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Portuguese Pages 63 Year 2001
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CONTRA
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O León Pomer
7/4 EDIÇÃO, 2001 Diretor Editorial
JEFFERSON L. ALVES Gerente de Produção
FLÁVIO SAMUEL
Assistente Editorial ROSALINA SIQUEIRA Capa ANDRÉA VILELA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Pomer, León, 1928-
PB47p
Paraguai: Nossa guerra contra esse soldado / León
Pomer. = 7º ed. —- São Paulo : Global, 2001.
- (História popular; nº 3)
ISBN 85-260-0076-4
1. Guerra do Paraguai, 1864-1870 |. Título.
84-2277
CDD-981.0434 Índice para catálogo sistemático:
1. Guerra do Paraguai, 1864-1870 : Brasil : História 981.0434
9
Direitos Reservados
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Rua Pirapitingúi, 111 — Liberdade CEP
01508-020
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estos VE 4 EENTOA AFILLADA
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem a autorização do editor.
BIBLIOTECA POBLICA MUNICIPAL Pe. ARLINDO MARCGN
Reg.
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SUMÁRIO 7 10 10 12 16 17 18 19 20
Conversa com O autOf = : == siso sie asso olm nimioioioiojonaio lojloadejo sjjo/0ijs lo ioisionaiato Guerra do Paraguai: guerra suja .......c.ccccrccccrecercccserracaees re r seca A chave da coisa está na Inglaterra ........cccccccccecccece A-Ovelha Negra. sos seas istoeis fo O VER ENE (ole Rai ea Ea oia O sucessor ..... cite] si(edo) ado volto o a aja fado Poa PERO dolo oito al alto) ei oe (o feno oo pela o tae fo onto ONA onrVe Ro oão .......cciccrcpccnererc ceara dg voi e previs Mau exempl ........... ENA GERE Cs tajio ay lo Ca AN aa aims ao Ei so o Francisco Solano Lopez aaiínito O império ea corrente de ouro ......iccccccccc cc. 76 eine aafaia O cobiçado Paraguai ..« assina sua ajoaraimia ro oca vjo jo: o) oilejio; elapa affair o (o ias o raia =
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Pe. ARLINDO
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León Pomer, argentino, professor de História na Universidade de Buenos Aires, lecionou na PUC —- São Paulo até 1984. Ministrou vários cursos em diversas universid ades do Brasil e da Argentina. E autor, entre outras obras, de A guerra do Paraguai, Conflitos da Bacia da Prata, Amé rica: Histó-
rias, Delírios e outras Magias, As Independênci as na América Latina, História da América Hispano-Indígena.
CONVERSA 1.
COM O AUTOR
León, é importante discutir guerra contra o Paraguai?
É importante, não
para
a
reavivar
ódios. Não estou interessado em jogar lenha na fogueira, acirrar chauvinismos. Mas, é importante recuperar O conhecimento do que significou esta guerra para o povo. Um dos problemas levantados com mais frequência,
atualmente, nos continentes que sofreram a opressão colonial, inclusive, na
própria Europa, é o problema da identidade. E identidade é inconcebível
sem memória. Um exemplo recente disto, na América Latina, é o Congresso dos Povos Indígenas realizado em Cuzco, onde se falou da necessidade de se reconstruírem não só as estruturas políticas pré-colombianas, como
também as estruturas econômicas, sociais, os valores culturais e religiosos. Outro exemplo é o que acontece nas Ilhas Britânicas. Os movimentos nacio-
nalistas
na
Escócia,
Gales, das
Ilhas
Hébridas são hoje mais fortes que em nenhum outro momento da história dos últimos cinco séculos. Para estes povos e muitos outros, recuperar a identidade é uma maneira de reapropriar-se de seu próprio ser, diferenciado e específico. Nesse sentido, os povos da área platina necessitam conhecer, em
toda sua verdade, aqueles pro-
cessos históricos, (como a guerra contra o Paraguai), em que foram prota-
gonistas, embora não protagonistas determinantes, para avaliarem com justeza, se O preço pago em sangue e sacri-
fício deu, como resultado, algo provei-
toso.
Esta posição, que não é original nem novidade, na verdade marca duas
linhas antagônicas de pensar a História, descrever a História e conhecer a His-
tória: a linha dos que mandam e a linha dos que obedecem ou são obrigados a obedecer. 2.
O tema da guerra contra o Paraguai está, hoje, esquecido pelos netos dos seus reais protagonistas. Este tema tem outras verdades?
Como todo fenômeno complexo, este também tem muito mais verdaapresentando-se des. Por exemplo: esta querra como uma guerra nacional contra. o “tirano” paraguaio, não é lícito omitir a oposição encarniçada que ela suscitou entre os próprios gruno pos dominantes. Esta ruptura
Brasil
entre
os
grupos
dominantes
prova-se, não só pelos jornais que legalmente faziam oposição à guerra, mas também pelos próprios Anais do Parlamento do Império. Quanto ao Uruguai, devemos notar que lá foi preciso instalar a ditadura de Venâncio Flores com a participação das tropas do Império do Brasil e a ajuda menos visível ,do govemo argentino. E na Argentina, os opositores à guerra, surgidos dos próprios grupos dirigentes, viram: seus jornais fechados, chegando eles a irem parar nos “Pontones”
(barcos velhos destinados a simples depósitos de carvão). E isto, referindo-
-nos só aos grupos dirigentes, pois na até Argeritina, por exemplo, houve uma guerra civil de cinco anos, descrita por mim-numa obra que leva precisamente este título. Quer dizer que uma guerra em que o povo era conduzido às fileiras do exército à força, em que surgiram fortes oposições no meio mesmo dos próprios grupos dirigentes,
esmagados,
por vezes, por violenta
re-
pressão, esta guerra pode ser considerada guerra nacional?
3.
Então, León, a guerra Paraguai é atual?
contra
O
De alguma maneira o governo brasileiro considera que aquela guerra não é um fato encerrado e esquecido. Foi o próprio presidente Figueiredo que julgou necessário devolver ao Paraguai os troféus de guerra e mais de 40 mil documentos que hoje estão no arquivo do Visconde do Rio Branco (Biblioteca Nacional). Lembro-me haver lido que numa discussão na Câmara dos Deputados de Brasília, sobre o assunto, um deputado situacionista falou da necessidade de pôr fim a rancores e ódios históricos. Isto significa reconhecer a existência destes e admitir, ao mesmo tempo, que as conse-
quências da guerra ainda estão vivas e atuantes. Eu acrescentaria, entre parênteses, que, obviamente, as conse-
quências da guerra vão ainda muito além de tudo isto. 4.
Esta revisão do tema histórico da
guerra contra o Paraguai é Latino-Americana? Eu diria que interessa, em primei-
ro lugar, ao próprio Paraguai como também ao Uruguai e Argentina. E acrescentaria que foi neste último país
que as tentativas de se ver esta guerra, a partir de uma ótica diferente, foram mais numerosas e talvez, mais bem su-
cedidas. Este fenômeno, porém, insere-se dentro dum fenômeno político-cultural absolutamente excepcional, que é o revisionismo histórico argentino, cujo pai foi o grande pensador Juan Bautista Alberdi. A preocupaque existe em toda América ção Latina não é exclusivamente com relação à guerra contra o Paraguai, mas, sim, com relação a uma nova visão da própria história.
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GUERRA
DO PARAGUAI: guerra suja
Guerra do Paraguai, guerra suja! Do que mesmo você está falando? perguntaria o leitor. Respondo que estou falando de uma querra, que os textos
escolares
reduziram
a duas
pincela-
das apenas e que, no entanto,/durou cinco anos para a Argentina e seis anos para o Brasil, dizimando
homens
de quatro povos, que foram literal-. mente forçados a fazê-la. E se a vítima principal foi o povo paraguaio, é bom que se saiba que, entre 1865 e 1870, a Argentina, o Paraguai e o Brasil sofreram seus horrores. Com relação aos argentinos, além daqueles que deixaram seus corpos no campo
de batalha; muitos outros perderam
sua vida na guerra civil, enfrentando o exército do presidente Mitre, por se negarem a matar seus irmãos guaranis. Guerra do Paraguai, querra suja e devastadora de povos; guerra de rapina, mantida e camuflada por interesses obscuros; guerra inteiramente contrária ao sentimento popular que a repudiou e a ela se opôs e a combateu; guerra manipulada em conciliábulos tortuosos, em que povos eram distribuídos como cartas de baralho; querra engalanada de palavras hipócritas e en-
ganadoras, bonitas e mentirosas, atraentes, porém, falsas; guerra com uma
mão ultramarina apresentando o ouro e outra, nativa, recebendo-o como lucro e recompensa para assassinar irmãos e vizinhos; querra suja ... O que é que está dizendo? poderá insistir o leitor. O que aprendi em aulas de história no colégio não bate com as invectivas com que o senhor está tentando caracterizar essa guerra. 10
Calma lá, não é bem assim. O tor
sabe,
guerras
com
são
certeza,
más; que
que
sempre
todas
leias
há pes-
soas que as repudiam, acabando, porém, por cumprir seus deveres para com a pátria; que a mais santa das
guerras traz horrores e sofrimentos aos mais inocentes. Mas, um momento: falar em guerra suja? Em interesses obscuros? Em conciliábulos tortuosos? (Que signífica tudo isso? Não será que o autor estará indo longe demais? O autor julga que não, e está persuadido de que não abusa, de forma alguma,
da linguagem. Além do mais, propõe-se a comprovar o que diz, tendo-o fei-
to, já, aliás, em outros trabalhos seus a respeito do mesmo assunto. Os acontecimentos, tais corno se passaram, é que vão dar-lhe, ou não, razão.
A
CHAVE
DA COISA ESTA INGLATERRA
É isso af, mesmo
que
NA
o leitor,
por insuficiência de informações, não dê crédito a esta afirmação. Mais ainda: os rumos decisivos que tomaram a economia e a política na Argentina até pouco tempo atrás, obedeciam a planos arquitetados na Inglaterra, se bem que executados por filhos da terra. Entre 1848 e 1864, na Grã-Bretanha, prospera “... um período ímpar nos anais da história com o desenvolvimento de sua indústria e o florescimento de seu comércio ...” E isto ocorre por motivos diversos, a começar pelo brutal aumento na exploração do proletariado inglês, pelo desenfreado açambarcamento de povos colonizados ou semicolonizados, pela ampliação de seu comércio pelo mundo
de mio çã ma or sf an tr la pe e inteiro s os do to em s no ma hu s re se lhões de de es or ed ec rn fo em a rr te da rincões e conas ci tí en im al e s ma ri -p as matéri rados tu fa nu ma os ut od pr de s re do sumi ingleses. Em 1860, as colônias de Sua Masúdius se m co ra pa a, os ci ra (G e, ad jest
hentos), ocupam dois milhões e quin tos
mil
quilômetros
quadrados,
em
nco que habitam cento e quarenta € ci
riadas milhões de pessoas das mais va uras. Vincores, religiões, línguas e cult verna, te anos depois, Sua Majestade go s e seõe lh mi te se e br so ra pe im e a rein dos e ra ad qu s ro et ôm il qu l mi os nt tece ões e duzentos e sessenta e sete milh
novecentos
mil indivíduos!
E de se
se anotar que nesses algarismos não vre e inclui a República Argentina, li m soberana, porém, semicolônia, se ogovernador, nem funcionários ou tr pas estrangeiras em seu território. Lá pela década de 60 do século passado, a indústria têxtil algodoeira l continuava sendo o ramo fundamenta de toda a indústria inglesa. Em 1860 a exportação de fios e tecidos de algodão representava 38% da exportação total do país. Cinco anos mais tarde essa porcentagem cai ligeiramente e se situa por volta de 35%. Qualquer crise que viesse afetar a indústria algodoeira seria um rude golpe para todo o sistema econômico britânico. E esta.crise estalou quando a guerra civil nos EUA privou a indústria têxtil de sua matéria-prima básica: o algodão norte-americano. . As consequências:de tais fatos ultrapassam uma eventual perda de be nefícios por parte dos homens da in-
dústria algodoeira. Destas "... manu” a faturas depende a subsistência de um
lação pu po a e qu r io ma na ma hu 'massa
toda da Escócia e equivalente a dois terços do atual número de habitantes da Irlanda.” Isso significa que a Gra“Bretanha estava diante de uma gravis cima situação de crise social com um exército de proletários sem trabalho, mas,
obviamente,
premido da necesst-
dade inadiável de comer e de dar de co mer a0s seus. De modo que às razões já existentes, que a burguesia britânica tinha para lutar pela conquista de novos mercados e colônias, para fazer crescer e acelerar a penetração nos mercados já garantidos e para assegu rar-se o abastecimento ininterrupto, permanente, e em maior quantidade das matérias-primas e dos alimentos, somando-se agora razões conjunturais que estarão presentes até 1865, data do fim da guerra civil dos EUA. Dissemos: fomecimento de matérias-primas e alimentos. Com efeito, em 1861 chegam às Ilhas Britânicas mil quinze milhões, trezentas € oitenta e trezentas libras esterlinas só de cereais, das quais, quase seis milhões cor respondem a importações dos EUA. Numa palavra: a guerra civil norlate-americana não só provoca nã Ing igoterra uma crise extremamente per
lisa, mas, ainda dá aos estadistas uma poção definitiva, a saber, que não se
de depender de uma fonte única de “fornecimento de produtos básicos. Consequentemente, a tarefa dt plomática, (amparada pelo garrote € em pela libra esterlina), consistirá o, abrir novas fontes de abasteciment estimulando o cultivo de algodão e de cereais, onde isso for possível. Sem dúvida, isso é possível em algumas regiões da bacia do Prata: os pampas € às terras uruguaias para OS cereais, as ter ras do Paraguai e as do litoral-norte argentino para o algodão. Este objetivo 1
será atingido no que toca aos cereais. Para que a grande potência “cen-
tral”
que
conseguisse
então
era a Grã-Bretanha,
exercer,
em
escala
mun-
dial, uma política que a protegesse de surpresas desagradáveis, era imprescindível poder contar com algo mais do que sua própria necessidade e vontade. Era necessário ter aliados em todos e em cada um dos países que ainda não estavam submetidos à ocupação e domínio colonial. A Inglaterra terá esses aliados de sua política, estimulando seu crescimento e fortalecimento, mediante a vinculação deles ao destino da metrópole, mesmo que seja apenas por tempo limitado. Esses aliados aceitarão organizar as economias locais em função das necessidades do senhor ultramarino e não como o exigiriam os interesses nacionais do país que os viu nascer. Na Argentina, a oligarquia agro-exportadora não vacilará em reformular toda economia do país, transformando-a num apêndice da
Grã-Bretanha. Produzirá o que a me-
trópole exige, e autorizará uma rede ferroviária que, saindo do porto de
Buenos Aires, se estenderá por todas as áreas produtoras de cereaise carne. Esse país, em decorrência disso, vai crescer de forma anárquica e acabará por apresentar monstruosas deformações, com províncias pobres e províncias ricas, com produções altamente desenvolvidas ao lado de outras inteiramente primitivas. O país crescerá obedecendo a interesses e necessidades que não são os do seu povo. Isto se dará por imposição coercitiva da grande potência central, em conluio com grupos sociais do país, dispostos a aceitarem tal imposição, com a contrapartida de receberem parcela da riqueza que tal deformação vai gerar. 12
Porém, isso não ocorre necessariamente em todas as partes. Nem sempre, e nem em todos os lugares para os quais o Império volta seus olhos, existem aliados, atuais ou pelo menos potenciais, dispostos a participarem da aventura. Cada país segue seu caminho próprio e peculiar de desenvolvimento e não é sempre necessário que; no seu processo, surja uma classe com tendência a renegar seus deveres nacionais para ater-se, apenas, a seus interesses exclusivos de grupo econômico-político. sso aconteceu, em grande parte, no Paraguai. A OVELHA NEGRA Tal é o Paraguai aos olhos da burguesia inglesa e de outras burguesias européias altamente desenvolvidas, e tal se torna, logo, aos olhos de alguns cavalheiros que no Prata e no
. Brasil traficam e comercializam com as
potências de ultramar, sem se preocuparem com outra coisa, a não ser seus mesquinhos e restritos interesses de
classe. | No Paraguai, porém, é diferente.
E tal mérito não é atribuível unicamente aos seus governantes, mas também a um conjunto de circunstâncias que não dependeram deles, mas lhes. permitiram desenvolver uma política voltada para o interesse nacional. Nem tudo começou com Frância; porém, para evitar prolixidades, iniciaremos por esse doutor em leis, formado na Universidade de Córdoba, admirador de Voltaire e de Franklin, pes-
quisador interessado em vários ramos
da ciência, a quem Mitre distinguiu com o rótulo de o tirano mais cruel e sangrento, de quantos tiranos houve na antiguidade.
Gaspar Rodriguez de Frância, no-
me pomposo é pessoa austera, não lonossos de ço re ap ao se rpo im grou os quais re ent is, era lib s ere líd ilustres
repúda te en id es pr o, nt ie rm Sa estava inif sig o it mu E . 74 18 a 60 18 de ntica asse ur ns ce o o nt ie rm Sa e qu ivo cat » . por ter adotado o sistema administrativo das missões,
em que O comér-
ário, nd cu se o alg de a av ss pa não cio rno, O ve go ao o eit dir de a ci en rt pe e qu prequal comprava, vendia, impondo ços máximos € mínimos, de acordo, naturalmente, com seus próprios inteoa O resses”. Sarmiento não lhe perd fato de o Estado, e não os particulares, tirar proveito, menos ainda “... O
fato de considerar ofensa adquirir produtos, (estrangeiros L.P.), que podiam ser fabricados no país.. Além do mais
dom
Gaspar cometeu o desplante de
criar empecilhos à importação de bens supérfluos “... e de incentivar a indús-
tria nacional...”
E em consequência,
prossegue Sarmiento, ”... ele deu grande impulso aos trabalhos artesanais principiando assim a fabricação, no país, de facas, enxadas, cadeiras e me-
sas caras e de má qualidade, comparados aos fabricados na Europa. Isso
foi considerado grande crime, pois, as novidades mais badaladas da Ciência
Econômica, geradas em Londres naturalmente, exaltavam o livre comércio e a eliminação de toda e qualquer barreira ao ingresso de produtos de origem estrangeira. Desta forma, tiveram que se contentar com seus próprios produtos, talvez menos pérfeitos, porém, seus. Não-deixam de ser verdadeiras as palavras de Mitre e mais ainda as
de Sarmiento.
Gaspar
Rodriguez de
Frância usou da violência sem se deter diante de melindres e considerações sociais. Nunca, porém, exerceu à vio
lência contra o povo simples e humilde; suas vítimas foram gente mutfto importante, (da alta sociedade): detentores de terras e títulos e importadores de manufaturas estrangeiras e exportadores de produtos nativos, a!guns deles amigos dos espanhóis, outros dos padres e clericais, todos porém, mais ou menos corruptos, sem
religião, sem moral e sem escrúpulos. “ditador perpétuo”, como O qualificaram dom Gaspar, desconfiava
dos comerciantes locais e de sua estreita ligação com os portenhos, que por sua vez, estavam quase todos associados aos interesses britânicos. Demonstrava saber, ou pelo menos suspeitava que a entrada franca de mercadorias acabaria provocando a criação de uma classe intimamente vinculada a interesses diametralmente contrários ao interesse nacional paraguaio. Não restava dúvida que os artesãos estariam fadados a morrer de fome, depois que fos-
sem afastados pela concorrência externa. Os camponeses, cedo ou tarde, ver-se-iam obrigados a plantar não O que as necessidades do país exigiam, mas, o que lhes era imposto pela demanda do mercado externo. Frância está bem cônscio de que a menor chance que o Paraguai desse, de se formar em seu seio uma forte classe de comerciantes, estes começariam a se locupletar de terras e gado, desalojan-
do o pequeno e humilde camponês e acabando por apoderar-se do poder político do Estado, para ministrá-lo de acordo com seus interesses e com Os de seus amigos e senhores do Prata e de ultramar. lIriam consequentemente moldar formas de ser, de pensar e, sode viver, diametralmente bretudo, opostos ao projeto de construção de
13
um país soberano e próspero.
Frância
tinha razões de sobra para suspeitar que seria inevitável o descalabro, e que o país gastaria todo o seu dinheiro com bens supérfluos, suntuosidades e bebidas, à moda do Prata, em vez de empregá-lo em bens e objetos de maior necessidade. Estava ciente de que o interesse da classe comercial, extremamente reduzida, em termos proporcionais com relação ao grosso da população do País, acabaria por dominar. À economia paraguaia muito incipiente, os recursos do Estado muito minguados e o desejo de se organizar com independência e autonomia eram coisas inconciliáveis com o liberalismo econômico. E sem o liberalismo econômico, garantido pelo poder do Estado, era igualmente impensável o liberalismo político, que pelo menos, no Prata, não passava de ficção e mentira, ou, no máximo, de sonho de alguns senhores.
As condições objetivas do Paraguai no tempo de Frância, não criadas
por ele, — diga-se de passagem —, permitiram ao “Ditador” realizar sua política. O grupo de homens de negócio era muito pequeno e fraco; o país não produzia alimentos nem matériasprimas de que careciam as grandes potências mundiais; a presença dos jesuítas, por um prolongado período da história nacional, tinha dificultado a formação de uma poderosa classe de detentores de terra ou de fortes proprietários de plantações de erva-mate, fumo e madeira. Em resumo: o não-liberalismo de Frância era puro reflexo da realidade. Ocorre ainda que o doutor de Córdoba não tinha mentalidade feudal nem era pessoa disposta a se ligar aqueles a quem: mais interessava a imobilidade econômica e social. Muito
14
pelo contrário, nada, nante
emergindo
quase
do
o solitário e misterioso goverrealizou O que era necessário,
dando prioridade máxima, dentro do possível, ao desenvolvimento nacional, de modo particular no setor agrícola. A chantagem a que o submeteram-os governantes de Buenos Aires, beneficiou sua política. Frância não preten-
deu enclausurar sua” pátria entre as quatro paredes de seus rios e selvas. Sempre, porém, que isso se fazia necessário, para preservar sua independência, ele não vacilava. O fechamento
do Paraguai fez com que o país se vol-
tasse sobre si mesmo e se tornasse auto-suficiente. Para tal, Frância se apoiou fundamentalmente nos pequenos e médios camponeses e artesãos, classes consideradas de pri-
mordial importância, pois não alimentavam objetivamente o mínimo interesse pelo livre comércio e pela abertura incondicional do pafís às transações comerciais com a Europa e os
Estados
Unidos.
Estas classes-agluti-
navam a maioria esmagadora do povo e, consequentemente, não seriam objeto da violência que Frância, na realidade, desencadeou contra um número relativamente reduzido de indivíduos que, por conveniência ou ideologia, proporcionavam a abertura do país para a civilização da livre-concorrência. Um historiador norte-americano observou que Frância “...se mostrou, por uma parte, implacável para com
seus
inimigos,
que,
por
sinal,
eram também os exploradores dos camponeses guaranis. E por outra, com uma visão verdadeiramente revolucionária, compreendeu a importância capital da confiscação de bens para derrubar a dominação de uma classe.” E acrescenta: “deu-se conta de que a
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olomeu Mitre e rt Ba , res Flo io nc nâ Ve re ent Encontro de Yatavti Corá . Mever, em L' Ilustration” — 1866)
redistribuição da propriedade era de maior eficiência do que a pura e simples eliminação pela morte. Com este confisco das terras que já possuia e eram as que antes haviam pertencido aos jesuítas, o Estado anexou parte considerável dos latifúndios, anteriormente em mãos de particulares. A seguir, essas áreas foram divididas e entregues, em regime de arrendamento, a preços sumariamente acessíveis, aos
camponeses. Eles recebiam a terra já com o gado e instrumentos de trabalho, forneckdos por uma instituição muito origi-
nal
chamada
“estâncias
da
pátria”.
Essas estâncias eram verdadeiras unidades econômicas em que se agrupavam a agricultura, a pecuária e o artesanato para fornecer alimentos para o exército e cultivar a erva-mate, fumo, etc., para a venda no mercado interno ou para o comércio nas fronteiras, arrecadando assim fundos para o erário público. Desempenharam ainda outro papel: propiciar trabalho à mão-deobra assalariada . No Paraguai não haverá desempregados e, consequentemente, os vadios e desocupados não vão constituir fenômeno social, como
ocorria aqui, na alusão à Argentina. Ha-
verá paz social e completa ausência de dominação caudilhesca local. Desta forma, verificar-se-á o caso único de uma economia, que embora atrasada, permitirá a integração nela da totalidade do povo humilde, base solid íssima para a formação de uma consciência nacional. Foi dito, e também Sarmiento o disse condenando, que o Estado monopolizava o comércio exterior. E claro que se tratava de garantir uma fonte de rendas para o erário público, mas,
uma 16
antes
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era
obter
sua própria soberania como base essencial para sua política econômica e, em última instância, para a soberania do Paraguai. Além do mais, o Ditador Perpétuo reduziu os impostos, suprimiu o dízimo eclesiástico, restabeleceu anti-
gas
técnicas
agrícolas
dos
guaranis,
com significativo êxito, e se empenhou incansavelmente na alfabetiza-
ção do povo. Em 1824 alguém escrevia a Humboldt: “... aqui quase todos os habitantes sabem ler e escrever.” Esse alguém era um sábio francês que se chamava Gransir. O SUCESSOR
Com a morte de Gaspar Rodriguez de Frância, em 1840, que havia governado por quase trinta anos, sucede-lhe Carlos Antonio López. Ele dará ênfase ao setor estatal da economia: ampliará o número de “estâncias da As plantações de erva-mate pátria.” são nacionalizadas e igualmente os bosques que produzem madeira para Em 1854 proibe-se aos construção. estrangeiros adquirir terras e, ao mesmo tempo, tomam-se providências para a implantação, em Ibicuy, de fundição para o tratamento do carvão vegetal e do minério de ferro de Caacupu, San Miguel, etc: De Ibicuy sairão implementos agrícolas para a lavoura, armas para o exército e utensílios diinferiores aos versos, que, embora estrangeiros, seriam comprados, com toda certeza, pelos paraguaios, por serem produtos nacionais. Em 1848 as terras comunais dos índios
passam para as mãos do Estado e as antigas comunidades indígenas desaparecem. Essa população nativa radica-se tranquilamente em sua terra e
não é dizimada pela fome e pelas balas, como ocorre nas terras vizinhas.
Em 1855 funda-se o Arsenal de Assun-
ção. Quem
o dirige é um engenheiro
inglês. O capital é estatal e está a serviço do país. Constróem-se ali barcos a vela e a vapor que, é verdade, nao des-
lisam tão rapidamente como os euro-
peus. Mais ainda: começa-se a constru-
ção de estradas de ferro, telégrafos,
fábricas de papel ça, de tintas e de seu povo a boa Chaco se extrai jazidas de cal. Os do
exterior,
e de pólvora, de louenxofre. López dá ao notícia de que em salitre e se exploram técnicos são trazidos
sempre
porém,
a serviço
do interesse nacional. É o Estado que
determina a política de desenvolvimento, seu sentido e sua orientação. E o país cresce com uma burguesia muito escassa, quase nula. O Estado a substitui em seu papel, não porém, para usurpar riquezas ou desenvolver, apenas, aqueles setores da economia que interessam tão somente às potências centrais, mas para fazer o que deveria ter feito uma verdadeira burguesia
nacional,
caso
existido.
houvesse
Na América é caso único e singular ir contra a corrente e levar adian-
te, por iniciativa própria, com
as pró-
prias forças, uma tendência que os “países dominantes” estão implantando no mundo inteiro. Registra-se, inclusive, um fato novo: o começo da formação de uma burguesia rural.que, sem o entrave do latifúndio, vai-se desenvolvendo paulatinamente.
MAU
EXEMPLO PREVISÃO
E
O cônsul de Sua Majestade Britá-
nica, Mr. Henderson, escreve em 1855, ao Foreign Office: “A maior par--
te da propriedade rural é propriedade do Estado. Os melhores prédios da ci-
dade pertencem ao Governo e este possui ricas fazendas de criação e de
lavoura em todo o país”. Excesso de estatismo! Mau exemplo! Nada fica para a iniciativa privada e nada sobra
para os ingleses e seus negócios. E eles querem fazer seus negócios! O comerciante Richard Bannister Hughes
considerou em suas memórias que “2 abertura dos portos do Paraguai ao comércio exterior significa uma era nova na história da América do Sul, um feito de importância transcendental para o mundo todo”. Caramba, por que tanto” entusiasmo assim, Mr. Em 1845, os comercianBannister?! tes de Liverpool dirigem duas representações à Câmara dos Lordes, as“... fansinalando as possibilidades tásticas que se abririam, se fosse franqueado acesso ao Paraguai, através
dos rios argentinos”. E bom notar que no Paraguai existe -prima básica para tante da indústria é porém, tão
1855,
Aires:
no
El
algodão, matériao setor mais imporinglesa. Uma quesem formulada,
Nacional
de
Buenos
“...os monopólios do Paraguai,
(entenda-se, o monopólio estatal), se tiverem que se defender, nos envolverão numa guerra que provocaria um caos total.” articulista se refere tamO
bém ao Brasil, dizendo que ele não pode tolerar por muito tempo a concorrência dos produtos paraguaios, notadamente mais baratos do que os similares que produz. O que o articulista, que não é outro senão o próprio Domingos Faustino Sarmiento, não diz, é que os negros brasileiros, como mão-de-obra escrava, não estão à altura da mão-de-obra livre do Paraguai. Este Paraguai é mesmo um mau exem-
plo! Já está causando problemas! Sar17
miento prognostica que tal situação não poderá prolongar-se por muito
tempo.
FRANCISCO
SOLANO
LOPEZ
A notável continuidade da polftica econômica dos governantes paraguaios prossegue e se aperfeiçoa com O filho de Carlos Antônio López, que assume Oo governo logo após a morte do A eleição não se processa seu pai. dentro das fórmulas “democráticas” em voga no Prata, pura ficção e mentira, com total exclusão do povo, que nada tem a ver ou a dizer. Em 1862, 0 jovem López dirige-se ao Congresso para alertá-lo de que a estrada de ferro de Villarica está sendo construída com dinheiro do Estado e de que empresas comerciais — alusão a empresários capitalistas — “em sua maioria, estão especulando e fazendo agiotagem ilegal...” Francisco Solano não acredita no capital privado. Esteve na Europa e conhece bem o que se passa no Prata. Em contrapartida, a matéria-prima nacional está sendo cada vez mais valorizada e aproveitada. Com algodão e caraquatá, — o ananás silvestre —, se faCom caraguatá se faz brica o papel. também tecido para camisas e roupas íntimas. Raspando o couro, os paraguaios conseguem um pergaminho tão bom quanto o europeu, A tinta se faz
com vagem preta, O sal e o sabão, com ingredientes obtidos de árvores silves-
tres e cinzas vegetais. Ibicuy continua se desenvolvendo. Para importação de máquinas para a agricultura e a indústria não são cobradas taxas, o mesmo acontecendo para instrumentos de navegação. Pessoas que fazem descobertas úteis ou introduzem melhorias significativas na indústria ou na agricul18
tura
gozam
Francisco
de
Solano
regalias
envia
especiais.
à Europa
as
mostras de algodão, erva-mate, fumo e madeiras. Pretende exportar para as
grandes
metrópoles
sem
intermediá-
rios. Manda vir dos EUA e da Inglaterra desmontadeiras modernas. Jovens do Paraguai vão estudar na Europa com bolsas do Estado. De lá também chegam engenheiros, técnicos, homens de ciência contratados pelo Estado. O Paraguai não é um paraíso nem mesmo um pafs moderno e desenvolvido. Quem, porém, não reconhece importância à fundição de Ibicuy e a outras iniciativas em andamento, não percebeu nada do sentido e rumo que está tomando o desenvolvimento do país e para quais interesses este desenvolvimento está realmente voltado. O exemplo paraguaio vai se tornando intolerável.
Em
1864,
chega
em
Assun-
Edward inglês diplomata o ção Thornton. A 5 de setembro, ele informa a seu ministro de Relações Exteriores que o povo paraguaio vive submetido ao terror e ao despotismo. Afirma-lhe que afora, é claro, a família López, “... ninguém consegue atingir sequer uma fortuna média...” As taxas de importação são excessivamente elevadas, o que prejudica a entrada em massa dos produtos manufaturados estrangeiros. Francisco Solano não passa de um sátiro: a seus desejos e instintos são sacrificadas as mais belas jovens da terra guaranl. Por outro lado, o ministro norte“americano em Assunção está bem sintonizado com os humores e opiniões de Thornton. Escreve Washbum: “Insignificante em si mesmo, O Paraguai, na opinião de Sir Edward pode impedir o desenvolvimento e progresso de todos seus vizinhos.”
Dá
para
comover
a gente,
este
inte-
resse de Mister Thornton pelos vizinhos do Paraguai, Brasil e Argentina,
E de se desconfiar
em primeiro lugar.
de tanto interesse, principalmente, em se sabendo quais são as verdadeiras
preocupações dos diplomatas de Sua
Graciosa Majestade Britânica ! Acrescenta Washbum, referindo-se às opi-
niões de Thornton: “Sua existência, (a
do regime paraguaio sua extinção, corno
L.P.), é nociva e
nacionalidade ou a
queda da família no poder reinante seria muito proveitosa para seu próprio povo, como também para o mundo inteiro.”
É óbvio que seria inútil perguntar a Sir Edward como se poderia conciliar a extinção da nacionalidade paraquaia com o proveito do povo guarani. Quanto, porém, a ser de proveito para de o “mundo inteiro” substitua-se: grande proveito para a Grã Bretanha, e fica tudo claro. O IMPERIO E A CORRENTE DE OURO Portugal tinha sido vassalo da Inglaterra: vassalo de longa data! O
Brasil, sua colônia, terá sorte igual, particularmente depois que a corte lusitana, fugindo da espada napoleônica, aportou nestas praias em navios co-
mandados
pelo almirante
britânico
Sidney Smith. Em 1838 lord Palmerston — alcunhado carinhosamente de Pam, talvez porque assim se evocaria sonoramente o ribombar do canhão! — escrevia ao cavalheiro português, Barão da Ribeira Sabrosa: “as águas do rio Tejo não podem correr sem o consentimento da Grã-Bretanha.”
O simpático
Lord podia evocar “glo-
riosos” antecedentes:
a munificência
do regente João, por exemplo, para citar apenas um. Logo ao desembarcar no Brasil, o Regente regalou seu amo inglês, através dos bons off-
cios
de
Lord
Strangford,
com
uma
variedade enorme de graças reais ou melhor, de reais graças: uma verdadeira profusão de riquezas. Afluem, então, empréstimos que a City concedeu para que Dom João, sua corte e seus prazeres pudessem viver sem quebra
da dignidade
real!
E os banqueiros ?
A começar por Rothchild, novamente Rotschild e mais uma vez Rotschild. Mas também Sir Lyon Goldschmidt e os senhores Thomas Wilson and Co.
Todos
se
fazem
presentes.
Quantas
libras esterlinas o Brasil tomou de A Não foram poucas. empréstimo? título de amostragem, vai aqui uma lista destes empréstimos: em 1825, três milhões; em 1829, quatrocentos mil; em 1839 trezentos e doze mil; em 1843, setecentos e trinta e dois mil e seiscentas; em 1852, um milhão quarenta mil e seiscentas; em 1858, um milhão quinhentos e oito mil;
em
1860,
quatrocentos
mil;
em
1863, três milhões e oitocentos e cincoenta e cinco mil e trezentas e sete; em 1865, seis milhões trezentas e sessenta e três mil e seiscentas e treze. Vamos ficar por aqui para não perdermos o fôlego. Queremos, apenas, sao último empréstimo, lientar que destinado ao financiamento da Guerra do Paraguai, supera de muito a soma de todos os outros juntos, sem omitir um sequer Outro detalhe: tal foi feito num | perioempréstimo do em que as relações anglo-brasileiras estavam suspensas, em razão de inci-
dentes
que
não
que, no entanto, gleses o mínimo
cabe
aqui
relatar e
não causaram aos inconstrangimento em
19
“4
apertar um pouquinho mais os elos da corrente de ouro à volta do nobre pescoço do Brasil.
O COBIÇADO PARAGUAI Brasil o ambicionava. lIgualmente o ambicionavam a City e os comerciantes da ruiva e elegante Albión. Em Buenos Aires, com os mesmos intentos, tanto argentinos como ingleses, que era o que mais dava lá, acusavam continuamente o Estado Paraguaio de repelentes práticas monopolísticas. As questões de limites entre a excolônia portuguesa e o país guarani remontam a eras longínquas. Vêm desde os tempos heróicos da conO
quista.
Não é momento
de se fazer
aqui ampla e enfadonha incursão histórica a respeito, mas alguns acontecimentos mais ou menos próximos ao período da guerra do Paraguai, merecem ser reconstruídos, ao menos, em largos traços. Em 1850, o govemo do Rio manda erguer um forte em Fecho de Morros, terra em litígio. E quando o enviado real, Bellegarde, chega a
Assunção para propor a assinatura e a
celebração de um tratado de comércio e navegação, o velho Carlos Antônio López irritado sacode negativamente a cabeça: não pode haver tratado sem prévio acordo sobre as fronteiras em
litígio.
E esta a política tradicional
do governo guarani, reforçada por esta outra: López ordena às suas tropas de desalojarem os intrusos de Fecho de Morros, no que é pronta e cabalmente obedecido, com grande espanto e irritação dos nobilíssimos senhores negreiros e escravocratas que governam López delegava a no Rio. Em 1852 20
Manuel Moreira de Castro poderes ple-
nos.
Porém,
já
em
fevereiro
de
1853, o Sr. Pereira Leal, sucessor de Bellegarde em Assunção desde fins de 1852, com irritante insistência, volta ao assunto com mais um projeto de tratado de navegação e comércio. O velho López, ferrenho e pouco elegante em suas maneiras e em sua aparência, persiste na negativa: resolvamos antes os litígios fronteiriços que nos dividem. Paraguai tem o direito de viver com segurança; suas fronteiras com o Império não podem constituir fonte permanente de conflitos. Porém, O império não mostra interesse algum em resolver a questão. Ou melhor, bem sabe que suas pretensões desvairadas,
inadmissíveis,
sem
cabimento,
jamais poderão ser aceitas por um governo paraguaio que tenha por pouco que seja, o sentido da soberania e da dignidade nacional. Mas o que realmente
lhe
está
interessando
com
urgência é o comércio, a navegação pe-
lo Paraguai e o livre e irrestrito acesso tem Esta questão a Mato Grosso.
prioridade total tanto para O império
como, principalmente, para seu mem tor britânico, que sem isto não pode-
rá saquear o ouro das distantes terras
brasileiras. Os capitalistas do Rio — refiro-me aos nativos — não passam
de incipientes e primários. E óbvio que poderão atuar de mandatários intermediários e mesmo sócios secundários na exploração das riquezas escondidas de Mato Grosso, porém, os dentes para a abocanhada maior estão
nas nevoentas ilhas britânicas. O Sr. Pereira Leal encerra abruptamente sua
missão em de tramar mento. A trega-lhe o
Assunção. López O acusa intrigas e não sem funda12 de agosto de 1853 enpassaporte, acompanhado
Sm
=
CRESCE
e
e
eo
Vista parcial de Curuzu de Candido Lopez
de solene descompostura. Conveniências e etiquetas diplomáticas são detixadas de lado por ambas as partes e O ilustríssimo senhor Pereira parte proferindo palavras muito grosseiras, sen-
do despedido com outras, talvez mais grosseiras ainda. Em 1855 o Brasil
tenta novamente ocupar a fronteira setentrional, construindo um forte em Salinas, sobre a margem direita do e ao norte do forte rio Paraguai Olimpo. O irredutível velho López envia uma expedição militar reforçada e os brasileiros têm a triste sorte de serem uma vez mais expulsos. O incidente porém, assume proporções sérias. O a Brasil começa a preparar-se para querra e López, por sua vez, contrata engenheiros europeus, compra navios e importa motores para naves que serão construídas em Assunção mesmo. Nesta época, regressa da Europa Francisco Solano López, o Delfim de Dom Carlos. Volta num magnífico vaso de guerra a vapor, adquirido na Inglaterra, o “Tacuari”. Faz escala no Rio de Janeiro e ali confia a André
Lamas,
ministro uruguaio, acreditado
junto ao Imperador, — diga-se de passaqem, brasileirista entusiasta —: “quanto ao meu país, se alguma idéia o impulsionava é a de pesar na política do Rio da Prata com propósitos pacíficos, sem outra intenção que a de conservar o atual equilíbrio, como garantia de sua própria conservação e autonomia, objetivo que correria risco no dia em que a Argentina e o Brasil, seus eternos rivais, conseguissem um ou outro dominar preponderantemente e sem controle esta região da América...” Palavras sintomáticas que, no fundo, revelam temores de chantagem e de confinamento. O Paraguai não pode
permitir de um Uruguai trole do
que o Uruguai caia nas mãos dos poderosos vizinhos. Um livre e soberano, com o conrio Paraná, é de importância
capital para a nação guarani, para que ela possa ter acesso ao mar e, através
deste,
ao mundo.
dência, o Uruguai
(Como
por coinci-
encontra-se sob do-
mínio militar do exército brasileiro, a pedido de seu presidente, de triste memória: Venâncio Flores. Uruguai ocupado e saqueado. Enorme parte de suas melhores terras pertencem a la-
tifundiários riograndenses que delas desfrutam para engorda de seu gado, antes de enviá-lo aos abatedores de seu país. Associam-se a estes depreda-
dores do Uruguai financistas brasileiros, como Guimarães e Irineu Evangelista de Souza, o célebre Mauá. E até mesmo o próprio Amaral, embaixador da Corte em Montevidéo, que lá está
como uma espécie de Vice-Rei. Mais ainda: os próprios ministros da Corte entram na jogada comprando, a preços ridículos, bônus dos empréstimos que
todos os dias o governo de Venâncio Flores, em desespero, lança no mercado financeiro, e que serão cobrados a
juros acrescidos ao
curto prazo, com
seu valor nominal. O Uruguai é uma gostosura: traz alegria e prazer ao Império. Paraguai, pelo contrário, de cara
só O fechada e com irredutível propósito de defender sua soberania e dignidade,
raiva e mal-estar nos nobres
provoca
senhores da Corte. E a reação não se faz esperar. Poderosa frota de guerra, com navios a vapor, munidos de canhões, made in London, põe-se em
movimento.
O
almirante
Pedro
Ferreira de Oliveira, seu comandante, entra pelo rio Paraná, subindo por ele até Assunção, com ordens de, ali che-
22 ep
gando,
reconduzir
o empedernido
lho López aos caminhos certos. pequeno
detalhe
que
poderia
ve-
ças , atiradeiras de pedras e fundas..” O almirante não tem outro remédio senão descer de suas alturas e apre-
Um
ser gra-
ve, mas não é: a necessidade de entrar em águas territoriais argentinas. A diplomacia do Império não terá
que suar muito para obter a permissão do governador do Estado de Buenos Aires, Pastor Obligado, e a do presidente da Confederação Argentina, o de Urquiza para General Justo José fazê-lo. Estas duas autoridades argentinas que compartilham, entre si, todo território do país, facilitam tudo com muito boa vontade para que a frota de guerra brasileira vá pedir satisfações ao São as demonstrações de Paraguai. boa vizinhança para com o Paraguai e de inteira neutralidade ao “uso nostro”. Diga-se de passagem que, daqui por diante, Paraguai, caso as não tivesse já, disporá agora de razões suficientes para não mais confiar na solidariedade e fraternidade de suas antigas co-irmãs na comunidade do vice-reino hispânico. O almirante Ferreira será recepcionado, de forma inesperada e altiva, pois o governo de Assunção não está disposto a acovardar-se diante dele, pelo contrário, está preparado para enfrentálo. Antes de mais nada, se o almirante quer entrar em águas. paraguaias, que seja num só navio. Ou então, nenhum navio entrará pacificamente. Neste interim, Carlos Antônio transmite ao seu povo
orientações que vão certamente chegar aos ouvidos do almirante; tais como: “... Não permitir que os invasores ponham os pés em terra, não cortem um só galho ou tirem lenha, nem levem um só animal doméstico de espécie alguma, nem cereais, nem legumes ou frutos...” Ainda “... todos os homens aptos para serviço ativo devem apresentur-se com suas armas de fogo, lan-
sentar-se em Assunção com um só navio. Começam, então, as negociações
e naturalmente ele leva a pior. Seu interlocutor é Francisco Solano López, o jovem que acaba de chegar da Euro-
pa. Sua bagagem cultural, sua habilidade e sua dialética deixaram desarvo-
rado e calado o bronco marinheiro, que volta ao Rio com sua poderosa armada e com ares de vencedor, quando, na realidade, fora o vencido. Com efeito, a 27 de abril, ambos os países assinam um tratado de amizade, co mércio e navegação, que só deveria entrar em vigor depois que as partes
chegassem a um acordo sobre a antiga
questão dos limites nas fronteiras.. Em dezembro de 1857 chega à capital guarani o eminente diplomata do Império, José Maria da Silva Paranhos, que sem rodeios vai direto ao assunto, dizendo a López que o Brasil está decidido a remover tedos os obstáculos que impeçam a utilização dos rios, como via fluvial de acesso a Mato Grosso. Já temos, acrescenta, a assinatura do Uruguai e da Argentina, firmando seu acordo com esta nova situação. Falta apenas que Paraguai assine tambêm este acordo. Paranhos escolheu a hora certa para pressionar o governo de Carlos Antônio López, que no motinha problemas pendentes mento e com os Estados Unidos, França Inglaterra. Ele não poderá contar com os aliados da Confederação Argentina, que não inspiram confiança. Julga, portanto, mais razoável ceder desta vez. Aos 12 de fevereiro de 1858, o tratado foi assinado e o Brasil inaugura logo uma rota fluvial regular, ligando Rio a Cuiabá.
Os problemas, no entanto, conti-
23 DE
BIBLIOTECA Pe.
on
PÚBLICA
ARLIN
MUNICIPAL
MARCO
!
não terem sido feitas antes das medi-
das militares, as reclamações diplomáticas de praxe. Em dezembro de 1864, os para-
guaios ocupam os territórios disputados entre os rios Apa e Blanco. É a
querra. Antes de rebentar o conflito entre Paraguai e Brasil, a situação econômica brasileira não era nada boa. A 10 de setembro de 1864 “... estourava
(sic) nesta praça (sic) a maior crise que
se conhece
Brasil.”
nos anais econômicos
do
Em seu discurso do Trono,
pronunciado em maio de 1865, por ocasião da abertura da Assembléia Geral, sua Majestade, o Imperador, reconhece que “a falência de algumas organizações bancárias em que estavam depositadas as economias de milhares de pessoas, produziu no mês de setembro do ano passado uma crise assustadora..." Um autor da época acrescenta: “A situação do Brasil, já complicada, antes da Guerra, tornou-se gravíssima no seu transcorrer e continuou difícil Um ainda muito tempo depois...”
outro ajunta”. . . se do ponto de vista político, a guerra do Paraguai foi um erro político da monarquia, do ponto de vista econômico foi simplesmente um desastre de consequências funestas.” 24
econômica capaz de arcar com gastos de uma guerra, por mais que algumas mentes levianas a considerassem uma simples excursão militar. O que vai
resolver este
timos hora.
da
impasse são os emprés-
City, vindos em
muito
boa
Sob outro prisma, sabe-se que, por vezes, uma guerra serve para camuflar graves problemas internos, relegando-os sem mais, como também para dar oportunidade ao grupo dirigente, agarrado ao poder, de fazer suas negociatas em companhia de seus amiguinhos do mundo das finanças, do comércio e das vastas plantações tropicais. Quem, no entanto, paga é quem detém o poder de decisões. Sem os empréstimos da Inglaterra, o Brasil não podia partir para a guerra. Se ele . tivesse cometido a loucura de lançar-se
nesta
aventura,
apenas
com
seus
limitados recursos, como poderia suportar uma sangria econômica tão vioNão seria difícil prever que a lenta? guerra terminaria muito antes e certa mente não com a derrota do Paraguai.
UM PRESENTE: FLORES PARA O URUGUAI Não
se trata de um ato de corte-
sia, mas de agressão.
As flores de que
falamos, na realidade são um senhor chamado Flores, com o prenome de
Venâncio. Já o mencionamos antes. Em tempos passados solicitara a intervenção armada brasileira para amparar seu cambaleante governo. Hoje solicita duas intervenções: a brasileira e a argentina. A 19 de abril de 1863 desembarca numa região da costa uruguaia, chamada- Rincón de las Gallinas, a fim de combater o governo legal de
q
damentais e de sempre. Em fevereiro de 1862, uma patrulha paraguaia constata a existência em território neutro, dos fortes Dourados e Miranda. O comandante paraguaio exige que os brasileiros se desalojem destas posições, O que dá motivo a um pedido de explicações do Encarregado de Negócios do Brasil em Assunção, Carvalho Borges. Declara-se aborrecido, reclama segurança e lança seu protesto pelo fato de
O Brasil não estava em situação
Ea e
nuam de pé. E são os problemas fun-
ter sua pátria após, coincidentemente,
aservido a Mitre nos exércitos do Est batada is po De s. re Ai os en Bu de do ha de Pavón (1861) em que foram derrotados os exércitos da Confederacão Argentina e tendo sido executados
omeu milhares de argentinos, Bartol tar Mitre principiou à campanha mili o que objetivava instaurar a dominaçã portenha sobre todo o povo argentino. Ao Sr. Flores, a quem, como era de se esperar, O governo Mitre, com a ajuda
de alguns
particulares,
não
regateou
subsídios, cabe o triste papel de urdir uma trama bélica, cnamada Guerra da Tríplice Aliança, que só findará em 1870. Seu objetivo pessoal é galgar o poder sem escrúpulo algum quanto aos meios, alianças ou compromissos. da os Seus mandantes, sobretudo Argentina, têm-no como instrumento para acabar de vez com o governo do Partido Blanco, que consideram, talvez sem razão, contrário à causa do
liberalismo no Prata. Mitre e seu grupo têm medo dos | detentores do poder do outro lado do rio. Crêem que podem dar apoio e sustentação aos inimigos internos, os Urquiza e os Jordán e outros da oposição que não se sintonizam bem com por o grupo mitrista, nem sempre questões essenciais. Os representantes diplomáticos, entretanto, vão ao Presidente Mitre pedir explicações pelo que
está acontecendo e que a opinião geral está atribuindo a ele. Com exceção de uns poucos desavisados, todos os outros sabem do que se trata. Convém recordar alguns antecedentes, apenas, desta “cortesia” mitrista. A 10 de novembro de 1862, o
diário “La Nación Argentina”, portavoz do pensamento de Bartolomeu Mitre escreve que “...os países ameri-
canos, por força natural, devem tender
a integrar-se (...) Eis por que dissemos que a confederação forçosamente surgirá com o tempo (...) Os meios para
isto são, de um lado, tratados especfficos e por outro, a fusão de países que tenham verdadeiros interesses afins e que se sintam unidos pelo menos por
sua posição geográfica. (...) O segundo meio, já foi dito, consiste na anexação recíproca das repúblicas limítro-
fes. Quem sabe estamos sendo chama dos a refazer a grande obra, que pai-
xões
locais destruíram, reconduzindo
as nações americanas à situação em que se encontravam antes que os acontecimentos as tivessem deixado em seu atual estado.” A idéia da “união americana” suscita sempre, agora como antes, entusiásticas adesões. União não significa, porém, anexação. E além do mais, é importante saber quem está patrocinando tão belo ideal americanista. Importa, pois, descobrir quem é o patrocinador e o que prétende com isto, ou por outra, quais são seus reais objetivos. Os da curriola de Mitre, nem é preciso dizer, não seriam os preferidos dos povos. Mais tarde, em 1863, concomitantemente com a invasão do Uruguai por Flores, “La Nación Argentina” estampa um pequeno artigo que comemora o aniversário do juramento à Constituição oriental, nestes termos: “Estamos no aniversário da Independência da República Oriental. Triste data! Ela recorda o triunfo do localismo que, por mais de meio século, impediu a organização da República e provocou pouco a pouco o desmembramento da pátria de 1810.” Por aí dá para se ver toda uma postura de boa vontade para com O 25
país irmão, no mesmo momento em que este enfrenta uma guerra civil, desencadeada por um caudilho formado e apolado pela Argentina. Além do
mais mênte-se, pois, a verdade sobre a
separação da República Oriental é que a independência do Uruguai foi obra da diplomacia inglesa. Nada mais claro e sabido do que isto. E o sabia com toda certeza o historiador Bartolomeu Mitre
e seus amigos.
Em
outubro
do
mesmo ano, o Ministro das Relações Exteriores do Uruguai, o Dr. Juan José de Herrera, envia uma carta ao eminente brasileiro Barão de Mauá. Nela, que foi datada em Buenos Aires, lê-se: “O governo argentino está ansioso por declarar guerra à República Oriental em represália às maquinações que em sua opinião, o governo orientramando nas províncias tal anda argentinas e no Paraguai e junto às potências estrangeiras.” Outro que tinha razões de sobra para o saber, era o Sr. Irineu Evangelista de Souza, o Barão
de Mauá, pois era ele quem financiava financiado havia já como Mitre, Urquiza e os governos das províncias A de Santa Fé, Corrientes e outras. seus interesses pessoais como aos de seus comparsas, não convinha a derrubada do governo blanco com o qual, aliás, mantinha excelentes relações; como também não lhe convinha, por outro lado, secundar as ambições de vice-reinado do grupo de Mitre.
Posteriormentê,
lá pelo fim do
ano, Irineu Evangelista escreve, desta do Rio de Janeiro, a Andrés vez a invasão do território uruLamas: guaio e ”... todas as consequências que advieram deste fato, são desdobramentos lógicos da política argentina de exercer sobre a República Oriental, uma influência indébita, mas, igual26
mente, de ação sorrateira, com o cuidado de disfarçála ou ao menos de tentar fazê-lo: não seria nada bom para a Inglaterra que o Uruguai perdesse
sua soberania. * Mitre é advertido disto por Mister Edward Thomton, minis-
tro inglês em Buenos Aires. A 15 de dezembro, seu secretário, Lafuente, escreve a Mitre: “Seria muito desagradável para o Mr. Edward que vosso governo exercesse pressões contra O Governo Oriental, pois, tal fato poderia acarretar sérias complicações para a República Argentina...” O ilustre “... não duvidava de que Thornton o Brasil em tal caso não deixaria de intervir, pois, são conhecidas suas intenções confessas de se apoderar,
custe
o que
custar, daquele
país.
É
óbvio que o Governo Brasileiro haveria de se apressar em socorrer o governo de Montevidéo, caso este se visse em apuros, pois, não fora sem motivo que o Barão de Mauá, homem de peso no Império, lhe havia dado e continuava dando auxílio financeiro. No que diz respeito ao governo inglês, não interessava a este intervir na política interna destes países, mas, pelo fato de neles existirem tantos interesses britânicos e de muitos súditos de Sua Majestade se terem queixado a seus representantes no Parlamento, temerosos de serem prejudicados em seus interesses, o Governo de Sua Majestade se veria, muito a contragosto, obrigado a tomar partido em nossos assuntos, para acalmar seus súditos.”
É uma advertência muito séria: Mitre se acomoatenção, Sr. Mitre! da. Já não é possível, pelo menos por
agora, ir além. Contentar-se-á em afastar os blancos e colocar no governo de Montevidéo gente sua, de estrita portenhos. liberais dos confiança
Grã-Bretanha
não está disposta a ver
de o nd se ua in nt Co a. rr te r po sua obra a eç an rm pe i ua ug Ur e qu e ss re te seu in Brasil independente da Argentina e do
elepara só depender dela, da ruiva e O máximo que pode gante Albión. es admitir é que os colorados de Flor substituam os blancos mais chegados
a Oribe e, por intermédio deste, ao execrado Rosas. A inglesa adotará a seguinte política: acompanhar por dentro os acontecimentos para poder dar primazia, controlá-los melhor: em questões secundárias, ao mitrismo, seu aliado e amigo, sem abrir mão do essencial: -com blancos ou colorados, pouco importa, o Uruguai deve depender só da Inglaterra.
Mitre enviou José Mármol à Corte do Rio, com a missão de averiguar junto ao governo imperial até quando este iria tolerar as perturbações da ordem em curso na República Oriental, que têm causado tão graves prejuizos aos interesses, tanto de argentinos como de brasileiros residentes naquele país e ao comércio em geral. José Mármol devia sondar ainda a possibilidade de uma espécie de convênio com o governo brasileiro para uma ação conjunta com o objetivo de acabar com a desordem na República' Oriental, por meio de persuasão e influência e mesmo, caso necessário, recorrendo à força. Cabe aqui frisar que os interesses brasileiros em questão são os dos “charqueadores” do Rio Grande, solidamente enraizados em terras uruguaias como proprietários rurais, com ambições políticas. José Mármol tinha também a incumbência de verificar discretamente até que ponto poderia estar em jogo o
eterno interesse da Corte do Rio de re-
" conduzir ao regaço brasileiro a já independente República do Uruguai. O que Mitre pretendia era um acordo com o Brasil para invadir militarmente o Uruguai, com o apoio de Venâncio Flores para cair em cima dos detestados blancos.-Mitre não receava que o Brasil viesse a se instalar definitivamente no outro lado do rio, o que aliás, não deveria ser lá muito do seu gosto, levando-se em conta que as ve-
ladas ameaças dos ingleses endereçavam-se igualmente ao Imperador e a seus ministros. O que, no entanto, im-
portava no momento era jogar lenha na fogueira acesa por Venâncio Flores, e isso não era difícil. Flores, por ele mesmo, não era capaz de provocar O caos em sua pátria. Para isso, viriam em sua ajuda homens e recursos do Rio Grande, a que se somaria o reforço clandestino enviado por Mitre e acrescido ainda da pressão diploraática por parte de Bartolomeu sobre o
governo
criar uma
uruguaio.
O
importante
era
tal situação que exigisse e
justificasse uma intervenção armada do exterior. O Brasil consultou seus arquivos e deu-se ao exaustivo trabalho de coletar uma série enorme de queixas e reclamações por ultrajes reais ou imaginados, causados a cidadãos e interesses brasileiros na República Oriental. Seguiu para Montevidéo o diplomata João satisfaAntônio Saraiva para exigir ções, o que fez em tom prepotente e nada gentil. Este Senhor, depois de Se' ao t1.. inteirar da situação, escreve em somente que “Creio nistro: Buenos Aires conseguiremos resolver esta última questão da paz. Sozinhos não poderemos aplicar convincentemente os meios mais severos de per-
27
suasão. Se não nos aliarmos, as coisas se complicarão para o nosso lado. Aliando-nos a Buenos Aires, tudo será mais fácil; é imprescindível, pois, que o consigamos, caso contrário, devemos preparar-nos para pesados sacrifícios.”
UMA INCURSÃO AOS DIAS DE HOJE A
19 de maio de 1971, o diário
"La Opinion” de Buenos Aires repro-
duz passagens de um editorial publicado em “O Estado de São Paulo”. “O que ocorre no Uruguai, escreve o órgão paulista, está longe de ser assunto intemo desse pequeno país”. “O Esrefere-se à crise tado de São Paulo” em que se debate o Uruguai no auge do Movimento de Libertação Nacional, mais conhecido como Tupamaros. “O jornal lembra os argumentos, como afirma “La Opinión”, que motivaram a participação brasileira na Guerra da Tríplice Aliança, que c Paraguai enfrentou contra a Argentina, o Brasil e o Uruguai. Essas causas foram, segundo o matutino, “o sonho megalômano do ditador Rosas, da Argentina e, mais tarde de Solano López do Paraguai, empenhados em formar no Rio do Prata um império, que, em tama-
nho e poder, estivesse em condições de disputar com o Brasil”. Logo depois vem o parágrafo, que provocou
arrepios e melindres nos círculos diplomáticos de Montevidéo: “Os acontecimentos no Uruguai ameaçam colocar-nos, de um momento. para outro, diante de uma situaçãó perfertamente igual âquela em que em 1851 forçou o Brasil a transpor as fronteiras do sul
para que o Uruguai não fosse'absorvido pela Argentina de Rosas”. O editorial finaliza, assinalando que a situação
28
na Bolívia e as crescentes inseguranças no Uruguai “são novas ameaças, frente às
quais
a diplomacia
brasileira
terá
que se posicionar”. Até aqui artigo de “La Opinión”. Daqui por diante, tire o leitor as conclusões que ocorrerem, tendo em mente, O caráter de “força libertadora”” atribuído à ocupação militar do Uruguai pelos brasileiros em 1864 e com o consequente aniquilamento do Paraguai. De qualquer forma, é sintomático recorrer a tais precedentes históricos para se justificar armada. uma possível intervenção Sintomático e perigoso; os ingleses já não estão aí para garantirem a independência e a soberania oriental. E mesmo
que o estivessem, as coisas mu-
daram tanto que a Inglaterra, provavelmente hoje não iria opor objeção
alguma. Por outro lado, não será que por trás do Brasil, acompanhando e
protegendo
seus
colosso do norte:
passos,
os EUA?
não
está
o
Se atinar-
mos para o verdadeiro sentido das palavras não tão remotas do General
Golbery, a resposta deveria ser afirmadiz tiva. Devemos ”... preparar-nos , O
citado general, na América Latina, para dar a mão a qualquer de nossos vizinhos, na defesa de um inigualável patrimônio comum, contra qualquer in-
E continua: vestida estranha” (...) "Inicia-se a época da história conti-
nental, que predissera Ratzel. Os países fortes tornam-se cada vez mais fortes e os fracos, dia após dia, mais fracos; as pequenas nações vão sendo reduzidas, do dia para a noite, à humil' de condição de pequenos estados e já se profetizava, abertamente, seu fim
obscuro...” Mais adiante, menciona a existência de condições ideais para “negociar uma aliança bilateral” com os EUA, permitindo ao Brasil cum-
Quartel do Marechal López
, dos Estados Hustração publicada no “Harper 's New Monthly Magazine” Unidos, 1870.
Encontro de Yatavti Corá
Buenos Aires — Museu Histórico Nacional de
SOLANO LÓPEZ, A SOBERANIA E O EQUILIBRIO O que acontece nas terras orientais não é indiferente aos destinos do Paraguai. Um Uruguai que perde sua independência ou cai em mãos de inimigos é uma ameaça concreta contra a terra guarani e suas possibilidades de ligação com o mundo. Um Uruguai ocupado pelo Brasil ou pela Argentina de Mitre, ou pelos dois ao mesmo tem: po, é o trampolim para o lançamento da ofensiva contra o Paraguai que se nega a entregar seus destinos nacionais a negociatas estrangeiras. Solano sabe, como o sabia também seu pai, da escassa simpatia que lhe devotavam os liberais do Prata e regiões afins. Em 24 de maio de 1860, Sarmiento escrevia no El Nacional: “Acreditamos ter chegado o momento de os países vizinhos do infeliz povo do Paraguai terem de intervir para modificar um sistema, de governo tão estranho como é o de Carlos Antônio López.” A palavra foi dita: intervir! E dita por Sarmiento, que não é qualquer um no círculo dos detentores do poder em Buenos Aires e dos responsáveis pela ideologia dominante. E cinco anos antes da tremenda querra! Foi dita a palavra e não se pode passar por este fato desatentamente. Como também merece muita atenção o seguinte trecho: “Se a solução do grande proble-
ma argentino for bem sucedida, (a vitória de
Buenos
Aires sobre
Urquiza
L.P.), então os interesses comuns entre as Províncias Unidas do Pratae o Brasil deverão aproximar-se e unir-se para tomar vitoriosos, na área compreendif 30
da entre nossos rios, Os princípios e as liberdades que nos amparam contra governo como o do Paraguai.” O plano existe, está traçado de antemão e prevê várias etapas: primeira, dominar o próprio território nacional; depois eliminar aqueles que do outro lado das fronteiras não acatam os princípios e liberalidades propugnados pela civilização do livre comércio. A coisa vem de longe e Solano López tem motivos demais para ficar preocupado. Sabe, com exatidão, o que se passa em Buenos Aires e como pensam seus dirigentes. A Tríplice Aliança está prefigurada nos fatos e palavras que vimos registrando. Não é um conluio circunstancial e acidental; não se trata de inesperada e espontânea união diante do perigo que poderia representar um governante megalomaníaco, no caso, oolano López, que tivesse sonhos de grandeza, e andasse cobicando proclamar-se monarca de um Império que englobasse o Paraguai e seus vizinhos. Não se trata disto e não são estes os sonhos de Solano, ainda que haja quem insista em afirmá-lo. Trata-se de algo muito simples: .o que se quer é estruturar, nessa parte do mundo, um sistema econômico-político de relações e dependências em função dos interesses das grandes potências “centrais”, das quais a Grã Bretanha é inquestionavelmente a principal. Em 28 de outubro de 1864, um jornal vinculado a Mitre, escreve: “As alianças do Rio do Prata ficam assim definidas: A República Argentina, o Brasil e o general Flores, representante do partido liberal do lado Oriental, representam, sem sombra de dúvida, a ordem, a paz, os regimes legais de governo, a liberdade e as garantias para
ii
pnr seu pape! na defesa do mundo ocidental e cristão.
=
nacionais cam sob
e estrangeiros que se coloTudo está sua proteção.”
dito aí, com franqueza e pouco importa que o documento oficial da aliança date de maio de 1865. Existe
alguma
coisa que os obri-
ga a se porem de acordo, apesar das diferenças e contradições que os dividem: o poder da City, a ganância capitalista que não tolera que alguém contrarie sua cobiça, exige a extirpação de todo mau exemplo, como o Paraguai, que tem a petulância de realizar uma política de desenvolvimento do cunho exclusivamente nacional. em
mas,
A 10 de março de 1865, (já está
guerra
ainda
o
com
Paraguai
não
Brasil,
o
a Argentina),
com
anuncia o jornal do grupo mitrista: “Não duvidem nossos leitores que, brevemente, soarão os primeiros tiros de canhão que anunciarão ao mundo a queda do miserável opressor do povo mártir.” Os tiros de canhão soaram em abril, quando o Paraguai declarou qguerra ao governo de Mitre, e não, entenda-se bem, ao povo argentino, como foi cuidadosamente frisado por Solano, e é ocupada a cidade de Corrientes. Vejamos, porém, agora como se concatenam os fatos que culminaram no conflito armado, cuja iniciativa formal coube ao governo de Solano. Retrocedamos no tempo. (em Os góvernantes uruguaios 1863, o presidente é Bernardo Berro e seu chanceler, o doutor Juan José
de Herrera) exercem uma política que visa neutralizar os planos de seus inimigos, os de dentro e os de fora. No dia 3 de março do ano mencionado acima, Herrera envia o doutor Lápido em missão ao Paraguai. O chanceler parte dessa premissa: uma vez que as duas nações têm inimigos comuns,
que ambas tentem encontrar alguma solução. Lápido leva várias sugestões de solução. Todas têm como objetivo comum retirar Corrientese Entre Rios da Confederação Argentina. Herrera pensa que, agindo assim, os governantes de Buenos Aires se aquietariam. Quanto ao mais, preocupa-o a fortificação de Martín Garcia pelo governo de Mitre e convida o Paraguai que colabore para “remover” esse obstáculo. Ao governc blanco oriental não faltam motivos bem concretos de ina rebelião de Venâncio quietação: Flores, com a descarada ajuda riograndense e a camuflada colaboração mitrista. Não se pode esquecer o fato de ter sido Flores o principal chefe dos exércitos mitristas. Enquanto isto no Rio de Janeiro o ”... encarregado dos negócios britânicos (. . .) entrou em acordo com o Governo Imperial quanto às autoridades brasileiras na fronteira...” Ao mesmo tempo, Mitre sugere a Solano Lópes uma aproximação entre Argentina e Paraguai: “... tive em vista, principalmente, o que está ocorrendo atualmente na República Oriental em cujos assuntos internos me propus não interferir de forma alguma ...” Solano não tinha por onde ficar surpreso com esse gesto de abertura. Bem sabia que o governo argentino passava por duras provas, sem muita probabilidade de poder superá-las
todas. A insurreição do general Angel
Vicente Pefialoza alastrava-se por várias províncias, desarticulando um poderoso exército e a atitude de Urquizas podia trazer-lhe surpresas por mais que Mitre considere, com acerto, aliás, que Justo José estivesse sob controle.
O que Bartolomeu teme é uma aliança de Solano com Urquiza
partidários
de
Pefialoza.
e mesmo com
Mitre tenta 31
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Solano
está
indignado
pela conduta
argentina e muito o preocupa a politica do “ressurgimento de nacionalidaCertas palavras de Solano caudes”. sam impacto especial: uma guerra declarada pelo govemno de Mitre ao Uruguai seria para o Paraguai motivo de ele entrar também em querra. Por aí se vê como Oo governante paraguaio não podia engolir a “entente” mitrista e mantém-se, por isto, fiel à idéia, que a tempos atrés havia expressado Andrés Lamas do Rio de Janeiro. No entanto, nega-se, por outra parte, a estabelecer um pacto de aliança ofensiva-defensiva com o país oriental. Esta posição parece imprudente.e até mesmo arrogante: o Paráguai, declara o
ministro Berges, das Relações Exterio-
res, está perfeitamente em condições de fazer face a um ataque extemo. Solano Pelo menos não confia nos blancos. nestes que estão no poder. Teme que estejam tramando algo com O Brasil, cujo governo não apóia ainda a ação riograndenses. dos intervencionista Solano não consegue conciliar a pre-
sença de Andrés Lamas em Buenos Aires, na qualidade de ministro oriental acreditado junto ao govemo de
Mitre, com a fidelidade aos blancos e a seus compromissos com eles assumidos. Solano sabe que Lamas é brasilianista nato e que por suas convicções liberais, odeia o regime paraguaio. Receia ainda que possa galgar à primeira 34
magistratura de seu país. Em todo o caso, não lhe escapa que um governo que se utiliza de Lamas não merece muita confiança. Por agora prefere lIimitar-se a deixar claro a seus inimigos que ele não está tramando nada e que sua política é conservar a independência paraguaia e que para isso considera indispensável que o Uruguai conserve a sua. Em 31 de agosto, Herrera ordena a Lápido que apresse a ocupação de
Martin Garcia e capture a esquadra ali ancorada. No dia 2 de setembro, o enviado uruguaio denuncia uma vez mais a Berges a intromissão mitrista nos asde seu país. No dia 6, Berges pesuntos de “amigáveis explicações” a Rufino de Elizalde, Ministro das Relações Exteriores argentino. E faz algo pouco usual nas práticas diplomáticas: envia“lhe cópias das denúncias uruguaias e outros documentos de igual teor, firmados pelo ministro Herrera. A posição do Paraguai parece pouco leal aos olhos do governo oriental. Em todo caso, se limita a pedir explicações pelo que foi denunciado, que considera como não verdadeiro, enquanto não ou-
vir a parte acusada. É claro que Solano não está se importando
muito de ser
ma! visto pelo governo blanco. O que
está em jogo é a sorte de sua terra e quanto ao mais, tudo é secundário. É então que o Brasil entra com o seu protesto contra O governo argentino por este intervir no outro lado do rio, sem,
no entanto, dar muita importância ao fato de seus irriquietos súditos riograndenses estarem agindo de igual forma. Quanto ao resto, Elizalde, por sua vez, responde a Borges: ”... o governo argentino não pode (L.P.) dar crédito a acusa- .
ções injustas e atentatórias à sua dignidade,
que
conselhos,
por certo,
mal
TT
uma manobra diversionista com Solano López, ao propor um entendimento. Usa belas palavras, ao mesmo tem» po que falseia a verdade: em Corrientes o general Cáceres dá todo apoio à Venâncio Flores. Em julho chega em Assunção O doutor Lépido No dia 20 desse mês que Herrera ministro ao escreve
inspirados levaram o governo oriental a fazer-lhe.” E, sem mais explicações, apressa-se a externar sua boa vontade para com O governo paraguaio. Pura
hipocrisia!
No dia 20 de outubro, os gover-
nos argentino e oriental assinam um
protocolo em resposta ao protesto brasileiro, no qual se comprometem a submeter suas diferenças ao Impera-
dor do Brasil. É de uma incrível ironia isto, pois o Brasil não é parte alheia ao conflito e nenhuma condição tem para atuar como árbitro. Com certo
atraso,
o
ministro
Herrera
solicita
que Solano seja admitido como árbitro e Mitre tem que engolir calado a ofensa. Por aí se vê que as preven-
ções do presidente paraguaio com relação aos blancos orientais parecem ter seus fundamentos: o protocolo de outubro é o que vulgarmente se pode chamar, na gíria, de trastada. Antes mesmo de tomar conhecimento deste protocolo, mas conhecendo perfeitamente que rumos estão seguindo os acontecimentos, Solano ordena ao co-
mandante do Taquari que fundeie no Prata. O Paraguai deve marcar presendos acontecimen-
ça no teatro mesmo
tos.
O chanceler José Berges, reitera
suas exigências de explicações a Elizalde. Estamos no dia 6 de dezembro. Na nota exarada pelo governo argentino, encontramos extensa lista de fatos que revelam o parcialismo mitrista em favor de Venâncio ou, mais exatamen-
te, a favor da intervenção nos assuntos intemos do Uruguai.
Cresce a tensão mais e mais. O cônsul francês em Montevidéo, Martin
Maillefer, envia ao ministro das Relações Exteriores seus comentários: “Se Buenos Aires conseguir realizar seu so-
nho de restabelecer o antigo Vice-Reinado do Prata, o Paraguai ou viria a cair sob'seu jugo, ou ver-se-ia fadado a fenecer, privado de comunicação com os países marítimos”. E ajunta, com sua longa experiência dos assuntos do Prata: “Que sentido teria para o Paraguai, seu exército e sua marinha a vapor, não submetidos ainda à prova, é verdade, se ele acertasse inerte este seu verdadeiro suicídio?”
É óbvio que o Paraguai de Solano López nao vai ficar inerte. Vê com
clareza o que o aguarda se não fizer alguma coisa para evitá-lo e põe-se logo em ação. Em 20 de dezembro, o presi-
dente escreve a Mitre e sem rodeios
alude à possibilidade de partir para a guerra. Relembrando a tradição de neutralidade da política paraguaia, acrescenta contudo: “Não quero com isto dizer que este princípio seja de tal forma absoluto que não possa sofrer limitações por força dos acontecimentos...” Mitre não se abala. O processo já se desencadeara e só deve terminar com a completa destruição do regime de López. Se internamente Mitre não conta com o total apoio de seu país, não lhe falta a suficiente lucidez para compreender que, no plano interna-
cional, ele encarna a solução preferida para
o Prata.
Em
15 de dezembro,
o
comprometeria
a
ministro ingles Edward Thornton fez uma advertência através de Lafuente, e a 29, parece que se viu obrigado a uma corrigenda: que peça ao chanceler oriental “uma simples promessa”, a de não pôr em pé de guerra o navio “Villa de Salto”. Se o Uruguai aquies-
cesse,
Thornton
se
obter do governo argentino a promessa de não criar dificuldades para a navegação da nave uruguaia. Herrera res-
35
à
al
ponde com altivez e dignidade: “O governo argentino nos faz a gentileza de podermos navegar em nossas próprias águas com um só de nossos barcos, com a condição ainda, de, em conirapartida, jurarmos, frente ao ministro inglês, que não armaremos o referido navio. Esta é, segundo o senhor me informa, em resumo, a concessão que o General Mitre fez em Santo Isidoro. Sr. Thornton, isto é absolutamente
inaceitável”. Seria de se concluir que,
no espaço de tão poucos dias o diplomata britânico tenha passado de defensor da independência oriental a O fato militante da causa mitrista. comporta várias explicações: ta.) Que a Inglaterra esteja procurando tirar de Mitre qualquer pretexto
de meter seu nariz
no
Uruguai
para ressalvar a dignidade do governo blanco e a soberania do paiís-irmão; 2a.) Que a Inglaterra'tenha optado por seguir mais de perto e por dentro os acontecimentos para exercer sobre eles um controle maior;
3a.) Que a advertência de 15 de
dezembro não tenha passado de uma a mais, em conluio com manobra Mitre, para embair incautos.
Inclino-me pela segunda, sem desprezar totalmente a primeira; ambas se complementam perfeitamente. 1864 começa com uma carta de Mitre a Solano, repleta de confetes: “Va. Excia. é o Leopoldo destas regiões, cujos navios trafegam de alto a baixo os maiores rios arvorando a bandeira pacífica do comércio ...” O governo argentino lhe reconhece prazeirosamente o direito de poder influir nos problemas do Prata, de certa forma em determinados casos. O chance36
ler guarani não se deixa envolver e mantém-se firme, respondendo: daqui por diante “”... meu governo, na contirgência em que foi colocado de não poder dispor das explicações amistosas que foram solicitadas a Va. Excia., se'quirá unicamente suas próprias interpretações sobre o significado dos acontecimentos que podem pôr em risco a soberania e a independência do Estado Oriental, à cuja sorte não lhe é dado ficar indiferente”. Mais claro, só água. Mitre deve ficar sabendo, depois disto e da carta de Solano, que o Paraguai está disposto a ir à guerra, se a intervenção no Uruguai não cessar. Mais. Podia comecar já a enviar tropas para Corrientes, inquestionavelmente campo necessário de batalha, numa guerra com o Paraquai. Não o fará. A atitude do gabi-
nete do Rio, no entanto, antes contrária à intervenção no Uruguai a ponto de admoestar seriamente o presidente do Rio Grande, modifica-se radicalmente em março de 1864: “Os interesses de um caudilho riograndense colocaram o governo imperial num dilema: reprimir, na Província do Rio Grande, com armas, o não acatamento à autoridade soberana ou fuzilar orientais para secundar as pretensões do General Netto de dar apoio ao revolucionário Flores. A decisão não pareceu difícil e o Brasil decidiu-se pelo fuzila-
mento de orientais.” O autor destas linhas é José Mármol, que, na qualidade de representante do govemo Mitre, junto ao govemo do Rio, estava seguindo bem de perto o desenrolar dos fatos. Netto fora chefe dos separatis-
tas riograndenses na frustrada república de Piratini e o Imperador não gostaria de ter mais dores de cabeça com Vivia no Uruguai e sua ameaça ele.
e
inera bem concreta: ou o Imperador terviria com suas tropas a favor de Flores ou 40.000 riograndenses, fixados na antiga Cisplatina, fariam justi-
ca com as próprias mãos, com o natural apoio de seus irmãos do próprio
| Rio Grande. Os senhores de escravos, proprietários de matadouros, como dissemos antes e a esta altura importa sublinhar, queriam ardentemente a hegemonia política no Uruguai independente ou reincorporá-lo ao Império com a condição, é lógico, de eles deterem o poder, no caso de vir a se tornar simples província oriental.
RUMOR
DE ARMAS
Solano não fizera segredo de sua política e às palavras seguiram-se atos.
Em março de 1864 surge o acampamento militar de Cerro León em que se começam preparar 30.000 recrutas.
Em vários outros locais do país guara-
ni formam-se contingentes de homens para se adestrarem no manejo de ar-
mas: 17.000 em Encarnación, 10.000 em Humaitá, 4.000 em Assunção 'e 3.000 em Concepción. Por toda parte, desenvolve-se febril atividade militar. Solano López, porém, não ignora as limitações de seu exército. Não dispõe
de oficiais em
poucos
de
número
que
suficiente, e os
dispõe
não
são
de
elevado nível técnico. Não possui armas modernas. Nos anos anteriores, ele e seu pai preferiram aplicar os re-
cursos da nação no seu desenvolvimento e progresso. Muito longe está o Paraguai de querer ser superpotência, como
espalham
seus detratores.
Pelo
menos, no quê se refere a armamen-
tos, não o é. Sê-lo-á, isto sim, quanto ao heroismo de seus filhos. Em maio,
chega em Assunción o engenheiro alemão Roberto von Fischer Trenenfeldt, que se encarregará de montar o telégrafo em Humaitá. Já em outubro a Posteriormente Trelinha funciona. nenfeldt irá prestar grandes serviços em outros setores. Em plena guerra, consegue obter papel de jornal de fibras vegetais nativas. De Montevidéo, o cônsul Maillefer escreve para a França: “... O Sr. Thomtón, no mês de maio último, demonstrou sua preferência pelos objetivos unilaterais do governo argentino a ponto de lhe ceder um navio de guerra para uma conferência secreta entre Mitre e o Gene...” Maillefer continua: ral Flores “Nos meus últimos informes dei notícias detalhadas sobre as orientações tranquilizantes que Thomton nada trazia para as autoridades constituidas, tendo muito a ver com a autono-
mia do país. No seu entender, “”... a di-
plomacia inglesa declara-se abertamente pelas posições de Buenos Aires.” Sobre Lettsom, diplomata inglês no “aversão Uruguai, revela que tem pelos colorados” de Venâncio Flores. A propósito do ultimatum entregue por João Antônio Saraiva ao govemo uruguaio, Maileffer observa que *... foi evidentemente redigido do outro lado do rio, e pelo que parece, com a colaboração do Dr. Elizalde.” Para o - francês, a aliança já é um fato consumado e não lhe restam dúvidas de que os governos brasileiro e argentino estão agindo de comum acordo: “Torna-se cada vez mais evidente que o no momento, tábua de salParaguai, vação do partido blanco e escudo contra seus adversários, é o principal objetivo da coalisão argentino-brasileira e o árbitro da situação.” (grifo meu
L.P.)
37
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Canhão da bateria de Humaitá, devolvido pelo governo argentino ao Paraguai em 1954 — (Foto Corbalán).
Maquete do Forte de Humaitá
A trama salta aos olhos de quem esteja mais ou menos enfronhado no assunto e Maillefer o está, à sua manei-
ao seu colega, Thornton,
ra. Quanto
este continua com suas idas e vindas, conforme o exigem os interesses, cuja defesa o Foreign Office lhe confiou. A Assunção 24. de agosto, chega a
entregando-se, de imediato “com admirável destreza”, conforme observa-
ção do chanceler Berges, à tarefa de desfazer a desconfiança que a conduta do Brasil está inspirando em Solano López. Já se foi o tempo em que era ingênua. Thornton Assunção fracassa em
tribeiras.
E
sua missão
Berges
O Brasil, porém, não se detém. A 1.º de outubro, os brasileiros começam a invasão do Uruguai. Ao chegar a notícia em Assunção, a 12 de novembro, o chanceler Berges comunica a Viana de Lima que as relações entre seu. pais e o Brasil estão cortadas. Paraguai declara guerra ao Império do Brasil e seu primeiro ato foi aprisionar o vapor Marquês de Olinda, brasileiro, então em águas interioranas paraguaias.
e perde as es-
quem
relata:
“Thornton disse que merecíamos severo castigo, não no que toca a dinheiro, mas, um outro tipo de castigo, isto é, a guerra. Porém, queria ele castigar-nos diretamente, por meio de seu governo, ou indiretamente, por intermé-
dio do Brasil?”
rária, nem permanentemente.
As coisas tornam-se
logo claras, graças ao próprio Edward Thomton que se encarrega de esclarecê-las: o governo do Paraguai não pode nutrir dúvidas quanto à posição da Grã-Bretanha com relação ao conflito que se aproxima. Solano continua a se preparar porque compreende que já não há mais alternativa. A 30 de agosto, a chancelaria guarani entrega nas mãos de César Sauvan de Lima, diplomata do Império em Assunção, uma nota cujo teor é o prelúdio já de uma declaração de guerra. Deplora o ultimatum feito ao governo oriental e comunica que o Paraguai não vai ficar indiferenanunciadas por represálias te às Saraiva. Mais grave ainda: não vai consentir que tropas brasileiras, de mar ou terra, ocupem parte sequer da República Oriental do Uruguai, nem tempo-
QUEM
PAGOU
Várias
foram
abriram:
1.0)
A GUERRA as
bolsas
que
se
Doações de pessoas físicas,
como a de Tomas Armstrong, nessa ocasião diretor residente da Compafiia del Ferrocarril Central Argentina, britânica ex-presidente da- Bolsa
de Comércio
vogal da Casa da Moeda
e Banco da Província de Buenos Aires. Este inglês radicado há muito tempo no Prata e intimamente vinculado aos interesses da City de Londres tinha se comprometido a doar 50 000 pesos anuais, enquanto durasse a guerra. Seu exemplo foi seguido por outros co-
merciantes
estrangeiros
de
Buenos
Aíres, que conforme afirmou o Cônsul britânico em Rosário, Hutchinson, se apressaram “... sem que ninguém lhes houvesse pedido a fazer importantes doações.
2.0) Empréstimos por parte da direção da Casa da Moeda e Banco da
Província de Buenos Aires, que começou a fazê-lo com aval, (tal era a con-
fiança
no governo
nacional!),
de al-
guns dos mais importantes comercian-
39
Total
.........
&fts. 2.664.561.95
6.0) Empréstimo feito na praça de Londres por Baring Brothers, que Nacional trouxe para o Tesouro 1.735.703 libras, acarretando uma dívida de 2.500.000 libras. Este empréstimo não consta na lista acima de 40
= o css...2 SE os RR
Estanislau Zeballos julgou que uma forma de expressar seu amor à Pátria, seria suprimir de sua “Calfucurá” algumas “... páginas negras da administração pública e do procedimento de muitos comerciantes”. Confessa que “só o deixou de fazer para não encobrir que ferozes levantes de indios ocorreram como justa represália contra cruéis felonias dos cristãos, que os tratavam como animais, como se fossem eles seres estúpidos, cobertos de jóias a serem saqueados e abandonados no meio da rua, altas horas da noite." Estes comerciantes ladrões, a quem Zeballos se refere eram os provedores, os mesmos que o coronel Álvaro Barros fustiga, quando fala do “bárbaro saque” de que eram objetos os índios por “... provedores e intendentes, na entrega das rações.” Pois bem: para a querra contra O Paraguai precisava-se de alimentos, vestimentas, barracas, cavalos, forragens, armas e quem arranjasse tudo isso, isto é, os provedores! Estes senhores levantarão fortunas enormes. Quan-
E
— Empréstimo da Província de Buenos Aires o Bfts. 668.312.39 DA — Empréstimo do Brasil E ga aa rar rata Sfts. 941.049.20 — Empréstimo particular Baring idea ae &fts. 980.-000.00 Do — Embargo de mercadorias do Paraguai $fts. 71.448.16 ER co A ar — Donativos para a guerra Sfts. 3.752.20 ERRO EP
OS PROVEDORES
TE
dos e obtidos por Norberto de la Riestra, com o compromisso de devolvê-los com os fundos de um empréstimo que o govemo Mitre o encarregou de negociar na capital britânica. Em 31/10/1865, o Sr. Lucas González, ministro da fazenda de Mitre, em carta ao Presidente, delineia o seguinte quadro de recursos:
—
da Casa Empréstimos 5.0) Baring Brothers da Inglaterra, solicita-
González, porque foi uma operação posterior à mesma. Concluindo: a querra foi paga, basicamente, com o dinheiro fornecido pelos ingleses. A propósito, é bom registrar aqui que o jornal “La Nación”, de Buenos Aires, em seu editorial de 9/3/1971 se tenha aborrecido com o autor destas e de outras linhas sobre esse mesmo assunto, simplesmente porque não se escondem os fatos. A esta ea outras verdades da história denominam de “sutis perscrutações” e previne “os cidadãos”: saibam defender-se contra elas!
r
tes e criadores de gado de Buenos Aires, nativos e estrangeiros. 3.0) Empréstimos do Brasil. Uns dois milhões de pesos fortes, provindos originariamente do Banco Rotschild de Londres, que os subvenciona ao Império; e muito mais ainda. 4.0) Empréstimos do Banco de de agência da através Londres, Buenos Aires, que todos os dias cobre as necessidades financeiras do governo.
tias
dinheiro
do
consideráveis
que
Banco do recebia o Governador ou do Brasil e da Casa de Londres
Baring foram para seus bolsos. Conhe-
çamos
mais de perto alguns deles. José
Gregoria Lezama, por exemplo. Tinha sido patrão, amigo e financiador de Venâncio Flores. Os primeiros passos de Flores em gua aventura (prolegôme-
no da
guerra contra
o Paraguai),
fo-
ram dados com respaldo nas falcatruas de Lezama, que além do mais, estava associado a Edward Lumb e ambos eram beneficiários da concessão. oude Buenos pela Província torgada
Aires para a construção da F.C. Grand
Sud. Já o encontramos atuando como provedor em 1852, quando Urquiza, a seu pedido, lhe outorga, a ele em sociedade com Juan Cruz Ocampo, a “... todas de fornecer incumbência muniarmamentos, as vestimentas, ções, arreios, calçados e todo o material de que o Estado necessita para o sustento e aprovisionamento do exére cito, atendendo não só a marinha guarnições da cidade, como também interior, das do os departamentos fronteiras e ainda o comércio pacífico com os índios ...” Tudo isso, em deferência às solicitações de Lezama e Ocampo. Seu nome aparece mais tarde na comissão encarregada de formecer
ração “aos índios amigos” e, por últi-
mo, como provedor durante a Guerra da Tríplice Aliança, do exército argentino na província de Corrientes. Não deixa de causar espanto o que Mitre escreve de Concórdia a seu ministro de guerra, a 30 de setembro de 1865:“O governo me comunicou confidencialmente (sic) que já foram firmados contratos
com
os
Srs.
Lezama
e
Galván para a Provedoria do Exército.” Por que confidencialmente? Que
mal há em firmar um contrato? Mitre bem sabia o porquê. Quem fica sem resposta somos nôs curiosos. O certo é que a 30 de julho, Mitre notifica a Gelly que Lezama e Galván lhe haviam apresentado mostras do vestuário para oficiais. Donde, salvo prova em contrário, poder-se inferir que antes de se firmarem compromissos contratuais, Lezama e Galván já eram de fato provedores. Isso cheira à corrupção ... mas, enfim, se os amigos não se entendem ... E Lezama e Mitre eram bons
e sólidos amigos ...
Vejamos agora quem era CândiA seu respeito sabemos do Galván. já que esteve associado a Lezama na fornecer de encarregada comissão
rações “aos
índios amigos”.
E pos
sível que tenha sido esta a razão da carta que o corajoso Calfucurá esde Monte
creveu
Chilué a Mitre, com
data de 8 de março de 1863:
“E meu
dever colocá-lo ao par de quem sejam seus vários amigos. Um “infrascrito”
E (sic) Galván, provedor da Bahia. um dos ricaços mais importantes. E um grande ladrão.” Os deslizes de linguagem de Calfucurá ou de sua secretária não conseguiram diminuir a força “E um expressiva de suas palavras: Galván é realmente grande ladrão.” um felizardo, sempre bafejado pelos
favores
oficiais.
Neste
mesmo
ano de
63 ele, em sociedade com Aguirre e Murga recebe da província de Buenos Aires uma régia concessão de terra na Patagônia
dupla com
para
colonização.
Lezama
Fazendo
no negócio acima
referido, ele ainda por cima tem como fiador nada menos do que Norberto
Quirno a pessoa de confiança do gover-
no, incumbida de abastecer de rações as tropas acantonadas na fronteira norte de Santa Fé. Dois anos antes, as-
41
negociada por seus agentes e mediante a subscrição dos provedores, que com o desperdício e malversação de recursos (refere-se a Mitre L.P.), lucraram milhões, como Lezica, Lanús, Galván, que desta maneira, puderam arcar facilmente com os gastos da loja.” Se foi, é claro, Mitre quem tudo planejou alude como terceiros, de através Sarmiento, ou tudo nasceu espontaneamente, esta questão foge ao ambito deste trabalho.
Mas, que tenham
provedores pago a loja absolutamente Também é isso está fora de dúvida. fato incontestável que, ao ser instituda por Mitre em 15 de março de 18/70,
a Sociedade Anônima
“La Nación”,
Galván e Lamus subscrevem-na cada um com 100.000 pesos, para um capi-
tal de 800.000.
são;
Anacarsis
Os outros provedores
Lanús,
um
dos poucos
amigos íntimos de Mitre, Ambrósio Plácido Lezica, já mencionado, Eduarduas (que seria por do Madero. vezes presidente do Banco da ProvínFrancisco Aires), Buenos de cia Madera, (mais tarde, Ministro da Faprovincial), governador do zenda 42
CONFISSÕES
os
Alguns testemunhos são verdadeiras confissões. Ajudam a esbocar com traços mais precisos a rea-
lidade. oO
O marquês de Caxias, chefe das tropas imperiais, escreve
20 de dezembro de 1867: “Nossos aliados não querem pôr fim a guerra,
porque
com
ela estão tirando
seus lucros e empobrecendo
o Brasil.
Depois que Mitre subiu ao poder, procura frear por todos os meios ao seu alcance, o desenrolar das operações.”
Verdade ou não, a acusação é grave. E óbvio que quem estava auferindo muitos lucros com a guerra, não deve-
q
amigo Sarratea: “'Sua loja de peles foi
——
o erário ...” Os provedores ganham fortunas, mas sabem retribuir. Em 23 de janeiro de 1869 presenteiam Mitre com uma casa na rua San Martin. A propósito deste fato, Sarmiento escreve a seu
+————
seus prejuízos, sem maiores ônus para
Mariano Acosta, O representante da Companhia inglesa do F. C. Pacífico , e os ingleses Thomas Guguid, Asworth, Carlisle, Graham, Waton, Thomas Tomkinson, Drabble Hnos, Bates Stokes, Diego Thompson, Thomas Drysdale e outros. Polpudos contratos, religiosamente pagos, mesmo que, por vezes, com algum atraso, construíram fortunas, aumentaram outras e permitiram o aparecimento de palacetes suntuosos e afrontosos, quando o que precisava aparecer eram indústrias que possibilitassem a real independência e libertação do país de seu jugo colonial. Eram fortunas que se empregavam em especulação e usura, em compra de pastos para a criação de vacas, em viagens à Europa das jovens ricas, em busca de maridos, capazes de melhorar, com toques de nobreza, a rudeza e obtusidade de seus hábitos de aldeãs, sua educação boçal, pavoneando-se de ademanes atenienses. À guerra do Paraquai fortaleceu essa classe parasitária de capitalistas com mentalidade de colonos.
R
sinara contrato de prover de alfafa a cavalariça do exército nacional, em guerra com o Paraguai. Seus fiadores são Aguirre e Murga. Em 27 de março de 1868, Mitre com pena de Galván sugere a seu Ministro da Guerra que dê um jeito de comprar um enorme pasto que Galván tem em lItapiru para, desta forma, ressarcí-lo parcialmente de
É
ndido López) Vista parcial de Curuzu — (de Cá
ria estar minada. estavam Em
muito ansioso por vê-la terSabemos já quem eram os que tirando lucros... carta confidencial a Norberto
de la Riestra, que se encontrava em Londres, tentando empréstimos, o Ministro da Fazenda, Lucas González, escreveu a 28 de março deste ano de
67: O país “... tem que enfrentar uma guerra estrangeira para não apenas vingar sua honra ultrajada, mas, também para tirar vantagens muito grandes em benefício do comércio do mundo inteiro, e de modo muito particular do comércio inglês, que num
Paraguai
livre
e
civilizado,
vai
poder dispor de um grande mercado a explorar.” Prosseguindo: “O colonge de se sentir retraíido mércio... e temeroso com a guerra, progride e se amplia, ansiando por que termine logo, não pelos males que acarreta, mas, para poder lançar-se logo em transações rendosas no Paraguai, até fechado aos seus interesses.” agora (grifo meu L.P.) Isto sim, é falar claro. Chega mesmo a surpreender o leitor menos avisado. Não é mais o Sr. Melchor Rom quem se desdobra em desvelos pelo comércio inglês, mas, sim, um membro do Gabinete Nacional, o Ministro da Fazenda, que, diga-se de passagem, ao deixar o cargo manter-se-á em permanente idílio e conchavo com a Ferrocarril Central Com Argentino, empresa britânica. esta linguagem tão despudoradamente clara, o comércio confessa que pouco lhe importa o derramamento de sanque e a devastação destruidora de um povo, desde que fiquem asseguradas as futuras especulações, às quais se dispõem a lançar-se como urubus sobre a camiça. O Sr. González não busca eufemismo nem mesmo em seus docu44
mentos oficiais. No Relatório do Ministério da Fazenda de 1866, declara que a “República está passando por uma
prova
muito
reconfortante,
se,
como espero, o resultado da guerra vier não apenas consolidar a Autorida-
de Nacional, mas também viabilizar um mercado a mais para o comércio no Paraguai que lhe estava vedado até
agora.” (Grifo meu L. P.) Reforçar a Autoridade
Nacional corrobora nossa afirmação já feita nesse trabalho, páginas atrás: a liquidação do regime paraguaio é uma imperiosa necessidade da política do mitrismo. Exemplo de independência, da vontade nacional na condução dos destinos da Nação sem submissão aos interesses britânicos, são maus exemplos. Outros poderão ver-se tentados a neles se apoiarem e os imitarem. Não se trata meramente de choque de ideologias, que na verdade também o é, mas, sim de interesses e destinos. O império britânico e seus sicários não
O Império, porpodem consentílo. que está organizando o mundo para ser dócil mercado que lhe forneça matérias-primas, alimentos e consumo de seus produtos manufaturados e seus empréstimos; os sicários, na parte que
lhes toca, na hora de dividir espólios. Em sua obra sobre o Banco da Província de Buenos Aires, Casarino “A Guerra contra o tirano registra: López acelerou grandemente as atividades comerciais e industriais, por te-
rem que prover as múltiplas necessidades dos três exércitos, que lutavam a grandes
distâncias de seu centro abas-
tecedor, a cidade de Buenos Aires. O ouro brasileiro afluía abundante ao país, devido às grandes compras que O Brasil fazia para abastecer seu grande exército.” E Agote o corrobora em
in ov Pr da o nc Ba o e br so ho al ceu trab ou do a ad tr en “A s: re Ai os cia de Buen o € à
por acréscimo tornarars-se credores de
enormes somas ate obrigaram a hipoteca de nossos pobres países latino-americanos ao estrangeiro. Mas, isso sim, houve um saldo positivo: o Paraguai foi franqueado às especulações civilizadoras, ao saque do livrecomércio e à desenfreada entrada de homens e capitais estrangeiros que acabarão por assenhorar-se de sua riqueza. E o bárbaro era Solano? Sim Já no fim da Guerra do senhores! Paraguai, quando já era possível fazer-se um balanço, fê-lo o jornal “EI Nacional”. Lemos no seu artigo de 18 de dezembro de 1869, sob o título “A Guerra do Paraguai, sua influência no
naçã ro dos empréstimos que a na Inglaterra província contraíram o dos e a proveniente do abasteciment il, em exércitos da República e do Bras Paraguai, desencaO com guerra ária deou uma evolução extraordin do comércio-e da indústria, que se desenvolveram
rapidamente,
aumentan-
do o valor dos produtos do país e pro: vocando forte importação de merca-
doria estrangeira...” E óbvio que o ouro,
que
embevecia
tanto
ministro
O
Elizalde, uma vez entrado no país, longe estava de poder aumentar-se porque no fim das contas, como escreve o mes-
“...a necessidade de pagar mo Agote, em ouro as importações, que a depreciação de nossos produtos não permitia contrabalançar ou equiparar, outras causas conjunturais, como a crise Ou perturbações comerciais da República Oriental, provocaram a exportação do metal precioso.” tão cobiçado pela ouro Este burguesia portenha não serviu para a implantação das .indústrias de que O país precisava, não foi investido no Passou ao largo, programa burguês. deixando embora em seu rastro, é verdade, uma esteira de novos ricos. Alfredo de Labougle afirma que entre 1866 e 1873 entram na Argentina,
provindos de ”... empréstimos e de pagamentos dos provedores brasileiros, aproximadamente 57 milhões de pesos ouro (11.400.000 de libras esterlinas L.P.), que emigrariam rapidamente para cobrir os saldos desfavoráveis da ba: lança comercial.”
Em resumo, as potências centrais
de ultramar aumentaram suas exporta-
“ções para a Argentina, ficaram saldos
favoráveis com o ouro dos empréstimos feitos ao Brasil e à Argentina e
progresso
fácil
“E
material”:
de-
monstrar que a declaração de 17 de abril de 1865 pegou o país em tais circunstâncias que a guerra que, em OuUtra época qualquer, seria prejudicial íssima, chegou no momento preciso para evitar o desastre total. Vejamos qual era o estado de nosso comércio e de nossa produção naquele ano. Seja-nos permitido apresentar dados oficiais e citarmos números para tomar mais concreta nossa afirmação. O comércio todo sabe perfeitamente que os produtos nacionais começaram a aumentar seu valor de ano
para ano de 1862 a 1864.
E verdade
que no ano de 1865, com a taxa de 75% sobre a lã no mercado norteamericano, este nosso produto sofreu
enorme depreciação.
No ano seguinte, o preço da lã caiu uns 30 ou 40% . Esta queda ina repercutir forçosamente no mercado produtor, o que efetivamente ocorreu. O gado ovino diminuiu extremamente. Os donos de ovelhas viram sua fortuna reduzida à metade, como caiu 45
|
EC
Da
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ndo de
SS
BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL Pe. ARLINDO MARCON CARLOS BARROSA — R$
|
também o valor dos campos e dos arrendamentos. O país perdeu com isso milhões. Tal perda não nos seria tão sensível se, com o nosso empobreci-
mento, tivéssemos reduzido nossos gas-
tos. Muito pelo contrário, e talvez até mesmo pelo fato de a pobreza crescer, a importação aumentou assustadoramente. Veja-se a comprovação disso. A estatística alfandegária acusa excesso de importação sobre a exportação nos três anos anteriores ao sessenta e seis, de onze milhões. De acordo com explicações muito razoáveis e justas da economia, seríamos levados a crer que estes onze milhões podem ser computados como lucro em nossas transações no comércio internacional. Mas, deve-se levar em conta o fator depreciação dos produtos e só nesse ano a importação ultrapassou a exportação de nove milhões. Mas, como valor dado na alfândega ao produtor de exportação foi maior do que o conseguido nos mercados europeus, em que caiu, como dissemos, de 30 a 40%, concluímos que sobre o valor de 23 milhões exportados, com a quebra de 35%, temos a diferença exata. Por outra, tendo vendido 16 milhões de mercadoria, compramos 32 milhões (Estatística da Alfândega). Como vamos cobrir diferença tão grande? Em outras situações, diriamos que a diferença entre dezesseis e trinta e dois milhões não representa lá tão grande coisa. Sabendo das baixas havidas, não poderemos pensar assim. Como então pagar a diferença desse ano e dos seguintes? Aqui está o nó da questão. Nenhum proveito tiraríamos da vinda de milhões de emigrantes, se o que aqui 46
produzissem desse prejuízos e não lucros; se os fazendeiros tinham já perdido seus bens; se o comércio estava a olhos vistos se deteriorando
cada dia mais em consequência da situação da lavoura. Que fator interferiu para minorar as desgraças que nos ameaçavam?
Foi a guerra do Paraguai que rea-
tivou todas as atividades, incutiu ânimo nos braços descoroçoados e ofereceu trabalho a operários e camponeses. Foi a querra que carreou ao país
os milhões que nos ajudaram a pagar
as pesadas importações que sem esses milhões inesperados nunca seriam pagos. Foi a guerra que alimentou centenas de costureiras de famílias sem valorizou o gado vacum e trabalho; Incentivou o cultivo do miequino. lho, da alfafa, etc., etc. ... Pensemos só no que nos aconteceria se com a depreciação dos produtos do país não dispuséssemos de outras alternativas para substituir a que desaparecia, se não tivéssemos encontrado na Guerra do Paraguai uma nova fonte de trabalho. Com o que fica dito, podemos compreender que uma parte do progresso material deve-se à guerra. E não como andam dizendo, que o progresso se deu apesar dela.” Será necessário acrescentar alguma coisa a essas confissões?
A PAZ DOS TÚMULOS Foi a que reinou no Paraguai, depois da guerra. E com ela, chegou a exploração que na realidade. já havia começadó antes. No “Diário de Gastón de Orleans”, genro do Impera-
Quartel-General da Policia de Paissandu, logo depois de ter sido bombardeado pela esquadra brasiléêira sob o comando do Almirante Tamandaré. — Museu Histórico Nacional de Montevideo.
foi coroada com a destruição de uma
comporta que ocasionou a inundação do estreito vale em que se erguia a fundição. O douto Príncipe Gastão de Orleans mostrava-se zeloso introdutor da civilização no Paraguai. O futuro não deveria conhecer nem sequer as cinzas do que fora um dos símbolos do Paraguai independente. Apenas acabada a guerra, O governo títere fez o levantamento das terras de propriedade do Estado e chegou às seguintes conclusões: sobre O total de 15.000 léguas quadradas recenseadas, (ou seu equivalente, 9.000 léguas espanholas, medida em uso na ao pertenciam 12.440 Argentina), Estado e 2.560 a particulares. Das primeiras, 7.100 foram classificadas como boas e de mão beijada, 4.500 de bosques e cerrados e 840 de mato rasOs irmãos Mulhall, em 1876, teiro. 48
descreviam o Paraguai de pré-querra nos seguintes termos: “Havia poucos proprietários.
Três
quartas
partes do
país pertenciam ao governo desde a expulsão dos jesuítas em 1768 e López cedeu as terras aos seus moradores por uma renda nominal simbólica e todo o país apresentava um quadro alegre e risonho de chácaras, plantações de milho, mandioca, fumo, e algodão à beira das estradas, até que veio a guerra que tudo destruiu, convertendo um paraíso terrestre num de-
serto despovoado.” (grifo meu, L.P.) Podemos juntar a esse testemunho, o de Alberdi: “O exército paraguaio é
numeroso se tomarmos como referência a população do país, porque não se distingue do povo. Todo cidadão é um soldado e como não há um cidadão que não seja proprietário de um terreno cultivado por ele e sua família, interesse cada soldado defende seu próprio e o bem-estar de sua família, ao defender sua pátria.” E esta realida-
de deve ser confrontada com a outra, descrita por Eliseo Reclus em sua Universelle”, Géographie “Nouvelle Tomo XIX, Paris, 1894: “Com o fim da querra, cessada a ocupação, quase
toda a terra paraguaia virou domínio público. Dono assim de uma imensa propriedade nacional, o governo a colocou à venda em “léguas quadradas”, conforme o valor das terras e a proximidade dos mercados. Os especuladores argentinos, ingleses e norte-americanos se lançaram sobre a presa sem respeitar pequenas glebas encravadas em suas aquisições, onde as famílias guaranis cultivavam o solo de geração
em geração, sem nunca terem tido o trabalho e a preocupação de constatarem seus títulos de propriedade. Sindicatos de traficantes de terra adquiri-
ma
dor us Drasil e sucessor de Caxias no comandc Supremo do Exército, lemos no dia 18 de maio de 1869: “tomadas 2 destruídas as construções de Ibicuy; igualmente destruídas as máquinas. O chefe da fundição, capitão Infran, foi executado”. Dia 9 de junho, o “Diário” registra: “a fundição foi arrasada total e definitivamente pelo engenheiro Jardin, que encontrou grande numero de máquinas ainda em bom estado e muito armamento, o que significa que o coronel Cornado não havia feito um trabalho completo.” A destruição final, definitiva, irreversível, foi executada por 80 homens sob a.chefia do engenheiro. Peças importantes da fundição de ferro e a fábrica de pólvora serão desmontadas. Por-se-á fogo nos edifícios e oficinas da fundição, carpintaria, ferraria, no setor de tornos e armas e aos palóis de mantimentos e combustíveis. Isso não bastou. A obra
nas, centenas € ze de m co os en rr ram te a fim de revendees ar ct he de s milhare vinte vezes ou z de de r lo va Jos a um de compra. For lo va vê u se e qu do r io ma ram feitas concessões
de
mil
quilômetros
de terra de mais
quadrados.
Em
s fooucos anos, imensos descampado
e ram cedidos a proprietários ausentes distantes, sendo que, por outra parte, nenhum camponês paraguaio podia cultivar o solo de sua pátria, sem pagar imposto aos banqueiros de Nova lorque, Londres ou Amsterda.
Observamos assim que os descendentes dos guaranis, depois de subme-
tidos ao domínio dos jesuítas e dos
ditadores, com
destes, pelo
a derrota
menos, por alguns anos de heroísmo e
desgraçadavoltam independência, mente a sofrer uma terceira escravidão, esta mais dura ainda, já que os novos donos fariam deles proletários desclassificados.” Mais adiante, o eminente geógrafo acrescenta: “Os capitalistas de Londres se dispuseram a emprestar a quantia de 1.438.500 libras, porém, por um desses mistérios financeiros de que a história de nossa América oferece tantos exemplos, os
cofres do Estado receberam da soma
emprestada, apenas 200.000 libras, aproximadamente. Tiveram depois que negociar para reduzir o capital dessa enorme dívida. E os banqueiros se deixaram dobrar facilmente com a oferta de um modesto presente de 500: léguas quadradas, ou Em seja mais de 300.000 hectares.
seguida,
o governo vendeu, sempre a
especuladores
ingleses,
a
estrada
de
ferro de Assunção a Vila Rica...” Na edição de 1896 de sua ““Geógrapnie”, Reclus continua com suas “As principais empresas acusações: pertencem a estrangeiros, que residem
fora do Paraguai. A dívida externa, toda ou quase toda, está vinculada aos ingleses; a estrada de ferro principal é em quase toda sua extensão do capital inglês; as mais importantes companhias de vapores são também de esurutrangeiros, ingleses, argentinos, guaios, e ainda considerável extensão de seu território é de propriedade estrangeira.” A 9 de dezembro de 1870, com os mortos ainda por enterrar, as ruinas ainda fumegantes, o pavor ainda estampado nos rostos, o Governo Provisório do Paraguai declarava livre o co-
mércio da erva-mate e o corte de madeira das florestas antes nacionalizadas.
Em
1.º de janeiro
de
1871,
o
. Presidente da República decreta:- Art. 2.0: Todas as vezes que o camponês tiver que se ausentar da terra, temporariamente, deverá para isso obter permissão por escrito, com a assinatura do patrão ou do capataz do estabelecimento. Art. 3.0 — O camponês que abandona o trabalho sem essa permissão será reconduzido preso ao estabelecimento, se o patrão o exigir, sendo responsabilizado pelos gastos de sua soltura e pelos demais gastos que dessa situação decorrerem.” Assinado: Rivarola e Juan B. Gil. A liberdade estava triunfando no
Paraguai! E a civilização... Eis um balanço final de toda essa Em 1938, quase em nossos tragédia. dias já, 136 propriedades abarcam mais de 15 milhões de hectares e 607 25 mitotalizam aproximadamente lhões. Esses 607, número macabro, representam o espaço ocupado por milhares de famílias que antes de 1870
49
moravam nestas terras e as vam como suas. Em 1909 Rafael Barret dolorosas páginas sobre o Barret era um espanhol que país guarani como se fora
45.504.100 libras. Seu comércio exterior está dominado por capitalistas britânicos. O café, seu principal produto de exportação, foi monopolizado pelas seguintes firmas: Phipps Irmãos, Schwind Mc Kinnell, Ed, Johnson and
trabalhaescreveu Paraguai. amava O seu e O
Co., Wright and Co., Boje Y Cia. Apenas um nome brasileiro, o último da
sentia intimamente. E dele o que se seque: “Por cruel exceção, a Guerra do Paraguai não apenas devastou e ensan-
lista. Em 1875, do volume de comércio de toda a América Latina com a
gúentou o país senão que o desfigurou
Inglaterra 32% das exportações e 40% das importações cabe ao Brasil Império. Nesse setor, o Brasil ocupa o primeiríssimo lugar, com larga diferença em relação aos outros. Os investimentos ingleses, nesse ano, incluindo os empréstimos não amortizados, atingem a casa de 31.289.000 libras. lugar. O Peru vem em segundo Albion investiNele, os filhos da ruiva
Castrou-o ao despor muito tempo. truir os germes daquela briosa raça resplandescente das nobres figuras dos anciãos que a ela sobreviveram. As gerações que vieram depois foram plasmadas em moldes diferentes. Emergiam mais sob instituições, formalmente Os novos paraguaios, porém, livres; bem lá em seu íntimo, são menos livres , menos vigorosos, mais indefesos, mais indolentes, mais propensos a vicios, mais incapazes de se emanciparem pelo próprio esforço. Constituem
ram, tendo em vista, naturalmente, lucros gananciosos, quase 36.000.000 de libras. Em que setores os ingleses fize-
hoje uma casta diferente, inferior. É outra nação, improvisada,
formalmente à antiga.
ram seus investimentos no Brasil? Para não cansar o leitore apenas a título de
ligada apenas
Para os atuais
habitantes o progresso é difícil. Não é de se estranhar que a depressão nacional perdure tanto. Os traços característicos do povo foram modificados e desfeita a fisionomia da pátria... O lar paraguaio é uma ferida que sangra, é um lar sem pai.” OS TRIUNFADORES Formalmente o foram, o Brasil, a Argentina e o Uruguai, se olharmos apenas superficialmente os fatos. Porém, terminada a guerra, O que é que lhes aconteceu? O Brasil ficou economicamente exaurido. Terá que recorrer aos em-
préstimos ingleses. Entre 1871 e 1889 contrai
50
dívidas
que
montam
a
exemplo, diremos que os ingleses passaram a controlar a “Rio de Janeiro Gás Company Limited”, a “Rio de a Co.,” Railway Street Janeiro “Carros do Botanical Gardens Rail “St. John D'El-Rey a Road Co.,” Minning Co.,” a “Compafiia Ferry, do “Companhia de Navegação a Amazonas”, a “London and Brazilian o “English Bank of Ltd.” Bank
Rio de Janeiro Ltd.” etc, etc. A guerra do Paraguai torna o Brasil mais dependente que antes, endividado e alie-
nado de si mesmo. O Uruguai não está em melhores condições. Os irmãos Mulhall indicam que a dívida externa desse país sobe em 1875 a $ fts. 42.357.000 e é a
maior
“per
capita”
em
comparação
mu
Ataque dos paraguaios à ilha Caraiá, defendida pelos brasileiros em 1866 - Museu Histórico Nacional
Navio de Guerra brasileiro Museu Nacional Foto Corbalán
com a de seus aliados:
Sfts. 36 para
o Brasil, & fts. 38 para a Argentina e
$ fts. 90 para o Uruguai. Além
do
mais, apenas terminada a guerra,O presidente Lorenzo Batlle contrai em
Londres um empréstimo de 3.500.000 libras. Naquela época, dirigindo-se a Elizalde, Sarmiento aduzia como arqgumento a favor da anexação do Uruguai e do Paraguai à Argentina, porque a dívida uruguaia é de tal forma exorbitante,
que
o país,
por si mesmo,
não
está em condições, absolutamente, de pagá-las. Na Argentina, o empréstimo de
2.500.000
libras, tomado por Mitre
para financiar a querra, cresce assustadoramente: entre 1870 e 1876 ultrapassam de 16.000.000 libras, das
quais,
quase
14.000.000
correspon-
e Sarmiento de à gestão dem 2.000.000 libras à de Avellaneda. E bom esclarecer, digamos entre parên-
teses, que os valores nominais do endividamento não representam o dinheiro que realmente entrou nos cofres públicos, que foi quantia consideravelVale a pena concenmente inferior. trar um pouco nossa atenção sobre a maneira como se gastava o dinheiro. Em 1870, vota-se o empréstimo para
“Obras
agosto
Públicas”.
Uma
fixa seu. montante
lei de 5 de
em
SBfts.
30.000.000 (6.000.000 libras), e destina para sua amortização as rendas gerais da nação, o produto dos 5% dos direitos adicionais de importação e os 2% dos direitos de exportação. Essas duas últimas taxas, depois que o crédito do Governo Nacional com o banco da Província de Buenos Aires foi cancelado, estavam destinados a seu pagamento. A soma que se obtiver supõe-se que $fts. 30.000.000 devia ser investida no cancelamento de créditos 52
com o Banco da Provincia, construção de
ferrovias,
portos de
Rosário
e
Buenos Aires e armazéns para a alfândega de Rosário. Mariano Varela foi o negociador argentino enviado a Londres. Porém, nesse ínterim, o Ministro da Fazenda, que tinha baixado as instruções, renuncia e é substituído no posto por Luiz L. Domífnguez. Este encaminha novas instruções a Varela, a 11 de fevereiro, e em 16 de março envia-lhe uma nota esclarecedora: “... O abaixo-assinado considerará como fato providencial o fracasso do empréstimo dos trinta milhões de pesos fortes, pois, não concebe como este poderia ser autorizado por lei, em plena rebelião de Entre Rios (Lopez Jordán L. P.), que estava consumindo meio milhão de pesos fortes por mês, e ainda no momento mais crítico da guerra franco-prussiana, que nos fechava os dois mais importantes mercados da Europa, que alimentavam e asseguravam o aumento de nossos lucros.”
E, portanto,
o próprio
Ministro
da
terminou,
a
Fazenda quem faz esta crítica implacável do empréstimo e ainda acrescenta: “O progresso sedutor, antes daqueles
acontecimentos,
dívida do Banco que devia ser saldada com parte desse empréstimo aumentou para dois milhões de pesos; pragas imprevistas, seca, gafanhotos, febre amarela vieram aumentar nossas dificuldades. A guerra de Entre Rios custou-nos para mais de cinco milhões de pesos fortes, que oneram o crédito interno, de tal forma que se nos tivéssemos empenhado em obter, no exte-
rior, essa soma, estaríamos obrigados
a investir oito milhões anuais na terra,
para pagamento da dívida pública, privando-nos do necessário para a vida administrativa e de recursos para qual-
Não . da ra pe es in ia nc quer emergê se proo nã z ? e u g n i m o D , so is obstante |
com isso, os elos de sua dependência aumentaram em decorrência da dívi-
empreso d o ã ç a l u n a l ta to nuncia pela
da, de uma dívida que não beneficiou nenhuma atividade produtiva. Ajuntem-se a isso os saldos negativos do comércio exterior e obter-se-á assim, uma boa imagem da preclara, responsável e extremamente nacionalista política econômica de Sarmiento! Em 1875, cinco anos após a Guerra contra o Paraguai, os ingleses são credores de nove empréstimos e têm vultosos investimentos nos Ferrocarriles Central Argentino, Grand Sud, Norte, Ensenada e outros. São donos dos frigor ífie de minas de San cos Liebig e Bobicuá Juan. Paremos por aqui, embora falte muito para encerrar essa simples resenha. Tudo isso e o que se seguirá é sequela de uma determinada política. Mesmo a Guerra do Paraguai não passa de um simples item, embora de grandes proporções, desta política: A política entreguista.
timo, mas, por sua redução a apenas
1.000.000 libras ou $fts. 9.000.000.
No entanto, essas novas instruções de Dominguez chegam já tarde. Varela já
havia formalizado
a operação com
a
Casa Murrieta e Cia. Já nasceu mal O supradito empréstimo das Obras PúbliAfinal de contas, esse dinheiro cas. supõe-se que serviria para obras em benefício do público! O ouro começa a chegar à praça. Imediatamente o Governo Nacional o deposita no Banco Província em conta que lhe renda juros. Daí por diante é a loucura total: o Banco, por seu turno, empresta esse dinheiro a particulacomerres, especuladores, usuários, ciantes e proprietários de terra, e em pouco termipo, Buenos Aires se lança numa desenfreada corrida que irá terminar numa verdadeira catástrofe. Os armazéns dos importadores estão abarrotados de mercadorias pagas com os créditos do Banco. Em pouco tempo, a Oferta ultrapassa de muito a procura. E então produzem-se inevitáveis quedas no mercado. Entretanto, os fabricantes de ultramar aumentam sempre suas vendas à Argentina, debitadas por conta do dinheiro que Londres havia creditado ao governo de Sarmiento
para Obras Públicas.
As propriedades
mudam de dono de um dia para outro e com isso sobem de preço, numa escala artificial. Compram-se terras que são vendidas uma e dez vezes. Os usurários emprestam dinheiro a juros altíssimos, dinheiro que lhes havia custado um módico juro bancário. Para fim de conversa, resumindo, os mi-
lhões desaparecem e o país deve fazer face a uma grave crise. E claro que
A GRANDE
POLÍTICA
Mitre, cuja virtude maior não era a modéstia, qualificou assim sua poli1871, Em “Grã Política”. tica: com Juan Maria Gutierrez escrevia muita lucidez e descortínio: “A febre amarela, (que então assolava o país,
L. P.), é um dos frutos da Grã E acrescenta: “... O verPolítica...” dadeiro foco dessa terrível calamidade
é
o
Paraguai,
exatamente
guerra...”
ou
melhor,
como ocorreu
Assunção,
na última
Essa era, pórém, a Grã Polí-
tica, continuava
insistindo Mitre, justi-
ficando: “... Quando nossos guerreiros voltam de sua grande e gloriosa campanha para receberem o merecido aplauso e consagração do povo, o co-
53
mércio poderá ver em suas bandeiras os princípios que os apóstolos do lipara vre comércio têm proclamado
maior glória dos homens. “Bartolomeu
emprega sua retórica para OS incautos e para os beneficiados satisfeitos da povo, grandes aplausos, situação: princípios, etc. Pura bajulação demagógica! Durante os cinco anos, houve no território argentino 85 “revoluções”, 27 sublevações de tropas e 43 levantes de contingentes militares por atrasos
de pagamento. Essas contas foram feitas pelos que viviam na época. A mim
me parecem incompletas. As somas em dinheiro investido na repressão da resistência interna, adicionadas às perdas materiais que esses
fatos ocasionaram,
foram
avalia-
das em quase 20 milhões de pesos duros, equivalentes a 4 milhões de libras. Para se fazer uma idéia correta do que significam esses algarismos, devemos lembrar que eles representam aproximadamente a metade dos gastos da guerra contrao Paraguai. Pode-se, pois, afirmar sem erro que a guerra levou aproximadamente doze milhões de libras do povo argentino, excetuando-se naturalmente os argentinos privilegiados, que prosperaram precisamente graças à guerra. Isso
sem
falar
nos
mortos,
feri-
dos e expatriados. Esses não têm preço. As massas populares resistiram à guerra, mas, é de justiça que se diga que não foram só elas. Um grupo significativo de intelectuais manifestou também corajosamente sua repulsa, quando tal era possível, ou a engoliram em silêncio. Vamos recqrrer novamente a Juan Maria Gutierrez, em sua carta a seu amigo Sarratea, com “Faz muito data de maio de 1870:
54
tempo que tudo me aborrece e nada do que fazem nossos governantes me parece certo. Não quero ter paixões nem opiniões oficiais. Lamento a guer-
ra que terminou, como lamento a que começa, (Lopez Jordán L.P.), que
ameaça deixar Entre Rios na mesma brilhante situação em que ficou o
Paraguai. Governa-nos uma corja de pilantras e charlatães e quando vejo
que isso não tem remédio, a prudência me manda olhar para outro lado e calar. Se eu não passasse de um miserável proletário ou fosse mais jovem, não continuaria vivendo mais nesse país, aonde um chefete de aldeia, que você bem conhece assume o papel principal nesse governo de palhaços”. Não é necessário esclarecer que o chefete em questão é Sarmiento, e que a corja de pilantras e charlatães são seus ministros € outros cupinchas do governo. O que Gutierrez sente é algo assim como nojo e impotência. Carlos Guido é outro que já esteve preso por se opor à guerra. Contra ela desenvolverá uma luta a seu modo, vindo a terminar, à maneira de poeta grego, cantando loas a Berenice e a Hermione. “Jamais Guido, assim, se expressa: curvei minha cabeça a esses poderosos de cartão pintado. Prefiro afastar-me inteiramente da vida política e reduzir-me a simples espectador do que se passa em minha pátria”, Não consequiu, porém, manter essa sua posição. A 20 de março de 1866 põe-se a publicar em “La América” de De Vedia, seu trabalho “O Governo e a Aliança”: Em 26 de julho, Carlos Guido vai parar na cadeia. Razões muito boas tem Mitre para temê-lo e tentar reduzí-lo ao silêncio. Em o “Governo e a Aliança” que aparece em brochuras, à
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Destacamento de Sapadores. — Arquivo Geral da Nação
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15 de abril lêéem-se frases como esta: “... Malgrado toda sua pregação de um
falso e aparente liberalismo, (refere-se a Mitre L.P.), com a obssessão de uma unidade
reacionária,
empenhou-se
em
tornar impossível qualquer oposição que pudesse surgir no seio de seus correligionários.” E em outra passagem:"O país não esqueceu que, apenas reiniciados os trabalhos legislativos, depois
de
Pavón,
e aprovada
foi discutida
a dívida escândalo descarado com Buschental. Ao agiota usurário foi dada inteira prioridade...” Guido lutou com as armas que pôde e, inclusive, com versos que sua veia poética lhe “Chora, chora, Urutaú/ Nos ditava:
ramos do Paraguai/
Jataí/ onde
ele, canta assim truído pela guerra.
já não existe O nasci como tu,”
seu
Paraguai
des-
Outro que se opõe à guerra e à política de Mitre é Miguel Navarro Viola,
intelectual,
jurista
e
político.
Em - 1865 publica o opúsculo “Atrás a Leandro el império”, dedicando-o Irá Gómez, o herói de Payssandú. em para a prisão nos inícios de 1807,
(pai companhia de Aurélio Palácios, de Alfredo L.P.), o coronel Benjamim os Méndez, o tenente-coronel Lacalle, e Vásquez Sagastume advogados Epifas lista jorna os e ero Mont Plaza nio Martinez e Wenceslao de Lafforest. Olegário V. Andrade é outro decidido opositor. O soldado argentino, de escreverá ele, em 12 de agosto s?”: 1866, no artigo “ Adonde vamo para "vai emprestar sua bandeira as roucobrir debaixo de sua sombra alcaguebalheiras do Brasil e servir de te para suas vergonhosas leviandades. reforVai levar sua contribuição para car os grilhões do Paraguai...” O poeta Andrade é como Guido 56
- Spano, (de quem várias gerações de argentinos só conhecem os versos e mesmo assim não todos). Foi um militan-
te, um político que arregaçou as mangas e partiu várias vezes para a luta. — Carlos Paz e Alvaro Barros publicam em 1870 “La política brasilena y la juventud argentina” em janeiro de 1870, desfechando violento ataque à
política
oficial.
Com
a chegada de
Mitre ao poder, anotam os autores, estabelece-se a doutrina da intervenção nas províncias. Criticam duramente a aliança da Argentina com o Brasil.
Seus livros oferecem mais do que pa-
lavras, aduzem em cifras que falam dos estragos da guerra de que nos utilià O maior opositor zamos acima. querra do Paraguai foi Alberdi. Lá de seu exílio da Europa a combateu com sua extraordinária capacidade intelectual ao submeter a uma análise implacável o texto do tratado da Tríplice Aliança. Desmascarou os meandros da e tortuosa política do Imperador Mitre. Alberdi foi um osso duro que O mitrismo jamais conseguiu digerir. Não foram essas as únicas manifestações de total oposição à guerra, provindas de intelectuais e políticos. Muitíssimas outras houve que não podemos relatar aqui por limitação de espaço. Elas é que salvaram a honra e dignidade nacionais. Por outra parte, muitas vozes foram silenciadas, pelo menos, quando tocavam em algo que molestava os mandões daquele tempo e seus herdeiros ideológicos, remanescentes até nossos dias. A Guerra do Paraguai foi uma
grande catástrofe.
ela constituiu uma podemos detectar
De qualquer forma,
das muitas em que a mão velada do
“capitalismo central”, mão essa, que sem dúvida se faz presente, sempre
que se aguçam as contradições regio-
nais, cuja importância não pretendemos minimizar e merecerá estudo detalhado à parte. Paraguai não perdeu sua independência formal, nem a Argentina, nem os dois outros membros da Aliança, Brasil e Uruguai. Não resta, porém,
“dúvida de que todos esses países passa-
ram a integrar o característico sistema mundial de relações econômicas e culturais sob direto controle das metrópoles ultramarinas. Sofremos mutilações e deformações em nossa realidade nacional, material e espiritual, de cujas consequências deformantes ainda padecemos.
Soldado Paraguaio 57
O assalto a Curupaiti. — Arquivo Geral da Nação
O Capitão Sarmiento e o Tenente Paz, depois do assalto a Curupaiti. — Arquivo Geral da Nação
CRONOLOGIA
1851 — 18593 — 1854 1895 1856 1859 1861 1862
é sancionada a Constituição Nacional. Intervenção Armada do Brasil no Uruguai. Brasil envia frota armada ao Paraguai e retira suas tropas do Uruguai.
— — —- Tratados de amizade/comércio com a Argentina e Paraguai. — Guerra entre Urquiza e Buenos Aires. — Derrota de Urquiza. Bartolomé Mitre — presidente argentino. — Questão Christieno Brasil e Francisco Solano (o filho chega à presidên-
1863 — 1864 1865 1860 1867 1868
Convenção Brasil/Uruguai/Urquiza — finalidade derrubar Rosas. Gabinete.de Conciliação brasileira (Marquês de Paraná). Na Argentina
— — — — —
1869 — 1870 —
cia no Paraguai).
O Brasil rompe relações com os ingleses. Guerra civil no Uruguai. Flores apoiado pelos brasileiros. Brasil invade Uruguai em apoio a Flores, início da guerra do Paraguai. Tríplice Aliança inclui Uruguai. Argentina entra na guerra. A guerra está toda em território paraguaio. Insurreições na Argentina contra a participação na guerra do Paraguai. Sarmiento Humaitá.
chega
à
presidência
na. Argentina.
Derrota
brasileira
em
Hermes da Fonseca (coronel) ocupa Assunção. Assassinato de Urquiza. Acordos de paz — Brasil e Paraguai. Publicação do Manifesto Republicano no Brasil. Fim da guerra.
59
DO
O
VOCÊ
ENTENDEU
O TEXTO?
Por que a chave de tudo está na Inglaterra? Gaspar Rodriguez de Francia, o “ditador perpétuo” é um nome impor-
tante. Por que?
Com Carlos Antônio Lopez o Paraguai segue um caminho mais ou menos pré-estabelecido. Que caminho era esse?
Com -algodão e “caraguata”” se fabrica papel e tecido. Isto desagrada Mr. Henderson. Mas, por quê?
neHá muitas negociações entre Brasil e Paraguai. O Império Brasileiro, ? gocia habilmente com Paranhos. O que ganha e o que perde o Paraguai E a Argentina?
Fica quieta com esta confusão toda?
O Uruguai interessa a alguém?
Sr. Thornton provoca a guerra?
Sofre alguma interferência?
Por quê?
Quais os interesses verdadeiros que levaram o Brasil à guerra? 10.
Acabou a guerra. Como ficou o Paraguai?
61
Canudos: A Luta pela Terra — Edmundo Moniz Entradas e Bandeiras— Luiza Volpato Paraguai: Nossa Guera Contra esse Soldado — León Pomer
Escravidão no Brasil - Enrique Peregalli A República Velha — Leonardo Trevisan 1910: A Revolta dos Marinheiros — Mário Maestri Filho O Período Regencial - Augustin Wernet
Getúlio Vargas e sua Época — Antonio A. C. Faria e E. Barros
| Como o Brasil Ficou Assim?— Enrique Peregalli A Abolição — Emília Viotti da Costa História do Cangaço — Maria Isaura Pereira Queiroz Independência do Brasil — José Ribeiro Júnior
O Índio na História do Brasil — Berta Ribeiro
Inconfidência Mineira — Maria Efigênia Lage Um Império entre Repúblicas — Denis Bernardes
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Livros que estudam-o passado para compreender o presente
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Paraguai: nossa guerra contra esse soldado
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