332 65 23MB
Portugueze Pages 261 [130] Year 2014
./
.
J
(); ;, '·/
rA,.
.' ,r
-~~i.~ 1 •" • :· .. \. ~
(J[.;, h
(; ;:' · ( ,
( ·, ( ,
.·. ,•.:
( ·
(
r (
.
-'' !
------,.,,.--!
·.····: .·;.
•
r Ç'
,r
C' ('
C'
·e e 'C
,,
. 1
e C' e (' -e
~e .('
:0
·~
. . ...
./'
,("
"·-·
('
,ç. '- ~...
·-.....
~
r ... ·
'.
~Ç'
i_Ç .0
('
,('
e ('
e \
\
\ ·-.-~vtuntuísmo, neologismo tirado pelo
' ,--. rn tonleste livro, da palavra Muntll (~essoa na - ---lfngüa bantu ), se propõe corno denominação de ('_ --um modelo teórico de -"personalismo africano" . (" -- \ corrente do personalismo, notoriamente _Jançada na França. na primeira metade do t. ·_ século passado por Emmanuel Mounier, ( -· mcontra o seu habitat mais natural na cultura ·;_~fricana que· é essencialmente personalista, \ . : enquanto se sustenta sobre os três pilares desta (" ·:: orrente: pessoa, comunidade, Deus. No · ')ciden te, estes pilares desmoro_naram: Delis já ( _ , morreu (executado pelas instâncias nülistas e ' ) ositi:distdas écla conbt_edmporanleidade); a -- ,omuni a e _ cónce i a preva entemente ( > ~orno espaço de reivindicai;:ão dos direitos ( ' ' .ndividuais (no sentido da filosofia marxista ou i --"~ losofia da praxe) e. á pessoa é. reduzida ao ( _indivíduo s_em nenhuma Jd:?~f:;' Smet, I-Il, Kinshasa 1975, vol II, pp. 348-380; P. Hountondji, L 'Ef!et Tempe/s, in.,, Encyd6p~.?t~'..;{:i,:\: ·.
'•:-·'.•
,r
,11
20 j H l s T r) R l A D
!\ S
l
' D E i i\ S
J\ ! U N T U Í S lvl O j
21 .
,,. __ _ i
'li
mesmo pelo mero facto de marcar o início da reflexão filosófica africana contemporânea. De facto , Tempels foi o primeiro a afirmar que a religiosidade dos Bantu - denominação :que se atribui aos negros da África subsaariana. e'xprime um pensamento metafísico e não mágico, afirmando que a sua cultura representa u,m sistema filosqfico autêntico 4 . O estudo de?ta obra é de caP,ital importância para a nossa pesquisa,. pois da a.nálise do texto deduz-se uma idei;a clara de Pessoa, designada pelo termo Muntu 5• A peculiaridade da natureza do Muntu emerge, sobretu~o, quando este atravessa momentos de particular dificuldade: mesmo se "civilizado" e cristão, retoma sempre às suas origens tradicionais . Isto deve-se ao facto de os antepassados terem deixado soluções práticas aos grandes problemas humanos como a vida, a morte , a salvação e a destruição: "Pressa i Bantu, e verosimilmente pressa tutti i 1
.
1
U,niverselle Phi/osophique, Publié sous la direction d 'André Jacob~ t. 1, L 'Univers philosophique, Presses Universitaires de France, Paris 1989, pp. 1472-1480. ' 'Cfr. Leghissa G. E Tatiana S., L'etnojilosojia deLpadre . Térripels· e la filosofia africa 1na cóntemporanea, Introdução ao texto de Placide Tempels, Filosofia bantu,o.c.,. p.10. Estes autores se mostram muito ''.complacentes" na sua avaliação a respeito da obra de Tempels e do seu desejo de "dar voz ao outro ". Retomaremos este aspecto da filosofia tempelsiana na parte argumentativa do texto ·confrontando-o com a filosofia (ou retórica?) do outro de Emanuel Lévinas . Leghissa1 e T~ tiana · sublinham, curiosamente, a ideia emergente do texto, acerca da natureza comum (naturaliter cristiana) entre o cristianismo e o pensamento , africano. John Mbiti, como analisaremos mais adiante, retomará o tema da natureza ontologicamente espiritual do Homem africano. . ' .; "Parece impróprio traduzir esta acepção da palavra muniu pelo termo 'Homem'. O muniu vi.ve num co1po certamente visível, mas .tal corpo 'não é' o muntu em si. Um indígena explicava a ~m c01rmão: o muntu é aproximativainente aquilo a que vós designais em francês com a palavra 'pessoa ' e não aquilo · que designais com a palavra 'Homem'". Filosofia baniu, o.e. p. 62. Nas lí~gu~s ~antu, muntu é o singular de bantu, termo que significa genericamente ;"Homens:'. A questao e tratada profundamente pelo filósofo , metafísico .e linguista, ruandês, Alexis Kagame, v. Infra.
'
popoli primitivi , la sofferenza e la morte sono i grandi apostoli della fedeltà aliá concezione 'magica' e dei ricorso alie pratiche 'niagiche' tradiziprtali ." 6 . Cada comportamento humano, ai'nda segundo Tempels, é alicerçado erri e conceitos. Tal acontece também na cultura Barttu, que ~ tem •\irri.•; Princípios . 1 ' sistema ontológico coerente. Uma ontologia que existe emb~ra ·os Bantu nã6i 1 tenham plena consciência ou não consigam expô-la. Por es ~a razão Tempels: i
assH~~ . o p~pel {na verdade'. uma .incumbência qu~ cabeh a ; ~os ·imp,ériosl [ coloma1s) de ajudar os Bantu a s1stemat1zar a sua ontologia. ! j · 1,·1 · O objectivo é, então, conhecer os Bantu e orientá-los sem 'apagar as suahaízes;i.: l porque "e soltanto parlando dei vera, buoni e solidi costumi illdigeni che noi!,
i•
7
possiamo condurre i Bantu ~erso l'unica e. vera civilizz,~zio~e l~,a~tu" . ~emp~l~i·1
t
questiona-se acerca dos motivos pelos quais os negros p~ga~~ dparecem mmdtq[: .'~,:.·:. mais equilibrados do que os .negros "civilizados" ou "cristiam~a .os" e respon ~ ·1 : sublinhando que os primeiros vivem a sua ontologia e teodiceia segundo o~ i ~i fundamentos tradicionais que resolvem todos os problemas da yida. Abandonar ~ : sua "filosofia" seria um suicídio. Com efeito, ninguém consegiliu 'convencê-los · ~ i fazê-lo. À pergunta "Quanti civilizzati, o neri veram~~te er oluti, po.tremmi /:
~.:"'·.
!.:.: . . .·.
.;
t~
contare trai Bantu?" Tempels responde que, salvo as leg1oes d~s desenrmzados ~ / r,i.·~,..·:.: degenerados a maioria permanece Muntu, não obstante as tentaÜvas de esconder~. " se imitando, os brancos. A ~u'.Íp~- de tudo isto é "nossa", ;,'nós os br~ncos"\ j' . f. 8
missionários, administradores, etc.; , que nunca entramos profu*damente na alm:~ ! ~.J_.:·.j dos· negros. Quando ridiculariia~os os seus costumes, nós btianc;os matamos· ~ j. -:~. "Homem" que está nos Bantu. A,quilo que nós consideramos: inpompreensíveJ~ f-~ · a
' u >'· !I : ~nto os Bantu, e verosimilmente junto todos os povos primitivos, o sofriirl:nto e a moi:te -são?o ~ i \
grandes apóstolos da fidelidade à ,concepção mágica e da recorrência ,às '·práticas mágié~~ :: tra?icionais" (TdA), Idem, p.35. . , __ 1 , . • • ~ • • , ...:;' :~'.:.2~!.f.,.> '"E somente falando dos verdadeiros; bons e sólidos costumes md1genas que nos podemos concduz1r .!l}Íl< 1_ Ó •!,,
D AS
rvt u N T u i s 1VI o 1.23
1 e> E J As
;::·;·:-
!:;.-;:,-:
~.;;[!!/:;·. 11cremação do corpo, etc.). ·,· . .Existem influências negativas inconscientes, enquanto os Bantu -podem perturbar a•: ordem ontológica sem tomar conhecimento de tal facto. O erro deve ser - teparado através de uma série de ritos e abluções, caso contrário geraria uma desgraça. Na conclusão elo seu estudo, Tempels. sustenta que se esta filosofia fosse confirmada,· seria necessário que os brancos revisassem todas as suas posições em relação aos negros, sempre considerados selvagens e animalescos. Os negros são Homens que se erguem sobre os· "ingénuos" europeus, porque os primeiros possuíam já uma concepção mais pura e elevada de um Deus único antes dos segundos. Os educadores brancos consideravam ingénuos os costumes · dos negros, julgando-os infantis, sem no entanto perceberem que se encontravam diante de uma humanidade adulta. Os ,negros devem .construir a sua civilização com base na sua sageza, que contém necessariamente um núcleo de verdade. Por isso não se deve minar os seus fundamentos, deve-se antes amá-los como são e valorizar tudo quanto seja digno de valor. Vincando com fervor que civilização não significa bem-estar económico; mas a posse de uma concepção inteligente do mundo e da vida, de um 26 sentido , Tempels ressalta que o civilizador branco não pode privar as raças primitivas das suas verdades, pois tal representaria 'um ataque à sua humanidade. Pelo contrário, é necessfuio aprofundar a sua filosofia para que não se eduquem _ "evoluídos" desemaizados. Perguntando-se ainda se se pode implantar a civilização dos Bantu sobre a sua sageza, Tempels responde .prudentemente que nem todos os ritos e costumes são '' "De· que valeria uma civilizaçã.o sem sageza, concepções profundas e entusiasmo pela vida? Como se pode pretender imaginar uma civilização sem filosofia, ideais e aspirações superiores?" (TdA),Idem, p.147. ' .
1':
f I ' i ::; gerais da Moral natural : "l'ensamble , d~s pr~nci~es qui gui1ent les, ACTES i, t.I Por fi m, Kagame procede' a uma class ificação cios antepassados, dos "tipos" e .:\ .. HUMAINS pour les rendre conformes a l honnetete perçue par la ,fwnz ere de la 'i · ·. ~ Raison ". 75 1 •lugares da sua presença e !conclui que a ideia da reencarnação não faz parte da cultura bantu: os espíritos não se reencarnam , mas podem estabelecer uma ligação Por acto humano se entende todo aquele cumprido com plena conkciência (rôle de .t 1 l 'intelligence,· papel da inteligência) e pleno de consenso (r~le idu caur ·ou I' [ estreita com os seus descendentes no momento do nascimento. volonté; papel do coração e ela vontade). O que significa qu~e a inteligência 1. \: Nos últimos dois capítulos La religion des Bantu e La Philosophie et la religion ~ 1 . ~ ilumina a verdade do objecto, qualificando-o como bem ou mal, e o coração, a J, ~ ba ntu face à la colonisa tion et au christianisme, Kagame apresenta a essência ;~ vontade, determina se escolher ou não. A inteligência não. tem rbsponsabilidade, i; metafísica ela religião bantu no confronto do c1istianismo. A religião bantu, ;i 1 -~ contrariamente às religiões reveladas, é uma religião metafísica (porque natural), .f) pois é o coração, a vontade, a causa eficiente elo acto humano. Existem duas 1 ' ! i . "est l'une eles branches ele la Métaphysique" 73 . Os dogmas e a moral desta religião "causas" do acto humano externo ao Homem: o fim e a lei. E~ta última, como 1 • fi' ~·· ;i . "relévent forrnellement de la Métaphysique"74 . As verdades desta religião, deSCiito no artigo sobre a etnofilosofia, divide-se em leis jurfol.icas e leis sem ·· conteúdo jurídico, mas que, contrariamente às primeiras, obrigam a consciência. 1 inicialmente formuladas por pensadores anónimos, foram transmitidas de uma ·I' ... As primeiras requerem um acto humano, conhecimento e vontade, enquaD;tO as \; · geração à outra ao ponto ele tornarem-sé..- croya~ce traditionnelles (crença li r ·· Al tradicional), de 99 % elos Bantu. Estas verdades transformaram-se em religião. De segundas não. ~ 1 ~• •' 1 ., O fim último do Homem é deterrni113do por Deus . O Homem pode dispor apenas , I! · l que modo? O medo da morte, das doenças e das desgraças obriga a recorrer iaos : ~ seres considerados capazes de vencê-los, Deus e os antepassados. Para ter acesso dos _fins med,ia~os (fi~s-moyens):,c.pand~ o Horriem: Deus não ~sa ~utro modelo ;1i'.)i . lJ'. ,j ·:; a este "remédio" se deve recorrer aos adivinhos, capazes de inventar formas de . r,: senao ele propno. Cna o Homem e, o onenta para s1 mesmo, de ·mqdo que a sua : b~) x: culto que mitigam a·s "exigências" dos espíritos e antepa,ssados. realização consista em reconhecer quem o criou: "ainsi dan~ la Philosophie:;JJ,J ;\~ ;~ théologicisée, la fin ultime de l'homme a été déterrninée à partir de ses deifX \';~::; ')~ ~ facultés spécifiques. C'est évidemment la conception indispu~able .: ·.a\!,_· p9si'k · i'.~ 1
!
'''
1
~:
!i ~
1
··
.i
1
f'·
1
''"É um cios ramos da Metafisica" (TdA), Ivi, p. 270. Kagame recorda que a matéria que estuda Deus e a religião do ponto de vista racional é a teodicéia , a qJaJ é aplicada também à religião bantu. ""provêm formalmente da Metafisica" (TdA), Ivi, 269
•. ,
~~::\\~;
cbni6~·~~~{~;·
'' "Conjunto dos princípios que orientam as ACÇÕES HUMANAS para honestidade percebida pela luz da Razão" (TdA), Ivi, p. 275 . :··· inculturado, mas simplesmente uma teologia africana. . O discurso .de Bimwen yi-· 1• ;. ".·.-. 1 :r:;;< Kweshi, embora esteja apenas no começo, propõe-se a demonstrar a possibilidade!! 1 ;y).;elegitimidade de um discurso teológico africano 113 . i :
Na nossa reconstrução da história das ideias em torno da noção de pessoa na filosofia africana contemporânea, toma-se obrigatório a referência às teol,ogias africanas, quer pelo fac,to de um grande número de filósofos africanos ser composto por teólogos, quer porque uma das ideias nucleares e mais debatidas é a afirmação segundo a qualio Homem africano é essencialmente - ontologicamente, como diria Mbiti - religioso, pelo que o discurso teológico não pode ser posto de Ili
ç, \ ·
~}'..'-~--•!Para a pesquisa da ideia do Homem na teologia africana fazem?s referência' à já
I
parte. Procederemos à análise pe dois teólogos entre os mais significativos das duas correntes. principais da teologia africana contemporânea: Jean Marc Ela, cujo texto Le cri de l 'homme ~fricain (O grito do homem africano) é tido como obraprima da teologia da libertação africana e, John Mbiti, autor do famoso estudo comparado das religiões, ·Africans religions and philosophy (Religiões africanas e· filosofia). Antes destes teólogos assistimos em África à passagem, numa superação contínua, da teologia da salus animarum, àquela da plantatio ecclesiae, à teologia ela adaptação, para culminar com a teologia da encarnação. Entre os pioneiros da teologia africana, o zairen.se Oscar Bimwenyi-Kweshi questiona, na sua obra de 1981, "Discorso teologico negro-africano", se é possível "dizer" o cristianismo com um disê.urso africano, partindo de um "lugar 112 novo" e não africanizan~o teologias pré-constituídas • Tal discurso é possível, pois o discurso africano é te-andrico e, a parte "andrica" influencia a inteligência da fé cristã. O uso da filosofia greco-romana indica o aspecto "andrico" que o teólogo africano deve abandonar para .recuperar a própria africanidade, a própria visão da vida, a própria cultura, a própria sapiência e orig!nalidade. Desta
--1
'· · : , citada obra de Jean Marc Ela, Le cri de l 'homme africain
;· . . . .
1:
114
l
.1
.
1
1 :
1, 1 1
A figura de Homem que emerge da obra de Ela é de um ser qprirr:lldo que deve ser . 1 . liberto. Para Ela, a Igreja não pode continuar indiferente ·iiefrÓntd ao contraste ! entre o evangelho e a realidade africana: "Tale scontro costringe a ridefinire il i progetto fondamentale del cristianesimo nella società africank" 1 \5. Esta nova 1 reflexão é definida por Ela como "Teologia sob a árvore", elabo~ada distante das 'I, bibliotecas, em contacto com os pobres camponeses analfabetos! que procuram o 1 1 · sentido da palavra de Deus. Estas premissas são as mesmas, da teologia da : .,,
liberta~ão latino-am~ricana _ que ;,~ivindica uma teol~gia .ª ptl~t~~ da praxe de !i !
-~
opressao do povo latmo-amencano · . Nesta obra, Ela e mmto cntico em relação 1 à teologia do ocidente e à Igreja ao ponto de •colocar em questão o valor da :
116
!
~
I"
1 ; ~
~i
,
·i·
~!
. , '. " Tratar-se-á de distinguir entre a teologia (Religião revelada) e teodicéia (Religião natural), como j ' analisaremos mais adiante. , j' . ,••. ;. ''? . BIMWENYI-KWESHI O., Discours théologique négro-africajn. Problémes des fondements, ;l\ \'·:i..> P,resence Afiicaine, Paris , 1981. É a mesma questão Ji;vantada pela teologia latino-americana que :''.'.::(; ~~~te~óe'fazer uma teologia partindo da experiencia do povo latfn:-americano. :~
1 ·~
-.
-
' J.
·:
;
~
1
;
1
, ;{~fu ruptura com o "paganismo africano" . Para além da igreja e da escola, cada ?~~~;~;~fuissão tinha um ambulatório (alma, mente e corpo!). Todavia, o limite foi que ~"&'-"_.:~~é~ta:S• actividades foram sempre _sustentadas graças às ajudas externas veicuJadas }~'.'};t~Cis ffiissicinários estrangeiros q-~~~ iquando se iam embora, cessavam toda's as ";2(·- ãêtividades a eles ligadas. A edm:~Ção introduziu um grande paradoxo: de um '~j~~;. :lado contrastava-se as culturas locdis; por outro incentivava-se mais as línguas ;~:,; J lócais (com traduções ela Bíblia, c~tecismos, etc.). Com estas obras educativas _::jh~!~,;iilissioriárias e com tais contradiçÔes laceraútes, adveio o grande impacto do :;;\/T::_ociclente sobre a África negra 1w As missões, segundo Ela, prestaram um grande
'i3. ~'.':\,~; "!ri 1m contesto in cui i bianchi sono / 'immagine perfeita delia specie umana, ~ssessionati dai/a ':.S?Pwnia di assirizíiazione, si cerca in ogni modo di p/asmare i neri a immagine dei biànchi" ('.'N\ini '.
-,:;'.':-i:'cóntexto em que os brancos são a imagem perfeita da espécie humana, obcecados pela mafriã 'd( , . \ .H_ ;, assimilação, se procura em todas as maneiras de plasmar os negros a imagem dos brancos" -1'dAF;.'.' :~ ·~'.:·::_ ;.:.
·- -
.
..
'i
~
.!
']
.
i
60 j H J S T Ó R l
f',
l) ,\
S
i DE
! !\
M lJ N 'i' U !. :-; M. O 1. 61 .
S
,,.,.-
·
1
P4
serviço às administrações civis porque a cristianização foi muitas vezes sinónimo / f.obdamentale della . v1ta" - e, logo depois continua·: afirm~ndo que tal de ocidentalização. A igreja permaneceu por muito tempo uma figura estrangeira. :':,t~ligiosidade é vista por fora negativamente porque não permitirifl. mudanças de Ela insiste dizendo que as igrejas africanas devem libertar-se do imperialismo '.' '}h~ritalidade e estruturas, deixando o africano numa dependência' alienante dos clerical que mantém senwre as comunidades cris.tãs submissas, infantis e pãrú111e o .céu não seja inútil, Ela afirm;i. que é desprovido de senÚdçi perguntar- _ ô 1 , revelação no contesto histó'rico. O ponto de referimento imprescindível é o livro {,.:se;se,a religião é fonte de alienação, porq.ue isto depende da pr~ticJ na soci.edade. . do Êxodo, o grande ausentr no cristianismo colonial: "II Dio della predicazione .,~:::~,)'>'.Em ,África, o cristianismo foi instrumento da expansão do colonialismo? É ,.- .... -.. . . l ' . missionaria, sembrava cosl !estraneo alla storia dei popoli colonizzati, sfruttati e , ~;! .·· iexactamente a isto que se refere a ((Xpressão "evangeliz~ç ão 1-an;tbígua". O oppressi, da essere difficilmente identificabile con il Dio dell'Esodo, cosciente ·~ i· do silêncio que se transformam em cemitérios de inteligência. Falta um debate consista: nel passaggio dalla mentalità magico-religiosa a qtiella tecnico-scientifica :i ~:~~k- político real. Unidade frequentemente significa eliminação da oposição (os e una ilh.1sione" 125 . As causas do subdesenvolvimento não são algo de natural, (; ' "'1;'.;...:'re1atórios da Amnesty International sempre condenam a África a este respeito). mas um efeito"das estruturas de dominação e dependência, que nãü' têm algo .a ver :;. .J:\)xistem campos de tortura tidos por "centros de reeducação cívica" 129 . Qualquer com as religiões africanas 126 • Pelo contrário, a relígião africana foi ocasião de ·~ ~,~~: crítica é tida por subversão. Simpatizar com um partido oposto é motivo de · coesão dos negros para à luta, não foi ópio .dos povos, mas o campo de batalha ; ~ l'.i-C ,. tortura. E tudo isto contribui para a fuga dos cérebros. A opinião internacional é para a libertação dos oprimidos, espaço de elaboração de uma consciência crítica. ?.· ;~;t:·:2·, indiferente diante das torturas em África, mas não com relação às torturas na Os messianismos africanos, acredita Ela, não são algo de irracional, mas produtos :~ \~. ::. . Rússia, América Latina, etc. · Neste contexto de opressão a igreja eleve ser voz dos sem voz, uma das raras da religião: os profetas "negros" não aspiram ao retorno aos deuses dos i vozes que defendem os homens. Os bispos têm um papel fundamental. Devem antepassados, mas perg{1ntam-se como fazer chegar a mensagem do evangelho em ~ colocar-se nos panos dos "danados da terra" pois ficar calados seria uma grande África. Não se permanece · à espera de uma solução futura, no céu, mas do ': ' traição. prolongamento da vida, da felicidade nesta terra. As igrejas · têm um papel :. 127 Outro problema do Homem africano é a desocupação que graça rnmbérn os importante na reconstrução · pós-indepenclência . A igreja deve · libertar o } intelectuais: ter título de estudo não é garantia de emprego 130 . J.M .Ela condena as evangelho ·de um cristianismo burguês para tomá-lo força indispensável ·ao ;; organizações em prol do desenvolvimento, qLie são dirigidas por urna pequena progresso dà história. A independência não mudou muita coisa, afirma Ela, para ~ 128 elite, e na maioria (80%) se trata de estrangeiros; e critica ai nela a política das quem a realidade dos países piorou porque hoje o colono é o próprio irmão . A ~ independência não ajudóu a superar o compiexo:de inferioridade racional nem a ._! , : .. .monoculturas que apenas criam dependência, porque os ganhos advenientes não criar uma sociedade melhor. J.M. Ela é de opinião que se deve deixar de falar de ··~ ·~< são investidos in loco e provocam tjovamente fome, ao ponto de os camponeses constituírem a classe mais pobre ~ ,expropriada. As elites locais são coniventes pobreza, porque a África tem enormes riquezas. A imprensa é controlada, O•:l com as grandes sociedades estrangei[as. jornalista é um opósitor que deve ser controlado e submetido. Nem mesmo na .; Como os seus "colegas" da teolo'gia da libertação latino-ameriqrna, J.M.Ela ' coloca uma série de perguntas do : tipo: o que é o desenvolvimento? Será um "' "ai:;editar que em África ~ desenvàlvimento do homem' consista na passagem da mentalidade ~; mágico-religiosa à técnico-científica é uma ilusão" (Te/A), Idem, p.59. ' sistema económico que cria apenas dependência? O que pode esperar o povo ''" Cfr. Ibidem. quando o poder decisivo não está da sua parte, mas com os potentes? O que pode '" E a posição também defendida por Severino Ngoenha na sua Filosofia africana . Das · · ;.
~
.
:-, •Independências às liberdades, Ed. Paulistas-Africa, Porto, 1992 ".' Para muitos a independê1icia resumiu-se apenas na obrigação do bilhete de identidade ou do ': partido ú.nico. Os governos se apoiaram nas repressões. od na difusão dos bares e das discotecas. ~ · Cfr. Idem, pp. 76-77.
I
"
·~ Cfr . Idem, p. 85 ·'""Os diplomas passados pelo sistema de ensino são moeda falsa". Idem . p.100.
1
'· I ~1
j:)
'
f,1 ·
~·
.
~e
r 64 j f-l ! S T Ó R l 1\ D A
S
M U N T U f S lVl O
l D E l AS
planificar o povo se não tem poder financeiro? Os ganhos do desenvolvimento não têm algum impacto positivo sobre os mais indigentes. A partir destas problemáticas emerge a questão do sentido da fé na situação actual da África negra. É necessário "organizzare la fede, la liturgia e la prassi evangelica a pai-tire 131 da! problema attuale dei popoli africani" . Faz-se necessária uma mudança não ~penas de estruturas, mas de mentalidade, uma "revolução cultural". É necessário afirmar a dignidade humana num contexto de prostituição, pornografia e nivelamento cultural que gera o mito do herói individualista. As personalidades :J~Óómeno ontológico do qual emerge, inevitavelmente, uma determinada ·missionários, nem·fundadores. Existe a crença na Vida após a morte, embora não :~ ·~~,:~oncepção de homem e de pessoa. constitua uma esperança no ·futuro; numa vida melhor. Não existe paraíso ou ,);~ Como chave para a compreensão da religião e filosofia africana Mbiti, uciliza a inferno. O culto é pragmático. As RTA's ·apenas foram tomadas em séria ::." .:~ çategmia ele tempo. A palavra religião é de difícil explicação, especialmente na consideração nos últimos tempos. Os primeiros estudiosos, muito críticos'. · ''.,tradição africana, porque se trata de um fenómeno ontológico que diz respeito à .pesquisavam · as ·suas fontes externas. E. B. Tylor definiu as RTA com:o :questão da existência ou do ser. Segundo Mbiti, os missionários, antropólogos e "animismo", um conjünto de erenças segundo as quais todas as coisas têm uma :··ad~nistradores não interpretaram correctamente as religiões e os povos alma, colocando a RTA no ponto mais baixo da linha evolutiva que, partindo do {,~ricanos . Estamos diante de uma ontologia religiosa antropocêntrica . animismo, se desenvolveria no politeísmo e atlµgiria o ápice ,da espiritualidade no monoteísmo. Mbiti sublinha que as RTA são h1storicamente mais antigas do que o " cristianismo e o islamismo e não podem ser reduzidas ao . "culto dos ~r, ti~·a religião é a mais do que magia e sorne~te um estrangeiro ignorante poderia imaginar que as antepassados;' ou à superstição e magia como ilusória manipulação da realidade, X ~;:'religiões africanas não sejam nada mi is ~o que magia" (TdA), Idem, p. l l. De: seguida Mbiti ::,)p;percorre as tentativas dos vários estudiosos a partir de Tempels, pa ssando por Alexi s Kagame às senão pelo persistir de uma grave forma de ignorância, de negação racista de ·;: suás .quatro categorias depois retomada s ;por Jahn : Muntu (Deus, espíritos , seres humanos e compreender a profundeza espiritual: "la religione epiu grande della magia·e solo ~":.-;\a'!glimas plantas); Kintu (as força s comandadas pelo Munlu); Hantu (categoria do espaço e tempo);
j ·f'
' >r ··'
itura>Lº
'·" "a compreensão, a atitude mental, a lógica e a percepção ínsitos no modo em que os africanos pensam, agem ou falam nas várias circunstâncias da vida" (TdA), Idem, p. 2. '" o que nos parecia um paradoxo é anualmente confirmado pelas centenas de estudantes da nossa • ui1i versidade que, provocados pela questão, não apenas se professam "fiéis " da religião tra~icional · africa~a como também afirmam não conhecer nenhum africano que não professe a mesma fe .
,. ; :;.. "
.:·,{ l