A psicossomática na clínica lacaniana 8571100292


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A psicossomática na clínica lacaniana
 8571100292

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Título original: Psychosomatique et Câncer

Tradução autorizada da primeira edição francesa publicada cm 1983 por Point Hors Lignc, de Paris, França

Copyright © Gérard Pommier Copyright © 1988 da edição em língua portuguesa:

Jorge Zahar Editor Ltda. rua México 31 sobreloia 20031 Rio de Janeiro, RJ

Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou cm parte, constitui violação do copyright. (Lei 5.988)

Produção editorial Revisão: Vívian Mara (copy); Heloísa de Castro, Nair Dametto, Carmem Moreno (tip.); Diagramação: Celso Bivar; Composição c Montagem: Linolivro (texto); Capa: Gilvan F. da Silva (arte-final); Impressão: Tavares e Tristão Gráfica c Editora de Livros Ltda. ISBN: 85-7110-029-2

SUMÁRIO

Preâmbulo

............................................

1

Psicanálise e Psicossomática (Cristina Rollo de Abreu) ..................

9

I Os Fenômenos Psicossomáticos ..........

25

II A Organologiadc Fliess .....................

43

III A Propósito dc um Caso de Retocolitc Ülcero-I Icniorrágica numa Menininha: Reflexões sobre os fenômenos psicossomáticos

55

IV A Criança-Tempo .................................

70

V Faces c Fenômenos Psicossomáticos

76

VI Estrutura Familiar, Delírio e Câncer dc Seio: Reflexões a respeito de um caso .......................................................

84

VII Sobre Cinco Casos dc Leucemia em Crianças: Reflexões sobre os fatores psíquicos no desencadeamento da doença

93

VIII Sobre o Livro de Fritz Zorn: Marte

128

IX Os Joelhos de Rimbaud......................

143

X O Maitre d’Hôtel .................................

150

XI Sobre a Função do Umbigo do Sonho no Tratamento de Sujeitos Portadores de Fenômenos Psicossomáticos .........

159

XII Os Efeitos Terapêuticos Orgânicos da Psicanálise ............................................

169

XIII Afânise, Holofrase e Objeto a nos Fe­ nômenos Psicossomáticos e Cancerosos

173

PREÂMBULO

O leitor encontrará neste livro uma reunião de ar­ tigos que tratam dos fenômenos psicossomáticos c cancerosos no campo da psicanálise. Nestes traba­ lhos, tendo sido realizados num período de 9 anos, o avanço teórico foi progressivo e-sustentado pela chegada de novos materiais clínicos. Os casos de câncer de seio, de retocolite úlcero-hemorrágica em crianças, de retocolite'úlcero-hemorrágica em adultos (A criança-tempo) e de leu­ cemias de crianças, foram estudados com a colabo­ ração respectiva e pessoal do Doutor Jothy Bernard, Senhoritas Mireille Estrabaud, Noèlle Kortemme, Françoise Kielholz-Philippi. Que eu lhes seja aqui calorosamente agradecido. Por outro lado, devemos à atenção benevolente de Carolinc Demians D’Archimbaud a conversa obtida por ela de um paciente cm fase terminal de um câncer perfurante da face. Agradeço aqui a Patrick Ach e a Patrick Valas pelo apoio amigo e científico no estudo tão difícil destes fenômenos psicossomáticos. 7

PSICANÁLISE E PSICOSSOMÁTICA

BREVE HISTÓRICO

A idéia de psicossomática confunde-se com as pró­ prias origens e história da medicina e da filosofia, com a distinção por Anaxágoras (século V a.C.) en­ tre Soma e Psique.1 Essa dualidade, embora corren­ tes monistas também tenham surgido, mantém-se através dos séculos tanto na medicina como na filo­ sofia, apenas variando as concepções sobre os modos de interação (ou não interação) entre os dois prin­ cípios desse dualismo: hilemorfismo (Aristóteles), interacionismo (Descartes), paralelismo (Leibnitz), paralelismo psicofísico (Wundt).2

1 Anaxágoras foi, segundo Diógenes Laércio, “o primeiro que à matéria acrescentou a inteligência”. Ferrater Mora, J.» Diccionario de Jiloso/ia, vol. I. Madri, Alianza, 1984, p. 155. 2 Hilemorfismo — corpo e espírito formam uma única substância; interacionismo — corpo e espírito são diferentes e separados, mas apresentam uma influência recíproca: paralelismo — corpo e espí­ rito são duas substâncias que atuam de forma independente; pa­ ralelismo psicofísico — corpo e espírito são dois aspectos diferentes

9

10

a psicossomática na clínica lacaniana

O termo “psicossomático” é forjado em 1818 pelo clínico e psiquiatra Hcinroth para expressar “a influência das paixões sexuais sobre a tubercu­ lose, a epilepsia e o câncer”. Entretanto, esse é o século das descobertas físico-químicas e bacterioló­ gicas, ficando a idéia de psicossomática entregue aos poetas: segundo Novalis, “toda doença deve ser considerada uma doença psíquica”. Cabe, desse mo­ do, aos médicos dedicarem-se ao ideal positivista e mecanicista, no qual a doença, como existência autônoma, é autenticada por uma lesão anatomoclínica, tratando-se de pesquisar uma etiologia espe­ cífica e, se possível, um agente patogênico. A psicossomática, sendo investigada por outros domínios científicos que não a medicina, como a psicologia experimental — teoria do estresse (Cannon, Selye) e teoria corticovisceral (Pavlov, Bikov) — e sendo passível de enfoques epidemiológico (profissões de alto risco) e sociológico (comparações transculturais), estende-se como verdadeiro campo de estudos que propicia a multidisciplinaridadc/

Freud e a Psicanálise

A psicanálise, na medida em que se propõe como uma teoria da subjetividade, na busca das determi­ nações dos atos e motivações do homem no incons-*

do homem. Haynal, A. et alii, Manual de medicina psicossomática. Rio de Janeiro, Masson, 1983. 3 Jeammet, P. et alii, Manual de psicologia médica. Rio de Janeiro, Masson, 1982.

psicanálise e psicossomática

11

ciente, cuja constituição se dá a partir das experiên­ cias sexuais infantis que foram recalcadas e conti­ nuam a exercer seu poder enquanto determinações inconscientes, reorganiza não só o que é conside­ rado “patológico” (neuroses, psicoses, perversões) pelo saber vigente da época, mas também, e sobre­ tudo, a “normalidade” da ação humana, fazendo diluir-se a fronteira entre o normal e o patológico, através da revelação do sentido inconsciente em tudo que diz respeito ao humano. É dessa concepção das determinações incons­ cientes a partir de conflitos rejeitados pelo campo da consciência que se irá apropriar a medicina psi­ cossomática para explicar o modo de intervenção da psique no soma.4 Na verdade, a teoria psicanalítica de Freud coloca muito mais ênfase na contribuição do orgâ­ nico ao psíquico que na determinação pelo psíquico de uma lesão orgânica. Freud lembra que “a psica­ nálise não esquece jamais que cFpsíqüico repousa sobre o orgânico”, embora ele se afaste cada vez mais dos modelos médicos e biológicos de sua épo­ ca.5 Se no Projeto para uma psicologia científica (1895) pretende fundar uma psicologia que tenha como base os neurônios e as quantidades, nessa

4 Cf. Clavreul, J.» para quem não existe medicina psicossomática, pois que "toda tentativa de fazer uma reconciliação superficial entre 1'jiyilic c Soma não é senão denegação do que instaurou a objeiivin.no científica: a impossibilidade de deixar algum lugar que seja paru a questão do sujeito". A ordem médica. São Paulo, Brasiliense, I9HÍ, ** liciid, S. “Perturbação psicogênica da visão" in Edição standard, Vol. XI. Rio de Janeiro, Imago, 1970.

12

a psicossomática na clínica lacaniana

elaboração teórica já se trata de uma metáfora bio­ lógica, bastante distinguível de um enfoque neurobiológico dos modelos homeostáticos de Fechner, Helmolthz ou Breuer.6 Posteriormente, desfazendose até mesmo do biológico como metáfora, na In­ terpretação dos sonhos (1900), Freud alega que a localização das instâncias psíquicas não deve ser buscada em qualquer “modo anatômico”, represen­ tando-as como semelhantes a um aparelho ótico no qual a localização se daria nos pontos intangíveis. Em vários elementos da obra freudiana, a con­ tribuição do orgânico ao psíquico se faz presente, delimitada sobretudo pela noção de apoio. Alguns exemplos:

1. A complacência somática e a simbolização — O sintoma de conversão histérica se daria sobre uma região de sofrimento orgânico, anterior ou si­ multâneo ao acontecimento traumático, apoderandose da região friável à qual se imbricaria a simbo­ lização. Nesse caso, a conversão teria que encontrar uma trilha aberta através de um sofrimento orgâ­ nico. Na ausência de complacência somática, apenas com presença de simbolização, esta reviveria as sen­ sações que justificariam uma expressão verbal, res­ taurando o significado original das palavras. Deste, a histeria c o uso da língua extrairiam seu material de uma fonte comum. Na ausência de ambas — a complacência e a possibilidade de simbolização —,

6 Laplanche, J. Teoria da sedução generalizada. Porto Alegre, Artes Médicas, 1988.

psicanálise e psicossomática

13

um sintoma psíquico (fobia, obsessão) se apresen­ taria.7 2. A determinação do recalcamento e o recal­ camento orgânico — Um montante excessivo de excitação, ao provocar desprazer, seria o responsá­ vel pelo recalcamento, sendo tal caráter excessivo (quantitativo), c não a qualidade de representação incompatível, que o promoveria. Filogeneticamente, a adoção da postura ereta teria resultado na dimi­ nuição dos estímulos olfativos em favor da visão quanto à sexualidade, com desvalorização do olfato, das excreções e da sexualidade em geral. 3. A delimitação da zona erógena e do objeto pulsional — As funções de conservação dariam ao sexual os pontos de ancoramento para seu funcio­ namento, demarcando as zonas erógenas e forne­ cendo seus objetos, para, logo em seguida, se tor­ narem independentes quanto aos alvos e modos de funcionamento e, mesmo, competirem para o domí­ nio do órgão ou função.

Para Freud, o limite entre o somático e o psí­ quico encontra-se no próprio conceito de pulsão, sendo esta definida como “uma medida de exigên­ cia de trabalho imposto ao psíquico em conseqüência de sua ligação ao corporal”. Quanto à pul­ são, persistem os dois elementos revelados pela clí­ nica na histeria: as representações e o quantum de afeto; as primeiras são passíveis de serem represen-

1 lieud, S. “Fragmentos da análise de um caso de histeria” in r.tlição standard, Vol. VII. Rio de Janeiro, Imago, 1972.

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tadas no inconsciente e de encontrarem destinações diversas (reversão, retorno, recalque e sublimação) c o segundo, também passível cie transformações, não admite uma representação inconsciente, dandose como manifestação corporal perceptível ou não pela consciência. Quanto ao tratamento dado por Freud ao tema de uma doença orgânica e de suas possíveis ligações ao psiquismo, no texto Sobre o narcisismo: uma introdução (1914) trata da influência da doença orgânica sobre a distribuição da libido, ocorrendo, no caso de uma doença orgânica, uma retirada dos investimentos libidinais dos objetos de volta para o eu, sendo essa retração .ocasionada pela modifica­ ção no eu (a doença orgânica). No caso da hipo­ condria, onde não se encontraria uma modificação da mesma ordem~que a dã~cfõença orgânica, mas que não_estaria livre de uma modificação, tratar-seia de um represamento (fixação) da libido do eu. Como a acumulação da libido narcísica não poderia ultrapassar determinado nível, a partir do qual se tornaria patogênica, esse represamento é que engen­ draria uma modificação no eu. Nesse ponto, Freud detém-se, alegando que “não pertence ao âmbito de uma indagação puramente psicológica penetrar tanto nas fronteiras da pesquisa fisiológica’’.8 De modo geral, em textos como Linhas de pro­ gresso na terapia analítica (1918), O problema eco­ nômico do masoquismo (1924) ou Esboço de psica­ nálise (1938), uma doença orgânica seria tomada H Idem, “Sobre o narcisismo: uma introdução*’ in Edição standard, Vol. XIV. Rio de Janeiro, Imago, 1974.

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cojmouma “punição de destino”, com_abandono da neurose, è~servinHò pãfã~â manutenção de certa dose de sofrimento. Não se trata aqui de um engendramentõ da doença orgânica pela neurose ou pela necessidade de punição decorrente do maso­ quismo, mas de apropriação do sofrimento causado por uma doença orgânica para a finalidade do ma­ soquismo. Não importa para este de onde vem o sofrimento, se de uma neurose ou de um sofrimento orgânico, pois tudo que interessa aí é manter certa dose de sofrimento. Somente na Conferência XXXII das Novas conferências introdutórias sobre psica­ nálise (1933) Freud cita um exemplo clínico em que um sofrimento físico substitui uma neurose: no decorrer da análise, o complexo de sintomas neu­ róticos fora substituído por acidentes, os quais, tam­ bém não mais podendo’ser tomados como casuais, deram lugar a indisposições: amigdalites, resfria­ dos, estados gripais e afecções reumáticas. Freud jamais se interessa pelo nível biológico ou fisiológico, mas, antes disso, pelos pontos nodais, pelo que se situa além destes (a clínica') ou ainda pelo que se coloca aquém da biologia (a pulsão de morte). Não se pode encontrar em suas especula­ ções uma referência explícita ou extensa à psicosso­ mática, sendo o termo utilizado apenas cm uma de suas correspondências (carta a Vitor Von Weizsaker, datada de 1923). (Psicanalistas Pós-Freudianos

Um dos primeiros a aplicarem a teoria psicanalítiia às doenças orgânicas foi Groddeck (Livro

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disso), para quem o esquema da simbolização en­ contrado nos sintomas histéricos é aplicado integral­ mente às doenças orgânicas. No texto sobre Uma beve descrição da psicanálise (1923), Freud cita Groddeck e Jelliffe como os primeiros a aplicarem o tratamento psicanalítico em pacientes com quei­ xas orgânicas graves, “de vez que em muitas destas afecções determinado papel é aí desempenhado por um fator psíquico”.9 Groddeck tomava a doença como um drama encenado pelo inconsciente. Outro pioneiro, Wilhelm Reich, associa o câncer com a repressão, sendo aquele a expressão de uma sub­ missão emocional, de uma resignação. A distinção entre os mecanismos de formação da conversão histérica e a patogênese psicossomá­ tica foi realizada pela escola de Chicago (F. Deutsch, Dunbar, Alexander), tratando-se, para esta última, de apreender um efeito direto dos afetos sobre o corpo. Tais autores empenham-se em traçar perfis psicológicos específicos a grupos de afecções psi­ cossomáticas (personalidade hipertensiva, coronariana, ulcerosa, asmática, etc.), a partir de conflitos e desejos relativos à oposição dependência/independência. Essa abordagem, calcada em traços de ca­ ráter, baseia-se em variáveis comportamentais, mais ao gosto de.uma psicologia experimental e altamente influenciada pelas pesquisas e teorias neurofisiológicas (síndrome geral de adaptação, reação de es­ tresse frente a situações insolúveis).

9 Idcm, “Uma breve descrição da psicanálise” in Edição standard, Vül. XIX. Rio de Janeiro, Imago, 1976.

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Também trabalharam na tentativa de traçar o perfil psicológico do paciente psicossomático os psicanalistas franceses (David, Fain, Marty M’ Uzan), a partir do tipo de atitude e de discurso du­ rante a entrevista: ordem racional, lógica sequen­ cial, pobreza de associações subjetivas, dificuldade de estabelecer uma transferência, etc. Tais carac­ terísticas foram agrupadas sob a denominação de relação branca, sendo esta decorrente de um pensa­ mento operatório, caracterizado por uma limitação das capacidades simbólicas e carência da elabora­ ção fantasística. Para esses psicanalistas, os sinto­ mas não têm uma significação e, pelo contrário, seriam decorrentes de uma falta de simbolização e uma carência de representação. Para Valabrega, também psicanalista francês, tanto a ausência de simbolização quanto a equipa­ ração com a conversão seriam amba‘s falsas, ocor­ rendo gradações, transições entre a somatização e a conversão. A teorização da escola kleiniana fala de con­ versão somática relacionada a conflitos anteriores ao período edipiano, nas fases mais arcaicas do psiquismo, possuindo determinações puramente psí­ quicas . Vemos como as concepções sobre os fenôme­ nos psicossomáticos são congruentes com as teorizai.oes desses autores: para Groddeck, é a linguagem do õrp.íio; para Dunbar, a neurose do órgão; para Xlesandcr, a neurose vegetativa; para os franceses, M pensamento operatório; para Valabrega, a converao psicossomática; para os kleinianos, a conversão mn.ilica, etc.

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Muitos psicanalistas acreditam que o verdadei­ ro resultado da teoria das pulsões está na medicina psicossomática, definindo-a como “o estudo das for­ mas pelas quais os impulsos instintivos, privados de suas fontes naturais de satisfação, afetam o funcio­ namento do corpo”.10

Lacan e a Renovação da Clínica Psicanalítica

A teorização e a prática psicanalítica tornaram-se, após Freud, quando não um método terapêutico ou de adaptação ao meio social, pelo menos um cami­ nho para o. atingimento de um ideal, até mesmo uma virtude moral: o amor objetai, de Abraham, colocado no topo de uma escala do desenvolvimen­ to da libido, sendo o modelo de uma relação de obje­ to pós-ambivalentc; c o amor genital, de Balint, que, estando no ápice da escala de desenvolvimento, de­ veria ter sua essência procurada nas etapas pré-ge­ nitais, ou seja, nas experiências de passividade frente à mãe quanto às necessidades. Sendo essa a fina­ lidade, os meios de seu atingimento se dão atra­ vés da análise das resistências, onde o inarticulado (o afeto, o vivido, a atitude, etc) c a exaustão das posições imaginárias tomam a dianteira. É Jacques Lacan quem propõe um retorno à leitura de Freud para resgatar suas conceituações fundamentais e restaurar a importância fundadora

:i line. R. .1 história da psicanálise. São Paulo, USP, Livros Téc­ nicos r Científicos, 1981, p. 162.

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da palavra tanto na condução da cura — “A psica­ nálise só tem um meio: a palavra do paciente”11 — quanto na destinação da ascese subjetiva do enun­ ciado à enunciação — “O mais além ao qual somos reenviados é sempre uma outra palavra, mais pro­ funda (...) é ao ato mesmo da palavra enquan­ to tal que somos reenviados”.12 O título do Relatório do Congresso de Roma, Função e campo da pala­ vra e da linguagem em psicanálise (1953), dá conta desse recentramento das questões fundamentais, co­ locando o símbolo e a linguagem como estrutura e limite do campo psicanalítico. No texto sobre A ins­ tância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud (1957), Lacan dá os elementos essenciais para a proposição de uma lógica do significante, a qual não deixará de fomentar desde então, demonstrando que essa lógica é o que Freud encontra como as leis de funcionamento do inconsciente, seu modo mesmo de operação, cuja eficácia “não deixa ne­ nhuma de nossas ações fora de seu campo”.12 Essa lógica tem como postulados básicos:

1. que um elemento qualquer de uma sc defina como pertencente à linguagem por linguir como tal no conjunto de elementos logos, estando antes ligado a esse conjunto qualquer experiência particular;

língua se dishomó­ que a

11 I acan, J. “Função e campo da fala e da linguagem em psica^ inilr.c" in Escritos. São Paulo, Perspectiva, 1978. ’’ hleni, O Seminário, Livro 1, Os escritos técnicos de Freud, Rio