95 3 , § 5 2 , p p . 235-24 1 ) elaborou a doutrina orteguia na da circunstância como "tudo o que se encontra em meu horizonte vital". A circunstância pode ter diversos ingredientes: o contorno físico; meu corpo; outros cor pos que são, de imediato, coisas, mas que se apresen tam como outros tantos centros de outras vidas; a realidade social com a qual tenho de l idar; os produtos humanos de natureza material ou artefatos; a história vivida como "mundo histórico"; os falecidos; o reper tório de crenças nas quais se está (ver CRENÇA); as vi vências (desejos, emoções etc.); o horizonte da vida individual e, por fim, o horizonte escatológico ou "as ultimidades" Em certos aspectos, a noção orteguiana de circuns tância é similar à de situação. Entretanto, não se devem simplesmente confundir ambos os conceitos; referimo nos a este ponto no verbete sobre situação ( ad finem). CIRENAICOS. Consideram-se os cirenaicos - assim chamados por causa da cidade de Cirene, onde nasceu e viveu Aristipo - como uma das escolas socráticas (ver SocRÁTicos), uma vez que formularam sua doutri na filosófica com base no desenvolvimento de uma das características do socratismo (interpretando-o so bretudo como um guia moral para o comportamento do sábio). Os cirenaicos coincidiam com outras escolas socráticas, tais como a dos cínicos (VER) e a dos me gáricos (vER), no pressuposto de que a felicidade con siste na tranqüilidade do ânimo e de que tal tranqüili dade é conseguida por meio da autarquia (vER), isto é, do império do homem sobre si mesmo, única manei ra de dominar as coisas (e as circunstâncias) que o cercam. No âmbito desses pressupostos comuns, os cirenaicos mantinham várias doutrinas particulares. Mencionamos três delas. A primeira refere-se à defini ção do bem (VER) . Como este era, para os cirenaicos, o prazer imediato, costuma-se qualificar sua doutrina de hedonismo. A segunda diz respeito ao método de alcançar o bem. Influenciados não apenas pelo socra tismo, mas também pela sofística (ver SOFISTAS), os cirenaicos usavam a esse respeito uma dialética volta da a mostrar de que modos podem utilizar-se as cir cunstâncias para conseguir o prazer e ao mesmo tempo libertar-se dos desejos inquietadores produzidos pela aspiração a esse prazer. A terceira refere-se à teoria do conhecimento, que estava baseada na primazia da sensação - e com freqüência da sensação individual, irredutível a todas as outras -, de maneira que os cirenaicos desembocavam por isso muitas vezes num subj etivismo e num sensual ismo (VER) radicais. Ora, nem todos os membros da escola cirenaica defendiam
CIUDAD VÁZQUEZ, MARIO exatamente as mesmas doutrinas. Apresentamos as principais opiniões dos mais destacados cirenaicos nos verbetes sobre Aniceris, Aristipo, Heguesias e Teodoro, o Ateu. � Edições: l Cirenaici. Raccolta dei/e fànti antiche, trad. e estudo preliminar de Gabriele Giannantoni, 1 95 8 (Pubblicazioni dell' Instituto di Filosofia dell' Uni versità di Roma, 5). - Aristippi et Cyrenaicorum frag menta, ed. Erich Mannebach, 1 96 1 . Ver também bibliografia de AR1sr1ro e SocRAr1cos. Além disso, A. Wendt, De philosophia cyrenaica, 1 84 1 . - H. de Stein, De philosophia Cyrenaica, 1 85 5 (trata sobretudo d e Arístipo). - G. V. Lyng, O m den Kyrenaiske Skole, 1 868 (principalmente sobre Aniceris e Teodoro, o Ateu). - Verbete sobre os Cirenaicos (Kyrenaiker) de J. Stenzel em Pauly-Wissowa. " . A definição assinala: "se q> é uma função que pode tomar um obj eto dado, a, como argumento, e T é o tipo mencionado no axioma anterior, dizer que a classe determinada por q> tem a propriedade f será dizer que há uma função do tipo T formalmente equivalente a q> e que possui a propriedade /'. Assim, uma classe, F, será a totalidade dos obj etos que pos suem certa propriedade/; isto é, a totalidade dos obje tos x para os quais será verdadeira a expressão f (x) ' ( cf. Introduction to Mathematical Philosophy, 1 9 1 9, pp. 1 84 ss. ). Estendemo-nos sobre as definições e precisões anteriores por serem elas consideradas a base, já tradi cional, na qual se apóiam as investigações posteriores acerca da noção de classe. Ora, a lógica contemporânea considera que várias das formulações anteriores pade cem de falta de rigor. Portanto, exporemos, conforme anunciamos, os traços fundamentais da atual lógica das classes. Se consideramos o enunciado: "
Oscar é colérico, observaremos que ' é colérico ' pode ser lido de dois modos: 1 ) 'tem a propriedade de ser colérico ' ou 2) ' é u m membro d a classe das entidades coléricas ' o u 'per tence à classe das entidades coléricas' No primeiro caso, o enunciado em questão pode ser expresso me diante 'Fx ' (ver Q UANTIFICAÇÃO, QUANTIFICACIONAL, QUAN TIFICADOR) , em que 'F ' é uma letra predicado que se lê 'é colérico' No segundo caso, o enunciado em questão pode ser expresso mediante:
x e A, onde ' E ' (abreviatura d e ' eoTí' proposta por Peano) se lê 'é um membro da classe ' e 'A ' é uma letra que re presenta uma classe (no exemplo em questão, a classe das entidades coléricas). A expressão 'x E A é empre gada para substituir um abstrato ou nome de classe. Na lógica das classes, os abstratos designam, com efeito, as classes de todas as entidades que têm certas propriedades. A expressão '
x Fx é um abstrato, que se lê ' a classe de todos os x tais que Fx' O sinal "" sobreposto a 'x ' recebe o nome de "ca puz''- 'i ' é chamada por isso "letra encapuzada" O enunciado 'Oscar é colérico', lido, no sentido menciona do em 2), como
Oscar E colérico, será, pois, igual a: Oscar
E
i
(x é colérico),
isto é, Oscar é um membro da classe de todos os x tais que x é colérico. De modo geral, usam-se na lógica das classes expressões tais como:
y E x Fx X E i Gzw, etc. , mas, a fim de evitar as complexidades dessas notações, preferem-se abreviaturas tais como : x E A, x E B, etc. As letras 'A ', 'B ' 'C ' etc. são empregadas, portan to, para expressar 'a classe A ' , 'a classe B ' , 'a classe C' etc. Observemos que alguns autores preferem as minúsculas latinas cursivas ' a ' , ' b ' , ' c ' ; outros, as le tras 'K' , 'L' etc . ; outros, por fim (como Whitehead e Russell), as minúsculas gregas ' a ' , '13' etc. Nós nos ateremos ao primeiro uso. A noção de classe fo i às vezes confundida com as noÇõe'f_de agregado ou d e t�ª-9� E s sa c onfusão deve serev itada, pois, caso contrário, corre-se o risco de equiparar uma entidade concreta com uma entidade abstrata. As classes são entidades abstratas, ainda que os membros de que se compõem sejam entidades con cretas. Também se equiparou a noção de classe com a de propriedade. Esta última equiparação tem maior fundamento. Como diz Camap, duas classes - corres pondentes a dois predicadores; por exemplo, ' P ' e ' Q ' - são idênticas s e têm os mesmos elementos, isto é , s e ' P ' e ' Q ' são logicamente equivalentes. A intensão do predicador ' P ' é a propriedade P; sua extensão é a classe correspondente. 'Intensão ' e 'propriedade' são usados aqui em sentido obj etivo e não mental. Por sua vez, Quine assinala que classe e atributo são duas entidades abstratas, designadas por termos abstratos. Na álgebra de Boole-Schri:ider, assume-se certo número de idéias elementares (símbolos de classes, ne gação, igualdade, produto, classe nula), constroem-se algumas definições (classe universal, soma lógica, in clusão) e se propõem vários postulados (operações com classes). Das definições e dos postulados se de duzem todas as leis da álgebra de classes. Tudo isso recebe o nome de cálculo de classes. Alguns autores estabelecem uma distinção entre relações de umas clas ses com outras (identidade, inclusão, exclusão, interse ção) e operações com classes ou cálculo de classes propriamente dito (soma, produto). Nós nos limitare mos a mencionar as noções fundamentais da álgebra de classes e a formular algumas leis dessa álgebra.
CLASSE
478
As noções de referência fundamentais são a de complemento, a de inclusão, a de identidade, a de soma, a de produto, a de classe universal e a de classe nula. Excetuando-se as duas últimas, as demais foram apre sentadas e definidas nos verbetes correspondentes (ver COMPLEMENTO; INCLUSÃO; IDENTIDADE; SOMA; PRODUTO). Limitar-nos-emos aqui às noções de classe universal e de classe nula e indicaremos em seguida as represen tações gráficas usuais de algumas das noções anteriores. A classe universal é a classe de todos os membros no universo do discurso, simbolizada por ' V ' (alguns autores usam I ) A classe universal é definida por meio da seguinte expressão: '
'
.
V
def. i (x = x ) ,
= '
na qual a igualdade
x =
' x é satisfeita por tudo.
A classe nula (também denominada vazia) é a classe à qual não pertence nenhum membro do uni verso do discurso, simbolizada por ' /\' (alguns auto res usam 'O'). A classe nula é definida por meio da seguinte expressão :
/\
=
def. i (x
/
\ 1 1
A
1
8
/
representa a soma de duas classes, A e B; há, pois, uma classe composta de todas as entidades que per tencem a A ou a B ou às duas. O diagrama
8
A
)
x ,
na qual a expressão 'x x ' não é satisfeita por nada. A representação gráfica das classes (muito usada para comprovar a validade ou não-validade dos silogis mos a que nos referimos no verbete VENN [DIAGRAMAS DE]) baseia-se no diagrama:
o no qual se representa graficamente a classe A . O dia grama:
representa o produto de duas classes, A e B; a área marcada com uma cruz representa a classe de todas as entidades que pertençam ao mesmo tempo a A e a B. O diagrama
o mostra o complemento A, de A ; a área na qual está A representa a classe de todos os membros que não pertencem a A . O diagrama
representa a inclusão de uma classe A numa classe B; todos os membros de A são, pois, membros de 8. O diagrama
o
CLASSE SOCIAL
479 representa a identidade de duas classes, A e B; os mem bros da classe A são os mesmos da classe B e vice-versa. As leis da álgebra de classes são expressadas me diante fórmulas boolianas, muitas das quais são para lelas às tautologias ou leis da lógica sentenciai. Eis algumas das leis da álgebra de classes: AC ! :
A = A,
AC2 : (A íl Ã)
=
/\ ,
AC3 : (A U A )
=
V,
AC4 : A e A , AC5 :
/\ C A ,
AC6 : A e V, AC 7 : A = Ã, AC 8 : ((A n B ) n C) = (A n (B n C) ) , AC 9 : ( A U B)
(A
n
F) ,
AC I O : (A íl B)
(A
u
F) ,
AC ! 1 : A = V, AC 1 2 : V = /\ , AC 1 3 : ( A íl V ) A , AC 1 4 : ( A íl /\ ) = /\ , AC 1 5 : ( A U /\ ) = A , AC 1 6 : (A U V ) = V. A leitura dessas leis se mostrará fácil com a ajuda dos sinais apresentados neste verbete, além dos contidos nos verbetes já citados: COMPLEMENTO; INCLUSÃO; IDEN TIDADE; SOMA e PRODUTO. Algumas dessas leis recebem nomes. Assim, AC 1 , AC2 e AC3 chamam-se, respectiva mente, leis de identidade, de contradição e do terceiro excluído; AC8 é uma das leis de associação; AC9 e AC I O são denominadas leis de Morgan. CLASSE (CONSCIÊNCIA DE). Ver CLASSE socIAL. CLASSE SOCIAL. Distinguimos o conceito lógico e o conceito sociológico de "classe", falando neste últi mo caso de "classe social" Contudo, levando-se em conta apenas o contexto sociológico, pode-se falar sim plesmente de "classe" Entende-se por 'classe ' , em sentido amplo, um agrupamento de indivíduos que possuem o mesmo grau, ou a mesma qualidade (social), ou que exercem a mesma atividade. Pode-se falar então da classe dos nobres, da dos guerreiros, da dos comerciantes ou da dos artesãos. Assim concebida, a classe é a denominação comum, embora vaga, de toda espécie de agrupamentos: estados, estamentos, ofícios etc. De modo mais estrito, dá-se o nome de "classe" a certos agrupamentos humanos ca racterizados por certos "constitutivos" sociais. Estes podem ser os meios de riqueza (especialmente a posse dos meios de produção), os modos de viver, a estima social em que se tenham seus membros etc.
O nome ' classe' , no sentido de "classe social", é relativamente moderno; começou a ser usado por volta do final do século XVIII, tendo seu uso se estendido desde o começo do século XIX, especialmente a partir da metade do século. Falava-se antes de estamentos, ordens ou "estados''. A divisão da sociedade em grupos correspondentes a algo semelhante ao que depois se entendeu por "classes" parece muito difundida em todas as épocas, chegando-se a duvidar de que o que Marx denominou "comunismo primitivo" tenha sido, efetiva mente, comunismo, por mais primitivo que se suponha. Os filósofos se ocuparam amiúde da organização da sociedade em classes, seja descritiva ou criticamente. Foi muito comum falar de uma estrutura tripartite da so ciedade; os exemplos vão de Platão e Aristóteles à con cepção medieval, e em boa parte moderna, dos "três es tamentos" e dos "três estados'', mudando, em cada caso, a natureza desses estamentos ou estados e, com isso, suas relações mútuas. Podem-se comparar as divisões que Platão propõe para sua República (artesãos, auxiliares ou "militares" e guardiães ou "chefes", com o rei filósofo eleito entre os guardiães) com as estruturas sociais geral mente aceitas na Idade Média e em grande parte da épo ca moderna (trabalhadores, especialmente lavradores, cle ro e nobreza; ver TRABALHO) . Falou-se às vezes de divisões bipartites ou dicotômicas. Por exemplo, a classe alta e a classe baixa, a classe rica e a pobre, a classe exploradora e a explorada. Certas divisões, aparentemente tripartites - como classe alta, média e baixa -, podem transfor mar-se em bipartites quando se supõe que a classe média tende a fazer parte da baixa e, especificamente, a "prole tarizar-se" É comum que, enquanto as divisões tripar tites insistem em alguma harmonia entre as classes, ou a pressupõem, as divisões bipartites ou dicotômicas en fatizem a tensão e a luta entre as classes. Em boa parte das doutrinas sociais reformadoras e revolucionárias do século XIX, de Babeuf e Saint-Simon a Louis Blanqui e Marx, as concepções bipartites e conflituosas predo minaram sobre as tripartites e "harmonizadoras" Sugeriu-se às vezes que, sendo os "constitutivos" que determinam uma classe social distintos em várias épocas, pode haver confusão em empregar indiscrimi nadamente o nome de "classe''. Em todo caso, enquanto parece normal o uso de expressões como 'a classe prole tária' ou 'a classe burguesa' , podendo-se até admitir ' a classe nobre' o u 'a classe patrícia', parece menos próprio falar da "classe intelectual" Os historiadores tendem a distinguir "classe" e "estado" ou "categoria". Para o úl timo, vale a expressão "ter nascido neste ou naquele estado". Alguns sociólogos distinguem "classe" e "gru po" Em alguns casos, prefere-se eliminar a noção de classe para substituí-la pela de grupo, falando-se, a esse respeito, de "agrupamentos sociais" (G. Gurvitch,
CLASSE SOCIAL P. Sorokin e outros), que podem ser classificados de formas muito distintas (cf. G. Gurvitch, la vocation actuelle de la sociologie; vers une sociologie différen tielle, 1 950; 2ª ed., 1 957). Vários autores se preocuparam em determinar até que ponto a noção de classe social pode ser usada num modelo sociológico que permita explicar as mudanças sociais. Este é o caso de Ralf Dahrendorf (Soziale Klassen und Klassenkonflikt in der industriellen Gesell schaft, 1 957). Não se trata aqui de considerar a noção de classe como reflexo de determinada situação social, ou econômico-social, e menos ainda como consciência dessa situação; o conceito de classe funciona antes como uma categoria cuj a aceitação depende do poder explicativo que possua, no âmbito do modelo, para dar conta de mudanças na sociedade (ver José Maria Maravall, "Un intento de reconversión analítica de la categoria de 'clase social "' , em Teoría y sociedad. Ho menaje ai projesor Aranguren, 1 970, pp. 2 1 5-229). O termo 'classe' tem uma importância fundamental entre autores marxistas. Segundo Lucien Goldmann (Sciences humaines et philosophie, 1 952, pp. 94 ss.), a noção de classe é primária; só ela tem um caráter dinâ mico e histórico, ao contrário da noção de grupo, funda mentalmente estática. Numerosos autores não-marxistas seguem os marxistas no que se refere a isso. Discutiu se se o fundamento da divisão da sociedade em classes é a diversidade de funçôes sociais ou se é a posse ou não-posse dos meios de produção. Alguns autores afir mam que, embora para várias épocas a diversidade de funções sociais possa ser a base de uma divisão da so ciedade em classes, para a época moderna, pelo menos, a própria diversidade de funções sociais depende da pos se ou não-posse dos meios de produção. Houve discus sões sobre o caráter predominantemente "objetivo" ou "subjetivo" da noção de classe. Entre os que preconi zam o caráter "objetivo", alguns não descuidam a impor tância que pode ter a consciência de classe para a deter minação da classe, de modo que essa concepção "obje tiva" se acha permeada de "subjetividade" Não obstan te, denomina-se "concepção subjetiva" sobretudo aquela que, sem negligenciar por completo as relações econô micas como constitutivas da noção de classe, insiste em fatores como a estima, ou os modos de viver, e, em alguns casos, inclusive o modo de falar ou de exprimir-se. Especialmente entre autores marxistas, discutiu-se com freqüência o problema da noção de classe como "consciência de classe" e também a questão da nature za da chamada "luta de classes" Jean-Yves Calvez (la pensée de Karl Marx, 1 956, pp. 1 97 ss.) acentua que se encontram em Marx vestígios de concepções de "classe" muito diversas, fundadas em considerações psicológicas, culturais, "raciais" (em certas comunidades antigas ou
480 colonizadas) etc., ou em considerações referentes à divi são do trabalho, disparidade de renda etc. Encontram se também indicações favoráveis a uma teoria baseada em situações objetivas e também a uma teoria que se apóia na reflexão subjetiva sobre uma situação dada. Embora essa diversidade desapareça, ou se atenue, quando se considera a sociedade capitalista burguesa moderna, e embora seja possível, e até razoável, falar de uma corre lação constante entre classe, ou situação objetiva, e cons ciência de classe, ou reflexão subjetiva, é compreensí vel que tenha havido muitas interpretações do conceito marxista de classe e da noção de consciência de classe. A interpretação adotada dependeu em grande parte da importância que se tenha dado em cada caso ao marxis mo como conteúdo mais ou menos fixo ou como mé todo aberto, aos aspectos "científicos" ou aos "filosófi cos", à maior ou menor preponderância concedida aos elementos hegelianos etc. Em geral, a ênfase nos aspec tos metódicos, filosóficos e "hegelianos" do marxismo conduziu a acentuar a noção de classe como consciência de classe. Por outro lado, os aspectos "subjetivos" da noção de classe em forma de consciência de classe não têm por que ser "pessoais"; eles podem oferecer, como acontece em Lukács, um caráter "impessoal", já que então se trata dos propósitos de determinado processo social. Cabe, além disso, como afirma Lukács (Geschi chte und Klassenbewusstsein, 1 923, ed. em Werke, 2, p. 235), uma oposição entre consciência de classe e inte resse de classe. Essa oposição, que se dá na burguesia, não é, segundo esse autor, contraditória, mas dialética. Observe-se que uma teoria da consciência de classe não tem por que ser "subj etiva"; pode haver uma teoria objetiva da consciência de classe (op. cit. , p. 255). No âmbito dessa teoria obj etiva, a consciência de classe de qualquer classe diferente da proletária não é um reflexo da realidade, nem sequer de sua própria realidade, mas uma deformação. Os que se opõem a Lukács com refe rência a esses aspectos - e o próprio Lukács na medida em que desautorizou suas próprias idéias - costumam enfatizar o aspecto objetivo, ou de situação social, da classe; a consciência de classe não fica eliminada, mas é função desse aspecto obj etivo. A idéia da história - da "história até o presente" - como luta de classes é considerada por Marx uma generalização de sua análise da sociedade burguesa capitalista moderna, mas de um modo ou de outro foi uma idéia que se impôs no âmbito do marxismo. For mulou-se a esse respeito a questão de saber se pode haver um momento em que as classes desapareçam, e isto pode querer dizer ou desaparecer (por "culmina ção") o próprio processo histórico, ou continuar numa forma completamente distinta da que houve até agora. Visto que o programa político-social do marxismo na maior parte de suas variantes visa instaurar uma socie-
481 dade sem classes, parece óbvio que e m tal sociedade não pode haver, por definição, lutas de classes. E, com efeito, pode-se equiparar ' sociedade sem classes' com 'sociedade sem lutas de classes' . Muitas das interpreta ções do marxismo admitem esse tipo de equiparação. Porém, como isso parece pressupor que, uma vez reali zada a revolução para a eliminação das classes, se terá atingido um estado no qual o problema terá sido resolvi do, outras interpretações afirmam que nunca se suprimi rá por inteiro a luta de classes. É o que propõem os maoistas. Eles não afirmam com isso que uma sodeda de sem classes seja uma sociedade na qual haja lutas de classes; pressupõem unicamente que mesmo numa so ciedade sem classes espreita sempre o perigo de que voltem a surgir divisões de classes. Por essa razão ou suposição -, esta interpretação insiste no fato de que a revolução é, ou deve ser, permanente. Disso se segue que mesmo uma sociedade sem classes tem de estar em revolução - não para passar a outra sociedade na qual haja classes, mas para continuar mantendo-se como so ciedade sem classes. CLASSES (LUTA DE). Ver CLASSE SOCIAL; MARXISMO; MATERIALISMO HISTÓRICO. CLAUBERG, JOHANNES ( 1 622- 1 665). Nascido em Solingen, foi professor em Herbom ( 1 649- 1 65 1 ) e em Duisburg ( 1 65 1 - 1 665). Clauberg seguiu a tradição aris totélica, muito difundida nas universidades alemãs e holandesas de sua época, mas recebeu também influên cias cartesianas, transformando-se num dos defensores do ocasionalismo ( vER) . Segundo Clauberg, é necessária a intervenção constante de Deus para produzir, e para se poder entender, a relação entre processos mentais e processos corporais. O que nestes últimos denominamos "causas" são antes "ocasiões" que permitem à alma possuir as idéias correspondentes. Isso não significa que não haja substâncias, mas que elas não se relacio nam como se uma fosse causa própria da outra. Clauberg foi o primeiro a usar os termos ' ontolo gia' e ' ontosofia' para designar a metaphysica de ente. A ontologia ou ontosofia trata do ser em geral e dos diversos sentidos em que cabe entendê-lo de um ponto de vista formal. :> Obras : Elementa philosophiae sive ontosophia, scientia prima, de iis quae Deo creaturisque seu modo communiter attribuntur, 1 647; 3ª ed., 1 664; edição ano tada, com o título Joannis Claubergii ontosophia quae vulgo metaphysica vocatur, 1 694 (com um apêndice que contém o trabalho intitulado Logica contracta). Differentia inter Cartesianam et in scholis vulgo usi tatam philosophiam, 1 65 l . - Defensio cartesiana, 1 652. - Excertitationes centum de cognitione Dei et nostri, 1 656. - Logica vetus et nova, 1 658. - Phy sica contracta, 1 689.
CLEANTO Edição de obras: Opera omnia philosophica, ante quidem separatim, nunc vero conjunctim edita, multis partibus auctiora et emendatiora; quibus accessere ( . .) . Opuscula quaedam nova, numquam antehac edita ( . .), cura Joh. Theod. Schalbruchii (Amsterdã, 1 96 1 ; reed., 1 968). Contém uma Series Tractatum, entre os quais figuram: Physica Contracta; Disputationes Physicae; Theoria Corporum Viventium; Conjunctio Animae & Corporis; Metaphysica de Ente, cum Notis; Paraphra sis in Meditationes Cartesii; Logica Vetus & Nova; Logica Contracta; Defensio Cartesiana. Dubitatio Car tesiana; Exercitationes & Epistolae (entre J. C. e Tob. Andrea). Ver: H . Müller, J Clauberg und seine Stellung im Cartesianismus mit besonderer Berücksichtigung seiner Stellung zur occasionalistischen Theorie, 1 89 1 (tese). - E. Giipfert, Clauberg-Studien, I, 1 898. - P. Brosch, Die Ontologie des J Clauberg, 1 926. - E. Viola, "Sco lastica e cartesianesimo nel pensiero di J. Clauberg", Rivista di Filosofia Neo-Sco/astica, 67 ( 1 975), 247266. - F. Trevisani, Descartes in Germania: La ricezio ne dei cartesianesimo nella Facoltàfilosofica e medica di Duisburg (1 652-1 703), 1 992. Fragmentos: J. von Amim, Stoicorum veterum frag menta, I ( 1 92 1 ) , 552-588. Ver: Artigos sobre Cleanto de Th. Gomperz, Zeits chrifl for das osterreichischn Gymnasium ( 1 878); U. von Wilamowitz-Moellendorf, Hermes ( 1 940), e G. Verbeke (Verhand. Kon. VI. Acad. von Wetensch. Lett. en Sch. Kunsten von Belgie, Kl . Leteteren, IX, 9, 1 949. - Artigo sobre Cleanto (Kleanthes, 2), de J. von Amim em Pauly-Wissowa. - Ver também: M. Dragona-Mo nachou, "Providence and Fate in Stoicism and Prae-Neo platonism: Calcidius as an Authority on Cleanthes' Theo dicy", Philosophia (Atenas), 3 ( 1 973), 262-306 [comen tário a Stoicorum f-éterum Fragmenta, 2, 933]. A mais recente edição de textos e comentários é a de Fritz Wehrli no Caderno I I I de Die Schule des Aristoteles: Klearchos, 1 948; 2ª ed., 1 969. Ver: J. J. Schweighãuser, Animadversiones in Athe naei Deipnosophistas post lsaacum Casaubonum cons cripsit, 1 905- 1 906. - J. 8. Verraert, Diatribe acad. inaug. de Clearcho Solensi, 1 828. - M. Weber, De Clearchi Solensis vila et operibus, 1 880 (tese). - Art. de W. Kroll sobre Clearco (Klearchos, 1 1 ) em Pauly Wissowa. C: CLEMENS. Ver NEO-ESCOLÁSTICA. CLEMENTE de Alexandria (ca. 1 50-ca. 2 1 5 ). Mes tre da escola para catequistas da mesma cidade, dedi cou-se antes de tudo a inserir a tradição filosófica grega no cristianismo, que é considerado por ele uma verdade total diante de uma verdade parcial, um saber completo diante do saber incompleto, fragmentário e freqüentemente falso do helenismo. No helenismo, e especialmente nos pitagóricos, em Platão e em alguns estóicos, encontram-se, segundo Clemente, verdades encobertas pelo grande erro do paganismo, antecipa ções que fazem da filosofia não algo oposto à fé cristã, mas uma preparação para a fé concedida por Deus àqueles que não constituíam até o Novo Testa mento o povo eleito. A revelação do Verbo é o verda deiro saber, mas um saber que, embora conhecido pela fé, conduz a um assentimento de caráter evidente, à maneira da "fantasia cataléptica" (ver CATALÉPT1co) dos estóicos. Essa revelação foi dada antes parcialmen te aos judeus, mas também aos gregos na figura de seus sábios - de todos os sábios, e não apenas dos de determinada escola. Para Clemente, a assimilação da tradição grega é total e constitui em seu conjunto o que ele chama de filosofia, isto é, aquilo que pode preparar para a fé e ao mesmo tempo transformar a fé em conhecimento. Dessa maneira, entre a fé e o saber filosófico não há contradição, pois ambos se comple mentam e encontram sua verdade na verdade única do revelado. Mas isso não equivale a uma completa ra cionalização da fé, pois há nesta verdades que ultrapas-
482 sam a compreensão. Por isso a filosofia não pode, por exemplo, chegar a um conhecimento positivo da essên cia e dos atributos de Deus. :> Obras: Conservaram-se das obras de Clemente o Protréptico aos gregos, o Pedagogo e os Stromata (respectivamente, partes primeira, segunda e terceira de uma grande obra apologética e expositiva), assim como vários escritos menores e fragmentos. Edição de obras: Florença, 1 550; Heidelberg, 1 592; Oxford, 1 7 1 5 . Edição na Patrologia grega de Migne, t. VIII e IX. Nova ed. critica por O. Stãhlin em Die grie chischen christlichen Schriftteller der drei ersten Jahr hunderte (vol. !. Protréptico e Pedagogo, 1 905; I I . Stro mata !- VI, 1 906; III. Stromata, Vll- Vlll; escritos meno res e fragmentos, 1 909). Índice da edição de Stãhlin, publicado em 1 934. Ver: J. Cognat, Clément d 'Alexandrie, sa doctrine et sa polémique, 1 85 8 . - E. Freppel, Clément d 'Ale xandrie, 1 865. - E. de Faye, Clément d 'A lexandrie. Étude sur les rapports du christianisme et de la philo sophie grecque du li" siecle, 1 892; 2ª ed., 1 906; reimp., 1 967. - H. U. Meyboom, Clemens A lexandrinus, 1 9 1 2 . - J. Meifort, Der Platonismus bei C. Alexandri nus, 1 928. - J. Munck, Untersuchungen iiber Clemens Alexandrinus, 1 93 3 . - Mondesert, Clément d 'A lexan drie. lntroduction à l 'étude de sa pensée religieuse à partir de l 'Écriture, 1 944. - Ih. Camelot, O. P. , Foi et Gnose. lntroduction à l 'étude de la connaissance mystique chez Clément d 'Alexandrie, 1 94 5 . - G. Ca talfamo, S. Clemente A lessandrino, 1 95 1 . - E. F. Osborn, The Philosophy of C. ofA . , 1 95 7 . - Andrés Méhat, Étude sur les Stromates de Clément d 'Alexan drie, 1 966. - Olivier Prunet, La mora/e de Clément d 'Alexandrie et /e Nouveau Testament, 1 966. - Raoul Mortley, Connaissance religieuse et herméneutique chez Clément d 'A lexandrie, 1 973. - Morton Smith, C. o.fA . and a Secret Gospel of Mark, 1 973. - H. 8. Timothy, The Early Christian Apologists and Greek Philosophy, Exemplified by lrenaeus, Tertullian and C. ofA . , 1 97 3 . - J. Ferguson, C. of A . , 1 974. - G. Apostolopoulou, Die Dialektik bei Klemens von Ale xandria. Ein Beitrag zur Geschichte der philosophis chen Methoden, 1 977. - R. Hoffmann, Das prinzi pielle Denken und seine praktische Anwendung bei C. von A. - Eine Untersuchung zum spiitantiken Plato nismus, 1 978. C: CLIFFORD, WILLIAM KINGDON ( 1 845- 1 879). Nascido em Exeter, professor ( 1 87 1 - 1 879) no Univer sity College, de Londres, e habitualmente considera do um dos representantes do evolucionismo naturalista inglês das últimas décadas do século passado, ele de fendeu em filosofia um sensacionismo para o qual to do objeto é, em última análise, um complexo de sensa ções. Nesse sentido, sua doutrina pode ser qualificada de empirista-fenomenalista e se encontra na linha que
483 vai de Hume a Mach. A redução do ser a impressões não é, porém, para Clifford, uma mera psicologização do obj eto. A rigor, objeto e suj eito pertencem à mesma ordem de realidade, e sua única diferença consiste no fato de que, enquanto o segundo é "sentido'', o primei ro é uma ejection ou proj eção do complexo de impres sões do eu. Essa realidade "ejetiva" possui, em todo caso, certa obj etividade. Com efeito, as impressões do "eu" nunca permanecem isoladas, mas em indisso lúvel conexão com outros complexos de impressões. Em primeiro lugar, e antes de tudo, há os "obj etos sociais" dentro de cuja trama é dado todo eu indivi dual; em segundo lugar, há um mundo sem o qual o eu ficaria substancializado e, por conseguinte, elimina do. Os processos "ej etivos" estão submetidos, de resto, a uma evolução que percorre todas as ordens da na tureza e permite concluir que o último estágio é um complexo de impressões conscientes. Daí a teoria do "tecido mental" (mind-stujj) que constitui a trama úl tima da realidade e está destinado, segundo Clifford, a resolver o dualismo de sujeito e obj eto, de espírito e corpo, de consciência e matéria. Assim, o que há, em última análise, é o "sentido", e o "sentido" é o em si, do qual emergem todos os dualismos, concebidos como divisões artificiais praticadas pela inteligência, mas que não correspondem à realidade da coisa. Matéria e psiquismo são, portanto, dois aspectos dife rentes do "real" Entretanto, como Clifford se inclina mais a determinar os caracteres do psíquico por meio dos traços pertencentes ao físico do que o inverso, sua metafísica é, em última análise, um pampsiquismo com uma base ontológica materialista e evolucionista estreitamente afim à doutrina de Spencer. :l Obras: Seeing and Thinking, 1 879. - Lectures and Essays, 2 vols., 1 879, ed. L. Stephen e F. Pollock. - The Com monsense of the Exact Sciences, 1 8 85, ed. por K. Pearson; reed. por J. R. Newman, com prefácio de B. Russell, 1 95 5 . - The Ethics of Belief, 1 909. Todas estas obras são coletâneas de artigos e aulas, tendo sido publicadas postumamente. Durante sua vida, Clifford publicou seus principais estudos matemáticos: Preliminary Sketch of Bi-Qua ternions, 1 873, e On the Canonical Form and Dissec tion of a Riemann 's Surface, 1 877. Obras: Geschichte des Unendlichkeitsprob/ems im abendliindischen Denken bis Kant, 1896; reimp., 1960 (História do problema do infinito no pensamento oci dental até Kant). - A llgemeine Aesthetik, 1901 (Esté tica geral). - f!óraussetzungen und Zie/e des Erkennens. Untersuchungen iiber die Grundfragen der Logik, 1908 (Pressupostos e fins do conhecer. Investigações sobre as questões fundamentais da lógica). - Der Sinn der gegenwiirtigen Ku/tur. Ein phi/osophischer Versuch, 1 914 (O sentido da cultura atual. Ensaio filosófico). "Relativitiit und ldealismus", Kantstudien, 21 (1917). - Geist der Eerziehung. Piidagogik auf philosophis cher Grund/age, 1919. - Die Theorie der Dialektik, Formen/ehre der Philosophie, 1923 (A teoria da dialé tica, doutrina das formas de filosofia). - Die Philo sophie im Zeitalter des Spezialismus, 1 925 (A filosofia na época do especia/ismo). - Wertwissenschaft, 3 vols., 1 932-1933 (Ciência do valor). - Wirklichkeit ais A uf gabe. A us dem Nachlass (póstumo), 1 955, ed. Jürgen von Kempski (Realidade como tarefa).
Depoimento em Deutsche Phi/osophie der Gegen wart in Selbstdarstellungen, II, 192 1 . Ver: R. Klockenbusch, Husserl und Cohn: Widers pruch, Reflexion, und Te/os in Phiinomenologie und Dia/ektik, 1989. Obras: O Criacionismo, 1902. - O pensamento criacionista, 1914. - A morte, 1913 . - A luta pela imortalidade, 1 916. A A legria, a Dor e a Graça, 19 1 6. Do A mor e da Morte, 1922. Edição de obras completas, Lisboa, 1957 ss. Ed. de escritos inéditos ("O espírito e a guerra", "A alma'', "A origem e o valor da idéia de vida espiritual'', "Dois humanismos", "Duas liberdades'', "Espíritos l iberais e espíritos reacionários'', "A personalidade espiritual de Guerra Junqueiro") em Revista Portugue sa de Filosofia, 12 (1956), 3 60-402 . Esta edição de textos está precedida pelo estudo de A. de Magalhães, "A perenidade do pensamento filosófico de L. C.", ibid. , 3 3 7-359. Ver: José Marinho, O pensamento .filosófico de L. C. , 1 945. - Delfim Santos, "Actualidade e valor do pensamento filosófico de L. C.", separata de Studium generale, 3 ( 1956), 51-67. - M. Spinelli, "O criacio nismo de L. C.", Revista Portuguesa de Filosofia, 37 ( 1981) , 3-35. - A. F. Morujão, "O sentido da filosofia em L. C .", ibid. , 39 ( 1983), 345-364. - M. Patricio, "O anti-aristotelismo explícito de L. C. (contribuição para o estudo do problema)'', ibid. , 39 ( 1 983), 408452. - A. Alves, "Leitura Metafisica de A Alegria. a Dor e A Graça Obra-Prima de L. C.", ibid. , 4 1 ( 1 985), 181-20 8 . Obras: O título completo da obra de Collier é Clavis Universalis ar a New Inquiry after Truth, Being a De monstration o/ the non-Existence, ar Impossibility, o{ an Externai World, 1 7 1 3 . Em 1 756, ela foi traduzida para o alemão por Eschenbach; uma edição, com outros folhetos da época, foi feita em 1 837 por S. Parr. Edição com notas de Ethel Bowman, 1 909. Reimp. da ed. de 1 7 1 3 , com notas de Heinz Heimsoeth, 1 964. - Collier escreveu, além disso, A Specimen o{ True Philosophy; in a Discourse on Genesis, 1 730, e uma Logology, 1 732. A Clavis destinava-se justamente a servir de introdução a uma compreensão das Escrituras.
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Ver: Robert Benson, A rthur Collier, 1 83 7 . - A. Kowalewski, Kritische A nalyse von A . Co//iers Clavis universa/is, 1 897 (tese). - Ethel Bowman, Prefatory Note à edição da Clavis, 1 909. - G. A. Johnston, "The Relation between Collier and Berkeley", A rchiv für Geschichte der Phi/osophie, 32, N. F., 25 ( 1 9 1 8), 1 62- 1 75 . - F. E . Jordak, "A. C.'s Theory of Possi bility", ldealistic Studies, 8 ( 1 978), 253-260. C: COLLINGWOOD, R[OBINf G [ EORGE) ( 1 8891 943). Nascido em Cartwell Fell (Inglaterra), Fellow no Pembroke College (Oxford) e depois professor de Metafisica no Magdalen College (também em Oxford), iniciou sua meditação filosófica com o que denomina va uma revisão crítica das principais formas da experiên cia humana. Um "Novo tratado da natureza humana" devia constituir, pois, seu fundamento. Essa revisão foi realizada no decurso de um novo idealismo (embora o autor desprezasse esse nome); Collingwood não apenas rejeitava as teses realistas como procurava mostrar os fracos pressupostos destas. Na verdade, o exame das formas da experiência humana - exame mais descri tivo que propriamente especulativo - conduz-nos a considerar circularmente - e, até certo ponto, dialeti camente - a vida do espírito e, portanto, o "mapa do conhecimento" Collingwood considera que o campo da experiência divide-se em várias regiões: arte, religião, ciência, história, filosofia. Cada região é uma "ativida de do espírito cognoscitivo" (Specu/um mentis, II, p. 39). Cada uma é um "erro", isto é, um momento par cial da verdade. Não há dúvida de que, ao alcançarmos a história, parecemos chegar a um ponto em que a unificação se toma possível. Com efeito, a história é uma forma de experiência cujo objeto é a realidade concreta. "O objeto da história" - escreve Collingwood - "é o fato enquanto tal" (op. cit. , VI, 2; p. 2 1 1 ), e, em sua opinião, o mundo do fato é o objeto absoluto. Nenhuma atitude do espírito e nenhuma faceta da expe riência seriam, assim, alheias à história. Ou, para dizê lo na mesma fórmula concentrada do filósofo: "A arte baseia-se na ignorância da realidade; a religião, na igno rância do pensamento; a ciência, na ignorância do fato. Mas, com o reconhecimento do fato, reconhece-se tudo o que é real em algum sentido. O fato, tal como está historicamente determinado, é o objeto absoluto" (op. cit. , VI, 3, p. 2 1 8). Ora, se o Absoluto aparece sob a forma do universal concreto, o conhecimento histórico será um conhecimento de um mundo infinito de fatos e, por conseguinte, um conjunto infinito de pensamen tos. A dialética nos conduz, uma vez mais, à impossi bilidade do que parecia evidente. Mas somente a busca do fundamento do conjunto infinito concreto permite nos superar o estágio anterior. Essa busca nos conduz justamente à filosofia, em que o ciclo dialético se fecha, não por esgotamento de todos os obj etos, mas pelo
COLLINGWOOD, H[OBIN] G[EOHGE]
conhecimento deles mediante o autoconhecimento do espírito. Esse espírito não é, todavia, uma idéia, mas uma experiência radical. Daí que a sua descrição equi valha à sua vivência; daí que o conhecimento de si mesmo seja a repetição do viver de si mesmo. Uma metafisica, uma filosofia da Natureza, da história, da arte e da vida social humana são conse qüências inevitáveis desse movimento cognoscitivo e vivido do espírito. Collingwood admite a metafisica, porém não como uma ciência do puro ser, não como uma ontologia, mas como saber de algo concreto. Essa realidade concreta são as suposições, pressuposições ou pressupostos (ver PREssurosrn ) , e isso de tal ma neira que a metafisica se transforma em "ciência das pressuposições absolutas" (A n Essay on Metaphysics, p. 32). Collingwood combate desse ponto de vista o neo-realismo e o analiticismo, afirmando que o pensar sobre o qual estes realizam suas análises é um pensar de grau inferior e que toda análise é, no fim, análise metafisica. Ora, esses pressupostos são, a rigor, pres supostos "históricos", motivo pelo qual a própria me tafisica se torna "ciência histórica" (op. cit. , p. 49). A consideração do histórico vai se transformando desse modo no tema central da filosofia de Collingwood, cuj as obras propriamente hi stóricas chegam também a fazer parte de seu pensamento. Mas o histórico não se detém, naturalmente, na história propriamente dita, na metafisica e na vida "circular" e "dialética" do es pírito - ela atinge igualmente, e em proporção consi derável, a própria idéia de Natureza. Esta não é então simplesmente o conjunto das coisas naturais; em todo caso, essas coisas não podem ser vistas nem compreen didas senão a partir de uma idéia da Natureza que mostra ser, por sua vez, uma idéia histórica. Com isso, segundo Collingwood, em lugar de relativizar-se, a Natureza adquire a realidade da "historicidade" Em outros termos, a idéia da Natureza não se dá senão por meio de uma concepção histórica, não havendo, por conseguinte, uma Natureza idêntica, prévia a toda con sideração e cuj as possíveis idéias não foram senão pontos de vista determinados e parciais. Por isso, a historicidade é um caráter fundamental do real, e, assim, a realidade somente é acessível - e não apenas cognoscitivamente - por meio de uma idéia ou inter pretação histórica. :> Obras: Religion and Philosophy, 1 9 1 6 . - Specu /um Mentis, 1 924. - Out/ines of a Philosophy ofArt, 1 924. - An Essay on Philosophica/ Method, 1 93 3 . - The Principies ofA rt, 1 93 8 . - An A utobiography, 1 939. - A n Essay on Metaphysics, 1 940. - The New Leviathan, or Man, Society, Civilization, and Barba rism, 1 942. - Obras póstumas: The ldea of Nature, 1 945. - The ldea of History, 1 946. - Essays in the Philosophy ofA rt, 1 964, ed. Alan Donagan (artigos de 1 922 a 1 929). - Essays in the Philosophy ofHistory,
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COLLINS, [JOHN] ANTHONY 1 96 5 , ed. W. Debbins. - Faith and Reason: Essays in the Philosophy of Religion, 1 968, ed. Lionel Rubinoff (contém partes de obras j á publicadas, como Speculum Mentis, e artigos não publicados antes em livro). Bibliografia: ! . M. Richmond, "R. G. C.: B iblio graphy of Writings on Ancient History and Archaeo logy", Proceedings ofthe British A cademy, 29 ( 1 943), 48 1 -4 8 5 . - Michael Krausz, "C. Bibliography", no volume ed. pelo mesmo autor cit. infra, pp. 327-448 . - D . S . Taylor, R. G . C. : A Bibliography, 1 98 8 . - C. Dreisbach, R. G. C. : A Bibliographic Checklist, 1 993 . Ver: Alan Donagan, The Later Philosophy o{ R. G. C. , 1 962. - H. R. Walpole, R. G. C. and the Idea of Language, 1 963. - Merle Elliott Brown, Neo-Idealistic Aesthetics: Croce-Gentile-C. , 1 966. - Albert Shalom, R. G. C., philosophe et historien, 1 967. - W. M. Johns ton, The Formative Years of R. G. C. , 1 969. - Louis O. Mink, Mind, History and Dialectic: The Philosophy of R. G. C. , 1 969. - Lionel Rubinoff, C. and the Re form o{Metaphysics: A Study in the Philosophy ofMind, 1 970 (com ampla bibliografia). - A. Donagan, L. Rubinoff et ai. , Criticai Essays on the Philosophy of R. G. C. , 1 972, ed. Michael Krausz. - Kenneth Laine Ketner, An Emendation ofR. G. Colling'A'ood s Doctrine ofAbso lute Presuppositions, 1 97 3 . - W. J. van der Dussen, History as a Science: The Philosophy of R. G. Colling wood, 1 98 l . - A. F. Russell, Logic, Philosophy, and History: A Study in the Philosophy ofHistory Based on the Work o{ R. G. C. , 1 984. - H. Saari, Re-Enactment: A Study in R. G. C.s Philosophy o{ History, 1 984. D. Boucher, The Social and Political Thought of R. G. C. , 1 989. - M. Hinz, Self Creation and History: C. and Nietzsche on Conceptual Change, 1 994. C
COLLINS, [JOHN) ANTHONY ( 1 676- 1 729). Nas cido em Hounslow, nas proximidades de Londres. Se guidor de Locke, Collins foi um dos mais destacados deístas (ver DEÍSMO) e livre-pensadores ( vER ) , tendo sustentado retumbantes polêmicas contra vários auto res que acusou de não submeter a livre exame crítico as crenças religiosas recebidas dogmaticamente. Segundo Collins, essas crenças não têm por que escapar ao livre exame a que se devem submeter todas as afirmações. Esse l ivre exame é conduzido pela razão, que não pode admitir enganos nem fraudes. Collins opõe-se vigorosamente a "argumentos" segun do os quais as verdades reveladas são "mistérios" im penetráveis à razão; tais "argumentos" são resultado da credulidade infundada e do temor de descobrir a verdade. O "livre-pensamento" é um pensamento não atemorizado pela autoridade e não submetido à supers tição, ou ao falso entusiasmo, que Collins denuncia, assim como Shaftesbury, como origem de muitos males. A rigor, o temor e a superstição são piores que
o ateísmo. Aqueles que se opõem ao livre-pensamento são os que manifestam ignorância e desumanidade. Os livre-pensadores, desde Sócrates e Platão, passando por Epicuro e Sêneca, até Bacon, Herbert de Cherbury e Locke, entre outros, são os verdadeiramente sábios e plenos de espírito humano. Ao recusar o que considerava fraudes e superstições nas Escrituras, Collins efetuava a crítica bíblica depois desenvolvida por muitos filósofos e historiadores. Ao mesmo tempo, a eliminação dessas fraudes e supersti ções podia, a seu ver, descobrir o que havia na Bíblia de verdadeiro e razoável, que era o que correspondia às verdades morais naturais e universais. :> Entre os escritos de Collins, vários dos quais pu blicados anonimamente, figuram: An Essay Concer ning the Use of Reason in Propositions, the Evidence where of Depends upon Human Testimony, 1 707. A Discourse on Freethinking, Occasion 'd by the Rise and the Growth of a Sect cal! 'd Free-Thinkers, 1 7 1 3 . - A Philosophical Inquiry Concerning Human Liber ty, 1 7 1 5 . - A Discourse of the Grounds and Reasons of the Christian Religion, 1 724. - The Scheme of Li teral Prophecy Considered, 1 72 5 . - A Discourse Con cerning Ridicule and Irony in Writing, 1 727. - Disser tation on Liberty and Necessity, 1 729. Edição de obras : Eds. da Philosophical Inquiry, 1 7 1 7, 1 727, 1 73 5 , 1 749, 1 790 (ed. J. Priestley), 1 890 (notas de G. W. Foote e int. de J. M. Wheeler); ed. de 1 976 por J. O ' H iggins (com " Introdução"), cit. infra. Ver: James O'Higgins, A. C. : The Man and His Works, 1 970. O mesmo autor preparou uma ed. do Phi losophical Inquiry com discussão e opiniões de Hobbes, Locke, Bayle, William King e Leibniz, 1 976. - D. Berman, "A. C . : His Thought and Writings", Herma thena ( l 975), 49-70. - R. Attfield, "Clarke, Collins and Compounds", Journal ofthe History ofPhilosophy, 1 5 ( 1 977), 45-54. - W. L. Rowe, "Causality and Free Will in the Controversy Between Collins and Clarke", ibid. , 25 ( 1 987), 5 1 -67. e COMELLAS Y CLUET, ANTONIO. Ver Nrn-Esco
LÁSTICA. COM Ê N I O (COM E N I U S ; KOM E N S KY, JAN AMOS) ( 1 592- 1 670). Nascido em Uhersky Brod (Mo rávia, Tchecoslováquia). Membro da Unidade de Ir mãos Morávios, que seguia as pregações de João Hus, estudou em Herbom e em Heidelberg. Ordenado pastor na Morávia, teve de exilar-se em conseqüência da per seguição de protestantes pelos Habsburgo na Guerra dos Trinta Anos. Comênio dedicou-se a várias maté rias, científicas, religiosas e educativas; são abundantes em suas obras influências muito diversas: do neopla tonismo, da escolástica, da mística, da magia natural renascentista . . . O estudo de Luis Vives, Campanella e,
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sobretudo, Francis B acon levou Comênio à idéia de uma "Grande Didática", na qual se preconiza e desen volve um método universal para a aquisição e o ensi namento de todos os conhecimentos. A unidade de todos os conhecimentos e a universalidade do método indutivo empírico são fortemente enfatizadas por Co mênio, em quem se combinam os interesses enciclo pédico e pedagógico. Comênio é conhecido sobretudo como um dos grandes reformadores da pedagogia, e, com efeito, encontra-se em várias de suas obras, espe cialmente na Didática, um grande número de preceitos pedagógicos. Além disso, Comênio defendeu a forma ção de um "Colégio Universal", o uso de uma língua internacional e uma reforma educacional que atingis se todos os países. Tudo isso, porém, deve ser enten dido em função de seu interesse enciclopédico, que era ao mesmo tempo a manifestação de um espírito de ilustração e de ordenação e pacificação dos espíritos. Os preceitos do ensino estavam correlacionados com os princípios das ciências, de maneira que a organiza ção pedagógica correspondia à organização lógica das distintas matérias. Comênio foi um dos primeiros a pre conizar o caráter ativo da educação, o que supunha a participação do estudante no processo pedagógico. Sua idéia de uma pansophia era ao mesmo tempo a idéia de uma pan-harmonia de todos os homens e de todas as comunidades na paz e no conhecimento universais. :> Obras: Janua linguarum reserata, 1 63 l . - Didac tica Magna, escrita em tcheco, traduzida pelo próprio C. para o latim em 1 635- 1 636 e publicada em 1 657, com outra obras, em Opera didactica omnia . - Via Lucis vestigata et vestiganda, 1 668. Edição de obras: J. A. Comenii Opera Omnia / Dílo Jana Amos e Komenského (latim-tcheco), 1 969 ss., ed. A. Skaro. Ver: J. Kvacala, 1 A. C. Sein Leben und seine Schrif ten, 1 892, e, sobretudo, do mesmo autor: 1 A . C. , 1 9 1 4 . - Ver também: A. Faggi, II Galileo della pedagogia, 1 902. - F. Orestano, C. , 1 906. - A. Heyberger, 1 A . C. , s a vie e t son oeuvre d 'éducation, 1 928. - Frantisek Zozik, The Sorrowful and Heroic Life ofJ. A. C. , 1 95 8 . - M . Blekastad, Comenius. Versuch eines Umrisses von Leben, Werk, Schicksal des Jan A mos Komensky, 1 969. - H. Trãnker, Die Pansophie der hermeneutis chen Bruderschafl vom Rosenkreuz, 1 98 1 . - K. Scha ller, ed., Comenius. Erkennen, Glauben, Handeln, 1 987. - Consultar também a introdução de G. Lombardo Radice à trad. italiana da Didactica Magna: Didattica Magna, 1 9 1 3 ; 2ª ed., 1 93 8 . A Comenius Gesellschafl publicou uma série d e comunicações, exposições e monografias desde 1 893 (anos l -28, 1 892- 1 9 1 9, subdivididos em 39 vols.). O Museu Comênio de Uhersky Brod (Tchecoslová quia) publica a revista Studia comeniana et historica. , mas estas proporcionam apenas a base primária do conhecer (uma base sobre a qual se montam as idéias gerais). Pode-se adotar um empirismo que foi às vezes denominado
CONHECIMENTO
"total": é o empirismo que recusa ater-se às impressões sensíveis por considerar que estas são apenas uma parte, e não a mais importante, da "experiência" Para esse empirismo, a "experiência" não é apenas experiência sensível: pode ser também experiência "intelectual", ou experiência "histórica", ou experiência "interior", ou todas essas coisas ao mesmo tempo. Pode-se adotar também um empirismo que não deriva das impressões sensíveis do conhecimento das estruturas lógicas e mate máticas, justamente porque considera que essas estrutu ras não são nem empíricas nem tampouco racionais: são estruturas puramente formais, sem conteúdo. Isso ocorre com Hume e com diversas fomms de positivismo lógico. Pode-se abraçar também um empirismo que parte do ma terial dado às impressões sensíveis mas admite a possi bilidade de delas abstrair "formas"; é o empirismo de cunho aristotélico e seus derivados. Quanto ao chamado, grosso modo, "racionalismo", adotou igualmente formas muito diversas de acordo com o significado que se te nha dado a expressões tais como 'realidade inteligível ' , ' idéias', ' formas ', 'razões' etc. Com efeito, u m raciona lismo que parte do inteligível como tal para considerar o sensível como reflexo do inteligível não é a mesma coisa que um racionalismo para o qual o conhecimento se funda na razão mas em que esta não é uma realidade inteligível e sim um conjunto de pressupostos ou "evi dências", uma série de "verdades eternas" etc. As posições empiristas e racionalistas, e suas múl tiplas variantes, são apenas duas das posições funda mentais adotadas na questão do fundamento do conheci mento. Outras duas posições capitais são as conhecidas pelos nomes de "realismo" e "idealismo" Referimo-nos a elas de maneira mais detida nos verbetes correspon dentes. Indiquemos aqui unicamente que o característi co de cada uma dessas posições é a insistência respec tiva em tomar um ponto de partida no "objeto" ou no "sujeito" Ainda assim, não é fácil esclarecer o signi ficado próprio de 'realismo ' e de ' idealismo' em virtude dos muitos sentidos que assumem no âmbito dessas po sições os termos 'objeto ' e ' sujeito' Assim, por exem plo, no que diz respeito ao "sujeito", a natureza da posição adotada depende em grande parte de se o sujeito em questão é entendido como sujeito psicológico, como suj eito transcendental no sentido kantiano, como sujeito metafisico etc. Em alguns casos, o fato de partir do su j eito pode dar lugar a um subj etivismo, e até a um solipsismo (vER). No entanto, em outros casos, o termo 'sujeito' designa antes uma série de condições do conhe cimento como tal, que não são precisamente "subjeti vas". Por isso, quando se fala, por exemplo, de idealismo (vER) , não é o mesmo entendê-lo em sentido subjetivis ta ou obj etivista, crítico, lógico etc. Em outros casos, o fato de se partir do objeto pode dar lugar ao que se denominou "realismo fotográfico", mas em muitas oca-
CONHECIMENTO
siões admitir que o fundamento do conhecimento está no objeto não equivale a fazer do sujeito um mero "reflexo" do obj eto. Nem todas as atitudes adotadas no problema que nos ocupa podem ser classificadas em posições como as apresentadas. A rigor, todas essas posições possuem em comum o fato de ter, de algum modo, o conheci mento por pressuposto. Além disso, quase todas tendem a conceber o conhecimento não apenas como uma ativi dade intelectual, mas também como uma atividade fun dada em motivos intelectuais, isolados, ou isoláveis, em relação a quaisquer outros motivos. Em contra partida, certas posições, especialmente as desenvolvi das na época contemporânea, porém precedidas por alguns autores (entre os quais devem-se mencionar Nie tzsche e Dilthey), procuraram questionar-se acerca do fundamento do conhecimento em sentido diferente : em função de uma "experiência" mais ampla. Como resul tado disso, a teoria do conhecimento não consistiu numa "filosofia da consciência" como "consciência cognos cente" Vemos exemplos dessas tentativas em vários autores: pragmatistas (Dewey, James), existencialistas (Sartre) e outros não faci lmente classificáveis, como Ortega y Gasset, Heidegger, Gilles-Gaston Granger etc. Limitar-nos-emos aqui a sublinhar a doutrina de Ortega na qual o conhecimento é examinado como um saber: o "saber a que ater-se" Nega-se com isso que o conheci mento seja conatural e consubstancial ao homem, isto é, que o homem seja em última análise "um ser pensan te" Isso não equivale a defender uma teoria "irracio nalista" do conhecimento - equivale a não dar por su posto o conhecimento e a questionar-se sobre o modo como "se funda" Formas do conhecimento. Referimo-nos antes aos chamados "conhecimento sensível" e "conhecimento inteligível'', que correspondem grosso modo ao conhe cimento das verdades de fato e ao conhecimento das verdades de razão. Alguns consideram que tanto o conhecimento sensível como o inteligível são "intuiti vos", mas dão ao termo 'intuitivo ' um sentido diferente em cada caso; o chamado "conhecimento inteligível intuitivo" é tido como absoluto, ao contrário do "co nhecimento intuitivo sensível", que é relativo. Outros julgam que o conhecimento intuitivo inteligível não é absoluto do ponto de vista metafisico, mas é absoluto, ou, melhor dizendo, completo ou adequado, do ponto de vista epistemológico. Falou-se também de conhecimento imediato, que às vezes se equiparou ao mencionado conhecimento sensível, e de conhecimento mediato, que amiúde se equiparou a um conhecimento inteligível, isto é, a um conhecimento de verdades de razão, ou ao conheci mento que se adquire por meio de inferências. Falou-se da mesma maneira de um conhecimento a priori e de um conhecimento a posteriori, de um
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conhecimento analítico e de um sintético. Tratamos dessas questões nos verbetes A PRIORI; ANALÍTICO; e
SINTÉTICO. Estabeleceu-se uma distinção entre formas de co nhecimento de acordo com os obj etos que se procuram conhecer. Voltou-se novamente a falar, a esse respeito, de conhecimento sensível, enquanto conhecimento de coisas e obj etos apreensíveis pelos sentidos, como as coisas e objetos fisicos (ou macrofisicos ), e de co nhecimento inteligível, enquanto conhecimento de re lações, objetos abstratos etc. Classificaram-se algumas vezes os possíveis objetos de conhecimento em espé cies de obj etos correspondentes a tipos, ou, ao menos, variedades de conhecimento. Foi o que aconteceu quando se falou de conheci mento da Natureza, ao contrário do conhecimento do homem e dos "objetos humanos" (ações, avaliações, experiências individuais, obj etos culturais, instituições, processos históricos etc.). Desse modo, estabeleceu-se a divisão entre ciências naturais e ciências do espírito (ou ciências sociais, ciências humanas, ciências da cul tura etc.). O problema das formas de conhecimento nes se sentido está relacionado com o problema da classi ficação de conhecimentos, ou saberes, que abordamos no verbete CIÊNCIAS (CLASSIFICAÇÃO DAS) . Além das for mas antes mencionadas de conhecimento imediato e mediato, falou-se de conhecimento por contato ou pre sença direta e conhecimento por descrição. Estabele ceu-se também uma disitnção entre conhecer algo, co nhecer que algo é deste ou daquele modo e conhecer como algo é. Abordamos essa questão - e, com ela, a de algumas formas de conhecimento mencionadas nesta seção - no verbete CONHECER. � Exposições e interpretações da natureza do conhe cimento como "teoria do conhecimento": A. Messer, Einführung in die Erkenntnistheorie, 1 909. - Hans Cornelius, Transzendentale Systematik. Untersuchun gen zur Begründung der Erkenntnistheorie, 1 9 1 8 . Louis Rougier, Les paralogismes du rationalisme. Essai sur la théorie de la connaissance, 1 920. - !d. , Traité de la connaissance, 1 95 5 . - M. Wentscher, Erkennt nistheorie, 2 vols., 1 920 (trad. esp . : Teoría dei conoci miento, 1 93 2 [ver do mesmo autor a parte sobre a teoria do conhecimento em seu Lehrbuch ( Tratado) citado em HESSEN (JoHANNEs)] . - H. Lipps, Untersu chungen zur Philosophie der Erkenntnis, 2 vols., 1 9271 92 8 . - C . !. Lewis, Mind and the World-Order: Outline ofa Theory ofKnowledge, 1 929; nova ed. (com correções), 1 956. - /d. , An A nalysis of Knowledge and Valuation, 1 946. - W. T. Stace, The Theory of Knowledge and Existence, 1 932. - Arthur Liebert, Er kenntnistheorie, 2 vols., 1 932. - A. J. Ayer, The Foun dations of Empírica/ Knowledge, 1 940. - Ledger Wood, The A nalysis of Knowledge, 1 94 1 . - M. F. van Steenbergen, Epistémologie, 1 945; 3ª ed., 1 956. -
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CONHECIMENTO
Inglaterra e nos EUA]. - 8. Bubacz, St. A ugustine :S Theory ofKnowledge, 1 98 1 . - A. Musgrave, Common Sense, Science and Scepticism: A Historical lntroduction to the Theory of Knowledge, 1 993 . Sobre ontologia do conhecimento: Nicolai Hart mann, Grundzüge einer Metaphysik der Erkenntnis, 1 92 1 . - Roman Ingarden, Über die Stellung der Erken ntnistheorie im System der Philosophie, 1 925. - E. Günther, Die ontologischen Grundlagen der neueren Erkenntnislehre, 1 93 3 . - Eduardo Mayz Vallenilla, op. cit. supra ( Ontología . . . ). Sobre o objeto do conhecimento, o próprio proble ma do conhecimento e outros problemas específicos: Heinrich Rickert, Der Gegenstand der Erkenntnis. Ein Beitrag zum Problem der philosophischen Transzen denz, 1 892; 6ª ed., 1 92 8 . - L. Nelson, Über das so gennante Erkenntnisproblem , 1 904. - Ernst Mach, Erkenntnis und Irrtum, 1 90 5 . - J. Schultz, Die drei Welten der Erkenntnistheorie, 1 907. - R. Reininger, Philosophie des Erkennens. Ein Beitrag zur Geschi chte und Fortbildung des Erkenntnisproblems, 1 9 1 1 . - A . Metzger, Der Gegenstand der Erkenntnis, 1 925. - Hans Pichler, Vom Wesen der Erkenntnis, 1 926. M. D. Roland-Gosselin, Essai d 'une étude critique de la connaissance, 1 932. - H. W. Sanford, Concerning Knowledge, Philosophic and Scientific. A Theory of Knowledge which also Jncludes a Criticism ofPresent Scientific Methods and Findings, 1 936. - Simon Frank, La connaissance et l 'être, 1 936. - F. Enriques e G. de Santillana, Le Probleme de la connaissance, 1 93 7 . - K. Boldt, Die Erkenntnisbeziehung, 1 937. - J. Paliarei, Le théoreme de la connaissance, 1 93 8 . - A. Brunner, L a connaissance humaine, 1 943 . É. Gilson, Réa/isme thomiste et critique de la connais sance, 1 947. - F. Schneider, Kennen und Erkennen. Ein Lehrbuch der Erkenntnistheorie, 1 949. - H . Meyer, Kennis e n realiteit, 1 949. - A. Sinclair, The Conditions of Knowing, 1 95 1 . - Justus Buchler, Toward a General Theory ofJudgement, 1 95 1 . - ld. , Nature and Judgement, 1 95 5 . - R. Pardo, Dei origen a la esencia dei conocimiento, 1 954. - W. O. Martin, The Order and lntegration of Knowledge, 1 957. Gilles-Gaston Granger, Pensée jórme/le et sciences de l 'homme, 1 960. - Charles F. Wallraff, Philosophical Theory and Psychological Fact: An Attempt at a Syn thesis, 1 96 1 . - A. R. White, The Nature ofKnowledge, 1 982. - P. K. De, The Roles of Sense and Thought i Knowledge, 1 992. Sobre a relação entre o conceito aristotélico e o conceito kantiano de conhecimento: Severin Aicher, Kants Begriff der Erkenntnis verg/ichen mil dem des Aristoteles, 1 907 (Kantstudien. Ergiinzungshefte, 7].
CONHECIMENTO (SOCIOLOGIA DO)
Sobre a noção de conhecimento como saber: R. Schaerer, Étude sur les notions de connaissance (Epis teme) et d 'art (Techne) d 'Homere à Platon, 1 930. L. Villoro, Creer, saber, conocer, 1 982. C: CONHECIM ENTO (SOCIOLOGIA DO). A obra de Max Scheler originariamente intitulada Versuche zu einer Soziologie des Wissens ( 1 924) e cuja segunda edição, modificada, apareceu com o nome de Die Wis sensformen und die Gese//schafi ( 1 926) foi traduzida para o espanhol com o nome de Sociologia dei saber ( 1 935), expn:ssão correspondente à alemã Wissensso ziologie. Como ' saber' é uma tradução de Wissen mais adequada que ' conhecimento' , o qual corresponde a Erkenntnis, poder-se-ia considerar a expressão ' socio logia do saber' - que foi usada com freqüência (e continua a sê-lo) - para designar o tipo de estudo do qual a mencionada obra de Scheler constitui um exem plo. Hoje, contudo, tende-se a empregar a expressão ' sociologia do conhecimento ' por diversas razões, j us tificadas de modo melhor ou pior (certo sabor "meta fisico" de ' saber'; uso em outras línguas, incluindo o alemão [Erkenntnissoziologie] , de 'conhecimento ' em vez de ' saber' etc.). Atemo-nos a esse uso hoje crescen temente difundido. Toda referência às condições sociais no âmbito das quais tem lugar o conhecimento pode ser conside rada parte da - ou contribuição à - sociologia do conhecimento, mas esta última só se desenvolveu de maneira sistemática quando se estudaram as mencio nadas condições mais detidamente e se apresentaram, além disso, teorias destinadas a explicar a relação entre estruturas e condições sociais e estruturas cognoscitivas, e, em geral, a relação entre estruturas e condições sociais e estruturas culturais de todo tipo. Embora o estudo destas últimas - mais amplas - estruturas dê lugar a discipl inas sociológicas particulares - a sociologia da religião, a sociologia da arte etc . -, os problemas suscitados na soci ologia do conhecimento são típicos dos problemas de toda "sociologia da cul tura", motivo pelo qual podem estender-se facilmente a estes, ao menos por analogia. Assim, a sociologia do conhecimento tal como foi desenvolvida no século XX pode servir de modelo - no sentido que possui ' modelo ' como esquema conceituai - para as outras disciplinas sociológicas particulares mencionadas. Foi dado grande impulso à mais tarde chamada "sociologia do conhecimento" no século XIX por todos os autores de tendência "historicista", assim como pelos autores que procuraram buscar urna série de fa tores subj acentes aos acontecimentos históricos. Desse amplo ponto de vista, tanto Dilthey como, por exem plo, Taine e Gobineau ajudaram a constituir a sociolo gia do conhecimento. Inclusive autores que buscaram um fator "espiritual" último de explicação da história
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podem ser considerados precursores dos sociólogos do conhecimento em sentido estrito, visto que, em prin cípio, não importa que o motor dos processos históri cos e, especificamente, dos processos de conhecimento e das formas que estes podem adquirir seja de natureza "espiritual" ou "material"; em ambos os casos, supõe se que não há um modelo eterno e um reino inteligível da "Verdade", já que o conhecimento depende de fato res subj acentes ao próprio conhecimento. No entanto, autores de tendência materialista, e especialmente "materialista-histórica", deram o maior impulso à socio logia do conhecimento, mesmo que esta se tenha desen volvido com freqüência no âmbito de pressupostos não "materialistas" Nesse sentido, cabe mencionar Marx como um Além dos autores citados no verbete, ver: Melchior Palágyi, Naturphilosophische Vorlesungen iiber die Gnmdprobleme des Lebens und des Bewusstseins, l 908. - Hans Annhein, Kants Lehre vom "Bewusstsein iiber haupt " und ihre Weiterbildung bis aul die Gegenwart, 1 909 (Kantstudien, Ergiinzungshefte, 1 O). - Johannes Rehmke, Das Bewusstsein, l 9 l O. - Edwin Bissett Holt, The Concept o{Consciousness, 1 9 14. - C. A. Strong, The Origin ol Consciousness. An Attempt to Conceive the Mind as a Product of Evolution, 1 9 1 8 . - Kurt Joachim Grau, Die Entwicklung des Bewusstseinsbe griffes im XV und XVIII. Jahrhundert, l 9 1 6. - Lud wig Klages, Vom Wesen des Bewusstseins, l 92 l ; 4ª ed., l 955. - León Brunschvicg, Le progres de la cons cience dans la philosophie occidentale, 2 vols., 1 927. - N. Tr. Burrow, The Social Basis of Consciousness, l 927. - Charlotte Bühler, Kindheit und Jugend. Eine Genese des Bewusstseins, l 928. - E. R. Jaensch, Ueber den Aufbau des Bewusstseins, l 930. - O. Janssen, Dasein und Bewusstsein, l 933. - B. Ray, Conscious ness in Neo-Realism: A Criticai and Historical Study, 1 93 5 . - R. Ruyer, La conscience et /e corps, 1 937. W. Ehrlich, Ontologie des Bewusstseins, l 940. - Curt Weinschenk, Das Bewusstsein und seine Leistung, l 940. - A. M. de Craene, R. S. C. J., L'Engagement à / 'Être: Essai sur la signification de la conscience, 1 94 1 . - G. Madinier, Conscience et signification, l 953. - C. Gat tegno, Conscience de la conscience, 1 956. - Aron Gurwitsch, Théorie du champ de la conscience, 1 957 (trad. Michel Butor do texto inglês: The Fie/d of Cons ciousness, l 964 ) . - Joseph Moreau, La conscience et l 'être, 1 958. - Henry Ely, La conscience, l 963 . - M. Esther Harding, The " /" and the "Not /" · A Study in the Development ol Consciousness, 1 965. - Günter Ralfs, Stufén des Bewusstseins. Vorlesungen zur Erken ntnistheorie, 1 965, ed. Hermann Glockner. - Peter Gorsen, Zur Phãnomenologie des Bewusstseinsstroms. Bergson, Dilthey, Simmel und die lebemphilosophische Antinomien, l 966. - Erich Rothacker, Zur Genealogie des menschlichen Bewusstseins, 1 966. - Kenneth M . Sayre, Consciousness: A Phi/osophical Study o{Minds and Machines, 1 969. - C. O. Evans, The Subject of Consciousness, 1 970. - Pratima Bowes, Consciousness and Freedom: Three Views, 1 97 1 . - Gerhard Funke, Beivusstsein, 1 975. - Ken Wilber, The Spectrum of Consciousness, 1 977. - M . G. Baylor, A ction and Per son: Conscience in Late Scholasticism and the Young Luther, l 977. - G. Frey, Theorie des Bewusstseins, 1 980. - T. C. Potts, Conscience in Medieval Philoso phy, 1 980. -- J. T. Culbertson, Consciousness: Natural and Artificia/, 1 982. - P. M. Churchland, Matter and
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Consciousness, 1 984. - E. Põppel, Grenzen des Bewus stseins, l 985. - R. Ellis, An Ontology of Conscious ness, l 986. - H. D. Kittsteiner, Die Entstehung des modernen Gewissens, l 99 l . Para a "consciência infeliz" e a "má consciência" em Hegel, ver: Jean Wahl, Le malheur de la conscien ce dans la philosophie de Hegel, l 929. - Benjamin Fondane, La conscience malheureuse, l 936. - Jean Hyppolite, Gênese e estrutura da Fenomenologia do Espírito, de Hegel, 1 999. - Jean Grenier, L'existence malheureuse, 1 957. - Franz Grégoire, Études hégélien nes. Les points capitaux du systeme, 1 95 8 . - Joseph Gabei, La fausse conscience. Essai sur la réification, 1 962. - E. Subirats, Figuras de la consciencia desdi chada, 1 979. Sobre consciência de si: Héctor Neri-Castaneda, La dialéctica de la conciencia de sí mismo, 1 960 (sepa rata de Rev. Univ. de S. Carlos, n. 52 ) . - Ursula Rohr Dietschi, Zur Genese des Selbstbewusstseins. Eine Stu die iiber den Beitrag des phãnomenologischen Denkens zur Frage der Entwicklung des Selbstbewusstsein , 1 974. - E. Tugendhat, Selhstbewusstsein und Selhts bestimmung - Sprachanalytische lnterpretationen, 1 979. - J. Schnelle, Das Selbstbewusstseinsproblem, l 9 8 5 . Ver: !. M. Bochenski, "De consequentiis scholasti corum earumque origine", Angelicum, 1 5 ( 1 938), 921 09. - Ph. Boehner, Medieval Logic, 1 952, especialmen te Parte II, cap. iii. - E. A. Moody, Truth and Conse quence in Mediaeval logic, 1 95 3 . - N. A. Prior, "On Some Consequentiae in Walter Burleigh", New Scholas ticism, 27 ( 1 953), 433-446. - L. Pozzi, Le consequentiae nella logica medievale, 1 978. - J. Etchemendy, The Concept ofLogical Consequence, 1 990. - Para as conse qüências modais, ver, além disso, e especialmente: J. Lu kasiewicz, "A System of Modal Logic", Joumal of Com puting Systems, I ( 1 953), 1 1 2- 1 1 3 . N ,, A resposta afirmativa é a hipótese generalizada do contínuo. Kurt Giidel ( The Consistency o( lhe Axiom o( Choi ce and o( lhe Generalized Conlim1um Hypolhesis wilh lhe Axioms o/ Sei Themy, 1 940; reimp. com ligeiras correções. 1 95 1 , 1 953) demonstrou que a hipótese gene ralizada do contínuo é consistente com os outros axio mas da teoria dos conjuntos (teoria de von Neumann Bemays) e com o axioma da escolha. Este último, po rém, não é necessário para a consistência. P J. Cohen ('The Independence of the Continuum Hypothesis", I e II, em Proceedings o/lhe Nalional Academy ofScien ces, 50 [ 1 963], 1 1 43- 1 1 48 ; 5 1 [ 1 964] , 1 05- 1 1 0; Set Theo1y and lhe Conlinuum Hypolhesis, 1 966) provou que a hipótese general izada do contínuo e o axioma da escolha são independentes dos outros axiomas de qual quer teoria axiomática dos conjuntos considerada. A hipótese generalizada do contínuo e o axioma da escolha não são deriváveis dos outros axiomas da teoria dos con juntos, cuja consistência é independente dessa hipótese e desse axioma. Pode-se desenvolver uma teoria axiomá tica dos conjuntos com ou sem a hipótese generalizada do contínuo, e com ou sem o axioma da escolha. CONTRADIÇÃO. Estudamos o sentido da expressão 'proposições contraditórias' e as relações entre elas nos verbetes CONTRADITÓRIO, OPOSIÇÃO e PROPOSIÇÃO. No primeiro dos verbetes citados, referimo-nos, além disso, à relação de oposição contraditória nas funções de ver dade. Nas linhas seguintes, referir-nos-emos à noção de contradição nos vários sentidos que ela recebeu. Essa noção é estudada tradicionalmente sob a forma de um princípio: o chamado "princípio de contradição" (que poderia ser também chamado "princípio de não contradição" ). Esse princípio é com freqüência consi derado um princípio ontológico, sendo então enunciado do seguinte modo: "É impossível que uma coisa seja e não seja ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto" Outras vezes, ele é considerado um princípio lógico (num sentido amplo deste termo), e então se enuncia
assim: "Não ao mesmo tempo p e não p", em que 'p' é símbolo de um enunciado declarativo. Alguns autores sugeriram que há também um sen tido psicológico do princípio, o qual se enunciaria então da seguinte forma: "Não é possível pensar ao mesmo tempo p e não p" (se o conteúdo do pensar é lógico) ou então "não é possível pensar que uma coisa sej a e não seja ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto" (se o conteúdo do pensar é ontológico). Consideramos que o "sentido psicológico" deve ser eliminado; a impossi bilidade de pensar algo é um fato e não um princípio. Seria mais justificado considerar o princípio do ponto de vista epistemológico, enquanto lei "mental", "subje tiva" ou "transcendental" que conformaria todos os nos sos juízos sobre a experiência, mas julgamos que isso equivaleria a introduzir pressupostos que não são neces sários numa análise primária do significado e do sentido fundamentais do princípio. Observemos que a expressão 'ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto' , utilizada na fonnulação do sentido ontológico do princípio, é absolu tamente necessária para que este seja válido; a ausência desta restrição dá passagem a fáceis objeções a ele. O primeiro pensador a apresentar o princípio de forma suficientemente ampla foi Aristóteles. Várias par tes de suas obras são dedicadas ao tema; citamos, entre as mais destacadas: De int. , 1 7 a 23, 1 7 b 1 6 ss. ; An. posl. , 77 a 10 ss., 88 a 3 5 ss.; Met, í 1 005 b 15 ss., e ibid. , 30 ss. O princípio nem sempre é formulado do mesmo modo. À s vezes, apresenta-se como uma das "noções comuns" ou "axiomas" que servem de premissa para toda demonstração sem que possam ser elas mes mas demonstradas. À s vezes, o princípio se apresenta como uma "noção comum" usada para a prova de certas conclusões. Outras vezes, apresenta-se como a tese que afirma que se uma proposição dada é verdadeira, sua negação é falsa, e que, se uma proposição é falsa, sua ne gação é verdadeira, isto é, como a tese segundo a qual duas proposições contraditórias não podem ser ambas verdadeiras ou ambas falsas. Ora, todas as formulações podem reduzir-se às três interpretações já citadas: a ontológica, a lógica e a metalógica. No primeiro caso, o princípio se refere à realidade; no segundo, transfor ma-se numa fórmula lógica ou numa tautologia da lógi ca sentencia!, enunciada do seguinte modo :
--, (p
A
--, p)
e que se chama usualmente "lei de contradição" Sendo uma tautologia, sua tabela de verdade dá V para todos os valores de verdade de 'p' No terceiro caso, o princí pio é uma regra que permite executar inferências lógicas. As discussões travadas em tomo do princípio de contradição diferiram conforme se tenha acentuado o aspecto ontológico (e principalmente metafisico) ou o as pecto lógico e metalógico. Quando houve o predomínio do lado ontológico, procurou-se sobretudo afirmar o prin-
573 cípio como expressão d a estrutura constitutiva d o real, ou então negá-lo por supor-se que a própria realidade é "contraditória" ou que no processo dialético de sua evolução a realidade "supera", "transcende" ou "vai além" do princípio de contradição. A esse respeito é típica a posição de Hegel, que faz da contradição uma das bases do movimento interno da realidade, embora se deva levar em conta que na maioria dos casos os exemplos dados pelo filósofo não se referem a realidades contradi tórias, mas contrárias. Quando predominou o lado lógico e metalógico, em compensação, procurou-se sobretudo saber se o princípio deve ser considerado um axioma evidente por si mesmo ou uma convenção de nossa lin guagem que nos permite falar acerca da realidade. Fundando-se por um lado em Hegel, e, por outro, no exame da realidade social e histórica (e na ação a desenvolver sobre essa realidade), Marx propôs uma dialética (vER) na qual o princípio ou a lei de contradi ção era desbancado. De modo mais sistemático, Engels formulou como duas das três "grandes leis dialéticas" a "lei da negação da negação" e a "lei da coincidência dos opostos" Essas leis pareciam também - e muito determinantemente - negar o princípio lógico de con tradição. Em geral, tanto os materialistas dialéticos que podem ser denominados "clássicos" (até a Revolução soviética de 1 9 1 7) como os marxistas-leninistas e os materialistas dialéticos das últimas gerações, especial mente os soviéticos, viram com desconfiança o princípio de contradição por supor que este não dá conta do "mo vimento dialético da realidade" Ocasionalmente, contu do, suscitaram-se debates a esse respeito. Alguns auto res afirmaram que, enquanto o princípio "clássico" de contradição deve manter-se na lógica e até na linguagem das ciências, é necessário adotar princípios dialéticos diferentes quando se aborda a realidade humana e social. Outros procuraram derivar leis lógicas das leis dialéti cas que rejeitam o princípio clássico ou o põem entre parênteses. A esse respeito, é interessante a discussão ocorrida em Moscou, em 1 958, entre vários materialistas dialéticos soviéticos (embora um deles, E. Kolman, fos se tcheco). Segundo informação fornecida por N. Lobkowicz (cf. infra), enquanto certos autores manti nham as leis dialéticas "clássicas" com todo o radicalis mo e todas as suas conseqüências, outros (como o cita do Kolman) assinalaram que, embora haja contradições na realidade, isso não significa que elas devam ser con cebidas igualmente no pensamento. Neste, o princípio de contradição (ou não-contradição) é correto. lndicou se também que a chamada "contradição" refere-se, a rigor (ver supra), a "contrários", e não a "contraditó rios" É plausível supor que esses debates tenham sido suscitados em parte pela importância adquirida pela lógica formal e pela impossibilidade de encaixar nesta última as "leis dialéticas" clássicas.
CONTRADIÇÃO
Para a noção de contradição do ponto de vista lógi co e metalógico, consultar os manuais de lógica indica dos em LóGICA e LoGiSTICA. :> Indicamos em seguida algumas obras e trabalhos principalmente sobre os problemas ontológicos da noção de contradição: G. Knauer, Kontrar und kontradikto risch, 1 868. - J. J. Borelius, Ueber den Satz des Widers pruchs und die Bedeutung der Negation, 1 88 1 . F. Paulhan, La logique de la contradiction, 1 9 1 1 . - H. Pichler, Moglichkeit und Widerspruchslosigkeit, 1 9 1 2. - S. Ranulf, Der eleatische Satz vom Widerspruch, 1 924. - R. Heiss, Die Logik des Widerspruchs, 1 932. - B. F. Kimpel, A Critique ofthe Logic of Contradiction as lhe Exclusive Principie o/1nterpretation in an Jdea listic Metaphysics, 1 934. - Stéphane Lupasco, Du de venir logique et de l 'af!ectivité, 2 vols., 1 93 5 . - !d. , Logique et contradiction, 1 947. !d. , Le príncipe d 'antagonisme et la logique de l 'énergie: Prolégomenes à une science de la contradiction, 1 95 1 . - Galvano della Volpe, Jl prinzipio di contradizione e il concetto di sostanza prima in Aristotele, 1 93 8 . - G. Siegmund, Das Zeichen des Widerspruchs, 1 952. - L. Büchler, L'armonia dei contrari, 1 955. - Arend Kulenkampff, Antinomie und Dialektik. Zur Funktion des Widers pruchs in der Philosophie, 1 970. - L. Erdei, Gegensatz und Widerspruch in der Logik, 1 972. Jean Piaget e/ ai. , Recherches sur la contradiction, 2 vols., 1 974. Herbert A. Zwergel, Principium contradictionis. Die aristote/ische Begründung des Prinzips vom zu vermei denden Widerspruch und die Einheit der ersten Philo sophie, 1 972. Para o conceito de contradição segundo Hegel: A. Bullinger, Hegels Lehre vom Widerspruch, 1 884. M. Wolff, Der Begriff des Widerspruchs. Eine Studie zur Dialektik Kants und Hegels, 1 98 1 . Sobre as discussões acerca da contradição na União Soviética, ver a tradução de textos de G. A. Volkov, N. V Karabanov, A. Kolman, A. A. Zinovév, em N. Lobko wicz, Das Widersp111 chsprinzip in der neueren sm1je tischen Philosophie, 1 959. - Também em N. Lobko wicz, "The Principie of Contradiction", em Studies in Soviet Thought, 1 96 1 , ed. !. M. Bochenski e T. J. Bla keley, pp. 44-49. Sobre o conceito de contradição no sentido do mate rialismo dialético: E. Conze, Der Satz vom Widerspruch: Zur Theorie des dialektischen Materialismus, 1 932. Gottfried Stiehler, Hegel und der Marxismus über den Widerspruch. Überwindung der idealistischen Dialektik durch die wissenschaftliche materialistischen Dialek tik, 1 960 (ponto de vista marxista). - !d. , Der dialektis che Widerspruch. Formen und Funktionen, 1 966; 2ª ed., rev., 1 966. - Pierre Fougeyrollas, Contradictionet totalité: Surgissement et déploiments de la dialectique, 1 964. e -
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5 74
CONTRADITÓRIO
CONTRADITÓRIO. Estudamos a contradição como princípio ontológico e como regra metalógica em C oN TRADIÇÃO ( vER ) . Referimo-nos neste verbete à relação de oposição entre proposições contraditórias e entre fim ções de verdade contraditórias. A relação de oposição entre proposições contradi tórias (ver PROPOSIÇÃO) é a que se dá entre as proposi ções A - O e E l, tal como se mostrou no quadro de Oposição ( vER) , em que também se fez referência à relação de contradição entre proposições modais. Segun do a relação de oposição contraditória, duas proposições contraditórias não podem ser ao mesmo tempo verdadei ras nem podem ser ao mesmo tempo falsas. Portanto, -
Se Se Se Se
A A E E
é é é é
verdadeira, O é falsa. falsa, O é verdadeira. verdadeira, 1 é falsa. falsa, I é verdadeira.
A contradição diz respeito a proposições, não a idéias. As idéias não são contraditórias entre si; só podem ser contraditórias as proposições nas quais se afirma ou se nega algo. Nas expressões veritativo-funcionais (ver VERITATl vo-FUNCIONAL) , a contradição se mostra mediante tabelas de verdade. Se consideramos: (p  q) � p
(1)
e --, ((p  q) � p)
(2)
e damos como tabela de verdade de (1 ) :
V V V V a tabela de verdade de (2) será: F F F F onde se mostra que as expressões em questão são mu tuamente exclusivas, não podendo ser as duas verdadei ras, e implicando a verdade de uma a falsidade da outra e vice-versa. Para a concepção hegeliana do contraditório e a não distinção postulada por Hegel entre o contraditório e o contrário, ver CONTRÁRIO, DIALÉTICA, H EGEL . CONTRAPOSITIVO (do condicional). Ver CoNDJCIONAL. CONTRARIEDADE (LEI DE). Ver Assoc1AçÃo, ASso
c1Ac10N1sMo. CONTRÁRIO. A relação de oposição entre as proposi ções A e E (ver PROPOSIÇÃO ) , tal como foi exposta em Oposição ( vER) , chama-se relação de contrariedade, e essas proposições são denominadas "contrárias" Na
lógica clássica, a relação de contrariedade afirma que duas proposições contrárias não podem ser ao mesmo tempo verdadeiras, mas podem ser ao mesmo tempo falsas. Assim: Se Se Se Se
A A E E
é é é é
verdadeira, E falsa, E pode verdadeira, A falsa, A pode
é falsa. ser falsa. é falsa. ser falsa.
Na lógica clássica, a distinção da matéria da propo sição em matéria necessária e matéria contingente intro duz uma restrição na afirmação ' Se A é falsa, E pôde ser também falsa' Com efeito, avalia-se que quando a matéria é necessária, ou seja, quando P pertence à essên cia de S, duas proposições contrárias não podem ser ao mesmo tempo falsas. A relação de contrariedade ocorre também nos termos e nas proposições modais, como vimos em OPOSIÇÃO. No mesmo verbete, referimo-nos aos dois tipos de proposições contrárias (contrárias sim ples e contrárias oblíquas) resultantes do cubo de oposi ção proposto por Hans Reichenbach. Na lógica moderna, a interpretação não-existencial de A e E toma inválidas, segundo os lógicos, as inferên cias antes mencionadas. Os lógicos clássicos objetam a isso com os argumentos que enfatizamos no verbete
OPOSIÇÃO. Para Hegel (Enz. , § 1 65 ; Glockner 6. 1 3 3 -34), a di ferença entre "contrário" e "contraditório" (assim como entre "afirmativo" e "negativo") é uma mera seleção de acordo com as determinabilidades (contingentes) do pensar pertencentes à esfera do ser ou da essência, não tendo nenhuma relação com a esfera conceituai em si. As determinações (lógicas) são unilaterais (Logik, 1 Abt. II Kap; C.c; Glockner, 5 . 1 07), e sua unidade como verdade reside no 'ou . . . ou' do juízo disj untivo. Como se pode perceber, a concepção hegeliana dificilmente se harmoniza com as concepções lógicas usuais e é um resultado da idéia metafisica da lógica, característica desse filósofo. :> Ver: John Peter Anton, Aristotle s Theory of Contra riety, 1 957. e CONTRASTAÇÃO. A noção de contrastação está rela cionada com as de verificação, confirmação, corrobo ração e falseabilidade ( vER) . Em Lógica da pesquisa científica ( 1 935), Popper falou de Prüjbarkeit e Grade der Prüjbarkeit (IV, pp. 67 ss. ) . Prüjbarkeit poderia ser traduzido por 'probabilidade' no sentido de "possibili dade de submeter algo a prova", e Grade der Prüjbarkeit poderia traduzir-se congruentemente por 'graus de probabilidade' ( 'contrastação' é igualmente versão de Nachprüfung e Uberpriifung). Na frase ' submeter algo a prova' o termo 'prova' tem o sentido de "tentativa e experiência que se faz de algo", especialmente quando se quer averiguar se o que se diz disso é aceitável ou não. Contudo, o uso corrente de 'prova' em sentido
5 75 lógico induziria a confusões e estas aumentariam ao empregar-se 'probabilidade' , que se usaria antes como o nome que corresponde ao adj etivo 'provável ' Por essas razões, é melhor traduzir Prüjbarkeit por ' con trastação' - como ação e efeito de contrastar - e Grade der Prüfbarkeit por 'graus de contrastação ' Outro termo que poderia ser usado para isso seria ' exa me' - assim como ' examinabilidade' -, mas ' con trastação' e os vocábulos relacionados - ' contrastabi lidade ' , 'constrastável ' etc. - parecem preferíveis. De resto, Popper, na versão inglesa ampliada da Logik (Logic of Scientific Discovery, 1 959, VI, pp. 1 1 2 ss.) usa o termo testability (e não provability, que teria um sentido mais estritamente lógico). Este termo obteve legitimidade nos trabalhos de filosofia da ciência em língua inglesa; entre eles, incluem-se alguns importantes trabalhos de autores originariamente de língua alemã. De acordo com Popper, a relação entre contrastação e falseamento - e, portanto, entre contrastabilidade e falseabilidade - é tão estreita que o fato de que uma teoria (ou uma hipótese) seja mais ou menos severamen te contrastável equivale a que ela sej a mais ou menos facilmente falseável. Há, segundo isso, graus de contras tabilidade em correspondência com graus de falseabili dade de uma teoria (ou uma hipótese). A resistência de uma teoria a ser falseável - ou a resistência a falsear uma teoria - faz-se acompanhar por sua resistência a ser contrastável - ou pela resistência a contrastá-la. A contrastação é "contrastação com a experiência" Isso supõe, em princípio, que a chamada "experiência" não está condicionada - ou não o está excessivamente por elementos conceituais prévios, ou, como se disse muitas vezes, não está carregada - ou, ao menos, não está sobrecarregada - de "teoria"· caso contrário, a própria teoria poderia estabelecer as condições de con trastação e, desse modo, "imunizar-se" contra o falsea mento. Visto que, segundo Popper (op. cit. , VI, § 35), o conteúdo empírico de uma teoria aumenta com seu grau de falseabilidade, com esse aumento se eleva tam bém o grau de contrastabilidade (e vice�versa); se a teo ria é pouco contrastável, é pouco falseável, e se é pouco falseável, é pouco contrastável. Em seu estudo da contrastabilidade ("Testability and Meaning", Philosophy of Science, 3 [ 1 936] e 4 [ 1 93 7], separata com correções, 1 959), Camap escreve que "distinguimos a contrastação de uma sentença (VER) da sua confirmação, entendendo por contrastação um procedimento - isto é, a realização de certos experi mentos - que conduz a uma confirmação em certo grau ou da sentença ou de sua negação. Denominamos uma sentença contrastável se conhecemos o método para contrastá-la, e a chamamos confirmável se sabemos em que condições a sentença poderia ser confirmada" Normalmente, as sentenças (enunciados e, em geral, hipóteses ou teorias) são confirmáveis mediante contras-
CONTRATO SOCIAL
tação, mas, em princípio, uma sentença poderia ser con firmável sem ser contrastável - contanto que se saiba que estas ou aquelas observações confirmariam a sen tença. A noção de contrastação é desenvolvida por Camap ao longo da substituição da noção de verifica ção pela de confirmação - ou, como alguns diriam, ao longo do aprimoramento da noção de verificação. Denominam-se "contrastáveis" os predicados observá veis ou os introduzidos por alguma série de contrasta ções; esses predicados podem ser ou completamente contrastáveis (se são introduzidos por observação ou por uma série de contrastações de forma molecular) ou incompletamente contrastáveis (nos outros casos) ("De finição 20" no art. cit. ). O tipo de contrastação pode variar de acordo com o tipo de linguagem científica adotada e, portanto, de acordo com a determinação de quais termos nessa linguagem têm designata. Temos, por exemplo, na tese fisicalista (ver FISICALISMO) desen volvida outrora por Camap, que "todo predicado descri tivo da linguagem da ciência é contrastável com base em coisas-predicados observáveis" (art. cit., p. 468). CONTRASTE (LEI DE). Ver AssocIAÇÃO, ASSOCIA
CIONISMO. CONTRATIPO. Ver TIPO. CONTRATO SOCIAL. A teoria segundo a qual a so ciedade humana deve sua origem (ou, melhor, sua pos sibilidade enquanto sociedade) a um contrato ou pacto entre indivíduos costuma ser denominada (pelo título da obra de Rousseau a que nos referiremos depois) "a teoria do contrato social" e também "contratualismo" Os defensores dessa teoria em geral não sustentam que a sociedade se originou efetivamente quando os homens, ou melhor, um grupo de homens, se reuniram com o obj etivo de chegar a um acordo sobre fins comuns; eles afirmam simplesmente que, seja qual for a origem da so ciedade, seu fundamento e sua possibilidade como sociedade se acham num pacto. Portanto, o contratualis mo considera a sociedade como se, em algum momento histórico (ou pré-histórico), houvesse ocorrido um pacto ou contrato. É possível que alguns sofistas tivessem desenvolvido uma teoria contratualista da sociedade, a julgar pelo que afirma Platão (Rep. , II, 359 A) - com o propósito de refutá-la - daqueles que sustentavam que, para evitar as injustiças e os prejuízos que alguns homens infligiam a outros, era mais proveitosa a decisão de entender-se para não cometer nem sofrer a injustiça. Daí nasceram, escreve Platão, os pactos ( ovv6JÍKTJ, que significa pacto, tratado, convenção). Para os autores a que Platão se refere, a justiça não é (como para o filó sofo) algo absoluto, um valor em si mesmo, mas resulta do de um acordo, de um compromisso. Na obra platô nica, a teoria contratualista é posta na boca de Trasímaco e de Glauco. Aristóteles (Pai. , III. 1 280 b 1 0) atribui a teoria a Lícofron (um sofista). Epicuro e os epicuristas
CONTRATO SOCIAL
parecem ter também defendido o contratualismo, ao qual se refere Cícero em seu diálogo De republica. Du rante a Idade Média, o contratualismo foi abordado por vários autores, e foi também defendido e elaborado por alguns (como, por exemplo, Marsílio de Pádua), sem que isso signifique que o contratualismo medieval fos se idêntico ao antigo, pois o primeiro é com freqüência condicionado pelo modo como se apresentou na Idade Média o conflito entre o poder temporal e o poder es piritual, conflito inexistente, ou de pequena importância, no mundo antigo. No século XV encontram-se elemen tos da teoria do contrato social em vários autores, entre eles Nicolau de Cusa. Entretanto, esta teoria desenvolveu-se sobretudo na época moderna, em parte como conseqüência da cres cente secularização do Estado e em parte como resul tado de uma concepção de tipo "atomista'', segundo a qual o Estado é composto principalmente por indiví duos cujas relações entre si são comparáveis às relações entre partículas - embora não necessariamente redutí veis a elas. Enquanto muitos autores escolásticos (como Santo Tomás e Suárez) fundam o Estado no bem comum ( vER ) , do qual participam os diversos membros, muitos autores modernos tendem a um tipo de relação de cará ter menos "organicista" e mais "mecanicista" Um dos exemplos desta última espécie de relação é o contratua lismo, estreitamente ligado ao chamado 'jusnatura lismo" Entre os autores que elaboraram essa teoria se encontram Grotius, Pufendorf e Locke. Mas os autores contratualistas modernos mais conhecidos são Hobbes e Rousseau, sobre cujas doutrinas discorreremos mais detalhadamente a seguir. Como indica Richard Peters (Hobbes, 1 956, p. 1 94 ), "a concepção a que Hobbes aderiu, segundo a qual a sociedade civil se baseava em alguma forma de contrato ou pacto, era coisa corrente em sua época". Admitiam se dois tipos de pacto: o pactum unionis, considerado como a origem da sociedade civil e baseado na aceitação pela maioria das decisões tomadas, e o pactum subjec tionis, pelo qual a comunidade se submetia a uma forma particular de governo civil (Peters, loc. cit. ). Hobbes tratou do contrato social como pactum unionis; sua ex plicação do contrato social "foi uma tentativa de apli car o método resolutivo-compositivo de Galileu à socie dade civil, de revelar os princípios básicos pressupos tos por sua existência de modo que se pudesse realizar uma reconstrução racional de suas características mais conspícuas" (op. cit. , p. 20 1 ). Tratava-se em Hobbes de uma hipótese explicativa, não de uma hipótese relativa a acontecimentos históricos efetivos. Encontram-se importantes passagens a esse respeito no Leviatã (!. 1 4): "A transferência mútua de direitos é o que os homens chamam de contrato. Há uma diferença entre a transfe rência de direitos à coisa e a transferência da tradição,
576 isto é , a entrega d a coisa e m s i mesma" E também: "Os sinais do contrato são ou expressos ou por inferência" Rousseau, por sua vez, afirmou que a ordem social não está fundada na natureza, mas em "convenções" (Contrai social, 1. 1 ). A sociedade mais antiga e natural é a família ( 1 . 2). O primeiro modelo das sociedades políticas é aquele no qual o chefe assume a imagem de um pai. Ora, o mais forte, com a finalidade de continuar a sê-lo, transforma a força em direito e a obediência em dever ( 1 . 3). Em todo caso, para explicar a sociedade é preciso remontar sempre a uma primeira convenção ( 1 . 5). As sim se forma o "pacto social", sobre o qual escreve Rousseau: "Suponho que os homens chegaram a este ponto no qual os obstáculos que prejudicam sua conser vação no estado de natureza vencem, por meio de sua resistência, as forças que cada indivíduo pode empregar para manter-se nesse estado. Então esse estado primi tivo já não pode continuar por mais tempo, e o gênero humano pereceria caso não mudasse seu modo de ser" ( 1 . 6); e também: "Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja com toda a força comum a pessoa e os bens de cada associado, e mediante a qual cada um, unindo-se a todos, não obedeça senão a si mesmo, e fique tão livre quanto antes" é "o problema fundamen tal para o qual o Contrato social dá a solução" As cláusulas do contrato reduzem-se a uma: "Total aliena ção de cada associado com todos os seus direitos diante de toda a comunidade" (loc. cit. ). A essência do contrato social é: "Cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo o seu poder sob a direção suprema da vontade geral ( . . . ) [e assim] consideramos cada membro como parte indivisível do todo " (loc. cit. ). O contrato social explica a passagem do estado de natureza ao estado civil. É fundamental na concepção de Rousseau a idéia de vontade geral ( volonté générale), ou vontade do corpo civil (ou a maioria de seus membros), a qual "é sempre justa e tende sempre à utilidade pública" (II. 3). Isso não significa que a vontade geral se exprima sempre correta ou adequadamente, pois, "embora se queira sem pre o próprio bem, este nem sempre é visto; o povo nunca é corrompido, mas com freqüência é enganado, e somente então parece querer o que é mau" (loc. cit. ) . A s teorias modernas d o contrato social, particular mente as expressas por Rousseau, influenciaram nume rosos pensadores (por exemplo, Kant e Fichte). Vê-se em Rousseau, além disso, a possibilidade de combinar o contratualismo com uma teoria organicista da socie dade, o que não acontece nos contratualistas anteriores a esse filósofo. Uma das manifestações mais recentes do "con tratualismo" se encontra na teoria da justiça ( VER ) de John Rawls (ver RAwLs [JottN] ). :> Ver: A. Atger, Essai sur l 'histoire des doctrines du contrai social, 1 906. - J. W. Gough, The Social Con-
577
tract: A Criticai Study oflts Development, 1 936; 2 ª ed., 1 957. - M. D 'Addio, L'idea dei contralto sociale dai Sofisti alia Riforma e il Oi principatu di Maria Salamo nio, 1 954. - G. dei Vecchio, Sui vari significati de/la teoria dei contmtto sociale, 2ª ed., 1 956. - VV.AA., Études sur /e Contrai Social de 1 -1 Rousseau, 1 964 [Actes des Journées d ' É tudes tenues à Dijon les 3, 4, 5, et 6 mai, 1 962] . - J. McManners, The Social Con tract and Rousseau 's Revolt against Society, 1 967. L. G. Crocker, Rousseau 's Social Contract: An lnterpre tive Essay, 1 968. - R. Ardrey, The Social Contract: A Personal lnquiry into the Evolutionary Sources of Order and Disorder, 1 970. - A. Levine, The Politics ofAuto nomy: A Kantian Reading ofRousseau 's Social Contract, 1 976. - C. Fried, Contmct as Promise: A Theory of Contractual Obligation, 1 98 1 . - C. H . Kahn, "The Origins of Social Contract Theory in the Fifth Century B. C.", em G. B. Kerferd, ed., The Sophists and Their Legacy, 1 98 1 , pp. 92- 1 08 . - J. 8. Noone, Rousseau 's Social Contract, 1 98 1 . - H. Gildin, Rousseau 's Social Contract: The Design of the A rgument, 1 98 3 . - F. Vallespín Oiia, Nuevas teorias dei contrato social. 1 Rawls, R. Nozik, 1 Buchanan, 1 98 5 . - M. Lessnoff, Social Contract, 1 986. - J. Hampton, Hobbes and the Social Contract Tradition, 1 986. - A. De Jasay, Social Contract, Free Ride: A Study of the Public Goods Problem, 1 989. � CONTRATUALISMO. Ver CONTRATO SOCIAL CONVENCIONALISMO. A distinção proposta pelos sofistas entre o que é por natureza - Obras: por volta de 1 5 1 2, C. compôs um chamado Commentariolus, que circulou em várias cópias manus critas e que continha um esboço do sistema. Georg Joa chim Rheticus publicou em 1 540 a Narratio Prima, ou "primeira versão" do sistema. Os De revolutionibus or bium coelestium libri IV foram publicados em 1 543, com o prefácio antes indicado. Edição de obras por ocasião do quinto centenário do nascimento de C . : Gesamtausgabe, 1 0 vols. em 1 8 tomos, ed. Heribert M . Nobis, a partir de 1 972. Outra edição pela Academia Polonesa de Ciências e pelo Centro Nacional de Investigação Científica, ed. Pawel Czartoryski, a partir de 1 973. Ver: Ludwig Prowe, N. C. , 3 vols., 1 883- 1 885. L. Birkenmajer, N. C. !: Studien über die Arbeiten Co pernicus und biographisches Material, 1 90 0 . VV.AA . , N. K. Personlichkeit und Werk. Zum 400 Wiederkehr seines Todestages, 1 943 . - S. P. Mizwa, N. C., 1 543-1 943, 1 943. - Will-Erich Peuckert, N. K. , 1 943. - Thomas S. Kuhn, The Copernican Revolution, 1 957 (trad. port.: A revolução copernicana, 1 990). Jerome R. Ravetz, Astronomy and Cosmology in the Achievement ofN. Copernicus, 1 965. - José A. Coffa, C. , 1 969. - Fred Hoyle, Nicolaus Copernicus: An Essay on His Life and Work, 1 973. - H . Blumenberg, Die Genesis der kopernikanischen Welt, 1 975. - O. Gingerich, ed., The Nature of Scientific Discovery: A Symposium Commemorating the 500th A nniversaiy of the Birth of N. C. , 1 975. Ver: W. L. Craig, The Kalam Cosmological Argu ment, 1 979. !d. , The Cosmological A rgumentfi-om Plato to Leibniz, 1 980. Ver também a bibliografia de DEUS. e -
COSSÍO, MANUEL BARTOLOMÉ. Ver KRAUSISMO. COSSMANN, PAUL NICOLAUS. Ver TELEOLOGIA. COSTA, JOAQUÍN. Ver KRAUSISMO. COSTUMES. Denominam-se "costumes" os hábitos, geralmente os hábitos humanos no âmbito de uma co munidade, sendo eles, portanto, "coletivos" Os costu mes são adquiridos, isto é, são transmitidos por uma comunidade a seus membros, sejam estes membros nascidos na comunidade ou incorporados a ela. Os costumes podem codificar-se em normas. Discu tiu-se se, e até que ponto, os costumes são ou não mo rais. A resposta a essa questão depende em grande parte do sentido que se dê ao termo ' moral' ( vER), eti mologicamente derivado de mos, traduzido por ' costu-
597
COURNOT, ANTOINE AUGUSTIN
m e ' À s vezes, equiparou-se 'ética' a ' ciência dos cos tumes' ou 'doutrina dos costumes ' Os costumes foram também investigados d e modo empírico (J. J. Bachofen, E. Durkheim, E. Westermack, B. Malinowski etc.); sob esse aspecto, o problema dos costumes é um tema da chamada "antropologia" ("antro pologia social"). Alguns autores consideram que se po dem derivar normas éticas do estudo dos costumes, mas a maioria dos antropólogos e sociólogos atuais põe toda questão ética entre parênteses ou admite que são possíveis tantas "éticas" quantos "sistemas de costumes" ou comunidades humanas. Por outro lado, o exame dos costumes teve um significado principalmente ético ou moral. É o que ocorre, por exemplo, com o significado kantiano de Sitten - a "metafisica dos costumes" e a moral são então uma e a mesma coisa. Embora nem sempre seja fácil distinguir o plano ético e o teórico, seria conveniente ou distinguir em cada caso o sentido em que se usa o termo 'costumes' ou empregar dois ter mos diferentes para cada um dos dois tipos de investi gação citados. Como hoje o vocábulo 'costumes' tem circulação reduzida no âmbito do pensamento ético, pode-se considerar que esse vocábulo adquiriu predo minantemente um sentido empírico-antropológico. Em outro sentido, Hume fala do costume ou hábito como o fundamento das inferências derivadas da expe riência. O costume opõe-se aqui, portanto, ao raciocínio, e, mesmo que o próprio Hume observe taxativamente que não pretende com esse termo ter dado a razão úl tima de tal propensão humana, o fato é que ele constitui "o único princípio que toma útil nossa experiência e nos faz esperar no futuro uma série de efeitos similares aos que tiveram lugar no passado" (Enquiry, V, 1 ). :> Ver: Lucien Lévy-Bruhl, La mora/e et la science des moeurs, 1 903. - Edward Alexander Westermarck, The Origin and DtóVelopment of the Moral Jdeas, 2 vols., 1 906- 1 908. - F. Tõnnies, Die Sitten, 1 909. - C . Cons tantin Pavel, L'irréductibilité de la mora/e à la science des moeurs, 1 935. Georges Gurvitch, Mora/e théori que et science des moeurs, leurs possibilités, leurs condi tions, 1 937; 2ª ed., rev. e corrigida, 1 948; 3ª ed. , 1 96 1 . - B . M. Leiser, Custam, Law, and Morality. Conjlict and Continuity in Social Behaviour, 1 969. - W. Wos chak, Zum Begriff der Sitten, 1 988. Obras: Recherches sur les principes mathématiques de la théorie des richesses, 1 83 8 . - Exposition de la théorie des chances et des probabilités, 1 843 . - Essai sur lesfondements de la connaissance et sur les carac teres de la critique philosophique, 2 vols., 1 85 1 ; 2ª ed., 1 9 1 2; 3ª ed., 1 922. - Des méthodes dans les sciences de raisonnement, 1 865. - Considérations sur la marche des idées et des événements dans les temps modernes, 1 872. - Matérialisme, Vitalisme, Rationalisme, 1 875. - Traité de / 'enchainement des idées fondamentales dans les sciences et dans l 'histoire, 1 88 1 . Ed. de obras: Oeuvres completes, ed. A . Robinet, 14 vols., 1 975 ss.
COUSIN, VICTOR
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e que, usando-se as letras ' S ' , 'P' e ' M ' da lógica tradi cional, pode ser expresso mediante o seguinte esquema: (MaP
A
MaS) � S i P
n o qual aparece claramente a seqüência das letras 'A' , 'A', T, origem do termo Darapti, na ordem MP-MS-SP. D' ARCY, M[ARTIN) C[YRIL). Ver NEOTOMISMO. DARII é o nome que designa um dos modos (ver Mo oo) válidos dos silogismos da primeira figura (vER) . Um exemplo de Darii pode ser: Se todos os chineses são indolentes e alguns residentes de Havana são chineses, então alguns residentes de Havana são indolentes, exemplo que corresponde à seguinte lei da lógica quan tificacional elementar: A x (Gx � Hx)
A
� V x (Fx
V x (Fx A
A
Gx)
Hx)
e que, usando-se as letras ' S ' , 'P' e ' M ' da lógica tradi cional, pode ser expresso mediante o seguinte esquema: (MaP
A
SiM) � SiP
no qual aparece claramente a seqüência das letras 'A' , ' ! ' , ' ! ' , origem do termo Darii, na ordem MP-SM-SP. DARSANA. O termo darsana, usado na literatura filosó fica indiana, significa 'vista' ou 'visão' Os sistemas ou as escolas filosóficas indianas são chamadas darsanas. Num sentido, darsana significa que a doutrina filosófica correspondente pretende ser uma visão direta da realidade e, além disso, uma visão completa. Em outro sentido, darsana significa que se assumiu um ponto de vista de terminado sobre a realidade. Esse ponto de vista afeta to do o real, mas acentua o que se vê dele quando se con templa de determinada perspectiva, que pode ser predomi-
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nantemente lógica e epistemológica (como nas escolas Nyãya e Vaisqika), ou predominantemente "psíquico ética" (como na escola Ioga) etc. O fato de cada darsana ser uma visão e um ponto de vista explica que as diferen tes darsanas ou "sistemas" não sejam mutuamente in compatíveis; embora completos em si, são ao mesmo tempo de índole parcial. Essa parcialidade, porém, é a da perspectiva, não a do erro. Por isso, embora, seguindo o costume, as denominemos escolas ou sistemas, deve se evitar identificar o conceito de darsana com o conceito de escola ou sistema no sentido ocidental. R. Guénon tem razão ao indicar que a atitude daqueles que os identi ficam "é inteiramente comparável à de um homem que, não tendo conhecido nada da civilização européia atual, e tendo tido por acaso nas mãos os programas de ensino de uma universidade, extraísse a singular conclusão de que os sábios da Europa estão divididos em várias escolas rivais, cada uma das quais com seu sistema filosófico particular, sendo as principais as dos matemáticos, dos fisicos, dos químicos, dos biólogos, dos lógicos e dos psicólogos" (lntroduction généra/e à / 'étude des doctrines hindoues, 1 92 1 ; 3ª ed., 1 939, trad. esp. de R. Cabrera, lntroducción general ai estudio de las doctrinas hindúes, 1 945, p. 200). Se quisermos continuar comparando as darsanas da filosofia indiana com os sistemas da filosofia européia, o melhor será (mantendo-se grandes diferenças mútuas) recordar, no que diz respeito a estes últimos, as diversas vias da escolástica. DÃRST ÃNTIKA. Ver BUDISMO; FILOSOFIA INDIANA. DARWIN, CHARLES [ROBERT] ( 1 809- 1 882). Nasci do em Shrewsbury, neto de Erasmus Darwin ( 1 73 1 - 1 802), estudou medicina em Edimburgo e em Cambridge. Em 1 83 1 , fez uma viagem no Beagle, comandado pelo capi tão Robert Fitzroy, pela América do Sul e pelas ilhas do Pacífico. No decorrer da viagem, coletou uma impres sionante quantidade de dados geológicos, botânicos e zoológicos, cuja ordenação e sistematização lhe ocupa ram vários anos até a completa formulação de sua teoria da evolução (ver EVOLUÇÃO, EVOLUCIONISMO). Já haviam sido formuladas outras teorias da evolução, mas não se chegara a grande clareza com relação à força seletiva, ou às forças seletivas, produtoras das mudanças. Durante certo tempo, pensou-se que Darwin chegara as suas con clusões com base na leitura do Essay on the Principie ofPopulation ( 1 798), de Thomas Robert Malthus ( 1 7661 834), obra na qual se observa que a população humana tende a aumentar mais depressa do que os recursos ne cessários à subsistência e que, em conseqüência disso, se produz uma "luta pela existência'" em todo caso, tende-se, de acordo com Malthus, a diminuir o nível de vida até um nível mínimo de "subsistência" Ora, embo ra seja certo que Darwin leu (como ele próprio diz em sua autobiografia) a obra de Malthus (em 1 83 8), é im provável que unicamente as idéias de Malthus tenham
DARWIN, CHARLES [ROBERT]
sido o ponto de partida da teoria darwiniana. O que Darwin extraiu de Malthus é a idéia de que o processo de seleção natural exerce uma pressão que força alguns a "abandonar a partida" e outros a "adaptar-se" e a "sobre porem-se" As anotações e os documentos de Darwin mostram que, em 1 837, um ano depois de regressar de sua viagem no Beagle, e antes da leitura da obra de Mal thus, Darwin pensou seriamente numa das mais célebres idéias da teoria da evolução: a origem da variedade das espécies de um tronco comum. "Se não estabelecemos limites para nossas conjeturas, podemos supor que os animais, nossos irmãos na dor, na doença, na morte, no sofrimento e na fome - nossos escravos nos trabalhos mais árduos, nossos companheiros em nossas diversões -, participam conosco de um antepassado comum." Em todo caso, Darwin chegou a um princípio fim damental: o de que a luta pela existência num mundo orgânico dentro de um ambiente variável gera altera ções orgânicas no decorrer das quais sobrevivem so mente os mais aptos, que transmitem a seus descenden tes as modificações "vitoriosas" Assim se produz a "seleção natural" Darwin pretendeu escrever uma obra muito volumosa na qual essas idéias fossem demonstra das de uma maneira completa, mas, ao ler o manuscrito de uma comunicação de Alfred Russell Wallace ( 1 8231 9 1 3) em que eram expostos princípios parecidos, de cidiu divulgar seu próprio trabalho, o que fez, em prin cípio, num sumário apresentado, junto com a comuni cação de Wallace, aos membros da Linneaean Society em 1 85 8 . Pouco depois ( 1 859), apareceu a obra Sobre a origem das espécies ( On the Origin ofSpecies by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life, que o autor pretende ra intitular An Abstract of an Essay on the Origin of Species), obra que obteve imediatamente grande sucesso e se transformou no texto fundamental do evolucionismo biológico. Seguiu-se depois uma série de obras, entre as quais destacamos: On the Movements and Habits of C/imbing Plants ( 1 865), The Variation ofAnimais and Plants under Domestication ( 1 868), The Descent ofMan, and Selection in Relation to Sex (2 vols., 1 87 1 ; 2ª ed., rev. e ampl., 1 874), The Expression ofEmotions in Man and Animais ( 1 872), The Formation of Vegetable Mould through the Action of Worms ( 1 8 8 1 ) . Antes da obra fun damental citada, Darwin publicara apenas algumas me mórias com observações extraídas da viagem no Beagle ( 1 844 ss.) e um diário de viagem intitulado Journal and Remarks (3 vols., 1 832- 1 836), depois conhecido com o nome de A Naturalist s Voyage around the World. Limitamo-nos neste verbete a dados biográficos, assim como à simples menção dos princípios fundamen tais propostos por Darwin. Referências mais amplas às doutrinas darwinianas, e em particular às discussões fi losóficas suscitadas por elas, se encontram nos verbetes DARWINISMO e EVOLUÇÃO (vER) .
DARWINISMO :l Para as doutrinas de Darwin, ver as bibliografias dos verbetes DARWINISMO e EVOLUÇÃO. De On the Origin of Species foram publicadas seis edições com variantes (afora numerosas reimpressões de cada uma dessas edi ções). Ed. com texto das variantes por Morse Peckam, 1 959. Edição da viagem do Beagle por Nora Barlow, Darwin s Diary o.f the Voyage o.f the Beag/e, 1 93 3 . Nora Barlow publicou também uma edição da Autobiography de D. : The Autobiography of Ch. D. , 1 958, com muito material não incluído na "Autobiography" que apareceu no volume Life and Letters of Ch. D. , 1 887. Ed. de escritos: The Collected Papers of Ch. D. , 2 vols., 1 977, ed. Paul H. Barrett. - The Correspondence of Ch. D. , vol. 1 : 182 1 - 1 836, 1 985, ed. F. Birkhardt e S. Smith. Em português: A utobiogrqfia 1 809- 1 882, 2000. - O Beagle na A mérica do Sul, 1 993. - A expressão das emoções nos homens e nos animais, 2000. Origem das espécies, s.d. C:
DARWINISMO. Nos verbetes DARWIN, CHARLES (Ro BERT ) e EVOLUÇÃO, EVOLUCIONISMO, referimo-nos à teoria de Darwin como a fase capital na história do evolucio nismo moderno. Alfred Russell Wallace (VER ) e Charles Darwin apresentaram, juntamente, em 1 858, suas respec tivas teses sobre "as tendências das variedades a desviar se indefinidamente do tipo original" e sobre "as tendên cias das espécies a formar variedades, e sobre a perpetua ção das variedades e das espécies dos processos de sele ção natural" As teses de Darwin foram apresentadas com abundante material destinado a confirn1á-las, na Ori gem das espécies, de 1 859. Essa obra foi revisada em sucessivas edições: a segunda, no mesmo ano de 1 859, e as outras, em 1 86 1 , 1 866, 1 869 e (a última revisada por Darwin) 1 872, todas elas com abundantes materiais novos. No "esboço histórico sobre o progresso da opi nião sobre a origem das espécies", que precede uma das edições de The Origin of Species by Means of Natural Selection or the Preservation of Favoured Races in the Struggle jàr Life, Darwin mencionou alguns dos prece dentes de sua teoria, incluindo aqueles que, como La marck, mantiveram doutrinas evolucionistas muito dife rentes das de Darwin. Além dos nomes mais conhecidos - Lamarck, Geoffroy Saint-H ilaire e Wallace (ver Evo LUÇÃO, EVOLUCIONISMO ) -, Darwin menciona w. e. Wells (numa comunicação de 1 8 1 3 ), Grant (em 1 826 e 1 834), Patrick Matthew ( 1 83 1 ), Von Buch ( 1 836 ) , Rafinesque ( 1 836), W. Herbert ( 1 837), Haldeman ( 1 843- 1 844), M . J . d'Omalius d' Halloy ( 1 846) e Owen ( 1 849). Ele se refere igualmente às idéias de Freke ( 1 85 1 ) , de Herbert Spencer (num ensaio de 1 852, reimpresso nos Essays de 1 858), de Naudin ( 1 852), do conde Keyserling [não o filósofo desse nome] ( 1 853), de Schaafthausen ( 1 853), de Lecoq ( 1 854 ), de Von Baer ( 1 859), de Thomas Henry
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Huxley ( 1 859) e de Hooker ( 1 859). Embora não men cionados no referido "esboço", eles são muito importan tes na formação das idéias de Darwin e, em conseqüência, nas origens do darwinismo, nos trabalhos geológicos de Charles Lyell e nas idéias de Malthus ( VER ) . O darwinismo pode ser entendido em sentido muito amplo ou em sentido mais estrito. Num sentido muito am plo, ele constitui um corpo de doutrinas que suscitou grande oposição nos meios teológicos, que considera ram que The Origin o{ Species e particularmente The Descent ofMan, and Selection in Relation to Sex ( 1 87 1 ) constituíam um ataque às crenças cristãs fundadas numa interpretação literal da Bíblia. Por outro lado, esse corpo de doutrinas despertou grande entusiasmo não apenas entre geólogos e zoólogos, como também entre autores que viam no darwinismo um apoio contra todas as tra dições do ancien régime e a expressão de um pensa mento radical e revolucionário. Assim, Marx propôs a Darwin dedicar-lhe o primeiro volume de Das Kapita/, proposta que Darwin rejeitou talvez por considerar que suas próprias doutrinas eram principalmente, se não exclusivamente, de caráter biológico ou "naturalista" Darwin insistia no apoio empírico de sua explicação da seleção natural, sendo esse apoio empírico o que expli ca em boa parte tanto a oposição como a acolhida fa vorável ao "darwinismo". As idéias de Darwin que mais criavam polêmicas não eram todas novas. Em todo caso, não era nova a idéia de uma evolução e até de uma origem do homem a partir de espécies não-humanas, mas eram novos a grande quantidade de dados empíricos proporcionados por Darwin e as características que ele imprimiu à noção de "seleção natural" A história do darwinismo, nesse sentido muito amplo, é um ingredien te essencial da história do evolucionismo moderno a par tir de meados do século XIX. O alcance e a profundida de da revolução das idéias - não apenas na biologia, mas também nas ciências sociais e nas ideologias polí ticas - procedentes de Darwin são comparáveis apenas aos derivados de Marx, Freud e Einstein. Num sentido mais estrito, o darwinismo é uma teo ria biológica que procura explicar os mecanismos da evolução, mecanismos a que devem corresponder des crições filogenéticas. Neste sentido mais estrito, podem se ainda distinguir várias fases do darwinismo. Uma é a teoria, ou o conjunto de teorias, do próprio Darwin - é o chamado "darwinismo clássico" Outra é a teoria evolucionista desenvolvida a partir do começo do século XX sob o nome de "darwinismo genético", "teoria genética da evolução" ou "neodarwinismo" Outra, por fim, é a chamada "teoria sintética" ou "teoria sintética da evolução" A idéia dominante do darwinismo e, em seu interior, do darwinismo clássico é a da seleção natural. O cresci mento das populações orgânicas em proporção geomé-
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trica, e o dos meios de subsistência em proporção arit mética, obriga as espécies a uma luta pela existência, tanto entre indivíduos e variedades da mesma espécie como entre espécies do mesmo gênero. Nessa luta so brevivem apenas os mais aptos. Estes são os que exibem variações favoráveis. A preservação das variações e di ferenças individuais favoráveis e a destruição das dani nhas é "a seleção natural ou sobrevivência dos mais aptos" As variedades podem aparecer num indivíduo dentro de uma população ou numa população dentro de uma espécie; em todo caso, apenas as variações favo ráveis permanecem. Darwin enfatiza (Origin, cap. 4) que a seleção natural não induz a variabilidade, mas "implica somente a preservação das variações que apare cem e são benéficas para o ser em suas condições de vida". As variações benéficas constituem características adquiridas que são transmitidas aos descendentes. Além de uma seleção natural há uma seleção sexual. No darwinismo genético, rej eita-se a doutrina das características adquiridas. A principal idéia dessa forma de darwinismo - ou de teoria da evolução - é a in trodução das leis genéticas de Mendel no mecanismo de explicação das variedades. É fundamental a esse res peito o estudo da distribuição de genes em gerações sucessivas. A teoria genética tem um caráter claramente estatístico. A teoria sintética combina a teoria genética com as doutrinas darwinianas relativas às características fenotí picas e dá considerável atenção à relação entre os genes específicos e o fenótipo. Foram numerosas as obj eções empíricas e metodo lógicas ao darwinismo em suas várias formas ou fases. Cada uma dessas fases representa uma resposta a diver sas obj eções. O próprio Darwin (Origin, caps. 6 e 7) antecipou diversas dificuldades da teoria e obj eções a ela. Uma dessas dificuldades consiste na ausência de variedades transicionais. Darwin assinalou que os dados paleontológicos não são muito completos, e ofereceu dados e argumentos em favor de transições não-bruscas nas espécies naturais (ao contrário de mudanças brus cas em raças domésticas), mantendo a idéia de um "de senvolvimento progressivo" De um ponto de vista me todológico, observou-se que o darwinismo admite, quei ra-o ou não, a noção de causas finais, isto é, considera ções teleológicas. Entretanto, é preciso levar em conta que essas considerações não implicam necessariamente a introdução de propósitos. Além disso, a noção de "te leonomia" (vER) foi introduzida justamente para evitar as dificuldades suscitadas pela noção clássica de "te leologia" Indicou-se também que uma teoria evolucio nista como a darwiniana não é, propriamente falando, explicativa, ou seja, não se encaixa nos critérios de ex plicação (vER) científica. A isso obj etou-se que, se de fato é assim, isso não demonstra, porém, que o darwi-
DARWINISMO
nismo, em qualquer uma de suas formas, especialmente nas últimas, seja incorreto, mas que é necessário modi ficar os critérios segundo os quais se estabelece que uma teoria é científica. A objeção de que não há testemunho direto do pro cesso de seleção natural vem acompanhada, em geral , da objeção de que não se podem efetuar previsões numa teoria do tipo da darwiniana. A resposta a ambas as obj eções é que, embora não havendo testemunho direto nem previsão do tipo possível em outras teorias, tisicas ou biológicas, o testemunho direto não é o único admis sível numa ciência, e que há, em todo caso, mais possi bilidades de se verificar, ou falsear, a teoria do que se pensa, especialmente por meio das chamadas "experi mentações ecológicas" :> Ver: G. von Gizycki, Philosophische Konsequenzen der Lamarck-darwinistischen Entwicklungstheorie, 1 876. - E. Dreher, Der Darwinismus und seine Stellung in der Philosophie, 1 877. - Gustav Teichmüller, Darwi nismus und Philosophie, 1 877. - E. Le Dantec, Lamar ckiens et darwiniens, 1 899. - E. Dacqué, Der Deszen denzgedanke und seine Geschichte, 1 903. - R. H. Francé, Der heutige Stand der darwinischen Frage, 1 908. - Erich Becker, Der Darwinismus und die sozia le Ethik, 1 909. - John Dewey, The lnjluence of Da rwin on Philosophy, 1 9 1 O. - Indicam-se somente as obras clássicas mais diretamente relacionadas com o problema filosófico do darwinismo; ver também a bi bliografia no verbete EVOLUÇÃO. Entre as obras publicadas por ocasião do centenário da publicação de Origem das espécies, destacamos: J. S. Huxley, R. Niebuhr, O. L. Reiser, Swami Nikhila nanda, A Book that Shook the World: Anniversary Essays on Ch. Darwin s Origin of Species, 1 95 8 . - 8. Glass, O. Temkin, W L. Straus, eds., Forerunners of Darwin, 1 745- 1 859, 1 959. - F. Cordón, "Generalización de los principios teóricos dei darwinismo", Cuaderno dei De partamento de lnvestigación dei Instituto de Biología y Sueroterapia [Madri], 1 ( 1 96 1 ), 7-74. Além disso: 8. Farrington, What Darwin Really Said, 1 966. - É . Gilson, D 'Aristote à Darwin et retour. Essai sur quelques constantes de la biophilosophie, 1 97 1 . - D . L . Hull, Darwin and ! 9th Century Philosophies ofScience, 1 972. - David L. Hull, ed., Darwin and His Critics: The Reception ofDarwin s Theory ofEvolution by the Scientijic Community, 1 973. - Thomas F. Glick, ed., The Comparative Reception of Darwinism, 1 974. - M. Ruse, The Darwinian Revolution: Science Red in Tooth and Claw, 1 979. - N. C. Gillespie, Ch. D. and the Problem ofCreation, 1 979. - G. Jones, Social Darwi nism and English Thought: The Interaction Between Bio logical and Social Theory, 1 980. - M. Ruse, Darwi nism Defended: A Guide to the Evolution Controversies, 1 982. - B. Norton, 8. Rench et ai., Dimensions of
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Darwinism: Themes and Counterthemes in Twentieth Century, 1 983, ed. M. Grene. - A. R. Ruffa, Darwinism and Determinism: The Role of Direction in Evolution, 1 983. - M. Ruse, Taking Darwin Seriously: A Natura listic Approach to Philosophy, 1 986. - R. J. Richards, Darwin and the Emergence of Evolutionary Theories ofMind and Behaviour, 1 987. -Y. Johannisse, G. Lane, La science comme mythe: pour en finir avec Darwin et les théories de l 'évolution, 1 988. A. Vucinich, Dar win in Russian Thought, 1 989. - E. Mayr, One Long Argument: Charles Darwin and the Genesis ofModern Evolutionary Thought, 1 99 1 . C: -
DARWINISMO SOCIAL. Deu-se esse nome a doutri nas sociológicas, ou, mais exatamente, a ideologias político-sociais que se apoiaram em algumas das idéias gerais dominantes na teoria da evolução orgânica de Darwin, suplementadas amiúde por idéias procedentes do evolucionismo de Spencer ( VER ) . É preciso distinguir o darwinismo social e o fato de que praticamente todas as doutrinas e ideologias socia listas a partir de Darwin reconheceram na teoria darwi niana da evolução um elemento libertador de precon ceitos e um novo ataque a toda doutrina antropocêntrica, freqüentemente vinculada com ideologias tidas por rea cionárias e "providencialistas" O darwinismo social é, a rigor, oposto a todo socialismo. É também distinto do que Walter Bahegot denominou, em Physics and Po litics ( 1 873), "fisica social" Fundamentalmente, o darwinismo social pode ser re sumido nas seguintes palavras de William Graham Sum ner ( 1 840- 1 9 1 O, nasc. em Paterson, New Jersey, EUA), que foi considerado o mais fervoroso e extremado de fensor dessa doutrina: "Deve ficar bem claro que não podemos sair desta alternativa: liberdade, desigualda de, sobrevivência do mais apto; não-liberdade, igualdade, sobrevivência do menos apto. O primeiro termo da alter nativa faz com que a sociedade avance e favorece todos os seus melhores membros; o segundo leva-a a regredir e favorece seus piores membros" (citado por Richard Hofstadter, Social Darwinism in A merican Thought 1 860- 1 915, 1 944, p. 37). Mencionou-se às vezes John Fiske ( vER ) como partidário do darwinismo social; po rém, embora esse autor tenha seguido muitas das orien tações de Spencer, incorporou à sua própria filosofia elementos éticos de índole altruísta, incompatíveis com o individualismo sumneriano. Para os darwinistas sociais, a sociedade funciona de tal modo que, caso não se dê livre curso à "competên cia", favorecem-se os fracos e, com isso, se debilita a própria sociedade. Considerando-se que a "competên cia" mencionada é usualmente a que promove o alto capitalismo individualista, o darwinismo social pode ser considerado a ideologia desse tipo de capitalismo,
com elementos "social-naturalistas" e resíduos da cha mada "ética do trabalho" ou "ética do esforço" Sumner, por sua vez, via em suas doutrinas a expressão de rea lidades que devem ser enfrentadas, em vez de ocultadas com fraseologias mais ou menos piedosas. Sumner "pro curou mostrar a seus coetâneos" - escreve Hofstadter (op. cit. , p. 5 1 ) - "que seu otimismo era um desafio insignificante às real idades da luta social; que não se encontravam em nenhuma parte na Natureza seus 'direi tos naturais ' ; que seu humanitarismo, sua democracia e sua igualdade não eram verdades eternas, mas as for mas sociais de um estágio na evolução social", de ma neira que, "tal como um calvinista tardio, pregou a pre destinação da ordem social e a salvação dos economica mente eleitos mediante a sobrevivência dos mais aptos" Nisso, distinguiam-se seus ataques dos que Nietzsche dirigiu ao igualitarismo e à democracia, que seriam ex pressões de "vida decadente", porém num sentido dife rente do citado acima. O darwinismo social foi às vezes considerado uma manifestação da chamada "ética evolucionista"; no en tanto, embora esta última seja em grande parte uma reflexão ética fundada no fato da evolução, não pode ser confundida com uma racionalização de uma "luta (social) pela vida" Entretanto, o darwinismo social sus citou problemas importantes para os éticos evolucionis tas, pois, à semelhança do que acontece com toda ética "naturalista", ou se mostra impossível derivar normas morais de fatos ou, então, seu caráter moral se toma muito duvidoso, podendo desembocar justamente num "darwinismo social" Vários éticos evolucionistas pro curaram resolver os problemas mencionados enfatizando que, com o desenvolvimento do sistema nervoso central humano, se modificam, ou podem modificar-se, as dire ções da evolução. Embora reconhecendo-se o papel que a evolução orgânica desempenha na formação da socie dade humana e no desenvolvimento de suas idéias mo rais, acentua-se a possibilidade de incorporação de ele mentos "culturais" que são a continuação dos "naturais", mas que podem modificar, às vezes substancialmente, estes últimos. DASEIN. No verbete Ex1sTÊNCIA ( vER) , referimo-nos ao modo como esse tema foi abordado por certos filóso fos, como Heidegger e Jaspers. Distinguimos o conceito de existência nos dois autores escrevendo "Existência" (com maiúscula) para Heidegger e "existência" para Jaspers (ou também para o conceito heideggeriano de Existenz e para o conceito de existência em geral e na maioria das tendências filosóficas). Também informa mos de várias outras maneiras como se traduziu para o português o citado vocábulo heideggeriano. Ora, como o termo alemão Dasein, utilizado por Heidegger, entrou com freqüência na literatura filosófica em seu modo
DAVID DE DINANT
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original, e como Jaspers usa igualmente esse vocábulo com um sentido totalmente distinto - e até contrário - ao de Heidegger, cremos conveniente dizer algumas palavras sobre o próprio termo. Para Heidegger (ver Ex1STÊNCIA), o Dasein (Da-sein) é o único ser que tem seu ser em seu ser. Não é, pois, uma existência em geral. Tampouco é um ser zuhan denes, um ser "disponível", ou, como traduz Gaos, um "ser à mão" (tal como ocorre com um utensílio), nem um ser vorhandenes, um ser "presente", ou, como traduz Gaos, um "ser diante dos olhos" Não é uma realidade que tenha de ser submetida a análise existencial, mas a análise existenciária (VER). O Dasein restringe-se ao ser humano (ou, dito de outro modo, o ser humano, a respeito do qual posso dizer é "meu" ou "sou eu mes mo", é o único exemplo de Dasein). Sua essência radi ca na Existenz, porque não pode fazer senão existir. É o único ser que se pergunta pelo ser (Sein) e pelo sen tido do ser (Sinn des Seins). Em contrapartida, para Jaspers, o Dasein é o ser como algo dado, ao contrário da Existenz, que é o único ser que se faz a si mesmo livre. A Existenz em Jaspers é, a rigor, algo anterior e prévio a certos caracteres que poderiam ser considerados superficialmente como ligados ao fazer-se livremente a si mesmo. A consciência, por exemplo, continua per tencendo ao reino do Dasein e não ao da Existenz. Nos verbetes sobre Heidegger e Jaspers, além do verbete Ex1STÊNCIA, estendemo-nos mais detidamente sobre o pensamento dos mencionados filósofos em tor no do Dasein e da Existenz. Aqui, pretendíamos apenas evitar uma possível confusão. Acrescentemos que, em bora a versão mais corrente de Dasein seja 'existência ' , convém indicar em cada caso o sentido e m que esse termo é usado, principalmente ao se tratar de Heide gger e Jaspers, mas também de outros filósofos que usaram o mesmo vocábulo em sentido metafisico. Isso é o que ocorre, por exemplo, em Hegel, que concebe Dasein como existência, mas somente enquanto deter minada, ou como o ser enquanto se acha determinado no processo dialético do devir ( VER ) . DASGUPTA, SURENDRANATH ( 1 887- 1 952). Nasci do em Calcutá, é conhecido sobretudo por sua extensa história da filosofia indiana, a mais completa publicada até esta data. Dasgupta, porém, não é apenas um histo riador, mas um pensador sistemático que se esforçou por unir a tradição indiana (especialmente os seus ele mentos pluralistas: Sankhya, Jainismo [VER ] ) a certas escolas filosóficas ocidentais (particularmente ao neo realismo anglo-americano e às doutrinas da evolução emergente). Destacou a importância da experiência, mas ao mesmo tempo o caráter amplo que deve possuir, incluindo nela a experiência mística. Destacou também a importância do fenomenismo e do racionalismo na compreensão da realidade, concebida por ele como um
constante desenvolvimento desde as formas inferiores até as mais elevadas manifestações espirituais. :> Obras: A Study of Patanja/i, 1 920. - A History of lndian Philosophy, 5 vols. (1, 1 922; II, 1 932; III, 1 940; IV, 1 949; V, 1 955). - Yoga as Philosophy and Religion, 1 924. - Hindu Mysticism, 1 927. - Yoga Philosophy and lts Relation to Other Systems of Thought, 1 930. lndian ldealism, 1 93 3 ; reed. , 1 962. Ed. de quatro séries de fragmentos dos Quaternuli redigidos por D. de D. tendo em vista o De tomis: Davi dis de Dinanto Quaternulorum fragmenta primum, ed. Marianus Kurdzialek, 1 963.
DAVIDSON, DONALD
Ver: Gabriel Théry, Autour du décret de 1210: !. David de Dinant, 1 925. - A. Brikenmajer, "Découverte de fragments manuscrits de D. de Dinant", Revue néos colastique de philosophie, 35 ( 1 93 3 ), 220-229. - E. Maccagnolo, "D. of D. and Aristotelianism in Paris", em P. Dronke, ed., A History o{Twelfth-Century Western Philosophy, 1 988, pp. 429-442 . Escritos: Decision-Making: An Experimental Approach, 1 95 7 (com Patrick Suppes e a colaboração de Sidney Siegel). - "Actions, Reasons, and Causes", Journal of Philosophy, 60 ( 1 963), 685-700; reimp. em May Brod beck, ed., Readings in the Philosophy of the Social Sciences, 1 968, pp. 55-58. - "Causal Relations", Jour nal of Philosophy, 64 ( 1 964), 69 1 -703 - "Truth and Meaning", Synthese, 1 7 ( 1 967), 304-323. "Theories of Meaning and Leamable Languages'', em Yehoshua Bar-Hillel, ed., Logic, Methodology, and Philosophy of Science. Proceedings ofthe 1 964 lnternational Congress, 1 965, pp. 3 83-392. - "The Logical Form of Action Sentences", em Nicholas Rescher, ed., The Logic ofDe cision and Action, 1 966. - "Truth and Meaning", Syn these, 17 ( 1 967), 304-323. - "On Saying That", ibid. , 1 9 ( 1 968- 1 969), 1 30- 1 46 (cf. também Words and Objec tions: Essays on the Work of W. v. Quine, 1 969, eds., D. Davidson e J. Hintikka, pp. 1 58- 1 74). - "True to 00
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Facts", Journal of Philosophy, 66 ( 1 969), 748-764. "The Individuation of Events", em F. B. Fitch, A. Grün baum et ai., Essays in Honor of Carl G. Hempel, 1 969, ed. D. Davidson, pp. 2 1 6-234. - "Semantics for Natu ral Languages", em Linguaggi nella società e nella tec nica, 1 970, pp. 1 77- 1 8 8; reimp. em Gilbert Harman, ed., On Chomsky: Criticai Essays, 1 974. - "Mental Events", em Lawrence Foster e J. W. Swanson, eds., Theorv and Experience, 1 970, pp. 79- 1 0 1 . - "Radical Inte rrretation", Dialectica, 27 ( 1 973), 3 1 3-328. - "ln Defense of Convention T'', em Hugues Leblanc, ed., Semantic Deviations: Truth, Syntax and Modality: Pro ceedings ofthe Temple University Conference on A /ter native Semantics, 1 973, pp. 76-86 [a "convenção T", de Tarski]. - "Belief and the Basis of Meaning", Syn these, 27 ( 1 974), 309-323. - "Hume's Cognitive Theo ry of Pride", Journa/ of Philosophy, 73 ( 1 976), 744757. - Essays On Actions and Events, 1 980 [ 1 9631 976] . - "Rational Animais", Dialectica, 36 ( 1 982), 3 1 7-327; reed. em E. Lepore, B. McLaughlin, cit. infra. - Jnquiries into Truth and Interpretation, 1 984. Expressing Evaluations, 1 9 8 4 . - "First Person Authority'', Dialectica, 2, vol . 3 8 ( 1 984). - Plato 's Philebus, 1 990. Dialektik und Dialog: Rede von D. D. anlãsslich der Verleihung des Hegel-Preises, 1 992 (Dialética e diálogo. Discurso de D. D. por ocasião da concessão do Prêmio Hegel). "The Second Person'', em P. A. French, T. E. Uehling, H . R. Wettstein, eds. , Midwest Studies i n Philosophy, vol . X V I I , 1 992. Der Mythos des Subjektiven, 1 993 (O mito do subjeti vo) (em alemão). - "Thinking Causes", em J. Hei!, A. Mele, Mental Causation, 1 993, pp. 3- 1 7 . Além dos volumes mencionados supra, D. D. foi edi tor (com Gilbert Harman) de: The Logic ofGrammar, 1 975. Ver: E. Lepore, B. McLaughlin, eds. , Actions and Events. Perspectives on the Philosophy ofD. D., 1 985. - 8. Vermazen, M . 8. Hintikka, eds., Essays on Da vidson: Actions and Events, 1 98 5 . - E. Lepore, ed., Truth and Jnterpretation. Perspectives on the Philoso phy of D. D., 1 985. - R. M. Chisholm, P F. Strawson et ai. , Essays on D. : Actions and Events, 1 98 5 . - B. T. Ramberg, D. D.'s Philosophy of Language: A n Jntroduction, 1 989. - J . P. Murphy, Pragmatism: From Peirce to Davidson, 1 990. J. J:3randl, ed., The Mind of D. D. , 1 989. - S. Evnine, D. D. , 1 99 1 . - J. E. Malpas, D. D. and the Mirrar of Meaning, 1 992. - R. W. Dasenbrock, ed., Literaty Theory Afler Davidson, 1 993 [com o art. de D. "Locating Literary Language'', pp. 295-308]. - R. Stoecker, ed., Reflecting Davidson, 1 993 [com respostas de D. aos dezessete ensaios] . Entre os trabalhos de De Morgan, destacam-se: Formal Logic or the Calculus of Inference, Necessary and Probable, 1 847. - "On Syllogism", Transactions ofthe Cambridge Philosophical Society, 8 ( 1 849), 379408 (este trabalho [o título indicado é uma abreviatura] teve prosseguimento na mesma publicação: 9 [ 1 850], 79- 1 27; 10 [ 1 864] , 1 73-230; 10 [ 1 864] , 33 1 -358; apên dice ao anterior, 1 0 [ 1 864], 355-358; vol. 1 0 [ 1 864] , 428-487 [este último é particularmente importante] . Syllabus of a Proposed System of Logic, 1 860. Trabalhos de interesse matemático e lógico: An Es say on Probabilities, 1 83 8 . A Budget of Paradoxes, 1 872, 2ª ed., 2 vols., 1 9 1 5 . Ed. W. L. Lorimer, 1 93 3 ; ed. E. Kõnig (com versão síria). Ver: W. L. Lorimer, The Text Tradition of Pseudo Aristote/es De mundo, 1 933 (também em int. a ed. supra). - J. P. Maguire, "The Sources of Pseudo Aristotle De Mundo", Yale Classical Studies, 6 ( 1 939). A.-J. Festugiêre, La révé/ation d 'Hermes Trismégiste, II, 1 949. Obras: Vvédénié v filosofiú dialéktitchéskovo maté rializma, 1 9 1 6; 6ª ed., mais completa, 1 93 1 (Introdução à filosofia do materialismo dialético). - L. Feuerbach. Lichnost i mirovosrenie, 1 923 (L. Feuerbach. Personali dade e concepção do mundo). - Lénin kak mislitél, 1 924 (Lenin como pensador). - Dialéktika i éstéstvoznanié, 1 930 (Dialética e ciência natural). - Filosofiá i mark sizm, 1 930 (Filosofia e marxismo). - Ocherki po istorii materialisma, vols. 1 7- 1 8, 3ª ed., 1 930 (Ensaios de histó ria do materialismo dos séculos XV/1-XVJI[). - Lenin i krisis sovremennoyjiziki, 2ª ed., 1 930 (Lenin e a crise da física atual). - Karl Marx i sobremennost, 1 933 (K. Marx e a atualidade). - Filosofia i politika, 1 960 [cole ção de artigos] . Bibliografia: René Ahlberg, A . M. D. , 1 950 (Biblio graphische Mitteilungen des Osteuropa-Institutes an der Freien Universitãt Berlins. Heft 2). Ver: René Ahlberg, "Dialektische Phi/osophie" und Gesellschaft in der Sowjetunion, 1 960 (Osteuropa-Ins titut [cf. supra] . Philosophische und Soziologische Vero ffentlichungen. Band 2). - D. Joravsky, Soviet Marxism and Natural Science, 1 9 1 7- 1 932, 1 96 1 . - L. Labedz, Revisionism: Essays on the History of Marxist ldeas, 1 962. - R. D. Rucker, "A. M. D. : Weltanschauung and Role in the Development of Soviet Philosophy", Studies in Soviet Thought, 1 9 ( 1 979), 1 85-207. - J. B. Bakker, "D.'s Materialist Interpretation of Spinoza, ibid. , 24 ( 1 982), 1 75- 1 84. Para a teoria da decisão: John von Neumann e Oskar Morgenstern, Theory of Games and Economic Behavior, 1 944. Leonard 1. Savage, The Foundations of Sta tistics, 1 954. - R. Duncan Luce e Howard Raiffa, Games and Decisions: Introduction and criticai Survey, 1 957. - Donald Davidson, Patrick Suppes e Sidney Siegel, Decision-Making: An Experimental Approach, 1 957. - Wayne Lee, Decision Theory and Human Be havior, 1 97 l . - M. Medina, Normative Spieltheorie. Spieltheorestische Modelle fiir rationale Losung von Konjliktsituationen, 1 972. - Franz von Kutschera, Ein fiihrung in die Logik der Normen, Werte und Entschei dungen, 1 97 3 . John C. Harsanyi, Essays on Ethics, Social Behavio1; and Scientific Explanation, 1 976. -
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DECIDÍVEL
Euryalo Cannabrava, Teoria de decisão.filosófica (Bases psicológicas da Matemática, da Lingüística e da Teo ria do Conhecimento), 1 977. - R. L. Keeney, H. Raiffa, Decisions with Multiple Objectives: Preferences and Value Tradeo.ffs , 1 976. - C. A. Hooker, J. J. Leach, E. F. McClennen, eds., Foundations and Applications of Decision Theory, 2 vols., 1 977 (!, Theoretical Founda tions; II, Epistemic and Social Applications). - !. Levi, Hard Choices: Decision Making Under Unresolved Conflict, 1 986. - M. D. Resnik, Choices: An lntroduc tion to Decision Theory, 1 986. - K. J. Arrow, H. Ray naud, Social Choice and Multicriterion Decision-Ma king, 1 986. - H. Moulin, Axioms of Cooperative De cision Making, 1 988. Para a lógica da decisão: Richard C. Jeffrey, The Logic of Decision, 1 965; 2ª ed., 1 984. - G. Gottlieb, The Logic of Choice, 1 968. - H. A. Simon, G. H. von Wright et ai. , The Logic of Decision and Action, 1 968, ed. Nicholas Rescher. - Vários autores, Utility, Proba bility, and Human Decision Making, 1 975, ed. D. Wendt e C. A. J. Vlek (seleção de "Atas" de uma reunião em Roma, 3/6-IX- 1 973). - A. C. Michalos, Foundations of Decision-Making, 1 978. - J. P. Van Gigch, ed., De cision Making about Decision Making: Metamodels and Metasystems, 1 987. - J. J. Mechanic, The logic of Decision Making: An lntroduction to Criticai Thinking, 1 988. Ver também bibliografia de DEôNTICO. Artigos sobre decisão na revista Theory and Deci sion. An International Journalfor Philosophy and Me thodology of the Social Sciences, publicada desde 1 970. Para o sentido existencial de ' decisão ' , cf. a biblio grafia de EXISTENCIALISMO, assim como: Alberto Catu relli, E! .filosofar como decisión y compromiso, 1 95 8 . - Jean Paumen, Temps e t choix, 1 972. C DECIDÍVEL. Em vários verbetes lógicos deste Dicio nário, usamos os termos 'decidível', ' indecidível', 'deci dibilidade ' e ' indecidibil idade ' , assim como as expres sões ' método de decisão' e ' procedimento de decisão ' Daremos aqui uma breve explicação do significado des ses termos com base no esclarecimento do uso do ter mo ' decidível' Esse termo pertence ao vocabulário da metalógica e expressa um dos conceitos sintáticos fundamentais nela usados (outros conceitos fundamentais são o de consistência [ver CONSISTENTE ] e o de completude [ver COMPLETO ] ) . Denomina-se "decidível" um cálculo c quando se pode forjar um método ou um procedimento mecânico mediante o qual seja possível decidir - numa série finita de operações - se uma fórmula bem formada de C é ou não um teorema de C. Também se define às vezes o termo ' decidível' indicando-se que se chama "decidível" uma teoria formalizada T quando se pode forj ar um método que permita decidir se uma sentença
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qualquer formulada mediante os símbolos usados em T pode ser provada mediante os recursos proporcionados por T. O procedimento mecânico ou método antes men cionado recebe o nome de "procedimento de decisão" ou "método de decisão" O problema que se refere à determinação da existência ou da não-existência, num cálculo C ou numa teoria formalizada T, de um procedi mento ou método de decisão é denominado "problema de decisão" Se se encontra esse procedimento ou mé todo, o cálculo ou a teoria formalizada recebem o nome de "decidíveis"· caso contrário, o de "indecidíveis" Com relação a esses adjetivos, usam-se os substantivos ' decidibilidade' e ' indecidibilidade ' As definições anteriores não têm caráter formal. Para uma definição formal suficiente do termo ' deci dível' aplicado a uma teoria formalizada T, usaremos a formulação de A. Tarski ( Undecidable Theories, 1 95 3 , !, 3): "Uma teoria T é chamada decidível s e o conjunto de todas as suas sentenças válidas é recursivo; caso contrário, é denominada indecidíveI'' Seguindo o mes mo autor, diremos que uma teoria formalizada T pode ser: 1 ) decidível; 2 ) indecidível; 3 ) essencialmente inde cidível. É essencialmente indecidível uma teoria T na qual são indecidíveis não apenas T, mas toda extensão consistente de T que tenha as mesmas constantes de T. Observemos que toda teoria decidível é axiomatizável, mas nem toda teoria axiomatizável é decidível. Os problemas de decisão ocuparam sobremaneira os lógicos e matemáticos durante os últimos trinta anos. Podemos estabelecer nessa época dois períodos: um, de 1 920 a 1 934, no decorrer do qual se pensou que toda a lógica e toda a matemática eram decidíveis, período em que obteve seus maiores triunfos a chama da matemática formalista; outro, de 1 934 aos dias de hoje, ao longo do qual se desvaneceram as esperanças de uma completa decidibilidade dessas disciplinas. A demonstração, por parte de A. Church, de que não se pode elaborar nenhum procedimento de decisão, nem mesmo para o cálculo quantificacional elementar, repre sentou um dos momentos decisivos nessa história. Não entraremos aqui na descrição das diversas tentativas e dos resultados nos problemas de decisão no que se refere aos diferentes cálculos lógicos (cálculo sentenciai, cálculo quantificacional elementar, cálculo quantifica cional superior). Limitar-nos-emos a indicar, como ilus tração de nosso problema, que um dos métodos de deci são forjados para demonstrar a decidibilidade de um cálculo é o método das tabelas de verdade ( vER ) . Esse método foi elaborado para provar que o cálculo senten ciai é decidível. :l Além da citada obra de A. Tarski (parte da qual em colaboração com A. Mostowski e R. M . Robinson), ver sobre os problemas de decisão em geral: W. v. Quine, "On Decidability and Completeness", Synthese, 7 ( 1 9481 949), 44 1 -446.
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Sobre o problema da decisão no cálculo quantifica cional monádico de primeira ordem, ver especialmente: K. Gõdel, "Zum ' Entscheidungsproblem' des logischen Funktionenkalküsl", Monatshefte fiir Mathematik und Physik, 40 ( 1 933), 433-443 . - A. Church, "An Unsol vable Problem of Elementary Number Theory", Ame rican Journal of Mathematics, 58 ( 1 936), 345-363. Id. , "A Note on Entscheidungsproblem", Journal of Symbolic Logic, 1 ( 1 936), 40-4 1 , 1 0 1 - 1 02 . - Id. , "Special Cases of the Decision Problem", Revue Philo sophique de Louvain, 49 ( 1 95 1 ), 203-22 1 . - "Special Cases of the Decision Problem. A Correction", ibid. , 50 ( 1 952), 270-272. - Wolfgang Stegrnüller, Unvolls tiindigkeit und Unentscheidbarkeit. Die metamathema tischen Resultate von Godel, Kleene, Rosser und ihre erkenntnistheoretische Bedeutung, 1 959. - Richard M . Martin, Intension and Decision, 1 963 . - H. McDa niel, An Introduction to Decision Logic Tables, 1 968. - Ver também a bibliografia de GôDEL (KuRT); GôDEL (PROVA DE). A informação dada neste verbete pode ser comple mentada com a que figura nos verbetes COMPLETO; CON SISTENTE; GôDEL (PROVA DE); METALÓGICA; SINTAXE. C DECISIONISMO. Cabe dar este nome à tese segundo a qual certos problemas só podem ser resolvidos ou, ao menos, enfrentados mediante um ato de decisão em favor de uma dentre duas ou mais alternativas. O ato de decisão está unido a um juízo de valor (para não dizer que consiste em formular um juízo de valor de caráter "decisório" e supostamente "decisivo"). A decisão pode atingir inúmeras áreas da vida humana (política, social, econômica, moral etc.). Com extrema freqüência, ela atinge a área moral. Quando se conhece o fim escolhido, a decisão dos meios a empregar para atingi-lo não é assunto de uma decisão no sentido antes apontado, exceto quando não há informação suficiente sobre as possibilidades ofere cidas pelos meios ou sobre conseqüências que podem derivar de seu emprego. O aumento de informação vai eliminando a área de "arbitrariedade" na decisão e vai eliminando, portanto, também o caráter de decisão. A questão de saber se se deve adotar ou não uma deci são em sentido próprio, e de se a referida decisão é ou não "última", isto é, se ela é ou não justificada por razões de alguma espécie, costuma dizer respeito aos próprios fins. Um extremo "racionalismo" tende a sustentar que os fins são sempre, ao menos em princípio, justificá veis e explicáveis, e que, por conseguinte, cabe sempre encontrar argumentos suficientes em favor de uma al ternativa que elimine outras alternativas. No pólo opos to, temos um "decisionismo" extremo, que aparece co mo um "irracionalismo" Com efeito, o decisioni�mo puro e simples é transracional. A decisão adotada é
DECISIONISMO
considerada ou como subjetivamente "arbitrária", ou então como imposta por uma crença prévia sobre a qual não se têm dúvidas. Entre essas duas posições há uma grande quantida de de atitudes intermediárias. Duas delas são importan tes. Uma é a atitude de acordo com a qual os fins são "disputáveis", ou seja, pode haver razões a favor ou con tra cada um deles. Embora se suponha que nenhuma razão é definitiva, admite-se que certas razões têm mais força, ou são mais persuasivas, que outras. Admite-se também que o futuro pode estar aberto a novas razões; sem dúvida, isso pressupõe que o conhecimento de no vos fatos, ou de novas situações, pode alterar razões até então dadas, mas não há inconveniente em admitir que as razões são formuladas levando-se em conta fatos, ainda que não sej am logicamente deriváveis dos fatos. Outra dessas posições intermediárias é a atitude segundo a qual a escolha de um fim - e, portanto, a decisão que se adota em favor dele - não é estrita mente racional, ou não é racional no sentido de uma "razão teórica" supostamente pura. Pode ter, entretanto, uma importante dose de racionalidade fundada em "ra zões práticas" Pode também fundar-se no "bom senso", recorrer a uma espécie de "consciência moral" ou de "sentimento moral", ou pode afirmar que há uma pos sibilidade de um a priori não intelectual, mas "emotivo" Consideremos, por exemplo, a questão de saber se determinada geração tem ou não de sacrificar-se em beneficio de gerações futuras - o que pode significar o sacrificio de vantagens que a geração atual desfruta para que as gerações futuras não fiquem sem meios de subsistência ou sem possibilidades de dispor das quanti dades mínimas de energia requeridas, ou então a fim de estabelecer no futuro uma sociedade melhor (mais justa, mais igualitária etc.) que a atual. O racionalista afirmará que se devem encontrar razões ou a favor ou contra o sacrificio da geração atual em beneficio das fu turas. O "decisionista" sustentará que não há outro remé dio senão decidir-se a favor ou contra esse sacrificio, sem que haj a razões suficientes para apoiar a decisão que se tome. Isso pode ser feito ou em virtude de uma decisão "arbitrária" ou em virtude de crença "última", ela mesma racionalmente injustificada, e injustificável. Os partidários das mencionadas posições intermediárias afirmarão várias teses como as seguintes: é possível, e desejável, encontrar "razões práticas" que conduzam a uma decisão satisfatória, que seja aceitável por todos, ou por quase todos, sem por isso pretender que seja uma decisão absolutamente correta e para sempre; é possí vel recorrer a um "sentimento moral" que não é irracio nal - embora tampouco, estritamente falando, racional; é possível recorrer à prudência como virtude, e atitude, capaz de proporcionar um critério cujo caráter razoável não deve ser confundido com o racional.
DECOSTER, PAUL
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DECOSTER, PAUL ( 1 886- 1 939). Nascido em Bruxelas, defendeu uma "metafisica única" que pode ser denomi nada a metafisica do ato. Essa metafisica não coincide estritamente nem com a filosofia nem mesmo com a ontologia enquanto mera "filosofia primeira" de caráter formal e critico, pois se trata, em última análise, de uma metafisica não-demonstrativa, que começa com o incondicionado e exige todo condicionamento, o qual não pode sair da esfera lógica ou, no máximo, episte mológica. O ato é, em contrapartida, o que o pensa mento encontra imediatamente diante de si como afir mação metafisica - não apenas psicológica - inevi tável. Isso não significa, de acordo com Decoster, aceitar um irracionalismo; este ato é, em substância, um "ato intelectual" O fundamento da afirmação não é, assim, a indubitabilidade, mas a inevitabilidade. Daí uma dialé tica que passa do ato ao ato em vez de transcorrer no plano puramente formal ou na ordem imanente do idea lismo. Porém, ao mesmo tempo, essa dialética atual requer, segundo Decoster, uma "mediação intrínseca ao ato" e, portanto, uma síntese pura ou concreta que possibilita uma adaptação do ato à mediação, os quais serão indistinguíveis, embora não identificáveis. Dessa maneira, o incondicionado metafisico se mostra dado numa espécie de "mediação imediata", que nos defronta com o ato puro. Com isso, a mediação será "a lei não escrita de todo pensamento" (De l 'Unité métaphysique, 1 934, p. 74). Mas a linguagem do idealismo que parece empregar-se aqui não corresponde senão muito imper feitamente, de acordo com Decoster, à realidade expres sa; com isso, preenche-se meramente uma das condições de toda metafisica autêntica, que se vê obrigada a cons tituir-se mediante uma dissonância se deseja de fato recobrar sua "unidade" � Obras: La Réjàrme de la Conscience, 1 9 1 9. - Le Régne de la Pensée, 1 922. - Acte et Synthése, 1 928. - "De l 'Analyse réflexive à l ' Expérience métaphy sique" ( Travaux du IX Congrés Int. de Philosophie, t. VIII [ 1 93 1 ], 32-38). De l 'Unité métaphysique. Épi logue philosophique, 1 934. - Positions et Corifessions, 1 940. Ver: M. A. Cochet, La Métaphysique de Paul De coster et la Science, 1 937. - Jacques Gérard, La Méta physique de Paul Decoster, 1 945. G. van Molle, La Philosophie de Paul Decoster, 1 946. e -
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DEDEKIND, J U L I U S W I L H ELM R I C H A RD ( 1 83 1 - 1 9 1 6). Nascido em Brunswick, foi discípulo de Gauss e professor no Instituto Politécnico de Zurique ( 1 852- 1 862) e no de Brunswick (desde 1 862 até sua aposentadoria em 1 894 ) . Sua mais conhecida e influente contribuição à matemática está em seu trabalho sobre "continuidade e números irracionais'', no qual apresenta a idéia mais tarde chamada "corte de Dedekind" Esse "corte" consiste numa divisão de todos os números ra cionais em dois conjuntos A e B, sendo qualquer número
do conjunto B maior que qualquer número do conjunto A. Quando "se cortam" esses conjuntos, o "corte" pode cair ou não sobre um número racional. Se cai sobre um número racional, ele define esse número, e, se não cai, define um número irracional. Desse modo, todos os nú meros reais são definidos por meio de números racio nais. São importantes também as contribuições de Dede kind à teoria dos números algébricos. Os axiomas que caracterizam a seqüência dos nú meros naturais são denominados "axiomas de Peano" (ver PEANO, G1uSEPPE). Eles poderiam ser também cha mados de "axiomas de Dedekind", já que foram formu lados por este, ou de "axiomas de Dedekind-Peano" � Obras: Stetigkeit und irrationale Zahlen, 1 862; 3ª ed. , 1 905 (Continuidade e números irracionais). Was sind und was sollen die Zahlen ?, 1 888 (O que são e o devem ser os números ?) Edição de obras matemáticas completas: Gesam melte mathematische Werke, 1 930. - É importante a correspondência entre D. e Cantor: Briefwechsel Can tor-D. , 1 937, ed. E. Noether e Jean Cavailles. Ver: P. Dugac, R. D. et les jàndements des mathé matiques, 1 976 (com textos inéditos e bibliografia de e sobre D. ). e DEDUÇÃO. Muitas são as definições que se deram da dedução. Eis algumas delas: 1 ) é um raciocínio de tipo mediato; 2) é um processo discursivo e descendente que passa do geral ao particular; 3) é um processo dis cursivo que passa de uma proposição a outras proposi ções até chegar a uma proposição que se considera a conclusão do processo; 4) é a derivação do concreto a partir do abstrato; 5) é a operação inversa à indução; 6) é um raciocínio equivalente ao silogismo e, portanto, uma operação estritamente distinta da indutiva; 7) é uma operação discursiva na qual se procede necessariamente de algumas proposições a outras. Cada uma das definições anteriores padece de vá rios inconvenientes, mas ao mesmo tempo aponta para uma ou várias características esclarecedoras. Assim, a l ª é insuficiente, pois o vocábulo ' raciocínio' é aqui demasiadamente vago, porém sublinha o caráter mediato e, portanto, não-intuitivo da operação dedutiva. A 2ª definição tem pressupostos ontológicos que não são estritamente necessários e que se mostram patentes na noção de descendente, mas, por outro lado, ela alude à passagem do mais geral ao menos geral. A 3ª é correta, mas esquece a necessidade de "mediação" (termo mé dio, regra de inferência etc.). A 4ª mostra o caráter abs trato, ao menos no ponto de partida, do processo dedu tivo, mas negligencia outros aspectos importantes desse processo. A 5ª é justa sempre que não se interprete em sentido demasiadamente estrito o termo ' inverso' e sem pre que não se esqueça que tanto a dedução como a indução são operações de índole formal. A 6ª é aceitá-
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vel apenas na medida em que mostra que o silogismo é uma operação dedutiva, mas falha na afirmação da equi valência entre dedução e silogismo, visto que este último é apenas uma das muitas operações dedutivas possíveis. A 7ª é pouco explícita, mas destaca um elemento funda mental na operação dedutiva: o de necessidade. Das definições mencionadas, a 1 ª e a 2ª encon tram-se em textos não-escolásticos escritos a partir do princípio do século XIX; a 3ª e a 4ª são às vezes usa das para completar outras definições; a 5ª foi uma de finição muito habitual em autores da época moderna antes que do florescimento (ou reflorescimento) da lógi ca formal simbólica; a 6ª foi a definição mais freqüente entre autores de tendência aristotél ico-escolástica, es quecendo que, embora o próprio Aristóteles pareça ocu par-se em pormenor apenas do silogismo entre os pro cessos dedutivos, ele de fato se refere a outras formas de dedução (deduções matemáticas etc.); a 7ª pertence, mais propriamente, ao grupo de definições da dedução nas quais se procura dar uma interpretação dela. Esta última definição é interessante na medida em que enfa tiza - como vimos - o caráter necessário do processo dedutivo, mas, para entendê-la bem, é preciso distinguir a necessidade causal, a necessidade ontológica ( ontoló gico-essencial, segundo alguns, ontológico-formal de acordo com outros) e a necessidade lógica. É apenas do ponto de vista desta última que podemos falar de ne cessidade ao nos referir a um raciocínio dedutivo. Com efeito, este último é necessário no sentido de que, uma vez admitindo-se que uma conclusão C segue-se neces sariamente das premissas P, P1 , P2 etc., revela-se contra ditório afirmar que essa conclusão não se segue dessas premissas. A noção de necessidade (lógica) está, pois, ligada à da negação de contraditoriedade consigo mes ma. Alguns autores afirmam que este é o único tipo de necessidade legítimo, de modo que se devem des cartar o aspecto causal e o ontológico (essencial ou formal) da necessidade, os quais poderiam ser, em última análise, reflexos da necessidade lógica mani festada na dedução. As investigações atuais sobre a natureza da dedução levam em conta alguns dos elementos antes menciona dos, mas procuram reduzi-los a suas justas proporções ou então completá-los mediante outras características sem as quais não se pode proporcionar nenhuma noção medianamente rigorosa das operações dedutivas. Uma definição hoje muito comum que se aplica a todas as formas de dedução é a que afirma que no processo de dutivo se derivam certos enunciados de outros enuncia dos de modo puramente formal, isto é, em virtude so mente da forma (lógica) desses enunciados. O enuncia do ou os enunciados do qual ou dos quais se parte para efetuar a derivação são a premissa ou as premissas; o enunciado último derivado dessas premissas é a conclu são. A derivação rumo à conclusão efetua-se por meio
DEDUÇÃO
das regras de inferência (vER), que recebem também o nome de regras de dedução. Há uma estreita conexão entre a noção de dedução e a de implicação lógica, chegando-se às vezes a sustentar que a primeira depende da segunda. Esta é a opinião de Whitehead e de Russell ao escrever em Principia Mathematica: "A dedução depende, assim, da relação de implicação, e todo siste ma dedutivo deve conter entre suas premissas tantas propriedades de implicação quantas sejam necessárias para legitimar o procedimento ordinário da dedução" Se um enunciado p implica logicamente outro enuncia do, q, q é deduzido logicamente de p; e, se um enun ciado q é deduzido de um enunciado p, pode-se dizer que p implica logicamente q. O método dedutivo é usado em todas as ciências - matemática, fisica, biologia, ciências sociais -, mas é particularmente apropriado no âmbito das ciências mais formalizadas, tais como a lógica, a matemática e a fisica teórica. Por meio desse método, é possível efe tuar nessas ciências provas formais, nas quais se estabe lece que as conclusões às quais se chega são formalmen te válidas. Entre os problemas suscitados com relação à dedu ção, destacaremos um: o que consiste em determinar se todo conjunto de fórmulas primitivas dadas em deter minado sistema formal é ou não equivalente aos princí pios de dedução de tal sistema. Alguns autores afirmam que sim; nesse caso, as fórmulas primitivas em questão são declaradas materialmente verdadeiras. Outros auto res, em contrapartida, afirmam que essa interpretação dessas fórmulas não é necessária, seja porque eles rejei tam a expressão ' materialmente verdadeiras ' , seja por que distinguem os axiomas ou fórmulas primitivas de um sistema formal - ou cálculo - das regras de de dução desse sistema. Essas regras de dedução são consi deradas fórmulas metalógicas, enquanto os axiomas pri mitivos são fórmulas lógicas. Difunde-se cada vez mais na lógica o método da chamada dedução natural ( v ER) ou inferência natural (cálculo seqüencial, Sequenzenkalkül) proposto por Ger hard Gentzen. Esse método usa certos esquemas de deri vação em vez dos axiomas e das regras de inferência. Sobre a "dedução transcendental" em sentido kan tiano, ver DEDUÇÃO TRANSCENDENTAL. :> Em todos os textos de lógica há referências à noção de dedução. Ver também Gregorio Klimovski, El mé todo deductivo y la lógica, 1 973. - M. Dummett, The Justification of Deduction, 1 974. - R. Butrick, De duction and Analysis, 1 980. Noção de dedução em Aristóteles e em Santo To más, Projeçie deduckcji u A rystotelesa sw. Thomaza z Akwinu, 1 930. - J. Corcoran, "Aristotle's Natural De duction System", em id. , id. , ed., Ancient Logic and Its Modern Interpretations, 1 974, pp. 85- 1 3 1 . Ver bibliografia de DEDUÇÃO NATURAL. wv� - se fazia ouvir às vezes em seu interior para impeli-lo a não fazer o que estivera a ponto de fazer (embora nunca o impel isse à ação). Tra ta-se, assim, verdadeiramente de um sinal miµElov ( ib id , 4 1 D). O nome usado por Platão é o adjetivo (e às vezes substantivo) omµóv1ov (daimónion) e não o substanti vo oaíµwv (daímon). Ambos costumam ser traduzidos para o português pelo mesmo vocábulo, 'demônio', mas convém observar que há uma diferença de signifi cado entre os dois termos gregos (diferença confirmada pelo fato de que Platão põe na boca de Sócrates o vo cábulo oaíµwv quando quer designar algo muito dife rente de omµóv1ov). Encontramos exemplos a esse respeito na citada Apologia (27 C-D), onde se introduz Ôa͵wv (os Ôa͵OVES), significando essas entidades que haviam sido anteriormente concebidas como divin dades e que na época de Sócrates designavam uma es pécie de "super-homens" - seres filhos dos deuses, mas que não eram deuses nem heróis -, e em O Banquete (202 E ss.), onde o Amor é pintado como um grande demônio, intermediário, como todo o demoníaco, entre o mortal e o imortal. O "demônio" de Sócrates é, pois, uma "voz" Esta pode ser interpretada de vários modos. Por um lado, pode-se insistir no aspecto "externo" dessa voz, atribuin do-a a uma entidade divina que providencialmente sus surra ao homem certos imperativos. Por outro lado, pode-se insistir no aspecto "interno" da voz, caso em que ela é geralmente identificada com a consciência moral (vrn), em seu sentido mais individual e subjetivo. Por fi m, pode-se conceber a "voz demoníaca" como a expressão da vocação intransferível de cada homem, adotando-se neste caso o ponto de vista existenciário (uR), ao qual nos referimos no citado verbete sobre a consciência moral. Cada uma dessas interpretações tem sua justificação, mas julgamos que o uso delas não deve fazer esquecer o caráter específico que tem o "de mônio socrático", caráter que só pode ser adequada mente compreendido quando nos situamos no contexto da vida pessoal do Sócrates histórico. Em todo caso, convém ter sempre presente o que o próprio Sócrates afirmava: a voz "demoníaca" é negativa e, em lugar de proclamar o que se deve fazer, indica o que não se deve fazer; o imperativo é, pois - como o é, além disso, a maioria dos imperativos morais -, uma proibição. O sentido às vezes mitológico, às vezes teológico, de ' de mônio' (empregado aqui como tradução de oaíµwv) aparece claramente, em contrapartida, numa série de concepçôes que podem suscitar interesse filosófico. Duas dessas concepções merecem ser destacadas aqui. Uma -
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é a que encontramos em textos de autores neopitagóri cos, platônicos ecléticos antigos e neoplatónicos (Nu mênio de Apaméia, Plutarco, Plotino etc.). Esses textos baseiam-se amiúde em tradições mitológicas gregas (co mo aquela a que se aludiu ao se falar do significado de oaíµwv em O Banquete), mas foram usualmente objeto de múltiplas interpretações filosóficas. Os demônios são às vezes concebidos como "intermediários", às vezes como "divindades inferiores" ("gênios" bons ou maus, favoráveis ou desfavoráveis), ocasionalmente como "personalidades divinas" às quais estamos ligados, de tal forma que cada um de nós tem seu próprio "demô nio" (ou "gênio"). Esta demonologia é com freqüência muito complexa, sendo difícil desenredar mitologia e especulação conceituai. Outra concepção é a que aparece no judaísmo e de pois, sobretudo, no cristianismo. O demônio é concebido aqui como "agente do mal" Os demônios são os anjos que se rebelaram contra Deus (ver ANJO) sob a direção do Maligno por antonomásia, Satanás. Este é o Adversá rio por excelência, o Acusador ou Tentador descrito no Antigo Testamento (Gênesis, 3 , 1 ) sob a forma da ser pente, o Mentiroso de que fala o Apocalipse ( 1 2,9). "A libertação do mal" pedida no Pai-nosso ( cf. Mateus, 6, 1 3 ) é, a rigor, "a libertação do Maligno", introdutor e administrador do mal no mundo, incapaz de atacar diretamente a Deus, mas ocupado incessantemente em corroer sua obra, em desfazer seu plano de salvação. Na da há de surpreendente, pois, no fato de que o Maligno (o Demônio) deva ser exorcizado e que se peça ao ho mem que "renuncie a Satanás". Jesus veio (João, 1 2,3 1 ) para expulsar o Príncipe das Trevas, o Maldito. Assim, a concepção do Demônio esboçada aqui está l igada às idéias acerca do mal, do império e do plano de Deus, dos anj os, do pecado. Ela se vincula sobretudo a deter minada concepção sobre o ser espiritual, o qual, como não pode voltar atrás, é incapaz - ao contrário do ho mem - de arrependimento. Em todo caso, convém observar que, para os autores cristãos, o demônio não está fora do império de Deus: Este inclusive se serve dos demônios para tentar os homens e para pô-los à prova - assim, as tentaçôes constituem uma parte do plano da Providência divina. � Obras: M. Détienne, La notion de Daimon dans /e pythagorisme ancien, 1 963. - Robert Müler-Sternberg, Die Diimonen. Wesen und Wirkung eines Urphiinomens, 1 964. Soren S. Jensen, Dualism and Demonology: The Function of Demonology in Pythagorean and Pla tonic Thought, 1 966. - Max Mühl, "Die Traditionges chichtlichen Grundlagen in Platons Lehre von den Dãmo nen", Archiv fiir Begrif/sgeschichte, 1 O ( 1 966), 24 1 -270. Antonio Camarero, Sócrates y las creencias demó nicas griegas, 1 968. - R. C. Neville, The Tao and the Daimon: Segments ol a Religious lnquiry, 1 982. C -
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DEMONSTRAÇÃO. Na teoria platônica, a demonstra ção é essencialmente a definição: demonstra-se que uma coisa é o que é quando se toma patente o que essa coisa é. Para Aristóteles, a demonstração equivale a mostrar que algo é necessário. Por esse motivo, a demonstração é o processo por meio do qual se manifestam os princí pios das coisas (An. post. , 1 24, 85 b). A demonstração é considerada por Aristóteles um processo superior à simples definição. Esta última delimita o objeto que se pretende apreender mentalmente, enquanto a primeira mostra a origem "formal" de onde o objeto procede. Por isso, o instrumento mais apropriado da demonstra ção é o silogismo científico (não o silogismo em geral, cujas premissas podem ser falsas, mas o silogismo ba seado no saber, cujas premissas são verdadeiras e, além disso, imediatas). A teoria aristotélica da demonstração baseia-se, portanto, numa busca das causas pelas quais uma coisa é o que é, busca que permite descobrir, ade mais, que não é possível que a coisa seja diferente do que é. Assim, o estudo da demonstração equivale à in vestigação sobre os princípios da ciência, tanto de toda a ciência (caso em que os princípios são axiomas univer salmente válidos, tais como o da não-contradição e o do terceiro excluído) como de ciências particulares (caso em que se usam hipóteses e definições). Os escolásticos aceitaram a seguinte tese: a demons tração é uma argumentação mediante a qual se extrai uma conclusão de premissas certas. Por conseguinte, a demonstração se efetuava igualmente, como em Aristó teles, por meio do silogismo. Ora, distinguem-se dentro desse quadro diversos tipos de demonstração. Fala-se, com efeito, de demonstração propter quid, procedente de princípios que não apenas são evidentes por si mes mos, como são simpliciter a priori e dão a razão com pleta e adequada da coisa; de demonstração quia, que não procede desses princípios ou que não dá tal razão adequada. Fala-se também de demonstração ad intellec tum e de demonstração ad sensum, segundo a faculda de que capte a verdade do enunciado. Introduzem-se às vezes outros tipos de demonstração, em geral baseados numa contraposição, como, por exemplo, demonstração a priori e demonstração a posteriori, demonstração abso luta e demonstração relativa. Há certos tipos de demons tração que, embora não sejam propriamente demonstra ções, ou, pelo menos, não sejam demonstrações certas, continuam a receber esse nome: este é o caso da osten sio, que pode ser exemp/aris e também ad hominem . Desta última, em particular, pode-se dizer que não é vera-demonstratio. Dois dois tipos especialmente impor tantes de demonstração são a direta e a indireta. Esta úl tima é às vezes denominada abdução (vER), entendida como raciocínio apagógico e ocasionalmente qualificada de raciocínio ad absurdum e ad impossibi/e.
DEMPF, ALOIS
Durante a época moderna propuseram-se muitos tipos de demonstração. Grosso modo, eles podem ser classificados em dois grupos: o empirista e o racionalis ta. O primeiro efetua a demonstração pela passagem da observação do objeto singular à sua idéia mental, que representa o modo como a mente reflete a "apresenta ção" da coisa. O segundo tende a basear toda demonstra ção na relação princípio-conseqüência, inclusive redu zindo a ela a relação causa-efeito. Alguns autores, como Hegel, propuseram uma demonstração que poderíamos qualificar de dialética e que conduz ao universal concre to; demonstrar equivale então a refletir mentalmente a coisa que por si mesma se demonstra num processo que segue certa linha. Muitas são também as formas de demonstração propostas na época contemporânea. Algumas delas se baseiam nas posições clássicas ou em combinações des tas. Outras fundam-se numa teoria pragmática da prova segundo a qual se demonstra a verdade de uma proposi ção pelos "efeitos" que produz (ou pelo modo como a real idade responde a ela). De maneira geral, pode-se dizer que as análises da demonstração em nossa época dependeram de dois fatores. Por um lado, da maior ou menor insistência no papel desempenhado pelo sujeito no processo da demonstração e na aceitação de uma proposição como demonstrada ou não demonstrada. Por outro lado, do maior ou menor destaque dado ao em pírico e ao formal. No que diz respeito ao primeiro ponto, alguns defenderam um psicologismo radical, se gundo o qual algo é demonstrado quando se aceita sua val idade, ao passo que outros pretenderam evitar ao má ximo possível todo fator psicológico. Quanto ao segun do ponto, enquanto a teoria da demonstração relativa ao empírico se baseou na análise de conceitos como a veri ficação (VER), a comprovação, a confirmação etc., a teo ria da demonstração relativa ao formal fundou-se no estudo do processo de prova na lógica e na matemáti ca. Estudaremos brevemente este último aspecto da ques tão no verbete PROVA (VER). Observemos aqui, não obs tante, que, embora neste último caso se tenha tendido a eliminar todo o psicológico, alguns autores sublinha ram que se deve levar em conta que certas proposições ou certos métodos são aceitos por alguns e negados por outros. Bridgman indicou, por exemplo, que a prova pela diagonal de Cantor é aceita como válida por certos matemáticos, enquanto outros duvidam de sua validade. Em vista disso, Bridgman indica que há algo "privado" na aceitação ou não-aceitação de uma prova. Isso con duz, aparentemente, a um subjetivismo. Há, porém, ma neiras de evitar esse perigo; de acordo com o autor citado, o operacionalismo (VER) é uma das teorias mais adequadas para tal propósito. DEMPF, ALOIS ( 1 89 1 - 1 982). Nascido em Altomünster (Baviera), foi professor de filosofia em Bonn a partir
DENIFLE, HEINRICH
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de 1 926 e em Viena a partir de 1 93 7 . Foi destituído pelos nazistas em 1 93 8 e se reincorporou como professor em Munique em 1 945. Além de seus trabalhos sobre fi losofia medieval, Dempf elaborou uma filosofia da cultu ra que procurava combinar motivos historicistas com uma concepção do mundo cristã. De acordo com Dempf, as condições históricas e sociais devem ser levadas em conta para uma maior compreensão da natureza da razão hu mana, mas esta tem fundamentos metafisicos que expli cam, por sua vez, as mencionadas condições. :> Obras: Weltgeschichte ais Tal und Gemeinschaft, 1 924 (A história do mundo como ação e comunidade). - Ku/turphi/osophie, 1 923 . Die Hauptfàrm der mit telalterlichen Weltanschauung, 1 925 (A forma princi pal da concepção medieval do mundo). - Ethik des Mittelalters, 1 927 ( Ética da Idade Média ). - Sacrum lmperium, 1 929. Metaphysik des Mittelalters, 1 930 (Metafísica da Idade Média). - Corres spricht zu un serer Zeit, 1 933 ( G. já/a a nosso tempo). - Meister Eckhart, 1 934. Kierkegaards Folgen, 1 935 (As con seqüências de K. ). - Religionsphi/osophie, 1 937. Christliche Staatsphilosophie in Spanien, 1 93 7 (A filo sofia cristã de Estado na Espanha). - Christliche Phi /osophie, 1 938. - Selbstkritik der Philosophie und ver g/eichende Phi/osophiegeschichte, 1 937 (A utocrítica da filosofia e história comparada da.filosofia) . - Theore tische Anthropologie, 1 950. - Die Weltidee, 1 955 (A idéia do mundo). - Die Einheit der Wissenschaft, 1 955 (A unidade da ciência). - Kritik der historischen Ver nunfi, 1 957 (Crítica da razão histórica). - Die unsicht bare Bilderwelt, eine Geistesgeschichte der Kunst, 1 959 (A expressão artística das culturas). - Geitesgeschichte der altchristlichen Kultur, 1 964 (História espiritual da cultura cristã antiga). - Religionssoziologie der Chris tenheit, 1 972 (Sociologia religiosa da cristandade). Póstuma: Metaphysik, 1 986. Ver: VV AA. , Festschrift fiir A. D. , Phi/osophia Viva, 1 96 l [com bibliografia completa] . F. Mords tein, "Die Philosophie des dialektischen Realismus: A. D. zum 80. Geburtstag", Phi/osophisches Jahrbuch, 78 ( 1 97 l ) , 1 34- 1 44. - R. Specht, "Laudatio für A. D.", Zeitschrift .fiir philosophische Forschung, 36 ( 1 982 ) , 95- 1 00. e --
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DENI FLE, HEINRICH. Ver NEO-ESCOLÁSTICA. DENOTAÇÃO. Já nos referimos à denotação no verbe te sobre o conceito de conotação. Completaremos agora com alguns esclarecimentos o que foi ali indicado. Para alguns autores a denotação é algo que se diz dos termos. Para outros, é algo que se diz dos conceitos. Em ambos os casos, porém, o que o termo ou o conceito denotam são entidades. Estas, por sua vez, podem ser concebidas ou como indivíduos ou como pensamentos
das entidades, isto é, como conceitos-objetos. Falaremos da denotação como algo que se refere ao termos; quanto ao denotado, ele será considerado uma entidade ou enti dades, sem que nos pronunciemos sobre o status onto lógico delas. Usualmente se contrapõe a denotação à conotação. Enquanto a primeira indica a referência do termo às en tidades correspondentes, a segunda indica as caracterís ticas constitutivas do próprio termo. Por esse motivo, admite-se em geral que a denotação é equivalente à ex tensão (VER) e que a conotação é equivalente à com preensão ou à intensão (vER). Pode-se observar facilmen te que há uma relação inversa entre denotação e conota ção, de maneira que um termo denota tanto mais quanto menos conota, e conota tanto mais quanto menos deno ta. Assim, o termo ' homem' denota mais que o termo 'árabe ' , e este conota mais que o termo ' homem' Pode se observar também que há casos nos quais a denota ção ou a conotação desaparecem. Assim, pode haver uma conotação não possuída por nenhuma entidade, ou pode haver denotação em certos termos - como ocorre com os pronomes demonstrativos - que não possuem ne nhuma conotação. A denotação foi às vezes equiparada a ' designação' (vrn), mas, como um signo pode ter algo designado (um designatum) sem necessariamente denotar algo, isto é, sem ter um denotatum, propôs-se distinguir denotação de designação. É freqüente relacionar a noção de deno tação com a de referência ( vrn), não tanto porque a de notação se funde em atos de referência como porque os problemas suscitados pela noção de denotação recaem em muitas das questões que se examinam ao abordar as referências (assim como as descríções). Segundo Quine, a semântica tem dois domínios: um é a teoria da significação e o outro, a da referência. Este autor indicou que a denotação pode ser definida como 'a verdade de' no sentido de que o termo ' azul' denota, ou é verdadeiro de, cada entidade azul. Outros autores, especialmente aqueles que insistiram na distinção entre designação e denotação, não aceitam a opinião de Quine a esse respeito. :> Entre os trabalhos influentes sobre o problema, des taca-se o artigo de Bertrand Russell, "On Denoting", Mind, N. S. 14 ( 1 905), compilado no volume de Russell, logic and Knowledge: Essays 1 9/ 0- 1 950, 1 956, ed. R. C. Marsh, e em Essays in A na/ysis, 1 973, ed. Douglas Lackey. Ver também: R. M. Martin, Truth and Denotation: A Study in Semantical Theory, 1 95 8 . - E. Bencivenga, 8. van Fraassen, K. Lambert, Logic Bivalence and De notation, 1 986. e DEÔNTICO. Este termo celebrizou-se desde que foi in troduzido por Georg Henrík von Wríght em seu artigo
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"Deontic Logic" (Mind, N. S. 40 [ 1 95 1 ] , 29-4 1 ; reimp. em von Wright, Logical Studies, 1 957, pp. 5 8-74) e em seu livro An Essay in Modal Logic ( 1 95 1 ) . Embora se pudesse usar 'deontológico ' em vez de 'deôntico ' , o pri meiro desses termos nunca foi muito empregado, e o substantivo 'deontologia' (ver DEONTOLOGIA, DEONTOLÓ GICO ) ficou bastante fora de circulação. Acrescente-se a isso que a deontologia, enquanto disciplina que se ocupa dos "deveres", teve no passado propósitos diferen tes das atuais investigações deônticas. Tudo isso justi fica que se dedique a "deôntico" um verbete específico. Há ainda certa vacilação no vocabulário - 'deôntico' e 'normativo ' usam-se muitas vezes como sinônimos. Por outro lado, o termo ' normativo ' foi utilizado em li nhas de pensamento não inteiramente coincidentes com as das investigações deônticas, razão por que também dedicamos um verbete específico a "normativo" (ver NORMA, NORMATIVO). Em todo caso, parte daquele ver bete é complemento deste. De acordo com o que indica von Wright, o termo 'deôntico' lhe foi sugerido por C. D. Broad, que o em pregou no artigo "Imperatives, Categorical and Hypo thetical" ( The Philosopher, 2 [ 1 950], 62-75). A história "oficial" de 'deôntico ' , particularmente na expressão ' lógica deôntica' , data de 1 95 1 , em virtude do citado ar tigo de von Wright, mas há numerosos antecedentes, alguns relativamente próximos e outros bastante distan tes, dessa lógica e de investigações filosóficas que po dem ser denominadas "deônticas" (ou também "norma tivas"). Esses antecedentes foram pontualmente apre sentados por Miguel Sánchez-Mazas na "Introducción" (pp. 2 1 -65, §§ 1 . 1 , l .2, l .3 , 1 .4) de sua própria lógica deôntica, publicada com o título de Cálculo de normas ( 1 973 ) . Atemo-nos principalmente aos numerosos dados proporcionados por este autor. Enquanto a lógica deôntica apareceu primeiro na esfera da lógica modal, seus antecedentes no pensamen to ocidental se encontram em autores que cultivaram logicamente as modalidades, e especificamente as mo dalidades temporais, como ocorreu com os megáricos ( vER) e com os estóico-megáricos. Na época moderna, pode-se destacar Leibniz, que é, de acordo com Sán chez-Mazas, "o primeiro antecedente direto do que cha mamos de Cálculo deôntico" No século XIX, temos Bolzano. No século XX, Jean Ray (Essai sur la struc ture logique du Code civilfi-ançais, 1 926). Não é uma casualidade que se trate de um jurista (e tampouco o é que se possa mencionar a esse propósito Hans Kelsen [vER] ). Em sua obra sobre sistemas normativos (Norma tive Systems, 1 97 1 ) , Carlos E. Alchourrón e Eugenio Bulygin destacaram a importância que tem a "ciência legal" como "um fundamento pré-analítico para estudos formais (e também como um campo interessante para a aplicação da lógica deôntica)" (op. cit. , p. 2). No cam-
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po juridico, afinal, as normas desempenham um papel fundamental; nesse campo, mais que na lógica em geral - como o haviam considerado alguns autores "nor mativistas" no final do século XIX e no começo do sé culo XX -, esboçam-se os traços básicos do que pode ser uma ciência normativa, distinta da ciência formal, por um lado, e da ciência empírica, por outro. Por isso, encontramos elementos de investigações deônticas em obras como a lntroducción a la lógica jurídica (publi cada no mesmo ano do artigo de von Wright, isto é, em 1 95 1 ), de Eduardo García Máynez, a Lógica jurí dica (Juristische Logik, também em 1 95 l ; 3' ed. , 1 966, trad. esp. de uma ed. anterior: Lógica jurídica, 1 96 1 ) , de Ulrich Klug, e trabalhos mais recentes de lógica jurídi ca, como os de Antonio Hernández Gil (Marxismo y po sitivismo lógico. Sus dimensiones jurídicas, 1 970; Meto dología de la ciencia dei Derecho, 2 vols., 1 97 1 ). Voltando agora a um fi lão mais estritamente fi lo sófico, ou lógico, encontram-se antecedentes de inves tigações deônticas, conforme aponta Sánchez-Mazas, em Alois Hiifler ( vER ) ("Abhiingigskeitsbeziehun gen z w i s c h e n den A b h ii n g i s k e i t s b e z i e h u n g e n , Kaiserliche Akademie der Wissenschafien i n Wien, Phi losophisch-historische Klasse, Sitzungsberichte 1 8 1 , vol. 4, 1 9 1 7, pp. 1 -56) e em Ernst Mally ( Grundgesetze des Sollens. Elemente der Logik des Willens, 1 926; reimp. em E . Mal ly, Logische Schriften, 1 97 1 , ed. Karl Wol ff, Paul Weingartner), que usou o substantivo Deontik ("Deôntica"). Pode-se acrescentar ainda Kurt Grelling, "Zur Logik der Sollsiitze" ( Unity ofScience Forum, j aneiro de 1 939, 44-4 7). Em geral, os autores que se interessaram pelas estruturas lógicas ou pelo "dever ser" ocuparam-se, tenham ou não usado a ex pressão, de "lógica deôntica" Desde a citada data de 1 95 1 , os estudos de lógica deôntica, cálculo deôntico, lógica das normas, sistemas normativos etc. se multipl icaram. Um dos autores que muitos cultivadores da lógica deôntica destacaram pela importância de seus estudos nesse campo, e especial mente em lógica jurídica, é Georges Kalinowski . Além dele, e dos autores mencionados nos parágrafos ante riores, podem ser citados Alan Ross Anderson, Lennart Aqvist, Robert B lanché, Héctor-Neri Castafieda, T. Cornides, Dagfinn Follesdal, Luis García San Miguel, Risto Hilpinen, Jaakko Hintikka, Franz von Kutschera, Luis Legaz y Lacambra, Chaim Perelman, A. N. Prior, Nicholas Rescher, Jesús Rodríguez Marín, Alf Ross, Zygmunt Ziembinski. Alguns deles tenderam a estudar mais especificamente a lógica jurídica; outros, a lógica deôntica ou a lógica dos sistemas normativos em geral; outros, ainda, as modalidades no âmbito das quais figu ram as investigações deônticas. Indicamos na bibliogra fia algumas obras que devem ser complementadas com os títulos mencionados no corpo do verbete.
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No verbete MoDALllJADE, assinalamos os tipos de modalidade distinguidos por von Wright e Robert Blan ché. Um desses tipos são as chamadas "modalidades deônticas": são as que se referem à execução ou à não execução (ou omissão) de atos. Dos atos, cabe dizer que estão "permitidos", que estão "proibidos", que são "obri gatórios" (e também, segundo alguns, que são "facul tativos" ou que são "indiferentes"). Há relações entre essas modalidades que são como a contrapartida das cláusulas modais 'é necessário que ' , 'é possível que ' , 'é impossível que ' etc. Por exemplo, assim como se diz, na lógica modal, que se algo é necessário é possível, de modo similar se pode dizer, na lógica deôntica, que se algo (um ato) é obrigatório é permissível (contudo, parece dificil aceitar que, se um ato é impossível, então não é permissível). Alguns autores consideraram que a lógica deôntica é apresentável como uma especificação da lógica modal. Em numerosos casos, os problemas suscitados em lógica modal se reproduzem no âmbito da lógica deôntica. En tretanto, surgiram dificuldades quando se buscou calcar mecanicamente a lógica deôntica sobre a modal. Um exemplo do desenvolvimento dessas dificulda des é oferecido pela obra de von Wright, que passou por várias etapas para enfrentá-las. Em princípio, as ex pressões deônticas parecem ser simplesmente paralelas a expressões modais e, além disso, que umas e outras sào simplesmente paralelas a expressões quantificacio nais. Em An Essay in Deontic Logic and the General Theory of Action ( 1 968, pp. 1 3- 1 4), von Wright refe riu-se a similaridades que encontrara entre três grupos de expressões: 1 ) expressões como 'alguns ' , ' nenhum ' , 'todos', isto é, quantificadores: 2) expressões como 'possíve l ' , ' impossível', 'necessário', isto é, expressões que designam conceitos modais; 3) expressões como 'permitido' 'proibido ' , 'obrigatório', isto é, expressões que designam conceitos deônticos ou normativos. Pode se observar o paralelismo de cada um desses grupos de expressões entre si. Com isso, parece haver uma analo gia entre lógica deôntica e lógica modal proposicional, de modo que cabe falar de um paralelismo entre ambas: assim, aos valores de verdade (verdadeiro e falso) no cálculo sentenciai corresponderiam valores de execução [atos] (executado e não executado ou omitido) no cálcu lo deôntico; às funções de verdade no cálculo sentenciai corresponderiam outras tantas funções de execução ( exe cutado estritamente falando, e não executado ou omi tido) no cálculo deôntico (com construção de "tabelas de execução" similares às tabelas de verdade); e às modalidades sentenciais (comprovado, falseado, litigio so, plausível, indeciso) corresponderiam outras tantas modalidades de execução (permitido, não-obrigatório, indiferente) no cálculo deôntico. Ora, esses paralelismos não parecem funcionar sempre, motivo pelo qual von Wright chegou à conclusão de que "uma lógica deôntica
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análoga à lógica modal proposicional é inadequada co mo uma formalização proposta de normas (regras) de ação" Para solucionar esse estado de coisas, ele desen volveu o que denominou uma "lógica da ação" - com noções como a de atuar e a de abster-se (de atuar) baseada numa "lógica da mudança" (que inclui símbo los que funcionam para descrições de estados de mu dança). A lógica da mudança está relacionada com a lógica de tempos (gramaticais). A lógica deôntica ou ló gica das normas resultante tem então três camadas: a lógica de proposições clássica, a lógica de mudança e a lógica da ação (Norm and Action: A Logical Enquiry, 1 963, p. 1 29). Embora continue havendo as noções bá sicas do tipo das execuções e omissões, a lógica deôntica resultante constitui um desvio mais importante com re ferência às teorias lógicas "standard" do que se admi tira originariamente. A proliferação de estudos de lógica deôntica condu ziu a distinções que no princípio não foram levadas em conta. Há acordo geral em considerar que a lógica deôn tica equivale a uma lógica de normas, mas as normas não são (ou não são "ainda") ordens, de maneira que se pode distinguir uma lógica de normas de uma de ordens ou de imperativos. Em todo caso, parece inadequado falar de enunciados imperativos, mas parece perfeita mente apropriado falar de enunciados deônticos e afir mar, como o faz Héctor-Neri Castaiieda ( The Structure of Morality, 1 974, p. 97), que "os juízos deônticos são enunciados, isto é, proposições" Pode-se falar também de uma lógica da preferência e da escolha. Entre as várias lógicas deônticas como lógicas de normas, limitamo-nos a mencionar as de Miguel Sán chez-Mazas, e Carlos E. Alchourrón e Eugenia Bulygin (cf. obras supra). Sánchez-Mazas elaborou um cálculo deôntico geral que combina e integra três cálculos par ciais distintos correspondentes a três esferas: a norma tiva pura ou esfera de normas; a fálica pura ou esfera de ações: e a esfera deôntica geral ou normativo-fálica. O mencionado autor considera que seu cálculo é passí vel de várias interpretações, mas "foi concebido princi palmente em vista de suas aplicações jurídicas" (op. cit. supra, p. 64). Ele tem, em todo caso, a vantagem de in corporar a esfera fática, que é negligenciada por muitos autores. Alchourrón e Bulygin desenvolvem uma teo ria de sistemas normativos na qual se evita a ambigüi dade do termo 'permitido ' distinguindo normas de pro posições normativas, isto é, proposições acerca de normas. De acordo com esses autores, "um problema normativo pode ser considerado uma questão referente ao status deôntico de certas ações, isto é, sobre se essas ações estão permitidas ou proibidas, se são obrigatórias etc." (op. cit. supra, p. 1 0). � Além dos escritos mencionados no corpo do verbe te, ver: Eduardo García Máynez, Los principias de la
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DEONTOLOGIA, DEONTOLÓGICO
DEONTOLOGIA, DEONTOLÓGICO. O grego
ÔÉov, particípio neutro do impessoal ÔEL, significa "o obrigatório, o justo, o adequado" Jeremy Bentham re correu a esse termo para cunhar o vocábulo "deonto logy", em seu Deontology, or the Science o{Mora/ity, 1 834 . A de()ntologia é a ciência dos deveres. Em Ben tham, ela estuda os deveres que devem ser cumpridos para se atingir o ideal utilitário do maior prazer pos sível para o maior número possível de indivíduos. Des se ponto de vista, a deontologia é uma ciência de nor mas que servem de meios para alcançar normas que se consideram fins. Desde Bentham, foi comum não considerar a deon tologia uma disciplina estritamente normativa, mas uma disciplina descritiva e empírica cujo fim é a determi nação dos deveres que cabe cumprir em determinadas circunstâncias sociais, e muito especialmente no âmbi to de uma profissão determinada. Parece que foi C. D. Broad que introduziu a classificação, agora clássica, das éticas em teleológicas e deontológicas. Josep-Maria Terricabras expõe assim a diferença entre ambos os enfoques: "Os dois aceitam que se deve fazer sempre o bem. O ponto de discussão reside, portanto, apenas no seguinte: ! se uma ação é moralmente boa JillL sL me�111 a . ou/ por causa de suas conseqüências.: O deontologismo\ opina que as conse qüências não são decisivas para a bondade ou maldade ' da ação, mas que esta depende de critérios absolutos; daí que às vezes, com referência a esta posição, se fale também de absolutismo. O teleologismo, em contra partida, diz que as conseqüências são decisivas para a avaliação moral de um ato e por isso recebe também, ocasionalmente, o nome de "conseqüencial ismo" (op. cit. bibliografia infra, pp. 1 07- 1 08). Terricabras mostra, ademais, que embora certas éticas se apresentem como estritamente deontológicas, amiúde devem recorrer, na prática, a argumentações de caráter teleológico. Em muitos casos, prescindir por completo das conseqüên cias dos próprios atos pode mostrar-se um princípio moral de difícil apl icação prática. Rosmini falou de "ciências deontológicas" e "ciên cias ontológicas": estas últimas estudam o ser como é, enquanto as primeiras o estudam como deve ser. Entre tanto, não há para Rosmini uma separação completa entre essas ciências. A deontologia tem de ser completa da pela ontologia e vice-versa. Uma e outra constituem dois itens nas � i as de raciocínio, diferentes das ciên _ cias intuitivas, que se ocupam do conhecimento. :> Ver: C. D. Broad, Five Tjipes o/Ethical Theory, 1 930. - J. M. Terricabras, Etica i /libertai, 1 983; 2ª ed., 198 9. Os vocábulos ' deontologia' e 'deontológico' caíram em desuso, embora não tenham sido completamente abandonados ( cf. Peter A. Carmichael, "The Logical ••
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Ground of Deontology", Journal of Philosophy, 46 [ 1 949), 29-4 1 ; Claude Desjardins, Dieu et / 'obligation mora/e. L'argument déontologique dans la scho/astique récente, 1 963; D. A. Rohatyn, Naturalism and Deonto /ogy: An Essay on the Problems ofEthics, 1 975, et ai. ) . Por outro lado, nas últimas décadas houve u m crescente uso do termo ' deôntico' de igual maneira, mas, com a finalidade de ajustar-nos ao vocabulário mais difundido, dedicamos um verbete específico a D EôNTICO. ' por · � · . A linha vertical indica o alcance da derivação. Em cima da linha horizontal estão as premissas. Essas premissas são tomadas como pressupostos. Debaixo da linha horizontal se acham as fórmulas que se afirmam dos pressupostos. As expres sões à direita dão razão de cada uma das derivações. Aqui, seguiram-se somente os princípios, mas não ainda as regras antes apontadas. O uso das regras faz se acompanhar do dos princípios. Ao mesmo tempo, as regras justificam a aceitação dos princípios. No exemplo de derivação mencionado antes, as linhas 4 (B 11 C), 6 (W) e 8 ((B /\ W) � P) são reiterações respectivamente das linhas (que expressam as premissas) 2, 1 e 3 . DERIVAÇÕES. Ver PAREro, V1LFRE00; RE s iouos . DERRIDA, JACQUES. Nascido ( 1 930) em El Biar, Argel, professor na Escola Normal Superior, de Paris, colaborou, entre outras publicações, no Tel Que!, o que levou alguns a filiá-lo ao estruturalismo (VER ) francês contemporâneo. Mas, embora se tenha ocupado de te mas abordados por autores estruturalistas (Lévi-Strauss, Lacan) ou afins ao estruturalismo (Foucault), Derrida combinou esses temas com inspirações procedentes da fenomenologia de Husserl, de Heidegger e de Hegel. De todo modo, o método adotado por Derrida é o que ele denominou "desconstrução" Em alguma medida, Derri da levou às últimas conseqüências algumas das atitudes do último Heidegger, acentuando o caráter não represen tativo da linguagem. Isso equivale a situar-se, de imedia to, contra todo "logocentrismo", ou discurso racional . Mas o logocentrismo, por seu turno, faz parte do tecido de todos os discursos, que se encontram todos no mes-
mo nível, não tendo nenhum deles privilégio. A própria desconstrução não é suficiente, e é talvez impossível, porque toda desconstrução é seguida por uma constru ção que deverá ser "descontruída", e assim sucessiva mente. A linguagem tem de dissolver-se para dar lugar à "escritura" O saber da escritura, a gramatologia, é um saber do que está escrito, e isto é independente do logos e da verdade. A própria escritura é uma con dição da episteme (De la grammatologie, p. 43). Por isso, não se trata de elaborar uma ciência, mas de fazer aparecer o horizonte histórico no qual a escritura tem lugar. Não se pode dizer sequer que o "fora" é o "den tro", porque o "é" do "fora" e do "dentro" é eliminado, à maneira do "Ser" e possivelmente por iguais motivos. Não se trata, por conseguinte, de reabilitar a escritura, pois esta somente foi possível com a condição de que "a linguagem 'original ' , 'natural ' etc. nunca tenha existi do, de que jamais tenha estado intacta, intocada pela escritura, de que ela mesma tenha sido uma escritura" (op. cit. , p. 82). Não há, segundo Derrida, nenhum lugar central pelo qual discorra a filosofia, porque o que há não é nenhum "discorrer" Os temas tratados por Derrida são totalmen te opostos aos tradicionais; são temas marginais, mas não são marginais em relação a supostos temas centrais: a marginalidade é a centralidade. Nas "margens", nos comentários, nas notas, aparece o essencial, que é ines sencial, o livro que está "fora do livro". A verdade está disseminada ao longo de uma diferença (ver DIFEREN ÇA): difere-se tudo porque tudo se dissemina. O escrito (l 'écrit) corre lado a lado com a tela (l 'écran) e esta lado a lado com o cofre (l 'écrin). Os jogos de palavras dei xam de ser jogos j ustamente por sê-lo. Não se fala do primeiro nem do último, mas do antepenúltimo. O pen samento é a coluna e a encruzilhada. Repetição, polis semia, diferença e disseminação são instrumentos para uma "desconstrução" da escrita. Todas as escritas, incluindo a escrita sobre essas es critas, entrecruzam-se, fazendo-se e desfazendo-se per petuamente. A inclusão desfaz-se; a exclusão constitui se com base em um discurso possível (que também é incluível). Derrida margina e fragmenta; não se trata de antologia, nem sequer de fragmentos de antologia, mas de fragmentos desses fragmentos. O que se busca é religar (relier) e reler (relire) a partir de todos os pon tos de vista e de todos os fragmentos. Com isso, Derrida almeja "vomitar a filosofia", enviá-la ao campo geral que quis dominar, confrontá-la com a ficção e com ou tras práticas de escrita sobre as quais havia almejado exercer o domínio. Com isso procede-se à decapitação da filosofia. Mas situar-se no limite do discurso filosó fico é apenas um modo de situar-se no limite de todos os discursos. A desconstrução é acompanhada pela, ou entrecruzada com a, recomposição, pelo deslocamento, pela dissociação de significantes como interrupção de
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sínteses, por todo desejo de uma separação. Os temas antifilosóficos, e antidiscursivos, de Derrida transfor mam-se então em palavras, que são as que aparecem e reaparecem, como se fossem obsessões: diferença, espa çamento, disseminação, enxerto, marca; margem, phar makon, hímen e, é claro, desconstrução. � Obras: La voix et !e phénoméne. lntroduction au probléme du signe dans la phénoménologie de Hus serl, 1 967. - L'écriture et la différence, 1 967 (inclui vários escritos, publicados anteriormente em revistas, como "Force et signification", "Cogito et histoire de la folie", "Violence et métaphysique. Essai sur la pensée d ' Emmanuel Lévinas", '"Genése et structure ' et la Phé noménologie", "La parole soufflée", "La scéne de l 'écri ture", "La clotüre de la représentation", "De l 'économie restreinte à l 'économie générale. Un hégélianisme sans réserve", "La structure, le signe et le j eu", "Ellipse"). - De la gramatologie, 1 967 (a primeira parte intitula se : "L'écriture avant la lettre"; a segunda: "Nature, Culture, É criture"). - "La Différence", Bulletin de la Société Française de Philosophie, 62 ( 1 968), 73- 1 0 1 ; reimp. em M. Foucault, J. Derrida et ai. , Théorie d 'en semble, 1 968. - La dissémination, 1 972 (inclui: "Hors livre", "La Pharmacie de Platon", "La double séance", "La dissémination"). -- Marges, 1 972. - Positions, 1 972 (entrevistas de Henri Ronse, Julia Kristeva, Jean Louis Houdebine e Guy Scarpetta com J. D.). - L'ar chéologie dufrivole, 1 973. - Glas, 1 974. - Telepathie, 1 982. - Éperons, 1 978. - La vérité en peinture, 1 978. - La carte posta/e, 1 980. - D 'un ton apocalyptique adopté naguére en philosophie, 1 983. - Parages, 1 986. - De l 'e�prit. Heidegger et la question, 1 98 7 . - Psy ché. lnvention de l 'autre, 1 98 7 . E m português: D o e�pírito, 1 990. - Enlouquecer o subjétil, 1 998; - A escritura e a diferença, 2• ed., 1 995. - Espectros de Marx, 1 994. - A farmácia de Platão, 1 99 1 . - Gramatologia, s.d. - Jacques Derrida (em colaboração com G. Bennington), s.d. - Khora, 1 995. - Limited, lnc., s.d. - Margens da filosofia, 1 99 1 . O olho da universidade, 1 999. - Paixões, 1 99 5 . A religião (em colaboração com G. Vattimo), 2000. Salvo o nome, 1 995. - A voz e o fenômeno, 1 994. Bibliografia: J. M. Miller, French Structuralism: A Multidisciplinary Bibliography, 1 98 1 . - W. R. Schultz, L. L. 8. Fried, 1 Derrida: An Annotated Primary and Secondary Bibliography, 1 992. Ver: Luce Fontaine-De Visscher, "Des priviléges d'une grammatologie", Revue philosophique de Lou vain, 67 ( 1 969), 46 1 -475. - Lucette Finas, Sarah Kof man, R. Laporte, Jean-Michel Rey, Ecarts, quatre essais à propos de 1 D. , 1 97 3 . - F. Laruelle, Machines tex tuelles. Déconstruction et libido d 'écriture, 1 976. Clement Rosset, La dé-construction de la pensée, 1 976. - Newton Garver, Richard Rorty, Marjorie Grene, "The
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671 está n o ponto médio, mas e m outro mais capital: n o fato de que Descartes representou, para usar uma expressão de Ortega, um novo "nível" na filosofia, e no fato de que esse nível foi justamente o que chamamos de "moderno" A filosofia de Descartes não pode ser reduzida, como às vezes foi feito, à metodologia. Essa filosofia é um conjuto muito complexo de diversos elementos: método, metafisica, antropologia filosófica, desenvolvi mentos científicos (especialmente matemáticos), preo cupações religiosas e teológicas etc. É plausível, no en tanto, começar destacando a busca cartesiana de um novo método. Este não deve ser, como segundo o nosso fi lósofo era a silogística aristotélica, uma mera ordena ção e demonstração lógica de princípios já estabelecidos, mas um caminho para a invenção e para a descoberta. Esse caminho deve estar aberto a todos, isto é, a todos que participam da razão e do "bom senso" O exemplo da matemática, na qual a análise (vER) constitui uma arte inventiva, representa a principal inci tação do método cartesiano. A primeira condição para sua realização consiste (Discurso, II) em "não admitir como verdadeira nenhuma coisa que não se saiba com certeza que o é", evitando a precipitação e a prevenção e aceitando somente o que se apresenta clara e distinta mente ao espírito; a segunda, em "dividir cada dificul dade em quantas partes seja possível e em quantas par tes exija sua melhor solução"; a terceira, "em conduzir os pensamentos ordenadamente", começando pelos objetos mais simples e fáceis de conhecer para ascen der gradualmente aos mais compostos; e a quarta, "em fazer sempre um inventário tão integral e revisões tão gerais que se fique seguro de não omitir nada" Essas quatro regras célebres resumem todos os caracteres es senciais do método. Para Descartes, em princípio não se pode conhecer nenhuma verdade a menos que seja imediatamente evidente. Mas a evidência (vER) como único critério admissível deve possuir as características da clareza e da distinção (ver CLARO). Descartes chama as idéias que possuem essas características de nature zas simples (vER) (naturae simplices). Seu conhecimento se efetua por uma intuição direta do espírito; sua verdade é, ao mesmo tempo, sua evidência imediata. Daí a ne cessidade de decompor toda questão em seus elementos últimos e mais simples e em reconstruí-la para a prova com os mesmos elementos, isto é, com suas próprias e primárias evidências. Toda verdade é composta, por conseguinte, por evidências originárias, simples, irredu tíveis, ou por noções relacionadas a elas. O que o espí rito deve fazer é distinguir o simples do composto e investigá-lo ordenadamente até chegar a um sistema de elementos no qual o composto possa ser reduzido pro gressivamente a algo mais simples. Essa regra é funda mental, "e não há" - diz Descartes explicitamente "outra mais útil, pois ela diz que todas as coisas podem
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ser dispostas em séries distintas, não enquanto se refe rem a algum gênero do ente, tal como as dividiram os filósofos conforme suas categorias, mas enquanto umas podem ser conhecidas por outras, de tal modo que, toda vez que ocorrer alguma dificuldade, possamos nos dar conta no momento se talvez seja útil examinar pri meiro algumas e quais e em que ordem" (Regulae, VI). Em outros termos, o verdadeiro segredo do método e nenhum saber é possível sem método - consiste em retomar ao mais "absoluto" Descartes busca uma proposição apodítica; não apenas uma verdade fundamental - pois as verdades de fé também possuem esse caráter -, mas uma verdade crível por si mesma, independentemente de toda tradição e autoridade; uma verdade, além disso, da qual se de duzam as restantes por meio de uma série de intuições no curso de uma cadeia dedutiva. Essa verdade há de ser, por outro lado, comum a todo espírito pensante, de tal modo que seja acessível a todo pensar, sempre que ele funcione de modo reto e se afaste de tudo o que se inter ponha para desviá-lo ou entorpecê-lo, pois "nada pode ser acrescentado à pura luz da razão que de algum modo a obscureça" Em outros termos, o espírito possui, pelo mero fato de ser suj eito pensante, uma série de princípios evidentes por si mesmos, idéias inatas (ver INATISMO), com as quais opera o conhecimento, o qual reduz a elas, mediante relacionamento e comparação, todas as outras noções que surjam da percepção e da representação. Esse afã de clareza e de evidência reve la-se no processo da dúvida (vER) metódica, que elimina todas as objeções que poderiam opor-se a essa funda mentação nos últimos elementos intuitivos. Na dúvida metódica indaga-se pelo último critério de toda verdade. Não é urna dúvida em um sentido cético com urna fina lidade niilista ou com um propósito moral: duvida-se justamente porque somente da dúvida pode nascer a cer teza máxima. A dúvida põe apenas entre parênteses os juízos, mas não as ações. Toda irresolução nestas últimas é suprimida pelo que Descartes chama de "moral pro visional", indispensável para não converter a atitude du bitativa em uma destruição da ordem moral, política e religiosa existente. Descartes passa a duvidar de tudo, e não apenas das autoridades e das aparências do mundo sensível, mas também das próprias verdades matemáticas. O processo da dúvida é levado a suas últimas conseqüências pela hipótese do "gênio maligno" (ma/in génie), introduzido por Descartes para esgotar completamente a série de possíveis dubitações. Poderia existir, indica ele, um gê nio maligno onipotente que se propusesse enganar o homem em todos os seus juízos, inclusive naqueles que, como os matemáticos, parecem isentos de toda sus peita. Mas, uma vez praticada essa dúvida metódica e radical enquanto o espírito pensa na possibilidade de
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todo tipo de falsidades, ele percebe que há algo de que não é possível duvidar de maneira alguma, isto é, de que o próprio sujeito pensa. A dúvida se detém, final mente, nesse pensamento fundamental, no fato primário de que, ao duvidar, pensa-se que se duvida. Esse núcleo irredutível no qual o duvidar se detém é o Cogito ergo sum (VER ) . Penso, logo existo; eu sou, pois, uma coisa pensante, algo que permanece irredutível após o duvidar absoluto (Discurso, IV Meditações, II). O Cogito é, por conseguinte, a evidência primária, a idéia clara e dis tinta por antonomásia (idéia distinta, certeza primária, pois, mais que primária realidade). Essa proposição é j ulgada por Descartes como uma verdade inalterável "pelas mais extravagantes suposições dos céticos" O Cogito - que não deve ser interpretado como um mero ato intelectual, mas como um "possuir na consciência" - afirma que "eu sou uma coisa pensante" com com pleta independência da coincidência do pensar com a situação objetiva e até mesmo da própria existência dessa situação. Pois bem, o momento imanente do Cogito é trans formado rapidamente em um momento transcendente. Isso ocorre na demonstração da existência de Deus e nas sucessivas afirmações da substancia l idade da alma e da extensão dos corpos. Por isso o Cogito representa a posição de um idealismo que não renuncia ao realismo e que, por outro lado, não se satisfaz com o imanen tismo da consciência. Daí que sua função seja distinta da que é apresentada no pensamento moderno pelo fenomenalismo espiritualista de Berkeley e pelo criticis mo de Kant. Embora Descartes tenha em comum com esses autores a participação nos pressupostos do idea lismo moderno, distingue-se deles por admitir, ao mesmo tempo, não poucos pressupostos realistas. Em todo caso, Descartes almeja sair o mais cedo possível do fenõmeno ou da consciência com o fim de encon trar uma realidade que lhe garanta a existência das realidades. Isso ocorre por meio da passagem, já indi cada, para a demonstração da existência de Deus (vER ) . Somente Deus pode garantir a coincidência entre tais evidências e suas existências correspondentes. Como demonstração principal Descartes usa o argumento ontológico, mas lhe confere um sentido distinto ao deduzir a existência de Deus de sua idéia como ser infinito no ãmago da consciência finita. Somente por que uma natureza infinita existe, pode ela põr sua idéia em uma natureza finita que a pensa. Assim, essa de monstração é uma superação do solipsismo da cons ciência e uma passagem para o reconhecimento da rea lidade e da consistência das objetividades. Busca e descoberta do método (e de suas regras), processo metódico da dúvida, evidência do Cogito e de monstração da existência de Deus são quatro elementos fundamentais da filosofia cartesiana. O que liga esses
6 72 elementos é o esforço para encontrar proposições apo díticas que sejam ao mesmo tempo explicativas do real. A razão na qual Descartes começou a "encerrar-se" não é, com efeito, uma razão puramente formal. Ou, se essa razão é formal, ela o é em um sentido mais pare cido com as razões da matemática, nas quais há inven ção e descoberta e não apenas ordenação ou pura "dia lética" A razão cartesiana pode ser considerada, além disso, intuitiva, no sentido de que parte de intuições (ver INTUIÇÃO) para desembocar em intuições, em uma cadeia que tem de ser perfeitamente transparente. Pois bem, a filosofia de Descartes não se detém na passa gem da prova de existência do eu como eu pensante para a prova de Deus como ser infinito capaz de garan tir ao eu pensante as verdades, e particularmente as ver dades eternas. O eu apreende-se a si mesmo como na tureza pensante, e apreendeu a Deus como alguém que "concorre comigo para formar os atos de minha vonta de'', mas Descartes julga que se deve considerar tam bém se há coisas externas. Essa consideração se faz, é claro, ao fio da idéia clara e distinta do externo. Tal idéia leva à consideração de outra substância também clara e transparente, a substância corporal enquanto substân cia extensa. A distinção entre substância pensante e substância extensa é absolutamente clara justamente por que cada uma delas se define pela exclusão da outra: o que é pensante não é extenso; o extenso não pensa. A extensão não é a essência do eu pensante; o pensamento não é a essência da realidade extensa. Assim são forma das duas substâncias separadas e claramente definidas, na medida em que possamos dizer que são propriamente substâncias, já que, em alguma medida, somente Deus é substância. A conseqüência disso é um dualismo (e, segundo alguns autores, se levarmos em conta Deus, um "trialismo"). Consideremos agora somente o citado dualismo. Este último estabeleceu problemas muito agudos a Descartes, particularmente ao longo da famosa questão da relação entre alma e corpo como relação entre substâncias. Uma parte considerável do pensamento racionalista pós-carte siano (Malebranche, ocasionalistas [ver ÜCASIONALISMO], Spinoza, Leibniz) ocupou-se dessa questão, dando-lhe soluções muito diversas. Mas seria errõneo pensar que há no pensamento de Descartes apenas uma metafisica: a separação das duas substâncias, embora metafisica mente incômoda, segundo Descartes é cientificamente fecunda. Ela é, em todo caso, o fundamento da doutri na do homem (da "psicologia") e da doutrina do mundo (da tisica). Da tisica cartesiana haveria muito a dizer. Podem ser encontradas em várias partes de sua obra - espe cialmente nos Princípios de filosofia - elementos que permitem concluir que Descartes não foi tão extremado como pareceu em sua concepção das realidades fisi-
673 cas como puras substâncias extensas; a questão das forças que se manifestam nos corpos é, para Descartes, como para todos os fisicos, uma questão capital. Mas, grosso modo, pode-se dizer que a fisica cartesiana aparece sob a forma de uma estática dominada pelo sistema das relações espaciais. As qualidades e as supostas forças ínsitas na natureza dos corpos são eliminadas; de outro modo não se poderia entender racionalmente a substân cia extensa. Isso equivale em grande parte a considerar a fisica do ponto de vista da geometria. Também equi vale a adotar o que foi chamado posteriormente de "o método redutivo de análise", ao menos dentro de cada um dos tipos fundamentais de substância. É curioso observar que mesmo quando Descartes se opôs firme mente em sua fisica às teorias escolásticas, por consi derar que essas teorias se fundavam em certas supostas "virtudes" dos corpos, das quais se procedia a derivar racionalmente suas propriedades, sua própria fisica é em muitos pontos não menos metafisica que a dos esco lásticos. Com efeito, Descartes procura derivar certas teorias fisicas - matéria como um complexo de "torve linhos" - das propriedades racionais da matéria como substância extensa. A "psicologia" de Descartes não segue inteiramente as linhas da racionalização geometrizante que opera na fisica. Por um lado, há nas idéias psicológicas de Des cartes muito mais descrição que dedução racional. Por outro lado, Descartes tem consciência de que, embora todas as operações psíquicas sejam cogitações, a única coisa em comum a todas elas é seu caráter intencional. Os fenômenos da vontade, por exemplo, não se redu zem facilmente aos da inteligência. Pois bem, mesmo assim, Descartes busca encontrar em sua "psicologia" um método baseado na clareza e na distinção. Por isso cada uma das variedades dos modos psíquicos tem de ser deduzida da própria essência desse modo. Assim, Descartes define as paixões como "reações" As prin cipais "reações" são a admiração (vER), o amor, o ódio, o desejo (vER), a alegria e a tristeza. A vontade (vER) é a faculdade de julgar ou abster-se de julgar, de consen tir ou negar o juízo. Essa vontade é infinita e completa mente livre para dar ou não sua adesão, pois o enten dimento mostra simplesmente à vontade o que ela deve escolher. A infinidade da vontade contrapõe-se à fini tude do entendímento: o erro (VER) baseia-se não apenas na adesão às representações confusas e obscuras, mas no ato volitivo que ultrapassa o caráter limitado do en tendimento. Mas os pressupostos da filosofia carte siana tampouco se esgotam na tendência à redução do complexo ao simples. Há nela a idéia de que é possível reconstruir o universo inteiro com base em elementos simples; há a segurança de que se alcançou pela primeira vez uma segurança intelectual completa; há a confiança em que todo homem, pelo mero fato de sê-lo, pode
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chegar ao conhecimento sempre que utilize o método conveniente. O que importa para a verdade é, pois, menos a penetração espiritual que o adequado uso do método. Há, por fim, o pressuposto de uma ordenação da Natureza ou, mais ainda, de uma ordenação segundo uma lei matemática, pois o método contrapõe-se conti nuamente à sorte. Por isso o método é como a chave de uma linguagem. E por isso a filosofia de Descartes é quase o "programa" da época moderna, ao menos en quanto exploração das possibilidades da razão. Como em todos os verbetes sobre os grandes filóso fos, a exposição aqui apresentada deve ser completada com as referências a Descartes que figuram em outros verbetes deste Dicionário. Já indicamos alguns deles no decorrer da exposição (ANÁLISE; CLARO; COGITO ERGO suM; INATISMO etc.); ao leitor será fácil recorrer a outros conceitos básicos (CRIAÇÃO; ESPAÇO; TEMPO etc.). A filosofia de Descartes foi objeto de numerosas interpretações. Mencionaremos somente três grupos de teorias sobre três pontos considerados centrais. Um desses grupos de teorias se refere a um aspecto sociológico-histórico: trata-se de saber se é preciso inter pretar sempre de modo mais ou menos literal o que Des cartes escreveu ou de se é preciso considerar Descartes um "filósofo mascarado", que oculta seu verdadeiro pen samento (Larvatus prodeo) por medo das conseqüên cias que sua manifestação poderia acarretar. A interpre tação dos escritos de Descartes como expressão do pensamento autêntico do filósofo é não apenas a tradi cional, mas também a geralmente aceita hoj e por todos os expositores do cartesianismo. A interpretação de Descartes como "filósofo mascarado" foi proposta por M. Leroy. Outro desses grupos diz respeito ao interesse predo minante de Descartes. Para alguns o único interesse do filósofo consistiu em fundamentar filosoficamente a nova ciência natural, ou mesmo desenvolver pura e sim plesmente esta última. Para outros (como Léon Blan chet), Descartes pretendeu fazer o mesmo que a Igreja Católica tentou freqüentemente: estabelecer um equilí brio entre teologia e filosofia, e entre revelação e razão. Para outros (Cassirer), Descartes se interessava, como filósofo teórico, pela fundamentação filosófica da nova ciência, e, como crente, pela obtenção da pa.x fidei . Para outros (H. Gouhier), pode-se fazer a distinção entre Des cartes e o cartesianismo e atribuir a cada um deles não interesses opostos, mas uma certa acentuação desses in teresses em um sentido ou em outro. Outro desses grupos, por fim, diz respeito à estru tura da obra filosófica de Descartes e à função desem penhada nela por certas afirmações (como o Cogito ergo sum). Para alguns (M. Guéroult), Descartes foi sobre tudo um raciocinador, cuj a filosofia seguiu uma estrita "ordem das razões"; para outros (F. Alquié), ele conce-
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DESCARTES, llENÉ
beu as verdades fundamentais como "experiências ontológicas" :> Obras: Discours de la méthode pour bien conduire la raison et chercher la vérité dans les sciences. Esse Discours apareceu anonimamente em 1 637, junto com os tratados de Dioptrique, Météores e Géométrie dos quais constituía o prefácio -, com o título comum de Essais philosophiques. Tradução latina, revisada por Descartes, do Abbé Étienne de Courcelles, com o nome de Specimina philosophica ( 1 644) com exclusão da Geometria (trad. por Schooten e publicada em 1 649). Meditationes de prima philosophia, ubi de Dei exis tentia et animae immortalitate; his adjunctae sunt variae objecrione.1· doctorum virorum in istas de Deo et anima demonstrationes cum responsionibus auctoris, 1 64 1 (as objeções procedem de: Caterus de Amberes; de savants de Paris reunidas por Pe . Mersenne; de Hobbes; de Ar nauld; de Gassendi; de vários teólogos e filósofos). A segunda edição ( 1 642) apareceu com o título: Medita tiones de prima philosophia, in quibus Dei existentia et animae humanae a corpore distinctio demonstratur, incluindo as "objeções sétimas" do j esuíta Bourdin. Trad. fr. das Medi/aciones pelo Conde de Luynes e das "objeções e respostas" por Clersier em 1 64 7. Renati Descartes Principia philosophiae, 1 644 (trad. fr. por Picot, 1 647). - Le.1· passions de / 'âme, 1 649 (trad. latina 1 650). - Depois da morte de Descartes, apareceu Le monde ou traité de la lumiere, 1 664 (edição mais completa, 1 677). Traité de / 'homme et de la forma tion du fóetus, 1 664. - Cartas 1 657- 1 667 (em latim, 1 668, 1 792). - Regulae ad directionem ingenii e ín quisitio veritatis per lumen natura/e (ambas em Opera posthuma Cartesii physica et mathematica, 1 70 1 ). Ed. crítica de Giovanni Crapulli da versão holandesa do sé culo XVII, 1 966. Ver também Jean-Paul Weber, La constitution du texte des Regulae, 1 964. - Trad. fr. , anotada, das Regulae: Regles utiles et claires pour la direction de / 'e5prit et la recherche de la vérité, 1 976, ed. P. Costabel e Jean-Luc Marion. Edição de obras: Ed. latina das obras filosóficas, Amsterdã, 1 650; ed. em francês: Paris, 1 70 1 . Ed. de Cousin, 1 824- 1 826. Ed. completa de Adam e Tan nery, 1 1 vols., 1 897- 1 909; reimp., com notas suplemen tares, por É . Gi lson, M. Guéroult et ai. , 1 963 ss. - Ed. de Oeuvres philosophiques, ed. Ferdinand Alquié, 3 vols., 1 967- 1 973. - Correspondência publicada por Ch. Adam e G. Milhaud, 8 vols., 1 936- 1 963. Corres pondência entre Descartes e Huyghens: Corre5pondence o( Descartes with Constantyn Huyghens 1 635- 1 64 7 (Oxford, 1 926, ed. Leon Roth). - Para o Discurso do Método, ver especialmente a ed. de É . Gilson, com co mentários, 1 925; 3ª ed., 1 930. - Edição de cartas sobre a moral por Jacques Chevalier, Lettres sur la mora/e. Correspondance avec la princesse Elizabeth, Chanut -
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DESCOBERTA
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DESCONSTRUÇ.Ã.O
suposta dicotomia entre os dois contextos. Essa nega ção pode assumir várias formas: a mais conhecida, representada por R. N. Hanson, entre outros, seguindo precedentes de Peirce (ver ABDUÇÃO), faz-se acompa nhar de esforços para constituir o que se denominou uma "lógica da descoberta" Os processos de desco berta não seguem necessariamente vias fortuitas nem estão condicionados e, com isso, validados por circuns tâncias "externas"; há formas e modelos ou padrões de descoberta (ver do citado autor, Patterns of Discovery, 1 958, passim ). A "lógica da ciência" no sentido indica do no princípio é uma "lógica do produto terminado", enquanto uma "lógica da descoberta" é uma lógica que, mesmo que parta do produto terminado, segue os passos que levaram logicamente a tal produto (cf. ainda: "The Logic of Discovery", Journa/ ofPhi/osophy, 55 [ 1 958], 1 073- 1 089; "More on the ' Logic of Discovery'", ibid. , 57 [ 1 960] , 1 82- 1 88 ; "Is There a Logic of Discovery?", em Current Issues in the Phi/osophy of Science, ed. H. Feigl e G. Maxwell, 1 96 1 , pp. 20-3 5, 4-42; "Retroduc tive Inference", em Phi/osophy ofScience. The De/aware Seminar, ed. 8. Baumrin, vol. 1, 1 96 1 , pp. 2 1 -37; "Notes Toward a Logic of Discovery", em Perspectives on Peir ce, ed. R. J. Bernstein, 1 965, pp. 42-65). É evidente que os modos de desenvolver a "lógica da descoberta" variam dependendo daquilo que se entenda por ' contex to' n a expressão 'contexto de descoberta' Esse contexto pode ser entendido de um modo "máximo", caso em que a lógica da descoberta se "dissolve", com efeito, em psicologia ou em sociologia da ciência, perdendo então toda estrutura lógica ou fiando-se em "estruturas lógi cas" do contexto a que se recorra em cada caso. Pode se também entender o contexto de um modo "mínimo", ou ao menos "moderado", como faz Hanson ao falar da lógica da descoberta "filosoficamente respeitável", a qual inclui, entre outros elementos, estudos de passos inferenciais a partir do reconhecimento de anomalias e a determinação de tipos de hipóteses que possam servir para "explicar" as anomalias; essa lógica da descoberta constitui, em suas palavras, "uma área de investigação, não um manual de conclusões" (ou de receitas) ("Notes etc.", p. 65). Mesmo no sentido "mínimo" ou "modera do", porém, postula-se que uma "lógica da descoberta" deve distinguir-se de uma "lógica dos métodos de indu ção", que Reichenbach e outros autores "ortodoxos" consideram ser a metodologia apropriada ao estudo da descoberta científica. O fato de que o título original do livro de K. R. Popper, logik der Forschung ( 1 935), tenha sido traduzi do para o inglês por logic o/Scientific Discovery, 1 959 (a trad. br. é : lógica da pesquisa científica, 6" ed., 1 996), e o fato de Popper ter empregado essa expressão e de ter havido debates em torno dos problemas que ela
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suscita podem prestar-se a confusões - por exemplo, o trabalho de Thomas S. Kuhn "Lógica da descoberta ou psicologia da investigação?" (em Criticism and the Growth of Knowledge, 1 9 70 , ed. 1. Lakatos e A. Mus grave) poderia levar a pensar que· Kuhn debate o pro blema da "lógica da descoberta" na acepção que, como vimos, essa expressão tem em Hanson, ou como a que teve em Peirce. A rigor, Popper não aceita uma "lógica da descoberta" no sentido Peirce-Hanson, e quando fala, em inglês, de "lógica da descoberta", segundo o modelo, mais ou menos modificado, de sua Logik der Forschung, está falando de uma "lógica do conheci mento científico" Por outro lado, é justo reconhecer que uma "lógica da descoberta científica'', quando· abandona os últimos resíduos "reconstrucionistas" e "justificacionistas" próprios da filosofia da ciência de senvolvida por alguns positivistas, pode - sem trans formar-se em "psicologia (ou sociologia) da ciência" - aproximar-se do estudo de passos inferenciais que se dão de fato na investigação científica e não se equi param exatamente nem a processós dedutivos nem a indutivos. A distância existente entre o estudo desses passos inferenciais e um exame da psicologia (e de so ciologia) da descoberta pode ser tomada tão curta ou tão larga - quanto se queira. Herbert A. Simon segue em parte os passos de Han son ao sustentar (cf. "Does Scientific Discovery Have a Logic?", Phi/osophy of Science, 40 [ 1 973], 47 1 -480) que há uma lógica da descoberta entendida como teoria normativa dos processos de descoberta, e acrescenta a esse propósito uma série de exemplos de processos de retrodução (vER). Trata-se, em substância, de descobrir estruturas ou modelos de informação contidos em dados, e de usar a informação obtida para "recodificar" os dados. Para a teoria da verdade como "descoberta'', ver VERDADE. DESCONSTRUÇÃO. Ver DERRIDA, JACQUES; Lúmco. DESCONTINUÍSMO. Ver ATOMISMO; CoNTiNUO. DESCRIÇÃO. Vários autores antigos trataram a des crição como uma forma de definição: a chamada "defi nição descritiva'', opoç Üia ipETIKÓS e também opoç vnoypaqi1Ki'jç. Tratava-se de uma enumeração de carac teristicas de uma coisa mediante a qual era possível dis tinguir essa coisa de outra sem por isso chegar à chama da "definição essencial" Na lógica medieval, conside rou-se a descrição como um discurso por meio do qual se enunciam das coisas características acidentais e pró prias: acidentais porque não são essenciais, e próprias porque, em todo caso, pertencem à coisa descrita. Em muitos casos, a descrição, descriptio, foi tida como uma deflnitio secundwm quid, uma defirrição sob deter minado aspecto.
677 A descrição não é, desses pontos d e vista, o oposto da definição: é uma definição menos exata, minus accu rata dejinitio. Na Lógica de Port Royal, afirma-se que "a definição menos exata (déjinition moins exacte) que se chama descrição é a que proporciona certos conheci mentos de uma coisa por meio dos acidentes que lhe são próprios e que a determinam o bastante para dar al guma idéia que a distingue de outras (Logique de Port Royal, parte II, cap. XVI). A descrição é suficiente para certos propósitos, mas nunca é completa. Contudo, des crição e definição encontram-se estreitamente relacio nadas, já que se trata da mesma operação - porém, num caso se recorre a acidentes, e no outro a causas, à matéria, à forma, ao fim etc. A descrição pode ser denominada (como já o fez, entre outros, Petrus Ramus) definitio imperfecta, ao contrário da definição, que é de finitio perfecta. Em ambos os casos, trata-se, pois, de definição. Uma definição é uma dejinitio descriptiva. Por outro lado, e crescentemente a partir do século XIX, contrapuseram-se "descrição" e "definição", exa minando-se quais funções podem ser desempenhadas pela primeira e não podem ser desempenhadas pela úl tima. Também crescentemente, os filósofos ocuparam se da noção de explicação (VER), contrastaram-se "expli cação" e "descrição", e, em especial, explicação causal e descrição. A partir de numerosos pressupostos, várias tendên cias filosóficas se ocuparam da natureza e das condi ções, assim como dos "méritos" e das "fraquezas", da descrição. O positivismo clássico de tipo comtiano des tacou a importância da descrição dos fenômenos, em oposição à supostamente precipitada e amiúde mera mente especulativa explicação dos mesmos. De qualquer modo, destacou-se a importância da descrição fiel dos fenômenos, em contraposição à pretensão de conhecer suas causas (últimas). Certas ciências - como a botâni ca, a zoologia e a mineralogia - foram consideradas desde a Antiguidade como ciências nas quais desempe nha um papel fundamental o que se chamava "defini ção descritiva" ou a definitio secundum quid. No século XVIII, particularmente, essas ciências foram desenvol vidas como "ciências descritivas" O positivismo com tiano não defendeu que se tomassem essas ciências des critivas como modelos, mas sim que se desse maior atenção aos fatos, os quais requerem, de imediato, des crição cuidadosa. Autores como Mach, Schlick e, em geral, os neopositivistas também destacaram a im portância da descrição dos fenômenos e elaboraram a noção de descrição introduzindo nela refinamentos que não se encontravam em Comte. Em geral, Mach e os neopositivistas avaliaram que há diversll8 operações des critivas, e, em particular, duas: uma é a descrição mais completa possível dos fenômenos, e a outra, uma espé-
DESCRIÇÃO
cie de "sumário simbólico" das descrições. Somente no último caso se pode falar de explicação. Alguns autores consideraram, porém, que não se pode passar da descri ção à explicação, isto é, que esta última não é conse qüência de descrições. Requer-se a formulação de hipó teses, verificadas mediante oportunas descrições, mas não obtidas mediante sínteses de descrições. Na classificação das ciências efetuada por Rickert em ciências nomotéticas e ciências idiográficas, a des crição desempenha um papel básico nas últimas. Em autores como Brentano, a descrição deve ser entendida como um método distinto, por um lado, da explicação causal e, por outro, de uma explicação (e inclusive de uma descrição) genética. Trata-se de descrever atos in tencionais (ver INTENÇÃO, INTENCIONAL, INTENCIONALI DADE), que são classificados em três "grupos" de fenô menos psíquicos. Características desse tipo de descrição são a ausência de pressupostos e a atenção ao dado na quilo que poderia denominar-se "trama da intenciona lidade" ou "tecido de vivências" Encaminham-se a uma direção similar os métodos descritivos de Husserl. A fenomenologia é apresentada como um método de pura descrição, mas não se trata da descrição de fenômenos, à maneira positivista, e sim da descrição das essências na medida em que são puramente dadas à consciência intencional. O método de descrição desempenha tam bém um papel básico em Dilthey, tanto na psicologia como, em geral, nas "ciências do espírito" Estas são descritivas, ao contrário das ciências naturais, que são ex plicativas. Deve-se levar em conta, no entanto, que nem em Dilthey nem nos autores antes mencionados a descri ção é concebida como uma espécie de "compreensão deficiente" Pelo contrário, especialmente em Dilthey, há uma estreita relação entre descrição e compreensão (vER). De certa maneira, a descrição é em todos esses autores mais fundamental do que a explicação, que se baseia em pressupostos, enquanto a descrição trata unica mente daquilo que ocorre, na medida em que ocorre e justamente como ocorre. A descrição antecede a predi cação; não porque a linguagem descritiva não contenha predicações, mas porque estas são entendidas como re flexos imediatos do dado. Foi comum em vários autores, seguindo com isso linhas da antiga distinção entre conhecimento imediato ou direto e conhecimento mediato ou indireto, propor uma distinção entre o conhecer algo e o saber acerca de algo. Esta distinção foi proposta por William James em seus Principies of Psychology, 1 909, achando-se também em Bertrand Russell, em várias obras, como Problems of Philosophy, caps. IV e V. O termo acquain tance é usado por ambos os autores para caracterizar o conhecimento mediante o qual nos inteiramos de algo. O saber acerca de (about) é justamente o típico das des-
DESCRIÇÕES (TEOHIA DAS)
crições. Embora o obj eto do conhecimento possa conti nuar sendo o mesmo, o que se conhece do objeto não é o mesmo em todos os casos. Conhecer Lisboa é diferen te de saber (muito, pouco etc.) acerca de Lisboa, ainda que nos dois casos Lisboa seja o "obj eto" que se supõe conhecer ou do qual se supõe saber algo. Nem sempre é fácil determinar os limites entre o conhecimento "direto" e o "indireto", porque os contra exemplos são tão abundantes quanto os exemplos. A existência dos verbos 'conhecer' e 'saber' e o fato de ser este último empregado amiúde em contextos nos quais se trata de conhecimento indireto ou descritivo, isto é, de um saber "acerca de" algo, não garantem que os usos verbais constituam um critério seguro (ver, de Ferrater Mora, "El laberinto dei conocimiento", em Homenaje a J L. A ranguren, 1 972, também impresso em Las pa labras y los hombres, 1 97 1 , pp. 1 23- 1 38). Métodos descritivos foram freqüentemente usados por muitos dos chamados "filósofos da linguagem co mum" Isso se deve a fatores muito diversos, entre os quais figuram a escassa inclinação desses filósofos para construções teóricas com grande aparato de deduções, explicações e inferências, bem como sua simpatia pelos chamados "casos paradigmáticos" Há certas analogias entre as descrições "lingüísticas" e algumas das feno menológicas; em todo caso, as descrições de Austin são descrições daquilo que o próprio autor denomina "feno menologia lingüística" A inclinação desses fi lósofos, e em particular de Austin, pelas descrições não é, porém, incompatível com sua oposição ao chamado "descri tivismo" em virtude do sentido que se deu a este último termo (ver ÜESCRITI\'ISMO). Além das comparações e dos contrastes entre a des crição e a explicação, deve-se levar em conta a impor tantíssima contraposição entre as descrições e as pres crições (ver P RE SCRIÇÃO). O "último Wittgenstein" destacou o caráter "descri tivo" da filosofia, pelo menos na medida em que, a seu ver, "a filosofia não explica ( erkliirt) nem deduz ( er .fólgt) nada, pois tudo está à vista (alies offen darliegt), de modo que não há nada a explicar" (Philosophische Untersuchungen, 1 26). "Temos de deixar de lado toda explicação, substituindo-a pela simples descrição" (Bes chreibung) (op. cit. 1 09). No "Livro azul" ( The Blue and Brown Books, 1 958, p. 1 8), Wittgenstein já denun ciara o afã de generalidade que aguilhoou os filósofos, os quais costumam ter constantemente presente como modelo o método da ciência e sucumbem à tentação de formular perguntas e de respondê-las da mesma maneira que o fazem os cientistas. "Essa tendência é a verdadeira fonte da metafisica e leva o filósofo a uma obscuridade completa. Quero dizer aqui que nossa tarefa nunca pode ser a de reduzir algo a algo, ou a de explicar algo. Na realidade, a filosofia é puramente descritiva." A insistên-
678 eia na descrição serve aqui de corretivo às tendências re ducionistas, que são, ao mesmo tempo, como se indicou, conseqüências do afã de generalidade. Não obstante, deve-se levar em conta que, em última análise, a descri ção é um dos jogos de linguagem (ver L INGUAGEM [JOGOS DE]) - e não apenas isso: há coisas muito diversas que podem ser denominadas "descrição", como "a descrição da posição do corpo mediante suas coordenadas, a des crição da expressão facial, a descrição de uma sensação tátil, a descrição de um gosto" (Philosophische Unter suchungen, § 24). Para a chamada "teoria das descrições" no sentido de Russell, ver ÜESCRl A maioria de obras sobre filosofia da ciência (vER) discute o problema da natureza e das formas do determi nismo. O livro de Emest Nagel citado no texto é The Structure ofScience: Problems in the Logic ofScienti fic Explanation, 1 96 1 (ver especialmente pp. 277-335). Encontra-se abundante informação sobre a questão do determinismo nas duas obras de Cassirer, mencionadas na bibliografia do verbete sobre esse filósofo, acerca do problema do conhecimento e acerca do determinis mo e indeterminismo na tisica moderna. Também abor dam o problema do determinismo muitas das obras citadas nas bibliografias de AcAso; F1M; LIBERDADE; TELEOLOGIA. Sobre determinismo e indeterminismo na história, ver a parte correspondente na bibliografia de HlsTóRIA. Mencionaremos aqui (simplesmente em ordem cro nológica) algumas obras relativas à questão do determi-
DEUS
nismo em geral e do determinismo nas ciências natu rais e remetemos à bibliografia de INCERTEZA (RELAÇÕES DE) para trabalhos complementares, especialmente os relativos à questão na tisica contemporânea; alguns dos trabalhos, de resto, figuram em ambos os lugares. J. Metallmann, Determinizm w naukach przyrodnic czych, 1 934 (O determinismo nas ciências naturais). - A. S. Eddington, Sur le probleme du déterminisme, 1 93 5 . - C. D. Broad, Determinism, Indeterminism and Libertarianism, 1 934 (Aula inaug. em Cambridge). R. S. Lacape, La notion de liberté et la crise du détermi nisme, 1 93 5 . - Giuseppe Tarozzi, La libertà umana e la critica dei determinismo, 1 936. - Helmut Groos, Die Konsequenzen und Inkonsequenzen des Determinismus, 1 93 1 ; 2ª ed., com o título: Willensfreiheit oder Schick sal?, 1 939. - Déterminisme et libre arbitre. Entretiens présidés par F Gonseth et rédigés par Gagnebin, 1 944. - Yves Simon, Prévoir et Savoir, 1 944. - E. Huant, Des fissures du déterminisme à l 'émergence des fina lités, 1 946. - P Césari, Les déterminismes et la contin gence, 1 950. - G. Mottier, Déterminisme et liberté, 1 948. - Leonel Franca, Liberdade e determinismo, 1 954. - Paulette Février, Déterminisme et indétermi nisme, 1 955. - Pierre Vendryes, Déterminisme et auto nomie, 1 956. - Louis de Broglie, Nouvelles perspecti ves en microphysique, 1 956, pp. 1 1 5- 1 64. - David Bohm, Causality and Chance in Modern Physics, 1 957. - Louis Bonoure, Déterminisme et finalité, 1 957. M. Black, B. Blanshard, P W. Bridgman, H. L. A. Hart, C. G. Hempel, E. Nagel, P Weiss et ai. , Determinism and Freedom in the Age of Modern Science, 1 958, ed. S . Hook. - Allan M. Munn, Free Will and Determi nism, 1 960. - Stanislaw Mazierski, Determinizm i inde terminizm w aspekcie fizykalnym i filozoficznym, 1 96 1 ( O determinismo e o indeterminismo sob o aspecto fi sico e filosófico). - Anato! von Spakovsky, Freedom, Determinism, Indeterminism, 1 963. - Jacques Moreau, Problemes et pseudoproblemes du déterminisme physi que, biologique, psychologique, 1 964. - Sidney Mor genbesser, Determinism and Human Behavior, 1 965. - M . R. Ayers. The Refittation of Determinism, 1 968. - R. L. Franklin, Freewill and Determinism: A Study of Rival Conceptions ofMan , 1 968. - Bernard Berofsky, Determinism, 1 97 1 . - Georg Henrik von Wright, Causality and Determinism, 1 97 5. - C. Williams, Free Will and Determinism: A Dialogue, 1 980. - A. R. Ruffa, Daiwinism and Determinism: The Role ofDirec tion in Evolution, 1 983. - J. Earman, A Primer on De terminism, 1 986. - T. Honderich, A Theory of Deter minism: The Mind, Neuroscience, and Life-Hopes, 1 988. - M . Klein, Deterininism, Blameworthiness and De privation, 1 990. C: DEUS. Examinaremos (!) o problema de Deus, conside rando em especial as principais idéias que Dele teve o
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homem, pelo menos no Ocidente; (II) a questão da na tureza de Deus tal como foi elucidada por teólogos e filósofos; e ( I I I ) as provas da existência de Deus. (III) é logicamente anterior a (II), mas aqui inverteremos a ordem a fim de mostrar o estreito vínculo entre ( I I ) e ( 1 ) . De fato, (!) e (II) entrecruzam-se continuamente, de tal modo que algumas das questões fundamentais rela tivas ao problema de Deus pertencem também à questão de Sua natureza. (l) O problema de Deus. Consideraremos aqui três idéias: a religiosa, a fi losófica e a comum. A primeira enfatiza a relação ou, para alguns autores, a falta de relação entre Deus e o homem. Daí a insistência em motivos tais como o sentimento de criaturidade, o cará ter pessoal do divino, a dependência absoluta ou a trans cendência absoluta etc . A segunda acentua a relação de Deus com o mundo. Por isso, segundo esta idéia, Deus é visto como um absoluto, como fundamento das exis tências, como causa primeira, como finalidade suprema etc. A terceira destaca o modo como Deus se dá na exis tência cotidiana, seja de uma forma constante, como horizonte permanente da vida, ou de uma forma ocasio nal, em meio às "distrações". As maneiras de aproxima ção de Deus são também di ferentes de acordo com as correspondentes idéias: na primeira, Deus é sentido como se estivesse no fundo da própria personal idade, a qual, por outro lado, se considera indigna Dele; na segunda, Deus é pensado como Ente supremo; na tercei ra, é invocado como Pai . Convém observar que as três idéias em questão não costumam existir separadamente: o homem religioso, o fi lósofo e o homem comum po dem coexistir numa mesma personalidade humana. Não obstante, certas relações são mais freqüentes que outras. Assim, por exemplo, há consideráveis analogias entre o Deus do homem religioso e o Deus do homem co mum, como percebeu Pascal ao invocar o "Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, não dos filósofos e dos sá bios" Deve-se observar ainda que, embora essas três idéias apareçam com especial clareza no que se refere ao Deus dos cristãos e em considerável medida ao "Deus dos hebreus", não deixam de se mostrar em ou tras concepções da divindade. I sso ocorre sobretudo quando uma pluralidade de deuses cede lugar a um único Deus: é o caso do deus supremo no âmbito do politeísmo, do chamado monoteísmo primitivo e até do henoteísmo ou da adoração de um deus adscrito a uma tribo ou a um grupo social quando essa tribo ou esse grupo se considera a si mesmos, e por motivos religio sos, privilegiados. Das três idéias referidas, interessam-nos aqui espe cialmente a religiosa e a filosófica; além disso, tendo em vista a índole desta obra, daremos particular atenção a esta última. Tanto uma como a outra, porém, desem penham um papel capital na história da idéia de Deus, ao menos no Ocidente. Mais ainda, pode-se dizer em
694 certa medida que essa história se esclarece sobrema neira quando a consideramos à luz de certa tensão quase nunca de uma completa ruptura - entre a idéia de Deus cunhada pelo homem religioso e a idéia de Deus proposta pelo filósofo. Este último tende a fazer de Deus um objeto de especulação racional. Isso ex plica as conhecidas concepções dos filósofos, das quais mencionaremos algumas: Deus é um ente infinito; é o que é em si, e por si se concebe; é um absoluto ou, melhor dizendo, o Absoluto; é o princípio do universo, o Primeiro Motor, a causa primeira; é o Espírito ou a Razão universais; é o Bem; é o Uno; é o que está para além de todo ser; é o fundamento do mundo e até o próprio mundo entendido em seu fundamento; é a fina lidade a que tudo tende etc. Algumas dessas concepções foram elaboradas e aprimoradas por fi lósofos cristãos; outras procedem da tradição grega; outras estão inseri das em certas estruturas "permanentes" da razão huma na. O homem religioso, em contrapartida, sem rejeitar sempre as concepções em questão, com freqüência as deixa de lado a fim de permitir que transluza a pura realidade divina, ou então as considera resultado de uma elaboração posterior, que seria impossível sem a reve lação ou sem a experiência religiosa e até mística. Trata se, por conseguinte, de uma tendência da história es piritual do Ocidente tendente a destacar uma ou outra dessas idéias. Assim, por exemplo, podemos dizer que Santo Agostinho enfatizou a idéia religiosa, pois, em bora tenha especulado também sobre Deus enquanto Ser onipotente e criador do mundo, deu grande aten ção à relação pessoal entre Deus e o homem, e viu em Deus sobretudo essa Pessoa espiritual que se revela ao homem, que alguns místicos espanhóis denominaram "o estado de ocultamento" por causa de Sua bondade infinita. Em contrapartida, Santo Tomás, embora não tenha de modo algum deixado de filosofar sobre Deus com base nos dados da revelação e não tenha excluído a possibilidade da contemplação mística (declarada no fim de sua vida a suprema via), dedicou uma parte considerável de sua obra ao exame filosófico e racio nal do conceito de Deus. Este contraste reiterou-se na filosofia moderna. Muitos filósofos, em particular os de tendência racionalista, pareceram sacrificar o Deus Pai ao Deus abstrato, o Deus absconditus ao Deus racio nalmente compreensível, e até a suma Existência à suma Essência. Contudo, houve tentativas de não levar essa tendência a suas últimas conseqüências e de atingir certo equilíbrio entre a idéia religiosa e a filosófica. No âm bito da filosofia moderna, um exemplo destacado a esse respeito é o de Leibniz, pois esse filósofo não apenas concebeu Deus como Mónada suprema, mas também como o Pai - e o Monarca - que rege o mundo dos espíritos. Em compensação, autores como Pascal ou Kant, por motivos muito distintos, acentuaram a tendên cia à idéia religiosa. Pascal exprimiu isso de modo
695 explícito em muitas passagens de sua obra, entre as quais se destaca a anteriormente citada. Kant manifes tou-o ao criticar a validade dos argumentos racionais em favor da existência de Deus e ao fazer de Deus um postulado da razão prática, isto é, ao afastar a razão para deixar lugar, como ele mesmo indicou, à fé. Os re sultados desta última posição não se mantiveram, porém, durante muito tempo. Os sucessores de Kant tennina ram por acentuar o aspecto filosófico da idéia de Deus ao fazer Dele, como Fichte, a ordem moral do mundo, ao transformar Deus, como fez Schelling, no Infinito, ou ao convertê-lo, como Hegel, na Idéia (Idéia que o cristão deve ter "a humildade de conhecer"). Contrastes e tentativas de conciliação análogos manifestaram-se nos últimos cento e cinqüenta anos. Kierkegaard e a teologia dialética, por exemplo, insistiram no aspecto re ligioso de Deus; os racionalistas e, por motivos diferen tes, os neo-escolásticos de orientação intelectualista des tacaram o aspecto filosófico. (II) A natureza de Deus. Vários problemas são le vantados a esse respeito. Entre eles, destacamos: a) a questão da diferença entre Deus e o divino; b) a questão do caráter infinito de Deus; e) a questão da relação entre a onipotência divina e a liberdade humana; d) a questão da relação entre a onisciência e a onipotência. Esta úl tima questão permitirá que se formule formalmente o problema do constitutivum de Deus. a) Alguns autores avaliam que Deus e o divino são a mesma realidade. Outros consideram que "Deus" é apenas um nome para designar o divino. Outros, por fim, indicam que o divino é uma das qualidades de Deus. A primeira opinião é neutra com relação à natureza pes soal ou impessoal de Deus. A segunda opinião tende a considerar a Deus como um ente impessoal. A terceira opinião inclina-se a conceber a Deus como uma reali dade pessoal . A segunda e a terceira opiniões foram as mais discutidas. Os adversários da segunda opinião en fatizaram que ela não só é impessoalista como também panteísta. Os adversários da terceira opinião assinalaram que com sua adoção corre-se o risco de estabelecer se parações demasiadamente taxativas entre Deus e suas qualidades. À primeira objeção respondeu-se que admi tir o divino como objeto primário de descrição ou de análise não significa aceitar nenhuma teoria específica sobre a divindade. À segunda objeção respondeu-se que a análise do divino como qualidade de Deus deve ser compreendida do ponto de vista do constitutivum se gundo nosso intelecto. Iremos nos ater a essa resposta ao examinar a questão e). b) Embora esta questão mantenha estreita depen dência em relação à que examinaremos depois, tratamo la à parte para fins de maior clareza. Ela consiste essen cialmente no problema de saber se Deus é infinito ou finito. A sentença quase universalmente aceita é a que afirma a infinitude. Como essa infinitude se refere,
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porém, não apenas à bondade mas também ao poder de Deus, parece que enfrentamos dificuldades insuperá veis. Entre elas, mencionamos as seguintes: (A) se Deus é infinitamente poderoso, o tempo e o drama do mundo mostram-se inúteis, num sentido semelhante a como, de acordo com Bergson, a evolução mecanicista toma inútil o tempo num universo que em princípio teria de estar já inteiramente "dado"; (B) se Deus é infinitamente pode roso, o problema da teodicéia (vER) é insolúvel, pois não se entende por que existe o mal (vER) num mundo que poderia ter sido perfeito. Com o objetivo de resolver essas dificuldades, foram propostas diversas soluções, às quais nos referiremos em e) . Limitar-nos-emos aqui apenas a mencionar, por ser menos conhecida, a teoria defendida por J. S. Mil!, que afirma a existência de um Deus finito, isto é, nos termos de E. S. Brightrnan, outro dos defensores desta tese, a doutrina que opõe a concen tração (finitude) à expansão (infinitude) de Deus. Essa doutrina é aceita hoje, de modo geral, apenas por alguns filósofos pertencentes à seita metodista. e) Duas posições fundamentais confrontaram-se no decorrer da história. De acordo com uma delas, a onipo tência de Deus suprime por inteiro a liberdade huma na. Segundo a outra, a liberdade hwnana não é incompa tível com a onipotência de Deus, sendo, pelo contrário, confirmada por ela. A primeira posição pode ser formu lada com propósitos muito diversos: com o fim de en fatizar pura e simplesmente a impossibilidade de com parar os atributos de Deus com os do homem ou com os de qualquer uma das coisas criadas e de destacar assim a intimidante grandeza de Deus; com o fim de mostrar que, se se quiser manter a liberdade humana, a única solução é atenuar a doutrina da absoluta onipotência, talvez aceitando a doutrina do Deus finito antes apresen tada; com o fim de acentuar que o arbítrio é inteiramente servo e que a salvação do homem depende por completo do "arbítrio divino" etc. A segunda posição, em contra partida, é usualmente formulada com um único propó sito: o desejo de salvar ao mesmo tempo um dos atribu tos de Deus considerados mais essenciais e uma das pro priedades humanas mais insistentemente enfatizadas. Para isso, argumenta-se que, por ter criado o mundo num ato de amor, unido a um ato de poder e de sabedoria, Deus outorgou ao homem uma liberdade da qual este pode usar ou abusar, que o aproxima ou o afasta de Deus, mas que lhe concede em todo caso uma dignidade su prema à qual o homem não pode renunciar sem deixar de ser homem - pois um "homem" que carecesse de liberdade não seria criação tão valiosa quanto wn ho mem livre. Esse problema é abordado em vários verbetes (ver ARBÍTRIO [LIVRE-]; GRAçA; LIBERDADE). Limitar-nos emos aqui a indicar que essa questão é tão fundamental que, por pouco que sej a aprofundada, obriga a efetuar uma análise completa do problema que constituirá o objeto do último item: o do constitutivum próprio de
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Deus. Além disso, a questão da relação entre a onipotên cia divina e a liberdade humana está com freqüência vinculada ao problema da existência ou inexistência de intermediários entre Deus e o mundo. Os partidários da onipotência que negam a liberdade inclinam-se, com efeito, a suprimir todo intermediário. Os que mantêm ao mesmo tempo a onipotência divina e a liberdade hu mana, em contrapartida, enfatizam que os intermediá rios - sejam eles quais forem: seres, idéias etc. - são necessários, pois os intermediários podem ser conside rados .filosoficamente como as condições que a criação "impõe" a Deus e se impõe a si mesma quando não quer desembocar no puro absurdo. d) Abordaremos aqui o que foi tradicionalmente chamado o constitutivum metaphysicum da natureza di vina. Entretanto, devemos observar que não se trata de saber o que Deus é realiter, mas tão-somente o que é quoad nos, segundo nosso intelecto. É somente levando em conta essa restrição que se podem entender as diver sas sentenças que se propuseram a esse respeito. Essas sentenças podem se reduzir às seguintes po sições: 1 ) a essência divina é constituída, como propu seram alguns autores nominal istas, pela reunião atual de todas as perfeições divinas, com o que o constituti rnm se transforma de relativo em absoluto; 2) a essência de Deus está constituída pelo "grau máximo de intelec tualidade" · 3) a essência de Deus é a asseidade ou o ser um ens a se (vER); 4) a essência de Deus é a infini tude; 5) a Pessoa divina é radicalmente onipotente; 6) a Pessoa divina é, acima de tudo, onisciente. Comum a essas posições é a idéia de que Deus é uma realidade incorpórea, simples, uma personalidade, atualidade pura e perfeição radical . Também comum a elas é a afirma ção de que Deus é infinitude, bondade, verdade e amor supremos. As diferenças consistem sobretudo nos vários modos de constituição metafisica. As posições mais fun damentais a esse respeito são as duas últimas menciona das, posições sobre as quais daremos em seguida alguns esclarecimentos históricos, a maioria procedente dos grandes debates sobre o constilutivwn metaphysicum de Deus que ocorreram durante a I dade Média e no século XVII. Observamos, contudo, que apresentaremos aqui em particular as formas mais radicais das teorias cor respondentes, não por terem sido as mais freqüentes, mas porque podem esclarecer-nos melhor a base e as dificuldades de cada uma das grandes concepções a esse respeito. Por um lado, há aqueles que sustentaram que a oni potência de Deus não pode ser limitada por nada, que se trata de uma potentia absoluta. As próprias "verdades eternas" têm de estar submetidas ao poder de Deus; me lhor dizendo, elas são o resultado de um decreto divino arbitrário. O constitutivo da natureza de Deus é, portan to, a vontade absoluta: as verdades eternas, as leis da na-
696 tureza e a liberdade humana dependem dessa Vontade. Esta é, em substãncia, a opinião atribuída a John Duns Scot, Guilherme de Ockham, Gabriel Biel, ou Descartes. Das três caracteristicas que, no âmbito da unidade, se atribuem a Deus - poder, saber, amor -, a primeira obtém um completo predomínio. Esta concepção é de nominada por isso voluntarismo (vER); segundo ela, Deus poderia ser definido até como "o que quer ser" Os inimigos dessa concepção alegam que, se ela fosse certa, se chegaria a conseqüências absurdas: a in finita potência de Deus lhe permitiria não apenas esta belecer, por exemplo, que '2 + 2 = 5' ou que 'p /\ 1 p ' , como também fazer com que o que foi não seja ou fazer com que o que se mostra ao homem como imoral seja moral e vice-versa. Os partidários dessa concepção, em contrapartida, assinalam que Deus não pode ser li mitado por nada, e que a pretensa falta de racionalida de de Deus se deve simplesmente a uma idéia dema siadamente restrita de nossa própria razão. Por outro lado, há aqueles que acentuam menos o poder que o saber de Deus. Quando essa posição é levada a suas últimas conseqüências, termina-se por identificar Deus com as "verdades eternas" ou com as "leis do universo" Por esse motivo, os inimigos dessa concepção argumentam que ela leva imediatamente à negação da existência (ou "vida") de Deus. Seus parti dários, em compensação, observam que Deus não pode deixar de ser Saber sumo e que, portanto, se há Nele uma potentia, trata-se de uma potentia ordinata. De maneira geral, a concepção em questão recebeu o nome de intelectualista. Ora, quase todos os que costumam ser agrupados nessa corrente enfatizam que a acentua ção do saber de Deus não pretende destruir Sua unidade, e, por conseguinte, não retira Dele os constitutivos do poder e do amor. Um eminente exemplo deste modo de pensar é o de Santo Tomás. De acordo com esse filó sofo, Deus pode produzir por si mesmo todos os efeitos naturais, e é, portanto, uma verdadeira Causa primeira. No entanto, Deus possui uma bondade infinita, razão pela qual desejou comunicar às coisas Sua semelhança. Com isso, as coisas não só são como podem ser causas. Dessa maneira, procura-se salvar a "consistência" pró pria da Natureza, das verdades eternas e da liberdade humana sem necessidade de retirar de Deus a onipotên cia. Os que não admitem essa solução afirmam que uma coisa é o propósito e outra, o resultado. Mas os que a defendem e desenvolvem assinalam que a discrepância entre propósito e resultado aparece unicamente quando se parte (de forma equivocada) da criatura e não de Deus. Paul Vignaux, por exemplo, escreveu que o que parece contraditório no tomismo é que, depois de ter estabele cido que as coisas têm seu próprio ser e sua possibili dade de atuar em conseqüência da infinita bondade de Deus, Santo Tomás não erige em seguida uma ciência
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da razão pura ou uma pura sapientia naturalis, ou seja, não vai da criatura à criatura ou da criatura ao Criador, mas do Criador à criatura. Mas a contradição se desva nece - acrescenta ele - quando se observa que a aná lise filosófica foi realizada no quadro da fé e que, por tanto, a própria fé nos mostra que o detrahere e o sub trahere as coisas de seu ser e de seu agir seriam incom patíveis com a bondade de Deus. E, visto que o consti tutivum da bondade parece recuperar o primado no âm bito dos outros constitutivos metafísicos, mostra-se plausível enunciar que a posição intelectualista pode se transformar numa ponte sobre um pretenso abismo que teria como bordas a suma arbitraiiedade das decisões e a eternidade da verdade e das leis. Convém observar, para concluir este item, que na mente dos escolásticos e de muitos dos filósofos do século XVII que se ocuparam do problema anterior há algo que ninguém, qualquer que seja sua posição filosó fica, pode evitar ao enfrentar este tipo de questão: o uso da analogia. Para esse fim, é indiferente que a posição seja voluntarista radical ou intelectualista extrema: nem num caso nem no outro se pretende dizer de Deus o que é realiter (embora tampouco se pretenda reduzir a ciência dos constitutivos metafísicos de Deus a um mero exame das características atribuíveis ao divino em geral). Podemos dizer, pois, que em todos os pensadores men cionados se tende a evitar dois obstáculos. Em primeiro lugar, o de fundir Deus como entidade real com seu modo de consideração. Em segundo, o de desembocar na tese da completa inacessibilidade de Deus pelo co nhecimento. Somente quando se abandona o modo de consideração analógico surgem as conseqüências que a maioria dos teólogos pretende evitar, sobretudo as duas mais retumbantes: a da completa identificação entre Deus e o mundo ou a da completa separação entre ambos. (III) Provas da existência de Deus. Já aludimos ao fato de que a questão do que é Deus quid sid Deus é considerada classicamente como posterior à questão de se Deus é - an Deus sit -, mas que, por conveniên cia de nossa exposição, decidimos abordar a primeira questão antes da segunda. Se tomarmos a expressão 'provas da existência de Deus' em toda a sua amplitude, deveremos incluir nela a possibilidade tanto de que a prova oferecida fracasse ou sej a inaceitável, como a possibilidade de que se pos sam oferecer provas de que Deus não existe; neste último caso, naturalmente, seria mais próprio falar de "provas da não-existência de Deus" Como na maioria dos casos se procurou provar que Deus existe - e, quando se rej eitou um tipo de prova, foi por se ter pro posto outro, tido por mais adequado -, concentrar nos-emos nas "provas da existência" É preciso levar em conta que todos os tipos de prova sugeridos, incluin do as provas da não-existência, pressupõem que o pro-
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blema formulado tem sentido, isto é, que se pode provar, ou não provar, que Deus existe, ou que não existe. Alguns filósofos negaram a mencionada pressupo sição, alegando que como a expressão ' Deus existe' não é nem analítica nem sintética, e não há outras expressões admissíveis (numa linguagem cognoscitiva) senão as analíticas ou as sintéticas, essa expressão carece de sen tido, e, por conseguinte, carece de sentido procurar pro vá-la, ou refutá-la. Vários filósofos do início do positi vismo lógico mantiveram essa tese. Eles não apenas rejeitaram todas as provas apresentadas como também um ponto de vista como o "crítico" adotado por Kant. Outros filósofos, anteriores e posteriores aos positivistas lógicos, incluindo alguns que tinham partido do positi vismo lógico, negaram-se a admitir que a proposição ' Deus existe ' carece de sentido. Pode ser que não se possa provar, mas não se acha fora das regras do uso da linguagem (pelo menos da linguagem comum). Xavier Zubiri afirmou que a questão de provar (racionalmente) a existência de Deus não coincide formalmente com o que denominou "o problema de Deus" Este último sur ge sobretudo "quando se elucida o pressuposto de toda 'demonstração' , assim como de toda ' negação ' , ou, até, de todo 'sentimento ' da existência de Deus" Ora - e de acordo com o mesmo autor --, a constitutiva e ontológica religação da existência e o fato de que a religação seja "a possibilitação da existência enquan to tal" mostram que tanto os que negam como os que afirmam a existência de Deus se movem na mesma "dimensão" Os tipos de prova da existência de Deus podem ser classificados de vários modos. As chamadas "provas tradicionais" podem ser classificadas em três grandes grupos. 1) A prova chamada "anselmiana" e, a partir de Kant, "ontológica" Quem primeiro a expôs foi Santo Ansel mo. Muitos filósofos aderiram depois, de uma maneira ou de outra, a ela: Descartes, Malebranche, Leibniz, Hegel. Examinamos esta prova de maneira detalhada no verbete sobre a prova ontológica (ver ONTOLÓGICA [PROVA]); limitar-nos-emos aqui a indicar que este tipo de prova coincide com o argumento chamado a simul taneo e é distinta da simples prova a priori. 2) A prova a posteriori. Usualmente não é uma prova empírica, pois se baseia num argumento ou numa série de argumentos a posteriori de caráter racional. Os defensores desta prova - entre eles, Santo Tomás - insistem que a existência de Deus é algo evidente per se, mas não o é quoad nos, no que se refere a nós. Os partidários desta prova dividem, com efeito, toda pro posição per se nota, ou analítica imediata, em dois grupos: a) proposição per se nota somente em si, isto é, proposição cujo predicado está incluído no conceito do sujeito (conceito que não possuímos); b) proposição per se nota etiam quoad nos, isto é, proposição analíti-
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ca imediata também com respeito a nosso entendimen to. Ora, visto que a proposição ' Deus existe' é analítica imediata apenas considerada em si, já que em Deus são uma mesma coisa real e formalmente a essência e a exis tência, é preciso buscar para sua demonstração argu mentos que difiram do de declará-la evidente quoad nos. Entre esses argumentos, destacam-se as cinco vias (quin que viae) de Santo Tomás a que nos referimos no ver bete sobre esse filósofo. 3) A prova a priori, tal como defendida por John Duns Scot e outros autores. Segundo eles, para que uma proposição seja per se nota é preciso não só que careça de meio em si mesma como que possamos co nhecê-la também imediatamente e enunciá-la pela mera explicação de seus termos. Os teólogos escolásticos com freqüência distinguem as provas citadas atendendo ao papel que nelas desempe nha o termo médio. Assim, Ponce de León (Curso de filosofia, vol. VI: Teodicéia, pp. 24 ss.), indica que a prova a simultaneo ocorre "quando o termo médio não tem prioridade nem posterioridade em relação à con clusão, sendo estes simultâneos ontologicamente. A coisa se demonstra por sua essência ou por sua noção, ou por um predicado que não pode ser dito causa nem efeito seu" O exemplo máximo desta prova é a ontoló gica. A prova a posteriori ocorre ou se mostra possível "quando o termo médio não tem prioridade nem poste rioridade em relação à conclusão. O termo médio são os efeitos, como quando se prova a natureza da alma por suas operações" A prova a priori ocorre "quando o termo médio tem prioridade ontológica (na ordem real, seja tisica ou metafisica) em relação à conclusão. O termo médio é a causa tisica do predicado da conclusão (prioridade tisica) ou é sua razão (prioridade metafisica), que não se distingue realmente do predicado, mas se concebe como sua raiz e fundamento, que é a espiritua lidade da alma com respeito à imortal idade" Observou-se às vezes que a escolha do tipo de prova depende da concepção que se tenha de Deus (ou, pelo menos, de Sua relação com a criatura) e da inteligência humana que o apreende. Assim, por exemplo, afirmou se que, enquanto para Santo Tomás a inteligência huma na não vê intuitivamente a Deus por sua própria consti tuição, para John Duns Scot ela não o vê porque Deus ··se ocultou" Por outro lado, até dentro do mesmo tipo de prova há divergências entre os filósofos: a compa ração entre Santo Anselmo e Descartes apresenta a esse respeito razões suficientes. Isso faz com que cada tipo de prova possa ser considerado sob diversos aspectos. Tomemos, por exemplo, a prova a posteriori. Os autores escolásticos falam dela em vários sentidos. Como prova extrínseca, funda-se no consenso do gênero humano, engendrando com freqüência um argumento de índole moral. Como prova intrínseca, está fundada na própria
698 natureza das criaturas. Como as criaturas, por sua vez, podem ser consideradas de um ponto de vista relativo ou absoluto, temos duas formas de argumento denomi nadas respectivamente física e metafisica. Por fim, o ar gumento metafisico pode ser dividido em simplesmente metafisico e em psicológico ( cf. Zigliara, Summa philo sophica: Theologia, § 3). Além dos tipos de prova indicados, há outros três. 1 º) A chamada "prova pelo sentimento" Consiste em enfatizar que, deixando de lado quaisquer conside rações racionais, há um "sentimento da existência de Deus" que constitui em si mesmo uma prova. O nome 'prova' não é muito adequado neste caso, visto que não intervém aqui nenhum argumento. Afirma-se que Deus existe, porque, por assim dizer, "se sente" que existe. A existência de Deus e o sentimento dessa existência são, pois, uma e a mesma coisa. Alguns autores negam que isto seja em algum caso uma prova, enquanto outros sustentam ou que é a única "prova" possível, ou efetiva, ou que constitui a condição indispensável a toda prova. 2º) A chamada "prova pela tradição" Consiste ou em afirmar que todos os povos da terra acreditaram na existência de Deus ("tradição universal" ou suposta mente universal) ou em sustentar que há uma série de "dados históricos" incorporados "à tradição" que são mais básicos e fundamentais que todo argumento racio nal. Também aqui se alegou que não se trata de nenhu ma prova, por não haver argumento; porém, o que não há é um argumento racional, mas antes uma espécie de comprovação empírica, ou uma interpretação dessa com provação empírica. 3º) Há uma série de provas da existência de Deus que podem ser incluídas no item 2) mencionado ante riormente, isto é, nas chamadas "provas a posteriori" Não obstante, alguns as incluíram nas "provas a priori"', ou, melhor dizendo, na seção dessas provas que consiste em apresentar provas de caráter relativo (que têm, entre tanto, a pretensão de ser absolutas). Falou-se a esse propósito de prova moral (às vezes identificada com a "prova pelo sentimento", mas mais propriamente funda da na tentativa de justificação da ordem moral pela exis tência de Deus), de prova tisico-teológica, teleológica, cosmológica, psicoteológica, prova pelo desígnio etc. De uma maneira ou de outra, todas essas provas foram apresentadas por filósofos antigos e medievais, mas foram objeto de grandes debates na época moderna, es pecialmente durante os séculos XVII e XVIII. Há gran des semelhanças entre a prova tisico-teológica e a cos mológica, mas, em função do lugar central ocupado pela chamada "prova cosmológica" (e também "argumento cosmológico") na época moderna, e especialmente em Kant, dedicamos um verbete específico a essa prova (ver CosMOLóGICA [PROVA]), embora parte da informação possa ser encontrada - ou ser encontrada também -
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699 no verbete sobre físico-teologia (vER). Dedicamos tam bém um verbete à prova pelo desígnio (ver DEsiGNIO [PROVA PELO]), embora parte do que se diz no verbete sobre físico-teologia e uma boa parte do que se diz no verbete sobre a prova teleológica (ver TELEOLÓGICA [PRO VA]) possam ser úteis a esse respeito. Houve uma tentativa de provar (demonstrar) a exis tência de Deus com o auxílio da lógica contemporânea. Trata-se da prova proposta por Frederic B. Fitch em seu artigo "On God and Immortality" (Philosophy and Phenomenological Research, 8 [ l 948], 688-693 ) Ela pode ser resumida do seguinte modo: Cada espécie de fato no universo tem uma explica ção se existe uma teoria consistente (vER) de tal índole que cada fato dessa espécie seja dedutível da teoria. Isto é, se uma espécie de fato tem uma explicação, essa explicação é uma teoria consistente que implica todos os fatos da espécie. Concluiremos, assim, que cada fato ou tipo de fato tem pelo menos uma explicação. Ora, um corolário disso é que a espécie de todos os fatos tem uma expl icação. Há, em suma, uma teoria consistente que implica (e, daí, explica) todos os fatos do universo. Essa teoria, de acordo com Fitch, deve ser não apenas consistente como também verdadeira, pois, se implicas se o contraditório de qualquer fato, deveria ainda impli car o próprio fato (já que implica todos os fatos), e por isso seria inconsistente. Além disso, só pode haver uma teoria verdadeira consistente que explique todos os fatos do universo, já que, se houvesse duas teorias ou duas explicações distintas, o fato de que uma fosse verdadeira constituiria um fato que deveria ser explicado pela outra, de tal maneira que se implicariam mutuamente (elas se equivaleriam). A explicação última em questão pode ser denominada Primeira Causa ou Deus. Desse modo, te ríamos um novo argumento a posteriori, o qual é, como Fitch reconhece, afim a várias das provas cosmológi cas tradicionais, mas baseado numa linguagem mais explicativa que causal. Charles A. Baylis criticou o argumento de Fitch (ibid. , pp. 694-697), e este respondeu à crítica desen volvendo os argumentos lógicos relativos à sua prova em The Journal of Symbolic Logic ( 1 3, n. 2 [ 1 948]). Alonzo Church (Journal etc. , 13 [ 1 948], 1 48) indicou que o argumento de Fitch, cujo interesse é inegável, im plica realismo e absolutismo com referência a qual teoria última é verdadeira. Além disso, o Deus de Fitch não é um Deus pessoal, mas uma "primeira causa" im pessoal ou mesmo o "todo" divinizado. :l Sobre o problema de Deus: Joseph Geyser, Das philosophische Gottesproblem in seinen wichtigsten Auf fassungen, 1 899. - R. Garrigou-Lagrange, Dieu, son existence et sa nature, 1 9 l 5; l l ª ed., 1 950. - A. Titius, Natur und Gott, 1 926. - É douard Le Roy, Le proble me de Dieu, 1 939. E. S. Brightman, The problem of .
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A. Darligne, L'idée de Dieu dans le néocriticisme, 1 9 1 0 (tese). - Adrian J. Boekraad e Henry Tristam, The A r gumentfrom Conscience to the Existence of God accor ding to J H. Newman, 1 96 1 [ cap. IV contém ed. do texto, até então inédito, de Newman sobre o problema abordado] . - E. Seiterich, Die Gottesbeweise bei Franz Brentano, 1 936. - Edward A. Jarvis, The Conception of' God in the Later Royce, 1 975. - R. Rideau, Le Dieu de Bergson, 1 932. - M. T. L. Penido, Dieu dans le bergsonisme, 1 934. - William A. Smith, Giovanni Gentile on the Existence of' God, 1 969. - Sabastián A. Matczak, Karl Barth on God: The Knowledge of' the Divine Existence, 1 962. - G. Th. Baskfield, The Jdea of God in British and American Personal Jdealism, 1 93 3 . - A. Seth (Pringle-Pattison), The ldea ofGod in the Light ofRecent Philosophy, 1 9 1 7 [Gifford Lectures 1 9 1 2- 1 9 1 3] ; 2ª ed., 1 920. - P. A. Bertocci, The Em pírica! Argument of' God in Late British Thought, 1 93 8 (sobre Martineau, Pringle-Pattison, J . Ward, W. R. Sor ley, Frederick de Tennant). - R. Jolivet, Études sur le probléme de Dieu dans la philosophie contemporaine, 1 923. - M. F. Sciacca, 11 problema di Dia e della re ligione nella filosofia attuale, 1 944; 2ª ed., revisada e ampliada, 1 946. - James Collins, God in Modem Philosophy, 1 959. - A. C. Cochrane, The Existentialists and God, 1 956 (em Kierkegaard, Jaspers, Heidegger, Sartre, Tillich, Gilson, K. Barth). - A. González Mar tínez, El tema de Dios en la filosofia existencial, 1 945. - H. Paissac, Le Dieu de Sartre, 1 950. - G. Saitta, II problema de Dio e la filosofia dell 'immanenza, 1 953 (imanentismo neo-atualista). - Q. Huonder, Die Gottes beweise. Geschichte und Schicksal, 1 968. - A. Kenny, The Five Ways: Saint Thomas Aquinas ' Proof's of God 's Existence, 1 969. - F. Petrini, L 'idea di Dio in Hegel. !. Stoccarda e Tubinga, 1 976. - F. v. Steenberghen, Le probléme de l 'existence de Dieu dans les écrits de Saint Thomas d 'Aquin, 1 980. Q. Lauer, Hegel 's Concept of God, 1 982. - D. M. Orange, Peirce s' Conception of God, 1 984. G. Kovacs, The Question of God in Heidegger 's Phenomenology, 1 990. G. F. O ' Hanlon, The lmmutabili(v of' God in the Theology of Hans Urs v. Balthasar, 1 990. Para as idéias de Kant, na Crítica da razão prática e na Fundamentação da metafisica dos costumes. As de H. Cohen, em Kritik des reinen Willens. Para Simmel, ver seu Ein/eitung in die Mora/wissenschaft. Para N. Hartmann, seu Ethik (datas das edições nas bibliografias dos verbetes sobre os respectivos autores). Sobre ser e dever ser: A. Kitz, Sein und Sol/en, 1 864. - Sobre a lógica do dever ser: E. Mally, Grundgesetze des So//ens. Elemente der Logik des Willens, 1 926. M. White, What Is and What Ought to Be Dane: A n Essay o n Ethics and Epistemology, 1 98 1 . Ver tam bém a bibliografia de IMPERATIVO. Ver bibliografia de ' É ' - ' DEVE' e -
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DEVIR. A significação do termo "devir" não é unívoca. É usado às vezes como sinônimo de ' tomar-se' ; às vezes, é considerado o equivalente de 'vir a ser' ; às vezes, é empregado para designar de um modo geral o mudar ou o mover-se (que, além disso, costumam ser expressos por meio do uso dos substantivos correspondentes: ' mu dança' e ' movimento '). Nessa multiplicidade de signi ficações parece haver, contudo, um núcleo significativo invariável no vocábulo ' devir' : é o que destaca o proces so do ser, ou, se se quiser, o ser como processo. Por isso, é habitual que se contraponha o devir ao ser num senti do análogo a como no vocabulário tradicional se contra pôs o in jieri ao esse; em que in fieri exprime, a rigor, o fato de estar se jàzendo. Escolhemos aqui o vocábulo ' devir' porque nos pa rece apropriado para discutir da forma mais geral pos sível as questões fundamentais implicadas em toda ope ração na qual se produz mudança. Poder-se-ia ter esco lhido para o mesmo propósito o termo ' mudança' Con tudo, como veremos adiante, convém usar esse termo num sentido mais restrito do que aquele que correspon de a ' devir' , a fim de que possamos distingui-lo do ter-
mo 'movimento' (VER). O vocábulo 'devir' oferece várias vantagens; enumeraremos duas delas. A primeira é o fato de ser capaz de designar todas as formas do tornar se, do vir a ser, do modificar-se, do acontecer, do passar, do mover-se etc. A segunda é o fato de ser suscetível de assumir um sentido mais propriamente filosófico que outros vocábulos, em parte porque sua significação se mostra mais natural que a dos outros. O problema do devir é um dos problemas capitais da especulação filosó fica. Isso é observado já no pe!lS.a!Tlento grego, que se propôs a questão do devir em estreito vínculo com a questão do ser (vER). Com efeito, esse pensamento sur giu em grande parte como um assombro diante do fato da mudança das coisas e como a necessidade de encon trar um princípio que pudesse explicar isso. O devir como tal se revelava inapreensível para a razão; por isso, era preciso descobrir a existência de um ser que devém. A isso tendiam já os filósofos jônicos. Seu àpx�, ou princípio da realidade, tinha como uma de suas carac terísticas o fato de ser uma entidade que subjaz a toda mudança e que explica, juntamente com a mudança, a multiplicidade das coisas. !É até possível dizer que os principais tipos de filosofia pré-socrática podem ser descritos com base nas correspondentes concepções mantidas por seus representantes sobre o problema do devir. Assim, os jônicos buscaram, como indicamos, o que permanece dentro do que devém, e julgaram en contrá-lo numa substância material. Os pitagóricos fi zeram o mesmo, mas pensaram encontrar o princípio do devir e do múltiplo numa realidade ideal : as rela ções matemáticas. Heráclito fez do próprio devir, do yíyvw8m, o princípio da realidade, introduzindo no pensamento filosófico, com isso, uma virada que foi às vezes considerada "heterodoxa"; é preciso observar, contudo, que l_o devir em Herácl ito, embora seja um puro fluir, está submetido a uma lei: a da "medida", que regula o incessante iluminar-se e extinguir-se dos mun dos. Parmênides e os eleatas (VER) adotaram a esse res peito uma posição oposta à de Heráclito: como a razão não alcança o devir, eles afirmaram que a realidade que devém é puramente aparente; o ser verdadeiro é imóvel - diante do "tudo flui" de Heráclito, os eleatas proclamaram, pois, o "tudo permanece" Os pluralistas procuraram estabelecer um compromisso entre essas duas posições. Alguns - como Empédocles e Anaxágo ras - admitiram a existência de várias substâncias (as de Empédocles, em quantidade limitada; as de Anaxá goras, em quantidade ilimitada) que não devêm, mas cujas combinações permitem explicar o fato do devir. No mesmo sentido desenvolveu-se o atomismo de De mócrito; porém, enquanto Empédocles e Anaxágoras en tenderam o devir num sentido qualitativo (devir é mu dar de qualidades), Demócrito entendeu-o num sentido quantitativo (devir é deslocamento de átomos em si
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mesmos invariáveis, sobre um fundo de não ser ou ex tensão indeterminada). Observemos a esse respeito que essa diferença entre o qualitativo e o quantitativo no devir mostrou-se fundamental na filosofia. Alguns auto res chegam a indicar que o defeito da filosofia democri tiana consiste em "reduzir" o devir como devir qualita tivo (que se pode chamar "mudança") ao devir como devir quantitativo (que pode ser qualificado de "movi mento"). Outros autores rejeitam essa acusação, pois assinalam que a idéia de Demócrito da subj etividade das qualidades secundárias permite explicar todo devir em termos de movimento e reduzir este a medida quanti tativa. A tendência geral da fi losofia grega depois de Demócrito, com algumas exceções (como a dos epicu ristas), consiste em enfatizar o primado da mudança diante do "simples" movimento. Em parte, isso foi afirmado também por Platão e por Aristóteles. Não obstante, a fi losofia do devir desses filósofos é dema siadamente complexa para que possa ser inserida como damente nos esquemas anteriores. É necessário, por tanto, desenvolver alguns de seus conceitos, especial mente no caso de Aristóteles, que abordou de maneira particularmente detalhada o problema que nos ocupa. A tendência geral de Platão é fazer do devir yíyvrn8m uma propriedade das coisas enquanto reflexos ou cópias das idéias. Essas coisas são às vezes chamadas justamente o engendrado ou devindo, y1yvóµEva. Podemos dizer, desse ponto de vista, que na filosofia de Platão somente o ser e a imobil idade do ser (ou das idéias) é "verdadeiramente real'', enquanto o devir per tence ao mundo do participado. Considerando a questão do ponto de vista do conhecimento, pode-se dizer que o ser imóvel é objeto do saber, ao passo que o ser que devém é objeto da opinião. Podem ser citadas muitas passagens em apoio a essa contraposição. Uma das mais esclarecedoras encontra-se em Tim. , 27 E: " É preciso estabelecer uma distinção e perguntar: o que é que é sempre e nunca devém, e o que é o que sempre devém e nunca é?" Entretanto, seria um erro simplificar exces sivamente o pensamento platônico. O estaticismo da realidade proclamado por Platão não o leva a esquecer por um único momento que os sólidos argumentos cons truídos em sua defesa pelos eleatas e pelos pitagóricos enfrentam argumentos não menos poderosos propostos pelos fi lósofos que defendem a mobilidade do real. Por isso, Platão às vezes concebe o Movimento e o Repouso como participando no ser - já que são "gêneros supre mos do ser" - sem que o próprio ser seja movimento ou repouso (Soph , 247 E ss.). À s vezes, inclusive como neste mesmo diálogo -, Platão define o ser por meio do conceito de possibilidade - ôúvaµ1s -, de tal modo que a idéia de atividade se revela essencial para o ser. É claro que em outros lugares ( cf. Crat. , 440 A ss.) a imutabilidade parece obter a primazia, de ma-
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neira que a interpretação do platonismo nesse ponto capital enfrenta todo tipo de dificuldades. Contudo, seja qual for a interpretação adotada, é indubitável que Platão dá uma atenção muito maior ao problema do devir do que poderia dar a entender a simples - e quase sempre superficial - equiparação entre o ser e o imó vel, e a aparência e o móvel. Prova disso é que há em Platão, particularmente em seus últimos diálogos, não apenas uma preocupação constante em averiguar a re lação - ou a falta de relação - entre o ser verdadeiro e o devir, como também uma tentativa de entender as di versas formas nas quais pode dar-se este último. Assim, por exemplo, em Phil. , 54 C, o filósofo fala do devir co mo destruição, q>8opá , e gênese, yÉVEOI). E no Theait. , 1 8 1 D, indica-nos que há duas formas de devir (ou mo vimento, KÍVTJOI)): a alteração, Ó:ÀÀoíwms, e a translação, q>opá (distinção usada também em Parm. , 1 3 8 8 ss.). Esta última distinção é importante, sobretudo, porque volta a formular a questão nos termos anteriormente indicados do devir como movimento qualitativo ou mu dança e do devir como processo quantitativo ou movi mento. Ora, foi Aristóteles quem deu as maiores e mais influentes indicações sobre essas significações. Estudaremos, pois, seus conceitos a esse respeito em pormenor. Aristóteles criticou antes de tudo as concepções sobre o devir propostas pelos filósofos anteriores ( cf. Phys. , 1 e II, passim). Essas concepções podem ser re duzidas a quatro: 1 ) a solução eleática, que pretende dar conta do devir negando-o; 2) a solução pitagórica e platônica, que tende a separar os entes que se movem das realidades imóveis, para depois - sem consegui-lo - deduzir os primeiros das segundas; 3) a solução he raclitiana (e sofistica), que proclama que a realidade é devir; e 4) a solução pluralista, que reduz as distintas for mas do devir a uma única, seja qualitativa (Empédocles, Anaxágoras) ou quantitativa (Demócrito). Os defeitos dessas concepções são principalmente dois: a) a não observação de que o devir é um fato que não pode ser negado ou reduzido a outros ou afirmado como substân cia (esquecendo-se neste caso que o devir é devir de uma substância), e h) a não-observação de que 'devir' , como ' ser' , é um termo que tem várias significações. Esses defeitos procedem em larga medida do fato de que os filósofos, embora sem perder de vista que para haver devir é necessário algum fator, condição ou elemento, não perceberam, em contrapartida, que se necessita de mais um.fator. Por esse motivo, o problema do devir in clui a questão das diferentes espécies de causa (cf. Phys. , II 3, 1 94 b 1 6, 1 95 a 3 ; De anima, II 4, 4 1 5 b, 8- 1 0; Mel. , /\ 3, 983 a 26-3 3 ; ti 2, 1 0 1 3 a 24 ss.). Com efei to, todas as formas de causa são operantes na produção do devir, o que não significa, porém, que haja tantos gêneros de devir quantos são os tipos de causalidade.
709 Os gêneros do devir seguem uma classificação distinta. Aristóteles dedicou ao assunto um bom número de pá ginas de suas obras. Mencionaremos aqui as passagens que nos parecem fundamentais. Em Cat. , 1 3, 1 5 a 1 4, Aristóteles apresenta seis tipos de devir (às vezes se chama "mudança" ou "movimento", mas recordamos ao leitor o ponto de vista mais geral e neutro que adotamos ao propor nosso termo). São os seguintes: geração ou gêne se, yÉvm1s; destruição, qi8opá; aumento, avl;11ms; di minuição, qi8íms; alteração, aÀÀoíc.ums ; e translação, deslocamento, mudança de lugar, ou movimento local, qiopá . Em Phys. , III 1, 20 1 a 5-7, o devir é 1 ) substan cial (posse e privação [mas não, observemos, geração e corrupção ou destruição]); 2) qualitativo (como em branco e preto); 3) quantitativo (completo e incompleto [aumento e diminuição]); 4) local (para cima, para bai xo, ou leve, pesado [mas não, observemos, para a direi ta, para a esquerda, sempre que consideremos o movi mento local um movimento natural]). De fato, segundo indica Aristóteles, há tantos tipos de devir quantos são os significados do vocábulo 'é' Em Phys. , V 224 a 2 1 ss., o devir é : a) por acidente, b) com relação a outra coisa, e e) em si mesmo. Se consideramos agora e), podemos classificar o devir em quatro classes, que são as que parecem mais fundamentais de todas: (!) de algo a algo, (II) de algo a não-algo, (III) de não-algo a algo, e (IV) de não-algo a não-algo. (IV) deve ser excluído, pois os termos que intervêm nele não são nem contrários nem contraditórios; (III) e (II) são casos de geração e corrupção (ou gênese e destruição), mas, como somente o que é pode devir, apenas (I) merece figurar como caso de movimento. De fato, (II) e (III) são formas de (!), e, como (I) pode ser concebido ou com relação à qualida de ou com relação à quantidade, restam apenas o movi mento qualitativo (alteração) e o quantitativo (aumento e diminuição). A eles deve se acrescentar, contudo, o movimento local - com isso, temos três sentidos pri mários do devir. Pode-se perguntar agora se algum deles tem primazia sobre os outros. A resposta a essa questão é, sem dúvida, diticil. Por um lado, o devir qualitativo parece ter a primazia se observamos o fato de que Aris tóteles parece ter-se preocupado sobretudo em explicar o sentido ontológico da mudança, evitando toda redução desta ao deslocamento de partículas no espaço. Se assim o fazemos, então a explicação do devir estará determi nada pela famosa definição do movimento como atuali zação do possível qua possível (Phys. , III, l , 20 1 a 9), uma definição que requer, para ser devidamente enten dida, uma análise das noções de ato (vER) e de potência (VER), pois o devir ou mudança consiste em última aná lise na passagem do possível ao atual. Por outro lado, é possível considerar que o sentido primário do devir é a translação ou movimento local: a forma mais elevada do mudar, à parte o Primeiro Motor, que move sem ser
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movido, é o movimento circular; somente muito mais embaixo, no reino sublunar, se dá o devir qualitativo e depois o ciclo da geração e da corrupção, cada um dos quais, como indica Bergson, não são senão reflexos do primitivo movimento circular original perfeito. Não po demos estender-nos devidamente acerca deste ponto. Digamos apenas que algumas das maiores dificuldades que a doutrina aristotélica do devir oferece devem-se não apenas ao problema anterior (pois, em última análi se, ele poderia ser solucionado observando-se que em alguns casos Aristóteles trata do devir como questão tisica e, em outros, elucida-o como questão metafisica) mas também a algumas imprecisões que encontramos em sua obra, as quais neutralizam as vantagens ofere cidas por sua constante atenção à classificação e ao es clarecimento das significações. Entre essas impreci sões, sublinhamos duas. Uma afeta o vocabulário e con siste em que, enquanto às vezes emprega o vocábulo KÍVfJOIS num sentido mais geral, e o vocábulo µna[30M1 num sentido mais particular, às vezes Aristóteles tam bém considera µna[3oÀÍj num sentido mais geral que KÍVfJOI). Outra imprecisão refere-se à questão da mu dança na substância. Com efeito, Aristóteles diz às vezes que não há com relação a ela movimento, mas às vezes afirma que só há movimento com relação à substância, à qualidade, à quantidade e ao lugar. Nem todas essas imprecisões têm a mesma gravidade. A primeira é bas tante grave, pois o uso ambíguo do vocabulário afeta todas as análises posteriores. A segunda pode ser resolvi da adotando-se uma das possibilidades: a que consiste em admitir o sentido mais geral de KÍVfJOIS e o mais estrito de µna[3oÀÍj, pois então se pode dizer que na substância não pode haver KÍVfJOI), mas, em contrapar tida, pode haver µna[3oÀÍj. Os escolásticos de tendência aristotélica trataram de aprimorar e esclarecer os conceitos anteriores. Assim, Santo Tomás assinalava que a mudança é a atualização da potência enquanto potência, e por isso há devir quan do uma causa eficiente leva, por assim dizer, a potên cia à atualidade, e outorga ao ser sua perfeição entitativa. O sujeito não muda assim por um mero desenvolvimen to de algo que tinha implícito, nem tampouco pelo apa recimento ex nihilo de uma qualidade, mas pela ação de uma causa que, se se quiser, se "interioriza" no ser. Daí que o ato e a potência enquanto fatores do devir não sej am propriamente seres ou princípios constituti vos, mas, como dizem os escolásticos (pelo menos os tomistas), realidades complementares. Nega-se com isso que o ato seja o elemento dinâmico do ser e a potência, o elemento estático, mas também que o ato seja o ele mento estático do ser - o ser "já cumprido" - e a potência, o elemento dinâmico - o ser "em vias de realizar-se". Ato e potência são igualmente necessários para que o devir ocorra - ao menos o devir dos entes
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criados. Pode-se dizer, pois, que a escolástica, e em par ticular a escolástica tomista, procura manter-se a igual distância entre uma fi losofia inteiramente estaticista e uma fi losofia completamente dinamicista; uma e outra são, segundo esta tendência, maneiras de evitar o proble ma do devir efetivo. Em contrapartida, em certas direções da filosofia moderna se tendeu a considerar o próprio devir como o motor de todo movimento e como a única explicação plausível de toda mudança. Avaliou-se, com efeito, que a ontologia tradicional - tanto grega como escolástica era excessivamente "estaticista" e que sob sua in fluência ficaram sepultadas todas as tentativas de trans formar o devir numa noção filosófica central. Encontra mos vislumbres desse dinamicismo em algumas filoso fias renascentistas, mas em sua plena maturidade ele se revelou somente dentro do pensamento romântico. Entretanto, este se manifestou de duas maneiras: ou co mo uma constante afirmação do primado do devir, ou como uma tentativa de "racionalizar" o devir de alguma maneira. Encontramos um exemplo eminente desta últi ma posição em Hegel, para quem o devir ( Werden ) re presenta a superação do puro ser e do puro nada, os quais são, cm última análise, idênticos. "A verdade escreve Hegel - não é nem o ser nem o nada, mas o fato de que o ser se transforme, ou melhor, tenha se transformado em nada e vice-versa. A verdade, porém, não é tampouco sua indiscernibilidade, e sim o fato de que não sejam o mesmo, de que sejam absolutamente distintos, mas ao mesmo tempo separados e separáveis, desaparecendo cada um em seu contrário. Sua verdade é, por conseguinte, esse movimento do imediato desapa recer de um no outro: o devir, um movimento no qual ambos os termos são distintos, mas com uma espécie de diferença que, por sua vez, dissolveu-se imediata mente" (logik, ed. G. Lasson, 1 , p. 67). Hegel afirma, além disso, que esse devir "não é a unidade feita por abstração do ser e do nada, mas que, como unidade do ser e do nada, essa unidade é determinada, isto é, algo no qual se encontram tanto nada como ser" No decorrer do século XX irromperam diversas fi losofias para as quais o devir é uma real idade primária - ou, se se quiser, para as quais o ser existe somente na medida em que devém. Em alguns casos, chegou se a conceber o ser como uma imobilização do devir. Encontramos um exemplo disso em Bergson (vER ) e no bergsonismo (vER) . Em outros casos, opôs-se o devir (concebido como idêntico à vida) ao ser - ou, melhor, ao "devindo" (tido como idêntido à morte). Temos um exemplo disso em Spengler, para o qual o devindo é o que se encontra impregnado de extensão e "se encarna no número matemático", enquanto o devir é o orgânico, o que possui direção, irreversibilidade e história. Em outros casos, por fim, considerou-se que há duas espé-
71 0 cies de devir: o devir fisico - que, pela impossibilidade de conservar o passado, se reduz a um contínuo nasci mento e aniquilação do ser - e o devir espiritual que permanece sem ser idêntico. Exemplo desta última concepção é a de Alberto Rougés (vER) . Freqüente em todas essas concepções é a afirmação de um primado do devir e até a redução de todo ser a devir, o que equi vale, na maioria dos casos, a uma tentativa de explicar o movimento pelo crescimento, o mecânico pelo orgâni co e, em última análise, o fisico pelo espiritual. Ver também DIALÉTICA. � Além das obras citadas, ver Karl Kiilln, Sein und Werden, 1 934. - A. Cosentino, Temps, Espace, Devi!; Moi: les Sosies du Néant, 1 93 8 . - Para o devir na história: S. Hering, Das Werden ais Geschichte, 1 939. - D. J. B. Hawkins, Being and Becoming: An Essay Towards a Criticai Metaphysic, 1 954. - D. A. Cardone, II divenire, 1, 1 956 (sobre a individualidade como "mo mento" do devir). Para o devir na filosofia grega: A. Rivaud, le pro bléme du devir et la notion de matiere dans la philo sophie grecque depuis les origines jusqu 'à Théophraste, 1 906. - Para o devir em Platão: Victor Brocharei, Étu des de philosophie ancienne et de philosophie moderne, 1 9 1 2 (pp. 95- 1 1 2 : "Le devir dans la philosophie de Platon"). - J. B. Skemp, The Theory ofMotion in Pia /o '.\- later Dialogues, 1 942. Para o devir em Aris tóteles: M. Kappes, Die aristotelische Lehre iiber Be griff und Ursache der KÍVTJOIS, 1 887. W. J. Verde nius e J. H. Waszink, Aristotle On Coming-to-be and Passing-away, 1 946; 2ª ed., 1 965. - Cario Giacon, Jl divenire in Aristotele (textos e comentários}, 1 947. M. Schramm, Die Bedeutung der Bewegungslehre des Aristoteles fiir seine beide liisungen der zenonischen Paradoxien , 1 9 6 2 . - R. J. Conne l l , Matter and Becoming, 1 966 [Aristóteles e Tomás de A., à luz da filosofia da ciência contemporânea] . O devir em Hegel é abordado por praticamente todas as obras sobre esse fi lósofo mencionadas no ver bete correspondente; ver, além disso, Giuseppe Fichera, ll problema dei cominciamento logico e la categoria dei devire in Hegel e nei suoi critici, 1 956. Sobre o devir em Nietzsche: Walter Briiker, Das was kommt, gesehen von Nietzsche und Holderlin, 1 963 . - L. J. Hatab, Nietzsche and Eternal Recurrence: The Redemption of Time and Becoming, 1 97 8 . Ver também a bibliografia do verbete MOVIMENTO. e -
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DEWEY, JOHN ( 1 859- 1 952). Nascido em Burlington (Vermont), lecionou em Michigan ( 1 884- 1 888), Minne sota ( 1 888- 1 889), Michigan (l 889- 1 894), Chicago ( 1 8941 904) e Columbia University (Nova York). Influenciado em parte pelo idealismo alemão, especialmente pelo hegelianismo - que representa para Dewey a "outra face", a sistemática e unificadora, de seu pensamento, orientado sobretudo para a mobilidade da experiência,
71 1 e que o levou a superar as divisões do real subj acentes na herança da cultura da Nova Inglaterra -, ele não tar dou a ser inscrito, pela filosofia de James e pela necessi dade de outros métodos e vias para a realização de seus propósitos de reforma e "reconstrução", na "nova filoso fia" - uma filosofia que, em sua opinião, distingue se da tradicional não apenas por considerar a experiência como realidade central, mas também, e muito especial mente, pela nova inflexão que dá a essa mesma expe riência (vER). O próprio Dewey, além disso, expôs numa breve autobiografia intelectual os "motivos" capitais que moldaram ou orientaram seu pensamento. Em pri meiro lugar, a importância atribuída à teoria e prática da educação. Em segundo lugar, o desejo de superar o dualismo entre a "ciência" e a "moral" por meio de uma lógica que seja um "método de investigação efeti va" e não rompa a continuidade das diversas regiões da experiência. Em terceiro, a célebre influência de James. Por fim, a intuição da necessidade de uma integração do pensar que compreenda os problemas desenvolvidos pelas ciências sociais e permita resolver ao mesmo tempo as situações derivadas de tais problemas. A insis tência na experiência só adquire sentido a partir dessas bases, pois a experiência não é, para Dewey, o mera mente experimentado por um suj eito, e menos ainda o que este experimenta a fim de adquirir um saber, mas sim o resultado de uma relação que para o sujeito tem como termo ao mesmo tempo oposto e complementar o objeto e o meio, mas que pode ser concebida em sua maior generalidade como relação entre objetos, como sua forma própria de manter uma conexão. O ponto de vista "biológico" de Dewey não é, de acordo com isso, senão uma conseqüência de sua ampla noção da expe riência, noção ampla por sua compreensão, mas não no sentido de que constitui o objeto de um absoluto. Daí o método empírico ou "denotativo" que Dewey util iza, ou, se se quiser, o método empírico que deveria usar se se ativesse sempre a seus próprios postulados - pois, como se observou com freqüência, Dewey é "tecnica mente" um filósofo empirista, ainda que, de fato, o curso de seus raciocínios se edifique muitas vezes ao longo de uma dialética. Em todo caso, a filosofia pos tulada por ele é uma filosofia que renuncia a todo absoluto, que procura averiguar em cada processo a múltipla trama de relações entre os meios e os fins de que está composto, e que não se limita a considerar o instrumentalismo pragmatista como simples método, tal como ainda pretendia James. Apenas dentro desse quadro é possível então compreender o que Dewey entende por naturalismo (vER). Com efeito, o próprio filósofo qualificou seu pensamento de "naturalismo empírico", de "empirismo naturalista" Contudo, "Natu reza" não é aqui simplesmente um conjunto de coisas regidas mecanicamente; é história, acontecimento e
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drama. Por isso, e somente por isso, o pragmatismo não é apenas um método, mas uma filosofia, isto é, uma maneira de se aproximar de uma realidade que se supõe infinitamente múltipla. Por todas as partes, Dewey tende ao concreto; isso, porém, não só em virtude de um pos tulado filosófico, mas como resultado de uma crítica da cultura moderna, cujo intelectualismo parcial Dewey deseja corrigir em todas as suas dimensões, particular mente nas educacionais e sociais. Sua teoria do pensa mento, seu pragmatismo e seu instrumentalismo não têm, em última análise, outro propósito. Dewey parte do reconhecimento de que o homem se sente inseguro no mundo e busca algo permanente e estável. Tal perma nência lhe é dada de múltiplas formas no decorrer da história: por ritos mediante os quais ele crê propiciar se das forças da Natureza, pelas artes com que domina essa mesma Natureza, e também pelos objetos tradicio nais do saber e da filosofia, por essa atividade filosófi ca que busca o imóvel por detrás da contingência e da mudança. Entretanto, a filosofia esqueceu que o pensa mento não funciona meramente tendo em vista um sa ber, mas tendo em vista um "domínio", pois, em geral, todo conhecimento é um instrumento forjado pela vida para sua adaptação ao meio, e por isso o pensar não começa, como acreditava o racionalismo clássico, com premissas, mas com dificuldades. O que o pensar busca não é uma certeza intelectual, mas uma hipótese que se torne verdadeira mediante o resultado e a sanção prag mática. A noção de verdade (vrn), tão próxima da de James, é conseqüência da substituição do conceptualis mo do conhecer por um funcionalismo e um operacio nismo do pensar. O pensamento funciona entre dificul dades que oprimem o homem, porém; mais do que rela tivizar o pensamento, o instrumentalismo de Dewey pre tende justificá-lo de um modo concreto e não por qual quer absoluto transmundano. Por isso, o pensamento e a teoria são elementos imanentes à vida humana, "progra mas" que o homem forja para responder a situações fu turas. A orientação para o futuro, tão vigorosa em Dewey, não se limita, porém, à ciência e à filosofia: ela impregna todo o esforço social e educativo desse pensamento e é como o norte para o qual se dirigem todos os seus pen samentos. A busca do concreto, contudo, conduziu Dewey, nos últimos tempos, a uma retomada de sua primitiva in fluência hegeliana: sua inclinação para a metafisica, que se toma tão patente nos últimos trabalhos sobre questões lógicas, não desmente a concepção pragmática e instru mentalista em torno da qual gira sua teoria do pensar, mas a toma ainda mais vinculada a certas correntes do existen cialismo metafisico e a todos os esforços últimos para conseguir uma unidade da razão com a vida, pois isso é a única coisa que pode terminar com o divórcio da teoria e da prática tão característico da filosofia clássica e do in telectualismo moderno, o que pode levar a uma vida har moniosa que é para Dewey o ideal último da educação.
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DIACRÔNICO. Em diversas ciências - na lingüística, na antropologia etc. -, e também na filosofia, introdu ziu-se uma distinção entre "diacrônico" e "sincrônico" Considera-se que um método, um ponto de vista, uma consideração etc. são diacrônicos quando se levam em conta principalmente a ordem e a sucessão cronólogicas e, por conseguinte, quando se atribui especial importân cia à noção de mudança, à de evolução e a outras si-
milares (incluindo noções concomitantes como as de ruptura ou corte [ver FECHAMENTO; CORTE] no tempo). Conforme indica a etimologia do vocábulo, "diacrônico" se refere ao que tem lugar "através" ou "ao longo do" (diá) tempo. Em termos específicos, trata-se do chama do "tempo histórico" ou da "história", de modo que o método diacrônico é fundamentalmente um método his tórico. Assim, o estudo diacrônico de uma linguagem, de uma comunidade humana etc. é um estudo cronoló gico, e especificamente cronológico-histórico, dessa co munidade. Supõe-se então que as estruturas mudam em função do tempo, ou que há equiparação entre mudanças estruturais e mudanças temporais. Por outro lado, um método, um ponto de vista ou uma consideração são sincrônicos quando o objeto estudado é tratado em sua estrutura "atual" ou efetiva, e especialmente em sua es trutura "profunda" ou mais "básica" Em função dessa estrutura, examina-se o processo de mudança e evolu ção temporais, ou histórico-temporais, e não o inverso. Assim, o estudo sincrônico de uma linguagem, de uma comunidade humana, é um estudo fundamentalmente estrutural. O estruturalismo (VER) e várias diretrizes pós-estru turalistas destacaram, e acentuaram de maneira conside rável, os aspectos sincrônicos, razão pela qual o estrutu ralismo, equiparado com um "sincronismo", foi tido como anti-histórico e anti-historicista. Alegou-se a esse propósito, porém, que não se trata, num estudo sincrô nico, de prescindir de mudanças e evoluções, mas de integrá-las. Assim, o que se poderia chamar "sincronis mo" considera que a dimensão diacrônica é um aspecto da estrutura estudada sincronicamente, e às vezes que a dimensão diacrônica é uma dimensão "superficial", embora não por isso desprovida de importância; o que se procura fazer é explicar essa dimensão mediante a estrutura, isto é, por procedimentos sincrônicos. O que se poderia denominar "diacronismo" avalia, por sua vez, que a dimensão sincrônica é um aspecto, e especifica mente um "corte", da dimensão diacrônica, que é fun damental e determinante, embora não necessariamente determinada. Cabe perguntar se, dadas duas ou mais estruturas, elas não poderiam ser consideradas diacronicamente, isto é, em sua sucessão cronológica. Se se responde que sim, pode-se concluir que a dimensão diacrônica é mais básica do que a sincrônica, mas também que a sucessão cronológica de estruturas pode ocorrer de acordo com alguma lei estrutural, que seria, por isso mesmo, sin crônica. Cabe perguntar também se o que se chama "his tória" não será uma história de estruturas analisáveis sincronicamente. Se se responde que sim, pode-se con cluir que a dimensão sincrônica é a fundamental, mas também que, visto poder haver uma história de estru turas, a dimensão diacrônica tem primazia sobre a sin-
DI.Á DICO
crônica. Assim, dadas duas comunidades humanas, C e C 1 , pode-se dizer que elas estão ligadas por alguma história e que o que é sincrônico nelas é cada comuni dade tomada isoladamente, mas pode-se dizer também que, ainda que estejam ligadas por alguma história, essa história pode ter uma estrutura, que engloba as estru turas de c e C I . Tanto essas formulações como as diversas respostas a elas têm, de início, um ar muito abstrato, mas podem tomar-se mais precisas com base em exemplos determi nados. Especialmente fecundos a esse respeito são os exemplos derivados da lingüística. Embora a fi lologia tradicional tenda a ser diacrônica, e tanto a lingüística estrutural como a chomskyana (por mais distintas que sejam entre si em quase todos os outros aspectos) ten dam a ser sincrônicas, alguns lingüistas reconheceram a necessidade ou de definir o sentido de 'diacrônico' e ' sincrônico' aplicado a casos específicos, ou então, pelo contrário, de procurar aproximar as dimensões diacrô nica e sincrônica. Uma dessas aproximações se encon tra nas tentativas de estabelecer as bases de gramáticas de mudanças sintáticas. Os "diacronistas", e em parti cular os mais "historicistas" entre eles, podem, não obs tante, alegar que desse modo se subordina a dimensão diacrônica à sincrônica, já que uma gramática de mu danças sintáticas equivale a um conjunto de regras estru turais que dêem conta de processos normalmente consi derados objetos de estudos diacrônicos. No livro do autor desta obra lndagaciones sobre e! lenguaje ( 1 970, p. 2 1 5, nota 1 8), recorda-se que a distin ção entre ' sincrônico' e 'diacrônico ' , que foi proposta por Ferdinand de Saussure e depois se estendeu a outras ciências além da lingüística, e em particular às ciências sociais, tem antecedentes em Comte, Brentano e Wilhelm Humboldt, entre outros, conforme indica Hans-Heinrich Lieb em "' Synchronic ' versus ' Diachronic ' Linguistics: A Historical Note", Linguistics, 36 ( 1 967), 1 8-26. Em outro livro do autor desta obra, Las palahras y los hom hres ( 1 97 l ), pp. 7 1 -83, propõe-se uma aproximação entre as noções de "estrutura" e de "história", conside radas conceitos-limite, que pode ser aplicada às noções de "sincrônico" e "diacrônico" De acordo com vários pressupostos do autor, a afirmação de que as noções em questão podem ser ao mesmo tempo contrapostas e complementares indica, num primeiro momento, sim plesmente que elas não são mutuamente redutíveis e sugere que podem ser funcionais (se se quiser, "diale ticamente funcionais"). DIÁDICO. Ver PoUDIÁDICO. DIÁDOCO. Na historiografia filosófica antiga, deno mina-se diádoco o chefe de uma escola filosófica que sucede a outro diádoco ou que vem imediatamente de pois do fundador da escola. Como (especialmente depois
71 4 de Sócrates) grande parte das atividades filosóficas se desenvolveu no interior das escolas, chegou-se a conside rar a descrição das doutrinas dos diádocos e de sua su cessão cronológica como um método adequado de expo sição da história da filosofia. Esse método foi fomenta do pelo peripatético Sócio de Alexandria, que redigiu alguns Diádocos (ou Sucessões) dos.filósofos - 61á8001 cp1Àooócpwv - nas primeiras décadas do século II a.C. Ele foi seguido por vários autores, entre os quais mencio namos Heráclides Lembos, de meados do século II a.C. o peripatético Antístenes de Rodes, da mesma época, au tor de uma coletânea com o mesmo título da de Sócio; o estóico Jasão de Rodes, das últimas décadas do século II a.C., que escreveu alguns Entre as obras (principalmente as de interesse filo sófico) publicadas durante a vida do autor, menciona mos: Essai sur le mérite et la vertu, 1 745. - Pensées philosophiques, 1746 (anônimo). - Les Bijoux indiscrets, 1 748. - Lettres sur les Aveugles à l 'usage de ceux qui voient, 1 749. - Lettre sur les sourds et muets à l 'usage de ceux qui entendent et qui parlent, 1 75 1 . - Pensées sur / 'interprétation de la nature, 1 754. - Ver as Oeu vres philosophiques, littéraires et dramatiques publica das em 1 773 (junto com obras de Morelly, Coyer etc.).
DIDEROT, DENIS
- Entre as obras póstumas (nas quais figuram vários de seus importantes contos filosóficos), mencionamos: Salons (publicados a cada 2 anos, de 1 759 a 1 77 1 , 1 775 e 1 78 1 ) , 1 795 e 1 798. - Supplément au voyage de Bougainville, 1 796 (escrito em 1 772; ver a edição do Supplément, segundo os manuscritos de Leningrado, por Gilbert Chinard, 1 93 5 ) . - La religieuse, 1 796 (es crita em 1 760) . - Jacques, le Fataliste, 1 796 (escrita em 1 773 ) . - Le Neveu de Rameau, escrito em 1 76 1 , publicado pela primeira vez em trad. alemã de Goethe, em 1 805, e em francês em 1 823 (tomo XXI da edição de Oeuvres de Briere). - Entretien de d 'A lembert et de Diderot; le Rêve de d 'A lembert, suite de / 'Entretien, 1 830. - Paradoxe sur le Comédien, 1 830. - Est-il bon, est-il méchant?, 1 834. Primeiras edições (muito imperfeitas): Oeuvres phi losophiques de D. D. (Amsterdã, 1 772, 6 vols.); Collec tion complete des oeuvres philosophiques, littéraires et dramatiques de D. D. (Londres, 1 773, 5 vols., provavel mente impressa no continente). Primeiras edições mais completas: Oeuvres, por Jacques-André Naigeon, 1 798, 15 volumes; Oeuvres, por J. L. Briere, 1 82 1 - 1 823, 2 1 vais. (o tomo XXI compreende obras até então inéditas); Oeuvres completes, por J. Assérat e Tourneaux, 1 8751 877, 20 vais.; Oeuvres, por A. Billy ("La Pléiade"), 1 93 5 . - Ed. de Oeuvres completes, em 33 vols., 1 956 ss., ed. P. Verniere. Correspondência: Correspondance inédite, ed. A. Babelon, 1 93 1 , e Lettres à Sophie Valand, ed. A. Babe lon, 1 930. Ed. completa de Correspondance de D. Dide rot, ed. G. Roth: I ( 1 95 5 ) ; II ( 1 956) ; III ( 1 957 ) . Bibliografia: F. A. Spear, Bibliographie de D. Reper toire analytique international, 1 980. Em português: Carta sobre os surdos-mudos, 1 993. - Da interpretação da natureza e outros escritos, 1 989. - Diderot, Obras 1: Filosofia e política, 2000. Diderot, Obras 2: Poética e contos, 2000. - Ensaios sobre a pintura, s.d. - Jacques, o fatalista, e seu amo, 1 993. - As jóias indiscretas, 1 976. - Obras filosófi cas, 1 989. - A religiosa, 1 973. Ver: K. Rosenkrantz, Diderots Leben und Werke, 1 866. - J. Morley, D. and the Encyclopaedists, 1 878; 2ª ed., 1 886. - E. H . A. Scherer, D. , 1 880. - É mile Faguet, "Diderot", em Études littéraires, 1 890- 1 894, vol. 3. - Joseph Reinach, D. , 1 894. - L. Lucros, D., l 'homme et l 'écrivain, 1 894. - A. Gollignon, D., 1 895. - J. Mauveaux, D., l 'encyclopédiste et le penseur, 1 9 14. - K. von Roretz, Diderots Weltanschauung, 1 9 1 4 (tese). - Werner Leo, D. ais Kunstphilosoph, 1 9 1 8 (tese). I. K. Luppol, D. , 1 924, 1 934, ed. rev., 1 960. - J. V Johansson, Études sur D. D. , 1 927. - Joseph Le Gras, D. et / 'Encyclopédie, 3ª ed., 1 928. - H. Dieckmann, Stand und Problem der Diderots-Forschung, 1 93 1 . Jean Thomas, L'humanisme de D. , 1 932. - André Billy, D. , 1 932. - Otto Engelmayer, Romantische Tendenzen -
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DIELS, HERMANN ( 1 848- 1 922). Nascido em B ie brich a. Rhein, estudou em Berlim com Hermann Use ner (vER) e foi professor na Universidade de Berlim a partir de 1 866. Diels é conhecido sobretudo por sua edição dos pré-socráticos, à qual se faz referência cons tantemente no estudo desses filósofos, citando-se como "Diels" e - mais tarde "Diels-Kranz" Acrescenta se a isso sua edição dos doxógrafos gregos. Devem-se a ele igualmente trabalhos fundamentais de investigação sobre o aristotelismo, incluindo o comentário de Simplí cio à Physica, e estudos sobre a técnica no mundo anti go e a medicina hipocrática. :> Para as edições dos pré-socráticos, ver a bibliografia de PRÉ-SCX'RÁT1cos, desde sua primeira edição: Die Fragmente der Vorsokratiker, 3 vols., 1 903 . - Doxographi graeci, l 879; 2ª ed., 1 929. - Elementum, 1 879. - Parmenides, 1 897. - Herakleitos, 1 90 1 . - Poetae philosophi, 1 902. Escritos menores: Kleine Schifien zur Geschichte der antiken Philosophie, ed. Walter Burkert, 1 967. C -�
DIETRICH DE FREIBERG, Theodoricus Teutonicus de Vriberg (ca. 1 250-ca. 1 3 1 0). Nascido em Vriberg
(Freiberg), Saxônia, estudou e lecionou em Paris (onde teve ocasião de ouvir Henrique de Gante). Membro da Ordem dos Pregadores, foi prior em Würzburg e pro vincial na Alemanha. Suas obras se caracterizam pela abundância e amplitude de seus temas; Dietrich de Frei berg escreveu, com efeito, sobre questões naturais, lógi cas, psicológicas, éticas, teológicas, metafisicas e ecle siásticas. Fortemente inclinado à observação dos fenô menos naturais, elaborou uma teoria na qual se explicava a formação do arco-íris por meio da refração dos raios de luz nas gotas de chuva suspensas na atmosfera; de resto, tratava-se de uma das várias doutrinas de ótica - especialmente sobre as propriedades da luz e a for mação das cores - formuladas pelo autor. Do ponto de vista filosófico e metafisico, Dietrich desenvolveu suas idéias sob influências não somente aristotélicas e agosti nianas, como também, e de maneira especial, neoplatô nicas (sobretudo de Proclo e Avicena). Ora, a insistência no processo de emanação (vER) e na irradiação de sua substância pelas inteligências por causa de sua própria superabundância não significa que o pensamento de Dietrich de Freiberg seja estritamente emanatista ou mo nista. Por um lado, ele destaca o ato primário de criação divina; por outro, defende a substancialidade e indepen dência (relativas) das criaturas. O primeiro ponto exige uma idéia de criação que possa ser derivada, sem que se produza um salto conceituai demasiado brusco, da noção de transfusão; o segundo ponto exige uma idéia de independência substancial que possa ser derivada, sem salto brusco, da noção de intelecto agente. A difi culdade de combinar esses dois aspectos constitui uma das dificuldades mais óbvias, ainda que também um dos aspectos mais interessantes, do pensamento de Dietrich de Freiberg. No âmbito das tensões citadas, seu pensa mento filosófico aparece, não obstante, como notavel mente consistente. Com efeito, o que acontece no reino das inteligências primeiras e agentes ocorre igualmente no reino das almas individuais. Nesse terreno, Dietrich parece sustentar a doutrina agostiniana da iluminação interior. Mas o que ele faz, a rigor, é interpretar essa doutrina à luz do neoplatonismo de Proclo, de tal forma que a alma em sua intimidade última aparece como um intelecto em ato capaz de conhecer por si mesmo as essências. Neste e em muitos outros aspectos, o pensa mento de Dietrich opõe-se ao tomista. O mesmo ocorre com a questão da distinção entre a essência e a existên cia; Dietrich negou a distinção real tomista para afirmar uma mera distinção racional. :> Entre os numerosos escritos de Dietrich, menciona mos os seguintes: De iride et radialibus impressionibus, De fuce et eius origine, De coloribus, De origine rerum praedicamentalium, De magis et minus, De esse et essen tia, De quidditatibus entium, De accidentibus, De natura contrariorum, De miscilibus in mixto, De elementis cor porum naturalium, De intelligentiis et motoribus caelo-
DIFERENÇA
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rum, D e tribus diffici/ibus articulis, D e intellectu e t in telligibili, De cognitione entium separatorum, De univer sitate entium, Quod substantia spiritualis non sit com posita ex materia etforma (a doutrina de Dietrich de que apenas as substâncias corporais têm composição hile mórfica desempenha um papel central em seu pensa mento), De tempore, De causis, De substantia orbis, De habitibus, De voluntate, De ejficientia Dei, De viri bus inferioribus intellectu in angelis, De theologia quod est scientia secundum perfectam rationem scientiae, De subiecto theologiae. Entre as edições de obras de Dietrich com comen tários criticos, mencionamos: E. Krebs, Meister Dietrich (Theodoricus Teutonicus de Vriberg) . Sein Leben, seine Werke, seine Wissenschafi, 1 906 [contém texto de De in tellectu et intelligibili e De habitibus] . - 1d., "Le traité De ente et essentia de Thierry de Fribourg", Revue Néos colastique, 1 8 ( 1 9 1 1 ), 5 1 6-536. - J. Würschmidt, D. von Freiberg. Ueber den Regenbogen und die durch Strahlen erzeugten Eindrücke, 1 9 1 4 [Beitriige etc., XII, 5-6] (contém texto de De iride et radialibus impressioni bus). - F Stegmüller, "Meister Dietrich von Freiberg über die Zeit und das Sein", A rchives d 'histoire doctrinale et littéraire du moyen âge, 1 3 ( 1 940- 1 942), 1 53-22 1 [contém textos de De tempore e de De mensuris durationis]. Ed. de obras: Opera omnia, ed. Kurt Flash, 4 vols., 1 977 ss. Inclui: De visione beatifica, De intellectu et in telligibili (vol. !); De habitibus, De ente et essentia, De magis et minus, De natura contrariorum, De corpore Christi mortuo, De cognitione entium separatorum et maxime animarum separatarum, De dotibus corporum gloriosorum, De substantiis spiritualibus et corporibus futurae resurrectionis, De intelligentiis et motoribus cae lorum, De corporibus caelestibus quoad naturam eorum corpora/em (vol. II); De animatione cae/i, De acciden tibus, De quidditatibus entium, De origine rerum prae dicamentalium, De mensuris, De natura et propietate continuorum, De subjecto theologiae, Quaestio utrum in Deo sit aliqua vis cognitiva inferior intellectu, Utrum substantia spiritualis sit composita ex ma teria etforma, Quaestiones de philosophia, Quaestiones de theologia (vol. lll); De fuce et eius origine, De miscibilibus in mixto, De elementis corporum naturalium, De iride, de coloribus, Epistula ad 1oannem Cardinalem Tuscula num, Epistula ad Summum Poenitentiarium (vol. IV). Ver: L. Gauthier, "Un psychologue inconnu de la fin du XIII' siécle", Revue Augustinienne, 1 5 ( 1 909), 657-673, 16 ( 1 9 1 O), 1 78-206, 54 1 -566. - William A. Wallace, O. P., The Scientific Methodology ofTheodoric de Freiberg: A Case Study of the Relationship between Science and Philosophy, 1 959. - Pasquale Mazzarella, Metafisica e gnoseologia nel pensiero di Teodorico di Vriberg, 1 967. - B. Mojsisch, Die Theorie des 1ntel lekts bei D. von F., 1 977 [incluído em Opera omnia, cit. supra, Beiheft 1 ] . Sobre as questões disputadas e questões quodlibé ticas em Santo Tomás, ver: A. Portmann, "Die Syste matik in den Quaestiones disputatae des heiligen Tho mas von Aquin", Jahrbuch fiir Philosophia und speku lative Theologie, 6 ( 1 892), 48-64, 1 27- 1 49. - W. Schneider, Die Quaestiones disputatae de veritate des heiligen Thomas von Aquin in ihrer philosophiegeschi chtlichen Beziehung zu Augustinus, 1 930. - B. Jansen, Die Quodlibeta des heiligen Thomas von Aquin. Ein Beitrag zu ihrer Würdigung und eine Beurteilung ihrer A usgaben, 1 9 1 2 . - P. Mandonnet, "Saint Thomas d'Aquin, créateur de la dispute quodlibétique", Revue des sciences philosophiques et théologiques, 1 5 ( 1 926), 477-505; 1 6 ( 1 926), 5-3 8 . - S. Simonson, "The Aris totelian Forms of Disputation", New Scholasticism, 1 9 ( 1 944), 385-390. - A. M . Landgraf, "Zur Technik und Ü berlieferung der Disputation", Collectanea Francis cana, 20 ( 1 950), 1 73 - 1 88. V. Cilento, La forma aristotelica in una "Quaestio " medioevale, s/d ( 1 960). Sobre a literatura quodlibética: P. Glorieux, La littérature quodlibétique de 1260 a 1320, 2 vols., 1 9251 93 5 . Edição crítica por H. Keil, Grammatici latini, IV, ii, 1 864; reimp. , 1 9 1 3 . Ver: T. Borsche, "Quid est? Quid accidunt? Notizen zur Bedeutung und Entstehung des Begriffs der gram matischen Akzidentien bei Donatus", Zeitschriflfar Lite raturwissenschafl und Linguistik, 1 9 ( l 989), 1 3-28. C DONOSO CORTÉS, JUAN, marquês de Valdegamas ( 1 809- 1 853). Nascido no Valle de la Serena (Extremadu ra), distinguiu-se como político, escritor, orador e diplo mata (ministro plenipotenciário em Berlim em 1 849 e embaixador em Paris em 1 853). Representou na ação a ala direita dos cristinos e isabelinos, mas na teoria a de fesa dos princípios dos carlistas. Depois de uma primeira época em que esteve próximo das teses do l iberalismo doutrinário, "converteu-se" em paladino do ultramonta nismo, representando na Espanha um papel análogo ao que foi desempenhado por Joseph de Maistre e Louis de Bonald na França, ou até por Joseph Gorres na Prús sia. Suas idéias, expressas sistematicamente no Ensayo sobre e/ catolicismo, e/ liberalismo y el socialismo, cen traram-se em torno das seguintes afirmações: a políti ca depende da teologia; o processo de secularização da Idade Moderna é um erro gigantesco, engendrado pelo orgulho; o homem se julgou suficiente, desligou-se de sua fonte divina e produziu a série das revoluções; Deus é o Alfa e o Ômega de todas as coisas, sendo a po lítica secular um contra-senso; a verdadeira teologia é a católica; portanto, o catolicismo é a civilização; o dogma católico não é um em meio a outros, como crêem os mo-
DONOSO CORTÉS, JUAN
demos: é o único verdadeiro e está depositado na Igreja; sendo esta infalível, não pode tolerar o erro. Esse pensamento está baseado numa argumentação dialética (Ensayo, l ivro 1, cap. iii) que, juntamente com a afirmação e demonstração de que há "secretas analo gias entre as perturbações físicas e as morais, derivadas todas da liberdade humana" (op. cit. , livro II, cap. v ), constitui o mais original no pensamento político-fi losófico-teológico de Danoso. Reproduzimos seus ar gumentos com referência ao primeiro ponto no verbete TOLERÂNCIA. Quanto ao segundo, baseia-se na crítica da idéia de que o visível só se explica pelo visível, e o natural pelo natural (op. cit. , livro 1, cap. vii); tão logo vemos no sobrenatural o fundamento do natural, admiti mos que a concupiscência da carne e o orgulho do es pírito são o mesmo: o pecado. Este culmina na pretensa deificação do homem por si mesmo (conseqüência da negação de um Deus transcendente). Mas essa deifica ção não destrói a ordem moral e física perfeita instituída por Deus. A negação dessa ordem é, pois, vã; sua única conseqüência é tornar mais pesado o jugo do homem por meio das catástrofes, "que são dadas sempre na pro porção das negações" (op. cit. , Conclusão). A primeira edição do Ensayo apareceu simultanea mente em espanhol (Madri, 1 85 1 ) e em tradução france sa (Paris, 1 85 1 ). A obra dirigia-se contra o ateísmo revo lucionário da época, especialmente contra o de Prou dhon, mas há também ataques (respeitosos) à doutrina de Guizot sobre o desenvolvimento da civilização na Europa. :> Edição de obras: Madri, 1 848, 2 vols.; Madri, 1 8541 856, 5 vols. (Gabino Tejada); Madri, 1 89 1 - 1 983, 3 vols. (Manuel Ortí y Lara); reimp. em 1 903- 1 904, 4 vols. A melhor e mais completa edição é a dirigida por Juan Ju retschke: Obras completas, Madri, 1 946, 2 vols. (o En sayo figura no tomo II, pp. 347-55 1 ) . Entre os escritos de Donoso filosoficamente interessantes que figuram na última edição citada - além do Ensayo -, menciona mos: "La rel igión, la libertad, la inteligencia" ( 1 837, em 1, 375-379; "Filosofia de la historia. Juan Bautista Vico" ( 1 838), em 1, 53 7-572; "Consideraciones sobre el cristianismo" ( 1 83 8), em 1, 573-582; "Pensamientos varias", em I I , 823-827. Correspondência em torno do Ensayo, em II, 5 53-562. Ver também a "Carta a Sua Santidade Pio IX", em II, 565-570. Ver: Juan Valera, artigo sobre o Ensayo publicado em 1 850 e compilado no tomo XXXIV ( 1 9 1 3 ) , intitu lado Estudios críticos sobre filosofia y religión ( 1 8561 863 ), pp. 9-6 1 da edição de Obras completas, de Va lera. - Joaquín Costa, "Filosofia política de Danoso Cortés", em Estudios jurídicos y políticos, 1 884. Carl Schmitt, "Der unbekannte Donoso Cortés", Hoch land, 27 ( 1 929), reproduzido em Positionen und Begrif .fé, 1 9 l O. - !d. , Danoso Cortés. Su posicion en la his toria de la filosofia dei Estado europeo (Conferencias
DORADO MONTERO, PEDRO en el Centro de Intercambio intelectual Germano-Es paiiol, de Madri, XXVI), 1 930. - !d. , Interpretación europea de D. C. , 1 952. - Edmund Schramm, Donoso Cortés. Lehen und Werk eines spanischen Antiliheralen, 1 83 5 . - Francisco Ayala, Estudio preliminar a su edi ción dei Ensavo (Buenos Aires, 1 943). - Luis Díez dei Corra!, El liberalismo doctrinario, 1 945 . - G. de Ar mas, Donoso Cor/és, 1 95 3 . - J. Chaix-Ruy, D Obras: La légende socratique et les sources de Pla ton, 1 922. - Traité de mora/e, 2 vols., 1 932. - Es quisse d 'une philosophie des valeurs, 1 939. - Les so phistes, 1 948. Sociologie générale, 1 948. - Similitude et dépassement, 1 968. Bibliografia no volume coletivo: Essais pluralistes, 1 949, por ocasião do 70º aniversário de D. Ver: M. Barzin, F. Gonseth, Ch. Perelman et ai. , E. D., l 'homme et l 'oeuvre, 1 968 (com "extrait des Carnets inédits" de E. D. selecionados por Jean Dupréel). Arts. de M. Barzin, G. Bastide, J. Paumen, M. Ossows ka, H. Janne, G. Davy, A. Sauvy, S. de Coster, T. Kotar binski, F. Gonseth, P. M. Schuhl, G. Calogero, P. Auben que, J. Croissant e Ch. Perelman no número especial de Revue 1nternationale de Philosophie, 22 ( 1 968), que inclui uma "Bibliographie des travaux du Prof. E. D." nas pp. 23 8-240. e DURAÇÃO. A definição mais usual de 'duração' é: "Persistência de uma realidade no tempo" Essa defini ção pode ser interpretada de várias maneiras. Por um lado, pode-se não apenas insistir no caráter temporal da duração, mas também supor que o tempo da duração consiste em sucessão (sucessão de momentos). Por outro lado, pode-se destacar o permanecer - manere na existência. Essas interpretações deram lugar a muitos debates sobre o conceito de duração, especialmente freqüentes entre os escolásticos e os filósofos modernos do século XVII. Apresentaremos algumas das atitudes típicas adotadas a esse respeito. Quando se insistiu no fato do "permanecer", vincu lou-se o conceito de duração ao de eternidade (vER ) . Alguns autores concluíram que o significado de ambos os conceitos é idêntico em vista do caráter fundamental que a noção de permanência tem para a eternidade. Outros, em contrapartida, sem ignorar as estreitas rela ções entre os dois conceitos, introduziram uma série de distinções. Assim, para Santo Tomás, por exemplo, o conceito de duração é como um gênero do qual os con ceitos de eternidade e de eviternidade (o aevum) são espécies. Por esse motivo, o conceito de duração não inclui necessariamente o de sucessão, mas apenas o da permanência do ser que dura. O tempo é uma duração -
DlR\ND DE SAINT POURÇAIN
que tem começo e fim (começo e fim das coisas das quais o tempo é a medida). A eternidade é duração sem começo nem fim, e é, portanto, interminável (cf. S. Theol. , I, q. X a 5 ) . Esta última concepção foi a mais difundida entre os autores escolásticos, tendo sido consi derada por muitos a única que permite evitar a completa separação entre os conceitos de eternidade e de tem po, separação que surge sempre que se insiste no caráter temporal sucessivo da duração e ao mesmo tempo na índole atemporal da eternidade. Muitos dos fi lósofos modernos compilaram as ela borações escolásticas - em particular a noção de "per manência" -, mas fizeram-nas servir para outros fins. Segundo Descartes, a duração de cada coisa é um modo pelo qual consideramos essa coisa na medida em que continua sendo (Princ. phil. 1, 56). I sso equivale a supor que o tempo é uma maneira de pensar a duração, bem como a distinguir a duração, a ordem e o número. Spinoza distingue a eternidade e a duração: a eternidade é o atributo mediante o qual concebemos a infinita existência de Deus, e a duração é "o atributo mediante o qual concebemos a existência das coisas criadas na medida em que perseveram em sua existência atual" ( Cog. mel. , 1 , iv). Mais precisamente (e laconicamente). a duração ''é a continuidade indefinida de existência" (Eth. II, def. v) - indefinida porque "nunca pode ser determinada pela própria natureza da coisa existente, nem pela causa eficiente, que põe necessariamente a existência da coisa, mas não a suprime". A duração dis tingue-se do tempo e da eternidade : do primeiro, por ser este um modus cogitandi da duração; da segunda, por que a duração é justamente algo fundado na eternidade. Também os autores empiristas fazem uso de concei tos tradicionais. mas a tendência metafisica é gradual mente substituída por uma orientação psicológica (e epistemológica). Assim, Locke define a duração - ou, melhor dizendo, a idéia da duração - como "as partes fugazes e conti nuamente transitórias da sucessão" (Essay, II, XIV, sec. 1). Mais adiante, porém, observa que a reflexão sobre "as aparências de várias idéias umas após as outras em nossos espíritos é o que nos pro porciona a idéia de sucessão, e a distância entre quais quer partes dessa sucessão ou entre as aparências de duas idéias quaisquer em nossos espíritos é que denomi namos duração" (sec. 3). Essa tendência a "interiorizar" a noção de duração é freqüente no pensamento contem porâneo, mas a "interiorização" nem sempre foi entendi da num sentido simplesmente "psicológico" ou "episte mológico" Isso é o que ocorre em Bergson. Para esse fi lósofo, a duração pura, concreta ou real é o tempo real em oposição à espacialização do tempo. Ao dizer, por exemplo, que o psíquico tem, entre outros caracteres, o de duração, ele não quer indicar senão que o psíquico é irredutível à espacial ização a que é submetido o tem po por meio da matemática. O tempo matemático e o
782 fisico-matemático são por seu turno o resultado da ne cessidade que tem a vida de dominar pragmaticamente a realidade. A duração é, porém, a própria realidade, para além dos esquemas espaciais - aquilo que é intui tivamente vivido e não simplesmente compreendido ou entendido pelo intelecto. Por isso, o absoluto, entendido à maneira de Bergson, não pode ser um absoluto eterno, mas um absoluto que dura. Da concepção do absoluto como eterno - eternidade que Bergson entende mais como um recorte no devir que como um recolhimento autêntico do devir - decorrem as clássicas dificulda des metafisicas do problema do nada (vER): a concepção do absoluto como algo que dura elimina a possibilida de de confundi-lo com uma essência lógica ou mate mática intemporal. " É preciso acostumar-se" - escre ve Bergson - "a pensar o ser diretamente, sem fazer um rodeio, sem dirigir-se desde o primeiro instante ao fantasma do nada que se interpõe entre ele e nós. É necessário procurar aqui ver por ver e não já ver para agir. O absoluto se revela então muito perto de nós e, de certo modo, em nós. Ele é de natureza psicológica e não matemática ou lógica - vive conosco, como nós, mas, sob certos aspectos, infinitamente mais concentra do e mais recolhido sobre si, dura" (L 'évolution créa trice, 1 907, p. 323. � Ver: Alfred Eggenspieler, Durée et instant. Essais sur le caractere analytique de / 'être, 1 93 3 . - Gaston Bache lard, La dialectique de la durée, 1 936. - Émile Lubac, Présent conscient et cycles de durée, 1 936. - E. Parsons, Time Devoured: A Materialistic Discussion of Dwution, 1 964. - C. Peter, Participated Eternity in the Vision of God: A Study ofthe Opinion of7h. A quinas and His Com menta/01:1· 011 lhe Duration of lhe Acts of G/ory, 1 964. Ver também a bibliografia de ETERNIDADE. C DURAND DE SAINT POURÇAIN, Durandus de Sancto Porciano (t 1 3 34), dominicano, bispo de Le Puy e de Meaux, denominado o doctor resolutissimus, por causa da tenacidade com que defendeu suas opiniões, opôs-se em múltiplos pontos ao realismo tomista (o que lhe valeu freqüentes censuras por parte de comissões de sua Ordem e até por parte de uma comissão pontificia) e tendeu a um nominalismo, ao menos na medida em que distinguiu realmente o sujeito e a relação, categoria que compreende os últimos seis predicamentos aristo télicos. Durand concebeu o universal como uma abstra ção da mente, como uma forma indeterminada ou que designa o indeterminado do indivíduo. A distinção entre o universal e o indivíduo é, pois, apenas mental. Esta doutrina devia enfrentar dificuldades, sobretudo ao refe rir-se à concepção da alma e da inteligência; isso condu zia, com efeito, a uma eliminação das formas das ope rações da mente, formas indevidamente multiplicadas, de acordo com Durand, que não só produzem confusão como também impedem uma coincidência do ser com o ser conhecido.
783 :> A principal obra de Durand são seus comentários às Sentenças: ln sententias theologicas Petri Lombardi i Libri IV (Veneza, 1 572); reimp., 1 963. Além disso: De visione Dei. Edição de obras: Edição de J. Koch, Durandis de S. Porciano, O. P. Quaestio de natura cognitionis et dis puta/ia cum anonymo quodam necnon Determinatio Hervaei Nata/is, O. P., 1 929; 2ª ed., 1 93 5 . - Também a de Takeshiro Takeda, Tractatus de habitibus (q. 1 -q. 3), 1 963 . - Além disso, a de P. T. Stella, Magistri Duran di a Sancto Porciano, O. P., Quodlibeta Avenionensia tria, additis Correctionibus Hervaei Nata/is supra dieta Durandi in primo Quodlibet, 1 965 (os três Quodlibeta sustentados por Durand em Avinhão, 1 3 1 4 a 1 3 1 6). Ver: J. Koch, Durandus de Saneio Porciano, O. P. Forschungen zum Streit um Thomas von Aquin zu Beginn des 14. Jahrhunderts, i, 1 927. - Maria Teresa Beonio Brocchieri Fumagalli, Durando di S. Porziano: Elementi filosofici dei/a terza redazione dei Commento alie Sen tenze, 1 969. - M. T. Beonio-Brocchieri, "II De Origi ne lurisdictionum di D. di S. P.", Rivista di Filosofia Neo-Scolastica, 70 ( 1 978), 1 93-206. C:
DURKHEIM, ÉMILE ( 1 85 8- 1 9 1 7) . Nascido em Êpi nal (Alsácia), lecionou a partir de 1 896 em Bordeaux e, a partir de 1 902, na Sorbonne. Pretendendo conferir um caráter estritamente positivo à sociologia, opôs-se a toda tentativa de transformar a investigação sociológi ca numa dedução a partir de leis universais do tipo das estabelecidas por Comte em sua teoria dos três estados. A sociologia deve, segundo Durkheim, ater-se a um mé todo científico - deve buscar leis, porém não gene ralidades abstratas, e sim expressões precisas das rela ções descobertas entre os diversos grupos sociais. A fidelidade aos fatos leva a reconhecer que a sociedade é uma realidade que tem suas próprias carac terísticas e a que correspondem categorias próprias. As categorias mais próximas das sociais são as orgãnicas ou biológicas. Isso não significa, porém, que aquelas possam ser derivadas destas, mas apenas que pode haver conceitos comuns a ambas. O que ocorre com os tipos de realidade ocorre também com os métodos usados para a pesquisa. Tanto nas ciências biológicas como nas ciências sociais a noção de função desempenha um papel importante. Entretanto, é preciso especificar de que modo se pode entender essa função nas ciências sociais. Para Durkheim, uma explicação funcional nes sas ciências permite relacionar diversos fatores ou siste mas; em particular, permite ver de que modo as ativi dades, instituições, sistemas de crenças etc. que existem, ou se desenvolvem, numa sociedade se relacionam com a sociedade em conjunto. O exame das funções não substitui o das causas; porém, uma vez estabelecidas estas últimas, é necessário comprovar de que maneira contribuíram para a formação de relações funcionais.
DURKHEIM, ÉMILE
O método funcional de Durkheim corresponde à sua idéia da sociedade como um conjunto que possui uma consciência coletiva, e, ao mesmo tempo, essa idéia da sociedade condiciona o método; os dois estão correlacionados. A mencionada "consciência coletiva" não deve ser entendida como uma "reificação" de repre sentações e comportamentos individuais: trata-se de um traço constituinte dos fatos sociais. Ela não deve ser entendida, tampouco, como uma espécie de "consciên cia geral" independentemente das atividades, das nor mas, das instituições etc. A rigor, estas últimas são os fatos sociais por meio dos quais se pode descobrir a citada consciência coletiva. Entre as contribuições de Durkheim à sociologia figura sua tipologia social, isto é, sua classificação das formas sociais, das mais primitivas, ou simples, às mais complexas, e desde as que podem ser consideradas normais até as que devem ser declaradas anormais ou patológicas. A anormalidade pode surgir em qualquer forma social e resulta principalmente, se não exclusiva mente, de uma falta, ou enfraquecimento, de relações funcionais. A obra de Durkheim exerceu, sobretudo na França, uma grande influência, favorecendo grandemente a ten dência empírica na investigação sociológica, porém sem implicar uma formação estritamente naturalista. Mais ainda: a atenção ao fato e ao dado contribuía às vezes para libertar o pensamento sociológico de alguns pressu postos unilateralmente naturalistas. Desse modo, desen volveu-se uma "Escola" à qual pertenceu a maioria dos sociólogos franceses da época. Entretanto, a vinculação a ela não significa sempre a adesão estrita às teses de Durkheim, pelo menos não às que não tinham um sim ples caráter metodológico. Desse ponto de vista e com estas reservas, podem-se considerar continuadores da obra de Durkheim sociólogos como George-Ambroise Davy ( 1 883- 1 976, nasc. em Bernay, Normandia), que aplicou sobretudo o método ao domínio do Direito (Le Droit, l 'idéalisme et l 'expérience, 1 922; La Foi jurée. Étude sociologique du probléme du contrai. La forma tion du lien contractuel, 1 922), François Simiand ( 1 8731 936, nasc. em Saint-Raphael), que se ocupou dos pro blemas sociológicos na economia (La méthode positive en science économique, 1 9 1 2), Henri-Pierre-Eugene Hu bert ( 1 872- 1 927) e Marcel Mauss ( 1 872- 1 950, nasc. em É pinal), que deram importantes contribuições à sociolo gia e à história das religiões ( cf. sua obra em colabora ção: Mélanges d 'histoire des religions, 1 909), Célestin Bouglé (vER ) , Maurice Halbwachs, que estudou a me mória do ponto de vista social (Les cadres sociaux de la mémoire, 1 925), e Paul Fauconnet, autor de uma teo ria da responsabilidade social (La responsibilité. Étude de sociologie, 1 920). A maior parte dos primeiros traba lhos da Escola de Durkheim apareceram em L'A nnée Sociologique ( 1 898- 1 908).
DÜRR, ERNST
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DÜRR, ERNST. Ver KüLPE, OswALD. DÚVIDA. O termo 'dúvida' significa principalmente "vacilação'', "irresolução", "perplexidade" Estas signi ficações encontram-se já no vocábulo latino dubitatis. Na dubitatio há sempre pelo menos duas proposições ou teses entre as quais a mente se sente flutuante; ela vai, com efeito, de uma a outra sem deter-se. Por esse mo tivo, a dúvida não significa falta de crença, mas inde cisão com respeito às crenças.
Há na dúvida um estado de suspensão que a toma a atitude própria do cético (ver Crnc1sMo), sempre que este último seja entendido não como aquele que não crê em nada, mas como o que põe entre parênteses seus juízos em vista da impossibilidade em que se encontra de decidir-se. No âmbito dessa significação geral, a dúvida ou, melhor dizendo, o estado de dúvida - pode ser entendida de vários modos. A nosso ver, estes se redu zem aos seguintes: 1 ) a dúvida como atitude; 2 ) a dú vida como método; 3 ) a dúvida como elemento necessá rio à fé. É pouco freqüente encontrar exemplos puros de qualquer uma dessas três significações na história da filosofia, mas pode-se falar de várias concepções da dúvida nas quais se manifesta a tendência a enfatizar uma delas. A dúvida como atitude é freqüente entre os céticos gregos e os renascentistas. É também bastante habitual entre aqueles que, sem pretender elaborar nenhuma filo sofia, se negam a aceitar qualquer crença firme e espe cífica, ou que consideram que não há nenhuma propo sição cuja validade possa ser provada de maneira sufi ciente para engendrar uma convicção completa. É carac terístico dessa forma de dúvida considerar o estado de irresolução como permanente, mas ao mesmo tempo encontrar nele certa satisfação psicológica. Na dúvida como atitude, a mente regozija-se "em não dar nenhu ma resposta e em não produzir nenhuma convicção", como, de acordo com Hume (Enquiry, sec. 1 2 ) , ocorre quando adotamos argumentos "meramente céticos'', do tipo dos de Bayle ou Berkeley. Afirmou-se que a atitude da dúvida, tal como se manifestou pelo menos entre os céticos gregos, é uma "conclusão" à qual se chega de pois de se terem rej eitado como válidos todos os argu mentos que demonstram a absoluta verdade de qualquer proposição. Contudo, pode-se dizer também que ela é um ponto de partida sem o qual não se produziria tal ceticismo. De fato, a dúvida como atitude se encontra em ambos os extremos: parte-se dela para chegar a ela. A questão que se formula então é a de saber se é fac tível permanecer sempre no estado de dúvida. Pode-se responder a isso afirmando que, se a dúvida fosse sim plesmente uma não-crença, o estado em questão seria provavelmente pouco duradouro. Porém, como a dúvida enquanto atitude é uma forma de "crença" - a crença de que não é possível decidir-se -, sua plausibilidade psicológica permanece assegurada. A dúvida como método foi empregada por muitos filósofos. Afirmou-se até mesmo que ela é o método fi losófico por excelência, na medida em que a filosofia consiste em esclarecer todo tipo de "pressupostos" (o que não pode ser feito sem submetê-los à dúvida). En tretanto, apenas em alguns casos se adotou explicita mente a dúvida como método. Entre eles, destacam-se Santo Agostinho e Descartes: o primeiro na proposição
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DYROFF, ADOLF
Si fallor, sum, pela qual aparece como indubitável a existência do sujeito que erra; e o segundo na proposi ção Cogito, ergo sum ( vER ) , por meio da qual fica asse gurada a existência do ser que duvida. Nesses exem plos, pode-se dizer que a dúvida é um ponto de partida, já que a evidência (do eu) surge do próprio ato de du vidar da redução do pensamento da dúvida ao fato fundamental e aparentemente inegável de que alguém pensa ao duvidar. A concepção da dúvida como elemento necessário à fé consiste em supor que a fé autêntica não é um mero crer em algo de olhos fechados, mas um crer acompanhado da dúvida e, em larga medida, alimentado pela dúvida. Vários pensadores enfatizaram este aspecto da dúvida, destacando-se entre eles Unamuno. Com efeito, de acordo com esse autor, uma fé que não vacila não é uma fé: é um mero automatismo psicológico. Por conseguinte, nesta idéia da dúvida, a fé e a dúvida são inseparáveis. As posições 1) e 3 ) são predominantemente de ín dole vital, ou, ainda, existencial; a posição 2), especial mente na forma cartesiana, é predominantemente de natureza intelectual. Destacamos 'predominantemente' porque na questão da dúvida não se podem traçar linhas divisórias demasiadamente rígidas entre o vital e o inte lectual. Aqueles que adotam a dúvida como atitude ou como elemento subjacente à fé empregam igualmente inumeráveis argumentos. Aqueles que duvidam meto dicamente por meio de argumentos têm previamente uma atitude de dúvida. Uma última questão que surge com referência à dúvida é, uma vez adotando-a, como sair dela. Os céti cos radicais afirmam que essa saída é impossível. Os céticos metódicos declaram que no próprio âmago da dúvida se encontra a possibilidade de descobrir uma proposição indubitável: pode-se duvidar de tudo menos de que se duvida de que se duvida. Os céticos por mo tivos de fé assinalam que não é conveniente sair da dúvida se se quer manter a vitalidade de uma crença. A essas respostas - correspondentes, grosso modo, às posições 1 ) , 2) e 3 ) - pode-se acrescentar outra, muito própria das filosofias que podem ser qualificadas de ati vistas: consiste em enfatizar que a ação ( VER ) é a única possibilidade para se vencer a dúvida. De acordo com esta posição, a dúvida emerge apenas quando perma necemos no plano intelectual - no plano vital, em contrapartida, as decisões são inevitáveis, de sorte que o estado de flutuação e irresolução que caracteriza a dúvida pode ocorrer somente de modo transitório. :> Ver: Rodolfo Mondolfo, II dubbio metodico e la Storia de/la filosofia, 1 905. - Charles Francis How land, Doubt. A Study of Knowledge, 1 93 3 . - Sven Edvard Rohde, Zweifel und Erkenntnis. Ueber das Pro blem des Skeptizismus und den Begriff des Absoluten, 1 945. J. Barnes et ai. , eds. , Doubt and Dogmatism: -
Studies in Hellenistic Epistemology, 1 980. - P. Hoff man, Doubt, Time, Violence, 1 987. Sobre o problema da dúvida em Descartes e em Francisco Sánchez: Karlheinz, Der Zweifelbeweis des Descartes. Eine Darstellung und methodologische Inter pretation, 1 93 5 (tese). - Joaquín lriarte, Kartesischer oder Sanchezischer Zweifel? Ein kritischer und philoso phischer Vergleich zwischen dem Kartesischen Discours de la méthode und dem Sanchezischen Quod nihil scitur, 1 93 5 (tese). - J. M. Arias Azpiezu, La certeza dei yo dubitante en la filosofia prekantiana, 1 974. - F. Bader, Descartes ' Erste Philosophie. Die Systematik des me thodischen Zweifels, 1 982. Sobre a dúvida no sentido existencial: Emilio Goui ran, Interpretación existencial de la duda, 1 937.