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Portuguese Pages 134 [71] Year 1991
Universidade hoje Apresentação de Machado de Assis - I. Teixeira A literatura hispano-americana - J. Joset A civilização helenística - P. Petit A literatura grega - F. Robert A religião grega - F. Robert A psicologia social - J. Maisonneuve O inconsciente - J.-c' Fil/oux A crítica literária - P. Brunel, D. Madelénat, J.-M. Gliksohn e D. Couty Sociologia do direito - H. Lévy-Bruhl As teorias da personalidade - S. Clapier- Valladon Literatura brasileira - L. Stegagno Picchio A crítica de arte - A. Richard As primeiras civilizações do Mediterrâneo - J. Gabriel-Leroux A economia dos Estados Unidos - P. George A idéia de cultura - V. Hell História da educação - R. Gal História dos Estados Unidos - R. Rémond As empresas japonesas - Masaru Yoshimori Os celtas - V. Kruta Epistemologia genética - J. Piaget Descartes - G. Pascal A produtividade - J. Fourastié Aristóteles - L. Mil/et História da imprensa - P. Albert e F. Terrou t, O som - J.-J. Matras História da psicanálise - R. Perron A Contra-Reforma - N. S. Davidson Mercadores e banqueiros da Idade Média - J. L. Goff O socialismo utópico - J. Russ História de Bizâncio - P. Lemerle
Universidade hoje
MERCADORES E BANQUEIROS DA IDADE MÉDIA lacques Le Goff
Em preparação: A vida na Idade Média -
G. d'Haucourt
Marfins Fonfes
Título original: MARCHANDS ET BANQUIERS AU MOYEN AGE publicado por Presses Universitaires de France, na col. Que Sais-Je? Copyright Presses Universitaires de France, 1986 Copyright © Livraria Martins Fontes Editora Ltda., para a presente edição.
Sumário Introdução
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1~ edição brasileira: dezembro de 1991
Tradução: Antonio de Pádua Danesi Revisão da tradução: Lilian Escorei de Carvalho Revisão tipográfica: Andrea Stahel Sadika Osmann
Capa - Projeto: M.F.
Le Goff, Jacques. Mercadores e banqueiros da Idade Média / Jacques Le Goff ; [tradução Antonio de Pádua Danesi ; revisão da tradução Lilian Escorei de Carvalho). - São Paulo: Martins Fontes, 1991. - (Universidade hoje). I. Banqueiros - Europa - História 2. Comerciantes - Europa - História 3. Idade Média - História I. Título. 11. Série. CDD-380.0902 -332.10902
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I. A revolução comercial, 7
85.336.0031-3
Todos os direitos para o Brasil reservados à LIVRARIA MARTINS FONTES EDITORA LTDA. Rua Conselheiro Ramalho, 330/340 - Te!.: 239-3677 01325 - São Paulo - SP - Brasil
li -
O papel social e político
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I. Papel social dos grandes mercadores, 41 II. Aspectos da dominação política da burguesia mercantil, 55
CAPÍTULO 1. lI. TIl. IV. V.
Índices para catálogn sistemático: Banqueiros e bancos: Idade Média : História 332.10902 Idade Média : Banqueiros e bancos: História 332.10902 Idade Média: Mercadores e comércio: História 380.0902 Mercadores e comércio: Idade Média: História 380.0902
ISBN
A atividade profissional
11. O mercador itinerante, 9
CAPÍTULO
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
I. 2. 3. 4.
I -
III. O mercador sedentário, 17 IV. Progressos dos métodos nos séculos XIV e XV, 26
Produção gráfica: Geraldo Alves Composição: Márcia Cristina Jacob
91.2904
CAPÍTULO
A atitude religiosa e moral
71
A Igreja contra os mercadores: a teoria, 71 A Igreja e os mercadores: a prática, 77 A mentalidade do mercador, 84 A religião do mercador, 88 Evolução da atitude da Igreja para com os mercadores, 95
CAPÍTULO I. II. III. IV.
III -
IV -
O papel cultural
.
103
.
131
Os mercadores e a laicização da cultura, 103 O mecenato dos mercadores, 111 A cultura burguesa, 115 Mercadores e civilização urbana, 127
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Introdução
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torestque nos ocupam particularmente. Ainda aqui, as dificuldades continuam sendo grandes. . Há, em primeiro lugar, os riscos de naufrágios e de pirataria: Esta sempre campeou e~ .grande esc~la. Obra de marinheiros privados a prmcipio, verdadeiros empresários da pirataria, que a praticavam alter~adamente com o comércio, e concluíam, com relaçao ao seu exercício, verdadeiros contratos onde assegur~vam sua parte do lucro ao honrosos comerciantes que fman~ ciavam suas empresas. Ação das cidades e dos Estad~s também em virtude do direito de guerra ou de um direito de naufrágio" que dava margem a várias interpretações, e, embora esse jus naufragii bem ced~ tenha s~do abolido no Mediterrâneo (ainda que os reis angevinos venham a restabelecê-lo no fim do século XIII, para grande escândalo dos italianos~, permane~e por mais tempo no domínio nórdico, praticado espec~a~m~n~epelos ingleses e bretões ao longo de uma tradição mmterrupta que conduzirá à guerra de corso dos tempos modernos. Só as grandes cidades marítimas - sobretudo Veneza - conseguem organizar comboios regulares escoltados por navios de guerra. Ressalte-se também a pequena capacidade dos navios. Sem dúvida, a revolução comercial e o crescim~nto do tráfego fazem aumentar a tonelagem dos navios mercantes'; Mas as pesadas koggen hanseáticas, adaptadas ao transporte das mercadorias volumosas e pesadas, e as grandes galeras comerciais itali.an~s - pa~ticularmente venezianas -, conquanto anngissem mil toneladas no fim da Idade Média, representavam no total apenas uma fraca tonelagem. A maior, ~arte tinha uma capacidade menor: as koggen hanseáticas que transportavam a lã inglesa e o vinho francês ou alemão no mar do Norte e no Báltico, as carracas geno-
• Direito de aquisição de destroços ou bens abandonados por naufrágio. (N. R.) .
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vesas e espanholas carregadas de especiarias, as velozes naus venezianas que iam buscar o algodão nos portos da Síria e de Chipre raramente excediam 500 toneladas. Havia enfim o problema da rapidez da navegação. A partir do século XIII, a difusão de invenções como o leme de cadaste, a vela latina, a bússola, os progressos da cartografia - conquistas em que, ao lado da contribuição oriental e extremo-oriental, devemos destacar a contribuição dos marinheiros e cientistas bascos, catalães e genoveses - permitem reduzir ou eliminar os grandes entraves à rapidez das viagens marítimas da Idade Média, que eram a ancoragem durante a noite, a interrupçãodurante o inverno e a cabotagem ao longo das costas, Ainda em meados do século XV, o ciclo completo de uma operação mercantil veneziana dura dois anos inteiros. Esse ciclo constituise de - transporte de especiarias de Alexandria a Veneza, reexpedição dessas especiarias para Londres, retorno de Londres com um frete de estanho, reexpedição desse estanho para Alexandria e recarregamento de especiarias para Veneza.O mercador precisa ter paciência e capital. Mas o fato é que o custo do transporte por mar é infinitamente menos elevado do que por terra; 20/0 do valor da mercadoria para a lã ou a seda, 15070 para os grãos, 33070 para o alúmen. Sigamos com Roberto Lopez e Armando Sapori um grupo de mercadores que no final do século XIV embarcam em Gênova com destino ao Oriente. O carregamento é constituído sobretudo de tecidos, armas e metais. A primeira escala que se atinge, indo pela costa ou pela Córsega, Sardenha e Sicília, é Túnis; a segunda, Trípoli. Em Alexandria, mercadorias de todos os tipos - produtos da indústria local e sobretudo importações orientais - vêm engrossar a carga. Se se estaciona nos portos sírios - São João de Acre, Tiro, Antioquia -, é para transportar viajantes, pere13
grinos ou as mercadorias trazidas do Oriente pelas caravanas. Mas é Famagusta, na ilha de Chipre, o grande entreposto das especiarias. Encontram-se ali "mais especiarias que pão na Alemanha". Em Latakia, no ponto de chegada das rotas da Pérsia e da Armênia, encontram-se também, segundo Marco Polo, "todas as especiarias e tecidos de seda e coisa dourada da Terra". Em Focéia, é o precioso alúmen que se embarca, enquanto Quios é a escala dos vinhos e do mástique, que serve tanto para a destilação de um licor muito apreciado como para a preparação de uma pasta dental bastante procurada. Bizâncio, em seguida, é uma parada obrigatória na grande encruzilhada das rotas do Levante. Depois, atravessando o mar Negro, vaise recolher em Caffa, na Criméia, os produtos da Rússia e da Ásia, trazidos ao longo da rota mongol: trigo, pele, cera, peixe salgado, seda e sobretudo, talvez, escravos. Muitos desses produtos não são levados para o Ocidente pelos nossos mercadores, mas vendidos em Sinope ou em Trebizonda. Os mais audaciosos podem partir dali, escoltados até Sivas pela polícia tártara, para Trabiz e para a Índia, como Benedetto yivaldi; ou para a China, por via terrestre através da Asia central ou por mar de Bassora ao Ceilão, como Marco Polo. 4. As feiras - Mas no século XIII a grande meta do mercador itinerante são as feiras da Champagne. Essas feiras realizavam-se em Lagny, em Bar-surAube, em Provins e em Troyes, e sucediam-se ao longo do ano: em Lagny, elas aconteciam em janeirofevereiro, em Bar, em março-abril; em Provins, realizava-se a feira de Maio em maio-junho, em Troyes a feira de São João acontecia em julho-agosto, em Provins, novamente, a feira de Santo Ayoul era em setembro-novembro, e em Troyes, enfim, uma segunda vez, a feira de São Remígio realizava-se em novem14
bro-dezembro. As terras da Champagne eram assim um fato capital. Havia lá um mercado quase permanente do mundo ocidental. Desse modo, durante dois ou quatro meses do ano, reina nessas cidades uma animação extraordinária que o trovador Bertrand de Barsur-Aube descreveu numa primavera: faz calor e o céu é claro, A relva está verde e a roseira em flor. .............................................................
Puseram-se a vagar os mercadores Que trouxeram bens para vender. Desde o raiar do dia, Até a noite cair, Não param de ir e vir, Até que a cidade esteja repleta. Fora da cidade se alojam nos prados, Onde têm tendas e pavilhões fechados.
Para chegar lá, os mercadores fizeram uma longa e difícil viagem; os italianos que transpuseram os desfiladeiros alpinos passaram cinco semanas na estrada. Precisavam, em primeiro lugar, de alojamento. A princípio, construíam-se acampamentos provisórios nas praças ou fora da cidade. Depois, os habitantes alugavam aposentos ou casas aos mercadores. Por fim, foram construídas para eles casas especiais de pedras resistentes a incêndios, com grandes subterrâneos abobadados para armazenar as mercadorias. Mercadores e habitantes gozavam de privilégios consideráveis, e a fixação e o desenvolvimento das feiras estão intimamente ligados ao crescimento do poder dos condes da Champagne e ao liberalismo de sua política. Há, inicialmente, os salvo-condutos concedidos em toda a extensão das terras condais. Em seguida, .. a isenção de todas as taxas servis sobre os terrenos onde se construíram alojamentos e estabelecimentos comerciais. Os burgueses foram isentados das talhas e dos 15
foros em troca de taxas fixas resgatáveis. Os terrádegos e as banalidades foram abolidos ou limitados consideravelmente. Esses mercadores não estavam sujeitos nem aos direito de represailles e de Marque, nem ao direito de aubaine e de epavel; Os condes, sobretudo, asseguravam o policiamento das feiras, controlavam a legalidade e a honestidade das transações, garantiam as operações comerciais e financeiras. Criaramse assim funcionários especiais, os guardas das feiras, funções públicas, mas freqüentemente confiadas a burgueses pelo menos até 1284, quando os reis da França, assenhoreando-se da Champagne, passaram a nomear funcionários da coroa O controle das operações financeiras e o caráter semipúblico dos cambistas contribuíram, além das razões puramente econômicas, para conferir a essas feiras um de seus aspectos mais importantes, "o papel de urna clearing-house embrionária" - difundindo-se o uso de regular as dívidas por compensação. No início do século XIV, essas feiras começam a declinar. Para tal declínio, procurou-se muitas causas: a insegurança instaurada na França, no século XIV, com a Guerra dos Cem Anos, o desenvolvimento de urna indústria têxtil italiana provocando urna queda - seguida de urna reorganização - do comércio de tecidos flamengo, principal abastecedor das feiras. Foram fenômenos que conduziram ao abandono da rota francesa, Strata jrancigena, grande eixo que unira o mundo econômico do Norte ao domínio mediterrâneo, em proveito de duas rotas mais rápidas e menos dispendiosas: urna rota marítima que, partindo de Gênova e de Veneza, desemboca, pelo Atlântico, pela Mancha e pelo mar do Norte, em Bruges e em Londres, e uma rota terrestre renana ao longo da qual se desenvolverão nos séculos XIV e XV as feiras de Frankfurt e de Genebra.Mas o declínio das feiras da Champagne está ligado, .principalmente, a urna transformae ,
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ção profunda das estruturas comerciais, que faz aparecer urna nova figura de mercador: o mercador sedentário, no lugar do mercador itinerante. Este era conh~cido corno o "pé empoeirado" ao longo das estrad~s; doravante, ele dirige, de sua matriz, graças a técmcas cada vez mais evoluídas e a uma organização cada vez mais complexa, uma rede de associados ou de empregados que torna inúteis tais deslocamentos. 111. O mercador sedentário
Certamente, essa organização e esses métodos começaram a desenvolver-se na aurora da revolução comercial, mas é nos séculos XIV e XV que atingem o apogeu e se generalizam de tal forma que agora se torna necessário abordar esses novos tipos de mercadores sedentários, no centro de seus negócios. Bem cedo, o mercador teve de procurar capitais Forade seus próprios recursos na medida em que a ampliação e diversificação dos negócios determinavam tal direção. O problema do crédito, que mais adiante veremos ter sido singularmente complicado para a cristandade medieval em razão de preocupações religiosas e morais, foi resolvido de várias maneiras, das quais só podemos mencionar aqui as principais. Houve, primeiro, o empréstimo sob suas múlti~l~s formas. Uma delas, particularmente importante, fOI a letra de câmbio, e mais adiante veremos a operação de crédito que ela representou. Mas, ao lado do simples empréstimo, cumpre destacar o empréstimo marítimo. Sua originalidade decorre do fato de o reembolso do empréstimo estar ligado ao retorno do navio são e salvo com o respectivo carregamento, salva eun(~n.avi. Assim, esses empréstimos eram quase sempre limitados a uma viagem ou, mais exatamente, a uma 17
ida-e-volta que se pode dizer ter constituído na Idade Média a unidade de operação comercial marítima. 1. Contratos e associações - Houve, sobretudo, diversos tipos de associação pelos quais o mercador, saindo de seu isolamento, pôde estender a rede de seus negócios. Uma forma fundamental de associação foi o contrato de "commenda", também chamado "societas maris" em Gênova e "collegantia" em Veneza. Os contratantes apresentavam-se como associados na medida em que havia partilha dos riscos e dos lucros; no mais, porém, suas relações eram as mesmas existentes entre um emprestador e um devedor. No contrato de "commenda" puro e simples, um comanditário adianta a um mercador itinerante o capital necessário a uma viagem de negócios. Se houver perda, o emprestador arca com todo o ônus financeiro e o devedor só perde o valor de seu trabalho. Se houver lucro, o emprestador, sem sair de seu domicílio, é reembolsado e recebe uma parte dos ganhos, em geral três quartos do total. Na commenda que se denomina mais especificamente societas ou collegantia, o comanditário que não viaja adianta dois terços do capital, enquanto o devedor contribui com um terço do capital e seu trabalho. Se houver perda, esta é dividida proporcionalmente ao capital investido. Se houver lucro, este é dividido meio a meio. Em geral, o contrato era concluído para uma viagem. Nele se especificava a natureza e a destinação da empresa, ao mesmo tempo que algumas de suas condições - por exemplo, a moeda na qual seriam pagos os lucros -, ou se dava ampla latitude ao devedor, que, com o tempo, foi adquirindo cada vez mais independência. 18
Eis o texto de um desses contratos, concluído em Gênova em 29 de setembro de 1163. Testemunhas: Simone Bucuccio, Ogerio, Peloso, Ribaldo di Sauro e Genoardo Tosca. Stabile e Ansaldo Garraton formaram uma societas na qual, segundo suas declarações, Stabile trouxe uma contribuição de 88 liras, e Ansaldo, de 44 liras. Ansaldo leva esse capital, para fazê-lo frutificar, a Túnis ou a qualquer lugar onde deve passar o navio que ele utilizará - a saber, o navio de Baldizzone Grasso e de Girardo. Quando regressar, remeterá os lucros da partilha a Stabile ou seu representante. Deduzido o capital, dividirão os lucros meio a meio. Contrato realizado na casa do Capítulo, em 29 de setembro de 1163. Ademais, Stabile autoriza Ansaldo a enviar esse dinheiro a Gênova pela embarcação que lhe aprouver.
Para o comércio terrestre, os tipos de contratos de associação eram mais numerosos, mas podemos reduzi-los a dois tipos fundamentais: a compagnia e a societas terrae. Os primeiros exemplos conservados desses gêneros de contratos se referem aos venezianos e recebem o nome particular de fraterna compagnia, mas foram sobretudo os mercadores residentes nas cidades do interior que os empregaram. Na compagnia, os contratantes estão intimamente ligados entre si e compartilham riscos, esperanças, perdas e lucros. A societas terrae assemelha-se à commenda. O empresta dor é o único a correr o risco de perda e os ganhos são geralmente divididos meio a meio. Há, porém, maior flexibilidade na maioria das cláusulas: as partes de capital investido podem variar muito; a duração da organização, em geral, não se limita a um negócio, a uma viagem, mas define-se por um certo período - um, dois, três ou quatro anos, na maioria das vezes. Finalmente, entre esses tipos fundamentais da compagnia e da societas, existem numerosos tipos intermediários onde se combinam diversos 19
aspectos dos dois. A complexidade desses contratos expressou-se em documentos infelizmente muito longos para serem exemplificados aqui. Em torno de alguns comerciantes, famílias e grupos, desenvolveram-se organismos complexos e poderosos aos quais se deu geralmente o nome de "companhias", no sentido moderno do termo I. As mais célebres e mais bem conhecidas foram dirigidas por ilustres famílias florentinas: os Peruzzi, os Bardi, os Medici. Mas é preciso assinalar, na esteira dos historiadores que as estudaram - e, em primeiro lugar, Armando Sapori -, que detectamos profundas modificações estruturais entre as companhias dos séculos XIII-XIV e as do século XV, pelo menos no âmbito italiano. Tais sociedades se baseiam em contratos que vinculam os contratantes apenas pór uma operação comercial ou por uma duração limitada. Mas a renovação habitual de alguns desses contratos, a presença sempre dos mesmos nomes numa vasta superfície econômica, contribuindo regularmente com capitais consideráveis em empresas de primeira importância, todos esses vínculos comerciais tecidos em torno de algumas cabeças fazem delas os chefes de organismos estáveis, que ultrapassam o caráter efêmero das operações particulares e dos contratos que as definem. Nos séculos XIII-XIV, essas verdadeiras casas comerciais são fortemente centralizadas, tendo à sua frente um ou vários comerciantes que possuem uma rede de sucursais e são representados fora da matriz, onde residem um ou mais dirigentes, por funcionários assalariados.
I. Mas elas estão muito distantes das sociedades modernas, que possuem uma personalidade independente de seus membros.
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No século XV, uma casa como a dos Mediei é descentralizada. Consiste numa combinação de associações independentes, com capital próprio, cada qual com sua sede geográfica. Ao lado da matriz de Florença, estão as filiais: Londres, Bruges, Genebra, Lyon, Avignon, Milão, Veneza, Roma, administradas por diretores que são só parcial e secundariamente funcionários assalariados, pois, antes de tudo, são comanditários à testa de uma parte do capital - é o caso dos Angelo Tani, dos Tommaso Portinari, dos Simone Neri, dos Amerigo Benci, etc. Os Mediei de Florença só são o elo de ligação entre todas essas casas porque têm em cada uma delas capitais quase sempre majoritários e porque centralizam as contas, as informações e a orientação dos negócios. Mas basta um Lorenzo menos atento que seu avô Cosme negligenciar os negócios e as filiais tendem a ter vida própria; os conflitos se desenvolvem no interior da firma; o edifício se desintegra - ruína facilitada pelo número de pessoas doravante interessadas no negócio, pois parece que da participação passaram agora ao depósito. Se os depósitos representam, de ora em diante, uma parcela importante do capital, da reserva financeira da empresa, esta se torna mais vulnerável devido às necessidades, hesitações, exigênciase temores desses depositantes que não têm, ao reclamar o seu dinheiro, os escrúpulos dos antigos participantes, unidos entre si pela solidariedade dos laços familiares e dos vínculos da colaboração comercial. Foi a partir dessas grandes sociedades, desses poderosos personagens, que se desenvolveram verdadeiros monopólios e o que já podemos chamar de cartéis. Com efeito, afirmou-se terem sido todas as corporações medievais cartéis que reuniam comerciantes ou artesãos desejosos de suprimir em seu mercado urbano a concorrência mútua e de estabelecer um mo21
nopólio. Tais afirmações não só carecem de provas no que concerne à economia corporativa urbana como tendem a introduzir num contexto inadequado dados que na verdade só se aplicam ao comércio internacional. Essas sociedades monopolistas aproveitaram-se freqüentemente da política colonial de algumas cidades ou Estados medievais, particularmente Gênova e Veneza. Os mais célebres desses cartéis foram provavelmente originados pelo comércio do alúmen - um dos mais importantes produtos procurados pelo mercador medieval, já que constituía uma das matérias-primas indispensáveis à indústria têxtil, onde era empregado como mordente. O essencial desse alúmen era produzido nas ilhas ou no perímetro do mar Egeu, especialmente em Focéia, na Ásia Menor. Seu comércio tornou-se monopólio genovês no século XIII, e, depois que um comerciante de Gênova, Benedetto Zaccaria, se fez pioneiro dessa empresa, uma poderosa sociedade genovesa, a "maona" de Quios, onde se encontram praticamente todos os grandes nomes do comércio genovês, dominou o mercado do alúmen no século XIV e começo do século XV. Após a conquista turca, o alúmen oriental desapareceu quase por completo do mercado. Foi então que se descobriram importantes jazidas no território pontifical, perto de Civita Vecchia, em Tolfa, em 1461. O governo pontificallogo confiou a exploração e a venda do produto à firma dos Mediei. Nasce então uma das mais extraordinárias tentativas de monopólio internacional na Idade Média. A Santa Sé destinou sua parte de lucros ao financiamento da Cruzada contra os turcos - que não se realizou. Ao mesmo tempo, punia com a excomunhão todos os príncipes, cidades e particulares que comprassem outro alúmen que não o de Tolfa, concedia aos navios utilizados pelos Medici para esse comércio o direito de usar o pavilhão 22
pontifical e lhes dava todo o seu apoio para obter, mediante pressões que chegaram ao envio de expedições militares, o fechamento de outras minas secundárias de alúmen existentes na cristandade ou a entrada de seus proprietários no cartel- por exemplo, os reis de Nápoles, donos de minas na ilha de Ischia. Esta foi uma das maiores empresas dos Mediei. 2. Mercadores e poderes politicos - Podemos ver, por esses exemplos, os laços que se teceram entre governos e grandes mercadores, sobretudo no final da Idade Média, quando as necessidades dos príncipes se tornaram maiores - e das quais falaremos a propósito do poder político dos mercadores. Por enquanto, nos contentamos em dizer que os empréstimos aos soberanos e às cidades, o recebimento dos impostos, a participação nos empréstimos do Estado - como, por exemplo, em Veneza e Gênova, onde os grandes mercadores tomaram parte no estabelecimento de um fundo da dívida pública, entregando-se à especulação sobre esses verdadeiros "valores" -, constituíram nos séculos XIV e XV uma parcela cada vez maior dos negócios dos grandes mercadores. A prosperidade de alguns grandes comerciantes italianos teve sua fonte, em grande parte, nas operações financeiras e comerciais que eles faziam em benefício do papado, uma daspotências econômicas da Idade Média - sobretudo no século XIV, quando o papado de Avinhão, aumentando o fisco pontifical, drenou para as caixas da Cúria e das companhias italianas, principalmente florentinas, que lhe serviam de banqueiros, uma parcela dos recursos da cristandade. Além dos lucros propriamente financeiros e comerciais dessas operações, os grandes mercadores extraíam delas privilégios - isenção de taxas, participação no governo - que tinham profundas repercussões em sua posição econômica. Era também a época em que a legislação comercial se precisa23
va de tal forma que, garantindo mais estabilidade e segurança nos negócios, favorecia primeiro os mercadores. Desde o começo da revolução comercial, vimos os senhores os soberanos e particularmente os papas, por cânones conciliares, concederem sua proteção aos mercadores itinerantes, fornecer salvos-condutos (uso que remontava à mais alta Idade Média, . quando as imunidades concedidas aos eclesiásticos já os tornavam "comerciantes privilegiados") e mandar construir edifícios especiais para o alojamento dos mercadores e de suas mercadorias - o mais célebre será ofondaco dos mercadores alemães em Veneza._O sucesso das feiras, como vimos, fora grandemente facilitado pela proteção que a autoridade, do lugar onde eram realizadas, concedia a seus participantes. Desenvolvia-se uma legislação comercial a princípio elaborada pelos próprios mercadores, como, por exemplo, a elaboração das leis no seio do famoso tribunal da Mercanzia de Florença, que, segundo veremos, constituiria um dos fundamentos do poder político dos grandes mercadores florentinos. Mais tarde, essa legislação passou a ser desenvolvida em nível internacional já com alguma penetração na legislação pública. No âmbito mediterrâneo pelo menos, os contratos e litígios comerciais passaram ao primeiro plano e fizeram proliferar um grande número de notários - estes foram os auxiliares dos comerciantes, a quem deviam grande parte da fortuna que sua profissão conheceu e cujo papel histórico continuou até o nosso tempo, já que seus arquivos são uma das mais ricas fontes de documentação sobre o mercador e o comércio medievais. Aonde quer que vá o mercador, para lá também se dirige o notário: na Armênia, Criméia, lá estão eles; vamos encontrá-los também nas embarcações e vemos um deles, por exemplo, registrar um fato nas proximidades de Creta em 16 de novembro de 1283, a pedido de mercadores genoveses que transportando mercadorias a ca-
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minho de Chipre eda Armênia ficam furiosos porque o capitão do navio, desprezando seus compromissos, aproa a embarcação em direção a Bizâncio. No âmbito hanseático, foram as autoridades públicas - municipais ou corporativas - que desempenharam o papel dos notários, e é aos documentos oficiais que devemos recorrer freqüentemente hoje em dia para termos acesso às operações do mercador medieval no mundo do Norte. Em toda parte, na Idade Média, a intervenção das autoridades públicas, que os historiadores liberais do século XIX consideraram como um entrave ao comércio e uma marca da barbárie medieval, favoreceu em geral os mercadores, que se beneficiaram igualmente, no fim da Idade Média, da verdadeira política econômica praticada por alguns príncipes, como Luís XI, o "rei dos mercadores". fim do século XV é também a época em que se define com mais precisão a legislação relativa à propriedade do subsolo e à delimitação das águas territoriais. Sem dúvida, os vínculos cada vez mais estreitos entre príncipes e mercadores no final da Idade Média levam estes a correr riscos maiores. A insolvência dos soberanos está muito ligada às estrondosas falências de banqueiros italianos nos séculos XIV e XV. Mas não é só a ela que se devem tais quebras. Outras causas tiveram seu papel nessas bancarrotas - extensão imprudente do crédito e, dos negócios, influência da conjuntura econômica e especialmente da conjuntura monetária, A legislação das falências, no entanto, bem cedo lhes atenuou os efeitos mais duros. Não só as penas extremas - condenação à morte ou simples prisão - foram absolutamente excepcionais como até mesmo a venda dos bens do falido em leilões, para o ressarcimento de seus credores, foi com muita freqüência evitada. Difundiu-se o costume de outorgar um salvo-conduto ao falido fugitivo por um período du-
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rante o qual ele tentava fazer um acordo amigável com seus credores. IV. Progressos dos métodos nos séculos XIV e XV Embora a extensão dos negócios, a partir do século XIII, tenha levado alguns mercadores à imprudência e desenvolvido certos riscos, no conjunto, sua evolução determinou um progresso nos métodos e nas técnicas que permitiu superar ou reduzir muitas dificuldades e perigos. O desenvolvimento do comércio marítimo foi a princípio grandemente favorecido pela prática - especialmente em Gênova - da divisão dos navios em partes iguais - verdadeiras ações, das quais grande parte podia ser possuída por uma mesma pessoa. Assim, os riscos são divididos e repartidos. Essas partes, denominadas' 'partes" , "sortes" ou "loca", são uma mercadoria que se pode vender, hipotecar, dar em commenda ou fazer constar do capital de uma associação. 1. O seguro - Mais importante ainda é o desenvolvimento dos métodos de seguro. Sua evolução é obscura. O termo securitas, que designa primitivamente um salvo-conduto, parece referir-se - por volta do fim do século XII, se não antes - a uma espécie de contrato de seguro pelo qual os comerciantes confiam (" 10cant") mercadorias a alguém que, em troca de uma certa quantia paga a título de "securitas", se compromete a entregá-Ias num determinado lugar. Só nos séculos XIV e XV é que se difundem verdadeiros contratos de seguro, nos quais, sem a menor dúvida, os seguradores não são os proprietários do navio. Algumas "companhias", como por exemplo a do grande comerciante pisano Francesco di Marco da Prato, no final do século XIV, chegaram a especializar-se nessas operações. Eis o texto de um memorando datado 26
de 3 de agosto de 1384, extraído de um de seus registros, intitulado "Registro de Francesco di Prato e Companhia, residente em Pisa, no qual registraremos todos os seguros que fizermos para outrem. Que Deus nos permita ter lucro e nos proteja dos perigos": Seguramos Baldo Ridolfi e Cia. por 100 florins de ouro de lã carregados no barco de 8artolomeo Vitale em trânsito de Pefiisola a Porto Pisano. Desses 100 f1orins, que seguramos contra todos os riscos, recebemos 4 florins de ouro de contado, conforme testemunha um atestado assinado por Gherardo d'Ormauno e contra-assinado por nós.
E, mais abaixo:
o dito barco chegou são e salvo a Porto Pisano em 4 de agosto de 1384, isentando-nos dos ditos riscos. 2. A letra de câmbio - A letra de câmbio é outro progresso da técnica que - amplamente difundido para além do domínio marítimo - fornece novas possibilidades ao mercador, estende e complica os seus negócios. O primeiro e mais importante é o seu uso. Embora sua origem seja controvertida, suas características e seu papel são hoje bem conhecidos graças aos excelentes trabalhos de R. de Roover. O desenvolvimento da letra de câmbio deve ser situado, a princípio, no contexto da evolução monetária. Durante a Alta Idade Média, a tendência à economia fechada e a pequena amplitude das trocas internacionais reduziram o papel da moeda. No comércio internacional, as moedas estrangeiras que circulavam na Europa - o nomisma bizantino, mais tarde chamado hiperpério e besante no Ocidente, e os dinares árabes - tiveram um papel preponderante. Na Europa cristã, a partir da época carolíngia, apesar de uma tentativa de retorno à cunhagem do ouro, o padrão monetário era a prata, representada sobretudo pelo de-
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nário, muito embora, o dirhem muçulmano tenha ocupado provavelmente um lugar de primeiro plano.' No século XIII, tudo muda com o impulso da revolução comercial. O Ocidente reinicia a cunhagem do ouro. A partir de 1252, Gênova cunha regularmente denários de ouro e Florença, seus famosos florins; a partir de 1266, a França tem seus primeiros escudos de ouro; a partir de 1284, Veneza possui os seus ducados; na primeira metade do século XIV, Flandres, Castela, a Boêmia e a Inglaterra seguem o movimento geral. Doravante, nos pagamentos comerciais, o problema do câmbio passa a primeiro plano. Nesse particular, deve-se levar em conta, além, evidentemente, da diversidade das moedas: a) a existência de dois padrões de certo modo paralelos: ouro e prata; b) o preço dos metais preciosos: nos séculos XIV e XV, esse preço sofre uma alta que, conforme os períodos, afeta desigualmente o ouro e a prata, mas que na verdade deixa transparecer - em face das crescentes necessidades do comércio e da impossibilidade de aumentar no mesmo ritmo o número de espécies metálicas em circulação devido à estagnação ou ao declínio das minas européias e da redução de metais preciosos africanos - o fenômeno da "fome monetária" no qual se deve situar a atividade dos mercadores do fim da Idade Média - fome de ouro sobretudo, quando a prata volta a ser relativamente abundante com a exploração de novas minas na Alemanha média e meridional em meados do século XV e que será, como se sabe, um dos principais motores das grandes descobertas; c) a ação das autoridades políticas. Com efeito, o valor das moedas dependia dos governos, que podiam fazer variar a base da moeda, isto é, seu peso, título ou valor nominal: as moedas não traziam indicação de valor. Este era fixado pelas autoridades pú28
blicas, que as cunhavam com um valor fictício ao seu real valor, e geralmente expresso em libras, soldos e denários - unidades derivadas de um sistema considerado padrão a partir do denário de Tour ou denário de Paris na França, por exemplo, ou ainda do denário de gros em Flandres. Príncipes e cidades podiam assim proceder a "remanejamentos monetários" - "mutações" ou desvalorizaçôes -, "reforços" ou revalorizações. Riscos não raro imprevisíveis para o rnercador-; d) variações sazonais do mercado da prata. A existência de ciclos econômicos e de fIutuações periódicas longas e curtas, como se detectou no período moderno, é dificilmente localizada na Idade Média, devido à falta de dados estatísticos - embora historiadores como CarIo M. Cipolla acreditaram poder determináIa. Em todo caso, o mercador medieval provavelmente não tinha conhecimento do fato nem se preocupava com ele. Em contrapartida, as variações sazonais da circulação da prata nas principais praças européias - devidas, entre outras causas, às feiras, datas das colheitas e das chegadas e partidas de comboios, aos hábitos ligados às finanças e à tesouraria dos governos - eram perceptíveis para aqueles que se mostravam muito atentos a elas. Um mercador veneziano anotou em meados do século XV: Em Gênova, a prata é cara em setembro, janeiro e abril, em virtude da partida dos navios ... em Roma ou onde quer que se encontre o papa, o preço da prata varia conforme o número dos benefícios vacantes e dos deslocamentos do papa, que faz subir o preço da prata onde quer que se encontre ... em Valence, ela é cara em julho e em agosto, por causa do trigo e do arroz ... em Montpellier, há três feiras que provocam uma grande alta no preço da prata ...
Tais são os dados que o mercador deve levar em conta para avaliar os riscos e lucros a partir dos quais, 2. Para uma exposição
detalhada,
cf. M. BLOCH,
Esquisse d'une
histoire monetaire de l'Europe, 1954.
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segundo suas possibilidades, pode dirigir o jogo sutil da prática da letra de câmbio. Eis, segundo R. de Roover, o princípio e um exemplo do que vinha a ser a letra de câmbio: A letra de câmbio era "uma convenção pela qual o 'doador' ... fornecia uma quantia ao 'tomador' ... e recebia em troca um compromisso pagável a prazo (operação de crédito), mas em outro lugar e com outra moeda (operação de câmbio). Todo contrato de câmbio engendrava, pois, uma operação de crédito e de câmbio, ambas intimamente vinculadas" .
Eis uma letra de câmbio extraída dos arquivos de Francesco di Marco Datini da Prato: + Em nome de Deus, em 18 de dezembro de 1399, pagareis por esta primeira letra "de usança" CCCCLXXII libras e X soldos de Barcelona a Brunacio di Guido e C estas 472 libras e 10 soldos, valendo 900 v (escudos) a 10 soldos e 6 denários por (escudo), esta quantia tendo sido quitada aqui por Riccardo degl' Alberti e CO. Pagai-as em boa e devida forma e debitai-as de minha conta. Que Deus vos guarde. Ghuiglielmo Barberi, Saudação de Bruges O
•••
v
De outra mão: Aceita em 12 de janeiro de 1399 (1400).
No verso: Francesco di Marco e C", em Barcelona. Primeira (letra).
Trata-se de uma duplicata paga em Barcelona pelo sacado - a sucursal da firma Datini em Barcelona ao beneficiário - a firma Brunaccio di Guido, igual30
mente de Barcelona -, a pedido do sacador ou tomador - Guglielmo Barberi, comerciante italiano de Bruges -, a quem o doador - a casa Riccardo degli AIberti em Bruges - pagou 900 escudos a 10 soldos e 6 denários por escudo. Guglielmo Barberi, exportador de tecidos flamengos que mantinha relações regulares com a Catalunha, recebeu adiantado dinheiro em escudos de Flandres da sucursal de Bruges dos Alberti, os poderosos mercadores-banqueiros florentinos. Antecipando a venda das mercadorias que expedira ao seu correspondente de Barcelona, a casa Datini, ele saca contra esta uma duplicata a pagar em Barcelona ao correspondente dos Alberti nessa localidade, a casa Brunnacio di Guido e CO... Há operação de crédito e de câmbio. Esse pagamento foi feito em Barcelona em 11 de fevereiro de 1400, trinta dias após a sua aceitação, em 12 de janeiro de 1400. Esse prazo é chamado de "usança", variável de acordo com as praças - trinta dias entre Bruges e Barcelona -, o que permitia verificar a autenticidade da letra de câmbio e, em caso de necessidade, conseguir o dinheiro. .Assim, a letra de câmbio atendia a quatro desejos eventuais do mercador, oferecia-lhe quatro possibilidades: a) um meio de pagamento de uma operação comercial; e b) um meio de transferência de fundos - realizando-se esta entre praças onde se utilizam moedas diferentes; c) uma fonte de crédito; d) um lucro financeiro obtido sobre as diferenças e variações do câmbio nas diversas praças, no contexto que foi definido mais acima~De fato, afora as operações comerciais, podia haver entre duas ou, mais freqüentemente, três praças um comércio de letras de câmbio. Esse mercado dos câmbios, muito ativo nos séculos XIV e XV, originou vastas especulações. 31
Notemos, todavia, que o comerciante medieval ignorava provavelmente duas práticas que haveriam de desenvolver-se na época moderna: a do endosso e a do desconto, ainda que as recentes pesquisas de Federigo Melis permitam assinalar exemplos de endosso, no domínio mediterrâneo, já nos primeiros anos do século XVI, e que encontremos, provavelmente, no domínio hanseático, casos semelhantes referentes às obrigações nominativas ou ao portador - simples ordens de pagamento - datados do século XV.
3. A contabilidade - É evidente que tais operações deviam acompanhar os progressos gerais da contabilidade. A escrituração dos livros de comércio tornou-se mais atenta, os métodos mais simples, a leitura mais fácil. Certamente, havia ainda uma grande complexidade. A contabilidade dispersava-se em numerosos registros: livros das "sucursais", das "compras", das "vendas", das "matérias-primas", dos "depósitos de terceiros", dos "trabalhadores em domicílio" e, como sublinhou A. Sapori, o "livro secreto", onde era registrado o texto da associação, a participação dos associados no capital, os dados que permitiam calcular a qualquer momento a posição desses associados na sociedade, a distribuição dos lucros e perdas. Esse "livro secreto" continuava sendo objeto das principais preocupações e foi ele o que melhor se conservou até os nossos dias. Mas o uso de estabelecer um orçamento se difundiu. Todas as grandes firmas não tardam a ter um duplo jogo de registros para as contas abertas aos seus correspondentes no estrangeiro: compto nostro e compto vostro, equivalentes às nossas contas correntes, e que facilitavam ainda mais os ajustes por compensação, por um simples jogo de escrituras, sem transferência de numerário. E, sobretudo, desenvolve-se a contabilidade de dupla entrada - crédito e débito, 32
que veio a ser qualificada de "revolução da contabilidade". Sem dúvida, esses progressos são desiguais conforme as regiões, e chegou-se a explicar o quasemonopólio dos mercadores e banqueiros italianos da Idade Média numa vasta área geográfica como o resultado de seu avanço em matéria de técnica comercial. Entretanto, encontrar-se-iam no domínio hanseático métodos que, embora diferentes e talvez um pouco retardatários na perspectiva de uma revolução geral única, nem por isso deixaram de provar a eficácia do que Fritz Rôrig denominou "uma supremacia intelectual". Notemos, aliás, que não se deve exagerar a superioridade germânica no tocante à escritura e à contabilidade no domínio nórdico. Os famosos manuscritos sobre" berestá" (casca de bétula), recentemente descobertos em Novgorod, mostram que a escritura e o cálculo estavam ali mais difundidos do que se poderia crer entre os autóctones '. Do mesmo modo as técnicas italianas foram muito pouco assimiladas antes do século Xv l-pelos mercadores das cidades atlânticas - bretões, rocheleses, bordaleses, "cuja arte consistia unicamente em evitar na medida do possível o recurso ao crédito sob todas as suas formas". Se, por um lado, Ph. Wolff detectou uma grande extensão do crédito entre os comerciantes tolosanos, por outro, insistiu no "caráter rudimentar" de seus métodos. {Assim, onde quer que se encontre, o grande mercador-banqueiro sedentário reina agora sobre todo um conjunto que ele controla, de seu escritório, palácio ou casa r . Um conjunto de contadores, comissionários, representantes e empregados - os "corretores" - lhe obedece no estrangeiro. ! 3. Os métodos hanseáticos são na verdade os métodos normais, os mais correntes no Ocidente, e nos séculos XIV e XV eles permaneceram rudimentares em relação aos das grandes companhias italianas.
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É no centro de vastas correspondências, fora do domínio da contabilidade, que o mercador-banqueiro recebe seus pareceres e lhes dá ordens.Tendo em mente o preço da época, a importância, para o êxito de um negócio, de informar-se mais depressa que os concorrentes da chegada dos navios ou de seu naufrágio, da situação das colheitas - numa época em que os fatores naturais são tão poderosos e os cataclismos tão destruidores -, dos acontecimentos políticos e militares que podem influir no valor do dinheiro e das mercadorias, ele se entrega a uma verdadeira corrida às notícias, Sobre o tema "Notícias e especulações em Veneza", Pietro Sardella escreveu um ensaio instigante. Pela leitura da abundante correspondência comercial da Idade Média que nos foi conservada, mas da qual apenas uma pequena parte foi publicada até agora, pudemos seguir melhor o mercador em seu trabalho, compreender o que foi sua atividade profissional.
4. As categorias de mercadores - Com essa ampliação dos negócios, ocorrem transformações no mundo dos mercadores. O mercador itinerante flamengo, que levava seus tecidos às feiras da Champagne e de lá trazia as especiarias, já não precisa deslocar-se, agora que as galeras de Gênova e Veneza vêm carregar e descarregar as mercadorias em Bruges, que os mercadores italianos, os representantes e os sucessores das grandes casas de Florença, Gênova, Lucca e Pisa se instalaram em Flandres e os compradores e vendedores mantêm no local contatos permanentes - como já acontecia há muito tempo em Florença, onde' Giovanni Villani observou orgulhosamente a inutilidade das feiras, "porque sempre há mercado em Florença" . Então, o mercador flamengo torna-se um mediador sedentário e passivo em domicílio: o corretor. Estabelece contatos entre os mercadores estrangeiros, promove entre eles operações co34
merciais e financeiras, providencia-lhes alojamentos e entrepostos e vive das comissões que recebe por todos esses serviços.' Do mesmo modo, houve entre os negociantes uma certa especialização. As categorias que assim se formaram variam de acordo com as regiões, países e cidades. Mas, de maneira geral, pode-se distinguir no domínio do mercado financeiro, como o fez R. de Roover em Bruges, os lombardos, os agentes de câmbio e os "cambistas", que são os mercadores-banqueiros propriamente ditos. Os lombardos ou cahorsinos" são os emprestadores que condicionam a dívida ao penhor, usurários que praticam o empréstimo de consumo a curto prazo. Assim, seus clientes raramente são grandes personagens, mas sobretudo pessoas de pequena e média condição: clérigos, burgueses não-mercadores, nobres de segunda categoria, camponeses. As quantias que eles emprestam "a curto prazo" - um ou dois meses, às vezes três ou seis - não são para fins econômicos, mas destinam-se ao consumo pessoal num período difícil para o devedor, que penhora objetos pessoais: baixeIas, roupas, ferramentas, armas, etc. Não se deve pensar que esses lombardos tenham um poder econômico desprezível. Para atender às necessidades de numerosos clientes, às despesas consideráveis requeridas por sua atividade, eles estão à testa de grandes capitais, reunidos por associação familiar ou graças aos depósitos de terceiros. Em Bruges, os cahorsinos têm, no princípio do século XV, um grande imóvel no longo cais da paróquia de São Gil e um menor, onde residem. Mas seu horizonte permanece limitado. Por terem realizado operações em grande escala, lombardos e cahorsinos de Bruges conhecem uma estrondosa falên-
4. Nomes genéricos que provavelmente gem geográfica específica.
não cor respondem
a uma ori-
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cia em 1457. De resto, como se verá, eles são importunados em suas práticas, alvo da hostilidade pública e privada, sem possibilidades - salvo exceção - de ascensão social. Acima dos lombardos, estão os agentes de câmbio. Têm sua banca ou mesa (bancho, lavo/a) ao ar livre, numa loja de frente para a rua, como a de todos os artesãos. Agrupam-se para facilitar as operações de seus clientes, que não raro são comuns a vários dentre eles. Em Bruges, mantêm sua mesa perto da Grande Praça e do Grande Mercado dos Tecidos; em Florença, têm seus banchi in mercato no Mercado Velho e no Mercado Novo; em Veneza, operam seus banchi di scritta na ponte do Rialto, e em Gênova, perto da Casa di San Giorgio. O romance cortês de Galeran de Bretagne deixounos uma animada pintura dos agentes de câmbio de Metz por volta de 1220: Assim estão os cambistas enfileirados Que têm diante de si suas moedas: Aquele troca, aquele conta, aquele nega, Aquele diz: "É verdade", e outro: "mentira". Na embriaguez ou no sonho, Não. se pode ver, por dormir, a maravilha Que pode ver quem vela. Nunca se entrega ao ócio Aquele que vende pedras preciosas E imagens de prata e de ouro. Outros têm diante de si tesouros Dos seus ricos carregamentos.
A princípio, eles preenchem duas funções tradicionais, o câmbio das moedas (donde seu nome) e o comércio de metais preciosos: são os principais fornecedores da Casa da Moeda de metais preciosos, recebendo os pagamentos de sua clientela sob a forma de lingotes ou, mais freqüentemente, de baixelas. Conforme as circunstâncias, também exportam esses metais 36
preciosos, apesar do monopólio teórico dos moedeiros. Por essas operações, determinam o preço dos metais preciosos, exercem uma influência considerável sobre as f1utuações desses preços e tendem a dominar o seu mercado. Mas esses agentes de câmbio acrescentaram novas funções às antigas: a aceitação de depósitos e reinvestimentos por empréstimos. Tornaram-se banqueiros. 'Pelos depósitos, pela aceitação das contas a descoberto para seus grandes clientes, pelos empréstimos, adiantamentos e investimentos, 'pelas transferências de dinheiro mediante simples jogo de escritura, são os auxiliares indispensáveis dos mercadores e das pessoas abastadas i que têm todos uma conta num agente de câmbio: no final do século XIV, esse é o caso de uma pessoa para cada 35 ou 40 em Bruges, e 80070 desses clientes de Bruges têm um balanço de conta inferior a 50 libras flamengas. Os agentes de câmbio serão encontrados nas altas esferas da hierarquia social. No ápice, porém, estão aqueles que em Bruges são chamados de "cambistas", os que mantêm em Florença os banchi grossi, os mercadores-banqueiros propriamente ditos. Sua atividade permaneceu nãoespecializada. Ao comércio das mercadorias de todo tipo, realizado para a exportação e importação em escala internacional, eles acrescentam uma atividade financeira múltipla: comércio de letras de câmbio, aceitação de depósitos e operações de crédito, participação em várias "sociedades", prática do seguro. Muitas vezes, inclusive, são também produtores, "industriais", como os Mediei, que possuem em Florença duas fábricas de tecidos e uma de seda, e realizadores de um "fenômeno de integração" como Benedetto Zaccaria que, de Gênova, controla o mercado do alúmen no século XIII, transportando-o em barcos próprios e utilizando-o numa tinturaria por ele montada. Se em Veneza eles não passam de atacadistas, deixando a mercadores menores a venda a varejo, em ou37
• tras partes possuem freqüentemente uma loja e às vezes não desdenham nem mesmo, como simples lombardos, praticar a usura, o pequeno empréstimo para consumo. Mas suas operações não se fazem fora, ali 'aperto , mas dentro, em sua casa, quase sempre um palácio - onde se encontra o scrittoio, escritório, que constitui o centro de vastos negócios. O exemplo de Jacques Coeur é o de um dos maiores homens de negócios da Idade Média. Mollat, que estuda todas as suas ramificações, já esboçou seus vastos tentáculos: "um mapa que reproduzisse a distribuição de seus interesses corresponderia a um mapa econômico da França em meados do século XV". Possui bens imobiliários em toda parte: domínios fundiários, consignações de rendas prediais, ricos palacetes particulares em Bourges, Saint-Pourçain, Tours, Lyon, Montpellier. Juntem-se a isso todos os tipos de especulações: percepção de impostos indiretos, resgates de prisioneiros ingleses. Se o campo de seus navios de comércio é sobretudo o Mediterrâneo, o Atlântico, o canal da Mancha, o mar do Norte, sem contar os rios: Loire, Ródano, Sena, também o são. "Nenhum objeto suscetível de tráfico lhe foi estranho". A argentaria, loja que vendia objetos de prata, guarda-móveis e entreposto real, que ele dirige, é nada mais que seu melhor cliente. A ela, como a muitos outros, ele vende lãs, tecidos, panos, couros, peles, sal, especiarias, objetos de arte. Fornece ao exército do rei arneses e armas. Tem interesses em Florença, na Espanha, em Bruges. Após sua queda e evasão, refugia-se no papado, grande potência econômica; e morre em Quios, o vasto empório genovês. 5. O mercador medieval foi um capitalista? - É evidente que a célebre tese de Werner Sombart, para quem o grande capitalista nasceu com os Tempos Mo38
dernos, com o Renascimento e a Reforma no século XVI, já não pode ser aceita agora que conhecemos melhor o mercador-banqueiro medieval. Sem dúvida, é preferível considerar o grande mercador medieval como um pré-capitalista. Segundo uma definição estrita do capitalismo, como a oferecida pela doutrina marxista, a Idade Média não conheceu o capitalismo. Seu sistema econômico e social é o feudalismo, e é no interior desse contexto que agem os mercatores. Mas eles contribuem para fazer explodir esse contexto, arruinar as estruturas feudais. Agindo, como veremos, sobre uma evolução agrícola ativada pela intrusão dos capitais urbanos - pelo menos em regiões como a Itália ou Flandres - e'precipitada pelo desenvolvimento de uma economia mundial (Weltwirtschaft) com profundas repercussões nos preços agrícolas e industriais, os grandes mercadores preparam o advento do capitalismo. E.-A. Kosminsky viu na expropriação das classes rurais da propriedade predial, especialmente na Inglaterra - evolução da qual participaram os mercadores -, a fonte da "acumulação primitiva" do capital. O grande mercador medieval já esboça a concentração dos meios de produção em mãos de particulares, acelerada pelo processo de alienação do trabalho dos operários e dos camponeses, transformados em assalariados. E alguns historiadores marxistas, como V.-I. Ruthenburg, estudando as companhias florentinas do século XIV, não hesitaram em ver nelas o começo do capitalismo no sentido rigoroso do termo. Mesmo um historiador como Frantisek Graus, que se recusa a falar de capitalistas na Idade Média, reconhece que nesse período existem elementos de capitalismo e que na Itália há até mesmo mais que isso. Ele tem razão em protestar contra concepções anticientíficas e anti-históricas que reivindicam um "capitalismo eterno", assim como em exigir a prioridade do estudo das estruturas em detrimento do das 39
mentalidades. Cita também Marx, segundo o ~ual "~s corporações medievais tendiam fortemente. a I:nped~r a transformação do mestre artesão em capitalista, hmitando a um máximo muito reduzido o número ~e operários que um único mestre podia e~pre~ar - pois o detentor de capitais ou de mercadonas so se transforma em capitalista quando os mínimos fi~~dos para a produção ultrapassam amplame~te o I?axI~.o medieval". Mas aqui o autor de O Capital, tnbutan~ dos conhecimentos históricos de sua época, confundia os artesãos com os grandes mercadores, que pouco se preocupavam, como veren:os, com as ~egulamentações das corporações, e subestimava consIderav~lme?te.a extensão qualitativa e quantitativa de sua influência econômica e social. Certamente, não se deve esquecer que a economia medieval permanece fundamentalmente rural: ~as cidades o artesanato predomina, os grandes negócios não passam de uma camada superficial; mas: pelo volume de dinheiro que ele maneja, pela extensao de seus horizontes geográficos e econômicos, por seus mé~odos comerciais e financeiros, o mercaoor-banqueíro medieval é um capitalista. Também o é por seu espmto, gênero de vida e posição na sociedade.
CAPÍTULO II
O papel social e político
Mercadores e cidades - Quaisquer que tenham sido as origens dos grandes mercadores medievais, uma coisa é certa: seu poder econômico está ligado ao desenvolvimento das cidades, centros de seus negócios. É igualmente no contexto urbano que se vão estabelecer sua influência social e seu poder político - conseqüência e garantia de seu poder econômico. Conquanto essa evolução não tenha seguido o mesmo ritmo, conhecido um perfeito sincronismo e tenha tomado formas diferentes.ipode-se dizer que no século XIII as cidades são dominadas política e socialmente pelos grandes mercadores. Sem dúvida, o desenvolvimento comunal não se confunde com o desenvolvimento dessa classe, muito embora ela tenha desempenhado ali um papel capital e tenha sido o seu principal beneficiário - em Gênova, por exemplo, a associação dos homens de negócios, a "compagna", se torna uma comuna já em 1099, e, no domínio alemão, o conselho (Rat) se identifica com os grandes mercadores. Essa classe mercantil chegou a tais resultados através das complexas relações com as demais classes e categorias sociais: nobreza, artesãos, operários, camponeses - sem contar a Igreja, de que falaremos no capítulo seguinte, e as autoridades políticas superiores, senhores e monarcas.
I. Papel social dos grandes mercadores
1. Mercadores e nobres - Em face da nobreza, houve luta, eliminação
ou assimilação. 41
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