287 99 66MB
Portuguese Pages 232 [233] Year 1995
ameaça
Leshe Bethell Carlos Guilherme Silva
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Eduardo
Mota
Fernando León
Novais
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Francisco Alana bn
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Enrique Amayo Ticio Escobar. Alberto da Cê e Eva Max Justo: Guedes -
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Da
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A GUERRA
DO
PARAGUAI
150 anos depois
ORGANIZAÇÃO
Maria Eduarda Castro Magalhães Marques
RELUME qts Rio
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DUMARÁ
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O Copyright dos autores, 1995
Direitos cedidos para esta edição à DUMARÁ DISTRIBUIDORA DE PUBLICAÇÕES LTDA. Rua Barata Ribeiro, 17 — sala 202 22011-000 — Rio de Janeiro, RJ Tel.: (021) 542-0248 Fax: (021) 2754294
a Eduarda GAsto Mari por o zad ani org — ume vol este am egr int que gos Os arti
Magalhães Marques — foram originalmente conferências proferidas no colóquio “Guerra do Paraguai — 130 anos”, realizado em 25 de novembro de 1994,
a. na Biblioteca Nacional, sob a coordenação do professor Carlos Guilherme Mot
Uma realização Banco Real Biblioteca Nacional Fundação Roberto Marinho Preparação de originais
Angela Ramalho Vianna Revisão Sandra Suzano Paiva
Projeto gráfico Carlos Alberto Herszterg Capa
Victor Burton
|
sobre “Batalha do Avaí”, óleo sobre tela — Pedro Américo, 1872 (capa) e “Trincheira de Curupaiti” (detalhe), óleo sobre tela — Candido Lopez, 1898 (contracapa)
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte. Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. 6963
A guerra do Paraguai: 130 anos depois / organização Maria Eduarda Castro Mapalhães Marques. — Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1995
Trabalhos apresentados
no Colóquio
realizado em novembro de 1994
“Guerra do Paraguai —
130 anos”,
ISBN 85-7316-033-0
1. Paraguai, Guerra do, 1864-1870 — Congressos.
Castro Magalhães.
95-1552
I. Marques, Maria Eduarda
CDD — 989.205
CDU -—989.2"1864/1870”
Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, por qualquer meio, seja ela total ou parcial, constitui violação da Lei 5.988.
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APRESENTAÇÃO
o conceberem o projeto de recuperação da
ros para uma
Biblioteca Nacional, o Banco Real e a Funda-
múltiplas dimensões.
ção Roberto Marinho juntaram-se, mais uma
Como
revisão da história da Guerra
em
suas
afirma o professor Carlos Guilherme Mota,
vez, para revitalizar um dos mais importantes patrimô-
coordenador do colóquio, a história da Guerra do Para-
nios da cultura brasileira. Além de promover a restaura-
guai é a “história de um silêncio”. A abordagem deste
ção do prédio, o projeto teve por objetivo a valorização
tema um tanto esquecido pela historiografia contempo-
do precioso acervo guardado pela Biblioteca,
rânea visa à recontextualização do conflito que marcou
A presente publicação é o resultado de uma das ações
desenvolvidas
indelevelmente
a história dos Estados latino-america-
pelo projeto neste sentido. Ela
nos. Cento e trinta anos após seu início, a Guerra do
congrega o conjunto de intervenções proferidas no co-
' Paraguai é um assunto atual. Revisitá-lo, no momento
lóquio “Guerra do Paraguai — 130 anos”, uma coletã-
em que se buscam novas formas de integração e de
nea de documentos iconográficos e uma listagem do
identidade para o continente, com a implantação do
acervo da Biblioteca referentes ao assunto.
Mercosul, parece ser tarefa urgente.
Realizado em novembro de 1994, o colóquio reuniu
os mais destacados especialistas nacionais e estrangei-
A Biblioteca Nacional foi depositária, por muitos
anos, de documentos paraguaios apreendidos durante
dos aos arquivos do Paraguai. Mas ainda
esti
publi-
PARAGUAI
de participação da sociedade civil, através de investimentos do setor privado, em benefício do patrimônio
jornais de época e manuscritos, todos à disposição para
público. A Biblioteca Nacional reforça assim seu papel como centro dinâmico de referência da história e da
consulta.
cultura brasileiras.
cações inéditas, fotografias da frente de batalha, mapas,
mais do que um simples instru-
Fundação Roberto Marinho
mento de divulgação do acervo, é fruto de um esforço
Banco Real
Esta publicação,
[E: a
a Guerra, Esses documentos foram justamente devolvi-
DO
pe
GUERRA
E
A
6
edição o Banco Real e a Fundação Roberto Marinho
do Paraguai foi realizado na Biblioteca Na-
patrocinaram. Além das conferências de Carlos Guilher-
cional, no dia 23 de novembro de 1994, reu-
me Mota, Leslie Bethell, Enrique Amayo, Fernando Novais, Leôn
assunto dentro e fora do Brasil.
Francisco Alambert,
Durante todo aquele dia, na fabulosa seção de ma-
Pomer,
Max Justo
Guedes,
Eduardo
Silva,
Ticio Escobar e Alberto Costa
Silva, O interessado encontrará uma
e
atualizada biblio-
nuscritos, onde trabalharam historiadores ilustres como
grafia da Guerra do Paraguai produzida pela equipe de
Sérgio Buarque de Holanda e José Honório Rodrigues,
e onde estão alguns dos documentos preciosos da his-
Eliane Perez, rastreando em nosso acervo tudo o que há sobre aquele conflito.
tória luso-brasileira, pesquisadores paraguaios, perua-
Em tempos de Mercosul, esta publicação torna-se
nos, argentinos, ingleses e brasileiros puderam debater,
ainda mais relevante, pois uma das maneiras de ativar o
sem o menor constrangimento, um assunto ainda tabu
presente e impulsionar o futuro é revisar o passado,
na história latino-americana.
para que nossa história avance criticamente.
O resultado do encontro o leitor encontrará neste
Affonso Romano de Sant'Anna
volume coordenado por Maria Eduarda Marques, cuja
Presidente — Fundação Biblioteca Nacional
E com
nindo numa mesma mesa de debates especialistas no
sa
mplo e profundo seminário sobre a Guerra
ça
UMA REVISÃO HISTÓRICA
DO Bocas
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SE
A
O
SUMÁRIO
CRONOLOGIA DA GUERRA 11
Introdução A GUERRA DO PARAGUAI História e historiografia Leslie Bethell 19 A GUERRA CONTRA O PARAGUAI A história de um silêncio Carlos Guilherme Mota
37 A GUERRA: UMA ANÁLISE Max Justo Guedes
51
O PRÍNCIPE OBÁ, UM VOLUNTÁRIO DA PÁTRIA Eduardo Silva
65
O SIGNIFICADO DA “GUERRA DO PARAGUAP NA HISTÓRIA DO BRASIL Fernando A. Novais
mi
LO
A
GUERRA
DO
PARAGUAI
CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE, HISTÓRIA E CULTURA
Representações literárias e projeções da Guerra do Paraguai nas crises do Segundo Reinado e da Primeira República Francisco Alambert S5
Iconografia da Guerra do Paraguai 97
A GUERRA DO PARAGUAI E A FORMAÇÃO DO ESTADO NA ARGENTINA León Pomer
113 A GRAVURA
POPULAR, OUTRA IMAGEM
DA GUERRA
Tício Escobar 121
O IMPERIALISMO BRITÂNICO E A GUERRA DO PARAGUAI Leslie Bethell 131
GUERRAS IMPERIAIS NA AMÉRICA LATINA
“A Guerra do Paraguai em perspectiva histórica Enrique Amayo 151 —
DA GUERRA AO MERCOSUL
Evolução das relações diplomáticas Brasil-Paraguai Alberto da Costa e Silva
165
BIBLIOGRAFIA DA GUERRA DO PARAGUAI 175 SOBRE OS AUTORES
2314
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|
11 1
CRONOLOGIA
o E
TT
O
———— TE
DA GUERRA
Leslie Bethell
Antecedentes 1750
1811
Tratado de Madri, entre Espanha e Portugal: reconheci-
Independência de fato do Paraguai.
mento das fronteiras do Brasil Colonial a oeste do meridiano de Tordesilhas (1494), baseado no direito de uti
possidetis (ocupação de fato). 1777
Tratado de Santo Ildefonso; redefinição das fronteiras
portuguesas e espanholas no Rio da Prata. 1808
Chegada da Corte portuguesa ao Rio de Janeiro.
Rebelião
da Banda
dicando autonomia
Oriental
com
do
Rio da
Prata,
reivin-
relação a Madri e a Buenos
Aires.
1813-1840
Ditadura do doutor José Gaspar Rodriguez de Francia
(“El Supremo”) no Paraguay. 1816
1810
Independência das Províncias Unidas do Rio da Prata (união fragmentada em torno de 1820).
“Revolução de Maio”, em Buenos Aires.
Invasão portuguesa da Banda Oriental.
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12
DO
PARAGUAI
1821
(Buenos Aires estabelece hegemonia
Incorporação formal da Província Cisplatina ao Reino
províncias do Rio da Prata.)
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A GUERRA
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Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
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À
Período de Regência do Império Brasileiro.
Independência do Brasil,
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D. Pedro 1.
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1825
Tá
1831-1840
1822
a
de fato sobre as
P
proclamada
P
pelo imperador
P
1835-1852 Juan Manuel Rosas mais uma vez no governo da província de Buenos Aires.
E Es
Levante da Banda Oriental contra as leis brasileiras.
E
1825-1828
“Guerra Grande”, no Uruguai, entre blancos e colora-
ne
Guerra entre as Províncias Unidas e o Brasil pela posse
gos
a
E
da Banda Oriental.
|
1835-1851
1835-1845
1828
Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul.
Independência da Banda Oriental, como República do Uruguai, após mediação britânica.
1840
1829-1832
Primeiro governo da província de Buenos Aires por
Juan Manuel de Rosas . 1831 Abdicação do imperador D. Pedro I, em favor do filho,
- então com cirico anos.
Antecipação da maioridade de D. Pedro II.
Morte de José; Gaspar de Francia.
1843-1851 Cerco de Montevidéu por Rosas. 1844
O Brasil reconhece a independência do Paraguai.
Pacto federal entre as províncias do litoral (Buenos
1844-1862
Aires, Entre-Rios, Santa Fé e, mais tarde, Corrientes).
Ditadura de Carlos Antonio López, no Paraguai.
CRONOLOGIA
DA
GUERRA
13
1851
1858
Paz entre blancos e colorados no Uruguai.
Acordo provisório entre Paraguai e Brasil, sobre a livre
Tratado entre Uruguai e Brasil, anexando ao Brasil con-
navegação no Rio Paraguai.
1859
cessões territoriais etc.
Tríplice Aliança entre a província de Entre-Rios (sob comando do general Justo José de Urquiza), Uruguai e
Vitória da Confederação Argentina sobre Buenos Aires,
na batalha de Cepeda (outubro).
Brasil contra Rosas.
Buenos Aires perde a independência.
1852
1860
Derrota
de Rosas
na batalha de Monte
Caseros
(feve-
reiro.)
guai. Adota posição mais dura com relação à penetra-
ção brasileira através do Rio Grande do Sul.
A Argentina reconhece o Paraguai.
Avanço liberal nas eleições parlamentares no Brasil.
Acordo de livre navegação no Rio Paraná.
1861
1855 Tratados de livre navegação entre o Paraguai e a GrãBretanha,
Bernardo Berro (blanco) é eleito presidente do Uru-
o Paraguai
e a França
e o Paraguai
e os
Estados Unidos.
1853-1854
Constituição da República Federal da Argentina, ratifi-. cada por todas as províncias, exceto Buenos Aires. Urquiza é eleito presidente da Confederação Argentina.
Buenos Aires independente.
Rebelião e vitória de Buenos Aires na batalha de Pavón (setembro).
1862
Outubro —
Com
a morte de Carlos Antonio
López,
Francisco Solano López sucede ao pai na presidência do Paraguai,
Outubro —
O general
Bartolomé
Mitre, governador
(liberal) de Buenos Aires, torna-se o primeiro presidente constitucional da Argentina Unida.
A GUERRA
14
DO PARAGUAI
1863
ton (ministro britânico em Buenos Aires) junto ao go-
Abril — O general Venancio Flores e os colorados inva-
verno uruguaio.
dem o Uruguai, pela Argentina, apoiados por Mitre e pelos liberais brasileiros do Rio Grande do Sul. Julho —
Missão
uruguaia
em
Assunção
busca
Ultimatum brasileiro ao Uruguai: cum-
primento das exigências ou retaliação. uma
aliança contra a Argentina e o Brasil, López hesita.
Setembro-novembro — O Paraguai adverte que a independência do Uruguai é condição para o equilíbrio de forças no Rio da Prata,
1864
4 de agosto —
30 de agosto —
Ultimatum paraguaio ao Brasil, adver-
tindo contra a intervenção no Uruguai.
16 de outubro — Tropas brasileiras invadem o Uruguai, em apoio a Flores, e a marinha brasileira bloqueia Mon-
tevidéu. Para o Paraguai, um casus-belli.
:
Janeiro — Novo governo liberal-progressista no Brasil,
A Guerra
com Zacarias Góis é Vasconcelos (substituído em 31 de agosto por Francisco José Furtado, outro liberal, que se
1864
manteve no ministério até maio de 1865).
Fevereiro — Mobilização geral no Paraguai. Março — Berro renuncia e transfere o Poder Executivo no Uruguai para Atanásio Aguirre, presidente do Senado.
Maio — José Antônio Saraiva chega a Montevidéu como chefe da missão diplomática brasileira (seguido pelo vice-almirante Tamandaré e pela esquadra brasileira).
Junho-julho — Fracasso das representações de Saraiva, Rufino Elizalde (chanceler argentino) e Edward Thorn-
12 de novembro
—
O
Paraguai
precipita a Guerra,
apreendendo o vapor mercante brasileiro Marquês de Olinda — que trazia a bordo o presidente do Mato
Grosso —, que zarpara de Assunção em direção a Corumbá.
— Rompidas as relações diplomáticas entre o Brasil e o Paraguai.
13 de dezembro — O Paraguai declara guer ra formal-
mente ao Brasil e dá início à invasão do Mato Grosso.
1865 Janeiro — A Argentina nega o pedido de permissão
CRONOLOGIA
DA
GUERRA
15
paraguaio para cruzar o território disputado das Mis-
11 de junho — Batalha de Riachuelo: a marinha para-
sões, de maneira
guaia ataca a marinha brasileira, mas é vencida e des-
a atacar o Rio Grande
do Sul e dar
apoio aos blancos no Uruguai.
truída.
Fevereiro — Queda de Montevidéu.
— O Paraguai é bloqueado, mas o avanço aliado ao longo do Rio Paraguai é detído pela artilharia da linha
— Paz em Villa de Unión.
de Curupaiti e principalmente pela fortaleza fluvial de
— Vitória colorada na guerra civil uruguaia.
— Flores é nomeado presidente provisório do Uruguai,
aguardando uma eleição (que jamais aconteceria). 18 de março — O Paraguai declara guerra à Argentina e
dá início à invasão, pela província de Corrientes.
13 de abril — Forças paraguaias tomam o porto fluvial de Corrientes.
1º de maio — É firmado o Tratado da Tríplice Aliança (Argentina, Brasil e Uruguai) contra o Paraguai. Os ob-
jetivos da guerra são: fim da ditadura de López; livre navegação no sistema fluvial; anexação
do território
Humaitá.
S de agosto — Tropas paraguaias tomam Uruguaiana.
Agosto —
Bartolomé
Mitre torna-se comandante
das
forças aliadas.
14 de setembro — Estigarribia rende-se a D. Pedro H, Mitre e Flores, em Uruguaiana.
Setembro —
Empréstimo
de 7 milhões
Brasil, feito pelo banco de Rothschild. Setembro-novembro
—
de libras ao
O exército paraguaio
recua,
através do Paraná, retirando-se de todo território aliado;
exceto do Mato Grosso, para defender a fronteira sul.
reivindicado pelo Brasil, no nordeste do Paraguai, e
1866
pela Argentina, no leste e oeste do Paraguai (cláusula
16 de abril — As forças aliadas cruzam o alto do Rio
secreta).
— Maio-junho — O exército paraguaio, sob o comando do coronel Antonio de la Cruz Estigarribia, cruza Mis-
sões e invade São Borja, no Rio Grande do Sul.
Paraná e dão início à invasão do Paraguai, estabelecendo-se em Tuiuti.
24 de maio — Batalha de Tuiuti, primeiro grande teste de força. Luta feroz, na qual o Paraguai fracassa na a
A
16
DO
PARAGUAI
tentativa de desalojar os aliados. (Não há qualquer
e de rt no o çã si po da da ia al ão aç up Oc — to os 2 de ag
avanço aliado até setembro.)
Humaitá.
3 de agosto — Zacarias volta ao poder como chefe do
ig de agosto —
novo gabinete liberal do Brasil.
comando
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.
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No
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GUERRA
12 de setembro — Encontro entre Mitre e López, em fracassa
na tentativa
de
acabar
do almirante Joaquim José Inácio, investem
contra as baterias de Curupail.
3 de setembro — Vitória aliada em Curuzu.
Yatayti-Corá,
Navios de guerra brasileiros, sob o
com
a
Guerra.
3 de novembro — Segunda Batalha de Tuiuti. As forças paraguaias atacam, mas fracassam na tentativa de deter o movimento do cerco de Humaitá.
22 de setembro — Batalha de Curupaiti. Impedido o
1868
avanço aliado. Pior derrota da Guerra. (Nenhum avanço
13 de janeiro —
até julho de 1867.)
Mitre transmite a Caxias o comando
do exército da Tríplice Aliança e regressa a Buenos Aires.
Outubro
)
—
O marechal
Luís Alves de Lima e Silva,
então marquês de Caxias, é nomeado comandante-em-
18 de fevereiro — A marinha brasileira passa pela arti-
chefe das forças brasileiras terrestres e navais.
lharia de Humaitá.
Novembro — Levante Montonero contra Mitre e Guer-
19 de fevereiro — Rebelião no Uruguai, liderada pelo
ra, em Cuyo, província da Argentina, comandado por
ex-presidente Berro. Flores é assassinado. Mais tarde,
Felipe Varela. 1867
Maio-junho — Retirada da Laguna pela força expedicionária brasileira, no Mato Grosso.
22 de julho — As forças aliadas, sob o comando temporário de Caxias, iniciam o movimento de cerco à Humaitá.
no mesmo dia, Berro é capturado, preso e assassinado.
22 de fevereiro — A marinha brasileira aporta em Assunção,
12 de junho —
|
Eleições na Argentina. O chanceler Rufino Elizalde, herdeiro político de Mitre, vence Domingo Faustino Sarmiento, que defendia uma plataforma política contra a Guerra.
CRONOLOGIA
DA
GUERRA
ai
16 de julho — No Brasil, gabinete conservador do vis-
Assunção, para discutir a formação de um governo pro-
conde de Itaboraí.
visório paraguaio.
22 de julho — Humaitá é evacuada.
15 de abril — O conde d'Eu chega como novo coman-
5 de agosto E Ocupação de Humaitá pelos aliados.
Dezembro — Uma série de ataques aliados às posições
paraguaias (campanha da Dezembrada).
dante-em-chefe das forças aliadas.
ms
11 de junho — Estabelecido o governo provisório em Assunção.
12 de agosto — Assalto das forças aliadas, que tomam
— Batalha de Itororó e Avaí.
Peribebuí, capital provisória do Paraguai.
27 de dezembro
16 de agosto — Batalha de Campo Grande ou Acosta
—
Batalha de Lomas Valentinas, na
qual o exército paraguaio é finalmente aniquilado. — López foge para a cordilheira a leste de Assunção.
30 de dezembro — O coronel George Thompson rende-se na última fortificação fluvial paraguaia, em An-
gostura,
Nu. As tropas paraguaias são massacradas. Última grande batalha da Guerra. López escapa mais uma vez e recua para o norte.
Setembro de 1869-março de 1870 — López é perseguido pelas forças aliadas. 1870
1869
1º a 5 de janeiro — Ocupação de Assunção pelas tropas brasileiras. A Guerra é considerada finda. (Caxias ataca
1º de março — López é encurralado e morto em Cer: ro Corá, no extremo nordeste do Paraguai. Última resistência.
o teatro das operações de Guerra.) Janeiro-agosto — López forma novo exército paraguaio
e dá início às operações de guerrilha,
O pós-Guerra 1870
Fevereiro — Missão de José Maria da Silva Paranhos
20 de julho — Tratado preliminar, assinado pelo gover- :
(futuro visconde do Rio Branco), em Buenos Aires e
no provisório paraguaio, a Argentina e o Brasil, em
18
A GUERRA
Assunção:
fim da Guerra
e livre navegação
no siste-
DO
PARAGUAI
erticameo
1876
ma fluvial (questões territoriais a serem discutidas mais
Fevereiro —
tarde).
Paraguai. A Argentina detém Missões, garante o Chaco
Julho
—
Eleições
para a Assembléia
Constituinte
do
Paraguai.
Tratados
de
Paz
entre
a Argentina
e o
central, entre os Rios Bermejo e Pilcomayo, concorda em submeter à arbitragem dos Estados Unidos o territó-
rio entre o Rio Pilcomayo e Arroyo Verde e renuncia à
Novembro — Nova Constituição do Paraguai.
1870-1871 As Conferências em Buenos Aires e Assunção fracassam na condução do tratado geral de paz. Negociações em separado. 1872
9 de janeiro — Tratado de Paz entre Brasil e Paraguai. O Brasil garante o território reivindicado no nordeste do
Paraguai, entre os Rios Apa e Branco.
reivindicação do norte do Chaco
(região igualmente
reivindicada pela Bolívia).
22 de junho — Última tropa brasileira deixa o Paraguai.
Novembro
—
O presidente
norte-americano
Hayes
concede ao Paraguai a área disputada pela Argentina. 1879
Maio — Retirada da última tropa argentina do Paraguai.
ad
Introdução
A GUERRA DO PARAGUAI História e historiografia Leslie Bethell
INTRODUÇÃO
A:
ão houve, desde o final das Guerras Napo-
periferia da política mundial, algumas guerras foram
leônicas, em 1815, até a deflagração da Pri-
empreendidas por poderes imperialistas ou por Estados
meira
guerras
com ambições imperialistas contra Estados mais fracos
a maioria
(notadamente, nas Américas, a guerra dos Estados Uni-
Guerra
internacionais envolvendo
Mundial,
em
1914,
todas ou mesmo
euro-
dos contra o México, 1846-1848). Houve também duas
péias). Houve algumas guerras — como, por exemplo,
guerras civis bastante extensas e extremamente selva-
a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) — entre duas
gens — as guerras de Taiping, na China (nas décadas de
grandes potências. A maior parte delas encerrou-se em
1850 e 1860), com perdas de vida incalculáveis, e a
um pequeno espaço de alguns meses, ou mesmo de
Guerra Civil Americana (1861-1865), na qual morreram
algumas semanas, com um número de perdas de vidas
mais de 600 mil soldados yankees e confederados — e,
humanas relativamente reduzido. Uma delas — a Guer-
no México, com início em 1910 (bem no final do “longo
ra da Criméia (1854-1856) — chegou a envolver três
século XIX”), uma violenta revolução social. Finalmen-
grandes potências (Rússia, Inglaterra e França), durou.
te, na América do Sul, ocorreram diversas guerras — a
quase dois anos e custou a perda de mais de 450 mil
maior parte delas de menor importância — entre os
vidas (dois terços das quais russas). Fora da Europa, na
Estados independentes recentemente formados a partir
das
grandes
potências
(predominantemente
ni
de
CR
À
o = rod e
Mm.
A
22
blanco do presidente Bernardo
Berro, em abril de 1863 —, que detonou a sequência de
à costa do Pacífico, quer ao Rio da Prata.
eventos que culminou
com a invasão do Brasil e da
A mais longa, mais sanguinolenta e mais destrutiva
Argentina pelo Paraguai e, portanto, com a Guerra da
das guerras que assolaram a América do Sul no século
Tríplice Aliança contra o Paraguai. A Guerra do Para-
XIX foi a Guerra do Paraguai, ou Guerra da Tríplice
guai tem suas raízes, sob certo ponto de vista, nas lutas
Aliança, que começou com a declaração de guerra pelo
entre Espanha e Portugal, nos séculos XVII e XVIII, e
Paraguai em primeiro lugar ao Brasil e depois à Argen-
entre as então recém-independentes Províncias Unidas
tina, seguida por uma invasão aos territórios desses dois
do Rio da Prata (Argentina);
países, e acabou por se tornar uma guerra travada entre
ainda, entre a província de Buenos
Brasil, Argentina e Uruguai para a destruição do Para-
Portugal, e depois, o recém-independente Império do
guai. Foi sem dúvida a mais prolongada e — com exce-
Brasil, nas segunda e terceira décadas do século XIX,
ção da Guerra
pelo controle da chamada
Aires, e, primeiro,
interestados já ocorrida em qualquer parte do mundo
Oriental) do Rio da Prata. Esse conflito havia sido, no
entre 1815 e 1914. Durou mais de cinco anos (de outu-
entanto, amplamente resolvido, muito antes dos eventos que levaram diretamente à deflagração da Guerra
de 1864 a março de 1870) e consumiu
cerca de 300 mil vidas (embora, à luz da pesquisa mo-
derna, o número de 200 mil ou até 150 mil vidas possa ser considerado uma estimativa mais razoável). Além disso, a guerra teve um assuntos
econômicos,
impacto
profundo
sobre
os
sociais e políticos de todos os
quatro países nela envolvidos.
Foi um episódio inserido na guerra civil extremamente longa entre blancose colorados, no Uruguai — a
do Paraguai. Em 1828, após a mediação britânica, tinha sido criada a República Independente do Uruguai, estabelecida como um Estado “pára-choque” (ou interme-
diador) entre a Argentina e o Brasil. E, em 1851-1852,0
ditador argentino Juan Manuel de Rosas, o principal inimigo do Uruguai independente, havia sido derrotado por uma Tríplice Aliança prévia, que reunia o Uruguai, o Brasil e as províncias argentinas, que se opunham a
Rosas e a uma dominação por parte de Buenos Aires Uiderada por Entre-Rios e seu caudilho, o general Justo
rm
“Banda Oriental” (ou Lado
e
a mais violenta guerra
especificamente
mm
da Criméia —
e, mais
e
do) contra o governo
dos que tinham interesses conflitantes, quer no tocante
bro/novembro
|
rebelião do general Venâncio Flores (do Partido Colora-
a
dos antigos impérios espanhol e (no
caso do Brasil) português, sobretudo envolvendo Esta-
|
PARAGUAI
(o
da emancipação
|
DO
ca
DS
GUERRA
23
INTRODUÇÃO
José de Urquiza). Na verdade, em 1863-1864, Argentina
possuíam, talvez, 30% da terra, incluindo algumas das
e Brasil, pela primeira vez, estavam
lado
melhores propriedades disponíveis, e transportavam hi-
numa crise no Uruguai e não tinham intenção de entrar
vremente o seu gado para as charqueadas no Rio Gran-
em guerra — pelo menos não entre si.
de do Sul. Mas a administração de Berro, eleita em 1860,
do mesmo
Após cerca de uma década, durante a qual Buenos
tinha começado a adotar uma linha mais dura, tentando
Aires tinha ficado independente, as províncias do Rio
restringir o assentamento de brasileiros (e o direito de
da Prata
se viu mais
possuir escravos) e procurando controlar — e taxar —
tarde, definitivamente — sido unificadas, em 1861. Na
o comércio feito através da fronteira. O Rio Grande do
decisiva batalha de Pavón, o general Bartolomé Mitre
Sul, estado dominado
— o governador liberal de Buenos Aires, que, em 1862,
apenas 15 anos tinha desistido da luta para se tornar
viria a se tornar o primeiro presidente eleito da Repúbli-
independente julgou que o governo imperial do Rio de
ca Unida da Argentina — tinha recebido apoio do gene-
Janeiro fosse proteger os seus interesses no Uruguai. À
ral Flores e dos colorados (liberais) uruguaios. Em abril
medida que as tendências políticas nacionais ficavam
de 1863, por sua vez, Mitre apoiou Flores em sua tenta-
cada vez mais simpáticas aos liberais (culminando, em
tiva de derrubar o governo
blanco (conservador) em
janeiro de 1864, com a nomeação de um governo libe-
Montevidéu. A principal preocupação de Mitre era ga-
ral-progressista, sob a liderança de Zacarias Góis e Vas-
rantir que o Uruguai não voltasse, mais uma vez, a
concelos),
concentrar um possível foco de oposição residual fede-
cada vez mais sensíveis às pressões vindas do Rio Gran-
ralista nas províncias, ameaçando uma Argentina unifi-
de do Sul. Assim,
cada sob a hegemonia de Buenos Aires.
apoiou a rebelião colorada, liderada pelo general Flores, no Uruguai, em abril de 1863.
haviam
finalmente —
E
como
Durante a década de 1850, o Brasil havia aumenta-
do enormemente
por tendências liberais, que há
os governos brasileiros foram se tornando o Brasil, a exemplo
da Argentina,
Uruguai. Já no final dessa década, mais de 20 mil súdi-
Foi exatamente nessas circunstâncias que o governo blanco, no Uruguai, voltou-se para o Paraguai como seu único possível aliado contra os colorados, agora
tos brasileiros, na maioria gaúchos,
apoiados tanto pela Argentina como pelo Brasil.
os seus interesses econômicos
e fi-
nanceiros, bem como a sua influência política sobre o juntamente
com
seus escravos, ali se haviam estabelecido. Os brasileiros
constituíam mais de 10% da população uruguaia, Eles
O Paraguai, uma província de fronteira do Vice-Rei-
nado do Rio da Prata, havia conseguido separar-se tan-
A
24
GUERRA
DO
CI
PARAGUAI
to da Espanha como de Buenos Aires, em 1811-1813. O
so ao Atlântico através do Rio Paraná. Durante a década
país já era e permanecia sendo não apenas geografica-
de 1850 — visto que primeiramente o Brasil e, a seguir,
mente isolado (até a derrota da Bolívia na Guerra do
a Argentina ultrapassaram os obstáculos para a consoli-
Pacífico, no final do século, o Paraguai era o único
dação da sua unidade interna e da sua estabilidade, e
Estado latino-americano cercado por terra), uma nação
que sobretudo o Brasil adotou uma atitude que o Para-
que falava predominantemente a língua guarani, como
guai encarava como uma política imperialista com rela-
era também um país culturalmente isolado. Sob a dita-.
ção ao Uruguai —, o governo de Carlos Antonio López
dura do doutor José
passou a implementar, .com crescente empenho,
Gaspar
Rodríguez
de Francia
uma
(1813-1840) e, em menor proporção (pelo menos até a
política de modernização
década de 1850), sob a ditadura do seu sucessor, Carlos
passando então a fazer uso efetivo da tecnologia britã-
Antonio López, o Paraguai tinha se isolado política e economicamente de seus vizinhos. Seu papel fora bem
pouco significativo nas guerras civil e interestaduais do
Rio da Prata durante a primeira metade do século XIX.
Ele tinha, contudo, muito receio e alimentava sentimentos de profunda desconfiança com relação aos dois
vizinhos — muito maiores, muito mais populosos do que ele e potencialmente predatórios —, as Províncias Unidas do Rio da Prata (Argentina) e o Brasil, que, por
sua vez, tinham pendências envolvendo domínio territorial contra o Paraguai. A Argentina reconheceu a inde-
pendência do Paraguai em 1852. Havia pontos de atrito
com os dois países sobre a liberdade (ou não) de nave-
gação no sistema hidroviário Paraguai-Paraná. O Brasil
pediu ao Paraguai que desse à proví ncia de Mato Grosso acesso ao Rio Paraná e, portanto, ao Atlântico, via Rio Paraguai. A Argentina deve ria dar ao Paraguai aces-
econômica
—
e militar —,
nica e dos técnicos britânicos. Francisco Solano López — a quem Berro,
em Montevidéu,
tinha
recorrido
o governo de em
busca
de
ajuda em julho de 1863, após as consegiiências da invasão empreendida por Flores — tinha assumido o poder
no Paraguai, em outubro de 1862, depois da morte do
pai. Inicialmente hesitante em estabelecer uma aliança formal com os blancos — seus aliados naturais — contra Os colorados, no Uruguai, agora que este último
contava com*o apoio tanto do Brasil como da Argenti-
na, durante a segunda metade daquele ano, López coMeçou, numa espiral ascendente, a advertir a Argentina e o Brasil contra o que ele considerava uma ameaça crescente ao equilíbrio de poderes existente no Rio da Prata, que, em sua opinião, garantia a segurança, a integridade territorial e a independência do Paraguai.
Ele também vislumbrou uma oportuni dade de fazer sua E
INTRODUÇÃO
25
presença sobressair na região, uma chance de desem-
Argentina, essencialmente em defesa de interesses na-
penhar um papel que estivesse à altura do novo poder
cionais ameaçados (talvez mesmo em defesa da sobre-
econômico e militar do Paraguai. No início de 1864,
vivência do seu país); ou irracionais, agressivas e ex-
López
pansionistas, tendo a intervenção brasileira no Uruguai
começou
a se mobilizar,
tendo
em
vista uma
possível guerra.
servido de. pretexto ou de oportunidade para que uma
Depois que toda diplomacia havia fracassado nas
personalidade
megalomaníaca
realizasse o sonho de
tentativas de resolver as diferenças com o governo uru-
construir um império — esses são aínda pontos a serem
guaio, a administração de Zacarias, no Rio de Janeiro,
debatidos. Mas, qualquer que tenha sido o pensamento
acabou por expedir, em 4 de agosto de 1864, um ulti-
inspirador das ações, qualquer que tenha sido a sua
matum ao Uruguai, com ameaças de retaliação em res-
motivação, a decisão de López de declarar guerra pri-
posta a pretensas ofensas sofridas por súditos brasilei-
meiro ao Brasil e depois à Argentina, e de invadir os
ros, bem
como
territórios dos dois países, constituiu um erro gravíssi-
rebeldes
colorados,
uma
intervenção direta em favor dos
López
enviou
um
ultimatum ao
Brasil, em 30 de agosto, contra qualquer intervenção no Uruguai. Quando o aviso foi ignorado e as tropas brasi-
leiras invadiram o Uruguai, em 16 de outubro, López tomou a grandiosa decisão de declarar guerra ao Brasil e, em dezembro
de 1864, invadiu Mato Grosso. A Ar-
gentina recusou permissão
para que o exército para-
guaio atravessasse o território das Missiones — motivo de tantas contendas e altamente despovoado — e invadisse o Rio Grande do Sul e, em última análise, o Uru-
guai. López declarou guerra também à Argentina e, em abril de 1865, invadiu a província de Corrientes.
Assim, Francisco Solano López iniciou o que veio a se tornar a Guerra do Paraguai. Até que ponto suas ações foram racionais, provocadas pelo Brasil e pela
mo de cálculo, erro que traria consegiências trágicas
para o povo paraguaio. Na pior das hipóteses, López lançou-se em um jogo arriscado — e perdeu. Ele superestimou o poder econômico e militar do Paraguai. Ele subestimou o potencial (sem considerar o efetivamente existente) do poder militar brasileiro — e
a disposição para a luta do Brasil. Enganou-se ao imaginar que a Argentina ficaria neutra numa guerra entre Paraguai e Brasil. Por diversas ações, como vimos, tanto
a Argentina como o Brasil apoiaram os colorados na sua luta contra os blancos, e Mitre não acreditou que os interesses
argentinos,
inclusive
a contínua
inde-
pendência do Uruguai, estivessem ameaçados pelo que ele esperava ser uma breve intervenção cirúrgica do Brasil no Uruguai, em defesa de seus próprios interes-
26
A
GUERRA
DO
PARAGUAI
ses. López também exagerou na avaliação das contradi-
Mitre e D. Pedro II não confiavam em López. Além
ções internas da Argentina e na possibilidade de que,
disso, Mitre agarrou essa oportunidade de remover um
por exemplo, Entre-Rios (ainda sob a liderança de Ur-
regime que, a exemplo
quiza) e Corrientes impedissem a Argentina de entrar na
encarava como um foco perpétuo de resistência federa-
guerra contra o Paraguai, ou que, caso houvesse guerra,
lista para Buenos Aires e, portanto, como uma ameaça
ficassem do lado paraguaio e contra Buenos Aires.
constante ao processo de tornar a Argentina uma verda-
Dessa forma, as imprudentes ações de López trou-
dos
blancos,
no Uruguai, ele
deira nação. Por sua vez, D. Pedro aproveitou a chance
xeram à tona exatamente a coisa que mais ameaçava a
de afirmar a inquestionável
segurança e até mesmo a existência de seu país, uma
região (talvez em toda a América do Sul) e, sobretudo,
união entre os dois vizinhos poderosos — na verdade,
de estabelecer uma hegemonia
visto que Flores tinha finalmente conseguido tomar o
lugar de uma hegemonia argentina.
poder em
Montevidéu,
em fevereiro de
1865, uma
também
Nem
“modelo”
a Argentina tinham uma
contenda
brasileira na
sobre o Paraguai, em
Determinar até que ponto o Brasil e a Argentina
união dos três vizinhos — em uma guerra contra ele. o Brasil nem
hegemonia
estavam
à espreita de minar e destruir um
paraguaio
de desenvolvimento
econômico
suficientemente séria com o Paraguai que justificasse
“autônomo”
uma situação de guerra. Eles não desejaram nem plane-
representava uma ameaça ao avanço do “modelo” do capitalismo liberal na região; saber se, como “neocolô-
jaram uma guerra com o Paraguai. A guerra não contava
com o apoio nem era uma reivindicação popular. Na verdade, a guerra provou ser impopular, falando em termos genéricos, nos dois países, mas sobretudo na
Argentina. Mas a necessidade de se defender contra a agressão paraguaia (fosse ela em grande parte provoca-
da ou justificada) ofereceu aos dois países (Brasil e Argentina) uma oportunidade de fazer um “acerto de
contas" com o Paraguai, bem como
de punir e enfra-
quecer, talvez mesmo de destruir, um poder emergente
e preocupante dentrode . sua região.
liderado pelo Estado, que supostamente
nias” britânicas, os dois países foram, ou não, estimulados ou manipulados a deflagrar uma guerra contra o
Paraguai, a fim de abrir a única economia fechada remanescente na América Latina para os produtos manufaturados e para o capital britânicos — estas são questôes que procurei tratar em meu ensaio, neste volume.
Meu argumento é que existe muito pouca — se é que há alguma — evidência capaz de dar suporte a esta tese “Tevisionista”, muito embora os empréstimos britânicos
para a Argentina e, mais especificamente, para o Brasil,
27
INTRODUÇÃO
antes e durante a guerra — bem como a venda de armas
dos seus súditos no Uruguai e, sobretudo, se não tivesse
britânicas —, sem dúvida tenham sido uma contribui-
intervindo militarmente em seu favor; (b) se a Argentina
ção muito importante para a eventual vitória dos “alia-
tivesse ficado neutra no conflito entre o Paraguai € O
dos” sobre o Paraguai.
Brasil; e, mais importante que tudo, (c) se o Paraguai
Em 1º de maio de 1865, o Brasil, a Argentina e o
tivesse agido
mais prudência,
com
reconhecendo
as
Uruguai assinaram um tratado de Aliança contra o Para-
realidades em termos de poderes na região e procuran-
guai. Os objetivos dos aliados eram: (a) acabar com a
do defender seus interesses por meios diplomáticos, €
ditadura de López;
não bélicos.
(b) garantir a livre navegação nos
Rios Paraguai e Paraná; e (c), secretamente, conquistar
definitivamente para o Brasil o território sobre o qual ele julgava ter direito, situado no noroeste do Paraguai,
Considerando-se
a enorme
disparidade
entre
os
e, para a Argentina, o território que ela reclamava para
dois lados em termos de tamanho, riqueza e população
si no leste e oeste do Paraguai. À medida que a Guerra
(e, portanto, em termos de recursos materiais e huma-
foi se desenvolvendo,
nos, tanto reais como potenciais), a Guerra do Paraguai,
como
tornou-se, tanto para o Brasil
para a Argentina,
uma
guerra pela civilização
desde o início, se nos apresenta como
uma luta desi-
contra o barbarismo — apesar do fato bastante estranho
gual. O Brasil (população de quase 10 milhões, incluin-
de que, após a emancipação dos escravos ocorrida nos
do entre
Estados Unidos, em 1863, durante a Guerra Civil Ameri-
(população de 1,5 milhão) e o Uruguai (população de
cana, o Brasil era (além da colônia hispânica de Cuba)
250 mil a 300 mil) uniram
o único Estado em todo o hemisfério ocidental a ter
(população de 300 mil a 400 mil (?), certamente muito
uma
menos do que o 1 milhão ou mais ainda fregiientemen-
sociedade e uma
economia
baseadas no trabalho
escravo (além de continuar sendo a única Monarquia).
1,5 e 2 milhões
te mencionados).
de escravos),
a Argentina
forças contra o Paraguai
Em termos militares, no entanto, os
A Guerra do Paraguai não era inevitável. Também
dois lados estavam em proporções mais bem equipara-
não era necessária. Mas, uma vez que Flores saiu de
das. Na verdade, no início da Guerra (e, pelo menos,
Buenos Aires em direção ao Uruguai, em abril de 1863,
durante o primeiro ano), o Paraguai provavelmente ti-
ela apenas poderia ter sido evitada: (a) se o Brasil
nha, ao menos
tivesse sido menos veemente em defesa dos interesses
rioridade militar. Estima-se, muito disparatadamente,
numericamente,
uma
elara supe-
a =”
a a
=
b
A
28 — 2
——
e
empire co
cm
GUERRA O
O
DO
PARAGUAI
nas
que o exército regular paraguaio tinha entre 28 mil e 57
tro lado, o Brasil, que foi assumindo responsabilidades
mil homens, mais os reservistas (entre 20 mil e 28 mil),
cada vez maiores, considerando-se
o que significa dizer que, virtualmente, toda a popula-
um todo —
ção masculina adulta estava pronta para combate. Isto
40 mil a 45 mil tropas aliadas no campo (três quartos
deve ser comparado com o exército argentino de 25 mil
delas compostas de brasileiros) —, expandiu seu exér-
a 30 mil homens (dos quais somente 10 mil ou 15 mil
cito regular para 60 mil ou 70 mil homens durante o
estavam disponíveis no caso de uma guerra externa, o
primeiro ano das hostilidades, lançando mão de recru-
que nos mostra o grau de fragilidade da recém-conquis-
tamento
tada unidade e estabilidade argentinas); com o exército
alforria em troca do serviço na guerra) e de unidades
do Uruguai de 5 mil homens (se tanto), e o do Brasil, de
militares formadas por “voluntários da pátria” (que tam-
17 mil a 20 mil (embora o Brasil também contasse com
bém incluíam muitos pretos nascidos livres, como, por
a polícia militar e uma ampla reserva,
exemplo, o Príncipe Obá, tema de um ensaio da autoria
de até 200 mil
homens, na forma de Guarda Nacional).
No decorrer da Guerra, o Paraguai mobilizou pelo
por exemplo,
forçado,
a campanha
como
em agosto de 1867, havia de
do uso de escravos
(que recebiam
de Eduardo Silva neste volume). Ao longo da Guerra,
estima-se que o Brasil tenha mobilizado entre 130 mil e
menos de 70 mil a 80 mil homens (embora provavel-
150 mil homens
mente menos do que os 100 mil homens algumas vezes
mil relatados por alguns historiadores), e a proporção
mencionados). Ele podia mobilizar de 30 mil a 40 mil a
qualquer momento, mas após a derrota de Tuiuti, em
maio de 1866, raramente enviou para o campo mais de 20 mil homens. Depois que as forças paraguaias foram expulsas
do território argentino (e não parecia haver
nenhuma possibilidade concreta de retorno), a Argenti-
na reduziu o seu envolvimento com o esforço de guerra aliado, de maneira que, por volta do final da guerra,
havia somente um contingente de cerca de 4 mil ho-
mens no solo paraguaio. O Uruguai teve uma pre sença meramente simbólica no teatro das operaçõe s. Por ou-
(embora, provavelmente,
não os-200
de tropas recrutadas da Guarda Nacional caiu de cerca
de 75%, em 1866, para menos de 45%, em 1869. Além disso, ao contrário do Paraguai, que tinha que
confiar em seu próprio arsenal e estaleiros, os aliados
também tinham acesso a armas e navios de guerra fabricados e comprados no exterior, na maior parte na Euro-
pa, bem como a empréstimos levantados na City de Londres para ajudar no pagamento desse “reforço”. E os
aliados, ou seja, o Brasil, possuíam uma superioridade naval absoluta. No início da Guerra, o Brasil já dispunha da maior e mais poderosa marinha da região (33 embar-
o,
DR
INTRODUÇÃO
és
cações a vapor e 12 a vela); e, em dezembro de 1865, o
efetivo bloqueio do Paraguai, mantido até o final da
primeiro de uma série de encouraçados, o Brasil, en-
Guerra.
em
A segunda e principal fase (que incluiu díversos
cena,
A Guerra em
si pode
ser dividida em três fases.
períodos em que quase não havia luta de fato) começou
A primeira teve início com as limitadas ofensivas pa-
quando os aliados finalmente invadiram o Paraguai, em
raguaias contra o Mato
abril de 1866, e estabeleceram seu quartel-general em
e Corrientes,
em
Grosso, em dezembro de 1864,
abril de
de 1865,
Tuiuti, logo acima da confluência dos Ríos Paraná e
o exército paraguaio finalmente atravessou as Missio-
Paraguai. Nesse local, em 24 de maio, eles rechaçaram
nes e invadiu o Rio Grande do Sul. No começo muito
uma violenta investida paraguaia e ganharam a primei-
bem-sucedida,
a invasão acabou sendo contida pelas
ra grande batalha terrestre da Guerra. Contudo, passa-
forças aliadas. Os paraguaios nunca chegaram a alcan-
ram-se mais de três meses até que os exércitos aliados
çar o Uruguai. O comandante paraguaio, coronel Esti-
começassem a avançar, subindo o Rio Paraguai. Quase
garribia, rendeu-se
imediatamente,
1865.
Em
maio
ao presidente Mitre (comandan-
em
Curupaiti, em
22 de setembro —
te das forças aliadas durante os primeiros dois anos e
apenas dez dias depois de um encontro entre Mitre e
meio da guerra), ao imperador D. Pedro II — em sua
López, em Yatayti-Corá, no qual López ofereceu vanta-
única visita à zona de guerra — e ao presidente Flores,
gens que incluíam concessões
em Uruguaiana, em 14 de setembro. O exército para-
Guerra pudesse chegar ao fim, contanto que ele próprio
guaio recuou, atravessando o Rio Paraná, e preparou-
fosse poupado e que o Paraguai não fosse totalmente
se para defender a fronteira sul do país. No final do
desmembrado
primeiro ano da Guerra,
que permaneciam em solo aliado eram umas poucas
posta definitivamente rejeitada — , os aliados sofreram a sua pior derrota na Guerra. Eles não renovaram seus
localizadas em Mato Grosso (que continuou como um
esforços de avanço até julho de 1867, quando foi inicia-
front secundário dentro da Guerra). Nesse ínterim, em
do um movimento para cercar a grande fortaleza fluvial
11 de junho, em Riachuelo, no Rio Paraná, logo abaixo
de Humaitá (Sebastapol do Paraguai), que bloqueou o
do porto fluvial de Corrientes, na única batalha naval
acesso ao Rio Paraguai e à capital paraguaia, Assunção.
da Guerra que realmente foi importante, a marinha
Mesmo
brasileira destruiu a marinha paraguaia e instituiu um
1868) até que Humaitá fosse finalmente ocupada, e
as únicas tropas paraguaias
territoriais para que a
e ocupado de forma permanente,
pro-
assim, foi preciso mais de um ano (agosto de
e
trou
A
50
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e]
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a
RS
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EP ETR
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midias
GUERRA
mais uns cinco meses (janeiro de 1869) até que, após
Assunção em um período de três meses. Na verdade,
uma derrota decisiva e a destruição virtual do exército
paraguaio na batalha de Lomas Valentinas (em 27 de
foram necessários quase quatro anos para que os aliados chegassem à capital paraguaia. E, mesmo então, a
dezembro), as tropas aliadas (na maior parte brasilei-
Guerra
ras), que, desde janeiro de 1868, estavam sob a lideran-
explicação está, por um lado, na parte dos aliados, ou
ça do comandante-em-chefe
de
melhor, na parte do Brasil, visto que, após o primeiro
Caxias, finalmente invadiram Assunção e colocaram um
ano, mais ou menos, o Brasil lutou nessa guerra pratica-
ponto final na Guerra —
mente sozinho. O governo brasileiro enfrentou enor-
brasileiro, o marquês
ou assim pensavam eles, na
mes problemas
finalmente,
limitada,
foi bem-sucedida,
de guerrilha que, contra
as forças
foi derrotado e teve suas tropas
a e
também
não se pode
ros, demonstraram um elevado grau de falta de aptidão
escapou
novamente.
Ele e sua
Por que foi preciso tanto tempo para que os aliados conseguissem dar um fim bem-sucedido a essa Guerra, a despeito da esmagadora superioridade naval e, pelo menos após Tuiuti, militar? Bem no início da Guerra,
Mitre tinha declarado que os aliados estariam dent ro de =
era uma tarefa nada fácil. Mas
de batalha dessa guerra, em Campo Grande, ou Acosta
região nordeste do Paraguai, em 1º de março de 1870. o
excelentes defesas terrestres e fluviais do Paraguai não negar que os comandantes aliados, inclusive os brasilei-
encurralado e morto em Cerro Corá, no lado extremo da
E
tendo que abastecer as tropas. Destruir as
massacradas, em 16 de agosto de 1869, na última gran-
por mais uns seis meses, até que López foi finalmente
a
logísticos, primeiro organizando seus
Assunção e liderou uma campanha
guidos, em direção ao norte, pelas tropas brasileiras,
cd
A
quilômetros, tanto por terra, como por mar e por rio, e,
companheira irlandesa, Eliza Alicia Lynch, foram perse-
ade
outro ano.
pez constituiu um novo exército na Cordillera a leste de
Nu. O próprio López
De
por mais um
contingentes, depois transportando-os por milhares de
aliadas. Finalmente
ma
ainda se arrastou
Houve, entretanto, uma terceira fase da guerra. Ló-
embora
e e mm
PARAGUAI
ni
época.
E
DO
tática e estratégica. Por outro lado, as tropas paraguaias —
na verdade,
o povo
paraguaio
—
permaneceram
fiéis a López e lutaram com uma tenacidade extraordi-
nária. No final, quando a sobrevivência nacional estava em jogo, lutaram heroicamente. Isto e à determinação
dos aliados de levarem a Guerra até o final mais doloroso explicam por que o confronto foi tão sangrento.
A Guerra foi, para o Paraguai, um desastre quase que absoluto. No final, ele sobreviveu como um Estado
INTRODUÇÃO
independente (muito embora, no período imediatamen-
51
fortificações fluviais, famosas e poderosas, ficaram per-
te pós-guerra, tenha ficado sob a tutela do Brasil). A mais
manentemente
extrema consequência da derrota, o desmembramento
mas argentinas) mantiveram a posição no Paraguaí por
total, foi evitada,
quase uma década.
quanto
mais não fosse por causa da
rivalidade entre os vencedores. O orgulho nacional dos paraguaios permaneceu intacto, talvez até acrescido.
inutilizadas. Tropas brasileiras (e algu-
Dentre os dois principais vencedores — vísto que o Uruguai tinha sido um participante relativamente in-
Mas o território foi reduzido em cerca de 40%. Embora a perda populacional tenha sido grosseiramente exagera-
significante
e foi muito
pouco
afetado
pela Guerra,
quer de forma positiva ou negativa —, a Argentina so-
da — até mesmo calculada em 50% da população paraguaia do período anterior à guerra (em geral aumenta-
madas de 18 mil homens
da), ou seja, 200 mil, 300 mil ou meio milhão de mortos
distúrbios internos provocados pela Guerra, e 12 mil
freu (possivelmente com alguns exageros) perdas esti-
—, estimativas mais recentes de 15% a 20% (até menos)
em batalhas, mais 5 mil em
na epidemia de cólera. O território que conseguiu con-
de uma população de pré-guerra, estimada em contin-
quistar ficou
gente muito menor, ou seja, entre 50 mil e 80 mil mortes,
diplomacia
tanto nos campos de batalha quanto por doenças (sa-
região norte do Chaco.
rampo, varíola, febre amarela e cólera), constituem per-
finalmente as Missiones e o Chaco Central, até o Rio
centuais extremamente elevados segundo os padrões de
aquém
de suas
ambições
brasileira manteve Mas
a astuta
a Argentina
fora da
ela conseguiu
assegurar
Pilcomayo. Um Paraguai cada vez mais forte e poten-
qualquer guerra moderna. A economia do Paraguai fi-
cialmente expansionista havia sido erradicado da po-
cou em ruínas, suas bases de produção e de infra-estru-
lítica do
tura foram destruídas, seus primeiros passos de desen-
tinha contribuído positivamente
volvimento voltados para fora, através de um comércio
—
-
Rio
da Prata.
E, no
saldo
final, a Guerra
para a consolidação
nacional. Entre-Rios e Corrientes mantiveram a união.
mais amplo e de uma integração mais estreita com a economia mundial, levaram uma geração ao retrocesso.
As rebeliões
Indenização vultosa foi imposta pelos vencedores, em-
capital inquestionável de uma República Argentina uni-
bora acabasse sendo revista (não no caso do Brasil, até a
da. A identidade nacional argentina ficara consideravel-
Segunda Guerra Mundial). O que sobrou do exército
mente mais fortalecida. O solo estava pronto para rece-
paraguaio foram tropas desprovidas de armamentos e as
ber as notáveis transformações econômicas, sociais e
dos montoneros,
em diversas províncias
tinham sido debeladas. Buenos Aires foi aceita como a
A GUERRA
32
políticas da Argentina
durante
a metade
do século
DO PARAGUAI
E
das no sentido de emancipar os escravos brasileiros. De
fato, foi preparado o terreno para o que veio a se tornar
seguinte.
No caso do Brasil, a quem coube a principal contri-
a Lei do Ventre Livre (1871), a legislação mais importan-
buição para o esforço de guerra responsável pela vitó-
te que levou à abolição final da escravatura, em 1888. A
ria, Os custos, mas
os benefícios da vitória,
Guerra também estimulou a discussão sobre a reforma
foram ainda maiores. As perdas humanas totalizaram
política no Brasil. Não foi por acaso que o último ano da
pelo menos
acrescidas
Guerra presenciou o nascimento do Partido Republica-
das mortes por doenças (embora muito provavelmente
no (1870). Finalmente, a Guerra produziu, pela primei-
menos do que o número de 100 mil por vezes mencio-
ra vez no Brasil, um exército moderno e profissional,
também
25 mil ou 50 mil em combates,
nado). Entretanto, o Brasil conquistou do Paraguai todo
interessado em'desempenhar um papel político. A liga-
O território que ele reivindicava, entre o Rio Apa e o Rio Branco. E o próprio Paraguai, até mais que o Uruguai,
ção entre a Guerra do Paraguai e o golpe militar de
estava agora firmemente sob a influência e o controle brasileiros. O custo da Guerra deixou uma grande nó-
damente conhecida e dispensa que aqui se teçam maio-
doa nas finanças públicas do Brasil. Mas essa mesma Guerra também estimulou a indústria brasileira — sem
Império Brasileiro, baseado sobre a escravidão, a vitória na Guerra do Paraguai é tantas vezes representada
chegar a mencionar
as fábricas de produtos
têxteis
(para uniformes do exército) e o arsenal do Rio — e, de alguma maneira, modernizou a infra-estrutura do país. O recrutamento, o treinamento, o fornecimento de vestuário, de armamentos e o transporte para um exércit o
tão grande tinham desenvolvido à organização ainda
rudimentar do Estado brasileiro. A Guerra também aguçou as tensões sociais de diversas maneiras, mas, no
saldo final, estimulou
a causa
da reforma
social:
De
maneira bastante significativa, em maio de 1867, D. Pe-
dro anunciou que, após a guerra, seriam tomadas medi-
1889, que estabeleceu a República no Brasil, é demasia-
res comentários. É muito fácil constatar por que, para o
como
uma vitória de Pirro. f
Uma enorme variedade de fontes básica s, encontra-
das em bibliotecas e arquivos nacionais do Brasil, da. Argentina, do Uruguai e do Paraguai, e também da Europa (sobretudo da Grã-Bretanha) e dos Estados Unidos, acha-se à disposição dos hi storiadores da Guerra
do Paraguai.
Incluída neste volume
encontra-se uma
lista das obras relevantes guardadas pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. A Guerra do Paraguai também
INTRODUÇÃO
foi geradora de uma
iconografia extraordinariamente
35
d"Escragnolle Taunay. Menos conhecidos no Brasil, mas
rica. Talvez mais conhecido seja o trabalho de Candido
igualmente valiosos, ão
López, O jovem pintor de Buenos Aires que se uniu às
e outros participantes argentinos na Guerra, e os relatos
forças argentinas logo no início da Guerra,
perdeu o
feitos por combatentes estrangeiros e observadores ex-
braço direito na batalha de Curupaiti, aprendeu a pintar
ternos, notadamente The War in Paraguay (1869), do
com a mão esquerda e passou os 20 anos seguintes
coronel George Thompson, o antigo oficial do exército
pintando em óleo as cenas e, especialmente, as batalhas
britânico e especialista em fortificações e trincheiras, um
que ele próprio testemunhou. Mas outros artistas, no
dos principais comandantes militares de López, até ser
Brasil, também gravaram imagens da Guerra, especial-
capturado pelos aliados, em 1868; Seven Eventful Years
mente os caricaturistas.
in Paraguay (1869), de George Frederick Masterman, o
Em
destaque,
as sátiras e os
os escritos de Bartolomé Mitre
episódios da campanha, de autoria de Angelo Agostini,
jovem farmacêutico militar britânico que dirigiu os servi-
publicados no semanário Vida Fluminense, publicação
ços farmacêuticos do exército paraguaio até ser preso
para a qual começou a colaborar em 1868. Há ainda as xilogravuras
publicadas
por conspirar contra López, em 1868; Letters from the
nos jornais ilustrados para-
Batilefields of Paraguay (1870), de Sir Richard Burton, o
guaios, produzidos durante o combate: Cabichuí e EI
famoso orientalista e explorador britânico que foi cônsul
Sentinela (tema
no
britânico em Santos, na época, e que visitou a zona de
A Guerra foi tiÂmbém amplamente
registrada por diversos fotógrafos. Esta publicação ofe-
guerra em 1868, e, depois, 1869; e um livro de dois volumes, History of Paraguay (1871), escrito por Charles
rece uma seleção da iconografia existente na Biblioteca
Ames Washburn, que era ministro dos Estados Unidos
de um
presente volume).
ensaio
de Tício Escobar,
Nacional, inclusive a reprodução de algumas fotos do front de batalha.
em Assunção, até ser expulso, em 1868. A literatura de nível secundário sobre a Guerra do
Há uma série de relatos originais e valiosos sobre a
Paraguai pode, na sua grande maioria, ser cronologica-
Guerra. Os clássicos brasileiros incluem Reminiscências
mente agrupada em: (a) livros publicados entre o final
da Campanha do Paraguai, do general Dionísio Cer-
da década de 1920 e início da década de 1960; e (b)
queira, e Diário do exército, Memórias e, sobretudo, 4
livros publicados no final da década de 1960 e década
Retirada da Laguna (que é discutida em um ensaio de
de 1970. O primeiro grupo consiste de relatos úteis,
Francisco Alambert
porém tradicionais (predominantemente diplomáticos),
dentro
deste volume),
de Alfredo
GUERRA
A
34
DO
PARAGUAI
ee
E
e
MSIE
milita-
historiadores, fato que encaramos com desapontamento. Somente uns pouquíssimos livros e um punhado de
res) da Guerra, que se concentravam no fato de como
artigos — como, por exemplo, de Abente (1987), Reber
López havia sido derrotado, da autoria de Box (1927),
(1988), Salles (1990) e Pastore (1994) — nos ofereceram
das origens da Guerra em si, pela qual López era amplamente
Tasso
culpado,
Fragoso
e relatos (predominantemente
(1934),
Cárcano
(1938-40),
Spalding
resultados de novas pesquisas ou de novas interpreta-
(1955,
ções sobre o que já era conhecido. Muitos temas novos
1956) etc., juntamente com uma história geral da Guer-
e promissores — a Guerra e a formação de um Estado;
ra, que ainda constitui a melhor síntese escrita em inglês
a Guerra e o desenvolvimento econômico; a Guerra e as
pelo historiador norte-americano Kolinski (1965). No
mudanças
segundo grupo, encontram-se inúmeros trabalhos revi-
Guerra e a cidadania —
sionistas — sem dúvida estimulantes, mas nem um pou-
mente explorados. Os ensaios reunidos neste volume
co convincentes — nos quais o Paraguai aparece como
por historiadores de diversas nacionalidades — predo-
vítima da agressão imperialista e capitalista, constando
minantemente brasileiros, mas também argentinos, pa-
a Grã-Bretanha como o “Quarto Aliado” na Guerra —
raguaios, peruanos e britânicos — foram divulgados em
(1940), Cardozo (1954,
1961), Teixeira Soares
sociais; a Guerra e a identidade nacional; a mal começaram a ser tímida-
escritos por Pomer (1968), Chiavenatto (1979), Fornos
um Colóquio Internacional realizado na Biblioteca Na-
Pefialba (1979) etc. —, juntamente com dois livros ex-
cional do Rio de Janeiro, em novembro
celentes da autoria de historiadores norte-americanos:
assinalar o 130º aniversário da deflagração da Guerra. Eles nos oferecem uma variedade de reflexões interes-
Williams (1979), a melhor história da República do Pa-
raguai, que inclui a Guerra, a partir de Cardozo (1949); e Warren (1978), sobre o tratamento dado ao derrotado Paraguai por parte do Brasil e da Argentina na década que se seguiu à Guerra.
Desde os últimos anos da década de 1970, a Guerra do Paraguai tem recebido pouca atenção por parte dos
de 1994, para
santes sobre a Guerra e reavaliações de um certo número de diferentes aspectos sobre ela. Mas, naturalmente, não
constituem,
por
ral que, sem sombra
si mesmos,
a nova
história
ge-
de dúvida, se faz necessária. A
Guerra do Paraguai aguarda o seu historiador da Era Moderna,
INTRODUÇÃO
Bibliografia selecionada
35
GRAZIERA, Luis G. A Guerra do Paraguai e o capitalismo no Brasil, São Paulo, 1979.
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explanatory models”,
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|
A
36
GUERRA
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"da. Lodi
PARAGUAI
Geral da Civilização Brasileira, II, O Brasil monárqui-
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=
DO
WILLIAMS,
1869-1878,
Austin, Texas,
| John
Hoyt.
The Rise and Fall of the Para-
guayan Republic, 1800-1870, Austin, Texas, 1979.
A GUERRA CONTRA O PARAGUAI A História de um Silêncio Carlos Guilherme Mota
“A malquerença antiga da América chamada espanhola contra os descen dentes de portugueses, agravada pelas Prevenções que sugeriam suas instituições car acteristicas — a monarquia e o trabalho escravo —, poderia ter consegiiências imprevisíveis. A hostilidade contra o Brasil, manifestada desde a última interv enção no Uruguai, e agravada principalmente nos Estados do Pacífico, ao ser em divulgados os termos do Tratado da Tríplice Aliança, não poderia senão diluir-se e amenizar-se com o fato de não se achar ele só na campanha contra o ditador de Assunção.” Sérgio Buarque de Holanda, Do Império à República, 1972.
lininia
A GUERRA
CONTRA -—e ques cg
O
PARAGUAI
=...
ET e eme
52
Reflexão prévia: lugares da memória esbaços do silêncio m novembro de 1864, o Paraguai declarou guerra ao Brasil, invadindo a região de Mato
Grosso, zona de disputa entre colonos e seus respectivos governos há mais de 200 anos. O tema en-
volve portanto mais de três séculos de história, exige a
ditador-presidente Juarez, e, no Peru, a tomada de poder pelo general Prado, em 1865, contra a Espanha (depois fazendo a Guerra do Pacífico, ou “Salitrera”, contra o Chile e a Bolívia). Foi na mesma época que teve início a ação de José Martí, em Cuba, que se desdo-
discussão sobre modelos de colonização, sobre o colo-
brou,
nialismo e o neocolonialismo na América Latina, sobre
Cuba e Estados Unidos, Cuba e ...
regimes de governo, sobre civilização e barbárie e sobre
as questões geopolíticas que marcaram aquela época. A rigor, não seria permitido pensar que teria sido
nessa conjuntura que se adensou a idéia de América Latina? Afinal, contemporâneos da Guerra da Tríplice Aliança também
foram o fuzilamento do arquiduque
Maximiliano da Áustria, no México, em 1867, a posse do
nos anos
1870,
Mas ampliemos
em
conflitos Cuba
e Espanha,
o foco: aquela foi também
uma
época de consolidações, como a da República dos Estados Unidos da Venezuela, em 1864. No ano seguinte, 1865, as Cortes Espanholas foram obrigadas a reconhe-
cer a independência de Santo Domingo e o governo de
José Maria Cabral. Fato contemporâneo a este foi ainda o grito de independência de Lares, em Porto Rico, a
lr;
F
E ai
A
um
partir do qual se constituiu
governo
republicano
jar = E
dr
ÇA
-,
E
e ot
E.
É
PARAGUAI
de uma
belíssima obra sobre as pinturas O principal
Rico, Panamá e Haiti começaram a entrar na esfera de
tra o Paraguai. Com efeito, nem
ação imediata dos Estados Unidos.
iguais.
a E
E
a pat A.
O Pa [uia
esa p "o
a]
rr
+a
é 5
a
[Es A
E
todos os mortos são
com Jorge Luis Borges, Ricci desco-
os leitores de diários, os mortos que importam verda-
imigração
a
deiramente têm que reunir certos requisitos: “Os mortos
para a região de clima
do hemisfério Sul importam certamente menos que os
européia
em
na
infra-estrutura,
massa,
ao Brasil e sobretudo
vindo em
com
direção
do hemisfério Norte.”!
elevados: cerca de 250 mil europeus, no Brasil, entre
A dramaticidade do conflito em que se envolveram
1855 e 1874, e cerca de 800 mil, na Argentina e no
povos e regimes extremamente diversos marca — inclu-
Uruguai.
sive pelo “silêncio” a que as historiografias oficiais, sodo Paraguai,
ou a Guerra
da Tríplice
Aliança, ou, mais propriamente, a Guerra contra o Pa-
bretudo a brasileira, o condenaram —
a nossa difícil
inserção na história contemporânea. Qualquer que seja
nea da América Latina. Foi a maior guerra da história da
a perspectiva, a Guerra da Tríplice Aliança foi um marco. Um acontecimento histórico de pesadas consequên-
América do Sul. Pode ser comparada — em violência e
cias, que daria nova dimensão à história desta parte do
em extensão, mas não quanto aos resultados — à Guer-
planeta.
raguai marca indelevelmente a história contemporâ-
ra Civil que, à mesma época, viveram os Estados Unidos da América do Norte, com seus números assusta-
dores. A Guerra Civil norte-americana mobilizou cerca de 2,5 milhões de homens em uma população de 33 milhões de habitantes. Todavia, “os mortos que impor-
E
con-
das de ferro, portos, serviços públicos. Teve início a
sobretudo
Latina,
A Guerra
,
Guerra
estra-
rica
temperado do estuário do Rio da Prata. Os números são
!
Conversando
da
de Cândido
briu a sanguinolência da Guerra do Paraguai, a mais sangrenta do século XIX. E descobriu que, como sabem
pesados investimentos de capitais estrangeiros na Amé-
É
eg mt o
Michel fd
período em que ocorreram
Aquele foi ainda um
Cuba,
|
documentarista
López,
“o
a
DO
presidido por Francisco Ramírez. Naquele tempo, Porto
”
lisos
ls
e
al:
E
5
40
GUERRA
tam têm que reunir certos requisitos”, como escreveu
o editor italiano Franco Maria Ricci na apresentação
Para
sugerir
a necessidade
de
uma
urgente
rotação de perspectivas, mais uma vez utilizo-me da aguda percepção do editor italiano: O fim do tirano Solano López, a defesa extremada dos
paraguaios e seu extermínio teriam merecido sem dúvida as cores de um Plutarco e de um Tito Lívio: a
periferia em que viveram, em contrapartida, valeulhes nosso esquecimento absoluto.
Ee
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ad
= 15 1 re
A
re
a
GUERRA gi
CONTRA
LAR
Reavaliação da Guerra Grande
O
PARAGUAI
fal
meios. O fato é que — e mais uma vez quem observa é Hobsbawm — o Paraguai, quando por uma vez tentou
Com efeito, cumpre
fazer uma reavaliação, passados
130 anos do início da Guerra Grande (como também é
cair fora da esfera do mercado, foi massacrado e obriga-
do a nele reingressar.é
conhecida e como a denomina um dos personagens do
Ão examinarmos — ainda que por alto — a Guerra
notável escritor paraguaio Augusto Roa Bastos). Revisi-
em suas repercussões político-culturais, socioeconômi-
tá-la sobretudo em um contexto em que novas formas
cas e diplomáticas para a região e para as nações envol-
de “integração” e “identidade” — termos ambíguos e
vidas, façamos notar primeiramente que, para o Brasil,
batidos — desta região das Américas parecem emergir.
ela produziu fortes efeitos. A única Monarquia america-
Dentre elas, o Mercosul, para cuja implantação não se
na mergulharia em seguida no processo que desembo-
pode dispensar o conhecimento
cou na abolição da escravatura e na proclamação da
das “historicidades”
dos quadros mentais e dos “padrões civilizatórios” dominantes na região. Mas,
para dobrar esta página da
história, torna-se necessário conhecê-la. Revisitá-la.
A historiografia mais recente já consolidou a idéia
República (1889). Mas a Guerra também transformou a Argentina, que finalmente se unificou sob o general Bartolomé Mitre, o
primeiro presidente (1862-1868) e pai da Argentina mo-
de que a Guerra marca um momento da integração da
derna, em cuja obra de historiador a “nação” —
bacia do Rio da Prata na economia
Nación Argentina” — é elevada à condição de protago-
mundial,
sob a
preeminência inglesa. A Argentina, o Brasil e o Uruguai opuseram-se à auto-suficiência do Paraguai. Como ana-
lisou Eric J. Hobsbawm, o Paraguai foi a única área da América Latina onde os índios resistiram ao estabeleci-
“la
nista única do processo histórico.
E de se notar, em contrapartida, que a impopularidade da Guerra foi alta na Argentina: as simpatias das províncias estavam com os paraguaios. O recrutamento
mento dos brancos de forma efetiva, em larga medida
das tropas ficava difícil quando se constatava que se
graças à ação jesuítica anterior.?
combateria “a favor do Brasil”. Além disso, os federalis-
Com
efeito,
as nações
organizaram-se
tas sempre esperaram que o brigadeiro José Urquiza,
dentro dos parâmetros das potências hegemônicas. Não
primeiro presidente constitucional da Confederação Ar-
se pode saber o que teria acontecido, por exemplo, ao
gentina (1854-1860), se sublevasse contra Mitre, o que
Uruguai,
não ocorreu,
da região
se tivesse se orientado por seus próprios
A
42
GUERRA
A impopularidade da Guerra também provocou le-
PARAGUAI
Es
apoio dos hacendados e dos comerciantes exportado-
vantes no intérior, como o de Felipe Varela, e deserções
res, e oferecia a força do Estado para vencer a resistên-
pesadas, como a do Exército de Vanguarda, de soldados
cia da população camponesa, ou seja, montou um siste-
de Entre-Rios, açulados por inimigos de Mitre. A Guerra
ma de trabalho forçado nas estâncias. Paralelamente, o
teve seu fim durante a presidência de Domingo Fausti-
ensino elementar foi implantado, ultrapassando a Igreja
no Sarmiento, sucessor de Mitre.
O Brasil, como a Argentina, apressou-se na disputa pelos E
DO
territórios dos
vencidos,
invocando
o arti-
e a velha tradição liberal. A exportação de couro e de lãs crescia vertiginosamente.
Sob o governo
de Latorre,
o Uruguai
tinha sído
go 16 do Tratado da Tríplice Aliança. Como se sabe,
disciplinado para “novos governos militares que domi-
o ministro Mariano Varela, da Argentina, reagiu adver-
nariam de fato na etapa seguinte; essa terra da liberdade
tindo que a vitória não dava o direito às nações alia-
indômita parecia momentaneamente convertida a uma
das para declarar sozinhas as novas fronteiras. Define-
versão peculiar do novo credo a um só tempo autoritá-
se,
rio e progressista”.é
então,
ante
o perigo
de
novos
rompimentos,
um sistema de consultas. Mitre, favorável à posição bra-
Para o Paraguai (e contra o Paraguai), a Guerra
sileira, vai ao Rio de Janeiro em busca de entendimento.
articulou as forças do Império Brasileiro, da Argentina e
A Argentina submete a questão dos territórios em dispu-
do Uruguai. Um acordo secreto entre o Brasil e a Argen-
ta à arbitragem dos Estados Unidos. Em 1878, o presi-
tina previa a distribuição
de territórios em
litígio que
dente Hayes arbitra a favor do Paraguai. Afinal, a Argentina sempre fora mais inclinada para o lado da
correspondiam
Inglaterra...
guaia. Em cinco anos de Guerra, perdeu-se quase toda a população masculina.
Para o Uruguai, a Guerra trouxe um fato novo, para além das incursões rio-grandenses e dos levantes colo-
rados que tanto marcaram o campo antes da crise econômica de 1873. Surgiu a figura de um militar pro-
fissional, Lorenzo Latorre, que governou em nome do exército, e que, na Argentina, corresponderia a Rosas e Roca. Não era mais um caudilho rural, po rém tinha o
preendente
a mais da metade
foi a reação
heróica
do Paraguai.
da população
O sur-
para-
Mas não se pode atribuir tudo apenas à resistência paraguaia. Também devem ser consideradas a fraqueza e a desorganização das tropas inimigas. Além disso, a unidade interna argentina, coordenada por Mitre,
era mais aparente do que efetiva (o levante federa lista de 1866-1867 abalara o interior). O Império Bras ileiro,
A
GUERRA
CONTRA
com sua máquina pesada e custosa, agia lenta e pru-
O
PARAGUAI
43
Dimensões da Guerra
dentemente.
Os paraguaios, em compensação, tinham sido expulsos,
quistadas
primeira
na
fase
na Argentina
da
e no
Guerra,
das
Rio Grande
terras
con-
do Sul. Na
Comecemos pelo começo. Os lugares da memória são
bem delineados e sugerem que, na história dos vencedores,
nas ruas de suas cidades, só há espaço para
segunda fase, defenderiam com todo o vigor Humaitá,
nomes como Cerro-Corá, Paissandu, Humaitá, Riachue-
a fortaleza construída por Carlos Antonio López no
lo e os nem sempre bem preparados Voluntários da
Rio Paraguai.
Pátria. Nomes
De
derrota
derrota,
em
e até mesmo
após o final da Guerra, os paraguaios conseguiram lidar com as contradições e as divisões entre seus vencedores.
Uma
sonoros,
muitos
deles indígenas,
mas
que curiosamente não permitem enxergar o substrato
guarani que animava um exército de 64 mil homens. A história desses silêncios precisa ser escrita. Cum-
das
melhores
sínteses
sobre
o desfecho
foi
feita pelo argentino Túlio Halperín Donghi:
pre revisitar a historiografia oficial que inundou os manuais do Império e também os da República. De Taunay a Sérgio Buarque de Holanda há um abismo: a análise
A Argentina protegia no Paraguai os antigos desterra-
da crise do regime imperial efetuada por este último,
ceder os territórios
em seu notável capítulo Política e Guerra, sugere o
dos;
o Brasil,
além
de
fazer-se
em disputa, avalizava um governo dominado por antigos generais de López, posições
contra
a que
as exigências
mantinha
em
suas
territoriais argentinas.
quanto ainda temos que caminhar para a construção desta “outra memória”.
enquanto
Por outro lado, como deixar de indicar, a partir do
os novos governantes presidiam uma alegre liquida-
ângulo da história e da historiografia brasileiras, a Guer-
ção de terras do Estado; a reconstrução do Para-
ra do Paraguai como um trauma, uma chacina em larga
guai se fez sob o signo da grande propriedade privada, e de maneira muito lenta; o país fica assim
escala, uma hecatombe demográfica, um genocídio, so-
Assim se afirmou
a hegemonia
brasileira,
destinado a manter sua principal vinculação econômica com a Argentina, para onde se dirige a maior par-
te de suas exportações, e de cujo sistema de nave-.
gação fluvial depende em sua comunicação com o ultramar.?
bretudo ao final, com o que restou do exército paraguaio cheio de crianças, um cataclismo que desequilibrou o Império? Certamente aí reside uma das chaves
para o estudo do movimento republicano e abolicionista no Brasil: em perspectiva ampla, a Guerra, a Aboli-.
A GUERRA
44
ção, a proclamação da República e a implantação da neocolonial
definem
uma
nova
configuração
relação à nação paraguaia.
histórica.
poder militar no interior do
O problema mesmo da origem da Guerra e da natureza dos expansionismos regionais também deve ser considerado. Por outro lado, em que pese o caráter de
Império, uma nova expressão da opinião popular, tudo
genocídio bárbaro, de hecatombe demográfica que a
sugere
nos
Guerra assumiu contra o Paraguai, cumpre estudar os
quadros mentais que transbordou e que se traduziu nas
componentes e a história da nação paraguaia em sua
obras dos principais intelectuais e artistas do período,
devida dimensão.
de Machado de Assis e Juan Bautista Alberdi a Sarmien-
logo à análise da inserção das nações
to e Cândido López.
Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai — no quadro dos
Os números elevados de mortos, ? em escala nunca
antes imaginada, o despreparo das forças da Tríplice Aliança,
os conflitos de a “mudança
de teor da vida”,
um
abalo
A Guerra exigiu uma reconsideração do tempo e do espaço:
grandes
deslocamentos
de tropas avultadas,
toda a estratégia de ataques e retiradas, a guerra fluvial,
Seplan pa E:
; : EUR
envolvidas —
imperialismos europeus da segunda metade do século passado. A Argentina e o Brasil vinculavam-se intensamente
seu lado, manteve-se isolado. A longa ditadura do dou-
para uma
nova
concepção
do papel das forças
é um de seus frutos, assim como a disseminação das
=V
desde
ricana. O reforço da idéia de Estado-nação abre cami-
rior de Guerra pelo tenente-general Luís Maria Campos
ins (OOE Oe
am
e
gm
nos conduz
à Europa,
armadas na vida nacional, e a criação da Escola Supe-
ga
Tal abordagem
tudo isso abriu nova página da polemologia latino-amenho
Í
pansionismo e de conflitos locais. Pode-se falar também, é claro, de um “subimperialismo brasileiro” em
teorias positivistas, que colaboraram para a destruição do sistema escravista.
As várias dimensões da Guerra sugerem a complexidade daquele momento em que interesses estrangeiros — os ingleses, principalmente, fortalecendo sua
malha imperial — se entrelaçavam com formas de ex-
em particular à Inglaterra. O Paraguai, por
tor José Gaspar Rodríguez de Francia (1814-1840) isolou O país, ao cortar relações diplomáticas e comerciais
com os demais, exceção feita ao Brasil. Foram proibidas a imigração e a emigração, tentou-se atingir uma certa
auto-suficiência baseada na agricultura e na indústria artesanal. Os dois ditadores que lhe sucederam no po-
der, Carlos Antonio López (1840-1862) e o filho, Francisco Solano López (1862-1870), abriram o país ao co-mércio exterior e atraíram imigrantes e técnic os
estrangeiros.
o —=oõo
ordem
DO PARAGUAI
as ai
A GUERRA
SE
Eis aí uma
das
origens
da
grande
CONTRA
conflagração.
Quando o Paraguai ensaiou uma abertura para a integração no comércio mundial, o ditador argentino Juan Manuel Rosas impôs-lhe um bloqueio econômico. Os
O PARAGUAI
45
senador Dantas, seriam em sua época denominados “os nossos ingleses”.
Importa, pois, situar a Guerra em seu quadro próprio e em um longo processo histórico de definições e
problemas de fronteira sucederam-se, enquanto López
redefinições da geografia política e econômica sul-ame-
dedicou-se
ricana.
à criação de um
bem adestrado exército,
preparado por oficiais alemães e equipado com armamentos europeus. A Argentina,
Há
uma
soma
de
interesses
novos,
nascídos
após o período de consolidação das independências
“em relação às metrópoles ibéricas dos anos 1820. Inú-
por seu lado, cindia-se, até 1853, em
meras questões de fronteira, problemas de navegação
duas tendências políticas básicas, ou, se se quiser, em
nos dois grandes rios da região (Paraná e Paraguai).
duas correntes históricas de opinião: centralistas e federalistas. A Inglaterra pressionava os centralistas em busca de segurança para o mercado de seus produtos. Os
abertura ao comércio exterior, migrações, caudilhismo
federalistas lutavam pela produção de tecidos — algodão, linho e lã —, e também de açúcar e vinho, amea-
çados pela concorrência inglesa. Estabeleceu-se uma
aliança dos federalistas com os paraguaios contra o perigo de absorção pelo imperialismo inglês.
e coronelismo, regimes escravistas (aberto no Brasil; semi-escravista nas outras regiões), confrontos étnicos e culturais, tudo se misturava no meado daquele século
e naquela região. Do ponto de vista — por assim dizer — do Paraguai, o choque agravava-se pela crença generalizada de que as nações vizinhas seriam responsáveis pela estag-
O Brasil, como se sabe, estava vinculado historica-
nação do país, condenado a viver dentro de fronteiras
mente à Inglaterra, sobretudo após os Tratados de 1810. Os setores exportadores e os segmentos intermediários
mal delimitadas, sem saída para o mar (um problema, aliás, atual também para a Bolívia).
beneficiavam-se daquilo que Richard Graham denominou, em análise clássica, “the onset of modernization in
na região do Prata tenham sido contínuas durante o
Brazil 1º O historiador carioca José Honório Rodrigues
século XIX. Vale lembrar que, já em
chegou a afirmar que o Brasil era um autêntico “prote-
entrara em guerra com
torado” inglês. Alguns de nossos notáveis advogados da segunda metade do século XIX, como Ruy Barbosa e o
Banda Oriental (região que corresponde aproximada-
Não é de estranhar, nessa perspectiva, que as lutas
a Argentina
1825, o Brasil pela questão da
mente ao atual Uruguai). A paz efetivada em 1828, com
A GUERRA
46 ii
O
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ri
DO
PARAGUAL
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Reg:
)
É
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em
1864, há 130 anos,
em um
a mediação da Inglaterra, resultou nessa nova nação, O
do Brasil no Uruguai,
Uruguai, livre, por assim dizer, autônomo.
momento no qual o Paraguai tentava articular uma nova
Do ponto de vista da Argentina, o ditador Rosas negava-se a reconhecer a independência do Paraguai,
configuração geopolítica na América do Sul.
O Uruguai,
governado
por Atanasio
Aguirre, do
na. De 1845 a 1852, Carlos Antonio López resistiu. Final-
partido blanco, era hostilizado pelo governo imperial brasileiro, sob o argumento de que os blancos não
mente, declarou guerra à Argentina e penetrou em Cor-
tomavam
rientes, fazendo recuar as tropas de Rosas.
dentes e alegando que estes sofriam prejuízos e eram
pretendendo fazer daquele país uma província argenti-
Com a queda de Rosas, o general Urquiza tomou o
providências a favor dos brasileiros alí resi-
despojados de seus bens.
poder na província de Corrientes, tendo como desafio a
A Argentina não logrou ser intermediária no confli-
reincorporação da província de Buenos Aires à Confe-
to, e o governo brasileiro anunciou que suas tropas,
deração Argentina. Urquiza, simpatizante da causa pa-
estacionadas na fronteira, agiriam em represália contra
raguaia, reconheceu a independência do Paraguai em
os uruguaios. O presidente paraguaio Francisco Solano
1852 e assinou um tratado de navegação e limites. A
López protestou contra a intervenção brasileira, qualifi-
Guerra poderia ter terminado aí.
cando-a como “atentatória ao equilíbrio dos Estados do
Mas, naquela altura, entrou em cena o Brasil. Tam-
bém por questões de fronteiras, o Paraguai já se vira forçado a expulsar brasileiros. O presidente da província de Mato Grosso invadira terras paraguaias e recusara-se a abandonar suas posições. O Paraguai, por sua vez, tentava estabelecer uma coligação com o Uruguai e
com as províncias de Corrientes e Entre-Rios.
A eclosão da Guerra. O problema das origens Há um certo consenso de que uma das causas próximas da eclosão da Guerra foi a intervenção político-militar
Prata, que interessa à República do Paraguai como ga-
rantia de sua segurança, paz e prosperidade”. Localizase aí o estopim da Guerra. Em síntese, e no plano dos acontecimentos, pode-
se dizer que a conflagração deve-se inicialmente à firme determinação do presidente paraguaio Solano López de
bloquear o esforço expansionista brasileiro. De fato, desde 1855, o Império do Brasil vinha pressionando o
Paraguai a assinar tratados de limites e de navegação
que nem Carlos Antonio López nem seu filho, Solano López, estavam dispostos a firmar. Cabe
mais uma
vez enfatizar também
o interesse
A GUERRA
CONTRA
que a Inglaterra tinha na abertura de seu comércio com o Paraguai.
O PARAGUAI
47
o ministro das Relações Exteriores, o visconde do Rio Branco, de reorganizar o país. O governo provisório, instalado em Assunção, decreta a abolição dos escra-
A Guerra: um nó histórico, político e
vos, a pedido do conde d'Eu. Grande parte da popula-
ideológico
ção masculina perecera durante a Guerra. Com a economia devastada — sem empréstimos
para reequipa-
Pode-se dizer que, em todo o processo de guerra, nos
mento durante todo o período —, com a subnutrição e
seus desdobramentos e nas suas implicações, houve a
as epidemias de toda sorte, o Paraguai tornara-se um
consolidação da ordem
país de sobreviventes.
neocolonial na região? Afinal,
desde as independências, no processo das afirmações nacionais ou regionais, as lideranças sempre tiveram
inflação foi um deles. Empréstimos da Inglaterra e emis-
que se definir em suas associações ou contraposições
são de papel-moeda elevaram o custo de vida, aumen-
em relação aos interesses das potências européias em
tando o descontentamento popular que, de resto, já se
fase de desenvolvimento.
manifestara durante a custosa luta no território para-
Mas o Brasil também sofreu os efeitos da Guerra. A
A Guerra marca uma inflexão em que os Estados
guaio (para muitos, a simples expulsão dos paraguaios
Unidos passam a compor o leque de interesses e forças externas atuando na região. Na nova organização de
já teria bastado). Contra a Tríplice Aliança também se manifestaram outros países da América Latina, como o
pós-guerra, nos anos 1880 — período que denomina-
Peru, a Colômbia e o Chile.
mos “da passagem
da descolonização ao imperialis-
mo"!l —, assiste-se a um novo impacto europeu-oci-
dental, seguido pela presença norte-americana. Em suma, a Guerra contra o Paraguai sinaliza, nesta região do planeta, o “casamento de uma descolonização prolongada,
seletiva e parcial com a dominação
imperialista”,12
O Paraguai termina a Guerra
No Brasil, finalmente, ocorre uma profunda mudança no Estado, com a emergência ulterior do exército
como força organizada e ideologicamente marcada pelas idéias republicanas. Nascia, então, um novo tipo de. oficial militar, definido por um autoritarismo progressista, defensor da abolição da escravatura.
Na perspectiva de uma história contemporânea da exaurido.
Como
se
sabe, o comando aliado ocupou o governo e incumbiu
América Latina que englobe a historicidade específica do subcontinente em sua longa duração, a revisita a
A
48
GUERRA
esse momento-chave de nossas histórias torna-se, pois,
hd
E Es
o
+
fundamental, porque é aí que se consolida a própria
Eta
PARAGUAI
em foros legítimos e modernos. Não era por acaso que
os “Estados de Seguridade Nacional” proibiam que se tocasse em certos temas, dentre eles a “Guerra do Para-
Nessa encruzilhada reside o nó histórico de nosso
guai”, agora entre aspas, ou que se examinassem figuras
passado comum e traumático, que espera por novos es-
como Caxias e Tamandaré fora da ótica oficial, sobretu-
tudos e reflexões. Nó histórico-ideológico que, uma vez
do em momentos de construção de hidrelétricas como
desatado, permitirá o arranque para um futuro crítico e
Itaipu, em que a mão-de-obra paraguaia — e também a
democrático, em que as disputas sejam equacionadas
brasileira — foi mais uma vez utilizada a preço vil.
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idéia de América Latina.
DO
A GUERRA
CONTRA
O
PARAGUAI
49
NOTAS
1. RICCI, Franco Maria. Cândido López. Imágenes de la Guerra del Paraguay, con um texto de Augusto
do nasce a Argentina moderna e também uma histo-
Roa Bastos. Introducción crítica de Marta Dujovne,
letiva do patriciado portenho como fonte histórica
Milão, Franco Maria Ricci Editore; Nova Fronteira,
privilegiada — feita por Túlio HALPERÍN DONGHI,
Rio de Janeiro, 1977-1984. Contém um catálogo ge-
“Mitre e a formulação de uma história nacional para
ral com notas de Cândido López a seus quadros, “As
a Argentina”,
cartas de um voluntário” (Pio Correa da Rocha, nas-
8(20), 1994, Universidade de São Paulo.
cido no “sertão”
de Araraquara
guai), apresentadas
e morto no Para-
por Antonio
Candido,
e uma
cronologia da Guerra do Paraguai.
- Ricci completa: “Somente nos ficam os quadros de
riografia não mais apenas baseada na memória co-
- HOLANDA,
1972.
perdera a direita.” Ibidem.
- Hobsbawm
Sérgio Buarque de. “O Brasil monár-
quico. Do Império à República”, História geral da
pintar com
uma guerra em que
Estudos Avançados,
7. Idem, ibidem, p. 248.
civilização
esquerda
em
. HALPERÍN DONGHI, op. cit. p. 252.
Cândido López, pintor-soldado que se obstinou a a mão
publicada
brasileira,
vol. 7, São
Paulo,
DIFEL,
- Na batalha de Tuiuti, em 24 de maio de 1866, eram
diz ainda: “O restante dos índios que
35 mil aliados contra 23 mil homens de López; as
resistiram à conquista branca foram empurrados
baixas foram de 12 mil paraguaios (morreram cerca
para a fronteira desta conquista. Apenas no norte da
de 6 mil) e 3 mil brasileiros. Em setembro do mes-
bacia do Prata os povoados indígenas permanece-
mo ano, Mitre tentou tomar de assalto a fortaleza de
ram sólidos, e o guarani, em vez do português ou
Curupaiti, o maior desastre de toda a campanha
do espanhol, permaneceu como o idioma de facto
aliada, quando se perderam as esperanças de tomar
para comunicação entre nativos e colonos.” HOBS-
a capital em curto prazo; morreram 100 paraguaios
BAWM, Eric. 4 era do capital, 1848-1875, Rio de
contra 9 mil aliados. Só em 1868 os paraguaios
Janeiro, 1979, p. 96. 4. HOBSBAWM, Eric. The Age of Empire, 1875-1914, Nova York, Pantheon Books, 1987.
>. Remeto à brilhante análise desse período — quan-
começam
a ceder, após cair Curupaiti e Humaitá.
Em conjunto, embora variem muito as estimativas, pode-se dizer que o Paraguai tinha, no início da Guerra, quase 800 mil habitantes. Morreram cerca
PARAGUAI
de 600 mil, restando uma população de menos de
versity Press, 1968. O livro de Graham complemen-
200 mil pessoas, das quais apenas cerca de 15 mil
ta, em certo sentido, a obra famosa do professor
do sexo masculino e, destes, cerca de dois terços
Alan
com menos de 10 anos de idade. Do lado dos alia-
Brazil; Its Rise and Decline; A Study ín European
dos, também registram-se tragédias: a Coluna dos
Expansion, Chapel Hill, North Caroline University
Voluntários da Pátria, que partiu do Rio de Janeiro
Press, 1933, reedição em 1968 pela Octagon Books:
em abril de 1865, com cerca de 3 mil homens, levou
Importante também
dois anos para percorrer 2.112 quilômetros. No tra-
BETHELL,
jeto, um terço do contingente se perdeu, devido a
Brasil. A Grã-Bretanha,
febres e fome. No final, após Laguna, foi atacado
tráfico de escravos, 1807-1869, Rio de Janeiro / Ex-
por uma
pressão e Cultura; São Paulo / Edusp, 1976.
epidemia
de cólera.
Na
campanha
das
cordilheiras morreram 5 mil soldados paraguaios, o
que
é muito,
se nos lembrarmos
MANCHESTER,
British
Preeminence
ín
é o livro do professor Leslie
4 abolição
do tráfico de escravos no
o Brasil e a questão do
ql, “As Ciências Sociais na América Latina: proposta de
que o exército
periodização: 1945-1983”, im FERRANTE, Vera, MO-
| reorganizado pelo conde d'Eu, o genro de Pedro II,
RAES, R. e ANTUNES, R. (org.). Inteligência brasi-
era de 32 mil homens. 10. GRAHAM,
Richard. Britain and the Onset of Mo-
dernization in Brazil, 1850-1914, Cambridge, Uni-
leira, São Paulo, Brasiliense, 1986. 12. FERNANDES
Florestan.
Poder e contrapoder na
América Latina, Rio de Janeiro, Zahar, 1981, p. 19.
ig
K.
SS
DO
a
GUERRA
ie
A
| |
A GUERRA: UMA ANÁLISE Max Justo Guedes
A GUERRA:
mbora
haja pouca
UMA
ANÁLISE
33
divulgação da imprensa
no exterior, exceto por curtas temporadas, e redigi a
especializada nacional, já é bastante conheci-
obra nas minhas (todas) horas de folga, sem prejudicar
da a História naval brasileira, a ser publicada
as atribuições do meu cargo, em múltiplos arquivos e
pelo Serviço de Documentação
da Marinha,
que
há
bibliotecas
de
Portugal,
Espanha,
França,
Inglaterra,
Bélgica e, naturalmente, Holanda.
muitos anos dirijo.
Seis tomos vieram à luz entre 1975 e 1993, o que
Olhando pelo retrovisor, verifico hoje que valeu a
evidencia as dificuldades encontradas para levar a bom
pena — tranquilizem-se, pois não vou repetir Fernando
termo
de especialistas e
Pessoa — o esforço: se o número de leitores do texto
ausência de documentação nos arquivos brasileiros são
parece não ser elevado, a qualidade intelectual dos que
as duas razões básicas da demora. Em 1993, publiquei o
o fizeram e as opiniões por eles emitidas são mais que
segundo (e último) dos dois tomos dedicados às Guer-
compensatórias.
a obra planejada.
Carência
ras Holandesas no mar, que consumiram mais de dez
Julgo haver demonstrado a parcialidade das obras
anos de meus esforços, pois, além de bibliografia redu-
maiores, os panegíricos dos restauradores nos castrio-
Zidíssima, fizeram-se necessárias a pesquisa e a enco-
tos e os valerosos lucidenos, e, dos invasores, no bar-
menda de microfilmes. Era-me impossível permanecer
laeus, que tudo-teriam feito por seus exclusivos esfor-
: Ê i
=»
a
A
+
GUERRA
Havia a necessidade de bem compreender as men-
obra coletiva em que fundamentalmente se empenha-
talidades dos povos em luta. Se nas Guerras Holandesas
ram os moradores do Brasil, os espanhóis, com os ter-
a tarefa fora facilitada pelo legado dos séculos de ouro
cios e galeõdes, e os portugueses, com as frotas e provi-. sões, inclusive os cristãos-novos, que permitiram, com
espanhol e holandês — aí estão, permitindo-a, as obras de Cervantes, Lope de Vega, Calderón, Quevedo, Tirso,
os seus muitos haveres, a criação da Companhia Geral
Santa Tereza, San Juan de la Cruz, Antônio Vieira, Erí-
do Comércio do Brasil, sem cujos navios teria sido vão o esforço pernambucano.
ceira,
citar os principais contemporâneos delas —, no “confli-
Concluídas as Guerras Holandesas, voltei-me para
to guarani” (apenas em assim chamá-lo, evidencia-se
drama vivido pelo Brasil nestes qui-
nhentos anos, a Guerra do Paraguai. Por dever de ofí-
a Du q
Bu.
A
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aE [Ee
ah ato a
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E) [e = pt os”
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cio, já dela havia cuidado nestes 26 anos em que estou à testa do Serviço de Documentação, sem jamais ter ido fundo na questão. Sabia, como Joaquim Nabuco, das dificuldades que enfrentaria com a conhecida parciali-
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1
Da
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feia
“patriótica” ou ideológica
conflito,
Em dh pai, E a E a
PARAGUAI
ços. A resistência e a restauração pernambucanas foram
O outro grande
a
DO
com
as antigas
dos historiadores do
idiossincrasias
antilusitanas
existentes no Prata (a recíproca era verdadeira no Brasil) e com o sério problema de dar as corretas dimen-
sões, as dimensões de seres humanos, com suas qualidades e defeitos, erros e acertos, aos principais condutores da sanguinolenta e devastadora Guerra: López, Mitre, Flores, Urquiza, Tamandaré (Patrono da Marinha), Caxias (Patrono do Exército), Osório, Barroso,
Inhaúma,
sem esquecer D. Pedro
II, alvo de tantos
ataques, embora monarca de um país de re gime parlamentar..,.
Hugo
Grotius,
Velásquez,
Rembrandt,
só
para
logo o problema) ela assume proporções vultosas, pois
antevejo enormes dificuldades em compreender o que levou o nobre povo paraguaio ao seu patético, heróico sacrifício, sem perder a noção permanente de que também eram seres humanos sujeitos aos receios, medos,
amores e desamores próprios da nossa condição, e sem — espero — chegar aos absurdos de alguns autores embro-me logo de Carlos Pereyra, ao afirmar ser indu-
bitável que “el 90 por 100 de estas deserciones [para-
guaias] era el resultado de la incapacidad fisica a que
habian llegado aquelos hombres para seguir adelante... Asi las deserciones cabian perfectamente en la
categoria de bajas por enfermidad”), que tentaram (ou tentam) colocá-los acima daquela condição . Não menos preocupantes são os “testemunhos ” dos que denigrem Solano López, pois vão ao extremo de dizer que tinha um “awkwardly formed ph ysique
(Alym Brodsky), e que teria provocado tal re pulsa na
A GUERRA:
UMA
ANÁLISE
55
imperatriz Eugênia (casada com Napoleão III) a ponto
de Orellana, que faleceu no Rio Amazonas (1546) ten-
de fazê-la vomitar, após ter sua mão beijada pelo mare-
tando colonizá-lo, após descer todo o seu curso desde
chal. Basta olhar as fotografias, feitas exatamente por
o Napo, e as desventuras de D. Pedro de Mendonza,
ocasião de sua permanência em Paris, para aquilatar a
Alvar Nufies Cabeza de Vaca, Diego de Sanabria e Jaime
inverdade de tais afirmações: numa
delas, em meio a
Rasquin, que deveriam governar todo o território sul-
vários militares franceses, López é, seguramente, o mais
americano entre os paralelos de 25º a 36º; das tentativas
bem-posto!
de colonização, resultou positiva apenas a fundação de Nuestra Sefiora Santa Maria de la Assunción (provavel-
A expansão luso-brasileira
mente em 15 de agosto de 1537), que se tornaria o centro de expansão espanhola em direção à “Serra da
Comemoramos, em 1994, o Quinto Centenário do Tratado de Tordesilhas. Nas várias conferências que sobre
Prata”, isto é, ao Pótosi.
O fracasso no litoral deixou todo o território — hoje
o tema proferi, inclusive no Congresso “El Tratado de
brasileiro — ao sul da Cananéia como
Tordesillas y su epoca” (Setúbal, Salamanca e Tordesi-
guém”, até a criação da Província Jesuítica do Paraguai
lhas, 2 a 6 de junho), busquei mostrar que, embora
(1607), cuja ação missioneira, desde Assunção, tomaria
aquele convênio, não obstante as suas várias indefini-
impulso em três direções: o Guairá, que hoje ocuparia
ções, houvesse limitado o território do Brasil atribuído a
boa parte do estado do Paraná, onde, em 1628, já exis-
Portugal apenas às terras situadas a leste de um meridia-
tiam 13 missões; o Rio Uruguai e Tapes, inicialmente na
no que cortava nossa costa nas proximidades do Equa-
margem direita do rio, mas, com o tempo, alcançando o
ponto entre São Vicente e
Rio Pardo, em pleno território rio-grándense; e a região
Laguna, desde 1519, pelo menos, a Coroa Portuguesa
do Itatim, genericamente compreendida pelos Rios Pa-
buscara ampliar seu quinhão, de molde a ter o Amazo-
raguai e Aquidauana, e a Serra de Maracaju, no atual
nas e o Prata como limites com Castela.
Mato Grosso do Sul.
dor e, ao sul, em algum
“terra de nin-
Com isto não concordaram obviamente os dirigen-
A reação dos bandeirantes luso-brasileiros, sempre
tes espanhóis, que buscaram criar gobernaciones e co-
em busca de indígenas, considerando os referidos terri-
locar adelantados, quer no Amazonas, quer em todo o
tórios como pertencentes à Coroa Portuguesa, tornou
território ao sul da Cananéia. Basta lembrar Francisco
impossível o prosseguimento da ação missionária nas
56
A GUERRA
DO
PARAGUAI
três regiões e permitiu, pouco a pouco, a expansão para
passaria a ter problemas de limites com seus três vizi-
o sul, que culminaria com a fundação da Colônia do
nhos, Argentina, Bolívia e Brasil (o menor deles, aliás,
Sacramento (1680) e Rio Grande de São Pedro (1737), enquanto o aparecimento do ouro no Mato Grosso le-
com o Brasil).
Varia à criação da Vila de Bom Jesus à construção do Forte de Coimbra.
—
do Cuiabá (1727) e
Antes da Guerra
|
Masa cartografia européia não-peninsular (holan-
desa, francesa, italiana e alemã), durante todo o século
XVII e o primeiro quartel do século XVIII, manteve os territórios do Guairá e do Paraguai alcançando o Ocea-
no Atlântico, sem reconhecer a expansão luso-brasileira, O que somente ocorreria quando a Coroa Portuguesa
Desde o aparecimento do ouro no Mato Grosso (1718), um sério problema para a Coroa eram as comunicações com
Cuiabá. As chamadas
“monções”
exigiam sacrifí-
cios gigantescos e riscos de monta, quer pelo número de cachoeiras a enfrentar no trajeto fluvial, desde a proximidade de São Paulo até a capital mato-grossense,
ignorou Tordesilhas e passou a negociar os limites de seus territórios baseando-se no ut possidetis.
quer pela ameaça dos indígenas ao longo do percurso,
Naquela altura, já Guillaume de PIsle havia sobejamente demonstrado as falsificações cartográficas portu-
nária belicosidade.
guesas,
que iam dando
base “científica” à expansão
luso-brasileira. Mas mostrara igualmente que as Filipinas e as Molucas estavam no hemisfério português. Consequências Madri
(1750),
lógicas disso foram o Tratado de
a criação
do
Vice-Reinado
do
Prata
(1776), graças à importância que Buenos Aires adquirira na tentativa de conter o avanço luso-brasileiro no
rumo
do
Prata,
e o Tratado
de Santo
Ildefonso
(1777), que nortearia todas as negociações de limites entre o Império e as ex-colônias castelhanas na América do Sul. O Paraguai, ilhado no interi or do continente,
em especial os paiaguás, índios canoeiros de extraordi-
Com o surgimento da navegação a vapor, o caminho natural (e único possível) passou a ser feito pela bacia do Prata, subindo os Rios Paraná, Paraguai e São
Lourenço. O inconveniente desse caminho era a neces-
sidade de abertura da navegação daqueles rios , vital
para o Império
levar o progresso
ao Mato
Grosso e
aproveitar as enormes potencialidades da região. As flutuações de humor dos governantes para-
guaios a este respeito tornaram-se praticamente o único
ponto contencioso de nossas relações com aqueles go-
vernantes (mais precisamente Carlos Antonio López),
uma vez que o Brasil foi o primeiro país a re conhecer a
À
independência
paraguaia,
quando
UMA
GUERRA:
ela foi reafirmada
ANÁLISE
57
demorou que um diplomata menos hábil, Pereira Leal,
pelo Congresso guarani (1842).
lançasse a desconfiança no espírito de López. Os laços
Não há como negar o interesse brasileiro em impe-
ficaram estremecidos, perigou a navegação
brasileira
dir que Juan Manuel Rosas conseguisse reunir os territó-
no Rio Paraguai e o Império resolveu, inadvertidamen-
rios do antigo Vice-Reinado do Prata sob as rédeas de
te, aplicar a “diplomacia das canhoneiras”, escolhendo
Buenos Aires. Herdeira da diplomacia lusa, a diploma-
mal aquele que seria o executor dela, o chefe de divisão
cia brasileira mantinha vivas as lembranças do sécu-
Pedro Ferreira de Oliveira, com seu pavilhão na depois
lo de lutas com os espanhóis e as terríveis dificuldades enfrentadas para
manter
namente havia ocupado
os territórios
ou povoado
que
. famosa fragata Amazonas.
paulati-
Embora sendo elevado o número de navios da for-
(ou despovoa-
ça naval, López negou-lhe a subida do rio, sendo Oli-
do, conforme aqueles que invectivam a ação bandeirante).
-
veira forçado a deixá-la próximo às Três Bocas e a subir o Paraguai só com a Amazonas, que encalhou antes de
José Antônio Pimenta Bueno (depois marquês de
Assunção, mostrando, desde então (1855, dez anos an-
São Vicente), nosso infatigável ministro em Assunção,
tes do início do conflito), que navios de madeira e
foi o grande incentivador do primeiro López a defen-
grande calado não poderiam operar naquelas águas.
der-se de Rosas. Humaitá, a quase inexpugnável fortificação,
se não
foi idéia sua, foi por ele amplamente
O máximo que conseguiu o “inusitado” diplomata foi um Tratado de Amizade,
Comércio
e Navegação,
discutida com o presidente. Oficiais brasileiros ajuda-
sendo postergada a questão de limites. Cumpre deixar
ram a organizar e a instruir o exército paraguaio,
claro que as fronteiras pretendidas
e
pelo Brasil (Rios
armas e munições foram-lhe fornecidas pelos imperiais.
Paraná, Iguatemi, cumes das Serras de Maracaju e Rio
O Paraguai não participou, contudo, das forças que
Apa) serão, pouco mais ou menos, as mesmas fixadas
aliaram Rosas
do poder. Logo depois da queda do
ditador, o Brasil tranquilizara-se, pois a Argentina e o Uruguai,
convulsionados
internamente,
ameaças potenciais e mantirham-se
não
eram
as boas relações
com o Paraguai.
Mas o destino tem seus desígnios insondáveis. Não
no pós-guerra, trocando-se o Iguatemi pelo Igurei, com
alguma vantagem territorial para o nosso país. Francisco Solano López foi o negociador do tratado. Parece que, já então,
nutria forte antipatia pelo
Império e crescera em vaidade pela recepção que lhe
fez Napoleão III quando, pouco antes, andara pela Eu-
da, q
—
A GUERRA
DO
a
missão
diplomática
e comprando
navios
e
|
correu sob a Ponte da Amizade
passou sobre ela). O Mercosul parece a caminho de
armamentos. Se Pedro Ferreira de Oliveira nada conseguira na
horizonte
no
e não se vislumbra
qualquer problema maior entre os quatro países envol-
depois, assinou com José Borges, plenipotenciário pa-
vidos no conflito de 1865. Uma ou outra questão de
raguaio, um segundo Tratado de Amizade, Comércio e
temperamentos
Navegação.
beis diplomatas e propósitos sabidamente comuns aos
mercuriais é logo solucionada
pendente.
quatro vizinhos.
Por isso, Carlos Antonio López desabafou com Thorn-
Obviamente,
por há-
não era esta a situação em 1864. O
ton, ministro britânico em Buenos Aires, quando este
Brasil
visitou Assunção, afirmando temer que a questão de
residiam e tinham propriedades 40 mil compatriotas,
limites levasse a uma
ruptura entre os países.
ral, pois,
firmada
que,
mesmo
a convenção
Natu-
sobre
a
liberdade de navegação fluvial (1858) e inaugurado o serviço regular de vapores, via Rio Paraguai, entre o Rio de Janeiro e Cuiabá, Francisco Solano López ace-
lerasse
seus preparativos
para ampliar Humaitá,
au-
mentar o exército e contratar técnicos e engenheiros militares no estrangeiro. Envolvido com seu interesse maior, as questões em ambas as margens do Prata, o governo imperial parece ter ignorado aqueles preparativos.
A Guerra
Nestes 130 anos transcorridos desde que se iniciou a
então chamada Guerra da Tríplice Aliança, muit a água
possuía
enormes
interesses
no
Uruguai,
onde
número semelhante à população de Montevidéu. Eram eles estreitamente ligados e muitas vezes também aparentados
com
os do Rio Grande,
constante atenção muito
distantes
do
Império,
a Revolução
alvo igualmente da porque
não
Farroupilha
estavam
e as idéias
separatistas da província. Toda a cautela era, destarte, justificada para manter satisfeitos os gaúchos. Mais ainda, os gaúchos constituíam as principais tropas com que o governo contava nos Pampas, os famosos cavalarianos, tipificados pelo intrépido Osório. À intervenção no Uruguai, o apoio a Flores, o bombardeio e a destruição de Paissandu, sob o comando do impulsivo visconde de Tamandaré, e o quase idêntico destino
F
realidade
tornar-se
sua inglória expedição, o ministro Paranhos, um ano
Mas a questão de limites permaneceu
PA
(e muito contrabando
de
Montevidéu
isentos de controvérsias.
são
fatos
bastante
sabidos
e
Não dispondo Buenos Aires ou o governo blanco
ae
em
e
o
ropa
PARAGUAI
ei ST
a
58
A
GUERRA:
UMA
ANÁLISE
59
de marinhas de guerra, a esquadra. brasileira do Prata
solicitação
mantinha o domínio daquelas águas. Mesmo assim, o
tes. Eram os primeiros erros de uma
grande esforço que fora despendido, entre 1847 e 1858,
culminaria
na
ingressar
para fazê-la
era
do
vapor
estava
para
com
que
as tropas
a invasão
cruzassem
Corrien-
segúência que
do Rio Grande
do Sul,
onde perderia substancial parcela de suas melhores tro-
quase
pas.
perdido, três lustros após, pois os avanços da tecnolo-
Destes erros — em parte explicados porque López
gia, com o aparecimento das couraças e dos encouraçados, tornaram-na praticamente obsoleta quando com-
contava
parada às congêneres francesa e inglesa. Mas, para as
Aguirre —, o mais grave, o que teria influência decisiva
questões então em
na Guerra, foi lançar o até então neutro Bartolomé Mitre
Rio Paraná,
curso,
o apoio
de Urquiza
e dos
blancos de
as
na Tríplice Aliança. Não pela importância que as tropas
e os oito transportes a vapor de que
argentinas teriam no desenrolar da Guerra, mas por
durante o conflito eram força de respei-
garantir Buenos Aires como ponto de apoio logístico a
a fragata
20 canhoneiras
dispusemos
para operar no Prata e no
com
Amazonas,
as
oito
corvetas,
687 milhas de Humaitá.
to. Em relação ao Paraguai, a situação mudava radical-
mente.
Mais grave ainda
foi o ditador lançar-se ao ata-
Olhemos o mapa da América do Sul: entre o Rio
que sem dispor de meios flutuantes capazes de enfren-
de Janeiro e Assunção medeiam nada menos de 2.020
tar a esquadra brasileira. O resultado seria a decisi-
milhas náuticas,
os
va derrota de sua esquadra em Riachuelo, não obstante
navios de que dispunha nossa marinha e sem um por-
alguns erros táticos do chefe Barroso, que comanda-
to bem mais próximo
do possível teatro de opera-
va as forças brasileiras. A partir de então, seria fatal
ções, seria irracional qualquer agressão do Império
que, cedo ou tarde, a Guerra se fizesse em território
ao Paraguai.
Francisco
paraguaio. Além disso, ganhava tempo o Brasil para
Solano López — que, desde setembro de 1862, subs-
rapidamente preparar esquadra capaz de levar de ven-
tituíra o falecido
cida as fortificações construídas em Curuzu, Curupaiti e principalmente em Humaitá. O quadro que se se-
No
ou seja, 3.741
entanto,
Carlos
quilômetros.
na sua obsessão,
Antonio
—
Com
imaginou
que
a
ação brasileira no Uruguai punha em risco seu país. A recusa de mediação Os acontecimentos.
da parte de López precipitou
Seguiram-se
o apresamento
do
marquês de Olinda, a invasão do Mato Grosso e a E
gue mostra à sequência da incorporação dos encouraçcados e monitores-encouraçados, e sua chegada ao Paraguai.
BARROSO BAHIA
RIO DE JANEIRO LIMA BARROS
HERVAL
Ta
ER
o
perita,
COLOMBO
mente
em
Itapiru, para onde
marchara Osório após
Nº PEÇAS
TRIPULAÇÃO
INCORPOR.
CHEG. PARAG.
11/(68/70)
160
7/1865
3/1866
6/(68/70/12)
74
8/1865 (7)
3/1866
4/(70/68)
136
Não é propósito aqui detalhar os sucessos do con-
11/1865
3/1866
2/150
108
1/1866
3/1866
flito até a entrada de Caxias na capital paraguaia, em 5
4/(68/70)
135
3/1866
9/1866 (7)
4/150
180
3/1866
7/1866
4/(120/68)
135
6/1866
11/1866 0)
8/68
140
6/1866
2/1867
7/1866
9/1866 (7)
9/1866
1/1867 (7)
9/1866
1/1867 (9)
MARIZ E BARROS
4/(120/68)
CABRAL
8/(68/70)
SILVADO
6/(68/32)
134
PARÁ
1/70
57
5/1867
8/1867 (7)
Rio GDE. SUL
1/70
A
8/1867
2/1868
ÁLAGOAS
1/70
37
10/1867
1/1868
Piauí
1/70
37
1/1868
6/1868 (7)
CEARÁ
1/70
37
3/1868
7/1868
STA. CATARINA
1/70
37
5/1868
()
pisar o solo inimigo.
de janeiro
Passo da Pátria seria arriscada, pelo de sconhecimento
quando
o comandante-em-chefe
necessário, no entanto, para proceder à análise final da Guerra, relacionar cronologicamente seus principais suCessos:
— Em 2 de maio de 1866, as forças aliadas são atacadas pelas paraguaias no Estero Bellaco, com severas perdas de ambos os lados.
— Em 24 de maio, travá-se a Batalha de Tuiuti, na qual as forças de López sofrem tremendo revés, com perdas avaliadas em 6.500 homens e 7 mil feridos. Mesmo
assim,
os paraguaios
retiraram-se
sem
se-
rem perseguidos pelas tropas de Mitre, o que trouxe o descontentamento de Osório, que, logo no mês seguinte, deixa o teatro de operações. —
Em 3 de setembro,
ocorre a tomada de Curuzu e
iniciam-se os preparativos para o assa lto a Curu-
das defesas de terra e à vulnerabilidad e dos navios de
madeira. Por isso, já a 16 de abril, houv e o início do desembarque em território paraguaio, após reconhecimento feito por aqueles navios. No di a seguinte, registrou-se o primeiro embate em terr as guaranis, exata-
1869,
considerou, com razão, terminada a sua missão. Faz-se
Enquanto os encouraçados não chegassem ao teatro de operações — o que só ocorreu a partir de março de
1866 —, qualquer tentativa de desembarque an fíbio no
de
paiti.
—
Dia
22 de setembro,
os aliados
avançam
sobre
Curupaiti, submetido a inconseguente bo mbardeio efetuado pela esquadra. Desconhecendo as defesas a enfrentar, o ataque resultou em comp leto fracas-
ci
TAMANDARÉ
PARAGUAI
DO
si
BrasiIL
GUERRA
a
A
A
GUERRA:
so, com avultadas baixas para os exércitos aliados.
UMA
ANÁLISE
Os argentinos e uruguaios perderam ali grande par-
— Em 25 de julho, Humaitá é totalmente desguarnecida. As forças que se retiram são dizimadas. Allen
te de seus efetivos e jamais tiveram, no restante da
tenta suicidar-se e é mandado fuzilar por López.
Guerra, a possibilidade de restaurá-los.
— Em 5 de agosto, Humaitá é finalmente ocupada.
Sequência de meses de pouca-atividade bélica até a
—
chegada de Caxias ao Paraguai, sendo Tamandaré
— Os encouraçados forçam Angustura, em 1º de outu-
bro de 1868.
substituído por Inhaúma. Estabelece-se o comando único para as forças terrestres e navais em opera-
López fortifica-se no Piquissiri.
—
ções.
Construção da estrada do Chaco, em outubro de
1868.
Marcha de flanco de Tuiuti a Tuiú-Cué, ocupada em
—
Em Itororó, dia 6 de dezembro, tem início a célebre
31 de julho de 1867.
Dezembrada,
Em 15 de agosto, os encouraçados forçam a passa-
(11
gem de Curupaiti, iniciando as primeiras ações con-
guinte.
tra Humaitá, que fica completamente cercada em
continuada com as batalhas do Avaí
de dezembro)
e Lomas-Valentinas,
no 21 se-
— No dia 24, é dirigido um ultimatum a López para que se rendesse. O marechal recusa-se a fazê-lo.
novembro de 1867.
Aos 19 de fevereiro de 1868, três encouraçados e
três monitores forçam a passagem de Humaitá. Si-
— Ataque bem-sucedido a Ita-Ibaté. Batidas as suas tropas, López retira-se para Cerro León.
multaneamente, a fortaleza é tomada pelo exército. Com a passagem de Humaitá, as forças paraguaias
Que conclusões podem-se tirar examinando
ali posicionadas ficam em
estes acontecimentos?
precaríssima situação
para serem abastecidas, o que leva aos desesperade julho.
Em primeiro lugar, há que louvar o sucesso alcançado por Tamandaré em rapidamente fazer de Buenos Aires
Em 16 de julho, tropas sob o comando de Osório
o ponto
tentam assalto a Humaitá, sofrendo pesadas baixas,
e navais que operariam no território paraguaio. Com isso, jamais faltaram-lhes arínamentos e munições de
tamente se houvesse retirado para o Timbó.
boca. Seguiu-se o êxito na operação anfíbia do Passo
om
logístico para as forças terrestres
ss
embora a maioria das forças paraguaias já sorratei-
de apoio
di ci
dos ataques aos encouraçados, em 2 de março e 9
A
62
GUERRA
DO
PARAGUAI rem
pela
pelas deficientes condições sanitárias e pela falta de
falta de agressividade de Mitre em perseguir o inimigo
adaptação ao clima e ao solo — porque vitoriosos. Ao
batido.
final e ao cabo, também
da Pátria e o sucesso
em
Tuiuti,
empalídecido
O tremendo fracasso de Curupaiti tornaria de pron-
merecem
louvores pela cora-
gem e pelo patriotismo com que lutaram.
único
As perdas da marinha exprimem bem aqueles sacri-
para as forças terrestres e navais. Tamandaré foi sacrifi-
fícios. Entre agosto de 1864 e março de 1870, essas
cado,
entre Caxias e
perdas podem ser assim resumidas: mortos em comba-
permitiu que a passagem de Humaitá, bási-
tes ou em consequência deles, 170 homens; em aciden-
ca para a sequência de operações que levariam à De-
tes vários, 107; por doenças em serviço, 1.450, número
zembrada,
praticamente igual à soma das tripulações dos 11 en-
to evidente
mas
Inhaúma
a necessidade
de um
comando
o perfeito entrosamento
fosse
feita sem
encouraçados. Nela
ficou
construir rapidamente
no
sacrifícios
dos
demonstrado
o acerto
país três deles
outros oito na França e na Inglaterra.
preciosos em
e adquirir
Notável foi tam-
bém a rapidez com que, no Arsenal da Corte, construíram-se os monitores, três anos apenas após o famoso encontro
do monitor
e do Merrimack,
em
Hampton
Roads. A 130 anos de distância dos acontecimentos, é hoje
possível afirmar que os soldados paraguaios, ao escre-
verem, durante um lustro, uma das mais belas páginas da história das guerras, sacrificaram-se em vão, pois
Riachuelo havia selado a sorte da luta, impedindo que López recebesse navios e armas do exterior, carência que, embora os notáveis sucessos alcançados por seus
arsenais, foi-lhes fatal. Mais
felizes
os aliados —
couraçados e seis monitores que se achavam no teatro
de operações.
É de admirar, pois, que o governo imperial tenha lutado com ciclópicas dificuldades para manter no Paraguai exército com efetivo suficiente para bater os leões
de Solano López? É de admirar que, sabidas no Brasil as vultosas perdas de vidas que ocorriam no distante tea-
tro de operações e já houvesse na opinião pública a certeza da vitória final, surgisse relutância em atender à convocação para a Guerra?
Creio que não, pois, no início do conflito, quando o perigo parecia (e era) grave, gravíssimo, os brasileiros
apresentaram-se em grande número, voluntários para a luta. Tenho na família a prova disto. Estão comigo, em minha
embora
também
muito
sacrificados pelas dificuldades da peleja, em especi al
casa de São João
del Rei, as cartas
desde
O
Paraguai e, depois, do asilo dos inválidos da Pátria, de meu tio-bisavô João Luiz Guilherme Gaede, que, aos 16
A GUERRA:
UMA
ANÁLISE
63
anos, com mula e espingarda “emprestadas”, fugiu de casa e assentou praça para ir à Guerra.
e do povo paraguaio estavam inexoravelmente atados.
o erro maior bra-
Esta é a linha de pesquisa na qual me aprofundei e
sileiro, o erro de Francisco Otaviano (e Tamandaré), ao
que talvez explique — melhor do que tentam fazê-lo
concordar com o texto do Tratado da Tríplice Aliança,
aqueles que atribuem à tirania, ao terror implantado por
Finalmente,
há que
considerar
Era morrer lutando ou ver desaparecer o país.
em que alguns artigos, hábil e justamente explorados
Francisco Solano López — a auto-imolação de uma
por López, deram a entender que os destinos da pátria
nação.
O PRÍNCIPE OBÁ, UM VOLUNTÁRIO DA PÁTRIA Eduardo Silva
O
more
PRÍNCIPE
OBÁ,
UM
VOLUNTÁRIO
DA
PÁTRIA
67 E
O O
Um príncipe do povo om Obá II d'África, ou melhor, Cândido da Fonseca
Galvão,
como
foi batizado,
nas-
ceu em Vila dos Lençóis, no sertão da Bahia, em meados do século XIX. Filho de africanos for-
ros, brasileiro de primeira geração,
era, ao mesmo
fixou residência de
como
homem
um
social
amalucado”,
“meio
uma figura meramente folclórica, era ao mesmo tempo reverenciado como um príncipe real por escravos, li-
tempo, por direito de sangue, príncipe africano, neto,
bertos
ao que tudo indica, do poderoso Alááfin Abiodun, o
Janeiro.
último rei a manter unido o grande império ioruba de
bem
sua posição
confusa. Tido pela socie-
complexa,
era no mínimo dade
na corte, onde
e homens
Dom
Obá
livres de
assumiu,
nos
cor da
cidade
momentos
do
Rio
de
decisivos
do
Oyo, na segunda metade do século XVIII. Aláafin Abio-
processo de abolição progressiva, o papel histórico (in-
dun, através da tradição oral, deixou boa fama de sábio
suspeitado, quase oculto) de elo entre as altas esferas
e de ter oferecido um “longo e próspero” reinado para
do poder imperial e as massas populares que emergiam
seus súditos.!
das relações escravistas. Como observou um contempo-
- Príncipe guerreiro, Dom Obá II d'África lutou na
râneo, o príncipe Dom Obá II d'África, “devido à sua
saiu oficial honorário
régia estirpe (...) recebia (...) o tributo dos seus súditos
do exército brasileiro, por bravura. De volta ao Brasil,
do Largo da Sé, que tomavam-lhe a bênção, que se
Guerra do Paraguai,
de onde
A
GUERRA
opaco, quase incompreensível para a sociedade letrada
lhosos de sua figura e de sua ufania”.2
de então.
RR as
OR
Ea
e
7
o
Err PRop
q" =
a
E e
ds a
E ga
dá 1
sem publicadas,
que
Obá (que quer dizer “rei”, em ioruba)
enfeixou
contradições
muito
profundas,
libertos e homens compartilhavam
contribuíam financeiramente
e reuniam-se
lívres de cor, de suas idéias,
para que elas fos-
“nas quitandas ou em
família” para ler em voz alta os artigos. O que
defendia
este homem
e por qué parecia
interessar tanto a seus leitores? Sendo um príncipe, era
altura, os modos de soberano como que captavam a
Dom
atenção dos contemporâneos,
embora poucos estives-
acima dos partidos, nem inteiramente conservador nem
sem realmente preparados para acreditar no que viam.
tampouco liberal, talvez por achá-los muito parecidos
Um príncipe afro-baiano a perambular pelas ruas do
uns com os outros; talvez porque, no fundo, os dois
Rio, barba à moda de Henrique IV, muito bem vestido
partidos se opusessem ao processo de abolição posto
em suas “finas roupas pretas”, como foi descrito por um
em curso pelo imperador; talvez porque os dois lhe
contemporâneo, de fraque, cartola, luvas brancas, guar-
parecessem inspirados apenas por interesses materiais.
da-chuva, bengala e pincenê de aro de ouro. Ou, em
Seja como for, no Jornal do Commercio de 25 de
Obá,
ao menos
teoricamente,
um
monarquista
o E]
Md.
DR]
E ae E | .
Si
a
En
tu
pd
E]
q
a,
apenas
solenes, Dom
A figura imponente de homem de dois metros de
E=
AAS PN per. as 1e
ed
não
como
questões fundamentais da formação cultural brasileira.
de
e
da,
bm e
a
q) a a ae din o
contudo,
Escravos
em palácio por Dom Pedro II, mesmo nas ocasiões mais como
“a Caio E do A Ma =]
eE
a CATo ” E
PARAGUAI
ajoelhavam em sua passagem, exclamando muito orguPerseguido nas ruas pela polícia e também recebido
á
DO
+ h O A 1 ar
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De
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o
a
b
api
j
Ni
=]
Es,
ao
'
A
ocasiões
realmente
especiais,
muito
ereto, marcial
e
importante em seu bem preservado uniforme de alferes do exército, com suas dragonas e seus galões dourados, sua espada à cinta, seu chapéu armado com penachos coloridos, seu pacholismo admirável.
DomoObáll d'África, para ser breve, defendeu uma visão alternativa da sociedade, do próprio processo histórico brasileiro. Talvez pelo conteúdo mesmo de suas
idéias, talvez por sua linguagem (seu português crioulo,
colorido aqui e ali com expressivas pitadas de ioruba e mesmo de latim), a verdade é que seu discurso parecia
fevereiro de 1885, afirma com todas as letras “não ser
como muitos dos interesseiros dos cofres públicos que
sô são amigos da Monarquia quando estão presos pelo
cofre, e quando estão soltos querem a Reforma ou a Revolução”. Por essas e outras, tinha posições políticas muito bem matizadas. “Por isso sou conservador para
conservar o que for bom e liberal para reprimir os assassinatos que tem havido nesta atualidade a mando de certos potentosos.” A mando de certos “potentados”,
quis dizer o príncipe, pessoas muito influentes e poderosas.
NS
O
PRÍNCIPE
OBÁ,
UM
a defesa
da
VOLUNTÁRIO
DA
PÁTRIA
69
tr
dem, às fox. |
O
combate
ao racismo, ou
melhor,
igualdade fundamental entre os homens, foi outro pon-
to crucial no
pensamento
não apenas era linda, mas “superior aos mais finos brilhantes”.4
e na prática política de
Dom Obá II d'África. Defendia ele, no Brasil senhorial
“Apau e corda”?
e patrimonial de então, que o valor dos homens não estava na cor da pele, mas no mérito, no procedimento ético de cada
um.
Isso, explica o príncipe,
“por
Medeiros e Albuquerque, como outros propagandiístas da República, pensou que os batalhões de pretos que
Deus mandar que quando o varão tiver valor não se
partiam para a Guerra do Paraguaí “se diziam 'voluntá-
olharia a cor”. Ele, um príncipe preto, portanto, “vale
rios, mas que eram quase sempre
muito mais que certos titulares de qualquer coisa que só
força”. Em certos círculos da elite, sobretudo depois da
buscam desmoralizar a sociedade com seus atos imo-
Guerra, esteve em moda referir-se a esses soldados —
rais”.3
não reconhecendo neles nenhum valor — como “vo-
(...) recrutados à
Em outra ocasião, defendeu de forma cristalina que
luntários de corda” (isto é, pegos a laço) ou “voluntários
o “Brasil deve desistir da questão da cor, pois que a
a pau e corda”. Uma primeira questão é saber até que
questão é de valor e, quando o varão tiver valor, não se
ponto esse mau
olhará a cor”. Idéia semelhante apareceria também nos
alguma relação com a realidade ou terá sido fruto ape-
versos que publicou no Jornal do Commercio de 6 de
nas do preconceito, do estereótipo,
março de 1886.
sobre o povo brasileiro.
conceito sobre os “Voluntários” terá da visão tradicional
De fato, “atendendo às graves e extraordinárias cirNão é defeito preta ser a cor
cunstâncias” do país, completamente despreparado para
É triste, pela inveja roubar-se o valor.
a Guerra, Dom
Pedro II assinou o decreto criando os
Corpos de Voluntários da Pátria, num sábado, 7 de janeiDentro dessa linha, o príncipe, como muitos de seus
ro de 1865, para que fosse publicado logo na segunda-
seguidores, parece ter chegado a uma formulação estéê“tica autônoma, talvez pioneira, talvez natural, na li-
feira. Os Corpos poderiam ser compostos por cidadãos
nha do movimento Black's beautiful dos anos 1960.
condições especificadas no próprio decreto. Para falar
Segundo um dos seguidores do príncipe, a cor preta
entre 18 e 50 anos que voluntariamente aceitassem as
apenas do que poderia parecer mais atraente, podemos
HER FE
'TÕN
aBT Ga
OM
70
A GUERRA
DO PARAGUAI
sr
Rê PSL
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4
E, É
a
+=
“aa
E
enumerar: 300 réis por dia, além do soldo normal a que
Já em relatório de 1865, apresentado à Assembléia
faziam jus os voluntários do exército, de cerca de 165
Legislativa, o ministro da Guerra, visconde de Camamu,
réis; pensão
que
informava satisfeito que, devido à grande afluência de
morressem em combate; gratificação de 3008000 para os
voluntários verdadeiros, o governo achou por bem não
que sobrevivessem (cerca de 160 dólares de 1875); por
apenas suspender o recrutamento na Corte, mas expe-
fim, 22.500 braças quadradas de terra (1 braça = 2,2
dir “ordens dispensando os recrutadores em todas as
de
meio
soldo
para as famílias dos
metros) em colônias militares ou agrícolas. Embora o decreto imperial falasse muito claramente
a
E o Ea
Siga
MEO A im mg
os
a Ea |ti
Te E
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pr = lh
%
E
EE
conde,
Isso porque,
explicava
muito
bem
o vis-
“o governo julga desnecessário coagir pessoa
em “cidadãos ... que voluntariamente se quiserem alis-
alguma para tomar parte na defesa do Império, quando
tar , em muitas províncias, talvez pela força do hábito,
milhares de cidadãos correm espontaneamente a ofere-
talvez por excesso de zelo, autoridades recrutadoras, delegados de polícia inclusive, conforme bem sintetizou o general Paulo de Queiroz Duarte, saíram a “caçar
o caboclo nos igarapés do Pará, o tabaréu nordestino na caatinga, o matuto na sua tapera, o caiçara no litoral”, enfim, como era tradição no Brasil, homens de condição humilde, sem distinguir muito entre os tons da pele e as culturas,”
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Pa
a TITErE om,
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SAEe
N Mame.
asd | k
províncias”.
Apesar do mau jeito dessas autoridades, o apelo aos voluntários parece ter tocado em fibra nova — até então desconhecida — da nacionalidade. Não apenas o
príncipe apresentou-se “como verdadeiro soldado”. Na Bahia, em especial, a mobilização foi intensíssima para
as condições da época, chegando os Voluntários à somar cerca de 9 mil homens em menos de um ano. Vindos de todo o país, os Corpos de Voluntários chega-
ram a representar, no auge, 75% dos batalh ões de linha.
cer-lhe os seus serviços”.
Nas cidades maiores, realmente, alguns homens livres de cor ou ex-escravos podiam contar uma história talvez diferente da que contou o príncipe, mas não foram
maioria.
Muitos,
“voluntários de corda”,
no Rio e em Salvador,
sobretudo
foram
aquela gente sem
relação e tida por turbulenta, incluindo aí alguns grandes mestres da “pernada carioca” e da “capoeiragem”
soteropolitana. Este parece ter sido O caso, por exemplo, daquele outro voluntário baiano, recrutado ao tempo do con-
selheiro Sinimbu, quando o povo de Salvador, cansado de esperar providências, levantou-se insubmisso a exigir no grito, conforme o slogan do movimento,
“Carne sem osso, farinha sem caroço e toucinho do
grosso”. nome
A história,
infelizmente,
não
guardou
o
desse outro soldado afro-baiano. Mas ele, uma
f
OBÁ,
UM
VOLUNTÁRIO
DA
PÁTRIA
71
vez incorporado, certamente não fez vergonha. “Era um
dos “escravos da nação” que quisessem partir para o
crioulo alto e musculoso, gingando muito quando an-
serviço de guerra, como muitos fizeram.
dava”, observou Dionísio Cerqueira em suas recorda-
Muitos outros escravos pertencentes a particulares conseguiram convencer seus senhores a vendê-los es-
ções de guerra:
pecialmente para a Guerra.
O acordo tinha que ser
Era muito limpo — fazia gosto ver a chapa do seu
conveniente para ambas as partes e encontra-se conso-
cinturão e os botões a reluzir. Afamado fabricante de
lidado em pequenos
cigarros,
=
O PRÍNCIPE
vendia-os
aos oficiais.
Gostava
muito
de
cantars
anúncios da época, como
este
publicado pelo Diário da Bahia, de 14 de outubro de 1865:
k
recurso antigo, praticado por escravos
falsos, foi um
desde os tempos coloniais. Apesar das conhecidas durezas da caserna — os soldos sempre em atraso € semr-
quem
lhe substitua
nos contingentes destinados à
guerra.
e a discipre minguados, as dificuldades de promoção
... Ou valentes, briosas falanges ?
para garantir ou , es or ri te an s ga fu r ma ti gi le ra pa recurso
Muitos
um s ze ve as it mu era o nt me ta is al o —, da plina rígi
casa e comida.
escravos,
libertos e homens
livres, da mesma
forma, tomaram o alistamento como prova de bravura
escravos
pessoal e via de integração na sociedade mais ampla. O
Guerra no a r faze lei, or p P o ad aceitariam, como facult
voluntário Galvão, por exemplo, não foi um “voluntário
Quando
da
G uerra
do
Paraguai,
muitos
seus senhores, em de hos fil s do ou lugar de seu senhor, s já especificaagen vant das , iata imed a da alforri
troca
e carreira militar. O Decreto nº d a v das e da perspecti a m a a h c av os rt be , li 65 o r 18 b de m e v o n de 2.725. de 6
mm
.”
is
Sentar praça às escondidas, muitas vezes usando nomes
exército, declare por este jornal seu nome e morada onde possa ser procurado, e por preço cômodo achará ue
e ——
propriedade de outrem, ou “mão-de-obra barata”, para ser homem de respeito, soldado, defensor da pátria.
CT
de melhorar de vida, de deixar de ser
oportunidade
Atenção. Quem precisa de uma pessoa para marchar para o sul em seu lugar, e quiser libertar um escravo robusto, de vinte anos, que deseja incorporar-se ao
o a
Para muitos outros, contudo, a Guerra representou uma
a pau e corda”. Foi, pelo contrário, como gostava de dizer, “um verdadeiro soldado”. Escreveu ele ao impe-
rador, certa ocasião, como que explicando suas motivações para o alistamento:
A
72 SS
E
RS
O SR
E
DO
PARAGUAI
O
o cd
à cão e
GUERRA
Quando de todos os ângulos do Império soou o aflito brado (...) o humilde súdito que vos fala deixou tam-
companheiros não representam um fenômeno novo,
bém aliar-se e difundir-se por todas as vísceras a fla-
ilustres remontam ao século XVII, aos valorosos terços
ma viva, o fogo sagrado de amor à pátria.
de Henrique Dias, o capitão negro das lutas contra q
F
ie pe
que acabamos de ver no interior da Bahia, com o volun-
Voluntários da Pátria que marcharam (...) em diver-
tário Galvão, mobilizou ainda os sonhos da mocidade
sos combates?
bem-nascida,
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ge a En]
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SS
[' E S (js ic moi a
heroísmo romântico de Os timbiras, de Gonçalves Dias,
go tn
E Ta! TSE
ema e, à “ ” =
leitores, muitos deles influenciados pelo
Além de voluntário em
toda a extensão da palavra,
Galvão, sendo um príncipe, não se apresentou sozinho, mas já liderando um grupo de companheiros, libertos
ou homens
livres como ele. “Conseguindo
trazer em
sua companhia 30 cidadãos brasileiros, seus conterrâneos, em cujos peitos sobravam entusiasmo e amor à
Pátria”, escreveu ele ao imperador. Em outra ocasião, já talvez com algum exagero ou
ênfase, sustentou o Príncipe novamente que não partiu sozinho, mas conseguiu “arrastar do centro daquela capital da Bahia, hoje cidade dos Lençóis, quando vila
era, milhares de voluntários para consigo a Pátria irmos
defender”.10 Por este prisma, o voluntário Galvão e seus
de O Uraguai, de Basílio da Gama, de O guarani, de José de Alencar.
Para aquela geração, os sentimentos nacionalistas
estavam exacerbados, ainda mais, pelas interferências britânicas a favor da abolição do tráfico africano e seus
desdobramentos posteriores, como a Questão Christie, em 1863, quando o embaixador britânico William Christie ordenou
o apresamento
dos navios brasileiros na
Baía de Guanabara. Muitos jovens brasileiros que segui-
riam para a Guerra, três anos mais tarde — como Antônio Tibúrcio Ferreira de Souza e Dionísio Cerqueira —,
participaram antes de passeatas no Rio, sobretudo na Rua Direita, dando vivas nacionalistas e mostrando seu
q
ag
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|
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ã
qu
me
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a
ne
CA am
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rg gt Sa
e ar, A E b
= orre
de a Independência, 43 anos antes. O mesmo discurso
nas fileiras das valentes falanges dos briosos
dado
o
o
re
ig ja
jo
amor do Patriotismo, alistei-me como verdadeiro sol-
foi a primeira comoção verdadeiramente nacional, des-
de
Ei
q
a
gridade nacional (...) inspirado pelo Sacrossanto
melhor elite. A declaração de guerra contra o Paraguai
agree,
no clima exaltado da época, também atraiu moços da ... tendo sido agredida e vilipendiada a honra e inte-
ii
Além de escravos e pretos livres, o serviço militar,
-
1865,
invasor holandês.
lie
Em outra ocasião, lembraria cheio de orgulho que, em
aa
mas um paradigma. Seus antecedentes históricos mais
O
desacordo
o que entendiam
com
PRÍNCIPE
como
OBÁ,
UM
interferência
indevida da Grã-Bretanha nos assuntos internos da “jovem porém orgulhosa nação que se formava”.!! Dionísio Cerqueira, um jovem da elite baiana, cursava o segundo ano da Escola Central, na Corte. Ele não
nôde assistir sem grandes angústias à partida de seus colegas da Escola Militar da Praia Vermelha, em seus uniformes reluzentes:
.. quando vi (...) todos aqueles caros companheiros em ordem de marcha [..] e carregando garbosos à carabina com que iam defender a pátria, achei-os admiráveis e, confesso meu pecado, tive tanta inveja,
que não pude mais abrir um livro.
17 anos de idade e sentia irresistível
Dionísio contava
impeli-lo a — a su o sã es pr ex ar us ra pa — ” ca gi má “força de o ir ne ja de 2 A . Sul no s, õe aç er op para O teatro de
que o et cr de do ra tu na si as da s te an as di cinco
1865.
no ele e u-s nto ese apr ia, pátr da o d a i r a criaria o volunt , ue aq fr de — a n a t n a S de o Quartel-G eneral do Camp o para ser voluntário do ind ped —, a ol
colete e cart
VOLUNTÁRIO
DA
PÁTRIA
73
duas libras esterlinas que lhe mandava o paí, sempre muito previdente.!2 No extremo oposto da escala social, reencontramos as mesmas idéias de pertencimento e brasilidade. Con: forme expressou o alferes Galvão, o Príncipe Obá, em carta dirigida a Dom Pedro Il: “Filho de pais pobres,
Senhor (...) o obscuro e humilde súdito de Vossa Majestade Imperial sufocou no peito ofegante de saudade um
suspiro profundo, e prestou ouvidos ao honroso apelo, que requeria o sacrifício pela pátria. Banhou de lágrimas a mão de seu Caro Pai, imprimindo-lhe saudosos € expressivos ósculos, e lá voou, impávido, aos campos
gloriosos da peleja, disposto a selar com seu sangue à
liberdade e a dignidade do Império da Cruz!”!>
Nos campos gloriosos da peleja O que dizer da Guerra propriamente dita, das dificuldades e dos perigos enfrentados por homens como Dom
Obá II d'África, desde a marcha de 24 dias, de Lençóis. no sertão, até Salvador, no litoral, 302 quilômetros em
de s to bi há om “c do ia cr o, id sc na mbe Jovem
linha reta? O que dizer do peso das responsabilidades
a c i f i t a r g s a s i a m o d l ujo so c , é r p e d a ç a r s p e l p m i s com o
to como soldado, a partida de Lençóis já como sargento,
exército.
tiu para a Guerra par ”, nça sta aba da eio m o n conforto e
dia”, por réis cinco e pataca “meia a ções mal chegariam muitas Salvou-o, réis. 165 de quantia minúscula à É to /
de vezes, , nos nos duros anos que teve pela frente, a mesada
* Fm =
A,
Fo
o
A a cr Cd A "a
É
disdfrsr
B
é
AY
FÃ.
crescentes na vida de um jovem do interior, o alistamen-
a promoção a alferes, mal chegado em Salvador, tudo em menos de dois meses? Em Salvador, o novo alferes
viu o mar e embarcou em navio pela primeira vez, rumo
e
ao
e
o AR
E
=
o
E SU
escalas no Rio e na cidade
do
Do
lado brasileiro, as perdas
foram
particularmente
sensíveis entre as “valentes falanges dos briosos volun-
Desterro, hoje Florianópolis.
Galvão nunca se queixou de nada, mas sabemos
tários”, como costumava se expressar o alferes de Zua-
hoje o que foram essas milhas e milhas no mar, nos
vos Cândido da Fonseca Galvão. Somente em seu Cor-
acanhados e desconfortáveis vapores da época, os sol-
po, o 24º, foram contados 152 homens fora de combate,
dados metidos nos porões e submetidos ao padecimen-
entre eles 44 mortos.
to clássico dos enjôos. De Porto Alegre aos “campos
Por essa época, o 24º Corpo de Voluntários esteve
gloriosos da peleja” foram nada menos do que nove
engajado ainda no combate de Punta Naró, na madru-
meses de marcha sob frio intenso e chuvas torrenciais,
gada de 16 de julho, quando enfrentou o fogo de “qua-
sem
tro canhões pequenos” e fortes trincheiras abertas sob a
equipamento
adequado
(inclusive
no
tocante
a
roupas e calçados), soldos atrasados e alimentação res-
supervisão. direta de
trita a churrasco de carne gorda no espeto, no almoço e
Thompson, quando sofreu mais 69 baixas, entre mortos
na janta, com acompanhamento
e feridos.
nhada na ponta da faca. Durante todo o percurso, fo-
Carapá, com
ora de bexiga,
próprio Príncipe teve a mão
que
faziam milhares de vítimas, antes mesmo que se pudesse dar o primeiro tiro. Por fim, depois de tudo,
o enfrentamento
com
em com-
bate desesperado e em terreno alagadiço com os 30.200 homens das forças de Solano López. Os resultados fo-
ram simplesmente aterradores. Ao todo, cerca de 17 mil jovens argentinos, brasileiros, paraguaios e uru guaios mortos ou severamente feridos em apenas cinco horas.
cinco mortos e mais dezoito feridos. O direita inutilizada e foi
obrigado a retirar-se da luta poucos dias depois, a 31 de agosto de 1866.
o
inimigo propriamente dito, em Tuiuti, no dia 24 de maio de 1866, quando os 32.400 homens das forças aliadas (Argentina, Brasil e Uruguai) confrontaram-se
George
E dois dias depois, outra vez em combate, em Isla
ram Os jovens assaltados por epidemias devastadoras,
ora de cólera, ora de sarampo,
inglês,
——
engenheiro
=
de farinha seca apa-
um
fi
Alegre, com
die me
a Porto
A mais linda tropa do exército brasileiro” Que conclusões podemos tirar, por fim, sobre a participação de homens como o alferes de Zuavos Galvão, O
Príncipe do povo? Desde sua rápida passagem pelo Rio de Janeiro a caminho da Guerra, muitos habitantes da
cidade não deixaram de registrar os modos firmes e dignos de “um negro de estatura gigantesca (...), porte
O
PRÍNCIPE
OBÁ,
UM
715
ra, em suas anotações de guerra, refere-se aos Zuavos
sobre a atuação do Príncipe em campo de batalha.
em geral como “gente forte e brava”, e ao 24º Batalhão
“Referem companheiros seus que a sua fé de ofício é
em particular como “um dos melhores corpos do exér-
limpa e elogiosa”, e que “uma vez na guerra, empenha-
cito”.15
dos na luta, todos se distinguiram pelo valor, salientan-
Ainda outro contemporâneo, Melo Moraes Filho,
do-se [...] o Zuavo Galvão, que, como recompensa de
com
seus feitos, mereceu as honras de Alferes do Exército”.””
eles, o 24º Corpo de Zuavos era, simplesmente, “a mais
O próprio alferes, para terminar, garantiu ter marchado “sempre tendo em vista sustentar a glória do meu Sobe-
longamente
linda tropa [...] de todo o exército brasileiro”. Os oficiais, inclusive o alferes Galvão, segundo
observou
o conde,
eram muito bons e,
estavam
“inteiramente
a
par de todos os pormenores do serviço e orgulhosos de
4 31 de
PÁTRIA
deixou registrada a opinião dos próprios voluntários
atividades de guerra e conversou
idos. O a e foi
DA
marcial e (...) olhar respeitável” que, cheio de ufania, marchava à frente de seu batalhão.!é Dionísio Cerquei-
Para o conde d'Eu, que também os observou em
em Isla
VOLUNTÁRIO
seu batalhão”. 16
rano Monarca e também da cara pátria”. Por amor à pátria, portanto, e “não com interesse do leproso ouro
causador de todas as desgraças aos infelizes que pelos maus princípios são aconselhados”.!é
A
76
GUERRA
DO
PARAGUAI
NOTAS dido da Fonseca
1. JOHNSON, Reverendo Samuel. The History of Yoru-
2. MORAES FILHO, Melo. Quadros e Crônicas, Rio de
Janeiro, Garnier, s/d., pp. 253-254.
21/03/1872. “Me-
do da Fonseca Galvão, Rio de Janeiro, 16/05/1874. 10. Ibid., 21/03/1872. Jornal do Commercio, 28/02/1885, B. 5:
3. O Carbonário, 23/05/1887, p. 4.
1
4. Ibid, 28/06/1886, p. 4. E ALBUQUERQUE.
Bahia,
morial”. Arquivo Seletivo do Exército, pasta Cândi-
bas, Lagos, €.S.S, pp. 182-88.
5. MEDEIROS
Galvão,
Quando
eu era
CERQUEIRA, op. cit., p. 207.
os Ibid., pp. 46-58.
vivo, 1867-1934 (2º ed), Rio de Janeiro, Livraria do
13. Arquivo Seletivo do Exército, ibid., 21/03/1872.
Globo, 1945, p. 112.
14. BARRETO
FILHO,
Melo
e LIMA,
6. Jornal do Commercio, 9/01/1865.
ria da Polícia do Rio de Janeiro,
7. “D. Pedro II e os Voluntários da Pátria”, Revista do
A Noite, 1944, p. 149.
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1984, p.
15. CERQUEIRA,
327.
16. CONDE
8. CERQUEIRA, Dionísio. Reminiscências da Campanha do Paraguai,
9. “Memorial”. Arquivo Seletivo do Exército, pasta Cân-
Histó-
Rio de Janeiro,
op. cit., pp. 104-326. Viagem
militar ao Rio Grande do
Sul, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1936,
1865-1870, Rio de Janeiro, Bi-
blioteca do Exército, 1980, p. 147.
D'EU.
Hermeto.
p. 135.
17. 18.
MORAES FILHO, op. cit, p. 251. O Carbonário, 29/04/1887, p. 4.
O SIGNIFICADO DA “GUERRA DO PARAGUAN “NA HISTÓRIA DO BRASIL Fernando 4. Novais
pelo professor a d i r e f o r partir de palestra p
editada a o Guerra “ o i u q ó l o c no s i a v o N Fernando Antonio
E
O
SIGNIFICADO
DA
“GUERRA
DO
umpre refletir sobre o significado da Guerra do Paraguai na história do Brasil, sobretudo na história do Império, cuja análise tem sido
bastante renovada, nos últimos tempos, pelos historiadores. Joaquim Nabuco foi o primeiro a chamar a atenção
para o significado mais profundo que teve, no transcurso da história, o fenômeno da Guerra da Tríplice Aliança. Ele disse que a Guerra do Paraguai foi ao mesmo tempo o apogeu do Império e o seu declínio. Os estu-
PARAGUAI”
NA
HISTÓRIA
DO
BRASIL
19
escravidão atinge uma expansão que ultrapassa o plano de uma simples instituição social — como era o caso do Império Brasileiro e da sociedade do Sul dos Estados Unidos —, é incompatível com a existência de um exército moderno, de forças armadas modernas. No limite,
esta incompatibilidade inviabiliza o próprio Estado. Na clássica definição de Max Weber, o Estado é o
monopólio da violência legítima. Ora, numa sociedade
escravista, o Estado não pode ter o monopólio da violência legítima, porque a sociedade organiza-se sobre a
também l Brasi no ado pass o sécul do ica polít da s dioso
violência privada dos senhores contra seus escravos.
Guerra do Paraguai e vai-se aprofundando até a República. Qual a razão disso?
tuir um Estado soberano e ao se manter a escravidão,
insistem em que a Questão Militar surge logo depois da
A sociedade escravista, uma sociedade em que a
Por isso, na Independência do Brasil, ao se consti-
passou-se a viver um verdadeiro dilema. A manutenção da escravidão era uma das condições para a preserva-
AMBAS
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Po
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Ap RA o P ha
GUERRA
DO
PARAGUAI
E
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E da a
nel
É e
ção da unidade nacional. Mas mantê-la significava in-
armada moderna. Depois de tê-la formado, não se pode
viabilizar o Estado, porque com escravidão não se cons-
mais descartá-la. O que fazer com ela? A partir daí é que
trói o monopólio da violência legítima.
se instaura a Questão Militar, que iria progressivamente
Tp
ço
o ed -
ú
a]
o
Sabe-se que a Guarda Nacional foi criada durante a E id
O
a
tropa. Desta maneira, a sociedade escravista bloqueia
quia. Isso significa dizer que, para eliminar sua incom-
os fundamentos
do exército moderno,
patibilidade visceral, a sociedade irá adequar-se à força
forças
Esses
1
z da
=
À
O
E
PE a =
das modernas
armadas.
fundamentos
são
basicamente
armada
moderna,
e não
a força armada
à
moderna
dois: a universalidade do recrutamento e a hierarquia.
sociedade. Este é o fundamento da Questão Militar.
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E, como não se pode desmontar a
força armada, acaba-se por desmontar a própria Monar-
, Pu a -
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se aprofundando.
Regência exatamente porque o Estado não confiava na
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Uma
sociedade
escravista
como
a brasileira
blo-.
aspectos
menos
importantes
também
de-
vem ser considerados. A ideologia do Império Brasilei-
pq = a
e
AL RS
=
A
o
ro sempre foi a de que a Monarquia era a civilização,
lação, os escravos. Por sua vez, os que possuíam escra-
enquanto a República era a barbárie. Esta foi, inclusive,
vos e, portanto,
parcela da violência
a ideologia da diplomacia brasileira no século XIX. Di-
legítima não queriam ingressar nas forças armadas, que
plomacia que foi brilhante, exceto em alguns momen-
tiveram de ser recrutadas nas camadas intermediárias
tos, quando ela tinha que seguir as razões de Estado,
da sociedade. Por outro lado, a hierarquia do exército
como qualquer outra diplomacia.
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Outros
do oficialato baseada no mérito.
detinham
uma
define-se pelo mérito. Mas, no Império Brasileiro, ela
definia-se pela própria estratificação da sociedade. A Guerra do Paraguai exigiu a constituição de um
exército. Na realidade, o Brasil não estava preparado para uma guerra, pois não dispunha de força armada
moderna.
Como
o Paraguai tinha essa força armada
constituída e moderna, tornou-se necessário que o Brasil montasse, pela primeira vez, um exército moderno, exército que vai para o Paraguai e faz a Guerra. Não se monta impunemente,
contudo, uma força
Durante todo aquele período da primeira à segunda
metade do século XIX, na ideologia do neo-imperialismo, Uruguai, Argentina e Paraguai eram países chama-
dos barbaresques, em francês, mesmo que se estivesse falando no Parlamento inglês.
O que se quer dizer com barbaresque Barbaresque é um lugar que não só pode como deve ser invadido para ser civilizado. A opção da Monarquia brasileira era
a seguinte: cabia provar que esta não era uma terra barbaresque. Era preciso provar que o Brasil não podia
“GUERRA
DO
PARAGUAI"
NA
HISTÓRIA
DO
BRASIL
81
e
DA
E
SIGNIFICADO
ser invadido, como o fora a Argélia, porque aqui havia
ca é a barbárie perdesse sua força, porque, na Guerra, O
um rei.
Brasil teve que se aliar com duas Repúblicas para lutar
Costumo dizer que a Independência foi uma revo-
contra uma terceira República.
lução conservadora no Brasil. A expressão pode pare-
Voltemos à nossa questão: como foi possível que,
cer paradoxal, mas é a mais apropriada. É uma revolu-
tendo uma estrutura incompatível com a existência de
ção,
um exército moderno,
porque
uma
colônia
transforma-se
em
Estado
o Império Brasileiro tenha se
soberano. Mas é conservadora porque, com a vinda da
envolvido em uma Guerra que exígia a montagem de
Corte portuguesa,
modernas
traordinário
este fenômeno
absolutamente ex-
da história do Brasil, essa peculiaridade
relaciona-se
forças armadas? Essa questão
com a forma pela qual o Brasil emerge como nação.
única da nossa história — a colônia colonizando a me-
Não foi um erro de visão dos estadistas do Império
trópole —, a iniciativa da metrópole tinha ido tão longe
do Brasil envolverem o país na Guerra do Paraguai. A
que ultrapassou o ideário do senhoriato brasileiro, um
Guerra
senhoriato que estava realmente inventando uma na-
social do Império, porque criava um exército moderno
ção.
incompatível
A fórmula da Independência brasileira deixou-nos
realmente
comprometia
a estrutura política e
com o escravismo. Mas, se a Guerra não
foi um erro, ela foi uma necessidade.
O eixo da vida
um legado da colonização sob a forma de um Império,
política brasileira no século XIX girava em torno dessa
que era uma garantia de continuidade. A idéia do Impé-
contradição.
rio, portanto, era uma idéia de preservação territorial e,
Neste sentido, pode-se dizer que a grande vanta-
até mais do que isso, era uma idéia expansionista, que
gem que tivemos
se apresentou, desde o início, nas intervenções Cisplati-
vencer a Guerra, mas participar dela, porque ela expôs
nas.
Mas o fato é que, com a Guerra, a aliança brasileira com a Argentin a e o Uruguai fez com que a afirmação ibl pú Re a e o çã za li vi ci a é a ui rq na Mo segundo a qual a
ga
E
E
a
e
e
O
com a Guerra do Paraguai não foi
as contradições, tornou pública e trouxe à tona a questão central da política brasileira da época, questão que se resolveu
com
a República,
ou
que,
pelo
começou a se resolver a partir da República.
menos,
| |
|
CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE, HISTÓRIA E CULTURA Representações literárias e projeções da Guerra do Paraguai nas crises do Segundo Reinado e da Primeira República Francisco Alambert “É providencial que um tirano tenha feito morrer todo esse povo guarani. Era
preciso purgar a terra de toda essa excrescência humana.
Sarmiento
“Todos os que até hoje venceram participam do cortejo triunfal, em que os dominadores de hoje espezinham os corpos dos que estão prostrados no chão. Os despojos são carregados no cortejo, como de praxe. Esses despojos são o que
chamamos bens culturais.”
Walter Benjamin
CIVILIZAÇÃO
E
BARBÁRIE,
HISTÓRIA
E
CULTURA
85
refletindo
cultuada década de 1920 foi “fornecer aos nazistas as
certa vez sobre o significado do interesse
palavras de ordem utilizadas para impor o terrorismo
pelo estudo dos anos 1920 em seu país,
cultural”. Querendo ou não, contribuíram para um mo-
notou que, se olhássemos com atenção, veríamos que
mento que, hoje quase todos concordam, foi o ápice da
em
“barbárie moderna”, engendrada no seio da “civilização
muitos de seus aspectos um profundo saudosismo dos
européia”, como o filósofo frankfurtiano e outros pen-
anos 1880. Do mesmo modo, nos anos 1950, época em
sadores de esquerda demonstraram.
filósofo
os anos
alemão T.W.
1920, pelo menos
Adorno,
na Alemanha,
viviam
que Adorno escrevia, vivia-se a nostalgia dos 1920, que
No Brasil — pode-se pensar também — boa parte
culturalmente representariam o auge do vanguardismo
dos temas e dos “mitos” modernistas serviu para justifi-
modernista e das conquistas da civilização: “o caráter
car o Estado autoritário e disfarçar as contradições e
insólito dos anos 20 é o espectro de um espectro”.! Intrigado com as dimensões e os significados dessa
imposturas de nosso capitalismo, muito mais bárbaro
fantasmagoria histórica, Adorno observa que, para além
mais raro seja notar que, também entre nós, alguns dos
das grandiosas vitórias dos “anos modernistas”, uma
discursos produzidos no mesmo momento da “revolu-
de certos discursos criados na
ção modernista” tinham igualmente seu alicerce finca-
das principais funções
que civilizado, e isso não é grande novidade. Talvez
SA ES IL
SS
SS
Lg
PARAGUAI
e
SE
Para os mais argutos observadores
do em determinadas visões oriundas do passado oito-
do período,
raigada a pressupostos rômânticos e a imagens impe-
era certo que o país que saía da Guerra não era mais o mesmo. Para quem se interessava pelas sutis mu-
riais maldisfarçadas.
danças na vida cotidiana, em seus ritmos dissolutos,
centista. Uma fantasmagoria (no sentido adorniano) ar-
mais
em seus silêncios e em seus acordes repentinos, a “per-
recorrentemente povoaram as mentes e as ilusões de
cepção das temporalidades em choque que põem em
certos intelectuais da Primeira República foi certamente
movimento
a Guerra do Paraguai e seu caráter heróico e “civiliza-
ção antigo/moderno”,
dor”. Ressalte-se que os anos em torno do episódio
das
representam momentos decisivos na afirmação de ima-
que, “com o final da Guerra contra o Paraguai, a per-
gens e complexos ideológicos em formação, que, para
cepção espaço-temporal mudava
muitos, só se tornarão plenamente visíveis a partir dos
ciedade
anos 1920, com o movimento
foge
Desses
mitos
modernizadores,
um
dos
que
modernista e a crise da
e fazem alterar os significados da oposi-
transformações
e que caminham de
todas
brasileira”? Machado
às classificações,
par e passo era claro
as ordens,
radicalmente na sode Assis,
autor que
irônico
e certeiro
anotou
numa crônica de 1894: “Não há dúvida de que os reló-
República Velha. Na década em que a Guerra do Paraguai acabou —
gios,
depois da morte de López, andam muito mais de-
pode-se afirmar — teve início um movimento intelec-
pressa.” O tempo, Machado já sabia, não era mais O
tual que atingiu amplos setores da cultura (desde a
mesmo,
literatura até a engenharia e a filosofia) e que se con-
dernização. Suas contradições já se tornavam prata da
vencionou chamar de “Geração de 1870”. “Pré-moder-
Casa.
nistas” para uns, “pós-românticos” para outros, os inte-
e instaurava-se
a ordem
acelerada
da mo-
A civilização, como sonhavam alguns liberais, com
lectuais mais ou menos afinados com esse grupo (entre
sua maquinação
eles Euclides
Raul
ração das atividades, estava se instalando entre nós,
Pompéia, José Veríssimo), de diferentes maneiras, cons-
tentando se acomodar a uma economia predominan-
cientes ou não, puseram-se a refletir sobre as ambiguúi-
temente
agrária, a uma
dades do surgimento da nacionalidade brasileira, gesta-
nhorial,
a um
da Cunha,
o visconde
de Taunay,
da no ventre imperial-escravocrata e parida numa guerra,
da vida, com sua mudança
Estado
mentalidade
malformado
e acele-
escravista e se-
e imperial, a uma
sociedade machucada — embora orgulhosa — pela
vitória numa guerra sangrenta. O mundo em que à
o
RR
DO
ooi di o
PP
A GUERRA
-
86
CIVILIZAÇÃO
E BARBÁRIE,
“civilização” deveria se instalar e adaptar não era, assim,
HISTÓRIA
E CULTURA
87
Machado de Assis
dos mais promissores.
O medo da “barbárie”, do retrocesso que poderia
Numa crônica de 1/11/1864 do Diário do Rio de Janei-
significar a perda do privilégio e da hegemonia cultural
ro, Machado de Assis, num misto de ironia e um tanto
e política, quer reconheçam os intelectuais do período,
de apreensão (que denuncia as incertezas do período),
quer
entre
relatava um eclipse solar ocorrido dias antes. Lembrava
E
“civilização” e “barbárie”, herança, entre nós, da Guer-
que, segundo os “incas” (povos “primitivos”, bárbaros),
50
ra, era uma espécie de obsessão necessária de intelec-
um eclipse é um prenúncio que pode decidir a sorte
tuais que tentavam entender e influenciar um mundo
dos contendedores numa batalha. E alerta: “aviso aos
em mutação. A Guerra podia ter acabado, mas a inten-
soldados brasileiros”. Isso, sem dúvida, caracteriza o
ção dos “civilizadores” de impor seu projeto, não im-
clima de apreensão
não,
esteve
sempre
presente.
A oposição
do momento,
mas também
de-
continuou até muito depois. É
monstra uma das estratégias que um defensor da causa
interessante observar que, após exaustivamente traba-
brasileira usava com astúcia: criar expectativas, tornar a
lhada, essa oposição desdobra-se no tempo, pode ser
Guerra um evento a mais nas emoções contidas nos fo-
reutilizada em novos contextos, em que crises políticas
lhetins para mobilizar consciências, despertar paixões.
portando a que preço,
se avizinham.
Nesse momento,
a invenção do clima de guerra, a
Neste ensaio perseguirei em sobrevõo a construção
criação de seus espectros, de seus discursos civilizató-
dessas oposições para as justificativas políticas e cultu-
rios, já ia longe. É sempre bom lembrar que a popula-
rais de estados de poder, criadas e recriadas nas crises
ção para a qual Machado escrevia não foi consultada
sucessivas do Segundo Reinado e da Primeira Repúbli-
para participar de uma luta cujo sentido passava longe
ca, reinventadas através da imagem fantasmagórica e
em suas vidas cotidianas. Os episódios tragicômicos das
mitificada da Guerra do Paraguai e de seu destino civi-
forçadas convocações de “voluntários” — em que ho-
lizador, tal como a viram Machado de Assis, o visconde
mens eram literalmente aprisionados e enviados à força
de Taunay e Baptista Pereira. Pois foi da Guerra e de
para o campo de batalha — demonstram com clareza
seus espectros, do ventre mesmo da “barbárie” bélica,
esse distanciamento perigosíssimo para a manutenção
que nasceu nosso caminho na “civilização” e boa parte
do conflito e dos interesses do Império.
de seus impasses.
Nesse contexto, escritores como Machado eram de
1 CMRE
88
A sp
IErRa cdi siem
fundamental
E
SS
TT
=
rh
GUERRA
DO
PARAGUAI
=
importância para o “espírito” de guerra.
dos pilares de sustentação das formas modernas de
Eles literalmente formavam opiniões, eram os legitima-
diálogo entre as nações,
dores do espírito bélico. Esse é um dos raros momentos
cos, devem igualmente ser negligenciados. Nessa estra-
em que a “função social” do escritor é claríssima. Em
tégia de convencimento, a Guerra vai-se tornando uma
suas influentes crônicas, escritas no início do conflito,
iminência, quase uma necessidade. As argumentações
Machado realiza esse trabalho, manipulando habilmen-
diplomáticas só adiam a propalada (ou desejada?) luta:
te os temas da civilização contra a barbárie.
“com selvagens não há outro meio”, sentencia o autor
O maior alvo de suas ferinas críticas será, evidente-
de Dom
como
Casmurro.“ Do mesmo
os esforços diplomáti-
modo,
Machado,
não
mente, o “tirano” Solano López. Numa de suas crônicas,
sem um certo contragosto, atacava a imprensa da “civi-
o escritor do Cosme
Velho, satirizando o líder para-
lização” européia por tentar denegrir a imagem do país.
guaio, investe sutilmente contra as pretensões demo-
Os jornais da Europa ressaltavam nosso intervencionis-
cráticas sul-americanas: “S. Excia. é, antes de tudo, de-
mo, nossa tendência à anexação. Caberia aos intelec-
mocrata
tuais daqui
americano;
(...) Democracia
americana
—
- naqueles climas — quer dizer: companhia de exploração dos direitos do povo e da paciência dos vizinhos.
inverter essa lógica,
resistir às críticas e
manter-nos no campo da civilização.
As imagens
do barbarismo
guarani contra nossa
Déspotas com os seus, turbulentos com os estranhos,
civilização
sem grandeza moral, sem dignidade política, incapazes,
chocantes. Ainda no início do conflito, Machado reflete:
presumidos, gritadores, tais são os pretendidos democratas de Montevidéu e Assumpção (...). Assim, a verdadeira “democracia” nos trópicos deveria ter um novo
sentido, por exemplo, assumir o discurso contra o imperialismo paraguaio, ao gosto dos interesses dos governos aliados e da Inglaterra: “Opor uma barreira às invasões imperialistas, eis o dever de um bom democrata americano.” Democracia e guerra dão as mãos.
Se a idéia democrática
precisa ser colocada em
questão para justificar a ação militar, também alguns
vão-se
tornando
“Se, depois do espetáculo
mais
e mais
evidentes
e
das orelhas enfiadas numa
corda e expostas à galhofa dos garotos de Assumpção, houver um país no mundo que simpatize com o Para-
guai, não precisa mais nada — esse país está fora da civilização.”7 Ser ou não ser civilizado passa a significar “fazer ou não fazer a Guerra. a
Comentando a visita de chefes “orientais” ao Rio,
após a “paz” assinada em 20 de fevereiro de 1865, o cronista exibe com arrogância e um ódio maldisfarçado
seus pressupostos:
“Pouco
valem os visitantes; mas
Dt
O
S,
pá
0,
CIVILIZAÇÃO
E BARBÁRIE,
HISTÓRIA
E CULTURA
89
quando homens da natureza daqueles, dos quais o pri-
Basta isso? Ainda não. Se o império é fogo,
meiro se adorna com uma sanguinolenta celebridade, depois de uma luta em que acabam de fugir, deixam a
Também é luz: abrasa, mas aclara.
cena de suas façanhas, e vão confiantes e tranquilos pisar a terra do inimigo, é uma vitória isso, é a homena-
gem da barbárie à civilização.”8 Lenta
e sutilmente a Guerra,
segundo Machado,
deixa de ser uma temeridade para se tornar orgulho, desejo escondido no inconsciente nacional, que não pode ser represado: “Todos desejam a entrada das forças libertadoras.”? “Todos
os espíritos estão voltados
para o sul. A guerra é o fato que trabalha em todas as cabeças, que provoca todas as dedicações, que desper-
ta todos os sentimentos nacionais.”10 O fruir a Guerra deve ser experimentado como êxtase, como glorificação dos mais altos ideais civilizatórios. Suas agruras se consubstanciam nos símbolos da força e do saber — em
fogo, em luz — para alcançarem a “justiça”, a “liberdade”. Por um momento, a Guerra torna-se a religião da nação em comunhão, e o escritor, seu capelão. Para a expressão de tais sentimentos, agora claramente extre-
mados, a lírica seria o lugar mais apropriado: Então (nobre espetáculo, só próprio
De almas livres!), então rompem-se os elos
Onde levar a flama da justiça, Deixa um raio de nova liberdadeM Diante
de tal espetáculo
de comoção,
a formulação
ideal “quem está contra a guerra está contra a civiliza-
ção”, ou “quem é a favor da paz é bárbaro”, atinge todo o seu poder de persuasão. Esse sutil trabalho de convencimento se estrutura naquilo que Alfredo Bosi defi-
niu com brilho como sendo a estratégia da linguagem machadiana: aquela que “vela as negações radicais com a linguagem da ambigúidade”.!2 Mas mesmo aceitando essa ambiguidade básica do autor, ou seu ceticismo de
maturidade (cujas consequências narrativas e políticas Roberto Schwarz tão bem explorou), não seria possível
pensar que, no tocante à Guerra,
essa ambigiiidade
quase se desfaz, e o cronista não hesita em exaltar o partido do Império? Raymundo Faoro já observou que o exército não gozava de “boa imprensa” para Machado. Não se tratava de fazer uma apologia da instituição. De fato, para o
escritor (nesse caso “a serviço da estrutura dominante”), o exército era “apenas um elemento
perturbador da
ordem social, sem lhe perceber nenhuma missão nacio-
De homens a homens. Coração, família,
nal”.!2 Em Machado, a glória militar “se confunde com a
Abafam-se, aniquilam-se: perdura
reação civil, com o povo em armas, pronto para defen-
Uma idéia, a da pátria (...)
der a Pátria e vingar os ultrajes”.lí E penso que pode-
DO
GUERRA
A
PARAGUAI
dm
é. Rg
O ma
90
mos acrescentar: para defender a idéia de “civilização”
obras do fim do Romantismo e do início do Realismo
contra “barbárie”.
entre nós.
Experiência e vivência são as palavras-chave para se entender o melhor da obra do escritor. Antonio Can-
O Visconde de Taunay Uma
dido notou que, em Taunay — esse “esteta de sangue
imensa literatura de cunho memorialístico,
ficcio-
nacionais.
Mas se, por exemplo,
a
campanha
de Canudos, um outro conflito fundamen-
E) si ri
plástico e consciência
dos problemas
econômicos e
sociais”.!5 Num certo sentido, o crítico repassa e adensa consagrada
por Sílvio Romero,
segundo a
a imagem
gou Os sertões, de Euclides da Cunha — obra e autor
qual a grandeza
que se tornaram tão mitificados quanto o próprio even-
sentido
to —, a Guerra
exato “sentimento da paisagem”.lé Uma paisagem em
E
Eae
resultando daí “um brasileirismo, misto de entusiasmo
tal para os rumos que tomou o Brasil recente, nos le-
Re
Lam,
+.
Ei
E e
pu Ea porq
)
s
a
E
ri
a
pi
versos problemas
" e el
do a medida de sua importância nas formações dos di-
E nal fo
dE
E E;
nal, político e militar foi escrita sobre a Guerra, dan-
francês” —, “a paisagem deixou de ser um espetáculo: integrou-se na sua mais vivida experiência de homem”,
do Paraguai criou seu clássico em 4
além
de Taunay,
de Machado
que
o levava em certo
e Alencar,
residia no seu
fran-
que a Guerra e as misérias humanas se confundem e
cês — primeira língua do oficial de engenheiros e fi-
combinam com o lado obscuro e desconhecido da Na-
lho de franceses Alfredo d'Escragnolle Taunay,
tureza e com a natureza básica dos homens, primitivos,
Retirada
qual
ele
da
Laguna.
começou
Escrito originalmente
a escrever
a obra,
em
e na
a partir de
1868; editado em 1871 em gráfica brasileira e traduzi-
selvagens e guerreiros. Em
suas
Cartas da
Campanha
de Mato
Grosso,
do para o português em 1874 —, o romance narra as
Taunay reclamava do “indiferentismo” que tomava con-
agruras do tempo e do meio que atingiram uma expedi-
ta do grosso da população diante dos acontecimentos
ção brasileira e sua heróica luta contra o inimigo guara-
da Guerra. Diante de um problema parecido com aque-
ni em Mato Grosso, na região que compreende a fron-
le que enfrentou Machado, Taunay se põe a escrever o
teira com o Paraguai, até o Rio Aquidauana. Obra de
romance como uma espécie de intervenção nesse esta-
cunho memorialístico, porém escrita com um rigor geo-
do de espírito. Com essa intenção difusamente militan-
gráfico obsessivo e uma emotividade cativante, o livro se tornou, para muitos, uma das mais significativas
te, elabora a narrativa de um mundo arruinado, tendo
como tema principal uma derrota ocorrida em terras
E CULTURA
21
OO
A Retirada da Laguna pode, assim, ser lída como
obra é um convite à construção da nacionalidade e um
um
aviso de que esta mesma
batalha, mas não a Guerra. Mas — e isso é muito signi-
construção
está em perigo
canto
de derrota
da civilização,
que
perde
uma
constante. A barbárie está solta lá fora, escondida entre
ficativo —
a natureza exuberante, e pronta para atacar à civiliza-
acaba por tornar a oposição entre civilização e barbárie
ção que demora a se formar.
sensivelmente mais complexa:
é dedicada à natureza, o que
em
-
tal atenção
Hardman anotou com precisão que “toda uma tradição
se levantava de uma depressão onde corre um riacho.
um
alerta
à “civilização”.
Francisco
ps
Fo
historiográfica e memorialístico-ficcional, de matriz ro-
teve, desde a segunda metade do século passado, inteiramente
voltada
para
o jogo
de alternância
entre
iluminações utópicas e depressões antiutópicas dessa poética das ruínas”.
oo
.. era uma chapada extensa que, inesperadamente,
quanto
=
F.
pátrio
mas
e
O livro é tanto uma elegia ao orgulho e heroísmo
mântica, de alguns de nossos melhores prosadores, es-
=
HISTÓRIA
exuberantes em que viviam homens paupérrimos. Sua
o
o;
E BARBÁRIE,
Outra chapada, um pouco mais alta, e voltada para o sul, liga-se a um campo
Ca
ue
CIVILIZAÇÃO
imenso, o mesmo que Lopes,
numa primeira incursão,
batizara “Campo das Cru-
zes”; e no fundo do qual se erguia a nossa baliza— o morro da Margarida. Tem o perfil deste pico algo de notável em sua irregularidade elegante. Já da Bela Vista o avistáramos; agora o saudamos como a velho
Uma visão do país e de seu destino vai-se formando
amigo.»
ao longo dessa poética riscada por um sentimento difuso da condição nacional, que combina furor e melanco-
A grandeza épica das paisagens atenua o peso da derro-
lia quanto às origens e possibilidades de instauração do
ta, relativiza as forças. A natureza brasileira, ninguém
mundo civilizado em nossas terras: “Toda a beleza pic-
acreditou nisso mais que Taunay,
tórico-dramática da narrativa de 4 Retirada da Laguna
talvez nosso bem maior. Somos superiores porque a
(...) reside talvez nessa melancolia recortada por cerrados insalubres que não conseguem firmar limites inter-
temos e não somos bárbaros, somos heróicos descen-
nacionais, esse não-lugar das bandeiras, dos emblemas
civilidade.
e das divisas, esse anticlímax de uma fuga que se pro-
é nossa grandeza,
dentes de europeus, temos nosso quinhão garantido de Os paraguaios,
7 os guaranis,
são primitivos,
quer
longa nela mesma, tornando fantasmagóricos os mar-
dizer, estão tão mais próximos da natureza que podem
cos distintivos da nacionalidade.”18
ser vistos na verdade como parte dela. Sua vitória, nes-
|
|
92
aee
pe
rod
A
mesa
GUERRA
que os franceses durante
vel. Mas —
“como uma
o iluminismo
um
tanto
tosco de Taunay
poder conhecer e dominar a natureza, os instintos. Do
a grandeza fundadora do Ocidente, dos heróis do Pelo-
mesmo
poneso...
modo
como
ganhávamos
as terras “amigas”,
Após.a Proclamação da República, o tema da Guerra do
civilidade oitocentista, termina por propalar a grandeza e a humildade da civilização contra a barbárie. Os pre-
xado de lado, substituído pelos imperativos da constru-
dor. Um deles, E. Aimé, no prefácio da terceira. edição francesa, relaciona A Retirada com um clássico épico Agar
de guerra, a Retirada dos dez mil, de Xenofonte. E; am RA e O
resse da narrativa e do heroísmo das tropas, proclamamos A Retirada da Laguna superior à que foi chefiada e narrada por Xenofonte2
o
cera
Atualmente, feita a comparação, é com a mais berfeita convicção que, sob o duplo ponto de vista do inte-
O Ta
Ei
ie
T
O
,
O
a
ada trad
gi E a
RA
O
ge
surpreendentemente, decreta:
ih
]
À
+
te
= -
Baptista Pereira
4 Kelirada da Laguna completa, por assim dizer, o projeto de Machado. Escrito em francês, a língua da
faciadores franceses, providencialmente, vieram ao encontro desse projeto. Eles forneceram o aval do civiliza-
moDa
ressurrecta”, 2! no quinhão que nos
cabia de heroísmo, poderíamos nos imaginar revivendo
transformava a derrota em prenúncio da vitória.
i
Roma
a sua Revolução se viam
a civilização define-se justamente por
decifrávamos o enigma do território, estávamos condenados a vencer os paraguaios: a ideologia da civilização
ms
PARAGUAI
sas condições, num primeiro momento, é compreensíassim acredita
Eme
DO
Definitivamente, com o aval francês e a grandeza dos clássicos, entrávamos na civilização com nossa guerra
privada. Da França nos vinha a lição: do mesmo modo
Paraguai e seu aspecto civilizador é razoavelmente deição republicana. Opiniões influentes, como a de Benja-
min Constant, negavam à causa bélica aspectos muito positivos. Curiosamente, em 1928, pouco antes da grande crise econômica que no ano seguinte anunciará a grande crise da Primeira República, estribada no poder
militar e nos grupos oligárquicos, o tema reaparecerá com vigor. Naquele ano, o influente intelectual Baptista Pereira pronuncia uma série de conferências para os
estudantes de Direito de Belo Horizonte, palestras posteriormente publicadas. O objetivo de Pereira era retomar o tema da guerra da civilização contra a barbárie, defender o Brasil dos “difamadores” e “restaurar a ver-
dade histórica”. O título de seu trabalho:
Civilização
contra barbárie22
Parente de Rui Barbosa — e considerado por amigos seu legítimo sucessor —, liberal-conservador, autor
CIVILIZAÇÃO
E BARBÁRIE,
HISTÓRIA
E CULTURA
93
de estudos políticos e literários (como Figuras do Impé-
tenha sido inspirado na utopia iluminista Facundo
rio e outros ensaios, 1931) e romances (como A ilusão
civilización
7 barbarie (1845),
russa, 1924), Pereira foi um dos mais atuantes intelec-
Sarmiento.
Como
tuais dos anos 1920, embora seu nome raramente cons-
aproxima-se muito mais do clima romanesco: fala de
te da bibliografia atual sobre o tema. No livro, o ideólo-
cartas secretas nunca reveladas, de espiões e conspíira-
go reencena
(a
ções internacionais planejadas na Europa, na existência
ditadura de López, o suposto ódio ao Brasil e aos lusita-
de documentos secretos que inverteriam opiniões con-
nos) e acrescenta a questão fundamental dos anos 1920:
trárias.
argumentos
da época
da Guerra
de Domingo
ensaio historiográfico,
Faustino
entretanto,
“Modernidade” e “Brasilidade” como os índices da “Ci-
O autor esforça-se basicamente por demonstrar que
vilização”. Seu discurso é característico de certos inte-
o Brasil teria entrado na Guerra a pedido de liberais
lectuais da chamada
“transição” para o Modernismo,
exilados. Ignorando as especificidades históricas do Pa-
aliando o formalismo rocambolesco dos oradores arri-
raguai, que ele entende como atraso e barbarismo, pre-
vistas da Belle Époque carioca com o bacharelismo em-
ga um nacionalismo formalista e uma ideologia inter-
postado da Faculdade de Direito de São Paulo.
vencionista. Em sua busca sistemática de recuperação
O objetivo de Baptista Pereira era fazer esquecer os
dos mitos do passado, Pereira se detém especialmente
interesses do passado para defender os interesses pre-
no argumento da “civilização”, nervo da famosa carta
sentes de um grupo prestes a ser vitimado pela crise
em que o embaixador inglês em Assunção e mais tarde
econômica — cujos efeitos já sentia desde o fim da 1
em Buenos Aires, Edward Thornton,
Guerra Mundial — e que perdia rapidamente a hege-
guai de praticar vícios e imoralidades inomináveis e,
monia política. Do mesmo modo que seus antecesso-
principalmente, de dificultar a entrada de mercadorias
res, Baptista Pereira omite a barbárie produzida pelo
vindas de fora.23
acusava o Para-
Estado que se modernizava e que tinha que criar, mais
O objetivo de Baptista Pereira é claro: inventar a
do que nunca, os signos de uma unidade imaginária,
tradição do bom país. Por isso, ainda que republicano,
em nome de um modelo civilizatório. O contexto havia
tem de matizar a crítica ao Império, necessária para
mudado muito, mas as intenções e os argumentos per-
firmar a República nascida de pactos de grupos de elite.
maneciam,
É bem provável que Civilização contra barbárie
o
Agora urge criar a nação, a “brasilidade”. Daí a interpretação da Guerra tem que mudar de caráter. Não será
94
A e
—
—
—
e
me
o
DO
PARAGUAI
ii
mais atestado de decadência do Império, mas batismo
Brasil estava construindo nos trópicos uma civilização
da nação moderna, que não aceita a convivência com
original e vitoriosa: o que nos faltava”, dizia ele, “era o
ditaduras,
orgulho nacional”:
radicalismos,
etc. A violência
é monopólio
paraguaio. D. Pedro
Daí, já nesse primeiro discurso, rejei-
tava veementemente
II, ficamos
sabendo, era
liberal. Apenas
|
qualquer culpa brasileira em rela-
ção à Guerra do Paraguaí. Um trauma desse porte deve-
não aboliu antes a escravidão porque sabia queo impac-
ria ser combatido com todas as forças, pois ele em nada
to iria destruir a economia brasileira. Deixou para fazê-lo
ajudaria para a consolidação do nosso destino, que era
de maneira lenta e gradual (para Usar expressão recente-
formar nos trópicos uma nova civilização. Sem hesitar,
mente consagrada por poderosos em situação parecida),
e bem antes de Gilberto Freyre, o escritor declara que o
dentro do espírito das leis e da Constituição. A prova
Brasil era de fato “um país mestiço”, mas que isso, longe
disso é que, em 1870, alforriou seus próprios escravos. E
de ser “um defeito”, como
o maligno López, ele jura, traficava escravos brancos. O
era a nossa força: “Não há raças puras superiores. Supe-
imperador, dessa maneira, era a encarnação não do es-
riores só há as raças mestiças.
pírito do Império, mas da República. Ele era racional,
mestiça e superior (...) Criamos uma civilização tropical.
gradualista, defendia os interesses “corretos”. Era mais
República em declínio com a antiga Monarquia? O crítico literário Wilson Martins já havia percebido que, “ven-
cida a mentalidade polêmica dos tempos heróicos, a
República já estava sentimentalmente reconciliada com a Monarquia, ao mesmo tempo em que revelava seus
próprios pressupostos”.24 Em
O Brasil e a raça, seu livro anterior
Baptista
Pereira, falando desta vez aos estudantes de direito de São Paulo, propõe “pela primeira vez a idéia de que o
Brasil é uma
raça
No mesmo ano em que Pereira prega seu evangelho, publicam-se,
Mas de onde vinha essa inesperada comunhão da
O
Reabilitamos os trópicos.”25
liberal que os liberais: “a história da Abolição no Brasil é a história do Imperador”, dirá Baptista Pereira.
queriam os teóricos da raça,
entre outros, Macunaima,
de Mário
de Andrade, e o melancólico Retrato do Brasil, de Paulo
Prado. Na época do “herói sem nenhum eram
poucos
os que gostariam
caráter” não
de encontrar um
bom
caráter, mesmo que ilusório, para uma nação que mais
e mais perguntava a respeito do sentido de sua ordem política e de seu lugar na modernidade.
O “mau-caratis-
mo” em torno da Guerra, passados os anos, ainda era insuportável. Resolvê-lo era a questão da “brasilidade”. Por isso, naquele mesmo ano, empresários e intelectuais paulistas saúdam o autor de Civilização conira
o
0
GUERRA
CIVILIZAÇÃO
E BARBÁRIE,
HISTÓRIA
E CULTURA
55
barbárie em banquete no Automóvel Clube. Era uma
mas também há algo de estranhamente grandioso, “he-
retribuição.
róico”, para ficar no glossário de Guerra,
A Guerra foi a primeira tragédia da República, mes-
sia. Por um lado,
nessa teímo-
mitífica a história, por outro, luta por
mo antes de ela existir de fato. Por isso, os debates
se apegar a valores que remetem a sonhos de liberdade
sobre o sentidos do conflito têm que ressurgir, como
ainda não realizados.
farsa, justamente na primeira grande crise republicana.
Nesse sentido, Baptista Pereira retratao típico líbe-
Aqui reside o recado do passado, dessa visão do passa-
ral brasileiro de qualquer década, que sonha colocar as
do, ao presente. Baptista Pereira esforça-se em justificar
“idéias no lugar”, mas que frequentemente
e conservar forças que estavam em crise, principalmen-
sacrificar seus princípios, tem que pactuar com os impe-
te aqueles valores liberais forjados numa realidade hos-
rativos canhestros desse mundo enviesado, que se ar-
til e obscura que historiadores como Sérgio Buarque de
vora em civilização. E é invariavelmente derrotado. No
Holanda ou Roberto Schwarz já apontaram. Um esforço
caso presente, amarga a contradição de defender a bar-
para resgatar o “valor” da civilização forjada na época
bárie da Guerra em nome de uma civilização declinan-
da Guerra, cuja resultante política foi a ordem oligárqui-
te. Aqui, infelizmente, podemos
ca, e que seria, na década seguinte, significativamente
vez as palavras terríveis do pintor espanhol Francisco
negada, substituída por outras formas de dominação
Goya, que retratou e se aterrorizou com muitas guerras,
tão ou mais autoritárias, mas bem menos
que viu claramente os horrores da civilização em armas:
liberais, no
sentido de Baptista Pereira, Há muito de medíocre, é evidente, nesse esforço,
tem que
ouvir soar mais uma
Naquela época, como hoje, “el suerio de la razón produce monstros...”
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NOTAS
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T.W. “Les fameuses Anneés
Vingtl”,
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14. Idem, p. 380.
Belo Horizonte, Itatiaia,
HARDMAN, Francisco Foot. “Antigos Modernistas”,
in Tempo
e história,
São Paulo, Companhia
das
- Apud HARDMAN, op. cit., 290-291. 4. Crônicas (1864-1867), W. M. Jackson editores, Rio
de Janeiro/São Paulo/Porto Alegre, 1946, p. 223.
1981, v. 2, p. 308.
ROMERO, S. História da literatura brasileira, Rio
pp. 211-212.
op. cit., p. 297.
17. HARDMAN, 18. Idem, p. 299.
19. A Retirada da Laguna (10º ed), São Paulo, Melhoramentos, 1935, p. 113.
24/01/1865, op. cit., p. 296.
20. Idem, p. XV.
07/02/1868, op. cit., p. 316.
21. BENJAMIN,
W.
“Sobre o conceito da história”, in
Do
Nau
16.
da literatura brasileira,
de Janeiro, José Olympio, 1943, v. 5, p. 102.
Letras, 1992, p. 290.
24/10/1864, op. ci
A. Formação
15. CANDIDO,
Modeles critiques, Paris, Payot, 1984, p. 49.
15/03/1865, op. cit., p. 348.
Obras Escolhidas, v.1, São Paulo, Brasiliense, 1986,
24/01/1865, op. cit., p. 299.
10.
21/02/1865, op. cit., p. 327.
p. 230.
nt: “A Cólera do Império”,
in Obra Completa, Rio de
Janeiro, Editora José Aguilar, 1959, v. III, p. 338. 12. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasi-
leira, São Paulo, Cultrix, 1978, p. 196.
13. FAORO, R. Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio, São Paulo,
na, 1976, p. 382.
Cia. Editora Nacional, col. Brasilia-
Zid, PEREIRA,
| Baptista.
Civilização
barbárie,
contra
São Paulo, Rossetti & Câmara, 1928. 25. À esse respeito, consultar POMER, León. La Guerra
del Paraguay, gran negocio!, Buenos Aires, Caldén,
1968. 24. MARTINS,
|
W. História da inteligência brasileira, São Paulo, Cultrix/Edusp, 1978, v. 6, p.443.
29. Idem, p. 427.
ICONOGRAFIA DA GUERRA DO PARAGUAI
Xilogravuras do
jornal Cabichutí (abelha, em guarani), feito pelos soldados paraguaios e
distribuído na linha
de frente. (Cf. “A gravura popular, outra imagem da Guerra”, de Tício
Escobar, no presente volume; fotos À
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Palácio de Solano López, em Assunção.
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Caricatura de Cândido da
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Fonseca Galvão, o Príncipe
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Don Obá, Distração, Rio de
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Janeiro, Ano 2, nº 66, 9 jan.
1886. (Cf. “O Príncipe Obá, um Voluntário da Pátria”, de Eduardo Silva, no presente volume.)
“Onde estará Lopes?”, charge de 4 Vida Fluminense, Rio de Janeiro, Ano 1-3, nº 1-157, Typ. e
Lith. de Ed. Rensburg,
1868-1870. (Col. Biblioteca Nacional.)
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(Col. Pimenta Bueno.)
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setembro de 1867. (Col.
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Archivo Pitoresco, Lisboa, v. 9, 1966, p. 5.
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Passagem de Humaitá,
19 de fevereiro de 1868. Os'encouraçados
Barroso, Bahia e Tamandaré
levam a reboque os monitores Rio Grande, Alagoas e Pará. A Vida Fluminense, Rio de Janeiro, Ano I, nº 11, 14 mar. 1868, pp. 126-127. iii
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Litogravura de Angelo Agostini, Guerra do Paraguai. Os encouraçados Silvado, Brasil, Mariz e Barros e Herval metralhando os paraguaios.
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Uniforme do exército. Argentina,
1
Coleção de figurinos para.a Guarda
nacional da Corte e seu município, desenho
assinado por Souza, 1840.
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dez. 1871-jan. 1872, pp. 70-79
Ano 3, nº 29,
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Os heróis da
Campanha do Sul,
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Suplemento da Semana Ilustrada, s/d.
Litografia, Aos heróis do
dia 6 de dezembro de 1868; com retratos do
Duque de Caxias, Visconde de Itaparica, Mena Barreto, Barão do Triunfo, Visconde do Herval, Gorgão, Deodoro da Fonseca, Eduardo Emiliano da Fonseca etc.
A Vida Fluminense, Rio de
Janeiro, 1868.
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Trincheiras de Tuiuti, foto
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de 24 de abril de 1865.
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Um posto de observação do Exército brasileiro no Paraguai, s/d.
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tenente-coronel Don Gaspar
Campos, prisioneiro de guerra, morto em 12 de
setembro de 1867.
Litogravura do tenente coronel
Gaspar Campos, s/d.
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F. Fortuny, representando o
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Reprodução do quadro de
Reprodução do quadro Regalo a los suscritores del album de la Guerra del Paraguay, de F. Fortuny, s/d.
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À miulado paraguaço” [aresasto Loscetio to
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Jornal Cabichuí, Paso Pucu, Paraguai, Ano 1, nº 43, 3 out. 1867.
JUEVES
Asunrioa, Mago 24 de Ini,
EL CENTINELA. NSESHENGDEDNGICS)
EL CENTINELA. Gran aniversario. ZE DEN DE 1506.
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La bomitera de macete famea en los
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7 la exantud,
Mo bay tramacion cu esta lucha.
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soldados del Paraguay.
Lacabardia vel oprobio han
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tosvasores al poé denmestras Lrincheres, de
La gloriosa 4 espléndida balalla del 24 Mayo de UMGO, es uno de
fos bechos
de srmsas mas grandes que hemos teni= du em el curso de la guerra, 7 los laureLes revogados em esla eslortada victoria, Som cl mas
Ts
glorioso Umbre del soldado
ndo rãs bo malicra,
semi dos em La dare
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Ei Calbiekod. Po
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Laser ron del = abochqio en elvarm
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un largo desfiladero de Loiques p arroHó por dos veces eosnto se le poso en sd nacionales vam b eslodar el primer qni- | transito com fosiblantes vartillerasque esvermario de esa mrmorabio joruada, / Le bizarro lreneral Kevo de refuerro, arroe E «Gentinelas al anlicipar ea Lecieraciõs laron álos enemi La columns del (,o sus bravos compaleros, se [lona de ore mandante Cabral avançó cobre lastrinches
y los wjéreitos
guilo, par que «l brillo de tas armas Ro-
paliicanas do ha sido empanado en la
canipalia mágua. Recordau, valicotes paraguaços, que el
eo do ataque del 24 [ue trazado por el abit guerrero, el
Ermo,
Martscal Los
per, y que esa victoria grandiosa dá obim-
visteis on dificuitad, ejecutando los mo
ras dei ijuvasor, y el Mayor Qlabarrieta com et Regimícato N.+40 destroró dos batsllo-
nes que estalam pro por los calos do las buleriaç enemigas, Despues de cisco horas y media de nm
encartitado combate, la victoria
dios vabentes Paragnavos, que ron 4 sus
campaiientos,
salndo
volvie-
travendo
mu
vimientosestratéjicos que os proparó vuestro General en lrefe.
cho armamento, prissonerosy tres ban= úeras. como Jos uiorunos (rofeus des
El General Resquin cavó con sus bravos
EMeruuraJinas dera, q hará una é ble en Jos anales del valur paraguavo, AL Exmo, MAmiscaL Lorkz, VENCER
El General Brugoez dió la sehal del ala- ) e rem victoria. que 4 las doce y coarto del dia y princi= es am bataila cam pal del 21 de Mavo, pio el ataque general. suceso que la bestaria cimsignarã em pó-
de caballeria sobro el ala irquerda
del
eoemigo— E] Comandanto Marcó sos bre el centro con sus infatigables infantes, EX La sonsapa VEL Sh pe Savo DE [SG
y dos regimicntos de caballeria, El ataque del costado derecho fuó conhado al impertérrito lieneral Diaz.
General Barrios Thevó el ataqueÀ la reserva y euartel general del enemigo por
miami on
de tua!
[E] nombre de tus gloriasse dilata 1 Tres pendoses Le formas el dosel,
Y elinmonso cauda! del ancho Plata Cum sus aguas fecanda ta laurel,
havia À murro feemeral em tarte r | Nuchachos! cu amostra pude veda ' a artEo ra rm gm Mer à lo hogar iu andar
w defendem valeposamunto La Gude gen -
cem 4 da tibertad de bie, genrrosa 7 heróica,
tuna Nactom
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cpiços dd partindo, 2d Ni NAN) En eedls, drato 7 Mer Berto eo e tabrsbader em los Ellad de lo | pu er Um E Contincia coluda voesro ot, ame dam dem nodos Dheco o ca prntni nos ye Dema alo mario,pues Fique ng rt pata tmalanr 2 Bros 4 Marti apra disforme mia ma Dt tda à
de te bulebgetesia,
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Paraguaço. Manana la República
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Em mera que agita lasaguas del Pala,
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afio À. mn. à.
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que el à inato
empolado contra cl Paraguar. E. Cabiehiei,» quia com su tapido vel recorte Lar bosques, hrs edegado el tues dr las dores vide Los quansios acsteles meio
w pain qua & For bos paia at Aparicio,
mas su sábroso panab Ebasado ot cutos de lá Mança
bocamelta
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ltam!yo mus plisdos ban | bombaoe Mo os perdoa memques ateh
Jornal El Centinela, Assunção, Ano 1, nº 5, 23 mai. 1867.
e
A GUERRA DO PARAGUAI E A FORMAÇÃO DO ESTADO NA ARGENTINA León Pomer
A GUERRA
DO
PARAGUAI
E A FORMAÇÃO
DO
ESTADO
NA
ARGENTINA
115
Guerra do Paraguai pode ser interpretada de
ras, Os regimes políticos tidos como antagônicos, o re-
várias maneiras. A nossa está indicada pelo
gime econômico paraguaio considerado incompatível
título deste trabalho. Como conflito que en-
com uma sociedade civilizada, o Estado do país gua-
volveu quatro países, é possível examiná-la do ponto
rani desempenhando
de vista das problemáticas e situações específicas de
ções mais elementares do pensamento liberal da época,
cada um deles.
as ambições expansionistas
Para a Argentina, a Guerra foi um episódio de gran-
pez etc.
funções
que
agrediam
as no-
de Francisco Solano LóMa,
de importância na fundação e consolidação do Estado.
Todas essas leituras foram e são possíveis, porém
Para O Paraguai, significou a possibilidade de assegurar
existe uma que nos parece decisiva: o caráter absoluta-
um tipo de Estado, de estrutura econômica e de estrutu-
mente singular que havia adquirido a sociedade para-
ra social muito pouco parecidos com as respectivas
guaia, as funções que se havia arrogado o Estado e as
estruturas existentes ou em vias de criação nos países
limitações que tudo isso significava para o livre exerci-
com que deveria confrontar-se.
cio da atividade mercantil, industrial, agrícola e pecuá-
Nos estudos realizados sobre a Guerra, foram real-
çados diferentes aspectos:
os problemas
de frontei-
ria. Tratava-se de um “modelo” insólito e discordante do que era considerado como próprio da civilização.
A
116
GUERRA
A Argentina da década de 60
DO
PARAGUAI
O grupo dos construtores deste Estado, no qual,
do século passado
juntamente com os nomes
mencionados,
encontrare-
mos poderosos comerciantes, grandes proprietários de
A partir de 1861 começa na Argentina a formação do
- terras, profissionais liberais e chefes militares, percebia
Estado que terá continuidade até nossos dias. Tentati-
a necessidade de atender a várias exigências européias:
vas anteriores (em 1826, com a primeira Constituição;
abrir espaço para os capitais em busca de oportunida-
entre 1851 e 1861, com a tentativa da chamada Confe-
des para milhões de pessoas que o Velho Mundo preci-
deração
Precisamente
sava mandar para fora a fim de aliviar as tensões sociais;
em 1861, com o golpe final na Confederação Argentina
“abrir espaço também para a produção de matérias-pri-
liderada pelo general Urquiza, começa o processo diri-
mas e alimentos que pudessem atender às demandas
gido pelo general Bartolomé Mitre e destinado a organi-
emergentes da triunfante Revolução Industrial. Esse pa-
zar o Estado argentino.
norama permitia vislumbrar excelentes negócios, im-
Argentina)
haviam fracassado.
Esse processo ocorre em um país semideserto, com fortes diferenças regionais,
rivalidades
com
profundas
e antigas
entre as regiões, com caudilhos
que não
possíveis no âmbito pré-nacional, carente de um Estado
unificador do amplo espaço geográfico e capaz de projetar políticas de alcance global.
tinham interesse em perder sua autoridade, parcial ou totalmente,
nem
em
subordinar-se
a uma
autoridade
central e superior à sua.
O Estado que nasce e os perigos que o comprometem
Nos primeiros anos da década de 60, a Argentina era apenas
um
nome
que designava
um
extenso
espaço
geográfico, e não uma identidade aceita pela maioria de seus habitantes. Com essa matéria básica, iniciou-se uma
tarefa considerada imprescindível pelos mais importantes estadistas (Mitre,
Sarmiento,
Alberdi, Avellaneda
etc.), já que a única forma de ingressar no conjunto das nações consideradas civilizadas era constituir um Estado e, a partir dele, desenvolver uma nação.
Aqueles que iniciaram e lideraram a tarefa de constituir o Estado esbarraram em resistências diversas e percebe-
ram vários perigos que vinham de fora das maltraçadas
fronteiras. Por um lado, o Uruguai,
governado
pelo
tradicional partido blanco, era uma fonte de preocupações; por outro, o Paraguai, governado ditatorialmente
por Francisco Solano López.
O governo do general Mitre julgava ter razões para
A GUERRA
> Qual, Ntrare.
rios de Ercebia TOpéias: Ttunida-
LO precià SOCiais:
rias-pri-
DO
PARAGUAI
E A FORMAÇÃO
DO
ESTADO
NA
ARGENTINA
117
derrubar os blancos uruguaios do poder, substituindo-
reiro, e o porto de Montevidéu permitíria o desembar-
os pelos
que
colorados,
considerados
mais confiáveis e
com maiores afinidades com relação aos interesses ar-
das
forças brasileiras,
assim
como
de alimentos
para a tropa, material de guerra etc.
A instalação de um governo amigo em Montevidéu
gentinos.
O general Mitre temia uma eventual aliança de seus
dissipou as preocupações das esferas governamentais
inimigos internos com os dois preocupantes vizinhos;
de Buenos Aires. Mas, ao mesmo tempo, estabeleceu as
ou, no melhor dos casos, a transformação do Uruguai e
condições para submeter o Paraguai a uma espécie de
do Paraguai em eventuais “santuários”, de onde pode-
chantagem.
riam agir os que fossem contrários ao governo central
As comunicações do Paraguai com o -mundo exte-
emandas
radicado em Buenos Aires; ou onde se pudessem reunir
rior, sobretudo
Esse pa-
aqueles que pretendessem disputar com essa cidade
passavam pelo Rio da Prata, caminho inevitável para o
cios, im-
a liderança do processo constituinte do Estado e da
Oceano Atlântico. Como a navegação pelo rio tinha que
m Estado
nação.
ser feita por um canal que até os dias de hoje passa a
z de pro-
O governo de Mitre dedicou-se à tarefa de colocar
amigos no governo de Montevidéu e, mediante mano-
com
a Europa
curta distância de Montevidéu,
e os Estados
Unidos,
era fácil isolar o Para-
guai do resto do mundo, bloqueando o canal.
astuciosas, conseguiu que o Brasil
O país guarani, ao qual se atribuía um poderoso
realizasse uma operação militar. Como consequência
exército (o que com certeza era um exagero provavel-
da intervenção brasileira, que culminou com a ocupa-
mente divulgado segundo interesses escusos), aparen-
ção militar do território uruguaio,
temente
bras diplomáticas
os blancos foram
teve
que
aceitar as imposições
do
governo
eliminados do poder, sendo substituídos pelo general
argentino de Mitre, como forma de afastar o risco de um
Venancio Flores, que posteriormente retribuiria o favor
isolamento que, com certeza, o levaria à decadência.
recebido com a participação das tropas orientais, co-
Dessa forma, a política do general Mitre, primeiro
mandadas pelo próprio general, no conflito que não
governante de um Estado argentino que apenas come-
tardou em eclodir.
çava a esboçar seus vacilantes primeiros passos, asse-
Na Tríplice Aliança que enfrentaria o Paraguai, O
gurava a tranquilidade no que se refere à outra margem
Uruguai teve o papel de parceiro menor, embora nem
do Rio da Prata e neutralizava transitoriamente o inimi-
por isso desprezível. Flores era um reconhecido guer-
go considerado mais perigoso.
intãoÀ A
Dq" Fo
EM
A
DO
PARAGUAI
RE]
Lobaa Fr et
+
118
GUERRA
-—
existência de qualquer motivo para lutar contra o país
Too Digo
vizinho.
pira
Solano
a e
Ea
Es
Ri
nr
a
tm
Guerra externa e guerra interna López,
que já havia
tiria passivamente à ocupação pelas tropas brasileiras, e que te o significado
de um
do território oriental
Em segundo, faltava a constituição de um imaginário nacional que agisse como fator de coesão de vontades €
perfeitamen-
como formação de uma imagem de totalidade que preci-
avisado
que
percebia
bloqueio
do
não assis-
Paraguai,
sava ser defendida
deci-
contra as ameaças
de um
ditador,
apresentado como a própria encarnação da barbárie.
on
diu que sua única
E
Posto contra a parede, descartou a possibilidade de ren-
Em terceiro, porque nas províncias vizinhas ou pró-
á1
der-se às eventuais exigências, inclusive territoriais,
ximas do Paraguai existia uma população, de origem
i)
da Argentina e do Brasil..A Guerra tornou-se a única
guarani ou não, fortemente ligada ao Paraguai por vín-
HI
saída.
culos de idioma, de cultura etc., que não aceitava lutar
alternativa
era o conflito armado.
contra
aquele país
e a favor
de
um
governo
(o de
E
O ditador paraguaio era, com toda evidência, um
E
megalômano. Sua megalomania levou-o a desprezar os
Buenos Aires) no qual não via precisamente um amigo.
A
conselhos de seu pai e antecessor na presidência do
Finalmente, porque alguns líderes regionais argen-
a
país, Carlos Antonio López, no sentido de evitar a guer-
tinos observaram que a derrota do Paraguai seria um
ni
ra a qualquer custo. Sua falta de prudência nesse aspec-
golpe contra eles mesmos, pois precisavam contar com
n
to, a ofensiva dos seguidores de Mitre e do Império
algum
q
Brasileiro colocaram-no numa situação em que o confli-
Buenos Aires. Esse apoio poderia eventualmente ser
to armado era inevitável.
oferecido por Solano López, que, desse modo, evitaria
À a)
|
Para a Argentina a Guerra durou cinco anos (1865-
apoio
contra
o governo
central
instalado em
a constituição de um poder hostil e superior ao seu em
1870), e o custo em vidas e recursos foi extraordinaria-
potencial bélico.
mente elevado. Não só porque na frente da batalha as
Sem entrar em detalhes, diremos que, só na provín-
coisas não funcionaram da melhor maneira, mas tam-
cia de Entre-Rios, dois exércitos reunidos pelo caudilho
bém porque a frente interna se transformou em uma
verdadeira guerra civil. A Guerra contra o Paraguai era impopular por várias razões.
Em primeiro lugar, muitos argentinos ignoravam a
:-
Justo José de Urquiza debandaram, recusando-se a cru-
zar armas com as dos soldados guaranis. Os cinco anos da Guerra contra o Paraguai foram
cinco anos de cruenta guerra civil na Argentinaum ,
Mtadese
A GUERRA
DO
PARAGUAI
E A FORMAÇÃO
DO
ESTADO
NA ARGENTINA
19
conflito que provocou mais baixas do que as que o país
nos e dos homens de negócios, imbuídos dos ídeaís
sofreu na frente de batalha. O general Mitre viu-se obri-
liberais e materialmente interessados em ter campo li-
gado a retirar grande
vre para suas atividades mercantis e empresariais de
parte do exército argentino do
front paraguaio para evitar o desmoronamento do front interno.
toda natureza.
Além disso, a ditadura de Assunção era uma presen-
A Guerra da Tríplice Aliança serviu para assegurar
ça que negava os ideais de democracia (certamente limi-
as posições de um governo fraco, que estava tentando
tada) abraçados pelos homens
iniciar a construção
construir o Estado e a nação argentina. A inimizade ideo-
do Estado e, com
ele, da nação.
Muitos caudilhos regionais tiveram que aceitar a pre-
sença de um poder novo e superior, e outros foram literalmente liquidados.
As distâncias ideológicas No momento em que o liberalismo econômico parecia a única via para o progresso e a civilização, o Estado paraguaio, que monopolizava o comércio externo e in-
terno, era o proprietário quase exclusivo dos recursos
naturais, e construía empresas e ferrovias por iniciativa
própria. Isso só poderia ser considerado uma aberração. '* Como consequência disso, desencadeou-se uma furiosa campanha na imprensa de Buenos Aires, na qual
que se propunham
lógica não foi um fator menor no preparo da Guerra.
O grande papel da Grã-Bretanha Círculos importantes dos sucessivos governos britâni-
cos e fortes grupos econômico-financeiros da City certamente não nutriam simpatia pelo regime econômico e político imperante no Paraguai. Suas tendências, segundo pesquisa feita por um grupo de argentinos, seriam
no sentido de contribuir para a formação, nas antigas colônias espanholas,
de Estados capazes
de criar as
condições necessárias para a realização de bons negócios, o desenvolvimento de mercados para absorver mercadorias britânicas e aptos para produzir e exportar
uma das vozes preponderantes foi a de Domingo Faustino Sarmiento, a quem caberia, como sucessor de Mitre
matérias-primas e alimentos.
na presidência, terminar a Guerra.
dições. Antes e durante a Guerra, poderosos círculos
O parco espaço que restou no Paraguai para a atividade privada não podia despertar a simpatia dos gover-
O Paraguai de Solano López não possuía essas con-
ingleses de influência mostravam-se pouco favoráveis à permanência do regime paraguaio. Por isso, os emprés-
a
A
120
GUERRA
DO
PARAGUAI
timos que permitiram à Argentina de Mitre e Sarmiento
É evidente que o capital britânico possibilitou a
financiar a Guerra vieram da Baring Brothers, uma casa
Guerra e o extermínio de um modelo de regime econô-
bancária inglesa.
mico-e político incompatível com as grandes correntes
Essas operações financeiras significaram algo mais
de interesses e idéias. Possibilitar, no entanto, não é o
que uma simples adesão à causa dos aliados: foram um excelente negócio. O mesmo ocorreu no caso do Brasil,
mesmo que desencadear. As condições em que se vinha desenvolvendo a construção do Estado na Argentina
outras casas bancárias britânicas concederam
levaram o governo de Mitre à convicção de que o Para-
a quem
vultosos empréstimos que tornaram viável a empresa
guai de Solano López era um obstáculo que tinha que |
bélica,
ser eliminado.
Pes
A GRAVURA POPULAR, OUTRA IMAGEM DA GUERRA Ticio Escobar
A
GRAVURA
POPULAR,
OUTRA
IMAGEM
DA
GUERRA
125
À imagem guerreira combativa
foi usada como
instrumento de
terrível conflagração que sacudiu o Cone Sul
imprensa
latino-americano no final do século XIX está
moralização, propaganda e doutrinação, gerando um
suficientemente
e
eficaz veículo de informação que chegou a constituir
debatida em diversos aspectos de sua intensa história. É
uma arma a mais na luta. Porém, em forma paralela e
pouco conhecida entretanto certa iconografia popular
por vezes oposta às suas mensagens diretas, as gravuras
que surgiu naquele contexto e que é capaz de revelar,
publicadas na imprensa agiam como uma linguagem
através do circunlóquio da metáfora e das insinuações
estética que desenvolveu argumentos próprios e forjou
simbólicas, outros aspectos da Guerra. Esses aspectos,
uma expressão peculiar.
documentada,
analisada
dos
Entre as diferentes publicações que surgiram então,
imaginários coletivos, facilitam a compreensão de um
cabe destacar dois jornais, pela qualidade de expressão:
momento obscuro e promovem uma visão mais ampla
El “Centinela e, especialmente,
do conflito, que facilita o desenvolvimento de projetos
durante o ano de 1867, ambos eram sistematicamente
comuns de futuro para além das chagas da memória. A elevada taxa de alfabetização no exército para-
ilustrados com xilogravuras que reforçavam o conteúdo informativo e propagandístico das publicações. Na rea-
guaio foi aproveitada com inteligência pelo governo. A
lidade, os resultados foram muito mais longe: essas
embora agindo
à contraluz e a partir do âmago
o Cabichui.
Surgidos
A
124
GUERRA
gravuras, especialmente, repito, as do Cabichui, consti-
DO
PARAGUAI
Por outro lado, o fato de as publicações estarem
tuíram o fenômeno mais importante da gravura para-
diretamente
guaia até o século XIX e um dos elementos mais signifi-
bativo e difundir a propaganda
cativos
muita informação verdadeira aparecesse nessas pági-
na
história
da gravura
latino-americana
da
época.
orientadas para estimular o espírito com-
oficial impediu
que
nas. Os textos realçavam as vitórias nacionais e minimizavam o poder do inimigo.
Discursos, figuras
voluntarista e usando
Partindo de uma posição
continuamente
mecanismos
de
mistificação que visavam levantar o moral da tropa, os
A iconografia de E/ Centinela e do Cabichuí era dirigida fundamentalmente ao exército e ao povo combatente,
artigos não refletiam a verdadeira situação das forças
históricas da época: a desigual e dramática posição de
concebida para estabelecer com eles uma comunicação
um só país enfrentando a poderosa coalizão da Tríplice
eficiente e direta. Como
Aliança.
foi dito, porém,
em muitos
casos as gravuras conseguiam transcender o conteúdo meramente
De maneira quase autônoma, a imagem assume um
dentro de uma
sentido diferente, muitas vezes oposto ao do texto. As
lógica visual própria, como uma chave expressiva que contradizia o tom oficial do texto. Por isso, seria neces-
limitações oriundas da falta de formação acadêmica dos
informativo, funcionando,
sário considerar a relação assimétrica mantida entre as imagens e os textos dos jornais guerreiros. O conteúdo
dos dois periódicos em geral pressu-
põe um discurso erudito, com pretensões cultas, oposto à linguagem solta e expressiva das imagens. O texto,
expressa a cultura oficial desenvolvida sob a autoridade dos López e usa geralmente uma grandilogiiente retórica apoiada em latinismos, uma terminologia rebuscada com constantes alusões aos grandes temas da literatura
clássica, supondo
europeu.
um refinamento cultural de cunho
gravadores e a consequente ausência de artistas cultos nas linhas de combate abriram a possibilidade de uma figuração vinculada à cultura popular e alimentada por seus símbolos e suas formas.
Uma
vez
mais,
na história da cultura
paraguaia,
abre-se o caminho da expressão popular à margem dos projetos oficiais e da estética visual proposta pelos López e baseada na importação de modelos neoclássicos .
É indubitável que, se fosse possível contar sistema-
ticamente com artistas “ilustrados”, seus desenhos , pelo menos no nível das representações sérias e dos temas
alegóricos, teriam sido preferidos é se imporiam sobre
A GRAVURA
POPULAR,
OUTRA
IMAGEM
DA-GUERRA
125
os dos anônimos soldados amadores sem qualquer ou-
de “créditos”, é incluído na última página de cada nú-
tra formação senão a adquirida na prática improvisada
mero.
do dia-a-dia de gravar ilustrações. O mesmo
havia sucedido
Assim, diferentemente do conteúdo literário, as gra-
no imaginário popular
vuras da Guerra foram capazes de ligar-se à tradição
que surgiu a partir da colônia, fundamentalmente desde
popular, desenvolvendo formas ágeis de comunicação,
o século XVIII, no espaço livre deixado pelas missões, e
vinculadas ao seu próprio tempo e constituindo uma
que serviu para que o povo inventasse seus próprios
alternativa de expressão própria.
criadores: artistas anônimos capazes de reinterpretar os modelos impostos e expressar seu próprio mundo.
Isso representa um grande elo que liga aspectos do
imaginário
mestiço,
forjados
durante
a colônia,
É certo que as oposições não são tão taxativas; por
com uma imagem concebida de acordo com um sen-
vezes a figuração se coloca”a serviço de conceitos abs-
tido moderno de comunicação gráfica. Por isso, as xi-
tratos (alegorias sobre a liberdade, o poder, a pátria
logravuras do Cabichuí poderiam, ressalvadas as dife-
etc.) e o texto utiliza o idioma guarani ou narra fatos
renças,
mais imediatos, anedotas ligadas à vivência cotidiana
cordel do Brasil — que perdura até hoje — e às das
do soldado.
hojas volanderas mexicanas
Se, por um
lado,
rica dos gravadores
porém,
quase
a representação
sempre
cair no estereótipo acadêmico,
consegue
ser equiparadas
às gravuras
da literatura de
do final do século XIX,
alegó-
cujo ponto alto é representado
evitar
Posada.
por José Guadalupe
através de uma refor-
Em princípio, a imagem visual do jornal guerreiro
mulação própria dos arquétipos (por exemplo, a re-
serve para ilustrar os artigos utilizando uma linguagem
presentação
da liberdade,
mais direta, de modo a estimular o soldado, ao mesmo
assume soluções ingênuas e adquire traços campone-
tempo em que lhe faz companhia na frente de batalha.
ses), por outro lado, embora o texto utilize o idio-
Sem dúvida, porém, esta primeira função vai abrindo
ma guarani e se refira a circunstâncias mais concretas,
progressivamente um espaço expressivo, à medida que
ele não consegue desvencilhar-se de seu tom declama-
os gravadores adquirem maior destreza técnica e segu-
tório nem
de seus recursos de oratória culta. O uso
rança formal. É significativo o fato de que logo a partir
do guarani circunscreve-se a umas poucas manchetes,
do número 4 apareçam as primeiras assinaturas, indi-
a raros
cando
de
artigos
uma
e a um
mulher,
símbolo
pequeno
poema
que,
à guisa
certa conscientização de um
profissionalismo
A
126
GUERRA
DO
PARAGUAI
que se vai desenvolvendo com o melhor manejo dos
minucioso, tendência à simplificação, espontaneidade
meios gráficos.
no manejo dos meios, concepção ingênua € simples da
Este fato tem várias implicações. Em primeiro lugar
representação etc.
vem a idéia de que os xilógrafos eram autodidatas (sal-
A partir dessa base comum definem-se algumas ca-
vo no caso de Saturio Rios, não há notícias de estudos
racterísticas específicas da xilogravura da Guerra: con-
prévios de qualquer dos ilustradores dos jornais guer-
cepção particular do espaço (simultaneidade de dife-
reiros). Em segundo lugar, o aprendizado conjunto pro-
rentes pontos de vista: sentido frontal e perspectívo,
move o surgimento de soluções comuns, recursos for-
visão de planta baixa e de perfil; concepção peculiar
mais coletivos e, inclusive, a forte codificação de muitas
dos
figuras (por exemplo, a tartaruga,o globo, o leão, o rio,
etc.); apresentação do motivo como desenvolvimento
o bote etc. apresentam uma grande semelhança no de-
sucessivo de um acontecimento; detalhismo descritivo
senho e na técnica).
mesmo
espaços
geográficos:
planície,
cidade,
interiores
diante da escassez de tempo e da tendência
Mas aqui entra em jogo um outro fator importante:
sintética da imagem; soluções de desenho e xilogravura
a partir da concentração nos acampamentos e da convi-
integrados; tendência a uma aguda auto-representação
vência forçada pela vida no quartel, os gravadores sol-
caricaturesca; possibilidade de captar com rapidez as-
dados tendem a uniformizar suas experiências e elabo-
pectos próprios do humor popular paraguaio; utiliza-
rar respostas
circunstância
ção de diferentes normas figurativas quando a caricatu-
partilhada, reforçada pela emergência da situação. Uni-
ra representa o inimigo, o soldado nativo, ou se refira
dos tanto por condicionamentos culturais quanto pela motivação absorvente da Guerra, aprendem juntos e
ao cotidiano e a acontecimentos importantes idealiza-
juntos desenvolvem imagens em uma direção tão con-
Por isso, por mais que exista um espírito comum,
comuns
diante
de uma
vergente que, sem forçar demasiado os termos, permite
que se fale de um estilo da gravura que estudamos. Esta unidade formal fundamenta-se em algumas ca-
racterísticas gerais da cultura popular: falta de formação acadêmica, socialização dos recursos formais, provável
extração popular dos gravadores, sentido narrativo e
dos.
em muitos casos podem-se identificar estilos próprios
marcados por concepções individuais da figura e da forma e, inclusive, por determinadas preferências temáticas.
Assim, acima do expressionismo gráfico e seco que caracteriza as gravuras, surge a marca particular: o traço
Iteriores
A GRAVURA
POPULAR,
OUTRA
IMAGEM
DA
GUERRA
127
refinado de Inocencio Aquino, a composição severa e
der a espontaneidade e o vigor: em geral a figura torna-
rudimentar de Cáceres Y Perina, o sentido da ridiculiza-
se rígida e insípida.
ção caricaturesca de Velazo Y Acosta etc.
Na diagramação das relações visuais entre as ima-
diferenças
gens e as colunas de texto também se percebe o gradual
entre as gravuras de um mesmo autor: caricaturas defor-
aumento de segurança num processo de aprendizagem
madas de Aquino coexistem com ilustrações delicadas,
que vai amadurecendo com o próprio trabalho.
Por outro lado, encontram-se
e até mesmo
grandes
preciosistas, de sua autoria. Há gravuras
Nos
primeiros
exemplares
as gravuras
são inde-
de Acosta notavelmente soltas e outras rígidas e acadê-
pendentes e ocupam toda uma página. Quando come-
micas.
çam a acompanhar os textos, fazem-no de forma tímida
Essa alternância poderia estar também condiciona-
e rudimentar, com soluções desajeitadas, ainda incapa-
da por outras causas: primeiramente poderia ser atribuí-
zes de integrar os diferentes elementos gráficos. Só
da à pressa com que eram executadas as gravuras; de-
paulatinamente vai-se aprendendo a utilizar uma dia-
pendendo
disponível ou da urgência do
gramação mais eficiente, chegando espontaneamente a
trabalho, poderiam surgir imagens detalhadas e bem
interessantes ajustes visuais. O fato de as páginas esta-
terminadas, ou figuras rudimentares e feitas às carreiras.
rem diagramadas em três colunas, com tipografia solta,
Além acentua-se
do tempo
disso,
a firmeza
e libera-se
expressiva
diante
dos gravadores
de determinados
temas
permite diversas manobras e adaptações que dinami-
zam o espaço gráfico. Rompendo
com frequência o
ligados a uma emoção maior, a um sentimento concreto
esquema ortogonal básico, os textos e as gravuras se
ou a uma participação mais ativa nos acontecimentos.
interceptam e se invadem reciprocamente, acomodan-
Os motivos de combate e de hostilidade para com o
do-se com naturalidade às diferentes exigências visuais.
inimigo envolvem maior convicção e energia do que os
Também na utilização das maiúsculas que abrem os
ligados a idéias abstratas, ou que frequentemente se
parágrafos,
convertem
e descambam
progressiva destreza no uso das formas. Lentamente os
para preocupações realistas que endurecem a imagem.
gravadores vão desenvolvendo engenho e humor na
Como já foi indicado, quando os gravadores traba-
ilustração das maiúsculas, até chegar a convertê-las em
em
símbolos
imediatistas,
convertidas
que,
embora.
em vinhetas,
quase
evidencia-se
autônomas,
lham “a sério”, pretendendo representar o marechal, O
imagens
alto comando ou os arquétipos pátrios, tendem a per-
com funcionalidade no corpo da matéria.
a
se inserem
A
128
GUERRA
DO
PARAGUAI
Embora tenhamos afirmado que a imagem gráfica de-
Muito além das hipóteses que poderiam ser levantadas a respeito, está claro que a dramática situação da Guerra precipitou uma série de forças expressivas subi-
senvolve uma trama discursiva específica com relação
tamente amadurecidas pela desesperada urgência do
ao texto,
momento.
A arte da Guerra
é evidente
que,
por outro
lado,
a própria à ilustração
Há uma espécie de condensação do tempo, uma
exige a sintetização da expressão. Como os conteúdos
aceleração da história que faz aflorar bruscamente a
são candentes e urgentes, as formas devem ser suficien-
sensibilidade popular,
temente claras para informar com eficiência e rapidez;
vas, saltando por cima das dificuldades, contornando a
devem ser condensadas para captar a essência da infor-
ausência de preparo e de meios técnicos adequados.
mação ou o espírito moralizador e reconfortante neces-
Como
sário ao soldado; além disso, devem ter a expressivida-
condições externas, tivesse que revolver as profunde-
de necessária
zas de sua memória em busca de formas adormecidas,
missão
de comunicação
que este impõe
para transmitir com vigor a dramática
situação nacional, interpretando-a com os traços próprios do caráter paraguaio, temperado e agudo, e com
forçando
possibilidades criati-
se a prática imaginária coletiva, acossada por
sinais latentes ou recordações de práticas antigas. O maior compromisso com a situação e uma parti-
a exaltação patriótica do momento, mantendo obstina-
cipação
damente o sentidode " humor, mesmo
vos, gerando formas mais bem ajustadas e carregadas
diante das mais
trágicas realidades da Guerra. O
gravura
resultado é a imagem
popular guerreira,
nela mais ativa produzem
resultados
mais vi-
de significado. Por isso as gravuras do Cabichuí atinrápida porém
capaz
segura da
de desenvolver
um
expressionismo local austero e cáustico, de características bem definidas.
A origem desta vigorosa figuração constitui um mis-
tério. Em que tradição se apóia a firmeza livre dos traços, o manejo oportuno dos brancos e negros, o sentido
eficaz do ritmo e da forma? Onde foi que esse punhado de soldados desconhecidos aprendeu a técnica?
gem uma síntese expressiva muito mais rica que as do El Centinela.
O Cabichui é editado em Paso Pucú, em plena
frente de batalha. É um jornal de acampamento e trin-
cheira, dirigido aos soldados de primeira linha. Locali-
zado bem no centro da situação de convulsão, nutre-se diretamente da mesma.
|
EI Centinela é basicamente editado na Rua del Atajo, em Assunção,
e suas gravuras são executadas por
A
GRAVURA
POPULAR,
OUTRA
IMAGEM
DA
GUERRA
129
O
carecendo geralmente da força
grande tentativa de enfrentar a história, de exorcizar a
expressiva e das formas contundentes do jornal de Paso
tragédia através da imaginação e do simbolismo e a
Pucú. Os ilustradores parecem ser demasiado influen-
partir tanto de grandes acontecimentos como de anedo-
ciados por uma concepção de desenho que não lhes
tas triviais, essa eclosão repentina de formas inventa-
permite assumir com plenitude as possibilidades pró-
das ou adotadas de outros sistemas da cultura popu-
prias da madeira, assim como por conceitos acadêmi-
lar fazem
guerreiros evacuados,
das imagens
do Cabichuí e de
muitas
criativa e levam
gravuras do EI Centinela um documento fundamental
com frequência à óbvia Jiteralidade das alegorias. Não
do desenvolvimento da expressividade popular no Pa-
há dúvida, porém, de que, apesar desses condiciona-
raguai.
cos que reprimem
a espontaneidade
mentos, muitas das gravuras do El Centinela estão à altura das de seu coirmão,
logrando transcender do
A gravura guerreira logo desaparece. A Guerra fere
profundamente o processo cultural paraguaio, que de-
âmbito dos significados fixos para constituir símbolos
verá começar
próprios, caricaturas audazes e enérgicas, carregadas de
dependência e da submissão. A xilogravura guerreira,
sentido concreto.
precocemente silenciada e praticamente desconhecida,
de
novo,
a partir de
1870, dentro
da
não pôde ter qualquer continuidade imediata, mas por
O processo da gravura
vezes parece pulsar por detrás de alguma forma simples e decidida, ou insinuar-se do fundo de um cortante e
enérgico rasgo de goiva.
paraguaia alcança seu ponto mais alto e mais autêntico.
Talvez a memória coletiva tenha podido reunir essa
Pela primeira vez a imagem gráfica expressa com liber-
experiência através de seu trabalho contínuo de produ-
dade a realidade histórica a partir das características
ção de símbolos para preencher os hiatos do tempo. Há
próprias da criação pessoal. Pela primeira vez surge
numerosas figuras produzidas hoje que lembram mo-
uma gravura suficientemente consistente para metafori-
mentaneamente certas linhas esquivas da gravura guer-
zar O próprio tempo.
reira, algum instante, algum espaço, alguma reminis-
=
com secreta vocação de forma.
A ma
vas a partir de condições e desafios concretos, essa
cência da madeira talhada com prazer e com medo,
E
Essa capacidade de ir criando linguagens expressi-
O
Com a xilogravura da resistência, o processo da gravura
O IMPERIALISMO BRITÂNICO E A GUERRA DO PARAGUAI Leslie Bethell
O IMPERIALISMO
BRITÂNICO
E A GUERRA
DO PARAGUAI
133
E
Introdução m The Age of Capital, 1848-1875, Eric Hobs-
A Guerra Civil norte-americana e a Guerra do Para-
bawn descreveu a década de 1860 como, “sob
guai, segundo Hobsbawn, faziam, cada uma a seu pró-
qualquer ponto de vista, (...) uma década de
prio modo, parte do processo de expansão capitalista
sangue”. O que ele tinha em mente ao falar assim eram,
global. Esse autor encara a Guerra do Paraguai, por
além das sucessivas guerras civis dos Taiping na China,
exemplo,
sobretudo a Guerra Civil dos Estados Unidos (1861-
bacia do Rio da Prata na economia do mundo britânico:
1865) e a Guerra da Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e
“Argentina,
Uruguai) contra o Paraguai (1865-1870) — que testemu-
economias voltados para o Atlântico, forçaram o Para-
nharam um tipo de massacre e destruição tão descontrolados que mais parecem estar associados ao século XX
como
uma consequência da integração da
Uruguai e Brasil, com
seus rostos e suas
guai a sair do [seu] estado de auto-suficiência.”! Em
Capitalism and
Underdevelopment
in Latin
do que às guerras do século XIX —, bem como as
America, A. Gunder Frank tinha apresentado uma inter-
uérras até certo ponto menos sangrentas que ocorre-
am na Europa pela unificação política da Itália e da Ale-
pretação similar do significado da Guerra do Paraguai. Mas, no caso do avanço capitalista liberal na América
manha, e que culminaram, no final daquela mesma dé-
Latina, nas décadas de meados do século XIX, ele havia
Cada, com a Guerra Franco-Prussiana, de 1870-1871.
atribuído um papel mais ativo aos “poderes metropoli-
A
134
GUERRA
tanos”, o que, para ele, significava a Grã-Bretanha. Es-
DO
PARAGUAI
“damente a de León Pomer,
La guerra del Paraguai:
ses poderes, segundo Gunder Frank, haviam “ajudado ,
gran negocio!é Não só pelos historiadores marxistas ou
os seus parceiros comerciais latino-americanos mais jo-
de influência marxista, sob o fascínio da escola da de-
vens com armas, bloqueios navais e, quando necessá-
pendência, mas também igualmente por historiadores
rio, com intervenção militar direta e [a] instigação de
da direita nacionalista, e não somente em Londres e em
guerras, como a da Tríplice Aliança contra o Paraguai”.?
Nova York, como também, e especialmente, na Argenti-
Durante quase um século, as explicações das cau-
na, no Brasil, no Uruguai e, naturalmente, no próprio
sas e das origens da Guerra do Paraguai enfatizaram
Paraguai. Argentina e Brasil tinham-se tornado “Esta-
disputas
dos-clientes”
territoriais entre Argentina e Paraguai, e entre
dependentes,
agindo
basicamente
em
Brasil e Paraguai, conflitos envolvendo direitos à livre
prol dos interesses britânicos. A Inglaterra havia-se tor-
navegação
nado o principal “instigador, financista e beneficiador
nos Rios Paraná e Paraguai, os crescentes
interesses do Império Brasileiro (e, mais especificamen-
da Guerra do Paraguai.
te, OS interesses da província do Rio Grande do Sul) no
Essa linha de pensamento talvez tenha sido mais
Uruguai, o desejo da Argentina, sob o governo do pre-
abrangentemente sintetizada e apresentada na sua for-
sidente Bartolomé
ma mais extrema na tese de doutorado (Universidade
Mitre (1862-1868),
de consolidar a
recêm-estabelecida unidade política de seu país e as
da Califórnia em Los Angeles,
ameaças ao equilíbrio regional do poder, representadas
nicaragúense, Jose Alfredo Fornos Pefialba. Para ele, a
sobretudo
pela
política expansionista
do ditador do
Paraguai (desde 1862), Francisco Solano López. Mesmo
assim, o relato clássico de Pelham Horton
"Box, em The Origins of the Paraguayan War, 3 não faz
sequer menção ao envolvimento britânico na Guerra. No final da década de 1960 e começo da década de 1970, no entanto, o Paraguai era descrito como a vítima da agressão capitalista e imperialista — não só no con-
texto da literatura histórica em geral, mas também nas
monografias mais especializadas sobre o assunto, not a-
1979) de um historiador
Grã-Bretanha era o “quarto aliado indispensável”, de certa forma “o mais implacável de todos os inimigos do século XIX do Paraguai independente”. Ao promover, apoiar e, acima de tudo, financiar a guerra de agressão contra López mantida pelas suas “neocolônias” — Argentina, Uruguai e Brasil —, o objetivo da Inglater-
ra era não só abrir o Paraguai — a única economia da América Latina a permanecer fechada após a inde-
pendência — para os produtos manufaturados e para O capital britânicos, como também assegurar novas fontes
O
IMPERIALISMO
BRITÂNICO
de matérias-primas (sobretudo algodão, tendo em vista a falência dos suprimentos norte-americanos, em consequência da Guerra Civil). Mais do que isso, a Inglater-
E A GUERRA
DO
PARAGUAI
135
Juan C. Herken Krauer e Maria Gimenez de Herken7 O
estudo moderno mais abrangente sobre as relações britânicas com a América Latina contém apenas uma meia
ra pretendia destruir de uma vez por todas o que Frank
dúzia de leves referências ao Paraguai,
havia chamado de “esforço de desenvolvimento genui-
Guerra do Paraguai é tratada sumariamente
namente independente e autonomamente gerado” sob
página. A análise moderna mais completa do imperia-
o doutor José
lismo britânico,? mesmo que, de forma bastante inco-
1840) e seu
Gaspar
Rodríguez
de Francia (1811-
e a própria em uma
(1844-
mum, inclua importantes capítulos sobre a América do
1862), porque ele oferecia para a América Latina um
Sul (embora, curiosamente, não sobre a América Lati-
modelo alternativo político, econômico
na), não contém uma única referência ao Paraguai, nem
sucessor,
Carlos Antonio
López
e ideológico
“nacionalista”, em lugar do modelo capitalista liberal do laissez-faire, imposto pela Grã-Bretanha e visando aos
à Guerra do Paraguai.
seus próprios interesses. As “maquinações imperialis-
Grã-Bretanha e América Latina no século
tas” da Inglaterra, concluiu Fornos Pefialba, em muito contribuíram para “eliminar uma das nações mais promissoras e progressistas da América Latina no século XIX”.
XIX: império formal e informal Iniciaremos nossa análise sobre o imperialismo britânico e a Guerra do Paraguai com alguns comentários de
Esta era, sem dúvida, uma argumentação interes- Sante e intelectualmente estimulante. Infelizmente há
a América
- Pouca, senão nenhuma
que, se de fato a Grã-Bretanha tivesse sido a maior força
evidência empírica capaz de
caráter genérico sobre as relações da Grã-Bretanha com Latina do século XIX,
visando
demonstrar
sustentá-la — pelo menos de acordo com a análise mais
por detrás da Guerra da Tríplice Aliança contra o Para-
Tecente e detalhada
guai, ela estaria adotando uma política e um comporta-
das relações
Paraguai no século XIX, com
da Inglaterra com
o
base em fontes oficiais
mento
totalmente: incompatíveis com as políticas e os
britânicas, feita por um historiador inglês E.N, Tate* e
comportamentos
egundo o estudo mais recente ainda sobre o papel
América Latina como um todo, naquela época.!º
que regiam as suas relações com a
britânico na Guerra, igualmente baseado em fontes in-
Por mais de um século — desde as guerras napoleô-
Blesas, desenvolvido por dois historiadores paraguaios:
nicas e, mais especificamente, desde os eventos dramá-
A
ticos de
1807-1808,
que acabaram
ocorridos
na Península
DO
GUERRA
Ibérica,
e
por causar a dissolução dos impérios
PARAGUAI
(sobretudo estradas de ferro), agricultura e mineração
dos países latino-americanos.
americanos da Espanha e de Portugal, até a deflagração
A Grã-Bretanha possuía mais da metade de toda a
da Primeira Guerra Mundial, em 1914 —, a Grã-Breta-
frota mercante do mundo, e eram os navios britânicos
nha era o agente externo dominante nas questões eco-
que levavam a massa dos produtos exportados da Amé-
nômicas e, numa escala menor, nas questões políticas
rica Latina para os mercados mundiais. A própria Ingla-
da América Latina. O século XIX foi, para a América
terra era um dos mais importantes mercados para os
Latina, o “século inglês”.
artigos alimentícios
Isso não é nada difícil de explicar. Em
primeiro
e matérias-primas
latino-america-
nos.
lugar, a Inglaterra tinha estado “presente no momento
Em resumo, ao longo de todo o século XIX, a Ingla-
da criação”. Os fundamentos da supremacia política,
terra era o principal
comercial e financeira inglesa tinham sido firmemente
investidor e o principal detentor do débito público da
lançados por ocasião da formação dos Estados inde-
América Latina.
pendentes
latino-americanos,
durante a segunda
e a
terceira décadas do século XIX. Grã-Bretanha exercia uma hegemonia global nunca de-
safiada e, até 1914, uma supremacia global um pouco menos firme. A marinha inglesa governava os mares.
Em terceiro lugar, e mais importante que tudo, a Inglaterra, a “primeira nação industrial”, a “oficina do fornecia a maior parte dos bens manufatura-
dos e de capital para a-América Latina. A cidade de Londres, a principal
comercial,
o príncipal |
Os países latino-americanos, embora relativamente
sempre na periferia das questões mundiais, nunca fica-
Em segundo lugar, de 1815 até 1860, ou 1870, a
mundo”,
parceiro
fonte de capital do
mundo, era responsável pela maioria dos empréstimos concedidos aos novos governos da América Latina e pela maior parte do capital investido em infra-estrutura
ram totalmente distantes da rivalidade das grandes potências. A supremacia política e econômica da Grã-Bretanha foi desafiada
de maneira
bastante frequente e
consistente pelos Estados Unidos, sobretudo no México, na América Central e no Caribe, e, nas três décadas
anteriores à Primeira Guerra Mundial, pela Alemanha, mas
nunca
chegou
havia nenhuma
a ser seriamente
ameaçada.
“juta acirrada”, nenhuma
Não
questão de
partilha envolvendo a América Latina.
Por sua vez, a não ser pela sua tentativa tanto de liberar quanto de conquistar a América Espanhola, atravês de uma invasão do Rio da Prata, em 1806-1807 (que
O a
IMPERIALISMO
mm
BRITÂNICO
E A GUERRA
DO
PARAGUAI
137
foi, pelo menos no começo, totalmente desautorizada,
H.5. Ferns, “Britain's informal empire in Argentina, 1306
e que, de qualquer maneira,
cerca de um
— 1914”, 14 e recebeu grande destaque em um artígo
ano),! e pelas atividades nas Ilhas da Baía, ao largo do
muito famoso de autoria de J. Gallagher e R. E. Robín-
litoral norte de Honduras, e na Costa dos Mosquitos, no
son, “The imperíalism of free trade”.15
só durou
litoral caribenho de Honduras e da Nicarágua, em mea-
O conceito tem tido uma vida longa e interessan-
dos do século XIX, a Inglaterra nunca se mostrou pro-
te, mas
pensa a assumir as obrigações políticas e militares de
ele analiticamente impreciso e quase sempre vulnerá-
um império na América Latina. Como resultado disso, a
vel a uma pesquisa empírica especializada. O historia-
América Latina foi a única área do globo a permanecer
dor britânico D.C.M. Platt e seus colegas mostraram-se
em grande parte livre do Império Britânico no final do
particularmente determinados (embora não totalmente
século.12
convincentes) nos seus esforços de miná-lo e desacre-
Mas será que os Estados soberanos da América Lati-
foi sempre
alvo de críticas que alegam
ser
ditá-lo totalmente.
na faziam, de alguma forma, no século XIX, parte de um
Em algum momento na década de 1970, a situação,
Império Britânico “informal”? A idéia de que, em qual-
já bastante confusa, ficou ainda mais complicada, com a
quer discussão envolvendo imperialismo, é importante
introdução da teoria da dependência no debate sobre o
fazer uma distinção entre império “formal” — em que
“império informal”. É claro que havia um desequilíbrio
um determinado território passou para o controle polí-
de poderes econômicos e políticos entre a Inglaterra e a
tico e legal-constitucional do poder imperial — e as
América Latina. É claro que era a Inglaterra, e não a
outras formas de subordinação e controle político indi-
América Latina, que ditava as normas que regiam as
reto é uma longa história. Em 1916, por exemplo, Lênin
relações econômicas internacionais no século XIX. É
descreveu a Pérsia, a China e a Turquia como “países
claro que a Inglaterra era mais importante para a América Latina do que a América Latina para a Inglaterra. A
semicoloniais”.
O termo “império informal” foi aparentemente in-
ventado por C.R. Fay, em seu Imperial Economy and its Place in the Foundations
of Economic Doctrine, 1600
— 1932.3 Ele foi utilizado pela primeira vez com rela-
ção à América Latina em um artigo pioneiro escrito por
América Latina, pode-se muito bem dizer, dependia dos
empréstimos,
investimentos,
conhecimentos técnicos,
importações de produtos manufaturados € sobretudo dos bens de capital, transporte marítimo e, numa escala penmenor, dos mercados britânicos. Talvez até a de
A ere-—
dência da América
pelo menos
nha
|
GUERRA
DO
PARAGUAI
qua
Latina em face da Grã-Bretanha
te-
que, sem essa pressão, ele absolutamente não o faria,
senão de fato gerado,
as
para que possamos falar realmente de “império infor-
reforçado,
restrições estruturais impostas ao desenvolvimento latino-americano (sobretudo na área industrial). Por fim, as vantagens desse relacionamento entre a
mal”.
No que diz respeito à Grã-Bretanha e à América Latina, a primeira promoveu e defendeu os seus interes-
e a América Latina eram, sem sombra de
ses a partir da sua posição de força relativa. Uma boz
dúvida, desiguais, embora deva-se lembrar sempre que
dose de “quebra-de-braço” ocorreu por detrás dos pal-
pelo menos as elites políticas e econômicas latino-ame-
cos. Diplomatas isolados no local da ação muitas vezes
ricanas (“elites colaboracionistas”, se assim o quiserem)
tendiam
acolhiam
prazer a “penetração”
(mesmo porque estavam efetivamente a três ou a seis
britânica e buscavam de maneira bastante
meses de distância do Ministério das Relações Exterio-
entusiástica seguir o “modelo” da modernização capita-
res). Medidas coercitivas — sobretudo demonstrações
lista através
investimentos
navais — foram tomadas para proteger as vidas, as
estrangeiros diretos, crescimento lastreado em exporta-
liberdades e as propriedades dos cidadãos britânicos,
ções, livre comércio e integração nos mercados mun-
ou para preservar o comércio existente, de bases “justas
diais.
e iguais”, que favoreciam a nação. E, em algumas oca-
Grã-Bretanha
no seu todo e com
econômica
de empréstimos
externos,
a agir de um modo
“imperialista” arrogante
Mas será que tal tipo de relacionamento por si só
siões — notadamente no bloqueio anglo-francês do Rio
justifica o conceito de “império informal”? E será que a
da Prata, em meados da década de 1840, na intervenção
Grã-Bretanha praticava uma política de “imperialismo
anglo-francesa-espanhola no México,
informal”, ou seja, procurava ativamente incorporar os Estados formalmente independentes da América Latina ao seu “império informal”?
Certamente deve haver algum exercício de poder consistente, mesmo
que indiretamente,
de um Estado
sobre a política externa, a política interna, a economia interna etc, de um outro Estado “independente” tão
forte que seja capaz de coagir este último a fazer algo
bloqueio anglo-germânico-italiano
em 1861, e no
da Venezuela, em
1902-1903 —, a Grã-Bretanha (com outros poderes) recorreu à “diplomacia canhoneira” para o fomento do
comércio ou para o recebimento de débitos. De um modo geral, entretanto, considerando-se a dimensão da superioridade econômica britânica — e a esmagadora supremacia naval da Inglaterra —, os governos britânicos muito frequentemente exerciam um
tas
ie a
O
IMPERIALISMO
BRITÂNICO
E A GUERRA
DO
PARAGUAI
DO
a
ao
a
May
139
certo grau de autocontrole e, especialmente no período após 1870, evitavam ao máximo envolver-se em algum
expressão institucional predominante dos negócios bri-
tipo de interferência direta nos assuntos internos dos
tânicos na América Latina no século XIX, existia princi-
Estados soberanos latino-americanos.
palmente, é claro, para importar e distribuir os artigos
O estabelecimento comercial, que foí chamado de a
ingleses, sobretudo têxteis (algodão, tecidos de la, rou-
pa de cama e mesa etc.), bem como outros bens de
A Grã-Bretanha, o Brasile as repúblicas do Prata no periodo anterior a 1870
consumo manufaturados (tais como utensílios de ferro,
artigos de cutelaria, porcelana, vidro, pianos, mobília,
Voltemos agora nossa atenção para as relações políticas e econômicas entre a Grã-Bretanha, o Brasil e as repúblicas do Prata, inclusive o Paraguai, no período ante-
rior a 1870 e sobretudo no período que levou à Guerra do Paraguai.
Durante a metade de século que vai da independência à Guerra do Paraguai, o interesse britânico na
América Latina era quase exclusivamente
comercial.
Bem no início, por volta da década de 1820, havia consideráveis comunidades britânicas em todas as principais cidades litorâneas da América Latina, inclusive no Rio de
Janeiro, em Montevidéu e em Buenos Aires. À frente dessas comunidades britânicas, juntamente com os rep-
resentantes diplomáticos de Sua Majestade, estavam os representantes — alguns de passagem, outros tornando-
chapéus, meias etc.) e alguns bens de capital e matérias-primas, especialmente carvão.
Na década de 1840, por exemplo, o Brasil recebia metade das suas importações
da Grã-Bretanha. Estas
importações totalizavam entre 2 e 3 milhões de libras por ano, o que fazia do Brasil o terceiro maior mercado da Grã-Bretanha, logo depois dos Estados Unidos e da Alemanha. Por volta do início da década de 1870, um total de
25 milhões de libras em mercadorias britânicas (10% do total das exportações britânicas) era importado anualmente pela América Latina. A proporção do que vinha para cá era maior do que a que ia para qualquer outro
continente ou qualquer outro país membro do Império,
à exceção da Índia. Um terço dessas exportações ia
se residentes permanentes — de mais de 200 estabeleci-
para o Brasil; cerca de um quarto ou um quinto para a
mentos comerciais de Londres e Liverpool. Mais da me-
Argentina.
tade
desses
estabelecimentos
situava-se
no
Rio
Janeiro e um terço em Buenos Aires e Montevidéu.
de
Ao mesmo tempo, os estabelecimentos comerciais
britânicos faziam a exportação de muitos produtos pri-
A
140 E
SS
mários
GUERRA
DO
PARAGUAI]
Se
locais,
incluindo o café brasileiro (embora
o
principal mercado fosse os Estados Unidos) e o couro e
também
prestavam
serviços financeiros aos
valiosos
britânicos e clientes locais.
grande
Somente em fins da década de 1850 e na década de
parte das exportações da América Latina caiu em estag-
1860 é que houve uma retomada dos empréstimos es-
nação durante o segundo quartel do século passado
trangeiros. Uma ligação financeira significativa foi mais
e, com menos intensidade, durante o terceiro quartel,
uma vez restabelecida entre as repúblicas da América
o que produziu um desequilíbrio de mercado no co-
Espanhola e a cidade de Londres. Baring, por exemplo,
mércio.
emitiu empréstimos de 1,5 milhão de líbras para o Chi-
a lã argentinos.
De um modo
geral, contudo,
Nem os britânicos, nem outros estrangeiros investiram
na
le, em 1858; 1 milhão de libras para a Venezuela, em
no
1862; e 1,25 milhão de libras, em 1866, e 1,95 milhão de
Brasil) em grande escala durante várias décadas após os
libras, em 1868, para a Argentina — para ajudar a finan-
fracassos financeiro e econômico da década de 1820.
ciar a Guerra contra o Paraguai.
Vários
América
Latina
empréstimos
(exceto,
feitos aos
até
novos
certo
ponto,
Estados
latino-
americanos, inclusive Brasil e Argentina, muitos deles
excedendo 1 milhão de libras, tinham invadido o mercado de capitais de Londres durante os anos de 18221825. Por volta de 1828, todos os Estados, à exceção do
Brasil, tinham atrasado pelo menos o pagamento dos juros desses empréstimos, fazendo surgir uma legião de comitês de acionistas britânicos ansiosos e seriamente zangados.
Durante o período que se seguiu à independência,
os empréstimos continuaram a ser feitos somente ao
Brasil, mas os grandes estabelecimentos comerciais britânicos investiam modestamente
no comércio interno,
terras, processamento de alimentos, até na mine ração, e
O Brasil e o Peru
eram,
entretanto, os principais
captadores de empréstimos, responsáveis por cerca de pelo menos 50% do total dos investimentos britânicos em títulos e ações na América Latina, antes do boom dos investimentos nas décadas de 1870 e 1880.
Os Rothschilds, agentes exclusivos junto ao governo brasileiro, emitiram cinco empréstimos que iam de meio milhão a 2 milhões de libras para o Brasil, na década de 1850, dois empréstimos que totalizavam 3,8
milhões de libras, em 1863, e um de 7 milhões de libras, em 1865 — este último muito provavelmente para nanciar a Guerra contra o Paraguai.
O ri
E
mmSrSa. as
IMPERIALISMO
BRITÂNICO
E A GUERRA
DO
PARAGUAI
141
públicas (por exemplo, companhias de gás em todas as
meados da década de 1840 (contra Rosas e em nome do livre comércio), que foi mal planejado, dispendíoso e,
principais cidades do Brasil), em terras, na Argentina e
em última análise, infrutífero;16 e as atividades da Mari-
no Uruguai. E os primeiros bancos comerciais britâni-
nha Real dentro das águas territoriais brasileiras, em
cos — incluindo o London and Brazilian Bank (1862),
1850 (contra os navios negreiros e aqueles que os pro-
o London and River Plate Bank (1863) e o London
tegiam),
Bank of Mexico and South America (1863-1864) —
êxito, da longa campanha britânica pela abolição da
surgiram em cena, e seus negócios se expandiram rapi-
escravatura no Brasil,17
no Brasil, na Argentina e em outros locais, em utilidades
damente.
que
acabaram
levando
ao
fim,
coroado
de
Não há evidências, contudo, de que o grau de con-
Por volta de 1865, 80 milhões de libras e, em 1875,
trole exercido pela Inglaterra sobre a Argentina e/ou o
175 milhões de libras foram investidos na América Lati-
Brasil no início da década de 1860 fosse capaz de mani-
na (na sua maioria, no Brasil e na Argentina), o equiva-
pular esses dois países, levando-os a uma guerra contra
lente a 10% do total dos investimentos britânicos no
o Paraguai. Assim como não há qualquer evidência de
exterior, sendo em grande parte constituídos por títulos
que a Inglaterra quisesse exercer esse tipo de poder
do governo e, em menor escala, por investimentos em
visando alcançar esse objetivo específico.18
estradas de ferro e serviços públicos. Nos
O Paraguai — durante os 40 anos que medeiam o
50 anos que se seguiram às independências
fracasso dos jovens comerciantes escoceses John e Wil-
com relação à Espanha e a Portugal, à medida que os
liam Parish Robertson na tentativa de se estabelecerem
laços comerciais
no recém-independente país e sua expulsão em 1815 —
e financeiros
com a Grã-Bretanha
se
consolidaram, a Argentina e o Brasil tiveram que supor-
era visto pelos governos
tar a sua cota de despotismo e arrogância por parte de
cidadãos britânicos como um país retrógrado, isolado e
diplomatas ingleses “palmerstonianos”, querendo-lhes
longínquo, do qual se sabia muito pouco e pelo qual se
ensinar a administrar as suas próprias questões nacio-
tinha apenas um interesse secundário.!?
nais. Foram exemplos
também
vítimas dos
da “diplomacia
dois mais gritantes
canhoneira”
e pela grande maioria dos
Havia aqueles, inclusive dentro da própria comuni-
pela
dade de comerciantes britânicos em Buenos Aires, que
Grã-Bretanha na América Latina nesse período: o bloqueio naval do Rio da Prata pela Marinha Real, em
acreditavam que o Paraguai era uma “China America-
exercida
na”, um enorme potencial como mercado para os pro-
142
A
TT
SS
É
O SO
e
TT
DA
TE
eee
qe
GUERRA
DO
PARAGUAI
meme
dutos manufaturados ingleses e como fonte de maté-
plicaram-se duas vezes e meia na segunda metade da
rias-primas. Mas o fato é que ele era constituído por
década, muito embora nenhum dos principais produtos
uma minoria muito pequena, com pouquíssima influên-
de exportação do Paraguai (erva-mate e tabaco) tenha
cia sobre a política britânica, e seu ponto de vista era
sido enviado para a Grã-Bretanha em quantidades que
muito pouco digno de crédito.
se pudessem considerar significativas. As importações
À Grã-Bretanha interessava estabelecer relações comerciais não só com Buenos Aires e com a sua provín-
duplicaram nesse mesmo período. Foi aí que os britânicos tiveram um papel ímportan-
estabelecimentos
comerciais
cia, mas também com todas as províncias do interior da
te. Os
Argentina (e, portanto, tinha um particular interesse na
(dentre os estrangeiros, os britânicos eram de longe os
unidade
de uma
mais importantes de todos os estabelecimentos comer-
Confederação Argentina). Tinha também grande inte-
ciais) e três casas comerciais britânicas estabelecidas em
resse na manutenção da livre navegação nos principais
Assunção começaram a importar produtos têxteis britã-
rios da região. Mas era totalmente ignorado o que por
nicos (sobretudo tecidos de algodão) e artigos de ferro,
vezes se chamava de “interior continental” (ou seja, o
de couro, utensílios, porcelana
Paraguai, sobre
çou a ter uma
política da Argentina
e no sucesso
o qual a Argentina ainda reclamava
soberania), assim como qualquer possibilidade de comércio com o Alto Paraguai. O comércio entre o Para-
guai e a Grã-Bretanha permaneceu insignificante durante todo o período.
Foi somente
em meados
da década de 1850 —
depois que a Confederação da Argentina finalmente reconheceu o Paraguai (40 anos após sua separação da
Espanha) e concedeu-lhe o direito de livre navegação pelo Rio Paraná, portanto, depois da assinatura de um
tratado anglo-paraguaio de comércio e navegação (março de 1853) — que o comércio exterior do Paraguai começou a se desenvolver. As exportações mul ti-
economia
mais
de Buenos
Aires
etc. O Paraguai come-
aberta e passou
a se
envolver mais com um “crescimiento hacia afuera” na década de 1850 do que se costuma supor.
O governo de Carlos Antonio López controlava metade do território paraguaio e exercia um monopólio sobre o cultivo e as exportações de erva-mate e, em
menor escala, sobre o couro e a madeira. Ele não precidava recorrer ao mercado financeiro de Londres para
obter fundos (pelo que-ele seria mais tarde muito elo-
giado pelos historiadores “dependencistas” das décadas de 1960 e 1970). Contudo, tanto para o seu programa de “modernização interna” (com ênfase na indústria e na
infra-estrutura) quanto para o seu programa de defesa
O
IMPERIALISMO
BRITÂNICO
mais efetiva contra o que ele encarava como vizinhos predadores,
o governo
paraguaio
voltou-se
para
os
seus agentes em Londres, J. e A. Blyth, de Limehouse,
em busca de fornecimento de utensílios industriais e militares (ferro-gusa, materiais de estradas de ferro, armas, munição,
e até mesmo
guerra movidos
a vapor).
um
ou
Também
dois navios
contratou
de
técni-
cos estrangeiros escolhidos a dedo, sobretudo da Inglaterra. Em seu interessante livro The British in Paraguay,
1850-1870,2º Josefina Pla calculou que viviam no Paraguai, no período que antecedeu a Guerra, 200 súditos britânicos, excluindo-se mulheres e crianças, a maioria dos quais com contrato assinado com o governo, consltuindo um contingente
de engenheiros empregados
no estaleiro, no arsenal, em Assunção, na fundição de ferro, em Ibicui, construindo ferrovias e o telégrafo, ou nas unidades médicas do exército. O engenheiro-chefe
do Paraguai, a partir de 1855, era o escocês William Whytehead.
Os principais obstáculos a uma maior abertura da
economia paraguaia eram, muito provavelmente, nem tanto as políticas econômicas
do governo
paraguaio
(embora houvesse constantes queixas vindas de comerciantes estrangeiros sobre sua interferência arbitrária nas questões econômicas), mas muito mais a falta de intercâmbio com um mercado internacional (uma tenta-
E A
GUERRA
DO
PARAGUAI
143
tiva de cultivar algodão fracassou), 21! as comunicações deficientes (a viagem de barco a et de Buenos Aíres a Assunção levava até três meses) e a falta de interesse britânico. Um maior desenvolvimento das relações eco-
nômicas com o Paraguai simplesmente não constituía uma prioridade para o governo britânico, para os industriais e comerciantes
ingleses, nem
para a City (Lon-
dres). O único esforço tentado para se assegurar um tratado comercial mais liberal do que o de 1853 e o direito à navegação no Alto Paraguai, que ainda era negado aos navios britânicos — o que foi feito por William Christie, o ministro britânico em Buenos Aíres, em 1858 —, não recebeu autorização oficial e fracassou..
Não parece haver qualquer evidência de um inteTesse crescente no Paraguai, nem como mercado nem como fonte de matéria-prima. Com relação ao algodão (o “ouro branco”), pelo qual tanta coisa foi feita, o historiador paraguaio Diego Abente demonstrou como
a Grã-Bretanha já tinha localizado fontes alternativas para os Estados Unidos — as Índias Ocidentais, o Egito
e o Brasil — antes da Guerra do Paraguai.22 Certamente não há qualquer evidência de que o “modelo” econô-
mico paraguaio (modificado por Carlos Antonio López na década de 1850) era incompatível com os interesses
britânicos. Tampouco havia qualquer projeto para “forçar o Paraguai? a estabelecer elos econômicos
144
A
mais
estreitos
com
a Grã-Bretanha
e com
GUERRA
a economia
PARAGUAI
(Mesmo
so
que se achasse muito
importante
tomar uma
tal atitude — o que absolutamente não era —. teria
mundial.
Charles
DO
Henderson,
que assumiu
a sua missão
como primeiro cônsul britânico no Paraguai em 1854, agia, como todos os seus demais colegas em toda a
sido muito
difícil, do
ponto
de vista do Almirantado,
coagir o Paraguai com um número tão limitado de na-
vios em disponibilidade na base naval do sudoeste do
América Latina, sob as instruções de não se envolver e muito menos interferir nas questões internas do país
Atlântico.)
para o qual fosse designado. Ele tinha instruções espe-
relações diplomáticas, embora o ministro britânico em
cíficas para desencorajar o Paraguai na busca do apoio da Inglaterra em suas questões com o Brasil e com a
Buenos Aires, Edward Thornton, a quem coube a responsabilidade pelos assuntos do Paraguai, tenha ficado
Argentina. Ele devia restringir-se à proteção das vidas e das propriedades dos cidadãos britânicos.
de licença durante 16 meses, durante 1862-1863,
O caso mais sério com o qual Henderson teve que lidar foi o originado pela detenção e prisão, em 1859, “de Santiago Canstatt, um
O caso não chegou nem mesmo ao rompimento das
tenha apresentado
e só
suas credenciais em Assunção em
agosto de 1864. Como
de praxe, o governo britânico
parecia ansioso por ignorar o Paraguai.
súdito britânico nascido no
Uruguai, caso que só foi resolvido em 1862, quando Canstatt finalmente foi libertado pelas autoridades paraguaias.
Durante esse período, Henderson teve, na verdade, que se retirar de Assunção, mas — a não ser por uma
tentativa fracassada de tomar o navio de guerra paraguaio (construído pelos ingleses), o Tucuari, quando
este saía do porto de Buenos Aires, tendo havido alg uma troca de tiros — nenhum tipo de força foi empre-
gado pela Grã-Bretanha. Ou seja, sempre que havia
alguma desculpa ou oportunidade, a Ing laterra não re-
corria à “diplomacia de canhoneira” co ntra o Paraguai.
Grã-Bretanha e Guerra do Paraguai Examinemos
finalmente o interesse, o papel e o envolvimento da Grã-Bretanha na Guerra propriam ente dita.
A Grã-Bretanha tinha, ao que parece, muito pouca influência no desenrolar dos eventos que levara m à Guerra entre Brasil, Uruguai e Argentina, de um lado, e
O Paraguai, de outro. Thornton era acentuada e aberta-
mente antiparaguaio, fato que levou a um a série de mal-entendidos. Antes da invasão bras ileira do Uruguai,
em outubro de 1864, em resposta ao ulti matum de
O
IMPERIALISMO Eb
Sed te
BRITÂNI CO ÃO
a
|
e
López, Thornton acompanhou os representantes argentinos em reuniões em Montevidéu
E
A
eme
e disse ao ministro
GUERRA caem
DO
PARAGUAI
cam mm a
o
SS
amp
145
ii
resses britânicos eram maiores na Argentina e no Brasil do que no Paraguai.
das Relações Exteriores paraguaio que todas as nações
Os bancos e estabelecimentos comerciais no Río de
tinham o direito de exigir reparação por danos causa-
Janeiro e em Buenos Aires naturalmente favoreciam e
súditos
dos a seus
ou
cidadãos,
embora
muito
isso
—
com
seus
e o uso dos seus
empréstimos
navios
pudesse resultar em guerra ou ocupação temporária de
mercantes para transportar armas, dinheiro, correspon-
territórios. Mas isso era diplomacia privada.
dências etc. — apoiavam os Aliados.
O governo britânico não pretendia de modo algum
Os fabricantes ingleses vendiam navios couraçados,
acirrar as disputas existentes no Rio da Prata, disputas
barras de ferro, tubulações e chapas para a construção
que, se levassem à guerra, só poderiam ameaçar vidas,
de navios de guerra, embarcações a vapor, peças de
propriedades
E, apesar dos
artilharia e munição para os beligerantes, ou seja, na
seus preconceitos e preferências individuais, o próprio
prática, para o Brasil e para a Argentina, visto que o
Thornton usou a sua influência de maneira consistente
Paraguai logo ficou sob bloqueio brasileiro.2é
e o comércio
britânicos.
em prol da paz. O exame feito por Tate da correspon-
Mas esta era uma questão de negócios, uma oportu-
dência britânica dessa época não revela evidência de
nidade para os interesses privados na Gra-Bretanha,
nenhum
de estimular ou promover qualquer
bem como na França e na Bélgica. Tudo era uma ques-
guerra ou qualquer outra ação que levasse a ela. Tam-
tão de tirar o melhor partido de uma guerra. Não há
foi vista com
evidências de que a Grã-Bretanha tenha se empenhado
pouco
desejo essa
guerra,
quando
começou,
bons olhos pela Grã-Bretanha.
e entusiasticamente
na
derrota
do
Paraguai.
A
Particularmente, não só Thornton como também a
Inglaterra permaneceu oficialmente neutra na Guerra,
os Alia-
(Na realidade, um único ato de partidarismo — a divul-
López.
gação pelo governo britânico, em 1866, do texto do
(racista?) pelos paraguaios e, de
artigo secreto do tratado de 1º de maio de 1865 para o
maioria dos.
ativa
Eles
das
autoridades
viam
Tinham um
de modo
desdém
britânicas crítico
apoiavam o regime
de
um modo geral, culpavam o Paraguai pela Guerra. Para eles, bem como para os brasileiros e argentinos, a Guer-
desmembramento
do Paraguai — pode ser encarado
como hostil aos Aliados.)
ra representava, em última análise, progresso e civiliza-
A Grã-Bretanha limitou-se a assegurar que, na me-
ção contra retrocesso € barbárie. Obviamente os inte-
dida do possível, os Rios Paraná e Uruguai permaneces-
A GUERRA
146
DO
PARAGUAI
sem abertos para os navios mercantes ingleses (no Rio
tipos de ajuda dados aos Aliados antes e durante q
Paraguai o número de navios era muito pequeno para
Guerra”. Ele refere-se aos Rothschilds e aos Barings
que suscitasse grandes preocupações), ao mesmo tem-
como os “melhores generais dos exércitos aliados”.
que fossem
Ainda cabe pesquisar muito mais sobre os emprés-
eficazes (muitas vezes em prejuízo dos interesses britã-
timos britânicos na época da Guerra. Quanto foi em-
nicos). É verdade que a Grã-Bretanha praticamente não
prestado — e quando?
fez nenhuma
Com que finalidade específica (até onde isso possa
po respeitando
os bloqueios,
tentativa
à medida
de mediação.
Mas
também
é
Com
que grau de empenho? ser
verdade que nem o Paraguai nem os Aliados estavam
determinado)? E o quanto isso influenciou, dentro do
muito interessados nisso.
contexto dos gastos gerais efetuados pelo Brasil e pela
E agora eis a Grã-Bretanha enfrentando a sua pró-
Argentina, na realização da Guerra? Sobretudo o em-
pria questão com o Paraguai, envolvendo a recusa des-
préstimo de 7 milhões de libras levantado pelos Roths-
te em liberar os súditos britânicos retidos contra a sua
childs para o governo brasileiro, em setembro de 1865
vontade (principalmente porque eles eram tão essen-
— e usado, como foi sugerido, para comprar navios de
ciais à manutenção do esforço de guerra do Paraguai).
guerra —, merece um exame mais minucioso.
Em três ocasiões os navios de guerra britânicos passa-
ram pelo bloqueio brasileiro, numa tentativa de resgatar esses cidadãos britânicos aprisionados.25 Mas não houve grande demonstração de força, nem qualquer inter-
venção. Nunca houve nem mesmo a mais tênue sombra
de possibilidade
de a Grã-Bretanha
envolver-se
na
Guerra do Paraguai.
Isto nos traz finalmente à questão dos empréstimos britânicos. Fornos Pefialba cita Napoleão, ao dizer: Para se ganhar uma guerra três coisas são necessárias — dinheiro, mais dinheiro e mais dinheiro ainda” Á
“máquina de guerra” dos exércitos aliados era “lubrificada pelos vultosos empréstimos britânicos e outros
Não houve mais empréstimos para o Brasil ao longo
de toda a Guerra. No caso da Argentina, em 1866, Baring
ofereceu
1,25
milhão
de
libras em
ações do
governo argentino a pessoas físicas e sindicatos. Mas,
como Londres estava atravessando uma grave crise fi-
nanceira,
somente
menos
da metade
dos títulos foi
subscrita. Não havia a menor chance de emitir os empréstimos adicionais de que a Argentina necessitava para os seus esforços de guerra. Somente em junho de 1868 é que 1,95 milhão foram oferecidos e os títulos
finalmente foram vendidos apenas no ano seguinte — por menos de 75% do seu valor nominal.27
Os investidores britânicos, ao que parece, não esta-
O
IMPERIALISMO
BRITÂNICO
para aquele país só ultrapassaram as 50 mil libras em
chal calculou que os empréstimos estrangeiros, princi-
1913.22 Em segundo lugar, se a Grã-Bretanha de fato se
do
envolveu profundamente na Guerra do Paraguai, como
total dos gastos feitos pelo Brasil e 20% do total dos
alguns historiadores querem -nos fazer acreditar, esse
gastos feitos pela Argentina na Guerra do Paraguai.?
era um segredo mantido a sete chaves na metrópole.
britânicos,
representaram
apenas
15%
rador britânico, autor de Explorations of the Highlands
empreendida pela Argentina e pelo Brasil em nome da
of Brazil(2 vols., 1869) e de Letters from the Batilefields
Grã-Bretanha para destruir o “modelo” econômico pa-
of Paraguai (1870), ao regressar à Inglaterra, vindo do
raguaio de desenvolvimento autônomo (ou o que resta-
Paraguai, no final da Guerra, deparou-se em Londres
va dele no início da década de 1860), sem dúvida ela
com “rostos absolutamente inexpressivos ao ouvirem
teve o maior êxito. Se ela foi realizada em prol da
mencionar a palavra Paraguai ... e uma confissão gene-
incorporação da economia paraguaia dentro da econo-
ralizada da mais completa ignorância e definitiva total
mia capitalista mundial, nitidamente foi um fracasso. Na
falta de interesse” no assunto.30
se a Guerra
verdade, ela foi um retrocesso. Dez anos após o fim da
los
Sir Richard Burton, o estudioso, diplomata e explo-
realmente foi
mentários) finais. Primeiro,
de
147
guai. E O historiador econômico argentino Carlos Mari-
"ara terminar, dois comentários (ou blocos de co-
ava
PARAGUAI
cançaram as 100 mil libras, enquanto suas exportações
palmente
em-
DO
por “faturar” a derrota do Para-
vam tão ansiosos assim
foi
E A GUERRA
A Grã-Bretanha
—
e as suas
supostas
ambições
Guerra, a Inglaterra só tinha uns poucos milhões de
imperialistas — não pode mais ser utilizada como bode
libras (1,5 milhão) em investimentos no Paraguai — e à
expiatório para a Guerra do Paraguai. A responsabilida-
maioria em carteira, e não em investimentos diretos.
de primordial dessa guerra cabe à Argentina, ao Brasil
Isso representava menos de 1% dos investimentos britã-
e, em
nicos na América Latina.
próprio Paraguai. A Guerra do Paraguai foi uma guerra
Com relação ao comércio, apenas em 1903 é que as importações que o Paraguai fazia da Grã-Bretanha al-
escala
menor,
ao Uruguai
e, naturalmente,
ao
civil regional, muito embora com uma dimensão internacional muito interessante e digna de nota.
A
148
GUERRA
DO
PARAGUAI
NOTAS . HOBSBAWM,
E).
The Age of Capital,
1848-1875,
Londres, 1975, p. 78.
cas com a América Latina e fontes que fornecem os números do comércio e dos investimentos britâni-
. FRANK, A. Gunder. Capitalism and Underdevelop-
cos na América
Latina dos séculos XIX e XX, ver
ment in Latin America, ed. rev. e ampl., Nova York,
BETHELL, Leslie. “Britain and Latin America in his-
1969, p. 287.
torical perspective”,
. BOX,
P. Horton.
The Origins of the Paraguayan
in BULMER-THOMAS,
Victor
(ed.), Britain and Latin America: A Changing Rela-
tionship, Cambridge, Cambridge University Press/
War, 2 vol., Urbana, Illinois, 1927.
- POMER, León. La guerra del Paraguai: gran nego-
cio!, Buenos Aires, 1968.
Royal
Institute of International Affairs,
1989, pp.
1-24,
- PENALBA, Jose Alfredo Fornos.
The Fourth Ally:
a: “Por uma
mensagem
expressa
que acabamos de
Great Britain and the War of the Triple Alliance
receber de Portsmouth”,
(tese de doutorado), Los Angeles, Universidade da Califórnia, 1979, pp. ix-x.
dres, em 13 de setembro de 1806, “temos que nos
- TATE,
E. N.
l9th century: KRAUER,
Juan
“Britain
and
Latin
America
the case of Paraguay, C. e GIMENEZ
DE
Maria Gimenez
mentos mais importantes da guerra ora em anda-
1811-1870”,
mento... Neste momento, Buenos Aires passa a fa-
ERKEM,
Maria,
de. Gran Bretania y la
Guerra de la Triple Alianza, Assunção, 1983, - MILLER, Rory. Britain and Latin America in the 19th and 20th centuries, Londres, 1993. - CAIN,
vol.
PJ.
e HOPKINS,
I, Innovation
A.G.
British Imperialism,
and Expansion,
vol. II, Crisis and Deconstruction — Londres, 1993,
o público por um dos aconteci-
in the
Ibero Amerikanisches Archiv, 1979.
- HERKEN,
congratular com
relatou o Times de Lon-
1688-1914, 1914-1990,
10. Para maiores comentários sobre as rela ções britâni-
zer parte do Império Britânico.” Em 27 de junho de 1806, as tropas britânicas tomaram Buenos Aires. Menos de sete semanas depois, elas sofreram uma derrota sangrenta e humilhante e foram expulsas.
Em 3 de fevereiro de 1807, os ingleses tomaram
Montevidéu; e em 28 de junho de 1807, teve início uma segunda investida sobre Buenos Aires. Foi um
total desastre. Com a retirada de Montevidéu, em 9 de setembro de 1807, o curtíssimo Império Britâni-
co no sul da América do Sul chegou a um fim
inglório.
O par
12. Havia
SR
de fato somente
IMPERIALISMO
BRITÂNICO
três postos avançados
Império Britânico na América
do
Latina, dos quais to-
dos tinham tido suas origens nos séculos anteriores:
(1) Essequibo, Demerara e Berbice, na “costa selvagem” do norte da América do Sul, entre o Orinoco e
o Amazonas, que tinham sido primeiramente tomados dos holandeses, mente
cedidos
em
1796: mais tarde formal-
à Grã-Bretanha
por tratado,
em
1814-1815, e unificados como colônia de Sua Majestade, chamada
Guiana
Ilhas
(Ilhas
Falkland
Britânica, em Malvinas),
1831; (2) as
a 300
milhas
de
distância do extremo sul da América do Sul (quase na Antártida), que primeiramente tinham sido ocu-
padas pelos ingleses (pelo menos as Falklands Oci-
E A GUERRA
DO
PARAGUAI
149
14. FERNS, H.S. “Britain's informal empire in Argentina, 1806-1914”, Past and Present, 1953. 1. GALLAGHER, J. e ROBINSON,
RE.
“The imperia-
lism of free trade”, Economic History Review, 1953. 16. A obra clássica é: CADY, John F. Foreign Interven-
tion in the Rio de la Plata, 1838-1850, Filadélfia, 1929. Ver também FERNS, H.S. Britaín and Argenti-
na in the Nineteenth Century, Oxford, 1960, cap. 9. 17. Ver BETHELL, Leslie. The Abolition of the Brazilian Slave Trade. Britain,
Question, 1807 —
Brazil and the Slave Trade
1869, Cambridge, 1970.
18. Na verdade, mais de um ano antes da deflagração
da Guerra do Paraguai, o Brasil havia cortado todas
as relações diplomáticas com a Inglaterra, como
dentais), em 1765-1774, ocupadas, em 1833, depois
consequência da chamada Questão Christie (cujo
da expulsão dos argentinos, e declaradas colônia de
nome
Sua Majestade, em 1841; e o povoado de Belisa, na
britânico no Rio de Janeiro a partir de 1860), que
costa caribenha da América Central, onde os lenha-
culminou com um bloqueio naval britânico de seis
dores britânicos tinham se estabelecido,
dias (dezembro de 1862-janeiro de 1863).
em
mea-
dos do século XVII, e que se havia expandido para
se deriva de William
19. De longe o melhor,
D. Christie, o ministro
talvez o único estudo sobre
o dobro da área da antiga concessão espanhola
as relações britânicas com o Paraguai, no perio-
durante a primeira metade do século XIX, e veio a
do que vai até 1870 —
tornar-se colônia da Coroa, chamada de Honduras
pequeno artigo —,
Britânicas em 1862.
op. cit. p. 4.
13. FAY, CR.
Imperial Economy
and its place in the
joundations of Economic Doctrines,
Oxford, 1934.
1600-1932,
embora
seja apenas um
é o trabalho de Tate. TATE,
20. PLA, Josefina. The British in Paraguay, 1850-1870,
Oxford, 1976. 21. TATE, op. cit., pp. 53-54.
E O
o
Er
A
GUERRA
- Ver ABENTE, Diego. “The War of the Triple Alliance: Three explanatory models”, Latin American Research Review, 22/2, 1987, p. 57, quadros 3 e 4. - TATE, op. cit., pp. 54-56. - Sobre os contratos do governo brasileiro com firmas inglesas para o suprimento de armas, ver FOR-
NOS PENALBA,
op. cit, apêndice XV. Este é um
tópico que merece muitas pesquisas mais.
- TATE, op. cit., pp. 62-62.
DO
PARAGUAI
26. FORNOS PENALBA, op. cit., p. viii. 27. ZEIGLER,
Philip.
The Sixth Great Power.
1762-1929, Londres,
Barings
1988, p. 234.
28. MARICHAL, Carlos. 4 Century of Debt Crises in Latin America: From Independence to the Great Depression, 1820 —
1929, Princeton, 1989, pp. 92-3.
29. ABENTE, op. cit., p. 57. 30. BURTON, Sir Richard. Letters from the Batilefields
of Paraguay. Londres, 1870, p. vii.
GUERRAS IMPERIAIS NA AMÉRICA LATINA A Guerra do Paraguai em perspectiva histórica S 2
la.
eat De.
923, lefields
Enrique AÂmayo
GUERRAS
IMPERIAIS
Guerra do Paraguai, ou Guerra da Tríplice Aliança,
não
pode
NA
AMÉRICA
LATINA
153
A Pax Britannica
ser entendida fora
do contexto mundial de sua época. É evi-
O clássico livro de Imlah informa que Pax Britannica é
dente que não é possível reconstruir todos os ele-
a denominação
mentos
quando Napoleão foi derrotado em Waterloo, e 1914,
do passado.
feitos com
Temos
os fatos
que
essenciais
nos
dar por satis-
e universais
que,
do século
transcorrido
início da Primeira Guerra Mundial.
entre
1815,
Nesse período, a
como grandes linhas mestras, dão sentido e explici-
Grã-Bretanha,
tam os fenômenos
habilidade as regras do jogo para manter a ordem mun-
que o historiador, na qualidade
de cientista social, estuda em
um
determinado
mo-
a maior potência mundial, impôs com
dial. Foi assim que,
naquele século,
importante
por
mento.
muitos fatos, destacou-se um percurso “relativamente”
Para os propósitos do presente trabalho, o contexto será determinado pelo significado histórico da Pax
pacífico, seguido de um “crescimento” econômico.
Britannica, do Free Trade (livre comércio) e do imp erialismo.
este foi o período mais longo da história sem guerras
Na Europa, desde o aparecimento do Estado-nação,
generalizadas. É verdade que, naquele momento da
ig
154
A Tr
GUERRA
DO
PARAGUAI
A
ai
ii
O 1 1
aiii pi
e
T
—emea mem dos md E
essa época.
Desde então, esse
história européia, aconteceram diversos conflitos locais,
fico que caracterizou
alguns até com a participação de grandes potências.
poder desempenhou
Mas foram períodos curtos de tempo e fatos “pequenos”
do equilíbrio nas relações interestatais. Segundo Imlah,
em
parecido
o que realmente distinguiu a Pax Britannica foi o po-
com uma guerra geral foi a da Criméia, que não atingiu
der de influência sobre as políticas de outros governos,
a escala das guerras que abriram e fecharam a era. E também não foi semelhante às que caracterizaram os quatro séculos precedentes.
graças à sua admirada política liberal.
abrangência.
O crescimento
O que
aconteceu
econômico
de mais
europeu
A Pax Britannica,
destacado papel na manutenção
que
terminou
definitivamente
com a I Guerra Mundial, fora declinando gradualmente
foi extrema-
ao longo de várias décadas. Exemplo desse declínio foi
mente rápido, impelido pelas novas forças incorpora-
o programa militar de Bismarck, executado na Prússia,
das à produção através da máquina a vapor. Com isso, cresceram também as aspirações políticas dos novos setores sociais incorporados ao processo produtivo, entre eles o proletariado. Esses fatos não foram conse-
quência de uma circunstância única, ou do trabalho de apenas uma nação.
Neste sentido, Imlah informa que, se as contribuições da Grã-Bretanha para essa era de paz e de progresso foram importantes a ponto de conferir o nome de
Pax Britannica ao período, isso não aconteceu porque aquele país tivesse tido a capacidade de impor a paz, segundo a forma romana, pela força policial mas por-
que a Grã-Bretanha foi capaz de gradátivamente trilhar o caminho que conduziu a políticas mais inteligentes,
mais adaptadas aos complexos interesses ingleses. Todo o poder militar da Grã-Bretan ha foi usado para derrotar Napoleão e tornar po ssível o acerto pací-
em 1862. O exército prussiano pronto entrou em ação. As três curtas e exitosas guerras que travou não questio-
naram apenas
o equilíbrio de poder e permitiram o
aparecimento do Império Alemão, mas também deram nova vida à idéia de que a guerra poderia ser instrumento útil e de valor para a política nacional. Por isso, segundo Imlah, desenvolveu-se, na Europa, a idéia de que não existiam plebiscitos para limitar ou validar as
anexações feitas pela força. O vitorioso era o soberano
absoluto. Nos críticos anos 1860-1870, a Grã-Bretanha
foi bem-sucedida na orientação do curso dos ac ontecimentos.
Com o passar do tempo, a Pax Britannica pass ou a ser questionada. Isto porque o treinamento milita r, desde os anos 1860, converteu-se em ordem do dia. No
continente europeu, as potências desenvolve ram grandes exércitos de conscritos que tinham o ap oio de re-
GUERRAS
e
A
.
E
IMPERIAIS SE
NA
AMÉRICA
LATINA
155 E
servistas bem
treinados.
ram limitações governos
Simultaneamente,
ao comércio,
europeus
junto com
para promover
reaparece-
esforços
dos
seus interesses na-
cionais no exterior e também para obter territórios ultramar. Era preciso lutar por esses territórios. A Grã-Bretanha,
na
primeira
gigantescas.
linha,
E, assim,
foi
capaz
de
desenvolveu-se
obter
áreas
novamente
a
competição em busca de construir impérios.
e
O
são, nos países centrais. O que sucedia no resto do mundo, na chamada periferia, quase não contava na definição. A Pax Britannica, definida nesses termos, é fruto evidente de uma visão eurocêntrica do mundo.
Pax Britannica e Grande Depressão Durante a Pax Britannica houve
No meio desse reviver do nacionalismo econômico e do imperialismo, a Grã-Bretanha desenvolveu sua po-
o
uma crise de longa
duração (1873-1896), conhecida como Grande Depres-
são, que determinou profundas mudanças não somente
e continuou
na estrutura produtiva da Grã-Bretanha como em toda a
como o grande centro comercial do mundo [...] mas Londres não era mais o centro de gravitação diplomático [..] passou a ter um tipo de posição bipolar com
Europa. Ela chegou a ponto de mudar a hierarquia de
litica de
“free trade” (livre comércio)
Berlim [...), o prometedor concerto equilibrado entre as potências cedeu passo aos pactos de aliança e à
competição pelo poder. A Europa e o mundo caminhavam para a primeira guerra geral do século XX? Livros
como
o de
Imlah
definem
à Pax
Britannica
| Como o período no qual a Europa, especificamente a
poder nos Estados nacionais europeus e, portanto, no sistema capitalista em conjunto. Disse um importante pesqu isador do Império Britânico:
Durante a “Grande Depressão”, a Grã-Bretanha deixou de ser a “fábrica do mundo”, transformando-se em apenas um dos três maiores poderes industriais, e, em alguns aspectos essenciais, no mais fraco deles
[..J3
Grã-Bretanha, era o centro do mundo. A Pax Britanni-
ca representa a imposição da paz através do diálogo e “da coordenação, de modo a manter o equilíbrio e a resolver os problemas entre os Estados-nação euro-
dor
E NA,
AP
Fi
peus. O fiel da balança era a Grã-Bretanha. Ou seja, a Pax Britannica significava paz na Europa e, por exten-
Ao considerar o sistema capitalista como
um
todo,
pode-se dizer que a Grande Depressão foi um fenômeno que marcou o fim de uma fase e o início de outra. Ela
não pode ser explicada apenas em termos britânicos, pois teve um desenvolvimento desigual. Seus efeitos
156
A GUERRA
mudaram de país para país. dos Unidos, a Alemanha
Para alguns (como os Esta-
e os recentemente chegados
DO
PARAGUAT
ciamento
industrial,
impostos
mecanismos
nos anos
1890.
ao cenário industrial, isto é, os países escandinavos), foi um período de grande avanço, e não de estagnação.
“isso deixou a Grã-Bretanha
com
uma
única saída
importante — tradicional para ela, mas que, na épo-
Considerada em conjunto, a Grande Depressão mar-
ca, foi adotada também pelos outros competidores —. a conquista econômica (e progressivamente também
cou o fim de uma fase de desenvolvimento econômico — à primeira fase ou fase britânica de industrializa-
política) das áreas do mundo ainda sem exploração.
ção —
Em outras palavras, o imperialismo
e o início da industrialização, fora da GrãBretanha, das principais economias “avançadas”: e, simultaneamente,
a abertura das áreas de produção
primária agricola até então não exploradas
A Grande Depressão começou em 1873, principalmente com a falência da construção ferroviária (o setor indus-
trial de ponta da época), e também porque
inúmeros
países, em sua maioria da periferia, deixaram de pagar suas dívidas externas. Os efeitos foram mundiais. A Grã-Bretanha solucionou sua crise ampliando o impulso imperialista. A falência, iniciada em 1873, não
foi temporária. De maneira diferente dos outros países, que mudaram seu sistema de tarifas para proteger a
agricultura e a indústria nacionais (por exemplo, a Fran-
ça, a Alemanha, os Estados Unidos etc.), a Grã-Bretanha
fixou-se com firmeza no livre comércio. Compromet ida
totalmente com a tecnologia e a organização empresa-
rial da primeira fase da industrialização, a Grã-Bretanha não entrou com força nas novas tecnolo gias e no geren-
A crise global do sistema capitalista foi solucionada por meio de diversas formas de imperialismo. Formas como
o imperialismo semiformal dos consórcios nacionais ou internacionais que se apropriavam
do gerenciamento
financeiro dos países mais frágeis (por exemplo, o Egito, à Turquia, a China etc.); ou o imperialismo informal.
dos investimentos externos (por exemplo,
a América
Latina); ou, ainda, o imperialismo formal exemplific ado
pela “Partilha da África”. Isso significa, em outras palavras, a virtual divisão do mundo entre um grupo de potências da Europa Ocidental e os Estado s Unidos, nas
últimas décadas do século XIX. Mas,
O imperialismo não foi novidade para a Grã-Bretanha. O novo foi o fim do virtual monopó lio britânico do mundo subdesenvolvido e a conseg riente necessi-
dade de estabelecer formalmente, cont ra os competidores potenciais, regiões de influênc ia imperials
GUERRAS
IMPERIAIS
Ao terminar a crise (1896), a Grã-Bretanha ainda
NA
AMÉRICA
Foram
LATINA
157
as guerras da França, Sabóia e Itália contra 4
continuava como a primeira potência mundial. Mas já
Áustria (1866) e dos Estados alemães contra a França
era apenas primo inter pares. Imlah também informa
(1870-1871). E não apenas isso. Nos Estados Unidos,
que a Grande Depressão não foi uma fase do colapso
por cinco
do sistema capitalista, mas sim um período de “reaco-
guerra civil que, em termos de vídas humanas e de
modação”, apenas um “interlúdio”.” Assim, a era impe-
destruição, foi
anos
(1861-1865),
travou-se
uma
violenta
rialista solucionou O impasse com o crescente controle
iCionadapor 'ormas como nacionais ou
e a exploração das áreas coloniais, neocoloniais e de-
. de longe a maior guerra da qual participou, du-
pendentes. O processo produziu mudanças: a Grã-Bre-
rante esse período, um país “desenvolvido”, ainda que
tanha passou a disputar o lugar de primeira potência com a Alemanha, a França e os Estados Unidos. Com a
I Guerra Mundial,
o processo acelerou-se,
resultando
em um favorecimento dos Estados Unidos.
renciamento
Depois do interlúdio, foi impossível conter a inevi-
mplo, 0 ER
tável explosão das contradições no interior do fenôme-
no informal
no imperialista, explosão manifestada, desde o início.
*
4
E
q Amént
do século XX, nas guerras e nos movimentos revolucionários.
Pax Britannica e exploração da periferia
relativamente empalidecida quando comparada com a sua quase contemporânea Guerra do Paraguai... e
totalmente superada quando comparada com a Revo-
lução Taiping da China Ou seja, a partir de uma ótica não eurocêntrica, se a Pax
Britannica, para a Europa (e para os países centrais), significou “paz”, para a periferia ela foi habitualmente
sinônimo de guerra. E guerra das mais sujas, abusivas e injustas, pois em quase todos os casos enfrentaram-se oponentes muito desiguais. De um
lado estavam os
chefes, geralmente conservadores, dirigindo seus povos armados principalmente com moral, ou seja, com
Do ponto de vista da periferia, ou seja, de um ponto de
uma vontade de resistir à conquista. Esses povos tinham
vista não eurocêntrico, a Pax Britannica, até mesmo
poucos
em relação aos países centrais (especialmente os euro-
Peus), foi um período de “paz”, assim mesmo, com minúscula e aspas, porque a Pax Britannica viveu quaHO guerras, além da Guerra da Criméia (1854-1856).
recursos
materiais, suas armas
eram pedras,
paus, flechas, lanças, espadas, fuzis de pederneira e, às | vezes, pequenos canhões. De outro lado encontravam se em geral tropas profissionais, muito bem treinadas e
Ino çã lu vo Re a que s ço an av s ore mai os m co s armada
A
158
GUERRA
PARAGUAI
ca-
Deve-se também mencionar que em outras partes
nhões de grande calibre, fuzis de repetição, metralha-
da periferia as potências européias assinaram acordos
doras, canhoneiras etc.
para “recuperar” suas colônias. Sob a proteção da Con-
dustrial conseguira
produzir
em
termos
militares:
É bom lembrar, por exemplo, que o grande sucesso
venção
ou Tripartite (assinada pela Grã-
de Londres,
militar de Kirtchtner na conquista do sudão pode ser
Bretanha, França e Espanha), viabilizou-se o plano para
atribuído ao fato de que os soldados ingleses lutaram
que
com metralhadoras contra gente armada principalmen-
Hispânica. Ali encontra-se, por exemplo, o alicerce da
te de lanças. Apenas isso explica por que, nas cinco
agressão que especialmente França e Grã-Bretanha fi-
horas da batalha de Ombdurman, em 2 de setembro de
zeram contra o México (1861-1867). Alicerce também
1898, 11 mil sudaneses tenham sido mortos, contra 386
da intentona da Espanha para recuperar suas colônias
homens de Kirtchtner.?
da América do Sul, através da agressão principalmente
O significado real da Pax Britannica para a periferia se fará evidente com a análise de algumas notórias agressões. Agressões feitas pelos países centrais,
espe-
essas
potências
tentassem
recolonizar a América
ao Peru (1863-1866). Cabe
igualmente
mencionar
nacionais para a expansão
as violentas guerras
das fronteiras, realizadas
cialmente os europeus (com a Grã-Bretanha geralmente
entre países periféricos ou entre
em
um central. Em todos esses casos, os resultados benefi-
posição de destaque),
contra diversas regiões da
periferia. Por exemplo, as duas “Guerras do Ópio” (agressões da Grã-Bretanha para forçar a abertura do mercado da China, 1839-1842 e 1856-1860); as violentas
um país periférico e
ciariam especialmente os países centrais.
As mais representativas dessas guerras se deram no
continente americano. Por duas vezes, o México foi
repressões ao chamado “Motim Índio” (Grã-Bretanha contra o emergente nacionalismo da Índia, 1857-1858)
agredido pelos Estados Unidos. A primeira foi a “Guerra
ou a “Rebelião Argelina” (da França contra um naciona-
segunda
lismo similar, mas só que na Argélia, 1871); a “Partilha
1848). Dessa maneira, a expansão norte-americana es-
da África” (entre 1880 e final do século, as grandes
potências européias, com a Grã-Bretanha à frente, “lutaram para se apropriar de nove décimos do continente africano”).10
Prá
DO
pelo Texas” (1835-1836), que se transformou na base da agressão,
a “Guerra pela Califórnia” (1845-
tendeu-se por mais da metade do território do México, ou seja, mais de 2 milhões de km?. Em outra área, na América do Sul, deu-se um confli-
to que, pelo nível de destruição que produziu, está
GUERRAS
IMPERIAIS
NA
AMÉRICA
LATINA
159
rtes
entre os mais brutais da história do século XIX. Foi a
"dos
Guerra do Paraguai (1864-1870). E também a América
“0N-
do Sul testemunhou outra violenta luta, a Guerra do
O
Stã-
Pacífico (1879-1883), em que o Chile enfrentou o Peru
dente quando consideramos as seguintes questões:
dara
e também
no
Tica
7
a Bolívia (Peru e Bolívia perderam,
Pax Britannica e Free Trade
respecti-
acabamos
que
período
da
Pax
mais
de afirmar fica ainda Britannica,
a
doutrina
do
evi-
Free
vamente, 180 mil e 100 mil km? de uma das mais ricas
Trade foi aceita pela classe dirigente britânica e trans-
» da
áreas da América do Sul). Dessas duas últimas guer-
formada
À fi-
ras, a Grã-Bretanha conseguiu obter os maiores benefí-
economia
ém
Cios.
mundo. No ambiente criado pela Pax Britannica cres-
nte
de um
continente
verter
novos
(novamente
e sua sociedade e para projetar-se para o
a violência para con-
mundial justificou a tendência a eliminar as barreiras
colônias),
que o limitavam, fossem elas tarifas ou tribos, nações
suas
ou medidas isolacionistas e/ou monopólios de Estados
em
“recuperar
para
potências
entre
essencial para organizar sua
ceu o Free Trade. A expansão do Free Trade no plano
livres,
mas
atrasados,
elemento
a “partilha”
de mercados,
A “abertura” violenta
ias
no
Tras
os acordos
das
colônias, a repressão (através de “banhos de san-
oe
gue”) dos movimentos
efi-
as guerras na periferia, tudo isso foi funcional à expan-
foi usada à vontade, sempre que necessário. Mas real-
da Grã-Bre-
mente importante para a Grã-Bretanha foi finalmen-
nacionalistas emergentes
são dos países centrais, especialmente
Nesse processo,
e
foi
Com uma visão não eurocêntrica, poder-se-ia defi-
Ira
nira Pax Britannica como o período que, para à peri-
do
do
(assim
país
em
questão
acabaram,
por
em
termos
exemplo,
Ópio”). Durante a Pax Britannica,
“Guerra injusta e opres-
feria, significou normalmente
.
a força militar da Grã-Bretanha
te obter um tratado diplomático para abrir o merca-
tanha.
“no
da
frágeis etc.
de
igualdade
as “Guerras o Free
do
Trade foi
ÁS -
são”. E que, para os países centrais, foi sinônimo de
imposto ao mundo. Nesse processo, impôs-se a neces-
es-
“Daz”. Em outras palavras, OS acontecimentos aqui men-
sidade de mercados como os da América Latina: gran-
0,
cionados constituíram parte de uma totalidade maior e
des e quase sem competidores. A abertura desses mer-
única: a emergência e à expansão do fenômeno impe-
rialista em nível mundial. Apenas nesse contexto é que tais acontecimentos tornam-S€ compreensíveis.
li
d
tá
Le
Pd
To
a
agdi =
E
s
n
á
1
fofisd a
SA
RE]
API:
|
cados, em um determinado período, foi essencial para a
realização da produção industrial, principalmente da Grã-Bretanha. !!
A GUERRA
160
guerras, simultaneamente afirmam que seus governos nunca se beneficiariam e jamais abandonariam a neu-
Na América Latina, a Pax Britannica manifestou-se,
tralidade. Ou seja, não reconhecem ter tomado partído
como no resto da periferia, pela agressão que iria bene-
a favor de um dos contendores.
ficiar, em primeiro lugar, a Grã-Bretanha e, mais tarde,
Mas a agressão torna-se uma realidade que pode ser
Os outros países centrais. As formas de agressão na
detectada através dos efeitos produzidos nas socieda-
América
des que a sofreram. E os efeitos, inter-relacionados, são
Latina corresponderam
normalmente
a dois
dois. O primeiro é o maior empobrecimento e a fraque-
As agressões formais são facilmente reconhecidas,
za dos contendores. Até mesmo os vitoriosos, no me-
pois as potências agressoras; em determinado momen-
hor dos casos, depois de um enriquecimento de curto
to, assinaram um tratado diretamente vinculado à agres-
prazo, têm também que enfrentar a pobreza a médio
são. Este é o caso, por exemplo,
prazo. Para os perdedores, o futuro é negro, pois têm
das já mencionadas
intervenções armadas contra o Peru e o México, resul-
tantes da Convenção de Londres. São também agressões formais as que os Estados Unidos praticaram con-
tra o México e contra a Espanha, pela posse de Cuba, Porto Rico e Filipinas (1898). Mas
também
existem
que se defrontar com a ruína.
O segundo efeito é que mais enriquece e aumenta a hegemonia dos países centrais. Este grau de hegemonia
sobre os contendores dependerá do nível de participação na agressão. Para os contendores, a maior ou me-
as agressões
Os
nor dependência relaciona-se à vitória ou à derrota no
casos mais representativos foram a Guerra do Paraguai
conflito e ao grau de problemas gerados, em suas economias ou em suas:sociedades, pela guerra.
informais.
ea Guerra do Pacífico. Nesses casos, não existe, por
parte das potências centrais, qualquer tipo de tratado que se ligue diretamente à agressão. As potências, em especial a -Grã-Bretanha, afirmam que não praticaram nenhuma agressão e oficialmente reconhecem sua neutralidade.
Negam
sua participação
e, quando
conse-
guem reconhecer que alguns de seus súditos ou algumas de suas empresas obtiveram benefícios nessas a
PARAGUAI
Pax Britannica e América Latina
tipos: formais e informais.
a
DO
A |9
Como não existem tratados assinados com os países
centrais, diretamente ligados a este tipo de agressão, somente através de estudos aprofundados é possível
provar que a economia dos países hegemônicos benefi-
ciou-se, em larga medida, com os conflitos. E não ape-
nas isso, pois esses estudos também podem provar que
a declarada neutralidade oficial dos govemos centrais
GUERRAS
IMPERIAIS
NA
AMÉRICA
LATINA
161
não passou de uma maneira sutil mas efetiva de tomar
mudou radicalmente como consequência da Guerra, a
partido. A Grã-Bretanha praticou, no período em exa-
ponto de, finalmente,
me, a agressão informal em larga medida, o que pode - residentes da Grã-Bretanha fizeram seu primei-
ser comprovado pelo fato de ela ter sido o país que
ro grande investimento no Paraguai [imediatamen-
obteve os maiores lucros com os conflitos.
te após a Guerra) nos anos 1871 e 1872, comprando emissões do governo paraguaio por um total de
A Guerra do Paraguai
1.500.000 libras esterlinas... X2
1eJe-
Pode-se dizer que a Guerra da Tríplice Aliança é apenas
to
Enquanto isso, os países aliados, todos de economia
parte de um conjunto de guerras que caracterizam a
io
aberta, estavam já endividados desde antes da Guerra.
emergência e o desenvolvimento da fase imperialista
Com
m
do capitalismo. Ela faz parte das agressões que a perife-
empréstimos. Os bancos ingleses, principalmente o The
ria sofreu por parte das potências centrais, naquele
Baring Brothers e o The Rothschild Bank, fizeram em-
período.
préstimos permanentes aos três aliados. Depois do con-
Meu objetivo é contribuir para demonstrar como a
ela tiveram que aumentar ainda mais o ritmo dos
flito, a dívida dos vencedores foi maior do que nunca.
Grã-Bretanha lucrou muito com a Guerra do Paraguai e
O Uruguai tinha feito um empréstimo que, em 1864,
relação à Guerra não foi neutra. Para isso, basta examinar alguns dados econômicos dos países
chegava a 1 milhão de libras esterlinas. Assim que ter-
sul-americanos que participaram da Guerra e o caráter
timo, de 3.500 mil libras esterlinas.13
que com
da política que a Grã-Bretanha nela desempenhou. Anotemos de início que o Paraguai, antes da Guer-
minou a Guerra, em 1871, negociou o segundo emprés-
A Argentina, até 1854, continuava acumulando seu primeiro empréstimo, feito em 1824, de 1 milhão de
otara Ad . na ti La a ic ér Am na o ic ún so ca ra, tinha sido um sende do a ur oc pr na o ad se ba o ic um modelo econôm
libras esterlinas. Mas a partir de 1865 (o segundo ano do conflito), e até 1876, negociou oito empréstimos por um total de 18.747.888 libras esterlinas. 14
Por isso. tinha passado a praticar O isolamento e fechao, pl em ex r po , ai gu ra Pa O . or ri te ex ao o ad rc do seu me
O Brasil, entre 1824 e 1865, tinha empréstimos da
. ças for as ri óp pr s sua de tir par a mo no tô au to en volvim ?
Mas isso or. eri ext ao s mo ti és pr em do ta ci li so a não tinh
ordem de 6.363.613 libras esterlinas. Depois da Guerra, em 1871, negociou outro empréstimo de 3 milhões de
162
A
GUERRA
DO
PARAGUAI
e Brasil contra o Para-
libras esterlinas; em 1875, firmou outro empréstimo, de
do de aliança entre Argentina
5.301.200 libras esterlinas. Posteriormente, entre 1883 e |
guai.!8 Ele evidentemente não teria atuado assim sem o
1889, endividou-se, em mais quatro empréstimos, num
apoio do Foreign Office britânico.!”
total de 37.202.900 libras esterlinas. Isso quer dizer que,
O nicaragúense Fornos Pefialba documenta bastan-
em 18 anos (de 1871 a 1889), o Brasil obteve emprésti-
te bem a política britânica na Guerra. Ele demonstra
mos de 45.500 mil libras esterlinas, ou seja, quase duas
que não apenas Thornton, mas a política britânica con-
vezes e meia mais que nos 47 anos precedentes.ló
junta trabalhou contra o Paraguai. Este país mediterrã-
Essa foi uma das maneiras como o capital, em espe-
neo considerava vital o livre acesso ao mar através do
cial o britânico, participou da Guerra da Tríplice Alian-
Uruguai. Mas a Grã-Bretanha não admitiu que a possí-
ça. Através desses empréstimos, foi possível manter os
vel absorção da República do Uruguai pela Argentina
exércitos aliados. Simultaneamente, ao Paraguai negou-
ou pelo Brasil afetaria materialmente a vida do Para-
se a possibilidade de ter acesso a qualquer empréstimo,
guai, o que seria uma
embora este país tenha enviado
sistema de rios compartilhados por esses quatro países
agentes especiais para
obtê-lo no Mercado Monetário de Londres.16
A política da Grã-Bretanha não é clara com relação
à Guerra
do Paraguai.
Oficialmente,
sul-americanos.
Fornos
ameaça à livre navegação pelo
Pefialba usa inúmeras fontes
primárias para provar suas afirmações, e conclui:
aquele país foi
neutro.!” Na verdade, adotou uma política neutra entre
“aspas. Sabe-se que o representante britânico em Bue-
nos Aires, Edward Thornton, participou ativamente do
conflito, a ponto de ter sido assessor do governo da “Argentina. Tamanha foi sua importância que ele partici-
pava das reuniões do Gabinete da República Argentina, onde se decidia o curso da Guerra. Ele ali tinha assento,
como símbolo de confiança, junto ao presidente Mitre.
Em outras palavras, era o “ouvido do presidente”, ficava totalmente ao alcance de Mitre. Ademais, Thornton par-
ticipou ativamente do processo de organização do aco r-
4 Grã-Bretanha facilitou em
muito o entendimento
e a aliança entre Buenos Aires e Rio de Janeiro. E essa
aliança foi a chave para apoiar Venâncio Flores (presidente do Uruguai, 1865-1868), até que Montevidéu fosse controlada por ele, e para a subsequente destrui-
ção do Paraguai. A Grã-Bretanha, em todas as etapas da mediação entre Brasil, Flores e Buenos Aires, atuou nas sombras, dando assistência e apoiando os
dois rivais tradicionais
transformados
em
alia-
dos. A Grã-Bretanha apoiou o Brasil e Buenos Aires, primeiro contra o Uruguai e depois, contra o
Paraguai20
ATAno
Zito
GUERRAS
Os resultados da Guerra
são conhecidos.
IMPERIAIS
NA
AMÉRICA
LATINA
163
O Para-
bém caracteriza a Pax Britannica na periferia latino-
guai foi totalmente destruído, mas, finalmente, abriu-se
americana, trabalhava através de alianças informais. Ou
ao Free Trade. E os
seja, é a aliança de interesses, o que caracteriza a agres-
primeiros beneficiários foram os
interesses britânicos, que finalmente conseguiram en-
são informal,
trar no Paraguai, aumentando também o controle eco-
estuda a política britânica na Guerra do Pacífico, o que
nômico sobre os vitoriosos. Em segundo lugar estão os governos argentino e brasileiro. Estes, além de obter
Isto é ainda mais evidente quando se
fiz em A política britânica na Guerra do Pacífico — 1876-1891.23
grande parte do território paraguaio, deixaram de temer
De
o modelo econômico do país com que haviam guerrea-
Guerra
do, modelo que antes da Guerra era não-escravocrata,
para a Grã-Bretanha.
isolado e poderoso. O Uruguai de Flores foi o aliado menor que nada obteve.2!
Importa destacar, aqui, como foi feito pelo ministro da Fazenda da Argentina, que a Guerra foi de especial importância para a Grã-Bretanha, pois traria grandes
vantagens para o comércio inglês.
Guerra, aguarda com ansiedade pelo final, não pelos males,
mas
porque espera
lançar
sua
utilitária
a a or ag até o ad ch fe , ar gu ra Pa o e br so o çã especula seus benefícios?
es ss re te in os am di ci in co ai gu ra Pa O ra Nas ações cont u lo se e qu o so is i Fo s. ro ei il as br € britânicos, argentinos ,
que tamuma aliança informal. A “agressão informal”,
ta
o que
foi dito, pode-se
deduzir que a
da Tríplice Aliança produziu grandes lucros E não apenas lucros ganhos ao
derrotado Paraguai, mas também aos vitoriosos, a Ar-
gentina, o Brasil e o Uruguai. É claro também que a Guerra foi parte de um conjunto de conflitos que caracterizaram a emergência e o desenvolvimento do fenômeno imperialista no mundo.
Pode-se igualmente deduzir que a Pax Britannica
No ponto relacionado com seus próprios interesses, a Grã-Bretanha, longe de estar preocupada com a a
tudo
não significou paz, mas sim a manutenção
de uma
ordem mundial que favorecia, em primeiro e específico lugar, a Grã-Bretanha, e, a seguir, os países centrais; em
outras palavras, de uma ordem mundial em favor dos
interesses da burguesia britânica, européia e dos países centrais em geral. Isso em detrimento de seu próprio
proletariado, de suas classes exploradas e dos países
periféricos em geral. Esses últimos, por agressão direta e/ou domínio econômico, foram transformados em co-
lônias, semicolônias ou países dependentes.
A
164
GUERRA
DO
PARAGUAI
NOTAS
ca, Cambridge, Harvard University Press, 1958.
15. Idem, ibidem, p. 83 e p. 355.
16. PENALBA, J. Fornos. The Fourth Ally: Great Britain and the War of the Triple Alliance, tese de doutora-
. Idem, ibidem, p. 19.
E. The Age of Capital,
do, Universidade da Califórnia, Los Angeles, 1979,
1848-1875,
pp. 116-117. 17: SMITH, J. Illusions of Conflict. Anglo-American Di-
Idem, ibidem.
plomacy toward Latin America,
Idem, ibidem, p. 107.
burgh, University of Pittsburgh Press, 1979, p. 226.
a
. Idem, ibidem.
. Idem, ibidem, pp. 307-308. J. Africa and the
De Francia el supremo
Victorians. The official mind of Imperialism, Lon-
dustrial,
1975, p. 18.
|
E. “El impacto de la Revolución In-
1789-1848”,
La Independencia
del Peru,
Instituto de Estudios Peruanos, Lima, 1971, p. 98.
VZ; RIPPY, F. British Investmenis in Latin America, Mi-
neapolis, University of Minnesota Press, 1959, p. 124. 13. Idem, ibidem, p. 114. 14. POMER, L. La Guerra del Paraguay. Gran negocio!,
Buenos Aires, Calden, 1968, p. 357.
19. POMER, op. cit., p. 68.
20. PENALBA, op. cit, p. 194. 21.
GALEANO, op. cit., p. 212.
2.2. MINISTRO de Estado. Memoria. Gonzales a Norberto de la
Riestra
(confidencial),
Buenos Aires,
28/03/1867. Apud PENALBA, op. cit, p. 199.
23. AMAYO, E. La politica britanica en la Guerra del Pacifico, 1876-1891, Lima, Ed. Horizonte.
= gr
11. HOBSBAWN,
a la Guerra de la Triple
Alianza, Buenos Aires, Cuadernos de Crisis, nº 19,
dres, McMillan & Co., 1965, p. 369. 10. Idem, ibidem, p. 39.
Veins of Latin America, Nova
York, Monthly Review Press, 1973, p. 210. TRÍAS, V.
O
O
R. e GALLENGER,
E. Open
18. GALEANO,
. Idem, ibidem, p. 142. . ROBINSON,
1865-1896, Pitts-
E
mas
Londres, Weidenfeld & Nicolson, 1976, p. 104.
H
Jo
. HOBSBAWN,
z
1. A. Imlah.
Economic Elements in the Pax Britanni-
ain
DTa79,
va
Dle
9,
DA GUERRA AO MERCOSUL Evolução das relações diplomáticas Brasil-Paraguai Alberto da Costa e Silva
DA
GUERRA
guerra é sempre uma falência da diplomacia,
AO
MERCOSUL
167
O que foi o pós-guerra? Ocupada Assunção pelas
Não há caso mais flagrante de falência da di-
tropas aliadas, ou, mais especificamente, pelas tropas
plomacia do que a chamada Guerra da Trípli-
brasileiras, José Maria da Silva Paranhos, visconde do
ce Aliança, a Guerra do Paraguai, a Guerra contra o Para-
Rio Branco, passou a exercer, naquele momento, o pa-
Buaí, Guerra Guaçu, Guerra Grande ou, só para usar a
pel que exerceria, em nosso tempo, o general MacArthur
expressão de um de seus protagonistas, a Guerra Maldita.
no-solo japonês. O de tentar reorganizar o espaço paraguaio, fazendo valer os interesses brasileiros contra os
A expressão é do duque de Caxias em um ofício que dirigiu ao marquês de Paranaguá, de Tuiuti, em 10 de junho de 1867, e cujo conhecimento devo a Francis-
Co Doratioto. Nesse ofício, Caxias declarava: “É preciso acabar esta guerra maldita na qual o inimigo já está
Vencido e não faz sentido humilhá-lo.” É interessante Fecordar, antes de se falar na paz, esse ofício de Caxias, ESsa sugestão feita ao marquês de Paranaguá e que não ganhou os ouvidos do Império. E
T
interesses argentinos nas negociações de paz. Isso significava,
em primeiro lugar, que fossem
“atendidas as pretensões de limites do Brasil. Em segundo, a liberdade de navegação nos Rios Paraguai e Paraná. Em terceiro lugar, tratava-se de tentar fazer com que
a Argentina não lograsse, tal como fora previsto no Tratado da Tríplice Aliança, obter para si toda a região
do Chaco paraguaio, porque isso implicaria não apenas
A
168
GUERRA
reduzir o Paraguai a um mínimo espaço entre o tenaz argentino, mas também dobrar as fronteiras que a Argentina tinha com o Brasil.
Esses resultados foram conquistados no Tratado de
Paz e Limites entre a Argentina e o Paraguai, em 1876. Posteriormente,
com
o arbítrio do presidente
norte-
DO
PARAGUAI
O Brasil, portanto, apenas respondia aos desafios da mudança. Assim o fez na Guerra do Chaco, quando
À Bolívia buscou assenhorear-se de boa parte da margem direita do Rio Paraguai. Assim faria mais tarde, em 1953, quando Perón e Federico Chaves tentaram estabelecer uma união econômica
entre a Argentina e
americano, Hayes, garantiu-se para o Paraguai a posse
Paraguai. União econômica que não chegou a efetivar-
da Villa Occidental (hoje Villa Hayes) e do vasto espaço
se — o tratado que a criava jamais foi ratificado —, por
que, na margem esquerda do Rio Paraguai, ia do Pilco-
causa do golpe militar do general Stroessner, que apeou
maio para o Norte. Deste modo, o Brasil via satisfeitas
Federico Chaves do poder no dia exato em que o gene-
as suas aspirações na Guerra tal como ela era vista do
ral Perón pretendia chegar a Assunção para sacramen-
Rio de Janeiro.
tar o pacto.
|
A partir desse momento, ou seja, a partir de 1878,
O que havia, assim, da parte do Brasil, era uma
1879, 1880, o Brasil como que se desinteressa de todo
política de resposta para garantir o livre acesso fluvial
pelo Paraguai. Não de todo, porque continuará vigilan-
ao Mato Grosso e para defender a integridade e a inde-
te à observância dos três princípios que orientaram a
pendência do Paraguai. E também para assegurar os
sua política no pré-guerra, durante a guerra e também
limites concertados, em 1872, entre os dois países. Foi
no pós-guerra. Mas, de certa forma, o Paraguai deixou
. esse o objetivo do Tratado de 1927 e do Protocolo de
de ser um
eixo da política do Brasil no
Prata. Essa
política se reduziu a uma política de resposta. Tratavase, com exceção de um primeiro interregno no governo
de Floriano,
responder à Argentina,
Instruções para a Comissão Demarcadora de Limites, de
1930.
O Brasil só voltaria a: assumir uma política de inicia-
embora
tivas com relação ao Paraguai, ou seja, só voltaria a Ser
não tivesse logrado o espaço geográfico que pretendia,
um parceiro verdadeiramente importante para o Para
de
que,
passara a predominar inequivocamente como parceira principal do Paraguai em termos comerciais.
O Para-
guai tinha como porto e como centro comercial a cidade de Buenos Aires.
guai, em 1941, quando o presidente Getúlio Vargas visitou — e foi o primeiro chefe-de Estado brasileiro à fazê-lo — a cidade de Assunção. Logo em seguida, O chanceler paraguaio Luís Argania veio-ao Brasil. Naque-
DA GUERRA AO MERCOSUL
169
OS
le momento, Brasil e Paraguai firmaram importantíssi-
permitiu a construção, com técnica e muitas vezes com
lo
nos acordos que iriam dar satisfação a um antigo an-
financiamento do Brasil, de rodovias entre vários portos
LT -
seio paraguaio, tão antigo que talvez figurasse entre as
do Paraguai, ligando-os ao território brasileiro.
motivações da própria Guerra de 1864: uma saída para
Nos dois governos Vargas houve, portanto, todo um
o Leste, a libertação do comércio paraguaio da artéria
reencontro do Brasil com o Paraguai. Um reencontro
exclusiva do Rio da Prata, que levava a Buenos Aires e
com um novo sentido, sem remorsos-de parte a parte,
a Montevidéu.
porque nem os paraguaios nem os brasileiros somos
Getúlio Vargas concedeu aos paraguaios um porto
hoje responsáveis pelos acertos ou pelos erros de nos-
franco em Santos, estendeu o Correio Aéreo Nacional a
sos antepassados. A nossa responsabilidade é com a
Assunção, a fim de garantir a vinculação aérea do Para-
história que estamos fazendo.
guai com o Brasil. Assinou um acordo para que se desse
O segundo grande impulso nas relações entre Brasil
início aos estudos de ligações rodoviárias e ferroviárias
e Paraguai iria se dar com Juscelino Kubitschek. Já era
com o Brasil. Iniciou também — o que é muito impor-
então chefe de Estadó no Paraguai o general Stroessner,
tante — a cooperação sistemática tanto no plano uni-
que tomou posse em 1954 e levou para a chancelaria
versitário quanto no de treinamento militar.
Raúl Sapena Pastor, anteriormente embaixador de seu
DS
É de 1942 — e, portanto, do ano seguinte à visita de
país no Brasil. O chanceler tinha excelentes relações
1
Vargas a Assunção — a criação de uma Missão Militar Brasileira de Instrução no Paraguai, missão que só veio
com Juscelino, que ainda não era presidente da Repú-
le e
a se extinguir em 1994. Ela prestava assistência em todos os níveis às escolas e instituições militares para-
guaias. É de 1943 a missão de Lourenço Filho, que teve como
objetivo colaborar na organização
da estrutura
Universitária local.
Toda a ação de Vargas sofreu um hiato no governo
do general Dutra, mas foi imediatamente retomada no Segundo governo de Getúlio. Foi então que se estabeleceu a Comissão Mista de Estradas de Rodagem, que 2 a
blica.
Kubitschek assumiu em janeiro de 1956. No mesmo ano encontrou-se com Stroessner para realizar um dos atos mais importantes e que, no entanto, parece pequenino, simples, um nada: a decisão de se construir uma
ponte sobre o Rio Paraná, a fim de vincular Assunção e Paranaguá, que se tornara porto franco para o Paraguai,
ou seja, um depósito franco para as mercadorias de importação e exportação daquele país. Essas mercado-
rias eram transportadas por balsas pelo Rio Paraná, até
A GUERRA
170
que se concretizou uma
pequena ponte, a Ponte da
DO
PARAGUAI
opiniões de nosso Machado de Assis sobre o Paraguai, do outro lado, o doutor José
Amizade, com a qual se estabeleceu o enlace, sobre o
poderia ter mencionado,
rio, entre os dois sistemas viários.
Gaspar de Francia. Para ele,
a civilização encarnava-se
Posteriormente o presidente Médici iria inaugurar
nele próprio, um filho do Iluminismo que estaria reali-
uma segunda ponte, a ponte sobre o Rio Apa. E, em
zando na América do Sul os sonhos da Revolução Pran-
nossos dias, estão concluídos os estudos para a constru-
cesa.
ção de uma terceira ponte, próxima a Foz do Iguaçu.
Para Francia — como, mais tarde, para muitos para-
Com isso, o Paraguai passou a ter outra saída para O
guaios contemporâneos de Solano López —, a barbárie
Atlântico, além do Rio da Prata.
era o Brasil, país retrógrado, pois monarquista e, além
Juscelino teve relações muito especiais com o presi-
do mais, africano. Um país africano enquistado na Amé-
dente Alfredo Stroessner. Relações que seriam de estra-
rica do Sul, como podemos ver nas gravuras paraguaias
nhar-se, pois Juscelino era um temperamento visceral-
da época da Guerra da Tríplice Aliança, em que todos
mente democrático, enquanto o general Stroessner não
os brasileiros,
era exatamente
presidente tinha fascínio
gros. O bárbaro é sempre o outro. O equivocado sem-
por Stroessner, e um fasçínio que- era recíproco. Do
pre é o nosso adversário. Não há como fugir disso. Com
mesmo
frequência sustentamos posições contrárias e nos esti-
modo,
isso. Nosso
ele sempre teve um fascínio, também
recíproco, pelo doutor Antônio de Oliveira Salazar. O general
Médici
é que
não
gostava
nem
do general
Stroessner nem do Marcelo Caetano, sucessor de Salazar. Mas foi obrigado a conviver e a dialogar com eles. São as ironias da história, porque a história nem sempre
é lógica. O mesmo indivíduo que era contra a escravi-
dão. pode ser racista. Tivemos no Brasil inúmeros casos de estadistas que eram a favor da escravidão, mas tinham de tudo, menos de racistas. E vice-versa.
O professor Francisco Alambert, ao se referir ao
problema
da barbárie e da civilização,! e ao citar as
mamos,
inclusive
ou pensamos
Caxias, aparecem
do mesmo
modo
como
ne-
e nos detes-
tamos.
Abri os parênteses por causa da relação Juscelino-
Stroessner. Foi no governo de Juscelino que se criou a Missão Cultural do Brasil, no âmbito da qual vários professores brasileiros ajudaram os paraguaios a formar
sua Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Foi então “que tiveram início os cursos
figura fundamental
de arte de Lívio Abramo,
e prezada pelos paraguaios. Lívio
Abramo retomou a rica tradição paraguaia de gravura.
Foi naquela época, também, que Augusto Rodrigues foi
DA
GUERRA
AO
MERCOSUL
171
À Assunção, para criar à Escolinha de Arte que existe até
Quedas estava em território brasileiro. E nem se tinha o
hoje, subordinada à Embaixada do Brasil. Juscelino atuou em relação ao Paraguai de tal for-
assunto como objeto de discussão.
ma que fez com que se tornasse realidade a essência
das produziu três resultados extraordinários. Primeiro,
da aspiração do presidente Bernardino Caballero: apro-
uma admirável nota do chanceler Sapena Pastor, com as
ximar o Paraguai de Santos por uma ferrovia. Ele Iigou o' Paraguai ao Brasil por estrada de rodagem.
razões paraguaias. Segundo, uma admirabilíssima nota
A contenda sobre a linha de fronteira em Sete Que-
brasileira,
de 25 de março
de
1966,
nota exemplar,
no projeto geopolítico
talvez a melhor nota diplomática escrita pela chancela-
do presidente Getúlio Vargas. E ele inseria-se em ou-
ria brasileira nesta segunda metade de século, e que
tro, o da ligação fluvial, o da criação de um sistema
SA
hidroviário no interior da América do Sul, a vincular
gra a imaginação
não só o Prata ao Amazonas,
embaixador do Brasil no Paraguai, com a idéia, inédita
Essa conexão estava também
mas o Amazonas
ao Ori-
|
noco.
Este último projeto, porém, só começa a tomar for-
das mãos de João Guimarães Rosa. Terceiro, defla-
de Mario Gibson Barbosa, o novo
na história da diplomacia, de «submergir” um conflito,
de acabar com um conflito e com a possibilidade até de uma
guerra, ao fazer com
que as águas
ma com o terceiro grande impulso das relações Brasil-
mesmo
Paraguai, que foi a construção de Itaipu. A decisão da
inundassem a área disputada pelo Paraguai, e que essa
obra derivou de uma seriíssima disputa internacional
área se tornasse parte do que viria a ser um patrimônio
entre o Brasil e o Paraguai, constituindo mais um exem-
comum aos dois países: a hidrelétrica de Itaipu.
plo de como uma grande crise pode gerar um grande resultado.
O quarto grande impulso é decorrência deste ter-
ceiro e também de uma situação muito mais antiga. Os
A grave discórdia foi sobre a interpretação do Trata-
professores Leslie Bethell2 e León Pomer3 afirmaram
do de Limites, de 1872, e sobre os trabalhos desenvolvi-
que a Guerra da Tríplice Aliança foi na verdade uma
dos pelas comissões demarcadoras, desde 1874, a pro-
guerra civil. Na realidade, a Guerra deu-se em um espa-
Pósito de um pequeno trecho de terra na área das Sete
ço político que era, de certo modo, uno. Um espaço
que os paraguaios tinham por não demarcado,
político que compreendia o Uruguai, Buenos Aires, O
Quedas,
enquanto para o Brasil ele já O fora, e há muito tempo.
norte da Argentina e o Rio Grande
Desde menino,
apêndice catarinense.
sempre aprendi que o Salto das Sete
do Sul, com seu
A GUERRA
172
fio depois desta longa guerra é concretizar uma união
se aliavam e combatiam sem olhar as fronteiras. A Guer-
comercial das quatro nações.” É isso o que se está
ra Grande teve por estopim a intervenção do Império
fazendo. E não no abstrato, mas a partir de uma realída-
nas lutas internas do Uruguai, ao fazer seus os interes-
de histórica, de um
Ses rio-grandenses que favoreciam Venancio Flores.
junto todo o século XVIII, todo o século XIX, que com-
bateu junto no século XVII. E disso dá conta a literatura,
brasileiros, uruguaios, buenairenses, entrerrianos e cor-
Relembro O tempo e o vento, de Érico Veríssimo, com
rentinos,
réplicas
suas belas páginas sobre essas guerras por sob frontei-
além-fronteiras, fossem eles blancos e colorados, unitá-
ras, guerras entre facções que eram platinas, antes de
rios e federalistas, maragatos e chimangos.
serem brasileiras, uruguaias ou argentinas.
divididos
em
partidos que
tinham
O processo do Mercosul começou
em 1986, do
ta, entre os interesses do comércio e do campo, nesse
encontro de vontades dos presidentes José Sarney e
espaço com vocação
Raúl Alfonsín. Firmaram eles uma Ata para a Integração
econômica própria e com uma
política própria, que
empurrou
o Império
para o conflito armado. Foram os interesses gaúchos que arrastaram o Rio de Janeiro para o confronto. Essa é uma leitura como
tantas outras.
O fato de esse espaço ter uma unidade possibilitou a rápida concretização do Mercosul. O Mercosul não é
uma construção mental. Ele responde a uma realidade
que ainda não está completa, mas que se vai completar.
É uma exigência que foi pela primeira vez expressa,
não por um brasileiro, não por um argentino, mas por um paraguaio.
Em 1882, o chanceler José Segundo Decoud esc re-
via ao encarregado de Negócios do Brasil em Assunção, Henrique de Barros Cavalcante Lacerda: “O nosso desa-
As
núcleo que viveu, lutou e sofreu
Desde sempre, no Prata, aliavam-se e combatiam-se
realidade
7
PARAGUAI
Ali os partidos políticos eram como plurinacionais e
Foi essa permanente disputa, quase sempre violen-
é
DO
Econômica entre o Brasil e a Argentina. Não foi por acaso que essa Ata, seguida pelo Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento entre o Brasil e a Argentina, recebeu a adesão quase imediata do Uruguai e do Paraguai. Esses países não poderiam ficar fora de um
espaço que lhes é próprio. Não podiam lançar-se para fora de um mundo do qual são historicamente parte e no qual o Paraguai ocupa o centro. Simbolicamente, foi nesse ponto central, que é Assunção, que se assi-
nou, em 26 de março de 1991, o tratado de ctiação do
Mercosul. O
extraordinário
de
tudo
que as razões que provocaram
isso
é concluir-se
a Guerra -da Trpli-
ce Aliança são as mesmas que fazem com que esteja-
rs
Pe
as
E
Ca A
DA
GUERRA
AO
MERCOSUL
175
mos hoje obrigados a trabalhar juntos, Argentina, Bra-
xam, assim, de ser, para usar palavras de Carlos Drum-
do grande
mond de Andrade, a história como remorso, e passam a
sil Paraguai e Uruguai,
os participantes
conflito. As nossas dissensões
no passado,
que ti-
nham por base essa unidade de espaço no Prata, dei-
ser vistas como criadoras.
fonte de inesgotáveis possibilidades
A GUERRA
174
DO PARAGUAI
NOTAS 1. ALAMBERT,
Francisco.
“Barbárie e civilização, his-
3. POMER,
León. “A Guerra do Paraguai e a formação
do Estado na Argentina”, artigo que consta do pre-
me.
sente volume.
à
2. BETHELL,
Leslie. “O imperialismo britânico e a
Guerra do Paraguai”, artigo que consta do presente
E
“4
ar
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MNE
volume.
SSL
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om a
”
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O
a
.
Pião
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—
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tória e cultura”, artigo que consta do presente volu-
175
(A
BIBLIOGRAFIA DA GUERRA DO PARAGUAI
Nota explicativa
A bibliografia da Guerra do Paraguai reúne documentos
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL DRD/DIVISÃO DE INFORMAÇÃO DOCUMENTAL
sobre o período 1864-1872 e fornece material para estu-
diosos do tema. Os documentos fazem parte do acervo da
GUERRA DO PARAGUAI — Monografias
Biblioteca Nacional e estão agrupados em quatro bases de dados:
monografias,
periódicos,
Cos e manuscritos.
documentos
iconográfi-
Yatebo. Montevideo: Imp. U. Cores y Montes,
|
Esta bibliografia faz parte do Banco de Dados Bibliográficos BIBLIO/DINF,
e está disponível para
consulta
na Divisão de Informação Documental da Biblioteca Nacional.
Eliane Perez (coordenação) Anna Maria P. J. Naldi
Dayse do N. P. E. da Conceição
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diários do
exército em operações sob o commando em chefe do Exm. Sr. Marechal de exército Marquez de Caxias ... julho. Rio de Janeiro: Typ. Nacional, 1867. 55p.
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em chefe do Exm. Sr. Marechal de exército Marquez
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do Paraguay.
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em chefe do Exm. Sr. Marechal de exército Marquez
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do Paraguay:
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les lignes suivantes du Courrier de la Plata,
afin de compléter le tableau. Ba-ta-clan, Rio de Janeiro, 25 mai 1868, ano 2, n.52, p.927-8. LE MAGICIEN.
Cinquiême
et derniêre
lettre de Vautre
monde. Ba-ta-clan, Rio de Janeiro, 16 mai 1868. ano 2, n.51, p.419-22.
LE MAGICIEN.
Deuxiême
voluntários no sítio da Água-Branca. Archivo Pittores-
clan, Rio de Janeiro,
co, Lisboa, 1865, v.8, p.349-50, il.
p.579. 81.
lettre de "'autre monde. Ba-ta-
11 avr. 1868,
ano 2, n.46,
A
198
LE MAGICIEN.
im
e —
e
mp e
O DOS GAR
CERs dio
Lettres de I'autre monde.
Ba-ta-clan, Rio
LE MAGICIEN. Quatriême lettre de l'autre monde. Ba-taclan, Rio de Janeiro, 9 mai 1868, ano 2, n.50, p.410-3.
Troisiême lettre de I'autre monde.
THÉAÂTRE de la guerre: X. Ba-ta-clan, Rio de Janeiro, 14
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O ALFERES João Mariano de Jesus, o tenente Braz Cuperti-
MILL, J. Actualité. Ba-ta-clan, Rio de Janeiro, 19 oct. 1867,
no do Amaral, bravos que se distinguirão na batalha
n.21, 1 gtav. p/b., p.168; 21 déc. 1867; 14 mars 1868. MILL, J. Choses de jour. Ba-ta-clan, Rio de Janeiro, 12 oct.
de 24 de maio. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 14 abr.
1867, ano 4, n.30, 1 grav. p/D., p.1.
OS BENEMÉRITOS: coronel Mallet e seus filhos (Paissan-
1867, n.20, 1 grav. p/b., p.156. MILL, J. Comme on passe son temps à Tuyu-Cue.
Ba-ta-
clan, Rio de Janeiro, 27 sept. 1867, n.18, 1 grav. p/b,,
p.141.
du, Passo da Pátria e Tuyuty). Bazar Volante, Rio de Janeiro, 17 mar. 1867, ano 4, n.26, 4 grav. p/b., p.4. O BRAVO
1. tenenté D. Carlos Balthazar da Silveira, co-
pour
mandante do rodízio de proa do vapor Magé, na pas-
empêcher Caxias d'aller au rendez-vous qu'il a donne
sagem de Cuevas, onde distinguiu-se, e pelo que foi
à Lopez. Ba-ta-clan, Rio de Janeiro, 21 sept. 1867,
condecorado
n.17, 1 grav. p/b., p.136.
Rio de Janeiro, 8 abr. 1866, ano 3, n.29, grav. p/b., pl.
MILL, J. D.
Bartolome
MILL, J. A Humaita.
Mitre
prenant ses mesures
Ba-ta-clan, Rio de Janeiro, 14 dec.
1867, n.29, 1 grav. p/b., p.229. nov. 1867, n.25, 1 grav. p/b., p.196.
sept. 1867, n.16, 1 grav. p/b., p.125. RECLUS, Elisée. La Guerre du Paraguay. Ba-ta-clan, Rio de 15 fev. 1868, ano 2, n.38, p.302-8; n.
a
39; p.
a
LA REPONSE du Diario de Rio. Ba-ta-clan, Rio de Janeiro, 22 fev. 1868, ano 2, n.39, p.320.
Bazar
Volante,
O BRAVO capitão de artilheria Francisco Antonio de Mou-
artilharia a pé na ilha de Itapiru. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 8 jul. 1866,
MILL, J. Parfaite harmonie. Ba-ta-clân, Rio de Janeiro, 14
314; n. 40, p. 326.
o hábito da Rosa.
ra, commandante da heróica bateria do 1º batalhão de
MILL, J. Médailles et revers. Ba-ta-clan, Rio de Janeiro, 16
Janeiro,
com
O BRAVO
Est
COEP ERiS ando
DO
ano 3, n.42, 1 grav. p/b,, p.1.
coronel D. José Balthazar da Silveira. Bazar
Volante, Rio de Janeiro, 21 abr. 1867, ano 4, n31, 1 grav p/D., p.1. O BRAVO Eugenio Ferreira Mendes. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 7 abr. 1867, ano 4, n.29, 1 grav. p/b., p.5.
O BRAVO tenente-coronel Andre Alves Leite de Oliveira Bello, commandante do 3º Batalhão de Infantaria. Ba-
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atacommandante do encouraçado Silvado, morto no r za Ba y. it pa ru Cu de nte fre em iro ere fev de 2 de que . p.1 4, n.2 4, ano 7, 186 . mar 3 o, eir Jan de Rio e, ant Vol
O CAPITÃO Dr. Joao Thomaz de Cantuária, engenheiro do
exército de Matto-Grosso, tirando a planta do Rio Ta6, 186 . mar 25 o, eir Jan de Rio e, ant Vol r za Ba ry. qua
ano 3, n.27, grav. e planta p/D.; p.l. "
OCAPITÃO Luiz Gomes Ribeiro de Avellar Werneck, assiso. isã Div 3. à to jun l, era Gen tre Mes l rte Qua do te ten
o 4, an , 67 18 . abr 28 o, ir ne Ja de Rio e, nt la Vo r Baza
4, ano 7, 186 fev. 17 o, eir Jan de Rio e, ant Vol r za Ba
n.22, 1 grav. p/D., p.1: o, eir Jan de Rio e, ant Vol r za Ba . es nd Me ra rei Fer EUGENIO 7 abr. 1867, ano 4, n.29, p.2.
e, Rio nt la Vo r za Ba . du an ys Pa de os mi he bo s ao HYMNO de Janeiro, 5 fev. 1865, ano 2, n.20, p.3.
. al tu ac ha an mp ca da os av br es nt le va a, ec ns OS IRMÃOS Fo 51, n. 3, o an , 66 18 . set 9 o, ir ne Ja de o Ri e, nt Bazar Vola
1 grav. p/D., pl.
all va ca de e nt ne te z, ro ei Qu de es ll Te o eã JOAQUIM Pantal um io or Os l ra ne Ge do e et qu pi do e nt da an ria, comm do Paraal tu ac ha an mp ca da , du an ys Pa de os av br dos
n.32, 1 grav. p/D., p.l. CS. Editorial. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 14 out. 1866,
|
O DR. João Pires Farinha, cirurgião Mór de Brigada, um dos mais denodados servidores na campanha actual.
Editorial, ano 4, n.4, p.2.
6, 186 . out 21 o, ir ne Ja de Rio e, nt la CS. A guerra. Bazar Vo
ano guay. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 24 jun. 1866, 3, n.40, 1 grav. p/D., p.1.
JOSÉ Campello D'Albuquerque Galvão, capitão do 47. Ba-
ano 4, n.5, p.2.
talhão de Voluntários da Pátria, ferido mortalmente no
llecido na fa a, hi Ba da na ci di Me anno da Faculdade de
ataque de Curupaity. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 10 fev. 1867, ano 4, n.21, 1 grav. p/D., p.l.
5. do e nt da tu es s, e rg Bo o in O DISTINCTO bahiano Jesu em opeto ci ér ex do o iç rv se m e cidade de Corrientes, ine Ja de o Ri e, nt la Vo r a Paraguay. Baz
ração contra o 1. p. , b. p/ . av gr 1 , 18 4, n. o n a , 7 6 8 1 n. ja 20 , ro spiHo do o iã rg ru ci 1º Rodrigues Seixas,
O DR. Domingos
serviço nos em e nt e m l a u t c a , video e t n o M e d r a t i l i M tal lante, o r V a z . o a r B i e l i s a r b o t i érc acampamentos do ex
p/D,, . v a r g 1 , 0 2 . n 4, o n a ,
JUSTINIANO de Castro Rebello, médico : bordo do encouraçado Tamandaré.
Bazar Volante, Rio de Janeiro, 27
jan. 1867, ano 4, n.19, 1 grav. p/D., p.1.
LUX. Editorial. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 7 maio 1865, ano 2, n.33, p:2. M.G. Ao encouraçado.
Bazar Volante, Rio de Janeiro, 6
ago. 1865, ano 2, n.46, p.6.
— — e
2, n.3 2, o an , 65 18 . abr 30 o, ir ne Ja de Rio e, ant Vol »ar
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DO
PARAGUAI
MILL, J. O Dr. José Augusto de Souza Pitanga 1º cirurgião |
do exército fallecido em Uruguayana, e o capitão do 1º
MILL, J. O bravo 2. cadete Ricardo José da Rocha Silveira,
batalhão de infantaria João Baptista Lopes de Carva-
morto no combate de Curupaity em 22 de setembro de 1866. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 23 dez. 1866, ano
lho, fallecido no Salto a 12 junho de 1865, um dos bravos de Paysandu. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 24
4, n.14, 1 grav. p/b,, p.1.
dez. 1865, ano 3, n.14, 1 grav. p/b., p.1.
MILL, J. O bravo brigadeiro da tomada de Curuzu, Alexan-
MILL, J. Um enigma, cuja decifração anda na idea de todos,
dre Manuel Albino de Carvalho. Bazar Volante, Rio de
si bem que ninguém queira expendel-a. Bazar Volan-
Janeiro, 21 out. 1866, ano 4, n.5, 1 grav. p/b., p.l.
te, Rio de Janeiro, 14 out. 1866, ano 4, n.4, 1 grav. p/D,,
MILL, J. O Brazil abrindo as portas da immortalidade ao bravo dos bravos do heróico de Uruguayana. Bazar Volante,
Rio de Janeiro, 21 out. 1866, ano 4, n5,
1
grav. p/D., p.5. MILL, J. O
Rio de Janeiro,
a scena
23 out.
1864,
cômica. ano
Bazar
2, n.5,
1
grav. p/b., p.4e 5. bravo dos bravos de Curusu.
Bazar Volante, Rio de
Janeiro, 7 out. 1866, ano 4, n.3, 1 grav. p/b,, p.1. Florindo Torres d'Albuquerque. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 3 jun. 1866, ano 3, n.37, 1 grav. p/b,,
grande
Volante,
Rio de Janeiro, 19 fev. 1865, ano 2, n.22, 1 grav. p/D,, MILL, J. O general López, Leandro Gomes e o presidente Mitre. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 5 fev. 1865. ano
Dr. Manoel
Feliciano
A:
te, Rio de Janeiro, 10 mar. 1867, ano 4, n.25, 1 grav.
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MILL, J. O guarda marinha Francisco José de Lima Barros morto em Riachuelo na corveta Belmonte. Bazar Vo-
lante, Rio de Janeiro, 16 jul. 1865, ano 2, n.43, 1 grav.
Pereira de
dignatário da Imperial Ordem
MILL,J. Gonçalo Mendes da Maia, o lidador. Bazar Volan-
p/b., p.8.
MILL, J. O capitão do 1º corpo de Voluntários da Pátria José
Carvalho,
Flores. Bazar
2, n.20, 1 grav. p/b., p.4.
MILL, J. O brigadeiro Joaquim José Gonsalves Fontes, o
MILL, J. O conselheiro
MILL, J. O general D. Venancio p.4.
Brazil e o Paraguay:
Volante,
p.8.
da
Rosa, brigadeiro cirurgião-mór do corpo de saúde do exército, seu secretário Dr. Cesario Eugenio Gomes de
Araujo... Bazar Volante, Rio de Janeiro, 16 set. 1866, ano 5, n.52, 1 grav. p/b,, p.l.
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da cabra
cega.
Bazar
Volante,
Rio de
Janeiro, 16 out. 1864, ano 2, n.4, 1 grav. p/b., pá e 5. MILL, J. Lucta do mar com as pedras: quem paga é [sic] os mariscos e as pobres conchas. Bazar Volante, Rio de
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nas armas como
na penna.
Bazar
tão valente
Volante, Rio de
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lo. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 27 ago. 1865, ano 2, n.49, 1 grav. p/b., p.1. MILL, J. Remigio de Senna Pereira, um dos mais valentes
bravos da campanha actual. Bazar Volante, Rio de Janeiro, m5 nov. 1866, ano 4, n.10, 1 grav. p/D.; p.l. MILL, J. Remigio de Senna Pereira. Bazar Volante, Rio de
Janeiro, mS nov. 1866, ano 4 n.10, p.2. MILL, J. O segundo tenente honorário José Maria Albuquerque Bloem,
commandante
do vapor Presidente
que entrou voluntariamente no ataque de Curuzu. Ba-
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Porto
Janeiro João
combate
Carrero.
Bazar
Volante,
Rio de
>. p. , il. ; b. p/ . av gr 1 , 20 n. 2, o an , 65 18 v. fe 5 Janeiro, MILL, J. O tenente do corpo de polícia do Rio de Janeiro
Correia
d'Andrade,
um
dos bravos no
de Riachuelo a bordo do vapor Ypiranga. Volante, Rio de Janeiro, 6 ago.
Bazar
1865, ano 2,
n.46, 1 grav. p/D., p.5. MILL, J. O tenente do corpo policial do Rio de Janeiro Antonio Pacheco de Carvalho, morto no vapor Mearim no ataque de Riachuelo. Bazar Volante, Rio de Janei-
|
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O PAPAGAIO.
Hymno
Volante, Rio de
patriótico. Bazar
- Janeiro, 5 mar. 1865, ano 2, n.24, p.3. POR UMA
1 grav. p/b., p.1. Albuquerque
MILL, J. O tenente do corpo policial da Província do Rio de
SENHORA
RIO-GRANDENSE.
Uma
coroa aos
soldados brazileiros. Bazar Volante, Rio de Janeiro, 30 abr. 1865, Variedade, ano 2, n.32, p.2-3.
O 1º tenente da Commissão de Engenheiros Manoel Ignacio Carneiro da Fontoura,
bravo esperançoso
morto
202
A
no dia 18 de julho corrente.
GUERRA
Bazar Volante, Rio de
DO
,
PARAGUAI
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D'Assúcar (Paraguay).
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Editorial.
Bazar
Volante,
Rio de Janeiro,
12
mar. 1865, ano 2, n.25, p.2.
SISOSTRIS.
Editorial.
Bazar
Volante, Rio de Janeiro,
guay). Bazar Volante, Rio de Janeiro, 12 fev. 1865, ano
10
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Volante,
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do 14º bata-
ET
Bazar
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passado.
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204
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PARAGUAI
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1
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GUERRA
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PARAGUAI
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ilustrações de Seth e Hugo Leal.
PROJECTADO
monumento
triunphal para imortalizar as
victorias do Brasil no Paraguay. Ilustração Anglo-Brazileira, Londres, 13 set. 1870, p.14, il.
S.A.R. o Sr. Conde
d'Eu na batalha de Campo
Grande,
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PARAGUAI
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d'une
division brésilienne à travers
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68. Coleção da BN: n.1-14. Jornal escrito em guarani e distribuído na linha de frente da guerra. Diego.
explanatory
The
war
models.
view, Austin, Texas,
SCENA no dia 30 de novembro: novo López defendendo o
seu querido Humayta.
O Mosquito, Rio de Janeiro, 5
dez. 1869, ano 1, n.12, 1 grav. p/b., p.8. SERVIÇOS de guerra. O Mosquito, Rio de Janeiro, 15 jan. 1870, ano 1, n.18, p.7. PARAGUAI ILLUSTRADO,
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da Questão
Militar. Pre-
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mem de. A paz. Reforma, Rio de Janeiro, 25 fev. 1870,
of the Triple Alliance:
Latin American
GRANDES
notícias: el tirano López
muerto
La Regeneración: Editión Extraordinaria.
en la fuga.
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signados para o serviço do Exército.
PEREIRA,
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me da Ma e e at -m va er à , ra er gu A e. nc Po
ESTADO
Oriental. 4 República,
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27 jan.
1872, p.4, c.1-2. Opinião do periódico Los Debates sobre o Tratado de Paz de1872. Microfilmado. Paraguay. A República, Rio de Janeiro, 16 fev. 1872. Amé-
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ET
JT
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ed
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A
GUERRA
de Assunção, com data de 20 de jan.1872, publicada
DO
PARAGUAI
SOBRINO,
José
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Guerra
do
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À mm
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contra
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sobre
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add pi ep
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Angelo
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Faria, Borgomainerio,
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nheiro Guimarães.
no
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Illustrada” e
da Semana
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co annos um inimigo encarniçado... [s. n. t.). 1 folha.
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Conrado Maria da Silva. Esboço da bata-
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dendo as posições dos corpos... [Rio de Janeiro]: Impe-
O ATAQUE da ilha da Redenção. IS. n. t]. Litog. segundo quadro de Pedro Américo. Cópia invertida, sem mar-
gens. guerra
chorographica
indert. CEHB n. 11207. lha de Tuyuty sobre as posições alliadas e inimigas
nos Estados do Sul da América Meridio-
nos combates de 16 e 18 de julho de 1866. [Rio de
53x35cm. Jornal do Commercio,
ano 41, n. 48
17/2/1865; fora de consulta. A BATALHA
de Campo
Grande.
IS. n. t.). Fotogravura. “A
seus assinantes”.
BATALHA do Yatay a 17 de agosto de 1865. [Rio de Janeiro: Semana Illustrada, 18652). 1 mapa, 30x28cm; desenha-
). do fora de escala. (Coleção Biblioteca Fluminense Suplemento
da Semana
Janeiro]: Imperial
Ilustrada; inclui texto; CEHB
Parado ra er Gu da s io ód is ep os ri vá BATE. Fotografias de
Instituto Artístico,
[18667].
1 mapa,
79x61cm; esc. indert. (Coleção Pimenta Bueno). BITTENCOURT,
Reacção, orgam do Partido Repúblicano. Brinde aos
n. 11185.
Conrado Maria da Silva. Esboço da bata-
do theatro da
nal. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 1865. 1 mapa,
rial Instituto Artístico, [18667]. 1 mapa, 45x34cm; esc. BITTENCOURT,
BALLARINY, J. B. Carta
e o
GUERRA
Conrado Maria da Silva. Esboço do assalto
de 16 de julho de 1868 às fortificações de Humaitá. [Rio de Janeiro: s. n., 18687]. Esboço,
21x28cm,
sem
esc. Suplemento da Semana Illustrada; na mesma folha: “Ataque de Curupaity no dia 22 de setembro de
1886" e “Batalha do Yatay a 17 de agosto de 1865. * BITIENCOURT, Conrado Maria da Silva. Esboço memorial da praça de Piribebuy atacada e tomada a viva força
a 12 de agosto de 1869. [s. 1: s. n., 18702. 1 planta,
18x25cm; esc. indert.
214
US Gigi
A GUERRA
rm
BITTENCOURT, Conrado Maria da Silva. Mappa do theatro
da guerra entre a lagoa Piris e a Villa de S. João além do arroio Inhembucu. [Rio de Janeiro: s. n., 18687). 1 mapa, CEHB
42x63cm.
Suplemento
da Semana-
Illustrada;
DO
PARAGUAI
Typ. R. Plon, [S. d.). Xilog. par Marchand. Col. Th. Ch, Maria.
Francisco de Azevedo Monteiro; BENARD,
CAMINHOÁ,
Projecto do monumento para
Paul.
ser erejido
no
Campo da Aclamação em memória de nossas vícto-
n. 11203.
BITTENCOURT, Conrado Maria da Silva. Planta do Passo da Pátria comprehendendo a posição do exército paraguayo, a do forte de Iapiru. Rio de Janeiro: Imperial
rias no Paraguay. [Rio de Janeiro: s. n., [S. d.). Litog. Suplemento da Semana Illustrada. CAMPO de operações dos exércitos alliados contra o Para-
Instituto Artístico, [18667]. 1 planta, 64x91cm; esc. in-
guay
dert. (Coleção Pimenta Bueno). CEHB n. 11147.
18602]. 1 planta, 32x28cm; esc. gráfica em 5 léguas; ms.
BOMBARDEAMENTO
das fortificações em Tuyuti pelos
navios da esquadra em 2 de fevereiro de 1867. [Rio de
por um
official do exército brasileiro.
Is. L,
Inserto: Posição da esquadra em Humayta; CEHB n. 11223. A DICO possui 27 cópias.
Janeiro: Semana Illustrada, [1867]. 2 plantas, 38x22cm.
CAMPO de operações dos exércitos alliados contra o Para-
(Coleção Pimenta Bueno). Suplemento da Semana II-
guay por um oficial do Exército Brasileiro. [s. 1., 18607.
lustrada; CEHB n. 11211.
1 mapa, 32x28cm, esc. gráfica em 5 léguas; cópia litog.
BOMBARDEIO de Itapiru. IS. 1.: s. n., 1871]. Litografia (Col. Thereza Cristina Maria). In: O Guarany, n. 17.
Posição
da
esquadra
em
Humaitá;
original
ms.: arc-4, 6, 72; a DIICO possui 28 exemp.; CEBH n.
BORRÃO da planta do theatro da guerra desde Curuzu ate o Humayta. 1 planta, 53, 5x83, Sem; ms. aquarelado. OS BRASILEIROS
Inserto:
que me sigam: Caxias em Itororó. IS. n.
t.]. Fotogravura. Reprodução de um quadro.
CAMINHOÁ, Francisco de Azevedo Monteiro. Monumento a erijir no Campo da Aclamação, Rio de Janeiro, em memória das victorias alcançadas no Paraguay. Pa-
ris: Imp. Firmin Didot, Is. d.]. 1 litografia.
11223:
CAMPS, IgnacioJ. Batalha del Monte Caseros, 3 de feverei-
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CAMINHOÁ, Francisco de Azevedo Monteiro; BENARD,
CHAVES,
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guai
re des victoires
Ivai com a Fortaleza de Curuzu no dia 2 de setembro
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João em
Adrião.
Planta
que se deu
da parte do rio Para-
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canhoneira
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outro ex:
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Roberto Adolfo.
terrenos adjacentes com
Planta de Humaitá:
e
a linha de sítio occupada
pelo exército alliado ... expedição alliada pelo Chaco no dia 30 de abril de 1868. [Rio de Janeiro: Semana Ilustrada, 18697). 1 planta, 31x56cm. Suplemento da Semana Illustrada; outro ex.: arc-1, 1, 21U; CEHB n. 11. 228.
COMBATE do Estero Bellaco: esboço n. 9. [Rio de Janeiro): Gab. Photographico
do Est. Maior do Exército, [ca.
1879]. 1 mapa, color.: 16x20cm.
COMBATE naval do Riachuelo. [S. 1: s. n., 187]. 1 grav,, litogr., p & Db. Pequenas legendas descrevendo o local e a frota. O CONDE D'Eu e outros na guerra do Paraguai. Fotogra-
CHODASIEWICZ,
Roberto Adolfo.
Planta de Humaitá
e
terrenos adjacentes com a linha de sítio occupada pelo exército alliado demonstrando igualmente a ex-
bedição alliada pelo Chaco no dia 30 de abril de 1568. Is. 1., 18-?]. 1 planta, 35, 8x41, 7cm. Suplemento da Semana Illustrada.
fia, p/b (Coleção Thereza Cristina Maria). CONDE
D'Eu.
Vila do Rosário,
ta topográfica da fortaleza de Humayta no Paraguai.
13 jan.
1870.
Fotografia, p/b (Coleção Thereza Cristina Maria). Nota manuscrita:
“Os
officiaes
cumprimentando
ao seu
Commandante em Chefe, O Príncipe Conde D'Eu. CORTAMBERT, Eugêne.
CHODASIEWICZ, Roberto Adolfo; GARCIA, Ramon. Plan-
Paraguai,
Carta corográfica del Paraguay.
lesta carta ha sido trazada según las noticias comunicadas por... Francisco Solano Lopez... ministro pleni-
1868. 1 planta, 1, 125x1, 475m; esc. 0, 002x1k; ms.
potenciario de la República del Paraguay... [Paris]:
original a aquarela com assinatura do autor. CEHB n,
Chez Erhard, 1854. 1 mapa, 43x56cm: esc. indet., esc.
11224. CHODO-SECUCY.
Plano das posições entre o rio Paranã,
arroyo Hondos no Paraguay. Rio de Janeiro: Semana Ilustrada.
[ca.
1868].
1 mapa,
42x50cm;
esc.
indet.
“Copiado a 2 de dezembro de 1867 na fragata Lima Barros, no Porto Elysiario, por E. Wandenkolk”; Suple-
mento da Semana Illustrada; CEHB n. 1121).
gráfica em léguas paraguaias de 5000 varas. (Coleção Biblioteca Fluminense). DESEMBARQUE
das tropas no ataque e tomada de Cor-
rentes no dia 23 de maio de 1865: tropas argentina e paraguaia. [S. 1.:s. n., 1862]. 1 fot., sépia. ESBOÇO do theatro das operações das Cordilheiras e do norte do Paraguay. Org. pela Comissão de Engenhei-
A
GUERRA
DO
ar
Std
PARAGUAI rj
ros. V. do Rosário, 1870. 1 mapa ms., color.; 73x63cm;
em Luque, no Paraguai, c. 1867. [S. 1.: 5. n., 1867. Pot.
esc. indert.; esc. em léguas geográficas (15, lcm). (Co-
(Coleção Thereza Christina Maria).
leção Teresa Cristina).
Inclui legendas
com
relação e
datas dos combates; outro exemplar Arc-1, 1, 21E.
EXCURSÃO ao Paraguay. [S. 1.: s. n.), 1869. 35 fot. Legendas manuscritas. Álbum de retratos de brasileiros e paraguaios e vistas dos locais de batalhas. FERREIRA,
Luiz
Vieira.
Planta
das posições
FRANCISCO, Augusto. Ataque em Curupaity no dia 22 de
setembro
de
1866.
[Rio de Janeiro:
s. n.,
18687.
mapa, 44x27cm; sem escala. Supplemento da Semana Ilustrada; CEHB n. 11210; na mesma folha: Batalha do
Yatay a 17 de agosto de 1865 e esboço do assalto de 16 do exército
de julho de 1868 as fortificações de Humayta.
alliado em frente a Villa da Uruguayana em o dia 18
FRIAS, José Maria Correa de. Ao triunfo das armas brasi-
de setembro de 1865 ... Rio de Janeiro: Lith. Imp. da
leiras no rio da Prata... IS. n. t.]. 1 f., il. Brasão com as
Ed. Rensburg, [18662]. 1 planta, 24x39, 9em; esc. 1: 10.
letras PII, todo floreado em trabalho tipográfico.
000. Na mesma
folha: Planta da marcha do 2º Corpo
do Exército Brasileiro do rio Uruguay ao Paraná em 1866;
Vila de
S. Borja;
fl. n. 3 destacada
do Atlas
histórico da Guerra do Paraguay.
FORTUNY,
F. EI teniente-colonel Don
Gaspar Campos,
rio muere de hambre en el cepo de Ita-ivate la noche
del 12 de setiembre de 1867. [S. 1.:s. n., 1867. Reprod. do quadro.
FORTUNY, F. Ataque de la 3a. división del 20. Cuerpo de Ejército... a la trinchera paraguaya del Boquerón de Piris. [S. n, t.]. Reprod. do quadro “Regalo a los suscri-
tores del Álbum de la Guerra del Paraguay”. de um
FROTA, Júlio Anacleto Falcão da. Planta da posição do
Fecho dos Morros. [Rio de Janeiro]: Arquivo Militar, 1869.
1 mapa,
23x17cm;
esc. indet., esc. gráfica de
1000m. Oferecido a BN pelo Gal. Silveira de Melo.
prisionero de guerra, después de largo y penoso marti-
FOTOGRAFIA
1
herói da Guerra do Paraguai não
identificado. [S. n. t.). 1 fot., sépia. Corpo inteiro (Coleção Thereza Christina Maria).
FOTOGRAFIA mostrando um acampamento de soldados,
GAMA, Luiz Felipe de Saldanha da. Plano da 3º bhase da
guerra do Paraguay. Rio de Janeiro: Lith. Tip. de Koegel & Schwestka, [18697]. 1 mapa, 49x79, 3cm: esc. 1: 70000. Cartelas: Quadro com resumo histórico. Plano
das posições do Tebicuary em 1868; CEHB n. 11253: outros exemplares. GAMA, Luiz Felipe de Saldanha da. Plano da 2º phase da guerra do Paraguay. Rio de Janeiro: Lith. e tip. de
Koegel & Schwestka, 1869. 1 mapa, 88x47cm: esc. 1: 70. 000. (Coleção Pimenta Bueno). Inclui resumo his-
tórico das batalhas de 10 de abril de 18664 5 de agosto de 1868; dedicatória do autor à Biblioteca Fluminense;
CEHB n. 11193.
BIBLIOGRAFIA re
mp
iai
O
DA
oe.
PARAGUAI
217
entre Iapiru e Humaitá. Berlin: Lith. Institut von Wilh.
y catalogación. Buenos Aires: Asociación Amigos del
Greve,
Museo Nac. de Bellas Artes, 1971. 52 p. il., est. (alg. color.) ret. “Exposición org. por el Museo Nacional de
500000. CEHB n. 11200. GREEN, W. H. L. Mappa de Humaitá e circunvizinhança.
Bellas Artes y el Museo Histórico Nacional ... Museo
Berlin: Lith. Institut von Greve, ca. 1868. 1 mapa, co-
Nacional de Bellas Artes, 17 de setiembro-12 de octo-
lor., 48x40cm; 1: 25. 000. CEHB n. 11. 230.
GREEN
bre 1971. Buenos Aires”.
GONZAGA, Jozé Basileo Neves. Diversos esboços dos recojr
DO
me
GIL SOLA, Marta; DUJOVNE, Marta. Candido Lopez: textos
e
GUERRA
[18687].
1 mapa,
color., 55x36cm;
esc. 1:
W. H. L. Mappa do theatro da guerra na Repúbli-
ca do Paraguay nos mezes de abril a setembro de Berlin: Lith. Inst. von
Wilh. Greve,
[18707.
nhecimentos feitos na margem do rio Paraguay... Rio
1869.
de Janeiro: Archivo Militar, 1869. 4 mapas, 32x47cm;
mapa, color., 48x40cm; esc. 1: 250000. CEHB n. 11257.
esc. várias. CEHB
teúdo:
esboços
n. 11251; outros exemplares; con-
de:
30/10/1868;
24/10/1868;
GRIVOT,
Felix Alejandro.
topográfico de la villa
Uruguayana con las posiciones de los ejercitos aliados
en el dia 18 de setiembre de 1865. Is. L., Lit. Vigier y
28/10/1868; s. d. (Angustura). GREEN, W. H. L. Carta do theatro da guerra na República do Paraguay de setembro de 1869 ao fim da Guerra. Berlin: Lith. Institut v. Wilh. Greve, [18707]. 1 mapa,
Goiran, s. d.]. 1 mapa, 36, 5x45, Sem. Outros exempla-
res.
GRIVOT, Felix Alejandro. Planta topographica da cidade
49x41cm; esc. 1: 1000000. CEHB n. 11258; outro
de
exemplar.
tropas alliadas em
GREEN, W. H. L. Carta dos combates do mez de dezembro 1868. Berlin: Wilh. Greve, [s. d.). 1 mapa, 30x21cm;
Uruguayana
e suas fortificações e posições das
18 de setembro de 1865. Berlin:
Wilh. Greve, [186527]. 1 planta, 21x20, Sem. CEHB n. 11187; outro exemplar.
A GUERRA do Paraguay. Porto: Livraria Lello, Is. d.). 56 p.
esc. 1: 75000. CEHB n. 11249. GREEN, W. H. L. Carta dos combates no rio Tebicuar). Berlin: Lith. Institut v. Wilh Greve,
Plano
18687].
1 mapa,
20x12cm; esc. 1: 75000. CEHB n. 11239.
il. (Enc. pela imagem).
|
GUIAUD, Jacques. Projeto de coluna triunfal em bronze a
ser erigida no Rio de Janeiro para celebrar a vitória
und Umgegend.
do Brasil na Guerra do Paraguai. IS. 1: s. n., 1870.
Berlin: Lith. Institut von Greve, 1868. 1 mapa, color,
Des. aquar. (Col. Th. Ch. Maria). Acompanha carta de Louis Rochet, autor do projeto ao Imperador.
GREEN,
W. H. L. Karte von Humaitá
1
48x40cm; esc, 1: 25. 000. (Coleção Pimenta Bueno). GREEN, W. H. L. Mabpa da parte meridional do Paraguay
GUIMARÃES, I. M. Plano do sítio de Humaitá pelo Chaco.
A
GUERRA IEEE
DO CER e
—
PARAGUAI
rei ir
ej
S
SSL SI SS EIS
SIT LT
1E
[Rio de Janeiro: s. n., 18677]. 1 mapa, 35x47cm; esc.
maitá, toscamente
indet.; escala gráfica em braças. Supplemento da Se-
do exército brasileiro.
mana
JOURDAN,
Illustrada.
H. M. S. BOMBAY,
burnt at river Plate, march 1865. IS. n.
LJ. Litografia segundo desenho de De Martino.
a
delineado com algumas posições
Emilio Carlos. Atlas histórico da Guerra do
Paraguay: organizado pelo 1º tenente E. C, Jourdan,
membro da comissão de engenheiros, sobre trabalhos
OS HEROES do dia 6 de dezembro de 1868. [Rio de Janei-
ro): Lith. da Vida Fluminense, 1868. Litografia. Contém retratos de: Duque de Caxias, Visconde de Itaparica, Mena Barreto, Barão do Triunfo, Visconde do Herval,
seus e de outros officiaes da mesma comissão. Rio de
Janeiro: E. Rensburg, 1871. 36 f., especialmente mapas, plantas.
JOURDAN, Emilio Carlos. Carta do território das províncias de Corrientes da República Argentina e do Rio
Gorgão,
Deodoro
Fonseca,
etc...
Grande do Sul invadidas pelos exércitos paraguayos
Roberto H. Chodasiewicz,
em 1865. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 18667. 1 mapa, color., 71x59cm; esc. 1: 560000. Inclui legenda
HOBDANG,
da Fonseca,
Eduardo Emiliano da
conde de. Planta
do caminho percorrido pelo Exército Imperial desde
Pilar ate Guarda planta, cópia
mss.;
da Palma 2, 45x1,
no Paraguay. 45m;
1868.
esc. 0, 00001666.
Cartela: Planta da Vila do Pilar; diário do acampamen- to durante a marcha do exército.
HOBDANG,
Roberto H. Chodasiewicz, conde de. Planta
do caminho percorrido pelo Exército Imperial no Pa-
raguay desde Pilar até Guarda da Palma. Assumpção, 1869. 1 planta, mss. original; 1, 77x1, 30m; esc. 0, 000008333. Diário dos acampamentos durante a mar-
cha do exército (1868); observação geral da marcha do exército.
HUMAYTA,
Paraguay.
Mapa
manuscrito.
Trecho
do Rio
Paraguay entre Pilar e Três Boccas.
HUMAYTA. 89, 5x63cm. Trecho do Rio Paraguai, em Hu-
1
histórica a partir da ocupação de Corrientes pelos pa-
raguaios até o combate de Currales.
JOURDAN, Emilio Carlos. Carte du territoire des provincies de Corrientes de la République Argentine et du Rio Grande
do Sul envahies par les armeês paraguayennes en 1865. Is. 1): Imprensa Nacional, 18667].
1 mapa, 71x59cm; esc. 1: 560000. (Coleção Biblioteca
Fluminense). JOURDAN,
Emilio Carlos. Planta da República do Para$uay com as marchas dos exércitos alliados em 1866-
70. Rio de Janeiro: Lith. Imperial de Rensburg, 1871. 1 mapa, em duas seções; 52x65cm cada; esc. 1: 800000.
Faz parte do Atlas Histórico da Guerra do Paraguay, n.
16-17.
JOURDAN, Emilio Carlos. Planta do território paraguaio:
fes
218
BIBLIOGRAFIA
DA
GUERRA
DO
PARAGUAI Ea
theatro das operações da guerra desde a passagem do
LOPEZ,
o
219
e
Candido, Rendición de Uruguayana. IS. [: s. n),
Paraná ate a rendição das forças de Humaitá em 5 de
1865. Fotograv. do quadro a óleo. “Argentina 29, a. 3,
agosto de 18668. Rio de Janeiro: E. M. E., 1923. 1 mapa,
diciembre 1971-enero 1972, Buenos Aires, p. 76”.
color.; 106x70cm; esc. indet.; escala gráfica em metros.
LOPEZ, Candido. Vista del interior de Curuzu. (S. L:s. n.),
Reprod. fotográfica; doação assinada pelo major Mario
1891. Fotograv. do quadro a óleo. “Argentina 29, a. 3,
Barreto; inclui legenda
diciembre 1971-enero 1972, Buenos Aires, p. 72-73”.
histórica de 10/4/1866 a .
5/8/1868.
|.:s.n., ca. 1870). 1 mapa, 22x19cm; esc. indet.; escala
vendo-se alguns dos heróis da
gráfica de 1km. O local figurado no mapa e a costa do
Campanha do Paraguai, como Osório, Caxias, etc. IS.
LUQUE,
L. A. M. Retirada do sanguinário Lopez e seu sábio Con-
LEMBRANÇA do Paraguay. 54 fot. mont. Álbum da Guerra do Paraguay, 1865-1870. LINDE, Carlos. Os heroes da Campanha do Sul. [S. n. tJ. Litog. Supplemento da Semana Ilustrada.
paraguayo
occupado
pelas forças do
ras
16x10cem. convinham
serem
ocupadas
durante a Guerra do Paraguai. [s. 1., 18652]. 1 mapa ms. em duas seções; 25x33cm
cada: esc. indet. Ms. sobre
papel vegetal.
de retratos dos heróis que tomaram parte na passagem
litares no Paraguai. Recife: Jornal do Recife, [18687. 1
Humaitá, 19 fev, 1868. [S. L: s. n.), 1868. Litog.
mapa, 260x43cm.
enero 1972, Buenos Aires, Pp. 78-9”.
ntes ie rr Co de ai gu ra Pa do ha an mp Ca A LOPEZ, Candido. de io [R z. pe Lo o id nd Ca a Curupaiti, vista pe lo Tenente 47 est. color., ret, il, f. 13 . 5] 97 [1 , Janeiro]: Record Exemplar n. 0385.
me
pelas forças brasileiras
MAPA topográfico explicativo dos últimos movimentos mi-
de Tuyuti. IS. 1: s. n.), 1887. LOPEZ, Candido. embre 1971ci di 29, na ti en rg “A . ro ad qu do Fotograv.
—
MAPA demonstrativo das zonas do Paraná e Paraguai que
LINDE, Carlos. Os heroes da Campanha do Sul. Série de 8
Batalha
E a
Coronel Vasco Alves Pereira. Luque, 1869. 1 mapa ms.
gresso. RS, 20 maio 1867]. [S. 1.:s. n., 1867]. Des. orig. a tinta e aguada (Col. Th. Ch. Maria).
povoado
o
n. t.]. Des. orig. a tinta e aguada (Col. Th. Ch. Maria).
departamento do Rocha no Uruguai.
a
tomada de Humaitá,
a vitória do Brasil na
MAPA
topographico
das Lomas
Valentinas no Paraguay
desde San Antonio até Palmas. [s. 1: s. n., 18692). 1 mapa
color.; 39x55cm; esc. indet., escala gráfica em
milhas. Outro exemplar.
MAPPA do theatro da guerra do Uruguay e Paraguay. ÍRio “de Janeiro?: s. n., 18652). 1 mapa color.; 54x38cm: esc. indet. CEHB n. 11171; outro exemplar.
iai
representa
pg
O desenho
a
L. A. M.
LUGAR del naufrágio del Solimões visto desde el Faro. Is.
CCREPETESETO E
e
MAPPA
TT
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VR
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O
O e
do theatro
PR
O
A RR
O
O
da guerra.
1869. 1 mapa, 22x27cm;
ER
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SS mam SEG is pa essi npin api io dis mma nip cm
MRS
TRT RT
re
gm
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PS
SSIS
OO
Recife: Jornal do Recife,
Andre
desenhado fora de escala.
11232.
Outro exemplar.
PLAN
NA véspera do triumpho. Rio de Janeiro: Lith. Imp. de S. A.
passage
du
(arc-l,
e assinado
Rebouças
fortifié d'Humaitá:
1, 21); CEHB
n.
vue des batteries
d'Humaitá (Paraguay). [s. 1.). 1857. 1 mapa. Copiado por Laurean José Martins Penha.
Sisson. Litografia. CEHB 18171. NIEMEYER, Conrado de. Uma idea das posições que occu-
PLANO
de la vuelta del Riachuelo con la posición de la
pão os belligerantes no Paraguay. Rio de Janeiro: Im-
Escuadra Paraguaya protegida por la formidable bate-
perial
color.;
ria de tierra. [Buenos Aires?): Lit. San Martin, [18657. 1
41x55cm; esc. indet.; escala gráfica em metros. (Cole-
mapa, 37x28cm; desenhado fora de escala. Acima do
ção Pimenta Bueno). Vista panorâmica e litogravuras
título: Vivan las Naciones Aliadas!!!-Batalla naval del
de armas; outro exemplar.
11 junio 1865; CEHB n. 11182.
PARAGUAI.
Instituto Artístico,
1867.
1 mapa
Plano
PLANO del campo de batalha de Tuyuty ganada el 24 de
del Estero Bellaco: ataque de las fuerzas paraguayas...
mayo de 1866 por los aliados contra el ejercito argen-
el 2 de mayo de 1866, segun los datos suministrados
tino. Is. 1.: s. n., 18667]. 1 mapa color.; 42x43cm; esc.
por el senor Lopez Trueba. [s. 1.): A. Hequet y Cohas
indet.; escalas
Hermanos, [18667]. 1 mapa, 52, 5x40cm. (Coleção Bi-
Bueno).
Dirección general de obras publicas.
blioteca Fluminense).
|
PASSAGEM de Curupaity. [S. 1.:s. n., 1892]. 1 fot. “Carte de visite”, sépia. Fot. de uma litografia. PERFIL da parte das fortalezas de Humaitá vistas de um
ponto do Chaco em setembro de 1867. [Rio de Janeiro: s. n., 1867]. 1 mapa, 47x56cm:
esc. indet. Inclui dese-
nhos de diversas peças; Supplemento da Semana Illustrada.
PLAN du passage fortifié d'Humaitá. Rio de Janeiro: Lith. do Arch. Militar, [1865?]. 1 mapa, 45x63cm: esc. inde-
terminável. Na mesma folha: Vue des batteries d'Humaitá (Paraguay); outro exemp. com anotações de
gráficas em
varas.
(Coleção
Pimenta
PLANO del combate naval del Riachuelo entre las esqua-
dras brasileira y paraguaya en el rio Parana, duas léguas
abajo
de Corrientes.
[s. 1]: P. E. Coni,
1865.
1
mapa, 31x49cm; esc. indet. “Levantado por un testigo ocular”.
PLANO do Rio Paraná desde as Três Bocas até acima do forte de Itapiru. Rio de Janeiro: Semana Illustrada,
1866. 1 mapa, 29x46cm; esc. indet. CEHB n. 11198:
outros exemplares.
PLANO topográfico del Paso de la Patria à Humayta. Mon-
tevideo:
Lit. Mege
y Willems,
[18662].
1 mapa,
26x39cm; esc. indet. (Coleção Biblioteca Fluminense).
BIBLIOGRAFIA
PLANTA aproximada
das Baterias de Humaitá
DA
como
se
GUERRA
DO
PARAGUAI
221
posição da esquadra. [Rio de Janeiro: s. n. 18654,
1
achavão no dia 4 de maio proximo findo. [s. 1.). 1855.
planta,
1 planta, cópia a aquarela; 37, 3x51, 9cm.
menta Bueno). Vista panorâmica da Fortaleza e 2 gra-
PLANTA da fortaleza de Humaitá e da cidade de Assump-. ção e seus arredores. [s. 1., 18-7]. 1 planta, 31, 8x56, 8cm; original a aquarela.
56x45cm.;
esc. indeterminável
(Coleção
Pr
vuras de armas militares; “Mandado pelo Barão de Inhaúma
ao Imperial
Inst. Artístico”,
outro exemp.:
arc-1, 1, 21X, CEHB n:-11: 227.
PLANTA da marcha do 2º corpo do exército brazileiro do
PLANTA topographica de Angostura, linha Pikysyri e Lo-
rio Uruguay ao Paraná em 1866... Rio de Janeiro: Lith.
mas Valentinas, [s. L., 18707]. 1 mapa ms.; 91x122em:
Imp. Rensburg, [18662]. 1 planta, 53, 5x70, Sem; esc. 1:
esc.
200000. Mesma folha: planta... Villa da Uruguayana e
papel tela. (Coleção Biblioteca Fluminense).
Villa de Sao Borja; f. 3 destacada do Atlas Histórico da Guerra do Paraguay.
ro: Diário do Rio de Janeiro, 46x62cm.; esc. indeterminável,
[1865?].
esc. gráfica em me-
Janeiro”
e “Vista das baterias de Humaitá,
tomadas
do
CEHB
PLANTA cm;
1 mapa,
“aos assignantes do Diário do Rio de ancoradouro”;
outro
exemp.:
ms.
a traço de pena
em
1 mapa
ms., color.
15x28cm:;
desenhado fora de escala, aquarelado (Coleção Pimenta Bueno). Incompleto; inclui informações sobre combates. QUADROS
históricos da Guerra do Paraguay. [Rio de Ja-
d.).
Pimenta
André;
MADUREIRA,
Bernardino
de
Sena.
Planta do acampamento e da Batalha de Tuyuty a 24 de maio
de 1866.
Montevideo:
Lit. Mege
y Willens,
1866. 1 mapa color.; 54x45cm. (Coleção Pimenta Bue-
PLANTA de Humaytá. Rio de Janeiro: Lith. imp. de Rensdesenhado fora de
escala. Outro ex.: arc-1, 1, 21; CEHB n. 11. 229.
PLANTA de uma fortificação às margens do Rio Paraguai.
IS. n. t). 1 f. des.
1867.
1, 1, 21K;
Bueno).
burg, [18687]. 1 planta, 50x39cm,
em
neiro): Typ. Parlamentar de Hyppolito José Pinto, Is.
1 planta, 31x41
tela (Coleção
a nanquim
PONTOS estratégicos da Guerra do Paraguai nos Rios Pa-
REBOUÇAS,
e seus arredores.
original
Paraguay,
n. 11. 233.
de Humaytá
de 0, 0001;
raguai e Paraná.
PLANTA da passagem de Humaitá fortificada. Rio de Janei-
tros=19, 8cm.
indet., esc.
PLANTA geral da Fortaleza de Humaitá e suas imediações:
no). CEHB n. 11208.
A RENDIÇÃO
de Uruguaiana. [S. n. t]. Litog. segundo
desenho de Pedro Américo. N. 2 dos quadros históricos da Guerra do Paraguai. RIO BRANCO, José Maria da Silva Paranhos.
Batalha do
Avahy. [s. d.]. 1 mapa, 29x26, 3cm. Doação do Major
GUERRA
A
aza
DO
PARAGUAI e
TT—e——
mm
Mario Barreto; cópia do E. M, E. 1924; reprod. do orig.
Snr. Conselheiro de Guerra e Marechal de Campo An-
ms.
tonio Nunes de Aguiar Commte.
Geral do Corpo de
ROCCHINI, F. Festa efetuada na Igreja da Encarnação em
Engros. e Director do Archivo Militar”; CEHB n. 11255.
Lisboa, para celebrar o término da Guerra do Para-
TAMANDARÉ: Brazil depois do ataque de Curupaity: fotografado do natural. [S. n. t.]. Litografia. Supplemento
guai. [S. n. t.). Fot. Col. Th. Ch. Maria.
ROCHET, Louis. Projet de colunne triomphale en bronze a
da Semana Illustrada.
élever dans la ville de Rio en commemoration de la
TEATRO de la guerra en el Paraguay. Is. 1): La Tribuna, 12
Guerre du Paraguay. [Paris: s. n., 1870]. Fot. da ma-
set. 1867. 1 mapa; 36x52cm; esc. indet. Inserto: Section
quete.
del Rio Paraguay donde se halla Humaitá y operan los
S. A. o Sr. Gaston d'Orleans, Conde D'Eu. Rio de Janeiro:
Imperial
Inst. Artístico.
Litografia.
CEHB
Antônio
Riachuelo
18169. SETE heróis da Guerra do Paraguai (Almirante Inhaúma, Duque
TEFFÉ,
de
Caxias,
Visconde
de
Herval,
General
em
Luiz von Hoonhltz.
Plano da vuelta del
com posições das esquadras do Brazil e
Paraguay na Batalha Naval de 11 de junho de 1865.
Rio de Janeiro: Archivo Militar, 1876. 1 mapa, color.; relação
de canhoneiras
chefe Conde D'Eu, Barão do Triumpho, General Argo-
12x25cm;
lo, General Polidoro). IS. L: s. n.], 1871. Xilogravura.
brasileiras e paraguaias; CEHB n. 11183; péssimo esta-
Echo Americano de 2 de dezembro de 1871, p. 257.
do de conservação.
esc.
indet.
Inclui
SILVA, Q. de Castro e. Rio Paraguay desde a vanguarda
TEFFÊ, Antônio Luiz von Hoonholtz. Planta hydrographi-
da esquadra até um pouco acima de Curupaity. Rio
ca do Passo da Pátria com as posições da Esquadra
1 mapa;
Imperial Brazileira nos Combates de Março e Abril de
de Janeiro:
Semana
Illustrada,
[18687].
28x23cm; esc. indet. Supplemento da Semana Illustra-
1866. Rio de Janeiro: Archivo Militar, 1876.
da; CEHB n. 11206; inclui gravura de um brulote para-
56x70cm; esc. indet. CEHB n. 11195; outro exemplar.
guaio; outro exemplar. SOARES,
M. F. C. de Oliveira.
1 mapa;
TEFFÊ, Antônio Luiz von Hoonholtz. Planta hydrographiEsboço do Rio Paraguay
ca do Passo da Pátria incluindo o canal privado dos
desde o Rio Paranã até o piquete Paraguayo (Herra-
paraguayos e uma parte do rio Paraguay desde Três
dura) acima do Tebiquary ... [s. 1.]. 1868. 1 mapa ms.;
Bocas ate a lagoa Serena ou Sirena... Rio de Janeiro:
130x36cm; esc. indet.; escala de 10 léguas de 20 ao grau (Coleção Pimenta Bueno). “Offerecido ao Exmo.
imperial Instituto Artístico, 1866. 1 mapa; 112x142cm; esc. indet.; escala de 0, 20m de comprimento
PE
do
4 To
Lith.
encorazados brasilenos.
1
Ena
PERL
LERAM
es
a
-——
para 1600m no terreno. CEHB n. 11195; outros exem-
Souza Gonzaga,
plares.
Corpo de Voluntários da Pátria, mortos e feridos no
EL TENIENTE
Coronel
Gaspar Campos,
remetendo relação dos praças do 1º
jefe del batallon
combate de São Borja em 10 de junho contra as forças
““Cazadores de la Rioja” sorprendido en Acayuzu salva
paraguaias. Alegrete, RS, 26 jun. 1865. Copia, 3 doc,
la bandera de su batallon arrojandola ao rio”. IS. n. t]. Fotolitog.
THEATRO
áp, CAMARAGIBE,
da Guerra
do Paraguay
1866.
[Brasil: s. n,,
Pedro
Francisco
de Paula
de
Cavalcanti
Albuquerque, Visconde de. Carta a seu amigo partici-
18667]. 1 mapa; 26x41cm; desenhado fora de escala.
pando
CERBn: 11175:
Paraguai. Recife, 6 nov. 1866. Autogr., 3f. Destinatário
UNIFORMES brasileiros, argentinos e paraguaios. [S. n. t.). Argentina 29, ano 3, diciembre 1971-enero 1972, n. 29, p. 70-79.
a chegada de Silveira Lobo e a Guerra do
ignorado.
|
CARMO. Carta a destinatário ignorado sobre a Guerra do Paraguai.
1869.
Mapa
da
força
quartel-general
em
Assunção.
CATÁLOGO dá Coleção Visconde do Rio Branco. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 1950. 2v.
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL DRD/DIVISÃO DE INFORMAÇÃO DOCUMENTAL
CAUTELAS de jóias e objetos de valor doados pelas senhoGUERRA
ras paraguaias para auxílio da Guerra. 1867. 104 doc..
DO PARAGUAI — Manuscritos
originais. Coleção Galvão. ALENCAR, Jose Martiniano de. Carta a um amigo descul-
CAXIAS, Luis Alves de Lima e Silva, Duque de. Carta ao
pando-se por não ter comparecido à conferência... 27
Visconde do Rio Branco sobre a vitória dos aliados em
jan. 1869. 1f., autografa. Declara ser favorável à redu-
Humaitá. Cat. Rio Branco, 4825.
ção de despesas e à permanência de tropas no Para-
CAXIAS, Luis Alves de Lima e Silva, Duque
de. Cartas a
guai.
Ana Luiza (sua esposa). 1865-8. Sp. mss., originais.
Pedro de. Colección de obras impresas y manuscritas, que tratan pricipalmente del rio de la Plata.
Entre outros assuntos, refere-se à vinda do Imperador
ANGELIS,
CAXIAS, Luis Alves de Lima e Silva, Duque de. Caras a João Manuel. Tuyucue, 1-9 nov.1867. 4 docs. mss.,
Buenos Aires: [s.n.), 1853. 230p.
ia. cóp 3f., 6. ero num ia, paf cam de N ETI BOL )
CALDWELL,
João
Frederico.
Ofício a João Marcelino
ao Sul e escravos na guerra do Paraguai.
de
originais. Coleção Otoni.
224
A
GUERRA
DO
PARAGUAI
CAXIAS, Luis Alves de Lima e Silva, Duque de. Cartas ao
COLEÇÃO Tobias Monteiro. Contém pacotes com alguns
Visconde de Inhaúma. 1866-8. 8 docs. mss., originais.
documentos, notas e recortes de jornais sobre a Guer-
CAXIAS, Luis Alves de Lima e Silva, Duque de. Cartas ao Visconde do Rio Branco. 1867 e 1868. 3 docs. mss,,
ra do Paraguai. COLEÇÃO
Visconde do Rio Branco. 50 rolos de microfil-
mes. Cerca de 50.000 docs. do Arquivo do Paraguaí,
originais.
CAXIAS, Luis Alves de Lima e Silva, Duque de. Correspon-
apreendidos pelo Brasil ao final da guerra e recolhidos
dência do Governo Imperial do Brasil com o conse-
ao arquivo particular do Visc. do Rio Branco; adquiri-
lheiro Francisco Otaviano de Almeida Rosa e com o
da pela BN em 7/6/1881. Documentação devolvida ao
Marquês de Caxias. Rio de Janeiro, 1865-1867. Códice,
Paraguai em 1980-1.
COLLECÇÃO de figurinos para a Guarda Nacional da Corte
cópias, 22 documentos, 232p.
CAXIAS, Luis Alves de Lima e Silva, Duque de. O Duque de Caxias perante a história, guerra
com o Paraguay.
e seu município...offerecida... pelo tenente d'Infanta-
ria do Exercito José Maria da Costa Araujo. [18-2]. ([31f], il. Desenhos assinados por Sousa, 1840.
Cópia, mss.
COLEÇÃO De Angelis. Adquirida em 1853 de Pedro De
CONFIDÊNCIAS e reservados expedidos pelo Sbc
do
Angelis, com cerca de 1.500 pastas de documentos e
Excellentíssimo Sr. Conselheiro Dr. Affonso Celso de
códices sobre a história da Província Jesuítica do Para-
Assis Figueiredo. 1866-1868. Códice, cópia, 137p.
guai e das questões
de limites na região do Prata.
Microfilmada.
COLEÇÃO
(Francisco Solano López). 1854-66.
Galvão (Miguel Arcanjo Galvão). Cerca de
32.000 documentos Brasil, secs.
sobre história administrativa do
XVHI-XIX;
contém
alguns
documentos
avulsos sobre a Guerra do Paraguai; Galvão foi conta-
dor da Guerra do Paraguai e colecionador.
COLEÇÃO Mario Barreto. Cerca de mil documentos manuscritos, originais. Correspondência do Conde D'Eu durante a Guerra do Paraguai. Coleção doada por Ana Maria
Barreto
CORRESPONDÊNCIA de madame Lynch com D. Pancho
à BN
em
disponível para consulta,
novembro/94
e ainda
não
CUNHA, Antônio Luis Fernandes da. Oficios da Tesouraria de Fazenda da província a José Joaquim Fernandes Torres,
comunicando
despesas efetuadas em
conse-
quência de epidemia na região, e remetendo docu-
mentos. Porto Alegre, RS, 13-30 mar. 1867. Original, 6
doc. 7p.
DECLARAÇÃO dos prisioneiros de guerra de Cerro-Cora à bordo do vapor Princesa Armada Imperial. Assunção, 4 abr. 1870. Original, 1 doc,, 12p.
DOCUMENTOS
relativos à Guerra
do Paraguai oriundos
BIBLIOGRAFIA
DA
ArENES bis dede
emr pt
dos Ministérios da Guerra e Relações Exteriores sobre operações militares e negociações diplomáticas.
Có-
pias, 24 documentos. ENTRADA
DO
PARAGUAI
TE.
-—
CR
e
225
o Sa
ee
de Janeiro. Typ. Imp. e Const. J. Villeneuve,
1367.
Impresso, 45p. GAY, João Pedro, Ofícios a João Marcelino de Souza Gon-
e saída de transportes: Guerra do Paraguay.
1870. [117]f., mss., original.
zaga, informando sobre o movimento e a aproximação das forças paraguaias na Freguesia de São Borja.
FERREIRA, Antonio Costa etal. Requerimento ao Presiden-
São Borja, 9-12 maio 1865. Cópia, 4 doc., 12p.
te da República (Venceslau Bras) pedindo a abolição
GONZAGA, João Marcelino de Souza. Extrato da corres-
dos festejos comemorativos pela vitória brasileira nas
pondência do Presidente da Província de São Pedro
batalhas de Tuiuti e Riachuelo. São Félix, BA, 21 jan.
do Sul,
1916. 2f., impresso com assinaturas autografadas.
49p.
FIGUEIREDO,
Afonso Celso de Assis.
Cartas do Ministro
INSTRUCÇÃO
relativa à guerra.
1864-65.
Códice,
cópias,
do recruta. [Paraguai], 1869. Cópia por
da Marinha ao contador do Tesouro, Miguel Arcanjo
Cayetano Rodas; nota manuscrita no verso da 1º capa:
Galvão. 1866-1867. 13 cartas, pp. 382-410.
“Este manuscripto foi achado em Piribebuy a 12 de
FIGUEIREDO, oficial,
Afonso
Celso
de Assis.
confidencial e reservada.
Correspondência ago. 1866/jul.1868.
FREITAS, Leopoldino Joaquim de. Ofício a José Joaquim Fernandes
Torres,
agosto de 1869 por Luiz de Beaurepaire Rohan”.
INVASÃO do Rio Grande do Sul: justificação do Major Joaquim Antônio Xavier do Valle. Porto Alegre. Typ.
Cópia, ms, 137f.
que entregou
comunicando
ao
do Jornal do Commercio, 1867. Códice, impresso, 31p. J. B. Canción de un soldado. 3p., mss.
vice-cônsul francês da cidade a indenização devida a
JESUÍTAS e bandeirantes no Guaira (1594-1640): manuseri-
François Gay, por madeiras queimadas pelo 2º Corpo
tos da Coleção De Angelis. Introd., notas e glossário
de Exército estacionado em São Borja. Porto Alegre,
por Jaime
RS, 4 maio 1867. Original, 2 doc., 5p.
gues. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional,
GALVÃO,
Rafael Arcanjo.
diversas autoridades.
Minutas de oficios dirigidos a
1866-1867.
1.356 documentos,
2v. encad., mss. GAY,
GUERRA
iJoão Pedro. Invasão paraguaya na fronteira braz
leira do Uruguay desde seu princípio ate o seu fim (10
y. Rio Ga o dr Pe ão Jo go ne Cô lo pe jun. a 18 set. 1 865)
Cortesão;
explicação José
Honório
Rodri-
1951. 7v.
Arrola documentos sobre questões de limites e formação territorial.
LAMARE
SOBRINHO, Joaquim Raimundo de. Tópico da
carta a seu pat... sobre os últimos movimentos... da
guerra. Tuiuti, 5 jun. 1867. 1p., cópia. LISTA nominal de SS. Oficiales y tropas de la 4. comp. 6
E
GUERRA
DO
PARAGUAI
a
A
SS
SO SD
SEE
ak
1
A o Ea
E
mA, SO
aeer
aca
aque
rio
E
a
ES PRE
maio 1869. Assinado por Francisco de Paula Martinez: escrita em couro. LOPEZ,
Francisco
ministro
sucessos da guerra. Humaitá, 12-16 jun. 1865. 4 docs.
ap
27x21cm.
Catálogo
da Coleção
Rio
Branco: 3953, LÓPEZ,
Francisco
I
pd RO oO tr O
Cartas a José Berges,
Solano.
coronel Germano
APR, pa SS
pergaminho,
a Soa
comandante
Decreto
Serrano,
nomeando
o tenente-
do 4º Batalhão,
coronel
do mesmo.
8 dez.
1868.
1 ms., autogr.,
E E do cáPS Se a
Pelotas a Alexandre José de Melo Moraes, comunican-
a
do sua indicação ...para representá-la nas felicitações
a SM. pela vitória sobre os paraguaios. Pelotas, RS, 6
maio 1870. Original, 1p.
Francisco Inácio Marcondes
Homem
de.
Carta a
des, participando que o 3º Corpo de Exército... transpôs o Uruguai em 25 de março. Porto Alegre, RS, 12-3
e 22 abr. 1867. Cópia, 3 doc., 9p. Francisco
Homem
de.
Corres-
Alegre, RS, 29 jun. 1867/15 mar. 1868. Cópia, 39 doc,, 138p. MELO,
Francisco
Inácio Marcondes
Homem
de.
Corres-
pondência oficial do presidente do Rio Grande do Sul da correspondência trata da organização do 3º Corpo
do Exército contra o Paraguaí em 1867. MELO,
Francisco
Inácio
Marcondes
Homem
de.
Corres-
Inácio
Marcondes
Códice, originais e cópias, 80f. MELO,
Francisco
pondência
Inácio
Marcondes
Homem
de.
Corres-
reservada do Presidente da Província do
imperial. Cópia,
ms., 49f.
MELO,
Francisco Inácio Marcondes
Homem
de. Oficio a
Afonso Celso de Assis Figueiredo, informando sobre as condições em que se encontra a Esquadra da Lagoa dos Patos. Porto Alegre, RS, 29 jan. 1867. cópia
Homem
de.
Corres-
pondência oficial com o governo imperial e autoridades da província, versando grande parte sobre a orga-
nização do 3º Corpo do Exército para a campanha contra o Paraguai. Porto Alegre, RS, 23 nov. 1866/5
fev. 1868 (extratam-se os documentos mais importantes). Cópia, 56 doc., 193p.
Exército da Guerra do Paraguai. 16 jan./22 ago. 1867.
Rio Grande do Sul com o governo
Zacarias de Gois e Vasconcelos e a outras autorida-
MELO,
Marcondes
pondência oficial sobre a organização do 3º Corpo do
MELO, Adriano José de. Ofício da Camara Municipal de
MELO,
Inácio
com o governo Imperial. Cópia, ms., 97f. A maior parte
q
ea SR o 7
Solano.
originais,
Francisco
pondência oficial com o ministro da Guerra. Porto
das Relações Exteriores do Paraguai, referindo-se aos mss.,
Ceà =
MELO,
MELO,
Francisco
Inácio Marcondes
Homem
de.
5p-
Oficio a
Antonio Coelho de Sa e Albuquerque, fazendo considerações sobre a permissão obtida pelo general Barão do Erval, para penetrar no Uruguai em perseguição a
brasileiros que procuram Jugir ao serviço militar. Por-
to Alegre, R$, 18 fev. 1867. Cópia, 3p.
MELO, Francisco Inácio Marcondes Homem de. Oficio a
+errrreee
BIBLIOGRAFIA
da
tree
EG
AR add meo im
DA
DESCI bia
GUERRA
DO
PARAGUAI A
A
José Joaquim Fernandes Torres, acusando o recebimento de aviso que atribui ao Ministério da Guerra
responsabilidade da indenização de François Gay, á
3:
realizada pela Pasta do Império.
jun. 1867. Original, 1p.
Porto Alegre, RS, 3
MELO, Francisco Inácio Marcondes Homem
de. Ofício a
cessão de auxílio a Rita Guedes de Meneses Falcão...
pela perda de seus bens em consegiiência da invasão Porto Alegre,
RS, 20 abr.
1867. Ono tnal
2p. MELO,
Francisco Inácio Marcondes
Homem
de. Ofício a
pelos objetos fornecidos por ocasião da epidemia de
cólera. Porto Alegre, RS, 2 maio 1867. Original, 11: doc., 13p. Francisco Inácio Marcondes
Homem
de. Ofício a
dido de indenização de Luis Pitaluga, súdito italiano,
pelos danos sofridos com a invasão paraguaia. Porto Alegre, RS, 20 fev. 1867. Original, 1p. MELO,
Francisco Inácio Marcondes
José Joaquim
Fernandes
Homem
Torres,
de.
Ofício a
enviando
requeri-
mento em que Epifanio Lopes Falcão...reclama inde-
nização pelos prejuízos causados por forças paraguaias. Porto Alegre, RS, 15 out. 1867. Original, 1p. MELO,
Ap O Gi
ge
Torres, enviando
em que José Luis Cardoso
RG
e
requeri-
de Sales reclama
indenização pelos prejuízos com a invasão da Via de Uruguaiana pelos paraguaios. Porto Alegre, RS, 21
MELO, Francisco Inácio Marcondes Homem de. Ofício ao general Marquês de Caxias contestando a notícia de estarem os paraguaios fortificando a margem direita do Rio Paraná,
a fim de impedirem a passagem do
Exército Nacional. Porto Alegre, RS, 8 fev. 1867. C6-
Francisco Inácio Marcondes
MELO, Francisco Inácio Marcondes Homem
Antônio Coelho de Sá e Albuquerque,
Homem
de. Ofício a
de. Ofícios a
referentes ao
recrutamento de filhos de estrangeiros para o serviço militar. Porto Alegre, RS, 9-10 fev. 1867. Cópia, 3 doc., 10p.
MELO, Francisco Inácio Marcondes Homem
José Joaquim Fernandes Torres, encaminhando o pe-
»
Fernandes
é]
e
pia, 2p.
José Joaquim Fernandes Torres, comunicando abertura de crédito para indenizar o Ministério da Guerra
MELO,
mento
e
out. 1867. Original, 2p.
José Joaquim Fernandes Torres, comunicando -a con-
paraguaia.
José Joaquim
e
de. Ofícios a
Manoel Pinto de Souza Dantas, sugerindo a extensão da linha telegráfica de Porto Alegre à cidade de Rio Grande,
Pelotas e Jaguarão e destacando as vantagens de rápidas comunicações com a fronteira meri dional. Porto Alegre, RS, 10 fev. e 24 abr. 1867. Cópia,
3 doc., 11p.
MINUTAS sobre o Paraguay no tempo da guer ra. 1865-7. Anexo:
biografia de Solano López publicada no Le Monde Illustré em 1860.
NÓBREGA, Tristão de Araújo. Oficio ao coronel Antonio Fernandes
Lima
relatando
o tiroteio havido
com
aos
228
A
GUERRA
PARAGUAI
DO ES SEP A
paraguaios,
próximo
a São Borja,
no dia
11 jun.
PÚBLICAS formas da certidão de protesto pelo aprisíona-
1865. Campo Volante do Corpo Provisório 22., junto à
mento
antiga estância do Padre Alexandre. 24 jun. 1865. Có-
cônsul João Carlos Pereira Pinto. Buenos Aíres, 19 dez.
pia, 8p.
1864. Cópia, 2 docs., 9p.
NOTAS da Campanha da Guerra do Paraguai. 1867. Origi-
QUADRO
nal, 2 docs., 5p. Anexo: cópias de um telegrama dirigido ao coronel-chefe do Estado-Maior pelo cel. Vasco
de Olinda,
passada
peló
dos vapores possuídos pelo Paraguay durante a
guerra. Humaitá, 19 ago. 1868. 4f., cópia mss. QUESTÃO
Alves; Estação Central, 14 mar. 1869.
NOTAS
do navio Marquês
que houve entre os paraguaios e os brasileiros
que estavam ocupando a ilha do Cerrito. 17 out. 1872.
para a biografia do general Osório. 16p., mss,,
Original, 14 docs., 4p.
REGULAMENTO especial para O serviço das enfermarias
original.
OLIVEIRA, João Olinto de. Histórico do 2º Corpo de Exér-
militares. Rio de Janeiro: Typ. Univ. Laemmert, 1861.
cito. Porto Alegre, RS, 18 jul. 1867. Cópia, 11p. PARAGUAY:
N.p. Coleção Galvão.
cópias de documentos do tempo da guerra.
RELAÇÃO nominal e alphabetica dos prisioneiros de guer-
1868. 5 docs., mss., cópias. Conteúdo: 1) intenção de
ra paraguaios matriculados na Escola de Ensino Primá-
Solano López de erigir monumento em homenagem a
rio nos annos
seu pai através de contribuição de “un real”; 2) relação
44x62cm. Coleção Galvão.
de imagens deixadas na capela do 2º Corpo, Humaitá; 3) relação
de comandantes
em
Humaitá
; 4) dados
numéricos da guerra; 5) cópia de patente de subalterno.
|
PARANAGUÁ, João Lustosa da Cunha.
Ofício a José Joa-
quim Fernandes Torres, comunicando providências para que o Ministério dos Negócios do Império receba a quantia paga a François Gay, como indenização das madeiras queimadas pelo 2º Corpo do Exército. Rio de Janeiro, RJ, 2 out. 1867. Original, 1p. PASSAGEM,
Delfim Carlos de Carvalho, Barão da. Papéis
pessoais do Barão da Passagem. 11 mss., autógrafo.
RIO
BRANCO,
José
de 1869 e 1870. Maria
da
Carta ao Barão Homem
1f., ms.
Silva Paranhos,
original, barão
do.
de Mello. Liverpool, 7 jul:
1882. Autografa, 4f. O barão solicita em carta inclusa
ao ministro da Guerra decisão sobre verba para impressão de seu livro sobre a Guerra do Paraguai. RIO BRANCO, José Maria da Silva Paranhos, visconde do.
Carta declarando que não foi à Câmara porque ficou trabalhando na missiva que vai dirigir ao Conselho do Paraguai. 1f., autógrafo. Destinatário ignorado.
SERMÃO recitado no solemne Te-Deum... no dia 11 de novembro de 1865 em Ação de Graças por occasião de voltar S.M. o Imperador
da guerra contra os para-
229
guayos invasores do Império. Rio de Janeiro: Typ. de
dos seguíntes navios encouraçados: Bahia, Barroso,
N.L. Vianna, 1866. 10p. Impresso.
Tamandaré, Pará, Rio Grande e Alagoas. 1868. 12f.
SEWELOH, A. A. F. de. Apontamentos sobre a Guerra do
Brasil com
o Paraguay.
280f., autógrafo. Texto em
alemão e português.
(11f. num.), cópia, ms. (Col. Wandenrelk).
TRATADO ms.
segundo
em
couro.
título prímeiro Nota
ms.
na
p.
do soldado. 2:
31p.,
“Encontrado
p.
O TESOURO de López. 12p. Datilografado.
mim em um reducto de Curupahity. 22 marco de 1868.
TRABALHOS da Divisão Avançada da Esquadra composta
Salgado”.
251
SOBRE OS AUTORES
Leslie Bethell é pesquisador senior do St. Anthony's
Fernando Antonio Novais é professor de História da
College, de Oxford,
Universidade de São Paulo e da Universidade Estadual
professor emérito de História da
América Latina na Universidade de Londres.
de Campinas.
Carlos Guilherme
Francisco Alambert
Mota
tória Contemporânea
det cm
a
da
da Universidade de São Paulo Estudos
do
Instituto
de
Universidade
de São
Paulo.
e diretor-fundador
dos
é professor-titular de His-
broad do Programa
Avança-
Membro
do
de Estudos Latino-Americanos
da Princeton University e da Academia Portuguesa de História.
é doutor em História da Cultura
pela Universidade de São Paulo e professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense. Leôn Pomer é professor de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de São Paulo, campus de Assis.
Tício Escobar é advogado e crítico de arte. Atualmente está à frente da Direção de Cultura da Municipalidade
Max Justo Guedes é diretor do Serviço de Documenta-
de Assunção.
ção da Marinha.
Enrique Amayo é professor do Departamento de Eco-
Eduardo Silva é doutor em História pela Universidade
nomia da Universidade Estadual de São Paulo.
de Londres e chefe do setor de História da Fundação
Alberto da Costa
Casa de Rui Barbosa.
Brasil em Assunção.
e Silva é escritor e embaixador do
o
historiografia brasileira tem se ressentido de uma reflexão ! contemporânea sobre a Guerra do
]
à Paraguai. Este é certamente um dos E
ma
| |
| |
capítulos mais obscuros de nossa história. Talvez alguns queiram crer que o tema da Guerra não seja muito afeito ao caráter “cordial” brasileiro, à índole pacífica nacional.
As interpretações da Guerra oscilam ideologicamente entre o ufanismo, que propala a bravura da marinha e do exército brasileiros, e aqueles que entendem a participação do Brasil como um braço armado do imperialismo inglês nas Américas, para impedir o autonomismo paraguaio. Em novembro de 1994, a Fundação
5
| |
+
| * * )
*, promoveram, no âmbito do Projeto À Biblioteca Nacional, o colóquio “Guerra do Paraguai - 130 anos”. O presente volume reúne as palestras proferidas durante o colóquio. Longe de lograr uma interpretação definitiva sobre o tema, as contribuições dos diversos palestrantes, de
|
Roberto
Marinho
e o Banco
Real
diferentes nacionalidades, buscam
K
refletir
sobre velhas teses a respeito da Guerra.
Novas abordagens acrescentaram-se ao debate, como as expressões literárias e das artes visuais. Nem sempre concordantes, às vezes complementares, o conjunto dos textos é marcado pela diversidade. Uma das mais Instigantes perspectivas é defendida pelo historiador inglês Leslie Bethell, que contesta a versão recorrente da Guerra como resultado dos interesses imperialistas britânicos, o que vai de encontro ao pensamento do professor peruano Enrique Amayo. O balanço da historiografia é feito pelo historiador
Carlos Guilherme Mota, coordenador do colóquio. O paraguaio Ticio Escobar analisa dois periódicos de guerra que estão na origem da gravura paraguaia. Francisco Alambert aborda casos da literatura brasileira em que a Guerra crige-se contra a pretensa barbárie paraguaia. O comandante Max Justo Guedes elabora uma análise da correlação de forças militares no conflito. O
historiador Eduardo Silva, por meio de um estudo de caso, contesta a visão de que os Voluntários da Pátria teriam sido caçados a laço para ingressar na luta. León Pomer considera o conflito como um momento básico da formação do Estado na Argentina. Fernando Novais lança a idéia de que a guerra foi um momento necessário para que se conciliasse uma contradição fundamental do Império
brasileiro. O diplomata Alberto da Costa e Silva analisa as relações diplomáticas entre
o Brasil e Paraguai, desde o final dos confhtos até nossos dias. Integram também este volume uma seleção do material iconográfico da Biblioteca Nacional, uma minuciosa cronologia de todo o contexto histórico “da Guerra e um levantamento completo do acervo da Biblioteca Nacional sobre o periodo 1864-1872. com cerca de mil registros que constituem fonte de referência imprescindível para o pesquisador interessado na história da Guerra do Paraguai,
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