O porto e a cidade: o Rio de Janeiro entre 1565 e 1910 8587220985


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O porto e a cidade: o Rio de Janeiro entre 1565 e 1910
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O Porto e a Cidade O Río de ]aneíro entre 1565 e 1910 Tr "1 o

Cláudío Fígueíredo ORG•\NIZAÇÃ.O

Nubía Melhem Santos María Isabel Lenzí

1

CASA DA

A

PALAVRA

RCEJWO: MU~ U C..,lO tJAt., 1>0 MA {)r BLro-rt.c. A · Kk-J...\JI 1\J 'DU.A R:l'€ {;tJ\ tJ 1"\ oo J. ~ f AE1\JI~r~o · -rA~ c20 1c2

s

C opyright ©

2005

desta edição: Casa da Palavra

Co pyrigh t © 2005 do texto, C láudio Figueiredo. Co pyrights individuais de fotografi as assegurados e m confo rmid ade com a Lei 9.610, de 19.02. 1988.

É pro ibida a reprodução to tal ou parcial sem a expressa anuência da edi to ra.

COORDENAÇÃO ED I TOR I AL

Martha Ribas e Julio Silveira PRO J ETO MARKET I NG CULTURA L

MaisArte / Jacqueline Menaei PESQ_U I SA I CONOGRÁF I CA

Maria Isabel Lenzi Nubia Melhem Santos DES I G

GRAF I CO

Victor Burton A

I STENTE DE DES I GN

Fernanda Garcia P RE PARAÇÃO DE OR I G I NAL

Malu Resende REV I SÃO

Eduardo Coelho Sandra Pássaro VERSÃO I NGLÊS

Carolyn Brissett ENSA I O FOTOGRÁF I CO

Marco Terranova REPRODUÇ

ES FOTOGRAF I CAS

Jaime Acioli PRODUÇÃO ED I TOR I AL E GRAFICA

MAR DE ID ÉIAS

Daniella Riet e Renata Arouca

Agradecimentos Elysio Belchior Sérgio e Hecilda Fadei Paulo Knauss Maria Fernanda Bicalho Maria lnez Turazzi Maria Helena Versiani Marcia Prestes Taft Sandra Baruki Laura Pessoa Xavier Ângela Maria Pinto da Silva Mirian Aragão Richan Samir Hassan Sobh D ébora Thompson Lili Rose Márcio Roiter Yara de Moura Satiro Nunes Rosângela Almeida Costa Bandeira Eliane Rose V F. Nery Maria Marlene de Souza Maria Eugênia Cardoso Gláucia Pessoa Laís Rodrigues Museus Castro Maya Museu Imperial Museu Histórico Nacional Museu da Imagem e do Som do R] Museu da República Serviço de Documentação da Marinha Arquivo Histórico do Exército Arquivo Nacional Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro Mapoteca do Ministério das Relações Exteriores Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro

PRÉ - IM PRESSÃO

Leandro Collares

LEI DE

r~~

I MPRESSÃO EM CTP

JSholna

Casa da Palavra Produção Ed itorial R. Joaquim Silva, 98, 4" andar, Rio de Jane iro R) 2024 1-11 0 21.2222-3 167 21.2224-746 1 www.casadapalavra.com.br

MINIST~RJO

DA CULTURA

Este livro tornou-se possível graças ao Patrocínio

GEFCO MAERSK

LOGISTICS FOR MANUFACTURERS

Apoio

~

TRAMPOIL

Sumário APRESENTAÇÃO

9

ANTES DA CIDADE, O PORTO

13

UM EMPÓRIO ENTRE DOIS IMPÉRIOS

Os

0

CORSÁRIOS ESTÃO CHEGANDO

PORTO: "A MAIS PRECIOSA JÓIA"

UM SINISTRO COMÉRCIO

75

MERCADOS À BEIRA-MAR

99

23

41

53

Do CAIS PHAROUX À PONTA DO CAJU 1II A REVOLTA DA ARMADA

161

UM PORTO PARA A REPÚBLICA

169

NOTAS SOBRE A ICONOGRAFIA

196

ENSAIO FOTOGRÁFICO BIBLIOGRAFIA

200

209

CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS POR ACERVO ENGLISH VERSION

2II

2!0

Apresentação

9

O

PORTO

E A C I DADE

Este livro apresenta uma trajetória do porto do

Cabe dizer, porém, que o porto era a

Rio de Janeiro. Ao final, a leitura surpreende

instituição social chave que sustentava o

pelo fato de tratar de uma história da cidade.

processo da exploração colonial e permitia a

Esta, por sua vez, está intimamente ligada à

comunicação entre o Velho e o Novo Mundo,

memória, pois a história do porto tem algo de

construindo pontes entre os continentes da Europa e da América, ultrapassando a barreira

afetivo e sagrado. Observa-se, então, como a cidade e o porto

do oceano Atlântico. Como instrumento da

se confundem. Não sei se isto é próprio de

colonização européia, o porto era parte

todas as cidades portuárias. Mas como hipótese

da cadeia econômica, mas também parte da

geral, acredito que sim. Desse modo, este livro

cadeia de comunicação. Essas características

contém uma estratégia de abordagem da

ele não perdeu até os nossos dias, ainda que a

história urbana ao caracterizar o porto como

economia tenha se diversificado e os meios

seu protagonista. Há muitas cidades portuárias

de comunicação tenham mudado muito ao

pelo mundo, e a hipótese talvez possa ser

longo da história. De todo modo, a cidade cresceu com o

estendida ao estudo de outros casos. O que é próprio do Rio é ter um porto

porto e o Rio de Janeiro ganhou vida própria.

aberto para o oceano. Isto representa uma

O difícil é localizar o porto na história da

história especial, associada ao tempo do

cidade. Ao longo dos tempos há um

comércio ultramarino e da colonização

deslocamento constante: primeiro no largo da

européia da América. Assim, o porto é parte

Misericórdia, ao pé do morro do Castelo;

da história da economia-mundo que se

depois na Praça 15 e seu entorno onde se

constrói desde então, conectando povos e

localizavam as praças de mercado, na parte

partes do planeta por modos e motivações

baixa da cidade; mais tarde na região do bairro

nem sempre tão cosmopolitas.

da Saúde. Além disso, a atividade portuária e

O porto emerge da história do Rio de

seus equipamentos mudaram durante os

Janeiro como capítulo fundador. A cidade

tempos. Os personagens desta história são

surge como monumento ao colonialismo, com

tão variados que a constatação aponta para

seus fortes, suas igrejas - e seu porto. O forte

a diversidade da vida portuária no Rio

protegia o porto militarmente, e a igreja o

de Janeiro entre o século

guardava espiritualmente. O porto faz assim

século

parte da história do medo: medo de inimigos

tempo de cargueiros, um tempo de escravos e

da terra ou corsários, medo do mar e de seus

um tempo de trabalhadores livres; um tempo

ventos e correntezas. A cidade e suas

de muita força humana e um tempo de

instituições afirmavam o domínio colonial

máquinas. Até a mudança de regime político

sobre as terras da região da baía de Guanabara

impôs um novo porto. Na verdade, esta

no contexto da disputa colonial travada entre

constatação apenas aponta para o fato de que o

franceses e portugueses no século

porto acompanha a história da sociedade

XVI.

Assim,

XX .

XVI

e o início do

Houve um tempo de naus e um

não seria exagero dizer que a cidade do Rio de

urbana, nas suas estruturas e conflitos sociais,

Janeiro surge como porto, uma vez que sua

sendo ao mesmo tempo produto e condição

história está marcada pela dominação colonial.

das transformações da cidade. O porto surge,

AO L ADO

Ponto de botes, contíguo à Praça 15, 1916. F O T OGRA FI A DE GU ILH ER M E SAN T OS M USEU DA IM AGE M E DO SoM

IO

o

P O RT O

E A C IDADE

AO LADO

assim, como múltiplo, de tal modo que talvez

transferido para onde se localiza ainda hoje na

Cartão-postal, cerca de 1905.

devêssemos falar dos portos do Rio de Janeiro,

chamada zona portuária. Essa mudança

salientando o plural ao invés do singular.

permitiu sua expansão e modernização,

COLEÇAO [LYSIO BELCHIOR

No caso do Rio de Janeiro, observa-se

tornando possível que barcos de grande calado

também que houve uma época em que

atracassem na cidade. E o porto nunca deixou

o porto e a cidade conviviam intimamente.

de se adaptar, renovando-se para receber os

O movimento de embarque e desembarque de

navios que sempre povoaram a paisagem

gente e mercadoria era acompanhado de perto

carioca. A cidade olha para os barcos como

pela vida urbana. A praça cívica era ao mesmo

monumentos. E olha de longe. A escala do

tempo o cais principal e o largo das docas.

porto mudou. A presença de guindastes

As caixas e caixotes do porto faziam parte do

gigantes, acompanhando a dimensão dos

cenário das ruas. O porto e suas funções

navios de hoje, deixa claro que o porto ganhou

compartilhavam o mesmo espaço com outras

vida própria - e o cidadão fica de longe

atividades da cidade. O comércio da rua

admirando a atividade portuária especializada.

também era o ponto de comércio que atendia

O porto se tornou um muro para a cidade que

às demandas do porto. O tamanho do porto

ele delimita. O porto do Rio deu as costas para

coincidiu durante muito tempo com o

a cidade e roubou-lhe a baía de Guanabara,

tamanho da cidade. Nessa época, o Rio - pelas

assenhorando-se dela. Certamente, esse é o

suas dimensões - ainda tinha condições de

desafio que se coloca para o porto: voltar a se

abraçar o porto. Com isso, os cariocas viviam

integrar à vida urbana, aproximar-se da

o porto de perto. Pode-se dizer que o seu

população. Assim, além de fazer parte do

movimento confundia-se com o próprio

passado, o porto voltaria a pertencer à cidade

movimento da cidade.

dos nossos dias. Este livro encanta, pois

Essa identidade era forte . Consta que um

deixa claro que o porto do Rio nasceu para

dos lugares de origem do samba no Rio de

ser da cidade do Rio. Ao final, pode-se

Janeiro é a área da pedra do Sal, localizada no

sugerir que tão melhor será a cidade quanto

bairro da Saúde, ao pé do morro da Conceição.

melhor for seu porto.

Esta área, especialmente depois da Abolição, foi habitada por muitos negros, inclusive os

PAULO KNAUSS

que, com a liberdade, vieram para a então

Universidade Federal Fluminense Departamento de História Laboratório de História Oral e Imagem

capital do país em busca de trabalho. Além de um certo sentimento de banzo da terra de origem e da paisagem da baía de Guanabara, a música conectou vidas. Atravessando a cidade, o samba terminou por conectar tempos, legando ao Rio de Janeiro a música que é sua marca e sua identidade. Esta memória do porto é parte da história da cidade. Depois da grande reforma no período do governo Rodrigues Alves, o porto foi

M Schul chtff .. Stosch• R1o Janetro verlossend

...,z ::;,

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110

n

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--

13

CAPITtJLO

I

OPORTOEAC I DADE

Antes

da cidade, o porto

esde que o português Gaspar de Lemos, à frente de uma expedição, chegou à Guanabara a 1° de janeiro de

1502,

na condição de

primeiro europeu a entrar na baía com seus navios, testemunhos de navegadores, de funcionários da Coroa portuguesa e de religiosos, ao longo do inicio do século

XVI ,

coincidiriam em chamar a atenção para a Ataque de portugueses e tupíníquíns às cabanas tupínambás, cerca de 1592, detalhe. THEODORE D I ETERICH DE BRY BURIL

posição estratégica e a localização privilegiada daquele local. Muito antes que a primeira ferramenta fosse usada sobre a primeira prancha de madeira, antes que a natureza fosse alterada, mesmo que no mínimo, para receber

M USEUS CASTRO M AYA

IPII AN

o primeiro navio, a palavra "porto" já era mencionada e repetida nos documentos portugueses da época, revelando a convicção de que, graças às características geográficas da região, ao seu litoral recortado e às suas enseadas, a própria baía, por natureza, nada mais era do que um grande porto.

14

O

PORTO E A CIDADE

Mapa do Brasil, cerca de ISSO. GtACOMO GASTALDI XILOGRA\uRA SOBRE PAPH fUNDAÇAO BIBLIOTECA NACIONAL

É interessante notar que esta assinalada a cidade G de ebastian pelo menos uma decada antes de sua fundação.

J

5

ANTES

DA C I DADE . O

PORTO

Escrevia, por exemplo, o frei Vicente de Salvador: O Río dejaneíro está em vínte e três graus debaixo

do Trópíco de Caprícórnío, e impropriamente se chama río, porque antes é um braço do mar, que alí entra por uma boca estreita que pode facílmente definder de uma parte a outra com artilharia, mas dentro faz uma baía ou enseada [..] que tem perto de quarenta ilhas, das quaís as maiores se povoam e as menores servem de ornar osítío ou de portos onde se abríguem os navios. Estas comodidades e outras muitas deste rio e baía, juntas com aJertilídade da terra, afaziam digna de ser povoada. 1 Outro testemunho, o de Pero de Magalhães Gandavo, na segunda metade do século XVI , confirma a mesma vocação: Esta é uma das maís seguras e melhores barras que há nestas partes, pela qual podem quaisquer naus entrar e saír a todo o tempo sem temor de nenhum perigo. 2 Mais de 250 anos depois, visitantes que desembarcavam ali, como o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, continuavam a enxergar mais do que mera beleza na "baía do Rio de Janeiro, esse porto que, na opinião de um dos nossos almirantes

Vossa Alteza me escrevera, foi porque o não pude fazer, por ter pouca gente e não me parecer siso derramar-me por tantas partes. 4 Os ventos que haviam empurrado os

mais instruídos, poderia conter todos os

portugueses até a América podiam ser

navios da Europa."3

diferentes daqueles que nos quase cem

Em junho de 1553, 12 anos antes da

anos anteriores os tinham levado

fundação da cidade, Tomé de Sousa, primeiro

sucessivamente ao norte da África, a dobrar

governador-geral do Brasil, que já havia

o Cabo Bojador e mais tarde o Cabo da

se referido àquela área como sendo "a maior

Boa Esperança e a estender suas rotas até as

escala de corsários", ao escrever ao rei de

Índias e ao Extremo Oriente. O motor,

Portugal sobre os pontos por ele visitados na

porém, por trás desse ímpeto obedecia à

costa brasileira, comentara sobre o lugar:

mesma lógica, a da expansão marítima, na

[ ..] tudo égraça o que desse se pode dizer, senão que pínte quem quiser como deseje um río, e isso tem este dejaneíro. Parece-me que Vossa Alteza deve mandar fozer alí uma povoação honrada e boa, porque já nesta costa não há rio em que entrem franceses senão este. [ ..] E se eu não fiz fortaleza este ano no dito río como

qual se confundiam a busca dos lucros comerciais e a disposição beligerante de difundir o cristianismo. Outros navegantes portugueses se seguiriam na Baía de Guanabara, como Gonçalo Coelho, em 1503, e Fernão de Magalhães que, na sua viagem

Combate na Baía do Rio dejaneiro, 1554. H ANS STADEN LITOGRAF I A fUNDAÇÃO BIBLIOTE C A NA C I ONA L

16

O

P O RT O

E A C I DADE

de circunavegação, passou por ali em 1519. A armada de Martim Afonso de Sousa, em 1531, lançou âncora no Rio, onde ficaria por cinco meses, tendo mandado fazer dois bergantins, as primeiras embarcações construídas no local que viria a abrigar a cidade. Nos anos seguintes, navegadores e não apenas portugueses - acostumaram-se a passar pela área para abastecerem-se de água, geralmente colhida da embocadura do Rio Carioca, na atual praia do Flamengo que, por isso, passou a ser conhecida como Aguada dos Marinheiros. A despeito disso, a região permaneceu despovoada. Às voltas com seus domínios mais lucrativos na África e na Ásia, a Coroa portuguesa, nos primeiros anos do século

XVI ,

não incluía suas terras recém-

descobertas na América entre as prioridades do Império. Foi justamente a preocupação com a presença dos franceses que despertaria o interesse português e levaria à iniciativa de fundação da cidade. Apoiadas nos contatos e nas boas relações que seus intérpretes normandos e bretões mantinham com os índios, as visitas dos franceses à costa brasileira eram freqüentes e, até a primeira metade do século

XVI ,

limitavam-se às

trocas de mercadorias com as populações nativas. Tanto essas visitas como a atuação de seus corsários eram, na verdade, uma maneira de contestar na prática a partilha do novo mundo entre espanhóis e portugueses, formalizada pelo papa no Tratado de Tordesilhas, atacando assim o monopólio colonial ibérico.

Eu gostaria muito que me mostrassem o artígo do testamento de Addo que divide o Novo Mundo entre meus irmdos, o imperador Carlos v e o rei

17

ANTES DA C ID ADE . O

PORTO

'

PAGINA AO LADO, AC IMA

Rto lal't'ro. 1599. ~ LIHR \ \ N

8

N nnRT

Rll

lt

ll\(,: \ 0 lii BII OTH \

A ll )N \I

A caminho das l ndias. em fevereiro de 1599, o general ho landês Van Noort tentou. mas não co nseguiu. entrar na Baia de Guanabara. o relato de sua viagem publicado em Amsterdam. em 1610. tem o curioso ti tu lo de Description du

penible voyage Jaít ent011r de l'ullÍI'ers du globe terrestre.

PÁGINA AO LADO, ABA IX O

AC IMA

I ndios cortando e embarcando pau-brasil in

Baia de Guanabara vista do Corcovado, cerca de 1817-

Les síngularítés de la France Antartícque, autrement nomée Améríque... , 1555. \NORl TIIEVET XIlOGRAVURA

fUND (,.ÀO liiBLIOTEC.A

N ·\ CiúN:'\l

TIIOMAs I'NDfR AQ_UARflA \!>AOfMll DER liiLDENDEN "ÜNSTE, \'IENA

A paisagem c o recorte da Ba1a de Guanabara não sofreram grandes alterações do seett!o XV ! ate a epoca em que Thomas Ender pintou esta aquarela.

r8

AO LADO

Ataque de portugueses e tupíníquíns às cabanas tupínambás, detalhe, cerca de 1592. THEODORE 01ETERICH DE BRY BURIL MUSEUS CASTRO MAYA

IPHAN

Bry nunca veio ao Brasil, mas realizou ilustrações a partir dos relatos de Jean de Léry e Hans Staden.

O

PORTO

E A C I DADE

19

de Portugal, excluindo-me da sucessão, teria dito o rei François I , determinado a defender a política do mare líberum (mar livre) em oposição ao mare clausum (mar fechado) ibérico.5 Das visitas esporádicas e dos contatos esparsos com os índios tamoios que habitavam o litoral, os franceses acabariam

ANTES DA C I DADE , O P ORTO

inúmeros combates e escaramuças para os portugueses e seus aliados tupis

LUIS DOS SANTOS YIL!IENA

derrotarem definitivamente os franceses e os temiminós.

MAYA IPHAN

Ponto cstratcgico no Atlàntico Sul

região da Baía de Guanabara. Animado

"Cidade-porto", que nasceu da disputa entre

pelos relatos de compatriotas, como o frade

Portugal e França, o Rio de Janeiro viria a

André Thevet, o então vice-almirante da

ocupar uma posição estratégica para os

esquadra da Bretanha, Nicolas Durand

portugueses que pretendiam assegurar seu

de Villegaignon, traçou como objetivo a

domínio sobre esta região do Atlântico

fundação de um vasto domínio francês

Sul. Mas, por si só, essa localização

nessas terras. A fascinante aventura da

geograficamente vantajosa não bastaria

França Antártica teve início com a chegada

para transformar o insignificante povoado

aIO de novembro de 1555 dos três navios

criado em 1565 num pólo fundamental do

franceses, a bordo dos quais Villegaignon

império marítimo português. Era preciso

trouxe cerca de 6oo homens. Desembarcados

ainda garantir condições que assegurassem

na ilha que recebeu seu nome - e que,

o futuro da capitania: o controle sobre o

incorporada à terra, atualmente abriga

território e uma mão-de-obra servil. Esta,

a Escola Naval - eles construíram ali

inicialmente, seria formada pelos índios,

um forte. Seriam precisos

nas palavras do jesuíta italiano

anos de

DESENHO A BICO DE PENA AQ_UARELADO MUSEUS CASTRO

formulando planos mais ambiciosos para a

12

Prospecto da cidade do Río de janeiro, 1775.

Este panorama de Vilhena, apesar de ser do seculo xv 111 . mostra, à esquerda o primeiro ancoradouro da cidade na descida do morro do Castelo.

7 '

21

ANTES DA C IDADE . O

P O RT O

Andreoru Antonil, "os pés e as mãos do senhor". Os que escapavam aos massacres e às epidemias eram sistematicamente escravizados pelos portugueses. No início do século XVII , Martim de Sá, numa única expedição, teria aprisionado na região que hoje compõe o estado do Rio cerca de 16 mil índios.6 Foi em 1565 que Estácio de Sá, sobrinho do governador-geral Mem de Sá, trazendo reforços para a luta contra os franceses, desembarcou junto à barra, entrincheirou-se com seus homens numa faixa de terra entre os morros Cara de Cão e Pão de Açúcar, fundando a I 0 de março a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Dois anos depois, preocupado com a defesa da cidade, Mem de Sá iria transferi -la por motivos estratégicos para o alto do morro do Castelo. Conta o padre José de Anchieta que a população da recém-fundada cidade era, em

1585, de apenas 900 europeus e de cerca de três mil índios. A cidade se chama São Sebastíão,

a qual edificou Mem de Sá em um alto, em uma ponta de serra que está difronte da Ilha de Víragalham. [N. do A.: Víllegaígnon]. Ao pé desta cidade, difronte da ponta de arrecife dela tem bom surgídouro [N. do A.: ancoradouro], onde os navíos têm abrígo para os ventos geraís do ínverno, escreve Gabriel Soares de Sousa em 1587, relatando que era neste local, entre a ilha e o sopé do morro, que se localizava o "desembarcadouro da cidade"? Foi ali, portanto, na faixa

Prancha de 1608. O Porto do Río, 2002.

Notas

6

I B I CALH O,

Maria Fernanda.

SA M PA I O ,

CARLOS GuSTAVO NuNES

A cidade e o império: O Rio de

do império - Hierarquias sociais

PEREIRA

j aneiro no século XVI I I .

e conj unturas econômicas no

Rio de Janei ro: Civilização

Rio de janeiro (c.J6SO·C.lJSO).

Brasileira, 2003 , p. 3 1.

Rio de Janeiro: Arquivo

GUTA

INSTITUTO PER[IRA PASSOS

A prancha de Guta trabalho contemporâneo - busca representar a cidade em 1608. Vê-se a igreja dos Jesuttas no morro do Castelo e o convento de São Bento no morro de mesmo nome. PÁGINA AO LADO

Río dejaneíro e a cídade de São Sebastíào, 1573-1578.

2 BI CA LH O . Op. cit. , p. 32 .

Nacional, 2003, p. 57 - 58.

3 Citado em

~ BANDE I RA

Manuel &

BANDE I RA ,

D RU MM OND

ao longo do que seria mais tarde a antiga rua da Misericórdia, que as atividades portuárias do Rio começaram a dar os seus primeiros passos. 8

&

DRUMMOND,

Op. cit., p. 10.

de Andrade, Carlos. Rio

8

de janeiro em Prosa e! Verso.

Tadeu de Niemeyer.

LA M ARÃO ,

Sérgio

Rio de Janeiro: José

Dos trapiches ao porto. Rio

O lympio, 1965, p. 19.

de Jane iro: Bibl ioteca

4

BI CA LH O .

Op. cit., p. 29. Paulo

Carioca, Prefei tura do Rio

') M ENDONÇA ,

de Janeiro, 199 I . p. 22;

Knauss de. O Rio de j aneiro

LA T 1 F,

da pac!ficaçdo. Rio de Janei ro: Biblio teca Carioca,

Uma cidade no tr6pico -

Miran de Barros.

Sdo Sebastido do Rio de j aneiro.

LUÍS TEIXEIRA

Prefeitura do Rio de Janeiro,

Rio de Janeiro:

MAPA AQ_UARELADO

1991 ,

p.

2 1.

Agir, 1965, p. 6o.

ORIGINAL MANUSCRITO BIBLIOTECA DA AJUDA

litorânea junto ao morro do Castelo,

Antonio

Carlos Jucá de. Na encruzt1hada

DE LISBOA

Este e o mais antigo mapa em que aparece a cidade de ão Sebastião do Rio de Janeiro e surpreende pela exatidão.

,

23

CAPITUlO

2

O

P O RT OE

A C I D A DE

Um empório entre dois

o século

XVI

e no início do

XVII ,

quando a

produção de açúcar e a extração de pau-brasil eram as principais fontes de renda oferecidas pela nova colônia, a participação do Rio de Janeiro na economia ainda era desprezível. Segundo o padre Vieira, por volta de 1580 havia apenas três engenhos na região do Rio de Janeiro, contra 36 na Bahia. Eram, além disso, Capitania do Rio de janeiro, 1631, detalhe.

pequenos: "Três deles não chegam a igualar a um engenho grande, tanto em tamanho como

}OÃO TE IXEIRA ALBERNAZ

(o

VEL HO)

MANUSCR ITO AQ_UARELADO SOBRE PERGAM INHO

em rendimento." 1 Ainda que desempenhasse um papel secundário na produção açucareira na América portuguesa, o Rio, ao longo do

MAPOTECA DO ITAMARATY

século Esse belo mapa destaca o canal por onde os navios entram com segurança no porto do Rio.

XVII ,

ganharia importância por estar no

meio da rota entre as possessões espanholas no estuário do Prata e os enclaves africanos onde os europeus iam buscar escravos.2 No comércio entre Rio e Buenos Aires, a prata da América espanhola ganhou importância ainda maior com a incorporação de Portugal

24

O

PORTO E A C I DADE

Typus Orbís Terrarum, 1587ABRAHAM ÜRT[LIUS BURIL E AQUARELA SOBRE PAPEL FUNDAÇAO liiBLIOTECA NACIONAL

25

U M E MP ÓR I O

ENTRE DO I S IMP ÉR I OS

à Espanha em 1580 na chamada União Ibérica.

Moedas de prata que circulavam no Rio de janeiro no século XVII.

A vertente que ligava os dois portos resistiria

à separação dos dois países, ocorrida em 1640, e até ao rompimento de relações entre eles. Madri determinava que todas as mercadorias européias destinadas à extensa área da América espanhola compreendida pelo vice-reino do Peru só poderiam chegar através das frotas oficiais de Sevilha. Estas, numa viagem cara, perfaziam um caminho tortuoso, tendo de atravessar o istmo do Panamá para depois serem embarcadas em pequenos navios, descendo a costa do Pacífico até Callao. Ali, as mercadorias eram novamente desembarcadas e levadas por terra para pontos distantes, do outro lado da América do Sul, como a bacia do

MusEu

Provenientes das minas da América Espanhola eram obtidas através do comércio ·· peruleiro", isto é, transações, lícitas ou não, feitas com o vice- reinado do Peru.

Prata. O porto do Rio de Janeiro ganhava, portanto, com um contrabando altamente lucrativo e dava passagem a produtos europeus, como tecidos, que chegavam à colônia espanhola via Buenos Aires a preços muito

moedas de prata de Buenos Aires no Rio de

mais baixos do que aqueles obtidos pelo

Janeiro. Só neste mesmo ano, pelos trapiches

comércio "oficial". Os que no Brasil praticavam

montados ao pé do morro de São Bento e na

esse comércio com o vice-reino do Peru eram

Prainha, seriam exportados para Lisboa cerca

conhecidos como "peruleiros".3

de cinco mil couros, vindos do Prata,

Navios que deixavam o Rio levando escravos e, depois de uma viagem de 15 dias, chegavam a

evidenciando o vigor deste eixo comercial.4 A ocupação do Nordeste pela Holanda e o

Buenos Aires, voltavam trazendo prata em

conseqüente bloqueio naval praticado na

forma de patacas peruanas. O eixo comercial

região pela Companhia das Índias Ocidentais

Rio- Buenos Aires- Angola viria a ser

também trariam conseqüências para o Rio e

reforçado no fim do século

seu porto no século

XVI I

com a criação

XVII ,

propiciando, nas

da colônia de Sacramento, estabelecida na foz

palavras do historiador Luiz Felipe de

do Prata, a 180 quilômetros de Montevidéu.

Alencastro, "uma nova paisagem atlântica":

Localizada no que é hoje território uruguaio, ela

Desvíadas para o Sul, para as margens amerícanas do Trópíco de Caprícórnío, as rotas subequatoríaís puxam o Río maís para dentro das trocas marítímas e maís para fora da economía sertaneja. Prata peruana e escravos angolanos se ínserem nas carreíras jlumínenses, armando o trídngulo Río- Luanda- Buenos Aíres, cujo primum mobile negreíro nascía na Baía de Guanabara.s

foi incorporada aos domínios de Portugal, num empreendimento liderado e financiado pelos habitantes do Rio de Janeiro. A quantidade de moedas cunhadas com a prata da América espanhola aumentou a ponto de o Conselho Ultramarino aprovar, em 1685, a circulação das

III STÓR I CO

NA C IONAL IPII AN

26

AO lADO

O

P ORTO E A C IDADE

K·.\1\.\D•

Negros, 1817- 1818. THOMAS [NDER lA PIS AKADEMIE DER BilDENDEN KüNSTE . VIENA

,.,.-,1 --- ) ~

~· . . ~ '.

-

.

,:....-

.......

.

-

. ,,.., ,. Escrava de Angola, 1817 1818. TIIOMA S [NDER lA PIS AKADEMIE DER BilDENDEN 1\:ÜNSTE , VIENA

Mesmo antes de o trabalho com escravos negros ser dominante no Rio de Janeiro, o comerciante luso brasileiro estabelecido na cidade negociava africanos com a região platina.

27

UM

EMP ÓRIO E

TRE DO I S IMPERI OS

l

cft. POA IPHI\N

Vê-se ao fundo o morro da Conceição c, a esquerda. trapiches.

!2!

DO CA I S PHAROUX

RIO DE JANEIRO - Caes dos Mineiros otographia Marc Ferrez, rua S. José N. 96.

Caes dos Míneíros, cerca de 1900. CARTÃO - POSTAL COLEÇÃO

EL YSIO

BEL C H lO R

A antiga praia dos Mineiros, retratada por Rugendas. transformou- se, mais tarde. no Cais dos Mineiros. que deve seu nome ao fluxo de homens e mercadorias atraídos pela região das minas.

À PONTA DO CA J U

123

DO CA I S P II AROLX A PONTA

O Río dejaneíro e seu

Porto, vístos do morro do Lívramento, 1870 18Bo. LEUZINGER l HlliOS LITOGRAfiA COlORIDA COLEÇAO PAULO L MARIA CEciLIA GnER MusEu

IMHRIAL IPII\N

DO CA J U

124

O

P OR T O

E A C I DADE

uma referência ao mercado construído ali

foi mudado em 1870 para rua Visconde

por Grandjean de Montigny. Era nessa praia

de Itaboraí. Com o avanço dos aterros e o

que atracavam as canoas com os pescados,

recuo do mar, o trecho acabou incorporado

legumes e frutas que abasteciam aquelas

à "terra firme".

quitandas. A praia do Peixe daria lugar ao Cais das Marinhas.4 Em seguida, depois da área atrás da

Depois do Arsenal da Marinha, chegava-se à Prainha, a atual Praça Mauá, demarcada por

um lado pelo morro de São Bento e, do outro,

Alfândega, havia a praia dos Mineiros, mais

pelo morro da Conceição. A área, doada aos

tarde chamada de Cais dos Mineiros, nas

monges beneditinos, já era movimentada no

imediações do morro de São Bento.

fim do século

Conhecido originalmente como Cais de Brás

para outros pontos da orla da cidade. Logo a

XVI,

quando dali partiam barcos

de Pina, ganhou a designação de Mineiros

região se tornaria conhecida por seus

porque por ali escoava o comércio com a região

armazéns, depósitos e cais de madeira.

das minas, através da ligação com os portos do

Em seguida ao morro da Conceição, vinha a

recôncavo da baía de Guanabara. Ficava

praia do Valongo, precedida por um trecho

localizado entre as ruas do Rosário e da

que recebia uma denominação específica de

Alfândega. O nome de praia dos Mineiros

praia do Valonguinho. O nome Valongo é

125

DO C A I S P II AROUX A PONTA

DO C A J U

uma referência a um logradouro de

que surgirá, em 1890, a primeira favela da

características semelhantes na cidade

cidade, composta por veteranos da Guerra

portuguesa do Porto. A chegada à cidade da

de Canudos e de suas famílias.

princesa dona Teresa Cristina, esposa de Pedro

II,

em 1843, fez com que o

Passando o morro da Saúde, com o qual o morro da Gamboa mais adiante formava uma

Vísta do Río dejaneíro tomada do morro da Conceíçào, cerca de 1860. FRIEDRICII IIAGEDORN (EvGENE CIClRI E PHilll BENOIST

LITH.)

LITOGRAFIA

desembarcadouro ali ficasse conhecido

pequena enseada, chegava-se ao Saco da

COlEÇAO PAUlO E MARIA

como Cais da Imperatriz. Com as futuras

Gamboa. Como as outras enseadas formadas

CECILIA GEYER MUSEU

reformas, o mar recuaria e essas áreas seriam

por esse trecho acidentado do litoral, o Saco

engolidas pelos aterros. A rua do Valongo

da Gamboa proporcionava um bom

se tornaria a rua da Imperatriz e, mais tarde,

ancoradouro, próprio para a construção de

rua Camerino, enquanto a Praia do

trapiches e armazéns. Descrito como um

Valonguinho daria origem à rua da Saúde,

local bucólico, encantava viajantes e

mais tarde rua Sacadura Cabral . A partir de

pintores. A praia daria origem a uma rua, e

1870, o nome Valongo começa a cair em

nomearia em seguida todo um bairro.

desuso e a área passa a ser conhecida

Depois do morro da Gamboa, havia o Saco

progressivamente como Saúde.5 É ainda

do Alferes, região que mais tarde passou

nessa região, no morro da Providência,

a ser conhecida como Santo Cristo, graças

IMPERIAl . lPHAN

12 6

O

PORTO E A C I DADE

Panorama du Saco do Alferes, cerca de 1861. VICTOR rROND FOTOGRAFIA LITOGRAFADA INSTITUTO IIISTÓRICO E GEOGRAHCO BRASILEIRO

12 7

DO CA I S I' II AROUX A PON T A DO CA J U

Port Marchand de la Saú, cerca de 1861. VI CTO R rR OND FOTOGRAF I A LI TOGRA FAC IN STIT U T O lii ST Ó RI CO E GEOGRAF I CO BRA S I LE I RO

à igreja de Santo Cristo dos Milagres, ali construída em 1872. Logo em seguida vinha a praia Formosa. No litoral em frente ficavam as duas ilhas - ilha das Moças e ilha dos Cães ou dos Melões - que seriam engolidas, com o resto da área, pelas obras do cais do porto. O fim desse largo trecho era marcado pelo morro e pelo manguezal de São

Diogo6

A vocação portuária da região, na qual

rua Nova do Monte (atual do Monte) e a travessa das Mangueiras (atual rua Leôncio de Albuquerque) , ligando as praias do Valongo e da Gamboa, e a rua Nova de São Francisco da Prainha (trecho da atual rua Sacadura Cabral). Com o fim do tráfico de escravos, os trapiches do Valongo e da Gamboa mudaram suas atividades e, a exemplo do que ocorria na Prainha, passaram a se dedicar, a partir de

se desenvolveriam os futuros bairros da Saúde,

1830, à comercialização do açúcar, sobretudo

Gamboa e Santo Cristo, recebeu um

do café. O aumento da produção e da

grande impulso com a vinda da corte de

exportação deste produto impulsionou a

d. João

urbanização e os melhoramentos realizados na

VI ,

que aforou muitos dos terrenos

situados na orla dessa área. O príncipe

orla. Grandes armazéns de exportação de café

regente, por um decreto de 1809,

surgiram ao lado de novos cais no litoral

determinara que o seu Conselho da Fazenda

da Prainha. Aterros foram feitos na rua da

demarcasse e arrendasse "nas praias da

praia da Saúde, na Prainha e no Valongo.

Gamboa e no Saco do Alferes terrenos

As autoridades municipais começaram a se

próprios para trapiches e armazéns"?

preocupar com o embelezamento da área e,

Data dessa época a abertura de vias como a

em 1828, determinaram a demarcação

f28

OPORTOEAC I DADE

Vista do Rio de janeiro, 1826. WILLIAM ) O IIN BURCIIELL AQ_LARELA

OBRE PAPEL

COLEÇAO SÉRGIO fADEL

Vista do Saco da Gamboa.

129

DO C AI S I'HAROUX À PONTA

Vísta da Gamboa, 1882. I! I PÓ LI TO CARON ÓlEO SOBRE TElA COLEÇÃO SÉRGIO FADEl

DO C AJU

130

OPORTOEACIDADE

O Caís Pharoux, cerca de 1905. C ARTÃO ~ POS TAL

CO LE Ç ÃO ElY S IO BEL C HIOR

O cais da Praça I 5 sofreu diversos aterros. O primeiro foi realizado por d. João VI que, ao reformar o velho cais, decidiu avançar um pouco mar adentro. O último, em 1902, foi realizado pela administração do prefeito Xavier da Silveira.

l3I

DO CA l

P H AROUX

A

PONTA

DO CAJU

de terras para a criação de um novo logradouro, o largo da Prainha, futura Praça Mauá. As pedreiras da região passaram a ser exploradas. Em 1837, o Colégio Pedro

II

foi inaugurado na rua Larga de São Joaquim, esquina com a rua da Imperatriz, na época, chamada ainda de rua do Valongo. Aos poucos, as casas nas encostas dos morros da Conceição e da Saúde multiplicaram-se.8 Em 1885, existiam 31 trapiches no trecho da costa que ia da Prainha até a praia Formosa. Dez deles estavam concentrados na Saúde. Apesar de sua evidente vocação para a atividade portuária, os bairros dessa região populosa eram considerados pobres e insalubres. A Prainha e a Saúde estiveram no epicentro da primeira grande epidemia de febre amarela no Rio de Janeiro, ocorrida em 1850. Muitos fatores contribuíam para isso.

Um deles era o grande número de habitações coletivas na região. Só na rua da Imperatriz (mais tarde rua Camerino) havia oito cortiços; na rua da Saúde, nove; e na rua da Gamboa, dez. A movimentação de pessoas e cargas, assim como as tripulações de navios mercantes que ali desembarcavam, eram vistas como fatores que estimulavam a

AC I MA

NO A LTO

propagação de doenças.9

Trapiche na Gamboa, cerca de 1900.

O Cais Pharoux e a

Num primeiro momento, a associação da região com a insalubridade e o risco de epidemias fizeram com que - nos pareceres

CARTÃO POSTAL

Ponta do Calabouço 11istos da ilha das Cobras.

COLEÇÃO ELYS I O

CARTÃO POSTAL

BELCHIOR

COLEÇÃO ELYSIO BELCHIOR

técnicos do século

XIX

sobre as possíveis

reformas portuárias - ela fosse preterida em favor de projetos voltados para a área mais central da orla da cidade, a que ia do Cais dos Mineiros até o Cais Pharoux e, mais além ainda, até a Ponta do Calabouço, na altura da praça hoje existente diante do Aeroporto Santos- Dumont.10

132

O

P ORTOEAC IDADE

133

DO CA I S P II AROUX

Ponta do Caju, 1923. AUGUSTO MALTA FOTOGRAFIA ARQ_UIVO GERAL DA CIDADE DO

RIO

DE jANEIRO

A

PONTA

DO CAJU

As obras de prolongamento do cais, do Canal do Mangue ate a Ponta do Caju, so foram realizadas mais tarde, na década de 1920. Neste panorama, aparece parte da Praia do Caju aterrada e ao fundo a enseada de Inhaurna. Hoje. nesta região desembocam a Ponte Rio- Niterói. a Linha Vermelha e a Avenida Brasil.

134

OPORTOEAC I OADE

D IO de tJ ANEII{_a. 1

~

Jlha !fiscal.

, __

i

·~~?' 0.

135

D O

C AI S PHAR O UX À PONTA

\.lMI·

r

ct-

A C IMA E PÁGINA AO LADO

Cartão postal, cerca de 1900. COLEÇÃO [LYSIO BELCHIOR

As ilhas de Villegaignon, Fiscal e das Cobras, que sobreviveram aos aterros realizados para a reforma do Porto.

'

DO C AJU

136

O

PORTO E A C I DADE

Arsenal da Marínha, 1857. PI ETER GODOFRED BERTICHEM LITOGRAFIA COLORI DA COLEÇÃO PAULO E MARIA CECILIA GEYER MUSEU IMPERIAL IPHAN

O trânsito de embarcações de todo tipo era intenso na orla da cidade. À vela, a remo ou a vapor. os barcos faziam o transporte regular de cargas e passageiros na Ba~a de Guanabara.

13 7

DO CA I S P II AROUX À P ONTA

DO C AJU

De barcos c passageiros Um aspecto curioso - e às vezes esquecido da movimentação do porto é que, além do tráfico de mercadorias, outra atividade importante era o transporte marítimo de passageiros. Numa cidade em que os acidentes geográficos e a escassez de caminhos tornavam difícil o deslocamento, serviam de meio de transporte pequenas embarcações a remo ou a vela, geralmente manobradas por escravos. No início do século XIX , as linhas mais importantes eram as que ligavam a Ponta do Caju a Botafogo e outra, conhecida como Carreira Diária de São Cristóvão, na qual os escaleres faziam o mesmo percurso, porém

de serviço. Muitas delas tinham toldos e eram

com escalas no Cais da Imperatriz (no

"manejadas com muita destreza por negros",

Valongo) e na Prainha (atual Praça Mauá) .

nas palavras de um oficial britânico.13

Mas barcos partiam também do Cais dos

)OHANN MORITZ RUGENDI LITOGRAFIA COLORIDA

No Rio de Janeiro, em 1846, o argentino

Mineiros, do Valongo, da Prainha ou do Cais

Domingo Faustino Sarmiento, que mais de

Pharoux (atual Praça 15) . Os principais

anos depois viria a ser o primeiro presidente

destinos, além da ponta do Caju, Botafogo,

civil de seu país, ficou impressionado com a

Penha, Porto de Inhaúma, eram as ilhas

peiformance desses remadores negros: ~ando os escravos já remam há mais de duas horas e sobre suas costas amplas correm rios de suor, e seus olhos fundos brilham com uma luz taciturna, eles então se olham uns aos outros, e irrompem num canto com palavras inintelígíveis, como se fossem salmos dirigidos a algum fetiche. O golpe dos remos marca o compasso e,

do Bom Jesus, de Paquetá, a Ponta do Galeão (Ilha do Governador) , do Catalão, do Pinheiro e de Sapucaia. 11 A escadaria de granito no desembarcadouro no largo do Paço era um dos poucos lugares onde o passageiro podia descer à terra firme com um mínimo de segurança, não diretamente do navio, mas depois de transportado por catraias, pequenas

20

alguns minutos depois, opequeno esquife corta as ondas como que arrebatado por uma corrente irresistível.14 Os remos sobreviveriam ainda muito

embarcações de duas proas que faziam este

tempo depois de o primeiro barco a vapor ter

tipo de serviço. Na maioria dos outros lugares,

sido posto para navegar no porto, em 1819, por

pelo menos até a década de 1830, a situação era

iniciativa do marquês de Barbacena.

pior e os passageiros tinham de ser carregados no dorso dos barqueiros ou sujeitar-se a se molharem.

12

As faluas , com seus remos e dois

Praía dos Mineiros no Rio dejaneiro, 1837 IBJs.

Um dos destinos de maior movimento em termos de navegação no interior da baía era a praia Grande, futuramente conhecida como

mastros com velas triangulares, estavam entre

Niterói, alcançada a princípio por meio de

as embarcações mais utilizadas para esse tipo

faluas. Foi esta cidade a primeira a contar mais

MUSEUS CASTRO MAYA

IPIIAN

Ao longe, a esquerda, vê se o conjunto do Convento de Santo Antônio c. ao centro, trê: igrejas, destacando se a da Candclaria

138

O PORTO E A C I DADE

f

b

Curioso desembarque no caís da Glória, 1827 1829. BARÁO GEORG II EINR I CH VON LOWEN TERN DESEN II O CO LEÇÃO PAULO E M AR IA CEC I LIA GnER M usEu I MPER I AL I P II AN

139

DO CAIS PHAROUX À PONTA DO CAJU

Barcos de passageíros numa tormenta de verão, 1835. [MERIC [SSEX VIDAL AQ_UARELA COLEÇÃO PAULO E MARIA CECILIA GEYER MUSEU lMI'ERIAL I PIIAN

As faluas eram um dos

meios de transporte mais usados pela população carioca, fosse para chegar a uma embarcação maior, fosse para alcançar outra parte da cidade, uma ilha ou atravessar a baia.

140

O PORTO E A CIDADE

Vísta da Igreja da Glóría, cerca de 1824. NICOLAS ANTOINE TAUNAY ÓLEO SOBRE TELA COLEÇAO PAULO E MARIA CECILIA GEYER MUSEU IMPERIAL II'IIAN

Passageiros embarcam na falua nos ombros dos escravos para não molhar os pés.

141

DO CA I S PHAROUX

Paísagem hístóríca de um desembarque no Largo do Paço, cerca de 1829. F~Li X tM I LE TAUNAY ÓLEO SOBRE TELA MU>EU

IMPERIAL IPIIAN

Em frente ao largo do Paço, apesar do cais, o desembarque se dava em condições prccarias.

À PONTA DO CA J U

l

42

O

PORTO

E A C I DADE

tarde com uma linha regular de barcos a vapor ligando-a, a partir de 1835, ao Rio de Janeiro. A empresa responsável, a Companhia de Navegação de Niterói, recebeu naquele ano da Inglaterra as três primeiras barcas para o serviço: a Praia Grande, a Níteroíense e a

Especuladora. O preço da passagem desta linha, que saía da praia d. Manuel, era de 100 réis - e de 160 aos domingos. Para a Ilha de Paquetá saíam barcas diariamente - por outra companhia - do Cais dos Mineiros, cobrando dois preços, um para passageiros calçados e Barque Ferry.

outro, mais baixo, para os descalços. Outra firma, a Companhia de Navegação de Botafogo, operava um barco a vapor entre este bairro e o Cais Pharoux, com saídas a cada duas horas. A explosão da barca A Especuladora, em 25 de março de 1844, quando levava mais de 200

pessoas para a Festa de São Gonçalo,

fez cerca de 6o mortos, sugerindo a muitos necessidade de outro sistema mais confiável. 15 Mas só em 1862 seria estabelecido um novo serviço contando com os jêrry boats, mais modernos. A exploração da linha foi concedida a dois ingleses, Jones e Rainey, e a viagem inaugural teve como passageiros Pedro

II

e

integrantes da família imperial, culminando Embarque no Caís Pharoux.

num jantar oferecido ao imperador na estação

CARTÁO POSTAL

das barcas, aproximadamente no mesmo local

COLEC,.ÁO ElYSIO

onde se encontra até hoje.16

BELCHIOR

No início do século NO ALTO

Barcas Ferry. CARTÁO POSTAL COLEÇÁO [LYSIO

XIX,

os barcos a vapor

tinham um papel tímido na navegação para o exterior: três vapores costumavam rebocar até fora da baía os grandes veleiros que

BEL CH lO R

levavam passageiros para a Europa. Só a partir

Estação das barcas, na Praça Pedro 11 . posteriormente Estação da Camareira na Praça 15.

de 1843 surge a linha regular para a Europa por meio de paquetes a vapor: a primeira ligação se dá entre o Rio de Janeiro e o porto deLe Havre, na França, utilizando oito

143

DO CAIS

PHAROUX À

Pescadores míríns, 1916. GUILHERME SANTOS FOTOGRAFIA MUSEU DA IMAGEM E DO SOM

PONTA

DO CAJU

14 5

DO CA I S P H AROUX À PONTA

DO CA J U

Le javary, navio a vapor, I8so - I86o. K OE RNE R. j . M USEUS CAST RO M AYA IPII A N

Destaque para a bandeira do Império do Brasil. PÁG I NA AO l A D O

O prefeito Pereira Passos

e o barão do Rio Branco no Cais Pharoux, 1911. AUGUSTO MAlTA FOTOGRA FI A M US EU DA REP U Bli CA I PIIA N

navios novos de 6oo toneladas com nomes

Se o movimento no Rio não

como Empereur du Brésíl, Vílle de Río e Vt1le de París.

impressionava observadores habituados

As saídas eram sempre no dia 25 de cada mês.

aos grandes portos europeus, quando

A este vieram se acrescentar outros destinos,

comparado à situação encontrada em outros

como Buenos Aires, Montevidéu, Falmouth,

países latino-americanos sua peiformance

Madeira e Lisboa. Detalhe curioso: os

parecia digna de nota, como sugerem as

passageiros eram solicitados a levar não

impressões registradas em 1846 pelo

apenas a própria roupa de cama, mas

argentino Sarmiento:

também o colchão. Um pequeno cais na Prainha, o Trapiche Mauá, seria o ponto de partida, a partir de 1853, de uma viagem pitoresca empreendida

regularmente por boa parte da elite da cidade: era dali que saiam as barcas rumo ao Porto Estrela, no fundo da baia, primeira etapa da viagem que levaria os passageiros, a bordo de um trem, até Petrópolis. Fruto da iniciativa do barão de Mauá e da sua Imperial Companhia de Navegação e Estrada de Ferro de Petrópolis, esse serviço, prestado durante meio século, só viria a ser suspenso em 1910-'?

O Brasíl, em matéría de locomoção aquátíca,

já se destaca entre os povos sul-amerícanos, que tão rematada íncapacídade têm demonstrado até aquí em tudo que díz respeíto ao transporte. Este movímento parte da capítal, tão prodígíosamente sítuada na metade da Améríca do Sul, às margens da maís espaçosa e segura baía do mundo, entre o cabo Horn e da Boa Esperança, centro de todos os roteíros marítímos, onde se cruzam as línhas da Europa e Estados Unídos, escala do Pacifico, e dos mares da Í ndía, estaleíro e estação naval índíspensável. O Río de ]aneíro, na navegação uníversal, ocupa o mesmo posto de Bízdncío ou Constantínopla na antíga eifera da navegação dentro do Medíterrdneo. 18

146

AO LADO

Ponto dos Botes, Caes Pharoux. CA RTÃO - POS TA L CO L EÇÃO ElY S IO BEL C HIOR

AO CENTRO

Cartão- postal. CO LE ÇÃO ElY S IO BEL C H l O R

Pequenas embarcações traziam até o porto os passageiros e as cargas dos navios. ABAIXO

Murada do Caes Pharoux. C ARTÃO - P OSTA L CO LEÇÃO E LYS I O B ELC HI O R

O

PORTO E A C I DADE

14 7

DO C AI S PHAROUX À PONTA

Caes Pharoux, cerca de 1900 1910. CARTÃO-POSTAl COLEÇÃO ELYSIO BELCHIOR

Atual Praça r 5, o cais foi a principal porta de entrada no Rio para viajantes estrangeiros e brasileiros.

DO C AJU

148

Desembarcadouro. CARTÃO-POSTA L COLEÇÃO E LYS I O B ELC HI OR

ABAIXO

Entrada da barra. CA RTÃO- POSTA L COLEÇÃO E LYS I O B ELC HI OR

.. ... .I

"!

Bahia rlo RIO DE JANEIRO

O

P OR T O

E A C IDADE

149

DO CA I S PI-IAROUX À PONTA

Embarque de passageíros, 1912. AUGUSTO MALTA FOTOGRAFIA MUSEU DA IMAGEM E DO SOM

DO CA J U

ISO

Os primeiros projetos

OPORTOEAC I DADE

São Bento, até o Arsenal de Guerra, na altura do atual Aeroporto Santos- Dumont.

No esforço para aplicar no país, e

As obras iniciadas sob a direção do engenheiro

principalmente na sua capital, a infra-

inglês Charles Neate foram postas, em 1866,

estrutura, os melhoramentos e as técnicas

sob a responsabilidade de André Rebouças,

que começavam a ser postas em prática

que concluiu os trabalhos no trecho que ia

na Europa e nos Estados Unidos, a ambição

da Alfândega até o Cais dos Mineiros.

de contar com portos mais modernos

Em 1871, contudo, ele seria retirado da

encontrava-se sempre entre as primeiras

direção do projeto. As obras mesmo assim

prioridades. Se o nome de Irineu Evangelista

prosseguiriam, chegando até o trecho junto à

de Sousa, o barão de Mauá, esteve associado

estação das barcas para Niterói, deixando

às ferrovias , não é exagero dizer que a

pronta, além da pequena Doca do Mercado,

modernização dos portos, tanto em relação ao

onde passaram a ser desembarcados

que foi realizado como no que toca às

produtos vendidos no Mercado Municipal,

aspirações frustradas , está associada ao nome

a Doca da Alfândega, onde hoje está

de André Rebouças. Engenheiro, veterano da

instalado o Centro Cultural da Marinha.

Guerra do Paraguai, de origem humilde e

Este não seria, contudo, o único projeto

mulato numa sociedade ainda escravocrata,

portuário desenvolvido por Rebouças na

ele se tornaria, na década 1880, um

cidade. Em 1867, depois de voltar da Inglaterra,

abolicionista militante. De suas viagens de

onde se entusiasmara com as Docas da Rainha

estudo na Europa havia voltado cheio

Vitória que acabavam de ser inauguradas em

de idéias e planos. Seu sonho era promover

Londres, o engenheiro começa a fazer planos

"a construção e o custeio de docas por

para uma estação marítima ligada à Estrada de

companhias particulares por todo o império"I 9

Ferro D. Pedro

Mas seus projetos para a construção de

parte do vale do Para1ba escoando a produção

portos em São Luís, Recife, Salvador,

de café. Para realizar seu projeto, associa-se à

Cabedelo e Rio Grande esbarraram nos

Stephen Busk & Company, ligada à empresa

obstáculos da política e em intrigas

de navegação Liverpool, Brazil and Riner Plate

promovidas por homens de negócio. Só no

Mail Steamers, dona dos vapores responsáveis

Rio o seu empenho daria algum fruto.

pela maior parte das importações que

O nome de Rebouças está associado à

II

que, em 1865, já atendia a boa

chegavam ao Rio. O objetivo de Rebouças era,

Doca da Alfândega, objeto do primeiro esforço

segundo suas próprias palavras na petição

de modernização dos portos por ser

encaminhada ao governo, organízar uma companhía

considerada uma área prioritária pelo então

Alfândega, pelo plano aprovado em 1852,

para a construção das docas de ímportação e exportação, e de um estabelecímento de reparação de navíos [..] nas enseadas da Saúde e Gamboa. Ao argumentar a favor da necessidade do novo cais, ele lembrava

seriam parte de um projeto mais amplo de

que a Doca da Alfândega, que ainda estava por

construção de um porto que iria desde o

terminar, depois de pronta seria capaz de

Arsenal da Marinha, perto do morro de

abrigar apenas 12 navios, enquanto "o número

governo imperial, que daí extraía boa parte de suas receitas. As obras na Doca da

I

5I

DO CA I S P II AROUX À PONTA

O centro do Rio e

a ilha das Cobras, J88s. M.\RC I fRRFZ fOTO(, RA F I A IN,TITUTO MOREIRA SALES

DO CAJU

Neste penodo, a maior parte dos projetos de reforma do porto concentrava-se no trecho da Praça 15 ao Cais dos Mineiros. Só mais tarde foram priorizadas as áreas da Praça Mauá à Ponta do Caju.

152

OPORTOEAC I DADE

Ilha das Cobras e as obras no Caís dos Míneíros, 1852. fELIX ÉMILE TAUNAY ÓLEO SOBRE TELA COLEÇÃO PAULO E MARIA CECI LIA GEYER MUSEU IMPERIAL !PHAN

I

de navios, só de longo curso no porto do Rio de Janeiro, excede sempre de

140".

20

O empreendimento, no entanto, enfrentou

53

DO C A I S PHAROUX A

P ONTA

DO C AJU

imprensa, Rebouças contará com a ajuda

Candeláría.

de poucos amigos. Entre eles, o mais

CARTAO POSTAL

importante é o imperador Pedro

CO LEÇÃO [LYS IO

11.

resistências políticas de toda ordem. No dia

Forçado a fundir sua companhia com a

mesmo do início das obras, a 15 de setembro

Docas da Alfândega, Rebouças vê as obras

de

chegarem ao fim em 1875 sem que fosse

1871,

por decisão da Câmara Municipal, os

operários da companhia são presos. ~atro

atingido o seu ambicioso propósito inicial.

dias mais tarde, o conde d'Estrela, presidente

As Docas Pedro

da companhia e um dos acionistas que

limitando-se ao cais entre o beco da Pedra

Rebouças tinha a muito custo recrutado para a

do Sal e a Praça Municipal, alcançando

empresa, anuncia sua intenção de dissolver a

cerca de

firma, intimidado pelas cartas anônimas que

Mais tarde, em seus diários, ele resumiria

recebera, lamentando que ele, português e

assim a experiência: "Uma palavra

branco, se misturasse com um mulato naquele

caracteriza a história da criação das

projeto21 Nos anos seguintes, repletos de

Docas Pedro

intrigas políticas e financeiras travadas contra homens de negócio, ministros e até com a

160

11 ,

na Gamboa, acabaram

metros de extensão.

11 -

Traição." 22

O objetivo inicial de Rebouças estender um ramal ferroviário até o porto -

BELCHIOR

Em primeiro plano, vêe m se as Docas da Alfândega. obra do engenheiro Andre Rebouças.

154

O

PORTO

E A C I DADE

seria retomado mais tarde por Francisco

confiou ao visconde de Figueiredo a missão

Pereira Passos, outro nome associado à

de elaborar o que seria o último projeto

história das instalações portuárias do Rio.

de melhoramentos do porto antes do

Como integrante da Comissão de

advento da República. A concessão foi

Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro,

outorgada ao visconde e à companhia que

nomeada em 1874, portanto ainda em pleno

ele formasse, estabelecendo o decreto

império, Passos já havia refletido sobre o

que as obras seriam financiadas com a

problema, um dos

instituição de taxas sobre as importações

II

pontos abordados por ele

e seus colegas. ~ando, dois anos depois,

e as exportações. Figueiredo e seus

ele foi nomeado diretor da Estrada de Ferro

sócios entregaram ao engenheiro

D. Pedro I I , o engenheiro Pereira Passos teve

James Brunlees a tarefa de elaborar o

de lidar com os problemas causados pelo

projeto. O resultado foi um plano que

acúmulo de cargas na estação terminal da

previa a construção de uma bacia protegida,

ferrovia, junto ao hoje Campo de Santana.

que ficaria ao sul da ilha das Cobras e

Dali, o café era levado até a costa em

a leste do trecho da orla entre a Doca

carroças. Estas durante muitos anos seriam

da Alfândega e o Arsenal de Guerra.

incorporadas à paisagem do centro da cidade,

No interior dessa bacia haveria um cais,

atravancando as ruas e causando

dotado de guindastes e elevadores

contratempos para os moradores. Foi para

hidráulicos, vias férreas e armazéns.

solucionar o problema que Passos planejou

Ali atracariam navios de diferentes

estender a ferrovia até uma estação

tamanhos, tornando mais ágeis

marítima a ser construída na Gamboa.

os trabalhos de carga e descarga.

O novo trecho da estrada de ferro iria

Pelo projeto, um caminho ferroviário

perfurar duas vezes o morro da Providência:

suspenso ligaria o cais e os armazéns à

o primeiro túnel teria 82 metros e o

Estrada de Ferro Pedro II , enquanto numa

segundo, 313 metros de extensão. A estação

área ao lado seriam construídos prédios

marítima seria instalada entre o morro da

comerciais. As obras deveriam ser

Providência e o mar.

concluídas até 1897, sendo a concessão

A

I

0

prolongada por 40 anos. O projeto, contudo,

de julho de 1879, Pereira Passos,

no discurso de inauguração do novo ramal,

não resistiria à proclamação da República:

enumerava os benefícios trazidos para a

na condição de ministro da Fazenda do

estrada de ferro, para a lavoura de café

novo regime, Rui Barbosa defendeu a

e para o comércio, sem esquecer a grande

anulação do decreto que fazia a concessão,

vantagem que a obra traria para a cidade,

alegando sua ilegalidade. Antes de mais nada é

que finalmente vê desaparecer uma de suas praias mais prejudiciais à saúde pública, e surgirem vastas construções onde até agora existiam casas de mesquinha aparência e habitações insalubres.2 3

óbvia a insustentabilidade da cláusula que estabelece um porto de exportação afavor da empresa. Essa disposição não pode resistir ao princípio da Constituição da República que extingue os direitos de exportação. Ela deve ser(.) eliminada do contrato por inconstitucional em presença do novo regime.2 4

Ao apagar das luzes do reinado de Pedro

II,

a 28 de setembro de 1889, o governo imperial

ISS

DO C A I S PHAROUX A PONTA DO C A J U

Terminal marítimo da Gamboa visto do Cemitério dos Ingleses, tta Gamboa, cerca de 1880. MARL FERRLZ FOTOGRAFIA INSTITUTO MOREIRA SALES

O terminal levou os tri lhos da Estrada de ferro Pedro 11 ate o porto. com o objetivo de modernizar o embarque do cafe. livrando a cidade das carroças que atravancavam o trânsito com suas cargas.

158

AO LADO , ABA I XO

E PÁGINA AO LADO

Projeto de melhoramento do Porto do Rio de janeiro, 1889. DESENHOS AQ_UARELADOS ARQ_UIVO NACIONAL

Último projeto do lmperio, encomendado pelo visconde de Figueiredo ao engenheiro inglês }ames Brunlees. Jamais realizadas. as obras previam um ramal ferroviário suspenso que ligaria o cais e os armazcns a Estrada de Ferro Pedro 11. PÁG I NA ANTE RI OR

Desenho sobre projeto de ]ames Brunlees, último plano de melhoramento do Porto encomendado pelo Império, 1889. ARQ_UIVO NACIONAL

OPORTOEAC I DADE

159

1t I

Cf

~

STRAUMANN .

op. cit., p. 48 -so:

MORALES DE LOS R I OS .

O

próprio porto, da avenida que acompanharia o Canal do Mangue e, sobretudo, da abertura da avenida Central. Projeto até hoje tantas vezes atribuído de forma equivocada a Passos, a futura avenida Rio Branco foi na verdade uma iniciativa do próprio Rodrigues Alves, implementada pelo engenheiro Paulo de Frontin, tendo seu polêmico trajeto sido traçado a régua sobre um mapa da cidade pelo então ministro da Viação e Obras Públicas, Lauro Müller. Em janeiro de

1903,

o parecer de uma

comissão encarregada de planejar as obras do porto já deixava claro como essas iniciativas - Como s e cha.maru os avós 1 - Dr. Franciaco de Paula D emorado e U. En~ra c ia Perpe tua de S. Nunca . - O no me d OlO pais ? - Dr. Qu e réca Via \·:lO e D . Necess idade Nacional. - 0.1 J1adriu h o!> ? - O cousdlh!iro Gcutc Em P .:: nca. c O. C.J.Ili tall.los Passos Home m Como 'l'rint:t.

estavam intimamente relacionadas, fazendo alusão, por exemplo, à necessidade da futura avenida Central, além de uma larga via paralela ao próprio porto, a avenida do

O Malho , 11

de abril de

que um jornal da época, com certo exagero, 1903-

R.AuL

chamava de

"400

anos de inércia"? A ambição

I NST IT UTO li I STOR I CO E

anunciada no discurso do presidente de fazer

GEOGRÁFICO BRASILEIRO

do Rio "o mais notável centro de atração [. ..]

Charge ironiza a demora nas obras do Porto: os avós do "batizado" do Porto são dr. Francisco de Paula Demorado e dona Engrácia Perpetua de São Nunca.

nesta parte do mundo" era uma referência velada à rivalidade que o Rio mantinha com a capital argentina. Disputa que não era tratada com meias palavras pela imprensa da época:

No dia em que o Rio de janeiro não tiver mais fibre amarela e... tiver porto, avenidas, higiene, conforto, arquitetura epolícia, nesse dia a estrela de Buenos Aires começará a empalidecer) Na visão do novo presidente, a construção do porto era uma das vertentes das transformações que pretendia promover na capital. Um dos aspectos mais importantes, o do saneamento da cidade, foi posto sob a responsabilidade de Oswaldo Cruz. E se parte das reformas urbanisticas ficaram a cargo do novo prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, outras obras, por sua dimensão, eram

Cais, mais tarde avenida Rodrigues Alves. Todas as vantagens desta organização [relativas ao porto] serão prejudicadas se, ao mesmo tempo, não forem tomadas providências para aJáct1 comunicação entre a avenida do porto e as ruas centraís da cidade, ponderavam os engenheiros, que já contavam como certa a construção da via de r.8oo metros de comprimento, "em linha reta, desde o largo da Prainha até a praia de Santa Luzia".4 Da mesma forma, o parecer defendia a necessidade de uma avenida acompanhando o Canal do Mangue (a futura avenida Francisco Bicalho) , bem como do alargamento e do aperfeiçoamento do próprio canal, prolongando até o mar o que era então "uma tortuosa e imunda vala que terá de ser substituída por um canal de 20 metros de largura, pelo meio da avenida, regularmente construído."5 A

20

de maio de

1903,

era assinado

em Londres o empréstimo de oito milhões e

500

mil libras com os Rothschild, que

I

73

UM

PORTO

PARA A

RIO DE JANEIRO - Obras do Porto: os novos caes

Cartão-postal. COLEÇÃO ELYSIO BELCHIOR

Os progressos na construção da muralha do novo cais eram acompanhados pela população e registrados em cartões postais.

REPÚBLICA

17 4

O

P O R TOEAC I DADE

Edilion de la Mt ioll Hrl> 1lienne de Prop a.,.nude - Pan '2 , Bd. des Italiens

BRÉSIL. - Rio de Janeiro. -

Construction du Port Cartão-postal. COLEÇAO ELYSIO BELCHIOR

A construção do Porto do Rio empregou tecnicas avançadas de engenharia da época. Na foto, uma das duas estruturas flutuantes usadas para encher de concreto os enormes caixões de ferros que. submersos. formam a base sobre a qual foi constrUJda a muralha do cais.

17 5

UM

PORTO

PARA

A

REPUBL I CA

Fotografia anônima. l. O lf (,.AO [ n SIO BEL L III O R

Barcaças carregam material de construção empregado nas obras do porto.

financiariam a obra. A quantia equivalia a 135

total de 3.500 metros de cais. A parte

mil contos, dos quais 45 mil seriam gastos

restante, os dois mil metros entre o Mangue

com a abertura da avenida Central e os

e a Ponta do Caju ficariam para uma fase

noventa mil restantes na construção do porto.

posterior. O novo cais deveria ter um

Esta soma viria a ser complementada com

alinhamento o mais retilíneo possível, o que

capital nacional, captado mediante a emissão

implicava uma área aterrada bem maior:

de apólices

especiais.6

A Comissão de

aproximadamente 175 mil metros quadrados,

Obras do Porto, formada em 1903, era

incluindo o aterro da orla da Prainha, do

presidida pelo próprio ministro da Viação

Valongo, dos sacos da Gamboa e do Alferes

e Obras, Lauro Müller, e incluía entre outros

e da praia Formosa - uma faixa de terreno

os engenheiros Francisco Bicalho e Paulo

larga o suficiente para abrigar não apenas

de Frontin, autor do projeto de 1890.

o cais com 100 metros de largura, mas

Por meio de decreto baixado a 18 de

também a avenida do Cais, com quarenta

setembro de 1903, o governo aprovou o

metros de largura.?

plano elaborado por engenheiros brasileiros,

A construção do cais do porto, que

tendo à frente Francisco Bicalho. Este previa

teve início em 1904, foi confiada a uma

a ocupação da área entre o Arsenal da

firma inglesa, a C. H. Walker e Cia., que

Marinha, aos pés do morro de São Bento, e

empregou tecnologia moderna para a época -

a embocadura do Mangue, perfazendo um

a mesma utilizada na construção do porto

176

O

P O RT OEAC I DADE

Cartão postal COLE, E'm todos os angulos dos navios, nos moveis, no t ... ldo. nas machin. .As embarcações do empreiteiro, formadas em ' l:nha em frente ao referido eshbelecimento. eram as seguintes: draga Madero, vapores Hdf1ta e Car/ot.t, batelões Guanabara e Bahia, e em seguimento a torpedeir>. Betrto Gonçalves, o cruzador Rejmblica, os vapores Teixeirinlza, ftaútra, Guarany, Planeta, Athnyde e os dous grandes paquetes do Lloyd a que primeiro nos referimos. Em outras disposições, fóia de1salinha, que desde ctdo foi proporcionalmente se formando até 11 horas, quando fundeou o ultimo vapor, achavam-se muitos outros, entre os · quaes notámoa os seguint~s : barcas Be1tlta, Tijtu:a, Estrella, Nictlteroy, Prudente de Moraes, Latfario, Brngattça e O/inda, lúgre Almirante, patachos Co1zsellteiro, Blumenat~ e Jtajahy, vapores Muqz~y, Dot~s Rios, 11-lurupy e S. Felix, barco de pesca Attnic, e, mais adeante, proximo ao Republica, a lancha Federal, adornada com muito capricho, aq serviço da commissão das obras do porto. Dezeseis baleeiras de todos os club de regata~> cruzavam a bahia, á quéda dos remo · impellista Al - Silo&bastí4od4 AA de janeiro. Agir, 1965. p. 60.

would not be enough to turn the insignificant settlement established in I565 in to a cornerstone of Portugal's Maritime Empire. Conditions still had to be ensured that would

21 An Emporium between Two Empires

guarantee the future of this Captaincy: control of the land and an enslaved labor-force. This initially consisted of the

Throughout the

local tribespeople, in the words of Italian Jesuit Andreoni

the economic role played by Rio de Janeiro remained minor,

Antonil, "the feet and hands of the Lord". Those who

with sugar cane and brazilwood the main sources o f income

escaped the massacres and epidemics were systematically

in this new colony. According to Padre Vieira, by around

XVI

century and for the next few decades,

enslaved by the Portuguese. During the early XVII century,

ISSO there were still only three sugar mills in the Rio de

Martim de Sá captured some I6,ooo tribespeople during a

Janeiro region, compared to 36 further north in Bahia State.

single expedition through the area that is today Rio de

Moreover, they were small: "The three of them are not even

Janeiro State. 6 In IS6S, the nephew o f Governo r General

equal to a large sugar mill in either size or output." 1

Mem de Sá, Estácio de Sá brought reinforcements for the

Although only a bit player in the sugar production industry

battle against the French, landing dose to the harbor bar

o f Portuguese Ame rica, Rio de Janeiro became more

where he entrenched his forces on a strip ofland between

irnportant during the

two hills: the Morro Cara de Cão and the Sugar Loaf Here

between the Spanish possessions in the River Plate estuary

he established the City of São Sebastião do Rio de Janeiro

and the African endaves where European slave traders

on March

collected their wares. 2 The trade flows between the Ports of

L

Two years later, concerned about defending the

XVI

century, as it lay on the route

city; Mem de Sá transferred this settlement to the top of the

Rio and Buenos Aires - where the silver of Spanish America

Morro do Castelo hill, for strategic reasons.

had become more irnportant by ISSO in terms of the Iberian

214

C !TY ANO !T S P O RT

Union - were to withstand the separation and the break in

from the hilltop and starting to spread over the nearby coas tal

relations between Portugal and Spain in 1640.

plain. Draining marshes and swamps at tremendous cost and

Madrid decreed that ali European goods shipped to the

effort, Rio expanded over the area demarcated by four hills:

vast areas of the Viceroyalty of Peru in Spanish America

Castelo, São Bento, Santo Antônio and Conceição. Close to

could be shipped only on the official fleets of Seville. These

the Morro de São Bento hill, on what was became known as

goods followed a long and expensive route to Panama,

the Praia dos Mineiros beach (in front of Ilha das Cobras

crossing the Isthmus, where they were loaded onto smali

island) activities linked to loading and offloading goods were

vessels that sailed down the Pacific coast to Caliao. There,

to increase graduallywith the consrruction ofwarehouses and

these goods were once again offloaded and carried overland

repositories moving towards the Prainha area, currently the

to distant places on the other side of South America. such as

Praça Mauá square, as well as Valongo. Praia da Saúde, Saco da

the River Plate basin. Nevertheless, the Port of Rio de

Gamboa, Saco do Alferes and Praia Formosa, "the preferred

Janeiro profited from highly profitable flows of conrraband,

sites for wharves since the days o f the first governors". 6

handling European products (such as fabrics) that reached

In paraliel to this larger-scale trade whose cargos were

the Spanish colonies through Buenos Aires at prices far

carried by fleets sailing across the Atlantic, another type of

lower than those charged by the "official" trade. The

commerce developed that was no less vital for the city:

Brazilian merchants involved in this clandestine trade with

feluccas sailed across the back of the Guanabara Bay to offload

the Viceroyalty of Peru were known as peruleíros.3

there, at the foot of the Morro do Castelo hill. the crates of

Vessels leaving Rio de Janeiro carrying slaves sailed down

sugar and barreis of cane spirit produced by the sugar mills

the coast for fifreen days to Buenos Aires and returned loaded

and distilleries in the Baixada lowlands.7 In order to keep

with silver coins from Peru known as patacas. The trade route

pace with the steady expansion of port activities, the

linking Buenos Aires to Rio de Janeiro and extending across

Governor of Rio de Janeiro at that time, Rui Vaz Pinto

the Atlantic to Angola was to be strengthened during the late

(r6r8-r62o) aliowed black slaves to be used for loading and

XVII

century with the establishment of the Sacramento

colony. Located dose to what is today Montevideo, this area was included in the territory of the Portuguese colony

offloading vessels. In addition to sugar. these smali ships also carried other farm produce from the backlands of the Bay. The local economy also induded fishing. which was

through an enterprise headed and financed by the inhabitants

crucial for feeding the local population. Whale hunting was

of Rio de Janeiro. The quantities of coins cast from the silver

introduced to Brazil in 1602 by a Basque calied Pedro de

of Spanish America increased to the point that, in r68s.

Urecha. who traveled to Brazil with Governor Diogo de

Portugal's Ultramarine Council approved the circulation of

Botelho and taught whale hunting techniques to the local

Spanish silver coins in Rio de Janeiro, shipped in from Buenos

fishermen. At that time, this was not such a difficult task.

Aires. This same year, the warehouses built at the foot of the

as large herds of these huge marine mammals would frolic in

Morro de São Bento hill and along the Prainha beach.

coves dose to the shore and even along river bars. This

exported some s.ooo hides from the River Plate region,

profitable business was declared a monopoly of the

reflecting the vigor of this trade route. 4 The settlement of Northeast Brazil by the Dutch and

Portuguese Crown, which sold the right to hunt whales to a private individuais known as contractors, who then had to set

the consequent naval blockade imposed on this region by the

up the entire infrasrructure needed for these activities:

West Indies Company also affected Rio and its Port during

entrepots with boilers and oi! stores, shipyards and whalebone

the

XVII

century; shaping "a new Atlantic landscape", in the

words of historian Luiz Felipe de Alencastro:

Forced southwards towards the American boundaries of the Tropic of Capricorn, sub-equatorial routes drew Rio more towards seaborne exchanges, andforther awayfrom the hinterland economy. Peruvían s11ver andAngolanslaves were added to the streams ofgoodsjlowing through Rio de janeiro State, supportíng the Rio-Luanda-Buenos Aires tríongle, whose slave-trading prirnurn mobile began in the Guanabara Bay.5

stores, offices and the stockrooms, ali constituting complete whaling stations established at various points along the shore. These huge mammals were hunted from whaleboats crewed by around eleven men, with the harpooner being the most importam of them. Some 250 whales were caught each year, producing up to 3,000 barreis of oi! and a ton of whalebone. In addition to their meat, whale oi! was used for lighting. spermaceti was used to make candles and whalebone was used for women's dothes. This business began to peter

Sugar, Si1k Stockings and Wha1es

out during the early decades of the XIX century; as whale

Just what did these port activities consist of during the late

stocks were decirnated mercilessly. But before this happened,

and early XVI 1 centuries, and exactly where were they

huge fortunes had been made. One of them belonged to a

located? At that time, the city was gradually moving down

contractor whose name stilllives today as a district of Rio:

XVI

2 I

5

C ITY ANO IT S PORT

Brás de Pina, where he owned vast tracts of land.

the construction of the first large galleon to leave a Brazilian

His whaling station stood at the same point where the

shipyard, built in Rio de Janeiro. There are no accurate

Cais dos Mineiros wharf was to be built !ater, dose to the

records of the size of the Padre Eterno, built between 1659 and

Morro de São Bento hill8

1663 on the Ilha do Governador island at the si te that has

Although its sugar output was insignificant, Rio de Janeiro

been known since then as Ponta do Galeão. However,

gradually firmed up its position as the main city in the

according to English historian Charles R. Boxer, who

Center-South region ofPortuguese America. This was the

compared it with the French and British vessels sailing at that

only harbor that moored the fleets sailing over each year from

time, "this great galleon built in Brazil was one of the largest

Lisbon, carrying products that were irnportant not only for

ships in the world at that time". 12 In order to obtain the

the Rio market but also for its trade with other regions. The

approval o f Lisbon, the Governo r o f Rio de Janeiro,

annual fleet consisted of some fifreen vessels until 1740, rising

Salvador Correia de Sá, who was heading up this project,

to twenty from that year onwards, sailing from Lisbon

praised the carpentry skills of the indigenous tribespeople

between March and April and reaching Rio de Janeiro in July

and the African slaves.

or August. Dutch navigator Dierick Ruiters, who was in Brazil

Regarding this vessel, which acquired almost legendary

during the early XVI 1 century, described for his compatriots

status, Boxer quotes a mention recorded in Lisbon in 1665:

the goods involved in this trade:

Thís jleetfrom Brazt1 includtd thatJamous galleon but1t by Salvador Correia de Sá e Benevides at the Port ofRio de janeiro when he was the Governor there. At the moment, it ís the largest ship in the wor/d, and there ís no news ofany larger at any tíme. It carries three thousand crates and more thanfive hundred boxes ofsugar, in additíon to many other goods that served merely as ballast, and m11 seemed to be empty, although it sat1ed as well as thejastestfrigate in the jleet.13

There are three kinJs ofcargoes that the Portuguese carry.from Portugal to the land ofBrazt1. [.] They sJwu1d priferably takt pknty ofwheat in barreisfor trading purposes, oíl, Dutch cheese, ham, as they calkd salted leg of pori, salted sardines, ali sorts ofstaples that do not rot in hot countms, and also many multicoún-ed artícles such as tqffetas and st'lks, a certain quantíty of síll stockings in ali colors, pknty offtltfor the men, St'lesíanfabrics, muslíns and chambrtty5, fine 14ces, brocaJes and plushes. Others Wad theír vessels wíth wínes, sameJrom the Canaries, samefrom Madeíra, whíle most carry Portuguese wínes. A third group carries goodsfor barteríng in Angola, as it ís there that they traJe in slaves. [. JThe return cargos.from Brazíl consíst maínly ofsugars that are Waded onto the vessels, at times including same st1ver coins and bars that comefrom the River Plate each year. The brazílwood that ís shipped out belongs to the King [.]. vessels leavíng Rio de janeiro carry gold that comesfrom the mines ofSilo Paulo. 9 More than merely forming a link with Metropolitan Por-

With the role o f Rio de Janeiro in the trade controlled by the Portuguese Crown and the activities of its Port expanding steadily. these flows were to increase even more. Initially spurred by the discovery of gold during the closing years of the XVII century. this expansion was !ater fueled by the opening of the New Road during the following century. Running directly from the inland mining areas through Parafba do Sul to the Porto da Estrela at the back of the Guanabara Bay. this new route replaced the Old Road that

tugal, these port activities developed steadily through

once carried the gold to Paraty. where it was shipped out from

opening up a broader range of relationships. Some of the

this port. The Portuguese Crown decreed the Paraty road

residents o f Rio had commercial in terests that extended

closed from 1733 onwards. From then on, except for gold

throughout Portugal's vast empire. At the same time,

smuggled out along the old route, the entire official trade in

exchanges took place not only with other colonies in Africa,

this precious metal flowed along the New Road leading to

but also with captaincies closer to Rio that gradually became

Rio. But the benefits brought to the city by Brazil's Gold Rush

subordinare to it, in commercial terms. 10

were not based only on shipments o f this precious metal. As thriving sertlements sprang up further inland around the

The Gold Route

mines, these eager markets were supplied through Rio de

During the second half of the XVII century. the Rio Fleet was

Janeiro, whose economy was redefined, reshaping its role

the second largest in Portuguese America, behind only that of

within the broader context of the Portuguese Empire. 14 In

Salvador. Lirtle by lirtle, its sugar mills increased from only

1718, Governor Antonio Brito de Meneses considered "the

three in 1580 to forty in 1612, sixty in 1629, and no in 1639,

City of São Sebastião do Rio de Janeiro more opulent than all

ranking Rio as the third-largest sugar production hub in this

those in Brazil, due to its ample trade, and its goods being the

Portuguese colony. By the late XVII century. Rio was already

most precious".'5 His successor, Lufs Vahia Monteiro, was to

exporting as much sugar as Bahia."

endorse this view almost ten years !ater: "This land is today an

Another activity associated with the Port that began to

?empire = emporium?, where all the wares of the Americas

prosper was shipbuilding. The greatest symbol of the

are traded and all the weight is offloaded, providing staples for

progress achieved in this field by the mid-xvu century was

the governments ofMinas (Gerais] and São Paulo." 16

216

After attempting - unsuccessfully - to enter the Bay by

Notes I BOXER,

C ITY ANO ITS P O RT

Charles. S4l...Jor tk 54< a luta pelo Brasil< Angola. São Paulo:

raising Britain's Union Jack, these six French sailing vessels

Companhia Editora NacionaljEdusp, 1973. p. 192, 193.

changed course for Ilha Grande island. Guided by runaway

2 Idem.

slaves escaping from a sugar mill, they finally decided to attack this city not through its Port, but rather overland. Landing on

3 BICALHO. Op. cit. p. 179. 4

BOXE R.

the Praia de Guaratiba beach, Duclerc marched from there

Op. cit. p. 86-96.

5 SAMPAIO. Op. cit. p. 147.

through the rainforest for a week, with around 1,200 men. On

6 ALENCASTRO , Luiz Felipe de. 0 trato Jasvl,.,tes - Formaftloáo Brasa

reaching the city boundaries, he launched his attack on the

no Atl4ntlco Sul.

ão Paulo: Companhia das letraS, 2000. p. r8o.

morning of September 19. The French entered the streets of

7 LAMARÃO . Op. cit. p. 25.

the city. but were defeated in a battle where the local militi.a,

8 LATI F. Op. cit. p. 60.

students from the Jesuit College and negro slaves bearing

9

MORALES DE LO S RIOS FILHO,

Adolfo. OR.íotkjarodroimptrial.

Rio de Janeiro: Topbooks, 2000. p. 317-319. l O RUITERS ,

Dierick. "A tocha da novtgaçdo". Revistada IHGB , n. 269,

p. 25. October .f December 1965. li SAMPAIO.

Op. cit. p. 140, 141.

arms played more important roles than the offi.cial troops. Just a year after beating off this French raider, the city fell to his compatriot, Duguay-Trouin who arrived with s.ooo men on eighteen vessels, in a campaign financed by severa! French ship-owners and shareholders. On September 12,

12 SAMPAIO . Jbid. p. 65.

17II,

13 BOXER, C. R. Op. cit. p. 323.

winds, ali these pirate ships lined up and sailed through the bar

concealed by heavy mist and backed by very favorable

14 BOXE R. Op. cit. p. 343-345.

one by one into the Guanabara Bay. before the appalled eyes of

15 SAMPAIO. Op. cit. p. 148.

the Government authorities and the local population. "lt was

16 Mentioned in SAMPAIO. Op. cit. p. 148.

obvious that that success of this expedition depended on the speed of our action, which is why the enemy could not be given

31 The Corsairs are Coming

any chance to recover from the surprise", recounts this corsair in his memoirs. 2 The success of this impressive entry into the

Ushered in partly by the discovery of gold, this prosperity soon

of the French offi.cers, after only half an hour, ali the vessels

aroused the greed of outsiders, particularly the French.

were in the Bay - that the expedition commander himsdf was

Bay by the captains o f his fleet was so great - according to one

Dividing the nations o f Europe, the War o f the Spanish

almost unable to hide his amazement: "They carried out this

Succession (1702- 1714) placed Portugal and France on opposite

order with such perfect precision that I cannot suffi.ciently

sides. The corsairs of the latter raided Portuguese settlements

praise their bravery and food performance."3 The impact of

in Africa, pillaging the islands o f Príncipe and São Tomé,

this feat by the invaders was increased by the fact that they had

burning the town o f Benguda and attacking Santiago in Cape

to sail past a complex of forts and cannon batteries that

Verde. But it was gold - rnined in the heartlands o f Brazil and

included the Santa Cruz, São João and Nossa Senhora da Boa

shipped out through the Pott ofRio de Janeiro - that made

Viagem fortresses. Until then, the Portuguese had believed

this city a far more tempting target. In 1710, an expedition

that this set of defenses made the entrance to the Bay

consisting o f six sailing ships carrying some 1,500 men set out

impassible, consequencly protécting the entire city.

from the Port o f Brest for Rio de Janeiro. This venture was

Serving aboard the French frigate LÍ\ígle, First Lieutenant

commanded by a young and inexperienced Officer, Jean-

Louis de Chance! de Lagrange noted in his memoir of the

François Duclerc. Born in the French colony o f Guadaloupe,

raid how the city appeared to the eyes of the French early in

his dark skin would cause him to be taken for an "Indian

the XVII century:

Prince" on his arrival in Brazil. But Duclerc was inspired by the

Thís ís the most ímportant city after Bahía tÚ Todos os Santos, due to the nearby gold mínes and the Portuguese tradíngfoets that each year bring ít the most valuable European goods. Moreover, the Britísh and Dutch vessels necessarily moor here on theír return trípJrom the East Indíes and ]apan, ~oadíng theír precious cargoesJrom the Oríent.4

successful attacks in Africa. or perhaps the feats of another group ofFrench corsairs that had recently trounced the Spanish in Colombia at Cartagena de Indias. This venture was also probably prompted by the somewhat unflatrering assessment of the residents of the Portuguese colony. A French chronicler who left his impressions of visits to Rio de Janeiro and Bahia,

After nine days ofbattle and heavy artillery fire over the city. government authorities and local residents fled, leaving

Froger wrote: "lt is well known that they are not brave, except

Rio open to the French raiders. The city and some of the

on their own dung-heap, and depending on the occasion, they

wealth and properties that it contained was returned to its

turn more quicldy to their rosaries than their courage"I

inhabitants only after fifty days of occupation, on payment of a

21 7

C ITY ANO

IT S P O RT

ransom. The French were lucky enough to find the Portuguese

main measure would be to "dose off the city by building a

fleet anchored in the Bay, on its annual trip, with 35large

single wall around it".9 This controversial project, which was

trading vessds. Ali were captured or burned. In fact, Lagrange

finally acknowledged by ali as irrelevant, was to be followed in

boasted of the fact that the losses affected not only the

subsequent years by projects that responded to the same

Portuguese, but also British interests, even causing some

concerns. In 1726, Governor Luís Vahia Monteiro, known as

bankruptcies in Europe.5

the "Wildcat", proposed that a canal should be dug, broad and

The corsairs soon d.iscovered that this reputation for wealth on the other side of the Atlantic was well -deserved.

deep enough to be navigable. linking the arm of the sea that ran through the São Diogo mangrove swamp (in what is today

In order to assess the activities of the Port and the range of

the Cidade Nova d.istrict) to the Praia do Boqueirão, today

provenance of the goods shipped through these facilities, it

the Passeio Público park. Although this proposal was turned

is worthwhile quoting at length from the statement of First

down, a similar idea appeared in 1769, when Swed.ish Briga-

Lieutenant Lagrange, describing his impressions of the city:

d.ier Jacques Funck, commissioned by the Portuguese Crown

Never has there been seen anywhere such a vast accumulation '!fgoods comingfrom Portugal, France, England, Italy and the IndÚis, carrieJ by the tradingjleets. This in itse!fmade each home into a real repository '!fthe most curious goodsfrom Europe, China, the East Indies, Persia andjapan, with the value '!fthese riches assessed atfour mt1lion. However, while sacking and pillaging, our soldiers destroyed large quantities '!fporcelains, lacquered Chineseforniture for use and adornment, mirrors, crystals, pictures, stools and chests madefrom ivory and scented woods, as weU as countless preciaus objects, resulting in the loss '!fassets appraised at three mt11ion. 6 The Chinese furniture shatrered and scattered through the streets and homes of Rio bore mute witness to the scale and

in Rio to rethink the city's defenses, once again proposed that canais should be dug, which would be paired with the new walls to make the city invulnerable. None of this complex project was ever implementediO Despi te the ban on trading with foreigners, over the next hundred years Rio de Janeiro became a regular port of call for a steadily increasing nurnber of vessds from the XVII century onwards11 During this period, the contrad.ictions and ambiguities in the relationships between the city and the foreigners sailing into its Port was also reflected in the treatment o f visitors, alternating between hospitality and

the range of the flow of goods through this Port. From the late

mistrust, courtesy and hostility: These relationships were

xvü century onwards, around half the vessels sailing from the

basically guided by the laws issued by Metropolitan Portugal,

East to Portugal moored in Brazil, some of them in Rio.?

which strictly and dearly banned direct trade between local

Behind high walls, fear

explorers, naturalists or members of religious orders, these

The pirate raid headed by corsair Duguay-Trouin and his

travelers produced prolix reports on the natural beauties of

residents and the members of foreign fleets. Sold.iers,

men was a traurnatic event for the Portuguese authorities

the city, with no less detailed descriptions of its fortifications,

and the residents of the city, established under the auspices

capacity for defense and military troops. This was the case of

ofbatt!e during the fight with the French headed by

French navigator, mathematician, aristocrat and sold.ier louis-

Villegaignon. If the series of forts, fortresses and cannon

Antoine de Bougainville (1729-18n), whose journal ofhis

batteries already dotted the topography of the city before

visit to the city induded a "Plan of Attack on Rio de Janeiro"

this assault, concern for its defense and fear of foreigners

that even included the composition of severa! regiments and

was to characterize the life of Rio and its Port even more

the number of sold.iers posted to shoreline forts.

from then on. Historian Maria Fernanda Bicalho notes:

ifon the one hand the City '!{ruo de janeiro developed into a crossroads for the entire southern portion '!fthe Portuguese Atlantic Empire, what turned it in to a cosmopolitan center open to the circulation '!fpeople, capital, vessels, goods, politics and ideas was, on the other, its importance and the steady stream '!fraúls and attacks to which it had been subject since it was first established, with repeated attempts by the mt1itary to surround it by Jortresses, trenches and high walls, as both Kingdom and Colony.8 In 1704, six years before the Duderc attack, the first

When British navigator and explorer James Cook (1728- 1779) sailed into Rio de Janeiro on November 14, 1768

on one o f his voyages around the globe, Lisbon was going through a time of particular mistrust regarding British intentions. Despite the allegedly scientific objectives ofhis journey, he and his crew were forbidden to land, to his d.ismay, and managed to do so only dandestinely or escorted by Portuguese sentries. Neverthdess, the log kept by Cook and the journal of another member of this exped.ition, Joseph

project was drawn up to surround the urban area with a city

Banks, an amateur scientist and the main source of financing

wall. But it was only in 1712, a year after the Duguay-Trouin

for this exped.ition, d.id not fail to indude details of the

raid, that the Portuguese Crown d.ispatched French military

fortresses and the composition of the various regiments of

engineer Brigad.ier Jean Massé to Rio, with the mission of

troops. 12 The wariness that this type o f record inspired among

designing works that would fortify the city even more. The

the Portuguese authorities was more than understandable.

---~~~-~-~~----------

2 18

C ITY AND

IT S P O RT

The XVlll century saw many threats offere~ by France to

A year after Cook's visit, the travei journal of John Byron was to be published in London: Voyage round the world in HMS Ddphín.

Rio de Janeiro, initially through Jauffret the spy. then the raids

To the horror of the Portuguese Ambassador in London, this

headed by Duclerc and Duguay-Trouin, and barely avoiding a

book described the Port and the entire city defense system in

third French attack that rnight have had far more serious

a wealth of detail, stressing its inefficiency and fragility and

consequences for the residents of this city. A glimpse of what

even affirming that only a few hours and six British warships

rnight have happened is suggested by the order signed by .King

would be needed to destroy the Portuguese fortifications.

Louis XV in 1762, addressed to an officer in the French Navy

The treatment meted out to foreign fleets and visitors

Long forgotten in the National Archives in Paris, in this

also varied, depending on the shifts and switches o f European

docurnent the King o f France gave Officer Beaussier de I'Isle

policies, with this complex minuet of treaties and alliances

the general !ines ofhis rnission: to invade and conquer the two

interspersed by wars and truces. On July 23, 1748, only 37

main cicies o f Portuguese Ame rica, Rio de Janeiro and

years after the Duguay-Trouin raid, the Arc-en-Cíel moored in

Salvador. In contrast to the briefFrench incursions of earlier

Rio de Janeiro, where the captain and crew of this French

times, this attack was justified by the fact that Portugal was an

vessel were warrnly welcomed with gestures of good will by

ally of England, fighting against France in the Seven Years

Governor Gomes Freire de Andrade, the Count de Bobadela.

War. The intention was not only to pillage, but to hold the

A detailed report of the ceremonial manner in which hosts

conquered lands as the foundation of a future French

and visitors exchanged courtesies - including banquets, visits

Viceroyalty. Detailed maps of these two cicies were forwarded

on board and on land, salvoes o f cannon-fire by both sides,

to this officer, who was instructed to take command of a fleet

and performances of plays and music - were ali recorded in

of 22 vessels carrying a total of 4,8oo men. Even the name of

the log of this French vessel. "We were welcomed not only

the future Viceroy had already been selected: Count d'Estaing.

with courtesy. but with distinction", noted its author-'3

Confident, he had already received from King Louis XV the

However, the relatively liberal welcome offered to

basic principies of the future colonial policy of this region.

foreigners during the early days of the Bobadela

However, Monsieur d'Estaing saw his plans to sit on a throne

Adrninistration cooled significantly during the Seven Years

fade away: the Seven Years War ended before his fleet set sai!

War (1756- 1763). As a result, only nine years after the crew

from the Port of Brest for Rio. 16

of the Arc-en-Ciel had been welcomed so affably. the arrival of six French warships in the Port ofRio de Janeiro in 1757 prompted feelings among the local population that were described by contemporaries as "terror and

panic". 14

Notes 1 BOXE R. A

/JaJedtourodcBras/1. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. p. 113-

2 DU G UAY- TROUIN .

Mem6rúlsdoSr.Duguay-Trouln. Brasilia; Sao Paulo:

The fear and hostility prompted by this fleet - on its way

National Archives, Editora da

to India to fight the British - almost triggered bloodshed

Press, 2003. p. 146.

between the residents of Rio and the French crews,

3 DUGUAY - TROUIN .

disappointed by the "groundless dread" and "unfair mistrust"

4

that they caused.

Duguay-Trouin, segundo a narrativa de Chance! de Lagrange".

The fears o f Metropolitan Portugal about the presence

Revísta do IHGB , v. 5 Ibid, p. 7 2 .

Op. cit. p. 146.

270,

p. 56, January I March

probably no better example of the harm that they could

6 L A GRANGE .

cause than the case of Frenchman Ambroise Jauffret. Born

7 SAMPAI O.

Op. cit. p. 173-

in Marseilles and having lived in São Paulo for thirty years,

8

Op. cit. p. 181.

he forwarded a detailed report to the French Navy Ministry

9 Idem, p. 188.

DI CALHO.

Sao Paulo State Government

Chance!. "A tomada do Rio de Janeiro em

LAG RANGE ,

of possible spies were far from being groundless, and there is

UNB,

17 11

por

1966.

Op. cit. p. 60.

in 1704, describing this Portuguese colony and the status of

10 CAVALCANTI ,

the fortifications o f Rio de Janeiro, even suggesting various

A vida e a cot1Stn1f6o do c/JaJe, do ínV454o fra= att a clrtgad4 do cc>rte.

options for an artack. Together with a detailed map of the

Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004. p. 48-54.

city. this information would have been crucial for the success

l i BI C ALHO .

of the Duguay-Trouin raid. In this docurnent, the

12

Idem, p. 121.

Frenchman noted that the raiders would find the

13

"Uma arribada francesa ao tempo de Bobadela". Revista do IHGB ,

Portuguese fleet anchored in what was known as the Pool,

v. 280, p. 225- 260, July I September 1968.

between the Ilha das Cobras island and the Mosteiro de

14 BI CA LHO .

Nireu Oliveira. O R.úJ dtjanarosaecentlsta -

Op. cit. p. 34.

Op. cit. p. 60.

São Bento Monastery. as ali the vessels stocked up there

15

Idem, p. 40.

with local produce. 15

16

Idem, p. 7 6 .

2 19

41 The Port: "The Most Precious Jewel"

C ITY AN O IT S P O RT

Portugal's Ultramarine Council, complaining about the inconvenience of the city having only a single warehouse at

Between 1713 and 1760, the population of Rio soared from

tbat rime: when the shíps ofthejleet ofthat cíty (Rio) are loaáíng and

12,000 to 30,000 inhabitants. Fueled by Brazil's Gold Rush,

t1floadíng, nct only does thís prevent Your Majestys Servícefrom díspatchíng there, but also greatly harms the common good, due to the ltuk ofwarehousíng equípment and scalesfor storing and weíghíng the crates ofsugar.5

this upsurge in growth spurred the vocarion for pon activities shown by certain parts of the town. More specifically, the Misericórdia district near the Morro do Castelo hill gathered

This Representarive had granted a license to a group of

together a significant portion of trading activities, with the

businessmen for the construction o f a new warehouse.

main depots, warehouses and stores. At the Praia Dom

However, this project was blocked by the owner o f tbe

Manuel beach near the city center, along the street that still

existing warehouse, alleging that he held rights to the

today bears the same name, was the wharf where goods were

warehouse built by Salvador Correia de Sá, with a dause

oftloaded and staples were loaded for expon1 These steadily-

guaranteeing that no other warehouse would be built.

expanding trade flows were to require increasingly large areas. which is why landfills and other improvements were

During tbe XVIII century, a significant portion of the local population drew its livelihood from the port and its

undertaken, paving the way for the construction o f shipyards,

acriviries. Among the richest were tbe merchants, some of

sheds and warehouses moving out towards the Praia do

whom purchased trading ships that carried their own goods,

Mercado beach during the XVII I century under the Gomes

while otbers invested in building their own dippers. The

Freire de Andrade Adrninistration (1735- 1762) .2 Deterntined to maintain control over this coastal strip, the

more humble induded many craftsmen specializing in the skills associated with this segment and the related ship

Ponuguese Crown displayed its displeasure with the

repairs, such as carpenters, woodworkers. painters, grouters,

disorderly way in which the local people were building along

coopers and carvers.6

the sea-front. Arguments over land ownership and the rules covering coastallands triggered a silent conflict between the

Outside the Law

local Council employees (who were more eager to defend the

During tbe second half of the XVIII century, the situation of

interests of the local population) and the functionaries o f the

Rio de Janeiro was incomparible with its fame. At least this

Ponuguese Crown (who were equally determined to impose

seems to be indicated by the situation found here by the

the will ofLisbon) . Governor Luiz Vahia Monteiro announced

Marquis do Lavradio, Luís de Almeida Portugal, on his arrival

his intention of protecting this harbor, as "the most precious

in Rio - the city he was to govern as tbe Viceroy of Brazil.

jewel that the world could have; because after entering it

lt would be hard for an administrator to have viewed the

through the bar, the vessels moored at this jetty are as thougb

purpose ofhis mission with a more disenchanted eye.

they were under lock and key". In support o f this, he daimed

"I entered this labyrinth that I adrnit to Your Excellency is far

that "for the good defense of the city" the beaches and

larger, more complex and more hazardous than I had assumed

seascapes should ali be deared, proposing that "no one should

in Bahia," he wrote to a friend a few days after taking office,

be allowed to extend even a hand's-breadth towards the sea,

newly arrived from Salvador. The state of its troop

nor build on the beaches as far as the Valongo Point".3

detachments and defenses, its countless diseases, its swamps,

Against this stance, which they felt was excessively

insects and "infernal" heat - nothing escaped censure by its

stringent, the local Council members affirmed that it was

new Governor, not even its Nature, so highly praised:

legally irnpossible to irnpose this order, arguing in

"The land still appears very bad to me. lt is surrounded by

counterpart that there was space to spare for these port

inaccessibl~ ranges o f hills, most of them living rock, and ali

activities, as boats from the back of the bay moored in tbe

of tbem forrning a view that is highly unpleasant"?

square facing the Convento do Carmo monastery (now the

Neither did tbe merchants o f Rio cause a good

Praça ~nze de Novembro square) , ships of the fleet and

impression: "The tradespeople in this town are very different

war frigates moored in the Navy Yard alongside the São

from those o f Bahia, here the dealings are ali full o f faults and

Bento Monastery, and the remaining vessels landed on tbe

lack darity"8 The poverty of its people, their laziness and

Prainha beach alongside this monastery, which they claimed

lack of enterprise, nothing - according to a letter written by

provided quite sufficient space.4

Lavradio to a friend - presaged a brilliant future for the local

The prosperity of the city and tbe activities of its pon

economy: In a síngle word, my colleague, thís here ís a body that ís goíng

somerimes dashed with the right-laced interests of privare

to the grave, and on the outsúk ít has decked íts shroud with many jlowers, and ít seems to me that thís ís the most appropríate portrait in ~hích the Government ofRio de janeiro currentlyfinds ítself.9

groups and acquired privileges. In a curious document dated 1692, the Senate Representative to the Lower House wrote to

220

The Port imposed many duties and responsibilities on a Viceroy such as the Marquis do Lavradio, ranging from the

C I TY A N O IT S P O R T

According to this same approach, the crews of foreign vessels were kept under dose watch, at least theoret:ically.

oddest to the most prosaic. He had to bring order to the

In a document dated 1795, the Count de Resende - who

accounts rendered by the Province to Lisbon, as no balance

was the Viceroy at that time - affirmed that these crews

sheets had been drawn up for the past two years. He also

landed under the escort of an armed sentry. Once on the

needed to ensure the arrival of the double tithe known as the

quay, they were escorted by Portuguese officers "to stop

Q!íntos owed to the Portuguese Crown by the Minas Gerais

them from [. ..] trading. drinking. deserting o r failing to

region, so that the gold could be shipped to Portugal.

return at the stipulated time, and in order to prevent them

Moreover - he wondered in a letter to a friend from

from reconnoitering any fortresses or dominant places"P

Pernambuco - should he accept the responsibility of replying

However, in addition to the thousands o f kilometers o f

to a request for a warship to call at Luanda to collect the

the Brazilian coastline, the authorit:ies encountered other

zebras that the Governor of Angola wished to present to

difficult:ies in repressing what proved to be a thriving business

His Majesty the King of Portugal? And what about the risks

over the years. The Portuguese merchants established in Rio

that these very exotic gifts might be exposed to in Rio?

encouraged this trade and benefited from it. Moreover, the

Better play possum: as "in a port as hazardous as this, there

officers themselves who patrolled the port on small boats,

might be some danger, and I did not decide to give a positive

inspecting foreign vessels and trying to stop their crews from

order to the said Commandant to go to him, but merely left

going ashore, frequently served as intermediaries between the

it to his discretion". 10 In fact, like his Viceroy in Rio de Janeiro, His Majesty in

foreigners and local residents and merchants. Instead of suppressing these smuggling activities, they in fact helped

Lisbon was more concerned with taxes than zebras. The

"increase even more the abominable contraband that

documents produced by the civil servants working for the

flourishes in this city" 1 3

Portuguese Crown recorded only part of the wealth that

Official efforts to do away with this practice masked

flowed through the ports ofRio. In 1799, the Porruguese

eager cooperation among some of the civil servants working

Secretary for Overseas Affairs, Rodrigo de Souza Coutinho,

for the Portuguese Crown, and not only at lower leveis,

received a letter from a compatriot claiming that, when he

judging by the allegation presented by a Portuguese merchant

lived in Ireland and England, he often saw ships docked at

in a letter dated 1794, familiar with Rio de Janeiro, and its

British ports, mainly London and Liverpool, carrying large

inhabitants after living there for more than thirty years.

quantities of gold dust and gold bars, as well as precious

According to him, these illegal acts did not take place along

stones and timbers. He discovered that a1l this was shipped

the coast, but rather in the Port itself, as it was there that the

out clandestinely from ports in Brazil. According to this

terms of the deal were agreed, after which the smuggled

whistle-blower, British ships set sail regularly for the

goods were loaded and offloaded outside the bar. The official

Porruguese colony, frequently armed as though they were

procedures and the alleged strictness in dealing with

going to fight the French or fitted out for whale hunting. a1l of

foreigners during the visits by the Health and Customs

which was no more than a disguise for smuggling. Instead of

Authorities were no more than a smokescreen:

carrying the appropriate equipment, they would leave the

Havíng done so, the lords dísembarked on an outíng to the dty wíth sentries ín síght, seekíng the correspondents to whom they could present theír credentíals ín order to assíst andJact1ítate these swíndles: stores sellíng drinks,

British ports loaded with bales of cotton or gunpowder to be bartered for gold and precious stones. Once off the Brazilian coastline, they pretended that they had some emergency in order to moor or anchor off the coast, waiting for the smaller boats with which they dealt through this illegal tradeii A series of regulatory procedures imposed on ships arriving in the Port was expected to curtail any illegal trading. By the late XVIII century, inspections were routinely carried out by the Customs Judges, the Chief Customs Officers and

operas and everything servíng themfor the success oftheír busíness, at the end ofwhích they tqi the cítyjlooded wíth goods and carryíng away brazt1wood gathered ín the Ilha Grande and Cabo Frio dístricts, as well as gold dust síphoned offfrom the Minas captaíncy (ín addítíon) to díamonds and whatever e/se they could deal ín, thus draíning away the lívelíhood ofthe State and the Monarchy. 14 Thanks to their overseas trading act:ivit:ies, the merchants

the Customs Agents. Only after preparing an official

ofRio received goods that were irnportant for domest:ic trade,

inspect:ion repott was a certain length of time granted for

transferring them on consignment to other merchants

repairing the vessel and restructuring its crew. By law, any

responsible for the direct sale of these wares. The fact that they

breach of these regulat:ions was subject to punishment that

received these products in advance of payment left them

included seizing the ship and arresting its captain and crew,

subordinate to the merchants of Rio. Historian Antonio

who would then be sent to Lisbon for judgment.

Carlos Jucá de Sampaio wrote:

221

It cannot be deníed that the merchants headquartered in Rio during the first halfojthe XVI 1I century were located at one ojthe most prufitabk crossroads ofthe Portuguese Empíre, servíng as the main bridge between the go/4-bearing regíons and overseas trade.I 5 In addition to the prosperity fueled by the discovery of

C I TY A N O I TS PO R T

tribute to the Monarch of the "United Kingdom of Portugal. Brazil and Algarve": "To the liberator of trade". This was a reference to opening up Brazil's ports "to friendly nations" decreed in 1808.I8 What products were shipped out through the Port of Rio

gold in the heartlands o f Brazil, another major facto r driving

during the reign ofKingJohn VI? The main items on Brazil's

the growth ofRio during the XVIII century was its newly-

export lists at that time were sugar, coffee - which was

established status, replacing Salvador as the colonial capital in

becoming increasingly irnportant - cotton and tobacco.

I763- The official transfer of this titled seems to have

Additionally; ships set sai! from the Porto f Rio for other parts

sanctioned a defacto situation that was already firmly

of Brazil carrying products such as horns and jerky from Rio

established. Two years earlier, Gomes Freire de Andrade felt

Grande do Sul State; vegetables, coconuts, brazilwood and

that Rio, which he was adrninistering at that time, was the

tobacco from small ports to the North of Rio; skins and hides

"most irnportant jewel in this great treasure"; "a Province that

from Buenos Aires and Montevideo. And what flowed in to

is the wellspring nourishing and strengthening the

this Port? From Portugal carne olive oils, wines, salt cod, hats

conservation of the Kingdom and the conquests, and that

and dried fruit; from India and China carne porcelain, silks

might uphold it ali, serving as an anchor." When listing the

and teas; from Great Britain carne fabrics, metais and staple

characteristics that made Rio and its Port so special, the Count

foods; from France carne luxury items, furniture, books,

de Bobadela seemed to enumerare the reasons that might

engravings. liqueurs and linen; from the Netherlands carne

explain its transformation in to the capital just two years !ater:

beer, glass and gin; in addition to pianos and clocks from

The Emporium ofBrazt1, as thís port had the círcumstances ofan extremely strong difense anda position with an incomparable harbor bar. The ma in mt1itaryforces in Brazt1 are found here, and ít ís here that mt1lwns enter, kave andare handled [.] and the most approprícte partfor assísting the North and the South ís undoubtedly this port.I6

Austria, with glass, toys and other goods from Germany. I9

A similar tone appears in the assessment by another

The powers of trade released by King John VI were soon felt in the Port of Rio de Janeiro, reshaping its landscapes. Untili814, the phrase "friendly nations" was nothing more

than an euphemism for Great Britain, as the rest ofEurope lay under the fist o f Napoleon. A trade treaty signed in I8IO that

authority. Antonio Luiz de Souza, who traveled through Rio

offered advantages to London finally sealed the commercial

when newly-appointed to the São Paulo Captaincy:

decadence of the Portuguese. In 1807, when the King of

Through ali that I have observed, I consider Rio de janeiro today the

Portugal and his Court fled from Lisbon as Bonaparte

key to thís Brazt1 due to its situation, its capacity, its nearness to the

prepared to invade Portugal, 778 ships entered the Guanabara

dominions oJSpain and the dependency oJ thís cíty on the mines in the hinterlands ofthe country, making it one ofthe cornerstones on whích our Monarchy ís grounded.I 7

were mooring at this newly-opened Port. These flows were

Port open to ali flags

1787, when the first British fleet moored in Rio de Janeiro on

In February 18I7. Jean-Baptiste Debret and two other

its way to Australia, until 1850, more than 8oo British ships

Bay - and only one was foreign. But by I8II, some 5,000 ships also stepped up by the early colonization of Australia, with fleet afrer fleet of convier ships sent out from England. From

members of the French Artistic Mission that arrived in Brazil

moored here on their inbound and outbound voyages, carrying

the previous year, were busy giving the final touches to a huge

a total of 162,000 convicts to this British colony..1°

decorative structure in the Largo do Paço square alongside the wharf. set up for the festivities acclairning King John VI.

The origins of these vessels soon began to vary widely; reflected in their colorful flags that began to flutter in the

In the tropics, this neo- Classic artist - who in earlier years

Port and over the waters of the Guanabara Bay..lt The days

had painted canvasses ofNapoleon Bonaparte in heroic

when foreign searnen were viewed askance had definitely

stances set against backgrounds of epic battles - now placed

gone forever. From then on, almost ali the reports of

his talent at the service of more prosaic causes. In addition to

travelers mentioned the fact that this Bay was always fui! of

a Greek temple holding a huge statue of the goddess

vessels from many different countries - including warships.

Minerva, Debret and his colleagues also raised an Arch of

Describing the merchant clippers that used to line up

Triurnph more than thirteen meters high, alongside the

between Valongo and Prainha as they waited to be loaded

fountain made by Mestre Valentim. In the midst of profusion

or offloaded, an American traveler described this scene in

of columns, statues, coat of arms and allegories of ali types,

the late 1830s:

including a group of sculptures portraying two "rivers" (the

There the kmg.flat brigs and the schooners cou/4 be seen, whích sat1ed from Brazt1 to the coast oJ,4fríca. There, immobt'k, líe the heavy boats of

Tagus and Rio de Janeiro) there was an inscription paying

222

Norway or Hamburg. On all sídes, hangingfrom the masts are the smallest coastalfreighters through to huge cargo vessels are thefogs oJSpain, Portugal, Sardinía, Naples, Tuscany, France, Belgium, Bremen, Austría, Denmark, Sweden, England, the USA, the Republics oJSouth America and Brazt1. 22 And this did not even include the inspection cutters that slipped among the other boats to suppress smuggling. Clustered in large numbers at anchor in the Bay, these

C JTY ANO

JT S P O RT

On each side oJthe poop deck there werefour emblems wíth the initíals of Louís Pht1íppe and the Emperor. On each ojthem was a crown and thefaces on the rear part. They were supported by the French and Brazt1íanfogs alternately, separated by mirrors [.]. The cffect as a whole was excellent. The sides and the top were made oJwhite línen wíth red trimming andfrínges. Flags ofseveral colors wrapped the mainmast wíth much good taste and art.

He added, with a touch of envy: "The French understand

vessels formed a kind of floating community. In addition to

these things marvelously well, and I believe that ali those

the legal procedures and rules of the host country; which

onboard were very satisfied". No less than I,8oo people

they had to obey - accepting mandatory visits from the

joined in these festivities, which cost the French the

Brazilian authorities responsible for ensuring compliance

equivalem of 2,500 pounds sterling, as noted in his log by the

with fiscal and sanitary requirements - these vessels and

British Admira!, with some indignation and many

their crews also followed a series of informal rules. Based

exclamation points.23

largely on the rules of diplomacy and courtesy, these conventions shaped the busy sociallife that took place in the

During much of the XIX century, another routine was invariably imposed on ships entering the Bay, related to a

Bay itself. guided by gestures such as raising the flag of

community that was far less elegant and infinitely more

friendly nations, with much visiting among the officers and

humble. Ali arriving vessels were irnmediately surrounded by

captains of different ships. The arrival of a British ship

a "starving swarm ofboats that seemed to have appeared

might be greeted by a salvo of nine, thirteen or fifteen

from the bottom of the sea, around a carcass, tossed into a

cannon shots fired by a Russian ship, duly acknowledged by

stagnant puddle", in the somewhat acerbic words of a

the same number of shots fired by the British mariners.

foreign traveler.24 Manned by negroes, these dinghies sold

Further ahead, this procedure might be repeated with a

food, generallywith canopies covering the prow, and also

Sarclinian vessel or with one of the Brazilian forts guarcling

offered to carry passengers and baggage to the mainland.

the entrance to the Guanabara Bay: In times of peace, large

In Rio de Janeiro in 1837, us Methodist Pastor Daniel P

quantities of gunpowder certainly seem to have been used

Kidder was one of the few to view these workers with a more

during the

understanding eye. When arriving at the Praia dos Mineiros

XIX

century for the procedures required by this

beach with a load of Bibles and religious tracts to be loaded,

elaborate naval etiquette. The pace and spirit guicling the life of this community

he found himself surrounded by no less fifty boatrnen in fierce

are recorded to a large extent in the journals left by Graham

competition, each urging his own boat, canoe or felucca as the

Eden Hamond, the Admira! in Chief of Britain's South

most appropriate. These men were slaves trained to carry

Atlantic Fleet, who was in Rio between 1834 and I838.

passengers across the Bay or ship cargoes between ships and

A significant aspect in this regard is the decision taken by the Admira! to remain on board his vessel, the

HMS

Dublin during

the mainland. As "earning negroes" they had to hand over a specified minimum amount to their owners at the end of

the four years that he lived in Rio, preferring to stay in his

each day, who also owned the boats.

own cabin rather than move into one of the houses offered to

The anxíety that they showed to get passengers ís thus peifectly explícable; they do not work just to earn theír keep, but also to escape the puníshment that Wl11 be ímposed on them !fthey do not hand over the stipulated amount to theír owners.

him in the city: On November 20, 1835, this ship was turned in to a ballroom for the bali hosted by the Admira! for his compatriot Lord Auckland, who was visiting Rio de Janeiro. These festivities held onboard the ships were one of the

Below even this leve! on the social scale of the population

clearest indications of the intensive sociallife of those days,

living or working in the Guanabara Bay - even lower than the

ali duly noted in the log kept by Hamond.

slaves - were the wretches confined in the prison-ships known

An outstanding example was the reception hosted on February 20, 1838 by the Prince de Joinville ofFrance for

as presígangas. Perhaps the most famous of these hulks anchored in the Bay was the Prlncipe Real. Having carried the Prince

the young Emperor Pedro I 1 o f Brazil and his sisters aboard

Regent of Portugal to Brazil, this noble vessel was left to rot

the Hercule, a French ship armed with a hundred cannons.

in the coas tal waters o f Rio, holcling ali kinds of criminais and

"The entire poop deck seemed more like a huge theater than

wrong-miscreants. And this was not all. Oddly enough, the

a warship", noted the English Admira!, irnpressed. With the

earliest German and Irish settlers also spent time on this vessel,

entire vessel completely covered by a vast canopy and lit by

housed there temporarily with the convicts. This extremely

twelve large candelabra, there was sufficient space to host a

heterogeneous population was crammed on to a vessel just 67

ball, complete with an orchestra. Hamond describes this:

meters long, together with the goats and pigs raised by the

22 3

officers running free on the poop deck. When some prisoner

C ITY ANO I TS P O RT

aspect o f the city that never failed to interest foreigners. • I had

inconvenienced by these animais "punched or pushed the beast

the opportunity to visit a slave market, a spectade that is quite

so that it grunted or bleated, he immediatdy received twenty or

revolting to us", wrote the still-unknown Edouard Manet in a

thirty blows from a vine-whip", noted Cipriano Barata in 1829,

letter to his mother from "the Port of Rio". Regarding the

a pamphlet writer and militant republican detained on a

slaves, he noted: "The power that the whites widd over them is

corvene, the Niterói, who described the harsh conditions of the

extraordinary". lt was also "they, the Africans, who seem to

convicts imprisoned on the nearby Prlndpe ReaJ.25

endow the city with its prevailing tone: "In the streets only black men and women are seen, as the Brazilian men go out little, and the Brazilian women less still"I The horror fdt by

Notes I

Mentioned in LAMARÃO. p. 26.

l Idem, Ibidem.

young Manet was quite justified. lt was at this time that slavery was reaching its peak in the city. Neither before nor afrer 1850

3 Mentioned in B ! C ALHO . p. 207, 208.

would there be so many slaves living and working in Rio -

4 Idem, p. 208, 209.

around 8o,ooo, according to the census carried out in 1849.

5 Mentioned in SAMPAIO. Op. cit. p. 78.

For the purposes of comparison, in 186o there were only

6 CAVALCANTI. Üp. cit. p. 86.

14.500 slaves in another city with a marked African presence:

7 LAYRADIO , Marquês do. CartastÚJ RWdtjannro, 1;769-'776. Vol. I ,

New Orleans in the USA. The Rio de Janeiro that appeared to

Rio de Janeiro: National Archives, 1975. p. 53.

the eyes of the future painter was sirnply the city with the

8 Idem, p. 62.

largest slave population in the Americas. This status is not

9 Idem, p. 53·

surprising. as over the centuries, according to modem

10 LAVRA DI O . Op. cit. p. 62.

historians, the number of Africans who passed through its

11 BICA LHO .

ll

Üp. cit. p. 135.

Mentioned in BI C ALHO . p. 137.

13 Mentioned in BICALHO . p. 136.

slave markets reached the appalling figure of around one million men and women. 2 Figures from 1832 show that only IO% of the slaves in the

14 Idem, p. 139.

city had been born in Brazil, with alrnost three quarters of

IS SAMPAIO. Üp. cit. p. 246.

them bom in Africa. The slaves reaching Rio de Janeiro during

16 BICA LHO . Op. cit. p. 83.

the XIX century carne mainly from three areas o f Center-West

17 Mentioned in BICA LHO . p. 85

Africa: Northem Congo (Cabinda). Angola and Benguela But

18 NAVES, Rodrigo. "Debret, o neoclassicismo e a escravidão".

these three regions were far from constituting all the origins of

ln:Afont14dífla1. Ática, 1996. p. 60.

the Africans brought to the city. Their homelands were widely

19 LIMA, Oliveira D.jo4o VI no Brasil. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996. p. 240.

diversified, ranging from Cabo Verde to Mozambique, as wdl

20 MENEZES , Pedro da Cunha. O RJodtjaooro ruuota tÚJs MarestÚJSul.

as Nigeria and Dahomey3 Many of them were captured in

Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio. 2004. p. 52.

Africa by Portuguese troops fighting against inland rebel tribes.

21 LAMARÃO . Op. cit. p. 37: OLIVEIRA LIMA . Üp. cit. p. 250.

Others were purchased from chiefs through half-caste or black

22 KI DOER, D:miel I' Rmllnisdnd4s dt viagens t ptrrlllltlhii:ÚJ no Brasfl.

intermediaries known as pumbeíros. Chained together, they were

Brasilia: Federal Senate, 2001. p. 150.

taken to Luanda, where they were loaded aboard the slave-

23 HAMOND , Graham Eden. OsdldriostÚJalmlranteGrahamEdtnHamcmd.

ships and dassified as "items from India" according to the

1825 - I8J4/J8. Rio de Janeiro: Editora JB, 1984. p. 184.

trade terms established by the Portuguese Empire.

24 BIGG - WHITHER, Thomas P. Nlwo caminho no Brasfl mtrlJicmtJ: a Provf~~~:ía

During the XVII century. the trip between Luanda and

IÚ> Pal"lln4. Paraná: Paraná State Official Press, 2001. p. 38.

Rio could last up to fifty days. On their arrival in Brazil, the

25 GREENHALGH , Juvenal. Preslgangas d calaboufos:prls/l