Guerra Do Paraguai - 130 Anos Depois
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ameaça

Leshe Bethell Carlos Guilherme Silva

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Eduardo

Mota

Fernando León

Novais

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Francisco Alana bn

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Enrique Amayo Ticio Escobar. Alberto da Cê e Eva Max Justo: Guedes -

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Da

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A GUERRA

DO

PARAGUAI

150 anos depois

ORGANIZAÇÃO

Maria Eduarda Castro Magalhães Marques

RELUME qts Rio

de

DUMARÁ

Janeiro

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EE

O Copyright dos autores, 1995

Direitos cedidos para esta edição à DUMARÁ DISTRIBUIDORA DE PUBLICAÇÕES LTDA. Rua Barata Ribeiro, 17 — sala 202 22011-000 — Rio de Janeiro, RJ Tel.: (021) 542-0248 Fax: (021) 2754294

a Eduarda GAsto Mari por o zad ani org — ume vol este am egr int que gos Os arti

Magalhães Marques — foram originalmente conferências proferidas no colóquio “Guerra do Paraguai — 130 anos”, realizado em 25 de novembro de 1994,

a. na Biblioteca Nacional, sob a coordenação do professor Carlos Guilherme Mot

Uma realização Banco Real Biblioteca Nacional Fundação Roberto Marinho Preparação de originais

Angela Ramalho Vianna Revisão Sandra Suzano Paiva

Projeto gráfico Carlos Alberto Herszterg Capa

Victor Burton

|

sobre “Batalha do Avaí”, óleo sobre tela — Pedro Américo, 1872 (capa) e “Trincheira de Curupaiti” (detalhe), óleo sobre tela — Candido Lopez, 1898 (contracapa)

CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte. Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. 6963

A guerra do Paraguai: 130 anos depois / organização Maria Eduarda Castro Mapalhães Marques. — Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1995

Trabalhos apresentados

no Colóquio

realizado em novembro de 1994

“Guerra do Paraguai —

130 anos”,

ISBN 85-7316-033-0

1. Paraguai, Guerra do, 1864-1870 — Congressos.

Castro Magalhães.

95-1552

I. Marques, Maria Eduarda

CDD — 989.205

CDU -—989.2"1864/1870”

Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, por qualquer meio, seja ela total ou parcial, constitui violação da Lei 5.988.

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APRESENTAÇÃO

o conceberem o projeto de recuperação da

ros para uma

Biblioteca Nacional, o Banco Real e a Funda-

múltiplas dimensões.

ção Roberto Marinho juntaram-se, mais uma

Como

revisão da história da Guerra

em

suas

afirma o professor Carlos Guilherme Mota,

vez, para revitalizar um dos mais importantes patrimô-

coordenador do colóquio, a história da Guerra do Para-

nios da cultura brasileira. Além de promover a restaura-

guai é a “história de um silêncio”. A abordagem deste

ção do prédio, o projeto teve por objetivo a valorização

tema um tanto esquecido pela historiografia contempo-

do precioso acervo guardado pela Biblioteca,

rânea visa à recontextualização do conflito que marcou

A presente publicação é o resultado de uma das ações

desenvolvidas

indelevelmente

a história dos Estados latino-america-

pelo projeto neste sentido. Ela

nos. Cento e trinta anos após seu início, a Guerra do

congrega o conjunto de intervenções proferidas no co-

' Paraguai é um assunto atual. Revisitá-lo, no momento

lóquio “Guerra do Paraguai — 130 anos”, uma coletã-

em que se buscam novas formas de integração e de

nea de documentos iconográficos e uma listagem do

identidade para o continente, com a implantação do

acervo da Biblioteca referentes ao assunto.

Mercosul, parece ser tarefa urgente.

Realizado em novembro de 1994, o colóquio reuniu

os mais destacados especialistas nacionais e estrangei-

A Biblioteca Nacional foi depositária, por muitos

anos, de documentos paraguaios apreendidos durante

dos aos arquivos do Paraguai. Mas ainda

esti

publi-

PARAGUAI

de participação da sociedade civil, através de investimentos do setor privado, em benefício do patrimônio

jornais de época e manuscritos, todos à disposição para

público. A Biblioteca Nacional reforça assim seu papel como centro dinâmico de referência da história e da

consulta.

cultura brasileiras.

cações inéditas, fotografias da frente de batalha, mapas,

mais do que um simples instru-

Fundação Roberto Marinho

mento de divulgação do acervo, é fruto de um esforço

Banco Real

Esta publicação,

[E: a

a Guerra, Esses documentos foram justamente devolvi-

DO

pe

GUERRA

E

A

6

edição o Banco Real e a Fundação Roberto Marinho

do Paraguai foi realizado na Biblioteca Na-

patrocinaram. Além das conferências de Carlos Guilher-

cional, no dia 23 de novembro de 1994, reu-

me Mota, Leslie Bethell, Enrique Amayo, Fernando Novais, Leôn

assunto dentro e fora do Brasil.

Francisco Alambert,

Durante todo aquele dia, na fabulosa seção de ma-

Pomer,

Max Justo

Guedes,

Eduardo

Silva,

Ticio Escobar e Alberto Costa

Silva, O interessado encontrará uma

e

atualizada biblio-

nuscritos, onde trabalharam historiadores ilustres como

grafia da Guerra do Paraguai produzida pela equipe de

Sérgio Buarque de Holanda e José Honório Rodrigues,

e onde estão alguns dos documentos preciosos da his-

Eliane Perez, rastreando em nosso acervo tudo o que há sobre aquele conflito.

tória luso-brasileira, pesquisadores paraguaios, perua-

Em tempos de Mercosul, esta publicação torna-se

nos, argentinos, ingleses e brasileiros puderam debater,

ainda mais relevante, pois uma das maneiras de ativar o

sem o menor constrangimento, um assunto ainda tabu

presente e impulsionar o futuro é revisar o passado,

na história latino-americana.

para que nossa história avance criticamente.

O resultado do encontro o leitor encontrará neste

Affonso Romano de Sant'Anna

volume coordenado por Maria Eduarda Marques, cuja

Presidente — Fundação Biblioteca Nacional

E com

nindo numa mesma mesa de debates especialistas no

sa

mplo e profundo seminário sobre a Guerra

ça

UMA REVISÃO HISTÓRICA

DO Bocas

sc

SE

A

O

SUMÁRIO

CRONOLOGIA DA GUERRA 11

Introdução A GUERRA DO PARAGUAI História e historiografia Leslie Bethell 19 A GUERRA CONTRA O PARAGUAI A história de um silêncio Carlos Guilherme Mota

37 A GUERRA: UMA ANÁLISE Max Justo Guedes

51

O PRÍNCIPE OBÁ, UM VOLUNTÁRIO DA PÁTRIA Eduardo Silva

65

O SIGNIFICADO DA “GUERRA DO PARAGUAP NA HISTÓRIA DO BRASIL Fernando A. Novais

mi

LO

A

GUERRA

DO

PARAGUAI

CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE, HISTÓRIA E CULTURA

Representações literárias e projeções da Guerra do Paraguai nas crises do Segundo Reinado e da Primeira República Francisco Alambert S5

Iconografia da Guerra do Paraguai 97

A GUERRA DO PARAGUAI E A FORMAÇÃO DO ESTADO NA ARGENTINA León Pomer

113 A GRAVURA

POPULAR, OUTRA IMAGEM

DA GUERRA

Tício Escobar 121

O IMPERIALISMO BRITÂNICO E A GUERRA DO PARAGUAI Leslie Bethell 131

GUERRAS IMPERIAIS NA AMÉRICA LATINA

“A Guerra do Paraguai em perspectiva histórica Enrique Amayo 151 —

DA GUERRA AO MERCOSUL

Evolução das relações diplomáticas Brasil-Paraguai Alberto da Costa e Silva

165

BIBLIOGRAFIA DA GUERRA DO PARAGUAI 175 SOBRE OS AUTORES

2314

'

|

11 1

CRONOLOGIA

o E

TT

O

———— TE

DA GUERRA

Leslie Bethell

Antecedentes 1750

1811

Tratado de Madri, entre Espanha e Portugal: reconheci-

Independência de fato do Paraguai.

mento das fronteiras do Brasil Colonial a oeste do meridiano de Tordesilhas (1494), baseado no direito de uti

possidetis (ocupação de fato). 1777

Tratado de Santo Ildefonso; redefinição das fronteiras

portuguesas e espanholas no Rio da Prata. 1808

Chegada da Corte portuguesa ao Rio de Janeiro.

Rebelião

da Banda

dicando autonomia

Oriental

com

do

Rio da

Prata,

reivin-

relação a Madri e a Buenos

Aires.

1813-1840

Ditadura do doutor José Gaspar Rodriguez de Francia

(“El Supremo”) no Paraguay. 1816

1810

Independência das Províncias Unidas do Rio da Prata (união fragmentada em torno de 1820).

“Revolução de Maio”, em Buenos Aires.

Invasão portuguesa da Banda Oriental.



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12

DO

PARAGUAI

1821

(Buenos Aires estabelece hegemonia

Incorporação formal da Província Cisplatina ao Reino

províncias do Rio da Prata.)

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A

A GUERRA

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Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

e]

À

Período de Regência do Império Brasileiro.

Independência do Brasil,

P

e

D. Pedro 1.

!

1825



1831-1840

1822

a

de fato sobre as

P

proclamada

P

pelo imperador

P

1835-1852 Juan Manuel Rosas mais uma vez no governo da província de Buenos Aires.

E Es

Levante da Banda Oriental contra as leis brasileiras.

E

1825-1828

“Guerra Grande”, no Uruguai, entre blancos e colora-

ne

Guerra entre as Províncias Unidas e o Brasil pela posse

gos

a

E

da Banda Oriental.

|

1835-1851

1835-1845

1828

Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul.

Independência da Banda Oriental, como República do Uruguai, após mediação britânica.

1840

1829-1832

Primeiro governo da província de Buenos Aires por

Juan Manuel de Rosas . 1831 Abdicação do imperador D. Pedro I, em favor do filho,

- então com cirico anos.

Antecipação da maioridade de D. Pedro II.

Morte de José; Gaspar de Francia.

1843-1851 Cerco de Montevidéu por Rosas. 1844

O Brasil reconhece a independência do Paraguai.

Pacto federal entre as províncias do litoral (Buenos

1844-1862

Aires, Entre-Rios, Santa Fé e, mais tarde, Corrientes).

Ditadura de Carlos Antonio López, no Paraguai.

CRONOLOGIA

DA

GUERRA

13

1851

1858

Paz entre blancos e colorados no Uruguai.

Acordo provisório entre Paraguai e Brasil, sobre a livre

Tratado entre Uruguai e Brasil, anexando ao Brasil con-

navegação no Rio Paraguai.

1859

cessões territoriais etc.

Tríplice Aliança entre a província de Entre-Rios (sob comando do general Justo José de Urquiza), Uruguai e

Vitória da Confederação Argentina sobre Buenos Aires,

na batalha de Cepeda (outubro).

Brasil contra Rosas.

Buenos Aires perde a independência.

1852

1860

Derrota

de Rosas

na batalha de Monte

Caseros

(feve-

reiro.)

guai. Adota posição mais dura com relação à penetra-

ção brasileira através do Rio Grande do Sul.

A Argentina reconhece o Paraguai.

Avanço liberal nas eleições parlamentares no Brasil.

Acordo de livre navegação no Rio Paraná.

1861

1855 Tratados de livre navegação entre o Paraguai e a GrãBretanha,

Bernardo Berro (blanco) é eleito presidente do Uru-

o Paraguai

e a França

e o Paraguai

e os

Estados Unidos.

1853-1854

Constituição da República Federal da Argentina, ratifi-. cada por todas as províncias, exceto Buenos Aires. Urquiza é eleito presidente da Confederação Argentina.

Buenos Aires independente.

Rebelião e vitória de Buenos Aires na batalha de Pavón (setembro).

1862

Outubro —

Com

a morte de Carlos Antonio

López,

Francisco Solano López sucede ao pai na presidência do Paraguai,

Outubro —

O general

Bartolomé

Mitre, governador

(liberal) de Buenos Aires, torna-se o primeiro presidente constitucional da Argentina Unida.

A GUERRA

14

DO PARAGUAI

1863

ton (ministro britânico em Buenos Aires) junto ao go-

Abril — O general Venancio Flores e os colorados inva-

verno uruguaio.

dem o Uruguai, pela Argentina, apoiados por Mitre e pelos liberais brasileiros do Rio Grande do Sul. Julho —

Missão

uruguaia

em

Assunção

busca

Ultimatum brasileiro ao Uruguai: cum-

primento das exigências ou retaliação. uma

aliança contra a Argentina e o Brasil, López hesita.

Setembro-novembro — O Paraguai adverte que a independência do Uruguai é condição para o equilíbrio de forças no Rio da Prata,

1864

4 de agosto —

30 de agosto —

Ultimatum paraguaio ao Brasil, adver-

tindo contra a intervenção no Uruguai.

16 de outubro — Tropas brasileiras invadem o Uruguai, em apoio a Flores, e a marinha brasileira bloqueia Mon-

tevidéu. Para o Paraguai, um casus-belli.

:

Janeiro — Novo governo liberal-progressista no Brasil,

A Guerra

com Zacarias Góis é Vasconcelos (substituído em 31 de agosto por Francisco José Furtado, outro liberal, que se

1864

manteve no ministério até maio de 1865).

Fevereiro — Mobilização geral no Paraguai. Março — Berro renuncia e transfere o Poder Executivo no Uruguai para Atanásio Aguirre, presidente do Senado.

Maio — José Antônio Saraiva chega a Montevidéu como chefe da missão diplomática brasileira (seguido pelo vice-almirante Tamandaré e pela esquadra brasileira).

Junho-julho — Fracasso das representações de Saraiva, Rufino Elizalde (chanceler argentino) e Edward Thorn-

12 de novembro



O

Paraguai

precipita a Guerra,

apreendendo o vapor mercante brasileiro Marquês de Olinda — que trazia a bordo o presidente do Mato

Grosso —, que zarpara de Assunção em direção a Corumbá.

— Rompidas as relações diplomáticas entre o Brasil e o Paraguai.

13 de dezembro — O Paraguai declara guer ra formal-

mente ao Brasil e dá início à invasão do Mato Grosso.

1865 Janeiro — A Argentina nega o pedido de permissão

CRONOLOGIA

DA

GUERRA

15

paraguaio para cruzar o território disputado das Mis-

11 de junho — Batalha de Riachuelo: a marinha para-

sões, de maneira

guaia ataca a marinha brasileira, mas é vencida e des-

a atacar o Rio Grande

do Sul e dar

apoio aos blancos no Uruguai.

truída.

Fevereiro — Queda de Montevidéu.

— O Paraguai é bloqueado, mas o avanço aliado ao longo do Rio Paraguai é detído pela artilharia da linha

— Paz em Villa de Unión.

de Curupaiti e principalmente pela fortaleza fluvial de

— Vitória colorada na guerra civil uruguaia.

— Flores é nomeado presidente provisório do Uruguai,

aguardando uma eleição (que jamais aconteceria). 18 de março — O Paraguai declara guerra à Argentina e

dá início à invasão, pela província de Corrientes.

13 de abril — Forças paraguaias tomam o porto fluvial de Corrientes.

1º de maio — É firmado o Tratado da Tríplice Aliança (Argentina, Brasil e Uruguai) contra o Paraguai. Os ob-

jetivos da guerra são: fim da ditadura de López; livre navegação no sistema fluvial; anexação

do território

Humaitá.

S de agosto — Tropas paraguaias tomam Uruguaiana.

Agosto —

Bartolomé

Mitre torna-se comandante

das

forças aliadas.

14 de setembro — Estigarribia rende-se a D. Pedro H, Mitre e Flores, em Uruguaiana.

Setembro —

Empréstimo

de 7 milhões

Brasil, feito pelo banco de Rothschild. Setembro-novembro



de libras ao

O exército paraguaio

recua,

através do Paraná, retirando-se de todo território aliado;

exceto do Mato Grosso, para defender a fronteira sul.

reivindicado pelo Brasil, no nordeste do Paraguai, e

1866

pela Argentina, no leste e oeste do Paraguai (cláusula

16 de abril — As forças aliadas cruzam o alto do Rio

secreta).

— Maio-junho — O exército paraguaio, sob o comando do coronel Antonio de la Cruz Estigarribia, cruza Mis-

sões e invade São Borja, no Rio Grande do Sul.

Paraná e dão início à invasão do Paraguai, estabelecendo-se em Tuiuti.

24 de maio — Batalha de Tuiuti, primeiro grande teste de força. Luta feroz, na qual o Paraguai fracassa na a

A

16

DO

PARAGUAI

tentativa de desalojar os aliados. (Não há qualquer

e de rt no o çã si po da da ia al ão aç up Oc — to os 2 de ag

avanço aliado até setembro.)

Humaitá.

3 de agosto — Zacarias volta ao poder como chefe do

ig de agosto —

novo gabinete liberal do Brasil.

comando

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No

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Hi

GUERRA

12 de setembro — Encontro entre Mitre e López, em fracassa

na tentativa

de

acabar

do almirante Joaquim José Inácio, investem

contra as baterias de Curupail.

3 de setembro — Vitória aliada em Curuzu.

Yatayti-Corá,

Navios de guerra brasileiros, sob o

com

a

Guerra.

3 de novembro — Segunda Batalha de Tuiuti. As forças paraguaias atacam, mas fracassam na tentativa de deter o movimento do cerco de Humaitá.

22 de setembro — Batalha de Curupaiti. Impedido o

1868

avanço aliado. Pior derrota da Guerra. (Nenhum avanço

13 de janeiro —

até julho de 1867.)

Mitre transmite a Caxias o comando

do exército da Tríplice Aliança e regressa a Buenos Aires.

Outubro

)



O marechal

Luís Alves de Lima e Silva,

então marquês de Caxias, é nomeado comandante-em-

18 de fevereiro — A marinha brasileira passa pela arti-

chefe das forças brasileiras terrestres e navais.

lharia de Humaitá.

Novembro — Levante Montonero contra Mitre e Guer-

19 de fevereiro — Rebelião no Uruguai, liderada pelo

ra, em Cuyo, província da Argentina, comandado por

ex-presidente Berro. Flores é assassinado. Mais tarde,

Felipe Varela. 1867

Maio-junho — Retirada da Laguna pela força expedicionária brasileira, no Mato Grosso.

22 de julho — As forças aliadas, sob o comando temporário de Caxias, iniciam o movimento de cerco à Humaitá.

no mesmo dia, Berro é capturado, preso e assassinado.

22 de fevereiro — A marinha brasileira aporta em Assunção,

12 de junho —

|

Eleições na Argentina. O chanceler Rufino Elizalde, herdeiro político de Mitre, vence Domingo Faustino Sarmiento, que defendia uma plataforma política contra a Guerra.

CRONOLOGIA

DA

GUERRA

ai

16 de julho — No Brasil, gabinete conservador do vis-

Assunção, para discutir a formação de um governo pro-

conde de Itaboraí.

visório paraguaio.

22 de julho — Humaitá é evacuada.

15 de abril — O conde d'Eu chega como novo coman-

5 de agosto E Ocupação de Humaitá pelos aliados.

Dezembro — Uma série de ataques aliados às posições

paraguaias (campanha da Dezembrada).

dante-em-chefe das forças aliadas.

ms

11 de junho — Estabelecido o governo provisório em Assunção.

12 de agosto — Assalto das forças aliadas, que tomam

— Batalha de Itororó e Avaí.

Peribebuí, capital provisória do Paraguai.

27 de dezembro

16 de agosto — Batalha de Campo Grande ou Acosta



Batalha de Lomas Valentinas, na

qual o exército paraguaio é finalmente aniquilado. — López foge para a cordilheira a leste de Assunção.

30 de dezembro — O coronel George Thompson rende-se na última fortificação fluvial paraguaia, em An-

gostura,

Nu. As tropas paraguaias são massacradas. Última grande batalha da Guerra. López escapa mais uma vez e recua para o norte.

Setembro de 1869-março de 1870 — López é perseguido pelas forças aliadas. 1870

1869

1º a 5 de janeiro — Ocupação de Assunção pelas tropas brasileiras. A Guerra é considerada finda. (Caxias ataca

1º de março — López é encurralado e morto em Cer: ro Corá, no extremo nordeste do Paraguai. Última resistência.

o teatro das operações de Guerra.) Janeiro-agosto — López forma novo exército paraguaio

e dá início às operações de guerrilha,

O pós-Guerra 1870

Fevereiro — Missão de José Maria da Silva Paranhos

20 de julho — Tratado preliminar, assinado pelo gover- :

(futuro visconde do Rio Branco), em Buenos Aires e

no provisório paraguaio, a Argentina e o Brasil, em

18

A GUERRA

Assunção:

fim da Guerra

e livre navegação

no siste-

DO

PARAGUAI

erticameo

1876

ma fluvial (questões territoriais a serem discutidas mais

Fevereiro —

tarde).

Paraguai. A Argentina detém Missões, garante o Chaco

Julho



Eleições

para a Assembléia

Constituinte

do

Paraguai.

Tratados

de

Paz

entre

a Argentina

e o

central, entre os Rios Bermejo e Pilcomayo, concorda em submeter à arbitragem dos Estados Unidos o territó-

rio entre o Rio Pilcomayo e Arroyo Verde e renuncia à

Novembro — Nova Constituição do Paraguai.

1870-1871 As Conferências em Buenos Aires e Assunção fracassam na condução do tratado geral de paz. Negociações em separado. 1872

9 de janeiro — Tratado de Paz entre Brasil e Paraguai. O Brasil garante o território reivindicado no nordeste do

Paraguai, entre os Rios Apa e Branco.

reivindicação do norte do Chaco

(região igualmente

reivindicada pela Bolívia).

22 de junho — Última tropa brasileira deixa o Paraguai.

Novembro



O presidente

norte-americano

Hayes

concede ao Paraguai a área disputada pela Argentina. 1879

Maio — Retirada da última tropa argentina do Paraguai.

ad

Introdução

A GUERRA DO PARAGUAI História e historiografia Leslie Bethell

INTRODUÇÃO

A:

ão houve, desde o final das Guerras Napo-

periferia da política mundial, algumas guerras foram

leônicas, em 1815, até a deflagração da Pri-

empreendidas por poderes imperialistas ou por Estados

meira

guerras

com ambições imperialistas contra Estados mais fracos

a maioria

(notadamente, nas Américas, a guerra dos Estados Uni-

Guerra

internacionais envolvendo

Mundial,

em

1914,

todas ou mesmo

euro-

dos contra o México, 1846-1848). Houve também duas

péias). Houve algumas guerras — como, por exemplo,

guerras civis bastante extensas e extremamente selva-

a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) — entre duas

gens — as guerras de Taiping, na China (nas décadas de

grandes potências. A maior parte delas encerrou-se em

1850 e 1860), com perdas de vida incalculáveis, e a

um pequeno espaço de alguns meses, ou mesmo de

Guerra Civil Americana (1861-1865), na qual morreram

algumas semanas, com um número de perdas de vidas

mais de 600 mil soldados yankees e confederados — e,

humanas relativamente reduzido. Uma delas — a Guer-

no México, com início em 1910 (bem no final do “longo

ra da Criméia (1854-1856) — chegou a envolver três

século XIX”), uma violenta revolução social. Finalmen-

grandes potências (Rússia, Inglaterra e França), durou.

te, na América do Sul, ocorreram diversas guerras — a

quase dois anos e custou a perda de mais de 450 mil

maior parte delas de menor importância — entre os

vidas (dois terços das quais russas). Fora da Europa, na

Estados independentes recentemente formados a partir

das

grandes

potências

(predominantemente

ni

de

CR

À

o = rod e

Mm.

A

22

blanco do presidente Bernardo

Berro, em abril de 1863 —, que detonou a sequência de

à costa do Pacífico, quer ao Rio da Prata.

eventos que culminou

com a invasão do Brasil e da

A mais longa, mais sanguinolenta e mais destrutiva

Argentina pelo Paraguai e, portanto, com a Guerra da

das guerras que assolaram a América do Sul no século

Tríplice Aliança contra o Paraguai. A Guerra do Para-

XIX foi a Guerra do Paraguai, ou Guerra da Tríplice

guai tem suas raízes, sob certo ponto de vista, nas lutas

Aliança, que começou com a declaração de guerra pelo

entre Espanha e Portugal, nos séculos XVII e XVIII, e

Paraguai em primeiro lugar ao Brasil e depois à Argen-

entre as então recém-independentes Províncias Unidas

tina, seguida por uma invasão aos territórios desses dois

do Rio da Prata (Argentina);

países, e acabou por se tornar uma guerra travada entre

ainda, entre a província de Buenos

Brasil, Argentina e Uruguai para a destruição do Para-

Portugal, e depois, o recém-independente Império do

guai. Foi sem dúvida a mais prolongada e — com exce-

Brasil, nas segunda e terceira décadas do século XIX,

ção da Guerra

pelo controle da chamada

Aires, e, primeiro,

interestados já ocorrida em qualquer parte do mundo

Oriental) do Rio da Prata. Esse conflito havia sido, no

entre 1815 e 1914. Durou mais de cinco anos (de outu-

entanto, amplamente resolvido, muito antes dos eventos que levaram diretamente à deflagração da Guerra

de 1864 a março de 1870) e consumiu

cerca de 300 mil vidas (embora, à luz da pesquisa mo-

derna, o número de 200 mil ou até 150 mil vidas possa ser considerado uma estimativa mais razoável). Além disso, a guerra teve um assuntos

econômicos,

impacto

profundo

sobre

os

sociais e políticos de todos os

quatro países nela envolvidos.

Foi um episódio inserido na guerra civil extremamente longa entre blancose colorados, no Uruguai — a

do Paraguai. Em 1828, após a mediação britânica, tinha sido criada a República Independente do Uruguai, estabelecida como um Estado “pára-choque” (ou interme-

diador) entre a Argentina e o Brasil. E, em 1851-1852,0

ditador argentino Juan Manuel de Rosas, o principal inimigo do Uruguai independente, havia sido derrotado por uma Tríplice Aliança prévia, que reunia o Uruguai, o Brasil e as províncias argentinas, que se opunham a

Rosas e a uma dominação por parte de Buenos Aires Uiderada por Entre-Rios e seu caudilho, o general Justo

rm

“Banda Oriental” (ou Lado

e

a mais violenta guerra

especificamente

mm

da Criméia —

e, mais

e

do) contra o governo

dos que tinham interesses conflitantes, quer no tocante

bro/novembro

|

rebelião do general Venâncio Flores (do Partido Colora-

a

dos antigos impérios espanhol e (no

caso do Brasil) português, sobretudo envolvendo Esta-

|

PARAGUAI

(o

da emancipação

|

DO

ca

DS

GUERRA

23

INTRODUÇÃO

José de Urquiza). Na verdade, em 1863-1864, Argentina

possuíam, talvez, 30% da terra, incluindo algumas das

e Brasil, pela primeira vez, estavam

lado

melhores propriedades disponíveis, e transportavam hi-

numa crise no Uruguai e não tinham intenção de entrar

vremente o seu gado para as charqueadas no Rio Gran-

em guerra — pelo menos não entre si.

de do Sul. Mas a administração de Berro, eleita em 1860,

do mesmo

Após cerca de uma década, durante a qual Buenos

tinha começado a adotar uma linha mais dura, tentando

Aires tinha ficado independente, as províncias do Rio

restringir o assentamento de brasileiros (e o direito de

da Prata

se viu mais

possuir escravos) e procurando controlar — e taxar —

tarde, definitivamente — sido unificadas, em 1861. Na

o comércio feito através da fronteira. O Rio Grande do

decisiva batalha de Pavón, o general Bartolomé Mitre

Sul, estado dominado

— o governador liberal de Buenos Aires, que, em 1862,

apenas 15 anos tinha desistido da luta para se tornar

viria a se tornar o primeiro presidente eleito da Repúbli-

independente julgou que o governo imperial do Rio de

ca Unida da Argentina — tinha recebido apoio do gene-

Janeiro fosse proteger os seus interesses no Uruguai. À

ral Flores e dos colorados (liberais) uruguaios. Em abril

medida que as tendências políticas nacionais ficavam

de 1863, por sua vez, Mitre apoiou Flores em sua tenta-

cada vez mais simpáticas aos liberais (culminando, em

tiva de derrubar o governo

blanco (conservador) em

janeiro de 1864, com a nomeação de um governo libe-

Montevidéu. A principal preocupação de Mitre era ga-

ral-progressista, sob a liderança de Zacarias Góis e Vas-

rantir que o Uruguai não voltasse, mais uma vez, a

concelos),

concentrar um possível foco de oposição residual fede-

cada vez mais sensíveis às pressões vindas do Rio Gran-

ralista nas províncias, ameaçando uma Argentina unifi-

de do Sul. Assim,

cada sob a hegemonia de Buenos Aires.

apoiou a rebelião colorada, liderada pelo general Flores, no Uruguai, em abril de 1863.

haviam

finalmente —

E

como

Durante a década de 1850, o Brasil havia aumenta-

do enormemente

por tendências liberais, que há

os governos brasileiros foram se tornando o Brasil, a exemplo

da Argentina,

Uruguai. Já no final dessa década, mais de 20 mil súdi-

Foi exatamente nessas circunstâncias que o governo blanco, no Uruguai, voltou-se para o Paraguai como seu único possível aliado contra os colorados, agora

tos brasileiros, na maioria gaúchos,

apoiados tanto pela Argentina como pelo Brasil.

os seus interesses econômicos

e fi-

nanceiros, bem como a sua influência política sobre o juntamente

com

seus escravos, ali se haviam estabelecido. Os brasileiros

constituíam mais de 10% da população uruguaia, Eles

O Paraguai, uma província de fronteira do Vice-Rei-

nado do Rio da Prata, havia conseguido separar-se tan-

A

24

GUERRA

DO

CI

PARAGUAI

to da Espanha como de Buenos Aires, em 1811-1813. O

so ao Atlântico através do Rio Paraná. Durante a década

país já era e permanecia sendo não apenas geografica-

de 1850 — visto que primeiramente o Brasil e, a seguir,

mente isolado (até a derrota da Bolívia na Guerra do

a Argentina ultrapassaram os obstáculos para a consoli-

Pacífico, no final do século, o Paraguai era o único

dação da sua unidade interna e da sua estabilidade, e

Estado latino-americano cercado por terra), uma nação

que sobretudo o Brasil adotou uma atitude que o Para-

que falava predominantemente a língua guarani, como

guai encarava como uma política imperialista com rela-

era também um país culturalmente isolado. Sob a dita-.

ção ao Uruguai —, o governo de Carlos Antonio López

dura do doutor José

passou a implementar, .com crescente empenho,

Gaspar

Rodríguez

de Francia

uma

(1813-1840) e, em menor proporção (pelo menos até a

política de modernização

década de 1850), sob a ditadura do seu sucessor, Carlos

passando então a fazer uso efetivo da tecnologia britã-

Antonio López, o Paraguai tinha se isolado política e economicamente de seus vizinhos. Seu papel fora bem

pouco significativo nas guerras civil e interestaduais do

Rio da Prata durante a primeira metade do século XIX.

Ele tinha, contudo, muito receio e alimentava sentimentos de profunda desconfiança com relação aos dois

vizinhos — muito maiores, muito mais populosos do que ele e potencialmente predatórios —, as Províncias Unidas do Rio da Prata (Argentina) e o Brasil, que, por

sua vez, tinham pendências envolvendo domínio territorial contra o Paraguai. A Argentina reconheceu a inde-

pendência do Paraguai em 1852. Havia pontos de atrito

com os dois países sobre a liberdade (ou não) de nave-

gação no sistema hidroviário Paraguai-Paraná. O Brasil

pediu ao Paraguai que desse à proví ncia de Mato Grosso acesso ao Rio Paraná e, portanto, ao Atlântico, via Rio Paraguai. A Argentina deve ria dar ao Paraguai aces-

econômica



e militar —,

nica e dos técnicos britânicos. Francisco Solano López — a quem Berro,

em Montevidéu,

tinha

recorrido

o governo de em

busca

de

ajuda em julho de 1863, após as consegiiências da invasão empreendida por Flores — tinha assumido o poder

no Paraguai, em outubro de 1862, depois da morte do

pai. Inicialmente hesitante em estabelecer uma aliança formal com os blancos — seus aliados naturais — contra Os colorados, no Uruguai, agora que este último

contava com*o apoio tanto do Brasil como da Argenti-

na, durante a segunda metade daquele ano, López coMeçou, numa espiral ascendente, a advertir a Argentina e o Brasil contra o que ele considerava uma ameaça crescente ao equilíbrio de poderes existente no Rio da Prata, que, em sua opinião, garantia a segurança, a integridade territorial e a independência do Paraguai.

Ele também vislumbrou uma oportuni dade de fazer sua E

INTRODUÇÃO

25

presença sobressair na região, uma chance de desem-

Argentina, essencialmente em defesa de interesses na-

penhar um papel que estivesse à altura do novo poder

cionais ameaçados (talvez mesmo em defesa da sobre-

econômico e militar do Paraguai. No início de 1864,

vivência do seu país); ou irracionais, agressivas e ex-

López

pansionistas, tendo a intervenção brasileira no Uruguai

começou

a se mobilizar,

tendo

em

vista uma

possível guerra.

servido de. pretexto ou de oportunidade para que uma

Depois que toda diplomacia havia fracassado nas

personalidade

megalomaníaca

realizasse o sonho de

tentativas de resolver as diferenças com o governo uru-

construir um império — esses são aínda pontos a serem

guaio, a administração de Zacarias, no Rio de Janeiro,

debatidos. Mas, qualquer que tenha sido o pensamento

acabou por expedir, em 4 de agosto de 1864, um ulti-

inspirador das ações, qualquer que tenha sido a sua

matum ao Uruguai, com ameaças de retaliação em res-

motivação, a decisão de López de declarar guerra pri-

posta a pretensas ofensas sofridas por súditos brasilei-

meiro ao Brasil e depois à Argentina, e de invadir os

ros, bem

como

territórios dos dois países, constituiu um erro gravíssi-

rebeldes

colorados,

uma

intervenção direta em favor dos

López

enviou

um

ultimatum ao

Brasil, em 30 de agosto, contra qualquer intervenção no Uruguai. Quando o aviso foi ignorado e as tropas brasi-

leiras invadiram o Uruguai, em 16 de outubro, López tomou a grandiosa decisão de declarar guerra ao Brasil e, em dezembro

de 1864, invadiu Mato Grosso. A Ar-

gentina recusou permissão

para que o exército para-

guaio atravessasse o território das Missiones — motivo de tantas contendas e altamente despovoado — e invadisse o Rio Grande do Sul e, em última análise, o Uru-

guai. López declarou guerra também à Argentina e, em abril de 1865, invadiu a província de Corrientes.

Assim, Francisco Solano López iniciou o que veio a se tornar a Guerra do Paraguai. Até que ponto suas ações foram racionais, provocadas pelo Brasil e pela

mo de cálculo, erro que traria consegiências trágicas

para o povo paraguaio. Na pior das hipóteses, López lançou-se em um jogo arriscado — e perdeu. Ele superestimou o poder econômico e militar do Paraguai. Ele subestimou o potencial (sem considerar o efetivamente existente) do poder militar brasileiro — e

a disposição para a luta do Brasil. Enganou-se ao imaginar que a Argentina ficaria neutra numa guerra entre Paraguai e Brasil. Por diversas ações, como vimos, tanto

a Argentina como o Brasil apoiaram os colorados na sua luta contra os blancos, e Mitre não acreditou que os interesses

argentinos,

inclusive

a contínua

inde-

pendência do Uruguai, estivessem ameaçados pelo que ele esperava ser uma breve intervenção cirúrgica do Brasil no Uruguai, em defesa de seus próprios interes-

26

A

GUERRA

DO

PARAGUAI

ses. López também exagerou na avaliação das contradi-

Mitre e D. Pedro II não confiavam em López. Além

ções internas da Argentina e na possibilidade de que,

disso, Mitre agarrou essa oportunidade de remover um

por exemplo, Entre-Rios (ainda sob a liderança de Ur-

regime que, a exemplo

quiza) e Corrientes impedissem a Argentina de entrar na

encarava como um foco perpétuo de resistência federa-

guerra contra o Paraguai, ou que, caso houvesse guerra,

lista para Buenos Aires e, portanto, como uma ameaça

ficassem do lado paraguaio e contra Buenos Aires.

constante ao processo de tornar a Argentina uma verda-

Dessa forma, as imprudentes ações de López trou-

dos

blancos,

no Uruguai, ele

deira nação. Por sua vez, D. Pedro aproveitou a chance

xeram à tona exatamente a coisa que mais ameaçava a

de afirmar a inquestionável

segurança e até mesmo a existência de seu país, uma

região (talvez em toda a América do Sul) e, sobretudo,

união entre os dois vizinhos poderosos — na verdade,

de estabelecer uma hegemonia

visto que Flores tinha finalmente conseguido tomar o

lugar de uma hegemonia argentina.

poder em

Montevidéu,

em fevereiro de

1865, uma

também

Nem

“modelo”

a Argentina tinham uma

contenda

brasileira na

sobre o Paraguai, em

Determinar até que ponto o Brasil e a Argentina

união dos três vizinhos — em uma guerra contra ele. o Brasil nem

hegemonia

estavam

à espreita de minar e destruir um

paraguaio

de desenvolvimento

econômico

suficientemente séria com o Paraguai que justificasse

“autônomo”

uma situação de guerra. Eles não desejaram nem plane-

representava uma ameaça ao avanço do “modelo” do capitalismo liberal na região; saber se, como “neocolô-

jaram uma guerra com o Paraguai. A guerra não contava

com o apoio nem era uma reivindicação popular. Na verdade, a guerra provou ser impopular, falando em termos genéricos, nos dois países, mas sobretudo na

Argentina. Mas a necessidade de se defender contra a agressão paraguaia (fosse ela em grande parte provoca-

da ou justificada) ofereceu aos dois países (Brasil e Argentina) uma oportunidade de fazer um “acerto de

contas" com o Paraguai, bem como

de punir e enfra-

quecer, talvez mesmo de destruir, um poder emergente

e preocupante dentrode . sua região.

liderado pelo Estado, que supostamente

nias” britânicas, os dois países foram, ou não, estimulados ou manipulados a deflagrar uma guerra contra o

Paraguai, a fim de abrir a única economia fechada remanescente na América Latina para os produtos manufaturados e para o capital britânicos — estas são questôes que procurei tratar em meu ensaio, neste volume.

Meu argumento é que existe muito pouca — se é que há alguma — evidência capaz de dar suporte a esta tese “Tevisionista”, muito embora os empréstimos britânicos

para a Argentina e, mais especificamente, para o Brasil,

27

INTRODUÇÃO

antes e durante a guerra — bem como a venda de armas

dos seus súditos no Uruguai e, sobretudo, se não tivesse

britânicas —, sem dúvida tenham sido uma contribui-

intervindo militarmente em seu favor; (b) se a Argentina

ção muito importante para a eventual vitória dos “alia-

tivesse ficado neutra no conflito entre o Paraguai € O

dos” sobre o Paraguai.

Brasil; e, mais importante que tudo, (c) se o Paraguai

Em 1º de maio de 1865, o Brasil, a Argentina e o

tivesse agido

mais prudência,

com

reconhecendo

as

Uruguai assinaram um tratado de Aliança contra o Para-

realidades em termos de poderes na região e procuran-

guai. Os objetivos dos aliados eram: (a) acabar com a

do defender seus interesses por meios diplomáticos, €

ditadura de López;

não bélicos.

(b) garantir a livre navegação nos

Rios Paraguai e Paraná; e (c), secretamente, conquistar

definitivamente para o Brasil o território sobre o qual ele julgava ter direito, situado no noroeste do Paraguai,

Considerando-se

a enorme

disparidade

entre

os

e, para a Argentina, o território que ela reclamava para

dois lados em termos de tamanho, riqueza e população

si no leste e oeste do Paraguai. À medida que a Guerra

(e, portanto, em termos de recursos materiais e huma-

foi se desenvolvendo,

nos, tanto reais como potenciais), a Guerra do Paraguai,

como

tornou-se, tanto para o Brasil

para a Argentina,

uma

guerra pela civilização

desde o início, se nos apresenta como

uma luta desi-

contra o barbarismo — apesar do fato bastante estranho

gual. O Brasil (população de quase 10 milhões, incluin-

de que, após a emancipação dos escravos ocorrida nos

do entre

Estados Unidos, em 1863, durante a Guerra Civil Ameri-

(população de 1,5 milhão) e o Uruguai (população de

cana, o Brasil era (além da colônia hispânica de Cuba)

250 mil a 300 mil) uniram

o único Estado em todo o hemisfério ocidental a ter

(população de 300 mil a 400 mil (?), certamente muito

uma

menos do que o 1 milhão ou mais ainda fregiientemen-

sociedade e uma

economia

baseadas no trabalho

escravo (além de continuar sendo a única Monarquia).

1,5 e 2 milhões

te mencionados).

de escravos),

a Argentina

forças contra o Paraguai

Em termos militares, no entanto, os

A Guerra do Paraguai não era inevitável. Também

dois lados estavam em proporções mais bem equipara-

não era necessária. Mas, uma vez que Flores saiu de

das. Na verdade, no início da Guerra (e, pelo menos,

Buenos Aires em direção ao Uruguai, em abril de 1863,

durante o primeiro ano), o Paraguai provavelmente ti-

ela apenas poderia ter sido evitada: (a) se o Brasil

nha, ao menos

tivesse sido menos veemente em defesa dos interesses

rioridade militar. Estima-se, muito disparatadamente,

numericamente,

uma

elara supe-

a =”

a a

=

b

A

28 — 2

——

e

empire co

cm

GUERRA O

O

DO

PARAGUAI

nas

que o exército regular paraguaio tinha entre 28 mil e 57

tro lado, o Brasil, que foi assumindo responsabilidades

mil homens, mais os reservistas (entre 20 mil e 28 mil),

cada vez maiores, considerando-se

o que significa dizer que, virtualmente, toda a popula-

um todo —

ção masculina adulta estava pronta para combate. Isto

40 mil a 45 mil tropas aliadas no campo (três quartos

deve ser comparado com o exército argentino de 25 mil

delas compostas de brasileiros) —, expandiu seu exér-

a 30 mil homens (dos quais somente 10 mil ou 15 mil

cito regular para 60 mil ou 70 mil homens durante o

estavam disponíveis no caso de uma guerra externa, o

primeiro ano das hostilidades, lançando mão de recru-

que nos mostra o grau de fragilidade da recém-conquis-

tamento

tada unidade e estabilidade argentinas); com o exército

alforria em troca do serviço na guerra) e de unidades

do Uruguai de 5 mil homens (se tanto), e o do Brasil, de

militares formadas por “voluntários da pátria” (que tam-

17 mil a 20 mil (embora o Brasil também contasse com

bém incluíam muitos pretos nascidos livres, como, por

a polícia militar e uma ampla reserva,

exemplo, o Príncipe Obá, tema de um ensaio da autoria

de até 200 mil

homens, na forma de Guarda Nacional).

No decorrer da Guerra, o Paraguai mobilizou pelo

por exemplo,

forçado,

a campanha

como

em agosto de 1867, havia de

do uso de escravos

(que recebiam

de Eduardo Silva neste volume). Ao longo da Guerra,

estima-se que o Brasil tenha mobilizado entre 130 mil e

menos de 70 mil a 80 mil homens (embora provavel-

150 mil homens

mente menos do que os 100 mil homens algumas vezes

mil relatados por alguns historiadores), e a proporção

mencionados). Ele podia mobilizar de 30 mil a 40 mil a

qualquer momento, mas após a derrota de Tuiuti, em

maio de 1866, raramente enviou para o campo mais de 20 mil homens. Depois que as forças paraguaias foram expulsas

do território argentino (e não parecia haver

nenhuma possibilidade concreta de retorno), a Argenti-

na reduziu o seu envolvimento com o esforço de guerra aliado, de maneira que, por volta do final da guerra,

havia somente um contingente de cerca de 4 mil ho-

mens no solo paraguaio. O Uruguai teve uma pre sença meramente simbólica no teatro das operaçõe s. Por ou-

(embora, provavelmente,

não os-200

de tropas recrutadas da Guarda Nacional caiu de cerca

de 75%, em 1866, para menos de 45%, em 1869. Além disso, ao contrário do Paraguai, que tinha que

confiar em seu próprio arsenal e estaleiros, os aliados

também tinham acesso a armas e navios de guerra fabricados e comprados no exterior, na maior parte na Euro-

pa, bem como a empréstimos levantados na City de Londres para ajudar no pagamento desse “reforço”. E os

aliados, ou seja, o Brasil, possuíam uma superioridade naval absoluta. No início da Guerra, o Brasil já dispunha da maior e mais poderosa marinha da região (33 embar-

o,

DR

INTRODUÇÃO

és

cações a vapor e 12 a vela); e, em dezembro de 1865, o

efetivo bloqueio do Paraguai, mantido até o final da

primeiro de uma série de encouraçados, o Brasil, en-

Guerra.

em

A segunda e principal fase (que incluiu díversos

cena,

A Guerra em

si pode

ser dividida em três fases.

períodos em que quase não havia luta de fato) começou

A primeira teve início com as limitadas ofensivas pa-

quando os aliados finalmente invadiram o Paraguai, em

raguaias contra o Mato

abril de 1866, e estabeleceram seu quartel-general em

e Corrientes,

em

Grosso, em dezembro de 1864,

abril de

de 1865,

Tuiuti, logo acima da confluência dos Ríos Paraná e

o exército paraguaio finalmente atravessou as Missio-

Paraguai. Nesse local, em 24 de maio, eles rechaçaram

nes e invadiu o Rio Grande do Sul. No começo muito

uma violenta investida paraguaia e ganharam a primei-

bem-sucedida,

a invasão acabou sendo contida pelas

ra grande batalha terrestre da Guerra. Contudo, passa-

forças aliadas. Os paraguaios nunca chegaram a alcan-

ram-se mais de três meses até que os exércitos aliados

çar o Uruguai. O comandante paraguaio, coronel Esti-

começassem a avançar, subindo o Rio Paraguai. Quase

garribia, rendeu-se

imediatamente,

1865.

Em

maio

ao presidente Mitre (comandan-

em

Curupaiti, em

22 de setembro —

te das forças aliadas durante os primeiros dois anos e

apenas dez dias depois de um encontro entre Mitre e

meio da guerra), ao imperador D. Pedro II — em sua

López, em Yatayti-Corá, no qual López ofereceu vanta-

única visita à zona de guerra — e ao presidente Flores,

gens que incluíam concessões

em Uruguaiana, em 14 de setembro. O exército para-

Guerra pudesse chegar ao fim, contanto que ele próprio

guaio recuou, atravessando o Rio Paraná, e preparou-

fosse poupado e que o Paraguai não fosse totalmente

se para defender a fronteira sul do país. No final do

desmembrado

primeiro ano da Guerra,

que permaneciam em solo aliado eram umas poucas

posta definitivamente rejeitada — , os aliados sofreram a sua pior derrota na Guerra. Eles não renovaram seus

localizadas em Mato Grosso (que continuou como um

esforços de avanço até julho de 1867, quando foi inicia-

front secundário dentro da Guerra). Nesse ínterim, em

do um movimento para cercar a grande fortaleza fluvial

11 de junho, em Riachuelo, no Rio Paraná, logo abaixo

de Humaitá (Sebastapol do Paraguai), que bloqueou o

do porto fluvial de Corrientes, na única batalha naval

acesso ao Rio Paraguai e à capital paraguaia, Assunção.

da Guerra que realmente foi importante, a marinha

Mesmo

brasileira destruiu a marinha paraguaia e instituiu um

1868) até que Humaitá fosse finalmente ocupada, e

as únicas tropas paraguaias

territoriais para que a

e ocupado de forma permanente,

pro-

assim, foi preciso mais de um ano (agosto de

e

trou

A

50

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midias

GUERRA

mais uns cinco meses (janeiro de 1869) até que, após

Assunção em um período de três meses. Na verdade,

uma derrota decisiva e a destruição virtual do exército

paraguaio na batalha de Lomas Valentinas (em 27 de

foram necessários quase quatro anos para que os aliados chegassem à capital paraguaia. E, mesmo então, a

dezembro), as tropas aliadas (na maior parte brasilei-

Guerra

ras), que, desde janeiro de 1868, estavam sob a lideran-

explicação está, por um lado, na parte dos aliados, ou

ça do comandante-em-chefe

de

melhor, na parte do Brasil, visto que, após o primeiro

Caxias, finalmente invadiram Assunção e colocaram um

ano, mais ou menos, o Brasil lutou nessa guerra pratica-

ponto final na Guerra —

mente sozinho. O governo brasileiro enfrentou enor-

brasileiro, o marquês

ou assim pensavam eles, na

mes problemas

finalmente,

limitada,

foi bem-sucedida,

de guerrilha que, contra

as forças

foi derrotado e teve suas tropas

a e

também

não se pode

ros, demonstraram um elevado grau de falta de aptidão

escapou

novamente.

Ele e sua

Por que foi preciso tanto tempo para que os aliados conseguissem dar um fim bem-sucedido a essa Guerra, a despeito da esmagadora superioridade naval e, pelo menos após Tuiuti, militar? Bem no início da Guerra,

Mitre tinha declarado que os aliados estariam dent ro de =

era uma tarefa nada fácil. Mas

de batalha dessa guerra, em Campo Grande, ou Acosta

região nordeste do Paraguai, em 1º de março de 1870. o

excelentes defesas terrestres e fluviais do Paraguai não negar que os comandantes aliados, inclusive os brasilei-

encurralado e morto em Cerro Corá, no lado extremo da

E

tendo que abastecer as tropas. Destruir as

massacradas, em 16 de agosto de 1869, na última gran-

por mais uns seis meses, até que López foi finalmente

a

logísticos, primeiro organizando seus

Assunção e liderou uma campanha

guidos, em direção ao norte, pelas tropas brasileiras,

cd

A

quilômetros, tanto por terra, como por mar e por rio, e,

companheira irlandesa, Eliza Alicia Lynch, foram perse-

ade

outro ano.

pez constituiu um novo exército na Cordillera a leste de

Nu. O próprio López

De

por mais um

contingentes, depois transportando-os por milhares de

aliadas. Finalmente

ma

ainda se arrastou

Houve, entretanto, uma terceira fase da guerra. Ló-

embora

e e mm

PARAGUAI

ni

época.

E

DO

tática e estratégica. Por outro lado, as tropas paraguaias —

na verdade,

o povo

paraguaio



permaneceram

fiéis a López e lutaram com uma tenacidade extraordi-

nária. No final, quando a sobrevivência nacional estava em jogo, lutaram heroicamente. Isto e à determinação

dos aliados de levarem a Guerra até o final mais doloroso explicam por que o confronto foi tão sangrento.

A Guerra foi, para o Paraguai, um desastre quase que absoluto. No final, ele sobreviveu como um Estado

INTRODUÇÃO

independente (muito embora, no período imediatamen-

51

fortificações fluviais, famosas e poderosas, ficaram per-

te pós-guerra, tenha ficado sob a tutela do Brasil). A mais

manentemente

extrema consequência da derrota, o desmembramento

mas argentinas) mantiveram a posição no Paraguaí por

total, foi evitada,

quase uma década.

quanto

mais não fosse por causa da

rivalidade entre os vencedores. O orgulho nacional dos paraguaios permaneceu intacto, talvez até acrescido.

inutilizadas. Tropas brasileiras (e algu-

Dentre os dois principais vencedores — vísto que o Uruguai tinha sido um participante relativamente in-

Mas o território foi reduzido em cerca de 40%. Embora a perda populacional tenha sido grosseiramente exagera-

significante

e foi muito

pouco

afetado

pela Guerra,

quer de forma positiva ou negativa —, a Argentina so-

da — até mesmo calculada em 50% da população paraguaia do período anterior à guerra (em geral aumenta-

madas de 18 mil homens

da), ou seja, 200 mil, 300 mil ou meio milhão de mortos

distúrbios internos provocados pela Guerra, e 12 mil

freu (possivelmente com alguns exageros) perdas esti-

—, estimativas mais recentes de 15% a 20% (até menos)

em batalhas, mais 5 mil em

na epidemia de cólera. O território que conseguiu con-

de uma população de pré-guerra, estimada em contin-

quistar ficou

gente muito menor, ou seja, entre 50 mil e 80 mil mortes,

diplomacia

tanto nos campos de batalha quanto por doenças (sa-

região norte do Chaco.

rampo, varíola, febre amarela e cólera), constituem per-

finalmente as Missiones e o Chaco Central, até o Rio

centuais extremamente elevados segundo os padrões de

aquém

de suas

ambições

brasileira manteve Mas

a astuta

a Argentina

fora da

ela conseguiu

assegurar

Pilcomayo. Um Paraguai cada vez mais forte e poten-

qualquer guerra moderna. A economia do Paraguai fi-

cialmente expansionista havia sido erradicado da po-

cou em ruínas, suas bases de produção e de infra-estru-

lítica do

tura foram destruídas, seus primeiros passos de desen-

tinha contribuído positivamente

volvimento voltados para fora, através de um comércio



-

Rio

da Prata.

E, no

saldo

final, a Guerra

para a consolidação

nacional. Entre-Rios e Corrientes mantiveram a união.

mais amplo e de uma integração mais estreita com a economia mundial, levaram uma geração ao retrocesso.

As rebeliões

Indenização vultosa foi imposta pelos vencedores, em-

capital inquestionável de uma República Argentina uni-

bora acabasse sendo revista (não no caso do Brasil, até a

da. A identidade nacional argentina ficara consideravel-

Segunda Guerra Mundial). O que sobrou do exército

mente mais fortalecida. O solo estava pronto para rece-

paraguaio foram tropas desprovidas de armamentos e as

ber as notáveis transformações econômicas, sociais e

dos montoneros,

em diversas províncias

tinham sido debeladas. Buenos Aires foi aceita como a

A GUERRA

32

políticas da Argentina

durante

a metade

do século

DO PARAGUAI

E

das no sentido de emancipar os escravos brasileiros. De

fato, foi preparado o terreno para o que veio a se tornar

seguinte.

No caso do Brasil, a quem coube a principal contri-

a Lei do Ventre Livre (1871), a legislação mais importan-

buição para o esforço de guerra responsável pela vitó-

te que levou à abolição final da escravatura, em 1888. A

ria, Os custos, mas

os benefícios da vitória,

Guerra também estimulou a discussão sobre a reforma

foram ainda maiores. As perdas humanas totalizaram

política no Brasil. Não foi por acaso que o último ano da

pelo menos

acrescidas

Guerra presenciou o nascimento do Partido Republica-

das mortes por doenças (embora muito provavelmente

no (1870). Finalmente, a Guerra produziu, pela primei-

menos do que o número de 100 mil por vezes mencio-

ra vez no Brasil, um exército moderno e profissional,

também

25 mil ou 50 mil em combates,

nado). Entretanto, o Brasil conquistou do Paraguai todo

interessado em'desempenhar um papel político. A liga-

O território que ele reivindicava, entre o Rio Apa e o Rio Branco. E o próprio Paraguai, até mais que o Uruguai,

ção entre a Guerra do Paraguai e o golpe militar de

estava agora firmemente sob a influência e o controle brasileiros. O custo da Guerra deixou uma grande nó-

damente conhecida e dispensa que aqui se teçam maio-

doa nas finanças públicas do Brasil. Mas essa mesma Guerra também estimulou a indústria brasileira — sem

Império Brasileiro, baseado sobre a escravidão, a vitória na Guerra do Paraguai é tantas vezes representada

chegar a mencionar

as fábricas de produtos

têxteis

(para uniformes do exército) e o arsenal do Rio — e, de alguma maneira, modernizou a infra-estrutura do país. O recrutamento, o treinamento, o fornecimento de vestuário, de armamentos e o transporte para um exércit o

tão grande tinham desenvolvido à organização ainda

rudimentar do Estado brasileiro. A Guerra também aguçou as tensões sociais de diversas maneiras, mas, no

saldo final, estimulou

a causa

da reforma

social:

De

maneira bastante significativa, em maio de 1867, D. Pe-

dro anunciou que, após a guerra, seriam tomadas medi-

1889, que estabeleceu a República no Brasil, é demasia-

res comentários. É muito fácil constatar por que, para o

como

uma vitória de Pirro. f

Uma enorme variedade de fontes básica s, encontra-

das em bibliotecas e arquivos nacionais do Brasil, da. Argentina, do Uruguai e do Paraguai, e também da Europa (sobretudo da Grã-Bretanha) e dos Estados Unidos, acha-se à disposição dos hi storiadores da Guerra

do Paraguai.

Incluída neste volume

encontra-se uma

lista das obras relevantes guardadas pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. A Guerra do Paraguai também

INTRODUÇÃO

foi geradora de uma

iconografia extraordinariamente

35

d"Escragnolle Taunay. Menos conhecidos no Brasil, mas

rica. Talvez mais conhecido seja o trabalho de Candido

igualmente valiosos, ão

López, O jovem pintor de Buenos Aires que se uniu às

e outros participantes argentinos na Guerra, e os relatos

forças argentinas logo no início da Guerra,

perdeu o

feitos por combatentes estrangeiros e observadores ex-

braço direito na batalha de Curupaiti, aprendeu a pintar

ternos, notadamente The War in Paraguay (1869), do

com a mão esquerda e passou os 20 anos seguintes

coronel George Thompson, o antigo oficial do exército

pintando em óleo as cenas e, especialmente, as batalhas

britânico e especialista em fortificações e trincheiras, um

que ele próprio testemunhou. Mas outros artistas, no

dos principais comandantes militares de López, até ser

Brasil, também gravaram imagens da Guerra, especial-

capturado pelos aliados, em 1868; Seven Eventful Years

mente os caricaturistas.

in Paraguay (1869), de George Frederick Masterman, o

Em

destaque,

as sátiras e os

os escritos de Bartolomé Mitre

episódios da campanha, de autoria de Angelo Agostini,

jovem farmacêutico militar britânico que dirigiu os servi-

publicados no semanário Vida Fluminense, publicação

ços farmacêuticos do exército paraguaio até ser preso

para a qual começou a colaborar em 1868. Há ainda as xilogravuras

publicadas

por conspirar contra López, em 1868; Letters from the

nos jornais ilustrados para-

Batilefields of Paraguay (1870), de Sir Richard Burton, o

guaios, produzidos durante o combate: Cabichuí e EI

famoso orientalista e explorador britânico que foi cônsul

Sentinela (tema

no

britânico em Santos, na época, e que visitou a zona de

A Guerra foi tiÂmbém amplamente

registrada por diversos fotógrafos. Esta publicação ofe-

guerra em 1868, e, depois, 1869; e um livro de dois volumes, History of Paraguay (1871), escrito por Charles

rece uma seleção da iconografia existente na Biblioteca

Ames Washburn, que era ministro dos Estados Unidos

de um

presente volume).

ensaio

de Tício Escobar,

Nacional, inclusive a reprodução de algumas fotos do front de batalha.

em Assunção, até ser expulso, em 1868. A literatura de nível secundário sobre a Guerra do

Há uma série de relatos originais e valiosos sobre a

Paraguai pode, na sua grande maioria, ser cronologica-

Guerra. Os clássicos brasileiros incluem Reminiscências

mente agrupada em: (a) livros publicados entre o final

da Campanha do Paraguai, do general Dionísio Cer-

da década de 1920 e início da década de 1960; e (b)

queira, e Diário do exército, Memórias e, sobretudo, 4

livros publicados no final da década de 1960 e década

Retirada da Laguna (que é discutida em um ensaio de

de 1970. O primeiro grupo consiste de relatos úteis,

Francisco Alambert

porém tradicionais (predominantemente diplomáticos),

dentro

deste volume),

de Alfredo

GUERRA

A

34

DO

PARAGUAI

ee

E

e

MSIE

milita-

historiadores, fato que encaramos com desapontamento. Somente uns pouquíssimos livros e um punhado de

res) da Guerra, que se concentravam no fato de como

artigos — como, por exemplo, de Abente (1987), Reber

López havia sido derrotado, da autoria de Box (1927),

(1988), Salles (1990) e Pastore (1994) — nos ofereceram

das origens da Guerra em si, pela qual López era amplamente

Tasso

culpado,

Fragoso

e relatos (predominantemente

(1934),

Cárcano

(1938-40),

Spalding

resultados de novas pesquisas ou de novas interpreta-

(1955,

ções sobre o que já era conhecido. Muitos temas novos

1956) etc., juntamente com uma história geral da Guer-

e promissores — a Guerra e a formação de um Estado;

ra, que ainda constitui a melhor síntese escrita em inglês

a Guerra e o desenvolvimento econômico; a Guerra e as

pelo historiador norte-americano Kolinski (1965). No

mudanças

segundo grupo, encontram-se inúmeros trabalhos revi-

Guerra e a cidadania —

sionistas — sem dúvida estimulantes, mas nem um pou-

mente explorados. Os ensaios reunidos neste volume

co convincentes — nos quais o Paraguai aparece como

por historiadores de diversas nacionalidades — predo-

vítima da agressão imperialista e capitalista, constando

minantemente brasileiros, mas também argentinos, pa-

a Grã-Bretanha como o “Quarto Aliado” na Guerra —

raguaios, peruanos e britânicos — foram divulgados em

(1940), Cardozo (1954,

1961), Teixeira Soares

sociais; a Guerra e a identidade nacional; a mal começaram a ser tímida-

escritos por Pomer (1968), Chiavenatto (1979), Fornos

um Colóquio Internacional realizado na Biblioteca Na-

Pefialba (1979) etc. —, juntamente com dois livros ex-

cional do Rio de Janeiro, em novembro

celentes da autoria de historiadores norte-americanos:

assinalar o 130º aniversário da deflagração da Guerra. Eles nos oferecem uma variedade de reflexões interes-

Williams (1979), a melhor história da República do Pa-

raguai, que inclui a Guerra, a partir de Cardozo (1949); e Warren (1978), sobre o tratamento dado ao derrotado Paraguai por parte do Brasil e da Argentina na década que se seguiu à Guerra.

Desde os últimos anos da década de 1970, a Guerra do Paraguai tem recebido pouca atenção por parte dos

de 1994, para

santes sobre a Guerra e reavaliações de um certo número de diferentes aspectos sobre ela. Mas, naturalmente, não

constituem,

por

ral que, sem sombra

si mesmos,

a nova

história

ge-

de dúvida, se faz necessária. A

Guerra do Paraguai aguarda o seu historiador da Era Moderna,

INTRODUÇÃO

Bibliografia selecionada

35

GRAZIERA, Luis G. A Guerra do Paraguai e o capitalismo no Brasil, São Paulo, 1979.

ABENTE,

Diego.

“The war

explanatory models”,

three

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REBER,

Vera Blinn. “The demographics

of Paraguay:

a

1954.

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Historical Review,

68/2,

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Tasso.

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da guerra

ras argentinas, Buenos Aires, 1964. Guerra

do Paraguai:

escravidão

e

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Ricardo.

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Janeiro, 1956.

|

A

36

GUERRA

SOUZA JÚNIOR, A. de. “Guerra do Paraguai”, in História



WARREN, Harris Gaylord. Paraguay and the Tríple Alliance: the post war decade,

co, 4, Declínio e queda do Império, São Paulo, 1971.

1978.

Paulo, 1940.

"da. Lodi

PARAGUAI

Geral da Civilização Brasileira, II, O Brasil monárqui-

SPALDING, Walter. 4 invasão paraguaia no Brasil, São

=

DO

WILLIAMS,

1869-1878,

Austin, Texas,

| John

Hoyt.

The Rise and Fall of the Para-

guayan Republic, 1800-1870, Austin, Texas, 1979.

A GUERRA CONTRA O PARAGUAI A História de um Silêncio Carlos Guilherme Mota

“A malquerença antiga da América chamada espanhola contra os descen dentes de portugueses, agravada pelas Prevenções que sugeriam suas instituições car acteristicas — a monarquia e o trabalho escravo —, poderia ter consegiiências imprevisíveis. A hostilidade contra o Brasil, manifestada desde a última interv enção no Uruguai, e agravada principalmente nos Estados do Pacífico, ao ser em divulgados os termos do Tratado da Tríplice Aliança, não poderia senão diluir-se e amenizar-se com o fato de não se achar ele só na campanha contra o ditador de Assunção.” Sérgio Buarque de Holanda, Do Império à República, 1972.

lininia

A GUERRA

CONTRA -—e ques cg

O

PARAGUAI

=...

ET e eme

52

Reflexão prévia: lugares da memória esbaços do silêncio m novembro de 1864, o Paraguai declarou guerra ao Brasil, invadindo a região de Mato

Grosso, zona de disputa entre colonos e seus respectivos governos há mais de 200 anos. O tema en-

volve portanto mais de três séculos de história, exige a

ditador-presidente Juarez, e, no Peru, a tomada de poder pelo general Prado, em 1865, contra a Espanha (depois fazendo a Guerra do Pacífico, ou “Salitrera”, contra o Chile e a Bolívia). Foi na mesma época que teve início a ação de José Martí, em Cuba, que se desdo-

discussão sobre modelos de colonização, sobre o colo-

brou,

nialismo e o neocolonialismo na América Latina, sobre

Cuba e Estados Unidos, Cuba e ...

regimes de governo, sobre civilização e barbárie e sobre

as questões geopolíticas que marcaram aquela época. A rigor, não seria permitido pensar que teria sido

nessa conjuntura que se adensou a idéia de América Latina? Afinal, contemporâneos da Guerra da Tríplice Aliança também

foram o fuzilamento do arquiduque

Maximiliano da Áustria, no México, em 1867, a posse do

nos anos

1870,

Mas ampliemos

em

conflitos Cuba

e Espanha,

o foco: aquela foi também

uma

época de consolidações, como a da República dos Estados Unidos da Venezuela, em 1864. No ano seguinte, 1865, as Cortes Espanholas foram obrigadas a reconhe-

cer a independência de Santo Domingo e o governo de

José Maria Cabral. Fato contemporâneo a este foi ainda o grito de independência de Lares, em Porto Rico, a

lr;

F

E ai

A

um

partir do qual se constituiu

governo

republicano

jar = E

dr

ÇA

-,

E

e ot

E.

É

PARAGUAI

de uma

belíssima obra sobre as pinturas O principal

Rico, Panamá e Haiti começaram a entrar na esfera de

tra o Paraguai. Com efeito, nem

ação imediata dos Estados Unidos.

iguais.

a E

E

a pat A.

O Pa [uia

esa p "o

a]

rr

+a

é 5

a

[Es A

E

todos os mortos são

com Jorge Luis Borges, Ricci desco-

os leitores de diários, os mortos que importam verda-

imigração

a

deiramente têm que reunir certos requisitos: “Os mortos

para a região de clima

do hemisfério Sul importam certamente menos que os

européia

em

na

infra-estrutura,

massa,

ao Brasil e sobretudo

vindo em

com

direção

do hemisfério Norte.”!

elevados: cerca de 250 mil europeus, no Brasil, entre

A dramaticidade do conflito em que se envolveram

1855 e 1874, e cerca de 800 mil, na Argentina e no

povos e regimes extremamente diversos marca — inclu-

Uruguai.

sive pelo “silêncio” a que as historiografias oficiais, sodo Paraguai,

ou a Guerra

da Tríplice

Aliança, ou, mais propriamente, a Guerra contra o Pa-

bretudo a brasileira, o condenaram —

a nossa difícil

inserção na história contemporânea. Qualquer que seja

nea da América Latina. Foi a maior guerra da história da

a perspectiva, a Guerra da Tríplice Aliança foi um marco. Um acontecimento histórico de pesadas consequên-

América do Sul. Pode ser comparada — em violência e

cias, que daria nova dimensão à história desta parte do

em extensão, mas não quanto aos resultados — à Guer-

planeta.

raguai marca indelevelmente a história contemporâ-

ra Civil que, à mesma época, viveram os Estados Unidos da América do Norte, com seus números assusta-

dores. A Guerra Civil norte-americana mobilizou cerca de 2,5 milhões de homens em uma população de 33 milhões de habitantes. Todavia, “os mortos que impor-

E

con-

das de ferro, portos, serviços públicos. Teve início a

sobretudo

Latina,

A Guerra

,

Guerra

estra-

rica

temperado do estuário do Rio da Prata. Os números são

!

Conversando

da

de Cândido

briu a sanguinolência da Guerra do Paraguai, a mais sangrenta do século XIX. E descobriu que, como sabem

pesados investimentos de capitais estrangeiros na Amé-

É

eg mt o

Michel fd

período em que ocorreram

Aquele foi ainda um

Cuba,

|

documentarista

López,

“o

a

DO

presidido por Francisco Ramírez. Naquele tempo, Porto



lisos

ls

e

al:

E

5

40

GUERRA

tam têm que reunir certos requisitos”, como escreveu

o editor italiano Franco Maria Ricci na apresentação

Para

sugerir

a necessidade

de

uma

urgente

rotação de perspectivas, mais uma vez utilizo-me da aguda percepção do editor italiano: O fim do tirano Solano López, a defesa extremada dos

paraguaios e seu extermínio teriam merecido sem dúvida as cores de um Plutarco e de um Tito Lívio: a

periferia em que viveram, em contrapartida, valeulhes nosso esquecimento absoluto.

Ee

ES"

ad

= 15 1 re

A

re

a

GUERRA gi

CONTRA

LAR

Reavaliação da Guerra Grande

O

PARAGUAI

fal

meios. O fato é que — e mais uma vez quem observa é Hobsbawm — o Paraguai, quando por uma vez tentou

Com efeito, cumpre

fazer uma reavaliação, passados

130 anos do início da Guerra Grande (como também é

cair fora da esfera do mercado, foi massacrado e obriga-

do a nele reingressar.é

conhecida e como a denomina um dos personagens do

Ão examinarmos — ainda que por alto — a Guerra

notável escritor paraguaio Augusto Roa Bastos). Revisi-

em suas repercussões político-culturais, socioeconômi-

tá-la sobretudo em um contexto em que novas formas

cas e diplomáticas para a região e para as nações envol-

de “integração” e “identidade” — termos ambíguos e

vidas, façamos notar primeiramente que, para o Brasil,

batidos — desta região das Américas parecem emergir.

ela produziu fortes efeitos. A única Monarquia america-

Dentre elas, o Mercosul, para cuja implantação não se

na mergulharia em seguida no processo que desembo-

pode dispensar o conhecimento

cou na abolição da escravatura e na proclamação da

das “historicidades”

dos quadros mentais e dos “padrões civilizatórios” dominantes na região. Mas,

para dobrar esta página da

história, torna-se necessário conhecê-la. Revisitá-la.

A historiografia mais recente já consolidou a idéia

República (1889). Mas a Guerra também transformou a Argentina, que finalmente se unificou sob o general Bartolomé Mitre, o

primeiro presidente (1862-1868) e pai da Argentina mo-

de que a Guerra marca um momento da integração da

derna, em cuja obra de historiador a “nação” —

bacia do Rio da Prata na economia

Nación Argentina” — é elevada à condição de protago-

mundial,

sob a

preeminência inglesa. A Argentina, o Brasil e o Uruguai opuseram-se à auto-suficiência do Paraguai. Como ana-

lisou Eric J. Hobsbawm, o Paraguai foi a única área da América Latina onde os índios resistiram ao estabeleci-

“la

nista única do processo histórico.

E de se notar, em contrapartida, que a impopularidade da Guerra foi alta na Argentina: as simpatias das províncias estavam com os paraguaios. O recrutamento

mento dos brancos de forma efetiva, em larga medida

das tropas ficava difícil quando se constatava que se

graças à ação jesuítica anterior.?

combateria “a favor do Brasil”. Além disso, os federalis-

Com

efeito,

as nações

organizaram-se

tas sempre esperaram que o brigadeiro José Urquiza,

dentro dos parâmetros das potências hegemônicas. Não

primeiro presidente constitucional da Confederação Ar-

se pode saber o que teria acontecido, por exemplo, ao

gentina (1854-1860), se sublevasse contra Mitre, o que

Uruguai,

não ocorreu,

da região

se tivesse se orientado por seus próprios

A

42

GUERRA

A impopularidade da Guerra também provocou le-

PARAGUAI

Es

apoio dos hacendados e dos comerciantes exportado-

vantes no intérior, como o de Felipe Varela, e deserções

res, e oferecia a força do Estado para vencer a resistên-

pesadas, como a do Exército de Vanguarda, de soldados

cia da população camponesa, ou seja, montou um siste-

de Entre-Rios, açulados por inimigos de Mitre. A Guerra

ma de trabalho forçado nas estâncias. Paralelamente, o

teve seu fim durante a presidência de Domingo Fausti-

ensino elementar foi implantado, ultrapassando a Igreja

no Sarmiento, sucessor de Mitre.

O Brasil, como a Argentina, apressou-se na disputa pelos E

DO

territórios dos

vencidos,

invocando

o arti-

e a velha tradição liberal. A exportação de couro e de lãs crescia vertiginosamente.

Sob o governo

de Latorre,

o Uruguai

tinha sído

go 16 do Tratado da Tríplice Aliança. Como se sabe,

disciplinado para “novos governos militares que domi-

o ministro Mariano Varela, da Argentina, reagiu adver-

nariam de fato na etapa seguinte; essa terra da liberdade

tindo que a vitória não dava o direito às nações alia-

indômita parecia momentaneamente convertida a uma

das para declarar sozinhas as novas fronteiras. Define-

versão peculiar do novo credo a um só tempo autoritá-

se,

rio e progressista”.é

então,

ante

o perigo

de

novos

rompimentos,

um sistema de consultas. Mitre, favorável à posição bra-

Para o Paraguai (e contra o Paraguai), a Guerra

sileira, vai ao Rio de Janeiro em busca de entendimento.

articulou as forças do Império Brasileiro, da Argentina e

A Argentina submete a questão dos territórios em dispu-

do Uruguai. Um acordo secreto entre o Brasil e a Argen-

ta à arbitragem dos Estados Unidos. Em 1878, o presi-

tina previa a distribuição

de territórios em

litígio que

dente Hayes arbitra a favor do Paraguai. Afinal, a Argentina sempre fora mais inclinada para o lado da

correspondiam

Inglaterra...

guaia. Em cinco anos de Guerra, perdeu-se quase toda a população masculina.

Para o Uruguai, a Guerra trouxe um fato novo, para além das incursões rio-grandenses e dos levantes colo-

rados que tanto marcaram o campo antes da crise econômica de 1873. Surgiu a figura de um militar pro-

fissional, Lorenzo Latorre, que governou em nome do exército, e que, na Argentina, corresponderia a Rosas e Roca. Não era mais um caudilho rural, po rém tinha o

preendente

a mais da metade

foi a reação

heróica

do Paraguai.

da população

O sur-

para-

Mas não se pode atribuir tudo apenas à resistência paraguaia. Também devem ser consideradas a fraqueza e a desorganização das tropas inimigas. Além disso, a unidade interna argentina, coordenada por Mitre,

era mais aparente do que efetiva (o levante federa lista de 1866-1867 abalara o interior). O Império Bras ileiro,

A

GUERRA

CONTRA

com sua máquina pesada e custosa, agia lenta e pru-

O

PARAGUAI

43

Dimensões da Guerra

dentemente.

Os paraguaios, em compensação, tinham sido expulsos,

quistadas

primeira

na

fase

na Argentina

da

e no

Guerra,

das

Rio Grande

terras

con-

do Sul. Na

Comecemos pelo começo. Os lugares da memória são

bem delineados e sugerem que, na história dos vencedores,

nas ruas de suas cidades, só há espaço para

segunda fase, defenderiam com todo o vigor Humaitá,

nomes como Cerro-Corá, Paissandu, Humaitá, Riachue-

a fortaleza construída por Carlos Antonio López no

lo e os nem sempre bem preparados Voluntários da

Rio Paraguai.

Pátria. Nomes

De

derrota

derrota,

em

e até mesmo

após o final da Guerra, os paraguaios conseguiram lidar com as contradições e as divisões entre seus vencedores.

Uma

sonoros,

muitos

deles indígenas,

mas

que curiosamente não permitem enxergar o substrato

guarani que animava um exército de 64 mil homens. A história desses silêncios precisa ser escrita. Cum-

das

melhores

sínteses

sobre

o desfecho

foi

feita pelo argentino Túlio Halperín Donghi:

pre revisitar a historiografia oficial que inundou os manuais do Império e também os da República. De Taunay a Sérgio Buarque de Holanda há um abismo: a análise

A Argentina protegia no Paraguai os antigos desterra-

da crise do regime imperial efetuada por este último,

ceder os territórios

em seu notável capítulo Política e Guerra, sugere o

dos;

o Brasil,

além

de

fazer-se

em disputa, avalizava um governo dominado por antigos generais de López, posições

contra

a que

as exigências

mantinha

em

suas

territoriais argentinas.

quanto ainda temos que caminhar para a construção desta “outra memória”.

enquanto

Por outro lado, como deixar de indicar, a partir do

os novos governantes presidiam uma alegre liquida-

ângulo da história e da historiografia brasileiras, a Guer-

ção de terras do Estado; a reconstrução do Para-

ra do Paraguai como um trauma, uma chacina em larga

guai se fez sob o signo da grande propriedade privada, e de maneira muito lenta; o país fica assim

escala, uma hecatombe demográfica, um genocídio, so-

Assim se afirmou

a hegemonia

brasileira,

destinado a manter sua principal vinculação econômica com a Argentina, para onde se dirige a maior par-

te de suas exportações, e de cujo sistema de nave-.

gação fluvial depende em sua comunicação com o ultramar.?

bretudo ao final, com o que restou do exército paraguaio cheio de crianças, um cataclismo que desequilibrou o Império? Certamente aí reside uma das chaves

para o estudo do movimento republicano e abolicionista no Brasil: em perspectiva ampla, a Guerra, a Aboli-.

A GUERRA

44

ção, a proclamação da República e a implantação da neocolonial

definem

uma

nova

configuração

relação à nação paraguaia.

histórica.

poder militar no interior do

O problema mesmo da origem da Guerra e da natureza dos expansionismos regionais também deve ser considerado. Por outro lado, em que pese o caráter de

Império, uma nova expressão da opinião popular, tudo

genocídio bárbaro, de hecatombe demográfica que a

sugere

nos

Guerra assumiu contra o Paraguai, cumpre estudar os

quadros mentais que transbordou e que se traduziu nas

componentes e a história da nação paraguaia em sua

obras dos principais intelectuais e artistas do período,

devida dimensão.

de Machado de Assis e Juan Bautista Alberdi a Sarmien-

logo à análise da inserção das nações

to e Cândido López.

Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai — no quadro dos

Os números elevados de mortos, ? em escala nunca

antes imaginada, o despreparo das forças da Tríplice Aliança,

os conflitos de a “mudança

de teor da vida”,

um

abalo

A Guerra exigiu uma reconsideração do tempo e do espaço:

grandes

deslocamentos

de tropas avultadas,

toda a estratégia de ataques e retiradas, a guerra fluvial,

Seplan pa E:

; : EUR

envolvidas —

imperialismos europeus da segunda metade do século passado. A Argentina e o Brasil vinculavam-se intensamente

seu lado, manteve-se isolado. A longa ditadura do dou-

para uma

nova

concepção

do papel das forças

é um de seus frutos, assim como a disseminação das

=V

desde

ricana. O reforço da idéia de Estado-nação abre cami-

rior de Guerra pelo tenente-general Luís Maria Campos

ins (OOE Oe

am

e

gm

nos conduz

à Europa,

armadas na vida nacional, e a criação da Escola Supe-

ga

Tal abordagem

tudo isso abriu nova página da polemologia latino-amenho

Í

pansionismo e de conflitos locais. Pode-se falar também, é claro, de um “subimperialismo brasileiro” em

teorias positivistas, que colaboraram para a destruição do sistema escravista.

As várias dimensões da Guerra sugerem a complexidade daquele momento em que interesses estrangeiros — os ingleses, principalmente, fortalecendo sua

malha imperial — se entrelaçavam com formas de ex-

em particular à Inglaterra. O Paraguai, por

tor José Gaspar Rodríguez de Francia (1814-1840) isolou O país, ao cortar relações diplomáticas e comerciais

com os demais, exceção feita ao Brasil. Foram proibidas a imigração e a emigração, tentou-se atingir uma certa

auto-suficiência baseada na agricultura e na indústria artesanal. Os dois ditadores que lhe sucederam no po-

der, Carlos Antonio López (1840-1862) e o filho, Francisco Solano López (1862-1870), abriram o país ao co-mércio exterior e atraíram imigrantes e técnic os

estrangeiros.

o —=oõo

ordem

DO PARAGUAI

as ai

A GUERRA

SE

Eis aí uma

das

origens

da

grande

CONTRA

conflagração.

Quando o Paraguai ensaiou uma abertura para a integração no comércio mundial, o ditador argentino Juan Manuel Rosas impôs-lhe um bloqueio econômico. Os

O PARAGUAI

45

senador Dantas, seriam em sua época denominados “os nossos ingleses”.

Importa, pois, situar a Guerra em seu quadro próprio e em um longo processo histórico de definições e

problemas de fronteira sucederam-se, enquanto López

redefinições da geografia política e econômica sul-ame-

dedicou-se

ricana.

à criação de um

bem adestrado exército,

preparado por oficiais alemães e equipado com armamentos europeus. A Argentina,



uma

soma

de

interesses

novos,

nascídos

após o período de consolidação das independências

“em relação às metrópoles ibéricas dos anos 1820. Inú-

por seu lado, cindia-se, até 1853, em

meras questões de fronteira, problemas de navegação

duas tendências políticas básicas, ou, se se quiser, em

nos dois grandes rios da região (Paraná e Paraguai).

duas correntes históricas de opinião: centralistas e federalistas. A Inglaterra pressionava os centralistas em busca de segurança para o mercado de seus produtos. Os

abertura ao comércio exterior, migrações, caudilhismo

federalistas lutavam pela produção de tecidos — algodão, linho e lã —, e também de açúcar e vinho, amea-

çados pela concorrência inglesa. Estabeleceu-se uma

aliança dos federalistas com os paraguaios contra o perigo de absorção pelo imperialismo inglês.

e coronelismo, regimes escravistas (aberto no Brasil; semi-escravista nas outras regiões), confrontos étnicos e culturais, tudo se misturava no meado daquele século

e naquela região. Do ponto de vista — por assim dizer — do Paraguai, o choque agravava-se pela crença generalizada de que as nações vizinhas seriam responsáveis pela estag-

O Brasil, como se sabe, estava vinculado historica-

nação do país, condenado a viver dentro de fronteiras

mente à Inglaterra, sobretudo após os Tratados de 1810. Os setores exportadores e os segmentos intermediários

mal delimitadas, sem saída para o mar (um problema, aliás, atual também para a Bolívia).

beneficiavam-se daquilo que Richard Graham denominou, em análise clássica, “the onset of modernization in

na região do Prata tenham sido contínuas durante o

Brazil 1º O historiador carioca José Honório Rodrigues

século XIX. Vale lembrar que, já em

chegou a afirmar que o Brasil era um autêntico “prote-

entrara em guerra com

torado” inglês. Alguns de nossos notáveis advogados da segunda metade do século XIX, como Ruy Barbosa e o

Banda Oriental (região que corresponde aproximada-

Não é de estranhar, nessa perspectiva, que as lutas

a Argentina

1825, o Brasil pela questão da

mente ao atual Uruguai). A paz efetivada em 1828, com

A GUERRA

46 ii

O

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DO

PARAGUAL

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em

1864, há 130 anos,

em um

a mediação da Inglaterra, resultou nessa nova nação, O

do Brasil no Uruguai,

Uruguai, livre, por assim dizer, autônomo.

momento no qual o Paraguai tentava articular uma nova

Do ponto de vista da Argentina, o ditador Rosas negava-se a reconhecer a independência do Paraguai,

configuração geopolítica na América do Sul.

O Uruguai,

governado

por Atanasio

Aguirre, do

na. De 1845 a 1852, Carlos Antonio López resistiu. Final-

partido blanco, era hostilizado pelo governo imperial brasileiro, sob o argumento de que os blancos não

mente, declarou guerra à Argentina e penetrou em Cor-

tomavam

rientes, fazendo recuar as tropas de Rosas.

dentes e alegando que estes sofriam prejuízos e eram

pretendendo fazer daquele país uma província argenti-

Com a queda de Rosas, o general Urquiza tomou o

providências a favor dos brasileiros alí resi-

despojados de seus bens.

poder na província de Corrientes, tendo como desafio a

A Argentina não logrou ser intermediária no confli-

reincorporação da província de Buenos Aires à Confe-

to, e o governo brasileiro anunciou que suas tropas,

deração Argentina. Urquiza, simpatizante da causa pa-

estacionadas na fronteira, agiriam em represália contra

raguaia, reconheceu a independência do Paraguai em

os uruguaios. O presidente paraguaio Francisco Solano

1852 e assinou um tratado de navegação e limites. A

López protestou contra a intervenção brasileira, qualifi-

Guerra poderia ter terminado aí.

cando-a como “atentatória ao equilíbrio dos Estados do

Mas, naquela altura, entrou em cena o Brasil. Tam-

bém por questões de fronteiras, o Paraguai já se vira forçado a expulsar brasileiros. O presidente da província de Mato Grosso invadira terras paraguaias e recusara-se a abandonar suas posições. O Paraguai, por sua vez, tentava estabelecer uma coligação com o Uruguai e

com as províncias de Corrientes e Entre-Rios.

A eclosão da Guerra. O problema das origens Há um certo consenso de que uma das causas próximas da eclosão da Guerra foi a intervenção político-militar

Prata, que interessa à República do Paraguai como ga-

rantia de sua segurança, paz e prosperidade”. Localizase aí o estopim da Guerra. Em síntese, e no plano dos acontecimentos, pode-

se dizer que a conflagração deve-se inicialmente à firme determinação do presidente paraguaio Solano López de

bloquear o esforço expansionista brasileiro. De fato, desde 1855, o Império do Brasil vinha pressionando o

Paraguai a assinar tratados de limites e de navegação

que nem Carlos Antonio López nem seu filho, Solano López, estavam dispostos a firmar. Cabe

mais uma

vez enfatizar também

o interesse

A GUERRA

CONTRA

que a Inglaterra tinha na abertura de seu comércio com o Paraguai.

O PARAGUAI

47

o ministro das Relações Exteriores, o visconde do Rio Branco, de reorganizar o país. O governo provisório, instalado em Assunção, decreta a abolição dos escra-

A Guerra: um nó histórico, político e

vos, a pedido do conde d'Eu. Grande parte da popula-

ideológico

ção masculina perecera durante a Guerra. Com a economia devastada — sem empréstimos

para reequipa-

Pode-se dizer que, em todo o processo de guerra, nos

mento durante todo o período —, com a subnutrição e

seus desdobramentos e nas suas implicações, houve a

as epidemias de toda sorte, o Paraguai tornara-se um

consolidação da ordem

país de sobreviventes.

neocolonial na região? Afinal,

desde as independências, no processo das afirmações nacionais ou regionais, as lideranças sempre tiveram

inflação foi um deles. Empréstimos da Inglaterra e emis-

que se definir em suas associações ou contraposições

são de papel-moeda elevaram o custo de vida, aumen-

em relação aos interesses das potências européias em

tando o descontentamento popular que, de resto, já se

fase de desenvolvimento.

manifestara durante a custosa luta no território para-

Mas o Brasil também sofreu os efeitos da Guerra. A

A Guerra marca uma inflexão em que os Estados

guaio (para muitos, a simples expulsão dos paraguaios

Unidos passam a compor o leque de interesses e forças externas atuando na região. Na nova organização de

já teria bastado). Contra a Tríplice Aliança também se manifestaram outros países da América Latina, como o

pós-guerra, nos anos 1880 — período que denomina-

Peru, a Colômbia e o Chile.

mos “da passagem

da descolonização ao imperialis-

mo"!l —, assiste-se a um novo impacto europeu-oci-

dental, seguido pela presença norte-americana. Em suma, a Guerra contra o Paraguai sinaliza, nesta região do planeta, o “casamento de uma descolonização prolongada,

seletiva e parcial com a dominação

imperialista”,12

O Paraguai termina a Guerra

No Brasil, finalmente, ocorre uma profunda mudança no Estado, com a emergência ulterior do exército

como força organizada e ideologicamente marcada pelas idéias republicanas. Nascia, então, um novo tipo de. oficial militar, definido por um autoritarismo progressista, defensor da abolição da escravatura.

Na perspectiva de uma história contemporânea da exaurido.

Como

se

sabe, o comando aliado ocupou o governo e incumbiu

América Latina que englobe a historicidade específica do subcontinente em sua longa duração, a revisita a

A

48

GUERRA

esse momento-chave de nossas histórias torna-se, pois,

hd

E Es

o

+

fundamental, porque é aí que se consolida a própria

Eta

PARAGUAI

em foros legítimos e modernos. Não era por acaso que

os “Estados de Seguridade Nacional” proibiam que se tocasse em certos temas, dentre eles a “Guerra do Para-

Nessa encruzilhada reside o nó histórico de nosso

guai”, agora entre aspas, ou que se examinassem figuras

passado comum e traumático, que espera por novos es-

como Caxias e Tamandaré fora da ótica oficial, sobretu-

tudos e reflexões. Nó histórico-ideológico que, uma vez

do em momentos de construção de hidrelétricas como

desatado, permitirá o arranque para um futuro crítico e

Itaipu, em que a mão-de-obra paraguaia — e também a

democrático, em que as disputas sejam equacionadas

brasileira — foi mais uma vez utilizada a preço vil.

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idéia de América Latina.

DO

A GUERRA

CONTRA

O

PARAGUAI

49

NOTAS

1. RICCI, Franco Maria. Cândido López. Imágenes de la Guerra del Paraguay, con um texto de Augusto

do nasce a Argentina moderna e também uma histo-

Roa Bastos. Introducción crítica de Marta Dujovne,

letiva do patriciado portenho como fonte histórica

Milão, Franco Maria Ricci Editore; Nova Fronteira,

privilegiada — feita por Túlio HALPERÍN DONGHI,

Rio de Janeiro, 1977-1984. Contém um catálogo ge-

“Mitre e a formulação de uma história nacional para

ral com notas de Cândido López a seus quadros, “As

a Argentina”,

cartas de um voluntário” (Pio Correa da Rocha, nas-

8(20), 1994, Universidade de São Paulo.

cido no “sertão”

de Araraquara

guai), apresentadas

e morto no Para-

por Antonio

Candido,

e uma

cronologia da Guerra do Paraguai.

- Ricci completa: “Somente nos ficam os quadros de

riografia não mais apenas baseada na memória co-

- HOLANDA,

1972.

perdera a direita.” Ibidem.

- Hobsbawm

Sérgio Buarque de. “O Brasil monár-

quico. Do Império à República”, História geral da

pintar com

uma guerra em que

Estudos Avançados,

7. Idem, ibidem, p. 248.

civilização

esquerda

em

. HALPERÍN DONGHI, op. cit. p. 252.

Cândido López, pintor-soldado que se obstinou a a mão

publicada

brasileira,

vol. 7, São

Paulo,

DIFEL,

- Na batalha de Tuiuti, em 24 de maio de 1866, eram

diz ainda: “O restante dos índios que

35 mil aliados contra 23 mil homens de López; as

resistiram à conquista branca foram empurrados

baixas foram de 12 mil paraguaios (morreram cerca

para a fronteira desta conquista. Apenas no norte da

de 6 mil) e 3 mil brasileiros. Em setembro do mes-

bacia do Prata os povoados indígenas permanece-

mo ano, Mitre tentou tomar de assalto a fortaleza de

ram sólidos, e o guarani, em vez do português ou

Curupaiti, o maior desastre de toda a campanha

do espanhol, permaneceu como o idioma de facto

aliada, quando se perderam as esperanças de tomar

para comunicação entre nativos e colonos.” HOBS-

a capital em curto prazo; morreram 100 paraguaios

BAWM, Eric. 4 era do capital, 1848-1875, Rio de

contra 9 mil aliados. Só em 1868 os paraguaios

Janeiro, 1979, p. 96. 4. HOBSBAWM, Eric. The Age of Empire, 1875-1914, Nova York, Pantheon Books, 1987.

>. Remeto à brilhante análise desse período — quan-

começam

a ceder, após cair Curupaiti e Humaitá.

Em conjunto, embora variem muito as estimativas, pode-se dizer que o Paraguai tinha, no início da Guerra, quase 800 mil habitantes. Morreram cerca

PARAGUAI

de 600 mil, restando uma população de menos de

versity Press, 1968. O livro de Graham complemen-

200 mil pessoas, das quais apenas cerca de 15 mil

ta, em certo sentido, a obra famosa do professor

do sexo masculino e, destes, cerca de dois terços

Alan

com menos de 10 anos de idade. Do lado dos alia-

Brazil; Its Rise and Decline; A Study ín European

dos, também registram-se tragédias: a Coluna dos

Expansion, Chapel Hill, North Caroline University

Voluntários da Pátria, que partiu do Rio de Janeiro

Press, 1933, reedição em 1968 pela Octagon Books:

em abril de 1865, com cerca de 3 mil homens, levou

Importante também

dois anos para percorrer 2.112 quilômetros. No tra-

BETHELL,

jeto, um terço do contingente se perdeu, devido a

Brasil. A Grã-Bretanha,

febres e fome. No final, após Laguna, foi atacado

tráfico de escravos, 1807-1869, Rio de Janeiro / Ex-

por uma

pressão e Cultura; São Paulo / Edusp, 1976.

epidemia

de cólera.

Na

campanha

das

cordilheiras morreram 5 mil soldados paraguaios, o

que

é muito,

se nos lembrarmos

MANCHESTER,

British

Preeminence

ín

é o livro do professor Leslie

4 abolição

do tráfico de escravos no

o Brasil e a questão do

ql, “As Ciências Sociais na América Latina: proposta de

que o exército

periodização: 1945-1983”, im FERRANTE, Vera, MO-

| reorganizado pelo conde d'Eu, o genro de Pedro II,

RAES, R. e ANTUNES, R. (org.). Inteligência brasi-

era de 32 mil homens. 10. GRAHAM,

Richard. Britain and the Onset of Mo-

dernization in Brazil, 1850-1914, Cambridge, Uni-

leira, São Paulo, Brasiliense, 1986. 12. FERNANDES

Florestan.

Poder e contrapoder na

América Latina, Rio de Janeiro, Zahar, 1981, p. 19.

ig

K.

SS

DO

a

GUERRA

ie

A

| |

A GUERRA: UMA ANÁLISE Max Justo Guedes

A GUERRA:

mbora

haja pouca

UMA

ANÁLISE

33

divulgação da imprensa

no exterior, exceto por curtas temporadas, e redigi a

especializada nacional, já é bastante conheci-

obra nas minhas (todas) horas de folga, sem prejudicar

da a História naval brasileira, a ser publicada

as atribuições do meu cargo, em múltiplos arquivos e

pelo Serviço de Documentação

da Marinha,

que



bibliotecas

de

Portugal,

Espanha,

França,

Inglaterra,

Bélgica e, naturalmente, Holanda.

muitos anos dirijo.

Seis tomos vieram à luz entre 1975 e 1993, o que

Olhando pelo retrovisor, verifico hoje que valeu a

evidencia as dificuldades encontradas para levar a bom

pena — tranquilizem-se, pois não vou repetir Fernando

termo

de especialistas e

Pessoa — o esforço: se o número de leitores do texto

ausência de documentação nos arquivos brasileiros são

parece não ser elevado, a qualidade intelectual dos que

as duas razões básicas da demora. Em 1993, publiquei o

o fizeram e as opiniões por eles emitidas são mais que

segundo (e último) dos dois tomos dedicados às Guer-

compensatórias.

a obra planejada.

Carência

ras Holandesas no mar, que consumiram mais de dez

Julgo haver demonstrado a parcialidade das obras

anos de meus esforços, pois, além de bibliografia redu-

maiores, os panegíricos dos restauradores nos castrio-

Zidíssima, fizeram-se necessárias a pesquisa e a enco-

tos e os valerosos lucidenos, e, dos invasores, no bar-

menda de microfilmes. Era-me impossível permanecer

laeus, que tudo-teriam feito por seus exclusivos esfor-

: Ê i



a

A

+

GUERRA

Havia a necessidade de bem compreender as men-

obra coletiva em que fundamentalmente se empenha-

talidades dos povos em luta. Se nas Guerras Holandesas

ram os moradores do Brasil, os espanhóis, com os ter-

a tarefa fora facilitada pelo legado dos séculos de ouro

cios e galeõdes, e os portugueses, com as frotas e provi-. sões, inclusive os cristãos-novos, que permitiram, com

espanhol e holandês — aí estão, permitindo-a, as obras de Cervantes, Lope de Vega, Calderón, Quevedo, Tirso,

os seus muitos haveres, a criação da Companhia Geral

Santa Tereza, San Juan de la Cruz, Antônio Vieira, Erí-

do Comércio do Brasil, sem cujos navios teria sido vão o esforço pernambucano.

ceira,

citar os principais contemporâneos delas —, no “confli-

Concluídas as Guerras Holandesas, voltei-me para

to guarani” (apenas em assim chamá-lo, evidencia-se

drama vivido pelo Brasil nestes qui-

nhentos anos, a Guerra do Paraguai. Por dever de ofí-

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cio, já dela havia cuidado nestes 26 anos em que estou à testa do Serviço de Documentação, sem jamais ter ido fundo na questão. Sabia, como Joaquim Nabuco, das dificuldades que enfrentaria com a conhecida parciali-

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Da

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feia

“patriótica” ou ideológica

conflito,

Em dh pai, E a E a

PARAGUAI

ços. A resistência e a restauração pernambucanas foram

O outro grande

a

DO

com

as antigas

dos historiadores do

idiossincrasias

antilusitanas

existentes no Prata (a recíproca era verdadeira no Brasil) e com o sério problema de dar as corretas dimen-

sões, as dimensões de seres humanos, com suas qualidades e defeitos, erros e acertos, aos principais condutores da sanguinolenta e devastadora Guerra: López, Mitre, Flores, Urquiza, Tamandaré (Patrono da Marinha), Caxias (Patrono do Exército), Osório, Barroso,

Inhaúma,

sem esquecer D. Pedro

II, alvo de tantos

ataques, embora monarca de um país de re gime parlamentar..,.

Hugo

Grotius,

Velásquez,

Rembrandt,



para

logo o problema) ela assume proporções vultosas, pois

antevejo enormes dificuldades em compreender o que levou o nobre povo paraguaio ao seu patético, heróico sacrifício, sem perder a noção permanente de que também eram seres humanos sujeitos aos receios, medos,

amores e desamores próprios da nossa condição, e sem — espero — chegar aos absurdos de alguns autores embro-me logo de Carlos Pereyra, ao afirmar ser indu-

bitável que “el 90 por 100 de estas deserciones [para-

guaias] era el resultado de la incapacidad fisica a que

habian llegado aquelos hombres para seguir adelante... Asi las deserciones cabian perfectamente en la

categoria de bajas por enfermidad”), que tentaram (ou tentam) colocá-los acima daquela condição . Não menos preocupantes são os “testemunhos ” dos que denigrem Solano López, pois vão ao extremo de dizer que tinha um “awkwardly formed ph ysique

(Alym Brodsky), e que teria provocado tal re pulsa na

A GUERRA:

UMA

ANÁLISE

55

imperatriz Eugênia (casada com Napoleão III) a ponto

de Orellana, que faleceu no Rio Amazonas (1546) ten-

de fazê-la vomitar, após ter sua mão beijada pelo mare-

tando colonizá-lo, após descer todo o seu curso desde

chal. Basta olhar as fotografias, feitas exatamente por

o Napo, e as desventuras de D. Pedro de Mendonza,

ocasião de sua permanência em Paris, para aquilatar a

Alvar Nufies Cabeza de Vaca, Diego de Sanabria e Jaime

inverdade de tais afirmações: numa

delas, em meio a

Rasquin, que deveriam governar todo o território sul-

vários militares franceses, López é, seguramente, o mais

americano entre os paralelos de 25º a 36º; das tentativas

bem-posto!

de colonização, resultou positiva apenas a fundação de Nuestra Sefiora Santa Maria de la Assunción (provavel-

A expansão luso-brasileira

mente em 15 de agosto de 1537), que se tornaria o centro de expansão espanhola em direção à “Serra da

Comemoramos, em 1994, o Quinto Centenário do Tratado de Tordesilhas. Nas várias conferências que sobre

Prata”, isto é, ao Pótosi.

O fracasso no litoral deixou todo o território — hoje

o tema proferi, inclusive no Congresso “El Tratado de

brasileiro — ao sul da Cananéia como

Tordesillas y su epoca” (Setúbal, Salamanca e Tordesi-

guém”, até a criação da Província Jesuítica do Paraguai

lhas, 2 a 6 de junho), busquei mostrar que, embora

(1607), cuja ação missioneira, desde Assunção, tomaria

aquele convênio, não obstante as suas várias indefini-

impulso em três direções: o Guairá, que hoje ocuparia

ções, houvesse limitado o território do Brasil atribuído a

boa parte do estado do Paraná, onde, em 1628, já exis-

Portugal apenas às terras situadas a leste de um meridia-

tiam 13 missões; o Rio Uruguai e Tapes, inicialmente na

no que cortava nossa costa nas proximidades do Equa-

margem direita do rio, mas, com o tempo, alcançando o

ponto entre São Vicente e

Rio Pardo, em pleno território rio-grándense; e a região

Laguna, desde 1519, pelo menos, a Coroa Portuguesa

do Itatim, genericamente compreendida pelos Rios Pa-

buscara ampliar seu quinhão, de molde a ter o Amazo-

raguai e Aquidauana, e a Serra de Maracaju, no atual

nas e o Prata como limites com Castela.

Mato Grosso do Sul.

dor e, ao sul, em algum

“terra de nin-

Com isto não concordaram obviamente os dirigen-

A reação dos bandeirantes luso-brasileiros, sempre

tes espanhóis, que buscaram criar gobernaciones e co-

em busca de indígenas, considerando os referidos terri-

locar adelantados, quer no Amazonas, quer em todo o

tórios como pertencentes à Coroa Portuguesa, tornou

território ao sul da Cananéia. Basta lembrar Francisco

impossível o prosseguimento da ação missionária nas

56

A GUERRA

DO

PARAGUAI

três regiões e permitiu, pouco a pouco, a expansão para

passaria a ter problemas de limites com seus três vizi-

o sul, que culminaria com a fundação da Colônia do

nhos, Argentina, Bolívia e Brasil (o menor deles, aliás,

Sacramento (1680) e Rio Grande de São Pedro (1737), enquanto o aparecimento do ouro no Mato Grosso le-

com o Brasil).

Varia à criação da Vila de Bom Jesus à construção do Forte de Coimbra.



do Cuiabá (1727) e

Antes da Guerra

|

Masa cartografia européia não-peninsular (holan-

desa, francesa, italiana e alemã), durante todo o século

XVII e o primeiro quartel do século XVIII, manteve os territórios do Guairá e do Paraguai alcançando o Ocea-

no Atlântico, sem reconhecer a expansão luso-brasileira, O que somente ocorreria quando a Coroa Portuguesa

Desde o aparecimento do ouro no Mato Grosso (1718), um sério problema para a Coroa eram as comunicações com

Cuiabá. As chamadas

“monções”

exigiam sacrifí-

cios gigantescos e riscos de monta, quer pelo número de cachoeiras a enfrentar no trajeto fluvial, desde a proximidade de São Paulo até a capital mato-grossense,

ignorou Tordesilhas e passou a negociar os limites de seus territórios baseando-se no ut possidetis.

quer pela ameaça dos indígenas ao longo do percurso,

Naquela altura, já Guillaume de PIsle havia sobejamente demonstrado as falsificações cartográficas portu-

nária belicosidade.

guesas,

que iam dando

base “científica” à expansão

luso-brasileira. Mas mostrara igualmente que as Filipinas e as Molucas estavam no hemisfério português. Consequências Madri

(1750),

lógicas disso foram o Tratado de

a criação

do

Vice-Reinado

do

Prata

(1776), graças à importância que Buenos Aires adquirira na tentativa de conter o avanço luso-brasileiro no

rumo

do

Prata,

e o Tratado

de Santo

Ildefonso

(1777), que nortearia todas as negociações de limites entre o Império e as ex-colônias castelhanas na América do Sul. O Paraguai, ilhado no interi or do continente,

em especial os paiaguás, índios canoeiros de extraordi-

Com o surgimento da navegação a vapor, o caminho natural (e único possível) passou a ser feito pela bacia do Prata, subindo os Rios Paraná, Paraguai e São

Lourenço. O inconveniente desse caminho era a neces-

sidade de abertura da navegação daqueles rios , vital

para o Império

levar o progresso

ao Mato

Grosso e

aproveitar as enormes potencialidades da região. As flutuações de humor dos governantes para-

guaios a este respeito tornaram-se praticamente o único

ponto contencioso de nossas relações com aqueles go-

vernantes (mais precisamente Carlos Antonio López),

uma vez que o Brasil foi o primeiro país a re conhecer a

À

independência

paraguaia,

quando

UMA

GUERRA:

ela foi reafirmada

ANÁLISE

57

demorou que um diplomata menos hábil, Pereira Leal,

pelo Congresso guarani (1842).

lançasse a desconfiança no espírito de López. Os laços

Não há como negar o interesse brasileiro em impe-

ficaram estremecidos, perigou a navegação

brasileira

dir que Juan Manuel Rosas conseguisse reunir os territó-

no Rio Paraguai e o Império resolveu, inadvertidamen-

rios do antigo Vice-Reinado do Prata sob as rédeas de

te, aplicar a “diplomacia das canhoneiras”, escolhendo

Buenos Aires. Herdeira da diplomacia lusa, a diploma-

mal aquele que seria o executor dela, o chefe de divisão

cia brasileira mantinha vivas as lembranças do sécu-

Pedro Ferreira de Oliveira, com seu pavilhão na depois

lo de lutas com os espanhóis e as terríveis dificuldades enfrentadas para

manter

namente havia ocupado

os territórios

ou povoado

que

. famosa fragata Amazonas.

paulati-

Embora sendo elevado o número de navios da for-

(ou despovoa-

ça naval, López negou-lhe a subida do rio, sendo Oli-

do, conforme aqueles que invectivam a ação bandeirante).

-

veira forçado a deixá-la próximo às Três Bocas e a subir o Paraguai só com a Amazonas, que encalhou antes de

José Antônio Pimenta Bueno (depois marquês de

Assunção, mostrando, desde então (1855, dez anos an-

São Vicente), nosso infatigável ministro em Assunção,

tes do início do conflito), que navios de madeira e

foi o grande incentivador do primeiro López a defen-

grande calado não poderiam operar naquelas águas.

der-se de Rosas. Humaitá, a quase inexpugnável fortificação,

se não

foi idéia sua, foi por ele amplamente

O máximo que conseguiu o “inusitado” diplomata foi um Tratado de Amizade,

Comércio

e Navegação,

discutida com o presidente. Oficiais brasileiros ajuda-

sendo postergada a questão de limites. Cumpre deixar

ram a organizar e a instruir o exército paraguaio,

claro que as fronteiras pretendidas

e

pelo Brasil (Rios

armas e munições foram-lhe fornecidas pelos imperiais.

Paraná, Iguatemi, cumes das Serras de Maracaju e Rio

O Paraguai não participou, contudo, das forças que

Apa) serão, pouco mais ou menos, as mesmas fixadas

aliaram Rosas

do poder. Logo depois da queda do

ditador, o Brasil tranquilizara-se, pois a Argentina e o Uruguai,

convulsionados

internamente,

ameaças potenciais e mantirham-se

não

eram

as boas relações

com o Paraguai.

Mas o destino tem seus desígnios insondáveis. Não

no pós-guerra, trocando-se o Iguatemi pelo Igurei, com

alguma vantagem territorial para o nosso país. Francisco Solano López foi o negociador do tratado. Parece que, já então,

nutria forte antipatia pelo

Império e crescera em vaidade pela recepção que lhe

fez Napoleão III quando, pouco antes, andara pela Eu-

da, q



A GUERRA

DO

a

missão

diplomática

e comprando

navios

e

|

correu sob a Ponte da Amizade

passou sobre ela). O Mercosul parece a caminho de

armamentos. Se Pedro Ferreira de Oliveira nada conseguira na

horizonte

no

e não se vislumbra

qualquer problema maior entre os quatro países envol-

depois, assinou com José Borges, plenipotenciário pa-

vidos no conflito de 1865. Uma ou outra questão de

raguaio, um segundo Tratado de Amizade, Comércio e

temperamentos

Navegação.

beis diplomatas e propósitos sabidamente comuns aos

mercuriais é logo solucionada

pendente.

quatro vizinhos.

Por isso, Carlos Antonio López desabafou com Thorn-

Obviamente,

por há-

não era esta a situação em 1864. O

ton, ministro britânico em Buenos Aires, quando este

Brasil

visitou Assunção, afirmando temer que a questão de

residiam e tinham propriedades 40 mil compatriotas,

limites levasse a uma

ruptura entre os países.

ral, pois,

firmada

que,

mesmo

a convenção

Natu-

sobre

a

liberdade de navegação fluvial (1858) e inaugurado o serviço regular de vapores, via Rio Paraguai, entre o Rio de Janeiro e Cuiabá, Francisco Solano López ace-

lerasse

seus preparativos

para ampliar Humaitá,

au-

mentar o exército e contratar técnicos e engenheiros militares no estrangeiro. Envolvido com seu interesse maior, as questões em ambas as margens do Prata, o governo imperial parece ter ignorado aqueles preparativos.

A Guerra

Nestes 130 anos transcorridos desde que se iniciou a

então chamada Guerra da Tríplice Aliança, muit a água

possuía

enormes

interesses

no

Uruguai,

onde

número semelhante à população de Montevidéu. Eram eles estreitamente ligados e muitas vezes também aparentados

com

os do Rio Grande,

constante atenção muito

distantes

do

Império,

a Revolução

alvo igualmente da porque

não

Farroupilha

estavam

e as idéias

separatistas da província. Toda a cautela era, destarte, justificada para manter satisfeitos os gaúchos. Mais ainda, os gaúchos constituíam as principais tropas com que o governo contava nos Pampas, os famosos cavalarianos, tipificados pelo intrépido Osório. À intervenção no Uruguai, o apoio a Flores, o bombardeio e a destruição de Paissandu, sob o comando do impulsivo visconde de Tamandaré, e o quase idêntico destino

F

realidade

tornar-se

sua inglória expedição, o ministro Paranhos, um ano

Mas a questão de limites permaneceu

PA

(e muito contrabando

de

Montevidéu

isentos de controvérsias.

são

fatos

bastante

sabidos

e

Não dispondo Buenos Aires ou o governo blanco

ae

em

e

o

ropa

PARAGUAI

ei ST

a

58

A

GUERRA:

UMA

ANÁLISE

59

de marinhas de guerra, a esquadra. brasileira do Prata

solicitação

mantinha o domínio daquelas águas. Mesmo assim, o

tes. Eram os primeiros erros de uma

grande esforço que fora despendido, entre 1847 e 1858,

culminaria

na

ingressar

para fazê-la

era

do

vapor

estava

para

com

que

as tropas

a invasão

cruzassem

Corrien-

segúência que

do Rio Grande

do Sul,

onde perderia substancial parcela de suas melhores tro-

quase

pas.

perdido, três lustros após, pois os avanços da tecnolo-

Destes erros — em parte explicados porque López

gia, com o aparecimento das couraças e dos encouraçados, tornaram-na praticamente obsoleta quando com-

contava

parada às congêneres francesa e inglesa. Mas, para as

Aguirre —, o mais grave, o que teria influência decisiva

questões então em

na Guerra, foi lançar o até então neutro Bartolomé Mitre

Rio Paraná,

curso,

o apoio

de Urquiza

e dos

blancos de

as

na Tríplice Aliança. Não pela importância que as tropas

e os oito transportes a vapor de que

argentinas teriam no desenrolar da Guerra, mas por

durante o conflito eram força de respei-

garantir Buenos Aires como ponto de apoio logístico a

a fragata

20 canhoneiras

dispusemos

para operar no Prata e no

com

Amazonas,

as

oito

corvetas,

687 milhas de Humaitá.

to. Em relação ao Paraguai, a situação mudava radical-

mente.

Mais grave ainda

foi o ditador lançar-se ao ata-

Olhemos o mapa da América do Sul: entre o Rio

que sem dispor de meios flutuantes capazes de enfren-

de Janeiro e Assunção medeiam nada menos de 2.020

tar a esquadra brasileira. O resultado seria a decisi-

milhas náuticas,

os

va derrota de sua esquadra em Riachuelo, não obstante

navios de que dispunha nossa marinha e sem um por-

alguns erros táticos do chefe Barroso, que comanda-

to bem mais próximo

do possível teatro de opera-

va as forças brasileiras. A partir de então, seria fatal

ções, seria irracional qualquer agressão do Império

que, cedo ou tarde, a Guerra se fizesse em território

ao Paraguai.

Francisco

paraguaio. Além disso, ganhava tempo o Brasil para

Solano López — que, desde setembro de 1862, subs-

rapidamente preparar esquadra capaz de levar de ven-

tituíra o falecido

cida as fortificações construídas em Curuzu, Curupaiti e principalmente em Humaitá. O quadro que se se-

No

ou seja, 3.741

entanto,

Carlos

quilômetros.

na sua obsessão,

Antonio



Com

imaginou

que

a

ação brasileira no Uruguai punha em risco seu país. A recusa de mediação Os acontecimentos.

da parte de López precipitou

Seguiram-se

o apresamento

do

marquês de Olinda, a invasão do Mato Grosso e a E

gue mostra à sequência da incorporação dos encouraçcados e monitores-encouraçados, e sua chegada ao Paraguai.

BARROSO BAHIA

RIO DE JANEIRO LIMA BARROS

HERVAL

Ta

ER

o

perita,

COLOMBO

mente

em

Itapiru, para onde

marchara Osório após

Nº PEÇAS

TRIPULAÇÃO

INCORPOR.

CHEG. PARAG.

11/(68/70)

160

7/1865

3/1866

6/(68/70/12)

74

8/1865 (7)

3/1866

4/(70/68)

136

Não é propósito aqui detalhar os sucessos do con-

11/1865

3/1866

2/150

108

1/1866

3/1866

flito até a entrada de Caxias na capital paraguaia, em 5

4/(68/70)

135

3/1866

9/1866 (7)

4/150

180

3/1866

7/1866

4/(120/68)

135

6/1866

11/1866 0)

8/68

140

6/1866

2/1867

7/1866

9/1866 (7)

9/1866

1/1867 (7)

9/1866

1/1867 (9)

MARIZ E BARROS

4/(120/68)

CABRAL

8/(68/70)

SILVADO

6/(68/32)

134

PARÁ

1/70

57

5/1867

8/1867 (7)

Rio GDE. SUL

1/70

A

8/1867

2/1868

ÁLAGOAS

1/70

37

10/1867

1/1868

Piauí

1/70

37

1/1868

6/1868 (7)

CEARÁ

1/70

37

3/1868

7/1868

STA. CATARINA

1/70

37

5/1868

()

pisar o solo inimigo.

de janeiro

Passo da Pátria seria arriscada, pelo de sconhecimento

quando

o comandante-em-chefe

necessário, no entanto, para proceder à análise final da Guerra, relacionar cronologicamente seus principais suCessos:

— Em 2 de maio de 1866, as forças aliadas são atacadas pelas paraguaias no Estero Bellaco, com severas perdas de ambos os lados.

— Em 24 de maio, travá-se a Batalha de Tuiuti, na qual as forças de López sofrem tremendo revés, com perdas avaliadas em 6.500 homens e 7 mil feridos. Mesmo

assim,

os paraguaios

retiraram-se

sem

se-

rem perseguidos pelas tropas de Mitre, o que trouxe o descontentamento de Osório, que, logo no mês seguinte, deixa o teatro de operações. —

Em 3 de setembro,

ocorre a tomada de Curuzu e

iniciam-se os preparativos para o assa lto a Curu-

das defesas de terra e à vulnerabilidad e dos navios de

madeira. Por isso, já a 16 de abril, houv e o início do desembarque em território paraguaio, após reconhecimento feito por aqueles navios. No di a seguinte, registrou-se o primeiro embate em terr as guaranis, exata-

1869,

considerou, com razão, terminada a sua missão. Faz-se

Enquanto os encouraçados não chegassem ao teatro de operações — o que só ocorreu a partir de março de

1866 —, qualquer tentativa de desembarque an fíbio no

de

paiti.



Dia

22 de setembro,

os aliados

avançam

sobre

Curupaiti, submetido a inconseguente bo mbardeio efetuado pela esquadra. Desconhecendo as defesas a enfrentar, o ataque resultou em comp leto fracas-

ci

TAMANDARÉ

PARAGUAI

DO

si

BrasiIL

GUERRA

a

A

A

GUERRA:

so, com avultadas baixas para os exércitos aliados.

UMA

ANÁLISE

Os argentinos e uruguaios perderam ali grande par-

— Em 25 de julho, Humaitá é totalmente desguarnecida. As forças que se retiram são dizimadas. Allen

te de seus efetivos e jamais tiveram, no restante da

tenta suicidar-se e é mandado fuzilar por López.

Guerra, a possibilidade de restaurá-los.

— Em 5 de agosto, Humaitá é finalmente ocupada.

Sequência de meses de pouca-atividade bélica até a



chegada de Caxias ao Paraguai, sendo Tamandaré

— Os encouraçados forçam Angustura, em 1º de outu-

bro de 1868.

substituído por Inhaúma. Estabelece-se o comando único para as forças terrestres e navais em opera-

López fortifica-se no Piquissiri.



ções.

Construção da estrada do Chaco, em outubro de

1868.

Marcha de flanco de Tuiuti a Tuiú-Cué, ocupada em



Em Itororó, dia 6 de dezembro, tem início a célebre

31 de julho de 1867.

Dezembrada,

Em 15 de agosto, os encouraçados forçam a passa-

(11

gem de Curupaiti, iniciando as primeiras ações con-

guinte.

tra Humaitá, que fica completamente cercada em

continuada com as batalhas do Avaí

de dezembro)

e Lomas-Valentinas,

no 21 se-

— No dia 24, é dirigido um ultimatum a López para que se rendesse. O marechal recusa-se a fazê-lo.

novembro de 1867.

Aos 19 de fevereiro de 1868, três encouraçados e

três monitores forçam a passagem de Humaitá. Si-

— Ataque bem-sucedido a Ita-Ibaté. Batidas as suas tropas, López retira-se para Cerro León.

multaneamente, a fortaleza é tomada pelo exército. Com a passagem de Humaitá, as forças paraguaias

Que conclusões podem-se tirar examinando

ali posicionadas ficam em

estes acontecimentos?

precaríssima situação

para serem abastecidas, o que leva aos desesperade julho.

Em primeiro lugar, há que louvar o sucesso alcançado por Tamandaré em rapidamente fazer de Buenos Aires

Em 16 de julho, tropas sob o comando de Osório

o ponto

tentam assalto a Humaitá, sofrendo pesadas baixas,

e navais que operariam no território paraguaio. Com isso, jamais faltaram-lhes arínamentos e munições de

tamente se houvesse retirado para o Timbó.

boca. Seguiu-se o êxito na operação anfíbia do Passo

om

logístico para as forças terrestres

ss

embora a maioria das forças paraguaias já sorratei-

de apoio

di ci

dos ataques aos encouraçados, em 2 de março e 9

A

62

GUERRA

DO

PARAGUAI rem

pela

pelas deficientes condições sanitárias e pela falta de

falta de agressividade de Mitre em perseguir o inimigo

adaptação ao clima e ao solo — porque vitoriosos. Ao

batido.

final e ao cabo, também

da Pátria e o sucesso

em

Tuiuti,

empalídecido

O tremendo fracasso de Curupaiti tornaria de pron-

merecem

louvores pela cora-

gem e pelo patriotismo com que lutaram.

único

As perdas da marinha exprimem bem aqueles sacri-

para as forças terrestres e navais. Tamandaré foi sacrifi-

fícios. Entre agosto de 1864 e março de 1870, essas

cado,

entre Caxias e

perdas podem ser assim resumidas: mortos em comba-

permitiu que a passagem de Humaitá, bási-

tes ou em consequência deles, 170 homens; em aciden-

ca para a sequência de operações que levariam à De-

tes vários, 107; por doenças em serviço, 1.450, número

zembrada,

praticamente igual à soma das tripulações dos 11 en-

to evidente

mas

Inhaúma

a necessidade

de um

comando

o perfeito entrosamento

fosse

feita sem

encouraçados. Nela

ficou

construir rapidamente

no

sacrifícios

dos

demonstrado

o acerto

país três deles

outros oito na França e na Inglaterra.

preciosos em

e adquirir

Notável foi tam-

bém a rapidez com que, no Arsenal da Corte, construíram-se os monitores, três anos apenas após o famoso encontro

do monitor

e do Merrimack,

em

Hampton

Roads. A 130 anos de distância dos acontecimentos, é hoje

possível afirmar que os soldados paraguaios, ao escre-

verem, durante um lustro, uma das mais belas páginas da história das guerras, sacrificaram-se em vão, pois

Riachuelo havia selado a sorte da luta, impedindo que López recebesse navios e armas do exterior, carência que, embora os notáveis sucessos alcançados por seus

arsenais, foi-lhes fatal. Mais

felizes

os aliados —

couraçados e seis monitores que se achavam no teatro

de operações.

É de admirar, pois, que o governo imperial tenha lutado com ciclópicas dificuldades para manter no Paraguai exército com efetivo suficiente para bater os leões

de Solano López? É de admirar que, sabidas no Brasil as vultosas perdas de vidas que ocorriam no distante tea-

tro de operações e já houvesse na opinião pública a certeza da vitória final, surgisse relutância em atender à convocação para a Guerra?

Creio que não, pois, no início do conflito, quando o perigo parecia (e era) grave, gravíssimo, os brasileiros

apresentaram-se em grande número, voluntários para a luta. Tenho na família a prova disto. Estão comigo, em minha

embora

também

muito

sacrificados pelas dificuldades da peleja, em especi al

casa de São João

del Rei, as cartas

desde

O

Paraguai e, depois, do asilo dos inválidos da Pátria, de meu tio-bisavô João Luiz Guilherme Gaede, que, aos 16

A GUERRA:

UMA

ANÁLISE

63

anos, com mula e espingarda “emprestadas”, fugiu de casa e assentou praça para ir à Guerra.

e do povo paraguaio estavam inexoravelmente atados.

o erro maior bra-

Esta é a linha de pesquisa na qual me aprofundei e

sileiro, o erro de Francisco Otaviano (e Tamandaré), ao

que talvez explique — melhor do que tentam fazê-lo

concordar com o texto do Tratado da Tríplice Aliança,

aqueles que atribuem à tirania, ao terror implantado por

Finalmente,

há que

considerar

Era morrer lutando ou ver desaparecer o país.

em que alguns artigos, hábil e justamente explorados

Francisco Solano López — a auto-imolação de uma

por López, deram a entender que os destinos da pátria

nação.

O PRÍNCIPE OBÁ, UM VOLUNTÁRIO DA PÁTRIA Eduardo Silva

O

more

PRÍNCIPE

OBÁ,

UM

VOLUNTÁRIO

DA

PÁTRIA

67 E

O O

Um príncipe do povo om Obá II d'África, ou melhor, Cândido da Fonseca

Galvão,

como

foi batizado,

nas-

ceu em Vila dos Lençóis, no sertão da Bahia, em meados do século XIX. Filho de africanos for-

ros, brasileiro de primeira geração,

era, ao mesmo

fixou residência de

como

homem

um

social

amalucado”,

“meio

uma figura meramente folclórica, era ao mesmo tempo reverenciado como um príncipe real por escravos, li-

tempo, por direito de sangue, príncipe africano, neto,

bertos

ao que tudo indica, do poderoso Alááfin Abiodun, o

Janeiro.

último rei a manter unido o grande império ioruba de

bem

sua posição

confusa. Tido pela socie-

complexa,

era no mínimo dade

na corte, onde

e homens

Dom

Obá

livres de

assumiu,

nos

cor da

cidade

momentos

do

Rio

de

decisivos

do

Oyo, na segunda metade do século XVIII. Aláafin Abio-

processo de abolição progressiva, o papel histórico (in-

dun, através da tradição oral, deixou boa fama de sábio

suspeitado, quase oculto) de elo entre as altas esferas

e de ter oferecido um “longo e próspero” reinado para

do poder imperial e as massas populares que emergiam

seus súditos.!

das relações escravistas. Como observou um contempo-

- Príncipe guerreiro, Dom Obá II d'África lutou na

râneo, o príncipe Dom Obá II d'África, “devido à sua

saiu oficial honorário

régia estirpe (...) recebia (...) o tributo dos seus súditos

do exército brasileiro, por bravura. De volta ao Brasil,

do Largo da Sé, que tomavam-lhe a bênção, que se

Guerra do Paraguai,

de onde

A

GUERRA

opaco, quase incompreensível para a sociedade letrada

lhosos de sua figura e de sua ufania”.2

de então.

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dá 1

sem publicadas,

que

Obá (que quer dizer “rei”, em ioruba)

enfeixou

contradições

muito

profundas,

libertos e homens compartilhavam

contribuíam financeiramente

e reuniam-se

lívres de cor, de suas idéias,

para que elas fos-

“nas quitandas ou em

família” para ler em voz alta os artigos. O que

defendia

este homem

e por qué parecia

interessar tanto a seus leitores? Sendo um príncipe, era

altura, os modos de soberano como que captavam a

Dom

atenção dos contemporâneos,

embora poucos estives-

acima dos partidos, nem inteiramente conservador nem

sem realmente preparados para acreditar no que viam.

tampouco liberal, talvez por achá-los muito parecidos

Um príncipe afro-baiano a perambular pelas ruas do

uns com os outros; talvez porque, no fundo, os dois

Rio, barba à moda de Henrique IV, muito bem vestido

partidos se opusessem ao processo de abolição posto

em suas “finas roupas pretas”, como foi descrito por um

em curso pelo imperador; talvez porque os dois lhe

contemporâneo, de fraque, cartola, luvas brancas, guar-

parecessem inspirados apenas por interesses materiais.

da-chuva, bengala e pincenê de aro de ouro. Ou, em

Seja como for, no Jornal do Commercio de 25 de

Obá,

ao menos

teoricamente,

um

monarquista

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apenas

solenes, Dom

A figura imponente de homem de dois metros de

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ed

não

como

questões fundamentais da formação cultural brasileira.

de

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contudo,

Escravos

em palácio por Dom Pedro II, mesmo nas ocasiões mais como

“a Caio E do A Ma =]

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a CATo ” E

PARAGUAI

ajoelhavam em sua passagem, exclamando muito orguPerseguido nas ruas pela polícia e também recebido

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'

A

ocasiões

realmente

especiais,

muito

ereto, marcial

e

importante em seu bem preservado uniforme de alferes do exército, com suas dragonas e seus galões dourados, sua espada à cinta, seu chapéu armado com penachos coloridos, seu pacholismo admirável.

DomoObáll d'África, para ser breve, defendeu uma visão alternativa da sociedade, do próprio processo histórico brasileiro. Talvez pelo conteúdo mesmo de suas

idéias, talvez por sua linguagem (seu português crioulo,

colorido aqui e ali com expressivas pitadas de ioruba e mesmo de latim), a verdade é que seu discurso parecia

fevereiro de 1885, afirma com todas as letras “não ser

como muitos dos interesseiros dos cofres públicos que

sô são amigos da Monarquia quando estão presos pelo

cofre, e quando estão soltos querem a Reforma ou a Revolução”. Por essas e outras, tinha posições políticas muito bem matizadas. “Por isso sou conservador para

conservar o que for bom e liberal para reprimir os assassinatos que tem havido nesta atualidade a mando de certos potentosos.” A mando de certos “potentados”,

quis dizer o príncipe, pessoas muito influentes e poderosas.

NS

O

PRÍNCIPE

OBÁ,

UM

a defesa

da

VOLUNTÁRIO

DA

PÁTRIA

69

tr

dem, às fox. |

O

combate

ao racismo, ou

melhor,

igualdade fundamental entre os homens, foi outro pon-

to crucial no

pensamento

não apenas era linda, mas “superior aos mais finos brilhantes”.4

e na prática política de

Dom Obá II d'África. Defendia ele, no Brasil senhorial

“Apau e corda”?

e patrimonial de então, que o valor dos homens não estava na cor da pele, mas no mérito, no procedimento ético de cada

um.

Isso, explica o príncipe,

“por

Medeiros e Albuquerque, como outros propagandiístas da República, pensou que os batalhões de pretos que

Deus mandar que quando o varão tiver valor não se

partiam para a Guerra do Paraguaí “se diziam 'voluntá-

olharia a cor”. Ele, um príncipe preto, portanto, “vale

rios, mas que eram quase sempre

muito mais que certos titulares de qualquer coisa que só

força”. Em certos círculos da elite, sobretudo depois da

buscam desmoralizar a sociedade com seus atos imo-

Guerra, esteve em moda referir-se a esses soldados —

rais”.3

não reconhecendo neles nenhum valor — como “vo-

(...) recrutados à

Em outra ocasião, defendeu de forma cristalina que

luntários de corda” (isto é, pegos a laço) ou “voluntários

o “Brasil deve desistir da questão da cor, pois que a

a pau e corda”. Uma primeira questão é saber até que

questão é de valor e, quando o varão tiver valor, não se

ponto esse mau

olhará a cor”. Idéia semelhante apareceria também nos

alguma relação com a realidade ou terá sido fruto ape-

versos que publicou no Jornal do Commercio de 6 de

nas do preconceito, do estereótipo,

março de 1886.

sobre o povo brasileiro.

conceito sobre os “Voluntários” terá da visão tradicional

De fato, “atendendo às graves e extraordinárias cirNão é defeito preta ser a cor

cunstâncias” do país, completamente despreparado para

É triste, pela inveja roubar-se o valor.

a Guerra, Dom

Pedro II assinou o decreto criando os

Corpos de Voluntários da Pátria, num sábado, 7 de janeiDentro dessa linha, o príncipe, como muitos de seus

ro de 1865, para que fosse publicado logo na segunda-

seguidores, parece ter chegado a uma formulação estéê“tica autônoma, talvez pioneira, talvez natural, na li-

feira. Os Corpos poderiam ser compostos por cidadãos

nha do movimento Black's beautiful dos anos 1960.

condições especificadas no próprio decreto. Para falar

Segundo um dos seguidores do príncipe, a cor preta

entre 18 e 50 anos que voluntariamente aceitassem as

apenas do que poderia parecer mais atraente, podemos

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A GUERRA

DO PARAGUAI

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enumerar: 300 réis por dia, além do soldo normal a que

Já em relatório de 1865, apresentado à Assembléia

faziam jus os voluntários do exército, de cerca de 165

Legislativa, o ministro da Guerra, visconde de Camamu,

réis; pensão

que

informava satisfeito que, devido à grande afluência de

morressem em combate; gratificação de 3008000 para os

voluntários verdadeiros, o governo achou por bem não

que sobrevivessem (cerca de 160 dólares de 1875); por

apenas suspender o recrutamento na Corte, mas expe-

fim, 22.500 braças quadradas de terra (1 braça = 2,2

dir “ordens dispensando os recrutadores em todas as

de

meio

soldo

para as famílias dos

metros) em colônias militares ou agrícolas. Embora o decreto imperial falasse muito claramente

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conde,

Isso porque,

explicava

muito

bem

o vis-

“o governo julga desnecessário coagir pessoa

em “cidadãos ... que voluntariamente se quiserem alis-

alguma para tomar parte na defesa do Império, quando

tar , em muitas províncias, talvez pela força do hábito,

milhares de cidadãos correm espontaneamente a ofere-

talvez por excesso de zelo, autoridades recrutadoras, delegados de polícia inclusive, conforme bem sintetizou o general Paulo de Queiroz Duarte, saíram a “caçar

o caboclo nos igarapés do Pará, o tabaréu nordestino na caatinga, o matuto na sua tapera, o caiçara no litoral”, enfim, como era tradição no Brasil, homens de condição humilde, sem distinguir muito entre os tons da pele e as culturas,”

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províncias”.

Apesar do mau jeito dessas autoridades, o apelo aos voluntários parece ter tocado em fibra nova — até então desconhecida — da nacionalidade. Não apenas o

príncipe apresentou-se “como verdadeiro soldado”. Na Bahia, em especial, a mobilização foi intensíssima para

as condições da época, chegando os Voluntários à somar cerca de 9 mil homens em menos de um ano. Vindos de todo o país, os Corpos de Voluntários chega-

ram a representar, no auge, 75% dos batalh ões de linha.

cer-lhe os seus serviços”.

Nas cidades maiores, realmente, alguns homens livres de cor ou ex-escravos podiam contar uma história talvez diferente da que contou o príncipe, mas não foram

maioria.

Muitos,

“voluntários de corda”,

no Rio e em Salvador,

sobretudo

foram

aquela gente sem

relação e tida por turbulenta, incluindo aí alguns grandes mestres da “pernada carioca” e da “capoeiragem”

soteropolitana. Este parece ter sido O caso, por exemplo, daquele outro voluntário baiano, recrutado ao tempo do con-

selheiro Sinimbu, quando o povo de Salvador, cansado de esperar providências, levantou-se insubmisso a exigir no grito, conforme o slogan do movimento,

“Carne sem osso, farinha sem caroço e toucinho do

grosso”. nome

A história,

infelizmente,

não

guardou

o

desse outro soldado afro-baiano. Mas ele, uma

f

OBÁ,

UM

VOLUNTÁRIO

DA

PÁTRIA

71

vez incorporado, certamente não fez vergonha. “Era um

dos “escravos da nação” que quisessem partir para o

crioulo alto e musculoso, gingando muito quando an-

serviço de guerra, como muitos fizeram.

dava”, observou Dionísio Cerqueira em suas recorda-

Muitos outros escravos pertencentes a particulares conseguiram convencer seus senhores a vendê-los es-

ções de guerra:

pecialmente para a Guerra.

O acordo tinha que ser

Era muito limpo — fazia gosto ver a chapa do seu

conveniente para ambas as partes e encontra-se conso-

cinturão e os botões a reluzir. Afamado fabricante de

lidado em pequenos

cigarros,

=

O PRÍNCIPE

vendia-os

aos oficiais.

Gostava

muito

de

cantars

anúncios da época, como

este

publicado pelo Diário da Bahia, de 14 de outubro de 1865:

k

recurso antigo, praticado por escravos

falsos, foi um

desde os tempos coloniais. Apesar das conhecidas durezas da caserna — os soldos sempre em atraso € semr-

quem

lhe substitua

nos contingentes destinados à

guerra.

e a discipre minguados, as dificuldades de promoção

... Ou valentes, briosas falanges ?

para garantir ou , es or ri te an s ga fu r ma ti gi le ra pa recurso

Muitos

um s ze ve as it mu era o nt me ta is al o —, da plina rígi

casa e comida.

escravos,

libertos e homens

livres, da mesma

forma, tomaram o alistamento como prova de bravura

escravos

pessoal e via de integração na sociedade mais ampla. O

Guerra no a r faze lei, or p P o ad aceitariam, como facult

voluntário Galvão, por exemplo, não foi um “voluntário

Quando

da

G uerra

do

Paraguai,

muitos

seus senhores, em de hos fil s do ou lugar de seu senhor, s já especificaagen vant das , iata imed a da alforri

troca

e carreira militar. O Decreto nº d a v das e da perspecti a m a a h c av os rt be , li 65 o r 18 b de m e v o n de 2.725. de 6

mm

.”

is

Sentar praça às escondidas, muitas vezes usando nomes

exército, declare por este jornal seu nome e morada onde possa ser procurado, e por preço cômodo achará ue

e ——

propriedade de outrem, ou “mão-de-obra barata”, para ser homem de respeito, soldado, defensor da pátria.

CT

de melhorar de vida, de deixar de ser

oportunidade

Atenção. Quem precisa de uma pessoa para marchar para o sul em seu lugar, e quiser libertar um escravo robusto, de vinte anos, que deseja incorporar-se ao

o a

Para muitos outros, contudo, a Guerra representou uma

a pau e corda”. Foi, pelo contrário, como gostava de dizer, “um verdadeiro soldado”. Escreveu ele ao impe-

rador, certa ocasião, como que explicando suas motivações para o alistamento:

A

72 SS

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RS

O SR

E

DO

PARAGUAI

O

o cd

à cão e

GUERRA

Quando de todos os ângulos do Império soou o aflito brado (...) o humilde súdito que vos fala deixou tam-

companheiros não representam um fenômeno novo,

bém aliar-se e difundir-se por todas as vísceras a fla-

ilustres remontam ao século XVII, aos valorosos terços

ma viva, o fogo sagrado de amor à pátria.

de Henrique Dias, o capitão negro das lutas contra q

F

ie pe

que acabamos de ver no interior da Bahia, com o volun-

Voluntários da Pátria que marcharam (...) em diver-

tário Galvão, mobilizou ainda os sonhos da mocidade

sos combates?

bem-nascida,

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heroísmo romântico de Os timbiras, de Gonçalves Dias,

go tn

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ema e, à “ ” =

leitores, muitos deles influenciados pelo

Além de voluntário em

toda a extensão da palavra,

Galvão, sendo um príncipe, não se apresentou sozinho, mas já liderando um grupo de companheiros, libertos

ou homens

livres como ele. “Conseguindo

trazer em

sua companhia 30 cidadãos brasileiros, seus conterrâneos, em cujos peitos sobravam entusiasmo e amor à

Pátria”, escreveu ele ao imperador. Em outra ocasião, já talvez com algum exagero ou

ênfase, sustentou o Príncipe novamente que não partiu sozinho, mas conseguiu “arrastar do centro daquela capital da Bahia, hoje cidade dos Lençóis, quando vila

era, milhares de voluntários para consigo a Pátria irmos

defender”.10 Por este prisma, o voluntário Galvão e seus

de O Uraguai, de Basílio da Gama, de O guarani, de José de Alencar.

Para aquela geração, os sentimentos nacionalistas

estavam exacerbados, ainda mais, pelas interferências britânicas a favor da abolição do tráfico africano e seus

desdobramentos posteriores, como a Questão Christie, em 1863, quando o embaixador britânico William Christie ordenou

o apresamento

dos navios brasileiros na

Baía de Guanabara. Muitos jovens brasileiros que segui-

riam para a Guerra, três anos mais tarde — como Antônio Tibúrcio Ferreira de Souza e Dionísio Cerqueira —,

participaram antes de passeatas no Rio, sobretudo na Rua Direita, dando vivas nacionalistas e mostrando seu

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de a Independência, 43 anos antes. O mesmo discurso

nas fileiras das valentes falanges dos briosos

dado

o

o

re

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amor do Patriotismo, alistei-me como verdadeiro sol-

foi a primeira comoção verdadeiramente nacional, des-

de

Ei

q

a

gridade nacional (...) inspirado pelo Sacrossanto

melhor elite. A declaração de guerra contra o Paraguai

agree,

no clima exaltado da época, também atraiu moços da ... tendo sido agredida e vilipendiada a honra e inte-

ii

Além de escravos e pretos livres, o serviço militar,

-

1865,

invasor holandês.

lie

Em outra ocasião, lembraria cheio de orgulho que, em

aa

mas um paradigma. Seus antecedentes históricos mais

O

desacordo

o que entendiam

com

PRÍNCIPE

como

OBÁ,

UM

interferência

indevida da Grã-Bretanha nos assuntos internos da “jovem porém orgulhosa nação que se formava”.!! Dionísio Cerqueira, um jovem da elite baiana, cursava o segundo ano da Escola Central, na Corte. Ele não

nôde assistir sem grandes angústias à partida de seus colegas da Escola Militar da Praia Vermelha, em seus uniformes reluzentes:

.. quando vi (...) todos aqueles caros companheiros em ordem de marcha [..] e carregando garbosos à carabina com que iam defender a pátria, achei-os admiráveis e, confesso meu pecado, tive tanta inveja,

que não pude mais abrir um livro.

17 anos de idade e sentia irresistível

Dionísio contava

impeli-lo a — a su o sã es pr ex ar us ra pa — ” ca gi má “força de o ir ne ja de 2 A . Sul no s, õe aç er op para O teatro de

que o et cr de do ra tu na si as da s te an as di cinco

1865.

no ele e u-s nto ese apr ia, pátr da o d a i r a criaria o volunt , ue aq fr de — a n a t n a S de o Quartel-G eneral do Camp o para ser voluntário do ind ped —, a ol

colete e cart

VOLUNTÁRIO

DA

PÁTRIA

73

duas libras esterlinas que lhe mandava o paí, sempre muito previdente.!2 No extremo oposto da escala social, reencontramos as mesmas idéias de pertencimento e brasilidade. Con: forme expressou o alferes Galvão, o Príncipe Obá, em carta dirigida a Dom Pedro Il: “Filho de pais pobres,

Senhor (...) o obscuro e humilde súdito de Vossa Majestade Imperial sufocou no peito ofegante de saudade um

suspiro profundo, e prestou ouvidos ao honroso apelo, que requeria o sacrifício pela pátria. Banhou de lágrimas a mão de seu Caro Pai, imprimindo-lhe saudosos € expressivos ósculos, e lá voou, impávido, aos campos

gloriosos da peleja, disposto a selar com seu sangue à

liberdade e a dignidade do Império da Cruz!”!>

Nos campos gloriosos da peleja O que dizer da Guerra propriamente dita, das dificuldades e dos perigos enfrentados por homens como Dom

Obá II d'África, desde a marcha de 24 dias, de Lençóis. no sertão, até Salvador, no litoral, 302 quilômetros em

de s to bi há om “c do ia cr o, id sc na mbe Jovem

linha reta? O que dizer do peso das responsabilidades

a c i f i t a r g s a s i a m o d l ujo so c , é r p e d a ç a r s p e l p m i s com o

to como soldado, a partida de Lençóis já como sargento,

exército.

tiu para a Guerra par ”, nça sta aba da eio m o n conforto e

dia”, por réis cinco e pataca “meia a ções mal chegariam muitas Salvou-o, réis. 165 de quantia minúscula à É to /

de vezes, , nos nos duros anos que teve pela frente, a mesada

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FÃ.

crescentes na vida de um jovem do interior, o alistamen-

a promoção a alferes, mal chegado em Salvador, tudo em menos de dois meses? Em Salvador, o novo alferes

viu o mar e embarcou em navio pela primeira vez, rumo

e

ao

e

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E

=

o

E SU

escalas no Rio e na cidade

do

Do

lado brasileiro, as perdas

foram

particularmente

sensíveis entre as “valentes falanges dos briosos volun-

Desterro, hoje Florianópolis.

Galvão nunca se queixou de nada, mas sabemos

tários”, como costumava se expressar o alferes de Zua-

hoje o que foram essas milhas e milhas no mar, nos

vos Cândido da Fonseca Galvão. Somente em seu Cor-

acanhados e desconfortáveis vapores da época, os sol-

po, o 24º, foram contados 152 homens fora de combate,

dados metidos nos porões e submetidos ao padecimen-

entre eles 44 mortos.

to clássico dos enjôos. De Porto Alegre aos “campos

Por essa época, o 24º Corpo de Voluntários esteve

gloriosos da peleja” foram nada menos do que nove

engajado ainda no combate de Punta Naró, na madru-

meses de marcha sob frio intenso e chuvas torrenciais,

gada de 16 de julho, quando enfrentou o fogo de “qua-

sem

tro canhões pequenos” e fortes trincheiras abertas sob a

equipamento

adequado

(inclusive

no

tocante

a

roupas e calçados), soldos atrasados e alimentação res-

supervisão. direta de

trita a churrasco de carne gorda no espeto, no almoço e

Thompson, quando sofreu mais 69 baixas, entre mortos

na janta, com acompanhamento

e feridos.

nhada na ponta da faca. Durante todo o percurso, fo-

Carapá, com

ora de bexiga,

próprio Príncipe teve a mão

que

faziam milhares de vítimas, antes mesmo que se pudesse dar o primeiro tiro. Por fim, depois de tudo,

o enfrentamento

com

em com-

bate desesperado e em terreno alagadiço com os 30.200 homens das forças de Solano López. Os resultados fo-

ram simplesmente aterradores. Ao todo, cerca de 17 mil jovens argentinos, brasileiros, paraguaios e uru guaios mortos ou severamente feridos em apenas cinco horas.

cinco mortos e mais dezoito feridos. O direita inutilizada e foi

obrigado a retirar-se da luta poucos dias depois, a 31 de agosto de 1866.

o

inimigo propriamente dito, em Tuiuti, no dia 24 de maio de 1866, quando os 32.400 homens das forças aliadas (Argentina, Brasil e Uruguai) confrontaram-se

George

E dois dias depois, outra vez em combate, em Isla

ram Os jovens assaltados por epidemias devastadoras,

ora de cólera, ora de sarampo,

inglês,

——

engenheiro

=

de farinha seca apa-

um

fi

Alegre, com

die me

a Porto

A mais linda tropa do exército brasileiro” Que conclusões podemos tirar, por fim, sobre a participação de homens como o alferes de Zuavos Galvão, O

Príncipe do povo? Desde sua rápida passagem pelo Rio de Janeiro a caminho da Guerra, muitos habitantes da

cidade não deixaram de registrar os modos firmes e dignos de “um negro de estatura gigantesca (...), porte

O

PRÍNCIPE

OBÁ,

UM

715

ra, em suas anotações de guerra, refere-se aos Zuavos

sobre a atuação do Príncipe em campo de batalha.

em geral como “gente forte e brava”, e ao 24º Batalhão

“Referem companheiros seus que a sua fé de ofício é

em particular como “um dos melhores corpos do exér-

limpa e elogiosa”, e que “uma vez na guerra, empenha-

cito”.15

dos na luta, todos se distinguiram pelo valor, salientan-

Ainda outro contemporâneo, Melo Moraes Filho,

do-se [...] o Zuavo Galvão, que, como recompensa de

com

seus feitos, mereceu as honras de Alferes do Exército”.””

eles, o 24º Corpo de Zuavos era, simplesmente, “a mais

O próprio alferes, para terminar, garantiu ter marchado “sempre tendo em vista sustentar a glória do meu Sobe-

longamente

linda tropa [...] de todo o exército brasileiro”. Os oficiais, inclusive o alferes Galvão, segundo

observou

o conde,

eram muito bons e,

estavam

“inteiramente

a

par de todos os pormenores do serviço e orgulhosos de

4 31 de

PÁTRIA

deixou registrada a opinião dos próprios voluntários

atividades de guerra e conversou

idos. O a e foi

DA

marcial e (...) olhar respeitável” que, cheio de ufania, marchava à frente de seu batalhão.!é Dionísio Cerquei-

Para o conde d'Eu, que também os observou em

em Isla

VOLUNTÁRIO

seu batalhão”. 16

rano Monarca e também da cara pátria”. Por amor à pátria, portanto, e “não com interesse do leproso ouro

causador de todas as desgraças aos infelizes que pelos maus princípios são aconselhados”.!é

A

76

GUERRA

DO

PARAGUAI

NOTAS dido da Fonseca

1. JOHNSON, Reverendo Samuel. The History of Yoru-

2. MORAES FILHO, Melo. Quadros e Crônicas, Rio de

Janeiro, Garnier, s/d., pp. 253-254.

21/03/1872. “Me-

do da Fonseca Galvão, Rio de Janeiro, 16/05/1874. 10. Ibid., 21/03/1872. Jornal do Commercio, 28/02/1885, B. 5:

3. O Carbonário, 23/05/1887, p. 4.

1

4. Ibid, 28/06/1886, p. 4. E ALBUQUERQUE.

Bahia,

morial”. Arquivo Seletivo do Exército, pasta Cândi-

bas, Lagos, €.S.S, pp. 182-88.

5. MEDEIROS

Galvão,

Quando

eu era

CERQUEIRA, op. cit., p. 207.

os Ibid., pp. 46-58.

vivo, 1867-1934 (2º ed), Rio de Janeiro, Livraria do

13. Arquivo Seletivo do Exército, ibid., 21/03/1872.

Globo, 1945, p. 112.

14. BARRETO

FILHO,

Melo

e LIMA,

6. Jornal do Commercio, 9/01/1865.

ria da Polícia do Rio de Janeiro,

7. “D. Pedro II e os Voluntários da Pátria”, Revista do

A Noite, 1944, p. 149.

Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1984, p.

15. CERQUEIRA,

327.

16. CONDE

8. CERQUEIRA, Dionísio. Reminiscências da Campanha do Paraguai,

9. “Memorial”. Arquivo Seletivo do Exército, pasta Cân-

Histó-

Rio de Janeiro,

op. cit., pp. 104-326. Viagem

militar ao Rio Grande do

Sul, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1936,

1865-1870, Rio de Janeiro, Bi-

blioteca do Exército, 1980, p. 147.

D'EU.

Hermeto.

p. 135.

17. 18.

MORAES FILHO, op. cit, p. 251. O Carbonário, 29/04/1887, p. 4.

O SIGNIFICADO DA “GUERRA DO PARAGUAN “NA HISTÓRIA DO BRASIL Fernando 4. Novais

pelo professor a d i r e f o r partir de palestra p

editada a o Guerra “ o i u q ó l o c no s i a v o N Fernando Antonio

E

O

SIGNIFICADO

DA

“GUERRA

DO

umpre refletir sobre o significado da Guerra do Paraguai na história do Brasil, sobretudo na história do Império, cuja análise tem sido

bastante renovada, nos últimos tempos, pelos historiadores. Joaquim Nabuco foi o primeiro a chamar a atenção

para o significado mais profundo que teve, no transcurso da história, o fenômeno da Guerra da Tríplice Aliança. Ele disse que a Guerra do Paraguai foi ao mesmo tempo o apogeu do Império e o seu declínio. Os estu-

PARAGUAI”

NA

HISTÓRIA

DO

BRASIL

19

escravidão atinge uma expansão que ultrapassa o plano de uma simples instituição social — como era o caso do Império Brasileiro e da sociedade do Sul dos Estados Unidos —, é incompatível com a existência de um exército moderno, de forças armadas modernas. No limite,

esta incompatibilidade inviabiliza o próprio Estado. Na clássica definição de Max Weber, o Estado é o

monopólio da violência legítima. Ora, numa sociedade

escravista, o Estado não pode ter o monopólio da violência legítima, porque a sociedade organiza-se sobre a

também l Brasi no ado pass o sécul do ica polít da s dioso

violência privada dos senhores contra seus escravos.

Guerra do Paraguai e vai-se aprofundando até a República. Qual a razão disso?

tuir um Estado soberano e ao se manter a escravidão,

insistem em que a Questão Militar surge logo depois da

A sociedade escravista, uma sociedade em que a

Por isso, na Independência do Brasil, ao se consti-

passou-se a viver um verdadeiro dilema. A manutenção da escravidão era uma das condições para a preserva-

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GUERRA

DO

PARAGUAI

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ção da unidade nacional. Mas mantê-la significava in-

armada moderna. Depois de tê-la formado, não se pode

viabilizar o Estado, porque com escravidão não se cons-

mais descartá-la. O que fazer com ela? A partir daí é que

trói o monopólio da violência legítima.

se instaura a Questão Militar, que iria progressivamente

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Sabe-se que a Guarda Nacional foi criada durante a E id

O

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tropa. Desta maneira, a sociedade escravista bloqueia

quia. Isso significa dizer que, para eliminar sua incom-

os fundamentos

do exército moderno,

patibilidade visceral, a sociedade irá adequar-se à força

forças

Esses

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À

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das modernas

armadas.

fundamentos

são

basicamente

armada

moderna,

e não

a força armada

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moderna

dois: a universalidade do recrutamento e a hierarquia.

sociedade. Este é o fundamento da Questão Militar.

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E, como não se pode desmontar a

força armada, acaba-se por desmontar a própria Monar-

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se aprofundando.

Regência exatamente porque o Estado não confiava na

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Uma

sociedade

escravista

como

a brasileira

blo-.

aspectos

menos

importantes

também

de-

vem ser considerados. A ideologia do Império Brasilei-

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A

o

ro sempre foi a de que a Monarquia era a civilização,

lação, os escravos. Por sua vez, os que possuíam escra-

enquanto a República era a barbárie. Esta foi, inclusive,

vos e, portanto,

parcela da violência

a ideologia da diplomacia brasileira no século XIX. Di-

legítima não queriam ingressar nas forças armadas, que

plomacia que foi brilhante, exceto em alguns momen-

tiveram de ser recrutadas nas camadas intermediárias

tos, quando ela tinha que seguir as razões de Estado,

da sociedade. Por outro lado, a hierarquia do exército

como qualquer outra diplomacia.

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queia o recrutamento de pelo menos metade da popu-

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Outros

do oficialato baseada no mérito.

detinham

uma

define-se pelo mérito. Mas, no Império Brasileiro, ela

definia-se pela própria estratificação da sociedade. A Guerra do Paraguai exigiu a constituição de um

exército. Na realidade, o Brasil não estava preparado para uma guerra, pois não dispunha de força armada

moderna.

Como

o Paraguai tinha essa força armada

constituída e moderna, tornou-se necessário que o Brasil montasse, pela primeira vez, um exército moderno, exército que vai para o Paraguai e faz a Guerra. Não se monta impunemente,

contudo, uma força

Durante todo aquele período da primeira à segunda

metade do século XIX, na ideologia do neo-imperialismo, Uruguai, Argentina e Paraguai eram países chama-

dos barbaresques, em francês, mesmo que se estivesse falando no Parlamento inglês.

O que se quer dizer com barbaresque Barbaresque é um lugar que não só pode como deve ser invadido para ser civilizado. A opção da Monarquia brasileira era

a seguinte: cabia provar que esta não era uma terra barbaresque. Era preciso provar que o Brasil não podia

“GUERRA

DO

PARAGUAI"

NA

HISTÓRIA

DO

BRASIL

81

e

DA

E

SIGNIFICADO

ser invadido, como o fora a Argélia, porque aqui havia

ca é a barbárie perdesse sua força, porque, na Guerra, O

um rei.

Brasil teve que se aliar com duas Repúblicas para lutar

Costumo dizer que a Independência foi uma revo-

contra uma terceira República.

lução conservadora no Brasil. A expressão pode pare-

Voltemos à nossa questão: como foi possível que,

cer paradoxal, mas é a mais apropriada. É uma revolu-

tendo uma estrutura incompatível com a existência de

ção,

um exército moderno,

porque

uma

colônia

transforma-se

em

Estado

o Império Brasileiro tenha se

soberano. Mas é conservadora porque, com a vinda da

envolvido em uma Guerra que exígia a montagem de

Corte portuguesa,

modernas

traordinário

este fenômeno

absolutamente ex-

da história do Brasil, essa peculiaridade

relaciona-se

forças armadas? Essa questão

com a forma pela qual o Brasil emerge como nação.

única da nossa história — a colônia colonizando a me-

Não foi um erro de visão dos estadistas do Império

trópole —, a iniciativa da metrópole tinha ido tão longe

do Brasil envolverem o país na Guerra do Paraguai. A

que ultrapassou o ideário do senhoriato brasileiro, um

Guerra

senhoriato que estava realmente inventando uma na-

social do Império, porque criava um exército moderno

ção.

incompatível

A fórmula da Independência brasileira deixou-nos

realmente

comprometia

a estrutura política e

com o escravismo. Mas, se a Guerra não

foi um erro, ela foi uma necessidade.

O eixo da vida

um legado da colonização sob a forma de um Império,

política brasileira no século XIX girava em torno dessa

que era uma garantia de continuidade. A idéia do Impé-

contradição.

rio, portanto, era uma idéia de preservação territorial e,

Neste sentido, pode-se dizer que a grande vanta-

até mais do que isso, era uma idéia expansionista, que

gem que tivemos

se apresentou, desde o início, nas intervenções Cisplati-

vencer a Guerra, mas participar dela, porque ela expôs

nas.

Mas o fato é que, com a Guerra, a aliança brasileira com a Argentin a e o Uruguai fez com que a afirmação ibl pú Re a e o çã za li vi ci a é a ui rq na Mo segundo a qual a

ga

E

E

a

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O

com a Guerra do Paraguai não foi

as contradições, tornou pública e trouxe à tona a questão central da política brasileira da época, questão que se resolveu

com

a República,

ou

que,

pelo

começou a se resolver a partir da República.

menos,

| |

|

CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE, HISTÓRIA E CULTURA Representações literárias e projeções da Guerra do Paraguai nas crises do Segundo Reinado e da Primeira República Francisco Alambert “É providencial que um tirano tenha feito morrer todo esse povo guarani. Era

preciso purgar a terra de toda essa excrescência humana.

Sarmiento

“Todos os que até hoje venceram participam do cortejo triunfal, em que os dominadores de hoje espezinham os corpos dos que estão prostrados no chão. Os despojos são carregados no cortejo, como de praxe. Esses despojos são o que

chamamos bens culturais.”

Walter Benjamin

CIVILIZAÇÃO

E

BARBÁRIE,

HISTÓRIA

E

CULTURA

85

refletindo

cultuada década de 1920 foi “fornecer aos nazistas as

certa vez sobre o significado do interesse

palavras de ordem utilizadas para impor o terrorismo

pelo estudo dos anos 1920 em seu país,

cultural”. Querendo ou não, contribuíram para um mo-

notou que, se olhássemos com atenção, veríamos que

mento que, hoje quase todos concordam, foi o ápice da

em

“barbárie moderna”, engendrada no seio da “civilização

muitos de seus aspectos um profundo saudosismo dos

européia”, como o filósofo frankfurtiano e outros pen-

anos 1880. Do mesmo modo, nos anos 1950, época em

sadores de esquerda demonstraram.

filósofo

os anos

alemão T.W.

1920, pelo menos

Adorno,

na Alemanha,

viviam

que Adorno escrevia, vivia-se a nostalgia dos 1920, que

No Brasil — pode-se pensar também — boa parte

culturalmente representariam o auge do vanguardismo

dos temas e dos “mitos” modernistas serviu para justifi-

modernista e das conquistas da civilização: “o caráter

car o Estado autoritário e disfarçar as contradições e

insólito dos anos 20 é o espectro de um espectro”.! Intrigado com as dimensões e os significados dessa

imposturas de nosso capitalismo, muito mais bárbaro

fantasmagoria histórica, Adorno observa que, para além

mais raro seja notar que, também entre nós, alguns dos

das grandiosas vitórias dos “anos modernistas”, uma

discursos produzidos no mesmo momento da “revolu-

de certos discursos criados na

ção modernista” tinham igualmente seu alicerce finca-

das principais funções

que civilizado, e isso não é grande novidade. Talvez

SA ES IL

SS

SS

Lg

PARAGUAI

e

SE

Para os mais argutos observadores

do em determinadas visões oriundas do passado oito-

do período,

raigada a pressupostos rômânticos e a imagens impe-

era certo que o país que saía da Guerra não era mais o mesmo. Para quem se interessava pelas sutis mu-

riais maldisfarçadas.

danças na vida cotidiana, em seus ritmos dissolutos,

centista. Uma fantasmagoria (no sentido adorniano) ar-

mais

em seus silêncios e em seus acordes repentinos, a “per-

recorrentemente povoaram as mentes e as ilusões de

cepção das temporalidades em choque que põem em

certos intelectuais da Primeira República foi certamente

movimento

a Guerra do Paraguai e seu caráter heróico e “civiliza-

ção antigo/moderno”,

dor”. Ressalte-se que os anos em torno do episódio

das

representam momentos decisivos na afirmação de ima-

que, “com o final da Guerra contra o Paraguai, a per-

gens e complexos ideológicos em formação, que, para

cepção espaço-temporal mudava

muitos, só se tornarão plenamente visíveis a partir dos

ciedade

anos 1920, com o movimento

foge

Desses

mitos

modernizadores,

um

dos

que

modernista e a crise da

e fazem alterar os significados da oposi-

transformações

e que caminham de

todas

brasileira”? Machado

às classificações,

par e passo era claro

as ordens,

radicalmente na sode Assis,

autor que

irônico

e certeiro

anotou

numa crônica de 1894: “Não há dúvida de que os reló-

República Velha. Na década em que a Guerra do Paraguai acabou —

gios,

depois da morte de López, andam muito mais de-

pode-se afirmar — teve início um movimento intelec-

pressa.” O tempo, Machado já sabia, não era mais O

tual que atingiu amplos setores da cultura (desde a

mesmo,

literatura até a engenharia e a filosofia) e que se con-

dernização. Suas contradições já se tornavam prata da

vencionou chamar de “Geração de 1870”. “Pré-moder-

Casa.

nistas” para uns, “pós-românticos” para outros, os inte-

e instaurava-se

a ordem

acelerada

da mo-

A civilização, como sonhavam alguns liberais, com

lectuais mais ou menos afinados com esse grupo (entre

sua maquinação

eles Euclides

Raul

ração das atividades, estava se instalando entre nós,

Pompéia, José Veríssimo), de diferentes maneiras, cons-

tentando se acomodar a uma economia predominan-

cientes ou não, puseram-se a refletir sobre as ambiguúi-

temente

agrária, a uma

dades do surgimento da nacionalidade brasileira, gesta-

nhorial,

a um

da Cunha,

o visconde

de Taunay,

da no ventre imperial-escravocrata e parida numa guerra,

da vida, com sua mudança

Estado

mentalidade

malformado

e acele-

escravista e se-

e imperial, a uma

sociedade machucada — embora orgulhosa — pela

vitória numa guerra sangrenta. O mundo em que à

o

RR

DO

ooi di o

PP

A GUERRA

-

86

CIVILIZAÇÃO

E BARBÁRIE,

“civilização” deveria se instalar e adaptar não era, assim,

HISTÓRIA

E CULTURA

87

Machado de Assis

dos mais promissores.

O medo da “barbárie”, do retrocesso que poderia

Numa crônica de 1/11/1864 do Diário do Rio de Janei-

significar a perda do privilégio e da hegemonia cultural

ro, Machado de Assis, num misto de ironia e um tanto

e política, quer reconheçam os intelectuais do período,

de apreensão (que denuncia as incertezas do período),

quer

entre

relatava um eclipse solar ocorrido dias antes. Lembrava

E

“civilização” e “barbárie”, herança, entre nós, da Guer-

que, segundo os “incas” (povos “primitivos”, bárbaros),

50

ra, era uma espécie de obsessão necessária de intelec-

um eclipse é um prenúncio que pode decidir a sorte

tuais que tentavam entender e influenciar um mundo

dos contendedores numa batalha. E alerta: “aviso aos

em mutação. A Guerra podia ter acabado, mas a inten-

soldados brasileiros”. Isso, sem dúvida, caracteriza o

ção dos “civilizadores” de impor seu projeto, não im-

clima de apreensão

não,

esteve

sempre

presente.

A oposição

do momento,

mas também

de-

continuou até muito depois. É

monstra uma das estratégias que um defensor da causa

interessante observar que, após exaustivamente traba-

brasileira usava com astúcia: criar expectativas, tornar a

lhada, essa oposição desdobra-se no tempo, pode ser

Guerra um evento a mais nas emoções contidas nos fo-

reutilizada em novos contextos, em que crises políticas

lhetins para mobilizar consciências, despertar paixões.

portando a que preço,

se avizinham.

Nesse momento,

a invenção do clima de guerra, a

Neste ensaio perseguirei em sobrevõo a construção

criação de seus espectros, de seus discursos civilizató-

dessas oposições para as justificativas políticas e cultu-

rios, já ia longe. É sempre bom lembrar que a popula-

rais de estados de poder, criadas e recriadas nas crises

ção para a qual Machado escrevia não foi consultada

sucessivas do Segundo Reinado e da Primeira Repúbli-

para participar de uma luta cujo sentido passava longe

ca, reinventadas através da imagem fantasmagórica e

em suas vidas cotidianas. Os episódios tragicômicos das

mitificada da Guerra do Paraguai e de seu destino civi-

forçadas convocações de “voluntários” — em que ho-

lizador, tal como a viram Machado de Assis, o visconde

mens eram literalmente aprisionados e enviados à força

de Taunay e Baptista Pereira. Pois foi da Guerra e de

para o campo de batalha — demonstram com clareza

seus espectros, do ventre mesmo da “barbárie” bélica,

esse distanciamento perigosíssimo para a manutenção

que nasceu nosso caminho na “civilização” e boa parte

do conflito e dos interesses do Império.

de seus impasses.

Nesse contexto, escritores como Machado eram de

1 CMRE

88

A sp

IErRa cdi siem

fundamental

E

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TT

=

rh

GUERRA

DO

PARAGUAI

=

importância para o “espírito” de guerra.

dos pilares de sustentação das formas modernas de

Eles literalmente formavam opiniões, eram os legitima-

diálogo entre as nações,

dores do espírito bélico. Esse é um dos raros momentos

cos, devem igualmente ser negligenciados. Nessa estra-

em que a “função social” do escritor é claríssima. Em

tégia de convencimento, a Guerra vai-se tornando uma

suas influentes crônicas, escritas no início do conflito,

iminência, quase uma necessidade. As argumentações

Machado realiza esse trabalho, manipulando habilmen-

diplomáticas só adiam a propalada (ou desejada?) luta:

te os temas da civilização contra a barbárie.

“com selvagens não há outro meio”, sentencia o autor

O maior alvo de suas ferinas críticas será, evidente-

de Dom

como

Casmurro.“ Do mesmo

os esforços diplomáti-

modo,

Machado,

não

mente, o “tirano” Solano López. Numa de suas crônicas,

sem um certo contragosto, atacava a imprensa da “civi-

o escritor do Cosme

Velho, satirizando o líder para-

lização” européia por tentar denegrir a imagem do país.

guaio, investe sutilmente contra as pretensões demo-

Os jornais da Europa ressaltavam nosso intervencionis-

cráticas sul-americanas: “S. Excia. é, antes de tudo, de-

mo, nossa tendência à anexação. Caberia aos intelec-

mocrata

tuais daqui

americano;

(...) Democracia

americana



- naqueles climas — quer dizer: companhia de exploração dos direitos do povo e da paciência dos vizinhos.

inverter essa lógica,

resistir às críticas e

manter-nos no campo da civilização.

As imagens

do barbarismo

guarani contra nossa

Déspotas com os seus, turbulentos com os estranhos,

civilização

sem grandeza moral, sem dignidade política, incapazes,

chocantes. Ainda no início do conflito, Machado reflete:

presumidos, gritadores, tais são os pretendidos democratas de Montevidéu e Assumpção (...). Assim, a verdadeira “democracia” nos trópicos deveria ter um novo

sentido, por exemplo, assumir o discurso contra o imperialismo paraguaio, ao gosto dos interesses dos governos aliados e da Inglaterra: “Opor uma barreira às invasões imperialistas, eis o dever de um bom democrata americano.” Democracia e guerra dão as mãos.

Se a idéia democrática

precisa ser colocada em

questão para justificar a ação militar, também alguns

vão-se

tornando

“Se, depois do espetáculo

mais

e mais

evidentes

e

das orelhas enfiadas numa

corda e expostas à galhofa dos garotos de Assumpção, houver um país no mundo que simpatize com o Para-

guai, não precisa mais nada — esse país está fora da civilização.”7 Ser ou não ser civilizado passa a significar “fazer ou não fazer a Guerra. a

Comentando a visita de chefes “orientais” ao Rio,

após a “paz” assinada em 20 de fevereiro de 1865, o cronista exibe com arrogância e um ódio maldisfarçado

seus pressupostos:

“Pouco

valem os visitantes; mas

Dt

O

S,



0,

CIVILIZAÇÃO

E BARBÁRIE,

HISTÓRIA

E CULTURA

89

quando homens da natureza daqueles, dos quais o pri-

Basta isso? Ainda não. Se o império é fogo,

meiro se adorna com uma sanguinolenta celebridade, depois de uma luta em que acabam de fugir, deixam a

Também é luz: abrasa, mas aclara.

cena de suas façanhas, e vão confiantes e tranquilos pisar a terra do inimigo, é uma vitória isso, é a homena-

gem da barbárie à civilização.”8 Lenta

e sutilmente a Guerra,

segundo Machado,

deixa de ser uma temeridade para se tornar orgulho, desejo escondido no inconsciente nacional, que não pode ser represado: “Todos desejam a entrada das forças libertadoras.”? “Todos

os espíritos estão voltados

para o sul. A guerra é o fato que trabalha em todas as cabeças, que provoca todas as dedicações, que desper-

ta todos os sentimentos nacionais.”10 O fruir a Guerra deve ser experimentado como êxtase, como glorificação dos mais altos ideais civilizatórios. Suas agruras se consubstanciam nos símbolos da força e do saber — em

fogo, em luz — para alcançarem a “justiça”, a “liberdade”. Por um momento, a Guerra torna-se a religião da nação em comunhão, e o escritor, seu capelão. Para a expressão de tais sentimentos, agora claramente extre-

mados, a lírica seria o lugar mais apropriado: Então (nobre espetáculo, só próprio

De almas livres!), então rompem-se os elos

Onde levar a flama da justiça, Deixa um raio de nova liberdadeM Diante

de tal espetáculo

de comoção,

a formulação

ideal “quem está contra a guerra está contra a civiliza-

ção”, ou “quem é a favor da paz é bárbaro”, atinge todo o seu poder de persuasão. Esse sutil trabalho de convencimento se estrutura naquilo que Alfredo Bosi defi-

niu com brilho como sendo a estratégia da linguagem machadiana: aquela que “vela as negações radicais com a linguagem da ambigúidade”.!2 Mas mesmo aceitando essa ambiguidade básica do autor, ou seu ceticismo de

maturidade (cujas consequências narrativas e políticas Roberto Schwarz tão bem explorou), não seria possível

pensar que, no tocante à Guerra,

essa ambigiiidade

quase se desfaz, e o cronista não hesita em exaltar o partido do Império? Raymundo Faoro já observou que o exército não gozava de “boa imprensa” para Machado. Não se tratava de fazer uma apologia da instituição. De fato, para o

escritor (nesse caso “a serviço da estrutura dominante”), o exército era “apenas um elemento

perturbador da

ordem social, sem lhe perceber nenhuma missão nacio-

De homens a homens. Coração, família,

nal”.!2 Em Machado, a glória militar “se confunde com a

Abafam-se, aniquilam-se: perdura

reação civil, com o povo em armas, pronto para defen-

Uma idéia, a da pátria (...)

der a Pátria e vingar os ultrajes”.lí E penso que pode-

DO

GUERRA

A

PARAGUAI

dm

é. Rg

O ma

90

mos acrescentar: para defender a idéia de “civilização”

obras do fim do Romantismo e do início do Realismo

contra “barbárie”.

entre nós.

Experiência e vivência são as palavras-chave para se entender o melhor da obra do escritor. Antonio Can-

O Visconde de Taunay Uma

dido notou que, em Taunay — esse “esteta de sangue

imensa literatura de cunho memorialístico,

ficcio-

nacionais.

Mas se, por exemplo,

a

campanha

de Canudos, um outro conflito fundamen-

E) si ri

plástico e consciência

dos problemas

econômicos e

sociais”.!5 Num certo sentido, o crítico repassa e adensa consagrada

por Sílvio Romero,

segundo a

a imagem

gou Os sertões, de Euclides da Cunha — obra e autor

qual a grandeza

que se tornaram tão mitificados quanto o próprio even-

sentido

to —, a Guerra

exato “sentimento da paisagem”.lé Uma paisagem em

E

Eae

resultando daí “um brasileirismo, misto de entusiasmo

tal para os rumos que tomou o Brasil recente, nos le-

Re

Lam,

+.

Ei

E e

pu Ea porq

)

s

a

E

ri

a

pi

versos problemas

" e el

do a medida de sua importância nas formações dos di-

E nal fo

dE

E E;

nal, político e militar foi escrita sobre a Guerra, dan-

francês” —, “a paisagem deixou de ser um espetáculo: integrou-se na sua mais vivida experiência de homem”,

do Paraguai criou seu clássico em 4

além

de Taunay,

de Machado

que

o levava em certo

e Alencar,

residia no seu

fran-

que a Guerra e as misérias humanas se confundem e

cês — primeira língua do oficial de engenheiros e fi-

combinam com o lado obscuro e desconhecido da Na-

lho de franceses Alfredo d'Escragnolle Taunay,

tureza e com a natureza básica dos homens, primitivos,

Retirada

qual

ele

da

Laguna.

começou

Escrito originalmente

a escrever

a obra,

em

e na

a partir de

1868; editado em 1871 em gráfica brasileira e traduzi-

selvagens e guerreiros. Em

suas

Cartas da

Campanha

de Mato

Grosso,

do para o português em 1874 —, o romance narra as

Taunay reclamava do “indiferentismo” que tomava con-

agruras do tempo e do meio que atingiram uma expedi-

ta do grosso da população diante dos acontecimentos

ção brasileira e sua heróica luta contra o inimigo guara-

da Guerra. Diante de um problema parecido com aque-

ni em Mato Grosso, na região que compreende a fron-

le que enfrentou Machado, Taunay se põe a escrever o

teira com o Paraguai, até o Rio Aquidauana. Obra de

romance como uma espécie de intervenção nesse esta-

cunho memorialístico, porém escrita com um rigor geo-

do de espírito. Com essa intenção difusamente militan-

gráfico obsessivo e uma emotividade cativante, o livro se tornou, para muitos, uma das mais significativas

te, elabora a narrativa de um mundo arruinado, tendo

como tema principal uma derrota ocorrida em terras

E CULTURA

21

OO

A Retirada da Laguna pode, assim, ser lída como

obra é um convite à construção da nacionalidade e um

um

aviso de que esta mesma

batalha, mas não a Guerra. Mas — e isso é muito signi-

construção

está em perigo

canto

de derrota

da civilização,

que

perde

uma

constante. A barbárie está solta lá fora, escondida entre

ficativo —

a natureza exuberante, e pronta para atacar à civiliza-

acaba por tornar a oposição entre civilização e barbárie

ção que demora a se formar.

sensivelmente mais complexa:

é dedicada à natureza, o que

em

-

tal atenção

Hardman anotou com precisão que “toda uma tradição

se levantava de uma depressão onde corre um riacho.

um

alerta

à “civilização”.

Francisco

ps

Fo

historiográfica e memorialístico-ficcional, de matriz ro-

teve, desde a segunda metade do século passado, inteiramente

voltada

para

o jogo

de alternância

entre

iluminações utópicas e depressões antiutópicas dessa poética das ruínas”.

oo

.. era uma chapada extensa que, inesperadamente,

quanto

=

F.

pátrio

mas

e

O livro é tanto uma elegia ao orgulho e heroísmo

mântica, de alguns de nossos melhores prosadores, es-

=

HISTÓRIA

exuberantes em que viviam homens paupérrimos. Sua

o

o;

E BARBÁRIE,

Outra chapada, um pouco mais alta, e voltada para o sul, liga-se a um campo

Ca

ue

CIVILIZAÇÃO

imenso, o mesmo que Lopes,

numa primeira incursão,

batizara “Campo das Cru-

zes”; e no fundo do qual se erguia a nossa baliza— o morro da Margarida. Tem o perfil deste pico algo de notável em sua irregularidade elegante. Já da Bela Vista o avistáramos; agora o saudamos como a velho

Uma visão do país e de seu destino vai-se formando

amigo.»

ao longo dessa poética riscada por um sentimento difuso da condição nacional, que combina furor e melanco-

A grandeza épica das paisagens atenua o peso da derro-

lia quanto às origens e possibilidades de instauração do

ta, relativiza as forças. A natureza brasileira, ninguém

mundo civilizado em nossas terras: “Toda a beleza pic-

acreditou nisso mais que Taunay,

tórico-dramática da narrativa de 4 Retirada da Laguna

talvez nosso bem maior. Somos superiores porque a

(...) reside talvez nessa melancolia recortada por cerrados insalubres que não conseguem firmar limites inter-

temos e não somos bárbaros, somos heróicos descen-

nacionais, esse não-lugar das bandeiras, dos emblemas

civilidade.

e das divisas, esse anticlímax de uma fuga que se pro-

é nossa grandeza,

dentes de europeus, temos nosso quinhão garantido de Os paraguaios,

7 os guaranis,

são primitivos,

quer

longa nela mesma, tornando fantasmagóricos os mar-

dizer, estão tão mais próximos da natureza que podem

cos distintivos da nacionalidade.”18

ser vistos na verdade como parte dela. Sua vitória, nes-

|

|

92

aee

pe

rod

A

mesa

GUERRA

que os franceses durante

vel. Mas —

“como uma

o iluminismo

um

tanto

tosco de Taunay

poder conhecer e dominar a natureza, os instintos. Do

a grandeza fundadora do Ocidente, dos heróis do Pelo-

mesmo

poneso...

modo

como

ganhávamos

as terras “amigas”,

Após.a Proclamação da República, o tema da Guerra do

civilidade oitocentista, termina por propalar a grandeza e a humildade da civilização contra a barbárie. Os pre-

xado de lado, substituído pelos imperativos da constru-

dor. Um deles, E. Aimé, no prefácio da terceira. edição francesa, relaciona A Retirada com um clássico épico Agar

de guerra, a Retirada dos dez mil, de Xenofonte. E; am RA e O

resse da narrativa e do heroísmo das tropas, proclamamos A Retirada da Laguna superior à que foi chefiada e narrada por Xenofonte2

o

cera

Atualmente, feita a comparação, é com a mais berfeita convicção que, sob o duplo ponto de vista do inte-

O Ta

Ei

ie

T

O

,

O

a

ada trad

gi E a

RA

O

ge

surpreendentemente, decreta:

ih

]

À

+

te

= -

Baptista Pereira

4 Kelirada da Laguna completa, por assim dizer, o projeto de Machado. Escrito em francês, a língua da

faciadores franceses, providencialmente, vieram ao encontro desse projeto. Eles forneceram o aval do civiliza-

moDa

ressurrecta”, 2! no quinhão que nos

cabia de heroísmo, poderíamos nos imaginar revivendo

transformava a derrota em prenúncio da vitória.

i

Roma

a sua Revolução se viam

a civilização define-se justamente por

decifrávamos o enigma do território, estávamos condenados a vencer os paraguaios: a ideologia da civilização

ms

PARAGUAI

sas condições, num primeiro momento, é compreensíassim acredita

Eme

DO

Definitivamente, com o aval francês e a grandeza dos clássicos, entrávamos na civilização com nossa guerra

privada. Da França nos vinha a lição: do mesmo modo

Paraguai e seu aspecto civilizador é razoavelmente deição republicana. Opiniões influentes, como a de Benja-

min Constant, negavam à causa bélica aspectos muito positivos. Curiosamente, em 1928, pouco antes da grande crise econômica que no ano seguinte anunciará a grande crise da Primeira República, estribada no poder

militar e nos grupos oligárquicos, o tema reaparecerá com vigor. Naquele ano, o influente intelectual Baptista Pereira pronuncia uma série de conferências para os

estudantes de Direito de Belo Horizonte, palestras posteriormente publicadas. O objetivo de Pereira era retomar o tema da guerra da civilização contra a barbárie, defender o Brasil dos “difamadores” e “restaurar a ver-

dade histórica”. O título de seu trabalho:

Civilização

contra barbárie22

Parente de Rui Barbosa — e considerado por amigos seu legítimo sucessor —, liberal-conservador, autor

CIVILIZAÇÃO

E BARBÁRIE,

HISTÓRIA

E CULTURA

93

de estudos políticos e literários (como Figuras do Impé-

tenha sido inspirado na utopia iluminista Facundo

rio e outros ensaios, 1931) e romances (como A ilusão

civilización

7 barbarie (1845),

russa, 1924), Pereira foi um dos mais atuantes intelec-

Sarmiento.

Como

tuais dos anos 1920, embora seu nome raramente cons-

aproxima-se muito mais do clima romanesco: fala de

te da bibliografia atual sobre o tema. No livro, o ideólo-

cartas secretas nunca reveladas, de espiões e conspíira-

go reencena

(a

ções internacionais planejadas na Europa, na existência

ditadura de López, o suposto ódio ao Brasil e aos lusita-

de documentos secretos que inverteriam opiniões con-

nos) e acrescenta a questão fundamental dos anos 1920:

trárias.

argumentos

da época

da Guerra

de Domingo

ensaio historiográfico,

Faustino

entretanto,

“Modernidade” e “Brasilidade” como os índices da “Ci-

O autor esforça-se basicamente por demonstrar que

vilização”. Seu discurso é característico de certos inte-

o Brasil teria entrado na Guerra a pedido de liberais

lectuais da chamada

“transição” para o Modernismo,

exilados. Ignorando as especificidades históricas do Pa-

aliando o formalismo rocambolesco dos oradores arri-

raguai, que ele entende como atraso e barbarismo, pre-

vistas da Belle Époque carioca com o bacharelismo em-

ga um nacionalismo formalista e uma ideologia inter-

postado da Faculdade de Direito de São Paulo.

vencionista. Em sua busca sistemática de recuperação

O objetivo de Baptista Pereira era fazer esquecer os

dos mitos do passado, Pereira se detém especialmente

interesses do passado para defender os interesses pre-

no argumento da “civilização”, nervo da famosa carta

sentes de um grupo prestes a ser vitimado pela crise

em que o embaixador inglês em Assunção e mais tarde

econômica — cujos efeitos já sentia desde o fim da 1

em Buenos Aires, Edward Thornton,

Guerra Mundial — e que perdia rapidamente a hege-

guai de praticar vícios e imoralidades inomináveis e,

monia política. Do mesmo modo que seus antecesso-

principalmente, de dificultar a entrada de mercadorias

res, Baptista Pereira omite a barbárie produzida pelo

vindas de fora.23

acusava o Para-

Estado que se modernizava e que tinha que criar, mais

O objetivo de Baptista Pereira é claro: inventar a

do que nunca, os signos de uma unidade imaginária,

tradição do bom país. Por isso, ainda que republicano,

em nome de um modelo civilizatório. O contexto havia

tem de matizar a crítica ao Império, necessária para

mudado muito, mas as intenções e os argumentos per-

firmar a República nascida de pactos de grupos de elite.

maneciam,

É bem provável que Civilização contra barbárie

o

Agora urge criar a nação, a “brasilidade”. Daí a interpretação da Guerra tem que mudar de caráter. Não será

94

A e







e

me

o

DO

PARAGUAI

ii

mais atestado de decadência do Império, mas batismo

Brasil estava construindo nos trópicos uma civilização

da nação moderna, que não aceita a convivência com

original e vitoriosa: o que nos faltava”, dizia ele, “era o

ditaduras,

orgulho nacional”:

radicalismos,

etc. A violência

é monopólio

paraguaio. D. Pedro

Daí, já nesse primeiro discurso, rejei-

tava veementemente

II, ficamos

sabendo, era

liberal. Apenas

|

qualquer culpa brasileira em rela-

ção à Guerra do Paraguaí. Um trauma desse porte deve-

não aboliu antes a escravidão porque sabia queo impac-

ria ser combatido com todas as forças, pois ele em nada

to iria destruir a economia brasileira. Deixou para fazê-lo

ajudaria para a consolidação do nosso destino, que era

de maneira lenta e gradual (para Usar expressão recente-

formar nos trópicos uma nova civilização. Sem hesitar,

mente consagrada por poderosos em situação parecida),

e bem antes de Gilberto Freyre, o escritor declara que o

dentro do espírito das leis e da Constituição. A prova

Brasil era de fato “um país mestiço”, mas que isso, longe

disso é que, em 1870, alforriou seus próprios escravos. E

de ser “um defeito”, como

o maligno López, ele jura, traficava escravos brancos. O

era a nossa força: “Não há raças puras superiores. Supe-

imperador, dessa maneira, era a encarnação não do es-

riores só há as raças mestiças.

pírito do Império, mas da República. Ele era racional,

mestiça e superior (...) Criamos uma civilização tropical.

gradualista, defendia os interesses “corretos”. Era mais

República em declínio com a antiga Monarquia? O crítico literário Wilson Martins já havia percebido que, “ven-

cida a mentalidade polêmica dos tempos heróicos, a

República já estava sentimentalmente reconciliada com a Monarquia, ao mesmo tempo em que revelava seus

próprios pressupostos”.24 Em

O Brasil e a raça, seu livro anterior

Baptista

Pereira, falando desta vez aos estudantes de direito de São Paulo, propõe “pela primeira vez a idéia de que o

Brasil é uma

raça

No mesmo ano em que Pereira prega seu evangelho, publicam-se,

Mas de onde vinha essa inesperada comunhão da

O

Reabilitamos os trópicos.”25

liberal que os liberais: “a história da Abolição no Brasil é a história do Imperador”, dirá Baptista Pereira.

queriam os teóricos da raça,

entre outros, Macunaima,

de Mário

de Andrade, e o melancólico Retrato do Brasil, de Paulo

Prado. Na época do “herói sem nenhum eram

poucos

os que gostariam

caráter” não

de encontrar um

bom

caráter, mesmo que ilusório, para uma nação que mais

e mais perguntava a respeito do sentido de sua ordem política e de seu lugar na modernidade.

O “mau-caratis-

mo” em torno da Guerra, passados os anos, ainda era insuportável. Resolvê-lo era a questão da “brasilidade”. Por isso, naquele mesmo ano, empresários e intelectuais paulistas saúdam o autor de Civilização conira

o

0

GUERRA

CIVILIZAÇÃO

E BARBÁRIE,

HISTÓRIA

E CULTURA

55

barbárie em banquete no Automóvel Clube. Era uma

mas também há algo de estranhamente grandioso, “he-

retribuição.

róico”, para ficar no glossário de Guerra,

A Guerra foi a primeira tragédia da República, mes-

sia. Por um lado,

nessa teímo-

mitífica a história, por outro, luta por

mo antes de ela existir de fato. Por isso, os debates

se apegar a valores que remetem a sonhos de liberdade

sobre o sentidos do conflito têm que ressurgir, como

ainda não realizados.

farsa, justamente na primeira grande crise republicana.

Nesse sentido, Baptista Pereira retratao típico líbe-

Aqui reside o recado do passado, dessa visão do passa-

ral brasileiro de qualquer década, que sonha colocar as

do, ao presente. Baptista Pereira esforça-se em justificar

“idéias no lugar”, mas que frequentemente

e conservar forças que estavam em crise, principalmen-

sacrificar seus princípios, tem que pactuar com os impe-

te aqueles valores liberais forjados numa realidade hos-

rativos canhestros desse mundo enviesado, que se ar-

til e obscura que historiadores como Sérgio Buarque de

vora em civilização. E é invariavelmente derrotado. No

Holanda ou Roberto Schwarz já apontaram. Um esforço

caso presente, amarga a contradição de defender a bar-

para resgatar o “valor” da civilização forjada na época

bárie da Guerra em nome de uma civilização declinan-

da Guerra, cuja resultante política foi a ordem oligárqui-

te. Aqui, infelizmente, podemos

ca, e que seria, na década seguinte, significativamente

vez as palavras terríveis do pintor espanhol Francisco

negada, substituída por outras formas de dominação

Goya, que retratou e se aterrorizou com muitas guerras,

tão ou mais autoritárias, mas bem menos

que viu claramente os horrores da civilização em armas:

liberais, no

sentido de Baptista Pereira, Há muito de medíocre, é evidente, nesse esforço,

tem que

ouvir soar mais uma

Naquela época, como hoje, “el suerio de la razón produce monstros...”

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NOTAS

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GUERRA

DO

PARAGUAI

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T.W. “Les fameuses Anneés

Vingtl”,

in

14. Idem, p. 380.

Belo Horizonte, Itatiaia,

HARDMAN, Francisco Foot. “Antigos Modernistas”,

in Tempo

e história,

São Paulo, Companhia

das

- Apud HARDMAN, op. cit., 290-291. 4. Crônicas (1864-1867), W. M. Jackson editores, Rio

de Janeiro/São Paulo/Porto Alegre, 1946, p. 223.

1981, v. 2, p. 308.

ROMERO, S. História da literatura brasileira, Rio

pp. 211-212.

op. cit., p. 297.

17. HARDMAN, 18. Idem, p. 299.

19. A Retirada da Laguna (10º ed), São Paulo, Melhoramentos, 1935, p. 113.

24/01/1865, op. cit., p. 296.

20. Idem, p. XV.

07/02/1868, op. cit., p. 316.

21. BENJAMIN,

W.

“Sobre o conceito da história”, in

Do

Nau

16.

da literatura brasileira,

de Janeiro, José Olympio, 1943, v. 5, p. 102.

Letras, 1992, p. 290.

24/10/1864, op. ci

A. Formação

15. CANDIDO,

Modeles critiques, Paris, Payot, 1984, p. 49.

15/03/1865, op. cit., p. 348.

Obras Escolhidas, v.1, São Paulo, Brasiliense, 1986,

24/01/1865, op. cit., p. 299.

10.

21/02/1865, op. cit., p. 327.

p. 230.

nt: “A Cólera do Império”,

in Obra Completa, Rio de

Janeiro, Editora José Aguilar, 1959, v. III, p. 338. 12. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasi-

leira, São Paulo, Cultrix, 1978, p. 196.

13. FAORO, R. Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio, São Paulo,

na, 1976, p. 382.

Cia. Editora Nacional, col. Brasilia-

Zid, PEREIRA,

| Baptista.

Civilização

barbárie,

contra

São Paulo, Rossetti & Câmara, 1928. 25. À esse respeito, consultar POMER, León. La Guerra

del Paraguay, gran negocio!, Buenos Aires, Caldén,

1968. 24. MARTINS,

|

W. História da inteligência brasileira, São Paulo, Cultrix/Edusp, 1978, v. 6, p.443.

29. Idem, p. 427.

ICONOGRAFIA DA GUERRA DO PARAGUAI

Xilogravuras do

jornal Cabichutí (abelha, em guarani), feito pelos soldados paraguaios e

distribuído na linha

de frente. (Cf. “A gravura popular, outra imagem da Guerra”, de Tício

Escobar, no presente volume; fotos À

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Palácio de Solano López, em Assunção.

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Caricatura de Cândido da

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Fonseca Galvão, o Príncipe

CU QUALUM.

Don Obá, Distração, Rio de

]

Janeiro, Ano 2, nº 66, 9 jan.

1886. (Cf. “O Príncipe Obá, um Voluntário da Pátria”, de Eduardo Silva, no presente volume.)

“Onde estará Lopes?”, charge de 4 Vida Fluminense, Rio de Janeiro, Ano 1-3, nº 1-157, Typ. e

Lith. de Ed. Rensburg,

1868-1870. (Col. Biblioteca Nacional.)

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(Col. Pimenta Bueno.)





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setembro de 1867. (Col.

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Archivo Pitoresco, Lisboa, v. 9, 1966, p. 5.

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1868, pp. 150-151. mar. 28 13, nº I, Ano iro, Jane de Rio e, ens min Flu Vida 4 l. Aspecto de batalha nava

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Passagem de Humaitá,

19 de fevereiro de 1868. Os'encouraçados

Barroso, Bahia e Tamandaré

levam a reboque os monitores Rio Grande, Alagoas e Pará. A Vida Fluminense, Rio de Janeiro, Ano I, nº 11, 14 mar. 1868, pp. 126-127. iii

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Litogravura de Angelo Agostini, Guerra do Paraguai. Os encouraçados Silvado, Brasil, Mariz e Barros e Herval metralhando os paraguaios.

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Uniforme do exército. Argentina,

1

Coleção de figurinos para.a Guarda

nacional da Corte e seu município, desenho

assinado por Souza, 1840.

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dez. 1871-jan. 1872, pp. 70-79

Ano 3, nº 29,

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Os heróis da

Campanha do Sul,

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Suplemento da Semana Ilustrada, s/d.

Litografia, Aos heróis do

dia 6 de dezembro de 1868; com retratos do

Duque de Caxias, Visconde de Itaparica, Mena Barreto, Barão do Triunfo, Visconde do Herval, Gorgão, Deodoro da Fonseca, Eduardo Emiliano da Fonseca etc.

A Vida Fluminense, Rio de

Janeiro, 1868.

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de 24 de abril de 1865.

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Um posto de observação do Exército brasileiro no Paraguai, s/d.

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tenente-coronel Don Gaspar

Campos, prisioneiro de guerra, morto em 12 de

setembro de 1867.

Litogravura do tenente coronel

Gaspar Campos, s/d.

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Reprodução do quadro Regalo a los suscritores del album de la Guerra del Paraguay, de F. Fortuny, s/d.

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Jornal Cabichuí, Paso Pucu, Paraguai, Ano 1, nº 43, 3 out. 1867.

JUEVES

Asunrioa, Mago 24 de Ini,

EL CENTINELA. NSESHENGDEDNGICS)

EL CENTINELA. Gran aniversario. ZE DEN DE 1506.

Porama

q del

Paraguay,

prossto que ha prescociado

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Jamse hoo vista tu encónlra=-

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ado Eporcitos mas numepesos que los que formas Ja áctmal lacha.

La bomitera de macete famea en los

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do Paragaay defiende sa independeo-

cia y ibertad,

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7 la exantud,

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soldados del Paraguay.

Lacabardia vel oprobio han

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tosvasores al poé denmestras Lrincheres, de

La gloriosa 4 espléndida balalla del 24 Mayo de UMGO, es uno de

fos bechos

de srmsas mas grandes que hemos teni= du em el curso de la guerra, 7 los laureLes revogados em esla eslortada victoria, Som cl mas

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glorioso Umbre del soldado

ndo rãs bo malicra,

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Laser ron del = abochqio en elvarm

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un largo desfiladero de Loiques p arroHó por dos veces eosnto se le poso en sd nacionales vam b eslodar el primer qni- | transito com fosiblantes vartillerasque esvermario de esa mrmorabio joruada, / Le bizarro lreneral Kevo de refuerro, arroe E «Gentinelas al anlicipar ea Lecieraciõs laron álos enemi La columns del (,o sus bravos compaleros, se [lona de ore mandante Cabral avançó cobre lastrinches

y los wjéreitos

guilo, par que «l brillo de tas armas Ro-

paliicanas do ha sido empanado en la

canipalia mágua. Recordau, valicotes paraguaços, que el

eo do ataque del 24 [ue trazado por el abit guerrero, el

Ermo,

Martscal Los

per, y que esa victoria grandiosa dá obim-

visteis on dificuitad, ejecutando los mo

ras dei ijuvasor, y el Mayor Qlabarrieta com et Regimícato N.+40 destroró dos batsllo-

nes que estalam pro por los calos do las buleriaç enemigas, Despues de cisco horas y media de nm

encartitado combate, la victoria

dios vabentes Paragnavos, que ron 4 sus

campaiientos,

salndo

volvie-

travendo

mu

vimientosestratéjicos que os proparó vuestro General en lrefe.

cho armamento, prissonerosy tres ban= úeras. como Jos uiorunos (rofeus des

El General Resquin cavó con sus bravos

EMeruuraJinas dera, q hará una é ble en Jos anales del valur paraguavo, AL Exmo, MAmiscaL Lorkz, VENCER

El General Brugoez dió la sehal del ala- ) e rem victoria. que 4 las doce y coarto del dia y princi= es am bataila cam pal del 21 de Mavo, pio el ataque general. suceso que la bestaria cimsignarã em pó-

de caballeria sobro el ala irquerda

del

eoemigo— E] Comandanto Marcó sos bre el centro con sus infatigables infantes, EX La sonsapa VEL Sh pe Savo DE [SG

y dos regimicntos de caballeria, El ataque del costado derecho fuó conhado al impertérrito lieneral Diaz.

General Barrios Thevó el ataqueÀ la reserva y euartel general del enemigo por

miami on

de tua!

[E] nombre de tus gloriasse dilata 1 Tres pendoses Le formas el dosel,

Y elinmonso cauda! del ancho Plata Cum sus aguas fecanda ta laurel,

havia À murro feemeral em tarte r | Nuchachos! cu amostra pude veda ' a artEo ra rm gm Mer à lo hogar iu andar

w defendem valeposamunto La Gude gen -

cem 4 da tibertad de bie, genrrosa 7 heróica,

tuna Nactom

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cpiços dd partindo, 2d Ni NAN) En eedls, drato 7 Mer Berto eo e tabrsbader em los Ellad de lo | pu er Um E Contincia coluda voesro ot, ame dam dem nodos Dheco o ca prntni nos ye Dema alo mario,pues Fique ng rt pata tmalanr 2 Bros 4 Marti apra disforme mia ma Dt tda à

de te bulebgetesia,

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Paraguaço. Manana la República

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Em mera que agita lasaguas del Pala,

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cllicaidiiailiio

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que el à inato

empolado contra cl Paraguar. E. Cabiehiei,» quia com su tapido vel recorte Lar bosques, hrs edegado el tues dr las dores vide Los quansios acsteles meio

w pain qua & For bos paia at Aparicio,

mas su sábroso panab Ebasado ot cutos de lá Mança

bocamelta

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ltam!yo mus plisdos ban | bombaoe Mo os perdoa memques ateh

Jornal El Centinela, Assunção, Ano 1, nº 5, 23 mai. 1867.

e

A GUERRA DO PARAGUAI E A FORMAÇÃO DO ESTADO NA ARGENTINA León Pomer

A GUERRA

DO

PARAGUAI

E A FORMAÇÃO

DO

ESTADO

NA

ARGENTINA

115

Guerra do Paraguai pode ser interpretada de

ras, Os regimes políticos tidos como antagônicos, o re-

várias maneiras. A nossa está indicada pelo

gime econômico paraguaio considerado incompatível

título deste trabalho. Como conflito que en-

com uma sociedade civilizada, o Estado do país gua-

volveu quatro países, é possível examiná-la do ponto

rani desempenhando

de vista das problemáticas e situações específicas de

ções mais elementares do pensamento liberal da época,

cada um deles.

as ambições expansionistas

Para a Argentina, a Guerra foi um episódio de gran-

pez etc.

funções

que

agrediam

as no-

de Francisco Solano LóMa,

de importância na fundação e consolidação do Estado.

Todas essas leituras foram e são possíveis, porém

Para O Paraguai, significou a possibilidade de assegurar

existe uma que nos parece decisiva: o caráter absoluta-

um tipo de Estado, de estrutura econômica e de estrutu-

mente singular que havia adquirido a sociedade para-

ra social muito pouco parecidos com as respectivas

guaia, as funções que se havia arrogado o Estado e as

estruturas existentes ou em vias de criação nos países

limitações que tudo isso significava para o livre exerci-

com que deveria confrontar-se.

cio da atividade mercantil, industrial, agrícola e pecuá-

Nos estudos realizados sobre a Guerra, foram real-

çados diferentes aspectos:

os problemas

de frontei-

ria. Tratava-se de um “modelo” insólito e discordante do que era considerado como próprio da civilização.

A

116

GUERRA

A Argentina da década de 60

DO

PARAGUAI

O grupo dos construtores deste Estado, no qual,

do século passado

juntamente com os nomes

mencionados,

encontrare-

mos poderosos comerciantes, grandes proprietários de

A partir de 1861 começa na Argentina a formação do

- terras, profissionais liberais e chefes militares, percebia

Estado que terá continuidade até nossos dias. Tentati-

a necessidade de atender a várias exigências européias:

vas anteriores (em 1826, com a primeira Constituição;

abrir espaço para os capitais em busca de oportunida-

entre 1851 e 1861, com a tentativa da chamada Confe-

des para milhões de pessoas que o Velho Mundo preci-

deração

Precisamente

sava mandar para fora a fim de aliviar as tensões sociais;

em 1861, com o golpe final na Confederação Argentina

“abrir espaço também para a produção de matérias-pri-

liderada pelo general Urquiza, começa o processo diri-

mas e alimentos que pudessem atender às demandas

gido pelo general Bartolomé Mitre e destinado a organi-

emergentes da triunfante Revolução Industrial. Esse pa-

zar o Estado argentino.

norama permitia vislumbrar excelentes negócios, im-

Argentina)

haviam fracassado.

Esse processo ocorre em um país semideserto, com fortes diferenças regionais,

rivalidades

com

profundas

e antigas

entre as regiões, com caudilhos

que não

possíveis no âmbito pré-nacional, carente de um Estado

unificador do amplo espaço geográfico e capaz de projetar políticas de alcance global.

tinham interesse em perder sua autoridade, parcial ou totalmente,

nem

em

subordinar-se

a uma

autoridade

central e superior à sua.

O Estado que nasce e os perigos que o comprometem

Nos primeiros anos da década de 60, a Argentina era apenas

um

nome

que designava

um

extenso

espaço

geográfico, e não uma identidade aceita pela maioria de seus habitantes. Com essa matéria básica, iniciou-se uma

tarefa considerada imprescindível pelos mais importantes estadistas (Mitre,

Sarmiento,

Alberdi, Avellaneda

etc.), já que a única forma de ingressar no conjunto das nações consideradas civilizadas era constituir um Estado e, a partir dele, desenvolver uma nação.

Aqueles que iniciaram e lideraram a tarefa de constituir o Estado esbarraram em resistências diversas e percebe-

ram vários perigos que vinham de fora das maltraçadas

fronteiras. Por um lado, o Uruguai,

governado

pelo

tradicional partido blanco, era uma fonte de preocupações; por outro, o Paraguai, governado ditatorialmente

por Francisco Solano López.

O governo do general Mitre julgava ter razões para

A GUERRA

> Qual, Ntrare.

rios de Ercebia TOpéias: Ttunida-

LO precià SOCiais:

rias-pri-

DO

PARAGUAI

E A FORMAÇÃO

DO

ESTADO

NA

ARGENTINA

117

derrubar os blancos uruguaios do poder, substituindo-

reiro, e o porto de Montevidéu permitíria o desembar-

os pelos

que

colorados,

considerados

mais confiáveis e

com maiores afinidades com relação aos interesses ar-

das

forças brasileiras,

assim

como

de alimentos

para a tropa, material de guerra etc.

A instalação de um governo amigo em Montevidéu

gentinos.

O general Mitre temia uma eventual aliança de seus

dissipou as preocupações das esferas governamentais

inimigos internos com os dois preocupantes vizinhos;

de Buenos Aires. Mas, ao mesmo tempo, estabeleceu as

ou, no melhor dos casos, a transformação do Uruguai e

condições para submeter o Paraguai a uma espécie de

do Paraguai em eventuais “santuários”, de onde pode-

chantagem.

riam agir os que fossem contrários ao governo central

As comunicações do Paraguai com o -mundo exte-

emandas

radicado em Buenos Aires; ou onde se pudessem reunir

rior, sobretudo

Esse pa-

aqueles que pretendessem disputar com essa cidade

passavam pelo Rio da Prata, caminho inevitável para o

cios, im-

a liderança do processo constituinte do Estado e da

Oceano Atlântico. Como a navegação pelo rio tinha que

m Estado

nação.

ser feita por um canal que até os dias de hoje passa a

z de pro-

O governo de Mitre dedicou-se à tarefa de colocar

amigos no governo de Montevidéu e, mediante mano-

com

a Europa

curta distância de Montevidéu,

e os Estados

Unidos,

era fácil isolar o Para-

guai do resto do mundo, bloqueando o canal.

astuciosas, conseguiu que o Brasil

O país guarani, ao qual se atribuía um poderoso

realizasse uma operação militar. Como consequência

exército (o que com certeza era um exagero provavel-

da intervenção brasileira, que culminou com a ocupa-

mente divulgado segundo interesses escusos), aparen-

ção militar do território uruguaio,

temente

bras diplomáticas

os blancos foram

teve

que

aceitar as imposições

do

governo

eliminados do poder, sendo substituídos pelo general

argentino de Mitre, como forma de afastar o risco de um

Venancio Flores, que posteriormente retribuiria o favor

isolamento que, com certeza, o levaria à decadência.

recebido com a participação das tropas orientais, co-

Dessa forma, a política do general Mitre, primeiro

mandadas pelo próprio general, no conflito que não

governante de um Estado argentino que apenas come-

tardou em eclodir.

çava a esboçar seus vacilantes primeiros passos, asse-

Na Tríplice Aliança que enfrentaria o Paraguai, O

gurava a tranquilidade no que se refere à outra margem

Uruguai teve o papel de parceiro menor, embora nem

do Rio da Prata e neutralizava transitoriamente o inimi-

por isso desprezível. Flores era um reconhecido guer-

go considerado mais perigoso.

intãoÀ A

Dq" Fo

EM

A

DO

PARAGUAI

RE]

Lobaa Fr et

+

118

GUERRA

-—

existência de qualquer motivo para lutar contra o país

Too Digo

vizinho.

pira

Solano

a e

Ea

Es

Ri

nr

a

tm

Guerra externa e guerra interna López,

que já havia

tiria passivamente à ocupação pelas tropas brasileiras, e que te o significado

de um

do território oriental

Em segundo, faltava a constituição de um imaginário nacional que agisse como fator de coesão de vontades €

perfeitamen-

como formação de uma imagem de totalidade que preci-

avisado

que

percebia

bloqueio

do

não assis-

Paraguai,

sava ser defendida

deci-

contra as ameaças

de um

ditador,

apresentado como a própria encarnação da barbárie.

on

diu que sua única

E

Posto contra a parede, descartou a possibilidade de ren-

Em terceiro, porque nas províncias vizinhas ou pró-

á1

der-se às eventuais exigências, inclusive territoriais,

ximas do Paraguai existia uma população, de origem

i)

da Argentina e do Brasil..A Guerra tornou-se a única

guarani ou não, fortemente ligada ao Paraguai por vín-

HI

saída.

culos de idioma, de cultura etc., que não aceitava lutar

alternativa

era o conflito armado.

contra

aquele país

e a favor

de

um

governo

(o de

E

O ditador paraguaio era, com toda evidência, um

E

megalômano. Sua megalomania levou-o a desprezar os

Buenos Aires) no qual não via precisamente um amigo.

A

conselhos de seu pai e antecessor na presidência do

Finalmente, porque alguns líderes regionais argen-

a

país, Carlos Antonio López, no sentido de evitar a guer-

tinos observaram que a derrota do Paraguai seria um

ni

ra a qualquer custo. Sua falta de prudência nesse aspec-

golpe contra eles mesmos, pois precisavam contar com

n

to, a ofensiva dos seguidores de Mitre e do Império

algum

q

Brasileiro colocaram-no numa situação em que o confli-

Buenos Aires. Esse apoio poderia eventualmente ser

to armado era inevitável.

oferecido por Solano López, que, desse modo, evitaria

À a)

|

Para a Argentina a Guerra durou cinco anos (1865-

apoio

contra

o governo

central

instalado em

a constituição de um poder hostil e superior ao seu em

1870), e o custo em vidas e recursos foi extraordinaria-

potencial bélico.

mente elevado. Não só porque na frente da batalha as

Sem entrar em detalhes, diremos que, só na provín-

coisas não funcionaram da melhor maneira, mas tam-

cia de Entre-Rios, dois exércitos reunidos pelo caudilho

bém porque a frente interna se transformou em uma

verdadeira guerra civil. A Guerra contra o Paraguai era impopular por várias razões.

Em primeiro lugar, muitos argentinos ignoravam a

:-

Justo José de Urquiza debandaram, recusando-se a cru-

zar armas com as dos soldados guaranis. Os cinco anos da Guerra contra o Paraguai foram

cinco anos de cruenta guerra civil na Argentinaum ,

Mtadese

A GUERRA

DO

PARAGUAI

E A FORMAÇÃO

DO

ESTADO

NA ARGENTINA

19

conflito que provocou mais baixas do que as que o país

nos e dos homens de negócios, imbuídos dos ídeaís

sofreu na frente de batalha. O general Mitre viu-se obri-

liberais e materialmente interessados em ter campo li-

gado a retirar grande

vre para suas atividades mercantis e empresariais de

parte do exército argentino do

front paraguaio para evitar o desmoronamento do front interno.

toda natureza.

Além disso, a ditadura de Assunção era uma presen-

A Guerra da Tríplice Aliança serviu para assegurar

ça que negava os ideais de democracia (certamente limi-

as posições de um governo fraco, que estava tentando

tada) abraçados pelos homens

iniciar a construção

construir o Estado e a nação argentina. A inimizade ideo-

do Estado e, com

ele, da nação.

Muitos caudilhos regionais tiveram que aceitar a pre-

sença de um poder novo e superior, e outros foram literalmente liquidados.

As distâncias ideológicas No momento em que o liberalismo econômico parecia a única via para o progresso e a civilização, o Estado paraguaio, que monopolizava o comércio externo e in-

terno, era o proprietário quase exclusivo dos recursos

naturais, e construía empresas e ferrovias por iniciativa

própria. Isso só poderia ser considerado uma aberração. '* Como consequência disso, desencadeou-se uma furiosa campanha na imprensa de Buenos Aires, na qual

que se propunham

lógica não foi um fator menor no preparo da Guerra.

O grande papel da Grã-Bretanha Círculos importantes dos sucessivos governos britâni-

cos e fortes grupos econômico-financeiros da City certamente não nutriam simpatia pelo regime econômico e político imperante no Paraguai. Suas tendências, segundo pesquisa feita por um grupo de argentinos, seriam

no sentido de contribuir para a formação, nas antigas colônias espanholas,

de Estados capazes

de criar as

condições necessárias para a realização de bons negócios, o desenvolvimento de mercados para absorver mercadorias britânicas e aptos para produzir e exportar

uma das vozes preponderantes foi a de Domingo Faustino Sarmiento, a quem caberia, como sucessor de Mitre

matérias-primas e alimentos.

na presidência, terminar a Guerra.

dições. Antes e durante a Guerra, poderosos círculos

O parco espaço que restou no Paraguai para a atividade privada não podia despertar a simpatia dos gover-

O Paraguai de Solano López não possuía essas con-

ingleses de influência mostravam-se pouco favoráveis à permanência do regime paraguaio. Por isso, os emprés-

a

A

120

GUERRA

DO

PARAGUAI

timos que permitiram à Argentina de Mitre e Sarmiento

É evidente que o capital britânico possibilitou a

financiar a Guerra vieram da Baring Brothers, uma casa

Guerra e o extermínio de um modelo de regime econô-

bancária inglesa.

mico-e político incompatível com as grandes correntes

Essas operações financeiras significaram algo mais

de interesses e idéias. Possibilitar, no entanto, não é o

que uma simples adesão à causa dos aliados: foram um excelente negócio. O mesmo ocorreu no caso do Brasil,

mesmo que desencadear. As condições em que se vinha desenvolvendo a construção do Estado na Argentina

outras casas bancárias britânicas concederam

levaram o governo de Mitre à convicção de que o Para-

a quem

vultosos empréstimos que tornaram viável a empresa

guai de Solano López era um obstáculo que tinha que |

bélica,

ser eliminado.

Pes

A GRAVURA POPULAR, OUTRA IMAGEM DA GUERRA Ticio Escobar

A

GRAVURA

POPULAR,

OUTRA

IMAGEM

DA

GUERRA

125

À imagem guerreira combativa

foi usada como

instrumento de

terrível conflagração que sacudiu o Cone Sul

imprensa

latino-americano no final do século XIX está

moralização, propaganda e doutrinação, gerando um

suficientemente

e

eficaz veículo de informação que chegou a constituir

debatida em diversos aspectos de sua intensa história. É

uma arma a mais na luta. Porém, em forma paralela e

pouco conhecida entretanto certa iconografia popular

por vezes oposta às suas mensagens diretas, as gravuras

que surgiu naquele contexto e que é capaz de revelar,

publicadas na imprensa agiam como uma linguagem

através do circunlóquio da metáfora e das insinuações

estética que desenvolveu argumentos próprios e forjou

simbólicas, outros aspectos da Guerra. Esses aspectos,

uma expressão peculiar.

documentada,

analisada

dos

Entre as diferentes publicações que surgiram então,

imaginários coletivos, facilitam a compreensão de um

cabe destacar dois jornais, pela qualidade de expressão:

momento obscuro e promovem uma visão mais ampla

El “Centinela e, especialmente,

do conflito, que facilita o desenvolvimento de projetos

durante o ano de 1867, ambos eram sistematicamente

comuns de futuro para além das chagas da memória. A elevada taxa de alfabetização no exército para-

ilustrados com xilogravuras que reforçavam o conteúdo informativo e propagandístico das publicações. Na rea-

guaio foi aproveitada com inteligência pelo governo. A

lidade, os resultados foram muito mais longe: essas

embora agindo

à contraluz e a partir do âmago

o Cabichui.

Surgidos

A

124

GUERRA

gravuras, especialmente, repito, as do Cabichui, consti-

DO

PARAGUAI

Por outro lado, o fato de as publicações estarem

tuíram o fenômeno mais importante da gravura para-

diretamente

guaia até o século XIX e um dos elementos mais signifi-

bativo e difundir a propaganda

cativos

muita informação verdadeira aparecesse nessas pági-

na

história

da gravura

latino-americana

da

época.

orientadas para estimular o espírito com-

oficial impediu

que

nas. Os textos realçavam as vitórias nacionais e minimizavam o poder do inimigo.

Discursos, figuras

voluntarista e usando

Partindo de uma posição

continuamente

mecanismos

de

mistificação que visavam levantar o moral da tropa, os

A iconografia de E/ Centinela e do Cabichuí era dirigida fundamentalmente ao exército e ao povo combatente,

artigos não refletiam a verdadeira situação das forças

históricas da época: a desigual e dramática posição de

concebida para estabelecer com eles uma comunicação

um só país enfrentando a poderosa coalizão da Tríplice

eficiente e direta. Como

Aliança.

foi dito, porém,

em muitos

casos as gravuras conseguiam transcender o conteúdo meramente

De maneira quase autônoma, a imagem assume um

dentro de uma

sentido diferente, muitas vezes oposto ao do texto. As

lógica visual própria, como uma chave expressiva que contradizia o tom oficial do texto. Por isso, seria neces-

limitações oriundas da falta de formação acadêmica dos

informativo, funcionando,

sário considerar a relação assimétrica mantida entre as imagens e os textos dos jornais guerreiros. O conteúdo

dos dois periódicos em geral pressu-

põe um discurso erudito, com pretensões cultas, oposto à linguagem solta e expressiva das imagens. O texto,

expressa a cultura oficial desenvolvida sob a autoridade dos López e usa geralmente uma grandilogiiente retórica apoiada em latinismos, uma terminologia rebuscada com constantes alusões aos grandes temas da literatura

clássica, supondo

europeu.

um refinamento cultural de cunho

gravadores e a consequente ausência de artistas cultos nas linhas de combate abriram a possibilidade de uma figuração vinculada à cultura popular e alimentada por seus símbolos e suas formas.

Uma

vez

mais,

na história da cultura

paraguaia,

abre-se o caminho da expressão popular à margem dos projetos oficiais e da estética visual proposta pelos López e baseada na importação de modelos neoclássicos .

É indubitável que, se fosse possível contar sistema-

ticamente com artistas “ilustrados”, seus desenhos , pelo menos no nível das representações sérias e dos temas

alegóricos, teriam sido preferidos é se imporiam sobre

A GRAVURA

POPULAR,

OUTRA

IMAGEM

DA-GUERRA

125

os dos anônimos soldados amadores sem qualquer ou-

de “créditos”, é incluído na última página de cada nú-

tra formação senão a adquirida na prática improvisada

mero.

do dia-a-dia de gravar ilustrações. O mesmo

havia sucedido

Assim, diferentemente do conteúdo literário, as gra-

no imaginário popular

vuras da Guerra foram capazes de ligar-se à tradição

que surgiu a partir da colônia, fundamentalmente desde

popular, desenvolvendo formas ágeis de comunicação,

o século XVIII, no espaço livre deixado pelas missões, e

vinculadas ao seu próprio tempo e constituindo uma

que serviu para que o povo inventasse seus próprios

alternativa de expressão própria.

criadores: artistas anônimos capazes de reinterpretar os modelos impostos e expressar seu próprio mundo.

Isso representa um grande elo que liga aspectos do

imaginário

mestiço,

forjados

durante

a colônia,

É certo que as oposições não são tão taxativas; por

com uma imagem concebida de acordo com um sen-

vezes a figuração se coloca”a serviço de conceitos abs-

tido moderno de comunicação gráfica. Por isso, as xi-

tratos (alegorias sobre a liberdade, o poder, a pátria

logravuras do Cabichuí poderiam, ressalvadas as dife-

etc.) e o texto utiliza o idioma guarani ou narra fatos

renças,

mais imediatos, anedotas ligadas à vivência cotidiana

cordel do Brasil — que perdura até hoje — e às das

do soldado.

hojas volanderas mexicanas

Se, por um

lado,

rica dos gravadores

porém,

quase

a representação

sempre

cair no estereótipo acadêmico,

consegue

ser equiparadas

às gravuras

da literatura de

do final do século XIX,

alegó-

cujo ponto alto é representado

evitar

Posada.

por José Guadalupe

através de uma refor-

Em princípio, a imagem visual do jornal guerreiro

mulação própria dos arquétipos (por exemplo, a re-

serve para ilustrar os artigos utilizando uma linguagem

presentação

da liberdade,

mais direta, de modo a estimular o soldado, ao mesmo

assume soluções ingênuas e adquire traços campone-

tempo em que lhe faz companhia na frente de batalha.

ses), por outro lado, embora o texto utilize o idio-

Sem dúvida, porém, esta primeira função vai abrindo

ma guarani e se refira a circunstâncias mais concretas,

progressivamente um espaço expressivo, à medida que

ele não consegue desvencilhar-se de seu tom declama-

os gravadores adquirem maior destreza técnica e segu-

tório nem

de seus recursos de oratória culta. O uso

rança formal. É significativo o fato de que logo a partir

do guarani circunscreve-se a umas poucas manchetes,

do número 4 apareçam as primeiras assinaturas, indi-

a raros

cando

de

artigos

uma

e a um

mulher,

símbolo

pequeno

poema

que,

à guisa

certa conscientização de um

profissionalismo

A

126

GUERRA

DO

PARAGUAI

que se vai desenvolvendo com o melhor manejo dos

minucioso, tendência à simplificação, espontaneidade

meios gráficos.

no manejo dos meios, concepção ingênua € simples da

Este fato tem várias implicações. Em primeiro lugar

representação etc.

vem a idéia de que os xilógrafos eram autodidatas (sal-

A partir dessa base comum definem-se algumas ca-

vo no caso de Saturio Rios, não há notícias de estudos

racterísticas específicas da xilogravura da Guerra: con-

prévios de qualquer dos ilustradores dos jornais guer-

cepção particular do espaço (simultaneidade de dife-

reiros). Em segundo lugar, o aprendizado conjunto pro-

rentes pontos de vista: sentido frontal e perspectívo,

move o surgimento de soluções comuns, recursos for-

visão de planta baixa e de perfil; concepção peculiar

mais coletivos e, inclusive, a forte codificação de muitas

dos

figuras (por exemplo, a tartaruga,o globo, o leão, o rio,

etc.); apresentação do motivo como desenvolvimento

o bote etc. apresentam uma grande semelhança no de-

sucessivo de um acontecimento; detalhismo descritivo

senho e na técnica).

mesmo

espaços

geográficos:

planície,

cidade,

interiores

diante da escassez de tempo e da tendência

Mas aqui entra em jogo um outro fator importante:

sintética da imagem; soluções de desenho e xilogravura

a partir da concentração nos acampamentos e da convi-

integrados; tendência a uma aguda auto-representação

vência forçada pela vida no quartel, os gravadores sol-

caricaturesca; possibilidade de captar com rapidez as-

dados tendem a uniformizar suas experiências e elabo-

pectos próprios do humor popular paraguaio; utiliza-

rar respostas

circunstância

ção de diferentes normas figurativas quando a caricatu-

partilhada, reforçada pela emergência da situação. Uni-

ra representa o inimigo, o soldado nativo, ou se refira

dos tanto por condicionamentos culturais quanto pela motivação absorvente da Guerra, aprendem juntos e

ao cotidiano e a acontecimentos importantes idealiza-

juntos desenvolvem imagens em uma direção tão con-

Por isso, por mais que exista um espírito comum,

comuns

diante

de uma

vergente que, sem forçar demasiado os termos, permite

que se fale de um estilo da gravura que estudamos. Esta unidade formal fundamenta-se em algumas ca-

racterísticas gerais da cultura popular: falta de formação acadêmica, socialização dos recursos formais, provável

extração popular dos gravadores, sentido narrativo e

dos.

em muitos casos podem-se identificar estilos próprios

marcados por concepções individuais da figura e da forma e, inclusive, por determinadas preferências temáticas.

Assim, acima do expressionismo gráfico e seco que caracteriza as gravuras, surge a marca particular: o traço

Iteriores

A GRAVURA

POPULAR,

OUTRA

IMAGEM

DA

GUERRA

127

refinado de Inocencio Aquino, a composição severa e

der a espontaneidade e o vigor: em geral a figura torna-

rudimentar de Cáceres Y Perina, o sentido da ridiculiza-

se rígida e insípida.

ção caricaturesca de Velazo Y Acosta etc.

Na diagramação das relações visuais entre as ima-

diferenças

gens e as colunas de texto também se percebe o gradual

entre as gravuras de um mesmo autor: caricaturas defor-

aumento de segurança num processo de aprendizagem

madas de Aquino coexistem com ilustrações delicadas,

que vai amadurecendo com o próprio trabalho.

Por outro lado, encontram-se

e até mesmo

grandes

preciosistas, de sua autoria. Há gravuras

Nos

primeiros

exemplares

as gravuras

são inde-

de Acosta notavelmente soltas e outras rígidas e acadê-

pendentes e ocupam toda uma página. Quando come-

micas.

çam a acompanhar os textos, fazem-no de forma tímida

Essa alternância poderia estar também condiciona-

e rudimentar, com soluções desajeitadas, ainda incapa-

da por outras causas: primeiramente poderia ser atribuí-

zes de integrar os diferentes elementos gráficos. Só

da à pressa com que eram executadas as gravuras; de-

paulatinamente vai-se aprendendo a utilizar uma dia-

pendendo

disponível ou da urgência do

gramação mais eficiente, chegando espontaneamente a

trabalho, poderiam surgir imagens detalhadas e bem

interessantes ajustes visuais. O fato de as páginas esta-

terminadas, ou figuras rudimentares e feitas às carreiras.

rem diagramadas em três colunas, com tipografia solta,

Além acentua-se

do tempo

disso,

a firmeza

e libera-se

expressiva

diante

dos gravadores

de determinados

temas

permite diversas manobras e adaptações que dinami-

zam o espaço gráfico. Rompendo

com frequência o

ligados a uma emoção maior, a um sentimento concreto

esquema ortogonal básico, os textos e as gravuras se

ou a uma participação mais ativa nos acontecimentos.

interceptam e se invadem reciprocamente, acomodan-

Os motivos de combate e de hostilidade para com o

do-se com naturalidade às diferentes exigências visuais.

inimigo envolvem maior convicção e energia do que os

Também na utilização das maiúsculas que abrem os

ligados a idéias abstratas, ou que frequentemente se

parágrafos,

convertem

e descambam

progressiva destreza no uso das formas. Lentamente os

para preocupações realistas que endurecem a imagem.

gravadores vão desenvolvendo engenho e humor na

Como já foi indicado, quando os gravadores traba-

ilustração das maiúsculas, até chegar a convertê-las em

em

símbolos

imediatistas,

convertidas

que,

embora.

em vinhetas,

quase

evidencia-se

autônomas,

lham “a sério”, pretendendo representar o marechal, O

imagens

alto comando ou os arquétipos pátrios, tendem a per-

com funcionalidade no corpo da matéria.

a

se inserem

A

128

GUERRA

DO

PARAGUAI

Embora tenhamos afirmado que a imagem gráfica de-

Muito além das hipóteses que poderiam ser levantadas a respeito, está claro que a dramática situação da Guerra precipitou uma série de forças expressivas subi-

senvolve uma trama discursiva específica com relação

tamente amadurecidas pela desesperada urgência do

ao texto,

momento.

A arte da Guerra

é evidente

que,

por outro

lado,

a própria à ilustração

Há uma espécie de condensação do tempo, uma

exige a sintetização da expressão. Como os conteúdos

aceleração da história que faz aflorar bruscamente a

são candentes e urgentes, as formas devem ser suficien-

sensibilidade popular,

temente claras para informar com eficiência e rapidez;

vas, saltando por cima das dificuldades, contornando a

devem ser condensadas para captar a essência da infor-

ausência de preparo e de meios técnicos adequados.

mação ou o espírito moralizador e reconfortante neces-

Como

sário ao soldado; além disso, devem ter a expressivida-

condições externas, tivesse que revolver as profunde-

de necessária

zas de sua memória em busca de formas adormecidas,

missão

de comunicação

que este impõe

para transmitir com vigor a dramática

situação nacional, interpretando-a com os traços próprios do caráter paraguaio, temperado e agudo, e com

forçando

possibilidades criati-

se a prática imaginária coletiva, acossada por

sinais latentes ou recordações de práticas antigas. O maior compromisso com a situação e uma parti-

a exaltação patriótica do momento, mantendo obstina-

cipação

damente o sentidode " humor, mesmo

vos, gerando formas mais bem ajustadas e carregadas

diante das mais

trágicas realidades da Guerra. O

gravura

resultado é a imagem

popular guerreira,

nela mais ativa produzem

resultados

mais vi-

de significado. Por isso as gravuras do Cabichuí atinrápida porém

capaz

segura da

de desenvolver

um

expressionismo local austero e cáustico, de características bem definidas.

A origem desta vigorosa figuração constitui um mis-

tério. Em que tradição se apóia a firmeza livre dos traços, o manejo oportuno dos brancos e negros, o sentido

eficaz do ritmo e da forma? Onde foi que esse punhado de soldados desconhecidos aprendeu a técnica?

gem uma síntese expressiva muito mais rica que as do El Centinela.

O Cabichui é editado em Paso Pucú, em plena

frente de batalha. É um jornal de acampamento e trin-

cheira, dirigido aos soldados de primeira linha. Locali-

zado bem no centro da situação de convulsão, nutre-se diretamente da mesma.

|

EI Centinela é basicamente editado na Rua del Atajo, em Assunção,

e suas gravuras são executadas por

A

GRAVURA

POPULAR,

OUTRA

IMAGEM

DA

GUERRA

129

O

carecendo geralmente da força

grande tentativa de enfrentar a história, de exorcizar a

expressiva e das formas contundentes do jornal de Paso

tragédia através da imaginação e do simbolismo e a

Pucú. Os ilustradores parecem ser demasiado influen-

partir tanto de grandes acontecimentos como de anedo-

ciados por uma concepção de desenho que não lhes

tas triviais, essa eclosão repentina de formas inventa-

permite assumir com plenitude as possibilidades pró-

das ou adotadas de outros sistemas da cultura popu-

prias da madeira, assim como por conceitos acadêmi-

lar fazem

guerreiros evacuados,

das imagens

do Cabichuí e de

muitas

criativa e levam

gravuras do EI Centinela um documento fundamental

com frequência à óbvia Jiteralidade das alegorias. Não

do desenvolvimento da expressividade popular no Pa-

há dúvida, porém, de que, apesar desses condiciona-

raguai.

cos que reprimem

a espontaneidade

mentos, muitas das gravuras do El Centinela estão à altura das de seu coirmão,

logrando transcender do

A gravura guerreira logo desaparece. A Guerra fere

profundamente o processo cultural paraguaio, que de-

âmbito dos significados fixos para constituir símbolos

verá começar

próprios, caricaturas audazes e enérgicas, carregadas de

dependência e da submissão. A xilogravura guerreira,

sentido concreto.

precocemente silenciada e praticamente desconhecida,

de

novo,

a partir de

1870, dentro

da

não pôde ter qualquer continuidade imediata, mas por

O processo da gravura

vezes parece pulsar por detrás de alguma forma simples e decidida, ou insinuar-se do fundo de um cortante e

enérgico rasgo de goiva.

paraguaia alcança seu ponto mais alto e mais autêntico.

Talvez a memória coletiva tenha podido reunir essa

Pela primeira vez a imagem gráfica expressa com liber-

experiência através de seu trabalho contínuo de produ-

dade a realidade histórica a partir das características

ção de símbolos para preencher os hiatos do tempo. Há

próprias da criação pessoal. Pela primeira vez surge

numerosas figuras produzidas hoje que lembram mo-

uma gravura suficientemente consistente para metafori-

mentaneamente certas linhas esquivas da gravura guer-

zar O próprio tempo.

reira, algum instante, algum espaço, alguma reminis-

=

com secreta vocação de forma.

A ma

vas a partir de condições e desafios concretos, essa

cência da madeira talhada com prazer e com medo,

E

Essa capacidade de ir criando linguagens expressi-

O

Com a xilogravura da resistência, o processo da gravura

O IMPERIALISMO BRITÂNICO E A GUERRA DO PARAGUAI Leslie Bethell

O IMPERIALISMO

BRITÂNICO

E A GUERRA

DO PARAGUAI

133

E

Introdução m The Age of Capital, 1848-1875, Eric Hobs-

A Guerra Civil norte-americana e a Guerra do Para-

bawn descreveu a década de 1860 como, “sob

guai, segundo Hobsbawn, faziam, cada uma a seu pró-

qualquer ponto de vista, (...) uma década de

prio modo, parte do processo de expansão capitalista

sangue”. O que ele tinha em mente ao falar assim eram,

global. Esse autor encara a Guerra do Paraguai, por

além das sucessivas guerras civis dos Taiping na China,

exemplo,

sobretudo a Guerra Civil dos Estados Unidos (1861-

bacia do Rio da Prata na economia do mundo britânico:

1865) e a Guerra da Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e

“Argentina,

Uruguai) contra o Paraguai (1865-1870) — que testemu-

economias voltados para o Atlântico, forçaram o Para-

nharam um tipo de massacre e destruição tão descontrolados que mais parecem estar associados ao século XX

como

uma consequência da integração da

Uruguai e Brasil, com

seus rostos e suas

guai a sair do [seu] estado de auto-suficiência.”! Em

Capitalism and

Underdevelopment

in Latin

do que às guerras do século XIX —, bem como as

America, A. Gunder Frank tinha apresentado uma inter-

uérras até certo ponto menos sangrentas que ocorre-

am na Europa pela unificação política da Itália e da Ale-

pretação similar do significado da Guerra do Paraguai. Mas, no caso do avanço capitalista liberal na América

manha, e que culminaram, no final daquela mesma dé-

Latina, nas décadas de meados do século XIX, ele havia

Cada, com a Guerra Franco-Prussiana, de 1870-1871.

atribuído um papel mais ativo aos “poderes metropoli-

A

134

GUERRA

tanos”, o que, para ele, significava a Grã-Bretanha. Es-

DO

PARAGUAI

“damente a de León Pomer,

La guerra del Paraguai:

ses poderes, segundo Gunder Frank, haviam “ajudado ,

gran negocio!é Não só pelos historiadores marxistas ou

os seus parceiros comerciais latino-americanos mais jo-

de influência marxista, sob o fascínio da escola da de-

vens com armas, bloqueios navais e, quando necessá-

pendência, mas também igualmente por historiadores

rio, com intervenção militar direta e [a] instigação de

da direita nacionalista, e não somente em Londres e em

guerras, como a da Tríplice Aliança contra o Paraguai”.?

Nova York, como também, e especialmente, na Argenti-

Durante quase um século, as explicações das cau-

na, no Brasil, no Uruguai e, naturalmente, no próprio

sas e das origens da Guerra do Paraguai enfatizaram

Paraguai. Argentina e Brasil tinham-se tornado “Esta-

disputas

dos-clientes”

territoriais entre Argentina e Paraguai, e entre

dependentes,

agindo

basicamente

em

Brasil e Paraguai, conflitos envolvendo direitos à livre

prol dos interesses britânicos. A Inglaterra havia-se tor-

navegação

nado o principal “instigador, financista e beneficiador

nos Rios Paraná e Paraguai, os crescentes

interesses do Império Brasileiro (e, mais especificamen-

da Guerra do Paraguai.

te, OS interesses da província do Rio Grande do Sul) no

Essa linha de pensamento talvez tenha sido mais

Uruguai, o desejo da Argentina, sob o governo do pre-

abrangentemente sintetizada e apresentada na sua for-

sidente Bartolomé

ma mais extrema na tese de doutorado (Universidade

Mitre (1862-1868),

de consolidar a

recêm-estabelecida unidade política de seu país e as

da Califórnia em Los Angeles,

ameaças ao equilíbrio regional do poder, representadas

nicaragúense, Jose Alfredo Fornos Pefialba. Para ele, a

sobretudo

pela

política expansionista

do ditador do

Paraguai (desde 1862), Francisco Solano López. Mesmo

assim, o relato clássico de Pelham Horton

"Box, em The Origins of the Paraguayan War, 3 não faz

sequer menção ao envolvimento britânico na Guerra. No final da década de 1960 e começo da década de 1970, no entanto, o Paraguai era descrito como a vítima da agressão capitalista e imperialista — não só no con-

texto da literatura histórica em geral, mas também nas

monografias mais especializadas sobre o assunto, not a-

1979) de um historiador

Grã-Bretanha era o “quarto aliado indispensável”, de certa forma “o mais implacável de todos os inimigos do século XIX do Paraguai independente”. Ao promover, apoiar e, acima de tudo, financiar a guerra de agressão contra López mantida pelas suas “neocolônias” — Argentina, Uruguai e Brasil —, o objetivo da Inglater-

ra era não só abrir o Paraguai — a única economia da América Latina a permanecer fechada após a inde-

pendência — para os produtos manufaturados e para O capital britânicos, como também assegurar novas fontes

O

IMPERIALISMO

BRITÂNICO

de matérias-primas (sobretudo algodão, tendo em vista a falência dos suprimentos norte-americanos, em consequência da Guerra Civil). Mais do que isso, a Inglater-

E A GUERRA

DO

PARAGUAI

135

Juan C. Herken Krauer e Maria Gimenez de Herken7 O

estudo moderno mais abrangente sobre as relações britânicas com a América Latina contém apenas uma meia

ra pretendia destruir de uma vez por todas o que Frank

dúzia de leves referências ao Paraguai,

havia chamado de “esforço de desenvolvimento genui-

Guerra do Paraguai é tratada sumariamente

namente independente e autonomamente gerado” sob

página. A análise moderna mais completa do imperia-

o doutor José

lismo britânico,? mesmo que, de forma bastante inco-

1840) e seu

Gaspar

Rodríguez

de Francia (1811-

e a própria em uma

(1844-

mum, inclua importantes capítulos sobre a América do

1862), porque ele oferecia para a América Latina um

Sul (embora, curiosamente, não sobre a América Lati-

modelo alternativo político, econômico

na), não contém uma única referência ao Paraguai, nem

sucessor,

Carlos Antonio

López

e ideológico

“nacionalista”, em lugar do modelo capitalista liberal do laissez-faire, imposto pela Grã-Bretanha e visando aos

à Guerra do Paraguai.

seus próprios interesses. As “maquinações imperialis-

Grã-Bretanha e América Latina no século

tas” da Inglaterra, concluiu Fornos Pefialba, em muito contribuíram para “eliminar uma das nações mais promissoras e progressistas da América Latina no século XIX”.

XIX: império formal e informal Iniciaremos nossa análise sobre o imperialismo britânico e a Guerra do Paraguai com alguns comentários de

Esta era, sem dúvida, uma argumentação interes- Sante e intelectualmente estimulante. Infelizmente há

a América

- Pouca, senão nenhuma

que, se de fato a Grã-Bretanha tivesse sido a maior força

evidência empírica capaz de

caráter genérico sobre as relações da Grã-Bretanha com Latina do século XIX,

visando

demonstrar

sustentá-la — pelo menos de acordo com a análise mais

por detrás da Guerra da Tríplice Aliança contra o Para-

Tecente e detalhada

guai, ela estaria adotando uma política e um comporta-

das relações

Paraguai no século XIX, com

da Inglaterra com

o

base em fontes oficiais

mento

totalmente: incompatíveis com as políticas e os

britânicas, feita por um historiador inglês E.N, Tate* e

comportamentos

egundo o estudo mais recente ainda sobre o papel

América Latina como um todo, naquela época.!º

que regiam as suas relações com a

britânico na Guerra, igualmente baseado em fontes in-

Por mais de um século — desde as guerras napoleô-

Blesas, desenvolvido por dois historiadores paraguaios:

nicas e, mais especificamente, desde os eventos dramá-

A

ticos de

1807-1808,

que acabaram

ocorridos

na Península

DO

GUERRA

Ibérica,

e

por causar a dissolução dos impérios

PARAGUAI

(sobretudo estradas de ferro), agricultura e mineração

dos países latino-americanos.

americanos da Espanha e de Portugal, até a deflagração

A Grã-Bretanha possuía mais da metade de toda a

da Primeira Guerra Mundial, em 1914 —, a Grã-Breta-

frota mercante do mundo, e eram os navios britânicos

nha era o agente externo dominante nas questões eco-

que levavam a massa dos produtos exportados da Amé-

nômicas e, numa escala menor, nas questões políticas

rica Latina para os mercados mundiais. A própria Ingla-

da América Latina. O século XIX foi, para a América

terra era um dos mais importantes mercados para os

Latina, o “século inglês”.

artigos alimentícios

Isso não é nada difícil de explicar. Em

primeiro

e matérias-primas

latino-america-

nos.

lugar, a Inglaterra tinha estado “presente no momento

Em resumo, ao longo de todo o século XIX, a Ingla-

da criação”. Os fundamentos da supremacia política,

terra era o principal

comercial e financeira inglesa tinham sido firmemente

investidor e o principal detentor do débito público da

lançados por ocasião da formação dos Estados inde-

América Latina.

pendentes

latino-americanos,

durante a segunda

e a

terceira décadas do século XIX. Grã-Bretanha exercia uma hegemonia global nunca de-

safiada e, até 1914, uma supremacia global um pouco menos firme. A marinha inglesa governava os mares.

Em terceiro lugar, e mais importante que tudo, a Inglaterra, a “primeira nação industrial”, a “oficina do fornecia a maior parte dos bens manufatura-

dos e de capital para a-América Latina. A cidade de Londres, a principal

comercial,

o príncipal |

Os países latino-americanos, embora relativamente

sempre na periferia das questões mundiais, nunca fica-

Em segundo lugar, de 1815 até 1860, ou 1870, a

mundo”,

parceiro

fonte de capital do

mundo, era responsável pela maioria dos empréstimos concedidos aos novos governos da América Latina e pela maior parte do capital investido em infra-estrutura

ram totalmente distantes da rivalidade das grandes potências. A supremacia política e econômica da Grã-Bretanha foi desafiada

de maneira

bastante frequente e

consistente pelos Estados Unidos, sobretudo no México, na América Central e no Caribe, e, nas três décadas

anteriores à Primeira Guerra Mundial, pela Alemanha, mas

nunca

chegou

havia nenhuma

a ser seriamente

ameaçada.

“juta acirrada”, nenhuma

Não

questão de

partilha envolvendo a América Latina.

Por sua vez, a não ser pela sua tentativa tanto de liberar quanto de conquistar a América Espanhola, atravês de uma invasão do Rio da Prata, em 1806-1807 (que

O a

IMPERIALISMO

mm

BRITÂNICO

E A GUERRA

DO

PARAGUAI

137

foi, pelo menos no começo, totalmente desautorizada,

H.5. Ferns, “Britain's informal empire in Argentina, 1306

e que, de qualquer maneira,

cerca de um

— 1914”, 14 e recebeu grande destaque em um artígo

ano),! e pelas atividades nas Ilhas da Baía, ao largo do

muito famoso de autoria de J. Gallagher e R. E. Robín-

litoral norte de Honduras, e na Costa dos Mosquitos, no

son, “The imperíalism of free trade”.15

só durou

litoral caribenho de Honduras e da Nicarágua, em mea-

O conceito tem tido uma vida longa e interessan-

dos do século XIX, a Inglaterra nunca se mostrou pro-

te, mas

pensa a assumir as obrigações políticas e militares de

ele analiticamente impreciso e quase sempre vulnerá-

um império na América Latina. Como resultado disso, a

vel a uma pesquisa empírica especializada. O historia-

América Latina foi a única área do globo a permanecer

dor britânico D.C.M. Platt e seus colegas mostraram-se

em grande parte livre do Império Britânico no final do

particularmente determinados (embora não totalmente

século.12

convincentes) nos seus esforços de miná-lo e desacre-

Mas será que os Estados soberanos da América Lati-

foi sempre

alvo de críticas que alegam

ser

ditá-lo totalmente.

na faziam, de alguma forma, no século XIX, parte de um

Em algum momento na década de 1970, a situação,

Império Britânico “informal”? A idéia de que, em qual-

já bastante confusa, ficou ainda mais complicada, com a

quer discussão envolvendo imperialismo, é importante

introdução da teoria da dependência no debate sobre o

fazer uma distinção entre império “formal” — em que

“império informal”. É claro que havia um desequilíbrio

um determinado território passou para o controle polí-

de poderes econômicos e políticos entre a Inglaterra e a

tico e legal-constitucional do poder imperial — e as

América Latina. É claro que era a Inglaterra, e não a

outras formas de subordinação e controle político indi-

América Latina, que ditava as normas que regiam as

reto é uma longa história. Em 1916, por exemplo, Lênin

relações econômicas internacionais no século XIX. É

descreveu a Pérsia, a China e a Turquia como “países

claro que a Inglaterra era mais importante para a América Latina do que a América Latina para a Inglaterra. A

semicoloniais”.

O termo “império informal” foi aparentemente in-

ventado por C.R. Fay, em seu Imperial Economy and its Place in the Foundations

of Economic Doctrine, 1600

— 1932.3 Ele foi utilizado pela primeira vez com rela-

ção à América Latina em um artigo pioneiro escrito por

América Latina, pode-se muito bem dizer, dependia dos

empréstimos,

investimentos,

conhecimentos técnicos,

importações de produtos manufaturados € sobretudo dos bens de capital, transporte marítimo e, numa escala penmenor, dos mercados britânicos. Talvez até a de

A ere-—

dência da América

pelo menos

nha

|

GUERRA

DO

PARAGUAI

qua

Latina em face da Grã-Bretanha

te-

que, sem essa pressão, ele absolutamente não o faria,

senão de fato gerado,

as

para que possamos falar realmente de “império infor-

reforçado,

restrições estruturais impostas ao desenvolvimento latino-americano (sobretudo na área industrial). Por fim, as vantagens desse relacionamento entre a

mal”.

No que diz respeito à Grã-Bretanha e à América Latina, a primeira promoveu e defendeu os seus interes-

e a América Latina eram, sem sombra de

ses a partir da sua posição de força relativa. Uma boz

dúvida, desiguais, embora deva-se lembrar sempre que

dose de “quebra-de-braço” ocorreu por detrás dos pal-

pelo menos as elites políticas e econômicas latino-ame-

cos. Diplomatas isolados no local da ação muitas vezes

ricanas (“elites colaboracionistas”, se assim o quiserem)

tendiam

acolhiam

prazer a “penetração”

(mesmo porque estavam efetivamente a três ou a seis

britânica e buscavam de maneira bastante

meses de distância do Ministério das Relações Exterio-

entusiástica seguir o “modelo” da modernização capita-

res). Medidas coercitivas — sobretudo demonstrações

lista através

investimentos

navais — foram tomadas para proteger as vidas, as

estrangeiros diretos, crescimento lastreado em exporta-

liberdades e as propriedades dos cidadãos britânicos,

ções, livre comércio e integração nos mercados mun-

ou para preservar o comércio existente, de bases “justas

diais.

e iguais”, que favoreciam a nação. E, em algumas oca-

Grã-Bretanha

no seu todo e com

econômica

de empréstimos

externos,

a agir de um modo

“imperialista” arrogante

Mas será que tal tipo de relacionamento por si só

siões — notadamente no bloqueio anglo-francês do Rio

justifica o conceito de “império informal”? E será que a

da Prata, em meados da década de 1840, na intervenção

Grã-Bretanha praticava uma política de “imperialismo

anglo-francesa-espanhola no México,

informal”, ou seja, procurava ativamente incorporar os Estados formalmente independentes da América Latina ao seu “império informal”?

Certamente deve haver algum exercício de poder consistente, mesmo

que indiretamente,

de um Estado

sobre a política externa, a política interna, a economia interna etc, de um outro Estado “independente” tão

forte que seja capaz de coagir este último a fazer algo

bloqueio anglo-germânico-italiano

em 1861, e no

da Venezuela, em

1902-1903 —, a Grã-Bretanha (com outros poderes) recorreu à “diplomacia canhoneira” para o fomento do

comércio ou para o recebimento de débitos. De um modo geral, entretanto, considerando-se a dimensão da superioridade econômica britânica — e a esmagadora supremacia naval da Inglaterra —, os governos britânicos muito frequentemente exerciam um

tas

ie a

O

IMPERIALISMO

BRITÂNICO

E A GUERRA

DO

PARAGUAI

DO

a

ao

a

May

139

certo grau de autocontrole e, especialmente no período após 1870, evitavam ao máximo envolver-se em algum

expressão institucional predominante dos negócios bri-

tipo de interferência direta nos assuntos internos dos

tânicos na América Latina no século XIX, existia princi-

Estados soberanos latino-americanos.

palmente, é claro, para importar e distribuir os artigos

O estabelecimento comercial, que foí chamado de a

ingleses, sobretudo têxteis (algodão, tecidos de la, rou-

pa de cama e mesa etc.), bem como outros bens de

A Grã-Bretanha, o Brasile as repúblicas do Prata no periodo anterior a 1870

consumo manufaturados (tais como utensílios de ferro,

artigos de cutelaria, porcelana, vidro, pianos, mobília,

Voltemos agora nossa atenção para as relações políticas e econômicas entre a Grã-Bretanha, o Brasil e as repúblicas do Prata, inclusive o Paraguai, no período ante-

rior a 1870 e sobretudo no período que levou à Guerra do Paraguai.

Durante a metade de século que vai da independência à Guerra do Paraguai, o interesse britânico na

América Latina era quase exclusivamente

comercial.

Bem no início, por volta da década de 1820, havia consideráveis comunidades britânicas em todas as principais cidades litorâneas da América Latina, inclusive no Rio de

Janeiro, em Montevidéu e em Buenos Aires. À frente dessas comunidades britânicas, juntamente com os rep-

resentantes diplomáticos de Sua Majestade, estavam os representantes — alguns de passagem, outros tornando-

chapéus, meias etc.) e alguns bens de capital e matérias-primas, especialmente carvão.

Na década de 1840, por exemplo, o Brasil recebia metade das suas importações

da Grã-Bretanha. Estas

importações totalizavam entre 2 e 3 milhões de libras por ano, o que fazia do Brasil o terceiro maior mercado da Grã-Bretanha, logo depois dos Estados Unidos e da Alemanha. Por volta do início da década de 1870, um total de

25 milhões de libras em mercadorias britânicas (10% do total das exportações britânicas) era importado anualmente pela América Latina. A proporção do que vinha para cá era maior do que a que ia para qualquer outro

continente ou qualquer outro país membro do Império,

à exceção da Índia. Um terço dessas exportações ia

se residentes permanentes — de mais de 200 estabeleci-

para o Brasil; cerca de um quarto ou um quinto para a

mentos comerciais de Londres e Liverpool. Mais da me-

Argentina.

tade

desses

estabelecimentos

situava-se

no

Rio

Janeiro e um terço em Buenos Aires e Montevidéu.

de

Ao mesmo tempo, os estabelecimentos comerciais

britânicos faziam a exportação de muitos produtos pri-

A

140 E

SS

mários

GUERRA

DO

PARAGUAI]

Se

locais,

incluindo o café brasileiro (embora

o

principal mercado fosse os Estados Unidos) e o couro e

também

prestavam

serviços financeiros aos

valiosos

britânicos e clientes locais.

grande

Somente em fins da década de 1850 e na década de

parte das exportações da América Latina caiu em estag-

1860 é que houve uma retomada dos empréstimos es-

nação durante o segundo quartel do século passado

trangeiros. Uma ligação financeira significativa foi mais

e, com menos intensidade, durante o terceiro quartel,

uma vez restabelecida entre as repúblicas da América

o que produziu um desequilíbrio de mercado no co-

Espanhola e a cidade de Londres. Baring, por exemplo,

mércio.

emitiu empréstimos de 1,5 milhão de líbras para o Chi-

a lã argentinos.

De um modo

geral, contudo,

Nem os britânicos, nem outros estrangeiros investiram

na

le, em 1858; 1 milhão de libras para a Venezuela, em

no

1862; e 1,25 milhão de libras, em 1866, e 1,95 milhão de

Brasil) em grande escala durante várias décadas após os

libras, em 1868, para a Argentina — para ajudar a finan-

fracassos financeiro e econômico da década de 1820.

ciar a Guerra contra o Paraguai.

Vários

América

Latina

empréstimos

(exceto,

feitos aos

até

novos

certo

ponto,

Estados

latino-

americanos, inclusive Brasil e Argentina, muitos deles

excedendo 1 milhão de libras, tinham invadido o mercado de capitais de Londres durante os anos de 18221825. Por volta de 1828, todos os Estados, à exceção do

Brasil, tinham atrasado pelo menos o pagamento dos juros desses empréstimos, fazendo surgir uma legião de comitês de acionistas britânicos ansiosos e seriamente zangados.

Durante o período que se seguiu à independência,

os empréstimos continuaram a ser feitos somente ao

Brasil, mas os grandes estabelecimentos comerciais britânicos investiam modestamente

no comércio interno,

terras, processamento de alimentos, até na mine ração, e

O Brasil e o Peru

eram,

entretanto, os principais

captadores de empréstimos, responsáveis por cerca de pelo menos 50% do total dos investimentos britânicos em títulos e ações na América Latina, antes do boom dos investimentos nas décadas de 1870 e 1880.

Os Rothschilds, agentes exclusivos junto ao governo brasileiro, emitiram cinco empréstimos que iam de meio milhão a 2 milhões de libras para o Brasil, na década de 1850, dois empréstimos que totalizavam 3,8

milhões de libras, em 1863, e um de 7 milhões de libras, em 1865 — este último muito provavelmente para nanciar a Guerra contra o Paraguai.

O ri

E

mmSrSa. as

IMPERIALISMO

BRITÂNICO

E A GUERRA

DO

PARAGUAI

141

públicas (por exemplo, companhias de gás em todas as

meados da década de 1840 (contra Rosas e em nome do livre comércio), que foi mal planejado, dispendíoso e,

principais cidades do Brasil), em terras, na Argentina e

em última análise, infrutífero;16 e as atividades da Mari-

no Uruguai. E os primeiros bancos comerciais britâni-

nha Real dentro das águas territoriais brasileiras, em

cos — incluindo o London and Brazilian Bank (1862),

1850 (contra os navios negreiros e aqueles que os pro-

o London and River Plate Bank (1863) e o London

tegiam),

Bank of Mexico and South America (1863-1864) —

êxito, da longa campanha britânica pela abolição da

surgiram em cena, e seus negócios se expandiram rapi-

escravatura no Brasil,17

no Brasil, na Argentina e em outros locais, em utilidades

damente.

que

acabaram

levando

ao

fim,

coroado

de

Não há evidências, contudo, de que o grau de con-

Por volta de 1865, 80 milhões de libras e, em 1875,

trole exercido pela Inglaterra sobre a Argentina e/ou o

175 milhões de libras foram investidos na América Lati-

Brasil no início da década de 1860 fosse capaz de mani-

na (na sua maioria, no Brasil e na Argentina), o equiva-

pular esses dois países, levando-os a uma guerra contra

lente a 10% do total dos investimentos britânicos no

o Paraguai. Assim como não há qualquer evidência de

exterior, sendo em grande parte constituídos por títulos

que a Inglaterra quisesse exercer esse tipo de poder

do governo e, em menor escala, por investimentos em

visando alcançar esse objetivo específico.18

estradas de ferro e serviços públicos. Nos

O Paraguai — durante os 40 anos que medeiam o

50 anos que se seguiram às independências

fracasso dos jovens comerciantes escoceses John e Wil-

com relação à Espanha e a Portugal, à medida que os

liam Parish Robertson na tentativa de se estabelecerem

laços comerciais

no recém-independente país e sua expulsão em 1815 —

e financeiros

com a Grã-Bretanha

se

consolidaram, a Argentina e o Brasil tiveram que supor-

era visto pelos governos

tar a sua cota de despotismo e arrogância por parte de

cidadãos britânicos como um país retrógrado, isolado e

diplomatas ingleses “palmerstonianos”, querendo-lhes

longínquo, do qual se sabia muito pouco e pelo qual se

ensinar a administrar as suas próprias questões nacio-

tinha apenas um interesse secundário.!?

nais. Foram exemplos

também

vítimas dos

da “diplomacia

dois mais gritantes

canhoneira”

e pela grande maioria dos

Havia aqueles, inclusive dentro da própria comuni-

pela

dade de comerciantes britânicos em Buenos Aires, que

Grã-Bretanha na América Latina nesse período: o bloqueio naval do Rio da Prata pela Marinha Real, em

acreditavam que o Paraguai era uma “China America-

exercida

na”, um enorme potencial como mercado para os pro-

142

A

TT

SS

É

O SO

e

TT

DA

TE

eee

qe

GUERRA

DO

PARAGUAI

meme

dutos manufaturados ingleses e como fonte de maté-

plicaram-se duas vezes e meia na segunda metade da

rias-primas. Mas o fato é que ele era constituído por

década, muito embora nenhum dos principais produtos

uma minoria muito pequena, com pouquíssima influên-

de exportação do Paraguai (erva-mate e tabaco) tenha

cia sobre a política britânica, e seu ponto de vista era

sido enviado para a Grã-Bretanha em quantidades que

muito pouco digno de crédito.

se pudessem considerar significativas. As importações

À Grã-Bretanha interessava estabelecer relações comerciais não só com Buenos Aires e com a sua provín-

duplicaram nesse mesmo período. Foi aí que os britânicos tiveram um papel ímportan-

estabelecimentos

comerciais

cia, mas também com todas as províncias do interior da

te. Os

Argentina (e, portanto, tinha um particular interesse na

(dentre os estrangeiros, os britânicos eram de longe os

unidade

de uma

mais importantes de todos os estabelecimentos comer-

Confederação Argentina). Tinha também grande inte-

ciais) e três casas comerciais britânicas estabelecidas em

resse na manutenção da livre navegação nos principais

Assunção começaram a importar produtos têxteis britã-

rios da região. Mas era totalmente ignorado o que por

nicos (sobretudo tecidos de algodão) e artigos de ferro,

vezes se chamava de “interior continental” (ou seja, o

de couro, utensílios, porcelana

Paraguai, sobre

çou a ter uma

política da Argentina

e no sucesso

o qual a Argentina ainda reclamava

soberania), assim como qualquer possibilidade de comércio com o Alto Paraguai. O comércio entre o Para-

guai e a Grã-Bretanha permaneceu insignificante durante todo o período.

Foi somente

em meados

da década de 1850 —

depois que a Confederação da Argentina finalmente reconheceu o Paraguai (40 anos após sua separação da

Espanha) e concedeu-lhe o direito de livre navegação pelo Rio Paraná, portanto, depois da assinatura de um

tratado anglo-paraguaio de comércio e navegação (março de 1853) — que o comércio exterior do Paraguai começou a se desenvolver. As exportações mul ti-

economia

mais

de Buenos

Aires

etc. O Paraguai come-

aberta e passou

a se

envolver mais com um “crescimiento hacia afuera” na década de 1850 do que se costuma supor.

O governo de Carlos Antonio López controlava metade do território paraguaio e exercia um monopólio sobre o cultivo e as exportações de erva-mate e, em

menor escala, sobre o couro e a madeira. Ele não precidava recorrer ao mercado financeiro de Londres para

obter fundos (pelo que-ele seria mais tarde muito elo-

giado pelos historiadores “dependencistas” das décadas de 1960 e 1970). Contudo, tanto para o seu programa de “modernização interna” (com ênfase na indústria e na

infra-estrutura) quanto para o seu programa de defesa

O

IMPERIALISMO

BRITÂNICO

mais efetiva contra o que ele encarava como vizinhos predadores,

o governo

paraguaio

voltou-se

para

os

seus agentes em Londres, J. e A. Blyth, de Limehouse,

em busca de fornecimento de utensílios industriais e militares (ferro-gusa, materiais de estradas de ferro, armas, munição,

e até mesmo

guerra movidos

a vapor).

um

ou

Também

dois navios

contratou

de

técni-

cos estrangeiros escolhidos a dedo, sobretudo da Inglaterra. Em seu interessante livro The British in Paraguay,

1850-1870,2º Josefina Pla calculou que viviam no Paraguai, no período que antecedeu a Guerra, 200 súditos britânicos, excluindo-se mulheres e crianças, a maioria dos quais com contrato assinado com o governo, consltuindo um contingente

de engenheiros empregados

no estaleiro, no arsenal, em Assunção, na fundição de ferro, em Ibicui, construindo ferrovias e o telégrafo, ou nas unidades médicas do exército. O engenheiro-chefe

do Paraguai, a partir de 1855, era o escocês William Whytehead.

Os principais obstáculos a uma maior abertura da

economia paraguaia eram, muito provavelmente, nem tanto as políticas econômicas

do governo

paraguaio

(embora houvesse constantes queixas vindas de comerciantes estrangeiros sobre sua interferência arbitrária nas questões econômicas), mas muito mais a falta de intercâmbio com um mercado internacional (uma tenta-

E A

GUERRA

DO

PARAGUAI

143

tiva de cultivar algodão fracassou), 21! as comunicações deficientes (a viagem de barco a et de Buenos Aíres a Assunção levava até três meses) e a falta de interesse britânico. Um maior desenvolvimento das relações eco-

nômicas com o Paraguai simplesmente não constituía uma prioridade para o governo britânico, para os industriais e comerciantes

ingleses, nem

para a City (Lon-

dres). O único esforço tentado para se assegurar um tratado comercial mais liberal do que o de 1853 e o direito à navegação no Alto Paraguai, que ainda era negado aos navios britânicos — o que foi feito por William Christie, o ministro britânico em Buenos Aíres, em 1858 —, não recebeu autorização oficial e fracassou..

Não parece haver qualquer evidência de um inteTesse crescente no Paraguai, nem como mercado nem como fonte de matéria-prima. Com relação ao algodão (o “ouro branco”), pelo qual tanta coisa foi feita, o historiador paraguaio Diego Abente demonstrou como

a Grã-Bretanha já tinha localizado fontes alternativas para os Estados Unidos — as Índias Ocidentais, o Egito

e o Brasil — antes da Guerra do Paraguai.22 Certamente não há qualquer evidência de que o “modelo” econô-

mico paraguaio (modificado por Carlos Antonio López na década de 1850) era incompatível com os interesses

britânicos. Tampouco havia qualquer projeto para “forçar o Paraguai? a estabelecer elos econômicos

144

A

mais

estreitos

com

a Grã-Bretanha

e com

GUERRA

a economia

PARAGUAI

(Mesmo

so

que se achasse muito

importante

tomar uma

tal atitude — o que absolutamente não era —. teria

mundial.

Charles

DO

Henderson,

que assumiu

a sua missão

como primeiro cônsul britânico no Paraguai em 1854, agia, como todos os seus demais colegas em toda a

sido muito

difícil, do

ponto

de vista do Almirantado,

coagir o Paraguai com um número tão limitado de na-

vios em disponibilidade na base naval do sudoeste do

América Latina, sob as instruções de não se envolver e muito menos interferir nas questões internas do país

Atlântico.)

para o qual fosse designado. Ele tinha instruções espe-

relações diplomáticas, embora o ministro britânico em

cíficas para desencorajar o Paraguai na busca do apoio da Inglaterra em suas questões com o Brasil e com a

Buenos Aires, Edward Thornton, a quem coube a responsabilidade pelos assuntos do Paraguai, tenha ficado

Argentina. Ele devia restringir-se à proteção das vidas e das propriedades dos cidadãos britânicos.

de licença durante 16 meses, durante 1862-1863,

O caso mais sério com o qual Henderson teve que lidar foi o originado pela detenção e prisão, em 1859, “de Santiago Canstatt, um

O caso não chegou nem mesmo ao rompimento das

tenha apresentado

e só

suas credenciais em Assunção em

agosto de 1864. Como

de praxe, o governo britânico

parecia ansioso por ignorar o Paraguai.

súdito britânico nascido no

Uruguai, caso que só foi resolvido em 1862, quando Canstatt finalmente foi libertado pelas autoridades paraguaias.

Durante esse período, Henderson teve, na verdade, que se retirar de Assunção, mas — a não ser por uma

tentativa fracassada de tomar o navio de guerra paraguaio (construído pelos ingleses), o Tucuari, quando

este saía do porto de Buenos Aires, tendo havido alg uma troca de tiros — nenhum tipo de força foi empre-

gado pela Grã-Bretanha. Ou seja, sempre que havia

alguma desculpa ou oportunidade, a Ing laterra não re-

corria à “diplomacia de canhoneira” co ntra o Paraguai.

Grã-Bretanha e Guerra do Paraguai Examinemos

finalmente o interesse, o papel e o envolvimento da Grã-Bretanha na Guerra propriam ente dita.

A Grã-Bretanha tinha, ao que parece, muito pouca influência no desenrolar dos eventos que levara m à Guerra entre Brasil, Uruguai e Argentina, de um lado, e

O Paraguai, de outro. Thornton era acentuada e aberta-

mente antiparaguaio, fato que levou a um a série de mal-entendidos. Antes da invasão bras ileira do Uruguai,

em outubro de 1864, em resposta ao ulti matum de

O

IMPERIALISMO Eb

Sed te

BRITÂNI CO ÃO

a

|

e

López, Thornton acompanhou os representantes argentinos em reuniões em Montevidéu

E

A

eme

e disse ao ministro

GUERRA caem

DO

PARAGUAI

cam mm a

o

SS

amp

145

ii

resses britânicos eram maiores na Argentina e no Brasil do que no Paraguai.

das Relações Exteriores paraguaio que todas as nações

Os bancos e estabelecimentos comerciais no Río de

tinham o direito de exigir reparação por danos causa-

Janeiro e em Buenos Aires naturalmente favoreciam e

súditos

dos a seus

ou

cidadãos,

embora

muito

isso



com

seus

e o uso dos seus

empréstimos

navios

pudesse resultar em guerra ou ocupação temporária de

mercantes para transportar armas, dinheiro, correspon-

territórios. Mas isso era diplomacia privada.

dências etc. — apoiavam os Aliados.

O governo britânico não pretendia de modo algum

Os fabricantes ingleses vendiam navios couraçados,

acirrar as disputas existentes no Rio da Prata, disputas

barras de ferro, tubulações e chapas para a construção

que, se levassem à guerra, só poderiam ameaçar vidas,

de navios de guerra, embarcações a vapor, peças de

propriedades

E, apesar dos

artilharia e munição para os beligerantes, ou seja, na

seus preconceitos e preferências individuais, o próprio

prática, para o Brasil e para a Argentina, visto que o

Thornton usou a sua influência de maneira consistente

Paraguai logo ficou sob bloqueio brasileiro.2é

e o comércio

britânicos.

em prol da paz. O exame feito por Tate da correspon-

Mas esta era uma questão de negócios, uma oportu-

dência britânica dessa época não revela evidência de

nidade para os interesses privados na Gra-Bretanha,

nenhum

de estimular ou promover qualquer

bem como na França e na Bélgica. Tudo era uma ques-

guerra ou qualquer outra ação que levasse a ela. Tam-

tão de tirar o melhor partido de uma guerra. Não há

foi vista com

evidências de que a Grã-Bretanha tenha se empenhado

pouco

desejo essa

guerra,

quando

começou,

bons olhos pela Grã-Bretanha.

e entusiasticamente

na

derrota

do

Paraguai.

A

Particularmente, não só Thornton como também a

Inglaterra permaneceu oficialmente neutra na Guerra,

os Alia-

(Na realidade, um único ato de partidarismo — a divul-

López.

gação pelo governo britânico, em 1866, do texto do

(racista?) pelos paraguaios e, de

artigo secreto do tratado de 1º de maio de 1865 para o

maioria dos.

ativa

Eles

das

autoridades

viam

Tinham um

de modo

desdém

britânicas crítico

apoiavam o regime

de

um modo geral, culpavam o Paraguai pela Guerra. Para eles, bem como para os brasileiros e argentinos, a Guer-

desmembramento

do Paraguai — pode ser encarado

como hostil aos Aliados.)

ra representava, em última análise, progresso e civiliza-

A Grã-Bretanha limitou-se a assegurar que, na me-

ção contra retrocesso € barbárie. Obviamente os inte-

dida do possível, os Rios Paraná e Uruguai permaneces-

A GUERRA

146

DO

PARAGUAI

sem abertos para os navios mercantes ingleses (no Rio

tipos de ajuda dados aos Aliados antes e durante q

Paraguai o número de navios era muito pequeno para

Guerra”. Ele refere-se aos Rothschilds e aos Barings

que suscitasse grandes preocupações), ao mesmo tem-

como os “melhores generais dos exércitos aliados”.

que fossem

Ainda cabe pesquisar muito mais sobre os emprés-

eficazes (muitas vezes em prejuízo dos interesses britã-

timos britânicos na época da Guerra. Quanto foi em-

nicos). É verdade que a Grã-Bretanha praticamente não

prestado — e quando?

fez nenhuma

Com que finalidade específica (até onde isso possa

po respeitando

os bloqueios,

tentativa

à medida

de mediação.

Mas

também

é

Com

que grau de empenho? ser

verdade que nem o Paraguai nem os Aliados estavam

determinado)? E o quanto isso influenciou, dentro do

muito interessados nisso.

contexto dos gastos gerais efetuados pelo Brasil e pela

E agora eis a Grã-Bretanha enfrentando a sua pró-

Argentina, na realização da Guerra? Sobretudo o em-

pria questão com o Paraguai, envolvendo a recusa des-

préstimo de 7 milhões de libras levantado pelos Roths-

te em liberar os súditos britânicos retidos contra a sua

childs para o governo brasileiro, em setembro de 1865

vontade (principalmente porque eles eram tão essen-

— e usado, como foi sugerido, para comprar navios de

ciais à manutenção do esforço de guerra do Paraguai).

guerra —, merece um exame mais minucioso.

Em três ocasiões os navios de guerra britânicos passa-

ram pelo bloqueio brasileiro, numa tentativa de resgatar esses cidadãos britânicos aprisionados.25 Mas não houve grande demonstração de força, nem qualquer inter-

venção. Nunca houve nem mesmo a mais tênue sombra

de possibilidade

de a Grã-Bretanha

envolver-se

na

Guerra do Paraguai.

Isto nos traz finalmente à questão dos empréstimos britânicos. Fornos Pefialba cita Napoleão, ao dizer: Para se ganhar uma guerra três coisas são necessárias — dinheiro, mais dinheiro e mais dinheiro ainda” Á

“máquina de guerra” dos exércitos aliados era “lubrificada pelos vultosos empréstimos britânicos e outros

Não houve mais empréstimos para o Brasil ao longo

de toda a Guerra. No caso da Argentina, em 1866, Baring

ofereceu

1,25

milhão

de

libras em

ações do

governo argentino a pessoas físicas e sindicatos. Mas,

como Londres estava atravessando uma grave crise fi-

nanceira,

somente

menos

da metade

dos títulos foi

subscrita. Não havia a menor chance de emitir os empréstimos adicionais de que a Argentina necessitava para os seus esforços de guerra. Somente em junho de 1868 é que 1,95 milhão foram oferecidos e os títulos

finalmente foram vendidos apenas no ano seguinte — por menos de 75% do seu valor nominal.27

Os investidores britânicos, ao que parece, não esta-

O

IMPERIALISMO

BRITÂNICO

para aquele país só ultrapassaram as 50 mil libras em

chal calculou que os empréstimos estrangeiros, princi-

1913.22 Em segundo lugar, se a Grã-Bretanha de fato se

do

envolveu profundamente na Guerra do Paraguai, como

total dos gastos feitos pelo Brasil e 20% do total dos

alguns historiadores querem -nos fazer acreditar, esse

gastos feitos pela Argentina na Guerra do Paraguai.?

era um segredo mantido a sete chaves na metrópole.

britânicos,

representaram

apenas

15%

rador britânico, autor de Explorations of the Highlands

empreendida pela Argentina e pelo Brasil em nome da

of Brazil(2 vols., 1869) e de Letters from the Batilefields

Grã-Bretanha para destruir o “modelo” econômico pa-

of Paraguai (1870), ao regressar à Inglaterra, vindo do

raguaio de desenvolvimento autônomo (ou o que resta-

Paraguai, no final da Guerra, deparou-se em Londres

va dele no início da década de 1860), sem dúvida ela

com “rostos absolutamente inexpressivos ao ouvirem

teve o maior êxito. Se ela foi realizada em prol da

mencionar a palavra Paraguai ... e uma confissão gene-

incorporação da economia paraguaia dentro da econo-

ralizada da mais completa ignorância e definitiva total

mia capitalista mundial, nitidamente foi um fracasso. Na

falta de interesse” no assunto.30

se a Guerra

verdade, ela foi um retrocesso. Dez anos após o fim da

los

Sir Richard Burton, o estudioso, diplomata e explo-

realmente foi

mentários) finais. Primeiro,

de

147

guai. E O historiador econômico argentino Carlos Mari-

"ara terminar, dois comentários (ou blocos de co-

ava

PARAGUAI

cançaram as 100 mil libras, enquanto suas exportações

palmente

em-

DO

por “faturar” a derrota do Para-

vam tão ansiosos assim

foi

E A GUERRA

A Grã-Bretanha



e as suas

supostas

ambições

Guerra, a Inglaterra só tinha uns poucos milhões de

imperialistas — não pode mais ser utilizada como bode

libras (1,5 milhão) em investimentos no Paraguai — e à

expiatório para a Guerra do Paraguai. A responsabilida-

maioria em carteira, e não em investimentos diretos.

de primordial dessa guerra cabe à Argentina, ao Brasil

Isso representava menos de 1% dos investimentos britã-

e, em

nicos na América Latina.

próprio Paraguai. A Guerra do Paraguai foi uma guerra

Com relação ao comércio, apenas em 1903 é que as importações que o Paraguai fazia da Grã-Bretanha al-

escala

menor,

ao Uruguai

e, naturalmente,

ao

civil regional, muito embora com uma dimensão internacional muito interessante e digna de nota.

A

148

GUERRA

DO

PARAGUAI

NOTAS . HOBSBAWM,

E).

The Age of Capital,

1848-1875,

Londres, 1975, p. 78.

cas com a América Latina e fontes que fornecem os números do comércio e dos investimentos britâni-

. FRANK, A. Gunder. Capitalism and Underdevelop-

cos na América

Latina dos séculos XIX e XX, ver

ment in Latin America, ed. rev. e ampl., Nova York,

BETHELL, Leslie. “Britain and Latin America in his-

1969, p. 287.

torical perspective”,

. BOX,

P. Horton.

The Origins of the Paraguayan

in BULMER-THOMAS,

Victor

(ed.), Britain and Latin America: A Changing Rela-

tionship, Cambridge, Cambridge University Press/

War, 2 vol., Urbana, Illinois, 1927.

- POMER, León. La guerra del Paraguai: gran nego-

cio!, Buenos Aires, 1968.

Royal

Institute of International Affairs,

1989, pp.

1-24,

- PENALBA, Jose Alfredo Fornos.

The Fourth Ally:

a: “Por uma

mensagem

expressa

que acabamos de

Great Britain and the War of the Triple Alliance

receber de Portsmouth”,

(tese de doutorado), Los Angeles, Universidade da Califórnia, 1979, pp. ix-x.

dres, em 13 de setembro de 1806, “temos que nos

- TATE,

E. N.

l9th century: KRAUER,

Juan

“Britain

and

Latin

America

the case of Paraguay, C. e GIMENEZ

DE

Maria Gimenez

mentos mais importantes da guerra ora em anda-

1811-1870”,

mento... Neste momento, Buenos Aires passa a fa-

ERKEM,

Maria,

de. Gran Bretania y la

Guerra de la Triple Alianza, Assunção, 1983, - MILLER, Rory. Britain and Latin America in the 19th and 20th centuries, Londres, 1993. - CAIN,

vol.

PJ.

e HOPKINS,

I, Innovation

A.G.

British Imperialism,

and Expansion,

vol. II, Crisis and Deconstruction — Londres, 1993,

o público por um dos aconteci-

in the

Ibero Amerikanisches Archiv, 1979.

- HERKEN,

congratular com

relatou o Times de Lon-

1688-1914, 1914-1990,

10. Para maiores comentários sobre as rela ções britâni-

zer parte do Império Britânico.” Em 27 de junho de 1806, as tropas britânicas tomaram Buenos Aires. Menos de sete semanas depois, elas sofreram uma derrota sangrenta e humilhante e foram expulsas.

Em 3 de fevereiro de 1807, os ingleses tomaram

Montevidéu; e em 28 de junho de 1807, teve início uma segunda investida sobre Buenos Aires. Foi um

total desastre. Com a retirada de Montevidéu, em 9 de setembro de 1807, o curtíssimo Império Britâni-

co no sul da América do Sul chegou a um fim

inglório.

O par

12. Havia

SR

de fato somente

IMPERIALISMO

BRITÂNICO

três postos avançados

Império Britânico na América

do

Latina, dos quais to-

dos tinham tido suas origens nos séculos anteriores:

(1) Essequibo, Demerara e Berbice, na “costa selvagem” do norte da América do Sul, entre o Orinoco e

o Amazonas, que tinham sido primeiramente tomados dos holandeses, mente

cedidos

em

1796: mais tarde formal-

à Grã-Bretanha

por tratado,

em

1814-1815, e unificados como colônia de Sua Majestade, chamada

Guiana

Ilhas

(Ilhas

Falkland

Britânica, em Malvinas),

1831; (2) as

a 300

milhas

de

distância do extremo sul da América do Sul (quase na Antártida), que primeiramente tinham sido ocu-

padas pelos ingleses (pelo menos as Falklands Oci-

E A GUERRA

DO

PARAGUAI

149

14. FERNS, H.S. “Britain's informal empire in Argentina, 1806-1914”, Past and Present, 1953. 1. GALLAGHER, J. e ROBINSON,

RE.

“The imperia-

lism of free trade”, Economic History Review, 1953. 16. A obra clássica é: CADY, John F. Foreign Interven-

tion in the Rio de la Plata, 1838-1850, Filadélfia, 1929. Ver também FERNS, H.S. Britaín and Argenti-

na in the Nineteenth Century, Oxford, 1960, cap. 9. 17. Ver BETHELL, Leslie. The Abolition of the Brazilian Slave Trade. Britain,

Question, 1807 —

Brazil and the Slave Trade

1869, Cambridge, 1970.

18. Na verdade, mais de um ano antes da deflagração

da Guerra do Paraguai, o Brasil havia cortado todas

as relações diplomáticas com a Inglaterra, como

dentais), em 1765-1774, ocupadas, em 1833, depois

consequência da chamada Questão Christie (cujo

da expulsão dos argentinos, e declaradas colônia de

nome

Sua Majestade, em 1841; e o povoado de Belisa, na

britânico no Rio de Janeiro a partir de 1860), que

costa caribenha da América Central, onde os lenha-

culminou com um bloqueio naval britânico de seis

dores britânicos tinham se estabelecido,

dias (dezembro de 1862-janeiro de 1863).

em

mea-

dos do século XVII, e que se havia expandido para

se deriva de William

19. De longe o melhor,

D. Christie, o ministro

talvez o único estudo sobre

o dobro da área da antiga concessão espanhola

as relações britânicas com o Paraguai, no perio-

durante a primeira metade do século XIX, e veio a

do que vai até 1870 —

tornar-se colônia da Coroa, chamada de Honduras

pequeno artigo —,

Britânicas em 1862.

op. cit. p. 4.

13. FAY, CR.

Imperial Economy

and its place in the

joundations of Economic Doctrines,

Oxford, 1934.

1600-1932,

embora

seja apenas um

é o trabalho de Tate. TATE,

20. PLA, Josefina. The British in Paraguay, 1850-1870,

Oxford, 1976. 21. TATE, op. cit., pp. 53-54.

E O

o

Er

A

GUERRA

- Ver ABENTE, Diego. “The War of the Triple Alliance: Three explanatory models”, Latin American Research Review, 22/2, 1987, p. 57, quadros 3 e 4. - TATE, op. cit., pp. 54-56. - Sobre os contratos do governo brasileiro com firmas inglesas para o suprimento de armas, ver FOR-

NOS PENALBA,

op. cit, apêndice XV. Este é um

tópico que merece muitas pesquisas mais.

- TATE, op. cit., pp. 62-62.

DO

PARAGUAI

26. FORNOS PENALBA, op. cit., p. viii. 27. ZEIGLER,

Philip.

The Sixth Great Power.

1762-1929, Londres,

Barings

1988, p. 234.

28. MARICHAL, Carlos. 4 Century of Debt Crises in Latin America: From Independence to the Great Depression, 1820 —

1929, Princeton, 1989, pp. 92-3.

29. ABENTE, op. cit., p. 57. 30. BURTON, Sir Richard. Letters from the Batilefields

of Paraguay. Londres, 1870, p. vii.

GUERRAS IMPERIAIS NA AMÉRICA LATINA A Guerra do Paraguai em perspectiva histórica S 2

la.

eat De.

923, lefields

Enrique AÂmayo

GUERRAS

IMPERIAIS

Guerra do Paraguai, ou Guerra da Tríplice Aliança,

não

pode

NA

AMÉRICA

LATINA

153

A Pax Britannica

ser entendida fora

do contexto mundial de sua época. É evi-

O clássico livro de Imlah informa que Pax Britannica é

dente que não é possível reconstruir todos os ele-

a denominação

mentos

quando Napoleão foi derrotado em Waterloo, e 1914,

do passado.

feitos com

Temos

os fatos

que

essenciais

nos

dar por satis-

e universais

que,

do século

transcorrido

início da Primeira Guerra Mundial.

entre

1815,

Nesse período, a

como grandes linhas mestras, dão sentido e explici-

Grã-Bretanha,

tam os fenômenos

habilidade as regras do jogo para manter a ordem mun-

que o historiador, na qualidade

de cientista social, estuda em

um

determinado

mo-

a maior potência mundial, impôs com

dial. Foi assim que,

naquele século,

importante

por

mento.

muitos fatos, destacou-se um percurso “relativamente”

Para os propósitos do presente trabalho, o contexto será determinado pelo significado histórico da Pax

pacífico, seguido de um “crescimento” econômico.

Britannica, do Free Trade (livre comércio) e do imp erialismo.

este foi o período mais longo da história sem guerras

Na Europa, desde o aparecimento do Estado-nação,

generalizadas. É verdade que, naquele momento da

ig

154

A Tr

GUERRA

DO

PARAGUAI

A

ai

ii

O 1 1

aiii pi

e

T

—emea mem dos md E

essa época.

Desde então, esse

história européia, aconteceram diversos conflitos locais,

fico que caracterizou

alguns até com a participação de grandes potências.

poder desempenhou

Mas foram períodos curtos de tempo e fatos “pequenos”

do equilíbrio nas relações interestatais. Segundo Imlah,

em

parecido

o que realmente distinguiu a Pax Britannica foi o po-

com uma guerra geral foi a da Criméia, que não atingiu

der de influência sobre as políticas de outros governos,

a escala das guerras que abriram e fecharam a era. E também não foi semelhante às que caracterizaram os quatro séculos precedentes.

graças à sua admirada política liberal.

abrangência.

O crescimento

O que

aconteceu

econômico

de mais

europeu

A Pax Britannica,

destacado papel na manutenção

que

terminou

definitivamente

com a I Guerra Mundial, fora declinando gradualmente

foi extrema-

ao longo de várias décadas. Exemplo desse declínio foi

mente rápido, impelido pelas novas forças incorpora-

o programa militar de Bismarck, executado na Prússia,

das à produção através da máquina a vapor. Com isso, cresceram também as aspirações políticas dos novos setores sociais incorporados ao processo produtivo, entre eles o proletariado. Esses fatos não foram conse-

quência de uma circunstância única, ou do trabalho de apenas uma nação.

Neste sentido, Imlah informa que, se as contribuições da Grã-Bretanha para essa era de paz e de progresso foram importantes a ponto de conferir o nome de

Pax Britannica ao período, isso não aconteceu porque aquele país tivesse tido a capacidade de impor a paz, segundo a forma romana, pela força policial mas por-

que a Grã-Bretanha foi capaz de gradátivamente trilhar o caminho que conduziu a políticas mais inteligentes,

mais adaptadas aos complexos interesses ingleses. Todo o poder militar da Grã-Bretan ha foi usado para derrotar Napoleão e tornar po ssível o acerto pací-

em 1862. O exército prussiano pronto entrou em ação. As três curtas e exitosas guerras que travou não questio-

naram apenas

o equilíbrio de poder e permitiram o

aparecimento do Império Alemão, mas também deram nova vida à idéia de que a guerra poderia ser instrumento útil e de valor para a política nacional. Por isso, segundo Imlah, desenvolveu-se, na Europa, a idéia de que não existiam plebiscitos para limitar ou validar as

anexações feitas pela força. O vitorioso era o soberano

absoluto. Nos críticos anos 1860-1870, a Grã-Bretanha

foi bem-sucedida na orientação do curso dos ac ontecimentos.

Com o passar do tempo, a Pax Britannica pass ou a ser questionada. Isto porque o treinamento milita r, desde os anos 1860, converteu-se em ordem do dia. No

continente europeu, as potências desenvolve ram grandes exércitos de conscritos que tinham o ap oio de re-

GUERRAS

e

A

.

E

IMPERIAIS SE

NA

AMÉRICA

LATINA

155 E

servistas bem

treinados.

ram limitações governos

Simultaneamente,

ao comércio,

europeus

junto com

para promover

reaparece-

esforços

dos

seus interesses na-

cionais no exterior e também para obter territórios ultramar. Era preciso lutar por esses territórios. A Grã-Bretanha,

na

primeira

gigantescas.

linha,

E, assim,

foi

capaz

de

desenvolveu-se

obter

áreas

novamente

a

competição em busca de construir impérios.

e

O

são, nos países centrais. O que sucedia no resto do mundo, na chamada periferia, quase não contava na definição. A Pax Britannica, definida nesses termos, é fruto evidente de uma visão eurocêntrica do mundo.

Pax Britannica e Grande Depressão Durante a Pax Britannica houve

No meio desse reviver do nacionalismo econômico e do imperialismo, a Grã-Bretanha desenvolveu sua po-

o

uma crise de longa

duração (1873-1896), conhecida como Grande Depres-

são, que determinou profundas mudanças não somente

e continuou

na estrutura produtiva da Grã-Bretanha como em toda a

como o grande centro comercial do mundo [...] mas Londres não era mais o centro de gravitação diplomático [..] passou a ter um tipo de posição bipolar com

Europa. Ela chegou a ponto de mudar a hierarquia de

litica de

“free trade” (livre comércio)

Berlim [...), o prometedor concerto equilibrado entre as potências cedeu passo aos pactos de aliança e à

competição pelo poder. A Europa e o mundo caminhavam para a primeira guerra geral do século XX? Livros

como

o de

Imlah

definem

à Pax

Britannica

| Como o período no qual a Europa, especificamente a

poder nos Estados nacionais europeus e, portanto, no sistema capitalista em conjunto. Disse um importante pesqu isador do Império Britânico:

Durante a “Grande Depressão”, a Grã-Bretanha deixou de ser a “fábrica do mundo”, transformando-se em apenas um dos três maiores poderes industriais, e, em alguns aspectos essenciais, no mais fraco deles

[..J3

Grã-Bretanha, era o centro do mundo. A Pax Britanni-

ca representa a imposição da paz através do diálogo e “da coordenação, de modo a manter o equilíbrio e a resolver os problemas entre os Estados-nação euro-

dor

E NA,

AP

Fi

peus. O fiel da balança era a Grã-Bretanha. Ou seja, a Pax Britannica significava paz na Europa e, por exten-

Ao considerar o sistema capitalista como

um

todo,

pode-se dizer que a Grande Depressão foi um fenômeno que marcou o fim de uma fase e o início de outra. Ela

não pode ser explicada apenas em termos britânicos, pois teve um desenvolvimento desigual. Seus efeitos

156

A GUERRA

mudaram de país para país. dos Unidos, a Alemanha

Para alguns (como os Esta-

e os recentemente chegados

DO

PARAGUAT

ciamento

industrial,

impostos

mecanismos

nos anos

1890.

ao cenário industrial, isto é, os países escandinavos), foi um período de grande avanço, e não de estagnação.

“isso deixou a Grã-Bretanha

com

uma

única saída

importante — tradicional para ela, mas que, na épo-

Considerada em conjunto, a Grande Depressão mar-

ca, foi adotada também pelos outros competidores —. a conquista econômica (e progressivamente também

cou o fim de uma fase de desenvolvimento econômico — à primeira fase ou fase britânica de industrializa-

política) das áreas do mundo ainda sem exploração.

ção —

Em outras palavras, o imperialismo

e o início da industrialização, fora da GrãBretanha, das principais economias “avançadas”: e, simultaneamente,

a abertura das áreas de produção

primária agricola até então não exploradas

A Grande Depressão começou em 1873, principalmente com a falência da construção ferroviária (o setor indus-

trial de ponta da época), e também porque

inúmeros

países, em sua maioria da periferia, deixaram de pagar suas dívidas externas. Os efeitos foram mundiais. A Grã-Bretanha solucionou sua crise ampliando o impulso imperialista. A falência, iniciada em 1873, não

foi temporária. De maneira diferente dos outros países, que mudaram seu sistema de tarifas para proteger a

agricultura e a indústria nacionais (por exemplo, a Fran-

ça, a Alemanha, os Estados Unidos etc.), a Grã-Bretanha

fixou-se com firmeza no livre comércio. Compromet ida

totalmente com a tecnologia e a organização empresa-

rial da primeira fase da industrialização, a Grã-Bretanha não entrou com força nas novas tecnolo gias e no geren-

A crise global do sistema capitalista foi solucionada por meio de diversas formas de imperialismo. Formas como

o imperialismo semiformal dos consórcios nacionais ou internacionais que se apropriavam

do gerenciamento

financeiro dos países mais frágeis (por exemplo, o Egito, à Turquia, a China etc.); ou o imperialismo informal.

dos investimentos externos (por exemplo,

a América

Latina); ou, ainda, o imperialismo formal exemplific ado

pela “Partilha da África”. Isso significa, em outras palavras, a virtual divisão do mundo entre um grupo de potências da Europa Ocidental e os Estado s Unidos, nas

últimas décadas do século XIX. Mas,

O imperialismo não foi novidade para a Grã-Bretanha. O novo foi o fim do virtual monopó lio britânico do mundo subdesenvolvido e a conseg riente necessi-

dade de estabelecer formalmente, cont ra os competidores potenciais, regiões de influênc ia imperials

GUERRAS

IMPERIAIS

Ao terminar a crise (1896), a Grã-Bretanha ainda

NA

AMÉRICA

Foram

LATINA

157

as guerras da França, Sabóia e Itália contra 4

continuava como a primeira potência mundial. Mas já

Áustria (1866) e dos Estados alemães contra a França

era apenas primo inter pares. Imlah também informa

(1870-1871). E não apenas isso. Nos Estados Unidos,

que a Grande Depressão não foi uma fase do colapso

por cinco

do sistema capitalista, mas sim um período de “reaco-

guerra civil que, em termos de vídas humanas e de

modação”, apenas um “interlúdio”.” Assim, a era impe-

destruição, foi

anos

(1861-1865),

travou-se

uma

violenta

rialista solucionou O impasse com o crescente controle

iCionadapor 'ormas como nacionais ou

e a exploração das áreas coloniais, neocoloniais e de-

. de longe a maior guerra da qual participou, du-

pendentes. O processo produziu mudanças: a Grã-Bre-

rante esse período, um país “desenvolvido”, ainda que

tanha passou a disputar o lugar de primeira potência com a Alemanha, a França e os Estados Unidos. Com a

I Guerra Mundial,

o processo acelerou-se,

resultando

em um favorecimento dos Estados Unidos.

renciamento

Depois do interlúdio, foi impossível conter a inevi-

mplo, 0 ER

tável explosão das contradições no interior do fenôme-

no informal

no imperialista, explosão manifestada, desde o início.

*

4

E

q Amént

do século XX, nas guerras e nos movimentos revolucionários.

Pax Britannica e exploração da periferia

relativamente empalidecida quando comparada com a sua quase contemporânea Guerra do Paraguai... e

totalmente superada quando comparada com a Revo-

lução Taiping da China Ou seja, a partir de uma ótica não eurocêntrica, se a Pax

Britannica, para a Europa (e para os países centrais), significou “paz”, para a periferia ela foi habitualmente

sinônimo de guerra. E guerra das mais sujas, abusivas e injustas, pois em quase todos os casos enfrentaram-se oponentes muito desiguais. De um

lado estavam os

chefes, geralmente conservadores, dirigindo seus povos armados principalmente com moral, ou seja, com

Do ponto de vista da periferia, ou seja, de um ponto de

uma vontade de resistir à conquista. Esses povos tinham

vista não eurocêntrico, a Pax Britannica, até mesmo

poucos

em relação aos países centrais (especialmente os euro-

Peus), foi um período de “paz”, assim mesmo, com minúscula e aspas, porque a Pax Britannica viveu quaHO guerras, além da Guerra da Criméia (1854-1856).

recursos

materiais, suas armas

eram pedras,

paus, flechas, lanças, espadas, fuzis de pederneira e, às | vezes, pequenos canhões. De outro lado encontravam se em geral tropas profissionais, muito bem treinadas e

Ino çã lu vo Re a que s ço an av s ore mai os m co s armada

A

158

GUERRA

PARAGUAI

ca-

Deve-se também mencionar que em outras partes

nhões de grande calibre, fuzis de repetição, metralha-

da periferia as potências européias assinaram acordos

doras, canhoneiras etc.

para “recuperar” suas colônias. Sob a proteção da Con-

dustrial conseguira

produzir

em

termos

militares:

É bom lembrar, por exemplo, que o grande sucesso

venção

ou Tripartite (assinada pela Grã-

de Londres,

militar de Kirtchtner na conquista do sudão pode ser

Bretanha, França e Espanha), viabilizou-se o plano para

atribuído ao fato de que os soldados ingleses lutaram

que

com metralhadoras contra gente armada principalmen-

Hispânica. Ali encontra-se, por exemplo, o alicerce da

te de lanças. Apenas isso explica por que, nas cinco

agressão que especialmente França e Grã-Bretanha fi-

horas da batalha de Ombdurman, em 2 de setembro de

zeram contra o México (1861-1867). Alicerce também

1898, 11 mil sudaneses tenham sido mortos, contra 386

da intentona da Espanha para recuperar suas colônias

homens de Kirtchtner.?

da América do Sul, através da agressão principalmente

O significado real da Pax Britannica para a periferia se fará evidente com a análise de algumas notórias agressões. Agressões feitas pelos países centrais,

espe-

essas

potências

tentassem

recolonizar a América

ao Peru (1863-1866). Cabe

igualmente

mencionar

nacionais para a expansão

as violentas guerras

das fronteiras, realizadas

cialmente os europeus (com a Grã-Bretanha geralmente

entre países periféricos ou entre

em

um central. Em todos esses casos, os resultados benefi-

posição de destaque),

contra diversas regiões da

periferia. Por exemplo, as duas “Guerras do Ópio” (agressões da Grã-Bretanha para forçar a abertura do mercado da China, 1839-1842 e 1856-1860); as violentas

um país periférico e

ciariam especialmente os países centrais.

As mais representativas dessas guerras se deram no

continente americano. Por duas vezes, o México foi

repressões ao chamado “Motim Índio” (Grã-Bretanha contra o emergente nacionalismo da Índia, 1857-1858)

agredido pelos Estados Unidos. A primeira foi a “Guerra

ou a “Rebelião Argelina” (da França contra um naciona-

segunda

lismo similar, mas só que na Argélia, 1871); a “Partilha

1848). Dessa maneira, a expansão norte-americana es-

da África” (entre 1880 e final do século, as grandes

potências européias, com a Grã-Bretanha à frente, “lutaram para se apropriar de nove décimos do continente africano”).10

Prá

DO

pelo Texas” (1835-1836), que se transformou na base da agressão,

a “Guerra pela Califórnia” (1845-

tendeu-se por mais da metade do território do México, ou seja, mais de 2 milhões de km?. Em outra área, na América do Sul, deu-se um confli-

to que, pelo nível de destruição que produziu, está

GUERRAS

IMPERIAIS

NA

AMÉRICA

LATINA

159

rtes

entre os mais brutais da história do século XIX. Foi a

"dos

Guerra do Paraguai (1864-1870). E também a América

“0N-

do Sul testemunhou outra violenta luta, a Guerra do

O

Stã-

Pacífico (1879-1883), em que o Chile enfrentou o Peru

dente quando consideramos as seguintes questões:

dara

e também

no

Tica

7

a Bolívia (Peru e Bolívia perderam,

Pax Britannica e Free Trade

respecti-

acabamos

que

período

da

Pax

mais

de afirmar fica ainda Britannica,

a

doutrina

do

evi-

Free

vamente, 180 mil e 100 mil km? de uma das mais ricas

Trade foi aceita pela classe dirigente britânica e trans-

» da

áreas da América do Sul). Dessas duas últimas guer-

formada

À fi-

ras, a Grã-Bretanha conseguiu obter os maiores benefí-

economia

ém

Cios.

mundo. No ambiente criado pela Pax Britannica cres-

nte

de um

continente

verter

novos

(novamente

e sua sociedade e para projetar-se para o

a violência para con-

mundial justificou a tendência a eliminar as barreiras

colônias),

que o limitavam, fossem elas tarifas ou tribos, nações

suas

ou medidas isolacionistas e/ou monopólios de Estados

em

“recuperar

para

potências

entre

essencial para organizar sua

ceu o Free Trade. A expansão do Free Trade no plano

livres,

mas

atrasados,

elemento

a “partilha”

de mercados,

A “abertura” violenta

ias

no

Tras

os acordos

das

colônias, a repressão (através de “banhos de san-

oe

gue”) dos movimentos

efi-

as guerras na periferia, tudo isso foi funcional à expan-

foi usada à vontade, sempre que necessário. Mas real-

da Grã-Bre-

mente importante para a Grã-Bretanha foi finalmen-

nacionalistas emergentes

são dos países centrais, especialmente

Nesse processo,

e

foi

Com uma visão não eurocêntrica, poder-se-ia defi-

Ira

nira Pax Britannica como o período que, para à peri-

do

do

(assim

país

em

questão

acabaram,

por

em

termos

exemplo,

Ópio”). Durante a Pax Britannica,

“Guerra injusta e opres-

feria, significou normalmente

.

a força militar da Grã-Bretanha

te obter um tratado diplomático para abrir o merca-

tanha.

“no

da

frágeis etc.

de

igualdade

as “Guerras o Free

do

Trade foi

ÁS -

são”. E que, para os países centrais, foi sinônimo de

imposto ao mundo. Nesse processo, impôs-se a neces-

es-

“Daz”. Em outras palavras, OS acontecimentos aqui men-

sidade de mercados como os da América Latina: gran-

0,

cionados constituíram parte de uma totalidade maior e

des e quase sem competidores. A abertura desses mer-

única: a emergência e à expansão do fenômeno impe-

rialista em nível mundial. Apenas nesse contexto é que tais acontecimentos tornam-S€ compreensíveis.

li

d



Le

Pd

To

a

agdi =

E

s

n

á

1

fofisd a

SA

RE]

API:

|

cados, em um determinado período, foi essencial para a

realização da produção industrial, principalmente da Grã-Bretanha. !!

A GUERRA

160

guerras, simultaneamente afirmam que seus governos nunca se beneficiariam e jamais abandonariam a neu-

Na América Latina, a Pax Britannica manifestou-se,

tralidade. Ou seja, não reconhecem ter tomado partído

como no resto da periferia, pela agressão que iria bene-

a favor de um dos contendores.

ficiar, em primeiro lugar, a Grã-Bretanha e, mais tarde,

Mas a agressão torna-se uma realidade que pode ser

Os outros países centrais. As formas de agressão na

detectada através dos efeitos produzidos nas socieda-

América

des que a sofreram. E os efeitos, inter-relacionados, são

Latina corresponderam

normalmente

a dois

dois. O primeiro é o maior empobrecimento e a fraque-

As agressões formais são facilmente reconhecidas,

za dos contendores. Até mesmo os vitoriosos, no me-

pois as potências agressoras; em determinado momen-

hor dos casos, depois de um enriquecimento de curto

to, assinaram um tratado diretamente vinculado à agres-

prazo, têm também que enfrentar a pobreza a médio

são. Este é o caso, por exemplo,

prazo. Para os perdedores, o futuro é negro, pois têm

das já mencionadas

intervenções armadas contra o Peru e o México, resul-

tantes da Convenção de Londres. São também agressões formais as que os Estados Unidos praticaram con-

tra o México e contra a Espanha, pela posse de Cuba, Porto Rico e Filipinas (1898). Mas

também

existem

que se defrontar com a ruína.

O segundo efeito é que mais enriquece e aumenta a hegemonia dos países centrais. Este grau de hegemonia

sobre os contendores dependerá do nível de participação na agressão. Para os contendores, a maior ou me-

as agressões

Os

nor dependência relaciona-se à vitória ou à derrota no

casos mais representativos foram a Guerra do Paraguai

conflito e ao grau de problemas gerados, em suas economias ou em suas:sociedades, pela guerra.

informais.

ea Guerra do Pacífico. Nesses casos, não existe, por

parte das potências centrais, qualquer tipo de tratado que se ligue diretamente à agressão. As potências, em especial a -Grã-Bretanha, afirmam que não praticaram nenhuma agressão e oficialmente reconhecem sua neutralidade.

Negam

sua participação

e, quando

conse-

guem reconhecer que alguns de seus súditos ou algumas de suas empresas obtiveram benefícios nessas a

PARAGUAI

Pax Britannica e América Latina

tipos: formais e informais.

a

DO

A |9

Como não existem tratados assinados com os países

centrais, diretamente ligados a este tipo de agressão, somente através de estudos aprofundados é possível

provar que a economia dos países hegemônicos benefi-

ciou-se, em larga medida, com os conflitos. E não ape-

nas isso, pois esses estudos também podem provar que

a declarada neutralidade oficial dos govemos centrais

GUERRAS

IMPERIAIS

NA

AMÉRICA

LATINA

161

não passou de uma maneira sutil mas efetiva de tomar

mudou radicalmente como consequência da Guerra, a

partido. A Grã-Bretanha praticou, no período em exa-

ponto de, finalmente,

me, a agressão informal em larga medida, o que pode - residentes da Grã-Bretanha fizeram seu primei-

ser comprovado pelo fato de ela ter sido o país que

ro grande investimento no Paraguai [imediatamen-

obteve os maiores lucros com os conflitos.

te após a Guerra) nos anos 1871 e 1872, comprando emissões do governo paraguaio por um total de

A Guerra do Paraguai

1.500.000 libras esterlinas... X2

1eJe-

Pode-se dizer que a Guerra da Tríplice Aliança é apenas

to

Enquanto isso, os países aliados, todos de economia

parte de um conjunto de guerras que caracterizam a

io

aberta, estavam já endividados desde antes da Guerra.

emergência e o desenvolvimento da fase imperialista

Com

m

do capitalismo. Ela faz parte das agressões que a perife-

empréstimos. Os bancos ingleses, principalmente o The

ria sofreu por parte das potências centrais, naquele

Baring Brothers e o The Rothschild Bank, fizeram em-

período.

préstimos permanentes aos três aliados. Depois do con-

Meu objetivo é contribuir para demonstrar como a

ela tiveram que aumentar ainda mais o ritmo dos

flito, a dívida dos vencedores foi maior do que nunca.

Grã-Bretanha lucrou muito com a Guerra do Paraguai e

O Uruguai tinha feito um empréstimo que, em 1864,

relação à Guerra não foi neutra. Para isso, basta examinar alguns dados econômicos dos países

chegava a 1 milhão de libras esterlinas. Assim que ter-

sul-americanos que participaram da Guerra e o caráter

timo, de 3.500 mil libras esterlinas.13

que com

da política que a Grã-Bretanha nela desempenhou. Anotemos de início que o Paraguai, antes da Guer-

minou a Guerra, em 1871, negociou o segundo emprés-

A Argentina, até 1854, continuava acumulando seu primeiro empréstimo, feito em 1824, de 1 milhão de

otara Ad . na ti La a ic ér Am na o ic ún so ca ra, tinha sido um sende do a ur oc pr na o ad se ba o ic um modelo econôm

libras esterlinas. Mas a partir de 1865 (o segundo ano do conflito), e até 1876, negociou oito empréstimos por um total de 18.747.888 libras esterlinas. 14

Por isso. tinha passado a praticar O isolamento e fechao, pl em ex r po , ai gu ra Pa O . or ri te ex ao o ad rc do seu me

O Brasil, entre 1824 e 1865, tinha empréstimos da

. ças for as ri óp pr s sua de tir par a mo no tô au to en volvim ?

Mas isso or. eri ext ao s mo ti és pr em do ta ci li so a não tinh

ordem de 6.363.613 libras esterlinas. Depois da Guerra, em 1871, negociou outro empréstimo de 3 milhões de

162

A

GUERRA

DO

PARAGUAI

e Brasil contra o Para-

libras esterlinas; em 1875, firmou outro empréstimo, de

do de aliança entre Argentina

5.301.200 libras esterlinas. Posteriormente, entre 1883 e |

guai.!8 Ele evidentemente não teria atuado assim sem o

1889, endividou-se, em mais quatro empréstimos, num

apoio do Foreign Office britânico.!”

total de 37.202.900 libras esterlinas. Isso quer dizer que,

O nicaragúense Fornos Pefialba documenta bastan-

em 18 anos (de 1871 a 1889), o Brasil obteve emprésti-

te bem a política britânica na Guerra. Ele demonstra

mos de 45.500 mil libras esterlinas, ou seja, quase duas

que não apenas Thornton, mas a política britânica con-

vezes e meia mais que nos 47 anos precedentes.ló

junta trabalhou contra o Paraguai. Este país mediterrã-

Essa foi uma das maneiras como o capital, em espe-

neo considerava vital o livre acesso ao mar através do

cial o britânico, participou da Guerra da Tríplice Alian-

Uruguai. Mas a Grã-Bretanha não admitiu que a possí-

ça. Através desses empréstimos, foi possível manter os

vel absorção da República do Uruguai pela Argentina

exércitos aliados. Simultaneamente, ao Paraguai negou-

ou pelo Brasil afetaria materialmente a vida do Para-

se a possibilidade de ter acesso a qualquer empréstimo,

guai, o que seria uma

embora este país tenha enviado

sistema de rios compartilhados por esses quatro países

agentes especiais para

obtê-lo no Mercado Monetário de Londres.16

A política da Grã-Bretanha não é clara com relação

à Guerra

do Paraguai.

Oficialmente,

sul-americanos.

Fornos

ameaça à livre navegação pelo

Pefialba usa inúmeras fontes

primárias para provar suas afirmações, e conclui:

aquele país foi

neutro.!” Na verdade, adotou uma política neutra entre

“aspas. Sabe-se que o representante britânico em Bue-

nos Aires, Edward Thornton, participou ativamente do

conflito, a ponto de ter sido assessor do governo da “Argentina. Tamanha foi sua importância que ele partici-

pava das reuniões do Gabinete da República Argentina, onde se decidia o curso da Guerra. Ele ali tinha assento,

como símbolo de confiança, junto ao presidente Mitre.

Em outras palavras, era o “ouvido do presidente”, ficava totalmente ao alcance de Mitre. Ademais, Thornton par-

ticipou ativamente do processo de organização do aco r-

4 Grã-Bretanha facilitou em

muito o entendimento

e a aliança entre Buenos Aires e Rio de Janeiro. E essa

aliança foi a chave para apoiar Venâncio Flores (presidente do Uruguai, 1865-1868), até que Montevidéu fosse controlada por ele, e para a subsequente destrui-

ção do Paraguai. A Grã-Bretanha, em todas as etapas da mediação entre Brasil, Flores e Buenos Aires, atuou nas sombras, dando assistência e apoiando os

dois rivais tradicionais

transformados

em

alia-

dos. A Grã-Bretanha apoiou o Brasil e Buenos Aires, primeiro contra o Uruguai e depois, contra o

Paraguai20

ATAno

Zito

GUERRAS

Os resultados da Guerra

são conhecidos.

IMPERIAIS

NA

AMÉRICA

LATINA

163

O Para-

bém caracteriza a Pax Britannica na periferia latino-

guai foi totalmente destruído, mas, finalmente, abriu-se

americana, trabalhava através de alianças informais. Ou

ao Free Trade. E os

seja, é a aliança de interesses, o que caracteriza a agres-

primeiros beneficiários foram os

interesses britânicos, que finalmente conseguiram en-

são informal,

trar no Paraguai, aumentando também o controle eco-

estuda a política britânica na Guerra do Pacífico, o que

nômico sobre os vitoriosos. Em segundo lugar estão os governos argentino e brasileiro. Estes, além de obter

Isto é ainda mais evidente quando se

fiz em A política britânica na Guerra do Pacífico — 1876-1891.23

grande parte do território paraguaio, deixaram de temer

De

o modelo econômico do país com que haviam guerrea-

Guerra

do, modelo que antes da Guerra era não-escravocrata,

para a Grã-Bretanha.

isolado e poderoso. O Uruguai de Flores foi o aliado menor que nada obteve.2!

Importa destacar, aqui, como foi feito pelo ministro da Fazenda da Argentina, que a Guerra foi de especial importância para a Grã-Bretanha, pois traria grandes

vantagens para o comércio inglês.

Guerra, aguarda com ansiedade pelo final, não pelos males,

mas

porque espera

lançar

sua

utilitária

a a or ag até o ad ch fe , ar gu ra Pa o e br so o çã especula seus benefícios?

es ss re te in os am di ci in co ai gu ra Pa O ra Nas ações cont u lo se e qu o so is i Fo s. ro ei il as br € britânicos, argentinos ,

que tamuma aliança informal. A “agressão informal”,

ta

o que

foi dito, pode-se

deduzir que a

da Tríplice Aliança produziu grandes lucros E não apenas lucros ganhos ao

derrotado Paraguai, mas também aos vitoriosos, a Ar-

gentina, o Brasil e o Uruguai. É claro também que a Guerra foi parte de um conjunto de conflitos que caracterizaram a emergência e o desenvolvimento do fenômeno imperialista no mundo.

Pode-se igualmente deduzir que a Pax Britannica

No ponto relacionado com seus próprios interesses, a Grã-Bretanha, longe de estar preocupada com a a

tudo

não significou paz, mas sim a manutenção

de uma

ordem mundial que favorecia, em primeiro e específico lugar, a Grã-Bretanha, e, a seguir, os países centrais; em

outras palavras, de uma ordem mundial em favor dos

interesses da burguesia britânica, européia e dos países centrais em geral. Isso em detrimento de seu próprio

proletariado, de suas classes exploradas e dos países

periféricos em geral. Esses últimos, por agressão direta e/ou domínio econômico, foram transformados em co-

lônias, semicolônias ou países dependentes.

A

164

GUERRA

DO

PARAGUAI

NOTAS

ca, Cambridge, Harvard University Press, 1958.

15. Idem, ibidem, p. 83 e p. 355.

16. PENALBA, J. Fornos. The Fourth Ally: Great Britain and the War of the Triple Alliance, tese de doutora-

. Idem, ibidem, p. 19.

E. The Age of Capital,

do, Universidade da Califórnia, Los Angeles, 1979,

1848-1875,

pp. 116-117. 17: SMITH, J. Illusions of Conflict. Anglo-American Di-

Idem, ibidem.

plomacy toward Latin America,

Idem, ibidem, p. 107.

burgh, University of Pittsburgh Press, 1979, p. 226.

a

. Idem, ibidem.

. Idem, ibidem, pp. 307-308. J. Africa and the

De Francia el supremo

Victorians. The official mind of Imperialism, Lon-

dustrial,

1975, p. 18.

|

E. “El impacto de la Revolución In-

1789-1848”,

La Independencia

del Peru,

Instituto de Estudios Peruanos, Lima, 1971, p. 98.

VZ; RIPPY, F. British Investmenis in Latin America, Mi-

neapolis, University of Minnesota Press, 1959, p. 124. 13. Idem, ibidem, p. 114. 14. POMER, L. La Guerra del Paraguay. Gran negocio!,

Buenos Aires, Calden, 1968, p. 357.

19. POMER, op. cit., p. 68.

20. PENALBA, op. cit, p. 194. 21.

GALEANO, op. cit., p. 212.

2.2. MINISTRO de Estado. Memoria. Gonzales a Norberto de la

Riestra

(confidencial),

Buenos Aires,

28/03/1867. Apud PENALBA, op. cit, p. 199.

23. AMAYO, E. La politica britanica en la Guerra del Pacifico, 1876-1891, Lima, Ed. Horizonte.

= gr

11. HOBSBAWN,

a la Guerra de la Triple

Alianza, Buenos Aires, Cuadernos de Crisis, nº 19,

dres, McMillan & Co., 1965, p. 369. 10. Idem, ibidem, p. 39.

Veins of Latin America, Nova

York, Monthly Review Press, 1973, p. 210. TRÍAS, V.

O

O

R. e GALLENGER,

E. Open

18. GALEANO,

. Idem, ibidem, p. 142. . ROBINSON,

1865-1896, Pitts-

E

mas

Londres, Weidenfeld & Nicolson, 1976, p. 104.

H

Jo

. HOBSBAWN,

z

1. A. Imlah.

Economic Elements in the Pax Britanni-

ain

DTa79,

va

Dle

9,

DA GUERRA AO MERCOSUL Evolução das relações diplomáticas Brasil-Paraguai Alberto da Costa e Silva

DA

GUERRA

guerra é sempre uma falência da diplomacia,

AO

MERCOSUL

167

O que foi o pós-guerra? Ocupada Assunção pelas

Não há caso mais flagrante de falência da di-

tropas aliadas, ou, mais especificamente, pelas tropas

plomacia do que a chamada Guerra da Trípli-

brasileiras, José Maria da Silva Paranhos, visconde do

ce Aliança, a Guerra do Paraguai, a Guerra contra o Para-

Rio Branco, passou a exercer, naquele momento, o pa-

Buaí, Guerra Guaçu, Guerra Grande ou, só para usar a

pel que exerceria, em nosso tempo, o general MacArthur

expressão de um de seus protagonistas, a Guerra Maldita.

no-solo japonês. O de tentar reorganizar o espaço paraguaio, fazendo valer os interesses brasileiros contra os

A expressão é do duque de Caxias em um ofício que dirigiu ao marquês de Paranaguá, de Tuiuti, em 10 de junho de 1867, e cujo conhecimento devo a Francis-

Co Doratioto. Nesse ofício, Caxias declarava: “É preciso acabar esta guerra maldita na qual o inimigo já está

Vencido e não faz sentido humilhá-lo.” É interessante Fecordar, antes de se falar na paz, esse ofício de Caxias, ESsa sugestão feita ao marquês de Paranaguá e que não ganhou os ouvidos do Império. E

T

interesses argentinos nas negociações de paz. Isso significava,

em primeiro lugar, que fossem

“atendidas as pretensões de limites do Brasil. Em segundo, a liberdade de navegação nos Rios Paraguai e Paraná. Em terceiro lugar, tratava-se de tentar fazer com que

a Argentina não lograsse, tal como fora previsto no Tratado da Tríplice Aliança, obter para si toda a região

do Chaco paraguaio, porque isso implicaria não apenas

A

168

GUERRA

reduzir o Paraguai a um mínimo espaço entre o tenaz argentino, mas também dobrar as fronteiras que a Argentina tinha com o Brasil.

Esses resultados foram conquistados no Tratado de

Paz e Limites entre a Argentina e o Paraguai, em 1876. Posteriormente,

com

o arbítrio do presidente

norte-

DO

PARAGUAI

O Brasil, portanto, apenas respondia aos desafios da mudança. Assim o fez na Guerra do Chaco, quando

À Bolívia buscou assenhorear-se de boa parte da margem direita do Rio Paraguai. Assim faria mais tarde, em 1953, quando Perón e Federico Chaves tentaram estabelecer uma união econômica

entre a Argentina e

americano, Hayes, garantiu-se para o Paraguai a posse

Paraguai. União econômica que não chegou a efetivar-

da Villa Occidental (hoje Villa Hayes) e do vasto espaço

se — o tratado que a criava jamais foi ratificado —, por

que, na margem esquerda do Rio Paraguai, ia do Pilco-

causa do golpe militar do general Stroessner, que apeou

maio para o Norte. Deste modo, o Brasil via satisfeitas

Federico Chaves do poder no dia exato em que o gene-

as suas aspirações na Guerra tal como ela era vista do

ral Perón pretendia chegar a Assunção para sacramen-

Rio de Janeiro.

tar o pacto.

|

A partir desse momento, ou seja, a partir de 1878,

O que havia, assim, da parte do Brasil, era uma

1879, 1880, o Brasil como que se desinteressa de todo

política de resposta para garantir o livre acesso fluvial

pelo Paraguai. Não de todo, porque continuará vigilan-

ao Mato Grosso e para defender a integridade e a inde-

te à observância dos três princípios que orientaram a

pendência do Paraguai. E também para assegurar os

sua política no pré-guerra, durante a guerra e também

limites concertados, em 1872, entre os dois países. Foi

no pós-guerra. Mas, de certa forma, o Paraguai deixou

. esse o objetivo do Tratado de 1927 e do Protocolo de

de ser um

eixo da política do Brasil no

Prata. Essa

política se reduziu a uma política de resposta. Tratavase, com exceção de um primeiro interregno no governo

de Floriano,

responder à Argentina,

Instruções para a Comissão Demarcadora de Limites, de

1930.

O Brasil só voltaria a: assumir uma política de inicia-

embora

tivas com relação ao Paraguai, ou seja, só voltaria a Ser

não tivesse logrado o espaço geográfico que pretendia,

um parceiro verdadeiramente importante para o Para

de

que,

passara a predominar inequivocamente como parceira principal do Paraguai em termos comerciais.

O Para-

guai tinha como porto e como centro comercial a cidade de Buenos Aires.

guai, em 1941, quando o presidente Getúlio Vargas visitou — e foi o primeiro chefe-de Estado brasileiro à fazê-lo — a cidade de Assunção. Logo em seguida, O chanceler paraguaio Luís Argania veio-ao Brasil. Naque-

DA GUERRA AO MERCOSUL

169

OS

le momento, Brasil e Paraguai firmaram importantíssi-

permitiu a construção, com técnica e muitas vezes com

lo

nos acordos que iriam dar satisfação a um antigo an-

financiamento do Brasil, de rodovias entre vários portos

LT -

seio paraguaio, tão antigo que talvez figurasse entre as

do Paraguai, ligando-os ao território brasileiro.

motivações da própria Guerra de 1864: uma saída para

Nos dois governos Vargas houve, portanto, todo um

o Leste, a libertação do comércio paraguaio da artéria

reencontro do Brasil com o Paraguai. Um reencontro

exclusiva do Rio da Prata, que levava a Buenos Aires e

com um novo sentido, sem remorsos-de parte a parte,

a Montevidéu.

porque nem os paraguaios nem os brasileiros somos

Getúlio Vargas concedeu aos paraguaios um porto

hoje responsáveis pelos acertos ou pelos erros de nos-

franco em Santos, estendeu o Correio Aéreo Nacional a

sos antepassados. A nossa responsabilidade é com a

Assunção, a fim de garantir a vinculação aérea do Para-

história que estamos fazendo.

guai com o Brasil. Assinou um acordo para que se desse

O segundo grande impulso nas relações entre Brasil

início aos estudos de ligações rodoviárias e ferroviárias

e Paraguai iria se dar com Juscelino Kubitschek. Já era

com o Brasil. Iniciou também — o que é muito impor-

então chefe de Estadó no Paraguai o general Stroessner,

tante — a cooperação sistemática tanto no plano uni-

que tomou posse em 1954 e levou para a chancelaria

versitário quanto no de treinamento militar.

Raúl Sapena Pastor, anteriormente embaixador de seu

DS

É de 1942 — e, portanto, do ano seguinte à visita de

país no Brasil. O chanceler tinha excelentes relações

1

Vargas a Assunção — a criação de uma Missão Militar Brasileira de Instrução no Paraguai, missão que só veio

com Juscelino, que ainda não era presidente da Repú-

le e

a se extinguir em 1994. Ela prestava assistência em todos os níveis às escolas e instituições militares para-

guaias. É de 1943 a missão de Lourenço Filho, que teve como

objetivo colaborar na organização

da estrutura

Universitária local.

Toda a ação de Vargas sofreu um hiato no governo

do general Dutra, mas foi imediatamente retomada no Segundo governo de Getúlio. Foi então que se estabeleceu a Comissão Mista de Estradas de Rodagem, que 2 a

blica.

Kubitschek assumiu em janeiro de 1956. No mesmo ano encontrou-se com Stroessner para realizar um dos atos mais importantes e que, no entanto, parece pequenino, simples, um nada: a decisão de se construir uma

ponte sobre o Rio Paraná, a fim de vincular Assunção e Paranaguá, que se tornara porto franco para o Paraguai,

ou seja, um depósito franco para as mercadorias de importação e exportação daquele país. Essas mercado-

rias eram transportadas por balsas pelo Rio Paraná, até

A GUERRA

170

que se concretizou uma

pequena ponte, a Ponte da

DO

PARAGUAI

opiniões de nosso Machado de Assis sobre o Paraguai, do outro lado, o doutor José

Amizade, com a qual se estabeleceu o enlace, sobre o

poderia ter mencionado,

rio, entre os dois sistemas viários.

Gaspar de Francia. Para ele,

a civilização encarnava-se

Posteriormente o presidente Médici iria inaugurar

nele próprio, um filho do Iluminismo que estaria reali-

uma segunda ponte, a ponte sobre o Rio Apa. E, em

zando na América do Sul os sonhos da Revolução Pran-

nossos dias, estão concluídos os estudos para a constru-

cesa.

ção de uma terceira ponte, próxima a Foz do Iguaçu.

Para Francia — como, mais tarde, para muitos para-

Com isso, o Paraguai passou a ter outra saída para O

guaios contemporâneos de Solano López —, a barbárie

Atlântico, além do Rio da Prata.

era o Brasil, país retrógrado, pois monarquista e, além

Juscelino teve relações muito especiais com o presi-

do mais, africano. Um país africano enquistado na Amé-

dente Alfredo Stroessner. Relações que seriam de estra-

rica do Sul, como podemos ver nas gravuras paraguaias

nhar-se, pois Juscelino era um temperamento visceral-

da época da Guerra da Tríplice Aliança, em que todos

mente democrático, enquanto o general Stroessner não

os brasileiros,

era exatamente

presidente tinha fascínio

gros. O bárbaro é sempre o outro. O equivocado sem-

por Stroessner, e um fasçínio que- era recíproco. Do

pre é o nosso adversário. Não há como fugir disso. Com

mesmo

frequência sustentamos posições contrárias e nos esti-

modo,

isso. Nosso

ele sempre teve um fascínio, também

recíproco, pelo doutor Antônio de Oliveira Salazar. O general

Médici

é que

não

gostava

nem

do general

Stroessner nem do Marcelo Caetano, sucessor de Salazar. Mas foi obrigado a conviver e a dialogar com eles. São as ironias da história, porque a história nem sempre

é lógica. O mesmo indivíduo que era contra a escravi-

dão. pode ser racista. Tivemos no Brasil inúmeros casos de estadistas que eram a favor da escravidão, mas tinham de tudo, menos de racistas. E vice-versa.

O professor Francisco Alambert, ao se referir ao

problema

da barbárie e da civilização,! e ao citar as

mamos,

inclusive

ou pensamos

Caxias, aparecem

do mesmo

modo

como

ne-

e nos detes-

tamos.

Abri os parênteses por causa da relação Juscelino-

Stroessner. Foi no governo de Juscelino que se criou a Missão Cultural do Brasil, no âmbito da qual vários professores brasileiros ajudaram os paraguaios a formar

sua Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Foi então “que tiveram início os cursos

figura fundamental

de arte de Lívio Abramo,

e prezada pelos paraguaios. Lívio

Abramo retomou a rica tradição paraguaia de gravura.

Foi naquela época, também, que Augusto Rodrigues foi

DA

GUERRA

AO

MERCOSUL

171

À Assunção, para criar à Escolinha de Arte que existe até

Quedas estava em território brasileiro. E nem se tinha o

hoje, subordinada à Embaixada do Brasil. Juscelino atuou em relação ao Paraguai de tal for-

assunto como objeto de discussão.

ma que fez com que se tornasse realidade a essência

das produziu três resultados extraordinários. Primeiro,

da aspiração do presidente Bernardino Caballero: apro-

uma admirável nota do chanceler Sapena Pastor, com as

ximar o Paraguai de Santos por uma ferrovia. Ele Iigou o' Paraguai ao Brasil por estrada de rodagem.

razões paraguaias. Segundo, uma admirabilíssima nota

A contenda sobre a linha de fronteira em Sete Que-

brasileira,

de 25 de março

de

1966,

nota exemplar,

no projeto geopolítico

talvez a melhor nota diplomática escrita pela chancela-

do presidente Getúlio Vargas. E ele inseria-se em ou-

ria brasileira nesta segunda metade de século, e que

tro, o da ligação fluvial, o da criação de um sistema

SA

hidroviário no interior da América do Sul, a vincular

gra a imaginação

não só o Prata ao Amazonas,

embaixador do Brasil no Paraguai, com a idéia, inédita

Essa conexão estava também

mas o Amazonas

ao Ori-

|

noco.

Este último projeto, porém, só começa a tomar for-

das mãos de João Guimarães Rosa. Terceiro, defla-

de Mario Gibson Barbosa, o novo

na história da diplomacia, de «submergir” um conflito,

de acabar com um conflito e com a possibilidade até de uma

guerra, ao fazer com

que as águas

ma com o terceiro grande impulso das relações Brasil-

mesmo

Paraguai, que foi a construção de Itaipu. A decisão da

inundassem a área disputada pelo Paraguai, e que essa

obra derivou de uma seriíssima disputa internacional

área se tornasse parte do que viria a ser um patrimônio

entre o Brasil e o Paraguai, constituindo mais um exem-

comum aos dois países: a hidrelétrica de Itaipu.

plo de como uma grande crise pode gerar um grande resultado.

O quarto grande impulso é decorrência deste ter-

ceiro e também de uma situação muito mais antiga. Os

A grave discórdia foi sobre a interpretação do Trata-

professores Leslie Bethell2 e León Pomer3 afirmaram

do de Limites, de 1872, e sobre os trabalhos desenvolvi-

que a Guerra da Tríplice Aliança foi na verdade uma

dos pelas comissões demarcadoras, desde 1874, a pro-

guerra civil. Na realidade, a Guerra deu-se em um espa-

Pósito de um pequeno trecho de terra na área das Sete

ço político que era, de certo modo, uno. Um espaço

que os paraguaios tinham por não demarcado,

político que compreendia o Uruguai, Buenos Aires, O

Quedas,

enquanto para o Brasil ele já O fora, e há muito tempo.

norte da Argentina e o Rio Grande

Desde menino,

apêndice catarinense.

sempre aprendi que o Salto das Sete

do Sul, com seu

A GUERRA

172

fio depois desta longa guerra é concretizar uma união

se aliavam e combatiam sem olhar as fronteiras. A Guer-

comercial das quatro nações.” É isso o que se está

ra Grande teve por estopim a intervenção do Império

fazendo. E não no abstrato, mas a partir de uma realída-

nas lutas internas do Uruguai, ao fazer seus os interes-

de histórica, de um

Ses rio-grandenses que favoreciam Venancio Flores.

junto todo o século XVIII, todo o século XIX, que com-

bateu junto no século XVII. E disso dá conta a literatura,

brasileiros, uruguaios, buenairenses, entrerrianos e cor-

Relembro O tempo e o vento, de Érico Veríssimo, com

rentinos,

réplicas

suas belas páginas sobre essas guerras por sob frontei-

além-fronteiras, fossem eles blancos e colorados, unitá-

ras, guerras entre facções que eram platinas, antes de

rios e federalistas, maragatos e chimangos.

serem brasileiras, uruguaias ou argentinas.

divididos

em

partidos que

tinham

O processo do Mercosul começou

em 1986, do

ta, entre os interesses do comércio e do campo, nesse

encontro de vontades dos presidentes José Sarney e

espaço com vocação

Raúl Alfonsín. Firmaram eles uma Ata para a Integração

econômica própria e com uma

política própria, que

empurrou

o Império

para o conflito armado. Foram os interesses gaúchos que arrastaram o Rio de Janeiro para o confronto. Essa é uma leitura como

tantas outras.

O fato de esse espaço ter uma unidade possibilitou a rápida concretização do Mercosul. O Mercosul não é

uma construção mental. Ele responde a uma realidade

que ainda não está completa, mas que se vai completar.

É uma exigência que foi pela primeira vez expressa,

não por um brasileiro, não por um argentino, mas por um paraguaio.

Em 1882, o chanceler José Segundo Decoud esc re-

via ao encarregado de Negócios do Brasil em Assunção, Henrique de Barros Cavalcante Lacerda: “O nosso desa-

As

núcleo que viveu, lutou e sofreu

Desde sempre, no Prata, aliavam-se e combatiam-se

realidade

7

PARAGUAI

Ali os partidos políticos eram como plurinacionais e

Foi essa permanente disputa, quase sempre violen-

é

DO

Econômica entre o Brasil e a Argentina. Não foi por acaso que essa Ata, seguida pelo Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento entre o Brasil e a Argentina, recebeu a adesão quase imediata do Uruguai e do Paraguai. Esses países não poderiam ficar fora de um

espaço que lhes é próprio. Não podiam lançar-se para fora de um mundo do qual são historicamente parte e no qual o Paraguai ocupa o centro. Simbolicamente, foi nesse ponto central, que é Assunção, que se assi-

nou, em 26 de março de 1991, o tratado de ctiação do

Mercosul. O

extraordinário

de

tudo

que as razões que provocaram

isso

é concluir-se

a Guerra -da Trpli-

ce Aliança são as mesmas que fazem com que esteja-

rs

Pe

as

E

Ca A

DA

GUERRA

AO

MERCOSUL

175

mos hoje obrigados a trabalhar juntos, Argentina, Bra-

xam, assim, de ser, para usar palavras de Carlos Drum-

do grande

mond de Andrade, a história como remorso, e passam a

sil Paraguai e Uruguai,

os participantes

conflito. As nossas dissensões

no passado,

que ti-

nham por base essa unidade de espaço no Prata, dei-

ser vistas como criadoras.

fonte de inesgotáveis possibilidades

A GUERRA

174

DO PARAGUAI

NOTAS 1. ALAMBERT,

Francisco.

“Barbárie e civilização, his-

3. POMER,

León. “A Guerra do Paraguai e a formação

do Estado na Argentina”, artigo que consta do pre-

me.

sente volume.

à

2. BETHELL,

Leslie. “O imperialismo britânico e a

Guerra do Paraguai”, artigo que consta do presente

E

“4

ar

si

ul

MNE

volume.

SSL

DO

om a



ss

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O

a

.

Pião

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a

a

tória e cultura”, artigo que consta do presente volu-

175

(A

BIBLIOGRAFIA DA GUERRA DO PARAGUAI

Nota explicativa

A bibliografia da Guerra do Paraguai reúne documentos

FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL DRD/DIVISÃO DE INFORMAÇÃO DOCUMENTAL

sobre o período 1864-1872 e fornece material para estu-

diosos do tema. Os documentos fazem parte do acervo da

GUERRA DO PARAGUAI — Monografias

Biblioteca Nacional e estão agrupados em quatro bases de dados:

monografias,

periódicos,

Cos e manuscritos.

documentos

iconográfi-

Yatebo. Montevideo: Imp. U. Cores y Montes,

|

Esta bibliografia faz parte do Banco de Dados Bibliográficos BIBLIO/DINF,

e está disponível para

consulta

na Divisão de Informação Documental da Biblioteca Nacional.

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les lignes suivantes du Courrier de la Plata,

afin de compléter le tableau. Ba-ta-clan, Rio de Janeiro, 25 mai 1868, ano 2, n.52, p.927-8. LE MAGICIEN.

Cinquiême

et derniêre

lettre de Vautre

monde. Ba-ta-clan, Rio de Janeiro, 16 mai 1868. ano 2, n.51, p.419-22.

LE MAGICIEN.

Deuxiême

voluntários no sítio da Água-Branca. Archivo Pittores-

clan, Rio de Janeiro,

co, Lisboa, 1865, v.8, p.349-50, il.

p.579. 81.

lettre de "'autre monde. Ba-ta-

11 avr. 1868,

ano 2, n.46,

A

198

LE MAGICIEN.

im

e —

e

mp e

O DOS GAR

CERs dio

Lettres de I'autre monde.

Ba-ta-clan, Rio

LE MAGICIEN. Quatriême lettre de l'autre monde. Ba-taclan, Rio de Janeiro, 9 mai 1868, ano 2, n.50, p.410-3.

Troisiême lettre de I'autre monde.

THÉAÂTRE de la guerre: X. Ba-ta-clan, Rio de Janeiro, 14

sept. 1867, n.16, p.124.

de Janeiro, 4 avr. 1868, ano 2, n.45, p.371-3.

LE MAGICIEN.

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Ba-ta-

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Ba-ta-

clan, Rio de Janeiro, 27 sept. 1867, n.18, 1 grav. p/b,,

p.141.

du, Passo da Pátria e Tuyuty). Bazar Volante, Rio de Janeiro, 17 mar. 1867, ano 4, n.26, 4 grav. p/b., p.4. O BRAVO

1. tenenté D. Carlos Balthazar da Silveira, co-

pour

mandante do rodízio de proa do vapor Magé, na pas-

empêcher Caxias d'aller au rendez-vous qu'il a donne

sagem de Cuevas, onde distinguiu-se, e pelo que foi

à Lopez. Ba-ta-clan, Rio de Janeiro, 21 sept. 1867,

condecorado

n.17, 1 grav. p/b., p.136.

Rio de Janeiro, 8 abr. 1866, ano 3, n.29, grav. p/b., pl.

MILL, J. D.

Bartolome

MILL, J. A Humaita.

Mitre

prenant ses mesures

Ba-ta-clan, Rio de Janeiro, 14 dec.

1867, n.29, 1 grav. p/b., p.229. nov. 1867, n.25, 1 grav. p/b., p.196.

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39; p.

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Bazar

Volante,

O BRAVO capitão de artilheria Francisco Antonio de Mou-

artilharia a pé na ilha de Itapiru. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 8 jul. 1866,

MILL, J. Parfaite harmonie. Ba-ta-clân, Rio de Janeiro, 14

314; n. 40, p. 326.

o hábito da Rosa.

ra, commandante da heróica bateria do 1º batalhão de

MILL, J. Médailles et revers. Ba-ta-clan, Rio de Janeiro, 16

Janeiro,

com

O BRAVO

Est

COEP ERiS ando

DO

ano 3, n.42, 1 grav. p/b,, p.1.

coronel D. José Balthazar da Silveira. Bazar

Volante, Rio de Janeiro, 21 abr. 1867, ano 4, n31, 1 grav p/D., p.1. O BRAVO Eugenio Ferreira Mendes. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 7 abr. 1867, ano 4, n.29, 1 grav. p/b., p.5.

O BRAVO tenente-coronel Andre Alves Leite de Oliveira Bello, commandante do 3º Batalhão de Infantaria. Ba-

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O CAPITÃO Dr. Joao Thomaz de Cantuária, engenheiro do

exército de Matto-Grosso, tirando a planta do Rio Ta6, 186 . mar 25 o, eir Jan de Rio e, ant Vol r za Ba ry. qua

ano 3, n.27, grav. e planta p/D.; p.l. "

OCAPITÃO Luiz Gomes Ribeiro de Avellar Werneck, assiso. isã Div 3. à to jun l, era Gen tre Mes l rte Qua do te ten

o 4, an , 67 18 . abr 28 o, ir ne Ja de Rio e, nt la Vo r Baza

4, ano 7, 186 fev. 17 o, eir Jan de Rio e, ant Vol r za Ba

n.22, 1 grav. p/D., p.1: o, eir Jan de Rio e, ant Vol r za Ba . es nd Me ra rei Fer EUGENIO 7 abr. 1867, ano 4, n.29, p.2.

e, Rio nt la Vo r za Ba . du an ys Pa de os mi he bo s ao HYMNO de Janeiro, 5 fev. 1865, ano 2, n.20, p.3.

. al tu ac ha an mp ca da os av br es nt le va a, ec ns OS IRMÃOS Fo 51, n. 3, o an , 66 18 . set 9 o, ir ne Ja de o Ri e, nt Bazar Vola

1 grav. p/D., pl.

all va ca de e nt ne te z, ro ei Qu de es ll Te o eã JOAQUIM Pantal um io or Os l ra ne Ge do e et qu pi do e nt da an ria, comm do Paraal tu ac ha an mp ca da , du an ys Pa de os av br dos

n.32, 1 grav. p/D., p.l. CS. Editorial. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 14 out. 1866,

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O DR. João Pires Farinha, cirurgião Mór de Brigada, um dos mais denodados servidores na campanha actual.

Editorial, ano 4, n.4, p.2.

6, 186 . out 21 o, ir ne Ja de Rio e, nt la CS. A guerra. Bazar Vo

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llecido na fa a, hi Ba da na ci di Me anno da Faculdade de

ataque de Curupaity. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 10 fev. 1867, ano 4, n.21, 1 grav. p/D., p.l.

5. do e nt da tu es s, e rg Bo o in O DISTINCTO bahiano Jesu em opeto ci ér ex do o iç rv se m e cidade de Corrientes, ine Ja de o Ri e, nt la Vo r a Paraguay. Baz

ração contra o 1. p. , b. p/ . av gr 1 , 18 4, n. o n a , 7 6 8 1 n. ja 20 , ro spiHo do o iã rg ru ci 1º Rodrigues Seixas,

O DR. Domingos

serviço nos em e nt e m l a u t c a , video e t n o M e d r a t i l i M tal lante, o r V a z . o a r B i e l i s a r b o t i érc acampamentos do ex

p/D,, . v a r g 1 , 0 2 . n 4, o n a ,

JUSTINIANO de Castro Rebello, médico : bordo do encouraçado Tamandaré.

Bazar Volante, Rio de Janeiro, 27

jan. 1867, ano 4, n.19, 1 grav. p/D., p.1.

LUX. Editorial. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 7 maio 1865, ano 2, n.33, p:2. M.G. Ao encouraçado.

Bazar Volante, Rio de Janeiro, 6

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— — e

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do exército fallecido em Uruguayana, e o capitão do 1º

MILL, J. O bravo 2. cadete Ricardo José da Rocha Silveira,

batalhão de infantaria João Baptista Lopes de Carva-

morto no combate de Curupaity em 22 de setembro de 1866. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 23 dez. 1866, ano

lho, fallecido no Salto a 12 junho de 1865, um dos bravos de Paysandu. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 24

4, n.14, 1 grav. p/b,, p.1.

dez. 1865, ano 3, n.14, 1 grav. p/b., p.1.

MILL, J. O bravo brigadeiro da tomada de Curuzu, Alexan-

MILL, J. Um enigma, cuja decifração anda na idea de todos,

dre Manuel Albino de Carvalho. Bazar Volante, Rio de

si bem que ninguém queira expendel-a. Bazar Volan-

Janeiro, 21 out. 1866, ano 4, n.5, 1 grav. p/b., p.l.

te, Rio de Janeiro, 14 out. 1866, ano 4, n.4, 1 grav. p/D,,

MILL, J. O Brazil abrindo as portas da immortalidade ao bravo dos bravos do heróico de Uruguayana. Bazar Volante,

Rio de Janeiro, 21 out. 1866, ano 4, n5,

1

grav. p/D., p.5. MILL, J. O

Rio de Janeiro,

a scena

23 out.

1864,

cômica. ano

Bazar

2, n.5,

1

grav. p/b., p.4e 5. bravo dos bravos de Curusu.

Bazar Volante, Rio de

Janeiro, 7 out. 1866, ano 4, n.3, 1 grav. p/b,, p.1. Florindo Torres d'Albuquerque. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 3 jun. 1866, ano 3, n.37, 1 grav. p/b,,

grande

Volante,

Rio de Janeiro, 19 fev. 1865, ano 2, n.22, 1 grav. p/D,, MILL, J. O general López, Leandro Gomes e o presidente Mitre. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 5 fev. 1865. ano

Dr. Manoel

Feliciano

A:

te, Rio de Janeiro, 10 mar. 1867, ano 4, n.25, 1 grav.

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lante, Rio de Janeiro, 16 jul. 1865, ano 2, n.43, 1 grav.

Pereira de

dignatário da Imperial Ordem

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MILL, J. O capitão do 1º corpo de Voluntários da Pátria José

Carvalho,

Flores. Bazar

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Volante,

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morto

202

A

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da

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em

Humaitá;

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e

a linha de sítio occupada

pelo exército alliado ... expedição alliada pelo Chaco no dia 30 de abril de 1868. [Rio de Janeiro: Semana Ilustrada, 18697). 1 planta, 31x56cm. Suplemento da Semana Illustrada; outro ex.: arc-1, 1, 21U; CEHB n. 11. 228.

COMBATE do Estero Bellaco: esboço n. 9. [Rio de Janeiro): Gab. Photographico

do Est. Maior do Exército, [ca.

1879]. 1 mapa, color.: 16x20cm.

COMBATE naval do Riachuelo. [S. 1: s. n., 187]. 1 grav,, litogr., p & Db. Pequenas legendas descrevendo o local e a frota. O CONDE D'Eu e outros na guerra do Paraguai. Fotogra-

CHODASIEWICZ,

Roberto Adolfo.

Planta de Humaitá

e

terrenos adjacentes com a linha de sítio occupada pelo exército alliado demonstrando igualmente a ex-

bedição alliada pelo Chaco no dia 30 de abril de 1568. Is. 1., 18-?]. 1 planta, 35, 8x41, 7cm. Suplemento da Semana Illustrada.

fia, p/b (Coleção Thereza Cristina Maria). CONDE

D'Eu.

Vila do Rosário,

ta topográfica da fortaleza de Humayta no Paraguai.

13 jan.

1870.

Fotografia, p/b (Coleção Thereza Cristina Maria). Nota manuscrita:

“Os

officiaes

cumprimentando

ao seu

Commandante em Chefe, O Príncipe Conde D'Eu. CORTAMBERT, Eugêne.

CHODASIEWICZ, Roberto Adolfo; GARCIA, Ramon. Plan-

Paraguai,

Carta corográfica del Paraguay.

lesta carta ha sido trazada según las noticias comunicadas por... Francisco Solano Lopez... ministro pleni-

1868. 1 planta, 1, 125x1, 475m; esc. 0, 002x1k; ms.

potenciario de la República del Paraguay... [Paris]:

original a aquarela com assinatura do autor. CEHB n,

Chez Erhard, 1854. 1 mapa, 43x56cm: esc. indet., esc.

11224. CHODO-SECUCY.

Plano das posições entre o rio Paranã,

arroyo Hondos no Paraguay. Rio de Janeiro: Semana Ilustrada.

[ca.

1868].

1 mapa,

42x50cm;

esc.

indet.

“Copiado a 2 de dezembro de 1867 na fragata Lima Barros, no Porto Elysiario, por E. Wandenkolk”; Suple-

mento da Semana Illustrada; CEHB n. 1121).

gráfica em léguas paraguaias de 5000 varas. (Coleção Biblioteca Fluminense). DESEMBARQUE

das tropas no ataque e tomada de Cor-

rentes no dia 23 de maio de 1865: tropas argentina e paraguaia. [S. 1.:s. n., 1862]. 1 fot., sépia. ESBOÇO do theatro das operações das Cordilheiras e do norte do Paraguay. Org. pela Comissão de Engenhei-

A

GUERRA

DO

ar

Std

PARAGUAI rj

ros. V. do Rosário, 1870. 1 mapa ms., color.; 73x63cm;

em Luque, no Paraguai, c. 1867. [S. 1.: 5. n., 1867. Pot.

esc. indert.; esc. em léguas geográficas (15, lcm). (Co-

(Coleção Thereza Christina Maria).

leção Teresa Cristina).

Inclui legendas

com

relação e

datas dos combates; outro exemplar Arc-1, 1, 21E.

EXCURSÃO ao Paraguay. [S. 1.: s. n.), 1869. 35 fot. Legendas manuscritas. Álbum de retratos de brasileiros e paraguaios e vistas dos locais de batalhas. FERREIRA,

Luiz

Vieira.

Planta

das posições

FRANCISCO, Augusto. Ataque em Curupaity no dia 22 de

setembro

de

1866.

[Rio de Janeiro:

s. n.,

18687.

mapa, 44x27cm; sem escala. Supplemento da Semana Ilustrada; CEHB n. 11210; na mesma folha: Batalha do

Yatay a 17 de agosto de 1865 e esboço do assalto de 16 do exército

de julho de 1868 as fortificações de Humayta.

alliado em frente a Villa da Uruguayana em o dia 18

FRIAS, José Maria Correa de. Ao triunfo das armas brasi-

de setembro de 1865 ... Rio de Janeiro: Lith. Imp. da

leiras no rio da Prata... IS. n. t.]. 1 f., il. Brasão com as

Ed. Rensburg, [18662]. 1 planta, 24x39, 9em; esc. 1: 10.

letras PII, todo floreado em trabalho tipográfico.

000. Na mesma

folha: Planta da marcha do 2º Corpo

do Exército Brasileiro do rio Uruguay ao Paraná em 1866;

Vila de

S. Borja;

fl. n. 3 destacada

do Atlas

histórico da Guerra do Paraguay.

FORTUNY,

F. EI teniente-colonel Don

Gaspar Campos,

rio muere de hambre en el cepo de Ita-ivate la noche

del 12 de setiembre de 1867. [S. 1.:s. n., 1867. Reprod. do quadro.

FORTUNY, F. Ataque de la 3a. división del 20. Cuerpo de Ejército... a la trinchera paraguaya del Boquerón de Piris. [S. n, t.]. Reprod. do quadro “Regalo a los suscri-

tores del Álbum de la Guerra del Paraguay”. de um

FROTA, Júlio Anacleto Falcão da. Planta da posição do

Fecho dos Morros. [Rio de Janeiro]: Arquivo Militar, 1869.

1 mapa,

23x17cm;

esc. indet., esc. gráfica de

1000m. Oferecido a BN pelo Gal. Silveira de Melo.

prisionero de guerra, después de largo y penoso marti-

FOTOGRAFIA

1

herói da Guerra do Paraguai não

identificado. [S. n. t.). 1 fot., sépia. Corpo inteiro (Coleção Thereza Christina Maria).

FOTOGRAFIA mostrando um acampamento de soldados,

GAMA, Luiz Felipe de Saldanha da. Plano da 3º bhase da

guerra do Paraguay. Rio de Janeiro: Lith. Tip. de Koegel & Schwestka, [18697]. 1 mapa, 49x79, 3cm: esc. 1: 70000. Cartelas: Quadro com resumo histórico. Plano

das posições do Tebicuary em 1868; CEHB n. 11253: outros exemplares. GAMA, Luiz Felipe de Saldanha da. Plano da 2º phase da guerra do Paraguay. Rio de Janeiro: Lith. e tip. de

Koegel & Schwestka, 1869. 1 mapa, 88x47cm: esc. 1: 70. 000. (Coleção Pimenta Bueno). Inclui resumo his-

tórico das batalhas de 10 de abril de 18664 5 de agosto de 1868; dedicatória do autor à Biblioteca Fluminense;

CEHB n. 11193.

BIBLIOGRAFIA re

mp

iai

O

DA

oe.

PARAGUAI

217

entre Iapiru e Humaitá. Berlin: Lith. Institut von Wilh.

y catalogación. Buenos Aires: Asociación Amigos del

Greve,

Museo Nac. de Bellas Artes, 1971. 52 p. il., est. (alg. color.) ret. “Exposición org. por el Museo Nacional de

500000. CEHB n. 11200. GREEN, W. H. L. Mappa de Humaitá e circunvizinhança.

Bellas Artes y el Museo Histórico Nacional ... Museo

Berlin: Lith. Institut von Greve, ca. 1868. 1 mapa, co-

Nacional de Bellas Artes, 17 de setiembro-12 de octo-

lor., 48x40cm; 1: 25. 000. CEHB n. 11. 230.

GREEN

bre 1971. Buenos Aires”.

GONZAGA, Jozé Basileo Neves. Diversos esboços dos recojr

DO

me

GIL SOLA, Marta; DUJOVNE, Marta. Candido Lopez: textos

e

GUERRA

[18687].

1 mapa,

color., 55x36cm;

esc. 1:

W. H. L. Mappa do theatro da guerra na Repúbli-

ca do Paraguay nos mezes de abril a setembro de Berlin: Lith. Inst. von

Wilh. Greve,

[18707.

nhecimentos feitos na margem do rio Paraguay... Rio

1869.

de Janeiro: Archivo Militar, 1869. 4 mapas, 32x47cm;

mapa, color., 48x40cm; esc. 1: 250000. CEHB n. 11257.

esc. várias. CEHB

teúdo:

esboços

n. 11251; outros exemplares; con-

de:

30/10/1868;

24/10/1868;

GRIVOT,

Felix Alejandro.

topográfico de la villa

Uruguayana con las posiciones de los ejercitos aliados

en el dia 18 de setiembre de 1865. Is. L., Lit. Vigier y

28/10/1868; s. d. (Angustura). GREEN, W. H. L. Carta do theatro da guerra na República do Paraguay de setembro de 1869 ao fim da Guerra. Berlin: Lith. Institut v. Wilh. Greve, [18707]. 1 mapa,

Goiran, s. d.]. 1 mapa, 36, 5x45, Sem. Outros exempla-

res.

GRIVOT, Felix Alejandro. Planta topographica da cidade

49x41cm; esc. 1: 1000000. CEHB n. 11258; outro

de

exemplar.

tropas alliadas em

GREEN, W. H. L. Carta dos combates do mez de dezembro 1868. Berlin: Wilh. Greve, [s. d.). 1 mapa, 30x21cm;

Uruguayana

e suas fortificações e posições das

18 de setembro de 1865. Berlin:

Wilh. Greve, [186527]. 1 planta, 21x20, Sem. CEHB n. 11187; outro exemplar.

A GUERRA do Paraguay. Porto: Livraria Lello, Is. d.). 56 p.

esc. 1: 75000. CEHB n. 11249. GREEN, W. H. L. Carta dos combates no rio Tebicuar). Berlin: Lith. Institut v. Wilh Greve,

Plano

18687].

1 mapa,

20x12cm; esc. 1: 75000. CEHB n. 11239.

il. (Enc. pela imagem).

|

GUIAUD, Jacques. Projeto de coluna triunfal em bronze a

ser erigida no Rio de Janeiro para celebrar a vitória

und Umgegend.

do Brasil na Guerra do Paraguai. IS. 1: s. n., 1870.

Berlin: Lith. Institut von Greve, 1868. 1 mapa, color,

Des. aquar. (Col. Th. Ch. Maria). Acompanha carta de Louis Rochet, autor do projeto ao Imperador.

GREEN,

W. H. L. Karte von Humaitá

1

48x40cm; esc, 1: 25. 000. (Coleção Pimenta Bueno). GREEN, W. H. L. Mabpa da parte meridional do Paraguay

GUIMARÃES, I. M. Plano do sítio de Humaitá pelo Chaco.

A

GUERRA IEEE

DO CER e



PARAGUAI

rei ir

ej

S

SSL SI SS EIS

SIT LT

1E

[Rio de Janeiro: s. n., 18677]. 1 mapa, 35x47cm; esc.

maitá, toscamente

indet.; escala gráfica em braças. Supplemento da Se-

do exército brasileiro.

mana

JOURDAN,

Illustrada.

H. M. S. BOMBAY,

burnt at river Plate, march 1865. IS. n.

LJ. Litografia segundo desenho de De Martino.

a

delineado com algumas posições

Emilio Carlos. Atlas histórico da Guerra do

Paraguay: organizado pelo 1º tenente E. C, Jourdan,

membro da comissão de engenheiros, sobre trabalhos

OS HEROES do dia 6 de dezembro de 1868. [Rio de Janei-

ro): Lith. da Vida Fluminense, 1868. Litografia. Contém retratos de: Duque de Caxias, Visconde de Itaparica, Mena Barreto, Barão do Triunfo, Visconde do Herval,

seus e de outros officiaes da mesma comissão. Rio de

Janeiro: E. Rensburg, 1871. 36 f., especialmente mapas, plantas.

JOURDAN, Emilio Carlos. Carta do território das províncias de Corrientes da República Argentina e do Rio

Gorgão,

Deodoro

Fonseca,

etc...

Grande do Sul invadidas pelos exércitos paraguayos

Roberto H. Chodasiewicz,

em 1865. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 18667. 1 mapa, color., 71x59cm; esc. 1: 560000. Inclui legenda

HOBDANG,

da Fonseca,

Eduardo Emiliano da

conde de. Planta

do caminho percorrido pelo Exército Imperial desde

Pilar ate Guarda planta, cópia

mss.;

da Palma 2, 45x1,

no Paraguay. 45m;

1868.

esc. 0, 00001666.

Cartela: Planta da Vila do Pilar; diário do acampamen- to durante a marcha do exército.

HOBDANG,

Roberto H. Chodasiewicz, conde de. Planta

do caminho percorrido pelo Exército Imperial no Pa-

raguay desde Pilar até Guarda da Palma. Assumpção, 1869. 1 planta, mss. original; 1, 77x1, 30m; esc. 0, 000008333. Diário dos acampamentos durante a mar-

cha do exército (1868); observação geral da marcha do exército.

HUMAYTA,

Paraguay.

Mapa

manuscrito.

Trecho

do Rio

Paraguay entre Pilar e Três Boccas.

HUMAYTA. 89, 5x63cm. Trecho do Rio Paraguai, em Hu-

1

histórica a partir da ocupação de Corrientes pelos pa-

raguaios até o combate de Currales.

JOURDAN, Emilio Carlos. Carte du territoire des provincies de Corrientes de la République Argentine et du Rio Grande

do Sul envahies par les armeês paraguayennes en 1865. Is. 1): Imprensa Nacional, 18667].

1 mapa, 71x59cm; esc. 1: 560000. (Coleção Biblioteca

Fluminense). JOURDAN,

Emilio Carlos. Planta da República do Para$uay com as marchas dos exércitos alliados em 1866-

70. Rio de Janeiro: Lith. Imperial de Rensburg, 1871. 1 mapa, em duas seções; 52x65cm cada; esc. 1: 800000.

Faz parte do Atlas Histórico da Guerra do Paraguay, n.

16-17.

JOURDAN, Emilio Carlos. Planta do território paraguaio:

fes

218

BIBLIOGRAFIA

DA

GUERRA

DO

PARAGUAI Ea

theatro das operações da guerra desde a passagem do

LOPEZ,

o

219

e

Candido, Rendición de Uruguayana. IS. [: s. n),

Paraná ate a rendição das forças de Humaitá em 5 de

1865. Fotograv. do quadro a óleo. “Argentina 29, a. 3,

agosto de 18668. Rio de Janeiro: E. M. E., 1923. 1 mapa,

diciembre 1971-enero 1972, Buenos Aires, p. 76”.

color.; 106x70cm; esc. indet.; escala gráfica em metros.

LOPEZ, Candido. Vista del interior de Curuzu. (S. L:s. n.),

Reprod. fotográfica; doação assinada pelo major Mario

1891. Fotograv. do quadro a óleo. “Argentina 29, a. 3,

Barreto; inclui legenda

diciembre 1971-enero 1972, Buenos Aires, p. 72-73”.

histórica de 10/4/1866 a .

5/8/1868.

|.:s.n., ca. 1870). 1 mapa, 22x19cm; esc. indet.; escala

vendo-se alguns dos heróis da

gráfica de 1km. O local figurado no mapa e a costa do

Campanha do Paraguai, como Osório, Caxias, etc. IS.

LUQUE,

L. A. M. Retirada do sanguinário Lopez e seu sábio Con-

LEMBRANÇA do Paraguay. 54 fot. mont. Álbum da Guerra do Paraguay, 1865-1870. LINDE, Carlos. Os heroes da Campanha do Sul. [S. n. tJ. Litog. Supplemento da Semana Ilustrada.

paraguayo

occupado

pelas forças do

ras

16x10cem. convinham

serem

ocupadas

durante a Guerra do Paraguai. [s. 1., 18652]. 1 mapa ms. em duas seções; 25x33cm

cada: esc. indet. Ms. sobre

papel vegetal.

de retratos dos heróis que tomaram parte na passagem

litares no Paraguai. Recife: Jornal do Recife, [18687. 1

Humaitá, 19 fev, 1868. [S. L: s. n.), 1868. Litog.

mapa, 260x43cm.

enero 1972, Buenos Aires, Pp. 78-9”.

ntes ie rr Co de ai gu ra Pa do ha an mp Ca A LOPEZ, Candido. de io [R z. pe Lo o id nd Ca a Curupaiti, vista pe lo Tenente 47 est. color., ret, il, f. 13 . 5] 97 [1 , Janeiro]: Record Exemplar n. 0385.

me

pelas forças brasileiras

MAPA topográfico explicativo dos últimos movimentos mi-

de Tuyuti. IS. 1: s. n.), 1887. LOPEZ, Candido. embre 1971ci di 29, na ti en rg “A . ro ad qu do Fotograv.



MAPA demonstrativo das zonas do Paraná e Paraguai que

LINDE, Carlos. Os heroes da Campanha do Sul. Série de 8

Batalha

E a

Coronel Vasco Alves Pereira. Luque, 1869. 1 mapa ms.

gresso. RS, 20 maio 1867]. [S. 1.:s. n., 1867]. Des. orig. a tinta e aguada (Col. Th. Ch. Maria).

povoado

o

n. t.]. Des. orig. a tinta e aguada (Col. Th. Ch. Maria).

departamento do Rocha no Uruguai.

a

tomada de Humaitá,

a vitória do Brasil na

MAPA

topographico

das Lomas

Valentinas no Paraguay

desde San Antonio até Palmas. [s. 1: s. n., 18692). 1 mapa

color.; 39x55cm; esc. indet., escala gráfica em

milhas. Outro exemplar.

MAPPA do theatro da guerra do Uruguay e Paraguay. ÍRio “de Janeiro?: s. n., 18652). 1 mapa color.; 54x38cm: esc. indet. CEHB n. 11171; outro exemplar.

iai

representa

pg

O desenho

a

L. A. M.

LUGAR del naufrágio del Solimões visto desde el Faro. Is.

CCREPETESETO E

e

MAPPA

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do theatro

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da guerra.

1869. 1 mapa, 22x27cm;

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OO

Recife: Jornal do Recife,

Andre

desenhado fora de escala.

11232.

Outro exemplar.

PLAN

NA véspera do triumpho. Rio de Janeiro: Lith. Imp. de S. A.

passage

du

(arc-l,

e assinado

Rebouças

fortifié d'Humaitá:

1, 21); CEHB

n.

vue des batteries

d'Humaitá (Paraguay). [s. 1.). 1857. 1 mapa. Copiado por Laurean José Martins Penha.

Sisson. Litografia. CEHB 18171. NIEMEYER, Conrado de. Uma idea das posições que occu-

PLANO

de la vuelta del Riachuelo con la posición de la

pão os belligerantes no Paraguay. Rio de Janeiro: Im-

Escuadra Paraguaya protegida por la formidable bate-

perial

color.;

ria de tierra. [Buenos Aires?): Lit. San Martin, [18657. 1

41x55cm; esc. indet.; escala gráfica em metros. (Cole-

mapa, 37x28cm; desenhado fora de escala. Acima do

ção Pimenta Bueno). Vista panorâmica e litogravuras

título: Vivan las Naciones Aliadas!!!-Batalla naval del

de armas; outro exemplar.

11 junio 1865; CEHB n. 11182.

PARAGUAI.

Instituto Artístico,

1867.

1 mapa

Plano

PLANO del campo de batalha de Tuyuty ganada el 24 de

del Estero Bellaco: ataque de las fuerzas paraguayas...

mayo de 1866 por los aliados contra el ejercito argen-

el 2 de mayo de 1866, segun los datos suministrados

tino. Is. 1.: s. n., 18667]. 1 mapa color.; 42x43cm; esc.

por el senor Lopez Trueba. [s. 1.): A. Hequet y Cohas

indet.; escalas

Hermanos, [18667]. 1 mapa, 52, 5x40cm. (Coleção Bi-

Bueno).

Dirección general de obras publicas.

blioteca Fluminense).

|

PASSAGEM de Curupaity. [S. 1.:s. n., 1892]. 1 fot. “Carte de visite”, sépia. Fot. de uma litografia. PERFIL da parte das fortalezas de Humaitá vistas de um

ponto do Chaco em setembro de 1867. [Rio de Janeiro: s. n., 1867]. 1 mapa, 47x56cm:

esc. indet. Inclui dese-

nhos de diversas peças; Supplemento da Semana Illustrada.

PLAN du passage fortifié d'Humaitá. Rio de Janeiro: Lith. do Arch. Militar, [1865?]. 1 mapa, 45x63cm: esc. inde-

terminável. Na mesma folha: Vue des batteries d'Humaitá (Paraguay); outro exemp. com anotações de

gráficas em

varas.

(Coleção

Pimenta

PLANO del combate naval del Riachuelo entre las esqua-

dras brasileira y paraguaya en el rio Parana, duas léguas

abajo

de Corrientes.

[s. 1]: P. E. Coni,

1865.

1

mapa, 31x49cm; esc. indet. “Levantado por un testigo ocular”.

PLANO do Rio Paraná desde as Três Bocas até acima do forte de Itapiru. Rio de Janeiro: Semana Illustrada,

1866. 1 mapa, 29x46cm; esc. indet. CEHB n. 11198:

outros exemplares.

PLANO topográfico del Paso de la Patria à Humayta. Mon-

tevideo:

Lit. Mege

y Willems,

[18662].

1 mapa,

26x39cm; esc. indet. (Coleção Biblioteca Fluminense).

BIBLIOGRAFIA

PLANTA aproximada

das Baterias de Humaitá

DA

como

se

GUERRA

DO

PARAGUAI

221

posição da esquadra. [Rio de Janeiro: s. n. 18654,

1

achavão no dia 4 de maio proximo findo. [s. 1.). 1855.

planta,

1 planta, cópia a aquarela; 37, 3x51, 9cm.

menta Bueno). Vista panorâmica da Fortaleza e 2 gra-

PLANTA da fortaleza de Humaitá e da cidade de Assump-. ção e seus arredores. [s. 1., 18-7]. 1 planta, 31, 8x56, 8cm; original a aquarela.

56x45cm.;

esc. indeterminável

(Coleção

Pr

vuras de armas militares; “Mandado pelo Barão de Inhaúma

ao Imperial

Inst. Artístico”,

outro exemp.:

arc-1, 1, 21X, CEHB n:-11: 227.

PLANTA da marcha do 2º corpo do exército brazileiro do

PLANTA topographica de Angostura, linha Pikysyri e Lo-

rio Uruguay ao Paraná em 1866... Rio de Janeiro: Lith.

mas Valentinas, [s. L., 18707]. 1 mapa ms.; 91x122em:

Imp. Rensburg, [18662]. 1 planta, 53, 5x70, Sem; esc. 1:

esc.

200000. Mesma folha: planta... Villa da Uruguayana e

papel tela. (Coleção Biblioteca Fluminense).

Villa de Sao Borja; f. 3 destacada do Atlas Histórico da Guerra do Paraguay.

ro: Diário do Rio de Janeiro, 46x62cm.; esc. indeterminável,

[1865?].

esc. gráfica em me-

Janeiro”

e “Vista das baterias de Humaitá,

tomadas

do

CEHB

PLANTA cm;

1 mapa,

“aos assignantes do Diário do Rio de ancoradouro”;

outro

exemp.:

ms.

a traço de pena

em

1 mapa

ms., color.

15x28cm:;

desenhado fora de escala, aquarelado (Coleção Pimenta Bueno). Incompleto; inclui informações sobre combates. QUADROS

históricos da Guerra do Paraguay. [Rio de Ja-

d.).

Pimenta

André;

MADUREIRA,

Bernardino

de

Sena.

Planta do acampamento e da Batalha de Tuyuty a 24 de maio

de 1866.

Montevideo:

Lit. Mege

y Willens,

1866. 1 mapa color.; 54x45cm. (Coleção Pimenta Bue-

PLANTA de Humaytá. Rio de Janeiro: Lith. imp. de Rensdesenhado fora de

escala. Outro ex.: arc-1, 1, 21; CEHB n. 11. 229.

PLANTA de uma fortificação às margens do Rio Paraguai.

IS. n. t). 1 f. des.

1867.

1, 1, 21K;

Bueno).

burg, [18687]. 1 planta, 50x39cm,

em

neiro): Typ. Parlamentar de Hyppolito José Pinto, Is.

1 planta, 31x41

tela (Coleção

a nanquim

PONTOS estratégicos da Guerra do Paraguai nos Rios Pa-

REBOUÇAS,

e seus arredores.

original

Paraguay,

n. 11. 233.

de Humaytá

de 0, 0001;

raguai e Paraná.

PLANTA da passagem de Humaitá fortificada. Rio de Janei-

tros=19, 8cm.

indet., esc.

PLANTA geral da Fortaleza de Humaitá e suas imediações:

no). CEHB n. 11208.

A RENDIÇÃO

de Uruguaiana. [S. n. t]. Litog. segundo

desenho de Pedro Américo. N. 2 dos quadros históricos da Guerra do Paraguai. RIO BRANCO, José Maria da Silva Paranhos.

Batalha do

Avahy. [s. d.]. 1 mapa, 29x26, 3cm. Doação do Major

GUERRA

A

aza

DO

PARAGUAI e

TT—e——

mm

Mario Barreto; cópia do E. M, E. 1924; reprod. do orig.

Snr. Conselheiro de Guerra e Marechal de Campo An-

ms.

tonio Nunes de Aguiar Commte.

Geral do Corpo de

ROCCHINI, F. Festa efetuada na Igreja da Encarnação em

Engros. e Director do Archivo Militar”; CEHB n. 11255.

Lisboa, para celebrar o término da Guerra do Para-

TAMANDARÉ: Brazil depois do ataque de Curupaity: fotografado do natural. [S. n. t.]. Litografia. Supplemento

guai. [S. n. t.). Fot. Col. Th. Ch. Maria.

ROCHET, Louis. Projet de colunne triomphale en bronze a

da Semana Illustrada.

élever dans la ville de Rio en commemoration de la

TEATRO de la guerra en el Paraguay. Is. 1): La Tribuna, 12

Guerre du Paraguay. [Paris: s. n., 1870]. Fot. da ma-

set. 1867. 1 mapa; 36x52cm; esc. indet. Inserto: Section

quete.

del Rio Paraguay donde se halla Humaitá y operan los

S. A. o Sr. Gaston d'Orleans, Conde D'Eu. Rio de Janeiro:

Imperial

Inst. Artístico.

Litografia.

CEHB

Antônio

Riachuelo

18169. SETE heróis da Guerra do Paraguai (Almirante Inhaúma, Duque

TEFFÉ,

de

Caxias,

Visconde

de

Herval,

General

em

Luiz von Hoonhltz.

Plano da vuelta del

com posições das esquadras do Brazil e

Paraguay na Batalha Naval de 11 de junho de 1865.

Rio de Janeiro: Archivo Militar, 1876. 1 mapa, color.; relação

de canhoneiras

chefe Conde D'Eu, Barão do Triumpho, General Argo-

12x25cm;

lo, General Polidoro). IS. L: s. n.], 1871. Xilogravura.

brasileiras e paraguaias; CEHB n. 11183; péssimo esta-

Echo Americano de 2 de dezembro de 1871, p. 257.

do de conservação.

esc.

indet.

Inclui

SILVA, Q. de Castro e. Rio Paraguay desde a vanguarda

TEFFÊ, Antônio Luiz von Hoonholtz. Planta hydrographi-

da esquadra até um pouco acima de Curupaity. Rio

ca do Passo da Pátria com as posições da Esquadra

1 mapa;

Imperial Brazileira nos Combates de Março e Abril de

de Janeiro:

Semana

Illustrada,

[18687].

28x23cm; esc. indet. Supplemento da Semana Illustra-

1866. Rio de Janeiro: Archivo Militar, 1876.

da; CEHB n. 11206; inclui gravura de um brulote para-

56x70cm; esc. indet. CEHB n. 11195; outro exemplar.

guaio; outro exemplar. SOARES,

M. F. C. de Oliveira.

1 mapa;

TEFFÊ, Antônio Luiz von Hoonholtz. Planta hydrographiEsboço do Rio Paraguay

ca do Passo da Pátria incluindo o canal privado dos

desde o Rio Paranã até o piquete Paraguayo (Herra-

paraguayos e uma parte do rio Paraguay desde Três

dura) acima do Tebiquary ... [s. 1.]. 1868. 1 mapa ms.;

Bocas ate a lagoa Serena ou Sirena... Rio de Janeiro:

130x36cm; esc. indet.; escala de 10 léguas de 20 ao grau (Coleção Pimenta Bueno). “Offerecido ao Exmo.

imperial Instituto Artístico, 1866. 1 mapa; 112x142cm; esc. indet.; escala de 0, 20m de comprimento

PE

do

4 To

Lith.

encorazados brasilenos.

1

Ena

PERL

LERAM

es

a

-——

para 1600m no terreno. CEHB n. 11195; outros exem-

Souza Gonzaga,

plares.

Corpo de Voluntários da Pátria, mortos e feridos no

EL TENIENTE

Coronel

Gaspar Campos,

remetendo relação dos praças do 1º

jefe del batallon

combate de São Borja em 10 de junho contra as forças

““Cazadores de la Rioja” sorprendido en Acayuzu salva

paraguaias. Alegrete, RS, 26 jun. 1865. Copia, 3 doc,

la bandera de su batallon arrojandola ao rio”. IS. n. t]. Fotolitog.

THEATRO

áp, CAMARAGIBE,

da Guerra

do Paraguay

1866.

[Brasil: s. n,,

Pedro

Francisco

de Paula

de

Cavalcanti

Albuquerque, Visconde de. Carta a seu amigo partici-

18667]. 1 mapa; 26x41cm; desenhado fora de escala.

pando

CERBn: 11175:

Paraguai. Recife, 6 nov. 1866. Autogr., 3f. Destinatário

UNIFORMES brasileiros, argentinos e paraguaios. [S. n. t.). Argentina 29, ano 3, diciembre 1971-enero 1972, n. 29, p. 70-79.

a chegada de Silveira Lobo e a Guerra do

ignorado.

|

CARMO. Carta a destinatário ignorado sobre a Guerra do Paraguai.

1869.

Mapa

da

força

quartel-general

em

Assunção.

CATÁLOGO dá Coleção Visconde do Rio Branco. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 1950. 2v.

FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL DRD/DIVISÃO DE INFORMAÇÃO DOCUMENTAL

CAUTELAS de jóias e objetos de valor doados pelas senhoGUERRA

ras paraguaias para auxílio da Guerra. 1867. 104 doc..

DO PARAGUAI — Manuscritos

originais. Coleção Galvão. ALENCAR, Jose Martiniano de. Carta a um amigo descul-

CAXIAS, Luis Alves de Lima e Silva, Duque de. Carta ao

pando-se por não ter comparecido à conferência... 27

Visconde do Rio Branco sobre a vitória dos aliados em

jan. 1869. 1f., autografa. Declara ser favorável à redu-

Humaitá. Cat. Rio Branco, 4825.

ção de despesas e à permanência de tropas no Para-

CAXIAS, Luis Alves de Lima e Silva, Duque

de. Cartas a

guai.

Ana Luiza (sua esposa). 1865-8. Sp. mss., originais.

Pedro de. Colección de obras impresas y manuscritas, que tratan pricipalmente del rio de la Plata.

Entre outros assuntos, refere-se à vinda do Imperador

ANGELIS,

CAXIAS, Luis Alves de Lima e Silva, Duque de. Caras a João Manuel. Tuyucue, 1-9 nov.1867. 4 docs. mss.,

Buenos Aires: [s.n.), 1853. 230p.

ia. cóp 3f., 6. ero num ia, paf cam de N ETI BOL )

CALDWELL,

João

Frederico.

Ofício a João Marcelino

ao Sul e escravos na guerra do Paraguai.

de

originais. Coleção Otoni.

224

A

GUERRA

DO

PARAGUAI

CAXIAS, Luis Alves de Lima e Silva, Duque de. Cartas ao

COLEÇÃO Tobias Monteiro. Contém pacotes com alguns

Visconde de Inhaúma. 1866-8. 8 docs. mss., originais.

documentos, notas e recortes de jornais sobre a Guer-

CAXIAS, Luis Alves de Lima e Silva, Duque de. Cartas ao Visconde do Rio Branco. 1867 e 1868. 3 docs. mss,,

ra do Paraguai. COLEÇÃO

Visconde do Rio Branco. 50 rolos de microfil-

mes. Cerca de 50.000 docs. do Arquivo do Paraguaí,

originais.

CAXIAS, Luis Alves de Lima e Silva, Duque de. Correspon-

apreendidos pelo Brasil ao final da guerra e recolhidos

dência do Governo Imperial do Brasil com o conse-

ao arquivo particular do Visc. do Rio Branco; adquiri-

lheiro Francisco Otaviano de Almeida Rosa e com o

da pela BN em 7/6/1881. Documentação devolvida ao

Marquês de Caxias. Rio de Janeiro, 1865-1867. Códice,

Paraguai em 1980-1.

COLLECÇÃO de figurinos para a Guarda Nacional da Corte

cópias, 22 documentos, 232p.

CAXIAS, Luis Alves de Lima e Silva, Duque de. O Duque de Caxias perante a história, guerra

com o Paraguay.

e seu município...offerecida... pelo tenente d'Infanta-

ria do Exercito José Maria da Costa Araujo. [18-2]. ([31f], il. Desenhos assinados por Sousa, 1840.

Cópia, mss.

COLEÇÃO De Angelis. Adquirida em 1853 de Pedro De

CONFIDÊNCIAS e reservados expedidos pelo Sbc

do

Angelis, com cerca de 1.500 pastas de documentos e

Excellentíssimo Sr. Conselheiro Dr. Affonso Celso de

códices sobre a história da Província Jesuítica do Para-

Assis Figueiredo. 1866-1868. Códice, cópia, 137p.

guai e das questões

de limites na região do Prata.

Microfilmada.

COLEÇÃO

(Francisco Solano López). 1854-66.

Galvão (Miguel Arcanjo Galvão). Cerca de

32.000 documentos Brasil, secs.

sobre história administrativa do

XVHI-XIX;

contém

alguns

documentos

avulsos sobre a Guerra do Paraguai; Galvão foi conta-

dor da Guerra do Paraguai e colecionador.

COLEÇÃO Mario Barreto. Cerca de mil documentos manuscritos, originais. Correspondência do Conde D'Eu durante a Guerra do Paraguai. Coleção doada por Ana Maria

Barreto

CORRESPONDÊNCIA de madame Lynch com D. Pancho

à BN

em

disponível para consulta,

novembro/94

e ainda

não

CUNHA, Antônio Luis Fernandes da. Oficios da Tesouraria de Fazenda da província a José Joaquim Fernandes Torres,

comunicando

despesas efetuadas em

conse-

quência de epidemia na região, e remetendo docu-

mentos. Porto Alegre, RS, 13-30 mar. 1867. Original, 6

doc. 7p.

DECLARAÇÃO dos prisioneiros de guerra de Cerro-Cora à bordo do vapor Princesa Armada Imperial. Assunção, 4 abr. 1870. Original, 1 doc,, 12p.

DOCUMENTOS

relativos à Guerra

do Paraguai oriundos

BIBLIOGRAFIA

DA

ArENES bis dede

emr pt

dos Ministérios da Guerra e Relações Exteriores sobre operações militares e negociações diplomáticas.

Có-

pias, 24 documentos. ENTRADA

DO

PARAGUAI

TE.

-—

CR

e

225

o Sa

ee

de Janeiro. Typ. Imp. e Const. J. Villeneuve,

1367.

Impresso, 45p. GAY, João Pedro, Ofícios a João Marcelino de Souza Gon-

e saída de transportes: Guerra do Paraguay.

1870. [117]f., mss., original.

zaga, informando sobre o movimento e a aproximação das forças paraguaias na Freguesia de São Borja.

FERREIRA, Antonio Costa etal. Requerimento ao Presiden-

São Borja, 9-12 maio 1865. Cópia, 4 doc., 12p.

te da República (Venceslau Bras) pedindo a abolição

GONZAGA, João Marcelino de Souza. Extrato da corres-

dos festejos comemorativos pela vitória brasileira nas

pondência do Presidente da Província de São Pedro

batalhas de Tuiuti e Riachuelo. São Félix, BA, 21 jan.

do Sul,

1916. 2f., impresso com assinaturas autografadas.

49p.

FIGUEIREDO,

Afonso Celso de Assis.

Cartas do Ministro

INSTRUCÇÃO

relativa à guerra.

1864-65.

Códice,

cópias,

do recruta. [Paraguai], 1869. Cópia por

da Marinha ao contador do Tesouro, Miguel Arcanjo

Cayetano Rodas; nota manuscrita no verso da 1º capa:

Galvão. 1866-1867. 13 cartas, pp. 382-410.

“Este manuscripto foi achado em Piribebuy a 12 de

FIGUEIREDO, oficial,

Afonso

Celso

de Assis.

confidencial e reservada.

Correspondência ago. 1866/jul.1868.

FREITAS, Leopoldino Joaquim de. Ofício a José Joaquim Fernandes

Torres,

agosto de 1869 por Luiz de Beaurepaire Rohan”.

INVASÃO do Rio Grande do Sul: justificação do Major Joaquim Antônio Xavier do Valle. Porto Alegre. Typ.

Cópia, ms, 137f.

que entregou

comunicando

ao

do Jornal do Commercio, 1867. Códice, impresso, 31p. J. B. Canción de un soldado. 3p., mss.

vice-cônsul francês da cidade a indenização devida a

JESUÍTAS e bandeirantes no Guaira (1594-1640): manuseri-

François Gay, por madeiras queimadas pelo 2º Corpo

tos da Coleção De Angelis. Introd., notas e glossário

de Exército estacionado em São Borja. Porto Alegre,

por Jaime

RS, 4 maio 1867. Original, 2 doc., 5p.

gues. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional,

GALVÃO,

Rafael Arcanjo.

diversas autoridades.

Minutas de oficios dirigidos a

1866-1867.

1.356 documentos,

2v. encad., mss. GAY,

GUERRA

iJoão Pedro. Invasão paraguaya na fronteira braz

leira do Uruguay desde seu princípio ate o seu fim (10

y. Rio Ga o dr Pe ão Jo go ne Cô lo pe jun. a 18 set. 1 865)

Cortesão;

explicação José

Honório

Rodri-

1951. 7v.

Arrola documentos sobre questões de limites e formação territorial.

LAMARE

SOBRINHO, Joaquim Raimundo de. Tópico da

carta a seu pat... sobre os últimos movimentos... da

guerra. Tuiuti, 5 jun. 1867. 1p., cópia. LISTA nominal de SS. Oficiales y tropas de la 4. comp. 6

E

GUERRA

DO

PARAGUAI

a

A

SS

SO SD

SEE

ak

1

A o Ea

E

mA, SO

aeer

aca

aque

rio

E

a

ES PRE

maio 1869. Assinado por Francisco de Paula Martinez: escrita em couro. LOPEZ,

Francisco

ministro

sucessos da guerra. Humaitá, 12-16 jun. 1865. 4 docs.

ap

27x21cm.

Catálogo

da Coleção

Rio

Branco: 3953, LÓPEZ,

Francisco

I

pd RO oO tr O

Cartas a José Berges,

Solano.

coronel Germano

APR, pa SS

pergaminho,

a Soa

comandante

Decreto

Serrano,

nomeando

o tenente-

do 4º Batalhão,

coronel

do mesmo.

8 dez.

1868.

1 ms., autogr.,

E E do cáPS Se a

Pelotas a Alexandre José de Melo Moraes, comunican-

a

do sua indicação ...para representá-la nas felicitações

a SM. pela vitória sobre os paraguaios. Pelotas, RS, 6

maio 1870. Original, 1p.

Francisco Inácio Marcondes

Homem

de.

Carta a

des, participando que o 3º Corpo de Exército... transpôs o Uruguai em 25 de março. Porto Alegre, RS, 12-3

e 22 abr. 1867. Cópia, 3 doc., 9p. Francisco

Homem

de.

Corres-

Alegre, RS, 29 jun. 1867/15 mar. 1868. Cópia, 39 doc,, 138p. MELO,

Francisco

Inácio Marcondes

Homem

de.

Corres-

pondência oficial do presidente do Rio Grande do Sul da correspondência trata da organização do 3º Corpo

do Exército contra o Paraguaí em 1867. MELO,

Francisco

Inácio

Marcondes

Homem

de.

Corres-

Inácio

Marcondes

Códice, originais e cópias, 80f. MELO,

Francisco

pondência

Inácio

Marcondes

Homem

de.

Corres-

reservada do Presidente da Província do

imperial. Cópia,

ms., 49f.

MELO,

Francisco Inácio Marcondes

Homem

de. Oficio a

Afonso Celso de Assis Figueiredo, informando sobre as condições em que se encontra a Esquadra da Lagoa dos Patos. Porto Alegre, RS, 29 jan. 1867. cópia

Homem

de.

Corres-

pondência oficial com o governo imperial e autoridades da província, versando grande parte sobre a orga-

nização do 3º Corpo do Exército para a campanha contra o Paraguai. Porto Alegre, RS, 23 nov. 1866/5

fev. 1868 (extratam-se os documentos mais importantes). Cópia, 56 doc., 193p.

Exército da Guerra do Paraguai. 16 jan./22 ago. 1867.

Rio Grande do Sul com o governo

Zacarias de Gois e Vasconcelos e a outras autorida-

MELO,

Marcondes

pondência oficial sobre a organização do 3º Corpo do

MELO, Adriano José de. Ofício da Camara Municipal de

MELO,

Inácio

com o governo Imperial. Cópia, ms., 97f. A maior parte

q

ea SR o 7

Solano.

originais,

Francisco

pondência oficial com o ministro da Guerra. Porto

das Relações Exteriores do Paraguai, referindo-se aos mss.,

Ceà =

MELO,

MELO,

Francisco

Inácio Marcondes

Homem

de.

5p-

Oficio a

Antonio Coelho de Sa e Albuquerque, fazendo considerações sobre a permissão obtida pelo general Barão do Erval, para penetrar no Uruguai em perseguição a

brasileiros que procuram Jugir ao serviço militar. Por-

to Alegre, R$, 18 fev. 1867. Cópia, 3p.

MELO, Francisco Inácio Marcondes Homem de. Oficio a

+errrreee

BIBLIOGRAFIA

da

tree

EG

AR add meo im

DA

DESCI bia

GUERRA

DO

PARAGUAI A

A

José Joaquim Fernandes Torres, acusando o recebimento de aviso que atribui ao Ministério da Guerra

responsabilidade da indenização de François Gay, á

3:

realizada pela Pasta do Império.

jun. 1867. Original, 1p.

Porto Alegre, RS, 3

MELO, Francisco Inácio Marcondes Homem

de. Ofício a

cessão de auxílio a Rita Guedes de Meneses Falcão...

pela perda de seus bens em consegiiência da invasão Porto Alegre,

RS, 20 abr.

1867. Ono tnal

2p. MELO,

Francisco Inácio Marcondes

Homem

de. Ofício a

pelos objetos fornecidos por ocasião da epidemia de

cólera. Porto Alegre, RS, 2 maio 1867. Original, 11: doc., 13p. Francisco Inácio Marcondes

Homem

de. Ofício a

dido de indenização de Luis Pitaluga, súdito italiano,

pelos danos sofridos com a invasão paraguaia. Porto Alegre, RS, 20 fev. 1867. Original, 1p. MELO,

Francisco Inácio Marcondes

José Joaquim

Fernandes

Homem

Torres,

de.

Ofício a

enviando

requeri-

mento em que Epifanio Lopes Falcão...reclama inde-

nização pelos prejuízos causados por forças paraguaias. Porto Alegre, RS, 15 out. 1867. Original, 1p. MELO,

Ap O Gi

ge

Torres, enviando

em que José Luis Cardoso

RG

e

requeri-

de Sales reclama

indenização pelos prejuízos com a invasão da Via de Uruguaiana pelos paraguaios. Porto Alegre, RS, 21

MELO, Francisco Inácio Marcondes Homem de. Ofício ao general Marquês de Caxias contestando a notícia de estarem os paraguaios fortificando a margem direita do Rio Paraná,

a fim de impedirem a passagem do

Exército Nacional. Porto Alegre, RS, 8 fev. 1867. C6-

Francisco Inácio Marcondes

MELO, Francisco Inácio Marcondes Homem

Antônio Coelho de Sá e Albuquerque,

Homem

de. Ofício a

de. Ofícios a

referentes ao

recrutamento de filhos de estrangeiros para o serviço militar. Porto Alegre, RS, 9-10 fev. 1867. Cópia, 3 doc., 10p.

MELO, Francisco Inácio Marcondes Homem

José Joaquim Fernandes Torres, encaminhando o pe-

»

Fernandes

é]

e

pia, 2p.

José Joaquim Fernandes Torres, comunicando abertura de crédito para indenizar o Ministério da Guerra

MELO,

mento

e

out. 1867. Original, 2p.

José Joaquim Fernandes Torres, comunicando -a con-

paraguaia.

José Joaquim

e

de. Ofícios a

Manoel Pinto de Souza Dantas, sugerindo a extensão da linha telegráfica de Porto Alegre à cidade de Rio Grande,

Pelotas e Jaguarão e destacando as vantagens de rápidas comunicações com a fronteira meri dional. Porto Alegre, RS, 10 fev. e 24 abr. 1867. Cópia,

3 doc., 11p.

MINUTAS sobre o Paraguay no tempo da guer ra. 1865-7. Anexo:

biografia de Solano López publicada no Le Monde Illustré em 1860.

NÓBREGA, Tristão de Araújo. Oficio ao coronel Antonio Fernandes

Lima

relatando

o tiroteio havido

com

aos

228

A

GUERRA

PARAGUAI

DO ES SEP A

paraguaios,

próximo

a São Borja,

no dia

11 jun.

PÚBLICAS formas da certidão de protesto pelo aprisíona-

1865. Campo Volante do Corpo Provisório 22., junto à

mento

antiga estância do Padre Alexandre. 24 jun. 1865. Có-

cônsul João Carlos Pereira Pinto. Buenos Aíres, 19 dez.

pia, 8p.

1864. Cópia, 2 docs., 9p.

NOTAS da Campanha da Guerra do Paraguai. 1867. Origi-

QUADRO

nal, 2 docs., 5p. Anexo: cópias de um telegrama dirigido ao coronel-chefe do Estado-Maior pelo cel. Vasco

de Olinda,

passada

peló

dos vapores possuídos pelo Paraguay durante a

guerra. Humaitá, 19 ago. 1868. 4f., cópia mss. QUESTÃO

Alves; Estação Central, 14 mar. 1869.

NOTAS

do navio Marquês

que houve entre os paraguaios e os brasileiros

que estavam ocupando a ilha do Cerrito. 17 out. 1872.

para a biografia do general Osório. 16p., mss,,

Original, 14 docs., 4p.

REGULAMENTO especial para O serviço das enfermarias

original.

OLIVEIRA, João Olinto de. Histórico do 2º Corpo de Exér-

militares. Rio de Janeiro: Typ. Univ. Laemmert, 1861.

cito. Porto Alegre, RS, 18 jul. 1867. Cópia, 11p. PARAGUAY:

N.p. Coleção Galvão.

cópias de documentos do tempo da guerra.

RELAÇÃO nominal e alphabetica dos prisioneiros de guer-

1868. 5 docs., mss., cópias. Conteúdo: 1) intenção de

ra paraguaios matriculados na Escola de Ensino Primá-

Solano López de erigir monumento em homenagem a

rio nos annos

seu pai através de contribuição de “un real”; 2) relação

44x62cm. Coleção Galvão.

de imagens deixadas na capela do 2º Corpo, Humaitá; 3) relação

de comandantes

em

Humaitá

; 4) dados

numéricos da guerra; 5) cópia de patente de subalterno.

|

PARANAGUÁ, João Lustosa da Cunha.

Ofício a José Joa-

quim Fernandes Torres, comunicando providências para que o Ministério dos Negócios do Império receba a quantia paga a François Gay, como indenização das madeiras queimadas pelo 2º Corpo do Exército. Rio de Janeiro, RJ, 2 out. 1867. Original, 1p. PASSAGEM,

Delfim Carlos de Carvalho, Barão da. Papéis

pessoais do Barão da Passagem. 11 mss., autógrafo.

RIO

BRANCO,

José

de 1869 e 1870. Maria

da

Carta ao Barão Homem

1f., ms.

Silva Paranhos,

original, barão

do.

de Mello. Liverpool, 7 jul:

1882. Autografa, 4f. O barão solicita em carta inclusa

ao ministro da Guerra decisão sobre verba para impressão de seu livro sobre a Guerra do Paraguai. RIO BRANCO, José Maria da Silva Paranhos, visconde do.

Carta declarando que não foi à Câmara porque ficou trabalhando na missiva que vai dirigir ao Conselho do Paraguai. 1f., autógrafo. Destinatário ignorado.

SERMÃO recitado no solemne Te-Deum... no dia 11 de novembro de 1865 em Ação de Graças por occasião de voltar S.M. o Imperador

da guerra contra os para-

229

guayos invasores do Império. Rio de Janeiro: Typ. de

dos seguíntes navios encouraçados: Bahia, Barroso,

N.L. Vianna, 1866. 10p. Impresso.

Tamandaré, Pará, Rio Grande e Alagoas. 1868. 12f.

SEWELOH, A. A. F. de. Apontamentos sobre a Guerra do

Brasil com

o Paraguay.

280f., autógrafo. Texto em

alemão e português.

(11f. num.), cópia, ms. (Col. Wandenrelk).

TRATADO ms.

segundo

em

couro.

título prímeiro Nota

ms.

na

p.

do soldado. 2:

31p.,

“Encontrado

p.

O TESOURO de López. 12p. Datilografado.

mim em um reducto de Curupahity. 22 marco de 1868.

TRABALHOS da Divisão Avançada da Esquadra composta

Salgado”.

251

SOBRE OS AUTORES

Leslie Bethell é pesquisador senior do St. Anthony's

Fernando Antonio Novais é professor de História da

College, de Oxford,

Universidade de São Paulo e da Universidade Estadual

professor emérito de História da

América Latina na Universidade de Londres.

de Campinas.

Carlos Guilherme

Francisco Alambert

Mota

tória Contemporânea

det cm

a

da

da Universidade de São Paulo Estudos

do

Instituto

de

Universidade

de São

Paulo.

e diretor-fundador

dos

é professor-titular de His-

broad do Programa

Avança-

Membro

do

de Estudos Latino-Americanos

da Princeton University e da Academia Portuguesa de História.

é doutor em História da Cultura

pela Universidade de São Paulo e professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense. Leôn Pomer é professor de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de São Paulo, campus de Assis.

Tício Escobar é advogado e crítico de arte. Atualmente está à frente da Direção de Cultura da Municipalidade

Max Justo Guedes é diretor do Serviço de Documenta-

de Assunção.

ção da Marinha.

Enrique Amayo é professor do Departamento de Eco-

Eduardo Silva é doutor em História pela Universidade

nomia da Universidade Estadual de São Paulo.

de Londres e chefe do setor de História da Fundação

Alberto da Costa

Casa de Rui Barbosa.

Brasil em Assunção.

e Silva é escritor e embaixador do

o

historiografia brasileira tem se ressentido de uma reflexão ! contemporânea sobre a Guerra do

]

à Paraguai. Este é certamente um dos E

ma

| |

| |

capítulos mais obscuros de nossa história. Talvez alguns queiram crer que o tema da Guerra não seja muito afeito ao caráter “cordial” brasileiro, à índole pacífica nacional.

As interpretações da Guerra oscilam ideologicamente entre o ufanismo, que propala a bravura da marinha e do exército brasileiros, e aqueles que entendem a participação do Brasil como um braço armado do imperialismo inglês nas Américas, para impedir o autonomismo paraguaio. Em novembro de 1994, a Fundação

5

| |

+

| * * )

*, promoveram, no âmbito do Projeto À Biblioteca Nacional, o colóquio “Guerra do Paraguai - 130 anos”. O presente volume reúne as palestras proferidas durante o colóquio. Longe de lograr uma interpretação definitiva sobre o tema, as contribuições dos diversos palestrantes, de

|

Roberto

Marinho

e o Banco

Real

diferentes nacionalidades, buscam

K

refletir

sobre velhas teses a respeito da Guerra.

Novas abordagens acrescentaram-se ao debate, como as expressões literárias e das artes visuais. Nem sempre concordantes, às vezes complementares, o conjunto dos textos é marcado pela diversidade. Uma das mais Instigantes perspectivas é defendida pelo historiador inglês Leslie Bethell, que contesta a versão recorrente da Guerra como resultado dos interesses imperialistas britânicos, o que vai de encontro ao pensamento do professor peruano Enrique Amayo. O balanço da historiografia é feito pelo historiador

Carlos Guilherme Mota, coordenador do colóquio. O paraguaio Ticio Escobar analisa dois periódicos de guerra que estão na origem da gravura paraguaia. Francisco Alambert aborda casos da literatura brasileira em que a Guerra crige-se contra a pretensa barbárie paraguaia. O comandante Max Justo Guedes elabora uma análise da correlação de forças militares no conflito. O

historiador Eduardo Silva, por meio de um estudo de caso, contesta a visão de que os Voluntários da Pátria teriam sido caçados a laço para ingressar na luta. León Pomer considera o conflito como um momento básico da formação do Estado na Argentina. Fernando Novais lança a idéia de que a guerra foi um momento necessário para que se conciliasse uma contradição fundamental do Império

brasileiro. O diplomata Alberto da Costa e Silva analisa as relações diplomáticas entre

o Brasil e Paraguai, desde o final dos confhtos até nossos dias. Integram também este volume uma seleção do material iconográfico da Biblioteca Nacional, uma minuciosa cronologia de todo o contexto histórico “da Guerra e um levantamento completo do acervo da Biblioteca Nacional sobre o periodo 1864-1872. com cerca de mil registros que constituem fonte de referência imprescindível para o pesquisador interessado na história da Guerra do Paraguai,

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