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Portuguese Pages 86 Year 1985
A uiis Carlos
Prestes
O Revolucionário. O conservador.
O demônio. O crente. O militar. Pau Paul lo o Custódio.
O anti-militarista. O guerrilheiro. O Senador. O octogenário.
e
O vigoroso. Prestes.
2º. EDIÇÃO a
PAULO CUSTÓDIO
na lu Co a ia, tór his da ha rc ma r io ma da te an nd ma co O Prestes, O chefe da rebelião de 35, vulgarmente conhecida como Intentona. O homem que apoiou de eia cad a um de tro den ava est da ain do an qu gas Var Teia 000 dg ga jairo (guto [ESSO ÇÃO) Sri oro deP Eco acima do interesse público. O chefe comunista que
pro era Ta Toa aDR tes toe oie
Roso desencadeada pelo
relatório de Kruschev contra Stálin. O primeiro nome Te Pere Lafer Ror rev sofa (o golpe de 64. O APR os otorta s. ste Pre . iro lhe rri gue O r. ado sen O . nte cre O o. ni mo de
tchê!
Editor: Airton Ortiz
Produção gráfica: ASSESSOR TEC Assessora Técnica de Empresas Ltda. Av. Capivari, 1141 — Fone 49-4769 A coleção “Esses Gaúchos” faz parte dos projetos culturais alusivos às comemorações do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha e conta com a participação dos seguintes orgãos:
— RBS — Rede Brasil Sul de Comunicações
Projeto / e Ialento Banco EurorEu BrOSÁOIFO (O) Paulo Custódio
Todos os direitos desta edição estão reservados À Tchê! Comunicações Lida.
Av. Capiravi, 1141] — Porto Alegre — RS Fone 49.0340 Impresso em Março de 1985.
O SS
Concepção: Airton Ortiz Planejamento editorial: Mário Goulart Edição de texto: Ernani Ssó Planejamento gráfico: Jaca Edição gráfica: Fetter Capa: Roberto Silva Caricatura de capa: Ronaldo Ilustrações: Canin, Fetter Fotos: Gentileza do Jornal Zero Hora Revisão: Paulo Custódio Montagem e fotolito: Pedro Sierra
a
COLEÇÃO ESSES GAÚCHOS
Obrigado ao Bier pelas fotos da Coluna saindo de Santo Ângelo, à Elma Santana pela autobiografia do tenente João Alberto Lins de Barros, ao professor
Joaquim Felizardo, pela abertura do seu precioso arquivo, ao Mário Goulart pela cópia da participação de nascimento de Prestes, ao Luís Fernando Veríssimo pelo original do poema de Yeats, e a Dulphe Pinheiro Machado, cujas sugestões e informações duplicaram o possível valor que este ensaio possa ter. Obrigado especial à biblioteca do sindicato dos bancários, esuas simpáticas
e eficientes bibliotecárias, à livraria Palmarinca e seu atualizado acervo, à Biblio-
teca Pública e suas abnegadas funcionárias, e ao capital financeiro internacional,
cujo apoio vide pág. 4 - facilitou o projeto Esses Gaúchos.
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“Pessoas que me conhecem no meu atual ceticismo se surpreendem que eu pudesse ser ou tenha stdo, comunista na juventude (...) Respondo com outra pergunta: como é possível não ser, ou não ter sido comunista no Brasil (...)?” (Paulo Francis, em O afeto que se encerra) ou,
“Vou falar de mim a propósito de Shakespeare”. (Anatole France, explicando seu subjetivismo na ctítica literária) OU,
“Que guria ruim pra passar fome essa!”
(Minha avó, lá pela década de 30, comentandoa tremedeira de uma das suas filhas, às dez horas da ma-
nhã, por fome)
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z
PÁG .13 CAPÍTULO
1
e qu ma ti úl a é a, nç ra pe es da A Coluna morre? PÁG. 34 CAPÍTULO 2
de da li de fi à o, ui nl co o, uc lo o nt te in Do PÁG .47 CAPÍTULO 3
Um toque pessoal, político, portanto, ou vice-versa PÃG .58 CAPÍTULO 4
Materialismo, comunismo, capitalismo, Brasil PÁG .69 CAPÍTULO 5
Depoimentos históricos, três documentos prestistas e depoimentos atuais
EE
1922
1927
lho, no Rio de Janeiro. O vfo
Gaiba, na Bolivia. Trabalha como engenheiro na construção de estradas. Em dezembro en-
1924
28 de outubro. Levanta seu batalhão em Santo Ângelo, contra o Governo Artur Bernardes, é é designado comandante das
forças revolucionárias da região
missioneira, no noroeste do RS.
Luis Carlos
Após duros combates, as tropas de Prestes marcham em direção à foz do Iguaçu, onde se junPrestes.
NASCIMENTO
tam às forças provenientes de São Paulo. Inicia a famosa
marcha da Coluna que poste-
Porto Alegre, a 3 de janeiro de
riormente levaria seu nome. O
Filho do capitão Antônio Perei-
cado pelo secretário da Coluna, o capitão Lourenço Moreira Li-
1898,na rua Riachuelo.
ra Prestes e Leocádia Felizardo
Prestes. Mulher avançada para
o seu tempo, escandalizou a família por querer ser professora
diário deste episódio foi publi-
ma,
com
Prestes.
o titulo A
Coluna
em
contato
com
o
PCB
através de seu secretário geral Astrojildo Pereira, e começa a estudar o marxismo.
1930 Maio.
e
tra
ee meme
direta.
Lança
o Manifesto
de
Maio, rompendo com os Tenen-
ee e
o impede de uma participação
Fevereiro. O primeiro exílio, em
-
Participa da conspiração preparatória do primeiro cinco de ju-
NOME
mm
IDENTIFICAÇÃO E ROTEIRO
tes, acusando Getúlio Vargas de
representar mera substituição de uma oligarquia por outra.
1931
Parte com toda a familia para a URSS, onde é contratado co-
mo engenheiro, onde fica até 1934, atravessando os dificeis anos do quinquenal,
primeiro
plano
e trabalhar, aspiração absurda
para uma moça da sua classe —
média alta — no século passado. Foi na sepultura de dona
Leocádia que Pablo Neruda recitou o poema Dura elegia: “Sefora, hiciste grande, más grande a nuestra América/Le diste
un rio puro, de colosales aguas/Le diste un árbol alto de infintas raices/un hijo tuyo dig-
no de su patria profunda”, Prestes não recebeu permissão do
governo Getúlio para assistir ao
volucionário, político sério.
e nm Do
curso brilhante, conquistando o primeiro lugar. Depois, foi re-
sra
Diplomado engenheiro militar, aos 22 anos de idade, com um
o
PROFISSÃO
orcg
1942.
O
enterro dela, em
1934
1958
Brasil, e no final desse ano re-
gressa clandestinamente ao Brasil.
Março. O movimento democrático readquire força suficiente para que os comunistas voltem à luz do dia, apesar de conti-
1935
nizarem. É revogada a ordem de
Ingressa oficialmente no PCB, então Partido Comunista do
Derrotada a insurreição de novembro, Prestes é preso junto com sua companheira Olga Be-
1980
prisão preventiva existente contra Prestes.
munistas,
Um grupo sai do PCB e funda uma dissidência à sua esquerda,
te isolado.
usando o antigo nome do partido, o PC do B.
1942
1964
preso nove anos, absolutamen-
Apóia
publicamente
que o mantém
Golpe. Volta à clandestinidade,
Getúlio,
agora agravada com sérios problemas internos no PCB.
preso, quando
este resolve enviar tropas para lutar contra o nazi-fascismo na Europa, pressionado por mani-
1971
Por decisão do CC, Prestes vai
festações de massa.
para o exílio na URSS, onde de-
senvolve intensa atividade politica através de congressos de solidariedade e denúncia aos per-
1943
É eleito, à sua revelia, secretáriogeral do PCB.
1945
Dezoito de abril. É anistiado e
Com o advento da guerra fria,
o anti-comunismo ganha força
no Brasil. Em
maio o PCB
é
posto na ilegalidade e em janeiro do ano seguinte os parlamen-
tares comunistas têm seu man-
dato cassado. Prestes entra num
periodo de clandestinidade que
dura dez anos. Muitos anos depois declararia ter sido engana-
do pela cúpula do partido e que a clandestinidade foi desnecessária,
seu verdadeiro
objetivo
sendo o afastamento de Prestes
da direção.
atacando
violenta-
mente o CC do PCB, a quem
acusa
de direitista e passivo
frente à realidade.
1982
Novembro. Apóia Brizola nas eleições para o governo do Rio e ganha, mas logo rompe com
o governador “por suas tentativas de conciliação com tadura”,
a di-
1984
Outubro. Comemoração, em todo o país, dos sessenta anos
da Coluna, só agora possível porque seu principal lider em 34 estava
trabalhando
na União
seguidos da ditadura.
1979
proscrição do PCB, em 64 em
ra. Já no aeroporto profere vio-
1947
Lança c panfleto Carta aos co-
Soviética, em 44 preso no Rio de Janeiro, em 54 em rigorosa
Outubro. Volta ao Brasil, anistiado, junto com muitos outros integrantes da esquerda brasilei-
solto, iniciando uma campanha popular pela legalização do PCB e por uma Assembléia Constituinte. Em dezembro é eleito senador pelo então Distrito Federal e deputado por vários estados da federação.
citando nominalmente os dez membros do Comitê Central assassinados pela repressão politica.
nuarem proibidos de se reorga-
1961
nário Prestes, a qual é deportada para a Alemanha no sétimo mês de gravidez. Prestes fica
lento discurso contra O governa,
clandestinidade nova
imposta
clandestinidade
pela
ainda
mais severa devido ao golpe, e
em 74 no exílio novamente na
URSS.
Nota
Prestes recusou-se a responder questionário para este livro argumentando que discordava de seu conteúdo, o qual estaria coonestando — o termo é dele — caso uma entrevista sua fosse nele publicada. Uma das afirmações que ele julgou equivocada foi a de que as mulheres, no comunismo primitivo, também eram repartidas, se não iguali-
tariamente, ao menos de maneira bem mais comunal que a permitida pe-
la nossa sociedade — excetuando as prostitutas. O texto realmente possibilitava uma má interpretação, por isso a frase
“era dividido igualitariamente..:” foi substituída por uma mais apropria-
da: “.. era usufruido por todos..”
Como essa afirmação é ciência materialista clássica (mais precisa-
mente, Engels em seu A origem da família, da propriedade privada e do estado, onde o companheiro de Marx afirma que a monogamia surgiu em decorrência da propriedade privada, a qual gerou o direito de herança, cujos legatários viram na posse exclusiva de uma mulher a única maneira de ter certeza que estariam legando seus bens a seus filhos legítimos) acredito que foi a linguagem um tanto dúbia e irreverente que desagradou Prestes.
Engels: “A concepção tradicional conhece apenas a monogamia, ao lado da poligamia de um homem e talvez da poliandria de uma mulher, silenciando — como convém ao filisteu moralizante — sobre o fato de
que na prática aquelas barreiras impostas pela sociedade oficial são tácita e inescrup“ilosamente transgredidas. O estudo da história primitiva revela-
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A origem da família, ..., pág. 31.
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nos, ao invés disso, um estado de coisas em que os homens praticavam a poligamia e suas mulheres a poliandria, e em que, por consegiiência, os filhos de uns e outros tinham que ser considerados comuns”.
CAPÍTULO
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A coluna da, esperança, é a ? e r r o m e u q a m i t úl
13
O comunismo é antigo. Tudo que existia “antes”, de alimentos a peles, de frutas a mulheres — e homens — era usufruido por todos os membros da tribo. Se o chefe ficava com mais, é outra história. O fato é que a igualdade é um dos sonhos mais antigos da humanidade, tão antigo quanto a vontade de ter mais, e aquicomeça o problema. Este mais tem que ser obtido em detrimento dos outros, não cai do céu, e quando o homem descobriu a técnica para multiplicar os resultados de sua força de trabalho, a desigualdade passou a ser inerente ao(s) sistema(s). Surgindo o capitalismo ressurgiu sua antítese inevitável, agora armado de todo um instrumental teórico e prático criado pelo próprio capitalismo, sistema que, segundo seus adversários, comunistas ou não, cria o veneno que o destról. No Brasil, falar em comunismo é falar em Prestes. Gaúcho às antigas,
às direitas, como se dizia, engenheiro por vocação e militar por necessidade — sua mãe viúva passava grandes dificuldades para educá-lo e às suas quatro irmãs; o Colégio Militar era gratuito, dava prioridade para órfãos de militares e ainda fornecia alimentação e vestuário para os alunos pobres —, idealista no bom sentido, real, adotou uma doutrina que dá uma visão total do mundo, explicações brilhantes para o passado, presente, e previsão com boas possibilidades de acerto para o futuro da humanidade, e que exige uma disciplina de seus seguidores, disciplina física mas principalmente mental, de saber raciocinar com contradições sem perder o centro da questão. Doutrina assim tinha tudo para atrair a um ex-católico, filho de pai ateu, vivendo num país periférico de um centro em crise econômica e moral, precisando, o mundo, o país e o homem, de um novo sentido para a vida, de algo que dê consistência ao ato de existir numa época em que tudo parece se esboroar, e em que esse esboroamento aparece muito mais nitidamente
que em épocas anteriores. 14
“O coronel Pedro Dias de Campos Um dia resolveu ele mesmo acabar com a revolução Fez um plano fabuloso sobre um mapa da região (...) Deu as ordens de combate: Arrasamento dos rebeldes numa certa posição
(..)
Quando clareou o dia de pesada cerração Viu-se que os batalhões do coronel Pedro Dias de Campos Estavam brigando entre si numa grave confusão Prestes fez manobra Estava longe Tinha poupado a munição?
(Raul Bopp, Expedição, 1924)
O velho começou cedo. Quandose preparava para sublevar o batalhão dos ferroviários de Santo Angelo, em 24, mandou uma mensagem à mãe declarando-a responsável pela sua atitude, pois o tinha educado em rígidos padrões morais, ou seja, só adotando o marxismo tempos depois, o comunismo de Prestes começou em casa, empírico, através da simples indignação contra injustiças. “Por um fim às oligarquias que dominavam a República Velha”, eis um resumo do programa tenentista em que Prestes foi um dos expoentes, e que resultou na Coluna com seu nome. Uma olhada no programa revolucionário dá uma idéia do que era o Brasil do início do século: “acabar com os impostos exorbitantes, a desonestidade administrativa, a mentira do voto, o amordaçamento da imprensa, o desrespeito à autonomia dos estados, a falta de legislação social” e querendo “ensino primário gratuito e ensino profissionalizante, voto secreto e obrigatório, castigar os defraudadores do patrimonio do povo..” A imprensa não está mais amordaçada, há uma legislação social, o ensmo primário é gratuito, o voto é secreto, enfim, nossa imprensa, que para ficar bem com os poderosos do dia se auto-censura mais do que faria qual-
15 Ecgia +
»
br
mais io, már pri ino ens so nos S, INP a gic trá ou lo, ícu rid so nos quer censor, no qual quem l, tora elei a tem sis so nos € aio agu par ou ano ivi bol o que do atrasa tui a ganha, pra levar, tem que botar a boca no mundo(*), tudo isso consti prova do quanto o país mudou. a, Também exigiam liberdade para os municípios, ou reforma tributári aem linguagem atual, “dinheiro gerado aqui fica aqui”, lema mais tarde neg inistratido na prática pelo governo de Vargas, que teve no centralismo adm
vo a alavanca que impulsionou a industrialização brasileira. O tenentismo foi um movimento essencialmente pequeno-burguês. O upaís impedido de importar devido à primeira guerra mundial, suas estrut ras arcaicas colidiram com as novas relações de produção que surgiam com a modernização necessária para substituir as importações. Também era “sentimental”, sem coesão ideológica, produzindo uma
esquerda e uma direita, a esquerda representada por Estilac Leal, ministro da Guerra por breve período no segundo e nacionalizante govemno de Getumem de ho um t; lar Gou o Joã ho, bal Tra do ro ist min o com to jun ndo cai lio, senado ao PC do ato did can , rêa Cor o fin Tri e ; sta uni com ser sem da, uer esq e à câmara em 1945, pelo RS, elegendo-se deputado.
durante Pela direita, Cordeiro de Farias, interventor de Getúlio no RS Guerra, e Fio Estado Novo, idealizador e fundador da Escola Superior de Estado Novo linto Miller, desertor da Coluna, chefe de polícia também no e presidente do senado na ditadura Médici.
e enorPrestes: Eu era um homem ainda pouco lido e com uma vontad seguir isso. A Come de construir um Estado justo mas não sabia como con e passei. Hoond por a éri mis a i hec Con . mim a par ima íss ant ort imp foi Juna hum remédio pamens passando fome, outros sem roupas € muitos sem nen seria a simples não que -me ceu ven con ível terr dro qua e Ess s. nça doe ra suas sos problemas. substituição de Bernardes por outro que resolveria nos is — alguDois anos de luta incessante contra as tropas governamenta de São Luiz os, rid cor per os etr lôm qui mil co cin e e vint e — as ári mas mercen s do Exército e das Missões, no RS, onde fundiram-se Os corpos sublevado ligados aos maas forças dos chefes civis remanescentes da revolução de 23, hecicon s mai os — as Alt ras Ped de o tad Tra o com s ado orm onf inc e s ato rag do Sul, são exemplos nde Gra Rio e iro Jane de Rio no , ores rnad gove para ões deiç (*) As últimas capacidade de reclaou m age cor a il, Bras no ções elei em têm, que tal capi ia importânc típicos da mar na hora certa.
16
dos atualmente são Honório Lemes e Zeca Neto — a La Gaiba, na Bolívia, onde houve adeposição das armas — no sentido figurado, as garruchas continuaram nascinturas — passando pelo sertão nordestino e os pântanos matogrossenses — já sem os caudilhos, que recusaram-se a atravessar a fronteira com Santa Catarina alegando que sair do RS equivaleria ao exílio — onze anos antes de Mao iniciar sua grande marcha na China,tudo isso resultou, além da projeção nacional e internacional de Prestes, numa cacetada quase fatal na malfadada velha república. Curiosidade: quando a Coluna viu-se forçada a abandonar o Paraná
eentrar no Paraguai, estava seiido atacada por todos os lados por forças muito
superiores comandadas pelo então general Cândido Rondon, que esqueceu temporariamente ou ainda não tinha adotado o lema “Morrer se preciso for, matar nunca”
Findada a Coluna, em 29, no exílio em Buenos Aires, Prestes foi pressionado pelos companheiros a ir a Porto Alegre falar com o presidente do RS e candidato da Aliança Liberal à presidência da República, Vargas: “Sob a pressão dos companheiros, fui a Porto Alegre falar com Getúlio. Cheguei de surpresa, por motivos de segurança. Disse a Getúlio: Não estou aqui para apoiar sua candidatura, porque, se o senhor for eleito, vai fazer as mesmas coisas que os outros. Estou aqui porque dizem que o senhor vai fazer uma revolução. Sou um revolucionário e quero dizer o que entendo por revolução” Naquela época eu era sectário, mas Getúlio me ouviu pacientemente durante duas horas — e eu discorri principalmente sobre reforma agrária e a luta anti-imperialista. Ele então me disse: “O senhor tem a eloqiiência da convicção”. Prometeu-me armas e recursos mas não cumpriu a promessa:
No fim de 30 Prestes voltou a Porto Alegre para cobrá-la. “Vargas desculpou-se e voltou a fazer promessas. Depois me perguntou se eu tinha lido sua plataforma, apresentada em comício, no dia primeiro de janeiro, na Esplanada do Castelo, no Rio de Janeiro. Respondi afirmativamente, ao que ele observou: “Então, agora, o senhor pode apoiar minha
candidatura” Minha réplica foi imediata: “Lamento, presidente, ter falado
duas horas enão me ter feito entender. Não vou apoiar sua candidatura, por motivos que já declinei? Prestes informa que Vargas incluiu na plataforma numerosas observações suas sobre a reforma agrária, com o que pensava atraí-lo, e dá conta, então, de defecções: 17
“Os tenentes apoiaram maciçamente a Aliança Liberal. Em novembro de 29 Maurício de Lacerda — pai do futuro deputado direitista Carlos Lacerda. N. do A. — e Otávio Brandão também já o haviam feito. Maurício informaria posteriormente que apoiava a candidatura de Vargas por determinação minha. Passei umtelegrama a Osvaldo Cordeiro de Farias pedindo que desmentssem de forma categórica a informação de Maurício. Recebi um telegrama, dias depois, em Buenos Aires: “Aguarde carta”, A carta chegou justificando o gesto de Maurício de Lacerda. Senti então que, realmente, os tenentes apoiavam Getúlio, contra mim. Eu era general sem soldado” Prestes recorda que, diante desse quadro, chamou a Buenos Aires, em abril de 1930, os principais companheiros da Coluna — Miguel Costa, Antômio Siqueira Campos (1898-1930) e João Alberto Lins de Barros (1899-1955), ocasião em que lhes submeteu um manifesto à Nação. “Era o Manifesto de Maio, que agora tem 54 anos. Ali eu fazia uma
análise crítica do quadro nacional, afirmando que não poderia concordar com uma guerra civil que só beneficiaria a oligarquia gaúcha, mineira e paraibana, sem trazer qualquer contribuição positiva à luta do povo brasileiro. Neste momento, rompi com os tenentes e fiquei completamente isolado. Os tenentes esperavam que Getúlio fosse vitorioso — e eu também, pois sentia o descontentamento popular. Mas não podia atirar sobre o povo os riscos
de uma guerra civil, que, naquele momento, só beneficiaria uma oligarquia” Prestes não considera o movimento de 1930 uma revolução, porque não houve mudança de classes no Poder: “Houve simplesmente a substituição de uma oligarquia por outra; a paulista foi arredada do governo central pela oligarquia gaúcha em aliança
com a mineira”
Quando tornou-se marxista Prestes irritou e/ou decepcionou alguns de seus companheiros. O tenente João Alberto Barros, que seria nomeado interventor de Getúlio em São Paulo no governo provisório de 30, dá sua
visão do episódio em suas memórias: “As divergências havidas em Goiás entre Prestes e Miguel Costa, que pareciam ter desaparecido até a emigração da Coluna, principiaram nova-
mente a surgir. Enquanto Miguel continuava pacientemente aguardando o
desenrolar dos acontecimentos políticos no Brasil, Prestes manifestava-se cada 18
pen dis que el afáv to tra o e, part sua de até, , era rec apa Des . dia mais irritado por da iva mot são cus dis uma a inh rev sob ndo Qua . una Col na os, sava a tod tre e sentenqualquer fútil divergência de última hora, eletomava ares de mes o posto de ciava — quase ordenando — a orientação a seguir. Dir-se-ia que como nós, chefe lhe fazia falta, que ele não podia viver assim anonimamente Brasil, ao o iad env rio ssá emi um de a volt a ndo era esp fio, a s dias e semana iam ond esc as ist sim pes ões vis pre e as idéi s Sua ! ões uaç sit as nov r para estuda s desde os ste Pre a ado lig ra, uei Siq r. dize ria que nos não da ain ele algo que go. ami or mai seu do ude atit ela aqu e ent tam cre dis ava ent com bancos escolares, o. Fora óri dit tra con , hos ric cap de io che — me iadiz — mo mes Ele era assim r alulho ome , bém tam ser, a a uar tin Con tar. Mili o égi Col do no o melhor alu para as poocu e s are lug ros mei pri os ra sta qui con e ond tar, Mili ola no da Esc positivista arDe na. cio por pro nte uda est de a vid a que s ente sali s sições mai por influência o, égi Col no e, a-s nar tor a, ern pat al ctu ele int a anç her , doroso como são ver con a ess ava lic Exp o. sim dis lta exa co óli cat z, Cru do professor nas procissões, opa ir vest de o rem ext ao a gar che e el táv opi ins dor um pen novamente ao do tan Vol . sas mis nas los íbu tur tar agi de o, terç de ar and de materialista ateísmo, já no fim do curso da Escola Militar, convertera-se em mo, não se dogmático. Não admitia situações intermediárias e, por isso mes desseu o fiar con em s, soa pes ras out de o açã atu a ar ard agu em a conformav
tino a mãos alheias. s não “Aquele novo personagem quese estava manifestando em Preste pros ita órb s dua em dos nta pla s, nte lha bri s, uro esc os olh s Seu va. ada me agr adiairr que mo Co l. ova to ros um de ada rel ama e pel na vam lça rea , fundas vam magnetismo, prendendo a atenção dos visitantes € companheiros que ava ares vinham do Brasil para nos ver e nos falar. Inflamava-se então, tom per não mas es, int ouv de ero núm ao te ren ife ind a, nav tri dou e cos catedráti doando distrações.
“Miguel Costa só seabria completamente comigo. Não queria comentar go, ami seu to mui o iaSab s. ste Pre do es' uic luq 'ma as os mp Ca ra uei Siq com ia acabar não ilo aqu que de a tez cer a o, ant ret ent ha, Tin lo. oámag a tav evi de 1924, ção olu rev da ais ide dos o iad orc div una Col da fe che o já tia Sen bem. ham de cocercado de gente nova, de elementos estrangeiros que nada tin mum conosco. em Bueo niã reu uma ou voc con s ste Pre o, mai de s dia ros mei pri s “No
Siqueira e eu eu. e ra uei Siq , rez Jua r ece par com am eri dev l qua à es, Air nos
19
pudemos chegar a Buenos Aires utilizando um avião postal da companhia francesa Latecoere, mas foi impossível a vinda de Juarez, que, no momento, se encontrava na Paraiba. “Togo que nos teve a seu lado, Prestes expôs claramente o motivo da reunião. Queria declarar-se contra o movimento que organizávamos e dizernos que se convertera ao credo comunista. Levara algum tempo para tomar aquela decisão — disse-nos — estudando as causas politicas e econômicas da atualidade brasileira,mas agora estava convencido de que a revolução burguesa, ao invés de um bem, constituiria um mal para o Brasil. Novamente inflamado pela bandeira que desdobrara, agitou-se numa argumentação confusa para nós, bisonhos no linguajar marxista, querendo convencer-nos a seguir o seu exemplo. De nada serviria para o povo — asseverava — aquela revolução que queríamos desencadear. O Brasil precisava de uma reforma de base, como só o comunismo podia fazer, e não de um simples pronunciamento armado a fim de empossar um candidato vencido que aceitara, aliás, o julgamento das urnas. Passaria, o Governo Federal, das mãos de uns politicos para as de outros, com a nossa cumplicidade em troca de meia dúzia
de posições subalternas e de uma anistia que tacitamente recusáramos por tantos anos. Não havia alternativa senão segui-lo, se é que não estávamos vendidos aos capitalistas. Recuperara a combatividade e o ardor das discussões dos velhos tempos, falando mais com o tom de quem quer ser obedecido do que compreendido. Parecia um fanático, transbordando de violência contra adversários e amigos da véspera e colocando todos, sumariamente, na classe de exploradores do povo. Um fanático e não um líder de oficiais do Exército responsável pelos compromissos já assumidos com numerosos
companheiros. Não escapou à sua diatribe o próprio Juarez Távora, acusado de carola, de retrógrado e de falso revolucionário. “E porque fazer exceção a nós três ali presentes?” observou Miguel Costa. Prestes exasperou-se. Por um momento julguei que ele e Miguel se iam empenhar em luta. Entretanto, Miguel, cuja bravura pessoal era por demais conhecida de todos nós, não se alterou, continuando a fumar um cigarro de palha e a fitar ironicamente o antigo chefe de nossa Coluna. “Siqueira tentou acalmar Prestes, puxando-o para um lado. A influência pessoal que ele exercia sobre Prestes era enorme. Eu fiz o mesmo com o Miguel. Naquela tarde não saímos, apesar de não haver jantar em nossa moradia. Habitualmente comíamos pelos restaurantes da redondeza ou tomáva-
20
mos café com pão na própria casa. A discussão continuou pela noite a dentro, sem qualquer resultado prático. Seria absurdo entretanto asseverar que os argumentos de Prestes contra o movimento revolucionário no Brasil não nos abalaram um pouco. Havia algo de verdade no que ele dizia. Estávamos de mãos dadas com os nossos adversários da véspera, os inimigos da Colu-
na, e não podíamos esperar deles muita coisa. O próprio doutor Artur Bernardes, contra quem havíamos lutado durante anos, proclamava-se, agora, revolucionário ardoroso em Minas Gerais. Evidentemente, aquela não era
dia “nossa revolução”; mas, que fazer? Tinhamos que jogar a cartada e acre tar em políticos como Maurício Cardoso, Osvaldo Aranha, Flores da Cueu nha, Luzardo, João Neves, para só falar nos do Rio Grande, com quem entrara em contato mais estreito. Apesar de ter-me avistado pouco com O doutor Getúlio Vargas, só podia testemunhar dele uma atitude leal e carinhosa para conosco.
“Por outro lado, como conceber, agora, uma conversão em massa ao
comunismo? Essa idéia de Prestes era absolutamente louca. Não havia, em nenhum de nós, a mais ligeira inclinação para tal doutrina. A simples leitura do “Capital”, obra que Prestes considerava básica, não bastaria para mudar as nossas convicções e sentimentos. “Surgiram, porém, as divergências fundamentais quando Prestes emitiu opinião sobre a família. Para ele, Deus, Pátria e Família deviam considerar-
se ficções, uma espécie de ópio com que os reacionários anestesiam o povo. Não pude conter-me. Chegara o momento de entrar também no debate. Na-
da tinha a opor às doutrinas econômicas de Marx, que aliás, ignorava,mas parecia-me demais que ele, Prestes, umcelibatário, viesse assim arrasar o con-
ceito e o sentimento quea família nos merecia. Siqueira, o único que mantivera a calma, também se exasperou quando Prestes, ao desenvolver o seu
programa, se declarou, taxativamente, contra o pagamento da divida externa. “E a esquadra inglesa?” inquiriu. “Vamos para o interior”, respondeu Prestes. “Ora, seu Prestes, assim pensaram os índios quando chegou Cabral,
e ainda hoje andam pelo interior”. “Não havia mais que discutir. Prestes mostrava-se irredutível em seus pontos de vista e nós, ao invés de ceder aos seus argumentos, cada vez mais
deles nos afastávamos. Era preciso, agora, neutralizar a sua ação, retardar o seu pronunciamento comunista até que tivéssemos tempo de desencadear
a luta. Foi ainda Siqueira quem obteve, de Prestes, o prazo de um mês para 21
que tentássemos a revolução. Ele, Prestes, esperaria. Certo do nosso insucesso, não tinha pressa. Esperaria. Eis a máxima concessão que obtivemos do nosso chefe, do homem por quem havíamos trabalhado em conjunto, que transformáramos em mito, em bandeira, em legenda, à custa dosnossos próprios feitos, recalcando bem no fundo nossas vaidades de lutadores. Recebíamos, realmente, em paga, muito pouca coisa: uma espera de trinta dias, finda a qualele teria o direito de nos ferir pelas costas, erguendo a bandeira da revolução vermelha. Seria, então, como na Coluna, chefe absoluto dando ordens e não as recebendo de ninguém. “Traumatizados moralmente, Siqueira, Miguel e eu saímos para procurar a agência Latecoere a fim de obter passagem no primeiro avião que partisse para o Brasil. Naquela noite, dia 9 de maio, havia um. Este avião cairia no oceano, morrendo Siqueira Campos, que também ficou chocado com a mudança do seumelhor amigo desde os bancos escolares: “Não sou profeta; é impossível dizer se alguém faz falta antes do momento que comprova a sua falta. Para nós, entretanto, revolucionários de sempre, soldados da Coluna, ele é único. Sofro como sofreria se me arran-
cassem, a frio, uma parte de mim mesmo! É impossível permitir que Prestes
nos abandone assim! Se fosse por uma questão de divergência de tática, ainda o sentiríamos dentro da Revolução, cuja vitória lhe deverá tanto. Porém, para desertar? Declarar-secomunista? É impossível! Há uma confusão monstruosa em tudo isso! Prestes sempre se mostrou extremadamente, intransigentemente, nacionalista. Na Coluna foi quem vetou os voluntários paraguaios... E, em certa oportunidade, encontrando-se com Horacio Olhanar-
te, ministro das Relações Exteriores da Argentina, deste ouviu um “o fereci-
mento de gaúchos argentinos para auxiliá-lo na lutacontra Bernardes”. E Prestes respondeu com rudeza: “No dia em que um estrangeiro tomasse armas contra o meu governo, euabateria o estrangeiro antes de continuar a combater o meu governo”. Isso é lá reação de comunista?!” Voltando ao marechal Rondon: o historiador oficial da Coluna, advogado Lourenço Moreira Lima, diz: “Quando cheguei ao rio Madeira, em 1918, soube, com espanto, que o grande sertanista era dono de latifúndios em Mato Grosso, e não pagava regularmente os empregados subalternos, contra os quais cometia toda sorte de violências (...). Diz-se abertamente em Mato Grosso que ali ninguém confia na correção dos seus negócios comerciais (...) que dentre as muitas negociatas feitas por ele nesse estado, avulta
22
para Cuiaoas Lag s Trê de ro fer de a rad est uma de o uçã str con ada jet a da pro regando ent , ana ric ame tenor hia pan com uma a deu ven o égi vil pri o bá, cuj o antivez Era . (...) al ion nac o óri rit ter do a sim tís vas a zon uma ao estrangeiro a cobrir par ios nár rdi rao ext os dit cré de ra rtu abe a s ano os os tod go seu pedir invado sen , tas con de s çõe sta pre as tic tás fan s sua nas os cad ifi os déficits ver riavelmente satisfeito.” passagem uma há 4, 193 em vez ra mei pri a pel ado lic pub o, livr te Nes uma expressão de o açã cri a pel el sáv pon res a é , rio trá con em va pro que, até muito comum no linguajar brasileiro até hoje. cho. “Acampamos em Buracão, junto a um pequeno ria apresentava nco tro o cuj , ore árv ha vel uma de a cop a sob ou fic QG “O tee ter sido arpor nde gra de mal ani um ado reg esf er hav se e nel de ios vestíg ranhado por fortes unhadas. licou que “O doutor Athayde, que é um notável caçador teórico, exp as que afiavam onç das e m ava reg esf se ali que as ant de m era is sina s ele aqu cho, certamente, as garras para as suas empresas. E adiantou que naquele ria esses felinos costumavam matar a sede.
a corrente que por , eca can de ho ban um o and tom eu ava est e, tard “A
oras pesahad ral met de s ada raj es fort i ouv ndo qua o, rsã ime a ia mit per não das no flanco esquerdo. “ Terá chegado a hora da onça beber água?, disse comigo. Neste documentário percebe-se que por mais idealismo que mova uma causa, a realidade da guerra e da miséria tem leis próprias. Muitas vezes a Coluna era recebida a bala pelos moradores de vilarejos miseráveis a quem o governo Bernardes oferecera dinheiro pela cabeça dos rebeldes, junto com mentiras tipo “cortam as cabeças dos homens, estupram as mulheres: Em represália os revolucionários ateavam fogo nos casebres, dando mais motivos para a contra-propaganda bernardesca. Este trecho é bastante esclarecedor sobre a ferocidade das forças governistas: “O juiz paroquial Celso Perregon e O advogado José Monteiro, (...) viram nas mãos de um cangaceiro de nome Teixeira um rosário de oremortos lhas cortadas por esse bandido aos cadáveres dos nossos companheiros atiem combatee cujas covas os bernardescos abriam invariavelmente para Berrar os corpos aos urubús, sistema esse, usado sempre pelos defensores de nardes, por mero espírito de ferocidade.
23
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“Aquele rosário macabro era exibido publicamente nas ruas de São Luiz de Cáceres e continha mais de trinta orelhas. “Teixeira fazia a todos que admiravam aquela preciosidade a história de cada umadas suas contas dizendo os nomes dosseus donos: majores Lyra e Barros, capitão Philó e muitos outros. “Perregon e Monteiro me descreveram algumas dessas orelhas: a do major Barros, grande e morena; a de Lyra era mulato; a de Filó, igualmente pequena e bem feita, de branco, etc., etc. “De fato, as orelhas de Lyra e de Philó chamavam a atenção, por serem pequenas e bem feitas.”
“A guerra no Brasil, qualquer que seja o terreno, é a guerra do movimento. Para nós, revolucionários, o movimento é a vitória. A guerra de reserva é a que mais convém ao governo que tem fábricas de munição, fábricas de dinheiro e bastante analfabetos para jogar contra as nossas metralhadoras” É o guerreiro Prestes falando, em carta escrita durante a marcha, sobre a melhor tática a ser usadana Coluna. Cologue-se China ou Bolívia no lugar do Brasil e otexto poderia ser assinado por outros dois guerreiros célebres, Mao e Guevara.
Um fator na tática guerrilheira reforçado pela Coluna foi o mais mi-
nucioso conhecimento do terreno. Prestes elaborava o mapa da região que ia atacar coma ajuda dos potreadores, elementos encarregados de requisitar cavalos — uma grande arma da Coluna— e para isso destacavam-se do grosso da tropa, percorrendo distâncias de até cem quilômetros.Na volta informavam sobre os menores acidentes topográficos, estradas,rios, tomando possivela confecção de um mapa do terreno sobre o qual a Coluna movimentavase com desenvoltura. Esses potreadores, na maioria, eram homens analfabetos com forte senso de observação. Prestes diz que a principal causa do insucesso de Guevara na Bolívia foi o absoluto desconhecimento do terreno. As proezas dos combatentes de 24/27 soam inverossimeis atualmente,
a olhos e ouvidos acostumados a ver qualquer acontecimento em qualquer lugar do mundo transmitido ao vivo pela televisão. “Como é que não pega-
ram esses caras?”, pergunta-se. A maior marcha de infantaria/cavalaria da história, fazendo até sessenta quilômetros por dia, possibilitou a Prestes “adquirir a necessária ro-
24
bustez, ou morreria”. Como imaginar isso, quem tem nos automóveis, ônibus e aviões uma segunda natureza? Caio Prado Júnior resume o efeito da Coluna: “Qundo ela depõe armas e encerra uma grandiosa trajetória, o país estará maduro para o ato final da derrocada de suas decrépitas instituições. Seguir-se-á a trégua do quatriênio Washington Luís que, aproveitando-se de momento de euforia econômica internacional, refletida no Brasil, tentará galvanizar a decadente República Velha. Mas, no estrangeiro, os exilados da Coluna Prestes conservavam intato o ideal revolucionário, e dentro do país, devido em grande parte à sua ação e ao seu exemplo, a agitação continuava a fermentar surdamente. Apesar da suspensão temporária de hostilidades abertas, a revolução brasileira marchava para diante. A questão da sucessão presidencial de 29/ 30 a desencadeará. E à frente do movimento armado que dará por terra com o último governo da República Velha, marcharão os tenentes da Coluna Prestes” A história também se faz indiretamente, muitas vezes nossos atos engendrando consequências que sequer imagináramos, a derrotaamargurante ou a euforia da vitória lentamente transformando-se em seus opostos, à nossa revelia e com nossa colaboração, permanecendo somente a essência do
que fizemos, a luta.
Jorge Amado: “Os homens, oficiais, soldados civis, que vinham das
cidades, na Coluna se depararam com problemas do Brasil em carne viva e viram que tinham que procurar solução para eles. Sem a Coluna não seria possível a Aliança Nacional Libertadora em 35. Sem a Coluna possivelmente Prestes teria participado do levante de 30 e talvez fosse hoje apenas um general de exército. A Coluna dá-lhe a visão exata do drama do Brasil. A ele, a seus soldados e ao Brasil todo”
Prestes afirma que a marcha da Coluna poderia ser estendida ainda por muito tempo, mas seu comando não viu sentido em continuá-la para uma simples troca de homens no poder. Além disso, a guerra civil era profundamente prejudicial ao camponês, que na maioria das vezes tinha que entregar seu patrimônio mais valioso, o cavalo, aos combatentes. E sea Coluna não o tomasse as tropas que vinham em sua perseguição o tomavam, além de toda espécie de desmandos que essas tropas praticavam.
25
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No clássico Cavaleiro da Esperança, Amadoinforma queo avô de Prestes, José Joaquim Felizardo, hoje nome de rua em Porto Alegre, proprietário da popularíssima Casa Felizardo, na rua dos Andradas do fim do século passado, “fazia abolição à sua maneira: comprando escravos com o único fito
de libertá-los, empregando fortunas nessa obra de fazer homens livres (...) Sua morte foi um dia de luto para toda a cidade. Nessa tarde de 1899 o presi-
dente do Estado ia atrás do carro fúnebre. Mas ia também uma multidão anônima, gente pobre, mulatos, viúvas e negros, principalmente negros, escravos que ele resgatara” Este livro, publicado pela primeira vez em 44, como parte de uma campanha para tirar Prestes da cadeia, tem uma história própria, devido à fidelidade com que espelha uma época e um país, através do estilo do autor, representativo de um estado de espírito. Foi acusado de mitificador de Prestes, sendo material informativo de primeira qualidade. O talento militar demonstrado por Prestes no comando da Coluna é fartamente comentado, com exemplos: “Sabendo que duas forças governistas, um batalhão da polícia paulista comandado pelo Major Artur Almeida e uma tropa de jagunços marchavam contra a Coluna por diversas direções, Prestes resolve atirá-las uma contra a outra. Parte à meia-noite do acampamento, deixando apenas alguns homens para chamarem a atenção das forças inimigas. A polícia e os jagunços irrompem sobre o acampamento, um de cada ladoe lutam entre si até as oito horas da manhã, quando se reconhecem. Mais de duzentos homens estavam mortos no campo de batalha. O major Artur Almeida suicida-se ao dar conta do seu erro! Em depoimento na Assembléia Legislativa Gaúcha, comemorativo dos
na divisa de Goiás com Mato Grosso. Quanto ao suicídio do major, Prestes declarou não dispor de elementos para confirmar ou desmentir. A intensidade das atividades da Coluna, neste relato romanceado, sugere indiretamente o motivo de seu relativo fracasso: foi um esforço sobrehumano, quesó um grupo de homens excepcionalmente motivados pela realidade brutal de seu país poderia manter por mais de dois anos. Getúlio representou, em 30, a volta à mediocridade, ao equilíbrio, ao ritmo normal das coisas humanas. Prestes é um tipo de homem que só ascende ao poder em épocas de crise radical, tipo revolução russa, emergindo em meio aos escombros de um sistema agonizante.
26
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sessenta anos da Coluna, Prestes confirmou apenas o combate, localizandoo na fronteira do Paraná com Santa Catarina, enquanto que Amado o põe
Um episódio relatado pelo tenente João Alberto dá uma idéia definitiva do que foi a Coluna. “L ogodepois do combate de Ponchita fui chamado à barraca do capitão Aristides. Queria-me consultar sobre uma intervenção cirúrgica decerta gravidade. Não era médico, nunca operara, mas o caso era urgente. Um de nossos soldados receberadias atrás umtiro na mão esquerda. Fora feita aplicação de iodo com algum atraso e a gangrena manifestara-se. A mão ferida começava a querer separar-se do resto do braço e, a dez centimetros acima do pulso, já se via o branco dos ossos. O capitão Aristides era de parecer que devíamos fazer 2 amputação imediatamente. «Não havia alternativa. O negro ouvia, calmo, a discussão. Supunhase já perdido. Estava por tudo. «A ristides considerou ainda a falta absoluta de meios. O cargueiro de medicamentos e instrumentos cirúrgicos havia-se extraviado dias antes, numa marcha noturna. Tais perdas eram frequentes nas caminhadas à noite, Cansados, os burros saíam da estrada e metiam-se pelas picadas sem que os homens encarregados de cuidar deles dessem pela sua falta. Só dispúnhamos de iodo alguns medicamentos caseiros como Maravilha Curativa e elixires à base de álcool, particularmente apreciados pela soldadesca. “[Jm canivete-faca, conhecido por 'tira-prosa”, convenientemente dentado, serviu de serra paraa operação. Durou mais de hora, pois houve mister refazer os dentes do tal canivete várias vezes. Sem anestésico, o negro aguentou firme todo aquele sofrimento. Um chumaço de algodão queimado foi colocado na ponta do braço amputado para estancar algum sangue que corria e a medula dos ossos que se escapava. “Dias mais tarde fiz uma marcha noturna com uma patrulha de oito homens para buscar um médico que residia numa pequena cidade próxima a fim de que fosse feita nova operação no braço dotal negro. Ele continuava assim mesmo a marcha a cavalo. A nova amputação, praticada com anestesia local por cirurgião capaz, salvou a vida de nosso companheiro, que acompanhou bravamente a Coluna até a emigração na Bolívia”.
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a rua 25 de julho e a Traa área entre Prestes, em Santo Angelo. Vê-se por das Saída das tropas subleva
vessa Mauá. Ao fundo, as casas do Batalhão Ferroviário.
Temos o praser de participar-vos o nascimento de nosso filho 4
Luiz Carlos,
que procuraremos educar no serviço constante da Familia da Patria e da Humanidade. Leocadia Felizardo Prestes
Antonio Pereira Prestes
P. Alegre
Moyses 3 de 110. Janeiro 3 de 1898.
138, Riachuelo.
Cópia da participação do nascimento de Prestes, com a datação positiva incluída. Contrariando afirmação de muita gente, Prestes declarou em recente entrevista
que seu pai nunca foi positivista. — Minha mãe era inimiga dessa doutrina, porque havia muito jovem, sacrificado como dirigente da igreja positivista em
perdido um irmão Porto Alegre. Não
fosse por ela, talvez meu pai tivesse aderido. O positivismo, como nbandeira, exerceu
um papel histórico importante na formação da República contra o Império, mas sua
única vitória foi ter influído na separação entre o
Estado e a Igreja. Apareceu na Eu-
ropa, depois da Revolução Francesa, para apresentar uma doutrina reacionária contra
o proletariado, tecém-arruinado. No Brasil, ao contrário, o atraso era tão grande que o positivismo aqui foi progressista!
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(abril de 1926 a fevereiro
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A marcha da Coluna através do Brasil.
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mes de del s dia tro qua los a , co an Bl m pi Ca “Em estuvieran te, sie nte vei s to en ci ve no mil un de o Febrer
Carlos Prestes, a objecto de deponer las armas volunla que concede las garantias tariamente, mediante Constitución Politica del Estado a toda persona que ingressa al territorio boliviano y de acuerdo com las seguintes clausulas:
por
las armas
Entregar
1.º —
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cada
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di fuego
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para
su defensa personal.
senores
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3.º — Las autoridades bolivianas de transito se bajo inventario. 20 — Se Jes permite llevar un rifle Winchester servirán guardar las consideraciones que senala Ja Ley de Pais. narias
Los
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entrarán
fuerzas su
revoluciosobre
tropa
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comportamiento torio y además leycs vigentes.
que deben olustrarlas
observar dentro del que están someltidas
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-— Para
constancia
y garantia
de ambas
partes
5º E
firma Ja presente acta, de Ja qual e) senor general jefe Nevarã una cópia firmada por ambas partes, com cl suscrito secretario Addoc — (assignado) Au-
se en
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Carmona
intendente
Rodó,
comandante
de
Destacamento
delegacional. General
Gencral
Luiz
MicuEL
CARLOS
Costa
Prestes”.
Texto da Ata que oficializou a emigração da Coluna para a Bolivia.
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S Luiz (R. G. do Sul) a Natal (Piaut) ..... Natal à fronteira do Cearã .................. Ceará
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A marcha da Coluna segundo seu secretário Lourenço Lima.
“A Coluna provou que o povo brasileiro, quando tem líderes confiáveis, é capaz dos maiores sacrifícios e abnegações”
— iso = Cds io ——eead
Prestes, após audiência perante a justiça mulitar.
O É mm
CAPÍTULO
2
Do “intento louco,
conluio”, a fidelidad
34
comunismo. Realmente: Imagine-se o leitor convencendo a massa da corrupção conselar, popu me regi um de ade ilid itab inev da e smo tali capi ao ente iner
guindo o poder e sendo imediatamente obrigado a tomar atitudes que conficar tradizem, à curto prazo pelo menos, o que no dia-a-dia pode signi
muito, as belas promessas de paz e pão para todos. de Este foi o drama dos bolcheviques e tem sido em boa medida o sendo todas as revoluções socialistas, da chinesa à cubana, e continuará ser enquanto permanecer teoria a maravilhosa tese marxista do socialismo uma consequência natural da derrocada do capitalismo desenvolvido, e as revoluções teimarem em acontecer apenas em buracos subdesenvolvidos como a Rússia dos czares, a China capacho das potências imperialistas anteriores à segunda grande guerra ou a Cuba bordel americano do Caribe. Do exílio boliviano, onde Estado e revoiução, de Lenin, lhe virou a cabeça, ao ler que o estado não serve à população mas à classe que está no poder — Prestes era completamente ignorante do marxismo e hoje inveja a facilidade com que os jovens têm acesso à essa bibliografia ao ingresso no PCB, na época secretariado por Astrogildo Pereira, que lhe presenteou o livro em visita que lhe fez para discutir os problemas brasileiros, foi um passo curto, e aí os problemas de Prestes realmente comecaram: enfrentar uma classe dirigente acerbamente reacionánia tendo co-
mo apoio material um partido formado por um grupo de pessoas bem obse ria misé de os sécul por da fica pidi estu o laçã popu uma s, nada ncio inte
pelo curantismo, e uma força teórica das mais poderosas já engendradas homem, mas suscetível de falhas, ou de ser mal interpretada.
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Quando lhe pediram uma definição do comunismo como condição es para apoiá-lo, no breve período parlamentar do PCB, em 45/47, Prest ifirespondeu que se dissesse o que é O comunismo ficaria mal, ou, simpl anticando, a ignorância política do povo é um prato feito para o
de r mn ai em Rpg A = ——e o maia — = = — — 0 um e— —— mm — — — -
Por exemplo: são várias as interpretações dos fatores determinantes do fracasso militar da revolta de 35. A Internacional Comunista vinha de uma posição radical — socialdemocracia igual a fascismo — para uma recuada, de frentes populares anti-fascistas, o que justificaria uma política de moderação para o PCB, mas não é o próprio marxismo que afirma que as idéias são resultantes da prática? E que os revolucionários devem levar em conta as condições específicas de seu pais? Tendo o Brasil larga tradição militarista, o partido sendo relativa-
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cravos, em Portugal. Também há a versão que aponta resquícios da mentalidade autoritária inerente ao espírito tenentista, sem confiança nas massas — em Baurú, SP, uma das exigências para participar do levante de cinco de julho de 1924 era ter boa aparência — como responsável pelo seu golpismo, ou
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bano que afirmavam que a fase da revolução na ilha era democráticoburguesa —, levando estes fatores em consideração, o ex-capitão Prestes teria chegado à conclusão de que os relatórios da IC diziam objetivamente que o negócio era uma boa quartelada, termo que apesar de ter uma conotação pejorativa pode significar uma revolução autêntica, como a dos
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mente influente no meio militar, e tendo os homens o costume de dar vivas a tudo que dá certo, mesmo que contrarie as teorias existentes — vide revolução cubana, que venceu em seu país ignorando as teses do PC cu-
ainda que a IC teria decidido que em alguns países se tentasse utilizar
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vo para a desorientação política e derrota militar.
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do necessário” — e a falta de ligação com as massas, tudo isso foi decisi-
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O certo é que o marxismo mal aplicado, neste caso, as teses da IC que consideravam a América Latina em estágio colonial e semi-colonial, sem possibilidade de aliança entre proletariado e burguesia nacional devido à inexistência desta última, a desorganização, expressa nas alucinações de alguns membros do partido — um deles confidenciou ao jornalista Barreto Leite Filho, pouco antes da insurreição: “Nós temos cinquenta mil camponeses armados em torno do Rio, prontos a entrar em ação quan-
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a estratégia de Frente Ampla para o desencadeamento de um processo revolucionário, tendo Prestes acreditado que tal linha de ação deveria ser utilizada no Brasil, onde as possibilidades de sucesso seriam bastante grandes.
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Prestes: “A versão oficial é que o levante de 35 foi preparado no VII congresso da IC, o que não é verdade. Não houve nenhuma orientação de Moscou para que a insurreição acontecesse. A responsabilidade
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é do nosso partido e do secretário-geral, Miranda, mações falsas sobre o que estava acontecendo”.
que transmitia Infor-
Esta versão é confirmada e reforçada pelo agrônomo gaúcho Dulphe Pinheiro Machado, que tem estado constantemente com Prestes des-
de que o conheceu durante seu —
de Prestes —
último exílio, em
78.
“Para caracterizar a insurreição de 35 é preciso dizer algo sobre a Aliança Nacional Libertadora. Esse movimento empolgou as massas em muitas cidades do Brasil. Era, como
o nome indica, um
movimento
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cional libertador e anti-fascista. Seu objetivo era empreender a luta anti-
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imperialista, anti-latifúndio e contra o fascismo que crescia na Europa,
princpalmente na Alemanha e Itália, com forte apoio das classes dominantes inglesa, francesa e de países da Europa central. Na Espanha preparava-se para derrubar o governo republicano. No Brasil a Aliança recebeu desde logo o repúdio da ala mais reacionária do poder e do segmento mais radical da direita, a Ação Integralista Brasileira. À força motora da Aliança era o PCB mas sua composição reunia liberais, socialistas
e independentes. Prestes foi seu presidente de honra não por ser comunista mas por ser o nome que mais sensibilizava as massas. Seu presidente foi o comandante Herculino Cascudo, oficial da marinha que não era comunista. O movimento empolgou as“ruas de tal maneira e em tal grau que O governo passou a preocupar-se com sua intensidade. Havia núcleos da Aliança em todo o país. O governo obteve do Congresso o Estado de Sítio, a Aliança foi fechada, tendo como pretexto um documento falso elaborado — depois ficou provado — pelo Estado Maior do Exército. Era o famoso Plano Cohen. Prisões em massa, perseguições e tortura era a tônica da repressão. Um movimento com tal força posto na clandestinidade teria que reagir e a única forma, segundo seus chetes, era através da luta armada. E foi o que aconteceu. Grande parte da oficialidade ligada à Aliança passou a conspirar nos quartéis e foi planejado o levante com Prestes à frente. Por problemas de falta de vigilância os planos che«aram ao conhecimento da repressão e o movimento foi deflagrado em Natal a 25 de novembro, sem ligação com os demais focos revolucionários (Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul). So-
s
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mente por esse acidente de percurso que o movimento não teve mais repercussão junto às Forças Armadas e à população em geral. De qualquer forma, segundo Prestes, foi o momento mais alto do partido, sendo o primeiro a levantar-se em armas contra o fascismo, em
franco ascenso em
todo o mundo. Ainda segundo Prestes, foi o levante de 35 que impediu a marcha batida do governo de Getúlio em direção ao fascismo, nascendo o Estado Novo, que apesar de autoritário e repressor não foi um regime rascista. Prestes abomina o termo “ntentona), que significa intento louco, plano insensato, conluio. Uma interpretação pessoal: havia condições objetivas para o levante — a insatisfação do povo — mas faltavam as subjetivas, à consciência política da massa”, Atualmente, todos os meios de comunicação divulgam as cerimônias militares anuais relativas ao evento. Sobre o assunto, O cientista político José Nilo Tavares lembra que “as rebeliões das décadas de 20 e 30, de caráter militar, utilizaram os mes-
mos métodos e procedimentos adotados pelos insurretos de 35. A insurreicção no 22º BC, na revolução de 30, na Paraiba, e o levante do 23º BC, no Ceará, ocasionaram mais vítimas que todas as quarteladas de 35. (...) O que vale a pena destacar na insurreição de 35 é o caráter popular e revolucionário dos seus objetivos, ainda que o povo dela não tenha participado e ainda que a revolução se tenha transformado em uma quartela-
da. E neste conteúdo parece residir um crime imperdoável para as classes dominantes. Um pecado sujeito à excomunhão perpétua”.
Por ocasião de uma dessas comemorações, o jornalista Flávio Aguiar, no extinto jornal Movimento, publicou artigo chamando os exorcistas dos “agentes do comunismo internacional que, na calada da noite, solertemente assassinaram seus colegas” de mentirosos e desafiando-os a processá-lo caso essas acusações tivessem algum fundamento. Por medo da verdade, da polêmica ou do ridículo, o fato é que o jornalista não foi incomodado. Para terminar: em novembro de 84, um Almirante que discursou na tal cerimônia disse que “a propriedade privada é o estimulo para o trabalho”, o que é uma verdade teórica, que os milhões de trabalhadores
urbanos e rurais sem acesso a nenhuma forma de propriedade, seja casa própria ou terra para trabalhar, gostariam que também fosse uma realidade concreta.
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Prisões, isolamento, clandestinidade, companheira extraditada para de ido ped ao gas Var de va ati neg à , stas nazi ção tra cen os campos de con de tanto ido uec ouq enl ão pris de ro hei pan com , mãe da rro ente assistir ao quando a tareiço serv em do nca bri tem não o ocl cab mo cis fas O r, apanha fa é defender-se dos comunistas. do lado ro out no oca, cari ão pris sua va rga ama tes Pres to Enquan qual pelo ime reg O tos cre con mos ter em ê r-s rma afi ava tent mundo, onde cou, drama huMos de os urg exp e os ent gam jul os m cia nte aco a, ele se bati mano igual ou superior ao brasileiro. tacar a des A m. ria sof s soa pes as e, part à s çõe iva mot e Ideologias ide e a digna istó fasc são res rep à te fren ros ilei bras s sta uni com bravura dos uns soviéticos com os adã cid e s sta uni com dos a ori mai nsa ime da postura diante da assustaam uav rec hos son s cujo ime reg um de são res rep à frente dora realidade, do poder e sua lógica. o sobre os niã opi sua tes Pres à se tas gun per uém alg se ca, épo Nessa : os réus eram aria apoi ele que o cert é S PCU pelo s ido mov pro os ent julgam necesa com ados trat ser m ava cis pre que ial enc pot em traidores reais ou o comum, sens se qua , ente corr o niã opi a era , ção olu rev pela sária dureza eram vítimas. que os o, clar é o, and etu exc s, sta uni com dos e part da maior o conflito O religioso historiador inglês Arnold Toynbee diz que Stálin — a bar bár ia Rúss da al por tem er pod do lo due um foi ky Stalin xTrots representaria que sky, Trot de e ent man per ção olu rev da ho son o — contra no “aqui e agora”. é za que fra cuja o, praz go lon a , ual” irit “esp er pod um ista Prestes No Brasil o “espírito” seria, paradoxalmente, O material um senso de a don ita dire uma tra con o and lut io, nár cio olu rev e seu ardor o de nçã ute man de a, nci ivê rev sob de into inst pelo o çad agu ade lid de rea nhas compaprivilégios, características que exatamente por serem mesqui que estas. radas com as grandes idéias são mais facilmente realizáveis de história s ano 77 em que RS, o o com ado est um de ão A formaç teres fortes — cará de o ent gim sur o la imu est s, ado arm s lito conf e teve doz “Liberal” ains. nido defi e os clar as tem sis por ídos atra — ios tár ori ou aut timento que poda é palavrão para muitos gaúchos, que cultivam um sen progresnte ame ari ess nec não — ista ital -cap anti o com ado fic de ser classi irracional, , fluo melí de tem a tem sis este que no — a-se sista, esclareç anárquico. ria, que é deO que incentiva as revoluções é a consciência da misé
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terminada pelo passado do indivíduo ou povo, ou seja, a gota que transborda chega até a beira do copo porque dentro dele já havia muita água revolta por misérias passadas, físicas mas também, ou principalmente, morais, coletivas e individuais.
Quando Arruda Câmara, stalinista ferrenho, voltou da URSS, on-
de foi delegado brasileiro ao XXº Congresso da PCUS, falando mal de Stálin, Prestes confessa ter passado o período mais difícil da sua vida,
pior até do que quando esteve preso, pois achou que Arruda tinha traído a causa e que seu próximo passo talvez fosse entregar tudo que sabia do partido à policia. Este episódio resume exemplarmente um dos problemas mais sentidos pelos comunistas brasileiros em geral e Prestes em particular. A dependência à autoridade moral da matriz, devido à indigência cultural brasileira, refletida no preparo intelectual dos quadros. Quando há um abalo no centro, a periferia entra em crise. A dificuldade em conciliar a rigidez disciplinar indispensável a um partido revolucionário — clandestino — com a flexibilidade necessária a quem precisa avaliar constante e corretamente a realidade em volta, sob pena de errar tragicamente. Enquanto na URSS a autocracia stalinista respondia a um contexto histórico preciso, em outros partidos ela assumia características alienantes, isolando-os e impedindo uma compreensão das particularidades de seus paises. Prestes: “A raiz de todos os nossos erros está na aplicação dogmática ao nosso país das teses para os países coloniais e semi-coloniais, aprovadas pelo sexto congresso da IC em 1928. Nessas Leses, que deviam ser muito boas para os países da África e da Ásia, estava incluída a América Latina. Os grandes países latino-americanos conquistaram a independência já no início do século passado, e a partir de emão o capitalismo passou a se desenvolver entre nós, mesmo encontrando resistências. Podemos dizer que já na década de 60 do século passado a formação econômica e social predominante no Brasil era capitalista, apesar da escravidão nas fazendas, particularmente na agricultura. No entanto, os documentos do partido em 1945 diziam que enquanto não acabássemos com a domina40
ção imperialista e o latifúndio, o capitalismo não poderia se desenvolver no Brasil. Estava se desenvolvendo ao nosso lado e não víamos” O horror ao subjetivismo, à intuição, a ênfase na impessoalidade no trato com os fatos políticos, pode jogar a pessoa no extremo oposto,
na cegueira diante da realidade em nome de um pomposo cientificismo. Gente que ouviu cantar o galo sem saber onde, intelectuais são frequentemente atraídos para esse tipo de cerebralidade “pura”, que os livra
do pesado encargo de ser gente. Artistas como Proust afirmam que a intuição, ou aquela parte nebulosa do ser humano que nem ele controla, tem muito mais capacidade para atingir a verdade do que a razão. Proust chega a definir senso artístico como a capacidade de submeter-se à realidade contra todas as evidências elaboradas racionalmente. Prestes, um latino indignado contra o subdesenvolvimento e uma de suas piores mazelas, ou causas, o empirismo, foi salvo desta esquizofrenia “realista” por ser um homem de ação; a cada erro foi obrigado
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a descobrir onde falhou, evoluindo, através de auto-críticas, até chegar a
conclusões bastante razoáveis sobre a realidade brasileira. E aqui entra um de seus aspectos mais interessantes, que explica grande parte de seu prestígio entre a juventude: Prestes é um vitorioso diante da vida, manteve-se firme em vários terremotos, sempre consciente de suas limitações, aprendendo, e hoje, octogenário, é um dos políticos brasileiros mais respeitados e solicitados a dar opiniões. Num país dominado por tipos astutos, oportunistas e vaidosos, é um homem austero, derrotado politicamente, se visto de maneira superficial, e ganhador como individuo, vitória que só obtém quem viveu e vive intensa e coerentemente. E para quem nunca separou vida e trabalho partidário, essa é uma vitória também política. Até seu tão criticado dogmatismo pró-soviético é perfeitamente explicável: a URSS é o maior poder, proletário ou não, que se opõe à transformação do resto do mundo, por parte do capitalismo adiantado, numa sucursal a seu serviço, ou, O povo soviético vive melhor que o brasileiro, ou, a que ponto desceria o nível de vida norte-americano caso “nerdesse”
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sua tão lucrativa América Latina?
Os soviéticos, como seus adversários chineses fazem questão de ressaltar, são mais perigosos que os EUA, porque não precisam de seus paises-
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er Presdiz a eri pod , nto ume arg hor mel Seu s. nte cie satélites, são auto-sufi e, parece que o tempo ant ort imp he” tal “de e, M. TE IS EX s ele tes, é que está a seu favor. el é perder o oáv erd imp sa coi ca úni a , sta uni com m bo um E para é obeque o e, lis aná ima últ em , ina erm det em qu é bonde da história, que diência cega e o que é lucidez.
nte de PresÉ recomendável não falar mal do regime soviético na fre
reage. tes. Seja a crítica da esquerda ou direita, ele
de São Paulo di“Há algum tempo um artigo no jornal O Estado s constituem sta uni com Os , Ora s. sta uni com os m ta vo só zia que na URSS s de 260 milhões mai de o çã la pu po ma nu — s hõe mil ete ess dez minoria — tado dele mp co ha ten que o adã cid o tod a par re liv é o de habitantes. O vot a sua situação SOsej que er lqu qua , her mul m, me ho de, ida de zoito anos e comparecem as o ret sec é io, tór iga obr é não o vot O e cial, todos votam que é o, em pr Su e iet Sov O . ção ula pop da to eleições mais de 99 por cen o da URSS. açã isl leg a a tod a bor ela em qu é , eto dir e o eleito pelo voto secret as
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ua
leis de segurança que entre SS UR na ia ac cr mo de é que o ver em nosso país. Quem quiser usinas têm o seu e as ric fáb as as tod que por na, usi numa fábrica, numa pode esor, had bal tra er lqu qua io, rár ope er jornal e nesse jornal qualqu pelo governo, até o ad me no a, ric fáb da r eto dir O de crever e criticar, des Comunista, o tid Par do e al dic sin o nt me vi mo os demais funcionários, do pelo ado ent res rep ado Est O a. ric fáb da que são as três instituições dentro nte sindical ige dir O € s sta uni com os pel ito ele diretor, o secretário do PC operádos e dad ali tot se qua a são que eleito por todos Os sindicalizados, jusa par em im gr es cos éti ovi i-s ant OS rios da fábrica. Uma das razões que argumento um é Não co. úni o tid par do o tificar a posição deles é a questã Todos são mo. ris ida art rip plu o ora vig as ist ial soc sólido. Em vários países AlemaNa . nia emo heg tem PC o e ond ca governados por uma frente úni uia é a mesma váq slo eco Tch na os, tid par co cin ou nha Oriental há quatro Cristão. a at cr mo De o tid Par o e al ion Nac coisa. Lá existe até o Partido é um país ia gár Bul a que por o, ári Agr o tid Par Na Bulgária há o PC eo agrário por excelência... pesdas s me no os m co as list as que m ma ir af que Quanto às críticas acusações ras out e o, tid Par do le tro con sob s ada bor ela soas elegíveis são
a
, sem mos uís cas Os sem , ico iét sov o pov o pel ita ele a É uma assembléi existente aqui io nár cio rea mo is al rm fo e ess o tod sem e
mais abrangentes, como a internação de dissidentes em hospicios ou à prol lutamo “Co : onde resp não nte sme ple sim ele , país do a saíd sua de o biçã
uma palador da causa da paz e do socialismo, evito, publicamente, dizer
vra contra à URSS. Só serve para dar armas para o inimigo. Cabe ao po-
lvê-los”. vo soviético resolver esses problemas e pouco a pouco vai reso Ou responde assim: “As dificuldades que hã na URSS são os restos dos homens culturais que vêm do czarismo e do capitalismo. A cabeça pelos pronão se modifica da noite para o dia, os homens são educados não hando qua l, ena ngi qui o plan eiro prim do ca épo Na . ens prios hom saiam pais os , ncia infâ de ins jard e hes crec m tire exis para ões diç con via inavam e transpara trabalhar e as crianças ficavam com os avós, que ens do czarismo, mitiam às crianças todos os preconceitos mais reacionários anos o cinc s eiro prim nos be rece nça cria a que o e , gião reli pela a começar hoje, na URSS, até te exis Isso . vida sua a toda em ia uênc infl ce exer vida de co € O povo mas evoluiu consideravelmente o pensamento do povo soy jéti está fazendo a democracia avançar no pais”. iado Isto é, enquanto persistir atraso cultural, ditadura do proletar exemplo, e para O povo, mesmo que esquerda e direita, trotsquistas, por é no povo. burguesia em geral, digam que a ditadura do “proletariado” impe do a lanç de as pont de s eiro prim os mar cha a a se-i tarlimi Prestes rialismo e ignorar, por motivos óbvios, a acusação dos outros. A razão do epiteto é que com suas críticas à URSS a oposição de esquerda estaria contribuindo para dividir o bloco socialista e consequen temente colaborando com os imperialistas. Ainda pela esquerda, os eurocomunistas dizem que à URSS nega pao marxismo ao ter um estado cada vez mais forte, quando na marcha ra o comunismo o estado deve paulatinamente desaparecer. el Prestes argumenta que sem o estado soviético forte seria impossív S e evitar uma terceira guerra e o consequente desaparecimento da URS am do das democracias populares, além de todas as nações que se libertar jugo imperialista, sem falar, é claro, no resto do mundo. tropas A questão-chave é se a URSS é realmente socialista. Se é, as sumo exiercon para ser, a sam pas o, mpl exe por ão, ist gan Afe no as étic sovi lução ameano à URSS, uma ajuda ao povo afegão para defender sua revo ão não excluindo cada pelo(s) imperialismo(s), e internamente, uma vers segurança de de ico, olít geop ter cará de va enti prev a obr man uma a, a outr fronteiras.
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Se não é, a URSS é um dos principais impecilhos à propagação do
socialismo no mundo, por causa da associação que o resto do planeta faz entre socialismo e sovietismo. Prestes: “O difícil para os povos não é propriamente fazer a revolução. Muito mais difícil é saber defender a revolução. Nós conhecemos o caso do Chile. No Chile, Allende foi ao poder mas quando resolveram desestabilizar o governo do Allende, atacá-lo, agrediram e puseram abaixo a revolução. O que se passa no Afeganistão é isto também. Depois de vitoriosa a revolução, a burguesia procura desenvolver a contra-revolução. Foi para enfrentar esta contra-revolução que o novo governo do Afeganistão solicitou O apoio soviético. A revolução soviética sofreu estas ameaças, porque a tomada do poder foi fácil e relativamente sem sangue. Mas, em seguida, o país foi invadido por quatorze países e depois, os brancos, apoiados pelos imperialismos francês, inglês e americano, lutaram até 1922 tentando por abaixo
o governo soviético. Por isso o mais difícil é manter as conquistas da revolução e a União Soviética, que sempre ajudou a independência dos po-
vos, está ajudando a revolução no Afeganistão, como ajudou na África
e continua ajudando”. Neste episódio Prestes mais uma vez remou contra a maré, pois a “opinião pública” brasileira e ocidental foi quase unânime na condenação do que chamou de “arrogância de grande potência imperialista que os soviéticos demonstraram ter quando seus tanques chegaram a Cabul”. (Zero Hora, editorial de 15.01.80). É claro que quando fuzileiros navais norte-americanos desembarcaram em Granada, os editoriais da nossa imprensa não toram tão virulentos.
Prestes: “Se nós temos quarenta anos de paz hoje é graças à URSS, cuja presença no mundo cerceia o belicismo intrínseco ao imperialismo, que já provocou duas guerras mundiais”.
“A rebelião de 35 foi o ponto alto do partído, o primeiro do mundo a levantar-se em armas contra o fascismo.
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3
CAPÍTULO
Um toque pessoal, político, portanto, ou vice-versa
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O horror à hipocrisia e convencionalismo burguês estimula um tipo de franqueza que algumas vezes beira a grosseria. As atas do partido bol-
chevique dos primeiros tempos da revolução contêm diálogos — discussões — entre correligionários que parecem brigas de inimigos ferozes em algum parlamento burguês. Prestes cansou de dar “coices” em jornalistas que lhe faziam per-
guntas que ele achava idiotas ou mal intencionadas, capciosas. Novamente a proximidade entre o tão auto-proclamado caráter desabrido gauchesco e a franqueza, preto no branco, proletária ou camponesa.
Recentemente, no ato de posse da nova diretoria do sindicato dos bancários de Porto Alegre, Prestes, convidado especial, considerou a pos-
sibilidade de ser vaiado quando colocou no mesmo nível as candidaturas Tancredo e Maluf. Foi aplaudido. Quando se desembarca no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, voltando de um exílio, e faz-se, para uma vibrante platéia de dez mil simpatizantes, um violento discurso contra a ditadura que o anistiara, citando nominalmente, de memória, todos os nomes dos integrantes do comiabertê central assassinados no início do governo que iniciou o processo de tura, processo que teria na volta dos exilados um de seus momentos mais ' importantes, quando se age assim, dá-se prova de firmeza e combatividade política de uma clareza magnifica. No dia-a-dia é outra coisa. Um tipo vil e bem educado agrada mais a muito mais pessoas por viver numa medida mais condizente com o cona tidiano, do que o idealista que acredita, algumas vezes excessivamente, própria virtude, e descamba com relativa facilidade para a intolerância. Psicologismo à parte, o fato é que a simpatia, ou habilidade para agradar, exerce papel importante na carreira dos indivíduos de qualquer ideologia; Stálin era tão ou mais cercado de bajuladores que Hitler ou Reagan ou quem quer que esteja por cima.
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Outro grande momento prestista foi quando recusou a defesa de So-
bral Pinto após sua prisão, em 36: “Não me interessa sua defesa. O que pode fazer por mim um advogado das classes dominantes?” E mais: “Se o senhor fizer minha defesa, quando sair daqui — e sairei — eu o denunciarei à opinião pública mundial como um farsante.”
Foi nesse famoso episódio que o doutor Sobral precisou evocar a lei de proteção aos animais como último argumento para tornar menos
is ruim a situação de seu rebelde cliente na cadeia; quarenta anos depo o ele gozaria Prestes numa entrevista: “Comunista quando faz declaraçã não é pro município nem pra região, é pro mundo!” O orgulho era necessário a Prestes, que teve a sorte de ganhar um uorg o com r lida em ia ênc eri exp r ena mil com gião reli co, óli cat do advoga lho da miséria humana. Em 1945, em dedicatória num exemplar do seu livro Problemas da unho do democracia, Prestes escreveu: “Ao Dr. Sobral Pinto, em testem conhemaior apreço, amizade sincera e perene gratidão, sempre acima da ológico ide po cam no r ara sep nos e pod só que as idéi de ia ênc erg div cida ários”. ou filosófico mas nos une no respeitô mútuo de leais advers
O afeto está acima da ideologia? Para Prestes, não.
Sua primeira mulher, a bela judia-alemã Olga Benário, deu fuga ao
dirigente comunista alemão Otto Bauer, da prisão de Moabit, na Alemanha nazista. Olga, que passava por sobrinha de Bauer, conseguiu sair misturando-se aos visitantes. Para se ter uma idéia da importância de Bauer no movimento comunista, basta lembrar que Lênin dedicou um bom espaço de seus livros Esquerdismo, doença infantil do comunismo e O renegado Kautsky e a revolução proletária para refutar suas posições, consideradas direitistas por Hlitch. Extraditada para a Alemanha, onde deu à luz Anita Leocádia, Olga foi assassinada na câmara de gás com mais duzentas mulheres na páscoa de 42. A segunda mulher, uma mineira criada na Bahia, distribuía panfletos com dez anos de idade, pés descalços, e sua presença hoje consegue arrancar um sorriso do rosto endurecido do marido.. 49
Para a extinta revista Realidade, que dedicou a capa da sua edição de dezembro de 63 à cara desenhada de Prestes com a chamada Esse rosto não existe mais — a estória de que Prestes teria feito uma operação plástica foi criada para enganar a repressão, o reporter só podendo entrevistar o velho numa sala à meia-luz — dona Maria foi clara e incisiva: “Tenho muito orgulho do velho, e sendo uma pessoa simples e sem cultura, nunca imaginei que pudesse ser sua companheira. Apesar de tudo, sou uma mulher muito feliz”. As irmãs — sofrendo até pouco tempo atrás perseguições do tipo fazer concurso para trabalhar, serem aprovadas com louvor e na hora de assinar o contrato de trabalho ouvirem um “sinto muito mas não podemos empregá-las por motivos óbvios” — são muuito apesados 20 irmão mais velho. Uma das raras fotos de Prestes sorrindo ioi tirada ao lado das duas, durante o exílio em Buenos Aires, logo ucpois qa Ccluna. Elas jogam no time “comunistas, graças a Deus”. O pai Prestes orgulha-se de todos os seus dez filhos serem comuntstas, a maioria morando na URSS, sem poderem vir para cá por faita de perspectiva profissional.
A cara de Prestes merece um espaço próprio. Dando à primeira vista uma impressão de impassibilidade, revela a um olhar mais acurado uma tensão de vontade de grande poder de empatia, um carisma que poderia ser definido, apesar de ser uma contradição em termos, como devidamente marxista, de quem sonha muito mas tem os pés no chão para realizar O que for possivel desse sonho. A foto do comício com Getúlio, recém-saido de dez anos numa ca“cia do Gegê, é uma demonstração clara das diferenças politicas dos dois “ores. Getúlio com um sorriso sestroso, matreiro, misto de raposa e bom “cunho, Prestes sorrindo contido, simples, sem populismo. O comício com Getúlio não foi logo depois de sua saída da prisão. «orteceu em São Paulo, quando comunistas e trabalhistas apoiaram O
mesmo candidato a vice-governador contra Ademar de Barros. No eleva-
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dor do Senado, quando eram colegas, em 46, Prestes negou-se a responder ao cumprimento de Getúlio. Do ponto de vista pessoal ele responsa-
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O célebre comicio com Getulio,
de 46. Presteséonº 1 A bancada do PCB na Constituinte
biliza Vargas e não Filinto Miller sua mulher. Em 28, o jovem barbudo da lá!”, um guerreiro. Com a bancada tero, ligeiramente melancólico — posando?
pela extradição e entrega a Gestapo de Coluna, posição e olhar de “chega pra do PC na constituinte de 46, o ar ausou será rigidez natural de quem está
Gregório Bezerra diz em suas memórias que Prestes era considera-
do, por uma família de espiritas nordestinos, como um espírito enviado por Deus para salvar o Brasil. Quem viu Prestes falando na televisão sobre Gregório, quando o bravo pernambucano morreu, em 83, e prestou atenção em suas palavras, notou que quando aproveitou a homenagem ao seu velho companheiro para dizer que o caminho certo para Os camponeses é a organização, deu a um duplo sentido à palavra organização, que na boca de um comunist sempre significa também o partido. como Esse mecanismo mental, que tanto se presta para o humor de um Tapara a retórica, mostra os homens que o usam como capazes O que é uma ciocínio mais rápido e profundo, que a maioria apenas intui, “raciocias apen ando troc co, místi ito espir do vel razoá nte basta definição nio” por “percepção”. significatiUma das declarações de Prestes sobre assuntos místicos, pro céu ou vai a nist comu se sei “Não ança: segur pela e r humo va pelo não. Isso é lá com São Pedro!” os entre estar deve es Prest , existe Ele Se ente. difer ser ria Nem pode ompreensíveis inc são s ério crit s Seu se s poi , imo mín no ta, pei res que Ele comum com Seus so sen de imo mín um ter e dev , ana hum te men à limitada uências deste fazer, seq con as e faz se que o to tan ta con em ar lev e , filhos como as intenções. Todoo tar ren enf a eri pod que soa pes uma é s ste Pre o, anç bal te Nes scientecon toi ou, neg e ou afi des O se s poi a, uid erg eça cab de so ero Pod a mente, enquanto a maioria das pessoas O desafia, O nega e O crucific sem saber que o faz, ou pouco ligando para ISSO.
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am Civilização é fogo. Quando os americanos invadiram e roubar foi sauato o ia, fórn Cali e as Tex se macha hoje que ico Méx do aço o ped “Por acaso — a tóri liza civi ude atit uma o com els Eng € x Mar por o dad dos preada anc arr sido ha ten a rni ifó Cal ica níf mag à que é uma desgraça
em ls, Enge ” ela? com r faze que o iam sab não que nos ica euiçosos mex artigo publicado em 1849. com um Nós, os povos atrasados da história, só sairemos da miséria
de bois e a deixou o carr do era na S URS a ou peg in Stál . nso esforço Ime
o preç ao mas , her tsc Deu c Isaa de e fras na as, mic equipada com ogivas atô pocam de s hõe mil dez ou mat que o açã viz eti col uma de uma guerra civil, o um povo. tod para ões vaç pri e ios ifíc sacr s rme eno e s nese âneos, são por tem con seus ros ilei bras s sta uni com os os tod e Prestes,
é um produto sa gue bur ção liza civi a que em Sab la. esco a formados ness ela que bém tam em sab mas , vel omó aut de histórico, como um modelo i-feudal sem da ain , ade ied soc de elo mod so nos ao é um avanço em relação de militânvida uma a tod am sar pas tos mui isso por em muitos aspectos,
preservado. Brasil no o açã liz ria ust ind a , sta uni com ção olu rev Sem Prestes, sem a econol, enta ocid opa Eur € ão Jap , EUA dos e ent end está se fazendo dep dominado por o cad mer num e ent dam fun pro tão rida inse mia brasileira crises cíclicas das ado ult res O que s, ida olv env des stas tali economias capi destas, no Brasil, dispensa comentários. Essa é . -na rem sof em, faz a não que os Pov . doa A história não per e do capia tist pres eto proj do e ant ort imp s mai e s ple sim a diferença mais movem a induspro os amb que é is, gera mos ter em a, anç calista. A semelh IStO... trialização, O progresso; quanto a quem usufrui censude az cap uém alg á “Ser do: cita go arti no Novamente Engels, que por certo a”, uist conq de rra gue uma m are liz rea por rar os americanos na humanidade, e tiça “jus na a ead bas ias teor nas pe gol desfecha um rude da cio efí ben em te men iva lus exc e ca úni to mas que foi levada a efei civilização?”
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de quem cia dên pru a e ta alis soci io nár cio olu rev or ard o cia oscilando entre que deve ser oso, vali te men ica tat gio está um sa gue bur a vê na democraci
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O centro do seu pensamento, o que definiu as atitudes de Prestes desde sua entrada na política séria, como diria Lênin, até hoje, é o imperialismo, ou mais especificamente, o capitalismo dependente, que impossibilita uma atitude autônoma da burguesia brasileira devido à sua intima ligação com o capital estrangeiro. O domínio do capitalismo desenvolvido sobre os paises neo-coloniais já foi exaustivamente demonstrado pelo marxismo e outras escolas de pensamento. mas não é preciso ser um especialista para perceber um fato:
os americanos não tentaram invadir Cuba, não estão ameaçando invadir
a Nicarágua. não invadiram Granada, só pelo prazer de invadir. É possivel até que os gastos com esse belicismo tenham sido maiores que as perdas do Tesouro americano com a “perda” desses países, mas
aí entra a questão do exemplo: se todas as colônias adotarem posturas independentes, os prejuizos começarão
a aparecer no balanço de fim de
ano.
Vale a pergunta: um Brasil socialista diminuiria em quanto a remessa de lucros das empresas americanas para a sede?
É claro que grande parte dos problemas do nordeste do Brasil se-
riam razoavelmente resolvidos com uma revolução capitalista, uma refor-
ma agrária nos moldes da tentada com o patrocinio norte-americano em El Salvador, mas quem disse que a razão vale alguma coisa nesses casos? E se o objetivo dos monopólios é o lucro máximo, é impossivel, na prática, desistir dele para empreender reformas nos paises explorados. A tese de que existem “cabeças frias” no governo americano favoráveis a refor“mas, por saberem potencialmente inseguro um país rico cercado pela mi-
séria, permanece tese. O lugar-comum de que nenhuma classe dominante até hoje entre-
para gou o ouro, ou parte dele, sem luta, continua mais válido que nunca a América Latina e o terceiro mundo em geral. Tão válido quanto aquele outro que afirma que nenhum povo até hoje morreu de fome sem reagir. A diferença fundamental entre os dois tipos de industrialização é que a socialista resolveu, ou está encaminhando com o mínimo de racionalidade indispensável a povos que tenham pretensões à civilização, Os problemas fundamentais da maioria da população dos países onde se efetivou, e agora parte para a modernização, servindo-se da tecnologia do capitalismo avançado; quanto à capitalista dependente, Celso Furtado faz
“54
um breve e eloquente resumo: “Muito provavelmente chegaremo . ao tiro do decênio dos 80 com uma produção por habitante similar a que t'nhamos dez anos antes, com uma massa de desempregados e subempregados, um enorme atraso na construção residencial, séria degradação
serviços de saúde pública, na educação elementar, na pesquisa cientifico e tecnológica, enfim, com um pais semi-devastado, como se houvessem. sido devastados
por uma
peste ou uma
guerra”.
O velho pode dar-se ao luxo de ser radical: não tem ilusões dc poder, e para um revolucionário histórico nada mais digno que coroar uma carreira de mais de seis décadas com uma volta as raizes, aos tempos em que o fuzil era parte inseparável da teoria.
“Sei que cometi muitos erros,
mas o maior de todos é não fazer nada”
a Es ESSE
Aids
cana çã
E
Ma, a
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Na URSS, 1931
CAPÍTULO
iai
O materialismo, o
comunismo, o capitalismo, o Brasil
58
Certamente alguma revelação está próxima; Certamente a Segunda Vinda está próxima. A Segunda Vinda! Apenas estas palavras surgem
Quando uma vasta imagem do espirito do mundo
Turva minha visão: em algum lugar nas areias do deserto Uma criatura com corpo de leão e a cabeça de um homem, Um olhar claro e impiedoso como o sol, Está movendo seus músculos lentos enquanto sobre ela Rolam as sombras dos indignados pássaros do deserto. A sombra cai novamente; mas agora eu sei
Que vinte séculos de sono pétreo
Foram transformados em pesadelo por um berço balançante, E que besta-fera, sua hora por fim chegada, Ruma pesadamente a Belém para nascer?
A humanidade ainda está em sua infância. Para sair dela são necessá-
rios os sentinelas avançados, corajosos o suficiente para ir na frente, onde é escuro e incerto o caminho, iluminando aos poucos o trajeto para seus semelhantes ocupados com o cotidiano, que pode ser tão difícil quanto a aventura, mas tem a carapuça do hábito a lhe tornar menos assustador. Estes desbravadores, um Marx, um Freud, um Yeats — seu poema 4 segunda vinda é um exemplo de clareza de pré-visão — pagam o preço da audácia com a angústia, inevitável para quem põe a cabeça acima da multidão e vê um espaço imenso a ser conquistado, o que dá uma noção mais nitida dos próprios limites, junto com o sentimento de estar separado de seus
semelhantes. A diferença da solidão intelectual para a física é que a primeira afasta espiritualmente o solitário de seus semelhantes, enquanto à segunda o apro-
xima, também
espiritualmente, daqueles por quem ele trabalha.
Se as conseguências são diferentes, as formas são semelhantes, o que
nos permite compará-las, passando do abstrato para o concreto. No caso
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de Prestes, o absoluto isolamento, na prisão, resolvendo mentalmente problemas matemáticos para manter-se ocupado, temendo perdero dom da fala, na trágica situação que inspirou estes versos ao poeta argentino José Hernandez: Sem dizer uma palavra/na mudez se sofre mais/e a gente, em condições tais,/se converte em animal,/ roubado ao dom principal/que o bom Deus fez aos mortais/... A solidão causa espanto,/o silêncio causa horror;/esse contínuo terror/torna o tormento mais duro:/em presídio tão seguro/está demais tal rigor.(1) Sua cela, preparada para enolouquecê-lo, fracassou. Seu companheiro Harry Berger ficou psicótico devido à tortura física e psicológica. Prestes tinha uma estrutura melhor preparada para enfrentar a salvageria latina. Berger, um europeu, não suportou a visão do lado sinistro de uma entidade que em condições normais já assusta muitos europeus, os trópicos. É preciso estar preparado para a irracionalidade. Neste sentido, Prestes é um personagem de Shakespeare. As situações limite são comuns em sua vida: as batalhas da Coluna, a separação brutal de Olga, a tortura psicológica do isolamento, as derrotas — falando num nível superficial — políticas acachapantes,material precioso para dramaturgos. Seus exílios, clandestinidade, prisão, decepções, desaparecem diante de uma realidade maior, para a qual estes fatos menores certamente contribuíram decisivamente: a pujança de um ancião de 87 anos, sem rancores,
pois considera tudo isso “fruto do processo histórico”
“Trata-se de uma convicção cientifica. Enquanto alguns companheiros choraram por causa da perspectiva de passar cinquenta anos na prisão, eu estava certo de quesairia de lá. Devemos estar convictos da vitória final porque isso
é historicamente inevitável. Perguntaram uma veza Marx o que é o socialismo. Ele respondeu: “Não sei, porque vai depender de onde partiu”. O socialismo é uma negação desta sociedade atual, do ponto de vista dialético. Nega, no sentido de ser contrário a algumas coisas, e aceita, conserva, outras. Esse é o processo dialético na prática, na própria vida e na natureza. Assim, a sociedade de hoje não é cterna, como não foram a escravidão, o feudalismo. Evoluiremos, portanto, para outra etapa, a socialista. Essa convicção é que nos dá lorça: (1) Martin Fierro, Canto XI, estrofes 706 e 710,
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Dos seus 65 anos de maioridade, passou nove na cadeia, 21 no exílio, 27 na mais dura clandestinidade, dois na Coluna, no combate direto, e seis de vida legal.
Se é possível passar por tudo isso e permanecer mais vivo que muita gente que “viveu” sempre bem-bom, então é porque a caminhada vale a pena.
“Acho que cometi muitos erros, mas só não erra quem não faz. É o pior dos erros.
O marxismo tem um papel fundamental no despertar do homem para sua realidade. No poema de Yeats a figura com corpo de leão e cabeça de homem, este ser «híbrido, sonambúlico, é um produto de dois mil anos de civilização, para a qual, junto com o cristianismo e outras religões superiores, o legado de Marx e Engels contribui decisivamente. O materialismo tem um preço: a solidão. Não é agradável sentir que estamos sós. O comunismo, visões ufanistas à parte, se der certo talvez seja isso: um sistema feito para e por um ser incompleto, caminhando para o esclarecimento, consciente de si e da sua solidão. Só se conhece um homem conhecendo o que ele pensa, e quando seu credo é o maior conjunto de idéias já elaborado pela inteligência humana, a tarefa fica mais complexa. Mesmo levando-se em consideração O papel apenas orientador destas idéias, que sempre devem ceder lugar à prática, e até sua extinção quando o evoluir histórico as tornar obsoletas. por realizadas ou erradas, a sua atualidade é perturbadora. A extinção e a precariedade, inerente à vida humana e exacerbadas no primeiro momento do materialismo, tornam-se quase positivas, motivo de solidariedade, no segundo momento, de consciência da necessidade de ajuda mútua, e aí a única solução é o comunismo, o qual mesmo que seja “uma atrofia do conceito de Justiça em detrimento da liberdade”, na detinição de Alceu Amoroso Lima, é o sistema que oferece uma vida mais tolerável, ou uma perspectiva dela, para os deserdados — a maioria — deste mundo que
só acreditam nele, e, voltando ao poema,é a única teoria com a clareza€ a impiedade suficientes para intervir num mundo que cada vez mais relega o humanismo a que indiv tduais, sem grandas esperanças c até justifica-se — pela eficiência. O capiti A partir do momento, e onde der sinais de mau funcionamento, babaus.
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O jornalista Paulo Francis diz que se tivesse que morar na URSS preferiria se atirar pela janela, pois é uma sociedade em que o lugar do cidadão na sociedade é decidido pela burocracia. Este é o tipo de gente que forma
a maior parte da dissidência na URSS e adjacências, quadros qualificados que sentem-se humilhados em obedecer ordens dos burocratas do partido e que frequentemente têm condições de viver relativamente bem no Ocidente. O proletariado, se não está satisfeito, não reclama, a lembrança da miséria dos tempos czaristas contribuindo bastante para essa paciência. Tudo isso é uma tentativa de aprofundar o tema da fidelidade de Pres-
tes à URSS: bem ou mal, é a primeira tentativa do homem construir consciente e plartejadamente sua própria história, a revolução que reuniu o maior grupo de políticos pensadores em tcãos os tempos, e que souberam unir ação e contemplação usando a mesma arma do capitalismo, “roubada” dela, a eficiência, tanto que estão no poder, ou aqueles que se dizem seus seguidores, há mais de meio século na URSS e já dominando um terço do mundo, e, o que é fundamental, sem dar sinais de desgaste, o episódio polonês sendo consequência direta da falta de democracia socialista, por um lado, e da inserção da economia polonesa num cenário internacional, em busca da tecnologia ocidental, minado por uma das maiores crises da história do capitalismo. O Presidente americano disse que a crise polonesa era o inicio do fim do comunismo, o qual “é uma forma de loucura que é contra a natureza hu-
mana)” Prestes reafirmou, neste episódio, que o socialismo não está em crise, os erros cometidos sendo discutidos e corrigidos dentro do partido, no socialismo. São as duas falas do nosso tempo: o capitalismo que funciona dá-se ao luxo de ridicularizar o que ele chama comunismo, este limita-se a tentar corrigir suas falhas — se está conseguindo, eis a questão — e permanecer
firme. O terceiro mundo assisie. Se quiser escolher, será o socialismo, não necessariamente cem por cento marxista, se permanecer “escolhido”, permanecerá capitalismo, e terceiro mundo.
Resumido criticamente, o caminho do Velhoé assim:
Tenentismo: As oligarquias cafeeiras não querem largar o osso, reina a corrupção. Os pequeno-burgueses fardados, idealistas convencidos de sua
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missão redentora de um povo ingênuo e despreparado, vão às armas bravamente para derrubar Washington Luís, Prestes percebendo no decorrer da luta que o buraco é mais embaixo e tornando-se marxista. Trinta e cinco: À tradição militarista brasileira, aliada à desinforma-
ção da realidade nacional, levam a uma tentativa de golpe, ou, a ameaça do fascismo interno impõe uma reação armada, e uma versão não anula a outra.
Redemocratização: Os acontecimentos mundiais começam a influir mais
fortemente no Brasil, consequência de um mundo cada vez menor diante dos avanços da tecnologia. Os ventos democratizantes põem Prestes e Getúlio no mesmo palanque e o PCB numa legalidade efêmera. Nota: Muita gente estranha o fato de Prestes, em particular, eo PCB, em geral, serem obrigados a viver na clandestinidade grande parte do governo liberal de Juscelino Kubischek e atualmente já terem pelo menos direito a uma semi-legalidade — o partido — e uma vida comum — Prestes, sabendo-se que nosso último governo não foi exatamente um governo liberal. A explicação, até onde o juridicismo explica alguma coisa, é jurídica. Em março de 58, no governo JK, foi revogada a prisão preventiva decretada contra os parlamentares comunistas desde a cassação do registro do partido, em 47. Antes desse ato eles eram oficialmente procurados pela polícia, e embora Prestes participasse até de passeatas durante o governo JK, oficialmente era um foragido. Numa delas, que foi até o Palácio do Catete, no Rio, o próprio JK desautorizou a prisão de Prestes por parte do seu chefe da Casa Militar, o excolunista Nelson de Mello. Atualmente, os “crimes” de Prestes foram perdoados pela anistia concedida pelo governo Figueiredo. 61: Racha no partido. O relatório de Kruschev, em 56, denunciando o que ele chamou de “erros” de Stálin, foi assimilado pela mator:a do parti-
do, com exceção de Agildo Barata, que desligou-se. Internamente, porém, surgiram dois grupos: os duros, que opunham-se à abertura de debaics e propunham a insurreição e a luta armada como política oficial do partido no Brasil, e os “liberais”, que aceitavam os debates desde que permanecessem intocadas as principais regras do partido, tais como o centralismo democrático e a discussão interna dos problemas. O resultado foi a divisão e a formação do PCdo B, à esquerda do PCB, pois este último acreditava na conquista do poder através “da pressão pacifi-
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ca das massas populares e de todas as correntes nacionalistas” e “a conquista de reformas econômicas e políticas nos quadros do capitalismo” Até 58, devido à rigorosa clandestinidade a que estava submetido, Prestes ficou praticamente alheio a esse processo. Quando voltou à legalidade posicionou-se a favor dos debates, desde que mantidos os limites citados. Goipe: O populismo dá uma guinada para a esquerda e o imperialis-
mo reage à altura. As massas desmobilizadas, o partido sem condições de reagir. O Brasil revela-se cada vez mais, para os revolucionários, um osso muito duro de roer. 68/69: Mais um racha, desta vez saindo um grupo liderado por Carlos Marighela, favorável à luta armada, que fracassou, tendo Marighela e inú-
meros outros adeptos da guerrilha sido mortos. Prestes foi contra por julgar que não havia condições objetivas — apoio da população — para essa forma de ação.
69/80: Depois do golpe no Chile, em 73, os PCs ocidentais elaboram uma política de alianças amplas que leva em conta até a Democracia Cristã, o chamado “compromisso histórico” do falecido Enrico Berlinguer. Muitos comunistas brasileiros exilados na Europa sofrem essa influência. Prestes, exilado em Moscou, para onde foi durante um surto de repressão que só do Comitê Central do PCB eliminou dez membros, permanece na ortodoxia leninista e rompe com o CC, criticando tanto o PCB “por ser reformista e querer chegar até o socialismo por via pacífica” quanto “o esquerdismo, que quer impor sua forma de luta às massas. Quem decide a forma de luta são as massas. Em 1905 Lênin só chamou partido para preparar a luta armada quando os camponeses já estavam queimando fazendas e os soldados e ma-
rinheiros já estavam se rebelando:
Qual o legado de Prestes? O mesmo de todos nós: a luta. O homem vale pelo que faz, não pelo que diz, disse ele um dia, duvidando da autenticidade do projeto de abertura política de João Figueiredo. Faltou acrescentar que quando realmente faz-se alguma coisa é desnecessário dizer. Fatos falam por si, e uma vida repleta deles dispensa, embora estimule, comentários. 64
Quando foi condenado a 46 anos de prisão, no Estado Novo, escreveu à sua mãe: “Esta sentença me livra dos últimos resquícios de orgulho ou de vaidade que eu ainda possuía, e me arroja definitivamente no mar imenso dos mais humildes e desgraçados. E isso, sinceramente, não me desgosta..””
É a suposta aridez de Prestes, acusado de ser um homem sem amigos, aqui mostrando seu lado oculto: uma pessoa que mergulhou até o fundo
da condição humana nas suas facetas mais trágicas, numa separação do mundo comum comparável à dos monges mais ascetas, e que voltou à tona com
uma clara consciência do relativismo do valor dos homens, na alma a certeza de que a morte é apenas um acidente fortuito na vida, certeza indispensá-
vel para se deixar de temê-la, e que esta vida merece ser vivida apenas enquanto for possível nela criar fatos. Contemplar, só realidades criadas pelas mãos dos homens, e a fraternidade que tiver que existir seja consequência
e criadora desses atos.
Prestes, agora: “A Coluna provou que o povo brasileiro quando tem líderes em quem pode confiar tem uma extraordinária capacidade de luta, abnegação e heroísmo, por isso acho que grandes lutas se aproximam, porque a miséria, o desemprego, o abandono da infância, nunca foram tão grandes, e nenhum povo morre de fome sem lutar. “Os grandes problemas sociais não podem ser resolvidos pelo capitalismo. Instrução, terra, saúde pública, só estão completamente resolvidos no nosso continente no seu único país socialista, Cuba. “A única força realmente organizada no Brasil são as Forças Armadas. A seleção dos quadros hoje é muito diferente de antes de 64, quando era apolítica. Sempre existiram nas FAs uma minoria reacionária e até fascista e uma maioria de patriotas, agora a perseguição ao comunismo determinou que ninguém seja promovido sem ser anti-comunista declarado. “Enquanto perdurar essa desorganização do povo eu não creio que seja possível eleger uma Assembléia Constituinte que atenda aos interesses
A
da maioria da população. Atrás de Figueiredo havia um governo militar que não será derrubado apenas por uma Constituinte. Ele continua aí. “Um golpe agora não é vantagem para os monopólios. Para eles interessa muito essa credibilidade democrática conseguida pelo Brasil na Europa, EUA e até na URSS. Quando um poder faz concessões como a anistia, 65
24
8]
A greve na região canavieira de quase insurrecional. Nas lutas brasileiros, pessoas esclarecidas bros do proletariado armados
66
São que que com
Paulo — meados de 84. N. do A. — fo; se aproximam surgirão os novos líderes terão estudado as ciências sociais, mema arma do proletariado?
E
as eleições para governadores, é porque tem algo muito importante para conservar, que é o próprio poder militar. “A situação das massas é desesperadora. As lutas já estão começando.
o o mma = RS se
“As grandes lutas que estão próximas forjarão os novos líderes do proletariado, que lutatão com a arma do oleo
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Depoimentos históricos, três documentos prestistas e depoimentos atuais
69
Depoimentos históricos
(...) não concedemos auréola a Prestes: o que nos atrai nele é a parte humana, de ordinário deixada na sombra. Logo nos surpreende, ao conhecê-lo, uma desmedida paciência.
Criatura tão cheia de ocupações
acha vagar para longas cavaqueiras. (...) às vezes, entretanto, a paciência estala, uma fenda se alarga e aprofunda na superfície convencional: Em sabatina realizada no sertão mineiro, uma pergunta incômoda teve esta elucidação fulminante: — Falo vendidos.
de coisas
sérias.
Não
me
ocupo
de miseráveis,
patifes,
(...) Há em Prestes uma dignidade fundamental, incontrastável. É
a essência do seu caráter. Admiram-no com exaltação, odeiam-no com fú-
ria, glorificam-no e caluniam-no. Seria difícil achar quem lhe negasse respeito à austeridade imutável, maciça, que o leva a afrontar serenamente duras fadigas e sacrifícios horríveis — coisas previstas e necessárias. Graciliano Ramos,
em 4 classe operária,
1949.
Entreguei a Prestes uma mala com certa quantidade de livros marxistas, dizendo-lhe que era nosso desejo que ele estudasse por si mesmo a teoria e a prática da política pelas quais buscávamos orientar o Partido Comunista, inteirando-se assim, não só dos princípios e fins de nossa atividade prática, mas também das soluções que a ciência marxista apresentava para os problemas sociais do nosso tempo. Ao dizer-lhe estas coisas,
eu esperava que Prestes, ao tomar conhecimento direto das idéias marxistas, não demoraria em compreender que elas exprimiam a verdade do pre-
sente e do futuro. Sua inteligência, sua honradez, sua experiência pessoal no contato com a gente e as coisas brasileiras fariam o resto. Os fatos de-
o
ml
monstraram
que eu não me
enganava.
Astrogildo Pereira, em 4 formação do PCB,
1957.
O meu estado de espírito era tal, nessa campanha, que se Prestes resolvesse ir ao inferno, eu o acompanharia, movido em grande parte pela curiosidade de ver a cara do Diabo, quando o tenente Timhotheo Ribeiro lhe perguntasse onde escondera a cavalhada e as rapaduras, enquanto os cabos Corsetti e Gradim, empunhando grossos laços retorcidos, medissem o rei das trevas, d'alto a baixo, prontos a desancá-lo a bordoadas,
se teimasse em se recusar a satisfazer a informação pedida.
Os feitos de Anibal e Bolivar, cujas campanhas mais se assemelham à de Prestes, não sobrepujam os praticados por ele, durante os 27 meses em que batalhou, cobrindo quatro mil léguas em constantes combates contra um inimigo que lhe era algumas dezenas de vezes superior em número e incomparavelmente mais forte em armas, munições e recursos de toda espécie. Atentando-se nos meios de que Prestes dispunha e naqueles com os quais jogaram os grandes guerreiros, verifica-se não haver exagero nessa afirmação. Bolivar, por exemplo, que iniciou a sua campanha contra os dezessete mil soldados do general Murillo, apenas com 250 companheiros, guerreava num país cuja população ansiava pela liberdade e acorreu ao seu apelo, enquanto Prestes, à frente de menos de mil homens, lutava contra cerca de cem mil homens, agrupados em exércitos de dez e vinte mil homens em vários pontos do território nacional, — procurando galvanizar perto de quarenta milhões de escravizados, que faziam o deserto à sua passagem, ou o hostilizavam com ferocidade, Lourenço Moreira Lima, em 4 Coluna Prestes, 1934.
Sob certos aspectos, ma palidez, a magreza, a que pareciam guardar um fessoral no modo de dizer que ele mais tarde perdeu
Prestes me lembrava Otávio Brandão: a mesmesma delicadeza no falar, os olhos fundos, indefinido ardor místico, e um certo tom proas coisas, como se fossem definitivas. (Dizem essas características). Em uma coisa era dife-
rente de Otávio. Este era um puritano, que ficava vermelho só de ouvir
palavrões e para quem até a palavra prostituta era obscena. Prestes não tanto assim. Mas Otávio por vezes gostava de rir e dava mesmo boas gar-
galhadas e gostava de ouvir uma piada desde que não fosse pornográfica. Prestes não ria de modo algum. Nunca o vi rir. Nem mesmo das piadas
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mais engraçadas. Não sei se por não achar graça ou por não entendê-las. De qualquer modo faltava-lhe completamente o senso de humor, que é o sal da vida. Leôncio
Basbaum,
em
Uma
vida em seis tempos,
1969.
Prestes, do ponto de vista filosófico, embora diga-se materialista dia-
lético, é um estóico com uma roupagem positivista. A causa de todos os
erros politico-filosóficos de Prestes reside nessa taciturna filosofia. Prestes nunca foi nem é um revolucionário marxista; Prestes é um positivista estóico. Ou, se preferirem, um estóico positivista, com muitos ranços fatalistas. Agildo Barata, em Vida de um revolucionário, 1959. Conheci Luis Carlos Prestes em 1912, aluno do Colégio Militar do Rio de Janeiro. Ele de uma turma anterior à minha. Mais tarde, fomos contemporâneos na Escola Militar do Realengo. Deixou um lastro de dignidade nos dois estabelecimentos de ensino. Grandemente estudioso, ótimo companheiro, aparentemente circunspecto. Lutando com grandes dificuldades materiais em seu lar, órfão de pai, era filho e irmão exemplar. Mais tarde (1924), fomos companheiros na Coluna Invicta, onde tinha posição privilegiada. Queridíssimo e respeitado. Franzino, era porém de uma incrível resistência física. Sem alardes, era de uma maravilhosa e fria coragem. Nessa época, era um homem aberto, de espirito largo, sem idéias preconcebidas, marcadamente anticomunista. Deixamos juntos a Bolívia, em meados de 1928. Ele, para a Argentina, via Paraguai, onde se inicia sua evolução para o comunismo. Nós, seus antigos companheiros, comandantes dos destacamentos da Coluna, tudo fizemos contra essa sua nova orientação. Porém, em vão. Ideologicamente, nos separamos. Em 1935, combati o levante que, sob sua liderança, havia dominado o então 3º Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha, Rio. Na ocasião de meu retorno da Europa, combatente da FEB, em 1945, recebi sua visita. Era um Prestes diferente, sectário, sem aquela flexibilidade de pensamento que lhe era característica. Daí em diante, tivemos apenas encontros casuais e frios. Vivemos em mundos diferentes. Mas mesmo assim eu o respeito, pela cla“reza de suas atitudes, sem o embuçamento dos aproveitadores. Neste particular é o mesmo Prestes de nossa mocidade. Inteiramente afastados um 12
do outro, disposto a combatê-lo ideologicamente enquanto forças tiver,
do meu íntimo, porém, nunca poderão desaparecer os laços fraternais que nos uniram nos sonhos da juventude, Marechal Cordeiro de Farias, em Realidade, dezembro/68
Raramente encontrei, no decurso de minha vida movimentada, al-
guém que, como esse chefe comunista, revelasse tanta e tamanha convicção. Convivemos, ininterruptamente, de 1937 a 1947. Freguentei-o na desgraça e no triunfo. Nunca variou, nem vacilou quanto ao ideal que esposou com ardor. Renunciou a posições, prazeres e comodidades, para ver
se implantava o comunismo em sua pátria. Para isso, enfrentou perigos
e arriscou a vida. Só lhe recuso o nobre título de herói porque adoto a filosofia de Santo Tomás de Aquino, que proclama “pois que a força é uma virtude, e que a virtude deve pender sempre para o bem, ela fará, então, que o homem se exponha à morte a fim de obter um bem”.Ora, Luís Carlos Prestes quer organizar, na sua e na minha pátria, uma sociedade construída sobre a negação afrontosa de Deus, opondo-se, desta forma, ao cristianismo que faz de Deus o alicerce da sociedade humana. Não posso, assim, deixar de lamentar que tanta energia, fibra, renúncia e sacrifício sejam postos não ao serviço de um bem, mas ao serviço de um mal, sinistro e sombrio, como é o ateismo. Sobral Pinto, advogado de Prestes durante o Estado Novo, em Realidade, dezembro/68.
Mesmo seus adversários mais virulentos não poderão retirar a Prestes as qualidades indiscutíveis de patriotismo, de decência, de desprendimento, de coragem, de fidelidade às suas idéias, de amor ao povo. Mesmo os que dele mais discordem e mais o combatam, nem mesmo esses poderão honestamente negar ser Prestes figura de grandeza real, indiscutível e definitiva. Quanto a mim, honro-me em ser seu amigo e admirador. Ligam-me a Prestes o amor ao Brasil, a seu povo e ao socialismo. Jorge Amado, em Realidade, dezembro/68.
Prestes modelou sua figura, e sua legenda segundo circunstâncias que não existem mais. O Partido Comunista esperava a vitória, fundamentalmente, atraindo, pela persuasão, grandes porções da sociedade oci-
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dental. Contava vencer pelas eleições ou pelo menos por um golpe de Estado, cujos frutos o apoio de uma forte maioria tornaria duráveis. Mas as massas se revelam cada vez menos politizáveis e, portanto, cada vez mais refratárias à combustão marxista. O PC não consegue ganhar nenhuma eleição, nem vencer em qualquer golpe de Estado, a não ser com o apoio externo da URSS. Por motivos que ignoro — táticos ou, mais provavelmente, de temperamento — Prestes se recusou a abandonar o papel de “herói” e adotar uma atitude aparentemente conciliatória, capaz de engodar os adversários e assim melhor servir, hoje, à causa comunista. Por isso, parece-me aposentado, graças ao implacável utilitarismo dos dirigentes comunistas. Plínio Corrêa de Oliveira, presidente da Sociedade Tradição Família e Propriedade, em Realidade, dezembro/68. Prestes foi, talvez, o cadete de maior capacidade intelectual entre quantos transitaram, em todos os tempos, pela velha Escola Militar do Realengo. Ainda jovem o capitão de Engenharia, revelou excepcionais qualidades de chefia, ao assumir, em novembro de 1924, o comando das tropas sublevadas contra Artur Bernardes. Como chefe do estado-maior da Coluna Miguel Costa-Prestes, consolidou aquelas qualidades de liderança militar, em dois anos de lutas incessantes. Saturou-se, então, das trágicas
realidades sócio-econômicas de dezenas de milhões de brasileiros. Surgiu daí, talvez, seu ceticismo sobre a eficiência global do regime capitalista para resolver o problema sócio-econômico das massas sub-desenvolvidas. Foi alvo, quando da Coluna, de uma admiração extensa e profunda do povo brasileiro, sobretudo de sua mocidade, sendo justamente cognominado de O Cavaleiro da Esperança. Recusou-se a participar da Revolução
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Novo, em provações de toda espécie. Seus companheiros revolucionários da década dos 20 lamentaram profundamente o dissídio por ele aberto, nos pródromos da Revolução de 1930. Mas, na verdade, teria sido muito mais penoso, para todos, se, ocultando então suas novas convicções marxistas, houvesse chefiado — como quase certamente lhe caberia — a parte militar do movimento. E após a vitória deste, tentasse impor ao Pais,
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de 1930, que qualificava de burguesa e reacionária, declarando-se, em seguida, marxista. Cinco anos depois, tentou, sob sua plena responsabilidade, a chamada Intentona Comunista. Pagou por ela, duranteo Estado
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com o peso do seu prestígio pessoal, uma ditadura de tipo comunista. A
última vez que tive oportunidade de falar-lhe foi em 1945, na residência do brigadeiro Eduardo Gomes, onde fora para uma troca de idéias, à margem da eleição presidencial daquele ano. Pareceu-me estranhamente dogmático e refratário às argumentações de um diálogo franco, como desejávamos. Mas respeito a firmeza de suas convicções, e admiro a bravura estóica com que tem sabido sofrer por elas. Marechal Juarez Távora, em Realidade, dezembro/68.
O jardim estava em rosa ao pé do sol E o ventinho de mato que viera do Jaraguá Deixando por tudo uma presença de água, Banzava gosado na manhã praceana. Tudo limpo que nem toada de flauta. A gente si quisesse beijava o chão sem formiga, A boca roçava mesmo na paisagem de cristal. Um silêncio nortista, muito claro! As sombras se agarravam no folhedo das árvores Talqualmente preguiças pesadas. O sol sentava nos bancos tomando banho-de-luz. Tinha um sossego tão antigo no jardim, Uma fresca tão de mão lavada com limão, Era tão marupiara e descansante Que desejei... Mulher não desejei não, desejei... Se eu tivesse ao meu lado ali passeando Suponhamos Lenine, Carlos Prestes, Ghandi, um desses!... Na doçura da manhã quase acabada Eu lhes falava cordialmente: — Se abanquem
um bocadinho.
E havia de contar pra eles os nomes dos nossos peixes, Ou descrevia Ouro Preto, a entrada de Vitória, Marajo,
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75
Coisa assim, que pusesse um disfarce de festa No pensamento
dessas tempestades de homens.
Mário de Andrade, Manhã,
1928.
Três documentos Prestistas:
Trecho do manifesto dirigido ao povo de Santo Ângelo a 29 de outubro de 24, início da marcha da Coluna.
(ea)
“E o Povo Gaucho, altaneiro e altivo, de grandes tradições a zelar, sempre o pioneiro de grandes causas nacionais, levanta-se hoje como um só homem e brada: Já é tempo de estancar o sangue brasileiro, já é tempo de fazer o governo respeitar a vontade do povo, já é tempo de restabelecer a harmonia na família Brasileira, já é tempo de luctarmos não peito a peito, mas sim hombro a hombro, pra restabelecermos a situação financeira do Brasil, para recobrar o dinheiro que os nossos maus governos nos roubaram e pudermos, assim, evitar que, em 1927, o Governo Inglez venha tomar conta das nossas alfandegas e das nossas ricas colonias para cobrar a dívida do Brasil”
(...)
Em maio de 30 o rompimento com os tenentes e a conversão ao marxismo. “Ao proletariado sofredor das nossas cidades, aos trabalhadores opri-
“midos das fazendas e das estâncias, à massa miserável do nosso sertão e muli-
to especialmente aos revolucionários sinceros, aos que estão dispostos à luta e ao sacrifício em prol da profunda transformação por que necessitamos passar, são dirigidas estas linhas.
(...)
“A revolução brasileira não pode ser feita com o programa anódino da Aliança Liberal. Uma simples mudança de homens, o voto secreto, pro-
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dem de maneira alguma interessar à grande maioria da nosssa população, sem o apoio da qual qualquer revolução que se faça terá o caráter de uma simples luta entre as oligarquias dominantes.
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messas de liberdade eleitoral, de honestidade administrativa, de respeito à Constituição e moeda estável e outras panacéias, nada resolvem, nem po-
Não nos enganamos. Somos governados por uma minoria que, proprietária das terras das fazendas e latifúndios e senhora dos meios de produção e apoiada nos imperialismos estrangeiros que nos exploram e nos dividem, só será dominada pela verdadeira insurreição generalizada, pelo levantamento consciente das mais vastas massas das nossas populações dos sertões e das cidades. “Contra as duas vigas-mestras que sustentam economicamente os atuais oligarcas, precisam, pois, ser dirigidos os nossos golpes — a grande proprie-
dadeterritorial e o imperialismo anglo-americano. Essas as duas causas fundamentais da opressão política em que vivemos e das crises econômicas sucessivas em que nos debatemos. “O Brasil vive sufocado pelo latifúndio, pelo regime feudal da propriedade agrária, onde se já não há propriamente o braço escravo, o que persiste é um regime de semi-escravidão e semi-servidão. O governo dos coronéis, chefes políticos, donos da terra, só pode ser o que aí temos: opressão política e exploração não positiva. “Toda a ação governamental, política e administrativa,gira em torno dos interesses de tais senhores que não medem recursos na defesa de seus privilégios. De tal regime decorrem quase todos os nossos males. Querer remediá-los pelo voto secreto ou pelo ensino obrigatório é ingenuidade de quem não quer ver a realidade nacional. É irrisório falar em liberdade eleitoral, quando não há independência econômica, como de educação popular, quando se quer explorar o povo. Vivemos sob o jugo dos banqueiros de Londres e Nova York. Todas as nossas fontes de renda dependem do capitalismo inglês ou americano, em cujo poder estão também os mais importantes serviços públicos, os transportes e as indústrias em geral. Os próprios lanfundios vão passando, aos poucos, para as mãos do capitalismo estrangeiro. à eles já pertencem as nossas grandes reservas de minério de ferro do Estado de Minas Gerais, extensas porções territoriais do Amazonas e do Para. omde talvez estejam os nossos depósitos petrolíferos. Todas as rendas PRCIORAS estão oneradas pelos empréstimos estrangeiros. (...) “Os capitais estrangeiros investidos na nossa produção provocam um crescimento monstruoso em nosssa vida econômica, tendente exclusivamente à exploração das riquezas naturais, das fontes de matérias-primas, reservado o mercado nacional para a colocação dos produtos fabricados nas metrópo-
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les imperialistas. A atividade desse capital só pode, portanto, ser prejudicial ao Pais. Dessa forma, todo o esforço nacional, todo o nosso trabalho é canalizado para o exterior.
(...)
Além disso, o Brasil, pelas suas naturais riquezas, pela fertilidade do seu solo, pela sua extensão territorial, pelas possibilidades de um rápido desenvolvimento industrial autônomo, está em condições vantajosíssimas para vencer, com relativa rapidez, nesta luta pela sua verdadeira e real emancipação. Para sustentar as reivindicações da revolução que propomos — única que julgamos útil aos interesses nacionais — o governo a surgir precisará ser realizado pelas verdadeiras massas trabalhadoras das cidades e dos sertões. Um governo capaz de garantir todas as mais necessárias e indispensáveis reivindicações sociais; limitação das horas de trabalho, proteção ao trabalho das mulheres e crianças, seguros contra acidentes, o desemprego, a velhice, a invalidez e a doença, direito de greve, de reunião e de organização. (...)
“Proclamemos, portanto, a revolução agrária e antiimperialista reali-
zada e sustentada pelas grandes massas da nossa população. Lutemos pela completa libertação dos trabalhadores agricolas de todas as formas de exploração feudais e coloniais, pela confiscação, nacionalização e divisão das terras, pela entrega da terra gratuitamente aos que trabalham. Pela libertação do Brasil do jugo do imperialismo, pela confiscação e nacionalização das empresas estrangeiras, dos latifúndios, concessões, vias de comunicações, serviços públicos, minas, bancos, anulação das dívidas externas. Pela instituição de um governo realmente surgido dos trabalhadores das cidades e das fazendas, em completo entendimento com os movimentos
revolucionários antiimperialistas dos países latino-americanos e capaz de esmagar os privilégios dos atuais dominadores e sustentar as reivindicações revolucionárias”
“Em março de 80, a Carta aos comunistas, analisando a situação do Pais e do partido. (1.5) “Considero importante destacar que, apesar do total arbítrio e do autoritarismo dominantes no País a partir do golpe reacionário de 1964, os governos que se sucederam em dezesseis anos não resolveram nem um só dos
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problemas fundamentais da Nação. Ao contrário, foram todos agravados. Aumentou a miséria dos trabalhadores, agravaram-se as desigualdades sociais, cresceu consideravelmente a dependência do País ao imperialismo, tornou-se mais crítica a situação do campo com astransformações capitalis-
tas ocorridas na agricultura e as modificações introduzidas no sistema latifundiário que levaram, entre outras consequências, à proliferação do minifúndio e dos chamados “bóias-frias”. Simultaneamente, cresceu vertiginosamente a criminalidade e a violência nas grandes cidades, agravaram-se a falta de assistência médica, o analfabetismo e a prostituição de menores. Isto comprova, mais uma vez, que o desenvolvimento capitalista não é capaz de
resolver os problemas do povo e nem sequer de amenizá-los.
(..)
“Penso que, para chegarmos à construção de uma efetiva frente democrática de todas as forças que se opõem ao atual regime, é necessário que se unam as forças de “esquerda” — quer dizer, aquelas que lutam pelo socialismo — no trabalho decisivo de organização das massas “ de baixo para cima”: que elas se aglutinem, (...) com base numa plataforma de unidade de ação, e que, dessa maneira, cheguem a reunir em torno de si os demais setores oposicionistas, tornando-se a força motriz da frente democrática. Esta éa perspectiva revolucionária de encaminhamento da luta contraa ditadura, a que mais interessa à classe operária ea todos os trabalhadores. Será a constituição em nosso País, pela primeira vez, da unidade de diversas forças que lutam pelo socialismo. Colocam-se contra essa possibilidade os que preferem ficar a reboque da burguesiae que buscam, comisto, mais uma vez, chegar em nosso País a uma democracia para as elites, da qual não participariam os trabalhadores. (ra) “Cabe aos comunistas, desde já, organizar e unir as massas trabalhadoras na luta pelas reinvindicações econômicas e políticas que se apresentam no próprio processo de luta contra a ditadura. E partindo dessas lutas, (...) que poderemos avançar no sentido do esclarecimento das massas para que cheguem à compreensão da necessidade das transformações radicais de cu-
nho antimonopolista, antiimperialista e antilatifundiário. É necessário mos-
trar aos trabalhadores que os grandes problemas que afetam a vida do nosso povo só poderão ser solucionados com a liquidação do poder dos monopó-
lios nacionais e estrangeiros e do latifúndio, e que isto só será conseguido
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com a formação de um bloco de forças antimonopolistas, antiimperialistas e antilatifundiárias, capaz de assumir o poder e dar início a essas transformações. Poder que, pelo seu próprio caráter, significará um passo decisivo
rumo ao socialismo. E para que esse processo tenha êxito, é indispensável
que a classe operária — a única consequentemente revolucionária — seja capaz de exercer o papel dirigente do referido bloco de forças. Mas este papel dirigente só se conquista na luta. O dever dos comunistas é exatamente o de contribuir para que esse objetivo seja alcançado?
Depoimentos atuais:
Luis Carlos Prestes, como todo o político militante não subordinado aos interesses da classe dominante, teve uma vida difícil,mas rica e criativa. É evidente que ao longo da sua jornada de lutas cometeu muitos erros. De minha parte posso afirmar que tenho, com seu exemplo, uma relação con-
traditória. Vejo-o de duplo ângulo: o primeiro, como um ser humano que doou sua vida na luta pelas causas populares e que por isso é um exemplo; do segundo, como um dirigente comunista que só muito tarde percebeu os desvios, Os erros primários e o descompromisso de classe do PCB, que hoje assume claramente o papel de apêndice da burguesia conservadora em nosso pais. Mas Prestes não é uma figura que só interessa aos comunistas. Interessa a todos os que acompanharam e acompanham, neste século, as lutas do povo brasileiro contra a exploração capitalista, no seu caminho em direção aum novo papel, que certamente será cumprido com a direção da classe operária. O que, mínimo, qualquer pessoa sensata é obrigada a tributar a Prestes, é a sua perseverança, a sua honestidade de princípios, a sua superioridade em relação aos políticos burgueses, que fizeram deste país — mormente nos últimos vinte anos — uma verdadeira republiqueta banhada em corrupção, nrepotência, irresponsabilidade, cuja economia é uma mera continuidade do capitalismo monopolista internacional. Luis Carlos Prestes é uma figura da nossa história e mesmo que se mantenha, com a sua biografia política, uma relação crítica e inclusive com di-
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vergências de fundo, é inegável que ele já está ao lado dos grandes vultos da nossa história, como Zumbi dos Palmares e como Tiradentes.
Tarso Fernando Genro, escritor e advogado.
A visão que tenho de Luiz Carlos Prestes ainda é a visão do Cavaleiro da Esperança, descrito por Jorge Amado; é uma visão que tenho do Prestes que vi na infância, falando para algumas milhares de pessoas no Parque da Redenção; do Prestes de quem meus pais e tios falavam com admiração e reverência. Do Prestes herói, do Prestes mártir. Desconfio que esta imagem permanece, em grande parte, válida. Como político, Prestes não parece ter tido muito êxito, se a gente concebe êxito, em política, como a ascenção ao poder. Prestes é como se diz em idish, um “shlemazl”, um perdedor nato. O que, a meus olhos de ficcionista, só au-
menta seus méritos. Tenho uma peculiar atração pelos quixotes, pelos “gauches” (sem trocadilho) da vida, por aqueles que teimosamente perseguem um ideal muito difícil de ser alcançado. Não creio que Prestes seja um estrategista, um maquiavel; mas creio, sim, que ele é um símbolo. Ele é — exatamente — o Cavaleiro da Esperança; em direção à esperança cavalga, como aquele outro Cavaleiro, o da Triste Figura. O importante pra ele é cavalgar,
como para outros era navegar; e, cavalgando, já saiu da miúda vida política
para entrar na História. Se não mereceu os votos dos brasileiros, merece, sem dúvida, seu respeito. Moacr Selvar, escrãor.
Recém retornado do exílio, em 197º ou 1980, Luiz Carlos Prestes veio a Porto Alegre. Através do professor José Joaquim Felizardo, seu sobrinho, fui convidado a participar de uma reunião com Prestes, na casa
de Francisco Riopardense de Macedo. Juntos, Hélgio Trindade e seus alunos da UFRGS, a conversa, amena, guntas e respostas, aconteceu ao longo A primeira surpresa foi física: a te elevada. Ao contrário, é um homem
tranquila, simpática, cheia de perde várias horas, durante aquela tarde. estatura de Prestes não é exatamenbaixo, embora reforçado. Suas vis-
tas já diminuídas parecem dar uma dimensão de fraqueza que, no entanto, desaparece tão logo Prestes comece a falar. Não se trata de uma voz forte, mas sim de uma segura entonação, que logo nos transmite a abso-
luta certeza de que seu dono sabe o que diz e diz o que quer.
A segunda surpresa, a memória: Prestes revelou ali elementos os mais variados sobre a marcha da Coluna, alguns dos quais pediu inclusive que
não se comentasse muito, a fim de evitar discussões que, na época, poderiam soar como provocações. E a cada indagação, e a cada resposta, Prestes não se limitava a dar a versão generalizante, que poderia ter sido por ele recuperada até mesmo a partir dos inúmeros relatos que hoje contamos sobre o histórico episódio. Ao contrário, Prestes sempre marcou sua intervenção pela minuciosidade que só quem viveu e sofreu O fato, poderia guardar. Antônio Hohlfeldt, vereador do PT por Porto Alegre.
Há uma frase de Sartre que se aplica (acho) ao Prestes e aos crentes em Jesus Cristo. “Não se é homem enquanto não se encontra alguma coisa pela qual se está disposto a morrer”. A primeira vez que o comunismo foi levantado (na história!!) foi entre os apóstolos de Jesus, depois que ele morreu. Atos 4, 32, 34 e 35: “E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns... 34”. Não havia, pois, entre eles, necessitado algum, pois todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, trazdam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. 36 — “E repartia-se por cada um, segundo a necessidade que cada um tinha”. É claro que logo, logo, ninguém mais cumpriu isso. Os comunistas muito menos. Renato Canini, artista gráfico.
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Indo e vindo em círculos crescentes O falcão não pode ouvir o falcoeiro; Há quedas em volta; o centro não pode manter; A anarquia espalha-se pelo mundo, O fluxo do sangue traído derrama-se, e em todo lugar A cerimônia da inocência está abafada; Aos melhores faltam todas as convicções, enquanto os piores Estão cheios de furiosa intensidade.
Certamente alguma revelação está próxima; Certamente a Segunda Vinda está próxima. A Segunda Vinda! Apenas estas palavras surgem Quando uma vasta imagem do espírito do mundo Turva minha visão: em algum lugar nas areias do deserto Uma criatura com corpo de leão e a cabeça de um homem, Um olhar claro e impiedoso como o sol, Está movendo seus músculos lentos enquanto sobre ela Rolam as sombras dos indignados pássaros do deserto. A sombra cai novamente; mas agora eu sei Que vinte séculos de sono pétreo Foram transformados em pesadelo por um berço balançante, E que besta-fera, sua hora por fim chegada, Ruma pesadamente a Belém para nascer? %e
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Nota: Este poema, simbólico da primeira à última linha, é um dos mais badalados da literatura mundial. Seu autor, o irlandês William Bu-
tler Yeats, era politicamente conservador, o que não bloqueou seu gênio poético. Luís Fernando Veríssimo, que me conseguiu o original, já o publicou em sua coluna, e o romancista Paulo Francis traduz e interpreta sua segunda parte nas últimas páginas do seu livro Cabeça de negro. A tradução acima, pela qual peço desculpas aos tradutores competentes, é minha, e é baseada nessas duas já publicadas.
MATERIAL
DE PESQUISA
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rica Latina. Edições Populares. 1982. Claudin, Fernando. A oposição no socialismo real. Marco Zero. 1954. Amado, Jorge. O cavaleiro da esperança. Record. 1980. Vários. Memória fotográfica do PCB. Brasiliense. 1982. Morais, Denis de e Vianna, Francisco. Prestes, lutas e autocríticas. Vozes. 1982. Furtado, Celso. Contribuição para o desenvolvimento da cultura brasileira. Paz e Terra. 1954. Vários. Prestes, hoje. Codecri. 1954. Netto, José Paulo. O que é stalinismo. Brasiliense. 1983. Spindel, Arnold. O que é socialismo. Brasiliense. 1983. Filho, Henrique Souza. Henfil na China. Codecri. 1980. Francis, Paulo. O afeto que se encerra. Civilização Brasileira. 1980. Tovnbee, Arnold. Estudos de história contemporânea. Europa. 1979.
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Foto: Luiz Antônio Ferreira
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O autor Aos trinta anos estrear em livro-solo não é mal, e quando já consta no currículo do indivíduo duas obras escritas a quatro mãos, ele tem tudo para não se sentir um fracasso.
É o caso do autor que vos fala. Fracasso, para ele, é aquele negócio
que o Woody Allen industrializou com muito mais talento com que seu primo, o também semita Paulo Maluf, tentou vender a outra atitude, o SUCESSO.
Como Mandrake, o personagem do Rubem Fonseca, também ama as mulheres a um nível — pronto, está dito! — passível de ser catalogado
de patológico; ainda não chegou ao ponto de estrangulá-las.
* Getúlio Vargas « Barão de Itararé *« Lupicínio Rodrigues * Leonel Brizola * Tesourinha
Flores da Cunha * Ildo Meneghetti
* João Goulart Dionélio Machado
* Érico Veríssimo
+.
*
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Jacobina Maurer João Cândido Elis Regina Landell de Moura Raul Bopp Gilda Marinho Pedro Raimundo * Borges de Medeiros Teixeirinha Simões Lopes Neto Aureliano de Figueiredo Pinto
Qorpo Santo
Sepé Tiaraju Honório Lemes Mário Quintana Fernando Ferrari * Pinheiro Machado
Júlio de Castilhos Gildo de Freitas
Carlinhos Hartlieb
* Luis Carlos Prestes Alceu Wamosy Padre Reus Silveira Martins . Oswaldo Aranha Assis Brasil
Bento Gonçalves da Silva Anita Garibaldi
Domingos José de Almeida
Álvaro Moreyra
* Volumes já publicados