Iconografia da Paisagem Brasileira / Brazilian Landscape iconography 9786587079004


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Iconografia da Paisagem Brasileira / Brazilian Landscape iconography
 9786587079004

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Iconografia da Paisagem Brasileira Brazilian Landscape Iconography

Iconografia da Paisagem Brasileira Brazilian Landscape Iconography

Orlando Graeff

Apresentação Foreword Classificar faz parte dos naturais anseios humanos. Em seu afã de entender a organização dos distintos mundos que compõem o mundo, o homem classifica animais, plantas, rochas. Classifica geoformas, solos e ambientes.

Com as paisagens não é diferente. Em seu esforço de definir – ou descobrir – como as paisagens podem ser distinguidas por algum perfil, ou algum conjunto de características, em geral artificialmente estabelecido, ele busca critérios que possam trazer alguma coerência sistêmica. Na dinâmica que rege as correntes científicas, há propostas em evolução permanente para se poder definir o que é uma paisagem e o que é a outra. E, lógico, com o desenvolvimento científico-tecnológico, tais sistemas vão se tornando cada vez mais sofisticados. Existem formas antes impensáveis de se definir a taxonomia de uma determinada paisagem. Até mesmo a partir dos sons, bióticos e abióticos, que delas emanam. Sim, as paisagens têm uma assinatura sonora que as individualiza! Para nosso deleite, os novos métodos científicos não têm sido excludentes. Hoje, para um levantamento paisagístico, usa-se um drone altamente sofisticado, mas que pode ser considerado como uma câmera fotográfica convencional, só que voadora. Entre as técnicas de registro científico mais tradicionais, destacam-se a fotografia e o desenho. Este último é ainda largamente usado em ciências porque enseja técnicas de destaque em que as características de interesse podem ser realçadas de forma inequivocamente artísticas, porque pressupõem a inclusão das subjetividades do autor. Como toda forma de expressão artística, o desenho científico tem especificidades, a começar pela demanda de uma apurada capacidade técnica que coloca, na mesma tela, necessidades de registro preciso e, ao mesmo tempo, a índole do criador. Muitos artistas limitam deliberadamente os meios de se expressar, não por uma atitude reducionista, mas porque se deixam atrair pela ideia de que a essência é suficiente para uma resposta significante. Essa ideia estrutural é explicitada na asserção de Matisse, ao manifestar sua célebre ambição de “dizer o máximo com o mínimo”. Dois outros artistas também puseram em prática esta limitação intencional: Piet Mondrian, quando elege a ortogonalidade como estrutura única de composição, refletindo para a tela a artificialidade das paisagens dos Países Baixos. E Victor Vassarely, com suas progressões poligonais em que efeitos volumétricos e de perspectiva são construídos a partir apenas de círculos e quadrados. A ilustração científica é arte das mais difíceis porque se enquadra num tipo de produção em que, ao escolher esta forma, o artista já se impõe uma enorme limitação em suas possibilidades de expressão, principalmente aquela ditada pela necessidade de sua obra ser claramente dotada do mencionado caráter documental. É claro que é possível esta convivência entre ciência e arte, o que já está sobejamente demonstrado pelos diversos artistas-documentadores que, ao longo de nossa breve história, registraram ambientes, seres e coisas das tantas e tão distintas fisionomias brasileiras. Nesta iconografia, Orlando Graeff deixa patente, e de forma definitiva, tal intento. Na mais pura tradição das Tabulæ Phisyognomicæ da Flora Brasiliensis de Von Martius, ou dos preciosos registros de Percy Lau e de Margaret Mee, ele pertence a uma espécie sob ameaça de extinção e reúne em seus trabalhos as qualidades necessárias aos objetivos da ilustração científica, que são, em última análise, a conexão entre a busca da

expressividade e a necessidade do rigor, entre a composição em sua acepção mais artística e a precisão do registro, entre a aventura da criação livre de regras e fórmulas e a indubitabilidade da verdade científica. E esse artistacientista logra tal propósito porque soube reunir em seu cadinho amplo conhecimento das paisagens brasileiras com a relevância inquestionável de sua veia artística. José Tabacow Junho de 2020 The act of categorizing is part of natural human aspirations. In his eagerness to understand the organization of the distinct worlds that form the world, man classifies animals, plants, rocks. He classifies geoforms, soils and environments . It is no different with landscapes. In his efforts to define – or discover – how landscapes can be distinguished by a profile or set of traits, often artificially established, he seeks criteria that can deliver some systemic coherence. In the dynamics governing scientific trends, there are proposals in permanent evolution so to make it possible to define what is one landscape and what is another. In addition, obviously, with the techno-scientific progress, such systems become increasingly sophisticated. Procedures once unthinkable are employed today to define the taxonomy of a given landscape. Even the biotic and abiotic sounds emanating from it can be employed. Indeed, each landscape has a signature sound that individualizes it. To our delight, the new scientific methods have not been excluding. Nowadays, a landscape assessment is performed by a state-of-the-art drone, which could be regarded as a conventional photographic camera, albeit a flying one . Among more traditional methods for recording scientific data, photography and drawing stand out. The latter is still largely used in science as it enables techniques that highlight certain characteristics, which can then be accentuated in an unequivocally artistic manner, for they imply the inclusion of the author’s subjectivity. Like any other artistic expression, the scientific drawing bears specificities, starting with the requirement of precise technical ability to include, simultaneously in the same canvas, what needs to be depicted and the author’s creative flair . Many artists deliberately restrict their means of expression. They are not inspired by a reductionist attitude but rather attracted to the notion that the essence is enough for eliciting a significant response. This structural idea is manifested in Matisse’s assertion as he states his celebrated ambition of “saying the most with the least.” Two other artists also practiced such intentional limitation: Piet Mondrian, when he elected orthogonality as the sole structure for composition, reflecting on the canvas the artificiality of the Netherlands’s landscapes; and Victor Vassarely, with his polygonal progressions in which the effects of volume and perspective are obtained by using only squares and circles . Scientific illustration is one of the hardest forms of art because it falls within a kind of production that, as the artist chooses it, he or she imposes great

limitation to the possibilities of expression, especially the one dictated by the necessity of producing a piece of work clearly endowed with the aforementioned documental nature. The conjunction of science and art is obviously possible and has been abundantly demonstrated by the many artists-documenters who, during our brief history, depicted environments, creatures and things from the varied and distinct Brazilian physiognomies . In this iconography, Orlando Graeff makes this intent clear and definitive. In the purest tradition of the Tabulæ Phisyognomicæ in Flora Brasiliensis by Von Martius or the precious records by Percy Lau and Margaret Mee, he belongs to a threatened species and congregates in his works the qualities needed to the goals of scientific illustration, which ultimately are connect the search for expressivity with the need for rigor, the composition in its most artistic acceptation with record accuracy, the adventure of creation freed from rules and formulas with the indisputability of scientific truth. And this artist-scientist achieves this purpose because he knows how to integrate in his crucible an ample knowledge of the Brazilian landscapes and the unquestionable relevance of his artistic vein . José Tabacow June, 2020 Prefácio Preface Esta obra de Orlando Graeff representa uma profunda e atualizada conexão entre a arte e a ciência, e uma importante contribuição para integrar as percepções e os vínculos entre o homem e a natureza. Com maravilhosas e detalhadas iconografias de diferentes regiões biogeográficas do Brasil e suas paisagens características, os cenários retratados nesta obra nos levam à sensação de “sentir” a natureza e seus elementos, e a uma compreensão da beleza e harmonia das regiões naturais retratadas. As iconografias representando as paisagens são acompanhadas de um texto onde o autor descreve, de maneira precisa e com uma primorosa acuidade, as características fitogeográficas e aspectos da composição e da estrutura da paisagem, demonstrando um aprofundado conhecimento de diversos ramos da ciência, especialmente aqueles que se relacionam com geografia e biologia. Já é bem reconhecido que as inúmeras expedições realizadas pelos viajantes naturalistas que vieram ao Brasil no fim do século XVIII e no século XIX, representaram importantes contribuições para o conhecimento e compreensão de nosso território e seus diferentes ecossistemas, retratando a diversidade de paisagens, descrevendo fenômenos e ilustrando as espécies da fauna e flora. Por isso, se tornaram as bases do conhecimento das Ciências Naturais.

Na presente obra, além de atualizar o conhecimento sobre as principais regiões do país e de seus diferentes tipos de vegetação, o autor integra a informação sobre a flora, a fauna e personagens humanos locais, documentando também a realidade dos impactos ambientais que vêm, ao longo dos séculos, modificando a natureza. Nesse sentido este livro pode ser visto como um marco histórico das mudanças nas paisagens naturais do Brasil. É interessante notar como o trabalho de Orlando Graeff expressa uma visão própria do autor/observador. Nele, conhecimento e a sensibilidade artística estão libertas das questões de definições conceituais típicas do mundo acadêmico, expressando uma perfeita conexão entre a abordagem geográfica, ecológica e artística. Não posso deixar de mencionar o quão prazeroso foi receber o honroso convite para escrever este prefácio e o quanto o Universo conspirou para isso. Destaco nesse sentido, a felicidade que senti pelas semelhanças na formação do autor, descrita na sua Introdução, com a minha própria. Iniciei minha carreira profissional na mesma Instituição, o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, alguns anos antes do Orlando, e tive como orientadora a mesma “Dona Graziela”. Esta coincidência é digna de ser mencionada por ser esta obra um exemplo daquilo que a Dra. Graziela Maciel Barroso, nossa querida Dona Graziela deixou para todos como um legado: o de compartilhar o conhecimento e a sabedoria. Por último, destaco a oportunidade que as perfeitas ilustrações do Orlando proporcionam, permitindo aos leitores perceberem com detalhes o cenário, a luminosidade, os aromas e texturas, numa expressão sensorial que possibilita uma vivência integrada aos campos, montanhas e florestas ilustrados. Além da contribuição única e original, a grande experiência que este livro proporciona vem do “sentir” o que os desenhos e as descrições fitogeográficas despertam dentro de cada um de nós. Gustavo Martinelli Junho de 2020 This work by Orlando Graeff delivers a deep and up-to-date connection between art and science, as well as an important contribution for integrating the perceptions and ties between mankind and nature . Featuring gorgeous, detailed iconographies of different biogeographic regions in Brazil along with their typical landscapes, the sceneries depicted in this book make us “feel” nature and its elements and hence understand the harmonious beauty of the portrayed regions . Each iconography representing a landscape is accompanied by a written piece in which the author describes with exquisite accuracy the phytogeographic characteristics and aspects of the landscape composition and structure, revealing in-depth knowledge of several science branches, particularly those relating to geography and biology .

As is well known, the numerous expeditions of naturalists to Brazil in the late 18th century and in the 19th century brought important contributions to the knowledge and understanding of the Brazilian territory and its different ecosystems, depicting the landscape diversity, describing phenomena and illustrating fauna and flora species. For that reason, they became the pillars of the Natural Sciences knowledge . In this book, the author updates the knowledge on the main Brazilian regions and their different types of vegetation, consolidating information about the flora, fauna and local human characters, and also documenting the reality of the environmental impacts that have been altering nature over the centuries. In that sense, this book can be regarded as a historic milestone of the changes occurring in natural landscapes in Brazil . It is interesting to note how Orlando Graeff’s work expresses a peculiar author/observer vision. Here knowledge and artistic sensitivity are freed from the conceptual definition matters that are typical of academia, thus manifesting a perfect connection between the geographic, ecological and artistic approaches . I cannot help but mention what a pleasure it was to receive the honorable invitation to write this preface and how much the Universe conspired for that. In this sense, I must share my joy when I realized the similarity between the author’s education, described in his Introduction, and my own. I started my professional career in the same institution as Orlando − the research institute named Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro − a few years before he did, and our supervisor was the same “Ms. Graziela.” Such a coincidence is worth mentioning, as this book is an example of our dear Dr. Graziela Maciel Barroso’s legacy to all of us: the sharing of knowledge and wisdom . Finally, I emphasize the opportunity granted by Orlando’s perfect drawings, which allow readers to perceive details, sceneries, light, scents and textures, in a sensorial journey enabling an integrated experience of the fields, mountains and forests illustrated in the book . In addition to this unique, original contribution, the great experience offered by this book is “feeling” what the drawings and phytogeographic descriptions awaken within each of us . Gustavo Martinelli June, 2020

Introdução Introduction Dona Graziela se debruçou sobre a escrivaninha na qual eu desenhava uma flor da orquídea Maxillaria picta , que havia recém-dissecado, e observou por alguns instantes, pensativa. Em seguida, olhou para mim e perguntou, meio que já afirmando, se eu realmente havia feito o pequeno desenho à

caneta esferográfica em meu caderno de estudos. Sem sequer me dar tempo de responder, ela me fitou carinhosamente e disse uma frase que jamais esqueci: “Meu filho, você será um grande pesquisador”. Doutora Graziela Maciel Barroso comandava o Departamento de Botânica Sistemática do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde, no ano de 1975, eu havia cavado um estágio, tão precoce quanto extraordinário, juntamente com meu grande amigo e companheiro de excursões pelas florestas Paulo Raguenet. Ainda cursando o ensino médio, havíamos ambos batido à porta da instituição, entusiasmados com a possibilidade de aprender Botânica, sem sequer imaginarmos a estatura intelectual e humana daquela cientista que (viemos saber mais tarde) seria considerada a maior taxonomista de plantas do Brasil. “Dona” Graziela então decidiu, por sua própria conta e risco – e sensibilidade – nos aceitar de modo informal mesmo, uma vez que não tínhamos, é claro, sendo ainda tão jovens, os requisitos acadêmicos para um estágio formal. Tudo o que desejávamos era o aprendizado, não nos importávamos com certificados e títulos. Nesse período, frequentamos quase diariamente o Jardim Botânico, ostentando orgulhosos os jalecos brancos que fazíamos questão de usar, revestindo-nos do máximo caráter científico que nos fosse possível. Tornamo-nos amigos de todos os responsáveis por departamentos e dependências da instituição, inclusive sua biblioteca tão completa, onde pude folhear pela primeira vez um dos mais esplêndidos trabalhos sobre orquídeas, que eu estudava com máximo carinho: Iconografia de Orchidaceas do Brasil , magnífica obra, de autoria do naturalista Frederico Carlos Hoehne, um pesado livro, recheado por inimitáveis ilustrações de orquídeas da Flora Brasiliensis e outras belas fontes pictóricas. Eu sempre desenhara plantas, entre outros objetos de meu interesse, que me atraíam, ou que me apaixonavam. Porém, com meu ingresso no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde passei a ilustrar plantas dissecadas a partir de exemplares do arboreto e das estufas, o desenho começava a fazer parte de minha trajetória científica. Desenhando, passava a conhecer melhor os detalhes morfológicos das plantas que estudávamos, e se tornava mais fácil reconhecer similaridades e diferenças entre elas, o que resultava na compreensão clara de como elas podiam ser organizadas nos grupos taxonômicos a que pertenciam: classes, ordens, famílias e gêneros, chegando às espécies onde tais detalhes se tornavam cada vez mais sutis. Mais de quarenta anos depois do vaticínio de Dona Graziela, sem que jamais tivesse me esquecido do que ela dissera, consegui compreender bem por que havia feito aquela afirmação: ao observar a minha busca de rigor nos detalhes do desenho, ela seguramente se baseava no preciosismo da minha arte, mais do que na mera suposição de que eu tivesse talento para me tornar um taxonomista. Com o passar dos anos, a escala de percepção de minha ciência foi sendo ajustada, mudando gradualmente de unitária – que estuda as plantas individualmente – para escala de paisagem, através da fitogeografia – enfocando assembleias de plantas que interagem com o meio e formam vegetações.

Nas numerosas expedições que fiz pelo país, nunca deixei de desenhar as plantas que encontrava e estudava, ou mesmo no trato com minha coleção científica, que mantém centenas de plantas catalogadas. Algumas delas, inclusive, ilustram incidentalmente a presente obra, embora as imagens principais tenham sido elaboradas em escala de paisagem. Comecei a fazer estes desenhos de paisagens de forma diletante, talvez, como mero exercício de habilidades e técnicas. Passei a desenhar florestas, que eram os ecossistemas que mais me entusiasmavam. Nessa época, eu trabalhava e residia nos domínios da Floresta Atlântica. Algumas vezes, por necessidade, lancei mão dessa habilidade de desenhista ao me ver momentaneamente destituído da câmera fotográfica, precisando registrar, no campo, alguns aspectos das matas e locais que visitava. Ali a arte começava a derivar da sua escala unitária, à qual já me acostumara, para a escala de paisagem. Muitos de meus relatórios de viagem, escritos em épocas de maior carência de recursos, traziam rabiscos e esboços de plantas e cenários dos lugares que visitava. A chegada da fotografia digital foi impiedosa ao distanciar cientistas e artistas de suas pranchetas, em favor de imagens cada vez melhores e mais baratas dos objetos pesquisados. Afinal, para que despender tanto tempo, usualmente em posições nada cômodas no campo, rabiscando plantas e cenários, se você pode simplesmente apertar um botão de um dispositivo eletrônico, obtendo inúmeras imagens de alta resolução? Foi em 2018 que tive oportunidade de me debruçar novamente sobre o assunto, durante o II Workshop Arte e Ciência , organizado na UFRJ pelos departamentos de Geografia e Belas Artes, sob coordenação de dois grandes intelectos das duas áreas, os Professores Antônio José Teixeira Guerra e Raphael Santos, respectivamente. Assim, ao ser convidado a proferir palestra a respeito da importância da arte para a ciência, em tempos de fotografia digital, lembreime imediatamente das palavras da Dona Graziela, ditas décadas antes, no Jardim Botânico. Minha mãe Angelina Corredo, experimentada pintora, que tanto me ensinara nos tempos de infância, já havia me dado a senha que encontraria eco na observação de Dona Graziela: “desenhar bem é enxergar bem”. Seguramente, as habilidades manuais do artista ajudam bastante, embora se saiba hoje que elas representam pouco mais que o resultado das conexões entre um cérebro artista e as mãos do desenhista. Mas, principalmente, o que fica patente ao desenharmos uma planta, ou mesmo uma paisagem, por exemplo, é que nos obrigamos a observá-las com maior atenção, a compreendê-las organicamente, o que nos leva a conhecê-las melhor. Devidamente informados pelo que enxergamos, fornecemos a nossas mãos o impulso que propicia à arte representar o objeto de nossa ciência. E assim ocorre na arte fazendo ciência como na vida, pois afinal “a vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida”, como ensinava Oscar Wilde. Na presente obra apresento diversas paisagens brasileiras a partir de seus quadros vegetacionais, consolidando o retorno da arte ao cenário de estudos da fitogeografia e da paisagem. Cabe ressaltar que este livro nasceu com decisivo viés artístico, mais que com qualquer pretensão acadêmica quanto à matéria científica sobre a qual se debruça. Ainda posso adiantar que, ao

desenhar cada uma das pranchas que o integram, aprendi muito mais sobre as vegetações que ilustrava, confirmando o postulado de Wilde. O projeto nasceu da provocação de minha editora Simone Rodrigues, na época em que trabalhávamos na publicação do meu primeiro livro, fartamente ilustrado com imagens fotográficas e desenhos mais técnicos: Fitogeografia: uma atualização de bases e conceitos – ao qual, aliás, poderá recorrer qualquer leitor que deseje conhecer mais sobre o debate científico que, decisivamente, não é objeto da presente obra. Ainda que tais representações tivessem um caráter mais explicativo, como os diagramas de perfil, Simone demonstrou grande entusiasmo com a beleza dos desenhos e o estilo do meu traço. Foi quando lhe confiei meu desejo de fazer uma obra exclusivamente composta por desenhos artísticos. Diante de seu olhar interessado, similar àquele de Dona Graziela tantas décadas antes, expliquei que poderia apurar a qualidade dos desenhos e produzir uma quantidade maior deles, ao que ela respondeu incentivadora: “Esse sim será um livro de arte”. E assim foi. Claro que essa convergência entre arte e ciência não é nada inovadora em si mesma. Como sabemos, ela fez parte do trabalho de uma infinidade de cientistas e ilustradores durante séculos. Em não poucos casos, o próprio botânico desenha as plantas que está investigando e, com isso, não apenas completa o processo formal de sua publicação, mas também aprimora seu conhecimento sobre o novo táxon que apresenta à ciência. Mas, em tantos outros, os cientistas lançam mão do auxílio de ilustradores científicos profissionais, que se aperfeiçoam durante anos para prestar esse relevante serviço ao progresso científico. Contudo, no cenário fitogeográfico, com a consolidação da fotografia digital e da computação gráfica – que ajuda a criar modelos teóricos de vegetações e ecossistemas associados –, essa participação artística decrescera quase ao nível da extinção. O aperfeiçoamento de qualidade, rapidez e economicidade das técnicas fotográficas terminou por induzir paisagistas e fitogeógrafos a desistir das pranchetas, o que certamente os distanciou também do efetivo conhecimento das plantas e ecossistemas. Até o século XIX, a ilustração paisagística não era mero capricho artístico, mas de fato uma necessidade imperiosa na tarefa de registrar e divulgar um mundo que ainda estava sendo descoberto pelos europeus. Pouco, ou quase nada, se sabia no Velho Continente sobre o Brasil e a América do Sul, sobre sua natureza, seus bichos, suas plantas e sua gente. Coube a muitos artistas viajantes vir ao Novo Mundo, com seus blocos, penas e cavaletes, na missão heroica de registrar e reportar aos países da Europa como eram as colônias, que cresciam e se emancipavam rapidamente. Homens de habilidades múltiplas e grande ambição científica vieram ao Brasil e empreenderam notáveis jornadas, por suas terras bravias, enfrentando toda sorte de perigos e dificuldades, para realizar suas descobertas e também para desenhá-las. Preciosos tesouros iconográficos são hoje conservados no país e fora dele, contendo aqueles trabalhos de incomparável técnica e beleza. Muitos desses trabalhos históricos eram singelamente rabiscados no campo, sob as mais duras condições. Para quem conhece nossa natureza indômita, é difícil crer que aquelas verdadeiras joias fossem concluídas em meio ao ambiente hostil das florestas. Sabe-se atualmente que a maioria dessas obras detalhistas recebia a cooperação técnica de outros artistas

especializados, que apunham seu traço e seus conhecimentos específicos, sendo que grande parte deles jamais conheceu pessoalmente as localidades e, por vezes, sequer o próprio artista residente nos trópicos, de onde muitos jamais retornaram. O resultado dessa epopeia artístico-científica, com seus cenários carregados de romantismo, chegava por vezes a suplantar as tentativas posteriores de um registro mais realista através da fotografia. Evidentemente, ao lançar mão dessas operações multidisciplinares e coletivas, onde diversos artistas imprimiam seus ideais às impressões iniciais dos naturalistas viajantes, boa parte dessas obras acabava por ilustrar paisagens nas quais surgiam tipos e formas europeias, nem sempre idênticas àquelas observadas nos trópicos úmidos e quentes. Árvores graciosas e delicadas, de copas visivelmente relacionáveis a climas temperados; homens e mulheres elegantemente vestidos e de traços europeus, enfim, toda sorte de elementos exóticos se impunham à visão inicial dos pesquisadores e viajantes que excursionavam Brasil afora. Há exceções célebres, nas quais os resultados terminaram por compor importante iconografia da paisagem brasileira, como foi o caso inequívoco de Carl Friedrich Philipp von Martius, que viajou pelo Brasil entre 1817 e 1820, na companhia do cientista Johann Baptist von Spix, ambos alemães, legando deslumbrantes ilustrações sobre nossas plantas, bichos e vegetações. Seus desenhos primorosos são até hoje utilizados por pesquisadores botânicos em seus trabalhos. Para mim, pessoalmente, o acaso, ou a providência trataram de imprimir influência bem mais decisiva, a partir da figura de outro viajante alemão, Johann Moritz Rugendas, que empreendeu viagens pelo Brasil entre 1822 e 1825, e deixou admirável coleção de ilustrações, compondo a famosa obra Viagem Pitoresca pelo Brasil , que me chegou às mãos ainda na metade da década de 1970. Mesmo sem qualquer pretensão de me comparar a ele, estava selada ali, definitivamente, a mais forte influência sobre o meu trabalho. Seus quadros retratam paisagens brasileiras – além, é claro, de tipos humanos e costumes –, de forma única, lidando com luzes e sombras as mais verdadeiras em nossa natureza, transmitindo igualmente a emoção das viagens de que participou. Ainda assim, Rugendas nunca estabeleceu relações sistemáticas de fitogeografia a seus quadros, ficando para as novas gerações a tarefa de tentar algo nesse sentido. E foi exatamente isso que busquei ao elaborar os desenhos que apresento neste livro. Ao fazê-lo, tratei de criar desenhos-síntese, que correspondem de certa forma aos trabalhos em escala unitária, usualmente elaborados pelos taxonomistas botânicos. Da mesma forma como um ilustrador botânico desenha um ramo fértil de determinada planta, representando todos os principais órgãos que lhe permitem identificar o táxon em questão, tive que recorrer a toda informação sobre as paisagens por mim descritas. Essas informações por vezes eram quase evidentes, quando encontrava cenários muito típicos, nos quais a maioria das características paisagísticas se encontrava presente. Foi o caso, por exemplo, do desenho relacionado ao Cerrado, intitulado Campo de Cerrado e Chapada em Tesouro, no Mato Grosso, no qual o único elemento excepcionalmente aposto por minha iniciativa criativa foi o tamanduá, que vaga pela paisagem. O animal existe de forma abundante no local, porém, foi ali disposto por meu engenho

artístico para complementar a gravura. De resto, todo o cenário diz respeito à paisagem visitada. Noutros casos, tive que estudar minuciosamente vasta coleção de imagens separadas, além de visitar localidades que me dessem a ideia de como se desenrolava a paisagem, proporcionando a desejada síntese, que culminaria no quadro. Exemplo dramático dessa tarefa de engenho e criatividade, que somente o artista poderá ter – e mesmo assim se for previamente conhecedor da fitogeografia –, foi o desenho intitulado Floresta Estacional Semidecidual Próximo a Rondonópolis, que retrata florestas hoje praticamente extintas, no Mato Grosso. Algumas expedições foram realizadas na região, examinando cuidadosamente fragmentos dispersos em fazendas e reservas indígenas, tendo essa imagem sido criada a partir do intercruzamento entre os cenários visitados, considerando eventuais dissimilaridades de solos e topografia, que determinam fácies diversas de uma mesma vegetação. Neste caso, a dramaticidade da obra não se resume às dificuldades científicas, mas também à minha efetiva capacidade de interpretar a própria memória, haja vista ter conhecido essas matas, quando ainda estavam de pé, em grandes fragmentos, nos anos de 1980. Igualmente sem pretensão acadêmica, atendo-me principalmente à tarefa artística em si, realizei esta obra seguindo, porém, a intuição profética de Dona Graziela e os preceitos artísticos da pintora Angelina, fixados em minha mente, juntamente com os aprendizados científicos de todos esses anos. Se a inspiração técnica adveio do incenso épico da obra de Rugendas, devo admitir que o nome do livro me foi “soprado” pelo naturalista Hoehne e sua Iconografia de Orchidaceas do Brasil . Que o deleite da viagem contemplativa, realizada através dos desenhos, possa também inspirar os leitores no sentido de conhecer melhor nossas paisagens botânicas, atualmente em imenso risco de desaparecimento. Aos mais jovens, em quem confio de forma esperançosa – como confiou em mim Dona Graziela – declaro o meu desejo mais sincero de que surjam novos nomes em nossa ciência, pois artistas criativos nunca hão de faltar em nossa cultura. Ms. Graziela leaned over the desk where I was drawing a flower of the Maxillaria picta orchid, which I had just dissected, and observed it for a few moments, pensively. Next, she looked at me and asked, in a rather affirmative tone, if I had indeed made the small drawing with a ballpoint pen on my notepad. Without waiting for my response, she stared at me tenderly and said something that I would never forget: “You will be a great researcher, son.”

Dr. Graziela Maciel Barroso headed the Systematic Botany Department of Rio de Janeiro’s Botanical Garden, where, in the year of 1975, I had found an internship as extraordinary as premature, along with my dear friend and companion in my incursions into forests, Paulo Raguenet. Still attending High School, we had knocked on the door of the institution, excited at the prospect of learning Botany, far from imagining the human and intellectual stature of that scientist who (as we later learned) one day would be deemed the greatest plant taxonomist in Brazil. “Ms.” Graziela then decided at her own risk – and thanks to her empathy – to accept us in an informal capacity, for we obviously did not possess, as young as we were, the academic requirements for a formal internship . All we wanted was to learn, we didn’t care about certificates and titles. In that period, we went almost every day to the Botanical Garden, proudly sporting the white smocks that we made a point of wearing, trying to behave as much as possible like real scientists. We befriended everyone in the staff, including those working on the well-stocked library, where I had my first chance to leaf through one of the most splendid works on orchids, which I studied with all my heart: Iconography of the Orchidaceae in Brazil, a magnificent work by naturalist Frederico Carlos Hoehne, a thick book rich in inimitable illustrations of orchids from the Flora Brasiliensis and other beautiful pictorial sources . I had always drawn plants, among other subjects of interest to me, things that attracted me or about which I was passionate. However, once I started my internship at the Rio de Janeiro Botanical Garden, where I drew plants dissected from the arboretum and greenhouses, drawing became a part of my scientific trajectory. As I drew, I deepened my knowledge on the morphological details of the plants we were studying, so that made it easier to recognize their similarities and differences, which gave me a clear understanding of how they could be organized in their respective taxonomy groups: clades, orders, families and genera, until reaching the species, in which such details were increasingly subtle . More than forty years after Ms. Graziela’s prediction, without ever forgetting what she had said, I was able to understand exactly why she made that statement: while observing how I sought to rigorously detail my drawing, she certainly based it on the perfectionism of my art, rather than on the mere assumption that I possessed the talent to become a taxonomist. Over the years, the scale of perception of my science was adjusted, gradually changing from unitary – which studies plants individually – to a landscape scale through phytogeography – focusing on plant groupings that interact with the environment and form a vegetation . In my numerous expeditions around the country, I never stopped drawing the plants I encountered and studied, or even when I dealt with my scientific collection, which encompasses hundreds of catalogued plants. Some of them, by the way, occasionally illustrate parts of this book, although the main images are on a landscape scale. I started making these landscape drawings as a dilettante, perhaps as a mere exercise in techniques and skills. I then took to depicting forests, the ecosystems that interested me the most. At the time, I worked and lived in the domains of the Atlantic Forest.

Sometimes, out of necessity, I resorted to my drawing skills when I found myself momentarily without a camera and needed to record, during field work, certain aspects of the forests and locations I was visiting. There, art began diverting from my usual unitary scale to the landscape scale. Many of my travel reports, written in times of fewer resources, featured scribbles and sketches of plants and sceneries from the places I visited . The advent of digital photography turned out to be merciless as it took scientists and artists away from their drawing boards in favor of images increasingly better and cheaper of the researched subjects. After all, why waste so much time scribbling plants and sceneries, often in uncomfortable positions during field work, when you can simply press the button of an electronic device to obtain countless high-resolution images? In 2018, I had a chance of addressing the matter again during the Art and Science Workshop II at the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ), organized by the Geography and Arts departments under the supervision of two great experts in both fields, professors Antônio José Teixeira Guerra and Raphael Santos, respectively. As I was invited to give a lecture on the importance of art to science in the digital photography era, I immediately recalled Ms. Graziela’s words, uttered decades earlier in the Botanical Garden . My mother Angelina Corredo, a seasoned painter who taught me so much in my childhood, had already provided me with the password echoed in Ms. Graziela’s comment: “drawing well means seeing well.” Surely, an artist’s manual skills can be very helpful, even though today we know they are just the result of the connections between an artistic brain and the drawer’s hands. Regardless, and above all, what becomes obvious when we draw a plant or even a landscape, for example, is that we force ourselves to observe them more attentively and understand them organically, which gives us a better knowledge of them. Then, duly informed by what we see, we provide our hands with the impulse that enables art to represent the subject of our science. And thus it goes in art making science as it goes in life; after all, “life imitates art far more than art imitates life,” as Oscar Wilde once said . In this book, I approach a variety of Brazilian landscapes from their vegetational aspects, hence consolidating the return of art to the scenario of phytogeography and landscape studies. I should stress that this work was born with a decisive artistic bias rather than with any academic claim regarding the scientific subject it focuses. I should also mention that, while making each illustration here, I learned much more about the portrayed vegetation, confirming Oscar Wilde’s postulate. This project took root thanks to my editor Simone Rodrigues, when we were working on the publication of my first book, extensively illustrated with photographs and more technicaloriented drawings: Phytogeography: an Update of Bases and Concepts – to which, by the way, any reader can resort if they are interested in learning more about the scientific debate that, definitely, is not the subject of this book. Although those images rather implied an explanatory aspect, such as the profile diagrams, Simone showed great enthusiasm at the beauty of the drawings and my style. That was when I confided to her my wish to create a piece of work centering on artistic drawings. Given her interested look, similar to that of Ms. Graziela so many decades earlier, I explained that I could boost the quality of the drawings and produce them in a larger

number, to which she replied in an encouraging tone: “That would indeed be an art book.” And so it was . This convergence of art and science per se is obviously nothing new. As we know, it has been part of the work of an infinity of scientists and illustrators for centuries. Often botanists themselves draw the plants they investigate and hence not only complete the formal publication process of those plants but enhance their own knowledge on the new taxon they are introducing to science. In many cases, however, scientists rely on professional scientific illustrators, who have perfected their skills for years in order to render this relevant service to the advance of science. Nevertheless, in the phytogeographic scenario, with the consolidation of digital photography and computer graphics – which helps to create theoretical models of vegetation and related ecosystems – such artistic contribution has decreased almost to the point of extinction. The enhanced quality, agility and low cost of photographic techniques ended up inducing landscapers and phytogeographers to give up their drawing boards, which has surely distanced them from the effective knowledge on plants and ecosystems . Until the 19th century, landscape illustration was not a mere artistic whim but indeed a real, imperious necessity in the task of recording and divulging a world in the process of discovery by Europeans. Little, or almost nothing, was known in the Old Continent about Brazil and South America, their nature, animals, plants and people. It was in the hands of many travelling artists the heroic mission of coming to the New World with their sketchpads, quills and easels in order to record and report to European countries descriptions of the colonies, which were rapidly growing and emancipating. Men with multiple abilities and great scientific ambition disembarked in Brazil and made remarkable journeys in its wild lands, facing all sorts of dangers and difficulties so to make their discoveries and also draw them. Precious iconographic treasures are preserved today in the country and abroad, with works of incomparable technique and beauty . Many of such historical works were simply sketched in the field, under the harshest conditions. For those who know Brazil’s indomitable nature, it is hard to believe that these sheer gems were created amid the hostile forest environment. We currently know that most of these detailed works benefitted from the technical contributions of other specialized artists, who added their tracing and specific knowledge; many had never been to the portrayed locations, which was sometimes true even in regard to an artist residing in the tropics, not to mention that many travelers who did visit the tropics never returned. The result of this artistic-scientific saga, with its sceneries heavy on romanticism, would occasionally surpass posterior attempts to produce a more realistic depiction through photography . Evidently, by employing those collective and multidisciplinary actions, in which several artists imprinted their own idealizations onto the initial impressions of travelling naturalists, a good deal of those works ended up illustrating landscapes where European phenotypes and forms emerged, not always identical to the ones observed in the humid, hot tropics: graceful and delicate trees, with crowns visibly relatable to cold climates; men and women elegantly dressed and featuring European traits; in short, all sorts of

exotic elements were imposed on the initial impressions of researchers and travelers touring Brazil. There are famous exceptions, with results that ended up constituting an important iconography of the Brazilian landscape, as was the unequivocal case of Carl Friedrich Philipp von Martius, who journeyed in Brazil between 1817 and 1820, in the company of scientist Johann Baptist von Spix. Both were German and left a legacy of stunning illustrations of Brazilian plants, animals and vegetation. Their exquisite drawings illustrate the works of botanical researchers to this day . In my case, chance or providence had a far more decisive influence in the figure of another German traveler, Johann Moritz Rugendas, who made trips to Brazil between 1822 and 1825, leaving for posterity a remarkable collection of illustrations and composing his famous work Picturesque Voyage to Brazil, which I read in the mid-1970s. Even without any pretension of comparing myself to him, it was then that the strongest influence on my work was definitely established. His paintings portrayed Brazilian landscapes – in addition to, of course, human types and customs – in a unique way, dealing with light and shadow effects that are the most faithful to Brazilian nature, as well as evoking the thrill of the journeys in which he took part. Still, Rugendas has never featured systematic relations with phytogeography in his works and left for the new generations the task of attempting it. It was precisely what I sought to do in the drawings presented in this book . While at it, I tried to create drawings-synthesis, which in a way correspond to works on a unitary scale, usually made by botanical taxonomists. Just like a botanical illustrator draws a fertile branch of a given plant, representing all main organs that allow for the identification of the taxon at hand, I had to resort to all information available on the landscapes I was describing. Those pieces of information were sometimes almost evident when I found typical landscapes, in which most of the landscape characteristics were present. It was the case, for example, of the drawing related to the Cerrado, entitled “Cerrado Field and Tableland in Tesouro, Mato Grosso,” in which the only element exceptionally included for creative purposes was the anteater wandering across the landscape. The animal occurs abundantly in that location, but it was placed there as an artistic device of mine for complementing the illustration. Apart from that, the entire scenery refers to the landscape visited by me. In other instances, I had to study meticulously a vast collection of separate images, besides visiting places that would give me an idea of how the landscape unfolded, thus providing the desired synthesis that would result in the illustration . A dramatic example of this ingenuous and creative task, which only the artist can experience – provided they possess previous knowledge on phytogeography – was the drawing entitled “Seasonal Semi-deciduous Forest near Rondonópolis” featuring forests in Mato Grosso that are virtually extinct nowadays. A few expeditions were carried out in the region, with careful examination of scattered fragments in farms and indigenous reservations, and then the image was created by combining the visited sceneries, taking into consideration occasional soil and topography dissimilarities, which determine diverse facies of the same vegetation. In that case, the book’s dramatic quality is restricted not only by scientific

difficulties but also by my ability to interpret my own memories, as I had seen those forests when they were still standing in the form of large fragments in the 1980s . Likewise, without any academic pretention and sticking mainly to the artistic task itself, I created this book following Ms. Graziela’s prophetic intuition and the artistic precepts of painter Angelina that were ingrained in my mind, along with the scientific learnings during all those years. If the technical inspiration came from the epic incense of Rugendas’s work, I must admit the title of this book was “whispered” to me by naturalist Hoehne and his Iconography of the Orchidaceae in Brazil. May the delight of such contemplative journey, through the drawings, also inspire readers to better know our botanical landscapes, currently under serious threat of disappearing. To the youngest, who I trust with my hopes – the same way Ms. Graziela has trusted me – I express my most sincere wish that new names emerge in our science, for our culture will never lack creative artists .

1 Floresta Atlântica Atlantic Forest Apesar da área bem maior ocupada pela Floresta Amazônica, a dimensão descomunal de suas árvores e até mesmo a diversidade de espécies

observada na Hileia, é a Floresta Atlântica, ou Mata Atlântica, aquela que historicamente mais marcou o Brasil, assim como aqueles que o visitaram, desde a sua descoberta. Sem respeitar muito a zonalidade característica de um país que confronta o Oceano Atlântico por mais de 9.000km de costa recortada e sinuosa, a floresta densa ocupa praticamente toda a faixa Leste, desde o Norte, onde a Floresta Atlântica se funde à Amazônia e aos extensos manguezais, até o Sul, onde se mescla de modo indivisível às matas de flora subtropical e às pradarias do domínio da Pampa. A impressão que se tem ao contemplá-la, mesmo no atual estágio avançado de modificação, ocasionado pelo homem, é de fato singular e não abandonará jamais a mente daquele que a conhece. A imensa variedade de plantas, que se misturam num embate ecológico intenso, deixa tonto o mais experimentado naturalista e até os dias atuais a Ciência está longe de identificar todas essas espécies, grande quantidade delas exclusivas de determinadas localidades. Se o enfoque for fitogeográfico ou vegetacional, então torna-se árdua a tarefa de discernir entre as formas tipológicas na paisagem, pois além da evidente zonalidade que separa as vegetações de algumas regiões, também a complexidade geomorfológica determina fisionomias particulares e enigmáticas. A Floresta Atlântica muda a cada centena de metros, de Sul a Norte, da beira da praia ao cume das serras elevadas ou do litoral constantemente úmido ao interior do país, onde impera o clima fortemente estacional. Percorrer a Floresta Atlântica não é jamais uma viagem monótona. Estudá-la é sempre uma tarefa gratificante, embora interminável. Desenhá-la, com a mais absoluta certeza, representa um desafio gigantesco, mas seguramente dos mais prazerosos para o ilustrador científico. Despite the much larger area occupied by the Amazon Rainforest, the oversized dimensions of its trees and even the diversity of species observed in the Hileia (as it’s also referred to in Portuguese), it is the Atlantic Forest, or Atlantic Rainforest, the one that historically has had a greater influence in Brazil as well as on the people who have visited the country since its discovery, Without sticking to the typical zonality of a country facing the Atlantic Ocean for more than nine thousand kilometers of jagged and sinuous coast, the thick forest virtually fills the entire Eastern stretch, starting up North, where the Atlantic Forest merges into the Amazon region and extensive mangrove formations, down to the South, where it indivisibly blends with woodlands featuring subtropical flora and the prairies in the Pampa domain . Contemplating it, even in today’s advanced stage of man-made transformation, one has the impression that it is truly singular and it will be forever imprinted in one’s memory. The huge variety of plants mixed up in an intense ecological collision will dizzy the most experienced naturalist, and Science is still far from identifying all those species, for a large number of them belong exclusively to certain locations . If the focus is phytogeography or vegetation, then distinguishing typological forms in the landscape becomes an arduous task, as besides the obvious

zonality that may separate types of vegetation in some regions, the geomorphological complexity will also determine particular and enigmatic physiognomies. The Atlantic Forest changes every hundred meters, from North to South, from the seashore to the crest of high hills or from the constantly humid coast to the country’s inland, where the strongly seasonal climate prevails . Travelling across the Atlantic Forest will never be a monotonous journey. Studying it is always a rewarding task, albeit an endless one. Drawing it presents a gigantic challenge for sure, but undoubtly a most pleasurable one for the scientific illustrator . Floresta Pluvial Atlântica em Mangaratiba Atlantic Pluvial Forest in Mangaratiba O litoral sul do Rio de Janeiro, assim como a faixa litorânea de São Paulo, pode ser considerado o coração da Floresta Pluvial Atlântica, um tipo de mata que conseguiu tirar partido máximo das condições conjuntas do Clima e da Geomorfologia para produzir o quadro mais exuberante de todo o Bioma. Por ter sido o principal porto de chegada para colonizadores e viajantes de todas as pátrias durante os séculos XVIII e XIX, assim como no alvorecer do século XX, o litoral fluminense revelou ao restante do mundo seus mais famosos cartões postais nas telas dos grandes artistas e nos relatos dos principais naturalistas. E a floresta luxuriante, que guarnecia quase todas as paisagens, foi a moldura mais marcante a encher os olhos da Europa. Mangaratiba foi um importante porto escravagista no decorrer do século XIX, tendo por ali chegado boa parte dos homens que seguiam ao Vale do Paraíba, onde florescia a lavoura cafeeira. A célebre Serra do Piloto era a subida da Serra do Mar, e muitos dos cativos que se aventuraram por ela jamais voltaram. Nela, até hoje se revelam fragmentos de muros de pedra e cantaria portuguesa, que emergem do seio da floresta admiravelmente bem conservada. Elevados troncos linheiros, cobertos por dossel ramificado no qual vegetam incontáveis plantas epífitas (que habitam os galhos e os troncos das árvores), abrigam sob o coberto florestal grandes populações de palmitos ( Euterpe edulis – família Arecaceae) e outras palmeirinhas delicadas dos gêneros Geonoma e Bactris , revelando mútua interdependência e longa história adaptativa conjunta entre espécies arbóreas heliófilas (que se desenvolvem em condições de intensa luminosidade solar) e plantas umbrófilas (que se desenvolvem na sombra e jamais deixariam a proteção da mata). Sobre misteriosos restos de construções centenárias, vicejam variadas bromélias, orquídeas e aráceas decorativas. The South Coast of Rio de Janeiro state, along with the coastal area of São Paulo, can be deemed the heart of the Atlantic Pluvial Forest, a type of jungle that managed to make the most of combined Climate and Geomorphology conditions so to produce the most exuberant portrait of the whole Biome. Being the main port of entry to colonizers and travelers from all nations in the 18th and 19th centuries, as well as at the dawn of the 20th century, Rio de Janeiro’s coast revealed to the rest of the world its most

famous postcards on the canvas of great artists and in the stories of major naturalists. Moreover the luxuriant forest, which adorned almost every landscape, became the most remarkable frame for captivating Europe’s eyes . Mangaratiba was an important slave port throughout the 19th century, having received a good portion of the men en route to the Vale do Paraíba valley, where coffee farming flourished. The famous Serra do Piloto was the ascending path of the Serra do Mar mountain range, by which many would never return, where to this day one can still find fragments of stone walls and Portuguese stonemasonry emerging from the forest in surprisingly good condition. Tall flax trunks, covered by a branched canopy, on which countless epiphytes vegetate, shelter under the forest canopy large populations of palms (Euterpe edulis – Arecaceae family) and other delicate, small palm trees in the genuses Geonoma and Bactris, revealing a mutual interdependence and a long adaptive joint history between arboreal heliophile species and shade-loving plants that would never leave the forest protection. On top of mysterious remains of centenary constructions, a variety of bromeliads, orchids and decorative Araceae specimens thrive .

Floresta Pluvial Atlântica na Estrada do Sertão, em Itaguaí Atlantic Pluvial Forest on Estrada do Sertão, in Itaguaí Entre o Rio de Janeiro e Mangaratiba, na Costa Verde Fluminense, tudo o que existia até o início do século XX era uma luxuriante barreira de florestas praticamente intransponíveis, além de extensos manguezais, lamacentos e insalubres, que se projetavam sobre a Baía da Ilha Grande, empurrando para a crista da Serra do Mar os viajantes e as tropas de mulas, que cuidavam do transporte. A hoje isolada Estrada do Sertão partia dos vales largos e rebaixados de Itaguaí, não muito distante de Santa Cruz, atravessando fazendas encravadas no reverso interiorano até chegar à Serra do Piloto, em São João Marcos, na rota escravagista de Mangaratiba ao Vale do Paraíba. Há muito relegada ao esquecimento com a ascensão das modernas rodovias, que desprezam dificuldades por força da engenharia, a Estrada do Sertão esconde hoje tesouros de paisagens naturais e rurais, onde se confrontam extensos bananais primitivos, explorados a lombo de burro, e belos fragmentos da Floresta Pluvial Atlântica. Esta é a formação mais típica das florestas litorâneas do Sudeste, e conhece notável contraste paisagístico ao confinar com os bananais de encosta. Elevados fustes acinzentados e gretados dos jequitibás (Cariniana estrellensis – família Lecythidaceae) e

dos ipês ( Handroanthus spp. – Bignoniaceae) emergem de entremeio às clareiras bananeiras, como velhos monumentos vivos à soberania da Floresta Atlântica. Between the city of Rio de Janeiro and Mangaratiba, on Rio de Janeiro state’s Green Coast, all that existed until the beginning of the 20th century was a luxuriant, virtually unsurmountable barrier of forests, along with extensive mangrove formations, muddy and unsanitary, projecting over Baía da Ilha Grande bay, pushing toward the crest of the Serra do Mar travelers and mule troops used for transportation. Today an isolated road, Estrada do Sertão started at the wide, low valleys in Itaguaí, not too far from the Santa Cruz district, traversing farms nested inland on the opposite side, until reaching the Serra do Piloto, in São João Marcos, on the slave route from Mangaratiba to the Vale do Paraíba valley . Long forgotten after the paving of modern highways, which disregard difficulties by force of engineering, Estrada do Sertão today hides natural and rural landscape treasures, where huge, primitive banana groves can be found along paths explored on donkeyback, as well as beautiful fragments of the Atlantic Pluvial Forest. This is the typical formation of Southeastern coastal forests and presents notably contrasting landscapes as it borders the mountainside banana groves. Towering grayish, creased trunks of jequitibá (Cariniana estrellensis – Lecythidaceae family) and ipê (Handroanthus spp. – Bignoniaceae family) trees emerge amid the banana grove clearings like old living monuments to the Atlantic Forest’s sovereignty . Floresta de Baixada Litorânea, entre Mangaratiba e Paraty Coastal Lowland Forest , between Mangaratiba and Paraty A gigantesca figueira ( Ficus sp. – família Moraceae) entretoca os galhos aos de outros notáveis madeiros da Floresta de Baixada Litorânea, numa já quase extinta vegetação de fisionomia caótica, que outrora dominou os vales deprimidos do paradisíaco litoral fluminense, entre Mangaratiba e Paraty. Quase completamente forrados de bromeliáceas, entre as quais se destacam as plantas dos gêneros Neoregelia , Vriesea e Quesnelia , assim como orquídeas, aráceas, cactáceas e outras famílias de plantas epifíticas, os galhos se contorcem quase horizontalmente, disputando a luz preciosa que tenta penetrar a escuridão úmida do coração da mata. Soberbos matacões de rocha, espalhados pela paisagem e igualmente revestidos de lindas plantas, desfazem qualquer organização estrutural da floresta, tanto quanto o determinam as manchas de solo de quase impossível mapeamento, produtos de um passado relativamente recente de revoluções geomorfológicas. No primeiro plano, o guaxinim dissimulado ( Procion cancrivorus – Procyonidae), personagem comum da fauna dessa região, escondido sob as folhas coriáceas de um Anthurium sp. (Araceae) em cima de uma pedra granítica, espreita atento o trabalho paciente dos naturalistas, que examinam bromeliáceas. Não representa surpresa maior que, nos tempos atuais, novas espécies dessas plantas ainda sejam descritas pela Ciência.

The branches of the gigantic fig tree (Ficus sp. – Moraceae family) touch those of other remarkable trees in the Coastal Lowland Forest, amid the nearly extinct vegetation featuring chaotic traits that has formerly dominated the depressed valleys on the sublime Rio de Janeiro Coast between Mangaratiba and Paraty. Almost completely covered in Bromeliaceae specimens, displaying among them plants in the genuses Neoregelia, Vriesea and Quesnelia in addition to orchids, Araceae and Cactaceae specimens, as well as other families of epiphytic plants, the branches twist nearly horizontally, competing for the precious light that attempts to penetrate the damp darkness in the heart of the forest. Superb rock boulders, spread throughout the landscape and equally covered in gorgeous plants, dismantle any structural order in the forest, as much as the soil stains that are almost impossible to map due to their relatively recent past of geomorphological revolutions . In the foreground, the stealthy crab-eating raccoon (Procion cancrivorus – Procyonidae), a common character in the fauna of this area, hidden on a granitic stone under the leathery leaves of an Anthurium sp. (Araceae), watches attentively the patient work of naturalists examining Bromeliaceae specimens. It doesn’t come as a surprise that even in current times new species of these plants are being described by Science .

Floresta Inundável do Litoral, em Guaraqueçaba

Coastal Floodable Forest in Guaraqueçaba No sobe e desce milenar do nível médio do mar, todas as vegetações de nossa linha de costa exibem sinais ou vestígios das movimentações cíclicas e das mudanças climáticas associadas a elas. Em grande parte do litoral recortado do Sudeste e Sul (principalmente aos pés do soberbo Planalto Atlântico), que recebe historicamente notável massa de solos e água provenientes das serras úmidas, a baixada funciona como um território regulador de fluxos e acumulador de partículas. É ali que surgem extensas áreas entrecortadas por pequenos rios e canais, onde não chega a influência salina do mar e que se transformam em verdadeiros labirintos de água e lama escura, de origem orgânica. São as Florestas Inundáveis do Litoral, que podem ser contempladas nos locais onde o homem não lhes tenha causado alterações, às quais raramente resistem intactas. Em Guaraqueçaba, no litoral do Paraná, não é muito difícil observar essas matas densas e verdejantes, que quase nunca perdem as folhas e seu aspecto luxuriante. A árvore mais célebre dessas florestas é o tamanqueiro ( Tabebuia cassinoides – família Bignoniaceae), que chega a formar populações quase puras, ou que partilha o espaço ecológico bastante estreito com algumas outras espécies adaptadas ao solo inundável. Os troncos quase rigorosamente eretos dos tamanqueiros formam um alegre jardim vertical de aráceas com folhas amplas e decorativas, como variadas espécies de Philodendron e Monstera . Nas copas elevadas, vegetam praticamente as mesmas epífitas emprestadas da Floresta de Baixada Litorânea. O macaco-guariba, ou bugio ( Alouatta fusca – Atelidae), habita essas florestas, tirando partido de seu caráter perenifólio, que lhe garante alimento constante, e alguns indivíduos podem ser observados no canto superior direito. Na base do desenho, um raríssimo gato-mourisco ( Herpailurus yagouarundi – Felidae) utiliza um dos riachos de água cristalina para dessedentação. In the millennial oscillations of average sea levels, all vegetation on Brazil’s coastline displays signs or traces of related cyclic movements and climatic changes. In large portions of the jagged coast in the Southeastern and South regions, mainly at the foot of the superb Atlantic Plateau, which historically receives an impressive mass of soil and water coming from humid hills, the lowlands function as a territory that regulates flows and accumulates particles. It’s there that vast areas crossed by small rivers and channels appear, out of reach to the salty seawater influence, turned into sheer mazes of water and dark organic mud. These are Coastal Floodable Forests, which can be admired in spots with no man-made changes but seldom remain untouched . In Guaraqueçaba, on the state of Paraná’s coast, it’s not too difficult to find those thick and verdant woods that hardly ever lose their leaves and lush appearance. The most celebrated tree in such forests is the tamanqueiro (Tabebuia cassinoides – Bignoniaceae family), forming some nearly pure populations or sharing this quite narrow ecological space with other species adapted to the floodable soil. The tamanqueiro trunks, almost rigorously erect, create a merry vertical garden of Araceae plants with large and decorative leaves, such as varied species of Philodendron and Monstera. On

the high-up treetops, basically the same epiphytes borrowed from the Coastal Lowland Forest vegetate. The guariba or bugio howler monkey (Alouatta fusca – Atelidae) inhabits these forests, taking advantage of their evergreen nature that ensures constant food; some individuals can be seen in the right upper corner. At the base of the drawing, a very rare mourisco cat (Herpailurus yagouarundi – Felidae) satiates its thirst in one of the crystal-clear streams .

Floresta Inundável do Litoral e o Homem The Coastal Floodable Forest and Mankind Em Guaraqueçaba, no litoral do estado do Paraná – no sopé das elevadas montanhas, que apanham a umidade constante, vinda do Atlântico, lançando-a continuamente de volta ao mar, através de miríade de cascatas e córregos cristalinos e murmurantes –, já imperou um dia a Floresta Inundável do Litoral. Seu emaranhado de canais naturais e fios de água corrente lhe valeu ambiciosa invasão e ocupação durante o último século, marcando a busca do homem pela prodigalidade de suas terras. Lavouras e pastagens avançaram sobre a paisagem, determinando a derrubada das matas.

Sua abundância de água, associada aos solos ricos em matéria orgânica, com presença de turfeiras com lama negra, constituiu excelente recurso para a bubalinocultura, devido à forte atração exercida sobre os animais originários de locais similares na Ásia. Desmatada há muitos anos, a Floresta Inundável do Litoral, que foi abatida juntamente com as demais tipologias da Floresta Pluvial Atlântica, propicia o surgimento de microbacias perenemente alagadas, nas quais os búfalos se refrescam ao sol. Diversos fragmentos da velha floresta permanecem de pé na paisagem, servindo de testemunho de sua ocorrência pretérita. In Guaraqueçaba, on the coast of Paraná state, at the foot of tall mountains constantly getting humidity from the Atlantic and continuously returning it to the sea, through a myriad of cascades and whispering, crystal-clear creeks, the Coastal Floodable Forest used to reign. Its entanglement of natural channels and tricking water has inspired an ambitious invasion and occupation in the last century, marking the human search for the abundance of its land. Tillages and pastures advanced into the landscape, sealing the destruction of the woods . Its prodigal waters, associated with the soil rich in organic matter containing turf with black mud, constituted an excellent resource for raising bubal cattle, thanks to the strong attraction exerted on animals originating from similar places in Asia. Deforested many years ago, the Coastal Floodable Forest, which have been cut down along with the other typologies of the Atlantic Pluvial Forest, enables the occurrence of microbays perennially flooded, in which the buffalos cool down under the sun. Several fragments of the old forest still stand in the landscape, serving as a testimony of its past occurrence . Manguezal na Baía de Paranaguá Mangrove Formation in Baía de Paranaguá A Geomorfologia é um pilar fundamental para a compreensão das razões que determinam o surgimento dos manguezais, não apenas na costa do Brasil, mas em grande parte da faixa tropical mundo afora. As condições para o surgimento da vegetação de mangues são criadas num conjunto complexo de condições geomorfológicas que associam o regime hidrológico dos rios que desaguam no mar ao próprio ritmo das marés que, por sua vez, determina alterações cíclicas diárias da salinidade. Os manguezais não adentram os limites subtropicais, ao sul de Santa Catarina, mas guarnecem a grande maioria das embocaduras de rios da Bacia leste do país, até o Norte-Nordeste. Na Baía de Paranaguá, o manguezal representa a quase totalidade da interface entre o mar e as montanhas, onde confina com diversas tipologias da Floresta Pluvial Atlântica. Próximo à pequena localidade de Superagui, quase nos limites do mar aberto, foi tomada a vista do desenho, que contempla parte da paisagem montanhosa do litoral paranaense, a Noroeste, de onde vêm as águas abundantes do Planalto Atlântico, garantidoras da saúde ambiental dos mangues. O manguezal pode ser observado ao centro, assim como no primeiro plano, emoldurando o cenário com suas intricadas raízes-escora, encravadas na lama escura da margem. A região tem sido

capaz de abrigar espécies de aves em delicada situação conservacionista, como o guará ( Eudocimus ruber – família Threskiornithidae), que pode ser visto também no primeiro plano a catar crustáceos abundantes na lama negra, dos quais a ave toma sua notável pigmentação vermelha, que lhe valeu nomes célebres, como guará-piranga. Geomorphology is the crucial pillar for understanding the reasons that determine the occurrence of mangrove formations, not only on the Brazilian coast but in a large portion of the tropical zone in the world. In a complex set of geomorphological conditions associating the hydrologic regimen of rivers flowing into the sea with the tidal rhythm itself, which determinates the cyclic daily salinity changes, the conditions for the occurrence of mangrove vegetation are created. Such vegetation does not cross the subtropical boundaries, to the South of Santa Catarina, but garnishes the vast majority of river outfalls at the East Basin of the country up to the North-Northeastern region . At Baía de Paranaguá bay, the mangrove formation represents the near totality of the interface between the sea and the mountains, where it borders several typologies of the Atlantic Pluvial Forest. The drawing was made close to the small Superagui locality, almost at the limits of open waters, contemplating part of the mountainous landscape of the Northwestern Paraná Coast, where the abundant waters of the Atlantic Plateau originate, ensuring the environmental health of mangroves. The mangrove formation can be seen at the center and likewise in the foreground, framing the scenery with its intricate anchor roots embedded in the dark mud along the banks. The area has managed to shelter bird species in a delicate conservational situation such as the scarlet ibis (Eudocimus ruber – Threskiornithidae family), also seen in the foreground picking the abundant crustaceans in the black mud, from which it gets its vibrant red pigmentation that has earned it famous Portuguese names like guarápiranga.

Vegetação de Restinga na Ponta do Garcês Restinga Shoal Vegetation at Ponta do Garcês Não há nada mais mutável do que a paisagem das áreas litorâneas do Brasil, especialmente ao longo dos últimos cerca de 20.000 anos, período em que a Terra começou a emergir da sua última glaciação. A gradual elevação do nível do mar, que andara mais de uma centena de metros abaixo do atual, redesenhou o formato de nossa longa linha de costa, enquanto os mais espetaculares surtos erosivos traziam do hinterland imensa quantidade de sedimentos, que eram transportados e remobilizados por correntes, ondas, marés e ventos. Esse processo pulsante originou diversos depósitos arenosos, nos quais a microtopografia e a profundidade dos lençóis freáticos fizeram surgir uma curiosa e variada vegetação de restingas. A Ponta do Garcês, na barra do rio Jaguaripe, estado da Bahia, conserva admirável coleção de vegetações litorâneas, que varia de campos e dunas de areia alvacenta a espessas florestas de piaçava, passando por scrubs intricados de arbustos e arvoretas, sob os quais vegeta uma incontável coleção de bromélias e orquídeas. A palmeirinha Syagrus schizophylla (família Arecaceae) representa um dos elementos esculturais da vegetação acanhada, mas de flora variadíssima. A orquídea Catasetum discolor

(Orchidaceae) aproveita termiteiros (cupinzeiros), isolados na pradaria úmida, onde consegue algum substrato enxuto e muita luz. Um dos mais notáveis elementos vivos da restinga baiana é a bromélia escultural Hohenbergia castellanosii (Bromeliaceae), cujas rosetas quase tubulares, atingindo até cerca de um metro de altura, se tingem do mais profundo encarnado por ocasião do seu período reprodutivo. Na laguna coberta de taboas e ciperáceas, a garça-branca ( Ardea alba – Ardeidae) espreita suas presas, tendo ao fundo a floresta de piaçavas. Nothing is more changeable than Brazil’s coastal areas, especially in the past twenty thousand years or so, a period when the Earth began to emerge from its last glaciation. The gradual rise of sea levels, which used to sit more than a hundred meters below the current ones, reshaped the country’s long coastline, while the most spectacular erosion surges brought along a huge amount of sediments from the hinterland, transported and shuffled by the currents, waves, tides and winds. This pulsing process gave origin to many sand deposits, in which the microtopography and the depth of the phreatic zone enabled the occurrence of intriguing and varied restinga shoal vegetation . Ponta do Garcês point, at the Jaguaripe River outfall, in the state of Bahia, preserves an admirable collection of coastal vegetation, varying from fields and white-sand dunes to thick piassava forests, besides intricate scrubs with shrubs and little trees, under which lives a collection of countless bromeliads and orchids. The small Arikury palm tree (Syagrus schizophylla – Arecaceae family) represents one of the sculptural elements of the shy vegetation that features, nevertheless, an immensely varied flora. The Catasetum discolor orchid (Orchidaceae) takes advantage of isolate termitaries on the damp prairie, where it obtains some dry substratum and lots of light. One of the most notable living elements in the Bahia restinga shoal is the sculptural Hohenbergia castellanosii bromeliad (Bromeliaceae), whose almost tubular rosettes, reaching up to about one meter in height, acquire the deepest carnation hue during its reproductive period. By the lagoon covered in reeds and Cyperaceae specimens, the great white egret (Ardea alba – Ardeidae) watches its preys against the piassava forest background . Floresta Nebular em Macaé de Cima Cloud Forest in Macaé de Cima Nas bordas quase íngremes dos altaneiros cumes rochosos das serranias do Planalto Atlântico, por vezes em altitudes da ordem de 2.000m, surgem delicadas florestas de altitude, que vegetam nas mais críticas condições. Por tomarem a maior parte de seu suprimento hídrico praticamente direto das nuvens, que as tocam continuamente, ganharam a denominação de matas nebulares ou nuvígenas. O solo é raso, quase inexistente em alguns pontos, e o emaranhado de raízes, associado aos resíduos semidecompostos de suas próprias folhas, assim como aos fragmentos da rocha subjacente, abriga imensa diversidade de arbustos e plantas herbáceas de flora singular. Seus troncos ramificados e tortuosos produzem uma fisionomia delicada, que traz associadas as mais exclusivas bromélias, orquídeas, cactáceas e aráceas.

No alto da Pedra Bicuda, com cerca de 1.500m, em Macaé de Cima (arrabalde de Nova Friburgo, estado do Rio de Janeiro), a floresta nebular pode ser contemplada de forma bastante típica, com inúmeras arvoretas que emergem do scrub (matagal) cerrado que reveste a maior parte da cimeira montanhosa e que divide o espaço com afloramentos rochosos. Essas arvoretas representam suporte para incontáveis espécies de plantas de ocorrência restrita, que também ocupam quase toda superfície do solo. Figuram nessa lista bromélias como Vriesea altomacaensis e Tillandsia roseiflora (família Bromeliaceae). O desenho mostra ao menos uma outra bromélia relacionada à flora dessa região única de elevada altitude: Alcantarea nevaresii , que é vista vegetando sobre a rocha, no canto inferior esquerdo. On the nearly steep brinks of the high rocky crests of the Atlantic Plateau mountain ranges, sometimes at two-thousand-meter altitudes, delicate highelevation forests occur, vegetating in the most critical conditions. As their main intake of hydric supply comes straight from the clouds brushing them continuously, they are called nebular or cloud forests. The soil is shallow, virtually inexistent in certain spots, and the root entanglements, associated with the semi-decomposed residues of their own leaves, as well as of the fragments of subjacent rock, hosts a huge diversity of shrubs and herbaceous plants in a singular flora. Their branched and tortuous trunks produce a delicate physiognomy as showcased by the most exclusive bromeliads, orchids, Cactaceae and Araceae specimens . On the top of Pedra Bicuda rock, about 1,500-meter high, in Macaé de Cima, on the outskirts of Nova Friburgo in the state of Rio de Janeiro, the cloud forest can be observed in a typical form, with countless small trees emerging from the thick scrub that covers the majority of the mountainous crown, sharing the space with rock outcrops. These little trees give support to numerous plants with strict occurrence, which also occupy most of the soil surface. The list includes bromeliads like the Vriesea altomacaensis and Tillandsia roseiflora (Bromeliaceae family). The drawing features at least another bromeliad related to the flora of this humid high-altitude region: the Alcantarea nevaresii, found vegetating on the rock in the bottom-left corner .

Floresta Pluvial Atlântica de Altitude na Serra da Maria Comprida High-Elevation Atlantic Pluvial Forest on the Serra da Maria Comprida O botânico Carlos Toledo Rizzini, cujos postulados determinaram o rumo da Fitogeografia a partir dos anos 1960, defendia que a origem de grande parte das espécies de árvores esclerofilas, aquelas de folhas rijas, muito resistentes e que não caem anualmente, teria iniciado sua expansão para todas as vegetações do país no Terciário, a partir das florestas de altitude do Planalto Atlântico. Fato é que, nas grandes altitudes das Serras do Mar e da Mantiqueira, as condições ecológicas foram sempre de notável radiação solar, elevada umidade ambiental e precária fertilidade de solos. Assim é até os dias atuais, num espaço de cimeiras elevadas onde o sol inclemente assola a vegetação, que resiste heroicamente às mais duras condições de amplitude térmica, ventos e chuvas, que varrem constantemente o substrato quase litólico. A diversidade de paisagens locais, escondidas em meio a soberbos picos rochosos e vales recônditos, faz surgir um complexo de vegetações de quase impossível mapeamento, na faixa altitudinal acima dos 1.000m na monumental Serra da Maria Comprida, Região Serrana de Petrópolis, estado do Rio de Janeiro. Dentre elas, resiste quase intocado um dos mais

primitivos fragmentos de Floresta de Altitude, conhecido localmente por palmital, em função da singular concentração da célebre palmeira Euterpe edulis (família Arecaceae), o palmito-juçara. No desenho, figura uma jaguatirica ( Leopardus pardalis – Felidae) à espreita de um grupo de urus, ou capoeiras ( Odontophorus capueira – Odontophoridae), sob a moldura das grandes árvores de uma floresta virgem, que abriga elegantes e esguios samambaiaçus ( Cyathea delgadii – Cyatheaceae) e palmeiras-aricanga ( Geonoma schottiana – Arecaceae). Orquídeas delicadas, como Zygopetalum maxillare , exclusiva dos caules de samambaiaçus, e Gomesa recurva , abundam nessa floresta, assim como a característica bromélia Vriesea heterostachys . Botanist Carlos Toledo Rizzini, whose postulates have set the course of Phytogeography since the 1960s, argued that the majority of sclerophyllous species of trees, those with rigid, highly resistant leaves that do not fall annually, would have initiated their expansion into all existing vegetation in the country during the Tertiary Period, starting at the high-elevation forests on the Atlantic Plateau. In fact, at the great altitudes of the Serra do Mar and Serra da Mantiqueira mountain ranges, the ecological conditions have always featured a remarkable solar radiation, high environmental humidity and precarious soil fertility. Nowadays it’s still the same, in a space of high crowns, where the merciless sun ravages the vegetation that heroically withstands the harshest thermal-range conditions, winds and storms constantly sweeping the near-lytholic substratum . The diversity of local landscapes, concealed amid superb rocky pinnacles and hidden valleys, gives birth to a vegetation complex that is almost impossible to map in an altitudinal strip above one thousand meters on the monumental Serra da Maria Comprida sierra, located in the Petrópolis mountainous area in the state of Rio de Janeiro. Among these types of vegetation, one of the most primitive fragments of High-Elevation Forest survives virtually intact, known to locals as “palm grove” due to the singular concentration of the famous Euterpe edulis (Arecaceae family), the jussara palm. The drawing shows an ocelot (Leopardus pardalis – Felidae) ready to pounce at a group of spot-winged wood quails (Odontophorus capueira ), under a frame of large trees in the virgin forest sheltering elegant, slender tree ferns (Cyathea delgadii – Cyatheaceae) and aricanga palms (Geonoma schottiana – Arecaceae). Delicate orchids such as the Zygopetalum maxillare, exclusive to the trunks of fern trees, and the Gomesa recurva abound in this forest, as well as the characteristic Vriesea heterostachys bromeliad .

Afloramento Rochoso na Serra da Maria Comprida Rock Outcrop on the Serra da Maria Comprida Durante alguns períodos de nossa história natural, especialmente em determinados momentos de transição entre climas frios e secos, e o restabelecimento do domínio do calor e das chuvas tropicais, as paisagens do Planalto Atlântico conheceram gigantescos movimentos de massa. Magnas quantidades de solos e sedimentos eram arrastadas das superfícies de cimeira, algumas com mais de 2.000m de elevação, e transformadas em inimagináveis torrentes destruidoras, perto das quais as tragédias geotécnicas de hoje não passam de insignificantes arremedos. Surgiam vastas escaras ou cicatrizes onde a rocha restava exposta, geralmente de forma íngreme e inóspita. O mais recente desses episódios, com duração de milhares de anos, parece ter ocorrido há cerca de 15.000 anos, consolidando na paisagem cenários notáveis, como o que cerca a Serra da Maria Comprida, em Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro. A Serra da Maria Comprida deve seu notável índice de ocorrência de espécies endêmicas restritas à sua grande extensão de afloramentos rochosos, situados nas mais variadas altitudes e confrontando vegetações de diversos tipos. Muitas delas ocorrem somente ali, como é o caso do célebre

rabo-de-galo ( Worsleya procera – família Amaryllidaceae), que pode ser visto no afloramento representado em primeiro plano neste desenho. Bromeliáceas, aráceas, ciperáceas, orquidáceas, velosiáceas e diversas outras famílias de plantas de singular exclusividade fazem companhia aos rabos-de-galo, numa paisagem extremamente decorativa, com nítida natureza campestre. Todas elas são remanescentes de vegetações de natureza fria e árida, evoluídas num passado Terciário e hoje refugiadas nos afloramentos rochosos. At times during our natural history, especially in certain transition periods between cold and dry climates and the re-establishment of hot weather and tropical rains, the landscapes on the Atlantic Plateau have experienced gigantic movements of mass. Great quantities of soil and sediments were dragged from the summit surfaces, some at heights over two thousand meters, transformed in unimaginable, destructive torrents, compared to which our geotechnical tragedies today are insignificant imitations. Vast bedsores or scars appeared where the rock remained exposed, usually steep and inhospitable. The most recent of those episodes, lasting thousands of years, seems to have occurred around fifteen thousand years ago, consolidating impressive sceneries in the landscape, such as the one surrounding the Serra da Maria Comprida sierra in Petrópolis, in the state of Rio de Janeiro . The Serra da Maria Comprida owes its notable occurrence of restrict endemic species to the extensive rock outcrops situated at varied altitudes that face diverse types of vegetation. Many of these species only exist there, like the famous blue amaryllis (Worsleya procera – Amaryllidaceae family), which can be seen on the outcropping represented in the foreground of this drawing. Bromeliaceae, Araceae, Cyperaceae, Orchidaceae, Velloziaceae and many other families of exclusive plants keep company to the blue amaryllises, in a highly decorative landscape with distinct campestral nature. All are reminiscent of vegetation from cold and arid nature, having evolved in a Tertiary past to find refuge today on rock outcrops . Campo de Altitude na Serra dos Órgãos High-Elevation Field on the Serra dos Órgãos Depois de algumas horas caminhando em meio à floresta tropical luxuriante, nada mais desconcertante que se deparar com a mais perfeita pradaria. A sensação enigmática de encontrar uma vegetação de campo nativo, rigorosamente aberto, no altiplano de cadeias montanhosas, absolutamente dominadas por matas fechadas, assaltou as mentes dos mais brilhantes naturalistas que investigaram as Serras do Mar e da Mantiqueira desde o século XIX. Como teriam ali chegado tão variadas espécies de plantas campestres, supostamente atravessando o mar de florestas verdes que dominava o inteiro território do Sudeste? Sabe-se hoje que sempre estiveram ali, na cimeira dos planaltos erguidos até mais de 2.000m acima do mar. Faziam parte de superfícies infinitamente mais extensas, sendo hoje meros fragmentos isolados por ciclópica erosão milenar, que lhes prepara o definitivo desaparecimento num futuro ainda remoto.

O Campo das Antas, retratado neste desenho, localizado na cumeada da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro, é um dos mais dramáticos exemplos da singularidade dos campos de altitude. Eleva-se a cerca de 2.200m, abrigando vegetação estritamente herbácea e muito bem adaptada aos picos de radiação solar e incidência de frio, que desce facilmente abaixo de 0 o C. Entremeia pequenos redutos de matinhas nebulares, mostrando não ser somente o Clima o condicionador de seu porte, mas também a espessura do substrato. É, assim, um campo sobre rocha, apresentando também notável índice de endemismo restrito, onde algumas espécies somente ocorrem num determinado local, não sendo encontradas em qualquer outra parte. Ao fundo, observa-se a Serra da Maria Comprida, outro reduto célebre de campos de altitude. Nothing could be more disconcerting than finding the perfect prairie after walking a few hours in the luxuriant tropical forest. The enigmatic feeling that comes from encountering the native vegetation of a rigorously open field, on the plateau of mountain chains completely dominated by dense forest, seized the most brilliant naturalists, who had been investigating the Serra do Mar and Serra da Mantiqueira ranges since the 19th century. How could such varied species of campestral plants arrive there, supposedly crossing the green forestial sea that dominated the entire Southeastern territory? Today we know that they have always been there, on the top of plateaus towering even higher than two thousand meters above sea level. They were part of infinitely more extensive surfaces, nowadays mere fragments isolated by millennial cyclopic erosion, which paves their definitive disappearance in a still-remote future . The Campo das Antas field, on the crown of the Serra dos Órgãos sierra, in Rio de Janeiro, is one of the most dramatic examples of the high-elevation fields’ singularity. Portrayed in this drawing, it rises at about two thousand meters, hosting strictly herbaceous vegetation that is very well adapted to the peaks of solar radiation and the incidence of cold temperatures, which can easily reach below zero degrees Celsius. It intertwines small nebular woods, demonstrating that Climate not only conditions their dimensions but also the thickness of the substratum. It is therefore a field sitting on rock, also presenting an impressive level of strict endemism. In the background, we can see the Serra da Maria Comprida sierra, another celebrated spot for high-elevation fields .

Floresta de Tabuleiros no Espírito Santo Tabuleiro Forest in Espírito Santo Durante o Terciário, período que durou mais de sessenta milhões de anos e terminou há cerca de dois milhões, a Terra conheceu momentos de extrema aridez, durante os quais ocorreram processos erosivos de escala continental, como aquele que desnudou imensos territórios planálticos no interior, levando até o litoral do Nordeste e parte do Sudeste os sedimentos da Formação Barreiras. Esse vasto manto, formado por terrenos aplainados e solos até hoje pouco estruturados, ocupa parte importante dos territórios baiano e capixaba, tendo sido revestidos, até muito pouco tempo, por admirável floresta de índole amazônica, migrada da Hileia para o Brasil Oriental ainda antes do início do Quaternário. É hoje uma Floresta Atlântica, nas poucas áreas em que escapou da devastação antrópica do século XX. Porém, a despeito da pujante flora epifítica que carrega em razão de sua influência oceânica, suas árvores imitam parentes comuns amazônicos, dos quais ainda são razoavelmente próximas. O desenho foi elaborado numa síntese do quadro vegetacional observável entre a região de Linhares, no Espírito Santo, e o litoral sul da Bahia, contemplando alguns dos gigantes madeiros que foram impiedosamente

abatidos, em meados do século passado, para suprir as demandas do acelerado crescimento das grandes cidades. São árvores muito eretas, ostentando copas largas e fuste elevado, às vezes superior a duas dezenas de metros, quase sem ramificações. Como na Amazônia, o sub-bosque é notavelmente marcado por abundantes espécimes jovens das árvores dominantes. Na parte inferior, junto às raízes tabulares de um desses monumentos vivos, uma inquieta irara ( Eira barbara – família Mustelidae) mantém distância segura de nossa maior serpente peçonhenta, a perigosa surucucu ( Lachesis muta – Viperidae), que abunda na Floresta de Tabuleiros Terciários do Espírito Santo. During the Tertiary, a period lasting over sixty million years and ending around two million years ago, Earth has gone through phases of extreme aridity with erosive processes in continental scale, among which the one that stripped off huge inland territories marked by plateaus, carrying sediments of the Formação Barreiras formation to the Northeastern Coast and a section of the Southeastern region. Such a vast blanket, formed by flattened terrain and soil precariously structured to this day, occupies an important portion of Bahia and Espírito Santo territories, having been covered until recently with an admirable forest of Amazon traits, which migrated from the Hileia to Eastern Brazil before the beginning of the Quaternary Period. It is today an Atlantic Forest, in the few areas where it escaped the anthropic devastation of the 20th century. Nevertheless, despite the vigorous epiphytic flora it bears, by virtue of its oceanic influence, its trees copy their shared Amazon parents, to which they are still reasonably close . The drawing synthesizes the vegetational situation that can be observed between the Linhares region, in Espírito Santo, and the Southern Coast of Bahia, picturing some of the gigantic trunks mercilessly cut down in the mid-20th century to meet the demands of accelerated growth in large cities. They are erect trees boasting large tops and supported by tall unbranched trunk portions, sometimes as high as twenty meters with hardly any branch. Just like in the Amazon region, the understory is distinguished by abundant young specimens of dominant trees. At the bottom, by the tabular roots of one of those living monuments, a restless tayra (Eira barbara – Mustelidae family) keeps a safe distance from our largest venomous serpent, the dangerous bushmaster (Lachesis muta – Viperidae), which abounds in the Tertiary Tabuleiro Forest of Espírito Santo

Floresta Estacional Semidecidual Próximo a Rondonópolis Seasonal Semi-deciduous Forest near Rondonópolis Enquanto a Floresta Tropical Pluvial ocupa essencialmente a faixa litorânea do país, a Floresta Estacional se espalha de forma fragmentar ao longo de diversas partes do Brasil, exorbitando ao território de países vizinhos. A primeira tem uma relação estrita com a chuva, recurso que unifica poderosamente a condição de surgimento da mata luxuriante, que reveste uniformemente todo o espaço no qual possam crescer árvores. Já a Floresta Estacional, como o nome indica, se submete sempre à alternância entre períodos anuais chuvosos e secos, de acordo com as estações do ano. São florestas edáficas, ou seja, condicionadas à fertilidade e às qualidades físicas dos solos, podendo ser semideciduais, quando perdem parcialmente as folhas, ou deciduais, quando a perda é total. Entremeiam-se a caatingas, campos e savanas por todo o Brasil Central. A região do Planalto dos Alcantilados, conjunto de vales e depressões interplanálticas que liga o Araguaia, a Leste, ao Pantanal Mato-Grossense, a Oeste, já abrigou algumas das mais belas florestas estacionais até passado muito recente, quando estas foram quase inteiramente extintas por força do avanço da agricultura de subsistência e da pecuária. Sobre solos quase negros, essa floresta encontrava seu apogeu próximo a Rondonópolis, no sul

do Mato Grosso, tendo sido observada por mim ainda a cobrir considerável área entre aquela cidade e a de Pedra Preta, na década de 1980. Suas árvores esculturais, entre as quais figurava a famosa aroeira ( Astronium urundeuva – família Anacardiaceae), raramente entretocavam as copas, ensejando o surgimento de uma notável população de palmeiras-babaçu ( Attalea speciosa – Arecaceae), cujos estipes elevados e frondes de grande amplitude, repletas de epífitas, representavam verdadeiras esculturas vivas. While the Pluvial Tropical Forest essentially occupies the Brazilian coastal strip, the Seasonal Forest spreads in a fragmentary manner along different parts of Brazil, stretching out to the territories of neighboring countries. The former has a strict relationship with the rain, a resource that powerfully unifies the conditions for the occurrence of lush woods, which provides uniform cover to any space where trees can grow. The Seasonal Forest, on the other hand, as the name suggests, is always subjected to the alternance between annual rainy and dry periods, according to seasons of the year. These are edaphic forests, meaning they are conditioned to the fertility and physical qualities of the soil and can be semi-deciduous, when they partially lose their leaves, or deciduous, when the leaf loss is complete. They entwine with the caatinga semi-arid ecosystem, in addition to fields and savannahs, throughout Central Brazil . The Planalto dos Alcantilados region, a set of valleys and depressions between plateaus that links Araguaia on the East to the Pantanal MatoGrossense on the West, used to shelter some of the most beautiful seasonal forests until recently, before they went almost completely extinct thanks to the advance of subsistence farming and cattle breeding. On the near-black soil, such forest reached its peak in the vicinity of Rondonópolis, in the South of Mato Grosso. I have seen it, still covering a considerable area between the cities of Rondonópolis and Pedra Preta in the 1980s. Its picturesque trees, among which the celebrated urunday (Astronium urundeuva – Anacardiaceae family), seldom touched one another’s branches, thus encouraging the occurrence of a remarkable population of babassu palms (Attalea speciosa – Arecaceae), whose tall unbranched trunks and ample crowns, full of epiphytes, made for true living sculptures . 1.1 Araucarilândia – Perímetro das Araucárias Araucarilândia – The Brazilian-Pine Perimeter Não poderia ter sido cunhado termo mais representativo e poético do que Araucarilândia para denominar o vasto e complexo domínio do pinheirobrasileiro, ou araucária ( Araucaria angustifolia – família Araucariaceae), que a geografia também reconhece como Perímetro das Araucárias. O notável naturalista Frederico Carlos Hoehne foi o autor deste artístico nome, que titulou sua publicação em que relatou os resultados de sua expedição de 1928 pelo Brasil Meridional, na busca pelo conhecimento sobre as vegetações e a flora da zona de influência da conífera brasileira. De fato, nada pode ser mais característico na paisagem botânica de uma região do que um elemento tão monumental como o pinheiro-brasileiro. Tal

como uma escultura repetitiva, embora nunca monótona, a soberba araucária se eleva por sobre o dossel da floresta, ou mesmo à forma de extensas e regulares formações quase homogêneas, sinalizando um domínio ecológico subtropical em meio ao Bioma da Floresta Atlântica. Por cima das regiões planálticas do sul do Brasil até parte da Região Sudeste, revestindo principalmente o mais extenso derramamento de basaltos do planeta – a Formação Serra Geral, que remonta a mais de 130 milhões de anos atrás –, espalham-se intermináveis paisagens botânicas relacionadas à araucária. Vegetações campestres ocupam solos rasos e, de tão extensas, originaram uma zona conhecida como campos de cima da serra. Estes abrigam célebres fazendas pecuárias, tendo historicamente ensejado românticas tradições campeiras, juntamente com suas paisagens similares à Pampa Gaúcha, situada mais ao Sul e ocupando compartimento bem mais deprimido do território meridional. De forma intersticial, as magníficas araucárias, elementos especializados na conquista pioneira de áreas campestres, estabeleceram-se juntamente com a floresta subtropical. Os pinheiros ocorreram outrora na forma de vastas populações quase homogêneas nos locais onde se acumulavam solos minimamente suficientes para seu crescimento. Abriam, assim, espaço ecológico para o avanço da floresta subtropical que, rica em lauráceas como a famosa imbuia ( Ocotea porosa ), lhes seguia à retaguarda, formando florestas mistas, nas quais os gigantescos pinheiros já não mais eram espécie única, e que são conhecidas como florestas mistas de araucárias. Esse mosaico campos-florestas de pinheiros se tornou raro ou fragmentado ao longo do século XX, na esteira da exploração madeireira e do avanço das fazendas de gado. O mapa complexo desse mosaico, que se mantinha quase paralisado nos últimos cerca de 8.000 anos, por força do uso contínuo do fogo pelos paleoindígenas, entrou em irreversível colapso depois da colonização do Brasil. There couldn’t have been a more iconic and poetic term than Araucarilândia (“Araucarialand”) for naming the vast and complex domain of the Brazilian pine (Araucaria angustifolia – Araucariaceae family), also recognized by geography as Perímetro das Araucárias (“Brazilian Pine Perimeter”). The notable naturalist Frederico Carlos Hoehne was the author of such an artistic name, which served as the title to his work reporting the results of his expedition to Meridional Brazil in 1928, in order to learn more about the vegetation and flora in the Brazilian conifer zone of influence . In fact, nothing could be more typical in a region’s botanical landscape than such a monumental element like the Brazilian pine, also known as candelabra tree. Resembling a repetitive sculpture, although far from monotonous, the superb candelabra tree rises above the forest canopy or in extensive regular formations that are virtually homogenous, signaling a subtropical domain amid the Biome of the Atlantic Forest . Above the plateau regions of Southern Brazil and even in part of the Southeastern Region, covering mainly the most extensive basalt outflow on the planet – the Formação Serra Geral formation – dating back more than 130 million years, endless botanic landscapes associated with the

candelabra tree spread out. Campestral vegetation covered shallow soil so extensively that they originated a zone known as “sierra upper fields”, hosting popular cattle farms, having historically given rise to romantic country traditions along with its landscapes similar to those of the Pampa Gaúcha plains situated farther South and occupying a far more depressed area of the meridional territory. In an interstitial fashion, the magnificent candelabra trees, experts in the pioneering conquest of countryside areas, established themselves along with the subtropical forest . In the past, pines occurred in the form of vast, nearly homogenous populations in locations with soils minimally sufficient for their growth. Therefore they opened ecological space to the advance of the subtropical forest, rich in Lauraceae specimens such as the famous Brazilian walnut (Ocotea porosa ), which followed them, forming mixed forests where the gigantic pines were no longer the sole species, known as Brazilian-pine mixed forests . This mosaic of fields and pine forests became rare or fragmented during the 20th century, in the wake of logging and the spreading of cattle farms. The complex map of such mosaic, which had remained frozen or paralyzed for the last eight thousand years or so, due to the continuous use of fire by Paleo-Indians, collapsed irreversibly after the colonization of Brazil . Floresta Subtropical - Floresta Mista de Araucárias Subtropical Forest – Brazilian-Pine Mixed Forest Uma floresta luxuriante e risonha, ainda que não seja das mais elevadas. A floresta subtropical é aquela que acompanha os pinheiros-brasileiros ao longo de sua ocorrência pelo Brasil Meridional, variando seu porte e densidade de acordo com os níveis de umidade e temperatura. É uma floresta úmida e fria, embora não tenha como regra os aguaceiros típicos da mata tropical, que prospera nas zonas mais setentrionais do país. A região de Prudentópolis, no Paraná, pode ser considerada um precioso reduto dessas matas, ornando paisagens de cachoeiras que despencam de platôs escalonados de basalto, no interior das furnas, onde elas prosperam majoritariamente. Ao fundo, numa janela de luz e à margem da catadupa alvacenta, podem ser vistas algumas araucárias, no limiar de sua resistência ao avanço da mata. A floresta subtropical é também rica em bromélias, orquídeas e outras plantas epífitas, que surgem numerosas sobre um galho grosso e velho. Elementos bastante importantes dessas matas aparecem em primeiro plano, tais como os xaxins ( Dycksonia sellowiana – família Dycksoniaceae), as taquarinhas do gênero Merostachys (Poaceae), o pinheirinho-bravo ( Podocarpus lambertii – Podocarpaceae), a erva-mate ( Ilex paraguariensis – Aquifoliaceae) e a decorativa guaraíva ( Cordyline spectabilis – Asparagaceae).

A joyous and luxuriant forest, albeit not too elevated, the subtropical forest indeed tags after Brazilian pines across Meridional Brazil where they occur, varying in size and density according to humidity and temperature levels. It’s a humid and cold forest, even though it doesn’t feature the typical showers of the tropical rainforest, which thrives in farther septentrional zones in Brazil . The Prudentópolis region, in Paraná, can be deemed a precious shelter for those forests, adorning landscapes with waterfalls that cascade from echeloned basalt plateaus into caves, where they usually prosper. In the background, in a window of light by the white cataract section, a number of candelabra trees can be seen at the threshold of their resistance to the advance of the forest. The subtropical forest is also rich in bromeliads, orchids and other epiphyte plants, which appear in large numbers on a thick aging branch. Important elements of these forests are displayed in the foreground, such as xaxim tree ferns (Dycksonia sellowiana – Dycksoniaceae family), small bamboos in the genus Merostachys (Poaceae), the conifer (Podocarpus lambertii – Podocarpaceae), Paraguay tea (Ilex paraguariensis – Aquifoliaceae) and the decorative guaraíva (Cordyline spectabilis – Asparagaceae ).

Mosaico Campos – Florestas de Pinheiros Mosaic Fields – Pine Forests Um pouco da paisagem primitiva do mosaico campos-florestas de pinheiros pode ainda ser contemplado no Planalto Catarinense, em altitudes da ordem de 1.100-1.300m, onde se desenrola a zona de tensão ecológica entre o pinheiral e o campo nativo, sendo possível discernir a floresta subtropical de altitude, que se intercala entre as massas de araucárias, ou mesmo sob elas. A gralha-azul ( Cyanocorax caeruleus – família Corvidae) é uma ave de superlativa importância ecológica para os pinheirais, por ser reconhecida “plantadora” de araucárias, quando coleta e enterra pinhões para armazenálos. Ela forçosamente os esquece em alguns lugares, originando assim novas árvores. Os pinhões da araucária são avidamente procurados por muitos outros animais – o que imprime à árvore notável importância ecológica –, tais como a cutia ( Dasyprocta aguti – família Dasyproctidae), que disputa com a gralha azul a produção de uma pinha recém-caída. Também circula próximo outro bicho comum dessa paisagem, embora ele não seja integrante direto da cadeia consumidora dos pinhões: é a jaritacaca, ou cangambá ( Conepatus semistriatus – família Mephitidae).

A sample of the primitive landscape of the fields-pine forests mosaic can still be admired on the Planalto Catarinense plateau, at altitudes in the range of 1,100-1,300 meters, where the zone of ecological tension between the pine woods and the native field unravels and we can discern the high-elevation subtropical forest alternating in between masses of Brazilian pines or even underneath them. The azure jay (Cyanocorax caeruleus – Corvidae family) is a bird of upmost ecological importance for pines, as it is known as a “sower” of Brazilian pines, collecting and burying piñon nuts in order to store them. It forcibly forgets them in a few places, thus generating new trees . The candelabra tree piñons are avidly sought by many other animals, investing the tree with an incredible ecological relevance. Those animals include the agouti (Dasyprocta aguti – Dasyproctidae family), which competes with the blue jay for a fallen piñon. Another animal found in this landscape passes nearby, although it doesn’t play a direct role in the piñon consumer chain: it’s the badger skunk (Conepatus semistriatus –Mephitidae family) . Campos de Cima da Serra The Sierra Upper Fields Paisagem campestre na cimeira do Planalto da Serra Geral, próximo a São José dos Ausentes (Rio Grande do Sul), coração da região conhecida como campos de cima da serra. Congrega intermináveis pastagens naturais, em meio às quais aparecem capões de mata subtropical de altitude, assim como as araucárias. Os campos de cima da serra são a paisagem fundamental do mosaico campo-florestas de pinheiros e um dia dominaram quase por absoluto o cenário das mais elevadas altitudes da Região Sul, aquelas entre os 1.000m e 1.350m, ou até um pouco mais. As gramíneas nativas dominam, sendo muitas delas exclusivas dessas pradarias, nas quais já caçavam os paleoindígenas e hoje pastoreia o gado das fazendas, por entre taipas de pedra e rios cristalinos, numa história que já dura mais de 8.000 anos. O fogo, ateado desde então, tem conservado o aspecto da paisagem, gerando intensa polêmica entre os que o combatem e os que o defendem como um suposto agente de manutenção de tradições campeiras. This is a campestral landscape on the top of the Planalto da Serra Geral plateau, close to São José dos Ausentes, in Rio Grande do Sul, the heart of a region known as “sierra upper fields”, which congregates endless natural pastures, having among them coppices of high-elevation tropical forest, as well as candelabra trees. The sierra upper fields are an essential landscape in the mosaic of fields and pine forests, having one day virtually dominated the South Region scenery with the highest altitudes, above one thousand meters up to 1,350 meters or a bit more . Native gramineous plants are prevalent here, many of which exclusive to these prairies, where Paleo-Indians used to hunt and today farm cattle grazes amid rocky walls and clear rivers, in a history already lasting eight thousand years. The fire lit ever since has been conserving the features of the landscape, rising intense controversy among those who fight it and those

who defend it, alleging that it is an agent for the maintenance of rural traditions .

2 Cerrado Cerrado, The Brazilian Savannah Solos de modo geral pobres e muito profundos, antigos do ponto de vista geológico e paradoxalmente muito próprios para a agricultura, por conta de

sua estrutura bem desenvolvida e da vasta superfície quase plana ocupada por seus domínios. Clima rigorosamente estacional, que alterna período de muita chuva e umidade ambiental, acompanhadas de calor constante, com prolongada estação seca, quando a temperatura decresce sensivelmente. Esse é o Cerrado, que acaba tendo seu território quase confundido com o do chamado Brasil Central. Sua fisionomia mais típica, que o tornou célebre e da qual retirou seu próprio nome, é a savana de árvores tortuosas e espaçadas entre si, ostentando folhas duras e perenes, além das invariáveis cascas duras e tisnadas de carvão das queimadas. É, na verdade, um universo muito mais variado do que esse dos campos cerrados, congregando florestas estacionais, cerradões, campos limpos e outras fácies particulares. A condição edáfica e as ações do homem ao longo de séculos, talvez milênios, são os responsáveis pelo mapa de distribuição dessas tantas tipologias. O Cerrado foi elevado a região geográfica, transcendendo seu caráter de Bioma. As transformações determinadas pelo inexorável avanço do homem sobre a paisagem vão muito além de sua derrubada para implantação de pastagens e lavouras, assim como de florescentes cidades. Seu consequente confinamento em fragmentos isolados entre si, sejam parques ou reservas particulares, modificou ciclos há muito vigentes, onde o fogo desenhava uma ecologia feita pelo homem. Primitivamente antrópicas ou não, essas paisagens conservadas vão hoje se reorganizando em novas e enigmáticas tipologias, que somente o futuro revelará. Soils in the most part poor and quite deep, geologically old and paradoxically adequate for agriculture, given their well-developed structure and the vast, almost flat surface occupied by their domain. A rigorously seasonal climate that alternates a period of abundant rain and environmental humidity, accompanied by constant heat, with a prolonged dry season, when temperatures decrease slightly. This is the Cerrado, whose territory may be confused with that of Central Brazil . Its most typical physiognomy, which made it famous and inspired its name (“Thick”), is the savannah with tortuous and spaced trees exhibiting hard and perennial leaves, as well as the invariable hard bark darkened by the coal of slash-and-burn or forest fires. In reality, it comprises a far more diversified universe than that of compact fields, congregating seasonal forests, expanses of barren land (cerradão ), clean fields (open grasslands) and other particular facies. The edaphic condition and actions by man over the centuries, maybe millenniums, are the responsible for the distribution map of these typologies .

The Cerrado has been promoted to a geographic region, transcending its Biome character. The transformations determined by the inexorable advance of man into the landscape go far beyond the destruction of nature for implementing pastures and tillage besides flourishing cities. Its consequent confinement to fragments isolated from one another, be it in parks or private reserves, has changed long-established cycles in which fire used to design a man-made ecology. Primitively anthropic or not, today these preserved landscapes keep reorganizing themselves in new and enigmatic typologies that only the future will reveal .

Cerrado Stricto Sensu no Parque Nacional das Emas Stricto Sensu Cerrado in Parque Nacional das Emas National Park A vasta superfície de savanas que recobria a parte central do território brasileiro, ocupando até pouco tempo atrás quase toda a Região CentroOeste, além de considerável porção da Região Sudeste e muitos enclaves do Nordeste, Norte e até mesmo Sul, sempre intrigou o mundo científico. O que determinaria o aparecimento de vegetações de natureza aberta, com

diversas fisionomias variáveis, num país essencialmente florestal? A questão suscitava dúvidas e discussões até que o naturalista Carlos Toledo Rizzini, na metade do século XX, apoiando-se em teorias antecedentes – e de longa data, como as de Peter Wilhelm Lund e André Aubréville –, esclareceu satisfatoriamente o assunto. A partir de seus postulados, de um modo geral, a grande diversidade de savanas do Cerrado descenderia de florestas secas, com folhas rijas e perenes, predominantemente assentadas sobre solos muito pobres e profundos – era o cerradão. Essa floresta original teria sofrido lenta degradação, principalmente Quaternária e possivelmente antrópica, que teria feito surgir o cerrado típico, que a Ciência chama de cerrado stricto sensu . Talvez o Parque Nacional das Emas, no sul de Goiás, seja um dos locais mais producentes para a observação das diversas vegetações relacionadas ao cerrado stricto sensu . Variando de savanas razoavelmente espessas, como a mostrada no desenho, até vegetações campestres ou pontuadas por arvoretas nanicas, o cerrado do Parque das Emas se vê continuamente assolado por incêndios que lhe mantêm tal aspecto típico, sendo suas árvores sempre tisnadas de preto do carvão resultante da queima de suas espessas cortiças. Um pequizeiro ( Caryocar brasiliense – família Caryocaraceae) de forma tortuosa centraliza a imagem, tendo sob sua copa um dos bichos mais icônicos das paisagens savânicas do país, o tatucanastra ( Priodontes maximus – Chlamyphoridae). The vast savannah surface covering the central portion of the Brazilian territory, which until recently occupied almost the entire Central-Western Region, as well as a considerable portion of the Southeastern Region and many Northeastern, North and even South enclaves, has always intrigued the scientific world. What would determine the occurrence of open vegetation with varied physiognomies, in an essentially forestial country, raised questions and debate until naturalist Carlos Toledo Rizzini, in the mid-20th century, based on dominant long-time theories such as those of Peter Wilhelm Lund and André Aubréville, clarified the matter satisfactory. According to his postulates, in general, the great savannah diversity of the Cerrado would descend from dry forests with hard and perennial leaves, predominantly settled in very poor and deep soils – that is, the cerradão. This original forest would have then suffered a slow degradation, especially a Quaternary and possibly anthropic one, resulting in the typical Cerrado, to which Science refers as stricto sensu cerrado. Parque Nacional das Emas park, in the South of Goiás, is perhaps one of the most fruitful places for observing the array of different types of vegetation related to the stricto sensu cerrado. Varying from reasonably thick savannahs, such as the one shown in the drawing, to vegetation of campestral nature or dotted with dwarf trees, the Cerrado in Parque das Emas is constantly ravaged by fires, which maintain its typical aspect with trees perpetually blackened by the coal resulting from the burning of their thick bark. A twisted pequi tree (Caryocar brasiliense – Caryocaraceae family) dominates the center of the image, having under its crown one of the most iconic animals in the Brazilian savannah landscape: the giant armadillo (Priodontes maximus – Chlamyphoridae) .

Campo Limpo no Parque Nacional das Emas Clean Field in Parque Nacional das Emas National Park Em meio ao domínio hegemônico das savanas do Centro-Oeste, o surgimento de campos limpos, ou mesmo dos chamados campos sujos, parece se dever aos solos. O governo do lençol freático por embasamentos rochosos, associado à severa condição estacionalmente seca invernal e ao fogo endêmico, acaba resultando em paisagens de tirar o fôlego, como a da parte central do Parque Nacional das Emas, em Goiás. Na cabeceira do córrego do Buriti Torto, onde monumentais cupinzeiros formam um notável conjunto de esculturas espetadas numa extensa pradaria, os campos limpos aparecem nas áreas continuamente encharcadas, nas quais vegetam poucas espécies de gramíneas e ciperáceas tolerantes à saturação hídrica. Circundando-as, ou mesmo penetrando-as, aglomeram-se arbustos verde-escuro de melastomatáceas adaptadas, enquanto dali em diante, salpicando campinas pirógenas de capim-flecha ( Trystachia chrysothrix – família Poaceae), aparecem verdadeiras árvores em miniatura, todas elas pertencentes à flora do Cerrado, cujos frutos atraem abundante fauna. As corpulentas emas ( Rhea americana – Rheidae), que vagam pela paisagem desolada, emprestaram seu nome ao Parque Nacional goiano. Amid the hegemonic savannah prevalence in the Central-West, the occurrence of clean fields (open grasslands), or even of the so-called dirty fields with small trees and bushes, seems to derive from the soils. The control of the phreatic zone by basement rocks, associated with a severe winter seasonally dry condition and endemic fire, creates breathtaking landscapes, like the one at the center of Parque Nacional das Emas, in Goiás . At the source of Buriti Torto Creek, where monumental termitaries form an impressive set of sculptures stuck across a large prairie, the clean fields pop up in continuously drenched areas, in which few species of gramineous and Cyperaceae plants tolerant to hydric saturation are able to vegetate. Around them, or even mingling with them, dark green bushes of adapted Melastomataceae specimens gather, whereas further ahead, sprinkling pyrogenous campina vegetation covered in trident grass (Trystachia chrysothrix – Poaceae family), true miniature trees appear, all belonging to the Cerrado flora, whose fruit attract abundant fauna. The stout greater rheas (Rhea americana – Rheidae), called emas in Portuguese, wander in the desolate landscape and have inspired the name of the national park in Goiás .

Campo de Cerrado e Chapada em Tesouro, no Mato Grosso Cerrado Field and Tableland in Tesouro, Mato Grosso Ciclópicas movimentações de massa e inimagináveis níveis de erosão, ocorridos desde o Terciário até o Quaternário inferior, originaram paisagens contrastantes, como os extensos chapadões e morros-testemunho em forma de mesas, debruçados sobre vales amplos, onde surgem cabeceiras de rios revestidas de matas ciliares e buritizais. No Planalto dos Alcantilados, no sul do Mato Grosso, os cenários são impressionantes e dramáticos, como essa paisagem, tomada na região do rio Garças, em Tesouro.

No planalto acima, onde as águas correm para o Norte, dominam savanas e cerradões, hoje fragmentados pelo avanço histórico da agropecuária. No centro do desenho, renques de buritis ( Mauritia flexuosa – família Arecaceae) marcam olhos d’água que correm para Leste. Ambas as bacias vão se encontrar muito acima, na região da Ilha do Bananal, no rio Araguaia. Nos campos nativos do Tesouro, vagam tamanduás ( Myrmecophaga tridactyla – Myrmecophagidae), animais cujo aspecto antediluviano tão bem caracteriza paisagens desse tipo. Cyclopic movements of mass and unimaginable erosion levels, taking place since the Tertiary until the inferior Quaternary Period, originated contrasting landscapes such as the extensive tablelands and morrotestemunho mesa-shaped hills overlooking ample valleys, where river sources surrounded by riparian forests and buriti palm groves occur. At the Planalto dos Alcantilados plateau, in the South of Mato Grosso, the dramatic scenery is impressive, like this landscape captured from the Garças River area, in Tesouro . On the above plateau, which depicts waters flowing North, savannahs and barren tracts prevail, nowadays fragmented as a result of the historical advance of agriculture and cattle farming, In the center of the drawing, rows of buriti palms (Mauritia flexuosa – Arecaceae family) highlight springs flowing East. Both basins meet further up, in the region of Ilha do Bananal island, surrounded by the Rio do Araguaia river. On Tesouro native fields, giant anteaters (Myrmecophaga tridactyla – Myrmecophagidae) roam, animals whose antediluvian appearance characterizes this kind of landscape so well . Arenitos Ruiniformes da Cidade de Pedra, em Rondonópolis Ruiniform Sandstones of Cidade de Pedra, in Rondonópolis Gigantescos pediplanos, paisagens erosivas de mais de dois milhões de anos, cuja percepção e interpretação somente foram concluídas na segunda metade do século XX, a partir de imagens captadas do espaço. O Geógrafo Aziz Ab’Sáber foi o maestro mais notável dos avanços da Ciência na tarefa de contar a história dessas paisagens intrigantes, que sempre suscitaram lendas e romance. Na verdade, o progressivo desmanche dos velhos chapadões do Brasil Central foi o processo que originou esses dramáticos contrastes entre planaltos tabulares, ou tepuis, e as extensas superfícies de aplainamento, que terminam nas mais vastas bacias de deposição. Nesse processo, os chapadões foram transformados em profundos pacotes de solos, e transportados cataclismicamente na direção de soberbas depressões. No caminho dessas torrentes impensáveis, sobraram testemunhos das velhas rochas, formando os mais variados conjuntos geológicos. Entre os chapadões aplainados do Alto Taquari e a Planície Pantaneira, a Oeste, no sul do Mato Grosso, uma intensa erosão diferencial Quaternária

produziu um elegante conjunto de arenitos ruiniformes, que o povo resolveu chamar de Cidade de Pedra. Situada num importante corredor migratório de espécies, ao longo do Arco de São Vicente, que une o Mato Grosso do Sul ao meio-norte Mato-Grossense, a Cidade de Pedra abriga uma importante flora relacionável aos cerrados rupestres, contemplando notáveis populações de orquidáceas, bromeliáceas e cactáceas. Paleoindígenas habitaram esses castelos por milhares de anos, dividindo espaço com plantas e animais, como a suçuarana ( Puma concolor – família Felidae). Gigantic pediplanes, erosive landscapes dating back to over two million years ago, fully perceived and interpreted only in the second half of the 20th century thanks to images captured from space. Geographer Aziz Ab’Sáber, a most notable master in Science advances, took upon himself the task of telling the story of these intriguing landscapes, which have always inspired legend and romance. In truth, the progressive dismantlement of the old tablelands in Central Brazil, turning them into deep soil packages, as well as their cataclysmic displacement toward superb depressions, constituted the process that gave origin to these dramatic contrasts between tabular plateaus (or tepuis) and extensive smoothed down surfaces, which end in the vastest decomposition basins. In the way of such unimaginable torrents, the testimony of the old rocks remained, forming a variety of geological sets . In between the smoothed-down tablelands of Alto Taquari and the Planície Pantaneira lowlands, to the West, in the South of Mato Grosso, an intense Quaternary differential erosion has created an elegant set of ruiniform sandstones that people named Cidade de Pedra (“City of Stone”). Situated in an important migration corridor for species, along the Arco de São Vicente arch that links Mato Grosso do Sul to Mid-Northern Mato Grosso, Cidade de Pedra shelters an important flora associated with rupestrian Cerrado landscapes, contemplating notable Orchidaceae, Bromeliaceae and Cactaceae populations. Paleo-Indians have inhabited those castles for thousands of years, sharing the place with plants and animals such as the cougar (Puma concolor – Felidae family) .

Floresta-Galeria do Rio das Mortes Gallery Forest of the Rio das Mortes Embora as duas formações vegetacionais compreendam florestas que ocorrem ao longo de rios, florestas-galeria e matas ciliares diferem na sua funcionalidade e ecologia. Florestas-galeria são sucessoras naturais de varjões e veredas, habitando áreas planas e constantemente saturadas de umidade, ao passo que as matas ciliares costumam ocupar os diques marginais dos rios. A complexidade dessas paisagens, no domínio do Cerrado, desencoraja mapeamento preciso, em escala menos perceptiva. O alto e médio vale do rio das Mortes, no sudeste do Mato Grosso, abriga preciosas amostras de florestas dessa natureza, nas quais se refugia a fauna diversificada do Brasil Central. Na Reserva Natural da Fazenda Ipanema, em Primavera do Leste, conservam-se fragmentos praticamente intocados de floresta-galeria, nos quais se erguem altaneiras árvores de fuste rigorosamente ereto e copas arredondadas, frequentemente com folhas perenes, como: Cariniana rubra (Família Lecythidaceae), Qualea ingens (Vochysiaceae) e Magnolia ovata (Magnoliaceae), todas elas estritamente adaptadas ao ambiente dessas matas. A presença marcante de aráceas escandentes, como Monstera

adansonii e Philodendron spp., faz lembrar uma vegetação de funcionalidade bastante similar à Floresta Atlântica, que é a floresta inundável do litoral, e que ocorre no Sudeste. Uma ave muito característica desse ambiente é o mutum-de-penacho ( Crax fasciolata – Cracidae), que no desenho aparece como uma família composta de macho e seu filhote, a partir do primeiro plano, com a fêmea ao fundo, ostentando sua penugem variegada. Although they both encompass vegetational formations of forests occurring alongside rivers, gallery forests and riparian forests differ in terms of functionality and ecology. Gallery forests are the natural successors to varjão floodlands and vereda swampy plains, inhabiting flat areas that are constantly saturated with humidity, whereas riparian forests usually occupy river levees. The complexity of those landscapes in the Cerrado domain discourages any precise mapping in a geographical scale. The high and medium valley of the Rio das Mortes river, in the Southeast of Mato Grosso, shelters precious samples of forests of such nature, in which the diversified fauna of Central Brazil seeks refuge . In the Natural Reserve of the Fazenda Ipanema farm, in Primavera do Leste, preserved fragments of gallery forests remain virtually intact, where tall trees tower with their rigorously erect trunks, rounded crowns and often perennial leaves, such as: Cariniana rubra (Lecythidaceae family) , Qualea ingens (Vochysiaceae) and Magnolia ovata (Magnoliaceae), all strictly adapted to the environment in those forests. The significant presence of climbing Araceae specimens like the Monstera adansonii and Philodendron spp. evokes the vegetation bearing a similar functionality in the Atlantic Forest, which is the floodable forest on the Brazilian Southeastern coast. A typical bird in this environment is the bare-faced curassow (Crax fasciolata – Cracidae); in the drawing we see a family comprised of male and offspring in the foreground, with the female in the background displaying its variegated feathers .

Jequitibá-Vermelho na Floresta-Galeria do Rio das Mortes Jequitibá-Vermelho Tree in the Rio das Mortes Gallery Forest

A flora das florestas ribeirinhas, ou beiradeiras, como as chamava o Geógrafo Aziz Ab’Sáber, costuma congregar não apenas as plantas da região pela qual atravessa determinado rio, mas também outras que se refugiam em seu ambiente pujante, muitas delas estabelecendo longos corredores migratórios. A floresta-galeria do rio das Mortes, em Primavera do Leste, no sudeste do Mato Grosso, carrega inúmeras espécies com dispersão amazônica, vindas do Norte, assim como outras de reconhecido centro de origem goiana, chegadas talvez pelo Vale do Araguaia, a Leste. Na Reserva Natural da Fazenda Ipanema, captou-se essa paisagem interna tão significativa, que exibe no primeiro plano um de seus mais típicos elementos, o jequitibá-vermelho ( Cariniana rubra – família Lecythidaceae), com seu tronco alinhado e escultural, sendo possível vê-lo também ao fundo, emergindo do dossel da mata elevada. Junto à sua copa, costuma se abrigar uma arácea de notável tamanho – Thaumatophyllum mello-barretoanum – com suas folhas lindamente recortadas e raízes longas que chegam a tocar o chão da floresta, quase duas dezenas de metros abaixo. A primeira é uma árvore de reconhecida origem amazônica, enquanto sua hóspede habita o Cerrado de Goiás. O tucano-de-papo-branco ( Ramphastos tucanus – Ramphastidae) é um bicho comum na floresta-galeria mato-grossense. The flora of riverine forests, or “skirting” forests in the words of geographer Aziz Ab’Sáber, usually congregates not only plants from a region crossed by a given river, but also other plants dwelling in its vibrant environment, many of which establish long migration corridors. The gallery forest of the Rio das Mortes river, in Primavera do Leste, Southeast portion of Mato Grosso, carries countless species dispersed from the Amazon that came from the North, as well as others originally from Goiás, having arrived in the area perhaps through the Vale do Araguaia valley, to the East . This intense and significant landscape was captured in the Natural Reserve of the Fazenda Ipanema farm, exhibiting in the foreground one of its emblematic elements, the jequitibá-vermelho tree (Cariniana rubra – Lecythidaceae family), with its well-aligned and sculptural trunk, which can also be seen in the background, emerging from the tall forest canopy. Close to its crown, an Araceae species of remarkable size usually takes shelter, the Thaumatophyllum mello-barretoanum with beautifully shaped leaves and long roots that sometimes even touch the forest ground almost twenty meters below. The former is a tree of recognized Amazon origin, whereas its guest inhabits the Goiás Cerrado. The white - throated toucan (Ramphastos tucanus – Ramphastidae) is a common animal in the Mato Grosso gallery forest .

Vereda de Buritis em Itacarambi Vereda of Buriti Palms in Itacarambi As célebres veredas da Região Centro-Oeste do Brasil e do norte do estado de Minas Gerais são cercadas de mistérios, que muito se devem a seu alcance literário, mas também a seu caráter relativamente complexo no que lhes toca a Fitogeografia. Sua origem sempre suscitou discussão no ambiente científico, enquanto seu aspecto paisagístico deslumbrante as fez permear os mais belos romances da literatura brasileira. Embora sua complexidade não autorize simplificações de definição, sabe-se hoje que descendem de velhos meandros e vazantes, principalmente nos períodos mais áridos de nossa história Quaternária. Populações espetacularmente concentradas de palmeiras-buriti ( Mauritia flexuosa – família Arecaceae) contrastam com amplos varjões de vegetação rigorosamente campestre, cujo mapeamento se deve às condições de drenagem do substrato. Ocupam terrenos deprimidos, como o dessa paisagem retratada ao largo de Itacarambi, no Médio Vale do São Francisco, norte de Minas Gerais. Sobre as terras elevadas ao redor, usualmente impera o cerrado stricto sensu , onde percolam as águas que afloram no ambiente das veredas, reputadas assim como tesouro de nascentes do Brasil

Central. Esse ambiente perúmido favorece bichos como a anta ( Tapirus terrestris – Tapiridae), que adora a água e que pode ser vista no desenho, juntamente com seu filhote. The famous Minas Gerais veredas, swampy plains in the Central-West region of Brazil and North of Minas Gerais state, are wrapped in mystery inspired not only by their literary reach but also by their relatively complex phytogeographical character. Their origin has always been a cause of debate in the scientific world, whereas their dazzling landscape is responsible for their presence in the most beautiful novels in Brazilian literature. Even though their complexity does not allow simplified definitions, today we know that they descend from old meanders and riverside lowlands, especially during the most arid periods of our Quaternary history . Heavily dense populations of buriti palms (Mauritia flexuosa – Arecaceae family) contrast with ample varjão floodlands characterized by rigorously campestral vegetation, mapped according to the substratum drainage conditions. They occupy depressed terrains such as the one in this landscape portrayed at some distance from Itacarambi, in the Vale do São Francisco mid-valley, North of Minas Gerais. On the elevated lands around it, the stricto sensu cerrado usually prevails where waters surfacing in vereda environments percolate, thus earning veredas a reputation as treasures of water source in Central Brazil. Such per-humid environment favors animals like the tapir (Tapirus terrestris – Tapiridae), which loves water and can be seen in the drawing with its offspring . 2.1 Campos Rupestres Rupestrian Fields O subdomínio dos Campos Rupestres, geograficamente subordinado ao Cerrado, poderia ser considerado um Bioma próprio, dado o grau de endemismo de sua flora e da singularidade de suas paisagens. A Cadeia do Espinhaço, antigo arco Proterozoico que se estende de Minas Gerais ao norte da Bahia, enraizando-se ao Planalto Central através de Goiás, praticamente define a abrangência desse tipo de vegetação que, antes de ser meramente entendido como campo, deve ser interpretado como um variado conjunto de tipologias abertas de rica flora. Embora sua tipicidade possa ser interpretada a partir do conceito de campo entre rochas, mesclando-se indissociavelmente a campos sobre rochas, os campos rupestres se desdobram em ricos cenários, cuja ocorrência tem ensejado sua consagração como atrativo turístico digno de nota. Formações rochosas de quartzito escultural, pintadas em delicados tons de cinza ou quase branco, revestem-se de graciosos liquens dourados a púrpura, recombinando-se a vistosas coleções de bromélias vermelhas ou alaranjadas, que à distância sugerem vigorosas pinceladas impressionistas. Os campos rupestres também se entrecortam por belas cascatas e rios encachoeirados, com água cristalina ou tingida de chá pela matéria orgânica proveniente da vegetação campestre.

A história evolutiva desses campos, em constante tensão com Biomas contrastantes, como a Floresta Atlântica a Leste e a Caatinga ao Norte, produziu uma flora única, que pouco parece dever ao Cerrado que os contém. A botânica do próprio Cerrado, aliás, pode ter encontrado pilares determinantes nos campos rupestres em um passado remoto, através de espécies originadas nestes e emprestadas aos cerrados rupestres do Brasil Central. Muitas das arvoretas mais representativas do cerrado stricto sensu , adaptadas à sua pirogenia, teriam migrado por semelhante via, a partir da resiliência original de espécies surgidas nos campos rupestres. The subdomain of the Rupestrian Fields, geographically subordinated to the Cerrado, could well be considered a Biome in itself, given the high level of endemism of its flora, as well as the singularity of its landscapes. The Cadeia do Espinhaço mountain range, an old Proterozoic arc extending from Minas Gerais to the North of Bahia, taking root in the Central Plateau through Goiás, virtually defines the scope of this type of vegetation, which, before being merely understood as a field, should be interpreted as a diversified set of open typologies featuring rich flora . Although its typicity can be interpreted from a concept of a field between rocks, mingling indissociably with fields on top of rocks, the rupestrian fields unfold in rich sceneries whose occurrence has been favoring their consecration as notable tourist attractions. Sculptural quartzite rock formations, painted in delicate gray hues or almost in white, are covered with gracious lichens in a gradient from golden to purple, recombining with vibrant collections of red or orangey bromeliads, which from afar suggest vigorous impressionist brushstrokes. Rupestrian fields are also crossed by beautiful waterfalls and cascading rivers with waters that can be crystalclear or tea-colored by organic matter originating from the campestral vegetation . Their evolutionary history, in constant tension with contrasting Biomes such as the Atlantic Forest to the East and the Caatinga to the North, has produced a unique flora that rivals with that of the Cerrado containing these fields. The botany of the Cerrado itself, by the way, may have found its pillars on rupestrian fields in a remote past, through species originated in it and borrowed from rupestrian cerrados of Central Brazil. Many of the most representative small trees of the stricto sensu cerrado, adapted to their pyrogenic nature, would have migrated there following a similar path, starting from the original species resilience occurring on rupestrian fields .

Subida ao Campo Rupestre Próximo a Guiné Climbing up to the Rupestrian Field near Guiné A célebre Chapada Diamantina, na Bahia, representa um segmento da grande Cadeia do Espinhaço, sendo entrecortada por numerosas trilhas que descendem de vias garimpeiras do Brasil Colonial. Percorrê-las propicia uma proveitosa interpretação das paisagens de campos rupestres, de sua admirável geomorfologia e de sua flora singular e ornamental. A pequena localidade de Guiné é porta de entrada para um dos mais representativos conjuntos de paisagens dos campos rupestres baianos, sendo possível ali atravessar desfiladeiros de aspecto soberbo onde camadas de quartzitos dramaticamente dobrados há centenas de milhões de anos se exibem hoje cindidos e erodidos, carregando, sobre cada patamar, jardins de flora ornamental. Velosiáceas, bromélias, orquídeas e antúrios variados tiram partido da luminosidade abundante e da umidade continuamente interceptada nos nevoeiros, exibindo elegantes arranjos que mais parecem o resultado de engenho e arte. The famous Chapada Diamantina tableland, in Bahia, represents a segment of the large Cadeia do Espinhaço mountain range, being crossed by numerous descending trails from prospection paths of Colonial Brazil.

Following such paths enables a fruitful interpretation of the landscapes on rupestrian fields, their admirable geomorphology and their singular ornamental flora . The small locality of Guiné is the doorway to one of the most emblematic landscape sets of Bahia’s rupestrian fields. There, it is possible to traverse superb canyons, where layers of quartzite dramatically folded hundreds of millions of years ago are today split and eroded, holding on each ledge gardens of ornamental flora. Velloziaceae specimens, bromeliads, orchids and a variety of anthuriums take advantage of the abundant light and humidity continuously intercepted in the mist, boasting elegant configurations that look like the result of clever engineering and art . Campo Rupestre no Vale do Paty Rupestrian Field in the Vale do Paty Acima de Mucugê, na Chapada Diamantina, na Bahia, estende-se uma vasta superfície planáltica dominada por campos rupestres. Incontável lista de plantas endêmicas tem como centro de ocorrência essa bela região, da qual faz parte o Vale do Paty, com seus morros tabuliformes. São muitas as bromeliáceas dali que até hoje enriquecem os inventários de novas espécies apresentadas à Ciência, juntando-se às orquidáceas, como Cattleya sincorana , cujo habitat muito restrito se associa à ocorrência de velosiáceas esculturais, também endêmicas. A linda orquídea, com flores vistosas, encontra-se hoje ameaçada pela coleta indiscriminada, tanto quanto a canela-de-ema ( Vellozia sincorana – família Velloziaceae) que a hospeda, continuamente mutilada pelos coletores, que ainda a exploram como fonte de lenha. O desenho exibe a forma como ocorrem essas plantas na paisagem campestre da Chapada Diamantina. Surgem nele também alguns de seus habitantes célebres – urubus-rei ( Sarcoramphus papa – Cathartidae). Above the Mucugê district, on the Chapada Diamantina tableland, Bahia, a vast flat surface spreads out, dominated by rupestrian fields. Countless endemic plants are gathered in this gorgeous region, which includes the Vale do Paty valley with its mesa-shaped hills. Many bromeliads from this region, to this day, enrich the inventory of new species presented to Science, joining orchids such as the Cattleya sincorana, whose restrict habitat relates to the occurrence of sculptural Velloziaceae specimens, also endemic. The beautiful orchid with dazzling flowers is currently threatened by indiscriminate harvest the same way as the canela-de-ema plant (Vellozia sincorana – Velloziaceae family) that hosts it, continuously mutilated by harvesters who, in addition, use it for firewood . The drawing shows how these plants occur on the campestral landscape of Chapada Diamantina. It also depicts some of its famous dwellers: the king vultures (Sarcoramphus papa – Cathartidae) .

Velósias Gigantes na Serra do Cipó Gigantic Velloziaceae Specimens on the Serra do Cipó A família botânica Velloziaceae é uma das mais características da vegetação dos campos rupestres, penetrando também os cerrados rupestres, no Brasil Central. Conhecidas como canelas-de-ema ou candombás, as velósias possuem rosetas de folhas bastante singulares, no topo de caules densamente revestidos por restos dessas folhas pontiagudas e fibrosas, imitando xaxins, que chegam a hospedar delicadas orquídeas e bromélias, algumas delas exclusivas deste microambiente epifítico. As velósias formam plantas esculturais, bastante atraentes e ornamentais, produzindo vistosas flores campanuliformes, entre violáceas e alvacentas. No entanto, são de muito difícil cultivo em jardins, o que estimula a visita aos habitats, para sua apropriada contemplação. Uma das mais impressionantes velósias, espécie muito ameaçada e vulnerável, é Vellozia gigantea , da Serra do Cipó, em Minas Gerais. Sobre um cume rochoso, de difícil acesso, vegeta sua restrita população de plantas elevadas e bastante idosas. Formam um cenário antediluviano e incomum, emprestando à paisagem um caráter decididamente notável e marcante.

Surge no desenho um veado-mateiro ( Mazama americana – família Cervidae) que, assim como a velósia-gigante, enfrenta sério risco de desaparecimento por conta do avanço do homem sobre a natureza. The Velloziaceae botanical family is one of the most characteristic of rupestrian fields and also penetrates the rupestrian cerrados in Central Brazil. Known as canelas-de-ema or candombás, Velloziaceae specimens feature rosettes with singular leaves on the end of their stems, which are densely covered with the remainder of these pointy, fibrous leaves that mimic xaxim ferns and can host delicate orchids and bromeliads, some of which exclusive to this epiphytic microenvironment. They form sculptural plants, quite attractive and ornamental, with vibrant campaniliform flowers, varying between violaceous and whitish, even though they are hard to cultivate in gardens, which encourages visits to their habitats in order to admire them . One of the most impressive Velloziaceae species, quite threatened and vulnerable, is the Vellozia gigantea from the Serra do Cipó sierra, in Minas Gerais. On top of a rocky summit that is hard to reach, vegetates its restrict population of tall, old-aged plants. They suggest an uncommon antediluvian scenery, lending to the landscape a decisively impressive and unforgettable aspect. In the drawing we see a red brocket deer (Mazama americana – Cervidae family), which, like the huge Vellozia gigantea, faces the serious risk of disappearing thanks to the human interference in nature .

3 Pantanal Pantanal Imensa planície inundável, a mais extensa do planeta, oriunda de um dos mais recentes eventos tectônicos da América do Sul, ocorrido provavelmente

entre o final do Terciário e início do Quaternário, o Pantanal é um universo único. Sua origem geológica relativamente recente não lhe permitiu desenvolver flora própria, tendo ele se apropriado de estoques desenvolvidos nos Biomas que o circundam, principalmente do Cerrado, com suas variadas florestas estacionais, e da Amazônia, com a qual confina ao Norte, através das nascentes de diversos rios da Hileia. As florestas préandinas e o Chaco, situados a Oeste, também lhe teriam exercido influências migratórias marcantes. O Geógrafo Aziz Ab’Sáber, que sempre se mostrou reticente à consideração do Pantanal como verdadeiro Bioma – em face dessa baixa taxa de endemismo florístico e mesmo faunístico –, equiparou a planície a uma boutonnière na lapela de uma jaqueta, um corte em meio a uma superfície plana, no caso, dos planaltos do centro do continente sul-americano. A subsidência abrupta dessa vasta planície puxou para dentro de si uma imensa quantidade de sedimentos, assim como os elementos florísticos que lhe circundavam. Rearranjando-se em assembleias vivas próprias, estas sim bastante originais, essas árvores e plantas compuseram paisagens singulares e variadas. Por atrair influências geológicas e biológicas tão diversas, vindas de setores tão diferentes entre si, o Pantanal viu formarem-se em seu extenso território paisagens igualmente variadas. Cada região pantaneira desenvolveu cenários próprios, muito embora a inundação anual seja comum a todos eles. A geografia pantaneira reconhece diversas sub-regiões de nomes peculiares, todos relacionáveis à interpretação popular. A Ciência, no entanto, identifica ao menos dois importantes domínios de paisagem no Bioma, muitas vezes interpenetrados e mesclados. São as Zonas de Meandros, praticamente planas, onde rios calmos serpeiam longamente; e as Zonas de Leques Aluviais e Colúvios, cuja paisagem se mostra mais heterogênea e onde surgem, ainda que quase imperceptíveis aos olhos, algumas redes de elevação do terreno, conhecidas como cordilheiras. O Pantanal jamais deixará de estar associado às lendas e ao romantismo literário e iconográfico, o que se deve a seu mais importante recurso – a água. Abundante e caoticamente distribuída, ela impulsiona a vida, mas dificulta sua navegação ou mera utilização humana como insumo de produção tecnificada. Parece uma sina que tamanho volume de água se destine a servir exclusivamente como linfa de uma complexa teia de vida, destinando-se à perpetuação e ao abrigo de incontáveis espécies de aves e outros animais, além do homem, que até hoje ainda habita o Pantanal da forma como sempre o fez ao longo de séculos.

The Pantanal is a unique universe, a vast floodable plain − the largest on the planet − originating from one of the most recent tectonic events in South America, which probably happened between the end of the Tertiary and beginning of the Quaternary Period. Its relatively recent geological origin didn’t enable the development of a flora of its own, so it appropriated the stocks that had developed in the surrounding Biomes, especially the Cerrado, with its diversified seasonal forests, and the Amazon region bordering it in the North, through the headwaters of several Hileia rivers. The pre-andine forests and Chaco, located to the West, would have exerted strong migratory influences as well . Geographer Aziz Ab’Sáber, who have always been reticent in regard to the consideration of the Pantanal as a true Biome, given the low endemic levels of its flora and even fauna, equated the plain with a boutonnière on the lapel of a jacket, a cut amid a flat surface, in this case, the plateaus on the center of the South American Continent. The abrupt subsidence of this vast plain sucked in a huge amount of sediments and surrounding floristic elements. Rearranging themselves in their own living assemblies, quite originally indeed, those trees and plants have composed their own varied landscapes . Since it attracts such a diversity of geological and biological influences, originating in sectors so different from one another, the Pantanal witnessed the formation of equally diversified landscapes in its extensive territory. Each Pantanal region has developed its own sceneries, even though the annual flood is a common factor to all. The Pantanal geography recognizes several subregions with peculiar names, all of which relatable to popular interpretation. Science, however, identifies at least two important landscape domains in the Biome, often interpenetrated and mixed. These are the Meander Zones, virtually flat, where quiet rivers meander for long distances; and the Colluvial and Alluvial Fan Zones, whose landscape is more heterogeneous and where we see, even though almost imperceptibly, a number of elevation networks on the terrain, known as cordilleras . The Pantanal will always be associated with legends as well as literary and iconographic romanticism, thanks to its most important resource: water. Abundant and chaotically distributed, it drives life forward but imposes difficulties for navigation or the mere human use of it as an input for mechanized production. It seems that the fate of such a large volume of water is to serve exclusively as lymph for a complex web of life, being destined to perpetuate and shelter uncountable bird and other animal species, besides humans, who to this day inhabit the Pantanal in the same way they always have throughout the centuries . Lagoas e Caronais da Nhecolândia Lagoons and Caronal Formations of Nhecolândia Um dos mais notáveis conjuntos de paisagens do Pantanal ocupa o imenso leque aluvial do rio Taquari, no Mato Grosso do Sul. É o maior leque aluvial do mundo, um exemplo a mais da magnitude dos eventos geológicogeomorfológicos que marcaram a história natural do Brasil. No decorrer dos dois últimos milhões de anos, um piscar de olhos na história da Terra, enquanto se rebaixava a planície, um imensurável volume de sedimentos foi

varrido por magnas torrentes vindas do Planalto Brasileiro, a Leste – formando megacone de dejeção, que empurrou o curso do rio Paraguai cerca de três centenas de quilômetros na direção da Bolívia –, para ser a seguir assolado por longos períodos áridos, quando fortes ventos fizeram surgir dunas eólicas e depressões de deflação, que resultaram na paisagem atual de lagoas circulares e cordilheiras, intrigando a Ciência, até muito pouco tempo atrás. As lagoas e caronais da Região da Nhecolândia, que abriga boa parte do leque aluvial do rio Taquari, são velhas depressões dessa natureza, escavadas por ventos áridos Pleistocênicos, hoje transformadas em belas paisagens sazonalmente inundáveis. São comumente bordejadas por suaves elevações conhecidas como cordilheiras. Essas áreas fazem convergir uma fauna abundante, como o cervo-do-pantanal ( Blastocerus dichotomus – família Cervidae), os curiosos tuiuiús ( Jabiru mycteria – Ciconiidae) e as capivaras ( Hydrochoerus hydrochaeris – Caviidae), que já se tornaram espécies-símbolo do Pantanal. O desenho mostra também uma anhuma ( Anhima cornuta – Anhimidae), com seus filhotes, e diversos patos-do-mato ( Cairina moschata – Anatidae), tendo ao fundo curiosos termiteiros e um corredor de vazante, que corresponde a um canal de drenagem natural entre lagoas, com sua vegetação arborescente. One of the most remarkable landscape sets of the Pantanal occupies the immense alluvial fan of the Taquari River in Mato Grosso do Sul. It’s the largest alluvial fan in the world, one more example of the magnitude of the geological-geomorphological events distinguishing Brazil’s natural history. During the last two million years, a blink of an eye in Earth’s history, while the plain flattened, an immensurable volume of sediments was swept by great torrents coming from the Brasileiro Plateau to the East, forming a dejection megacone that pushed the course of the Paraguai River about three hundred kilometers toward Bolívia; it then was battered by long arid periods, when strong winds erected eolic dunes and deflation depressions that resulted in the current landscape with circular lagoons and mountain ranges, which until not long ago intrigued scientists . The lagoons and caronal campestral formations of the Nhecolândia Region, which shelters a good deal of the alluvial fan of the Taquari River, are old depressions of such nature, dug by Pleistocene arid winds and today transformed in beautiful seasonally floodable landscapes. They are commonly bordered by smooth elevations known as cordilleras . These areas attract abundant fauna such as the marsh deer (Blastocerus dichotomus – Cervidae family), the curious jabiru birds (Jabiru mycteria – Ciconiidae) and the capybaras (Hydrochoerus hydrochaeris – Caviidae), species that have already become symbols of the Pantanal. The drawing also shows a horned screamer (Anhima cornuta – Anhimidae) with its offsprings and several Muscovy ducks (Cairina moschata – Anatidae) against a backdrop of intriguing termitaries and an outfall corridor, which corresponds to a natural drainage channel between lagoons with arborescent vegetation .

Cordilheira no Pantanal do Rio Negro Cordillera in the Pantanal do Rio Negro O Pantanal do Rio Negro, no Mato Grosso do Sul, é uma das mais esplêndidas coleções de paisagens relacionadas à zona de influência do leque aluvial do rio Taquari, assim como de alguns outros sistemas diretamente ligados à Serra de Maracaju. Também representa uma das zonas mais marcadas pela bovinocultura extensiva, que já teve importância de alcance nacional a partir do Pantanal, e que imprimiu à paisagem um caráter aberto consolidado. Neste setor da planície, alternam-se infinitamente os caronais, lagoas e campinas úmidas, entremeados por incontáveis fragmentos de floresta estacional, que se abriga nas suaves elevações do terreno conhecidas como cordilheiras. A fauna é abundante, tirando partido dessa complexidade ambiental. Alguns dos elementos florísticos mais importantes nessa região são as esculturais palmeiras-acuri ( Attalea phalerata – família Arecaceae), que formam grandes populações quase homogêneas, além dos manduvis ( Sterculia cf. apetala – Sterculiaceae), em cujos ocos de troncos e galhos nidificam araras de diversas espécies. Figueiras ( Ficus spp. – Moraceae) também abundam, assim como as macambiras espinhentas ( Bromelia

balansae – Bromeliaceae), que formam espessas barreiras sobre essas cordilheiras florestadas. Queixadas ( Tayassu pecari – Tayassuidae) são porcos-do-mato que formam numerosos bandos bastante agressivos nessa paisagem, sendo continuamente espreitados e cautelosamente caçados pela onça-pintada ( Panthera onca – Felidae), o mais famoso predador da América do Sul. The Pantanal do Rio Negro, in Mato Grosso do Sul, bears one of the most splendid collections of landscapes associated with the zone of influence of the Taquari River alluvial fan, besides some other systems directly linked to the Serra de Maracaju sierra. It also represents one of zones with the most extensive cattle farming, an activity that used to be very important at a national level, starting at the Pantanal, and which has given a consolidated open character to the landscape . Caronal formations, lagoons and humid campina vegetation alternate endlessly on the plain in this sector, entwined with countless fragments of seasonal forest embedded in the smooth elevations of the terrain known as cordilleras. The fauna is abundant, taking advantage of the environmental complexity . Some of the most important floristic elements in this region include the sculptural urucuri palms (Attalea phalerata – Arecaceae family) that form large, almost homogenous populations, and Panama trees (Sterculia cf . apetala – Sterculiaceae) with hollow spots in their trunks and branches where many species of macaws nestle. Fig trees (Ficus spp. – Moraceae) are also abundant, as well as the prickly hearts of flame (Bromelia balansae – Bromeliaceae) weaving thick barriers on these forested cordilleras. Peccaries (Tayassu pecari – Tayassuidae) are wild pigs that gather in numerous, quite aggressive packs in this area, being continuously watched and cautiously hunted by the jaguar (Panthera onca – Felidae), South America’s most famous predator . Paratudal na Região de Aquidauana Paratudal Groupings in the Aquidauana Region As bacias dos rios Aquidauana e Miranda, ao sul do leque aluvial do rio Taquari e no sopé das Serras de Maracaju e Bodoquena, contemplam largas planícies muito regulares e endemicamente inundadas. Elevações como as cordilheiras da Nhecolândia, por mais suaves que sejam, são raras e não garantem terreno enxuto em época alguma. Os únicos refúgios de substrato minimamente drenado e que possa proporcionar sustento a raízes de árvores são, por vezes, termiteiros ativos ou abandonados, conhecidos como murundus, alguns deles remanescentes de períodos muito antigos. Os campos de murundus do sul do Pantanal abrigam curiosas populações de um ipê-amarelo ( Tabebuia aurea – família Bignoniaceae), cujos exemplares se abrigam rigorosamente sobre esses murundus, nada restando de árvores no solo alagadiço que impera de forma ampla. Essa arvoreta de porte modesto e casca rígida é relativamente comum no Cerrado, embora não repita por lá esse padrão quase homogêneo de ocorrência. O povo do Pantanal lhe reputa caráter medicinal, acreditando ser remédio “para tudo”, daí seu nome vulgar, paratudo, e o de sua aglomeração pantaneira, paratudal. No desenho, é possível observar dois

veados-galheiros ( Ozotoceros bezoarticus – Cervidae), animal bastante comum no Pantanal, forrageando na campina alagada, enquanto uma curicaca-real ( Theristicus caerulescens – Threskiornithidae) os observa do galho de um paratudo. The basins of the Aquidauana and Miranda rivers, located to the South of the Taquari River aluvial fan and at the foot of the Maracaju and Bodoquena sierras, feature vast plains that are quite even and endemically flooded. Elevations such as those of Nhecolândia’s cordilleras, although smooth, are rare and do not ensure dry terrain at any time. The only refuges that provide minimally drained substratum for sustaining tree roots are, sometimes, active or abandoned termitaries, some of which reminiscent of ancient times, known as murundus. The murundu fields in the South of the Pantanal shelter intriguing populations of a certain yellow ipê tree (Tabebuia aurea – Bignoniaceae family), whose specimens settle strictly in these murundus, while nothing else is left of trees in the drenched soil that reigns in the area . This small tree of modest build and rigid bark is relatively common in the Cerrado, albeit not in the same homogenous fashion. People in the Pantanal deem it medicinal, believing it is a remedy for “everything”, hence its popular name paratudo (“for everything”) and its grouping name paratudal. In the drawing, we see two pampas deers (Ozotoceros bezoarticus – Cervidae), quite common in the Pantanal, foraging in the flooded campina area while being watched by a plumbeous ibis (Theristicus caerulescens – Threskiornithidae) perched on a paratudo branch .

Manduvi numa Cordilheira do Pantanal Panama Tree on a Pantanal Cordillera O manduvi, ou mandovi ( Sterculia cf. apetala – família Sterculiaceae), não é uma árvore exclusiva do Pantanal, como, aliás, quase nenhuma outra da planície é, ocorrendo em vários outros ambientes. Mas, como tudo mais que integra o Bioma, mesmo vindo de regiões muito diferentes, adquire personalidade ecológica própria e passa a desempenhar papel singular na paisagem da mais extensa planície inundável do mundo. Seu tronco e ramos grossos e de casca espessa adquirem arquitetura tortuosa e elegante nas cordilheiras, enchendo-se de orifícios ocados, nos quais nidificam diversas aves, com destaque para a bela e hoje rara arara-azul-grande ( Anodorhyncus hyacinthinus – Psittacidae). Não somente para nidificação se presta o manduvi, sendo seus frutos intensamente buscados por outras aves, especialmente da família das araras

e papagaios – Psittacidae. O encontro com um velho pé de manduvi, no coração da zona de caronais e cordilheiras, proporciona um espetáculo singular e inesquecível, tanto por seu aspecto escultural quanto pela variada presença das aves pantaneiras, que parecem não se importar com a presença humana. Like most trees on the plain, the Panama tree (Sterculia cf . apetala – Sterculiaceae family) is not exclusive to the Pantanal, occurring in many other environments. However, as everything else in the Biome, even though its specimens come from dramatically different regions, it acquires its own ecological personality and plays a singular role in the landscape of the largest floodable plain in the world. Its trunk and stocky branches with thick bark develop a tortuous and elegant architecture on the cordilleras, with plenty of hollow holes where several birds nestle, among which the beautiful and already rare hyacinth macaw (Anodorhyncus hyacinthinus – Psittacidae) . The Panama tree doesn’t serve the sole purpose of bird nestling, and its fruit is much sought by other birds, especially those belonging to the family of macaws and parrots (Psittacidae). Stumbling across an old Panama tree in the heart of the caronal and cordillera zone offers an unforgettable and singular spectacle, not only due to its sculptural appearance but also to the variety of close-by Pantanal birds, which don’t seem to mind the human presence . Pantanal avistado da Serra de Maracaju The Pantanal Viewed from the Serra de Maracaju A Geomorfologia mostra que o Pantanal é uma depressão resultante de tectônica recente, o que explica o notável contraste paisagístico entre a planície inundável e suas bordas planálticas. Um longo arco, resultante da subsidência abrupta da vasta bouttonière pantaneira, representa a linha de fratura entre Terciária e Quaternária, estendendo-se entre as serranias calcárias da Bodoquena, ao Sul, e a Serra de São Vicente, ao Norte, na porta do imenso Pediplano Cuiabano. Escarpas íngremes e frentes de cuestas, talhadas quase a pino nos planaltos areníticos do Brasil Central, faceiam o Pantanal a Leste, produzindo cenários estonteantes, como aqueles tomados do alto da Serra de Maracaju, no Mato Grosso do Sul. A crista do planalto, exposta às correntes térmicas de ar da interface entre o Pantanal e o Cerrado, abriga um notável corredor migratório de grupos de plantas relacionadas ao passado Terciário da América. São inúmeras cactáceas de dispersão chaquenha, como o Cereus bicolor , com seus elegantes cladódios colunares, que já ensejou confusão fitogeográfica com parentes do Nordeste Semiárido; bromeliáceas duras e espinhentas, como as várias espécies de Dyckia spp., entre as quais perduram mistérios taxonômicos; e orquidáceas relacionadas à flora do Cerrado, como Cattleya nobilior , que chega a adentrar a planície. Geomorphology shows that the Pantanal is a depression resulting from recent tectonics, which explains the remarkable landscape contrast between the floodable plain and its plateau borders. A long arc represents the

fracture line that occurred between the Tertiary and the Quaternary as a consequence of the abrupt subsidence of the vast Pantanal bouttonière, extending between the Bodoquena calcareous mountain ridges in the South and the Serra de São Vicente sierra in the North, at the doorway of the huge Pediplano Cuiabano pediplane. Steep slopes and cuesta fronts, carved almost vertically on the arenitic plateaus of Central Brazil, face the Pantanal on the East, creating dazzling sceneries such as those viewed from the top of the Serra de Maracaju sierra, in Mato Grosso do Sul . The plateau’s crest, exposed to the thermal air currents of the interface between the Pantanal and the Cerrado, contains a remarkable migration corridor with plant groups related to the Tertiary era of America. There we find countless Chaco-dispersion cacti such as the Cereus bicolor, with its elegant columnar cladodes, which have already caused a phytogeographical mix-up with relatives from the Semi-Arid Northeast; hard and prickly bromeliads, such as several species of Dyckia spp., among which taxonomic mysteries remain; and orchids associated with the Cerrado flora, which advances onto the plain .

Travessia do Rio Cuiabá, em Poconé Crossing the Cuiabá River in Poconé O chamado Pantanal Norte, no Mato Grosso, bem ao norte da zona de influência do leque aluvial do rio Taquari, apresenta um conjunto de paisagens muito diferente daquelas do domínio dos caronais e cordilheiras. O rio Cuiabá dá o ritmo do calmo e aplainado Pantanal de Poconé, onde dominam longas circunvoluções meândricas, que ora se tornam lagoas em ferradura, ora se reconectam e prosseguem sua lenta sina geomorfológica. Diques marginais, momentaneamente poupados da erosão lateral do Cuiabá e de seus tributários, abrigam torrões de floresta estacional, nos quais vegetam árvores de frondosa copa, como Vochysia divergens (família Vochysiaceae), Handroanthus heptaphyllus (Bignoniaceae), ou Albizia inundata (Fabaceae), que é o biguazeiro, árvore-abrigo de diversas espécies de aves que fazem seus ninhos no Pantanal.

Nessa região de tempo por vezes interrompido, onde os canoeiros varejam as barrancas, movimentando a lenta vida das fazendas pantaneiras, ainda é possível contemplar uma travessia de cavalos, guiados nas águas barrentas do Cuiabá pelo peão solitário, que os conduz às pastagens da margem oposta. O jacaré-do-pantanal ( Caiman yacare – Alligatoridae), a despeito de seu aspecto feral, não incomoda os homens do rio ou suas montarias. The so-called Pantanal Norte, in Mato Grosso, to the North of the zone of influence at the Taquari River alluvial fan, presents a landscape collection vastly different from that in the caronal and cordillera domain. The Cuiabá River sets the rhythm to the quiet, flat Pantanal de Poconé, dominated by long circumvoluting meanders that at times turn into horseshoe-shaped lagoons and then reconnect, following their slow geomorphological fate. Levees, momentarily spared of the bank erosion in the Cuiabá River and its tributaries, host clods of seasonal forest where trees with ample crowns vegetate, such as the Vochysia divergens (Vochysiaceae family) and Handroanthus heptaphyllus (Bignoniaceae), or the Albizia inundata (Fabaceae) known as maloxo, a shelter-tree for many bird species nestling in the Pantanal . In this region, where time sometimes stops and canoers maneuver their boats with sticks, setting in motion the slow-paced life at the Pantanal farms, it is still possible to watch horses crossing the muddy waters of the Cuiabá, guided by the lonely peon conducting them to the pastures on the opposite riverbank. Yacare caimans (Caiman yacare – Alligatoridae), in spite of their feral ways, don’t bother the men in the river or their mounts . Chaco Úmido em Porto Murtinho Humid Chaco in Porto Murtinho O Chaco não é um Bioma brasileiro, muito embora nos toque o território em dois pontos bem distantes um do outro: um deles no extremo meridional do país, em Barra do Quaraí, e o outro na região do Pantanal do Nabileque, em Porto Murtinho, no Mato Grosso do Sul, fronteira com o Paraguai. Solos de natureza alcalina e frio invernal severo são dois fatores que praticamente definem o Chaco nas áreas onde ele ocorre de forma hegemônica, essencialmente na Argentina, na Bolívia e no Paraguai. Possuindo flora bastante própria, ele chega a derramar influências sobre o Brasil, embora de modo bastante sutil.

O pequeno recorte chaquenho sul-mato-grossense de Porto Murtinho já se encontra hoje bastante alterado pela agropecuária, não conhecendo ainda qualquer unidade de conservação capaz de garantir-lhe preservação a contento. Faz parte de sua tipologia de Chaco Úmido, sendo densamente penetrado pela linda palmeira-carandá ( Copernicia alba – família Arecaceae), que povoa esparsamente outras partes do Pantanal, mas que abunda especialmente nessa região, onde resiste duramente ao fogo, que arrasa o restante da mata. O elemento mais caracteristicamente chaquenho de Porto Murtinho é o quebracho-colorado ( Schinopsis balansae – Anacardiaceae), conhecida espécie madeireira nos seus países de origem. A mata chaquenha é bastante escultural em vários de seus demais elementos, destacando-se suas paineiras-barrigudas ( Ceiba sp. – Malvaceae) e os elevados exemplares de Caesalpinia paraguariensis (Fabaceae). Chaco is not a Brazilian Biome, even though it touches the Brazilian territory at two points that are fairly distant from each other: one is situated at the southern end of the country, in Barra do Quaraí, while the other is located in the Pantanal do Nabileque region, in Porto Murtinho, Mato Grosso do Sul, at the border with Paraguay. Soils that are alkaline in nature and severe winter temperatures represent two factors that virtually describe Chaco in the areas where it occurs in a homogenous manner, essentially in Argentina, Bolivia and Paraguay. Featuring its own, quite singular flora, it spreads its influence into Brazil, albeit in a highly subtle way . Mato Grosso do Sul’s small Chaco patch in Porto Murtinho has already been vastly altered by agriculture and cattle farming, and so far there isn’t yet any conservation unity capable of effectively ensuring its preservation. It is part of its Humid Chaco typology, densely inhabited by the beautiful caranday palm (Copernicia alba – Arecaceae family), which populates other areas of the Pantanal sparsely but abounds in this region, where it bravely resists the fires that destroy the rest of the forest. The most characteristic Chaco element of Porto Murtinho is the quebracho (Schinopsis balansae – Anacardiaceae), a well-known species used for logging in its native lands. The Chaco vegetation boasts other elements that are quite sculptural, especially the silk-floss trees (Ceiba sp. – Malvaceae) and Caesalpinia paraguariensis specimens (Fabaceae) .

Bromélia Tillandsia duratii em Porto Murtinho Tillandsia duratii Bromeliad in Porto Murtinho O Pantanal não é rico em plantas epífitas, aquelas que habitam os galhos e os troncos das árvores. Dependendo fundamentalmente de umidade ambiental constante, e não propriamente de grandes montantes de chuvas que incidam de forma estacional, como é o caso de grande parte do Brasil Ocidental – Pantanal inclusive –, essas plantas preferem o litoral, embora ocorram ocasionalmente pelo interior, normalmente em locais especiais. As vertentes planálticas do arco que cerca o Pantanal, a Leste, abrigam populações singulares de orquidáceas e bromeliáceas, tirando partido de correntes de ar úmido que se deslocam continuamente de dentro da planície alagável. Bromélias do gênero Tillandsia , adaptadas a captar diretamente do ar seu suprimento de água e nutrientes, conseguem sobreviver muito bem na vegetação savânica que reveste a saia do Planalto da Bodoquena, na bacia do rio Apa, circundando os redutos chaquenhos de Porto Murtinho, no Mato Grosso do Sul. A curiosa Tillandsia duratii mostra habilidade singular de fixação às galhadas espinhentas dessa vegetação xerofítica, enrolando suas folhas muito rijas e resistentes, à moda de gavinhas.

The Pantanal is not rich in epiphyte plants, those inhabiting tree branches and trunks. Depending essentially on constant environmental humidity and not necessarily on abundant rain, but rather on seasonal rainfalls, as is the case in the majority of Western Brazil – including the Pantanal – those plants prefer the coast, even though they may occasionally occur inland, usually in special locations. The plateau slopes of the arc surrounding the Pantanal to the East shelter singular populations of Orchidaceae and Bromeliaceae species, which benefit from humid air currents moving continuously from within the floodable plain . Bromeliads in the genus Tillandsia, adapted to get their water and nutrient supply straight from the air, can survive quite well in the savannah vegetation that covers the skirts of the Planalto da Bodoquena plateau, in the Apa River basin, encircling the Chaco portions of Porto Murtinho in Mato Grosso do Sul. The intriguing Tillandsia duratii shows a singular ability for attaching itself to the prickly branches of this xerophyte, twisting its hard, strong leaves in a tendril-like fashion .

4 Floresta Amazônica Amazon Forest O termo Amazônia possui sentido excessivamente amplo, contemplando desde o território político-administrativo conhecido como Amazônia Legal,

até o Bioma, que foi adotado aqui como referência e denominado Floresta Amazônica. Assim, no sentido amplo geográfico e paisagístico, são apresentadas suas principais paisagens vegetacionais, aquelas que mais representam a natureza vinculada ao Clima Equatorial, que marca de modo decisivo o domínio da Hileia. Com respeito a sua Geomorfologia, a Floresta Amazônica se desdobra fundamentalmente numa vasta topossequência, que começa acima, nos seus mais elevados planaltos, em ambas as vertentes da calha do rio Amazonas, tendo ao Norte o Planalto das Guianas e ao Sul o Planalto Brasileiro, no qual confina com o Cerrado; passando pelas zonas deprimidas intermediárias e atingindo por fim, em sua cota mais baixa, o eixo do rio Amazonas, que é a coluna vertebral do Bioma. As paisagens botânicas que caracterizam a Floresta Amazônica se interconectam diretamente a essa topossequência, uma vez que o Clima geral é soberano. Desde suas florestas mais portentosas, ostentando árvores gigantescas e magna biodiversidade, às campinas e campinaranas do rio Negro, que vegetam sobre areias, passando pelas florestas afogadas de igapó e pelos estonteantes cenários ribeirinhos da Várzea, no eixo do rio-mar, tudo é soberbo na Hileia. De paraíso megadiverso que é, já foi um dia chamada de “inferno verde”, o que pode mesmo se tornar, dependendo das intenções dos homens que para ela se dirigem. A Floresta Amazônica representa realmente um imenso desafio aos brasileiros que pretendem encará-la como um universo-alvo de seu próximo salto desenvolvimentista. Desenhar suas principais paisagens é uma missão que deverá aduzir o futuro da Hileia com um recurso que não poderá faltar para se associar ao engenho humano: a arte. The term Amazon bears an excessively broad meaning, encompassing the political-administrative territory known as Legal Amazon as well as the Biome, which we reference here under the denomination of Amazon Forest. Therefore, in an ample geographical and landscape-oriented sense, we present its main vegetational landscapes, those most representative of the nature associated with the Equatorial Climate that heavily influences the Hileia domain . In respect to its Geomorphology, the Amazon Forest essentially unfolds in a vast soil catena, starting at its highest plateaus, on both sides of the Amazon riverbed, with the Planalto das Guianas plateau located to the North and the Brasileiro Plateau located to the South, where it borders the Cerrado. Then it covers intermediate depressive zones and finally reaches its lowest portion, the Amazon River axis, which is the Biome’s spinal column. The botanical landscapes characterizing the Amazon Forest are directly interconnected with this soil catena, since the general Climate prevails . From its most bewildering forests, boosting gigantic trees and broad biodiversity, to the Rio Negro campina and campinarana that vegetate on the sand, passing by the drowned forests and the jaw-dropping Várzea floodplain sceneries, in the river-sea axis, everything is superb in the Hileia. A megadiverse paradise, it was once called “green inferno”, and it may well turn into that, depending on the relations intended by the men going there .

The Amazon Forest indeed represents a huge challenge to Brazilians, who regard it as a target for their new developmental leap. Drawing its main landscapes is a mission that will enrich the future of the Hileia with an indispensable resource: Art . Floresta de Terra Firme no Rio Cristalino Firm-Ground Forest by the Cristalino River Um dos mais elevados índices de biodiversidade da Terra se encontra preciosamente reservado na Floresta de Terra Firme da Amazônia, como esta retratada no vale do rio Cristalino, no norte do Mato Grosso. Tem esse nome sugestivo por conta do ambiente que habitam suas árvores majestosas, de fuste altaneiro, que se elevam dezenas de metros acima do solo bem drenado dos terrenos que ocupam, em ambas as vertentes da calha do rio-mar. Algumas, como a castanheira ( Bertholletia excelsa – família Lecythidaceae), atingem 60m de altura e se esgalham por mais de 30m de diâmetro. Essa tipologia de vegetação corresponde à esmagadora maioria das tipologias florestais da Amazônia, embora as vegetações ribeirinhas frequentem bem mais o imaginário popular a respeito da Hileia, por serem aquelas suas paisagens mais divulgadas. O grau de endemismo da Floresta de Terra Firme é incrível, sendo 80% de seus elementos restritos a ela. Muitas de suas grandes árvores, como o mogno ( Swietenia macrophylla – Meliaceae) ou o angelim-pedra ( Dinizia excelsa – Fabaceae), madeiras célebres da região, ocorrem de forma esparsa por vasto território, fazendo parecer uma floresta de biologia monótona, o que está longe da verdade: nenhuma delas chega a formar populações densas, e a Floresta de Terra Firme jamais repete a mesma composição florística, sequer em parcelas situadas a poucas centenas de metros uma da outra. O macaco-aranha ( Ateles spp. – Atelidae) é animal característico deste tipo de floresta e repete o mesmo padrão de diversidade das árvores, existindo diversas espécies dele Amazônia afora. One of the highest biodiversity levels on Earth can be found preciously preserved in the Amazon Firm-Ground Forest, as it is portrayed in the valley of the Cristalino River, North of Mato Grosso. It earned this suggestive name thanks to its environment that hosts majestic trees with tall erect trunks, which rise tens of meters above the well-drained ground of the terrain on both banks of the channel linking the river to the sea. Some of them, such as the Brazil nut tree (Bertholletia excelsa – Lecythidaceae family), can reach a height of 60 meters and spread out their branches in a 30-meter diameter. It corresponds to the vast majority of the Amazon forest typologies, although riverine vegetation is far more common in the imagination of the Hileia people, since they are the most divulged landscapes . The endemic levels of the flora in the Amazon Firm-Ground Forest are incredible, reaching 80% of its elements. Many of its large trees such as the big-leaf mahogany (Swietenia macrophylla – Meliaceae) and the angelimpedra (Dinizia excelsa – Fabaceae), well-known woods in the region, occur sparsely across a vast territory, looking like a forest with a monotonous biology, which couldn’t be farther from the truth: none of those trees form dense populations and the Firm-Ground Forest never repeats the same

floristic composition, not even in parcels situated just a few hundred meters from one another. The spider monkey (Ateles spp. – Atelidae) is a typical animal of this type of forest and reproduces the same diversity pattern of the trees, featuring various species across the Amazon region .

Subida do Rio Cristalino, no Mato Grosso Travelling Upstream the Cristalino River in Mato Grosso Os rios que correm dos planaltos do Mato Grosso na direção do Amazonas são geralmente correntosos e límpidos, por fluírem sobre embasamentos rochosos muito antigos. Seguem, na maioria das vezes, encaixados em terrenos firmes que comportam solos razoavelmente drenados, como é o caso do rio Cristalino, em Alta Floresta, nascido na vertente sul da Serra do Cachimbo. A Floresta de Terra Firme domina as matas do Cristalino, emoldurando a cena ilustrada no desenho, memória de expedição marcante realizada em 1998. A pequena embarcação singra um remanso do Cristalino ainda próximo à sua foz, na margem direita do rio Teles Pires, tendo como moldura as elevadas árvores da Floresta de Terra Firme, como a castanheira ( Bertholletia excelsa – família Lecythidaceae) e a notável Parkia pendula (Fabaceae), espécie bastante típica daquela paisagem, com suas inflorescências globosas pendentes. Ao fundo, a mata fechada e bem conservada, ainda emergindo da bruma matinal, impressiona os olhos. Os viajantes são surpreendidos pela travessia do corpulento tapir ( Tapirus terrestris - Tapiridae), em demanda da margem esquerda do rio, entretendo-

se todos com os mergulhos ocasionais do bicho, disposto a ludibriar seus supostos perseguidores. The rivers flowing from Mato Grosso’s plateaus toward the state of Amazon are in general clear and have strong currents, since they run over ancient basement rocks. For most part, they fit into firm terrains that hold reasonably drained soils, like in the case of the Cristalino River, in Alta Floresta, whose source is located at the Southern slope of the Serra do Cachimbo sierra. The Firm-Ground Forest dominates the Cristalino vegetation, framing the scene portrayed in this drawing, a souvenir from a remarkable expedition launched in 1998 . The small boat navigates the backwaters of the Cristalino, still close to its outfall, on the right bank of the Teles Pires River, framed by the tall trees of the Firm-Ground Forest such as the Brazil nut tree (Bertholletia excelsa – Lecythidaceae family) and the impressive Parkia pendula (Fabaceae), a typical species of that landscape with hanging globular inflorescences. In the background, the compact and well-kept forest, still emerging from the morning mist, looks impressive. The stout tapir (Tapirus terrestris – Tapiridae) crossing the river from the right bank surprises the travelers, who are entertained with the occasional dives of the animal as it attempts to fool its presumed predators . Salto Augusto, no Rio Juruena Salto Augusto Falls at the Juruena River Desenhar o Salto Augusto, misterioso conjunto de cachoeiras do rio Juruena que corta o Mato Grosso quase de sul a norte, unindo províncias florísticas tão diversas como o Cerrado e a Floresta Amazônica, transcende o sentimento científico fitogeográfico, para tocar de modo muito intenso o terreno da emoção que ronda indissociavelmente a arte. Antes de chegarmos ao Salto Augusto, no inverno de 1998, ponto culminante de uma de nossas mais proveitosas expedições, ali estivera o naturalista Hercules Florence, 170 anos antes, numa viagem admirável e em cujas memórias apoiáramos nós mesmos para consecução da nossa. Há assim que se estender o presente memorial descritivo ao trecho dos diários de Florence, que relataram a Expedição Langsdorff, da qual fazia parte importante. “30 de abril de 1828 – Já ouvíamos o estrondo do Salto Augusto… Passamos perto de dois redemoinhos, dos quais não escaparia quem lá caísse… Transpusemos uma cachoeira, cujas ondas por vezes alagam os barcos… Em poucos instantes, percebemos o branco nevoeiro que se ergue do Salto Augusto… Por notável contraste, voltando-se para a esquerda, descansam os olhos, ainda deslumbrados desse eterno turbilhão, numa enseada batida de ondas que vêm quebrar-se mansamente no musgo verde da plataforma, e além numa muralha cortada em três planos de rochas, por onde descem mil fios d’água.” O Salto Augusto é cercado hegemonicamente pela Floresta de Terra Firme, sendo ele, contudo, uma extensa janela de luz em meio ao domínio dos imensos madeiros amazônicos. Isso enseja o surgimento de inúmeras plantas heliófilas, como bromélias, orquídeas e aráceas, que se instalam nas

arvoretas delgadas e densamente ramificadas das margens, assim como por sobre os lajeados de rocha nua, onde tiram partido da umidade produzida pelas cachoeiras. Vegetam por ali bromeliáceas epífitas, como Tillandsia adpressiflora e Tillandsia paraensis , enquanto largas touceiras de Aechmea tocantina (família Bromeliaceae) ocupam a rocha, a pleno sol. Drawing Salto Augusto, a mysterious set of waterfalls at the Juruena River, which virtually crosses Mato Grosso from North to South, linking floristic provinces as diverse as the Cerrado and the Amazon Rainforest, transcends the phytogeographical scientific experience and reaches intense emotions indissociably associated with Art. Before we arrived at Salto Augusto in the winter of 1998, the highest note of one of our most fruitful expeditions, naturalist Hercules Florence had been there 170 years before us, in a remarkable trip whose memories inspired us in our own expedition. Hence, the following description should be understood in connection to Florence’s diaries reporting the Langsdorff Expedition, in which he played an important role . “April 30, 1828 – We could already hear the roar of Salto Augusto… We passed near two whirlpools that would have not spared anyone falling into them… We crossed a cascade, whose waves sometimes inundate boats… In a few moments, we spotted the white mist that rises from Salto Augusto… In a remarkable contrast, as we turn to the left, still enthralled with that eternal vortex, our eyes rest on a cove washed by waves quietly breaking on the green moss of the platform and beyond it on a three-level rocky wall, from which a thousand water threads roll down.” Salto Augusto is predominantly surrounded by the Firm-Ground Forest, but it functions as an ample window of light amid the domain of the huge Amazon woods. That triggers the occurrence of countless heliophile plants such as bromeliads, orchids and Araceae specimens, which settle on the small slender trees thickly branched on the riverbanks, as well as on the bare rock outcrops, where they take advantage of the humidity generated by the waterfalls. Epiphyte bromeliads vegetate there, such as the Tillandsia adpressiflora and Tillandsia paraensis, whereas large clumps of Aechmea tocantina (Bromeliaceae family) sit on the rocks exposed to the sun .

Floresta de Igapó, no Arquipélago de Anavilhanas Igapó Forest in the Arquipélago de Anavilhanas Quando atinge sua foz, no rio Amazonas, o rio Negro pode elevar seu nível em até 12m. Ele chega a permanecer assim por quase dois terços do ano, dependendo tanto das chuvas que lhe atingem o alto e médio cursos, quanto do represamento imposto pelo próprio rio-mar, para o qual também convergem admiráveis fluxos, vindos dos Andes, pelo rio Solimões. Seria de se imaginar um verdadeiro extermínio das árvores submetidas a semelhante afogamento, não fosse essa flora dramaticamente adaptada. Não são muitas as espécies que compõem a mata de igapó se comparadas àquelas da flora de terra firme, situadas na drenagem segura dos planaltos cristalinos da Hileia. No entanto, seu grau de adaptação não encontra paralelo em outras florestas da Amazônia, e algumas delas, como a macacarecuia ( Eschweilera tenuifolia – família Lecythidaceae), podem suportar tão longa submersão e ainda dominar extensas áreas do Arquipélago de Anavilhanas, no Baixo rio Negro. A célebre pintora britânica Margaret Mee, que concentrou durante muitos anos seus trabalhos de registro da flora brasileira na Amazônia, alicerçando um irreversível surto de retomada da ilustração botânica no Brasil, foi frequentadora assídua dos igapós de Anavilhanas. Através deste desenho,

rendeu-se merecida homenagem à corajosa artista, que inspirou diversas gerações subsequentes de ilustradores que têm tornado muito mais interessante o trabalho da ciência, emprestando arte à matéria. When it reaches its mouth at the Amazon River, the Negro River can rise its level up to twelve meters, remaining that way for almost two thirds of the year, depending on the rainfalls hitting its medium and high courses, as well as on the levee created by the river-sea itself, to which impressive flows also converge, coming from the Andes through the Solimões River. One would envision a sheer massacre of trees subjected to such a drowning if it weren’t for that dramatically adapted flora. The igapó forest is not comprised of many species when compared to the firm-ground forest, whose flora settles on the safe drainage of the clear Hileia plateaus. However, its adaptative ability is unparalleled among the Amazon forests, and some of its species, like the macacarecuia tree (Eschweilera tenuifolia – Lecythidaceae family), can withstand such a long submersion and still dominate extensive areas of the Arquipélago de Anavilhanas archipelago, in the Low Negro River . Famous British painter Margaret Mee, who for many years worked on recording the Brazilian flora in the Amazon region, triggering an irreversible surge of rebirth for the botanical illustration in Brazil, was an assiduous visitor of the Anavilhanas. With the inclusion of this drawing, we render a well-deserved homage to that courageous artist, who later inspired several generations of illustrators, thus making the work in science far more interesting as they lend art to matter . Campinarana do Rio Branquinho The Campinarana sand forest of the Branquinho River Dispersas sobre paleocampos de dunas eólicas no setor da Floresta Amazônica compreendido entre os rios Negro e Uatumã, a norte de Manaus, no estado do Amazonas, ocorrem curiosas florestas sobre areias Quaternárias, conhecidas como Campinaranas. Contendo flora própria, diversa daquelas das Florestas de Terra Firme e de Várzea que a circundam por todos os lados, a Campinarana parece ter importado muitos de seus elementos das floras desenvolvidas nos altiplanos do Escudo Guiano, sendo suas árvores de folhas duras e perenes. Seu caráter esparso e aberto, entremeado às areias alvas e lembrando vegetações de restingas litorâneas, faz convergir para seu ambiente outro grupo de plantas muito especial: as epífitas, que abundam de forma bastante característica. As Campinaranas da região do rio Branquinho têm sido continuamente investigadas pelo naturalista Francisco Miranda, principalmente sob o enfoque de suas orquídeas. A mais famosa delas, que tem a região como importante centro de dispersão, é Cattleya wallisii , planta de flores vistosas que sempre atraiu interesse cultural. Ela ocorre de forma absolutamente notável nas Campinaranas, e Miranda já assinalou uma variada gama de formas e cores, sendo elas observadas em flores por todo tipo de suporte disponível no ambiente, desde os galhos tortuosos do macucu ( Aldina spp. – família Fabaceae), sua árvore-suporte preferencial, onde divide espaço com várias outras orquidáceas e bromeliáceas, como Aechmea mertensii ; até mesmo o solo rico em manta de folhas e alfombras de líquens, onde também

vegetam bromélias de hábitos alternativos, como Aechmea beeriana . O desenho mostra também um grupo familiar de cachorros-vinagre ( Speothos venaticus – Canidae), animal relativamente raro e ameaçado de nossa fauna. Dispersed across paleofields of eolian dunes, in the Amazon Forest section between the Negro and Uatumã rivers, to the North of Manaus in the Amazon state, intriguing forests occur on Quaternary sands, known as campinaranas. Featuring their own flora, diverse from those of the FirmGround and Várzea forests that encircle it, the campinarana seems to have imported many of its elements from floras developed on the Escudo Guiano plateaus, with perennial hard-leaf trees. Its sparse and open nature, interlaced with bright sands and resembling coastal restinga shoal vegetation, attracts another group of very special plants: the epiphytes, which abound in a characteristic manner . The campinarana sections in the region of the Branquinho River have been continuously studied by naturalist Francisco Miranda, with a main focus on their orchids. The most famous of them, which uses the region as an important dispersion center, is the Cattleya wallisii, a plant with flashy flowers that has always attracted cultural interest. It occurs in the campinarana in an absolutely remarkable fashion, and Miranda has already reported it in a variety of shapes and colors that can be observed with flowers resting on all kinds of supports available in the environment. Those include the twisting branches of the macucu tree (Aldina spp. – Fabaceae family), its preferred phorophyte, where it shares the space with many other Orchidaceae and Bromeliaceae species such as the Aechmea mertensii; and include even the rich soil carpeted with leaves and lichens, where bromeliads with alternative habits like the Aechmea beeriana also vegetate. The drawing shows, in addition, a familiar group of bush dogs (Speothos venaticus – Canidae), which are relatively rare animals and a threatened species .

Sumaúma na Floresta de Várzea Kapok Tree in the Várzea Forest A sumaúma ( Ceiba pentandra – família Malvaceae) não é nem de longe a maior árvore da Floresta Amazônica, muito embora tenha impressionado viajantes há vários séculos, que acabaram representando seu tronco de forma monumental e exagerada em diversas obras que circularam pelo mundo. Dotada de largas raízes tabulares, que se desenvolvem pelo chão úmido da Floresta de Várzea, ajudando-a na estabilização e mantendo-a de pé, a sumaúma é uma árvore muito frondosa, tirando partido dos solos predominantemente saturados das áreas ribeirinhas. O conjunto formado pelas raízes decididamente impressiona quando divisado através do sub-bosque relativamente aberto da mata. Líquens e galerias de insetos emprestam aspecto escultural à bela árvore, que é endêmica da Amazônia. A disponibilidade constante de água no solo, rico em matéria orgânica da manta de folhas, torna o ambiente bastante propício às palmeiras amazônicas, cujos coquinhos abundantes atraem pujante fauna, caso dos catetos ( Pecari tajacu – Tayassuidae), que aparecem no desenho. The kapok tree (Ceiba pentandra – Malvaceae family) is not, by any stretch, the larger tree in the Amazon Rainforest, but it did impress travelers

centuries ago, who portrayed its trunk with a great dose of exaggeration in several works that circulated around the world. Endowed with wide tabular roots growing in the humid soil of the Várzea Forest, helping stabilize it and keeping it up, the kapok is quite a leafy tree, taking advantage of the predominantly saturated soils of the riverine areas . Its roots are definitely impressive when viewed through the relatively open subwoods of the forest. Lichens and insects lend a sculptural appearance to this beautiful tree, which is endemic to the Amazon region. The constant availability of water from the soil rich in organic matter from the carpet of leaves makes the environment favorable to Amazon palms, whose abundant fruit attract a vibrant fauna, like the collared peccaries (Pecari tajacu – Tayassuidae) depicted in the drawing .

Várzea do Rio Amazonas The Várzea Floodplain of the Amazon River O rio Amazonas, assim como a imensa quantidade de igarapés que o aduzem, de forma caótica, em seu curso pela planície deprimida, é cercado por vegetação bastante conhecida através da geografia e da arte. São aqueles cenários mais típicos do centro da Hileia, ora marcados por barrancas elevadas, ora mergulhados em calmos remansos, bordejados por densos aglomerados de palmeiras-açaí ( Euterpe oleracea – família Arecaceae) e pontuados por casebres fincados sobre palafitas, ou até mesmo construções flutuantes, nas quais vive seu povo mais tradicional, que depende da pesca e do extrativismo para seu sustento. A Várzea não exibe aquela paliçada espessa de árvores gigantes, sendo marcada por dossel irregular e heterogêneo, que traduz a complexidade dos solos aluviais sobre os quais vegeta. Alguns de seus elementos, como a sumaúma ( Ceiba pentandra – Malvaceae), exibem porte notável, apesar de quase nunca se elevarem à estatura das grandes árvores da Floresta de Terra Firme. O jacaré-açu ( Melanosuchus niger – Alligatoridae) é o maior jacaré existente, podendo beirar os 5m e habitando toda a Bacia Amazônica, embora não seja numeroso como outros parentes menores.

The Amazon River, as well as the large number of igarapé streams chaotically constituting it along its course through the depressed plain, is surrounded by vegetation that is well known through geography and art. Those are typical sceneries of the Hileia center, at times featuring high and steep banks, at times submerged in quiet backwaters, bordered by clumps of açaí palms (Euterpe oleracea – Arecaceae family) and dotted with modest stilt houses or even floating homes where its most traditional people live, surviving on fishing and the extraction of natural resources . The Várzea floodplain does not feature that thick palisade of gigantic trees but rather displays an irregular and heterogenous canopy, which translates the complexity of the alluvial soils where it vegetates. Some of its elements such as the kapok tree (Ceiba pentandra – Malvaceae) show a notable size, even though it seldom reaches the stature of the large trees in the FirmGround Forest. The black caiman (Melanosuchus niger – Alligatoridae) is the largest existing alligator, reaching up to five meters in length and inhabiting the Amazon Basin, even though it is not as profuse as other smaller relatives .

5 Caatinga Caatinga O termo caatinga , oriundo da língua geral indígena, significa mata branca, uma alusão clara ao caráter fortemente decidual de suas vegetações mais

típicas. No que diz respeito ao Bioma, este congrega inúmeras formas de vegetação diferentes entremeadas umas às outras, geralmente por força de condições edáficas e climáticas. Todas elas, contudo, são formações xerofíticas, ou seja, de hábitos estritamente relacionados à aridez, que é decididamente o traço mais importante da Caatinga. Possuindo extensas interfaces com Biomas úmidos ou subúmidos, tais como a Floresta Atlântica, a Leste, e o Cerrado, a Oeste, a Caatinga ainda se interrelaciona muito proximamente com a Região Amazônica, em seu setor noroeste, e com o infrabioma singular dos Campos Rupestres, ao Sul, na Cadeia do Espinhaço. Assim sendo, a despeito de sua aridez pronunciada, ela apresenta uma complexidade fitogeográfica que ainda muito intriga a Ciência. A Caatinga pode ser fundamentalmente dividida, por seu grau de aridez, em dois universos próprios, que são o Agreste e o Sertão. O Agreste compreende seus compartimentos mais próximos à influência úmida do Atlântico, estendendo-se ao longo da fronteira ambiental com a Floresta Atlântica. O Sertão, por sua vez, abrange o longo rift da Depressão Sertaneja, que corta parte da Região Nordeste de sul a norte, correspondendo a seu setor mais árido. Região que sempre andou mergulhada na aridez, mesmo em tempo geológico, a Caatinga possui cenários de notável dramaticidade, tanto por suas extensas paisagens de rochas calcinadas e solos expostos, quanto pelo caráter marcantemente escultural de seus elementos botânicos. Arte e literatura sempre tiraram partido dessa intensidade cênica, originando obras inesquecíveis, que sempre tiveram o homem como parte fundamental. E assim mesmo deve ser, uma vez que a Caatinga é, sem dúvida, um dos Biomas mais alterados e influenciados pelo ser humano. The term caatinga, originated from a general indigenous language, means “white forest”, a clear allusion to the strongly deciduous character of its most typical types of vegetation. In regard to the Biome, it congregates countless forms of vegetation that are intertwined, usually by force of edaphic and climatic conditions. All of them, however, are xerophytic formations, meaning they have habits strictly associated with aridity, which is by far the most relevant trait of the Caatinga . Having extensive interfaces with humid or subhumid Biomes, such as the Atlantic Forest to the East and the Cerrado to the West, the Caatinga also inter-relates closely with the Amazon Region in its Northwest sector and with the highly singular infrabiome of the Rupestrian Fields to the South, on the Cadeia do Espinhaço mountain range. Hence, despite its pronounced aridity, it presents a phytogeographical complexity that very much intrigues Science .

Essentially, the Caatinga can be divided into two peculiar universes according to its aridity index: the Agreste and the Sertão. The Agreste comprises its compartments closer to the humid influence of the Atlantic, stretching along the environmental border with the Atlantic Forest. The Sertão, on the other hand, encompasses the long rift of the Depressão Sertaneja depression, which traverses the Northeastern Region from North to South, corresponding to its most arid sector . A region perpetually dominated by aridity, even in terms of geological time, the Caatinga features sceneries that are remarkably dramatic as much for its vast landscapes with calcinated rocks and exposed soils as for the markedly sculptural aspect of its botanical elements. Art and literature have always taken advantage of such a scenic intensity, which brought to light unforgettable works centered on man. And it shouldn’t be any different, since the Caatinga is without doubt one of the Biomes affected the most by human interference .

Mata de Cipós em Boa Nova Liana Forest in Boa Nova Ascendendo-se ao Planalto de Conquista, na Bahia, e deixando para trás a pujante floresta que resiste na cabruca da região cacaueira, surge quase

repentinamente o agreste, adentrando-se o domínio da Caatinga. Na região de Boa Nova, a quase 1.000m de altitude, no reverso interiorano do Planalto Atlântico, onde a umidade do oceano vai minguando em brumas progressivamente mais fracas, a cada colina arredondada, encontra-se a Mata de Cipós, que é uma floresta estacional semidecidual, cujo caráter entreaberto enseja forte penetração de lianas e epífitas. Sem embargo de seu aspecto duro e xérico (que se caracteriza pela umidade muito baixa), pejado de cactáceas colunares indicadoras do ambiente catingueiro como o mandacaru ( Cereus jamacaru ), a Mata de Cipós reserva um precioso tesouro de bromeliáceas e orquídeas, que ali formam inigualáveis jardins. Sobre meios-troncos de arvoretas suberosas ou de esculturais palmeiras-licuris ( Syagrus coronata – família Arecaceae), vegetam bromélias de largas rosetas espinhentas e vistosas inflorescências, como Hohenbergia stellata , Aechmea leucolepis e Aechmea multiflora , apenas para citar algumas. Sob a cipoeira que se entrevera com as árvores, formando ambiente propício no solo, alojam-se miríades de outras bromeliáceas, além de diversificada flora orquidológica. Elemento bastante típico desse agreste úmido é a cactácea arborescente Brasiliopuntia brasiliensis , que também habita a Floresta Atlântica. As we climb up the Planalto de Conquista plateau in Bahia, we leave behind the vibrant forest that still survives in the cabruca of the cacao plantation region – an area dedicated to the local cacao cultivation system. And then, almost suddenly, we see the intermediary Agreste zone as we enter the Caatinga. In the Boa Nova region, at an altitude of nearly one thousand meters, situated inland at the other side of the Atlantic Plateau, where the ocean humidity decreases in progressively weaker mists, we will find on each round hill the Liana Forest, a seasonal semi-deciduous forest with a partially open configuration that favors an expressive liana and epiphyte penetration . Despite its tough and xeric aspect, with plenty of columnar Cactaceae specimens such as the queen of the night (Cereus jamacaru ) flagging the Caatinga environment, the Liana Forest stores a precious treasure of Bromeliaceae and Orchidaceae species, which form unparelled gardens here. On the half-trunks of small suberous trees or sculptural licuri palms (Syagrus coronata – Arecaceae family), bromeliads with large prickly rosettes and dashing inflorescences vegetate, such as the Hohenbergia stellata, Aechmea leucolepis and Aechmea multiflora, to name just a few. Under the lianas glimpsed among the trees, forming a favorable environment on the ground, myriads of other Bromeliaceae plants find shelter, along with a diversified Orchidaceae flora. A typical element of this humid Agreste area is the arborescent Cactaceae species Brasiliopuntia brasiliensis, which also inhabits the Atlantic Forest . Embarés em Meio à Paisagem Cárstica de Itacarambi Embaré Trees amid the Karstic Landscape of Itacarambi O médio vale do rio São Francisco, no norte de Minas Gerais, é uma das mais importantes portas de entrada da Caatinga, sendo a pátria das mais belas matas secas e caatingas arbóreas do Semiárido. Entremeando-se a

paisagens cársticas, onde calcários ruiniformes lembram imensas fortalezas acinzentadas, e frequentemente vegetando diretamente sobre a rocha, as florestas estacionais deciduais já recobriram uma extensa área de solos muito férteis, na região de Itacarambi. A Mata do Jaíba, como foi conhecida, já se encontra hoje quase completamente desfeita pela ação do homem. Próximo às célebres Cavernas do Peruaçu, ainda resistem lindamente os embarés, ou barrigudas ( Cavanillesia umbellata – família Malvaceae), formando verdadeiros monumentos botânicos, acompanhadas de aroeiras ( Astronium urundeuva – Anacardiaceae), paineiras ( Ceiba sp. – Malvaceae) e outras árvores comuns entre as florestas estacionais, de forma geral. Essas verdadeiras esculturas dendrológicas ocorrem de modo muito notável nessa região do Vale do São Francisco, assumindo formas das mais curiosas que no passado impressionaram viajantes ilustres, como foi o caso do naturalista Carl Friedrich Von Martius, que as caracterizou em sua Flora Brasiliensis , no século XIX. The medium valley of the São Francisco River, in the North of Minas Gerais, is one of the most important doorways to the Caatinga, being the motherland to the most beautiful Semi-Arid dry forests and arboreal caatingas. Entwined with karstic landscapes, where ruiniform limestones resemble huge grayish fortresses, frequently vegetating directly on the rock, the seasonal deciduous forests have already covered an extensive area with the most fertile soils in the Itacarambi region. The Mata do Jaíba forest, as it was called, has already been almost completely destroyed by man . Near the famous Cavernas do Peruaçu caves, gorgeous embaré trees, also known as barrigudas (Cavanillesia umbellata – Malvaceae family), still resist, forming true botanical monuments along with urunday trees (Astronium urundeuva – Anacardiaceae family), silk-floss trees (Ceiba sp. – Malvaceae) and other trees generally common to seasonal forests. Those dendrologic sculptures notably occur in this region of the Vale do São Francisco valley, assuming the most intriguing shapes, which in the past impressed travelers such as naturalist Carl Friedrich Von Martius, who characterized them in his Flora Brasiliensis book in the 19th century .

Caatinga do Sertão de Pernambuco Caatinga in the Sertão Area of Pernambuco O Sertão ocupa o setor central da Caatinga e representa seu compartimento mais seco, onde as chuvas são inferiores a 500mm no ano, mas podem ser muito inferiores, em certas áreas, como no interior de Pernambuco, chegando às vezes a faltar, por anos a fio. Sua flora, que sempre enfrentou a secura e a aridez do Sertão, é de fato muito antiga, remontando ao Terciário, o que teria originado composição própria, diferentemente de muitas outras formações sul-americanas. A vegetação conhecida como caatinga hiperxerófila, ou simplesmente caatinga stricto sensu , é aquela tipologia amplamente decantada na geografia e nas artes. Seus solos são pouco evoluídos e geralmente férteis, sendo pedregosos e extremamente secos. Alguns de seus elementos botânicos mais característicos são seus cactos colunares, como o mandacaru ( Cereus jamacaru ), o facheiro ( Pilosocereus pachycladus ) e o xique-xique ( Pilosocereus gounellei ), embora a família Cactaceae possua ainda imensa importância na diversidade de plantas do Bioma. Seus cactos esféricos, por exemplo, do gênero Melocactus , apresentam várias espécies endêmicas e são verdadeiramente conspícuos nas zonas rochosas. Outro elemento indicador da vegetação da caatinga hiperxerófila é a macambira-de-flecha ( Encholirium spectabile – família Bromeliaceae), cujas populações de plantas espinhentas são muito largas e

intransponíveis, sendo que o bicho mais típico do Sertão – o mocó ( Kerodon rupestris – Caviidae) – é um dos poucos capazes de circular e se abrigar sob essas plantas ferozes. The arid inland area known as Sertão occupies the central sector of the Caatinga, representing its driest compartment, with rainfall levels below five hundred millimeters per year, which may go even lower in certain parts such as Pernambuco’s inland, where at times there is no water for years. Its flora has always endured the Sertão dryness and aridity, being indeed quite ancient, dating back to the Tertiary, which could have given origin to a composition of its own, differently from many other South American formations. The vegetation known as hyperxerophile caatinga, or simply stricto sensu caatinga, corresponds to the typology highly praised in geography and the arts. Its soils have not evolved much and are in general fertile, as well as rocky and extremely dry . Some of the most characteristic botanical elements in the Caatinga are the columnar cacti such as the queen of the night (Cereus jamacaru ), blue columnar cactus (Pilosocereus pachycladus ) and xique-xique (Pilosocereus gounellei ), even though the Cactaceae family has an even greater importance to the plant diversity of the Biome. Its spherical cacti in the genus Melocactus, for instance, present several endemic species and is really conspicuous in the rocky zones. Another indicator of the hyperxerophile caatinga vegetation is the macambira-de-flecha (Encholirium spectabile – Bromeliaceae family), whose populations of prickly plants are vast and virtually unsurmountable; one of the most typical animals of the Sertão, the rocky cavy (Kerodon rupestris – Caviidae), is one of the few capable of moving around and finding shelter under those ferocious plants . Serra da Capivara, no Piauí The Serra da Capivara, in Piauí O clima semiárido do Nordeste é bastante antigo e dá mostras de não ter arrefecido de modo muito importante e duradouro desde o Terciário, quando boa parte do estoque florístico da Caatinga foi originado. Suas vastas peneplanícies arrasadas, ostentando inselbergs isolados, à forma de pontões, em meio aos vales pedregosos e ressequidos, são paisagem dominante no Sertão, onde impera a caatinga stricto sensu , hoje grandemente alterada pelo homem, que há séculos lhe explora os recursos mais primários. Em meio à desolação da caatinga empobrecida, surge um de seus mais espetaculares cenários geológicos – a Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, no estado do Piauí.

Admiráveis cuestas de arenito e conglomerados sedimentares formam uma longa muralha multitonal, onde rochas avermelhadas jazem sob espessas camadas branquicentas, cuja coloração emprestou nome a uma de suas mais importantes disjunções locais – a Serra Branca –, que abriga vegetação singular, bastante diversa da caatinga stricto sensu , que lhe vai ao sopé. A complexidade fitogeográfica da Serra da Capivara anda junto com sua importância arqueológica e antropológica. Parecem resistir ali, em meio ao mais completo conjunto de pinturas rupestres e petróglifos do continente, os mais antigos indícios da presença humana nas Américas, remontando a diversas dezenas de milhares de anos. The semiarid climate of the Northeast is quite ancient and doesn’t show any signs of having softened in any significant or lasting way since the Tertiary, when a good deal of the Caatinga floristic stock was originated. Its extensive devastated peneplains, exhibiting isolate inselbergs like promontories amid dry rocky valleys, are dominant in the Sertão landscape, where the stricto sensu caatinga prevails, nowadays dramatically changed by the secular human exploitation of its most primary resources. Amid the desolation of the impoverished caatinga, one of its most spectacular geological sceneries emerges: the Serra da Capivara sierra, in São Raimundo Nonato, Piauí state . Breathtaking cuestas of sandstone and sediment conglomerates form a long multitone wall, where reddish rocks sit under thick whitish layers whose color has inspired the name of one of its most important local disjunctions: the Serra Branca sierra (“White Sierra”), which shelters a peculiar vegetation, quite different from the stricto sensu caatinga occurring at its foot . The phytogeographical complexity of the Serra da Capivara sierra goes hand in hand with its archeological and anthropological relevance. It seems like there, amid the Continent’s most complete set of rupestrian paintings and petroglyphs, the most ancient traits of human presence in the Americas still withstand, dating back many tens of thousands of years .

Os Carrascos da Serra Branca The Carrascos of the Serra Branca Sobre o altiplano da Serra da Capivara, no estado do Piauí, em altitudes superiores aos 600m, surgem interessantes conjuntos de rochedos erodidos, com aspecto ruiniforme, exibindo enigmáticas formas de vasos emborcados, castelos medievais e cascos de tartaruga, sendo todos resultantes de erosão diferencial, predominantemente relacionada a episódios de maior ou menor aridez. É a chamada Serra Branca, em cuja cumeada surge vegetação notavelmente diferente daquela caatinga stricto sensu que caracteriza a Depressão Sertaneja, poucos quilômetros abaixo, em altitudes da ordem de 400m. Essa floresta baixa e intrincada, de fisionomia bem mais densa e com deciduidade independente daquela da planície, é chamada carrasco e também aparece em outros planaltos sobrelevados da Caatinga, com flora própria de cada localidade. O elemento mais conspícuo do carrasco da Serra Branca é a canela-de-velho ( Cenostigma macrophyllum – família Fabaceae), com seus troncos múltiplos, de arquitetura tortuosa e aspecto fendido, que se destacam na paisagem ao exibir contrastantes manchas esbranquiçadas na casca. Durante a estação mais seca do ano, os carrascos atravessam deslumbrante transformação outonal, quando gradualmente se tingem do amarelo ao rubro, até perderem

suas folhas quase completamente. No desenho, um pequeno grupo de porcos-do-mato, ou catetos ( Pecari tajacu – Tayassuidae), foi representado, por integrar a fauna da Caatinga. On the Serra da Capivara’s crowning plateau, in the state of Piauí, at altitudes a bit over six hundred meters, interesting sets of eroded rocks with a ruiniform aspect occur, exhibiting enigmatic shapes of upturned vases, medieval castles and tortoise shells as a result of differential erosion, predominantly related to episodes of greater or lesser aridity. They form the so-called Serra Branca sierra, whose crown hosts a vegetation notably different from that of the stricto sensu caatinga, characterizing the Sertão Depression only a few kilometers below, at average altitudes of four hundred meters. This low and intricate forest, featuring a far denser physiognomy and an independent deciduousness from that of the plain, is called carrasco and also appears on other Caatinga higher-than-average plateaus, each with its particular flora . The most conspicuous element of the Serra Branca carrasco is the canelade-velho (Cenostigma macrophyllum – Fabaceae family), with its multiple trunks displaying a tortuous architecture and split aspect that stand out in the landscape, exhibiting contrasting white patches on their bark. During the driest season of the year , carrascos undergo a dashing autumnal transformation, when they become gradually tinted with hues varying from yellow to ruby, until they almost completely lose their leaves. In the drawing, a small group of collared peccaries (Pecari tajacu – Tayassuidae) is portrayed, as they are an integral part of the Caatinga fauna . Rio Jaburu, na Serra de Ibiapaba The Jaburu River on the Serra de Ibiapaba Interpretar a Caatinga como um universo exclusivamente seco, coberto por vegetação hiperxerófila e de aspecto árido, representa um equívoco que reduz a capacidade do homem de lidar com sua natureza imensamente diversificada. Ao longo rift de Ibiapaba, que deprime a área central da Região Nordeste e define o domínio do Sertão, correspondem lateralmente “ombros” planálticos notavelmente elevados, chegando a atingir altitudes superiores aos 1.000m, como aquelas da Serra de Ibiapaba, no Ceará. Por cima dessas áreas planálticas, onde se condensa copiosa umidade adiabática, chegam a vegetar florestas densas, que imitam à perfeição aquelas do litoral. São os chamados brejos de altitude, que se dispersam gradualmente em carrascos, como aqueles que revestem a cabeceira do rio Jaburu, que corre para a vertente ocidental do maciço. O alto rio Jaburu é caracterizado por uma série de cânions rochosos, cercados de carrascos espessos e biodiversos, sendo seus paredões íngremes amplamente ensolarados e continuamente umedecidos pela bulha ruidosa do curso d’água. São habitados por lindos jardins de orquídeas, cactáceas e outras joias da flora xerofítica da Caatinga. A Serra de Ibiapaba é um precioso patrimônio paisagístico do Semiárido, abrigando mesoclimatologias únicas e marcadas por diversos endemismos botânicos, passíveis da mais cuidadosa conservação.

Regarding the Caatinga as an exclusively dry universe, covered in hyperxerophile vegetation with an arid aspect, is a mistake that reduces human ability to deal with its immensely diverse nature. To the long Ibiapaba rift − which depresses the central area of the Northeast Region and defines the Sertão domain − correspond plateau “shoulders” on the sides that are remarkably high, reaching above one thousand meters, like those on the Serra de Ibiapaba sierra in Ceará. On top of such plateau areas, where copious adiabatic humidity condensates, dense forests vegetate, imitating to perfection the coastal ones. These are the high-altitude forests known as brejos, which gradually disperse in the form of carrascos, like the ones covering the source of the Jaburu River as it flows toward the Western slope of the massif . The high Jaburu River features a series of rocky canyons surrounded by dense biodiverse carrascos. Their huge, steep slopes are amply bathed in sunlight and continuously dampened by the tumultuous watercourse, serving as a habitat to beautiful gardens of orchids, cacti and other gems of the Caatinga xerophytic flora. The Serra de Ibiapaba sierra is a precious Semi-Arid landscape treasure, hosting unique mesoclimatologies distinguished by a diversity of botanical endemisms that should be carefully preserved .

Jardim Suspenso no Rio Jaburu Hanging Garden over the Jaburu River Suspensos sobre a calha rochosa do rio Jaburu, na Serra de Ibiapaba, no Ceará, surgem incontáveis jardins naturais de plantas xerofíticas, que tiram partido da ampla luminosidade e dos aerossóis gerados por inúmeras quedas-d’água murmurantes. Cactáceas, orquidáceas e bromeliáceas são os principais elementos que convergem para esses patamares de rocha, que parecem imitar o ofício dos mais primorosos jardineiros. O desenho foi obtido sobre um desses canteiros suspensos, exibindo cactáceas serpeantes ( Pilosocereus gounellei ), que envolvem protetoras uma vigorosa touceira de orquídeas-sumaré ( Cyrtopodium flavum – família Orchidaceae), juntamente com a delgada bromeliácea de folhas lindamente variegadas ( Neoglaziovia variegata ), que vegetam sobre seus próprios restos, depositados longamente sobre a pedra quente.

Suspended over the Jaburu rocky riverbed, on the Serra de Ibiapaba sierra, Ceará, countless natural gardens of xerophytic plants appear, taking advantage of the ample luminosity and sprays generated by a large number of whispering waterfalls. Cactaceae, Orchidaceae and Bromeliaceae specimens are the main elements converging to those rocky landings, which seem to mimic the works of the most talented gardeners . The drawing was made on the top of one of those hanging flowerbeds and showcases twisting cacti (Pilosocereus gounellei ) protectively enveloping a vigorous clump of yellow cowhorn orchids (Cyrtopodium flavum – Orchidaceae family), along with the slim bromeliad with beautifully variegated leaves (Neoglaziovia variegata ), which vegetate on top of their own waste deposited over time on the warm rock . Bromélia Tillandsia streptocarpa na Serra de Ibiapaba Tillandsia streptocarpa Bromeliad on the Serra de Ibiapaba A bromélia Tillandsia streptocarpa é uma planta largamente dispersada no Brasil, ocorrendo desde o Norte-Nordeste até a Região Sul, sempre preferindo ambientes abertos e ventilados e se afastando da sombra e da umidade. Assim, podemos encontrá-la vegetando diretamente sobre rochas de arenito, no Centro-Oeste, ou nas galhadas ressequidas dos carrascos da Serra de Ibiapaba, no Sertão do Ceará. No vale rochoso do rio Jaburu, ela parece imitar sua parente e congênere Tillandsia duratii , ao enovelar, quase ao modo de gavinhas, suas folhas muito rijas nos ramos das arvoretas espinhentas, às quais ela quase não se enraíza propriamente. Essas plantas duras e adaptadas sobrevivem dos nutrientes e da umidade que conseguem captar diretamente do ar, através de tricomas foliares. The Tillandsia streptocarpa bromeliad is a plant largely dispersed in Brazil, occurring from the North-Northeast down to the South Region, always preferring open airy environments, while avoiding the shade and humidity. We can hence find it vegetating straight on top of sandstone rocks, in the Central-West Region, or on the dry carrasco (thorny thicket) branches on the Serra de Ibiapaba sierra, in the Sertão area of Ceará . In the rocky valley of the Jaburu River, it can copy its relative and congener Tillandsia duratii, coiling its hard leaves almost like tendrils over the branches of prickly small trees, where it doesn’t quite attach its roots. Those tough and well-adapted plants survive on the nutrients and humidity that they manage to absorb directly from the air, through their foliar trichomes .

Bromélia Encholirium erectiflorum em Crateús Encholirium erectiflorum Bromeliad in Crateús Os “ombros” do longo rift de Ibiapaba, no Sertão Nordestino, dividem-se em diversas serranias locais, como a Serra das Almas, em Crateús, no Ceará, onde espécies endêmicas preciosas, como a bromeliácea Encholirium erectiflorum , encontram refúgio. Vegetando junto a curiosas plantas tuberosas do gênero Ipomoea (família Convolvulaceae), diretamente sobre a rocha dos afloramentos, ela foi desenhada a partir da Reserva Particular do Patrimônio Natural da Serra das Almas. The “shoulders” of the long Ibiapaba rift, in the Northeastern Sertão, split into several local mountain ridges such as the Serra das Almas sierra in Crateús, Ceará state, where precious endemic species find refuge, among which the Encholirium erectiflorum bromeliad. Vegetating close to intriguing tuberous plants in the genus Ipomoea (Convolvulaceae family), straight on rock outcrops, it was depicted from the Private Reserve of the Serra das Almas Natural Heritage .

Mata de Babaçu, em Viçosa do Ceará Babassu Forest in Viçosa do Ceará O babaçu ( Attalea speciosa – família Arecaceae) é uma palmeira de ocorrência muito ampla no Brasil, podendo ser encontrada em quase todas as regiões, exceto no Sul, onde o Clima Subtropical Úmido não parece lhe favorecer. É mesmo uma planta icônica, que acompanha o homem, que lhe costuma dar múltiplos usos, desde o consumo de seus frutos, até a utilização de suas folhas, para cobertura de casas e choupanas, daí sua multiplicação por mãos indígenas atuais e pretéritas. Aprecia sobremaneira a umidade ambiental e forma densas populações em diversas regiões, onde acaba transformando a paisagem com suas abundantes frondes, que se elevam sobre macegas ou matas baixas. A pequena cidade serrana de Viçosa do Ceará, encravada no meio da área mais densamente florestada da Serra de Ibiapaba, a 740m de altitude, é cercada pela mata de babaçus. Suas notáveis frondes fazem um elegante plano de fundo para a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, na praça central da cidade. The babassu palm (Attalea speciosa – Arecaceae family) occurs at large in Brazil and can be found in nearly all regions in the country, except the South, where the Humid Subtropical Climate doesn’t seem to favor it. It is indeed an iconic plant, to which man has attributed multiple functions, from the consumption of its fruit to the use of its leaves for the roof of houses and huts, thus multiplying it by the hands of past and present indigenous people. Babassu palms particularly enjoy environmental humidity and form dense populations in several regions, where they end up transforming the landscape with their large crowns, which rise above overgrown bushes or short-statured forests . The small mountainous town of Viçosa do Ceará, linked to the Serra de Ibiapaba sierra, embedded in the middle of its most densely forested area, at an altitude of 740 meters, is surrounded by the babassu forest. Its remarkable canopy provides an elegant background to the Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção church in the town square .

6 Pampa Pampa Independente do gênero que se pretenda atribuir, que a língua pátria sabiamente faculta, o Pampa, ou a Pampa, que este autor prefere, por tê-la

na qualidade de musa, a inspirar as mais amplas reflexões, representa um Bioma carregado de história. O homem – tenha sido ele o paleoindígena ou o colonizador europeu – não apenas lhe impôs severas influências, como também foi obrigado a moldar seus hábitos, sua arquitetura e até seu caráter em razão do ambiente fortemente contrastante, que alterna o frio e o calor mais intensos, por sobre pradarias desprotegidas e infinitas. Contudo, tanto quanto os demais Biomas Brasileiros, a Pampa não é somente um tipo de paisagem única, muito embora os campos a perder de vista sejam sua face mais célebre e emblemática. Florestas subtropicais e estacionais, palmeirais, banhados e até savanas permeiam o universo pampeano e sempre aportam ricamente a cultura do povo gaúcho que, afinal de contas, é o possuidor da Pampa Meridional. Situada num ponto de convergência climática entre condições subtropicais atlânticas, continuamente úmidas, e as influências do Chaco, a Oeste, notório centro de calor da América do Sul, a Pampa responde ecologicamente com quadros vegetacionais singulares, que decididamente ensejam a arte. Desenhar seus ambientes corresponde quase invariavelmente a mergulhar na cultura diferenciada de seu povo, carregada de atavismo, onde a pecuária extensiva tem sido, há séculos, poderosa modeladora paisagística. Regardless the gender intended for this word, a flexibility that the Portuguese language wisely allows, the Pampa represents a Biome rich in history. This author prefers to interpret the word Pampa as feminine as it inspires expansive reflections, like a muse. Man, be it the Paleo-Indian or the European colonizer, has not only imposed severe influences over the Pampa but was also forced to mold his habits, architecture and even character due to the wildly contrasting environment, which alternates the most intense cold and heat across endless exposed prairies . However, as much as the other Brazilian Biomes, the Pampa is not reduced to a single type of landscape, even though the fields stretching as far as the eye can see are its most famous, emblematic facies. Subtropical and seasonal forests, palm groves, wetlands and even savannahs permeate the Pampa universe, always bringing out in a rich way the culture of the gaucho people from the South, after all, these people own the Southern Pampa . Situated in a point of climatic convergence in between the Atlantic subtropical conditions, continuously humid, and the Chaco influences to the West, a notorious heat center in South America, the Pampa ecologically reacts with singular vegetational sceneries, which definitely inspire Art. Drawing its environments invariably means diving into the peculiar culture of its people, charged with atavism, in which the extensive cattle farming has been, for centuries, a powerful force shaping the landscape .

Campanha Gaúcha The Campanha Gaúcha Region Um dos maiores mistérios fitogeográficos concernentes ao surgimento de vegetações campestres num país essencialmente florestal, quando muito savânico, é aquele que a Ciência chamou de “enigma da Pampa”. O Clima geral do Brasil propicia o aparecimento de árvores, salvo nos substratos em que estas não possam crescer, geralmente solos extremamente rasos, afloramentos rochosos e terrenos com condições de saturação hídrica constante. Nas extensas pradarias da Campanha Gaúcha, região que circunda os territórios uruguaio e argentino, a Sudoeste, estendendo-se pela Depressão Central do Rio Grande do Sul, campos limpos vêm sendo explorados há séculos como pastagens, sem que o fenômeno de seu surgimento tenha até hoje sido suficientemente esclarecido. A paisagem geral denominada Pampa se estende por quase todo o Uruguai e grande extensão da Argentina, embora sugira ter condicionamentos diversos em cada setor. Culturalmente, sua importância é tão grande que se transformou em verdadeiro símbolo de uma região, além de emprestar seu nome ao Bioma de nossa geografia oficial. Seu mais decantado personagem é o peão de estância, Centauro da Pampa, cuja figura sobre o cavalo quase se dissocia de mera condição humana.

One of the greatest phytogeographical mysteries, concerning the presence of campestral vegetation in an essentially forestial country, savannah-related at most, is the one Science calls “the enigma of the Pampa”. The general Climate in Brazil favors the occurrence of trees, except in substrata where they cannot grow, usually soils that are exceedingly shallow, rock outcrops or environments with constant hydric saturation conditions. On the vast prairies of the Campanha Gaúcha, a region encircling the Uruguayan and Argentinian territories to the Southwest, stretching across the Central Depression of Rio Grande do Sul, clean fields ((open grasslands) have been exploited as pastures for centuries without the phenomenon of their occurrence being satisfactorily clarified to this day . The general landscape named Pampa extends nearly across the entirety of Uruguay and over a great portion of Argentina, even though it suggests that other conditioning elements are at play in each sector. Culturally, its importance is such that it was transformed in a sheer symbol to one region, besides lending its name to the Biome in the brazilian official geography. Its most celebrated character is the ranch peon, the Pampa Centaurus, whose figure on top of a horse nearly dissociates itself from the mere human condition . Banhado do Taim The Banhado do Taim Wetlands No sudeste do Rio Grande do Sul, espremido entre extensas lagunas e cordões de dunas costeiras, surge o Banhado do Taim, onde a condição da vegetação campestre é inequivocamente a saturação hídrica do substrato. Água é tudo o que se encontra poucos centímetros abaixo dos terrenos planos, ou na forma de banhados, onde vivem diversas espécies de bichos, como as capivaras ( Hydrochoerus hydrochaeris – família Caviidae), chamadas também de carpinchos, e os jacarés-do-papo-amarelo ( Caiman latirostris – Alligatoridae), além dos maguaris ( Ciconia maguari – Ciconiidae) e dos lendários tachãs ( Chauna torquata – Anhimidae), que frequentam o cancioneiro tradicional. Antigas dunas eólicas, onde se encontra uma condição mínima de solos para o estabelecimento de árvores, abrigam matinhas de índole subtropical, nas quais alguns elementos originários da faixa tropical aparecem de modo bastante conspícuo e característico. As palmeiras-jerivá ( Syagrus romanzoffiana – Arecaceae) e as figueiras altaneiras ( Ficus organensis – Moraceae) são os exemplos mais famosos dessas plantas esculturais. In the Southeast of Rio Grande do Sul, squeezed between far-reaching lagoons and coastal dune chains, emerges Banhado do Taim, where the condition of the campestral vegetation is unequivocally that of substratum under hydric saturation. Water is all there is, either a few centimeters underneath these planes or in the form of wetlands, where various animal species live, such as capybaras (Hydrochoerus hydrochaeris – Caviidae), also called carpinchos, and broad-snouted caimans (Caiman latirostris – Alligatoridae), as well as maguari storks (Ciconia maguari – Ciconiidae) and the legendary southern screamers (Chauna torquata – Anhimidae), frequently present in traditional songs, rhymes and poetry .

Old eolian dunes, wherever they carry minimal soil conditions for trees to grow, shelter compact forests with subtropical traits, in which a few elements originating from the tropical band appear in a very conspicuous and typical manner. Queen palms (Syagrus romanzoffiana – Arecaceae) and tall fig trees (Ficus organensis – Moraceae) are the most famous examples of these sculptural plants .

Palmares de Butiás, ao sul da Pampa Jelly Palm Groves to the South of the Pampa Ao sul do Chuí, em território uruguaio, poucos quilômetros além da fronteira brasileira, existem curiosas formações de caráter aparentemente homogêneo. Ocupam as bases de serranias desgastadas, relacionadas ao mesmo Escudo Sul-Riograndense, que forma a Serra de Sudeste, no Rio Grande do Sul. São os lendários palmares de butiás, imensos grupamentos de palmeiras-butiá ( Butia odorata – família Arecaceae), espécie de ocorrência bastante expressiva na Pampa. Espremem-se entre solos de forte hidromorfismo e conjuntos de morrotes baixos, em altitudes da ordem de 100m, sendo hoje explorados secundariamente pela pecuária extensiva, ou meramente por populares que conduzem suas criações por entre as belas e esculturais palmeiras, para que estas se alimentem de seus frutos carnosos, espontaneamente caídos. Sabe-se que, em território brasileiro, já foram

imensamente mais numerosas, tendo sido há muito raleadas por força da queima de pastos e sobrepastejo. Em nosso solo, existem velhos indícios, de séculos atrás, de manejo antrópico dessas soberbas palmeiras, de forma a servirem de estrutura para currais de gado em um tempo no qual não se dispunha de aramados ou cercas. Nos chamados Campos Neutrais, extremo sul da Pampa, ainda existem tais formações, assim como pequenos palmares já bastante desmantelados, dando conta da riqueza pretérita da paisagem pampeana, hoje bastante regularizada fisionomicamente após tantos anos de aculturamento. There are intriguing formations with apparently homogenous features that notably occur in the Uruguayan territory, to the South of Chuí, a few kilometers past the Brazilian border, at the foot of worn-down mountain ranges linked to the same Escudo Cristalino Sul-Rio-Grandense shield forming the Serra de Sudeste sierra in Rio Grande do Sul. These formations are the legendary butiá groves, huge groupings of jelly palms also known as butiás (Butia odorata – Arecaceae family), a species with quite an expressive presence in the Pampa. Squeezed between highly hydromorphic soils and low hills, at an average altitude of a hundred meters, they are today secondarily exploited for extensive cattle farming or merely by locals conducting their cattle amid the beautiful, sculptural palms, so the animals can feed on their succulent fruit that falls to the ground. It’s known that in the Brazilian territory these palms were far more abundant than today, having dwindled a long time ago due to pasture fires and overgrazing . In our soil, there are ancient signs of anthropic management of these superb palms, performed centuries ago so they would serve as structures for cattle pens in an era when wires and fences weren’t available. In the so-called Campos Neutrais, at the southernmost portion of the Pampa, such formations still exist, along with small dismantled palm groves, as a testimony of the former Pampa landscape richness, for today its physiognomy has been already vastly regulated after so many years of acculturation .

Campo de Blocos na Serra de Sudeste Field of Blocks on the Serra de Sudeste Antigos arcos Pré-Cambrianos, relacionados às orogêneses que formaram as principais cadeias cristalinas do país, foram longamente exumados pela erosão Terciária e Quaternária, tendo suas rochas expostas a alternadas condições de aridez e frio, que as submeteram a intensa diáclase. Assolados por inimagináveis variações de temperatura, os velhos granitos se partiam em blocos e eram então lentamente arredondados durante períodos úmidos subsequentes, restando vastos depósitos de matacões, ou boulders , que foram sendo envolvidos por campos e florestas, como os que se observam hoje, na Serra de Sudeste, testemunho paisagístico do Escudo Cristalino SulRiograndense. Um dos mais célebres elementos botânicos dos campos de blocos do sudeste e leste Gaúcho é o ombu ( Phytolacca dioica – família Phytolaccaceae), lendária árvore de tronco anguloso e muito largo, entre cujas anfractuosidades se esconderiam mulheres e crianças das velhas estâncias durante ataques de bandoleiros, séculos atrás. A vegetação dos campos de blocos, repleta de oportunidades de luz e abrigo, é de abundante flora epifítica, com destaque para as orquídeas, como Cattleya intermedia e Cattleya tigrina , que surgem no desenho, nas mãos de dois naturalistas, que

as examinam, assim como às bromélias do gênero Tillandsia . Em médio plano, atravessa um graxaim-do-campo ( Lycalopex gymnocercus – Canidae), que observa curioso a dupla de exploradores. Ancient pre-Cambrian arcs, associated with the orogenesis that formed the main crystalline-rock ranges in the country, were for a long time exhumed by Tertiary and Quaternary erosions, having their rocks exposed to alternate conditions of aridity and cold temperatures, which subjected them to an intense diaclasis. Battered by unimaginable temperature variations, the old granites fractured into blocks to be slowly rounded during subsequent humid periods, leaving vast deposits of boulders, which ended up enveloped by fields and forests, like those observed nowadays on the Serra de Sudeste sierra, a landscape testimony of the Escudo Cristalino Sul-Rio-Grandense shield . One of the most celebrated botanic elements of the block fields in the Southeast and East of Rio Grande do Sul is the ombu (Phytolacca dioica – Phytolaccaceae family), a legendary tree with an angular and very wide trunk, whose anfractuosities served as hiding spots for women and children living in the old ranches during attacks of outlaws, centuries ago. The vegetation of the block fields, enjoying ample access to light and shelter, holds abundant epiphytic flora, with emphasis on orchids such as the Cattleya intermedia and Cattleya tigrina, which in the drawing are displayed in the hands of two naturalists examining them, along with bromeliads in the genus Tillandsia. A Pampas fox (Lycalopex gymnocercus – Canidae) crosses the middleground, watching the duo of curious explorers . Floresta Estacional do Rio Uruguai Seasonal Forest of the Uruguay River Os Biomas da Floresta Atlântica e da Pampa se entretocam nos limites da vertente meridional da Serra Geral, na região de Santa Maria da Boca do Monte e na região central do Rio Grande do Sul. Florestas densas se derramam nesta muralha natural, sendo elas fundamentalmente florestas subtropicais, tributadas por elementos de florestas tropicais. Estes vêm por dois corredores principais: o primeiro deles é a floresta do Planalto Atlântico, vinda de Leste, através da passagem de Torres, e o segundo é o rio Uruguai, um dos mais importantes corredores migratórios, por onde chegaram plantas da Floresta Estacional da Bacia do Paraná. Esta é, aliás, um dos polos mais importantes de dispersão de árvores estacionais para todo o Brasil. Adicionadas de algumas outras espécies chaquenhas, chegadas de Oeste, essas matas ainda se replicam Pampa adentro, formando florestas ciliares de alguns rios e os famosos capões, que são fragmentos de floresta a pontuar a vastidão pampeana. Ainda que parte do rio Uruguai não esteja diretamente vinculada ao Bioma Pampa, a Floresta Estacional do Parque Estadual do Turvo (junto ao conhecido Salto de Yucumã, na fronteira com a Argentina, no noroeste Gaúcho) foi aqui representada a partir de uma de suas clareiras, na qual repousam duas onças-pintadas ( Panthera onca – família Felidae). Notáveis índices de deciduidade, impostos pelo frio, marcam a fisionomia dessas matas exuberantes, ponto de encontro de floras muito diferentes. Numa das

bordas da clareira, que representa um afloramento de basalto, em meio aos solos férteis da região, surge uma cactácea colunar – Cereus hildmannianus – que corresponde a um elemento migrante da aridez chaquenha, Argentina adentro, enquanto no primeiro plano observa-se uma guaraíva ( Cordyline spectabilis – Asparagaceae), planta típica dos sub-bosques da floresta subtropical do Planalto da Serra Geral. The Atlantic Forest and Pampa Biomes touch in the limits of the meridional slope of the Serra Geral sierra, in the Santa Maria da Boca do Monte area and Central Region of Rio Grande do Sul. Thick forests unfold along this natural wall, being fundamentally subtropical forests enriched with tropical forest elements, which arrive via two main corridors: the first is the Atlantic Plateau forest, stretching from the East through the Torres passage; and the second is the Uruguay River, one of the most important migration corridors, through which plants from the Bacia do Paraná Seasonal Forest arrived – this forest, by the way, is one of the main centers of seasonal tree dispersion to all parts of Brazil. Including other Chaco species coming from the West, those forests still replicate themselves into the Pampa, forming riparian forests along some rivers and the famous capão coppices, which are forest fragments dotting the Pampa vastness . Although part of the Uruguay River is not directly linked to the Pampa Biome, the Parque Estadual do Turvo Seasonal Forest – next to the popular Salto de Yucumã falls in the Argentinian border, in the Norwest of Rio Grande do Sul – was represented here as viewed from one of its clearings, in which two jaguars (Panthera onca – Felidae family) rest. Impressive deciduousness levels, imposed by the cold weather, distinguish the physiognomy of these exuberant forests, to which such diverse floras converge. On one of the borders of the clearing, which displays a basalt outcrop amid the region’s fertile soils, a columnar Cactaceae specimen (Cereus hildmannianus ) emerges to represent a migrating element from the Chaco aridity within Argentina. In the foreground a guaraíva (Cordyline spectabilis – Asparagaceae), a typical plant from the understories of Planalto da Serra Geral Subtropical Forest, can be observed .

Parque de Espinilho na Barra do Quaraí Parque de Espinilho park in Barra do Quaraí Talvez seja o Parque de Espinilho a vegetação mais excepcional do perímetro da Pampa do Brasil, por diferir tão dramaticamente das demais tipologias do Bioma, e ainda muito mais das outras formas arbóreas das florestas de índole subtropical que a cercam a norte, penetrando-lhe de modo fragmentar, nos capões e canhadas. Não contrasta tanto assim do restante das pradarias pampeanas argentinas e uruguaias, porque lá ainda reveste inúmeros fragmentos, nos recortes em que os solos lhe são próprios. Sua ausência no Brasil, fora das poucas dezenas de hectares onde a protege o Parque Estadual do Espinilho, no município de Barra do Quaraí, no sudoeste do Rio Grande do Sul, se deve muito mais à história da agropecuária gaúcha que à mera raridade primitiva dessa vegetação, que já habitou diversas outras áreas da costa do rio Uruguai. O Parque de Espinilho é uma elegante vegetação savânica, na qual sobressai o principal elemento botânico, que lhe empresta o nome – o espinilho ( Vachellia caven – família Fabaceae). O tipo escultural de suas árvores contortas, espetadas numa pradaria saturada de umidade, tem notória contribuição de dois algarobos, que são Prosopis affinis e Prosopis nigra (Fabaceae), além do quebracho ( Aspidosperma quebracho-blanco – Apocynaceae), este o menos numeroso, sendo todas espécies chaquenhas. O

Parque de Espinilho é, pois, um enclave do Chaco em território brasileiro, carregando flora própria. O lobo-guará ( Chrysocyon brachyurus – Canidae) é um dos animais que percorre essa savana meridional, sendo vistos dois indivíduos que disputam a carcaça de uma perdiz, sob o olhar atento de um cardeal-amarelo ( Gubernatrix cristata – Thraupidae), ave endêmica dessa vegetação. Parque de Espinilho park features perhaps the most exceptional vegetation within the Brazilian Pampa perimeter, as it differs dramatically from other typologies of this Biome, and even more so from other tree forms of forests with subtropical traits surrounding the park in the North and penetrating it in a fragmentary manner in isolated portions of forest known as capões and in canhada depressions. It doesn’t contrast that much with the rest of the Argentinian and Uruguayan Pampa prairies, for there it still covers countless fragments where the soils are appropriate to it. Its absence in Brazil – except for the few tens of hectares where it is protected at Parque Estadual do Espinilho park, in Barra do Quaraí, in the Rio Grande do Sul Southwest area – is rather a result of the gaucho farming history than a mere reflection of the primeval rarity of this vegetation, which has inhabited many other areas on the banks of the Uruguay River . Parque de Espinilho represents an elegant savannah-like vegetation, highlighting the main botanical element that inspires the park’s name: the espinilho or Roman cassie (Vachellia caven – Fabaceae family). The sculptural features of its contorted trees, emerging on a prairie saturated with humidity, receive a notorious contribution from two mesquites, the Prosopis affinis and Prosopis nigra (Fabaceae), and from the less frequent white quebracho (Aspidosperma quebracho-blanco – Apocynaceae), being all three Chaco species. Parque de Espinilho park is, therefore, a Chaco enclave in Brazilian territory, carrying a flora of its own. Maned wolves (Chrysocyon brachyurus – Canidae) are among the animals roaming this meridional savannah, and here two of them can be seen competing for a partridge carcass under the attentive eyes of a yellow cardinal (Gubernatrix cristata – Thraupidae), a bird endemic to this vegetation . Referências Bibliography AB’SÁBER, Aziz. Os Domínios de Natureza no Brasil . São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. __. Ecossistemas do Brasil . Fotos de Luiz Claudio Marigo. São Paulo: Metalivros, 2006. DIENER, Pablo & COSTA, Maria de Fátima. Martius . Rio de Janeiro: Capivara, 2018. GARAY, Irene. A Dimensão Funcional da Diversidade Biológica. In: GARAY, Irene & RIZZINI, Cecília Maria (Org.). A Floresta Atlântica de Tabuleiros: Diversidade Funcional da Cobertura Arbórea. 2ª Edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2003.

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Simone Rodrigues Revisão de textos / Proofreading Daniel Turela Rodrigues Ana Paula Coimbra Ana Vitória Leal Graziano Versão em inglês / English translation Nicole Anne Collet Projeto gráfico e Capa / Graphic design and Cover Tatiana Altberg Tatiana Podlubny Conselho editorial / Editorial board Alessandro Bandeira Duarte (UFRRJ) Claudia Saldanha (Paço Imperial) Eduardo Ponte Brandão (AVM/UCAM) Francisco Portugal (UFRJ) Ivana Stolze Lima (Casa de Rui Barbosa) Maria Cristina Louro Berbara (UERJ) Pedro Hussak (UFRRJ) Rita Marisa Ribes Pereira (UERJ) Roberta Barros (UCAM) Vladimir Menezes Vieira (UFF) Tratamento de imagens / Image treatment Estúdio Arteônica Impressão / Printing IPSIS Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Tuxped Serviços Editoriais (São Paulo, SP) G734i       Graeff, Orlando.

Iconografia da paisagem brasileira / Brazilian landscape iconography / Orlando Graeff; Tradução de Nicole Anne Collet. - 1. ed. - Rio de Janeiro : NAU Editora, 2020. 204 p.; il. E-Book: 8.5 Mb; ePub. ISBN 978-65-87079-00-4 1. Arte. 2. Biomas Brasileiros. 3. Ciência. 4. Desenho Naturalista. 4. Iconografia da Paisagem. 5. Ilustração Científica. I. Título. II. Assunto. III. Graeff, Orlando. CDD 704.9481 CDU 7.04(81) Índice para Catálogo Sistemático 1. Iconografia: Natureza brasileira. 2. Iconografia (Brasil). Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8 8846

Sumário Capa Folha de rosto Sumário Apresentação (Foreword) Prefácio (Preface) Introdução (Introduction) 1 Floresta Atlântica (Atlantic Forest) Floresta Pluvial Atlântica em Mangaratiba (Atlantic Pluvial Forest in Mangaratiba) Floresta Pluvial Atlântica na Estrada do Sertão, em Itaguaí (Atlantic Pluvial Forest on Estrada do Sertão, in Itaguaí) Floresta de Baixada Litorânea, entre Mangaratiba e Paraty (Coastal Lowland Forest, between Mangaratiba and Paraty) Floresta Inundável do Litoral, em Guaraqueçaba (Coastal Floodable Forest in Guaraqueçaba)

Floresta Inundável do Litoral e o Homem (The Coastal Floodable Forest and Mankind) Manguezal na Baía de Paranaguá (Mangrove Formation in Baía de Paranaguá) Vegetação de Restinga na Ponta do Garcês (Restinga Shoal Vegetation at Ponta do Garcês) Floresta Nebular em Macaé de Cima (Cloud Forest in Macaé de Cima) Floresta Pluvial Atlântica de Altitude na Serra da Maria Comprida (HighElevation Atlantic Pluvial Forest on the Serra da Maria Comprida) Afloramento Rochoso na Serra da Maria Comprida (Rock Outcrop on the Serra da Maria Comprida) Campo de Altitude na Serra dos Órgãos (High-Elevation Field on the Serra dos Órgãos) Floresta de Tabuleiros no Espírito Santo (Tabuleiro Forest in Espírito Santo) Floresta Estacional Semidecidual Próximo a Rondonópolis (Seasonal Semideciduous Forest near Rondonópolis) Araucarilândia – Perímetro Das Araucárias (Araucarilândia – The BrazilianPine Perimeter) Floresta Subtropical – Floresta Mista de Araucárias (Subtropical Forest – Brazilian-Pine Mixed Forest) Mosaico Campos-Florestas de Pinheiros (Mosaic Fields – Pine Forests) Campos de Cima da Serra (The Sierra Upper Fields) 2 Cerrado (Cerrado, The Brazilian Savannah) Cerrado Stricto Sensu no Parque Nacional das Emas (Stricto Sensu Cerrado in Parque Nacional das Emas National Park) Campo Limpo no Parque Nacional das Emas (Clean Field in Parque Nacional das Emas National Park) Campo de Cerrado e Chapada em Tesouro, no Mato Grosso (Cerrado Field and Tableland in Tesouro, Mato Grosso) Arenitos Ruiniformes da Cidade de Pedra, em Rondonópolis (Ruiniform Sandstones of Cidade de Pedra, in Rondonópolis) Floresta-Galeria do Rio das Mortes (Gallery Forest of the Rio das Mortes) Jequitibá-Vermelho na Floresta-Galeria do Rio das Mortes (JequitibáVermelho Tree in the Rio das Mortes Gallery Forest) Vereda de Buritis em Itacarambi (Vereda of Buriti Palms in Itacarambi)

Campos Rupestres (Rupestrian Fields) Subida ao Campo Rupestre Próximo a Guiné (Climbing up to the Rupestrian Field near Guiné) Campo Rupestre no Vale do Paty (Rupestrian Field in the Vale do Paty) Velósias Gigantes na Serra do Cipó (Gigantic Velloziaceae Specimens on the Serra do Cipó) 3 Pantanal (Pantanal) Lagoas e Caronais da Nhecolândia (Lagoons and Caronal Formations of Nhecolândia) Cordilheira no Pantanal do Rio Negro (Cordillera in the Pantanal do Rio Negro) Paratudal na Região de Aquidauana (Paratudal Groupings in the Aquidauana Region) Manduvi numa Cordilheira do Pantanal (Panama Tree on a Pantanal Cordillera) Pantanal Avistado da Serra de Maracaju (The Pantanal Viewed from the Serra de Maracaju) Travessia do Rio Cuiabá, em Poconé (Crossing the Cuiabá River in Poconé) Chaco Úmido em Porto Murtinho (Humid Chaco in Porto Murtinho) Bromélia Tillandsia duratii em Porto Murtinho (Tillandsia duratii Bromeliad in Porto Murtinho) 4 Floresta Amazônica (Amazon Forest) Floresta de Terra Firme no Rio Cristalino (Firm-Ground Forest by the Cristalino River) Subida do Rio Cristalino, no Mato Grosso (Travelling Upstream the Cristalino River in Mato Grosso) Salto Augusto, no Rio Juruena (Salto Augusto Falls at the Juruena River) Floresta de Igapó, no Arquipélago de Anavilhanas (Igapó Forest in the Arquipélago de Anavilhanas) Campinarana do Rio Branquinho (The Campinarana sand forest of the Branquinho River) Sumaúma na Floresta de Várzea (Kapok Tree in the Várzea Forest) Várzea do Rio Amazonas (The Várzea Floodplain of the Amazon River) 5 Caatinga (Caatinga)

Mata de Cipós em Boa Nova (Liana Forest in Boa Nova) Embarés em Meio à Paisagem Cárstica de Itacarambi (Embaré Trees amid the Karstic Landscape of Itacarambi) Caatinga do Sertão de Pernambuco (Caatinga in the Sertão Area of Pernambuco) Serra da Capivara, no Piauí (The Serra da Capivara, in Piauí) Os Carrascos da Serra Branca (The Carrascos of the Serra Branca) Rio Jaburu, na Serra de Ibiapaba (The Jaburu River on the Serra de Ibiapaba) Jardim Suspenso no Rio Jaburu (Hanging Garden over the Jaburu River) Bromélia Tillandsia streptocarpa na Serra de Ibiapaba (Tillandsia streptocarpa Bromeliad on the Serra de Ibiapaba) Bromélia Encholirium erectiflorum em Crateús (Encholirium erectiflorum Bromeliad in Crateús) Mata de Babaçu, em Viçosa do Ceará (Babassu Forest in Viçosa do Ceará) 6 Pampa (Pampa) Campanha Gaúcha (The Campanha Gaúcha Region) Banhado do Taim (The Banhado do Taim Wetlands) Palmares de Butiás, ao Sul da Pampa (Jelly Palm Groves to the South of the Pampa) Campo de Blocos na Serra de Sudeste (Field of Blocks on the Serra de Sudeste) Floresta Estacional do Rio Uruguai (Seasonal Forest of the Uruguay River) Parque de Espinilho na Barra do Quaraí (Parque de Espinilho park in Barra do Quaraí) Referências (Bibliography) Créditos