Grecia Primitiva: Idade do Bronze e Idade Arcaica


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Portuguese Pages 158 [176] Year 1990

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Table of contents :
Índice
TABELA CRONOLÓGICA
Agradecimentos
Prefácio
Parte I - A IDADE DO BRONZE
1 Introdução
2 O ‘‘advento dos gregos”
3 As ilhas: As Cíclades e Chipre
4 As ilhas: Creta
5 A civilização micênica
6 O fim da Idade do Bronze
PARTE II - A IDADE ARCAICA
7 A Idade das Trevas
8 A sociedade e a política arcaicas
9 Esparta
10 Atenas
11 A cultura da Grécia arcaica
Bibliografia
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Grecia Primitiva: Idade do Bronze e Idade Arcaica

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Neste livro, Finley reconstitui o passado "pré-literário" da civilização grega por meio do exame das mais recentes descobertas arqueológicas e da reavaliação crítica dos dados arqueológicos anteriores. Investiga a gênese e o desenvolvimento de uma cultura e de instituições de caráter tipicamente grego: a queda do Estado palaciano ''micênico'' e o surgimento da polis em Atenas e Esparta, a domesticação do herói homérico e o nascimento daquele conceito tão impreciso: o "povo". Demonstra como os gregos trataram o problema da stasis - o conflito social - e finaliza a obra com um estudo do agon, a disputa, um símbolo da tensão entre indivíduo e sociedade, um elemento desde então sempre presente na cultura ocidental.

GréciaPrimitiva: IdadedoBronzee IdadeArcaica

( '01.1•:ÇÁO O HOMEM E A HISTÓRIA "'ª"dr/, F. - O Espaço e a História no Mediterrineo llr1111tltl,f'. - Os Homens e a Herança no Mediterrâneo IJ"hy, G. - A Europa na Idade MHla W11/Jf,I'. - Outono da Idade MHla ou Primaverados Tempos Modernos? h•rro M. - A História Vigiada Nnlry, M. I - Uso e Abuso da História Nnl~y. M. /. - Economia e Sociedade na Grécia Anüga Hra"del, F. - Gramlitica das Civilizações IJ"by, G. - A Sociedade Cavaleiresca l)uby, G. - Sio Bernardo e a Arte Cisterciense J.e Goff, J. - A História Nova l)uby, G. - Senhores e Camponeses lJalarun, J. - Amor e Celibato na Igreja Medieval Flnley, M. I. - Grécia Primitiva: Idade do Bronze e Idade Arcaica Prdximos lançamentos l·"/11/ey,M. /. - Aspectos da Antigüidade Orimal, P. - O Amor em Roma /)uumard, A. - Os Burgueses e a Burguesia na França

GréciaPrimitiva: IdadedoBronzee IdadeArcaica

M.I.Finley

Martins Fontes

'/'/lulu original: EARL Y GREECE: THE BRONZE ANO ARCHAIC AGES e '01,yrl(lhl (~ The Masters and Fellows of Darwin College in the University of cambridge 1970, 1981 Copyrlaht © Livraria Martins Fontes Editora, para esta tradução I ~ edlçdo brasileira:setembro de 1990

Tradução: Wilson R. Vaccari Revisão da tradução:Silvana Vieira Revisdo tipogrdfica:Flora Maria de C. Fernandes Elaine M. dos Santos

Produção grdfica: Geraldo Alves Composição: Ademilde L. da Silva Oswaldo Voivodic

Arte-final: Moacir K. Matsusaki Capa - Projeto: Alexandre Martins Fontes Realização.'Cláudia Scatamacchia Arte-final·Moacir K. Matsusaki Ilustração:Lapita e Centauro(interior de um kylix ático - e. 490-480 a.C.)

Todos os direitos parao Brasil reservadosà LIVRARIA MARTINSFONTES EDITORA LfflA. RuaConselheiro Ramalho, 330/340 - Tel.: 239-3677 01325 - SAo Paulo - SP - Brasil

Índice

Tabela cronológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VIII Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XI Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XIII

Parte I - A Idade do Bronze 1. Introdução .................................................. 2. O "advento dos gregos" .................. .............. 3. As ilhas. As Cíclades e Chipre .............. ........... 4. As ilhas. Creta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5. A civilização micênica ...... ..................... ......... 6. O fim da Idade do Bronze . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

3 13 23 33 51

65

Parte II - A Idade Arcaica 7. A Idade das Trevas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8. A sociedade e a política arcaicas ...................... 9. Esparta ...... ................... ...................... ........ 10. Atenas ... . .......................... .......... ................ 11. A cultura da Grécia arcaica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

79 99 119 129 139

Bibliogrq/la . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

l 55

Figuras 1. 2. 3. 4.

Palácio de Cnosso ..................................... 37 Escritas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Estela Tumular do Círculo B, Micenas . . . . . . . . . . 53 Estilos cerâmicos ...................................... 70-71

Mapas 1. 2. 3. 4. S. 6.

O mundo egeu na Idade do Bronze . . . . . . . . . . . . . . A Grécia na Idade do Bronze ....... :.............. Creta antiga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Dialetos gregos por volta de 400 a.e. ........... O mundo grego arcaico .............................. Grécia arcaica e a costa da Ásia Menor ........

5 14 34 83 85 96

Ilustrações 1. Modelo de embarcação em chumbo, Naxos pé da página .................................................... li. Terracota, Siros ........................................ Ili. "Ídolo" cicládico, Amorgos ....................... IV. Sinetes em pedra cretense .. . .. . . . . . . . . . . . . . . .. .. . . . . V. Disco em ouro pertencente ao túmulo-poço, Micenas ...................................................... VI. Interior do túmulo-lho/os, Micenas .............. VII, Cobra de argila, Micenas ......................... .. VIli, Tr(pode e caldeirão de bronze, Olímpia . . . . . . . . .

1.

24 24 27 38

54 57 63 91

Para Robert Cook e Geoffrey Kirk

TABELA CRONOLÓGICA Nota: Todas as datas são a.e. e, salvo algumas das tinais, são aproximadas. Grécia 40000

Neolltico

{: 3000

Creta

C{clades

n-óia

Chipre

ocupação humana definitiva Nea Nicomedéia

Cnosso

Quiroquitia Saliago

Heládico Antigo

1 II Ili

Minoano Antigo

1 II III

Cicládico Antigo

2000

Heládico Médio

Minoano Médio

1 II Ili-V VI

Cicládico Médio

Cipriota Antigo

Cipriota Médio

1600/

Idade do Bronze

~ lSSO

Heládico Tardio

1

Minoano Tardio

1

1500 1450 1400

li

IIIA

II IIIA

1300

me

IIIB

1200

me

me

Cicládico Tardio

VI

VIIA VIIB

Cipriota Tardio

1100

Idade das Trevas

1 ,

: 776

Alfabeto fenício

630 621

Codificação de Drácon

594

Arcootado de Sólon

650

~

Cerâmica geométrica

Instituição dos Jogos Olímpicos Início da "colonização" ocidental Início da "colonização" em tomo do mar Negro Ciloo tenta golpe em Atenas

750

Idade Arcaica

Cerimica protogeométrica

5451

510

Tirania dos Pisistrátidas

520/ 490

Cleômenes I, rei de Esparta

508

Clístenes reforma a constituição de Atenas

490/

479

Guerras Pérsicas

Fundação de Salamina

Agradecimentos O autor e os editores agradecem às seguintes editoras pela permissão para citar materiais protegidos por direitos autorais: Clarendon Press, Oxford (C. M. Bowra: Pindar); Cambridge University Press (G. S. Kirk e J. E. Raven: The PresocraticPhilosophers); William Heinemann Ltd e Harvard University Press (edição da Loeb Classical Library de Os trabalhos e os dias, de Hesíodo, traduzida por H. G. Evelyn-White). A Figura 1 foi reproduzida de The Palace of Minos, de Sir Arthur Evans, com a permissão dos curadores do patrimônio desse arqueólogo: a Figura 3 de Geras Keramopoulou, de Marinatos, com permissão da Myrtides, Atenas; as Figuras 4a e 4b de A Companion to Homer, de Wace e Stubbings, com permissão da Macmillan. A Figura 2 baseia-se nas tabelas de The Decipherment of Linear B, de J. Chadwick, Cambridge University Press, e de The Local Scripts of Archaic Greece, de L. H. Jeffrey, Clarendon Press, Oxford. A Figura 4d foi reproduzida com a permissão do Museu Ágora, Atenas. A Figura 4c baseia-se em Furtwangler-Losche e a 4e em Wide. As ilustrações I e III foram reproduzidas por cortesia do Ashmolean Museum, Oxford; II, por cortesia do Museu Nacional de Atenas; IV e VI, por cortesia da Hirmer Verlag, Munique; VII, por cortesia de Lord William Taylour; V e VIII, por cortesia do Instituto Alemão, Atenas.

Prefácio Qualquer pessoa que procure fazer um relato sinóptico do mundo grego antigo nos períodos do Bronze e Arcaico - cujas evidências, em sua maioria, são arqueológicas -, sabe que terá de reexaminar os dados no espaço de alguns anos, tais o ritmo e a sofisticação cada vez maior do trabalho arqueológico nessa área. Esta é minha terceira tentativa: a primeira foi em dois capítulos que escrevi para a Fischer Weltegeschichte, volumes 3 (1966) e 4 (1967), publicados em alemão; a segunda foi a edição original deste livro (1970). Uma revisão considerável mostrou-se novamente necessária, sobretudo na parte sobre a Idade do Bronze. Na medida em que existe uma distinção entre história e arqueologia, este livro é uma história da Grécia antiga (não digo ''narrativa'' porque esta é impossível). O presente trabalho não é, de forma alguma, uma pesquisa arqueológica: não há catálogos de sítios e achados, nem discussões sobre complexidades de desenhos e estilos cerâmicos. Preocupei-me exclusivamente com a história de uma civilização (ou das culturas que a compõem) em um período de aproximadamente 5 mil anos, procurando indicar a natureza e os limites das evidências fundamentais e estar aberto para o que não sabemos e para as divergências entre os especialistas. Por outro lado, em nenhum

XI V

UR/:C'/~1 PRIMITIVA: IDADE DO BRONZE E IDADE ARCAICA

momenlo deixei de colocar explicitamente meus próprios pon1m de vista e dúvidas, e algumas das revisões que fiz refletem

tnnto um reexame quanto o impacto de novas descobertas. Em suma, este livro é um relato pessoal, não um repositório das idéias predominantes sobre o assunto. A seleção bibliográfica lnslesa, com ênfase em publicações recentes, sugere ao leitor interessado onde encontrar estudos pormenorizados e publicações alternativas. Não há praticamente um só aspecto da história grega antiga que não esteja hoje passando por um reexame. Como não poderia deixar de ser, as questões cronológicas são em maior número, mesmo porque inúmeras outras coisas dependem de mudanças nas datações, principalmente a inter-relação entre regiões e culturas distintas numa área que chegou a abranger uma grande faixa, de Marselha ao mar Negro. Datações revisadas pelo carbono-14, por exemplo, puseram fim a teses outrora amplamente difundidas acerca de influências micênicas na Europa ocidental e na Bretanha. Tampouco é possível continuar defendendo o ponto de vista (nunca muito sustentável) de que a civilização rninoana de Creta chegou ao fim devido aos efeitos destrutivos da gigantesca erupção vulcânica na ilha de Santorini (antiga Tera). Um novo estudo de documentos hititas aparentemente afastou a idéia, antes sustentada com determinação, de uma identificação entre os reis mencionados nesses textos e Micenas. Cronologia à parte, o novo e mais interessante desdobramento é a crescente atenção com que os arqueólogos encaram as tendências populacionais e os padrões de povoação, que igualmente têm implicações em outras questões. Estas são constituídas por algumas das reconsideraçõesimpostas ao historiador por descobertas e investigações da última década, suficientes para justificar urna nova edição deste livro. Calorosos agradecimentos a Paul Halstead, do King's College, Cambridge, por ter-me auxiliado com o enorme volume de publicações arqueológicas recentes; também aos amigos que leram e opinaram sobre o manuscrito da primeira edição: A. Andrews, R. M. Cook, M. C. Greenstock e G. S. Kirk; e à rnlnha esposa, pela ajuda constante. M. I. F. Junho de 1980

Parte I

A IDADE DO BRONZE

1

Introdução No estudo da história antiga do homem, o que se observa mais clara e prontamente é o progresso tecnológico. É por isso que, por tanto tempo, se convencionou dividir a história antiga em períodos amplos, com base em materiais duros empregados na fabricação de instrumentos cortantes e armas - pedra, cobre, bronze, ferro, na ordem. À medida que progredia o conhecimento do passado, os longos períodos foram subdivididos de maneiras diferentes. Quando se percebeu, por exemplo, que, no devido tempo, a técnica de apontar as arestas de pederneiras e outras pedras mudou, naturalmente, da lascagem para a raspagem, dividiu-se a Idade da Pedra em Antiga (Paleolítico) e Nova (Neolítico). Em breve, fez-se necessário falar em Paleolítico Inferior, Médio e Superior (ou Adiantado); em um período Mesolítico, intermediário; em Bronze Antigo e Recente, e assim por diante; e também separar cada idade segundo a região ou civilização. Assim, criou-se um sistema rápido de referências, que, apesar de mostrar-se cada vez mais inadequado, chegando mesmo a induzir a erros, continua em uso. O cobre, por exemplo, já era empregado na Grécia neolítica talvez mil anos antes da data convencional para o inicio da Idade do Bronze; os metais só começaram a ser usados normalmente para ferramentas e

4

(iH/:'C/A

l'HIM/1/VA:

IDAD/o DO HHONZF. E IDADE ARCAICA

armas mil anos depois de 3.000 a.e. Além disso, madeira, osso, argila modelável, peles e tecidos eram materiais igualmente importantes, embora não fossem duráveis o bastante para sobreviver até nossos dias; o uso desses materiais perdurou pela linha evolucionária da pedra-bronze-ferro e, no sistema convencional, devem ser ignorados. Ademais, mudanças profundas na economia, na estrutura social e no poder político ocorreram dentro das idades tradicionais; por exemplo, é unânime hoje que a divisão fundamental entre o Paleolítico e o Neolítico foi determinada pela introdução da agricultura, não por uma mudança no modo de manipular a pederneira. Finalmente, o progresso tecnológico e social transcorreu em escalas de tempo bem diferentes entre regiões distintas da Europa e da Ásia ocidental, para não mencionarmos os demais continentes. Depois de tudo isso (e ainda há mais adiante}, o fato é que algumas dessas convenções são necessárias quando se tenta registrar os milhares de anos da pré-história. Até o ponto em que uma civilização qualquer não havia ainda descoberto a arte da escrita para registrar suas atividades, crenças e história, o estudioso moderno dispõe apenas de evidências arqueológicas, vestígios materiais. Não tem agrupamentos lingüísticos ou nacionais, nem dinastias reais ou formas de governo, nem revoluções ou guerras para usar como rótulos. Da mesma forma, não seria de muita utilidade dividir o período entre 40.000 e 4.000 a.e. em séculos. Na Mesopotâmia (Iraque moderno) e no Egito, a pré-história chegou ao fim somente por volta de 3.000 a.e.; na Ásia Menor e Síria, por volta de 2.000 a.e.; na Grécia, por volta de 1.000 a.e.; e, em regiões mais a oeste, mais tarde ainda. Para ser .exato, essas são as datas, em números redondos, em que a pré-história converte-se gradualmente em história. O emprego (e a sobrevivência) da escrita foi, por um longo tempo, tão restrito que as evidências arqueológicas continuam essenciais, via de regra predominantes. Na Grécia, a Idade do Bronze começou por volta de 3.000 a.e., ou logo depois. Até recentemente, o consenso geral era de que a arte da metalurgia chegara à Grécia oriunda do extremo oriente. Hoje, porém, admite-se que a metalurgia da Europa central é suficientemente antiga para constituir uma alternativa ao ponto de difusão original. Alguns pré-historia-

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....

100

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ÂSIA MENOR (ANATÓLIA)

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f em um tipo ou outro de lista, ou em registros enigmáticos de relações de propriedade, distribuições de ração e coisas semelhantes. Mesmo que todas as tábulas pudessem ser lidas e traduzidas com total segurança - o que não seria possível 3. Quanto a Cânia, ver E. Hallager em Opuscula Atheniensia, 2 (1975) pp. 53-86. 4. Deve-se levar em conta ainda uma outra escrita, encontrada num pequeno disco de Festo, aparentemente relacionada, mas não idêntica, à escrita que consta num machado duplo encontrado em Arcalocori, na Cre-• ta central, numa laje de calcário de Mália e em outros fragmentos. Até agora, esses achados isolados geraram uma enorme quantidade de comentários, mas nenhuma solução aceitável.

.IS ILHAS. CRETA

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-, documentos como o seguinte, de Cnosso, logo se esgotariam como fontes de informação significativa: "Em Lasunto (?): Duas enfermeiras, uma menina, um menino" ou "Amniso: uma ânfora de mel para Eilêithiia. Uma ânfora de mel para todos os deuses. Uma ânfora de mel. .. " Sabe-se hoje que a língua das tábulas em Linear B, a última das escritas, era o grego (há mais coisas a esse respeito a seguir). Até o momento, porém, todos os esforços para decifrar tanto a Linear A quanto a escrita hieroglífica, mais antiga ainda, fracassaram. Em parte, porque os textos disponíveis são poucos - os textos em Linear B de Cnosso superam em número as tábulas em Linear A de toda Creta, em cerca de dez para um-, mas principalmente porque a língua da escrita hieroglífica com certeza não é o grego nem, provavelmente, nenhum dos idiomas conhecidos. A hipótese de que seja uma língua semítica tem pouco fundamento. A sugestão mais plausível de que seja luviano, inferida de nomes geográficos como Cnosso e Tilisso, não levou sequer a uma decifração parcial. Tudo o que podemos dizer, portanto, é que a língua da escrita Linear A pertencia ao povo que criou a idade áurea minoana, e que a escrita foi inventada originalmente para essa língua, sendo transferida depois para o grego, ao qual não se adequava muito bem. Desconhecemos até mesmo nomes geográficos importantes. Se, por um lado, Cnosso, Gortina e Festo conservaram sua existência, embora insignificante, por toda a história da Grécia antiga, bem como seus nomes, outros centros foram destruídos e totalmente abandonados na Idade do Bronze. Hágia Tríada e Cato Zacro, por exemplo, receberam rótulos de identificação a partir de marcos contemporâneos - seus nomes são ainda desconhecidos. As tábulas, em suma, forneceram importantes informações suplementares, algumas das quais novas (especialmentesobre a história da língua grega}, mas nossa fonte básica ainda são os remanescentes materiais. A mais valiosa contribuição das tábulas talvez tenha sido no sentido de fortalecer as implicações de poder inerentes à arqueologia. De fato, pode-se argumentar que as necessidadesde uma adnúnistração centralizada constituíram um estímulo bem maior para o desenvolvimento da escrita, tanto entre os sumérios (cuneiforme} como em Creta, do que as necessidades intelectuais ou espirituais. Entre o

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GRÉCIA PRIMITIVA:

IDADE DO BRONZE E IDADE ARCAICA

Neolítico Tardio e o Minoano Médio houve um rápido crescimento dos recursos humanos e naturais e uma concentração, social e geográfica, da capacidade de empregá-los. Caso contrário, os grandes complexos palacianos sequer poderiam ter sido construídos, nem funcionado. Apenas recentemente foram descobertas, em algumas tábulas, duas palavras que parecem indicar a troca de mercadorias. Por outro lado, são numerosos os inventários, as listas de ração e de pessoal. Deduz-se que a sociedade era governada pelo palácio central, que administrava cada detalhe da economia interna, distribuindo pessoas e bens, desde matérias-primas a produtos acabados, sem o uso de dinheiro ou de um mecanismo de mercado. Até certo ponto, essa suposição é confirmada pelo fato de que as inúmeras tábulas de Cnosso que catalogavam ovelhas e lã, registram um censo anual de rebanhos e tosas e dos pastores responsáveis deve-se lembrar que todas as tábulas datam do ano da destruição do sítio. O número total de animais era de aproximadamente 100mil, e, até onde a identificação dos nomes geográficos é possível, esses animais eram criados por toda a Creta central. Assim, parece que o palácio de Cnosso detinha um certo monopólio das ovelhas e da lã nessa região da ilha. A lã poderia então ajudar a responder a um antigo enigma: como os cretenses pagavam (ou de que maneira obtinham) o cobre, o ouro, o marfim e outras coisas que importavam? Hoje, a lã responde pelo menos a uma parte da pergunta. E é verdade que os cretenses (chamados Keftiu) representados nos afrescos egípcios carregavam às vezes panos dobrados. Mas também portavam ouro, prata, marfim e outras coisas que não são produtos de Creta, de modo que essa pequena evidência concreta de que a lã era uma mercadoria importante fica um tanto enfraquecida. Com relação a esse aspecto, as tábulas são frustrantes e, surpreenden1cmente, omissas. Nada informam sobre o mundo exterior - no que diz respeito a elas, esse mundo bem poderia não ter existido. A arqueologia, por si só - nunca é demais repetir-, raramente pode desvendar o mecanismo das relações exteriores, nem mesmo quando desenterra grandes quantidades de bens estrangeiros ou inspirados no estrangeiro. Uma outra abordagem sugerida por eruditos modernos enfatiza o império e o tributo, a chamada talassocracia (domínio dos mares) minoana, sobre a qual encontram-se referências nos

11SILHAS. CRETA

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escritores gregos clássicos. Tanto a riqueza e o poder de Cnosso quanto a navegação minoana são inquestionáveis. Aparentemente, existiram povoamentos "minoanos" em algumas ilhas próximas, sobretudo em Citera, ao norte, que chegou ao auge no Minoano Tardio I, pouco antes do abandono do sítio (sem qualquer vestígio de destruição). Entretanto, o passo seguinte que levou a um império, na acepção comum da palavra, marítimo de grande extensão não é simples, nem evidente por si mesmo, e pode-se argumentar que toda essa noção tem uma fundamentação frágil demais. A primeira referência gregaà talassocracia é feita por Heródoto e Tucídides na segunda metade do século V a.e., mas por ser muito remota, não pode ser levada a sério sem evidências corroborativas. As diversas lendas gregas sobre a Creta pré-histórica apresentam ênfases diferentes, a maioria de caráter puramente religioso. A exceção notável é a história de Teseu e o minotauro, que merece consideração especial. A história é a seguinte. O rei Minos era casado com Pasífae, filha do Sol, que tomara-se de uma paixão anormal por um touro saído do mar. Ela pediu ajuda a Dédalo, o artesão de ascendência divina, que inventou um dispositivo por meio do qual ela podia ter relações sexuais com o animal. Então, Pasífae deu à luz um monstro, metade homem, metade touro, chamado minotauro. A uma ordem do rei, Dédalo construiu um labirinto para alojar o monstro, e todo ano os atenienses, vassalos de Minos, eram obrigados a entregar sete jovens e sete donzelas para alimentar o minotauro. Certo ano, Teseu, o jovem filho do rei ateniense, convenceu o pai a incluí-lo na consignação anual de vítimas. Quando chegou a Creta, Teseu ganhou o amor de Ariadne, filha de Minos, e com a ajuda dela matou o minotauro. Em seguida, o casal fugiu para a ilha de Naxos, onde Teseu abandonou Ariadne, que foi encontrada pelo deus Dioniso, com quem acabou se casando. Argumenta-se que esse conto reflete, de forma mítica, a sujeição dos atenienses ao domínio cretense - e, mais tarde, sua emancipação - durante a idade do Bronze. Mas as objeções a essa interpretação são sérias. Embora monstros metade homem, metade animal sejam comuns, sobretudo nos sinetes de pedra minoanos, encontraram-se apenas um ou dois "minotauros" de aparência inofensiva. O touro, por outro lado,

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GRt'CIA PRIMITIVA:

IDADE DO BRONZE E IDADE ARCAICA

é amplamente documentado como elemento importante da religião minoana: como animal sacrificial, ou nas conhecidas cenas de "saltar o touro", que mais provavelmente representam uma forma de ritual do que um mero esporte, ou nas pequenas estatuetas de bronze encontradas em algumas das cavernas que foram centros de culto. Portanto, uma explicação possível para a lenda do minotauro é a de que se trata de um conto inventado para explicar alguma cerimônia, talvez uma iniciação, ligada ao culto de Dioniso, cujo significado original fora esquecido havia longo tempo 5 . Uma outra explicação, a de que é um relato dissimulado do destronamento de um rei estrangeiro, peca pelo excesso de imaginação. A história conhece muitos exemplos de contos tradicionais em que um povo relata de que maneira, um dia, ganhou a independência, e o relato nunca é tão dissimulado a ponto de ocultar a idéia fundamental que se quis revelar. Talvez seja relevante o fato de que, no Minoano Médio, Atenas tenha-se relacionado mais com alguns centros do continente do que com a ilha de Creta - influências artísticas à parte. Um outro enigma é o fato de os palácios cretenses serem abertos, complexos "civis" sem fortificação, ém vez de cidâdelas propriamente ditas. O contraste com fortalezas do continente, tais como Micenas e Tirinta, surpreende qualquer visitante. A talassocracia minoana não pode ser a explicação, por mais que seja proposta. Ameaças do ultramar nunca foram uma causa decisiva para a fortificação - não explicam Micenas ou Tirinta mais do que explicam um castelo medieval. Será que nunca houve perigo de conflito entre os palácios? Será que não havia necessidade de coerção e proteção policial em casa? Em todos os lugares de Creta o tom predominante é a pacificidade. As cavernas, que ao longo de toda a história de Creta serviram de refúgio em tempos de agitação, não fo5. Essa proposição encontra respaldo nos argumentos persuasivos de Paul Faure, Fonctions des cavernescrétoises(Travaux et mémoires da Ecole française d'Athenes XIV, 1964), pp. 166-73, de que o labirinto deve ser identificado não com o palácio de Cnosso, mas com uma caverna. Sugere que a caverna de Skotino, alguns quilômetros a leste de Cnosso, onde as evidências de culto remontam ao início do Minoano Médio e prosseguem pelo Arcaico grego. Uma continuidade religiosa de duração tão longa é atestada somente em três ou quatro cavernas cretenses.

AS ILHAS. CRETA

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ram habitadas durante a era dos palácios. Armamentos, ameses e carros de guerra estão registrados nas tábulas em Linear B de Cnosso, mas são notavelmente raros em monumentos figurativos de qualquer natureza ou tamanho. São raros inclusive nas sepulturas - só é lícito falar em sepulturas de guerreiros depois da ocupação da ilha por povos de língua grega vindos do continente. Esse fenômeno, seja qual for sua explicação, serve para ressaltar a singularidade de Creta. A sociedade centrada em palácios e seus registros obsessivamente detalhados lembram Ugarit, no norte da Síria, ou Mari, no Eufrates. Mas, como já se disse, a psicologia e os valores da elite eram radicalmente diferentes em muitos aspectos, qualquer que tenha sido o caso da massa da população, da qual nada sabemos. Embora não exista sequer uma linha de escrita -, nem de Creta, nem da documentação bem mais abundante das ilhas vizinhas, próximas ou distantes - que nos informe claramente sobre o pensamento da Creta da Idade do Bronze, suas idéias acerca de qualquer assunto, é possível extrair algumas inferências, dos remanescentes materiais, a respeito das diferenças entre Creta e as demais sociedade!l'centralizadas da mesma época. Os governantes babilônicos, egípcios e hititas infestaram suas terras de evidências monumentais do seu poder e do poder de seus deuses. Os governantes cretenses não fizeram nada semelhante, nem nos palácios, nem nos túmulos. Não há nada de majestoso ou central nuala-do-tfOfl-O--OeCnosso, seja em relação ao tamanho ou à decoração das paredes (ornadas com animais míticos e desenhos florais, mas sem um único retrato). O trono sequer distingue-se pela realeza. Não existe uma única imagem que retrate um evento histórico ou revele uma atividade administrativa ou judicial, ou qualquer outra manifestação do poder político em ação. Quanto aos deuses e deusas, são extremamente difíceis de descobrir. Ao que parece, foram razoavelmente numerosos, mas não eram abrigados em templos, razão por que não havia estátuas de culto, características das civilizações contemporâneas do Oriente Próximo e das civilizaçõesgregas posteriores. Faziase a adoração em pequenos santuários domésticos, em lugares sagrados ao ar livre e em cerca de 25 das cavernas situadas em várias partes da ilha (de modo geral, não eram as cavernas mais

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GRÉCIA PRIMITIVA:

IDADE DO BRONZt: E IDADE ARCAICA

espetaculares, nem eram usadas todas ao mesmo tempo). Nas cerimônias, enfatizava-se uma epifania, a aparição temporária de uma divindade em resposta a uma oração, a um sacrifício ou - o que é mais característica e legitimamente cretense a uma dança ritualística. Em muitas das cenas, é mais importante o êxtase dos adoradores que o deus personificado; com efeito, às vezes somente o ato da prelibação é retratado, sem a epifania real. O local da epifania era uma árvore sagrada, um pilar, ocasionalmente uma fachada arquitetônica. Considerando essa ênfase nos adoradores, no lado humano da relação, era natural que, exceto por alguns afrescos e um ou outro sarcófago, essas cenas tenham sido gravadas em anéis, sinetes de pedra e pequenos objetos de cerâmica. As evidências religiosas consistem também, em grande parte, em objetos simbólicos como o machado duplo e os ''chifres de consagração" 6 , cuja interpretação continua sendo polêmica; no equipamento usado em libações e sacrifícios; nas cinzas e nos ossos de vítimas sacrificiais, touros, ovelhas, porcos, cães e outros animais, encontrados principalmente nas cavernas'; em objetos dedicados aos deuses, incluindo cerâmica, espadas e escudos, uma variedade de artigos femininos, estatuetas animais e figurinos humanos, que voltaram a ser usados na Creta do Minoano Médio, depois de um longo hiato. Via de regra é impossível distinguir as figuras humanas das divinas, a não ser pelos critérios mais subjetivos. Mesmo que algumas delas sejam caracterizadas com precisão - como é o caso da chamada deusa cobra -, são inovações posteriores, provavelmente influenciadas pelo Oriente. Ainda assim, a escala reduzida tradicional foi rigorosamente preservada. Essa falta de monumentalidade corresponde adequadamente à ausência de manifestações externas de guerra, às qualidades específicas e ao tom das obras de arte cretenses. Mesmo os grandes afrescos não são realmente monumentais (fora de Cnosso, são incomuns e quase inteiramente destituídos de fi6. Vale notar que, ao que parece, não havia símbolos solares ou astrais. 7. Encontrou-se numa sepultura de Arcanes, cerca de dez quilômetros de Cnosso, o esqueleto completo de um touro, datado pelos escavadores de aproximadamente 1400 a.C.; ver 1/lustrated london News de 26 de março de 1%6, pp. 32-3. É o primeiro exemplo de um sacrifício de touro numa sepultura.

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guras humanas). Têm uma leveza e mobilidade originais e raras, senão únicas, em qualquer lugar da Idade do Bronze, qualidades criadas com uma habilidade técnica extraordinária, em vasos, jóias e pequenos objetos de bronze (sobretudo os bronzes de Tilisso). Porém, pela forte estilização dos temas e pelo tratamento dado a detalhes como a vestimenta e a postura, tendem a uma convencionalidade monótona, uma preciosidade e graciosidade inadequadas a seu tamanho. A vida é feita de brincadeiras e rituais, e revela-se pouca paixão humana, alegria pessoal ou sofrimento. Parecem dizer, sem profundidade, que a vida tem uma natureza tilintante. Assim, as artes menores são a maior conquista cretense, depois do conforto burguês de bons sistemas de esgoto e saneamento, de iluminação e ventilação nos palácios. A impressão, reconhecidamente especulativa, é de que já no início do Minoano Médio a sociedade cretense estabeleceuse coino instituição e ideologia, que encontrou um equilíbrio que, em séculos, nunca foi seriamente ameaçado, que era segura em todos os sentidos, talvez até mesmo passivamente segura. Daí em diante, pode-se verificar um aprimoramento ainda maior das artes manuais, o crescimento populacional, ampliações adicionais dos palácios - embora, em grande parte, esses progressos tenham seguido uma linha horizontal, por assim dizer. Eis por que é possível retratar esse mundo sem qualquer referência a todas as mudanças do Minoano Médio para o Tardio. Embora essa lacuna em particular seja arqueologicamente válida, principalmente na cerâmica, o estilo de vida parece ter-se alterado bem pouco. Muitas partes de Creta foram seriamente prejudicadas por um terremoto durante o Minoano Médio III, mas à catástrofe seguiu-se não apenas uma reconstrução imediata, como também um desenvolvimentomaior, com a criação de novos povoados e de contatos bem mais estreitos com o continente grego - nada que indique, porém, inovações sociais e psicológicas significativas. Então, tempos depois, homens vindos do continente grego assumiram, não se sabe como, o poder em Cnosso e, por meio dele, também o controle de grande parte da Creta central. A prova definitiva disso é o fato de o idioma das tábulas cm Linear B de Cnosso ser o grego (e indistinguível do grego