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Portuguese Pages 338 Year 2009
Nutrientes e Terapêutica como usá-los quando usá-los como avaliar suas carências radicais livres na saúde
2ª Edição REVISADA E AMPLIADA
José Gilberto Perez de Moura
Direitos desta edição reservados ao autor. [email protected]
Revisão Científica Dra. Margot Fetter Costa
Capa: Fernando Giusti
Impressão e acabamento Visão Artes Gráficas
Abril, 2009. VISÃO ARTES GRÁFICAS Av. Pres. Juscelino Kubitschek de Oliveira, 2440 CEP:96080-000 - Pelotas – RS - Brasil
Para Cláudia, Fonte constante de equilíbrio, discernimento e amor. Sua sabedoria e apoio são uma inspiração e uma dádiva para mim. Para meus filhos Gabriel e Nathália. Pelo tempo que deixamos de estar juntos. Para meus pais e irmãos. Pelo carinho e apoio em todas as horas.
A todos aqueles que, através da busca da saúde, descobriram o significado maior de suas vidas. Aos que, através de seu sofrimento, foram o motivo de nossa busca de uma forma mais branda e eficaz na arte de curar.
“A história da medicina vem sendo escrita sobre erros e acertos, com a superação de conceitos antigos e o surgimento de novos conhecimentos. Algo que hoje consideramos muito promissor corre o risco de ser completamente esquecido amanhã. Da mesma forma, o que foi subestimado na época de seu descobrimento, pode se tornar, no futuro, a peça que faltava para uma nova tese revolucionária.” Dr. Helion Póvoa Fº Rio de Janeiro
PREFÁCIO O livro “Nutrientes e Terapêutica”, decididamente, preencheu a finalidade a que se propôs o autor, qual seja a de despertar nos colegas o interesse pelos nutrientes, os quais desempenham papel de relevância no corpo humano, como destacamos recentemente em nosso livro “ Nutrição Cerebral”. O uso em quantidade correta dos nutrientes leva a um mais perfeito funcionamento do corpo humano, como se pode verificar através de exames laboratoriais específicos. A descoberta dos radicais livres por Harman, em 1956, comprovou a relevância destas substâncias nos processos biológicos; pode ainda haver entre alguns uma certa descrença com relação a esses conceitos, mas o fato é que, após a criação de um Departamento de Radicais Livres no NIH (National Institute of Health – Instituto de Saúde Publica), não pode haver mais dúvidas sobre a grande importância do estudo dos RL, que atuam na gênese da quase totalidade dos processos patológicos; nesse mesmo Departamento, estudam-se, acuradamente, os antioxidantes, que impedem a formação dos radicais livres e lhes aceleram a destruição . No livro, após o 1º capítulo, sobre generalidades dos nutrientes, faz o autor uma excelente revisão sobre os minerais essenciais (capítulo 2), destacando o papel fisiológico do cálcio, magnésio, estrôncio, boro, potássio, zinco, ferro, manganês, molibdênio, cobalto, cobre, cromo, vanádio, lítio e silício. O capítulo 3 versa sobre a importância das vitaminas e, em especial, sobre sua potente ação antioxidante, assim como inibidora da glicação oxidativa, de fato o mais poderoso agente lesivo sobre os processos fisiológicos. Outros suplementos nutricionais são os Omega-3 (ácido Eicosapentaenoico – EPA e Docosahexaenoico - DHA), que transportam em suas moléculas
de gorduras enormes quantidades de plasmalógenos, poderosos antioxidantes cerebrais. O EPA e o DHA têm, ainda, ação benéfica sobre o intestino, bem como sobre o organismo humano. Isto explica porque os países com ingestão alimentar alta de Omega-3 têm maior expectativa de vida média (Japão, Noruega, Suécia e Islândia); o mesmo ocorre com os alimentos vegetais que formam Omega-3. Igualmente, são bem abordados no livro o ácido lipoico, a coenzima Q10, o ginkgo biloba, o inositol e os hormônios como o DHEA e a melatonina; esta última se acha bem estudada no livro, dada a sua enorme relevância; ela não é apenas um agente sedativo, como se relata habitualmente, mas é o mais poderoso antioxidante endógeno, anticancerígeno, além de desempenhar várias outras funções, nem todas ainda conhecidas. No capítulo 4 deparamo-nos com um magnífico texto sobre os aminoácidos. A taurina, o GABA e a glicina têm um papel preponderante no metabolismo cerebral; a arginina e os aminoácidos de cadeia ramificada têm papel relevante no metabolismo muscular. O glutation é um poderoso antioxidante intracelular, que inibe a glicação oxidativa, sem dúvida alguma, responsável por arteriosclerose, nefropatias, catarata, artrite e lesões neurodegenerativas (Alzheimer, Parkinson, retinopatias). Outros nutrientes são precursores de neurotransmissores e a glutamina é um potente imunoestimulante. A melatonina, associada às vitaminas, B6, B12 e ao ácido fólico, bloqueia a produção de homocisteína, que aumenta a formação de trombos vasculares. Através do mineralograma, pode-se diagnosticar a carência ou o excesso desses minerais, o que constitui um
excelente método diagnóstico para problemas ósseos, cerebrais, etc. Também enfoca o livro a dosagem de metais tóxicos (capítulo 7) como chumbo, mercúrio, níquel, cádmio, alumínio, antimônio, paládio, arsênico, bário, berílio, platina, paládio, estanho, tálio, tungstênio, tório e urânio. Recentemente, o Mineralograma se tem demonstrado um excelente método diagnóstico para a detecção de níveis tóxicos de bismuto; o bismuto é usado em cosméticos e no tratamento de gastrites e nas diarréias, e na terapia do Helicobacter pylori. O bismuto pode provocar problemas cerebrais (insônia) e verificou-se, recentemente, que 18% das amostras de cabelo apresentam níveis elevados de bismuto. Em vista das considerações acima, podemos, com segurança, afirmar que este livro de José Gilberto Perez de Moura se constitui em uma obra respeitável e que deve ser lida cuidadosamente por todos aqueles que se interessam por Nutrologia. Ao final do livro, há um maravilhoso capítulo (6) sobre os Radicais Livres. Só nos resta, então, terminando este prefácio, dar parabéns ao amigo Gilberto: seu livro é excelente!
Dr. Helion Póvoa Filho
Helion Póvoa Fº é um dos mais renomados especialistas na área médica de nutrição e bioquímica. Membro titular da Academia Nacional de Medicina, professor titular de Patologia Clínica da Uni-Rio; professor titular de Bioquímica da Escola Médica da Universidade Gama Filho, professor titular de pós-graduação da PUC-Rio e professor visitante da Universidade de Harvard. Póvoa é autor de sete livros e possui mais de duzentos trabalhos publicados no exterior.
APRESENTAÇÃO O tema de “Nutrientes e Terapêutica” merece uma divulgação mais ampla, tendo em vista a sua relevância, sua atualidade e contribuição para a melhoria da saúde. No Brasil, o número de universidades e centros de difusão destes temas, não é expressivo, a bibliografia não é numerosa e os textos, por vezes, escritos somente em linguagem técnica. Este livro foi escrito sem a intenção de ser definitivo, não tendo a pretensão de esgotar o assunto, mas sim despertar o interesse do leitor em idéias e conhecimentos adquiridos ao longo da história. Está destinado a enriquecer-se permanentemente pela contribuição de todos aqueles que queiram acrescentar, criticar ou sugerir. Este livro não foi concebido como um manual técnico para médicos; ainda assim sua leitura pode conter informações preciosas, atualizadas e apresentadas, na medida do possível, em uma linguagem acessível que dará a todos uma boa noção da importância dos nutrientes, dos radicais livres e dos metais tóxicos em nosso organismo. Quinze anos de estudos, estão condensados nesta obra. Os temas abordados estão se tornando tópicos de grande interesse, mesmo fora das esferas científicas. Atualmente, é difícil folhear um jornal ou revista e periódicos médicos, ou assistir a televisão sem encontrar referências a nutrientes, radicais livres ou antioxidantes. Conhecimentos essenciais estão se difundindo e formando um quadro que está realmente transformando a Medicina. A Bioquímica, a Genética e a Biologia têm experimentado um fabuloso avanço nos últimos 50 anos. Mais do que nunca, milhões de pessoas estão ingerindo suplementos nutricionais. Surpreendentes descobertas sobre a inter-relação
entre nutrição e saúde acontecem a cada dia. Em sua elaboração, contei com a colaboração inestimável de numerosos amigos que, de forma notável, influenciaram os temas desenvolvidos. Como Galileu, em minha vida científica estive apoiado sobre ombros de gigantes, para longe poder observar. Entre os gigantes destaco o Prof. Dr. Helion Póvoa Filho (RJ), cientista e pesquisador que me iniciou nos segredos dos radicais livres; e o Prof. Dr. Juarez Callegaro (RS), médico psiquiatra, sem dúvida o amigo a quem mais ouvi, com quem mais aprendi e quem mais influenciou esta obra. Agradeço, em especial, a Dra. Margot Fetter Costa e ao Dr. Darci Gustavo Post, pela minuciosa e excelente revisão; a Darryl Hickock do Laboratório Doctor's Data (EUA), pela consultoria no capítulo 8 (Mineralograma). Espero que esta obra seja uma agradável leitura e sirva de motivação e iniciação àqueles com interesse no tema.
José Gilberto Perez de Moura
NOTA À 2ª EDIÇÃO As razões que levaram o autor a escrever a segunda edição de “Nutrientes e Terapêutica” continuam as mesmas. Desde sua publicação persistem o interesse dos médicos pela “arte de formular”, a importância dos nutrientes na saúde humana e a ação dos radicais livres como agentes desencadeadores de patologias. A importância da correta nutrição ultrapassa, hoje, o meio científico e toma as páginas dos jornais e revistas, onde encontra grande interesse popular. O reconhecimento dos nutrientes como agentes promotores de saúde bem como as bases científicas de sua utilização já estão bem estabelecidas por cientistas e instituições de pesquisa. No entanto, continuam escassos os cursos para prescritores, e raros os livros de divulgação em língua portuguesa. Novas substâncias terapêuticas são continuamente lançadas no mercado, outras tantas são retiradas, o que tornam os poucos livros sobre o assunto rapidamente obsoletos. Por essa razão são necessárias novas edições editadas com maior frequência. A segunda edição de Nutrientes e Terapêutica é publicada três anos após seu lançamento, revisada e ampliada. A ciência e a experiência clinica demonstram que os nutrientes terão um importante papel na medicina do futuro e que este futuro está chegando. As antigas resistências ao uso dos nutrientes estão chegando ao fim, graças a uma nova geração de profissionais, mais abertos às novas idéias e às novas formas de terapêutica. José Gilberto Perez de Moura Pelotas, RS, abril de 2009
ÍNDICE 1. GENERALIDADES .............................................................17 2. MINERAIS ............................................................................27 3. VITAMINAS .......................................................................103 4. AMINOÁCIDOS
.............................................................163
5. OUTROS SUPLEMENTOS................................................201 6. RADICAIS LIVRES (RLs) .................................................247 7. METAIS TÓXICOS ...........................................................271 8. DOSAGENS DE NUTRIENTES ........................................305 8.1 Mineralograma ..............................................................305 8.2 Vitaminograma..............................................................316 8.3 Aminoacidograma.........................................................318 8.4 Dosagens de nutrientes no sangue, hemácias e urina ...321 BIBLIOGRAFIA .....................................................................325 ANEXOS .................................................................................335
Capítulo 1 - GENERALIDADES “Uma nova realidade científica não triunfa convencendo seus oponentes e fazendo-os ver a luz, mas sim porque seus oponentes, finalmente, vão desaparecendo e os segue uma nova geração que está familiarizada com a ideia!” Max Planck
Há pouco menos de um século, o papel dos nutrientes na saúde era quase desconhecido. Coube a Gabriel Bertrand demonstrar que esses elementos, embora presentes em pequenas quantidades, eram indispensáveis à vida. Ainda hoje, porém, a Medicina pouco tem valorizado os nutrientes, julgando que o fundamental já é conhecido de todos. Ignorando que houve profunda modificação dos hábitos alimentares e que o refino, o preparo dos alimentos e as novas técnicas de cultivo alteraram radicalmente a biodisponibilidade dos nutrientes; principalmente, ignorando sua participação vital nos processos biológicos. Hipócrates, médico grego, escreveu no ano 400 a.C. que os alimentos e os hábitos de vida deveriam ser a base de nossa medicina. Hoje, decorridos mais de 2.000 anos, a Medicina passa a reconhecer a importância dos nutrientes na manutenção da saúde. Um indivíduo de 70 anos vive 25.550 dias, ingerindo de três a quatro refeições diárias; isso equivale a ingerir 76.650 a 102.200 refeições durante sua existência. É através das refeições que obtemos os 45 aminoácidos, vitaminas e minerais necessários à vida. Os primeiros experimentos sobre nutrição foram realizados por Antoine Lavoisier, químico francês. Doenças resultantes de carências nutricionais são tão antigas quanto à espécie humana, uma vez que esqueletos préhistóricos apresentam sinais evidentes de raquitismo e escorbuto (entre outros achados). Carências como o béri-béri (falta de
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vitamina B1) e a cegueira noturna (falta de vitamina A), eram do conhecimento dos médicos antigos e relatadas em livros da época. Póvoa, Callegaro e Ayer no excelente “Nutrição Cerebral” (vide bibliografia) relacionam as mudanças nos padrões alimentares do homem paleolítico com a própria evolução da espécie. A introdução de peixes, moluscos e ovos ocorrida 2 milhões de anos atrás, possibilitaram, segundo os autores, a evolução da massa encefálica e das funções cerebrais. A alimentação básica do homem paleolítico, até então consistia de frutas, legumes e carnes de caça. Enquanto caçador e coletor, o homem teve acesso à quantidades adequadas de vitaminas, minerais e aminoácidos. Com sua a fixação à terra e o surgimento da agricultura (10 mil anos atrás) a nutrição humana sofreu nova e radical alteração com a introdução dos grãos, pães, leite e derivados. As doenças continuam a desafiar os progressos da medicina e continuam sendo responsáveis pela morte prematura de milhões de pessoas. Algumas doenças são tratadas com absoluto sucesso, outras são extremamente difíceis de combater e constituem causa de mortalidade ou diminuição da qualidade de vida da população. A descoberta de novos meios para aumentar a eficiência das terapêuticas atuais e o desenvolvimento de um novo estilo de vida devem continuar. Várias doenças podem ser prevenidas modificando hábitos de vida e hábitos alimentares, incluindo neles alimentos que tem o poder de combater as doenças em sua origem e impedir seu desenvolvimento. Os alimentos possuem compostos fitoquímicos ricos em moléculas com ação muito potente, podendo lutar contra doenças sem efeitos colaterais. Presentemente estamos começando a viver uma nova revolução alimentar com a introdução dos alimentos industrializados, ricos em gorduras, açúcares, sal e aditivos,
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além de importante redução no consumo de frutas legumes e verduras. As consequências desta nova alimentação são uma incógnita. Pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica em 5 regiões do país mostraram que os brasileiros não se alimentam de forma saudável. Foram entrevistadas, em suas casas, 2179 pessoas de todas as classes sociais nas 5 regiões do país. A pesquisa apontou que 63,1% dos brasileiros estão acima do peso. As consequências dos erros alimentares são as chamadas doenças crônicas, como a hipertensão, o diabetes e os males do coração. A pesquisa revelou, ainda, que 43% dos brasileiros fazem suas refeições diante da televisão, por isso, habitualmente, consomem mais alimentos do que o necessário, por simplesmente não terem se dado conta de que ingeriram mais do que a quantidade ideal e tampouco mastigaram a comida de maneira adequada (21% dos entrevistados tomam o café em 12 minutos, almoçam em 22 minutos e jantam em 23 minutos). Em todas as classes sociais, 14% das pessoas têm o hábito de fazer refeições rápidas, tipo fast-food. A pesquisa mostrou, ainda, que 36% dos brasileiros ‘beliscam’ fora das refeições e dos lanches recomendados, comendo principalmente chocolate, biscoito recheado, coxinha, pastel, bolo, pipoca e balas. A fritura está presente em mais de 50% dos pratos brasileiros. Os grelhados, frequentam a mesa de apenas 18% dos brasileiros. Os alimentos crus são consumidos, no dia-a-dia, por pouco menos de metade da população. A necessidade de suplementos dietéticos é um tema debatido no mundo todo. A maioria dos médicos opina que os nutrientes devem proceder dos alimentos, negando, portanto, valor aos suplementos dietéticos. Em sua prática diária, porém, ao tratarem anemia, osteoporose, bócio carencial, por exemplo, não o fazem através da dieta somente, valendo-se de
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suplementos com vitaminas, ferro, cálcio, iodo, entre outros. A administração de minerais e vitaminas, além de mais simples e cômoda, é mais eficaz do que a correção pela dieta, embora o ideal seja a combinação de ambos. Muitos anos foram necessários para tornar evidente a relação entre nutrição, saúde e doença. As pesquisas sobre o metabolismo humano identificaram cerca de 5 mil reações bioquímicas necessárias à manutenção da vida; também comprovaram a necessidade de 45 “nutrientes essenciais” provenientes dos alimentos (essenciais porque o organismo não os sintetiza). A moderna Bioquímica demonstrou que a homeostase do organismo está assegurada por nutrientes perfeitamente identificáveis, com funções definidas, atuando como cofatores essenciais ao metabolismo bioquímico. O papel dos nutrientes é fundamental ao metabolismo celular, para a ativação das enzimas e à proteção das membranas, frente aos processos oxidativos. O progresso da Bioquímica fez surgir novas perspectivas de interesse clínico, cujos princípios se assentam em bases inatacáveis. A nutrição e a terapêutica através de nutrientes têm a finalidade de manter ótima no organismo a relação molecular entre os elementos internos (hormônios, enzimas, funções metabólicas e fisiologia das membranas) e o balanço nutricional (proteínas, lipídios, glicídios, vitaminas, minerais, ácidos graxos e aminoácidos). Esta é uma relação essencialmente bioquímica. É pensamento geral que a dieta variada é suficiente para prover o organismo de todas as vitaminas, aminoácidos e minerais, essenciais ao seu bom funcionamento. Trabalhos americanos relatam que são poucos os adultos (9%) que ingerem 3 porções diárias de legumes e hortaliças. A ingesta de frutas, diariamente, também é muito baixa. Embora sejam as frutas uma importante estratégia nutricional, graças à intensa presença de vitaminas, fibras, carotenóides, bioflavonóides,
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polifenóis e outros tantos fitoquímicos. A carência de nutrientes parece ser mais intensa em determinados grupos, como gestantes, idosos, pessoas enfermas e naquelas submetidas a dietas hipocalóricas. Os médicos brasileiros, em sua grande maioria, desconhecem o importante papel que os alimentos podem ter sobre a saúde ou a sua recuperação em caso de doença. Os conselhos médicos sobre alimentação restringem-se, quase sempre, a proibições de alguns ítens alimentares como, por exemplo, restrição ao sal, diminuição da ingesta de gorduras, de açúcar, álcool e café, desconhecendo ou não enfatizando as propriedades terapêuticas dos compostos fitoquímicos presentes nos alimentos, sua capacidade de prevenir e combater os mecanismos que favorecem o desenvolvimento das doenças. Todos os animais, inclusive os homens, regulam a ingestão de alimentos por meio das cinco sensações gustativas: doce, amargo, azedo, salgado e gosto da carne. O doce indica principalmente a presença de alimentos altamente energéticos; o salgado garante o reconhecimento e o equilíbrio de eletrólitos no corpo; o amargo e o azedo alertam para a presença de substâncias potencialmente tóxicas ou venenosas e o sabor da carne reconhece os aminoácidos das proteínas. O conteúdo de minerais e vitaminas presentes nos legumes e cereais sofre profunda influência dos micronutrientes e do pH do solo, uma vez que existem tipos diferentes de solo (argilosos, arenosos, terra preta, terra roxa, entre outros), com distintos conteúdos minerais, com variações de pH e com a consequente diferença na biodisponibilidade dos nutrientes. Alguns médicos consideram que uma alimentação equilibrada e variada é suficiente para evitar a carência nutricional; outros consideram difícil a obtenção das quantidades adequadas, exclusivamente através da alimentação.
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A carência moderada de vitaminas, aminoácidos e minerais explicaria um grande número sinais e sintomas (astenia, ansiedade, insônia, alergias, pseudo-depressões), que não precisariam ser tratados por terapêuticas mais agressivas além dos suplementos nutricionais. Em 1968, o Departamento de Agricultura dos EUA publicou extenso trabalho demonstrando que 20% da população americana estava ingerindo dietas nutricionalmente pobres. O brasileiro alimenta-se mal, concluiu a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), após pesquisa com 2.420 pessoas, em todas as regiões do país. Entre os importantes déficits nutricionais observados, destacaram-se o baixo consumo de cálcio (400mg ao invés dos recomendáveis 1.200mg/dia), as baixas taxas de vitamina D constatadas (ingesta de 1,4mg/dia ao invés das 10mg recomedáveis), e da vitamina E (média de 2,4mg/dia ao invés de 10mg/dia). A superalimentação habitual de antigamente, mantinha os indivíduos longe do risco carencial ou subcarencial. Todos os regimes hipocalóricos, hipolipídicos ou hipoglicídicos aumentam o risco de carência das vitaminas A, C, E e dos minerais magnésio, cálcio, potássio, zinco e ferro; dos ácidos graxos essenciais e de centena de outros compostos fitoquimicos importantes. Os vegetarianos apresentam, frequentemente, carência de ferro, de alguns aminoácidos (lisina, cisteína, triptofano), de vitamina B12 e de folatos; o consumo excessivo de fitatos (cereais não refinados) induz à carência de minerais. Os macronutrientes, presentes em maior quantidade nos alimentos e em nosso corpo, foram mais e melhor estudados quanto a sua química e as suas funções. O estudo das ações dos micronutrientes é bem mais recente. Sua presença e suas ações só foram evidenciadas após os notáveis avanços dos métodos de
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análises bioquímicas. Embora presentes em micro quantidades, nem por isso apresentam menor importância. A década de 50 possibilitou extraordinários avanços à Medicina com o surgimento de novas e revolucionárias teorias. Em 1956, Denham Harman formulou a teoria dos Radicais Livres (RLs), explicando o envelhecimento humano e o surgimento e agravação de algumas doenças em consequência da ação destes. RLs são elementos que surgem no organismo como um subproduto da respiração celular, quando o oxigênio é transformado em energia no interior da mitocôndria (5% do oxigênio origina espécies reativas, os temidos RLs). Assim como ocorreu com outros pioneiros, suas ideias foram recebidas com ceticismo e levou tempo para que obtivessem o reconhecimento, que veio a ocorrer na década de 70, quando sua teoria foi novamente divulgada pela American Academy of Medical Preventics. Graças a seus trabalhos (6 livros e mais de 150 artigos) foi indicado duas vezes para o prêmio Nobel de Medicina. Harman é professor de Medicina e Bioquímica na Universidade de Nebraska (USA). A terapêutica através dos nutrientes teve como pioneiros: os canadenses Hoffer e Osmond, com artigo publicado em 1962, na prestigiada revista inglesa Lancet; Linus Pauling, duas vezes prêmio Nobel, além de 50 títulos de Dr. “Honoris Causa”, e autor de 600 artigos científicos, vários livros e pesquisas nas áreas de Química, Medicina, Bioquímica e Biologia Molecular; Carl Pfeiffer (Brain Bio Center, Princeton) com suas obras na área da psiquiatria; Michael Lesser, fundador da Sociedade de Medicina Ortomolecular da Califórnia (1975); Roy Walford, autor das obras “A vida mais longa” e “Um regime de vida longa”; Patrick Quillin, fundador da revista Nutrition Times (EUA) e autor do livro “Healing Nutrients”; Denham Harman (Universidade de Nebraska ), criador da teoria dos RLs; o bioquímico Richard Passwater, autor do conceito de super-
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nutrição e de vários livros; Roger J. Williams, professor da Universidade do Texas, criador do conceito de individualidade bioquímica e pai da moderna vitaminoterapia; Emanuel Cheraskin, médico e dentista, idealizador do conceito de ingestão diária ótima; Elmer Cranton, autor do livro “Trace Elements, Hair Analysis and Nutrition”; e o médico e nutricionista Jeffrey Bland, professor da Universidade de Tacoma (USA) e autor de vários livros. Por iniciativa do Food and Nutrition Board, no ano de 1941 , foram criadas as RDAs ( Recomended Dietary Allowances) , doses diárias recomendadas, tabelas para orientar a ingestão e suplementação de nutrientes nos EUA. A Academia Nacional de Ciências (EUA), reconhecendo que a carência de nutrientes estava associada a doenças em populações mal nutridas, editou as primeiras RDA´s, que são, portanto, recomendações de ingestão de nutrientes e tem por finalidade evitar a desnutrição e doenças a ela relacionadas. A partir dos anos 80, muitos médicos têm aumentado as doses de nutrientes buscando explorar as propriedades terapêuticas destes nas doenças crônicas, doenças cardiovasculares, osteoporose, alguns tipos de câncer e numerosas outras patologias. Hoje a utilização de suplementos (aminoácidos , vitaminas e minerais) a nível mundial é uma realidade , chegando, em alguns países, a serem consumidos por cerca de 40% da população. Foi Pauling quem popularizou o termo ortomolecular, no artigo - “Ortomolecular Psychiatry” – (revista Science 1968). Nele referia-se aos trabalhos de Hoffer - com pacientes psiquiátricos graves, afetados por delírios e alucinações - que utilizavam suplementação proteica e altas doses de vitamina C e de vitamina B3 (niacina). Fundou o Linus Pauling Institute of Science of Medicine, em Palo Alto (Califórnia), onde trabalhou até o final dos seus dias, em 1994. Publicou seu último livro em
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1986, sob o título de “Como Viver Mais e Melhor”. Foi ele, também, quem elaborou o conceito de doença da molécula, que, no organismo, pode ser controlada através da modificação na concentração dos nutrientes essenciais (vitaminas, minerais e aminoácidos). A introdução da terapêutica através dos nutrientes (ortomolecular) no Brasil deve-se, entre outros, ao professor Dr. Helion Póvoa Filho, famoso médico e pesquisador carioca e ao Dr. Etelvino Bechara, bioquímico de renome internacional e professor da USP. Em 1976, Póvoa tomou conhecimento da teoria e da terapêutica ortomolecular. Passou a dedicar-se ao tema, proferir palestras e, posteriormente, publicar trabalhos (mais de 400 no Brasil e no exterior). Desenvolveu várias técnicas laboratoriais para a determinação de RLs. Póvoa, é professor convidado de diversas universidades e presidente de honra de várias sociedades científicas. Outros nomes, como os doutores Toufik Mattar, José de Felippe Jr., Efrain Olszewer, Guilherme Deucher, Virgínia Junqueira e Juarez Callegaro foram importantes para a divulgação e a aceitação das novas ideias sobre nutrição e RLs. O desenvolvimento da nutrigenética e da nutrigenômica, ocorreu rapidamente a partir de 2001, logo após a finalização do projeto Genoma, que mapeou o DNA humano. Ambas têm como objetivo estudar a interação entre os alimentos e os genes humanos. A nutrigenética estuda como os genes podem afetar a forma pela qual o corpo aproveita o alimento. Por sua vez, a nutrigenômica, investiga como os nutrientes influenciam o comportamento dos genes. Acredita-se que dentro de poucos anos, cinco anos talvez, estejam à disposição, regimes de alimentação elaborados para cada pessoa, escolhidos a partir do perfil genético. Pesquisadores da Universidade de Ohio (EUA), estudam a
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relação entre os alimentos e o câncer. Realizaram experimentos com extratos secos de frutas vermelhas e verificaram sua eficácia no tratamento de alguns tipos de câncer, pela ação dos princípios ativos fitoquímicos agindo sobre uma centena de genes envolvidos no desenvolvimento do tumor (Garry Stone in Cancer Research). Crianças brasileiras entre 2 e 6 anos comem mais do que deveriam, mas, mesmo assim, carecem de nutrientes essenciais como, vitaminas, minerais e fibras, segundo trabalho da NutriBrasil Infância (2007), realizado com três mil cento e onze crianças matriculadas em creches e pré-escolas da rede pública e particular de 9 estados brasileiros. O estudo mostrou uma realidade inquietante pois as crianças brasileiras costumam deixar no prato parte das frutas, legumes e verduras oferecidas, dando preferência a alimentos como arroz, feijão, macarrão e biscoitos, que não oferecem a totalidade dos nutrientes necessários. A principal carência observada foi a de cálcio, encontrado em quantidades reduzidas em 57% das crianças. Outro problema alimentar detectado foi a baixa ingesta de fibras alimentares, que afeta 95% das crianças. Trabalhos realizados na USP (SP), sob a coordenação do professor Dr. Fernando Moreno, mostraram que o princípio ativo do espinafre, o geranilgeraniol, é capaz de impedir a ação de genes importantes para a proliferação de células tumorais. Também é estudada a ação dos princípios ativos do chá verde contra os tumores de mama e, dos princípios ativos da soja, capazes de interferir no funcionamento de cento e vinte e três genes envolvidos no tumor de próstata.
Capítulo 2 - MINERAIS “Se um cientista diz que algo é possível é provável que esteja correto; mas se ele diz que algo é impossível, muito provavelmente ele estará errado.” Arthur Clark
O corpo humano necessita de, pelo menos, dezessete minerais para suas funções, como o cálcio - o mais abundante (1000-1500g), o enxofre (175g), o magnésio (350g), o fósforo (800g) e elementos-traço (necessários em micro quantidades), como o molibdênio, o vanádio e outros. Os minerais presentes em grande quantidade são conhecidos como macroelementos e os presentes em pequena quantidade, como microelementos. Proteínas, gorduras e carboidratos não serão transformados em energia, se os minerais não estiverem presentes como catalisadores. Sem vitaminas e minerais específicos, a energia não pode ser extraída dos alimentos. As reações bioquímicas no organismo são catalisadas por um ou dois minerais, que se ligam ao centro ativo das enzimas. Os minerais bioativadores de enzimas são: ferro, magnésio, manganês, cálcio, zinco, cobre, cobalto, molibdênio, vanádio e selênio. Mesmo num país relativamente bem alimentado, como os EUA, observam-se carências minerais importantes, quando considerada a nutrição a nível intracelular: carência de magnésio em 75% da população; de ferro, em 60%; de zinco, em 40% e de cálcio, em 68%. Mineralogramas analisados em Pelotas (RS), no ano de 1998, mostraram resultados semelhantes: carência de magnésio em 78%; de ferro, em 40%; de cálcio, em 70%; de selênio, em 90% e de cromo em 92%.
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MINERAIS
A deficiência mineral afeta os sistemas biológicos: o sistema imune depende de cobre, zinco, manganês, ferro e selênio; a produção de energia, de magnésio, fósforo e manganês; a produção de hormônios, de ferro, manganês, zinco, cobre, magnésio e potássio; a produção dos elementos figurados do sangue, de cobre, zinco e ferro; os sistemas enzimáticos, de cobre, zinco, manganês, magnésio e ferro; por fim, a reprodução humana depende de fósforo, cobre, potássio, manganês, zinco e magnésio. Liebig (1920) foi o autor da Lei do Mínimo - o conceito número um da nutrição mineral. Diz a Lei que, num determinado sistema biológico, a velocidade de um sistema enzimático que dependa de dois ou mais minerais será determinada pela concentração do mineral presente em menor quantidade. Quando se dosam níveis minerais no exame de sangue, o que se está avaliando é o mineral que está sendo transportado de um lugar para outro no organismo. Quando o exame é feito na urina, o que está sendo dosado é aquilo que foi transportado (não aproveitado e excretado). Já no exame do cabelo, o que é dosado é o estoque desse mineral, ou seja, a parte que está armazenada e que deverá ser usada em condições de necessidade. Os minerais disponíveis para suplementação podem ser encontrados na forma inorgânica (carbonatos, sulfatos), na forma orgânica (citratos, aspartatos, gluconatos) ou quelados. Os inorgânicos são menos absorvidos, devendo ser ingeridos em maior quantidade. Os minerais aminoácidos quelados tiveram sua estrutura química definida em 1894, pelo alemão Warner. O termo quelado provém do grego “chel” (garra), ligado ao metal. O laboratório Albion (Utah, EUA) foi o pioneiro na
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pesquisa e produção de minerais quelados para uso humano. Um mineral aminoácido quelado é definido como o produto resultante da reação de um íon metálico polivalente com aminoácidos, tendo uma razão molar de 1:1, 1:2 ou 1:3, formando ligações covalentes e iônicas entre eles. Para absorção efetiva do quelado intacto pelas células da mucosa intestinal, este deve ter um peso molecular menor do que 800 daltons. São vantagens dos minerais aminoácidos quelados em relação aos minerais inorgânicos: apresentarem altas taxas de absorção; serem praticamente isentos de efeitos colaterais; independerem da quantidade de ácido clorídrico para sua absorção; serem resistentes à ação de substâncias sequestradoras da dieta; não competirem entre si ou com alimentos pelos sítios de absorção no intestino e também não interagirem com nenhum medicamento. Os minerais quelados com aminoácidos são ideais para fins nutricionais por não serem liberados no estômago, não serem ionizáveis e por serem rapidamente absorvidos no intestino delgado. Já os sais inorgânicos não são absorvidos em taxas maiores do que 5 a 30%. Sua absorção também decai na presença de alimentos. O Dr. Hans Nieper (Hannover) preconiza o uso preferencial de minerais ligados a orotatos, pois acredita que esta forma de quelado é mais eficaz, devido a sua grande afinidade pela mitocôndria. Os minerais quelados “taste-free” (sem sabor) permitem que sejam feitas preparações farmacêuticas na forma de suspensões e xaropes. Estão indicados nos casos em que a apresentação em cápsula não é a mais adequada (pediatria, geriatria, intolerância às cápsulas, estreitamento esofágico e alterações neurológicas da deglutição). Podem ser associados a
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vitaminas e a outros produtos farmacêuticos, ou simplesmente ser ingeridos sob forma de pó (diretamente).
Boro Foi identificado como novo elemento quimico em 1824 pelo sueco Jöns Berzelius. Graças ao trabalho dos Drs. Curtis Hunt e Forrest Nielsen, do USDA Human Nutrition Research Center (Dakota do Norte-EUA), o boro foi reconhecido como mineral importante em nutrição humana (1981). Nielsen demonstrou que mulheres menopauseadas tiveram uma considerável redução na excreção de cálcio, magnésio e fósforo pela urina depois da administração de 3mg/dia de boro. Pensavam que este poderia elevar o nível de estrógeno no sangue das mulheres na menopausa. A carência de boro aumenta a excreção urinária de cálcio e magnésio (em até 44%), reduzindo as concentrações séricas de 17-beta-estradiol e testosterona. O boro é necessário ao metabolismo dos hormônios tireoidianos e, em quantidades mínimas, à absorção e assimilação do cálcio. Exerce, ainda, ação sobre a permeabilidade das membranas celulares. Sob ação dos raios UV o 7-dehidrocolesterol (próvitamina D) presente na pele é transformado em colecalciferol (vitamina D3). No fígado, é convertido enzimaticamente em 25-OH-colecalciferol, 5 vezes mais potente que a vitamina D3, e no rim, sob a ação de outra enzima, em 1-25OH-colecalciferol (ou calcitriol), 10 vezes mais ativo que a vitamina D3. O boro é fundamental para esta conversão, e a do estrogênio (muitas mulheres em menopausa apresentam altos níveis de 25-OH-vitamina D3 e baixos níveis de 1-25-OHvitamina D3).
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O boro fornece grupos hidroxilas, essenciais para a síntese das formas ativas de alguns hormônios esteroides, especialmente os hormônios relacionados ao metabolismo ósseo e ao crescimento muscular. Um nível adequado de boro é necessário para a produção de testosterona e 17-beta-estradiol (forma mais ativa de estrogênio). Níveis baixos de boro podem ocorrer devido à baixa ingesta ou à má-absorção, e resultam em baixa deposição de cálcio nos ossos e perda da elasticidade da pele. O boro presente no cabelo apresenta estreita correlação com os níveis sistêmicos. O boro antagoniza a vitamina B2; por isso, quando os níveis de boro estiverem elevados, uma suplementação de vitamina B2 deve ser providenciada. O metabolismo do boro está relacionado de forma indireta ao metabolismo do cálcio, magnésio e fósforo. Em doses altas parece exercer ação supressora sobre a atividade da paratireoide. É necessário à fisiologia da membrana celular. O boro desempenha importante papel na deposição de cálcio na matriz óssea, especialmente na coluna vertebral (a deposição de cálcio nesta região é bastante efetiva sob a ação hormonal e o boro parece possuir uma ação “estrogênio like”). A deposição de cálcio no fêmur não está ligada à ação hormonal, mas sim à ação da vitamina D. Nesta região a ação do boro é menos efetiva do que na coluna cervical. Em mulheres, a carência de boro está correlacionada com um aumento da perda de cálcio pela urina e também com uma diminuição do nível do estrogênio. O cabelo é ligeiramente sensível à contaminação externa por boro.
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Após constatar que pessoas com artrite reumatoide possuíam baixas concentrações de boro nos ossos e no líquido sinovial, o Dr. R. E. Newnham (Nova Zelândia) administrou a seus pacientes suplementos de boro (6mg/24 hs), revertendo os sintomas em 80% deles. O Hospital Real de Melbourne (Austrália), em trabalho recente, confirmou os achados do Dr. Newnham. Outros trabalhos mostram que a incidência da doença atinge 20 a 70% da população, nas regiões onde a taxa de ingestão de boro está abaixo de 1mg/dia; naquelas onde a ingesta está entre 35mg/dia, a incidência oscila ao redor de 10%. O excesso de boro costuma desencadear náuseas, vômitos, diarreia e letargia. As intoxicações pelo boro não costumam estar relacionadas aos suplementos minerais, mas sim a ingesta do boro a partir do ácido bórico, usado como integrante de formulações de pastas baraticidas, para o extermínio das baratas domésticas. São fontes de boro: o feijão, os legumes de folhas verdes, as frutas, as amêndoas, o suco de uva e o vinho. Uma garrafa de vinho tem tanto boro quanto as reservas do corpo humano. Outras fontes de boro são os antiácidos, os descongestionantes, alguns produtos de higiene dental e alguns laxativos.Os níveis de boro contidos nos alimentos dependem, fundamentalmente, da quantidade de boro assimilável presente no solo. A dose diária ótima é de 0,04mg/kg de peso corporal.
Cálcio O cálcio foi descoberto em 1808 pelo químico inglês Humphry Davy. É o mineral mais abundante no corpo humano - cerca de 1,6% do seu peso - (1000-1500g de cálcio). A forma de cálcio encontrada no leite é o lactato; o cálcio dos alimentos
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é o carbonato; o dos ossos e dos dentes, é o fosfato de cálcio; nos legumes, encontra-se o gluconato de cálcio. O citrato de cálcio possui 24% de cálcio e 76% de citrato; o lactato de cálcio, 13% de cálcio; o gluconato, 9% de cálcio; o fosfato de cálcio, 29%; o carbonato de cálcio 40%; o ascorbato de cálcio, 10%; o aspartato, 20%; o orotato, 20%; o pantotenato, 45%; o trifosfato, 39%, e o cálcio glicina, 20%. A presença de sais biliares, gorduras e substâncias ácidas (vitamina C, por exemplo) ajudam na absorção do cálcio. Por outro lado, stress físico ou emocional, o sedentarismo, a alta ingestão de fósforo e as dietas hiperproteicas prejudicam sua absorção. Pelos padrões tradicionais de avaliação do cálcio sérico, as deficiências encontradas estão na ordem de 30%; a nível intracelular, é significativamente maior (68%). Pelo menos 30% das mulheres acima de cinquenta e cinco anos e dos homens acima de sessenta anos têm deficiência de cálcio suficiente para justificar fraturas patológicas. Nos EUA 1,3 milhões de fraturas/ano são atribuídas à deficiência de cálcio, a um custo de US$3,8 bilhões. Uma deficiência média de cálcio não é bem diagnosticada pela avaliação no sangue, uma vez que o organismo tende a manter os níveis sanguíneos de cálcio, mesmo tendo que retirá-lo da matriz óssea. A dieta americana média contém 700mg de cálcio; no Brasil, os níveis médios são ainda menores. As mulheres deveriam fazer suplementação de cálcio e magnésio após os 30 anos, para atingir o pico máximo de massa óssea evitando, assim, a osteoporose, que costuma ter início entre os 45/55 anos. Graças à magnitude da falta de cálcio entre
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as mulheres a osteoporose tem sido comparada a uma “epidemia silenciosa”. Outros elementos essenciais à formação do osso são zinco, manganês, cobre, ferro, boro, vitamina D e vitamina K. O cálcio é mais eficaz quando ingerido em doses fracionadas, durante o dia e antes de dormir. Quando administrado à noite, ajuda a atingir o sono profundo. A perda de cálcio aumenta na menopausa; os estrógenos, embora não produzam ossos novos, impedem uma descalcificação acelerada. O boro e a vitamina D também contribuem para deter a desmineralização óssea. O cálcio depositado nos ossos, 1% no extracelular e 0,1% no citosol, sob a forma de sais de cálcio, é fundamental para a manutenção da integridade do esqueleto; no extracelular e no citosol desempenha papel essencial em uma variedade de processos bioquímicos celulares. O cálcio extracelular circula no plasma sob 3 formas, a saber: 50% sob a forma ionizada, fisiologicamente a mais importante; 40% ligado às proteínas e 10% sob a forma de “complexos” (principalmente em bicarbonato, citrato e fosfato). Segundo Jefrey Bland, baixos níveis de cálcio no cabelo indicam reservas corporais diminuídas, habitualmente não evidenciáveis através das dosagens plasmáticas, devido aos mecanismos reguladores mediados pelo PTH, calcitriol e cálcio iônico (dentre outros fatores), que concorrem para a manutenção dos níveis fisiológicos circulantes. Cabelos grisalhos apresentam baixos níveis de cálcio em relação aos cabelos não grisalhos. A necessidade diária de cálcio está em torno de 1000mg (obs: 1ml de leite fornece cerca de 1mg de cálcio). Sua absorção
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é melhor em pH ácido e pode ser melhorada em presença de alimentos ricos nos aminoácidos lisina, arginina e histidina. A elevação do pH decorrente da produção diminuída de HCl no idoso é um dos fatores que concorrem para o balanço negativo do cálcio na terceira idade. Este fenômeno tem início quando a ingesta é inferior a 380mg/dia, estimulando os mecanismos responsáveis pela remoção do cálcio ósseo, para a manutenção dos níveis fisiológicos circulantes deste mineral. Osteoporose é o resultado final deste processo. O cálcio removido dos ossos tende a depositar-se nos tecidos (má distribuição), podendo ocorrer a formação de cálculos renais. A Inglaterra fortifica sua farinha de trigo com a adição de carbonato de cálcio (235 a 390mg/100g) para garantir adequada formação de massa óssea a sua população. São sintomas da carência de cálcio: câimbra, insônia, ansiedade, irritabilidade, unhas quebradiças, excitabilidade neuromuscular exacerbada, eczema, retração da linha gengival e doença periodontal (secundária à osteoporose maxilar). A má distribuição do mineral resulta na deposição em partes moles (principalmente tecido conjuntivo). A hipocalcemia grave (cálcio sérico inferior a 7mg/100ml) pode causar laringoespasmo e convulsões generalizadas. A história clínica do paciente poderá mostrar hábitos de vida e sintomas que revelam a carência de cálcio. O desequilíbrio entre a ingesta de cálcio e magnésio (adequada na proporção de 2:1), a ingesta excessiva de cafeína (café, chá preto e chimarrão), álcool, fosfatos, bebidas tipo “cola”, a hipocloridria (uso continuado de inibidores da bomba de prótons e antagonistas H2), o sedentarismo, a falta de exposição à luz solar (deficiência de vitamina D), concorrem para uma deficiência nas reservas corporais totais de cálcio. As carnes vermelhas contêm cálcio e magnésio na proporção de 20:1 (o ideal é 2:1). Esta desproporção favorece o deslocamento do
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cálcio e a consequente deposição em partes mole (e/ou excreção renal). A reposição do cálcio deve se fazer acompanhar de proporções adequadas de magnésio e zinco. O cálcio alto no mineralograma (falsamente elevado) também pode ser devido à contaminação externa, especialmente através de “permanente” ou tratamentos capilares. Está indicado dosar o nível de cálcio excretado na urina de 24 horas. Níveis baixos de cálcio e magnésio podem estar relacionados ao desenvolvimento da hipertensão na gravidez e na pré-eclâmpsia. Estudos observaram uma correlação inversa entre ingesta de cálcio e incidência de hipertensão. O cálcio baixo no sangue ou no mineralograma sugere ingesta insuficiente (necessidade diária igual a 1g), má-absorção do mineral (requer pH ácido) ou deslocamento por alta concentração de fósforo; osteopenia, osteoporose, hipocloridria (por stress, com deficiência de zinco e/ou vitamina B6), embora subclínicos, podem estar associados. A absorção do cálcio inorgânico (o mais utilizado é o carbonato de cálcio) depende do pH do estômago e de sua ionização no intestino. Estudos feitos em mulheres pós-menopausa mostraram que 40% delas apresentavam severa deficiência na secreção de HCl. Pessoas com hipocloridria conseguem absorver somente 4 a 7% do carbonato de cálcio ingerido, enquanto que, em condições normais, a absorção varia de 11 a 22%. Os astronautas, no espaço, perdem muito cálcio diariamente, pela falta de atividade física e de gravidade. Doentes acamados por longos períodos perdem massa óssea pela inatividade. A fixação do cálcio no osso depende (além de nutrientes) de exercício, para que o efeito piezo-elétrico ocorra.
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Situações especiais como carência de cálcio e gravidez, por exemplo, podem aumentar em muito a taxa de absorção intestinal do cálcio (a gravidez, em até 50%). A sudorese profusa pode gerar perdas de cálcio de até 1000mg/dia (exercícios extenuantes exigem suplementação de cálcio). A suplementação diária de 1000mg de cálcio reduz a incidência de fraturas vertebrais em até 50% e diminui o risco de osteoporose na menopausa. Ingesta de cálcio superior a 2g/dia, na ausência de magnésio e vitamina B6, pode causar hipercalcemia e a formação de cálculos renais. A ingestão diária de leite (média brasileira de 300ml) fornece cerca de 30% das necessidades diárias de cálcio para uma pessoa normal (1ml de leite contém aproximadamente 1mg de cálcio). O cálcio é melhor absorvido quando ingerido à noite. O hábito de tomar leite à noite, antes de dormir, garante excelente absorção e uma boa indução ao sono fisiológico. A casca de ovo tem a biodisponibilidade de cálcio melhorada se for preparada com vinagre ou suco de limão (o pH ácido favorece a absorção do cálcio), no entanto, devido à contaminação por coliformes fecais, não está indicada para uso humano. A simples lavagem com água não remove as bactérias, fazendo-se necessária sua esterilização para poder ser consumida. São elementos que concorrem para a osteoporose: déficit nutricional (especialmente de cálcio), excesso de bebidas gaseificadas (por seu alto teor de fósforo), sedentarismo, excesso de vitamina D, pouca exposição ao sol, deficiência de estrogênio, excesso de álcool e/ou cafeína e intoxicação por metais pesados. Um dos primeiros ossos a sofrer descalcificação é o osso alveolar (arcada dentária), o que
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contribui para a instalação da doença periodontal observada em até 8% da população. A dose diária ótima de cálcio é de 12mg/kg de peso corporal. São fontes de cálcio: leites e derivados (400mg a 800mg/100g), salmão, sardinha, amendoim, feijão, sementes de girassol e vegetais verdes folhosos (brócolis, couve, repolho). Uma das tomadas diárias de cálcio deve ser feita antes de dormir, para contrabalançar a grande perda que ocorre durante o sono devido a menor atividade do corpo.
Cobalto O cobalto foi descoberto em 1737 pelo químico George Brandt, quando analisava um mineral que denominou “kobold”, que significa espírito. Em 1948, foi reconhecido como essencial à nutrição humana. Já no antigo Egito (2600 a.C.), empregavam-se os sais de cobalto no preparo de cerâmicas, como pigmentos de cor azul. Atualmente, ainda é utilizado em pigmentos cerâmicos e como pigmento azul para tintas. Sua concentração no organismo é extremamente baixa, e localizado fundamentalmente no fígado. Sua principal função no organismo é fazer parte do centro ativo da vitamina B12 (o cobalto corresponde a 4% da composição desta vitamina) e da coenzima B12, importantes na função e na vitalidade dos glóbulos vermelhos (estimula a eritropoiese e favorece a incorporação de ferro e protoporfirina). Também e considerado um dos minerais que ativam as funções do sistema imunológico (os demais são cobre, ferro, manganês, selênio e zinco). Em 1966, Quebec observou uma estranha doença acometer seus “pesados” tomadores de cerveja: a miocardiopatia do bebedor de cerveja, decorrente da interação
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entre o cobalto orgânico e o etanol. Todos eles tomavam entre 6 e 30 cervejas por dia. A análise da cerveja canadense mostrou 1,2 ppm de cobalto, o qual era empregado como estabilizador de espuma, uma vez que os detergentes estavam diminuindo seu “colarinho”. O cobalto é ingerido sob forma orgânica (vitamina B12), forma quelada (cobalto quelado) ou forma inorgânica (cloreto de cobalto), sendo todas pouco absorvidas por via oral. A forma melhor absorvida é a quelada, contendo 0,2% de cobalto. Os seres humanos são incapazes de converter o cobalto inorgânico em vitamina B12. A taxa de cobalto contida na dieta varia muito, dependendo do tipo de alimento, área geográfica e tipo de solo. Vegetarianos têm níveis de cobalto baixos. Sinais da intoxicação aguda por cobalto incluem distúrbios gastrointestinais, dor abdominal e vômitos. Também são observadas dermatites, alterações renais, de tireoide, respiratórias e insuficiência cardíaca congestiva. As principais fontes de intoxicação por cobalto são: solos e águas ricas em cobalto, mineração, operações e lixamento de pedras e metais, manuseio de tintas, agentes para lavagem a seco, esmaltes e eletrogalvanoplastias. Baixos níveis de cobalto no sangue ou no mineralograma sugerem deficiências na ingesta ou má absorção; pode haver diminuição da função imune e tendência à depressão. Níveis elevados são raros. O nível de cobalto no cabelo é fidedigno para monitorar os estoques do corpo, não estando sujeito à contaminação externa. São sintomas da deficiência de cobalto: fadiga crônica, falta de resistência física, anemia megaloblástica e parestesias. O cobalto é pobremente absorvido no intestino, o que torna interessante a suplementação via sublingual.
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As principais fontes de cobalto são as proteínas de origem animal (carne, rins, fígado, ostras, mexilhões e leite). Os vegetarianos têm maior probabilidade de desenvolver quadros carenciais de cobalto. O cobalto é parte integrante da molécula da vitamina B12 (cianoCOBALamina). Podem ser utilizados sais inorgânicos (como o cloreto de cobalto), porém sua absorção é baixíssima (1%). A dose diária ótima de cobalto é 1mcg/kg de peso corporal.
Cobre Foi um dos primeiros metais que o homem conheceu (5000 a.C.). A associação do cobre ao estanho marcou o nascimento da idade do bronze. É um componente essencial em dezenas de sistemas enzimáticos responsáveis pela produção de energia, ação anti-RLs, integridade do colágeno e formação da melanina e elastina. Desde a década de 20, é conhecido o papel do cobre na resposta às anemias ferroprivas (80% dessas apresentam, concomitantemente, deficiência de cobre e zinco). O cobre participa do metabolismo do ferro e da síntese da hemoglobina, sendo necessário à incorporação do ferro ao grupamento heme. Encanamentos de cobre para água quente podem intoxicar seus moradores, por liberarem continuamente pequenas quantidades do metal, especialmente em cidades ou zonas cuja água tiver pH ácido. Os quadros de pré- intoxicação cursam com periódicas indisposições gastrointestinais. A primeira água da manhã, por permanecer mais tempo em contato com os canos, apresenta os maiores teores. Baixos níveis de cobre no sangue ou no mineralograma sugerem deficiência na ingesta, má absorção ou deslocamento pelo zinco, molibdênio ou enxofre. Dietas exclusivamente lácteas e/ou diarreias frequentes são causas possíveis de
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carência de cobre. Clinicamente, os baixos níveis de cobre estão associados aos distúrbios do metabolismo do ferro, anemia, retardo no crescimento, carência proteica, lesões cardiovasculares, aterosclerose, síntese fosfolipídica imperfeita, dermatoses, diminuição da produção de melanina (levando à pigmentação anormal da pele ou à perda da cor do cabelo), desmineralização, fraturas e deformações nos ossos, hipercolesterolemia, alterações no metabolismo da tireoide, dores articulares e baixa imunidade. Este mineral costuma encontrar-se diminuído nas colagenoses e esta diminuição pode também favorecer à ruptura da túnica elástica dos vasos sanguíneos. O excesso de molibdênio torna o cobre indisponível, ao formar complexos Cu/Mo. O cobre é um cofator essencial à atividade de uma série de enzimas, incluindo citocromo C oxidase, lisil oxidase, ferroxidase, SOD, catalase, tirosinase, MAO, ácido ascórbico oxidase, uricase, dopamina hidroxilase, ureidosuccinase e descarboxilase oxaloacética. Também está envolvido na formação das catecolaminas e na conversão do triptofano em serotonina. Parece estar envolvido na absorção e transporte de ferro e na síntese da hemoglobina; sua interação com o ferro é essencial para a eritropoese. Ainda, concorre para a manutenção da mielina, do colágeno e da elastina, assim como para a formação dos ossos. Os níveis de cobre e, particularmente, da proteína que o carrega - a ceruplasmina - são elevados pelos estrógenos. Seus níveis aumentam durante a gravidez. Os níveis altos de cobre podem ser fator de depressão pósparto ou de psicose pós-parto.
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As mulheres que utilizam D.I.U. de cobre absorvem 3050mcg/dia, quase 1% da quantidade absorvida através da dieta. Pessoas que aderiram à moda dos braceletes de cobre referiram melhora dos sintomas de artrite: o bracelete, sob a ação do suor, libera traços de cobre continuamente, que é absorvido pela pele. Os gluconatos e os aspartatos são melhor absorvidos do que os sais inorgânicos, porém a melhor absorção é a dos quelados. O cobre quelado com glicina é de 3 a 6 vezes melhor assimilado do que os sais inorgânicos de cobre; o magnésio quelado, cerca de 3 vezes melhor; o ferro quelado, 5 vezes; o zinco, cerca de 3 vezes. O colesterol é transformado em ácidos biliares pela metaloenzima hepática colesterol-7-alfa-hidroxilase, cobre dependente; a carência deste mineral concorre para a hipercolesterolemia. O cobre e o zinco são necessários para a produção de TSH. O cobre (assim como o zinco) é necessário para o metabolismo periférico da tiroxina (T4) em triiodotironina (T3); logo, desequilíbrios na relação cobre/zinco poderão ser um fator causal de anormalidades na produção e utilização do hormônio da glândula tireoide. A deficiência de cobre pode favorecer o desenvolvimento de aneurismas, uma vez que diminui a atividade da enzima lisiloxidase, responsável pelo “cross-linking” das fibras de colágeno e elastina das paredes dos vasos. A ingesta de doses elevadas de cobre (acima de 5mg/dia), sem a devida reposição de zinco (na proporção de 1:5 a 1:15), diminui a ação da SOD citoplasmática, cobre e zinco dependente, pois o excesso daquele reduz a absorção deste (e vice-versa). O gosto de metal na boca pode ser indicador de excesso de cobre, embora muitos outros metais produzam o mesmo
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sintoma. O excesso de cobre pode ser causa de hiperatividade infantil (outras causas são: déficit de vitamina B3, vitamina B6, taurina e magnésio, ou, ainda, excesso de fósforo). A forma em que um mineral se apresenta pode determinar sua utilização médica ou sua toxidez. O arsenito de cobre é tóxico e o sulfato de cobre não é apropriado para uso humano. O cobre glicina é muito bem tolerado. A associação do mineral a um aminoácido visa a aumentar o tropismo do mineral por um determinado órgão: o aspartato tem tropismo pelo coração; a arginina, pelos orgãos reprodutores; a histidina, pelo tecido nervoso; a lisina, pelas articulações e o orotato, pelas mitocôndrias. A cardiopatia isquêmica é mais comum em pacientes com carência de cobre. O miocárdio sofre intensa peroxidação, quando há insuficiente atividade da SOD (cobre/zinco dependente). Pode-se usar o cobre como indicador da atividade da cobre/zinco SOD, a qual contém 60% do cobre eritrocitário. A deficiência de cobre pode precipitar quadros de enfisema pulmonar, devido à diminuição da atividade da SOD, e por deficiência de alfa-1-antitripsina (cobre dependente) com a consequente diminuição da elasticidade dos alvéolos. A administração de cobre, zinco, manganês e coenzima Q10 parece atuar positivamente nos quadros iniciais dessa patologia. Embora as amostras de cabelos enviadas para análise (mineralograma) sofram lavagens nos laboratórios especializados, a remoção do cobre exógeno a ele aderido não é efetiva, interferindo, assim, com os resultados. O zinco aderido ao cabelo é um pouco melhor removido, embora ainda persistam níveis suficientes para evidenciar a contaminação externa. Uma fonte importante de contaminação são os encanamentos de cobre; ainda, “permanentes”, tinturas para o cabelo e algicidas
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(água de piscina). É trinta vezes mais fácil ocorrer contaminação externa pelo cobre do que pelo zinco. A dose diária ideal é de 0,014mg/kg de peso corporal. São fontes de cobre: fígado (8mg/100g), rins, coração, carnes vermelhas, frutos do mar (ostras possuem altas concentrações), frutas, trigo, soja, levedo de cerveja, cacau, feijão e ervilha. O leite é pobre em cobre (0,2mg/100ml).
Cromo Esse mineral foi isolado pelo químico francês LouisNicolas Vauquelin, em 1797, que o denominou cromo, que provém da palavra grega ¨chroma¨, que significa cor, devido às cores variadas de seus sais. Em 1957, Kenneth Schwarz e Walter Mertz - nutricionistas do U. S. Agricultural Research Service - foram os primeiros a relacionar a ação hipoglicemiante da levedura de cerveja (100mcg de cromo/10g de levedura) à presença do cromo GTF (fator que se liga à insulina, favorecendo sua atividade). Em 1989, graças ao trabalho do Dr. Mertz, o cromo foi reconhecido como elemento essencial ao metabolismo da glicose e dos ácidos graxos, à ação da insulina e ao crescimento da massa muscular, já que facilita a liberação deste hormônio e sua ligação aos tecidos. O cromo é um componente do “Fator de Tolerância a Glicose” (GTF), substância que trabalha com a insulina para facilitar a entrada da glicose nas células, regulando os níveis glicêmicos. A molécula de GTF contém vitamina B3 (niacina), cromo e os aminoácidos glicina, ácido glutâmico e cisteína. A presença da vitamina B3 é importante para a resposta aos suplementos de cromo. A deficiência de cromo é comum nos diabéticos não insulino dependentes (DMNID) e pode
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contribuir para a resistência insulínica e para a elevação dos níveis de triglicerídeos e colesterol sérico. A administração de cromo em portadores de diabetes mellitus 2 (DMNID) regula os níveis de glicose, diminui os níveis séricos de insulina, colesterol total e triglicerídeos e aumenta os níveis do HDL. Baixos níveis de cromo no sangue ou no mineralograma sugerem deficiência na ingesta e/ou má absorção; podem estar relacionados à idade avançada, gravidez, alta ingesta de carboidratos refinados, diabete juvenil, alteração no metabolismo de proteínas e/ou depleção de reservas por consumo metabólico excessivo. A carência de cromo induz à redução na insulina, deficiência no metabolismo de açúcares glicose diminuída), deficiência no metabolismo (especialmente colesterol), podendo também ser depressão.
atividade da (tolerância à de gorduras indicador de
A deficiência de cromo pode causar aumento da placa de ateroma, elevação do colesterol LDL, aumento da dependência à insulina (em diabéticos), alteração da resposta ao estresse e opacidade da córnea. O metabolismo da glicose pode ser avaliado no sangue ou também através do mineralograma, pelos níveis de cromo (juntamente com zinco, vanádio e manganês); baixos níveis sugerem alteração no metabolismo da glicose. O cromo é o primeiro dos minerais a ter sua absorção diminuída, à medida que a idade avança; o lítio é o segundo, pois sua absorção é facilitada pelo cromo. A intolerância ao álcool pode ser um sinal de deficiência de cromo. A excreção urinária de cromo aumenta sob a ação do stress de qualquer natureza, regime hipoproteicos, exercícios fatigantes, hemorragia aguda, e infecções.
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O uso do cromo picolinato em alguns casos de obesidade tem demonstrado resultados encorajadores. A perda de peso ocorre pelo aumento da sensibilidade das células à insulina, o que, além de regular níveis glicêmicos, também estimula a termogênese e aumento da massa muscular. A suplementação de cromo picolinato em atletas mostrou ser capaz de acelerar a redução da gordura corporal em 12,2% após 30 dias de suplementação (200mcg, 2 vezes ao dia). A deficiência de cromo é muito comum nos EUA e no Brasil. O exame de confirmação pode ser feito no sangue. Atualmente, 90% dos americanos com mais de 50 anos têm deficiência de cromo, devido à ingesta diária de apenas 50mcg (Richard Anderson e Adrianne Kozlovsky - Academia Nacional de Ciências – EUA). Nos brasileiros, a deficiência é semelhante. No diabetes mellitus, a associação de cromo, manganês e zinco ajuda no controle dos níveis glicêmicos. Diabéticos que requerem de 60-80U/dia de insulina, podem reduzir para 30-40U/dia com o auxílio de cromo GTF. O aporte diário de cromo nos países nórdicos também está abaixo das necessidades mínimas diárias. O cromo apresenta-se em dois estados de valência: o cromo III (biológico), e o cromo VI (industrial), que é potencialmente tóxico. Os sais de cromo VI podem causar lesões renais, hepáticas e neoplasias; à exposição da epiderme (trabalhadores da indústria de cimento, cromagens, metalúrgicas) ocorre dermatite química irritativa, que aparece nas zonas expostas. A inalação do pó de cromo VI ocasiona lesões nas vias aéreas superiores. O cromo III (existente no organismo), que
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faz parte da molécula de GTF, é apresentado comercialmente como cromo DNG (dinicotinato de glicina) ou cromo GTF (fator de tolerância à glicose). O cromo atua em sinergismo com a insulina, glicose, magnésio, vitamina B6, zinco, vitamina B3, glicina, cisteína e ácido glutâmico. Suplementos de cromo devem ser tomados por quem pratica exercícios físicos, por pessoas que se alimentam de produtos refinados (cujo processo industrial expolia o cromo) e por indivíduos idosos (o processo de envelhecimento costuma cursar com carência de cromo). Todos os diabéticos e pré-diabéticos têm deficiência de cromo. O cromo, necessariamente, precisa ser administrado sob forma de quelado. Os sais de cromo inorgânico (como o cloreto) têm baixa absorção (1%) e são tóxicos. O diabetes mellitus é a terceira causa mortis nos EUA. A dieta americana, atualmente, é tremendamente deficiente em cromo. O diabetes mellitus atinge 7,6% dos brasileiros com mais de 30 anos; dentre outros fatores, a história familiar, o excesso de peso e o sedentarismo colaboram para o seu desenvolvimento. Várias plantas medicinais são utilizadas no controle das taxas glicêmicas (pata de vaca, pau ferro, carqueja, jambolão), sendo o alto teor de cromo e manganês o traço comum entre elas. O nível de cromo no cabelo é um bom indicador dos níveis teciduais e é mais confiável do que a dosagem na urina ou no sangue. Em geral, não é afetado por contaminação externa. O colesterol não é uma gordura, como muitos pensam, mas sim um álcool, que se combina com ácidos graxos. Cerca
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de 70% do colesterol é produzido pelo próprio organismo, no fígado; o restante provém dos produtos de origem animal. Níveis elevados de colesterol estão associados à aterosclerose. Há diferentes tipos de colesterol. Na realidade são a mesma substância, só que ligada a diferentes lipoproteínas. O colesterol ligado à apo-lipoproteína-A forma o HDL, que é o colesterol “bom”; quando ligado à apo-liproteína-B, origina o LDL, que é o colesterol “ruim”. O HDL impede a oxidação do LDL em condições normais. Sob situações de grande stress (como grandes cirurgias ou grandes infecções) o HDL pára de ativar a enzima paraoxinase, perdendo, então, suas propriedades antioxidantes. A administração de 100mcg de cromo (2 vezes ao dia), durante 6 semanas, induz a uma elevação do HDL (da ordem de 17,8%), com decréscimo igual do indesejável LDL. Os resultados são melhores em períodos mais prolongados, com doses um pouco mais elevadas (400mcg/dia). Doses de até 600mcg/dia de cromo são consideradas seguras. São fontes de cromo: levedo de cerveja (a melhor fonte), cereais integrais, condimentos (pimenta preta, tomilho), carnes, fígado, ostras, mexilhões, ovos, queijos, cogumelos. Os alimentos refinados apresentam teores mais baixos. No melaço puro encontramos 0,26mcg/g de melaço, 0,16mcg/g no açúcar não refinado e somente 0,02mcg/g no açúcar refinado. A farinha integral contem 1,75mcg/g , a farinha branca 0,60mcg/g e o pão branco 0,14mcg/g. ( Wolff, 1974).
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Enxofre As propriedades terapêuticas do enxofre são conhecidas desde a Antiguidade. Afrescos descobertos em Pompeia já mostravam seu uso naquela época. O grego Homero, ainda na Antiguidade, termina seu magistral clássico “A Odisseia” com a purificação (com enxofre) da casa de Ulisses, após o massacre dos pretendentes de sua esposa e de seus servos infiéis (Odisseia XXII, 605-621). Foi Lavoisier quem demonstrou que o enxofre era um elemento químico e não um composto, como até então se pensava. O enxofre é componente de todos os tecidos do corpo, especialmente do cabelo, músculos e pele. A maior parte do enxofre corporal está ligada a aminoácidos (metionina, taurina, cistina e cisteína); também é um componente da vitamina B1, da biotina, da insulina, da glutationa, da queratina, do ácido hialurônico, da coenzima A, do SAME, da condroitina sulfato e da glucosamina sulfato. Está envolvido na formação dos ossos, dos dentes e dos ácidos biliares (a cisteína origina taurina, que, por sua vez, forma o ácido taurocólico). Ativa inúmeros sistemas enzimáticos; favorece a conversão de proteínas, carboidratos e gorduras em energia, e é importante varredor de metais tóxicos do organismo, ao formar com eles complexos inertes ou com menor toxidade. Sua ação é aumentada na presença da vitamina B1, vitamina B5, biotina e ácido lipoico. Por sua ação sobre a pele, cabelo e unhas, é conhecido como mineral da beleza. O enxofre é um elemento essencial para o organismo. Os níveis de enxofre no sangue ou no cabelo estão correlacionados com a ingesta e com o seu nível nos tecidos. O cabelo é sensível à contaminação externa por alguns condicionadores. O enxofre elevado no cabelo, na ausência de contaminação externa, está relacionado com um aumento deste
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elemento no corpo ou com um desequilíbrio no metabolismo. Uma dieta muito rica em proteínas e/ou uma suplementação excessiva de aminoácidos enxofrados poderia elevar seus níveis. A possibilidade de problemas com sulfatos e sulfetos, as cistinoses, a disfunção biliar e a doença renal são riscos a serem considerados se o nível de enxofre no cabelo estiver consistentemente alto. Uma dieta que careça radicalmente de proteínas redundará em níveis baixos de enxofre no organismo e no cabelo, ou seja, em baixos níveis de tiamina, biotina e de aminoácidos enxofrados. Depressão, queda de cabelo e unhas quebradiças podem acompanhar os baixos níveis de enxofre, assim como o aumento do risco cardíaco. Níveis baixos de enxofre também podem sugerir má-absorção, alterações no metabolismo dos aminoácidos e deficiência de vitamina B6. As sulfatases, enzimas catalisadoras do enxofre, promovem a remoção do excesso de radicais SO4, formados durante o metabolismo dos mucopolissacarídeos. O excesso desses radicais altera a forma e o metabolismo do colágeno. São fontes de enxofre: carnes vermelhas, peixes, leite, feijão, cebola, alho, couve de Bruxelas e repolho. As gemas de ovos são excelente fonte. Pacientes que não ingerem ovos podem apresentar deficiência de enxofre. Os aminoácidos enxofrados (cistina, cisteina, metionina e taurina) também são fontes de enxofre.
Ferro Foi um dos primeiros minerais a serem suplementados na história da Medicina (a suplementação de ferro está presente em quase todas as culturas). Um dos primeiros povos a utilizá-
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lo foram os hititas, em 1200 a.C.. Em 1713, a presença do ferro no sangue foi evidenciada por Menghini, ao submeter amostras de sangue seco ao campo magnético de um imã. Logo após sua descoberta, passou a vender comprimidos de sangue em pó, com grande sucesso,especialmente para jovens senhoras. Sua essencialidade foi provada pelo químico francês Jean Baptiste Boussingault. Atribui-se a Sydenham a primeira descrição da anemia ferropriva, em 1681. O corpo humano possui cerca de 5g de ferro, estando 70% dele ligado a hemoglobina e a mioglobina. Os restantes 30% estão distribuídos pelo fígado, baço e medula óssea. A anemia ferropriva é hoje a principal doença nutricional do mundo, acometendo cerca de um bilhão de pessoas. No Brasil, a incidência é bastante elevada (em determinadas regiões atinge mais de 60% da população), ocorrendo mais frequentemente em pré-escolares e gestantes, embora aconteça em todas as classes sociais e faixas etárias. A deficiência de ferro acarreta diminuição da imunidade, por reduzir a proliferação dos linfócitos e a sua imunocompetência; diminuição da capacidade de trabalho e da resistência ao esforço, devido ao papel do ferro no transporte de oxigênio; interfere na aprendizagem e também no desenvolvimento mental e motor. A criança deficiente em ferro apresenta diminuição da atenção, da memória, da capacidade de verbalização e menor rendimento escolar. Pode apresentar, por fim, alterações de conduta: a pagofagia (hábito de comer gelo), a geofagia (hábito de comer terra) e a pica (mastigação de pedras ou fibras) estão relacionadas com a anemia ferropriva. Nas anemias ferroprivas, recomenda-se a suplementação com ferro glicina (ferro quelado), cuja absorção é muito superior à das formas inorgânicas (sulfato ferroso, p.e.). Doses
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em torno de 20-40mg/dia são adequadas para reverter a anemia em prazos bem menores, se comparados ao sulfato ferroso. Em alguns casos, a recuperação do hematócrito mostra resultados surpreendentes em apenas 20-30 dias, ao passo que, utilizando o tradicional sulfato ferroso, esse prazo sobe para 50-60 dias. Na carência real de ferro, os baixos níveis encontrados no mineralograma parecem anteceder aos baixos níveis séricos. O mineralograma isoladamente não é um bom parâmetro para que se faça reposição do mineral, devendo ser dosados o ferro sérico e a ferritina. A reposição em anêmicos ferroprivos melhora a capacidade de trabalho em cerca de 12%. O ferro no cabelo pode estar elevado devido à lavagem em água artesiana contendo o metal. A carência de ferro pode manifestar-se clinicamente por anemia (hipocrômica e microcítica) e sintomas relativos, irritabilidade, diminuição da síntese proteica e desenvolvimento ponderal retardado em crianças. A deficiência de ferro também diminui a eficácia do sistema imune, além de favorecer um aumento na absorção e fixação do chumbo (maior suscetibilidade à intoxicação). Nos EUA, cerca de 20% da população apresenta baixas reservas de ferro. O uso continuado de estrogênio diminui os níveis de ferro; a hipocloridria também o faz, visto que a absorção deste metal se dá em pH ácido. Ácido ascórbico, ácido clorídrico, metionina, cisteína e baixos níveis circulantes de ferro aumentam a absorção. O ácido ascórbico é o mais potente acelerador da absorção de ferro (até 5 vezes), formando um quelado solúvel no intestino delgado. Os fitatos (presentes nos cereais), oxalatos (contidos nas verduras de folhas escuras), fosfatos (presentes nos antiácidos), taninos (presentes no café e no chá), fibras e celulose são
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queladores de metais, formando sais insolúveis que serão eliminados pelas fezes; logo, o ferro contido nos vegetais (ferro não-heme), é menos absorvido do que o ferro das fontes animais (ferro heme). Somente 35% do ferro presente no feijão é absorvido. O excesso de fósforo ou zinco também diminui a biodisponibilidade do ferro. O sulfato ferroso (ferro inorgânico) é o suplemento de ferro mais barato e o mais utilizado em formulações; por ser utilizado em altas doses pode ocasionar náuseas e epigastralgia. As formas orgânicas de ferro (gluconato, citrato e fumarato ferroso) também são utilizados em suplementos. A forma ideal de se administrar ferro, porém, é a forma quelada com o aminoácido glicina (ferro glicina), mais bem tolerada e mais ativa. O ferro é melhor absorvido quando tomado pela manhã e na presença de sucos ácidos ou vitamina C. A anemia ferropriva sugere carências importantes de outros nutrientes, além do ferro. Cerca de 80% desses pacientes apresentam, concomitantemente, deficiências de cobre, zinco, ácido fólico e vitamina B12. A associação destes minerais à vitamina B12 e ao ácido fólico proporciona resultados espetaculares, abreviando o tempo para a normalização do eritrograma. A vitamina C garante a presença do ferro na forma ferrosa (Fe+2), de absorção mais fácil e eficiente. O ferro na forma férrica (Fe+3) precisa passar a forma ferrosa para ser absorvido. Diversos estudos mostram que a deficiência de ferro ocasiona um aumento na absorção de chumbo, especialmente em crianças. Tal fato pode acarretar sérios problemas em regiões onde a deficiência de ferro ocorre concomitante com uma alta e constante exposição ao chumbo. Entre as inúmeras funções importantes do ferro estão: o transporte de oxigênio e gás carbônico pela hemoglobina e
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mioglobina; a fosforilação oxidativa nos citocromos; a ativação catalítica de enzimas; a fagocitose; a estimulação da imunidade geral e dos linfócitos T e, ainda, a melhora do desempenho físico. O excesso de ferro (hemossiderose ou hemacromatose) favorece a peroxidação lipídica e depleta as reservas de vitamina C. Na hemocromatose ocorre a deposição patológica de ferro em determinados orgãos, sendo o fígado o primeiro a ser comprometido e o diagnóstico definitivo de hemocromatose é a biópsia hepática. podendo evoluir para cirrose (destes, 30% desenvolverão carcinoma hepatocelular). Também ocorre deposição de melanina e hemossiderina na camada basal da pele; o ferro plasmático e a ferritina sérica encontram-se elevados. Cardiomiopatia severa pode fazer parte do quadro. As mulheres em idade reprodutiva perdem quantidades apreciáveis de ferro durante o período menstrual (15 a 20mg de ferro). Quantidades menores, em torno de 1mg/dia, podem ser perdidos através da urina e das fezes. Cervejas caseiras, fermentadas em vasilhames de ferro levam à ingestão excessiva do mineral, sendo causa de cirrose hepática em populações negras na África do Sul. A utilização de recipientes de ferro também leva ao excesso deste em tecidos corporais. Frutas, legumes e sucos enlatados também podem apresentar altos níveis de ferro dissolvidos, quando embalados em latas de baixa qualidade. O ferro, quando na forma livre (não ligado a proteínas), é um potente gerador de RLs, estando seus altos níveis associados a inúmeras patologias degenerativas. Homens com níveis de ferritina acima de 200mcg/litro de sangue têm probabilidade duas vezes maior de sofrer infarto agudo do miocárdio, se comparados com os demais; ferritina e colesterol elevados aumentam em 4 vezes o risco. A perda
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mensal de ferro devida à menstruação protege a mulher contra doenças cardíacas e degenerativas. Após a menopausa, as mulheres passam a apresentar maior risco para estas doenças, provavelmente pelo aumento das reservas de ferro (teoria proposta pelo médico patologista americano Gerome Sullivan), além de outros fatores. A reserva excessiva de ferro (potencial gerador de RLs), pode ser tratada adequada e eficazmente pelo medicamento homeopático Ferro metálico CH7, CH12 ou CH30 (10 gotas vo 2 vezes ao dia). A deficiência de ferro é um fator para o surgimento de câimbras noturnas nos membros inferiores de gestantes e de idosos (a suplementação de 20mg/dia reduz ou elimina as câimbras). Atualmente, no Brasil, começa a haver o enriquecimento de alimentos com ferro e vitaminas. A adição de ferro a qualquer alimento pode expor a graves riscos a população que já apresenta reserva elevada (comum na faixa etária dos 40 aos 60 anos). São fontes de ferro: carnes (2 a 4mg/100g), fígado (9mg/100g), aves, peixes, aspargo, aveia, feijão, melado, ovos (2mg/100g) e soja. A absorção do ferro depende da sua forma no alimento. O ferro das fontes animais (ferro heme) é melhor absorvido que o ferro das fontes vegetais (não-heme) Um alimento é considerado uma boa fonte quando, pelo menos, 10% de seu conteúdo é absorvido.O pH ácido eleva em até 3 vezes a absorção do ferro.
Fósforo Em 1669, o químico alemão Henning Brand, procurando alguma coisa que lhe permitisse criar o ouro, acabou por obter uma substância branca que brilhava no ar e inflamava-se
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espontaneamente, a chamou de fósforo, que deriva da palavra grega “phosphorus” (portador da luz). É o segundo mineral em abundância no corpo humano, na forma de fosfato de cálcio (85%). Um homem de 70kg possui cerca de 500g de fósforo (P). Um dos elementos mais importantes, dentre os que contêm fósforo em sua estrutura, é o ATP. Combina-se com gorduras a fim de formar fosfolipídios, que são necessários à estrutura da membrana celular e do sistema nervoso. A relação Ca/P é fundamental para a absorção e excreção de cálcio e fósforo: quando um está em excesso, obrigatoriamente a excreção do outro está aumentada. As paratireoides regulam os níveis sanguíneos de ambos. É fundamental ao metabolismo dos ossos e dentes, à formação da membrana celular e sistema nervoso e à ação de várias enzimas. Antiácidos, ferro e magnésio costumam reduzir a absorção do fósforo. O neurologista alemão Henrich Hoffmann acredita que o excesso de fósforo na alimentação de crianças seja capaz de desencadear quadros de hiperatividade infantil. O fósforo é um dos principais componentes dos ossos e dos dentes. A assimilação do fósforo, assim como a do cálcio, é regulada pela vitamina D e pelo paratormônio. Os fosfatos estão presentes em todas as células do corpo, estando envolvidos nos processos associados à produção de energia. O íon fosfato dificulta a absorção de cálcio e, quando em excesso, induz à sua deposição em locais atípicos (ex: bico de papagaio). O nível de fósforo no cabelo não está correlacionado com o fósforo ingerido na dieta; entretanto, pode estar correlacionado com níveis anormais de cálcio, metabolismo anormal da vitamina D, hipo e hiperparatireoidismo e, possivelmente, por níveis anormais de magnésio. Os níveis de fósforo podem ser confirmados no sangue ou na urina de 24 horas.
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A deficiência de fósforo é rara devido à sua abundância nos alimentos; já, quantidades excessivas são frequentes devido aos adubos fosforados, refrigerantes tipo cola e alimentos industrializados. Refrigerantes são ricos em fósforo devido ao tamponamento com fosfatos. Nos EUA, em 1981, o consumo per capita de refrigerantes tipo cola foi de 100 litros. Os refrigerantes contêm 500mg de fósforo por garrafa de 300 ml, geralmente sob a forma de ácido fosfórico. O homem moderno ingere, pelo menos, três vezes mais fósforo do que o desejável. Nos últimos 30 anos, a ingestão de fósforo passou de 1,5 para 4 g/dia. As fontes deste excesso são: alimentos produzidos em solos adubados com fósforo; alimentos industrializados; refrigerantes do tipo cola; pães; farinhas; margarina; pescados (para reter a água quando houver congelamento); carnes e, em especial, queijos, presunto e embutidos (derivados fosfóricos são usados para emulsionar as gorduras e reter a água). A toxicidade do fósforo é baixíssima, não sendo conhecidos casos de intoxicação através de suplementos, que são facilmente eliminados pela urina. São fontes de fósforo: leite (1ml=1mg de fósforo) e derivados, ovos (220mg/100g), peixes, frangos, carnes vermelhas, alimentos industrializados (como conservante) e refrigerantes tipo cola. Na alimentação, deve haver uma proporção na relação Ca/P de 1 para 1 ou 1,5 para 1. A dieta americana é muito rica em fósforo (relação Ca/P até 1:4), o que favorece a desmineralização óssea.
Germânio No verão de 1885, um mineral foi encontrado na mina alemã de Himmelsfurst (Freiberg) a que foi dado, inicialmente, o nome de argirodite. Como não era conhecida a composição
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química exata do novo mineral amostras foram encaminhadas a Freiberg para a análise química. O reconhecimento e divulgação do novo elemento foi feita pelo químico alemão Clements Alexander Winkler, em 1886 e seu nome dado em homenagem à Alemanha, antigamente denominada Germânia. Kuzihiko Asai, pesquisador japonês, observou grandes concentrações de germânio em plantas medicinais e imaginou que o germânio, isolado, poderia ser útil à manutenção da saúde. Via oral, a absorção do sesquióxido de germânio chega à taxa de 30%. Estudos em animais imunodeprimidos e em pacientes com doenças malignas sugerem que o germânio ajuda a normalizar a função das células T e linfócitos B, exercendo profunda influência no sistema imune. O tamanho do sesquióxido de germânio permite sua rápida absorção e transporte através das membranas. Seu sítio ativo parece ser a cadeia respiratória (nas mitocôndrias), incrementando a eficácia do elétron transportador de oxigênio. Ele facilita a difusão do oxigênio pelas células e tecidos, catalisando e otimizando sua utilização; é preconizado na desaceleração do envelhecimento, por sua capacidade de diminuir a amiloidose (uma das alterações envolvidas neste processo) e é útil nos casos de contaminação por metais pesados, asma, artrite reumatoide, diabete e hipertensão. Um dos riscos do emprego do germânio é o de causar alergias e, em altas doses, lesão renal. O germânio é um elemento não essencial com propriedades semelhantes ao silício. Pequenas concentrações de germânio (ppm) estão presentes em alimentos de origem animal e vegetal. O germânio possui atividade antioxidante, diminui o oxigênio por partes dos tecidos o que o faz importante em várias doenças de fundo arterioesclerótico (hipertensão e isquemia miocárdica) e vasculopáticas (doença de Renaud, vasculopatia diabética, entre outras). Na França, em razão de sua ação sobre
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o sistema imunitário, tem sido usado para melhora do estado de pessoas cancerosa. Também tem sido indicado no tratamento de algumas patologias mentais com a psicose crônica, a depressão e os dirtubios de humor. Tem ação bactericida e tem sido utilizado em quimioterapia. As formas orgânicas do germânio (sesquióxido de germânio e germânio quelado) são usadas como agente antiviral e imunoestimulante (5 a 30mg/dia). Os compostos orgânicos são de baixa toxicidade.As formas inorgânicas de germânio são consideradas menos seguras, podendo lesar os rins em altas doses (acima de 50mg/dia). O germânio é quimicamente semelhante ao estanho e ao chumbo. Alguns produtos macrobióticos, como as ervas Kashi, Sankuzan e Hishi, têm excelentes taxas de germânio. Na Coreia, descobriu-se que, nos terrenos onde crescem os melhores ginsengs, o solo é riquíssimo em germânio. Na forma sesquióxido é bastante caro, pois a quantidade encontrada em vegetais é ínfima. Até o momento, existe apenas uma indústria que produz o sesquióxido de germânio, localizada no Japão. São fontes de germânio: aveia, alho, ginseng, clorela (alga), chá verde, aloe, confrei e cogumelos. Outras formas devem ser evitadas devido ao seu efeito cumulativo, que pode causar falência renal, miopatias e “rush” cutâneo (dióxido de germânio, por exemplo).
Iodo O iodo foi descoberto em 1811, no laboratório do farmacêutico francês Bernard Courtois, quando tentava obter salitre de algas marinhas para o exército de Napoleão. Seu nome deve-se à palavra grega “iodes”, cujo significado é cor violeta. Em 1816, Coindet, médico de Genebra, descobriu a importância do iodo para a glândula tireoide. Em 1831, o
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químico francês Boussingault recomendou ao governo da Colômbia a adição de iodo ao sal de cozinha para o tratamento do bócio. Em 1850, Chatton demonstrou que o bócio endêmico provinha da carência de iodo. Em 1895, Bammann descobriu que a tireoide continha iodo e que esta glândula era seu grande depósito. Napoleão foi o primeiro a mandar fazer uma pesquisa epidemiológica sobre o bócio, pois os jovens com bócio eram considerados incapazes para o serviço militar. A partir de 1924, a adição de iodo ao sal de cozinha (30mg de iodeto/1kg de sal) tornou-se obrigatória no estado de Michigan (USA), após a constatação de bócio em 47% de sua população. Logo após, a prática disseminou-se, o que praticamente erradicou o bócio endêmico nos EUA. A O.M.S. estima que existam no mundo mais de 200 milhões de pessoas com bócio carencial. Doses de iodo maiores do que 25 vezes a RDA podem ocasionar problemas, como hiperatividade, hipertireoidismo, etc. O uso da alga marinha data do ano 600 dC (na China); ainda hoje é utilizada na prevenção e no tratamento do bócio, graças ao seu elevado teor de iodo. A alga mais utilizada em terapêutica é o Kelp, uma alga marrom encontrada nas águas frias do Mar do Norte (100mg de Kelp standartizado contém 100mcg de iodo orgânico). Outra alga utilizada é o Fucus (Fucus vesiculosus). Doses excessivas de iodo (acima de 600mcg/dia) ou de iodeto de potássio presente nas formulações expectorantes podem bloquear a função da glândula tireoide, desenvolvendo quadro de hipotireoidismo. É um elemento essencial para a formação dos hormônios da tireoide. O nível de iodo no cabelo varia de acordo com a quantidade ingerida e a condição clínica do indivíduo, podendo haver contaminação externa. Está presente em quantidades muito pequenas no solo e nos alimentos. O organismo desenvolveu um mecanismo complexo para garantir sua absorção, retenção e
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concentração (é facilmente absorvido, tanto na forma orgânica como na forma inorgânica). O iodo se liga ao resíduo de tirosina, na tireoglobulina, para formar T-3 e T-4. No mineralograma o principal indicador de hipotireoidismo é o baixo teor de iodo, que pode estar acompanhado por zinco e manganês baixos. Baixos níveis de tirosina no plasma também têm sido associados ao hipotireoidismo. São fontes de iodo: algas marinhas (especialmente o Kelp), frutos do mar (moluscos, lagostas, sardinhas, bacalhau, haddock e outros peixes), vegetais marinhos, cebola, vagem, agrião, nabo, rabanete, alho porró e sal iodado. Também e encontrado em algumas frutas, como o ananás, groselhas e ameixas. O teor de iodo nos vegetais depende diretamente dos níveis de iodo presentes no solo.
Lítio O nome lítio origina-se da palavra grega “lithos”, que significa pedra, pois os cristais de lítio formam rochas verdadeiramente duras. As maiores reservas mundiais do mineral (a metade) estão localizadas na Bolívia, nas salinas de Uyuni. O lítio foi descoberto pelo químico sueco Johan August Arfwedson, em 1817. Em 1877 S.W. Mitchell, neurologista da Filadélfia utilizou sais de lítio e de bromo em sua clínica com resultados favoráveis. Foi definitivamente introduzido na psiquiatria por John Cade, em 1949 (Austrália). A divulgação de seu trabalho teve escassa repercussão. O lítio foi a primeira droga de sucesso usada na mania, antes da carbamazepina (1952), considerada um marco na terapêutica psiquiátrica. Em 1953, surgiram os trabalhos do dinamarquês Mogen Schou e de Aarus e, em 1954, retomaramse os trabalhos com lítio, especialmente no tratamento das psicoses maníaco-depressivas.
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Pesquisas sobre o papel do lítio no comportamento têm sido prejudicadas porque seus efeitos variam muito conforme a via de administração, dose, forma química e outros fatores. É indicado nos estados maníacos e depressivos, embora alguns pacientes deprimidos apresentem distúrbios bioquímicos que dificultam a penetração do lítio através da membrana celular. O lítio parece ser um elemento-traço essencial, do qual o organismo necessita 2-3mg diários. Parece ser um modulador na conversão de ácidos graxos essenciais em prostaglandinas, regulando sua produção; é também um estabilizador do neurotransmissor serotonina. O uso do lítio na gravidez e na lactação deve ser evitado, pois ele é excretado no leite materno e existem trabalhos relatando casos de hipotonia, hipotermia, cianose e alterações eletrocardiográficas no lactente. O lítio, ao contrário da maior parte dos princípios ativos, não se liga a proteínas plasmáticas e se distribui de forma não uniforme pelos líquidos corporais. O lítio não deve ser usado durante os primeiros três meses de gestação devido ao risco de teratogênese, que ocorre em 3% dos fetos. O lítio pode prevenir a recorrência dos surtos maníacos ou depressivos, pela regulação de receptores presentes na superfície da membrana celular. O lítio inibe o aumento do número de receptores de acetilcolina no cérebro, o que ajuda na prevenção da mania. Tem sido usado no tratamento de alcoolistas, por ser capaz de desenvolver aversão ao álcool em algumas pessoas. Também pode beneficiar pacientes com a síndrome de Menière. O sinergismo entre lítio-serotonina-noradrenalina é importante para produzir melatonina, e para facilitar a síntese de serotonina, formando o círculo virtuoso serotonina-
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melatonina, reduzido nas depressões e nas esquizofrenias. O sinergismo triptofano-tirosina produz CCK-8-S, antidepressivo várias vezes mais potente do que o CCK-8 (o S é enxofre perdido no stress oxidativo). O lítio facilita a síntese de antioxidantes primários (SOD, glutation peroxidase e catalase), aumentando a CCK-8-S e reduzindo a destruição de triptofano e tirosina. Não está, ainda, bem definido o mecanismo de ação do lítio no tratamento da depressão. Sabe-se que nos indivíduos deprimidos ocorre um acúmulo de sódio a nível intracelular, desequilibrando a relação Na/K. O lítio é um elemento com propriedades químicas similares ao sódio e tem estreita relação com o potássio. Aparentemente (por essas propriedades) ajuda a restabelecer o equilíbrio das membranas celulares nos pacientes deprimidos ou em fase maníaca da PMD. O lítio diminui a liberação de monoaminas no SNC, sem afetar a liberação da serotonina. Colabora para a diminuição do efeito osmótico da arginina-vasopressina via redução do AMPcíclico, o que se relaciona com diabete insípida e alteração tireoidiana. A teoria mais aceita atualmente diz que o lítio funciona através do bloqueio da enzima inositol-1-fosfatase, dos neurônios. Essa inibição resulta em uma diminuição das respostas celulares aos neurotransmissores, que estão ligados aos sistemas de segundos mensageiros do fosfatidilinositol. Ao iniciar o tratamento da depressão com inibidores da recaptação de serotonina (fluoxetina, sertralina, entre outros) 20% dos pacientes têm excesso de HT2, exacerbando a ansiedade, a agressividade e a queda da auto-estima. A administração de lítio deve preceder de 5 a 10 dias à administração de antidepressivos. O lítio aumenta o número dos receptores HT (que amplificam as emoções positivas de prazer e
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auto-estima) e diminui os receptores HT2, melhorando a resposta terapêutica. O precursor da serotonina é o triptofano, havendo a participação de cromo, cobalto e lítio. O lítio é importante para a consolidação de experiências positivas e negativas, e para a recordação e “brain storming”, exercícios de criatividade durante o sono REM e durante os ciclos ultradianos de 90 em 90 minutos (em vigília). No século passado, o lítio foi utilizado no tratamento da artrite gotosa e do cálculo renal (de ácido úrico); desde sua descoberta, sabe-se que o carbonato de lítio é capaz de dissolver os uratos. Nos anos 40, o lítio chegou a ser utilizado como sal de dieta, o que desencadeou inúmeros casos de intoxicação. Doses excessivas de lítio interferem com a produção e a ação dos hormônios tireoidianos e do TSH. O excesso de lítio também altera o metabolismo do potássio a nível da membrana celular, causando hiperpotassemia. Médicos ortomoleculares utilizam o lítio em pequenas doses diárias (1mg/kg de peso), como modulador do humor, em pacientes com baixa auto-estima e depressões leves, apoiados na propriedade deste mineral de catalisar várias e importantes rotas bioquímicas cerebrais. Doses de até 100mg/dia não necessitam de monitoração. É necessário o acompanhamento hematológico em usuários crônicos do carbonato de lítio, em especial quando em altas doses (devido a sua toxicidade). Avaliações periódicas da glândula tireoide fazem parte do acompanhamento destes pacientes. Produz distúrbios no transporte de minerais - através da membrana celular - e no balanço dos fluidos. Pode produzir náuseas, vômitos, tremor, aumento da diurese, ganha de peso, confusão mental, desorientação, delírio, erupções na pele, acne, alterações renais, coma e até morte. A deficiência de lítio manifesta-se clinicamente sob diferentes formas, de acordo com o perfil psicológico do
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indivíduo: nos depressivos, pode induzir ao suicídio; nos hipomaníacos, baixos teores de lítio podem impelir ao homicídio. Nestes indivíduos, o stress gera revolta, enquanto que, naqueles, gera medo e ansiedade. A carência aguda em pessoas normais parece induzir a uma maior possibilidade de envolvimento em acidentes de trânsito. Níveis aumentados de lítio podem levar ao aumento de peso, hipotireoidismo, osteoporose, fadiga, leucocitose, eosinofilia, queda de cabelo, hipercalciuria e diabete insipida renal induzida. Na PMD, o lítio exerce efeitos favoráveis a longo prazo, diminuindo o risco de entrar em surto maníaco ou depressivo. A margem entre as doses terapêuticas e tóxicas do carbonato de lítio é muito estreita e a avaliação periódica dos níveis séricos deve ser efetuada. O orotato de lítio é mais seguro por ser 5 vezes mais ativo e menos tóxico. A interferência do orotato de lítio sobre a tireoide é rara. É possível o surgimento de efeitos secundários, como o tremor nas mãos e diabete insípida (o lítio inibe a secreção de hormônio antidiurético). Pode haver ganho de peso importante (5 kg em 5 semanas, 14 kg em um ano), por mecanismos ainda desconhecidos. Há diversas hipóteses, como diminuição das funções da glândula tireoide e ação direta sobre os centros reguladores da fome e da ansiedade, que faz passar do estado de agitação ao de calma. A intoxicação por lítio é sempre grave e, sem o tratamento adequado, é alta a taxa de mortalidade (até 20% dos casos). Em animais, foi demonstrada a possibilidade de efeitos teratogênicos. A eliminação de lítio pelo leite materno é suficiente para produzir intoxicação aguda nos recém-nascidos. O lítio é normalmente encontrado no cabelo e seu nível está correlacionado com a exposição. Está presente em baixas concentrações na água, produtos vegetais e em produtos de origem animal. Níveis baixos no mineralograma sugerem ingestão insuficiente e/ou má-absorção; alterações de humor
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(principalmente depressão) podem ser observadas nestes pacientes. Níveis altos podem estar associados ao uso de sais de banho contendo lítio ou a medicamentos à base de lítio. O lítio acumula-se primariamente na glândula hipófise e na tireoide; quando em altos níveis, interfere na captação do iodo, bloqueando a produção de tiroxina. Os níveis terapêuticos nos pacientes em uso de carbonato de lítio podem ser confirmados no sangue (7ppb - 10ppb) e nas hemácias (lítio eritrocitário). Dosagens séricas em pacientes que não usam carbonato de lítio acusam valores próximos ou iguais a zero (dosagens séricas só servem para pacientes em uso de lítio). A avaliação dos teores de lítio em pacientes que não tomam carbonato de lítio deve ser realizada pela dosagem de lítio nos eritrócitos (lítio eritrocitário, também chamado lítio endógeno). O orotato de lítio é transportado pelos eritrócitos; por esta razão as doses terapêuticas são inferiores às do carbonato de lítio (que é transportado pelo plasma), sendo menores os efeitos colaterais. Nas depressões refratárias ao carbonato de lítio, a substituição pelo orotato logra uma elevação do lítio no mineralograma, concomitantemente com uma melhora clínica. A melhora é mais acentuada quando acompanhada da administração conjunta de cromo e cobalto, pois estes elementos aumentam a síntese da serotonina, cuja deficiência é responsável por cerca de 70% das depressões. Intoxicações por lítio também podem estar ligadas às intoxicações profissionais. O lítio faz parte de vários sais de utilização industrial, como as soldas de alumínio, e da fabricação de porcelanas, onde é utilizado na forma de fluoreto de lítio. Como iodeto de lítio é utilizado em filmes fotográficos. O carbonato de lítio também é utilizado por fabricantes de porcelana. O percolato e o borato de lítio estão presentes na composição de esmaltes, e o benzoato de lítio é utilizado em lubrificantes industriais.
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Os sintomas de lítio elevado são vômitos, dor abdominal, diarreia profusa, tremor severo, ataxia, arritmias cardíacas, coma e convulsões. Os sinais neurológicos iniciam com disartria, hiperreflexia e confusão mental, quadro que progride para o coma. A toxicidade do lítio requer atenção médica imediata. As cápsulas de óleo de linhaça (500-1000mg), além de serem fonte de omega 3 e omega 6, também são razoável fonte de lítio, como elemento-traço (1 cápsula vo 2 vezes ao dia). São fontes de lítio: algumas águas minerais, cana de açúcar, semente de linhaça (2 colheres de sopa/dia fornecem as necessidades diárias), óleo de linhaça, óleo de prímula e tabaco. O lítio se encontra nas rochas ferromagnésicas, substituindo o magnésio. As águas destas regiões podem apresentar elevadas concentrações de lítio, mas nunca em teor suficiente para desencadear efeitos tóxicos.
INTERAÇÕES ENTRE MINERAIS A Roda Mineral
Fonte: H. DeWayne. 1970 J.Applied Nutrition
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INTERAÇÕES BIOQUÍMICAS O excesso de cálcio desloca manganês, magnésio, fósforo e zinco. O excesso de cobre desloca ferro, fósforo e zinco. O excesso de cádmio desloca cobre e zinco. O excesso de ferro desloca fósforo e potássio. O excesso de fósforo desloca cálcio, ferro, magnésio, manganês e zinco. O excesso de magnésio desloca cálcio e fósforo. O excesso de manganês desloca ferro, fósforo, magnésio e potássio. O excesso de potássio desloca ferro, manganês e sódio. O excesso de sódio desloca potássio. O excesso de zinco desloca cádmio, cobre, ferro e fósforo.
Magnésio O magnésio foi descoberto em 1755 pelo escocês Joseph Black. É o 8º elemento mais abundante da Terra. Um dos seus primeiros usos conhecidos foi como laxante, descoberta esta atribuída aos romanos em Magnésia (Tessália, Grécia). Na Idade Média, P. Delbet e D. Bertrand demonstraram sua importância biológica para a agricultura e alimentação. Foi isolado por Davy (1808) e sintetizado pelo químico Justus Von Liebig (1928). Em 1926, o magnésio foi reconhecido como mineral essencial ao homem. É um mineral encontrado em abundância no corpo humano (cerca de 30g), sendo o segundo mais abundante no interior da célula. Cerca de 60% do magnésio encontra-se nos ossos, 25% nos músculos e 15% no resto do organismo. Apresenta-se sob a forma de carbonato, fosfato e fluoreto. As
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águas geralmente possuem baixos teores de magnésio; entretanto, as famosas estações termais de Carlsbad (República Tcheca), Epson (Inglaterra) e Mondorf (Luxemburgo), possuem águas riquíssimas em magnésio. O magnésio é o componente metálico da clorofila vegetal, fato descoberto por Willstatter e Stoll, em 1903. Tem importante papel na conversão de carboidratos, proteínas e gorduras em energia. Ainda, na produção de proteínas, durante a síntese de material genético; na remoção de substâncias tóxicas, como a amônia; no relaxamento muscular; na transmissão nervosa; na prevenção de doenças cardíacas e arritmias; na depressão, na insônia e no combate ao stress; na manutenção da saúde dos ossos e dos dentes. O magnésio evita a deposição anormal do cálcio e é coadjuvante no tratamento da hipertensão, hipertrofia prostática e convulsões. É elemento vital à atividade de muitas enzimas (mais de 400), principalmente aquelas que hidrolisam e transferem os fosfatos (as fosfatases), e aquelas relacionadas à produção de ATP. O magnésio atua como um verdadeiro “bloqueador dos canais de cálcio”, devido a sua capacidade de bloquear a entrada deste íon na célula muscular. Assim, a suplementação de magnésio ajuda a reduzir a resistência vascular (diminuindo os níveis pressóricos) e torna a função cardíaca mais eficiente. O magnésio regula o metabolismo do cálcio, por sua ação sobre o hormônio da paratireoide e sobre a calcitonina, além de ser co-fator na ativação da vitamina D3, pois a enzima que catalisa a conversão do 25-OH-colecalciferol em sua forma mais ativa (1-25-OH-colecalciferol) é magnésio dependente. Em 1932, Cramer demonstrou que dietas pobres em magnésio aumentavam a incidência de cálculos renais, em
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ratos. Grumberg (1938), Alcock e MacIntyre (1954) mostraram que dietas ricas em magnésio preveniam a formação de cálculos renais, em ratos. Em 1960, Andrus demonstrou que dietas pobres em vitamina B6 também propiciavam o aparecimento de cálculos de oxalato de cálcio. Essas observações levaram à introdução de suplementos à base de magnésio e vitamina B6, para evitar a recidiva da litíase oxálica nos pacientes. Segundo diversos autores, o magnésio teria um efeito inibidor da cristalização do cálcio; sua ação preventiva seria devido a um fenômeno biofísico, ao facilitar a solubilização do oxalato de cálcio. A absorção do magnésio obedece a uma cronologia bem estabelecida. É mais importante à tarde e à noite do que durante o sono ou pela manhã. Lowick e colaboradores (1983) estimaram que a absorção é 50% menor durante a manhã. O etanol diminui sua absorção em 50%. O ácido fítico e o excesso de cálcio são outros fatores que reduzem a absorção intestinal de magnésio. A ingesta média, no Brasil, é de 200-250mg/dia; nos EUA, oscila entre 173 e 266mg/dia, bem abaixo, portanto, da RDA (350mg/dia). Os idosos apresentam as maiores deficiências do mineral. As dosagens séricas não são adequadas, pois quantificam o magnésio retirado dos depósitos e levado à circulação. A dosagem ideal é feita no eritrócito (magnésio eritrocitário), pois o magnésio é um íon intracelular. Há necessidade de maior aporte de magnésio durante a gestação (quando a RDA passa de 350 para 450mg). A deficiência de magnésio está ligada à pré-eclâmpsia, à prematuridade e ao retardo no desenvolvimento fetal. A suplementação oral tem demonstrado ser eficiente para evitar estas complicações.
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A cerveja inglesa goza de grande prestígio entre os apreciadores da bebida. A cerveja do tipo Yorkshire caracteriza-se por seu sabor ligeiramente amargo e por seus efeitos levemente laxativos, quando tomada em grande quantidade. O efeito laxativo deve-se à presença de sulfato de magnésio, presente na água utilizada em sua formulação. Deficiências clínicas graves de magnésio são raras, mas deficiências marginais são muito comuns. A maior parte dos brasileiros não consome a RDA de magnésio (350mg/dia), uma vez que não tem por hábito ingerir sistematicamente sua grande fonte - os vegetais verdes. Embora o leite não seja uma boa fonte, fornece boa parte do magnésio que o organismo necessita. A deficiência de magnésio prejudica a transmissão de impulsos nervosos e a fisiologia da célula muscular, causando irritabilidade e ansiedade. Seu uso diminui o risco de depressão, espasmos musculares e cardiopatias. Baixos níveis de magnésio sugerem deficiência na ingesta (legumes), má absorção intestinal, uso de diuréticos, uso excessivo de laxativos, diarreias crônicas, hipocloridria, deficiência de vitamina B6, exposição a elementos tóxicos, ingesta excessiva de cálcio e/ou fósforo, hiperatividade adrenocortical, enterites, alcoolismo ou stress. Os baixos teores favorecem a hiperatividade, odores corporais aumentados, irritabilidade, tremores, câimbras, aumento do colesterol, aumento da suscetibilidade à intoxicação digitálica, inibição da síntese de DNA e RNA, crescimento retardado, alterações de humor, vasodilatação, liberação de histamina, lesões cutâneas, hipercalcemia, confusão mental e desorientação, eliminação aumentada de aminoácidos, elevação do paratormônio e aumento na razão Ca/Mg, que leva à descalcificação óssea. Ainda, transpiração excessiva, astenia,
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insônia, taquicardia, arritmias cardíacas (mais frequentes no período diurno do que à noite) e hipertensão. O magnésio é um elemento essencial e poderoso ativador enzimático. Quando baixo no cabelo, costuma refletir os estoques do organismo. A carência de magnésio, frequentemente, acompanha a carência de potássio. A confirmação dos valores encontrados no mineralograma somente poderá ser feita dosando-se o magnésio intracelular (plaquetas ou hemácias); os níveis séricos não são um bom parâmetro, pois o magnésio é um mineral intracelular por excelência. Bons resultados também são obtidos pela determinação do magnésio na urina de 24 horas. Há diversas formas de suplementar magnésio. O cloreto de magnésio não é a forma ideal, por ser muito irritante para o estômago e pouco absorvido. As formas orgânicas (citrato e gluconato) e a forma quelada (glicina) apresentam melhores resultados (melhor absorção), sem irritar o estômago. Também pode ser administrada uma combinação dos diferentes sais, na forma de “pool” (ascorbato + aspartato + orotato + citrato, por exemplo). O magnésio quelado é a forma mais eficaz na ativação das enzimas do ciclo de Krebs (mitocôndrias). Segundo Laborit (1957), os aspartatos (obtidos pela ligação de um metal ao ácido aspártico) são a forma ideal para introduzir metais no interior das células, por penetrarem facilmente na camada interna da membrana, onde são metabolizados e os íons liberados. Os orotatos, obtidos a partir do ácido orótico (vitamina B13), formam complexos com vários metais, atravessando a membrana celular e sendo metabolizados unicamente ao nível da membrana das mitocôndrias e das organelas do citoplasma (Hans Niepper, 1991).
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O magnésio é encontrado em concentrações variáveis nos diferentes sais. O magnésio glicina contém 20% do metal; o citrato, 17%; o ascorbato, 10%; o orotato, 20%; o aspartato, 17%; o gluconato, 5,5% e o lactato, 12%. O uso do magnésio em suplementos minerais é extremamente seguro, pois eventuais excessos são facilmente excretados pela urina. São fontes de magnésio: legumes de folhas verdes, cereais integrais, sementes de girassol, amêndoas, nozes, banana, frutos do mar, soja e carnes. O leite é uma fonte pobre (Ca/Mg é igual a 20:1).
Manganês O nome manganês provém do latim “magnes” (magneto), por sua utilização em ligas metálicas. Pós contendo óxido de manganês são empregados como pigmentos desde a PréHistória. Foi descoberto em 1774 pelo químico sueco Johan Gottlieb Gahn. A presença deste mineral em alimentos foi evidenciada no século XIX. Em 1903, Gabriel Bertrand demonstrou o papel do manganês na ativação de diversas enzimas e, em 1912, a importância do elemento para os vegetais. O manganês é reconhecido como elemento essencial ao homem desde 1931, graças aos trabalhos de Orent, Mc Collum e Hart. Sua introdução na terapêutica se deve ao sueco Carl Wilhehm Scheele. As reservas corporais de manganês giram em torno de 20g, distribuídos principalmente pelos ossos, fígado, rins e supra-renais. O manganês é fundamental para a síntese da acetilcolina e de outros neurotransmissores. O uso crônico de substâncias como o haloperidol ou os bloqueadores de dopamina leva à
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depleção de manganês, havendo a probabilidade de desenvolver distúrbios de memória e aprendizado. A vitamina K, o zinco e a colina aumentam a ação do manganês; por outro lado, altas doses de cálcio ou fósforo podem competir com ele. O refino dos alimentos depleta o mineral. Teores elevados de manganês são encontrados nas mitocôndrias, o que evidencia sua importância no mecanismo de produção de energia. Em 1963, cientistas canadenses descobriram uma relação entre baixos teores de manganês e ataques epilépticos (crianças epilépticas possuem 33% menos manganês do que crianças normais). O manganês é importante para a função cerebral, por ser necessário à utilização da glicose pelo neurônio, à atividade da adenilciclase e ao controle dos neurotransmissores. Pacientes esquizofrênicos também têm baixos teores corporais de manganês. As alterações de comportamento observadas nos quadros carenciais ocorrem devido à diminuição de atividade da glutamina sintetase, enzima manganês dependente, que catalisa o metabolismo do glutamato à glutamina, em nível cerebral. Deficiências de manganês resultam em ossos e cartilagens anormais, intolerância à glicose, retardos no crescimento, defeitos no esqueleto, ataxia, aumento dos depósitos de gordura, aumento do colesterol sérico, diminuição da síntese de colesterol pelo fígado, metabolismo proteico diminuído, redução na lactação, redução tecidual de selênio, lesão pancreática, diminuição da função imune, diminuição da atividade da SOD mitocondrial, convulsões e dermatites. Um adulto possui cerca de 10 a 20mg de manganês em seu corpo. A deficiência de manganês está associada a baixos níveis de dopamina. O manganês é considerado o mineral da afetividade (Orent e Mc Collum). Dietas pobres em manganês favorecem a agressividade e a violência. Níveis adequados de manganês têm
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importante participação no desenvolvimento do “instinto materno”, além de ajudar a promover a lactação (97% das fêmeas macacas falham em amamentar seus filhos, mostram-se indiferentes e não lhes dão oportunidade de amamentação). Junto com o zinco é precursor mineral da síntese de prolactina. Foi constatado entre trabalhadores das minas de manganês, no norte do Chile, um quadro de intoxicação denominado de “Loucura mangânica”. Mineiros que inalam o pó, cronicamente, desenvolvem o seguinte quadro clínico: riso despropositado, sexualidade aumentada, impulsividade, insônia, delírio e alucinações, seguidos por profunda depressão e, ao final, sinais da doença de Parkinson. O manganês é um ativador de importantes sistemas enzimáticos, participando de cerca de 90 reações bioquímicas no organismo. O manganês ativa as seguintes enzimas: fosfatases, peptidases, succinildesidrogenases, carboxilases, arginases, glicosiltransferases, colinesterases e SOD mitocondrial. O manganês atua na formação do colágeno e da ureia; na síntese de proteínas de vários neurotransmissores, dos ácidos graxos, do colesterol, do GABA, na formação e desenvolvimento dos ossos, cartilagens e tendões, na produção da protrombina e do ATP, e no metabolismo da insulina e das gorduras. Baixos níveis de manganês sugerem deficiências na ingesta ou má absorção; clinicamente, pode haver aumento da suscetibilidade a alergias, inflamações, problemas articulares, hipoglicemia, alterações no metabolismo dos lipídios e dermatites. Os níveis de manganês encontrados nos diabéticos correspondem a cerca de 50% dos níveis encontrados em indivíduos normais. O manganês é co-fator para várias enzimas envolvidas na glicólise.
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Diabéticos possuem apenas metade dos níveis corporais de manganês se comparados a indivíduos normais. O manganês participa da síntese e secreção da insulina, fato evidenciado pelo Dr. L. G. Kosenko, em 1964; a carência resulta em redução na secreção da insulina pelo pâncreas e aumento da sua degradação intracelular. As plantas antidiabéticas, como o jambolão, o pau ferro, a pata de vaca, a carqueja e a alfafa, são ricas em manganês e cromo (também relacionados ao metabolismo da insulina). As deficiências de manganês e zinco, confirmadas pelo mineralograma, determinam diminuição da velocidade de crescimento capilar (o cabelo cresce cerca de 0,8 a 1,0 cm/mês). A administração de vitamina B6 melhora a absorção de ambos os elementos. Baixos teores de manganês, selênio, molibdênio e zinco no mineralograma são indícios de suscetibilidade a fenômenos alérgicos. As alterações do crescimento ósseo ocorrem, particularmente, durante a carência prolongada de manganês. As malformações estão relacionadas à diminuição da atividade das glicosiltransferases (manganês dependentes), envolvidas na síntese das cadeias de condroitin sulfato. Os efeitos dessa deficiência são evidenciados pela diminuição do crescimento dos membros, curvaturas anormais da coluna vertebral e hipertrofia das articulações. A deficiência de manganês reduz a atividade da SOD mitocondrial, enzima que neutraliza o excesso de RLs. O uso do manganês em suplementos é muito seguro. Embora as doses usuais sejam de 2-5mg, doses mais elevadas (até 30mg) têm sido empregadas sem que se observem efeitos colaterais.
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São fontes de manganês: grãos integrais, ervilha, beterraba, chá, algodoeiro, alfafa e nozes. Excetuando-se o ovo, a maior parte das fontes animais possui baixos teores de manganês. As frutas, os legumes, as sementes e outros vegetais o contêm em quantidades moderadas. O conteúdo de manganês no vegetal dependerá do pH do solo (quanto mais ácido, maior a biodisponibilidade do manganês). O pH ideal do solo para o manganês é 4,9.
Molibdênio O termo molibdênio deriva da palavra grega “molybdas”, que significa “semelhante ao chumbo”. Em 1778, Scheele diferenciou o molibdênio do chumbo. Foi isolado em 1782 pelo sueco Peter Jacob Hjelm. Foram reconhecidos nos tecidos animais, em 1932, sendo sua essencialidade para o homem demonstrada em 1953, devido a sua participação na metabolização do álcool, formação do ácido úrico e metabolismo dos sulfitos. Em 1983, foram publicados trabalhos correlacionando a carência do mineral a um aumento na incidência de câncer de esôfago, em algumas regiões da África, Rússia e China. O corpo humano possui cerca de 10mg de molibdênio, distribuídos pelo fígado, rins, supra-renais, ossos e pele. O molibdênio está presente no esmalte dentário. Trabalho realizado pela Universidade de Birmingham (Inglaterra) mostrou que o molibdênio é capaz de reduzir a incidência de cáries, devido à retenção de flúor que promove; regiões com baixos teores de molibdênio no solo apresentam populações com elevado índice de cáries dentárias. Também se encontra o molibdênio em pequenas quantidades em todas as células e tecidos do organismo. O molibdênio participa ativamente do centro ativo de vários
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sistemas enzimáticos, como por exemplo, das nitrogenases, das oxidases, da xantina desidrogenase, das hidroxilases e das nitratos redutases. A enzima xantina oxidase (molibdênio dependente), é a encarregada de mobilizar o ferro acumulado no fígado, para a corrente sanguínea. Esta enzima também recolhe os resíduos de nitrogênio, provenientes da decomposição das proteínas, e os transforma em ácido úrico, que, juntamente com a ureia, é eliminado pela urina. A enzima aldeído oxidase, importante na neutralização de xenobióticos, também é molibdênio dependente, assim como a sulfito oxidase. A administração de molibdênio a indivíduos alérgicos aos sulfitos (conservante dos vinhos, cervejas e frutas dessecadas), diminui o risco de um quadro alérgico agudo. O molibdênio é elemento essencial ao processo de fixação do nitrogênio atmosférico pela planta (o início da fotossíntese é molibdênio dependente). Plantas que crescem em solos ricos no metal apresentam teores até quinhentas vezes maiores do que plantas cultivadas em solos pobres. A chuva ácida e a subsequente acidificação dos solos reduzem a biodisponibilidade do molibdênio, o qual é insolúvel em meio ácido. Após a descoberta de sua importância para os vegetais e de sua presença em todos os tecidos humanos, é que se passou a constatar suas funções, imprescindíveis à vida humana. O molibdênio é um elemento-traço essencial responsável pela ativação de diversos sistemas enzimáticos, a saber: enzima molibdênio-hidroxilase, responsável pela detoxificação de xenobióticos; aldeidodesidrogenase, responsável pela oxidação dos aldeídos, originados no metabolismo do álcool; xantinaoxidase, enzima envolvida na formação do ácido úrico e também responsável pela transformação do ferro da forma férrica para a forma ferrosa; sulfito-oxidase, enzima que transforma os sulfitos (alergênicos e produtores de cefaleias
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alcoólicas) em sulfatos, e a nitrato-redutase, responsável pela destruição e inativação das nitrosaminas presentes na luz intestinal. Os sulfitos são encontrados na cenoura, repolho, tomate, cogumelos, pimentão, fubá, sidra, vinhos, gelatina, camarão, siri, ostra e mexilhão; também são empregados como aditivos alimentares e podem desencadear broncoespasmo naqueles indivíduos cuja ação enzimática é deficiente. O molibdênio atua, juntamente com a vitamina B2, no processo de conversão dos alimentos em energia. O excesso de molibdênio favorece a síntese de ácido úrico e pode estar associado à gota. Os baixos níveis encontrados no sangue ou no mineralograma refletem a deficiente reserva corporal total e podem estar relacionados à ocorrência de alergias, cáries dentárias e todos os sinais clínicos resultantes da baixa atividade das enzimas molibdênio-dependentes, como diminuição da produção das catecolaminas e do metabolismo das gorduras. Pfeiffer, um dos maiores especialistas em terapêutica nutricional acha que o molibdênio exerce influencia sobre o crescimento. Em animais, observou-se a diminuição da longevidade. Dosagens sanguíneas não são um bom meio para confirmar a carência de molibdênio; a confirmação deve ser feita através da dosagem de sulfetos na urina (que estará aumentada) ou dos níveis urinários de molibdênio. A carência pode ocorrer devido a dietas baseadas em alimentos superprocessados. O molibdênio e o cobre são metais antagônicos; quando houver maior ingesta de um, o outro, necessariamente, será deslocado. O molibdênio favorece a absorção intestinal de ferro (pela redução do íon férrico a íon ferroso) e sua mobilização das reservas hepáticas para a circulação. A ingesta maciça de molibdênio (acima de 1mg/dia)
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favorece o aumento de ácido úrico e alterações do tecido conetivo, reduzindo a elasticidade dos ligamentos ósteoarticulares (rigidez articular); a administração de ácido fólico (3mg vo 2 vezes ao dia), diminui a formação do ácido úrico, ao inibir a enzima xantina-oxidase. Intoxicações por doses elevadas de molibdênio (acima de 5mg/dia) são perfeitamente possíveis, pois este possui razoável potencial de toxicidade. São fontes de molibdênio: as águas de algumas regiões, os cereais integrais (especialmente o trigo e a aveia), os legumes, os vegetais folhosos (feijão, lentilha, espinafre), as vísceras, o leite e seus derivados.
Potássio O potássio é o 7º metal mais abundante do planeta. Foi descoberto por Humphry Davy (1807) e seu nome deriva do latim “kalium” (potassa), em referência à cinza alcalina das substâncias vegetais. Em 1938, McCollum demonstrou sua essencialidade para os humanos. O corpo humano possui cerca de 120g desse elemento, a maior parte dele localizado dentro das células. A câimbra ocorre, geralmente, em indivíduos com deficiência de cálcio, magnésio, potássio, vitamina B1 e/ou B6; igualmente, em pessoas com desequilíbrio na relação cálcio/magnésio. No tratamento das câimbras devem ser associados cálcio, magnésio, vitamina B1, vitamina B6 e potássio. O vinho é muito rico em potássio (em média 1g/litro), magnésio, cálcio (100mg/litro), ferro, cobre, zinco, manganês, silício, boro, rubídio (nos vinhos tintos), além de apresentar traços de estanho, titânio, iodo, vanádio, níquel, lítio,
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molibdênio, cobalto, cromo, arsênico, alumínio, selênio, antimônio, bismuto e tungstênio. Vinhos de boa qualidade aportam taninos, vitaminas e minerais. Deve ser respeitada a dose máxima de dois cálices ao dia. Baixos níveis de potássio, encontrados no cabelo (por meio de mineralograma) pode significar um reduzido estoque corporal; precisa ser confirmado pela dosagem sérica. Pode ser reflexo de um desequilíbrio mineral ou de disfunção adrenocortical. Sintomas de hipopotassemia incluem astenia, câimbras e taquicardia. Baixos níveis de potássio, ou ratio(proporção) Ca/K alterada, torna o indivíduo mais sensível à toxicidade dos digitálicos. Arritmias seguidas à administração de potássio revelam carência de magnésio, que deve ser administrado concomitantemente. Níveis baixos de sódio e potássio são encontrados em corredores (maratonistas), provavelmente devido a transpiração excessiva. Exercício intenso é um fator de perda de potássio (é possível perder metade do potássio corporal em uma corrida de 18km, no calor). Os atletas precisam suplementar potássio em doses consideradas elevadas para outras pessoas (até 2g por dia). Outras causas de perda de potássio são: vômitos, aldosteronismo, alcoolismo, anorexia, uso de corticoides, diarreias, uso de diuréticos, stress agudo, dietas à base de alimentos industrializados e ingesta excessiva de sal ou de açúcar. O aquecimento dos alimentos reduz os teores do mineral. O potássio tem como sinergistas a vitamina B6, o cálcio e o magnésio. Produtos naturais e frutos do mar possuem baixos teores de sódio e elevada concentração de potássio (1:24). O salmão, por exemplo, possui cem partes de potássio para dezessete
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partes de sódio; a sardinha, cem partes de potássio para vinte partes de sódio; o trigo integral, cento e vinte partes de potássio para uma parte de sódio e o leite, cem partes de potássio para trinta e seis partes de sódio. O processamento industrial alterou esse equilíbrio. A dieta americana, atualmente, apresenta uma média de duas partes de sódio para uma parte de potássio. O déficit de potássio é maior em atletas e trabalhadores braçais (perda pelo suor). É o principal constituinte do fluido intracelular, estando 99% do potássio corporal dentro da célula. Suplementos de potássio (sob forma de cloreto ou iodeto) não devem ser tomados em jejum, pelo risco de desencadear náusea e vômito, além de produzir irritação no tubo digestivo. Nos EUA, suplementos de potássio - contendo menos de 99mg/dose - são considerados nutricionais; suplementos com doses superiores necessitam receita médica. Doses de até 1080mg de cloreto ou citrato de potássio são considerados seguros. São fontes de potássio: frutas (especialmente a banana e o kiwi), castanhas, avelãs, sementes de girassol, amendoim, cogumelo, levedo e legumes frescos.
Selênio O selênio foi descoberto pelo químico sueco Jöns Berzelius, 1827, que colocou este nome em homenagem à deusa grega da Lua, “Selene”. Durante muito tempo foi considerado um veneno e, somente em 1979, foi aceito como nutriente essencial à saúde humana e classificado como antioxidante, embora sua essencialidade em animais já fosse conhecida desde 1957. As primeiras evidências foram colhidas na província de Keshan, na China. Nesta região, os solos são
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extremamente pobres em selênio, estando a ingesta diária em torno de apenas 30mcg. A carência de selênio origina cardiomegalia e alteração da função cardíaca (doença de Keshan). Em 1989, graças aos trabalhos do Dr. Klaus Scharwaz, foi reconhecido como mineral essencial e teve sua dose RDA estabelecida oficialmente (250mcg/dia). O corpo humano possui cerca 20mg de selênio, localizados principalmente no fígado, nos rins, nos testículos e no esperma. O selênio é um antioxidante vital, principalmente quando combinado com a vitamina E. Protege o sistema imunológico, previne a formação de RLs (destrói os peróxidos, agentes oxidantes que atacam as células) e ajuda na produção de anticorpos. Os russos descobriram que indivíduos usando selênio e vitamina E, quando vacinados, produzem mais anticorpos. O selênio induz incrementos às imunoglobulinas IgM e IgG. A manutenção do selênio e da glutation peroxidase em níveis fisiológicos no plasma poderá reduzir a incidência de doenças cardiovasculares, como a doença de Keshan e a aterosclerose. Este controle será de grande utilidade, também, naqueles indivíduos que estão recebendo alimentação parenteral, nos quais deve ser feita a suplementação de vários minerais (especialmente o cobre, o zinco, o cromo e o selênio). Entre as várias funções do selênio estão: ação antioxidante, manutenção da integridade de células musculares e de eritrócitos, síntese de DNA e RNA, neutralização de metais pesados, respiração celular e transferência de energia. Ainda, é importante na produção do esperma, integridade da queratina, função pancreática, imuno estimulação e síntese de anticorpos, e produção de coenzima Q-10. Baixos níveis de selênio são encontrados em portadores de artrite reumatoide,
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psoríase ou eczema, e durante processos inflamatórios e infecciosos. Na zona conhecida como “cinto de derrame cerebral” (Geórgia, Carolina do Sul e do Norte, nos EUA) citada por Finn e cols. (Lancet, 1982), encontram-se níveis baixíssimos de selênio no solo. O selênio nas dietas está caindo de forma alarmante, devido ao empobrecimento progressivo do solo e à industrialização dos alimentos. Estuda-se a incorporação de selênio e cromo às formulações de adubos, a fim de aumentar sua presença nos alimentos. Baixos teores no solo se devem, também, à competição entre os componentes sulfurados e o selênio, o que aumenta a produção de dióxido sulfúrico pelas plantas. Nova Zelândia, norte da Europa e Escandinávia são regiões com solos pobres em selênio. A partir de 1961, passou a ser feita a “correção” dos solos dessas regiões (adicionando-se o mineral em adubos). O selênio é considerado o mineral anticâncer. Há evidências epidemiológicas de que o aumento da ingesta reduza a incidência de certos tipos de câncer. O índice de câncer de esôfago, ovário, cólon, pele, fígado, próstata, estômago e reto é particularmente elevado nas regiões onde os teores de selênio no solo são baixos; já a incidência de câncer de pulmão, pâncreas e leucemia não parecem ter muita relação com os níveis de selênio. O Dr. Gerhard Schrauzer (Universidade da Califórnia) publicou os primeiros trabalhos relacionando níveis de selênio e incidência de câncer, especialmente os de mama e cólon. Novos trabalhos coordenados pela Dra. Christine S. Wilson (nutricionista da UCLA) confirmaram os achados iniciais. Estudos em ratos demonstraram o desenvolvimento de algum tipo de câncer naqueles privados de selênio; no grupo não privado de selênio, o mesmo não ocorreu.
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Índice aumentado de doenças cardiovasculares e aumento na incidência de tumores malignos, têm sido observados em zonas cujo solo é pobre em selênio. Indivíduos carentes apresentam risco três vezes maior de desenvolver algum câncer (especialmente no trato gastrointestinal); duas vezes mais chances de sofrer um infarto agudo do miocárdio e risco três vezes maior de evoluir ao óbito, se comparados aos indivíduos com taxas normais de selênio. As dietas americanas contêm 40% mais selênio do que as dietas asiáticas, assim como possuem maiores teores de gorduras poli-insaturadas facilmente oxidáveis (10 a 30g/dia nos EUA contra 7,0 a 8,7g/dia na Ásia). O selênio é um elemento essencial. Baixos níveis no sangue ou no mineralograma sugerem deficiência na ingesta, má-absorção ou alto consumo metabólico; alcoolismo, função imuno deficiente, excesso de metais pesados e defesa contra RLs diminuída são consequências da carência de selênio. Níveis altos no mineralograma são frequentes em usuários de xampu anti-caspa (sulfeto de selênio), correspondendo à contaminação externa. O selênio protege contra a intoxicação por cádmio, mercúrio e chumbo - complexa-se com eles formando selenitos, que são excretados pela urina. A atividade do selênio é incrementada pela vitamina E e vice-versa. Uma carência de selênio pode ser mais grave se houver níveis baixos de vitamina E concomitantemente. As condições associadas com a carência de selênio são: aumento do colesterol plasmático, infecções de repetição, piora da catarata, infertilidade (em animais), retardo no crescimento, pelagra infantil e deficiência no ciclo respiratório, se combinada com carência de vitamina E e baixos níveis de coenzima Q-10. Alguns grupos, caracteristicamente, fazem parte de uma população carente em selênio: são os vegetarianos, os idosos, as
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gestantes, os recém-nascidos, os tabagistas e os enfermos crônicos. O selênio é antioxidante, aumenta a função imune, inibe o dano cromossômico (evita mutações), protege contra alguns tipos de câncer e o surgimento de catarata. É indispensável à produção dos hormônios da tireoide e neutraliza metais pesados e outras substâncias tóxicas ao organismo. É possível avaliar o status do sistema imune observando-se os níveis de selênio, cobalto e zinco; baixos níveis indicam deficiências no sistema. Cobre e manganês baixos reforçam a hipótese diagnóstica. As formas inorgânicas de selênio, utilizadas antigamente (ex. selenito de sódio), foram as responsáveis pelas preocupações com a toxicidade associada ao uso do selênio. Os sais orgânicos, mais modernos, são bastante seguros e muito bem tolerados. Sintomas tóxicos podem ser observados apenas com altas dosagens (acima de 800mcg/dia), e em tratamentos por períodos prolongados. Os sintomas dos excessos de selênio são: gosto metálico na boca, aumento do suor corporal, náuseas, vômitos, queda de cabelos, fadiga e aumento das cáries dentárias. A tireoidite crônica é uma das patologias mais comuns da tireoide. A doença ataca homens e mulheres, mas costuma manifestar-se com maior incidência durante e depois da gravidez (uma em cada 10 mulheres). Trabalhos referendados pela Sociedade Americana de Endocrinologia, provaram que doses adequadas de selênio (100mcg 2x ao dia, tomados por doze meses) podem retardar e até evitar a doença. O efeito se deve à capacidade do selênio de proteger a glândula da oxidação causada pelo, em parte, processo inflamatório. O selênio elevado no cabelo é quase sempre devido à contaminação externa. O selênio orgânico é tóxico, quando ingerido em doses cem a trezentas vezes superiores às
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necessárias. Alguns compostos do selênio podem ser absorvidos pela pele. Uma intoxicação por selênio inclui a interferência no metabolismo dos aminoácidos enxofrados, mudanças estruturais do cabelo e das unhas, hálito de alho, gosto metálico na boca e descoloração da pele e dos dentes. Exames de confirmação podem ser feitos dosando-se o mineral no sangue ou na urina e, ainda, através da atividade da glutation peroxidase nas hemácias. São fontes de selênio: vegetais verdes folhosos, cogumelos, cebola, alho, tomate, levedo de cerveja, grãos, frutos do mar e vísceras. O reino animal (seleniometionina) é melhor fonte do que o reino vegetal (seleniocisteína). Vegetarianos devem ingerir suplementos de selênio.
Silício O silício foi identificado pelo químico francês Lavoisier em 1787 e definido como novo composto químico pelo inglês Humphry Davy, em 1824, sendo, depois do oxigênio, o elemento mais abundante na terra. Em 1972, foi considerado essencial para o homem. Enquanto a vitamina C funciona como catalisador na formação do colágeno, a sílica participa, efetivamente, da formação, do crescimento, da calcificação, da formação de cartilagem e do tecido conjuntivo. Está concentrada nos sítios ativos de calcificação dos ossos e é necessária para que a calcificação ocorra. Os componentes do colágeno (condroitin sulfato e ácido hialurônico) contêm cerca de 500ppm de sílica, sugerindo que esta seja o “crosslink” da molécula. Nas artérias com placas de ateroma observam-se baixos teores de sílica, quando comparadas às normais (até quatorze vezes menos). Com o envelhecimento, a pele e as paredes arteriais apresentam grande diminuição na quantidade de sílica,
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e uma diminuição das fibras de colágeno que necessitam de ácido hialurónico rico em silicio para se desenvolverem. (LOEPER, 1966 e 1978) O sangue humano possui a mesma concentração de sílica que o mar (1 a 5ppm). A sílica é um dos componentes básicos dos mucopolissacarídeos e é substância fundamental na composição da matriz óssea e do colágeno. Em vários orgãos e tecidos, é encontrada em altas concentrações: ossos, vasos, coração, músculos lisos e estriados, pele, cabelos, ligamentos, fígado, pulmões e cérebro. O silício (sílica) é considerado elemento essencial para o metabolismo humano, embora suas funções ainda não estejam completamente esclarecidas. O cabelo é sensível à contaminação externa devido a tratamentos com cremes rinse e outros. A toxicidade do silício por via oral é quase nula. Implantes de silicone podem vazar, contribuindo para o aumento dos níveis corporais totais e, posteriormente, dos níveis no cabelo. Níveis baixos de silício (verificados via mineralograma), devem ser normalizados, efetuando-se a reposição utilizando-se de formas orgânicas (goma guar) ou queladas (sílica quelada). São fontes de sílica: vegetais fibrosos, grãos integrais e frutos do mar (na forma orgânica ou inorgânica). A sílica tem presença ampla no reino vegetal, especialmente entre os vegetais fibrosos (brócolis, couve-flor, goma-guar, aveia e cevada). A cerveja é uma grande fonte de sílica. As formas inorgânicas de sílica - silicato de sódio e dióxido de silício - são pouco absorvidas, sendo preferíveis a sílica orgânica (vegetal) ou a sílica quelada com aminoácidos.
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Sódio O sódio é o 6º elemento mais abundante na Terra. O nome sódio origina-se do latim “sodanum”, remédio para dor de cabeça. Foi isolado, pela primeira vez, em 1807, pelo químico britânico Humphry Davy. A essencialidade do sódio é reconhecida desde 1805, graças a Samuel Mitchel. O valor do cloreto de sódio já era conhecido desde a Antiguidade, para preservar e realçar o sabor dos alimentos. É interessante assinalar que o soldo dos legionários romanos era conhecido como “salarium argentum”, justamente porque era pago em sal. Foi o mais valorizado dos condimentos e seu preço, em alguns momentos da História (século VI), alcançou o do ouro. Uma pessoa chega a consumir, em média, até 60 vezes mais sal do que a necessidade diária. No Brasil, o consumo está entre 8-10g/dia; nos EUA, a quantidade chega à 20g/dia. O Japão registra o maior consumo diário de sal do mundo, sendo 40% de sua população constituída por hipertensos. Nos EUA, 20% da população é portadora de HAS (hipertensão arterial sistêmica), um “assassino silencioso”. É aconselhável aos portadores desta enfermidade uma restrição à ingesta (no máximo 2g/dia) ou a substituição do sal de cozinha por um sal misto (70% de cloreto de potássio e 30% de cloreto de sódio). O selênio e a coenzima Q-10 costumam estar diminuídos nos hipertensos. As dietas industrializadas estão modificando a relação Na/K. Nos alimentos naturais, não processados, o potássio está presente em maior quantidade que o sódio. A industrialização dos alimentos alterou a proporção (rátio), aumentando o teor de sódio e depletando o de potássio, na proporção de 2/1, o que torna difícil encontrar pessoas carentes de sódio.
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Vanádio O nome vanádio foi dado por Sefstrom, em homenagem à deusa escandinava da beleza (Vanadis), pelo fato de os compostos de vanádio apresentarem belas tonalidades. O vanádio foi descoberto pelo mineralogista espanhol Andrés Del Rio, em 1801, que primeiramente o denominou eritrônio. O nome atual, Vanádio, foi proposto pelo sueco Nils Sefstrom. A quantidade de vanádio presente no corpo humano é cerca de 30mg, distribuídos principalmente pelo tecido adiposo. O Dr. Klaus Schwarz, um dos maiores estudiosos dos elementos-traço, indica como uma das funções do vanádio seu importante papel no crescimento, ferilização e na mineralização óssea, na higidez das cartilagens e na proteção contra as cáries(regiões ricas em vanádio apresentam menor número de caries). Vanádio, cromo, zinco e cobre são especialmente eficientes para baixar os níveis séricos de colesterol e triglicerídios, além de ajudar a manter a glicemia em níveis fisiológicos. Os portadores de diabetes tipos I e II apresentam, invariavelmente, baixos níveis de vanádio e cromo, frequentemente acompanhados pela carência de manganês e zinco. O vanádio parece inibir a MAO (monoaminoxidase), possibilitando um acúmulo de serotonina no SNC; daí sua indicação nos quadros depressivos. Pacientes portadores de transtorno afetivo bipolar (TAB – antigamente denominado como PMD: psicose maníaco depressiva) costumam apresentar carência do mineral, dentre outros nutrientes.
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É conhecido o adágio: “Os franceses cavam sua sepultura com os próprios garfos”. Os franceses são famosos por ingerirem elevadas quantidades de gordura; porém não apresentam, via de regra, altas taxas de colesterol. Este é o paradoxo francês. A proteção contra a hipercolesterolemia parece ser dada pelo vinho tinto (devido à presença de resveratrol, polifenóis e bioflavonoides), e pelo azeite extravirgem, extraído a frio e de primeira prensagem (que apresenta altos teores de cromo e vanádio e ácidos graxos ômega-9), além de ingerirem em sua dieta normal frutas, verduras e peixes. Uma dieta que inclua 6 a 8 azeitonas/dia costuma oferecer quantidades suficientes de vanádio ao metabolismo dos açúcares e das gorduras; a ingestão lipídica excessiva, porém, requer 100 a 200mcg/dia do elemento, para manter o equilíbrio metabólico. Baixos níveis de vanádio no sangue ou no mineralograma estão associados a deficiências na ingesta e/ou má absorção. Relacionam-se com alterações no metabolismo dos açúcares e das gorduras, tendência à depressão e (acredita-se) à maior incidência de cáries dentárias. Níveis elevados de vanádio no mineralograma não são comuns. A carência de vanádio leva à inibição da enzima esqualenosintetase (vanádio dependente), a qual desempenha importante papel na conversão de gorduras: a Coenzima A. O excesso de gorduras no sangue não decorre, necessariamente, da ingesta aumentada; a carência de minerais que catalisam as enzimas envolvidas no seu metabolismo pode ser uma das causas (cromo, vanádio, cobre e manganês). O vanádio, à semelhança do cromo, age diretamente sobre os receptores de membrana, favorecendo a ação da insulina. Baixos teores costumam estar presentes nos diabetes tipo I e tipo II - o vanádio apresenta ação “insulina like”.
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Um excesso de vanádio (vanadismo) pode ser tóxico, com sintomas que dependem da forma química utilizada ou do modo de contaminação. O vanádio inalado desencadeia tosse produtiva por irritação das vias respiratórias e bronquite. A ingestão excessiva pode causar problemas renais (nefrites) e interferir nas funções da cisteína. A confirmação dos níveis pode ser feita no sangue ou na urina de 24 horas. O vanádio é considerado um mineral com baixo poder de toxicidade. Doses de vanádio até 2mg são consideradas seguras, embora as dosagens usuais sejam de 100-200mcg. As formas mais utilizadas são: vanádio quelado e vanadil sulfato. Não há risco de intoxicação pela ingesta do vanádio oriundo de fontes naturais. Azeitonas e rabanetes contêm elevados teores do mineral (seis a oito azeitonas preenchem as necessidades diárias). Os maiores níveis de vanádio em alimentos foram encontrados em Kiev (Rússia). As principais fontes de vanádio são: os óleos de oliva extra-virgem e, em grau bem menor, os óleos de soja, de girassol e de milho. Outras fontes são: o ovo, a aveia, o arroz integral, o feijão, a cenoura, a pimenta, a salsa, as frutas frescas, os grãos integrais, os peixes e as ostras.
Zinco O zinco constitui 0,004 % dos minerais da Terra e é o 25º em ordem de abundância. O corpo humano possui cerca de 3 g do mineral, distribuídos pelo fígado, rins, próstata, olhos, pele e cabelo, principalmente. O zinco é o menos tóxico de todos os oligoelementos. O metal é utilizado desde a mais remota antiguidade sob a forma de óxido de zinco, para curar feridas e queimaduras. É atribuído a Paracelso a identificação do zinco
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como metal, no ano de1526. Sua essencialidade para formas inferiores de vida foi demonstrada em 1869, por Raulin. Em 1934, foi reconhecido como elemento essencial ao homem. Em 1939, foi descoberta a primeira enzima que continha zinco (catalase). Gabriel Bertrand demonstrou a essencialidade do zinco para ratos e, em 1944, Reed comprovou sua importância ao metabolismo das plantas. Em 1961 e 1966, Prasad e Halsted descobriram em anões iranianos, com cerca de 20 anos de idade, uma deficiência de zinco, que se traduzia por um desenvolvimento insuficiente dos orgãos genitais e uma falta de vivacidade intelectual. Um suplemento diário de zinco permitiu normalizar em 2 meses sua função sexual. Mais de 190 reações bioquímicas são zincodependentes. Até 1963, pensava-se que dificilmente existiria carência de zinco, devido a sua ampla distribuição no solo; sabe-se hoje que ela é muito frequente, pois nem sempre este elemento é bem assimilado pelas plantas. A deficiência de zinco durante a gestação pode originar um grande número de sequelas no concepto: dificuldade no aprendizado, problemas ósseos, alergias, imunidade reduzida e genitália subdesenvolvida. A carência de zinco pode ser causada por desordens nutricionais, como ocorre na anorexia e na bulimia. Nos países desenvolvidos, não costumam ocorrer deficiências severas; deficiências marginais, porém, são a regra. A dieta americana (10mg/dia), por exemplo, não fornece a RDA (15mg/dia). Harrison (1968) estudou a distribuição dos minerais no cérebro humano. Altos níveis de zinco e magnésio foram encontrados no hipocampo; cobre, no núcleo caudato; ferro, no globo pálido. Ibata e Otauka (1969) identificaram o zinco nas vesículas terminais dos neurônios que chegam ao hipocampo e, em menores concentrações, no núcleo caudato, putâmen, globo
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pálido, corpo caloso e tálamo. McLardy (1973) encontrou baixos níveis de zinco no hipocampo de esquizofrênicos e de alcoolistas. A retina, a glândula pineal, a próstata e o hipocampo necessitam de adequados teores de zinco para um bom funcionamento. Homens carentes de zinco podem apresentar diminuição no desempenho sexual (libido e potência). A reposição do mineral (15mg vo 2 vezes ao dia) associada à vitamina B6 (50mg vo 2 vezes ao dia) e à arginina (500mg vo 2 vezes ao dia), por um período de 3 meses, pode beneficiar esses pacientes. Meninos em idade de crescimento, cronicamente carentes de zinco, podem apresentar pequeno desenvolvimento da genitália. As vitaminas dependem do zinco para serem absorvidas, especialmente as do complexo B. A deficiência de zinco diminui a secreção de HCl no estômago. Já está comprovado o papel do zinco na cicatrização de queimaduras, por ser fundamental à ação da DNA e RNA polimerases, enzimas essenciais à síntese proteica. Um baixo índice sistêmico de zinco pode levar à diminuição na velocidade do crescimento; à redução na atividade das enzimas pancreáticas (proteinase, amilase, carboxipeptidase), que interferem com a digestão e absorção proteicas; à diminuição da síntese proteica e de DNA; a um retardo na cicatrização de feridas; à diminuição da incorporação dos aminoácidos enxofrados (cistina e metionina) à pele; ao eczema, erupções cutâneas, alopécia; ao aumento do catabolismo proteico e elevação do ácido úrico; à diminuição da síntese de colesterol e a distúrbios no metabolismo dos hormônios esteroides, uma vez que o colesterol é um precursor do estrógeno, progesterona e hormônios corticoides; à puberdade e desenvolvimento sexual retardados; ao decréscimo na produção de leite (durante a amamentação); à diminuição na
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capacidade de aprendizado; ao decréscimo da atividade da insulina, à anorexia e à hipogeusia (diminuição da acuidade do paladar, pela deficiência de zinco na gustatina). O zinco participa de funções importantes como o metabolismo dos açúcares e a fosforilação oxidativa (consiste em ligar um grupo fosfato à vit.B6). Na deficiência de zinco, a vit.B6 não é biotransformada de piridoxina para piridoxal fosfato, pois o grupo fosfato não pode ser ligado. Algumas das enzimas que dependem do zinco são: álcool desidrogenase, fosfatase alcalina, carboxipeptidase, anidrase carbônica, citocromo redutase, ácido aminolevulínico-A desidratase, gliceraldeído-fosfato desidrogenase, leucina aminopeptidase, enzimas de ácidos nucleicos, DNA polimerase, RNA polimerase, transcriptase reversa, timidina cinase e ribonuclease. Pacientes vítimas de queimaduras devem receber suplementação de zinco, uma vez que toda a síntese proteica é zinco-dependente. Outras situações que requerem suplementação de zinco são a doença de Crohn, programas de diálise e fibrose cística. Teores adequados de zinco protegem os indivíduos de uma possível hipertrofia prostática (selênio e magnésio completam a proteção). A deficiência de zinco em pacientes hospitalizados por um longo período é muito grande, especialmente naqueles com feridas que não cicatrizam. Suplementos de zinco (10mg vo 2 vezes ao dia), abreviam a estada hospitalar. Baixos níveis de zinco no sangue ou no mineralograma sugerem ingesta insuficiente, má absorção, deslocamento pelo cobre ou consumo metabólico exacerbado. Esses baixos teores se manifestam por pontos brancos nas unhas, alterações de odores corporais (tornam-se fétidos), perda do olfato e do
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paladar, diminuição da potência sexual, retardo no crescimento, dificuldade de cicatrização, amenorreia, perda do apetite, meteorismo intestinal, cegueira noturna e ânsia por alimentos quentes, picantes e salgados. Não parecem existir reservatórios para o zinco no organismo; isso explica a rapidez com que aparecem os sintomas de carência (manchas brancas nas unhas, diminuição da libido e alterações na pele). Em atletas, um dos sinais da carência de zinco baixo é a demora na recuperação de lesões músculo-esqueléticas. O zinco é necessário à regeneração do músculo e à cicatrização das lesões. Índices elevados de zinco (acima de 200ppm) no mineralograma não costumam indicar ingesta excessiva do mineral; em 95% dos casos indicam carência. Este paradoxo é explicável: toda síntese proteica é zinco dependente e o cabelo é um tecido em constante renovação. Esta necessidade imperiosa faz com que o zinco necessário seja sequestrado dos tecidos adjacentes. Outra possibilidade é a contaminação externa através do uso de xampus anti-caspa (muitos contêm zinco em sua formulação, como exemplo o piritionato de zinco). O zinco é componente de pelo menos 200 sistemas enzimáticos e participa de atividades como a metabolização do álcool pelo fígado, a mineralização do osso, a digestão das proteínas, a conversão do ATP em calorias, a regulação da atividade e a estabilização da insulina; ainda, a preservação do código genético, olfato, paladar, sistema imune, níveis fisiológicos de colesterol, desenvolvimento e crescimento normais, produção de hormônios e de prostaglandinas. Pacientes com hipertrofia prostática costumam apresentar no mineralograma baixos níveis de zinco, selênio e magnésio. A
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prevenção da hipertrofia prostática é feita com estes mesmos elementos, em doses de 10mg, 100mcg e 200mg, respectivamente, acrescentando-se, ainda, arginina 500mg 2x ao dia. Altas doses de zinco podem inibir a absorção de cobre e ferro. A presença do zinco facilita a absorção da vitamina A, da vitamina D e do cálcio. O zinco melhora a resposta imune, pois sua presença é fundamental à formação de linfócitos T e B, à diferenciação e maturação das células do sistema imune e à fagocitose, pois favorece a produção de RLs pelos fagócitos. A administração de zinco (10mg vo 2 vezes ao dia) reverte rapidamente a diminuição da função imune, especialmente nos idosos. Segundo o Dr. Carl Pfeiffer, crianças com otites médias de repetição beneficiam-se da administração de zinco (5mg 2 vezes ao dia) e vitamina B6 (20mg/dia). O zinco também age como agente antibacteriano no fluido prostático, protegendo todo o aparelho genito-urinário. Duzentos pacientes com hipertrofia prostática foram tratados com zinco (50mg/dia), durante 6 meses; desses, cento e quarenta obtiveram sensível redução da hipertrofia. Em situações de stress ou em queimaduras graves, o zinco corporal migra em direção às zonas de acelerado crescimento, por ser fundamental para a atividade da DNA e RNA polimerase, envolvidos na síntese proteica. Também para o crescimento e divisão das células, durante os estágios da vida em que há intensa proliferação celular (infância, adolescência e gravidez). Através de uma estrutura chamada “zinc finger” torna viável a ação de vários hormônios e sustenta especialmente a estrutura do DNA e do RNA.
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Níveis baixos de zinco podem estar associados com: anorexia, stress, infecções, má-digestão, acne, psoríase, queda de cabelo, estrias, náuseas, impotência, amenorreia, déficit de crescimento, hipogonadismo, diminuição do paladar e olfato, cirrose, unhas frágeis, hiperatividade infantil, diabete, epilepsia, aumento do odor corporal e halitose. R. C. Muerhcke (1956) foi o primeiro a relacionar o surgimento de manchas brancas nas unhas com a deficiência de zinco. O zinco também tem importante papel no tratamento de úlceras pépticas, anorexia, catarata, infecções, alcoolismo, esquizofrenia, úlceras de pele, deficiência imunológica, hipertrofia prostática, infertilidade, fadiga, fraqueza muscular, recuperação pós-cirúrgica e resfriados. Mossad e cols. publicaram em seu trabalho no “Annals of Internal Medicine” (julho de 1996), comprovando a eficácia do zinco nos estados gripais (15mg/sublingual 3 vezes ao dia). O zinco deve ser administrado como suplemento nutricional durante a gestação. Unhas frágeis são beneficiadas com a administração de zinco (15mg/dia), aminoácidos enxofrados - metionina, cisteína, cistina e taurina - (200mg/dia) e gelatina ou colágeno (300mg/dia). O zinco é fundamental para a atividade da insulina, pois favorece a sua associação em polímeros que oferecem maior resistência à degradação enzimática. Também é fundamental à síntese de DNA e proteínas, à manutenção dos níveis de vitamina A no sistema imune, à estrutura dos ossos, higidez da pele e funções glandulares. Zinco e cobre competem no intestino pelos mesmos sítios de absorção. Sempre que a relação Zn/Cu não obedecer à proporção de 5:1 até 15:1, haverá deslocamento de um deles (antagonismo). A carência pode ocorrer em curto espaço de
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tempo, pois o organismo não dispõe de grandes reservas de zinco. Assim como certos minerais e vitaminas, o zinco está envolvido na resposta do corpo ao stress; imunologicamente o corpo pode levar até seis meses para recuperar-se. Suplementos de zinco (10mg vo 2 vezes ao dia) reduzem o número de casos de úlceras de stress. O zinco e o selênio concorrem para a preservação dos sentidos da gustação, do olfato e da visão. O Dr. Robert Henkin foi o primeiro médico a associar a deficiência de zinco e vitamina B6 à diminuição do paladar (hipogeusia), devido à importância do zinco à gustatina; é sintoma frequente em indivíduos idosos. O leite humano é uma fonte razoável de zinco e é bem superior ao leite de vaca; neste, encontra-se ligado à caseína, proteína pouco digerível que torna difícil o acesso ao mineral. O alcoolismo leva à espoliação de zinco; mães alcoólatras geram filhos carentes (efeito transgeracional). O uso prolongado de diuréticos e a ingestão excessiva de café, chá ou mate, aumentam a taxa de excreção de zinco (100mg de cafeína são capazes de diminuir a absorção de zinco em até 30%). Enzimas importantes da digestão (carboxipeptidases e aminopeptidases) contêm zinco, assim como a alcooldesidrogenase, a anidrase carbônica, a fosfatase alcalina, a DNA e RNA polimerases I, II e III (essenciais ao início de toda a síntese de proteínas, ao fechamento de feridas, ao crescimento, entre outros) e a enzima conversora da angiotensina. O zinco é o principal mineral catalisador envolvido com a síntese e liberação do hormônio do crescimento (GH); é o
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mineral mais abundante no líquido seminal e desempenha importante papel na formação do epitélio germinativo, bem como na cicatrização em geral, devido sua ação sobre a RNA polimerase. A psoríase é agravada pela produção de RLs, respondendo bem à terapêutica antioxidante e anti-stress. Os níveis dermais de zinco na psoríase são baixos, o mesmo ocorrendo com a vitamina A e o ácido fólico. A suplementação de ácido fólico deve ser sempre lembrada nas psoríases (2mg vo 2 vezes ao dia), associado a antioxidantes. A náusea, sintoma comum nos primeiros meses de gravidez, está associada à deficiência de zinco e vitamina B6. Ambos são necessários para o crescimento dos tecidos do feto, que exige extraordinário aporte desses nutrientes. As primeiras observações deste fenômeno foram realizadas pela Dra. Lucille Hurley, da UCLA. Doses elevadas de zinco (acima de 15mg) também podem ocasionar náuseas. O zinco desempenha papel importante na secreção do ácido clorídrico, pois é ativador da enzima anidrase carbônica, que estimula a célula parietal do estômago a produzir HCl. Também ativa a álcool desidrogenase, sendo, portanto, importante para os alcoolistas. É o elemento mineral em maior carência nos pacientes submetidos à alimentação parenteral. A deficiência de zinco (indicador de má-absorção, hipoglicemia e pirolúria) impede a completa digestão das carnes pelas carboxipepitidases (Zn dependentes) a nível intestinal. Isso ocasiona alteração na permeabilidade intestinal e a absorção de fragmentos proteicos contendo beta-alanina, causando alergias alimentares. O desequilíbrio da flora intestinal (disbiose) favorece a proliferação da cândida e a produção do açúcar tóxico -
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arabinose, o qual compete com a glicose no ciclo de Krebs (como o cérebro tem 20 vezes mais mitocôndrias do que os outros tecidos, sofre fadiga mais intensa e queda do rendimento). O zinco e o cobre são necessários à conversão periférica do T4 a T3; a deficiência desses elementos pode levar a um quadro de hipotireoidismo. Nas pessoas idosas, os receptores de T3 e T4 costumam ser pouco sensíveis; zinco (15mg/dia) e vitamina B6 (100mg vo 2 vezes ao dia) aumentam ou devolvem a sensibilidade aos receptores. A administração de formulações à base de sulfato de zinco é pouco eficiente, uma vez que apenas 10 a 15% do zinco sob esta forma é absorvido; além disso, o sulfato de zinco é irritante gástrico. O uso de outros sais de zinco pode resultar em náuseas ou intolerância digestiva nos indivíduos sensíveis; em tais casos, orientar o paciente para ingerir o suplemento após as refeições. A melhor determinação laboratorial dos níveis de zinco é feita pela sua dosagem nos leucócitos. A dosagem sérica não é fidedigna. O zinco catalisa a reação de formação do EPA e DHA (ácidos Omega-3), que produzirão PGE-1 e PGE-3 (prostaglandinas que reduzem os processos inflamatórios), que aliviam a artrite ou artrite reumatoide. Também catalisa a conversão do ácido linoleico em GLA (ácido Omega-6). Os diferentes sais de zinco apresentam variados teores do mineral: zinco arginina, 10% do mineral; zinco citrato, 34%; zinco glicina, 20%; zinco gluconato, 10% e zinco histidina, também 10%. A dose diária ideal é 0,43mg por kg de peso
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corporal. Doses acima de 30mg podem ocasionar náuseas e ou vômitos. São fontes de zinco: produtos integrais, gema de ovos, frutos do mar, levedo de cerveja, abóbora, mostarda, nozes e carnes. As dietas ricas em vegetais e fibras costumam oferecer baixa biodisponibilidade do zinco, uma vez que este permanece firmemente absorvido aos fitatos e oxalatos.
ELEMENTOS E COMPOSIÇÃO MINERAL DO HOMEM OXIGÊNIO...........................62,65% CARBONO ...........................20,05% HIDROGÊNIO .......................9,15% NITROGÊNIO .......................5,01% CÁLCIO..................................1,38% FÓSFORO ..............................0,63% POTÁSSIO..............................0,21% ENXOFRE ..............................0,63% SÓDIO.....................................0,25% MAGNÉSIO............................0,03% FERRO.................................. 0,005% Fonte: Dr. Matti Tolonen, Finlândia, 1995.
ZINCO................................. 0,0025% COBRE ............................... 0,0003% VANÁDIO........................... 0,0001% MANGANÊS ...................... 0,0001% SILÍCIO ............................ 0,00001% RUBÍDIO .......................... 0,00001% CROMO............................ 0,00002% COBALTO........................ 0,00002% MOLIBDÊNIO................. 0,00002% SELÊNIO.......................... 0,00003% IODO................................. 0,00003%
Capítulo 3 - VITAMINAS “O homem está sempre disposto a negar aquilo que não compreende.” Pascal
Sir Frederick Hopkins, prêmio Nobel de Medicina em 1929, considerado o grande visionário e pai da teoria das vitaminas, anunciava em 1906 que deveriam existir nos alimentos - além de carboidratos, proteínas e gorduras - certas substâncias acessórias, necessárias à vida. O termo vitamina foi criado pelo químico do Lister Institute (Londres) Casemiro Funk, em 1911, para designar substâncias que possuíam uma função amina e demonstrar que elas eram “aminas essenciais à vida”. Hoje é sabido que nem todas as vitaminas são aminas, sendo, na verdade, um grupo quimicamente muito heterogêneo. Antes do século XX, doenças comuns como a pelagra, beri-beri, escorbuto, raquitismo, cegueira noturna, entre outras, não eram bem conhecidas. Acreditava-se, na época, que estas doenças eram de origem infecciosa, pois afetavam muitas pessoas de uma mesma comunidade. Não havia, até então, tratamento adequado para estas doenças. Segundo Dr. Renato Sabbatini (UNICAMP), o mais importante é que a descoberta de que várias doenças nutricionais, muitas delas mortais, existentes antes do século XX, eram na realidade, simples hipovitaminoses, podendo ser curadas, simples e definitivamente, pela ingestão de alimentos adequados. Outra fascinante fase da história das vitaminas começou na década de 50, quando médicos passaram a empregá-las em megadoses e associadas a minerais, aminoácidos e ácidos graxos essenciais. Esta prática teve início logo após tornaremse conhecidas carências nutricionais relacionadas à idade,
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profissão, hábitos e doenças. Na década de 60, foram descobertas outras propriedades das vitaminas, como por exemplo, a ação antioxidante de algumas delas (betacaroteno, A, C e E). O livro “Recomended Dietary Allowances” (RDA) é publicado pela Academia Nacional de Ciência dos EUA a cada 10 anos. As doses RDA foram determinadas para prevenir doenças carenciais específicas, mas não para promover um “ótimo” de saúde. Encontra-se em estudos o aumento das doses estabelecidas em 1989. As doses de suplementação nutricional (ortomoleculares) aconselhadas são, em geral, muito superiores às doses RDA. Através dos alimentos, seria preciso ingerir grandes quantidades de laranjas, levedura, algas, germem de trigo, acerola e outros alimentos para atingir doses terapêuticas. A suplementação nutricional preconizada e experimentalmente eficaz é da ordem de um fator x10, x20 ou mais. Portanto, é preciso recorrer a formas concentradas de nutrientes, nas quais um comprimido equivale a várias gramas ou quilos de frutas, folhas ou legumes. São características das vitaminas serem componentes essenciais à bioquímica dos seres vivos, ocorrerem em pequenas quantidades nos materiais biológicos e (pensava-se antigamente) não serem produzidas pelo organismo. As vitaminas hidrossolúveis (complexo B, C), são encontradas nas fontes vegetais e não são armazenadas pelo organismo, suas reservas esgotam-se em poucas semanas, por isso devem ser ingeridas continuamente. Seus excessos são facilmente excretados pela urina (por isso não são consideradas tóxicas). As vitaminas lipossolúveis são melhor absorvidas na presença de gorduras, bile e sucos pancreáticos. Estão presentes em fontes vegetais e animais. São armazenadas no organismo
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por longos períodos, especialmente no fígado, por isso podem acumular até doses tóxicas quando ingeridas por longos períodos. As patologias clínicas ou cirúrgicas, os acidentes e os traumatismos aumentam as necessidades de micronutrientes. Algumas alterações das funções digestivas podem ser melhoradas com a suplementação de enzimas. As queimaduras ocasionam perdas proteicas, vitamínicas e minerais, as quais devem ser compensadas; inflamações crônicas consomem antioxidantes, como o manganês, o selênio e ácidos graxos essenciais (Omega-3 e Omega-6). É possível acelerar a consolidação óssea mediante a administração de cálcio, magnésio, zinco, boro, manganês, sílica, vitamina D e vitamina C. As infecções podem ser combatidas e reduzidas sensivelmente mediante a administração de zinco, selênio, magnésio, manganês e vitaminas B5, B6 e C. Uma reflexão sobre a história dos aminoácidos, das vitaminas e minerais, motivada pela análise de mais de 20 anos de pesquisas e publicações médicas, permite supor que doses ótimas de nutrientes hidrossolúveis (excretáveis, portanto, quando em excesso) sejam mais importantes para a saúde do que doses inferiores às necessárias, as quais podem conduzir a doenças carenciais ou sintomas relacionados à deficiência de um ou mais dos 45 nutrientes (aminoácidos, minerais e vitaminas) essenciais à vida. Na prescrição médica, frequentemente, uma dose requer o aviamento de várias cápsulas. A cápsula 00 (um grama) não raro comporta apenas 600mg de princípios ativos, visto que os nutrientes são leves ou são fornecidos em concentrações inferiores a 100% (vitamina E, à 50%; betacaroteno, à 10%; minerais quelados, de 0,5 a 20%); a correção torna-se necessária. As vitaminas E e C devem ser prescritas à parte em razão do seu grande volume.
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A RDA de 60 mg/dia para a vitamina C é suficiente para manter a integridade do colágeno, mas quantidades adicionais são necessárias para manter a função adrenal, regenerar glutation e vitamina E, quelar RLs, prevenir a oxidação do colesterol, bloquear a formação de nitrosaminas, manter a função imune e manter a integridade dos vasos sanguíneos. Investigações epidemiológicas determinaram os efeitos do uso de nutrientes em doses muito superiores às da RDA, durante muitos anos, não constatando risco de toxicidade a curto ou médio prazo. Em contrapartida, as doses dos medicamentos habitualmente empregados podem variar apenas entre estreitos limites, pelo risco de efeitos colaterais indesejáveis, por vezes até letais. As vitaminas (em sua grande maioria, alguns aminoácidos) e os minerais não são sintetizados pelo organismo, devendo ser obtidos no meio externo. As vitaminas diferem dos minerais por serem compostos e não elementos simples como aqueles. Minerais não podem ser elaborados a partir de outras substâncias químicas; as vitaminas podem. É muito difícil estabelecer doses diárias adequadas aos diversos tipos de indivíduos, com diferentes idades, raças, hereditariedade, aspectos bioquímicos individuais, hábitos, situações de stress, etc. As vitaminas são compostos orgânicos necessários ao crescimento normal e à manutenção da vida. Funcionam como enzimas, coenzimas e/ou como antioxidantes. Regulam a liberação de energia dos alimentos para formar e manter os tecidos do corpo. Infecções graves aumentam dramaticamente o consumo de vitaminas e minerais, sendo necessário aumentar a dose durante esses períodos.
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Existem 15 vitaminas essenciais com uma ou mais funções específicas no organismo. A ausência de uma delas desencadeia um quadro de deficiência, visto que uma não substitui a outra. Nos EUA, estima-se que 65% da população (100 milhões de pessoas) ingira suplementos vitaminados sem controle médico; 50% dos adultos o fazem de maneira sistemática, o que ocasiona quatro mil casos anuais de intoxicação. Quando descobertas, a partir de 1911, a maioria das vitaminas foi denominada por uma letra do alfabeto; o desconhecimento de sua estrutura química, não permitiu atribuir-lhes um nome científico. As vitaminas em doses superiores às RDA são úteis para ajudar a varrer RLs, deter suas reações em cadeia e prevenir a rancificação das gorduras do corpo. A suplementação de vitaminas e antioxidantes concorre para a manutenção da saúde, além de prevenir doenças carenciais e ajudar na prevenção de doenças degenerativas. São comuns as deficiências de vitaminas e minerais, embora muitas vezes subclínicas. Carências nutricionais significativas foram encontradas na população americana: 26% de deficientes em vitamina C; 31%, em vitamina A; 42%, em cálcio; 51%, em B6; 12%, em B2; 17%, em B1; 15%, em B12 e 32%, em ferro. Os brasileiros também apresentam carências importantes em vitaminas do complexo B, ferro, cálcio, magnésio, zinco, selênio e cromo.
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Doses RDA das Principais Vitaminas e Minerais Bioflavonoides.........não estabelecida Cálcio ............................. 800 mg Cobalto ............................. 5 mcg Cobre................................. 2 mg Cromo...................não estabelecida Iodo ................... 1 mcg/kg de peso Ferro .................. 18 mg p/mulheres ................. e 10 mg p/homens Magnésio ......................... 300 mg Manganês............................ 5 mg Molibdênio ...................... 150 mcg Fósforo .......................... 800 mg Potássio .................não estabelecida Selênio ........................... 250 mcg Vanádio .......................... 100 mcg Zinco ................................ 15 mg
Vitamina A ............... 5.000 U.I. Vitamina B1 .................... 2 mg Vitamina B2 .................. 1,6 mg Vitamina B3 ................... 16 mg Vitamina B5 ................... 10 mg Vitamina B6 .................... 2 mg Vitamina B8 ................ 300 mcg Vitamina B9 ................ 400 mcg Vit. B10 (PABA) não estabelecida Vitamina B12 ................. 3 mcg Vitamina B15 ..... não estabelecida Vitamina C .................... 60 mg Vitamina D ..................400 U.I. Vitamina E ................... 16 U.I. Vitamina K ........ não estabelecida
Fonte: National Research Council (USA)
As vitaminas e os minerais não têm valor calórico; esses complementos, em forma de drágeas, cápsulas ou comprimidos, podem conter alguma caloria pelos excipientes ou substâncias de revestimento (como a lactose, por exemplo), porém seu teor calórico é desprezível. Uma publicação do Departamento de Agricultura dos EUA indica o empobrecimento no conteúdo de minerais dos alimentos (aproximadamente 68% nos anos 70). Os procedimentos modernos de conservação e armazenamento agravaram esse fenômeno. As vitaminas E, C e, em menor intensidade, a B1, sofrem alterações pela exposição ao frio, ao calor, ao ar (oxidação) e aos processos de preparo dos alimentos para congelamento; há mais vitaminas em uma lata de sardinhas em óleo do que em uma alface que tenha viajado e permanecido na banca do mercado por muito tempo (muitas vitaminas sofrem oxidação). A vitamina E exerce uma função antioxidante, “protetora” das demais vitaminas; a deficiência de
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vitamina E, portanto, pode trazer consequências indesejáveis e complexas ao equilíbrio vitamínico As formas de preparação culinária agravam o empobrecimento dos alimentos. A cocção prolongada da carne e dos legumes pode oxidar e destruir as vitaminas do complexo B (especialmente o ácido fólico, que é a vitamina mais sensível à luz e ao calor), além das vitaminas C e E. Os legumes cozidos deixam na panela as vitaminas solúveis B e C, assim como a maior parte de seus minerais. ESTABILIDADE DAS VITAMINAS VITAMINA
A B1 B2 B3 B5 B6 B8 B9 B12 C D E K
SENSÍVEL À LUZ
SENSÍVEL À OXIDAÇÃO
SENSÍVEL AO CALOR
muito sensível muito muito estável sensível estável muito sensível pouco muito pouco muito
muito sensível estável estável pouco estável estável muito estável muito muito pouco sensível
resistente muito estável estável sensível estável estável muito estável muito sensível estável pouco
Fonte: Dr. Juarez Callegaro (RS)
As vitaminas sintéticas são puras e quimicamente idênticas às encontradas nos alimentos, não fazendo diferença, ao organismo humano, como foram obtidas. Os antibióticos e os antiinflamatórios usados por longo tempo podem modificar a flora intestinal, diminuindo a síntese de algumas vitaminas. Para compensar o efeito desses medicamentos está indicado administrar lactobacilos e uma
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fórmula anti-RLs (betacaroteno, vitamina C, vitamina E e selênio). Todas as formas de stress (físico, químico e psicológico) aumentam as necessidades de zinco, de aminoácidos e das vitaminas B3, B5, B6 e C. Alguns medicamentos também podem afetar o equilíbrio vitamínico, alterando a absorção das vitaminas, sua utilização, armazenagem e nível de eliminação, por exemplo: anticoncepcionais (B6 e ácido fólico); tranquilizantes (B2); analgésicos (ácido fólico e C), diuréticos (ácido fólico) e outros. Vitaminas e minerais coexistem e costumam interagir entre sí. O complexo B, por exemplo, é absorvido junto com o fósforo; a vitamina C aumenta a absorção do ferro; a absorção do cálcio não ocorre sem vitamina D; o zinco está relacionado com a vitamina A. Alguns minerais integram a estrutura das vitaminas como, por exemplo, o enxofre (S) que faz parte da molécula de vitamina B1 e o cobalto, da vitamina B12. A carência vitamínica pode ser causada: pelo consumo inadequado de nutrientes devido a regime alimentar severo, à pobreza dos alimentos ou à ingestão insuficiente (má escolha no cardápio diário ou balanceamento inadequado); ou ainda por deficiência na absorção. O pão branco possui magnésio 22% a menos do que o pão integral; zinco, 38% a menos; cromo, 28% a menos; cobre, 42% a menos; manganês, 12% a menos; vitamina E, 4% a menos; vitamina B6, 18% a menos; ácido fólico, 63% a menos e vitamina B5, 56% a menos. Há grande variação no teor vitamínico das frutas e legumes frescos devido ao clima, solo, do método ou maturidade por ocasião de colheita. O transporte e o armazenamento também afetam seu teor de vitaminas e minerais. Jack Drumond, em 1920 sugeriu classificar as vitaminas em dois grupos: as hidrossolúveis (complexo B e vitamina C),
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que se dissolvem em água e as lipossolúveis (vitaminas A, D, E e K), que se dissolvem em gordura. Enquanto as lipossolúveis são armazenadas nos tecidos, as hidrossolúveis (exceto a B12) não o são em quantidades apreciáveis, necessitando ser repostas mais regularmente do que aquelas. Quando não se consomem vitaminas em quantidades suficientes - particularmente as vitaminas A, B1 e C – pode ocorrer uma perda de apetite que se restabelece com a ingestão destas vitaminas; quando já se consomem vitaminas de forma balanceada, quantidades extras não afetam o apetite. Ao eliminar certos alimentos da dieta, pode-se facilmente romper o equilíbrio na ingesta de vitaminas e minerais. A maioria dos nutricionistas concorda que, numa dieta com 1600 calorias ou menos, é virtualmente impossível suprir as necessidades vitamínicas, o que torna necessária a suplementação, especialmente em regimes por período prolongado. A hora de tomar vitaminas, em geral, não é importante, sendo mais fácil lembrar-se tomando-as à mesma hora diariamente. Uma exceção é a vitamina C: se a intenção específica é melhorar a absorção de ferro ou bloquear a formação de nitrosaminas no estômago, deve ser tomada durante as refeições. O organismo não sintetiza suas próprias vitaminas, exceto a vitamina D e pequenas quantidades (insuficientes) de biotina, ácido fólico, niacina e vitamina K. As vitaminas precisam ser obtidas em fontes externas, através dos alimentos ou por suplementação. As vitaminas hidrossolúveis (complexo B e vitamina C) podem ser ingeridas em doses elevadas sem problemas, pois o excesso é eliminado com a urina. As vitaminas lipossolúveis A e D apresentam margem de segurança menor: a vitamina A é considerada segura em quantidades até 10 vezes a RDA; a
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vitamina D, até 5 vezes. Doses mais elevadas dessas vitaminas poderão ser administradas a critério médico. Para atingir as necessidades diárias de vitamina E (16UI/dia) é necessário, por exemplo, consumir 16 ameixas pretas ou 20 damascos; para obter 400UI diárias (dose preconizada como antioxidante ) seria necessário ingerir 400 ameixas pretas ou 500 damascos. O americano médio consome 10,5mg/dia. Torna-se necessário, então, administrarem-se suplementos. Quando uma vitamina ou um mineral estiver sob a forma “time release” (liberação gradual), significa que os ingredientes foram cientificamente encapsulados ou drageados e calibrados em pequenos grânulos com diferente número de camadas, as quais são liberadas em espaços de tempo determinados (de hora em hora, por exemplo, no período de até 12 horas). Os níveis corporais de vitaminas podem ser avaliados laboratorialmente, de forma isolada, uma a uma, orientados pelos sintomas carênciais da vitamina ou, de forma mais abrangente, em sua totalidade, através do vitaminograma, exame realizado a partir de uma amostra do sangue, que analisa o conteúdo da totalidade das vitaminas.
Vitamina A A vitamina A foi descoberta em 1913 por Elmer McCollum (Universidade de Wisconsin) e Osborne e Mendel (Universidade de Yale). Estudando o óleo de fígado de bacalhau, observaram a presença de uma substância que evitava a xeroftalmia, xerodermia e o raquitismo. Cerca de 40% dos americanos (especialmente os idosos) não ingerem a dose RDA de vitamina A. Foi sintetizada pela primeira vez em 1947. Na Antiguidade, já se conhecia a influência dos alimentos
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sobre a visão e a pele. O papiro de Eber (1500 a.C.) recomendou a ingestão de fígado de boi contra a cegueira; os chineses igualmente conheciam o efeito terapêutico da ingesta de fígado de animais. Na Bíblia, o arcanjo Rafael sugeriu ao filho de Tobias o uso de fígado de peixe para as manchas brancas dos olhos de seu pai. Hipócrates recomendou o fígado contra transtornos visuais; Celso, médico romano (25 a.C. - 40 d.C.), foi o primeiro a falar em xeroftalmia. Em 1750, na Alemanha, a cegueira era tratada com óleo de fígado de bacalhau. Uma cápsula de óleo de fígado de bacalhau (500mg) contém, em média, 5000UI de vitamina A e 40UI de vitamina D. A vitamina A é essencial ao funcionamento da retina (daí o nome “retinoide”) por promover a formação dos pigmentos que tornam a visão noturna possível (ao combinar-se com o pigmento opsina, forma a rodopsina). Também é fundamental para o crescimento e manutenção dos tecidos que revestem a superfície do corpo e para tornar o sistema imunológico mais ativo, melhorando a resistência às infecções. A cegueira noturna é o primeiro sintoma clínico de deficiência da vitamina. As reservas corporais das vitaminas A, B6 e C diminuem nas infecções virais e bacterianas; a febre intensifica a eliminação de vitamina B2; as vitaminas A, B1, B2, B12, betacaroteno e o ácido fólico estimulam macrófagos e linfócitos T e B. A carência de vitamina A origina uma regressão nas dimensões do timo e do baço, o que leva a uma queda na produção de glóbulos brancos. Crianças nascidas com deficiência de vitamina A são, portanto, mais sensíveis a doenças infecciosas; por outro lado, doses elevadas de vitamina A (acima de 10 vezes a RDA) podem diminuir a função imunológica. Anualmente, a nível
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mundial, 5 a 10 milhões de crianças têm severa deficiência de vitamina A muitas delas evoluindo para a cegueira, especialmente em países da África e da Ásia. Sua carência também costuma estar associada a pele seca, alterações cutâneas, perda do apetite e fadiga. A reserva hepática de vitamina A é suficiente para, pelo menos 6 meses; seu consumo, quando ocorre, se faz à razão de 0,5% ao dia. A quantidade armazenada é cerca de 1 milhão de UI, sendo que, nas hepatopatias, a capacidade de depósito está muito diminuída. A toxidez começa a ser percebida quando o estoque corporal está 100 vezes acima do necessário. Os fígados dos animais são grandes fontes da vitamina. O fígado do porco contém 3000UI/100g e o fígado de um urso polar pode conter 600000UI/100g (Rodahl e Moore, 1942). O primeiro caso de intoxicação por fígado de urso foi relatado pelo explorador ártico Kane, em 1857. Os sintomas de intoxicação são: cefaleia, náuseas, vômitos, dores abdominais, insônia, irritabilidade, queda de cabelo e aumento do fígado. Durante a gestação deve-se administrar com cautela suplementos contendo vitamina A (preferindo-se o betacaroteno) devido ao risco de retardo no crescimento fetal e malformações no trato urinário (o aporte máximo seguro é de 8000UI). Médicos da FUNASA ( Fundação Nacional de Saúde) identificaram carência de vitamina A em crianças índias de até 5 anos e mulheres indias em fase de amamentação nas aldeias indígenas brasileiras. Em 2006, 104 mil índios receberam suplementação da vitamina. A equivalência da Vitamina A é a seguinte: 1mg de Vitamina A, equivale a 6mg de Betacaroteno ou a 3.300UI de Betacaroteno, sendo a dose diária ideal, de 350UI/kg de peso
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corporal. Doses acima de 50000UI/dia devem ser utilizadas com cautela. São fontes de vitamina A: óleo de fígado de bacalhau, ovos, manteiga, fígado de animais.
Betacaroteno O termo caroteno deriva da palavra francesa “carotte” ou da inglesa “carrot”, que significa cenoura, uma fonte importante de carotenos. Também são encontrados na batata doce, abóbora, frutas, ervilha e pimentão verde. Os carotenoides receberam este nome nos anos 30 e, desde então, mais de 500 foram identificados, podendo o organismo transformar em vitamina A cerca de 50 deles. Os mais ativos são o Betacaroteno e Licopeno (o Betacaroteno é melhor fonte de Vitamina A e o Licopeno apresenta maior atividade antioxidante). O betacaroteno (pró-vitamina A) é absorvido no trato digestivo e pode alcançar altas concentrações sanguíneas, produzindo uma hipercarotenemia. Quando o betacaroteno se eleva muito no sangue, seu único efeito colateral é produzir uma coloração amarela nas extremidades (nariz, dedos, palma das mãos) sem, contudo, apresentar os efeitos tóxicos da vitamina A. Quando metabolizado, o betacaroteno origina duas moléculas de vitamina A, mas esta transformação somente ocorrerá à medida em que for sendo necessária. A conversão é feita pela enzima betacaroteno-15,15-dioxigenase e ocorre em dois locais do organismo: na mucosa do intestino e no fígado. Algumas pessoas apresentam dificuldade em fazer essa conversão, em especial os diabéticos e os hipertireoideos.
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O consumo de betacaroteno nos EUA, via alimentação, é de 1,6mg/dia, enquanto o valor recomendável é de 6mg/dia. Uma xícara de suco de tomate contém 10% da necessidade diária. A ingesta do betacaroteno é muito segura: doses de 360mg/dia durante longos períodos não mostraram nenhum efeito colateral. Os níveis corporais de betacaroteno em mulheres com candidíase vaginal encontram-se diminuídos (cerca de 30% do valor normal); uma dieta rica ou a suplementação de betacaroteno são fatores de proteção contra a candidíase vaginal. Inúmeros trabalhos científicos evidenciam uma ação anticancerígena atribuída ao betacaroteno, especialmente para câncer de bexiga, próstata, laringe, esôfago, estômago e reto. As concentrações sanguineas de carotenoides são bons indicadores de frutas e hortaliceas. Trabalhos científicos relacionam autos níveis sanguineos de betacaroteno e outros carotenoides a diminuição do risco de câncer e doenças vasculares. A estrutura desses compostos, principalmente a presença de suas duplas ligações, torna possível a captação e neutralização de radicais livres. Recentes trabalhos no Japão (Universidade de Kyoto), apontam que o alfa-caroteno apresenta atividade 10 vezes superior ao betacaroteno, porém, até 1996, esse produto não estava disponível comercialmente. Os carotenos podem ser rapidamente oxidados protegendo assim outros compostos da oxidação. Podem quelar oxigênio singlet, pela transferência da energia daquele para o carotenoide, devendo este último dissipar a energia de excitação, liberando calor e regenerando a molécula original. São fontes de betacaroteno: cenoura e todos os vegetais e frutas das cores vermelha, laranja, amarelo e verdes.
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VITAMINAS: EQUIVALÊNCIA ENTRE U.I. E MILIGRAMAS Vitaminas lipossolúveis - A, D, E e K - são expressas em Unidade Internacional (U.I.). Vitaminas hidrossolúveis são expressas em microgramas ou miligramas, e não em U.I.. Uma U.I. de vitamina E é igual a 1 mg de vitamina E (DL-alfa tocoferol). Uma U.I. de betacaroteno é igual a 0,000359 g ou 1 mg de betacaroteno é igual a 1,666 U.I. Uma U.I. de vitamina D é igual a 0,025 mcg de vitamina D. 1 mcg de vitamina D equivale a 40 U.I.. Uma U.I. de vitamina A é igual a 0,000344 mg de vitamina A. 1 mg de vitamina A corresponde a 2.906 U.I.. Fonte: Dr.Harold M. Silverman (USA)
Complexo B Na época áurea da descoberta de novas vitaminas, muitos compostos foram incluídos erroneamente entre elas; novas pesquisas evidenciaram o equívoco, levando a uma reclassificação daquelas substâncias, todas elas denominadas pelas letras iniciais do alfabeto. A vitamina antiescorbútica foi denominada vitamina C; a que prevenia o raquitismo, vitamina D; a que era essencial à fertilidade, vitamina E; e a necessária à coagulação do sangue, vitamina K. As letras F (ácidos graxos poliinsaturados), H (biotina), M, P (bioflavonoides), Q (ubiquinona), T e U, também foram empregadas para designar vitaminas ou compostos similares. O nome “tiamina” para a vitamina B1 foi proposto em 1931, por Williams, sendo associada à neurite e à profilaxia do beribéri; a segunda fração (vitamina B2) foi chamada de
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vitamina G (do inglês, grow), por favorecer o crescimento. A vitamina B4 correspondia à “adenina”; a vitamina B7 foi classificada por Leboulanger como “colina” (outros pesquisadores a chamaram de vitamina J); a vitamina I correspondia ao “inositol”. O ácido fólico era vitamina L-1; a vitamina B12 era vitamina L2; a vitamina M era “estigmasterol”, substância derivada dos sitosteróis. O ácido lipoico era vitamina N; a carnitina era vitamina O para alguns e vitamina B11 para outros. A carência de vitaminas do complexo B está relacionada a distúrbios do comportamento (principalmente a deficiência de tiamina, niacinamida, piridoxina e inositol); os estados de ansiedade denotam, não raramente, deficiências nutricionais desse grupo. O organismo consegue estocar somente pequenas quantidades do complexo B, sendo necessária sua ingestão diária. As doses RDA do complexo B podem ser aumentadas em, pelo menos, até 20 vezes sem nenhum problema. A elevada ingesta de açúcar pode causar deficiência de vitaminas do complexo B, pela produção de alterações na flora intestinal. O complexo B é removido dos alimentos pelos processos de industrialização, chegando a uma perda de até 80%.
Vitamina B1 (tiamina) O béri-béri foi descoberto na China (2600 a.C.) associado ao branqueamento do arroz (doença dos “comedores de arroz”). Outrora foi considerada uma doença tropical pela sua grande incidência nas regiões quentes da Ásia (Filipinas, Tailândia, Malásia, Coreia e Japão). Em 1878, o almirante japonês Takaki, observando que a doença atingia apenas aos marinheiros, mas não aos oficiais, pressentiu a origem nutricional da doença, o
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que fez com que trocasse a dieta de arroz dos marinheiros por uma alimentação variada. Em 1890, o holandês Eijkman observou que os presos da penitenciária de Java sofriam transtornos cardíacos e paralisias; notou, também, que a paralisia afetava as galinhas criadas no presídio. Como ambos se alimentavam com arroz descascado, foi dado arroz integral aos detentos e às galinhas, com resultados espetaculares. A palavra béri-béri é de origem senegalesa, significa “eu não posso”, indicando estar a pessoa impossibilitada de fazer algo. Em japonês, se chama kakke “doença das pernas”. Em 1911, Funk, do Lister Institute, isolou da película do arroz uma substância que chamou de antineurítica. A estrutura da vitamina B1 foi conhecida e isolada em 1931 pelos cientistas holandeses Jansen e Donath e sua síntese realizada por Williams (Universidade de Columbia), em 1936. Foi proposto o nome de tiamina para esta vitamina pelo fato dela conter enxofre em sua estrutura. A vitamina B1 atua como coenzima em, pelo menos, 24 sistemas enzimáticos e 90% do conteúdo corporal é encontrado nas hemácias e leucócitos. No metabolismo dos hidratos de carbono, é necessária à formação da Acetil-coenzima A, a partir do piruvato, assim como à eliminação de CO2, no ciclo de Krebs. O déficit de tiamina causa a acumulação de ácido pirúvico no corpo. A deficiência de vitamina B1 é a terceira causa de demência nos EUA (ocorre em até 30% dos pacientes psiquiátricos), sendo essencial para a produção de energia no cérebro. A deficiência de tiamina diminui a função mental e, em casos mais severos, pode levar à psicose. Epilépticos em uso de fenitoina devem receber suplementação diária de 50mg. A vitamina B1, a exemplo das demais vitaminas do complexo B, é altamente solúvel em água; o cozimento dos alimentos faz com que seu conteúdo vitamínico fique nela dissolvido. Esta água, rica em vitaminas, não deve ser
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desprezada, mas usada para a preparação de sopas, caldos ou molhos. O calor destrói a vitamina B1; alimentos cozidos em forno de microondas têm perda semelhante à daqueles preparados de forma convencional (pelo menos 20% de seu conteúdo). Também prejudicam a B1: a cafeína, o álcool, o ar, a água, os estrógenos, os antiácidos, as sulfas e, especialmente, os nitratos e sulfitos (utilizados como conservantes em carnes e vinhos). É o elemento mais instável do complexo B. Consumidores de açúcar, diabéticos, portadores da doença de Crohn e esclerose múltipla, gestantes e alcoólatras necessitam de maior aporte de vitamina B1; segundo o American Journal of Clinical Nutrition, 25 % das gestantes americanas são carentes de tiamina. Situações de estafa, enfermidades e ansiedade aumentam a necessidade de vitamina B1. Baixos níveis da vitamina podem originar confusão mental em idosos, especialmente no período pós-operatório. A tiamina não é tóxica, nem mesmo em altas doses, como 600mg/dia (300 vezes a RDA). O álcool produz expoliação do ácido fólico e demais vitaminas do complexo B, especialmente vitamina B1 (além de diminuir sua conversão para a forma ativa). Cerca de 70% dos alcoolistas apresentam deficiência desta vitamina, além da vitamina B12, cromo, magnésio, zinco e potássio. Sua presença é importante para neutralizar os efeitos tóxicos do álcool. A vitamina B1 também é prejudicada pela ingesta excessiva de cafeína (acima de 4 cafezinhos/dia). A deficiência de tiamina também tem sido observada em algumas miocardiopatias e em 30% dos esquizofrênicos. A tiamina é necessária à glicólise e ao metabolismo de carboidratos, principalmente no início do processo, quando se dá a fosforilação; sob forma de tiamina difosfato, funciona como coenzima vital para a respiração celular. A suplementação pode melhorar o quadro de neuropatia diabética.
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Uma enzima chamada tiaminase, encontrada em peixes crus, desativa 50% da tiamina; o cozimento destrói esta enzima. A ingestão de quantidades apreciáveis de peixe cru requer suplemento adicional de B1. O chá preto e o café, igualmente, contêm um fator antitiamina. O abuso do álcool diminui (depleta) os níveis da vitamina. A demanda de vitamina B1 estará aumentada sempre que houver um incremento na taxa do metabolismo (febre, hipertireoidismo, atividade muscular intensa, gravidez, lactação e stress emocional). Pessoas com ingesta excessiva de carboidratos e/ou alimentos industrializados devem aumentar o aporte de vitamina B1. A eliminação da vitamina B1 pela transpiração atua como um eficaz repelente de insetos, fato publicado pelo Medical Letters, em 1968. Dos cem voluntários que participaram da experimentação (100mg/dia), setenta não foram atacados pelos insetos. A Vitamina B1 tem amplo uso em medicina. É utilizada nas neurites, nevralgias, depressão, prevenção de enjoos (geralmente associada à Vitamina B6 ), esclerose múltipla, repelente anti-insetos, antioxidante, stress, alterações de humor, e nas intoxicações pelo chumbo. A vitamina B1 também é conhecida como “aneurina”, “fator antibéri-béri” ou ainda como “vitamina do humor”. Variações bruscas em seus níveis foram associadas às mudanças no humor. A dose diária ideal é de 0,40mg/kg de peso corporal. Não são conhecidas doses tóxicas para a tiamina. São fontes de vitamina B1: alimentos de origem animal (carnes e leite), grãos integrais (arroz, trigo, cevada, soja), frutos do mar, feijão, levedo de cerveja e amendoim. O abacate é a fruta mais rica em vitamina B1 e, dentre as fontes animais,
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destaca-se a carne de porco (10 vezes mais vitamina do que outras carnes vermelhas).
Vitamina B2 (riboflavina) Em 1928, Chick e Roscoe demonstraram que ratos jovens, alimentados com dieta restrita, apresentavam parada no crescimento e dermatite. A introdução de alimentos completos revertia o quadro, sugerindo a presença de um “fator” - na alimentação normal - capaz de evitar as alterações. O “fator” foi isolado em 1933 e sintetizado por Kuhn e Karrer. A vitamina B2 é comercializada sob forma de riboflavina ou de riboflavina-5-fosfato (forma ativa). A vitamina B2 faz parte de vários sistemas enzimáticos (oxidases e desidrogenases); participa ativamente como coenzima (FAD, FMN) em pelo menos 3 processos envolvidos na produção de energia, como aceptor e transportador de H. Sua ação é diminuída pelos antidepressivos tricíclicos, antineoplásicos, fenotiazinas, antibióticos e pelo probenecide. Sua presença é importante na oxidação dos aminoácidos, na síntese e oxidação dos ácidos graxos, na oxidação da glicose e no metabolismo dos hormônios tireoideanos. As necessidades de vitamina B2 aumentam nas queimaduras, cirurgias, febre, tuberculose, alcoolismo e diabete mélito descompensado. A vitamina B2 ativa a enzima glutation redutase, necessária à reativação da enzima glutation peroxidase; exerce função fisiológica no crescimento e no desenvolvimento do feto, na higidez das mucosas, epitélios e olhos; está envolvida na síntese do ACTH e, a exemplo do que ocorre com a tiamina, sua presença é essencial à ação da tiroxina e da insulina. Alguns quadros de enxaqueca parecem ser desencadeados pela redução na produção de energia dentro das mitocôndrias. A suplementação de vitamina B2 (50 mg 2 vezes ao dia) e
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coenzima Q-10 (20 mg 2 vezes ao dia) aumentam de forma eficiente a produção de energia na mitocôndria, servindo como preventivo. A vitamina B2 é a mais estável das vitaminas, resiste bem ao calor (100ºC/6 horas), mas não resiste bem à luz (particularmente a vitamina do leite). Em 3 horas, 75% da vitamina B2 exposta à luz é destruída, originando uma lumiflavina que é capaz de destruir a vitamina C (bastam 5% de lumiflavina para destruir metade da vitamina C presente). A destruição é máxima em pH alcalino. A carência de vitamina B2 é a mais importante dos países industrializados, tendo sido diagnosticada em 20% dos pacientes hospitalizados, na Inglaterra. No olho existe uma quantidade notável de vitamina B2, a qual participa na adaptação do olho à exposição à luz solar direta; a deficiência desta vitamina é causa de fotofobia. As deficiências só são percebidas após três a quatro meses de privação (pequenas quantidades são armazenadas nos rins e no fígado). É necessária para as funções da vitamina B6 e da vitamina B3, sendo característica a intensa coloração amarela na urina dos usuários dessa vitamina. É considerada tão segura que seu uso é autorizado como corante natural (para ser adicionada em alimentos). Segundo o Dr.Roger J. Williams, criador do conceito de “individualidade bioquímica”, as necessidades diárias de vitamina B2 variam muito de indivíduo para indivíduo (chegando a diferenças de até 20 vezes). A Dra.Sarah Short, da Universidade de Siracusa, relatou que os atletas, mesmo consumindo dietas com 14.000 calorias/dia, podiam apresentar deficiência dessa vitamina. A vitamina B2 é empregada no alcoolismo, dermatites, prevenção da catarata, stress, fadiga crônica e acne entre outras
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utilizações. São sintomas da carência da Vitamina B2: rachadura no canto dos lábios, inflamação da língua, dermatite seborreica, anemia e neuropatias. A dose diária ideal é de 0,40mg/kg de peso corporal. Doses de 100mg a 200mg/dia são utilizadas no Parkinsonismo. Não são conhecidas doses tóxicas para a Vitamina B2. São fontes de vitamina B2: levedura de cerveja, o leite e derivados, os vegetais verdes folhosos, as frutas, os cereais, os ovos, as carnes e as vísceras. Provavelmente o leite seja a melhor fonte de vitamina B2 (1,7mg/250ml).
Vitamina B3 (niacina, nicotínico e nicotinamida)
niacinamida,
ácido
A pelagra foi descrita em Oviedo, na Espanha, por Cassal, (1730), por Frapolli na Itália (1760) e na França (1830). Nos EUA tornou-se endêmica a partir de 1907. Mais de 25 mil casos, com 40% de mortalidade, ocorreram entre os anos de 1928 e 1929. Goldberger (1914) provou que os negros (alimentados na época à base de milho) apresentavam pelagra, enquanto que os brancos, alimentados com carne, leite e milho, não sofriam da doença. Funk, Well e Mouriquand constataram que as alterações cutâneas ocorriam devido à falta de uma vitamina, que foi isolada por Conrad Elvehgem (Universidade do Wisconsin) em 1937, e denominada vitamina PP (Pellagra Preventive Factor) ou B3. Em 1946, Krehl provou que o homem poderia efetuar a síntese da vitamina PP a partir do triptofano, desde que houvesse a presença de cofatores (vitaminas B1, B2 e B6). A pelagra apresenta-se nas regiões do mundo onde o milho representa mais de 60% das calorias diárias. O termo, criado por Frapolli (1771) deriva da palavra
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italiana “pellagra”, que significa pele rugosa e é conhecida como a doença dos “3 Ds” (dermatite, diarreia e demência). A niacina é capaz de reduzir os níveis de colesterol em até 40%, aumentar a relação HDL-LDL e ainda diminuir os níveis de triglicerídios em até 33%. Sua administração deve ser feita em doses crescentes, começando com 50mg/dia e aumentando 50mg a cada semana até atingir a dose mínima necessária de 300mg/dia (os efeitos melhoram com o aumento das doses). As doses escalonadas visam evitar o “flush”. O ácido nicotínico, na dose de 50mg tomados ao acordar, é bastante eficiente para alguns quadros de enxaqueca, segundo o Dr. Carl Pfeiffer. Em indivíduos sensíveis, doses superiores a 50mg podem causar niacin flush (calor e rubor devido à liberação de histamina pelos mastócitos), que persiste por cerca de uma hora. Este flush não é perigoso, apenas incômodo; para evitá-lo, inicia-se com uma dose baixa (50mg), durante 3 dias, aumentando-se gradativamente até a dose desejada. A associação da niacina ao inositol diminui a possibilidade de ocorrer o “flush”, assim como a administração de AAS (300mg 15 minutos antes). Outra estratégia consiste em associar as duas formas da vitamina B3: uma parte de ácido nicotínico e duas partes de nicotinamida. Doses maiores que 500mg/dia podem elevar as enzimas hepáticas. É especialmente indicada nas pessoas com predisposição hereditária à hipercolesterolemia. A associação do ácido nicotínico a 200-400mcg/dia de cromo potencializa a ação hipocolesterolemiante de ambos. Médicos americanos utilizam a niacina em 7,9% dos pacientes com dislipidemia. A vitamina B3 é encontrada em suplementos sob as formas de niacina (ácido nicotínico ou nicotinato) ou de niacinamida (nicotinamida). Foi denominada, inicialmente, de ácido nicotínico; porém, devido à relação do nome com a
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nicotina do tabaco, passou a ser designada como niacina. Cada forma tem diferentes aplicações: a niacina, por exemplo, é eficiente para reduzir os níveis de colesterol e triglicerídeos, sendo benéfica no tratamento das frieiras e da esquizofrênia, ao passo que a nicotinamida é utilizada nas artrites e diabetes mellitus tipo 1. Os estados de ansiedade aumentam o consumo da vitamina B3, induzindo o organismo a produzí-la. A produção endógena se faz a partir do triptofano, à razão de sessenta partes do aminoácido para produzir uma parte da vitamina; o consumo excessivo resulta na produção deficiente de serotonina (cujo precursor imediato é o 5-OH-triptofano), podendo instalar-se um quadro depressivo. A vitamina B3 é a única vitamina sintetizada dentro do cérebro. É empregada na síndrome do pânico, para a desmetilação da adrenalina, pois impede a formação de DMT (dimetiltriptamina). As vitaminas B3 e B6 - juntamente com o triptofano - são importantes para a síntese da serotonina, cuja deficiência dificulta aos indivíduos atingir o sono delta (sono repousante). Em certas psicoses há formação exagerada de dimetiltriptamina, devido ao aumento da síntese de radicais metila; nestes casos o uso da vitamina B3 em altas doses (de 500mg a 1000mg/dia) promove a captação da dimetiltriptamina, formando metil-nicotinamida que é excretado na urina. A ação tranquilizante da vitamina se deve a sua capacidade de ligação aos receptores benzodiazepínicos. A vitamina B3 encontra-se presente em boas quantidades na farinha de milho, embora basicamente em uma forma insolúvel, indisponível para absorção. Sob condições alcalinas e de calor, no entanto, a vitamina é liberada. No México, país onde a farinha de milho é altamente consumida o produto é
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previamente tratado com água de cal e posteriormente aquecida para originar as famosas “tortillas” mexicanas (agora com a vitamina disponível). A niacina é estável sob cozimento. Os lapsos de memória podem estar associados, entre outros fatores, a baixos níveis de zinco e vitamina B3, nutrientes essenciais às funções do hipocampo (memória e emoções); em menor grau, à deficiência de ácido fólico, vitamina B12 (mais comum em pessoas idosas) e vitamina C. A Vitamina B3 é utilizada nas enxaquecas, insônia, pele seca, fadiga crônica, colesterol e triglicerídeos elevados, ansiedade, depressão, esquizofrenia e doença de Meniere. A dose diária recomendada é 0,7mg/kg de peso corporal. A toxicidade da Vitamina B3 é baixa. Doses elevadas (1500mg) podem causar aumento das transaminases. São fontes de vitamina B3: as carnes, as aves, os peixes, os produtos de trigo integral, o levedo de cerveja, os ovos, o amendoim, frutas e legumes. O leite é muito pobre em B3; por esta razão, a deficiência de B3 é comum em crianças cuja dieta se baseie no leite e o sintoma guia é a hiperatividade infantil.
Vitamina B5 (ácido pantotênico) A Vitamina B5 foi descoberta em 1933 por Roger William, que a isolou em 1939. O nome ácido pantotênico (vitamina B5) deriva da palavra grega “pantos” - que significa em todo lugar. Isso porque praticamente todos os alimentos contêm essa vitamina. A maior parte da vitamina B5 é transformada em coenzima A, substância necessária para a conversão de carboidratos e gorduras em energia. Também é necessária à produção de hormônios, formação da hemoglobina e do neurotransmissor acetilcolina, fundamental para a memória. Em associação com a vitamina B3, ajuda a remover a
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lipofucsina gerada pela peroxidação lipídica e pelo envelhecimento (a lipofucsina diminui a formação da acetilcolina). Foi isolada pelo Dr.Roger William (considerado o pai da moderna vitaminoterapia) em 1939 e sintetizada em 1940 por Stiller, do Laboratório Merck. O ácido pantotênico é vital para a resposta do organismo ao stress e às infecções virais ou bacterianas (Axelrod Universidade de Pittsburgh - revista Acta Pediatrica – 1971). É importante também para a síntese do ACTH e de glicocorticoides (é considerada a vitamina anti-stress por sua ação sobre a glândula suprarenal). O Dr.Abram Hoffer, psiquiatra canadense e autor do livro “Orthomolecular Nutrition”, o Dr. Emanuel Cheraskin, autor do “Psycho Dietetics” e o Dr. Richard Passwater, autor do livro “Super Nutrition”, indicam essa vitamina em todos os casos de stress. Doses muito elevadas (acima de 1g/dia) podem desencadear dores ósseas, além de acelerar o trânsito intestinal. Por seu alto teor em cálcio (37%) a vitamina B5 (pantotenato de cálcio) pode ser usada como fonte deste mineral. O “formigamento” nas mãos e nos pés (síndrome dos pés ardentes) é melhorado pela ingestão de uma dose maior de vitamina B5 (100mg/dia ou mais), juntamente com outras vitaminas do complexo B. A dose diária ideal é 0,70mg/kg de peso corporal. Sua utilização é segura até, pelo menos, 1000mg/dia. São fontes de vitamina B5: as vísceras, a carne bovina, o frango, os ovos, as verduras, o levedo de cerveja, as nozes e os cereais integrais.
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Vitamina B6 (piridoxina) Em 1934, Gyorgy detectou na levedura de cerveja um fator diferente das vitaminas B1 e B2, capaz de curar a dermatite em ratos: a vitamina B6. Foi isolada em 1938 por Lepkvosky e sintetizada em 1939 por Kuhn na Alemanha. Foi originalmente denominada adermina ou fator Y. A vitamina B6 é encontrada sob 3 diferentes formas, todas elas inter-relacionadas: piridoxina, piridoxal e piridoxamina. A piridoxina ocorre nas plantas, enquanto o pirodoxal e a piridoxamina são encontrados nas fontes animais. Todos os três compostos são precursores da forma ativa, o 5-piridoxal-fosfato (os suplementos costumam oferecer a forma piridoxina, de menor custo). Pacientes com problemas hepáticos realizam a conversão com dificuldade ou não a realizam, devendo, portanto, utilizar a forma ativa (piridoxal-5-fosfato). A vitamina B6 é importante para a formação da serotonina a partir do triptofano; ainda, para a conversão do triptofano em vitamina B3 e do ácido araquidônico em prostaglandina E2. A deficiência de vitamina B6 reduz a produção e a atividade de neurotransmissores (especialmente acetilcolina, histamina e noradrenalina), podendo causar depressão, insônia, irritabilidade e ansiedade. Considerando que, deficiências marginais de vitamina B6 são comuns (especialmente nas mulheres), é possível que milhares de pessoas usando antidepressivos fossem beneficiados com a sua reposição (50mg 2 vezes ao dia) e a consequente normalização das rotas bioquímicas cerebrais. O Dr. Hoffer, psiquiatra canadense, acredita que 75% das pessoas com severas desordens mentais necessitem doses elevadas de vitamina B6. Baixos níveis desta vitamina são observados no alcoolismo crônico, em psicoses (como a esquizofrenia), na
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epilepsia, na colite ulcerativa e durante a lactação. Pacientes em uso de tuberculostáticos, penicilamina, anticoncepcionais ou durante dietas hiperproteicas, necessitam de suplementos adicionais de vitamina B6 (15mg/dia). A administração de vitamina B6 (acima de 20mg) é contra indicada para pessoas portadoras do mal de Parkinson, pois aumenta a descarboxilação da L-dopa, convertendo-a em dopamina (sob esta forma ela não consegue passar a barreira hemato-encefálica). O efeito anticonvulsivante da vitamina B6 é devido a sua atuação como co-fator de neurotransmissores cerebrais, sob a forma piridoxal-fosfato. A transformação para a forma ativa (piridoxal fosfato), necessita do magnésio para ativar a enzima pirodoxal quinase. Outro mecanismo provável para a necessidade de doses mais elevadas nestes pacientes seria a dificuldade de ligação da vitamina B6 à enzima GABAdescarboxilase, resultando em baixa produção do neurotransmissor GABA. A deficiência de vitamina B6 é comum entre os portadores da síndrome do túnel do carpo, segundo o Dr. George Phalen que a descreveu (1950). O tratamento com vitamina B6 (150mg 2 vezes ao dia) associado à vitamina B2 (20mg 2 vezes ao dia), durante um período mínimo de 90 dias, costuma lograr bons resultados em até 70% dos casos. O autismo está relacionado com alterações na bioquímica cerebral; há diminuição da produção de neurotransmissores, cuja síntese requer vitamina B6. Pelo menos 10% dos pacientes em uso de vitamina B6 e magnésio apresentam excelente resposta terapêutica; em 20%, a melhora é apenas moderada. A piridoxina, além de participar da síntese de ácidos nucleicos e de proteínas do corpo, também favorece a assimilação de carboidratos, proteínas e gorduras. Reduz
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espasmos musculares, câimbras e algumas formas de neurite; auxilia a manutenção do balanço entre Na/K, combate a insônia e as convulsões, favorecendo a síntese do GABA e da serotonina. Segundo E. Prienard e S. Gershoff (Universidade de Harvard - American Journal of Clinical Nutrition - 1967), a formação de cálculos renais de oxalato de cálcio está relacionada a dois fatores principais: em primeiro lugar, à possibilidade do oxalato de cálcio manter-se em solução ou não (a proporção Ca/Mg é um dos determinantes da solubilidade); o segundo fator é o aumento da produção de ácido oxálico que ocorre quando há carência de vitamina B6. A carência de vitamina B6 resulta na diminuição de atividade de enzimas B6 dependentes, resultando em episódios de repetição de litíase renal. A suplementação de vitamina B6 oferece significativa proteção contra o surgimento da neuropatia diabética; considerando que a deficiência de vitamina B6 é comum em diabéticos, sua suplementação sempre é benéfica (25% dos diabéticos adultos são carentes de B6). A vitamina B6 também inibe a glicação de proteínas (100mg 2 vezes ao dia). Diabéticos não metabolizam a piridoxina adequadamente e necessitam doses diárias maiores que as doses RDA. A transformação do ácido glutâmico em GABA, a síntese do GABA, assim como as transformações de muitos outros aminoácidos, necessitam da presença da vitamina B6 como catalisador nas reações de transaminação e descarboxilação. A vitamina B6 contribui para aliviar a náusea (muitas fórmulas antienjoo contêm 50mg da vitamina). Também ajuda a reduzir a secura na boca e outros sintomas desagradáveis, associados ao uso de derivados tricíclicos.
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Na esquizofrenia utiliza-se a vitamina B6 em doses que variam entre 200-500mg/dia. Doses diárias acima de 1g podem desencadear sintomas neurológicos importantes, que levam até 6 meses para desaparecer. A redução da superdosagem deve ser feita de maneira gradativa. Alguns autores consideram ser a dose ideal aquela com a qual é possível recordar os sonhos com facilidade. Um possível sintoma de excesso é a inquietação noturna. A síndrome da tensão pré-menstrual (TPM) é conhecida desde o ano 2000 a.C., descrita nos papiros de Ebers e Kahun. Afeta cerca de 40% das mulheres e sua etiologia ainda não foi totalmente elucidada, podendo ser a deficiência de elementos do complexo B, de magnésio, ácidos graxos Omega-6 ou nutrientes necessários à metabolização hepática dos hormônios femininos. Outro fator desencadeante pode ser o stress, por aumento na demanda de glicose pelo SNC. A administração da vitamina B6 (100mg/dia) associada ao magnésio (200mg/dia) durante 10 dias antes da menstruação, produz excelentes resultados em 70% das mulheres que apresentam a síndrome. Cerca de 20% das usuárias de contraconceptivos hormonais apresentam deficiências discretas de vitamina B6, que podem ser corrigidas com a administração de 15mg/dia. A deficiência de vitamina B6 é pequena na população masculina americana; nas mulheres é mais pronunciada, ocorrendo em 30% da população feminina até os 40 anos e em cerca de 50%, acima desta idade. Em 1969, o Dr. Kilner McCully (Universidade de Harvard) sugeriu que uma das causas de aterosclerose poderia estar relacionada à deficiência das vitaminas B6, B9 e B12; haveria alteração no metabolismo das proteínas e, particularmente, no metabolismo da metionina, formando homocisteína (agente causador de lesão do endotélio vascular). A dose diária ideal é 0,70mg/kg de peso corporal. A
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adminstração de Vit B6 é segura até 500mg/dia. Doses mais elevadas podem causar quadros de neurite periférica devido a incapacidade do fígado metabolizar o excesso da piridoxina. São fontes de vitamina B6: as carnes, as vísceras, os grãos integrais, o melão, o repolho, os ovos, a aveia, o amendoim e o levedo de cerveja.
Vitamina B8 (biotina) O nome biotina foi criado por Wildiers. Deriva da palavra grega “bios”, que significa vida. Foi denominada “vitamina H” (do alemão, “Haut” – pele) por Gyorgy ou “coenzima R”,em 1931, e sintetizada em 1940. Desempenha um papel essencial como coenzima de adição ou subtração de CO2, no metabolismo dos hidratos de carbono. Atua na síntese dos ácidos graxos, do DNA, do RNA e no metabolismo dos aminoácidos; é necessária às funções das vitaminas B5, B9 e B12 e sua deficiência resulta em anorexia, depressão, dores musculares, náuseas, anemia perniciosa, hipercolesterolemia e alterações eletrocardiográficas. A biotina é sintetizada pelos lactobacilos acidófilos intestinais em quantidade suficiente para as necessidades do organismo. A antibioticoterapia, o álcool, a sulfa e os estrógenos podem levar à deficiência de biotina. A adição de clara de ovo “crua” à dieta (acima de 8 claras/dia) resulta na expoliação da biotina, que se liga fortemente à avidina (proteína indigerível destruída pela cocção) formando um complexo inabsorvível. A suplementação de biotina aumenta a eficiência da insulina e a atividade da enzima glucoquinase, responsável pela primeira etapa da utilização da glicose pelo fígado. As concentrações de glucoquinase nos diabéticos são muito baixas.
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A administração de 2,5mg/dia de biotina produz excelentes resultados na alopécia, dermatite seborreica e na fragilidade das unhas (91% dos pacientes apresentam melhoras). A dose diária ideal é de 0,45mcg/kg de peso corporal.Não são conhecidas doses tóxicas para a biotina. São fontes de vitamina B8 (biotina): os grãos integrais, os legumes, as vísceras, o levedo de cerveja, os ovos e as nozes. Muitos alimentos, como a carne e o leite, contêm biotina, porém em doses mínimas.
Vitamina B9 (ácido fólico) O ácido fólico (vitamina B9), era antigamente conhecido como folacina, folato, pteroilmonoglutamato ou vitamina M. Seu nome provém da sua presença abundante nas folhas escuras dos vegetais (“folium”, em latim). Foi reconhecido como essencial em 1931, graças aos trabalhos da Dra. Lucy Wills, na Índia. Sua estrutura foi determinada pelo Dr.Roger William e isolado em 1943 nos laboratórios Merck e sintetizada em 1945 no laboratório Lederle, por Angier. O organismo transforma o ácido fólico em uma forma biologicamente ativa (ácido folínico) que participa do metabolismo de aminoácidos e da transferência de unidades de carbono-1 a vários compostos, durante a síntese de DNA e RNA; assim, sua presença é fundamental nos processos de divisão celular e sua deficiência é causa de malformações. É necessário à formação e maturação de hemácias e leucócitos na medula óssea. Também é necessário à conversão da histidina em ácido glutâmico. A carência de ácido fólico (assim como a carência de vitamina B12) determina a ocorrência de anemia megaloblástica, pois a redução da síntese de purinas e timidinas, leva à diminuição da produção de DNA. Glossite,
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transtornos gastrointestinais, osteoporose, aterosclerose e depressão também fazem parte do quadro carencial. A carência do ácido fólico durante a gestação favorece a ocorrência de malformações congênitas. Nos EUA nascem, anualmente, 250 mil crianças com defeitos no tubo neural, como espinha bífida e anencefalia. O Departamento de Saúde dos EUA (desde 1992) recomenda a administração diária de 400mcg a mulheres grávidas ou que pretendam engravidar, reduzindo em 80% o risco de malformações no tubo neural. Pensa-se também que o ácido fólico previna o câncer cervical, forma mais comum de câncer na mulher. Segundo os estudos publicados no British Medical Journal (1966) 67% dos pacientes hospitalizados na Inglaterra apresentavam carência de ácido fólico. Embora presente em um grande número de alimentos, a deficiência de ácido fólico é a maior carência vitamínica observada. Uma das razões é a preferência por alimentos de origem animal (pobres em ácido fólico), sendo os vegetais, menos consumidos. Através da dosagem laboratorial da homocisteína é possível analisar o “status” da vitamina, pois a homocisteína não é metabolizada na ausência da vitamina B9 (B6 e B12 também são necessárias). Muitos pacientes psiquiátricos são deficientes em ácido fólico. Sua presença assegura a doação de grupos metila para a formação da serotonina e tetrahidrobiopterina (BH4). O BH4 funciona como coenzima essencial na ativação de enzimas que participam da síntese de neurotransmissores a partir de aminoácidos (serotonina e dopamina); logo, a depressão é comum nas deficiências severas de ácido fólico. Os sintomas são intensos, e a resposta à terapia antidepressiva é mais
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demorada na falta da vitamina. As doses empregadas na depressão variam de 2 a 5mg/dia. A administração de ácido fólico (2,5mg 2 vezes ao dia) inibe a formação de RLs pela xantina oxidase, enzima envolvida na síntese do ácido úrico. Associado à coenzima Q-10 (30mg/dia) e à vitamina C (1-2g/dia), é eficaz nos processos inflamatórios das gengivas e outras doenças periodontais. Sabe-se, atualmente, que a carência de ácido fólico e vitamina B12 também está relacionada a doenças neurológicas e que, frequentemente, ambas as vitaminas atuam de modo sinérgico (como, por exemplo, na síntese da serotonina). Drogas como a sulfassalazina, barbitúricos, difenilhidantoína entre outros, diminuem sua absorção. A suplementação de ácido fólico reduz o risco de câncer cervical, especialmente naquelas mulheres em uso de anticoncepcionais (os quais causam uma deficiência de folatos). A forma ativa do acido conhecido como leucovorin adjunto com sulfadiazina hematológica. A dose para 10mg/dia, uma vez ao dia.
fólico, o acido folinico também é utilizado como tratamento para prevenir a toxicidade crianças e adultos é de 5 –
A dose diária ideal é de 10mcg/kg de peso corporal. A adminstração de ácido fólico é bastante segura. Doses de até 20mg/dia tem sido utilizadas sem efeitos colaterais. São fontes de vitamina B9 (ácido fólico): os vegetais verdes folhosos (brócolis, espinafre, alface, aspargo), a laranja, o abacaxi, o morango, o melão, a abóbora, o abacate, o centeio, o trigo, o feijão, o arroz integral, o fígado, o rim e o levedo de cerveja. É produzido, em pequenas quantidades, pelas bactérias intestinais.
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Vitamina B12 (cianocobalamina) Em 1849, Thomas Addison, médico do Guy’s Hospital (Londres) descreveu uma forma de anemia que progredia vagarosamente, terminando com a morte do paciente num período de 3 a 5 anos. Por tal razão, denominou-a de anemia perniciosa. Em 1926, os médicos americanos George Richards Minot e William Parry Murphy trataram com dieta à base de fígado pacientes com anemia perniciosa. Por este receberam o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1934. Em 1928, o Dr. W. B. Castle descobriu um fator interno (fator intrínseco) secretado pelo estômago, que permitia o transporte e a absorção no íleo terminal de um fator externo, aportado pela alimentação: a vitamina B12. Esta vitamina apresenta a estrutura mais complexa dentre todas as vitaminas, que foi determinada em 1955 e sua síntese obtida pela Dra. Dorothy Hodgkin (prêmio Nobel, em 1964). Era preparada com base em extratos de fígado, com um rendimento muito baixo. Atualmente, é obtida como subproduto da estreptomicina, a baixo custo. O termo cobalamina (vitamina B12) se refere a uma família de compostos que compartilham uma estrutura básica. A vitamina B12 é uma cobalamina que resulta da união de quatro anéis pirrólicos em torno de um átomo de cobalto. As demais formas da cobalamina possuem um grupo radical que, dependendo do tipo, originam os diferentes tipos da cobalamina. Por exemplo, se o grupo ligado for um cianeto, será a cianocobalamina. Se o grupo ligado for uma hidroxila, será a hidroxicobalamina. A vitamina B12 é bioquimicamente ativa nas formas de hidroxicobalamina, metilcobalamina e cianocobalamina.
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A cianocobalamina é a forma mais indicada nos quadros hematológicos e a forma hidroxicobalamina nos quadros neurológicos. Sua absorção ocorre de forma ativa e depende de cálcio, da presença do fator intrínseco (proteína secretada pela mucosa gástrica) e do pH do estômago. A vitamina B12 está ligada à produção das hemácias; a carência desta vitamina, assim como de ácido fólico, resulta em anemia megaloblástica. Também é conhecida como “vitamina vermelha” (devido à sua coloração) e é a única que contém um mineral em sua estrutura: o cobalto. A forma ativa da vitamina B12 nos sistemas biológicos é a coenzima B12. Na coenzima B12 o grupo cianeto é substituído por adenosil, em reação catalisada por magnésio, vitamina B2, vitamina B3 e ATP. Mais de 80% da vitamina B12 presente no fígado se encontra sob a forma de coenzima B12. Nos pacientes psiquiátricos que não respondem bem à terapêutica medicamentosa deve ser avaliado o “status” da vitamina B12. A carência de vitamina B12 em idosos é muito comum, atingindo até 42% dos indivíduos com idade superior a 65 anos. O diagnóstico deve ser feito com a máxima brevidade possível, pois compromete as funções neurológicas. A vitamina B12 reduz a sensibilidade aos sulfitos (conservantes para alimentos, vinhos, conservas e frutas dessecadas), atuando da mesma forma nos casos de alergias respiratórias e cutâneas (o molibdênio tem propriedade semelhante). A vitamina forma um complexo sulfitocobalamina que bloqueia o efeito do sulfito. Existe forte correlação entre a carência da vitamina B12 (assim como de B6 e B9) e índices elevados de homocisteína. A prevalência de carência vitamínica no grupo estudado (com excesso de homocisteína) foi de 56,8% para a vitamina B12;
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59,1% para o ácido fólico e 25% para a vitamina B6. A homocisteína deve ser tratada com a associação das vitaminas B6, B9 e B12. Uma dieta vegetariana, rica em ácido fólico, mascara frequentemente a deficiência de vitamina B12 (por não haver o surgimento da anemia megaloblástica) Os sintomas de carência podem demorar a ser detectados e o resultado final é a degeneração da substância branca do cérebro, nervos ópticos, medula espinhal e nervos periféricos. Quando administrada por via oral pode não ser bem absorvida, especialmente em pessoas estressadas e/ou deprimidas, devido à falta do fator intrínseco. A cianocobalamina absorvida é transformada em metilcobalamina. Doses orais acima de 2000mcg não têm boa absorção, devendo ser utilizada a via sublingual ou a via parenteral. Outra possibilidade é fracionar a dose oral em maior número de tomadas. Algumas pessoas manifestam reações Vitamina B12, especialmente na forma injetável.
alérgicas
a
Altas doses de vitamina C (acima de 6g/dia) podem deslocar a vitamina B12. A colchicina, a colestiramina, o omeprazol, a neomicina, o cloranfenicol e alguns outros antibióticos reduzem sua absorção. A vitamina B12 influencia os níveis de secreção da melatonina, especialmente em idosos. Doses de 1mg/dia, via sublingual, produzem bons resultados nas insônias e desordens do ritmo circadiano. A via sublingual é a via ideal para pacientes idosos ou com síndromes de má absorção. A dose diária ideal é de 7mcg/kg de peso corporal. Não são conhecidos efeitos tóxicos por super dosagens de Vit B12.
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São fontes de vitamina B12: exclusivamente os alimentos de origem animal (peixes, laticínios, vísceras, ovos e carnes). A flora intestinal normal do cólon sintetiza cerca de 5mcg/dia da vitamina.
Vitamina B13 (ácido orótico) A maioria dos médicos não a reconhece como uma verdadeira vitamina. A vitamina B13 é fundamental à síntese dos ácidos nucleicos, além de apresentar outras ações importantes: ação hipouricemiante, ao desviar a síntese do ácido úrico em proveito do ácido uridílico (mais facilmente eliminado), protege a flora intestinal e, segundo estudos do Dr. Ahmed e cols. (EUA-1979), o ácido orótico diminui a síntese endógena do colesterol. Os derivados do ácido orótico - orotato de cálcio, orotato de magnésio, orotato de potássio e orotato de lítio - apresentam grande facilidade em atravessar membranas celulares. O Dr. Hans Niepper, médico alemão, recomenda os orotatos por sua extrema facilidade em penetrar no interior das células e chegar às mitocôndrias. Niepper considera superiores os resultados desses compostos, especialmente na terapêutica dos pacientes com câncer. O leite e a coalhada caseira são boas fontes de orotato. Cenoura e outras raízes são boas fontes de ácido orótico.
Vitamina B14 (xantopterina) A vitamina B14 não é reconhecida pela maioria dos médicos como uma verdadeira vitamina e não é utilizada em terapêutica. Foi descoberta nas asas da borboleta, no caranguejo do mar e em alguns insetos; tem propriedades antitumorais e pode ser transformada em ácido fólico pelas leveduras.
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Vitamina B15 (ácido pangâmico) Foi descoberta pelos Drs. E. T. Krebs e E. T. Krebs Jr. (1951), em caroços de pêssego. Sua forma ativa é a dimetilglicina (DMG), um potente imuno-modulador na dose de 100-200mg/dia. Na antiga União Soviética esta vitamina e seu metabólito gozavam de grande prestígio entre os atletas por sua capacidade de aumentar a resistência física, por sua ação antistress e diminuição da formação de ácido lático nos músculos. Segundo seus pesquisadores, o ácido pangâmico, além de estimular a função imune, favorece a regulação hormonal, a longevidade celular e a neutralização de poluentes. Ainda, melhora a fadiga muscular, alguns zumbidos subjetivos, neuralgias e dermatites. Tem efeito protetor sobre o fígado. É benéfico a pacientes portadores de HAS, neurites, gangrena, bem como durante o processo de envelhecimento. Alcoolistas, drogaditos, esquizofrênicos e pacientes suscetíveis a alergias também se beneficiam com a administração de vitamina B15. Os maiores e melhores trabalhos têm sido feitos na Rússia. A dose diária ideal é de 10mg/kg de peso corporal. Não são conhecidas doses tóxicas para esta vitamina. São fontes de vitamina B15: levedo de cerveja, grãos integrais, semente de gergelim, girassol, fígado.
Vitamina B17 (letril) A vitamina B17 (letril), também conhecida como “amigdalina”, foi anunciada por Ernest Krebs (1952) como sendo uma nova droga capaz de tratar o câncer; o nome letril deve-se a ele. Pesquisas posteriores do Instituto Nacional do Câncer (EUA), infelizmente, não comprovaram os efeitos anunciados pelo Dr. Krebs. Sua classificação como vitamina é
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discutível, pois a supressão na dieta não provoca sintomas ou sinais clínicos; nem tampouco desempenha função metabólica evidenciável até o momento. O letril contém 6% de ácido cianídrico, que, embora altamente tóxico, é inativado pela enzima rodanase, presente em células animais; as células cancerosas não possuem tal enzima, sendo “envenenadas” por ele. É administrado em doses de 250, 500 ou 1000mg/dia. O letril é muito utilizado no México em tratamentos alternativos como adjuvante em casos de câncer. É obtida a partir do caroço do pêssego e, em menores quantidades, está presente na maçã e na ameixa e cereja. Não é aceita pelo FDA, devido ao seu alto teor de ácido cianídrico, embora o seja em 25 estados norte-americanos.
Vitamina C O escorbuto é conhecido muito antes do século XVI, época das grandes navegações. Antigos papiros egípcios em 1.500 a.c. mostraram que egípcios, gregos e romanos já conheciam a doença e tiveram seus exércitos dizimados pela doença em suas longas campanhas militares. No final da Idade Média o escorbuto assolou populações inteiras do norte e centro da Europa. Em 1535 o capitão francês Jacques Cartier aprendeu com índios canadenses que brotos de pinheiro do Canadá curavam o escorbuto. Em 1751, o Dr. James Lind, da Marinha Real Britânica, publicou o livro “Um tratamento para o escorbuto”, onde preconizou a prevenção com suco de limão e laranja; assim, o almirante Cook deu a volta ao mundo e descobriu a Austrália sem que seus homens desenvolvessem a doença, oferecendo diariamente a seus homens duas bolachas de cereais, uma laranja e dois limões. Em 1928, o húngaro Szent Györgyi isolou a vitamina C e a denominou de ácido hexurônico; porém, como prevenia e
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curava o escorbuto, passou a denominá-la de ácido ascórbico (a-scórbico = sem escorbuto). Em 1932, foi sintetizada por Waugh e King, nos EUA. A vitamina C existe universalmente, nas plantas (onde sua função é até o momento desconhecida) e no reino animal. Excetuando-se o homem e poucas espécies animais, virtualmente todos os vertebrados e invertebrados sintetizam vitamina C a partir da glicose. O homem “perdeu”, durante o processo evolutivo, a enzima hepática gulonolactona-oxidase necessária para converter a glicose em vitamina C. Nos anos 60, o Dr. Irvin Stone, bioquímico da Califórnia, afirmou que a raça humana perdeu a habilidade de produzí-la há cerca de 60.000 anos (teoria exposta no livro “The healing factor: vitamin C against disease”). A quantidade produzida pelos animais é proporcional a seu peso corporal e a produção aumenta consistentemente com o stress (capaz de elevar a taxa de conversão da glicose em vitamina C em até 3 vezes). A carência de vitamina C torna-se sintomática após 4 a 6 meses de privação e costuma estar associada a alguma doença ou hábito de vida (fumo, stress ou doenças crônicas) que determine absorção intestinal diminuída e ou consumo metabólico aumentado. Cientistas alemães demonstraram que os níveis séricos de vitamina C em fumantes são 24 a 31% menores do que nos não fumantes (W.J.McCornick - 1954). Sua absorção decresce com a idade, sendo comum encontrar nos idosos baixos níveis da vitamina. Estomatite, dificuldade de cicatrização, gengivas inchadas ou sangrando, secura da pele e aumento no número de infecções, são os sintomas indicativos clínicos das carências da vitamina. Seu pico máximo de ação ocorre duas horas após a tomada e após quatro horas os níveis sanguíneos já são muito baixos.
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A vitamina C ajuda a reparar lesões nas paredes arteriais, prevenindo a deposição de placas de ateroma. Como antioxidante, protege da oxidação a fração LDL do colesterol. A vitamina C é importante para a função imune, para controlar a agregação plaquetária e os níveis de lipoproteína A (aterogênica) e para a produção de carnitina, hormônios, colágeno, cartilagens e tendões. Face à explosão dos RLs no plasma, a vitamina C costuma estar diminuída nas artrites. Durante o stress (físico ou emocional) e a exposição a metais ou produtos tóxicos, a febre, infecções, ao fumo ou álcool, aumenta significativamente a demanda de vitamina C pelo corpo e excreção urinária. As infecções rapidamente depletam a elevada concentração de vitamina C normalmente encontrada nos leucócitos. A vitamina C estimula a função imune por aumentar a atividade dos leucócitos, a produção de anticorpos e os níveis de interferon. A vitamina C é importante nas alergias respiratórias e na asma brônquica; bloqueia a formação de nitrosaminas no intestino, compostos potencialmente cancerígenos (especialmente sobre a bexiga e tubo digestivo). As nitrosaminas são produzidas a partir dos nitratos contidos nos embutidos (presunto, salsicha, mortadela, linguiça). Outros compostos, potencialmente cancerígenos, antagonizados pela vitamina C são os óleos comestíveis reaquecidos diversas vezes e o benzopireno, presente nas carnes e pescados defumados (atuando como indutor do câncer nos tecidos suscetíveis). Entre as ações comprovadas da vitamina C, salienta-se o aumento da formação de sais biliares (ao acelerar a conversão do colesterol em 7-alfa-hidroxicolesterol), a diminuição da deposição arterial de colesterol e a redução na liberação de histamina (ação antialérgica). Também é útil nos quadros
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gripais, artrite, bursite, asma, glaucoma, anemia, aterosclerose, herpes, depressão, na recuperação pós-cirúrgica, na fadiga, na hiperuricemia, na doença periodontal e nas deficiências imunológicas Linus Pauling, em 1975, demonstrou ser possível reduzir o tempo e principalmente a intensidade dos quadros gripais em 37% dos doentes, com a administração de vitamina C. Pauling afirmava que, em baixas doses, a vitamina C apresentava efeito virostático e bacteriostático e, em doses elevadas, ação antiviral e bactericida. A vitamina C é cofator de várias enzimas envolvidas na hidroxilação do colágeno, na biossíntese da carnitina, na conversão de dopamina a norepinefrina e no metabolismo da tirosina, entre outros. Também é importante na absorção do ferro presente nas dietas, devido a sua capacidade de reduzir a forma férrica a forma ferrosa, propiciando a absorção do ferro no intestino. A oxidação da vitamina C por um elétron gera o radical ascorbila, pouco reativo. A oxidação por dois elétrons gera o ácido dehidroascórbico. Tal propriedade torna o ácido ascórbico um eficiente varredor de radicais livres, capaz de transformar um radical livre muito oxidante em outro radical de baixa reatividade. No stress oxidativo os níveis de radical ascorbila estão elevados. A dosagem laboratorial deste radical é um eficiente método para avaliar o nível de stress oxidativo. O uso constante de tabletes mastigáveis de vitamina C deve ser evitado, pois a presença de açúcar em sua composição propicia o ataque ácido ao esmalte dentário. O pH excessivamente ácido assumido pela saliva concorre para a dissolução do esmalte dentário.
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A vitamina C (500mg 2 vezes ao dia) e a coenzima Q-10 (30mg 2 vezes ao dia) são essenciais nas doenças periodontais. Os Drs. Emanuel Cheraskin e Hal Huggins, em pesquisa para o National Institute of Dental Research, constataram que a deficiência de vitamina C diminuía a defesa imunológica, tornando as gengivas mais vulneráveis à penetração de bactérias e à ação de substâncias tóxicas. Oito por cento dos americanos sofrem de doença periodontal, patologia tratada com excelentes resultados pela terapêutica biomolecular, a qual deve ser mantida durante, pelo menos, 90 dias. A vitamina C é uma substância bastante instável. Assim que entra em contato com o oxigênio do ar, começam a ocorrer reações químicas que a destroem; quando exposta à luz, a reação é ainda mais rápida. O gosto amargo sentido minutos ou horas após a exposição ao oxigênio corresponde a um composto de cor marrom, o ácido dehidroascórbico (ADHA). A oxidação da vitamina C é catalisada pelas oxidases existentes nos alimentos, pelo cobre e pelo calor. A cocção degrada até 75% da vitamina C presente nas hortaliças. Segundo o bioquímico Julio Tirapegui (U.S.P.), na primeira hora da exposição a vitamina C presente nos sucos cítricos é reduzida em 75% e a conservação em geladeira não diminui sua degradação; na segunda hora, a perda chega a 95%. Diferentes autores, especialistas em nutrição, referem variações nos teores de vitamina C presentes na laranja. Esta disparidade é explicável: o teor é influenciado pela variedade da laranja (origem genética), estação do ano, condições de cultivo e grau de maturidade da fruta no momento da colheita. O conteúdo de vitamina C em uma maçã pode sofrer variações de até 3 vezes, conforme a sua variedade (golden ou
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calville). Nos tomates e nas cenouras ocorre o mesmo fenômeno. A maneira mais eficaz de obter o aproveitamento máximo da vitamina C é administrá-la em pequenas e múltiplas doses ou sob a forma “time release”. Doses fracionadas (2 a 4 vezes ao dia) permitem níveis mais constantes e melhor saturação dos tecidos; altas doses não são completamente aproveitadas, sendo o excesso excretado com a urina. A fórmula da vitamina C é “C6H8O6” e a fórmula da glicose, “C6H12O6”; devido à semelhança entre ambas, doses elevadas de vitamina C podem interferir na determinação da glicossúria (resultado falso positivo). Também pode dar resultado falso negativo na pesquisa de sangue oculto nas fezes. Ao prescrever vitamina C, convém associar vitamina E; ambas possuem ação antioxidante, porém atuam em locais diferentes. A vitamina E age, predominantemente, nas membranas celulares, enquanto que a vitamina C exerce sua ação em nível do citosol. Além disso, a vitamina C e a vitamina E regeneramse mutuamente, em reações de oxi-redução. A possibilidade de diarreia, meteorismo ou dor abdominal com o uso excessivo de vitamina C (acima de 4g) varia de acordo com a suscetibilidade individual; a diarreia parece estar ligada a fenômenos osmóticos e melhora ao diminuir a dose da vitamina. A vitamina C em formulações dermatológicas e ou cosméticas para uso tópico (palmitato de ascorbila à 5%) e a vitamina E (à 3%) possuem eficácia tópica, inibindo o eritema da queimadura solar e o esgotamento dos antioxidantes naturais da pele. O melhor resultado é obtido com a combinação das duas vitaminas.
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Outra apresentação tópica da vitamina C é o fosfato de ascorbil magnésio, produto estável, com revestimento esférico e liberação gradual (aumenta a inativação da tirosinase). Uma fórmula antioxidante deve conter: - Vitamina C - por sua ação sobre o radical livre hidroxila e pelo resgate da vitamina E oxidada à sua forma reduzida; - Vitamina E - por sua ação no controle da peroxidação lipídica, por seu efeito antiagregante plaquetário, por ser protetor do endotélio vascular e por devolver à vitamina C sua forma reduzida; - Vitamina A ou betacaroteno - por controlar a síntese do oxigênio singlet; - Cobre e zinco - por ativarem a SOD citoplasmática, primeira barreira para dismutar o superóxido em peróxido de hidrogênio; - Selênio - por ser ativador da glutation peroxidase, além de potencializar o efeito antioxidante da vitamina E; Os Drs. Abraham Hoffer e Humphry Osmond (Canadá), demonstraram que formas oxidadas de adrenalina produzem alucinação em alguns esquizofrênicos. A vitamina C previne a oxidação da adrenalina para a forma adenocromo, que é o desencadeante das alucinações. Preconizaram, então, a administração de altas doses (entre 3-6g/dia) da vitamina para estes pacientes. Linus Pauling e Evan Cameron (1976), no hospital Vale de Leven, trataram cem pacientes em fase terminal de câncer com 9g diárias de vitamina C. Mil outros pacientes ficaram no grupo de controle. Aqueles que receberam vitamina C sobreviveram, em média, trezentos dias a mais do que os pacientes do grupo controle. Estudo similar foi realizado em 1973, no hospital Fukuoka Torikai (Japão), sob orientação dos Drs. Morishige e Murata, com resultados semelhantes. A
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dose diária recomendada oscila entre 100-1000mg. Doses acima de 3g podem causar diarreia. A vitamina C e outros antioxidantes podem impedir o desenvolvimento de certos tumores cancerígenos ao neutralizar a proteína HIF-1, segundo pesquisa do Dr. Chi Dang, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. Segundo Dang, alguns tipos de câncer de avanço rápido, como o de fígado, consomem tanta energia que queimam todo o oxigênio a sua volta, gerando grande quantidade de radicais livres, fazendo com que dependam exclusivamente de uma proteína denominada HIF-1 para sobreviver. Descoberta há décadas por cientistas norte-americanos, essa a proteína compensa a diminuição de oxigênio disponível nas células. Contudo, não consegue funcionar sem radicais livres. As células tumorais parecem necessitar de vitamina C e competem com células saudáveis por este nutriente, possivelmente, para se defenderem dos radicais livres, uma vez que tumores tratados com vitamina C se tornam mais resistentes aos danos oxidativos. São fontes de vitamina C: as frutas cítricas (laranja, limão, lima, tangerina, morango, kiwi e acerola) e os legumes frescos (pimentão, batata, repolho, brócolis, couve, tomate, aspargo e salsa). A goiaba e o mamão papaia são riquíssimos em vitamina C, superando o limão e a laranja (os exploradores do Ártico e da Antártica faziam suplementação de vitamina C com goiaba desidratada). É encontrada em pequenas concentrações nas fontes animais, exceto nos fígados onde sua quantidade é importante (30mg/100g). Atualmente é sintetizada a partir do xarope de milho, o que explica alguns casos de alergia em pacientes sensíveis ao milho.
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FORMAS DE VITAMINA C USADAS NO BRASIL Vit. C ácida: Vit. C revestida: Vit. C liberação prolongada: Vit. C sem acidez
Ácido ascórbico Ácido ascórbico revestido Vitamina C time release Ascorbato de sódio (10% de Na) Ascorbato de potássio (10% de K) Ascorbato de cálcio (10% de Ca) Ascorbato de magnésio (10% de Mg)
Vitamina D Em 1919, os bioquímicos americanos Elmer McCollum e Davis Mellanbourg - da Universidade de Wisconsin descobriram a presença da vitamina D no óleo de fígado de bacalhau. A vitamina D foi isolada e posteriormente sintetizada, simultaneamente, por Windaus(em Gottingen) e Bourdillon(em Londres), no ano de 1931. O raquitismo em crianças e a osteomalácia em adultos eram doenças muito comuns entre os séculos XV e XIX. Somente em 1918, o médico inglês Edward Mellanby conseguiu demonstrar a origem nutricional do raquitismo e curá-lo com óleo de fígado de bacalhau. Diferentemente das outras vitaminas lipossolúveis (A, E e K), a vitamina D não é armazenada preferencialmente no fígado mas sim, no tecido adiposo. Os fisiologistas modernos lutam para reclassificar a vitamina D, agora como um hormônio, uma vez que sua ação no organismo é mais própria a um hormônio do que a uma vitamina e também porque, sob certas condições, os homens e alguns mamíferos conseguem sintetizá-la.
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Antes associada exclusivamente ao fortalecimento dos ossos, a vitamina D ganhou um novo status depois que pesquisas mostraram sua estreita relação com a prevenção de variadas doenças. Pesquisadores de diferentes países observaram que pessoas com déficit de vitamina D têm mais chances de desenvolver 17 tipos de tumor, diabetes, esclerose múltipla e fibromialgia, entre outras doenças. A descoberta leva os médicos a considerar a necessidade de suplementar a vitamina D. A Academia Americana de Pediatria publicou em outubro de 2008, na revista Pediatrics, uma nova recomendação sobre a administração da vitamina em crianças. A ordem é dobrar o consumo diário, até o início da adolescência. Para os idosos, população que está muito mais sujeita à carência, a quantidade também deve ser reforçada após os 70 anos. A adição de vitamina D a produtos alimentares, em especial aos infantis (leite, biscoitos), foi o fator fundamental para a, praticamente, extinção da carência desta vitamina nos países civilizados. O leite materno contém de 20-40U.I. de vit. D/250ml, o que torna a suplementação recomendável para recém-nascidos. Trabalhadores noturnos precisam aumentar a ingesta de vitamina D, pois, não estando expostos à ação direta da luz solar, não transformam a pró-vitamina D em vitamina D. Os efeitos colaterais começam com 1600U.I./dia (4 vezes a dose diária recomendada) e a intoxicação grave, a partir de 20000U.I./dia. A vitamina D começa a ser utilizada terapeuticamente na doença de Alzheimer, graças a sua ação regeneradora dos neurônios, através das proteínas calbindina, calretinina e calmodulina; bem como por sua capacidade de aumentar a formação da neurotrofina NGF (Nerve Growth Factor) que, por
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sua vez, aumenta os níveis de acetilcolina e da noradrenalina (in Nutrição Cerebral, Póva, Callegaro e Ayer, 2006). A deficiência de vitamina D causa mineralização óssea incompleta nas crianças (raquitismo) e desmineralização óssea nos adultos (osteomalácia). A deficiência de vitamina D é mais comum no hemisfério norte, onde a população pouco se expõe à luz solar. Óleo mineral, colestiramina, hidantoína e primidona diminuem a absorção de vitamina D. Idosos frequentemente apresentam diminuição dos níveis de vitamina D pela diminuição de sua produção pela pele idosa e pela diminuição de absorção. A pele humana, quando em contato com a radiação ultravioleta, transforma a pró-vitamina D em vitamina D. Os raios U.V. atuam sobre o 7-dehidrocolesterol presente na pele, formando o colecalciferol (vitamina D3), que é transportado para o fígado e rins, sendo convertido na forma ativa da vitamina D (1,25-OH-colecalciferol). A nível renal o boro catalisa a conversão do 25-OH-D3 em 1,25-OH-D3; daí sua importância no tratamento da osteoporose. Em países e regiões onde não há luz solar abundante, ou em regiões extremamente frias, é conveniente suplementar a vitamina D, uma vez que sua biotransformação a partir da pele está diminuída ou inibida. Para garantir níveis adequados da vitamina a população, alguns países estão fortificando seus alimentos. Nos EUA a vitamina é incorporada ao leite e aos cereais infantis, na Inglaterra as margarinas e manteigas. Em artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, o biofísico americano Richard Setlow ponderou que, para prevenir o câncer de pele e continuar produzindo vitamina D, é preciso expor-se aos raios solares, mas com a proteção de filtros solares. O uso de filtros solares é controverso. Dermatologistas acreditam que o produto
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não prejudica a síntese de vitamina D. Entretanto, pesquisadores alemães (Adv. Exp. Med. Biol. 2008, 624; 20314), alertam que um protetor solar FPS 8 reduz a produção cutânea de vitamina D em 95%. Já endocrinologistas e geriatras acreditam que seu uso diminua a síntese da vitamina, aumentando a carência do micronutriente na população. Recentemente tem sido proposto a utilização de análogo, o calcipotriol em cremes ou pomadas para externo, no tratamento das psoríases e do vitiligo, por capacidade de regular o crescimento e diferenciação queratinócitos (cremes com 600UI de vitamina D).
seu uso sua dos
Recente artigo publicado no Photodermatology, Photoimunology e Phitomedicine, vol. XXIV, nº5, de outubro/2008, recomenda a suplementação de vitamina D para o portadores de Lupus eritematoso cutâneo, pois os portadores dessa doença, em sua maioria, limitam a exposição ao sol e portanto, apresentam níveis de vitamina D significativamente menores. São fontes de vitamina D: peixes, fígado, leite e ovos. O óleo de fígado de atum contém 20 vezes mais vitamina D que o óleo de bacalhau. A vitamina D2 (calciferol) é a forma sintética, frequentemente adicionada ao leite, aos suplementos e à maioria dos medicamentos; a D3, forma natural. Ambas são igualmente ativas e originam o mesmo metabólito. Os vegetais são pobres em vitamina D, sendo o cacau a única planta que a contém em quantidades apreciáveis.
Vitamina E A avitaminose E foi demonstrada em 1920. De 1922 a 1925, o Dr. Herbert Evans (UCLA) e a Dra. Katherine Bishop estabeleceram a presença de um “fator de fertilidade” no germe dos cereais e nas folhas verdes. Evans e Emerson (1936)
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extraíram do óleo de germe de trigo a vitamina E ou tocoferol (tokos=parto, pheros=causar). A síntese foi realizada por Karrer (1938). McCay e Cols (1972) descobriram a ação antioxidante da vitamina E. Os tocoferóis apresentam quatro isômeros com diferentes atividades farmacológicas. Dos quatro tocoferóis (alfa, beta, gama, delta), o alfa é o mais eficaz. Os quatro tocotrienóis (alfa, gama, beta, delta) são mais potentes que os tocoferóis. Ao contrário das outras vitaminas lipossolúveis, é armazenada no organismo durante um período relativamente curto (semelhante ao complexo B e à vitamina C), razão pela qual o acúmulo não costuma ser observado.
ATIVIDADE DOS DIFERENTES COMPOSTOS DE VITAMINA E α-tocoferol β-tocoferol γ-tocoferol δ-tocoferol α-tocotrienol β-tocotrienol γ-tocotrienol δ-tocotrienol
100% 15 A 40% 1 A 20% 1% 15 A 30% 1 A 5% 1% 1%
*Fonte: Dossiê Vitamina E - Laboratório Roche
Os óleos vegetais, que constituem a melhor fonte, contêm teores variados de vitamina E (o óleo de açafrão contém 90% de tocoferol; o óleo de girassol, 10% e o óleo de milho, também 10%). Os quatro principais isômeros (alfa, beta, gama e delta) encontram-se em quantidades variadas nos vegetais; o d-alfatocoferol (vitamina E natural) é obtido na forma líquida e
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produz níveis séricos 40% maiores do que os níveis obtidos com a administração do dl-alfa-tocoferol (forma sintética). O concentrado de tocoferóis obtido deve sofrer uma metilação química a fim de originar o d-alfa-tocoferol (mais estável) ou o acetato de tocoferol (também muito estável). No reino animal, os maiores teores encontram-se nas carnes gordas. A vitamina E se deteriora pela exposição à luz e se decompõe sob ação de raios ultravioleta. A fritura destrói, literalmente, o tocoferol. Outros processos como desidratação, aquecimento, moagem, cozimento e congelamento influenciam o conteúdo de tocoferol em diferentes níveis. A vitamina E desempenha papel importante no metabolismo e é um fator de proteção aos ácidos graxos essenciais. É necessária à conservação dos músculos, à integridade do SNC e à desintoxicação dos tecidos. Em doses acima de 200mg/dia é eficaz na prevenção de doenças cardiovasculares, contra efeitos da poluição e no alívio da tensão pré-menstrual; câncer, acne, aterosclerose, doenças autoimunes, catarata, eczema, infecções, herpes e claudicação intermitente, também constituem indicação para o emprego da vitamina E em doses iguais ou superiores a 200U.I./dia. Os níveis plasmáticos de vitamina E são normalmente baixos nos recém-nascidos, especialmente nos prematuros; níveis muito baixos estão associados com anemia hemolítica, hiperbilirrubinemia e uma tendência à trombocitose e ao aumento da agregação plaquetária. A vitamina E reduz a destruição eritrocitária; diminui a incidência de anemias hemolíticas em prematuros e em pacientes portadores de talassemia maior ou deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase. Reduz, também, o número de células anômalas na anemia falciforme. A RDA para vitamina E é 16U.I./dia. O American Journal of Clinical Medicine sugere 100U.I./dia, a fim de assegurar
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uma concentração mínima que proteja os pacientes contra cardiopatia isquêmica e câncer. Inúmeros outros trabalhos indicam necessidades maiores de vitamina E, na ordem de 200 a 400U.I./dia, para fazer frente ao ataque dos RLs. As necessidades de vitaminas e minerais aumentam durante as enfermidades. Os diabéticos possuem maior necessidade de vitamina E devido ao stress oxidativo próprio da doença. A vitamina E aumenta a eficiência da insulina e reduz a incidência de complicações futuras do diabetes, especialmente complicações cardiovasculares e neuropatia periférica. Suplementos de 400U.I./dia, por mais de 2 anos, resultaram numa redução de aproximadamente 40% na incidência de ataques cardíacos. A vitamina E também protege a fração LDL do colesterol, que, quando oxidada, é substância chave na formação da placa de ateroma. Esta proteção se deve a perfeita incorporação da vitamina E na fração LDL; quanto maior a dose, maior a proteção. O succinato de tocoferol é efetivo na inibição de 3 oncogenes (c-myc, N-myc e H-ras), sendo seu emprego difundido no Japão, EUA e Europa, tanto na prevenção como no tratamento do câncer. Na Universidade do Colorado (EUA), Kedar e colaboradores conseguiram excelentes resultados sobre a cultura de células de melanoma. Os resultados obtidos não foram demonstrados com outras formas de vitamina E, como o acetato ou o palmitato. Nas viagens espaciais com duração superior a 10 dias, os astronautas costumavam perder 20% a 30% de seus glóbulos vermelhos. Somente após o voo da Apolo 10 o fenômeno foi esclarecido: o excesso de oxigênio a que eram expostos destruía, por oxidação, os ácidos graxos insaturados da
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membrana das hemácias. A administração rotineira de vitamina E impediu a ocorrência de anemia nos astronautas. Com o emprego da vitamina E (400-600U.I./dia) consegue-se reverter cerca de 30% dos casos de displasia mamária e pelo menos 70% das mulheres apresentam alívio dos sintomas. A vitamina E tem sido exaustivamente estudada pela comunidade científica mundial, sendo comprovadas suas inúmeras propriedades terapêuticas. Atualmente tem sido indicada na TPM, dismenorreia, câncer, doença periodontal, fibrose cística, prevenção de fenômenos trombo-embólicos, herpes, doenças virais, doenças auto-imunes, infertilidade por diminuição do número de espermatozoides, fragilidade capilar, prevenção da catarata, dermatites, câimbras e quaisquer situações que transcorram com stress oxidativo. A vitamina E é considerada uma linha de defesa primária contra a peroxidação lipídica, protegendo os AGEs das membranas celulares contra os ataques dos RLs. Interrompe a sequência de reações em cascata na formação de PUFA (ácidos graxos poliinsaturados); regula o equilíbrio prostaciclina/tromboxano, fundamental para o controle da agregação plaquetária (a prostaciclina inibe a agregação, enquanto o tromboxano tem ação agregante). Além de sua função antioxidante, ajuda a estabilizar a membrana celular, protege o DNA, a pele, os olhos, o fígado e os pulmões, que são alvos muito sensíveis aos fenômenos oxidativos; ajuda a manter a atividade biológica da vitamina A. A vitamina E possui importante ação anticoagulante, devendo pois, seu uso ser suspenso com razoável antecedência nos casos de cirurgias eletivas previamente marcadas. Os suplementos vitamínicos apresentam a vitamina E em duas formas diferentes: na forma d-l-tocoferol (a preferida) e
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na forma d-alfa-tocoferol (oxidada) que uma vez ingerida necessita ser regenerada para começar sua ação biológica. Associada à vitamina C, é utilizada durante a radioterapia e quimioterapia, com a finalidade de reduzir os efeitos colaterais observados com estes procedimentos. A dose de vitamina E varia entre 400-800U.I./dia e a dose de vitamina C, de 2 a 4g/dia. A vitamina E é considerada a menos tóxica das vitaminas lipossolúveis. Doses elevadas de vitamina E acima de 3g ocasionam raros casos de distúrbios intestinais. As doses usuais utilizadas são de 200 a 800UI. Estudo apresentado na Academia Norte-Americana de Neurologia, em abril de 2008, pela Dra. Valory Pavlik, da Faculdade de Medicina Baylor (Texas), revelou que oitocentos e quarenta e sete portadores do mal de Alzheimer tradados durante cinco anos, com vitamina E 1.000UI, duas vezes ao dia, associados à inibidor da colinesterase apresentam risco de morte diminuído em 26%, quando comparados a grupos sem a medicação. A velocidade da progressão da doença também foi reduzido significativamente. São fontes de vitamina E: os cereais integrais, os ovos, as farinhas integrais, os vegetais verdes folhosos, os grãos e as sementes oleosas, fígado, espinafre, aspargo, pepino. A vitamina E natural é extraída por pressão e a frio; adicionada de antioxidantes para evitar a rancificação. As fontes animais (manteiga, ovo, leite e fígado) são relativamente pobres em vitamina E.
Vitamina K Em 1929, o dinamarquês Henrik Dam propôs o nome vitamina K (em dinamarquês “Koagulation”) para uma
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substância que intervinha na coagulação do sangue. Frangos alimentados com dietas pobres nesta substância apresentavam hemorragias na pele e músculos, além de aumento no tempo de coagulação. Em 1937 foi demonstrado que a vitamina K era indispensável ao homem. Em 1939 a vitamina K1 foi isolada da alfafa por Mc Kee (U. Saint Louis) e, em 1940, a vitamina K2 foi isolada da farinha de peixe. Ainda em 1940 as vitaminas K foram sintetizadas pelo grupo de Mc Kee e por Frieser (U. Harvard). É sintetizada em quantidades significativas pelos colibacilos da flora intestinal. A vitamina K1 (fitoquinona) é encontrada nas hortaliças e óleos vegetais; a K2 (naftoquinona), nos produtos de origem animal e a K3 (menadiona) é obtida por síntese em laboratório. Os níveis de vitamina K nas pessoas osteoporóticas correspondem a, aproximadamente, 1/3 dos níveis das pessoas normais. Baixos níveis de vitamina K podem ser fator de agravação da osteoporose. A vitamina K participa da fixação do cálcio na matriz óssea convertendo a proteína óssea de sua forma inativa para a forma ativa (osteocalcina). Também é necessária para unir a osteocalcina ao cálcio e ao seu depósito no osso. A vitamina K, tendo como parceiros o cálcio e o potássio, esta envolvida na conversão da protrombina em trombina, fator que cataliza a transformação do fibrinogênio em fibrina. Entre as possíveis causas de hipovitaminose K destacamse a inadequação dietética, doenças hemorragicas, nutrição parenteral, alteraçoes da absorção intestinal ou mega doses de vitamina A e E. A deficiência dietética de vitamina K ou seu antagonismo pode provocar a descarboxilação parcial da osteocalcina, importante proteína da matriz óssea. Baixos níveis de vitamina
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K em indivíduos osteoporoticos foram relacionados a maior índice de fraturas de quadril. A ação anticoagulante de algumas drogas, como a benzocumarina, aspirina e o dipiridamol, tem como mecanismo básico o antagonismo à vitamina K, reduzindo assim a formação da protrombina. A dose diária ideal para a vitamina K é de 80mcg. Não existem registros de intoxicação via oral por vitamina K. São fontes de vitamina K: as principais fontes são os legumes, o espinafre, o repolho, cascas de frutas, feijão, a clorofila, a alfafa, a soja, as algas, ovos, fígado e os óleos vegetais e os óleos de peixe e os laticínios (especialmente os iogurtes e o kefir, que levam ao intestino uma bactéria que produz a vitamina).
Vitamina P (Bioflavonoides) O pesquisador húngaro Albert Szent-Gyorgy - da National Foundation for Cancer Research, Massachusetts (EUA) – que ganhou o prêmio Nobel de Medicina (1937) pela descoberta da vitamina C, também foi o descobridor dos bioflavonoides. A descoberta ocorreu após ter tratado as gengivas sangrantes de um amigo com uma vitamina C natural (impura). Ao repetir o tratamento em outros pacientes com a vitamina C pura, não observou resultados tão expressivos. Intrigado com o fato, passou a pesquisar a diferença entre a vitamina C pura e a vitamina C associada a produtos naturais (rica em bioflavonoides, que apresentam grande atividade sobre os vasos sanguíneos e sobre a permeabilidade das membranas). Os bioflavonoides conferem cor amarela ou laranja às frutas cítricas e à matéria prima delas extraída. Pequenas quantidades são armazenadas no corpo. Dois flavonoides,
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quimicamente semelhantes à rutina e à hesperidina, não são encontrados nos alimentos. São eles a quercitina (derivada da destilação da casca do quercitrim) e a epicatecina. Estas substâncias encontram-se amplamente distribuídas no reino vegetal, especialmente nas cascas de frutos selvagens e de árvores. Todos os bioflavonoides possuem sabor amargo. Os bioflavonoides, além de promoverem aumento na absorção de vitamina C, exercem atividade protetora sobre o DNA, inibindo as mutações. Protegem, também, os capilares (previnem as hemorragias retinianas); reduzem o risco de AVC e aterosclerose, além de ajudar a diminuir os sintomas da menopausa. Seu efeito antibacteriano e antiviral foi experimentalmente comprovado, particularmente sobre o rinovírus, influenza, herpes vírus e o vírus da poliomielite. A quercitina apresenta destacada atividade antiinflamatória, especialmente quando combinada à bromelina (ação antialérgica e antiinflamatória). Para uma eficiente formulação antiinflamatória (e/ou antialérgica) devem ser combinadas em quantidades iguais (250mg de cada 2 vezes ao dia). A quercitina é um potente inibidor da enzima aldose redutase, responsável pela conversão dos açúcares a sorbitol, açúcar fortemente implicado no desenvolvimento das complicações diabéticas (cataratas, neuropatias e retinopatias). Cerca de 64% dos indivíduos idosos apresentam fragilidade capilar, podendo beneficiar-se com o uso de bioflavonoides (rutina, quercitina e hesperidina). Oitenta e cinco por cento dos portadores de retinite melhoram com a introdução de bioflavonoides em seu tratamento (600mg/dia). Atualmente, sabe-se existirem mais de 500 bioflavonoides nas plantas. Apresentam ação antiviral em doses acima de
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500mg/dia, melhorando a resistência das membranas à penetração dos vírus e diminuindo sua replicação. São fontes de bioflavonoides: pigmentos contidos em pelo menos quatro mil folhas, flores ou talos de plantas coloridas do mundo, entre eles o tomate, a maçã e o chá preto. Rutina e quercitina são bioflavonoides encontrados nas plantas castanha-da-índia e no Ginkgo biloba, respectivamente; com marcante ação protetora sobre o endotélio vascular, a rutina parece agir mais sobre vasos periféricos e a quercitina, sobre os demais.
Vitamina T A vitamina T também é conhecida como “fator da semente de gergelim”, por ser este vegetal sua principal fonte. Apesar dos poucos estudos sobre essa vitamina, sabe-se que está envolvida na coagulação do sangue e na formação de plaquetas. Previne a anemia e a hemólise.
Vitamina U A vitamina U, igualmente pouco estudada, é encontrada no repolho cru e na raiz do confrei. Tem ação importante na cicatrização das úlceras de pele, apresentando estrutura e propriedades semelhantes às da alantoína (conhecido regenerador epitelial).
Capítulo 4 - AMINOÁCIDOS “Tudo já foi dito uma vez. Mas, como ninguém escuta, é preciso repetir tudo novamente.” A. Gide
Aminoácidos (AA) são constituintes básicos das proteínas, compostos que contêm um grupo amino e uma função ácida. O químico francês Louis-Nicolas Vauquelin, que descobriu os metais cromo e berílio, isolou uma substância do aspargo que chamou de aspargina, e esse foi o primeiro aminoácido a ser isolado (1806). Os aminoácidos representam 20% do peso corporal. Embora na natureza existam mais de trezentos aminoácidos os seres vivos necessitam apenas de 23, que são necessários à síntese de milhares de proteínas diferentes, combinados em diferentes sequências e proporções. Combinações complexas destes aminoácidos resultam em mais de cem mil tipos diferentes de proteínas. Os aminoácidos são: alanina, arginina, asparagina, ácido aspártico, cisteína, cistina, ácido glutâmico, glutamina, glicina, histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina, prolina, serina, treonina, triptofano, taurina, tirosina, ornitina e valina. São classificados em essenciais (aqueles que não podem ser sintetizados pelo organismo) e não essenciais (os que podem ser sintetizados nas células, a partir de aminoácidos essenciais ou de precursores contendo carbono e nitrogênio). A ausência ou a ingestão inadequada de um ou mais AA essenciais origina um balanço negativo de nitrogênio (perda de nitrogênio pelo organismo), perda de peso e vários outros sinais/sintomas clínicos. Os oito aminoácidos essenciais são indispensáveis à dieta, a saber: fenilalanina, valina, treonina,
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triptofano, isoleucina, metionina, lisina e leucina. Existe um nono aminoácido essencial - a histidina - que, embora possa ser sintetizado pelo organismo, não é produzido em quantidade suficiente para satisfazer as necessidades diárias; por este motivo, faz-se necessário algum aporte via alimentação. Para jovens e crianças deve ser considerado um décimo aminoácido essencial: a arginina, a qual é sintetizada em quantidades apreciáveis somente pelos adultos. Os outros são considerados não essenciais (ácido aspártico, ácido glutâmico, alanina, cisteína, cistina, glicina, glutamina, prolina, serina e tirosina,). Os aminoácidos taurina e ornitina, não participam da síntese de proteínas, mas participam de outras funções importantes do organismo. Quando ingerimos alimentos como carnes, peixes, leite, ovos, entre outros, as proteínas neles contidas são decompostas em diferentes aminoácidos e, após a absorção no trato gastrointestinal, reconstruídos em outras proteínas adequadas ao organismo humano. Os organismos vivos sintetizam aminoácidos em uma forma biologicamente muito ativa, a forma L (levógira). Industrialmente, são produzidos na forma DL (mais baratos, porém menos ativos). As formas L possuem elevada eficácia biológica, por serem as únicas utilizadas para a síntese de proteínas (a forma D-dextrógira é raramente utilizada e a forma DL inibe a forma L). A L-carnitina, por exemplo, é 30 vezes mais ativa do que a DL-carnitina, sendo seu custo aproximadamente 5 vezes superior. Dois aminoácidos são ativos na forma DL. São eles DL-Fenilalanina (analgésica e anti-depressiva) e a DL-Metionina. Os aminoácidos devem ser guardados em embalagens protegidas da luz, para evitar sua oxidação.
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Os aminoácidos apresentam diferentes propriedades, o que permite classificá-los sob diferentes aspectos. Os menores aminoácidos são: glicina, alanina e prolina; os de cadeia ramificada (BCAA) são: leucina, isoleucina e valina; os aromáticos são: fenilalanina, tirosina e triptofano; os enxofrados são: cisteína, cistina, metionina e taurina; os aminoácidos ácidos são: ácido glutâmico e ácido aspártico e os básicos são: lisina, arginina e histidina. A ingesta de dietas adequadas apresenta uma proporcionalidade nas concentrações de aminoácidos essenciais e não essenciais. Já, indivíduos portadores de desnutrição proteica grave apresentam alterações nos aminoácidos livres do plasma, com diminuição dos aminoácidos essenciais e elevação ou normalidade dos aminoácidos não essenciais. Os aminoácidos essenciais mais afetados são a leucina, a isoleucina e a valina, enquanto que a lisina e a fenilalanina, são os que apresentam menor alteração. (Swenseid e cols, 1963) As proteínas animais (carnes, aves, peixes, leite, ovos) são consideradas de grande valor biológico e as melhores fontes de aminoácidos essenciais. As proteínas de origem vegetal são adequadas e importantes na nutrição humana, embora sejam menos completas. As leguminosas, por exemplo, possuem altos teores de aminoácidos, mas baixos teores de aminoácidos enxofrados (cisteína, cistina,metionina e taurina); os cereais, em sua maioria, são deficientes em lisina. As frutas e hortaliças não são boas fontes, embora a associação de vários vegetais (arroz, feijão, trigo, soja) na alimentação possa proporcionar níveis adequados de aminoácidos. As lesões de pele observadas nos pacientes gravemente desnutridos são atribuídas a alterações qualitativas e quantitativas do colágeno. A colina e a glicina também
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apresentam redução significativa (os teores de glicina, prolina e hidroxiprolina são normalmente elevados no colágeno). A descoloração e a queda dos cabelos, verificado em pacientes gravemente desnutridos, ocorre devido à deficiência de aminoácidos sulfurados, especialmente da metionina, ou resultante da má-formação de melanina devido à deficiência dos aminoácidos fenilalanina e tirosina. (Nutrition Rewiews, 1971) Os aminoácidos estão relacionados à produção de energia através do Ciclo de Krebs, participando da formação de compostos intermediários, bem como também da formação de importantes neurotransmissores. A asparagina e o ácido aspártico formam o oxalacetato; a fenilalanina e a tirosina, o fumarato; a arginina, a histidina, e a prolina, o cetoglutarato; a isoleucina, a metionina, a valina e o triptofano, o succinil CoA. A alanina, a serina, a glicina, a cistina, a cisteína e a treonina formam o piruvato. Cerca de 20% dos AA que chegam ao fígado, são novamente liberados para a circulação sanguínea. Outros 50% são metabolizados e transformados em ureia e cerca de 6% dos AA são usados para a síntese de novas proteínas. Os AA de cadeia ramificada (os BCAA) após liberados pelo fígado vão ser metabolizados nos músculos e pelos rins. A presença de AA no metabolismo é fundamental para a síntese de proteínas, enzimas, hormônios e vitaminas. O desenvolvimento dos indivíduos depende do adequado suprimento de nutrientes, sendo os aminoácidos, as proteínas, as vitaminas e os minerais absolutamente essenciais. A cronobiologia dos AA está bem estabelecida, sendo melhor ingerí-los pela manhã; à noite os AA são pouco aproveitados, com exceção da arginina, que pode ser tomada antes de dormir para estimular a secreção de GH (hormônio do
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crescimento). Sua adminstração deve ser preferencialmente longe das refeições com proteínas para evitar competição pelos mesmos sítios de absorção no intestino. A competição com outros aminoácidos prejudica de forma substancial as quantidades absorvidas. A associação de dois ou mais aminoácidos formam peptídeos, e a associação de peptídeos originam as proteínas, podendo uma proteína ter quatrocentos ou mais aminoácidos. As proteínas, por sua vez, quando sofrem hidrolise originam aminoácidos. As proteínas funcionam como catalisadores, moléculas receptoras e efetoras, moléculas de transporte, anticorpos e hormônios. Também exercem função estrutural dentro das células, no citoesqueleto, nos ossos, no tecido conjuntivo e nos músculos. Participam de quase todos os processos biológicos, uma vez que incluem as enzimas catalisadoras das milhares de reações químicas que ocorrem nos organismos vivos. A utilização dos AA em cada tecido, depende das necessidades daquele tecido, naquele momento. Em nosso corpo ocorre um contínuo processo de síntese e de catabolismo das proteínas, com velocidade e necessidades específicas para cada tecido (turnover proteico). Os processos de síntese das proteínas a partir de AA, é profundamente influenciada por hormônios, especialmente do hormônio do crescimento (GH), da testosterona e da tiroxina (T4). Já os glicocorticoides estimulam a degradação (catabolismo) das proteínas. A administração de aminoácidos em altas doses deve ser feita com cautela, devido a possibilidade de ocorrer interação entre eles. A competição é sempre mais forte entre aminoácidos de um mesmo grupo (aromáticos, sulfurados, derivados da ureia, entre outros). Os aminoácidos devem ser ingeridos em
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proporções balanceadas, uma vez que a síntese de proteínas exige equilíbrio entre os essenciais e os não-essenciais; também devem manter uma “rátio” (proporção) entre si (por exemplo, a lisina deve estar na proporção de 2:1 em relação à metionina, ou de 3:1 em relação ao triptofano). A presença de determinados elementos na alimentação diminui a taxa de absorção dos nutrientes (vitaminas, minerais e aminoácidos). Entre eles, os fitatos, encontrados nos cereais; as fibras, existentes nos cereais e leguminosas; o ácido oxálico, encontrado em vegetais e o tanino, existente nos vegetais, café e chá. O cérebro possui aproximadamente 100 bilhões de neurônios e incontáveis sinapses. Com raras exceções, os neurotransmissores são originados à partir de aminoácidos. Os aminoácidos simples (ácido glutâmico, ácido aspártico, GABA e glicina) são responsáveis por 90% das neurotransmissões. A vitamina B3, a vitamina B6, o inositol, o zinco, o manganês, o lítio, o magnésio, o cálcio e o potássio também desempenham relevante papel na bioquímica cerebral, participando da transmissão sináptica. O comportamento do indivíduo é influenciado pela presença desses nutrientes nas reações bioquímicas cerebrais. Pessoas vegetarianas podem apresentar carências de alguns aminoácidos, já que as proteínas de origem vegetal costumam ser pobres em um ou mais aminoácidos. Os aminoácidos mais frequentemente em falta nos vegetais são: a lisina, a metionina, o triptofano e a treonina. Essas carências podem ser evitadas pela combinação de vários vegetais na alimentação. O metabolismo dos aminoácidos depende, fundamentalmente, da presença da vitamina B6. A sua ausência, ou seus baixos níveis, comprometem a
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biotransformação de aminoácidos (a formação da homocisteína é um exemplo clássico). O conteúdo proteico dos tecidos vivos varia amplamente. O conteúdo dos músculos apresenta 20% de proteínas; o conteúdo proteico do plasma do sangue é de 7%; o da gema do ovo é de 15%; o do leite é de 3,3%; o do queijo varia entre 1450%; as folhas, talos e raízes contém cerca de 1-2%; os cereais contém em torno de 15% na média (o feijão tem 28%, a soja 37%, o amendoim 26%); e as frutas de 0,4-1,5% de proteína. A avaliação dos níveis metabólicos de aminoácidos é feita pelo exame chamado aminoacidograma. É realizado a partir de amostra de sangue e avalia os níveis de 44 aminoácidos presentes no organismo. Um laboratório de referência é o laboratório americano Doctors Data Laboratories, de Chicago, USA.
Ácido aspártico O ácido aspártico é um aminoácido não-essencial formado a partir do ácido glutâmico, tendo a vitamina B6 como cofator. Foi descoberto por Ritthausen em 1868. Em nosso, metabolismo destaca-se por seu papel importante e imprescindível como fonte de energia de rápida produção. É utilizado no tratamento da fadiga crônica, pelo seu papel na produção de energia (ciclo de Krebs), no ciclo da ureia e no metabolismo do DNA. Um dos principais sítios de ação do ácido aspártico e seu derivado (aspartato) é o cérebro, onde é encontrado em abundância. É um neurotransmissor excitatório. Seus níveis costumam estar baixos nos pacientes epilépticos e nos deprimidos. As doses usuais variam de 150-1000mg/dia; doses acima de 1500mg/dia são utilizadas por atletas.
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O ácido aspártico está envolvido na conversão de carboidratos em energia muscular. Sua presença é importante para formar anticorpos (Pipalova e Pospisil, 1980). Combinado com outros aminoácidos, apresenta a propriedade de varrer toxinas da corrente sanguínea, especialmente a amônia, protegendo o fígado e a função celular. Seu metabólito, a asparagina, é importante fator no metabolismo cerebral; associada à cisteína, sua propriedade desintoxicante é potencializada. São fontes de ácido aspártico: as carnes, leite, queijos, ovos, ervilhas, milho, cebola, alho, trigo integral, berinjela e aveia.
Ácido glutâmico O ácido glutâmico foi descoberto por Ritthausen em 1866. Seu nome origina-se do glúten do trigo, de onde foi isolado pela primeira vez. Ajuda a remover o excesso de amônia produzido no metabolismo (reage com a amônia originando glutamina). É especialmente importante ao metabolismo cerebral, estando implicado na formação de neurotransmissores cerebrais; porém, por atravessar com muita dificuldade a barreira hemato-encefálica, deve ser administrado sob a forma de glutamina (seu precursor), capaz de difundir-se bem em todos os tecidos e dar origem ao ácido glutâmico no cérebro. O ácido glutâmico e o GABA são interconvertidos “in vivo”. Está implicado também, na síntese do DNA, do glutation e de outros aminoácidos. Deficiências severas são raras, já que existem várias alternativas para sua síntese (pode ser formado a partir da ornitina, arginina ou prolina); pessoas com atividade física intensa, como os atletas, podem facilmente depletar suas
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reservas corporais. As doses usuais variam de 100mg a 500mg/dia. O ácido glutâmico (assim como a alanina, o ácido aspártico e a glicina) aumenta a excreção do ácido úrico, podendo ser uma alternativa importante para o tratamento da gota. O ácido glutâmico aumenta os impulsos de criatividade e percepção; sua deficiência determina desmotivação, bem como incapacidade de fazer “abstrações”. Também é importante auxiliar no combate à fadiga, depressão e impotência. Pode haver alergia ao glutamatomonosódico (abundante nas comidas chinesas), bem como ao ácido glutâmico e à glutamina. São fontes de ácido glutâmico: carnes, leite, queijos, ovos, grãos integrais, abóbora, agrião, alho, aspargo, ervilhas e castanhas.
Alanina Alanina é um aminoácido não essencial. Foi descoberta por Weyl em 1888. A alanina é matéria prima para a síntese de glicose no fígado e nos músculos, quando é necessário produzíla rapidamente. Além disso, é um neurotransmissor inibitório, ajudando a diminuir a excitação que é comum nos epilépticos, sendo seu efeito comparável ao do GABA. A alanina é utilizada em doses de 200mg a 1000mg/dia. É sintetizada a partir do piruvato e da carnosina, tendo o zinco como cofator. Pessoas sob stress ou em hipoglicemia, consomem tecido muscular, a fim de obter alanina para normalizar o nível do açúcar sanguíneo. A quebra do dipeptídio carnosina, presente nos músculos, origina alanina e histidina. A alanina favorece a produção de linfócitos e de imunoglobulinas.
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A alanina, assim como o GABA, a taurina e a glicina, é um neutrotransmissor inibitório no cérebro, com acentuada ação tranquilizante. Experimentalmente, tem sido utilizado em ratos,como auxiliar na dissolução de cálculos renais. Não são conhecidas doses tóxicas para o uso da alanina. São fontes de alanina: carnes, leite, queijos, ovos, castanhas, aveia, chocolate, milho, ervilhas, cenoura e berinjela.
Arginina A arginina foi descoberta por Schulze e Barbieri em 1881. Desempenha papel importante na função muscular, no crescimento, na cicatrização e no sistema imunológico. Pensase, ainda, que tenha ação anticancerígena e hepato-protetora. Em crianças, é timo-estimulante e, além do aumento na produção de linfócitos, melhora sua atividade. A dose necessária para estimular a imunidade ainda não está bem estabelecida. Doses muito elevadas (12g/dia) aumentam drasticamente a atividade dos linfócitos em 3 dias, mas podem causar diarreia aquosa ou diminuir a absorção de outros aminoácidos por deslocamento. A arginina estimula a hipófise anterior, aumentando a secreção do hormônio do crescimento; isso explica sua ação queimando gorduras e promovendo o desenvolvimento da massa muscular. A dose preconizada para a liberação do hormônio de crescimento é 1200mg/dia, associados a 1200mg/dia de lisina. A associação arginina/lisina, fundamental à liberação do hormônio do crescimento (GH), deve ser tomada com o estômago vazio ou ao deitar, não devendo ser combinada a outros aminoácidos para evitar competição pelos sítios de absorção.
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Durante o exercício físico, através da desaminação das proteínas, o organismo produz grande quantidade de amônia. O aumento na concentração de amônia produz um acréscimo de lactato sanguíneo, ocasionando fadiga muscular. A arginina e a ornitina convertem a amônia em ureia (30 vezes menos tóxica) diminuindo, assim, a fadiga muscular. Por outro lado, observações clínicas relatadas pelo Dr. Eric Braverman (uma das maiores autoridades mundiais em aminoácidos), indicam que o excesso de aminoácidos na dieta é prejudicial na vigência de infecções bacterianas e/ou virais; o Herpes simplex tem seu desenvolvimento favorecido pela arginina. Trabalhos recentes mostraram que a arginina é o aminoácido mais importante para a produção do óxido nítrico endógeno. O óxido nítrico é fundamental para que a ereção e sua manutenção (em doses acima de 2g/dia); além de ser um regulador do tônus vascular (vasodilatador). A arginina, o chocolate e o espinafre devem ser evitados por pessoas com herpes ativo. A arginina favorece o desenvolvimento do herpes. Doses de até 6g/dia, em várias tomadas, são consideradas seguras. São fontes de arginina: carnes, leite, queijos, ovos, chocolate, alho, castanhas, ervilha, milho e grãos integrais.
BCAA (branched chain aminoacids) São aminoácidos essenciais envolvidos no metabolismo muscular, na produção de energia e no stress. Os tecidos musculares são formados por duas proteínas principais,a actina e a miosina. Os principais aminoácidos dessas duas proteínas são os três aminoácidos de cadeia ramificada, a leucina, isoleucina e a
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valina. São anabólicos, usados por atletas para aumentar a matéria prima nos tecidos musculares, contribuindo para a construção de massa muscular. Exercícios intensos podem causar danos ou consumirem tecido muscular, ocasionando perda de massa muscular. A ingestão de BCAA melhoram a performance e o condicionamento físico. O crescimento da massa muscular ocorre por estimulação da síntese de proteínas diretamente no músculo. Os 3 BCAA precisam estar presentes ao mesmo tempo, a fim de exercerem sua ação. Os BCAA são AA essenciais, portanto não são fabricados pelo organismo, necessitando serem ingeridos. São chamados aminoácidos de cadeia ramificada porque cada um deles contém um grupamento metila ligado a cadeia principal do aminoácido. Todos eles são biotransformados pelas enzimas transaminases, tendo como cofator a vitamina B6. Os BCAA competem com o triptofano e a tirosina pelos mesmos sítios de absorção, devendo, por isto, ser administrados em horários diferentes e associados aos cofatores vitaminas B3, B6 e B12, para garantir seu metabolismo. A proporção ideal entre os 3 aminoácidos é a seguinte: isoleucina, 25%; leucina, 40% e valina, 35%. Os BCAA inibem a produção de ácido lático, substância que causa fadiga muscular. A fadiga muscular ocorre quando praticamos exercícios intensos, com aumento do nível de ácido lático no sangue. O pH do sangue nos músculos diminui, causando dificuldade na contração muscular. Na encefalopatia hepática o aumento dos falsos neurotransmissores coincide com o aumento das concentrações séricas dos aminoácidos aromáticos (AAAs). A proporção entre os BCAAs/AAAs deve ser de 3,0-3,5; na encefalopatia hepática costuma estar menor que a unidade.
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Cerca de 35% dos AA presentes nas proteínas musculares são BCAA. Os BCAA são a maior fonte de radicais amino no interior do músculo, o que é importante para o metabolismo muscular e crescimento da massa muscular. Os BCAA aumentam a performance atlética e, por este fato, atletas e fisicultores os utilizam como anabolizantes naturais, não hormonais, por melhorarem o desempenho e por não apresentarem nenhum dos efeitos colaterais associados aos esteroides. Os BCAA também são efetivos na restauração da massa muscular em pessoas com danos hepáticos, pessoas que sofreram grandes cirurgias ou idosos. A administração dos BCAA a atletas antes dos treinos ou competições visa a facilitar a produção e mobilização de energia; sua administração após os treinos visa a induzir a formação de massa muscular. O exercício físico intenso leva ao consumo de grandes quantidades dos aminoácidos não-essenciais alanina e glutamina. Não havendo mais estoque muscular, torna-se necessária a síntese, a partir dos BCAAs (leucina, isoleucina e valina). A oxidação da leucina durante o exercício moderado aumenta em até 240%. Os BCAAs respondem por 40% das necessidades diárias de aminoácidos essenciais. Embora apresentem semelhanças estruturais, os AAs seguem diferentes rotas metabólicas, a saber: a valina origina carboidratos, a leucina origina gorduras e a isoleucina origina ambos. As doses usuais oscilam de 500mg a 1000mg/dia. Um ovo possui 400mg de leucina e 400mg de valina e isoleucina. Relatos recentes recomendam usar BCAA na distrofia lateral amiotrófica, pois a leucina e a isoleucina tem mostrado ativarem a decomposição enzimática do glutamato, presente em
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concentrações elevadas no cérebro das pessoas portadoras dessa doença. As doses utilizadas foram: leucina 12g/dia, isoleucina 8g/dia e valina 6,4g/dia São fontes de BCAA: ovos, leite, carnes, queijos, arroz integral, aveia, gérmen de trigo, lentilha, peixe, soja e cogumelos.
Carnitina A carnitina é um aminoácido essencial. É produzida no fígado (tendo como substrato a lisina e a metionina) com a ajuda da vitamina C, vitamina B6, vitamina B3, ferro e metionina. É necessária à transformação de ácidos graxos de cadeia longa em energia (nas mitocôndrias) para a atividade muscular, aumenta a massa e a resistência muscular; reduz os níveis de triglicerídeos e colesterol, incrementando a utilização das gorduras (os níveis endógenos regulam a taxa do metabolismo das gorduras); diminui a adiposidade, reduz a velocidade dos processos ligados ao envelhecimento cerebral e ajuda a retardar a progressão do Mal de Alzheimer; atua nas doenças cardiovasculares, doenças pulmonares, diabetes, aterosclerose e doenças musculares. Encontra-se em grande concentração no esperma e no cérebro. As propriedades terapêuticas foram evidenciadas por I.B.Fritz, em 1959. Também está indicada em casos de depressão e no estímulo ao aprendizado e à memória de curto e longo prazo. A Acetil-L-carnitina tem as mesmas indicações, porém seu custo é mais elevado. O uso terapêutico desta substância varia de 200-2000mg/dia. Doses superiores a 2g/dia, ocasionalmente podem desencadear diarreia em pessoas sensíveis. A L-carnitina encontra-se 40 vezes mais concentrada nos músculos do que no plasma e seu nome deriva do fato de ter sido descoberta em extratos de carne (1905). Auxilia as células
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na utilização do oxigênio de forma mais eficiente, melhorando a performance muscular e a resistência à fadiga, além de aumentar a produção de energia em até 10% (por estímulo da queima de BCAAs). A carnitina praticamente inexiste em vegetais. Por esta razão, os vegetarianos estritos possuem baixas quantidades deste aminoácido, especialmente se suas dietas forem pobres em lisina e metionina, que são os aminoácidos necessários para sua síntese. A Acetil-L-carnitina (ALC) é utilizada nos suplementos de energia, no tratamento da infertilidade masculina e na melhora do fluxo sanguíneo cerebral; melhora o humor, o desempenho físico e o condicionamento cardiovascular. Apresenta ação anti-RLs, inibindo a peroxidação lipídica; controla a redução dos sítios de ligação de glutamato-N-metilaspartato na região do hipocampo (retardando o processo de envelhecimento) e melhora a astenia. A ALC é vista como uma das drogas mais promissoras na terapêutica do Mal de Alzheimer (300-500mg 3 vezes ao dia), possibilitando alguma melhora na memória e no nível de atenção e de alerta dos pacientes. A ALC é o acetil éster da carnitina, carregador dos ácidos graxos através da membrana mitocondrial, envolvida na transformação de lipídios, carboidratos e proteínas em energia. A Acetil L-carnitina está quimicamente relacionada à L-carnitina (nutriente semi-essencial), superando-a em potência metabólica, especialmente no cérebro; é fonte de grupos acetila, que facilitam as rotas energéticas. A ALC reduz a formação de lipofucsina no cérebro, aumenta a atividade colinérgica (promovendo a síntese de acetil-colina) e melhora o fluxo sanguíneo cerebral em pacientes com doenças cerebrovasculares. Seus níveis diminuem após os 40 anos. É
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muito empregada na neurologia e na geriatria, nos processos de envelhecimento. Diabéticos possuem baixos níveis séricos de carnitina, mas nos músculos esqueléticos os níveis são normais. Devido ao aumento da suscetibilidade à aterosclerose, doenças cardíacas e insuficiência renal dos diabéticos, a suplementação de ALC é desejável. A ALC também melhora a função vascular periférica. A administração de carnitina protege contra os efeitos colaterais sobre o coração, da quimioterapia com adriamicina. Também reduz os efeitos colaterais de alguns medicamentos como o ácido valproico (Depakene, Deproic) e a carbamazepina (Tegretol), em doses de 250mg a 500mg, via oral, 2 vezes ao dia. Os sais de carnitina utilizados em terapêutica são a L-carnitina e Acetil-L-carnitina. A D-carnitina e a DL-carnitina não devem ser empregadas, pois, além de serem 30 vezes menos ativas, competem com a L-carnitina e diminuem a tolerância ao exercício. Na maior parte dos trabalhos científicos com ALC, são utilizadas doses que variam de 300-2000mg/dia, divididas em 2 tomadas. Indivíduos saudáveis podem tomar doses menores (300-1000mg/dia), ficando as maiores dosagens reservadas a pacientes com déficit cognitivo, por envelhecimento ou por atletas. Os medicamentos contendo ALC precisam ser guardados sob refrigeração, a fim de manterem sua eficácia. Doses acima de 2000mg/dia de carnitina podem ocasionar quadros de diarreia leve. São fontes de carnitina: carnes vermelhas, aves, peixes, leite e queijos.
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Cisteína / Cistina É um aminoácido não essencial. Foi descoberto por Bopp em 1849. A cisteína protege contra os danos causados por toxinas, poluentes, cigarro e álcool, pois estes produtos são parcialmente neutralizados pelo glutation (poderoso antioxidante e detoxificador formado pela cisteína, ácido glutâmico e glicina). A cisteína favorece a neutralização dos aldeídos produzidos pelo fígado como subproduto do metabolismo do álcool, gorduras e algumas drogas. A acetilação da cisteína origina a N-acetil-cisteína (NAC), que é um excelente antioxidante e desintoxicante. Participa da neutralização dos aldeídos tóxicos formados na metabolização do álcool e drogas; é importante como agente quelante nas exposições a metais pesados; ajuda a prevenir a queda de cabelo nos pacientes submetidos a quimioterapia e também é um excelente agente mucolítico (600mg 1 a 2 vezes ao dia). A cisteína é a forma do aminoácido incorporado nas proteínas durante a síntese, enquanto a cistina é a forma encontrada no sangue. A cistina é o resultado da ligação de duas moléculas de cisteína (por pontes dissulfeto, resultante da oxidação de seus radicais sulfidrila). A cistina é um aminoácido composto pela união de duas moléculas de cisteína, é mais estável e serve como forma de armazenamento para a cisteína, podendo ser facilmente desdobrada sempre que o organismo necessitar de cisteína. Cisteína e cistina são intercambiáveis entre si. Pequenas quantidades de cistina estão presentes no sangue, o restante está presente nas proteínas. Associada ao ácido pantotênico (vitamina B5) tem efeitos positivos sobre a osteoartrite e artrite reumatoide, segundo
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trabalhos realizados pelo Dr. Ryzewski, da Universidade de Varsóvia. A ingesta de altas doses de cisteína deve ser associada à ingesta de vitamina C na proporção de 3:1, a fim de evitar a transformação da cisteína em cistina, potencialmente formadora de cálculos renais em alguns indivíduos. A presença das ligações de enxofre (S-S) na cisteína são importantes para a remoção de metais pesados ou cobre, quando em excesso no organismo. Doses elevadas de cisteína devem ser administradas com cautela, pois competem com a insulina pelos mesmos sítios de ligação, causando, assim, diminuição de sua atividade. A cisteína corresponde a 8% da composição do fio do cabelo; a carência acentuada acelera a queda de cabelo e favorece a calvície masculina. Vegetarianos e indivíduos submetidos a dietas hipocalóricas podem apresentar uma tendência à alopécia, que pode ser revertida mediante a administração de aminoácidos enxofrados, zinco, selênio e vitaminas do complexo B. A cisteína é um aminoácido sulfurado, importante em múltiplas reações metabólicas. Pode ser convertida em cistina e taurina. A cistina é a forma estável da cisteína e é formada por duas moléculas de cisteína que se unem por pontes de enxofre (S-S) e, segundo a necessidade do organismo, uma se transforma na outra imediatamente. No metabolismo, as duas formas podem ser consideradas um único aminoácido. É utilizada em doses de até 1g/dia com segurança, em 2 ou 3 tomadas.
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AMINOÁCIDOS PRECURSORES E NEUROTRANSMISSORES Ácido Glutâmico Asparagina Arginina Cisteína Fenilalanina Glutamina Histidina Metionina Ornitina Tirosina Triptofano
GABA Ácido Aspártico Ácido Glutâmico Taurina Dopamina, Noradrenalina Ácido Glutâmico Histamina Taurina Ácido Glutâmico Dopamina, Noradrenalina Serotonina, Melatonina
Fonte: Dr. Juarez Calegaro (RS)
São fontes de cisteína: carnes, leite, queijos, ovos, grãos integrais, castanhas, cebola, alho e amendoim.
Fenilalanina A fenilalanina é um aminoácido não essencial descoberto, Van Slyke em 1938. Participa da síntese de vários de neurotransmissores. É biotransformada em noradrenalina, adrenalina e dopamina, que estimulam a atividade mental e a vitalidade, além de transformarem-se em feniletilamina (metabólito com ação antidepressiva). A fenilalanina é um precursor da tirosina. É encontrada nos adoçantes artificiais (aspartame) e produtos dietéticos. Como propriedades, induz à diminuição do apetite pela formação de colecistoquinina (tomar antes das refeições), aumenta o vigor físico, aumenta a libido e melhora a memória de curto prazo, além de ter ação antidepressiva. Também é
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coadjuvante no tratamento de drogaditos (por ocupar os mesmos receptores de ligação das drogas). Estudos realizados na Universidade de Chicago (EUA) pelos doutores Ehrenpreis e Balagot colocaram em evidência o papel da DL-fenilalanina na luta contra a dor, por sua capacidade de produzir e ativar substâncias endógenas (endorfinas) semelhantes à morfina (doses de 750-1500mg/dia, fracionadas em 3 tomadas); também por ser capaz de bloquear a enzima encefalinase, responsável pela degradação das endorfinas e encefalinas (potentes analgésicos endógenos). Seu efeito é bastante intenso, não vicia e não é tóxica. É especialmente eficaz nas artralgias, cefaleias, lombalgias e nevralgias (400mg 3 vezes ao dia). Seus efeitos são observados após 4 dias. É contra-indicada para pacientes hipertensos (por sua ação vasoconstritora), com enxaqueca, com melanoma (a fenilalanima é precursora da melanina) ou com fenilcetonúria. A dose antidepressiva é de 1200-1500mg/dia, em 3 tomadas. A fenilalanina é metabolizada no fígado à tirosina, pela fenilalanina hidroxilase; a deficiência desta enzima origina uma grave doença, a fenilcetonúria, que transcorre com o acúmulo dos ácidos fenilpirúvico, fenil-lático e fenilacético (altamente tóxicos), causando a oligofrenia fenilpirúvica. Nestes casos é absolutamente necessário restringir a ingesta de alimentos ricos em fenilalanina (queijo, banana, chocolate, feijão, cerveja e vinho) e administrar a tirosina, seu metabólito, através dos alimentos ou de suplementos dietéticos. Nos recém-nascidos a fenilcetonúria é uma das patologias diagnosticadas através do “teste do pezinho”. O ácido fólico, o ferro, o cobre, a vitamina B3, a vitamina B6 e a vitamina C ativam o metabolismo da fenilalanina. A dieta normal pode fornecer cerca de 5-8g/dia deste aminoácido. Doses elevadas de fenilalanina e de tirosina devem ser evitadas por pacientes em uso de antidepressivos inibidores
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da enzima MAO (Mono Amino Oxidase), devido ao risco de desencadear hipertensão arterial severa pelo aumento da produção das catecolaminas e formação de tiramina. A dose diária ótima é de 7mg/kg de peso corporal. Doses de ate 1500mg/dia são consideradas seguras. São fontes de fenilalanina: as carnes vermelhas, aves, peixes, leite, queijos, germe de trigo, lentilha, amendoim, chocolate, castanhas, banana, abobara e grãos integrais.
GABA (ácido gama-aminobutírico) É um aminoácido importante no metabolismo cerebral, especialmente naquelas situações em que ocorre “bombardeio” de mensagens excitantes. Possui acentuado efeito tranquilizante nos estados de ansiedade, especialmente quando associado aos aminoácidos taurina e triptofano. Os ansiolíticos tradicionais mimetizam a função do GABA, ligando-se aos receptores GABAminérgicos no cérebro. Baixos níveis cerebrais são habitualmente encontrados em indivíduos ansiosos, estressados ou agressivos. A vitamina B6, o manganês e a taurina incrementam a síntese e os efeitos do GABA. Os níveis de GABA estão usualmente baixos nos pacientes deprimidos; costumam também decrescer com o envelhecimento, pois os níveis da enzima GABA descarboxilase caem vertiginosamente. As doses terapêuticas por via oral variam de 200mg – 1000mg/dia, podendo ser utilizado em doses menores (50100mg) via sublingual. São fontes de GABA: carnes, leite, queijos, ovos e grãos integrais.
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Glicina A glicina é um aminoácido não essencial. Henri Bracannot, em 1820, aqueceu gelatina e obteve uma substância adocicada, denominando-a glicina ( do greco Glykos igual a doce, que lembra glicose). Pode ser formada a partir dos aminoácidos colina, treonina e serina. A L-glicina é o menor de todos os aminoácidos (AA), apresentando peso molecular (P.M.) 350. Por esta razão e devido ao seu baixo custo é o aminoácido mais usado para quelar minerais. A dupla ligação que caracteriza a quelação com o metal se dá através do nitrogênio ou do enxofre (sempre ligação iônica). A mucosa intestinal permite a absorção livre de substâncias com P.M. até 800. A glicina é um dos AAs que se encontram em maior concentração na mucosa intestinal. A ação da glicina está ligada à formação de aminoácidos não essenciais e à síntese do núcleo da hemoglobina, DNA, fosfolipídios e colágeno. A glicose necessita de glicina para sua síntese, o que mostra sua importância na produção de energia corporal. Apresenta efeito calmante semelhante à taurina, sendo empregada na hiperatividade, agressividade e na fase maníaca do transtorno afetivo bipolar (TAB – antigamente conhecido como PMD: psicose maníaco depressiva). A glicina combina-se com muitas substâncias tóxicas convertendo-as em formas inócuas, que são excretadas; promove o crescimento e o desenvolvimento da massa muscular e estimula o sistema imune a produzir imunoglobulinas. É usada também no tratamento da hiperuricemia por sua ação sobre o metabolismo das purinas. Uma excelente fonte de glicina é a gelatina (12% de sua composição).É usada em doses que variam de 2001000mg/dia. Doses de até 6g/dia, em diversas tomadas, são seguras e bem toleradas. Doses mais elevadas causam alterações visuais.
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São fontes de glicina: carnes, ovos, leite, queijos, aveia, granola, gérmen de trigo, chocolate, castanhas, feijão e cogumelos.
Glutamina A glutamina é um aminoácido não-essencial, foi descoberta por Dreschel em 1889. É constituída pelo aminoácido ácido glutâmico associado à amônia. É um dos aminoácidos mais abundantes do corpo e o de maior concentração no sangue. Sua principal função no organismo é o transporte de amônia dos tecidos para o fígado, para ser biotransformada em ureia. A glutamina é o mais importante varredor de amônia do cérebro, graças a sua habilidade de atravessar a barreira hemato-encefálica. É extensamente utilizada para suprimir disbioses e alterações da permeabilidade intestinal, por ser a principal fonte de energia dos enterócitos (em doses de 1 a 6g/dia em diversas tomadas). Pessoas alérgicas ao glutamato monossódico - substância usada para realçar o sabor dos alimentos em restaurantes chineses - também podem ter sensibilidade ao ácido glutâmico e à glutamina (podendo apresentar enxaqueca, náuseas e vômitos). Isto ocorre devido a um aumento transitório de substâncias “acetilcoline-like” e à deficiência de vitamina B6, necessária ao metabolismo da glutamina (50mg/dia são suficientes para repor os níveis). Nos EUA, alimentos infantis não podem conter glutamato monossódico. Estudos recentes mostram que a glutamina pode ativar as células do sistema imunológico, tais como os leucócitos (em especial, os linfócitos), linha de frente do sistema imunológico. Também é indicada nas infecções recorrentes. A glutamina
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ajuda a reduzir a compulsão pelo álcool (por ser precursora do GABA, depletado pelo alcoolismo) e a pelos doces. É um dos principais elementos para corrigir quadros de má-absorção intestinal, em doses que variam de 1-6g/dia. As células epiteliais da mucosa intestinal alimentam-se seletivamente da glutamina proveniente da dieta para sua manutenção e proliferação. É intensamente consumida na atividade esportiva e sua depleção crônica torna o indivíduo suscetível a infecções. Também é essencial à estimulação da memória e da concentração, uma vez que a glutamina é um importante nutriente para o cérebro. A glutamina é extremamente importante na detoxificação da amônia, servindo como seu principal transportador, tanto no sangue como no cérebro (onde sua concentração é 3 vezes maior que a de qualquer outro aminoácido). O uso da glutamina é seguro em altas doses (até 20g/dia, em diversas tomadas), embora altas doses possam diminuir a absorção de outros aminoácidos, via competição. São fontes de glutamina: carnes, ovos, leite, queijos e grãos integrais.
Histidina É um aminoácido essencial, descoberto por Kosser em 1896. É particularmente importante para neonatos prematuros, por seu papel nos períodos de crescimento, na formação e no reparo de tecidos, na produção da hemoglobina e na síntese de histamina. A histidina representa 3% do total dos aminoácidos de nosso corpo. Sua deficiência retarda o crescimento e favorece o surgimento de eczemas cutâneos. A histidina, e seu metabólito, a histamina tem sido
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relacionada ao controle do despertar, metabolismo energético cerebral, atividade locomotora, liberação de hormônios, comportamento sexual, percepção da dor, alimentação e ingestão da água. É um dos neurotransmissores que diminuem ou suprimem o apetite. Estudos evidenciaram que a histamina inibe a liberação de noradrenalina no hipotálamo e diminuem ou suprimem a ingesta alimentar, apresentando ação anorética. Ao contrário, como alguns antidepressivos e antipsicóticos com atividade antihistamínica estimulam a ingestão de alimento e o aumento do peso corporal. Devido a sua intensa reatividade, a histidina está presente no centro ativo de numerosas enzimas onde tem o importante participação na quebra de ligações químicas. Pacientes artríticos com história de reações alérgicas e os portadores de úlceras pépticas, devem reduzir a ingesta de histidina. A histamina é o principal neurotransmissor no hipocampo. Trabalhos científicos realizados pelo Dr. Eric Braverman (EUA) relacionaram altos níveis de histidina e de seu metabólito, a histamina, ao aumento da libido e favorecimento ao orgasmo. Segundo Braverman, a administração de histidina (500mg 2 vezes ao dia) aumentou a libido e facilitou a obtenção do orgasmo nos pacientes tratados no Brain Bio Center. As doses terapêuticas oscilam entre 2001000mg/dia. Pacientes com depressão crônica, perda repentina de memória, personalidade obsessivo-compulsiva e fobias costumam apresentar altos níveis de histidina e seu metabólito, a histamina (histadelia). Cerca de 20% dos esquizofrênicos são histadélicos. Já a histapenia (baixos níveis de histidina e histamina) está associada à hiperatividade, manias, paranoia,
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alucinações, artrite reumatoide e Mal de Parkinson (Gerber, 1975). Doses de até 3000mg/dia, em diversas tomadas, são consideradas seguras. São fontes de histidina: carnes, leite, ovos, queijos, castanhas e grãos integrais.
Isoleucina É um aminoácido essencial, descoberto por Erlich em 1904. Desempenha relevante papel na regulação dos níveis sanguíneos da glicose; auxilia o metabolismo muscular, devendo sempre estar associada aos demais aminoácidos de cadeia ramificada (leucina e valina) e é essencial para a formação da hemoglobina. Também é largamente utilizada em nutrição enteral e parenteral e, especialmente, em pacientes com doenças epaticas graves, para melhorar seus estados nutricionais. As doses usuais variam de 200-1500mg/dia, sendo que os atletas costumam usar doses mais elevadas (até 12g/dia). A isoleucina é um dos aminoácidos de cadeia ramificada também conhecidos pela sigla inglesa BCAA. Os BCAA não são metabolizados no fígado, pois a enzima que os biotransformam, a BCAAtranferase, não existe no fígado, apenas nos músculos, local onde são metabolizados. São fontes de isoleucina: carnes, ovos, leite, queijos, trigo, milho e lentilha.
Leucina É um aminoácido essencial descoberto por Bracannot, em 1820. É valiosa fonte combustível durante a realização de exercícios; incrementa a síntese e a estocagem de proteínas;
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exerce funções no metabolismo ósseo e da pele, sendo, ainda, capaz de controlar a hiperglicemia. Sua ação é mais eficaz quando associada à isoleucina e à valina. As doses usuais variam de 200-1500mg/dia, sendo que os atletas costumam usar doses muito mais elevadas (até 12g/dia). A leucina, a isoleucina e a valina, atuam na produção de glicose à partir do músculo, durante a atividade física. A leucina presente nos músculos é biotransformada pela enzima alanina aminotransferase, formando a alanina. Este aminoácido gerado nos músculos, vai para o fígado, onde é convertido a piruvato e ureia. O piruvato, por sua vez, é convertido primeiramente a oxalato, posteriormente a fosfoenolpiruvato e finalmente, a glicose. São fontes de leucina: carnes, ovos, leite, queijos, arroz integral, aveia e gérmen de trigo.
Lisina É um aminoácido essencial com múltiplas funções: aumenta a absorção do cálcio presente no trato intestinal (em até 20%); promove o crescimento ósseo e a formação do colágeno; faz parte de numerosas enzimas e hormônios. Sua deficiência reduz a velocidade do crescimento e pode diminuir a imunidade (Dr. Shiehzadeh, Universidade do Kansas). A lisina associada à arginina estimula a síntese do hormônio do crescimento, o desenvolvimento muscular e a função imune. Interfere na ligação da lipoproteína-A na parede dos vasos, prevenindo, assim, a formação de placas. A leucina, assim como a isoleucina e a valina é metabolizada diretamente no músculo uma vez que a enzima BCAAtransferase não existe no fígado, apenas no músculo. É
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muito usada em pacientes com patologias hepáticas graves, para a melhora dos seus estados nutricionais. A conversão da lisina em hidroxilisina, para a produção do colágeno, é feita com a ajuda de vitamina C. A lisina deve ser ingerida preferencialmente à noite, antes de dormir. Estima-se que 50% a 70% da população mundial sofra de erupções recorrentes do vírus Herpes simplex (Griffith e cols.). Esses indivíduos devem diminuir a ingestão de alimentos ricos em ácido oxálico e arginina, tais como chocolate, cerveja, amendoim, castanhas, cevada, espinafre e ervilha, procurando consumir alimentos ricos em lisina, como leite e derivados, batata e suplementos de lisina (500mg, 2x ao dia), com bons resultados na prevenção da recidiva. A lisina é precursora da Lcarnitina, importante na adaptação ao stress, e é utilizada no controle da enxaqueca. Não se deve administrar lisina a pacientes com insuficiência renal ou hepática. Em altas dosagens (acima de 2g) a lisina compete com a arginina pelos mesmos sítios de absorção, podendo haver diminuição da absorção de uma delas; por esta razão não devem ser administradas no mesmo horário. A administração de altas doses de qualquer aminoácido deve ser feita longe das refeições, para diminuir a competição pela absorção entre eles. A lisina é precursora do aminoácido citrulina, de importância fundamental no metabolismo das proteínas. O conteúdo de lisina nos vegetais e cereais é, usualmente, baixo. Considerando que a lisina é um aminoácido essencial, indispensável para a biossintese animal, sua deficiência representa um problema nas áreas onde o suprimento de aminoácidos e proteína animal é baixo, devido a razões econômicas ou outras. O antagonismo metabólico entre a lisina e a arginina pode ser utilizado proveitosamente nas doenças que cursam com
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altos níveis de lisina (erros metabólicos de origem genética) especialmente em caso de retardo mental, ausência de caracteres sexuais secundários, baixa estatura e hepatoesplenomegalia (1000mg, 2xdia). A dose diária ótima é de 10mg/kg de peso corporal. Doses de até 6000mg/dia, em diversas tomadas, são consideradas seguras. São fontes de lisina: carnes, peixes, leite, queijos, soja e ovos. Os cereais são pobres em lisina.
Metionina É um aminoácido essencial. Foi descoberto por Mueller em 1922. A metionina é o aminoácido iniciante durante a biossintese das proteínas. Graças à presença do enxofre em sua estrutura, está indicada na prevenção das patologias do couro cabeludo, pele e unhas. Atua como um agente lipotrópico, especialmente quando associada à colina e ao inositol. É utilizada no tratamento de alergias, por sua capacidade de reduzir os níveis de histamina (Pfeiffer, 1972) via metilação da histamina e diminuindo a absorção da histidina no intestino. A administração de metionina, especialmente quando em altas doses, deve ser acompanhadas por Vit B6, B9 e B12 (cofatores do metabolismo da metionina), para garantir sua completa metabolização e evitar a formação do tóxico homocisteína. É utilizada nas intoxicações por metais pesados, por ajudar a remover tóxicos do fígado (via doação de grupos metila) e promover a regeneração do tecido hepático. Trata-se de um precursor da cistina e de muitos outros elementos que contêm enxofre. A metionina é um aminoácido com
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propriedade antioxidante. As doses terapêuticas variam de 1001000mg/dia, sendo a dose diária ótima para pessoas saudáveis 2mg/kg de peso corporal. São fontes de metionina: carnes, leite, queijos, ovos, milho e grãos integrais.
Ornitina A ornitina pode ser convertida, pelo corpo, em arginina, glutamina ou prolina. A ornitina (em doses que variam de 15003000mg/dia) estimula a produção do hormônio do crescimento, incrementa a massa muscular, diminui a quantidade de tecido gorduroso, ativa o sistema imune e a função hepática. Atua na formação da ureia e na neutralização da amônia. As doses usuais variam de 100-1000mg/dia. A associação dos aminoácidos ornitina e taurina origina um substituto para o sal de cozinha tradicional: o sal ornitiltaurina, já em uso no Japão por pacientes com restrições ao cloreto de sódio. A ornitina penetra na mitocôndria mais facilmente do que a arginina. Doses de até 3000mg/dia, em diversas tomadas, são consideradas seguras. São fontes de ornitina: carnes, leite, queijos, ovos, chocolate e grãos integrais.
Prolina É um aminoácido não essencial importante para a síntese do colágeno (25% das proteínas do corpo). A prolina é sintetizada a partir do glutamato ou da ornitina. Sua síntese a partir do ácido glutâmico está ligada ao metabolismo dos carboidratos no ciclo de Krebs e a síntese pela ornitina está
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ligada ao metabolismo das proteínas no ciclo da ureia. Possui ação extremamente importante ao funcionamento das articulações, tendões e músculo cardíaco. Administrada em doses de 100-500mg/dia. São fontes de prolina: carnes, ovos, leite, queijos, milho, centeio, cevada, cogumelos e grãos integrais.
Serina É um aminoácido não-nessencial. A serina é reversivelmente transformada em glicina e vice-versa. É encontrado em altas concentrações nos músculos. É metabólito chave na produção de neurotransmissores e estabilizadores das membranas celulares. A serina é um importante consituinte dos fosfolipídios das membranas. (a partir da fosfatidilserina). São fontes de serina: carnes, peixes, ovos, leite, queijos, soja, gelatina e amendoim.
Taurina É um aminoácido essencial na primeira infância; para os adultos não é considerado essencial. A taurina é importante em várias reações bioquímicas cerebrais e musculares, sendo, ainda, indispensável para o crescimento. No Japão, a taurina é utilizada no tratamento de doenças isquêmicas. Baixos níveis de taurina e magnésio são encontrados nos pacientes após ataques cardíacos. A taurina estabiliza a membrana celular pela normalização do fluxo de potássio nas células do músculo cardíaco; associada ao magnésio, diminui a tendência a desenvolver arritmias cardíacas e IAM (Infarto Agudo do Miocárdio).
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Possui ação antioxidante e neutralizante de RLs, protegendo contra a degeneração da retina; pode, também, estacionar a evolução da catarata. É utilizada, ainda, no tratamento da cirrose, depressão, infertilidade, masculina, hipertensão e na recuperação da memória de curto prazo. É um neurotransmissor inibitório (como a glicina, a glutamina e o GABA) no tratamento dos “tiques” motores e da epilepsia, por sua propriedade de descarboxilar o ácido glutâmico transformando-o em GABA. Sua ação anticonvulsivante se deve à capacidade de estabilizar membranas e o zinco potencializa seus efeitos. Os adultos podem produzir taurina a partir da cisteína, com ajuda da vitamina B6, zinco e manganês; no entanto, segundo o Dr. Gaull (1984), a deficiência da enzima ácido cisteinicosulfinico descarboxilase, necessária à conversão da cisteína em taurina, é muito comum, o que explica os níveis habitualmente baixos de taurina nos adultos. A carência de cisteína também ocasiona baixos níveis de taurina. Não apresenta boa taxa de absorção por via oral, preferindo-se, quando possível, a via sublingual. As doses usuais oscilam entre 200-2000mg/dia. A administração de taurina (500mg 3 vezes ao dia) pode apresentar excelentes resultados na epilepsia. A taurina é um neurotransmissor inibitório, levemente sedativo, que aumenta a biotransformação do ácido glutâmico, originando o GABA. Estabiliza a membrana celular com marcado efeito anticonvulsivante e ansiolítico. Para melhorar a absorção da taurina, a via sublingual pode ser empregada, pois a taurina consegue passar a mucosa sublingual com facilidade. Cães e gatos alimentados com rações industriais costumam apresentar deficiência de taurina, uma vez que este
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nutriente não é adicionado às formulações tradicionais. A deficiência de taurina pode levar à depressão e à degeneração da retina (o olho tem altas concentrações deste aminoácido). Em sinergismo com o GABA, magnésio e vitamina E, a taurina neutraliza os peroxinitritos (destruidores de neurônios), produzidos pelo excesso de aspartato e/ou glutamato. Os fenotiazínicos, ao depletarem metionina, bloqueiam a síntese de taurina; também bloqueiam (pela depleção de manganês) a ação da glutamina sintetase, que transforma o ácido glutâmico em GABA. Pacientes em uso de fenotiazínicos devem receber suplementos de taurina (250mg/dia) e manganês (1mg/dia). A taurina é um potente liberador de ácido clorídrico, podendo ser utilizada para o tratamento dos estados de acloridria ou hipocloridria. Pacientes com gastrite ou ulcerosos devem evitar as altas doses. A administração de taurina deve ser feita ao início da refeição. As doses terapêuticas oscilam entre 300-1500mg/dia. São fontes de taurina: carnes, peixes.
Tirosina A tirosina é um aminoácido não essencial, descoberto por Hedin, em 1895. Seu nome deriva do grego, da palavra queijo (tyros = queijo em grego). É sintetizada no organismo a partir da fenilalanina. Diminui o stress físico e psíquico, tornando as pessoas mais alertas e eficientes, além de menos ansiosas e com menos queixas sobre os desconfortos físicos. Diminui a dor muscular e a cefaleia e aumenta a resistência ao frio. Algumas pessoas são sensíveis à tirosina, podendo seu uso desencadear crises de enxaqueca (pela formação de tiramina). Estudos clínicos realizados na UCLA e na Universidade
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do Texas demonstraram que 80% dos consumidores de cocaína foram beneficiados pela administração de L-tirosina (2000mg/dia, por 4 semanas), diminuindo a dependência frente à droga. Outros tipos de drogadição também respondem ao uso da tirosina. A tirosina não deve ser administrada juntamente com o triptofano, pois ambos competem pelos mesmos sítios de absorção, em especial ao atravessar a barreira hemato-encefálica. O Dr. Eric Braverman, uma das maiores autoridades em aminoácidos, relata melhora da inapetência sexual, restituição da sensação de prazer sexual nos pacientes com a administração de tirosina (1000mg vo 2 a 3 vezes ao dia) e a normalização da atividade sexual, após 30 dias de tratamento. É um potente antidepressivo e é fator essencial na produção dos neurotransmissores cerebrais - dopamina, adrenalina e noradrenalina - conforme trabalhos do Dr. Allen Gelemberg, da Universidade de Harvard (USA). Em 30% dos casos de depressão encontra-se diminuída. Indivíduos submetidos a intenso stress têm suas necessidades de tirosina aumentadas. A tirosina pode ser empregada, com excelentes resultados em pacientes com hipotensão (500mg 2 a 3 vezes ao dia). A tirosina também é precursora dos hormônios da tireoide e do pigmento melanina, protetor da radiação ultra-violeta, e pode ser utilizada como elemento adjuvante para bronzeamento. Sua adminstração (250mg 2 vezes ao dia) deve preceder à exposição ao sol. Os albinos são deficientes de melanina, pois não possuem a enzima que transforma a tirosina em melanina. Costuma ser administrada em doses que variam de 1003000mg/dia. A toxicidade da tirosina é quase inexistente. É considerada um nutriente seguro e facilmente metabolizável.
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Médicos da Harvard Medical School, relatam que doses de 1000 a 3000mg/dia tem se mostrado efetivas no tratamento de depressões resistentes a outras medicações. São fontes de tirosina: carnes, peixes, ovos, leite e queijos. Nos cereais, frutas e vegetais encontra-se em baixas concentrações, o que explica a relativa carência dos vegetarianos.
Treonina É um aminoácido essencial, um dos aminoácidos menos conhecido quanto a suas funções. Uma vez metabolizado, origina glicina, serina e glicose. A produção de neurotransmissores como acetilcolina e noradrenalina, serotonina e histamina, parece estar relacionada aos níveis endógenos de glicina e treonina. A treonina é essencial a produção das imunoglobulinas. Experimentalmente foi demonstrado que suínos com dietas deficientes de treonina tiveram baixa concentração plasmática de imunoglobulinas. Também existem evidências de sua relação com a manutenção da imunidade específica na mucosa intestinal. As necessidades de treonina decrescem com a idade. Baixos teores também são encontrados em pacientes deprimidos e epiléticos. São fontes de treonina: carnes, peixes, leite, queijos, ovos, gérmen de trigo, feijão, aveia e brócolis.
Triptofano É o aminoácido essencial mais escasso nos alimentos. Isolado pelo bioquímico inglês Frederick Gowland Hopkins, em 1900, chamou-o de triptofano, do grego magnificando
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¨surgido através da tripsina¨. Seu metabolismo requer ácido fólico, vitamina B6, vitamina C e magnésio. É o precursor de um neurotransmissor vital - a serotonina - que influencia o comportamento e o sono. Os níveis de serotonina estão diretamente associados aos níveis de triptofano e, os baixos níveis de ambos, à 70% das depressões. A tirosina e a fenilalanina competem com o triptofano nos sítios de absorção. Na carência da vitamina B3, o triptofano pode servir como precursor para a sua biossíntese, embora o processo seja pouco eficaz (60mg de triptofano originam 1mg de vitamina B3). Tem propriedades anorexígenas; reduz a compulsão pelo álcool e por outras drogas e, em associação com a tirosina e a imipramina, melhora o resultado do tratamento de pacientes dependentes de cocaína. Altas doses de triptofano (a partir de 3g/dia) podem levar à alterações hepáticas, favorecendo o depósito de gordura no fígado. É empregado, ainda, no tratamento de alguns tipos de enxaqueca. As doses usuais variam entre 100-1000mg/dia. O 5-hidroxi-triptofano, que é metabólito do triptofano e precursor imediato da serotonina, deve ser administrado via sublingual, na dose de 25-200mg/dia, em dose única ou fracionada. Os alimentos influenciam a bioquímica cerebral. Estudos realizados por Wurtman e cols. do Massachusetts Institute of Technology (1981) mostraram que, pelo menos, seis nutrientes eram capazes de aumentar a síntese dos neurotransmissores serotonina, dopamina, noradrenalina, acetilcolina e glicina, todos dependentes de um nutriente precursor. O exemplo mais claro é o da serotonina, que tem como precursor o aminoácido triptofano, encontrado nas proteínas de diversos alimentos.
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Quanto maior o nível de triptofano no sangue, maior quantidade chega ao cérebro e maior é a produção de serotonina. A rota metabólica usual do Triptofano é a rota que origina o 5-OH-Tripfotano e a seguir a serotonina (5-OHTriptamina). Alguns pacientes esquizofrênicos, por mecanismos desconhecidos, deslocam a rota para a formação de triptamina e, posteriormente dimetiltriptamina, potente alucinógeno. O triptofano foi temporariamente proibido nos EUA depois que, em novembro de 1989, casos de síndrome de eosinofiliamialgia (letais), uma rara doença auto-imune, foram observados entre consumidores do produto; na realidade o problema ocorreu devido à contaminação de produtos à base de triptofano elaborados por um fabricante japonês, que havia modificado seu processo de produção, e não devido às propriedades do L-triptofano. São fontes de Triptofano: carnes, ovos, leite, queijos, soja, lentilha, amendoim, castanhas, feijão e ervilhas.
Valina É um aminoácido essencial, descoberto por Emil Fischer em 1901. A valina promove a estocagem da glicose no fígado e nos músculos, sendo usada no tratamento da deficiência severa de aminoácidos, e com a finalidade de desenvolver a massa muscular. Deve estar sempre associada à leucina e à isoleucina. É empregada em doses que variam de 100-1500mg/dia, embora atletas utilizem doses bastante superiores (12g/dia). São fontes de Valina: carnes vermelhas, peixes, ovos, soja, queijos, arroz integral e cogumelos.
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PARA REDUZIR DROGADIÇÕES
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PARA REDUZIR INSÔNIA
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PARA REDUZIR AGRESSIVIDADE
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PARA SÍNTESE DE COLÁGENO
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VALINA
TREONINA
TRIPTOFANO
TAURINA
TIROSINA
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LISINA
PROLINA
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PARA REDUZIR DORES
Colaboração: Dr. Jorge Miyashiro, SP, 2001.
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PARA REDUZIR HIPERTENSÃO
PARA IMUNO-ESTIMULAÇÃO
METIONINA
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PARA REDUZIR APETITE
PARA DESINTOXICAÇÃO
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PARA AUMENTAR HISTAMINA PARA REDUZIR GLICEMIA
LEUCINA
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HISTIDINA
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ISOLEUCINA
GLUTAMINA
PARA DIMINUIR COLESTEROL
GABA
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CISTEÍNA
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PARA MASSA MUSCULAR
CARNITINA
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ALANINA
PARA SINTETIZAR GH
INDICAÇÃO
ARGININA
GLICINA
AMINOÁCIDOS
FENILALANINA
AÇÃO TERAPÊUTICA DOS AMINOÁCIDOS
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Capítulo 5 – OUTROS SUPLEMENTOS “Algo só é difícil até que e alguém duvide e acabe provando o contrário.” Albert Einstein
Ácido lipoico As pesquisas sobre esse nutriente começaram em 1937, sendo suas propriedades antioxidantes descobertas em 1959, por Rosemberg e Culik. A maior autoridade no assunto ácido lipoico é o Dr. Lester Packer, da UCLA (EUA). O ácido lipoico, também conhecido como ácido tiótico, apresenta características hidrofílicas e lipofílicas. Está envolvido na conversão de carboidratos em energia e é um poderoso antioxidante, o que maior número de radicais livres combate, varrendo o radical livre hidroxila, o oxigênio singlet o peróxido de hidrogênio, o radical superóxido, e o óxido nítrico. Atua sinergicamente com a vitamina C, para regenerar a vitamina E oxidada; incrementa os níveis de glutation intracelular e é, ainda, importante cofator no metabolismo dos aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA). É muito eficaz na proteção do colesterol LDL, e na proteção do fígado e das artérias contra o ataque de RLs. Quela metais tóxicos e regenera o glutation e a vitamina C oxidadas. O organismo é capaz de secretar pequenas quantidades de ácido lipoico, mas não o suficiente para uma ótima nutrição ou para combater situações patológicas. A dose terapêutica oscila entre 50-300 mg/dia, divididos em duas tomadas, via oral; a via sublingual é prejudicada pelo seu intenso sabor amargo. Tem sido preconizado como antioxidante na prevenção e controle da catarata, diabete melito, retinopatia diabética, doenças cardiovasculares, cirrose e outras.
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OUTROS SUPLEMENTOS
O ácido lipoico é eficaz no tratamento da neuropatia diabética (100mg v.o 2-3 vezes ao dia), por sua marcada ação antioxidante. Ajuda a regular o metabolismo dos açúcares, a reduzir a glicação das proteínas, a melhorar a microangiopatia e a regenerar bainhas de melina. A presença do ácido lipoico no organismo é fundamental, por sua capacidade de regenerar vários outros antioxidantes oxidados, para retornarem à forma ativa (reduzida). Participa da regeneração do glutation oxidado e das vitaminas E e C oxidadas, e, por suas características hidro e lipofílicas, esta presente em todo o organismo, nas mitocôndrias, no citosol, nas membranas e no núcleo das células. O uso de ácido lipoico é seguro, mesmo em altas dosagens (acima de 1g). As doses usuais variam de 10 a 300mg/dia. São fontes de ácido lipoico: carnes vermelhas, vísceras, germe de trigo, levedo de cerveja e batatas.
Alho O alho é um alimento/medicamento muito conhecido desde a Antiguidade. Vários tratados médicos antigos apresentam formulações a base de alho. Plínio, o Antigo, historiador e naturalista romano consagrou o uso de 61 formulações a base deste vegetal. O alho é muito rico em vitaminas do complexo B, vitamina C, selênio, cálcio, fósforo e princípios ativos antibióticos e antivirais (aliína e alicina). Foi usado para tratar ferimentos e infecções durante a 1ª Guerra Mundial, sendo seu poder anti-séptico 50 vezes superior ao do álcool 90º G.L.; também tem propriedades anti-hipertensivas e antifúngicas. Reduz os níveis de colesterol e triglicerídios em até 30 % e
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aumenta os níveis das lipoproteínas de alta densidade. Exerce ação antioxidante e queladora de metais pesados; é uma boa fonte de germânio e é eficaz na prevenção de resfriados. As doses preconizadas variam de 300-900mg/dia. As cápsulas gelatinosas (softgel) de óleo de alho contém 250mg a 500mg do óleo. O alho contém princípios ativos enxofrados que lhe conferem propriedades bactericidas, antioxidantes e quelantes. No passado era conhecido como “penicilina russa”. Trabalhos confirmam sua ação contra cândida, estreptococo e estafilococo. A propriedade imunoestimulante do alho esta relacionada a presença de aliína, alicina, dialil trisulfito (DAT) e dialil sulfito (DAS) que estimulam a imunidade de uma maneira geral, estimulando a proliferação de células T e de citocinas produzidas por macrófagos. Estudo tem demonstrado que o alho atua estimulando tanto a imunidade humoral quanto a celular. O odor característico do alho é devido a presença da aliína, principal constituinte do alho. A alicina, no organismo, é rapidamente transformada em vários outros compostos ativos como o ajoeno, o dialilsulfito (DAS) o dialil dissulfito (DADS) e varias outros componentes. Estima-se que o alho contenha, pelo menos, 20 princípios ativos. A capacidade de reduzir as taxas de colesterol pelo alho se deve a inibição de diversos passos enzimáticos da síntese do colesterol e a um acréscimo na excreção de ácido biliar e de esteróis. Os componentes do alho (alicina, alinina e S-alil sulfato) exibem propriedades que inibem a agregação plaquetária. O efeito de tais propriedades resulta na prevenção da aterosclerose e das doenças cardiovasculares.
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OUTROS SUPLEMENTOS
O alho ainda possui propriedades hipoglicemiantes, graças ao seu componente S-alilcisteina, que reduz significamente à glicose sanguínea. O mecanismo desta atuação se deve, em parte, ao estimulo da secreção de insulina pelas células beta do pâncreas. Inúmeros trabalhos científicos e dados epidemiológicos sugerem que o alho possua importante papel na prevenção de alguns tipos de câncer, como o câncer do esôfago, estômago, cólon e próstata. Chineses que consomem 10mg de alho/dia apresentam 50% menos de câncer de próstata que os grupos que não consomem alho. Também parece ser muito efetivo para antagonizar o desenvolvimento do câncer causado por nitrosaminas (conservante utilizado para preservar e realçar o colorido das carnes vermelhas, e embutidos). O alho impede a formação das nitrosaminas, no intestino, impedindo que esses compostos provoquem mutações nas células (o principal elemento protetor é o DAS). O alho é comercializado sob diversas apresentações farmacêuticas, sendo a mais utilizada o óleo de alho (cápsulas de 250mg). Nesta apresentação, porém, pode produzir hiperacidez em pessoas sensíveis, sendo preferível o extrato seco de alho (4% do princípio ativo aliína). Alguns laboratórios oferecem o alho na forma desodorizada (“odorless”).
Aspartame O aspartame (adoçante artificial) é composto por uma combinação dos aminoácidos: ácido aspártico e fenilalanina, normalmente presentes na alimentação em pequenas quantidades. Uma parcela da população é sensível à fenilalanina, não podendo usar este edulcorante. Apesar de ter o mesmo valor calórico que o açúcar (4 cal/g), seu poder adoçante é duzentas vezes maior.
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Sob o ponto de vista toxicológico é bastante seguro; ainda assim, grande número de usuários refere sintomas associados a ele. São necessários 200mg/kg de aspartame, para uma pessoa aumentar os níveis plasmáticos de fenilalanina e tirosina (Nutritional Reviews - 1983). Estudos dirigidos pelo Dr. Jeffrey Bada, da UCLA, demonstraram que o aspartame não deve ser adicionado a bebidas quentes ou ser cozido, pois o calor causa mudanças estruturais nos seus dois aminoácidos componentes. O Brain Bio Center (Princenton) também não recomenda seu uso em bebidas quentes como chá ou café. A FDA autorizou o uso do aspartame em 1973.
Coenzima Q-10 A coenzima Q-10, ou ubiquinona (ubiquitous, do latim = em todo o lugar), foi descoberta pelo Dr. R. A. Morton, em 1955, na cidade de Liverpool, e isolada por Frederick L. Crane (1957), da Universidade do Wisconsin. É encontrada em todos os tecidos. Existem 10 coenzimas Q, mas a Q-10 é a única encontrada no organismo. Os níveis diminuem com a idade, devendo ser suplementada em indivíduos idosos. Esta intimamente ligada ao metabolismo energético intracelular, especialmente no coração e no fígado; no miocárdio, encontra-se em altas concentrações, funcionando como um potente antioxidante e varredor de RLs, mais potente do que as vitaminas E e C. É capaz de restaurar a função imunológica, melhorar os batimentos cardíacos e influenciar favoravelmente o tratamento de síndromes neurológicas crônicas; é empregada nos pacientes portadores de neoplasias, com a finalidade de reduzir os efeitos colaterais da quimioterapia. O primeiro país a utilizá-la terapeuticamente foi o Japão, em 1960. Mais propriedades foram relatadas, em 1966, pelos Drs. Mellors e Tappel. No Japão, é utilizada nos quadros
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alérgicos e nas doenças respiratórias. Apesar de descoberta há mais de cinquenta anos, poucos médicos a conhecem e, menos ainda, a utilizam. Baixos níveis de coenzima Q-10 estão presentes em 20% dos diabéticos. As drogas hipoglicemiantes diminuem, ainda mais, os níveis desta coenzima (por interferirem com o seu metabolismo), o que torna desejável a suplementação. Estatísticas indicam que 60% dos adultos jovens e mais de 80% dos indivíduos acima dos 65 anos de idade sofrem de doenças periodontais. Investigando as causas, pesquisadores encontraram deficiência de coenzima Q-10 em 90 % desses pacientes. Após 3 semanas de reposição (30mg, vo, 2 vezes ao dia), 50% deles apresentaram melhora clínica; períodos mais longos mostraram resultados mais significativos. A coenzima Q-10 tem sido utilizada extensamente no Mal de Alzheimer (no Japão), doença periodontal, fadiga e na prevenção de arritmias cardíacas. Estudos recentes de neuroimagem revelam que há uma deficiência de utilização de glicose cerebral em pacientes com Mal de Alzheimer. Esse déficit ocorre precocemente na doença, antes que ocorram danos anatômicos irreversíveis, o que sugere, fortemente, a existência de uma disfunção mitocondrial. Quando o metabolismo energético mitocondrial não funciona adequadamente, o processo de morte celular programada ( apoptose) pode ser desencadeado. Os estudos tem investigado a estimulação da mitocôndria com vitamina A, B, C, coenzima Q-10, ácido lipoico, L-carnitina e elementos-traço. A coenzima Q-10 exerce ação protetora sobre o tecido isquêmico, impedindo ou reduzindo as lesões celulares; ainda, diminui a viscosidade sanguínea e aumenta a atividade contrátil do miocárdio, sendo útil seu emprego na insuficiência cardíaca. Durante a isquemia, ocorrem fenômenos, como a peroxidação
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lipídica e a ativação de neutrófilos, em decorrência do acúmulo de RLs. A peroxidação lipídica aumenta a liberação de ácido araquidônico, que perpetua a formação de RLs, por ativação da enzima ciclo-oxigenase. A ação varredora de RLs torna a CoQ10 indicada na prevenção e tratamento da isquemia de reperfusão, microangiopatia e angina. Estima-se que 39% dos portadores de HAS apresentem deficiência de coenzima Q-10. A coenzima Q-10 protege a fração LDL contra o dano peroxidativo com mais eficácia do que a vitamina E, sendo consumida antes desta, quando exposta a elementos oxidantes. O pico de ação ocorre 4 semanas após o início do tratamento. A função imune diminui com a idade e é parcialmente restituída coma suplementação de coenzima Q-10 (20mg, vo 3 vezes ao dia). Os níveis de IgG no soro desses pacientes aumenta significativamente após 27 dias do início da administração. Os betabloqueadores e as estatinas, depletam as reservas de coenzima Q-10 e inibem as enzimas CoQ-10 dependentes. O efeito anti-hipertensivo dos betabloqueadores pode ser comprometido pela carência crônica da coenzima. Fenotiazínicos e antidepressivos tricíclicos também depletam seus níveis. A reposição de 10mg v.o 2 vezes ao dia assegura níveis normais da coenzima nestes pacientes. Não são conhecidas doses tóxicas para a coenzima-Q10; doses de até 600mg/Kg de peso/dia foram utilizadas durante 30 dias, sem nenhum efeito colateral. As doses terapêuticas usuais variam de 5 a 100mg/dia. São fontes de coenzima Q10: carnes mal passadas, coração, fígado, rins, salmão, sardinhas, espinafre, amendoim, ovos e castanhas.
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Colina A colina é a precursora da acetilcolina. Pode ser encontrada sob a forma de bitartarato, cloreto ou fosfatidilcolina (presente em grande quantidade na lecitina). Os precursores da acetilcolina não devem ser administrados durante a fase depressiva da PMD, pelo risco de agravar o quadro. O bitartarato de colina e o cloreto de colina podem conferir ao medicamento cheiro de peixe e desencadear leve diarreia, quando administrados em altas doses. As doses habituais variam entre 100-1000mg/dia. A colina pode ser sintetizada a partir da metionina. Atua associada ao inositol no transporte e metabolismo do colesterol e das gorduras. Tem sido largamente utilizada nas formulações como agente lipotrópico (150 a 500mg vo, 2 a 3 vezes ao dia ). Protege as células cerebrais contra o envelhecimento, podendo ajudar no controle da progressão do Mal de Alzheimer; protege o fígado contra substâncias tóxicas; previne a perda da memória de curto prazo; promove a melhora das funções cognitivas e também da qualidade do sono, especialmente em pacientes idosos e crianças hiperativas. Doses terapêuticas de colina agem sinergicamente com outros neurotransmissores melhorando a memória e a aprendizagem, efeito possivelmente devido a liberação de acetil colina, reforçando o fato de as funções colinérgicas serem influenciadas pela ingesta de precurssores dietéticos.
Creatina E uma substância endógena, descoberta em 1832. É biossintetizada a partir dos aminoácidos arginina, metionina e glicina, e armazenada nos músculos (basicamente nos músculos esqueléticos e no músculo cardíaco)
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Sua função é basicamente energética, sendo sua característica o fornecimento instantâneo de energia, o que acaba ocorrendo em condições estritamente anaeróbicas, por essa razão, as ações musculares baseadas na participação da creatina, são chamadas atividades anaeróbicas alácticas (sem produção de ácido láctico). O mecanismo de ação da creatina está fundado na ressintese instantânea de ATP, a partir de ADP, numa reação de troca: um fosfato de alta energia da fosfocreatina é transferido para uma molécula de ADP, recompondo, assim, o ATP. No mesmo momento, a fosfocreatina acaba sendo desativada, readquirindo a forma inativa de creatina, que pode, na sequência, sofrer nova fosforilação e ser regenerada a fosfocreatina e assim por diante . A capacidade dos músculos de armazenar creatina é limitada. Porém, o nível de creatina pode ser algo aumentado pelo consumo deste nutriente em forma de suplementação, minutos antes do exercício. A creatina é pobremente absorvida no trato gastrointestinal e seu aproveitamento e armazenamento pelos músculos é precário. Por isso, a suplementação se faz em doses elevadas (10g ao dia divididos em até 4 tomadas). O produto, sob forma de pó, deve ser dissolvido, preferencialmente, em suco de frutas, e tomado durante as refeições ou lanches. Com altas doses do produto atinge-se a máxima saturação possível dos músculos; daí para frente, qualquer dose maior será excretada.
DHEA (dehidroepiandrosterona) O DHEA foi descoberto em 1934. É uma das substâncias mais estudadas pelos cientistas, já tendo sido realizados mais de
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dez mil trabalhos científicos, muitos deles relacionando o DHEA ao processo de envelhecimento, doenças auto-imunes, osteoporose, obesidade, câncer e artrite reumatoide. O cromo quelado e o cromo picolinato são capazes de estimular a produção de DHEA. É produzido pelas glândulas adrenais e utilizado como matéria prima para a síntese de diversos hormônios esteroides. É metabolizado a sulfato de DHEA (DHEAS) no fígado e, então, convertido em andrógenos (testosterona, dehidrotestoterona e androsteniodiona) e estrógenos (estrona e estradiol). A produção diária é de 1 a 2mg. Evidências recentes relacionam sua presença à redução no risco de desenvolver aterosclerose e doença cardiovascular. As pesquisas mostram que o DHEA tem efeitos significativos sobre a obesidade, por inibir a conversão dos carboidratos em gordura; também reduz a formação do colesterol LDL em 15%, e ajuda na desaceleração do processo de envelhecimento. A produção endógena do DHEA diminui com a idade, especialmente depois dos 40 anos, tornando desejável a suplementação. Após os 60 anos, a produção diária está reduzida em cerca de 60%; após os 80 anos, em até 90%, comparando-se à produção aos 20 anos de idade. Alguns autores correlacionam esta diminuição à redução progressiva da massa muscular, da função imune e da memória. O sulfato de DHEA (DHEAS) apresenta efeito antiaterogênico. Seus níveis em pacientes diabéticos insulinodependentes são habitualmente baixos, em razão da administração crônica de insulina. O SNC contém 6,5 vezes mais DHEA que a corrente sanguínea. O DHEA protege o cérebro dos processos associados ao envelhecimento, sendo também indicado na esclerose múltipla e na síndrome da fadiga crônica. Trabalhos
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mostram a sua capacidade de melhorar a memória de curto e longo prazo. O DHEA protege as células cerebrais contra a instalação e a evolução do Mal de Alzheimer. Segundo o Dr. Jonathan Wright, a ausência de pelos no terço inferior das pernas está relacionada aos baixos níveis de DHEA. Altas doses de DHEA podem desencadear alterações prostáticas e acne; a dose indicada para homens oscila entre 25-100mg/dia ou 10mg/dia vo sublingual. Nas mulheres, doses acima de 100mg/dia podem levar ao surgimento de pelos faciais. No Brasil, a importação e a comercialização do DHEA, estão suspensas momentaneamente por determinação da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária ). Em todos outros países sua venda é livre.
DMSO (dimetilsulfóxido) Foi sintetizado na Rússia (1866) pelo químico Alexander Saytzeff. Desde 1963, graças a Robert Herschler e Stanley Jacob (Universidade de Oregon), vem sendo empregado no tratamento da dor e no controle dos processos inflamatórios. Segundo Hagler e Spring, da Universidade de Emory (AtlantaEUA), o seu poder analgésico chega a ser comparável ao dos derivados da morfina (uso oral em solução à 10%, 10 a 20 gotas 3 vezes ao dia). O DMSO é uma substância líquida, que apresenta potente ação anti-RLs, à qual se deve seu poder antiinflamatório local; sua aplicação tópica alivia as dores articulares de repouso. O DMSO é uma droga extremamente segura, capaz de penetrar na pele íntegra (sem provocar nenhum tipo de dano) e aliviar as dores agudas e crônicas, além de diminuir o processo inflamatório e melhorar o fluxo sanguíneo do local onde é aplicado. Está indicado, também, nas tendinites, bursites,
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OUTROS SUPLEMENTOS
doenças vasculares (varizes, úlceras varicosas), doenças reumáticas e no tratamento das dores em geral, usado isoladamente ou associado a outras drogas. O herpes simples e as tendinites respondem bem às aplicações tópicas de DMSO. O dimetilsulfóxido é empregado topicamente em soluções à 50%; soluções mais concentradas (70% a 90%) podem causar irritação na pele. O único inconveniente do uso do DMSO é o característico sabor (e odor) de alho, sentido logo após uma aplicação tópica; é exalado pelo hálito e suor, persistindo por uma hora. Quando ingerido, o odor persiste por até 6 horas.
Enzimas digestivas As enzimas digestivas são os elementos que promovem o desdobramento dos alimentos. Sua falta ou sua deficiência pode comprometer o processo digestivo, em sua totalidade ou apenas parcialmente. As deficiências enzimáticas são muito comuns em idosos, estressados ou pacientes em uso de antibióticos por longo tempo. As enzimas digestivas mais conhecidas são: Amilase (desdobra o amido, originando maltose), Pepsina (desdobra proteínas, originando peptídeos), Lipase (desdobra as gorduras, originando ácido graxos e glicerol), Bromelina (enzima digestiva e anti-inflamatória), Lactase (desdobra a lactose, originando a glicose e a galactose), Papaína (enzima digestiva e anti-inflamatória), Betaína (normaliza a secreção de ácido clorídrico no estômago), Pancreatina (na verdade é um complexo enzimático, contendo proteases, peptidases, lipases e alfa amilases. Atua sobre a maior parte dos alimentos – carbohidratos, gorduras e proteínas.)
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Fosfatidilcolina e Fosfatidilserina A fosfatidilserina e a fosfatidilcolina estão presentes na estrutura das membranas celulares. A administração de fosfatidilserina (100-500mg/dia) melhora o déficit de memória de curto prazo e impede a diminuição na capacidade de aprendizado, além de restaurar algumas anormalidades presentes no EEG e prevenir a degeneração cerebral. A fosfatidilcolina é a precursora da acetilcolina. Pode ser administrada sob a forma de lecitina (500 - 1000mg), a qual apresenta 30% de fosfatidilcolina em sua composição. A fosfatidilserina é um agente precursor dos neurotransmissores cerebrais. A evidência de sua participação na neurofarmacologia do envelhecimento abriu uma importante perspectiva para o tratamento dos fenômenos a ele relacionados. Quimicamente, a fosfatidilserina assemelha-se à fosfatidilcolina. Em sua composição encontram-se o ácido palmítico, o ácido oleico, o ácido linoleico e o ácido linolênico. Está relacionada ao metabolismo da glicose a nível cerebral e ao número de receptores de neurotransmissores, sendo utilizada como potencializador da memória (melhora significativamente a capacidade de aprendizado). É útil, ainda, no tratamento das depressões relacionadas ao envelhecimento, além de diminuir a deterioração cognitiva senil (segundo a Associação de Psiquiatria Americana, milhares de adultos acima dos 50 anos estão afetados em sua memória e funções cognitivas). A fosfatidilserina é um produto de custo elevado. Industrialmente é obtida a partir do extrato de cérebro de bovinos. Uma fonte acessível e pouco dispendiosa é o ovo caipira, que contém, ainda, bons teores de fosfatilcolina, fosfatidil inositol, colina, flavonoides e luteína. A fosfatidilcolina também é encontrada nos peixes, germen de trigo, fígado.
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OUTROS SUPLEMENTOS
Não são conhecidas doses tóxicas para a fosfatidilserina nem para a fosfatidilcolina.
Ginkgo biloba O Ginkgo biloba está indicado como coadjuvante no tratamento das doenças vasculares, alergias, doenças pulmonares e do coração. A palavra Ginkgo é um termo oriental, que significa “pêssego de prata”. As folhas da árvore são divididas em dois lobos, daí o termo biloba. O Ginkgo biloba é extremamente resistente a doenças, pestes e fungos, podendo reproduzir-se até a idade de 1000 anos. O extrato do Ginkgo biloba (EGB) apresenta excelente ação terapêutica, atuando na captação de RLs como o superóxido e o hidroxila; capta, também, radicais secundários, moléculas convertidas em novos RLs pela ação de espécies reativas de oxigênio. Age na isquemia cerebral, diminuindo o edema; reduz a ocorrência de fibrilação ventricular, na isquemia do miocárdio; no olho, o EGB ajuda a combater a peroxidação lipídica e a retinopatia isquêmica; nos processos inflamatórios, antagoniza os efeitos da ativação dos neutrófilos polimorfonucleares. As doses terapêuticas variam de 40240mg/dia. O Ginkgo biloba, por sua composição rica em bioflavonoides, atua no controle da degranulação dos mastócitos e basófilos, diminuindo a liberação de histamina. A catequina tem ação inibitória sobre a enzima histidina descarboxilase, necessária para a biossíntese de histamina. Apresenta, também, outros princípios ativos, como os flavoglicosídeos, pró-antocianidinas e ginkgolídeos. Os bioflavonoides do Ginkgo biloba atuam na proteção do endotélio vascular, regulando o balanço
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prostaciclina/tromboxano, além de exercer vasodilatadora periférica.
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alguma ação
O extrato mais ativo é o extrato estandartizado EGB (à 24%) ou EGB 761, embora existam no mercado outros extratos com menores concentrações de princípios ativos (extratos à 5% e à 1%) e folhas trituradas. Sua ação farmacológica decorre de seus principais flavonoides: a ginkgobilina, o kempferol, a catequina, a quercitina e a ramnetina, além de substâncias terpenoides, uma delas responsável pela inibição do PAF (Fator de Agregação Plaquetária). Atua em diferentes estágios do declínio das funções intelectuais: por sua atividade vasoreguladora, aumenta o fluxo sanguíneo cerebral e periférico; por sua atividade metabólica celular, intensifica a captação de glicose e normaliza o consumo de oxigênio e, por sua atividade reológica, diminui o risco trombótico microcirculatório, ao inibir o PAF. O Ginkgo biloba desacelera o processo de envelhecimento e melhora o estado de alerta, a memória de curto prazo e o aprendizado. A catequina é inibidora da histidina descarboxilase, enzima necessária à conversão de histidina em histamina; a quercitina é inibidora da liberação de histamina pelos basófilos e mastócitos. Ambas são bioflavonoides integrantes do Ginkgo biloba, o qual tem ação sinérgica com a metionina (aminoácido acelerador do catabolismo da histamina), no tratamento da depressão histadélica (que cursa com excesso de histamina).
Glutation O glutation é um aminoácido complexo formado com os aminoácidos cisteína, ácido glutâmico e glicina. É precursor da glutation peroxidase, enzima imprescindível à vida e presente em todas as células vivas. É elemento chave na proteção do organismo por suas funções como agente redutor,
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OUTROS SUPLEMENTOS
imunoestimulante, auxiliar no transporte de aminoácidos para dentro da célula e possuidor de ação antioxidante intracelular, conferida pela presença de grupos tiol (-SH). Promove, ainda, a regeneração da vitamina C (cada duas moléculas de L-glutation regeneram uma molécula de vitamina C). Sua administração deve ser sublingual, na dose de 30-300mg/dia. A abreviação química para o glutation é GSH, onde o G corresponde a inicial de glutation e o SH refere-se ao grupo tiol, que faz do GSH um poderoso antioxidante e que é responsável por esta função em muitos sistemas enzimáticos. Quando o glutation é oxidado sua abreviatura passa ser GSSH, onde o S adicional indica a presença de um átomo extra de enxofre na molécula. O glutation está presente em quantidades variáveis de orgão para orgão (o fígado, os rins, o pâncreas e os olhos possuem elevadas concentrações). Os níveis corporais totais de GSH decrescem com a idade (Hazelton, 1980). Homens cujos espermatozoides apresentam baixa mobilidade e/ou alteração na morfologia devem receber suplementação de GSH. O glutation otimiza a ação da cisplatina (droga utilizada em quimioterapia) no tratamento do câncer de ovário. O glutation também protege os rins dos efeitos tóxicos da cisplatina e a mucosa intestinal dos efeitos do metotrexate. O intenso stress oxidativo cerebral observado nas doenças degenerativas (esclerose amiotrófica lateral, Mal de Parkinson, Mal de Alzheimer), entre outros fatores, está associado à inibição da glutamina sintetase (enzima conversora do ácido glutâmico em glutamina). Em consequência, ocorre o acúmulo de ácido glutâmico e seu metabólito, o ácido kaínico, que, quando em excesso, apresenta efeitos citotóxicos, agravando as doenças degenerativas. O glutation atua em combinação com a riboflavina e o
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selênio; neutraliza RLs, além de agir como quelante de metais pesados e aumentar a liberação de oxigênio no cérebro. Sua concentração é habitualmente baixa em pacientes com imunodeficiência. O glutation é a principal defesa intracelular contra o stress oxidativo e sua ação é potencializada pela vitamina C.
Inositol Antigamente foi classificado (erroneamente) entre as vitaminas do complexo B, como sendo fundamental ao metabolismo cerebral, aos processos de neurotransmissão e a ativação da fosfolipase C. Importante constituinte das membranas celulares. A presença do inositol é importante para a mobilização dos ácidos graxos armazenados no fígado, para a corrente sanguínea. Pacientes em uso prolongado de nutrição parenteral costumam apresentar deficiências de inositol. Os diabéticos excretam grandes quantidades deste nutriente e, por isso, costumam apresentar baixos níveis. O consumo excessivo de álcool e/ou cafeína aumenta a expoliação de inositol. Deficiências de inositol costumam estar associadas ao surgimento de eczemas, alopécia e aumento do colesterol. O Dr. Carl Pfeiffer ( Bio Brain Center ) descreveu influências da ação do inositol nas ondas cerebrais. Observou efeitos positivos nos quadros de ansiedade (comparáveis aos diazepínicos ). Em função de seus efeitos “sedativo like” pode ser utilizado na insônia (500mg v.o. à noite). Não são conhecidas doses tóxicas para o inositol (doses de até 20g/dia não demonstraram parafeitos). São fontes de inositol: ovos, lecitina de soja, grãos
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OUTROS SUPLEMENTOS
integrais, levedura de cerveja, vísceras, germen de trigo, passas e frutas cítricas.
Kelp O Kelp é uma alga de cor marrom encontrada nas águas frias do hemisfério norte. Devido a seus elevados teores de iodo orgânico, é utilizada como fonte deste mineral. As doses usuais variam de 150-300mcg/dia de iodo (ou 150-300mg/dia de Kelp). As algas marinhas do tipo Kelp, Fucus, Spirulina e Clorela, são riquíssimas em vitaminas (A, complexo B e C) e oligoelementos (30% do seu peso são minerais). Os restantes 70% constituem-se de proteínas (nas carnes, apenas 20% são proteínas).
Lactase A molécula da lactose é demasiado complexa para atravessar a parede do intestino; necessita sofrer a ação da enzima lactase, para ser decomposta em glicose e galactose. Na deficiência de lactase, a lactose não digerida passa ao intestino grosso, originando diarreia fermentativa e outros transtornos digestivos. Após o desmame os níveis de lactase decrescem, chegando a diminuir em alguns adultos. A deficiência de lactase ocorre com maior frequência na raça negra, e, em menor escala, na raça branca. O maior índice de deficiência é encontrado entre chineses e tailandeses. Pode ser administrada em cápsulas ou comprimidos de 30-100mg tomados 15 minutos antes da ingestão de leite ou derivados. As proteínas do leite (caseína, lactoalbumina e lactoglobulina) possuem alto valor biológico e são ricas nos aminoácidos essenciais lisina e triptofano. Ocasionalmente, essas proteínas podem causar reações adversas, como o eczema
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atópico e outros fenômenos alérgicos (asma e rinite), bem como infecções respiratórias, otites de repetição e distúrbios digestivos (vômitos e diarreia). Cerca de 2% dos bebês apresentam alergia ao leite de vaca. Após os 3 anos, esta alergia tende a desaparecer. O leite de vaca pode ser substituído pelo de soja, desde que seja feito o acréscimo de cálcio e magnésio.
Lactobacilos Inúmeros problemas clínicos, aparentemente não relacionados ao aparelho digestivo, se resolvem ao normalizar a ecologia intestinal, a motilidade, o trânsito, a permeabilidade e a digestão. Diarreias agudas e crônicas, antibioticoterapia prolongada, imunodeficiência, candidíase intestinal e vaginal, e todas as disfunções que geram má-absorção, são indicações para o uso de lactobacilos. Geralmente, o paciente portador de disbiose refere algum distúrbio intestinal. A administração de lactobacilos acidófilos (100-200mg/dia) ou de pool de lactobacilos (100-200mg/dia) é útil para a manutenção da fisiologia intestinal. Estudos recentes tem demonstrado que os Lactobacilos possuem propriedades imunomodulatórias que podem ser importantes na diminuição de processos inflamatórios intestinais e na prevenção e tratamento de doenças alérgicas, como, por exemplo, a dermatite atópica. Prescott demonstrou que a administração de lactobacilos por 8 semanas, em crianças de 6 – 18 meses com dermatite atópica diminuiu consideravelmente os índices de gravidade e extensão da doença. A flora intestinal é a mais importante via de estimulação da resposta imune. Existem evidencias de que a presença de lactobacilos no intestino é essencial para a resposta imune e a indução de tolerância oral. A suplementação de pool
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OUTROS SUPLEMENTOS
lactobacilos acarretam mudanças na microflora intestinal e alteração na resposta imune com produção e liberação de citocinas. O Lactobacillus acidophilus é um habitante natural do intestino grosso e do delgado; também está presente na boca e na vagina. Potencializa a digestão da lactose e inibe o crescimento de bactérias patogênicas e da Candida albicans. Outros lactobacilos importantes também são encontrados nos intestinos, a saber, Lactobacillus bulgaricus, Lactobacillus casei, Bifidobacterium bifidum e Bifidobacterium longum. A atividade dos medicamentos líquidos contendo lactobacilos diminui com o tempo. A cada mês, pelo menos 3% da sua atividade é perdida, sendo aconselhável manter estas medicações sob refrigeração. É preferível utilizar os lactobacilos na forma de pós liofilizados, muito estáveis, mais ativos e mais duradouros. A dose usual é de 20 – 100mg por cápsula (cada um mg contem 10 milhões de lactobacilos vivos) duas a três vezes ao dia. Seu mecanismo de ação é criar um ambiente desfavorável para fungos e bactérias potencialmente patogênicos, por meio da produção de acido lático e estabelecimento favorável de uma flora acida.
Licopeno O licopeno é uma substância carotenoide, presente em algumas frutas e vegetais, que dá a cor avermelhada ao tomate, melancia, pitanga, beterraba entre outros alimentos. É um poderoso antioxidante que ajuda a impedir e reparar os danos causados a células, proteínas, lipídeos e DNA, pelos radicais livres. Segundo RAO (2000) é o carotenoide que possui a maior capacidade sequestradora do oxigênio singlet graças a sua
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composição composta por 11 ligações conjugadas e 2 ligações duplas não conjugadas. A melhor fonte de licopeno é o tomate (média de 3,31 mg/100gr) e seus derivados: molho, sopa, suco (15mg/100gr), extrato de tomate e o ketchup (10mg/100gr). Outra boa fonte é o mamão (média de 3,30 mg/100gr). O licopeno da melancia e do mamão é muito biodisponível ( em torno de 60%), enquanto do tomate cru é de 13%, contra 70% do mesmo quando cozido. O licopeno presente nos tomates varia conforme o tipo e o grau do amadurecimento do fruto. O tomate vermelho maduro contém maior quantidade de licopeno do que de beta-caroteno. As cores das espécies de tomate diferem do amarelo para o vermelho alaranjado, dependendo da razão licopeno/betacaroteno da fruta. Esta razão também esta associada com a presença da enzima beta-ciclase, a qual participa da transformação do licopeno em beta-caroteno. (Shima, 2004) Segundo RAO (1998) algumas populações ingerem quantidades de licopeno bem abaixo daquela indicada para maior efeito benéfico. No Canadá a média de ingestão de licopeno foi de 25mg/dia, sendo 50% desta ingestão representadas por tomates frescos. O valor de ingestão média diária sugerida por estudos seria de 35mg/dia. O interesse no licopeno tem crescido devido a publicações o relacionarem como efetivo na proteção de doenças cardíacas, preventivo de doenças crônicas, do trato gastro intestinal e do câncer de próstata (PAETEU, 1999). Os mamíferos não estão bioquimicamente capacitados para a biossíntese de carotenoides, mas podem acumular e/ou converter precursores que obtém da dieta. Os carotenoides mais encontrados nos alimentos são: licopeno (tomate), betacaroteno (cenoura), várias xantofilas, como as zeaxantina,
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OUTROS SUPLEMENTOS
luteína (manga, mamão e gema de ovo) e a bixina, aditivo culinário obtido do urucum. (Fontana, 1997). No tomate fresco o licopeno ocorre na forma trans, mais estável. Durante seu processamento, no preparo de extrato ou ketchup ocorre uma isomerização trans/cis tornando a substância mais instável, e mais oxidável, entretanto, a absorção do licopeno aumenta, pois a forma cis é melhor absorvida. O processamento também é responsável pela quebra da parede celular, permitindo a extração do licopeno dos cromoplastos. (Boileau, 1999). O primeiro passo no desenvolvimento das doenças cardiovasculares se dá com a oxidação do LDL, com sua posterior absorção por macrófagos na parede das artérias. O acumulo deste material causa à formação de células “espumosas” (foam cells) e o surgimento de placas ateroscleróticas, que podem resultar em acidentes cardiovasculares (Rao, 2002). Dessa forma, o licopeno se mostra de grande importância, uma vez que seu papel como antioxidante tem sido comprovado por diversos estudos. O interesse no licopeno e no seu potencial papel protetor sobre a carcinogênese iniciou na década de 90, com trabalhos sobre o licopeno e a incidência do câncer de próstata. O consumo de alimentos ricos em licopeno, assim como uma maior concentração de licopeno no sangue, foi associado a um menor risco de câncer, principalmente de próstata. A evidência de uma menor chance de câncer também é muito forte para cânceres de pulmão e estomago, colo-retal, mama, da cavidade bucal, do pâncreas e do esôfago. (Giovannucci, 1995). A exposição prolongada ao sol, nos horários de sol a pino, é altamente prejudicial à saúde da pele e é responsável, em longo prazo, pelo envelhecimento precoce da mesma. O licopeno é uma eficiente proteção endógena contra os efeitos
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nocivos da radiação UV e contra o envelhecimento prematuro da pele. O câncer é uma doença que envolve muitas causas. Entre os cânceres relacionado a fatores ambientais, sabe-se que a dieta contribui com cerca de 35% dos casos, seguido pelo tabaco com 30%. A quimioprevenção através dos fitoquímicos (licopeno entre outros) presente nos alimentos representa um grande avança no papel preventivo dos nutrientes contra o câncer.
Melatonina A melatonina, principal hormônio produzido pela glândula pineal, foi descoberta por Lerner (em 1958), o qual reconheceu sua presença em todos os organismos vivos. Desde essa época, a melatonina tem sido usada para evitar o stress oxidativo e os distúrbios do sono (insônia e apneia), assim como retardar o processo de envelhecimento. Atualmente é alvo de inúmeros estudos e pode ser um grande aliado na luta contra várias doenças. A melatonina é o mais potente varredor de RLs endógenos. Atua como antioxidante primário protegendo as células, especialmente contra o radical hidroxila; é 5 vezes mais eficaz que o glutation e 2 vezes mais efetivo que a vitamina E na desativação do radical peroxil. Protege o organismo dos danos produzidos pela ação das radiações. Por suas características lipofílicas e hidrofílicas, sua ação anti-RLs abrange o meio intra e extracelular. O emprego da melatonina na insônia tem apresentado resultados promissores, sem alterar as 4 etapas fisiológicas do sono (mesmo nos distúrbios crônicos); em crianças neurologicamente deficientes a melatonina mostrou resultados satisfatórios (sem efeitos colaterais), sendo esta uma indicação
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restrita para o emprego da melatonina na infância. Sua ação parece estar ligada a uma atuação sobre as hipocretinas, substâncias produzidas no hipotálamo e responsáveis por nos manter acordados. (As hipocretinas foram descobertas em 1998). Quando começa a escurecer, sensores da retina enviam sinais elétricos para o hipotálamo. Poucos minutos depois, a melatonina começa a agir, deflagrando o processo que levará ao sono. A ação da melatonina se intensifica e diminui a liberação das hipocretinas. O resultado disso é a sonolência. Duas horas depois desse processo, a produção de melatonina atinge seu ápice. Ocorre a liberação de GABA, que funciona como calmante, reduzindo o ritmo do sistema nervoso central. É quando adormecemos. É sintetizada a partir do triptofano, sob ação da enzima Nacetiltransferase, e sua produção é regulada pelo núcleo supraquiasmático. Também pode ser sintetizada na retina e no intestino, mas apenas a produzida pela pineal parece apresentar importante atividade biológica. Sua produção é tanto mais intensa quanto maior seja o período de sono noturno. O pico máximo de produção ocorre entre 2 e 3 horas da madrugada, naqueles indivíduos que dormem às 23 horas; durante a noite, o organismo produz 10 vezes mais melatonina do que durante o dia. Os betabloqueadores reduzem a sua produção, desencadeando, frequentemente, alterações no sono. Os benzodiazepínicos e os bloqueadores de canais de cálcio (verapamil, diltiazen e nifedipina) também diminuem a secreção de melatonina. Possivelmente, pacientes em uso desses medicamentos seriam altamente beneficiados com a suplementação compensatória de melatonina (1-5mg sublingual, ao deitar). Nos EUA, a melatonina está classificada como suplemento dietético e não como medicamento, pelo que não
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está sujeita às Administration).
normas
do
FDA
(Food
and
Drug
Algumas pessoas idosas, que fazem uso crônico hipnóticos, não reagem prontamente à administração melatonina, sendo, então, interessante associar extrato valeriana (100mg) e extrato de maracujá (200mg), tomados oral ao dormir.
de de de via
As doses terapêuticas da melatonina variam de 1,5-5mg sublingual à noite. Após algumas semanas, a melatonina ativa o controle neuroendócrino hipotalâmico e pode ser tomada isoladamente. A melatonina tem uma meia vida de cinquenta minutos e sua atividade biológica se mantém por um período de até 4 horas. A ingestão de alimentos ricos em triptofano possibilita um aumento na síntese de serotonina e, consequente aumento nos níveis de melatonina (a serotonina é precursora da melatonina). Os deprimidos apresentam baixos níveis de melatonina. A maioria dos antidepressivos tem como função aumentar os níveis de serotonina, atuando sobre a recaptação, inibindo a distribuição ou aumentando a síntese. A deficiência de neurotransmissores causa uma redução na síntese de melatonina. Na esquizofrenia, também são encontrados baixos níveis circulantes deste hormônio. O hábito de dormir de luz acesa deve ser evitado, por prejudicar a sua biossíntese. Desde os primeiros meses de idade a melatonina começa a ser produzida no cérebro. Da adolescência aos 25 anos ocorre o pico de produção, sendo que a síntese se mantém regular até os 35 anos. Os níveis de secreção diminuem com a idade, especialmente a partir dos 40 anos, estando sua administração recomendada a partir dos 45 anos. A introdução deve ser feita
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OUTROS SUPLEMENTOS
em pequenas doses (1mg/dia sublingual), com acréscimos anuais. Por volta dos 70 anos a quantidade produzida é mínima. Em experiências conduzidas pelo Dr. Russel J. Reiter, da Universidade do Texas, a melatonina revelou-se um potente antioxidante; desempenha papel vital na regulação da transferência de elétrons, na neutralização de intermediários de radicais reativos e no controle da peroxidação lipídica. Segundo o Dr. Walter Pierpaoli (EUA), a administração de melatonina em animais aumenta substancialmente seu tempo de vida; parece exercer efeitos diretos e indiretos no controle dos processos degenerativos próprios do envelhecimento. Além disso, a melatonina demonstrou poderosos efeitos oncostáticos e imuno-estimulantes em roedores. Estudos em animais também relacionam baixos níveis de melatonina ao câncer de mama e próstata. A atividade da melatonina sobre o processo de envelhecimento está relacionada a uma ação antioxidante, estimulação do sistema imune, proteção do sistema cardiovascular e redução do stress pelo bloqueio na produção de corticoides. A melatonina desempenha importante papel contra o câncer de mama, devido a uma ação supressiva sobre os estrogênios, tendo sido usada pela primeira vez, com esta finalidade, em 1963 (40mg/dia). O interferon e a interleucina 2 potencializam este efeito. O Dr. Michael Cohen, do Applied Medical Research (Virgínia), mostrou que, em altas doses, a melatonina suprime a produção de estrogênio e progesterona. A partir desta descoberta, desenvolveu uma pílula anticoncepcional contendo 75 mg de melatonina (25 vezes acima das doses usuais), que foi administrada a mais de 1.000 mulheres holandesas ao longo de 5 anos, com excelentes resultados.
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O Dr. Al Lewy, da Universidade de Oregon, foi um dos pioneiros no estudo dos efeitos das viagens aéreas de longo percurso sobre o relógio biológico (“jet lag”). Lewy demonstrou que 0,5mg de melatonina ingeridos 2 dias antes da partida, seguidos de 0,5mg ao chegar, permitem que o tempo de adaptação do organismo ao fuso horário seja reduzido à metade. Josephine Arendt, da Universidade de Surrey, administrou melatonina a 500 passageiros de voos transatlânticos. Os sintomas do “jet lag” foram mínimos em 60% deles. O nível endógeno de melatonina pode ser facilmente medido em laboratório, permitindo a administração de doses terapêuticas individualizadas. O exame é feito na saliva colhida às 2 horas da madrugada, horário em que sua produção está no pico máximo. Atualmente, a melatonina não está sendo comercializada nem importada pelo Brasil, por determinação da ANVISA, sem que se saiba a razão (uma vez que não são conhecidos efeitos colaterais). O Brasil é o único país no mundo a proibir sua comercialização.
ÔMEGA-3 A descoberta dos ácidos graxos essenciais (AGEs), Ômega-3 e Ômega-6 é creditada aos Drs George e Mildred Burr; a comprovação e a divulgação das propriedades e das atividades terapêuticas, a Sue Bergstron (prêmio Nobel) e ao Dr. John Vane. Antigamente, eram classificados como sendo a Vitamina F (do inglês Fat e do alemão Fett, que significam gordura). Em inglês, são conhecidos pela sigla PUFA.
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OUTROS SUPLEMENTOS
São chamados essenciais, porque o organismo não pode sintetizá-los, e por serem imprescindíveis para a saúde. São constituintes das membranas celulares (especialmente de plaquetas, eritrócitos, neutrófilos, monócitos e hepatócitos), por lhe conferirem fluidez e viscosidade específica, permitindo a difusão de várias substâncias (sódio, potássio, enzimas, antígenos, etc.), importantes para o metabolismo celular e imunológico. Também são necessários para a produção de energia, síntese de prostaglandinas, funcionamento do cérebro, transporte de colesterol e produção de hemoglobina. Os AGEs Ômega-3 e Ômega-6 diferenciam-se entre si: 1) pela posição que ocupa a primeira liga dupla (contada a partir do último grupo CH3 da molécula). 2) pelo número de carbonos, que oscila entre 18 e 24; 3) pelo número de ligas duplas, que oscila entre 2 e 6; 4) pela forma estereoquímica da liga dupla, que pode ser cis (desejável) ou trans. A presença de ligas duplas na composição dos Omega-3 e Omega-6 garantem flexibilidade a molécula do ácido graxo. Quanto maior o número de ligas duplas (ácidos graxos insaturados) mais flexível será a estrutura e mais líquido será o ácido graxo. Em contrapartida os ácidos graxos sem ligas duplas (portanto saturados) são estruturas rígidas, sem flexibilidade e apresentam-se no estado sólido. Ao longo das últimas décadas os ácidos graxos adquiriram má reputação. No entanto, existem ácidos graxos de grande qualidade biológica com importante papel no bom funcionamento do organismo. É necessário escolher as gorduras
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de grande valor biológico. Apesar, ou por causa da má divulgação atribuída as gorduras a maior carência nutricional, no Ocidente é, paradoxalmente a carência de um ácido graxo essencial, o Omega-3. Nos últimos 50 anos, o consumo de Ômega-3 decresceu de forma significativa (diminuiu o consumo de peixes e frutos do mar). Em alguns países, essa diminuição chega a 80%. Paralelamente ocorreu importante aumento na ingesta de óleos vegetais comestíveis, fontes dos ácidos Ômega-6. Esses dois fatos alteraram a histórica proporção de ingesta Ômega-6/ Ômega-3, que, de 4:1, chega hoje a até 20:1. O Ômega-3 e o Ômega-6 são primordiais para formar membranas celulares, manter o equilíbrio das funções orgânicas (papel estrutural e funcional) e melhorar os processos metabólicos. Também, para a atividade das enzimas ligadas às membranas, sendo, ainda, fundamentais para a ação das aminas sobre seus receptores; estimulam os processos imunológicos e são precursores das prostaglandinas e leucotrienos. Nos últimos anos, o conhecimento sobre o metabolismo do Ômega-3 aumentou significativamente. Estes nutrientes essenciais se transformam em dezenas de outras substâncias, que, por terem 20 ou mais carbonos, ficaram conhecidos como eicosanoides. Além de suas ações fisiológicas, seu metabolismo origina outras importantes substâncias, como as prostaglandinas, os tromboxanos e os leucotrienos. O Ômega-3 de nossa alimentação provêm de fontes animais (peixes de águas frias, principalmente) e alguns vegetais. O número de ligas duplas está intimamente ligado às propriedades dos ácidos graxos (sólidos ou óleos), e o seu aumento favorece a sua ação no cérebro. Em contrapartida, favorece também os processos de oxidação (rancificação).
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OUTROS SUPLEMENTOS
Os ácidos graxos saturados não apresentam ligas duplas entre seus átomos de carbono, apenas ligas simples. Em geral, são sólidos e são encontrados na gordura dos ovinos, bovinos e suínos. Os ácidos graxos monoinsaturados apresentam uma liga dupla em sua composição. São líquidos e o azeite de oliva é o seu representante mais característico. Os poliinsaturados (2,3,4,5 ou até 6 ligas duplas em sua estrutura). São óleos, extraídos de plantas ou de peixes. A série Ômega-3 é obtida, preferencialmente, a partir do óleo de linhaça, de canola e dos peixes de água fria (bacalhau e salmão, entre outros), e a série Ômega-6, a partir de óleos vegetais. A conversão de Ômega-3 em Ômega-6, só é possível nos vegetais, devido a falta da enzima desaturase nos animais. Estudos científicos mostram de maneira contundente que a condenação ao ovo foi um julgamento sumário. Uma das evidências mais recentes é um estudo da Universidade de Minnesota, EUA, com 9.734 pessoas de 25 a 74 anos, que foram acompanhadas durante duas décadas. Os pesquisadores demonstraram que não há relação entre o consumo regular de ovos e o aumento da incidência de infartos e derrames. O ovo tem cerca de 200mg de colesterol, sendo aceitável o consumo de até 300mg por dia, ou de 3 a 4 ovos por semana. O ovo não tem quase nada de gordura saturada, mais da metade da sua gordura é monoinsaturada, considerada boa, pois aumenta o colesterol HDL e abaixa o colesterol LDL. A gema do ovo tem mais gordura, mas concentra mais vitamina. É preciso consumir o ovo com critério e não usar fritura para prepará-lo. A manteiga por conter gordura saturada, virou vilã e foi substituída pela margarina, que é um alimento totalmente industrializado e, hoje, sabe-se que é muito mais nocivo à saúde. A gordura trans da margarina triplica o risco de incidência de doença cardiovascular, aumenta em cinco vezes a chance de a pessoa desenvolver câncer e está relacionada à queda de
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imunidade. Hoje em dia, estão sendo lançadas no mercado, novas marcas de margarina livres de gordura trans. Quanto maior a concentração de cacau nos diferentes tipos de chocolates ( ao leite, meio amargo e amargo) mais rico é o alimento em flavonoides, que ajudam a combater a oxidação na circulação sanguínea, aumentam o colesterol bom (HDL) e diminuem o colesterol ruim (LDL). O chocolate é rico em arginina, um aminoácido importante e um dos responsáveis pela produção de óxido nítrico, que é um vasodilatador. Com os vasos sanguíneos mais dilatados, a pressão arterial diminui, ajudando a pessoa a relaxar. A incorporação de Ômega-3 e/ou Ômega-6 modificados pelo aquecimento da forma cis para a forma trans (moléculas mais retas e agrupáveis), torna a estrutura das membranas celulares menos flexíveis (por exemplo, reduz a capacidade dos eritrócitos se infiltrarem nos capilares). Os óleos de peixes de águas frias contêm o ácido Ômega-3, seu metabólito o ácido eicosapentanoico (EPA), e seu outro metabólito, o ácido docosahexanoico (DHA). Eles desempenham algumas funções semelhantes e outras distintas. Ambos apresentam a propriedade de diminuir triglicerídíos (na dose de 2-3g/dia), e, também, parecem ser úteis na artrite e em outras doenças inflamatórias (doses em torno de 2g/dia). Melhoras significativas foram observadas em pacientes com psoríase (6g/dia), após três meses de tratamento. O EPA inibe a formação de trombos, por ser antiagregante plaquetário. As melhores fontes marinhas de Ômega-3 (EPA e DHA) são a sardinha, o arenque, a cavala e o salmão, devendo ser ingeridos pelo menos 2 vezes por semana. Em 100g de arenque encontra-se 1,5g desses ácidos; no salmão e na anchova, 1,2g; no atum, no bacalhau e no camarão, 500mg e no linguado, 400mg.
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OUTROS SUPLEMENTOS
Os ácidos Ômega-3 também podem ser encontrados nos óleos de oliva, de girassol, de canola e de linhaça, sendo transformados pelo organismo em EPA e, posteriormente, em DHA, que é o Ômega-3 mais ativo. O DHA é transformado em prostaglandinas antiinflamatórias, sendo esta conversão final a responsável pelos efeitos terapêuticos dos Ômega-3. Cada cápsula de óleo de peixe (1000mg) contém entre 180-400mg de EPA e entre 120-300mg de DHA. A conversão do ácido alfa-linolênico (ALA) em EPA e, posteriormente, em DHA (nos Ômega-3), assim como a conversão de ácido linoleico (LA) em ácido gama-linoleico (GLA) e, posteriormente, em prostaglandinas, pode ser inibida pelo envelhecimento, stress, alcoolismo, pela ingesta de gorduras saturadas e açúcar, pela carência de zinco e/ou magnésio, etc. Os óleos de peixe (Ômega-3) não deveriam ser prescritos sem a vitamina E, pois são facilmente oxidáveis. O mesmo vale para a lecitina. As diversas marcas de lecitina, encontradas no mercado brasileiro, apresentam variados níveis oxidação, o que diminui sua atividade biológica. O cérebro de um adulto representa 6% de seu peso corporal e consome 20% do oxigênio respirado. A presença maciça de Ômega-3 no cérebro (mais de 60%) torna-o altamente sensível ao ataque e a ação dos radicais livres. Vegetarianos, por não consumirem produtos de origem animal, costumam apresentar baixos níveis de Ômega-3, cujo grau pode ser avaliado através de exame laboratorial (determinação de ácidos graxos no sangue ).Existem hoje, no mercado, suplementos de Ômega-3 de origem marinha, especial para vegetarianos.
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O DHA está presente em todas as membranas celulares, na retina e seus foto-receptores, nas bainhas de mielina, nas sinapses cerebrais e nas mitocôndrias. Importantes funções cerebrais dependem de sua presença e concentração (memória , aprendizado, comportamento e humor ). Durante a gestação, os níveis maternos de Ômega-3 e Ômega-6 baixam de forma significativa, pois são deslocados para a formação do SNC e periférico do bebê. A amamentação esgota suas reservas. A depressão pós-parto tem relação, entre outros, com baixos níveis de prostaglandinas E-1; portanto, a sua suplementação é benéfica. Dyerberg (Dinamarca) estudou habitantes da Groenlândia, que apresentavam taxas reduzidas de aterosclerose, trombose cerebral e demência senil. Descobriu estar este fato ligado à farta alimentação com espécies marinhas ricas em ácidos graxos Ômega-3, como o EPA (ácido eicosapentanoico) e o DHA (ácido docosahexanoico), que agem dificultando a formação do trombo, ao inibir a agregação plaquetária. O Ômega-3 (1g, vo, 2-3 vezes ao dia) tem, ainda, a função de normalizar o colesterol no sangue, reduzindo o LDL e elevando o HDL. Os sinais clínicos relacionados ao desequilíbrio da relação Ômega-3/Ômega-6 são: pele ressecada ou com rachaduras, caspas, cabelo seco, unhas frágeis, infecções de repetição, baixa imunidade, alergias frequentes, déficit de aprendizagem e hiperatividade. Pacientes asmáticos, com frequência, apresentam deficiências de selênio, zinco e Ômega-3. Tratados com antioxidantes e Ômega-3, apresentaram importante melhora clínica (até 80%), sendo que, em 50% deles, os sintomas desapareceram completamente.
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OUTROS SUPLEMENTOS
O nome das prostaglandinas, compostos de grande atividade biológica, deriva do fato de terem sido, pela primeira vez, encontradas na próstata. Cientistas já isolaram mais de 20 tipos de prostaglandinas, sendo a mais importante a PGE. A PGE3 é produzida a partir dos óleos Ômega-3 (EPA e DHA). As PGE1 e a PGE2, por sua vez, derivam dos óleos Ômega-6 (LA e AA). A PGE3 é formada a partir do ácido alfa-linolênico (ALA) e, mais precisamente, a partir de seu metabólito, o DHA (ácido docosahexanoico). Tem ação antiinflamatória e estimulante do sistema imune. Opõe-se aos efeitos nocivos da PGE2, evitando a agregação plaquetária e o espasmo dos vasos sanguíneos O óleo de linhaça (“flaxseed oil”) apresenta 57 % de Ômega-3 e Ômega-6 em quantidade apreciáveis, na sua composição. O óleo de linhaça possui maiores teores de Ômega-3 que os óleos de peixes marinhos. A proporção (rátio) ideal entre Ômega-3/Ômega-6 é de 1:4 e a proporção encontrada no óleo de linhaça é de 1:3 (na alimentação ocidental, hoje, a proporção chega a 1:10). A presença balanceada dos óleos Ômega-3 e Ômega-6 facilita a produção das prostaglandinas PGE1 e PGE3 (benéficas), em detrimento da PGE2 (prostaglandina inflamatória). O óleo de linhaça além de seu elevado teor de Ômega-3 também possui grande teor de lignanas, fitoesteroide que imita a ação do estrógeno. A lignana é muito importante no período da menopausa, quando a taxa deste hormônio é baixa, sendo ela um importante agente natural de reposição deste hormônio. A lignana “liga-se aos receptores de estrógenos, se acopla a ele”. Equilibrando as proporções de Ômega-3/Ômega-6 ingeridos, é possível modificar, de forma favorável, o metabolismo e a produção das prostaglandinas. O direcionamento para a produção de PGE1 e PGE3 obtém bons
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resultados nas alergias, eczemas, inflamações, hipertensão, artrite, fadiga, depressão, além de melhor a função imune. A correção para a proporção ideal (1:4) implica na diminuição da ingesta de óleos vegetais e aumento do consumo de Ômega-3. Pacientes portadores de acne melhoram com a suplementação de zinco (15mg/dia) por um período de 2 a 4 meses; o Ômega-3 (2-3g/dia) potencializa a ação antiinflamatória do zinco, reduzindo o tempo do tratamento. Uma colher de sopa de linhaça recentemente moída, diluída em água, suco ou leite é um modo simples, barato e eficaz de aumentar o aporte de Omega-3. Outra estratégia nutricional eficiente é ingerir, pelo menos, 3 porções de peixe por semana. No gráfico a seguir, está demonstrado como ocorre o metabolismo do Ômega-3(AGEs).
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OUTROS SUPLEMENTOS
ÔMEGA-3 (óleos de peixe, de linhaça e de canola)
Ácido Linolênico (ALA)
Zn, Mg, Vit.B3, Vit.B6
Ácido Eicosapentanoico (EPA)
Vit.B6 e Vit.B8
Ácido Docosahexanoico (DHA)
Prostaglandina E3 (PGE3)
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ÔMEGA-6 O Ômega-6 é encontrado nos óleos vegetais (milho, canola, prímula, borrage e girassol) sob a forma de ácido linoleico (LA), biologicamente inativo, que é transformado em ácido gama-linoleico (GLA). São indicados no tratamento de alergias, artrites, enfermidades cutâneas (psoríase e eczemas) e patologias do metabolismo lipídico. A formação do GLA pode ser inibida pela administração de antiinflamatórios não esteroides, corticoides e beta-bloqueadores. O GLA é o ácido Ômega-6 mais potente e mais utilizado. Crianças hiperativas têm diminuída sua capacidade de converter Ácido Linoleico em Ácido Gama-Linoleico, o que explica os baixos níveis destes derivados observados nessas crianças. O leite humano é rico em Ômega-6. Contém cerca de 11% de ácido linoleico (enquanto que o leite de vaca possui apenas 1%), 0,4% de ácido gama-linoleico (GLA) e 0,4% de ácido araquidônico. O leite humano é o único a conter quantidades apreciáveis de GLA, que protege o lactente contra infecções e alergias. Também previne distúrbios metabólicos e obesidade. O desenvolvimento cerebral da criança pode ser afetado pela carência dos ácidos graxos essenciais. Aparentemente, as prostaglandinas E-1, obtidas a partir do Ômega-6 são capazes de estimular a gordura marrom e de ajudar na regeneração das mitocôndrias, otimizando a queima das gorduras. Quanto maior for a presença de Ômega-6 no organismo, maior será a capacidade das prostaglandinas de ativar a gordura marrom e, por conseguinte, auxiliar nas dislipidemias e em alguns tipos de obesidade. A PGE1 é formada a partir do ácido linoleico (LA) da dieta, presente nos óleos vegetais. Possui atividade antiinflamatória e estimulante do sistema imune. Sua potente
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OUTROS SUPLEMENTOS
ação sobre a liberação de compostos pelo sistema nervoso central é reconhecida e influencia quadros de depressão, alterações de humor, distúrbios de memória e a Síndrome PréMenstrual. A PGE2 é formada a partir do ácido araquidônico (AA) presente nas carnes. A PGE2 está relacionada aos mecanismos de defesa do organismo, mediando a resposta inflamatória. Aumenta a sensibilidade à dor, aumenta a viscosidade do sangue e favorece os espasmos dos vasos sanguíneos. Os Ômega-6 podem ser importantes mediadores da alergia e da inflamação, devido a sua capacidade de gerar prostaglandinas inflamatórias (PGE2), tromboxanos e leucotrienos. Modificando a dieta (diminuindo a ingesta de óleos vegetais), é possível diminuir significativamente a intensidade de um processo inflamatório. Dietas vegetarianas são eficientes em muitos processos alérgicos e/ou inflamatórios, porque diminuem a produção de prostaglandinas inflamatórias e leucotrienos. Segundo o British Journal of Dermatology (1984), o eczema atópico pode estar relacionado ao metabolismo dos ácidos graxos, pois o óleo de prímula (500mg, vo, 2 a 3 vezes ao dia) atenua a patologia. Cerca de 30% das crianças hiperativas, 30% dos portadores da síndrome de fadiga crônica e 75% das mulheres com TPM, também são beneficiados com a suplementação. Existe, ainda, uma outra classe de AGEs, os Ômega-9. O principal representante dos Ômega-9 é o ácido oleico, presente em altas concentrações no azeite de oliva, no óleo de canola e, em menor concentração, na banha de porco. Podem servir de
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matéria-prima para a obtenção de Ômega-3 ou Ômega-6, em casos de dietas deficientes nestes nutrientes. A redução dos teores de GLA e a consequente diminuição da formação de prostaglandinas E-1 (relaxante e antidepressivo) é fator importante na gênese da TPM e da dismenorreia primária, que ocorre por baixa ingesta de ácidos Ômega-6 (óleos vegetais), associada à carência de magnésio, zinco, vitaminas do complexo B e vitamina C. Os suplementos de óleo de prímula contêm, em média, 45mg de GLA e 100mg de ácido linoleico (LA) por cápsula. A cápsula de 500mg do óleo de borrage contém, em média, 240mg de GLA e 50mg de ácido linoleico. A aspirina exerce seu efeito devido à inibição das enzimas que fabricam as prostaglandinas, a partir dos AGEs. Nos estados de febre e dor, a redução dos processos inflamatórios, pela vitamina C, ocorre devido à inibição das prostaglandinas não desejáveis (PGE2), e pelo estímulo à produção da benéfica prostaglandina E-1. Os antiinflamatórios não esteroidais (AINE) atuam impedindo a formação da prostaglandina E-2 (inflamatória) e do tromboxano; porém, também impedem a conversão do DGLA na benéfica PGE1. A ingestão moderada de bebidas alcoólicas, especialmente do vinho tinto, aumenta a transformação do DGLA em prostaglandina E1. O aumento das PGE1 pode ser a explicação para os efeitos cardioprotetores das doses moderadas das bebidas alcoólicas. No gráfico a seguir, está demonstrado como ocorre o metabolismo do Ômega-6(AGEs).
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OUTROS SUPLEMENTOS
ÔMEGA-6 (óleos vegetais: borrage, canola, girassol, milho, prímula)
Ácido Linoleico (LA)
Zn, Mg, Vit.B3, Vit.B6
Ácido Gama-Linoleico (GLA)
Ácido Di-Gama-Linoleico (DGLA)
Ácido Araquidônico (AA)
Prostaglandina E2 (PGE2)
Prostaglandina E1 (PGE1)
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Pycnogenol® Em 1534, o francês Jacques Cartier chegou ao golfo de São Lourenço (Canadá) com 100 de seus marinheiros acometidos de escorbuto. Aconselhado pelo curandeiro índio, Domagaya, administrou aos doentes um chá da casca do pinheiro Pinus maritimus. Os resultados obtidos ao final de uma semana foram excelentes. Sabe-se hoje, que esta planta é riquíssima em vitamina C e bioflavonoides. Por muitos anos, o professor Jacques Masquelier, da Universidade de Bordeaux, estudou a história relatada por Cartier e, em 1951, isolou um grupo de bioflavonoides que denominou de proantocianidinas, 50 vezes mais potentes (in vitro) do que a vitamina E, e 20 vezes mais potentes (in vitro) do que a vitamina C. Pycnogenol® é marca registrada, patenteada em 1982 pelo laboratório Horphag Research (Suíça). O produto contém, como principal princípio ativo (85%), as proantocianidinas – potente subclasse de flavonoides antioxidantes – cuja hidrólise origina um pigmento vermelho chamado antocianidina, além de uma série de outros bioflavonoides. O principal pesquisador deste nutriente é o Dr. Richard Passwater, que publicou o resumo de suas pesquisas no livro “Pycnogenol®: The Super Protector Nutrient”, editado pela Keats Publishing. O Pycnogenol® é um poderoso antioxidante ativo contra todos os radicais livres fisiologicamente relevantes, reduzindo os danos oxidativos em tecidos vitais. Pode prevenir os danos causados por RLs induzidos pela luz solar e estimular o sistema imunológico no combate às viroses. É, virtualmente, atóxico
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OUTROS SUPLEMENTOS
para humanos e demais mamíferos (seguro até 35g/dia durante 6 meses); não é alergeno, mutagênico ou cancerígeno. Parece ser o único varredor de RLs capaz de penetrar a barreira hemato-encefálica. O uso do Pycnogenol® está indicado em todas as situações nas quais os RLs estão implicados (até o momento estão listadas mais de 80 enfermidades), como: reumatismo, câncer, úlceras varicosas, flebites, fragilidade capilar, hipertensão, retinopatia diabética, psoríase, Mal de Parkinson, asma, síndrome da fadiga crônica, processos inflamatório, diabetes, Mal de Alzheimer, stress, entre outras. A dose terapêutica varia de 25-200mg/dia, por via oral. O Dr. D. White, da Universidade de Nottingham (Inglaterra), publicou excelente trabalho sobre a inibição da enzima monooxigenase pelo Pycnogenol®, prevenindo, assim, a formação do altamente carcinogênico - benzopireno. Esta ação protetora é bastante útil para os tabagistas, uma vez que a fumaça do tabaco contém quantidades significativas de benzopireno.
Resveratrol É um princípio ativo polifenólico encontrado em mais de setenta espécies vegetais, importante no mecanismo de defesa natural contra as doenças, pragas, insetos e fungos. Tem intensa propriedade antioxidante. É encontrado, principalmente, nas cascas e sementes de uvas tintas e no amendoim. Em média, 1g de casca de uva contém 100mcg de resveratrol, e um bom vinho tinto, de 1 a 3mg/litro. A quantidade presente nos vinhos depende diretamente do tempo de contato das cascas da uva durante o processo de produção do vinho.
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Segundo Souto (2000) a análise de 36 diferentes vinhos brasileiros revelou diferentes concentrações de resveratrol, que variaram de 0,82 a 5.75 mg/l, com o valor médio de 2,57 mg/l, valor que é quase o dobro do conteúdo de resveratrol em vinho oriundos de outros países, como Portugal (1,0 mg/l), Chile e Argentina (1,21 mg/l), Grécia (0,87 mg/l) e EUA (0,13 mg/l). O suco de uva também é boa fonte do nutriente. A quantidade de resveratrol no vinho tinto é explicada pelo tempo de fermentação prolongada do mosto, onde ocorre a extração do resveratrol da casca e das sementes das uvas. O suco de uva também contém a molécula, mas em quantidade 10x menor que o vinho tinto. A diferença se deve ao longo processo de maceração da casca da uva no fabrico do vinho, na preparação do suco de uva esse tempo é muito menor. Além do resveratrol, o vinho tinto e o suco de uva possuem mais de uma centena de importantes compostos fitoquímicos (antocianidinas, proantocianidinas e ácidos fenólicos), cujo sinergismo entre os vários componentes, torna o produto natural, mais eficaz que o principio ativo isolado. O resveratrol é a melhor explicação para o fenômeno conhecido como “paradoxo francês”. A população francesa fuma em demasia, tem vida sedentária e come tanto ou mais gorduras que os norteamericanos, sofrendo, entretanto, menor números de distúrbios cardiovasculares. Ao azeite extra-virgem, aos polifenóis e o resveratrol contidos no vinho, entre outros, são atribuídos esses resultados. A utilização do resveratrol na clínica já é comum na China e Japão, sendo utilizado no tratamento de problemas de pele, hiperlipidemia, doenças cardiovasculares, arterosclerose, doenças alérgicas e inflamatórias. Sua atividade anti-
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OUTROS SUPLEMENTOS
inflamatória é maior ou similar a algumas drogas como a fenilbutazona e a indometacina. Trabalhos científicos recentes têm demonstrado que o resveratrol é muito eficaz para prevenir o desenvolvimento de alguns tipos de câncer. Béliveau e Gingras (2007) relatam que o composto é especialmente eficaz contra os cânceres de esôfago, mama e cólon. Após sua absorção o resveratrol sofre muitas modificações na sua estrutura. O metabólito, piceatanol, parece muito efetivo, induzindo a morte das células cancerosas. Outra importante linha de trabalho de universidades americanas relaciona o resveratrol ao aumento da longevidade. Estudos em ratos, moscas e células isoladas demonstraram que o resveratrol é capaz de retardar o processo de envelhecimento e aumentar a longevidade. O efeito ocorreria devido à ativação das proteínas denominadas sirtuínas que aumentariam a vida das células, dando-lhes o tempo necessário para reparar os danos causados ao DNA durante o processo de envelhecimento. Não existem relatos na literatura cientifica sobre toxicidade ou reações adversas com o uso de altas doses de resveratrol. A administração de 300mg/kg, 4x ao dia por um mês, não apresentou reações adversas aparentes. EXEMPLOS DE NUTRIENTES APLICADOS EM TERAPÊUTICA Ácido úrico vit. A, vit. B5, ácido fólico, magnésio e zinco. Acne vit.A, vit.B2, vit. B6, vit.B9, vit.C, vit.E, cromo, zinco, Ômega-3 e óleo de prímula. Alcoolismo vit.B1, vit.B2, vit. B3, vit. B6, vit. B9, vit. B12, cálcio, magnésio, potássio, selênio e zinco. EXEMPLOS DE NUTRIENTES
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APLICADOS EM TERAPÊUTICA Anemia
vit.B9, vit.B12, vit.C, ferro glicina, cobre e zinco. Artrite complexo B, vit.C, vit.E, cálcio, magnésio, enxofre, selênio, cobre e zinco. Câimbras vit B1,vit.B6, cálcio, ferro,magnésio e potássio. Câncer complexo B, vit.C, vit.E, betacaroteno, zinco, selênio e germânio. Cândida vit.A, complexo B, selênio, zinco, lactobacilos e caprilato de sódio. Colesterol vit.C, vit.E, cromo, vanádio, cobre, zinco,selênio, inositol, carnitina, colina e lecitina. Depressão complexo B, lítio, cromo, vanádio, manganês, zinco, 5-OH-triptofano, triptofano, tirosina, taurina e magnésio. Diabetes vit.C, ac.lipoico, cromo, manganês, zinco e vanádio. Doença vit.C, coenzima Q-10, cálcio, magnésio, zinco Periodontal e bioflavonoides. Eczema vit.A, complexo B, vit.E , selênio, zinco e Ômega-3 Enzimas betaína HCl, bromelina, amilase, lipase, Digestivas papaína, pancreatina e pepsina. Herpes vit.A, vit.C, vit.E, zinco, lacobacilos acidófilos, rutina e lisina. Insônia vit.B3, vit.B6, magnésio, cálcio, 5-OH-triptofano, inositol e melatonina. Memória vit.B3, acetil-L-carnitina, ácido lipoico, fosfatidilcolina e fosfatidilserina. EXEMPLOS DE NUTRIENTES APLICADOS EM TERAPÊUTICA
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Pré-menopausa isoflavonas, vit.D, boro, selênio, cromo e cálcio. Próstata selênio, zinco, magnésio e arginina. Psoríase vit.A, vit.B5, vit.C, vit D, vit.E, zinco, betacaroteno, ácido fólico e DMSO. Resfriados vit.C, alho e zinco. Seborreia vit.A, vit.B5, vit.E, selênio, zinco e metionina. Stress complexo B, multi-minerais, coenzima Q-10 e acetil-L-carnitina.
Capítulo 6 - RADICAIS LIVRES (RLs) “A história nos ensina que o homem não teria alcançado o possível, se muitas vezes não tivesse tentado o que parecia impossível.” Max Weber
As primeiras formas de vida na superfície terrestre eram formas anaeróbicas. Posteriormente, através do processo evolutivo e modificações ambientais, surgiram seres vivos aeróbicos melhor adaptados, capazes de produzir energia mais abundante e facilmente. A transformação de anaeróbicos em aeróbicos induziu os organismos a desenvolver sistemas de defesa para neutralizar os efeitos nocivos do oxigênio Os RLs foram descritos pela primeira vez em 1898. Em 1900, Moses Gomberg (Universidade de Michigan) produziu em laboratório o primeiro RL da história, o trifenilmetila. O primeiro cientista a evidenciar a instabilidade e a velocidade dos RLs foi o químico austríaco Friedrich Parreth, em 1929. Radical livre é uma espécie química cuja camada periférica possui um elétron não acoplado, sendo o seu número total de elétrons sempre ímpar. Um RL apresenta extrema instabilidade e suas reações são sempre muito rápidas e em cadeia. São subprodutos formados durante o processo metabólico normal e em várias condições patológicas, dotados de propriedades tóxicas, sendo capazes de danificar seriamente as células, proteínas, lipídios e DNA. Seu poder destruidor foi comprovado por Dehnam Harman (Universidade de Nebraska), em 1954. Denomina-se de stress oxidativo o desequilíbrio entre a excessiva produção (geração) de RLs e a capacidade antioxidante (defesas ARLs do organismo).
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RADICAIS LIVRES (RLs)
Sabe-se que 95% a 98% do oxigênio consumido recebe 4 elétrons no processo de geração de energia para as células e formação de água. Com os 2% a 5% restantes, o oxigênio recebe apenas um elétron, convertendo-se em ânion superóxido (O2-). Este, por sua vez, recebe um segundo elétron e, assim, o ânion superóxido transforma-se em peróxido de hidrogênio (H2O2 - água oxigenada). Este, ao receber um terceiro elétron, transforma-se no radical hidroxila (OH-). A formação destas “espécies de oxigênio reativo” (radical superóxido, água oxigenada e radical hidroxila) - altamente instáveis e reativas atacam quimicamente qualquer estrutura à sua volta. As estruturas lesadas pelo ataque dos RLs tornam-se incompatíveis para suas funções. Para os RLs liberados por esses 2% a 5%, o organismo conta com defesas enzimáticas e nutricionais que protegem a célula. Após os 45 anos a taxa de formação de RLs começa a superar os 5% iniciais, enquanto que as defesas naturais começam a declinar. Em 1774, o químico inglês Joseph Priestly suspeitou que o oxigênio (apesar de ser essencial à vida) estava associado a efeitos nocivos, quando inalado em excesso. O ar saturado em oxigênio nas incubadoras gera no recém-nascido elevada produção de RLs, considerados responsáveis por lesões oculares em recém-nascidos prematuros. Os RLs (na busca ao elétron estabilizador), reagem com moléculas vizinhas, transformando-as em RLs, dando início à “reação progressiva dos RLs” (efeito cascata). Uma vez formados, os RLs podem ter vários destinos: unirem-se a outros RLs, formando mais RLs; podem se unir a moléculas não-RLs, iniciando uma reação em cadeia que forma novos RLs (o ataque dos RLs aos lipídios das membranas celulares inicia um processo chamado “peroxidação lipídica”); podem, ainda, ser
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neutralizados, quer pelas defesas enzimáticas do organismo, quer pela presença de antioxidantes (minerais e/ou vitaminas). Os RLs, em níveis fisiológicos, desempenham um papel relevante no organismo, especialmente nos processos de fagocitose, quando exercem potente ação bactericida. Na inflamação, a ativação de monócitos e macrófagos (exposição a fungos, bactérias e imunocomplexos) resulta numa série de eventos bioquímicos chamados de “explosão respiratória”. Durante o processo de fagocitose, os leucócitos aumentam seu consumo de oxigênio devido a intensa formação de RLs. Estes radicais têm importante papel na defesa contra agentes infecciosos; inibir sua atividade (por antioxidação excessiva) ou não produzí-los (devido a alterações enzimáticas) pode ser desastroso, pois o radical superóxido é essencial para a destruição do agente agressor dentro do macrófago. O mecanismo mais geral que explica a toxidez dos RLs consiste de reações em cadeia (ou em cascata): aqueles com grande reatividade chocam-se contra uma molécula, gerando moléculas menores (cada uma delas com um RL) e, assim, sucessivamente. A produção de RLs é permanente dentro da matéria viva, estando associada ao metabolismo celular do oxigênio (reações de oxi-redução) e à destruição de bactérias dentro dos fagócitos. Existe formação de RLs no processo de respiração celular, que ocorre nas mitocôndrias para gerar o ATP. Os RLs são inativados por enzimas que os transformam em água. Em algumas situações fisiológicas, ocorre uma exacerbação do metabolismo oxidativo celular - a chamada “explosão respiratória” - havendo a produção de grande quantidade de radicais superóxido mediada pela enzima
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superóxido sintetase, para eliminar bactérias invasoras. Os efeitos danosos dos RLs aparecem quando há um desequilíbrio entre a quantidade formada por radicais livres e o sistema de defesa antioxidante (enzimas anti-radicais livres e nutrientes antioxidantes da alimentação), isto é, quando, por excesso de produção de RLs ou por deficiência dos sistemas antioxidantes, começa a predominar um excesso de RLs, desencadeando uma situação patológica chamada stress oxidativo. A reatividade dos RLs causa extenso ataque nas membranas celulares, lisossomas e mitocôndrias, além da inativação ou destruição de várias enzimas. São exemplos de condições clínicas ou hábitos de vida que transcorrem com intenso stress oxidativo: grande números de doenças degenerativas, doença de Parkinson, aterosclerose, injuria esquêmica, excesso de ferro, infarto agudo do miocárdio, AIDS, septicemia, alguns tipos de anemia, câncer, tabagismo, consumo excessivo de álcool, e o próprio processo de envelhecimento. Os RLs não são formados somente no organismo. Existem inúmeras situações que favorecem a sua geração e, entre elas, a fumaça do cigarro. A cada tragada é aspirada uma quantidade incalculável de RLs. Os raios ultra-violeta e outras radiações ionizantes que agem sobre a pele, o ar poluído, as gorduras, frituras e carnes vermelhas, também são importantes fontes. Os RLs alteram as proteínas (principalmente as que possuem duplas ligações -C=C- e/ou grupamentos sulfidrila SH), causando lesões nas membranas, mitocôndrias e, eventualmente, no DNA. A agressão dos radicais hidroxila sobre as membranas celulares origina reações em cadeia capazes de levar à desorganização profunda da sua arquitetura, tendo como
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consequência, desde alterações na permeabilidade seletiva, até sua total destruição. O tecido conjuntivo, particularmente a elastina e o colágeno, é igualmente afetado pelos RLs. As moléculas mais sensíveis à ação dos RLs são lipídios, proteínas e o DNA. No DNA, os RLs oxidam as bases púricas e as pirimídicas, o que pode acarretar alterações na transmissão dos caracteres hereditários; nas proteínas, os grupos sulfidrila oxidados são convertidos em grupos S-S. A glutation peroxidase impede o ataque dos RLs a essas estruturas. As radiações ionizantes (raios X e gama) geram radicais superóxido e hidroxila, ininterruptamente, ao desencadear a radiólise da água contida nos tecidos expostos. Os RLs estão implicados na gênese de processos tumorais, dos quais eles podem ser causa e/ou consequência, pois as células tumorais também os produzem. Os sistemas antioxidantes estão alterados durante a carcinogênese, em especial a superóxido dismutase (SOD). Os RLs são os responsáveis pelo eritema de origem solar, pelo envelhecimento cutâneo prematuro e por certos tipos de câncer de pele. Os RLs podem estar envolvidos na origem do câncer ao se combinarem com o DNA da célula, alterando o seu código genético e dando origem a uma multiplicação celular desordenada. Além disso, há oxidação nas membranas celulares e intracelulares, influindo na troca de eletrólitos e produzindo novos RLs. Nos portadores do HIV, o surgimento da síndrome de imunodeficiência guarda uma relação direta com o stress oxidativo. Também é evidente a participação dos RLs no câncer e é sabido que os antioxidantes inibem a carcionogênese induzida por certos elementos, como o cádmio, nitritos e outros.
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Em 60% dos indivíduos HIV positivos foram encontradas deficiências vitamínicas e minerais, que aumentam a suscetibilidade às infecções. Está bem estabelecido que o sistema imune necessita desses nutrientes para funcionar adequadamente (International Journal of Vit. Nutr. Research – 1996). Alimentos ricos em gordura (como as maioneses) sofrem oxidação após mais de 4 horas de exposição ao oxigênio, originando uma grande quantidade de RLs responsáveis por muitos casos de diarreia não bacteriana. Diariamente, o organismo é submetido a quantidades apreciáveis de radiações, como radiações cósmicas, solares, luminosas e muitas outras. As radiações causam ruptura de ligações covalentes, ocasionando a formação de RLs, sendo esta propriedade o fundamento da radioterapia: o aumento na produção de RLs destrói as células tumorais. Os RLs não escolhem alvo e o ônus desse tratamento é a destruição concomitante de células sadias, especialmente as que se multiplicam com maior intensidade. Pelo seu metabolismo muito ativo (grande consumo de oxigênio), pela grande abundância de membranas (locais ideais para a peroxidação) e pela exposição direta às radiações, o olho é um dos orgãos mais sensíveis ao ataque dos RLs. As degenerações retinianas (diabética e degeneração macular associada à idade), a catarata, as doenças inflamatórias oculares (queratites infecciosas, uveítes, retinouveítes) e a fibroplasia retrolenticular são algumas das patologias associadas aos RLs. O ataque sistemático de RLs ao cristalino (especialmente aqueles gerados pela radiação UV) é, em grande parte, responsável pela formação da catarata, condição que acomete 30% dos indivíduos acima dos 65 anos de idade, nos EUA. A descoberta de que vitaminas, aminoácidos e minerais
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podem retardar sua evolução teve extraordinária repercussão econômica, uma vez que a cirurgia de catarata é um dos procedimentos cirúrgicos mais frequentemente realizados nos EUA. A vitamina E reduz em 44% a incidência de catarata, segundo pesquisadores da Universidade de Ontário (Canadá). Os níveis séricos de ascorbato (vitamina C) são inversamente proporcionais ao risco de formação da catarata; o zinco também apresenta efeito protetor e o antioxidante endógeno mais importante no olho é o glutation. Os RLs participam ativamente da senilidade. Lesam facilmente o cérebro, pois o tecido cerebral, além de conter grande quantidade de ácidos graxos poliinsaturados (facilmente peroxidados pelos RLs), é pobre em enzimas antioxidantes (SOD, Gpx e catalase) e vitamina E, embora disponha de algumas reservas de vitamina C. O stress oxidativo está envolvido nas complicações diabéticas. Ao lado da crescente peroxidação lipídica, o diabético tem baixas concentrações de glutation (GSH) nos eritrócitos, baixos níveis de vitamina E em suas plaquetas e faz um consumo excessivo de ascorbato nos processos metabólicos. Os RLs estão relacionados às doenças circulatórias, ao reagir com ácidos graxos e fração LDL, favorecendo o depósito de placas de ateroma nas paredes arteriais (diminuindo a elasticidade do sistema vascular). Poderão ocorrer doenças de natureza isquêmica, como AVC, IAM e outras. As doenças neurológicas podem estar relacionadas aos RLs. Aquelas que envolvem processos degenerativos, como a doença de Parkinson e o Mal de Alzheimer, têm sua evolução retardada com o uso de antioxidantes( em especial o ácido lipoico). Os antioxidantes atuam preventivamente nas doenças isquêmicas cerebrais. Existe uma relação direta entre os RLs e a fisiopatologia
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das doenças reumáticas: quanto mais severo o quadro clínico, maior é a produção de RLs, o que agrava a evolução da doença. Nas articulações, reagem com o ácido hialurônico, participando do início do processo inflamatório local, originando dor e limitação de movimentos. Pacientes portadores de artrite reumatoide apresentam baixos níveis da enzima glutation peroxidase, de zinco, manganês e selênio. A administração de antioxidantes reduz a produção de RLs, melhorando a sintomatologia. Tanto o cobre livre como o ferro livre, quando em altas concentrações, podem dar origem a RLs, ainda no aparelho digestivo. As dietas ricas em ferro, bem como as ricas em gorduras, produzem radicais hidroxila (os íons cobre e ferro catalisam o processo de lipoperoxidação). A administração destes elementos, quando indicada, deve ser feita sob a forma de quelados (não ionizáveis), preferencialmente associados a antioxidantes. Todos os tecidos vivos produzem RLs e a eles estão sujeitos. Entre as formas de produção mais comuns estão a cadeia respiratória mitocondrial, o processo de fagocitose, as reações de desintoxicação (realizadas pelo citocromo P-450), a síntese de prostaglandinas e a ação das radiações. As radiações aceleram os processos de envelhecimento cutâneo, seja pela ação direta dos raios UV ou pelos processos inflamatórios (agudos ou crônicos) desencadeados pela incidência dessas radiações sobre a pele. As queimaduras e eritemas solares apresentam um componente inflamatório envolvendo a produção de RLs. O efeito nocivo das radiações UV-A e UV-B se traduz pela fotossensibilização de flavinas e nucleotídeos que, por absorção de um fóton, iniciam a formação de radicais superóxido. Os RLs têm participação importante em certos tipos de câncer de pele relacionados à exposição ao sol; seu efeito citotóxico
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(lipoperoxidação) agrava as lesões dermatológicas iniciais. A participação dos RLs é confirmada pela eficácia terapêutica da aplicação tópica de antioxidantes (ascorbatos, vit E, flavonoides em cremes, loções ou géis). A fração do colesterol designada como lipoproteína de baixa densidade (LDL), quando oxidada sob a ação de RLs, guarda relação direta com o risco de aterosclerose; portanto, quanto mais alto o índice de oxidação do LDL sérico, maior o risco de coronariopatia (e fenômenos isquêmicos outros), podendo culminar com o IAM. Vitamina E, vitamina C, coenzima Q-10 e betacaroteno (entre outros) previnem a oxidação do LDL. O intestino é a parte do corpo humano onde é gerado o maior número de RLs. Um dos métodos mais utilizados para a quantificação de RLs é a sua dosagem nas fezes, método idealizado pelo Dr. Helion Póvoa Filho (RJ). Os danos causados pelo radical hidroxila decorre de sua capacidade de iniciar uma reação em cadeia de RLs, conhecida como “peroxidação lipídica”. Isso ocorre quando o radical hidroxila é gerado próximo ou dentro de membranas celulares atacando os ácidos graxos da membrana fosfolipídica. O radical hidroxila é o mais temível RL, pois não há enzimas que catalisem sua inativação. Por ser extremamente instável, não escolhe alvo e ataca qualquer estrutura biológica para se estabilizar. Ao estabilizar-se, transforma a moléculaalvo em um RL, que, por sua vez, também precisa estabilizar-se. Esta sequência de eventos é um exemplo de reação em cadeia. O DMSO (dimetil sulfóxido) é um grande sequestrador do radical hidroxila. O radical hidroxila não deve ser confundido com o ânion hidroxila, já que o ânion é estável (possui número par de elétrons), não apresentando as propriedades de RL. O radical hidroxila pode formar-se pela reação da água
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oxigenada com um radical superóxido (reação de Haber-Weiss). O perigo acentua-se pelo fato desta reação ocorrer espontaneamente; por isso deverá haver enzimas eficientes na remoção da água oxigenada dos tecidos. O peróxido de hidrogênio é capaz de difundir-se através das membranas biológicas (celular e mitocondrial) e reagir com outras substâncias que possam ceder-lhe um elétron. Os metais de transição (ferro e cobre), que possuem elétrons desemparelhados, convertem o peróxido de hidrogênio no temido radical hidroxila. A melatonina destrói eficazmente o radical livre hidroxila (com potência superior a do glutation). A melatonina reage com um radical hidroxila gerando o radical indolila, enquanto outro radical hidroxila reage com o peróxido de hidrogênio remanescente, formando um radical superóxido que, por sua vez, se combina com o radical indolila, formando 5-MAFK. A melatonina tem o poder de neutralizar simultaneamente dois radicais hidroxila. A geração do radical livre hidroxila tem forte correlação com o processo de envelhecimento. Idosos que geram menores taxas de radical hidroxila, ou que possuem melhor defesa enzimática antioxidante, vivem por mais tempo. Além disso, o dano oxidante do radical hidroxila acumula-se com a idade. Contra-medidas para reduzir a peroxidação pelo radical hidroxila e o dano das biomoléculas, tais como restrição dietética, podem prolongar o período de vida, em animais. Devido à grande estabilidade de seus grupos aromáticos (ricos em elétrons), a melatonina pode emitir e absorver fótons (neutralizando o oxigênio ¨singlet¨ e outras moléculas excitadas), controlar e catalisar reações de transferência de elétrons, e neutralizar e eliminar RLs. A maioria dos RLs hidroxila é formada a partir do
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peróxido de hidrogênio, em reação catalisada por um íon metálico. O metabólito da melatonina (5-MAFK) exibe ação antioxidante devido a suas propriedades de quelação do ferro. O radical hidroxila é extremamente reativo, oxidando constituintes celulares por hidroxilação. Reage em fração de milissegundo com todas as biomoléculas próximas ao local onde foi gerado. O oxigênio “singlet” não se enquadra na definição de RL, porém é uma espécie de oxigênio reativo. Consiste numa forma que sofreu um rearranjo de elétrons, permitindo que ele reaja com moléculas biológicas muito mais rapidamente do que o oxigênio “normal”. Essa espécie se encontra num estado excitado, isto é, um estado de maior energia do que o oxigênio molecular. O oxigênio “singlet” pode ser formado pela reação entre o ânion hipoclorito e a água oxigenada, podendo também formar-se na reação de Haber-Weiss. Reage diretamente com os ácidos graxos poliinsaturados nas membranas, formando peróxidos. O oxigênio “singlet” formado na fagocitose emite fótons, cuja mensuração propicia um teste valioso para medir a atividade fagocítica dos leucócitos (quimioluminiscência). Os Drs. E. Bechara (Brasil), Minotti (Itália) e Hartel (Alemanha), pensam que alguns organismos , como os vagalumes, ao tentarem se livrar dos efeitos danosos do oxigênio terminaram desenvolvendo a luminescência. As técnicas conhecidas (embora pouco satisfatórias) para dosar RLs são a quimioluminiscência, a lipoperoxidação das hemácias, a lipoperoxidação no soro, a peroxidação da fração LDL (colesterol “ruim”) e a dosagem de RLs nas fezes.
Enzimas Anti-RLs (SOD, glutation peroxidase e catalase) As defesas enzimáticas anti-RLs atuam sobre os radicais
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superóxido, peróxido de hidrogênio e RLs formados na peroxidação lipídica, porém nenhuma enzima é capaz de atuar sobre o radical hidroxila, que é o maior “vilão”. O organismo não tem defesas suficientes para neutralizar os RLs nas situações em que sua produção está aumentada, como ocorre no câncer, AIDS, doenças degenerativas, enfermidades em geral, tabagismo, alcoolismo e nas intoxicações por metais pesados, entre outros. Nestas circunstâncias a administração oral de antioxidantes é de grande valia. As enzimas protetoras contra os RLs estão presentes nos locais onde os mesmos são produzidos, conseguindo, assim, mantê-los em concentrações muito baixas, quando em estado de saúde. A partir dos 40 anos, estes sistemas enzimáticos diminuem sua eficiência. No envelhecimento, encontra-se um excesso de peróxido de hidrogênio (que ultrapassa a capacidade metabólica da catalase e da glutation peroxidase), capaz de originar, em presença de íon ferro, o radical hidroxila - o grande “vilão”. O interesse pelo papel dos RLs no metabolismo humano aumentou com a descoberta da SOD, por J.M.Cord e I. Fridovitch (1968), nos EUA. A SOD está presente em todas as células humanas e é a quinta proteína, em concentração, no organismo humano. Concentra-se nos glóbulos vermelhos e nos tecidos, onde converte os RLs em subprodutos. O organismo humano produz diariamente 5 milhões de unidades de SOD. É um potente varredor do radical superóxido, protegendo o organismo contra os efeitos da radiação UV, poluição e efeitos colaterais da radioterapia. A produção de RLs aumenta com a idade, enquanto que a produção de SOD diminui. A ação da SOD requer a presença dos minerais cobre, zinco e manganês. Os sítios de maior atividade da SOD são: o cérebro, o
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fígado, o rim, o coração e os músculos esqueléticos. A reação catalisada pela SOD tem como subproduto o peróxido de hidrogênio, o qual reage espontaneamente com um radical superóxido (em presença de ferro), dando origem ao radical hidroxila; por este motivo, a atuação da enzima SOD deve ocorrer concomitantemente com a de enzimas que catalisem a remoção da água oxigenada dos tecidos - a catalase e a glutation peroxidase. A SOD é uma enzima citoplasmática (cobre e zinco dependente) e mitocondrial (manganês dependente), presente em todos os organismos vivos. A SOD só é ativa por via oral em doses acima de um milhão de unidades; doses menores são inativadas pelo suco gástrico. Por esta razão é indicado utilizar a via sublingual (50mg SL, por exemplo). Níveis reduzidos de SOD foram relacionados com várias doenças como: artrite reumatoide, anemia de Fanconi, infecções respiratórias, deficiências imunológicas, catarata, esterilidade. A carência de cobre, zinco e manganês é decisiva para a baixa atividade desta enzima. Níveis elevados de SOD foram relacionados com várias doenças, como por exemplo alguns tipos de câncer, doenças cardiovasculares, hepatites, diabetes, distrofia muscular, esquizofrenia, psicose maníaco-depressiva e Síndrome de Down (nesta patologia ocorre uma acumulação de peróxido de hidrogênio, visto que o cromossoma 21 é o responsável pela produção da enzima). A administração da SOD está indicada nas doenças do tecido conjuntivo (lúpus, artrite reumatoide, esclerose múltipla), na isquemia de reperfusão, nas tenosinovites (doença dos digitadores), epicondilites, doença de Crohn, fenômeno de Raynaud, doença de Peyronie e em todas as condições em que
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há alteração do sistema imunológico. As doses terapêuticas variam de 30 a 100mg/dia, via sublingual. A glutation peroxidase (GSH-Px) é a enzima mais importante na remoção da água oxigenada dos tecidos humanos e transforma o glutation oxidado (GSSG) em glutation reduzido (GSH). Por ser uma enzima selênio-dependente, os níveis de Gpx podem ser utilizados para avaliar o estado de selênio do organismo. Os locais de maior atividade desta enzima são: o coração, o cérebro e os pulmões. Em alcoolistas crônicos os níveis de glutation peroxidase e de selênio estão baixos, resultando em uma proteção reduzida das células hepáticas frente aos efeitos do etanol, uma vez que o glutation é a substância chave na proteção do fígado contra a ação de RLs e compostos tóxicos de origem exógena. Com a abstinência, os níveis de antioxidantes e de selênio tendem a retornar a seus valores normais. A catalase é uma enzima presente nos peroxissomas (organelas celulares). Também presente em grandes concentrações no fígado, coração, cérebro e eritrócitos. Sua função é converter o peróxido de hidrogênio (água oxigenada) em água e oxigênio (função também desempenhada pela GSH-Px). Através desta ação a catalase ajuda a prevenir a lesão celular ou mesmo o rompimento das cadeias de DNA. É uma das mais ativas enzimas conhecidas.
Alterações Patológicas ao Nível Molecular Causadas pelos Radicais Livres sobre os Vários Componentes Celulares (de Bindolfi A., Cavalini L.)
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Radicais Livres Lipídios Insaturados
Ácidos nucleicos
Lipídios insaturados
Ácidos nucleicos
Peroxidação
Modificação das bases
Peroxidação
Modificação das bases
Alteração das membranas
Mutações
Várias alterações: estruturais e metabólicas
Fonte: Informativo Toxilab, Porto Alegre, 2005.
Anti-Radicais Livres (antioxidantes) Um antioxidante é qualquer substância que, mesmo quando presente em baixas concentrações, atrasa significativamente ou impede a oxidação de um substrato oxidável (proteínas, lipídios, carboidratos e DNA). Segundo o Dr. Barry Halliwell (UCLA) um antioxidante é qualquer substância que proteja os tecidos contra a lesão oxidativa. Cada RL é seletivamente mais sensível a um ou outro anti-oxidante. O superóxido é particularmente sensível ao ascorbato; o oxigênio singlet responde melhor ao betacaroteno. A vitamina E é a mais eficiente para neutralizar os RLs que atacam os ácidos graxos essenciais (AGEs). Controlar a explosão oxidativa é importante para evitar a degeneração de tecidos nobres e especializados, endotélio vascular, membrana celular, retina, cristalino, SNC e periférico. Formulações com vitamina E (protetora da membrana
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celular) e selênio (mineral antioxidante e participante da molécula da glutation peroxidase), juntamente com a vitamina C, oferecem ampla proteção anti-RLs, a um baixo custo. O organismo humano possui dois sistemas naturais de defesa que favorecem a eliminação dos RLs: são os chamados “varredores de RLs”, que atuam eliminando os oxidantes ou impedindo a sua transformação em RLs mais tóxicos. Podem ser divididos em enzimáticos e não enzimáticos, sendo que as principais enzimas antioxidantes responsáveis pela inativação dos RLs são as seguintes: a) catalase: transforma o peróxido de hidrogênio em água e oxigênio molecular; b) glutation peroxidase: enzima selênio dependente que inativa o peróxido de hidrogênio e os peróxidos lipídicos; c) superóxido dismutase (SOD): tem atividade maior sobre o oxigênio singlet e mantém os radicais superóxido em baixos níveis. Dentre as várias SOD, a principal é a Cu-Zn superóxido dismutase (SOD), enzima citoplasmática que necessita de zinco e cobre para exercer sua atividade. As membranas celulares são protegidas pelo antioxidante alfatocoferol (vitamina E), uma molécula lipossolúvel que age no interior das membranas biológicas e é um excelente bloqueador de reações em cadeia. Há um grupo oxidrila do alfatocoferol, cujo hidrogênio é facilmente removível. Assim, os radicais peroxil e alcoxil, gerados durante a peroxidação de lipídios, se combinam preferencialmente com a vit E, ao invés de se combinarem com um ácido graxo adjacente. Esse é o mais importante antioxidante que atua nas membranas celulares. Os antioxidantes não enzimáticos são, em sua maioria, de natureza exógena e precisam ser ingeridos com a dieta sob forma de antioxidantes ou precursores. Capturam os RLs,
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evitando as reações em cadeia. São exemplos a vitamina E, a vitamina C, o betacaroteno, o licopeno, a coenzima Q10, o ácido lipoico, o pycnogenol®, o resveratrol e o extrato de semente de uva. O sistema antioxidante é muito complexo e a deficiência de qualquer um dos componentes pode causar uma redução no sistema como um todo. O desequilíbrio entre a quantidade de RLs e a disponibilidade de antioxidantes parece estar implicado na gênese e/ou evolução de 81 doenças. A análise laboratorial quantitativa dos antioxidantes totais e a dosagem de RLs são bons parâmetros para se oferecer um suplemento de antioxidantes aos usuários. Trabalhos recentes mostram que os antioxidantes são eficazes na prevenção de doenças crônicas associadas ao stress oxidativo. O estudo SU.VI.MAX (The Supplémentation en Vitamines et Minéraux Antioxydants) realizado na França durante 7,5 anos, e usando doses diárias de vitamina C, E e betacaroteno concluiu que houve redução da incidência de várias doenças, de forma significativa. Atletas podem se beneficiar do uso de suplementos antioxidantes. A carga de exercícios prolongados e intensos aumenta a atividade metabólica, com consequente aumento do stress oxidativo. O radical tocoferil (vitamina E oxidada) pode migrar para a superfície das lipoproteínas da membrana, tendo a possibilidade de ser convertido novamente em alfatocoferol, por ação do ácido ascórbico (vitamina C). A vitamina C e a vitamina E ajudam a minimizar o risco do ataque de radicais livres às membranas celulares. O betacaroteno é poderoso debelador de oxigênio singlet e
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importante terapêutica na proteção de pacientes com porfiria. Protege a pele contra o dano por fotossensibilização; age absorvendo a energia do estado excitado do oxigênio singlet, convertendo-o em oxigênio no estado fundamental, ao mesmo tempo em que inverte a configuração de suas duplas ligações conjugadas, como resultado da absorção dessa energia. Existe a necessidade de aumentar as doses diárias de vitamina C durante as viroses, após grande ingestão de carne vermelha e embutidos, nas intoxicações por metais pesados, nas psicoses, no câncer, tabagismo, alcoolismo e stress. Todos esses casos se acompanham da formação exagerada de RLs. Pessoas deprimidas ou estressadas secretam mais adrenalina, que é um produtor de RLs (cada molécula de adrenalina produz dois RLs). O processo de envelhecimento cursa com elevado grau de stress oxidativo sistêmico, assim, frequentemente os níveis antioxidantes sanguíneos em pessoas idosas apresentam valores bastante diminuídos. Concentração de antioxidantes circulantes, formação de lipoperóxidos e qualidade de vida guardam íntima relação entre si. O hábito de fumar produz grandes quantidades de radicais livres. Quem fuma um maço (20 cigarros) deveria ingerir, pelo menos, 250mg diários de vitamina C, para antidotar os RLs produzidos. Os níveis de antioxidantes diminuem com a idade, o que pode ser uma das causas do aumento na incidência de doenças. O controle anual desses níveis permite que se tomem medidas preventivas. Nos hepatopatas crônicos, nos tabagistas e nos portadores de DBPOC (doença bronco-pulmonar obstrutiva crônica), entre
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outros, o status dos antioxidantes totais está significamente reduzido. O uso de antioxidantes está relacionado à prevenção do surgimento de determinadas enfermidades e funciona como coadjuvante terapêutico nas doenças já estabelecidas, originadas ou agravadas pela presença dos RLs. Uma vez instalada a doença, os antioxidantes podem retardar o seu processo evolutivo. Níveis baixos de selênio (e baixa atividade de glutation peroxidase) estão associados a alguns tipos de câncer, doenças do sistema imunológico (como a artrite reumatoide), doenças cardiovasculares e cataratas. É benéfico dosar a glutation peroxidase no processo de envelhecimento, no tabagismo, no alcoolismo, na insuficiência renal, nas doenças auto-imunes e na quimioterapia, para avaliar o potencial de defesa antioxidante do organismo e a eficácia terapêutica dos medicamentos administrados. A exposição contínua à radiação UV diminui a quantidade de antioxidantes presente nas células cutâneas. A concentração de vitamina E é reduzida em 20%, a de coenzima Q-10 e a de betacaroteno, em 40%. A radiação UV gera RLs que esgotam as defesas antioxidantes da pele, tornando-a mais vulnerável pelo desequilíbrio entre os dois sistemas (antioxidantes x RLs). Estas alterações favorecem o desenvolvimento de câncer de pele. O emprego de formulações contendo vários antioxidantes (selênio + betacaroteno + vitamina C + vitamina E) oferece vantagens, especialmente se associado aos fotoprotetores, se comparado ao uso isolado de cada um deles. O ataque dos radicais livres aos lipídios da pele, pela exposição inadequada ou excessiva ao sol (radiação UV) resulta
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em uma série de efeitos indesejáveis, como, por exemplo, redução do efeito protetor de barreira, degradação das membranas celulares, e diminuição dos níveis de hidratação e da emoliência cutânea. A quantificação laboratorial do nível de RLs no sangue é de grande importância para a avaliação de seu impacto em nossa saúde, bem como para determinar a escolha e a quantidade de antioxidantes a utilizar. Também é de grande valor para os clínicos a determinação laboratorial dos níveis de minerais (mineralograma), vitaminas (vitaminograma), aminoácidos (aminoacidograma) e outros elementos antioxidantes. Os resultados obtidos permitiriam a correção dos desvios e a introdução de novos antioxidantes. Em consultórios médicos, a análise de gota de sangue do paciente pelo método Hartmann, Bradford, Lagarde (HBL), embora com limitações, oferece uma excelente avaliação da atividade dos RLs como geradores de doenças nos sistemas biológicos. Uma gota de sangue colhida da polpa do dedo indicador é colocada sobre uma lâmina de vidro e estendida. Após secar é observada ao microscópio A ação dos radicais livres sobre o sangue gera alterações bioquímicas e morfológicas no mesmo, o que permite a correlação com vários quadros patológicos.
DOSAGEM DA CAPACIDADE ANTIOXIDANTE TOTAL A dosagem da capacidade antioxidante total é um marcador do estresse oxidativo que quantifica todos os antioxidantes presentes no
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sangue do paciente. O resultado define a capacidade de defesa do organismo contra o ataque de radicais livres. Um sistema antioxidante falho é condição ideal para que os radicais livres causem danos ao organismo. Principais aplicações: - Constatar deficiências nutricionais - Avaliação dos resultados de dieta prescrita: deve haver um aumento na dosagem de antioxidantes totais se compararmos o resultado antes de sessenta dias após a dieta - Avaliação da eficácia terapêutica: duas determinações no intervalo de sessenta dias; eficácia no tratamento equivale ao aumento na dosagem de antioxidantes totais. Fonte: Informativo Toxilab, Porto Alegre, 2005.
MECANISMOS DE DEFESA ANTIOXIDANTE O organismo se defende do estresse oxidativo através de mecanismos conhecidos como “defesa antioxidante” Pode ser considerado antioxidante qualquer processo que: - Previna a formação de radicais livres - Transforme os oxidantes em espécies menos tóxicas - Isole os mesmos longe das estruturas celulares vitais - Repare o dano molecular provocado pelos radicais livres Fonte: Informativo Toxilab, Porto Alegre, 2005.
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NUTRIENTES ANTIOXIDANTES Existe uma variada gama de alimentos que contém substâncias antioxidantes. Seguem alguns exemplos:
Capsaicina
Cumarinas
Flavonoides
Genisteína Indóis
Isotiocinatos
Licopeno
Alicisteína
Triterpenoides
Protege o DNA contra substâncias carcinogênicas. Age como antioxidante. Frutas cítricas e Estimulam as enzimas antitomate câncer e previnem a coagulação sanguínea. Evitam que os hormônios Frutas cítricas, propiciadores de câncer se tomate, pimenta, liguem às células normais. Inibem as enzimas responsáveis cenoura pela metástase de células cancerosas. Feijões, ervilhas, Inibem o câncer promovido pelo lentilhas estrogênio. Brócolis, repolho e Protetores contra o câncer de couve mama e próstata. Brócolis, repolho, Estimulam as enzimas antimostarda, rábano câncer, protegem contra o câncer de mama. Agem como antioxidantes e Tomates protegem contra o câncer cervical. Alho, cebola, Estimulam as enzimas anticebolinha câncer e bloqueiam a formação de nitrito no estômago. Raiz da alcaçuz, Inibem as etapas hormôniofrutas cítricas dependentes na formação tumoral. Pimenta
Fonte: Informativo Toxilab, Porto Alegre, 2005.
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CAPACIDADE ANTIOXIDANTE TOTAL x PATOLOGIAS Vários estudos demonstram que monitorar a capacidade antioxidante do organismo pode ser vantajoso no tratamento de diversas patologias Nestas patologias, a capacidade antioxidante reduz-se Patologias do fígado proporcionalmente ao dano hepático. Existe uma redução significativa da capacidade antioxidante nos processos Doenças respiratórias asmáticos e nas doenças obstrutivas pulmonares crônicas. As crianças prematuras possuem capacidade antioxidante total reduzida, quando comparadas com crianças nascidas a termo; o que as torna muito suscetíveis ao Crianças prematuras dano por radicais livres, causando complicações como retinopatia, displasias bronco-pulmonares, hemorragia intra-ventricular e enterocolites necrosantes. O papel dos antioxidantes nestas patologias está sendo Aterosclerose Isquemia de Reperfusão estudado; onde o monitoramento da capacidade antioxidante pode ser Choque Séptico vital para administrar Diabetes suplementação. Fonte: Informativo Toxilab, Porto Alegre, 2005.
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RADICAIS LIVRES (RLs)
NUTRIÇÃO ANTI-RADICAIS LIVRES = NUTRIÇÃO BIOMOLECULAR A nutrição biomolecular tem como objetivo fornecer os nutrientes necessários para que cada célula desenvolva plenamente suas funções. Tem como pedra angular a biodisponibilidade e biodigestibilidade dos nutrientes. Os antioxidantes são a primeira linha de defesa do organismo. Existe um grande número de potentes antioxidantes, presentes nos alimentos, desde que estes estejam livres de poluentes químicos e a terra onde foram cultivados tenha equilíbrio mineral. Alguns destes alimentos são a cenoura, o espinafre, a couve-flor, a moranga, a batata, o damasco, o pêssego, o mamão papaia, o melão (betacaroteno); as frutas cítricas e os vegetais (vitamina C); os frutos oleaginosos e os azeites vegetais (vitamina E); o morango, o peixe, a carne, a cebola, o alho (selênio); o levedo de cerveja, os frutos do mar, os ovos, o espinafre (zinco); os legumes, as passas, o melado (cobre); a banana, a gema de ovo, as folhas verdes e os grãos (manganês); o alho e a cebola (enxofre). Fonte: Informativo Toxilab, Porto Alegre, 2005.
Capítulo 7 – METAIS TÓXICOS “Descobrir é ver o que todo mundo viu e pensou o que ninguém mais pensou” Albert Szent Gyorgy
Define-se como metal pesado aquele cuja densidade, é pelo menos, 5 vezes maior do que a da água. São eles: chumbo, mercúrio, cádmio, níquel, berílio e arsênico. O alumínio, embora seja um metal bem leve, é estudado junto com os metais pesados. Os metais pesados são elementos tóxicos e têm efeito acumulativo. A somatória destes metais resulta em sinergismo e potencialização de seus efeitos nocivos, contribuindo para o deslocamento metabólico dos minerais nutrientes. Via de regra, há uma depleção de cálcio e magnésio no organismo, que podem aparecer diminuídos ou falsamente elevados no mineralograma, devido a sua má distribuição nos tecidos. Estamos cada vez mais expostos à contaminação pelos metais tóxicos, uma vez que sua difusão através da presença em inúmeros produtos e processos industriais, e até mesmo, de sua presença como contaminante em grande parte de nossos alimentos. Em razão da possibilidade da presença de metais tóxicos nos fluidos biológicos ou armazenamento em órgãos ou tecidos, torna-se fundamental uma investigação preventiva em parcela de nossa população e, em especial, nos grupos de maior risco (mineradores, pintores, trabalhadores de indústrias mineradoras, etc.), quer através de análises sanguíneas, ou, melhor ainda, pela análise do cabelo (mineralograma ou exame do cabelo). Inúmeros trabalhos científicos evidenciam a produção de
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radicais livres por metais tóxicos, comprovando assim, seu papel na toxicidade celular e dos tecidos. Está comprovado que baixas concentrações de cádmio e mercúrio, estimulam a reação de produção do ânion superóxido por fagócitos ativados; que o titânio interage com o peróxido de hidrogênio, formando radicais hidroxila. Já o níquel, o arsênico e o berílio, apresentam propriedades mutagênicas, comprovadas com a indução de neoplasias por peroxidação lipídica. Todos os metais tóxicos são potencialmente cancerígenos, por deslocarem elementos minerais importantíssimos ao metabolismo humano, vitais para a eliminação dos radicais livres e para a ativação do sistema imune. Alguns desses metais estão associados a determinadas patologias: o cádmio, à hipertensão; o alumínio, ao Mal de Alzheimer; o mercúrio e o ferro, à aterosclerose; o chumbo, à dificuldade no aprendizado, e o níquel, à dermatite. Níveis elevados de um metal no cabelo não significam, necessariamente, altos teores no sistema biológico. Podem ser devido à contaminação externa. Altos níveis de metais pesados, como chumbo, mercúrio e arsênico, são combatidos com aminoácidos enxofrados, ou alimentos que os contenham (alho, cebola, feijão, ovo), e com substâncias antioxidantes (selênio, betacaroteno, vitamina E e vitamina C). Os metais pesados combinam-se com um grande número de moléculas orgânicas, especialmente com os grupos sulfidrila (S-H) das proteínas; deste modo, inibem a atividade de inúmeras enzimas (muitas delas vitais, como as da fosforilação oxidativa). Também produzem inibição ao deslocar o mineral que ocupa o centro ativo da enzima. São capazes de produzir alterações nas membranas celulares, assim como afetar o sistema imunológico.
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A importância do EDTA nos processos de intoxicação por metais pesados se deve a sua capacidade de reduzir em um milhão de vezes a produção de RLs. O Dr. Helion Póvoa Fº (RJ) sugere o seguinte procedimento nas intoxicações por metais pesados: a) filtrar a água destinada a ser bebida, assim como aquela destinada ao preparo dos alimentos, para remover mercúrio, chumbo ou alumínio presentes; b) ingerir fibras (legumes, verduras e frutas); c) ingerir vitaminas do complexo B, C, E, betacaroteno, carnitina e bioflavonoides; d) usar quelantes orais (metionina, cisteína, glutation, selênio, zinco, magnésio, manganês, cobre e cromo).
Alumínio (Al) O Alumínio foi descoberto em 1825 pelo físico dinamarquês Hans Christian Orsted. É a terceira substância mais comum em nosso planeta e depois do aço é o metal mais usado no mundo. Foi originariamente encontrado na região de Les Baux, na França, associado à bauxita. O teor de alumínio no cabelo costuma refletir com precisão os níveis sistêmicos deste metal; entretanto, sempre que estiver elevado no mineralograma, deverá ser afastada a possibilidade de contaminação externa. São fontes de alumínio: queijos industrializados (especialmente parmesão e gorgonzola), nos quais são empregados sais de alumínio como emulsificador; sal de cozinha, onde o mineral tem função anti-umectante; ingredientes utilizados nas padarias, como o fermento e o aditivo da farinha branca (sob a forma de alúmen de potássio); molhos de tomate industrializados, antiácidos (35 a 600mg de
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Al/5ml de solução); águas tratadas com excesso de sulfato de alumínio; antitranspirantes (cloridroxi-alantoinato de alumínio). Ainda, panelas, embalagens de alumínio, adstringentes, antisépticos, corantes, produtos para piscinas, loções após-barba e solução de Burrow. Alimentos ácidos embalados em latas (suco de laranja, extrato de tomate, etc.) constituem outra importante fonte de alumínio. Sais de alumínio são utilizados na preparação das aspirinas tamponadas. Também os antiácidos costumam apresentar em sua composição elevados índices do metal. Várias vacinas contêm alumínio. Este elemento, potencialmente tóxico, entre outras coisas provoca formação cruzada do colágeno; altera o metabolismo do cálcio, facilitando a desmineralização óssea, e induz à perda de zinco. Indivíduos acima dos 50 anos têm uma probabilidade de 1:200 de contrair o Mal de Alzheimer; após os 80 anos, a probabilidade é de 1:20. Indivíduos portadores da doença apresentam teores de alumínio cerca de 4 vezes acima dos indivíduos sem a enfermidade. Pacientes em hemodiálise há muito tempo também apresentam altas taxas de alumínio no cabelo. O excesso de alumínio pode levar à encefalopatia progressiva, com anormalidades comportamentais e motoras, astenia, fadiga crônica, esquecimento, distúrbios da fala, raquitismo, alterações gastrointestinais, cólicas, alteração no metabolismo do cálcio, dores ósseas, cefaleia e fraqueza muscular. Taxas elevadas de alumínio e bismuto no mineralograma podem estar relacionadas à ingestão de antiácidos. O alumínio proveniente dos antiácidos pode ligar-se à pepsina e a outras enzimas digestivas, tornando o processo digestivo menos efetivo.
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Uma pessoa de 70kg armazena cerca de 50mg de alumínio em seu corpo. Para a remoção deste e de outros metais tóxicos, é importante, em primeiro lugar, afastar-se das fontes. Se a fonte for a água, usar filtro com carvão (especialmente na água utilizada para o preparo dos alimentos); o fósforo e seus derivados devem ser, tanto quanto possível, suprimidos da dieta, visto que favorecem a absorção do alumínio; antiácidos contendo sais de alumínio também deverão ser evitados. O aumento da ingesta de cálcio e magnésio desloca o alumínio (por competição) dos locais no organismo onde estiver patologicamente depositado. As intoxicações por alumínio são combatidas com o Alumínio CH7 ou CH12 (preparado homeopático), 10 gotas vo 2 vezes ao dia, juntamente com a administração de cálcio, magnésio, selênio, psylium, pectina e vitamina C.
Antimônio (Sb) O antimônio é conhecido desde o ano 4.000 a.C., devendo seu nome à palavra “anti-monium”, que significa mal para os monges, devido a uma intoxicação maciça ocorrida em uma abadia medieval onde essa substância estava sendo experimentada como agente terapêutico. O monge beneditino e alquimista, Basilius Valentim, o identificou e isolou no século XV, em 1450. Até há poucos anos, bolas metálicas de antimônio eram usadas como laxativo e, uma vez excretadas, eram recolhidas, lavadas e reutilizadas. O exame do cabelo é o melhor meio para determinar o nível corporal de antimônio e a confirmação pode ser feita dosando-se o mineral na urina. Sinais de intoxicação por antimônio incluem problemas cardíacos, respiratórios, gastrointestinais e problemas de pele. Os alimentos, o cigarro e a munição de armas são as principais fontes de antimônio.
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A história do emprego e da toxicologia do antimônio é extensa. Suas primeiras aplicações foram como pigmento para cosméticos e para vidros amarelos. É largamente utilizado em baterias para automóveis (9% do total de uma bateria). Embora menos potente, a toxicidade do antimônio é bastante semelhante à do arsênico (vômitos, diarreias, hepatopatia, nefropatia, coma e morte). O tártaro emético, sal muito usado na medicina antiga, possui antimônio em sua composição. Diversos estudos apontam para um potencial cancerígeno associado ao antimônio, especialmente para tumores pulmonares. É encontrado associado a outros metais como chumbo, cobre, prata e mercúrio.
Arsênico (As) O arsênico é um dos tóxicos mais importantes da história da humanidade. Já no século V a.C. era um veneno comum, sendo imensa a lista de personagens famosos envenenados por este elemento. Aristóteles, no século IV a.C., Plínio, o velho, e Dioscórides descrevem inúmeros envenenamentos por arsênico. São Alberto Magno, no século XIII, em 1250, isolou o metal. Os envenenamentos criminosos eram frequentes até o ano de 1836, quando Marsh desenvolveu a técnica capaz de detectar ínfimas quantidades de arsênico em cadáveres. Paracelso, na metade do século XVI, introduziu-o na terapêutica humana. Cerca de 70% do consumo anual de arsênio, é feito sob a forma de arseniato de cobre e cromo, usado como conservante de madeira. O mineralograma é considerado um confiável indicador dos níveis de arsênico; uma intoxicação pode ser confirmada em amostra de pelos pubianos ou dosagem na urina. O arsênico é reconhecidamente tóxico em níveis elevados e é um agente
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potencialmente cancerígeno. No Brasil, os produtos agrícolas oficialmente não utilizam o arsênico há mais de 20 anos. O arsênico ainda é utilizado em veterinária e na medicina humana, em algumas formulações para psoríase, sob a forma de arseniato de potássio (licor de Fowler). O arsênico é muito difundido na natureza (5g/tonelada) e encontra-se combinado com mais de 150 elementos. Nas águas, o arsênico é encontrado em pequenas quantidades, em consequência de sua ampla distribuição na natureza. Em algumas regiões, os teores podem se apresentar bem mais elevados, como, por exemplo, no Irã e na Argentina. Também é encontrado como contaminante do tabaco, devido ao tratamento das folhas com derivados arseniacais; no carvão, nos pesticidas, nos desfolhantes, nos agentes antifúngicos, em colas e decalcos, nos produtos para a lavagem de roupas, no giz colorido, nos frutos do mar, nos metais, nas tintas, nos cosméticos e em alguns suplementos alimentares (algas marinhas, dolomita). Uma contaminação histórica por arsênico deu-se em 1900, com seis mil pessoas envenenadas e setenta mortes, em Manchester, na Inglaterra. Os consumidores de cerveja desta cidade ingeriram o produto preparado a partir de um xarope de amido hidrolisado, com um ácido contaminado pelo arsênico. Outro caso histórico ocorreu no Japão, em 1955, onde doze mil crianças foram envenenadas com leite em pó estabilizado com fosfato de sódio contaminado por trióxido de arsênico. O arsênico e seus derivados são facilmente absorvidos; os diferentes graus dependem de sua forma química. Os derivados orgânicos pentavalentes do arsênico (arseniatos) são rapidamente eliminados e não se acumulam no organismo; possuem baixa toxicidade e não inibem sistemas enzimáticos. Formas orgânicas são encontradas em pequenas quantidades nos
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alimentos, não atingindo, porém, níveis tóxicos. O arsênico inorgânico trivalente (arsenito) é o mais tóxico e pode acumular-se nos tecidos, especialmente no cabelo, pele e unhas. Vegetais verdes e frutos do mar costumam ser os alimentos com maiores teores de arsênico orgânico. A forma trivalente é muito mais tóxica do que a forma pentavalente. O prognóstico da intoxicação aguda depende, basicamente, da dose absorvida e da rapidez com que se inicie o tratamento. A contaminação por arsênico é tratada com o medicamento homeopático Arsênico CH7 ou CH12 (10 gotas vo 2 vezes ao dia), vitamina C, vitamina E, selênio, metionina e taurina.
Bário (Ba) O bário foi identificado em 1777 por Carl Schleele e isolado pelo inglês Humphry Davy em 1808. O bário é um metal de grande toxicidade, podendo ser letal a ingesta de 500mg. Seus compostos são em número reduzido e de escassa aplicação, por isso a intoxicação é pouco frequente. A intoxicação por bário tem elevada mortalidade (superadas as primeiras 24 horas, o prognóstico é bom). A aplicação de carbonato de bário (à 25%) como raticida foi motivo de intoxicações acidentais e voluntárias. O bário também é utilizado na manufatura de cerâmicas, vidros, esmaltes, pinturas, papéis, etc. O sulfato de bário é usado como contraste em medicina (pequena quantidade pode ser absorvida). Também é encontrado como contaminante na cocaína e na heroína, adicionado de forma proposital para aumentar o volume da amostra. A intoxicação importante ocorre por via oral; a via dérmica e a inalatória são irrelevantes.
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O bário circula no sangue de maneira similar ao cálcio: deposita-se com rapidez nos ossos e, em menor grau, nos outros tecidos. Tem uma elevada tendência a complexar-se com outras moléculas e com enzimas; bloqueia a despolarização da placa motora, no músculo estriado, no músculo liso e no músculo cardíaco. Atua deslocando o cálcio da membrana celular. Em locais com atmosfera muito contaminada, o bário pode causar uma pneumoconiose benigna, de caráter não fibrosante, a partir de 18 meses de contato. Até o momento, não foi estabelecida a correlação entre os níveis de bário encontrados no cabelo e os níveis sistêmicos. É um elemento ainda em pesquisa. O bário é encontrado em fontes industriais, mineração, óleos, vidros, cerâmicas, fogos de artifício, farinhas refinadas, açúcar branco, plásticos, ceras depilatórias e papéis.
Berílio (Be) Em 1798 o químico francês Louis-Nicolas Vauquelin (que descobriu o cromo em 1797), reconheceu a existência de um novo elemento nas gemas de berilo e da esmeralda, que denominou de berilo. Em 1926, Gorson preconizou a primeira aplicação industrial do berílio. A intoxicação por berílio é rara e perigosa. O berílio é tóxico em pequenas quantidades e induz à fibrose pulmonar progressiva, que evolui com graves sequelas, podendo levar à morte. Materiais fosforescentes possuem 2% de berílio em sua composição. Níveis elevados de berílio estão associados a lesões hepáticas, renais, pulmonares, cutâneas, à anemia e ao raquitismo. Ainda não foi bem estabelecida a correlação entre os níveis de berílio no cabelo e os níveis teciduais.
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O berílio é utilizado na manufatura de cerâmicas, vidros e combustíveis. O fumo e as próteses dentárias são contaminados com berílio. O berílio é um elemento pouco abundante na natureza (2ppm na crosta terrestre). Os combustíveis fósseis (carvão e petróleo) possuem pequenas quantidades de berílio (até 2ppm). É um contaminante comum do cobre. Exames de confirmação podem ser realizados na urina e no sangue, para diagnosticar exposições recentes; exposições crônicas são diagnosticadas apenas pelo exame do cabelo. O berílio é muito tóxico, quando absorvido ou ingerido. É facilmente absorvido pela pele e pelos pulmões, mas não pelo trato gastrointestinal. O contato do berílio com a epiderme pode gerar sensibilização. A cura das lesões cutâneas ocorre com a eliminação dos restos de partículas tóxicas. Populações residentes em áreas próximas (até 10 km) devem submeter-se a avaliações dos níveis corporais do metal. Os pós de partículas pequenas possuem maior superfície de contato, sendo, portanto, mais tóxicos e fibrogênicos. A exposição prolongada causa granulomas epitelioides similares aos encontrados na sarcoidose. As feridas contaminadas por berílio desenvolvem granulomas inflamatórios e fibrose. A pneumonia por berílio é grave e a ausência de tratamento pode levar à morte por insuficiência respiratória severa. O berílio antagoniza o magnésio, deslocando-o de seus sítios de ação, especialmente nas metaloenzimas (a maior parte das enzimas inibidas tem como função a transferência de grupamentos fosfato). Inibe a mitose, sendo assim capaz de desestabilizar as cadeias de DNA. A administração do EDTA nas intoxicações por berílio é menos efetiva que para outros elementos, uma vez que o EDTA e demais quelantes são eficazes nas intoxicações por metais
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divalentes, e o berílio é tetravalente.
Bismuto (Bi) O bismuto foi descoberto no ano de 1500 e seu nome deriva da expressão alemã “massa branca”. Foi primeiramente mencionado nas obras de Paracelso. O bismuto é um elemento de baixa toxicidade. Seu efeito tóxico fundamental é a encefalopatia bismútica. O bismuto pode deslocar o chumbo, colocando-o em circulação e causando sinais de envenenamento por chumbo. O grau de absorção depende da solubilidade do seu composto. As fontes de bismuto são batons, cosméticos, antiácidos, vidros e cerâmicas. Os sinais de toxicidade incluem halitose, linha escura nas gengivas e mal-estar. O quadro clínico da encefalopatia bismútica é caracterizado por alterações neurológicas (mioclonia, disartria, tremores musculares e vertigens) e psiquiátricas (apatia, euforia, alucinações, confusão mental, diminuição do nível de consciência).
Cádmio (Cd) Em 1817, o químico alemão Friedrich Strohmeyer, encontrou esse elemento misturado ao zinco; na proporção de 0,2 a 0,3%, daí seu nome latino ¨minério de zinco¨- cádmio. O cádmio é o 5º metal em ordem de toxicidade, um dos grandes poluentes modernos. Em 1900, o cádmio era uma curiosidade industrial; ano a ano, a contaminação pelo cádmio tem crescido em importância e perigo. Ocorre na natureza de forma pouco abundante (até 0,2ppm), sempre associado a outros minerais, como o zinco e o chumbo; nunca em estado puro. Durante os processos industriais, é liberado como resíduo; a indústria
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petroquímica, a carbonífera e a petrolífera, os fertilizantes, as ligas metálicas e o cigarro são fontes de cádmio. As fábricas de cimento Portland são outra grande fonte (41,2mg de cádmio por kg de cimento); os freios dos carros também liberam grandes quantidades do elemento (1500mg de cádmio em cada kg de pastilhas de freio). Recipientes plásticos, quando em contato com pH ácido (p.e., suco de laranja), liberam cádmio para o líquido contido em seu interior; quando incinerados, liberam o elemento para o meio ambiente. Por ser altamente resistente à corrosão, o cádmio é utilizado em cromagens de aviões e carros, em eletrônica e nos pigmentos fosforescentes (“brindes”, roupas, chinelos, borrachas e anúncios). Ainda, em pilhas alcalinas, plásticos, lâmpadas fluorescentes, semicondutores, material fotográfico, vidros, cerâmicas e papel. O cádmio é liberado, também, pelo escapamento de motores, e a inalação crônica pode levar a um enfisema, mesmo naqueles indivíduos sem história pregressa de asma, bronquite crônica ou tabagismo. Outras fontes habituais de cádmio são: alimentos (especialmente refinados e frutos do mar), bebidas (especialmente chás), o fumo (especialmente para as pessoas que consomem mais de dois maços de cigarro por dia), os plásticos, as borrachas, as baterias de níquel-cádmio, as soldas, as pipas, os canos galvanizados, a dolomita, as tintas, os efluentes industriais, os fertilizantes (sempre presente como contaminante), os fungicidas para grãos (arroz, café e chá) e as farinhas de ossos. A contaminação por cádmio tornou-se conhecida, e temida, após 1960, quando ocorreu séria contaminação de alimentos pelo metal, no Japão. Plantações de arroz estavam
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sendo irrigadas com água oriundas de regiões de mineração e contaminadas com altos índices de cádmio. A intoxicação mostrou-se particularmente grave nas mulheres, em quem ocasionou graves quadros de desmineralização óssea, além de outras alterações. Outra fonte de contaminação por cádmio são máquinas utilizadas no processamento de alimentos, uma vez que o revestimento de muitas máquinas é feito com a presença do metal. Revestimentos à base de zinco ou galvanização também podem liberar quantidades apreciáveis de cádmio, especialmente quando estiverem em contato com substâncias ácidas. É preciso lembrar que o zinco industrial está sempre associado ao cádmio. O cádmio tem meia vida plasmática de 77 horas; nos tecidos, persiste por até 10 anos, o que explica a prevalência de intoxicações em indivíduos acima dos 50 anos (efeito acumulativo). As numerosas aplicações e, sobretudo, a sua presença como contaminante de outros elementos metálicos (zinco e chumbo, principalmente), favorecem a exposição no meio profissional. O teor de cádmio no cabelo é um excelente indicador do seu nível no corpo. A confirmação de uma intoxicação pode ser feita por meio da análise dos pelos pubianos ou dosagem de cádmio na urina. A absorção do cádmio é reduzida pelo zinco, cálcio e selênio. Uma pessoa de 70 kg acumula cerca de 40 mg de cádmio em seu organismo. A exemplo de outros metais pesados, o cádmio interfere na fosforilação oxidativa, inibindo a respiração celular (mitocondrial); é um potente inibidor enzimático, por deslocar os metais do centro ativo das metaloenzimas (o zinco, na fosfatase alcalina; o selênio, na Gpx; cobre/zinco e manganês,
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na SOD, etc) e por ligar-se aos grupos sulfidrila das proteínas. Tende a concentrar-se nas paredes arteriais e nos rins (principalmente na córtex renal), causando graves lesões. As intoxicações por cádmio costumam cursar com baixos teores de zinco, devido ao antagonismo entre aquele tóxico e este mineral. Quadros de hipertensão arterial de difícil controle são compatíveis com a presença de até 3ppm, detectadas no mineralograma; níveis superiores a 3ppm, podem produzir efeito paradoxal (hipotensão). O cádmio é um cancerígeno em potencial. Estudos demonstraram estreita correlação deste elemento com o câncer e a hipertrofia de próstata; em menor grau, com o carcinoma epidermoide pulmonar e com o adenocarcinoma renal. A lesão pulmonar é produzida pela ação local, ao ser aspirado; nos rins, o metal age ao ser excretado. O uso de pigmentos à base de cádmio e mercúrio nas tatuagens de cor vermelha pode produzir lesões granulomatosas. A intoxicação aguda é grave e, dependendo da dose absorvida, oferece elevado risco de mortalidade, inpendentemente da via de ingresso. Em roedores foi demonstrada a sua ação teratogênica, quando administrado durante a fase de embriogênese. Também em roedores, a administração de cádmio via parenteral gerou necrose e atrofia parcial do testículo. Outros sinais e sintomas associados ao excesso de cádmio são: anemia, anosmia, proteinúria, glicosúria, VSG aumentada, hipertensão de difícil controle, dores articulares, osteoporose, queda de cabelo, câncer, diminuição da função imune, lesão hepática, enfisema pulmonar, diminuição dos níveis de testosterona, perda de peso corporal, alterações vasculares e distúrbios no metabolismo do ferro, cobre, zinco e manganês; ainda, interfere em vários sistemas enzimáticos, por desativar
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uma série de enzimas, ao ligar-se aos grupos sulfídrila das proteínas. As lesões renais costumam ocorrer quando os níveis de cádmio estão cerca de 10 vezes acima dos limites aceitáveis. O excesso de cádmio é tratado com o uso de uma solução homeopática de Cádmio CH7 ou CH12 (10 gotas vo 2 vezes ao dia), cobre, zinco, selênio, cálcio e vitamina C. Ainda, com abstinência ao cigarro, ao açúcar branco e às farinhas refinadas.
Chumbo (Pb) O chumbo é conhecido desde a mais remota antiguidade. Existem relatos de sua utilização pelos egípcios, em cerâmicas e fundição de estátuas, no ano de 5.000 a.C.. Na Babilônia, era utilizado na impermeabilização dos solos dos terraços. Os romanos chegaram a extraí-lo de suas minas, à razão de 60 mil toneladas/ano. Em Roma, trabalhar em minas e fundições de chumbo era um castigo menor apenas do que a pena de morte. Devem-se a Dioscórides as primeiras descrições da intoxicação pelo chumbo. Apesar de abundante na crosta terrestre (13ppm), o chumbo não ocasiona toxicidade por fontes naturais, mas sim pela contaminação industrial e ambiental. O chumbo é minerado em mais de 50 países e a produção mundial é de 4 milhões de toneladas/ano (é um dos maiores contaminantes do planeta). A cada ano, são despejadas 400.000 toneladas no meio ambiente. O homem moderno tem 500 vezes mais chumbo corporal total do que o homem de 3000 anos atrás. Um habitante do Nepal possui 50 vezes menos chumbo em seus tecidos do que um habitante dos EUA. Em 1988, a U.S. Agency for Toxic Substances estimou que mais de 17% das crianças americanas menores de 12 anos possuem níveis inaceitavelmente elevados de chumbo.
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O Dr. E. Cheraskin estima que 38 milhões de americanos sofrem exposição ao chumbo. A clínica Mayo recomenda tratar os pacientes que apresentam teores de chumbo acima de 10 ppm (crianças) e 20 ppm (adultos) no mineralograma. Nos EUA, valores de chumbo acima de 10 ppm detectados em crianças são de notificação compulsória às autoridades médicas. Plantas aquáticas captam e acumulam o chumbo presente nos sedimentos e na água. Nos peixes, o chumbo acumula-se no fígado, rins e esqueleto. Os alimentos de origem animal ( leites e derivados ) apresentam níveis variados de chumbo. Carnes com ossos liberam razoáveis quantidades do metal, pois os ossos são grandes reservatórios. O chumbo no esqueleto é biologicamente inerte. Porém, sob determinadas circunstâncias (infecções, cirurgias, alterações do equilíbrio ácido-básico, alguns medicamentos), pode ser rapidamente liberado no organismo, levando ao surgimento de quadros tóxicos. A intoxicação por chumbo, ou por compostos que tenham este metal, causa severos danos à saúde, podendo levar à morte. Calcula-se que, diariamente, quantidades entre 300 a 500 microgramas de chumbo sejam introduzidas no organismo, principalmente por via oral e, secundariamente, por via respiratória. Nas intoxicações profissionais, a principal via de contaminação é a respiratória. Substâncias lipossolúveis contendo sais de chumbo podem penetrar através da pele. Em geral, as intoxicações por chumbo ocorrem de forma lenta e cumulativa. A absorção do chumbo depende da concentração e do tempo de exposição ao metal, além de fatores ligados ao indivíduo (idade e alimentação, entre outros ). No sangue, o metal apresenta uma meia vida de sessenta
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dias; a partir daí, distribui-se para os tecidos moles e, posteriormente, para os ossos, dentes e cabelos. A avaliação dos níveis de chumbo no organismo pode ser feita através da investigação de biomarcadores. Estes refletem os níveis de chumbo circulante, nas exposições recentes. A atividade da enzima ácido delta-aminolevulínicodesidratase (ALA-D) no sangue e a concentração de protoporfirina nos eritrócitos são dois importantes biomarcadores. A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) editou várias portarias estabelecendo níveis permitidos para a presença do chumbo no ar, nas águas, nos alimentos e em produtos para uso humano. Dentre os gêneros alimentícios que mais contribuem para ingestão de chumbo destacam-se a água potável, bebidas em geral, cereais, vegetais e frutas. Outra fonte de contaminação dos alimentos é a incorporação do chumbo presente nos utensílios de cerâmica ou nas tintas destas cerâmicas. A portaria Nº 24, de 29 de Dezembro de 1994, obriga a realização de exames médicos anuais para todos os trabalhadores expostos ao metal. O chumbo promove várias alterações bioquímicas, todas elas prejudiciais. Não é conhecida, até o momento, nenhuma função biológica do elemento. Seus efeitos interferem no funcionamento adequado das membranas celulares e de numerosas enzimas. É capaz de causar efeitos gastrointestinais, neuromusculares, renais, hepáticos, neurológicos, hematológicos e cardiovasculares. O tratamento inicial das intoxicações agudas começa por medidas que evitem novas exposições ao fator desencadeante. Nas intoxicações agudas pode ser necessária uma lavagem gástrica com água e a administração de leite e laxantes à base de sulfato de magnésio. O tratamento da intoxicação aguda com
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substâncias quelantes deve ser precedido da confirmação laboratorial dos níveis de chumbo. Níveis sanguíneos acima de 50 microgramas/decilitro indicam possibilidade do uso de quelantes como o EDTA ou o dimercaprol. O EDTA e o dimercaprol podem ser usados associados e administrados por via intramuscular . O EDTA também pode ser aplicado via endovenosa. Seu uso, no Brasil, só é aceito para o tratamento de intoxicações por metais tóxicos. Depois de absorvido o chumbo distribui-se para todo o organismo (sangue, fígado, rins, ossos e dentes). A meia vida do chumbo no sangue é a sessenta dias; nos tecidos moles, quarenta dias, e nos ossos vinte anos. O chumbo é capaz de atravessar a placenta, provocando efeitos teratogênicos. Uma pessoa de 70kg acumula cerca de 100mg de chumbo em seu organismo: boa parte veiculada pela água potável proveniente de fonte contaminada ou de antigos encanamentos de chumbo. A liberação de teores de chumbo, pela ação da água ácida, atinge níveis importantes, podendo a primeira água obtida da manhã conter mais de 100ppb do metal. Uma boa medida para diminuir o problema seria eliminar a primeira água obtida pela manhã. No passado, o uso de encanamentos e tanques de chumbo em cervejarias ocasionou inúmeros casos de intoxicação pelo metal. O mais conhecido ocorreu na Inglaterra, em 1767, tendo originado um quadro clássico denominado de “cólica de Devonshire”. Ainda hoje, pequenas destilarias do interior do país utilizam encanamentos e alambiques contendo chumbo. Após trinta dias, os níveis sanguíneos tornam-se difíceis de ser detectados, pois o chumbo é removido do sangue e depositado nos tecidos (fígado, ossos, dentes e cabelos). A dosagem de chumbo pode ser realizada por meio da detecção do ácido delta-aminolevulínico na urina de 24 horas. Taxas
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elevadas indicam altos níveis corporais do metal. Dificuldade de aprendizado, déficit de memória e hiperatividade infantil podem estar relacionados a teores elevados de chumbo. As crianças são mais vulneráveis à intoxicação do que os adultos, pois sua barreira hematoencefálica não está completamente desenvolvida. O chumbo pode ser veiculado por alimentos contaminados, água potável, fumaça de cigarro, descarga de automóveis, produtos para escurecer o cabelo, entre outros. O grande risco relacionado à toxicidade do chumbo envolve fontes heterogêneas de exposição, que são difíceis de evitar. A sua lenta cinética de eliminação faz com que uma elevada percentagem da população mantenha concentrações sanguíneas subtóxicas. Uma fonte importante de contaminação por chumbo são medicamentos contendo cálcio proveniente de fontes naturais, como, por exemplo, o cálcio de ostras, a dolomita e o cálcio de ossos, que têm o metal a eles associado. Os medicamentos à base de carbonato de cálcio, aspartato de cálcio e cálcio quelado não apresentam esse contaminante. Altas concentrações de chumbo ou diminuição no número de espermatozoides mortalidade, bem como aumento da espermatozoides anormais. A reversão tratamento pode levar até um ano.
cádmio acarretam e aumento de sua percentagem de do quadro com
A dosagem de chumbo no cabelo é fidedigna e reflete exposição a longo prazo. O chumbo é metal tóxico para seres humanos. Mesmo em baixa concentração, pode reduzir os níveis de vitamina C, cálcio, magnésio, zinco e aminoácidos. O teor de chumbo detectado no mineralograma pode ser confirmado por uma dosagem nos pelos pubianos (o que afastará a hipótese de contaminação externa, caso os valores estejam elevados). A
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contaminação externa é frequente nos usuários de tinturas capilares, como, por exemplo, a clássica “Fórmula Grega”. As fontes mais comuns de exposição ao chumbo são: cosméticos, inseticidas, suplementos de cálcio, baterias (90% do peso de uma bateria é chumbo), o chumbo contido na “caça” (pode ser liberado pelo processo de cozimento), cerâmicas esmaltadas, pinturas de cerâmicas, tinturas para cabelo, borrachas, tintas para sapato, solventes, conservantes de madeira, fertilizantes, água e ar poluídos, soldas, embalagens metálicas, flores artificiais, plásticos reciclados, farinha de ossos e tintas em geral (2% de sua composição). A manipulação do chumbo nas chumbadas (fusão do metal), linotipos, revelações fotográficas, toner de fotocopiadoras, também são formas de exposição. Até 1973, a gasolina continha chumbo tetraetila. A adição de chumbo às tintas foi proibida nos EUA, em 1973, por ser um elemento tóxico importante (sobretudo às crianças); a legislação brasileira, até o momento, permite a adição de 2% na composição das tintas. Teores elevados de chumbo e mercúrio são encontrados em tintas para madeiras de exteriores, especialmente em tintas navais (uma vez que são excelentes antifúngicos). O chumbo é um excelente protetor contra a craca (organismo marinho que adere fortemente ao casco das embarcações). A combustão das madeiras pintadas com essas tintas libera os metais e é capaz de gerar intoxicações. As cerâmicas mal vitrificadas podem ser fontes de contaminação por chumbo. Se a louça for vitrificada a temperaturas abaixo de 120º os compostos de chumbo não se tornarão suficientemente insolúveis. Líquidos ácidos (conservas, vinhos, sidras, vinagre)
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vertidos sobre esta cerâmica poderão liberar quantidades apreciáveis do metal nela contido. Em 1973, estimou-se que 90% do chumbo presente no ar das grandes cidades americanas, devia-se à combustão da gasolina com chumbo tetraetila (50.000kg/ano). Em razão disso, a adição de chumbo tetraetila como antidetonante da gasolina foi proibida. O chumbo tetraetila age no organismo por meio de seu metabólito (chumbo trietila), que é tóxico. Níveis altos de chumbo podem ser tratados com o medicamento homeopático Chumbo CH7 ou CH12 (10 gotas vo duas vezes por dia), vitamina B1 (200-300mg/dia), vitamina C, metionina, taurina, cálcio, psilium e pectina. É recomendável o aumento na ingesta de alho, cebola, ovos e frutas. Embora seja improvável que o chumbo possa ser removido do cérebro, existem bons indícios de que possa ser removido com sucesso dos demais orgãos, dos ossos e de outros tecidos. O DMSA (abreviação do ácido 2,3 dimercaptosuccínico) é a droga aprovada pelo FDA para o tratamento oral da intoxicação por chumbo ou mercúrio. É capaz de transpor a barreira hemato-encefálica e remover metais pesados (chumbo e mercúrio) do cérebro e de outros tecidos. O tratamento é realizado com vinte e cinco cápsulas (500mg cada) dadas da seguinte forma: uma cápsula vo uma vez ao dia, três dias por semana, durante dois meses. O chumbo afeta a memória, o comportamento e a capacidade intelectual. Crianças com mais de 3ppm no cabelo têm maior dificuldade no aprendizado e níveis mais elevados aumentam a incidência de hiperatividade infantil. Não se deve confundir um nível moderado de chumbo
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com envenenamento por chumbo (abaixo de 20ppm é considerado excesso e não envenenamento). Níveis acima de 20ppm no cabelo geralmente indicam contaminação exógena.
Estanho (Sn) O estanho foi um dos primeiros metais conhecidos pelo homem, tendo sido encontrados vestígios em objetos de bronze no vale do Ur, no ano 3000 a.C. O escritor Plínio, no ano 70 a.C., descreveu as qualidades da associação do estanho ao chumbo. A Bíblia relata que Salomão recebeu uma oferenda do metal. Atualmente, é utilizado na metalurgia por suas propriedades anticorrosivas e usado, ainda, na fabricação de vidros, esmaltes e cerâmicas. Na forma de fluoreto estanhoso, é empregado nos cremes dentais fluorados; como cloreto de estanho, no tratamento da retração gengival. O estanho é um metal moderadamente tóxico, responsável por dois quadros clínicos: uma pneumoconiose benigna e fenômenos tóxicos sistêmicos (por derivados orgânicos). Não são conhecidas intoxicações por derivados inorgânicos do estanho. É utilizado na composição de ligas para fabricação de utensílios domésticos, vasilhames para alimentos e bebidas, e como anticorrosivo. O óxido de estanho é empregado como pigmento para vidros, esmaltes e cerâmicas. Seu nível no cabelo correlacionase com a exposição ao metal. Sintomas de intoxicação incluem irritação da pele, dos olhos e do trato gastro-intestinal, degeneração testicular e debilidade muscular. A avaliação dos teores de estanho pelo mineralograma é bastante fidedigna.
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Altos níveis são encontrados após intoxicação por alimentos contaminados (especialmente grãos e farelos), amálgamas dentários, conservantes, latas de conservas, ligas metálicas com estanho (bronze) ou submetidas a um tratamento anticorrosivo; ainda, pela inalação de pó de óxido de estanho, resíduos industriais ou poluição atmosférica.
Estrôncio (Sr) O estrôncio é um elemento quimicamente semelhante ao cálcio e pode desempenhar as mesmas funções deste na estrutura óssea. Foi descoberto em 1793 por Martin Heinrich Klaproth. A correlação dos níveis de estrôncio no cabelo com os níveis do corpo é muito boa e, geralmente, guarda relação com os níveis de cálcio. Estrôncio baixo pode estar correlacionado com cáries, diminuição da densidade óssea e aumento do risco cardíaco. Em crianças, um nível adequado é importante para o crescimento normal; a deficiência de crescimento pode ocorrer devido a dieta pobre em estrôncio, cálcio e vitamina D. O estrôncio no cabelo pode estar elevado devido a uma contaminação externa por tintura. Quando em excesso, pode provocar o raquitismo de estrôncio, que é mais devido a uma interação com o cálcio. Sua má reputação provém dos isótopos radioativos dos testes nucleares realizados na década de 50. O corpo humano contém 300mg de estrôncio, estando 99% dele localizado nos ossos e dentes. As necessidades diárias de estrôncio são facilmente atingidas por sua presença constante nos alimentos e nos solos do Brasil. O estrôncio participa da formação da matriz dos dentes e dos ossos, e começa a ser utilizado no tratamento da
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osteoporose. Dentes fortes dependem de estrôncio, cálcio, molibdênio, fósforo e flúor. A absorção do estrôncio chega a 40% da quantidade ingerida por via oral.
QUELADORES DE METAIS TÓXICOS ALUMÍNIO
CHUMBO
Alumínio CH12 10 gotas vo 2x ao dia Cálcio Carbonato 600mg/dia
Chumbo CH12
Magnésio Glicina200mg/dia
Cisteína
Cisteína
Glutation
Vitamina C
200mg a 500mg/dia 1g a 2g/dia
Vitamina E
400U.I./dia
Vitamina C Vitamina E
CÁDMIO
Vitamina B1
Selênio
10 gotas vo 2x ao dia 200mg a 300mg/dia 200mg a 500mg/dia 30mg/dia sublingual 100mcg a 200mcg/dia 2g/dia 400U.I./dia
Cádmio CH12 10 gotas vo MERCÚRIO 2x ao dia Zinco Glicina Mercúrio CH12 10 gotas vo 10mg a 15mg/dia 2x ao dia Cálcio 200mg/dia Cisteína 200mg a Carbonato 500mg/dia Cisteína 200mg a 500mg/dia D-penicilamina 150mg a 250mg/dia/oral Glutation 30mg/dia Glutation 30mg/dia sublingual sublingual Selênio 100mg a Selênio 100mga 200mcg/dia 200mcg/dia Vitamina C 1g a 2g/dia Vitamina C 2g/dia Vitamina E 400U.I./dia Vitamina E 400U.I./dia
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Mercúrio (Hg) As primeiras referências ao uso do mercúrio em terapêutica datam do ano 1500 aC.. Desde então, é empregado na medicina, agricultura e indústria. A partir do século XVI, o nitrato de mercúrio foi empregado na fabricação de chapéus, originando as primeiras intoxicações profissionais - a dos fabricantes e usuários de chapéus de pele de coelho (curtida com derivado mercurial). O marco de conscientização da contaminação por mercúrio foi o episódio ocorrido na baía de Minamata (Japão), em 1953. As indústrias locais jogavam elevadas quantidades de efluentes ricos em mercúrio nas águas da baía. Este mercúrio era biotransformado pelos elementos da cadeia alimentar, chegando até os peixes, que constituíam o elemento básico do cardápio dos habitantes da cidade. Morreram 46 pessoas e 121 tornaram-se inválidas pela intoxicação mercurial. Em 1954, ocorreu episódio semelhante, quando sementes contaminadas foram consumidas por populações famintas no Iraque, Guatemala e Rússia. A história registra que Isaac Newton apresentou períodos de insanidade durante sua vida. Especula-se se aqueles sintomas poderiam ter sido devido à intoxicação por mercúrio, uma vez que ele trabalhou com este metal durante largo espaço de tempo. A análise de seu cabelo revelou 197ppm, quando o aceitável é até 10ppm (o cabelo é um bom indicador de exposição ao mercúrio). O mercúrio é um metal tóxico para seres humanos e animais (especialmente para o SNC). O nível de mercúrio no cabelo é um bom indicador dos estoques corporais e a confirmação pode ser feita em pelos
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pubianos ou, se a exposição é recente, na urina. No preparo de flores artificiais entram sais de mercúrio, além de arsênico, chumbo e cromo hexavalente. O DMSA (abreviação do ácido 2-3 dimercaptosuccínico), é a droga aprovada pelo FDA para o tratamento oral da intoxicação por chumbo ou mercúrio. É capaz de transpor a barreira hemato-encefálica e remover metais pesados (chumbo e mercúrio) do cérebro e de outros tecidos. O tratamento é realizado com vinte e cinco cápsulas (500mg cada) dadas da seguinte forma: uma cápsula vo uma vez ao dia, 3 dias por semana, durante 2 meses São fontes de exposição ao mercúrio: os solos, a água e os alimentos contaminados (especialmente grãos e peixes), fungicidas (1000.000 de t/ano), pesticidas, sementes, amálgamas dentários (85% dos americanos possuem amálgama dentário, consumindo 120t/ano), detergentes, cosméticos (como conservante), alguns medicamentos (diuréticos mercuriais, antihemorroidais antigos, mercúrio cromo e mertiolate), preservativos para madeira, lustra-móveis, ceras para pisos, produtos antimofo, produtos para curtir o couro, produção de cloro (500t/ano), queima de carvão (0,3 partes de Hg/milhão), lava de vulcões (10000 t/ano), solventes, plásticos, tintas de espelhos, galvanização, tintas para tatuagens e tintas para impressoras. Anualmente são lançadas 10000 toneladas/ano de mercúrio no ambiente. Estima-se que 100 milhões de toneladas de mercúrio estejam depositadas no fundo dos oceanos. A toxicodinâmica do mercúrio pode cursar com um ou mais dos seguintes sinais/sintomas: tremor, irritabilidade, hiperatividade, gosto metálico, salivação, estomatite, perda do apetite, colite, dano renal progressivo, hipertensão, neuropatia periférica, alterações comportamentais e mentais, diminuição do
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campo visual, quebra de cromossomas e aumento das anormalidades fetais. A sensibilidade ao mercúrio varia de indivíduo para indivíduo, começando os sintomas a partir de concentrações iguais a 3-5 ppm. Após uma restauração com amálgama, um nível elevado de mercúrio pode ser observado no mineralograma, pelo período de um ano. A forma mais tóxica é o metilmercúrio derramado pelas indústrias nos cursos de água (100 vezes mais tóxico do que a forma inorgânica). Os vapores de mercúrio são capazes de depositar 80% do metal no organismo; o mercúrio inorgânico absorvido deposita-se num percentual de 50%. No homem, o mercúrio orgânico absorvido se liga aos grupamentos sulfidrila das proteínas. Sofrendo ação do suco gástrico, libera o metil-mercúrio, que se localizará nos lipídios, no SNC (sistema nervoso central) e SNP (sistema nervoso periférico), produzindo sinais e sintomas neurológicos, como ataxia, disartria e parestesias. Os compostos orgânicos de mercúrio depositam-se, preferencialmente, no fígado e no cérebro; o mercúrio inorgânico acumula-se no rim. A maior toxicidade do mercúrio orgânico se deve a sua maior absorção e menor excreção. Os envenenamentos criminosos com mercúrio não são frequentes, devido ao seu sabor fortemente metálico e desagradável. Por ser facilmente volatilizado (à 38ºC), altas concentrações de mercúrio podem ser encontradas em ambientes de trabalho que o contenham. Níveis altos de mercúrio são tratados com mercúrio CH7, CH12 ou CH30 (10 gotas vo 2 vezes ao dia), vitamina C, selênio, metionina, taurina, psilium e pectina.
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Níquel (Ni) Em 1751, o sueco Axel Frederick Cronstedt examinou o kupfernickel (palavra alemã que significa falso cobre), conseguindo isolar dele um metal branco, que não era nem cobre e nem cobalto. O níquel forma uma grande quantidade de compostos e complexos. São comuns e estáveis. Industrialmente, são usados na niquelagem (sulfato de níquel), na indústria têxtil (acetato de níquel), aditivo de motores e lubrificantes (naftenato), indústria da borracha sintética, pigmento em produtos de beleza e na indústria de corantes. O níquel é muito sensibilizante e os quadros tipo dermatite são muito frequentes; 10% dos eczemas de contato estão relacionados ao amplo emprego do níquel em moedas, chaves, cosméticos, bijuterias, etc. A presença de níquel na água potável (0,6mg por litro) pode desencadear reações alérgicas na pele de pessoas sensíveis. A ação cancerígena do níquel está associada às formas óxido e sulfeto, e ocorre devido a sua permanência crônica nos tecidos e ao aumento da produção de RLs, que levam à lesão do DNA. A ação irritante dos sais de níquel produz vômitos intensos, quando a ingestão se dá em doses elevadas. O cabelo é um bom indicador dos estoques do corpo, enquanto que os níveis no sangue e na urina podem variar extremamente em questão de horas, refletindo a ingestão alimentar e um processo de excreção rápida. Quando o nível de níquel no cabelo estiver acima de 0,6ppm, o uso de tinturas para cabelo deve ser investigado. Níveis elevados de níquel no mineralograma (que podem ser confirmados pelo exame de urina) estão associados com
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dermatites, câncer, ataque cardíaco, hipotireoidismo, psoríase, rinite crônica e eczemas; pode haver quadro alérgico concomitante. O níquel é determinado com precisão no mineralograma e existe estreita correlação com os níveis sistêmicos. Nos alimentos, está presente como elemento-traço (no trigo sarraceno, na aveia, nos legumes e no repolho). O níquel é absorvido mais facilmente pelos pulmões do que pelo trato gastrointestinal. São fontes de intoxicação por níquel: a mineração, a atividade industrial, a indústria eletrônica, fundição, ligas metálicas, enlatamento de alimentos, fotocopiadoras, tintas, tinturas para cabelo, cerâmicas, borrachas, moagem de cereais e grãos.
Platina (Pt) A platina é um elemento não essencial de baixa toxicidade. Foi descoberta pelo espanhol Antonio de Ulloa em 1735. O termo é um diminutivo do espanhol plata que significa pequena prata. Encontra-se no cabelo, porém ainda não se conhece sua correlação com os tecidos. A contaminação é eminentemente industrial, podendo ser absorvida pelos pulmões e, em menor grau, pelo intestino. Sintomas de contaminação por platina incluem dermatite, irritação das mucosas, problemas pulmonares, reações alérgicas, nefrose e baixa imunidade. O exame de confirmação é feito nos pelos pubianos ou na urina (exposição recente).
Rubídio (Rb) O rubídio foi descoberto em 1861 por Robert Bunsen e
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Gustav Kirchhoff, e seu nome significa vermelho escuro, cor que dá ao fogo. É um elemento quimicamente semelhante ao potássio (inibe a atividade do potássio em certas enzimas e potencializa em outras). É utilizado na fabricação de células fotoelétricas e vidros. Tem baixa toxicidade e os níveis presentes no cabelo estão correlacionados com os níveis corporais. Baixos níveis de rubídio têm sido observados em pessoas deprimidas e em pacientes com câncer; níveis elevados podem interferir com a absorção de iodo pela tireoide, além de causar mudanças de comportamento em certos indivíduos. Alguns sais de rubídio podem gerar quadros de sensibilização (em animais foram relatados casos de alucinação auditiva pela intoxicação aguda com este metal).
Tálio (Th) Em 1861, o físico inglês William Crooks descobriu uma amostra de minério que, quando aquecido, apresentava uma linha verde brilhante, deu-lhe então o nome de tálio que singnifica ¨ramo verde¨. É muito utilizado em formulações raticidas. Desde 1972, sua utilização nessas formulações está proibida, devido a vários acidentes fatais. O tálio é um importante tóxico, tanto no campo ocupacional, como para a população em geral, embora a produção mundial seja pequena (5 ton/ano). Seus sais são solúveis em água e geralmente não possuem sabor ou odor característico, o que facilita a intoxicação. Acumula-se no corpo da mesma maneira que o chumbo e o mercúrio; é antagonizado por compostos contendo selênio e enxofre e seu nível corporal pode ser medido no cabelo, mas não no sangue. Fontes comuns de tálio incluem frutos do mar (concentram tálio até 700 vezes), cigarro, água, indústria de componentes eletrônicos, fuligem e alguns fertilizantes.
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O tálio é absorvido de maneira rápida e completa, quando ingerido. Se inalado, ou em contato com a pele, o período de latência até o aparecimento dos sinais é muito grande. Sinais de toxicidade incluem a alopecia universal (2 ou 3 semanas após a exposição), distúrbios neurológicos, insônia, problemas cardíacos, distúrbios visuais, lesões cutâneas, intestinais e renais, alterações hepáticas funcionais e lesão hepática. Os sais de tálio atravessam com facilidade a barreira placentária, atuando como abortivos. Não existe antídoto, nem tampouco tratamento específico para o tálio. A terapia com quelantes está formalmente contraindicada, pois pode piorar a evolução clínica do intoxicado. Antigamente, era utilizado nas ceras depilatórias. Atualmente, sua utilização mais importante é como rodenticida, o que tem ocasionado numerosas intoxicações, especialmente entre crianças e animais. Os combustíveis fósseis, em especial o carvão, podem conter quantidades apreciáveis de tálio, o que acarreta na atmosfera e nos lençóis freáticos elevados níveis, ao redor das centrais termoelétricas que utilizam o carvão como fonte combustível.
Titânio (Ti) Descoberto em 1791 pelo inglês William Justin Gregor, seu nome é uma homenagem aos titãs, heróis da mitologia grega. O titânio é um elemento metálico abundante (o nono mais abundante na crosta terrestre), com propriedades químicas semelhantes ao zircônio e ao vanádio. Encontra-se em pequenas concentrações nos produtos vegetais e, em concentrações mais elevadas, nos minerais (especialmente nos minerais de ferro) e
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nas cinzas de carvão mineral. O titânio é considerado um mineral de baixa toxicidade e é absorvido pelo trato gastrointestinal. Níveis elevados de titânio no cabelo podem ser resultado de uma exposição industrial. É utilizado em ligas metálicas e em solda elétrica, sob a forma de dióxido de titânio. Um pigmento à base de dióxido de titânio está presente nas tintas, branqueadores para sapatos, plásticos, aditivos para papel, cerâmicas, pomadas médicas e filtros solares com elevados fatores de proteção (FPS-22, FPS-30 e FPS-60). Um nível alto no cabelo pode ocorrer por uma contaminação externa, devido a tinturas. O dióxido de titânio é praticamente inerte e as formas carbonadas, hidrogenadas, ou cloradas do titânio podem ser tóxicas e provocar fibrose nos tecidos.
Tório (To) Descoberto em 1828 pelo químico sueco Jöns Jacobus Berzelius, seu nome é uma homenagem a Thor, deus da guerra na Escandinávia. O tório é um elemento não essencial obtido da monazita, mineral que contém de 3 a 9% de óxido de tório. Possui vários isótopos, todos eles radioativos. O tório 232 tem uma meia vida de milhões de anos. O óxido de tório tem o ponto de fusão mais alto de todos os óxidos, sendo, por isso, usado na confecção de camisas para lampiões à gás. Embora não seja bem absorvido por via oral, o é quando aspirado. Os efeitos da exposição podem aparecer anos, ou até mesmo décadas , após. Os elementos tório e urânio foram colocados no mineralograma para a monitoração dos níveis de radioatividade presentes na atmosfera, uma vez que, na década de 70, inúmeros artefatos nucleares, com fins militares, estavam sendo detonados, liberando na atmosfera imensa quantidade de
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material radioativo. A ideia era observar o acúmulo da radioatividade absorvida pelas populações dos diferentes países. Felizmente, na década de 80 esses testes foram banidos e, em breve, a dosagem desses elementos não se fará mais necessária.
Tungstênio (W) Em 1783, na suécia, o mineralogista espanhol Don Fausto D´Eluyar, examinando um mineral chamado volfromita, obtido de uma mina de estanho, denominou-o de volfrâmio, o metal dela obtido. Tungstênio significa “pedra pesada na língua”.. O tungstênio é um metal quimicamente semelhante ao molibdênio e ao cromo. O nível no cabelo não está correlacionado quantitativamente com a exposição ao metal. É utilizado em filamentos, componentes eletrônicos, ligas metálicas, pigmentos, lubrificantes (bissulfato de tungstênio) e na curtição de couros. Acredita-se que a toxicidade do tungstênio envolva uma interferência com as funções biológicas normais do molibdênio e do cromo. Sinais/sintomas de excesso incluem cefaleia, anorexia, cólicas, tremores e asma. O tungstênio inalado pode desencadear tosse e dispneia.
Urânio (U) Em 1789, Martin Heinrich Klaproth trabalhando com um pesado minério preto chamado uranita, obteve um composto amarelo que continha um elemento até então desconhecido. Seu nome é uma homenagem ao planeta Urano, descoberto poucos anos antes. O urânio é um elemento estável e relativamente abundante. Sua toxicologia não é bem conhecida. Dos 3
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isótopos, o U-238 é o único considerado no exame do cabelo e representa mais de 99% do urânio encontrado em estado natural. O cabelo é um bom indicador da exposição a este elemento. A maioria das formas de urânio não é bem absorvida pelo corpo. O urânio aspirado é facilmente absorvido pelo tecido alveolar e forma vários complexos com proteínas, substituindo o cálcio e terminando por se depositar nos ossos. O urânio é utilizado na fabricação de vidros, cerâmicas e certos compostos químicos. Em algumas regiões, a água potável é uma fonte considerável de U-238.
Capítulo 8 – DOSAGENS DE NUTRIENTES “Nunca andes pelo caminho já traçado, pois ele conduz somente aonde outros já foram.” A.Graham Bell
8.1 Mineralograma (Exame do Cabelo) A primeira análise de cabelo (mineralograma) foi realizada em 1858, por Hoppe. Nela, Hoppe determinou os níveis de arsênico no cabelo de cadáveres exumados dez anos após seu sepultamento. Em 1945, Flesch propôs nova técnica de determinação dos elementos-traço presentes no corpo humano, através do exame do cabelo. Em 1954, Goldblum pesquisou níveis de anfetamina nos pelos de cobaias. Na década de 60, o mineralograma foi, graças ao desenvolvimento de novas e avançadas técnicas de pesquisa, redescoberto por pesquisadores. Em 1979 Baumgartener determinou a concentração de opiaceos em fios de cabelo. A análise do cabelo é utilizada, frequentemente, em vários países, tendo as mais diversas aplicações: clínicas, ambientais, ocupacionais, forenses, jurídicas, epidemiológicas, antropológicas e estudos históricos. Na Alemanha e Itália é utilizado para pesquisa de exposição de condutores de veículos automotores ao consumo de drogas. Na França é utilizado como controle de doping no esporte, especialmente no ciclismo (sua introdução ocorreu no ano de 1998). O laboratório Doctor’s Data (Chicago-EUA) foi o primeiro a colocar o mineralograma na rotina médica (1969). Desde esta época, atua em conjunto com Universidades e Institutos de Pesquisa, utilizando o mineralograma como
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instrumento de trabalho. Juntamente com o Argonne National Labs, pesquisa o comportamento individual; com a UCLA, pesquisa distúrbios de conduta; com a Jefferson University, analisa o cérebro e outros tecidos; com a Marinha Americana, pesquisa tóxicos e avalia a performance individual; com a Universidade da Califórnia, acompanha os transplantes renais; com a Universidade da Flórida, tenta relacionar perfis de violência com os mineralogramas. Trabalha, ainda, em conjunto com as Universidades da Geórgia, Illinois, Massachusetts, Texas, Wisconsin e Wyoming. Desde 1980, a Environmental Protection Agency (EUA) recomenda o cabelo como o tecido de eleição para a determinação de metais tóxicos em humanos. A determinação de elementos - traço é mais fidedigna se realizada em amostras de tecido (cabelo, pele ou unha), sendo mais facilmente realizada no cabelo. Os níveis dos minerais presentes são 10 a 15 vezes maiores do que os níveis sanguíneos. O couro cabeludo humano possui, em média, de 80.000 a 150.000 fios, sendo que 10.000 estão em repouso e 100 fios caem por dia. O cabelo é composto por água (4 a 13%), proteínas (85 a 93%), lipídios (2,5 %) e resíduos (0,21 a 0,80%). Os macroelementos do cabelo são: carbono (46%), nitrogênio (16%), enxofre (4%), oxigênio (28%) e cálcio (0,3%); outros minerais apresentam-se como microelementos ou elementostraço. O cabelo cresce à razão de 0,25 mm por dia. As pessoas ruivas possuem maior número de fios do que as morenas, sendo que a cor é determinada por grânulos de pigmentos que se acumulam em sua capa exterior. Um fio de cabelo pode durar de 8 meses a 5 anos. São fatores que interferem na saúde do cabelo: raça, sexo, idade, tinturas, estado nutricional (a má nutrição altera o diâmetro do pêlo, a velocidade do crescimento, a resistência e a composição química), etc.
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O cabelo ideal para a realização do mineralograma é o do couro cabeludo; na falta deste, determinações podem ser realizadas em pelos axilares ou pubianos. Neste caso, obrigatoriamente deve ser mencionada a fonte, pois a interpretação é diferente. O cabelo da cabeça revela a situação atual do indivíduo (últimos dois meses), ao passo que os pelos axilares e pubianos refletem períodos mais prolongados, por não estarem em constante crescimento e renovação. A coleta é feita com tesoura de aço inoxidável, tendo o cuidado de cortar o cabelo rente ao couro cabeludo. São utilizados apenas os dois centímetros proximais, sendo o restante desprezado, pois interessa avaliar apenas o perfil mineral dos últimos dois meses do paciente. A amostra (com 250mg) é colhida de vários locais da região occiptal, por ser esta a mais irrigada, portanto em maior contato com os elementos trazidos pela corrente circulatória. A amostra a ser encaminhada para determinação não pode haver recebido tintura e/ou permanente nos últimos 3 meses, uma vez que estes procedimentos interferem diretamente com alguns elementos do mineralograma. Xampus anticaspa também não devem ser usados até 7 dias antes da coleta do material, pela possível interferência com dosagens de selênio e/ou de zinco. É indicado lavar o cabelo com um xampu neutro durante uma semana antes da realização do exame. A amostra ideal de cabelo deve pesar pelo menos 250mg. Quantidades menores apresentam resultados menos fidedignos, porque sofrem a aplicação de um fator para “corrigir” a amostra; assim, pequenos “desvios” podem ser distorcidos, tornando o exame impreciso. Um bom mineralograma examina, pelo menos, 20 elementos. Existem 6 grandes laboratórios internacionais realizando este exame, que utilizam a técnica denominada
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“espectrofotometria de absorção atômica”. Os mais conhecidos são os laboratórios Doctor’s Data (Chicago), Trace Minerals (Bolder), Trace Elements (Dallas), Omega Tech (Cleveland) e Great Smokies Diagnostic (Asheville). As concentrações dos elementos no cabelo são cerca de 10 vezes maiores do que no sangue ou na urina (alguns chegam a 50 vezes, como o cromo, por exemplo). Os laboratórios de análises clínicas tradicionais estão aptos a quantificar macrominerais (cálcio, magnésio, potássio, sódio, fósforo, enxofre), mas não possuem instrumental para a determinação de elementos-traço no sangue, o que requer uma técnica mais sensível e apurada (como a espectrofotometria por absorção atômica, capaz de detectar elementos na proporção de 1:1 bilhão). Para a detecção de minerais tóxicos, o cabelo é mais indicado do que o sangue ou a urina. Os quadros de referência dos mineralogramas baseiam-se em estudos sobre uma população de indivíduos saudáveis, de ambos os sexos, respeitada a faixa etária. Com os níveis e proporções de minerais obtidos nesses grupos, uma curva de Gauss foi traçada e os desvios padrão foram computados. No quadro de referência, um desvio padrão acima/abaixo da média equivale a 68% da população. Dois desvios padrão acima ou abaixo da média, contém 95% desta população. Mais que dois desvios padrão indicam o nível (acima e abaixo) em que se acha aproximadamente 5% (ou menos), da população saudável selecionada. Ao interpretar um relatório de análise do cabelo, há de se ficar atento aos elementos cálcio, magnésio e zinco. Valores baixos indicam uma carência; valores “normais” podem não corresponder à realidade e altos níveis, via de regra, refletem seu deslocamento dos sítios fisiológicos (má distribuição), devido ao déficit corporal total.
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O cabelo, sendo um tecido excretor, contém uma variedade de minerais provenientes de outros tecidos. Os níveis dos diferentes minerais nele depositados refletem o excesso, a deficiência ou a má distribuição destes elementos no organismo e sua implicação nos processos biológicos dos quais participam. O exame do cabelo é um importante teste auxiliar no diagnóstico da gênese de diversas patologias e em seu acompanhamento clínico. O cabelo reflete as reservas minerais do corpo, acusando precocemente os desequilíbrios a nível intracelular, bem como o acúmulo de elementos tóxicos nos tecidos. Algumas particularidades devem ser previamente conhecidas. Sabe-se, por exemplo, que o cabelo ruivo apresenta maiores teores de ferro, enquanto que o cabelo grisalho é pobre em minerais, especialmente em cálcio (os níveis normais de cálcio neste tipo de cabelo ainda não estão bem estabelecidos). A correlação entre os níveis anormais no mineralograma e as enfermidades depende de muitos fatores. Excessos ou deficiências podem ser subclínicos, devido a uma compensação metabólica. Certas patologias também podem estar presentes sem que resultados anormais sejam detectados no exame do cabelo. Os níveis de alguns minerais (selênio, zinco, enxofre e cobre) podem ser influenciados por fontes externas como xampus, algicidas usados em piscinas e produtos cosméticos. O primeiro estágio dos mecanismos patogenéticos de doenças carenciais é a ingesta insuficiente de oligoelementos; a segunda etapa é a compensação metabólica, que ocorre com o estabelecimento dos sistemas alternativos; a terceira, é a descompensação dos sistemas metabólicos, e a quarta é a fase das modificações bioquímicas e funcionais, que se caracteriza pelo surgimento de sinais e sintomas. O excesso de minerais tóxicos, além do desvio-padrão, contribui para o desequilíbrio dos minerais nutrientes. Um mineral altamente tóxico ou uma combinação de minerais
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tóxicos será tipicamente acompanhado por um baixo índice de cálcio, magnésio e zinco no cabelo, e um índice elevado de sódio, potássio e boro. O pêlo pubiano é ideal para confirmar ou descartar a intoxicação crônica por metais pesados, pois elimina a possibilidade de contaminação externa. Os níveis urinários são aferições dos elementos circulantes excretados por um determinado período de tempo, sendo um exame útil nas intoxicações agudas por elementos tóxicos; ainda, para detectar a excreção aumentada de minerais nutrientes. A deficiência de HCl prejudica a digestão de proteínas, possibilitando a formação de peptídeos antigênicos, causadores de alergias alimentares. As enzimas digestivas (lipase, protease, amilase) não são secretadas em níveis fisiológicos, quando o pH do conteúdo gástrico se encontra elevado; a consequência final é uma queda na absorção de nutrientes. O pH adequado, as enzimas digestivas, os sais biliares e o equilíbrio da flora intestinal são fatores que concorrem para uma boa digestão e absorção dos alimentos. Níveis baixos de cobre, zinco, manganês, ferro e cromo estão associados à produção insuficiente de HCl, uma vez que a absorção desses minerais é muito sensível às variações do pH. O HCl é especialmente necessário para a absorção de cálcio, zinco e para a ação das enzimas digestivas, incluindo a própria anidrase carbônica, enzima zinco-dependente, responsável pela produção do HCl (entre outras funções). Torna-se necessário, então, repor o HCl. A reposição deve ser feita de forma lenta e gradual, para evitar o surgimento dos sintomas de hiperacidez. A lipase, a amilase pancreática e as proteases são deficientemente secretadas quando o pH do suco gástrico está elevado e isso reduz a absorção de gorduras, proteínas, minerais e vitaminas. Enzimas pancreáticas, pH adequado e uma flora intestinal equilibrada, são elementos essenciais para que se dê uma boa absorção dos nutrientes.
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Bioquímica e imunologicamente, o corpo humano leva até 6 meses para recuperar-se de um stress e da síndrome de má absorção, que provavelmente ocorrerá durante essa fase (demonstrável pelo mineralograma). A análise dos minerais permite a elaboração de hipóteses diagnósticas. Os resultados, porém, devem ser relacionados à clínica e a outros exames complementares. Preparados para o cabelo, como tinturas, permanentes e descolorantes, são a causa mais comum da elevação de certos elementos no mineralograma, como por exemplo o níquel, cálcio, magnésio, cobalto, iodo, cobre, cromo, prata, estrôncio, cádmio, chumbo e titânio. O número de elementos contaminantes presentes e a intensidade dos desvios dependem da composição de cada produto. Personalidade violenta pode ser evidenciada no mineralograma pelo aumento de magnésio, cálcio, sódio e potássio, combinado com a diminuição dos teores de cobalto e lítio. É comum a presença concomitante de um ou mais metais pesados. O manganês pode apresentar-se diminuído ou elevado. Drogas, stress e álcool podem favorecer a expressão da personalidade violenta. Cabelos grisalhos possuem menor teor de minerais (especialmente cálcio); habitualmente, porém, encontram-se cabelos de coloração normal na região occiptal, de onde é colhida a amostra para o mineralograma. Em janeiro de 1985, a Corte Federal de Justiça do Estado da Virgínia (EUA) reconheceu a análise capilar como método científico fidedigno para a determinação de minerais tóxicos, em processos judiciais. Hoje, o Departamento de Justiça dos EUA tem o mineralograma como um dos métodos oficiais para a determinação e a dosificação de drogas, como maconha, cocaína e heroína.
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Os distúrbios de aprendizado, frequentemente, envolvem déficit dos oligoelementos: manganês, cromo, cobalto e lítio, e excesso dos metais tóxicos chumbo, cádmio, mercúrio e alumínio. O laboratório Doctor’s Data coloca à disposição da comunidade científica brasileira um serviço de informações técnicas sobre a análise do cabelo e sua interpretação. Este serviço está disponível, diariamente, através da “hot-line” 001-630-323-2784 ou por correspondência para o endereço: P.O Box 111, 30 W 101 Roosevelt Rd, West Chicago, IL, 60.185, USA. Várias podem ser as causas da má-absorção, que se caracteriza no mineralograma pelo déficit de 5 ou mais elementos (acima de 2 desvios-padrão). A má absorção pode estar relacionada à digestão inadequada (p.e., nas deficiências enzimáticas ou de sais biliares, na hipocloridria e no stress) ou à absorção inadequada (como ocorre nas doenças crônicas intestinais, nas alterações específicas das células da mucosa intestinal, nas infecções, infestações, etc). A absorção excessiva de alguns elementos, como o cálcio na hipervitaminose D, ou o ferro na hemocromatose, ocorre na chamada “má absorção hiperabsortiva”, e é evidenciada no mineralograma. Alterações na permeabilidade seletiva intestinal permitem a absorção indiscriminada de substâncias presentes no conteúdo intraluminal (como minerais tóxicos, p.e.). Durante o stress, a liberação maciça de adrenalina leva à produção excessiva de RLs (uma molécula de adrenalina gera dois RLs), que provocam alterações na permeabilidade intestinal. O uso crônico de antagonistas H2 (cimetidina, ranitidina) resulta na carência de zinco e vitamina B6, devido à hipocloridria. Deficiência de vitamina B12 também costuma acompanhar o quadro. A administração diária de Betaína HCl 500mg, lactobacilos 100mg, zinco 10mg, vitamina B6 50mg e
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vitamina B12 1000mcg, durante 90 dias, produz sensível melhora nos quadros de má absorção que cursam com hipocloridria. O uso indiscriminado de antibióticos e as alergias alimentares também alteram a permeabilidade seletiva. Em 82% dos pacientes com alergias alimentares ocorre esta alteração; na doença de Crohn, em 100% dos pacientes; na colite ulcerativa, em 45%. No mineralograma, essa patologia é observada pela elevada absorção de elementos tóxicos e de outros minerais. A absorção de vitaminas e minerais é alterada pela disbiose intestinal (desequilíbrio entre a flora normal e a patogênica). O intestino humano abriga 50 bilhões de bactérias; 1% delas, patogênicas. A disbiose pode ser desencadeada pelo stress, giardíase, alcoolismo, quimioterapia, baixa de imunidade, envelhecimento, corticoides e radiação. As bactérias saprófitas produzem antibióticos naturais, além de ter funções digestivas e imunológicas (aumentam a resistência às infecções); ainda, concorrem para a manutenção do pH intestinal, regulação da motilidade intestinal, produção de energia, absorção de vitaminas e produção de enzimas. As proporções entre minerais avalia a inter-relação fisiológica existente entre importantes minerais presentes no organismo. O balanço mineral é tão importante quanto seus níveis individuais, e as “ratios” refletem a relação que deve ser mantida constantemente entre eles. Algumas rátios mostram a inter-relação entre importantes elementos minerais e metais tóxicos específicos; o desequilíbrio entre um mineral tóxico e um nutriente pode indicar a interferência daquele na fisiologia deste (absorção diminuída e/ou consumo metabólico aumentado). Disfunções metabólicas não ocorrem, necessariamente, como resultado de um excesso ou deficiência de um mineral; frequentemente, decorrem de um balanço anormal entre os minerais. As anormalidades observadas (entre dois minerais ou entre um mineral e um metal tóxico) são muito importantes; as causas do desbalanceamento devem ser
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investigadas e o equilíbrio bioquímico restabelecido. Cada pessoa se expõe a metais tóxicos em intensidade variável e a retenção destes depende da suscetibilidade individual. O equilibro entre nutrientes e tóxicos pode ser um fator determinante na proteção do organismo (por exemplo, níveis fisiológicos de cálcio e ferro diminuem o risco de acumulação de chumbo). O custo de uma análise do cabelo (mineralograma) é cerca de setenta dólares, nos laboratórios especializados. Outros laboratórios de referência que também realizam o mineralograma são listados abaixo: European Laboratory of Nutrients Dosagem de vitaminas e nutrientes Kanaalweg 17 G.3526 KL Utrecht. Holanda Omegatech Inc Mineralograma 241700 Center Ridge Road suite 113 Cleveland . Ohio. 44145 USA Trace Elements Inc (Mineralograma) 4901 Keller Springs 106-c Dallas.Texas. 75248 USA
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Mineralograma do Laboratório Doctor’ s Data (EUA)
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8.2 Vitaminograma A analise dos níveis corporais do conjunto de vitaminas pode ser realizada a partir de uma amostra de sangue, através do exame chamado vitaminograma, cujo custo oscila próximo aos setenta dólares e pode ser solicitado junto aos laboratórios especializados. Existem, em nível mundial, vários laboratórios realizando a dosagem de vitaminas através do vitaminograma. Um dos laboratórios de referência é o laboratório Vitamin Diagnostics Inc., localizado na cidade de Nova Jersey (EUA). As vitaminas e nutrientes dosados pelo vitaminograma são: vitamina A, Betacaroteno, vitamina B1, vitamina B2, vitamina B3, vitamina B5, vitamina B6, biotina, ácido fólico, vit B12, vitamina C, vitamina D, vitamina E, inositol, colina, carnitina, ácido lipoico. Outros laboratórios de referência que também realizam o vitaminograma são listados abaixo: European Laboratory of Nutrients Dosagem de vitaminas e nutrientes Kanaalweg 17 G.3526 KL Utrecht. Holanda Great Smokies Diagnostic Laboratory (Mineralograma e vitaminograma) 63 Zillicosa st. Ascheville.NC.28801-1074 Vitamin Diagnostic Inc (Vitaminograma) Route 35 Industrial Drive Cliffwood Beach. New Jersey.07735 USA
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Vitaminograma do Laboratório Vitamin Diagnostics, Inc. (EUA)
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8.3 Aminoacidograma O aminoacidograma é um moderno exame de análise do conteúdo de aminoácidos circulantes na corrente sanguínea, através do sistema HPLC (de alta resolução e precisão de dosagens). A amostra coletada permite a identificação e mensuração de 44 aminoácidos essenciais, não essenciais, ou envolvidos em importantes rotas metabólicas de nosso organismo. A suplementação dos aminoácidos em falta corrige as carências observadas no exame. Em caso de excesso de algum aminoácido, a correção pode se dar pela supressão do aminoácido em questão, via fonte alimentar, ou pela utilização de outro aminoácido antagonista, competindo pelo mesmo sítio de absorção. Vários laboratórios, em diversos países, realizam a dosagem de aminoácidos pelo aminoacidograma. Um laboratório de referência é o laboratório americano Doctors Data, localizado na cidade de Chicago. Para a realização do aminoacidograma, a partir da urina de 24 horas, a dieta alimentar deve ser mantida sem alterações. Suplementos nutricionais devem ser interrompidos desde 4 dias antes da coleta. Devido à possibilidade de interferência das medicações na análise, medicamentos não essenciais devem ser interrompidos quarenta e oito horas antes do início da coleta. Se foi utilizada medicação essencial, o paciente deve indicar o nome da medicação e quais as quantidades dosagens. Adoçantes artificiais à base de aspartame devem ser evitados nas 48 horas que antecedem o exame, pois podem elevar os níveis de ácido aspártico e de fenilalanina. O custo médio de um aminoacidograma é de cerca de
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setenta dólares. Outros laboratórios de referência que também realizam o aminoacidograma são listados abaixo: European Laboratory of Nutrients Dosagem de vitaminas e nutrientes Kanaalweg 17 G.3526 KL Utrecht. Holanda Laboratory Doctor’s Data (Mineralograma e aminoacidograma) P.O Box 111 170 West Roosevelt Road West Chicago - IL - 60185 – USA
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Aminoacidograma do Laboratório Doctor’s Data (EUA)
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8.4 Dosagens de nutrientes no sangue, hemácias e urina de 24 horas No passado os laboratórios de análise ofereciam ao público pequeno número de dosagens (em torno de 70 exames). Hoje, estima-se em cerca de dois mil e quinhentos o número de exames realizados, oferecendo apoio ao raciocínio clínico e possibilitando a confirmação de diagnósticos. Além das clássicas avaliações dos níveis de minerais e metais tóxicos no cabelo, vitaminas no vitaminograma e aminoácidos no aminoacidograma, dosagens hormonais, de nutrientes, de enzimas e de neurotransmissores, podem ser realizadas laboratorialmente, no sangue total, nas hemácias ou na urina. As deficiências atuais de minerais (boro, cálcio, cobre, cromo, lítio, magnésio, potássio, selênio, vanádio e zinco), aminoácidos (essenciais e não essenciais), vitaminas (todas elas) e demais nutrientes são muito bem avaliadas através de pesquisa em amostras de sangue total ou nas hemáceas. A avaliação de metais tóxicos e a avaliação da quantidade e velocidade dos nutrientes eliminados durante o processo terapêutico é feita com amostra de urina de 24 horas. Já o equilíbrio crônico dos minerais e de metais tóxicos é melhor avaliado e quantificado através do mineralograma. Um laboratório de referência nas dosagens de nutrientes e radicais livres é o Laboratório Dr. Rouget Perez (Pelotas/RS), que oferece extensa relação de exames. A avaliação dos níveis de hormônios, enzimas, metabólitos, aminoácidos ou neurotransmissores é interessante e importante, pois quadros de carência ou excesso podem estar relacionados a patologias.
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Dosagens como AMP cíclico, alfa 1 anti-tripsina, amilase, anticorpos, antimitocôndrias, catecolaninas, adrenalina, noradrenalina, dopamina, serotonina, melatonina, níveis de radicais livres totais, níveis de antioxidantes totais, catalase, Gpx, SOD, homocisteína, ceruloplasmina, DHEA, ferritina, fosfolipídios, taurina, tirosina, citrulina, metionina, leucina, isoleucina, ou valina, fazem parte das rotinas dos bons laboratórios de referência. Informações sobre outras dosagens, condições de coleta, preço, tempo de jejum e outros detalhes podem ser obtidos junto aos laboratórios especializados.
Interpretação de Resultados dos Exames para Avaliação de Radicais Livres Resultados acima dos valores de referência indicam alta produção de Radicais Livres. A melhor maneira de avaliar o nível de agressão dos RLs num paciente é utilizando os seguintes exames: LDL peroxidada e Anti-LDL (Anticorpos Anti-LDL oxidada) no sangue, e MDA (Dialdeído malônico) na urina, em conjunto com a dosagem de antioxidantes totais do organismo. É importante comparar a quantidade produzida de RLs com a capacidade antioxidante do organismo. Fonte: Informativo Toxilab. Porto Alegre/RS, 2005
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Exames Laboratoriais para avaliação de Radicais Livres LDL Peroxidada
Anti-LDL (Anticorpos AntiLDL oxidada)
É a expressão de radicais livres no sangue. Partículas de É a expressão dos processos LDL são muito sensíveis à oxidativos in vivo oxidação por Radicais Livres, Há evidências de que os anticorpos Anti-LDL oxidada gerando LDL peroxidada. A peroxidação da LDL dentro são um espelho das reações da parede dos vasos pode ter oxidativas que estão ocorrendo uma série de efeitos deletérios in vivo. Elevados níveis de (lesão ateroesclerótica, anticorpos Anti-LDL oxidada estimulação da produção de foram detectados na corrente de pacientes citotoxinas). As consequências sanguínea de doença clínicas destes fatos são bem portadores conhecidas, como o infarte do coronariana; recentes estudos miocárdio e derrame cerebral. mostram a correlação entre anticorpos Anti-LDL oxidados e Material: Sangue (soro) Valor de referência: 0,33 a a progressão da ateroesclerose da carótida. 0,60nmol/mg de apoproteína Valor Desejável: inferior a Material: Sangue (soro) Valor de referência: 150 a 0,50nmol/mg de apoproteína 800nmol/ml Fonte: Informativo Toxilab. Porto Alegre/RS, 2005
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Exames Laboratoriais para avaliação de Radicais Livres MDA – dialdeído malônico
EXAME LABORATORIAL PARA DOSAGEM DE ANTIOXIDANTES
É a expressão de radicais livres na urina. O dialdeído malônico (MDA) é Dosagem de antioxidantes um produto da lipoperoxidação; totais a dosagem dos lipoperóxidos na Avalia a defesa antiurina é uma avaliação indireta Radicais Livres. da ação dos radicais livres. Mede todos os antioxidantes presentes no sangue. Material: Amostra de urina Valor de referência: inferior a Material: Sangue (soro) 10,0nmol/mg de creatinina Valores de Referência: 1,28 a Valor desejável: inferior a 1,83nmol/l Valor desejável: 1,60nmol/l 7,0nmol/mg de creatinina Fonte: Informativo Toxilab. Porto Alegre/RS, 2005
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332 REVISTAS CONSULTADAS American Journal of Clinical Nutrition 34 (1991): 1347-1355 American Journal of Clinical Nutrition 47 (1988): 879-883 American Journal of Clinical Nutrition – 57, 47-53 (1993) American Journal of Clinical Nutrition – 53, 2835-2865 (1991) American Journal of Clinical Nutrition – 61, 848-852 (1995) American Journal of Clinical Nutrition – 36(1996): 776-787 American Journal of Clinical Nutrition – 41(1985): 1177-1183 American Journal of Clinical Nutrition – 42 (4): 656-659 (1985) American Journal of Clinical Nutrition – 30: 630-631 (1977) American Journal of Clinical Nutrition-70(4):490-4 (1999) Annals of New York Academy of Science – 585, 295-301 (1990) Annals of New York Academy of Science – 738, 257-264 (1994) Annals of New York Academy of Sciences 774 (1995): 128-142 Annual Review of Nutrition – 10, 357-382 (1992) Annual Review of Nutrition – 08, 565-583 (1988) Axelrod - Universidade de Pittsburgh - Acta Pediátrica (1971) Biol. Trace Elements Research – 35, 3 (1992) British Journal of Dermatology (1984) Brithish Medical Journal – 2, 303-305 (1979) Current Therapy Research – 51S, S668-S6672 (1992) Free Radical Biol Med – 19, 227-250 (1995) Free Radical Research – 17, 211-217 (1992) International Journal of Vitamins and Nutrients Research -1996 JAMA – 269, 898-903 (1993) JAMA – 269, 1257-1261 (1993) Journal of American Dietetic Association – 75, 23-24 (1979) Journal of the American College of Nutrition- vol.19. no. 5:563-569. (2000). Journal of Applied Physiology 74 (1993): 965-969 Journal of Clinical Nutrition - E. Prienard e S. Gershoff - Universidade de Harvard – American (1967) Journal of Optimal Nutrition – 21, 36-53 (1993) Journal of Pineal Research 18 (1995): 1-11 Journal of The American College of Nutrition – 15 (1996): 520 Lancet – I, 657-658 (1983) Lancet – 1, 1245 (1985) Lancet – Absortion of Lead – July, 16 (1988) Lancet – September, 16 (1989) Lancet 345 (1995): 1408 Medicine Biological – 60, 45-48 (1982)
333 National Research Council – 376-379 (1989) New England Journal of Medicine – 309, 1 (1983) New England Journal of Medicine – 308, 23 (1983) New England Journal of Medicine – 313, 70-73 (1985) New England Journal of Medicine – 325, 1399-1405 (1991) New England Journal of Medicine – 328, 1444-1449 (1993) Nutritional Health – 1, 66-77 (1982) Nutrition Research 7 (1987): 139-149 Nutritional Reviews – 41, 197-201 (1983) Proceedings of National Academy of Science 91 (1994): 1824-1828 Proceedings of National Academy of Science 71 (1974): 1456 Revista de Nutrição: Lycopeno como agente antioxidante 17(2):227-236, abr.-jun. 2004. Science – 30: 249-531 (1987)
ANEXOS
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DOSAGENS TERAPÊUTICAS USUAIS PRINCÍPIO ATIVO Acetil-L-carnitina Ácido Fólico Ácido lipoico Betacaroteno Boro Cálcio glicina 5-OH-triptofano Cobalto quelado Cobre glicina Coenzima Q-10 Cromo GTF DHEA Ferro glicina Germânio Ginkgo biloba Lítio (orotato) Lycopeno Magnésio glicina Manganês glicina Molibidênio Omega-3 Omega-6 Potássio Pycnogenol Resveratrol Selênio Sílica Vanádio Vitamina C Vitamina E Zinco glicina
USUAL/24 horas 100 - 500mg 0,4 - 5mg 30 - 100mg 5.000 - 25.000U.I. 0,5 - 2mg 100 - 300mg 20 - 50mg 50 - 100mcg 0,5 - 3mg 5 - 50mg 50 - 200mcg 10 - 25mg 10 - 60mg 5 - 30mg 40 - 160mg 1mg/kg de peso 5 - 20mg 100 - 300mg 3 - 5mg 30 - 100mcg 500 - 1000mg 500 - 1000mg 99mg 20 - 50mg 5- 50mg 50 - 200mcg 50 - 300mg 30 - 100mcg 1 - 2g 100 - 400mg 5 - 10mg
MEGADOSE 3.000mg 10mg 300mg 50.000U.I. 5mg 500mg 200mg 200mcg 4mg 300mg 800mcg 100mg 80mg 50mg 320mg 600mg 50mg 500mg 10mg 500mcg 3.000mg 3.000mg 540mg 100mg 250mg 800mcg 500mg 200mcg 6g 1200mg 30mg
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Abreviaturas utilizadas AA – Ácido Araquidônico Aa – Aminoácido AAS – Ácido Acetilsalicílico ACTH – Hormônio Adrenocorticotrófico ADP – Adenosina Difosfato AG – Ácidos Graxos AGEs – Ácidos Graxos Essenciais AINE – Anti-Inflamatório Não Esteroidal ALA – Ácido Linolênico ALC – Acetil-L-Carnitina AMP cíclica – Adenosina Monofostato cíclica ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária ATP – Adenosina Trifosfato ATP – Trifosfato de Adenosina AVC – Acidente Vascular Cerebral BCAA – Aminoácidos de Cadeia Ramificada CAT – Catalase CCK-8 – Colecistocina-8 CCK-8-S – Colecistocina-8 Sulfatada DBPOC – Doença Broncopulmonar Obstrutiva Crônica DGLA – Ácido Di-Gamalinolêico DHA – Ácido Deicosahexapentanoico DHEA – Dehidroepiandrostrerona DIU – Dispositivo Intra Uterino DMG – Dimetilglicina DMNID – Diabetes Mellitus Não Insulino Dependente DMSA – Ácido 2-3-Dimercaptosuccínico
339 DMSO – Dimetilsulfóxido DMT – Dimetil Triptamina DNA – Ácido Desoxirribonucleico EDTA – Etilenodiaminotetracético EGB – Extrato Ginkgo Biloba EPA – Ácido Eicosapentanoico FDA – Food and Drug Administration FPS – Fator de Proteção Solar GABA – Ácido Gama Aminobutírico GH – Hormônio do Crescimento GLA – Ácido Gama Linoleico GSH – Glutation GSH-Px – Glutation Peroxidase GSSH – Forma oxidada de Glutation Peroxidase GTF – Fator de Tolerância à Glicose HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica HCl – Ácido Clorídrico HDL – High Density Lipoprotein HPLC – Cromotografia de Alta Performance IAM – Infarto Agudo do Miocárdio LA – Ácido Linoleico LDL – Low Density Lipoprotein MAO – Mono Amino Oxidase NAC – N-Acetil-Cisteína NGF – Nerve Growth Factor (fator de crescimento dos nervos) NPK – Fórmula de adubo (contém nitrogênio, fósforo e potássio) OMS – Organização Mundial da Saúde PAF – Fator de Agregação Plaquetária PET – Tomografia por Emissão de Pósitrons
340 PGE-1 – Prostaglandina E-1 PGE-2 – Prostaglandina E-2 PGE-3 – Prostaglandina E-3 PMD – Psicose Maníaco Depressiva PP – Preventiv Pelagra (Vitamina B3) ppb – Parte Por Bilhão ppm – Parte Por Milhão PTH – Hormônio Paratireoideo RDA – Recomended Diary Allowance REM – Fase do sono (Rapid Eye Moviment) RL – Radical Livre RNA – Ácido Ribonuclêico SNA – Sistema Nervoso Autônomo SNC – Sistema Nervoso Central SOD – Superóxido Dismutase TAB – Transtorno Afetivo Bipolar TPM – Tensão Pré-Menstrual TR – Time Release (Liberação Prolongada) UCLA – Universidade da Califórnia UV – Ultravioleta VO – Via Oral