Sentido da formação: três estudos sobre Antonio Candido, Gilda de Mello e Souza e Lúcio Costa

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Otilia Beatriz Fiori Arantes Paulo Eduardo Arantes

S en tid o da F orm ação T r ê s e s tu d o s s o b re A n to n io C a n d id o G ild a d e M e l l o e S o u z a E Lúcio C osta.

PAZ E TERRA

© O tilia Beatriz Fiori Arantes Produção Gráfica: Katia Halbe Diagram ação: Adra Cristina Martins Garcia Capa: Chico Nunes

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (C IP ) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Arantes, Otilia Beatriz Fiori Sentido da formação: três estudos sobre Antonio Candido, Gilda de M ello e Souza e Lúcio Costa Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. ISB N 85 -2 1 9 -0 2 7 4 -3

1. Cándido, Antonio, 1918 — 2. Souza, Gilda de M ello e, 1919 — 3. Costa, Lúcio, 1902— . I. Arantes, Paulo Eduardo II. Título

9 7 -1 1 1 4

C D D -8 6 9 .9 0 9 C D U - 8 6 9 .0 ( 8 1 ) .0 9 003545

E D IT O R A PAZ E T E R R A S.A. Rua do Triunfo, 177 0 1 2 1 2 -0 1 0 — São Paulo-SP Tel.: (0 1 1 ) 2 2 3 -6 5 2 2 Rua Dias Ferreira n.° 4 1 7 — L oja P arte 2 2 4 3 1 -0 5 0 — Rio de Jan eiro-R J T e l.:(0 2 1 ) 2 5 9 -8 9 4 6

1997 Im presso no Brasil / P rinted in B ra zil

P r o v id ê n c ia s de u m C r ít ic o L it e r á r io n a P e r ife r ia d o C apita lism o

Pcmlo Eduardo Arantes

Então, em síntese, o tema é este: quais as providências que toma um escritor na periferia do capitalismo, num lugar adverso, digamos, para se tornar um romancista de mesma importância que os maiores de seu tempo. Roberto Schwarz, entrevista ao Jo rn a l do Brasil,

17/ 6/1989

(Salvo em casos flagrantes de auto-engano deliberado, todo intelectual brasileiro minimamente atento às singularida­ des de um quadro social que lhe rouba o fôlego especulativo sabe o quanto pesa a ausencia de linhas evolutivas mais ou menos continuas a que se costuma dar o nome de formação} Que se trata de verdadeira obsessão nacional dá testemunho a insistente recorrência do termo nos principais títulos da ensaística de explicação do caso brasileiro: Fmmação do Brasil con­ temporâneo; Formação política do Brasil; Formação econômica do Brasil; Formação do patronato político brasileiro etc. — sem con­

tar que a mesma palavra emblemática designa igualmente o assunto real dos clássicos que não a trazem enfatizada no título, como Casa-grande e senzala e Raízes do Brasil. Tamanha proli­ feração de expressões, títulos e subtítulos aparentados2 não se pode deixar de encarar como a^ifra de uma experiência inte­ lectual básica, em linhas gerais mais ou menos a seguinte: na forma de grandes esquemas interpretativos em que se regis­ tram tendências reais na sociedade, tendências às voltas, não

S e n t id o

da

Form ação

obstante, com uma espécie de atrofia congênita que teima em abortá-las, apanhava-se naquele corpus de ensaios sobretudo o propósito coletivo de dotar o meio gelatinoso de uma ossatu­ ra moderna que lhe sustentasse a evolução. Noção a um tem­ po descritiva e normativa, compreende-se além do mais que o horizonte descortinado pela idéia de formação corresse na di­ reção do ideal europeu de civilização relativamente integrada — ponto de fuga de todo espírito brasileiro bem formado. Quando em 1959 Antonio Candido finalmente publicou a Formação da literatura brasileira — cuja concepção original remonta à segunda metade dos anos 40 — , não houve dúvi­ das quanto ao lugar que lhe cabia na estante, exatamente ao lado das obras clássicas de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Jr., como ainda recentemente recordou Roberto Schwarz: à maneira daqueles mestres do ensaio de interpretação do Brasil, que haviam repassado a gênese de nos­ sos irregulares padrões de sociabilidade e vida econômica, An­ tonio Candido, identificando dinamismos específicos da vida cultural brasileira, expunha a constituição de uma tradição lio

terária nacional relativamente estável. Caberia então rever as implicações daquele estudo verdadeiramente fundador à luz do seu traço fisionômico mais saliente e original, uma certa idéia de formação, por assim dizer, transcorrida em família.X Ao reconstituir a £Chistória dos brasileiros no seu desejo de ter uma literatura”, adotando, aliás, com mal disfarçada porém nem sempre bem compreendida ironia, o ponto de vista dos nossos primeiros românticos, ‘Velha concepção cheia de equí­ vocos”, que mesmo assim achara interessante experimentar, An------------

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