Venha, seja Minha luz: Os escritos privados da santa de Calcutá [3 ed.] 9788582780640


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Venha, seja Minha luz: Os escritos privados da santa de Calcutá [3 ed.]
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Venha^ seja M inha luz

Santa Teresa de Calcutá

Venha* seja M inha luz Os escritos privados da santa de Calcutd

Organização e comentários Brian Kolodiejchuk Tradução Maria José Figueiredo 3* edição

petra

Título original: Mother Theresa: Come Be My Light

Direitos de edição da obra em língua portuguesa no Brasil adquiridos pela P e t r a E d i t o r i a l L td a . Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, cm qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação etc., sem a permissão do detentor do copirraite. Imagens de capa: Sal Dimarco Jr. - Getty Images/ Eric Vandeville - Getty Images/ iStock_photographer/ iStock_Richard Goerg

CIP-BRASIL CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Cl48v 3. ed. Calcutá, Teresa de Venha, seja minha lu z : os escritos privados da Santa de Calcutá / Teresa de Calcutá ; organização Brian Kolodiejchuk; tradução Maria José Figueiredo. - 3. ed. - Rio de Janeiro : Petra, 2016. Tradução de: Mother Teresa: Come Be My Light ISBN 978-85-8278-064-0 1. Cristianismo. 2. Catolicismo. I. Kolodiejchuk, Brian. II. Título. 16-34344.

P etra E ditora

Rua Nova Jerusalém, 345 - Bonsucesso - 21042-235 Rio de Janeiro - RJ - Brasil Te!.: (21) 3882-8200 - Fax: (21) 3882-8212/8313

CD D : 248.4 CD U : 248.14

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Se eu alguma vez vier a ser santa, serei certamente uma santa da "escuridão". Estarei continuamente ausente do Céu — para acender a luz daqueles que se encontram na escuridão na terra. S a nt a T e r e s a

de

C al cu t á

Para aqueles, especialmente os mais pobres dos pobres, que se encontram em alguma forma de escuridão; que possam encontrar consolo e encorajamento na experiência e na fé de Madre Teresa.

Sumário

olta para focus” A atividade daquela comunidade começava a atrair admiração e louvor, na medida em que artigos descrevendo seu trabalho começaram a ser pu­ blicados, local e internacionalmente. Madre Teresa partilhava, assim, suas preocupações com o arcebispo:

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\enha, seja Mi nha laz

Estou com medo de que estejamos recebendo muita publicidade. — Ouvi algumas coisas esta tarde que me gelaram de medo. Deus nos preserve. Por favor, reze por mim — para que eu não seja nada para o mundo e o mundo não seja nada para mim.0 Em face desse perigo, sua humildade bem firmada, a persisten­ te escuridão e as inúmeras necessidades do trabalho que continuava a expandir-se a ajudaram a impedir que o seu coração fosse tomado pelo orgulho e por um espírito mundano. O fato de ela e as Irmãs, às vezes, correrem riscos físicos reais a ajudava a manter “os pés no chão”: Voltamos a ter problemas em Kalighat [Nirmal Hriday] — disseram-me muito friamente que devo dar graças a Deus pelo fato de, até o momento, não ter levado nenhum tiro nem ter levado uma surra deles, já que, para todos os que trabalharam para eles, a morte foi a recompensa. Tranquilamente respondi a eles que estava pronta para morrer por Deus. Aproximam-se tempos difíceis, rezemos para que a nossa Congregação resista ao teste da Caridade.7 Em meio a todas essas provas, Madre Teresa sentia-se fortalecida pelo fervor das Irmãs, conforme escrevia ao arcebispo: Hoje, a nossa pequena Irmã Maria Goretti partiu para junto de Nos­ so Senhor. A maior alegria da vida dela foi ter sido Missionária da Caridade,* e tão verdadeiramente o foi — que muitas vezes quando a via ou falava com ela, eu me sentia feliz por ter sacrificado Loreto — para ter me tornado Mãe de uma filha assim. Agora está com Jesus — a primeira MC a entrar no céu. [...] Agora com a Irmã no céu vamos conseguir muitas vocações.8 Embora passasse por dificuldades, o trabalho de Madre Teresa en­ tre os pobres prosseguia com resultados notáveis. A Madre tinha cons-

* Madre Teresa quis atender ao pedido dessa aspirante de fazer sua profissão religiosa antes de morrer, o que não foi possível porque ela ainda não era noviça. No entanto, Madre Teresa a considerava como uma Missionária da Caridade, mesmo não sendo esse o caso.

•Santa Tvrosa de Calcutá

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ciência de que era a “obra de Deus”; de que ela era apenas um instrumen­ to para “levar as Almas a Deus — e Deus às Almas”.9 Para tal missão, ora­ ção e sacrifício eram essenciais: unidos ao sofrimento redentor de Jesus, a oração e o sacrifício fermentavam o trabalho pelos pobres. Essa visão de fé a guiou no estabelecimento dos seus “colaboradores doentes e sofredo­ res”, como explicava ao arcebispo Périer: Não sei se disse ao senhor que dei início a uma relação espiritual com os doentes. Cada Irmã tem um segundo eu — para rezar e sofrer por ela — e as Irmãs compartilharão as suas boas obras e as suas orações com ela. — Espiritualmente, são filhos da Congregação — assim, tenho alguns na Inglaterra, em Bruxelas, na Antuérpia, na Suíça, em Calcutá, que entraram para a Congregação, homens, mulheres, crianças. — Eles gostariam de ter umas pequenas orações para reza­ rem em união conosco. A senhorita de Decker e Nicholas Gomes são o meu segundo eu. Atualmente, são 18 na lista. Por favor, daria a sua bênção a este trabalho? — São as orações e os sofrimentos deles que estão abençoando o nosso apostolado. Os faz tão felizes ter al­ guém por quem sofrer — serem Missionários da Caridade — embora sejam cegos, coxos, TB [tuberculosos], aleijados, cancerosos. Com frequência, quando percebo que o trabalho está muito difícil, ofereço o sofrimento destes meus filhos e descubro que a ajuda chega logo. — Acho que muitos dos nossos doentes e sofredores se santificariam muito mais depressa se sofressem para saciar a sede de Jesus. Quando o senhor vier, explicarei melhor. [...] Estou há 23 anos na vida religiosa — por favor, agradeça a Deus por tudo o que Ele fez por mim.10 A medida que a escuridão interior ia se tornando mais difícil de suportar, os aniversários de datas significativas recordavam-lhe as “inter­ venções” de Deus na curta história do pequeno grupo. Nessas ocasiões, Madre Teresa não podia deixar de reconhecer os resultados do seu “Sim” a Deus e de exprimir a profunda gratidão que sentia: No dia 21 de dez. fará cinco anos que começou o trabalho nas fave­ las e quero agradecer a Vossa Excelência todo o seu interesse pessoal

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t e n h a , seja M i n h a luz

e o amor paternal que demonstrou à jovem Congregação. Muitas almas foram trazidas de volta para Deus. Muitos moribundos foram enviados para Deus, muitas crianças foram ensinadas a amar a Deus, muitos doentes foram reconfortados e ensinados a sofrer por amor a Deus, e, sobretudo, a vida generosa e sacrificada das nossas jovens Irmãs deve ter dado muita reparação ao Sagrado Coração. — E por tudo isso lhe imploro que dê graças a Deus comigo."

“jl minha própria alma permanece em uma escuridão profunda” Em meio à fecundidade tão evidente, quase um ano após a sua primeira revelação ao arcebispo, Madre Teresa voltou a informar que “a minha pró­ pria alma permanece em uma escuridão e desolação profundas. Não, não me queixo — que Ele faça comigo o que Ele quiser”.12 Abandonando-se mais uma vez, estava disposta a sacrificar a consolação de se sentir unida a Jesus pelo desafio de viver puramente de fé. Essa experiência a tornava ainda mais compreensiva e compassiva com os outros, habilitando-a a oferecer encorajamento e conselhos práticos. Quando for muito difícil para você — apenas esconda-se no Sagrado Coração — onde o meu coração com o seu encontrarão toda a força e o amor. Você quer sofrer em puro amor — diga antes, no amor que Ele escolher para você. — Precisa ser uma “hóstia imaculada”.13 Apesar dessa noite interior, Jesus era o único centro da vida de Madre Teresa; ela O amava e queria estar unida a Ele, em especial na Sua Paixão. Um verdadeiro retrato de sua alma — não influenciada por sentimentos, mas firme na fé — emerge da explicação que deu a srta. de Decker sobre o chamado de uma Missionária da Caridade.

Sa n ta -Teresa do Calcutá

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17/10/1954 L. D. M. [Laus Deo Mariaeque, Glória a Deus através de Maria] Minha irmã Jacqueline Theresa,’ A sua muito bem-vinda carta de 11 foi recebida com muita ale­ gria. Estava ansiosa por receber notícias suas. Como o bom Deus a ama, minha querida irmãzinha, quando a aproxima tanto da Sua Cruz. — Se você náo fosse o meu segundo eu, acho que teria inveja de você, mas, desta forma, alegro-me porque é o meu segundo eu. Você sofre muito e a sua alma está crucificada de dor — mas não é que Ele está vivendo a Sua vida na Sua Jacqueline? — Que vocação tão bela a sua — uma Missionária da Caridade — uma portadora do amor de Deus. — Levamos no corpo e na alma o amor de um Deus infinitamente sedento. — E nós, você e eu, e todas as nossas queridas Irmãs e os segundos eus saciaremos essa sede ardente — vocês com seu sofrimento inexpressível, nós com trabalho árduo. Mas não somos todos o mesmo? — um? — “como Tu, Pai, em M im e Eu em Ti", disse Jesus.14 Você aprendeu muito. Saboreou o cálice da Sua agonia — e qual será a sua recompensa minha querida irmã? Mais sofrimento e uma semelhança mais profunda com Ele na Cruz. Sinto-me indigna de ser sua irmã, então quando rezar, peça a Jesus que me aproxime mais Dele na Cruz para que aí nós duas sejamos uma. [...] Querida Marguerite — que duro deve ser para ela ser completamen­ te cega — mas pode ver melhor a Jesus — e isso [é] a única coisa que importa. [...] Por favor, diga ao nosso querido irmão Clement que ele pode ser um verdadeiro João Batista1s — porque o nosso trabalho é exa­ tamente isso, preparar o caminho — depois de nós, outras freiras e amigos entrarão no campo das almas. — Estou muito orgulhosa de você — uma verdadeira Missionária da Caridade. — Seja corajosa e

* Madre Teresa tinha adicionado seu próprio nome ao de Jacqueline.

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Venh a, seja M i n h a luz

continue sorrindo. — Você sabe que Ele a ama com um Amor terno e infinito. [...] Reze por mim — tenho muito que fazer. Muito amor da sua irmã em Jesus, M. Teresa16 “Uma portadora do amor de Deus”, “o amor de um Deus infini­ tamente sedento” — era este o elevado conceito que Madre Teresa tinha de uma Missionária da Caridade. As Irmãs que se entregavam a um traba­ lho árduo e os seus “colaboradores” que sofriam doenças e deficiências se uniam no objetivo comum de saciar a sede ardente de Jesus na Cruz.

“Ssposa deJesus Crucificado ” A escuridão interior era o modo privilegiado que a Madre Teresa tinha de penetrar no mistério da Cruz de Cristo. Ciente de que o sofrimento deveria ser esperado como parte do chamado de uma Missionária da Ca­ ridade, escrevia a uma das Irmãs: Minha querida Filha, Obrigada pela bonita e consoladora carta do dia 14. Continue olhando para o Sagrado Coração. — Por que se preocupa se será tu­ berculose ou não? — Você é Dele e isso é um presente Dele para você, a Sua esposa. Não foi a Madre quem lhe ensinou a dizer para pro­ fissão dos votos: “Desejo tornar-me esposa de Jesus Crucificado”? — Não é Jesus glorificado, nem no presépio, mas na Cruz — sozi­ nho — despido — sangrando — sofrendo — morrendo na Cruz. Por isso, se você for a primeira da Congregação que Ele escolhe para estar sozinha no leito da Cruz, bem, minha filha, devemos dar gra­ ças a Deus por tudo — por este amor especial por você, por mim e pela Congregação. Você ainda é uma criança e a vida é bela — mas o caminho que Ele escolheu para você é o caminho verdadeiro. — Por isso sorria — sorria à Mão que lhe bate — beije a Mão que a está pregando na Cruz. — Não acredito assim como você não acre­ dita que tenha tuberculose — mas deixe-os fazerem com você tudo

•Santa 'Teresa de Calc utá

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“cLhna profunda solidão no meu coração” Em janeiro de 1955, quase um ano depois da última vez que citara a escuridão ao arcebispo Périer, Madre Teresa nota um novo elemento em sua experiência: uma profunda solidão. Essa solidão, que será a partir desse momento a sua “companheira de viagem”, resultara da sua aparente separação de Deus e daqueles em quem mais confiava. Essa sensação de alienação tornava sua cruz mais dura de carregar. Excelência, Agradeço muito a Vossa Excelência por vir — sempre sinto o far­ do um pouco mais leve depois de o senhor ter vindo. — Não sei, mas há uma solidão tão profunda no meu coração que não posso expressá-la. — Há meses que não consigo falar com o pe. Van Exem e cada vez é mais e mais difícil falar. Durante quanto tempo permanecerá Nosso Senhor longe? Por favor, reze por mim. Sua agradecida filha em J. C. M. Teresa, M O 9

Da oração Irradiando a Cristo, feita, diariamente, pelas MCs, após a Missa.

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Xenha, seja M i n h a luz

Nessa angústia, Madre Teresa ansiava pelo regresso de Jesus, mas parecia que Ele tinha se afastado dela. O arcebispo respondeu-lhe com uma longa carta, encorajando-a e apresentando possíveis razões para esse estado interior. Sugeriu-lhe que a experiência poderia ser uma provação temporária: “Deus parece esconder-se durante algum tempo. Esse estado pode ser doloroso e, se durar muito tempo, torna-se um martírio. Santa Teresinha passou por isso, bem como a grande Santa Teresa,* e podemos dizer que a maioria, senão todos os santos.”20 Mas também a advertiu de que poderia tratar-se de uma ten­ tação do demônio, destinada a desencorajá-la da boa obra em que estava empenhada. Sem deixar de tocar sua típica nota de cautela e prudência, o arcebispo aludiu, mais uma vez, ao que considerava ser “precipitação” da parte dela. Não percebendo a profundidade da aflição de Madre Teresa, chegou a sugerir que aquele estado poderia ser resultado de um excesso de trabalho ou de cansaço físico. Embora ela tivesse respondido que os considerara “muito úteis”,21 os conselhos dados não atingiram as raízes de sua dificuldade.

“Oferecemo-nos, uns aos outros, a Cristo pelas almas ” Madre Teresa continuava sendo alegre e entusiasta. A sua alegria não era superficial, mas profúndamente espiritual. Em carta de encorajamento aos colaboradores doentes e sofredores, a Madre explicava as razões por trás desse estado de espírito: Meus muito queridos Irmãs e Irmãos,** Há muito tempo que tenho vontade de escrever e toda vez o cor­ reio vai embora sem eu ter escrito. Mas, tenham a certeza de que

* Santa Teresa de Ávila (1515-1582). Doutora da Igreja, reformadora carmelita espanhola, escritora mística. ** Esta é a forma com a qual Madre Teresa se dirige aos colaboradores doentes e sofredores nesta carta.

•Santa Teresa de Calc uta

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c á lic e c a s s im , c o m

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a d o ra ç ã o , s a c ia m o s a S u a S e d e

a r d e n te d e a lm a s .

Meus muito queridos filhos — vamos amar a Jesus com todo o nosso coração e a nossa alma. Vamos levar muitas almas a Ele. — Continuem sorrindo. Sorriam para Jesus no seu sofrimento — pois, para serem verdadeiros MCs, devem ser vítimas alegres. — Como sou feliz por ter todos [vocês]. — Vocês me pertencem tanto quanto cada Irmã aqui me pertence, e com frequência quando o trabalho se torna muito duro, penso em cada um de vocês — e digo a Deus — olha meus filhos que sofrem e por amor a eles abençoa este trabalho — e o resultado é imediato. Portanto, como veem são a nossa casa do tesouro — a central elétrica das MC. [...] Rezem por mim, queridos segundos eus e continuem sorrindo por Jesus e por mim.23 A dor interior de Madre Teresa não havia diminuído. Ela ansiava por abrir a alma com alguém em quem confiasse, mas não o fazia. Tinha cada vez mais dificuldade em se comunicar com o pe. Van Exem, seu diretor espiritual. Sua enorme reverência pela ação de Deus em sua alma, em especial pelas experiências místicas relacionadas ao chamado que rece­ bera, fazia com que ela relutasse em abrir a alma a qualquer outra pessoa. Por isso, preferiu sofrer essa prova em silêncio, em vez de revelar o segredo do “meu amor a Jesus — e [d]o Seu terno amor por mim”.24 Restava-lhe apenas escrever ao arcebispo Périer.

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\ c n h a , seja M i n h a luz

Terminamos hoje o nosso sexto dia.* Quanto mais rezo, mais claro se toma o desejo de Cristo por uma “semelhança íntima com Ele” — e isto fazer através de mais amor materno, afeto e apego a cada uma das Irmãs — e da doçura e amabilidade mesmo no tom de voz com todos — em especial quando faço alguma observação ou quando tenho que recusar os pobres. Neste ano tenho sido, com frequência, impaciente e algumas ve­ zes até mesmo ríspida nas minhas observações — e notei a cada vez que fazia menos bem às Irmãs — consigo sempre mais delas quando sou amável. — Há uma coisa que me preocupa — quando às vezes confrontada com alguma dificuldade a respeito de algumas Irmãs — tive que falar com o Pe. Van Exem ou com o Pe. Cordeiro. Até que ponto isto é contra a caridade? Posso guardar silêncio? Se falei com o Pe. Van Exem é porque ele está no lugar do senhor — e com o pe. Cordeiro, porque ele ajuda com a instrução e porque os conselhos dele sempre foram muito sábios — e eu tenho uma grande necessi­ dade de aprender. Sempre que fiz isso com qualquer um dos dois, fui me confessar. — O que devo fazer? Para mim isto é falta de caridade, mas eu preciso encontrar a resposta para as dificuldades que por ve­ zes surgem devido aos diferentes temperamentos das Irmãs etc. No entanto, Excelência, como temos que agradecer a Deus pelas nossas boas Irmãs — apesar de todos os seus defeitos são muito fervorosas e generosas. — Deus deve estar muito satisfeito com a grande quanti­ dade de sacrifícios que estas jovens Irmãs fazem todos os dias. Deus as conserve assim. [...] Antes eu costumava obter tanta ajuda e consolo na direção espiritual — desde que começou o trabalho — nada. — Eu mesma não tenho nada a dizer — pelo que parece. Gostaria muitíssimo de ter — pelo menos uma vez — uma conversa séria — mas a ideia de ter que contar tudo o que está relacionado ao Chamado me impede — e por isso não falo com ninguém. — Por favor, perdoe-me por escrever tudo isto — o senhor tem tanto o que fazer. — Por favor, reze por mim, para que eu O responda generosa­ mente. [...]25

* Sexto dia de retiro.

•Santa Teresa de Calcula

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