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Portuguese Pages 83 Year 1999
F. M. de Oliveira Castro
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A MATEMATICA
NO BRASIL
28 EDIÇÃO
EDITOI\ADA
UNICAMP
Este livro foi publlcado pela primeira • vez em 1953 como o primein, capílulo do livro As ciências no Brosil, que, por sua vez, eslava Inserido numa obra ainda maior, A cultura brasileiro. A matemálica no Brasil é fruto de um trabalho de entwewlstas pessoais e muita pesquisa, realizadas principal~ na Biblioteca Nacional, no qual são resgatadas coisas inleressantes e pouco conhecidas sobre o ensino da niatemática
no Brasil. ' O autor dá ênfase ao desenvolvimento da matemática, embora o texto contenha outras Informações Importantes, principalmente sobre as áreas de engenharia e astronomia. Neste livro, Oliveira Castrv revela grande ervcl~ e espirito aítlco, resultando em um trabalho pennanente que deverá preserwdo para as gerações presentes e futuras.
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A
MATEMÁTICA NO BRASIL
UNICAMP
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Rci1or HERMANO TAVARES
Coordenador Geral da Universidade FERNANDO GALEMBECK
Pró-Reitor de Desenvolvimento Universitário LUÍS CARLOS GUEDES PINTO Pró-Reitor de Ex1ensão e Cuhura ROBEKI'O TEIXEIRA MENDES
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Pró-Reitor de Pesquisa IVAN EMÍLIO CHAMBOULEYRON
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EDITORA DA
UNICAMP Dirernr Executivo LUIZ FERNANDO MILXNEZ Conselho Edi1orial ELZA COTRIM SOARES-LUIZFERNANDOMILANEZ MILTON JOSÉ DE ALMEIDA-RICARDO LUIZCOLTRO ANTUNES SUELI IRENE RODRIGUES COSTA
Francisco de Oliveira Castro
A
MATEMÁTICA NO BRASIL
FICHA CATALOGR,Í.FICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UNICAMI'
C279m
Castro, F. M. de Oliveira (Francisco Mendes de Oliveira) A matemática no Brasil / F. M. de Oliveira Castro. - - Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1999 - 2• edição. (Coleção Repertórios) 1. Matemática - Estudo e ensino - Brasil. 2. Matemática - História. I. Título.
ISBN 85-268-0395-6
20. CDD - 510.891
Índices para Catálogo Sistemático !.Matemática - Estudo e ensino - Brasil 2. Matemática - História 51 O. 9
510.891
Coleção Repertórios Copyright © by Editora da Unicamp, 1999 Nenhuma parte desta publicação pode ser gravada, armazenada em sistema eletrônico, fotocopiada, reproduzida por meios mecânicos ou outros quaisquer sem autorização prévia do editor. Gerência de produção Carlos Roherto Lamari Assistência de produção Elisabet/z Regina Marche/li Supervisão de produção gráfica Vl{l{lemir José de Camargo Supervisão de edição de textos Lucélia Cara'vieri Temple Preparação de originais Katia de Almeida Rossini Editoração eletrônica Si/via Helena P. C. Gonçalves Capa/arte final Vlad Camargo Web designer Carlos Leonardo Lamari 1999 Editora da Unicamp Caixa Postal 6074 Cidade Universitária - Barão Geraldo CEP 13083-970 - Campinas - SP - Brasil Tel.: (19) 788-1015 - Tel.{Fax: (19) 788-1100 www.editora.unicamp.br
AGRADECIMENTOS
À minha querida e inesquecível Marina, à sua colaboração inteligente e amiga devo a realização deste trabalho. Deixo também aqui consignados os meus agradecimentos aos srs. Eugênio Gomes (diretor da Biblioteca Nacional), José Honório Rodrigues (diretor da seção de livros raros da Biblioteca Nacional), à dona Lígia Fernandes da Cunha (diretora da seção de iconografia da Biblioteca Nacional), ao Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e ao Instituto Nacional de Tecnologia a disponibilidade de tempo que me foi concedida.
SUMÁRIO APRESENT,\ÇAO ........................................................... 9
Osjesuítas e seus colégios ........................................................... 11 O ambiente da Colônia antes de 1808 ............................... 15 A Universidade de Coimbra ................................................... 16 O brigadeiroAlpoim ................................................................. 17 A reforma do marquês de Pombal....:...........:....................... 18 Atividades didáticas de brasileiros na metrópole .............. 19 Dom joão VI no Brasil (1808-1821 ) .............................. 23 A Academia Real Militar ..:................................................... 23 Periodo de ensino militar(1808-1874) .............................. 29
As escolas de engenharia ........................................................... 45 Asfaculdades defilosefia .......................................................... 62 Iniciativas particulares ............................................................... 70 Trabalhos einiciativas mais recentes .................................... 72 NOTAS ............................................................................................
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APRESENTAÇÃO
O presente livro foi publicado pela primeira vez em 1953 como o primeiro capítulo do livro As ciências no Brasil, o gual, por sua vez, se inseria numa obra maior, A cultura brasileira, coordenada por Fernando de Azevedo nas décadas de 40 e 50. Há muito esgotado, o livro é um trabalho meticuloso e erudito, fruto de entrevistas pessoais e muita pesguisa, realizada principalmente na Biblioteca Nacional, onde o autor descobriu e trouxe a lume coisas intere_ssan~es e pouco sabidas sobre o ensino de matemática no Brasil dos tempos da Colônia e dos Primeiro e Segundo reinados. Nas primeiras poucas páginas (gue dão a medida do guão pouco de escola havia na pobre colônia ... ), ele historia a fundação das "escolas de ler e escrever" e dos colégios dos jesuítas no século XVI, o ambiente da Colônia antes de 1808, o papel da Universidade de 9
Coimbra na formação das elites brasileiras, a reforma de Pombal e seus reflexos no Brasil. Há mais quantas coisas que contar a partir de 1810, quando dom João VI cria a Academia Real Militar, o primeiro instituto de ensino a abrigar cursos destinados especialmente à formação em ciências básicas, incluindo matemática, astronomia, física e química. O autor faz um relato detalhado sobre a fundação das escolas e o papel de várias pessoas desde 181 O, passando pela criação das universidades nas últimas décadas de 20 e 30 e, a partir de então, do desenvolvimento da pesquisa que se intensifica, até 1953, quando concluiu seu trabalho. A ênfase é sobre o desenvolvimento da matemática, ·mas o livro contém subsídios valiosos sobre áreas afins, sobretudo astronomia e engenharia. Oliveira Castro revela em seu livro saudável erudição, bom gosto e espírito crítico, tendo produzido uma obra de valor permanente, portanto um clássico, qu~ merece ser preservado para as gerações presentes e futuras, intocado na forma em que foi escrito, mesmo porque, depois dele, nada foi publicado entre nós que lhe diminuísse a importância. Está, pois, a Editora da ÜNICAMP prestando um serviço aos estudiosos da. história das ciências no Brasil, ao reeditar essa obra de eminente valor cultural. GERALDO ÁvILA
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Os jesuítas e seus colégios Com as primeiras missões de padres jesuítas, teve também o Brasil os seus primeiros mestres. Durante pouco mais de dois séculos (1549-1759) foram praticamente os únicos. Fun?aram nossas primeiras "escolas de ler e escrever". Estabeleceram "colégios" em vários pontos do país, a começar pelo da Bahia, em 1551. Mesmo depois da injusta expulsão dos filhos da Companhia de Jesus, perdurou o seu ensino, pela obra de ex-alunos. No colégio, depois do ensino elementar, ministravam o curso de letras hu~llanas, 1 primeiro degrau da série de estudos mais avançados que se podiam depois completar com os cursos de artes e teologia. No curso de artes, estudava-se matemática, juntamente com lógica, física, metafísica e ética. 2 Apenas decorridos dois decênios a partir do ano em que desembarcou no Brasil a primeira missão de padres jesuítas, já em 1572, 11
iniciaram eles o primeiro curso de arte, no colégio da Bahia, "sendo lente o padre Gonçalo Leite, recém-chegado de Portugal". 3 Geralmente, no citado colégio, escreve Serafim Leite, "havia um curso de artes de quatro em quatro anos e durava cada três anos, e, às vezes, quatro". 4 Sobre o famoso Colégio da Bahia, já dizia o padre Anchieta, em 1585: 5 Nelle há de ordinario escola de ler, escreve e algarismo, duas classes de humanidades, deram-se já dois cursos de artes, em que se fizeram alguns mestres de casa e de fora, e agora se acaba o terceiro.
Cursos de "artes" foram ministrados, no Brasil, durante quase dois séculos, mas, infelizmente, nada sabemos. sobre a extensão e o nível da matemática que neles se ensinava. Dos colégios jesuítas da metrópole sabemos, pelos livros de geometria e trigonometria do padre jesuíta e geômetra português Manuel de Campos, publicados em Lisboa respectivamente em 1735 e 1737, que, nesse tempo, os livros geométricos de Euclides e _Arquimedes, a trigonometria plana e a trigonometria esférica faziam parte da "aula de esfera" do Colégio de Santo Antão, em Lisboa. Os compêndidos do padre Campos são os primeiros de um "Curso Mathemático" que havia projetado. 12
Os elementos de geometria, plana e sólida, publicados, em 1735, "para uso da real Aula de Esféra do Collegio de Santo Antão da Companhia de Jesus de Lisboa Occidental", são também a primeira tradução portuguesa dos Elementos de Euclides .
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Como diz o padre Campos, o seu livro se baseia, "com mui pouca alteração, salvo a da língua", nos Elementos do padre Tacquet, "de que usa ordinariamente a Companhia". Aos Elementos do padre Tacquet acrescenta Manuel de Campos um apêndic·e sobre a quadratriz e o 13º livro de Euclides, "que supprimio o dito Author". Dos primeiros nill. 7, 8, 9 de Euclides não trata o padre, "porque os reservo", diz ele, "para outro tratado particular da Arithmética". Merece especial referência a importância atribuída pelo padre Campos ao estudo das grandezas incomensuráveis, pois, quando fala de Euclides e de seus livros, diz textualmente: No 7, 8, 9 explica as propriedades dos números; não todas, senão somente ac1uellas que parecerão necessarias para entrar no 1Qu_livro a contemplar a natureza, e propriedade dos incomensuráveis