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Bronislaw Malinowski
diário no vztido estrito . - - do termo rrm
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Um diário no sentido estrito do termQ "Durante todo aquele dia senti saudades da civilização. Pensei nos amigos de Mclbou rne. À noite, no bote, pensamento agradavelmente ambicioso: eu certamente serei 'um eminente estudioso polonês'. Essa será minha última aventura etnológica. Depois disso, dedicar-me-ei à sociologia construtiva: me~dologia, economia política etc., e na Polônia posso concretizar minl1as ambições melhor do que em qualquer outro lugar. Forte contraste entre meus sonhos com uma vida civilizada e minha vida com os selvagens."
21 de dezembro de 1917, Ilhas Trobriand
Bronislaw Malinowski foi um dos mais célebi:~s e influentes ant ropólogos do início do sécu lo.~~.··~fascido na Polônia em 1884, graduo~-llc'na Universidade de Cracóvia, indo logo depois para LÓndres, onde realizou pesquisas no British tv!ust-""' e, depois, na London School of Economics. Em 1910, passou a fazer parre do corpo docente da Universidad Londres. Seu trabaiho marcoL1 o avanço da ancropolo1 cuhur:1l além do estágio simplesmente descritivo, e continua sendo uma das principais referências acadêrr nesta ár~a.
Ao ser publicado pela prim~ira vez, cm 1967, este diário pessoul do renomado antropólogo Bronislnw Malinowski, que relata duas c1ap11s de seu trabalho de campo, na Nova Guiné (setembro de 1914 a agosto de 19 15) e nas ilhas Trobriand (outu bro de 19 17 a julho de 191 8), causou sensação no meio acadêmico. Publicado postumamente por iniciativa de sua mulher, o Diário foi muito mal recebido, pois se pensou que expunha facetas pouco ortodoxas da personalidade de seu autor e que, acima de tudo. um relato desse i.ipo não se destinava à publicação. O Diário nos mostra um Malinowski
que não se preocupa cm esconder
sua antipatia pelos nativos. às vezes beirando a agressividade. nem tampouco suas angústias. egocentrismo ou hipocondria. Apenas isso já seria suficiente para abalar a reputação p6s1uma de um dos maiores nomes da antropologia social. Mas Malinowski, além disso, usa em seus escritos a palavra
inglesa nigf;er (crioulo) para se r.:ferir aos nativos e, apesar da conotação negativa do termo ser
mui to posterior à época em que { o Diário foi escrito, sua uti lização por um respeitado membro da classe acadêmica deixou muita gente de cabelo em pé. Esta segunda ed ição do Diário, no entanto, é vista sob uma ótica diferente. A indignação suscitads nomes dos meses está sendo esclarecido. l'ui dormir sem leitura.
30: 1O. Levanrei-me muico tarde, à.ç 9, e liú direto romar o café da manhã. Depois do desjejum li alguns n{uncros de P1111dJ. A segL1ir, fui para a aldeia. Com Kavaka as coisas foram muito mal, por algum motivo ele estava m.endo corpo mole, de má vontade, e cu também não escava em boa forma. Durnnte o almoço conversei com S. sobre qLtcscõcs ernológiC\\S. Depois dei uma rápida olhada nos jornais. Fiz uma caminhada. Conversei um pouco mais sobre cmologia e polfrica com S. Ele é liberal imediacamenrc descobri um lado dele que me agrada. D0is escrevi rl.'leu diário e tentei sincerizar meus resultados, revisando Notes atl(i QllCries. • Prepi1racivos para a excursão. Ja11 rnr, durante o qual tentei conduzir a conversa para assunros ernológicos. Depois do janrar, uma conversa rápida com Vclavi. Li mais um trecho de N&Q e carreguei a câmera. Depois segui para a aldeia; a noite enhrnrnda escava clara. Não me sentia muito fucigado, e gostei da caminhada. Na aldeia dei a Kavaka um pouco de tabaco. Depois, como não havia dança nem assembléia, fui até Oroobo pela praia. Maravilhoso. Foi a primeira vez que eu vi essa vegetação :10 luar. Estranha e exótica demais. O exotismo transparece Jigeiramc1\re através do véu d as coisas familiares. Um clima tirado do cotidiano. Um exotismo force o suficiente para estragar a percepção normal, mas fraco demais para criar uma nova categoria de clima. Entrei no arvotcdll. Por um momenco fiquei assustado. Tive de me recompor. Tentei examinar meu próprio coroção. -Qual é minha vida
UM DIARIO NO SE:-JTll)Q ESTRff()
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TERMO
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1111'crior?-Não havia motivo pam eu esrar satisfeito comigo mesmo. t ) trabalho que cstotl fu~endo é uma espécie de narcótico em vez de 111t1n expressão criativa. Não estou remando vinculá-lo a fomes mais 11rofundas. Organizá-lo. Ler romances é simplesmente desastroso. Fui 11.1ra a cama e pensei em outras coisas de modo impuro. 1L.1O. De manhã S. me acordou. Levantei-me e me vesti bem a rempo p.tra o desjejum. Depois o desjejum, fazer as malas, e a parcida. O mar ~tamenro meneai. No domingo, 15 .11, levantei-me relarivrunente •••do e tracei de me ocupar. Queria burilar um pouco minhas anota\ôu sua casa an tiga e me contou
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uma história sobre uma cobra - quantas vezes ele havia acompanhado alguém até ali e lhe contado a mesma hist61'ia? Na praia, discussão sobt'e missionários - ligeiro acriro; perdi qualquer afeição pnr ele. \7em-disposcas e parecem hospitaleiras, de forma que tenho a scnsaçlo de escnr coere amigos. Não me sinto muito rejeitado. Até pessoas wnhecidas "no caminho" - os Rich, Cacr, Meredith - são humanas, são "conhecidas". Em Samarai, os Shaw, os Higginson, os R:imsay, Staolcy me crnrnram com grande cortesia... lgua foi ao navio. Esta n1anhã, com avo~ embargada, contou-me que seu "tio" Tanmaku hnvia 1icabado de falecer- desfez-se em lágrimas. 1loje fiquei sentado denrro ele casa o dia inteiro, colocando meu diário em dia, fazendo um curativo no meu dedo, preparando-me para urar foros - foi domingo, dia 20. À tarde, comei um banho baseante revigorante no mar, nadei e me deitei sob o sol. Senti-me forre, ~.1udávcl e livre. O bom tempo e !l frescura comparativa de Mai lu t.tmbém ajudaram ti me animar. Po r vol ta das), caminhei até !Laldeia e encontrei Vclavi. Encomendei uma ped ra de moer sagu e Ltma réplica de barco, por 10 bastões de tabaco. - Voltei paw casa meudedodofamuito. Sentei-me para ler Gaucier; Vela vi, Booc Ucaca se comporraram como minha "corce". J\ noite foi muito ruim; despertei com dor de cabeça... meu dedo doeu muico a noite ioceira; ,tparenrcmence eu tomei a infectá-lo no banho. Oncem, segunda, dia 21, o dia inteiro cm casa. .Manhã e tarde, Puallfl; conversamos sobre pesca. - Ocasionalmcnte, à tarde - acesso vio· lento de melancolia; minha solidão me acabrunha. Diverti-me com os contos de Gauticr, mas senti como eram vazios. Como um pcsntlclo invisível, mamãe, a guerra na Europa, pesam sobre mim. Penso cm mamãe. Ocasionalmente desejo estar com Toska, costumo con·
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BRONIST,AW MALINOWSKI
templar sua foto. Às ve·zes não consigo acreditar que aquela mulher mal'avilhosa ... o trabalho vai muitO mal. 22.12. Terça. Puana veio de manhã e se ofereceu para me levar a
Kurere. • 1brnc.i a me sentar na jangad~t e deslizei pelo espaço, em meio ao maravilhoso cenário das ilhas e montanhas circundantes. Chegamos por volta das 4 e nos ins ralaram na casa do missionário. Meu pé esrá doendo, nem consigo ficar de sapatos. Volca e meia, encontrava na aldeia alguém que já conhecia, e conversávamos. Saímos da aklcia- a uma cerra distância para a esquerda, uma procissão dançante escava se deslocando peh~ praia. Só se podiam escorar a batida altamente elaborada dos tambores e a canção. Vi a procissão mais de perco. Na frente iam dois homens com pequenas mangueiras; delas pendiam guirlandas de uma espécie de folha, com as outras extremidades seguras por dois homens que vinham atrás. Eles eram seguidos por dois "chefes" besunrados de fuligem e pintados. A seguir vinha wna multidão de pessoas cantando e dançando, algumas com tambores, outras não. A canção era bastante melodiosa. A dança consistia em pular num pé só, depois no outro, elevando bem os joelhos. llm certos momentos eles dançavam curvado~, de coscas para as mangueiras, cercando-as corno se as venerassem. - Próximo à entrada da aldeia vieram ao en contro deles mulheres usando ornamentos, com dh1demas de penas brancas de cacatua nas cabeças; dançaram da mesma forma qlte quando trazem os porcos, ou seja, pulavam de um pé para o outro, embora não pareçam erguer os joelhos tão alto quanto os homens. Todos agiam com grande seriedade; obviamenre, tratava-se de uma cerimônia, mas nada havia de esotérico nela. Além do mais, a maior parte da "compai1hia" era composta de acorcs. Depois da "entrada" das mulheres, abriram-se grandes ebas; todos se sentaram - os protagonistas na primeira fita - e continuaram cantando enquanco comiam nozes de areca. A canção era oucra vez melodiosa; tenho a impre~são de que se usa a mesma *LocaJ cu;dç lri ~ :1çontecct uma fes tividade ~J·I~. EMA fuua cr:t ;cmprc cclebrndt1. por voha do ft1n do ano e inllUJ;Orava uOl J>C'ríock> tle jcjun1 crn prcparns-iio p;ira a fesia principal Jo iUlô 1ü.dvo~ :tpr•
xi1uadamcn'c ck>i$ mesc$ dcpoi$,
UM 01,\ruo NO SêNTIDO ESTIUTO DO TEl\MO
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111dodia para todos os encantamen tos. Depis de se comerem as uo~es de areca, as mangueiras foram cortadas; depois, envolvidas r lll eba, servem como tr1ti.r111ã para os porcos. A seguir, voltei para a 1 .l~I\ da missão e tive algumas reuniões com os selvagens. Anoite, 1 xnusro dol'mi mal - , dor de dente. Houve dança na aldeia ... Nn manhã de quinta fomos a.Mogubo Point. Como não havia quase ~t'lito, decidimos ficar ali. Camp(b]dJ Cowlcy, m11ito bem-vestido, li.c~tante vigoroso. Causou-me uma boa impressão. Almoço. A seguir, eriódico boboca - o 1itt:es d.-i Pap11a. À noite, sonhei com uma mulher de corpo branco. De modo geral, sinto-me bem aqui: à sombra W 1desrnbrir o melhor esquema de medição). Colhemos limões e d~ formigas me ferraram. (Os mosquitos foram monstcuosos dui.tnte toda a estada em Rigo. Especialmente ma.is para a noitinha, •>U quando apenas alguns conseguiam passar para dentro do mosqtLicefro.) Enquanto eu caminhava rapidamente para a aldeia, ... a distância recoQheci as melodias do bara ou, mais precisamente, 111 - umacaixa faltando. Depois ao B.N.G., comprei sapatos, suco. Ted A. me "tratou mal", o qt1e me aborreceu. Consegui me controlar; voltei para casa, escrevi para Brammcll. Almoço; mostrei meus panOetos ao Ted e ao Capi· tão; tirei um cochilo; escrevi cartas para Leila e para a lSecretaria da Fazenda}; fui ao Spiller; o Capítãrindpaii dt. Oma.tilkt1.na. Embora tivesse aid() b1nido p;nit outra a.ld p;ai. **K:ill)lll~)'W01 mencionado cm C'Jf1il Gardurs "'-ski havia ~r.tuadido To'1)luwa.-;i le ..·ó.-Jo nun., cicpc.Jiçio de kulfl at~ ;i ilhil de ki1ava. O ven10 1nud-ou 110 mtio da vfa.gem e as c:ii~oas ti.,.cu111 ilt .i:egre$sar. }.{-;ilino-mki sentiu q\H: T'u h1~ õ1.c.:haiv.1 q ue.soa pf(SCn~a f1a...ja 1rn11-ido .1i-:1r. .+.•~•Filho e fill1tt de Tu'ull)w;i.
UM DJ,\RJO NO SENTIDO EsTRJTO DO TBRMO
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Domi1)go, 16. Dormi até carde. 1àpa1·ofo [Japtvaropo?] (muim curco) perco da minha tenda, Tomwaya Lakwabulo• e alguns oncros nativos. Excelentes informações sobre po11/o. Ames do almoço 1·emei um pouco. Depois do almoço, às 2, censo da aldeia. Por volra das 5, cxauscão (oervosa)- mal podia me movei·. Fui para Kiribwa (tomaké J