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Portuguese Pages [192] Year 2015
PLANEJAR ESPAÇOS PARA O DESIGN DE INTERIORES Ian Higgins
GG
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Título original: Spatial Strategies for Interior Design. Publicado originalmente por Laurence King Publishing Ltd. em 2015 Desenho gráfico: John Round Design
Tradução, revisão técnica e preparação de texto: Alexandre Salvaterra Revisão de texto: Ana Beatriz Fiori e Grace Mosquera Clemente Design da capa: Toni Cabré/Editorial Gustavo Gili, SL Fotografia da capa: © William Russell, Pentagram Design Fotografia da contracapa: © Ippolito Fleitz Group GmbH; fotografia de Zooey Braun
Qualquer forma de reprodução, distribuição, comunicação pública ou transformação desta obra só pode ser realizada com a autorização expressa de seus titulares, salvo exceção prevista pela lei. Caso seja necessário reproduzir algum trecho desta obra, seja por meio de fotocópia, digitalização ou transcrição, entrar em contato com a Editora. A Editora não se pronuncia, expressa ou implicitamente, a respeito da acuidade das informações contidas neste livro e não assume qualquer responsabilidade legal em caso de erros ou omissões.
© Laurence King Publishing Ltd., 2012 © Ian Higgins, 2012 para a edição em português: ©da tradução: Alexandre Salvaterra © Editorial Gustavo Gili, SL, 2015
ISBN: 978-85-8452-009-1 (PDF digital) www.ggili.com.br Crédito das imagens: Folha de rosto: Cortesia de Dake Wells Architecture; diretores: Andrew Wells FAIA e Brandon Dake, AIA; equipe de projeto: Josh Harrold, Emily Harrold, John Whitaker À direita: Stefan Zwicky em colaboração com Trix and Robert Hausmann e Hans Jacob Hurlimann
Editorial Gustavo Gili, SL Via Laietana 47, 2º, 08003 Barcelona, Espanha. Tel. (+34) 93 322 81 61 Editora G. Gili, Ltda Av. José Maria de Faria 470, Sala 103, Lapa de Baixo, CEP. 05.038-190, São Paulo-SP-Brasil. Tel. (+55) (11) 36112443
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Higgins, Ian Planejar espaços para o design de interiores / Ian Higgins ; tradução Alexandre Salvaterra. - São Paulo : Gustavo Gili, 2015. Título original: Spatial strategies for interior design. ISBN 978-85-8452-009-1 1. Design de interiores 2. Espaço (Arquitetura) 3. Planejamento I. Título.
14-11792 Índices para catálogo sistemático: 1. Decoração e design de interiores 747
CDD-747
PLANEJAR ESPAÇOS PARA O DESIGN DE INTERIORES Ian Higgins
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Sumário 07 O modernismo e a planta livre
34 Capítulo 3 O desenvolvimento de ideias conceituais
09 Apresentação deste livro
36
Introdução
38
Pontos de partida conceituais
39
Conceitos baseados no cliente
40
Passo a passo: O desenvolvimento de uma ideia de conceito
41
Conceitos baseados no programa de necessidades
06 Introdução 06 O que é o design de interiores?
Capítulo 1 Pontos de partida
10 12
Introdução
42
Conceitos baseados no local
12
O local existente
43
Estudo de caso: Conceitos de design 1 – Cargo / group8
14
Estudo de caso: O local existente – Escritórios da Trace Architecture / Trace Architecture
44
Conceitos baseados na abordagem de design
16
O cliente
45
Estudo de caso: Conceitos de design 2 – Restaurante Mississippi Blues / Stanley Saitowitz | Natoma Architects
18
Estudo de caso: O cliente – DAKS / Alex Nevedomskis
19
O programa de necessidades
21
Estudo de caso: O programa de necessidades – Restaurante Sushi-teria / form-ula
Capítulo 2 O uso dos estudos de precedentes 22 24
Introdução
24
As lições da história
26
Os precedentes do local
27
A organização dos precedentes
28
Estudo de caso: Os precedentes espaciais: um espaço dentro de outro – Casa de Vidro / Philip Johnson
30
Os precedentes na circulação
32
Estudo de caso: Os precedentes da circulação: um percurso controlado – Lojas da Ikea e da Tiger
33
Aprendendo com as outras disciplinas
46 Capítulo 4 Estratégias de planejamento
48
Introdução
48
As relações espaciais
56
Estratégias de organização espacial
58
Passo a passo: O desenho de diagramas
64
Estratégias de circulação
68
Estudo de caso: Entrada – Galeria de Arte / Adolf Krischanitz
69
Circulação e espaço
74
Soluções de planejamento
76
Estudo de caso: Soluções de planejamento – Butique Shine / LEAD e NC Design & Architecture
78 Capítulo 5 Do programa de necessidades à proposta
80
Introdução
81
O programa de necessidades
83
As exigências espaciais
86
Passo a passo: O desenho de diagramas de planejamento
88
Estudo de caso: Lojas COS / William Russell, Pentagram
90
Diagramas de planejamento
92
O relacionamento entre o diagrama de planejamento e o local
144
Passo a passo: O estudo das oportunidades oferecidas pelo corte
96
Estudo de caso: Uma exposição – “Rogers Stirk Harbour + Partners – Da Casa à Cidade” / Ab Rogers Design
146
Estudo de caso: O projeto com o uso de cortes (1) – Estação do metrô de Canary Wharf / Foster + Partners
148
Plantas baixas simples, cortes complexos
149
Estudo de caso: O projeto com o uso de cortes (2) – Proposta de clínica odontológica / Sam Leist
150
A resposta a um prédio existente
152
Maquetes de corte
98 Capítulo 6 O impacto da edificação existente
100
Introdução
101
A análise de uma edificação existente
105
A introdução do novo ao existente
108
A intervenção
110
Estudo de caso: Uma intervenção – Casa Pérola Negra / Studio Rolf em parceria com Zecc Architects
Capítulo 9 A representação das organizações espaciais 154
156
Introdução
112
A inserção
156
Tipos de desenho úteis
114
Estudo de caso: Uma inserção – Sala do Silêncio da loja de departamentos Selfridges / Alex Cochrane Architects
167
Estudo de caso: A representação de um conceito espacial – Proposta para um cabeleireiro / Oliver Corrin
116
A instalação
168
Croquis ou desenhos à mão livre
118
Estudo de caso: Uma instalação – KMS Team studio / Tools Off.Architecture
170
Passo a passo: A criação de desenhos à mão livre
171
Maquetes
Capítulo 7 O desenvolvimento de composições 174 Capítulo 10 E agora? espaciais tridimensionais 120
122
Introdução
176
Introdução
123
A configuração dos espaços
177
O planejamento detalhado
124
Estudo de caso: A criação de composições espaciais – Casa de Vidro / Philip Johnson
178
Passo a passo: As etapas de um projeto de design de interiores
125
A exploração de contrastes
180
O detalhamento de um design de interiores
184
Glossário Leitura recomendada Índice Créditos das ilustrações Agradecimentos do autor
132
A criação de composições espaciais
137
Estudo de caso: A exploração de contrastes – Butique Cahier d’Exercices / Saucier + Perotte Architectes
138
Passo a passo: A execução de maquetes de estudo
140 Capítulo 8 O projeto com o uso de cortes
142
Introdução
143
A manipulação de volumes
85 1 186 190 192
6 Introdução
Introdução As concepções do que seria o design de interiores são inúmeras — neste livro, a disciplina é considerada como sendo uma atividade de design tridimensional relacionada à arquitetura, mas distinta dela. O designer de interiores transforma edificações a fim de melhorar seu desempenho ou permitir que elas sejam reinventadas e assumam um novo uso. Um dos aspectos-chave desta obra é o tratamento das vedações existentes e a definição da estratégia para a introdução de novos elementos no espaço. Como não poderia deixar de ser, o interior é uma entidade mais temporária do que o fechamento arquitetônico no qual ele se insere. Às vezes, ele é projetado para durar apenas alguns dias; ocasionalmente, é concebido para durar décadas. Na forma da disciplina que hoje reconhecemos, o design de interiores é relativamente novo; assim, a teoria e a prática do tema não são tão bem documentados como nas disciplinas relacionadas da arquitetura e do desenho de móveis. Os arquitetos de outrora criavam edificações nas quais os cômodos eram configurados
pelas paredes que formavam a estrutura. Isso resultava em prédios que eram, em termos espaciais, "acabados" pelo arquiteto. Caso obras adicionais fossem necessárias, o decorador do interior podia agregar uma camada de cor, padrão superficial ou textura a paredes, tetos e pisos existentes antes de selecionar e distribuir os móveis e permitir que o espaço funcionasse de acordo com o propósito desejado.
O que é o design de interiores? O design de interiores se dedica à criação de interfaces entre as pessoas e as edificações que elas usam. Como resultado, o designer de interiores tem de considerar uma série de questões, que tanto podem se relacionar com a estratégia de projeto como com os detalhes. A escolha dos materiais nos quais Logo à esquerda Este projeto de um aluno propôs a reciclagem de uso de uma piscina pública do século XIX, transformando-a em um lugar no qual as pessoas pudessem discutir diferentes crenças religiosas. A maquete mostra como o espaço central para cultos ecumênicos estaria inserido na área da piscina drenada, e seu formato cilíndrico seria definido por 360 lâminas verticais distribuídas radialmente. Ao se colocarem no centro do tambor vazado, os usuários poderiam ver apenas através de uma das frestas entre duas lâminas de cada vez, o que lhes permitiria se posicionarem na direção que sua fé exigisse. Esta proposta resolve um espaço de arquitetura redundante e, ao mesmo tempo, atende a uma variedade de necessidades das pessoas, criando uma instigante experiência espacial.
O que é o design de interiores? 7
os usuários tocarão, a ergonomia de uma maçaneta de porta, a criação de condições acústicas apropriadas e o estabelecimento de ambientes com iluminação bem pensada são apenas alguns dos aspectos do trabalho de um designer de interiores. Uma questão crucial para o sucesso de qualquer esquema de interior é a organização espacial dos recursos necessários para que o ambiente interno consiga satisfazer suas exigências funcionais. Em termos simples, isso pode ser chamado de "planejamento" e, no caso de alguns projetos, às vezes envolve a tarefa relativamente objetiva de distribuir postos de trabalho em um ambiente profissional ou arranjar as mesas e cadeiras em um restaurante. Na realidade, contudo, o planejamento é muito mais estratégico do que isso. Longe de ser uma atividade "bidimensional" na qual os espaços são distribuídos em planta baixa, ele deve ser pensado como um desafio verdadeiramente tridimensional que envolve a consideração de vários aspectos: volume e forma, proporção, proximidade e relacionamento de espaços e a maneira como eles são articulados, definidos e co-
nectados, além da circulação entre tais áreas, através e ao redor delas. Todos esses elementos têm de ser desenvolvidos ao mesmo tempo que o designer consegue satisfazer as necessidades dos usuários do interior e responder aos condicionantes determinados pelo espaço no qual a solução proposta estará inserida. O interior pode ser considerado como a interface entre a edificação e seus usuários, permitindo que ela funcione para um propósito determinado.
O modernismo e a planta livre APode-se dizer que a disciplina do design de interiores, do modo como a concebemos hoje em dia, remonta ao desenvolvimento do modernismo na arquitetura e às oportunidades que isso apresentou para que o interior fosse considerado como um elemento que poderia ser configurado separadamente da estrutura arquitetônica. Quando Le Corbusier desenvolveu sua proposta para o protótipo de produção em massa conhecido como a casa Dom-Ino, em 1914, ele sugeriu um novo modelo Logo à esquerda A proposta estrutural de Le Corbusier, a casa Dom-Ino (1914), consiste em lajes de piso de concreto sustentadas por pilares recuados em relação ao perímetro, deixando um espaço vazio que precisa ser definido a fim de satisfazer as necessidades funcionais do interior.
Abaixo No Projeto para a Sala de Concertos, de Mies van der Rohe (1942), os planos horizontais e verticais são suspensos no prédio receptor para criar uma composição espacial. Todos os planos são liberados de suas responsabilidades estruturais e têm o propósito único de definir o volume no qual as atividades internas podem acontecer.
8 Introdução
estrutural, como lajes de piso de concreto armado sustentadas por pilares de concreto e recuadas em relação ao perímetro do prédio. Ao divorciar a edificação da estrutura das paredes que a vedam, ele criou uma nova arquitetura em que a pele da edificação podia ficar suspensa na estrutura, como se fosse uma cortina. Essa ideia radical permitiu uma nova avaliação do espaço interno resultante e o desenvolvimento da plan libre (planta livre). Com a estrutura da edificação baseada em pilares relativamente esbeltos e o problema da vedação climática sendo resolvido pelas lajes de concreto e paredes-cortina, Le Corbusier criou um modelo de arquitetura no qual o arquiteto podia estabelecer um volume interno que ficava "inacabado" em termos de criação de espaços específicos que atendessem às necessidades individuais do usuário final do prédio. A ideia de que o espaço interno de uma edificação poderia ser deixado "inacabado" pelo construtor permite que a noção de flexibilidade e mudança seja considerada e oferece uma oportunidade para que surjam especialistas que possam reconciliar a pele que define o espaço interno e as necessi-
dades dos usuários das edificações. Liberados de ter de lidar com questões mais genéricas como a topografia, a engenharia de estruturas e as vedações, uma nova classe de designers de interiores especializados pode focar a tarefa de ocupar o espaço de arquitetura vazio e fazer com que ele funcione para o usuário final. A obra de Ludwig Mies van der Rohe de meados do século XX talvez possa ser considerada como um segundo fator importante para que o design de interiores emergisse como uma disciplina independente. Influenciado pelos pensamentos de Le Corbusier, Mies levou as ideias da Bauhaus para os Estados Unidos no final dos anos 1930. Os Estados Unidos da época proporcionaram um bom contexto comercial para que se pusesse em prática as ideias europeias e, ao mesmo tempo, Mies explorou em seus projetos conceituais as maneiras como os espaços internos flexíveis poderiam ser estabelecidos por meio de composições de planos não estruturais horizontais e verticais dentro de superestruturas de arquitetura. Mais uma vez, os elementos do interior se relacionam com as vedações
Acima
Abaixo
Nesta vista da proposta para o edifício de escritórios Bacardi em Santiago de Cuba, Cuba (1957), de Mies van der Rohe, o espaço interno é definido por uma série de planos verticais.
Estas plantas baixas do edifício Seagram (1958) em Nova York, Estados Unidos, mostram, à esquerda, a casca "inacabada" do prédio que foi projetado por Mies van der Rohe e, à direita, um
exemplo de pavimento ocupado pelo usuário final — neste caso, a Mercedes-Benz North America, cujo espaço de escritórios foi criado pela Selldorf Architects.
Apresentação deste livro 9
da arquitetura e por elas são protegidos, mantendo-se uma entidade separada. Em 1958, Mies completou seu primeiro edifício de escritórios, o edifício Seagram, na Park Avenue de Nova York. Nesse prédio, ele pôs em prática muitas ideias que havia investigado em seus projetos anteriores. Para o designer de interiores, ele é muito importante, uma vez que representa o edifício de escritórios ideal, no qual o arquiteto criou 39 pavimentos com espaços prontos para que o designer os organizasse de acordo com as exigências exatas dos usuários — uma tarefa que exige habilidades distintas daquelas do arquiteto propriamente dito.
Apresentação deste livro Os dez capítulos que seguem têm como objetivo simplificar os complexos problemas do planejamento e da organização dos espaços internos por meio da introdução das questões-chave que devem ser consideradas pelos designers de interiores durante o processo de projeto. Capítulo 1: Pontos de partida estabelece como, ao organizar as estratégias para os projetos de interiores, o designer de interiores contemporâneo pode começar com uma variedade de preocupações distintas, como as características do local que serão aproveitadas no projeto, a função do interior proposto ou o etos do cliente. Capítulo 2: O uso dos estudos de precedentes enfatiza a importância de aprender com exemplos da boa prática anterior que possam inspirar as futuras propostas de projeto. Capítulo 3: O desenvolvimento de ideias conceituais mostra como as decisões de projeto podem ser determinadas por uma direção conceitual clara e poderosa que consiga estabelecer a forma do interior e, ao mesmo tempo, uma narrativa que prenda o interesse do usuário. Capítulo 4: Estratégias de planejamento introduz as abordagens ao desenvolvimento do planejamento de espaços internos. Neste capítulo, são identificadas e explicadas as estratégias espaciais, relações espaciais e estratégias de circulação, sempre com o auxílio de estudos de caso apropriados. Capítulo 5: Do programa de necessidades à proposta estabelece métodos de como transformar as necessidades do cliente em uma organização de espaços apropriados que concilie as
exigências funcionais do programa com a forma da edificação na qual o interior proposto será acomodada. Capítulo 6: O impacto da edificação existente demonstra como a natureza da edificação pode ser um dos principais fatores na determinação da estratégia adotada para o estabelecimento do novo interior. São descritas, em linhas gerais, estratégias para a análise de edificações, bem como são explicadas abordagens à introdução de novos elementos nos espaços. Capítulo 7: O desenvolvimento de composições espaciais tridimensionais demonstra maneiras pelas quais é possível desenvolver uma enorme variedade de formas tridimensionais a partir de determinado diagrama de planejamento. Também são explicadas estratégias para a criação de maquetes, ilustrando como uma única planta baixa pode levar a muitas composições espaciais contrastantes. Capítulo 8: O projeto com o uso de cortes enfatiza a importância do corte de um interior como aspecto crucial para seu projeto. Este capítulo trata de como a forma vertical de uma edificação existente pode ser analisada, entendida e utilizada, bem como das oportunidades para o desenvolvimento da forma em corte do novo interior. Capítulo 9: A representação das organizações espaciais ilustra as maneiras como os designers de interiores empregam uma variedade de métodos para discutir questões espaciais complexas com seus colegas, clientes e membros da equipe de projeto. Também são abordados os tipos de desenho diagramáticos, ortográficos e à mão livre, bem como as maquetes. Capítulo 10: E agora? discute as etapas seguintes do processo do projeto uma vez estabelecida sua composição espacial. O capítulo descreve com mais detalhes o processo de desenvolvimento do projeto a fim de satisfazer as necessidades funcionais exatas, levando à etapa de detalhamento do interior e, por fim, à execução da obra.
CAPÍTULO 1 PONTOS DE PARTIDA
12
O LOCAL EXISTENTE
16
O CLIENTE
19
O PROGRAMA DE NECESSIDADES
12 Capítulo 1: Pontos de partida
Introdução É possível iniciar um projeto de design de interiores de diferentes pontos de partida, mas cada um deles influenciará de maneiras distintas a configuração do planejamento do esquema. Os pontos de partida principais para a maior parte dos projetos de design de interiores são: • O local existente • O cliente • O programa de necessidades Todos os projetos têm algum tipo de cliente. Uma pessoa pode contratar um pequeno projeto residencial e esperar que o interior resultante esteja adequado a suas necessidades e exigências específicas. Na outra extremidade do espectro de clientes, poderíamos ter uma corporação global gigantesca que encomenda uma série de interiores para seus escritórios de várias partes do mundo. Ainda que essas circunstâncias sejam absolutamente distintas, um denominador comum é o fato de que ambos os clientes exigem um interior que reflita seus etos particulares. Desenvolver um entendimento aprofundado do cliente pode ser o ponto de partida para criar projetos cujos resultados construídos reflitam seus valores. O trabalho do designer de interiores costuma estar inserido em alguma forma de contexto – em geral, uma edificação existente cujo tamanho, forma, materiais e método de construção podem contribuir para o modo como os novos espaços serão organizados. Em certas circunstâncias, o contexto pode ser a principal influência no desenvolvimento das plantas do prédio. Os interiores são formados a fim de criar espaços em que as pessoas possam desempenhar funções particulares: o uso ou o "programa de necessidades" ditará que tipos de espaço o projeto exige e como eles devem estar relacionados entre si. Para muitos programas de necessidades, há formatos de planejamento de eficácia comprovada pelo tempo que podem ser aproveitados pelo designer, mas há ocasiões em que o desenvolvimento de novas maneiras de atender a um uso em particular levará a uma abordagem original à organização espacial do interior. Seja qual for a situação, o designer de interiores precisará levar em consideração o programa durante o planejamento dessa organização. Dependendo do projeto, a proposta de design de interiores pode ser influenciada por todas essas preocupações. Este capítulo analisará as várias estratégias que um designer de interiores pode adotar no intuito de criar uma estratégia espacial que seja apropriada aos condicionantes e às oportunidades do projeto em questão.
O local existente O local ou sítio no qual um interior será criado geralmente oferecerá diversas oportunidades e condicionantes que podem ser fatores determinantes na abordagem de planejamento. Entre as características do local que podem influenciar a estratégia para a organização espacial de um projeto, podemos citar: • A história do local • Os espaços celulares ou compartimentações existentes • A grelha estrutural • A forma da edificação em corte
Abaixo A firma de arquitetura group8 projetou seus escritórios em um antigo prédio industrial em Genebra, Suíça, em 2010. Em resposta à história do local, o interior foi concebido como um depósito, levando à composição espacial definida pelos contêineres distribuídos no espaço.
O local existente 13
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4
2
9 1 6 7 5
Acima
Acima
Em 2012, Archiplan Studio projetou este pequeno apartamento em Mântua, Itália. O prédio existente consistia em dois volumes bem definidos e configurados por espessas paredes portantes de tijolo, e os espaços claramente compartimentados determinaram as oportunidades para a organização espacial do novo esquema.
A galeria White Cube, em Bermondsey, Londres, Reino Unido, foi projetada em 2011 por Casper Mueller Kneer Architects a partir da reciclagem de uso de um depósito da década de 1970. Foram criados três espaços distintos para exibições, além de um auditório, salas de exposição privativas, uma livraria e um depósito. A grelha estrutural existente determinou a organização dos espaços.
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Entrada Livraria Galeria norte Auditório Galeria sul 9×9×9 Salas de exposição privativas Arquivo Sala de reuniões
14 Capítulo 1: Pontos de partida
Estudo de caso O local existente Escritórios da Trace Architecture, Pequim, China / Trace Architecture
Trace Architecture reusou uma indústria aeronáutica desativada do norte de Pequim para criar um ateliê de arquitetura em 2009. O esquema resultante foi determinado pelas características do local existente. Em termos espaciais, o prédio era configurado por quatro módulos retangulares organizados de modo a formar duas partes bem distintas. A zona de entrada era composta de dois módulos com pédireito de quatro metros dispostos um na frente do outro, e este "túnel" conduziu à segunda área, onde os outros dois módulos foram colocados lado a lado, formando um grande volume cúbico com pé-direito de quase oito metros. A proposta responde a esses condicionantes espaciais ao inserir um novo elemento que acomoda a maior parte dos ambientes do escritório dentro do espaço linear inicial. Distribuído ao longo de dois pavimentos, esse objeto introduziu um ní-
vel de mezanino que cria espaços com pé-direito baixo e, uma vez que ocupou a metade da largura do espaço, acentuou seu aspecto de túnel. O agrupamento das áreas de apoio nessa zona deixou o grande volume cúbico livre para acomodar o salão do ateliê. O contraste criado entre a circulação limitada e a ampla área principal do ateliê propriamente dito torna este um esquema poderoso. A distribuição dos espaços internos também responde ao local existente em termos de materiais empregados. O prédio original foi despojado de suas camadas de decoração, revelando uma estética industrial brutalista definida por concreto, aço e madeira – a história do local age como um contraponto às linhas limpas dos novos elementos compostos de gesso cartonado pintado de branco, vidro jateado e vinil. Isso resulta em um esquema no qual um objeto novo e liso se insere dentro de uma casca robusta e extremamente texturizada.
Acima à esquerda e acima Um objeto construído e inserido na zona de entrada acomoda as áreas de apoio. Este novo elemento restringe ainda mais as proporções do espaço, enfatizando seu aspecto de túnel. Logo à esquerda Os croquis iniciais exploraram a ideia espacial de funções agrupadas dentro de uma caixa longilínea que foi "estacionada" no espaço longo e baixo existente.
O local existente 15
À esquerda O corte e as plantas baixas do esquema mostram como a proposta tira partido das características espaciais do local existente. Os equipamentos de apoio foram inseridos dentro do volume baixo e estreito, permitindo que o ateliê ocupasse o grande espaço aberto ao fundo.
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Área de trabalho Escritório Sala de chá Vão
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Entrada Sala de espera Recepção Escritório Depósito Corredor Sala de reuniões Área de trabalho Banheiro
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Planta baixa do mezanino 8 2
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9
Planta baixa do pavimento térreo À esquerda O esquema responde ao local existente em termos materiais: os novos elementos são brancos e lisos, em contraste com os materiais que já havia no prédio – escuros, texturizados e rústicos.
16 Capítulo 1: Pontos de partida
O cliente A maioria dos trabalhos de design de interiores envolve a criação de espaços que ofereçam suporte a alguma forma de atividade profissional ou comercial e, portanto, será promovida por um cliente. Em determinadas circunstâncias, o cliente pode simplesmente desejar a criação de um interior que seja apropriado ao uso particular e ao local em questão. Por exemplo, um fabricante de produtos farmacêuticos talvez queira instalar um escritório administrativo em sua indústria. Nesse caso, a exigência pode ser uma solução de espaço interior que ofereça um local de trabalho que case os requisitos funcionais e o prédio existente. Todavia, há ocasiões em que um cliente pede uma solução de interior que reflita sua identidade, etos ou aspirações e, nessas circunstâncias, o projeto provavelmente será conduzido pela identidade do cliente.
Abaixo Google, a corporação multinacional norte-americana, cria locais de trabalho informais, lúdicos e descontraídos para seus empregados, com a intenção de promover sua criatividade. No Reino Unido, a empresa criou o Campus, um espaço de trabalho compartilhado na fervilhante "Tech City" de Londres (a "cidade tecnológica"), oferecendo um local para as companhias start-up. Google contratou a firma Jump Studios para projetar o interior (finalizado em 2012), e, embora seja um espaço deliberadamente "sem marca", o esquema inclui muitas das ideias que foram usadas pela pri-
meira vez nos próprios escritórios corporativos da Google. O prédio foi totalmente desadornado a fim de criar um ambiente rústico, similar a uma garagem ou oficina, e os novos elementos agregados foram feitos com materiais baratos e utilitários. Juntos, eles formam espaços projetados para refletir as personalidades das jovens empresas start-up que usarão o prédio. A intenção era que este espaço de trabalho fosse muito diferente daquele típico de uma corporação bem estabelecida e, assim, incorporasse os valores que a Google deseja promover.
O cliente 17
À direita
Abaixo, à esquerda e à direita
Os produtos eletrônicos, computadores e software de uso pessoal produzidos pela corporação multinacional Apple Inc. têm a reputação de oferecer inovações tecnológicas junto com um design de uso intuitivo e fácil e uma simplicidade elegante e despojada. Essa filosofia corporativa está por trás de todos os aspectos das atividades da organização.
A primeira loja da Apple foi aberta em 2001 e hoje a rede de pontos de venda da Apple Inc. já conta com mais de quatrocentas unidades em catorze países. As lojas são incrivelmente bem-sucedidas: em termos de vendas por metro quadrado de loja, elas muitas vezes são as operações de varejo mais lucrativas de suas localidades. Originalmente concebidos pelo diretor executivo da Apple, Steve Jobs, junto com os designers da Eight Inc., os interiores conseguem materializar os atributos dos produtos da marca. O layout simples
destaca a experiência da compra, e a palheta de materiais contida apresenta detalhes elegantes a fim de criar um espaço aparentemente simples no qual os produtos são as estrelas. Além disso, o processo de venda foi reinventado: os visitantes podem usar os produtos de graça sem precisar fazer compras, e novas tecnologias são aplicadas para tornar cada um dos membros da equipe da loja um ponto de vendas móvel. Essa estratégia transforma as exigências de planejamento tradicionais de um espaço de varejo.
À esquerda Em 2013, Apple Inc. patenteou o design da sua loja, a Apple Store. A fachada de painéis de vidro, as luminárias retangulares embutidas no forro, os nichos de parede com prateleiras em balanço, as mesas de madeira retangulares e um banco oblongo no fundo do espaço instalado sob telas planas são características citadas como os elementos que, distribuídos de uma maneira particular, definem uma Apple Store. Este desenho estabelece o design patenteado das lojas.
18 Capítulo 1: Pontos de partida
Estudo de caso O cliente DAKS, Londres, Reino Unido / Alex Nevedomskis (Universidade de Kingston, Reino Unido)
Este projeto feito por um aluno em 2011 desenvolveu propostas de design para uma famosa loja de roupas masculinas da marca britânica DAKS. Muitas das decisões de design feitas para este projeto foram tomadas com base em um estudo sobre o cliente. A marca DAKS há muito tempo é sinônimo de estilo, tradição e elegância britânicos. Fundada em 1894, hoje é considerada a quinta-essência do luxo britânico e se especializa em alta costura e acessórios tanto para homens como para mulheres. Seu famoso House Check, um padrão de tecido xadrez, foi introduzido em 1976 e se tornou o símbolo internacional da casa. Ele é usado com
abundância nas várias coleções de roupas e acessórios da companhia. Localizada na área de Piccadilly, Londres, a loja está inserida entre as ruas Jermyn Street e Savile Row, ambas associadas à alfaiataria de cavalheiros. O prédio foi projetado em 1922 pelo famoso arquiteto britânico Edwin Lutyens para ser um banco, e seu interior apresenta muitos elementos tradicionais, como painéis de parede de madeira, piso de tacos e detalhes elaborados no forro que contribuem para estabelecer um ambiente masculino apropriado para o patrimônio da marca. O antigo saguão do banco é um volume cúbico com pé-direito duplo coroado por um forro
que apresenta uma grelha xadrez com nove quadrados. Essas caraterísticas do local facilitaram a introdução de um novo mezanino, cuja forma quadrada e em grelha remete ao padrão de tecido House Check do cliente. As dimensões desses novos elementos "personalizados" foram definidas com base no espaço existente, e o novo nível de piso organiza o corte do prédio a fim de criar um pavimento térreo tradicional (configurado por painéis de madeira escura) e um mezanino moderno e bem iluminado. Os espaços contrastantes fazem alusão à história da companhia e à sua reinvenção como uma marca de moda contemporânea. Bem à esquerda Fundada em 1894, DAKS era uma das principais marcas de moda britânicas durante o século XX. No centro Introduzido em 1976, o padrão xadrez House Check da DAKS é um símbolo-chave da marca e está muito presente em suas várias linhas de roupas e acessórios. Logo à esquerda As coleções recentes da marca têm apresentado uma variedade de roupas contemporâneas que capturam o espírito da tradição da marca.
Logo à esquerda A organização da proposta envolveu a inserção de um novo piso "feito sob medida" a fim de criar um moderno nível de mezanino no espaço tradicional do pavimento térreo. A forma dos novos elementos responde à geometria do local (expressa no forro decorativo) e ao padrão xadrez House Check da marca DAKS.
O programa de necessidades 19
O programa de necessidades A organização espacial da maioria dos projetos de design de interiores é ditada pela função do prédio ou pelo "programa de necessidades". É fundamental que o esquema ofereça os espaços necessários às atividades envolvidas e garanta que elas estejam distribuídas de modo apropriado, a fim de facilitar o uso particular. Embora seja importante que o esquema responda às oportunidades apresentadas pelo contexto do terreno e expresse o etos do cliente, em última análise o interior deve funcionar para as pessoas que o usarão. Um único uso principal pode ser acomodado de várias maneiras, e isso resultará em plantas baixas muito diferentes, que oferecerão aos usuários experiências completamente distintas. Cabe ao designer de interiores fazer a coreografia do uso dos visitantes do interior a fim de proporcionar uma experiência adequada. Os restaurantes, por exemplo, apresentam um programa de necessidades objetivo que pode ser organizado de vários modos, conforme as circunstâncias. Muitos fatores influenciam o planejamento de um restaurante: os restaurantes mais caros em geral oferecem mais espaço para cada cliente; os arranjos de mesas são manipulados para criar diferentes ambiências; e vários sistemas podem ser empregados para fazer os pedidos e servir os alimentos, como o uso de garçons, o autosserviço e o autosserviço com assistência. Cada estratégia para servir os alimentos requer um arranjo distinto, que é determinado pela natureza precisa do programa de necessidades específico. Acima de tudo, os restaurantes são ambientes interessantes, pois combinam com perfeição ambientes de lazer relaxados (para os clientes) com espaços de trabalho muito movimentados (para os funcionários). Para que um restaurante tenha sucesso, seu interior deve atender às necessidades de ambos os grupos.
Acima
Abaixo
Ippudo é um restaurante japonês de massas em Sydney, Austrália, projetado por Koichi Takada Architects e terminado em 2012. A planta baixa do interior foi determinada pelo programa de necessidades: as áreas de serviço (cozinha, recepção e bar) são distribuídas em U, envolvendo o espaço e deixando uma área central quadrada para os clientes. O planejamento do espaço para as mesas foi determinado por uma variedade de arranjos de assentos que oferecem aos clientes a experiência que eles escolherem: se sentar em banquetas, a uma longa mesa do tipo usado em refeitórios ou a mesas de formato orgânico. Os diferentes tipos de mesas foram contemplados pelo esquema.
Em 2009, Andres Remy Arquitectos terminaram o Get & Go, um restaurante de comida para levar em Buenos Aires, Argentina. O programa de necessidades respondeu ao nome do restaurante ("pegue e saia") e ditou o planejamento, de modo que os clientes são atendidos ao longo de uma eficiente sequência de eventos para rapidamente "pegar" os produtos e "sair". Os clientes entram pelo lado direito da loja e circulam ao redor de um balcão que está no meio do espaço central e que funciona como uma ilha pela qual eles devem passar, onde podem fazer seus pedidos e pagar pelo café e pelos alimentos. A seguir, há uma área onde os clientes esperam para pegar sua refeição e uma porta de vidro para a saída. Uma terceira porta (opaca) é utilizada para os funcionários terem acesso à cozinha, ao fundo.
6 6 4
3
5 1 2
1 2 3 4 5 6
Caixa Cafés Balcão Cozinha Entrega de produtos Banheiro
20 Capítulo 1: Pontos de partida
À esquerda Em 2012, Integrated Field criou Coca Grill, um restaurante em Bangkok, Tailândia, especializado na comida asiática que tradicionalmente é vendida nas ruas. Como resposta ao programa de necessidades, os designers desenvolveram um módulo para refeições que captura a essência de uma carrocinha de venda de alimentos, e esses módulos foram distribuídos no interior do restaurante. A organização espacial resulta da instalação desses elementos.
À esquerda e abaixo Este esquema com restaurante e livraria se localiza em um museu e centro cultural na cidade espanhola de Santiago de Compostela. Completado em 2010 por Estudio Nômada, o interior foi concebido como uma coletânea de móveis em grande escala, cada um atendendo a uma das funções identificadas pelo programa de necessidades. Um longo balcão serve tanto para o bar como para o atendimento da livraria; um volume cilíndrico cria um espaço para escritório; e as duas longas mesas de refeitório foram colocadas sob estruturas em forma de árvores abstratas que nos remetem aos encontros comunitários dos festivais de rua da região. Todos os elementos foram instalados de maneira temporária, com a intenção de que os elementos não interfiram na arquitetura do prédio que os recebe.
Loja
Café/Restaurante Escritório
O programa de necessidades 21
Estudo de caso O programa de necessidades Restaurante Sushi-teria, Nova York, Estados Unidos / form-ula Inserido em um edifício de escritórios de Nova York, o Sushi-teria é um pequeno restaurante de comida para levar que serve sushi personalizado, inaugurado em 2012. A tecnologia inovadora que a loja emprega teve forte impacto no planejamento do interior: os clientes usam telas sensíveis ao toque e um aplicativo para fazer seus pedidos. Isso resultou em um arranjo no qual quase a metade do espaço foi dedicado à cozinha, com o restante da planta baixa consistindo no balcão de atendimento e na área que os clientes usam para fazer seus pedidos. Devido a esse sistema, as funções do balcão se reduzem ao pagamento e à retirada dos alimentos, possibilitando um serviço mais eficiente. Acima O programa de necessidades do restaurante introduz um processo digital de pedidos que condiciona a planta baixa do espaço dos clientes: a organização estabelece uma clareza de propósito e, ao mesmo tempo, otimiza o número de terminais dentro da zona. Abaixo A loja foi projetada com extrema clareza, e a fachada totalmente envidraçada oferece aos transeuntes uma vista totalmente desimpedida do interior.
À esquerda A planta baixa simples e clara foi dividida em três espaços adjacentes e bem definidos: a cozinha, o balcão de atendimento e a zona dos clientes. O novo sistema digital de pedidos torna a zona do balcão mais eficiente, uma vez que suas funções são reduzidas ao pagamento e à retirada dos alimentos.
CAPÍTULO 2 O USO DOS ESTUDOS DE PRECEDENTES
24
AS LIÇÕES DA HISTÓRIA
26
OS PRECEDENTES DO LOCAL
27
A ORGANIZAÇÃO DOS PRECEDENTES
30
OS PRECEDENTES NA CIRCULAÇÃO
33
APRENDENDO COM AS OUTRAS DISCIPLINAS
24 Capítulo 2: O uso dos estudos de precedentes
Introdução O design de interiores raramente é feito de modo isolado – um projeto específico pode exigir do designer que ele desenvolva uma resposta a um programa de necessidades totalmente novo ou a um conjunto de circunstâncias sem precedentes, mas, em geral, os projetistas aprendem com o que já foi feito. O uso de precedentes significa o aproveitamento de exemplos anteriores que possam inspirar e justificar uma decisão de design similar quando surgem circunstâncias comparáveis. Os designers inexperientes muitas vezes ficam obcecados com a originalidade e acreditam que é essencial criar propostas que sejam novas e não tenham precedentes. Na realidade, essa é uma abordagem pouco realista e que não ajuda muito, pois as edificações vêm sendo projetadas há milhares de anos, e os designers de interiores devem entender que é nesse contexto que eles devem realizar seu trabalho. Muitos projetos de design de interiores simplesmente deverão funcionar dentro dos limites estabelecidos pelo tema, outros contribuirão para seu desenvolvimento e evolução, e alguns poucos revolucionarão e redefinirão a maneira como a disciplina é trabalhada. Os precedentes podem ser empregados para inspirar e justificar qualquer aspecto do processo de design, desde o percurso de entrada em um prédio à linguagem dos detalhes, à seleção dos materiais e à especificação dos móveis. Ao considerar a organização espacial de um esquema de design, o estudo dos precedentes pode ajudar o projetista a estabelecer estratégias apropriadas para a introdução de um novo elemento em determinado local, a organização dos espaços ou as estratégias de circulação utilizadas para conectá-los. Além de uma preocupação obsessiva com a prática contemporânea, o desenvolvimento de um conhecimento amplo e profundo da história do design de interiores, da arquitetura e de suas disciplinas relacionadas sempre contribui para o trabalho do designer de interiores, permitindo-lhe tomar decisões embasadas que aprimoram o projeto. Este capítulo analisará modos pelos quais os estudos de precedentes podem ser empregados a fim de inspirar o desenvolvimento de propostas de design, especialmente em relação à organização espacial de um interior.
As lições da história Os projetistas sempre fizeram referências ao passado, mas talvez seja importante esclarecer a diferença que há entre "fazer referências ao passado" ou "citá-lo" e fazer uma cópia cega da obra de outros profissionais. A história do design de interiores está intimamente relacionada com a história da arquitetura, e muitas vezes é possível traçar as raízes históricas de um esquema particular fazendo conexões entre os vários projetos que juntos compõem uma "árvore genealógica" de trabalhos que exploram um tema ou uma ideia em particular. Nessas circunstâncias, cada "geração de projeto" pode agregar valor ao tema, levando a ideia adiante ou lançando-a em uma direção diferente para que outros continuem desenvolvendo o tema no futuro.
Acima
Abaixo
O croqui que Mies van der Rohe fez para a Casa de Vidro em uma Colina (c.1934) explora a ideia de uma casa como volume retilíneo que flutua sobre um terreno íngreme.
A proposta de Mies van der Rohe influenciou o conceito da casa Zipup (1968) de Richard Rogers, na qual a forma desenvolvida é a de um perfil tubular de seção retangular com uma extremidade envidraçada.
As lições da história 25
Acima O conceito da casa Zip-up embasou, posteriormente, na casa que Richard e Su Rogers construíram para os pais dele no Sudoeste de Londres, Reino Unido, em 1969. Essa casa pioneira, por sua vez, influenciou diversas edificações subsequentes.
iluminação natural zenital (regulável)
iluminação e manutenção por dentro da estrutura
À direita É difícil imaginar o Centro Sainsbury de Artes Visuais projetado em 1978 por Foster + Partners para Norwich, Reino Unido (aqui mostrado em um diagrama em corte), sem fazer referência ao precedente estabelecido pela casa Rogers de Londres.
transparência, com vistas da paisagem
parede dupla com cavidade, para instalações
26 Capítulo 2: O uso dos estudos de precedentes
Os precedentes do local O local de um projeto muitas vezes apresenta características particulares que criam desafios distintos para o designer de interiores. Isso pode envolver o tipo de edificação (o reúso de uma igreja, por exemplo), a técnica de construção (uma construção vernacular de madeira), a forma da edificação
(um prédio com planta baixa redonda) ou sua condição atual (o que leva a questões relativas à conservação, restauração ou reforma). Nessas circunstâncias, o conhecimento de respostas anteriores àquela questão pode ser um importante fator que contribui para a solução.
Bem à esquerda Esta lavanderia industrial do sudoeste de Londres, Reino Unido, foi utilizada como o local para um projeto de estudantes, uma vez que sua condição atual apresentava uma oportunidade para que eles considerassem como as máquinas desativadas poderiam ser incluídas nas propostas de projeto. Há muitos precedentes que podem servir de base para um trabalho desse tipo.
À esquerda Em 1997 a firma Foster + Partners completou um projeto em Essen, Alemanha, que transformou o prédio de uma usina elétrica de um complexo de mineração de carvão do início do século XX em um centro de design. Um aspecto crucial do projeto era a conservação e restauração do prédio, e muitos dos elementos industriais do prédio foram mantidos para estabelecer um contraste com o novo interior. O esquema usa uma estratégia ousada para se trabalhar edificações de caráter industrial.
À esquerda Uma velha siderúrgica de Rother ham, Reino Unido, foi transformada no Magna, um "centro de aventuras científicas". Finalizado em 2001 por Wilkinson Eyre Architects, o esquema define uma abordagem ao trabalho em espaços industriais desativados: grandes pavilhões novos parecem "flutuar" dentro de um prédio existente que ficou aparentemente intocado.
A organização dos precedentes 27
A organização dos precedentes Os interiores podem ser organizados com o uso de vários métodos diferentes, incluindo as estratégias linear, radial, do agrupamento e da malha. Muitos designers já usaram essas táticas em diversas ocasiões a fim de atender a inúmeras exigências de organização espacial. O conhecimento das abordagens que já foram empregadas anteriormente pode ajudar a embasar as decisões de
projeto que tomamos hoje e permitir aos designers de interiores que desenvolvam um esquema de modo confiante. Além da abordagem tomada para o lançamento do layout e a organização dos espaços, os métodos empregados para definir e diferenciar os espaços serão de suma importância. Os exemplos anteriores podem nos ensinar muito sobre as estratégias mais apropriadas para determinado projeto.
Abaixo
Abaixo
No início da década de 1920, o designer holandês Theo van Doesburg foi um dos fundadores do movimento De Stijl, cujos membros eram os pioneiros da ideia do espaço definido pela composição de planos que se interceptam. Esse método de configuração do espaço vem tendo um importante impacto no desenvolvimento do design de interiores.
Stefan Zwicky desenhou um estande para exposições para o fabricante de carpetes Melchnau usar na feira industrial Heimtextil, em Frankfurt, Alemanha, em 1993. A instalação era uma composição de planos verticais que se sobrepõem embasada na obra de van Doesburg.
À esquerda Concluído em 2012 por i29, o "local de trabalho social" Combiwerk da cidade holandesa de Delft é uma composição de planos verticais e cores vivas – uma abordagem que tem suas origens na obra de van Doesburg.
28 Capítulo 2: O uso dos estudos de precedentes
Estudo de caso Os precedentes espaciais: um espaço dentro de outro Casa de Vidro, New Canaan, Estados Unidos / Philip Johnson A Casa de Vidro projetada por Philip Johnson é uma das edificações pioneiras do século XX. Concluída em 1949, ela tem diversos atributos que fizeram com que fosse considerada um dos prédios mais importantes do período. Johnson é tido como um arquiteto fundamental para a introdução do modernismo europeu nos Estados Unidos. Ele descreveu o prédio como "uma câmara de compensação* de ideias que podem ser posteriormente filtradas, seja em minha própria obra, seja na dos outros" e, como tal, poderia ser visto como uma tentativa deliberada de estabelecer uma série de precedentes que seriam explorados por projetistas futuros. Na Casa de Vidro, Johnson resolveu inúmeras preocupações antigas que passaram a influenciar a obra de muitos designers.
À direita A forma cilíndrica contém a lareira e um banheiro com bacia sanitária, lavatório e ducha. Ela foi inserida na planta baixa como se fosse um objeto solto, estando cuidadosamente posicionada a fim de definir as zonas estabelecidas pelo volume aberto que resta. Abaixo Observado do caminho de pedestre, o prédio pode ser perfeitamente considerado como uma caixa retangular transparente que acomoda uma forma cilíndrica maciça.
*Na citação original, Johnson fala em clearing house, uma expressão sibilina que pode significar tanto "câmara de compensação" como "casa na clareira" (N.T.).
A organização dos precedentes 29
Essas preocupações incluem: • O uso de um plano de base elevado no qual o prédio se apoia • O estabelecimento de um plano aéreo que define o volume • As vedações transparentes que tornam indistintos o interior e o exterior • A organização do interior em planta livre Talvez o maior precedente estabelecido por este prédio seja a ideia de "um espaço dentro do outro". Essa estratégia é particularmente efetiva na Casa de Vidro porque todo o programa de necessidades da edificação foi atendido com o uso de dois volumes, criando uma composição espacial de clareza excepcional. Isso fica ainda mais evidente pela maneira pela qual os espaços são articulados em termos de formas e materiais: uma caixa de vidro transparente acomoda um cilindro maciço de tijolo. Muitos designers de interiores têm conseguido empregar essa abordagem em situações subsequentes para obter ótimos efeitos.
Acima John Pawson criou um cômodo cilíndrico que seria lido como "um espaço dentro de outro" na exposição "Espaço Simples", instalada na Fondazione Bisazza, em Vicenza, Itália, em 2012.
Abaixo A sala de reuniões deste edifício de escritórios em Tianjin, China, foi concebida por Vector Architects como "um espaço curvilíneo dentro de outro espaço" (2012).
30 Capítulo 2: O uso dos estudos de precedentes
Os precedentes na circulação Durante o desenvolvimento do planejamento e da organização espacial de um prédio, a estratégia de circulação empregada será de importância particular. Isso pode envolver a consideração das rotas de circulação aos espaços por elas servidos ou a maneira como o percurso de circulação é definido ou articulado. A compreensão de como os maiores designers e arquitetos resolveram problemas similares no passado pode nos oferecer ideias valiosas de como desenvolver uma solução para o projeto em questão.
Abaixo, à esquerda
Abaixo
No início da década de 1960, Carlo Scarpa foi contratado para reformar o pavimento térreo da Fundação Querini Stampalia, um museu instalado em um palácio veneziano do século XVI. O prédio já havia sofrido diversas enchentes; assim, Scarpa inseriu um novo piso elevado no principal espaço para exibições. Nos locais onde o piso avança sobre os espaços adjacentes, ele pode ser lida como uma "bandeja" com bordas elevadas para conter as futuras inundações. O esquema introduz novos elementos a um prédio já construído de modo que fiquem "separados" e "distintos", e controla a circulação ao conduzir os visitantes em uma jornada através de um espaço existente sem alterá-lo. Muitos designers de interiores têm empregado essa abordagem como precedente para a criação de novos percursos de circulação em prédios existentes.
O Pavilhão Alemão da Bienal de Veneza de 2012 incluiu uma exposição denominada Reduza/Reuse/ Recicle, projetada por Konstantin Grcic. O esquema respondia ao local e ao tema da exposição usando passarelas (estruturas temporárias utilizadas durante enchentes ou marés altas para que os pedestres não se molhem) para conectar os espaços entre si. Empregadas nesse contexto de interior, as passarelas, que foram tomadas emprestadas da prefeitura de Veneza, fazem referência à obra anterior de Scarpa.
Os precedentes na circulação 31
À esquerda A proposta que Foster + Partners fizeram em 1987 para a loja Katherine Hamnett em Londres, Reino Unido, teve de resolver o problema de como atrair os clientes para passar por um túnel pouco interessante que os levava da rua a uma loja ocupando um antigo espaço industrial atrás dos prédios adjacentes. A solução criou uma jornada belíssima ao introduzir um único elemento imaculado: uma passarela de vidro iluminada por baixo. A passarela levemente arqueada traçava um percurso sinuoso, conduzindo os visitantes à loja. A maneira como a nova passarela se relaciona com a arquitetura existente é uma referência à obra de Scarpa.
Iluminação diurna zenital
Surpresa
O túnel
Mistério
Uma passarela de luz feita de vidro
Entrada
À esquerda Para sua proposta de 1992 para a Galeria dos Dinossauros no Museu de História Natural de Londres, Reino Unido, a UK Imagination introduziu uma nova passarela no espaço com pé-direito duplo, permitindo aos visitantes que vejam um grande espaço para exposição em ambos os lados. A nova estrutura de aço contrasta com os elementos decorativos do prédio existente. A obra precursora de Scarpa inspirou a relação entre as estruturas novas e as anteriores, bem como o modo como a circulação é controlada.
32 Capítulo 2: O uso dos estudos de precedentes
Estudo de caso Os precedentes da circulação: um percurso controlado Lojas da Ikea e da Tiger Ikea busca oferecer às pessoas produtos domésticos que sejam bem desenhados, funcionais e de preço acessível. Desde a inauguração de seu primeiro showroom de móveis em Älmhult, na Suécia, em 1953, Ikea se tornou uma marca icônica, com pontos de venda presentes em mais de quarenta países. Nos últimos sessenta anos, essas lojas se desenvolveram e se tornaram ambientes com os quais a maioria das pessoas está familiarizada – em geral, são hipermercados fora da cidade que compreendem três seções de varejo: o "showroom", a "feira" e o "depósito", além de um restaurante. Os clientes, ao chegarem, são incentivados a visitar o restaurante ou caminhar pelo showroom, onde os produtos são apresentados em ambientes que representam cômodos, e os móveis são agrupados nas categorias apropriadas. Quando saem do showroom, eles têm outra oportunidade de visitar o restaurante ou podem pegar um carrinho de compras e passar pelo "mercado", onde podem selecionar dentre os milhares de produtos em exposição. Por fim, os clientes entram no depósito, onde itens volumosos são armazenados próximos à área dos caixas. A circulação dentro das lojas é cuidadosamente planejada a fim de promover um fluxo com mão única, forçando os visitantes a passarem por tudo o que a loja tem para oferecer. Embora existam atalhos e seja possível caminhar no contrafluxo da circulação, a maioria dos clientes acaba seguindo os demais, praticamente formando uma fila de pessoas. Essa ideia de planejamento simples cria um ambiente de varejo incomum que tem desfrutado de enorme sucesso. Tiger, outra companhia escandinava, tem como proposta oferecer aos clientes produtos bons e baratos com estilo, em um ambiente divertido. Esta loja dinamarquesa opera em uma escala muito menor que a da Ikea, e seus pontos de venda geralmente se localizam em shoppings tipicamente urbanos. As lojas da Tiger adotam uma estratégia de planejamento e circulação inspirada no modelo da Ikea: as prateleiras com produtos são usadas para definir uma circulação que leva os clientes em um percurso de mão única, da entrada à saída, passando por todos os produtos da loja ao longo do caminho.
Espaços de trabalho
Dormitórios
Cozinhas
Atalho Salas de jantar Roupeiros e armários
Atalho Armários de salas de estar
IKEA infantil
IKEA Restaurante Caixas & Cafeteria
Você está aqui Salas de estar
Entrada/Saída Acima Um diagrama desenhado para explicar o layout de uma loja Ikea a seus clientes mostra como os visitantes são conduzidos da seção inicial do "showroom" em uma rota linear prescrita, passando por uma sequência de zonas, nas quais os móveis são exibidos em espaços que reproduzem cômodos e por categoria de produtos.
Abaixo Embora tenham escala muito menor, as lojas da Tiger empregam a mesma estratégia da Ikea: a circulação é controlada a fim de criar uma rota de mão única, garantindo que os clientes vejam todos os produtos oferecidos antes de pagar e se retirar.
Aprendendo com as outras disciplinas 33
Aprendendo com as outras disciplinas Naturalmente, os designers costumam se basear em estudos de precedentes obtidos nas próprias disciplinas do design de interiores e da arquitetura, mas também há muitos exemplos nos quais ideias tomadas de outras disciplinas podem oferecer justificativa para uma abordagem particular. Esses exemplos podem vir de profissões intimamente relacionadas, como o design de móveis ou produtos ou o design gráfico, ou eles podem empregar ideias de outras áreas, como a ciência ou a natureza. Os designers frequentemente fazem referência ao mundo da arte, citando pinturas ou esculturas em suas decisões de projeto.
À esquerda e acima Líder da Knoll Planning Unit, Florence Knoll desenhou, em 1951, o showroom da companhia de móveis da Madison Avenue, em Nova York. Sua ideia foi fazer uma composição espacial informal de espaços sobrepostos, e a influência da pintura Composição Simultânea XXIV de Theo van Doesburg (1929) é evidente em sua proposta. O artista usou figuras retilíneas de cores primárias para explorar a definição de espaço; e essa obra seminal do movimento De Stijl influenciou muitos arquitetos e designers modernistas.
CAPÍTULO 3 O DESENVOLVIMENTO DE IDEIAS CONCEITUAIS
38
PONTOS DE PARTIDA CONCEITUAIS
39
CONCEITOS BASEADOS NO CLIENTE
41
CONCEITOS BASEADOS NO PROGRAMA DE NECESSIDADES
42
CONCEITOS BASEADOS NO LOCAL
44
CONCEITOS BASEADOS NA ABORDAGEM DE DESIGN
36 Capítulo 3: O desenvolvimento de ideias conceituais
Introdução Antes de tudo, um projeto de interiores deve funcionar bem para a atividade à qual seu projeto se destina. Deve-se considerar como pressuposto fundamental que o designer de interiores profissional criará espaços que servirão em termos práticos para os usuários finais. Além disso, o papel do designer de interiores pode ser criar espaços que satisfaçam mais do que as exigências funcionais mais óbvias: espaços de grande beleza; espaços que atendam às necessidades emocionais e que envolvam e encantem os usuários; espaços que respondam à arquitetura existente de modo interessante e significativo; espaços que contenham uma história ou que reinventem o modo como os requisitos funcionais são atendidos e mudem a maneira como as pessoas usam um interior ou realizam uma atividade. Um bom interior oferecerá mais do que uma solução prática objetiva; para isso, um projeto de design de interiores geralmente é conduzido por uma ideia principal que é chamada de "conceito". Este capítulo identificará os diferentes tipos de conceito e as maneiras como as ideias conceituais podem ser geradas para os projetos de design de interiores.
O que é um conceito? Para um designer de interiores, um conceito poderia ser definido como uma ideia abstrata ou geral que contribua para as decisões tomadas durante o processo de projeto de modo que o resultado construído se torne mais coeso. Um conceito pode se relacionar com o projeto inteiro e afetar todos os aspectos das tomadas de decisão, desde o planejamento até o detalhamento e a especificação de materiais, ou pode ser aplicado a uma parte particular do processo de projeto, como um "conceito de planejamento", um "conceito de iluminação" ou um "conceito do uso de cores".
Nesta página A loja-conceito Oki-ni, na rua Savile Row em Londres, Reino Unido, foi finalizada em 2001 por 6a Architects. O conceito do projeto foi a inserção de uma bandeja de madeira inclinada dentro da pele de concreto, deixando uma série de espaços perimétricos que poderiam ocultar os provadores de roupas e a escada. A bandeja em forma de leque, que define o piso da loja, age como um elemento independente e separado das vedações do prédio existentes.
Introdução 37
Analogia, ideias e invenções O desenvolvimento de ideias é inerente a algumas pessoas, que, por isso, podem ser vistas como tendo um talento natural para o pensamento criativo. Ainda que isso possa ser verdade, a maioria dos designers pode criar diretrizes conceituais interessantes e apropriadas para seus projetos: em última análise, a geração de ideias é apenas uma questão de raciocínio, e os designers podem desenvolver métodos de pensamento a fim de se tornarem mais confiantes em relação à sua habilidade de criação. Paul Laseau, artista e arquiteto, acredita que boas ideias conceituais emergem como parte do "processo de descoberta". Ele sugere que "para o designer, o processo de descoberta consiste em duas partes: a invenção e a formação do conceito. A invenção busca a descoberta básica, a ideia original para o projeto; a formação do conceito converte a descoberta em uma proposição gráfica e verbal que pode dar uma orientação básica ao todo o desenvolvimento do projeto".1 Laseau observa que, de acordo com o designer de móveis David Pye, a invenção "apenas pode se dar de modo deliberado se o inventor puder discernir as semelhanças entre o resultado particular que ele está buscando e algum outro resultado que ele já viu e armazenou em sua memória" e que "o poder Nesta página Este projeto de um aluno propôs um ateliê e uma residência para um escultor acomodados em um prédio industrial. O conceito foi gerado com base na ideia de que seria possível fazer uma analogia entre um gaveteiro e a maneira de definição de um espaço interno. Como resultado, uma parede espessa foi introduzida a fim de separar o ateliê da casa. Uma maquete preliminar mostra a parede que foi concebida como se fosse um móvel gigantesco, com volumes em forma de gavetas que delas são retirados.
de invenção de um inventor depende de sua capacidade de ver analogias".2 Em outras palavras, a fim de desenvolver as habilidades necessárias para a criação de ideias e conceitos para qualquer disciplina, o designer precisa ter a capacidade de fazer comparações entre duas coisas distintas que compartilham algumas características. A capacidade de identificar determinados aspectos de um projeto e analisar como qualquer um desses componentes poderia oferecer uma oportunidade para o desenvolvimento de ideias que podem se manifestar em uma edificação é fundamental para a geração de ideias conceituais úteis e criativas dentro da disciplina do design de interiores. Esses aspectos de todos os projetos podem incluir o local, o uso planejado, o cliente, o orçamento e a vida útil do interior proposto. Qualquer uma dessas questões poderia ser uma fértil fonte de ideias para determinar a direção que um projeto assume. Para que uma ideia conceitual seja útil, ela deve ser uma ferramenta que ajuda na tomada de decisões que melhoram o projeto e o levam adiante. A ideia-chave que embasa o projeto deve ajudar – e não prejudicar – a proposta. 1 Paul Laseau, Graphic Thinking for Architects and Designers. Nova York, 2001, p. 142. 2 David Pye, The Nature of Design. Londres, 1964, pp. 65–66.
38 Capítulo 3: O desenvolvimento de ideias conceituais
Pontos de partida conceituais É possível criar conceitos com base em muitos pontos de partida, mas, para que uma ideia seja boa, em geral é melhor que a direção proposta apresente alguma relevância para o projeto em questão. Ao começar a trabalhar em uma proposta de projeto, o designer de interiores pode fazer uma análise de suas partes componentes, buscando identificar possíveis oportunidades para a definição de um conceito. O que é relevante variará de um projeto para outro, mas frequentemente pode emergir dos seguintes pontos de partida: • O cliente • O programa de necessidades • O local • A estratégia de projeto A abordagem conceitual a uma proposta muitas vezes terá diversas camadas, cuja inspiração pode depender de uma variedade de aspectos do projeto.
Acima Duas ideias de conceito embasaram a proposta que Dan Brunn Architects fizeram em 2007 para o showroom de uma empresa de venda de pedras em San Francisco, Estados Unidos. A primeira se relaciona com o tratamento da edificação existente e a maneira como os novos elementos se relacionam com essa pele (o revestimento de madeira do prédio foi jateado com areia a fim de criar um volume rústico no qual elementos imaculados seriam inseridos), ao passo que a segunda é uma abordagem de planejamento ousada, que envolve um único elemento que fatia todo o prédio e organiza as atividades internas.
Cobertura
Sistema de treliças de madeira
À direita Um diagrama que explica o conceito mostra o prédio como uma caixa vazia fatiada em duas por uma nova parede que percorre toda a sua extensão. Todos os espaços compartimentados são agrupados a fim de compor espaços "privativos" atrás da parede e permitir que o espaço aberto se torne o showroom "público". O esquema usa as treliças da cobertura existentes como um ponto de referência para a distribuição dos elementos do interior.
CAIXA VAZIA
DIVISÃO
Escritórios Parede-divisória feita por CNC (controle numérico por computador) Showroom Entrada "Cortina" dos guichês
INSERÇÃO
Pontos de partida conceituais 39
Conceitos baseados no cliente Há inúmeras maneiras como o cliente de um projeto pode se tornar o ponto de partida da ideia conceitual de um esquema. Os projetos comerciais às vezes se inspiram nas seguintes fontes, entre outras: • A natureza do negócio do cliente • Os produtos ou serviços do cliente • A identidade corporativa do cliente Os projetos residenciais muitas vezes são determinados pela história do cliente, pelos seus interesses ou pelas exigências funcionais particulares que eles têm para sua casa.
Abaixo, à esquerda e à direita
À direita
Em 2010, Dake Wells Architecture completaram este escritório para KLF Architectural Systems, um fornecedor de janelas de alumínio localizado em um centro comercial suburbano de Springfield, Missouri, Estados Unidos. A direção conceitual do projeto derivou da natureza do negócio do cliente e do fato de a empresa usar moldes para fazer peças extrudadas. O espaço do escritório foi concebido como um volume lançado para fora do shopping, criando um espaço de perfis cuja forma lembra a de um corte feito em uma peça de envidraçamento extrudada.
SIDE Architecture completou esta proposta para uma residência suburbana de três pavimentos em Chicago, Estados Unidos, em 2010. Os clientes haviam morado e viajado no sudeste da Ásia e queriam transpor o caráter do estilo de vida oriental para sua casa existente, então isso se tornou a base para a ideia conceitual do projeto. Tomou-se a decisão de manter as duas linguagens de arquitetura separadas uma da outra, motivo pelo qual foi introduzido um arranjo orgânico de painéis de madeira no pavimento térreo como um elemento independente. Este diagrama ilustra o relacionamento conceitual entre a casa e os novos elementos.
Molde de extrusão
Elemento extrudado empilhado (vista em planta baixa)
Funções: • Estar • Dormir • Comer • Banhar-se • Exercitar-se
PASSO A PASSO O DESENVOLVIMENTO DE UMA IDEIA DE CONCEITO O programa de necessidades para este projeto estudantil começava com a palavra "ouça" e a seleção do local. Os desenhos mostrados a seguir explicam como a ideia do conceito foi desenvolvida.
1
Investigação: o local do projeto é uma estação ferroviária, e decidiu-se estudar como o prédio poderia oferecer o ponto de partida para a definição do conceito.
4
Desenvolvimento da proposta: a representação bidimensional do som é transformada em uma forma tridimensional, cujo tamanho responde à edificação existente.
5
Resultado: um novo tipo de música interativa é criada quando o tom "bing bong" se manifesta como uma estrutura em forma de bolha que é inserida no espaço. Quando um usuário toca uma das plaquetas do volume rotatório, uma música é baixada em seu telefone celular.
2
Análise: o ruído de fundo gerado pela estação ferroviária é gravado; sua análise determina que o tom "bing bong", aproveitado para introduzir os avisos feitos pelo sistema de autofalantes, é o som mais importante do espaço.
3
Invenção: a gravação do tom é analisada com o uso de um software que transforma o som em uma forma visual.
Conceitos baseados no programa de necessidades 41
Conceitos baseados no programa de necessidades O programa de necessidades do projeto (ou seja, o fim ao qual a edificação se destina) pode ser uma rica fonte de material para o desenvolvimento das ideias do conceito para a organização espacial de propostas de design de interiores. Isso muitas vezes resulta em uma resposta "narrativa", na qual um aspecto particular da atividade proposta para o prédio é aproveitado para gerar ideias que podem se tornar a agenda do projeto. Um interior com um elemento narrativo conta uma história que os usuários do prédio podem entender e apreciar, e cada uma das partes da composição age como uma metáfora para o aprimoramento da experiência (veja o estudo de caso da página 45). Existem ocasiões em que a maneira como um programa particular dado é completamente reavaliado, e o designer desenvolve todo um novo sistema para resolver o problema proposto. Essa reinvenção de uma tipologia pode assumir a forma de uma grande ideia que se torna um conceito que exige uma nova abordagem ao planejamento e à organização espacial de uma proposta. Um bom exemplo disso seriam as lojas da Ikea, nas quais a ideia convencional de um espaço de varejo foi substituída por uma organização que, em resumo, divide a principal atividade em três zonas: o showroom, o "mercado" e a área do autosserviço (veja a página 32). Os clientes então navegam pelos espaços ao longo de uma rota linear que os encoraja a observar tudo aquilo que a loja tem para oferecer.
Nesta página Para esta proposta feita em 2008 para a cidade de Linz, Áustria, a firma x architekten adotou uma abordagem narrativa derivada do uso do interior para a acomodação de um centro odontológico. Fez-se uma analogia a um diagrama odontológico utilizado para identificar os dentes de uma pessoa e aproveitou-se seu potencial como esquema de planta baixa no qual o espaço entre a arcada dentária superior e a inferior se tornou a zona de circulação; os dentes viraram os painéis das divisórias; e os retângulos numerados representam os consultórios.
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1 Recepção/Sala de espera/Sala de escovação dos dentes 2 Dentista-chefe 3 Consultório e sala de higiene bucal 4 Técnico em odontologia 5 Sala dos funcionários 6 Sala de repouso 7 Esterilização 8 Sala de radiografia 9 Sala dos pacientes 10 Técnico
42 Capítulo 3: O desenvolvimento de ideias conceituais
Conceitos baseados no local As características da edificação existente muitas vezes serão a fonte de uma ideia de conceito que promove um projeto. Os conceitos que se relacionam com o local podem responder às seguintes características, entre outras:
Abaixo Neste projeto de um aluno, a história de uma garagem de ônibus da década de 1930 é aproveitada como ponto de partida para a definição do conceito da proposta. A análise do passado do prédio revelou desenhos que mostram os círculos de manobra dos ônibus que entravam e saíam da garagem. Esses arcos foram, então, utilizados como ponto de partida para a organização espacial de um esquema para uma agência de publicidade proposta para o espaço.
À direita Finalizado em 2008, este projeto coloca os escritórios de uma agência de publicidade em uma fábrica de sal desativada. A ideia do conceito criada por Hania Stambuk para a agência Pullpo em Santiago do Chile se fundamenta na abordagem adotada com a introdução de algo novo ao prédio existente. O aspecto de abandono do local foi preservado, e inclusive explorado, criando um contexto contrastante para os novos elementos que foram concebidos como instalações de arte que agem individualmente como "espaços dentro de outros".
• A história do prédio • A localização do prédio ou ambiente interno • O estilo da arquitetura do prédio existente • A condição do prédio • Os materiais utilizados na construção O emprego de uma tática espacial ousada, como a estratégia do "espaço dentro de outro" (veja a página 50), pode ser a força motriz conceitual da proposta. Embora isso possa ser visto como um conceito baseado em uma abordagem de projeto, seu sucesso muitas vezes dependerá do local em questão e será uma resposta a ele.
Conceitos baseados no local 43
Estudo de caso Conceitos de design 1 Cargo, perto de Genebra, Suíça / group8 A firma de arquitetura suíça group8 criou, em 2010, o Cargo para ser seu próprio ateliê. A proposta se baseia em uma ideia de conceito forte e multifacetada. Em primeiro lugar, a ideia do conceito se relaciona com o espaço no qual o interior foi criado. O projeto foi acomodado em um ambiente industrial desativado, assim foi desenvolvida uma abordagem conceitual a fim de conceber o espaço como uma instalação de armazenamento para grandes caixas. Em segundo lugar, decidiu-se tratar os contêineres de navegação como se fossem objets trouvés (objetos achados). O uso dos contêineres agrega uma narrativa conceitual ao projeto: as grandes caixas de metal coloridas fazem referência ao passado industrial do prédio e também são lidas como volumes que têm uma relação temporária com o espaço dentro do qual elas se inserem. Um contêiner poderia, a qualquer momento, ser enviado mundo afora, enquanto outro poderia chegar e substituí-lo. Em terceiro lugar, como resultado disso, o projeto se beneficia de uma forte abordagem conceitual para trabalhar com um prédio existente. Isso talvez fosse de se esperar em uma firma de arquitetura que está criando seu próprio ambiente de trabalho, mas, neste caso, a estratégia da instalação (veja a página 118) foi implementada de modo muito seguro. O prédio receptor foi reformado de modo simples, e os contêineres de navio encontrados foram inseridos no espaço de modo que gerassem um grande efeito na arquitetura. Juntos, eles criam um interior estimulante no qual os contêineres de cores aleatórias se justapõem ao prédio branco e despojado.
À direita As vedações arquitetônicas foram reformadas de modo simples e moderado a fim de criar um volume bastante funcional. Configurou-se um espaço branco e despojado que evidencia a natureza da arquitetura industrial e cria um pano de fundo adequado para os contêineres coloridos e o trabalho criativo da firma.
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Acima O diagrama do conceito para o arranjo do planejamento estabelece a ideia de que os contêineres de navegação encontrados serão "armazenados" uns sobre os outros contra uma das laterais do depósito, deixando o restante do pavimento térreo livre para o ateliê de arquitetura. As atividades que exigem separação ou isolamento são alocadas para cada contêiner, em pares ou trios, conforme o apropriado.
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Acima Uma isométrica do conceito mostra os contêineres empilhados dentro do depósito. No mezanino, os contêineres avançam, criando uma circulação por trás. Isso resolve um problema prático do planejamento e, ao mesmo tempo, transmite ao conceito a noção de um espaço de armazenagem dinâmico no qual os contêineres são constantemente removidos. As cores aleatórias dos objets trouvés contribuem para essa ideia.
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44 Capítulo 3: O desenvolvimento de ideias conceituais
Conceitos baseados na abordagem de design A estratégia empregada para criar uma linguagem tridimensional é geralmente é a principal propulsora para o desenvolvimento de uma proposta de design de interiores. Essa abordagem pode gerar resultados nos quais há um forte contraste entre o local existente e os novos elementos do interior que nele se inserem. A satisfação de empregar esta estratégia é que ela frequentemente permite a exploração de princípios tridimensionais fundamentais, como o uso de sistemas de modulação ou a maneira como os espaços Abaixo
À direita
Esta loja temporária foi concebida por architects ///byn como um interior transportável que pode ser instalado em locais do mundo inteiro. O conceito de 2011 feito para a loja desmontável Lunar em Xangai, China, explora uma abordagem de design que usa um sistema modular baseado em triângulos, os quais são então empregados para criar uma linguagem de design baseada em redes tridimensionais.
Este esquema feito em 2009 por h2O architectes para remodelar um dormitório de criança em Paris, na França, usa uma abordagem de design que considera os novos elementos do interior como um elemento de mobiliário uno e feito sob encomenda para o cômodo no qual seria inserido. Todos os requisitos funcionais foram integrados ao novo objeto, que se torna uma "inserção" no espaço existente.
podem ser definidos por meio de composições de planos e linhas no espaço. Uma abordagem de projeto pode investigar "o temporário" e as implicações que isso pode ter para o especialista no projeto de interiores que está trabalhando com uma vedação de arquitetura mais permanente. Como os novos elementos são introduzidos? Qual é sua vida útil? Eles serão reusados em outro lugar?
Conceitos baseados na abordagem de design 45
Estudo de caso Conceitos de design 2 Restaurante Mississippi Blues, San Francisco, Estados Unidos / Stanley Saitowitz | Natoma Architects O Mississippi Blues foi uma proposta não executada de 2008 para um restaurante de soul food no distrito de Fillmore em San Francisco, uma região há muito associada ao jazz e ao blues. O planejamento e a forma tridimensional da proposta se inspiram em uma ideia de conceito relacionada com a localização do restaurante e o tipo de comida que ele serve. O principal elemento do design é a forma de rio que serpenteia através do salão do restaurante. Ela consiste em cinco mesas de uso compartilhado, sobre as quais há um elemento no forro composto de centenas de perfis tubulares de latão, formando uma cortina ondulada que segue a planta das mesas. Em termos conceituais, as mesas representam o rio Mississippi, enquanto os perfis de latão suspensos são uma referência aos instrumentos musicais utilizados no jazz e no blues. Sendo fiéis a suas origens conceituais, os tubos de latão desempenham um papel acústico, servindo de defletores de som.
Acima Em resposta às referências musicais sugeridas pelo nome do restaurante e à sua localização no Distrito Fillmore de Preservação Histórica do Jazz, tirou-se inspiração da forma e das características materiais dos instrumentos de sopro, como trompetes, saxofones e trombones. À direita O interior proposto transmite bem a ideia do conceito, uma vez que centenas de tubos de latão que fazem referência a instrumentos musicais foram pendurados sobre as mesas de jantar de uso comum. Juntos, os tubos e as mesas parecem ser cobras serpenteando através do espaço. Os níveis de iluminação foram mantidos baixos, para aprimorar a ambiência do restaurante e focar a atenção no "rio" bem iluminado.
Acima O nome do restaurante, Mississippi Blues (uma referência ao tipo de comida que serviria), foi usado como ponto de partida. As pesquisas feitas sobre o estado do Mississippi levaram à investigação do rio do mesmo nome, e a forma sinuosa que este tem ao longo da paisagem se tornou a chave geradora da ideia do conceito do projeto.
Acima Os espaços de apoio funcionais foram distribuídos ao redor dos dois lados "fechados" da planta, liberando a área restante para o bar e o salão do restaurante. A ideia conceitual foi expressa na linha de mesas centrais de uso compartilhado, que assume a forma de um rio e serpenteia em direção à rua, diminuindo a distinção entre o interior e o exterior.
CAPÍTULO 4 ESTRATÉGIAS DE PLANEJAMENTO
48
AS RELAÇÕES ESPACIAIS
56
ESTRATÉGIAS DE ORGANIZAÇÃO ESPACIAL
64
ESTRATÉGIAS DE CIRCULAÇÃO
69
CIRCULAÇÃO E ESPAÇO
74
SOLUÇÕES DE PLANEJAMENTO
48 Capítulo 4: Estratégias de planejamento
Introdução Há algumas situações nas quais as necessidades funcionais de uma edificação podem ser atendidas com o uso de apenas um espaço, mas a maioria dos programas de necessidades da arquitetura é muito mais complexa do que isso: em geral, é necessária uma combinação de espaços a fim de criar um prédio que funcione bem para seus usuários. As estratégias de planejamento se baseiam em tomar decisões sobre como esses espaços devem se relacionar e como eles devem ser organizados para que o prédio funcione da maneira apropriada. O desenvolvimento de uma estratégia de planejamento para uma edificação envolve a consideração de três questões principais que serão, em última análise, combinadas a fim de criar um diagrama que determine como o prédio funcionará. Em primeiro lugar, é importante pensar sobre como os espaços poderiam se relacionar uns com os outros em termos tanto de proximidade como de individualização. Esse aspecto da obra trata das relações espaciais. Em segundo lugar, é importante determinar como os espaços poderiam ser organizados entre si de modo que o prédio possa funcionar da maneira necessária. Uma política clara para a localização e organização dos espaços de um interior pode ser chamada de estratégia espacial. A terceira consideração trata de como os espaços se conectam e dos percursos que as pessoas podem escolher ou serem forçadas a adotar através de um prédio a fim de acessar os equipamentos oferecidos por ele. Isso implica a determinação da estratégia de circulação de um interior. Este capítulo examinará como essas questões podem ser abordadas de modo que criem estratégias de planejamento significativas que permitam que um interior tenha o desempenho necessário.
As relações espaciais Quando dois ou mais espaços distintos são necessários para que o interior de uma edificação funcione bem, é inevitável que tais espaços se relacionem. Há quatro maneiras fundamentais por meio das quais dois ambientes podem se relacionar, e elas podem ser descritas em termos bastante simples: • Um espaço dentro de outro • Espaços sobrepostos • Espaços adjacentes • Espaços conectados por um espaço comum Um espaço dentro de outro ocorre quando um ambiente se insere dentro do volume de outro ambiente maior, de modo que seja percebido como se fosse um objeto inserido naquele ambiente. O espaço menor poderia ser associado a um objeto escultórico exposto em uma galeria de arte, a qual corresponderia ao espaço maior. Uma relação de espaços sobrepostos é estabelecida quando dois ou mais espaços estão suficientemente definidos para garantir que cada um tenha sua própria identidade, mas podem ser organizados de modo que se sobreponham, deixando menos evidente onde termina um ambiente e onde começa o outro. O espaço sobreposto pode ser percebido tanto como pertencente a um desses espaços como estando compartilhado por eles. A relação mais comum e simples que pode haver entre dois espaços é a adjacência. Nesse caso, eles se localizam lado a lado, mas permanecem distintos, permitindo que atividades distintas ocorram em cada um deles. Para criar uma relação na qual os espaços são conectados por uma área comum, dois ou mais espaços são conectados por meio do acréscimo de uma área intermediária, que serve a todos os ambientes contíguos a ela. Esses princípios são relativamente simples, mas é crucial para o designer de interiores compreendê-los, uma vez que eles são adaptados, desenvolvidos, combinados e utilizados como a chave para a criação de interiores sofisticados, interessantes e estimulantes que satisfaçam às sutis exigências das funções de um prédio.
As relações espaciais 49
Um espaço dentro de outro
Espaços sobrepostos
Espaços adjacentes
Espaços conectados por um espaço comum
50 Capítulo 4: Estratégias de planejamento
Um espaço dentro de outro A ideia de "um espaço dentro de outro" oferece ao designer de interiores uma instigante oportunidade para a criação de composições bastante poderosas dentro de edificações existentes. Para que a estratégia seja bem-sucedida, é preciso que haja uma diferença clara nas exigências espaciais das atividades contidas nos dois espaços. O espaço receptor deve ser significativamente maior do que aquele que se insere dentro dele, de modo que o espaço menor possa ser lido como um objeto dentro do volume maior. Por exemplo, os espaços de uso íntimo que se destinam aos provadores de uma loja de roupas poderiam ser colocados como recintos soltos dentro do espaço maior da planta baixa da loja. Talvez um dos exemplos mais famosos desta estratégia na prática seja a Casa de Vidro de Philip Johnson, na qual o cilindro que contém o banheiro foi colocado como um objeto dentro da planta livre retangular da casa (veja as páginas 28–29). Ao usar esta estratégia, o designer de interiores pode manipular vários fatores para aumentar o impacto da abordagem. Ele talvez queira estabelecer uma simples relação entre o espaço receptor e o espaço nele inserido por meio de uma linguagem formal similar, das cores ou dos materiais
empregados em ambos. Todavia, talvez seja apropriado o estabelecimento de um diálogo entre os dois elementos, explorando como o espaço receptor poderia contrastar com o espaço menor que nele se insere – por exemplo, com o uso de formas, cores, texturas ou materiais contrastantes entre os dois espaços. Também podem coexistir vários ambientes dentro de apenas um espaço receptor. Todos esses espaços menores poderiam receber um tratamento idêntico ou ser tratados de modo similar, tornando-se uma família de ambientes relacionados. Eles poderiam, inclusive, ser elementos individuais, cada um diferente do outro e do espaço no qual eles se inserem. Uma das satisfações do trabalho com o design de interiores pode ser a intervenção em um contexto de arquitetura: seja o prédio novo ou velho, suas características particulares podem oferecer oportunidades fantásticas para a criação de contrastes com os novos espaços que nele forem inseridos.
Abaixo, à esquerda
Abaixo
Em 2001, Coussée & Goris criaram o centro para a promoção dos produtos flamengos de Vleeshuis, um salão medieval na cidade de Ghent, Bélgica. Uma caixa de aço e vidro ortogonal e moderna que abriga uma cafeteria foi inserida dentro da pele de alvenaria de pedra e madeira, salientando os elementos antigos e novos do local.
O Wapping Project, uma galeria e restaurante de Londres, Reino Unido, ocupa um prédio construído em 1890 para ser uma usina hidrelétrica que foi desativada na década de 1970. No projeto de reforma e reciclagem de uso completado por Shed 54 em 2000, preservou-se a condição original do prédio, mas novos elementos foram inseridos a fim de atender às necessidades de seus novos usos. Aqui, vemos um trailer que acomoda uma instalação de arte temporária, exemplificando a estratégia do uso de um espaço dentro de outro.
As relações espaciais 51
Logo à esquerda A Doca da Inovação é um centro de ensino e tecnologia acomodado dentro das antigas instalações da Companhia de Docas Secas de Rotterdam. O vasto espaço foi reformado, e, em 2012, um novo pavimento contendo escritórios e espaços para reunião foi construído dentro do volume por Groosman Partners. Concebida como um objeto retilíneo, a nova caixa é percebida como um espaço dentro de outro.
Logo à esquerda Neste projeto de criação de um espaço de trabalho para a Reactor Films de Santa Monica, Califórnia, os projetistas Brooks + Scarpa Architects transformaram o contêiner em uma sala de reuniões. Ainda que – como dizem os arquitetos – esse objet trouvé "tenha sido desconstruído a fim de revelar uma rica geometria texturizada de superfícies e vazios", ele é, em essência, um espaço existente que foi depositado dentro de um volume maior para criar um exemplo fantástico de espaço dentro de outro.
52 Capítulo 4: Estratégias de planejamento
Espaços sobrepostos
Abaixo O escritório de arquitetura canadense RUF Project projetou o Centro de Treinamento de Futebol da Nike em Soweto, África do Sul. Executada em 2010, a proposta apresenta espaços internos nos quais os acabamentos e materiais de construção são distribuídos em camadas, criando uma colagem de espaços que se sobrepõem e, ao mesmo tempo, são dinâmicos e informais.
Em muitas situações internas, é importante que os espaços sejam definidos de modo mais informal, de maneira que se sobreponham ou que um deles desemboque no outro. A identidade de cada espaço envolvido na composição pode ser mais ou menos dominante, e o espaço pode ser compartilhado por várias zonas. A forma e o posicionamento de pavimentos, paredes e tetos pode permitir que os espaços sejam definidos como entidades separadas, mas combinados conforme o necessário. Por exemplo, três espaços podem estabelecer uma relação de sobreposição na qual um espaço é definido por um plano de base (o piso), outro por um plano vertical (a parede) e o terceiro por um plano horizontal suspenso (o teto). No final do século XIX, Frank Lloyd Wright começou a explorar o conceito de que os espaços poderiam se sobrepor, e tais ideias resultaram na casa que o arquiteto construiu para sua família em Oak Park, Illinois, em 1889. Em uma série de estudos e edificações construídas na década de 1920, Mies van der Rohe desenvolveu maneiras como os espaços internos poderiam deixar de ser entidades celulares separadas e começar a se fundir. Sua proposta para a Casa de Campo de Tijolo (1923) introduziu uma composição de paredes soltas de alvenaria de tijolo que foram distribuídas de modo que criassem uma série de espaços que se sobrepõem e se conectam. A vila Tugendhat (Brno, República Tcheca, 1928–30) e o Pavilhão de Barcelona (1929) apresentaram, pela primeira vez, espaços sobrepostos na forma construída e revolucionaram a maneira como os ambientes internos poderiam ser planejados e utilizados.
As relações espaciais 53
Nesta página Combiwerk Delft, executada em 2012, é uma companhia de "espaço de trabalho social" que ajuda as pessoas com problemas físicos ou mentais a se recolocarem no mercado de trabalho. O escritório de arquitetura holandês i29 criou uma vedação cinza que, então, foi ocupada por ilhas de cores fortes. Os espaços se sobrepõem e se fundem dentro de cada uma das zonas di-
ferenciadas por cores, esmaecendo os limites entre as diferentes atividades que ocorrem em cada um deles. As camadas de vários tons do mesmo matiz foram cuidadosamente empregadas no intuito de realçar esta estratégia espacial.
54 Capítulo 4: Estratégias de planejamento
Espaços adjacentes A adjacência é a forma mais comum de relação espacial. Embora a ideia de criação de uma série de espaços fluidos, conectados e sobrepostos seja sedutora, em muitas circunstâncias é necessário criar um conjunto de espaços que sejam separados por divisões físicas, permitindo que cada um deles tenha sua própria identidade e acomode a atividade desejada. Os espaços adjacentes podem estar completamente divorciados uns dos outros (mesmo que estejam localizados lado a lado em planta, talvez o usuário não tenha como passar de um a outro) ou podem ter uma relação muito aberta: os dois espaços adjacentes poderiam até mesmo ser separaAbaixo
À direita
As galerias da Ala Sainsbury, uma ampliação da National Gallery de Londres, Reino Unido, podem ser acessadas do novo saguão de entrada do pavimento térreo por meio de uma escada monumental, elevadores ou uma passarela que conecta a nova ala ao antigo prédio existente. As novas galerias do terceiro pavimento são compostas de dezesseis salas separadas distribuídas em três fileiras contíguas. Nessas fileiras, os ambientes também têm uma relação de adjacência entre si. A firma de arquitetura Venturi, Scott Brown and Associates considerou que esse arranjo tradicional de espaços seria uma resposta apropriada para a coleção de arte protorrenascentista de padrão internacional que as novas galerias receberiam.
Inaugurado em 1991, o prédio apresenta galerias concebidas como recintos claramente individualizados, mas que desfrutam da relação espacial da adjacência. Uma vista através das galerias centrais mostra quatro espaços adjacentes, cada um definido como um recinto separado, o que permite que pinturas de pequeno tamanho possam ser apreciadas em ambientes mais acolhedores, enquanto as aberturas arqueadas que compõem o eixo central tornam possível que obras de arte maiores sejam vistas de uma distância apropriada.
dos por uma mera linha traçada no piso, como se fossem as duas metades de um campo de futebol. Assim, os designers de interiores dispõem de inúmeras alternativas entre estas duas abordagens extremas. Na verdade, um aspecto crucial do trabalho de um designer de interiores envolve a consideração de como os espaços adjacentes podem ser definidos de modo não tão absoluto – isto é, sem estarem completamente abertos ou totalmente fechados. Esta situação intermediária oferece a oportunidade para que os espaços se distingam de maneira interessante.
As relações espaciais 55
Espaços conectados por um espaço comum Uma série de espaços pode estar distribuída de modo que fiquem separados uns dos outros, mas conectados por um ambiente comum adicional. Essa relação espacial permite que espaços relacionados mantenham sua autonomia e, ao mesmo tempo, preservem a relação que têm com uma entidade em especial. Compartilhado pelos espaços separados, o espaço comum age como uma zona de transição de um espaço a outro, permitindo que o usuário escolha quais espaços entrará e em que ordem os visitará. Exemplos típicos deste modo de arranjo incluem um complexo com várias salas de cinema no qual diversas salas de exibição são conectadas por um grande saguão; um museu no qual uma
série de espaços para exposição é distribuída ao redor de um espaço de uso comum; ou uma escola na qual as salas de aula são organizadas ao redor de uma zona social. Dependendo das atividades que ocorrem em cada um deles, os espaços que estão sendo conectados podem ser maiores ou menores do que o espaço comum por eles compartilhado, podem ter todos o mesmo tamanho ou ter tamanhos diferentes e podem estar organizados de modo formal ou informal. As oportunidades oferecidas pelo local e pela natureza exata do programa de necessidades determinarão essas decisões. À esquerda Terminada em 2000, a proposta da Foster + Partners para o Grande Pátio do British Museum de Londres transformou um espaço externo negligenciado em um espaço interno magnífico e bem iluminado, que se tornou o "coração" do museu.
Abaixo Uma nova estrutura de cobertura de aço e vidro cria um pátio interno que configura o espaço comum de conexão da sala de leitura cilíndrica central da British Library com a entrada do museu e os espaços das galerias distribuídos ao redor dos quatro lados do pátio quadrado.
Logo à direita
Bem à direita
Antes do replanejamento, o pátio interno era utilizado como uma área de depósito improvisada e ficava fechado ao público. Como as galerias foram distribuídas ao redor do pátio interno, elas se tornaram uma série de espaços adjacentes organizados em uma configuração linear que havia se tornado confusa com o passar dos anos. O espaço subutilizado entre as galerias e a sala de leitura cilíndrica ofereceu uma oportunidade para a reinvenção do museu.
Um espaço que antes era residual e mal utilizado se tornou um volume com iluminação espetacular apreciado pelos visitantes o ano inteiro. O novo espaço compartilhado acomoda diversos equipamentos de uso dos visitantes, inclusive pontos de informação e exposições temporárias, além de lojas, cafeterias e restaurantes. O Grande Pátio também oferece aos usuários um ponto de referência claro, ajudando-lhes a entender a configuração dos recintos que ele reúne.
56 Capítulo 4: Estratégias de planejamento
Estratégias de organização espacial Quando o interior de uma edificação é planejado, os modos fundamentais como os espaços se relacionam talvez sejam o primeiro aspecto a ser entendido, mas o segundo ponto que o designer deve levar em consideração provavelmente é a estratégia que empregará para organizar tais espaços. Há cinco estratégias bem distintas que o designer de interiores pode usar para isso: • Arranjo linear • Arranjo em grelha • Arranjo radial • Arranjo centralizado • Arranjo em grupo
de diversos espaços ortogonais com dimensões idênticas ou trabalha com um módulo, fazendo com que todos os espaços individuais se relacionem com o tamanho da grelha organizadora (por exemplo, sendo formados por espaços de dois ou três módulos unidos). O arranjo radial é criado quando diversos espaços se afastam em relação a um espaço de origem. Os espaços radiais podem estabelecer uma relação simétrica ou assimétrica com o espaço de origem e podem ser idênticos ou diferentes entre si. O arranjo centralizado ocorre quando apenas um espaço ocupa o centro de uma configuração e vários outros espaços se organizam ao redor dele. Os espaços circundantes podem ser todos iguais ou mesmo totalmente diferentes.
O arranjo linear envolve a distribuição de vários espaços em um alinhamento. Esses espaços podem ser tanto idênticos como totalmente diferentes uns dos outros.
Diversos espaços idênticos ou diferentes entre si podem estar combinados de modo informal por meio da estratégia do arranjo em grupo. Nesse caso, o tamanho e formato dos espaços individuais podem variar e ser organizados em configurações assimétricas nas quais os espaços se sobrepõem.
Quando o arranjo em grelha é empregado, um conjunto de espaços é organizado ao redor de uma rede formal de linhas (geralmente distribuídas de modo que formem uma malha ortogonal). Essa estratégia pode ser tanto bidimensional (usada em planta) como tridimensional (usada em volume). Em um arranjo tridimensional de espaços, a rede de linhas utilizada para dar forma à configuração incluirá os eixos x, y e z. Essa abordagem muitas vezes envolve a distribuição
Na realidade, a maioria dos problemas de design de interiores é complexa demais para que apenas uma das estratégias de organização de espaços consiga atender a todas as necessidades do programa, e a solução de planejamento bem-sucedida talvez empregue todas as táticas descritas anteriormente.
Arranjo linear
Arranjo em grelha
Estratégias de organização espacial 57
Arranjo radial
Arranjo centralizado
Arranjo em grupo
A estratégia de organização dos espaços de uma proposta de design de interiores pode empregar todas estas abordagens.
PASSO A PASSO O DESENHO DE DIAGRAMAS Os designers usam diagramas como meio de comunicação de ideias complexas em termos simples. Os diagramas são parte importante do processo de projeto, permitindo ao designer de interiores explorar um problema espacial e rapidamente identificar diversas soluções possíveis. Além de serem parte integral do desenvolvimento de uma proposta de design, os diagramas são ferramentas importantes quando é necessária a apresentação de propostas a colegas e clientes. Os diagramas devem esclarecer e simplificar a proposta, garantindo que seus aspectos cruciais se-
jam entendidos. Eles são frequentemente utilizados para discutir ideias e estratégias durante as etapas preliminares de um projeto, quando ainda estão abertas muitas alternativas para uma solução de design satisfatória. Como as propostas ainda estão abertas e indefinidas, muitas vezes é interessante transmitir seus conteúdos por meio de desenhos à mão livre, pois estes são mais imprecisos e menos "definitivos" do que os materiais gerados com o uso de um computador.
1
Linhas: as diversas características das linhas compõem a base de um bom diagrama. Podemos traçar linhas de vários pesos com o uso de canetas de diferentes espessuras, melhorando a legibilidade dos diagramas. Para a comunicação de informações distintas, também é útil empregar vários tipos de linha, como riscos imprecisos, tracejados, pontos e linhas e pontilhados.
2
Setas: vários tipos de setas podem ser utilizados para estabelecer diferentes modos de conexão em um diagrama. O peso das setas pode estar relacionado com a importância das conexões, e o tamanho das setas também pode dar informações sobre o fluxo de pessoas em rotas de circulação principais ou secundárias.
3
Figuras: as figuras geométricas simples permitem que um diagrama seja comunicado com clareza. Para representar uma hierarquia, os diferentes espaços podem ser "codificados" com o uso de figuras distintas, ou podemos usar uma única figura e variar seu tamanho. Os pesos de linha ou as hachuras podem enfatizar figuras particulares.
4
Palavras: a maioria dos diagramas precisa incluir letras ou palavras para que possa ser bem compreendida. É importante que o designer tenha uma caligrafia segura e legível, mas, se isso não for o caso, o texto pode ser criado sobrepondo-se uma folha transparente a um conjunto de fontes ou ser agregado com o uso de um software após a digitalização do digrama feito à mão livre.
5
Folhas sobrepostas: diagramas podem ser produzidos rapidamente e com confiança se traçados em uma folha transparente. Vários elementos úteis, como figuras geométricas, linhas, setas e textos, podem ser impressos com o uso de um computador e, então, utilizados em diagramas feitos à mão livre. Uma base impressa sobre um cartão com cores fortes será fácil de encontrar na mesa do designer.
6
Diagramas acabados: um diagrama bem-feito frequentemente incluirá diferentes tipos de linhas, setas, figuras geométricas e textos.
Estratégias de organização espacial 59
Arranjos lineares Talvez o modo mais simples de organizar espaços seja a estratégia do arranjo linear. Esta solução é apropriada para o uso em situações nas quais são necessárias clareza, simplicidade e facilidade de deslocamento do usuário. Outra consideração pode ser a economia – uma planta linear pode oferecer uma solução efetiva quando os recursos são limitados (o que pode ser uma questão de espaço, orçamento ou ambos). As tipologias de interior em que a estratégia do arranjo linear é comum incluem os escritórios compartimentados, os shopping centers, os edifícios de educação, a área de apartamentos dos hotéis e, inclusive, os interiores dos meios de transporte, como vagões de trens e aviões de passageiros. Embora uma configuração linear sugira uma série de espaços posicionados em linha reta, isso nem sempre ocorre: há vários tipos de espaço que podem, por exemplo, estar distribuídos em uma sequência linear que forma uma planta baixa circular. Quando se trata da forma que a proposta de planejamento do design de interiores adotará, as possibilidades sempre são ditadas pelos condicionantes da edificação na qual o interior será acomodado.
Abaixo Completado em 2010 por Bates Smart Architects, o Crown Metropol Hotel de Melbourne, Austrália, apresenta 658 apartamentos distribuídos ao longo de dezoito pavimentos. Em todos os pavimentos, as acomodações foram organizadas de acordo com a estratégia linear de organização dos espaços. Um corredor central atravessa o prédio de lado a lado, dando acesso aos apartamentos e às zonas de circulação vertical e, ao mesmo tempo, separando as acomodações de ambos os lados. O aspecto desagradável de um corredor tão longo é atenuado pela sinuosidade da planta baixa, que mostra como até mesmo um arranjo linear pode criar uma solução dinâmica.
Logo à esquerda Devido à forma da aeronave, o interior de um jato de passageiros inevitavelmente adota o planejamento linear. Na área da nova Primeira Classe da companhia Virgin Atlantic, criada em 2012 em uma colaboração entre a equipe de projetistas da empresa e a Pengelly Design, os assentos foram distribuídos em uma configuração linear em ângulo a fim de otimizar a densidade e ao mesmo tempo garantir o máximo de conforto.
60 Capítulo 4: Estratégias de planejamento
Arranjos em grelha Uma vez que os arquitetos frequentemente adotam os arranjos em grelha ao projetar os prédios nos quais o especialista em interiores trabalha, esta estratégia pode ser efetiva para o aproveitamento das oportunidades oferecidas pelo contexto. Assim como no caso dos arranjos lineares, a estratégia da grelha pode ser muito eficiente, permitindo que espaços funcionais sejam criados com relativa facilidade. É claro que, no mundo contemporâneo, as retículas às vezes são consideradas desumanas, e, de fato, uma organização em grelha muitas vezes é adotada naquelas situações em que o senso de ordem e controle é adequado – isso ocorre especialmente em locais de trabalho mais formais como centros de telefonia, fábricas e prisões. Já em uma biblioteca ou um supermercado, o arranjo em grelha pode ser o método perfeito para conferir ordem e clareza à vasta quantidade
Acima
À direita
No filme Tempo de Diversão, de Jacques Tati (1967), o principal personagem, Monsieur Hulot, se depara com uma série de cenários modernistas desumanos, incluindo este local de trabalho onde os empregados ficam isolados em cubos idênticos organizados em uma grelha rígida.
No Centro Cultural de Zlín, República Tcheca, Eva Jiricna Architects usaram uma grelha simples para organizar os assentos fixos do auditório losangular. Este projeto foi concluído em 2011.
de materiais pelos quais os usuários do interior precisarão passar e aos quais deverão ter acesso – nestes casos, as grelhas agem como coordenadas que lhes permitem alcançar localizações precisas com rapidez e facilidade. O arranjo em grelha também pode ser utilizado para criar um contraponto com a escala de uma edificação existente. Isso pode envolver o uso das dimensões da grelha da modulação no prédio, a fim de influenciar as dimensões da grelha empregada para a definição dos novos espaços internos, mas, neste caso, a nova grelha é inserida em uma orientação contrária, criando um diálogo entre o prédio já construído e o novo interior. Uma grelha completamente distinta também pode ser inserida no intuito de ordenar os novos elementos do interior dentro do espaço, oferecendo uma oportunidade para o aproveitamento dos contrastes possíveis.
À esquerda No saguão ANA do aeroporto Ota-ku, em Tóquio, Japão, finalizado em 2011 por Nikken Space Design, uma grelha de forro é utilizada para organizar as áreas de assento que ficam sob ela.
Estratégias de organização espacial 61
Arranjos radiais Embora existam muitos programas de necessidades que não permitam o uso de uma organização radial, também há inúmeras situações nas quais esta estratégia é a única solução possível. Uma solução de planejamento radial pode ter tanto apenas dois "aros" como um número enorme destes elementos que saem do espaço de uso comum que constitui o eixo. Cada um desses aros ou braços também pode ser idêntico aos demais e acomodar os mesmos equipamentos (como é o caso de um aeroporto, no qual uma série de portões de embarque pode irradiar do salão de espera) ou cada um dos braços pode ser único em termos de tamanho, forma e função (como em uma escola, na qual os diferentes braços conteriam a biblioteca, o refeitório, os equipamentos de esporte e as salas de aula). Abaixo Este croqui feito por Ron Herron em 1987 descreve um ateliê proposto para a empresa multidisciplinar de criação Imagination. A planta baixa se desenvolve a partir do centro de uso comum, do qual derivam os espaços para as diferentes equipes. Este croqui diagramático em planta explica o conceito de projeto de maneira vigorosa.
O espaço central de uso comum pode agir como um núcleo ou eixo que desempenha um apoio crucial às atividades localizadas nos vários aros que dele irradiam. Por exemplo, em um hotel, os apartamentos poderiam estar localizados nos aros, e os espaços de apoio estariam na área central. Embora talvez não seja possível para o designer de interiores que está trabalhando com um prédio já construído adotar uma estratégia de planejamento radial devido a restrições impostas ao local, é crucial para ele estar ciente dos condicionantes e das oportunidades que esse tipo de planta baixa oferece, de maneira que, quando se deparar com um terreno que foi organizado por meio de um esquema radial, ele saiba como tirar vantagem da situação.
62 Capítulo 4: Estratégias de planejamento
Arranjos centralizados Ainda que existam algumas semelhanças entre as configurações de planejamento radial e centralizada, suas diferenças também são fundamentais. Enquanto uma planta radial é essencialmente uma solução voltada para fora (na qual o prédio avança em várias direções a partir de um ponto de origem central), uma planta centralizada é, antes de tudo, um arranjo introvertido (com um conjunto de espaços menores organizados ao redor de um espaço central, que é o espaço dominante da composição). Esse espaço central costuma ter um formato geométrico bem definido, como um quadrado, círculo ou octógono. Embora os espaços secundários que circundam o espaço central dominante possam adotar diferentes formas, a estratégia da centralização muitas vezes é empregada naquelas situações em que é necessário um claro senso de ordem para que os usuários consigam entender as atividades que ocorrem no espaço. Como resultado, o espaço central dominante frequentemente é circundado por vários espaços secundários, cujas formas podem ser similares ou contrastantes. A associação mais comum com a planta baixa centralizada talvez seja a planta das igrejas italianas do período renascentista, mas hoje ela também é empregada em grandes espaços de uso comum que precisam ser atendidos por várias atividades. Um bom exemplo seria as praças de alimentação dos shoppings: a área comum para refeições é o espaço central, rodeado por espaços secundários que oferecem uma diversidade de restaurantes, cada um acomodado em um espaço subserviente idêntico.
À esquerda Projetada por Andrea Palladio, a vila Rotonda foi construída perto de Vicenza, Itália, em 1570. Este estudo feito por Oliver Lam-Watson, da Universidade de Kingston, Reino Unido, mostra o espaço circular centralizado na planta baixa quadrada do prédio.
Estratégias de organização espacial 63
Arranjos em grupo Um arranjo em grupo pode ser uma resposta apropriada quando se deseja um senso de informalidade. Esta abordagem pode ser bem-sucedida com espaços idênticos como diferentes. Quando precisa-se de espaços idênticos, a estratégia do agrupamento pode atenuar os padrões repetitivos, uma vez que espaços de diferentes tamanhos e formatos poderiam ser distribuídos de modo que formassem relações descontraídas, pois não há regras geométricas rígidas que precisem ser obedecidas em termos de layout. O arranjo em grupo também pode funcionar bem com diferentes relações espaciais, como a sobreposição ou adjacência de espaços. Graças à sua informalidade, é fácil fazer modificações por meio da adição ou subtração – este é um sistema essencialmente "aberto" que não está acabado nem incompleto. Os designers de interiores muitas vezes usam a estratégia do agrupamento ao planejar arranjos espaciais para espaços de lazer e serviços de alimentação, bares e casas noturnas, nos quais o objetivo é criar um ambiente de relaxamento. Em algumas situações do varejo, como nas lojas de departamento, esta abordagem pode dar certo ao atrair os clientes para diferentes zonas, enquanto os projetistas de museus e locais de exposição a empregam para encorajar os visitantes a explorar os expositores. Como uma planta baixa configurada pelo agrupamento motiva a interação das pessoas e é frequentemente utilizada na organização de estratégias espaciais para espaços de trabalho criativos.
Acima
Abaixo
O showroom da Steelcase Worklife em Londres, Reino Unido, projetado pelo Pearson Lloyd Design Studio Ltd. (2007), apresenta uma planta baixa configurada com a reunião de espaços circulares de vários tamanhos que se sobrepõem, formando um arranjo em grupo.
Curiosity, um escritório de design do Japão, fez esta proposta para o hotel urbano Meilo em 2007. O esquema apresenta um átrio definido por espaços cúbicos suspensos que foram distribuídos de acordo com a abordagem espacial do agrupamento.
64 Capítulo 4: Estratégias de planejamento
Estratégias de circulação Em termos de design de interiores, a circulação envolve as maneiras como os usuários navegam nos espaços internos de uma edificação. Como a maioria das edificações consiste em mais do que um espaço único, a estratégia de circulação a ser empregada dependerá da ordem em que os usuários experimentarão os espaços oferecidos. A estratégia de circulação determinará quando eles devem ser atraídos para entrar em um espaço, ter a opção de nele entrar ou não e mesmo ser proibidos de entrar em certos espaços, mas ter acesso a outros. Em alguns interiores, todos os usuários seguem o mesmo percurso (uma exposição com rota prescrita desde o início até o final, por exemplo), mas, mesmo nessas situações, a circulação pode ser mais complexa (os visitantes da exposição podem estar todos seguindo a mesma rota de circulação, enquanto os funcionários usam outra). Na maioria das edificações, os usuários escolhem seu próprio percurso através dos espaços oferecidos, respondendo a restrições impostas a eles, o que permite a cada visitante circular ao redor do prédio de maneira diferente. Por mais complexa que a estratégia de circulação possa se tornar, um aspecto permanecerá simples: à medida que as pessoas circularem através dos prédios, elas seguirão um rumo e, por sua própria natureza, esse rumo será um percurso linear que leva o usuário a uma jornada no tempo e no espaço. Este é o princípio que está por trás da formação das estratégias de circulação que permitem às pessoas navegarem pelos prédios sempre que necessário. Um percurso linear pode ser organizado na forma de: • Uma circulação radial • Uma circulação espiral • Uma circulação em grelha • Uma circulação em rede
Toda circulação é uma atividade linear.
Circulação radial
Circulação espiral
Quando vários percursos convergem para apenas um ponto, dizemos que foi empregada a estratégia da circulação radial. A circulação espiral começa (ou termina) no meio de um arranjo de espaços e gira, se afastando ou aproximando do ponto de origem. Se os percursos são configurados como conjuntos de linhas paralelas que se interceptam ou definem espaços retilíneos, usou-se a estratégia da circulação em grelha. Quando pontos muito específicos no interior de uma planta baixa são conectados por uma diversidade de percursos que de resto parecem ser bastante arbitrários, empregou-se a estratégia da circulação em rede. Vale lembrar que as estratégias de configuração dos espaços internos e as estratégias de circulação entre eles são coisas distintas e que a justaposição desses dois componentes determina como a edificação funciona. Por exemplo, os espaços de um interior podem ter uma organização centralizada acessada com o uso da estratégia de circulação em grelha.
Estratégias de circulação 65
Percursos
Circulação em grelha
Para os designers de interiores, um percurso ou circulação é o caminho que as pessoas seguem dentro e ao redor das edificações. Os espaços internos podem tanto controlar como as pessoas circulam – o corredor que determina um percurso, por exemplo – como ser bastante abertos, permitindo que os usuários naveguem livremente pelos espaços. Diferentes necessidades funcionais exigirão soluções de circulação distintas. No entanto, prescritos ou não, percursos dentro de edificações são lineares e envolvem uma passagem através do tempo e do espaço. Algumas soluções de interior exigirão eficiência e a criação de percursos que conectem espaços o mais rápido possível (em certos locais de trabalho, por exemplo), enquanto em outras situações o mais apropriado seria forçar o usuário a seguir um percurso prolongado (um espaço de exposição com informações espalhadas pelo caminho). Quando se trabalha com um prédio existente, o designer de interiores deve estabelecer uma circulação restrita nos espaços abertos maiores ou permitir uma maior liberdade entre uma série de espaços celulares que dificultam a circulação.
Circulação em rede
Ainda que o designer de interiores se preocupe principalmente com a circulação dentro dos prédios, em muitas situações é impossível divorciar o interior do exterior. A localização da entrada de um prédio frequentemente é a ideal, está bem consolidada ou é impossível de mudar; assim, ela pode ser um fator determinante no modo como o interior será planejado. Em outros casos, a entrada (ou as entradas) de um prédio pode(m) ser reposicionada(s), e o designer pode desejar fazê-lo a fim de melhorar a relação entre a entrada e a planta do interior, entre ela e o acesso ao prédio ou ambas. Seja qual for o contexto das decisões subsequentes, a estratégia de circulação de um prédio tem três fases distintas a serem consideradas pelo designer de interiores: • Acesso à edificação • Entrada • Circulação interna
Acima Em 2009, ao fazer a reciclagem de uso de um hospital materno, a firma RaichdelRio introduziu três elementos de mobiliário para reconfigurar a circulação da entrada dos escritórios do serviço catalão de saúde, em Barcelona, Espanha. Os primeiros dois objetos formam uma barreira que divide a zona pública da área protegida do vestíbu-
lo, criando balcões para a recepção e os seguranças. Os visitantes são obrigados a circular entre ambos os balcões, onde roletas de segurança limitam o acesso. Depois da linha de segurança, o terceiro elemento da composição são os assentos da área de espera. Juntos, os três elementos restringem o acesso físico, mas permitem que todo o espaço permaneça visível.
66 Capítulo 4: Estratégias de planejamento
O acesso à edificação O primeiro contato que um usuário tem com um prédio ocorre durante seu acesso. Este pode envolver uma longa sequência de eventos nos quais, por exemplo, o indivíduo em primeiro lugar vê o prédio ao passar por ele de automóvel e, depois, se aproxima a pé, após estacionar seu veículo, ou pode ser um evento instantâneo, quando o prédio faz parte de um conjunto de fachadas voltadas para uma rua e seus acessos estão ao longo do passeio público. É óbvio que o acesso tem relação direta com a entrada do prédio: ele pode terminar lá ou continuar através da entrada, se transformando no percurso de circulação interno. Enquanto o prédio e seu acesso provavelmente foram projetados por um arquiteto, o designer de interiores, em geral, estará trabalhando dentro de um contexto no qual o acesso já foi estabelecido. Ele precisa entender as questões envolvidas no acesso a um prédio existente para que possa responder da maneira adequada. Por exemplo, o designer
Acima Acima, à direita Acesso oblíquo: completado em Acesso frontal: a reforma feita por 1993, a Storefront for Art and Architecture de Nova York, Estados Unidos, foi projetada pelo artista Vito Acconci e pelo arquiteto Steven Holl. A galeria ocupa um longo e esbelto espaço em forma de cunha na região de Lower Manhattan e é acessada diretamente do passeio, com a circulação interna se colocando paralela à vedação do prédio. A fachada consiste em doze painéis pivotantes que se abrem a fim de receber os transeuntes no espaço – um recurso que reduz a distinção entre interior e exterior e responde à direção do acesso.
Broadway Malyan em 2008 na estação ferroviária de Rossio, em Lisboa, Portugal, incluiu a restauração da fachada do prédio de 1887. A elevação simétrica, com o ponto de entrada claramente identificável ao centro, é uma resposta adequada ao principal acesso para pedestres, que, por sua vez, foi determinado pela localização da faixa de segurança.
À direita e abaixo, à direita Acesso sinuoso: o acesso ao Arquivo Drents, em Assens, Países Baixos, oferece aos visitantes uma vista do cubo branco acrescentado por Zecc Architects durante uma grande reforma feita em 2012, mas um caminho de pedestres os leva por uma rota através do jardim e ao redor do prédio existente antes que eles finalmente cheguem à fachada do novo pavilhão de entrada.
talvez tenha de trabalhar em um prédio que foi projetado a fim de responder às condições do local na época de sua construção, mas que, devido às mudanças subsequentes do entorno, a sequência de acesso e entrada já não é mais apropriada. Em outros casos, as exigências de um novo interior podem implicar na necessidade de um novo acesso para que o prédio reformado funcione bem. Quando ocorre uma situação como essa, o designer de interiores talvez precise estabelecer uma nova abordagem ou considerar como a abordagem poderia ser configurada de modo que funcione melhor do que a antiga. Portanto, é importante entender as maneiras pelas quais uma edificação pode ser acessada: • Acesso frontal • Acesso oblíquo • Acesso sinuoso
Estratégias de circulação 67
A entrada da edificação O acesso de uma edificação sempre levará à sua entrada e, embora tais entradas possam ser definidas em uma variedade de maneiras, elas inevitavelmente cairão em uma de três categorias. A relação entre o acesso ao ponto de entrada e a forma da edificação influenciará a decisão de qual dos seguintes tipos de entrada será apropriado a cada caso: • Entrada nivelada • Entrada projetada • Entrada recuada Quando está trabalhando com um prédio existente, o designer de interiores pode se deparar com restrições sobre o que ele pode fazer a fim de mudar a forma estabelecida da entrada ou talvez tenha a possibilidade de modificar a entrada da abertura existente para fazer uma "declaração" ao mundo externo de que o interior foi modificado. Nos casos em que
um novo ponto de entrada é estabelecido na pele de um prédio que já existe, o designer tem muito mais liberdade para criar uma proposta que seja adequada ao novo interior e, ao mesmo tempo, que responda às exigências do acesso e das vedações do prédio. Esta estratégia oferece ao designer oportunidades extraordinárias para justapor elementos de construção novos aos antigos, enfatizando a ideia de que um local sofreu algum processo de transformação.
A baixo, à direita Entrada projetada: este outro projeto residencial completado em 2002 por Groves Natcheva Architects exigiu uma solução distinta. Neste caso, uma casa em fita de quatro pavimentos no sudeste de Londres, Reino Unido, foi convertida em um pequeno edifício de
apartamentos, e tornou-se necessária a criação de um novo acesso ao segundo pavimento pelos fundos da propriedade. Uma escada de metal foi inserida em um plano de metal dobrado que se projeta em relação ao prédio, ocupando parte do pátio traseiro e convidando os visitantes a entrarem.
À direita Entrada nivelada: quando esta casa em Londres, Reino Unido, foi subdividida em vários apartamentos no ano de 2004, foi necessária a criação de uma nova entrada. As restrições do local impossibilitavam que a entrada fosse projetada ou recuada; então, a firma Groves Natcheva Architects desenhou um painel quadrado de metal negro encaixado na parede de tijolo existente. Isso indica aos transeuntes que o interior do prédio foi alterado, enquanto as aberturas do painel sugerem que aquele é um ponto de entrada.
Logo à esquerda Entrada recuada: no projeto de uma loja da Comme des Garçons em Tóquio, Japão, completado em 1998, a Future Systems removeu a fachada de vidro no pavimento térreo de um prédio de escritórios um tanto desinteressante e criou uma nova fachada de vidro curva e inclinada que atrai os clientes para a entrada e fica recuada em relação à fachada.
68 Capítulo 4: Estratégias de planejamento
Estudo de caso Entrada Galeria de Arte, Viena, Áustria / Adolf Krischanitz
Completada em 1994, esta galeria de arte temporária foi instalada em um canteiro central do sistema viário do centro de Viena. Em termos de acesso físico, a localização da galeria representou um desafio: de que maneira se poderia sugerir aos transeuntes que esta caixa amarela e sem aberturas, isolada de seu contexto imediato (a avenida que a circundava) teria algum tipo de entrada? A engenhosa solução de planejamento transformou o percurso de entrada em um passeio composto de uma série de eventos que tornam indistintos os limites entre o interior e o exterior da instalação. A solução empregada se desenvolve ao redor da galeria que foi concebida como uma caixa de costas para a avenida que a limita: um tubo cilíndrico sai da lateral do prédio, perfurando sua forma retilínea, se transforma em uma passarela que cruza a via por cima e traz os visitantes para a entrada, que fica do outro lado do prédio. Ou seja, a entrada do prédio propriamente dita se localiza no outro lado do canteiro central, em um espaço protegido do tráfego pela própria galeria. Os usuários talvez não tenham certeza se estão dentro ou fora do prédio, qual é a "frente", quais são os "fundos" e exatamente por onde entraram.
Todas essas incertezas parecem apropriadas para um espaço projetado para acomodar uma coleção de arte contemporânea.
No alto Um par de escadas atende aos visitantes que vêm de ambos os sentidos do passeio, erguendo-os até a passarela cilíndrica e elevada, que lhes permite cruzar a avenida. Embora ainda seja, sem dúvida, um espaço externo, a estrutura de aço em forma de gaiola estabelece certo grau de fechamento e começa a tornar indistinta a diferença entre exterior e interior. A passarela perfura o principal volume do prédio pelo alto.
Acima A elevação lateral mostra como a galeria se insere no canteiro central e que a sequência de entrada na verdade começa no outro lado da avenida. A passarela cilíndrica e bastante elevada (acessada pelas escadas) serve para o cruzamento da via antes de penetrar o principal espaço de exibição e, então, sair pelo lado oposto da caixa. O percurso continua, levando a uma escada que gira em 180 graus e lança os visitantes nas portas de entrada que levam aos primeiros espaços internos da galeria. Abaixo Uma vez cruzada a avenida, a passarela penetra no volume da galeria. Neste ponto, ela se torna um tubo opaco, cobrindo a visão das obras de arte, e a jornada prossegue até o outro lado da caixa. Os visitantes já não têm certeza se estiveram ou não dentro do prédio.
Circulação e espaço 69
Circulação e espaço Para o designer de interiores, um aspecto crucial do projeto de planejamento é estabelecer o relacionamento entre os percursos que as pessoas adotam através de um prédio e os espaços alocados para as funções específicas. Os percursos de circulação interna e os espaços por eles atendidos devem ter algum tipo de relação, e existem apenas três opções: • Circulação através dos espaços • Circulação contígua aos espaços • Circulação que termina em um espaço
Circulação através dos espaços
Circulação que termina em um espaço
Circulação contígua aos espaços
70 Capítulo 4: Estratégias de planejamento
Circulação através dos espaços Se um percurso leva o usuário através de um espaço interno que acomoda outras atividades, podemos chamá-lo de circulação através dos espaços. O percurso pode levar os usuários a um dos lados do espaço, seja passando diretamente por seu meio, seja seguindo um circuito irregular, oferecendo ao designer de interiores a oportunidade de configurar o percurso de modo a definir as zonas de atividade dentro do espaço. Esta estratégia pode ser aplicada a muitas situações – em uma loja de departamentos, por exemplo, onde o percurso de circulação principal pode serpentear por de-
terminado pavimento, definindo os espaços que acomodam departamentos ou áreas de marcas específicas. Dependendo das exigências do programa, o designer de interiores decidirá se é apropriado o uso de um percurso direto ou indireto e se os usuários terão a liberdade de abandonar o percurso a qualquer momento ou serão forçados a nele permanecer – isto é, se terão a liberdade de ver os espaços pelos quais a circulação passa, mas sem acesso físico a eles.
Meat Area
Holding area
Dining
Bar Wine wall
Acima
À direita
Este croqui em planta baixa mostra como a proposta feita em 2011 pela Phi Design & Architecture para o bar e restaurante Wine Library, em Woollahra, Austrália, resolve os desafios de um exíguo prédio preexistente. A área do bar principal foi transformada em uma circulação através dos espaços que dá acesso aos banheiros, à área de serviço e ao salão do restaurante localizado aos fundos do prédio.
Vista mostrando a circulação através dos espaços criada entre o balcão e a área com assentos no bar do Wine Library. Os clientes podem cruzar o espaço, visitar o bar ou se sentar às mesas.
À direita e bem à direita O escritório da firma de propaganda e design KMS Team, em Munique, Alemanha, finalizado em 2000, foi acomodado em um antigo prédio industrial no qual uma passarela existente ofereceu a oportunidade de criar uma circulação elevada. A passarela conecta a área da recepção às salas de reunião localizadas aos fundos do prédio e passa através do principal ateliê, oferecendo aos clientes vistas da atividade nos postos de trabalho abaixo.
Circulação e espaço 71
Circulação contígua aos espaços Há muitas situações de interiores nas quais seria inapropriado que a circulação geral passasse através de determinado espaço. É comum que alguns espaços exijam privacidade – como é o caso dos apartamentos de um hotel ou dos consultórios médicos de uma clínica –, enquanto outros espaços do prédio precisam de acesso. Nessas circunstâncias, pode-se empregar a estratégia da circulação contígua aos espaços. O percurso que passa por determinado espaço pode estar restrito a um caminho especificamente designado para a circulação (um corredor) ou atravessar um espaço que contém algumas atividades públicas ao mesmo tempo À direita O Arquivo de Arte Contemporânea de Adolf Krischanitz, em Krems, Áustria (2010), reúne quatro salas de leitura a fim de compor uma caixa retangular que pode ser lida como um espaço dentro de outro. Um corredor circunda este bloco, oferecendo uma circulação contígua aos espaços que permite aos visitantes acessar qualquer uma das salas e em qualquer ordem, garantindo que as atividades que estão sendo desenvolvidas nas demais não sejam interrompidas.
Abaixo Uma vista mostrando o corredor que oferece uma circulação contígua aos espaços servidos e ao redor da caixa que acomoda as quatro salas de leitura.
Abaixo, à direita A atividade nas salas de leitura pode permanecer ininterrupta graças à estratégia de circulação empregada para acessá-las.
que passa ao lado dos espaços privativos localizados dentro do espaço principal ou adjacente a ele. O mais comum é que essa situação aconteça em um espaço de trabalho, como em um escritório com planta livre que contém uma circulação contígua aos espaços que também ladeia escritórios compartimentados e salas de reunião adjacentes. A estratégia da circulação contígua aos espaços oferece aos usuários do interior a escolha de quais espaços serão acessados, além de determinar a ordem pela qual esse acesso será permitido.
72 Capítulo 4: Estratégias de planejamento
Circulação que termina em um espaço Enquanto alguns espaços permitem a seus usuários penetrar o prédio um pouco mais, há muitas situações de interior nas quais determinado ambiente é o foco de um percurso de circulação. Como consequência, o visitante deve sair pelo mesmo ponto de entrada, retomando seus passos. Quando essa situação surge, a circulação termina dentro do espaço estabelecido. É uma situação comum que acontece muitas vezes na maioria das edificações: escritórios compartimentados, banheiros e grandes depósitos são bons exemplos de espaços nos quais há a terminação de uma circulação.
Acima Cada provador da Left, uma butique de moda de Melbourne, Austrália, projetada em 2007 por Russell & George, é um espaço que termina a circulação, obrigando seus usuários a retornar pelo percurso de entrada se quiserem sair.
À direita Russell & George criou esta pequena loja para a Aesop, em Doncaster, Austrália, em 2008. A proposta consiste em um único espaço que se torna o término da circulação que conduz até ele.
O espaço no qual a circulação termina pode ser um espaço de apoio e de pouca importância no prédio ou pode ser um local muito especial, celebrando o clímax do percurso percorrido até ele. Também é frequente o uso de destaques ou efeitos teatrais com o estabelecimento de contrastes entre a circulação e o espaço no qual ela termina: por exemplo, uma rota escura e confinada pode culminar em um volume enorme e banhado de luz.
Circulação e espaço 73
Acima
Abaixo, à esquerda e à direita
Um escritório compartimentado, como este exemplo do Foro de Justiça de Sydney, Austrália, projetado em 2007 por Bates Smart Architects, oferecerá um espaço que termina a circulação de um ambiente de trabalho.
Completada em 2013, a Sala do Silêncio, um projeto de Alex Cochrane Architects para a loja de departamentos Selfridges em Londres, Reino Unido, leva os visitantes ao longo de uma circulação escura que culmina em um espaço delicado, silencioso e cheio de luz.
74 Capítulo 4: Estratégias de planejamento
Soluções de planejamento São raras as ocasiões nas quais as exigências de um programa de necessidades podem ser atendidas por uma única estratégia de planejamento simples e forte – as situações dos interiores costumam exigir uma solução espacial muito mais sofisticada. A maioria das propostas finais para interiores tende a incluir uma resposta a algumas das seguintes questões ou mesmo a todas elas: • Acesso • Entrada • Organização espacial • Relações espaciais • Circulação Para que uma edificação funcione corretamente, um espaço interno único pode ser configurado por meio do uso de um conjunto de relações espaciais e incluir várias estraté-
À direita Em 2007 Ippolito Fleitz Group criou esta clínica de radiologia em Schorndorf, Alemanha. O projeto oferece uma solução espacial para um programa de necessidades exigente: o interior deveria atender a especificações funcionais extremamente técnicas e, ao mesmo tempo, oferecer um ambiente confortável para os pacientes. Uma zona de recepção controlada leva à área de espera do centro, ao redor da qual se desenvolve a principal rota de circulação. Os consultórios foram distribuídos em uma configuração linear em um dos lados da planta baixa, enquanto os espaços de tratamento foram organizados em um arranjo linear e, depois, em grupo ao redor dos dois corredores secundários.
gias de circulação. Embora seja possível isolar e separar as abordagens às questões listadas anteriormente, as soluções frequentemente são complexas e ambíguas (por exemplo, uma planta baixa pode ser organizada de um modo linear que, ao mesmo tempo use uma grelha), oferecendo arranjos sofisticados e levemente distintos para a satisfação de um conjunto de complexas exigências humanas. Tudo isso se torna muito mais complexo quando o designer de interiores está trabalhando dentro de um prédio existente que impõe seus próprios condicionantes: as exigências funcionais de um programa particular podem ser resolvidas com o uso de um diagrama de planejamento que, em tese, funciona, mas que não tem como ser imposto ao local sem que algumas concessões sejam feitas. Como resultado, o designer de interiores, em geral, se preocupa em conciliar o ideal do diagrama perfeito à realidade dos espaços internos já construídos e de suas restrições inerentes.
Soluções de planejamento 75
À direita A área de entrada dentro do espaço de circulação estabelece um percurso claro à área de espera destinada aos visitantes e, ao mesmo tempo, garante a segurança e a supervisão por parte dos funcionários da clínica de radiologia.
Abaixo A área de espera está no centro do prédio, o que lhe confere o caráter de "coração" protegido do espaço, a partir do qual os pacientes têm acesso aos outros equipamentos. Os assentos estão distribuídos em uma configuração radial ao redor de colunas, criando agrupamentos de pessoas mais informais.
À esquerda e acima Organizados de modo linear, os consultórios simplesmente correspondem à grelha estrutural do prédio e são configurados como espaços terminais à circulação.
Bem à esquerda Uma única circulação contígua aos espaços servidos assume a forma de U ao redor do núcleo central, oferecendo acesso aos consultórios e às salas de tratamento distribuídos no perímetro da planta baixa. Esta estratégia muito clara elimina a confusão que muitas vezes é criada por um labirinto de corredores.
Logo à esquerda As salas de tratamento estão organizadas em um arranjo em grupo, tirando partido da complexa geometria do prédio configurado por espaços que se sobrepõem.
76 Capítulo 4: Estratégias de planejamento
Estudo de caso Soluções de planejamento Butique Shine, Hong Kong / LEAD e NC Design & Architecture
Shine é uma loja de Hong Kong que vende coleções de moda de uma variedade de marcas. Este projeto, completado em 2011 por LEAD e NC Design & Architecture, transformou uma loja muito simplória em uma butique na qual os espaços estão organizados de modo econômico e inteligente. A aparente simplicidade desta configuração clara não corresponde às estratégias inteligentes empregadas na planta baixa, que atendem às exigências de circulação do programa de necessidades. Assim como ocorre nos interiores mais bem-sucedidos, várias estratégias foram utilizadas aqui, permitindo que o prédio funcionasse como deveria.
Acima A loja de formato retangular foi cuidadosamente planejada como uma série de seis espaços adjacentes que se encaixam, formando uma planta compacta e aproveitando ao máximo o espaço disponível. A área principal do interior da loja e a área do caixa atuam como espaços de uso comum, conectando os demais ambientes; ambos também usam a estratégia de circulação de passar através dos espaços. Os percursos da circulação terminam nos outros quatro espaços – a área dos calçados e das bolsas, os dois provadores e o depósito – e cada um desses ambientes tem uma relação de adjacência com o espaço de uso comum ao qual ele se conecta. À esquerda A área principal da loja tem uma circulação do tipo que passa através dos espaços e funciona como uma área de uso comum que conecta dois espaços contíguos.
Soluções de planejamento 77
Acima A área dos calçados e das bolsas está localizada logo à esquerda do ambiente principal da loja, com o qual tem uma relação de adjacência espacial. O percurso de circulação termina neste espaço, forçando o usuário a voltar pela rota de entrada caso deseje se retirar.
Abaixo, à esquerda A área do caixa tem uma relação de adjacência com os quatro espaços conectados a ela e uma circulação do tipo que passa através dos ambientes, oferecendo aos usuários acesso aos dois provadores (clientes) e ao depósito (funcionários), bem como permitindo que retornem ao principal espaço da loja (clientes e funcionários).
Abaixo, à direita Uma vez percorrida toda a extensão do principal espaço da loja, os usuários podem passar pelo espaço adjacente do caixa e ter acesso aos provadores e ao depósito.
CAPÍTULO 5 DO PROGRAMA DE NECESSIDADES À PROPOSTA
81
O PROGRAMA DE NECESSIDADES
83
AS EXIGÊNCIAS ESPACIAIS
90
DIAGRAMAS DE PLANEJAMENTO
92
O RELACIONAMENTO ENTRE O DIAGRAMA
DE PLANEJAMENTO E O LOCAL
80 Capítulo 5: Do programa de necessidades à proposta
Introdução Os projetos de design de interiores são desenvolvidos com base em uma variedade de pontos de partida; porém, mais cedo ou mais tarde, é fundamental que as exigências para o projeto sejam reunidas em um programa de necessidades que determine os objetivos do projeto e o escopo do trabalho. O programa geralmente é um documento escrito que serve como o início de uma jornada por meio da qual pensamentos, palavras, imagens e experiências são traduzidos em um realidade construída. Esse processo complexo não é necessariamente direto ou linear – cada projeto terá seu próprio caráter e seus critérios específicos, que influenciarão os processos necessários para resolver seus desafios. Este capítulo investiga as maneiras como um programa de necessidades pode ser desenvolvido em uma proposta para a organização espacial de um interior.
Grupos de trabalho
O trabalho maçante Banheiros e depósitos
Recarga
Relaxamento
Acima Studio SKLIM desenvolveu o programa de necessidades para sua proposta de Escritório Enxuto (Cingapura, 2010) por meio de um diagrama que começa o processo de investigação do relacionamento dos espaços.
Atendimento ao cliente
Entrada/Saída
O programa de necessidades 81
O programa de necessidades Os programas de necessidades podem ser muito variados. Alguns clientes têm um entendimento muito claro de sua área de atividade e de como ela funciona e são capazes de oferecer um programa preciso e detalhado (listando os espaços necessários e como eles devem se relacionar e funcionar) ao designer de interiores, cujo trabalho, então, envolverá a tradução dessas informações em uma realidade construída que atenda às exigências. Outros clientes desejam criar um interior que permita a realização de uma atividade particular, mas não têm ideia de como isso poderia acontecer. Nesse caso, ele solicita ao designer de interiores que analise o problema e desenvolva propostas sobre como a atividade poderia acontecer.
Imaginação, especulação e invenção Muitas atividades simples podem ser executadas de maneiras diferentes, e sua natureza terá um impacto sobre as pessoas que as estão realizando e sobre os espaços que elas exigem. A organização espacial das edificações se relaciona com a resolução de como as pessoas desempenharão as atividades em um interior e com a garantia de que espaços apropriados serão criados para que isso aconteça. Quando o designer de interiores recebe um programa de necessidades, há o risco de que ele simplesmente replique as soluções tomadas anteriormente, sem refletir sobre como determinado problema poderia ser solucionado. Os Bem à esquerda e logo à esquerda O projeto que Blacksheep fez em 2009 para o restaurante Inamo em Londres, Reino Unido, utilizou a tecnologia digital para introduzir um novo sistema de colocação de pedidos que transforma o modo de funcionamento do interior. Os menus interativos são projetados sobre as mesas, permitindo aos clientes fazer qualquer pedido a qualquer momento e sem ter de aguardar pelo garçom. Essa nova abordagem oferece uma nova experiência aos clientes e, ao mesmo tempo, aumenta a eficácia da operação.
À esquerda Inaugurado em 1997, a rede britânica YO! Sushi é conhecida por seus estimulantes ambientes para refeições baseados no conceito de um sushi bar com o conceito de esteiras rolantes. Os chefs preparam os alimentos em um espaço central, circundados pelos clientes que se sentam ao bar. Uma vez prontos, os pratos são colocados em uma esteira transportadora que gira lentamente, e os clientes podem selecionar os itens à medida que eles passam. A cor de cada prato indica o preço da porção, e a conta é calculada com base na soma dos pratos usados e empilhados pelo cliente.
82 Capítulo 5: Do programa de necessidades à proposta
designers têm a responsabilidade de sonhar, pensar e inventar em busca de novas soluções que desafiem e melhorem o status quo. Um exemplo é o projeto de um restaurante: há inúmeras maneiras consolidadas nas quais os restaurantes podem funcionar e que são apropriadas em diferentes contextos. O modo como os pedidos são feitos e os alimentos são servidos (com garçons, autosserviço ou autosserviço assistido) e como o pagamento é feito (antes ou depois do consumo) terá um efeito profundo sobre os clientes e funcionários que
Acima, à direita e à esquerda
À direita
Em 2010, o Ippolito Fleitz Group desenvolveu um novo conceito de restaurante para Holyfields, na Alemanha, oferecendo um ambiente para refeições de qualidade a preços módicos. Os clientes usam uma tela sensível ao toque para fazer seus pedidos e, então, levam uma placa eletrônica para suas mesas. Quando o pedido está pronto, é enviado um sinal ao cliente, que busca a refeição em um balcão. Esse novo sistema de pedidos tem impacto na organização espacial: é necessário mais espaço na entrada para que sejam acomodados os terminais de pedido soltos, e também deve ser estabelecido um ponto para a coleta dos alimentos.
O Tokyo Curry Lab, no Japão, reinventou o conceito de um restaurante. Projetado por Wonderwall em 2007, o local foi concebido como se fosse um laboratório, e a ideia é fazer com que os clientes se sintam como se fizessem parte de uma equipe de pesquisa testando os alimentos. A cada dia, apenas um prato é preparado, e isso, junto com o arranjo dos assentos, promove a ideia de que os trinta clientes estão participando em uma conferência e estão envolvidos com o desenvolvimento científico da receita.
estão usando o espaço, além de determinar a organização espacial do interior (os espaços necessários, suas dimensões e relações). O trabalho do designer de interiores às vezes envolve o desenvolvimento de novas maneiras de operação do restaurante, a fim de oferecer uma melhor experiência para o usuário ou criar um modelo de operação mais eficaz em termos de funcionários, tempo de serviço ou espaço. Um designer inteligente explora como uma atividade poderia ser desenvolvida antes de tomar uma decisão embasada sobre como isso poderá ser feito.
As exigências espaciais 83
As exigências espaciais O modo como uma atividade em particular é realizada ou organizada tem impacto direto nas exigências espaciais do interior que a acomodará. Uma vez entendido como o interior funcionará, pode-se iniciar o processo de tradução das ideias em uma proposta de organização espacial para o projeto. Isso envolve levar em consideração os seguintes pontos: • Os espaços necessários para que a atividade possa ocorrer (organograma de espaços) • As relações espaciais que são necessárias para que o prédio funcione da maneira desejada • As exigências espaciais necessárias em termos de tamanho • As características necessárias para que os espaços funcionem de modo efetivo O desenvolvimento da organização de um espaço interno envolve a consideração e a tomada de decisões sobre muitos elementos complexos. É quase impossível lidar com todas essas informações imediatamente: é muito mais fácil dividir o problema em partes fáceis de trabalhar e que possam ser resolvidas separadamente antes que os vários elementos sejam sintetizados a fim de constituir uma estratégia significativa para o planejamento do interior. Os designers de interiores usarão uma variedade de recursos que lhes ajudará com esse trabalho, incluindo:
Organograma de espaços de um escritório de arquitetura Recepção (uma recepcionista) Sala de espera (quatro pessoas) Ateliê (dez postos de trabalho) Escritório (dois postos de trabalho) Sala de reuniões Área de plotagem Banheiros Cozinha Depósito
• A elaboração do programa de necessidades do cliente • Visitas a edificações existentes que tenham o mesmo programa • O estudo de precedentes em livros e revistas • A consulta a livros de referência (veja alguns exemplos na Leitura Recomendada) Nesta seção, o desenvolvimento de um projeto para um escritório de arquitetura é utilizado como estudo de caso para ajudar a explicar esse processo.
O organograma de espaços O modo como um interior precisa cumprir sua função determinará os espaços necessários para que isso aconteça. O organograma de espaços estabelece uma lista de todos os espaços necessários e permite que o designer de interiores possa começar a trabalhar com o diagrama de planejamento. Para o desenvolvimento do organograma, é importante lembrar todos os aspectos da atividade envolvida. Por exemplo, um restaurante deve oferecer espaços apropriados para que seus clientes desfrutem da visita (como um espaço com mesas para refeições, um bar, banheiros e talvez até uma chapelaria) e para que os funcionários preparem e sirvam os alimentos (cozinha, balcão, depósito, câmara fria). Também será preciso prever uma diversidade de espaços de apoio, como a sala do gerente, o depósito de materiais de limpeza, uma sala para os funcionários, vestiários e banheiros para funcionários.
À esquerda Em algum momento, durante o processo de projeto, os espaços exigidos terão de ser relacionados na forma de uma lista simples. Neste caso, as instalações necessárias para um pequeno escritório de arquitetura são identificadas por meio do uso de diferentes cores, que relacionarão as palavras aos diagramas futuros.
84 Capítulo 5: Do programa de necessidades à proposta
O relacionamento dos espaços Uma vez feita a lista dos espaços necessários, o designer de interiores pode considerar como esses espaços deveriam estar relacionados entre si para que o interior funcione da maneira desejada. Isso pode ser estudado com o uso de diagramas e, nesse estágio do processo, todos os espaços podem ser tratados como se fossem iguais (isto é, desenhados do mesmo tamanho), pois o objetivo da tarefa é estabelecer as relações entre diferentes espaços e a ordem pela qual os diversos usuários poderão utilizá-los.
Abaixo Os diagramas iniciais podem explorar como os espaços identificados pelo organograma de espaços poderiam estar relacionados entre si em termos de circulação proposta para o interior. Neste momento, a lista de palavras começa a se tornar mais espacial (embora seja importante esclarecer que este é apenas um diagrama – não se trata de uma planta baixa).
ESCRITÓRIO
SALA DE REUNIÕES
BANHEIRO
ATELIÊ
ÁREA DE PLOTAGEM
SALA DE ESPERA
RECEPÇÃO
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As exigências espaciais 85
O tamanho de cada espaço Outra parte fundamental do processo de planejamento é definir o tamanho dos espaços necessários para acomodar as atividades exigidas e que permitirão que o interior funcione do modo desejado. Os designers de interiores visitarão prédios, analisarão as plantas de projetos executados em livros de consulta como Human Dimension & Interior Space (veja a Leitura Recomendada) e, em algumas ocasiões, chegarão a fazer maquetes em tamanho real dos espaços, a fim de se certificar que as áreas alocadas a cada atividade são apropriadas. (Esta etapa de projeto costuma ser denominada estudos preliminares.) É fácil definir os requisitos mínimos de alguns espaços que não podem ser reduzidos (como
as dimensões de um banheiro acessível, por exemplo), enquanto outras atividades (como uma área de recepção) podem ser mais flexíveis e encolherão e expandirão várias vezes ao longo do processo em resposta a questões como as oportunidades e restrições criadas pelo prédio existente. Uma vez estabelecido o tamanho de cada espaço, o designer de interiores poderá desenhar essas informações na escala adequada, que geralmente é de 1:100 ou de 1:50. Esta é uma importante parte do desenvolvimento do projeto, na qual as palavras e ideias, pela primeira vez, começam a ser representadas em termos espaciais tangíveis. À esquerda
Recepção Sala de espera
Ateliê
Escritório
Sala de reuniões
Área de Banheiros Cozinha plotagem
Uma vez terminados os estudos preliminares, pode-se desenhar um diagrama na escala adequada, que geralmente é de 1:100 ou de 1:50 (dependendo do tamanho do projeto), a fim de determinar o tamanho de cada um. Se todos os espaços forem representados no Depósito formato quadrado, será fácil fazer comparações sobre o tamanho relativo de cada espaço.
O formato dos espaços
As características dos espaços
Desde que haja área suficiente para acomodá-las, muitas atividades podem funcionar suficientemente bem em diferentes formatos de espaços. Outras exigem uma configuração específica para que a atividade seja realizada de modo adequado. Por exemplo, o salão de um restaurante poderia ocupar tanto um espaço longo e estreito como uma área redonda, e, embora a atmosfera de cada um seja diferente, ambos os espaços poderiam funcionar perfeitamente bem. Já o auditório de um cinema exige um espaço de formato particular que possa oferecer boas vistas da tela a todos os espectadores. Durante o lançamento do partido, é importante que o designer de interiores identifique bem quais desses espaços têm exigências mais flexíveis e quais apresentam necessidades específicas. Assim como no caso dos estudos preliminares, o designer pode fazer diagramas em escala apropriada para avançar no processo de planejamento.
Para que possam funcionar corretamente, algumas atividades em um projeto de interiores terão exigências espaciais muito particulares, enquanto outras serão muito mais flexíveis. Uma atividade talvez deva ser acomodada em um espaço fechado, alto e escuro, e outra exija uma área pequena, aberta e com acesso à iluminação natural. É importante determinar quais atividades têm exigências específicas, pois elas muitas vezes determinarão as opções disponíveis para a organização espacial do projeto.
À esquerda As dimensões precisas de cada espaço devem ser determinadas antes que se estabeleça o formato ideal do espaço de cada atividade. Este tipo de diagrama pode ser desenhado em escala.
Recepção Sala de espera
Ateliê
Escritório
Sala de reuniões
Área de Banheiros Cozinha plotagem
Depósito
PASSO A PASSO O DESENHO DE DIAGRAMAS DE PLANEJAMENTO Os designers usam diagramas para ajudar no desenvolvimento de pensamentos, ideias, palavras e dados que, juntos, culminarão em propostas de projeto, as quais depois serão transformadas em uma realidade construída. A escolha do tipo de diagrama de planejamento é uma parte-chave desse processo. Várias questões de organização são sintetizadas em um diagra-
ma de planejamento, a fim de criar um modelo ideal de como o interior deveria funcionar. Os diagramas de planejamento usam escala, formatos, cores, palavras e setas para ajudar a comunicar o modo pelo qual uma edificação irá operar. Neste exemplo, estuda-se a organização de uma pequena clínica odontológica.
ESCRITÓRIO
SALA DE ESPERA
DEPÓSITO
RAIOS-X
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BANHEIROS
CONSULTÓRIO 1
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Escala: uma vez identificados e entendidos os espaços que um projeto precisa, é possível desenhá-los como uma série de retângulos na escala adequada. Para os designers de interiores, essa escala costuma ser de 1:100 ou de 1:50, dependendo do tamanho do projeto.
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Títulos dos espaços: para esclarecer a função de cada espaço no diagrama de planejamento, é melhor escrever claramente o nome do espaço no retângulo que o representa – esse é muito mais fácil de entender do que quando se usa um diagrama numerado, exigindo que o leitor tenha de consultar uma legenda adjacente.
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Cores: o diagrama ficará mais legível se forem utilizadas cores que auxiliem a comunicação. Escolha com cuidado as cores, buscando reforçar a mensagem do diagrama. Neste exemplo, o amarelo representa um espaço utilizado apenas pelos pacientes, o azul é para as áreas restritas aos funcionários, e o verde é para ambos os usuários.
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Setas: as relações entre os espaços podem ser exploradas com o uso de setas. Assim como no diagrama do alto desta página, aqui também podemos empregar cores para identificar diferentes tipos de relação: neste caso, a circulação comum a pacientes e funcionários é mostrada em cinza claro, enquanto a circulação restrita aos funcionários é representada em cinza escuro. Uma seta pontilhada indica uma relação visual entre as áreas da recepção e da sala de espera.
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O diagrama final: todos os elementos apresentados anteriormente são sintetizados, criando um diagrama final que comunica a estratégia de planejamento de modo rápido e claro. A natureza do desenho à mão livre reforça a ideia de que o diagrama é um instrumento informal de comunicação dos princípios que embasam o arranjo espacial – isto é, ele é parte do processo de desenvolvimento do projeto, e não de uma proposta final.
88 Capítulo 5: Do programa de necessidades à proposta
Estudo de caso Uma loja Lojas COS / William Russell, Pentagram COS (Collection of Style) é uma marca de moda sueca que oferece roupas de qualidade e com belo design a preços acessíveis. Renomada por sua atenção aos detalhes, a COS produz designs funcionais elaborados a partir de ideias simples e visa à criação de peças de vestuário que sejam ao mesmo tempo clássicas e modernas. William Russell, um dos sócios da Pentagram de Londres, desenvolveu, em 2007, um conceito para os pontos de venda da companhia com base nas diferentes coleções que compõem a marca COS como um todo. Cada uma das seções masculina e feminina é dividida em quatro zonas dedicadas a uma coleção específica: Casual City, Classic, Leisure e Party. "A ideia para a loja veio do fato da COS ter coleções menores dentro de uma coleção maior. Comecei pensando nas zonas, que acabaram se transformando em cômodos", explica Russell. O design da loja é fortemente influenciado pelo design do modernismo escandinavo de meados do século XX, uma reflexão da paixão que o próprio Russell sente por aquela estética e pela origem do cliente corporativo: a Suécia. Contudo, em vez de dividir o espaço com paredes, Russell demarcou as áreas com um grosso perfil tubular de metal que percorre toda a loja em alturas contínuas. Um conjunto de expositores foi desenvolvido para trabalhar junto com o perfil, e o resultado é uma proposta de planejamento interno que é composta de um kit de partes que pode ser montado de várias formas, adequando-se a cada local. Essas "instalações" conseguem traduzir de modo consistente a mesma ideia conceitual em inúmeros contextos, que têm diferentes caracteres, configurações espaciais e dimensões.
À esquerda e acima A proposta foi concebida como um conjunto de expositores que podem ser configurados de várias maneiras, permitindo que uma linguagem consistente possa ser estabelecida em cada local.
Acima Esta vista do conceito da proposta mostra uma instalação dos componentes em um local hipotético. Logo à esquerda Uma perspectiva axonométrica do conceito demonstra como os componentes devem ser utilizados a fim de estabelecer as diferentes zonas de uma loja típica da COS.
As exigências espaciais 89
À esquerda A loja da Regent Street, em Londres, Reino Unido, foi distribuída em dois pavimentos, o térreo e o segundo, ambos de tamanho similar. O prédio se localiza no cruzamento de duas ruas, e os clientes entram pela quina do térreo.
À esquerda Menor do que a de Londres, a loja de Hamburgo, Alemanha, compreende três níveis. Assim como no caso londrino, a entrada é pela esquina – aqui os clientes entram em um espaço relativamente pequeno no pavimento térreo, do qual podem acessar a principal área da loja, no segundo nível e o espaço adicional no subsolo.
90 Capítulo 5: Do programa de necessidades à proposta
Diagramas de planejamento Uma vez consideradas as questões pertinentes uma de cada vez, o designer de interiores pode sintetizar as informações obtidas e produzir um único diagrama que defina os espaços apropriados e seus tamanhos, formatos e relações uns com os outros. Além disso, nesta etapa ele já deveria ter uma boa ideia do tipo de espaço necessário para cada uma das atividades – se será necessária a iluminação natural ou se o espaço deverá ser compartimentado, por exemplo. O resultado será expresso no diagrama de planejamento, que estabelece os critérios a serem satisfeitos na organização espacial do interior. À medida que o projeto avança e o planejamento do
interior é desenvolvido, o designer deverá conseguir testar a organização espacial do prédio em relação ao diagrama de planejamento, a fim de garantir que a proposta satisfaça aos critérios exigidos. Embora o diagrama de planejamento seja uma parte importante do processo de design, também vale lembrar que ele não é uma planta baixa. Muitas plantas baixas diferentes podem ser desenvolvidas com base em um único diagrama de planejamento. O resultado final do planejamento será determinado pelas características do local e os objetivos conceituais do projeto.
Abaixo Um diagrama de planejamento combina as informações sobre o organograma de espaços, o relacionamento dos espaços e o tamanho e formato destes. Organograma de espaços de um escritório de arquitetura ESCRITÓRIO
SALA DE REUNIÕES
Recepção (uma recepcionista) Sala de espera (quatro pessoas) BANHEIRO
Ateliê (dez postos de trabalho)
SALA DE ESPERA
Escritório (dois postos de trabalho) Sala de reuniões
ATELIÊ
Recepção
Área de plotagem
Cozinha
Área de plotagem Banheiros Depósito
Cozinha Depósito
Recepção
Sala de espera
Ateliê
Escritório
Sala de reuniões
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Diagramas de planejamento 91
Abaixo O diagrama de planejamento estabelece um modelo ideal de como deveria funcionar a organização espacial de uma proposta. Ele pode ser regularmente consultado durante o desenvolvimento do projeto, garantindo que os espaços necessários tenham sido incluídos e que seus tamanhos, formatos e relações uns com os outros permitam à edificação funcionar da maneira necessária. Se todas essas condições forem atendidas pelo interior finalizado, há uma boa chance de que sua organização irá satisfazer os objetivos estabelecidos no programa de necessidades.
ESCRITÓRIO
SALA DE REUNIÕES
BANHEIRO SALA DE ESPERA ATELIÊ
Recepção
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92 Capítulo 5: Do programa de necessidades à proposta
O relacionamento entre o diagrama de planejamento e o local Abaixo e na página seguinte É importante lembrar que o diagrama de planejamento não é uma planta baixa. Estes desenhos mostram uma proposta feita em 2010 por Spacesmith para o showroom e os escritórios da companhia de moda Edun em Nova York, Estados Unidos – um diagrama de planejamento foi transformado em um esboço de layout que, por sua vez, gerou a planta baixa proposta para o interior.
O diagrama de planejamento registra o modelo ideal segundo o qual o interior deveria funcionar. No entanto, é importante estar ciente de que essas informações são apenas diagramáticas – ele ainda não é a planta baixa de um interior. Em tese, um arquiteto que está trabalhando com um terreno ainda desocupado poderia pegar o diagrama e transformá-lo em uma realidade construída com apenas alguns ajustes, mas a tarefa do designer de interiores é significativamente diferente, pois seu trabalho se dá no contexto de um espaço existente. A fim de avançar a proposta, o diagrama de planejamento deve ser adaptado ao local para estabelecer uma relação aceitável entre as exigências funcionais do programa de
O relacionamento entre o diagrama de planejamento e o local 93
necessidades e as características do prédio no qual o interior será configurado. Essa é uma tarefa relativamente simples, pois tanto o diagrama de planejamento como a planta baixa do terreno existente pode estar na mesma escala: as escala de 1:100 ou de 1:50 são as que costumam ser adequadas para o trabalho do designer de interiores nesta etapa do projeto. É importante observar que um diagrama de planejamento pode assumir muitas formas distintas em termos de layout sem que sejam mudadas as relações estabelecidas por ele – uma variedade de organizações espaciais pode ser criada em um espaço existente com base em um único ponto de partida. Na verdade, o designer de interiores deveria explorar e testar muitas opções antes de decidir qual seria o layout mais apropriado. Considerando-se que o diagrama de planejamento é um "ideal" e que o local é o interior de um prédio já construido, é inevitável que sejam necessárias algumas adapta-
ções. Muitas vezes o trabalho do designer de interiores é a otimização de uma situação que está longe de ser perfeita, e será preciso fazer concessões a fim de acomodar uma atividade ao espaço determinado. Alguns locais, inclusive, têm características tão rígidas – por exemplo, vidraças, instalações sanitárias ou a posição da entrada – que esses fatores dominam o processo de tomada de decisões no lugar das relações ideais que foram estabelecidas pelo diagrama de planejamento. Esse processo deve culminar na definição de uma planta baixa esquemática que concilie as exigências impostas pelo programa de necessidades com os condicionantes do local. O designer de interiores pode, então, explorar o modo como a planta baixa seria articulada em três dimensões (veja o Capítulo 7). Uma vez tomadas as decisões, poderão ser registradas (e trabalhadas) as informações em desenhos formais, isto é, nas plantas baixas e nos cortes do projeto.
1 Recepção 2 Sala de reuniões 3 Escritório do diretor-executivo 4 Escritório do diretor-financeiro 5 Vendas e marketing 6 Produção 7 Área técnica 8 Entrada de cargas 9 Designers 10 Showroom 11 Sala de amostras 12 Depósito 13 Provador 14 Lavagem e tinturaria
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1
11
13 12
3 4
5
6
7
A Parede revestida de madeira caiada reaproveitada B Viga de madeira caiada reaproveitada flutuando na frente da parede de vidro C Mesas de madeira reaproveitada obtidas na região e feitas sob encomenda
3
10
9 8
A
B
C
94 Capítulo 5: Do programa de necessidades à proposta
À direita As características do local apresentarão oportunidades e exigirão concessões. Fatores como a localização das vidraças, os elementos estruturais (incluindo as paredes e os pilares) e as entradas existentes ajudarão a determinar como o diagrama de planejamento será conciliado à edificação e suas vedações.
À direita e logo abaixo O mesmo diagrama de planejamento das páginas 90 e 91 pode ser introduzido ao local de vários modos. Como o diagrama de planejamento foi desenhado em uma escala usual (em geral de 1:100 ou de 1:50), suas informações podem ser facilmente testadas na planta baixa do prédio. Muitas opções devem ser exploradas antes que a planta baixa esquemática seja determinada.
ATELIÊ ESCRITÓRIO
SALA DE REUNIÕES
Área Cozinha de plotagem
SALA DE ESPERA
Recepção BANHEIRO
Área de plotagem
ESCRITÓRIO BANHEIRO
Cozinha ATELIÊ
SALA DE ESPERA Recepção Depósito
À direita Uma vez que a planta baixa esquemática foi explorada em três dimensões, as informações podem ser registradas a fim de gerar a proposta de planejamento final. À medida que o processo avança, um número cada vez maior de detalhes é resolvido.
Depósito
SALA DE REUNIÕES
O relacionamento entre o diagrama de planejamento e o local 95
À esquerda e abaixo Vistas do interior executado que usamos no estudo de caso – os escritórios de B Mes R 29 Arquitectes em Lleida, Espanha (2008).
96 Capítulo 5: Do programa de necessidades à proposta
Estudo de caso Uma exposição "Rogers Stirk Harbour + Partners – Da Casa à Cidade" / Ab Rogers Design
A exposição "Rogers Stirk Harbour + Partners – Da Casa à Cidade" foi inicialmente instalada no Centre Pompidou, em Paris, França, em 2007. Ela foi organizada com base nos temas-chave da produção da firma de arquitetura: Primeiros Trabalhos, Transparentes, Leves, Legíveis, Sustentáveis, Público, Sistemas, Urbanos e Trabalhos em Curso. Foram apresentadas maquetes em uma família de mesas de formato irregular, e cada um dos temas foi identificado por meio de uma cor, que codificou as diferentes zonas da exposição. Uma parede de sessenta metros de extensão com linha do tempo usou desenhos e fotografias para representar o
trabalho do escritório em sequência cronológica, enquanto uma "praça" na área central do espaço de exibições oferecia aos visitantes a oportunidade de ler sobre os projetos. As mesas coloridas, a parede com linha do tempo e a "praça" formaram os componentes da proposta. Projetadas como elementos separados, elas podiam ser combinadas de diferentes maneiras, permitindo que a mostra pudesse ser instaladas em vários locais diferentes. Ao longo de 25 anos, a exposição esteve em Barcelona, Pequim, Hong Kong, Londres, Madri, Cingapura e Taipei.
Acima A instalação inicial da mostra, no Centre Pompidou, Paris, França.
Abaixo Um dos elementos principais da exposição era a longa parede da linha do tempo, que precisou ser executada em várias situações distintas.
O relacionamento entre o diagrama de planejamento e o local 97
Acima A planta baixa da instalação no Centre Pompidou.
Abaixo Plantas das instalações subsequentes, em Barcelona, Madri e Taipei, ilustram o modo como um único conceito de design foi arranjado em vários layouts, respondendo a cada um dos locais.
Barcelona
Taipei
Madrid
CAPÍTULO 6 O IMPACTO DA EDIFICAÇÃO EXISTENTE
101 A ANÁLISE DE UMA EDIFICAÇÃO EXISTENTE 105 A INTRODUÇÃO DO NOVO AO EXISTENTE 108 A INTERVENÇÃO 112 A INSERÇÃO 116 A INSTALAÇÃO
100 Capítulo 6: O impacto da edificação existente
Introdução O designer de interiores em geral trabalhará dentro de um espaço interno e, consequentemente, uma edificação construída estabelecerá o contexto para a proposta. O invólucro dentro do qual o trabalho é feito pode ter grande significado histórico, estar cheio de detalhes de arquitetura ornamentais ou ser uma unidade simples e vazia de um novo shopping. Não importa o quão espetacular ou mundano o contexto seja, ele sempre exigirá que o designer considere
como algo novo deveria ser agregado ao ambiente. A resposta a essa questão é a chave para o sucesso de um projeto e será um agradável desafio para o projetista. Este capítulo introduzirá questões que o designer deve levar em consideração ao analisar um prédio existente. A seguir, veremos as estratégias que ele pode empregar para introduzir o novo interior.
Acima e à esquerda Em 2010, para celebrar o quinquagésimo aniversário da galeria de arte do castelo Duivenvoorde, nos Países Baixos, o Pavilhão dos Retratos, projetado por Pauline Bremmer Architects em colaboração com Office Jarrik Ouburg foi inserido no salão de baile do século XVIII do prédio. A forma da planta baixa do novo objeto responde ao padrão do carpete da sala, e foi criado um contraste entre o interior que existia, profusamente decorado, e a nova caixa espelhada e minimalista.
A análise de uma edificação existente 101
A análise de uma edificação existente A capacidade de analisar e entender uma edificação existente melhora com a experiência e o aprendizado. Os prédios são artefatos complexos e há muito a se aprender sobre por que e como uma edificação particular foi construída, assim como sobre a maneira como ela se apresenta ao designer de interiores que está se preparando para uma intervenção.
As páginas seguintes descreverão uma série de questões que devem ser consideradas durante o processo de compreensão de um local. Contudo, a natureza particular da edificação em questão ditará quais dessas questões são pertinentes em certo momento. As informações obtidas como resultado desse processo serão de importância vital – o desenvolvimento da proposta de design costuma ser uma resposta direta a questões identificadas durante a análise. O designer Logo à esquerda O contexto consiste em um depósito do final do século XIX localizado na Lower John Street, na esquina sudoeste da praça Golden Square, no Soho, Londres, Reino Unido.
À esquerda A localização é claramente identificável nestas fotografias aéreas, que nos oferecem algumas informações visuais sobre a natureza do contexto. Com esta foto, entendemos que o sítio (marcado em vermelho) está localizado em um denso contexto urbano, contíguo a uma praça pública e próximo a uma via arterial.
Abaixo, à esquerda No Reino Unido, as cartas da prefeitura, mapas na escala de 1:1.250, são utilizadas para registrar fatos sobre a localização exata de uma edificação. Aqui, o sítio em questão está claramente indicado por um contorno vermelho, as projeções das edificações adjacentes também são identificadas, e a relação do sítio com seu entorno começa a ficar mais evidente.
À esquerda A história do local e de como seu entorno imediato vem se desenvolvendo ao longo dos anos muitas vezes pode ser entendida com a análise de antigas fotografias e ilustrações.
102 Capítulo 6: O impacto da edificação existente
de interiores deve avaliar o que valeria a pena analisar a fim de compreender o que será útil para o desenvolvimento do projeto. Esta seção é ilustrada com materiais de um único projeto, localizado em 5 Lower John Street, no número 20 da praça Golden Square, no centro de Londres, Reino Unido.
Acima Os arquivos municipais contêm materiais como mapas de diferentes períodos, que são ferramentas vitais para uma melhor compreensão do desenvolvimento da área ao longo dos anos.
Logo à direita e bem à direita Os percursos de acesso a um local podem influenciar as decisões de planejamento do interior. Neste caso, um sistema viário com ruas de mão única significa que os veículos apenas podem se aproximar obliquamente, pela esquerda, chegando ao prédio de modo frontal, enquanto o acesso de pedestres pode-se dar tanto pela esquerda como pela direita ou pela frente do prédio, que está voltado para a praça. O relacionamento do sítio com a estação do metrô mais próxima significa que, de manhã, a maioria dos pedestres se aproxima do prédio pela esquerda, mas no final da tarde o fluxo é invertido.
À direita A orientação do prédio afetará como e quando a luz diurna incidirá nos espaços internos. Aqui, as janelas orientadas para o leste têm persianas que protegem os usuários do incômodo do sol do início da manhã.
Construído na década de 1880 e atualmente utilizado como um escritório, esse antigo depósito sofreu várias alterações durante os séculos XIX e XX e estava precisando de reparos significativos e modernizações. Em 2013, a firma de arquitetura Orms realizou um estudo de viabilidade para avaliar como o prédio poderia ser aproveitado.
A análise de uma edificação existente 103
À esquerda O tipo de construção do prédio afetará as decisões sobre como ele poderia ser alterado. Neste caso, as paredes portantes de alvenaria de tijolo suportam os pisos de madeira juntamente com as colunas de ferro fundido e as vigas de madeira. Respeitando-se a grelha estrutural, seria possível criar, com relativa facilidade, aberturas em cada um dos pavimentos, mas a remoção de colunas e vigas seria mais complicada.
Abaixo A identificação do tipo, número e localização de aberturas de um prédio auxiliará o projetista no desenvolvimento da proposta para um interior. Uma das duas entradas do prédio pela rua foi modificada durante a década de 1960, mas uma janela arqueada sobre a porta foi preservada e tem um impacto significativo no espaço interno que está por trás dela.
Acima
Acima
Acima
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Os materiais do prédio existente afetarão as decisões de design. Aqui, foram feitos alguns estudos em uma escada existente, a fim de revelar como a madeira ficaria caso fosse renovada.
O estado do interior existente frequentemente afetará a proposta. O piso de madeira existente mostra padrões de desgaste que estão relacionados com a posição de máquinas que foram removidas há muitos anos.
O entendimento dos detalhes de arquitetura de uma edificação permitirão ao designer de interiores tomar decisões bem embasadas em uma intervenção. Aqui, o capitel de uma coluna neoclássica foi identificado como sendo da ordem toscana.
A integração de instalações a um prédio já construído é complexa: aqui, vemos que as instalações de eletricidade e climatização foram agregadas à edificação de modo um tanto improvisado. Uma reforma sensível exigirá novas instalações.
104 Capítulo 6: O impacto da edificação existente
À direita As áreas de piso e os volumes devem ser adequados para as atividades que forem propostas para eles. Aqui, vemos um volume amplo e marcante, dotado de iluminação zenital, que é interrompido por uma grelha de colunas, criando um espaço difícil de ser subdividido em áreas menores. O designer de interiores precisará considerar cuidadosamente como este fantástico volume aberto poderia ser aproveitado ao máximo.
Logo à direita A grelha estrutural do prédio pode conduzir a solução de planejamento. Aqui, vemos que os principais elementos do prédio estão distribuídos de acordo com uma rede ortogonal de colunas (indicadas em vermelho) que está alinhada às laterais superior e direita da planta baixa. A fachada do prédio responde a esta grelha, enquanto o perímetro irregular da porção esquerda e de baixo da planta respondem à forma dos prédios adjacentes.
Bem à direita Em muitos interiores, os percursos de circulação estabelecidos podem ser difíceis de modificar e, portanto, influenciarão as decisões de planejamento futuras. Aqui, uma escada existente tem valor arquitetônico, o que sugere que ela deve ser preservada como parte integrante da proposta para o interior.
À direita A compreensão do prédio de intervenção ajudará o designer a identificar as oportunidades de mudança. Neste caso, a avaliação do tipo de construção do prédio, de sua grelha estrutural e das aberturas determinou a proposta de criação de um vão entre pisos, permitindo que a luz natural oriunda das claraboias chegasse ao nível térreo.
A introdução do novo ao existente 105
A introdução do novo ao existente Uma vez que o designer de interiores analisou o prédio existente e passou a entender um pouco mais do local, ele considerará como os novos elementos do interior serão introduzidos. Embora a solução seja influenciada pela natureza do cliente, as determinações do programa de necessidades, a vida útil proposta para o interior e o orçamento do projeto, a resposta ao prédio construído também é de suma importância para o designer de interiores. O designer considerará como as vedações desse prédio devem ser tratadas (restauradas, mantidas como estão, reformadas ou substituídas) e como qualquer novo componente se relacionará com aquilo que já existe. Ele poderá decidir pelo estabelecimento de um forte contraste entre o antigo e o novo ou criar uma transição imperceptível entre o passado e o futuro. Em seu livro Re-readings: Interior Architecture and the Design Principles of Remodelling Existing Buildings, Graeme Abaixo A proposta de Pardo + Tapia Arquitectos para o museu El Greco, em Toledo, Espanha, foi concluída em 2012. Dentro do que restara de uma casa do século XVI, foram
introduzidas novas passarelas "flutuantes", que conduzem os visitantes através dos espaços históricos sem tocá-los.
Brooker e Sally Stone definiram três estratégias para a introdução de um novo interior a um prédio existente: • Intervenção • Inserção • Instalação Essas estratégias oferecem abordagens claras e inteligentes sobre como o designer de interiores pode considerar a relação entre um novo interior e o prédio existente dentro do qual ele será inserido. Uma vez que é uma disciplina relativamente nova, o design de interiores tem apenas uma base teórica emergente com a qual operar e, como resultado, os designers frequentemente usam termos como "instalação" e "inserção" para descrever abordagens a problemas similares que podem ser contraditórias entre si. Por uma questão de clareza e consistência, este livro usará os termos propostos por Brooker e Stone como um meio útil de definição das estratégias que um designer de interiores pode empregar em resposta a um prédio construído.
106 Capítulo 6: O impacto da edificação existente
Nesta página Em 2013 uma antiga fábrica de Turim, Itália, foi transformada em um escritório contemporâneo para Sempla, uma companhia de tecnologia da informação e comunicação. DAP Studio decidiu remover os revestimentos das vedações, mas mantendo vestígios da estrutura antiga antes de introduzir os elementos brancos e marcantes que estabelecem um forte diálogo entre o velho e o novo.
A introdução do novo ao existente 107
Nesta página O Gourmet Tea é uma pequena cafeteria em São Paulo, Brasil, completada em 2011 por Alan Chu. O reboco foi removido, deixando expostos os tijolos das paredes de alvenaria, que depois foram pintados de branco. O piso existente foi reformado, e introduziu-se um novo plano de cobertura, simplificando o teto com vigas transversais. Após a definição do espaço, foram distribuídos o balcão, as mesas e as cadeiras como elementos de mobiliário soltos.
108 Capítulo 6: O impacto da edificação existente
A intervenção
Nesta página Compton Verney é uma mansão localizada em Warwickshire, Reino Unido, que foi tombada de acordo com a categoria britânica Grade 1 por ser considerada uma edificação de excepcional interesse histórico. Em 2004, Stanton Williams Architects transformaram o que era praticamente uma ruína em um centro de artes contemporâneas por meio de um misto de restauração, reforma e nova construção. As complexas necessidades quanto ao controle ambiental significaram que em algumas partes da mansão fosse necessária a estratégia de intervenção do "espaço dentro de outro" para a inserção de um sistema de dutos e controles. As novas paredes e tetos se tornaram parte integral das vedações existentes.
Em sua obra Re-readings: Interior Architecture and the Design Principles of Remodelling Existing Buildings, Graeme Brooker e Sally Stone afirmam o seguinte: "Se o prédio original aceita integralmente o novo design e com ele estabelece uma relação íntima, ou seja, os dois se tornam um, a nova categoria é uma intervenção."1 Quando a estratégia da intervenção é empregada, às vezes o existente e o novo são tratados de modo que se tornem indistintos um do outro. Isso pode significar que os novos elementos são feitos com um aspecto idêntico ao prédio construído ou que o tratamento dado a eles é utilizado para revestir as superfícies existentes. Outra possibilidade é fazer com que as diferenças entre o velho e o novo sejam claramente destacadas para que todos possam apreciá-las. Uma coisa é certa: em uma intervenção, o prédio sempre será modificado a fim de aceitar a introdução dos novos elementos, o que significa que o receptor será modificado para sempre. Uma intervenção provavelmente envolverá acréscimos ao prédio, mas também pode consistir apenas em subtrações, quando são removidos certos elementos para mudar o modo como o prédio existente opera. Embora uma intervenção exija que o velho e o novo sejam interdependentes, isso não significa necessariamente que tais elementos sejam homogêneos entre si. As novas intervenções serão determinadas pela natureza do que já existe, mas também podem assumir uma forma que se contrapõe ao que veio antes. 1 Graeme Brooker e Sally Stone, Re-readings: Interior Architecture and the Design Principles of Remodelling Existing Buildings, Londres, 2004, p. 79.
A intervenção 109
Nesta página Para criar esta nova casa em Londres, Reino Unido (finalizada em 1999), o designer John Pawson interveio em uma ampla e típica casa em fita, escavando em seus interiores. Isso tornou possível a introdução de uma configuração espacial totalmente nova dentro do fechamento do prédio ao mesmo tempo que manteve o exterior intacto. Apesar do forte contato, o novo interior e as vedações originais do prédio estão relacionados e são interdependentes.
110 Capítulo 6: O impacto da edificação existente
Estudo de caso Uma intervenção Casa Pérola Negra, Rotterdam, Países Baixos / Studio Rolf em parceria com Zecc Architects
Quando uma edificação é modificada de tal modo que as vedações existentes e os novos elementos se tornam dependentes uns dos outros, isso pode ser chamado de uma "intervenção". Com essa nova abordagem, os ajustes feitos ao prédio receptor são definitivos – ele e o novo interior se tornam integrados e inseparáveis. Studio Rolf e Zecc Architects transformaram uma velha casa urbana em uma nova casa com ateliê. Finalizado em 2010, este projeto é um experimento de transformação de um espaço construído que também busca fazer uma declaração sobre o tempo e a reciclagem de uso das edificações. A fachada permaneceu congelada no tempo, sendo a ela aplicada apenas uma camada de tinta preta, e o interior contemporâneo é expresso por meio das novas aberturas transparentes que desconsideram a elevação original. Todos os pisos da casa foram removidos, criando um único volume, que permitiu a introdução de um arranjo espacial interno totalmente novo. Assim como o exterior, o interior conta a história do prédio ao deixar visíveis alguns vestígios de seu passado. As alvenarias de tijolo foram descascadas, revelando pistas do posicionamento de antigos níveis de piso, paredes e corrimãos, enquanto os novos elementos ocupam com audácia a casca, conectando-se ao prédio do modo que for necessário. O esquema apresenta uma abordagem garantida de trabalhar um prédio construído de uma maneira desafiadora. O interior e o exterior são tratados distintamente, mas ambas as abordagens se comunicam, estabelecendo uma narrativa sobre o desenvolvimento do prédio ao longo do tempo. Agora o novo e o velho estão em uma relação de interdependência – um já não existe sem o outro. À direita, no alto Uma camada de tinta preta "congela" o prédio original em determinado ponto do tempo e unifica toda a fachada original. O novo interior torna-se evidente na elevação frontal como uma série de novas aberturas envidraçadas com esquadrias de metal. Esses novos elementos ignoram as janelas existentes e avançam em relação ao plano da fachada de modo aparentemente aleatório. Logo à direita Um detalhe da fachada, mostrando uma nova abertura que avança em relação ao fechamento original do prédio. Bem à direita Corte do prédio, indicando como os novos níveis e as escadas foram inseridos no grande volume criado pela remoção de antigas paredes e pisos internos.
A intervenção 111
Bem à esquerda O novo interior permite que relações visuais sejam estabelecidas entre os diferentes níveis de piso do espaço interno. As aberturas do fechamento do prédio preexistente respondem à nova configuração interna, estabelecendo uma tensão descontraída entre interior e exterior, novo e velho. Logo à esquerda O balcão com pia, a parede e o guarda-corpo se fundem, tornando-se formas espaciais de extrema simplicidade que contrastam com o fechamento original do prédio.
Logo à esquerda Vestígios da escada original foram deixados expostos, dando informações sobre o passado do prédio. Abaixo, à esquerda e à direita Às vezes, os novos componentes do interior flutuam e se afastam das paredes externas do velho prédio; em outras ocasiões, eles as encontram com suavidade, ou então colidem com elas. Seja qual for a abordagem empregada, sempre é dada uma grande importância ao relacionamento entre a arquitetura original e o novo interior.
112 Capítulo 6: O impacto da edificação existente
A inserção Conforme Graeme Brooker e Sally Stone, uma inserção acontece quando "o prédio receptor permite e acomoda novos elementos, que são construídos para se adequarem às dimensões exatas daquilo que existia e para serem introduzidos dentro dele ou ao seu redor, mas o existente ainda assim se mantém quase intocado".2 O emprego da estratégia da inserção pode estabelecer um diálogo entre o prédio e os novos elementos introduzidos. Esse intercâmbio muitas vezes será cordial, pois os novos componentes serão feitos sob encomenda para o local específico e poderão adotar uma forma idêntica ao prédio original ou condizente com ele. Todavia, mesmo que a nova inserção seja especificamente projetada para um local particular, ela também pode ser uma oportunidade para o estabe-
lecimento de um conflito ao assumir uma forma totalmente contraditória à do espaço existente. O prédio receptor pode permanecer totalmente intocado durante a obra, ou então ele pode ser modificado antes da introdução dos componentes feitos especialmente para seu interior. Como esta estratégia significa que há uma relação direta entre o tamanho da inserção e o espaço no qual ela é introduzida, o resultado é uma solução de interior especial que é projetada somente para aquele espaço interno. Ainda que não seja prevista a relocação dos elementos inseridos, eles poderão ser removidos sem afetar de modo indevido a construção na qual habitam. 2 Brooker e Stone, Re-readings, p. 79.
À esquerda Neste projeto de um aluno, um elemento feito especialmente para o local é inserido em uma estação ferroviária do século XIX, criando um novo tipo de loja de música. A forma de bolha e sua estrutura de sustentação foram dimensionadas em resposta às tesouras da cobertura do prédio existente.
A inserção 113
Acima
Abaixo, à esquerda
No Centro de Visitantes da Abadia de Whitby, em Yorkshire, Reino Unido, que foi inaugurado em 2002, Stanton Williams Architects usaram a estratégia da inserção para criar um novo interior no salão de banquetes do século XVII, que estava praticamente em ruína.
Uma estrutura construída especialmente para o local sustenta a cobertura, e um piso superior é inserido na ruína, de modo que possa ser lida como uma estrutura moderna e independente que contrasta com os vestígios e pedra existentes. Na elevação sul, uma parede de metal, vidro e madeira é suspensa na estrutura, como se fosse uma cortina, criando uma vedação que enfatiza ainda mais a justaposição do novo ao velho.
114 Capítulo 6: O impacto da edificação existente
Estudo de caso Uma inserção Sala do Silêncio da loja de departamentos Selfridges, Londres, Reino Unido / Alex Cochrane Architects
Uma "inserção" envolve dispor novos elementos dentro de um espaço existente de tal modo que seja possível removê-los posteriormente sem que o prédio original sofra algum tipo de impacto. O que distingue esta estratégia de uma "instalação" (veja a página seguinte) é o fato de que as dimensões dos novos elementos são uma resposta direta ao tamanho do local, ou seja, o novo interior é feito especificamente para o contexto em que será inserido. Alex Cochrane Architects empregou a estratégia da inserção para responder aos parâmetros deste projeto, que foi completado em 2013. Como a Sala do Silêncio seria um interior de natureza temporária, era importante que o espaço pudesse ser estabelecido e posteriormente removido, deixando intocado o prédio existente. Este apresentava um espaço que continha seis pilares, os quais poderiam ser considerados problemáticos, mas que, em última análise, determinaram a solução. À direita e abaixo Os desenhos iniciais do conceito mostram a proposta de uma caixa de luz que flutua no volume negro como "um espaço dentro de outro". O vão entre o prédio e o objeto nele inserido se torna o espaço de circulação, forçando os usuários a fazerem um percurso em espiral ao redor da caixa antes de culminarem dentro da Sala do Silêncio propriamente dita.
Ao inserir os pilares dentro de uma espessa parede, criou-se um recinto central dentro do volume. Essa tática responde ao programa de necessidades – criar um espaço silencioso –, formando um destino isolado do principal piso da loja pelo vão que o circunda. Neste caso, a estratégia da inserção oferece uma solução inteligente aos desafios impostos pela vida útil proposta para o interior, o contexto e o programa. A proposta executa de modo confiante uma grande ideia conceitual, obtendo um ótimo efeito. Decidiu-se tratar o espaço receptor como uma "caixa preta" e introduzir um novo volume ortogonal como um "espaço dentro de outro". O exterior da nova caixa é escuro, ajudando a criar uma circulação sombria que leva ao santuário suave e de luz quente que compõe o núcleo do espaço. Todos os novos elementos foram dimensionados de modo a se fundirem aos preexistentes.
A inserção 115
À esquerda O simples diagrama de planejamento tem de resolver alguns desafios impostos pelo local, onde há seis pilares (destacados em vermelho) dentro do espaço alocado. As dimensões e posições dos pilares são consideradas, e a solução proposta usa tal informação como fator determinante para o dimensionamento da caixa inserida. Os designers tomaram a decisão de criar o recinto central com uma pele externa e outra interna, o que cria a impressão de uma grossa parede definindo o espaço central e significa que os pilares existentes podem ficar "perdidos" dentro de uma cavidade. O resultado é um recinto especificamente feito para o local, em resposta ao contexto particular e às suas dimensões.
Logo à esquerda e bem à esquerda O espaço existente foi pintado de preto para criar um misterioso espaço intermediário entre a loja de departamentos movimentada e o santuário da Sala do Silêncio. Os usuários circulam ao redor do volume central praticamente na escuridão total antes de chegarem ao destino tranquilo e suavemente iluminado. As paredes do prédio existente foram revestidas de painéis de MDF, formando a pele externa do volume central, criando uma zona de circulação lisa e dura. Cada um dos painéis foi feito sob encomenda, de acordo com as dimensões específicas do local.
Acima O espaço central se mostra como um refúgio seguro, contrastando com o percurso de circulação precedente e o piso da loja ao seu redor. A suave iluminação sugere que o espaço está "flutuando", enquanto as paredes, os assentos e o piso foram revestidos com painéis de feltro macios, proporcionando conforto e absorção acústica. O volume central é aberto no alto e "toma emprestado" o teto do espaço da loja. As instalações que havia no teto da loja ficaram aparentes e foram pintadas de preto.
Acima Para este interior temporário – cuja duração seria de apenas alguns meses – foi empregada uma palheta de materiais simples que, contudo, foi detalhada com cuidado e precisão a fim de gerar um resultado refinado. O feltro de lã natural e o revestimento de madeira de carvalho foram utilizados de maneira rígida, seguindo uma modulação rigorosa para racionalizar os elementos de arquitetura do local existente.
116 Capítulo 6: O impacto da edificação existente
A instalação
Abaixo Completados em 2008, os escritórios da agência de publicidade Pullpo, em Santiago do Chile, foram projetados por Hania Stambuk. Objetos de vidro e aço foram instalados no volume cavernoso de uma fábrica de sal desativada, criando espaços mais intimistas. Os novos elementos foram dimensionados de modo que respondessem às atividades que eles acomodam e não têm uma relação direta com o tamanho ou a forma do fechamento da arquitetura.
De acordo com Graeme Brooker e Sally Stone, uma instalação ocorre quando "o antigo e o novo existem juntos, mas se estabelece uma relação muito tênue entre eles".3 Ao empregar a estratégia da instalação, o designer de interiores pode inserir objetos novos em uma edificação existente, que é deixada exatamente do modo como foi encontrada. Isso pode levar a um diálogo interessante entre os elementos novos e velhos em termos de materiais e acabamentos – por exemplo, um novo objeto, liso e brilhante, é instalado contra um interior antigo e bastante texturizado. Talvez seja o caso de um programa de restauração, reforma ou renovação ser realizado anteriormente; assim, uma vez completo o prédio receptor, o espaço fica pronto para que suas novas obras sejam instaladas. Em termos de tamanho, apenas é necessário que o prédio seja grande o suficiente para acomodar a nova instalação. Como, em uma estratégia de instalação, há uma fraca relação entre a edificação receptora e os novos elementos de interior introduzidos, essa abordagem frequentemente é
A instalação 117
empregada para exposições temporárias e eventos nos quais é necessário um toque suave. No caso de exposições itinerantes, pode-se usar um sistema modular segundo uma configuração particular em um terreno e, então, adotar uma forma diferente e mais adequada em outro local. Essa abordagem pode ser empregada no design de uma loja, quando um conjunto de componentes é projetado a fim de conferir uma identidade de interior a uma marca específica, para que tais elementos possam ser montados e distribuídos de várias maneiras, respondendo a diferentes condições do local. Em ambas as circunstâncias, uma chave para o sucesso da estratégia será a consideração da tolerância: é vital garantir que a relação entre a instalação e o prédio receptor seja informal e "folgada". Além disso, é importante considerar a maneira como os elementos novos se inserem dentro do prédio preexistente – eles devem ser como móveis dentro de um cômodo, ou seja, estabelecer relações temporárias. Uma vez removidos os objetos da instalação, devem restar poucos vestígios. 3 Brooker e Stone, Re-readings, p. 79.
Acima, à esquerda
Acima, à direita
Gundry & Ducker projetaram "The Draughtsman's Arms" [Os Braços do Desenhista] como parte de uma breve exposição e debate sobre o futuro da arquitetura que aconteceu na cripta de uma igreja de Londres, Reino Unido, obra de sir John Soane. Este projeto de pequena escala compreendia um objeto suspenso que foi instalado no espaço e que servia de área de recepção para a exposição e, então, como bar durante o debate. Uma vez terminada a exposição, a estrutura foi removida e o prédio ficou como estava antes.
No Wapping Project de Londres, Reino Unido (2000), a usina hidrelétrica original ficou praticamente intocada e o restaurante foi criado com a inserção de elementos de interiores como se fossem meros móveis soltos no espaço. Os novos componentes contrastantes com os antigos podiam ser removidos a qualquer momento, deixando a arquitetura original intacta.
118 Capítulo 6: O impacto da edificação preexistente
Estudo de caso Uma instalação KMS Team studio, Munique, Alemanha / Tools Off.Architecture
À esquerda A situação da estrutura existente é preservada e as vedações levemente decadentes do prédio industrial desativado também são mantidas. As portas sanfonadas de madeira foram abertas a fim de revelar os elementos envidraçados inseridos nas aberturas, criando um volume interno estanque que, então, foi definido por uma série de objetos instalados no espaço. Abaixo, à esquerda O interior existente foi tratado com simplicidade, com um aspecto funcional apropriado ao uso original do prédio. Foi criada uma casca robusta e moderada que iria conter os novos elementos de interior. Abaixo, no centro Quando surgiu a necessidade de conectar os níveis existentes, foi instalada uma escada industrial como se fosse um "objeto" independente do fechamento do prédio. Esta escada pode ser vista como uma entidade pré-fabricada e separada que poderia estar bem inserida em outro local qualquer. Abaixo Um simples quadro negro serve como meio flexível para o compartilhamento de informações dentro da empresa. Localizado ao lado da área para refeições leves, ele serve tanto de base para a inscrição do cardápio como de tabela de planejamento do escritório. As dimensões do plano foram determinadas pelo tamanho da chapa da matéria-prima (ao contrário da parede que está atrás), e o quadro negro está apoiado de modo casual na parede externa do prédio, enfatizando sua natureza temporária em comparação com a arquitetura estática.
A instalação 119
Para que um projeto seja considerado como uma "instalação", ele precisa envolver o posicionamento dos elementos de interior cujos tamanhos e formas são considerados autônomos e não se relacionam diretamente com as dimensões ou a forma do prédio receptor. Esses elementos ou objetos poderiam ser removidos do prédio e colocados em outro espaço interno de tamanho e função apropriados. Concluído em 2000 pela firma alemã Tools Off.Architecture, este projeto adota a estratégia da instalação para definir o interior de um ateliê
Logo acima e acima à direita As funções internas específicas foram definidas por planos dobrados de materiais robustos que respondem às características do prédio construído. As dimensões desses planos foram determinadas pelas exigências das funções atendidas e não se relacionam com o ambiente do entorno. Um plano de chapa dobrada de metal enferrujada define a biblioteca, enquanto um plano de concreto também dobrado cria um espaço para uma área de uso comum para refeições leves. Os materiais contrastantes entre si estabelecem as diferentes funções dos espaços, enquanto uma linguagem formal comum unifica os elementos, tornando-os parte de um todo compositivo. Logo à direita e bem à direita A área da biblioteca e a área das refeições leves "flutuam" dentro do volume. O relacionamento entre os novos elementos e a arquitetura existente faz uma declaração clara sobre a natureza temporária do interior em relação ao prédio receptor, mais permanente.
de criação em um espaço industrial abandonado. Vários elementos novos foram instalados no espaço, sendo um bom exemplo desta abordagem. Respondendo à estética funcional do prédio fabril, os designers utilizaram uma palheta contida de matérias-primas simples e resistentes que juntas criam uma linguagem coerente para a proposta. Madeira, metal e concreto foram empregados a fim de definir atividades particulares, e um conjunto de objetos foi inserido no espaço para servir de suporte às necessidades dos usuários. Cada um dos objetos adota uma forma ousada e bem defini-
da, evidenciando sua existência dentro do espaço de arquitetura. Um dos pontos fortes dessa proposta é a consideração que foi dada a como o local existente deveria ser tratado. Um cuidadoso programa de restauração resgata o prédio industrial de seu estado de quase ruína, criando o pano de fundo perfeito para as novas formas introduzidas pelos designers, que podem ser vistas como esculturas em uma galeria de arte. Contudo, a relação entre o novo e o antigo é temporária: as esculturas podem ser removidas da galeria a qualquer momento.
CAPÍTULO 7 O DESENVOLVIMENTO DE COMPOSIÇÕES ESPACIAIS TRIDIMENSIONAIS 123 A CONFIGURAÇÃO DOS ESPAÇOS 125 A EXPLORAÇÃO DE CONTRASTES 132 A CRIAÇÃO DE COMPOSIÇÕES ESPACIAIS
122 Capítulo 7: O desenvolvimento de composições espaciais tridimensionais
Introdução O planejamento espacial, em suma, trata de garantir que espaços com dimensões, formatos e tipos apropriados sejam localizados no local correto. Para que um prédio funcione bem, é essencial conseguir o arranjo correto de seus recursos e instalações. Todavia, a articulação desse diagrama de planejamento em três dimensões oferece ao designer a oportunidade de criar espaços internos muito interessantes e estimulantes, adequados às atividades que neles ocorrem. Qualquer distribuição de planejamento pode ser feita em três dimensões de infinitas maneiras, permitindo ao designer de interiores explorar como os materiais, a forma e a estrutura podem ser manipulados para criar composições volumétricas que confiram vida a um diagrama de planejamento. Este capítulo introduzirá questões relativas ao desenvolvimento de composições espaciais tridimensionais como parte do processo de design de interiores.
Acima No "local de trabalho social" Combiwerk em Delft, Países Baixos, 2012, a firma de design holandesa i29 definiu as zonas de um espaço aberto por meio do uso de cores, composições de planos verticais, mudanças de acabamento de piso e distribuição de móveis. Esta abor-
Acima
À direita
O balcão da loja Pleats Please da Issey Miyake em Nova York, Estados Unidos, foi criado como um cubo flutuante instalado no local, um exemplo típico da estratégia do "espaço dentro de outro". Como o cubo não toca o piso, ele imediatamente questiona a ideia da divisão espacial tradicional, ou seja, o uso de paredes internas que surgem do piso. As faces que definem o objeto como um cubo são articuladas de modos distintos, explorando a espessura e como eles podem ser mais "abertos" ou "fechados" a fim de criar um volume tanto escultórico quanto funcional. A loja foi projetada por Curiosity em 1999.
Breathe Architecture terminou o bar e restaurante Captain Melville em Melbourne, Austrália, em 2012. O espaço para refeições é uma ampliação de um prédio de 1853 que foi o primeiro hotel da cidade, e mesas e assentos foram definidos por gaiolas de metal que sugerem as tendas nas quais viveram os primeiros colonos da cidade. Esses elementos contrastam com a maneira que tanto a nova ampliação como o prédio existente foram estabelecidos.
dagem criou uma série de espaços sofisticados que se sobrepõem e relacionam – eles às vezes são privados, outras vezes, comunitários. O esquema explora a ambiguidade de como o espaço pode ser dividido.
A configuração dos espaços 123
A configuração dos espaços Provavelmente, a tarefa mais comum de um designer de interiores seja determinar como dois espaços adjacentes podem ser configurados de modo a se distinguirem. Essa diferença costuma ser estabelecida por meio da construção de uma parede interna opaca que vai do piso ao teto, resultando na criação de cômodos celulares, com o aspecto de caixas. Embora seja apropriada em muitas circunstâncias, esse meio de separação de ambientes é, em última análise, um tanto grosseiro e muito pouco sofisticado, além de não ser o ideal nas situações em que maneiras mais ambíguas de divisão de espaços são decididamente mais interessantes. Uma parede interna opaca que vai do piso ao teto oferece uma divisão quase "fechada" entre dois espaços contíguos,
Nesta página Na imagem superior esquerda, um espaço quadrado simples é dividido em dois por uma linha no piso; em contraposição, na imagem inferior direita, um volume totalmente fechado divide o espaço em duas metades absolutamente distintas. Entre esses dois extremos, vemos exemplos de modos mais ambíguos como os espaços podem ser diferenciados uns dos outros – na verdade, as possibilidades são infinitas e o desenvolvimento desses métodos é uma das principais tarefas da atividade de um designer de interiores.
enquanto uma linha traçada no piso talvez seja a maneira mais "aberta" de dividir um espaço em dois. Em termos de divisão de espaços, esses dois exemplos representam os dois extremos do espectro. Assim, para o designer de interiores, o interesse real está em um "meio-termo" que ofereça oportunidades infinitas para a exploração de como os espaços podem ser divididos de maneiras mais ou menos "abertas" ou "fechadas". O desenvolvimento de maneiras interessantes de configuração de espaços distintos envolve a investigação de materiais, formas e estruturas, e essa questão sozinha poderia ocupar a obra da vida inteira de um designer de interiores.
124 Capítulo 7: O desenvolvimento de composições espaciais tridimensionais
Estudo de caso A criação de composições espaciais Casa de Vidro, New Canaan, Estados Unidos / Philip Johnson
Construída em 1949, a Casa de Vidro é um conjunto de formas geométricas puras e simples distribuídas a fim de criar uma composição que defina os espaços necessários para um refúgio de fim de semana. Neste prédio de pequena escala, uma série de recursos espaciais distintos foi usada para criar as vedações da arquitetura e o interior. Philip Johnson disse que a inspiração para o prédio veio da observação de um prédio de madeira destruído por um incêndio, onde tudo o que havia restado eram as fundações de tijolo e a chaminé. A forma da Casa de Vidro é definida por dois elementos de alvenaria de tijolo: o plano-base horizontal elevado e o cilindro que contém a chaminé e o banheiro. O interior foi estabelecido com a colocação do plano de cobertura sobre o plano-base e a criação de uma gaiola de aço com uma pele de vidro que envolve o perímetro. O cilindro de tijolo foi concebido como um "espaço dentro de outro", permitindo que fosse lido como um objeto puro no interior, cuja posição foi cuidadosamente determinada a fim de estabelecer a divisão primária do espaço em uma série de zonas interconectadas. Dentro dessas zonas, as atividades são definidas com o uso de planos verticais e horizontais na forma de elementos de arquitetura, componentes de interior ou móveis que, juntos, desempenham seus papéis específicos no todo, isto é, na composição final. Como a Casa de Vidro é um dos prédios mais im-
portantes do século XX, é interessante notar que ela pode ser lida como um interior que se funde à paisagem com tanto sucesso que sua arquitetura é quase invisível. Os elementos que definem a edificação pertencem ao mundo do design de interiores – piso, teto, armários, balcão de cozinha, tapete, pintura, cadeiras, mesa e vaso – e, neste caso, foram compostos com extrema disciplina e rigor.
Acima A Casa de Vidro é um ensaio sobre a composição espacial modernista que permite a definição de uma série de zonas diferenciadas por meio de espaços abertos e inter-relacionados. Até mesmo a posição do vaso sobre a mesa é considerada como parte da composição, fazendo uma referência jocosa à planta baixa do prédio.
Acima Os planos horizontais estão entre os recursos empregados para articular o prédio como um todo, definindo as diferentes zonas do interior, bem como as atividades dentro dessas zonas.
Acima Uma série de planos verticais de diferentes alturas divide os espaços de modo a regular sua abertura em relação aos demais. Esses elementos em sua maioria são itens de mobiliário, não paredes internas.
Acima Feito com o mesmo tijolo do plano-base, o cilindro que contém a chaminé e o banheiro é um "espaço dentro de outro" cuidadosamente posicionado de modo a articular os espaços entre ele e as vedações de vidro. O tamanho, a forma e o material do cilindro fazem dele o principal elemento da casa.
A exploração de contrastes 125
A exploração de contrastes As composições espaciais podem ser definidas como maneiras interessantes, incomuns e estimulantes de explorar as oportunidades de criar contrastes entre os elementos de uma configuração. São muitos os contrastes com os quais o designer de interiores pode jogar, como, por exemplo, o antagonismo entre velho e novo, iluminado e escuro, liso e texturizado, brilhante e fosco. Ao estudarem os contrastes extremos – e o máximo possível da zona intermediária –, os designers de interiores podem, nos locais possíveis, criar composições espaciais com equilíbrio, harmonia ou contraponto. Talvez os contrastes mais importantes que um designer de interiores considerará em sua obra sejam:
• Aberto versus fechado • Pesado versus leve • Opaco versus transparente Esses contrastes tratam da maneira formal como os espaços são definidos e se relacionam uns com os outros, bem como dos materiais empregados no processo. Muitos projetos de interior bem-sucedidos criam composições volumétricas que são definidas por elementos que exploram todos esses contrastes simultaneamente durante a configuração de um espaço interno – na verdade, eles são tão conectados entre si que, às vezes, não é possível separar um ambiente do outro.
À esquerda Nesta casa privada finalizada em 2012 em San Francisco, Estados Unidos, os designers da firma Garcia Tamjidi Architecture Design criaram divisões de espaço com o intuito de serem lidos como simples, sólidos e "fechados".
À esquerda A entrada do cabeleireiro masculino Tribeca em Tóquio, no Japão, brinca com ideias sobre o que seriam um interior e um exterior. Projetado pela Curiosity em 2006, o espaço é lido como um todo, apesar de ser dividido pela metade por uma parede de vidro: o interior é fisicamente fechado do exterior, mas visualmente aberto. O balcão da recepção avança para fora, e o capacho da entrada ajuda a definir o ponto de entrada de modo aberto por meio de um simples contraste entre materiais e cores – o retângulo preto age como uma passarela que conduz do exterior para o interior (ele também resolve os problemas de praticidade criados por acabamentos de piso duros e lisos em dias chuvosos). Por fim, estabelece-se um jogo formal no qual a porta (que será aberta) é um prisma, enquanto a parede interna (fechada) na qual a porta se insere é translúcida.
126 Capítulo 7: O desenvolvimento de composições espaciais tridimensionais
Aberto versus fechado Como já dissemos, os espaços podem ser definidos de maneiras infinitas, podendo, nas situações extremas, ser completamente abertos ou fechados. Entre esses extremos, há inúmeras variantes que jogam com a ideia de ora serem mais abertos, ora mais fechados. O tamanho e a forma de um elemento utilizado para definir um espaço de outro é crucial para estabelecer o nível de separação entre os dois espaços. Uma parede interna retangular que vai do piso ao teto e é feita de material opaco criará uma divisão de espaço "fechada". Se for feita uma abertura na parede, a divisão se tornará menos "fecha-
da" e mais "aberta". À medida que aumentar o tamanho ou número de aberturas, a parede interna se tornará cada vez mais "aberta". O material empregado para criar a divisão do espaço é outro fator contribuinte: quando são incluídos materiais transparentes, translúcidos ou perfurados, os espaços podem estar fisicamente divididos (e, portanto, "fechados" entre si), mas visual e acusticamente conectados (e, portanto, "abertos" entre si). O nível apropriado de conexão física ou visual entre diferentes espaços será determinado pelas exigências funcionais e, talvez, também pela ideia conceitual que embasa a proposta.
À esquerda Estes escritórios para uma empresa de construção em San Francisco, Estados Unidos, foram criados em 2013 por jones | haydu. Os espaços de trabalho são configurados por meias-paredes de madeira que ajudam a estabelecer espaços pessoais "fechados" e, ao mesmo tempo, permitem uma comunicação "aberta" e fácil entre os colegas que se erguerem.
À esquerda A Wonder Room da loja de departamentos londrina Selfridges é um conjunto de butiques de marcas de luxo. Em 2007, Klein Dytham Architecture desenhou o interior, criando uma parede elegante de lâminas ortogonais às paredes de vidro do recinto. Quando são vistas de frente, as lâminas tornam muito visíveis as operações de cada marca, mas, quando vistas obliquamente, se tornam um anteparo que faz com que as operações desapareçam e o foco passe para a área central de cada cômodo.
A exploração de contrastes 127
Nesta página Um painel pivotante permite com que esta divisória de um apartamento em Berlim, Alemanha, projetado por Reinhardt Jung em 2010, torne-se uma divisória flexível do espaço – ele pode ser posicionado de várias maneiras, criando diferentes níveis de separação espacial.
128 Capítulo 7: O desenvolvimento de composições espaciais tridimensionais
Leve versus pesado O designer de interiores pode explorar e manipular formas e materiais para criar contrastes visuais de "peso" em composições espaciais. "Leve" e "pesado" podem ser conseguidos por meio das proporções e dimensões dos elementos, sua textura, cor e materiais empregados na construção. Uma parede maciça, opaca, espessa, fosca, áspera e de cor escura será percebida como pesada, enquanto outra transparente, fina, brilhante, lisa e de cor clara será leve, em comparação. Um especialista em interiores pode projetar de modo consciente cada elemento a fim de contribuir para a composição espacial como um todo. As ideias conceituais e necessidades funcionais ajudarão a determinar a linguagem visual que o designer desenvolverá para a proposta.
Acima
À direita
O interior projetado pela Dear Design em 2009 para a loja icônica Lurdes Bergada & Syngman Cucala em Barcelona, Espanha, envolve elementos contrastantes em termos de peso. As roupas ficam penduradas em araras leves e elegantes, mas a construção do prédio é escura e pesada, e a parede facetada e irregular que define os espaços funcionais da loja foi feita de madeira e preenche o segundo plano da composição.
A butique do designer de roupas masculinas Michel Brisson localiza-se em um prédio brutalista da década de 1970 que foi construído para um banco, em Montreal, Canadá. O projeto realizado em 2011 por Saucier + Perrotte Architectes explora o peso da estrutura de concreto original e o contrapõe à leveza do novo forro translúcido e iluminado por trás, enquanto os acabamentos espelhados e em vidro fumê agregam elementos de peso intermediário à composição.
Acima
À direita
A composição deste saguão de um prédio de escritórios é definida por três elementos: há a pele branca, fosca e "leve" do edifício, dentro da qual se inserem dois conjuntos de elevadores, fechados por uma caixa de pedra cinza e texturizada, criando um "pesado" contraste. Os assentos do saguão, macios, curvilíneos e coloridos que agem como contraponto à arquitetura monocromática compõem o terceiro componente do projeto realizado em 2012 pelo group8 para o prédio Indochine Plaza Hanoi, no Vietnã.
No The Café in the Park, em Osaka, Japão, uma composição de luminárias lineares e flutuantes cria um contraponto aos planos mais pesados utilizados para definir o espaço como um todo. O projeto foi feito por Curiosity em 2009.
130 Capítulo 7: O desenvolvimento de composições espaciais tridimensionais
Opaco versus transparente Os níveis de opacidade e transparência de um interior em geral são determinados pelos materiais empregados para estabelecer a divisão do espaço. Há muitos materiais que são completamente opacos e outros que oferecem altos níveis de transparência, como vidro e acrílico. Para o designer de interiores, há muito a se explorar entre esses dois extremos. A translucidez permite a passagem da luz através de um material ao mesmo tempo que restringe a visibilidade. A percepção de transparência ou translucidez de um material muitas vezes depende das condições de iluminação prevalecentes: um vidro corado reflexivo pode se tornar totalmente transparente se a iluminação do local onde ele está for alterada, permitindo a intrigante possibilidade de que os espaços passem da condição de transparência ("abertura") à de opacidade ("fechamento") com o mero acionamento de um interruptor.
Acima
Abaixo
Acima
Neste projeto feito em 2012 para um prédio de escritórios em Tianjin, China, por Vector Architects, a sala de reuniões é configurada por uma parede feita de vidro alaranjado. A translucidez do material permite que o recinto muito iluminado aja como uma luminária gigante, também tornando claro o espaço escuro que o circunda.
Completada em 1986, a loja que John Pawson projetou para a empresa de moda Jigsaw no centro de Londres criou uma composição por meio da opacidade das vedações do prédio, os painéis translúcidos de vidro jateado e os balcões e prateleiras de madeira, opacos.
Uma parede interna de vidro da Biblioteca Pública McAllen no Texas, Estados Unidos, é completamente transparente abaixo do nível de um observador que esteja sentado, permitindo vislumbres do espaço pelo lado de fora e, ao mesmo tempo, mantendo alguma privacidade para aqueles que estão relaxando dentro do recinto. Este projeto foi feito por MSR em 2011.
A exploração de contrastes 131
Acima Como parte de sua proposta feita em 2000 para os escritórios do ARB (Conselho de Arquitetura do Reino Unido) em Londres, Reino Unido, dRMM criou uma ilha central de espaços para reuniões definida por uma parede de policarbonato corrugada. O perfil do material aumenta a variedade de vistas permitidas por sua transparência. A parede, claramente verticalizada, contrasta com a opacidade dos planos horizontais do piso e do teto.
À esquerda A proposta elaborada por Curiosity em 1999 para a loja Pleats Please da Issey Miyake em Nova York, Estados Unidos, usa um tratamento de vidro que oferece níveis variados de transparência à medida que os visitantes se deslocam pelo interior.
132 Capítulo 7: O desenvolvimento de composições espaciais tridimensionais
A criação de composições espaciais Um designer de interiores que está desenvolvendo uma composição espacial é como um chef preparando uma refeição: ele combina uma variedade de ingredientes de modo particular, a fim de criar um prato que contenha diversos aromas, sabores, texturas e cores. Para poder começar seu trabalho, o designer de interiores precisa de alguns ingredientes para manipular e combinar em busca de um resultado tridimensional. Em termos meramente compositivos, esses são alguns elementos fundamentais que formam a base de grande parte de um trabalho desses profissionais. Tais elementos podem divididos da seguinte maneira: • Planos horizontais • Planos verticais • Vigas • Pilares ou colunas • Arcos
Esses elementos são empregados, conforme o necessário, para criar arranjos espaciais que possam definir e articular volumes e também estabelecer as formas necessárias para permitir que as atividades ocorram de acordo com a função da edificação. Nas etapas preliminares da elaboração de um projeto, esses elementos podem ser considerados na forma diagramática simples, mas, à medida que a proposta for desenvolvida, suas formas, proporções, tamanho, materiais, cores, texturas e acabamentos serão refinados visando a um resultado mais sofisticado. Uma composição simples desses elementos em sua forma mais básica pode ser explorada de maneiras quase infinitas pelo desenvolvimento de expressões alternativas da configuração e pela exploração de contrastes como aberto versus fechado, leve versus pesado e opaco versus transparente, conforme descrito nas páginas 128–31.
Planos horizontais
Planos verticais
Vigas
Pilares ou colunas
Arcos
Uma composição espacial que usa todos os cinco elementos.
A criação de composições espaciais 133
À direita Um projeto feito por Dake Wells Architecture em 2011, a proposta para o Andy’s Frozen Custard Home Office em Springfield, Missouri, Estados Unidos, está organizada com base em um plano irregular que foi dobrado várias vezes, criando uma forma ortogonal que se torna uma composição de elementos horizontais e verticais. Esse componente foi colocado no prédio existente como uma inserção. Ele contém espaços e define os espaços "residuais" ao seu redor. O vermelho é uma referência ao fato de que o cliente usa cerejas como "marca registrada" em seu produto.
À direita A composição da proposta de conceito de design de interiores que Stefan Zwicky fez em 1995 para um saguão de estação ferroviária da Deutsche Bahn na Alemanha baseia-se na instalação de uma estrutura em grelha que foi posicionada sobre um eixo girado do prédio existente, destacando a justaposição entre elementos novos e anteriores. O módulo cúbico foi, então, tratado de diferentes maneiras para acomodar os recursos necessários.
134 Capítulo 7: O desenvolvimento de composições espaciais tridimensionais
O ateliê da B Mes R 29 Arquitectes em Lleida, Espanha, oferece um exemplo claro de como um diagrama de planta baixa pode se transformar em uma composição tridimensional. O arranjo do planejamento reúne todos os equipamentos de apoio (áreas de recepção e espera, banheiros, cozinha, depósito) em um espaço retangular no meio do prédio, deixando à área ao seu redor a função de zona de trabalho.
Juntos, a posição deste retângulo e sua relação com o espaço dentro do qual ele se insere estabelece o principal elemento da composição espacial – um "espaço dentro de outro". O retângulo bidimensional pode ser considerado como uma "caixa" tridimensional, e sua definição e articulação se tornam as principais considerações no desenvolvimento da composição espacial.
ÁREA DE PLOTAGEM
ESCRITÓRIO BANHEIRO
COZINHA ATELIÊ
SALA DE ESPERA DEPÓSITO
RECEPÇÃO
SALA DE REUNIÕES
Acima
Abaixo
Um diagrama de planta baixa mostra o tamanho e a localização dos espaços em relação ao prédio, bem como os percursos de circulação que conectam esses espaços. Neste ponto, as principais decisões de planejamento já foram tomadas e não precisam ser alteradas.
Podemos fazer uma "leitura" do diagrama de planta baixa para ter uma composição bidimensional do formato dos espaços. Aqui, as instalações de apoio estão agrupadas e são lidas como um retângulo laranja, enquanto o espaço "residual" que as circunda se torna a zona de trabalho.
ENTRADA
A criação de composições espaciais 135
Acima
Abaixo
Maquetes físicas ou eletrônicas e desenhos podem ser utilizados para desenvolver uma variedade de composições espaciais de exploração do diagrama bidimensional – de alguma maneira, elas sempre se relacionarão com as decisões registradas no diagrama de planta baixa.
Uma vez estabelecida uma composição espacial satisfatória, sua forma pode ser reenviada ao diagrama de planta baixa, que, então, poderá ser desenvolvido em uma proposta de planejamento mais acabada. Mais e mais detalhes (sobre as dimensões, espessuras, portas, móveis, acessórios e equipamentos) podem ser agregados à medida que as decisões forem tomadas e a proposta avançar.
136 Capítulo 7: O desenvolvimento de composições espaciais tridimensionais
À esquerda Höweler + Yoon Architecture fez esta proposta para a nova sede da Sociedade de Arquitetos de Boston em 2013, na qual um plano verde fosco e brilhante se dobra do pavimento superior, descendo e se tornando a escadaria antes de se dobrar de novo e subir até o forro. A composição espacial se desenvolve em torno da inserção deste elemento ousado, que foi suspenso no prédio já construído em Boston, Estados Unidos.
À esquerda
Section
Plan
Cobbler Caballero é uma pequena loja em Sydney, Austrália, especializada no conserto de calçados, relógios e produtos de couro. Seu interior é definido por uma composição de planos verticais articulados e proporcionados de diferentes maneiras a fim de se tornarem prateleiras, bancadas de trabalho, balcões, expositores e sinalizadores gráficos. Aqui, vemos uma planta baixa e uma elevação interna da loja projetada por Stewart Hollenstein em 2011, mostrando o posicionamento exato dos componentes da proposta.
A criação de composições espaciais 137
Estudo de caso A exploração de contrastes Butique Cahier d’Exercices, Montreal, Canadá / Saucier + Perotte Architectes
Cahier d’Exercices é uma butique localizada no pavimento térreo de um prédio histórico de Montreal. A proposta de projeto, feita em 2011, é um bom exemplo de uma composição espacial de interior definida por vários elementos simples (planos horizontais, planos verticais, vigas e pilares) que estabelecem uma série de fortes contrastes para aproveitar muitas das oportunidades disponíveis para um designer de interiores. Antigo versus novo, leve versus pesado, escuro versus branco, brilhante versus fosco, áspero versus liso e colorido versus incolor – tudo é explorado neste ambiente varejista comercial. À direita, no alto Uma vista da entrada mostra os contrastes criados dentro da butique. Uma das paredes externas laterais é velha, escura e muito texturizada; a outra, oposta a ela, é nova, clara e lisa. O forro fosco e elegante contrasta com o piso refletivo e se transforma do preto ao branco, atraindo as pessoas para o fundo da loja, enquanto as araras que suspendem a maioria das roupas são formadas por delicados perfis metálicos pintados de branco, dando um toque de leveza à loja. Por fim, as colunas de ferro fundido existentes, de cor vermelha viva, estabelecem mais um contraste entre uma cor pura e o ambiente monocromático do entorno. À direita Estes croquis do conceito mostram as oportunidades para contraste sendo estudadas tanto em corte como em planta baixa.
Logo à direita e bem à direita Fortes contrastes foram criados entre a "pesada" parede existente (cuja textura irregular e intensa foi pintada de cinza chumbo) e a "leve" parede de prateleiras que foi colocada e apresenta linhas marcantes e acabamento branco. O detalhamento da parede sugere a ideia de que este elemento está flutuando em relação ao liso e ao teto.
PASSO A PASSO A EXECUÇÃO DE MAQUETES DE ESTUDO A produção de maquetes é parte crucial da elaboração de uma proposta de design de interiores e é especialmente importante para designers inexperientes, que não compreendem tão bem o potencial que uma planta baixa (bidimensional) pode ter de se traduzir em uma fascinante composição de espaço tridimensional. Quando estão elaborando uma maquete a partir de uma planta baixa, a reação instintiva da maioria das pessoas é usar algum tipo de papel grosso para transformar as linhas do desenho em paredes, mas isso pode resultar em uma composição
espacial compartimentada e muito pouco inspiradora. Para o designer de interiores, o que interessa é descobrir novas maneiras de definir e articular os espaços, e a execução de maquetes de estudo pode ser crucial para esse esforço. Tenha a liberdade de fazer muitas maquetes para estudar as diferentes maneiras como determinada planta baixa pode ser traduzida às três dimensões, então combine as ideias mais bem-sucedidas a fim de formar composições novas e melhores que levam a proposta adiante.
1
Um esquema de planta baixa pode ser analisado a fim de criar uma composição bidimensional de figuras e linhas principais. Isso se torna o ponto de partida principal para uma série de maquetes que explorarão as possíveis configurações tridimensionais.
2
Pilares, vigas, arcos, planos horizontais e verticais são elementos empregados para definir o espaço interno. Tente criar seus próprios componentes e então os use para articular de várias maneiras uma composição bidimensional.
3
Você pode usar uma ampla gama de materiais para explorar a opacidade, transparência, perfuração, textura, cor, padrão e acabamento de suas maquetes.
4
Faça experiências com a escolha de materiais, dimensão, espessura e textura de suas maquetes de estudo. Crie contrastes entre os diferentes elementos da composição a fim de investigar questões como leve versus pesado, opaco versus transparente e aberto versus fechado. Esta imagem mostra arcos de diferentes espessuras.
5
Nesta sequência, uma seleção de maquetes explora a mesma composição bidimensional (uma planta baixa idêntica foi desenhada como a base de cada maquete) de várias maneiras para gerar possíveis composições tridimensionais. Quanto maior for o número de estudos que o designer fizer
nesta etapa, melhor: ele pode combinar aspectos interessantes dessas maquetes para criar novas maquetes e desenvolver ainda mais a proposta.
CAPÍTULO 8 O PROJETO COM O USO DE CORTES
143 A MANIPULAÇÃO DE VOLUMES 148 PLANTAS BAIXAS SIMPLES, CORTES COMPLEXOS 150 A RESPOSTA A UM PRÉDIO EXISTENTE 152 MAQUETES DE CORTE
142 Capítulo 8: O projeto com o uso de cortes
Introdução A maioria dos designers de interiores usará instintivamente a planta baixa como a principal ferramenta para o desenvolvimento da organização espacial de uma edificação; embora esse muitas vezes seja um ponto de partida adequado, nem sempre é recomendável. Essa abordagem traz o risco de resultar em propostas de interiores sem graça, que não têm interesse espacial; assim, a maioria dos projetos se beneficiará se o desenho do corte for levado em consideração junto com o da planta baixa. Na verdade, há muitas situações em que a organização espacial tem tudo a ver com a forma do volume, e a planta baixa é uma consequência das decisões tomadas com base em estudos feitos em corte.
Ao trabalhar em corte, o designer de interiores pode levar em consideração a forma tridimensional do prédio existente. Algumas edificações terão uma composição volumétrica interessante que o designer deve entender para poder dar a resposta apropriada, enquanto outras podem ser chamadas de "telas em branco", e, nesses casos, a tarefa do designer é agregar interesse espacial ao volume, mudando o perfil do corte. Neste capítulo, veremos a importância dos cortes para o desenvolvimento do processo de planejamento tridimensional.
Nesta página
Pontos de ancoragem na cobertura ou no teto Pontos de ancoragem Pontos de ancoragem
Cordas de cânhamo Pontos de ancoragem
Pontos de ancoragem
Um croqui do conceito inicial feito por Architects EAT mostra como sua proposta de 2008 para o Maedaya Sake & Grill, um restaurante japonês em Victoria, Austrália, foi determinado pela forma do corte. Uma planta baixa simples e um contexto indefinido assumem uma identidade clara com o uso de um perfil utilizado para evocar a ideia de uma casa japonesa tradicional. O formato é definido por um elemento repetitivo criado por cordas tracionadas, uma referência à embalagem tradicional do saquê.
A manipulação de volumes 143
A manipulação de volumes Ao considerar a organização do corte, o designer de interiores tem a oportunidade de alterar a composição volumétrica da edificação, o que não ocorre quando ele trabalha com o layout da planta baixa. Caso seções dos pisos sejam removidas e vãos sejam criados, às vezes é possível conectar diferentes níveis, e o contraste de pés-direitos resultantes pode acarretar relações espaciais marcantes no interior de um prédio. Além de ser um meio para a exploração de como as relações espaciais podem ser estabelecidas, trabalhar com o uso de cortes, às vezes, também encoraja o designer de interiores a explorar como podem ser criadas relações horizontais entre diferentes espaços de um mesmo nível.
Durante o trabalho de um único espaço, a análise do corte permitirá ao designer modificar os pés-direitos de diferentes partes daquele espaço e, ao mesmo tempo, proporcionará a oportunidade de considerar como a forma e o formato do espaço poderiam ser modelados. Em certos casos, isso será uma resposta ao perfil do prédio construído (que talvez já tenha alguma articulação) ou será feito para conferir um pouco de caráter a um fechamento um tanto sem graça.
À esquerda O arquiteto norte-americano Neil M. Denari frequentemente explora seus projetos estudando os cortes. Esta sua proposta feita em 1996 para uma galeria de arquitetura e design em Tóquio, Japão, ocupa o terceiro pavimento de prédio urbano típico. Um plano dobrado foi inserido no espaço, redefinindo o formato do volume.
Logo acima, à direita e à esquerda Yoga Deva ocupa um prédio de pouco valor arquitetônico em um complexo comercial de Gilbert, Arizona, Estados Unidos. Em 2008, blank studio architecture remodelou este espaço pouco inspirador, criando um estúdio de ioga que facilita a meditação e a contemplação. Os designers introduziram um forro curvo que consistia em três abóbadas invertidas que correm de lado a lado do espaço. Além de criar interesse visual, o forro acomoda as instalações prediais, controla a iluminação diurna e melhora o desempenho acústico do local.
À direita Nesta proposta feita em 2007 para Loftel, um hotel de Nova York, Estados Unidos, Joel Sanders Architects criou um espaço de lazer subterrâneo por meio do desenvolvimento de um corte complexo que confere articulação tridimensional a uma planta baixa linear. Luzes naturais e artificiais são introduzidas por meio do uso de blocos de vidro instalados no passeio público e no piso do restaurante, enquanto o perfil externo das salas de tratamento suspensas no volume com pé-direito duplo cria um teto rebaixado sobre a piscina de natação que foi escavada no solo. Em suma, foram exploradas tanto as relações verticais como horizontais dos espaços.
PASSO A PASSO O ESTUDO DAS OPORTUNIDADES OFERECIDAS PELO CORTE Quando estamos trabalhando com um prédio existente, é importante identificar as oportunidades que ele oferece para que o corte seja modificado. Isso pode ser feito de um modo metódico que permite ao designer explorar o potencial do local com rapidez e clareza.
1
Compreensão do que já existe: este exemplo mostra um corte feito em uma edificação com dois pavimentos. Em cada nível, a laje de piso retangular com planta livre foi dividida em duas zonas iguais com uma fileira centralizada de pilares e, no segundo pavimento, pela própria forma do telhado em vertente. Com base nesse ponto de partida, é possível investigar metodicamente as oportunidades diretas que a manipulação do corte nos oferece.
2
Remoção de metade do piso do segundo pavimento: com a retirada de metade da área do piso do segundo pavimento, que passa a corresponder exatamente à metade do corte, pode-se estabelecer um nível de mezanino adjacente a um volume com pé-direito duplo. Esta estratégia pode ser aplicada em qualquer lado do corte.
3
Remoção da parte central do piso do segundo pavimento: dependendo da estrutura da edificação, pode ser possível remover a seção intermediária do segundo pavimento, criando balcões em ambos os lados de um vão central com pé-direito duplo.
4
Remoção da totalidade do piso do segundo pavimento: a retirada total do piso criaria um grande volume. Feito isso, pode ser possível a introdução de elementos adicionais que agirão como "espaços dentro de um espaço", formando novos níveis de piso e espaços celulares (compartimentados).
5
Remoção das seções periféricas do piso do segundo pavimento: a estrutura da edificação preexistente às vezes permite que sejam eliminadas partes periféricas do piso, deixando um mezanino central visualmente relacionado com o pavimento térreo abaixo. Se essa estratégia for considerada apropriada, o designer de interiores poderá estudar as inúmeras maneiras como a forma do corte poderia ser manipulada e, ainda assim, preservar os princípios dessa configuração espacial.
6
Exploração da forma (1): aqui, pilares inclinados sustentam o nível do mezanino centralizado enquanto um espaço semifechado abaixo dele assume um teto abobadado. As formas dos novos elementos contrastam com a edificação construída.
7
Exploração da forma (2): outra alternativa é conceber o nível superior como um volume fechado e separado, com seu próprio teto e paredes envidraçadas (conferindo separação física, mas preservando parte das relações visuais). No nível do pavimento térreo, a forma da face inferior da laje do segundo pavimento se afunila em corte, conferindo mais intimismo ao espaço centralizado e fechado acima.
8
Exploração da forma (3): outra estratégia seria trabalhar os formatos dos volumes da proposta a fim de criar espaços apropriados para as atividades sugeridas. A forma dos espaços pode apresentar ângulos ou curvas, caso isso seja necessário: o estudo do corte oferece infinitas oportunidades para conferir interesse espacial a uma proposta de design de interiores.
146 Capítulo 8: O projeto com o uso de cortes
Estudo de caso O projeto com o uso de cortes (1) Estação do metrô de Canary Wharf, Londres, Reino Unido / Foster + Partners
Esta estação do metrô londrino foi inaugurada em 1999 como parte da ampliação da Jubilee Line, para oferecer acesso a um novo bairro de comércio e serviços na região das Docklands de Londres, e foi planejada no intuito de se tornar a estação de metrô mais movimentada durante os horários de pico do transporte da cidade. O prédio ocupa uma faixa de terreno com trezentos metros de comprimento e apresenta uma marquise envidraçada em ambas as extremidades a fim de atrair as pessoas e permitir a incidência da luz natural no saguão principal subterrâneo. No nível térreo, há um parque com tratamento paisagístico entre as entradas. O volume dessa estação do metrô foi inserido no espaço deixado pela antiga West India Dock, e
o espaço interior foi criado usando-se o método de construção de túneis conhecido como método da vala recoberta ou da trincheira. O interior da estação foi esculpido em corte para conferir interesse a uma planta baixa relativamente singela. Em essência, os pisos são estreitos no nível inferior e se projetam no nível superior, tornando-se mais largos. Uma estratégia de circulação simples e clara foi adotada com a centralização das escadas rolantes e a distribuição de várias amenidades na periferia do saguão principal. O corte foi trabalhado em perfil, criando vãos que acomodam as instalações prediais e incluem passarelas para manutenção, evitando incômodos futuros para os passageiros.
Acima O saguão principal é um volume colossal, que recorda uma catedral graças à sua vasta escala e à forma arqueada de seu corte.
A manipulação de volumes 147
À esquerda Os primeiros croquis já mostravam que o interior seria formado com base em um módulo repetido que foi desenvolvido em corte. Nervuras arqueadas nascem de uma viga central, criando uma estrutura de cobertura abobadada. Abaixo Este desenho mostra como o arranjo espacial do interior foi organizado com base no corte da estação. No nível do embarque e desembarque, uma única plataforma central atende aos trens que vêm de ambos os sentidos. As escadas centralizadas conduzem os passageiros ao saguão principal e os tiram de lá, enquanto as colunas centrais ajudam a definir as rotas de circulação "para dentro" e "para fora". As instalações prediais foram mantidas no perímetro do saguão principal, mantendo-o livre de obstruções.
Nível térreo
148 Capítulo 8: O projeto com o uso de cortes
Plantas baixas simples, cortes complexos A planta baixa de um interior pode ser muito fácil de entender, mas seu corte pode ser um arranjo muito mais intricado e sofisticado de espaços e volumes. A Unidade de Habitação de Le Corbusier em Marselha, França (1952), é um dos melhores exemplos de uma edificação projetada a partir de seu corte, que é muito mais complexo do que sua planta relativamente simples. Olhando-se por fora, a Unidade de Habitação tem o aspecto de um típico edifício residencial de dezessete pavimentos. Em planta baixa, o corpo principal do prédio forma um retângulo alongado, aproximadamente seis vezes mais longo do que largo, organizado sobre um eixo norte-sul. Estabeleceu-se uma simples configuração de planejamento com apartamentos distribuídos em organização linear ao redor de uma "rua interna" central que dá acesso aos elevadores e às escadas. Em um dos lados de cada corredor há 29 apartamentos retangulares; do outro lado estão os elevadores e as escadas, deixando espaço para 25 apartamentos. Embora a planta baixa do prédio seja simples e clara, a maneira como o corte foi organizado cria interesse e resolve
questões práticas de modo engenhoso. Seria de se esperar que um prédio com dezessete pavimentos tivesse dezessete corredores de acesso, mas há somente cinco (localizados nos segundo, quinto, nono, 12º e 15º pavimentos). Isso é possível devido ao modo como foi concebido o corte do edifício: um módulo de três pavimentos é repetido cinco vezes. Cada módulo de três pavimentos contém dois apartamentos duplexes, que, em corte, foram configurados como um volume em L com dois níveis. Esses apartamentos em L se encaixam em ambos os lados de uma "rua interna" e, como consequência, os apartamentos de um dos lados do corredor são acessados por seu nível superior enquanto os do outro lado da circulação são acessados pelo nível inferior. Dois pavimentos extras (inseridos nos níveis sete e oito) acomodam equipamentos de uso comum, como um bar, restaurante, lojas, hotéis e escritórios comerciais. O resultado dessa engenhosa manipulação do corte é que os apartamentos são beneficiados com uma orientação solar dupla, tendo espaços leste que recebem o sol da manhã e espaços oeste que recebem o sol da tarde.
À esquerda O exterior ortogonal e simples da Unidade de Habitação de Marselha, de Le Corbusier, não corresponde à complexidade do corte empregado para organizar seu interior.
À esquerda, abaixo Um diagrama moldado no concreto do pavimento térreo explica aos usuários do prédio os princípios do corte, mostrando a orientação solar e a engenhosa configuração dos apartamentos e dos corredores centrais. Os dois arcos com o círculo representam o percurso aparente do sol no verão e no inverno.
À direita Corte transversal esquemático do edifício, mostrando os pares de apartamentos em L se encaixando em uma rua interna a fim de formar um módulo de três pavimentos que se repete cinco vezes, com amenidades localizadas no sétimo e oitavo pavimentos.
Plantas baixas simples, cortes complexos 149
Estudo de caso O projeto com o uso de cortes (2) Proposta de clínica odontológica / Sam Leist (Universidade de Kingston, Reino Unido)
Este projeto de um aluno consistia em uma proposta de consultório odontológico particular que se situaria no subsolo de um edifício de escritórios planejado para o centro de Londres, Reino Unido. A solução foi determinada pelo corte devido a dois motivos: um conceitual, e o outro prático. Primeiramente, o designer desenvolveu a ideia do conceito em resposta à observação de que o teto assume grande importância para os pacientes das clínicas de dentistas, uma vez que a posição supina adotada durante o tratamento foca a atenção deles para o que está acontecendo no alto do espaço. Como resultado, foi desenvolvida uma proposta na qual o teto se torna uma "paisagem invertida" tridimensional e modulada, e isso exigiu estudos em corte. Em segundo lugar, o local da clínica (o subsolo de um edifício) seria acessado pela rua; assim, um aspecto-chave da proposta se baseava no estabelecimento de uma entrada pelo pavimento térreo e no desenvolvimento de percursos de circulação vertical até o nível subterrâneo, que acomodaria o consultório. Como o contexto do projeto de interiores era um novo bloco de escritórios para aluguel, o designer conseguiu propor uma conexão entre o volume do subsolo e o espaço do pavimento térreo dedicado a lojas. Como resultado, o design do corte foi uma das principais considerações durante o desenvolvimento da forma do volume de conexão e da configuração do núcleo de circulação vertical (escada e elevadores) dentro dele.
Escritórios nos pavimentos superiores
Loja adjacente
Garagem dos escritórios (subsolo)
Acima Um corte perspectivado mostra que o teto azul turquesa é o elemento dominante da proposta de design de interiores. Formado por painéis triangulares distribuídos em uma série de pirâmides irregulares e invertidas, o teto especial trabalha o volume do pavimento de subsolo que, de resto, é muito sem graça e determina a organização da planta baixa. Isso se conseguiu com o estudo da proposta em corte.
Abaixo Um corte através da entrada e da escada mostra o novo volume criado a fim de conectar o subsolo à rua. O forro do pavimento térreo se dobra junto à parede do vão e, então, se dobra mais uma vez, criando uma marquise de entrada projetada em relação à fachada e convidando as pessoas a entrar. Os visitantes descem pela escada ou pelos elevadores, sendo conduzidos ao balcão da recepção.
Escritórios dos pavimentos superiores
150 Capítulo 8: O projeto com o uso de cortes
A resposta a um prédio existente O designer de interiores muitas vezes responderá a um prédio que já existe usando o corte como um meio de aprimorar um volume que de outro modo seria desinteressante. A resposta envolve, em suma, a reciclagem de uso ou a adição ao existente. Sempre que uma edificação construída apresentar certa articulação e interesse quando vista em corte, o designer poderá dar uma resposta que aproveite as oportunidades oferecidas. Em geral, isso significa a compreensão do local e dos elementos do corte que são interessantes ou importantes. O ambiente ou contexto imediato do prédio pode ser importante, assim como o desenvolvimento de questões como as seguintes: • De que modo a edificação se relaciona com os prédios adjacentes e/ou a paisagem ou entorno? • Há vistas ou panoramas dominantes que devem ser criados ou eliminados? • Como o corte do prédio existente responde à sua orientação?
Abaixo Este projeto de um aluno para um showroom de acessórios para banheiros se localiza em um dos arcos da estação ferroviária de Vauxhall, em Londres, Reino Unido. O corte feito através da extensão do arco mostra a relação do espaço interno com as ruas adjacentes e os trilhos ferroviários que ficam sobre o local.
Uma vez compreendida a relação do prédio com os fatores externos, é crucial para o interior que o corte seja analisado em termos de sua configuração interna. Para isso, será útil levar em consideração as seguintes questões: • De que modo os níveis se relacionam dentro da edificação já construída? • A forma do corte existente (da edificação em si) influenciaria a resposta dada pelo designer de interiores? • Os elementos da arquitetura existentes (como tesouras ou treliças de cobertura, pilares, vigas e aberturas) influenciarão o desenho do corte? • Como a estrutura da edificação afetará qualquer alteração do corte? Após entender o contexto no qual a obra será realizada, o designer de interiores pode elaborar uma proposta envolvendo a manipulação do corte por meio de apenas remoção de partes da edificação existente, introdução de novos elementos no corte dessa edificação ou com a combinação de ambas as estratégias.
A resposta a um prédio existente 151
À esquerda A reciclagem de uso da cadeia de Stirling, Escócia, foi completada por Richard Murphy Architects em 2001. O projeto criou um novo centro de música e arte em um conjunto de prédios tombados do século XVII, que incluía um antigo foro com prisão. A ampliação da estrutura em direção a um pátio vazio possibilitou que se criasse um novo saguão e seu sistema de circulação. O auditório também avançou sobre esse espaço, permitindo que fosse dado um novo uso ao volume do foro. O auditório ampliado cuidadosamente respondeu à arquitetura existente: ele pode ser lido como uma "mochila" que ficou pendurada no antigo prédio.
À esquerda O local deste projeto de um aluno era um banco desativado em Piccadilly, Londres, Reino Unido. Projetado pelo famoso arquiteto Edwin Lutyens, o antigo saguão do banco era um volume cúbico cuja metade inferior apresentava um revestimento de madeira escura. As janelas foram posicionadas na metade superior do espaço, que era pintado de branco, criando as duas zonas que vemos no corte. Nesta proposta para uma loja especializada em roupas masculinas feitas sob medida, o designer de interiores respondeu aos condicionantes do local inserindo um novo pavimento intermediário e criando uma área da loja no térreo de cor escura e um mezanino banhado de luz, onde os equipamentos para a confecção dos ternos são valorizados pela luz diurna natural. A organização da proposta foi determinada por uma resposta ao corte do prédio existente.
152 Capítulo 8: O projeto com o uso de cortes
Maquetes de corte
Nesta página Como parte crucial do processo de um projeto, a proposta de um aluno para uma duty-free shop de aeroporto é explorada por meio de uma série de maquetes de corte, desde um início um tanto inseguro até o estudo mais refinado que vemos na figura inferior direita. O formato do volume ortogonal simples é transformado e, à medida que a proposta vai sendo resolvida, é estudado um número cada vez maior de detalhes.
O designer de interiores pode, ao considerar a organização espacial de uma edificação, usar as maquetes de corte de dois modos distintos: como parte do processo de projeto ou como ferramenta de apresentação. As maquetes de corte ou maquetes cortadas, se forem utilizadas como parte do processo de projeto, são um método valiosíssimo para o desenvolvimento de propostas tridimensionais realmente interessantes. Quando o designer de interiores faz diversas maquetes simplificadas da mesma parte de uma proposta, pode desenvolver uma proposta rapidamente, permitindo o estudo de várias opções de como esse corte funcionaria. Quanto mais estudos forem feitos, mais provável será a obtenção de um resultado satisfatório. Essa tarefa pode ser feita de distintas maneiras, dependendo da abordagem conceitual dada ao projeto. Se o designer estiver empregando a estratégia da "inserção" ou da "instalação", ele talvez faça apenas uma maquete de corte através do prédio existente e nela insira vários estudos a fim de testar seus impactos. Contudo, se for adotada a estratégia da "intervenção", as maquetes de corte poderão ser utilizadas para explorar como o fechamento do prédio pode aco-
Maquetes de corte 153
Bem à esquerda Maquete de corte de apresentação feita por um estudante mostrando parte de uma proposta para um salão de cabeleireiro consegue representar a relação espacial entre o mezanino e o subsolo, bem como os detalhes relativos ao tratamento das vedações da construção.
Logo à esquerda Maquete de corte através de todo o prédio, mostrando com clareza o arranjo espacial desta proposta para restaurante feita por um aluno.
À esquerda Esta maquete de apresentação cortada no prédio existente foi feita por um grupo de alunos a fim de entender melhor o contexto no qual estavam intervindo. Quando foi apresentada em uma exposição posterior, a maquete foi posicionada de maneira que os visitantes pudessem passar através das duas metades.
modar adições e subtrações, o que exigiria a manufatura de várias maquetes. Nesse caso, muitas vezes é mais fácil fazer um corte do prédio usando a técnica da longa "extrusão", que, então, poderia ser fatiada em cortes menores, acelerando o processo. As maquetes de corte também podem servir de ferramentas de apresentação, para comunicar o projeto executivo da proposta de design de modo claro e efetivo. Uma maquete que apresenta uma vista do espaço em corte permite que o observador entenda o formato e a forma dos volumes criados, além de lhe dar a oportunidade de colocar o novo interior no contexto do prédio receptor e de sua localização. A maquete ilustrará a relação que o interior estabelece com o prédio existente e seu entorno.
Para que a maquete seja realmente efetiva, é melhor apresentá-la de modo que a linha do horizonte (o nível do observador) corresponda à da figura em escala que estiver na maquete. Isso faz com que o observador sinta-se envolvido pelo interior e promove a sensação de que ele está ocupando-o.
CAPÍTULO 9 A REPRESENTAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES ESPACIAIS
156 TIPOS DE DESENHO ÚTEIS 168 CROQUIS OU DESENHOS À MÃO LIVRE 171 MAQUETES
156 Capítulo 9: A representação das organizações espaciais
Introdução
Tipos de desenho úteis
São várias as razões pelas quais os designers de interiores preparam materiais para transmitir suas intenções de projeto, e há muitos métodos que podem ser empregados. Um fator determinante é a fase do projeto. No início de um projeto, o designer talvez precise entender bem o local e/ou o programa de necessidades. No meio do processo, às vezes busca representar uma ideia de conceito e as principais propostas do projeto; no fim, será necessário mostrar informações complexas sobre os detalhes. Além disso, o designer de interiores terá de se comunicar com muitas pessoas diferentes de distintos níveis de compreensão e conhecimento técnicos. Talvez sejam feitos desenhos durante uma discussão informal com um colega a fim de transmitir ideias durante reuniões da equipe do projeto, de permitir que profissionais de áreas relacionadas entendam uma proposta ou de apresentar materiais aos colegas, que inclusive podem compor a banca de um concurso de design ou arquitetura. Contudo, o mais comum é que os designers de interiores preparem materiais para apresentar suas propostas aos clientes ou ao público geral – e talvez nenhum deles consiga ler um desenho ou planta de projeto. A quantidade de informações do material apresentado também influenciará os meios de comunicação empregados. Durante as etapas preliminares de um projeto, a proposta está mais aberta a modificações, e talvez a tarefa seja apresentar uma variedade de ideias que ainda estejam sem solução. Nesse ponto, é importante apresentar as propostas de modo informal, que permita discussões – sempre se corre o risco de apresentar desenhos muito formais e rebuscados cedo demais no processo. Uma vez desenvolvida tal proposta e sendo aprovados seus princípios, pode-se produzir os materiais com mais acabamento, conforme a necessidade. Uma regra prática geral: é melhor começar o processo de representação com informações claras e simples, as quais, uma vez entendidas e aprovadas, poderão ser desenvolvidas em materiais mais complexos e detalhados. A chave para um bom projeto gráfico de interiores é certificar-se que o meio de comunicação empregado é adequado à etapa do projeto, às características da proposta e ao público-alvo. Este capítulo identificará alguns dos formatos que os designers de interiores podem utilizar para representar a organização espacial das edificações.
Os designers de interiores têm à sua disposição uma variedade de tipos de desenho para representar uma proposta. As formas de representação gráfica mais comuns são: • Diagramas • Plantas • Cortes • Perspectivas axonométricas • Perspectivas cônicas Todos esses tipos de desenho podem ser importantes por si sós, mas a natureza exata do projeto (a forma do local e as decisões que foram tomadas em termos de intervenção no local) determinará que tipos de desenho são apropriados para cada situação. Embora a planta baixa geralmente seja parte fundamental do processo de representação gráfica e transmissão de ideias, há ocasiões em que um desenho tridimensional – como uma perspectiva axonométrica – consegue ilustrar com facilidade toda uma proposta. Quando o designer está elaborando uma apresentação, ele corre o risco de produzir uma série de desenhos sem a reflexão adequada e apenas depois vir a pensar quais informações da proposta precisam ser transmitidas. Uma abordagem mais inteligente seria analisar a proposta no início do processo de representação, definir que aspectos são importantes e devem ser explicados e, então, produzir os materiais adequados para dar suporte à apresentação verbal do projeto. Isso geralmente resulta em uma apresentação mais clara e que exige um preparo muito menor.
Restaurante
Sala dos associados Mostruários das coleções
À direita Este diagrama da Tate Modern Gallery de Londres, Reino Unido, foi feito em 2012 por Cartlidge Levene e Studio Myerscough a fim de ajudar os visitantes a se deslocarem pela galeria de arte. Como o intuito é dar ao público geral uma compreensão clara de como o prédio funciona, esse diagrama serve de ótima lição
para o designer de interiores em termos de comunicação efetiva da configuração volumétrica do prédio. O diagrama precisava explicar um arranjo complexo de espaços e circulações verticais; assim, usa um corte simplificado, cores, símbolos e palavras para garantir que as informações sejam entendidas do modo mais claro possível.
Exposições
Mostruários das coleções Entrada do rio
Cafeteria Passarela Loja
Salão das turbinas Ingressos e informações
Entrada principal
Tipos de desenho úteis 157
Diagramas De certa maneira, podemos considerar todos os desenhos de um projeto como diagramas, ou seja, todos eles são representações abstratas (gráficas) de uma proposta de realidade construída. No contexto desta seção, o termo "diagrama" será empregado para descrever como uma abstração pode permitir que ideias e relações complexas possam ser comunicadas de modo simples e claro por meio da representação gráfica. A configuração espacial de um prédio frequentemente é complicada e de difícil compreensão. Os designers de interiores usam diagramas para simplificar informações de modo que princípios fundamentais possam ser transmitidos com facilidade. Esses diagramas podem representar informações por meio de imagens e podem ser bi ou tridimensionais, mostrando a essência de uma proposta com o uso do formato de uma perspectiva axonométrica ou cônica. O mais comum é que os diagramas usem tanto imagens como textos, embora possamos afirmar que um diagrama será mais bem-sucedido se puder transmitir ideias claramente sem precisar de palavras. Abaixo
À direita
Thin Office é um local de trabalho compartilhado em Cingapura que acomoda uma empresa de tecnologia da informação e comunicação (TIC) e uma firma de multimídia. O design do interior foi feito por Studio SKLIM em 2010, e este diagrama usa o formato das axonométricas para explicar a estratégia que está por trás da organização espacial.
Usaram-se cores para agrupar os espaços em zonas, identificar diferentes circulações e esclarecer o complexo planejamento do Hospital Kangbuk Samsung em Seul, Coreia, projetado por Hyunjoon Yoo Architects em 2010.
Empresa de multimídia Empresa de TIC
Iluminação e ventilação naturais Empresa de multimídia
Entrada
Empresa de TIC
Empresa de TIC
Entrada
158 Capítulo 9: A representação das organizações espaciais
Plantas baixas As plantas baixas são empregadas para transmitir informações sobre as relações horizontais dos espaços internos. Elas são desenhos bidimensionais em escala que são criados fazendo-se um corte horizontal em uma edificação (ou proposta de design de interiores) e registrando-se tudo o que está visível abaixo desse nível. Em geral, considera-se que o corte horizontal foi feito a aproximadamente cento e vinte centímetros do nível do piso. As plantas baixas são apenas um dos vários tipos de projeção ortográfica (ou ortogonal) utilizados pelos designers, e é importante que sejam desenhadas com pesos de linha corretos e com o uso das convenções apropriadas para representar os elementos construtivos, como portas, janelas e escadas. A maioria dos desenhos de organização espacial feitos por um designer de interiores está na escala de 1:100 ou de 1:50. Em um desenho muito preliminar ou esquemático, talvez o designer empregue a escala de 1:200, mas o tamanho reduzido dessa escala dificilmente permitirá que o profissional consiga trabalhar o interior de modo significativo. À medida que o projeto for desenvolvido, será adotada uma
escala maior, como a de 1:20, o que permitirá ao designer resolver um número muito maior de detalhes. A quantidade de informações mostradas em uma planta baixa dependerá da etapa de projeto, do propósito do desenho e da natureza da proposta. No início do projeto, os desenhos podem ser muito imprecisos e apenas comunicar de que modo os espaços se inter-relacionam. Com o desenvolvimento da proposta, serão acrescentadas muitas outras informações relativas ao tamanho exato e formato de vários elementos, layout do mobiliário, tratamento dos pisos e materiais construtivos. As plantas baixas podem ser simples desenhos de linhas que comunicam fatos sobre a proposta, ou o designer de interiores pode usar as sombras projetadas e cores para transmitir melhor o espírito e o caráter do projeto. Se um prédio tiver vários níveis, o designer fará uma planta baixa de cada pavimento. Quando esses desenhos são feitos na mesma prancha, costuma-se colocá-los na mesma orientação, com a planta baixa do pavimento térreo mais próxima à margem inferior e as plantas baixas subsequentes distribuídas em ordem sobre ela.
À esquerda Neste projeto, elaborado por COEN! em 2011 para uma empresa de Woerden, Países Baixos, utilizaram-se cores para identificar as diferentes zonas. A planta baixa é esquemática, mas, mesmo assim, transmite informações sobre o esquema de cores da proposta.
H
H
H
Tipos de desenho úteis 159
À direita Estes simples desenhos ortográficos feitos por Robert Gurney mostram o arranjo espacial para uma casa reformada de Washington DC, Estados Unidos (2011). As plantas baixas foram organizadas de modo a facilitar o entendimento, colocando-se o nível inferior embaixo, o nível intermediário (da entrada) no meio e o nível superior no alto da folha.
Planta baixa do nível superior
Planta baixa do nível de entrada
Planta baixa do nível inferior
Acima Os clientes frequentemente têm uma dificuldade enorme para ler plantas baixas, mas a projeção de sombras confere a este layout – feito em 2007 para a exposição Gameworld do Centro de Artes La-
borais de Gijon, Espanha, por Leeser Architecture – uma articulação tridimensional que ajuda na compreensão do desenho e lhe torna mais interessante.
160 Capítulo 9: A representação das organizações espaciais
Cortes
Abaixo Este desenho do Panteon de Roma, Itália, feito em 1778 por sir John Soane ilustra como um corte pode incluir tanto as informações sobre o volume do interior (aqui representado em rosa) como os detalhes de uma elevação interna. Neste caso, os detalhes e a projeção de sombras contribuem para deixar claro que o volume principal do prédio tem planta baixa circular e é coberto por uma abóbada.
Os cortes são empregados para transmitir informações sobre as relações verticais dos espaços de uma proposta de design de interiores. Um corte, em geral, transmitirá dois aspectos da proposta: o perfil do volume em questão e o tratamento das elevações internas contidas dentro do corte. Esses desenhos bidimensionais e feitos em escala são criados fazendo-se uma seção vertical imaginária através de um prédio e registrando-se tudo o que se vê além da linha de corte. Ao decidir onde será feito o corte, o designer deve se certificar de que os elementos apropriados da proposta serão ilustrados. Como as plantas baixas, os cortes são um tipo de projeção ortográfica utilizado pelos designers de interiores, e é importante que eles também sejam desenhados usando as convenções e os pesos de linha corretos. Somente as informações básicas de um projeto de design de interiores poderão ser registradas na escala de 1:50 ou de 1:20. Assim como no caso das plantas baixas, as escalas serão aumentadas com o desenvolvimento do projeto, pois escalas maiores permitem a inclusão de um maior número de detalhes. Os cortes podem ser desenhos lineares bastante simples, mas, às vezes, o observador sem formação técnica ainda pode ter dificuldade para lê-los. No entanto, é possível melhorar muito a legibilidade desses desenhos posicionando o corte contíguo à planta baixa e também nele incluindo as elevações internas e mostrando mais detalhes dos espaços representados.
Tipos de desenho úteis 161
Abaixo Neste projeto feito para Washington DC, Estados Unidos (2011), os desenhos ortográficos simples feitos por Robert Gurney Architect mostram o corte da casa existente (à esquerda) e o corte de como ela ficará após a reforma. O corte da proposta apresenta informações sobre a elevação dos espaços interiores, mostrando o tamanho dos painéis, seu arranjo e o relacionamento com a nova claraboia.
À esquerda
Abaixo
Um corte informal, muitas vezes feito à mão livre, é um instrumento de projeto valioso e também pode ser utilizado para apresentar informações complexas de modo muito didático, como exemplifica este desenho do uso da luz diurna e da ventilação natural da Assembleia Nacional do País de Gales, projetada por Rogers Stirk Harbour + Partners para Cardiff, Reino Unido (2005).
O projeto conceitual da casa Mix feito por Joel Sanders em 2004 propõe um esquema no qual as aberturas captam os sons do entorno imediato, permitindo ao usuário criar "paisagens acústicas" no interior. Aqui, um corte é empregado na forma diagramática para explicar os princípios da proposta.
162 Capítulo 9: A representação das organizações espaciais
Perspectivas axonométricas Às vezes, é difícil para aqueles que não estão familiarizados com as convenções do desenho técnico ler plantas baixas e cortes. Isso acontece principalmente porque esses tipos de desenho registram apenas parte das informações sobre o espaço tridimensional que representam. As plantas baixas e os cortes apenas contam toda a história quando são lidos juntos. Todavia, as perspectivas axonométricas ajudam a diminuir essa distância entre as representações bi e tridimensionais de um interior, pois combinam plantas baixas com cortes e mostram uma vista bidimensional do espaço de modo aparentemente tridimensional. Como uma vista axonométrica é uma representação irreal, isto é, que jamais será vista daquela maneira na realidade, ela tem limitações práticas, mas sua força como meio de comunicação diagramático pode torná-la uma ferramenta poderosa de explicação da composição espacial de um prédio.
As axonométricas são uma ótima maneira de proporcionar ao observador uma ideia geral da composição espacial da proposta, mostrando a totalidade de edificações grandes e complexas. Os diferentes elementos de uma configuração podem ser separados em uma axonométrica explodida, a fim de aumentar o entendimento das relações espaciais que foram estabelecidas e, ainda assim, preservar uma ideia de como a composição funciona como um todo. Uma axonométrica explodida pode fazer com que a cobertura de um prédio seja "erguida" e afastada do desenho do resto do interior, de modo que este possa ser visto com clareza. Assim como ocorre com todos os tipos de desenho, o tipo de traço empregado dependerá das circunstâncias, e as perspectivas axonométricas feitas como esboços (isto é, traçadas à mão livre) podem ser instrumentos úteis nas etapas iniciais de um projeto.
À esquerda
Abaixo
Um croqui de conceito do partido de arquitetura feito por Rogers Stirk Harbour + Partners usa uma perspectiva axonométrica para explorar os princípios de projeto da Assembleia Nacional do País de Gales, em Cardiff, Reino Unido (2005).
Nesta perspectiva axonométrica explodida que explica a proposta de seu próprio ateliê de arquitetura em Missouri, Estados Unidos, a firma Dake Wells Architecture usou apenas linhas pretas para representar o prédio existente e manchas de cor para ressaltar os novos elementos instalados (2007).
Tipos de desenho úteis 163
À esquerda Woodwalk é um showroom em Délhi, Índia, projetado a fim de promover o uso da madeira nos acabamentos de interior. Esta axonométrica explodida feita em 2010 por Vir.Mueller Architects identifica os componentes do interior como elementos individuais que se unem para compor a proposta.
À esquerda The Blatz é um conjunto de uso misto instalado no prédio da antiga cervejaria Blatz, em Milwaukee, Estados Unidos. Em 2007, a Johnsen Schmaling Architects remodelou os espaços de circulação públicos, e esta perspectiva axonométrica explodida mostra a proposta como um conjunto de elementos independentes inseridos em resposta aos condicionantes impostos pelo prédio. Foram utilizadas cores fortes para codificar cada elemento.
164 Capítulo 9: A representação das organizações espaciais
Perspectivas cônicas As perspectivas cônicas talvez sejam o tipo de desenho mais fácil de entender para quem não é especialista, uma vez que oferecem uma vista tridimensional realista da proposta de um projeto. Os designers de interiores geralmente usam perspectivas cônicas para criar imagens de espaços internos, mas essa convenção também pode oferecer um meio extremamente efetivo de dar uma ideia geral da organização espacial de uma proposta. Como as perspectivas cônicas combinam informações sobre as plantas baixas e o corte de uma proposta, elas costumam ser bem mais difíceis de elaborar do que os simples desenhos ortográficos. Os softwares de projeto e desenho (CADD ou CAD) tornaram relativamente fácil a elaboração de perspectivas complexas, que podem ser manipuladas a
fim de criar materiais de apresentação muito informativos e que podem ajudar a explicar a organização de um prédio por meio de apenas uma imagem. As perspectivas cônicas explodidas permitem que as partes componentes de uma proposta (como os diferentes pavimentos) sejam separadas, possibilitando um melhor entendimento do todo, enquanto os cortes perspectivados são seções de uma edificação existente que revelam seus espaços internos. Assim como ocorre com todos os tipos de desenhos utilizados no design de interiores, também é possível fazer perspectivas cônicas seja à mão livre, seja com o uso de um software, e depois trabalhá-la à mão livre e criar um material para apresentação. À esquerda Este corte perspectivado feito por Joel Sanders Architects em sua proposta para o hotel Loftel de Nova York, Estados Unidos (2007), consegue transmitir muitas informações complexas sobre as relações espaciais do projeto e, ao mesmo tempo, dar uma boa ideia do espírito e caráter do interior. O tipo de desenho ajuda o observador a entender com facilidade a proposta.
À esquerda A firma de arquitetura group8 batizou como Cargo o projeto para seus escritórios, uma vez que a proposta envolvia o uso de contêineres de transporte em um espaço industrial desativado em Genebra, Suíça (2010). Para facilitar a visualização desta perspectiva do interior completo, a cobertura e a parede frontal do prédio foram removidos. As linhas de projeção feitas sobre a parede dos fundos permitem que o observador entenda o perfil da estrutura de cobertura. O uso de sombras projetadas também melhorou a noção de tridimensionalidade do desenho. (Veja também a página 43.)
Tipos de desenho úteis 165
À esquerda
Acima
Esta proposta feita em 2013 por Höweler + Yoon Architecture para a nova sede da Sociedade de Arquitetos de Boston usa o poderoso formato da perspectiva cônica explodida como meio diagramático de representar as diferentes camadas do projeto. As paredes internas curvas e um elemento dobrado que compõe o forro e a escada ficaram suspensos entre o piso e a cobertura existentes.
O restaurante Banq, em Boston, Estados Unidos, foi concebido em 2008 pela NADAAA (antiga Office dA) como uma proposta de duas partes composta por um nível de piso de uso flexível (no qual os móveis podem ser realocados) e um teto fixo, cujas lâminas de madeira estriadas ajudam a ocultar as instalações prediais e também "descem" e "escorrem", revestindo os pilares. Esta perspectiva cônica explodida enfatiza a ideia, separando os elementos acima e abaixo da linha do horizonte.
166 Capítulo 9: A representação das organizações espaciais
Acima
Abaixo
Acima
Abaixo
NFOE et Associés Architectes usaram uma planta baixa perspectivada para representar o layout de sua proposta para a clínica de fertilização artificial OVO, em Montreal, Canadá (2009). As cores e sombras projetadas ajudam a perspectiva cônica com um ponto de fuga a expressar com clareza a complexa planta baixa.
Esta perspectiva cônica gerada por computador (uma "maquete eletrônica") feita na proposta de Joel Sanders Architect (2003) para o cabeleireiro Charles Worthington em Nova York, Estados Unidos, nos dá uma ideia das vedações externas do prédio (mostrando o arranjo dos equipamentos de apoio) e, então, ergue a principal área do salão para dar uma vista do interior que mostra o aspecto geral do espaço.
Este croqui perspectivado feito à mão livre ilustra o conceito básico do arranjo espacial do aeroporto Madri-Barajas, Espanha, projetado por Rogers Stirk Harbour + Partners em 2006. As linhas seguras e enérgicas ajudam na compreensão de uma proposta complexa.
Neste exemplo, uma perspectiva cônica explodida é utilizada como um diagrama, a fim de explicar o kit utilizado por De Leon & Primmer Architecture Workshop para organizar o centro de visitantes do jardim botânico Yew Dell, em Kentucky, Reino Unido (2010).
Estrutura da cobertura do galpão existente
Forro de painéis de madeira
Vedações de painéis de madeira
Parede de vidro
Galpão existente
Laje de piso de concreto
Um kit
Tipos de desenho úteis 167
Estudo de caso A representação de um conceito espacial Proposta para um cabeleireiro / Oliver Corrin (Universidade de Kingston, Reino Unido)
O primeiro desenho estabelece o conceito espacial básico da proposta: um kit que seria montado no local e é apresentado como um estojo de modelismo de criança que está saindo de sua caixa.
O segundo desenho (acima), mostra o kit sendo montado, explicando o processo de projeto, bem como o conceito que embasa a proposta. O desenho dos instrumentos de trabalho do desenhista confere um toque de irreverência à narrativa.
O terceiro elemento da sequência mostra o kit sendo montado e formando a composição final dos elementos – cada elemento do conjunto é claramente identificado antes de ser conectado aos demais.
Uma perspectiva cônica da mesa de trabalho mostra uma "maquete" da proposta acabada. Quando todos os diagramas são lidos juntos, fica fácil entender as ideias espaciais que foram empregadas para estabelecer a composição.
Este projeto era uma proposta para um pequeno cabeleireiro dentro de uma loja de departamentos. A proposta foi concebida como um conjunto de componentes leves e lineares, com dimensões determinadas pela grelha do interior existente (a qual, por sua vez, determinou as dimensões do teto ou forro, dos pilares e do piso cerâmico). Os novos componentes foram projetados como um kit de partes pré-fabricadas que poderiam ser facilmente montadas in loco e teriam o mínimo de contato com o interior construído. O conceito é transmitido
com clareza por meio de uma série de divertidas perspectivas cônicas, animando o processo desde seu ponto de partida até a proposta final. Os simples croquis que compõem a sequência passo a passo ao longo do desenvolvimento do projeto podem ser uma ferramenta de apoio extraordinária para uma apresentação verbal.
168 Capítulo 9: A representação das organizações espaciais
Croquis ou desenhos à mão livre Os croquis ou desenhos feitos à mão livre são ferramentas de projeto essenciais, pois permitem estudar e desenvolver ideias de projeto. Assim, os designers de interiores frequentemente os usam a fim de propor opções para a solução de problemas particulares. Em uma firma de arquitetura ou design, muitas conversas serão travadas com base em croquis; por isso, estes muitas vezes são a melhor maneira para a comunicação com os colegas de trabalho. Um croqui simples mas bem-feito geralmente terá muito mais sucesso ao transmitir uma ideia do que quaisquer palavras. Embora costumem usar com profusão croquis à mão livre dentro do ateliê, muitos designers adotarão um estilo de desenho mais refinado ao apresentarem uma obra a seus clientes. Isso é extremamente apropriado em muitos casos, mas também são comuns as situações nas quais os croquis podem ser uma ferramenta de apresentação mais bem-sucedida. Os croquis têm a vantagem de serem
À direita Este croqui axonométrico descreve muito bem a organização espacial da proposta que Claesson Koivisto Rune fez em 2010 para o Nobis Hotel de Estocolmo, Suécia. A informalidade das linhas passa a ideia de que a proposta não é específica demais em termos de detalhes.
menos formais e mais diretos (os clientes em geral ficam encantados com a habilidade de desenho mostrada em um croqui à mão livre), e, como suas linhas são menos precisas do que aquelas de um desenho gerado por computador ou com o uso de réguas e esquadros, o material é um pouco mais ambíguo. Essa ambiguidade ou imprecisão é extremamente positiva nas etapas preliminares de um projeto, quando a proposta ainda não está bem resolvida e sua apresentação visa a promover a discussão das alternativas possíveis para o desenvolvimento do projeto. Os croquis à mão livre também serão utilizados para criar diagramas simples no começo de um projeto, mas o designer de interiores não deve se esquecer de usá-los quando for apresentar desenhos extremamente detalhados de propostas complexas. Os programas de computador (software) ou as maquetes eletrônicas (perspectivas geradas em computador) muitas vezes serão usados para a geração de materiais sobre os quais o designer riscará à mão livre.
Croquis ou desenhos à mão livre 169
Abaixo
Acima e à direita
A firma Rogers Stirk Harbour + Partners usou um croqui em perspectiva para estudar a circulação vertical do aeroporto Madri-Barajas (2006).
Os princípios conceituais da composição espacial deste showroom da marca espanhola de roupas e calçados Munich em Santiago, Chile, têm caráter minimalista. Dear Design usou croquis muito simples para transmitir suas ideias de modo informal, e a perspectiva axonométrica resultante e o croqui da planta baixa começam a adotar um caráter de híbrido de diagrama e desenho (2012).
PASSO A PASSO A CRIAÇÃO DE DESENHOS À MÃO LIVRE
1
Embora alguns designers tenham um talento natural para fazer belos desenhos à mão livre, a maioria precisará desenvolver esta habilidade. O material a seguir pode ajudar qualquer pessoa a melhorar seus desenhos à mão livre; porém, o mais importante para o desenvolvimento da confiança é a prática. De fato, não existe nada que a substitua: os designers profissionais desenham todos os dias, produzindo uma quantidade de material enorme, e, consequentemente, seus desenhos se tornam cada vez melhores. Enfim, não há segredos ou atalhos.
Selecione os materiais certos para trabalhar – se você usar canetas, elas têm de permitir o traço rápido das linhas, e vale a pena ter à mão canetas com diferentes penas ou espessuras. O papel empregado deve ser leve e fino o suficiente para que o traçado seja rápido (por exemplo, papel manteiga, papel vegetal ou papel sulfite).
2
Use uma mesa de desenho ou um programa de computador para criar de modo formal a estrutura do desenho – essa figura servirá de base para o desenho à mão livre. Uma página com figuras geométricas e calungas (figuras humanas) pode ser impressa e reutilizada muitas vezes.
3
Usando a folha de base, faça seus esboços. O traçado geralmente envolverá o uso de muitas camadas para que se possa desenvolver um desenho e acrescentar mais detalhes. Não se apegue demais ao seu desenho: se ele não ficar bom, simplesmente descarte-o e recomece. Às vezes, são necessárias muitas tentativas para acertar.
4
Use a caneta com ponta mais fina para traçar as linhas gerais do desenho, permitindo que as linhas se cruzem generosamente (isso lhe permitirá desenhar com rapidez e fluidez). Depois, adicione as linhas mais grossas, para dar ênfase.
5
O desenho acabado pode ficar em preto e branco, ou você pode colori-lo, caso julgue apropriado, seja à mão ou com o auxílio de um programa de computador.
Maquetes 171
Maquetes Muitos clientes não conseguem de modo algum entender os desenhos de um projeto, mas facilmente "leem" uma maquete da mesma proposta – e ficam encantados com ela. Considerando-se que as maquetes são muito trabalhosas (e, portanto, caras), é importante, antes de tudo, esclarecer se uma maquete é necessária para determinado projeto e, se esse for o caso, para o que ela servirá. É extremamente comum um designer cair na tentação de construir uma maquete detalhada demais para seu propósito e, nesse caso, ela mostrar muito mais da proposta do que seria necessário. Se o designer inicialmente levar em consideração as questões que listaremos a seguir, ele precisará de menos tempo para transmitir com sucesso suas ideias e evitará o risco de criar uma maquete do tipo "casinha de boneca". As maquetes são feitas por razões diversas: como instrumento para que o designer consiga entender e desenvolver uma proposta, para servirem de diagramas tridimensionais que explicam os componentes de uma proposta aos colegas ou para apresentarem a proposta acabada ao cliente. As maquetes de estudo feitas no início de um projeto podem ser bastante cruas e aproveitar restos de materiais, enquanto uma maquete de apresentação consumirá semanas de trabalho e usará materiais de alta qualidade para que possa ter um acabamento primoroso. O propósito da maquete deve ser definido antes de começarmos a trabalhar nelas, pois isso garante que o resultado apropriado será alcançado do modo mais econômico possível. Uma vez estabelecido o propósito da maquete, podem ser tomadas as seguintes decisões: • Qual deve ser a escala da maquete? • Com que materiais a maquete deve ser feita? • Qual parte do projeto realmente deve ser representada? • Como poderemos visualizar o interior do prédio por meio da maquete? • A maquete será esquemática ou representará a cor e os materiais propostos pelo projeto?
À direita Uma maquete esquemática muito simples mostra o conceito da organização de uma proposta de casa em Valência, Espanha, feita por Fran Silvestre Arquitectos em 2010. A maquete ajuda na comunicação ao mostrar apenas os componentes principais da composição espacial.
172 Capítulo 9: A representação das organizações espaciais
Acima
Acima
As maquetes podem ser utilizadas para explorar a composição espacial de uma proposta nas etapas preliminares de um projeto. Neste caso, estão sendo estudados os cheios e os vazios, a opacidade e a transparência e os diferentes materiais no projeto que um aluno fez para uma clínica para portadores do vírus HIV.
Uma vez decidida a proposta do projeto, os princípios de sua organização podem ser explorados de modo bastante esquemático. Este projeto de um aluno propunha uma casa noturna em um prédio que outrora fora um cinema, e a maquete na escala de 1:100 usa cores para expressar com clareza os elementos principais da nova composição espacial. O prédio existente é sugerido por meio dos volumes inseridos no terreno.
Um dos maiores desafios que os designers de interiores enfrentam ao fazer maquetes é garantir que o observador tenha uma vista apropriada do interior. Para isso, as maquetes muitas vezes são feitas sem a cobertura, mas essa solução pode ser ruim, pois os tetos frequentemente são componentes essenciais à configuração dos espaços internos. As maquetes cortadas oferecem uma ótima maneira de definir as características de um espaço interno ao mesmo tempo que permitem ao observador avaliar a proposta. Nos projetos maiores, uma maquete cortada também possibilitará que sejam explicadas as relações entre vários volumes. Uma maquete pode ser um meio útil de comunicação das relações entre o contexto (o prédio existente) e o novo interior. Os designers muitas vezes adotam a estratégia do contraste entre o que já existia e o que é novo: isso pode envolver o uso de um material (ou acabamento) para as
preexistências e outro para os novos elementos, ou pode significar o uso de uma cor neutra como o branco, bege ou cinza para as preexistências e a apresentação do novo interior com cores vivas ou por meio de um único material contrastante na maquete, como a madeira ou o acrílico. É importante lembrar que as maquetes, assim como os desenhos, podem ser empregadas para transmitir diferentes aspectos de uma proposta de projeto, do conceito que embasa a proposta espacial aos mínimos detalhes encontrados em uma maquete de apresentação com acabamentos. Para que possa se comunicar bem, o designer de interiores deverá saber quando usar cada uma das abordagens – frequentemente, é feita uma série de maquetes, cada uma mais detalhada que a outra, permitindo a compreensão gradual do desenvolvimento do projeto.
Maquetes 173
Abaixo A proposta para o shopping Las Arenas (2011) baseava-se na reciclagem de uso de uma praça de touros de Barcelona que daria lugar a um conjunto contemporâneo dedicado ao lazer e entretenimento. Esta maquete de apresentação cortada foi cuidadosamente pensada a fim de transmitir informações sobre a relação entre a nova estrutura projetada por Rogers Stirk Harbour + Partners para o prédio construído e mostra como ela funciona como uma inserção independente da parede de alvenaria que define a planta baixa circular da arena original.
CAPÍTULO 10 E AGORA?
177 O PLANEJAMENTO DETALHADO 180 O DETALHAMENTO DE UM DESIGN DE INTERIORES
176 Capítulo 10: E agora?
Introdução Embora resolver a organização espacial da proposta para um interior seja um dos principais aspectos do desenvolvimento de um projeto, isso é apenas parte da jornada que leva um projeto do lançamento de seu conceito à sua finalização. O design de interiores raramente é um processo linear simples, e cada projeto progredirá de acordo com uma trajetória um pouco diferente até sua execução. A trajetória exata pode depender do tamanho e da complexidade do projeto, da abordagem do projetista e de outros fatores externos, como o cronograma e o orçamento. Embora cada escritório de arquitetura tenha seus métodos particulares de abordagem a um projeto, todos eles costumam definir as etapas cruciais do processo a fim de tornar o método claro para suas próprias equipes e para os clientes. Os projetos de design de interiores em geral incluem as seguintes fases: Abaixo
• Estudos preliminares/pesquisas • Estabelecimento de ideias/conceitos • Desenvolvimento • Detalhamento • Execução
Com escritórios em Londres e Dubai, Kinnersley Kent Design é uma firma de design internacional especializada no projeto de lojas e espaços de lazer. Este diagrama explica o processo de design em cinco fases empregado pela empresa: pesquisas, definição do conceito, desenvolvimento do design, detalhamento e execução. A organização espacial de uma proposta geralmente ocorre durante a segunda e a terceira etapas desse processo.
Os projetos de arquitetura costumam ser estruturados de um modo mais formal, muitas vezes prescrito pela legislação local profissional. No Reino Unido, o Royal Institute of British Architects (RIBA) tem essa responsabilidade. Em 2013, o RIBA propôs que seu Plano de Trabalho (introduzido em 1963) fosse simplificado e passasse a adotar as seguintes etapas:
NOSSAS PESQUISAS OPORTUNIDADE DE MERCADO
POSICIONAMENTO DA MARCA
PROGRAMA DE NECESSIDADES
DEFINIÇÃO DO CONCEITO
GERAÇÃO DE IDEIAS
MATERIAIS E CORES
INSPIRAÇÃO
VALORES E ETOS DA MARCA
DESENVOLVIMENTO DO DESIGN
PRIMEIROS PROTÓTIPOS
REFINAMENTO DOS CONCEITOS ORÇAMENTAÇÃO atenção aos detalhes
DETALHAMENTO DO DESIGN NERD
ENCONTRAMOS AS PESSOAS QUE FAZEM AS COISAS ACONTECEREM
PROTÓTIPOS FINAIS
EXECUÇÃO
ARTE FINAL
APROVAÇÃO DO CLIENTE
satisfeito
• Preparo • Definição do conceito • Desenvolvimento do projeto • Projeto executivo • Projetos complementares • Execução • Ocupação e manutenção Na maioria dos casos, a escala e o escopo dos projetos de arquitetura são maiores e mais complexos do que nos projetos de design de interiores; assim, os projetos de arquitetura exigem um processo mais detalhado. No entanto, há paralelos claros entre a abordagem não regulada e adotada pelas empresas de design de interiores comerciais e a arquitetura, uma profissão regulamentada. Seja um projeto de arquitetura, seja de design de interiores, é provável que a fase de definição da organização espacial (ou o planejamento espacial) ocorra durante as etapas de definição do conceito e desenvolvimento do projeto. Os serviços envolvidos incluirão: • O desenvolvimento do planejamento em detalhes • O desenho detalhado dos elementos da proposta • A seleção de materiais de construção e acabamento • A especificação de móveis, acessórios e equipamentos
O planejamento detalhado 177
O planejamento detalhado O desenvolvimento da organização espacial de uma proposta constitui-se na coluna dorsal de um esquema de planejamento: uma vez estabelecido o esquema, é possível elaborar a proposta, passando-se para a definição de alguns dos detalhes. Isso envolverá o reconhecimento de quais atividades acontecerão em cada espaço e a satisfação de suas necessidades – e o designer de interiores terá de considerar com precisão o layout, a forma e o tamanho dos elementos, bem como seus materiais, cores e texturas. Esse trabalho geralmente é feito em escalas cada vez maiores (escalas a partir de 1:20), e, à medida que o projeto é mais bem entendido, as decisões tomadas nesta etapa poderão incitar a reconsideração de algumas decisões de planejamento tomadas anteriormente, bem como influenciar o trabalho de detalhamento que virá a seguir.
À esquerda Esta perspectiva axonométrica mostra a composição espacial da cafeteria de um hotel de Miami, Estados Unidos, projetada em 2008 por NC-office. Nesta etapa do processo, os espaços necessários já foram definidos, mas ainda serão trabalhados por meio dos detalhes.
Logo à esquerda e bem à esquerda A planta baixa e o corte da cafeteria (acima) são desenvolvidos com o acréscimo de alguns detalhes, permitindo que sejam tomadas algumas decisões quanto ao desenho específico da escada, das portas, do layout dos móveis e do banheiro. Foram incluídas informações relativas aos tamanhos dos módulos do balcão e do revestimento das paredes internas, o que influenciará na próxima etapa do projeto: o detalhamento.
À esquerda A proposta feita em 2007 por Joel Sanders Architects para o Loftel de Nova York, Estados Unidos, propunha um hotel que simulasse a experiência de se morar em um loft. Neste tipo de projeto tão grande e complexo, a organização espacial pode determinar as dimensões, o formato e a localização de cada apartamento, enquanto a etapa seguinte do processo visa ao planejamento detalhado de cada espaço particular. Neste caso, foi desenvolvida uma série de módulos a fim de abordar questões funcionais específicas, como a criação de espaços para se sentar, dormir, se lavar e guardar a bagagem dos hóspedes. Esses módulos seriam distribuídos em diferentes configurações, adequando-se ao tamanho e ao formato dos apartamentos, que variavam de pequenas quitinetes a suítes de luxo.
PASSO A PASSO AS ETAPAS DE UM PROJETO DE DESIGN DE INTERIORES A firma londrina Kinnersley Kent Design, que se dedica ao design de lojas e espaços de lazer, usa um processo de quatro etapas para desenvolver suas propostas de interiores. Vejamos as diferentes fases desse trabalho por meio de um exemplo prático: o projeto de uma loja de departamentos de Abu Dhabi.
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Estudos preliminares: a maioria dos projetos começa com um período de pesquisas. A natureza exata dessa tarefa dependerá do serviço, mas ela provavelmente envolverá entender melhor o cliente, o programa de necessidades e o local. Os designers de interiores farão estudos sobre os precedentes, buscando aprender como outros projetistas enfrentaram situações similares.
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A definição do conceito: a pesquisa inicial influenciará a compreensão do problema em questão e conduzirá ao desenvolvimento das grandes ideias que orientarão a proposta. Neste momento, talvez a estrutura básica da estratégia espacial já esteja desenvolvida.
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O detalhamento: serão definidos o tamanho exato e a forma dos elementos, e serão tomadas decisões sobre os materiais, acabamentos e a especificação dos acessórios e equipamentos. Os designers, às vezes, fazem protótipos com diferentes níveis de resolução e, depois, preparam os jogos de desenhos do projeto executivo para que os construtores possam orçamentar e executar o interior.
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O desenvolvimento do projeto de design: a estratégia estabelecida durante a etapa de definição do conceito será trabalhada com um número muito maior de detalhes, e a proposta começará a se tornar mais real à medida que forem abordadas questões específicas e forem resolvidos os princípios de áreas particulares (como a circulação vertical). O planejamento dos espaços ficará bem determinado durante esta etapa de projeto.
Execução: as informações detalhadas do design serão transmitidas aos construtores, que com elas poderão estimar o custo da construção. Com a aprovação do cliente, as obras podem começar com a manufatura de componentes pré-fabricados e a execução in loco do interior.
180 Capítulo 10: E agora?
O detalhamento de um design de interiores Estando a organização espacial desenvolvida e detalhada em um jogo de plantas que atende às exigências funcionais precisas de um programa de necessidades, o projeto está pronto para ser desenvolvido em detalhes. Não devemos confundir o detalhamento do design com a elaboração do projeto executivo. Embora quase sempre seja necessário fazer um jogo de desenhos executivos (a fim de mostrar ao construtor ou fabricante como executar o interior), é importante lembrar que o detalhamento de uma proposta ainda faz parte da própria atividade de projetar e é parte integrante do desen-
Nesta página Em 2012, Zemberek Design Office criou um novo showroom dentro das instalações de uma indústria têxtil de Istambul, Turquia. Em planta baixa, o espaço é definido por uma parede interna curva que se transforma em uma série de montantes de metais e 962 lâminas de compensado cortadas com uma máquina com CNC (controle numérico por computador). A parede acabada estabelece uma divisão espacial que oferece vislumbres do showroom, mas, ao mesmo tempo, cria uma enorme arara para as roupas – observe como a forma das lâminas evoca o formato de um cabide.
volvimento do processo. Somente depois que os detalhes de uma proposta estiverem desenhados, desenvolvidos e resolvidos haverá a necessidade de converter essas informações em um conjunto de desenhos de construção – o chamado projeto executivo. Durante o detalhamento, as ideias do conceito que conduziram o projeto desde suas etapas preliminares frequentemente continuarão a desempenhar um papel chave na orientação da proposta. É neste momento que serão bem trabalhadas as questões relativas aos materiais e acabamentos.
O detalhamento de um design de interiores 181
Bem à esquerda e logo à esquerda Em 2012 a firma form-ula projetou o restaurante Sushi-teria em Nova York, Estados Unidos. O planejamento simples de um pequeno interior ganha vida com o detalhamento esmerado, que introduz padrões e texturas na proposta. O ponto focal do espaço, a parede por trás do balcão, foi revestida de oitocentas peças de madeira de pinho de cor clara, que foram pintadas de branco, parcialmente lixadas e, então, novamente pintadas com esmaltes branco e rosa a fim de produzir – nas palavras dos designers – "um efeito tremeluzente e dinâmico que lembra bastante o jogo matutino da luz sobre o mar". Outra interpretação possível seria de que a parede texturizada lembra as escamas de um peixe – uma ideia apropriada para um restaurante de sushi.
Abaixo, bem à esquerda A loja que a firma Stanton Williams projetou em 1988 para uma unidade londrina de venda de roupas femininas da Issey Miyake tornou-se uma referência de qualidade para interiores de operações varejistas. Muita sensibilidade foi empregada em uma palheta contida de materiais, que incluiu marmorino italiano (uma mistura luminosa e reflexiva de pó de mármore e aglomerante), placas de calcário de Portland jateado com areia ou polido e acessórios de madeira de carvalho e bordo. As juntas entre os elementos de detalhamento e encaixam combinam, refletindo o modo como as principais composições definem um espaço como um todo – isto é, a relação entre espaço e detalhe é contínua.
Ao centro O desenho de montagem de um detalhe de guarda-corpo permite o entendimento dos componentes deste projeto feito por um estudante. Uma vez feito o detalhamento, as decisões tomadas podem ser transmitidas por meio de um projeto executivo, também chamado de desenhos de construção ou desenhos de execução.
184 GLOSSÁRIO 185 LEITURA RECOMENDADA 186 ÍNDICE 190 CRÉDITOS DAS ILUSTRAÇÕES 192 AGRADECIMENTOS DO AUTOR
184 Glossário
Glossário abertura Vão criado em um elemento laminar de uma edificação, seja horizontal, seja vertical. Pode ser uma porta, janela, claraboia, abertura no piso etc. analogia Comparação entre coisas que apresentam características semelhantes, frequentemente utilizada para explicar um princípio ou uma ideia. Bauhaus Escola de artes e design alemã que funcionou entre 1919 e 1933 e se tornou famosa por sua abordagem ao design e seu ensino, combinando o trabalho artesanal (os "ofícios") e as belas artes. celular Na acepção empregada neste livro, uma composição de pequenas partes. conservação A proteção das construções e edificações, especialmente contra os efeitos nocivos da atividade humana. desenho ortográfico Modo de representar com acuidade um objeto tridimensional por meio de um desenho bidimensional (em geral, refere-se a uma planta baixa, elevação ou corte). A palavra deriva do vocábulo grego orthos (reto) e graphe (desenho). É o mesmo que desenho ortogonal. estratégia Plano detalhado para obter o sucesso em situações como o design do interior de uma edificação. extrusão Perfil formado ao se empurrar um material através de uma abertura de perfilamento. fachada A elevação frontal de uma edificação. mezanino Pequeno piso extra entre um pavimento principal de um prédio e um pavimento acima. modernismo Movimento filosófico que surgiu das transformações gerais e de grande escala sofridas pela sociedade ocidental no final do século XIX e início do século XX. O modernismo, em geral, inclui as atividades e criações daqueles que consideravam que as formas tradicionais de arte em sentido estrito, arquitetura, literatura, religião, filosofia, organização social e atividades da vida cotidiana estavam desatualizadas em relação ao novo ambiente econômico, social e político de um mundo emergente, totalmente industrializado. modular Elemento de um conjunto de partes separadas que, uma vez combinadas, formam um todo completo.
narrativa História ou descrição de uma série de eventos. planta livre (plan libre) Termo cunhado por Le Corbusier para se referir ao "planejamento livre" possibilitado pela construção arquitravada (de pilares e vigas), que permitiu que as paredes fossem liberadas de sua função estrutural e passassem a ser utilizadas apenas para definir e dividir espaços. precedente Ação, situação ou decisão que já aconteceu e pode ser aproveitada como motivo pela qual uma ação ou decisão similar deveria ser feita ou tomada. programa de necessidades Conjunto de instruções ou informações que define o escopo ou as exigências de um projeto. reforma Reparar e melhorar uma edificação. renovação Fazer com que uma edificação volte a ter o aspecto de nova. restauração Ato ou processo de fazer com que uma edificação retorne a seu estado anterior, mas melhorado. tática Maneira planejada de fazer algo. topografia Aspecto físico das características naturais de um terreno, especialmente o formato de sua superfície. vala recoberta ou trincheira Método de construção simples de túneis rasos, no qual se escava uma vala que, então, é coberta por um sistema resistente o suficiente para transferir as cargas dos elementos que serão construídos sobre o túnel. Também chamado de método da trincheira ou VCA (vala a céu aberto). vernacular Estilo local segundo o qual as casas comuns são construídas.
Leitura recomendada 185
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186 Índice
Índice Os números de páginas em itálico se referem às figuras. A Ab Rogers Design 96–7 Acconci, Vito 66 Aesop, Doncaster, Austrália (Russell & George) 72 Ala Sainsbury, National Gallery, Londres (Venturi, Scott Brown and Associates) 54 Alex Cochrane Architects 73, 114–115 ANA, saguão no aeroporto Ota-ku, Tóquio, Japão (Nikken Space Design) 60 Andres Remy Arquitectos 19 Andy’s Frozen Custard Home Office, Springfield, Missouri (Dake Wells Architecture) 133 apartmento, Berlim, Alemanha (Jung) 127 apartmento, Mântua, Itália (Archiplan Studio) 13 Apple Inc. e lojas da Apple 17 apresentações desenhos 156, 161, 164, 168 maquetes 152, 153, 171, 172, 173 ARB (Conselho de Arquitetura do Reino Unido), escritórios, Londres (dRMM) 131 Archiplan Studio 13 Architects EAT 142 arcos 132, 138, 150 Arquivo de Arte Contemporânea, Krems, Áustria (Krischanitz) 71 Arquivo Drents, Assens, Países Baixos (Zecc Architects) 66 Assembleia Nacional do País de Gales, Cardiff, Reino Unido (Rogers Stirk Harbour + Partners) 161, 162 B Bates Smart Architects 59, 73 Bauhaus 8, 184 Blacksheep 81 blank studio architecture 143 B Mes R 29 Arquitectes, escritórios da firma, Lleida, Espanha 95, 134 Breathe Architecture 122 Broadway Malyan 66 Brooker, Graeme 105, 108, 112, 116 Brooks + Scarpa Architects 51 butique de moda, Melbourne, Austrália (Russell & George) 72 ///byn 44 C cabeleireiro, proposta (Corrin) 167 CADD (software de projeto e desenho) 58, 164, 166, 168, 170 cafeteria de um hotel, Miami, Estados Unidos (NC-office) 177 Cahier d’Exercices, butique, Montreal, Canadá (Saucier + Perrotte Architectes) 137
Campus, escritórios corporativos da Google, leste de Londres (Jump City) 16 Canary Wharf, estação do metrô, Londres (Foster + Partners) 146–147 Captain Melville bar e restaurante, Melbourne, Austrália (Breathe Architecture) 122 Cargo, perto de Genebra, Suíça (group8) 12, 43, 164 Cartlidge Levene 156 Casa de Campo de Tijolo (Mies van der Rohe) 52 Casa de Vidro em uma Colina (Mies van der Rohe) 24 Casa de Vidro, New Canaan, Estados Unidos (Johnson) 28–9, 50, 124 casa Dom-Ino (Le Corbusier) 7, 7–8 casa em Valência, Espanha (Fran Silvestre Arquitectos) 171 casa Mix (Joel Sanders Architects) 161 casa Pérola Negra, Rotterdam, Países Baixos (Studio Rolf e Zecc Architects) 110–111 casa privada, San Francisco, Estados Unidos (Garcia Tamjidi Architecture) 125 casa reformada, Washington DC, Estados Unidos (Robert Gurney Architect) 159, 161 casa suburbana em Chicago, Estados Unidos (SIDE Architecture) 39 Casper Mueller Kneer Architects 13 Centro Cultural, Zlín, República Tcheca (Eva Jiricna Architects) 60 Centro de Treinamento de Futebol da Nike, Soweto, South Africa (RUF Project) 52 Centro de Visitantes da Abadia de Whitby, Yorkshire, Reino Unido (Stanton Williams Architects) 113 centro odontológico, Linz, Áustria (x architekten) 41 Centro Sainsbury de Artes Visuais, Norwich, Reino Unido (Foster + Partners) 25 Charles Worthington, cabeleireiro, Nova York (Joel Sanders Architects) 166 Chu, Alan 107 circulação, estratégias 64–8 acesso 65, 66, 67, 68, 102, 114, 115 arranjos em grelha 64, 65 circulação através dos espaços 19, 30, 32, 41, 68, 69, 70, 71, 76, 77 circulação contígua aos espaços 41, 59, 69, 71, 74, 75 circulação que termina em um espaço 69, 72–3, 75, 76, 77, 114, 115 comunicação 32, 74, 84, 87, 134, 156, 157 definição 64 e estratégias espaciais 69–77, 84, 87, 134, 163 e organização espacial 30 em edificações existentes 30, 31, 65, 66, 67, 70, 104, 151, 163 entradas 65, 66, 68, 72, 75, 89
espiral 64, 114 estratégias de planejamento 32, 64–75, 76, 77, 104 no projeto com o uso de cortes 147, 149, 151, 156, 157, 169 percursos 30, 32, 64, 65, 66, 70–72, 73, 74, 75, 114 precedentes 30–32, 41 radial 64 rede 64, 65 vertical 59, 149, 156, 169, 179 Claesson Koivisto Rune 168 clientes 12, 16–18 apresentações 156, 168, 171 e o programa de necessidades 81 identidade 16, 17, 18, 39 natureza do negócio 12, 16, 17, 39 produtos e serviços 17, 18, 39 clínica de radiologia, Schornford, Alemanha (Ippolito Fleitz Group) 74, 75 clínica odontológica, proposta, Londres (Leist) 149 Cobbler Caballero, Sydney, Austrália (Stewart Hollenstein) 136 Coca Grill, Bangkok, Tailândia 20 COEN! 158 colunas veja pilares Combiwerk, Delft, Países Baixos (i29) 27, 53, 122 Comme des Garçons, Tóquio, Japão (Future Systems) 67 composição espacial 132–139 contrastes 42, 44, 50, 60, 62, 105, 111, 113, 119, 125–131 criação 7, 8, 29, 44, 50, 52, 122, 124, 132–137 definição do espaço 12, 27, 123 pesada versus leve 128–129, 132, 137, 138 materiais empregados 122, 123, 125, 126, 128, 130, 131, 132, 138 criação de maquetes 135, 138–139, 171–173 opacas versus transparentes 123, 126, 128, 130–131, 132, 138, 172 abertas versus fechadas 54, 122, 123, 125, 126–127, 130, 132, 138 Composição Simultânea XXIV (Doesburg) 33 Compton Verney, centro de artes, Warwickshire, Reino Unido (Stanley Williams Architects) 108 Corrin, Oliver 167 COS Stores (Russell) 88–89 Coussée & Goris 50 Crown Metropol Hotel, Melbourne, Austrália (Bates Smart Architects) 59 Curiosity 63, 122, 125, 129, 131 D Dake Wells Architecture 39, 133, 162 DAKS, estudo de caso, Piccadilly, Londres (Nevedomskis) 18
Índice 187
Dan Brunn Architects 38 DAP Studio 106 Dear Design 128, 169 De Leon & Primmer Architecture Workshop 166 desenhos 156–70 axonométricas 88, 156, 157, 162–3, 168, 169, 177 croquis/desenhos à mão livre 14, 17, 87, 92, 134, 137, 158, 167, 168–170 desenhos de construção 179, 180, 181 desenhos em corte 15, 25, 110, 137, 142, 144, 145, 148, 149, 150, 160–161 desenhos em planta 15, 21, 28, 41, 70, 74, 92, 135, 160 desenhos ortográficos 158, 160, 164, 184 ideias conceituais, comunicação 156, 161, 162, 166, 167, 169 isométricas 43 para apresentações 156, 161, 164, 167, 168 perspectivas 149, 157, 164–166, 167, 169 projeção de sombras 160, 164, 166 propósito 58, 156 uso de cores 43, 83, 162, 163, 166, 170 veja também diagramas; plantas design, processo detalhamento 177, 179, 180–181 diagramas 176 etapas 176, 178–179 pesquisas 45, 85, 178 veja também ideias conceituais; processo de planejamento de Stijl, movimento de arquitetura, 27, 33 Denari, Neil M. 143 diagramas 58, 86–87, 90–94, 157 diagramas de planejamento 48, 74, 80, 84, 86–87, 89–94, 115, 122 estratégias de circulação 32, 84, 87, 134, 156, 157 ideias conceituais, comunicação 43, 58, 61, 86–87, 156, 157, 161, 167 propósito 58, 90, 91, 92, 157 setas 58, 86, 87 uso de cores 86, 87, 156, 157 Doca da Inovação, Rotterdam, Países Baixos (Groosman Partners) 51 Doesburg, Theo van 27, 33 dormitório de criança, Paris (h2o) 44 dRMM 131 E edificações veja programa de necessidades; edificações existentes edificações/contextos existentes 12–15 acesso 66, 67, 102 análise 100, 101–104 e ideias conceituais 38, 40, 42–43, 44, 104 estratégias de circulação 30, 31, 65, 66, 67, 70, 104, 151, 163 estratégias de planejamento 50, 51, 55, 60, 61, 74
história 12, 14, 42, 100, 101 inserções 14, 18, 30, 38, 44, 105, 112–115 instalações 20, 42, 43, 50, 96–97, 103, 105, 116–119 intervenções 105, 108–111 materiais 12, 14, 15, 42, 103, 116, 119 novos elementos, introdução 14–15, 18, 26, 30, 31, 39, 42, 44, 50, 55, 105–119 orientação 102 precedentes 26, 30, 31 projeto com o uso de cortes 15, 110, 144–145, 150–151 renovações, restaurações e reformas 26, 30, 43, 51, 66, 104, 107, 108, 116, 151, 184 reúsos e reformas 6, 44, 50, 66, 110, 143, 159, 161, 163, 173 edifício de escritórios Bacardi, Santiago de Cuba, Cuba (Mies van der Rohe) 8 edifício de escritórios, Tianjin, China (Vector Architects) 130 edifício Seagram, Park Avenue, Nova York (Mies van der Rohe) 8 Edun, showroom e escritórios, Nova York (Spacesmith) 92, 93 Eight Inc. 17 entrada de um bloco de apartamentos, Londres (Groves Natcheva Architects) 67 entrada de uma galeria de arte, Viena, Áustria (Krischanitz) 68 escritórios do serviço catalão de saúde, Barcelona, Espanha (RaichdelRio) 65 escritórios, San Francisco, Estados Unidos (jones | haydu) 126 “Espaço Simples”, exposição (2012), Fondazione Bisazza, Vicenza, Itália (Pawson) 29 espaços “espaço dentro de outro” 28–29, 42, 43, 48, 49, 50–51, 71, 114, 122, 124, 134 espaços adjacentes 21, 30, 48, 49, 54, 55, 63, 71, 76, 77, 123 espaços conectados por um espaço comum 48, 49, 55, 61, 76 espaços sobrepostos 27, 33, 48, 49, 52, 53, 54, 56, 63, 75, 122 características 14, 15, 85, 90 formato 56, 58, 62, 63, 85, 90 tamanho 55, 56, 58, 63, 82, 85, 90, 112, 116, 134 veja também composição espacial; organização espacial; relações espaciais; estratégias espaciais estratégias de planejamento 48–77 edificações existentes 50, 51, 55, 60, 61, 74 estratégias de circulação 32, 64–75, 76, 77, 104 relações espaciais 48–55, 63, 74, 77, 83, 84, 90, 143, 153, 162, 164 soluções de planejamento 74–77 estratégias espaciais 56–63 arranjos centralizados 56, 57, 62, 64, 74, 75, 145
arranjos em grelha 27, 56, 57, 60, 64, 65, 74 arranjos em grupo 27, 56, 57, 63, 74, 75 arranjos lineares 27, 55, 56, 57, 59, 60, 64, 74, 75 arranjos radiais 27, 56, 57, 61, 62, 75 definição 48 e estratégias de circulação 69–77, 84, 87, 134, 163 e o programa de necessidades do cliente74, 75, 83–89 Estudio Nômada 20 Eva Jiricna Architects 60 F form-ula 21, 181 Foro de Justiça de Sydney, Austrália (Bates Smart Architects) 73 Foster + Partners 25, 26, 31, 55, 146–147 Fran Silvestre Arquitectos 171 Fundação Querini Stampalia, museu, Veneza, Itália (Scarpa) 30 Future Systems 67 G galeria de arquitetura e design, Tóquio, Japão (Denari) 143 Galeria dos Dinossauros no Museu de História Natural de Londres, Londres (Imagination) 31 Gameworld, exposição no Centro de Artes Laborais de Gijon, Gijon, Espanha (Leeser Architecture) 159 Garcia Tamjidi Architecture 125 Get & Go, restaurante, Buenos Aires, Argentina 19 glossário 184 Google 16 Gourmet Tea, São Paulo, Brasil (Chu) 107 Grande Pátio, British Museum, Londres 55 Grcic, Konstantin 30 Groosman Partners 51 Groves Natcheva Architects 67 group8 12, 43, 129, 164 escritórios, perto de Genebra, Suíça veja Cargo Gundry & Ducker 117 H h2o 44 Herron, Ron 61 Holl, Steven 66 Holyfields, restaurante, Alemanha (Ippolito Fleitz Group) 82 Hospital Kangbuk Samsung, Seul, Korea (Hyunjoon Yoo Architects) 157 Höweler + Yoon Architecture 136, 165 Hyunjoon Yoo Architects 157 I ideias conceituais 36–45 abordagem de design 38, 42, 44–45 comunicação 43, 45, 58, 61, 86–7, 156–66, 167, 168–70
188 Índice
de edificações existentes 38, 40, 42–3, 44, 104 definição 36 geração 37–45, 176, 178, 179, 180 Ikea, lojas 32, 41 Imagination 31 projeto de um ateliê (Herron) 61 Inamo, restaurante, Londres (Blacksheep) 81 Indochine Plaza Hanoi, Vietnã (group8) 129 Integrated Field 20 Ippolito Fleitz Group 74, 75, 82 Ippudo, restaurante, Sydney, Austrália (Kolchi Takada Architects) 19 Issey Miyake, loja, Londres (Stanton Williams) 181 i29 27, 53, 122 J Jigsaw, Londres (Pawson) 130 Joel Sanders Architects 143, 161, 164, 166, 177 Johnsen Schmaling Architects 163 Johnson, Philip 28–29, 50, 124 jones | haydu 126 Jump City 16 Jung, Reinhardt 127 K Katherine Hamnett, loja, Londres (Foster + Partners) 31 Kinnersley Kent Design 176, 178–179 Klein Dytham Architecture 126 KLF Architectural Systems, escritório, Missouri, Estados Unidos (Dake Wells Architecture) 39 KMS Team, escritório, Munique, Alemanha (Tools Off.Architecture) 70, 118–119 Knoll, Florence 33 Knoll, showroom da companhia de móveis, Madison Avenue, Nova York (Florence Knoll) 33 Kolchi Takada Architects 19 Krischanitz, Adolf 68, 71 L Lam-Watson, Oliver 62 Las Arenas, shopping, Barcelona, Espanha (Rogers Stirk Harbour + Partners) 173 Laseau, Paul 37 Le Corbusier 7–8, 148 LEAD 76–77 Leeser Architecture 159 Leist, Sam 149 Loftel, Nova York (Joel Sanders Architects) 143, 164, 177 Lunar, loja desmontável, Xangai, China (///byn) 44 Lurdes Bergada & Syngman Cucala, loja, Barcelona, Espanha (Dear Design) 128 Lutyens, Edwin 18, 151
M Madri-Barajas, aeroporto, Espanha (Rogers Stirk Harbour + Partners) 166, 169 Maedaya Sake & Grill, Victoria, Austrália (Architects EAT) 142 Magna, Rotherham, Reino Unido (Wilkinson Eyre Architects) 26 maquetes e construção de maquetes e composição especial 135, 138–139, 171–173 ideias conceituais, comunicação 37, 167, 168, 171 no projeto com o uso de cortes 152–153, 172 para apresentações 152, 153, 171, 172, 173 uso de cores 138, 171, 172 materiais em edificações existentes 12, 14, 15, 42, 103, 116, 119 na composição espacial 122, 123, 125, 126, 128, 130, 131, 132, 138 McAllen, biblioteca pública, Texas, Estados Unidos (MSR) 130 Meilo, hotel, Tóquio, Japão (Curiosity) 63 Melchnau, estande para exposições para o fabricante de carpetes, feira industrial Heimtextil (1993), Frankfurt, Alemanha (Zwicky) 27 Mercedes-Benz North America, escritórios, edifício Seagram, Nova York (Selldorf Architects) 8 Michel Brisson, loja, Montreal, Canadá (Saucier + Perrotte Architectes) 128 Mies van der Rohe, Ludwig 7, 8, 24, 52 Mississippi Blues, projeto de restaurante, San Francisco, Estados Unidos (Stanley Saitowitz|Natoma Architects) 45 modernismo 7–8, 28, 33, 60, 124, 184 MSR 130 Munich, showroom da marca, Santiago, Chile (Dear Design) 169 museu El Greco, Toledo, Espanha (Pardo + Tapia Arquitectos) 105 N NADAAA 165 NC Design & Architecture 76–77 NC-office 177 Nevedomskis, Alexis 18 NFOE et Associés Architectes 166 Nikken Space Design 60 Nobis Hotel, Estocolmo, Suécia (Claesson Koivisto Rune) 168 O Oak Park, casa, Illinois, Estados Unidos (Wright) 52 Office Jarrik Ouburg 100 Oki-Ni, loja-conceito, Savile Row, Londres (6a Architects) 36 organização espacial
comunicação 87, 90–91, 93, 153, 156–173 e estratégias de circulação 30 e o programa de necessidades 12, 19, 20, 41 e o projeto com o uso de cortes 142, 152, 158, 160–161, 162, 164, 172, 173 importância 6–7 no processo de planejamento 6–7, 81, 82, 83, 85, 90, 91, 93, 176, 177, 180 precedentes 24, 27–29, 30 Orms 101–4 Os Braços do Desenhista, exposição, Londres (Gundry & Ducker) 117 OVO, clínica de fertilização artificial, Montreal, Canadá (NFOE et Associés Architectes) 166 P Palladio, Andrea 62 Panteon, Roma (desenhado por Soane) 160 Pardo + Tapia Arquitectos 105 Pauline Bremmer Architects 100 Pavilhão Alemão da Bienal de Veneza de 2012 (Grcic) 30 Pavilhão de Barcelona, Exposição Internacional de 1929 (Mies van der Rohe) 52 Pavilhão dos Retratos, galeria de arte do castelo Duivenvoorde, Países Baixos (Pauline Bremmer Architects e Office Jarrik Ouburg) 100 Pawson, casa, Londres (Pawson) 109 Pawson, John 29, 109, 130 Pearson Lloyd Design Studio 63 Pengelly Design 59 Pentagram 88 Phi Design & Architecture 70 pilares 7, 103, 104, 114, 115, 132, 137, 138, 144, 145, 147, 165 planta livre (plan libre) 7, 184 planos horizontais 7, 8, 124, 131, 132, 133, 137, 138 verticais 7, 8, 27, 52, 122, 124, 131, 132, 133, 136, 137, 138 plantas 158–9 desenhos em planta 15, 21, 28, 41, 70, 74, 92–3, 135, 160 diagramas 48, 74, 80, 84, 86–7, 89–94, 115, 122 plantas baixas 15, 19, 28, 50, 158, 159 projeção de sombras 158, 159 uso de cores 158 Playtime (filme, direção de Tati, 1967) 60 Pleats Please, loja da Issey Miyake, Nova York (Curiosity) 122, 131 precedentes 24–33, 184 aprender com outras disciplinas 27, 33 na organização espacial 24, 27–29, 30 para estratégias de circulação 30–32, 41 precedentes de organização 27–29, 42 precedentes do local 26, 30, 31
Índice 189
referências ao passado 12, 14, 18, 24–25, 27, 28–29, 30, 31, 33, 42, 178 processo de planejamento organograma de espaços 83, 84, 90 planejamento detalhado 177 organização espacial 81, 82, 83, 85, 90, 91, 93, 176, 177, 180 requisitos espaciais 74, 75, 83–89 programa de necessidades 80, 81–82, 184 veja também plantas programa de necessidades 12, 19–21, 29, 41, 48, 55, 61, 74, 178 projeto com o uso de cortes 140–153 desenhos 15, 25, 110, 137, 142, 144, 145, 148, 149, 150, 160–161 e organização espacial 142, 152, 158, 160–161, 162, 164, 172, 173 edificações existentes 15, 110, 144–145, 150–151 estratégias de circulação 147, 149, 151, 156, 157, 169 maquetes e construção de maquetes 152–3, 172 volume, manipulação 142, 143, 149, 150, 152 projeto de escritórios, Golden Square/Lower John Street, Londres (Orms) 101–104 Projeto para a Sala de Concertos (Mies van der Rohe) 7 projetos de restaurante 19, 19, 21, 81, 82 Pullpo, escritório de uma agência de publicidade, Santiago, Chile (Stambuk) 42, 116 Pye, Daniel 37 R RaichdelRio 65 Reactor Films, espaço de trabalho, Santa Monica, Califórnia, Estados Unidos (Brooks + Scarpa Architects) 51 reciclagem de uso da cadeia de Stirling, Escócia (Richard Murphy Architects) 151 relações espaciais e planejamento 48–55, 63, 74, 77, 83, 84, 90, 143, 153, 162, 164 Re-readings: Interior Architecture and the Design Principles of Remodelling Existing Buildings (Brooker e Stone) 105, 108, 112, 116 restaurante Banq, Boston, Estados Unidos (NADAAA) 165 restaurante e livraria, Santiago de Compostela, Espanha (Estudio Nômada) 20 Richard Murphy Architects 151 Robert Gurney Architect 159, 161 Rogers, Richard 24, 25 Rogers Stirk Harbour + Partners 161, 162, 166, 169, 173 Da Casa à Cidade, instalação (Ab Rogers Design) 96–97 Rogers, Su 25 Rossio, estação ferroviária, Lisboa, Portugal (Broadway Malyan) 66
Royal Institute of British Architects (RIBA) 176 RUF Project 52 Russell & George 72 Russell, William (Pentagram) 88–9
Trace Architecture, escritórios, Pequim, China (Trace Architecture) 14–15 Tribeca, cabeleireiro masculino, Tóquio, Japão (Curiosity) 125
S 6a Architects 36 sala de reuniões em um edifício de escritórios, Tianjin, China (Vector Architects) 29 Sala do Silêncio, Selfridges, Londres (Alex Cochrane Architects) 73, 114–115 Saucier + Perrotte Architectes 128, 137 Scarpa, Carlo 30, 31 Selldorf Architects 8 Sempla, escritório, Turim, Itália (DAP Studio) 106 Shed 54 50, 117 Shine, butique, Hong Kong (LEAD and NC Design & Architecture) 76–77 showroom de uma empresa, San Francisco, Estados Unidos (Dan Brunn Architects) 38 showroom de uma indústria têxtil, Istambul, Turquia (Zemberek Design Office) 180 SIDE Architecture 39 Soane, Sir John 117, 160 Sociedade de Arquitetos de Boston, Boston, Estados Unidos (Höweler + Yoon Architecture) 136, 165 Spacesmith 92, 93 Stambuk, Hania 42, 116 Stanley Saitowitz|Natoma Architects 45 Stanley Williams Architects 108 Stanton Williams 181 Stanton Williams Architects 113 Steelcase Worklife, showroom, Londres (Pearson Lloyd Design Studio) 63 Stewart Hollenstein 136 Stone, Sally 105, 108, 112, 116 Storefront for Art and Architecture, Nova York (Acconci e Holl) 66 Studio Myerscough 156 Studio Rolf 110–111 Studio SKLIM 80, 157 Sushi-teria, restaurante, Nova York (form-ula) 21, 181
U Unidade de Habitação, Marselha, França 148
T Tate Modern Gallery, Londres (Cartlidge Levene e Studio Myerscough) 156 Tati, Jacques 60 The Blatz, edifício da antiga cervejaria Blatz, Milwaukee, Estados Unidos (Johnsen Schmaling Architects) 163 The Café in the Park, Osaka, Japão (Curiosity) 129 Thin Office (Studio SKLIM) 157 Thin Office, Singapore (Studio SKLIM) 80 Tiger, lojas 32 Tokyo Curry Lab, restaurante, Japão (Wonderwall) 82 Tools Off.Architecture 70, 118–119
V Vector Architects 29, 130 Venturi, Scott Brown and Associates 54 vigas 93, 103, 107, 132, 137, 138, 147 vila Rotonda, Vicenza, Itália (Palladio) 62 vila Tugendhat, Brno, República Tcheca (Mies van der Rohe) 52 Virgin Atlantic, Primeira Classe da companhia (Pengelly Design e Virgin Atlantic) 59 Vir.Mueller Architects 163 Vleeshuis, centro para a promoção dos produtos flamengos, Ghent, Bélgica (Coussée & Goris) 50 W Wapping Project, Londres (Shed 54_) 50, 117 White Cube, galeria, Bermondsey, Londres (Casper Mueller Kneer Architects) 13 Wilkinson Eyre Architects 26 Wine Library, bar e restaurante, Woollahra, Austrália (Phi Design & Architecture) 70 Woerden, projeto para um local de trabalho, Países Baixos (COEN!) 158 Wonder Room, Selfridges, Londres (Klein Dytham Architecture) 126 Wonderwall 82 Woodwalk, showroom, Délhi, Índia (Vir.Mueller Architects) 163 Wright, Frank Lloyd 52 X x architekten 41 Y Yew Dell Botanical Gardens, centro de visitantes do jardim botânico, Kentucky, Estados Unidos (De Leon & Primmer Architecture Workshop) 166 YO!, rede de sushi 81 Yoga Deva, estúdio de ioga, Gilbert, Arizona, Estados Unidos (blank studio architecture) 143 Z Zecc Architects 66, 110–111 Zemberek Design Office 180 Zip-up, casa (Rogers) 24, 25 Zwicky, Stefan 27
190 Créditos das ilustrações
Créditos das ilustrações Alto - No alto, Emb - Embaixo, Cen - No centro, Esq - À esquerda, Dir - À direita Todas as imagens que não estão entre as listadas a seguir foram fornecidas pelo autor. CAPA i29 designers de interiores; 1 Cortesia de Dake Wells Architecture; Diretores: Andrew Wells FAIA e Brandon Dake, AIA; equipe de projeto: Josh Harrold, Emily Harrold, John Whitaker; 3 Stefan Zwicky em colaboração com Trix and Robert Hausmann e Hans Jacob Hurlimann; 6 Matt Smith, Universidade de Nottingham Trent; 7Alto © FLC/ADAGP, Paris e DACS, Londres 2014; 7Emb © DACS 2014, cortesia do Museu de Arte Moderna (MoMA), Nova York, © Photo SCALA, Florença; 8Alto © DACS 2014, cortesia do Museu de Arte Moderna (MoMA), Nova York, © Photo SCALA, Florença; 8EmbEsq © DACS 2014; 8EmbDir Cortesia de Selldorf Architects; 10 Cortesia de Estudio Nômada; fotografia de Héctor Santos-Díes/BIS Images; 12– 13Emb Cortesia de group8, fotografia © Régis Golay, FEDERAL Studio, Genebra; 13AltoEsq Archiplan Studio, arquitetos: Diego Cisi e Stefano Gorni Siluestrini; fotografia de Martina Mambrin; 13AltoDir Cortesia de Casper Mueller Kneer Architects; 14–15 (todas) Cortesia de HUA Li / TAO (Trace Architecture Office); equipe de projeto: HUA Li, Guo Pengyu, Zhu Zhiyuan, Jiang Nan, Li Guofa; fotografia de Shu He; 16 Cortesia de Jump Studios; fotografia de Gareth Gardner; 17AltoEsq Apple Inc; 17CenEsq 1000Words/Shutterstock; 17CenDir plo3/ Shutterstock; 17Emb US Patent and Trademark Office; 18AltoEsq, AltoCen, AltoDir Sob permissão deDAKS Simpson Group PLC; 18Emb Alex Nevedomskis, Universidade de Kingston, Londres; 19Alto Cortesia de Kolchi Takada Architects; 19EmbEsq, 19EmbDir Cortesia de Andrés Remy Arquitectos, equipe de projeto e gestão de obra: Guido Piaggio, Lilian Kandus; colaboradores: Martin Dellatorre, Diego Siddi; fotografia de Alejandro Peral; 20Alto Cortesia de Integrated Field Co., Ltd., fotografia de Ketsiree Wongwan; 20C, Emb Cortesia de Estudio Nômada, fotografia de Héctor Santos-Díes/ BIS Images; 21 (todas) form-ula, fotografia de Amy Barkow | Barkow Photo www.barkowphoto.com; 22 Cortesia da Fondazione Bisazza, Vicenza; 24Alto © DACS 2014, cortesia do Museu de Arte Moderna (MoMA), Nova York, © Photo SCALA, Florença; 24Cen, Emb Cortesia de Rogers Stirk Harbour + Partners; fotografia de Eamonn O’Mahony; 25Alto © Richard Bryant; 25Emb © Norman Foster; 26AltoEsq © Ian Higgins; 26AltoDir © Nigel Young / Foster + Partners; 26Emb Steve Greaves, www.stevegreaves.com; 27AltoEsq Collection Het Nieuwe Instituut, Roterdam. Código de Artigo DOES, inv nr 001; 27AltoDir Stefan Zwicky; 27Emb i29 designers de interiores; 28Emb M Highsmith’s America, Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, Divisão de Gravuras e Fotografias; 29Alto Cortesia da Fondazione Bisazza, Vicenza; 29Emb Cortesia de Vector Architects; fotografia de Shu He; 30Esq Christian Kerber/laif; 30Dir Konstantin Grcic Industrial Design; 31Alto © Norman Foster; 31Emb sob a gentil permissão do Museu de História Natural de Londres e de Imagination; 32Alto Cortesia da Ikea UK & Ireland; 32Emb Cortesia de JPD Total Retail Solutions; conceito: www.tigerstores.com; vistas, layout da loja, móveis: www.jpd.lv; 33Esq fotografia de Robert Damora © Damora Archive; 33Dir Yale University Art Gallery, New Haven (CT) © Fotografia de SCALA,
Florença; 34 Gareth Payne, Universidade de Nottingham Trent; 36 © 6a Architects; 37Esq Gualtiero Boffi/Shutterstock; 37Dir Tatjana Jakowicka, Universidade de Kingston, Londres; 38 (todas) Dan Brunn Architecture, fotografia de Brandon Shigeta e Dan Brunn; 39Alto Vladimir Radutny e Paul Tebben da SIDE architecture; 39EmbEsq, 39EmbDir Cortesia de Dake Wells Architects; Diretor de design: Andrew Wells, FAIA; arquiteto do projeto: Mark Wheeler, AIA; fotografia de Gayle Babcock, Architectural Imageworks, LLC; 40 Gareth Payne, Universidade de Nottingham Trent; 40 (todas) Gareth Payne, Universidade de Nottingham Trent; 41 (todas) x architekten; 42Alto Stephen Crawley, Universidade de Nottingham Trent; 42Emb Cortesia de Hania Stambuk; 43 (todas) group8, fotografia © Régis Golay, FEDERAL Studio, Genebra; 44Alto h20 architectes; 44Emb /// byn; 45AltoEsqu, AltoDir, EmbDir Cortesia de Stanley Saitowitz | Natoma Architects Inc.; 45EmbEsq TAGSTOCK1/Shutterstock; 46 i29 designers de interiores; 50Esq Cortesia de Coussée & Goris; 50Dir © Ian Higgins; 51Alto Groosman Partners; 51Emb Imagem cortesia de Brooks + Scarpa Architects; 52 RUFproject & Nike Global Football Brand Design; fotografia de Julian Abrams; 53 (todas) i29 designers de interiores; 54 (todas) The Architectural Archives, Universidade da Pensilvânia, por doação de Robert Venturi e Denise Scott Brown; 55 (todas) © Nigel Young / Foster + Partners; 59Alto Crown Limited, cortesia de Bates Smart Architects; 59Emb equipe de projeto da própria Virgin Atlantic Airlines em colaboração com Pengelly Design; Nik Lusardi, designer responsável da Nova Primeira Classe da Virgin Atlantic, VAA; fotografia tirada por Chris Lane; 60AltoEsq Diretor da Playtime Jacques Tati © Rex Features Ltd.; 60Dir Kaory Tomozawa, Kohei Nashiguchi / Nikken Space Design Ltd.; 60EmbEsq Eva Jiricna Architects Limited & A.I. Design s.r.o.; fotografia de Richard Davies; 61 Cortesia de Imagination; 62 Lam-Watson, O. (2013). Planta baixa do pavimento térreo da vila Rotonda, Palladian Revival, Architectural Portfolio; Level One.; 63Alto Cortesia de PearsonLloyd, design do projeto: Tom Lloyd, Luke Parson, Sandra Chung, Tomohiko Sato, Marc Sapetti; 63Emb Cortesia de Gwenael Nicolas, Curiosity; 65EmbDir Cortesia de RaichdelRio, estudi d’arquitectura; 66AltoEsq © Ian Higgins; 66AltoDir Carlos Caetano/ Shutterstock; 66CenDir, EmbDir Cortesia de Zecc architects; fotografia de “Jaroslaw”, [email protected]; 67AltoEsq, 67Alto Dir © Groves Natcheva Architects Ltd; 67Emb Akitoishii/ Wikipedia; 68Alto Margherita Spiluttini; 68Cen Architekt Krischanitz; 68Emb Cortesia de Kunsthalle Wien; fotografia de Gerhard Koller; 70T, Cen Cortesia de Phi Design and Architecture; arquiteto: Bill MacMahon; arquiteto de interiores: Rebecca Cavanagh; fotografia de Eric Sierins; 70EmbEsq, EmbDir © Ian Higgins; 71 (todas) Cortesia de Architekt Krischanitz ZT GmbH; fotografias de Lukas Roth; 72 (todas) Russell & George; fotografia de Diana Snape – www. dianasnape.co.au; 73Alto Bates Smart; fotografia de Martin van der Wal; 73EmbEsq, EmbDir Cortesia de Alex Cochrane; fotografia © Andrew Meredith; 74–75 (todas) Ippolito Fleitz Group GmbH; fotografia de Zooey Braun; 76–77 (todas) Colaboração entre NC Design & Architecture Ltd. (NCDA) e Laboratory for Explorative Architecture & Design Ltd .(LEAD); fotografia de Dennis Lo Designs Ltd.; 78 Cortesia de Blacksheep; fotografia de Francesca Yorke; 80 Studio SKLIM; 81Alto Cortesia de Blacksheep; fotografia de Francesca Yorke;
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81Emb Cortesia de YO! Sushi; fotografia de Paul Winch-Furness; 82Esq Ippolito Fleitz Group GmbH; fotografia de Zooey Braun; 82Dir Joyce Lai/flickr; 88–89 (todas) William Russell, Pentagram Design; 92, 93 Spacesmith, LLP; 94Emb, 95 (todas) Cortesia de B Mes R 29 Arquitectes SLP; Direção: Xavier F Rodriguez i Padilla, Josep M Burgues i Solanes; arquitetos colaboradores: Arnau Ricart Real, Xavier Romero Monio, Cristina Cruz Gomez, fotografias de Amaneceres Fotograficos; 96–97 (todas) Cortesia de Ab Rogers Design; fotografias © John Short; 98 Cortesia de DAP Studio; fotografia de Barbara Corsico; 100 (todas) Paulien Bremmer Architects, em colaboração com Office Jarrik Ouburg; 101–104 (todas) Cortesia de Orms; 105 Fotografia de Miguel de Guzmán | www.imagensubliminal.com; 106 (todas) Cortesia de DAP Studio; fotografia de Barbara Corsico; 107 (todas) Cortesia de Alan Chu & Cristiano Kato; fotografias de Djan Chu; 108Esq Stanton Williams; 108Dir © Peter Cook / View Pictures; 109AltoEsq © Richard Glover / VIEW; 109AltoDir Richard Davies; 109Esq © Richard Glover / VIEW; 110–111 (todas) Zecc Architecten, www.zecc.nl; Studio Rolf, www.rolf.fr; fotografias de Frank Hanswijk; 112 Gareth Payne, Universidade de Nottingham Trent; 113 (todas) Stanton Williams; 114–115 (todas) Alex Cochrane Architects; fotografia de © Andrew Meridith; 116 Cortesia de Hania Stambuk; 117Esq Cortesia de Gundry & Ducker Architecture; fotografia de Joe Clark; 117Dir © Ian Higgins; 118–119 (todas) © Ian Higgins; 120 Cortesia de Gwenael Nicolas, Curiosity; 122AltoDir i29 designers de interiores; 122Esq Paul Warchol; 122EmbDir Cortesia de Breathe Architecture; arquitetos de projeto e design: Linda Valentic & Jeremy McLeod; 124Alto Paul Rocheleau; 125Alto Cortesia de Garcia Tamjidi Architecture Design; fotografia de Joe Fletcher Photography; 125Emb Cortesia de Gwenael Nicolas, Curiosity; 126Alto Cortesia de jones | haydu; construtor: Buck O’Neill Builders, Inc.; fotografia de Bruce Damonte; 126Emb Chris Gascoigne/VIEW Pictures/Alamy; 127 (todas) Cortesia de Reinhardt-Jung, Frankfurt am main/Sydney, www.reinhardtjung.de; carpinteiro: Radix, Berlin, www.radix.de; fotografias de Lumen-Joppich u. Dorr GbR. www.lumenphoto. de; 128Esq Cortesia de Dear Design (equipe de projeto: Ignasi Llauradó, Eric Dufourd; fotografia de Pol Cucala); 128Dir Saucier + Perrotte architectes; fotografia de Marc Cramer e Gilles Saucier; 129Alto Cortesia de group8 architecture & urban planning: Laurent Ammeter, Adrien Besson, Tarramo Broennimann, Oscar Frisk, Manuel Der Hagopian, François de Marignac, Christophe Pidoux, Grégoire Du Pasquier; fotografia: NOI pictures, Sébastien Löffler; 129Emb Cortesia de Gwenael Nicolas, Curiosity; 130AltoEsq Cortesia de Vector Architects; fotografia de Shu He; 130AltoDir Cortesia de MSR (Meyer, Scherer & Rockcastle, Ltd); arquitetos colaboradores: Boutlinghouse Simpson Gates Architects, fotografia de Lara Swimmer; 130Emb © Richard Glover / VIEW; 131Alto dRMM; fotografia de Alex de Rijke e Michael Mack; 131Emb Paul Warchol; 133Alto Cortesia de Dake Wells Architecture; Diretores: Andrew Wells FAIA e Brandon Dake, AIA; equipe de projeto: Josh Harrold, Emily Harrold, John Whitaker; 133Emb Stefan Zwicky em colaboração com Trix e Robert Hausmann e Hans Jacob Hurlimann; 135 (todas) Cortesia de B Mes R 29 Arquitectes SLP. Direção: Xavier F Rodriguez i Padilla, Josep M Burgues i Solanes. Arquitetos colaboradores: Arnau Ricart Real, Xavier Romero Monio, Cristina Cruz Gomez; fotografias de Amaneceres Fotograficos; 136Alto Höweler + Yoon Architecture; 136Emb Stewart Hollenstein; 137 (todas) Saucier + Perrotte architectes; fotografia de Marc Cramer e Gilles Saucier; 140 Joel
Sanders Architect; 142 (todas) Cortesia de Architects EAT, fotografia de Derek Swalwell; 143Alto Cortesia de Niel M. Denari Architects, fotografia de Fujitsuka Mitsumasa; 143CenEsq, CenDir blank studio architecture, Bill Timmerman Photography; 143Esq Joel Sanders Architect; 146 © Nigel Young / Foster + Partners; 147Alto © David Nelson / Foster + Partners; 147Emb © BPR / Foster + Partners; 148 (todas) © FLC/ ADAGP, Paris e DACS, Londres2014; 149 (todas) Sam Leist, Universidade de Kingston, Londres; 150 Aimee Lam, Universidade de Kingston, Londres; 151Alto Richard Murphy Architects Ltd., Bill Black, Diretor; 151Emb Alex Nevedomskis, Universidade de Kingston, Londres; 152 (todas) Laura JackettSimpson, Universidade de Nottingham Trent; 153AltoEsq Letitia Vale, Universidade de Nottingham Trent; 153AltoDir Alex Shepherd, Universidade de Kingston, Londres; 153Emb Jessica Chong, Emma Hancox, Jirina Kubesova, Yuet Kwan, Alex Nevedomskis, Andrew Quinn, Universidade de Kingston, Londres; 155 Rogers Stirk Harbour + Partners; 156 Cartlidge Levene e Studio Myerscough; 157Alto Hyunjoon Yoo; 157Emb Cortesia de Studio SKLIM; 158 COEN!; 159Alto Robert M. Gurney, FAIA, Architect, arquiteto do projeto: Brian Tuskey; 159Emb Imagem cortesia de LEESER Architecture; 160 Por cortesia dos Curadores do Museu de Sir John Soane; 161AltoEsq Rogers Stirk Harbour + Partners; 161Cen Joel Sanders Architect, Karen van Lengen, Ben Rubin; 161Emb Robert M. Gurney, FAIA, Architect; 162Esq Rogers Stirk Harbour + Partners; 162Dir Cortesia de Dake Wells Architecture; Diretor do projeto: Andrew Wells, FAIA; arquiteto do projeto: Mark Wheeler, AIA; fotografia de Gayle Babcock, Architectural Imageworks, LLC; 163Alto Cortesia de Vir.Mueller Architects; sócios: Pankaj Vir Gupta, Christine Mueller; gerentes do projeto: Harsh Vardhan, Kai Pederson; equipe de projeto: Sarah Gill, Saurabh Jain, Everett Hollander; desenho: Kai Pederson; 163Emb Johnsen Schmaling Architects; 164Alto Joel Sanders Architect; 164Emb group8; 165Esq Höweler + Yoon Architecture; 165Dir Desenho de Nader Tehrani (NADAA, exOffice dA) ; 166AltoEsq NFOE et Associés Architectes; 166AltoDir Rogers Stirk Harbour + Partners; 166EmbEsq Joel Sanders Architect; 166EmbDir De Leon & Primmer Architectural Workshop; 167 (todas) Oliver Corrin, Universidade de Kingston, Londres; 168 Ilustração de Ola Rune, Claesson Koivisto Rune; 169Alto Cortesia de Dear Design S.L.; equipe de projeto: Ignasi Llauradó, Eric Dufourd; 169Emb Rogers Stirk Harbour + Partners; 171 Fran Silvestre Arquitectos; Diretores encarregados: Fran Silverstre e Maria José Sàez; 172Esq Robert Browes, Universidade de Nottingham Trent; 172Dir Ronald Yu, Universidade de Nottingham Trent; 173 Rogers Stirk Harbour + Partners; 174 form-ula; fotografia de Amy Barkow | Barkow Photo, www.barkowphoto.com; 176 Direitos autorais & propriedade intelectual de Kinnersley Kent Design; ilustração de Chris Jackson, Graphic Designer, Kinnersley Kent Design; 177Alto, CenEsq, CenDir NC-office, Elizabeth Cardona, Cristina Canton, Nikolay Nedev, Peter Nedev, Mauricio Gonzalez; 177Emb Joel Sanders Architect; 178Alto © Suzanne Martin; 178Emb, 179Alto, EmbEsq Kinersley Kent Design, www.kkd. co.uk; 179EmbDir © Ian Higgins; 180 (todas) Design: Zemberek Design Team; fotografia de Safak Emrence; 181AltoEsq, AltoDir form-ula; fotografia de Amy Barkow | Barkow Photo www.barkowphoto.com; 181EmbEsq © Peter Cook / View Pictures; 181EmbDir Gareth Payne, Universidade de Nottingham Trent; 182 Tatjana Jakowicka, Universidade de Kingston, Londres.
192 Agradecimentos do autor
Agradecimentos do autor Grande parte do que se encontra neste livro é resultado de 25 anos de ensino, e os meus agradecimentos são dedicados às centenas de estudantes com os quais trabalhei na Universidade de Nottingham Trent, na Universidade de Wolverhampton, na Universidade de Kingston, Londres e no The Royal College of Art. Todos esses alunos – não importa o nível de capacidade de cada um – contribuíram para o desenvolvimento da minha compreensão da disciplina. Aprendi muitas coisas, em particular, com as turmas de 1993, 1995, 1996, 1997, 1999, 2000, 2002 e 2007 – obrigado por terem trabalhado tanto! No início de minha carreira como professor tive a sorte de trabalhar com Peter Vickers. Agradeço-lhe pelas infinitas horas de conversa que tivemos sobre o tema, seu apurado senso de ironia e por ter sido o melhor mestre que já tive. Antes de iniciar este projeto, não fazia ideia das complexidades envolvidas na busca de imagens para uma publicação – pelas mais de quatrocentas imagens que tiveram de ser localizadas e pelas permissões para reprodução obtidas, sou profundamente grato aos meus pesquisadores James Haldane e Guilia Heatherington, que trabalharam arduamente. A equipe da editora Laurence King foi extremamente paciente comigo, durante um longo período, antes que sequer uma palavra fosse colocada no papel – dirijo meus agradecimentos a Philip Cooper, Liz Faber e Sara Goldsmith. Por fim, muito obrigado a Jill e Barney – sem o apoio deles, não teria sido possível completar este projeto.