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eonel Ribeiro dos Santos
FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENK!Ai'\J JUNTA NACIONAL DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLóSPICA
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METÁFORAS DA .RAZÃO ou economia poétic3: do pensar kantiano
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TEXTOS UNIVERSITÁRIOS DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
DEDALUS - Acervo - FFLCH-FIL 193.2 K16san
Metaforas da razao ou economia poetica do pensar kantiano.
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Leonel Ribeiro dos Santos
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FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN JUNTA NACIONAL DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
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Título - METÁFORAS DA RAZÃO ou economia poética do pensar kantiano Autor - LEONEL RIBEIRO DOS SANTOS Edição -
FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN
JUNTA NACIONAL DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA Tiragem: 1.000 exemplares · Composição, impressão e acabamento - ÜRAFICA MAIADOURO, S.A. Distribuição - Dinalivro - Audil © Fundação Calouste Gulbenkian
e Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica Depósito Legal n. 0 84 494/94 ISBN 972-31-0638-8
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•Philosophiam et poematis pangendi scientiam, habitas saepe pro dissitissimis, amicíssimo iunctas connubio ponerem ob oculos.• A. G. Baumgarten, Meditationes philosophicae çl.e nonnults ad
poema pertinentibus, ed. H. Paetzold, Hamburg, 1983, 4.
«Le philosophe se fai t poete, et souvent grand poete: il nous emprunte la métaphore, et, par de magnifiques images (. ..),. il convoque toute la nature à l'expression de sa profonde pensée.• Paul Valéry, OJuvres, Paris, 1962, I, 797-798.
•So besteht das Genie eigentlich in dem glückli chen Verhaltnisse, (. .. ) zu einem gegebenen Begriffe Ideen aufzufinden und andrerseits zu diesen den Ausdruck zu treffen, du rch den die dadurch bewirkte subjective Gemüthsstimmung, als Begleitung eines Begriffs, anderen mitgetheilt werden kann. 11
Immanucl Kant, KU; Ak V, 317.
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PREFÁCIO O presente volume corresponde quase integralmente ao texto de uma dissertação de doutoramento apresentada à Universidade de Lisboa em 1989 e. nela defendida em 30 de Maio de 1990. Embora tenham decorrido mais de quatro anos sobre a sua apresentação e mais de dez sobre a redacção de alguns dos seus capítulos, não vemos todavia necessidade de proceder a alterações do seu conteúdo material. Pois, se a bibliografia kantiana não cessou entretanto de awnentar e se é notória uma maior sensibilidade dos intérpretes aos temas tratados na nossa investigação, são porém escassos os ensaios que têm tocado directamente esses temas. Deles damos notícia em nota, quando oportuno, ou na bibliografia, que actualizamos. Quanto ao resto, deixando a substância do texto original praticamente inalterada, apenas abreviamos algumas notas e, quando necessário, ampliamos outras. Compreendenios que, destinando-se a obra agora a um público mais vasto que o estreito círculo dos especialistas, boas razões aconselhariam que se aliviasse o texto da carga de formalidades necessárias numa obra com fins académicos e que se condensassem ou abreviassem certos capítulos, ou se supriniissem cenos desenvolvimentos excessivamente analíticos. Fazer isso, porém, significava escrever obra completamente nova quanto à forma. Na verdade, a extensão do volume resulta não só da sua função e destinação académicas de origem, mas também do âmbito do seu objecto - a totalidade da obra kantiana, incluindo o espólio - e do teor da sua fundamentação. Tratando-se nele da metafórica kantiana, da reciproca pertinência entre as metáforas e os conceitos ou as ideias, não nos pareceu legítimo adaptar uma abordagem sob o modo lógico, por ce,10 mais breve e directa, mas impôs-se-nos mostrar sob o modo estético, isto é, com a espessura das próprias imagens, a pertinência da nossa interpretação e o respectivo alcance para uma hermenêutica global da obra /Jantiana. Sendo nosso principal argumento o próprio modo ele expressão de Kant, tornava-se necessário expor as ocorrências significativas e acompanhar a metamoifose das metáforas e imagens condutoras do pensar e do discurso kantianos.
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Conscientes da extensão que tomou este nosso trabalho, muitas vezes nos veio ao espírito uma passagem do Prefácio à 1.ª edição da Crítica da Razão Pura, onde Kant, comentando um dito do Abade Terrasson, segundo o qual "muitos livros seriam muito mais curtos se não fossem tão curtos», observa que «alguns livros seriam muito mais claros se não pretendessem ser tão claros». Em todo o caso, pensamos que o brilho das imagens e o prolixo das análises não perturbam a compreensão da ideia que pretendemos pôr em evidência. E, pelo que toca ao tamanho, aqueles que não quiserem acompanhar os desenvolVimentos analíticos dos capítulos da Segunda Parte, poderão ler apenas 0 primeiro ponto de cada um deles, que está concebido como sinopse do que seguidamente é explicitado. Para além disso, embora fazendo parte de uma economia de conjunto, cada capítulo pode também ser lido como um ensaio autónomo, oferecendo cada qual uma abordagem de toda a filosofia kantiana, ou de alguns dos seus aspectos maiores, segundo o fio condutor de uma dada metáfora. Renovamos aqui o reconhecimento e agradecimento, devidos a todos quantos de algum modo tornaram possível a concretização desta obra. Ao Prof Doutor Oswaldo Market, que nos iniciou na filosofia kantiana e oriento.u com inexcedível paciência e permanente estímulo a demorada execução da investigação que a ela conduziu; ao Prof Doutor Alexandre Morujão, pela leitura atenta e construtiva arguição que dela fez; aos Profs. Doutores Joaquim Cerqueira Gonçalves e Francisco da Gama Caeiro, pelo apoio que sempre nos dispensaram; ao Prof Doutor Gerhard Funke, pelo acolhimento amigo no Philosophisches Seminar da Universidade de Mogúncia e pelo acompanhamento da nossa investigação naquela Universida.de entre Outubro de 1982 e Julho de 1983; ao Prof Doutor Manuel]. Carmo Ferreira, pela presença constante, pelo solícito apoio bibliográfico, pela leitura atenta das primeiras versões de muitos capítulos e pelas pertinentes observações, enfim, pela discussão franca de perspectivas; à Dra. Adriana V Serrão, pela partilha amiga de informações e bibliografia, pela revisão cuidadosa da versão final e pela ajuda na elaboração dos índices. Não teria sido possível levar a cabo esta investigação sem os imprescindíveis materiais bibliográficos que muitos amigos solícitamente nos enviaram desde Mogúncia e Heidelberga: a Doutora Yvone Sarmiento e os Doutores Jorge de Freitas Branco, José Carlos Venâncio, Francisco do Espírito Santo e Lazarus Hangula. A todos, o nosso muito obrigado. Lisboa,
Janeiro de 1994
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ABERTURA ·O pensar convoca a linguagem no simples dizer. A linguagem é assim a linguagem do Ser, como as nuvens são as
nuvens do céu. O pensar deixa com seu dizer invisíveis sulcos na linguagem. Eles são ainda mais invisíveis do que os sulcos que o camponês de andar lento traça através do campo.• 1 ''' Um dos aspectos mais representativos da filosofia contemporânea é sem dúvida o que se refere ao relevo e alcance que nela assume a reflexão sobre a linguagem. Tudo parece como se uma cultura que sempre viveu, pelas suas matrizes mais profundas, da crença na palavra, do culto da letra, do · serviço do Logos, ou mesmo da ontologia do Verbo, que ao longo dos séculos se alimentou da exegese sempre renovada de palavras originariamente ditas ou escritas - tivessem e las, de resto, o certificado da revelação do divino nos áridos desertos do Sinai, ou o vigoroso esplendor das matinais revelações do humano nas luminosas colinas áticas - , de repente tivesse caído na conta de que todas as suas construções e instituições assentam nessa realidáde primeira ou por ela são mediadas. No âmbito da Filosofia o renovo de interesse pelo problema da linguagem em geral manifestou-se em várias direcções, nem sempre facilmente conciliáveis, e certamente com exigências de intensidade e preocupação diversas. Em primeiro lugar, acordando para o dizer dos
•Das Denken sammelt die Sprache in das einfache Sagen, Die Sprache ist so die Sprache des Seios, wie die Wolken die Wolken des Himmels sind. Das Denken legt mit seinem Sagen unscheinbare Furchen in die Sprache. Sie sind noch unscheinbarer ais die Furchen, die de r Landman langsamen Schrittes durch das Feld zieht.• M. Heidegger, Brief über den 'Humanismtts', in Gesamtausgabe 1. Abteilung, Bd. IX: Wegmarken, Frankfurt/ M, 1976, 364. 1
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filósofos, quer na perspectiva da análise do ·sentido lógico das suas proposições, quer na perspectiva da indagação do significado dos conceitos filosóficos e sua evolução histórica, quer ainda e sobretudo numa perspectiva ele hermenêutica antropológica e ontológic~~. tentand9 captar, _na linguag~ do~ensadores, ora a reve lação do sujeito instaurador das formas linguisticas e simbólicas, ora o modo da dispensação historial cio .Ser 2; mais profundame_nte, porém, levando a Filosofia a questionar a sua relação com a linguagem e com as linguagens em geral e o estatuto da sua própria linguagem. Se este questionamento conduziu à convicção de que a relação humana com o mundo é originariamente linguística 3 e de que, para além da sua inequívocà significação antropológica, a linguagem se revela também investida de um significado ontológico universal, levou igualmente a reconhecer que a Filosofia não possui nem pode possuir uma linguagem técnica própria, à imagem do que acontece numa disciplina científica, o que a obriga a uma mudança profunda na sua prática da linguagem e no seu trato com a linguagem dos pensadores. Este acontecimento, preparado pela dissolução do tradicional território definido da Filosofia, levada a cabo em particular por Kierkegaard e Nietzsche, foi, no presente século, assumido com particular intensidade e consciência na filosofia de Heidegger 4 . A sua
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Com razão pe rgunta K.-O. Apel se a filosofia da linguagem não assume hoje a função de uma •filosofia tra nscendental• (no sentido kantiano) ou de uma prima philosophla, K.-0. Apcl, -Sprache ais Thema und Mcdium der transzendentalcn Rdlexion, Zur Geg