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Portuguese Pages [241]
O Porto e a Cidade O Río de ]aneíro entre 1565 e 1910 Tr "1 o
Cláudío Fígueíredo ORG•\NIZAÇÃ.O
Nubía Melhem Santos María Isabel Lenzí
1
CASA DA
A
PALAVRA
RCEJWO: MU~ U C..,lO tJAt., 1>0 MA {)r BLro-rt.c. A · Kk-J...\JI 1\J 'DU.A R:l'€ {;tJ\ tJ 1"\ oo J. ~ f AE1\JI~r~o · -rA~ c20 1c2
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2005
desta edição: Casa da Palavra
Co pyrigh t © 2005 do texto, C láudio Figueiredo. Co pyrights individuais de fotografi as assegurados e m confo rmid ade com a Lei 9.610, de 19.02. 1988.
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DA CULTURA
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TRAMPOIL
Sumário APRESENTAÇÃO
9
ANTES DA CIDADE, O PORTO
13
UM EMPÓRIO ENTRE DOIS IMPÉRIOS
Os
0
CORSÁRIOS ESTÃO CHEGANDO
PORTO: "A MAIS PRECIOSA JÓIA"
UM SINISTRO COMÉRCIO
75
MERCADOS À BEIRA-MAR
99
23
41
53
Do CAIS PHAROUX À PONTA DO CAJU 1II A REVOLTA DA ARMADA
161
UM PORTO PARA A REPÚBLICA
169
NOTAS SOBRE A ICONOGRAFIA
196
ENSAIO FOTOGRÁFICO BIBLIOGRAFIA
200
209
CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS POR ACERVO ENGLISH VERSION
2II
2!0
Apresentação
9
O
PORTO
E A C I DADE
Este livro apresenta uma trajetória do porto do
Cabe dizer, porém, que o porto era a
Rio de Janeiro. Ao final, a leitura surpreende
instituição social chave que sustentava o
pelo fato de tratar de uma história da cidade.
processo da exploração colonial e permitia a
Esta, por sua vez, está intimamente ligada à
comunicação entre o Velho e o Novo Mundo,
memória, pois a história do porto tem algo de
construindo pontes entre os continentes da Europa e da América, ultrapassando a barreira
afetivo e sagrado. Observa-se, então, como a cidade e o porto
do oceano Atlântico. Como instrumento da
se confundem. Não sei se isto é próprio de
colonização européia, o porto era parte
todas as cidades portuárias. Mas como hipótese
da cadeia econômica, mas também parte da
geral, acredito que sim. Desse modo, este livro
cadeia de comunicação. Essas características
contém uma estratégia de abordagem da
ele não perdeu até os nossos dias, ainda que a
história urbana ao caracterizar o porto como
economia tenha se diversificado e os meios
seu protagonista. Há muitas cidades portuárias
de comunicação tenham mudado muito ao
pelo mundo, e a hipótese talvez possa ser
longo da história. De todo modo, a cidade cresceu com o
estendida ao estudo de outros casos. O que é próprio do Rio é ter um porto
porto e o Rio de Janeiro ganhou vida própria.
aberto para o oceano. Isto representa uma
O difícil é localizar o porto na história da
história especial, associada ao tempo do
cidade. Ao longo dos tempos há um
comércio ultramarino e da colonização
deslocamento constante: primeiro no largo da
européia da América. Assim, o porto é parte
Misericórdia, ao pé do morro do Castelo;
da história da economia-mundo que se
depois na Praça 15 e seu entorno onde se
constrói desde então, conectando povos e
localizavam as praças de mercado, na parte
partes do planeta por modos e motivações
baixa da cidade; mais tarde na região do bairro
nem sempre tão cosmopolitas.
da Saúde. Além disso, a atividade portuária e
O porto emerge da história do Rio de
seus equipamentos mudaram durante os
Janeiro como capítulo fundador. A cidade
tempos. Os personagens desta história são
surge como monumento ao colonialismo, com
tão variados que a constatação aponta para
seus fortes, suas igrejas - e seu porto. O forte
a diversidade da vida portuária no Rio
protegia o porto militarmente, e a igreja o
de Janeiro entre o século
guardava espiritualmente. O porto faz assim
século
parte da história do medo: medo de inimigos
tempo de cargueiros, um tempo de escravos e
da terra ou corsários, medo do mar e de seus
um tempo de trabalhadores livres; um tempo
ventos e correntezas. A cidade e suas
de muita força humana e um tempo de
instituições afirmavam o domínio colonial
máquinas. Até a mudança de regime político
sobre as terras da região da baía de Guanabara
impôs um novo porto. Na verdade, esta
no contexto da disputa colonial travada entre
constatação apenas aponta para o fato de que o
franceses e portugueses no século
porto acompanha a história da sociedade
XVI.
Assim,
XX .
XVI
e o início do
Houve um tempo de naus e um
não seria exagero dizer que a cidade do Rio de
urbana, nas suas estruturas e conflitos sociais,
Janeiro surge como porto, uma vez que sua
sendo ao mesmo tempo produto e condição
história está marcada pela dominação colonial.
das transformações da cidade. O porto surge,
AO L ADO
Ponto de botes, contíguo à Praça 15, 1916. F O T OGRA FI A DE GU ILH ER M E SAN T OS M USEU DA IM AGE M E DO SoM
IO
o
P O RT O
E A C IDADE
AO LADO
assim, como múltiplo, de tal modo que talvez
transferido para onde se localiza ainda hoje na
Cartão-postal, cerca de 1905.
devêssemos falar dos portos do Rio de Janeiro,
chamada zona portuária. Essa mudança
salientando o plural ao invés do singular.
permitiu sua expansão e modernização,
COLEÇAO [LYSIO BELCHIOR
No caso do Rio de Janeiro, observa-se
tornando possível que barcos de grande calado
também que houve uma época em que
atracassem na cidade. E o porto nunca deixou
o porto e a cidade conviviam intimamente.
de se adaptar, renovando-se para receber os
O movimento de embarque e desembarque de
navios que sempre povoaram a paisagem
gente e mercadoria era acompanhado de perto
carioca. A cidade olha para os barcos como
pela vida urbana. A praça cívica era ao mesmo
monumentos. E olha de longe. A escala do
tempo o cais principal e o largo das docas.
porto mudou. A presença de guindastes
As caixas e caixotes do porto faziam parte do
gigantes, acompanhando a dimensão dos
cenário das ruas. O porto e suas funções
navios de hoje, deixa claro que o porto ganhou
compartilhavam o mesmo espaço com outras
vida própria - e o cidadão fica de longe
atividades da cidade. O comércio da rua
admirando a atividade portuária especializada.
também era o ponto de comércio que atendia
O porto se tornou um muro para a cidade que
às demandas do porto. O tamanho do porto
ele delimita. O porto do Rio deu as costas para
coincidiu durante muito tempo com o
a cidade e roubou-lhe a baía de Guanabara,
tamanho da cidade. Nessa época, o Rio - pelas
assenhorando-se dela. Certamente, esse é o
suas dimensões - ainda tinha condições de
desafio que se coloca para o porto: voltar a se
abraçar o porto. Com isso, os cariocas viviam
integrar à vida urbana, aproximar-se da
o porto de perto. Pode-se dizer que o seu
população. Assim, além de fazer parte do
movimento confundia-se com o próprio
passado, o porto voltaria a pertencer à cidade
movimento da cidade.
dos nossos dias. Este livro encanta, pois
Essa identidade era forte . Consta que um
deixa claro que o porto do Rio nasceu para
dos lugares de origem do samba no Rio de
ser da cidade do Rio. Ao final, pode-se
Janeiro é a área da pedra do Sal, localizada no
sugerir que tão melhor será a cidade quanto
bairro da Saúde, ao pé do morro da Conceição.
melhor for seu porto.
Esta área, especialmente depois da Abolição, foi habitada por muitos negros, inclusive os
PAULO KNAUSS
que, com a liberdade, vieram para a então
Universidade Federal Fluminense Departamento de História Laboratório de História Oral e Imagem
capital do país em busca de trabalho. Além de um certo sentimento de banzo da terra de origem e da paisagem da baía de Guanabara, a música conectou vidas. Atravessando a cidade, o samba terminou por conectar tempos, legando ao Rio de Janeiro a música que é sua marca e sua identidade. Esta memória do porto é parte da história da cidade. Depois da grande reforma no período do governo Rodrigues Alves, o porto foi
M Schul chtff .. Stosch• R1o Janetro verlossend
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13
CAPITtJLO
I
OPORTOEAC I DADE
Antes
da cidade, o porto
esde que o português Gaspar de Lemos, à frente de uma expedição, chegou à Guanabara a 1° de janeiro de
1502,
na condição de
primeiro europeu a entrar na baía com seus navios, testemunhos de navegadores, de funcionários da Coroa portuguesa e de religiosos, ao longo do inicio do século
XVI ,
coincidiriam em chamar a atenção para a Ataque de portugueses e tupíníquíns às cabanas tupínambás, cerca de 1592, detalhe. THEODORE D I ETERICH DE BRY BURIL
posição estratégica e a localização privilegiada daquele local. Muito antes que a primeira ferramenta fosse usada sobre a primeira prancha de madeira, antes que a natureza fosse alterada, mesmo que no mínimo, para receber
M USEUS CASTRO M AYA
IPII AN
o primeiro navio, a palavra "porto" já era mencionada e repetida nos documentos portugueses da época, revelando a convicção de que, graças às características geográficas da região, ao seu litoral recortado e às suas enseadas, a própria baía, por natureza, nada mais era do que um grande porto.
14
O
PORTO E A CIDADE
Mapa do Brasil, cerca de ISSO. GtACOMO GASTALDI XILOGRA\uRA SOBRE PAPH fUNDAÇAO BIBLIOTECA NACIONAL
É interessante notar que esta assinalada a cidade G de ebastian pelo menos uma decada antes de sua fundação.
J
5
ANTES
DA C I DADE . O
PORTO
Escrevia, por exemplo, o frei Vicente de Salvador: O Río dejaneíro está em vínte e três graus debaixo
do Trópíco de Caprícórnío, e impropriamente se chama río, porque antes é um braço do mar, que alí entra por uma boca estreita que pode facílmente definder de uma parte a outra com artilharia, mas dentro faz uma baía ou enseada [..] que tem perto de quarenta ilhas, das quaís as maiores se povoam e as menores servem de ornar osítío ou de portos onde se abríguem os navios. Estas comodidades e outras muitas deste rio e baía, juntas com aJertilídade da terra, afaziam digna de ser povoada. 1 Outro testemunho, o de Pero de Magalhães Gandavo, na segunda metade do século XVI , confirma a mesma vocação: Esta é uma das maís seguras e melhores barras que há nestas partes, pela qual podem quaisquer naus entrar e saír a todo o tempo sem temor de nenhum perigo. 2 Mais de 250 anos depois, visitantes que desembarcavam ali, como o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, continuavam a enxergar mais do que mera beleza na "baía do Rio de Janeiro, esse porto que, na opinião de um dos nossos almirantes
Vossa Alteza me escrevera, foi porque o não pude fazer, por ter pouca gente e não me parecer siso derramar-me por tantas partes. 4 Os ventos que haviam empurrado os
mais instruídos, poderia conter todos os
portugueses até a América podiam ser
navios da Europa."3
diferentes daqueles que nos quase cem
Em junho de 1553, 12 anos antes da
anos anteriores os tinham levado
fundação da cidade, Tomé de Sousa, primeiro
sucessivamente ao norte da África, a dobrar
governador-geral do Brasil, que já havia
o Cabo Bojador e mais tarde o Cabo da
se referido àquela área como sendo "a maior
Boa Esperança e a estender suas rotas até as
escala de corsários", ao escrever ao rei de
Índias e ao Extremo Oriente. O motor,
Portugal sobre os pontos por ele visitados na
porém, por trás desse ímpeto obedecia à
costa brasileira, comentara sobre o lugar:
mesma lógica, a da expansão marítima, na
[ ..] tudo égraça o que desse se pode dizer, senão que pínte quem quiser como deseje um río, e isso tem este dejaneíro. Parece-me que Vossa Alteza deve mandar fozer alí uma povoação honrada e boa, porque já nesta costa não há rio em que entrem franceses senão este. [ ..] E se eu não fiz fortaleza este ano no dito río como
qual se confundiam a busca dos lucros comerciais e a disposição beligerante de difundir o cristianismo. Outros navegantes portugueses se seguiriam na Baía de Guanabara, como Gonçalo Coelho, em 1503, e Fernão de Magalhães que, na sua viagem
Combate na Baía do Rio dejaneiro, 1554. H ANS STADEN LITOGRAF I A fUNDAÇÃO BIBLIOTE C A NA C I ONA L
16
O
P O RT O
E A C I DADE
de circunavegação, passou por ali em 1519. A armada de Martim Afonso de Sousa, em 1531, lançou âncora no Rio, onde ficaria por cinco meses, tendo mandado fazer dois bergantins, as primeiras embarcações construídas no local que viria a abrigar a cidade. Nos anos seguintes, navegadores e não apenas portugueses - acostumaram-se a passar pela área para abastecerem-se de água, geralmente colhida da embocadura do Rio Carioca, na atual praia do Flamengo que, por isso, passou a ser conhecida como Aguada dos Marinheiros. A despeito disso, a região permaneceu despovoada. Às voltas com seus domínios mais lucrativos na África e na Ásia, a Coroa portuguesa, nos primeiros anos do século
XVI ,
não incluía suas terras recém-
descobertas na América entre as prioridades do Império. Foi justamente a preocupação com a presença dos franceses que despertaria o interesse português e levaria à iniciativa de fundação da cidade. Apoiadas nos contatos e nas boas relações que seus intérpretes normandos e bretões mantinham com os índios, as visitas dos franceses à costa brasileira eram freqüentes e, até a primeira metade do século
XVI ,
limitavam-se às
trocas de mercadorias com as populações nativas. Tanto essas visitas como a atuação de seus corsários eram, na verdade, uma maneira de contestar na prática a partilha do novo mundo entre espanhóis e portugueses, formalizada pelo papa no Tratado de Tordesilhas, atacando assim o monopólio colonial ibérico.
Eu gostaria muito que me mostrassem o artígo do testamento de Addo que divide o Novo Mundo entre meus irmdos, o imperador Carlos v e o rei
17
ANTES DA C ID ADE . O
PORTO
'
PAGINA AO LADO, AC IMA
Rto lal't'ro. 1599. ~ LIHR \ \ N
8
N nnRT
Rll
lt
ll\(,: \ 0 lii BII OTH \
A ll )N \I
A caminho das l ndias. em fevereiro de 1599, o general ho landês Van Noort tentou. mas não co nseguiu. entrar na Baia de Guanabara. o relato de sua viagem publicado em Amsterdam. em 1610. tem o curioso ti tu lo de Description du
penible voyage Jaít ent011r de l'ullÍI'ers du globe terrestre.
PÁGINA AO LADO, ABA IX O
AC IMA
I ndios cortando e embarcando pau-brasil in
Baia de Guanabara vista do Corcovado, cerca de 1817-
Les síngularítés de la France Antartícque, autrement nomée Améríque... , 1555. \NORl TIIEVET XIlOGRAVURA
fUND (,.ÀO liiBLIOTEC.A
N ·\ CiúN:'\l
TIIOMAs I'NDfR AQ_UARflA \!>AOfMll DER liiLDENDEN "ÜNSTE, \'IENA
A paisagem c o recorte da Ba1a de Guanabara não sofreram grandes alterações do seett!o XV ! ate a epoca em que Thomas Ender pintou esta aquarela.
r8
AO LADO
Ataque de portugueses e tupíníquíns às cabanas tupínambás, detalhe, cerca de 1592. THEODORE 01ETERICH DE BRY BURIL MUSEUS CASTRO MAYA
IPHAN
Bry nunca veio ao Brasil, mas realizou ilustrações a partir dos relatos de Jean de Léry e Hans Staden.
O
PORTO
E A C I DADE
19
de Portugal, excluindo-me da sucessão, teria dito o rei François I , determinado a defender a política do mare líberum (mar livre) em oposição ao mare clausum (mar fechado) ibérico.5 Das visitas esporádicas e dos contatos esparsos com os índios tamoios que habitavam o litoral, os franceses acabariam
ANTES DA C I DADE , O P ORTO
inúmeros combates e escaramuças para os portugueses e seus aliados tupis
LUIS DOS SANTOS YIL!IENA
derrotarem definitivamente os franceses e os temiminós.
MAYA IPHAN
Ponto cstratcgico no Atlàntico Sul
região da Baía de Guanabara. Animado
"Cidade-porto", que nasceu da disputa entre
pelos relatos de compatriotas, como o frade
Portugal e França, o Rio de Janeiro viria a
André Thevet, o então vice-almirante da
ocupar uma posição estratégica para os
esquadra da Bretanha, Nicolas Durand
portugueses que pretendiam assegurar seu
de Villegaignon, traçou como objetivo a
domínio sobre esta região do Atlântico
fundação de um vasto domínio francês
Sul. Mas, por si só, essa localização
nessas terras. A fascinante aventura da
geograficamente vantajosa não bastaria
França Antártica teve início com a chegada
para transformar o insignificante povoado
aIO de novembro de 1555 dos três navios
criado em 1565 num pólo fundamental do
franceses, a bordo dos quais Villegaignon
império marítimo português. Era preciso
trouxe cerca de 6oo homens. Desembarcados
ainda garantir condições que assegurassem
na ilha que recebeu seu nome - e que,
o futuro da capitania: o controle sobre o
incorporada à terra, atualmente abriga
território e uma mão-de-obra servil. Esta,
a Escola Naval - eles construíram ali
inicialmente, seria formada pelos índios,
um forte. Seriam precisos
nas palavras do jesuíta italiano
anos de
DESENHO A BICO DE PENA AQ_UARELADO MUSEUS CASTRO
formulando planos mais ambiciosos para a
12
Prospecto da cidade do Río de janeiro, 1775.
Este panorama de Vilhena, apesar de ser do seculo xv 111 . mostra, à esquerda o primeiro ancoradouro da cidade na descida do morro do Castelo.
7 '
21
ANTES DA C IDADE . O
P O RT O
Andreoru Antonil, "os pés e as mãos do senhor". Os que escapavam aos massacres e às epidemias eram sistematicamente escravizados pelos portugueses. No início do século XVII , Martim de Sá, numa única expedição, teria aprisionado na região que hoje compõe o estado do Rio cerca de 16 mil índios.6 Foi em 1565 que Estácio de Sá, sobrinho do governador-geral Mem de Sá, trazendo reforços para a luta contra os franceses, desembarcou junto à barra, entrincheirou-se com seus homens numa faixa de terra entre os morros Cara de Cão e Pão de Açúcar, fundando a I 0 de março a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Dois anos depois, preocupado com a defesa da cidade, Mem de Sá iria transferi -la por motivos estratégicos para o alto do morro do Castelo. Conta o padre José de Anchieta que a população da recém-fundada cidade era, em
1585, de apenas 900 europeus e de cerca de três mil índios. A cidade se chama São Sebastíão,
a qual edificou Mem de Sá em um alto, em uma ponta de serra que está difronte da Ilha de Víragalham. [N. do A.: Víllegaígnon]. Ao pé desta cidade, difronte da ponta de arrecife dela tem bom surgídouro [N. do A.: ancoradouro], onde os navíos têm abrígo para os ventos geraís do ínverno, escreve Gabriel Soares de Sousa em 1587, relatando que era neste local, entre a ilha e o sopé do morro, que se localizava o "desembarcadouro da cidade"? Foi ali, portanto, na faixa
Prancha de 1608. O Porto do Río, 2002.
Notas
6
I B I CALH O,
Maria Fernanda.
SA M PA I O ,
CARLOS GuSTAVO NuNES
A cidade e o império: O Rio de
do império - Hierarquias sociais
PEREIRA
j aneiro no século XVI I I .
e conj unturas econômicas no
Rio de Janei ro: Civilização
Rio de janeiro (c.J6SO·C.lJSO).
Brasileira, 2003 , p. 3 1.
Rio de Janeiro: Arquivo
GUTA
INSTITUTO PER[IRA PASSOS
A prancha de Guta trabalho contemporâneo - busca representar a cidade em 1608. Vê-se a igreja dos Jesuttas no morro do Castelo e o convento de São Bento no morro de mesmo nome. PÁGINA AO LADO
Río dejaneíro e a cídade de São Sebastíào, 1573-1578.
2 BI CA LH O . Op. cit. , p. 32 .
Nacional, 2003, p. 57 - 58.
3 Citado em
~ BANDE I RA
Manuel &
BANDE I RA ,
D RU MM OND
ao longo do que seria mais tarde a antiga rua da Misericórdia, que as atividades portuárias do Rio começaram a dar os seus primeiros passos. 8
&
DRUMMOND,
Op. cit., p. 10.
de Andrade, Carlos. Rio
8
de janeiro em Prosa e! Verso.
Tadeu de Niemeyer.
LA M ARÃO ,
Sérgio
Rio de Janeiro: José
Dos trapiches ao porto. Rio
O lympio, 1965, p. 19.
de Jane iro: Bibl ioteca
4
BI CA LH O .
Op. cit., p. 29. Paulo
Carioca, Prefei tura do Rio
') M ENDONÇA ,
de Janeiro, 199 I . p. 22;
Knauss de. O Rio de j aneiro
LA T 1 F,
da pac!ficaçdo. Rio de Janei ro: Biblio teca Carioca,
Uma cidade no tr6pico -
Miran de Barros.
Sdo Sebastido do Rio de j aneiro.
LUÍS TEIXEIRA
Prefeitura do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro:
MAPA AQ_UARELADO
1991 ,
p.
2 1.
Agir, 1965, p. 6o.
ORIGINAL MANUSCRITO BIBLIOTECA DA AJUDA
litorânea junto ao morro do Castelo,
Antonio
Carlos Jucá de. Na encruzt1hada
DE LISBOA
Este e o mais antigo mapa em que aparece a cidade de ão Sebastião do Rio de Janeiro e surpreende pela exatidão.
,
23
CAPITUlO
2
O
P O RT OE
A C I D A DE
Um empório entre dois
o século
XVI
e no início do
XVII ,
quando a
produção de açúcar e a extração de pau-brasil eram as principais fontes de renda oferecidas pela nova colônia, a participação do Rio de Janeiro na economia ainda era desprezível. Segundo o padre Vieira, por volta de 1580 havia apenas três engenhos na região do Rio de Janeiro, contra 36 na Bahia. Eram, além disso, Capitania do Rio de janeiro, 1631, detalhe.
pequenos: "Três deles não chegam a igualar a um engenho grande, tanto em tamanho como
}OÃO TE IXEIRA ALBERNAZ
(o
VEL HO)
MANUSCR ITO AQ_UARELADO SOBRE PERGAM INHO
em rendimento." 1 Ainda que desempenhasse um papel secundário na produção açucareira na América portuguesa, o Rio, ao longo do
MAPOTECA DO ITAMARATY
século Esse belo mapa destaca o canal por onde os navios entram com segurança no porto do Rio.
XVII ,
ganharia importância por estar no
meio da rota entre as possessões espanholas no estuário do Prata e os enclaves africanos onde os europeus iam buscar escravos.2 No comércio entre Rio e Buenos Aires, a prata da América espanhola ganhou importância ainda maior com a incorporação de Portugal
24
O
PORTO E A C I DADE
Typus Orbís Terrarum, 1587ABRAHAM ÜRT[LIUS BURIL E AQUARELA SOBRE PAPEL FUNDAÇAO liiBLIOTECA NACIONAL
25
U M E MP ÓR I O
ENTRE DO I S IMP ÉR I OS
à Espanha em 1580 na chamada União Ibérica.
Moedas de prata que circulavam no Rio de janeiro no século XVII.
A vertente que ligava os dois portos resistiria
à separação dos dois países, ocorrida em 1640, e até ao rompimento de relações entre eles. Madri determinava que todas as mercadorias européias destinadas à extensa área da América espanhola compreendida pelo vice-reino do Peru só poderiam chegar através das frotas oficiais de Sevilha. Estas, numa viagem cara, perfaziam um caminho tortuoso, tendo de atravessar o istmo do Panamá para depois serem embarcadas em pequenos navios, descendo a costa do Pacífico até Callao. Ali, as mercadorias eram novamente desembarcadas e levadas por terra para pontos distantes, do outro lado da América do Sul, como a bacia do
MusEu
Provenientes das minas da América Espanhola eram obtidas através do comércio ·· peruleiro", isto é, transações, lícitas ou não, feitas com o vice- reinado do Peru.
Prata. O porto do Rio de Janeiro ganhava, portanto, com um contrabando altamente lucrativo e dava passagem a produtos europeus, como tecidos, que chegavam à colônia espanhola via Buenos Aires a preços muito
moedas de prata de Buenos Aires no Rio de
mais baixos do que aqueles obtidos pelo
Janeiro. Só neste mesmo ano, pelos trapiches
comércio "oficial". Os que no Brasil praticavam
montados ao pé do morro de São Bento e na
esse comércio com o vice-reino do Peru eram
Prainha, seriam exportados para Lisboa cerca
conhecidos como "peruleiros".3
de cinco mil couros, vindos do Prata,
Navios que deixavam o Rio levando escravos e, depois de uma viagem de 15 dias, chegavam a
evidenciando o vigor deste eixo comercial.4 A ocupação do Nordeste pela Holanda e o
Buenos Aires, voltavam trazendo prata em
conseqüente bloqueio naval praticado na
forma de patacas peruanas. O eixo comercial
região pela Companhia das Índias Ocidentais
Rio- Buenos Aires- Angola viria a ser
também trariam conseqüências para o Rio e
reforçado no fim do século
seu porto no século
XVI I
com a criação
XVII ,
propiciando, nas
da colônia de Sacramento, estabelecida na foz
palavras do historiador Luiz Felipe de
do Prata, a 180 quilômetros de Montevidéu.
Alencastro, "uma nova paisagem atlântica":
Localizada no que é hoje território uruguaio, ela
Desvíadas para o Sul, para as margens amerícanas do Trópíco de Caprícórnío, as rotas subequatoríaís puxam o Río maís para dentro das trocas marítímas e maís para fora da economía sertaneja. Prata peruana e escravos angolanos se ínserem nas carreíras jlumínenses, armando o trídngulo Río- Luanda- Buenos Aíres, cujo primum mobile negreíro nascía na Baía de Guanabara.s
foi incorporada aos domínios de Portugal, num empreendimento liderado e financiado pelos habitantes do Rio de Janeiro. A quantidade de moedas cunhadas com a prata da América espanhola aumentou a ponto de o Conselho Ultramarino aprovar, em 1685, a circulação das
III STÓR I CO
NA C IONAL IPII AN
26
AO lADO
O
P ORTO E A C IDADE
K·.\1\.\D•
Negros, 1817- 1818. THOMAS [NDER lA PIS AKADEMIE DER BilDENDEN KüNSTE . VIENA
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-
. ,,.., ,. Escrava de Angola, 1817 1818. TIIOMA S [NDER lA PIS AKADEMIE DER BilDENDEN 1\:ÜNSTE , VIENA
Mesmo antes de o trabalho com escravos negros ser dominante no Rio de Janeiro, o comerciante luso brasileiro estabelecido na cidade negociava africanos com a região platina.
27
UM
EMP ÓRIO E
TRE DO I S IMPERI OS
l
cft. POA IPHI\N
Vê-se ao fundo o morro da Conceição c, a esquerda. trapiches.
!2!
DO CA I S PHAROUX
RIO DE JANEIRO - Caes dos Mineiros otographia Marc Ferrez, rua S. José N. 96.
Caes dos Míneíros, cerca de 1900. CARTÃO - POSTAL COLEÇÃO
EL YSIO
BEL C H lO R
A antiga praia dos Mineiros, retratada por Rugendas. transformou- se, mais tarde. no Cais dos Mineiros. que deve seu nome ao fluxo de homens e mercadorias atraídos pela região das minas.
À PONTA DO CA J U
123
DO CA I S P II AROLX A PONTA
O Río dejaneíro e seu
Porto, vístos do morro do Lívramento, 1870 18Bo. LEUZINGER l HlliOS LITOGRAfiA COlORIDA COLEÇAO PAULO L MARIA CEciLIA GnER MusEu
IMHRIAL IPII\N
DO CA J U
124
O
P OR T O
E A C I DADE
uma referência ao mercado construído ali
foi mudado em 1870 para rua Visconde
por Grandjean de Montigny. Era nessa praia
de Itaboraí. Com o avanço dos aterros e o
que atracavam as canoas com os pescados,
recuo do mar, o trecho acabou incorporado
legumes e frutas que abasteciam aquelas
à "terra firme".
quitandas. A praia do Peixe daria lugar ao Cais das Marinhas.4 Em seguida, depois da área atrás da
Depois do Arsenal da Marinha, chegava-se à Prainha, a atual Praça Mauá, demarcada por
um lado pelo morro de São Bento e, do outro,
Alfândega, havia a praia dos Mineiros, mais
pelo morro da Conceição. A área, doada aos
tarde chamada de Cais dos Mineiros, nas
monges beneditinos, já era movimentada no
imediações do morro de São Bento.
fim do século
Conhecido originalmente como Cais de Brás
para outros pontos da orla da cidade. Logo a
XVI,
quando dali partiam barcos
de Pina, ganhou a designação de Mineiros
região se tornaria conhecida por seus
porque por ali escoava o comércio com a região
armazéns, depósitos e cais de madeira.
das minas, através da ligação com os portos do
Em seguida ao morro da Conceição, vinha a
recôncavo da baía de Guanabara. Ficava
praia do Valongo, precedida por um trecho
localizado entre as ruas do Rosário e da
que recebia uma denominação específica de
Alfândega. O nome de praia dos Mineiros
praia do Valonguinho. O nome Valongo é
125
DO C A I S P II AROUX A PONTA
DO C A J U
uma referência a um logradouro de
que surgirá, em 1890, a primeira favela da
características semelhantes na cidade
cidade, composta por veteranos da Guerra
portuguesa do Porto. A chegada à cidade da
de Canudos e de suas famílias.
princesa dona Teresa Cristina, esposa de Pedro
II,
em 1843, fez com que o
Passando o morro da Saúde, com o qual o morro da Gamboa mais adiante formava uma
Vísta do Río dejaneíro tomada do morro da Conceíçào, cerca de 1860. FRIEDRICII IIAGEDORN (EvGENE CIClRI E PHilll BENOIST
LITH.)
LITOGRAFIA
desembarcadouro ali ficasse conhecido
pequena enseada, chegava-se ao Saco da
COlEÇAO PAUlO E MARIA
como Cais da Imperatriz. Com as futuras
Gamboa. Como as outras enseadas formadas
CECILIA GEYER MUSEU
reformas, o mar recuaria e essas áreas seriam
por esse trecho acidentado do litoral, o Saco
engolidas pelos aterros. A rua do Valongo
da Gamboa proporcionava um bom
se tornaria a rua da Imperatriz e, mais tarde,
ancoradouro, próprio para a construção de
rua Camerino, enquanto a Praia do
trapiches e armazéns. Descrito como um
Valonguinho daria origem à rua da Saúde,
local bucólico, encantava viajantes e
mais tarde rua Sacadura Cabral . A partir de
pintores. A praia daria origem a uma rua, e
1870, o nome Valongo começa a cair em
nomearia em seguida todo um bairro.
desuso e a área passa a ser conhecida
Depois do morro da Gamboa, havia o Saco
progressivamente como Saúde.5 É ainda
do Alferes, região que mais tarde passou
nessa região, no morro da Providência,
a ser conhecida como Santo Cristo, graças
IMPERIAl . lPHAN
12 6
O
PORTO E A C I DADE
Panorama du Saco do Alferes, cerca de 1861. VICTOR rROND FOTOGRAFIA LITOGRAFADA INSTITUTO IIISTÓRICO E GEOGRAHCO BRASILEIRO
12 7
DO CA I S I' II AROUX A PON T A DO CA J U
Port Marchand de la Saú, cerca de 1861. VI CTO R rR OND FOTOGRAF I A LI TOGRA FAC IN STIT U T O lii ST Ó RI CO E GEOGRAF I CO BRA S I LE I RO
à igreja de Santo Cristo dos Milagres, ali construída em 1872. Logo em seguida vinha a praia Formosa. No litoral em frente ficavam as duas ilhas - ilha das Moças e ilha dos Cães ou dos Melões - que seriam engolidas, com o resto da área, pelas obras do cais do porto. O fim desse largo trecho era marcado pelo morro e pelo manguezal de São
Diogo6
A vocação portuária da região, na qual
rua Nova do Monte (atual do Monte) e a travessa das Mangueiras (atual rua Leôncio de Albuquerque) , ligando as praias do Valongo e da Gamboa, e a rua Nova de São Francisco da Prainha (trecho da atual rua Sacadura Cabral). Com o fim do tráfico de escravos, os trapiches do Valongo e da Gamboa mudaram suas atividades e, a exemplo do que ocorria na Prainha, passaram a se dedicar, a partir de
se desenvolveriam os futuros bairros da Saúde,
1830, à comercialização do açúcar, sobretudo
Gamboa e Santo Cristo, recebeu um
do café. O aumento da produção e da
grande impulso com a vinda da corte de
exportação deste produto impulsionou a
d. João
urbanização e os melhoramentos realizados na
VI ,
que aforou muitos dos terrenos
situados na orla dessa área. O príncipe
orla. Grandes armazéns de exportação de café
regente, por um decreto de 1809,
surgiram ao lado de novos cais no litoral
determinara que o seu Conselho da Fazenda
da Prainha. Aterros foram feitos na rua da
demarcasse e arrendasse "nas praias da
praia da Saúde, na Prainha e no Valongo.
Gamboa e no Saco do Alferes terrenos
As autoridades municipais começaram a se
próprios para trapiches e armazéns"?
preocupar com o embelezamento da área e,
Data dessa época a abertura de vias como a
em 1828, determinaram a demarcação
f28
OPORTOEAC I DADE
Vista do Rio de janeiro, 1826. WILLIAM ) O IIN BURCIIELL AQ_LARELA
OBRE PAPEL
COLEÇAO SÉRGIO fADEL
Vista do Saco da Gamboa.
129
DO C AI S I'HAROUX À PONTA
Vísta da Gamboa, 1882. I! I PÓ LI TO CARON ÓlEO SOBRE TElA COLEÇÃO SÉRGIO FADEl
DO C AJU
130
OPORTOEACIDADE
O Caís Pharoux, cerca de 1905. C ARTÃO ~ POS TAL
CO LE Ç ÃO ElY S IO BEL C HIOR
O cais da Praça I 5 sofreu diversos aterros. O primeiro foi realizado por d. João VI que, ao reformar o velho cais, decidiu avançar um pouco mar adentro. O último, em 1902, foi realizado pela administração do prefeito Xavier da Silveira.
l3I
DO CA l
P H AROUX
A
PONTA
DO CAJU
de terras para a criação de um novo logradouro, o largo da Prainha, futura Praça Mauá. As pedreiras da região passaram a ser exploradas. Em 1837, o Colégio Pedro
II
foi inaugurado na rua Larga de São Joaquim, esquina com a rua da Imperatriz, na época, chamada ainda de rua do Valongo. Aos poucos, as casas nas encostas dos morros da Conceição e da Saúde multiplicaram-se.8 Em 1885, existiam 31 trapiches no trecho da costa que ia da Prainha até a praia Formosa. Dez deles estavam concentrados na Saúde. Apesar de sua evidente vocação para a atividade portuária, os bairros dessa região populosa eram considerados pobres e insalubres. A Prainha e a Saúde estiveram no epicentro da primeira grande epidemia de febre amarela no Rio de Janeiro, ocorrida em 1850. Muitos fatores contribuíam para isso.
Um deles era o grande número de habitações coletivas na região. Só na rua da Imperatriz (mais tarde rua Camerino) havia oito cortiços; na rua da Saúde, nove; e na rua da Gamboa, dez. A movimentação de pessoas e cargas, assim como as tripulações de navios mercantes que ali desembarcavam, eram vistas como fatores que estimulavam a
AC I MA
NO A LTO
propagação de doenças.9
Trapiche na Gamboa, cerca de 1900.
O Cais Pharoux e a
Num primeiro momento, a associação da região com a insalubridade e o risco de epidemias fizeram com que - nos pareceres
CARTÃO POSTAL
Ponta do Calabouço 11istos da ilha das Cobras.
COLEÇÃO ELYS I O
CARTÃO POSTAL
BELCHIOR
COLEÇÃO ELYSIO BELCHIOR
técnicos do século
XIX
sobre as possíveis
reformas portuárias - ela fosse preterida em favor de projetos voltados para a área mais central da orla da cidade, a que ia do Cais dos Mineiros até o Cais Pharoux e, mais além ainda, até a Ponta do Calabouço, na altura da praça hoje existente diante do Aeroporto Santos- Dumont.10
132
O
P ORTOEAC IDADE
133
DO CA I S P II AROUX
Ponta do Caju, 1923. AUGUSTO MALTA FOTOGRAFIA ARQ_UIVO GERAL DA CIDADE DO
RIO
DE jANEIRO
A
PONTA
DO CAJU
As obras de prolongamento do cais, do Canal do Mangue ate a Ponta do Caju, so foram realizadas mais tarde, na década de 1920. Neste panorama, aparece parte da Praia do Caju aterrada e ao fundo a enseada de Inhaurna. Hoje. nesta região desembocam a Ponte Rio- Niterói. a Linha Vermelha e a Avenida Brasil.
134
OPORTOEAC I OADE
D IO de tJ ANEII{_a. 1
~
Jlha !fiscal.
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i
·~~?' 0.
135
D O
C AI S PHAR O UX À PONTA
\.lMI·
r
ct-
A C IMA E PÁGINA AO LADO
Cartão postal, cerca de 1900. COLEÇÃO [LYSIO BELCHIOR
As ilhas de Villegaignon, Fiscal e das Cobras, que sobreviveram aos aterros realizados para a reforma do Porto.
'
DO C AJU
136
O
PORTO E A C I DADE
Arsenal da Marínha, 1857. PI ETER GODOFRED BERTICHEM LITOGRAFIA COLORI DA COLEÇÃO PAULO E MARIA CECILIA GEYER MUSEU IMPERIAL IPHAN
O trânsito de embarcações de todo tipo era intenso na orla da cidade. À vela, a remo ou a vapor. os barcos faziam o transporte regular de cargas e passageiros na Ba~a de Guanabara.
13 7
DO CA I S P II AROUX À P ONTA
DO C AJU
De barcos c passageiros Um aspecto curioso - e às vezes esquecido da movimentação do porto é que, além do tráfico de mercadorias, outra atividade importante era o transporte marítimo de passageiros. Numa cidade em que os acidentes geográficos e a escassez de caminhos tornavam difícil o deslocamento, serviam de meio de transporte pequenas embarcações a remo ou a vela, geralmente manobradas por escravos. No início do século XIX , as linhas mais importantes eram as que ligavam a Ponta do Caju a Botafogo e outra, conhecida como Carreira Diária de São Cristóvão, na qual os escaleres faziam o mesmo percurso, porém
de serviço. Muitas delas tinham toldos e eram
com escalas no Cais da Imperatriz (no
"manejadas com muita destreza por negros",
Valongo) e na Prainha (atual Praça Mauá) .
nas palavras de um oficial britânico.13
Mas barcos partiam também do Cais dos
)OHANN MORITZ RUGENDI LITOGRAFIA COLORIDA
No Rio de Janeiro, em 1846, o argentino
Mineiros, do Valongo, da Prainha ou do Cais
Domingo Faustino Sarmiento, que mais de
Pharoux (atual Praça 15) . Os principais
anos depois viria a ser o primeiro presidente
destinos, além da ponta do Caju, Botafogo,
civil de seu país, ficou impressionado com a
Penha, Porto de Inhaúma, eram as ilhas
peiformance desses remadores negros: ~ando os escravos já remam há mais de duas horas e sobre suas costas amplas correm rios de suor, e seus olhos fundos brilham com uma luz taciturna, eles então se olham uns aos outros, e irrompem num canto com palavras inintelígíveis, como se fossem salmos dirigidos a algum fetiche. O golpe dos remos marca o compasso e,
do Bom Jesus, de Paquetá, a Ponta do Galeão (Ilha do Governador) , do Catalão, do Pinheiro e de Sapucaia. 11 A escadaria de granito no desembarcadouro no largo do Paço era um dos poucos lugares onde o passageiro podia descer à terra firme com um mínimo de segurança, não diretamente do navio, mas depois de transportado por catraias, pequenas
20
alguns minutos depois, opequeno esquife corta as ondas como que arrebatado por uma corrente irresistível.14 Os remos sobreviveriam ainda muito
embarcações de duas proas que faziam este
tempo depois de o primeiro barco a vapor ter
tipo de serviço. Na maioria dos outros lugares,
sido posto para navegar no porto, em 1819, por
pelo menos até a década de 1830, a situação era
iniciativa do marquês de Barbacena.
pior e os passageiros tinham de ser carregados no dorso dos barqueiros ou sujeitar-se a se molharem.
12
As faluas , com seus remos e dois
Praía dos Mineiros no Rio dejaneiro, 1837 IBJs.
Um dos destinos de maior movimento em termos de navegação no interior da baía era a praia Grande, futuramente conhecida como
mastros com velas triangulares, estavam entre
Niterói, alcançada a princípio por meio de
as embarcações mais utilizadas para esse tipo
faluas. Foi esta cidade a primeira a contar mais
MUSEUS CASTRO MAYA
IPIIAN
Ao longe, a esquerda, vê se o conjunto do Convento de Santo Antônio c. ao centro, trê: igrejas, destacando se a da Candclaria
138
O PORTO E A C I DADE
f
b
Curioso desembarque no caís da Glória, 1827 1829. BARÁO GEORG II EINR I CH VON LOWEN TERN DESEN II O CO LEÇÃO PAULO E M AR IA CEC I LIA GnER M usEu I MPER I AL I P II AN
139
DO CAIS PHAROUX À PONTA DO CAJU
Barcos de passageíros numa tormenta de verão, 1835. [MERIC [SSEX VIDAL AQ_UARELA COLEÇÃO PAULO E MARIA CECILIA GEYER MUSEU lMI'ERIAL I PIIAN
As faluas eram um dos
meios de transporte mais usados pela população carioca, fosse para chegar a uma embarcação maior, fosse para alcançar outra parte da cidade, uma ilha ou atravessar a baia.
140
O PORTO E A CIDADE
Vísta da Igreja da Glóría, cerca de 1824. NICOLAS ANTOINE TAUNAY ÓLEO SOBRE TELA COLEÇAO PAULO E MARIA CECILIA GEYER MUSEU IMPERIAL II'IIAN
Passageiros embarcam na falua nos ombros dos escravos para não molhar os pés.
141
DO CA I S PHAROUX
Paísagem hístóríca de um desembarque no Largo do Paço, cerca de 1829. F~Li X tM I LE TAUNAY ÓLEO SOBRE TELA MU>EU
IMPERIAL IPIIAN
Em frente ao largo do Paço, apesar do cais, o desembarque se dava em condições prccarias.
À PONTA DO CA J U
l
42
O
PORTO
E A C I DADE
tarde com uma linha regular de barcos a vapor ligando-a, a partir de 1835, ao Rio de Janeiro. A empresa responsável, a Companhia de Navegação de Niterói, recebeu naquele ano da Inglaterra as três primeiras barcas para o serviço: a Praia Grande, a Níteroíense e a
Especuladora. O preço da passagem desta linha, que saía da praia d. Manuel, era de 100 réis - e de 160 aos domingos. Para a Ilha de Paquetá saíam barcas diariamente - por outra companhia - do Cais dos Mineiros, cobrando dois preços, um para passageiros calçados e Barque Ferry.
outro, mais baixo, para os descalços. Outra firma, a Companhia de Navegação de Botafogo, operava um barco a vapor entre este bairro e o Cais Pharoux, com saídas a cada duas horas. A explosão da barca A Especuladora, em 25 de março de 1844, quando levava mais de 200
pessoas para a Festa de São Gonçalo,
fez cerca de 6o mortos, sugerindo a muitos necessidade de outro sistema mais confiável. 15 Mas só em 1862 seria estabelecido um novo serviço contando com os jêrry boats, mais modernos. A exploração da linha foi concedida a dois ingleses, Jones e Rainey, e a viagem inaugural teve como passageiros Pedro
II
e
integrantes da família imperial, culminando Embarque no Caís Pharoux.
num jantar oferecido ao imperador na estação
CARTÁO POSTAL
das barcas, aproximadamente no mesmo local
COLEC,.ÁO ElYSIO
onde se encontra até hoje.16
BELCHIOR
No início do século NO ALTO
Barcas Ferry. CARTÁO POSTAL COLEÇÁO [LYSIO
XIX,
os barcos a vapor
tinham um papel tímido na navegação para o exterior: três vapores costumavam rebocar até fora da baía os grandes veleiros que
BEL CH lO R
levavam passageiros para a Europa. Só a partir
Estação das barcas, na Praça Pedro 11 . posteriormente Estação da Camareira na Praça 15.
de 1843 surge a linha regular para a Europa por meio de paquetes a vapor: a primeira ligação se dá entre o Rio de Janeiro e o porto deLe Havre, na França, utilizando oito
143
DO CAIS
PHAROUX À
Pescadores míríns, 1916. GUILHERME SANTOS FOTOGRAFIA MUSEU DA IMAGEM E DO SOM
PONTA
DO CAJU
14 5
DO CA I S P H AROUX À PONTA
DO CA J U
Le javary, navio a vapor, I8so - I86o. K OE RNE R. j . M USEUS CAST RO M AYA IPII A N
Destaque para a bandeira do Império do Brasil. PÁG I NA AO l A D O
O prefeito Pereira Passos
e o barão do Rio Branco no Cais Pharoux, 1911. AUGUSTO MAlTA FOTOGRA FI A M US EU DA REP U Bli CA I PIIA N
navios novos de 6oo toneladas com nomes
Se o movimento no Rio não
como Empereur du Brésíl, Vílle de Río e Vt1le de París.
impressionava observadores habituados
As saídas eram sempre no dia 25 de cada mês.
aos grandes portos europeus, quando
A este vieram se acrescentar outros destinos,
comparado à situação encontrada em outros
como Buenos Aires, Montevidéu, Falmouth,
países latino-americanos sua peiformance
Madeira e Lisboa. Detalhe curioso: os
parecia digna de nota, como sugerem as
passageiros eram solicitados a levar não
impressões registradas em 1846 pelo
apenas a própria roupa de cama, mas
argentino Sarmiento:
também o colchão. Um pequeno cais na Prainha, o Trapiche Mauá, seria o ponto de partida, a partir de 1853, de uma viagem pitoresca empreendida
regularmente por boa parte da elite da cidade: era dali que saiam as barcas rumo ao Porto Estrela, no fundo da baia, primeira etapa da viagem que levaria os passageiros, a bordo de um trem, até Petrópolis. Fruto da iniciativa do barão de Mauá e da sua Imperial Companhia de Navegação e Estrada de Ferro de Petrópolis, esse serviço, prestado durante meio século, só viria a ser suspenso em 1910-'?
O Brasíl, em matéría de locomoção aquátíca,
já se destaca entre os povos sul-amerícanos, que tão rematada íncapacídade têm demonstrado até aquí em tudo que díz respeíto ao transporte. Este movímento parte da capítal, tão prodígíosamente sítuada na metade da Améríca do Sul, às margens da maís espaçosa e segura baía do mundo, entre o cabo Horn e da Boa Esperança, centro de todos os roteíros marítímos, onde se cruzam as línhas da Europa e Estados Unídos, escala do Pacifico, e dos mares da Í ndía, estaleíro e estação naval índíspensável. O Río de ]aneíro, na navegação uníversal, ocupa o mesmo posto de Bízdncío ou Constantínopla na antíga eifera da navegação dentro do Medíterrdneo. 18
146
AO LADO
Ponto dos Botes, Caes Pharoux. CA RTÃO - POS TA L CO L EÇÃO ElY S IO BEL C HIOR
AO CENTRO
Cartão- postal. CO LE ÇÃO ElY S IO BEL C H l O R
Pequenas embarcações traziam até o porto os passageiros e as cargas dos navios. ABAIXO
Murada do Caes Pharoux. C ARTÃO - P OSTA L CO LEÇÃO E LYS I O B ELC HI O R
O
PORTO E A C I DADE
14 7
DO C AI S PHAROUX À PONTA
Caes Pharoux, cerca de 1900 1910. CARTÃO-POSTAl COLEÇÃO ELYSIO BELCHIOR
Atual Praça r 5, o cais foi a principal porta de entrada no Rio para viajantes estrangeiros e brasileiros.
DO C AJU
148
Desembarcadouro. CARTÃO-POSTA L COLEÇÃO E LYS I O B ELC HI OR
ABAIXO
Entrada da barra. CA RTÃO- POSTA L COLEÇÃO E LYS I O B ELC HI OR
.. ... .I
"!
Bahia rlo RIO DE JANEIRO
O
P OR T O
E A C IDADE
149
DO CA I S PI-IAROUX À PONTA
Embarque de passageíros, 1912. AUGUSTO MALTA FOTOGRAFIA MUSEU DA IMAGEM E DO SOM
DO CA J U
ISO
Os primeiros projetos
OPORTOEAC I DADE
São Bento, até o Arsenal de Guerra, na altura do atual Aeroporto Santos- Dumont.
No esforço para aplicar no país, e
As obras iniciadas sob a direção do engenheiro
principalmente na sua capital, a infra-
inglês Charles Neate foram postas, em 1866,
estrutura, os melhoramentos e as técnicas
sob a responsabilidade de André Rebouças,
que começavam a ser postas em prática
que concluiu os trabalhos no trecho que ia
na Europa e nos Estados Unidos, a ambição
da Alfândega até o Cais dos Mineiros.
de contar com portos mais modernos
Em 1871, contudo, ele seria retirado da
encontrava-se sempre entre as primeiras
direção do projeto. As obras mesmo assim
prioridades. Se o nome de Irineu Evangelista
prosseguiriam, chegando até o trecho junto à
de Sousa, o barão de Mauá, esteve associado
estação das barcas para Niterói, deixando
às ferrovias , não é exagero dizer que a
pronta, além da pequena Doca do Mercado,
modernização dos portos, tanto em relação ao
onde passaram a ser desembarcados
que foi realizado como no que toca às
produtos vendidos no Mercado Municipal,
aspirações frustradas , está associada ao nome
a Doca da Alfândega, onde hoje está
de André Rebouças. Engenheiro, veterano da
instalado o Centro Cultural da Marinha.
Guerra do Paraguai, de origem humilde e
Este não seria, contudo, o único projeto
mulato numa sociedade ainda escravocrata,
portuário desenvolvido por Rebouças na
ele se tornaria, na década 1880, um
cidade. Em 1867, depois de voltar da Inglaterra,
abolicionista militante. De suas viagens de
onde se entusiasmara com as Docas da Rainha
estudo na Europa havia voltado cheio
Vitória que acabavam de ser inauguradas em
de idéias e planos. Seu sonho era promover
Londres, o engenheiro começa a fazer planos
"a construção e o custeio de docas por
para uma estação marítima ligada à Estrada de
companhias particulares por todo o império"I 9
Ferro D. Pedro
Mas seus projetos para a construção de
parte do vale do Para1ba escoando a produção
portos em São Luís, Recife, Salvador,
de café. Para realizar seu projeto, associa-se à
Cabedelo e Rio Grande esbarraram nos
Stephen Busk & Company, ligada à empresa
obstáculos da política e em intrigas
de navegação Liverpool, Brazil and Riner Plate
promovidas por homens de negócio. Só no
Mail Steamers, dona dos vapores responsáveis
Rio o seu empenho daria algum fruto.
pela maior parte das importações que
O nome de Rebouças está associado à
II
que, em 1865, já atendia a boa
chegavam ao Rio. O objetivo de Rebouças era,
Doca da Alfândega, objeto do primeiro esforço
segundo suas próprias palavras na petição
de modernização dos portos por ser
encaminhada ao governo, organízar uma companhía
considerada uma área prioritária pelo então
Alfândega, pelo plano aprovado em 1852,
para a construção das docas de ímportação e exportação, e de um estabelecímento de reparação de navíos [..] nas enseadas da Saúde e Gamboa. Ao argumentar a favor da necessidade do novo cais, ele lembrava
seriam parte de um projeto mais amplo de
que a Doca da Alfândega, que ainda estava por
construção de um porto que iria desde o
terminar, depois de pronta seria capaz de
Arsenal da Marinha, perto do morro de
abrigar apenas 12 navios, enquanto "o número
governo imperial, que daí extraía boa parte de suas receitas. As obras na Doca da
I
5I
DO CA I S P II AROUX À PONTA
O centro do Rio e
a ilha das Cobras, J88s. M.\RC I fRRFZ fOTO(, RA F I A IN,TITUTO MOREIRA SALES
DO CAJU
Neste penodo, a maior parte dos projetos de reforma do porto concentrava-se no trecho da Praça 15 ao Cais dos Mineiros. Só mais tarde foram priorizadas as áreas da Praça Mauá à Ponta do Caju.
152
OPORTOEAC I DADE
Ilha das Cobras e as obras no Caís dos Míneíros, 1852. fELIX ÉMILE TAUNAY ÓLEO SOBRE TELA COLEÇÃO PAULO E MARIA CECI LIA GEYER MUSEU IMPERIAL !PHAN
I
de navios, só de longo curso no porto do Rio de Janeiro, excede sempre de
140".
20
O empreendimento, no entanto, enfrentou
53
DO C A I S PHAROUX A
P ONTA
DO C AJU
imprensa, Rebouças contará com a ajuda
Candeláría.
de poucos amigos. Entre eles, o mais
CARTAO POSTAL
importante é o imperador Pedro
CO LEÇÃO [LYS IO
11.
resistências políticas de toda ordem. No dia
Forçado a fundir sua companhia com a
mesmo do início das obras, a 15 de setembro
Docas da Alfândega, Rebouças vê as obras
de
chegarem ao fim em 1875 sem que fosse
1871,
por decisão da Câmara Municipal, os
operários da companhia são presos. ~atro
atingido o seu ambicioso propósito inicial.
dias mais tarde, o conde d'Estrela, presidente
As Docas Pedro
da companhia e um dos acionistas que
limitando-se ao cais entre o beco da Pedra
Rebouças tinha a muito custo recrutado para a
do Sal e a Praça Municipal, alcançando
empresa, anuncia sua intenção de dissolver a
cerca de
firma, intimidado pelas cartas anônimas que
Mais tarde, em seus diários, ele resumiria
recebera, lamentando que ele, português e
assim a experiência: "Uma palavra
branco, se misturasse com um mulato naquele
caracteriza a história da criação das
projeto21 Nos anos seguintes, repletos de
Docas Pedro
intrigas políticas e financeiras travadas contra homens de negócio, ministros e até com a
160
11 ,
na Gamboa, acabaram
metros de extensão.
11 -
Traição." 22
O objetivo inicial de Rebouças estender um ramal ferroviário até o porto -
BELCHIOR
Em primeiro plano, vêe m se as Docas da Alfândega. obra do engenheiro Andre Rebouças.
154
O
PORTO
E A C I DADE
seria retomado mais tarde por Francisco
confiou ao visconde de Figueiredo a missão
Pereira Passos, outro nome associado à
de elaborar o que seria o último projeto
história das instalações portuárias do Rio.
de melhoramentos do porto antes do
Como integrante da Comissão de
advento da República. A concessão foi
Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro,
outorgada ao visconde e à companhia que
nomeada em 1874, portanto ainda em pleno
ele formasse, estabelecendo o decreto
império, Passos já havia refletido sobre o
que as obras seriam financiadas com a
problema, um dos
instituição de taxas sobre as importações
II
pontos abordados por ele
e seus colegas. ~ando, dois anos depois,
e as exportações. Figueiredo e seus
ele foi nomeado diretor da Estrada de Ferro
sócios entregaram ao engenheiro
D. Pedro I I , o engenheiro Pereira Passos teve
James Brunlees a tarefa de elaborar o
de lidar com os problemas causados pelo
projeto. O resultado foi um plano que
acúmulo de cargas na estação terminal da
previa a construção de uma bacia protegida,
ferrovia, junto ao hoje Campo de Santana.
que ficaria ao sul da ilha das Cobras e
Dali, o café era levado até a costa em
a leste do trecho da orla entre a Doca
carroças. Estas durante muitos anos seriam
da Alfândega e o Arsenal de Guerra.
incorporadas à paisagem do centro da cidade,
No interior dessa bacia haveria um cais,
atravancando as ruas e causando
dotado de guindastes e elevadores
contratempos para os moradores. Foi para
hidráulicos, vias férreas e armazéns.
solucionar o problema que Passos planejou
Ali atracariam navios de diferentes
estender a ferrovia até uma estação
tamanhos, tornando mais ágeis
marítima a ser construída na Gamboa.
os trabalhos de carga e descarga.
O novo trecho da estrada de ferro iria
Pelo projeto, um caminho ferroviário
perfurar duas vezes o morro da Providência:
suspenso ligaria o cais e os armazéns à
o primeiro túnel teria 82 metros e o
Estrada de Ferro Pedro II , enquanto numa
segundo, 313 metros de extensão. A estação
área ao lado seriam construídos prédios
marítima seria instalada entre o morro da
comerciais. As obras deveriam ser
Providência e o mar.
concluídas até 1897, sendo a concessão
A
I
0
prolongada por 40 anos. O projeto, contudo,
de julho de 1879, Pereira Passos,
no discurso de inauguração do novo ramal,
não resistiria à proclamação da República:
enumerava os benefícios trazidos para a
na condição de ministro da Fazenda do
estrada de ferro, para a lavoura de café
novo regime, Rui Barbosa defendeu a
e para o comércio, sem esquecer a grande
anulação do decreto que fazia a concessão,
vantagem que a obra traria para a cidade,
alegando sua ilegalidade. Antes de mais nada é
que finalmente vê desaparecer uma de suas praias mais prejudiciais à saúde pública, e surgirem vastas construções onde até agora existiam casas de mesquinha aparência e habitações insalubres.2 3
óbvia a insustentabilidade da cláusula que estabelece um porto de exportação afavor da empresa. Essa disposição não pode resistir ao princípio da Constituição da República que extingue os direitos de exportação. Ela deve ser(.) eliminada do contrato por inconstitucional em presença do novo regime.2 4
Ao apagar das luzes do reinado de Pedro
II,
a 28 de setembro de 1889, o governo imperial
ISS
DO C A I S PHAROUX A PONTA DO C A J U
Terminal marítimo da Gamboa visto do Cemitério dos Ingleses, tta Gamboa, cerca de 1880. MARL FERRLZ FOTOGRAFIA INSTITUTO MOREIRA SALES
O terminal levou os tri lhos da Estrada de ferro Pedro 11 ate o porto. com o objetivo de modernizar o embarque do cafe. livrando a cidade das carroças que atravancavam o trânsito com suas cargas.
158
AO LADO , ABA I XO
E PÁGINA AO LADO
Projeto de melhoramento do Porto do Rio de janeiro, 1889. DESENHOS AQ_UARELADOS ARQ_UIVO NACIONAL
Último projeto do lmperio, encomendado pelo visconde de Figueiredo ao engenheiro inglês }ames Brunlees. Jamais realizadas. as obras previam um ramal ferroviário suspenso que ligaria o cais e os armazcns a Estrada de Ferro Pedro 11. PÁG I NA ANTE RI OR
Desenho sobre projeto de ]ames Brunlees, último plano de melhoramento do Porto encomendado pelo Império, 1889. ARQ_UIVO NACIONAL
OPORTOEAC I DADE
159
1t I
Cf
~
STRAUMANN .
op. cit., p. 48 -so:
MORALES DE LOS R I OS .
O
próprio porto, da avenida que acompanharia o Canal do Mangue e, sobretudo, da abertura da avenida Central. Projeto até hoje tantas vezes atribuído de forma equivocada a Passos, a futura avenida Rio Branco foi na verdade uma iniciativa do próprio Rodrigues Alves, implementada pelo engenheiro Paulo de Frontin, tendo seu polêmico trajeto sido traçado a régua sobre um mapa da cidade pelo então ministro da Viação e Obras Públicas, Lauro Müller. Em janeiro de
1903,
o parecer de uma
comissão encarregada de planejar as obras do porto já deixava claro como essas iniciativas - Como s e cha.maru os avós 1 - Dr. Franciaco de Paula D emorado e U. En~ra c ia Perpe tua de S. Nunca . - O no me d OlO pais ? - Dr. Qu e réca Via \·:lO e D . Necess idade Nacional. - 0.1 J1adriu h o!> ? - O cousdlh!iro Gcutc Em P .:: nca. c O. C.J.Ili tall.los Passos Home m Como 'l'rint:t.
estavam intimamente relacionadas, fazendo alusão, por exemplo, à necessidade da futura avenida Central, além de uma larga via paralela ao próprio porto, a avenida do
O Malho , 11
de abril de
que um jornal da época, com certo exagero, 1903-
R.AuL
chamava de
"400
anos de inércia"? A ambição
I NST IT UTO li I STOR I CO E
anunciada no discurso do presidente de fazer
GEOGRÁFICO BRASILEIRO
do Rio "o mais notável centro de atração [. ..]
Charge ironiza a demora nas obras do Porto: os avós do "batizado" do Porto são dr. Francisco de Paula Demorado e dona Engrácia Perpetua de São Nunca.
nesta parte do mundo" era uma referência velada à rivalidade que o Rio mantinha com a capital argentina. Disputa que não era tratada com meias palavras pela imprensa da época:
No dia em que o Rio de janeiro não tiver mais fibre amarela e... tiver porto, avenidas, higiene, conforto, arquitetura epolícia, nesse dia a estrela de Buenos Aires começará a empalidecer) Na visão do novo presidente, a construção do porto era uma das vertentes das transformações que pretendia promover na capital. Um dos aspectos mais importantes, o do saneamento da cidade, foi posto sob a responsabilidade de Oswaldo Cruz. E se parte das reformas urbanisticas ficaram a cargo do novo prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, outras obras, por sua dimensão, eram
Cais, mais tarde avenida Rodrigues Alves. Todas as vantagens desta organização [relativas ao porto] serão prejudicadas se, ao mesmo tempo, não forem tomadas providências para aJáct1 comunicação entre a avenida do porto e as ruas centraís da cidade, ponderavam os engenheiros, que já contavam como certa a construção da via de r.8oo metros de comprimento, "em linha reta, desde o largo da Prainha até a praia de Santa Luzia".4 Da mesma forma, o parecer defendia a necessidade de uma avenida acompanhando o Canal do Mangue (a futura avenida Francisco Bicalho) , bem como do alargamento e do aperfeiçoamento do próprio canal, prolongando até o mar o que era então "uma tortuosa e imunda vala que terá de ser substituída por um canal de 20 metros de largura, pelo meio da avenida, regularmente construído."5 A
20
de maio de
1903,
era assinado
em Londres o empréstimo de oito milhões e
500
mil libras com os Rothschild, que
I
73
UM
PORTO
PARA A
RIO DE JANEIRO - Obras do Porto: os novos caes
Cartão-postal. COLEÇÃO ELYSIO BELCHIOR
Os progressos na construção da muralha do novo cais eram acompanhados pela população e registrados em cartões postais.
REPÚBLICA
17 4
O
P O R TOEAC I DADE
Edilion de la Mt ioll Hrl> 1lienne de Prop a.,.nude - Pan '2 , Bd. des Italiens
BRÉSIL. - Rio de Janeiro. -
Construction du Port Cartão-postal. COLEÇAO ELYSIO BELCHIOR
A construção do Porto do Rio empregou tecnicas avançadas de engenharia da época. Na foto, uma das duas estruturas flutuantes usadas para encher de concreto os enormes caixões de ferros que. submersos. formam a base sobre a qual foi constrUJda a muralha do cais.
17 5
UM
PORTO
PARA
A
REPUBL I CA
Fotografia anônima. l. O lf (,.AO [ n SIO BEL L III O R
Barcaças carregam material de construção empregado nas obras do porto.
financiariam a obra. A quantia equivalia a 135
total de 3.500 metros de cais. A parte
mil contos, dos quais 45 mil seriam gastos
restante, os dois mil metros entre o Mangue
com a abertura da avenida Central e os
e a Ponta do Caju ficariam para uma fase
noventa mil restantes na construção do porto.
posterior. O novo cais deveria ter um
Esta soma viria a ser complementada com
alinhamento o mais retilíneo possível, o que
capital nacional, captado mediante a emissão
implicava uma área aterrada bem maior:
de apólices
especiais.6
A Comissão de
aproximadamente 175 mil metros quadrados,
Obras do Porto, formada em 1903, era
incluindo o aterro da orla da Prainha, do
presidida pelo próprio ministro da Viação
Valongo, dos sacos da Gamboa e do Alferes
e Obras, Lauro Müller, e incluía entre outros
e da praia Formosa - uma faixa de terreno
os engenheiros Francisco Bicalho e Paulo
larga o suficiente para abrigar não apenas
de Frontin, autor do projeto de 1890.
o cais com 100 metros de largura, mas
Por meio de decreto baixado a 18 de
também a avenida do Cais, com quarenta
setembro de 1903, o governo aprovou o
metros de largura.?
plano elaborado por engenheiros brasileiros,
A construção do cais do porto, que
tendo à frente Francisco Bicalho. Este previa
teve início em 1904, foi confiada a uma
a ocupação da área entre o Arsenal da
firma inglesa, a C. H. Walker e Cia., que
Marinha, aos pés do morro de São Bento, e
empregou tecnologia moderna para a época -
a embocadura do Mangue, perfazendo um
a mesma utilizada na construção do porto
176
O
P O RT OEAC I DADE
Cartão postal COLE, E'm todos os angulos dos navios, nos moveis, no t ... ldo. nas machin. .As embarcações do empreiteiro, formadas em ' l:nha em frente ao referido eshbelecimento. eram as seguintes: draga Madero, vapores Hdf1ta e Car/ot.t, batelões Guanabara e Bahia, e em seguimento a torpedeir>. Betrto Gonçalves, o cruzador Rejmblica, os vapores Teixeirinlza, ftaútra, Guarany, Planeta, Athnyde e os dous grandes paquetes do Lloyd a que primeiro nos referimos. Em outras disposições, fóia de1salinha, que desde ctdo foi proporcionalmente se formando até 11 horas, quando fundeou o ultimo vapor, achavam-se muitos outros, entre os · quaes notámoa os seguint~s : barcas Be1tlta, Tijtu:a, Estrella, Nictlteroy, Prudente de Moraes, Latfario, Brngattça e O/inda, lúgre Almirante, patachos Co1zsellteiro, Blumenat~ e Jtajahy, vapores Muqz~y, Dot~s Rios, 11-lurupy e S. Felix, barco de pesca Attnic, e, mais adeante, proximo ao Republica, a lancha Federal, adornada com muito capricho, aq serviço da commissão das obras do porto. Dezeseis baleeiras de todos os club de regata~> cruzavam a bahia, á quéda dos remo · impellista Al - Silo&bastí4od4 AA de janeiro. Agir, 1965. p. 60.
would not be enough to turn the insignificant settlement established in I565 in to a cornerstone of Portugal's Maritime Empire. Conditions still had to be ensured that would
21 An Emporium between Two Empires
guarantee the future of this Captaincy: control of the land and an enslaved labor-force. This initially consisted of the
Throughout the
local tribespeople, in the words of Italian Jesuit Andreoni
the economic role played by Rio de Janeiro remained minor,
Antonil, "the feet and hands of the Lord". Those who
with sugar cane and brazilwood the main sources o f income
escaped the massacres and epidemics were systematically
in this new colony. According to Padre Vieira, by around
XVI
century and for the next few decades,
enslaved by the Portuguese. During the early XVII century,
ISSO there were still only three sugar mills in the Rio de
Martim de Sá captured some I6,ooo tribespeople during a
Janeiro region, compared to 36 further north in Bahia State.
single expedition through the area that is today Rio de
Moreover, they were small: "The three of them are not even
Janeiro State. 6 In IS6S, the nephew o f Governo r General
equal to a large sugar mill in either size or output." 1
Mem de Sá, Estácio de Sá brought reinforcements for the
Although only a bit player in the sugar production industry
battle against the French, landing dose to the harbor bar
o f Portuguese Ame rica, Rio de Janeiro became more
where he entrenched his forces on a strip ofland between
irnportant during the
two hills: the Morro Cara de Cão and the Sugar Loaf Here
between the Spanish possessions in the River Plate estuary
he established the City of São Sebastião do Rio de Janeiro
and the African endaves where European slave traders
on March
collected their wares. 2 The trade flows between the Ports of
L
Two years later, concerned about defending the
XVI
century, as it lay on the route
city; Mem de Sá transferred this settlement to the top of the
Rio and Buenos Aires - where the silver of Spanish America
Morro do Castelo hill, for strategic reasons.
had become more irnportant by ISSO in terms of the Iberian
214
C !TY ANO !T S P O RT
Union - were to withstand the separation and the break in
from the hilltop and starting to spread over the nearby coas tal
relations between Portugal and Spain in 1640.
plain. Draining marshes and swamps at tremendous cost and
Madrid decreed that ali European goods shipped to the
effort, Rio expanded over the area demarcated by four hills:
vast areas of the Viceroyalty of Peru in Spanish America
Castelo, São Bento, Santo Antônio and Conceição. Close to
could be shipped only on the official fleets of Seville. These
the Morro de São Bento hill, on what was became known as
goods followed a long and expensive route to Panama,
the Praia dos Mineiros beach (in front of Ilha das Cobras
crossing the Isthmus, where they were loaded onto smali
island) activities linked to loading and offloading goods were
vessels that sailed down the Pacific coast to Caliao. There,
to increase graduallywith the consrruction ofwarehouses and
these goods were once again offloaded and carried overland
repositories moving towards the Prainha area, currently the
to distant places on the other side of South America. such as
Praça Mauá square, as well as Valongo. Praia da Saúde, Saco da
the River Plate basin. Nevertheless, the Port of Rio de
Gamboa, Saco do Alferes and Praia Formosa, "the preferred
Janeiro profited from highly profitable flows of conrraband,
sites for wharves since the days o f the first governors". 6
handling European products (such as fabrics) that reached
In paraliel to this larger-scale trade whose cargos were
the Spanish colonies through Buenos Aires at prices far
carried by fleets sailing across the Atlantic, another type of
lower than those charged by the "official" trade. The
commerce developed that was no less vital for the city:
Brazilian merchants involved in this clandestine trade with
feluccas sailed across the back of the Guanabara Bay to offload
the Viceroyalty of Peru were known as peruleíros.3
there, at the foot of the Morro do Castelo hill. the crates of
Vessels leaving Rio de Janeiro carrying slaves sailed down
sugar and barreis of cane spirit produced by the sugar mills
the coast for fifreen days to Buenos Aires and returned loaded
and distilleries in the Baixada lowlands.7 In order to keep
with silver coins from Peru known as patacas. The trade route
pace with the steady expansion of port activities, the
linking Buenos Aires to Rio de Janeiro and extending across
Governor of Rio de Janeiro at that time, Rui Vaz Pinto
the Atlantic to Angola was to be strengthened during the late
(r6r8-r62o) aliowed black slaves to be used for loading and
XVII
century with the establishment of the Sacramento
colony. Located dose to what is today Montevideo, this area was included in the territory of the Portuguese colony
offloading vessels. In addition to sugar. these smali ships also carried other farm produce from the backlands of the Bay. The local economy also induded fishing. which was
through an enterprise headed and financed by the inhabitants
crucial for feeding the local population. Whale hunting was
of Rio de Janeiro. The quantities of coins cast from the silver
introduced to Brazil in 1602 by a Basque calied Pedro de
of Spanish America increased to the point that, in r68s.
Urecha. who traveled to Brazil with Governor Diogo de
Portugal's Ultramarine Council approved the circulation of
Botelho and taught whale hunting techniques to the local
Spanish silver coins in Rio de Janeiro, shipped in from Buenos
fishermen. At that time, this was not such a difficult task.
Aires. This same year, the warehouses built at the foot of the
as large herds of these huge marine mammals would frolic in
Morro de São Bento hill and along the Prainha beach.
coves dose to the shore and even along river bars. This
exported some s.ooo hides from the River Plate region,
profitable business was declared a monopoly of the
reflecting the vigor of this trade route. 4 The settlement of Northeast Brazil by the Dutch and
Portuguese Crown, which sold the right to hunt whales to a private individuais known as contractors, who then had to set
the consequent naval blockade imposed on this region by the
up the entire infrasrructure needed for these activities:
West Indies Company also affected Rio and its Port during
entrepots with boilers and oi! stores, shipyards and whalebone
the
XVII
century; shaping "a new Atlantic landscape", in the
words of historian Luiz Felipe de Alencastro:
Forced southwards towards the American boundaries of the Tropic of Capricorn, sub-equatorial routes drew Rio more towards seaborne exchanges, andforther awayfrom the hinterland economy. Peruvían s11ver andAngolanslaves were added to the streams ofgoodsjlowing through Rio de janeiro State, supportíng the Rio-Luanda-Buenos Aires tríongle, whose slave-trading prirnurn mobile began in the Guanabara Bay.5
stores, offices and the stockrooms, ali constituting complete whaling stations established at various points along the shore. These huge mammals were hunted from whaleboats crewed by around eleven men, with the harpooner being the most importam of them. Some 250 whales were caught each year, producing up to 3,000 barreis of oi! and a ton of whalebone. In addition to their meat, whale oi! was used for lighting. spermaceti was used to make candles and whalebone was used for women's dothes. This business began to peter
Sugar, Si1k Stockings and Wha1es
out during the early decades of the XIX century; as whale
Just what did these port activities consist of during the late
stocks were decirnated mercilessly. But before this happened,
and early XVI 1 centuries, and exactly where were they
huge fortunes had been made. One of them belonged to a
located? At that time, the city was gradually moving down
contractor whose name stilllives today as a district of Rio:
XVI
2 I
5
C ITY ANO IT S PORT
Brás de Pina, where he owned vast tracts of land.
the construction of the first large galleon to leave a Brazilian
His whaling station stood at the same point where the
shipyard, built in Rio de Janeiro. There are no accurate
Cais dos Mineiros wharf was to be built !ater, dose to the
records of the size of the Padre Eterno, built between 1659 and
Morro de São Bento hill8
1663 on the Ilha do Governador island at the si te that has
Although its sugar output was insignificant, Rio de Janeiro
been known since then as Ponta do Galeão. However,
gradually firmed up its position as the main city in the
according to English historian Charles R. Boxer, who
Center-South region ofPortuguese America. This was the
compared it with the French and British vessels sailing at that
only harbor that moored the fleets sailing over each year from
time, "this great galleon built in Brazil was one of the largest
Lisbon, carrying products that were irnportant not only for
ships in the world at that time". 12 In order to obtain the
the Rio market but also for its trade with other regions. The
approval o f Lisbon, the Governo r o f Rio de Janeiro,
annual fleet consisted of some fifreen vessels until 1740, rising
Salvador Correia de Sá, who was heading up this project,
to twenty from that year onwards, sailing from Lisbon
praised the carpentry skills of the indigenous tribespeople
between March and April and reaching Rio de Janeiro in July
and the African slaves.
or August. Dutch navigator Dierick Ruiters, who was in Brazil
Regarding this vessel, which acquired almost legendary
during the early XVI 1 century, described for his compatriots
status, Boxer quotes a mention recorded in Lisbon in 1665:
the goods involved in this trade:
Thís jleetfrom Brazt1 includtd thatJamous galleon but1t by Salvador Correia de Sá e Benevides at the Port ofRio de janeiro when he was the Governor there. At the moment, it ís the largest ship in the wor/d, and there ís no news ofany larger at any tíme. It carries three thousand crates and more thanfive hundred boxes ofsugar, in additíon to many other goods that served merely as ballast, and m11 seemed to be empty, although it sat1ed as well as thejastestfrigate in the jleet.13
There are three kinJs ofcargoes that the Portuguese carry.from Portugal to the land ofBrazt1. [.] They sJwu1d priferably takt pknty ofwheat in barreisfor trading purposes, oíl, Dutch cheese, ham, as they calkd salted leg of pori, salted sardines, ali sorts ofstaples that do not rot in hot countms, and also many multicoún-ed artícles such as tqffetas and st'lks, a certain quantíty of síll stockings in ali colors, pknty offtltfor the men, St'lesíanfabrics, muslíns and chambrtty5, fine 14ces, brocaJes and plushes. Others Wad theír vessels wíth wínes, sameJrom the Canaries, samefrom Madeíra, whíle most carry Portuguese wínes. A third group carries goodsfor barteríng in Angola, as it ís there that they traJe in slaves. [. JThe return cargos.from Brazíl consíst maínly ofsugars that are Waded onto the vessels, at times including same st1ver coins and bars that comefrom the River Plate each year. The brazílwood that ís shipped out belongs to the King [.]. vessels leavíng Rio de janeiro carry gold that comesfrom the mines ofSilo Paulo. 9 More than merely forming a link with Metropolitan Por-
With the role o f Rio de Janeiro in the trade controlled by the Portuguese Crown and the activities of its Port expanding steadily. these flows were to increase even more. Initially spurred by the discovery of gold during the closing years of the XVII century. this expansion was !ater fueled by the opening of the New Road during the following century. Running directly from the inland mining areas through Parafba do Sul to the Porto da Estrela at the back of the Guanabara Bay. this new route replaced the Old Road that
tugal, these port activities developed steadily through
once carried the gold to Paraty. where it was shipped out from
opening up a broader range of relationships. Some of the
this port. The Portuguese Crown decreed the Paraty road
residents o f Rio had commercial in terests that extended
closed from 1733 onwards. From then on, except for gold
throughout Portugal's vast empire. At the same time,
smuggled out along the old route, the entire official trade in
exchanges took place not only with other colonies in Africa,
this precious metal flowed along the New Road leading to
but also with captaincies closer to Rio that gradually became
Rio. But the benefits brought to the city by Brazil's Gold Rush
subordinare to it, in commercial terms. 10
were not based only on shipments o f this precious metal. As thriving sertlements sprang up further inland around the
The Gold Route
mines, these eager markets were supplied through Rio de
During the second half of the XVII century. the Rio Fleet was
Janeiro, whose economy was redefined, reshaping its role
the second largest in Portuguese America, behind only that of
within the broader context of the Portuguese Empire. 14 In
Salvador. Lirtle by lirtle, its sugar mills increased from only
1718, Governor Antonio Brito de Meneses considered "the
three in 1580 to forty in 1612, sixty in 1629, and no in 1639,
City of São Sebastião do Rio de Janeiro more opulent than all
ranking Rio as the third-largest sugar production hub in this
those in Brazil, due to its ample trade, and its goods being the
Portuguese colony. By the late XVII century. Rio was already
most precious".'5 His successor, Lufs Vahia Monteiro, was to
exporting as much sugar as Bahia."
endorse this view almost ten years !ater: "This land is today an
Another activity associated with the Port that began to
?empire = emporium?, where all the wares of the Americas
prosper was shipbuilding. The greatest symbol of the
are traded and all the weight is offloaded, providing staples for
progress achieved in this field by the mid-xvu century was
the governments ofMinas (Gerais] and São Paulo." 16
216
After attempting - unsuccessfully - to enter the Bay by
Notes I BOXER,
C ITY ANO ITS P O RT
Charles. S4l...Jor tk 54< a luta pelo Brasil< Angola. São Paulo:
raising Britain's Union Jack, these six French sailing vessels
Companhia Editora NacionaljEdusp, 1973. p. 192, 193.
changed course for Ilha Grande island. Guided by runaway
2 Idem.
slaves escaping from a sugar mill, they finally decided to attack this city not through its Port, but rather overland. Landing on
3 BICALHO. Op. cit. p. 179. 4
BOXE R.
the Praia de Guaratiba beach, Duclerc marched from there
Op. cit. p. 86-96.
5 SAMPAIO. Op. cit. p. 147.
through the rainforest for a week, with around 1,200 men. On
6 ALENCASTRO , Luiz Felipe de. 0 trato Jasvl,.,tes - Formaftloáo Brasa
reaching the city boundaries, he launched his attack on the
no Atl4ntlco Sul.
ão Paulo: Companhia das letraS, 2000. p. r8o.
morning of September 19. The French entered the streets of
7 LAMARÃO . Op. cit. p. 25.
the city. but were defeated in a battle where the local militi.a,
8 LATI F. Op. cit. p. 60.
students from the Jesuit College and negro slaves bearing
9
MORALES DE LO S RIOS FILHO,
Adolfo. OR.íotkjarodroimptrial.
Rio de Janeiro: Topbooks, 2000. p. 317-319. l O RUITERS ,
Dierick. "A tocha da novtgaçdo". Revistada IHGB , n. 269,
p. 25. October .f December 1965. li SAMPAIO.
Op. cit. p. 140, 141.
arms played more important roles than the offi.cial troops. Just a year after beating off this French raider, the city fell to his compatriot, Duguay-Trouin who arrived with s.ooo men on eighteen vessels, in a campaign financed by severa! French ship-owners and shareholders. On September 12,
12 SAMPAIO . Jbid. p. 65.
17II,
13 BOXER, C. R. Op. cit. p. 323.
winds, ali these pirate ships lined up and sailed through the bar
concealed by heavy mist and backed by very favorable
14 BOXE R. Op. cit. p. 343-345.
one by one into the Guanabara Bay. before the appalled eyes of
15 SAMPAIO. Op. cit. p. 148.
the Government authorities and the local population. "lt was
16 Mentioned in SAMPAIO. Op. cit. p. 148.
obvious that that success of this expedition depended on the speed of our action, which is why the enemy could not be given
31 The Corsairs are Coming
any chance to recover from the surprise", recounts this corsair in his memoirs. 2 The success of this impressive entry into the
Ushered in partly by the discovery of gold, this prosperity soon
of the French offi.cers, after only half an hour, ali the vessels
aroused the greed of outsiders, particularly the French.
were in the Bay - that the expedition commander himsdf was
Bay by the captains o f his fleet was so great - according to one
Dividing the nations o f Europe, the War o f the Spanish
almost unable to hide his amazement: "They carried out this
Succession (1702- 1714) placed Portugal and France on opposite
order with such perfect precision that I cannot suffi.ciently
sides. The corsairs of the latter raided Portuguese settlements
praise their bravery and food performance."3 The impact of
in Africa, pillaging the islands o f Príncipe and São Tomé,
this feat by the invaders was increased by the fact that they had
burning the town o f Benguda and attacking Santiago in Cape
to sail past a complex of forts and cannon batteries that
Verde. But it was gold - rnined in the heartlands o f Brazil and
included the Santa Cruz, São João and Nossa Senhora da Boa
shipped out through the Pott ofRio de Janeiro - that made
Viagem fortresses. Until then, the Portuguese had believed
this city a far more tempting target. In 1710, an expedition
that this set of defenses made the entrance to the Bay
consisting o f six sailing ships carrying some 1,500 men set out
impassible, consequencly protécting the entire city.
from the Port o f Brest for Rio de Janeiro. This venture was
Serving aboard the French frigate LÍ\ígle, First Lieutenant
commanded by a young and inexperienced Officer, Jean-
Louis de Chance! de Lagrange noted in his memoir of the
François Duclerc. Born in the French colony o f Guadaloupe,
raid how the city appeared to the eyes of the French early in
his dark skin would cause him to be taken for an "Indian
the XVII century:
Prince" on his arrival in Brazil. But Duclerc was inspired by the
Thís ís the most ímportant city after Bahía tÚ Todos os Santos, due to the nearby gold mínes and the Portuguese tradíngfoets that each year bring ít the most valuable European goods. Moreover, the Britísh and Dutch vessels necessarily moor here on theír return trípJrom the East Indíes and ]apan, ~oadíng theír precious cargoesJrom the Oríent.4
successful attacks in Africa. or perhaps the feats of another group ofFrench corsairs that had recently trounced the Spanish in Colombia at Cartagena de Indias. This venture was also probably prompted by the somewhat unflatrering assessment of the residents of the Portuguese colony. A French chronicler who left his impressions of visits to Rio de Janeiro and Bahia,
After nine days ofbattle and heavy artillery fire over the city. government authorities and local residents fled, leaving
Froger wrote: "lt is well known that they are not brave, except
Rio open to the French raiders. The city and some of the
on their own dung-heap, and depending on the occasion, they
wealth and properties that it contained was returned to its
turn more quicldy to their rosaries than their courage"I
inhabitants only after fifty days of occupation, on payment of a
21 7
C ITY ANO
IT S P O RT
ransom. The French were lucky enough to find the Portuguese
main measure would be to "dose off the city by building a
fleet anchored in the Bay, on its annual trip, with 35large
single wall around it".9 This controversial project, which was
trading vessds. Ali were captured or burned. In fact, Lagrange
finally acknowledged by ali as irrelevant, was to be followed in
boasted of the fact that the losses affected not only the
subsequent years by projects that responded to the same
Portuguese, but also British interests, even causing some
concerns. In 1726, Governor Luís Vahia Monteiro, known as
bankruptcies in Europe.5
the "Wildcat", proposed that a canal should be dug, broad and
The corsairs soon d.iscovered that this reputation for wealth on the other side of the Atlantic was well -deserved.
deep enough to be navigable. linking the arm of the sea that ran through the São Diogo mangrove swamp (in what is today
In order to assess the activities of the Port and the range of
the Cidade Nova d.istrict) to the Praia do Boqueirão, today
provenance of the goods shipped through these facilities, it
the Passeio Público park. Although this proposal was turned
is worthwhile quoting at length from the statement of First
down, a similar idea appeared in 1769, when Swed.ish Briga-
Lieutenant Lagrange, describing his impressions of the city:
d.ier Jacques Funck, commissioned by the Portuguese Crown
Never has there been seen anywhere such a vast accumulation '!fgoods comingfrom Portugal, France, England, Italy and the IndÚis, carrieJ by the tradingjleets. This in itse!fmade each home into a real repository '!fthe most curious goodsfrom Europe, China, the East Indies, Persia andjapan, with the value '!fthese riches assessed atfour mt1lion. However, while sacking and pillaging, our soldiers destroyed large quantities '!fporcelains, lacquered Chineseforniture for use and adornment, mirrors, crystals, pictures, stools and chests madefrom ivory and scented woods, as weU as countless preciaus objects, resulting in the loss '!fassets appraised at three mt11ion. 6 The Chinese furniture shatrered and scattered through the streets and homes of Rio bore mute witness to the scale and
in Rio to rethink the city's defenses, once again proposed that canais should be dug, which would be paired with the new walls to make the city invulnerable. None of this complex project was ever implementediO Despi te the ban on trading with foreigners, over the next hundred years Rio de Janeiro became a regular port of call for a steadily increasing nurnber of vessds from the XVII century onwards11 During this period, the contrad.ictions and ambiguities in the relationships between the city and the foreigners sailing into its Port was also reflected in the treatment o f visitors, alternating between hospitality and
the range of the flow of goods through this Port. From the late
mistrust, courtesy and hostility: These relationships were
xvü century onwards, around half the vessels sailing from the
basically guided by the laws issued by Metropolitan Portugal,
East to Portugal moored in Brazil, some of them in Rio.?
which strictly and dearly banned direct trade between local
Behind high walls, fear
explorers, naturalists or members of religious orders, these
The pirate raid headed by corsair Duguay-Trouin and his
travelers produced prolix reports on the natural beauties of
residents and the members of foreign fleets. Sold.iers,
men was a traurnatic event for the Portuguese authorities
the city, with no less detailed descriptions of its fortifications,
and the residents of the city, established under the auspices
capacity for defense and military troops. This was the case of
ofbatt!e during the fight with the French headed by
French navigator, mathematician, aristocrat and sold.ier louis-
Villegaignon. If the series of forts, fortresses and cannon
Antoine de Bougainville (1729-18n), whose journal ofhis
batteries already dotted the topography of the city before
visit to the city induded a "Plan of Attack on Rio de Janeiro"
this assault, concern for its defense and fear of foreigners
that even included the composition of severa! regiments and
was to characterize the life of Rio and its Port even more
the number of sold.iers posted to shoreline forts.
from then on. Historian Maria Fernanda Bicalho notes:
ifon the one hand the City '!{ruo de janeiro developed into a crossroads for the entire southern portion '!fthe Portuguese Atlantic Empire, what turned it in to a cosmopolitan center open to the circulation '!fpeople, capital, vessels, goods, politics and ideas was, on the other, its importance and the steady stream '!fraúls and attacks to which it had been subject since it was first established, with repeated attempts by the mt1itary to surround it by Jortresses, trenches and high walls, as both Kingdom and Colony.8 In 1704, six years before the Duderc attack, the first
When British navigator and explorer James Cook (1728- 1779) sailed into Rio de Janeiro on November 14, 1768
on one o f his voyages around the globe, Lisbon was going through a time of particular mistrust regarding British intentions. Despite the allegedly scientific objectives ofhis journey, he and his crew were forbidden to land, to his d.ismay, and managed to do so only dandestinely or escorted by Portuguese sentries. Neverthdess, the log kept by Cook and the journal of another member of this exped.ition, Joseph
project was drawn up to surround the urban area with a city
Banks, an amateur scientist and the main source of financing
wall. But it was only in 1712, a year after the Duguay-Trouin
for this exped.ition, d.id not fail to indude details of the
raid, that the Portuguese Crown d.ispatched French military
fortresses and the composition of the various regiments of
engineer Brigad.ier Jean Massé to Rio, with the mission of
troops. 12 The wariness that this type o f record inspired among
designing works that would fortify the city even more. The
the Portuguese authorities was more than understandable.
---~~~-~-~~----------
2 18
C ITY AND
IT S P O RT
The XVlll century saw many threats offere~ by France to
A year after Cook's visit, the travei journal of John Byron was to be published in London: Voyage round the world in HMS Ddphín.
Rio de Janeiro, initially through Jauffret the spy. then the raids
To the horror of the Portuguese Ambassador in London, this
headed by Duclerc and Duguay-Trouin, and barely avoiding a
book described the Port and the entire city defense system in
third French attack that rnight have had far more serious
a wealth of detail, stressing its inefficiency and fragility and
consequences for the residents of this city. A glimpse of what
even affirming that only a few hours and six British warships
rnight have happened is suggested by the order signed by .King
would be needed to destroy the Portuguese fortifications.
Louis XV in 1762, addressed to an officer in the French Navy
The treatment meted out to foreign fleets and visitors
Long forgotten in the National Archives in Paris, in this
also varied, depending on the shifts and switches o f European
docurnent the King o f France gave Officer Beaussier de I'Isle
policies, with this complex minuet of treaties and alliances
the general !ines ofhis rnission: to invade and conquer the two
interspersed by wars and truces. On July 23, 1748, only 37
main cicies o f Portuguese Ame rica, Rio de Janeiro and
years after the Duguay-Trouin raid, the Arc-en-Cíel moored in
Salvador. In contrast to the briefFrench incursions of earlier
Rio de Janeiro, where the captain and crew of this French
times, this attack was justified by the fact that Portugal was an
vessel were warrnly welcomed with gestures of good will by
ally of England, fighting against France in the Seven Years
Governor Gomes Freire de Andrade, the Count de Bobadela.
War. The intention was not only to pillage, but to hold the
A detailed report of the ceremonial manner in which hosts
conquered lands as the foundation of a future French
and visitors exchanged courtesies - including banquets, visits
Viceroyalty. Detailed maps of these two cicies were forwarded
on board and on land, salvoes o f cannon-fire by both sides,
to this officer, who was instructed to take command of a fleet
and performances of plays and music - were ali recorded in
of 22 vessels carrying a total of 4,8oo men. Even the name of
the log of this French vessel. "We were welcomed not only
the future Viceroy had already been selected: Count d'Estaing.
with courtesy. but with distinction", noted its author-'3
Confident, he had already received from King Louis XV the
However, the relatively liberal welcome offered to
basic principies of the future colonial policy of this region.
foreigners during the early days of the Bobadela
However, Monsieur d'Estaing saw his plans to sit on a throne
Adrninistration cooled significantly during the Seven Years
fade away: the Seven Years War ended before his fleet set sai!
War (1756- 1763). As a result, only nine years after the crew
from the Port of Brest for Rio. 16
of the Arc-en-Ciel had been welcomed so affably. the arrival of six French warships in the Port ofRio de Janeiro in 1757 prompted feelings among the local population that were described by contemporaries as "terror and
panic". 14
Notes 1 BOXE R. A
/JaJedtourodcBras/1. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. p. 113-
2 DU G UAY- TROUIN .
Mem6rúlsdoSr.Duguay-Trouln. Brasilia; Sao Paulo:
The fear and hostility prompted by this fleet - on its way
National Archives, Editora da
to India to fight the British - almost triggered bloodshed
Press, 2003. p. 146.
between the residents of Rio and the French crews,
3 DUGUAY - TROUIN .
disappointed by the "groundless dread" and "unfair mistrust"
4
that they caused.
Duguay-Trouin, segundo a narrativa de Chance! de Lagrange".
The fears o f Metropolitan Portugal about the presence
Revísta do IHGB , v. 5 Ibid, p. 7 2 .
Op. cit. p. 146.
270,
p. 56, January I March
probably no better example of the harm that they could
6 L A GRANGE .
cause than the case of Frenchman Ambroise Jauffret. Born
7 SAMPAI O.
Op. cit. p. 173-
in Marseilles and having lived in São Paulo for thirty years,
8
Op. cit. p. 181.
he forwarded a detailed report to the French Navy Ministry
9 Idem, p. 188.
DI CALHO.
Sao Paulo State Government
Chance!. "A tomada do Rio de Janeiro em
LAG RANGE ,
of possible spies were far from being groundless, and there is
UNB,
17 11
por
1966.
Op. cit. p. 60.
in 1704, describing this Portuguese colony and the status of
10 CAVALCANTI ,
the fortifications o f Rio de Janeiro, even suggesting various
A vida e a cot1Stn1f6o do c/JaJe, do ínV454o fra= att a clrtgad4 do cc>rte.
options for an artack. Together with a detailed map of the
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004. p. 48-54.
city. this information would have been crucial for the success
l i BI C ALHO .
of the Duguay-Trouin raid. In this docurnent, the
12
Idem, p. 121.
Frenchman noted that the raiders would find the
13
"Uma arribada francesa ao tempo de Bobadela". Revista do IHGB ,
Portuguese fleet anchored in what was known as the Pool,
v. 280, p. 225- 260, July I September 1968.
between the Ilha das Cobras island and the Mosteiro de
14 BI CA LHO .
Nireu Oliveira. O R.úJ dtjanarosaecentlsta -
Op. cit. p. 34.
Op. cit. p. 60.
São Bento Monastery. as ali the vessels stocked up there
15
Idem, p. 40.
with local produce. 15
16
Idem, p. 7 6 .
2 19
41 The Port: "The Most Precious Jewel"
C ITY AN O IT S P O RT
Portugal's Ultramarine Council, complaining about the inconvenience of the city having only a single warehouse at
Between 1713 and 1760, the population of Rio soared from
tbat rime: when the shíps ofthejleet ofthat cíty (Rio) are loaáíng and
12,000 to 30,000 inhabitants. Fueled by Brazil's Gold Rush,
t1floadíng, nct only does thís prevent Your Majestys Servícefrom díspatchíng there, but also greatly harms the common good, due to the ltuk ofwarehousíng equípment and scalesfor storing and weíghíng the crates ofsugar.5
this upsurge in growth spurred the vocarion for pon activities shown by certain parts of the town. More specifically, the Misericórdia district near the Morro do Castelo hill gathered
This Representarive had granted a license to a group of
together a significant portion of trading activities, with the
businessmen for the construction o f a new warehouse.
main depots, warehouses and stores. At the Praia Dom
However, this project was blocked by the owner o f tbe
Manuel beach near the city center, along the street that still
existing warehouse, alleging that he held rights to the
today bears the same name, was the wharf where goods were
warehouse built by Salvador Correia de Sá, with a dause
oftloaded and staples were loaded for expon1 These steadily-
guaranteeing that no other warehouse would be built.
expanding trade flows were to require increasingly large areas. which is why landfills and other improvements were
During tbe XVIII century, a significant portion of the local population drew its livelihood from the port and its
undertaken, paving the way for the construction o f shipyards,
acriviries. Among the richest were tbe merchants, some of
sheds and warehouses moving out towards the Praia do
whom purchased trading ships that carried their own goods,
Mercado beach during the XVII I century under the Gomes
while otbers invested in building their own dippers. The
Freire de Andrade Adrninistration (1735- 1762) .2 Deterntined to maintain control over this coastal strip, the
more humble induded many craftsmen specializing in the skills associated with this segment and the related ship
Ponuguese Crown displayed its displeasure with the
repairs, such as carpenters, woodworkers. painters, grouters,
disorderly way in which the local people were building along
coopers and carvers.6
the sea-front. Arguments over land ownership and the rules covering coastallands triggered a silent conflict between the
Outside the Law
local Council employees (who were more eager to defend the
During tbe second half of the XVIII century, the situation of
interests of the local population) and the functionaries o f the
Rio de Janeiro was incomparible with its fame. At least this
Ponuguese Crown (who were equally determined to impose
seems to be indicated by the situation found here by the
the will ofLisbon) . Governor Luiz Vahia Monteiro announced
Marquis do Lavradio, Luís de Almeida Portugal, on his arrival
his intention of protecting this harbor, as "the most precious
in Rio - the city he was to govern as tbe Viceroy of Brazil.
jewel that the world could have; because after entering it
lt would be hard for an administrator to have viewed the
through the bar, the vessels moored at this jetty are as thougb
purpose ofhis mission with a more disenchanted eye.
they were under lock and key". In support o f this, he daimed
"I entered this labyrinth that I adrnit to Your Excellency is far
that "for the good defense of the city" the beaches and
larger, more complex and more hazardous than I had assumed
seascapes should ali be deared, proposing that "no one should
in Bahia," he wrote to a friend a few days after taking office,
be allowed to extend even a hand's-breadth towards the sea,
newly arrived from Salvador. The state of its troop
nor build on the beaches as far as the Valongo Point".3
detachments and defenses, its countless diseases, its swamps,
Against this stance, which they felt was excessively
insects and "infernal" heat - nothing escaped censure by its
stringent, the local Council members affirmed that it was
new Governor, not even its Nature, so highly praised:
legally irnpossible to irnpose this order, arguing in
"The land still appears very bad to me. lt is surrounded by
counterpart that there was space to spare for these port
inaccessibl~ ranges o f hills, most of them living rock, and ali
activities, as boats from the back of the bay moored in tbe
of tbem forrning a view that is highly unpleasant"?
square facing the Convento do Carmo monastery (now the
Neither did tbe merchants o f Rio cause a good
Praça ~nze de Novembro square) , ships of the fleet and
impression: "The tradespeople in this town are very different
war frigates moored in the Navy Yard alongside the São
from those o f Bahia, here the dealings are ali full o f faults and
Bento Monastery, and the remaining vessels landed on tbe
lack darity"8 The poverty of its people, their laziness and
Prainha beach alongside this monastery, which they claimed
lack of enterprise, nothing - according to a letter written by
provided quite sufficient space.4
Lavradio to a friend - presaged a brilliant future for the local
The prosperity of the city and tbe activities of its pon
economy: In a síngle word, my colleague, thís here ís a body that ís goíng
somerimes dashed with the right-laced interests of privare
to the grave, and on the outsúk ít has decked íts shroud with many jlowers, and ít seems to me that thís ís the most appropríate portrait in ~hích the Government ofRio de janeiro currentlyfinds ítself.9
groups and acquired privileges. In a curious document dated 1692, the Senate Representative to the Lower House wrote to
220
The Port imposed many duties and responsibilities on a Viceroy such as the Marquis do Lavradio, ranging from the
C I TY A N O IT S P O R T
According to this same approach, the crews of foreign vessels were kept under dose watch, at least theoret:ically.
oddest to the most prosaic. He had to bring order to the
In a document dated 1795, the Count de Resende - who
accounts rendered by the Province to Lisbon, as no balance
was the Viceroy at that time - affirmed that these crews
sheets had been drawn up for the past two years. He also
landed under the escort of an armed sentry. Once on the
needed to ensure the arrival of the double tithe known as the
quay, they were escorted by Portuguese officers "to stop
Q!íntos owed to the Portuguese Crown by the Minas Gerais
them from [. ..] trading. drinking. deserting o r failing to
region, so that the gold could be shipped to Portugal.
return at the stipulated time, and in order to prevent them
Moreover - he wondered in a letter to a friend from
from reconnoitering any fortresses or dominant places"P
Pernambuco - should he accept the responsibility of replying
However, in addition to the thousands o f kilometers o f
to a request for a warship to call at Luanda to collect the
the Brazilian coastline, the authorit:ies encountered other
zebras that the Governor of Angola wished to present to
difficult:ies in repressing what proved to be a thriving business
His Majesty the King of Portugal? And what about the risks
over the years. The Portuguese merchants established in Rio
that these very exotic gifts might be exposed to in Rio?
encouraged this trade and benefited from it. Moreover, the
Better play possum: as "in a port as hazardous as this, there
officers themselves who patrolled the port on small boats,
might be some danger, and I did not decide to give a positive
inspecting foreign vessels and trying to stop their crews from
order to the said Commandant to go to him, but merely left
going ashore, frequently served as intermediaries between the
it to his discretion". 10 In fact, like his Viceroy in Rio de Janeiro, His Majesty in
foreigners and local residents and merchants. Instead of suppressing these smuggling activities, they in fact helped
Lisbon was more concerned with taxes than zebras. The
"increase even more the abominable contraband that
documents produced by the civil servants working for the
flourishes in this city" 1 3
Portuguese Crown recorded only part of the wealth that
Official efforts to do away with this practice masked
flowed through the ports ofRio. In 1799, the Porruguese
eager cooperation among some of the civil servants working
Secretary for Overseas Affairs, Rodrigo de Souza Coutinho,
for the Portuguese Crown, and not only at lower leveis,
received a letter from a compatriot claiming that, when he
judging by the allegation presented by a Portuguese merchant
lived in Ireland and England, he often saw ships docked at
in a letter dated 1794, familiar with Rio de Janeiro, and its
British ports, mainly London and Liverpool, carrying large
inhabitants after living there for more than thirty years.
quantities of gold dust and gold bars, as well as precious
According to him, these illegal acts did not take place along
stones and timbers. He discovered that a1l this was shipped
the coast, but rather in the Port itself, as it was there that the
out clandestinely from ports in Brazil. According to this
terms of the deal were agreed, after which the smuggled
whistle-blower, British ships set sail regularly for the
goods were loaded and offloaded outside the bar. The official
Porruguese colony, frequently armed as though they were
procedures and the alleged strictness in dealing with
going to fight the French or fitted out for whale hunting. a1l of
foreigners during the visits by the Health and Customs
which was no more than a disguise for smuggling. Instead of
Authorities were no more than a smokescreen:
carrying the appropriate equipment, they would leave the
Havíng done so, the lords dísembarked on an outíng to the dty wíth sentries ín síght, seekíng the correspondents to whom they could present theír credentíals ín order to assíst andJact1ítate these swíndles: stores sellíng drinks,
British ports loaded with bales of cotton or gunpowder to be bartered for gold and precious stones. Once off the Brazilian coastline, they pretended that they had some emergency in order to moor or anchor off the coast, waiting for the smaller boats with which they dealt through this illegal tradeii A series of regulatory procedures imposed on ships arriving in the Port was expected to curtail any illegal trading. By the late XVIII century, inspections were routinely carried out by the Customs Judges, the Chief Customs Officers and
operas and everything servíng themfor the success oftheír busíness, at the end ofwhích they tqi the cítyjlooded wíth goods and carryíng away brazt1wood gathered ín the Ilha Grande and Cabo Frio dístricts, as well as gold dust síphoned offfrom the Minas captaíncy (ín addítíon) to díamonds and whatever e/se they could deal ín, thus draíning away the lívelíhood ofthe State and the Monarchy. 14 Thanks to their overseas trading act:ivit:ies, the merchants
the Customs Agents. Only after preparing an official
ofRio received goods that were irnportant for domest:ic trade,
inspect:ion repott was a certain length of time granted for
transferring them on consignment to other merchants
repairing the vessel and restructuring its crew. By law, any
responsible for the direct sale of these wares. The fact that they
breach of these regulat:ions was subject to punishment that
received these products in advance of payment left them
included seizing the ship and arresting its captain and crew,
subordinate to the merchants of Rio. Historian Antonio
who would then be sent to Lisbon for judgment.
Carlos Jucá de Sampaio wrote:
221
It cannot be deníed that the merchants headquartered in Rio during the first halfojthe XVI 1I century were located at one ojthe most prufitabk crossroads ofthe Portuguese Empíre, servíng as the main bridge between the go/4-bearing regíons and overseas trade.I 5 In addition to the prosperity fueled by the discovery of
C I TY A N O I TS PO R T
tribute to the Monarch of the "United Kingdom of Portugal. Brazil and Algarve": "To the liberator of trade". This was a reference to opening up Brazil's ports "to friendly nations" decreed in 1808.I8 What products were shipped out through the Port of Rio
gold in the heartlands o f Brazil, another major facto r driving
during the reign ofKingJohn VI? The main items on Brazil's
the growth ofRio during the XVIII century was its newly-
export lists at that time were sugar, coffee - which was
established status, replacing Salvador as the colonial capital in
becoming increasingly irnportant - cotton and tobacco.
I763- The official transfer of this titled seems to have
Additionally; ships set sai! from the Porto f Rio for other parts
sanctioned a defacto situation that was already firmly
of Brazil carrying products such as horns and jerky from Rio
established. Two years earlier, Gomes Freire de Andrade felt
Grande do Sul State; vegetables, coconuts, brazilwood and
that Rio, which he was adrninistering at that time, was the
tobacco from small ports to the North of Rio; skins and hides
"most irnportant jewel in this great treasure"; "a Province that
from Buenos Aires and Montevideo. And what flowed in to
is the wellspring nourishing and strengthening the
this Port? From Portugal carne olive oils, wines, salt cod, hats
conservation of the Kingdom and the conquests, and that
and dried fruit; from India and China carne porcelain, silks
might uphold it ali, serving as an anchor." When listing the
and teas; from Great Britain carne fabrics, metais and staple
characteristics that made Rio and its Port so special, the Count
foods; from France carne luxury items, furniture, books,
de Bobadela seemed to enumerare the reasons that might
engravings. liqueurs and linen; from the Netherlands carne
explain its transformation in to the capital just two years !ater:
beer, glass and gin; in addition to pianos and clocks from
The Emporium ofBrazt1, as thís port had the círcumstances ofan extremely strong difense anda position with an incomparable harbor bar. The ma in mt1itaryforces in Brazt1 are found here, and ít ís here that mt1lwns enter, kave andare handled [.] and the most approprícte partfor assísting the North and the South ís undoubtedly this port.I6
Austria, with glass, toys and other goods from Germany. I9
A similar tone appears in the assessment by another
The powers of trade released by King John VI were soon felt in the Port of Rio de Janeiro, reshaping its landscapes. Untili814, the phrase "friendly nations" was nothing more
than an euphemism for Great Britain, as the rest ofEurope lay under the fist o f Napoleon. A trade treaty signed in I8IO that
authority. Antonio Luiz de Souza, who traveled through Rio
offered advantages to London finally sealed the commercial
when newly-appointed to the São Paulo Captaincy:
decadence of the Portuguese. In 1807, when the King of
Through ali that I have observed, I consider Rio de janeiro today the
Portugal and his Court fled from Lisbon as Bonaparte
key to thís Brazt1 due to its situation, its capacity, its nearness to the
prepared to invade Portugal, 778 ships entered the Guanabara
dominions oJSpain and the dependency oJ thís cíty on the mines in the hinterlands ofthe country, making it one ofthe cornerstones on whích our Monarchy ís grounded.I 7
were mooring at this newly-opened Port. These flows were
Port open to ali flags
1787, when the first British fleet moored in Rio de Janeiro on
In February 18I7. Jean-Baptiste Debret and two other
its way to Australia, until 1850, more than 8oo British ships
Bay - and only one was foreign. But by I8II, some 5,000 ships also stepped up by the early colonization of Australia, with fleet afrer fleet of convier ships sent out from England. From
members of the French Artistic Mission that arrived in Brazil
moored here on their inbound and outbound voyages, carrying
the previous year, were busy giving the final touches to a huge
a total of 162,000 convicts to this British colony..1°
decorative structure in the Largo do Paço square alongside the wharf. set up for the festivities acclairning King John VI.
The origins of these vessels soon began to vary widely; reflected in their colorful flags that began to flutter in the
In the tropics, this neo- Classic artist - who in earlier years
Port and over the waters of the Guanabara Bay..lt The days
had painted canvasses ofNapoleon Bonaparte in heroic
when foreign searnen were viewed askance had definitely
stances set against backgrounds of epic battles - now placed
gone forever. From then on, almost ali the reports of
his talent at the service of more prosaic causes. In addition to
travelers mentioned the fact that this Bay was always fui! of
a Greek temple holding a huge statue of the goddess
vessels from many different countries - including warships.
Minerva, Debret and his colleagues also raised an Arch of
Describing the merchant clippers that used to line up
Triurnph more than thirteen meters high, alongside the
between Valongo and Prainha as they waited to be loaded
fountain made by Mestre Valentim. In the midst of profusion
or offloaded, an American traveler described this scene in
of columns, statues, coat of arms and allegories of ali types,
the late 1830s:
including a group of sculptures portraying two "rivers" (the
There the kmg.flat brigs and the schooners cou/4 be seen, whích sat1ed from Brazt1 to the coast oJ,4fríca. There, immobt'k, líe the heavy boats of
Tagus and Rio de Janeiro) there was an inscription paying
222
Norway or Hamburg. On all sídes, hangingfrom the masts are the smallest coastalfreighters through to huge cargo vessels are thefogs oJSpain, Portugal, Sardinía, Naples, Tuscany, France, Belgium, Bremen, Austría, Denmark, Sweden, England, the USA, the Republics oJSouth America and Brazt1. 22 And this did not even include the inspection cutters that slipped among the other boats to suppress smuggling. Clustered in large numbers at anchor in the Bay, these
C JTY ANO
JT S P O RT
On each side oJthe poop deck there werefour emblems wíth the initíals of Louís Pht1íppe and the Emperor. On each ojthem was a crown and thefaces on the rear part. They were supported by the French and Brazt1íanfogs alternately, separated by mirrors [.]. The cffect as a whole was excellent. The sides and the top were made oJwhite línen wíth red trimming andfrínges. Flags ofseveral colors wrapped the mainmast wíth much good taste and art.
He added, with a touch of envy: "The French understand
vessels formed a kind of floating community. In addition to
these things marvelously well, and I believe that ali those
the legal procedures and rules of the host country; which
onboard were very satisfied". No less than I,8oo people
they had to obey - accepting mandatory visits from the
joined in these festivities, which cost the French the
Brazilian authorities responsible for ensuring compliance
equivalem of 2,500 pounds sterling, as noted in his log by the
with fiscal and sanitary requirements - these vessels and
British Admira!, with some indignation and many
their crews also followed a series of informal rules. Based
exclamation points.23
largely on the rules of diplomacy and courtesy, these conventions shaped the busy sociallife that took place in the
During much of the XIX century, another routine was invariably imposed on ships entering the Bay, related to a
Bay itself. guided by gestures such as raising the flag of
community that was far less elegant and infinitely more
friendly nations, with much visiting among the officers and
humble. Ali arriving vessels were irnmediately surrounded by
captains of different ships. The arrival of a British ship
a "starving swarm ofboats that seemed to have appeared
might be greeted by a salvo of nine, thirteen or fifteen
from the bottom of the sea, around a carcass, tossed into a
cannon shots fired by a Russian ship, duly acknowledged by
stagnant puddle", in the somewhat acerbic words of a
the same number of shots fired by the British mariners.
foreign traveler.24 Manned by negroes, these dinghies sold
Further ahead, this procedure might be repeated with a
food, generallywith canopies covering the prow, and also
Sarclinian vessel or with one of the Brazilian forts guarcling
offered to carry passengers and baggage to the mainland.
the entrance to the Guanabara Bay: In times of peace, large
In Rio de Janeiro in 1837, us Methodist Pastor Daniel P
quantities of gunpowder certainly seem to have been used
Kidder was one of the few to view these workers with a more
during the
understanding eye. When arriving at the Praia dos Mineiros
XIX
century for the procedures required by this
beach with a load of Bibles and religious tracts to be loaded,
elaborate naval etiquette. The pace and spirit guicling the life of this community
he found himself surrounded by no less fifty boatrnen in fierce
are recorded to a large extent in the journals left by Graham
competition, each urging his own boat, canoe or felucca as the
Eden Hamond, the Admira! in Chief of Britain's South
most appropriate. These men were slaves trained to carry
Atlantic Fleet, who was in Rio between 1834 and I838.
passengers across the Bay or ship cargoes between ships and
A significant aspect in this regard is the decision taken by the Admira! to remain on board his vessel, the
HMS
Dublin during
the mainland. As "earning negroes" they had to hand over a specified minimum amount to their owners at the end of
the four years that he lived in Rio, preferring to stay in his
each day, who also owned the boats.
own cabin rather than move into one of the houses offered to
The anxíety that they showed to get passengers ís thus peifectly explícable; they do not work just to earn theír keep, but also to escape the puníshment that Wl11 be ímposed on them !fthey do not hand over the stipulated amount to theír owners.
him in the city: On November 20, 1835, this ship was turned in to a ballroom for the bali hosted by the Admira! for his compatriot Lord Auckland, who was visiting Rio de Janeiro. These festivities held onboard the ships were one of the
Below even this leve! on the social scale of the population
clearest indications of the intensive sociallife of those days,
living or working in the Guanabara Bay - even lower than the
ali duly noted in the log kept by Hamond.
slaves - were the wretches confined in the prison-ships known
An outstanding example was the reception hosted on February 20, 1838 by the Prince de Joinville ofFrance for
as presígangas. Perhaps the most famous of these hulks anchored in the Bay was the Prlncipe Real. Having carried the Prince
the young Emperor Pedro I 1 o f Brazil and his sisters aboard
Regent of Portugal to Brazil, this noble vessel was left to rot
the Hercule, a French ship armed with a hundred cannons.
in the coas tal waters o f Rio, holcling ali kinds of criminais and
"The entire poop deck seemed more like a huge theater than
wrong-miscreants. And this was not all. Oddly enough, the
a warship", noted the English Admira!, irnpressed. With the
earliest German and Irish settlers also spent time on this vessel,
entire vessel completely covered by a vast canopy and lit by
housed there temporarily with the convicts. This extremely
twelve large candelabra, there was sufficient space to host a
heterogeneous population was crammed on to a vessel just 67
ball, complete with an orchestra. Hamond describes this:
meters long, together with the goats and pigs raised by the
22 3
officers running free on the poop deck. When some prisoner
C ITY ANO I TS P O RT
aspect o f the city that never failed to interest foreigners. • I had
inconvenienced by these animais "punched or pushed the beast
the opportunity to visit a slave market, a spectade that is quite
so that it grunted or bleated, he immediatdy received twenty or
revolting to us", wrote the still-unknown Edouard Manet in a
thirty blows from a vine-whip", noted Cipriano Barata in 1829,
letter to his mother from "the Port of Rio". Regarding the
a pamphlet writer and militant republican detained on a
slaves, he noted: "The power that the whites widd over them is
corvene, the Niterói, who described the harsh conditions of the
extraordinary". lt was also "they, the Africans, who seem to
convicts imprisoned on the nearby Prlndpe ReaJ.25
endow the city with its prevailing tone: "In the streets only black men and women are seen, as the Brazilian men go out little, and the Brazilian women less still"I The horror fdt by
Notes I
Mentioned in LAMARÃO. p. 26.
l Idem, Ibidem.
young Manet was quite justified. lt was at this time that slavery was reaching its peak in the city. Neither before nor afrer 1850
3 Mentioned in B ! C ALHO . p. 207, 208.
would there be so many slaves living and working in Rio -
4 Idem, p. 208, 209.
around 8o,ooo, according to the census carried out in 1849.
5 Mentioned in SAMPAIO. Op. cit. p. 78.
For the purposes of comparison, in 186o there were only
6 CAVALCANTI. Üp. cit. p. 86.
14.500 slaves in another city with a marked African presence:
7 LAYRADIO , Marquês do. CartastÚJ RWdtjannro, 1;769-'776. Vol. I ,
New Orleans in the USA. The Rio de Janeiro that appeared to
Rio de Janeiro: National Archives, 1975. p. 53.
the eyes of the future painter was sirnply the city with the
8 Idem, p. 62.
largest slave population in the Americas. This status is not
9 Idem, p. 53·
surprising. as over the centuries, according to modem
10 LAVRA DI O . Op. cit. p. 62.
historians, the number of Africans who passed through its
11 BICA LHO .
ll
Üp. cit. p. 135.
Mentioned in BI C ALHO . p. 137.
13 Mentioned in BICALHO . p. 136.
slave markets reached the appalling figure of around one million men and women. 2 Figures from 1832 show that only IO% of the slaves in the
14 Idem, p. 139.
city had been born in Brazil, with alrnost three quarters of
IS SAMPAIO. Üp. cit. p. 246.
them bom in Africa. The slaves reaching Rio de Janeiro during
16 BICA LHO . Op. cit. p. 83.
the XIX century carne mainly from three areas o f Center-West
17 Mentioned in BICA LHO . p. 85
Africa: Northem Congo (Cabinda). Angola and Benguela But
18 NAVES, Rodrigo. "Debret, o neoclassicismo e a escravidão".
these three regions were far from constituting all the origins of
ln:Afont14dífla1. Ática, 1996. p. 60.
the Africans brought to the city. Their homelands were widely
19 LIMA, Oliveira D.jo4o VI no Brasil. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996. p. 240.
diversified, ranging from Cabo Verde to Mozambique, as wdl
20 MENEZES , Pedro da Cunha. O RJodtjaooro ruuota tÚJs MarestÚJSul.
as Nigeria and Dahomey3 Many of them were captured in
Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio. 2004. p. 52.
Africa by Portuguese troops fighting against inland rebel tribes.
21 LAMARÃO . Op. cit. p. 37: OLIVEIRA LIMA . Üp. cit. p. 250.
Others were purchased from chiefs through half-caste or black
22 KI DOER, D:miel I' Rmllnisdnd4s dt viagens t ptrrlllltlhii:ÚJ no Brasfl.
intermediaries known as pumbeíros. Chained together, they were
Brasilia: Federal Senate, 2001. p. 150.
taken to Luanda, where they were loaded aboard the slave-
23 HAMOND , Graham Eden. OsdldriostÚJalmlranteGrahamEdtnHamcmd.
ships and dassified as "items from India" according to the
1825 - I8J4/J8. Rio de Janeiro: Editora JB, 1984. p. 184.
trade terms established by the Portuguese Empire.
24 BIGG - WHITHER, Thomas P. Nlwo caminho no Brasfl mtrlJicmtJ: a Provf~~~:ía
During the XVII century. the trip between Luanda and
IÚ> Pal"lln4. Paraná: Paraná State Official Press, 2001. p. 38.
Rio could last up to fifty days. On their arrival in Brazil, the
25 GREENHALGH , Juvenal. Preslgangas d calaboufos:prls/l