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KARL LÕWIT'H
A ruptura revolucionária no pensamento do século XIX Marx e Kierkegaard
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Por vezes considerada a principal obra já escrita sobre a filosofia e a história intelectual alemã do século XIX, De Hegel a Nietzsche investiga a crise revolucionária espiritual que marcou esse período, quando se verificou uma transformadora ruptura com o passado. Neste estudo abrangente, Karl Lõwith estabelece os dois extremos de tal percurso filosófico, Hegel e Nietzsche, e nos conduz pelas mais diversas veredas do pensamento da época, em diálogo com autores como Marx, Feuerbach, Ruge, Stirner, Bauer, Kierkegaard, Schelling, Rousseau, Proudhon, Tocqueville, entre outros. O relevo do painel resultante é reconhecido pelo próprio autor e reflete a presença do século XIX na conformação e marcha do pensamento Ocidental. De fato, esse período amplo cujo território se estende da Revolução Francesa à Primeira Guerra Mundial criou "golpe a golpe, [...] para a felicidade ou infelicidade dos homens, toda a civilização técnica e expandiu por toda a Terra invenções sem as quais nós não poderíamos mais imaginar nossa vida cotidiana em geral'~ O livro é dividido em duas partes. Na primeira, centrada no estudo da história do espírito alemão, Lõwith empreende um acurado exame da relação entre Hegel e Goethe para, em seguida, discutir a maneira como os discípulos de Hegel, sobretudo Marx e Kierkegaard, apropriaram-se do pensamento do mestre. A se-
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De Hegel a Nietzsche
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Superintendente Administrativo e Financeiro William de Souza Agostinho Conselho Editorial Acadêmico Danilo Rothberg Luis Fernando Ayerbe Marcelo Takeshi Yamashita Maria Cristina Pereira Lima Milton Terumitsu Sogabe Newton La Scala Júnior Pedro Angelo Pagni Renota Junqueira de Souza Sandra Aparecida Ferreira Valério dos Santos Guimarães Editores-Adjuntos Andersen Nobora Leandro Rodrigues
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Karl Lõwith
De Hegel a Nietzsche A ruptura revolucionária no pensamento do século
XIX
Marx e Kierkegaard
Tradução -
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Flamarion Caldeira Ramos luiz Fernando Barrére Martin
DEDALUS - Acervo - FFLCH
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editora unesp
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© 1981 Felix Meiner Verlag, Hamburg 1981 © 2013 Editora Unesp
Título original: Von Hegel zu Nietzsche: Der revolutionéire Bruch im Denken des 19. Jahrhunderts
Fundação Editora da Unesp (FEU) Praça da Sé, 108 01001 -900 - São Paulo - SP Tel.: (0xxll) 3242-7171 Fax: (0xxl 1) 3242-7172 www.editoraunesp.com.br www.l ivrariaunesp.com.br [email protected]
CIP - Brasil. Catalogação na publicação Sindicato Nocional dos Editores de Livros, RJ L954h Lõwith, Karl, 1897-1973 De Hegel o Nietzsche: o ruptura revolucionário no pensamento do século XIX: Marx e Kierkegaard / Karl Lõwith; tradução Flomarion Cal· deiro Ramos, Luiz Fernando Barrére Martin. - 1. ed. - São Paulo: Editoro do Unesp, 2014. Tradução de: Von Hegel zu Nietzsche ISBN 978-85·393·0569·8 1. Hegel, Georg Wilhelm Friedrich, 1770-1831. 2. Nietzsche, Friedrich Wilhelm, 1844-1900. 3. Filosofia moderno. 4. Pensamento. 1. Título.
1.4-14558
CDD: 190 CDU: 1
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Edmundo Husserl em memória
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Sumário
Prefácio à primeira edição
XI
Prefácio à segunda edição
"10/
Primeira Parte - Estudos sobre a história do espírito alemão no século XIX Introdução - Goethe e Hegel 3 1. A visão de Goethe dos fenômenos originários e a concepção do
absoluto de Hegel 7 a) A comunidade de princípio 7
b) A diferença na interpretação
lO
2. Rosa e cruz 17 a) A recusa de Goethe do vínculo de Hegel entre a razão e a cruz 17 b) O vínculo de Goethe da humanidade com a cruz 21 c) O sentido luterano de rosa e cruz 23 d) O protestantismo de Hegel e de Goethe 24 e) O paganismo cristão de Goethe e o cristianismo filosófico de Hegel 25 f) O fim do mundo consumado por Goethe e Hegel 32
VII
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Karl lõwith
A origem do acontecimento espiritual do tempo a partir da filosofia hegeliana da história do espírito
1. O sentido histórico-final da consumação hegeliana da história do mundo e do espírito 37 1. A construção histórico-final da história do mundo 37 2. A construção histórico-final das formas absolutas do espírito 42
a) arte e religião 42 b) filosofia 46 3. A reconciliação hegeliana da filosofia com o Estado e com a religião cristã 54
li. Velhos hegelianos, jovens hegelianos, novos hegelianos 6 1 1. A conservação da filosofia hegeliana pelos velhos hegelianos 61 2. A revolução da filosofia hegeliana pelos jovens hegelianos 77 a) Feuerbach (1804-1872) 84 b) A. Ruge (1802-1880) 99 c) K. Marx (1818-1883) ll O d) M. Stirner (1806-1856) 124 e) B. Bauer (1809-1882) 128 f) S. Kierkegaard (1813-1855) 134 g) O vínculo de Schelling com os jovens hegelianos 140 3. A renovação da filosofia hegeliana pelos novos hegelianos 148
Ili. A dissolução das mediações de Hegel pelas decisões de Marx e de Kierkegaard 169 1. A crítica geral ao conceito hegeliano de efetividade 169 2. As distinções críticas de Marx e Kierkegaard 179 a) Marx 179 b) Kierkegaard 182 3. A crítica do mundo capitalista e da cristandade secularizada 188 a) Marx 188 b) Kierkegaard 195 4. A origem da reconciliação de Hegel a partir da cisão 201
A transformação da filosofia do tempo histórico no anseio pela eternidade IV. Nietzsche como filósofo de nosso tempo e da eternidade 217 1. O juízo de Nietzsche acerca de Goethe e Hegel 219
2. A relação de Nietzsche com o hegelianismo da década de 1840 225 3. A tentativa nietzschiana de uma superação do niilismo 234
VIII
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De Hegel a Nietzsche
Segunda Parte - Estudos sobre a história do mundo cristão burguês 1 O problema da sociedade burguesa 253 1. Rousseau: bourgeois e citoyen
254
2. Hegel: sociedade burguesa e Estado absoluto 259 3. Marx: bourgeoisie e proletariado 265 4. Stirner: o eu único como ponto de indiferença entre o homem bu rguês e o proletário 268 5. Kierkegaard: o si mesmo cristão e burguês 269
6. Donoso Cortés e Proudhon: a ditadura cristã de cima e a nova ordem ateia da sociedade de baixo 272 7. A. de Tocqueville: o desenvolvimento da democracia burguesa em despotismo democrático 275
8. G. Sorel: a democracia antiburguesa do operariado 279 9. Nietzsche: o homem de rebanho e o animal condutor 282
li O problema do trabalho 287 1. Hegel: o trabalho como exteriorização de si mesmo na formação do mundo 290
2. C. RõBler e A. Ruge: o t rabalho como apropriação do mundo e libertação do homem 297 3. Marx: o trabalho como autoalienação do homem em um mundo que não lhe pertence 301 a) A crítica do conceito abstrato de trabalho da economia política clássica 301 b) A crítica do conceito abstrato de trabalho da filosofia hegeliana 305 4. Kierkegaard: o significado do trabalho para o devir de si mesmo 312 5. Nietzsche: o trabalho como dissolução do recolhimento e da
contemplação 316
Ili O problemo da cultura 321 1. O humanismo político de Hegel 322 2. Os jovens hegelianos 327 a) A politização da cultura estética em Ruge 327 b} A redução de Stirner da cultura humanista e realista para a autorrevelação do indivíduo 330 c) A crítica de Bruno Bauer à participação em uma fraseologia do universal 332
IX
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Karl Lõwith
3.
J. Burckhardt e o século da cultura e G. Flaubert sobre as contradições do saber 334
4. A crítica de Nietzsche da cultura do passado e do presente 337
IV O problema da humanidade 343 1. Hegel: o espírito absoluto como a essência universal do homem 343
2. Feuerbach: o homem corpóreo como a essência suprema do homem
347
3. Marx: o proletariado como a possibilidade do homem genérico 350 4. Stirner: o eu único como proprietário do homem 355 5. Kierkegaard: o si mesmo singular como a humanidade absoluta 356 6. Nietzsche: o além do homem como a superação do homem 360
V O problema da cristandade 365 1. A superação hegeliana da religião pela filosofia
366
2. StrauB e a recondução do cristianismo ao mito 372 3. Feuerbach e a redução da religião cristã à essência natural do homem 374 4. Ruge e a substituição do cristianismo pela humanidade 383
5. Bauer e a destruição da teologia e do cristianismo 384 6. Marx e a explicação do cristianismo como um mundo invertido 393 7. A destruição sistemática do divino e do humano em Stirner 398 8. O paradoxal conceito de fé em Kierkegaard e seu ataque à cristandade existente 403 9. A crítica de Nietzsche da moral e da cultura cristãs
415
10. A crítica política do cristianismo eclesiástico em Lagarde 421 11. A análise histórica de Overbeck do cristianismo primitivo e do cristianismo decadente 427
Indicações bibliográficas 443 Edições completas 444
Edições de obras em particular 444 Obras gerais sobre a história do século XIX 445 Escritos especiais sobre a história do espírito alemão no século XIX 445 Obras citadas 445
Cronologia 457 X
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Prefácio à primeira edição
Hegel e Nietzsche são os dois extremos entre os quais, com efeito, se movimentam os acontecimentos da história do espírito alemão no século XIX. Mas porque se viu em geral a brilhante conclusão dos sistemas do idealismo na obra de Hegel, e porque houve uma apropriação de trechos selecionados dos escritos de Nietzsche para um uso condizente com o gosto atual, o pensamento de ambos precisa ser considerado com cuidado. Hegel parece estar muito distante de nós e Nietzsche muito próximo, quando se pensa somente na influência deste último e apenas na obra daquele. Na realidade, porém, a obra de Hegel teve, através de seus discípulos, um efeito sobre a vida espiritual e política que é difícil superestimar, enquanto as inumeráveis influências, que desde 1890 partiram de Nietzsche, somente na nossa época se cristalizaram em uma ideologia alemã. Aos hegelianos dos anos 1840 correspondem os nietzschianos de ontem. Em oposição ao apego acadêmico obstinado no que se refere ao sistema de Hegel, e à deformação popular dos escritos de Nietzsche, efetuados, respectivamente, pelos conhecedores do primeiro e pelos adoradores do segundo, os estudos que seguem procuram apresentar verdadeiramente a época de Hegel a Nietzsche e, assim, "reescrever" a história filosófica do século XIX no horizonte do presente. Reescrever a h istória, porém, não significa falsear para sempre o poder irrevogável dos acontecimentos, à custa XI
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Karl lõwith
da verdade e em prol da utilidade da vida, mas antes fazer justiça aos fatos histórico-vitais, de modo que se reconheça a árvore pelos seus frutos e no filho se reconheça o pai. Somente o século XX tornou os acontecimentos do século XIX nítidos e explicáveis. E a lógica implacável do desenvolvimento filosófico desde Hegel facilita a persecução dos passos sucessivos cujo resultado é extravagante. Estes estudos acerca da história do pensamento não são, entretanto, uma contribuição à história do espírito no sentido usual da palavra. Pois os fundamentos da história do espírito, que procedem da metafísica do espírito de Hegel, desde então se diluíram até perderem sua essência. O espírito como sujeito e substância da história não é mais um fundamento, mas, antes, no melhor dos casos, um problema. O relativismo histórico de Hegel tem por começo e fim o "saber absoluto", em relação ao qual cada passo no desenvolvimento do espírito é um progresso na consciência da liberdade; o saber das ciências históricas do "espírito" não é relativo, pois lhe falta o critério para um julgamento dos acontecimentos temporais. O que resta do espírito é somente o "espírito do tempo". E, no entanto, para conceber somente em geral o tempo como tempo, se carece de um ponto de vista que ultrapasse o mero acontecimento temporal. Mas como a identificação da filosofia com o "espírito do tempo" adquiriu sua força revolucionária através dos discípulos de Hegel, um estudo acerca do tempo de Hegel até Nietzsche terá de levantar a questão: o ser e o "sentido" da história se determinam a partir de si próprios? E, se não, a partir de onde procedem? Os seguintes estudos sobre a história do espírito alemão no século XIX se encontram distantes de fornecer uma história completa da filosofia desse período, sobretudo porque a completude material de uma concepção histórica não somente é inalcançável, como também seria contrária ao sentido de conexões de efeitos históricos. Na história efetiva do mundo, assim como na do espírito, desdobram-se fatos aparentemente simples em acontecimentos plenos de significado, e o que, inversamente, apareceu como um acontecimento importante pode se tornar muito rapidamente insignificante. Por isso é absurdo querer fixa r, seja anterior ou posteriormente, a totalidade de aspectos que caracteriza uma época. O processo de deslocamento do significado jamais é concluído, porque na vida histórica nunca se pode estar certo, desde o princípio, daquilo que surgirá ao final. E, desse modo, estes estudos pretendem simplesmente apresentar o ponto de virada decisivo entre a consumação de Hegel e o novo começo de Nietzsche, para, à luz XII Digitalizai.lo corn Ca111Sc