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Portuguese Pages [249] Year 2022
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O CAP/T~L PARA EDUCADORES •
Copyright © 2022 by Editora Expressão Popular Copyright © 2022 by Vítor Henrique Paro Produção editorial: Migue/Yoshida Preparação: Cecília Luedemann Revisão: Lia Urbini Projeto gráfico, diagramação e capa: Mariana Vieira de Andrade Impressão e acabamento: Cromosete
Dados Internacionais de Cataloaacão-na-Publicacão (CIP)
P257c
Paro, Vítor Henrique O capital para educadores ou aprender e ensinar com gosto a teoria científica do valor/ Vltor Henrique Paro. -- 1. ed.·· São Paulo : Expressão Popular, 2022. 256p.: li. ISBN 978-65-5891-071-8
1. Educação. 2. Educadores. 3. Capital e educação. 4. Capital econômico - Ensino. 5. Valor- Teoria cientifica. 1. Título. CDU 37.02:33 Catalogação na Publicação: Eliane M. S. Jovanovlch CRB 9/1250
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização da editora. EDITORA EXPRESSÃO POPULAR Rua Abolição, 197 - Bela Vista CEP 01319-010- São Paulo - SP Tel.: (11) 3112-0941 / 3105-9500 expressaopopular.com.br [email protected] www.facebook.com/ed.expressaopopular
Para Lisete Regina Gomes Arelaro . . mmemonam
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manual de instruções
ste livro não foi escrito apenas para ser lido, mas para ser estudado e permanentemente consultado e manuseado, no processo de leitura e compreensão da teoria científica do valor, cuja obra magna é O capital, de Karl Marx.
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A quem se destina
Já antecipo que este não é um livro apenas para educadores profissionais, mas para todos aqueles que queiram ter acesso a uma porta que leva ao conhecimento da realidade social de nosso tempo. É verdade que seu título procura destacar educadores, pela importância sem limites do papel destes na formação dos mais jovens, ao propiciar a apropriação de conteúdos científicos e de valores humanitários. Mas o título decorre também do fato de O capital ser uma obra autenticamente pedagógica. A cd 1 .
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objeto da Pedagogi~ é ~priação da cultura, O,!!_ seja, de tudo aquilo que é produzido a partir da vontade e ação do homem. Educação é., assim, autêntica atuallzação histórico-cultural do indivíduo, objetivando sua formação humano-histórica. Por isso, uma obra como O capital, que leva a compreender e conscientizar os leitores acerca da realidade econômica, pode e deve ter realçado seu caráter ped~~co. A leitura deste livro é, pois, para todos aqueles que queiram atualizar seu caráter humano-histórico, tomando mais fácil a apropriação de uma das obras mais importantes da humanidade.
Relevância Após mais de 40 anos promovendo e facilitando a leitura d'O capital nos cursos de graduação e pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e da Universidade de São Paulo, confirma-se, para mim, cada vez mais, uma percepção que tive desde as primeiras vezes em que li essa obra: ela é muito mais rica, mais densa e mais profunda do que tudo que usualmente se diz a seu respeito. Isso porque O capital não é a obra de um indivíduo, mas o resultado, o ponto êulminante, do esforço da humanidade, durante séculos, para compreender as leis que regem a construção da materialidade dos humanos como seres históricos. Mas
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ela só pôde ser produzida num momento histórico em que os seres humanos já tinham experimentado um desenvolvimento, não apenas científico e tecnológico, mas também ético e político.! que lhes possibilitou perscrutar o real com as armas da razão e da ciência, mas que, ao mesmo tempo, lhes propiciou condições éticas de comprometer-se com a superação da dominação, a partir de valores humanos universais. Das Kapital. Eis a relevância inquestionável de se ler O capital, hoje e enquanto ••ri persistir um sistema opressor e injusto de produzir a vida. Por um lado, buscar a compreensão de nossa realidade econômica de modo a prognosticar formas de produzir nossa materialidade com base •t certamente o mais temfvel na relação cada vez mais petardo que jamais se lançou à efetiva, racional e sus- cabeça dos burgueses (inclusive os proprietârios de terras).• tentável do homem com [Carta de K. Marx a Johann Philipp a Natureza, fazendo uso Becker em 17/4/1867] ■ •r._
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adequado do progresso contínuo das forças produ 1, 1. . Por outro, predispor-se espiritualmente para que esse conhecimento alimente uma formação intelectual e moral comprometida com a busca de soluções equitativas de esforço e usufruto dessa produção, de modo a superar o atual estado de injustiça social. Vencer o obscurantismo
Já se passou mais de um século e meio que a humanidade, pela genial mediação de Karl Marx, logrou afastar o desconhecido no campo da f.conomia Politica , pela apreensão e interpretação científica da maneira como a realidade é produzida materialmente na Históri'1 . A esse respeito, a contribuição de Marx resultou numa autêntica revolução do pensamento da humanidade sobre a origem do valor econômico e suas múltiplas determinações econômicas, políticas e sociais. Com isso, ultrapassou tudo que havia até então sobre o tema, e que hoje continua sendo utilizado mistificadamente pela deoloe;ia liberal com o propósito de oferecer justificativas pseudocientíficas às injustiças cometidas pelo 'apita i. Agora, passado tanto tempo, não deixa de ser espantoso o fato de uma obra tão grandiosa ainda ser praticamente ignorada pelas grandes massas a que ela originariamente se destinava. Não é a primeira vez que
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isso acontece, e a História está repleta de casos de descobertas da ciência vítimas de obscurantismos de toda ordem que agiram opressiva e vigorosamente para proteger os poderosos, conseguindo manter tais conteúdos científicos fora do alcance de todos. Mas esse fato se torna tanto mais significativo e relevante quando se trata de uma teoria científica como a que se encerra n'O capital, que oferece fundamento a uma transformação social sem precedentes no modo como os homens encaram a produção da vida material bem como na maneira como podem vir a se organizar com base nesse conhecimento. O mérito de Marx não foi apenas desvendar esse mistério, o que Já é de uma grandiosidade sem limites, mas também o de torná-lo acessível a $,lalquer pessoa que não se recuse a~nsar. En~tanto, o capital e seus aliados têm conseguido J.U!! enorme êxito em manter a grand;maioria da população~ desse conhecimento. Isso, ntlvez o ue a · ~entífi~alo1· não é algo que ~~a ~ - i a ~ ~ c!_e forma acabada como a re~ão de um pJDÍeta gualquer. A cop.triOuição de Marx não é obra de UIJl-Jllessias ~ qual se aceita dogmaticamente p ~ e _pela autoridade de quem a anuncia, mas uma teoria científica posta ao alcance de todo ser pensante que se dispo~ a pers~tar a realidade e compreender suas múltiplas determinações. Mas
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é preciso pensar. Vivemos num mundo que não é mágico, que é real e em que a ignorância a respeito de suas leis sociais só faz contribuir para a miséria e a injustiça reinantes. É preciso ir além, ousar, desafiar os dogmas, não os ter por definitivos. Essa coragem e disposição são os requisitos essenciais para fazer da leitura d 'O capital algo fascinante e altamente compensador. :,/
Compreender a partir das incompreensões De acordo com nossa milenar cultura pedagógica, muitas vezes, a melhor forma de mostrar o que urna coisa é consiste cm apresentar primeiro o que ela não é, ou seja, aquilo que geralmente está disseminado no senso comum corno inquestionável, mas que precisa ser desalojado das consciências das pessoas como requisito inicial para levá-las a compreender o que verdadeiramente é real. Essa regra parece encaixar-se como uma luva quando se trata de divulgar e fazer compreender o conteúdo d'O capital, devido à abundância de equívocos desse tipo que povoam o entendimento do senso comum a esse respeito. l\1esmo entre aqueles que se dizem marxistas, o que há de ignorância e desinfórmação sobre a teoria científica do valor é assombroso, havendo desde intelectuais de renome que confundem\ alor com , alor de rroca - indicando não terem lido com atenção
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sequer as primeiras páginas d'O capital- até livros com a pretensão de ensinar O wpita/ para crianças, cujo conteúdo faria o pobre lVlarx revirar-se na tumba, pois não ultrapassam nem mesmo os conhecimentos existentes antes do próprio Adam Smith. Por isso, em minha prática docente na universidade, nunca me fói difícil coletar uma série de equívocos como pretexto para discutir pontos importantes e mal compreendidos da teoria do \ ·- 101 com meus alunos e alunas. lvluitos fatores podem dar origem a esses equívocos: desinformação, anseio por explicações fáceis e definitivas, militância cega envolvida por palavras de ordem sedutoras, leituras incompletas, etc., sem contar a exposição constante - a que nos sujeitamos todos - ao proselitismo dos amigos do ..:a tal que laboram, por um lado, em apresentar visões mistificadoras a respeito do mundo econômico, por outro, a demonizar tudo que represente algum risco para a continuidade da ordem exploradora vigente, em especial, a imprescindível contribuição de l\1arx a esse respeito .. Todavia, não importa quais sejam as causas desses equívocos, o que parece comum a todos e que os sedimenta como pseudoverdades é a falta de critério e rigor na aceitação de visões e teorias sem argumentação consequente e fundamentada. Muitos aceitam porque "todo
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mundo aceita" ou porque seu grupo de relações aceita, outros porque foi dito por uma autoridade no assunto, outros ainda porque é simplesmente mais cômodo e menos trabalhoso aceitar do que refletir acuradamente sobre a matéria. Nem é preciso afirmar que esses tipos de comportamento não combinam em absoluto com a contribuição científica de Marx. Por isso, convido o leitor e a leitora a estarem bem atentos para a importância de assumir uma atitude bastante crítica e inquisitiva ao tomar contato com o conteúdo deste livro. Q1ando parto das incompreensões é para procurar saná-las e oferecer ao interlocutor a oportunidade de compreensão consequente da teoria do valor. Estou seguro de que o grande antídoto contra a demonização de Karl Marx é a compreensão de sua obra. Mas não é possível compreendê-la como se fosse um dogma. Na verdade, não devemos aceitar nada pela autoridade de quem disse, mesmo que tenha sido uma pessoa extraordinária como Karl lvlarx. Com relação a O capital, se quero evitar os mal-entendidos e ser coerente com o sentido revolucionário da obra, não me basta simplesmente saber o que Marx disse ou quis dizer; é preciso buscar naquilo que ele disse o que considero que corresponde de tal forma à realidade que posso ter esse conteúdo como meu conhecimento próprio,
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tendo condições e legitimidade de propalá-lo e defendê-lo com base na razão e na realidade, não na autoridade de quem disse. Cumpre acrescentar que esta é também a maneira mais fácil e compensadora de ler O capital. Recomendo, pois, aos leitores e leitoras que não aceitem nada doutrinariamente: procurem aprender e fazer seus os conhecimentos, ultrapassando, assim, o estágio mágico do obscurantismo religioso que eventualmente tivemos de aceitar, porque alguém nos impingiu quando crianças e que os poderosos insistem em reforçar porque lhes é favorável.
Neba Deve chamar a atenção, à primeira vista, o fato de a maioria dos capítulos estar com seus títulos grafados entre aspas. Acontece que eles foram escritos, inicialmente, para serem publicados em meu site na Internet (vitorparo.com.br), numa sessão denominada Neba, termo formado pelas iniciais da expressão "não é bem assim", utilizada com meus orientandos e alunos na universidade para indicar proposições falsas com aparência de verdade, fundadas no senso comum ou numa compreensão equivocada da realidade, e que, por isso, precisam ser refutadas, estabelecendo-se, de forma científica, a real dimensão dos temas envolvidos. Pa-
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recc-me que pouca coisa se encaixa mais perfeitamente nessa "categoria" do que as falácias e mal-entendidos sobre a teoria científica do , .1'o r prevalecentes nos discursos tanto de ignorantes de direita quanto de mal-informados de esquerda, ambos o~ casos indicando total ausência de leitura atenta d 'O capital. Assim, alerto ~ que os títulos de capítulos que constam entre aspas expressam proposições falsas a serem questionadas no corpo do texto.
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Glossário A leitura de cada capítulo será bastante facilitada se o leitor fizer uso do Glossário Remissivo, que foi elaborado precisamente com esse propósito. Para orientar sua consulta, os títulos dos verbetes aparecem realçados no corpo do livro. Por razões estéticas, só há realce em uma das vezes que o título do verbete aparece em cada página, exceto no próprio Glossário, em que ele aparece em uma das vezes cm que é mencionado no corpo de cada verbete. O Glossário explicita termos e expressões da forma como são empregados no livro, abstraindo outros significados também legítimos que eles possam admitir. O objetivo do Glossário não é esgotar o tema do verbete,
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mas oferecer, de modo sucinto, um instrumental teórico para o leitor aproveitar melhor o texto do livro. Isso não impede que o leitor, desejando, venha a aprofundar melhor a compreensão de determinado tema ou conceito, guiando-se pelas palavras grifadas aí contidas e pelas remissões ao final do verbete.
Vídeos O código QR (QR code) ao final de cada capítulo dá acesso a um pequeno vídeo, na Internet, em que faço algumas observações relacion,1das ao texto. O vídeo não substitui de modo nenhum a leitura do capítulo, nem pretende ser um resumo de seu conteúdo. A intenção é estabelecer um diálogo com o leitor, fazendo comentários e chamando a atenção para pontos relevantes do capítulo, de modo a fomentar o interesse pela leitura e tornar mais cativante a reflexão. Bom estudo. Vítor Henrique Paro São Paulo, 20 de julho de 2022.
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l #conhecimento econômico é rnisa apenas para especialistas"
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sta afirmação assume que a formação intelectual do cidadão prescinde de conteúdos econômicos, razão pela qual nossos mestres da escola básica, em especial do ensino fundamental, se sentem inteiramente despreparados (e impotentes) quando se trata de prover seus estudantes de um mínimo de conhecimentos sobre sua inserção na sociedade em que vivem. Acredita-se frequentemente que Economia é coisa especializada, para ser tratada no ensino superior e não precisa fazer parte da formação básica do indivíduo. Penso que não é bem assim [Neba]. Até porque os "especialistas" em Economia estão, em sua quase totalidade, articulados com os donos do podu econômico, e desenvolvem a "teoria" que somente a estes interessa. Comecemos pelo medo que as pessoas têm de Economia ou, mais propriamente, rcononu Política. Muita
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gente acha que Economia é uma matéria difícil, e resiste a aprender qualquer conteúdo a respeito, considerando-se incapaz de compreendê-la. Se você é uma dessas pessoas, não se preocupe. Primeiro, porque você não está só: existem multidões na mesma situação, e muitos não têm a coragem de reconhecer isso, fingindo uma compreensão que não têm, apenas para ocultar seu terror aos conhecimentos econômicos. Em segundo lugar, porque esse medo tem cura: ele pode ser eliminado da mesma forma que foi adquirido, já que não é uma coisa natural, ou seja, a gente não nasce com essa repugnância pelos assuntos econômicos, ela é produzida socialmente por indivíduos, grupos e instituições cujos interesses são contrários à apreensão da verdade por parte das grandes massas. Os poderosos (aqueles que nos dominam e nos fazem agir de acordo com sua vontade) têm verdadeiro pavor da verdade, ou seja, sentem medo de que os oprimidos tenham acesso ao conhecimento do mundo, especialmente do mundo social, ou seja, de tudo que diz respeito às relações entre as pessoas e de como essas relações estão dispostas e organizadas. Apenas para ilustrar, obseffe como alguns poderosos agem para evitar que cheguemos à verdade sobre o mundo social. Na esfera mais propriamente econômica, por
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1 •tonhecfmento ecónônrito é coisa apenas para especialistasw
exemplo, temos aqueles que vulgarmente chamamos de ricos ou muito ricos. Estes, em nossa sociedade, são os proprietários do capital. Em outra ocasião {capítulo 4), teremos oportunidade de apresentar um conceito mais rigoroso dessa palavra. Por ora, basta que a tomemos no sentido comum de uma quantidade de dinheiro que é aplicada no mercado com a finalidade de aumentar o seu volume. O dinheiro se transforma, pois, em capital quando seu proprietário, o capitalista, o aplica na compra de matérias-primas, máquinas, e ferramentas, e emprega trabalhadores para produzirem as merc dorias que serão vendidas e que reverterão em lucro para eles, os proprietários do capital. Em vista disso, o capitalista típico desenvolve toda uma teoria falsa da realidade, comumente chamada de 11 eralismo econômico ou neoliberalismo, para ocultar o fato, que demonstraremos em outro momento (capítulo 5), de que todo :z.•a lor produzido na sociedade advém do esforço e do suor do trabalhador, não de uma qualidade mágica que seu dinheiro teria de reproduzir-se espontaneamente apenas por conta de seu empenho nos negócios/ Na esfera cultural, observe como as igrejas de modo geral têm verdadeira ojeriza à apropriação de conhecimentos científicos. Durante muitos séculos, a Igreja Católica e as demais seitas cristãs têm envidado todos os
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esforços possíveis para impugnar as descobertas e avanços no campo da ciência, com receio de verem contestadas suas crenças e sua visão do universo, herdadas de civilizações com reduzidíssimo conhecimento científico. O mesmo se dá com relação aos avanços · rico e culturais que contradizem seus preconceitos e superstições. Na verdade, para proteger seu direito de crença, não haveria necessidade disso, pois fé religiosa nenhuma precisa ser provada ou mostrar-se coerente com a realidade para que o crente tenha, em sua vida '>fl\ ad.1 , o direito, reconhecido universalmente, de exercer sua crença (capítulo 17). Acontece que as igrejas em geral, embora utilizem a fé religiosa como escudo, têm interesses que extrapolam completamente o âmbito sobrenatural, e se associam constantemente ao poder políric, , vigente, que tem como sustentáculo o poder econômico. Não lhes interessa, por isso, a proliferação do conhecimento econômico, pois é precisamente a economia a base de seu poder. O obscurantismo é professado e praticado especialmente pelas igrejas de vertente monoteísta que criaram um deus imaginário para ameaçar com o terror ou o inferno aqueles que não aceitam o poder político-econômico ao qual normalmente senrem de sustentáculo. Uma forma privilegiada de negar esse obscurantismo e lutar contra a situação de injustiça social em
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1 •conhecimento econômico é coisa apenas para especialistas..
que vivemos é compreender com clareza os interesses econômicos que determinam essa situação. A disciElina que cuida disso teoricamente é a Economia. Ma~ preciso!. _ reliminarmente, ultra assar o entendimento que o senso comum tem desse conceito, que o relaciona apenas ao que diz respeito a dinheiro, transações comerciais, luc""ro, crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), inflação, etc. Economia1. em seu sentido mais amplo e rigoroso, engloba tudo aquil~ que diz respeito à produ;ão material da existênci_fl humana. Desde as sociedades mais rimitivas - na verdade desde qu~ se faz humano-histórico - o • 11 m se Réie diante do problema econômicQ ao ter de aplicar suas _!!ne_r_gias vitais no emprego de ~e tos e instrumentos (no início extremamente rudimentares) para produzir. su~ própria vida por meio do trabalho. O trabalho é, por~, categoria central das questões econômicas. Mas o trabalho, para se fazer, necessita J lj · , de trabalho e m trumentos de trabalhu ou seja..!. , , ios p , e · , que são as condiçõe! ob·etivas de trab.!!_ho, sem as uais não há trabalho, portanto não há vida. Qyem detém os meios. de rodu ão dis~õe, na vg ad~, das condições objetivas de vida do restante da pol!_ula ão E desde ue historicamente, ~u_p_os IDª-.Í1. fortes têm se apropriado ,•mente desses meios, esses grupos
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passam a dominar a sociedade. Nisso se resume o drama da sociedruk 7
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agora, fazer uma tentativa de explicitar isso, desenvolvendo dois importantíssimos conceitos da r: , , , u:a marxista: J; l 1, J ret1l do , ·utnlho 110 u , !. Comecemos por elucidar o significado desses qualificativos "formal" e "real", que levam muitos a acreditar que, no primeiro caso, se trata apenas de uma formalidade, o que absolutamente não corresponde à verdade. Falamos em subsunção formal quando queremos , 1 / dessa subordinação do o destacar a., , ao capital, mas se trata de algo tão real e verdadeiro quanto a chamada subsunção real. Como veremos a seguir, melhor seria chamar esta última de subsunção "concreta", por contraste com a formal, em que se faz a a/Jstra;ão desse concreto e se lança o foco sobre aforma social real de subordinação. Vejamos como isso se dá. Pensemos o t ·ab 11 o i ·t:. , isto é, na forma social da propriedade dos m in de pr u..; >pelo produtor/trabalhador, em que não haja, portanto, a cxplo · . Nessa forma, o trabalho se subordina ao próprio trabalhador, pois é este o proprietário dos meios de produção. Seu papel é de ujt.. (que impõe sua vontade e interesses) tanto com relação ao resultado do trabalho (uma forma social de propriedade sem dependência de outrem) quanto com relação a seu processo (em que ele maneja com autonomia
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10 •é a divisão técnica do trabalho que provoca a alienação do trabalhador"
os objeto~ dl' trabalho e os in-, 1ru11H.'11to~ de produção). Não há alienação, não há separação entre o criador e sua obra. Cada produto pode ser o resultado de um traba1hn "inteiriço", de sorte que as tarefas se conjuguem no processo, de modo a dar origem a uma peça completa de cada vez. (Aliás, essa forma de trabalho inteiriço era a que prevalecia nos modos de prod ução anteriores ao capitalismo.) Nada impede, entretanto, que o produtor, com o o~jetivo de acelerar o processo, divida tecnicamente seu trabalho, executando uma tarefa determinada em muitas peças, repetindo o procedimento para cada uma das tarefas e depois arranjando os resultados de modo a dar origem a vários produtos completos de uma só vez. Observe-se que não há nada nesse processo de trabalho pormenorizadamente dividido que possa torná-lo alienado. Não é, portanto, a divisão técnica que provoca a alienação, pois em ambos os casos o produtor tem acesso livre ao trabalho e a seu produto. Em seus inícios, o sistema capitalista mantém o processo de trabalho da maneira que o encontra como herança dos modos de produção anteriores. Ou seja, o trabalho é predominantemente não dividido, vigorando, assim, apenas a subordi nação for mal do trabalh o ao capital. E é essa palavrinha "apenas" que costuma induzir a interpretações equivocadas, como se subsunção "apenas" formal ao capital
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já não fosse suficientemente trágico para degradar o trabalho e tomá-lo alienado. "Apenas" significa tão somente que ainda há outro meio de tornar o trabalho degradante, isto é: além da forma social, há o processo concreto de trabalho em si. Mas, desde o início, já se dá a mudança da forma social: em lugar do trabalho livre, temos agora o trabalho forçado (como vimos no capítulo anterior); em vez do trabalhador livre, temos agora o trabalhador alienado. Ponto. Com o desenvolvimento do capitalismo, essa alienação básica, original, nem sempre visível aos olhos, ganhará forma concreta e perceptível, ao dividir-se exacerbadamente o processo de trabalho, consubstanciando-se naquilo que chamamos subordinarão real do trabalho ao capital. A característica distintiva dessa subsunção é que aquilo que se dava farmalmmte (na forma social) passa a dar-se também concretamente, no desempenho e comportamento pessoal de cada trabalhador. Na subsunção (apenas) formal, não obstante a subordinação social do trabalho ao capital, o processo de trabalho se desenrolava como se o trabalhador fosse o sujeito, a comandar os meios de produção, porque era ele quem concretamente manuseava os instrumentos de trabalho, aplicando o seu ritmo, ao transformar o objeto de trabalho. Agora, na subsunção real, são, concretamente, os meios de produção que comandam o trabalhador, determinando-lhe diretamente
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10 •ê a divisão têcnica do trabalho que provoca a alienação do trabalhador•
as ações e os ritmos do processo mesmo de trabalho, de modo a favorecer os interesses do capital, destroçando assim a subjetividade do trabalhador. Vários são os •-• fatores que levam a essa situação, e complexas as ESCOLAR questões que ela suscita. Aqui, apenas menciono de passagem alguns desses pontos, mas você pode -= encontrá-los mais desenvolvidos em meu livro AdministrafáO escolar: introdtJfão critica, capítulo 2, item 2. A primeira observação é que o capital não apenas divide o ofício em múltiplas tarefas, mas atribui cada uma delas a executores diferentes. Isso redunda em vantagens técnicas importantes, como: a) a maior especialização, com aumento da destreza de cada executor; b) a economia de tempo em virtude dessa destreza e da poupança do tempo que o trabalhador gastava para passar de uma tarefa a outra; c) a simplificação de tarefas e procedimentos, de modo a se poder inventar novas máquinas que substituam os trabalhadores. Mas há também implicações econômicas, sociais e políticas, que raramente são mencionadas: a) economia na compra da força de trabalho, pois agora o capital pode pagar o mesmo preço por força de trabalho competente em cada uma das tarefas, enquanto antes cada empregado podia ser capaz em algumas tarefas mas inábil em outras; b) maior intensificação do trabalho, pois
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o tempo que o trabalhador gastava para passar de uma tarefa para outra agora é preenchido com mais trabalho efetivo; c) expropriação do conhecimento pelo capital, ficando o trabalhador "especialista" numa ocupação extremamente restrita e limitando sua própria formação pessoal; d) transformação do trabalhador em mero aleijão, com perda de sua subjetividade, solapamento de sua satisfação na profissão e surgimento de problemas psicológicos; e) maior eficiência da gerência (como controle do trabalho alheio), diante de tarefas mais simples e mais fáceis de controlar. Finalmente, é preciso lembrar que essa divisão pormenorizada, desastrosa para o trabalhador, não é produto de nenhuma intenção maligna (capítulo 3), mas mera consequência da necessidade que o capital tem de se expandir. Numa hipotética sociedade socialista, ou seja, numa sociedade em que vigore a propriedade universal (não privada) dos meio de produção, certamente haverá uma alentada divisão pormenorizada d rrabalho (incluindo a presença massiva de máquinas e robôs). Só que, então, sem a subordinação formal (determinada pela forma capital), não haverá necessidade (nem o interesse) de subordinação real (concreta), porque os fins e interesses a guiar a produção e a organização social seriam público (de todos), não privados (de um grupo detentor do capital).
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10 •é a divisão técnica do trabalho que provoca a alienação do trabalhador-
A divisão técnica do trabalho não é a origem da alienação no
capitalismo, mas serve a essa alienação, destroçando a personalidade do trabalhador.
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betes d, glossã, 1 ,
1..
odos no capitulo 10:
Alienação, Capital, Divisão técnica do trabalho, Divisão pormenorizada do trabalho, Economia polftica, Exploração, Força de trabalho, Forma social, Instrumentos de produção, Instrumentos de trabalho, Meios de produção, Modo de produção, Objeto de trabalho, Polltica, Privado, Público, Subsunção formal, Subsunção real, Sujeito, Trabalho, Trabalho forçado, Trabalho livre.
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11 mais-valia absoluta, mais-valia relativa e mais-valia extraordinãria
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ompreendido o conceito de mais-valia, fica muito fácil apreender os significados de mais-valia absoluta, mais-valia relativa e mais-valia extraordinária. Pode-se dizer, grosseiramente, que cada uma dessas expressões enfatiza aspectos da mais-valia, a qual, ao fim e ao cabo, é uma só. Vejamos. Como sabemos {capítulo 7), a mais-valia consiste no valor excedente produzido pelo trabalhador, ou seja, aquele valor gerado para além da produção do ·alor de sua torça de trabalho. É como se a jornada de trabalho fosse dividida em duas partes: na primeira, chamada tempo de trabalho necessário, é produzido o valor da força de trabalho, e esse trabalho é chamado trabalho necessário; na segunda, denominada tempo de trahalho e I , t , se produz o valor excedente, aquele que se consubstancia na mais-valia, e esse trabalho é chamado trabalho excedmte.
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o cop;tol para educadores
Observe que a mais-valia só se realiza porque a jornada de trabalho não se limita ao tempo de trabalho necessario. Senão não haveria exploração, nem capitalismo.
Há milênios, o homem produz mais do que o necessário para viver. Há milênios os poderosos ficam com o excedente. No capitalismo, esse excedente se chama mais-valia e fica nas mãos do capitalista.
No século XIX, quando Marx escreveu O capital, esse acréscimo de trabalho já era prática estabelecida e aplicada há muito tempo. Marx analisa o fenômeno e o chama de mais-valia. Não precisaria outra especificação para esse conceito - com a consequente criação
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11 mais-valia absoluta, mais-valia relativa e mais-valia extraordinâria
b1eto de traba 1h, i. Constituem as condições objetivas de trabalho, por contraposição à tor de 'r 1balh("\, que constitui a condição subjetiva. Como a vida se produz pelo ( rai ,tlho, dizer condições objetivas de trabalho é o mesmo que dizer condições objetivas de vida. Daí a importância ímpar da propriedade e controle dos meios de produção. Qyem os detém detém, na verdade, as condiçôes de vida da população. Por isso que a condição material primordial no estabelecimento de uma sociedade igualitária é a superação da propriedade · · 1u das condições de vida, de modo a que todos tenham acesso livre aos meios de produzir sua própria existência. Não se está afirmando que isso se faz de uma hora para outra ou num piscar de olhos. O que se reivindica é a imprescindibilidade de que, na luta pela transformação social, quaisquer que sejam sua natureza e dimensões, há que se ter essa condição no horizonte. p. 27, 32, 33, 35, 36, 37, -rn, 41, 45. -18. 50, 53, 62, 77. 85, 89. 93, 9-1, 98, 100, 102, 1-10, 189, 190, 192, 19-l, 195, 200, 202, 203,209,213,216,217,223,224,231,232,233,234,243,244.
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glossãrio remissivo
Meios de trabalho O mesmo que instrumento'- de trabalho. É bom pn:·star atenção para não confundir este conceito com o de me~,,.._ l produção. São coi~as diferentes.
Mercadoria No mod I de produção capitalista, a 1 Lquez.a se apresenta generalizadamente sob a fi,rma de mercadoria, que nada mais é do que um bem ou serviço que é trocável por outro ou por dinheiro (-.em perder de vi-.ta que o próprio dinheiro é também uma mercadoria). Nesse sentido, toda mercadoria possui duas características ou propriedades: alor dl· uso e \ alor de troca . O primeiro fala de sua utilidade, o segundo, de sua capacidade de trocar-se por outra mercadoria. p. 2s. -n, -l7. '11, 52, 53. 5o. 57, 58. :,9, 60, 61. 62, 66, 67, 68, 69, 70, 73, 7-l, 75, 76, 77, 78, 108, 109, 110, 113, 11-l, 115, 116, 117, 118, 119, 120, 122, 123, 125, 129, 130, 1-l2, l-l6, 1-l7, 1-lS, 1-l9, 150, 151, 152, 153, 163, 191, 192, 197, 198, 206, 215, 216, 220, 232, 2-l 1, 246, 2-l7, 2-l8, 2-llJ.
Modo de produção l\1odo de produção é a maneira como a sociedade se organiza (nos domínios da e trutura e da superestrutura) com base nas relações sociais de produção. Atente-se
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para o fato de que há certa correspondência necessária entre a estrutura econômica (com suas relações sociais de produção determinadas pela propriedade dos mei o, l lc pni d uçã() e mediadas pelas torca I' rod II ti\ ,1 ,) e a superestrutura jurídica, po lir 1l
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e ideológica, que tem
de dar conta das relações sociais que se dão no âmbito estrutural. Essa correspondência não se faz de forma imediata nem mecanicamente, mas não é difícil perceber, por exemplo, como seria pouco adequado um sistema de governo do tipo da ,lemocracia burguesa na vigência do modo de produção feudal - para falar do jurídico-político -, ou - para mencionar o aspecto ideológico - como seria muito pouco provável a generalização de uma concepção de mundo que estimulasse a frugalidade, o comedimento, a renúncia aos bens terrenos e a espera da felicidade numa vida após a morte, na vigência de um modo de produs·ão que depende da competição e . O valor de uma mercadoria só pode ser aferido confrontando-a com outra mercadoria. Dizemos, então, que A vale 4 B, por exemplo. A é um \·alor de uso visível (uma mesa, por exemplo), B é outro valor de uso visível (garrafas de vinho, por exemplo), mas o valor de A é invisível. Este só se manifesta em outro valor de uso, ou seja, ele só se expressa no corpo de outra mercadoria, quando dizemos, por exemplo, que uma mesa vale quatro garrafas de vinho. Dizemos, assim, que quatro garrafas de vinho são o valo1 , k t I oca de uma mesa. Não se deve, portanto, confundir os conceitos de valor e valor de troca, na medida em que o segundo é tão somente a expressão do primeiro. p. 14, 15, 16, 17, 20, 25, 37, 39, 41, 42, 43, 47, 48, 51, 52, 53, 57, 58,
60, 62, 66, 67, 68, 69, 71, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 94, 105, 108, 109, 110,111,113,114, 115,116,117,118,120,122,124,125,126, 129, 130,135,141,142,143,144,147,148,150,152,162,163,192,193, 195, 196,197,206,207,215,216,217,218,219,220,232,237,238, 239, 241, 245, 246, 249.
Valor de troca Valor de troca é a propriedade que toda mn t ;1doria tem de ser trocável por outra mercadoria qualquer, inclusi-
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ve por dinheiro, que é a mercadoria por excelência. O valor de troca expressa uma relação social entre possuidores de mercadorias de valores de uso diferentes. Além disso, a expressão "valor de troca" serve tanto para designar a propriedade da mercadoria quanto a própria mercadoria em si. Qiiando falamos que uma mesa vale quatro garrafas de vinho, estamos dizendo que quatro garrafas de vinho são o valor de troca de uma mesa. Estamos dizendo também, e principalmente, que quatro garrafàs de vinho expressam o valor contido numa mesa. É importante, portanto, não se confundir valor de troca com valor, visto que o primeiro é a forma de manifestar-se do segundo. p. 16, 58,59, 60, 61, 66, 78, 113, 119, 147, 148, 198, 223, 247, 248,249.
Valor de uso Valor de uso é a qualidade de determinado bem ou serviço de atender a necessidades humanas. Não expressa, portanto, uma relação social, mas uma relação entre homem e coisa. O valor de uso de uma mercadoria nada mais é, portanto, do que a utilidade dessa mercadoria. Costuma-se também chamar de valor de uso a própria coisa que tem essa propriedade. Finalmente deve-se considerar que toda mercadoria tem necessariamente valor de uso, mas nem todo valor de uso é mercadoria. Para ser
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mercadoria, além de valor de uso, deve ter valor de troca. O ar que respiramos, por exemplo, é um valor de uso, mas não uma mercadoria, porque não tem valor de troca. p. 42, 52, 58, 59, 60, 66, 67, 74, 76, 114, 115, 118, 119, 121, 123, 130, 131, 147, 148, 157, 160, 161, 162, 198, 223, 241, 242, 245, 246, 247, 249.
Valor excedente Valor excedente é o valor produzido pelo trabalhador no processo de produção capitalista que ultrapassa o valor de sua força de trabalho e que não é pago pelo capital, constituindo, assim, a mais-valia. p.42,54,85, 105,109,110,129,193,217,219,245.
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sobre o autor
Vitor Henrique Paro é um dos mais respeitados
educadores brasileiros da atualidade. Nasceu em 1945, em Colina, pequeno município do interior paulista, vivendo na roça até os 19 anos. Transferiuse para a capital do estado em 1964, foi auxiliar de escritório, bancário e vendedor, antes de ingressar no campo educacional. Na década de 1970, licenciouse em Pedagogia e fez seu mestrado em Educação na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo - Feusp. De 1975 a 1993 foi pesquisador na Fundação Carlos Chagas, alcançando o posto de pesquisador sênior. Em 1979, ingressou na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde também realizou seu doutorado, e aí permaneceu como docente, na graduação e na pós-graduação, vindo a exercer o cargo de professor titular até 1993. Desde 1980, exerce
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suas funções docentes na Feusp, tendo obtido o título de livre docência em Educação em 1991, e assumido o cargo de professor titular em 1997. Hoje, é professor colaborador sênior nessa mesma Faculdade, e coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas em Administração Escolar - Gepae. Escreveu vários livros na área educacional, entre eles, Administração escolar: introdução crítica; Gestão democrática da escola pública; Por dentro da escola pública; Educação como exercício do poder; e Pr~fessor: artesão ou operário?
E-mail: [email protected] Home Page: www.vitorparo.com.br
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