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Portuguese Pages 64 Year 1990
HISTÓRIA, EM
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UMA TRAMA REVOLUCIONARIA? Do Tenentismo a Revolução de 50 Antonio
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Para que a paginação ficasse correta, índice e demais informações foram colocadas ao final do arquivo. O índice está na página 62
História, histórias xistem muitas maneiras de interpretar e contar a história. Daí as muitas versões dos mesmos
fatos,
que indicam, quase sempre, interesses e objetivos
contraditórios. O polêmico tema ““O Tenentismo e a Revolução de 1930” vem sendo extensivamente estudado por cientistas sociais, ocupando espaço significativo na historiografia. Os depoimentos daqueles que viveram e participaram do processo refletem uma multiplicidade de opiniões e são testemunhos que enriquecem a análise. Mas é preciso contextualizá-los, fugindo de interpretações que se colocam como inquestionáveis e definitivas. Nesse sentido, é importante buscar até mesmo no nosso tempo elementos que nos ajudem a entender aqueles acontecimentos. As crises sucessivas vividas pelo Brasil na década de 920 deste século refletiam o descontentamento com os inúmeros desmandos administrativos. Eramos então uma República, os governantes eram eleitos, mas a República não era a sonhada pela maioria, nem tampouco o processo eleitoral representava a efetivação do jogo democrático. Os que ocupavam o centro do poder impunham sem muita cerimônia projetos autoritários e elitistas. Os grupos pertencentes às elites (os grandes proprietários de terras, banqueiros, industriais) predominavam na política, fazendo acordos que excluíam a maior parte da população. As eleições eram controladas, o que impedia qualquer possibilidade de vitória de candidatos de oposição. Naquela sociedade tão cheia de contradições, na qual muitos não tinham o mínimo para viver, as posições antigovernistas
eram comuns, apesar da repressão.
E
Embora se afirme com frequência que a história do Brasil é marcada pela harmonia, muitos são os conflitos. A resistência dos explorados sempre se fez presente. Na chamada Primeira República (1889-1930), as greves, os protestos de intelectuais pela imprensa, os movimentos ar-
mados, a busca de alternativas políticas renovadoras contradizem a afirmativa de que as elites governavam sem problemas e a população assistia bestializada à sucessão de desencontros e injustiças sociais. Nesse contexto é que o Tenentismo, ligado à jovem oficialidade do Exército, se forma e se expande, em contraposição ao poder constituído. Apesar dos seus limites e da falta de clareza quanto aos caminhos a serem seguidos pela sociedade brasileira, o movimento contribuiu para a aceleração da crise política. O Tenentismo expressava de modo particular a insatisfação de- grupos militares que queriam modificar a situação.
Os contrapontos da República Apesar das mudanças ocorridas no país com a libertação dos escravos (1888) e a proclamação da República (1889), a sociedade enfrentava sérios problemas estruturais. À dependência econômica, agravada por uma política excessivamente amarrada aos interesses dos cafeicultores, fazia aumentar nossa dívida externa e dificultava a formação de um mercado interno diversificado e autônomo. A exportação do café encontrava obstáculos que se agravavam
com
a superprodução.
Produzíamos mais do que
necessitava o mercado internacional e os próprios cafeicultores sucumbiam nas mãos dos intermediários financeiros. Além disso, a política econômica dos governos republica-
nos em geral não procurava viabilizar outras atividades como alternativa. O Brasil estaria destinado, segundo alguns,
a ser um país essencialmente agrícola — na verdade paraíso dos coronéis e latifundiários. Mas a sociedade se mo-
vimentava, não silenciando diante da falta de soluções para os problemas.
Foram muitos os protestos, as insubordinações. A vio-
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lência empregada pelo Estado para sufocá-los foi uma constante. O descontentamento atingia mais fortemente grupos do Exército, da classe média, do operariado e membros da classe dominante que se sentiam marginalizados. As divergências e as insatisfações de cada grupo dimen-
sionavam o conteúdo das suas reivindicações. Exigiam-se
reformas sociais mais profundas, o cumprimento das leis constitucionais, O fim da corrupção e do clientelismo*. Mui-
tas vezes as reformas pretendidas tinham em vista a moralização da administração pública, considerada requisito para a melhoria da situação do país. Grupos políticos ligados ao movimento operário lutavam contra a exploração do trabalhador, exigindo melhores condições de vida e de trabalho, fazendo greves, organizando sindicatos, denunciando em seus jornais as injustiças existentes. Os adeptos do anarquismo* atuavam desde o início do século nessa luta contra a exploração. Os defensores do comunismo* fundaram o seu partido em 1922, também denunciando as desigualdades sociais e buscando combatê-las. A repressão contra esses grupos era forte, dificultando-lhes a atuação e a possibilidade de conseguirem grande número de adeptos. No exército, a jovem oficialidade manifestava divergências com o governo. Os militares haviam tido atuação destacada nos primeiros anos da República. Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, militares, foram os primeiros presidentes da República. Mas, aos poucos, esse segmento social foi sendo afastado das decisões, não voltando a ter
destaque nem mesmo durante o período em que Hermes da Fonseca, marechal, ocupou a presidência (1910-1914). O movimento tenentista, com os militares pegando em armas, desafiando, marca sua volta à cena política. A Revolta do Forte de Copacabana, no Rio de Janei-
ro (5/7/22), em que militares se insubordinaram contra o
presidente Epitácio Pessoa e na qual aconteceram lances de heroísmo, assinala o início do movimento tenentista. Dos trezentos revoltosos iniciais, dezoito decidiram enfren“As palavras com asterisco são definidas no Vocabulário, no final do livro.
tar as tropas do governo. Dezesseis morreram, sobrevivendo apenas os tenentes Eduardo Gomes e Siqueira Cam-
pos, feridos. Outros focos de revolta aconteceram poste-
riormente e foram também debelados pelo governo. O presidente Epitácio porém,
para governar até o fim do seu
mandato, precisou recorrer ao estado de sítio e fazer uso
de enorme força repressiva. O Tenentismo tinha, pelas suas próprias raízes, indefinições políticas que lhe impossibilitavam a formulação de uma estratégia mais ampla, junto com outras forças sociais. O sentimento antigovernista em que se baseava era claro, o discurso nacionalista que empregava conquistava simpatizantes. As suas reivindicações tinham
um
conteúdo
de
moralização da administração pública. No entanto, havia no seu interior divergências quanto às alianças que deviam ser estabelecidas e à própria dimensão das reformas que deveriam ser feitas. Havia os legalistas em excesso, fascinados pelo poder da lei, e aqueles que ansiavam por mudanças sociais, com uma visão golpista e insurrecional. No entanto, apesar das indefinições, o movimento encontrava
ressonância e contava com adeptos fora do grupo militar. As diversas revoltas aconteceram em várias cidades e estados brasileiros, não ficando restritas ao Rio de Janeiro —
capital na época —, cidade de grande importân-
cia política. Seus principais líderes, Luís Carlos Prestes,
Isidoro Lopes, Cordeiro de Farias, João Alberto, Miguel Costa, Juarez Távora,
entre outros, queriam
pressionar
o governo, utilizando-se da força militar do Exército. Os
tenentes não constituíam um grupo isolado, fechado nos quartéis, mas procuravam apoio, buscavam chamar a aten-
ção. Eram assim uma força destacada na luta contra os go-
vernantes da época.
As cenas da luta O crescimento das cidades brasileiras nas primeiras
décadas do século XX é fator importante para o entendimento da cena política. Apesar de a economia depender
principalmente da agricultura, aos poucos essa situação vai 6
se modificando. Cidades como São Paulo, Recife, Rio de
Janeiro e Salvador já mostravam um contingente populacional significativo dedicado ao comércio, às atividades industriais, de prestação de serviços, ou trabalhando como
funcionários públicos. Nas cidades, as idéias se renovam com mais rapidez, os desejos de mudança são mais frequentes, a população
vai se diferenciando, novos hábitos vão sendo introduzidos na vida cotidiana. Esse processo tem ressonância na
luta política. Na própria eleição do sucessor de Epitácio Pessoa, os defensores da candidatura de Nilo Peçanha procuraram fazer uma campanha que atingisse as camadas urbanas. No entanto, a vitória foi de Artur Bernardes, candidato das forças governistas, ajudado pela invencível máquina estatal. Para enfrentar a crise que se agudizava, o governo de Artur Bernardes (1923-1926) se fez praticamente sob estado de sítio, tantas eram as manifestações de descontentamento. A política de Bernardes repetiu a dos presidentes anteriores: repressão e falta de perspectiva no campo das reformas sociais; tentativas de salvar o café da crise quando a situação da economia internacional apresentava sinais de desequilíbrio. O capitalismo* mundial caminha-
va em direção a uma de suas maiores crises, € O Brasil,
dependente economicamente, sofria as suas consequências. A conspiração crescia, os protestos ganhavam as ruas, às forças de oposição se reorganizavam para exigir mudancas na maneira de governar e autonomia para O Brasil enquanto nação. Dois anos depois da Revolta do Forte de Copacabana (5/7/24) um novo movimento militar, liderado pelos tenentes Miguel Costa e Isidoro Dias Lopes, aconteceu em são Paulo. O discurso moralizante era a bandeira maior
dos revoltosos, que exigiam sobretudo eleição para Constituinte, sem buscar nenhuma mudança mais profunda no
quadro institucional. Mas no Amazonas, chefiado por Ribeiro Júnior, outro movimento exigia o fim das injustiças
sociais, chegando a prender algumas pessoas acusadas de corrupção. Houve revoltas também em Mato Grosso, Ser7
gipe, Pará e no Rio Grande do Sul. Essas forças não conseguiram porém se articular, tendo sua dispersão contribuído para facilitar a reação do governo. No entanto a conspiração continuava, os tenentes incentivavam a rebeldia, buscavam aliados e procuravam obter a base material necessária para a vitória. Embora não obtendo grandes êxitos nas tentativas insurrecionais, os militares não desanimavam.
famosa Coluna Prestes, em 1925, com o fim de expandir a campanha contra o governo. À coluna, sob o comando de Luís Carlos Prestes e Miguel Gosta, percorreu cerca de 24 000 km, atravessando os territórios de vários estados, como Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia, Pernambuco, Piauí, com penetração na Bolívia e no Paraguai. Contando em média com cerca de oitocentos a mil integrantes, a coluna, com receio de combates desgastantes,
evitava os maiores aglomerados urbanos. À adesão que esperava receber por parte da população não aconteceu. Muitos fugiam quando tinham notícias de aproximação da coluna, não entendiam seus objetivos, influenciados também pela propaganda governista. Prestes acabou por se exilar na Bolívia, em 1929. Tendo se tornado uma figura importante, por sua popularidade e liderança, foi procurado por forças políticas da época, inclusive emissários do Partido Comunista. A coluna pretendia mobilizar a população — não ficando restrita apenas às palavras, aos discursos —
para uma ação militar mais efetiva, menos isolada, para um enfrentamento direto com o governo, para o qual esperava contar também com a simpatia de parte da classe média mais descontente. A eleição do paulista Washington Luís, ocorrida em 15/11/26, trouxe novas esperanças à população. O mineiro Artur Bernardes havia governado utilizando a repressão e o estado de sítio. Entretanto, ao invés das medidas
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liberalizantes esperadas, o novo presidente sancionou a Lei Celerada* (1927), que colocou na ilegalidade o Partido Comunista e estabeleceu uma forte censura à imprensa. A via
eleitoral parecia assim destinada a patrocinar sempre a reprodução da mesma estrutura de poder. À “política do ca8
CRER
fé com leite””* tornava-se cada vez mais amarga. Cresciam então as tendências golpistas, e se fortalecia a idéia de que só com o concurso do Exército se poderiam obter as alme-
jadas mudanças.
Conspirações e vacilações O clima revolucionário já estava criado. Crises, crises, crises... Desconfianças crescentes na ação do Estado, nas intenções e nos projetos das elites governantes, na força das instituições políticas, na falta de base para o desenvolvimento econômico. Enfim, um amplo descontentamento e a descrença geral tinham se estabelecido. Quem iria livrar o país dessa agonia, de onde viriam as forças ditas revolucionárias, como articular as oposições, como escapar de tantas indefinições? A década de 20 estava marcada pelo desejo de mudança. Além dos protestos políticos, da emergência do Tenentismo, da atuação do movimento operário, as manifestações culturais se faziam presentes, como a Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, que repercutiu em todo o Brasil. Na verdade, ressentia-se da falta de organizações políticas representativas dos adversários do governo, que lhes dessem condições de romper com o processo de crises sucessivas. A cena estava pronta, os atores é que iriam definir, na prática, o conteúdo do texto que desejavam representar. Havia na sociedade brasileira propostas de mudanças revolucionárias, como a dos comunistas € anarquistas, que defendiam uma sociedade sem desigualdade econômica
e social, onde os homens fossem realmente livres. Mas elas
não conseguiram sair vencedoras, não ganharam o espaço político necessário, devido tanto às dificuldades de organização como à forte repressão do Estado. A cena estava pronta, porém os atores vacilavam quanto ao texto. Queriam mudanças, mas sem exagero, sem muita “desordem”.
Voltemos à cena, acompanhemos os atores. Novamente, a sucessão presidencial acirra as dispu-
tas internas. Conforme a ordem estabelecida pela ““políti9
ca do café com leite””, Minas Gerais deveria Indicar o sucessor de Washington Luís. Porém em vez de Antônio Carlos de Andrada, presidente do estado de Minas Gerais, foi indicado Júlio Prestes, presidente do estado de São Paulo. Rompia-se um velho pacto, abrindo-se um espaço signifi-
cativo para o crescimento das divergências. Apesar das ligações que mantinha com Washington Luís, Getúlio Vargas, na época presidente do estado do Rio Grande do Sul, aceita ser o candidato da oposição, tendo João Pessoa, da
Paraíba, como vice. Construía-se assim a Aliança Liberal, liderada por Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul e com o apoio do Partido Democrático de São Paulo, fundado em 1926 por elementos da burguesia descontentes com o todo-poderoso Partido Republicano Paulista. A formação da Aliança Liberal não constituía, em si, uma ameaça explícita às forças governamentais. Embora acenasse com algumas medidas mais liberalizantes e mostrasse certa preocupação com a questão social, os compromissos dos seus membros com a política dominante eram claros. Mas tratava-se de uma cisão que, dependendo das circunstâncias, poderia ser aprofundada. À crise econômica continuava atingindo a sociedade, apesar das tentativas de estabilização financeira do país. Ante a superprodução do café, as pressões dos fazendeiros exigindo soluções tornaram-se muito fortes. Além disso, o avanço do capitalismo internacional encontrava limites. O mercado de consumo não absorvia a produção e a crise avançava avassaladora
nos Estados Unidos e na Europa. Faltava mercado para o café, nosso principal produto de exportação. A crise econômica de 1929 abalou profundamente a economia internacional. Atingiu bancos, indústrias, comércio, provocando desemprego na Europa e nos Estados Unidos, onde o capitalismo mais se desenvolvia. Os Estados Unidos chegaram a ter 17 milhões de pessoas desempregadas; o comércio internacional retraiu-se, reduzindo-se
a um terço do seu volume normal. O governo brasileiro não
tinha mais condições de sustentar uma política artificial de
valorização do café, que representava 70% das nossas exportações e tinha nos Estados Unidos seus principais con10
sumidores. A tonelada do café havia passado em 1929 e 1930 de 20008000 para 8468000. A crise atingiu em cheio os proprietários de terra, levando-os a um processo de endividamento. Os trabalhadores das fazendas tiveram seus salários reduzidos e a insatisfação tornou-se geral. Com o lançamento da candidatura de Getúlio Vargas — liderança política expressiva, ex-ministro do governo de Washington Luís —, a Aliança Liberal tentava obter o apoio e ganhar a confiança da parcela da classe dominante insatisfeita com o governo, que assim podia se tranquilizar, sabendo que não ocorreria nenhum processo de grandes mudanças. A plataforma política da Aliança
incluía a instituição do voto secreto, anistia política, leis
trabalhistas que dariam maior assistência aos trabalhadores. Com isso, ela conquistou a simpatia da população, sobretudo das grandes cidades, como também o apoio dos tenentes que desejavam reformas políticas.
O resultado das eleições não deveria apresentar surpresas. Era comum a fraude, o jogo de cartas marcadas. Os resultados eram sempre respeitados, apesar das denúncias de manipulação. E mesmo os membros das elites dominantes temiam a violência, uma ruptura com a “or“dem”. A vitória de Júlio Prestes, com 1 097 000 votos con-
tra os 744 000 de Vargas, não causou surpresa. Tudo fazia crer que haveria uma reconciliação, que se evitaria qualquer conflito. Mas a história também é espaço do inesperado. Apesar da aparência de que o resultado das eleições se manteria, uma conspiração estava em marcha, e os golpistas buscavam aliados, traçavam planos. Nesse contexto, a vitória do governo não significava o fim da crise. As vacilações eram muitas, embora entre os membros
mais jovens da “oligarquia* dissidente” as conversações
avançassem. Oswaldo Aranha, Virgílio Melo e Franco, Lindolfo Collor, Flores da Cunha, entre outros, estabele-
ciam articulações com os tenentes. O quadro das alianças era amplo. Não foram esquecidos até mesmo Epitácio Pes-
soa e Artur Bernardes, tão criticados anteriormente, assim como Borges de Medeiros e o desconfiado Getúlio Var11
gas. As esperanças de contar com o apoio de Luís Carlos Prestes foram se enfraquecendo. Em maio de 1930, ele lançou um manifesto em que tornava pública sua adesão ao comunismo e fazia críticas contundentes à Aliança Libe-
ral. As articulações tornavam-se cada vez mais evidentes, a ponto de levar Antônio Carlos de Andrada a alertar: “Façamos a revolução antes que o povo a faça”. O pretexto que faltava para acelerar o processo aconteceu com o assassinato de João Pessoa (26/7/30). O episódio serviu para acirrar os ânimos e encorajar os indecisos. Na Paraíba, as disputas internas haviam contribuído para fortalecer as forças oposicionistas, que, com o apoio de parte expressiva do Exército, tiveram a chefia de Góis Monteiro. Marcou-se para o dia 3 de outubro a deflagração do movimento. Os tenentes tiveram expressiva participação nas manobras militares. Na madrugada do dia 23 de outubro, as forças rebeldes ocuparam o Rio de Janei-
ro, a capital da República. Deposto Washington Luís, uma junta militar — composta por Tasso Fragoso, Mena Barreto, Isaías Noronha e Leite de Castro — assumiu o go-
verno. Apesar de algumas resistências, mas apoiado por Góis Monteiro, no dia 4 de novembro o gaúcho Getúlio Vargas foi empossado no governo. Entretanto, aquilo que deveria ser provisório foi se tornando permanente, e Vargas só deixaria o poder em 1945. O movimento saiu assim vitorioso, não tendo encon-
trado muita resistência. Washington Luís achava-se bastante isolado. Sua derrubada contou inclusive com o apoio popular. As próprias manobras militares comandadas pelos tenentes João Alberto, Miguel Costa, Juarez Távora, receberam ajuda e manifestações de solidariedade. O governo recém-instalado iria tentar apresentar propostas que satisfizessem as expectativas de todos os setores que o haviam apoiado. Não seria fácil. Nas suas primeiras medidas, procurou reforçar o poder do Estado, centralizar as decisões. Essas medidas tiveram a simpatia dos tenentes, mas houve reações contrárias, especialmente em São Paulo, que desde o início sentia seu poder político diminuir. 12
A revolução*, mas que revolução? Renovaram-se, na sociedade brasileira, as esperanças de uma nova República. Com o incentivo do Estado, criou-se a idéia de que se havia feito uma revolução, que se rompera com o passado atrasado. O Brasil entrou de fato numa nova era e se modernizaria, com o crescimento
econômico e a exploração das riquezas nacionais. O discurso de renovação era importante para consolidar o movimento de 1930 e diferenciá-lo em termos de ideologia”. No entanto, 1930 não significou uma ruptura radical com a ordem dominante. As forças políticas que construíram esse movimento eram heterogêneas. Existiam elementos
conservadores, descontentes com o encaminhamento da-
do a certas questões pelos governos anteriores, mas que não pensavam em abdicar dos seus privilégios. As divergências apareceram já na própria formação do governo, chefiado por Getúlio Vargas, ligado aos grandes proprietários. As forças populares, sobretudo nos centros urba-
nos, haviam aderido ao movimento, mas a liderança per-
manecera nas mãos de elementos do Exército e das oligarquias dissidentes. Nessas águas turbulentas, Vargas soube navegar com incrível habilidade, administrando os conflitos e evitando a radicalização. Os tenentes desempenharam importantes papéis nos primeiros anos do governo de Vargas. Foram nomeados interventores em alguns estados, como Bahia (Juraci Magalhães), Espírito Santo (Puinaro Blay) e São Paulo (João
Alberto). A tensa situação social, decorrente sobretudo do
desemprego e dos baixos salários, exigia medidas imedia-
tas do governo, que criou O Ministério do Trabalho, sob
a chefia de Lindolfo Collor. O Estado adotava uma política intervencionista, por meio da qual tentava controlar a situação, interferindo na gestão econômica e criando uma
legislação que facilitava o controle das organizações sindi-
cais da classe trabalhadora. A questão social deixou de ser considerada uma questão de polícia, mas o Estado não abriria espaço para a autonomia política do operariado. Os tenentes, mais ligados ao governo, aglutinados no 13
Clube 3 de Outubro, mostravam simpatia por medidas que pudessem melhorar o nível de vida da população. De outro lado, tais medidas encontravam resistência por parte das forças dominantes mais conservadoras. Os que queram
um
Estado
forte
e
centralizador,
baseado
no
autoritarismo*, foram encontrando opositores entre os di-
tos adeptos do liberalismo* que exigiam a legalidade e a eleição de uma Assembléia Constituinte. Essas forças ar-
ticularam uma aliança antigovernista, com base em São Paulo, liderada pelo Partido Republicano Paulista e pelo Partido Democrático. À forte pressão que faziam sobre o tenente João Alberto, interventor em São Paulo, resultava em conílitos constantes, que levaram o interventor a demitir-se em 13 de julho de 1931. As divergências entre os tenentes e as oligarquias vão criando obstáculos para Getúlio Vargas, dificultando-lhe a efetivação de seu governo. Os tenentes não conseguiam manter uma unidade política e valiam-se muitas vezes da força militar para impor seus projetos, entrando em choque com as oligarquias, que eram, na verdade, o setor de onde Vargas tinha saído. Aos poucos Vargas procurou esvaziar as ações dos tenentes no governo e retomar suas alianças políticas. Conseguiu sufocar o movimento constitucionalista, em
São Paulo, em
1932, sem contudo des-
prezar a força política dissidente. As eleições convocadas em maio de 1933 para a Assembléia Constituinte abalaram o Tenentismo. Em seu Congresso realizado em 21/11/1932, Juarez Távora defendeu um Estado com um Poder Executivo forte. Alguns criticavam as eleições, achando-as desnecessárias, enquanto buscavam se organizar para retomar a ascendência que haviam tido entre 1930 e 1932. Novas forças políticas disputavam espaço. O integralismo* surgiu com um discurso nacionalista e autoritário, de raízes fascistas. A Aliança Nacional Li-
bertadora, uma frente heterogênea progressista, colocava-se
com uma plataforma reformista e em oposição cerrada aos integralistas. O cenário político se ampliava,
cia era grande. 14
a turbulên-
O Tenentismo vai sendo arrastado por essas mudan-
, e ças, perdendo sua autonomia enquanto força política
am enfraquecendo-se. As suas divergências internas impedi na «que se estruturasse politicamente, tivesse mais unidade no meio sua luta. Cultivara o golpe e a força, perdendo-se ios. de indefinições ideológicas e das pressões dos adversár o. Mas é preciso lembrar e questionar um certo pont de muQuem na verdade tinha, nessa época, um projeto vitorioso, transfordança definido, com condições de sair
ança é muimando realmente a sociedade? O desejo de mud existentes, petas vezes sufocado pelas condições políticas es na história. la força concreta daqueles que são os vencedor única coisa. A trama e o drama se tornam então uma
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CAPÍTULO
1
Os sinais da crise
s documentos reunidos neste capítulo têm em vista mostrar os vários aspectos da crise que atingiu a sociedade na década de 20 e início dos anos 30 e os conflitos que gerou, exigindo da população grandes sacrifícios.
la o início da ação tenenA Revolta do Forte de Copacabana assinaade revoltosos foram tista e sua ampla repercussão na socied . Os
ento das considerados heróis pela coragem mostrada no enfrentam (Fonte: Mu-
eu a morte. tropas governistas, que a alguns delesuivval Gomes.) seu Aeroespacial da Aeronáutica, Arq o Eduardo
19
A existência do Tenentismo e o descontentamento dos seus Integrantes com a situação política não significavam que todo o Exército era oposicionista. No manifesto a seguir verifica-se a defesa do governo, das leis, da ordem, feita por um grupo de militares que apoiava o governo. E interessante analisar como esse grupo pensava o papel do Exército, o medo da subversão. Assinaram esse mani-
festo um grupo de generais, a elite do Exército.
Manifesto à Nação
O estado de coisas criado pelos interessados em pôr os militares a serviço de suas ambições políticas, com deplorável sacrificio do bom nome do país e da cultura cívica de nosso
povo e da nossa dignidade patriótica reclama dos oficiais que, conscientes de seus sagrados deveres de lealdade para com a Nação, tendo um sentido de respeito que devem a st mesmos, uma declaração pública e solene, de que sabem prezar as tradições de honra do Exército na garantia efetiva das liberdades públicas, na defesa da Constituição e das leis orgânicas na manutenção da ordem constitucional da República, no livre exercicio de seus poderes. Fica assim entendido que estamos no firme propósito de sustentar a todo transe as autoridades legalmente constituídas contra o delírio faccioso, contra os maus patriotas de todas as classes que, mal inspirados nas suas paixões partidárias, sugerem, sob a ameaça da subversão, a prática de um atentado ao regime com disfarce do nome pomposo dado, a um corpo estranho ao órgão da soberania nacional, que é privativamente competente para verificar a eleição presidencial de 1º de março.
(O Estado deS. Paulo, 17/5/1929. Apud
Ana Maria Martinez Correa, À re-
belião de 1924 em São Paulo, p. 38-9.) 20
No próprio movimento tenentista existiam diferenças. A ação de 1924, no Amazonas, teve atuação mais radical, buscou mudanças sociais, o combate à corrupção. Porém
faltou força e unidade política entre os tenentes para aprofundar suas propostas.
/...] Dez anos depois do governo tenentista do Amazonas, em 1934, Ribeiro Júnior, embora nunca mais tivesse ido ao Amazonas, foi eleito deputado por esmagadora maioria, tendo sido um dos constituintes de 1934. A obra do tenente revolucionário à frente do governo do Estado do Amazonas, em 1924, pode ser resumida numa palavra: honestidade. Ou melhor, honestidade administrativa. Quando os tenentes assumiram o governo do Estado, o funcionalismo estava sem receber vencimentos há vários meses ou anos; proliferavam as negociatas admainistrativas e havia centenas de milionários que tinham se locupletado com os dinheiros públicos nos últimos anos dos grandes lucros da borracha (década de 1910 a 1920). As obras públicas estavam paralisadas por falta de recursos financeiros, entesourados nos bancos, em nome dos novos ricos do Amazonas. Ribeiro Júnior bloqueou as contas bancárias de todos os milionários suspeitos de haverem enriquecido iliciramente. Ao invés de provar que Fulano ou Beltrano era ladrão para só depois confiscar-lhe os bens, o governo renolucionário do Amazonas agiu de forma inversa: confiscou os bens dos suspeitos e os presumidos prejudicados que provassem a lisura dos bens adquiridos/.../
(Agildo Barata Ribeiro, Vida de um revolucionário, p. 78.) 21
O movimento tenentista em 1924, em São Paulo, transformou as ruas
da cidade em verdadeiros campos de luta. As tropas do governo
tiveram que ser reforçadas para derrotar os revoltosos. (Fonte: O Estado de S. Paulo, jul. 1924.)
O trecho seguinte, extraído de um relatório do cônsul norte-americano em São Paulo em 1922, mostra as difíceis condições de vida e trabalho dos operários imigrantes, Inclusive os baixos salários pagos. Isso contribuía para o aumento da crise social, que refletia a grande exploração da classe trabalhadora e ocorria simultaneamente à crise política, à revolta dos tenentes.
É duvidoso que exista em algum lugar um setor industrial que ofereça melhores condições de trabalho do ponto de vista do empregador. Os operários nas diversas indústrias e oficios são abundantes, muito trabalhadores e ganham somente baixos salários. Os operários portugueses aqui especialmente farão qualquer coisa para preservar seu emprego principalmente se for um trabalho seguro. O ele22
mento italiano é um pouco mais independente, mas, jun-
tamente com os espanhóis, são considerados pelos empregadores como mais confiáveis que a mão-de-obra natwa. Nas fazendas de café há sempre escassez de mão-de-obra e os proprietários das fazendas e as autoridades do estado estão constantemente procurando novos e mais imigrantes para preencher as vagas de seus trabalhadores. Os sindicatos são praticamente desconhecidos, exceto como organizações sociais ou de beneficência, e as greves não são encorajadas, para dizer o menos, em qualquer setor de trabalho. O resultado é que se vê muito pouca maséria extrema porque o trabalho nunca é interrompido, ainda que com salários ínfimos e em consegiiência um padrão de vida mais baixo que em alguns países mais adiantados. (Apud Michael Hall e Paulo Sérgio Pinheiro. À classe operária no Brasil, p. 126.)
ca O documento a seguir é importante para se verifi rem as dificuldades enfrentadas pela classe média da époo que ca; mostra como se fazia seu orçamento familiar, consumia
no seu
cotidiano.
Um orçamento de classe média (1925)
As famílias pequeno-burguesas estão pela hora da morte. O déficit é fatal no fim do mês. Pois, mesmo assim, gozam de uma situação invejável relativamente ao proletariado. Vamos ver uma dessas famílias. São 4 pessoas: marido, mulher e dois filhos meno“res. O marido tem um pequeno negócio que lhe rende 3508 mensais líquidos. A mulher era professora: tirava 2508. Mas, com o primeiro filho, teve de abandonar o ensino. Cansava-se muito pois as aulas ficavam longe; e, como 23
nunca teve empregada alguma, a criança não podia ficar
ao abandono.
O “café” é feito em casa. O almoço e o jantar vêm da pensão. Usam um fogareiro “Primus” a querosene. A roupa é lavada e engomada fora. A luz é elétrica. À alimentação é forte.
Vejamos como os 3508 aluguel 938; almoço e jantar de açúcar 148; pão 248; 4 quilo de manteiga 108; 7,5 litros de leste 338; 120 ovos
se evaporam mensalmente: da pensão 1508; 10 quilos quilos de café 108800; 1 litros de querosene 98; 30 208; álcool 78500; frutas
308; condução 158; lavadeira 358; carregador da marmuita 218; luz 78. Total 4798300.
Déficit mensal: 1298300. Como equilibram as finanças? Fazendo serviços extras. E nem mesmo assim o conseguem porque nessa conta não estão incluidos os gastos com roupa, farmácia, etc. Ah! está o orçamento de uma família pequenoburguesa ideal — que não bebe, não joga, não fuma, não passeia, não var ao cinema, não compra a prestações. E se é assim, imaginar a situação da grande massa trabalhadora que ganha 2008 e 2508000! À massa vive num regime de fome lenta, de depauperamento progressivo. Eis a realidade. Não é possível continuarmos assim. De pé — dez milhões de trabalhadores do Brasil! Para dentro dos sindicatos! Organização econômica nos sindicatos e organização politica no partido! (A Classe Operária, 18/7/1925. Apud Michael Hall e Paulo Sérgio Pinheiro, op. cit., p. 131-2,)
Os tecelões constituíram um importante setor da classe operária de São Paulo. O texto abaixo assinala sua luta e a dificuldade que encontravam para se organizar,
se defender da exploração econômica.
24
para
O caminho da realização
Para realizarmos as nossas aspirações, só existe um caminho: o da organização. Organização dupla: económica no sindicato e política no partido operário. Nós, que somos a corporação mais numerosa de São Paulo, não estamos organizados nem mesmo economicamente, quanto mais politicamente! Isto assim não pode continuar! Tecelões da Sant'Anna, da Maria Zélia, da Crespi e de todas as fábricas de tecidos de São Paulo, vinde todos, num só bloco, organizar a União dos Operários em Fábricas de Tecidos. Trabalhadores da Maria Angela, apoiai vossa vanguarda!
Tecelões de São Paulo, imitai os tecelões do Rio de
Janeiro e de Petrópolis, que estão de pé, combatendo pelos seus direitos sindicais! Viva a massa trabalhadora organizada de São Paulo! Viva a União dos Operários em Fábricas de Tecidos: Vivam os tecelões do Rio e de Petrópolis, que tém seus órgãos de defesa contra 0 patronato! E viva À Classe Operária, que há de lutar e vencer ao nosso lado — defendendo-nos, amparando-nos, sustentando-nos nas batalhas econômicas e políticas. — A vanguarda dos operários da Maria Angela.
(A Classe Operária, 18/6/1925. Apud Michael Hall e Paulo Sérgio Pi-
nheiro, op. cit., p. 130.)
25
CAPÍTULO 2
Memórias da Coluna ntre a lenda e a luta, a Coluna Prestes-Miguel ficou conhecida em todo o Brasil. Desafiando verno e atravessando o território brasileiro em de adeptos para a pretendida revolução, expressava sejo de mudanças de grande parte da população. A MARCHA
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Costa o gobusca o de-
COLUNA f
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Neste mapa aparece traçado o roteiro da Coluna, podendo-se veri-
ficar o seu extenso percurso pelo território brasileiro, sobretudo pelo interior. (Publicado no livro de memórias de João Alberto Lins de
Barros.)
26
Os depoimentos que seguem foram extraídos do livro de memórias de um participante da Coluna, João Alberto, bastante ligado às ações dos tenentes. Mostrando as dificuldades materiais enfrentadas pelos revolucionários, a resistência e seu significado para a luta, refletem momentos importantes dessa tentativa de fazer avançar as forças
políticas contra o governo.
/...] E a chuva aumentava. Mal providos de barracas e de equipamento de campanha (trambolhos nas marchas rápidas e correrias das lutas riograndenses), viamonos praticamente desabrigados. As poucas casas de colonos que encontrávamos pela estrada mal davam para proteger os feridos. A comida mudara também. O gado dis-
ponível não chegava para o desperdício dos churrascos. Em lugar de uma rês para trinta homens, como de uso na fronteira, tínhamos agora que alimentar com ela cento
e vinte. Bóia de panela substituta a carne no espeto. Em compensação, encontrávamos com fartura milho verde, batatas, porcos e galinhas. A cavalhada ia-se enfraquecendo com os trabalhos duros das estradas e com a falta de pasto. Prendíamos os animais para que se não extravias-
sem no mato. E começávamos a andar a pé, o que exasperava os gaúchos. As bombachas largas e as botas de sanfonas não se acomodavam aquelas marchas através de estradas enlameadas, ao desabrigo, debaixo de chuva. O descontentamento alastrava-se, crescia. [...]
[...] Havia uma verdadeira disputa pela vanguarda. Os perigos que poderiam aparecer, as missões mais difíceis a cumprir, eram fartamente compensados com a utilização dos recursos que se encontravam na frente. A Coluna não tinha abastecimento próprio. Vivia do que ia encontrando em marcha.
Conduzia apenas al-
guns cargueiros com sal e açúcar. Procedia-se com certa eqiudade à distribuição do que aparecia na vanguarda.
Digo “certa egiiidade”” porque, inegavelmente, ela, a van21
guarda, levava sempre vantagem nessa distribuição. Os animais requisitados, por exemplo, não eram distribuidos entre outras unidades se não sobrassem. Tratava-se, por assim dizer, de presa individual. Cada Destacamen-
to tinha que fazer a sua própria remonta ou esperar a vez
de ur para a vanguarda, a fim de obter cavalos [...]
/...] À Coluna transformara-se num símbolo de re-
sistência. Nossa vitória consistia em não nos deixar abater. Tínhamos sido submetidos a duras provas até então. Segundo o nosso conceito de luta estávamos vitoriosos, porque chegáramos aonde queriamos. O combate de Anápolis havia fechado com chave de ouro mais uma fase da luta armada. Ágora pouco tínhamos a temer dos agentes
governistas. Dentro da imensidade do Brasil desconhecido, sem meios de transporte nem comunicações, as forças do Governo equiparavam-se praticamente às nossas, na eficiência da luta [...]
/...] Os Destacamentos acampavam juntos. Às ótimas aguadas e as boas pastagens das velhas fazendas convidavam-nos ao descanso. Marchávamos só pela manhã. À tarde reuniam-se os comandantes de Destacamento no fogão do Prestes e do Miguel Costa para trocar idéias e fazer planos. Nada sabíamos do que se estava passando pelo resto do Brasil. Um sincero otimismo nos animava na luta. Esperávamos sempre pela manifestação, em tempo oportuno, de nossos companheiros. Estávamos certos de que eles se decidiram a agir quando, depois da nossa gran-
de travessia, surgíssemos no Estado do Maranhão, ao Nor-
te do Brasil. A Coluna que o Governo Federal tantas vezes anunciara destruída, renascia mais forte do que nunca para a batalha decisiva. Dali, daquele ermo, de cuja existência o brasileiro mal suspeitava, traçávamos esperançosos os destinos do Brasil. Siqueira, espírito arguto
£ crítico, fazia blague dos planos de organização do Jua-
28
rez, a quem muito estimava. Miguel Costa só queria saber de S. Paulo. Bairrista como nenhum outro, queixava-se de que não estivéssemos dando a devida atenção ao seu Estado. Djalma Dutra e Ari Salgado Freire revelavamse menos expansivos, apoiando mais o Siqueira em suas sátiras do que o Juarez em seus argumentos políticos. Cordeiro de Farias ria de tudo. Espírito bondoso, propendendo mais para as acomodações do que para a luta — apesar de grande soldado —, estava por tudo. Só Prestes guardava alguma reserva. Não sabia bem como acabaria tudo aquilo. Tinha confiança na ação dos amigos mas estava pronto para, mesmo sem tal ação, prosseguir na luta com a Coluna [...] (João Alberto Lins de Barros, Me-
mórias de um revolucionário, p. 67, 69, 116, 127.)
Prestes e Djalma Da esquerda para à direita: Cordeiro de Farias, reiro ou março de 1927. Dutra no exílio. Santo Corazón, Bolívia, feve el Costa, mas tiveram
Foram companheiros na Coluna Prestes-Migu
: CPDOC, que se exilar, devido às perseguições do governo. (Fonte
Arquivo Pedro Ernesto Batista.)
29
CAPÍTULO 3
Conspirações das elites
formação de uma frente antigovernista, a Aliança Liberal, foi tramada com muito cuidado. E, apesar das dificuldades e vacilações, inclusive de Getúlio Vargas, avançou e conseguiu depor Washington Luís. A Ahança Liberal era composta por vários grupos sociais, de origens e tendências diferentes. REsp |
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A charge ironiza
as articulações políticas feitas
na época contra o governo. À serenata é promovida pelos conspi-
radores, que bus-
cam a adesão de
Borges de Medei-
ros,
grande líder
político
do
Rio
Grande do Sul. (O Malho, Rio de Janeiro, 17/8/1929.)
na sanfona: João Neves da Fontoura
no
saxofone:
Brasil
no violão: Cunha
no
Borges de Medeiros — Vamos deixara vadiagem: as familias querem dormir. 30
trompete:
Assis
Flores
da
Batista
Luzardo sem instrumento:
Os-
ouldo Aranho e Borges de
O Partido Democrático, fundado em São Paulo em 1926, visava fazer oposição ao governo e ao Partido Republicano de São Paulo. Colocava-se como defensor do Jiberalismo, reivindicando reformas nas leis e a aplicação dos princípios existentes na Constituição. Estava ligado politicamente à classe dominante e não propunha nenhuma mudança radical.
Princípios políticos do partido democrático
1º) Defender os princípios liberais consagrados na Constituição, tornando uma realidade o governo do povo pelo povo e opondo-se a qualquer revisão constitucional que implique restrições às- garantias e liberdades individuars, 2º) Pugnar pela reforma da lei eleitoral, no sentido de garantir a verdade do voto, reclamando, para 1550, 0 voto secreto e medidas asseguradoras do alistamento, do escrutínio, da apuração e do reconhecimento; 3º) Vindicar pela lavoura, para o comércio e para a indústria a influência a que têm direito, por sua importância, na direção dos negócios públicos; 4º) Suscitar e defender todas as medidas que interessam à questão social; 5º) Pugnar pela independência econômica da magistratura nacional e pelo estabelecimento de uma organização judiciária em que a nomeação dos juizes e a composição dos tribunais independam completamente de outro qualquer poder público; 6º) Pugnar pela independência econômica do magistério público e pela criação de um organismo integral de instrução, abrangendo o ensino primário, secundário,
profissional e superor.
(Apud Edgar Carone. A Primeira República, p. 331.) 31
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Getúlio Vargas chegou a ser ministro de Washington Luís e depois presidente do seu estado, o Rio Grande do Sul, cargo equivalente ao de governador atualmente. Nesta carta enviada por Vargas a Washington Luís, em 10/5/29, ele garante não estar envolvido em qualquer manobra contra o presidente da República. Porém, no ano seguinte, tomaria posse corno chefe do Estado, tendo articulado a chamada Revolução de 1930 que o levou ao poder.
Carta de G. Vargas a W. Luis Tenho permanecido fechado qualquer manifestação sobre sucessão presidencial pelo desejo de não contribuir para perturbar ambiente para deixar à livre iniciativa vosselência démarches sobre assunto quando julgar oportuno e para evitar intrusões do(s) mestres de obra feita farejadores de candidatos ou pretendidos precursores que queiram jogar com nome e prestígio Rio Grande inculcandose mais tarde ao prêmio das recompensas pessoais stop Para evitar precipitações ou imprudências nenhum representante Rio Grande tem autorização para tratar caso nome situação dominante estado stop Penso que este deve preferência ser encaminhado diretamente entre nós com a confiança e franqueza necessárias quando vosselência entender stop Por mim não julgo que se deva apressar stop E pode vosselência ficar trangiiilo que Partido Republicano Rio Grande lhe não faltará com seu apoio momento preciso stop Internamente só (b) desejamos solução dos (a) nossos problemas locais stop Quanto à política geral país aspiramos à continuidade feliz duma administração verdadeiramente patriótica e inspirada reais interesses Brasil stop Não pleiteamos situações pessoais stop E este pelo menos meu pensamento stop Creia-me seu at. am'g. e admor.
(A) Getúlio Vargas stop.
(Arquivo
Getúlio Vargas,
código
GV 29 02 10. Apud Manuel Guima-
rães et alii, À Revolução de 1930 —
textos e documentos, p. 108.)
33
Getúlio Vargas aqui já se apresenta como candidato à presidência
da República, ao lado de João Pessoa, candidato a vice-presidente.
Disputavam a eleição pela Aliança Liberal, em oposição a Júlio Prestes, candidato do governo. (O Careta, 11/1/1930.)
O programa da Aliança Liberal, de 17/6/29, mostra
preocupação com a questão social, com a situação nas fá-
bricas, com os operários e suas condições de vida. O que antes era visto como uma questão de polícia passa a merecer atenção especial. Questão social
Não se pode negar a existência da questão social no Brasil, como um dos problemas que terão de ser encara dos com sinceridade pelos poderes públicos. O pouco que possuímos, em matéria de legislação social, não é aplicado ou só o é em parte mínima, esporadicamente, apesar dos compromissos que assumimos, a respeito, como signatários do Tratado de Versailles, e das responsabilidades que nos advém da nossa posição de mem-
bros do “Bureau Internacional do Trabalho”, cujas convenções e conclusões não observamos.
Se 0 nosso protecionismo favorece os industriais, em proveito da fortuna privada, ocorre-nos, também, o dever 34
segurem as lhe que s da di me m co io ár et ol pr ao de acudir doenças, nas m re pa am o e de da li bi ta es e to for con vo relati como na velhice. riA atividade das mulheres e dos menores, nas fáb todas as naem á, est , is ia rc me co os nt me ci le be ta es e cas que, entre ções cultas, subordinada a condições especiais m. nós, até agora, infelizmente, Se desconhece rno Urge uma coordenação de esforços entre o Gove vipro de ão oç ad e udo est o ra pa s, do ta Es dos os rentral e Código do so nos o ão ir tu ti ns co que to un nj co de s ia nc dê Trabalho. itam Tanto o proletário urbano como 0 rural necess das va al ss re s, bo am a is ve cá li ap , res ela tut os iv it de dispos as respectivas peculiaridades. caTais medidas devem compreender a instrução, edu
às mulheão eç ot pr a o; çã ta bi ha o, çã ta en im al e, ien hig , ção o, o salário res, às crianças, à invalidez e à velhice; o crédit
ica. e, até, o recreio, como os desportos € cultura artíst
(Apud Edgar Carone. À Primeira
República, p. 334.) 4
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vitória das forças antia la ina ass s Luí n gto hin Was de ção A deposi l ao poder, com a ajuda governistas e a chegada da Aliança Libera Batista.)
ro Ernesto dos militares. (Fonte: GPDOC, Arquivo Ped
35
O manifesto de Washington Luís, dirigido à nação em
10/10/1930, mostra a sua surpresa diante da eclosão do mo-
vimento armado destinado a depô-lo. O presidente faz a defesa de seu governo, mas sua sorte já estava definida.
Manifesto do sr. Pri República à nação stop Venho dar contas à nação situação pais stop Foi mais dolorosa surpresa e mais vivo sentimento indignação repulsa todo Brasil viu irromper estados Minas e Rio G. do Sul e Paraiba sangiiinário movimento subversivo que ali se desenrola stop Tal movimento não se justifica stop Não expiram ideais ou principios stop Que querem seus promotores ponto interrogação Não dizem ou anunciam stop Emudecem sobre peso do crime cometido stop Quem são eles ponto interrogação Escondem-se no anonimato stop Só se sabe que querem derramar sangue brasileiros stop Atentando contra propriedade na destruição pátria stop Só se sabe que empenharam numa tenebrosa aventura sem rai-
zes na opinião levada cabo imponentes elementos sediciosos incógnitos políticos e pretendem tão-somente assenhorear-se a todo tranze do poder pelo gozo poder stop O Brasil entretanto seguia com segurança havia 3 anos no rumo sua política progresso stop Tinha se estabelecido a paz no interior crédito se restaurava estrangeiro graças pontual cumprimento todas obrigações nação stop Robustecia-se sua organização financeira com verificação anual saldos orçamentários e a estabilização valor moeda apoiada por todas opiniões aceita mesmo por aqueles que [se] declararam em oposição ao governo e agorá o combatem pelas armas stop Crescia volume e preços das produções nacionais num surto magnifico de vitalidade econômica stop
Fazia-se o reajustamento dos vencimentos e se operava o barateamento do custo existência stop Aperfeiçoava-se defesa sanitária com extinção febre amarela na capital Re36
ública e o saneamento da zona rural que a malária flagelava stop [...] (Arquivo Oswaldo Aranha, código OA 30 10 09/8. Apud Manuel Guimarães et alii, op. cit., p. 371.)
A morte de João Pessoa, assassinado pelo seu inimigo pessoal João
Dantas, ao servir de pretexto para a aceleração da luta, transfor-
mou o líder paraibano em herói. (Fonte: Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano, Arquivo Carlos de Lima.)
37
CAPÍTULO
4
À construção de outras propostas: os anarquistas, o PCB e Luís Carlos Prestes ão só os políticos ligados à classe dominante apresentavam novas propostas e divergiam do governo. Outras forças procuravam soluções para a crise, fazendo propostas diferentes e mais radicais, em que se dava maior ênfase aos problemas sociais e à organização popular. Enquanto os anarquistas e os comunistas defendiam, apesar das divergências, a revolução social, Prestes foi o líder tenentista que mais se destacou, tornandose muito popular.
O povo se fazia presente nas manifestações políticas da época, apoiando-as e mostrando grande interesse pelas questões tratadas.
(Foto de Malta, Arquivo do MIS do Rio de Janeiro.) 38
sinEste trecho de carta de um militante anarquista
co em organizar tetiza o empenho desse grupamento políti
Rio o operariado, aqui por meio da Federação Operária do
do sindide Janeiro. Vê-se assim o caráter revolucionário
calismo defendido pelos anarquistas.
Carta de um militante
/...] Mantendo a integridade revolucionária do sindicalismo, que desde o primeiro ao terceiro congressos operários (1906-1913-1920) foi interpretado e praticado, no Brasil, segundo a concepção que dele tém os anarquistas, a FOR] estava naturalmente destinada a constituir o expoente que hoje é da organização revolucionária dos trabalhadores daqui. Desenha-se agora, no horizonte sindicalista que vrnha sendo turvado de nuvens pesadas como chumbo, como que uma nova aurora. E se conseguirmos realizar, como desejamos, as duas coisas a que nos vamos votar de corpo e alma, breve poderemos assinalar a completa vitória dos nossos ideais, que esperamos ver triunfar por sobre todas as campanhas de derrotismo e desmoralização dos estipendiados por Moscóvia. Essas iniciativas, de cujo êxito depende por assim dizer o imediato renascimento da nossa hoje desfalecida CGT, são: 1º) uma conferência inter-sindical — ou talvez regional — com representação dos sindicatos revolucionários do Rio de Janeiro (Distrito Federal) e Estado do Ro, Estado de São Paulo, Estado de Minas Gerais e Estado do Espírito Santo; 2º) a representação dos sindicatos revolucionários do Brasil (e contamos, como vós mesmo contais, com os do Estado do Rio Grande do Sul e outros, como Pará, Ama
zonas, etc.) no segundo congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores; e como complemento dessas intciativas: a realização do nosso quarto congresso nacional. 39
Tudo depende da vontade e da energia dos elementos anarquistas que, apesar da indiferença das massas e do crapulismo dos trânsfugas, não deixaram o seu lugar às “moscas”* do capitalismo e do oportunismo. E eu tenho as mais seguras esperanças de que havemos de triunfar. Veremos...
[.. e
(Carta manuscrita de Marques da Costa a Abad de Santiago, 1994. Apud Michael Hall e Paulo Sérgio Pinheiro, A classe operária no Brasil, Ve ds Pp 276.)
O Bloco Operário foi organizado pelo Partido Comunista, com a finalidade de disputar as eleições. Apesar da repressão, conseguiu em 1928 eleger alguns candidatos, mas em 1929 e 1930 não obteve êxito. Neste trecho do seu programa aparece sua proposta, voltada para o proletariado. Nas eleições de 1928 já tinha se transformado no Bloco Operário e Camponês.
O programa do Bloco Operário obedece, todo ele, a este princípio fundamental: o proletariado deve realizar uma política independente de classe. O proletariado tem interesses próprios a defender. Estes interesses são antagônicos aos interesses da burguesia capitalista. Por conseguinte, defender os interesses proletários é combater os interesses capitalistas. Não é possível defender, ao mesmo tempo, uns e outros. Isto significa que a politica operária — para bem defender os verdadeiros anteresses do proletariado — tem de ser necessariamente independente da política burguesa, que defende os interesses do capitalismo. Todo operário de bom senso compreende esta diferença essencial entre politica proletária e política burguesa. E uma diferença clara, patente, insofismável. /...] Na prática, a política proletária diferencia-se ainda da politica burguesa a) pela responsabilidade dos che-
Jes perante a massa e o controle daqueles por esta última;
b) pelo combate sistemático ao regime capitalista. Nós não queremos uma politica de promessas fáceis
e vãs. Queremos, pelo contrário, uma politica de compromissos partidários, portanto de responsabilidades. Queremos que os chefes prestem contas à massa de seus atos;
queremos que os chefes executem a vontade da massa; queremos que os chefes — colocados nos postos de direção pela massa — possam a cada momento ser desapeados de tais postos. Queremos que os deputados proletários que representam os interesses do proletariado e são eleitos pela massa proletária, sejam responsáveis de seus atos perante as organizações proletárias. Ora, esta responsabilidade só é possível de estabelecer mediante a disciplina partidária. É o que acontece com os deputados comunistas no mundo inteiro. [.../ (À Nação, 17/2/1927. Arquivo Edgar
Leuenroth. Apud Michael Hall e Paulo Sérgio Pinheiro, op. cit., p.
299.)
Nessa análise feita pelo Comitê Central do Partido Co-
munista, reunido em outubro de 1929, é interessante ver
como são avaliadas as eleições relativamente à presença do capital estrangeiro no Brasil. Na análise também são citadas as principais forças do cenário político da época. A eleição presidencial
O problema da eleição presidencial desenvolve-se em um ambiente de luta, agravada entre as frações da burguesia por coincidência da crase econômica e financeira pela qual atravessa o pais, e a crise política atual da qual é um índice a luta que se observa entre a fração chamada “hberal”) ea da burguesia dominante. Luta alimentada e agravada pelas rivalidades entre o imperialismo inglês que apóia o Governo e o imperialismo ianque que apóia a fração “liberal”. Este problema da eleição presiden41
cial for encarado pelo Pleno, decidindo que o Partido Comunista intervresse na luta com programa e candidatos próprios por intermédio do bloco operário e camponês, desmascarando a todas essas agrupações políticas burguesas, inclustve o Partido Democrático, e transformando a luta eleitoral em uma verdadeira batalha de classe. Contra a burguesia nacional e o imperialismo anglo-americano, o proletariado e as massas exploradas das cidades e dos campos, com seu programa próprio, deverão desenvolver uma vasta agitação pela revolução. A consigna do Pleno do CC. do Partido: “Aproveitar a luta para a sucessão presidencial com vistas à revolução”) foi ratificada e resolveu-se tomar as medidas práticas para a agitação e organização revolucionária com este fim. Resulta que o Pleno havia decidido dar um caráter mais nacional à luta mediante a apresentação de candida-
tos próprios, por intermédio do B.O. e C., para as eleições presidenciais e legislativas, não somente no Rio de Janei-
ro, como também em todas as regiões do pais onde existam organizações do Partido Comunista.
(La Correspondencia Sud-Americana, nº
21, 20/11/1929. Apud Edgar Carone, O PCB, v. 1, p. 83.)
Neste manifesto, Luís Carlos Prestes anuncia sua posição política e sua discordância com a Aliança Liberal. Prestes exigia mudanças mais profundas e logo depois se fiiaria ao Partido Comunista, no qual teve durante muito tempo papel de destaque como secretário-geral.
[...] No Brasil, como em toda a América Latina, os mastificadores servem-se da palavra “revolução” para enganar, grosseiramente, as grandes massas trabalhadoras. E a tática mais natural dos agentes dos imperialistas. Com idêntico objetivo, muztos elementos da Coluna Prestes foram utilizados para enfraquecer o movimento proletário, com a promessa de um movimento de preparação, e para
42
ameaçar e fazer pressão sobre os conservadores, obrigandoos a ceder às exigências do imperialismo.
É já evidente que o papel de todos os “revolucionários” que pegaram em armas com a Aliança Liberal, for de simples agentes militares do imperialismo. Vencedores agora, sustentarão o mesmo regime de opressão. Com promessas de honestidade administrativa e voto secreto, procurarão enganar os trabalhadores de todo o Brasil, a fim de que melhor possam ser explorados pelos fazendeiros, pelos senhores de engenho, pelos grandes industriais. Nesse sentido, as opiniões de Távora são bastante conhecidas: é declaradamente contrário à revolução agrária e defenderá os interesses dos imperialistas. Nas suas primeiras declarações, depois da tomada de Recife, afirmou que massacrará os operários conscientes e todos os que não se submetam ao novo credo, para cuja prática começou colocando um usineiro e latifundista ultra-reacionário à frente do governo de Pernambuco. [.../ Lutemos todos pela abolição,
sem indenização da
grande propriedade, entregando a terra aos que a cultivam! Lutemos pela confiscação e nacionalização das empresas estrangeiras, concessões, bancos e serviços pú blicos, e pela anulação das dívidas externas!
Lutemos pelas reivindicações mais imediatas dos trabalhadores das cidades e dos campos, socializando os meios de produção! Organizemos o único governo capaz de satisfazer as necessidades dos trabalhadores, de dar a terra aos que a trabalham, de lutar intransigentemente contra os imperialistas — o governo dos conselhos de operários, campone| ses, soldados e marinheiros! Buenos Aires, 6 de novembro de 1930.
(Arquivo Getúlio Vargas, código GV 30 11 06/2. Apud Manuel Guimarães et ali, À Revolução de 1930:
textos e documentos, v. 2, p. 347.)
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Mudar as pessoas significa mudar a política? Sai Washington Luís, entra Getúlio. E dai? (Charge de Storni, em O Careta.)
44
CAPÍTULO
5
Depois da vitória, as divergências: Vargas e o lenentismo deposição de Washington Luís pelas forças heterogêneas da Aliança Liberal — passada a “euforia revolucionária”” e constituído o governo provisório — vai aos poucos acirrando as divergências e desconfianças entre os grupos que passaram a dividir o poder, levando à fragmentação de uns e ao fortalecimento de outros e frustrando muitas esperanças. gem
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Getúlio Vargas, em novembro de 1930, ladeado por membros do mi-
nistério do governo provisório. Da esquerda para a direita: Isaías de Noronha, José Américo, Afrânio de Melo Franco, Getúlio Vargas, Assis Brasil, Francisco Campos, Lindolfo Collor e José Fernandes
Leite de Castro. (Fonte: CPDOC, Arquivo Oswaldo Aranha.)
45
O manifesto de lançamento da Legião Revolucionária paulista, em 12/11/1930, ocorrido em meio à euforia
da vitória, buscava o apoio da população tendo em vista a necessidade de vencer possíveis obstáculos colocados pelos opositores em São Paulo. Miguel Costa e João Alberto
eram figuras importantes do Tenentismo.
AGÊNCIA BRASILEIRA S.A. 12/11/30 Endereço Telegráfico: AGENBRÁS Rio de Janeiro Caixa Postal: 1906
Telefone Central: 4869
S. Paulo, 12 — (A.B.). — Hogye à tarde, um aeroplano voando sobre a cidade, deixou cair o seguinte manafesto, dirigido ao povo pelos chefes revolucionários Mi-
guel Costa, João Alberto e Mendonça Lima: “Ao Povo!
“A Revolução, vitoriosa nas armas, deve levar avante a sua obra de regeneração nacional. A Revolução não po-
de consistir numa derrubada de ocupantes de posições para dar lugar a um assalto a essas mesmas posições. O Povo fez a revolução em nome da justiça para ter assegurado o seu direito à liberdade, para chamar às contas os dilapidadores da fortuna pública, para o ajuste severo com os açambarcadores de privilégios, para punir todos quantos, abusando do poder usurpado, espezinharam as garantias individuais e coletivas. O povo fez a revolução para afastar definitivamente do poder todos os políticos
profissionais, sem distinção de rótulo. Da vitória das armas não se conclua que a ação revolucionária tenha chegado ao seu termo e os combatentes
46
possam dar por findo o seu trabalho que a Nação, malagrosamente, esteja reintegrada no uso e gozo das suas prerrogativas inalienáveis. Urge consolidar a vitória.” (Arquivo Virgílio de Melo Franco,
código VMF 30 11 12. Apud Manuel Guimarães et alii, op. cit. v. 2, p. 121.)
uarez Távora teve papel relevante na deflagração do movimento de 1930, sobretudo no Nordeste. Aos poucos,
tomapórém, val se tornando descontente com as medidas
das pelo governo Vargas, assim como muitos ““tenentes””. O seguinte documento, de autoria provável de Juarez Távora (datilografado), foi produzido em 1931:
Os elementos revolucionários que constituem o Clube 3 de Outubro — libertos de quaisquer faccistsmos político-partidários — impugnam a idéia da volta imediata do País ao regime constitucional. Sendo, entretanto, partidários sinceros da constitucionalização, apenas divergem dos chamados constitucionalistas, quanto à conveniência de sua decretação a todo transe, como meio eficaz de salvação pública. Vale a pena aduzir nesse sentido algumas considerações de ordem geral. A Revolução de outubro venceu porque se apoderara do povo brasileiro a convicção de que os erros e obliterações do regime que o oprimia, lhe criaram problemas gravíssimos para os quais não existiam soluções possíveis dentro da lei. Por isso, derrubado o governo legal de então a Nação inteira clamou pela instituição da ditadura como único meio capaz de arrancar o Fais do caos a que o haviam arrastado alguns decénios de governo constitucional. A consolidação da ordem revolucionária, o equalibrio de nossa vida financeira, o incremento de nossa economia, o saneamento e reorganização do nosso mecanis47
mo administrativo foram e são problemas gravíssimos que deviam e ainda devem superpbor-se à ânsia de constitucio-
nalização do Pais.
Reconhecemos que o governo ditatorial, apesar dos seus esforços e sincero desejo de acertar, não logrou ainda resolver satisfatoriamente nenhum desses problemas. Pudemos mesmo dizer que só agora, após o transcurso de um ano de ditadura, começam a delinear-se, com alguma firmeza, as soluções adequadas às nossas precaríssimas realidades. (Arquivo Pedro Batista, código PEB/Clube 3 de Outubro. Apud
Manuel Guimarães et alii, op. cit.,
v. 2, p. 91.)
ELLA — Mentiroso! Falso! Você me enganou outra vez. ELLE — Ora bolas! Há tantos annos que me conheces e ainda conservas ilusões a meu respeito?
O desrespeito à Constituição era frequente. As eleições eram manipuladas pelo governo e seu resultado não apresentava surpresas. (Charge de Storni, em O Careta, 29/3/1930.) 48
O Clube 3 de Outubro funcionava como uma espécie
de partido político do movimento tenentista depois da deposição de Washington Luís. Neste trecho do seu programa revolucionário, publicado em 1932, revelam-se suas idéias com relação à economia.
A economia nacional, como elemento precipuo de engrandecimento da Nação, deverá ser organizada racional” mente, de molde a permitir um verdadeiro enriquecimento do país, uma segura melhoria da situação econômica do homem brasileiro. Para tal, ela desenvolver-se-á consoante planos racionais de produção, circulação e consumo da riqueza, de
forma a permitir uma distribuição mais justa e equaitatava das resultantes econômicas do trabalho. Tais planos serão elaborados periodicamente por conselhos econômicos, reconhecidamente capazes e idôneos para o cumprimento de sua missão. Ter-se-á sempre em vista, na organização desses planos, a série de malefícios acarretados ao país pelas valorizações artificiais de produtos e bem assim o exagerado protecionismo alfandegário, erros que têm favorecido as supremacias regionais, em detrimento da unidade nacional; e evitar-se-á também a formação de classes privilegiadas e parasitárias em prejuízo do bem-estar e do conforto de milhões de brasileiros. Regular-se-á, ao mesmo tempo, por meio desses planos, o exercício do direito de propriedade, de sorte que es-
se instituto não minta à sua finalidade social e não seja apenas um instrumento estéril do egoísmo. [...] (Biblioteca CPDOC, (81) C30.
código 329
Apud Manuel Guima-
rães, Op. cit., v. 2, p. 98-9.)
O depoimento de Agildo Barata demonstra as discor-
dâncias e desconfianças do Tenentismo com relação aos projetos de Vargas, que não atendiam às esperanças de mu49
danças mais sociais. São lembrados os compromissos e as
origens políticas de Vargas.
For nessa conjuntura que Getúlio Vargas teve de ceder a uma intenção que pensava pôr em prática: o caudilho* castilhasta, velho latifundiário e reacionário, queria, por todos os meios e modos, impedir que o movimento de outubro atingisse uma profundidade maior (coma qual, aliás, muitos tenentes sonhavam). Não só os tenentes, mas todos ansiavam por modificações básicas e radicais, embora não se soubesse bem quais deveriam ser precisamente tais modificações. O conservador Getúlio, porém, matreiramente, quis impor uma solução típica de sua jormação e temperamento reacionários: o homenzinho queria ser empossado como um candidato legal, normal, que fora “esbulhado nas urnas”, pretendendo reduzir, assim, as proporções do movimento de outubro de 30 a uma única e limitada finalidade: corrigir os erros de eventuais fraudes eleitorais que, no recente pleito, tinham atribuido a vitória eleitoral ao Sr. Júlio Prestes, candidato do Catete, e não ao Sr. Getúlio Vargas, candidato oposicionista da Aliança Liberal. Enfim, Getúlio queria que se reduzisse todo o esforço e a luta de 30 a um único e limitado objetivo: corrigir uma fraude eleitoral. [...] [...] Nós, os tenentes que havíamos participado e dirigido o movimento revolucionário no Norte do País, não estávamos (na maioria) contentes com os rumos que os acontecimentos tam tomando. A ausência absoluta de medidas transformadoras radicais, a complacência com os decaidos (aliás Getúlio era um deles), uma invasão geral de gaúchos na administração revolucionária desgostavamnos profundamente. Não porque tivéssemos qualquer prevenção contra os gaúchos, pois sinceramente os. admirávamos pelo papel decisivo que tomaram nos acontecimentos,
mas porque a invasão não obedecia a critéria algum que não fosse o do ditador conhecer pessoalmente seus conterrâneos nomeados. Não se procedia a uma seleção de valo-
res mas obedecia-se, ou melhor, Getúlio obedecia, exclu-
sivamente, às suas relações “tribais””. E relembre-se que as ligações de Getúlio eram quase todas elas de elementos republicanos da famigerada fornada de Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros — conservadores todos, quando não reacionários e liberticidas militantes. [...] (Agildo Barata Ribeiro, 4 Vida de
um revolucionário, p. 150, 154.)
mm
CHEGA
A vicrima -- Pelo amor de Deus, não faça mais nada em meu favor. Basta de experiencias!
A crise fazia com que se temessem as desacertadas políticas eco-
“nômicas do governo, que mais prejudicavam a população do que
resolviam os problemas. (Charge de Storni, em O Careta, 1/2/1930.)
51
VOCABULÁRIO
ANARQUISMO
— Teoria política que defende uma sociedade
onde todos os homens sejam livres e iguais, sem injustiça
social, e na qual inexista qualquer forma de hierarquia e
centralização de poder.
ds.
AUTORITARISMO — Sistema autoritário de governo, no qual se exerce exagerado controle sobre as pessoas, impedindoas de serem livres, e se utiliza da força para coagi-las. CAPITALISMO — Sistema de relações sociais baseado na propriedade privada dos meios de produção, em decorrência do qual uma classe social (a burguesia) controla a riqueza produzida e dela usufrui. CAUDILHO — Chefe político carismático, comum na América Latina, que explora as relações pessoais e clientelistas.
CLIENTELISMO — Tipo de prática política, comum no Brasil, pela qual o grupo dominante controla outros grupos, concedendo-lhes benefícios, vantagens, em troca de obediência e subordinação aos seus interesses.
COMUNISMO — Doutrina social e política que defende uma so-
ciedade onde não haja exploração do homem pelo homem, nem desigualdades sociais e econômicas. ESTADO— Conjunto de pessoas que habitam um território definido, com governo soberano e tradições históricas e culturais construídas coletivamente.
FASCISMO — Sistema político baseado em um governo autoritário e corporativista, onde prevalece o totalitarismo e a violência política. IDEOLOGIA — Concepção de mundo própria de um grupo social, constituída de idéias, hábitos, valores, crenças que se manifestam em seu comportamento dentro da sociedade. 33
INTEGRALISMO — Movimento político surgido no Brasil na década de 30, influenciado pelo fascismo europeu; de natureza autoritária, defendia um estado forte, centralizador,
e fazia a exaltação do nacionalismo.
LEI CELERADA — Lei sancionada em 1927, por Washington Luís, que limitava a liberdade de imprensa e de opinião e permitia a repressão a atividades políticas e sindicais operárias,
LIBERALISMO
— Conjunto de idéias e doutrinas que defende
a igualdade e liberdade dos cidadãos perante a lei e incentiva a livre concorrência e o sistema capitalista de produção.
OLIGARQUIA — Governo em que uma minoria se impõe sobre a maioria; chama-se assim também a um grupo social
privilegiado que usufrui de vantagens políticas e econômicas por meio do autoritarismo.
POLÍTICA DO CAFÉ COM LEITE — Acordo político feito na Primeira República (1889-1930) entre São Paulo (represen-
tando o café) e Minas Gerais (representando o leite), pelo qual se garantia o controle da sucessão presidencial e se estipulava o revezamento no poder central de representantes
dos dois estados.
REVOLUÇÃO — Mudança radical e profunda nas relações sociais e políticas de uma sociedade e que resulta em novos
costumes, novas maneiras de conviver e de produzir a r1-
queza social.
54
ao d e dali
CRONOLOGIA
1922
Eleição de Artur Bernardes para presidente da República e derrota de Nilo Peçanha (1º de março).
Revolta do Forte de Copacabana, em 7 de julho, dan-
do início ao movimento
tenentista.
Funda-se o Partido Comunista
1923
do Brasil.
Revolta tenentista no Rio Grande do Sul, com tro-
pas dirigindo-se para Santa Catarina e São Paulo.
1924
Revolta tenentista em São Paulo, sob chefia de Isidoro Lopes. Revolta no Rio Grande do Sul, em 21 de outubro, na qual começa a se destacar Luís Carlos Prestes.
1925
Formação da Coluna Prestes, que iria percorrer cerca de 24.000 km do território brasileiro.
1926
Fundação do Partido Democrático em São Paulo, em
oposição ao Partido Republicano Paulista.
Revolta no Rio Grande do Sul, em novembro, numa tentativa de rearticulação das forças oposicionistas.
Posse do paulista Washington Luís como presidente da República, eleito para suceder Artur Bernardes, em
1927
15 de novembro.
Participação do Partido Comunista nas eleições para
o parlamento nacional, em fevereiro, através do Blo-
co Operário Camponês.
Entrada em vigor, em agosto, da Lei Celerada, voltadaà censura da imprensa e à restrição das liberda-
des políticas. 1928
Ocorrência de contatos entre enviados das forças an-
tigovernistas e Luís Carlos Prestes, que se encontrava no exílio.
35
1929
Grande crise no capitalismo internacional, com am-
plas repercussões na economia brasileira.
Início, em janeiro, de negociações para escolha do su-
cessor de Washington Luís. Articulação de aliança secreta entre o Rio Grande do Sul e Minas
Gerais, em junho,
com a qual se criou
a base para a formação da Aliança Liberal. Novos contatos entre tenentes e aliancistas. Lançamento de Getúlio Vargas a candidato à presidência da República pela Aliança Liberal, em oposição a Júlio
Prestes, candidato do governo.
1930
Vitória de Júlio Prestes nas eleições presidenciais, em março. Assassinato em Recife, em 26 de julho, de João Pessoa, candidato a vice-presidente na chapa da Aliança Liberal,
acirrando-se as rivalidades.
Deflagração do movimento contra o governo, em 3 de outubro. Deposição, em 24/10, de Washington Luís, por uma junta militar.
Getúlio Vargas assume a chefia do governo provisório, em
1931
11 de novembro.
Início das dissidências no grupo vencedor do movi-
mento de 1930. Fundação do Clube 3 de Outubro, ém fevereiro, vol-
tado à defesa dos interesses dos “'tenentes”
Lançamento de manifesto do Clube 3 de Outubro, em dezembro, denunciando manobras constituciona-
listas de Getúlio Vargas. 1932
Eclosão em São Paulo, em 3/07, da Revolução Cons-
titucionalista, com tropas comandadas por Isidoro
Lopes. 1933 1934
Realização
Constituinte.
de
eleições
para
Assembléia
Nacional
Instalação da Assembléia Nacional Constituinte, em
15/11. Promulgação da Constituição de 1934, em 16
de julho, mantendo-se pelo voto indireto Getúlio Var-
gas como presidente.
PARA
SABER MAIS
e Além dos livros citados na Bibliografia e que ortentaram a elaboração do texto introdutório e a pesquisa documental, dois trabalhos merecem destaque e podem ser utilizados pelos alunos para obtenção de dados complementares. São eles História da Sociedade Brasileira, da Editora Ao Livro Técnico, de Francisco Alencar, Lúcia Ramalho e Marcus Ribeiro, e Brasil História (Texto e Consulta),
volumes 3 e 4, da Editora Brasiliense e autoria
de Antonio Mendes Jr., Luiz Roncari e Ricardo Maranhão. Vários títulos da coleção Tudo é História, da Editora Brasitiense, po-
is
ce
dem ser utilizados, como também da coleção Princípios, da Editora
Ática, e da coleção o Nosso Século, da Editora Abril. Nos livros dessas coleções há títulos que tratam especialmente do Tenentismo e do movimento de 1930. e Para ter um panorama da produção cinematográfica brasileira sobre o tema, é fundamental consultar o livro Cinema e história do Brasil, de Jean Claude Bernardet e Alcides Ramos, publicado pela Editora da Universidade de São Paulo. Os filmes sugeridos são: Os libertários (Lauro Escorel), À Revolução de 1930 (Sílvio Back), O país dos tenentes (João Batista), Paraiba, mulher macho (Tizuka Yamasaki). e Na área da literatura, uma consulta ao livro de Alfredo Bosi História concisa da literatura brasileira, da Editora Cultrix, fornecerá elementos sobre a produção literária da época e sua articulação com o contexto histórico. Livros de autores como José Lins do Rego (O moleque Ricardo), Oswald de Andrade (Memórias sentimentais de João Miramar), Graciliano Ramos (Vidas secas), Lima Barreto (O triste fim de Policarpo Quaresma), entre outros, dão um quadro geral dos problemas brasilerros do periodo sobre o qual tratamos. 57
BIBLIOGRAFIA
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O Partido Democrático e a Revolução de 1930. 2. ed. Rio
de Janeiro, J. Olympio, 1965. v. 2.
59
UMA TRAMA REVOLUCIONÁRIA? Do Tenentismo a Revolução de 30 Antonio
Paulo Rezende
Coordenação: Maria Helena Simões Paes Marly Rodrigues
& Antonio Paulo Rezende,
1990,
Copyright desta edição: ATUAL
EDITORA
Rua José 04011 Tel.: Todos os
LTDA.,
1990.
Antônio Coelho, 785 - São Paulo - SP (011) 575-1544 direitos reservados.
Dados de Catalogação na Publicação (CIP) Internacional (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Rezende, Antonio Paulo.
Uma trama revolucionária?: do Tenentismoà Re-
volução de 30 | Antonio Paulo Rezende ; coordena-
ção Maria Helena Simões Paes, Marly Rodrigues. — São Paulo : Atual, 1990. — (História em documentos)
Suplementado por Uma proposta de trabalho pa-
ra o professor.
Bibliografia. ISBN 85-7056-289-6 1. Brasil - História - República, 1889 - 2. Brasil
- História (2º grau). Titulo. II, Título: Do Tenentismo à Revolução de 30. III. Série.
CDD-981.007
90-0193
-981.05
Série História em Documentos Editora: Sonia Junqueira Assistentes editoriais: Henrique FélixiThais H. Falcão Botelho Preparação de texto: Célia Tavares
Revisão: Noé G. Ribeiro/Maria Luiza Simões/Paulo Sã
Diagramação: Tania Ferreira de Abreu Arte: Iguatemi do Amaral Camargo Produção gráfica: Antonio Cabello Q. Filho e Silvia Regina E. Almeida Consultoria para o desenvolvimento do projeto: Edgard Luiz de Barros Projeto gráfico: Ethel Santaella Capa: Avelino Guedes (baseado na foto dos 18 de Copacabana, que em 5 de julho
de 1922 enfrentaram as forças do governo) Fotos: Ricardo Yorio Mapa: Sônia Regina Vaz
Roteiro de leitura: Antonio Paulo Rezende Composição: AM Produções Gráficas Fotolito: Binhos
Agradecimentos à Biblioteca Municipal Mario de Andrade pelos originais cedidos. LMLNEL
NOS
PEDIDOS
TELEGRÁFICOS
BASTA
CITAR
O
CÓDIGO:
Nota do Editor: A qualidade da reprodução fotográfica de alguns documentos ficou comprometida pela antiguidade das fontes.
AZSH
9057G
SUMÁRIO
Parte
I
A trama (“Façamos a revolução ””) e o drama
(“antes que o povo a faça”)
Parte
II
Documentação 1. Os
sinais da crise
2. Memórias
da Coluna
3. Conspirações das elites 4. A construção de outras propostas: os anarquistas,
o PCB e Luís Carlos Prestes 5. Depois da vitória, as divergências: Vargas e o Tenentismo
Apêndice Vocabulário
Cronologia Para
saber mais
Bibliografia
17 19 26 30 38 45
53 55 57 58
ta SS
Po
Antonio Paulo Rezende é
mestre em História pela Unicamp e, atualmente, douto-
rando em História Social na USP, Professor de História
na Universidade Federal de Pernambuco desde 1982, ensinou em escolas de 1º e
2º graus em
Recife e São
Paulo. Entre 1986 assessor na área ria da Secretaria ção e Cultura da
e 1988 foi de Históde EducaPrefeitura
de Recife. Autor de inúme-
ros trabalhos
e pesquisas
sobre a história de Pernam-
buco e o movimento operário, entre suas obras destacam-se
mento
História
operário
do
no
movi-
Brasil
(Ática, 1986) e Todos contam sua história (Inojosa, 1988).
Títulos da Série
NAVEGAR É PRECISO
Grandes
descobrimentos
Janaína Garcia
Amado/Ledonias
marítimos europeus
DE
OS SONHADORES
VILA
Franco
RICA
A Inconfidência Mineira de 1789
Edgard Luiz de Barros
REINVENTANDO
A LIBERDADE
A abolição da escravatura no
Brasil Antonio Torres Montenegro
IMPÉRIO DO CAFÉ
A grande lavoura no Brasil — 1850 a 1890
Ana Luiza
Martins
UMA TRAMA REVOLUCIONÁRIA?
Do Tenentismo à Revolução
de 30 Antonio
Paulo
Rezende
NOS TEMPOS DE GETÚLIO
Da Revolução de 30 ao fim do Estado
Novo
Sonia de Deus Rodrigues Bercito
O BRASIL DA ABERTURA De 1974 à Constituinte Marly Rodrigues
Na coleção História em Documentos, o aspecto mais significativo — comum a todos os volumes — é a ampla utilização de documentos na organização e desenvolvimento dos assuntos de cada livro. “Documento” no sentido mais abrangente: desde os textos oficiais até os registros, em diferentes linguagens, de experiências
humanas
no período enfocado: depoimentos,
letras de música, textos literários, descrições de viajantes, artigos de jornal, pinturas, charges,
fotos.
Dessa forma, os leitores terão oportunidade de um contato mais direto e vibrante com o fazer histórico de cada época. Além disso, percebendo como o autor organiza e interpreta os documentos — e, mais ainda, realizando ele próprio os exercícios propostos —, o estudante terá condições de conhecer um pouco mais a linguagem e os princípios do trabalho do historiador.
EÓTORA