O ente e a essência (De ente et essentia) [Bilíngue (latim-português) ed.]
 9786587135434

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SANTO TOMÁS DE AQUINO

O ENTE E A ESSÊNCIA EDIÇÃO BILÍN GÜ E LATIM—PORTUGUÊS

SANTO TOMÁS DE AQUINO

O ENTE E A ESSÊNCIA EDIÇÃO BILÍNG Ü E LATIM—PORTUGUÊS

Tradução de Eduardo Zaratini

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ECCLESIAE

O ente e a essência Santo Tomás de Aquino I a edição — janeiro de 2 0 2 2 —

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Imagem da capa: Vida de Santo Tomás de A quino (1678), de Pedro Ruiz González.

Editor: Verônica van Wijk Rezende Tradução, notas & apresentação: Eduardo Zaratini Revisão: Roger Campanhari Preparação de texto: Berenice Orviedo Diagramação & capa: Gabriela Haeitmann Leitura de provas: Paulo Bonafina e José Carlos Vicentini Conselho editorial: Adelice Godoy César Kyn dAvila Silvio Grimaldo de Camargo

FICHA CATALOGRÁFICA

Aquino, Santo Tomás de. O ente e a essência / Santo Tomás de Aquino; tradução de Eduardo Zaratini — Campinas, SP: Ecclesiae, 2022. Título original: De ente et essentia. isbn: 978-65-87135-43-4

1. Teologia. 2. Filosofia. I. Título. II. Autor. CDD - 2 3 0 / 1 0 0 ÍN D IC ES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO

1. Cristianismo — 230 2. Filosofia — 100

Os direitos desta edição pertencem ao CEDET — Centro de Desenvolvimento Profissional e Tecnológico Av. Comendador Aladino Selmi, 4630 — Condomínio GR2, módulo 8 CEP: 13069-096 — Vila San Martin, Campinas/SP Telefone: (19) 3249-0580 e-mail: [email protected]

Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica, mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer outro meio de reprodução, sem permissão expressa do editor.

SUMÁRIO

Apresentação...............................................................7 P r o ê m i o ...................................................................................... 11 C a p í t u l o i ............................................................................... 13 C a p í t u l o i i ..............................................................................21 C a p í t u l o i i i ............................................................................4 9 C a p ítu lo

iv

............................................................................. 6 3

C a p í t u l o v ............................................................................... 81 C a p ítu lo

v i ............................................................................. 9 3

Pr o em

uia parvus error in principio magnus est in fine, secundum philosophum in I caeli et mundi, ens autem et essentia sunt quae primo intellectu concipiuntur, ut dicit Avicenna in principio suae metaphysicae, ideo ne ex eorum ignorantia errare contingat, ad horum difficultatem aperiendam dicendum est quid nomine essentiae et entis significetur et quomodo in diversis inveniatur et quomodo se habeat ad intentiones lógicas, scilicet genus, speciem et differentiam.

Q

Quia vero ex compositis simplicium cognitionem accipere debemus et ex posterioribus in priora devenire, ut, a facilioribus incipientes, convenientior fiat disciplina, ideo ex significatione entis ad significationem essentiae procedendum est.

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Pro êm

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io

osto que “um pequeno erro no princípio torna-se grande no fim”, segundo afirma o Filósofo no Livro i do Sobre o céu e o mundo , e, por outro lado, ente e essência são as coisas que por primeiro são captadas pelo intelecto, como diz Avicena no princípio de sua Metafísica , para que não se venha a errar em decorrência da ignorância deles, há de se dizer, dissolvendo-lhes assim a dificuldade, o que é significado pelo nome “essência” e pelo nome “ente”, de que modo es­ tes nomes são entendidos ao designar realidades diversas e de que modo se relacionam com as noções lógicas, isto é, gênero, espécie e diferença. E porque devemos alcançar o conhecimento das coisas simples a partir das compostas e, partindo das últimas, chegar às primeiras, para que, começando assim das coisas mais fáceis, seja mais conveniente o que se há de aprender, passaremos, portanto, do significado de “ente” para o significado de “essência”.

P

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C aput

i

ciendum est ígitur quod, sicut in V metaphysicae philosophus dicit, ens per se dicitur dupliciter, uno modo quod dividitur per decem genera, alio modo quod significat propositionum veritatem. Horum autem differentia est quia secundo modo potest dici ens omne illud, de quo affirmativa propositio formari potest, etiam si illud in re nihil ponat. Per quem modum privationes et negationes entia dicuntur; dicimus enim quod affirmatio est opposita negationi et quod caecitas est in oculo. Sed primo modo non potest dici ens nisi quod aliquid in re ponit. Unde primo modo caecitas et huiusmodi non sunt entia.

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a p ít u l o

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H

á de se saber que, assim como o Filósofo diz no Livro v da M etafísica , “ente” por si pode ser usada de dois modos. De um modo, a palavra “ente” atribui-se ao que é classificado nas dez categorias.1 Do outro, “ente” é a verdade das proposições. A diferença destes dois modos é que, pelo segundo, pode dizer-se “ente” tudo aquilo a respeito de que se pode formar uma proposição afirmativa, ainda que aquilo nada ponha na realidade. Por este modo, as privações e as negações são entes, pois dizemos que a afir­ mação é oposta à negação e que a cegueira está no olho. Mas, pelo primeiro modo, não pode chamar-se “ente” senão aquilo que põe algo na realidade e, assim, a cegueira e coisas tais não são entes de acordo com o primeiro modo.

1 Das dez categorias, a primeira é a substância. “Ente” é mais propriamente o que se enquadra nas dez categorias, mas, delas, o que mais propriamente tem ser é a substância. Portanto, como se dirá mais à frente, “entes” são mais propriamente as substâncias.

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O ENTE E A ESSÊNCIA

Nomen igitur essentiae non sumitur ab ente secundo modo dicto, aliqua enim hoc modo dicuntur entia, quae essentiam non habent, ut patet in privationibus; sed sumitur essentia ab ente primo modo dicto. Unde Commentator in eodem loco dicit quod ens primo modo dictum est quod significai essentiam rei. Et quia, ut dictum est, ens hoc modo dictum dividitur per decem genera, oportet quod essentia significet aliquid commune omnibus naturis, per quas diversa entia in diversis generibus et speciebus collocantur, sicut humanitas est essentia hominis, et sic de aliis. Et quia illud, per quod res constituitur in proprio genere vel specie, est hoc quod significatur

Portanto, o nome “essência” não é tomado de “ente” dito do segundo modo2 porque, de acordo com ele, algumas coisas que não têm essência são chamadas de “entes”, como é pa­ tente nas privações; mas a palavra “essência” é tomada de “ente” dito do primeiro modo. Por isso, o Comentador diz, tratando do Livro v da M etafísica , que “ente” dito do primeiro modo é o que significa a essência da coisa. E porque, como foi dito, o ente, dito deste modo, é classificado nas dez categorias, é necessário que “essência” signifique algo comum a todas as naturezas pelas quais os diversos entes são colocados nos diversos gêneros e espécies, assim como a humanidade é a essência do homem e assim por diante. E porque aquilo por meio de que uma coisa é constituída em seu próprio gênero ou espécie

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2 Em latim, o verbo “ser” , no infinitivo, é esse. O particípio presente de esse é ens , significando “alguma coisa que é ”, “ algo que está sendo” assim com o definitio indicans significa “definição que indica, que está indicando”, pois indicans é particípio presente de indicare. Essentia tem dentro de si a palavra esse, evocando a noção de “ser” . Por isso, Santo Tomás diz que “essência” vem de “ente”: pela relação de am bos, em latim, com esse. O infinitivo é um modo verbal mais abstrato, as palavras “am ar”, “correr”, “andar” fazem-nos pensar menos em um fato e mais em o que é aquela ação de alguém amando, correndo ou andando. Assim, esse evoca a noção de o que é existir, ens evoca a noção de algo atualizando concretamente na realidade o esse, e essentia evoca a noção do esse que há particularmente naquele ens.

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O ENTE E A ESSÊNCIA

per diffinitionem indicantem quid est res, inde est quod nomen essentiae a philosophis in nomen quiditatis mutatur. Et hoc est quod philosophus frequenter nominat quod quid erat esse, id est hoc per quod aliquid habet esse quid. Dicitur etiam forma secundum quod per formam significatur certitudo uniuscuiusque rei, ut dicit Avicenna in II metaphysicae suae. Hoc etiam alio nomine natura dicitur accipiendo naturam secundum primum modum illorum quattuor, quos Boethius in libro de duabus naturis assignat, secundum scilicet quod natura dicitur omne illud quod intellectu quoquo modo capi potest. Non enim res est intelligibilis nisi per diffinitionem et essentiam suam. Et sic etiam philosophus dicit in V metaphysicae quod omnis substantia est natura. Tamen nomen naturae hoc modo sumptae videtur significare essentiam rei, secundum quod habet ordinem ad propriam operationem rei, cum nulla res própria operatione destituatur. Quiditatis vero nomen sumitur ex hoc, quod per diffinitionem significatur.

i isto que é significado pela definição indicando «»