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Portuguese Pages 421 [420] Year 2005
SOBRE A METAFÍSICA DE ARISTÓTELES T E X T O S S E L E C IO N A D O S
Coordenação de Marco Zingano
2005
Dados Inccrnacionain de Catalogação na Publicação (C IP ) (C im n ra Brasileira do Livro, SP, Brasil)
S o b r e a M e ta fís ic a d e A r is t ó te le s : te x to s s e le c io n a d o s / c o o r d e n a ç ã o d e M a r c o Z in g a n o . - S ã o P a u lo : O d y s s e u s E d ito r a , 2 0 0 5 . Bibliografia. 1. A ristóteles - M etafísica I. Z ing ano, M arco
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C D D -1 8 5
Índ ice para catálogo sistem ático: 1. M etafísica: Filosofia aristotélica
185
Esta publicação teve apoio financeiro do C N P q Todos os direitos desta edição reservados à: © 2005 Odysseus Editora Ltda. Editor responsável: Stylianos Tsirakis Coordenação e prefácio: Marco Zingano Tradução e Copyrights: ver créditos (p. xiii) Projeto Gráfico: Lucas Dezotti / Odysseus Editora Capa: Douglas Barzon / Odysseus Editora Revisáo técnica: Marco Zingano Diagramação: Lucas D ezotti Odysseus Editora Ltda. R. dos Macunis, 495 - CEP 05444-001 - Tel./fax: (11) 3816-0835 [email protected] - www.odysseus.com.br
IS B N : 85-88023-70-9
Edição: 1 Ano: 2005
S U M Á R IO
P r e fá c io ............................................................................................... . C réd itos .............................................................................................. ..
Sobre a lei da contradição em Aristóteles........................................... 1 Ja n Lukasiew icz Tode ti (toÔ€ t i ) em Aristóteles............................... ........................25 J . A . Smith
O s motores imóveis de Aristóteles................................................... 27 Philip M erlan
A primeira doutrina da substância: a substância segundo Aristóteles . . . 73 Suzanne M ansion
O surgimento e o significado original do nome M etafísica .................. 93 H an s Reiner
Filosofia primeira, filosofia segunda e metafísica em Aristóteles.......123 Augustin M ansion
Lógica e metafísica em algumas obras iniciais de Aristóteles............177 G. E. L. Owen O platonismo de Aristóteles............................................................. 205 G. E. L . Owen
Sobre forma, substância e universais em Aristóteles: um dilema..........235 Ja m e s H. L esb er
A forma, predicado da m atéria?............................................................ 247 J . Brunschwig
Ê ide (eí8r|) nas teorias da substância de juventude e de maturidade
de Aristóteles........................................ ....................... ................... 281 J . A . Driscoll
Plotino e Dexipo, exegetas das categorias de Aristóteles............ .
315
Pierre A ubenque
O caráter aporético da M etafísica de Aristóteles................................... 341 Terence írw in
Substância, definição e essência............................................................ 371 D av id Charles
P R E F Á C IO
M arco Zingano
Esta coletânea apresenta, traduzidos para o vernáculo, importantes estudos sobre a M etafísica de Aristóteles, publicados ao longo do último século. A o todo, são quatorze artigos que constituem referência obrigatória para o estudo do tópico que abordam. Circulavam, até então, em suas versões originais ou em traduções para outras línguas modernas (alguns deles foram traduzidos para mais de uma língua), mas nenhum tinha sido editado em língua nacional, o que fazemos aqui por primeira vez. Esperamos, deste modo, contribuir ao desenvolvimento dos estudos clássicos no Brasil e, em especial, ao florescimento da exegese aristotélica, peça tão fundamental para uma sólida formação no vasto domínio que cobre a filosofia. Algumas observações impõem-se, obviamente. Em primeiro lugar, tratase de uma escolha, com uma marca inevitavelmente pessoal. O tema central é a M etafísica - mais exatamente, a fortuna crítica deste livro que marcou tão profundamente os estudos de filosofia a ponto de lhe fornecer um nome, hoje por uns ainda reverenciado, por outros recusado: a metafísica. Isto certamente acarreta certas limitações. Uma coletânea sobre a metafísica de Aristóteles deveria certamente conter artigos sobre o curto, mas fecundo tratado das Categorias, cuja exata posição e função no sistema aristotélico ainda é objeto
de controvérsia; igualmente, seria fortemente desejável que temas abordados na Física, nos Analíticos e mesmo nos tratados biológicos fossem contemplados com análises minuciosas. A presente coletânea é mais limitada, porém: ela visa a perscrutar os meandros do livro por nós denominado M etafísica, de limitando assim mais estritamente o tipo de artigo a ser publicado. O que, contudo, não é pouca coisa: a M etafísica se constitui seguramente no núcleo das investigações de Aristóteles sobre a doutrina do ser e, por isso mesmo, concentra de forma exemplar as aporias, as dificuldades e as exigências desta disciplina intelectual. N ão toda a metafísica, mas certamente o núcleo de sua
Prefácio |
metafísica: assim se apresenta ao leitor a M etafísica de Aristóteles, na edição que hoje temos. É aqui, com efeito, que se anuncia e se articula a ciência do ser enquanto tal, na medida em que Aristóteles dispõe agora, graças à sua noção de unidade focal, de um dispositivo para romper as análises parciais que as diferentes ciências de sua época lhe proporcionavam, sem cair nas tentações do redutivismo platônico e sua tese dos graus de ser. N o entanto, muito está ainda por ser explorado. A M etafísica, em seus quatorze livros, propõe-se a investigar diferentes domínios que pertencem de direito ao filósofo - melhor dizendo: cria uma certa figura de filósofo, o metafísico, a quem certos temas pertencem de direito: o ser enquanto tal e suas propriedades em si, tò ôy f| ôv Kai. t q toútü) irrrápxovTa Ka0’ a v r ó . O s textos aqui reproduzidos visam a examinar os passos de Aristóteles na constituição desta nova ciência. Nem -todos os tópicos presentes na Metafísica estão refletidos nestes ensaios, mas temas centrais certamente estáo debatidos ao longo deles. D e um certo modo, como o leitor constatará, todos giram em torno do estatuto a ser atribuído à noção de substância - substância sensível, substância primeira, substância eminente, substância sem matéria. Se devesse ressaltar um só artigo, diria que o clássico texto de O w en sobre lógica e metafí sica no pensamento do Estagirita, ao formular com clareza a doutrina dos pros hen legomena, fornece enfim os conceitos com os quais se pode, do ponto de vista
exegético, aquilatar com mais precisão a solidez - ou não - da reivindicação filosófica do essencialismo aristotélico. C om uma base exegética mais segura, podemos então.voltar-nos à questão da atualidade de seu pensamento; todos os textos aqui, se não respondem diretamente a esta última questão, certam en te asseguram aquela base de que não se pode dispensar em um exame sério sobre a nossa aventura intelectual, iniciada há tanto tempo nas costas da antiga Jônia e que encontrou em Aristóteles uma de suas grandes expressões. A ordem dos textos é cronológica, segundo a data de sua edição. E um cri tério objetivo, simples, mas que pode também ser enganador, já pelo fato de a data de edição não necessariamente corresponder à de circulação, menos ainda à de discussão. M esm o assim, mantive-o, pois permite ter uma certa idéia do movimento interpretativo pelo qual passou o texto de Aristóteles nos últimos cem anos. N a escolha dos textos, não me detive em unia escola particular; ao contrário, o leitor rapidamente perceberá que diferentes modos de se apropriar
X
| Sobre a Metafísica de Aristóteles
da filosofia de Aristóteles estão representados aqui. Penso que isto é fundamen tal em qualquer filosofia, em especial no exame da metafísica de Aristóteles: reconhecer a diversidade de abordagens em tratamentos que, porém, satisfazem em mesmo grau a exigência de clareza conceituai e argumentação. Dados bibliográficos, atualizados e abrangentes, podem ser encontrados em obras de introdução, em especial T h e Cambridge Companion to Aristotle (edi tado por Jonathan Barnes, Cambridge 1995) e Guida ad Aristotele (editado por Enrico Berti, Laterza 1977), e em estudos da filosofia de Aristóteles, entre os quais ressalto o de Pierre-Marie Morei, Aristote (G F Flammarion 2003) e, em nossa língua, o de Lucas Angioni, Introdução à Teoria da Predicação em Aristóteles (Unicamp 2005, no prelo).
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N ã o poderia deixar de agradecer a todos aqueles que me auxiliaram tão eficazmente para a realização deste projeto. Em primeiro lugar, o C N P q for neceu-me os meios necessários para dar vida a ele; não menos importante, em segundo lugar, foram os alunos que estiveram ligados a este projeto e que gostaria de citar expressamente: Juliana Aggio, Iracema Dulley, Rita Batista de Oliveira, Paulo Fernando Ferreira, José Wilson da Silva e Marisa Lopes, da U SP; Luis Márcio Fontes, da Unicamp; Raphael Zillig, da UFRGS. Tam pouco poderia deixar de mencionar os colegas Lucas Angioni, Luiz Henrique Lopes dos Santos e Roberto Bolzani, com quem tenho tido o grande prazer de discutir temas de filosofia nestes últimos anos em São Paulo, e, em espe cial, Balthazar Barbosa Filho, quem por primeira vez, e definitivamente, me mostrou a fecundidade do pensamento de Aristóteles.
Prefácio \
C R É D IT O S
(i) Jan Lukasiewicz, Über den Satz des Widerspruchs bei Aristoteles. Publicado originalmente no Bulletin International de lAcadémie des Sciences de Cracouie, classe d'bistoire et de philosophic, 1910. Tt adução de Raphael Zillig. Direitos autorais gentilmente cedidos pela Academia Polonesa de Artes e Ciências. (ii) J. A. Smith, Toôe T l in Aristotle. Publicado originalmente em The Classical Review 35 1921, p. 19. Tradução de Paulo Fernando Tadeu Ferreira. Direitos autorais gentilmente cedidos por Oxford University Press. (iii) Philip Merlan, Aristotle’s Unmoved Movers. Publicado originalmente em Traditio IV 1946, pp. 1-30. Tradução de Paulo Fernando Tadeu Ferreira. Direitos autorais gentilmente cedidos por Fordham University Press. (iv) Suzanne Mansion, La premiere doctrine de la substance: la substance selon Aristote. Publi cado originalmente na Revue Philosophiere de Louvain 44 1946, pp. 349-369. Tradução de José Wilson da Silva. Direitos autorais gentilmente cedidos pelo Centre De W ulf - Mansion. (v) Hans Reiner, Die Entstehung und ursprüngliche Bedeutung des Namens Metaphysik. Pu blicado originalmente no Zeitschriftfür philosophische Forschung 8 1954, pp. 210-237. Tradução de Raphael Zillig. Direitos autorais gentilmente cedidos por Vittorio Klostermann Verlag GmbH. (vi) Augustin Mansion, Philosophie premiere, philosophie seconde et métaphysisque chez Aristote. Publicado originalmente na Revue Philosophiere de Louvain 56 1958, pp. 165-221. Tradução de Marisa Lopes. Direitos autorais gentilmente cedidos pelo Centre De W ulf - Mansion. (vii) G. E. L. Owen, Logic and Metaphysics in some Earlier Works of Aristotle. Publicado originalmente em Aristotle and Plato in the Mid-Fourth Century, ed. I. Düring e G.E.L. Owen, Studia Craeca et Latina Gothoburgensia vol. 11 1960, pp. 163-190. Tradução de Luis Márcio Nogueira Fontes. Direitos autorais gentilmente cedidos por Acta Universitatis Gothoburgensis e pela Sra. S. Owen. (viii) G. E. L. Owen, The Platonism of Aristotle. Publicado originalmente nos Proceedings of the British Society 51 1966, pp. 125-50. Tradução de Luis Márcio Nogueira Fontes. Direitos
autorais da British Academy; permissão gentilmente dada pela Sra. S. Owen. (ix) James H. Lesher, Aristotle on Form, Substance, and Universais: A Dilemma. Publicado originalmente em Phronesis 16 1971, pp. 169-178. Tradução de Paulo Fernando Tadeu Fer reira. Direitos autorais gentilmente cedidos por Brill Academic Publishers, com permissão do autor. (x) Jacques Brunschwig, La forme, predicat de la mati'ere? Publicado originalmente em Etudes sur la Métaphysicjue d'Aristote, cd. P. Aiibenque, Vrin 1979, pp. 131-160. Tradução de Marisa Lopes. Direitos autorais da Librairie Philosophique J. Vrin, com permissão do autor.
Créditos
j xiH
(xi) John Driscoll, E l A H in Aristotle’s earlier and Later Theories of Substance. pu^ originalmente em Studies in Aristotle, ed. D. J. O Meara, Catholic University Press 19gj 129-59. Tradução de Paulo Fernando Tadeu Ferreira. Direitos autorais gentilmente r •
-
j
pela Catholic University Press, com pernnssao do autor.
^ I Q
q ç
(xii) Pierre Aubenque, Plotin et Dexippe, exégètes des catégories d ’Aristote. Publicado
■
nalmente em Aristotelica —mélanges offerts à Marcel de Corte, Éditions Ousia e Presses (J
^
sitaircs de Liège 1985, pp. 7-40. Tradução de Marco Zingano. Direitos autorais gentilm ^ cedidos por Editions Ousia, com permissão do autor. (xiii) Terence Irwin, Le caractere aporétique de la Métaphysique d'Aristote. Publicado nalmente na Revue de Métaphysique et de Morale 95 n. 2 1990, pp. 221-248. Tradução de Mar^ Zingano. Direitos autorais gentilmente cedidos pela Revue de Métaphysique et de Morale com permissão do autor. (xiv) David Charles, Substance, Definition, and Essence. Publicado originalmente como capí tulo 11 do livro de David Charles, Aristotle on Meaning and Essence, Clarendon Press, Oxford 2000, pp. 274-309. Traduçáo de Marco Zingano. Direitos autorais da Oxford University Press, com permissão do autor.
I Sobre a Metafísica de Aristóteles
SO B R E A LEI D A C O N T R A D IÇ Ã O E M A R IS T Ó T E L E S
Jan Lukasiewicz
N a monografia acima denominada, o autor propôs-se a tarefa de submeter a uma crítica pormenorizada a exposição de Aristóteles sobre a lei da contradição, a qual está basicamente contida em Meí. E A necessidade de uma revisão da lei da contradição parece oferecer-se diretamente a partir do estupendo progresso da lógica simbólica, tal como foi iniciado G. Boole e poderosamente avançado pelos trabalhos de D e Morgan, Peirce, Schrõder, Frege, Peano, B. Russell entre outros. N ã o se pode ignorar o fato que a moderna lógica simbólica indica e significa, com relação à lógica fo rm a l tradicional e, especialmente, com relação à lógica de Aristóteles, um aperfeiçoamento talvez semelhante ao da moderna geometria com relação aos Elementos de Euclides. Assim como, no decorrer do século X IX , uma prova mais precisa do
princípio euclidiano das linhas paralelas conduziu a sistemas geométricos novos não-euclidianos, do mesmo modo não seria de se excluir a suposição que uma revisão fundamental das leis básicas de Aristóteles possa fornecer o ponto de partida para sistemas de lógica novos e não-aristotélicos. E ainda que os prin cípios aristotélicos da lógica, comprovem-se válidos para todo o sempre, eles não deixam de apresentar ao pesquisador moderno uma abundância de problemas não resolvidos. Sobretudo, cabe perguntar como as leis fundamentais mais eleva das da lógica, cujo número tem aumentado consideravelmente desde Aristóteles, devem ser formuladas e, então, em que relação elas estão umas com as outras, em particular se são todas independentes umas das outras ou se podem ser de alguma forma derivadas de um princípio último; além disso, se o seu âmbito de validade é ilimitado ou admite certas exceções e, por fim, o que nos justifica tomar essas leis básicas como irrefutavelmente verdadeiras. Trata-se de questões genuínas, que, de fato, foram ocasionalmente propostas e discutidas no passado, mas que, a partir da perspectiva da nova lógica, podem ser formuladas de modo significativamente mais acurado e postas sob uma nova luz.
Jan Lukasiewicz \
N a monografia em questão, tentei preparar o caminho para um tal tra tamento da lei da contradição. Assim sendo, pareceu-me útil por diversas razões vincular minhas observações críticas ao pensamento de Aristóteles. Com efeito, toda crítica deve ser dirigida a algo concreto, pois, de outro modo, ela geralmente se reduz a um embate vão do crítico com suas próprias fan tasias. A s intuições de Aristóteles a respeito da lei da contradição são, em grande medida, usuais até hoje e argumentos a favor e contra esse princípio encontram-se reunidos na obra do Estagirita em maior completude do que em qualquer manual moderno de lógica. A s minhas investigações, portanto, prosseguem tendo à mão o texto de Aristóteles e com o olhar nos resultados da lógica simbólica. Os seus resultados mais importantes serão esboçadçs com muita brevidade no que segue.
1. Aristóteles formula a lei da contradição de três maneiras, como uma lei ontológica, lógica e psicológica, sem jamais enunciar explicitamente a diferença
entre estas formulações. (a) Formulação ontológica: M et. T 3, 1005bl9-20:
tò
yàp airrò ãp.a
WTápxeiv t é (cal p.r| {jTrápxeiv àôúvaTOv t TÒ à\r]Q eveiv f| i|KEÚ8eaeai imápxei - "Todo discurso significa algo, mas nem todo é uma asserçao; somente aquele ao qual se aplica o
s e r - verdadeiro
ou o ser-falso". D e Interpr. c. 1,
16al6-18: Kai yàp ó rpayéXa^oç en ra ivei \iév t i, omrto 8è a\r)Qes f) I iv m TTO 4>eu8oç, eav (ir] to\ eivai r) im nn ceivai n pO wlóntW)S p«6i£eii^; OÚ5' eOeéws «o9ei/ iropeferai Jan Lukasiewicz \ II
eis 4>péap T| e is ápayya, èài-
rOxn, ò ) X à Ç a í v e r a i e i X a p o ú , ^ ,
oí-x ó(io!(os o ló fie w M-n àya9òv e W
tò ènTreaâv/ Kaí à7ae& . ’ “s
âpa õ ri t ò » è v péX-riov úrroXaMPám t ò 6’ o i PéXrum. -
*
lhor do que de qualquer outro modo, pode-se concluir que ninguém crí ( algo desse tipo, nem alguém outro, nem aquele que sustenta tal d i* uJ Senão, por que vai ele a Megara, ao invés de permanecer quieto ern cas opinando que está indo para lá? O u por que não se atira uma bela manhi
em um poço ou em um abismo quando este encontra-se no seu caminho e em vez disso, claramente toma cuidado, com o se não considerasse a que(jj indiferentemente não-boa e boa? É, portanto, evidente que toma uma das opções como sendo a melhor e a outra não .
13. Crítica às demonstrações aristotélicas da lei da contradição: Sobre (a): A primeira demonstração elênctica é insuficiente porque através dela não se demonstra a lei da contradição, mas, no máximo, o principio da dupla negação : se algo é um B, então ele não pode ser não-B. Contudo:
(i) O princípio da dupla negação é distinto da lei da contradição porque ele - como a lógica simbólica mostrou - pode muito bem ser expresso sem o conceito da multiplicação lógica, ao passo que a lei da contradição não poderia existir sem esse conceito. (ii) H á objetos, a saber, os contraditórios, por exemplo, “o maior número primo”, com relação aos quais vale o princípio da dupla negação, mas náo a lei da contradição. Portanto, uma inferência da lei da contradição a partir do princípio da dupla negação é inválida. Sobre (b): A segunda demonstração elênctica é insuficiente porque: (i)
N a melhor das hipóteses, a lei da contradição teria sido fundamentada
apenas para um domínio muito limitado de objetos, a saber, para a essência das coisas ou p ara a substância. A sua validade para os acidentes permaneceria em questão. - Que Aristóteles nesta demonstração esteja de fato vindicando a lei da contradição para as substâncias, isto resulta, por exemplo, da seguinte passagem: M e t .T 4, 1007bl6-18: ecrnii ã p a t i
kcu
cóç o v o i a v ox)\iáivov- ei
Se toüto, ôeôeiKTai ò ti à ftv v a T o v ãfia KaTr|yopeI(J0«i Taç — E assim haverá algo que designe a substância. Mas, se é assim, então foi a prova que é impossível predicar contraditórios ao mesmo tempo.
12
I Sobre a Metafísica de Aristóteles
(ii) A existência de substâncias é apenas protweí. Assim sendo, a lei da contradição, na medida em que está relacionada às substâncias, pode apenas ser tomada como provável (iii) A demonstração contém um erro form al porque faz uso de uma pre missa que pode ser demonstrada apenas de modo analógico: Se um objeto pudesse simultaneamente ser e não ser B em sua essência, então ele não seria unitário; pois B é algo outro que não-B. Mas demonstrações apagógicas pres supõem a lei da contradição. Sobre (c), (d) e (e): todas as demonstrações apagógicas são insatisfatórias porque elas contêm os seguintes dois erros formais: (i) Em todas está contida uma petição de principio. O modo de inferência apagógico depende do princípio da contraposição, o qual - como a lógica sim bólica mostrou - pressupõe a lei da contradição. - Mas isso também se pode expor verbalmente: O modo de inferência apagógico reza: se a é o caso, então b necessariamente será o caso; mas b não é o caso; portanto, a também não
pode ser o caso. Fundamentação: Se a fosse o caso, ocorreria uma contradição, pois necessariamente b também seria o caso, o que não ocorre. (ii) todas as demonstrações apagógicas de Aristóteles esbarram na obje ção da ignoratio elenchi. Aristóteles não demonstra que a mera negação da lei da contradição levaria a conseqüências absurdas, mas procura fundamentar a im possibilidade da suposição segundo a qual tudo é contraditório. Isso conclui-se muito claramente, por exemplo, da observação (cf acima, 12. c): se todas as asserções contraditórias são simultaneamente verdadeiras, etc. Porém, quem nega a lei da contradição ou apenas exige uma demonstração para ela não precisa supor que tudo seja contraditório e isso especialmente com relação àquelas ocorrências e estados de coisas que determinam a vida prática. A partir das considerações acima resulta claramente que Aristóteles, apesar do grande esforço, não demonstrou a lei da contradição. 14.
Deve-se destacar com ênfase especial o deslocamento do ponto de prova nas
demonstrações aristotélicas da lei da contradição. Além da já citada passagem de Met. T 4, 1007bl9, ainda outras vêm à consideração com respeito a esse aspecto: Met. T 4, 1006a29-31, 1008a8-16, 1008b31 - 1009a5 (final de Met. T 4). Essa última passagem é especialmente característica das exposições de Jan Lukasiewicz \
Aristóteles: ê n ei 5 n póXKTTa v á v r a o&TOS êXei Kaí oüx
(
ye nâXXov Kal f|TT()y êveoT iv kv r f j 4>úaet t o v õ u tw u oii 7àp gj, , ^ T,J 4>naaiuev e W
r à 8úo ã p n a Kai Ta rp ía , o tó ’ ópoíws Siéèp,»,,011? ^
,. v f /-v > y \ , ^CíL a o TCTTOpO TT€VT€ Ol
âv eiripev to íi aKpÓTOU Kaí KwXúoyTOç t i Trj ô ia y o ía òpíacu - « j ^ 01 mesmo que tudo seja bem assim e nâo-assim, segue havendo um mais ou Um *
nos com fundam ento na natu reza das coisas. Pois nós não diremos de ’ m odo que dois e três são pares e não se enganam de igual modo quem tQm quatro por cinco e quem tom a quatro p o r m il. E se não se enganam de igUaj modo, então evidentem ente um deles engana-se m enos e, por conseqüência d iz algo m ais verdadeiro. M as se o m ais verdadeiro está mais próximo da verdade, então deve haver um a verdade [absoluta] em relação à qual o mais verdadeiro está m ais próximo. E se não existe tal verdade, então há ao menos algo que é [relativamente] mais seguro e m ais verdadeiro e estaremos, final mente, livres do discurso sem sentido que não adm ite qualquer determinação lógica de um a coisa”. A p artir disso vê-se claram ente que, ao fim de suas exposições, o Estagirita não está m ais em penhado em dem onstrar a lei da contradição em sua generalidade, m as em encontrar ao m enos um a verdade absoluta e livre de contradição que possa fundam entar a falsidade da tese oposta por contrariedade à lei da contradição: “A m esma propriedade sim ultaneam ente pertence e não pertence a todo objeto". 15.
Este notável deslocamento de prova, cuja significação histórica não foi,
até hoje, apreciada, tem seu fundam ento em certas convicções positivas de Aristóteles. (a)
Em um dos m ais im portantes pontos para a lei da contradição, o Es-
tagirita parece não ter rejeitado de todo a intuição dos sensualistas.
P o d e m -se
m encionar as seguintes passagens de M et. T 5, 1009a22-36: èXiíXu0e & roiS 8iaTTopo0aiy auTT] f] 8ó£a èk Tcoy aíu0r]Tâ)y, r] p.ey to íi ã p a tò ç òi/ti^ck76 ? Kai T ayayT ia unáp x eiy , òpojaiy €K r a ír r o v 'yiyvópeva r a u a v n a ... Hèv oiiy to u ç ék ToÚTwy ím oX auPáyoyTaç époüpev, õ n rpórrov \iev ti
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| Sobre a Metafísica de Aristóteles
ò p ô c ^ X e y o w i, Tpóirov Sé T iva ày v o o ím v . t ò yàp ov XéyeTai 8iXws, à j T ’ é cttlv õv t PÓttov éu8éXeT ai y íy v e a ô a í
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8’ òv ou, K d âp.a t ò a v r ò e iv a i m l òy Ka í nf) òy, àXX’ ou k q tq Tairrò õy, 8uvá[iei \iev y à p èv8éXeT ai à^ia Tairrò eiv a i t ò èvavTÍa, evTeXexeíç 8’ 0^* _ Aqueles que vêem aqui u m a dificuldade real foram levados a esta opinião (que propriedades contraditórias e opostas por contrariedade podem existir ao mesmo tem po) a p artir da percepção sensível, na m edida em que perceberam que contrários surgem de um e o mesmo... Àqueles que assim opinam por esse motivo direm os que eles claram ente têm razão em um aspecto, m as que, em outro, d em onstram ignorância. Pois o ente tem dois significados, de form a que, de u m m odo, algo pode surgir do não-ente e, de outro, não. T am bém o m esmo pode ser ao mesmo tem po ente e não-ente, apenas não no mesmo significado. Podese ao mesmo tempo ter propriedades opostas por contrariedade po~
tencialmente, mas não atualmente
Em primeiro lugar, é de importância estabelecer que Aristóteles limita o domínio de validade da lei da contradição apenas ao ser atual. - Compare mos, então, a passagem citada com a seguinte: M et. T 5, 1010al-5: aÍTiov 8è Tf|ç 8ó£r|ç Toírrois o ti Tiepl twv õvtcov |ièv tt]v àXr)9eiav èoKÓTrouv, Tà
8’ õvTa ímeXa^oy eivai t ò aia0r|Tà (lóvov èv 8è to ú to iç ttoXXti r\ to u àopíoTou cj)úais èvuTrápxei Kal f] tou õvtoç outws ókrnrep eírro|iev. 8iò eiKÓTwç ^èv Xéyouaiv, oijk akrfir\ 8è Xeyouaiv - "A causa dessa opinião [i.e., da opinião que as coisas sejam ao mesmo tempo assim e não-assim, 1009b32-
33] reside em que eles [i.e. os sensualistas] realmente investigavam a verdade do ente, mas tomavam por ente apenas o que é perceptível pela sensação. Mas aqui predomina a natureza do indeterminado e aquele tipo de ser [o potencial] do qual
acabamos de falar. Disso resulta que eles realmente falam com plausibilidade, mas não exprimem a [completa] verdade. Assim, para Aristóteles, o mundo perceptível pela sensação, eternamente compreendido sob as noções de geração e corrupção, poderia conter contradições como um ser apenas potencial. De fato, Aristóteles não teve a coragem de as sumi-lo abertamente e apenas reporta-se diplomaticamente a uma passagem anterior. O sentido de sua asserção, contudo, é completamente inequívoco e encontra sua confirmação no fato que, para o Estagirita, o indeterminado é precisamente o potencial. Cf. Met. T 4, 1007b28-29: TÒ yàp 8u v án a òv Kal Jan Lukasiewicz |
|±f| èmreXexeía tò àópiaTÓv k o r i v - "Com efeito, o que existe potencial e não atualmente é o indeterminado". (b )
Sob essa luz, torna-se claro não apenas o mencionado deslocament
prova, mas também o significado da tão importante segunda dernonstr ^ elênctica: O mundo transitório e sensível pela percepção pode conter ta contradições quantas quiser, pois além dele há o outro mundo eterno e ' tável das essências substanciais, o qual permanece intacto e livre de quaisqu contradições. O s sensualistas têm mesmo razão, mas não conhecem a verdad
completa. Por isso, Aristóteles pede-lhes que também "reconheçam uma outr substância do ente, à qual não cabe nenhuma mudança, nem corrupção, nem geração" (M et. V 5 ,1009a36-38: ê n 8’ à£iaxJ0|iev airrous ÚTToAa^pávai, Ka\ âXXr|v Tivà oixjtav eivai twv õvtcov f) oure kÍvtjctiç ímrápxei outç 4>9opà
ouTe yéveois tò Trapáirav; cf. também M et. T 5, 1010a32-35). Assim sendo, deve-se estabelecer que, para Aristóteles, a lei da contradição não deve ser compreendida como uma lei ontológica-geral, mas como uma lei metafísica, a qual, em primeiro lugar, deve valer para substâncias e com respeito à qual é no mínimo ques tionável se o seu domínio de validade estende-se também a aparências9.
16. Aristóteles compreende a lei da contradição não apenas como a lei úl tima, mas também como a mais superior. Met. F 3 ,1005b32-34: ôiò TTcii/Tes oi à u o ô e iK iw re s eis r a v T j]v à v á y o v o iv ecrxáTr|i' 8ó£av ávai Kai òtTTOávai ou8e^iía Xa^pávei cnTÓ8ei£iç, àXX’ f| e à v 8ér] 8e!£ai Kai tò auirrrépaajia oímos. Seíiaarrai 8e Xa|3oü ^léaou,
õ tl àXr)0es, aTTOcj)ái/aL 8’ ouk áXrjOéç. t ò 8e ^lecov o v ô è v 8ia£Pel eivai Kai |ir| eivai Xa(3eTv, (I)ç 8’ auTwç Kai t ò tp íto v . ei yap é8o9ti
i6 I Sobre a Metafísica de Aristóteles
Ka0’ oil dvOpcjTToy à\r|0 èç eiTteiv, el Kal jif) auOpionou á\r\9 éç, àXX' ei póvov ayGptoTToy Cépei - "Que seja impossível simultaneamente afirmar e negar, isso não é pressuposto por nenhuma demonstração [silogismo], a menos quando a própria conclusão devesse demonstrar tal coisa. Isso, então, demonstra-se na medida em que se supõe ser verdadeiro predicar o primeiro termo do termo médio e nãoverdadeiro não predicá-lo. Mas, no que diz respeito ao termo médio e tam bém ao terceiro termo, não faz qualquer diferença supor que ele é e não é. Seja dado um objeto qualquer [por exemplo, Cálias], do qual se possa dizer com verdade que ele é homem, apenas sendo homem um animal e não um não-animal; será, então, verdadeiro predicar de Cálias que ele é um animal e não é um não-animal, ainda que homem fosse não-homem e Cálias fosse não-Cálias. A razão disso é que o primeiro termo vale não apenas do termo médio, mas também de outros objetos, uma vez que ele tem um âmbito de aplicação maior [do que o termo médio], de modo que não faz qualquer diferença para a conclusão que o termo médio seja e não seja o mesmo". Assim, para Aristóteles o silogismo seguinte é correto (A = animal, B = homem, C -- Cálias): B é A (e não também não-A).
C, que é não-C, é B e não-B. C é A (e não também não-A). Porém, se um silogismo é correto quando não vale mais a lei da contradi ção, então o princípio do silogismo (e, na realidade, o dictum de omni eí nullo) é independente da lei da contradição. 17.
Essa conclusão é totalmente confirmada pela lógica moderna sim
bólica. Além disso, a lógica simbólica mostra haver também muitos outros Jan Lukasiewicz
princípios e teoremas que são independentes da lei da contradição. O prin cípio da identidade, as leis fundamentais da simplificação e composição o princípio da distribuição, as leis da tautologia e absorção, entre outros continuariam tranqüilamente a existir mesmo se a lei da contradição não mais valesse11. Além do mais, não seria nada difícil comprovar também em palavras que tanto a lei fundamental da dedução quanto a da indução não pressupõem de modo algum a lei da contradição. Com efeito, existem inú meras deduções e induções que se desenvolvem apenas através de asserções afirmativas. Nesse caso, a lei da contradição não tem qualquer aplicação so
bre as mesmas, pois ela diz respeito sempre a uma asserção afirmativa e à negativa que a contradiz. N o meu ponto de vista, deve-se rejeitar de uma vez por todas a opinião falsa, amda que muito difundida , segundo a qual a lei da contradição é o principio mais superior de toda demonstração! Essa opinião faz sentido apenas com relação às demonstra
ções indiretas e não é verdadeira das diretas .
18.
Com isso, estão encerradas as observações crítico-históricas. - Na
parte restante (e positiva) do trabalho, eu procuro tomar posição com rela ção à questão sobre como estamos autorizados a tomar a lei da contradição por verdadeira. (a) A lei da contradição não pode ser demonstrada por proclamação de sua imediata evidência. Com efeito: (i) A evidência não parece ser um critério de verdade confiável. Ocorre que também asserções falsas são tomadas como evidentes (cf. a prova cartesiana da existência de Deus). (ii) A lei da contradição não parece ser evidente para todos. Para os antigos pensadores erísticos de Megara ou para H egel ela muito provavelmente não era evidente. (b ) A lei da contradição não pode ser demonstrada por seu estabeleci
mento como uma lei natural condicionada à organização psíquica do homem. Com efeito: (i) Também poderiam asserções falsas estar condicionadas à nossa organi zação psíquica (cf., por exemplo, muitas ilusões dos sentidos). (ii) É questionável que a lei da contradição possa ser tomada como uma
18
I Sobre a Metafísica de Aristóteles
lei condicionada à organização psíquica do homem (cf. as observações sobre a lei psicológica da contradição em 7). (c) A lei da contradição não pode ser demonstrada com base na definição da asserção falsa ou da negação. Sigwart tom ou esse caminho12, mas já Aristóteles tem precisamente essa demonstração em mente quando diz: Meí. T 4, 1008a34-bl: ê n ei òrav f) áaiç àXriOrjç f|, f] àTró^aaiç i[seuôí|ç, Kav aí/rr) àXi^Bfiç r\. r| KaTÓcj>aais
ouk
a v e’ír| tò airrò ãp .a 4>ávai
Kfli aTT0auaL aXXrjQwç - Ainda, sempre que a negação for falsa, a afir
mação será verdadeira e sempre que a afirmação for falsa, a negação será verdadeira. Assim, um e o mesmo não pode ser simultaneamente afirm ado e negado com verdade". C ontudo, Aristóteles imediatam ente abandona esta demonstração, pois acredita “que se poderia supor haver nela um a petição de princípio" (1008bl-2: àXX’ Íctwç ácreü)ç ÔéÔeiKrcu ôià rrXeióvwy êm TeXei toíi ’Ep[ir|veíaç ("Que as crenças contraditórias são opostas entre si, mostra-se de vários modos no fim do De Interpretatione.") (,Scholia in Aristotelem, Brandis, ed. Acad. Bor., p. 652). 4 N ão seria inadequado lembrar novamente as observações mordazes, mas precisas de Husserl (Logische Untersuchungen, vol. I., Halle, 1900, p. 82): "No mesmo indiví duo, ou ainda melhor, na mesma consciência não podem perdurar atos de crença contraditórios, ainda que seja por um ínfimo lapso de tempo. Porém, seria isso de fato um a lei? Podemos mesmo pronunciá-lo com generalidade ilimitada? Onde estão as induções psicológicas que autorizam a sua adoção? Não teria havido homens e não os haveria ainda que ocasionalmente, por exemplo, iludidos por sofismas, sus tentaram que contraditórias são verdadeiras ao mesmo tempo? Foram desenvolvi das pesquisas científicas para determinar se tais coisas - e mesmo as contradições evidentes - ocorrem aos loucos? O que dizer dos casos de hipnose, delírios febris, etc.? A lei tam bém vale para animais?" 5 A seguinte passagem de Hegel pode ser referida para esclarecimento ( Wissenschaft der Logik, W erke, vol. IV, Berlin, 1834, p. 69): "Algo se move não na medida em que neste agora está aqui e em outro agora lá, mas somente na medida em que em um e mesmo agora está aqui e não-aqui, na medida em que ao mesmo tempo está e não está neste aqui. É necessário conceder aos antigos dialéticos as contradições que eles m ostram no movimento; disso, porém, não se segue que não haja movimento, mas que o movimento é a própria contradição existente. 6 Cf. Trendelenburg, Logische Untersuchungen, I, Leipzig, 1862, p. 31 e Sigwart, Logik, Freiburg i. B., 1889,1, p. 186. 7 Cf. Sigwart, ibidem. 8 Cf. Maier, idem, vol. II. 1., p. 359: "como inferência ele [i.e., o elenchos] é idêntico ao silogismo demonstrativo . 9 M inha interpretação da lei aristotélica da contradição é, assim, essencialmente distinta da de M aier (cf. idem, vol. 1, p. 101). Todavia, o fato que Aristóteles oca sionalmente comete inconsistências e, de um modo geral, nem sempre tem clareza nesta questão que é m uito mais difícil do que normalmente se supõe e que foi proposta pela primeira vez por ele pode, até certa medida, explicar interpretações do seu pensam ento que sejam distintas e discordantes umas das outras.
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10A esse respeito, cf. Maier, idem, vol. II. 2 , p. 238, n. 3 e 1, Husie: Aristotle on th o f Contradiction and the Basis o f the Syllogism, M ind, X V , 1906, pp. 215-222
^
11 Pode servir de melhor introdução à lógica simbólica o pequeno trabalho com clareza e precisão por Couturat: LAlgèbre de la Logique, Scientia, phyS 24, Paris, 1905.
" ^
12 Logik, vol. I, p. 182 ss. 13 Até onde eu sei, Meinong foi o primeiro a expor esse ponto de vista. Na 0casiã0 de uma conferência sobre certas observações críticas de B. Russell, Meinong e* pressa-se da seguinte forma: ( Ü ber die Stellung d er Gegenstandstheorie im System^ Wissenschaften, Leipzig, 1907, p. 16): "B. Russell põe a verdadeira ênfase emqu€
através da aceitação de tais objetos [impossíveis], a lei da contradição perderia sua validade ilimitada. Naturalmente, eu não posso de modo algum deixar passaressa conseqüência. ... De fato, a lei da contradição nunca foi aplicada por ninguéma outra coisa que o real e o possível”. 14A expressão origina-se de Dedekind: W as sind und was sollen die Zahlen ?Prefácio. 15Cf. B. Russell, T h e Principies o f M athematics, vol. I., Cambridge, 1903, cap. XeFrege, Grundsetze der Arithmetik, vol. II, Jena, 1903, posfácio, p. 253. Adicionalmente: K.
Greiling e I. Nelson, Bemerkungen zu den Paradoxien von Russell und Burali-Forti, Abh. d.Friesschen Schule, N . F., vol. II, 1908.
| Sobre a Metafísica de Aristoteles
T O D E T I (TOAE TI) EM A R IS T Ó T E L E S
J . A . Smith
Pretendo retratar-me neste artigo por um erro concernente ao significado do termo TOÔe tl nas obras de Aristóteles, erro em cuja propagação temo ter alguma responsabilidade. Ver-se-á que, ao cometer o erro em questão, eu seguia altas autoridades ou, pelo menos, andava em boa companhia. Todavia, por integridade intelectual, abstenho-me de atribuir o erro a qualquer outro que não a mim mesmo. De qualquer modo, deve valer a pena reconsiderar a questão concernente ao significado de TÓôe t i . Os equivalentes convencionais do termo, correntes nas traduções, costuma vam ser hoc aliquid, dies etwas, this somewhat, este algo. Eram meras transverbações’ e não comprometiam necessariamente aqueles que os empregavam com alguma opinião precisa acerca do significado do termo ou da interpretação de suas pa lavras constituintes. Ainda assim, pareciam sugerir - e provavelmente aqueles que os empregavam pretendiam sugerir - uma opinião acerca de um e de outro. Sustentava-se que o sintagma todo significava o que em linguagem escolástica pode ser chamado o individuum vagum da classe dos algos’ -i.e. este ou aquele algo', qualquer algo'. Isso sugere que Aristóteles reconhecia uma classe de t i s ou algos’ e que o TÓôe aleatoriamente escolhia um membro dessa classe. De fato, o sintagma TÓôe t l era construído como paralelo e mesmo como a forma generalizada de sintagmas tais como õ ô e 6 âvOpwTTOÇ (este homem’). A primeira objeção do Prof. Burnet (edição da Ethica Nicomachea, p. 66n.), que, evidentemente, entendeu seus predecessores deste modo (e eu também), foi a de que nesse caso o artigo definido seria necessário. 'O grego’, diz ele, para dizer "este algo" tem de dizer t o t l TÓôe'. Imagino que ele retrocedeu diante de TÓÔe TÓ t l (que, se ocorresse, significaria apenas, penso eu, esta instância de t l ' ) . Se t o t l TÓôe ocorresse nesta ordem - nunca o vi - significaria, penso eu, por paralelismo com ó t l ç âvG purrroç (qualquer honiem'), o mdividuum vagum da classe de TÓôe s ('qualquer isto').
J. A. Smith I 25
^
o equivalente alternativo pro p o sto p a ra a substitu ição foi u m isto’, 0u quer isto'. Isso to m aria o sin tag m a com o paralelo e fo rm a geral de s i n t ^ tais com o a^pcoTíós T iç, & \ ó v t l (q u a lq u e r h o m e m , q u alquer matétia') _ i e como significando o mdividuum vagum d a classe de tstos. A qui, TÓôe é um tipo de substantivo genérico ou nom e de classe e t l é o artig o indefinido um; ou qualquer'. C o n stru ir assim o sin tag m a e, p elo m enos, m anter-se dentro das regras norm ais d a gram ática grega. A m esm a in te rp retaç ã o foi 0ferecida para Toióvôe t l , onde TOLÓvôe era to m a d o co m o u m adjetivo genérico de que XeuKÓv t l , KGtXóv t l , ktX. (alg o b ran c o , algo belo etc.) são instâncias específicas. Vejo, porém , agora m ais claram ente qu e a n te s as sérias objeções a tal opi nião. C o m efeito, (1) atribui-se a A ristó teles a d o u trin a de que existe uma classe de istos com o caráter-de-classe universal d a istidade (individualidade concreta). E u poderia entender que essa d o u trin a fosse a trib u íd a - não digo corretam ente - a H egel, a Bradley ou aos scotistas, m as atribuí-la a Aristó teles, m esm o com o latente em sua m ente, parece-m e u m anacronism o. (2) 0 significado a que se chegava para o todo do sin tag m a TÓôe t l não é o que ele p o rta nas obras de A ristóteles. A s duas interpretações têm isto em co m u m : tanto t l quanto TÓôe são no mes de classes altam ente gerais e a o u tra palavra o restringe aleatoriamente a um a instância singular da classe nom eada. N e n h u m a dessas interpretações é satisfatória. Subsiste, porém , ainda u m a o u tra possibilidade de c o n stru ir o termo que agora acredito que seja a correta -viz. to m a r ambas as palavras com o gerais. 0
j ê reê ° Para u m ^sto ^ sim plesm ente Toôe e, p a ra u m algo', simplesmente tl;
T(^ T
« * * - * * ■ » c ; * ' L mie se faz alusão a, ou pelo m enos se insinua, Unia . St dade^e motores55. A p artir do p o n to em que Aristóteles principia
^
que uma entidade eterna e imóvel deve existir, ele concebe essa ^ como (pelo menos possivelmente) abarcando u m a plural,dade de entld * (eternas e imóveis). C om efc.to, a questão com a qual o cap. 8 se abre já prenuncia aqui. E aqui, mais u m a vez, essas entidades sao compara s o que atualiza de tal e tal modo ); aquele, agindo da m esm a maneira em todos os tempos; este, agindo diferentemente em m om entos diferentes. O significado dessa passagem é obscuro. É costum eiram ente interpretada à luz de De generatione et corruptione II 10, 356bl5, e supõe-se que o seu resultado geral seja o
de que o movimento da esfera das estrelas fixas... é a causa da permanência história do mundo, ao passo que o m ovim ento eclíptico do sol—causa a alternância de nascimento e m o rte 54. M as, o que q uer que a passagem queira ■3 S^ üéncia (1072a21) fornece terra firm e em que podemos novamente nos apoiar. A existência de um a E ntidade eterna e imóvel tinha sido ante
riormente eduzida da eternidade do movimento, e esse argumento é agora oma o. C acordo com Aristóteles, o Prim eiro Céu é eterno, mas mo'" °' | Sobre a Metafísica de Aristóteles
deve, portanto, existir algo que, do mesmo modo, seja eterno e o mova, mas que seja, ele mesmo, imóvel (1072a24). Aqui, entáo, inicia-se a especificação dos motores imóveis e dos movimentos eternos causados por eles. O Primeiro Céu, de qualquer modo, é eterno, e é eterno o seu movimento; conseqüentemente, deve também existir algo eterno que o mova, sem se mover. M as Aristóteles não diz que o Primeiro Céu é o único corpo eterno eternamente movido. N em diz, ou insinua, que não é o único. A questão concernente ao número dos motores imóveis nem é feita nem se encontra decidida de antemão. Se formulada neste momento, a resposta lógica pareceria ser: Veremos. Se o movimento do Primeiro Céu vier a ser o único movimento (independente e) eterno, nenhum motor imóvel a mais terá de ser assumido; de outro modo, tal suposição será inevitável.' Em outras pala vras, por agora o m otor imóvel do Primeiro Céu representa a entidade imóvel, mas não necessariamente a esgota. A seção seguinte (1072a26-bl3) descreve a maneira em que o movimento eterno é posto em execução. O motor é a coluná dos objetos inteligíveis; é uma entidade (oínría) auto-suficiente; boa e desejável; uma causa final; existe necessariamente etc. N enhum desses predicados é inaplicável a mais de um motor. É apenas na seção seguinte (1072bl3-30) que o motor é, pela primeira vez, denominado Deus e descrito em termos que achamos difíceis de serem aplicados a um deus entre deuses. iVlas não seria essa dificuldade devida, principalmente, à tradição monoteísta a partir da qual eruditos de uma idade tardia se aproximaram de Aristóteles, que em outras passagens efetivamente emprega, ao exaltar os 'Deuses', os mesmos tons de enlevo que ele aqui emprega ao exaltar um 'D eus? D uas ilustrações podem ser dadas: ‘Portanto, as coisas são de uma tal natureza que não ocupam nenhum lugar, nem o tempo as envelhece; nem existe nenhuma mudança em nenhuma delas e as j j c,,o rluracão inalteradas e sem modificaçao, vivendo a continuam, durante toda a sua duraçao, mau melhor e mais auto-suficiente das vidas.
E, mais um a vez: o ,nm a He todos os seres vivos, são ven'Assumimos que os deuses encontram-s to> que eles são ativos... turosos e felizes... Todos supõem que eles vivem e, p
Philip Merlan \
nr niie eles durm am ... A atividade do Deus qUe ultr
* * POd£"
d e lv e set contemplativa*
os outros cm bcatitu
Por que, então, devemos assum ir que A ristóteles ao descrever e de]fi
I
do Prim eiro Céu, deva ter pretend,do negar (mesmo que
por
sténcia de quaisquer outros motores? Ç t 2
refutado (1072b30-1073a3)
*. *
a opinião de que o melhor e ma,s ^
ní0 é um prim e,ro principio, Aristóteles (1073a3-13) recap,tuia os ^ Provou-se, diz ele, que existe um a E ntidade -e te rn a , imovel e separadj ^ (entidades ou coisas) sensíveis. M o stro u -se, a seguir, q u e essa Entidade não
pode possuir m agnitude e é sem p artes, indivisível e livre de mudanças.
O que quer que Entidade possa significar nesse contexto, quer um só ser, quer uma esfera do ser, as palavras existe um a Entidade’ dificilmente podeni
significar existe apenas uma tal entidade’. Deve existir um a entidade além das idades sensíveis -com essas palavras abriu-se o cap. 6 e encerrou-se o cap. 7: enti isso eé o que foi provado. N ada é dito para indicar que a entidade cuja existência e natureza acabou de ser estabelecida (i.e. o m otor do Primeiro Céu) deva necessariamente ser única em seu tipo57. Ao contrário, o sumário que enumera as propriedades características de tal entidade form a um a transição perfeita mente natural à discussão com a qual o cap. 8 se abre; é como se Aristóteles dissesse: sabemos agora a que a entidade imóvel deve se assemelhar e sabemos que existe pelo menos uma tal entidade; consideremos agora se essa é a única ou se existem também outras. Com efeito, o sumário (1073a3-13) é uma introdução
tão indispensável ao cap. 8 que é difícil ver como este último poderia ser uma adição posterior se aquele não o fosse58. M as isso não nos envolve em dificuldades e perplexidades outras e ainda
maiores? Se é verdade que não existe u m a ten d ên cia m onoteísta (ou monocinética) mesmo naquelas seções que in tro d u z e m o m o to r do P rim e iro Céu e que mesmo a doutrina policinética' d o cap. 8 encontra-se já prefigurada nos
caps. 6 e 7, como podem os explicar o fam oso a ta q u e d e trom betas monoteís no fmal do livro A, o célebre e iç Koípavoç êcjTw? P o d em o s supor que tal repto P
e de súbito, sem quaisquer raízes no que precede?
ra, este autor se atreve a provar que, independentemente da discussão p e sem levar em consideração se as interpretações propostas são c I Sobre a Metafísica cie Aristóteles
ou erradas; sem levar em consideração até mesmo os argumentos a favor ou contra o monoteísmo ou o politeísmo de Aristóteles - o eis K oípaw ç eoro) não pode de modo algum ter qualquer coisa a ver tanto com o monoteísmo quanto com o politeísmo no sentido comum dos termos. Isso é o que a discussáo a seguir pretende tornar claro. N o cap. 10 (1075a25s5.), Aristóteles critica os seus predecessores. Essa crí tica, obviamente, não se limita aos tópicos discutidos no que imediatamente a precede (1075all-25), onde se argumenta que o Bem é tanto transcendente quanto imanente e que existe uma ordem a permear o universo. A crítica é de muito maior alcance e diz respeito ao seguinte: (1) Todos os filósofos supuseram que todas as coisas procedem de contrá rios. Mas isso é insatisfatório. N em todas as coisas procedem de contrários e, além disso, deve existir a matéria (1075a32; cf. Física A 6 , 189a20-b27; 7 ,191a4; Metafísica F 2, 1004b29; A 2, 1069b2).
(2) N em é lícito identificar a matéria com um desses contrários (1075a3234; cf. Física A 4, 187al8). (3) Se todas as coisas procedessem de contrários, todas participariam do Mal -exceção feita ao Um (que não pode, é óbvio, proceder de contrários (1075a34-36; cf Física A 9, 192al3)). (4) A inda menos certos estão aqueles que negam que o Bem e o Mal são princípios (1075a3Ó5.). (5) A lg u n s a d m ite m que o Bem é um princípio, m as não deixam claro de que m an eira (t.e. com o que tipo de causa) ele o é (1075a38s5.). (6) A o p in iã o de E m pédocles é igualm ente absurda. P rim eiram ente, porque ele ju lg a que a A m izad e (que para ele é o Bem) é tanto um a causa m otriz q u a n to u m elem ento m aterial, e am bas as coisas essencialm ente;
em segundo lugar, ele considera que a Contenda (que para ele é o Mal) é
eterna (1075bl-7). (7) Anaxágoras, com efeito, admite que o Bem (a Inteligência) é um prmcipio enquanto causa m otriz; mas, de acordo com ele, o Bem age a algo outro, diferente de si mesmo (não é uma causa final); ademais, ele nao reconhece um princípio oposto ao Bem (1075b8 II), ^ r (8) Mesmo aqueles que reconhecem contrários como princípios nao fazem qualquer uso apropriado dos mesmos (1075blls.)* Philip Merlan |
(9) N in g u ém explica p o r que algum as coisas sao perecíveis e outras .
perecíveis; pois, de acordo com eles, todas as corsas procedem de idênticos (1075bl3s.; cf. B 4, 1000a20). 10s (10) Ademais, alguns erradamente supoem que o Real provém do Irrea[ (1075bl4s.). (11) Outros, a fim de evitar essa consequencia, declaram que todas as cois são uma (1075bl5s.; cf Física A 8, 191a23; Metafísica B 4, 100la30).
**
(12) N inguém aponta a causa da geração e da sua perpetuidade (I075bl65•
cf. A 7, 988b2; A 9, 991b3). (13) Aqueles que reconhecem dois princípios deveriam (consistentemente) ter reconhecido tam bem u m terceiro, superior aos dois (1075bl75.).
(14) E isso se aplica também àqueles que assumem as Formas (e as coisas perecíveis), pois (se não houvesse um terceiro princípio) o que poderia causar a participação das coisas nas Formas (1075bl8'21)? (15) Ao passo que todos os outros filósofos são obrigados a assumir algo contrário à sabedoria e à mais preciosa forma de conhecimento, 'isso não nos é necessário; para o Primeiro 59 não há contrário, pois é destituído de matéria (1075b21-24). (16) Muitos negam a existência também de supra-sensíveis, mas tal negação acarreta conseqüências absurdas (1075b24-27; cf A 8, 988b22; T 5, lOlOal). (17) Formas ou Números 60são, é bem verdade, supra-sensíveis, mas, além disso, eles não são causas, ou pelo menos não causas de movimento (1075b27$.; cf Degeneratione et corruptione B 9, 335b7; Metafísica A 9, 991all; 991b4; 991b9;
M 5, 1079bl2; 27; 1080a2). (18) Ademais, como uma magnitude ou um continuum poderia provir de um Número sem extensão (1075b28-30; cf A 8, 990313)? (19) Contrários, pressupondo matéria e potencialidade, não podem ser responsáveis por coisas eternas (1075b30-34). (20) Ninguém é capaz de explicar a união de forma e matéria se não concordar com a nossa alegação de que é a causa motriz que a ocasiona (1075b;>4 37) (21) Finalmente, aqueles que (em suas descrições das esferas do Sc r) pr meiramente mencionam os Números matemáticos (não os Ideais) c, a segu* passam a enumerar uma entidade (esfera do ser) após a outra e supõe11 ferentes princípios para cada uma têm uma concepção do universo (c 4 6 | Sobre a Metafísica de Aristóteles
sendo uma peça rm m e) como consistindo de cenas desconexas em que o que precede nao az
i erença para o que segue; e introduzem uma multidão de
princípios (independentes) (àpXà s ttoXXÓç?). Mas a Realidade não se interessa (por ser como) um a cidade mal-governada (TToXiTeüe encorvtr distm í30 enf • D J ^ levaria a uma multiplicação dos elementos fundam ..................° de'Se' ^ e mais_ âkgar que o Um no Dom ínio dos núm eros ideais é diferente do Um no ^ U X J im y M v
mínio dos números matemáticos; mas, do m esm o modo, isso levaria a um. multiplicação dos princípios fundam entais85. Mas basta das críticas de Aristóteles. Elas podem ser assim sumariadas; De acordo com Platão, (1) existem três esferas do Ser: as Formas, os ob jetos matemáticos e as coisas sensíveis; (2) as Form as são as causas de todas as outras coisas; (3) dois contrários funcionam como os elementos (causas, princípios) das Formas e, conseqüentemente, de todas as outras coisas, sensíveis bem como imóveis86. M as essas suposições são insustentáveis. De acordo com Espeusipo, por outro lado, existem mais que três esferas do Ser, a primeira abarcando os objetos matemáticos. M as todas as esferas estão mutuamente relacionadas de modo não essencial (nenhuma delas, e.g, causa qualquer outra); cada esfera tem os seus princípios (elementos, causas)
específicos, de onde uma pluralidade indefinida de elementos (princípios, causas) resulta; na verdade, em cada esfera existem dois contrários específicos a funcionar como os elementos fundamentais (de m odo que o número dos ele mentos fundamentais é o dobro do número das esferas). M as essas alegações são igualmente inadmissíveis. N em as esferas, nem os princípios, cada um deles inteiramente independente do outro, podem pretender ser descrições satisfatórias da realidade. Encaremos, agora, a seguinte questão: a visão de Espeusipo é politeístaPois apenas se é, e na medida em que é, é lícito denom inar monoteista a visá expressa nas derradeiras palavras de Metafísica A. N a verdade, as palavras ouK ayaeow TToXwcmpai/tr), «ís Koípcmoç íbrco (n ão é bom ter muitos governa
res; haja apenas um governante) significam isto apenas, nada mais: eerra o assumir um número de esferas incoerentes do Ser -essas esferas depe"*"’ | Sobre a Metafísica de Aristóteles
uma da outra; e é errado assumir que cada esfera tem aoen« „ p]OS específicos -n a verdade, a esfera imóvel é o p r i n c í p i ^ c ^
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sensível. Mas se se assume que essas palavras se referem também à série de críticas por que sao precedidas, das quais a crítica à teoria de Platão é a mais importante, este significado ulterior pode ser assinalado a elas: e errado assufflir que existem dois princípios (elementos) contrários, vá. o Um e o Grande-ePequeno, que, por serem o princípio das Formas = Números, seriam também o princípio de todas as coisas87; porque a entidade imóvel, por ser imaterial, não é produzida por ou dependente de princípios (elementos) contrários88, mas é o unico principio de que todas as outras coisas dependem’. Os principais resultados deste estudo podem ser agora recapitulados: (1) A crença em uma pluralidade de motores enunciada em Metafísica A 8 não se encontra em contradição com a doutrina proposta no restante do livro -sem levar em consideração a questão relativa a quando e por quem o cap. 8 pode ter sido composto ou inserido. Esse capítulo não é nem mais nem menos monoteísta que o restante do livro, e isso é verdade da sentença final do cap. 10 não menos que de qualquer outra passagem. (2) A crença em uma pluralidade de motores imóveis não é incompatí vel com quaisquer demais doutrinas essenciais ao sistema aristotélico e, em particular, com a suposição de que a matéria é o princípio de individuação. Cada um dos motores imateriais forma por si mesmo uma espécie (como os números ideais de Platão ou os anjos de Santo Tomás) e os motores não são indivíduos de uma espécie ou de um gênero comum chamado motor imóvel, uma vez que eles constituem uma série de termos que se encontram, um para com o outro, na relação de anterior e posterior. (3) A seção 1074a31-38 não exprime nenhuma crítica à crença em uma pluralidade de motores imateriais. Ao contrário, ela pretende provar que não podem existir quaisquer motores imóveis além desses 47 (55) motores respon sáveis pelos movimentos dos corpos celestes que nos são conhecidos, visto que não pode existir outro sistema de tais motores além daquele a que se a u tu, que consiste de 4 7 (55) motores. Longe de ser estranha ao corpo do capitulo, a seção constitui uma parte essencial de seu argumento. (4) N o sistema de Aristóteles, os Motores Imóveis tinham uma posição intimamente análoga à posição que os Números Ideais tinham na filosofia de Philip Merlan \
Platão e, portanto, era natural que estes devessem funcionar, de cert0 m , como o modelo para a concepção de A ristóteles daqueles. (5)
A teologia de A ristóteles encontra-se intim am ente ligada às doutri
platônica e pós-platônica relativas às divisões do S e r e aos princípi0s 4 ^ ' divisões. M as Metafísica A não tem sido desde sempre julgada como o locus classicus d0 monoteísmo de A ristóteles e a interpretação aqui proposta não constitui unj contestação de uma tradição à qual os eruditos vêm se apegando há muitos séculos? Pode ser; mas talvez essa m esm a interpretação possa, com não menos justiça, ser considerada como um retorno à visão de eruditos que ainda não sentiam a necessidade de dar suporte e fortificar os seus próprios dogmas monoteístas, fazendo-os remontar à Metafísica de Aristóteles. Isto é o que Duhem nos conta sobre a primeira reação da Idade M édia a essa obra: au X lIIe. siède les premiers lecteurs de la Métaphysique ont fort bien senti que Ia doctrine de ce livre était en formelle contradiction avec le m onothéism e chrétien; ils ont fort bien vu que les... moteurs immobiles... étaient autant de dieux' (no século X III, os primeiros leitores da Metafísica perceberam muito bem que a doutrina desse livro se encontrava em contradição formal com o monoteísmo cristão; eles perceberam muito bem que os... motores imóveis... eram como que deuses’)89. E mesmo da reação de Santo Tom ás ele afirm a: 'St. T h om as a donc vu que la théorie des moteurs célestes proposée par A ristote conduisait au polythéismé (‘Santo Tomás, portanto, percebeu que a teoria dos motores celestes proposta por Aristóteles conduzia ao politeísmo')90. Talvez essas declarações sejam um pouco impetuosas demais. H á um importante elemento de subordinacionismo na doutrina dos motores imóveis que poderia encorajar uma interpretação monoteísta90\ Deus, então, seria identificado com o motor do Primeiro Céu, ou mesmo este ultimo seria subordinado a Ele. D e qualquer modo, ele p o d e ria ser concebido como tendo criado o resto dos motores91. Algo, porém, parece ser certo: quando Aristóteles compôs Metafísica A, estava muitíssimo interessado em demonstrar a existência enquanto atual»' dade de uma entidade divina, mas pouquíssimo interessado em provar q essa entidade é numérica e individualmente uma92. Afinal de contas, mesm única passagem nos escritos de Aristóteles93 em que ele explicitamente for^u a a questão relativa a se existe apenas um motor imóvel, e responde afirniat
I
Sobre a Metafísica de Aristóteles
mente, se revelara, sob mspeção mais acurada, um tanto quanto desapontadora para os defensores do monoteísmo' de Aristóteles. Pois essa passagem da física faZ parte de um capítulo cuja doutrina essencial foi apropriadamente descrita por Eudemo94 ao afirmar que tem de existir um motor correspondente a cada movimento eterno e contínuo, imóvel tanto incidental quanto essencialmente. Nâo há como encontrar qualquer frase concernente a apenas um tal motor ser possível (ao contrário, na passagem 259b28-32, uma pluralidade de motores parece assomar). O que Aristóteles realmente afirma é que um só e mesmo movimento não pode ser devido à atividade de mais de um motor95, uma vez que uma pluralidade de motores tornaria o movimento descontínuo; e mesmo essa alegação se refere apenas ao caso de diversos motores contribuindo para a produção de um só e mesmo movimento por atividades sucessivas, ao passo que o caso de uma pluralidade de motores simultaneamente contribuindo para a produção de um movimento nem mesmo é levado em consideração96. E isto dificilmente tem algo a ver com o monoteísmo’. É verdade que o próprio Jaeger -para com quem encontramo-nos em dívida por chamar a atenção para a interpretação de Eudemo- interpreta Física 0 6 de um modo diferente. De acordo com ele97, a teoria originalmente proposta nesse capítulo era a seguinte: existe, com efeito, apenas um motor imóvel que é eterno e causa um movimento eterno e contínuo; e existem muitos motores imóveis (almas) que são perecíveis e causam movimentos descontínuos de natu reza passageira. O motor eterno é imóvel no sentido de nunca ser movido nem essencial nem incidentalmente98, ao passo que os motores perecíveis podem ser movidos incidentalmente e, portanto, são imóveis apenas na medida em que nunca são movidos essencialmente ou, por assim dizer, ‘por conta própria. O argumento oferecido em favor da alegação de que existe apenas um motor eterno dizia respeito a dever ser descontínuo e, portanto, não poder ser eterno o mo vimento causado por uma pluralidade de motores. Mas, de acordo com Jaeger, ocorreu subseqüentemente a Aristóteles que esse argumento não teria efeito se existisse um número de movimentos co-eternos e contínuos (tal pluralidade de movimentos co-eternos era assumida por teorias astronômicas recentes) -cau sado por um número igual de motores imóveis e eternos. De modo a adaptar o capítulo a esse novo ponto de vista, Aristóteles adicionou duas frases -não, porém, porque ele procurasse refutar a possibilidade de movimentos co-eternos, Philip Merlan
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mas ao contrário, porque ele a estava admitindo. Essas duas frases reg; ■ le r um, quer muitos (2 5 8 b ll) e: (o pr.m e.ro motor) se ele for um, ^ meiros motores, se mais de um' (259a7s.). M as, de acordo com ja eger/ ^
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dificuldade surgiu. Aristóteles alegara que os motores perecíveis (as aImas)
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movidos incidentalmente (mesmo que não essencialm ente); mas e os
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das esferas celestes cuja existência ele agora adm itia? Por uma ou outra parecia a Aristóteles que estes tam bem seriam movidos incidentalmente ^ m esm o modo que as almas das criaturas vivas se movem junto com 0s Seüs corpos (mesmo quando esse movimento é causado pelas próprias almas). ^ Aristóteles percebeu que, também com respeito a isso, deveria existir uma di ferença entre os motores das esferas e as almas dos seres vivos. E, com vistas a formular tal diferença, Aristóteles introduziu uma d istin ção entre os dois mo dos em que os motores imóveis podem ser movidos incidentalmente: as almas são movidas incidentalmente na medida em que são carregadas pelos corpos animais sobre cujos movimentos as mesmas presidem; e os motores celestes são movidos incidentalmente na medida em que as esferas movidas por eles tam bém são movidas por outros motores (viz. no caso em que uma pluralidade de movimentos eternos é comunicada a um só e mesmo corpo celeste). E essa nova consideração foi expressa por outra adição, a saber, a frase 259b28-32. Graças a essas duas séries de adições, o capítulo agora estava adaptado à nova opinião, que admitia uma pluralidade de motores imóveis e eternos. Algo, porém, permanecia por ser dito: Aristóteles ainda não declarara expli citamente que todo movimento eterno pressupõe um motor eterno separado, e coube a Eudemo dizê-lo nessas palavras; ele o interpretou como se Aris tóteles tivesse escrito: cada movimento eterno em separado deve ser descrito assumindo-se um motor eterno separado. E a interpretação politeísta de Eudemo era perfeitamente legítima: ela simplesmente representava as opini' ões finais de Aristóteles. é a análise de Jaeger de Física 0 6
Por ser muito complexa, pode
tada em alguns pontos. M as vamos supor que está correta em cada detalhe O que se segue? Se Aristóteles pudesse perceber -com o deve ter per , f acordo com a analise de Jaeg er- que o monocinetismo' original capiti, o po cria ser transformado em policinetismo’ graças à in serção de sentenças, esse monocinetismo' (ou 'monoteísmo', como comum*1*
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Sobre a Metafísica de Aristóteles
denominado) jamais poderia ter tido raízes firmes em sua mente e jamais po deria ter sido uma parte essencial ou mesmo central, de sua filosofia100. Com efeito, esse mesmo capítulo foi interpretado como expressão de policinetismo' por Eudemo, a quem Simplicio chama de yvrioiwTaToç Ttov ’ ApioTOTeXouç gTOupwv (o mais autêntico discípulo de Aristóteles). Ademais, esse capítulo é (ou, originalmente, era) monocinético apenas na medida em que também assume (ou, originalmente, assumia) somente um movimento eterno. Com essa suposição, entretanto, Aristóteles não pretendia negar a possibilidade de mais de um movimento eterno e contínuo, mas ele simplesmente não considerava tal possibilidade em conjunção com o problema de movimentos co-eternos. Conseqüentemente, se endossamos a análise de Jaeger quer em maior, quer em menor grau, não há nada, nem mesmo em Física 0 6, que contradiga o resultado da nossa investigação, resultado esse relativo a ser consistentemente policinética (ou politeísta'), em vez de inconsistentemente monocinética (ou monoteístá), a doutrina expressa em Metafísica A -embora, certamente, não seja antropomórfica. Em geral, é bem verdade, estamos inclinados a pensar a transição do monoteísmo ao politeísmo como sendo, ao mesmo tempo, uma transição do antropomorfismo mais tosco à mais pura noção de Deus. Um estágio medial, um politeísmo desantropomorfizado, aparece antes como uma construção lógica que uma realidade viva. Mas parece que Aristóteles (e, talvez, também Platão101) representa justamente esse estágio intermediário. Foi pelo antropomorfismo ou, antes, pelo antropopatismo da religião popular que eles sentiram repulsa, não por sua pluralidade de deuses . E e bastante certo que Epicuro, em sua polemica contra seus adversanos ímpios, insiste em ambas as questões: a pluralidade dos deuses e o antropomorfismo dos mesmos, porque as duas questões são diferentes. Os motores imóveis de Aristóteles são deuses certamente não semelhantes aos homens; mas ainda assim eles são muitos
Philip Merlan
n o t a a d ic io n a l
Vale a pena ler a seção de ab ertu ra d a M etafm ca de Teofrasto (I j . j j 3.6 Ross and Fobes), em que se d iscu tem tod os os problemas c o n c e r ^ ao número e às características das esferas do S e r ; a sua concatenação; „ * mero de Entidades na esfera m ais elevada; o p r.m e.ro motor; o número de movimentos eternos; e as dificuldades relativas não m enos à suposição de um motor imóvel que à suposição de m uitos m otores imóveis.
’ A p x r) ô é , TTÓ Tepa a w a < t> f| t i ç
K a i 0 10 1 / K O i i W t a
T e y o r iT O iç Kal t o T s t t \ ç < j> w e ío s , r j o u ô e j i i a T iv a
a u v a < | )r]v K a i [ir| e i r e i o o ô i c ò S É S ' t o
T T p ò ç a X À rjÀ a to íç
. . . e v X o y á r e p o v ô ’ o w ç ly a í
n a v ...
('M as o princípio é uma certa com binação e com o que uma associação dos inteligíveis e das coisas da natureza uns com os outros, ou náo é nada ?... É mais plausível que o todo seja um a certa combinação, e não seja apenas uma série de episódios../) O s vor\Tá ( inteligíveis') são as o ix jía i (entidades') supra-sensíveis de Aristóteles; tÒ Tfjs1 (jjúaewç ( as coisas da natu reza’), as ai(J0T]Tai oucriai (entidades sensíveis') de A ristóteles; e a questão é se uma
o p in ião
como a de Espeusipo (Metafísica de A ristóteles N 2, 1090a4-15; 3 , 1090bl5; cf A 10, 1076al), cujo universo consiste de esferas do ser que não
c o n tri'
buem umas com as outras m utuam ente, é verdadeira; ou se, em vez disso, é verdadeira uma opinião como a de P latão (M etafísica de
A r is tó te le s
N 3,
1090a2-4), que pelo menos asseria que as Form as são as causas’ de todas ai outras coisas; ou como a de A ristóteles, que provou que o Supra-Sensí*1. sendo a causa do movimento do Sensível, encontra-se em contato’ com « K' Teofrasto favorece as últimas opiniões.
a 8 ’ oív ofrro, Tts r, 6a.s aírrfil/ (scil TÜV mr]TÜv) m l b> ™íolí: e e assim, qual é a natureza deles (sal. dos inteligíveis) e etn que tipo de coisas ?’)
I
Sobre a Metafísica de Aristóteles
Essa é a questão de Aristóteles relativa a se existe apenas um ou, em vez disso, se diversos tipos de ow.icu supra-sensíveis existem, e de que tipo estas sáo (Metafísica de Aristóteles B 1, 995bl6) -idéias, objetos matemáticos ou o que mais? Ei
yotp
p.a0q|iaTiKdis ^louoy Ta vor|Ta ... oÚTe ayuv €Íxjt}|ios
rj awac^ri t ò íç ai(T0r|Toiç... (Pois se os inteligíveis apenas nos matematicos, não se encontra suficientemente bem assinalada a combinação com os sensíveis../); além disso, os objetos matemáticos parecem também ...ôi’ aírrtòv ouôejiíai^ exeiv c})úaiv ('...não ter por si mesmos natureza algum á). Aqui Teofrasto discute a possibilidade de a entidade supra-sensível ser sim plesmente os O bjetos Matemáticos (Metafísica de Aristóteles A 1 ,1069a34; M 1, 1076a21; 6, 1080al4; N 4, 1092a8); ele a rejeita por razões dentre as quais a segunda se encontra em Aristóteles.
Ei ô’ érépa t i ç ouaía TTpoTépa Kai KpeÍTTojv èoTÍv, TaÚTqv TieipaTeov Xéyeiv, TTÓTepov jiía tiç , küt’ àpiG^òv r] kot’ elôos q kotò yévoç. ('M as se a primeira entidade é algo diferente e superior, deve-se tentar dizer, a respeito da mesma, se é uma segundo o número, segundo a forma ou segundo o gênero/) Aqui Teofrasto discute a possibilidade de existir uma outra entidade (nãomatemática) supra-sensível e conecta essa discussão com a questão relativa a se essa entidade mais elevada e uma ou são muitas, i.e. ele faz exatamente a mesma pergunta que Aristóteles em A 8. Torna-se, portanto, absolutamente claro que dizer que não existe senão uma oixjia supra-sensível —esfera do ser não induz a qualquer tipo de concepção prévia relativa ao numero de ouaíai = entidades nessa esfera do ser. M as Teofrasto não exclui a possibilidade de a entidade supra-sensível se encontrar, para com as suas entidades, na relação de gênero ou espécie das mesmas.
Philip Merlan \
EüXoyÚ Tepoy 8’ ohu á p x f ls ^
b f O a a s é v è X íy 0 l s ^
J U . d «pa Kai « u - TV „ . f É mais Plausível que, por possuírem a nacureza de um prmapio,* trem em coisas poucas e eminentes, se nao nas primeiras e na primeira/) Teofrasto, destarte, favorece o bligopoliteismo, ou o mono-polite;smo. ^ um modo semelhante a Aristóteles em Física 0 . E interessante perCeber mesmo a segunda possibilidade (b> - * p ú ™ S Kai b> rS> Trpú-™,
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meiras e na primeira) fala em uma pluralidade de causas' na(s) primeira(s)
scil. esfera (s). Tíç 8’ ow aírrT| kqí TÍves eí uXeiouç, -n eiparéov è R a iv e i v. (‘Deve-se tentar evidenciar o que é, ou o que são, se são muitas.’) Ele, portanto, ainda permite quaisquer possibilidades quanto ao número de oixjíai.
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eoriv Kai ôiajiéyei. (‘Talvez seja necessário apreender por intermédio de al guma potência ou de alguma superioridade relativamente às demais coisas, por exemplo, como se fosse Deus. Pois é divino o princípio de tudo, por meio de que todas as coisas existem e se mantêm.’) Aqui, de um modo semelhante a Aristóteles em Metafísica A 2, 983a7, Teofrasto experimentalmente assume que a oüaia mais elevada é Deus, e se encontra relacionada às demais coisas de um modo divino (não do modo que os objetos matemáticos se relacionariam a elas).
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T |,la M, pareça ser insustentável); W. D. Ross, tavel);W Rosí: Aristotle's A r ,M k s Physics Pbys,cs (Oxford 1936) 94-102. Foi-r Foi-me .„acessível o trabalho d e j. Dockx ^ e Theorie von den Onbewogen Beweger bij A rU to!17'ÍÍÂ tbrÍ|í voor J J
Philosophie 1 (1939) 747-800.
9 De acordo com Jaeger, Aristóteles implicitamente assinalou três diferentes significados ao termo primeira filosofia em três estágios sucessivos de seu desenvolvimento. Na primeira fase, concebe-se a metafísica enquanto Teologia e, enquanto tal, enquanto o conhecimento de apenas uma, a mais alta circunscrição do ser, sendo essa fase melhor representada por Metafísica A. No segundo estágio -o de transição-, significa algo como lógica metafísica,
o conhecimento do ser enquanto ser (Metafísica T e E). No terceiro e último estágio (que, entretanto, nunca foi completa e consistentemente desdobrada), significa conhecimento do Supra-Sensível, baseado em, e incluindo, o conhecimento do Sensível (este último sendo também um legítimo objeto da metafísica); e é esta opinião final que subjaz à discussão de Metafísica Z, H, 0 (em que se concebe o eiSoç como incrustado na matéria) e M 1-9 (onde se inicia uma nova abordagem metafísica). -Para críticas, ver H. F. Cherniss em The American Journal o f Philology 56 (1935) 261-271, esp. 265. É, de qualquer modo, a metafísica
enquanto teologia, representando quer um estágio particular, quer apenas um aspecto particular da filosofia de Aristóteles, que devemos considerar aqui. 10 Deve-se enfatizar que a questão de até que ponto a descrição da filosofia de Platão por Aristóteles é correta pode ser completamente desconsiderada para os propósitos da presente discussão, pois estamos aqui preocupados apenas com a auto-interpretação de Aristóteles por meio da interpretação dele -certa ou errada- de Platão. 11 Metafísica A 6, 9 8 7 b l4 :ê n ôè TTapà tò alaOriTà kcu r à eíôrj tò liaGr^aTiKa twv npay\iájuv eluai ÒT]i\oao4>íaç ... öaanrep a ! okríai (tantas são as partes da filosofia... quantas são as substâncias). C f E 1, 1026a6-20; K 7 , 1064bl; De anima 1 1 ,4 0 3 b l0 ; também Jaeger, op. cit. 216; W. D. Ross, Aristotle’s Metaphysics (London
1924) lxxviii. Em Física B 2, 193b22-36 e 194bl4, a distinção entre essas três ‘filosofias’ é igualmente pressuposta. Sobre a história dessa famosa tricotomia, ver J. Mariétan, Probleme de la classification des sciences dAnstote à St,Thom as (St.-Maurice et Paris 1901) e
L. Baur em Dominicus Gundissalinus, De dmsione philosophiae (Beiträge zur Geschichte der Philosophie des Mittelalters 4, Münster 1903) 194-204 e 325-397; uma interpretação moderna em J. M aritain, T he Degrees o f Knowledge (London 1937) 44-46. Cf. tambem E. Zeller, Die Philosophie der Greichen II 2 (quarta edição Leipzig 1921) 181 n. 3. Nao se parece prestar suficiente atenção à raiz platônica dessa divisão tripartite; pretendo re tornar a esse tópico e à questão de como graus de ser tiansformaram se gra ua men em graus de conhecimento' C f Física B 7, 198a29 e o comentário de Santo Tomas ad loc. com a nota 24.
Philip Merlan
12i Metafísica Z 11, 1037al4; A 1, 1069bl; M 1, 1076a9; 9, 1086*21 Qf 220ss.; W. D. Ross, Aristotle (terceira edição London 1937) 69 '
13 Metafísica E 1, 1026*18; K 1 ,1059b2; 7, 1064bl. ' 14 Essas características as Form as têm em com um com os objetos d entretanto, diferem na m edida em que p od em existir diversos ob triângulos similares) em uma só e m esm a classe, ao p asso que a ponde a roda uma classe. Metafísica A 6, 9 8 7 bl6 ; B 6, 1002bl4 ^
&er, op cit-\
ITlatef^át ^ %, UíTla ^°rn\^ h
15 Metafísica E 1, 1026al0; K 7, 1064a33. ' ' 3c
X
1 ,1076a8; 6 , 1 0 8 0 b ll; 9, 1 0 8 6 a ll e 26. 17 Metafísica Z 2 , 1028bl9; M 1, 1076a21. 18 Metafísica K 1 , 1059b2 e 13; M 2, 1077b23; N 3, 1090a29. 19 Metafísica A 1, 1069a33; c f 6, 1071b3. 20 Xenócrates fr. 5 Heinze e pp. 3ss. e 75 H einze. Cf. R o ss, Arist. Metaph. Ixxv n. 2; Theofa, tus Metaphysics ed. Ross and Fobes (London 1929) 56s. Incidentalmente, vale a pena notar
que é virtualmente impossível dizer se em República V I 13, 5 00c, Platão está falando de idéias ou de corpos celestes. C f Aristóteles, Metafísica K 6 , 1063al6; T 5 , 1009a30 e 1010a30; H. Cherniss, Aristotle’s Criticism o f Plato and the Academ y I (Baltimore 1944) 199 n. 117. 21 A expressão kv rw oüpavçj (no céu’ ou no mundo’) para aicr0T]T0 (sensíveis’) ocorre em Aristóteles, e.g. Metafísica B 2, 997b7; cf. A 8, 990a5; D e caelo I 9, 278bl9-21. 22 Que o Sensível pode ser um objeto de 'filosofia e, portanto, de conhecimento verdadeiro, parece ser uma doutrina peculiar a Aristóteles. M as ver F. Solmsen, Plato’s Theology (Ithaca 1942) 82s. 23 Cf. H. H. Joachim em sua edição do De generatione et corruptione de Aristóteles (Oxford 1922) xix e xxii; Ross, Aristotle3 70; Metafísica A 8, 989b34; E 1, 1026a27. 24 Em Física B 7 ,198a29, lê-se: 8iò tpels' aí TTpay^iaTeiai ( são, portanto, três as disciplinas’), e espera-se encontrar física, matemática, teologia, mas encontra-se, na verdade, ií
Trefx
(iKívr)TU)i>, r) 8è Trepi KiWL'p.éva)P p.èv à(J>0ápT(jji7 8e, f| 8è irepl TÒ 4>0ap ra (uma,sobre
os imóveis; a outra, sobre os movidos, mas incorruptíveis; e a outra, sobre os corruptíveis). A segunda divisão obviamente designa a astronomia. C f n. 12 i f 25 Metafísica A 6 , 987b23; 9, 991 b9 e 22; A 8, 1073al8; M 6, 1080bl3; 7 , 1081a7; 8 ,1083al8; 9 ,1086a5 e 12; N 3 ,1090al7; 4 , 1092a8. -P ara todos os problemas referentes à identified0 de Ideias e Números, c f Ross, Arist. Metaph. lxiv ss.; O. Becker, 'Die diairetische Erzeugung er Platomschen Idealzahlen', Quellen und Studien..., Abt. B I (1931), 464-501. -P-S oaJ (e.g. em Plato, The Republic, Loeb Classical Library II, pp. xx e 164s.) nega e n fa ti^ ent,
existência de tal doutrina nos escritos de Platão e encontra-se obviamente bastante ind* g
e todo a sua existência nos ensinamentos de Platão. O motivo parece se
númlCÇa° / qUC tanCO 3 ldcntlílca^ ° das Wéias com os Números quanto a d i s a * * acríticoT f r e, matemátÍCOS sào W e poderiam ser mantidas apenas por ^ Acade,nia' A «taid e de Shorey em relação às notícias de A r i * * * * I
Sobre
a Metafísica de Aristóteles
de Platão lembra a de Natorp. De qualquer modo, para os nossos corretude histórica do relato de Aristóteles nào é de importância alguma t f
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H. Cherniss, T he Riddle o f the Early Academy (Berkeley/Los Angeles 194s{ 1730; 6 a 26 Cf Metafísica M 8, 1084al2; Física T 6, 206b32. 27 Metafísica A 8, 1073a 14-22. Cf. Ross, Anst. Metaph. Ixix s.; Jaeger, op cit 220 n 3
« Isso explica porque já no cap. 6 (1071b21) uma pluralidade de oùncn eternas é tâo natu ralmente assumida. Cf. n. 53 infra e Cherniss, Aristotle’s Criticism I 220; 458 n. 406. 29 Metafísica A 8, 989b23. 30 Metafísica T 8, 1017bl0; Z 2, 1028b8; H 1, 1042a8. 31 Metafísica A 8, 989b24; B 1, 995bll-18; 2, 997al5-18; 34; 997bl; T 2, 1004a4; 3, 1005bl; 5 ,1009a38; E 1, 1026a28-30; Z 2, 1028bl0; 21-34; 11, 1037all-l7; H 1, 1042a5-13; K 1, 1059a27; 1059bl-2; 7, 1064a35; 1064bl0-14; A 1 ,1069a30-b2; 6 , 1071b4; 1 0 ,1075b38; M I, 1076al7-24, 9, 1086a24; N 1, 1087a29. Cherniss, op. cit. 364, sugere realidade’. 32 O uso desse termo foi-me sugerido pelo falecido prof. Gomperz. Cf J. Lagrange, Comment s est tranformée la pensée religieuse d’Aristote’, Revue thomiste 1926, pp. 285-329, esp. 31055.
34 Repete-se tão freqüentemente quão grande artista Platão é quando comparado com Aris tóteles que eu peço licença para apontar que mesmo como um mito o Timeu é freqüente mente feio ou quase ridículo. Basta mencionar os pequenos pinos usados pelos deuses para manter o homem inteiro (43a). 35 Cf. Guthrie, Classical Quarterly 1934, pp. 92 e 98. 36 Cf. E. Frank, Plato und die sogenannten Pythagoreer (Halle 1923) 1335. 37 Os Números Ideais de Platão não carecem de matéria; o Grande-e-Pequeno funcionam como tal. Cf. Metafísica A 6, 987b21 e 35; N 1, 1087b7; cf. 2, 1088b20. Mas isso, evidente mente, não é matéria como principium individuationis. Seria absurdo defender que o Grandee-Pequeno, i.e. a Quantidade Indefinida que se transforma em uma Quantidade definida por causa do número Dois era uma Grande-e-Pequeno diferente daquele ao qual o numero Três confere determinação. 38 Metafísica M 6, 1080al7; 8, 1083a34; cf. L. Robin, La théorie platonicienne des Idées et des Nombres d'après Aristote (Paris 1908) 289; Ross, Arist. Metaph. p. liii e II 427.
^9 Sobre essa explicação ver Ross, op. cit. exix e cxxxix. Na verdade, ela nào é especificamente tomista, uma vez que Alberto Magno ja a conhecia: Metaph. X I, II, 10. coelestes... circuli habent animas sed praeter animas sunt intelligentiae separatae et has intelligentias Angelos vocant../ ( os círculos celestes... têm almas, mas além das almas há inteligências, e chamam Anjos a essas inteligências...'); X I, II, 28: bmnes substantiae separatae differunt ab invicem specie... Sicut loco sphaerarum una est superior altera, ita etiam dignitate una substantia differt ab altera' (‘todas as substâncias separadas diferem uma da outra por causa da espé cie... Assim como por causa do lugar das esferas, uma é superior a outra, do mesmo modo por causa da dignidade uma substância difere de outra'). Mas a opinião de Santo Tomás, expressa em Summa theol. II, II, q. 7, registra: ‘frivolum est dicerc quod intelligentia movens aliquid corporum coelestium sit Angelus ( c trivial dizer que a inteligência que move os corpos é um Anjo'), -O s sujeitos do vocant de Alberto são, com certeza, hlosofos como
Philip Merlan
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Avicena, Averróis, Maimônides (sobre cuja mterpretaçao dos motores imóv. Wolfson, Crescas’ Critique o f Aristotle [Cambridge 1929] 108s. 666s.). Sobre a
^ A.
angelologia, cf. Cl. Baeumker, Witelo (Münster 1908) 523-606, esp. 537 e 545- V ^ The Reactions (n. 3 supra) 73-86; D. E. Sharp, Franciscan Philosophy at Oxford in ’th( Century (London 1930) 263s. Ambas as doutrinas (motores são anjos, eSpecifl
^
diferentes um do outro) estão em al-Farabi: ver I. Madkour, La place dal Fàrâbi philosophique musulmane (Paris 1934) 82, 84, 85 n. 2, 88, 98; Alfarabisphilosophise^
au* *
lungen übers. von Fr. Dieterici (Leiden 1892) 98; M . Horten, Das Buch der Ringsteine p
(Münster 1906), 200s.; Duhem, op. cit. (n. 2 supra) IV 442.
1
ar
Cherniss, op. cit. 593-95.
P
371. Se essa interpretação é correta, a passagem parece implicar que Aristó
Sobre a ^ “física de Aristóteles
ceies reconhecia pelo menos dois princípios diferentes de movimento-»m ' , i I n • • 1 uuvimento. um, responsável pelo movimento do Primeiro Ceu; o ourro, pelo movimento do sol. Pode valer a pena notar que a distinção de Platao entre os dois tipos de movimento (Timeu 36c) -um, caracterizado pela Mesmidade e relacionado ao movimento do céu mais externo; o outro, caracterizado pela Alteridade e concernente aos movimentos dos planetas- forma uma contraparte digna de nota às palavras de Aristóteles. Uma outra explicação da passagem aristotélica encontra-se em v. Arnim, Die Entstehung... 59-62; Eudemische Ethik...' 43-47.
55 De caelo I 9, 2 7 9 a l8 (tradução da Oxford, ligeiramente modificada). 56 Ética mcomaquéia X 8, 1178b7 (traduçáo da Oxford). Aqui, onde 'Deus e 'deuses' se alter nam, nada indica que Aristóteles fosse menos entusiástico relativamente à vida de muitos deuses do que em relação à vida contemplativa do Deus único. 57 As palavras à^epf|s Ka l àÔ iaíperoç (sem partes e indivisível’, 1073a6) certamente não o implicam de modo algum. Quando se alega que ã alma’ é essencialmente simples e in divisível, não se pretende deixar implícito que existe apenas uma alma em existência. O significado é o de que essas propriedades podem ser predicadas de toda e qualquer alma. E, do mesmo modo, a alegação de que a entidade imóvel’ é sem partes e indivisível encon tra-se longe de deixar implícita qualquer asserção a respeito do número de tais entidades (nota do prof. Gom perz). 58 F. Blass -pode valer a pena notar- em 'Aristotelisches', Rheinisches Museum 30 (1875) 481«., esp. 486s. e 493, sustentou, com efeito, que toda a seção 1073a3-1074bl4 era uma adição posterior, inserida pelo próprio Aristóteles, mas originalmente fazendo parte de uma ou tra discussão. Assim, o oírroi em 1074b3 tinha uma referência definida em seu contexto original, ao passo que agora parece flutuar no ar. Além disso, entretanto, a própria seção inserida era interrompida por uma outra inserção: 1073b38-1074a38 (a seção a corrigir as figuras de Eudoxo). Blass baseou a sua teoria na sua observação dos hiatos. Não ha hiato em 1073a3'b38, ao passo que os mesmos são abundantes em 1073b38-1074a38, novamente desaparecendo em 1074a38-bl4. Ora, mesmo de acordo com essa teoria, a passagem monoteísta' 1074a31-38 teria feito parte da seção mais abrangente 1073a3-1074bl4 antes que a mesma fosse incorporada a Metafísica A e, conseqüentemente, não poderia ter sido escrita com o propósito de criticar a pluralidade dos motores. Mas mesmo se pudesse ser provado que ela é, afinal de contas, uma adição posterior, ela poderia ter sido inserida apenas a fim de suplementar e complementar a prova de que o número de motores imóveis não pode ser maior do que 47 ou 55 -u m a prova que, de outro modo, teria permanecido incompleta. 59 Tò TípóiTOV ( o Primeiro') aplica-se igualmente bem a um motor e a diversos; o ponto e apenas que o Primeiro não pode provir de contrários. 60 El ô’ écttcu TÒ eí8ri T) òpiOpoí ('Se existirem as Formas ou [ou explicativo] os Numeros) mss. omnes. 61 Criticas 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 11, 16, 18 referem-se em parte a opiniões nâo-platômcas, em
parte a doutrinas platónicas (não só de Platão), não tendo senão pouco a ver com a presente investigação.
,
62 Sobre essa ài/aywyrj (’redução'), ver e.%. Metafísica T 2, 1004b33; K 2 , 1061a
.
* Metafísica A 4, 1070a31; 1070b9-22; 2 6 -3 0 ; 5, 1071a3-U ; 19-24 (princípios comuns per
Philip Merlan
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/ ï O outro caso de princípios com uns (o que e principio de uma 0uaÍQ analogxam). O outro ca p m 3 107 l a 34 . é princípio de seus acidentes): 5, 1Ü7UMO
64 Metafísica A 4 , 1070b345., 5, 1071a36 65 Metafísica A 10, 1075b22; N 2, 1088b l4-28. 66 Cf. Metafísica B 1, 995b8; T 2, 1003bl7. 67 Metafísica A 1, 982b9. 68 Metafísica A 8, 989b24-990a7. Cf. n. 11 69 Metafísica A 6, 987bl8*. 70 Sobre a equação elementos = princípios = causas, ver H . Diels, Elementum (Leipzig 1899) 22, 31, 345. Sobre a diferença, ver Metafísica A 4, 107 0 b 2 2 : todo o r o ^ l o v (elemento’) é ópxrj (princípio’) e a m o u ('causa'), mas, um a vez que é sempre um a àpxrj ou um aiTiov imanente (um m nmápxov), o aTOixeîov nunca pode ser um a àpxn ou um outioi- no sentido de um Kivow ('m otor'). A 1, 1013a21 e b l 8 e A c. 3 são irrelevantes no presente contexto. Os contrários de Platão, i.e. o Grande-e-Pequeno, são descritos não apenas como CTTOixeXa, mas também como apxa|- e cttTia; Metafísica A 9, 9 9 2 b l8 -9 9 3 a l0 ; A 4 , 1070a34; bl-35; 5, 1071a24 e 3 0 ; M 9, 1086a28; 10, 1086b 20; N 2, 1 0 8 8 b l5 ; 285.; 34; 4, 1091a31; b3; 21; 2 4 ; 31; 1092a7.
71 Metafísica A 6 , 9 8 7 b l4 -9 8 8 a l5 .ra p à r à ala0r|Tà Kai r à eiôq r à pa0ri(iaTLKà w
irpay-
HÓtwv eivai r|CTÍ p.eTa£ú ... ’ EttcI 8 ’ a m a r à eí 8r| t o l s âAAoiç, raK eívuv a Toixeia TíáuTojy à)f|9r| tôju óutojv eivai aTOixeîa. Oç pèu ovu u\.r)v t ò [iéy a Kai t o [iLKpòi> eivai à p xás, wç 8’ o v oiav t ò êv ... vE t l ... tt)i/ toíi ev Kai kükcõç a m a u to íç aTOixetoiç crrcéSojKei' ('[Platão] dizia que existem, além dos sensíveis e das formas, os objetos matemáticos intermediários... Um a vez que as formas são as causas de todas as outras coisas, ele julgava que os elementos destas são os elementos de todos os entes. Grande-e-Pequeno são causas a título de matéria; o U m , a título de entidade... Ademais,... ele atribuiu a causa do Bem e do Mal aos elementos’). Cf. A 9, 9 9 2 a l0 (o ím a ç àváyeii' eiç Tag à p xáç 'referir as entidades às causas’); B 1, 9 9 6 a 2 ; 4, 1000a5 e 20.
72 E.g. todos os argumentos que atacam o reconhecimento de formas e/ou objetos mate máticos subsistentes carecem de importância no presente contexto e, do mesmo modo, os argumentos que se referem à questão relativa a se os princípios (elementos, causas) das formas são concretos ou gerais. Para a relação entre A e N, cf. Jaeger, op. cit. 223 ss.
73 Mais abaixo ver-se-á por que apenas esses dois são mencionados. 74 Metafísica N 1, 1087a29-b4 ( cf. supra, crítica 1). 75 Metafísica N 1, 1087b4-33 (cf. crítica 2). 76 Metafísica N 1, 1087b33-1088a8. 77 Metafísica N 2, 1088bl4-28 (cf. crítica 19). 78 Cf. críticas 10 e 11, e Física A 3, 187a7.
79 Metafísica N 2, 1088b35-1089a6. Cf. críticas 10 e 11. 791 Metafísica N 2, 1089a7. 80
Metafísica N 2, 1090a4-15: oúOc-wç ... 0í>r6 ^ a \v 5 Xé y w axnòu [scil. naer^aTiKOV
apt0,íoi/J e W . ('Q Liem diz que o número matemático existe nao sustenta que é causa de algo.')
I
Sobre a Metafísica de Aristóteles
si Metafísica N 3 , 1090a25-28.
«2 Metafísica N 3, 1090bl6-20 (cf. supra, crítica 21). Uma comparação rUc 2, 1028b21 e A 10, 1076al torna claro que é Espeusipo que é atacado
^
Sobre as esferas do ser de Espeusipo, ver Frank, op. cit. (n. 36 supra) 245-261 ^ PaSSagenS’ 83 C f Metafísica A 9, 991b29; N 3, 1090b30-32. » Cf. Metafísica M 9. 1085a9-14;31-35; N 3 , 1090b37. No domínio das magnicudes espaciais, „ Longo-e-Curto, o Largo-e-Estreiro e o Alto-e-Baixo representam formas específicas do Grande-e-Pequeno; o Um, nesse domínio, é representado pelo ponto. 85 Metafísica N 3, 1090b32-1091a5.
86 Metafísica M 1 , 1076al9; 9 , 1086a26; N 1 , 1087a30; 2 , 1090a3-4; 19; 3 , 1090b20. 87 Metafísica M 9, 1086a26. 88 Metafísica N 2, 1088bl4. Duhem, op. cit. V 355. Alberto, o Grande, e Henrique de Ghent, de qualquer modo, per ceberam claramente o politeísmo de Aristóteles; ver S. Talamo, Laristotelismo delia scolastica (terceira edição Siena 1881) 162sí.; cf. Ph. Boehner, 'Der Aristotelismus im Mittelalter', Franziskanische Studien 22 (1935) 338-347, especialmente 340 n. 4 .0 Ps.-Duns Scot, em seu
comentário In Metaph. (loc. cit.), afirma: philosophus videtur aperte consentire opinioni, quae dicebat omnes substantias immateriales esse Deos...’ (Vê-se que o filósofo abertamente consente com a opinião que diz que todas as substâncias imateriais são Deuses...’). Para Santo Tomás, ver n. 48 supra. 90 Duhem, op. cit. V 548. 902 Cf. De generatione et corruptione II 10, 337a20-22. 91 Cf. E. Renan, Averroês et lAverroisme (quarta edição Paris 1882) 118. 92 E, com respeito a isso, a sua posição parece refletir a atitude da mentalidade grega em geral. Estou em dívida para com o prof. Gomperz pela seguinte citação de E. Meyer, Geschichte des Altertums II (Stuttgart 1893) 769: ‘In Griechenland spielt die Frage be züglich eines oder mehrerer Götter kaum irgend eine Rolle. Ob die göttliche Macht als eine Einheit oder Mehrheit gedacht wird, ist belanglos im Vergleiche zu der Frage, ob sie überhaupt existiert und wie ihre Natur und Beziehung zur Welt verstanden werden muss.' ('Na Grécia, a pergunta relativa a um ou muitos Deuses não tinha nenhum papel. E sem importância se o poder divino e pensado como uma unidade ou uma pluralidade, em comparação com a pergunta relativa a se ele, em geral, existe, e como deve ser entendida â natureza e a relação dele com o mundo.) Exceções, é óbvio, são sempre possíveis. Uma delas é representada por Filodemo, que (Depietate 17-19, pp. 84-86 Gomp.) sustenta que o monoteísmo é ateu e que apenas os politeístas são verdadeiramente pios. Mais tarde Celso (Orígenes, Contra Celsum V III 11; 25) atacará o ateísmo do monoteísmo judeu. Jaeger afirmou ('Greeks and Jews', The Journal o f Religion 18 [1938J 127-143) que Hecateu de Abdera, o primeiro autor grego a mencionar os judeus, deve ter sido atraído por seu monoteísmo; e que Teofrasto deve ter considerado os judeus uma naçao filosófica por causa de seu monoteísmo. Mas mesmo se não assumirmos, com J. Bidez e F. Cumont, Les mages hellemsés (Paris 1938) 240-242, que Hecateu, em dívida para com Demócrito ou Leucipo, tenha sido por completo um espnt libre, temos de conceder a possibilidade
Philip Merlan
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An ralvez mais chocado que atraído pelo monoteísmo • j >
úaei30. O escólio anônimo à Metafísica fala de uma TGt^is Trjs àyayiAÍxieojç, uma ordem da leitura, o que, por sua vez, corresponde à interpretação desenvolvida por Asclépio31. Quando é dito, ao mesmo tempo, que o nome teria sido escolhido “não segundo a natureza da coisa", coisa é aqui compreendida, como mostra o texto seguinte, no sentido de xf] (f)úaei, ou seja, deve-se com isso apenas rejeitar a interpretação segundo a qual o objeto da Metafísica seria tal que fosse em si posterior ao da Física. O outro escólio anônimo (às Categorias) reporta, de fato, o nome |i£ra r à 4)U(TiKá ao local do conjunto de escritos por ele designados no quadro da obra aristotélica reunida. Mas mesmo aqui é pressuposta uma f u n d a m
e n ta ç ã o
objetiva para essa ordenação, no sentido em que, na seqüência (do a p r e n d i z a d o e, com isso,) dos livros, o que surge como posterior deva ser originalmente anterior32. Finalmente, em Simplício opõe-se-nos (como também notou já a interpretação platonizante do nosso conceito que mais tarde tornou^ dominante, a qual por muito tempo acreditou-se encontrar documenta em primeiro lugar em um escrito de Herênio (hoje reconhecido como çg
|
Sobre a Metafísica de Aristóteles
falsificação da renascença)” . O u seja, a (te rà r à wHtó é ,
■■
em uma representação compreendida mais ou menos esn aciÜ ! ““ “ f 1“ “ 1* da Metafísica como situado além da natureza (Úttèd 6 ° ~ \n + -i- , M °ueTreK€iva TÍjv ^xnKU/). Com isso, entretanto, a >de.a da taxis não foi abandonada por S í o
i
pKcio, mas traz,da em conexão com essa outra perspecriva*. Mesmo a u J o nosso conceito nao tem de modo algum um significado apenas editorial Isso tudo considerado, pode-se concluir que, dos testemunhos nos quais a teoria hoje dominante parece apoiar-se, nem um sequer de fato a comprova Nenhuma passagem declara que o nome Metafísica seria originado apenas da ordenação editorial externa. Antes pressupõem todas que essa ordenação ex terna estava fundada na natureza do nosso conhecer e, deste modo, em última instância, estava objetivamente condicionada. Algumas passagens mostram igualmente que essa ordenação objetiva e a mesma a partir da qual é expresso o título 'Filosofia Primeira. Note-se adicionalmente que também uma revisão dos demais comentários a Aristóteles dos antigos que tocam a nossa questão (à Metafísica, de Siriano e às Categorias de João Filopono) não fornece nenhum outro resultado. Siriano apresenta a interpretação platonizante em sua pureza, enquanto Filopono apresenta uma conexão da mesma com a idéia da taxis de forma semelhante a Simplício. 3. Através das conclusões extraídas na seção anterior, toda a questão a respeito do surgimento e s i g n i f i c a d o original do conceito Metafísica é disposta em um ponto de partida diferenciado. A resposta até agora fornecida a ela, pelo menos por ora, tornou-se infundada e em seu lugar sugeriu-se outra essência m ^te diferente. Entretanto, a coisa ainda
não
recebeu uma n o « solução Pelo con
trário, primeiro impõe-se uma sequencia de Per? u" j ^ 3 j efinitiva da nossa pendentes das outras) de cuja resposta depende a « k no tempo questão principal. Essas perguntas rezam:are qiw ^ ^ ^ fa0j como a interpretação defendida por Alcxan ie e
^
Jeve seu surgime„to?
esse supõe, a interpretação originai, a qua Ou talvez os testemunhos históricos que no
Jisponíveis forneçam base
Hans Reiner
|
para supor que antes desta interpretaçao aind a ex.stm outra! E, se sift) interpretação mais antiga corresponde ao p onto de vista ate agora domi
‘5
ou ela vai em unta terceira direção, diferente das dem a.s? Q ue testemunhos mais antigos, anteriores a Alexandre de Afrodísj,, ciem o ponto de vista até agora d o m in an te é de início muito iniplausíve|' Nesse caso, os seus defensores teriam , antes de tudo, tomado apoio s0brt estes testemunhos melhores e m ais antigos, m as disso nada se encontra eu qualquer um deles,
/ USP
Com respeito a quanto retrocede no tem po a interpretação de Alexandre e Asclépio, segundo eles próprios o autor do nom e Mctafisica seria ninguém outro que Aristóteles e a ele deveria tam bém rem ontar a interpretação defen dida pelos mesmos. Conta fortemente a favor deste ponto de vista o fato que
ÍSSD/FFLCH
o seu fundamento apóia-se sobre uma teoria indubitavelmente característica de Aristóteles. Entretanto, conta ao mesmo tem po não menos fortemente con tra este ponto de vista que Aristóteles, nos seus escritos conservados até nós, empregue apenas outras designações para a Metafísica, nunca este título, e que a referência precisa mais antiga ocorra apenas em Nicolau de Damasco, ou seja, apenas na segunda metade do primeiro século a.C. Além disso, parece ganhar peso contra este ponto de vista, como de costume, o fato verdadeiro que o supostamente mais antigo catálogo remanescente dos escritos de Aristóteles, transmitido por Diógenes Laércio, não contém o título Metafísica. Consideremos individualmente, porém, cada um dos
te s te m u n h o s
po
sitivos do título Metafísica anteriores a Alexandre de Afrodisia. São eles. 1* um escólio na conclusão da Metafísica de Teofrasto, no qual é mencionado um escrito composto por Nicolau de Dam asco sobre a Metafísica de (0ewpía
tC)V
Aristóteles
’ ApicjTOTeXouç M c tò t q c^uairá). (Este testemunho,já ^ en'
cionado, é o mais antigo de nosso título em absoluto)35. 2. uma referência » nosso
t ítu lo
na Vida de Alexandre de Plutarco que, todavia, após a descobe ^
dos manuscritos, tornou-se tão questionável que foi rejeitado pela nova textual . 3. A referência a nosso título em dois antigos catálogos dos es ^ aristotélicos, em um anônimo, publicado pela primeira vez p ° l provavelmente antes tirado de Hesíquio) e em um catálogo que remo ^ p ripatético Ptolomeu Queno, que nos foi conservado por dois escrif°r do século X I II .
IOO
I
s °bre a Metafísica de Aristóteles
^
, Hm suma, estes testemunhos nada oferecem irnediat uma vez que se trata geralmente apenas de menções a n ^ r í n I tiva explicação do mesmo. Entretanto, chegaremos um pouco m
* ” p“ ’
siderarmos os referidos testemunhos em seu contexto histónco restrito e Z Z Partiremos da pergunta sobre quanto retrocede no tempo a interpretado de Alexandre de Afrodísia e procuraremos em que medida podemos estabe lecer uma conexão entre ele e os denominados testemunhos anteriores. A esse respeito deve-se, em primeiro lugar, assinalar que Alexandre estava profunda mente familiarizado com a totalidade da literatura filosófica mais antiga ainda remanescente em seu tempo, especialmente na medida em que ela concernia ao ambito dos problemas da Filosofia aristotélica, Também a concatenação acadêmica filosófica do Perípato permaneceu um contínuo vivo, especialmente a partir do tempo da renovação interna dessa escola por Andrônico de Ro des. A este respeito, temos indícios em pormenores que mostram em parte simultaneamente a inclusão da pergunta pela ordem dos escritos aristotélicos nessa tradição acadêmica: Pela proximidade no tempo e pelo genius loci do local de origem de Ale xandre, é de se considerar como certo que ele esteve em conexão acadêmica com Adrasto de Ajrodísia, o qual atuou na primeira metade do século II d. C. Adrasto escreveu um livro sobre a ordem dos escritos aristotélicos (iTepi Tc^eioç Tcòv ’ ApiOTOTeXous aijyypappcmoi') que, entre outras coisas, tratava dos títulos dos livros. Adicionalmente, pode-se constatar que Adrasto, por sua vez, era dependente do trabalho de Andrônico, o que sabemos a partir do modo como ele trata dos temas37. Ainda, pode-se demonstrar que Alexandre de Afrodísia utilizou um co mentário às Categorias redigido por Alexandre de %e» Alexandre de Ege foi professor do imperador Nero e, assim, dificilmente nao rena vincu o e tra dição com Nicolau dc Damasco, qne, pouco mais de me,o seculo antes, o n ^ uma estreita relação com o imperador Augusto e, c o m o fito >0, * pertença ao Peripato». Assim se estabelece uma ligaçao h,ronca
de Afrodísia também a Nicolau de Damasco.
de
tempo que vai
Portanro, é muito improvável que enrre “ Per‘F con|iecida q u a l q u e r de Alexandre de Afrodísia a Andrônico de Rode colltradiçâo circunstância ou fosse defendida alguma teoria q u e esc,ve*e Hans Reiner \ 101
I
com a interpretação de Alexandre do título Metafísica. Nesse caso, com efejt Alexandre dificilmente teria defendido seu ponto de vista a esse respeit0 ^ * inequivocamente e sem reservas como o que resulta certamente das apre sentações de Asclépio, que é dele inteiramente dependente, quando não das respectivas passagens que nos foram conservadas dele próprio. Com isso chegamos, na recondução do nosso título, até Nicolau de Damasco e Andrônico de Rodes, ou seja, ao tempo do qual se origina um dos testemunhos do título acima referidos (aparentemente o mais antigo deles). Agora, também por outros caminhos resulta que Nicolau de Damasco dificilmente, para dizer o mínimo, possa ter aprendido outra coisa sobre esse título do que Alexandre. A obra em questão de Nicolau era ainda conhecida por Ibn Roscbd (Averroes), que a menciona diversas vezes em seu comentário à Metafísica40. As respectivas passagens, na realidade, nada fornecem diretamente à nossa questão41. Todavia, com base nesta familiaridade de Averroes com o escrito de Nicolau, é possível extrair uma certa conclusão negativa sobre o ponto de vista de Nicolau a esse respeito, partindo da explicação dada pelo primeiro para o nome Metafísica. Averroes, de fato, explica o nosso título precisamente no mesmo sentido que Alexandre de Afrodísia e Asclépio42. Isso seria dificilmente concebível se ele conhecesse, de alguma forma, uma outra explicação convincente do nome. De resto, esse argumento negativo em favor da recondução da interpretação de Alexandre de Afrodísia até Nicolau de Damasco é fortalecido ainda mais pelo fato que já Ibn Siwâ (Avicená), um século e meio anterior a Ibn Roschd, apresentou da mesma forma que este os escritos de Nicolau perdidos para nós e também os de outros peripatéticos, defendendo igual e até mais decididamente a interpretação reproduzida por Alexandre e Asclépio43. Deve-se agora examinar o que pode ensinar a menção do título ^€Tà ra c^uairá em conexão com os outros testemunhos mais antigos acima citados. Nesse caso, a passagem de Plutarco nada nos oferece, mesmo
d e s c o n s id e r a n d o
sua exclusão pela moderna crítica de texto. Os antigos catálogos de escritos ari>to télicos, ao contrário, compensam uma discussão mais acurada. Além
dos
dt
catálogos que contêm o nosso título, o de Anonymus Menagii e o de Ptobtne^ Queno, deve-se também recorrer àquele de Diógenes Laércio, no qual falta o r tulo, como já foi mencionado, mas que de resto coincide amplamente co catálogo do autor anônimo4,1.
102
I
Sobre a Metafísica de Aristóteles
O catálogo anónimo fornece duas vezes o título principal, uma vez em um anexo que, contudo" é u
e' fora do texto
(acrescida apenas no século I I d.C„ como mostrou' M
mUÍt° posterior
precisa, ou seja, a ordenação do título n ,-«, „ A «ncatenação • m — 'X * v v ; v/1. I V I I l d i ' • • 3 PaSMSe m n í° p o rta n to , ongmal . não permite quaisquer conclusoes sobre seu significado original. A ordena ção no texto principal, ao contrário, é notável na medida em que o título aqui está entre os que contem a designação àTTOprj|iaTa ou irpopÀ^aTa45. Disso resulta provável que também os ^ T a ^ w iK a k\ que ocorrem aqui, tenham sido pensados como problemas e que tenham como tal obtido seu lugar após a Física e não apenas como título externo. No catalogo de Ptolomeu a Metafísica esta no fim de uma longa seqüência de escritos de Ciência Natural —essencialmente os que hoje ainda nos foram conservados - , ao passo que depois disso também se inicia uma seqüência de títulos com problemata. Surge daí a pergunta se o sentido dessa posição da obra - de fato após a Física!’ - pode ser determinada com maior precisão. Moraux mostrou que uma sistemática precisa serve de base não apenas ao catálogo de Ptolomeu (a respeito do qual Littigjá tinha afirmado anteriormente isso)46, mas também aos dois outros e, na verdade, a mesma que fornecem os antigos comentários às Categorias (de Amónio, João Filopono, Simplício, Olimpiodoro e Elias), concordando quase inteiramente. Assim sendo, classi ficavam-se os escritos de Aristóteles, primeiro, nos gerais (to küBoXou), nos individuais (tò pepiKcí, cartas, no essencial) e nos intermediários (to ^icTa£ú, entre os quais estava, por exemplo, a coleção das constituições dos Estados). Os escritos gerais dividiam-se em sintagmáticos (ou seja, completamente desenvol vidos) e hipomnemáticos (apenas esquemáticos, esboçados em apontamentos). Dentre os primeiros diferenciam-se os diálogos ( exotéricos, postos na voz de outros) das exposições orais formalmente feitas pelo próprio Aristóteles (deno minadas acroamáticas e também a.utottpócrwttci). No último grupo (ao qual pertencem quase todos os escritos que nos foram conservados) são re eri os na seqüência: escritos lógicos (ou orgânicos, isto é, pertencentes ao
g'
práticos, poiéticos e teóricos, os quais (correspondendo à introdução fo rra d a ern Metafísica E 1) dividem-se em científico-narurais, marematicos e teo ogicos. Essa classificação, na verdade, é diversas vezes seriamente romp.da e desarticulada na lista de Diógenes e na do autor anônimo. Mas os romp,mentos, Hans Reiner
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como mostrou Moraux, são explicáveis através de diversos acidentes’ nas trans crições. Tam bém o fato que nessas duas listas aparece, em títulos isolados conteúdo não insignificantemente diferente do que na lista de Ptoloirteu nada muda na concordância quanto à divisão fundamental. D isto resulta, antes de mais nada, que a posição da Metafísica após os es critos de Ciência N atural na lista de Ptolom eu não foi mera coincidência e que o nome |ieTCt TCt (})ixjiK0i não era uma mera denominação paliativa de natureza editorial. Ele corresponde, antes, a uma refletida e objetiva ordenação conjunta dos escritos aristotélicos46*. N a medida em que examinamos os escritos acroamáticos (os quais nos interessam de maneira especial, já que a Metafísica está entre eles), o sentido objetivo dessa ordenação é esclarecido ainda mais pelas exposições sobre a ordem do aprendizado associadas pelos comentadores à discussão da divisão. N a verdade, a esse respeito ocorreram certas discordâncias nos pormenores. M as, no geral e com respeito à grande totalidade, a seqüência assim fornecida corresponde à da divisão do conjunto. A isso, o comentário de foáo Filopono adiciona indicações que mostram que essa ordem do aprendizado, em seus traços fundamentais, remonta no mínimo a Andrônico. Filopono nota, a saber: “Boeto de Sídon diz que se deveria começar com a Física, uma vez que ela nos é mais confiável e mais conhecida, pois dever-se-ia começar com o mais seguro e o mais conhecido. Contudo, o professor dele, Andrônico de Rodes, disse com base em considerações mais precisas que se deveria antes ainda começar com a Lógica (xpqvai TTpÓTCpov ctnò T fjç XoyiKÍjç âpxeaGai), uma vez que essa trata da demonstração. Com efeito, já que em todas as suas discussões o fi lósofo faz uso do método da demonstração, deveríamos primeiro
c o n h e c ê - lo
direito'*17. Vemos aqui, antes de mais nada, que a ordem do aprendizado baseiase no mesmo ponto de vista (a via natural do conhecimento) a partir do qual Alexandre e Asclépio explicam o título Metafísica. Esse ponto de vista, aqui, assim como já para Andrônico, é fartamente documentado, pois Andrônico não o contradisse, mas, ao contrário, reconheceu-o por seu próprio valor. Ele apenas adicionou o outro ponto de vista, segundo o qual a Lógica é p r e s s u p o s ta como instrumento para todo conhecimento. A posição da Metafísica no quadro dessa ordenação dos escritos a r is to té lic o regida por pontos de vista didáticos - e, portanto, não apenas externos - q«e e
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Sobre a Metafísica de Aristóteles
Seguida por Andrônico resulta ainda mais clara a partir de Porfírí„ BI
,
sua descrição da vida dc Plorino (capírulo 24) que os escriros desse, f Z d o s Z seqüência casual do seu surg,mento, reriam sido ordenados por ele (Porfirio precisamente a partir do modelo da ordenação dos escriros de Arisróreles por Andrônico \ Porfirio, enrão, apresenra ma.s pormenorizadamente a ordenação por ele assim obtida: N o início estão os escritos "mais éticos" (qeiKÚrepa), todavia com a inclusão da Dialética (que corresponde à Lógica de Aristóteles). A seguir vêm os escritos de Ciência Natural, em seqüência aos sobre a alma. Ele traz, então, os ensaios sobre o Nous e, por fim, os sobre o ser enquanto tal ou, mais precisamente, sobte o uno, ou seja, no final está —no Aristóteles de Andrônico, assim como no Plotino de Porfirio - a Metafísica. Como já foi mostrado, pode ser corroborado ainda por outras vias que Andrônico interpretou e defendeu a ordem assim produzida no sentido da evolução estabelecida por Aristóteles do anterior a nós (irpòs' rp âç) ao posterior a nós (mas anterior em si). Para concluir, pode-se ainda obtê-lo a partir de um relato de Boécio. Ele escreve no começo do seu livro De divisione que, por meio dele, estaria transmitindo no essencial o conteúdo de um livro homônimo - Trepl aipéoeojç, portanto - de Andrônico. Neste livro, a distinção entre divisio per se e divisio per accidens desempenha um papel fundamental. Ela corresponde, em grego, a uma ôiaípecriç Ka0’ aírró e Korrà ai>n|3e(3r|KÓç, em que a última deixa-se expor mais precisamente como a segundo o npos- t i e, especialmente, como a Trpòç r)|iâç48. Boécio nota na conclusão do seu livro que o Perípato tardio teria compreendido e distinguido muito precisamente estes dois modos da divisão (diligentíssima ratione perspexit), ao passo que a escola mais antiga teria utilizado os dois modos sem distinção. Após os testemunhos mencionados anteriormente, não pode restar dúvida que Boécio conta Andrônico ent e penpatéticos tardios e que tem em vista a sua tomada de posição acerca os escritos aristotélicos. , i Em suma, portanto, resulra fora de dúvida a partir destes restemunh 0 seguinte: já Andrônico rinha precisamente a mesma ínrerpreraçao
^
ordenação didática dos escritos ari' torehc°_S_d' f’e"r^ „ j Alexandre de mento - e a tinha defendido acirradamente - p riro s de os ^ escritos Afrodísia explica o título Metafísica. A posição da etafsica a p ie vigente a Ciência Natural (em si c o r r e t a m e n t e atribuída pt a teoria Hans Reiner
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Andrônico) deve ser com preendida a partir desse p on to de vista e náo ^
como denominação paliativa externa.
K
Com esta recondução da teoria de Alexandre de Afrodísia e AscfoAndrônico, estamos ao mesmo tem po situados no local de origem do * * Metafísica em geral, caso a interpretação m ais defendida até ag0ra e “ ''0 correra. Teríamos, então, obtido a prova que o signifcad o do nome A fc ,*" ensinado por Alexandre e Asclépio tam bém foi o original. Ao mesmo tenT nos seus pormenores, nossas conclusões sobre a interpretação de Andrôni^ corroboram de modo não desprezível que ele tenha, de faro, mtroduzidoessetí mio. Com efeito, o valor acentuado que Andronico atribuiu ao seqüenciatnento didático dos escritos aristotélicos a partir da ordem natural do conhecimento como mostrada anteriormente, não poderia ser esclarecido pela ausência (até agora permanente) de uma explicação para a introdução do novo título. Como vimos, em contraste aos peripatéticos mais antigos,(Andrônico acentuou ao máximo a diferença entre as duas ordens (entre aquela “segundo a natureza" e I aquela “para nós”) e compreendeu a “ordem para nós” com o a única adequada à via do aprendizado e, sendo assim, o nom e “Filosofia Primeira”, no quadro dessa sua perspectiva geral que enfatiza a ordem da via do aprendizado, deve ter ,parecido a ele extremamente equívoca e confusa. A o mesmo tempo, era natural fornecer a essa disciplina uma designação que correspondesse à sua posição na “ordem para nós”. Andrônico pode ter chegado assim ao título (I6TÒ tò uaiKa Este nome era, de acordo com seu significado e espírito, inteiramente aristotélico e sua introdução corresponderia, assim, ao estatuto filosófico de Andrônico como um autêntico renovador da Filosofia aristotélica49.
4.
Entretanto, a solução aqui em consideração para a nossa questão ger^ 111 tra se insustentável. Sua pressuposição, que A ndrônico tenha sido poi Pr^ ^
O autor do nome Metafísica, já fora posta em dúvida por W .Jacpr, ao que os assim chamados textos clássicos, em sua m a io r ia , já haviam t n * » « * sua denominação definitiva no início do tem po do im pério» Além d -** ’ owa , em um ensaio publicado em 1920, explica de modo difere«« um principais fundamentos dessa pressuposição, a saber, a falta do nosso o
io 6
I Sobre a Metafísica de Aristóteles
na lista de Diógenes. Este e outros títulos ausentes em r v sid0 adicronados * .ista do autor anônimo; ao contr.no, lista de Diogenes e, portanto, constariam na lista original ceral” Ti ,ista original é hoje geralmente reportada a Herm,po (o qual atuou de 200 a.C.), entao, nesse caso, e uma conseqüência necessária um surgimento correspondentemente anterior - muito anterior a Andrônico - do nosso título Recentemente, Paul Moraux fortaleceu extraordinariamente a plausibilidade da suposição de Howald, de forma a aproximá-la da certeza52. Moraux baseiase, antes de mais nada, em sua exposição (já mencionada acima) de acordo com a qual é demonstrável haver nas listas do autor anônimo e de Diógenes uma ordem precisa dos títulos, ainda que danificada por diversos acidentes. Tendo como base os principais locais dos acidentes, Moraux mostrou que a lista original que serve de fundamento a ambas, em um determinado momento de sua transmissão, estava dividida em 5 colunas de 35 títulos cada (com exceção da última, que continha apenas 30 títulos), pelo que, então, na quarta coluna haviam caído cinco títulos, entre os quais o da Metafísica. Moraux também investigou novamente a questão do autor da lista origi nal. Ele mostrou, em primeiro lugar, que de modo algum Andrônico pode haver sido o autor dessa (como supuseram alguns pesquisadores anteriores), pois o conteúdo dessa lista claramente espelha um estágio muito anterior da transmissão dos escritos aristotélicos do que aquele do tempo de Andrônico (o qual corresponde muito mais à lista de Ptolomeu). Mas também Hermipo é recusado como autor da lista por Moraux com fundamentação pormenorizada. Em vez disso, ele torna plausível a suposição que Aristo de Céos, que se tornou escolarca do Perípato em torno de 228/5, tenha composto a lista. Sabemos de Aristo que ele transmitiu diversos testamentos de escolarcas anteriores a ele e estes testamentos estão supostamente em conexão com uma historia do Penpato por ele redigida55. É possível que Diógenes tenha utilizado esta exposição, pois sua história da escola é interrompida com Licon, antecessor de Ari i Com base nestes resultados das pesquisas de Moraux, deve-se considerar como muito plausível que o título r à p era r à
tenha surgido, no
mais tardar, através de Aristo de Céos. Através disso, contudo, a exphcaçao dada por Alexandre de Afrodísia para o signifmdo ongma do nosso n u não se torna, de modo algum, mais implausível. Ao contrario, ela tornou-se Hans Reiner \
107
ainda mais plausível do que se houvesse surgido com Andrônico! Pois no período de apenas um século que retrocede ate Aristóteles, é menos ^ que nunca possível demonstrar uma outra explicaçao. Sim, a proximidade ^ próprio Aristóteles que é alcançada com A nsto reforça o peso dos fct0s> J gundo os quais o significado do título (como vimos) situa-se compIetamente no sentido de uma distinção essencial de Aristóteles e torna mais do qUe nunca plausível uma conexão causal dessa distinção com o surgimento e 0 significado original do título. Mas esta plausibilidade impele-nos a retroceder nossas investigações subse qüentes a um ponto ainda mais proximo de Aristóteles. Neste sentido, seja em primeiro lugar perseguido um ponto de vista nos proprios escritos de Aristóte les que nos foram conservados, o qual pode contribuir para a solução da nossa questão. Ele já foi anteriormente trazido ao debate, mas nunca foi investigado com todos os meios filológicos auxiliares hoje (e já desde há muito) à disposição. Trata-se da seqüência pressuposta pelo próprio Aristóteles para seus escritos.
Investigações relativas a este ponto parecem, de início, prometer pouco sucesso porque as inúmeras referências de obra a obra que se encontram nos escritos de Aristóteles, as quais fornecem aqui o principal ponto de apoio, são ambíguas. Brandis já fez alusão ao fato que o que se pode reconhecer mais em si como sendo anterior ou posterior a outro escrito mencionado poderia estar condicionado tanto pela seqüência da edição, quanto pela seqüência (não necessariamente coincidente)do aprendizado ou ainda pela ordem lógica54. Além disso, uma referência a um escrito redigido posteriormente ou posterior na seqüência do aprendizado pode ter sido incluída em uma segunda elaboração (ou ainda em uma transcrição posterior) do escrito de Aristóteles que contém a referência. Desse modo, o escrito citado pode agora ser tomado como ja exis' tente e, assim, aparentemente precedente. Por isso, Brandis procurou verificar a ordem objetiva ou, mais especificamente, a ordem da via do aprendizado de outra forma, a partir de critérios internos lógicos e metodológicos. Por esse meio ele chegou ao resultado que a Metafísica teria seu lugar antes dos escritos físicos, uma vez que ela estipularia “os fundamentos tanto para a forma quan® para o conteúdo de todas as ciências reais"55. Mas Brandis pressupõe já
de
início, com esta
f u n d a m e n ta ç ã o de seu
sulrado, uma metodologia específica do aprendizado como I0 8
I
Sobre a Metafísica de Aristóteles
se n d o
te'
aquela em-
p reg ad a
por Aristóteles. Fica .mediatamente em questão
a m e to d o lo g ia
conhece
se
de Aristóteles. D o ponto de vista metodológico,
os dois cammhos, aquele do universal e fundamental em direção ao
p a r tic u la r ,
assim como tambem o caminho
in v e rs o .
O conhecimento do mais
e prime.ro em geral, dos upúra, f o i , de fato, diretamente abordado p e lo jovem Ansróteles no sentido de Platão, pois is s 0 contava para ^ ^ q
u n iv e rs a l
que é imediatamente mais cognoscível (yvwpi^on-epa)55*. Contudo, é carac terístico do desenvolvimento próprio do Aristóteles posterior que ele se tenha afastado de Platão (ainda não pela última vez) e tenha chegado à distinç ao entre um anterior e conhecido' ‘para nós e um anterior e conhecido'' ei em si, a partir da qual o anterior em si parecia ser não mais anteriormente, mas posteriormente conhecido, (Com p. a passagem referida acima na nota 25.) Correspondentemente, o Aristóteles posterior tratou da Metafísica na via do aprendizado após a Física, como pode ser provado, apesar das dificuldades re feridas por Brandis quanto à comprovação rigorosa das referências desta obra e de outros escritos aristotélicos. De acordo com a esmerada coleção de citações e referências uns aos outros dos escritos aristotélicos que Bonitz (após o surgimento das mencionadas expo sições de Brandis) forneceu-nos no seu Index Aristotelicus (1870) sob o verbete ’ ApKJTOTéXrjS, os livros da Metafísica contêm 24 referências a outros escritos e livros aristotélicos. Dessas, 2, uma das quais se refere a um outro livro da própria Metafísica, outra aos escritos exotéricos, não interessam à nossa ques tão. Das 22 referências restantes, 21 mencionam o objeto em questão como já tendo sido tratado anteriormente, das quais 13 em ensaios de Física. Apenas uma passagem (1078b 5) promete tratar o tema abordado no futuro, mas sem indicação do escrito em causa (“èv áXXoiç èpoO^ev"). Bonitz assinala 8 pas sagens de outros livros aristotélicos autênticos que se referem à Metafísica ou, mais precisamente, à ‘Filosofia Primeira; e 2 (do Da interpretação e da Ética a Nicômaco), através da redação da indicação, deixam em aberto se o tratamento já ocorreu ou ocorrerá mais tarde. Duas outras passagens, que se refere
j
tivamente à'Filosofia Primeira (sem, contudo, denominá-la), assinalam o tema como já tendo sido lá tratado. Isto, porém, ocorre naquelas obras {Ftswa e De pneratione et corruptione) nas quais em outras passagens a ‘Filosofia Primeira e mencionada como vindo posteriormente . Hans Reiner \ j f)ç
Com exceção de uma passagem da Metafísica e das duas passa tros escritos indicadas por último, essa situação produz a
K
segundo a qual Aristóteles via a Metafísica como vindo depois de escritos sistemáticos, em especial depois da Física. Assim, a passagens faz imediatamente reconhecer que esse depois é conce^ ^ sendo da ordem do aprendizado e objetivamente condicionado, não co^ apenas da redação, temporal e ao acaso57.
m° ^do
Agora, quanto a esta única passagem da Metafísica (1078b5) que para mais tarde o tratamento do problema em questão, ela não petnfc? acordo com a nota de Rolfe à passagem em sua tradução) indicar onde isso^ a acontecer. Portanto, Aristóteles deve, lá, ter tido em vista uma passagem ^ acabou não sendo escrita ou que não nos foi conservada da própria Metafísica0ü de um escrito exotérico' e, assim, a passagem referida não contradiz a posição final da Metafísica, que tem o testemunho das outras 21 passagens. Das duas passagens contrárias de outros escritos, uma (336b 29) refere-se ao livro Á da Metafísica, o qual (segundo o testemunho da lista de Diógenes) primeiro existiu de forma independente sob o título TTepl t w uoaaxwç XeyopéiAjJV e, na verdade, não pertence ao corpo da Metafísica. A segunda pas sagem (191b 29) refere-se ao livro 0 e, assim, a uma parte da Metafísica que(de acordo com as pesquisas de W . Jaeger) também não pertencia ao projeto pró prio da ‘Filosofia Primeira. Com isso, deixa de valer também para essas duas passagens a contradição em relação à posição final da Metafísica. C hegam os, por conseguinte, ao resultado esmagador, atestado por 25 (21 + 4) passagens que, para Aristóteles, a Metafísica (mais precisamente, a ‘Filosofia P rim e ira ^ situava-se ao final dos escritos teóricos. O
próprio Aristóteles, portanto, sem dúvida já pressupôs uma ordempa
a sua Filosofia, de acordo com a qual a M etafísica vem depois da Física e ordem era tal que pertencia à via do aprendizado. Pela posição distinta qi* metodo do conhecimento recebe em Aristóteles, é impossível que es^ ° ^ ornão refletisse uma ordem objetiva, dependente de algum princípio do ân^ e do 'posterior'. Contudo, seria relevante como tal princípio apenas aquc ^ relação ao qual, de acordo com Alexandre e A s c lé p io , a Metap«a e' me. Entretanto, a lição dos dois não experimenta por esse me uma confirmação adicional pelo seu lado objetivo, mas também
110
I Sobre a Metafísica de Aristóteles
aumenta a plausibilidade que de fato a origem do quando náo ju n to ao próprio Aristóteles, pelo men°oT
^ ptocurada’
imediata. A lém disso, um conjunto de outras r i r J " ™ **" SUa Proxim‘dade a mesma direção: unstancias aponta-nos para Aristóteles usa reiteradas vezes a expressão neroBatuFi«» çí0 do mais conhecido para nós ao 'conhecido em si 1
^
transição que assinala o passo da Física para a ‘Metafísica A ^ ’ ^ 3 m6Sma 1 A mesma expressão encontra-se empregada para a mesma transição na Metafísica de Teo{rasto e „esse caso, im ediatam ente em relação à transição aos npcòra, isto é, ao campó da Metafísica59. r N a Metafísica de T eofrasto encontramos ao mesmo tempo um análogo verbal para TÀ peTÒ TÒ (fruatra no qual isso ao que chega depois a ordem inversa da direção (dedutiva) do conhecimento é repetidamente designado como Ta jie T a T a s a p x a ç 60. C om isso, a expressão r à (leTÒ r à (f)wiKd é já trazida para um a proximidade palpável. A passagem na qual Teofrasto designa a transição aos npcoTa como um p.€TaPaíveiy leva-nos ainda adiante. Teofrasto explica que, por meio dessa transição, a cognição vai de encontro a impedimentos por causa das nossas fra quezas, as quais nos tornam inaptos assim como ao vislumbrar o que há de mais brilhante contra a luz mais clara. A mesma representação encontra-se também no livro a da Metafísica aristotélica61. Através dela somos claramente lembrados da alegoria da caverna de Platão, na qual se fala de um idêntico ofuscamento pelo vislumbre das Idéias após o abandono da caverna. Nessa conexão, já em Platão evoca-se o conceito de Metafísica. Com efeito, a Idéia de Bem, fundamento último do ente, é aqui ainda dita ser è t r é m im Tqs okrias, além do ser, superior a ele em dignidade e força62. E , em uma passagem posterior (à qual, nesse sentido, Heidegger chamou a atenção em seu ensaio sobre a teoria da verdade de
’
,
consta que o pensam ento iria p e r ' h e l v a , por sobre aquele: qu eé apreendi o apenas por meio de sombras e reproduções, em direção ' Hão era aré aqui desconhecido que em Aristóteles (e Perípato em geral) as motivações e tendências da teoria p > a t o ^ e[imi. da M etafísica nela contida de forma alguma p o u n tu ^ nadas. Por si só, o significado que o concei da M etafísica aristotélica mostra ja a conexa
^
^ motivaçào
ráve[ com a Metafísica P H ans R einer |
jjj
de Platão. W. Jaeger perseguiu com m aior rigor e apresentou as
lin L
conexão no seu livro sobre A ristóteles. Ja e g er tam b ém chamou a aten * ^ fragm ento de A ristóteles que, objetiva e conceitu alm ente (através d f 0 *'111' èmÉKeiva), ecoa fortem en te a M eta física de P latão : ó 0€ò s f, ^ 6TT6K61VÓ Tl ToO foO65. C o n tu d o , as passagens indicadas da M e t é f a ' ’ ^ Teofrasto trazem -nos, a esse respeito, algo novo. Elas não apenas e v o ^
parre ainda mais imediatamente o conceito da M etafísica, mas tamKpm * 1 / , 01 mostram que a interpretaçao do p.6TQ com o u m a sequencia ordenada da via d conhecim ento, fundam entada na d istinção aristotelica do anterior e poster1 para nós, nunca fora percebida no Perípato com o fortem ente separada do ^ Tèicelva e €TT€K€iya platônico! O ^ € T a P a ív € ii' dos aicrôrjTá aos TTpôra não era, portanto, apenas um passo de significação puram ente metódica. Ele era percebido como a entrada em um a esfera não apenas a nós posterior e mais dificilmente acessível, mas ao m esm o tem po objetivam ente diferente, consti tutiva de um dom ínio próprio. C om essa conclusão, toda a nossa questão sobre o significado original do conceito M etafísica recebe, por fim, m ais um a v ez um novo rumo. A nossa Lexplicação até aqui obtida fazia parecer que esse significado era fortemente distinto do desenvolvimento posterior do nosso conceito, tanto por parte dos comentadores platonizantes, quanto na Idade M éd ia e na Moderna. No en* tanto, resulta agora que todo esse desenvolvimento posterior já estava instalado na origem do nosso conceito no Perípato antigo! Já nesta sua origem, o da M etafísica cambia de um significado relativo ao método do
conceito
c o n h e c im e n t o
a um significado objetivo. E , se no decorrer de sua história, ora
d is tin g u iu -s e
mais um desses dois lados, ora o outro, isso não é mais de causar
espanto-
Também não foi por meio de nenhum desvio da motivação a r i s t o t e l i c a
original,
mas certamente apenas por uma alternância, ora de um, ora de
o u tro
lado
mesma, que ao mesmo tempo acentuou-se a significação do lado platôm
5. hi Deveria, assim, ganhar máxima plausibilidade que o nome Metaftica z surgido no Perípato mais antigo e, na verdade, devido a | Sobre a Metafísica de Aristóteles
m o tiv a ç õ e s
das que já estavam vivas no próprio Aristóteles e u herança platônica. Podem os form ar uma suposi ter sido o autor desse nom e? Sim .
^
ParK’ ainda eram
Ç* ° precisa s°hre
possa
Sabem os a p a rtir de u m relato de Asclépio e de ,,m ,
do Pseudo-A lexandre que Eudemo esteve, de alguma forma” edição da M ^ i c a de A ristóteles« ^
0
bém redigiu u m a h isto ria das representações teológicas« e, se não escreveu um tratado de M etafísica, seguram ente planejou-o68. Sabemos ainda que ten dências platônicas (isto e, m ais do que aquelas que em geral sobreviveram no Perípato) eram especialm ente próprias de Eudemo69. Além disso, o livro a da Metafísica de A ristóteles, no qual está um dos ecos acima assinalados da alegoria da caverna de Platão, e atribuído em uma nota que nos foi conservada a um hom em do círculo próxim o de Eudemo, a saber, seu sobrinho Pasicles70. Portanto, na m edida em que as escassas fontes conservadas do Perípato mais antigo perm item -nos um a suposição, muita coisa sugere vislumbrar em Eudemo o autor do títu lo r à |ieTa t ò (j)iK7iKà C om a recondução do nosso título a este tempo mais antigo, resolve-se uma objeção que se poderia lançar em geral contra nossa solução. Com ela, assim talvez alguém diria, não se tornaria também inferível qualquer razão concludente ou ainda som ente suficiente para a introdução do nosso título ao lado daquele já utilizado por A ristóteles, por mais que talvez a realidade histórica de um surgimento m uito antigo do mesmo tenha-se tornado plausível. Entretanto, com a recondução do nosso título a um tempo tão antigo, as condiçoes para O seu surgim ento são tam bém essencialmente diferentes do que se ele t.vesse sido introduzido apenas com Andrônico. Deve-se tam b ém p artir do faro que os manuscritos gregos mais antigos não eram, em geral, m unidos de títulos por seus e eles caracterizavam o m ic o dc. c
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que lhes parecesse conveniente. Isso p
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até mesmo escrito; não
nos casos em que o auror havia d ad ou m a
disseminava-se
se sentia com prom etido por isso. o o n
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QS tl'tlllos já estavam
uma ou outra designação71. A o tempo 1 t âdiantadamente estabelecidos. H o Pct ípat
n ^ contraste, tudo a esse b nPnhum motivo impositivo
respeito ainda estava fluido e talvez não se exigisse Hans Reiner \
ou mesmo coagente para ocasionalm ente denom inar os l,Vros ^ diferentemente da forma com o A ristóteles designava a ciência neles
^
A designação 'Filosofia Prim eira, que A ristóteles cunhou ainda em ^ " X . platônico e manteve de lá em adiante, correspondia, então, apenas a u j* do seu ponto de vista posterior72. D e seu outro aspecto, um título co TÒ iKHKá
(no qual o
(le r q
com o m ostrado, ecoava também u m a ^
platônica, ainda que em outro sentido) oferecia-se igualmente. A l é n , ^ circunstância que somente após a morre de A ristóteles foi feita uma
*
ção dos livros que, embora não estivessem estreitam ente vinculatj0s eWr caíam de alguma form a sob essa ciência, pode ter estimulado o uso de designação inespecífica para ela. A ssim , ao lado das denominações que f0r acima mencionadas como ocorrendo no D e motu animalium e em Teofrast também surgiu o título tÒ [L era Ta (JnxjiKa o qual pode ser compreendido de modo menos específico. M as o caráter menos específico desse título pode ter atuado apenas como motivo secundário para o seu surgimento. Ele deve sua verdadeira origem e sua forma à teoria do próprio Aristóteles sobre o caminho do conhecimento em direçáo aos updrra, inclusive às representações que nisso ecoam Platão (apesar do seu distanciamento fundam ental de Platão). E diferente disso o que ocorre com a explicação de por que o nosso título e nenhum outro tenha-se disseminado. N esse caso, o seu caráter inespecíflco pode ter tido um peso considerável. Q uando o curso da história neste assunto chegou a Andrônico, aconteceu que som ente este título correspondia à ordem didático-metódica do conhecimento por ele tão frisada, ao passo que Filo sofia Primeira, no quadro desta ordem, devia ter provocado confusões73. Por
essa razão Andrônico deve ter preferido este título antes que qualquer outro. Nesta medida (mas somente nela) poderia restar para Andrônico um papd essencial no desenvolvimento histórico que conduziu ao nosso atual conceito Metafísica'74.
u 4
I Sobre a Metafísica de Aristóteles
HOTAS A tese fundamental do presente ensaio (que está exposta na sec' 21 apresentada publicamente pelo autor em 1939, em uma co f ^
• 01P
t'w“ lcua vez
Metafísica na seção de H a lle e K assel da sociedade K a n t E m T s ^ ^ ° C° nCeÍt° ^ de ensino com o su b stitu to em Freiburg im Breisrau +Ù ^
cand. phil. Maternus Setfer (de B errw eL , na
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tcse como redator de tese de doutorado sob sua o “ t
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até o outono de 1944, M . Sesrer serviu-se dela em 1946 (com o , .
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^ om 0 c°nsennmenro do autor,
dado antes da separaçao das frentes de guerra), então concluída e traduzida pata o francês para a obtenção do D.plome d études supérieures na Universidade de Strassbutg (então em Clermont-Ferrand). Foi feita uma primeira publicação impressa da tese principal, em uma versão muito concisa, no livro "Pflicht und Neigung" (p. 106), publicado pelo autor em 1951. Uma elaboração mais completa foi apresentada em 29/09/1952, em Marburg, no Círculo restrito da Sociedade Geral para a Filosofia na Alemanha1. Incitado pelos ataques na discussão e por um a indicação bibliográfica essencial (do novo livro de P. Moraux, ao qual se recorre abaixo) que lá obteve através de P. Wilpert, o autor levou adiante suas pesquisas, de modo que do texto da conferência de Marburg surgiu o presente ensaio - fortemente divergente daquele a partir da seção 3. Sem prejuízo do auxílio essencial que o autor deve ao apoio de M . Sester, através do fornecimento de uma parte do material, estáo assim os seus próprios resultados em grande parte ultrapassados. A observação inteira, segundo os escritos conservados, reza: “com respeito ao nome Metafí
sica, não se pode crer que surgiu por acaso porque corresponde tão precisamente à própria ciência; pois nele gQ_ ^
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Gritcbeti, I ■
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24 Alexandre in Metaphysica ed. H ayduck 1891, p. 171,1. 5-7
25 Comp. Anal. A nt. B, 23 ( 6 8 b 35s.); A nalit. Post. A , 2 (71b, 33ss.); Top. 2 . 4 Fis. A, 1 (184a lóss.); A , 5 (188b 30ss.) M et. A, 1 1 (1018b 30ss.); Z , 3 (102% 3^ ^ Hicom. A, 2 1095b 2s.). 26 Commentana Asclepii in Aristotelis M etaph. ed. H ayduck, página 3, linhas 28-30 27 Mesmo local, p. 1,1- 8-13 e 19-22. 28 Atualmente, também P. M oraux refere-se com o m esmo sentido a Asclépio, p. l, j i-,
assim como à passagem de Alexandre, ao escrever (Ibidem p. 315): “Alexandre sem dúvida aproximam-se mais da verdade ao procurar justificar a ordem Física-Metafí ^ a partir de considerações didáticas: a fraqueza de nosso espírito força-nos a com eçar pe)0 estudo de coisas imperfeitas e segundas, objetos da Física, para passar em seguida àqueles seres perfeitos e primeiros, objetos da Filosofia Primeira; com relaçáo a nós, essa, portanto vem depois da Física e merece o nome de (leTÒ r à ' * ™ )sob o 23. X . 53, foi confirmado o mesmo simultaneame O início do texto corresponde palavra por palavra
USCnt° lda blbIl0teca C° m ^efertncias mais precisas,
anônimo, conforme Codex Urbinas 49. Ademais o i ^
P° r Brandis como
tina de Patrício são uma tradução literal deste rríesm ^ pormenores um decisivo relato do autor, a ser em
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» Mas e necessário saber que existem seis titulos para essa pesquisa... O título de Aristóteles (sc. C a f o n a s ) e, porem , m elhor do que todos os outros... Ele supera até o título Antes dos Topicos. S e e m esm o hcito tom ar como título o lugar na ordenação (rf,v t ó { tu), como na
Metafísica (i M e r à r à iXóaocjx)s): este objeto ê, por um lado, o “universal", entenda-se, o objeto mais universal possível, o ser considerado enquanto ser (1005a28, 33, blO) e, por outro, a primeira substância. Acerca deste último ponto, no início do capítulo (1005a20-21), o autor apenas havia mencionado a substância como objeto; um pouco depois (1005b6), ele fala de toda a ordem da substância14. Em suma, não há nada de surpreendente neste momento da exposição, que está escrita, como todo o contexto, na perspectiva das posições desenvolvidas no início desse livro IV (cap. 1 e 2, início): a ciência filosófica superior é aí des crita como tendo por objeto o ser enquanto tal e suas propriedades enquanto ser; em seguida (cap. 2), o ser sendo um termo com significações múltiplas, estas são levadas à unidade pelo fato de todas exprimirem uma relação com a significação primeira e principal, que é a da substância ou da oòaía. O que pode surpreender é que, na passagem analisada, esteja em q u e s tã o "a primeira substância" (1005a 35), o que se entende naturalmente da p rim e ira das substâncias ou da substância mais perfeita - substância imaterial -»Del Isto não estava em questão desde o início do livro IV, mas, por outro lado, a _1 í expressão tem esta significação em algumas outras passagens dispeisas p obras de Aristóteles. Assim, no Da interpretação 12 23a23-24, onde as primeiraS | Sobre a Metafísica de Aristóteles
substâncias são dadas como exemplos de atos sem
ondeéiem brad°-
0 matéria » r r da e forma, existem casos em que 0 TÒ TÍ
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prio ser, a saber, nas pnmeiras substâncias", nomeadas p „ me,ras p recisam L l porque nao existe nelas uma determtnaçao em outras coisas ou em um sujeito que lhes sirva de matéria . Talvez haja nesta menção da substância imaterial era 1005a35 um resíduo ou uma remin.scência de uma redação ma.s antiga tal como, na linha seguinte (1005b l), no emprego do termo o o ^ ía'“ e não iX0CT0ía para designar a física, para marcar-lhe a dignidade e limitá-la, ao mesmo tempo em que nota que ela não é primeira (Trpwrr]). Mas, inversamente, pode-se conjeturar que mencionar, ao mesmo tempo, o universal e a substância imaterial como objetos de uma sabedoria superior à física provém do fato de o autor se posicionar do ponto de vista que adotará no fim do capítulo primeiro do livro V I (E ): com efeito, conclui ali, como vimos, que a filosofia teológica ou primeira deve ser ao mesmo tempo a ciência mais universal como ciência do ser enquanto ser (1026a23-32). Seja como for, o fato de notar, em 1005bl-2, que a física é uma sabedoria, mas uma sabedoria que não é a primeira, relembra muito naturalmente, por oposição, a expressão (j)tX0ía uptoTr), designando uma ciência superior, que o é, sem dúvida, em relação à física. Mas isso não impede que esta designação, objeto de nosso exame, esteja ausente de nossa passagem da Metafísica e de todo seu contexto. Por isso, não estamos de forma alguma autorizados a chamar de filosofia primeira esta ciência superior, da qual depende o estudo dos princípios do silogismo, e que é a ciência filosófica da substância, porque ela é, antes de mais nada, a do ser enquanto tal (de acordo com o início do capítulo 1). Se quisermos, podemos chamá-la "metafísica" e traduzir a palavra 4>tXÓiA0(70ía.
Com efeito, sabe-se que, na Metafísica, croòía é empregue de modo marcadamente preferencial no prólogo do livro primeiro (A 1-2 até 982bl0), isso para indicar precisamente suas características e seu objeto próprio. Mas o método adotado nessa exposição - a análise das significações correntes vinculadas às palavras aocjxSç, ao ó ía - de certo modo obrigava o autor a ater-se a estes termos, o que, aliás, o conduz apenas a uma definição bastante vaga e geral de tal sabedoria, no mais muito venerável: ciência dos princípios e causas primeiras (sem que seja dito do que estes princípios ou causas são princípios ou causas). Quando, mais tarde, no livro III (B), a palavra crocpia
fig u r a
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algumas passagens, a cada vez há uma remissão explícita ao prólogo do Üvr primeiro28, de modo que, vê-se de imediato, o termo é empregado exatamen no sentido que foi determinado no prólogo. Notemos, todavia, uma p1
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que é acrescentada de fato, se não expressamente, e que não recebeu jusr
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ção. Aristóteles deixa entender, nas passagens visadas e no contexto, qu 13 6
I
Sobre a Metafísica de Aristóteles
lophia, ciência dos princípios, corresponde a um estndo da oúno (sem ene a significação exata de o ixjia seja mais bem aprofundada)29 É praticamente a mesma concepção que Arisróreles parece adotar a respeito Já crocjjía quando a vemos reaparecer uma vez (l075b20-22) nas discussõ que ocupam a maior parte do capítulo 10 do livro X II (A) da Metafísica Este ,ivr0, sabe-se, é um pequeno tratado sobre a ouaía (ver o início, 1069al8 s s ) que culmina na teoria do Primeiro Motor, eterno, imutável e imaterial, sendo! assim, a primeira de todas as substâncias (cap. 6 -10) e por isso tem a função de primeiro princípio (7 1072bl3-14). N a passagem em pauta (1075b20-24), Aristóteles, como lembramos, enfatiza a superioridade de sua sophia sobre as explicações propostas por seus predecessores: o que é característico da sabe doria anstotélica e que ela tem um objeto único, o ser primeiro, o qual não tem contrario e basta, malgrado isso, para dar conta da diversidade das coisas. Desta maneira, esta (70ía, que lembra a de Metafísica I (A) 1-2 e III (B) 1-2, poderia muito bem ser dita (j)iAoaoc{>ía
TTpánT|,
entendendo-a a partir dos
desenvolvimentos concernentes à sua função face a todo ser, em Metafísica V I (E) 1 fim, 1026a23-32. A terminologia é, sem dúvida, claramente diferente e poderíamos ser tentados a ver nesta diferença, que não redunda em uma diferença de doutrina, o índice de uma diferença de ordem cronológica. Mas, mesmo se os textos visados dos livros I e X I I são de fato mais antigos que o parágrafo do livro V I, o índice é verdadeiramente muito fraco. É preciso lem brar, com efeito, que esses textos de Aristóteles são posteriores à obra de Platão e que, nesta, não somente o termo técnico A ciência filosófica aqui considerada de maneira direta é a do ser enqu ^ ser (IV 1); não sendo o ser uma noção unívoca, só possui uma certa unidjj° por referência de todo ser ao ser no sentido principal, que não é senão a sub ^ tância (IV 2). É a uma metafísica concebida deste modo que Aristóteles
S
conduzir - em V I (E) 1, parágrafo final - a filosofia primeira como ciênciaT Ser imaterial e divino, quando indica de que modo ela é ao mesmo tempo um ciência universal: ela será, conclui, ciência do ser enquanto ser que considera a essência do ser e suas propriedades enquanto ser. O que precede explica também uma particularidade da exposição consecu tiva ao desenvolvimento que reconhece a ciência filosófica mais elevada como ciência do imaterial imutável. Falando sucessivamente, segundo a progressão dos três graus de abstração, primeiro da física, depois, da matemática e, fi nalmente, desta ciência primeira e superior às outras, Aristóteles tira de certa maneira a seguinte conclusão (1026a 18-19): "há, pois, três 'filosofias teóricas: matemática, física e teologia". Por que esta ordem que não é conforme àquela seguida acima, a qual correspondia à própria progressão das idéias? Por que, em outras palavras, a matemática parece relegada à posição inferior e vê seu lugar tomado pela física, que não tem acima dela senão a ciência teológica e primeira? Neste caso, não se pode mais invocar uma distração de Aristóteles, pois, se se tratasse de fato de uma distração, não haveria verdadeiramente ne nhuma razão para que se desviasse nessa direção. Ao passo que, se admitirmos que Aristóteles já tinha em mente a idéia da proeminência de toda ciência filosófica que tem por objeto uma substância, frente à que se ocupa das de terminações ulteriores de um certo gênero de substâncias, a posição superior atribuída à física em relação à matemática se explica facilmente. É verdade que, na seção que se abre pelo exame do caso da física, o autor, sem se apoiar no seu caráter substancial, qualifica os objetos, ao mesmo tempo em que diz que são substâncias que têm nelas próprias o princípio de seu movimento e repouso (1025bl9-21). Algumas linhas depois (1. 27-28), a ousia física daqu^ se trata é a essência compreendida como forma unida à matéria. Entende-se, contudo, que os seres físicos considerados são substâncias. Quando, depo^ disso, Aristóteles passa aos seres matemáticos, depois aos seres eternos e imo veis, é sobre sua separabilidade relativa (seres matemáticos) ou absoluta (sereS J 5 0
I Sobre a Metafísica de Aristóteles
puramente imóveis) que ele insiste. Trata-se, sem dúvida, do modo .mediato de sua separaçao a matena; mas assim que esta separação se torna absoluta, ela é, ao mesmo tempo, a separação de um sujeito qualquer e o ser em questão é necessariamente uma substância. E bem isso que - aqui e alhures- é visado por Aristóteles, assim como mostrou o reverendo padre E. de Strycker59. E é, desta vez, por não poder afirmar mais do que uma separabilidade puramente lógica da matéria no caso dos seres matemáticos que não há meio de reco nhecê-los como substâncias60. Vê-se, por isso, que a ideia de substância não estava ausente do desenvolvimento no curso do qual física, matematica e filosofia primeira são sucessiva mente caracterizadas pelas relações de seus objetos respectivos com a matéria, e compreende-se que a exposição alcança, assim, uma classificação na qual a ciência teológica ocupa o cume, a matemática é posta em uma posição inferior, enquanto a física, cujos objetos são os seres materiais, mas que são substâncias, tem acima dela apenas a filosofia primeira e por esse motivo poderá ser dita filosofia segunda. Notemos, a esse propósito, que, na última expressão, bem como na enu meração das três “filosofias" teóricas em 1026al8-19, a palavra "filosofia" não tem, ao menos não por si mesma, o sentido restrito que poderíamos traduzir pelo termo "metafísica". Trata-se, a cada vez, de um ramo da filosofia ou de uma ciência filosófica, sem dúvida, mas, ao mesmo tempo, no caso das ma temáticas e da física, de uma ciência comportando desenvolvimentos que na linguagem e na concepção modernas preferiríamos posicionar sob a rubrica de ciência enquanto se distingue da filosofia. Este uso de Aristóteles, aliás bem conhecido, encontra-se em algumas passagens dispersas em suas obras, nas quais ele fala indiferentemente de ciência física ou de filosofia física . Parece, então, bem estabelecido que a "filosofia segunda" que Aristóteles de certo modo opõe à "filosofia primeira não designa em seu vocabulário uma parte de uma metafísica mais ampla que englobe o estudo dos seres materiais, ao lado e abaixo do estudo dos seres imateriais, mas uma parte não metafísica da filosofia, parte chamada filosofia natural ou física. Os textos são explícitos sobre este ponto e não permitem colocá-lo em dúvida62. Poder-se-ia pergun tar, entretanto, se, ao mesmo tempo ou em outro momento de sua carreira, o Estagirita não teria admitido uma concepção diferente, a saber, aquela que Augustin Mansion |
acabamos de descartar: uma metafísica do ser material (à qual conviria perf tamente a denominação de filosofia segunda) ao lado de uma metafísica do * imaterial ou filosofia primeira. Questão destinada a permanecer sem resposj em todo caso sem resposta afirmativa, em razão da ausência de toda indica ã ' positiva em favor de uma tal resposta nos textos que Aristóteles nos leg0u A única passagem que poderia ser invocada aqui é, com efeito, o parágrafo, l0n gamente discutido acima, que se lê no livro
IV (r) 2 1004a2-9. A conclusão
da discussão foi, lembremos, que uma interpretação neste sentido dapassagem deve ser rejeitada, entre outras razões porque em toda a obra de Aristóteles não existe nenhuma afirmação paralela suscetível de lhe fornecer qualquer apoio. Por isso, o parágrafo em questão deve ser entendido, antes, como a tradição o tem freqüentemente compreendido, e se refere a uma divisão geral da filoso fia teórica em ciências distintas: primeiro, filosofia primeira; depois, filosofia segunda, que devemos identificar então à filosofia natural ou física. Assim, a passagem considerada é acrescentada àquelas que acabamos de analisar para estabelecer o estatuto próprio da "filosofia segunda” de Aristóteles.
Resta ainda perguntar, em último lugar, se a concepção e a denominação de uma “filosofia primeira” - à qual corresponde uma "filosofia segunda" - marcam um estágio mais ou menos bem definido na evolução das idéias de Aristóteles, no que concerne ao objeto e à natureza da ciência filosófica suprema ou metafísica. Sob certos aspectos, uma resposta afirmativa a esta questão parece se im por de maneira absoluta, visto que, no fim de M eta físic a V I (E) 1 1026a23-32, Aristóteles se dedica a conduzir a filosofia primeira ou teológica à metafísica entendida como a ciência mais geral possível, ciência do ser como tal. Pois náo há muito mais meios de duvidar que esta metafísica do ser enquanto ser, que se ramificou em um estudo das diversas acepções do ser tomado em toda sua extensão, seja a última forma do pensamento de Aristóteles em suas r e fle x õ e s sobre o objeto da ciência filosófica suprema63. Preexistia, pois, em seu espi«10 a concepção de uma filosofia primeira, ciência do imaterial, quando ele t e n to fixar as relações com esta metafísica do ser enquanto tal. Pelo menos, p o d e r-s e | Sobre a Metafísica de Aristóteles
ia dizer, se fosse preciso aproximar ao máximo as d ,,«
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de vista cronológico, que sua reflexão, seguindo duas T T “ ^ ... •L t j . ° duas linhas de pensamento distintas, tmha chegado mais ou menos ao mesmo tempo, de um lado, a uma ciência suprema em razao da dignidade de seu objeto, a filosofia primeira, e, de outro, a uma ciencia suprema em razão da extensão absolutamente universal de seu objeto, a ciencia do ser enquanto ser. Mas esta última hipótese não é muito verossímil, pois que se vê aparecer, esparsamente nos escritos de Aristó teles, a menção da filosofia primeira em escritos que parecem bem ser de datas diversas64, sobre os quais não se tem razão alguma para acreditar que sejam contemporâneos ou mais ou menos contemporâneos das partes da Metafísica nas quais a ciência suprema e descrita como tratando do ser enquanto ser. Porém, da idéia de uma filosofia primeira que pertença cronologicamente a uma fase do pensamento de Aristóteles anterior aos últimos desenvolvimentos consignados em sua Metafísica não se segue que a expressão corresponda a um estágio bastante primitivo de seu pensamento acerca desses temas. Bem ao contrário: uma filosofia primeira só tem sentido se a ela se opõe uma filosofia segunda e, talvez, ainda, outras filosofias de posição inferior. Por isso, os termos empregados implicam que, desde a época em que Aristóteles os usou, ele já visava a toda uma organização da filosofia em ramos diversos, compreendendo, entre outros, a filosofia natural ou física. Isso marca, apesar de toda sua liga ção ao espiritualismo de inspiração platônica, um distanciamento fortemente pronunciado frente a certas posições bem características da filosofia de Platão. Apesar do interesse crescente que este demonstra, sobretudo no curso de seus últimos anos, ao mundo material e a uma explicaçao racional deste mundo, Platão jam ais admite que uma tal explicação pudesse constituir uma ciência verdadeira e ele a mantém sempre no nível da opinião. Para Aristóteles, a fi losofia natural, embora sendo inferior em dignidade à filosofia do imaterial, não é menos uma verdadeira filosofia e uma ciência propriamente dita. Esta maneira de ver marca nele uma etapa decisiva em sua teoria do conhecimento e na sistematização que daí resulta das diversas partes do saber filosofico. Toda a questão é, então, a de saber em que momento ele acreditou poder erigir a física em ciência filosófica, entendida no sentido estrito. fi| f| ->f-f-i r a mencão de uma tal hlosoha Sem dúvida, seria vão querer encon „-»nnlrimo narte da filosofia, no penúltimo natural, entendida como um ramo ou un pAugustin Mansion \
153
parágrafo do texto de Filopono, no qual A . J . Festugière, após as indic menos decisivas de Bywater e de Bignone, reconheceu um fragmento do V ^ primeiro do Fltfpi c^iXooocIjlciç de Aristóteles, retomado, primeiro erri dução inglesa, depois no texto grego original, por David Ross, em suas du coletâneas de fragmentos de Aristóteles65. Trata-se apenas de um estágio d* cultura humana, em que os homens foram chamados "sábios" em razão de SeUs estudos concernentes aos fenômenos da natureza. M as este estágio está preci samente destinado a ser ultrapassado por um outro, em que os homens devem adquirir a sabedoria suprema, que consiste no conhecimento dos seres divinos e imutáveis (parágrafo final do fragmento). M esm o se a física, estágio atingido anteriormente, devesse permanecer como uma parte de seu patrimônio inte lectual, ao lado da política, das artes que contribuem para o embelezamento da existência e das que provêm as necessidades elementares - todas formas de "sabedoria" adquiridas sucessivamente pela humanidade
o conjunto destes
diversos conhecimentos não é de modo algum considerado como um todo estruturado, cujas diferentes disciplinas seriam suas partes. Por isso, não se pode tampouco identificar a "filosofia primeira" com a filosofia tout court de que trata, segundo seu próprio título, o diálogo aristotélico Flepl 4>iXoao({)íaç. Sem dúvida, reconheceu-se com razão que, entre os fragmentos do diálogo, os que tratavam da divindade devem provir do terceiro livro da obra, no qual o autor expunha suas opiniões pessoais. Contudo, transparece da análise muito perspicaz que P. W ilpert fez do conteúdo do diálogo (inclusive o fr. 9 de Ross, valorizado por Festugière), que a sabedoria suprema ou a verdadeira filosofia tinha por objeto a consideração dos seres supremos e divinos, aí compreendidos os seres imutáveis que são os astros, consideração que também fornece uma explicação do conjunto da realidade66. Assim, esta "filosofia" não era somente uma filosofia primeira, era toda a filosofia, mesmo se merecesse plenamente, desta vez, a denominação de sabedoria porque seu objeto característico eram as realidades mais elevadas, das quais dependia todo o resto. Comparado a estes dados do diálogo Sobre a filosofia, o ponto de vista de Aristóteles já é diferente também no apêndice ao prólogo do livro primeiro Metafísica, onde expõe as razões pelas quais a ciência excelente, da qual ain tratará, pode ser chamada divina: uma das razões é que ela tem a divind como objeto; ora na opinião comum, Deus está entre o núm ero das caus | Sobre a Metafísica de Aristóteles
de todas as coisas e é um princípio" (I (A) 2 983ao gl T primeiro lugar, de uma ciência dos princíptos e, se o tema é ^ X i ^
2
tí„ , 0 de principio que deveremos falar dela. O diálogo Soíre a j ^ f ia parec tet uma intenção mais diretamente teológica". O que náo impede que haja uma continuidade real entre o diálogo e a "filosofia primeira", ciência do ima terial e, a esse titulo, de Deus. M as continuidade náo é identidade. Ninguém além disso, pensará em negar o interesse de um estudo das variações ou dá evolução de Aristóteles em matéria teológica, mas aqui não é o lugar para fazê-lo ou refazê-lo68. Por outro lado, há razão para nos determos, um momento, nas diversas formas que, em Aristóteles, tomou a organização da filosofia (ao menos da filosofia teórica), na qual a filosofia primeira, por sua própria denominação, ocupa o primeiro lugar. D e fato, os textos revelam tanto uma divisão bipartite quanto tripartite. Encontra-se em algumas passagens, ao lado da filosofia pri meira, a menção só da física, idêntica então à filosofia segunda. Em particular, são as passagens onde a filosofia primeira é dita, sem mais, anterior à filosofia natural69 e aquelas onde é posta a hipótese da existência ou da não-existência de uma realidade imaterial, esta segunda alternativa tendo por conseqüência fazer da física a primeira das ciências filosóficas70. Paralelamente, a exposição mais extensa e mais explícita que se lê no que é concomitantemente a parte mais antiga e a mais característica do capítulo inicial do livro V I (E) da Metafísica (1025bl8-1026a23) leva à conclusão que deve haver três “filosofias teóricas que distinguimos e caracterizamos pelo distanciamento de seus objetos respectivos face ao que é material e móvel. Mas, como notamos acima, a ordem na qual são enumeradas as tres disciplinas na conclusão (1026al9) não corresponde à gradação dos objetos resultantes do procedimento sistemático empregado e, assim, a matemática encontra se relegada ao último lugar, enquanto a física é posta em segundo lugar, imedia tamente abaixo da ciência teológica, que é a filosofia primeira. Expusemos, acima, a razão desta anomalia: se esta explicação tem algum valor, deve-se admitir que Aristóteles considerou em sua classificação final, antes de mais nada, o nível de ser dos objetos especificadores das diversas ciencia considera das, e que, segundo ele, os objetos matemáticos, não pertencendo a ord m da substância, sao inferiores, nesta perspectiva, aos objetos fisicos, os quais sao, Augustin Mansion \
antes de mais nada, substâncias. Isso é tão verdadeiro que no parágrafo de Metafísica V I (E) 1, Aristóteles retorna à divisão bipartite, abandonada n0 curso do capítulo, para substituí-la por uma divisão tripartite dos objetos d ciência. Coni efeito, neste parágrafo que, mesmo se não é mais recente qUe a seção que precede, não pode em hipótese alguma lhe ser anterior, Aristóteles conclui - e isso depois de uma aproximação com as ciências matemáticas, umas mais universais, outras mais particulares —que a física seria filosofia primeira se não existisse outra substância senão as substâncias da natureza, mas esta hipótese é falsa, visto que existe uma substância mais perfeita, a substância imutável, objeto da filosofia primeira verdadeira. Sem dúvida, seria errado ver nestas últimas observações um retorno puro e simples à divisão bipartite das ciências propriamente filosóficas, do mesmo modo que a exposição precedente, que conduz a uma divisão ternária, tempe rada de modo bastante inesperado por um tipo de desvalorização da ciência matemática, não é uma etapa de um percurso em direção à divisão mais simples em duas ciências filosóficas. De fato, é preciso ver quais princípios dominam ambas as divisões, para se dar conta que a segunda, mais complicada e talvez menos satisfatória, representa um ensaio de organização mais potente das diversas partes do saber na ordem teórica e corresponde, assim, a um estágio mais avançado da reflexão de Aristóteles. A divisão bipartite, com efeito, é baseada no nível dos objetos na ordem do ser, porém sem relação explícita com a diferença entre a substância e as realidades não-substanciais. Trata-se simplesmente da distinção platônica entre o inteligível puro, isto é, imaterial, e o sensível ou o material, Mas a sistema tização de ordem científica que decorre daí absolutamente não é mais platô nica; ela é especificamente aristotélica em si própria e em seus pressupostos doutrinais. Com efeito, tal sistematização atribui à física, contrariamente a. tradição platônica, o estatuto de uma ciência propriamente dita. Ora, isto so seria possível em uma teoria do conhecimento que já comportasse a descoberta do procedimento de abstração intelectual, destinado a explicar a formação do conceito a partir do sensível. A substituição da Idéia platônica, ao mesmo tempo real e o unico verdadeiro inteligível, pelo conceito exige uma dissociaçá ao menos parcial, entre o lógico e o real, permitindo elevar ao nível científic0 conhecimento das realidades inferiores, as quais, nelas mesmas, não | Sobre a Metafísica de Aristóteles
s e
presta*1
a uma forma de conhecimento tão perfeita. Esta é a ■ c . j i uma das conquistas fundamentais do anstotehsmo que seria extremamente interessante poder situar com alguma preasao cronológica no curso da carreira filosófica de Aristóteles. N áo encontramos traços disso nos fragmentos que restaram do diálogo Sobre a flxofia, mas temos toda razao para crer que o momento em que estas posições germinaram no espírito de Aristóteles nâo está muito distante da composição deste texto. D e fato, nào se levantam muitas objeções contra as conclusões de W. Jaeger, no que diz respeito à cronologia das partes mais antigas da Física de Aristóteles, as quais seriam o fruto ou eco de seu ensinamento em Assos. A divisão tripartite das ciências filosóficas teóricas, tal como exposta e justificada em Metafísica V I (E) 1, não está propriamente em contradição com a divisão bipartite, há pouco tratada, mas, constituindo um ensaio de explicação mais elaborado, faz apelo, desta vez, a dois princípios diferentes para deter minar a dignidade do objeto de cada ciência, e, por isso, a posição atribuída a esta mesma ciência. Esta dignidade é mensurada, em primeiro lugar, pelo nível de ser pertencente ao objeto na ordem real: trata-se, nesse caso, do caráter substancial ou não substancial do objeto, distinção inspirada pela concepção de uma metafísica do ser enquanto ser, ser que é, ao mesmo tempo, um termo com acepções múltiplas, entre as quais a substância obtém o primeiro lugar, os outros seres tendo sua denominação de ser por intermédio de suas relações com a substância. Em virtude deste princípio, o objeto da física lhe assegura uma prioridade frente à matematica, cujos objetos não são substâncias. Mas, em segundo lugar, a dignidade do objeto e mensurada também pelo grau de imaterialidade que lhe é próprio como objeto: essa imaterialidade é tanto a de uma realidade imutável por sua natureza e tem-se, então, uma ciência superior a todas as outras, ciência teológica ou filosofia primeira, quanto a imaterialidade que pertence ao objeto em virtude de uma consideração do espírito, que desconsidera no objeto real a mobilidade e tudo o que o aproxima da matéria, e tem-se, entáo, a ciência matemática que obtém a segunda p
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deixando abaixo dela a física, cujo objeto é francamente material e estudado em sua materialidade. , Mostramos71 como esta construção, em suma bastante complicada, cor respondia, no espírito de Aristóteles, ao cuidado de fornecer um estatuto satisfatório para as três ordens de ciências já desenvolvidas em seu tempo. Augustin Mansion |
sem cair, na esteira de Platão, em um tipo de realismo extremado, qUe âtr^ uma existência real, mas com valor de ser a cada vez diferente, respectivarrient aos seres físicos, matemáticos e, enfim, às realidades puramente imateriais (Idéias e Números ideais na concepção platônica). N o caso da ciência fü0 sófica superior a todas as outras, filosofia primeira ou teológica, a aplicação de um ou outro princípio lhe assegura a primeira posição, pois o objeto qUe é em si uma substância imutável e imaterial é, em todos os sentidos, o mais perfeito, e é atingido graças ao processo de abstração pelo qual é reconhecido como separado da matéria no pensamento e na realidade. Estas considerações um pouco tortuosas, destinadas a fundar a ordem hierárquica dos diversos ramos do saber teórico, são visivelmente o fruto de um esforço de organiza ção, posterior à acepção pura e simples de duas grandes ordens de realidade, distinguidas pelo Platão dos Diálogos, realidade sensível e realidade inteligível, retomadas, de início, por Aristóteles para fazê-las objetos respectivos de uma ciência primeira e de uma ciência segunda. Além disso, é pertinente observar, como já fizemos em outro contexto72, que o esquema de classificação das ciências teóricas, tal como se lê em Metafísica VI (E) 1 (e X I (K) 7), é relativamente recente, pois é encaixado de algum modo em uma classificação mais ampla, compreendendo também as ciências não teóricas: tal classificação é bem conhecida, é a divisão tripartite, ela também, em ciências teóricas, práticas e poiéticas. Ora, sabe-se que, ao invés desta divi são tripartite, Aristóteles tinha adotado anteriormente uma divisão bipartite, compreendendo somente as ciências teóricas e as poiéticas73. Para concluir, podemos dizer que sua “filosofia primeira", oposta por Aris tóteles a uma “filosofia segunda", na evolução de suas concepções acerca do objeto da ciência filosófica suprema e da organização geral do saber filosó fico, marca uma etapa bastante bem definida, mas que, no curso dessa etapa, suas concepções sofreram ainda um certo desenvolvimento. A distinção que se exprime pelas denominações que acabamos de lembrar deve remontar ao momento em que Aristóteles, graças à teoria da abstração, pôde reconhecer o valor de ciência estrita à física, sempre dispondo acima dela uma ciência superior, filosofia no sentido forte da palavra, porque, como no diálogo Sobre a filosofia, ela se eleva até o Ser imaterial supremo, Deus, no qual encontra a explicação última de toda realidade. Mais tarde, sempre respeitando as posi
15 8
I Sobre a Metafísica de Aristóteles
çóes adquiridas desta maneira, Aristóteles fez entr classificação das ciências teóricas em virtude do
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„és graus de abstração. Finalmente, quando tin b ^ T “ Lham° U
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filosófica suprema devia atribuir as causas últimas a ^ ^ a tudo que é considerado enquanto existindo Ar i” eni]Uamo ser' lsto é' , esta metafis,ca^bsolutamente gera, sua consideraçao: a fdosofia pr.me.ra, tendo por objeto o Ser absolutamente " me.ro, ao qual todos os outros se relacionam de algum modo, deve fornecer a explicaçao ult.ma de tudo o que ê. Neste últ.mo estág.o, a filosofia pr.me.ra cen ca do tmater.al encontra-se assumida de certo modo na metafísica do ser enquanto ser; sem dúvida, é pelo cuidado de unidade que Aristóteles afirma sem restrição, mas às custas de uma exatidão absolutamente rigorosa, que a filosofia primeira é também a ciência filosófica plenamente universal. *
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A P Ê N D IC E : O livro X I ou K da Metafísica No que precedeu, evitamos sistematicamente usar testemunhos tomados deste livro, salvo para encontrar indicações concernentes à presença ou ausência de certos parágrafos ou de certas palavras nos textos paralelos dos livros III, IV, V I (B, r, E ). É necessário justificar tal procedimento, visto que no livro em questão encontram-se muitas passagens que apóiam posições estabelecidas a partir de textos tirados de outras partes da obra de Aristóteles, assim como se encontram também as que contradizem claramente afirmações lidas em outros lugares. A bem da verdade, em todo o livro so se faz menção nomeadamente da filosofia primeira em um único lugar74, a filosofia segunda tampouco é mencionada, embora esteja em questão, em larga medida, a ciência filosófica suprema, que podemos chamar de metafísica, e seu objeto, especialmente nos capítulos 1 e 2 correspondendo ao livro das aporias (III ou B), nos capítulos 3 e 4, correspondendo ao livro I V (T), cap. 1-3 até 1005bl0, e no capítulo 7 paralelo a V I (E) 1. Além disso, encontram-se nas mesmas passagens frequen tes menções à física, que aparece como uma ciência bem constituída sabedoria de ordem inferior, se se quer, à metafísica, mas ciência h como Aristóteles a descreve alhures sob a denominação de fi oso ia segun a. Augustin Mansion \
Sabe-se do problema que pôs para a crítica a existência do livro K n terior da seqüência das TTpayp.areTai chamada de Metafísica de A ristótel ^ primeira metade do livro (1 -8 até 1065a26) tem a aparência de uma repetiçabreviada de três dos livros precedentes e a segunda metade (8 1065a26 até fim) é composta de extratos da Física do começo ao fim. A questão suscitad por esse estado de coisas ainda não recebeu solução unanimemente aceita N o curso do século X I X , alguns simplesmente rejeitaram a autenticidade de todo o livro, outros o defenderam com considerações que não deixam de ser pertinentes, mas que não chegam a explicar a presença da repetição constituída pelos capítulos 1-8 no lugar onde os manuscritos da Metafísica os conservaram Deixando de lado a segunda parte do livro, cuja autenticidade não encon trou muitos defensores, os críticos parecem haver esgotado todas as hipóteses possíveis quanto às relações de K 1-8 com os livros precedentes. Alguns até adotaram sucessivamente opiniões contraditórias. Assim, W . Christ, em sua tese de 185375, sustentava que a redação mais clara, mais cuidadosa, mais ele gante de K era destinada a apresentar de um modo melhor a exposição mais desajeitada e menos ordenada das passagens paralelas dos livros precedentes. Porém, em sua edição de 1885, o mesmo Christ, sob a influência de trabalhos publicados nesse intervalo, declara, em seu prefácio e em uma nota do início do livro K, que, na sua opinião, todo o livro deve ter sido redigido por um discípulo de Aristóteles antes que o livro V (A) tivesse sido inserido na série dos livros que formam nossa Metafísica atual. Pouco depois, em 1888, Paul Natorp, que havia estudado longamente a composição da Metafísica de Aristóteles76, publicou um breve artigo sobre a origem de K 1-877. Não dando senão uma importância secundária aos critérios lingüísticos, que não vê como decisivos para negar ao Estagirita a paternidade do texto, ele se atém sobretudo a uma comparação minuciosa do conteúdo do livro B e de K 1-2, observando todas as diferenças e mesmo as nuances na exposição da doutrina e a ordem na qual as idéias são apresentadas. A con frontação entre K 3-8 e TE é mais sumária. A conclusão é bastante firme, o autor é um antigo membro da Escola Peripatética que resumiu de modo bas tante servil, adaptando-se mesmo bastante bem ao estilo do mestre, os Ix v lo s B F E da Metafísica, mas, em razão da incompreensão de diversas passagens e de um interesse bem mais marcado que em Aristóteles pela existencia
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I
Sobre a Metafísica de Aristóteles
realidades supra-sensíveis e de uma substância imaterial e etetna s u b _ por si, deu ao conjunto da expostção uma coloração muito diferente daquela de seu modelo. ^ É a este estado da questão, tal como rinha sido deixado por Natorp, que reagiu ulteriormente W . Jaeger, de início em seu livro de 1912 sobre a formação da coletanea conhecida sob o título Metafísica de Aristóteles78, em que especialmente submete a uma crítica detalhada os argumentos de Natorp contra a autenticidade do livro K 79, sobre a qual não nos deteremos, visto que o próprio Jaeger renunciou em parte a suas críticas em seu Aristóteles de 1923 . Com efeito, nesta ultima obra ele pode sustentar com verossimilhança a autenticidade de K 1-8, na mesma medida em que considera o conteúdo na perspectiva da evolução doutrinal de Aristóteles e, se ainda são encontrados muitos traços de uma tendência ainda platonizante, é porque esta exposição está cronologicamente posicionada antes da redação definitiva que possuímos dos livro B, r e E. Isso supõe, entretanto, que “o ser como tal”,
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ov f| òu,
que é dado como objeto à metafísica em ambas as versões tinha uma signifi cação diferente em cada uma delas: na primeira (K), a expressão designa de modo exclusivo o que é imperecível e eterno, enquanto, na versão posterior, se trata de tudo o que existe de algum modo e a análise remete às diversas acepções do ser. Encontramos, assim, a interpretação tradicional da fórmula. Mas aqui Jaeger não faz a menor tentativa em vista de mostrar como, do ponto de vista gramatical, esta fórmula tomada em sua totalidade pode designar de modo exclusivo o ser absolutamente estável; mesmo se, na esteira de Platão, não se quer conceder a denominação de 'ser senão ao que é subtraído a toda mudança, não se vê o que é visado pela adição f) õv, a menos que se trate de apoiar-se na plenitude do ser pertencente a uma tal realidade e excluindo por essa primazia todo devir: "o ser enquanto ser" significaria então "o imutá vel enquanto imutável"81. Examinaremos à frente se uma tal interpretaçao e compatível com as exposições dos capítulos 3 e 4 de nosso livro K, que soam de modo totalmente diferente. Enquanto isso, notemos que Jaeger se declara de acordo com Natorp para atribuir a um discípulo a redação do documento ern litígio: simples redator de uma série de lições do mestre, retomou o esti o deste, mas se traiu involuntariamente pelo emprego de ta.s palavrmhas, de resto, pouco dignas de serem realçadas . Augustin Mansion \
Esta concessão, que não parece nada, é, em suma, gravíssima, pois se o re dator não é Aristóteles, ele pode tanto ter traído o pensamento deste quanto ter cometido algumas infidelidades sem importância no que concerne à lin guagem da exposição que ele pretendia reproduzir. Não está em questão retomar aqui, em sua totalidade, o problema da autenticidade aristotélica de nosso livro K, mesmo reduzido aos seus oito pri meiros capítulos. Mas pode-se examinar se a doutrina que o redator atribui a Aristóteles quanto ao objeto da metafísica pode corresponder ao pensamento do filósofo em um momento dado de sua carreira. O problema não será tanto o de ver se as opiniões que ele exprime ou que pressupõe nesse domínio são conformes ou não ao que Aristóteles ensina em outros lugares sobre o mesmo tema, mas sobretudo o de perguntar se são suficientemente coerentes entre elas. Apenas depois de um tal exame poderemos alocar de maneira útil tais passagens significativas do livro K no dossiê da pesquisa que empreendemos no que concerne à concepção aristotélica da “filosofia primeira" e, em geral, da ciência filosófica suprema, chamada metafísica na tradição peripatética. Com esta finalidade, examinaremos em seqüência as três seções que distin guimos acima, nas quais se trata do objeto da metafísica (cap. 1-2, 3-4 e 7). N a primeira seção, a ciência filosófica é constantemente designada pelo termo (Kxj/ia, como no prólogo do livro I (A). Esta seção começa por uma frase lembrando que essa "sabedoria" é uma certa ciência que tem por objeto os princípios, tal como resulta da discussão histórica nas exposições do iní cio. Pode-se ver aí uma referência ao livro I (A) 3-7 (ou mesmo 3-10, caso se queira) ou a uma exposição paralela. Segue-se imediatamente o enunciado e a discussão da primeira aporia, acompanhada de toda a série de aporias subseqüentes. O exame dos problemas suscitados revela ainda as seguintes particularidades relativas ao objeto da sabedoria que se ocupa dos princípiosPercebe-se, desde a terceira aporia (1059a26-29), que esta sabedoria trata de substâncias (oúaíai), cuja menção é anunciada sem nenhuma advertência nem justificativa prévias. Outras questões sobre as substâncias aparecerao forma semelhante nas aporias subseqüentes. Natorp83 observou que a terceira aporia se conecta de maneira menos natural à precedente do que a aporia cor IÓ 2
I Sobre a Metafísica de Aristóteles
respondente no livro B : aqui, a segunda aporia suscir, ,
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primeiros princípios a estudar seriam unicamente os d T T ° -
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princípios do gênero como o princípio de contradiçáo (em K
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se trata exclusivamente dos últimos, ditos princípios da demonstrado). ITessa crítica, W . Jaeger respondeu, de modo muito pertinente« n, •i „ • i. * tunente , que a exposição sucinta de K evita exphcaçoes que não são indispensáveis e que é baseada assim de maneira tacita em certas pressuposições, entre as quais a que a metafísica deve se ocupar de substâncias. Esta observação judiciosa deve, sem dúvida, ser estendida a outros dados que intervêm no curso da discussão das aporias. Isso foi expressamente en fatizado por um a outra particularidade de grande importância. Com efeito, Natorp nota
que, aos olhos do autor, o unico objeto essencial da ciência
superior, a respeito do qual ele examina os problemas característicos, é, em suma, a realidade supra-sensível. Constata-se, de fato, em cinco passagens di ferentes, indicações bastante claras neste sentido. Em primeiro lugar, supõe-se que este objeto é uma realidade separada das coisas sensíveis e é imperecível (I 1059bl2-14); é ainda a matéria dos seres matemáticos (chamada, às vezes, por Aristóteles, matéria inteligível - Metafísica V II (Z) 10 1036a9-12; 11, 1037a45 - e concebida como um princípio interno imutável dos seres matemáticos - 1 1 059b l4-19); é sobretudo a existência de uma substância distinta das substâncias do mundo inferior e subsistente por si em estado separado (2 1060al0-13); do mesmo modo, uma substância eterna, separada das coisas sensíveis e existente por si e, a este título, princípio da ordem das coisas (2 1060a23-27); e, enfim, este princípio ou esta substância, tal como descritos, se entende como um princípio único frente a todos os seres, sejam ete ou corruptíveis (2 1060a27-b 3). Notemos que essas indicações sao dadas no curso da exposição ou da discussão das aporias; elas não sao diretamente o objeto posto em discussão em uma ou outra dessas aporias. A questão re atira à matéria dos seres matemáticos (1059bl4-19) parece ser, antes, subsidiária aludida pela menção ao
que
dente (1 059b l2-13). Por duas vezes, alem disso, e à "filosofia" (a palavra ^ pertence o objeto mencionado (1059b
),
p p
^
que
t a tarefa que se impõe a ele ^ nenhum ser sensível
é ver se existe um ser separado em si, que não p Augustin Mansion \
(1060all-13). Também W . Jaeger, longe de rejeitar ou querer minimizar tais constatações, as vê como o testemunho de um estágio da metafísica aristotélica no qual ela era ainda muito próxima do platonismo e inteiramente inclinada à afirmação de um mundo supra-sensível86. Note-se, de outra parte, que, em K 1, ao lado das matemáticas, menciona das como um gênero de ciência bem conhecido (1059b9-13), também a física é nomeada e seu objeto é descrito nos termos clássicos do aristotelismo (ibid 16-18). Além disso, há uma referência à doutrina das quatro causas tal como ela é exposta na Física (II 3) (eu to íç c^ucriKdíç: 1059a34). Resulta, pois, que o redator de K 1-2 tem da ciência superior, cujas aporias ele examina, uma concepção muito próxima da de Aristóteles quando nos fala de sua filosofia primeira, ciência do imaterial e, assim, ciência de Deus, substância imutável que se encontra no cume da perfeição. Obviamente, em K, 1-2, como, aliás, em B, os limites do objeto desta ciência não estão ainda bem fixados; as discussões aporéticas que preenchem os dois escritos, mais ou menos paralelos, são precisamente destinadas, por um lado, a determinar do que, exatamente, a ciência terá de se ocupar. Não se deve mais surpreen der-se se a exposição de K, 1-2 parece ao menos deixar ainda aberta a hipótese segunda a qual as substâncias sensíveis poderiam ser o objeto da ciência em questão (1059a26-29; cf. 1059a38-b 1). Além disso, ao lado desta sabedoria, tão semelhante à filosofia primeira, figura a física, disciplina identificada por Aristóteles a uma filosofia segunda. Com a segunda seção (K 3-4), encontramo-nos desde o início bruscamente transportados para uma atmosfera doutrinal completamente diferente, com um vocabulário igualmente diferente. Esta seção começa de forma abrupta, do mesmo modo que o livro IV
(r), pela afirmação sobre a existência de uma
ciência, dita ciência do filósofo, que tem por objeto o ser enquanto ser, tomado de modo universal e não particular. Na seqüência, esta ciência é chamada filo sofia (1061b5, 25) e, por uma vez, "filosofia primeira" (1061bl9) sem diferença de sentido; quem a exerce é o "filósofo" (I061bl0), como na frase do início. O ser, objeto dessa ciência, não é equivocidade pura, mas um ternio com acep ções múltiplas, comportando, malgrado isso, uma certa unidade em razão de referências diversas a um mesmo termo primeiro. Porém, este ser no sentido primeiro ao qual todo ser deve se reportar não é designado, aqui, como sendo | Sobre a Metafísica de Aristóteles
a substância (não há nenhuma alusão às categorias! í , » « l)(TlK0Í) TIÇ aiw épU) (ei> yáp Tl yCVOÇ TOÍ) OVTOÇ t|
TOÚ
(TTepl tò ) KaGóXou kol [to íj] TTepi Tf]u TrpcjTriv' ouaíav 9ewpr|TiK0& Kal f) Trepi TOiflW
àv eír| aK éjn ç' I o t i 8è ao 26 Om ito as palavras Kal
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êv, na linha 5, postas entre colchetes por Natorp, Ross e Jaeger.
27 Ver em Metafísica I V ( 0 1 a oposição entre a ciência do ser como tal e as ciências parti culares, nenhum a das quais dirige suas pesquisas universalmente para o ser enquanto tal, mas as lim ita a um gênero de ser (1003a 21-26); idéias retomadas e resumidas sob uma forma menos clara no parágrafo da introdução do livro V I (E) 1 1025b3 18. ^
^
28III (B) 1 9 9 5 b l2 : ...ri r à s ^èv o o ^ ía s r à ç ôè ÕXXo t i . cf. linha 5: Trepl iov ev to lç TTtcj)poili i a a liéi/OLS...;2 996b 6-10:èK \ièv o w râ v TTÓXai SiwpwJiiéiw Tiva Xpr| ko eiv T w èmaTriuâiy a o ^ ía v ... , ‘ , !9 Metafísica II I (B ) I 9 9 5b 6-10: enunciado da segunda aporia; o mesmo mo a aporia (linhas 10-13), quarta (linhas 13-18), quinta (Iin as
-^
nomeada nos enunciados ulteriores. N as
à descrição da sôphia
primeiro lugar, no que concerne a primeira apori , como ciência dom inante, ela será antes tiencia c o há de m ais cognoscível, ela será, antes, a ciência ao^ ela se confunde, todavia, com a substância e sua css sentido estritam ente próprio (III (B) 2,996b8 18 das quatro aporias s e g u e s
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ma{. como ciéncia d0 qUe
^ enrendida como causa formal; t-,uaado se tomam as coisas no ^ jéncia do capítulo 2 - discussão 1
mencionada, visto ter
£ se aceitarmos esta suposição, então a Ética E u dêm ia deve estar pressupondo o argumento de M etafísica I V e V I que professa mostrar como as outras categ0. rias são logicamente subordinadas à primeiraí Um a vez concedido este p0nt0 temos um dilema que é de qualquer modo fatal. Pois ou a inconsistência entre estas duas obras - inconsistência na qual pus grande ênfase - é uma ilusão, oua Ética Eudêm ia foi escrita com total consciência da análise proposta na Metafísica
e ainda assim contradiz a inferência retirada de lá, a saber, a de que pode haver uma ciência única do ser. N a última alternativa, a Ética Eudêm ia deve ser uma produção posterior e, presumivelmente, não uma obra de Aristóteles17. Poderíamos pôr em questão o primeiro passo da objeção. Pois, tanto na Ética Eudêm ia quanto na Ética N icom aquéia, o argumento da prioridade é bas
tante distinto daquele que alega haver uma ambigüidade e explora a teoria das categorias. Parece duvidoso se a forma original do argumento da prioridade sequer envolvia as categorias; em sua versão na Ética Eudêm ia, elas não são mencionadas (1218al-15), e, na Ética N icom aquéia, a menção a elas é superada pela antiga dicotomia acadêmica entre k a th ’ hauto, “p er s e , ep ro s ti, "relativo”, da qual as categorias eram um rival mais elaborado18. Ainda assim, suponhamos que a prioridade em questão é a prioridade da primeira categoria. De forma alguma isto implica que Aristóteles já tinha chegado à sua análise da prioridade lógica da substância, a análise que é proposta em M etafísica I V e que depende
diretamente do reconhecimento do sentido focal de "ser" Afinal, prioridade lógica - prioridade em logos ou de fin iç ã o é a p e n a s iinidos^tipos, de.primazias
que Aristóteles vem a atribuir às substâncias (M eta. 1028a32-b2). QutrotÍFoC prioridade "natural", uma noção mais primitiva, que ^Aristóteles tomoujg!?10 sendo a mais antiga das .duasjima v ^ q i i ^ p ^ e diz que, de certo modo, os outros tipos de prioridade receberam seu no ^ dela (M eta. 1019al-4). A é naturalmente anterior a B (proteron kata phi(^n> ’ ousian) apenas no caso dc que A possa existir sem B e não
| Sobre a Metafísica de Aristóteles
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que, assim como esta prioridade simples não implica o tipo mais sofisticado, tampouco o reconhecimento da primeira em um certo caso requer o reconhe cimento da segunda. Assim, um exemplo paradigmático de prioridade natural era a seqüência pontos, linhas, planos, sólidos; contudo, a Academia parece ter considerado esta relação como permitindo a definição dos termos posteriores pelos anteriores, ou o inverso, ou nenhum dos dois19. Pois bem: o único tipo de prioridade que é expressamente invocado em nossa passagem da Ética Eudêmia é a prioridade natural (1218a4-5). No começo da polêmica, a Idéia do Bem foi dita ser anterior a outras coisas boas apenas no sentido de que sua destruição envolveria a destruição do resto, mas não vice versa20. E verdade que a Idéia também é dita ser aquilo com referência a que outras coisas são chamadas boas (1217bl2-13; cf. Meta. 987b7-9); mas o fato surpreendente é que nem aqui nem em suas outras críticas às Formas, Aristóteles pensa que sua fórmula implica que a definição de “bom" ou de qualquer outro predicado difere quando a palavra é aplicada à Idéia e quando ela é aplicada ao participante21. Isto significa dizer que, neste estágio ou contexto, de modo algum ele considera a idéia de sentido focal ou a noção associada de prioridade lógica; e são estas idéias, e não uma explicação mais antiga e mais vaga da primazia da substância, que posteriormente o permitem escapar de sua própria polêmica e evitar a ambigüidade de “ser". Assim, a objeção não tem sucesso e podemos continuar. A m b i g ü i d a d e e m e t a f í s i c a n o O rganon
E m outras partes, podemos ver a busca pelo sentido focal, em contraste com a simples detecção da homonímia, ganhando interesse e importância para Aristóteles. Quando ele elucida algumas expressões cardinais_apr.fes.ejv tando alguns de seus sentidos como sendo elaborações com base em_um sentido primário, sua técnica marca um grande ayanço^m,rejaçãoJJ?usça socrática por definições. Ele a emprega ocasionalmente em seus escritos fisicos22 e no Léxico, Metafísica V, às vezes com o ar de uma reflexão posterior23. De um modo especial, ela começa a dominar sua psicologia. Aristóteles já está um escolho à frente do método socrático quando argumenta, nos Tó picos, que, uma vez que “vida" é usada em diferentes sentidos para plantas G. E. L. Owen
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e animais, é errado intentar uma definição geral da palavra: precisamos de uma definição separada para cada forma de vida (148a23-26). Mas ele es^ além dos Tópicos quando diz, no De Anima, que, se, por um lado, não p0(je mos ficar contentes com uma definição geral de alma, tampouco podem0s parar neste ponto, o de dar definições separadas dos varios tipos de alma Nossa explicação deve mostrar como estes tipos estão ordenados, o posterior potencialmente contendo o anterior (414b25-415al). Aqui parece haver p^j lelos com a linguagem da Metafísica bastante conscientes: com a alma, assim como com ser, é o primeiro sentido da palavra que mostra o q ue é comn^ a todos os sentidos (415a23-5) e é apenas o que é denotado pela palavra ^ seu sentido primário que pode jer_e^istência_ separada (413a31-bl0). Mas há ao mesmo tempo grandes diferenças entre os dois usos do sentido focal, e aqui nós não estamos preocupados com a psicologia. O exemplo traz ou tros problemas que ficam em nosso caminho. O s Tópicos são um livro de lugares-comuns cuja compilação e cujo subseqüente acréscimo podem ter-se prolongado por um período considerável. E razoável, então, dizer, como eu disse sobre este exemplo, que, por sua preocupação posterior com o sentido focal, Aristóteles está "além dos Tópicos”? Ou, como pretendo argumentar, que ele está além do Organon como um todo? Considere, primeiro, quais sinais do interesse geral pelo sentido focal exis tem nestas obras, desconsiderando o uso especial que Aristóteles encontra para a idéia em Metafísica IV. N os Tópicos, ele cita vários exemplos que mais tarde servirão como casos padrões de pros hen legomena24. M as aqui eles pare cem ser tratados cqmo meros casos de ambigüidade (“bom", por exemplo, é equiparado a oxu, "afiado”, "agudo”, atribuído em diferentes sentidos a notas, facas e ângulos). Robin descartou este tratamento como sendo "une expression insuffisante etpeu exacte de la doctrine dAristote”25: talvez ele pensasse esta inade quação como um sinal das metas negativas dos Tópicos. Mas o lado destrutivo da dialética foi muito exagerado, e é igualmente provável que Aristóteles ainda não tinha desenvolvido a doutrina” geral que Robin procurava. D e qualq11^ modo, tivesse ele ou não encontrado a noção de sentido focal (uma
q u e stá
que encararemos depois) e estivesse ou não esta noção implicada ou ptenLltl ciada por outras passagens dos íópicos26, a obra não dá nenhum sinal deL] ele te n h a atribuído qualquer importância a ela. Quando ele reconhece urn 18 4
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Sobre a Metafísica de Aristóteles
terceira possibilidade além da simples sinonímia e homonímia, a possibili dade é "metáfora” (juntamente com, como um quarto caso, algo "pior do que uma metafora ), e não ha nenhuma intenção de explicar a metáfora por meio do sentido focal . E há passagens reveladoras, tal como a discussão de um problema no quinto livro. O problema depende da possibilidade de atribuir um predicado tanto para o sujeito primário quanto para outras coisas que recebem seu nome a partir do sujeito (134al8-25); ele seria solucionado pela introdução do sentido focal - isto é, se se permitisse ao predicado definições diferentes, mas conectadas, em seus diferentes usos. Mas, embora num ponto ele pareça à beira desta solução (134a32-bl, cf. 145a28-30), Aristóteles trata o predicado como sendo uma unidade simples em todos os casos, e apenas recomenda ao orador dizer se a expressão está sendo aplicada a seu sujeito primário ou não (134bl0-13). Este tratamento simples adquire significado es pecial em seu ataque às Idéias, pois ele reconhece que o uso que os platônicos fazem do prefixo auto ou ho estin, "absoluto" ou “aquilo que [realmente] é", é simplesmente esta tentativa de tomar a Idéia como sendo o sujeito primário de um predicado; ainda assim, também aqui ele não supõe que este prefixo implique qualquer variação no logos, na definição do predicado (cf. n. 21). Para ele, a Idéia é “a primeira de um conjunto de sinônimos” naturalmente, mas não logicamente anterior a seus participantes28. Tampouco o sentido focal encontra-se formalmente reconhecido na classe de parônimos que é introduzida nas Categorias e reconhecida nos Tópicos, pois a definição dos parônimos é meramente gramatical. Ela não mostra de que modo os sentidos subordinados de uma palavra podem estar logicamente afiliados a um sentido primário, mas como adjetivos podem ser fabricados a partir de nomes abstratos pela modificação da terminação da palavra29. Ob viamente as Categorias não fazem e não poderiam fazer uso desta idéia para explicar como as categorias subordinadas dependem da primeira. Tampouco usam o sentido focal para este propósito (2b4-6). Se o sentido focal pode ser visto nas Categorias, é na análise de alguma categoria - clara o bastante na definição de quantidade (5a38-bl0), bem mais duvidosa na explicação dos dois usos de “substância" (2b29-37, 3bl8-21) - mas não na ordenação lógica das diferentes categorias e dos diferentes sentidos de "ser", que esta na base do argumento de Metafísica IV. G. E. L. Owen | j
Este ponto pode ser reforçado e generalizado, e então ele é funda Quer Aristóteles tenha ou não pensado, ã época da redação dos Tóvic r ^ ^ c o s ( edas Categorias, se ele escreveu esta obra), que o sentido focal tinha algum para filósofos, nem lá nem no restante do Organon há algum indíciodo --------------- — ----------------------------------------* ------------- ° ------- — ‘ - ^ 4 0 uso qUe a idéia tem no quarto livro da M etafísica. Nesta estrutura, não há lugar uma ciência geral do “ser enquanto ser". Retórica à parte, a única discipHnjf^ Aristóteles reconhece nestes trabalhos como passível de lidar com material^ C é comum a todas as ciências e a todos os campos do discurso é a dialética30 e a dialética não tem nenhuma pretensão ao título de Filosofia Primeira Em sua relação com as ciências, ela é uma técnica preliminar para clarificar e for talecer as idéias em uso corrente, idéias que ela toma e emprega mais apuradamente31. Os princípios comuns que ela investiga têm um uso diferente nas diferentes ciências e nas diferentes categorias (An. Post. 76a37-40, 88a36-b3) - há aqui um inevitável paralelo com o tratamento de “ser” e “bom" na Ética Eudêmia - e os usos destes princípios estão conectados apenas por "analogia” (76a38-9). Com certeza, a própria conexão analógica é uma admissão de que as palavras e fórmulas que são partilhadas por todos os campos do discurso não são, por esta razão, simplesmente equívocas; mas ela não explica o porquê disso. Veremos depois o quanto ela está longe de implicar a conexão sistemática de significados com a qual Metafísica IV desarma a mesma ambigüidade. Ela não faz nada para mostrar a possibilidade de uma ciência geral do "ser e das características necessárias do ser”, que toma os axiomas comuns das ciências como parte de seu domínio apenas porque estes axiomas pertencem ao ser enquanto ser. Quando Aristóteles pensa ter estabelecido esta possibilidade, ele pode reclamar nova importância para as técnicas dialéticas incorporando-as na nova ciência32. Mas este tipo de ciência não está presente no Organon. Ainda assim, comentadores ansiosos pela unidade do p e n s a r i K n t o d g j i rls tóteles conseguiram ver a metafísica posterior nos textos lógicos. Eles a
e
cobriram nas Refutações Sofísticas, quando Aristóteles explica que o a rg u m e n dialético não é restrito a determinada classe de objetos, não prova nada frase crítica - não é hoios ho katholou, "como o raciocínio universal
^
O que é este raciocínio universal (perguntam os intérpretes, de pse^^ xandre a Jean Tricot) senão a ciência universal do ser anunciada em 1 IV? Ainda assim, nas linhas seguintes, Aristóteles nega a b e r t a m e n t e q
Sobre a Metafísica de Aristóteles
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as coisas possam ser agrupadas sob os mesmos princípios e, um pouco depois, diz, no mesmo estado de espirito, que as ideias comuns com as quais a dialética lida não formam um assunto positivo: elas são mais como conceitos negativos (iapophaseis, cuja pretensão a um gênero comum Aristóteles negou a partir do De Ideis)3\ Waitz percebeu que, neste contexto, o método "universal" com o qual a dialética é contrastada só pode ser aquele que é explicado nos Segundos Analíticos, o metodo das ciências especiais, cujo objeto de investigação é definido como universais que não são equívocos 34. Alternativamente, se pretendemos ver uma referência à metafísica geral na frase, ela deve ser glosada por aquela passagem dos Segundos Analíticos onde Aristóteles distingue as ciências especiais não só da dialética, mas também de "qualquer ciência que tentasse dar provas universais dos axiomas comuns, como a lei o terceiro excluído” (77a26-31). Também aqui, comentadores desde João Filopono sentiram o cheiro de Metafísica IV. Contudo, Aristóteles consistentemente mantinha que os axiomas comuns eram amesa, "imediatos”, e não podem ser provados; no melhor dos casos, como no quarto livro da Metafísica, eles podem ser recomendados por métodos dialéticos (Meta. 1006all-18). Deste modo, a ciência que Aristóteles tem em mente aqui não pode ser uma invenção sua. Ao contrário, como Ross percebeu, é aquilo que ele repu dia: "uma tentativa metafísica, concebida à maneira da dialética de Platão, (sc. como ela é representada nos livros centrais da República), de deduzir hipóteses a partir de um primeiro princípio não-hipotético”35. 0 mesmo é verdade quando Aristóteles diz, um pouco antes nos Segundos Analíticos, que uma ciência não pode provar os teoremas de uma outra e (quase no mesmo fôlego) que a geometria não pode provar o princípio geral de que o conhecimento dos contrários é um único conhecimento (75bl2-15): se (como intérpretes assumem, sem garantias) aqui ele está pensando em outra ciência que professe provar tais princípios gerais, é a República, e não a Metafísica, que lhe fornece o modelo. E este é um modelo de filosofia que ele rejeita como completamente mal concebido. Assim como é uma metafísica platônica que tem em vista quando nega que os axiomas comuns possam ser provados, é também com este alvo em mente que rejeita a possibilidade de deduzir as premissas especiais de qualquer ciência dada (76al6-25). Tal prova, ele diz, se basearia em uma ciência-mestra, kuria pantôn. Não nos precisamos demorar nos esforços de Zabarella e outros que leram este trecho como uma referência à metafísica geral do próprio Aristóteles G. E. L. Owen \ jg y
e ter então de explicar o claro repúdio de qualquer procedimento deste tip texto diante deles. A investigação descrita em Metafísica I V não é mencion ^ no Organon; nem está escondida na manga de Aristóteles. Em contextos os que consideramos, ela deveria ser mencionada se já estivesse estabeleci mas não há nem sinal dela.
A natureza dos textos faz do argumento do silêncio um argumento forte mas ele pode ser corroborado comparando estas passagens que acabamos de considerar com um eco posterior de seu argumento. Pois as conclusões diretas dos Segundos Analíticos reaparecem na Metafísica com uma outra roupagem: elas se tornaram problemas que devem ser resolvidos para que uma ciência geral do ser seja possível. Os Analíticos argumentaram contra qualquer tentativa de provar os axiomas comuns a todas as ciências e, em bases similares, contra qualquer tentativa de provar os princípios especiais de uma dada ciência. Am bos os argumentos reaparecem em Metafísica III, mas ambos foram relegados às aporiai preliminares do assunto (997a2-ll, 15-25) - do mesmo modo que a razão que fora dada na Ética Eudêmia para a rejeição de uma única ciência do ser aparece novamente na Metafísica apenas como uma dificuldade a ser evitada (1003a33, 1060b31-5). A conclusão parece inevitável. Os argumentos contra uma ciência universal que se encontram coligidos e até certo ponto desarmados na Metafísica foram - pelo menos em alguns casos importantes - primeira mente formulados quando Aristóteles os julgava conclusivos, a saber, quando a polêmica contra a Academia estava, em seu auge e quando o único modelo de metafísica geral que Aristóteles tinha em vista era alguma forma ou versão da dialética platônica. Qualquer pretensa ciência universal,_ele_entáo acreditava, deve cometer dois crimes lógicos. Deve almejar produzir provas inteiramente gerais de assuntos pertencentes a ciências particulares e deve ignorar a ambi güidade de "ser" e de todas aquelas palavras onipresentes com as quaistentou definir seu próprio objeto de estudo. Posteriormente, quando ele introduz seu próprio programa para uma metafísica geral, ele lida diferentemente com estas duas objeçóes!)A primeira, ele está pronto para acomodá-la. A nova empresa não está disposta na forma de um sistema dedutivo e não dita
prem issas
as
ciências especiais. Ao invés de provas gerais, ela se incumbe de análises gerai Ido uso daquelas mesmas palavras e fórmulas onipresentes: mas, neste pon jela vai de encontro à segunda objeção. E o que dá ao novo começo seu ímp
| Sobre a Metafísica de Aristóteles
e caráter é justamente que, agora, Aristóteles viu no conceito de sentido focal um modo de desbancar aquela objeção*.
A n a l o g ia e s e n t id o f o c a l
Espero que surja a figura razoavelmente clara de um^stágio no pensa mento de Aristóteles^ Em sua lógica, ele tendia, neste momento de sua obra, a trabalhar com a simples dicotomia entre sinonímia e homonímia; aparentt^^ntÊijvia.
alguma, importância naquele /er(wm quid para o qual
ei l g r a d u a l m e n t e , usos tão notáveis. N a metafísica, este esquema simples o possibilitou^ como parte dejsua crítica a Platão e à Academia, a negar a possibilidade de uma ciência universal do ser. Esta rejeição foi estruturada sem uma cláusula para o sistema que ele mesmo proporia em Metafísica IV, V I e V II. E verdade, ele já mantinha uma teoria das categorias na qual uma prioridade era atribuída à substância, mas esta prioridade era de uma linhagem mais antiga e acadêmica, e não envolvia o sentido focal. Assim, ela era incapaz de mitigar a ambigüidade que Aristóteles dizia ter encontrado em “ser". Ajmesma polêmica contra uma ciência universal figura amplamente em M etafísica I 9. Também aqui uma importante arma é a afirmação de que os pla
tônicos negligenciaram as questões de ambigüidade e também aqui Aristóteles parece menosprezar o sentido focal. Assim, ele mantém que, se os platônicos tivessem reconhecido a ambigüidade da expressão ta onta (“seres"), eles teriam visto a futilidade de procurar por elementos de todas as coisas que existem, pois apenas os elementos das substâncias podem ser descobertos (992bl8-24). Isto não contradiz formalmente o argumento no quarto livro, mas não está sintonizado com a afirmação de que uma investigação geral dos elementos das coisas que são é legítima e que todos que se engajaram nesta investigação estavam no caminho correto (1003a28-32). Isto também contrasta com o argumento em Metafísica X II de que todas as coisas podem ser ditas terem os mesmos elementos "por analogia" (X II 4, especialmente 1070bl0-21). Mas agora é hora de retomar uma promessa anterior e mostrar que estes dois pro nunciamentos, o de I V e o de X II respectivamente, não são de modo algum equivalentes, apesar da tendência imemorial dos comentadores de descrever a teoria em I V como a analogia do ser 37. G. E. L. Owen
| jg g
A afirm ação,de.IV ^
'W ' é uma expres_sáQ^QSl^entido
é
uma afirmação de que sentençasso ly ejriáo ^ it^ - traduzidas - a sentenças sobre substanciasse^arec£Siatanl bem encontramos outros empregos que dão ao passivo um sentido difc*nt& p mitindo lhe jogar, num mesmo plano de discurso, com a oposição tie e e passivo. Para nos limitarmos ao exemplo menos contestável, citem descnção da primeira figura do silogismo nos Primeiros Analíticos: èàv ^ • p y o p n Kiit K o r n y o p í^ TÒ |JC%()1, ... TÒ ^ T0V, êaxal c f r * - v , Wb0S CV,dcmcl’>ente designa a função de sujeito, o outro, a deatrib* J I Sobre a Metafísica de Aristóteles
que o termo médio ocupa essas duas funções alternadamente nas premissas do silogismo de primeira figura. O contexto mostra sem ambigüidade que o ativo KaTriyopeii' significa ser predicado e o passivo KaTryyopeíaeai significa "ser sujeito
Considerando, pois, apenas a proposição "a forma KorrriyopeLTai da
matéria" parece-me que não se estaria teoricamente impedido de compreender: a forma é sujeito da matéria (como no exemplo do cofre). Dito isso, convém bater em retirada imediatamente. Se a tese aristotélica da predicação hilemórfica tivesse por sentido real que a matéria se predica da forma, todo paralelismo entre essa predicação" e a dos acidentes em relação à substância seria abolido: a substância só tolera ser invertida deixando de ser 'natural ’66. Seria preciso admitir, numa frase como T 1, que Ka'rriyope'icrOai significa ser predicado no primeiro membro da frase e "ser sujeito” no se gundo. Deixemos rapidamente este lugar, não sem reter desse episódio que pode haver razões para que não nos deixemos aprisionar pela equivalência tradicional KaTr|yopoiJ|ieyov=predicado. VI Esse resultado, embora negativo, encoraja a explorar a segunda pista que indicamos acima. O fato de encontrarmos dificuldade em fazer da forma tanto o predicado da matéria quanto seu sujeito não indica que a predicação hile mórfica pode traduzir-se lingüisticamente num quadro diferente do da relação sujeito-predicado, isto é, num outro quadro que não o da proposição? A hipótese toma corpo quando nos dirigimos para outros textos da nossa coleção. T 4 deve ser interrogado porque apresenta uma comparação pouco observada entre, por um lado, algo que se passa nas substâncias (que o ato se "predica" da matéria), e, por outro, algo se passa "nas outras definições". Essa formulação, por si mesma, convidaria a supor que é no quadro da definição das substâncias que o ato "se predica" da matéria67 e a pressentir que a chave da predicação" hilemórfica reside antes na estrutura dafórmula definitional do que na da proposição atributiva. Entendemos porfórmula definitional conforme o uso aristotélico68, não um enunciado do tipo X é por definição Y , mas o grupo de palavras que ocupa a posição Y num enunciado desse gênero. A análise mais detalhada da comparação esboçada em T 4 confirma esse pressentimento. J. Brunschwig |
Consideremos, com efeito, as "outras definições" que são as de q u a ^ tâncias, como a soleira ou o gelo, conforme exposto acima. Na deflniçio soleira, por exemplo, como "pedra disposta de certo modo, a determinaçào posicionai w8i Ket^evov desempenha o papel de uma forma atualizante etn relação à pedra - matéria que ela determina; e as palavras que as d esign têm funções análogas no interior da fórmula definicional. Em virtude do pa. ralei ismo, expressamente enfatizado por Aristóteles, entre o caso das qUase, substâncias e das verdadeiras substâncias, estamos autorizados a dizer que numa fórmula definicional desse gênero, a diferença atualizante se predica’’ da matéria, o que também ocorre, analogamente, na definição das substâncias: tanto a palavra Kcn-rçyopoúiievov, que só é pronunciada no primeiro membro da comparação, quanto a palavra òpia^ióç, pronunciada apenas no segundo, são transportáveis para o lugar onde estão ausentes. Que sentido dar, então, ao verbo K aT riyopeicrG ai para que essa “predicaçáo” da diferença a respeito do gênero tenha um sentido inteligível no seio da fórmula definicional? Parece que podemos admitir para esse verbo uma dupla significação lógico-lingüística e ontológica: no plano lógico e lingüístico, a dife rença é acrescida ao gênero-matéria que necessariamente a precede na fórmula definicional e que recebe dessa diferença uma determinação que não tinha. No plano ontológico, a diferença determina a matéria, faz dela o isto que não era, senão em potência. No plano doutrinal, essas teses aristotélicas são, aliás, bem conhecidas. Sugiro simplesmente abrir espaço, entre os empregos do verbo K ü T riyop elaG ai, para um emprego especializado na própria designação dessa relação, pela qual um termo X se apõe a um termo Y determinando-o lingüisticamente, ao mesmo tempo em que a realidade designada por X se apõe à realidade designada por Y determinando-a ontologicamente. Sem dúvida, isso impõe alguma dificuldade69. Aristóteles não rejeita catego ricamente, nos Segundos Analíticos (II, 3, 90b 34 ss.), a idéia de que, entre os ele' mentos constitutivos da fórmula definicional, um possa ser o KCtTTiyopoí^voi' do outro? "Na fórmula definicional (ópmpói)", escreve Aristóteles, "um dos ele mentos não é de modo algum predicado (KaTrp/opf:ÍTai) do outro: por exe111 pio, animal não é predicado de bípede, nem bípede de animal". A observação e incontestável: no sentido estrito do termo, as partes da definição não se p te *3”1 uma da outra. Mas toda questão consiste precisamente em saber se A ri« *** 266
I Sobre a Metafísica de Aristóteles
sempre KaTTyyopeTaQai no sentido esmVr» A " , r de ser predicado” Aceitando e este e o caso, entao se encontra sérias dificuldades com T 4, visto que J
e m p re g a
dos elementos da formula definicional é explicitamente qualificado como ko„ m
v o v
do outro. Senamos obrigados a sustentar que há contradição
entre os textos igualm ente claros dos Segundos Analíticos e os da Metafiscca? Evita remos essa conclusão, aceitando distinguir um sentido estnto de kot W
ia6at,
empregado no texto dos Segundos Analíticos (o único habitualmente aceito), e um
sentido amplo da m esm a palavra, que o texto da Metafísica obriga a reconhecer, ao qual gostaríam os de atribuir cidadania no aristotelismo. A proposição parece-nos bem razoável, na medida em que podemos fazer algo sem elhante a propósito de um a expressão vizinha: a célebre fórmula t i KCtTa tiv o ç . Essa fórm ula é com um ente considerada, aju sto título, como uma descrição tipicam ente aristotélica da relação de predicação. N o contexto da passagem dos Segundos Analíticos, citada imediatamente acima, por exemplo, A ristóteles opõe firm em ente demonstração e definição: “toda demonstração m ostra algum a coisa de algum a coisa ( t ! k q tq tlv o ç ), por exemplo, que (A ) é ou não é (B ), enquanto na definição um dos elementos não é de modo algum predicado do outro, etc."70. A partir de um texto tão afirmativo, não teríamos a tentação de su stentar que a fórm ula t l k o tò tlv o s não se aplicaria, em caso algum, à relação que une os elementos da fórmula definicional? E, no entanto, é o que ela faz, da form a m ais clara, no texto T 11, no qual é dito que a fórmula definicional significa algum a coisa de alguma coisa ( tl kcitcx . i w ç o r n ia ife i 6 Aóyos O ópKJTLKÓs1) e que um a parte dessa fórmula deve desempenhar o papel de m atéria e a ou tra o de form a (Set t ò [lèv ãcnrep ÜAtiv c W l tÒ 8é (is nop^nt-)7'. A in d a aqui, só podem os esclarecer os dados textuais e "salvar os fenômenos" se aceitarm os afirm ar que a expressão
fi
kcctò t i u ó s
é suscetível
de um sentido estrito, que se aplica então à relação entre predicado e sujeito numa proposição dem onstrada, m as tam bém de um sentido amplo, pelo qual a expressão torna-se capaz de ser aplicada à relação entre a diferença determ i nante e o gênero determ inável num a fórmula definicional. H a nisso uma orte razão suplem entar para adm itir um a dualidade paralela de significações para o verbo « m r y o p é io e a i: aos olhos de A ristóteles, é m anifesto que a preposição ' cc ] -r'i icn th tiia S ç é um reflexo do prefixo ícaTq, que Kotcç que figura na form ula t l KCtTa entra na com posição do verbo KüTr|yopfcUX0(U.
J. Brunschwig \
Para que nossa sugestão concernente a KaTn 7 o p tío 0 a i ^ aceitável, ainda é necessário que se possa com preender por qua, essa palavra tolera, ou mesmo favorece, um a extensão semântica se„ ! ^ o que, no entanto, não é muito difícil. P or um lado, o predicado cU aj, bém determina o sujeito no duplo plano lingüístico e ontológico; Um' ° ',nv nímia simples faz, pois, do nome de predicado um nome eonvenient^ "°' todo determinante. Por outro, vimos que a palavra imoKei(t€vov é a todas as entidades que têm a propriedade de serem determináveis-, , ^ ria, determinável pela forma, a substância, determ inável pelos acidente
sujeito, determinável pelos atributos; acrescentemos à lista, agora, o gênero° determinável pelas diferenças, as quais, sabe-se, Aristóteles considera com0 um tipo de matéria. Ora, em todos esses casos, a palavra KaTriyopoíijievo,; é aplicável aos determinantes, correlatos dos determináveis: a coisa é clara pela forma, pelos acidentes, pelos atributos, KaTT]yopoú|ieva respectivos da maté ria, da substância, do sujeito. No que concerne às diferenças, pode-se invocar um texto suplementar, T 8, que traz sobre esse ponto uma confirmação de peso, ao justapor KQTriyopeTaGai e8iacj)Opàv eivai numa fórmula que sugere fortemente sua equivalência: o Grande e o Pequeno de Platão constituem, ao invés de uma matéria, um "predicado” e uma diferença da substância e da matéria. Parece, pois, justo admitir para KaTqyopeiüGai uma tradução possível quenáo seja influenciada pelo caso particular em que o predicado é KaT^yopoíijievov, tanto quanto se admite para ÚTTOKeí^ievov uma tradução possível que não seja influenciada pelo caso particular em que o sujeito é i>TTOKeí|i€VOK Se recu sarmos a possibilidade de traduzir uma frase como tò eiSos Kcn"nYop€ÍTai TT)Ç í>Xr)9 por a forma determina a matéria” e se persistirmos em traduzi-la por a forma se predica da matéria”, então, para ser logicamente coerente, serâ preciso recusar todo sentido, e todo direito de cidadania no aristotelismo^ uma fórmula como t ò y év oç imÓKeiTai T a l? 8iaopa‘is , enquanto tivermos encontrado uma proposição aceitável na qual o sujeito seda L11^ nero e o atributo uma diferença. O ra, não existe nenhum a p o s s i b ^ J encontrá la, já que o gênero é dividido por suas diferenças e náo p°^e r uma dentre elas como predicado: o anim al não é bípede72. Trata-se, ^ p le s m e n tc d e c o n c e d e r
a KdTryyopoiinevov o s d i r e i t o s já r e c o n h e c i
correlato U7ioiceÍ|icuok
| Sobre a Metafísica de Aristóteles
Um último olh ar nos textos de nosso dossiê, entte os que não fotam analisados ou utilizados na argumentação precedente, mostraria que eles poderiam confirmar ^hipótese, e não existe nenhum que pareça enfraquecê-la” O exame de T 5 e T 6, especialmente, lhe seria muito favorável: de fato, dizer que há composto concreto a cada vez que a matéria recebe um "predicado", como o dizem esses textos na interpretação tradicional, é literalmente incompreensível, e os tradutores freqüentemente foram obrigados a traduzir ad sensum (ao que lhes parece) para saírem-se bem74. Toda dificuldade desaparece, ao contrário, se aceitamos simplesmente ler nesses textos que há composto concreto a cada vez que a matéria recebe uma “determinação". V II E preciso concluir. O que queríamos mostrar era, primeiro, no plano me todológico, o interesse que pode existir em trabalhar os textos de Aristóteles munido da seguinte regra: reconhecer nas palavras o sentido, todo o sentido e nada além do sentido que a função que desempenham nos enunciados obriga a reconhecer. Em seguida, no plano do conteúdo, nosso propósito foi duplo: por um lado, admitir, entre os vocábulos técnicos do aristotelismo, uma acep ção suplementar de KaTT]yopeIcr0ai; por outro, excluir do catálogo das teses aristotélicas a tese-fantasma, cujo desconhecimento dessa acepção conduzia a procurar atrás da “predicação" hilemórfica. De certa maneira, aqueles que não viam mistério tinham razão75. Porém, foi preciso esse longo percurso para assegurar que aqui não se dissimulava nenhuma tese que não fosse conhecida de um outro ponto de vista e expressa sob outras formas. O vocabular,o de Aristóteles perde, assim, um pouco mais do que lhe restava da fixidez aparente; * pois cainhou. cm clârczâ., porém, seu pensamento nao parece fpr ter crnDobrcciclo., empuuicu v h em unidade, em concentração.
J. Brunschwig \
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1 = Z 3, l ° 2 9 a 2 3 ' 2 4 : ™
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K ai
Xóyov, oiov tt)s cruvOeTOU, èáv Te aia0r]Tr) èáv Te votitt] f|. è£
wv 8 ’ auTr| TTpcüTOJv, oukctl, eïnep t l kütò tlv òç ar||iaívei ò Xóyos ó ópioriKÒs Kal 8eî t ò (ièv worrep üXrjv eivaL tò 8è ws popery.
J. Brunschwig \
notas
I Sobre esse ponto, encontraremos coletâneas incompletas que^m certa me
seu c o n h e c i m e n t o à e r u d i ç ã o e amab.l.dade de S u z a n n e M A N S I O N ) . , CILLO, Hyle, Madri, 1958, p. 122-3: W. L E SZ L , "Metod. d, analUi nella Aristotele”, R M * i Filosofia, 62,1971, p. 325-53, p. 337, n. 24: H. HAPP,
„
1 9 7 1 ,
2
p .
6 6 6 .
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^
Aqui, como na seqüência desta exposição, p o r co m o d id ad e, fcscrevo 'substância" 0rvj Aristóteles escreve o im a . N ão considero essa palavra co m o u m a tradução da p alav ^ J ’ a ia , que, provavelmente, é intraduzível. A escolh a da palavra su bstân cia, de preference a outras possibilidades ( essê n cia ,
e n tid a d e ,
realid ad e , etc.), não assume nenhuma
interpretação particular. 5Sentido idêntico nas duas ocorrências: R O S S , A ristotle’s M etaphysics, II, p. 165 ("substância") e H . H A P P , Hyle, p. 663 (“a prim eira categoria, isto é, a categoria da substância"). Sentido diferente: G . R E A L E , L a M etafísica, N ápoles, 1 9 6 8 ,1, p. 5 7 0 ( ‘‘na prim eira vez no sentido de indivíduo concreto; nesta segunda vez, ao con trário, no sentido d e f o r m a ’). 4 Cf., por exemplo, J. O W E N S , T h e doctrine o f Being in the aristotelian Metaphysics, Toronto, 19572, p. 201 ( “claramente significa a causa fo rm al”); H . H A P P , H yle, p. 664 (“deve-se... supor que Aristóteles voltou da relação clara su bstãncia-acidente à relação de matéria”); G . R E A L E , loc. cit.; W . L E S Z L , Logic an d M etaphysics in A ristotle, Pádua, 1970, p. 503 (“a própria substância, porém som ente qua form a”). 5 Repito, a propósito da "tradução" de ínTOKeí^ievov por "substrato", o que foi dito na nota 2 a respeito da "tradução” de oíxúa por “substância”. 6 O contexto dessa passagem será citado e analisado à fren te (p. 17 sq.) 7 A expressão é elíptica, mas sem ambigüidade. C f. as traduções de R oss ("o que mais se asse melha à atualidade , II, p. 2 2 8 ); de T rico t ( ‘‘o que se assem elh a m ais perfeitamente ao ato, II, p. 461); de G . Reale ( aquilo que, m ais do que tudo, corresponde ao a to , II» p- 6)1 Cf. 1043a 2-3:6iTT€p r| oucria a iT ia to í) e íu a i ck ck jto ia Cf. 1043a 4 -5 : ò|iwç Ô€ t o avciXoyov k v çk g o to ). Cf. G . Reale, II, p. 23, n. 21: "isto é, a fo rm a su b stan cial”. O ato pode ser tomado sej como movimento relativamente à potência, seja co m o substância relativamente a algu«1*
matéria" (0 6, 1048b 8). A des.gnaçio da matéria como correlato do ato, emT 4,b®« ^para mostrar que se trata aqui de èvépyem i ç owía. 12 r, Flarnir'T ' tem Por hmÇão explicar o termo awoXou.
. torPode-se colocar o membro da frase entre parêntesis como lembrança da expl»’0
1} introdu provável
SCa “
5 c a vmao arabe, Jaeger propõe (A ri stolelis M etaphysics O**“ .* * * * A emenda, adotada por G. * * P' provavelmente nao é indispensável (cf. Ross, I, p. 241).
| Sobre a Metafísica de Aristóteles
^
w "Essência" traduz TÍ e o n . Procuro conservar na tnA
ròv eípruiévw Õtl ( 8 - 9 ) ...
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(1 1 )... 5r i (13') ^
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, Ê verdade que, aqui, a form a "se diz" (XÍY eTai) da ^
^
ni/os KaTT)Yop€iaeai e ic q t o t i v o ç XeyeaGai r n m n exemplo, Prim eiros A n aM cos, I, 1, 24b 28
8’ ™
a constru?io 'V
slOTeies emprega
c f , por
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. Esse texto segue im ediatam ente a célebre declaração, tio característica da E ^ r W r m s (desm atem at.zaçao] ar.stotel.ca:
Kara r i*
r à M % a T„ rd iç v w f, OtXoooéía
’ A iFox: r f o o oôóu L 8 e T 4 pode ser baiizidi p°r
p * “ * i« * ™ -
diários. 1) A 9, 9 9 2 b 4 - 6 : no co n texto im ediato de T 8, o G rande e o Pequeno dos
platônicos sao com parados ao R arefeito e ao D enso dos fisiólogos, por eles chamados de "as prim eiras d iferen ças do substrato" (irp ciraç
to &
Útto kéi ^
vou
... 8iaopáS ).
2) A 4, 9 8 5 b 10 ss., aproxim a os físicos m onistas dos atom istas: do mesmo modo que os p rim eiros, p ro fessan d o a unid ade da substância-substrato, engendram as outras realidades por m eio das afecções dessa substância e atribuem ao Rarefeito e ao D enso o princípio dessas afecções (a p x à ç ... twv Tra0T]p.c(TU)V'), os segundos pensam que as diferenças das quais a m atéria é capaz são as causas de todo o resto; mas as únicas diferenças que eles retiveram foram a figura, a ordem e a posição. 3) H 2, 1042b 11 ss.: no co n texto de T 4, A ristóteles apóia-se na doutrina dem ocritiana para apresentar a sua própria teo ria da diferenciação. D em ócrito a teria lim itado dem asiadam ente e, no en tanto, são m u itas as diferenças a considerar: modos diversos da com posição dos m ateriais (m istu ra, com posição, colagem , etc.), posição no espaço e no tem po, afecções sensíveis com o a du reza e a brandura, densidade e rarefação, sequidão e umidade. São precisam ente essas d iferenças que ocupam , a partir de T 4, uma função análoga à da form a a tu a lizan te. 18 A frase "serão então por participação" é ambígua (cf. Ross, II, p. 178: "seems to mean not ‘in th e sense th a t they participate in the substratum’, but 'in the sense that they are participated in by the su bstratum , i. e. im m anent to it ). Em todo caso, ela convida a identificar o "substrato em questão com as próprias coisas sensíveis (como o faz a maior parte dos com entadores) do que com o princípio material que, segundo T 7, é o substrato do qual se d izem as Idéias "para os sensíveis” (com o o faz J. O W E N S , Doctrine o f Being, p. 219-220. Cf., abaixo, n. 35). 19J. O W E N S , op. cit., p. 201, 219, 388, 392, estim a que T 9 contém uma chave para resolver o enigma de T 1. C f., abaixo, n. 35. 20 Inspirando-se em L. R obin , "S u r la conception aristotélicienne de la causalité" (artigo pu blicado no A rch w fü r G escbichte der Philosophic, 1909-1910 e compilado em L a pensée hellénique des origines à É picure, 1967, 2e ed., p. 4 5 8 ), T rico t traduz as palavras õ r i ínrápXei ô ip/ oiKiçt
e W l por “parce que la quiddité de la m aison leur appartient comme a ttn b u t. As duas últimas palavras dessa tradução evidentemente extrapolam a letra do texto e nao e evidente que ím ópxei tenha aqui seu sentido lógico. A proximidade de um emprego claramente ontológico dessa m esm a palavra ( w á p XW 1041b 4) pleiteia, antes, o sentido c o n tra ry 21 n I . r• -.„.'ri do oresente estudo, omissão cuja giavidade Em bora nao figurasse num a prim eita versão u ocorreu-me após um a intervenção capital de P. Aubenque.
J. Brunschwig \
22 Cf. especialmente as linhas 1041a 26-27 (ôià n
r a 8 i, oiov
ttXÎv6oi
Ka'i
Ècttîu;) e 1041b 6 (o k ia Taôï 6ià r i;) . v / / n\ » / \ ^ 23 Na primeira dessas frases (r fy uXtiv (r)TÛ. ôia t l ( t l) e ariu ), o segundo ri foi centado por Christ com a aprovação de Ross e Jaeger. A correção parece-me indispe^*’ e é confirmada pelo paralelismo com a segunda frase. A primeira frase equivale a ^ ôià TÍ n ÍjXti t i èarív, enquanto a segunda (Úcttê t o a írio v CrrreÎTai
^
t o r ív ) equivale a a x m tò a ïn o v O rreiT ai $ f] í3Xq t i èaTÍy. Aceitando-se essa ^ * trução, disporemos de um argumento a mais (a despeito do que diz Ross, II, p_ 224)
*
suspeitar das palavras tou to 8’ ecm t o eiôoç, que aparecem nos manuscritos entre í>\ * e $>, condenadas por Christ e Jaeger, das quais abdiquei na tradução.
115
24 Tampouco figurava na primeira versão desse estudo. Agradeço a V. Decarie por ter atraíd minha atenção para essa passagem. 25 Cf., por exemplo, H . H A PP, Hyle, p- 665-6, que observa que T 1 foi freqüentemente estudado, mas isoladamente; que a existência de diversas passagens paralelas pertence aos "pontos que não foram até agora suficientemente considerados na literatura” e que essas mesmas passagens são das "sobre as quais os intérpretes dizem muito pouco”. 26 Pode-se também aprovar a forma como R. J. Blackwell apresenta o problema, opondo os textos nos quais a matéria aparece como sujeito da predicação aos textos clássicos das Cate gorias, que identificam o sujeito último da predicação com a substância primeira: "Aristóteles freqüentemente se refere à matéria como o sujeito ou substrato da forma em um contexto metafísico. Este sentido de matéria como um sujeito não é necessariamente incompatível com a doutrina que a substância primária é o sujeito último de predicação e, portanto, não é o problema que nos interessa. Porém, há alguns textos nos quais Aristóteles diz que a matéria é um sujeito de predicação" (art. cit., p. 20. grifo do autor). 27 Op. cit., II, p. 164. 28 Aqui, naturalmente, deixo de lado o caso particular das formas "separadas". 29 O único problema é saber como se pode evitar dizer que a matéria seja "mais s u b s t â n c ia ” que a forma, se a matéria "suporta” a forma como a substância "suporta” os acidentes. Ao menos é claro que Aristóteles estima que sua filosofia escapa a essa conseqüência: é 0 se n tido do capítulo Z 3, mesmo se o detalhe se preste à discussão. Não posso, aqui, e n tr a r nos problemas de interpretação desse capítulo, problemas renovados pelo difícil e d is c u tív e l livro de R. B O E H M , embora, em todo caso, estimulante (Das Grundlegende und das Wf sentliche, La Haye, 1965). Cf. também o resumo apresentado pelo autor, "Le
fo n d a m e n ta l
est-il l’essentiel?” Revue philosophique de Louvam, 64, 1966, 373-89, e 0 estudo crítico à R' C L A IX , Le statut ontologique du concept de "sujet" selon la métaphysique dArist°tc' l'bid., 70, 1972, 335-59. 30 índex aristotelicus, v. ÙTTOKâaBai, 798a 24-33.
” Cf. 1029a 21-23: f "*4 S1®Ill^lca T “ e*a sej» "afirmada da terra", mas que e . .sto sendo, no caso em foco, a terra. Por conseqüência, é a tetra
2 j6
I Sobre a Metafísica de Aristóteles
P ° j f r a ,Se, j j irm a a >s° b a form a inflectid a do adjetivo yrjiwv. A tradução de ' ea e ( >P* 52 ) é m ais exata: qualcosa di originário che non possa piü riferirsi a a tro com e atto di qu estaltro [algo originário que não pode mais ser referido a ou tro com o feito deste o u tro ]. 1049a 2 6 27. oioy ei ri yrj aepu/r), o 6 ’ ar|p |ir) rrúp àXXà Trúpivoç, tò rrDp üXr| TrpoVrr] ou TÓôe
ti
oixra. A cerca das quatro últim as palavras, deve ser conservado o texto dos
m anu scritos E J (R o ss, Jaeg er). A expressão é explicada por referência a 1049a 19, onde T(xSt opõe-se a eKeínvov. U m term o qualquer da série, por exemplo, a madeira, é con com itan tem en te toôc (m adeira) e èKeínvoi' (algum a coisa que é fêita-de-terra); é u m a form a d eterm in ad a im posta a um a m atéria anterior. A série term ina em um term o que, não resultando da im posição de um a form a a um a m atéria m ais sim ples ainda, não é nem eK eívivov nem m esm o tóSc (senão em potência, com o os ou tros term o s da série). D eixo de lado o problem a de saber como, m esm o a título h ip otético, A ristó teles pode apresentar o fogo com o m atéria prim eira e com o um n á 0'i$t0, e n q u an to o fogo não é inteiram ente indeterm inado, visto ter propriedades positivas (R o ss, II , p. 2 5 6 : “este é o caso mais próxim o de A ristóteles do uso de upunT] uXr) no sentid o de u m a m atéria inteiram ente sem form a. Porém , m esm o aqui não sign ifica isto, m as m atéria com um m ínim o de form a"). 55 1 0 4 9 a 2 7 -b 2 : toútw yàp ôiacj>épei tò Ka0’ ov Kai tò úrroKeípewv, r ã eivai TÓÔe t i r| [if] e iv a i, o io v t ò í ? TráGeai t ò ínTOKeípei/oy ãivGpwTTOs-, Kaí aâj(j.a Kaí {Jjux4 ttóOos Ôè tò (íouctikòv Kal XevKÓv (XéyeTai ôè rfjç pouaiKf|ç èyyeuo^éurjç eKeiw ov iioixtikt) àXXà iiouctikÓu, Kal ov XeuKÓTris ò â^Opairroç àXXà Xei»KÓi\ otóè (BáÔioiç r) KÍur]Oiç àXXà p a ô í( o v rj Kivoúi-ievov, ws- t ò èK eívivov)."O oa p.ev o w oímo, tò í o x a r o v o ò aíaõcra 8è nr) OUTOJS• àXA’ elôóç t l ícal TÓôe t i tò KaTTiyopoú|iewiA tò e o x a r o u üXr) Kal ow jía ÚXikt). K ai òpOüç Sf] o v p|3aívei tò ètceívivov Xéyeaôai KCirà ttjv uXriv Kal t ò ttcIcOt) * â|i(ji) yàp àópiaTa. A correção de A pelt ã linha 28, adotada p or R oss e Jaeger (koG’
ov
p o r KaôóXou dos m anu scritos), parece-m e indispensável. A explicação de
R o ss do m ecan ism o da d eform ação é convincente (II, p. 2 5 7 ). E m relação às linhas 2 9 -3 0 , com p reen d o Kal awp.a Kal dsuxn com o justificativa da idéia de o hom em ser um su b strato do tipo TÓÔe t i (explicação diferente em Jaeger, aparato crítico ad locum ). A expressão XéyeaQai kotÒ
tx]v
uXr]v (acusativo), da linha 1 049b 1, será,
u m a vez m ais, su b lin h ad a (cf., acim a, n. 53); nem a m atéria nem os acidentes são sujeitos que receb em os atrib u tos de tipo e K e m v o v ; ao contrário, são seus nom es que servem para fo rja r tais atrib u tos (fúAivov, pouaiKÓy). 56 O yáp da lin h a 3 9 (que desaparece da tradução de T rico t) com preende-se com o: (pode-se e x p rim ir assim ) pois ... 57 "Q u alqu er", isto é, sem lim itação do que nasce de u m a prim eira enform açao da m atéria ab so lu tam en te in d eterm in ad a. r/ v 58 A afirm ação de 1 0 4 9 b 1, ov\iPaívei t ò ex eív iv o v XéyeaGai k o tò t í) u v\\)v koi to TíóGr), n ão é e strita m e n te exata. A in ten ção de A ristóteles, contudo, perm anece clara, com o o prova a com p aração entre as lin h as 33 e 3 4 : paôtfov n Kivotpeyov, (I)Ç t ò k kc-ivivov.
J. Brunschwig |
277
II. p- 257, nora à passagem 1049a 28. » Pode-se considerar como uma elaboraçao bastante avançada desse c« ]u deslizamento a obra toda E. T U G E N D H A T , Tl KATA T1NOI, F r i b u r ^ que, 1958 (cf. nossa resenha dessa obra, R e m e p M o s o p b , ^ , 88, 1963, p. 286 1 desempenha, neste livro, o papel de fio condutor absolutamente central. « Op. cit, II, p 257, nota i passagem 1049a 36-b 2 59 Op. cit..
6? R. J. Blackwcll (art. cit., p. 29) comenta assim as linhas 1049a 34-b 1: sempre qUe 0 dicado c um "de'isto" (como matéria ou como um acidente), encao o sujeito último de tji predicação é uma substância. Porém, Aristóteles indica que é possível tornar 0 “de-isto» um sujeito e o "isto” um predicado. M elhor descreveríamos este tipo de predicação Com°0 uma predicação denominativa invertida. Deste modo, matéria prima é não somente um sujeito, mas também, em um sentido especial, é mesmo um sujeito último de predicação” Um pouco à frente, o autor esclarece o que entende por predicação denominativa invertida’’ lembrando que, nos Segundos Analíticos, I, 22, 83a 1-17, a predicação acidental (outro tip0 de predicação “denominativa") também pode ser invertida (“o músico é homem"), exceto quando Aristóteles se recusa a considerar esse gênero de proposição como uma predica ção autêntica, e a qualifica como "predicação por acidente'. Em função desse paralelismo, pode-se concluir que, aos olhos de R . J. Blackwell (ainda que não o diga explicitamente), a proposição hilemórfica seria enunciada como: "a coisa feita-de-madeira é cofre”. Esse comentário parece confirmar a existência da dificuldade que o texto contém, mas lhe oferece uma solução que não podemos aceitar. De fato, por um lado, R. J. Blackwell se dá conta perfeitamente que, nas proposições explicitamente estudadas por Aristóteles (o homem é branco, o cofre é feito-de-madeira), a matéria náo ocupa a posição de sujeito, o que torna bastante problemática a frase (1049a 35), na qual é dito que o predicado é uma forma e um isto. Por outro lado, porém, nada no texto permite dizer que Aristóteles "in dica" a possibilidade de fazer do èiceíiAvov o sujeito e do TÓÔ€ Tt o predicado, invertendo a proposição. Para isso, seria preciso supor que a oposição estabelecida entre õaa \iív e òaa 6é (1049a 34) separa náo as proposições com predicado acidental das proposições com predicado material, mas as formas diretas desses dois tipos de proposição e suas formas inversas. Nessa hipótese, para permanecer numa objeção que parece satisfatória, seria incompreensível que o segundo membro da frase possa, como o faz, mencionar o sujeito material sem dizer uma palavra acerca do sujeito acidental. KaTriyopíli', nesse sentido, poderia ter por sujeito gramatical apenas o locutor, queprcâio~ o atributo A do sujeito B. Uma frase construída com o ativo, se comparada a unia frase construída com o passivo, se situaria, então, num plano metalingúístico. 64 Prim. Anal., I, 32, 47a 40-b2. O texto é citado por B O N I T Z , Index aristotelicus, 377a 48, para confirmar a seguinte definição: "KaTTyyopeiv intransitivo, isto é Kcmiyópni10 etl'm' de onde KaTr|yoptia6ai isto é úiTOKeí|xevov e W ”. Bonitz acrescenta outros exemplos. ^ com duvida: Segundos Analíticos, I, 22, 85b 1 e 4, 73b 17. R O S S , Prior and Posterior p. 400, aceita esse sentido desviante para 47b 1 e para 73b 17, explicando tal possib‘h ■>_ nos seguintes termos: Varnyopn em 47b 1 (bis), 3 é usado no sentido de acusa. acusa um sujeito de possuir a si próprio, o predicado, i. e. e predicado; e « H f * *
| Sobre a Metafísica de Aristóteles
c,
er^ k. j ,n ° sei^t *c^0 coriespondente de é acusado', isto é, de possuir um atributo". O desvio 6$Pe
ic*eia
acusaçáo” parece-me inútil e fracamente esclarecedor.
Essa repartição é posta a salvo de toda dúvida pela seguinte descrição da segundo figura do silogism o, eàv Ôe Kai KaTt]yopf| Kai anapyf|Tai (sc. t ò péaov)
ò ttó
tiw oç, t ò \xéoov
(sc. axr)|i.a) (47b 3). na segunda figura, o term o médio é duas vezes predicado. 66 Cf. % . A™/., 1 ,2 2 , 83a 1-17. A tradução de T rico t restabelece o paralelismo, sem ao menos experimentar a necessi dade de ju stificá-lo: dans la définition des substances, ce qui est affirmé de la matière, cest 1acte m ême (as palavras sublinhadas não têm equivalente no texto grego) [da definição das substâncias, o ato mesmo é o que é afirmado da m atériaj. 68 Cf., por exemplo, Tópicos, I, 5, 101b 38-102a 5; M et., Z , 10, 1034b 20-24. A objeção me foi apresentada por P. Aubenque e também, sob uma forma um pouco diferente, por W . J . Verdenius. 70 9 0 b 33-35. Esse texto tam bém confirm a o que se disse acima (cf. n. 68) a respeito da fórmula definicional. 72 S e m dúvida, ele o é em potência e essa potência se atualiza em alguns animais. Porém, não é possível deduzir a bipedalidade da animalidade. Poderíamos encontrar no Tratado de lógica, de J . Piaget (Paris, 1949), p. 59-76, elementos bastante úteis para a análise técnica
dessa situação. O autor define, entre outros, um tipo de classe que corresponde àquelas de classificação biológica, que ele chama "classes fracamente estruturadas". Sua propriedade característica é que os indivíduos que pertencem a uma delas, por exemplo, B, são ligados entre si pela possessão de certas qualidades comuns (b) próprias a essa classe, sem que nenhum a operação dada perm ita construir, a partir dessas propriedades b, as qualidades c próprias às classes C , nas quais a classe B seja inclusa; nem as qualidades a próprias às
classes A inclusas em B. Q ue as qualidades próprias às classes de nível hierárquico diferente não possam ser construídas umas a partir de outras significa que essas qualidades podem ser "descritas para cada classe, independentemente dos predicados das classes superiores ou inferiores" (p. 6 7 ); que elas não podem "ser engendradas por uma simples transformação" umas a partir de outras, que elas só podem "simplesmente se juntarem , sem composição construtiva" (p. 6 8 ); enfim, que elas constituem necessariamente "propriedades dadas e não construídas" (p. 6 9 ). Acreditamos que valeria a pena explorar a fundo todo o benefício que poderíam os obter dessas análises para esclarecer as estruturas conceituais aristotélicas. N a esperança de encontrarm os uma ocasião de fazê-lo, contentemo-nos, aqui, com essas indicações de princípio. 73 N aturalm ente conviria avançar a pesquisa para além da Metafísica. Sem querer, desde já, desbatizar as Categorias para chamá-las as Determinações, no momento limito-me a assina lar, no D e anim a (II, 1, 412a 16-19), um texto em que aparece um vínculo bastante claro entre a idéia de que o ser vivo é definido como um corpo determinado de um certo modo (ooj|ia TOlóvôe, £o)T|V yàp exov: um corpo de tal qualidade, a saber, dotado de vida ) e a idéia de que o corpo deve ser antes considerado como substrato e matéria antes que na conta dos K a0’ Úttokc-i|1( t'ou.
J. Brunschwig | 279
«Unha 35, &rav Ka-nYYoprffi ti t % ^ a o. 123, n ‘ ' ' . Tricot tem o sentido de £
T lT u m a fo tm a se predica da matéria". I, p. 237) um sinolo quando # ^ q u a n io „ m aten a vem Jete,mi.
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, cional, expressa a seguir:
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, , 4 Lie e substância primária em ;
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' se compromete com uma tese adi
(2) A espécie na categoria da substância, substância secundária nas Cate gorias, é elevada ao estatuto de substância primária em Z20.
W o o d s freqüentem ente traduz a palavra e’l8 o ç como “forma" [form"], form a específica [species form] ou "forma da espécie” [form o f the species], bem com o espécie [species]21, mas não atribui importância alguma às dife rentes nuances das várias expressões em inglês, tratando as demais como si nônim os virtuais de espécie em diversas ocasiões22. A questão que preocupa W ood s é: com o pode a espécie homem ser uma oòoía ...?"23. T en d o separado por (1) o eiô o ç de Z do y é v o s , W oods aceita o desafio de m ostrar que este e lS o ç é uma substância, apesar da tese aparente de Z 13 1 0 3 8 b 8 -9 e b35 de que nenhum universal é uma substância. N ão sem precedentes, W o o d s se propõe a fazê-lo distinguindo entre universais24. Esta parte, cen tral à interpretação de W oods para Z 13, pode ser sintetizada com o segue: (3) (a) A ristóteles distingue, por um lado, t ò küGÓXou (universais) e, por outro, t q KaOóXou Xeyó^ieva, t ò koiu ?\ KaTiiyopoí)[ieva, t ò KaGóXou VTtáp^OVTG. (coisas ditas ou predicadas ou pertencentes em comum ou uni versalm ente), estas sendo um a subclasse daquelas . (b)
A tese de 1038b8-9 (êoikc... àSúyarov elvat ouaíav e W i ó rio w
t w KaOóXou A eyop évw ) [parece... ser impossível que qualquer uma das coi sas ditas universalmente seja uma substância], 1038b35 (otôèv t Cív KC0ÓXou ímapxóVTCOU o h rfa k o T Í)
[n en h u m a d as
c o is a s
pertencentes universalmente
é um a substancia] e 1041a4 (oure Ttòu Ka0ÓXou t e y o p é w ouSeu ouota) [nem mesmo qualquet das coisas ditas universalmente é substancia] aphca-se apenas à subclasse; a tese de Aristóteles não é de que nenhum universal e uma
J. A. Driscoll |
substância, mas dc que nada dito ou predicado ou pcrtcncente universalmente é uma substância26. (c) Uma vez que, por (lb), o eiftoç de Z não é predicado dc uma plurali dade dc objetos, ele não é predicado universalmente27. (d) Portanto, o elftoç de Z, embora seja um universal em sentido lato, isto é, oposto a um particular, pode, ainda assim, ser uma substância consistentemente com a tese de Z 13 1038b8-9, b35 e Z 16 1041a428. A posição de Woods é interessante: ele enfrenta diretamente a dificuldade imposta ao campo anti-Sellars por 1038b8-9, b35 e 1041a4, ao passo que, em (1), chama a atenção para um ponto importante de comparação entre as teorias de juventude e de maturidade de Aristóteles sobre a substância. Há, porém, um sério defeito em (3a). Como apontou James Lesher29, a distinção-chave de Woods entre
tò
kqGóXou e T a KaGóXou Xeyóne^a é contradita pela própria
linguagem de Z 13. Aristóteles se move livremente de KaOóXou (1038b8) a «aGóXou \eyo|i€Kov (b9) para depois retornar a KaOóXou (bll) e, finalmente, para XeyeTOU kciGÓXou (b ll)30de um modo que mostra que não está consciente da distinção que Woods quer atribuir a ele. Depois de examinar a versão de G. E. L. Owen para (2), tentarei mostrar que esta objeção, uma vez rejeitada (2), não mais ameaça os elementos de maior interesse da posição de Woods. 2. O A R G U M E N T O DO TERCEIRO H
o MEM P O R
G. E. L.
OwEN
A conferência de G. E. L. Owen perante a Academia Britânica sobre "O Platonismo de Aristóteles" é, como o artigo de Woods, uma frutífera fonte de insights para a relação entre as obras de juventude e de maturidade de Aris tóteles; como Woods, Owen se compromete com uma versão de (2) e, como Woods, Owen se tornou alvo de críticas baseadas em Z 13. Todavia, uma vez que o tópico da parte relevante da conferência de Owen não é Z 13 enquanto tal, antes o argumento a que se refere em Z 13 1039a2-3, o regresso do Ter ceiro Homem, faz-se necessária alguma contextualização sobre o tratamento deste importante argumento por Owen. Entre as discussões sobre o regresso do Terceiro Homem , a de Owen c altamente incomum em dois pontos. Em primeiro lugar, Owen leva em con
28 4
I Sobre a Metafísica de Aristóteles
sideração não apenas a costum eira aplicacão do 1 1 , r V ao regresso contra certos argumentos em prol da ceona platônica das Formas (A 9 990bl7; M 4 1079.13),
H 7 Z 7 Z ^ T ° ’ da Parte de AtlStótdeS avep òv ouSèv
tcüv
rnGoXou i/TTapxovTwv oixjia e o T Í , m l
ko ivt ]
K a T T iy o p o i)[lev w y T o 8 e
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aXXa T o ió v ô e . e í 8 e p.r|, âXXa r e TToXXà
o T p iT O S àvGpojíroç (Z 13 1038b34T039a3; na tradução de
Ross: ... é evidente que nenhum atributo universal é uma substância e ... que nenhum predicado comum indica um ‘isto’, antes um tal’. Em caso contrário, seguem-se muitas dificuldades, em especial o terceiro homem'")69. Equipado com a sua forte distinção (3a) entre r à KaGóXou e r à KaGóXou Xeyópeya (KaGóXou Ú T ráp x o v T a, koivâ K a T riy o u p o ú p e v a ), Woods poderia
ser capaz de manter, à luz de 1038b34-1039a3, a sua interessante sugestão (3d) de que o ei8os de Z pode ser uma substância conquanto (lb) não seja predicado de uma pluralidade de objetos e (3c) não seja predicado em comum ou universalmente ( k o iv t |KaTTiyopoúpevov, KaGóXou Xeyójievov). Todavia, a revelação de que (3a) carece de suporte textual70 deixa Woods sem qualquer argumento efetivo para tomar 1038b34-1039a3 como se se aplicasse ao gênero animal, mas não à espécie homem —portanto, sem qualquer boa razão (além, talvez, de uma confusa citação de 1038b30-31) para afirmar que (3d) o ei8os sobrevive a Z 13 como uma substância em boa situação. O
problema em Z 13 é resolvido não por (3a), mas por um diferente
conjunto de distinções, a mais básica das quais é aquela entre causa formal e universal composto discutida acima, na seção 3. Considerada sem a matéria, a causa formal é idêntica à sua própria essência, como vimos (Z 7 1032bl-2; Z 10 1035b32; Z 11 1037a32-b7; H 3 1043b2) e Aristóteles correspondentemente se refere a elte tipo de entidade em numerosas ocasiões simplesmente como a essência" (Z 7 1032U 4; cf. Z 15 1039b25, Z 17 1041b6). O universal composto (aívotó„ TI ÍK TouSl to ü Xóyou K ai TnaSi TÍjí » 1 ? i s
, Z 10
1035b29-30) é, decerto, por definição um universal (1035B28), de mo o que J. A. Driscoll |
2Ç 5
Aristóteles se sente livre para se referir a este outro tipo de entidade simples mente como "o universal” (Z 3 1028b34; Z 13 1038b35s.; H 1 1042al5, 21) Hm duas destas passagens, ele usa “o universal” com vistas a se referir apenas à espécie, mencionando o gênero em separado (1028b34, 1042al5, 21), rnas, na terceira, como o nota Ross71, ele usa "o universal” para se referir tanto ao gênero como à espécie (1038b3>ff.; cf. Z 11 1037a6-7). Assim, se a distinção (3a) de W oods é rebatida pela terminologia de Aristóteles em Z 13 1038b7-ll, a distinção entre causa formal e universal composto se evidencia explicitamente em Z 13 como a distinção entre a essência e o universal
(t o t l
eiv a i [...]
Kai t o KaGóXou, 1038b3, cf. bl6-17). W oods deixa de apreciar a importân
cia desta distinção facilmente disponível no texto de Z 13 porque, ao asserir (2 ), confunde o e i8 o s que é o mesmo que a sua essência, i.e., a causa formal, com o e lô o ç que é um universal no sentido de Z 13, i.e. a espécie que é um composto universal. Para os propósitos da discussão em Z 13 um universal é definido como um a entidade capaz de pertencer a uma pluralidade (ò TrXeíooiv írrTÓpxeiv Tré4>UK
t o ú t g jv ) .
A essência ou causa formal, todavia, não é um universal neste estrito sentido de Z 13. N ão é predicada de uma pluralidade de particulares únicos realmente existentes pela simples razão de que é, na teoria da predicação de maturidade de Aristóteles, um princípio constitutivo72 predicado apenas da matéria (H 2 1043a5-6; cf. B 1 995b35, B 4 999a3, Z 3 1029a23-24 e 0 7 1049a35) interior aos particulares (cf. Z 11 1037a29). N ão se deve permitir que o uso, da parte de Aristóteles, de uma terminologia baseada em um modelo de predicação gramatical em ambos os casos obscureça a diferença radical entre os dois tipos
| Sobre a Metafísica cie Aristóteles
de predicação ontológica: quando uma espécie ou um , oüttü, SfjXov', FUica I 7 191al9'20). J. A. Driscoll
|
Em Metafísica Z, Aristóteles encara esta questão, afasta o substrato material (Z 3 1029a26-28) e decide que, se o composto particular e a causa formal são ambos substâncias, cada um à sua maneira (Z 3 1029a29-30; Z 15 1039b20; Z 16 1040b23-24), o composto particular é posterior à causa formal graças à qual é constituído a partir de matéria (Z 3 1029a31; cf. Z 11 1037a29-30), de modo que deve ceder à causa formal o estatuto de substância primária (Z 7 1032b 1-2; Z 11 1037a7, 28-30). Embora rebaixados do posto de substância secundária de modo similar (Z 10 1035b28-30), as espécies e os gêneros das
Categorias continuam a ser, na ontologia de Z, compostos universais e Aristó teles continua a sustentar pelo menos duas das mesmas crenças concernentes a eles que sustentava na teoria de juventude: a de que eles são predicados em comum de uma pluralidade de objetos e a de que eles são salvos do regresso do Terceiro Homem graças ao princípio de que nenhum predicado comum de tal tipo é um isto (Z 13 1038b34-1039a3, cf. Soph. E l 179a3-5, 8-10). Há, portanto, uma continuidade fundamental entre as teorias de juventude e de maturidade subestimada por W oods e Owen. As descontinuidades que eles encontram, contudo, podem ser corretamente vislumbradas, depois da rejeição de (2), como posicionamentos requeridos pelo reconhecimento, da parte de Aristóteles, da causa formal enquanto substância na teoria de maturidade94,95.
3 02
I Sobre a Metafísica de Aristóteles
h o ta s
‘ M. J. Woods, "Problems in Metaphysics Z, chapter 13", in Aristotle •A Collection o f Critical Es says, ed. J. M. E. Moravcsik (Garden City: Doubleday Anchor, 1967), pp 215-38
2G. E. L. Owen, "T he Platonism o f Aristotle", Proceedings o f the British Academy, 51 (1965)125-50, esp. p. 137; reimpresso em Studies in the Philosophy o f Thought and Action, ed. P. F. Strawson (London: O xford University Press, 1968), pp. 147-74. Referências sâo feitas abaixo à paginação da edição da Academia Britânica. 3 Minhas razões para crer que Owen se compromete com a tese tal qual enunciada são apresentadas na Seção 2 abaixo. 4Seguirei Woods e Ow en e assumirei que as Categorias são uma autêntica obra de juven tude de Aristóteles e que os livros Z H 0 da M etafísica datam de muito mais tarde em sua carreira. Tendo observado que a doutrina nominalista" das Categorias ameaçava a sua teoria do desenvolvimento, afastando-se do platonismo, de Aristóteles, Jaeger recusou a autenticidade das Categorias (W erner Jaeger, Aristotle [1923], trad. Richard Robinson [2J ed., Oxford, 1948], p. 4 6 n. 3). Evidências em contrário, entretanto, confirmando a autenticidade das Categorias foram coligidas, entre outros, por I. Husik e W . D. Ross ("The Authenticity o f A ristotle’s Categories", Journal o f Philosophy, 36 [1939]: 427-33, com importantes referências a estudos anteriores) e L. M . D eRijk ("T h e Authenticity o f Aristotle’s Categories”, M nemosyne, Q uarta Series, 4 [1951]: 129-59). Sobre a datação tar dia de Metafísica Z H 0 , ver W . D. Ross, Aristotle's Metaphysics (Oxford: Clarendon Press, 1924), vol. 1, pp. xxv, lxxxii e Ixxxviii; Ingemar Düring, Aristotle’s Protrepticus (Göteborg, 1961), p. 289; e, especialmente, François Nuyens, L Evolution de la Psychologie d ’A ristote (Louvain, Editions de I'lnstitu t Supérieur de Philosophie, 1948), pp. 175-81. Owen fala explicitamente em "uma nova teoria da predicação’ (op. cit., p. 135) a tomar forma nas obras posteriores de Aristóteles, incluindo Z; Woods não o faz, mas considera certas doutrinas das Categorias "abandonadas" (op. cit., p. 222). Que as teses de juventude de Aristóteles sobre a substância são parte de uma teoria sobre a predicação fica evidente a partir de Cat. Ia 2 0 -b 6 e 2 a ll-1 4 . Não argumentarei diretamente aqui em prol da conclusão de que Aristóteles sustentou estas duas teorias sucessivamente, mas espero que a distinção a ser introduzida na Seção 3 aumente a plausibilidade do argumento de Owen (op. cit., pp. 133-39) em prol desta importante tese. A relação entre as duas teorias é discutida na Seção 5 abaixo. 5Wilfrid Sellars "Substance and Form in Aristotle "Journ al o f Philosophy, 54 (1957): 688-99, e "Aristotle’s Metaphysics: an Interpretation" em W ilfrid Sellars, Philosophical Perspectives (Springfield, Illinois: Charles C . Thom as Publishers, 1959), pp. 73 124. 6 Edward D. Harter, "Aristotle on Primary O vota", Archiv fu r Geschichte der Philosophic,
° 975): ^
7 Edwin H artm ann, "Aristotle on the Identity o f Substance and Essence
f
/
Philosophical
Review, 85 (1976): 545-61, reimpresso com revisões como o segundo capitu o t e
win
Herm ann, Substance, Body, and Soul: Aristotelian Investigations (Princeton University Press, 1977)« pp. 57-87.
J. A. Driscoll I
■ , csDccialmencc a nota 58. M eu objetivo aqui náo será refuta, a posiçS' évóç, um princípio de denominação e não de ser e, pelo àiTQ uma relação de derivação não onto lógica, mas puramente verbal: ora, é bem assim que Plotino o entende aqui, portanto de um modo perfeitamente correto do ponto de vista de Aristóteles. É, de resto, a correção mesma desta interpretação que lhe interdita utilizar a mesma estrutura para dar conta da consecução das substâncias, pois a uni dade das substâncias, desagregadas que estão entre a substância inteligível e as substâncias sensíveis, exige para Plotino uma relação de consecução muito mais forte do que uma simples relação de derivação verbal. E é manifesto que Plotino - é mesmo a principal das críticas que dirige à doutrina aristotélica da substância - não encontra em Aristóteles um Princípio tal que a partir dele (Ò ttÒ
to Ú to u )
se possa derivar todo o resto, o que seria o caso se se fizesse da
substância inteligível o princípio da substância sensível. A filosofia de Aristó teles é fenomenológica, não sistemática: descreve, distingue, ordena mesmo, mas não deduz, a não ser que seja no interior de um gênero determinado. Plotino encontra um à’ évóç em Aristóteles. Porém, é simplesmente o da derivação quase paronímica31 dos sentidos do ser a partir do primeiro, teoria que Plotino, que se põe do lado da homonímia do ser, parece aceitar como verdadeira com Aristóteles; não é o à’ évóç genealógico, a comunidade de origem, que unicamente poderia ligar entre si, respeitando sua heterogeneidade hierárquica, a substância inteligível e a substância sensível, da qual Plotino deplora a ausência no Estagirita. *
| Sobre a Metafísica de Aristóteles
*
*
A i n t e r p r e t a ç ã o de Plotino é sem dúvida muito detalhista quando se trata Jo tratado das Categorias, muito alusiva quando evoca a Metafísica, que Plotino p a rece,
no entanto, conhecer bem. Ora, o livro A da Metafísica, que se propõe
com o u m a
"teoria da substancia 32, teria podido fornecer a Plotino os elementos
de uma teoria aristotélica da substância inteligível, da qual constata e deplora a a u s ê n c ia
no tratado das Categorias e que teria respondido
r e q u is ito s . E , da
a
uma parte de seus
ainda, o livro A teria podido talvez fornecer a chave da ausência
substância inteligível em uma doutrina das categorias: uma substância ou
m e lh o r
uma essência (sempre ousial) como
a
de Deus, que é uma essência sem
quantidade nem qualidade, que não é nem em um tempo nem em um lugar, que náo mantém relações, que nem age nem padece etc, escapa ao discurso c a te g o r ia l; as
ela é puramente e simplesmente e nada tem a ver, portanto, com
determinações adventícias que sobrevêm ao ente sensível do fato de sua
multiplicidade e de sua mobilidade33. Por outro lado, e mesmo que não tenha apreendido a causa, Plotino com preendeu muito bem o caráter, que Kant dirá rapsódico", da doutrina aristo télica das categorias. Ele percebeu notavelmente, em particular, que a doutrina da unidade focal não suplanta a constatação de homonímia, mas somente introduz entre o primeiro dos sentidos do ser e os outros uma consecução, e portanto uma ordem, mas que evidencia um simples estanteamento, não uma derivação gradativa. Mais ainda, o segundo texto que comentamos adverte contra duas heresias possíveis em matéria de exegese aristotélica. A primeira consiste em interpretar a unidade focal, através da qual Aristóteles resolve o problema predicamental da polissemia do ser, como uma unidade genealógica; a segunda consiste em confundir o problema da unidade predicamental, que é um problema semântico, com o da unidade transcendental, que é um pro blema teológico, e pretender resolver o segundo problema com ajuda da solução aportada por Aristóteles ao primeiro, ela mesma incorretamente interpretada ern virtude do erro precedente.
Pode-se com certeza dizer que esta dupla advertência náo será escutada F^los sucessores de Platão. A partir de uma data, que nosso estudo gostaria Pierre Aubenque | 3 2 7
de contribuir a precisar e que é, em todo caso, posterior a Plotino, a tradição do comentário aristotélico, fortemente impregnada de neoplatonismo, pensará poder atribuir a Aristóteles uma solução paralela dos dois problemas "predi camental e transcendental” servindo-se de um conceito novo neste debate, o de analogia, que tende a confundir a unidade focal aristotélica com a idéia - platônica, esta - de uma participação a um primeiro analogado e de uma dependência gradual dos termos derivados em relação do termo primeiro, que dá o ser aos entes na proporção de sua dignidade ou de sua essência. Assim podia ser atribuído à doutrina aristotélica um caráter sistemático que não pos suía, na base paradoxal de uma platonização ou mesmo de uma plotinização do aristotelismo, contra a qual Plotino tinha sido primeiro a advertir. Citarei um testemunho eloqüente desta evolução: Dexipo em seu Comentário do tratado das Categorias, que data do meio do séc. IV. O desvio operado por Dexipo, ou mais certamente por suas fontes, não é fortuito. Ele se inscreve em uma intenção de conjunto que é a de mostrar que, para além das divergências aparentes, existe uma harmonia profunda - Simplício dirá: "uma sinfonia”34 - entre o ensino de Aristóteles e a tradição platônica. E sabido que esta é a tendência de Jâmblico e, em uma certa me dida, já de Porfírio, o discípulo mais imediato de Plotino. Dexipo, discípulo de Jâmblico, inspira-se nos comentários de ambos, infelizmente perdidos hoje. Porém, enquanto Jâmblico, pouco favorável a Plotino, esforçava-se por refutar diretamente os argumentos deste último contra Aristóteles, Dexipo, em al gumas passagens que, por esta razão, podemos considerar como dependentes antes de Porfírio35, pratica uma estratégia mais sutil que consiste em mostrar que Aristóteles está em realidade mais próximo de Plotino do que supunha o próprio Plotino. Tratando-se da objeção de homonímia lançada por Plotino contra a cate goria aristotélica de substância, que não pode valer ao mesmo tempo para o sensível e o inteligível, Dexipo mostra inicialmente como em Plotino substância inteligível e substância sensível se ordenam segundo uma relação de derivação: "Plotino ... põe a substância como um gênero único nas realidades inteligíveis porque ela propicia o ser
( t o e i v a i iT a p é x o i x r a v )
um modo universal e dá o ser
(to
eivai
às formas incorpóreas sob
e y ô iÔ o ÍK ja i')
a todas as formas sen
síveis e misturadas à matéria. Se é assim, o principio da substância estende-se
328
I Sobre a Metaf íslca
de Aristóteles
tambím por » d a s as coisas, tomando sucessivamente o primeito, o secundo 0 çefceito escalões segundo os quais propicia o ser a uns segundo um modó primeiro, a outros segundo um outro modo, de tal modo que, se tudo remonta a este princípio da substancia, visto que tudo está suspenso a ele (cm* aírrrjç fpmiléva)' a descrição da substância [por Aristóteles] pode entrever também o princípio primeiro a partir do qual a substância caiu até seu esgotamento (wjjeaiv) completo"36. A frase, como se vê, começa de modo claramente ploti niano, mas termina com uma tentativa apenas disfarçada de colocar Aristóteles a serviço do plotinismo, o que é, certamente pensa o comentador, o melhor modo de o defender contra as críticas de Plotino. Como, porém, é isto possível? Inicialmente pela introdução discreta de expressões aristotélicas na exposição do ponto de vista plotiniano. Se a expressáo TTapéxeiv
eiv ai é platonizante e evoca, como vimos, o texto de Rep.
tò
VI 509b, o verbo r|pTf|a0ai, empregado no momento decisivo para resumir o ponto de vista plotiniano, é tomado emprestado de Aristóteles, que o emprega duas vezes na Metafísica: de um lado, em A 7 1072bl3-14, para caracterizar a relação do Primeiro M otor com as outras coisas: "a um tal princípio estão suspensos (rpTr|Tai) o Céu e a natureza"37; de outra parte, em T 2 1003bl7, onde, em um contexto em que se trata da relação das categorias com a pri meira dentre elas, Aristóteles enuncia o axioma epistemológico seguinte: “em todos os lugares a ciência é principalmente ciência do que é primeiro: do pri meiro ao qual as outras coisas estão suspensas e do primeiro pelo qual elas sáo ditas (uavTaxou 8è Kupícjç
oXKa %)TT]Tai,
kcu .
substância (ei o w
toü
TTp(íjTOU T] emcmr||ir], kcu é£ oú r à
ô l’ ò XéyovTai). Se, portanto, este último é o caso da
to ut’
e o riv f] oíxjía), é das substâncias que o filósofo deve
apreender os princípios e as causas”. Traduzi este texto tão literalmente quanto possível para assinalar que Aristóteles distingue dois campos de aplicação do princípio segundo o qual a ciência é sempre ciência do primeiro, o campo em que há uma relação real de dependência, o campo em que se trata de uma ilação verbal de derivação38. O princípio enunciado, sendo formal, pode valer qualquer que seja a natureza da primazia assim requerida, basta que seja
^
Urna relação qualquer de anterioridade - posterioridade, relação que in l i c i t a r , aliás, à ciência a cada vez considerada. Porém, náo foi assim que est* frase de Aristóteles foi mais geralmente interpretada e sem duvida ja por Pierre Aubenque \
Dexipo. Compreendeu-se que é o mesmo "primeiro" que é ao mesmo tempo princípio de dependência real e de derivação verbal e a ligação dos dois textos freqüentemente citados de T 2 e A 7 permitiu assim estabelecer um ponto e em última instância, uma quase-identificação entre a teologia e a ontologia de Aristóteles. Porém, isso desconhecia gravemente a advertência de Plotino: a i 8 oixjíai
âWtoç, não é no mesmo sentido que se deve entender a
consecução das substâncias e a consecução das categorias. U m outro deslize terminológico favorecerá o amálgama deliberadamente buscado por Dexipo: enquanto o verbo com a preposição
6 K 39 o u
T)pTf|ü0ai
se constrói em Aristóteles
um advérbio de lugar40, Dexipo o constrói com a
preposição àuq que, repetida na linha seguinte, evoca irresistivelmente o GKj>’ ei^óç aristotélico, mesmo se é assim desconsiderada a distinção que se deve manter, como explicamos acima, entre um à(j)’ tura conhecida por Aristóteles, e um
à(j>’ é v ò ç
évòç
XéyecrGai, única estru
r|pTf|CT0ai,
dependência de
tipo dedutivo, perfeitamente desconhecida por ele. - Enfim, uma última am bigüidade, imputável, esta, a Aristóteles, é habilmente utilizada por Dexipo: o mesmo termo (ipx1! é utilizado nas duas passagens já citadas da Metafísica para designar, de um lado, o Primeiro Motor ao qual está suspenso todo o resto (A 7 1072bl4) e, de outro lado, o termo de referência única (a saber, a ousia) em direção à qual fazem menção as significações múltiplas do ser ( r 2 1003b6). Dexipo utiliza aqui àp x7! somente para designar o princípio plotiniano da processão. Porém, o fato que o leitor avisado não podia não escutar aqui um eco de Aristóteles o prepara ao que Dexipo quer precisamente lhe mostrar, a saber, que Aristóteles já pensava e dizia a mesma coisa que Plotino. Porém, uma coisa é resumir o sistema plotiniano utilizando termos aristotélicos, outra coisa é mostrar que Aristóteles "se servia das mesmas premissas que Plotino". Ora, é precisamente isto a que se aplica Dexipo nas linhas que seguem. Esta passagem foi comentada de modo excelente no artigo já citado de P. H adot41. Só reterei, portanto, o que diz respeito explicitamente ao nosso tema. Dexipo apóia-se na tripartição das substâncias proposta por Aristóteles no livro A da Metafísica42; substância imóvel e separada, de um lado, substância sensível corruptível, de outro, e, intermediária entre as duas, substância sensível eterna. Q ue esta última expressão se aplique aos astros43 é desconhecido por Dexipo, que, seguindo nisto Porfírio, segundo P. H adot44, considera como
I Sobre a Metafísica de Aristóteles
intermediário o que chama a “substância física", isto é, a estrutura inteligível _ c o n s titu íd a
de matéria e forma - da substância sensível, tal como a estuda a
ciência física. Porém, pouco importa aqui a natureza desta substância interme
diária45. O essencial é que Dexipo pensa encontrar em Aristóteles não somente uma distinção e uma hierarquização das substâncias - o que é incontestável mas também a idéia de uma processão gradual que vai da substância inteligível à substância sensível. Dexipo comenta o que pensa ser a doutrina do livro A assim: "neste tratado, Aristóteles reuniu (aweíXrie) as múltiplas substâncias n a
substância total (eiç Tr\v òXr|v ounav), pois as dispôs em um sistema único
(írpòs (iíotv' ovvTaÇiv) e as referiu a um princípio único (npòs (iiav ápxrp (Wryaye). o que, portanto, que certamente participará do Um, se a própria substância, que tem seu ser no Um, é privada da coesão interna produzida pela redução ao Um (Tfjs1 Trpòç tò êi> àyayopivriç auirreXeíaç):*'*’6.
Admirar-se-á aqui a arte com a qual Dexipo - ou sua fonte - mistura em expressões aristotélicas (aqui, upòç páav à p x ^ citação de Met. T 2 1003b6, e,
de um modo geral, upòç ev) outras que manifestamente não o são (auXXa|i-
fiáveiv, T) ôXr) oixjta, crúvTa^iç, aui/TeXeia) com o evidente intuito de levar insensivelmente as primeiras em direção das segundas. Trata-se de mostrar que Aristóteles, no livro A, engloba a totalidade das substâncias em um "princípio único", que é ao mesmo tempo totalizante ( substância total ) e transcendente à série hierarquizada que ele funda; neste último sentido, o princípio único de Aristóteles é mesmo assimilado ao Um de Plotino. Para mostrar que Aristóteles nada disse nem mesmo quis dizer nada de tal, seria necessário reinterpretar, de outro modo que fazem Dexipo e a tradição subseqüente, os cinco primeiros capítulos do livro A, dedicados aos princípios
i i substância sensível, e a relação deles com os cinco capítulos seguintes, de dicados à elucidação da substância imóvel e eterna. Limitar-me-ei a algumas observações destinadas provisoriamente a lançar a suspeição sobre a inte p Oção que direi "dexipiana", do nome, senão de seu inventor, pelo menos de seu mais antigo testemunho: !• Aristóteles, no livro A da Metafísica, não examina em conjunto
*
Seneros de substâncias que distingue. Feita a tnpartiçao das su stan * examina sucessivamente a substância sensível (caps, 2-5) e a st. Pierre Aubenque \
imóvel e eterna (caps. 5-10). A substância intermediária, que é para Aristóteles a substância ao mesmo tempo sensível e eterna, não tem papel verdadeiramente mediador: ela é examinada unicamente na segunda parte como estando mais próxima do Primeiro M otor imóvel do que das substâncias compostas do mundo sublunar. 2. Mesmo que se admita que a tripartição das substâncias comporta uma hierarquia implícita, que corresponde de resto à vulgata platônica - o imóvel está acima do móvel, o eterno acima do corruptível, o imaterial acima do sen sível - , esta hierarquia permanece de qualquer modo estática na economia da análise aristotélica e não recebe nenhum papel funcional. 3. A idéia de consecução (耣í]ç) e seu correlato, a estrutura de anterioridade-posterioridade, são invocados por Aristóteles somente para ilustrar a relação da substância com as outras categorias (A 1 1069a20-22), não a relação das substâncias entre si. 4. O que pôde induzir em erro os comentadores é o fato que Aristóteles trata nos capítulos 4 e 5 da questão da unidade dos princípios dos seres sensí veis. Porém, também aqui é em relação à pluralidade dos sentidos categoriais do ser e não em relação à pluralidade das substâncias que ele põe e resolve o problema. Três soluções são propostas: a) os princípios são “os mesmos por analogia”, o que quer dizer que, mutatis
mutandis, eles exercem a mesma função em domínios heterogêneos que as di ferentes categorias delimitam: assim o ato da substância está para a potência da substância como o ato da quantidade está para a potência da quantidade, como o ato do relativo está para a potência do relativo etc. A analogia não tem aqui outro sentido que seu sentido habitual de proporção, igualdade de suas relações47. A unidade que funda, que pressupõe a heterogeneidade dos domínios que unifica, é o grau mais baixo de unidade. b) Dada a relação de anterioridade-posterioridade entre a substância e as outras categorias, os princípios da substância podem ser considerados como sendo igualmente os princípios das coisas subseqüentes48. Eles são, mas de modo somente mediato, os quase-princípios da totalidade dos entes e ainda é somente no sentido negativo que, sem as substâncias, portanto sem seus princípios, as outras coisas nâo existiriam. Os princípios assim concebidos são fundamentais, no sentido em que constituem o fundamento sem o qual o resto
I Sobre a Metafísica de Aristóteles
(os a c id e n t e s
da substância) não poderiam existir, mas não são fundadores
n0 sentido em que forneceriam uma regra de derivação e de engendramentó Jos acidentes a partir da propna substância. c)
Em duas passagens breves, que são os dois únicos loa theologiã da pri
meira parte do livro A, Aristóteles menciona o Primeiro Motor (4 1070b34 35) ou o Primeiro em enteléquia (5 1071a35-36) como podendo fornecer uma resposta à questão da unidade dos princípios para todos os seres. Porém, há aí somente um desideratum do qual se pode duvidar que seja satisfeito na se gunda parte pela única afirmação enigmática, já mencionada acima, de uma relação de dependência entre "um tal princípio" e o Céu e a natureza", que estão suspensos nele. A metáfora da suspensão evoca aqui ainda um "aquilo sem o q u al, não um aquilo pelo q u a l, o termo necessário de uma relação (que, precisará Aristóteles, pode ser uma relação de desejo), não o princípio de uma processão ou de um a dedução. Nosso propósito não é aqui o de interpretar a teologia de Aristóteles e sua relação com a ontologia, mas de mostrar por quais mecanismos uma certa interpretação, que de modo algum se impunha nem mesmo talvez estivesse autorizada pelos textos de Aristóteles, pôde impor-se progressivamente, não como uma interpretação entre outras, mas como a tradução mais adequada da doutrina aristotélica. O comentário de Dexipo fornece-nos aqui o exemplo brilhante de um destes mecanismos. N o final da passagem citada acima, ele pensa poder afirmar, com base no livro A, que a substância aristotélica é dotada daquilo mesmo que Plotino deplorava que estivesse privada: a unidade e a co esão e, mais profundamente, uma "coesão produzida pela redução ao U m . Se Dexipo se mostra tão seguro ao atribuir a Aristóteles uma fórmula que Plotino não teria renegado, é que tem o sentimento de apoiar-se literalmente em Aristó teles: a fórmula Trpòg
tò
€U lembra - com o acréscimo do artigo, que não é de
modo algum inocente - o rrpòs Êv XéyeaOa i de Aristóteles, a unidade focal de significação. Querendo platonizar e mesmo plotinizar Aristóteles, Dexip ™«e, portanto, mu.to exatamente o erro exegético contra o qual P lot.no deveria *'1° advertido: utiliza, para resolver o problema "transcendental da umda e das substâncias, a estrutura elaborada rpor Aristóteles para reso ver v ia u U d J( d Q l l U lU Id , o pro . uniPtedicamental" da unidade das categorias, interpretando.a^em
dade simplesmente focal de Aristóteles como uma reduçrn a un.c Pierre Aubenque \
U m último termo, que Dexipo pensa sem dúvida de boa fé tomar empres tado de Aristóteles, deve reter, com efeito, nossa atenção: o verbo àváyeiv, remontar”, "reduzir”, que Dexipo emprega por duas vezes para caracterizar o trabalho de remontar à unidade do princípio, que atribui com glória a Aris tóteles. Este verbo é empregado duas vezes por Aristóteles no livro T da Me
tafísica e o substantivo àvaycoyf| uma vez, mas em um contexto inteiramente diferente, no qual se trata de lembrar uma doutrina, considerada como aceita, segundo a qual os pares de princípios contrários postos pela tradição filosófica (ímpar e par, quente e frio, amizade e ódio etc.) remontam a uma contrariedade fundamental, que é a do Um e do Múltiplo ( r 2 1004al e 1004b31-1005al). Este termo é muito provavelmente acadêmico ou mesmo emprestado do en sino oral de Platão e à sua doutrina dos dois princípios49. "Reduzir” significa, portanto, identificar, após abstração das diferenças inessenciais. Ora, um único texto do Corpus aristotélico emprega o mesmo verbo ctváyeiv e o substantivo àuayoyyri para designar a convergência focal das significações múltiplas de uma palavra tal como o ser: trata-se do livro K da Metafísica, que pensamos ter mostrado, após outros, que é inautêntico50. Ao falar de uma “redução do ente na sua totalidade a algo um e comum” (uai/TÒs T0Í> ovtoç TTpòç ev
ti
Kal KOivòv f| àuay(oyr|) (K 2 1061al0-12) e mesmo, um pouco adiante, de "redução do se r... ao Um" (toü Õvtos àvaywyr|v ... TTpòç t ò ev) (1061al6), ao U m doravante substantivado, o autor do livro K platoniza de modo ultrajante - e até aqui impunemente - Aristóteles51, travestindo a significação óbvia da doutrina da unidade focal e abrindo assim a via às empreitadas futuras que, quando se apoiarem no livro K, poderão pensar de boa fé estarem apoiandose no próprio Aristóteles. Que Dexipo confunda com a unidade focal das significações a pretensa “redução ao Um ” das substâncias é confirmado pela seqüência de seu comen tário, no qual esforça-se por mostrar, utilizando a doutrina aristotélica dos modos de significação múltipla, que a ousia de Aristóteles é ousia sensível e nisso homônima à ousia inteligível, como deplorava Plotino, mas que, além do papel mediador atribuído à “substância física", a ousia sensível pode manifestar “segundo a analogia” a própria ousia inteligível, (p. 41,1. 18 e 28). Ao introduzir o termo de analogia, que Aristóteles nunca utiliza no caso da relação vertical entre o sensível e o inteligível52, Dexipo mostra-se prudente: a analogia nao
334
I Sobre a Metafísica de Aristóteles
suprime a homonímia (1. 27-28) e, aproximada da metáfo
-
intcrprerada como proporção, com o atesta o exemplo propostn I nha e s« para a m ontanha com o o pé do homem está
u
**
a0 íntroduzir a analogia entre a homonímia pnra e a s m o n ím ia T um aristotélico esperaria a unidade focal * pòs ^
unidade ^
m° " ta'
^
J ™
7 ° " de
mais, acabava de ser objeto de análise - embora em nm sentido errndolinha imediatamente precedente, Dexipo e a tradição que ele representa Krão contribuído pouco para a identificação fatal da unidade focal e da
na
não
analogia, que se tornará clássica na Idade Média sob o nome ambíguo de analÔgU de atribuição. Aqui ainda, porém , a leitura de Plotino teria podido servir como advertên cia aos seus sucessores. Enquanto Dexipo manifestamente busca na analogia um tipo de ponte entre o sensível e o inteligível, Plotino tinha prevenido cla ramente que a analogia, fundada aqui no fato que o sensível é uma imagem (eÍKWi'), mas som ente um a imagem do inteligível53, talvez pudesse explicar a homonímia na qual caiu Aristóteles, mas não por isso a justificava. De onde a quase-assimilação da analogia e da homonímia em V I 3 11. 6 (àyaXoyía kcu ófiioi/U|iía) e em V I 3 5 1. 3 (k cit’ àvaXoyíay «al ó(iwv6p.coç)54. Para Plotino, a analogia, que pode prestar serviços quando se trata de estabelecer um elo entre as zonas m edianas do ser55, não é de nenhum auxílio assim que se trata de ligar um ao outro, pelo pensamento e pelo discurso, estes dois extremos que são a ousia sensível e a ousia inteligível (e, com mais forte razão, o Um). Isso não quer dizer que Aristóteles teria recusado toda unidade semântica à noçáo de ousia: m uito pelo contrário, já que, para ele, a ousia, tomada enquanto tal (isto é, independentem ente do seu acompanhamento categorial no mun sensível), é um a noção unívoca, que, diz ele uma vez,' e significada [anonima
mente] pelos m esm os term os aqui e lá em cima , neste mundo e n Aristóteles, porém , náo teria aceito que a analogia servisse para esta elo falacioso entre a ousia e os outros sentidos, náo-essencais e nao-subst ^ ciais, do ser ou aind a entre o ser no sentido primeiro e os acidentes, que derivam dele, m as lhe advêm.
pierre Aubsnque |
A distância permanece, parece-me, insuperável para Aristóteles entre uma teologia unívoca e uma ontologia da equivocidade. Plotino o tinha pressentido, ainda que desloque esta distância (e a converta sem dúvida injustamente em fracasso), situando-a antes na incapacidade que atribui à ontologia e, mais precisamente, à ousiologia aristotélicas de poder aplicar-se univocamente ao inteligível. O s comentadores neoplatônicos, movidos por intenções irênicas e sistematizantes, pensarão abolir as distâncias, superar as impossibilidades, multiplicar os elos. A qual preço, porém? U m a vulgata onto-teológica que, desconhecendo as tensões entre teologia e ontologia e, mais tarde, a homonímia de Deus e da criatura, vê no divino o Ente exemplar e fundador que, segundo um a justiça sem sombra, distribui de próximo a próximo sua inteligibilidade à totalidade do ente, apossou-se do aristotelismo na tradição dos comentadores neoplatônicos. Esta vulgata não podia, me parece, apoiar-se no texto mesmo de Aristóteles. Porém, tampouco podia, tratando-se da interpretação de Aris tóteles, apoiar-se na autoridade de Plotino57.
336
I Sobre a Metafísica de Aristóteles
HOTAS 1 Aristote et Plotin, Paris 1935. 2 Encans
V 1 8 1.12 (citaremos as linhas da edição Bréhier).
J Alain Eon, L a notion plotinienne d'exégèse, Revue internat, de Philos. 24 1970 n 267
- No que segue, empregaremos de modo equivalente as terminologias gregas de homonímia _ sinonimia e Iatma de equivocidade - univocidade. 5Seria bem fácil defender Aristóteles contra a reprimenda de não ter definido as categorias: não se pode definir as categorias por subsunção a um gênero mais elevado, visto serem elas os
gêneros mais altos; pode-se somente enumerar os "próprios". Pode somente tratar-se, dirá
Dexipo, de "esboços' (írrroypa^aí) (In Categ., ed. A. Busse, p. 20, 30; 44, 12). 6Esta homonímia do ser, mesmo que não seja expressamente afirmada por Aristóteles, deriva da fórmula to oy XcycTCii iroAAaxójç, do paralelismo entre o caso do ser e a homonímia expressamente afirmada do bem ( Tópicos I 15 107a3-12) e da tese segundo a qual o ser não é um gênero. Cf. os textos citados em nosso Problème de l’être chez Aristote, Paris 1962, 19835, p. 172ss, 223 ss. - Porfírio não se enganou a respeito e escreve em seu Isagogê (ed. A. Busse, p. 6, 7ss): é preciso admitir, segundo o que é dito nas Categorias, que os dez gêneros supremos são como dez princípios primeiros; e, mesmo supondo que se possa chamá-los todos de seres, pelo menos é somente por homonímia que se os designará assim, no dizer de Aristóteles, e não por sinonímia”. 7 In Metaph., ed. G . Kroll, p. 57, 18-20.
8Porfírio, que habitualmente tende a aproximar Aristóteles de Platão, esbarra aqui em uma irredutibilidade, que apresenta como tal (cf. o texto citado na nota 6 acima), e afirma, portanto, claramente a homonímia do ser segundo Aristóteles. Ele minimiza, no entanto, o alcance desta tese atribuindo-a ao tratado das Categorias, a respeito do qual sustenta, em seus comentários ao dito tratado, que trata somente das palavras, não das coisas, e que se dirige somente aos iniciantes. Cf. os textos citados por P. Hadot, L'harmonie des philosophies de Plotin et d'Aristote selon Porphyre dans le Commentaire de Dexippe sur les Catégories, em Plotino e il N eo-platonismo in Oriente e in Occidente, Accademia Nazionale dei Lincei, Roma 1974, p. 32-33.
9Segundo a possibilidade aberta por Ética Nicomaquéia I 4 1096b26. 10Resumo aqui a passagem V I 3 5 1. 13 ao fim. 11 A tradução mais literal de ousia deveria ser buscada do lado de um neologismo como “étantité" [enticidade] ou "étance" [entância], mas isto ocultaria o lado concreto e de algum modo familiar de um termo que era usual em grego clássico. Tentei no passado (Leproblèm e de l'être..., passim) traduzir ousia sempre por "essência", mas confesso que esta tradução não
dá conta da conotação "substantiva” freqüentemente presente em ousia. Retorno, portanto, à tradução tradicional por "substância", reservando-me o direito de empregar esseneia quando o contexto o justifica e de lembrar assim freqüentemente que e necessário que ousia derive de einai... " É característico que Aristóteles não se preocupe nunca em classificar nem, por consegumce,
« * hierarquizar as outras categorias que a m m . O s comentadores verâo aqu, uma lacuna n b j início). Mas esta pretensa que se esforçarão de preencher (a começar por 1
Pierre Aubenque \
lacuna não era devido antes à impossibilidade em que se encontrava Aristóteles de fa^e mais do que descrever a multiplicação desordenada da acidentalidade? 13 M etaf. A 7 1017a8-19. 14 É a teoria de Aristóteles em M etaf. A 7 1017al9-22. 15 Nas Categorias (la 2 4 ss.), Aristóteles caracteriza o acidente como aquilo que está em um sujeito, mas não é dito (essencialmente) dele: assim o branco está no homem, mas o ho mem não é o branco. 16 É assim que Platão, a partir da segunda hipótese do Parmênides, traduz por 'participação à enticidade" (|i€T€X€iv oíxríaç) o fato do Um ser. 1 Observar-se-á que a relação de pertencimento, expressa aqui por eluai + genitivo, se se a traduz em termos de ter, termina em uma fórmula inversa das precedentes: o sujeito tem o predicado (A) e não: o predicado tem o ser (por delegação do sujeito) (B). Porém, o
essencial consiste em assinalar que há pertencimento sem reciprocidade. D e fato, o verbo exeiv encontra-se somente em fórmulas do tipo (B). Cf. Tom ás de Aquino, D e ente et essentia, cap. V I. 19 É provavelmente destes parênteses que R. Beutler e W . Theiler induziam, com sua cos tumeira concisão, que Bréhier "considerava esta passagem como sendo de Porfírio" (Plotins Schriften t. IV, p. 488).
20 Beutler-Theiler (op. cit.) emitem a hipótese de um "plotinischer Nachtrag mit Übergang ins Transzendente" [um acréscimo plotiniano com passagem ao transcendente]. Porém, além do fato que, segundo o testemunho de Porfírio ( Vida de Plotino), Plotino não se relia, esta "passagem ao transcendente" parece aqui muito deslocada para ser atribuída facilmente a Plotino. 21 Este deslize de sentido é perceptível na tradução de R. Harder, que traduz por "haben” [terj nas linhas 25 e 26 e por "empfangen” [receber] nas linhas 1. 30-32. 22 A idéia que o Princípio "dá” ou "proporciona o ser" (TTapéx^L TÒ eivai) remonta à famosa passagem da República V I 508e-509b sobre a analogia entre o Sol que dá o crescimento e o Bem que dá o ser. Não se encontra, porém, em Platão a recíproca, a saber que as coisas derivadas “têm", "ganham" ou "recebem o ser" do Princípio. Por outro lado, Platão já põe um problema do qual se encontrará as seqüelas em toda a tradição ulterior: o doador deve possuir ele próprio o que dá? dá-se o que se tem ou o que não se tem? Platão responde, como sabemos, pela negativa: o doador não tem o ser, mais ainda ele não é o ser, visto que o dá e que deve ter mais valor do que o que dá; ele está, portanto, "para além do ser", Im K e iv a Tqç ou aíaç (509b). N o outro lado da corrente, Santo Tomás afirmará, ao contrário, que, para dar o ser, é preciso sê-lo plenamente si-mesmo: Deus est ipsum suum esse per se subsistem. Cf. já Santo Agostinho, D e civ. Dei X I I 2: "cum enim Deus summa essentia sit, hoc est summe s it,... rebus quas ex nihilo creavit esse dedit" [como, pois, Deus é suma essência, isto
é, é sumamente ... deu ser às coisas que criou do nada]. - Sobre esta questão, que será uma das linhas divisórias entre a ontoteologia e a teologia negativa, cf. J.-L. Chrétien, Donne ce quon na pas" [Dar o que não se tem], Rev. Sei. philos. théol. 1981. 23 Sentido que o próprio Aristóteles menciona no início de Met. A 28. 24 Et. Nicom. I 4 1096b27-28.
338
I Sobre a Metafísica de Aristóteles
* p. H*lM'
rit- ' P-34-
is\jáo há verbo expresso aqui, mas a prepos.çáo requer neccssariamenre
u j
de deduzir, derivar: "derivar" (Bréhier), "herleiten" [deduzir] (Harder)
°
„ c k .R *cen,U scat^ie,dum om ksem illeJa„sles-Em éaJes-JePlo,w p ]a P a c . de Philos. et Lettres de 1Univ. de Liège CLX),
p.
45.
'
(Bibl.de
2ã p piadot, rtrí- cif., p- 34. wg Brehier, em Plotino, Enn. c. V I, la . p., p. 11.
3»Igualmente, no f c * * , Porfirio continuará a rejeitar, tratando-se ie Aristóteles, a hipótese genealógica, que ele nao parece, alias, distinguir da interpretação genérica: nas genealogias, remonta-se nas mais das vezes a um principio único, por exemplo a Zeus. Para os gêneros e as espécies, porém, não é assim, pois o ser não é um gênero comum a todos os seres:... tal é a doutrina de Aristóteles” (Isagogê p. 6, 3ss Busse). Cf. ibüL, p. 1, 23-59. 3' Nas Categorias (1, la l2 -1 5 ), Aristóteles nomeia após os homônimos e os sinónimos os parônimos, que são os grupos de coisas designadas por nomes aparentados entre si que diferem somente pela flexão. E x.: [ciência] gramática - [homem] gramático. Aristóteles não aplica esta noção ao caso do ser, mas os exemplos que dá para ilustrar a unidade focal sáo de fato exemplos de paroním ia: o medicai designando tudo o que tem relação de um mopdo ou de outro com a m edicina’, o “sadio" com o que se relaciona com a “saúde” etc (Metaf. T 2 1003a34 - 1004b3).
52Flepl T fjç o ím a ç f) Gecopía: estas sáo as primeiras palavras de Met. A (1 1069al8). 33É assim que entenderá Santo Agostinho, que nega de Deus as categorias aristotélicas outras que a ousia: "ut sic intelligamus Deum, si possumus, sine qualitate bonum, sine quantitate magnum, sine indigentia creatorem, sine situ praesentem, sine habitu omnia continentem, sine loco ubique totum , sine tempore sempiternum, sine ulla mutatione mutabilia Jacientem, nihilcpe patienten. E st tam em sine dubitatione substantia vel, si melius hoc dicitur, essentia
[para pensarmos D eus assim, se pudermos, bom sem qualidade, magno sem quantidade, criador sem fraqueza, presente sem lugar, continente em tudo sem hábito, ubíquo em tudo sem espaço, eterno sem tempo, Ja zen d o mudanças sem nenhuma mudança e nada sojrendo. Porém, sem dúvida é substância ou, dizendo melhor, essência] (De Trinitate V 1 2). 54Simplício, In Categ., ed. C . Kalbfleisch, p. 7, 31. 35P. Hadot, art. cit., p. 33. , . “ Dexipo, I„ C a t e ed. A . Busse, p. 4 0 ,2 8 - 41, 3. Sigo, modif,cando-a um pouco, a traduçao dada deste texto por P. H adot, art. citado, p. 33. Cf. também Michele Laplame-Moreau. J ^ J u e t m iu C om m entaire d e D exippe, tese de terceiro ciclo, Poitiers 1981 (datilografada).
” Cf também, no mesmo sentido, D e c e i o I 9
^
0 fato que haja aqui
biologicamente, isto me parece provir do patalel „„nrp nor Fr. BrenUma distinção entre dois casos diferentes, parece-me, foi o servai os^ ^ lg62; reimp< tano- Von der mannigjachen Bedeutung des Seiendcn nach Aristóteles,
J8Darttistadt 1960, p. 151. Nos dois textos citados da M etafísica.
0 "rvj ^
em Dc caclo I 9 279a 19.
Art■«*., p. 39-42.
pierre Aubenque
|
42 A 1 1069a30 ss; 6 1071b3. 43 Cf. A 8 1073b6. 44 Art. cit. p. 39-41. 45 P. H adot (art. cit., p. 39) mostra que Dexipo, que segue Porfirio, se separa aqui de Jâmblico (citado por Simplicio, In Categ., p. 77, 4ss.), Jâm blico que, conforme à tradição platônica e acadêmica (cf. Xenócrates ,fr . 5 H einze), atribuía este estatuto intermediário aos seres matemáticos. 46 P. 41,14-18, tradução. P. H adot (art. cit., p. 38) modificada. 47 Em seu artigo sobre L ’a nalogie chez Aristote, Revue de Philosophie ancienne, Bruxelas 1 1983 (principalmente p. 4 6 -4 7 ), Chr. Rutten tem razão em insistir sobre as passagens de Met. A 5 (e tam bém H 2 1043a5-28) nas quais a analogia é aplicada à relação ato-potência. Po rém, não vejo em que a analogia, que institui, aqui como alhures em Aristóteles, um elo de algum modo horizontal entre domínios heterogêneos, perm ita elevar acima dos outros um term o primeiro que seria o ato da substância (o qual não é mais privilegiado que o ato da quantidade, da qualidade etc). 48 É assim que interpreto o (í>ç (em Ta t 4 questão por que e F ? e a questão "por quê?” relevante serao ambas respondidas pela referência à forma do homem: sua alma. Isto tem um papel explicativo crucial. É porque a alma é o que é que o homem é um anim al bípede com sua aparência distintiva. É requerida matéria do tipo relevante se devemos realizar as funções distintivas da alma Assim, Aristóteles introduzirá form a e matéria (e posteriormente atualidade e potencialidade) na M etafísica com o os recursos conceituais necessários para fornecer a base metafísica para sua definição que envolve explicação ao estilo de seus Analíti cos. Adem ais, com estes recursos, pode explicar a unidade de uma substância
com posta com base nas interconexões explicativas que discerne entre matéria e form a (entendida como uma unidade simples)58. N esta explicação, a démarche de Aristóteles quanto à definição depende (em M etafísica Z , H e 0 , bem como nos Analíticos) da consideração que a mesma
resposta deve ser dada às questões "o que é F?" e "por que F é o que é?" Na verdade, se o argumentos das seções 11.3 - 5 estiver correto, a definiçáo pela m atéria e form a é um caso especial da explicação geral da definição desen volvida nos Analíticos. Difere somente ao introduzir os conceitos de matena e form a (retirados dos escritos físicos de Aristóteles) para \ J c ■ - A» cnhsrâncias compostas ao estilo (que envolve teíeolo requeridos na definição de sub ^ P como LeBlond sugere, gia) dos Analíticos. Aristóteles nao in uma form a de definiçáo separa a u ter causal e da definição p o r g ê n e r o e espec
^
^ definição com base
Compreendidas propriamente, elas que envolve explicação,
são todas instâncias de uma forma geral de d fmiçao, q^ que perm eia os Analíticos, bem como M eap s S e virmos A ristó te le s como seguin o
^ explicatjva à definição, entendida, é a res-
apreenderemos m elhor a n atu reza basica • David Charles \ 399
posta à questão "o que é substância?”, ao mesmo tempo em que é uma carac terística fundamental em uma explicação teleológica de por que a substância é o que é. Visto que é uma tese maior que há uma coisa que pode ter ambos os papéis, Aristóteles pecisava desenvolver uma explanação da forma que mos trasse como poderia ter estes dois papéis simultaneamente. Esta démarche põe restrições na noção de forma. Formas, assim entendi das, têm de ser capazes de ter um certo papel na explicação teleológica, bem como na definição. Por exemplo, a forma de homem não pode ser o Homem* simples indefinível, se este último não fosse capaz de ter o papel requerido na explicação de por que o homem é bípede, o que (e.g.) ser racional é capaz de explicar. Assim, mesmo que seja verdadeiro que Aristóteles toma a forma como sendo (em algum sentido) um elemento ‘básico’, primitivo' ou 'indefinido'60, sua natureza é fortemente restringida pelo requerimento de ter um dado papel na explicação de por que a substância como um todo é o que é. As restrições da definição (introduzidas em Z 4 - 12) são incapazes de tornar inteiramente determinada a noção relevante de forma. Com o vimos acima, precisam ser suplementadas por preocupações quanto à explicação em Z 17 e adiante. Tomadas juntas, elas eliminam a possibilidade de definir a forma meramente como (e.g.) o que quer que ocupe um dado papel explicativo', pois o que é procurado é uma característica que responda à questão “o que é F ?” dando conta da presença da habilidade em ter um dado papel explicativo. Somente então a definição tornará inteiramente transparente a completa na tureza do tipo. Não pode haver uma explicação da forma (como seria de se esperar à luz da tese de interdependência) que a torne incapaz de ter os papéis definicional e explicativo requeridos61. A natureza distintiva desta interpretação pode tornar-se mais clara se for comparada a duas outras que ganharam adeptos nos recentes anos. Uma pode ser denominada (como acima) a démarche dissolucionista; a segunda, a estratégia (talvez algo pejorativamente) reparo-rápido’62. As duas rejeitam a tese que a teoria da definição (no caso da substância) requer algum apoio da teoria da explicação. De acordo com a posição dissolucionista, o ponto de partida para a investi gação metafísica é a unidade de uma substância composta que permanece (Só crates ou homem) e não a forma. Nesta explicação, matéria (potencialidade) e
400 I Sobre a Metafísica de Aristóteles
forma (atualidade) são abstrações (interconectadaA, de um a substancia unificada. S e for assim ^ unidade do com posto. Ela é dada por
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da noção básica
3 Uma * " • * > real acerca da
U m a analogia parcial pode ajudar a £
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lucionista. N ela, substâncias compostas unific T * ^ quando tom adas (como, por exemplo, p o r F um a teoria sem ântica. Lá, um oredirarl
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. " J S * aclulI° t 2 que, junto com um ored ■ *» x d4uno predicado ____________ r. .V ^ AA aa uma sentença. E um erro tentar explicar a a P ' da i , . P unidade de uma sentença em termos de um tipo de mterconexão independentemente especificado entre sujeito e predicado (pois a intetconexão relevante é ela própria dependente da unidade da sen ten ça)64. Seria um erro similar (segundo esta teoria) tentar expli„. içar .a unidade de um a substância composta por meio de um tipo de conexão inde pendentem ente especificado entre matéria e forma, pois os relata relevantes são todos abstrações da noção básica de um composto (e.g. a sentença)65. S e estou correto, Aristóteles tem sérias objeções contra o projeto dissolucio nista. Prim eiro, o dissolucionista, ao abandonar a idéia de forma como o ponto de partid a para a explicação, corta as conexões entre as respostas à questão o que é F ? ” e a questão ‘por quê?” relevante. Se é isso, ele é forçado a abandonar as restrições à definição que decorrem das interconexões entre definiçáo e explicação (em torno das quais, se as seções 11.2 - 11.5 forem aceitas, gira o argum ento central da Metafísica). Se é isso, ele deixa sem restrições a noçao de definição relevante, pois, se a forma nâo é entendida como o que explica o com posto relevante e sua matétia, o que torna certas c ? Mo vprdade parece como se (nesta visaoj tossem tância com posta sua forma. possíveis deve ser a forma“ .
nós quem decidim os qua a
taçáo 'reparo-rápido'. Nela (di-
O b je çõ e s sim ilares a p lic a m * ferentem ente da
# f 0 t a c M e J c são introduzidas
d is s o lu c io n is ta ),
s u b s tâ n c ia c o m p o sta , m a s
independentem ente da noção da sem elucidação ulterior. Alega se q
se pode ver ime^
apropriado de unidade.
diatam ente que sua intcrconexão E sta interpretação,
meramente ^ ^ J J Z
tipo de unidade em questa . sados (o s relata co rre to s) e
m»a explicação clara o
^ iz q
q Lla n d o
d o s , há
estão corretamc ^
( ^QJ
o tipo apropriado de unidade. Porém, esta sugestáo parece vazia até sabermos (pelo menos) o que são os ‘relata corretos’ ou a relação correta. N a verdade, nada impede que a forma (assim entendida) seja o homem* (platônico) simples nãoanalisável. A noção aristotélica de forma deve ser mais restritiva do que isso. O reparador-rápido’ pode replicar que os 'relata corretos’ no caso de substân cias compostas são análogos à potencialidade e atualidade no caso de processos. Porém, qual é agora a base para esta analogia? Desprovida de toda conexão com a explicação teleológica, as noções de forma e atualidade (assim entendidas) parecem irrestritivas e obscuras, pois não mais figuram como pranchas centrais em uma explicação da unidade do composto ancorada em uma explicação de por que o último é o que é. Na verdade, é difícil ver por que alguém deveria acreditar que (assim entendidas) elas apreendem características da realidade.
ii. 7 C
o n clu sõ es e lacu n as
Neste capítulo, sugeri que a démarche de Aristóteles à definição de substân cias compostas nos livros centrais da Metafísica segue o padrão que envolve ex plicação estabelecido nos Analíticos. Este modelo pode aplicar-se a substâncias e processos definidos teleologicamente, assim como a processos causais eficientes (como trovão e eclipse) discutidos nos Analíticos. (Seria uma tarefa importante procurar defender o esboço que dei em um comentário linha-a-linha. Seria um projeto importante ademais investigar se este modelo também se aplica, na opinião de Aristóteles, a números e quantidades. Estas duas tarefas caem fora do escopo deste trabalho.) Muitas questões acerca da Metafísica, mesmo algumas que estão estreita mente relacionadas ao nosso presente tema, ficaram sem discussão. Pouco foi dito acerca do papel da matéria na teoria de Aristóteles67, menos ainda acerca da relação entre a explicação da substância proposta nos livros centrais e a in terpretação oferecida em Metafísica A68. Estes pontos colocam questões difíceis e importantes acerca das teses de Aristóteles sobre substância e definição que não puderam ser consideradas aqui.
402 I Sobre a Metafísica de Aristóteles
n otas ■ Veja cap. 7 Secções 73-7.4. Aristóteles tipica m cm ) ac considerar a questão o que é
em e* mplos (como
pode dar uma resposta satisfatória para um d o m t o
P° r “ P“ » ) * * «
para substancias particulares, ela terá meios (e a
esPecíflc^ "o que é *•
geral à questão o que é substância?“. Suas re sp L a sT "' metafísicas (e não científicas) desde que marI nu
"}
dar Uma resP°^a 3SSÍm esPecíf™ serão
dência de detalhe empírico) requerido na investigado genefaIldade indeP™[N.T.: Restrição Definicional: “o método anrooriJ etaf,sicadar-nos razões para a alegação que esta def ' . ° p3ra Vir a conhecer uma definição deve envolve essencialm ente o uso da dedução" (p Í * * Um ^ a aeauçao (p. 189); Condição Simples: o método aoro-
para Se * ? def' ™ ^ ^ - n o s boas razões para a alegaçáo que (a) h á I a característica que e uma característica prioritária do ripo relevante e (b) a característica deve explicar por que o tipo possui todas as outras características necessárias especificadas na definição” (p. 195).] Em 93b21-5 Aristóteles refere-se a casos nos quais a causa não é diferente. Ele agora espe cifica tais casos com o aqueles nos quais o o que é não é diferente e os objetos são imediatos ou pontos de partida com respeito ao o que é. Nestes exemplos, a coisa e sua essência serão idênticos, assim como a unidade e a essência da unidade são idênticos. O sujeito gramatical, todavia, é a coisa (no caso, a unidade) e não sua essência, pois sua existência é hipotetizada e é ela que “tem " uma essência (93b23, 24-5). Ademais, são objetos e não essências que são referidos nas duas sentenças adjacentes (93b21, 93b25-8). Assim, em 93b21-5 Aristóteles está referindo-se (no lugar do sujeito) a coisas que têm essências e está distinguindo casos nos quais a coisa e sua essência não são separadas ou distintas. 3 Em 93b25-8, Aristóteles ocupa-se de objetos ou tipos nos quais há um termo médio - isto é, nos quais há uma causa separada do objeto/tipo que o faz ser o objeto/tipo que é. Nesta ‘ •* c o a cbcrâncias ou tipos e não a essências de tais substancias ou tipos, sentença, ousia refere-se a substancias ou up . , . . , . ciibstância (ou do tipo) ser a substancia ou o tipo] pois sáo os últimos que sao a causa d s u b sta n c » ^ ^ ^ que é. ‘Ousia é usado deste modo em
*
^
a existência de oustai como homem, ter ,
^
(90al4-15). Ousiai, em outros lugares,
respostaáquestáo po r quê ?” sao exemplificadas por homem (
(çorf-lO). E o que é buscado é a p a l i a r e s ( 73b7) . Seí as , , ,
comQ separáveis e a última pode ser
)
em B 2 substância e essência tam era ev
Assim, se, por exemplo, homem e a
posta em um termo médio com resPeir° essência de homem devem ser diferentes^
n ^ i043b2-3), homem seria posto encro ^ composto (que é causado sir Aristotle on Nature individuation in Aristode, HPQ
(An. Post. B 17 99a21-4, 30-7). A formulação aí de Z s Z T T
universais (A«. Po5f. B 17 99a21-4, 30-7) e aparenteme se refiram a particulares (veja G. Patzig Aristotle's th
““ >^
exPllcaClvas mvoca
T *** term° S Smgulares ^ue
1- C n c - F , , 0dam'P odemter seupapel distintivo próprio na expiação, m GA 5 sao usadas para explicar diferenças genéticas individual (como
J M Cooper sustenta, M e ^ . c s ô, Aristotle's Embryology, em D. Devereux e P. PeUegrin
(eds.), Biologie, logique et rnetaphysique chez Anstote, Paris 1990,79-84). Presumivelmente, pelo menos algumas formas perceptíveis são particulares (De an. B 5 417b22-5). 13 Alguns proponentes das formas particulares consideram as formas gerais aristorélicas como abstrações (Frede e Patzig. Aristóteles: Metaphysic Z), enquanto outros as vêem como entidades reais (Irwin, Aristotle's First Principies 262-3). Esta questão é posta por Whiting (Metasubstance: critiuil notice o f Frcdc-Patzig and Furth, PR 100 1991,683ss.). Ambos os grupos
podem concordar com quem defende a prioridade das formas gerais quanto às seguintes razões: (i) definições de estilo dos Analíticos são de formasgerais; (ii) há formas particulares; (iii) conhecimento requer formas gerais. As questões centrais que dividem estes partidos dizem respeito (i) à prioridade relativa das formas particulares e gerais e (ii) ao estatuto ontológico das formas gerais. 14 Formas (particulares ou gerais) são anteriores à substância composta (individual ou to mada universalmente) (cf. Z 3 1029a5). Se é assim, as formas não podem ser definidas como formas de compostos (ou da maténa-em-um-composto). pois isto significaria tratar o composto como anterior à forma quanto à explicação. 15 A questão da unidade pode ser posta acerca de particulares do seguinte modo. Suposto que isto é um particular, o que gera sua unidade? (Resposta: a forma F que possui esta combinada de um certo modo com sua matéria.) Esta questão não envolve a questão: o que faz deste particular um particular? Na verdade, na prime.ra, sua particular,dade e dada pot suposta. A questio da umdade pode ser tomada ou diacronicamente ou s,„„ . , i çnnosto) pretende que suas respostas se aplicam cronicamente. Aristóteles (vou dar por sup )p diacrônica e sincronicamente.
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16 Se intenta explicar a particularidade de
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entendidas, formas
concordância como a J t m n k « P '1“ ™ dotando a versa0 „d,cal da Jém arch particulares são requeridas se Aristóteles estiver explicativa que busca explicar a partkultm iadt dos partic ° Veja capítulo 7 see. 7.4.
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Estas questões são discutidas por • philosophy 16/2 1996, 377-88. relation between genus and differentia in division, ^ i s em 2 15 contra a opinião que (e.g.) o 19 Veja, em particular, os argumentos de Ari ^^ ou '0 qUe fica escondido à sol’ pode ser definido como o que dá vo rn 7 noite’ (I040a29ss.). Eu os discuto no Apen ice
David Charles | 405
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t s t a compreensão de Z 13 segue o esboço pioneiro de Michael Woods em Problems i Metaphysics 13, em J. M . E. Moravcsik (cd.) Aristotle: Critical Essays, Nova York 1967 215-38
e desenvolvido posteriormente em seu Universal and Particular Forms in Aristotle's Metaphysics O S A P sup. 1991 41-56. Uma interpretação global similar de Z 13 é desenvolvida por A Code em No universal is a Substance: an interpretation o f Z 13 1038b8-15, Paidéia 1978 65-76 e em M . Burnyeat (cd.) Notes on Book Zeta o f Aristotle’s Metaphysics, Londres 1979, ad loc Embora cu tenha seguido a leitura generalista de Z 13, problemas similares aos que dis cuto surgirão no marco de uma interpretação particularista deste capítulo: "o que é único ao particular em questão?”, “como é isto cognoscível?". 21 Este caso é discutido no cap. 9 secção 9.2. "2 Este argumento não parece forte. Se animal partilha de fato as propriedades de homem (e.g. ser bípede etc.), por que não dizer que somente partilha estas propriedades derivadamente qua participa no composto homem? Se for assim, possuiria estas propriedades de um modo diferente do que o homem as possui. Porém, talvez Aristóteles tenha uma resposta a isso: se se entende o papel de animal deste modo no composto homem, ele não é mais anterior ao homem (contrariamente à hipótese de 1040al7-18). Para enfrentar esta réplica, quem objeta precisaria separar vários tipos de prioridade (explicativa, ontológica etc.) e isto em muito excederia sua estratégia simples de listar todos os universais relevantes de um modo desestruturado. 2 3
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Assim entendida, esta passagem é inteiramente consistente com a posição de Aristóteles en An. Post. B 13. A definição meramente por uma lista de universais partilhados malogra em apreender o que é anterior quanto à explicação. Listar universais partilhados ou não apreende nenhuma prioridade ou somente o tipo errado de prioridade (na qual todos os universais são igualmente anteriores). 24 Esta entidade não pode ser uma propriedade, já que substâncias sáo anteriores a proprie dades na hierarquia aristotélica do ser (Z 13 1038b23ss., cf. Z 1 1028a30ss.). 25 Tom o ‘logikós como referindo-se ao modo de proceder que está baseado em considerações de um tipo geral, não baseado em princípios particulares a uma dada ciência ou assunto (cf. An. Post. A 21 82b35 com a nota de Barnes). Por contraste, considerações são ‘phusikôs se sáo específicas para um dado assunto. (Sobre isso, ver minha discussão em Aristotle’s philosophy o f action, 128 n.7.) Em 1041a31ss. concordo com Ross (Aristotle's Metaphysics II
223) em tomar ‘a outra causa' como se referindo naturalmente à causa final e, assim, tomo a inteira frase a31-2 como elucidando as mesmas distinções que são assinalas na frase a29-30. Frede e Patzig, por contraste (Aristóteles Metaphysics Z II 312-3), tomam a outra causa' como se referindo somente à causa formal e põem isto em contraste com as causas eficiente e teleológica (introduzidas por 'este tipo de causa em a31). Assim, vêem Aris tóteles contrastando aqui as causas formais de (e.g.) objetos matemáticos com as causas eficiente e final a serem encontradas no que sofre geração e corrupção. Todavia, o contexto precedente não menciona objetos matemáticos (ou outros atemporais), mas concentra se antes nos exemplos transitórios introduzidos em a29. Ademais, nas linhas subsequentes, Aristóteles está interessado cm usar o sintagma o ser/existência tom casos simi objetos transitórios. Assim, é natural entender este sintagma em a32 como ap ícan o se
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Sobre a Metafísica de Aristóteles
1Q mesmo tipo de caso. Em g e r a l, n c s ta conjunto limitado de casos (alguns.,. alguns..' em a29W S ^arece concentrar-se em um de todos os casos de substâncias. Sem visar a uma taxonomu geral
26A forma exata do lugar-C não é clara. Prefiro n apropriada. Pelo símbolo deselegante *