370 18 33MB
Portuguese Pages 145 Year 2004
HildP a ADRHubner Flor Ees
Histtoórrtia sa IMISTAÇÃO no
Aleitá
Rio Grande do Sul
DODDDODODDDO
Livros sobre imigração e colonização alemã Album do sesquicentenário da Imigração Alemã, de vários auto res Anais dos dez Simpósios da Imigração e Colonização Alemã, de vár OS autores Antigos germanos, de Milton Valente
Arquitetura erudita da Imigração Alemã no RS, de Giinter Weimer Canção dos imigrantes [alemães], de Hilda Agnes Hiibner Flores
Cemitério de imigrantes do Vale do Rio Pardo, de Armindo L. Miil ler Cento e setenta e cinco anos da Imigração Alemã, de Telmo L. Miiller Colônia alemã: 160 anos depois, de Telmo L. Miiller
Colônia alemã: história e memória, de Telmo L. Miiller Colônia alemã: imagens do passado, de Telmo L. Muller Colônias São Leopoldo e Mundo Novo: 1847-1849, de Otávio Augusto Boni Licht
DOOO
DDODDODODODODODDODODODODCDUU
(Códice 332 do AHRS)
Colonização alemã no Rio Grande do Sul, 2 volumes, de Jean Roch e Colono alemão, de Carlos de Souza Morais
Começo do protestantismo no Brasil, de Armindo L. Miiller
Dois Vizinhos e outros textos [Igreja Evangélica], de Wilhelm Rotermund Fanáticos de Jacobina (Os Mucker), de Fidélis Dalcin Barbosa
Feitoria do Linho Cânhamo, de Carlos de Souza Morais Gleba dos Bispos: colonização no Oeste do Paraná, de Samuel Klauck História da Imigração Alemã [trilíngiie], de Telmo L. Miiller História da Imigração Alemã, de Hilda Agnes Hiibner Flores História de Margaretha, de Angélica Koch Igreja e germanidade, de Martin N. Dreher Imigração e imprensa, de Martin Dreher e outros Língua alemã em São José do Hortêncio, de Virgínia S. Wallner Manuel Pereira Brodt, herói da Guerra do Paraguai, de Arlindo Thôn
Memórias de Brummer, org. de Hilda Agnes Hiibner Flores Memórias de imigrantes alemães, de Giinter Weimer
Memórias de um imigrante anarquista, de Renê Gertz Memórias de um imigrante boêmio, de Josef Umann
Mercenários [alemães] do Imperador, de Juvêncio Saldanha Lemos Mucker: fanáticos ou vítimas, de Antônio M. Galvão e V. G. da Rocha Povoadores do Rio Grande do Sul: 1857-1863, Códice 234 do AHRS Primórdios da vida judicial de São Leopoldo, de Carlos H. Hunsche
Protestantismo em terras gaúchas, de Armindo L. Miiller Protestantismo no Sul do Brasil, de Carlos H. Hunsche
Representações do discurso teuto-católico e a construção de identidade, de H. R. Kleber da Silva / Isabel C. Arendt Tempos de incerteza [discriminação alemã], de Sérgio R. Dillemburg Terra natal, terra nova [alemães e italianos], de vários autores
Vítimas do bugre, de Matias José Gansweidt
Hilda Agnes Hiibner Flores
História da Imigração Alemã
no Rio Grande do Sul
Lu EDiçõES Porto Alegre 2004
O Hilda Agnes Hiibner Flores 1º edição: 2004 Esta edição é propriedade da Autora. Capa:
Antônio Suliani Revisão: da Autora
Editoração e composição: Suliani Editografia Ltda. Rua Veríssimo Rosa, 311 90610-280 — Porto Alegre, RS Fone/fax: (51) 3384 8579 E-mail: suli O viaan rs.n iet
F634i
Flores, Hilda Agnes Hiibner
História da Imigração Alemã no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EST, 2004. 143
p.: il.
ISBN: 85-7517-081-3 1. Imigração alemã: Colonização: Rio Grande do Sul. 2. História:
Guerra do Paraguai, 1865/1870: Imigrantes alemães: Rio Grande do Sul. 3. História: Revolução Federalista, 1893/1895: Imigrantes alemães: Rio Grande do Sul. 4. História: Revolução Farroupilha, 1835/ 1845: Imigrantes alemães: Rio Grande do Sul. 5. Imigração Alemã: Exposição de 1881: Rio Grande do Sul. 6. História: Guerra contra Rosas, 1851/1852: Rio Grande do Sul.: Os Brummer. I. Título
CDU: 325.14(43:816.5) Catalogação elaborada pela Biblioteca Pública do Estado
EDIÇÕES EST
Rua Veríssimo Rosa, 311
90610-280 — Porto Alegre, RS Fone/fax: (51) 3336.1166
E-mail: rovestO via-rs.net www.via-rs.com.br/esteditora
Sumário Introdução / 9 ]
MOVIMENTOS POPULACIONAIS/11
2
CAUSAS DA IMIGRAÇÃO / 13
Causas externas/ 13 Servidão/ 13 Caça e pesca/ 14 Morgadio/ 14 Explosão demográfica/ 14 Serviço militar/ 14 Sanção da Igreja / 15 Impostos escorchantes / 15 Industrialização/ 15 Precária situação econômica/ 16 Causas internas/ 17 Política do Governo brasileiro/ 177 Ação de particulares / 19 Agentes de imigração/ 19 Ação de parentes já imigrados / 20 A viagem /21]
IMIGRAÇÃO NO VALE DOS SINOS: 1824 a 1830/27 Medidas imigratórias / 27 São Leopoldo / 28 Torres / 32 São João das Missões / 33 Regimento dos estrangeiros / 32 Campanha da Cisplatina / 34 Sedição de 1830/35 Guerra dos Farrapos / 36 Questão de terras / 40
4
IMIGRAÇÃO NO VALE DO TAQUARI: 1844 a 1875 / 41
Leis imigratórias / 4] A retaguarda / 42 Picada Café / 43 Novas Colônias / 44
Santa Cruz (do Sul) / 44
Agudo / 47 Nova Petrópolis / 47 São Lourenço (do Sul) / 48 Taquara / 49 Lajeado / 50
Santa Clara (do Sul) / 50 Estrela / 51 Nossa Senhora da Soledade / 52
Colonização em outras províncias / 52 Os Brummer / 53 A Guerra do Paraguai / 56 Imigração americana / 57 Os Mucker / 59
5
IMIGRAÇÃO NO PLANALTO: 1875 a 1889/61
Diversidade étnica / 61 Colônias italianas / 62
A exposição de 1881 / 63
6
IMIGRAÇÃO NO ALTO URUGUAI: 1890 a 1914/67 Características imigratórias da República / 67 Colônias do Alto Uruguai / 69 Iju/ í 69
Guarani das Missões / 69 Erechim /71 Panambi / 70 Não-Me-Toque / 72 Outras Colônias / 72 Revolução de 1893/73 I Guerra Mundial / 75
7
PÓS IGUERRA MUNDIAL / 77
Leis imigratórias / 77 Assentamentos e desdobramentos / 79 Santa Rosa / 779
Enxamagem / 82
Campanha de Nacionalização / 84 II Guerra Mundial / 87
PROCESSO SOCIOECONÔMICO / 91 Agricultura / 9] Cooperativismo / 93
Indústria e Comércio / 95 A venda /97 O caixeiro viajante / 99 Navegação/ 100 Ferrovias/ 101 As estradas/ 102
PROCESSO CULTURAL / 105 Igreja/ 105 Ensino/ 111 Imprensa/ 116 Associações/ 119 10
LEGADO/ 123 Habitação/ 124 Arquitetura/ 125 Artes/ 126 Museus/ 127 Literatura/ 128 Indústria/ 129
Associações/ 130
Festas/ 131] Culinária/ 133 Namoro e casamento / 134 Papel feminino/ 136
REFERÊNCIAS / 139
Mapa das regiões de imigração no Rio Grande do Sul.
Introdução
(Sm minhas andanças por comunidades do interior do Estado, deparei com um generalizado desconhecimento do que foi a imigração no seu processo histórico, desde a transmutação da pátria de origem para o Brasil às etapas de assentamento, adaptação, construção de um novo lar e inserção na vida produtiva da nova pátria. Há alguma luz acerca do que ocorre na localidade onde as pessoas vivem — muitas vezes não documentado, principalmente em se tratando de municípios novos — mas há lacuna no conhecimento do todo, no que reporta à origem dos imigrantes, seus anseios, dificuldades e conquistas, etapas vencidas, crenças e desânimos, labuta na lavoura e no artesanato, no comércio e na indústria dos centros urbanos, na construção de uma nova identidade, nas realizações materiais e culturais, formando valioso legado para os pósteros, Cabe lembrar que a imigração alemã do século XIX não foi a primeira presença germânica no Brasil. Oberacker arrola dezenas de nomes que, isoladamente, deram sua contribuição para o Brasil desde o século XVI, participando em expedições costeiras, na administração de terras e na abertura de estradas, como o fez Erasmo Schetz em São Paulo, em 1553. O mais conhecido dentre esses pioneiros é o artilheiro Hans Staden (1525-1576), que incursionou pelo interior e acabou prisioneiro dos tupis por dois anos, do que resultou valioso depoimento, hoje traduzido em dezenas de línguas. Maurício de Nassau (1604-1679), da nobreza alemã, admi-
nistrou a Colônia Holandesa em Pernambuco. Trouxe técnicos e intelectuais, geriu prosperidade, mas nada deixou quando de sua expulsão. Importante foi a ação dos missionários jesuítas. Na Amazônia houve pregadores e educadores, o gramático Bettendorf, o cartógrafo Aluísio Pfeil
e o escultor sacro Hans Treyer (1668-1737). Nas Missões no Sul do Brasil muito deve-se ao escritor tirolês Pe. Antônio
Sepp
(1655-1735)
e ao Pe.
Martinho Schmid que ergueu igrejas barrocas, ensinou tecelagem, pintura e escultura aos indígenas e fundiu sinos para as Missões. João Henrique Bôhm (1708-1783), militar conceituado, foi o reformador de nosso exército. História da imigração alemã no RS
9
O presente trabalho, ao ensejo dos 180 anos de imigração alemã no Rio
Grande do Sul, pretende abordar, prioritariamente, a Imigração alemã ocorrida neste Estado — com início no ano de 1824 e que perdurou até as primeiras décadas do século XX.
O que se prioriza abordar é o processo imigratório-colonizador, em suas implicações com o meio ambiente, sua labuta material e a cultura aqui construída — de uma maneira bastante genuína porque, isolados por décadas da
comunidade lusa e “esquecidos” pelo governo, os imi grantes e descendentes
tornaram-se fautores de um sistema de vida próprio, nos aspectos pertinentes a religião, escola, ao tipo de trabalho, de convivência, de recreação, no modo de constituir família, associações e comunidades. Enfocamos o imigrante desde a Europa, onde múltiplas causas concorreram na sua decisão de emigrar. A difícil despedida da pátria e as incertezas da viagem. A chegada ao Brasil. Finalmente o lote rural, no meio da selva, onde o improvisado colono devia construir um novo lar. Para entender o processo imigratório, é preciso considerar as diferentes épocas de chegada dos imigrantes e as condições peculiares de cada local de assentamento: o vale dos Sinos, onde imigrantes renanos povoa-
ram a Colônia de São Leopoldo (1824-1830); o vale do Taquari, povo ado por alemães e descendentes dos primeiros colonos (1844-1875); a conquista do Planalto, quando a presença do imigrante italiano superou a do alemão (1875-1889); a ocupação do Alto Uruguai, com imigrantes e mi-
grantes de várias nacionalidades; os assentamentos na República, até a 1 Guerra Mundial (1890-1914); e, finalmente, o período pós I Guerra Mundial, com a imigração superada pela mi gração interna, e a busca de espaço
além fronteiras. Cada fase apresenta características locais, dentro da política imigratória oficial e dos recursos disponíveis em cada momento e cada região. O aspecto religioso desde logo veio quebrar o monobloco do catolicis-
mo oficial até então dominante. A escola foi encarada como obrigação dos pais, fato que o governo aceitou pacificamente. O isolamento geográfico e cultural estruturou comunidades teutas com características distintas da realidade lusa. Surgiram associações religiosas, de lazer, econômicas. Vivendo segregado, houve oportunidade de formar o sentimento conhe-
cido por germanidade, que delineou a comunidade teuta em suas expressões materiais e espirituais, de modo a estruturar um legado típico que hoje enriquece o leque sociocultural do país. Hilda Agnes Hiibner Flores Porto Alegre, maio de 2004. 10
— Hilda Agnes Hiúbner Flores
Movimentos Populacionais
RU nicialmente cabe discernir alguns conceitos básicos, por vezes confusos ao leitor, referente aos movimentos populacionais que ocorrem em determinado tempo e espaço. Reporto ao termo migração e seus derivados. Migração é o movimento da população em busca de melhores condições de vida, seja tentando emprego ou fugindo de perseguição política ou religiosa. É o vai-e-vem dentro do país. Quando
o movimento
se direciona
para fora do Estado,
denomina-se
emigração. Foi o que aconteceu nos países europeus no século XIX, face à grande instabilidade política e econômica gerada por lutas socialistas e de formação de nacionalidades, e face ao surgimento da indústria na Europa, a máquina liberando milhares de artesãos. A imigração é o reverso do fenômeno, o movimento migratório considerado do ponto de vista do país receptor, como os países americanos, que entre os séculos XVIII (EUA) e XIX conquistaram sua independência política e partiram para o crescimento interno, baseado na economia agrícola, processada com tecnologia primitiva, que requer bastante mão-de-obra. Finalmente, transmigração é a mudança de domicílio à força, de um paÍs a outro, como ocorreu com a população negra do Brasil, procedente da Africa. ala
O Brasil Colônia sempre abasteceu seu mercado interno com mão-deobra escrava, notadamente do negro, por vezes já escravizado em sua terra natal. Constituiu ele o maior responsável pela mão-de-obra nos engenhos de açúcar, na mineração, nos cafezais paulistas, nas charqueadas do Rio Grande do Sul. Tão imprescindível foi sua contribuição nesses ciclos econômicos, que o memorialista Antonil, jesuíta que viveu no século XVII, o deno-
minou de “mãos e os pés do senhor”, fautor braçal do sistema colonial im-
plantado pela Metrópole.
História da imigração alema no RS
11
Mas
a escravidão
não coadunava
com
o ritmo
mais acelerado
que a
economia foi adquirindo ao longo dos tempos. O escravo não fazia parte do mercado consumidor. Havia também o desejo de branqueamento da popula-
ção e a necessidade de ocupação de novas áreas agrícolas. Com o sistema de minifúndio agrário, segregado da comunidade latifundiária lusa e movido por exploração familiar, desejava o governo evitar o abandono da propriedade, como no caso dos açorianos do Rio Grande do Sul. Assim o minifúndio explorado pelo imigrante alemão, com proibição de mão-de-obra escrava, desenvolveu-se a contento nas províncias do Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Visava a subsistência familiar, com venda dos excedentes, ao contrário do latifúndio monocultor escravocrata, que alimentou o monopólio agrícola em relação ao mercado europeu.
O minifúndio agrário caracterizou-se como um movimento de chefes de família em demanda de terra em uma nova pátria. Curiosamente os imi grantes acabaram por preencher postos no comércio, em prestação de serviços e profissões liberais. Em contraste com a comunidade lusa rural, de baixa ocupação demográfica, a área de minifúndio era mais densamente povoada,
logo surgindo comunidades religiosas e associações escolares, esportivas e culturais. E
Face a essas colocações, cabe perguntar por que no século XIX milhares de pessoas — alemães e depois outras etnias, na maioria artesãos e integrantes da camada mais humilde da população — abandonaram sua pátria em busca de uma vida nova do outro lado do Oceano, no Brasil e em outros países latinos como o Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia e, antes deles, os Estados Unidos da América do Norte, todos abertos à imigração?
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Hilda Agnes Húbner Flores
ra ias
Causas de imigração
em ser Wlotivos múltiplos influíram na decisão de deixar a pátria, que pod ção, gra emi da gem ori de es país aos das liga , rnas exte as caus em dos upa agr ine em causas internas, próprias dos países americanos, receptores do cont gente imigratório. Causas externas
Eram as causas existentes na Europa de dezenas de pequenos reinados € ducados consolidados pelo Congresso de Viena em 1815 e assolada, ao longo do século XIX, por sucessivos movimentos políticos e sociais e por guerras de formação de nacionalidades. A industrialização em andamento gerou desemprego e a desigualdade social motivou condições de vida precárias, senão subumanas. Fome e insegurança quanto ao futuro predispunham a camada inferior da população à emigração, quando esta se mostrou viável. Recordo aqui os fatores principais de emigração, conforme os arrolei em minha dissertação de Mestrado (Flores, 1983, p. 85-110). Servidão. Na Europa Moderna sobrevivia o regime medieval de servidão, que prendia o trabalhador à terra. No início do século XIX, %4 partes da população européia vivia no campo, numa estrutura que mantinha as relações feudais, tolhendo
a mobilidade
social. O servo residia em
pequena
choupana, na propriedade do senhor, e trabalhava sem perspectiva de melhoria de vida. Se a propriedade fosse vendida, também o servo era transmitido ao novo senhor, como parte integrante do patrimônio. Em 1815, a abolição da servidão constou da pauta do Congresso de Viena, que reformulou a carta geográfica da Europa pós-napoleônica. Contudo, na década de 1860 ainda havia servos nos latifúndios pomeranos do norte de Europa e em países orientais como a Polônia e Rússia. Para esse grupo social, a propaganda de se poder angariar terra própria na América, História da imigração alemã no RS
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representou
forte atração. O servo
pomerano,
conhecedor de um
leque de
profissões artesanais necessárias ao funcionamento do latifúndio, foi imi-
grante preparado para as exigências agrícolas e artesanais, no lote rural da nova pátria.
Caça e pesca. Eram ponês abater animal nem de cães açulada atrás de plantações do camponês,
esportes da nobreza européia, não podendo o campara seu consumo, Se na hora da caça, a matilha presa e a cavalaria dos senhores devastassem as este não tinha direito para reclamar e não raro era
integrado no grupo para encurralar a caça que o cavaleiro abatia por prazer. No Brasil, ao contrário, diziam as propagandas, havia florestas com animais
silvestres, sem impedimento legal para serem abatidos. Essa perspectiva
constituiu atrativo concreto para a emigração, principalmente por parte de rapazes solteiros, ávidos de aventura.
Morgadio. Com raízes medievais, o morgadio consistia no regime político-econômico em que a propriedade é transmitida inteira para o filho mais velho, visando manter poder e força para defender a terra. Os demais filhos, deserdados, dependiam da ajuda do primogênito ou exerciam algum tipo de artesanato ou a pesca para sobreviver. No arquipélago dos Açores o morgadio foi agravado pela exigiiidade de terras e motivou muitos açoritas à emigração. Também na Europa o morgadio concorreu para a emigração. No Brasil, o morgadio não constou na Constituição de 1824. Explosão demográfica. O sociólogo Yves Lacoste aponta o século que vai de 1750 a 1850 como de grande explosão demográfica. A constância de natalidade em oposição à queda da mortalidade infantil, por razões de higiene e de medidas sanitárias que começavam a vigorar, provocou crescimento populacional e consequente dificuldade de geração de trabalho para todos. Esse desequilíbrio entre a oferta e a demanda de mão-de-obra sensibilizou desempregados e desafortunados quando a propaganda emigratória atingiu a Europa.
Serviço militar. Até a formação dos Estados modernos, na Europa vingou o sistema de condados ou ducados, cada unidade possuindo administra-
ção própria e exército para defesa do território. Fregiientes guerras de con-
quista reconfiguravam o mapa geográfico. A situação perdurou até o século XIX, quando ocorrerem as guerras socialistas e de formação dos modernos Estados europeus. À Alemanha e Itália datam da década de 1870. Tudo isto
criou a necessidade da força militar. Aos filhos deserdados pelo morgadio,
aos diaristas e jornalistas, aos integrantes das camadas inferiores da população restava se engajarem no exército como meio de sobrevivência.
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Hilda Agnes Húbner Flores
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Sapo
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Usava o serviço militar severos castigos físicos e se prolongava por
longos anos, podendo chegar a uma década ou mais, conforme as necessi-
dades e interesses do senhor da terra. Essa realidade disponibilizou muitos candidatos à emigração. No Brasil estariam livres da obrigação do serviço militar. Entre os primeiros imigrantes, na década de 1820, muitos se dispuseram à emigração em consegiiência das guerras napoleônicas. Também No tempo das guerras da Prússia, antes de 1870, outros emigraram para fugir do serviço militar. Entre eles, ascendentes de Linha Imperial, em Nova Petrópolis (Schmitz, 1975, p. 42).
Sanção da Igreja. A Igreja ao longo da Idade Moderna ordenou a vida do cidadão através de uma série de medidas normativas e coercitivas. O alto clero fazia o jogo da aristocracia, que integrava. O sistema econômico vigente não estabelecia relação entre moral e economia, de sorte que a nobreza e o alto clero defendiam os próprios interesses, pouco se preocupando com o padrão de vida do trabalhador, atazanado com uma série de impostos pagos ao rei e à Igreja. Contra as medidas coercitivas emanadas do alto, pouco ou nada podia o sacerdote da aldeia, que lidava diretamente com a classe humilde. Sem vislumbrar qualquer melhoria para seus fiéis, restavalhe apenas cuidar da salvação da alma de suas ovelhas. A pobreza era apresentada como expressão da vontade de Deus, ante a qual cabia uma atitude
de resignação e conformismo. No entanto, o calvinismo via a pobreza como ausência da graça de Deus. Para seus seguidores era ponto de honra vencer economicamente, para provar a si mesmo os favores divinos, que levariam à salvação. Portanto, a emigração para país sem as limitações da pátria, era vista com simpatia, principalmente entre evangélicos — que em São Leopoldo, primeira colônia estabelecida, formaram maioria.
Impostos escorchantes. Meeiros e proprietários de minúsculas frações de terra, que por vezes não alcançavam um hectare, viam-se explorados pelo fisco elevado, pelo agiota, pelo proprietário da terra, pelo industrialista ou pelo burguês urbano. Foi o que aconteceu a milhares de imigrantes renanos, pequenos proprietários em constante alerta contra a exploração, que lhes imprimiu linguagem de contestação política. Em 1824 tornaram-se atentos às promessas de Schaeffer, de se tornarem, no Brasil, proprietários de extensão de terra bem maior. A situação exploratória persistiu ao longo da Europa oitocentista. Industrialização. Iniciada na Inglaterra, atingiu a Europa no século XIX. A máquina substituiu a mão-de-obra artesanal, gerando desemprego e tensões sociais. Os Estados alemães, inseridos no processo industrial, no História da imigração alemã no RS
15
meado do século liberaram milhares de artesãos. Na indústria vítrea da Boêmia, na década de 1870 a máquina passou a fabricar 150 quilos diários de contas de cristal, contra o meio quilo de um hábil artesão. Em contrapartida, os fornos de beneficiamento do vidro consumiam a mata nativa, gerando descontrole climático, com enxurradas ou secas prolongadas e fome consequente. Nas zonas de tecelagem, como na Silésia, a máquina liberou milhares de artesãos do tear doméstico, gerando fome e miséria que o teatrólogo Gerhart Hauptmann registrou magistralmente em sua premiada e censurada peça Os tecelões.
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A industrialização gerou desemprego na Europa.
Sem tecnologia para produção de alimentos e sem armazenamento de estoques reguladores, do desemprego decorreu um somatório de miséria, como fome crônica, subnutrição e epidemia tifóide (Lilie, 1975, p. 431 e 489). Eram circunstâncias de total desamparo, favoráveis à propaganda dos
agentes de emigração, que acenava como válvula de escape para milhares de excluídos sociais.
Precária situação socioeconômica. É a convergência das causas anteriores, fator imperativo na decisão de emigrar. A pessoa que não tem posi-
ção definida na vida, que carece do mínimo para cobrir necessidades bási-
cas, que não vê perspectiva de futuro melhor para si e seus filhos, “a quem nunca deu certo a luta pela obtenção do próprio lar, a quem 16
Hilda Agnes Húbner Flores
a velhice tris-
temente o espreita” (Umann,
1997, p. 83), nada tem a perder, arriscando-se
a emigrar. A propaganda emigratória funciona como fator desencadeante para à importante decisão de abandonar parentes e pertences, e viajar ao encontro do desconhecido, cheio de esperanças por um futuro promissor. Lilie, um dos historiadores clássicos da Boêmia, escreve que em tempos de crise, desemprego e fome generalizada na zona de lapidação do afamado cristal da Boêmia, aldeias inteiras se despovoaram, fugindo da fome em busca de futuro mais garantido em terra própria, como os agentes de emigração prometiam: Em 1876 os negócios [de cristal] foram de tal forma ruins, que somente da comunidade de Johannesberg 1975, p. 404).
emigraram
250 pessoas para O Brasil
(Lilie,
A situação era comum na Europa oitocentista. Pe. Schmitz recolheu de seus paroquianos em Nova Petrópolis uma quadrinha popular eloquente no que reporta à causa de imigração da região renana para O Rio Grande do Sul (Schmitz, 1975, p. 38): Kliisserat, cidade bela, Pão seco e este não a fartar. Muito barril e pouco vinho. Travessas grandes e nada dentro.
Causas internas
São as causas oriundas do Estado receptor da imigração. O Brasil, tendo adquirido sua independência política de Portugal em 1822, precisou cuidar de gerar seu próprio crescimento. Interessou-lhe, pois, trazer trabalhadores livres para ocupar os vazios demográficos existentes, principalmente no Rio Grande do Sul, província de formação tardia em relação ao cenário nacional e exposto a guerras fronteiriças. Entre as “nossas” causas podemos citar: Política do Governo brasileiro. Dom João abriu os portos ao comércio
estrangeiro e legislou, em 25.5.1808, a favor da livre entrada de não portu-
gueses, visando alargar as fronteiras político-econômicas do Brasil, então sede do Governo. Da medida resultou a primeira posição oficial próimigração. No sudoeste da Alemanha grassou fome nos anos de 1816-1817, de sorte que em 1818 houve três experiências de imigração na Bahia, todas fracassadas: a colônia de Leopoldina, nome em homenagem à imperatriz Leopoldina, e a de Frankental, de propriedade de Major Jorge von Schaeffer, e a colônia de São Jorge dos Ilhéus. No Rio de Janeiro fundou-se Nova História da imigração alemã no RS
1/
Friburgo, com cerca de 1.500 suíços católicos, acrescidos de 334 evangéli-
cos em 1824, ano em que inicia a imigração para o Rio Grande do Sul. Em 1821 Dom João VI retornou para Portugal e a partir de então nossa
independência tornou-se um fato irreversível. O fechamento da Assembléia
Constituinte, em 1823, trouxe como conseqiiência a oposição de oficiais liberais do Exército brasileiro. Para combatê-los, Dom Pedro I enviou aos Estados alemães o Major Jorge von Schaeffer, médico e naturalista alemão das
relações da Imperatriz Leopoldina, para arregimentar soldados; devia fazêlo sob o rótulo de colonos, pois o Congresso de Viena proibira a formação de exércitos. Instalado no norte da Alemanha, em 1825 Schaeffer editou em Altona, hoje subúrbio de Hannover, um livro para sensibilizar os armadores
para o transporte de imigrantes. À população distribuiu folhetos com uma série de promessas tentadoras:
Viagem gratuita para o Brasil; pagamento das despesas de manutenção por dois anos (160 réis aos adultos no primeiro ano e metade no segundo, crianças
recebendo 50% do valor): 77 hectares de terra gratuita (que não poderia ser vendida antes de 10 anos): isenção de impostos durante 10 anos: gado bovino, egúino e suíno às famílias, na proporção do número de membros: sementes ou mudas de café, algodão, arroz, trigo, fumo, feijão, batata inglesa, milho; cida-
dania brasileira a partir da chegada e liberdade de culto com padre ou pastor sustentados pelo governo.
Quanto à liberdade de culto, a Constituição de 1824 tolerava apenas a prática de cultos não católicos em estabelecimentos sem configuração exterior de templo, isto é, sem torre. Igualmente a concessão da cidadania brasi-
leira
era
promessa
ilegal,
mas
Schaeffer,
enviado
à
Europa
antes
da
Constituição de 1824, baseava-se em lei joanina de 16.3.1820, a qual previa que
Os colonos que se estabelecerem nas terras, que lhes serão dadas gratuitamente, serão considerados [...] súditos de Sua Majestade e estarão sujeitos às leis e aos costumes do país, gozando de todos os privilégios e vantagens outorgadas aos súditos portugueses (Hunsche, 1977, p. 238).
Para agravar a questão da cidadania, na Europa se exigia dos emigrantes o “Termo de Renúncia” que facultava a liberdade de ir e vir, como condição de sair da pátria (Hunsche, 1977, p. 390). As demais promessas imi-
gratórias eram bastante generosas mas instáveis, tendo sido cumpridas na Colônia de São Leopoldo enquanto houve recursos de animais e sementes
provenientes da ex-Feitoria do Linho Cânhamo. Ao longo do século XIX oscilaram as promessas imigratórias, intensificando-as O Governo
os imigrantes rareavam e restringindo-as quando afluíam abundantes. 18
- Hilda Agnes Húbner Flores
quando
Ação de particulares. Além
do Governo, imperial ou provincial, foram
promotores da imigração, ao longo do século XIX, entre outros, os cafeicul-
tores paulistas, que usaram o sistema de parceria em suas fazendas; Dr. Blumenau, fundador, na década de 1850, da Colônia que leva seu nome, em Santa Catarina; o conde francês Montravel, com sua experiência singular de lotear a Colônia de Nossa Senhora da Soledade com várias etnias, difícil de administrar; Jacob Rheingantz, que deu vida e prosperidade à Colônia de São Lourenço, em Pelotas; Augusto Miller que em 1889 fundou e povoou
com descendentes de pomeranos a Colônia de Triunfo, atual distrito de Pelotas: o Cel. reformado da Guarda Nacional, José Vitorino Ribeiro, que em 1853 loteou parte de sua fazenda Estrela no hoje município homônimo; o Ten.-Cel. Antônio Joaquim da Silva Mariante, que em 1856 loteou e povoou sua estância Mariante, no município de Venâncio Aires; Cel. José Francisco dos Santos Pinto, loteador de suas terras no vale do Taquari; os irmãos Antônio e Henrique Batista Pereira que na década de 1860 lotearam Santa Emília, em Venâncio Aires; a Cia. Hermann Meyer fundou em 1899, com sucesso, Neu Wiirttembers, hoje Panambi, tornado município em
1955: a Cia. Colonizadora fundou Fão, Boa Vista, Colorado, Rio do Peixe e
Barro (Amstad, 2000, p. 51-53). As colônias particulares alemãs convergiram mais para O Norte e Noroeste do Estado, e as italianas, para o Norte e Nordeste.
Agentes de imigração. Governo e empresários mantinham na Europa seus agentes de imigração, que colocavam subagentes em pontos estratégi-
cos no interior, fazendo
promoção
de aldeia em
aldeia, junto aos centros
administrativos e comunais e envolvendo também os padres nas igrejas, que acabavam aconselhando a suas ovelhas desatendidas materialmente que tentassem a vida além-oceano, onde um mar de promessas devia de trazer uma vida mais promissora. O primeiro agenciamento ocorreu na década de 1820, na região de Hunsriick, no oeste europeu. No litoral, havia agências nos portos de embarque (Hannover, Amsterdam e Bremen ao norte da Europa, Antuérpia na Holanda e Nápoles, Messina, Veneza e Gênova na Itália), onde funcionários providenciavam casamentos e batizados, pois as certidões, na falta de cartório civil, constituíam o documento hábil para passaporte. Via de regra, aos agentes “não importava impingir umas inverdades, pois o essencial era atrair o maior número de emigrantes”, dentro do compromisso contratual da Companhia colonizadora para a qual trabalhavam e que lhes garantia emprego (Strobel, 1987, p. 20). Dentre os agentes de imigração houve: Jorge von Schaeffer, o pioneiro;
Joseph Hórmeyer que, imigrado como Brummer em 1851, conheceu o Brasil e após retornou à Europa como agente oficial em Viena (para facilitar História da imigração alemã no RS
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sua propaganda, editou um livro promocional: O que Jorge conta sobre O Brasil); Dr. Blumenau, que em 1868 vendeu sua colônia de terra em Santa Catarina e se tornou agente do governo no porto de Hamburgo; Andreas Jantsch que em 1873 aproveitou uma séria crise econômica na Boêmia, para
agenciar lapidadores de cristal, também Lobetanz, da firma August Bolten e
Cia., atuou na Boêmia, prometendo pagamento de 50% da viagem e possibilidade de aquisição de terra a longo prazo; Koseritz, Dôrffel e Sellin escreveram a três um manual promocional, editado na Alemanha em 1885;
consta que também o imigrante Josef Umann escreveu para seus conterrá-
neos, na Boêmia, o manual Conselhos para quem queira imigrar para o Rio Grande do Sul (Umann, 1997, p. 72).
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Técnica de construção de casa, ensinada pelo agente Hôrmeyer.
Ação de parentes já imigrados. As cartas de parentes e conhec idos já radicados no Brasil exerceram papel decisivo no agenciamento de imigrantes. Seu efeito era de tal maneira positivo, que houve agentes à cata de dinheiro que forjavam cartas promocionais, como se fossem de parentes ou amigos (Rodowicz-Oswiecimsky, 1992, p. 10). Forjadas ou não, cartas eram uma propaganda econômica e eficiente, comprovando ou tirando suspeitas sobre o que propalavam os agentes ofic iais de imigração. Mathias 20
Hilda Agnes Húbner Flores
Franzen, de São Leopoldo, em carta a parentes em 1832, falou do auxílio jnicial: Com os subsídios ou auxílios em dinheiro que recebemos, por pessoa, no valor de 40 talers por mês durante um ano e 20 talers por pessoa durante três meses, foi possível adquirir os gêneros necessários para viver além de comprar gado (Amstad, 2000, p. 66).
Geralmente as cartas falavam menos nas grandes dificuldades iniciais altana selva — quando não havia tempo nem recursos para escrever — € ress que am rav Nar er. venc a as etap as xim pró as e s rado supe os ácul obst vam os estava ria, próp a terr em eita colh eira prim a e ura ead sem ara, coiv a após pátria. Conafastado o espectro da fome, companheiro constante na antiga socorrêvidavam os parentes a se juntarem a eles, prometendo aconselhar e los.
Boêmia, para O da ras mei pri as , lias famí rsas dive ram gra emi 2 187 de ano No os pelas pritens to mui m ava est os Tod il. Bras ante dist to mui e ido hec descon meiras
notícias.
Afinal,
demorou
bastante,
chegaram
diversas
cartas,
todas
comarca de sa nos de tos mui es açõ orm inf ras uto sed tão s Apó is. ráve favo muito Brasil o para ir segu para 5 187 de ano no e m-s ara par pre s dore arre Jablona € (Reckziegel, 1923, p. 13).
em Josefine Wiersch se sensibilizou ante as cartas da irmã radicada
aos porida com de am dav as que nja lara a tant ia hav e ond ela, Estr Corvo,
njas cos. Ela, Josefine, filha de funcionário ferroviário, havia provado lara uma única vez na Europa (Wiersch, s.d., p. 24). Possuir parentes emigrados era sinônimo de não emigrar para O desconhecido, era saber que com trabalho e persistência efetivamente o futuro apontava promissor e a documentação registra como Os recém chegados procuravam a proximidade dos parentes ou amigos para se fixar no lote rural. Josef Umann comenta o valor exagerado atribuído a esse meio de propaganda, chegando a contagiar com a “febre emigratória a conterrâneos de sua aldeia natal não absolutamente necessitados de emigrar, mas tomados do desejo de enriquecimento rápido, o que evidentemente não se cumpriu. A viagem
Tomada a decisão de emigrar, grande expectativa despertava a viagem, com suas dúvidas é incertezas. A viagem desdobrava-se em etapas sucessivas, desde o local de residência a ser deixado para trás até o lote rural onde deviam forjar um novo lar. Esporadicamente os imigrantes fixavam-se na cidade.
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Segundo Umann, imigrado da Boêmia em
1877, o emigrante vendia à
preço vil benfeitorias e seu minúsculo pedaço de terra, insuficiente para o sustento da família, pois naquela época ainda não se dispunha de tecnologia agrária. O emigrante arrumava baús com roupas e demais trastes. Algum vizinho o levava de carreta até a estação de trem mais próxima. Era uma viagem sem volta, a insegurança a cutucar a alma enquanto uma familiar can-
ção de despedida aflorava aos lábios: Derramei muitas, muitas lágrimas Porque tenho que partir,
Porém, o meu pai decidiu: Da pátria nós emigramos [...]
Por isso, adeus, adeus, adeus! (Flores, 1983, E 105).
O trem levava até o porto de embarque onde atravessadores cobravam preços escorchantes pela manutenção da família, numa longa espera que consumia as magras economias do emigrante. À viagem pelo Oceano durava de três a quatro meses, reduzidos após 1860, por conta de melhorias técnicas nos transatlânticos. A viagem corria melhor quando havia boa vontade por parte do piloto do veleiro. Carlos Hunsche compara esses transatlânticos a acanhadas cascas de noz a flutuarem perigosamente sobre as ondas revoltas. O navio tinha capacidade para não mais de quatrocentas pessoas, mas geralmente viajava-se com superlotação, que garantia lucros ao armador.
Nessas circunstâncias, era difícil “manter a ordem e o asseio” a bordo, conforme previa cláusula contratual. Os emigrantes viajavam em terceira classe, carente de conforto, até mesmo de refeitório. A higiene era precária, a
despeito da fiscalização afeta ao agente de emigração, referente ao cumprimento do contrato acertado perante a autoridade competente. A alimentação era quesito de que se cuidava, apesar das dificuldades de armazenamento de comestíveis, conforme mostra o regimento interno do navio Brodtrae, fretado em 1826 com emigrantes. Reza o art. 4º: O capitão se compromete
a instalar os colonos
na entre coberta e, por isto,
mandará instalar beliches ou lugares para dormir necessários, mas eles mesmos terão de prover a roupa de cama necessária. Receberão para alimento e manu-
tenção, chá, café ou cevadinha, pela manhã; para o almoço, 250 gramas de toucinho ou 500 gramas de carne salgada ou bacalhau com chucr ute, ervilhas, feijão, cevadinha, batata, massa, bem como 500 gramas de manteiga por cabeça e semana, pão à vontade, às vezes um pouco de aguar dente ou cerveja; receberão ainda os utensílios necessários de viagem e, em caso de visita de médico, vinho, óleo e vinagre de boa qualidade, assim como vinho para os doen-
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Hilda Agnes Húbner Flores
tes, se for receitado pelo médico, e isto tudo em quantidade e qualidade sufici-
entes (Hunsche, 1977, p. 235).
Viagem de transatlântico, rumo à nova pátria (Museu de Tecnologia de Munique).
Em meado do século XIX, o agente Hórmeyer assegurou em seu livro promocional que cada família era proprietária do quinhão de ingredientes previstos e que cada porção não consumida durante a viagem poderia ser levada, vindo a ser útil para o início da nova vida. Prometia uma alimentação rica em calorias para alemães do norte, e para os do sul, uma alimentação mais leve, constando de: 36 libras de biscoito de bordo, 18 libras de arroz, 18 de cevadinha, 12 de tarinha de trigo, 16 de legumes, 12 de toucinho, 12 de carne de vaca salgada, 60 de batatas, 2 de sal, 2 1/2 libras de café, 2 1/4 de vinagre, 300 litros de água (Hôrmeyer, 1966, p. 44).
Legumes frescos eram substituídos por secos, já que não havia como os preservar a bordo. Os alimentos eram servidos em bandejas, pratos, copos ou talheres individuais, feitos de folha, num atendimento superior ao que muitos passageiros tiveram em sua pátria, onde epidemias de fome eram fregiientes.
Cingiienta anos depois de imigrarem, em seu álbum jubilar de 19283, moradores de Linha Isabel, Venâncio Aires, recordavam a boa qualidade
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dos alimentos servidos no transatlântico, que trazia animais vivos a bordo
para garantir carne fresca, quando o sistema de refrigeração ainda não existia:
Três vezes por semana havia came fresca, pois foram trazidos a bordo quatro bois grandes além de cabras, porcos, galinhas e patos, todos abatidos (Fest-
schrift, 1924, p. 13).
Apesar de muito demorada, a viagem transatlântica era razoavelmente boa porque sujeita à vigilância, nem sempre eficaz, dos contratadores da empreitada. Já o mesmo não acontecia nos navios costeiros do Brasil, supe r-
lotados e às vezes com maus tratos inimagináveis. É o caso do bergantim
Carolina, que em dezembro de 1825 trouxe do Rio de Janeiro até Porto Alegre 57 famílias que ficaram à mercê de um piloto ganancioso que pretendia vender alimentos sonegados aos passageiros no câmbio negro que se estabelecera por conta da Campanha da Cisplatina. A tragédia dess es 288 passageiros ficou conhecida através de um abaixo-assinado consta nte no Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. É um grito de desespero que mais parece um episódio extraído de ficção, não fosse a morte, em 30 dias, de 20 crianças e velhos, os mais vulneráveis à subnutrição imposta aos passageiros. O protesto é extenso mas merece ser transcrito para dar uma idéia da
realidade:
Submissa e mui obediente queixa de parte dos colonos em viagem do Rio de Janeiro a Porto Alegre. Mui louvável Governo imperial: Extrema precisão nos obriga e faz indispensavelmente necessário comunicar a um Alto Governo a situação miserável em que nos encontramos e a pedir SOCOITO. Durante 15 dias estivemos atracados na Praia Grande perto do Rio de Janeiro, onde fomos alimentados à satisfação de todos. Depois fomos transferidos para o navio Carolina, onde nos encontramos atualmente e onde nos foram reduzidos sensivelmente os víveres.
Inicialmente recebíamos um pouco de biscoito e ao meio dia feijão e ar-
roz, mas apenas para saciarmo-nos deficientemente. De um dia para outro, fomos privados dos biscoitos e recebemos, em seu lugar, farinha de mandioca. Inicialmente não sabíamos o que fazer com ela; depois a gente começou a pre-
pará-la em frigideiras. Mas tivemos que pagar por isso aos negros que traba-
Mas agora também a farinha escasseia, tanto que já não podemos agientar
e
lham na cozinha.
mais. Antes de chegarmos a Rio Grande, o capitã o costumava consolar-nos dizendo
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nm a mem
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o
que tivéssemos paciência, ele, lá, compraria pão. Mas não cumpriu com nenhuma palavra, pois quando chegamos ao porto de lá, o capitão foi para a vila ao lado do porto e, ao voltar, declarou que não havia pão. Depois de muito
rogar, quatro pessoas obtiveram a licença de passar para lá, de noite, a fim de
comprar pão com dinheiro próprio. O capitão ainda prometeu que, na manhá seguinte, outros quatro poderiam ir à terra. Apesar da notícia trazida pelos
primeiros quatro de que haveria pão de sobra, isso não nos ajudava mais, pois o capitão, ao clarear o dia, deu ordens para partir. Os marinheiros haviam trazido um saco cheio de pão e algumas garrafas de aguardente, o que venderam aos colonos por preço dobrado. Já faz três dias que partimos de Rio Grande e estamos a onze milhas de lá,
conforme disse o capitão. Vemo-nos diante da nossa da viagem expressamente má, dos ventos desfavoráveis seguidamente atolados em bancos de areia. Dizem que de víveres para 5 a 6 dias somente e é bem provável
própria ruína por causa e pelo fato de ficarmos O barco está abastecido que mesmo em quinze
dias ainda não tenhamos chegado ao nosso destino. griDe manhã cedo nossas crianças, as que ainda estão em vida, choram nte. tando de fome, pois, até agora, nenhuma vez foram saciadas satisfatoriame acostumadas Muitas dessas crianças e também pessoas idosas, por não estarem jogadas à água. a esta vida ruim e inusitada, já estão doentes e serão, em breve, escravos seja Francamente, não podemos imaginar que este tratamento de lhe temos quanto o erando consid dor, Impera o de, Majesta Sua de e da vontad custado para chegar até aqui. de miséria seo situaçã nossa esta que o Govern Alto esse a pois, Pedimos, cumprido, firseja desejo nosso o que tes confian mos espera e ja modificada colonos. mando-nos desse Alto Governo Imperial mui humildes e submissos A bordo do Carolina, a 4 de janeiro de 1826. (Hunsche, 1977, p. 250-252).
século mais O caso do Carolina não era a situação genérica, mas meio , como registarde ainda encontramos grande desconforto por superlotação trou Stóhr, imigrado para Venâncio Aires:
nques, mas no vapor are qual os sad ren imp mos áva est nós , tos San or vap no Já literalmente dormir s amo cis pre e nest pois , pior to mui foi os Pat dos oa Lag da em pé (Flores, 1983, p. 111).
uma ia hav e ond , nde Gra Rio até s nte gra imi os ia traz ro tei O vapor cos das casas a num m ava ard agu , gre Ale to Por em , ois Dep . dias uns alg pausa de até São Leoes chõ lan de o: tin des ao ia duz con l fina pa eta A s. nte gra imi dos Pardo. Nessa poldo e, mais tarde, até Montenegro pelo rio Caí, ou até Rio itantes hab ros mei pri os o com os, gic trá ces lan uns alg bém tam etapa houve
tarde foram dede l fina num que , elo Âng to San de a ôni Col exdo, de Agu
se havia alsembarcados às margens do rio Jacuí e, enquanto vistoriavam e ta vol a mei deu s, baú s seu ou reg car des co bar o o, mat de m alé sa suma coi óvis pro igo abr O o? ent rel ao a, selv na te noi à tar ren enf o Com eu. rec apa des rio dos recém chegados ainda estava por ser erguido. História da imigração alemã no RS
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E e
À etapa após o lanchão era de carreta, que carregava bag agem e crianças, seguindo os adultos a pé. Finalmente, era preciso seguir a pé até o interior da selva onde se localizava o lote rural a ser des bravado — baús carregados penosamente às costas. Para as colônias do Planalto e do Alto Uruguai, sem acesso por rio navegável, a partir da década de 1870, a viagem era feita por trem. Foram etapas difíceis, que geraram medo, incerteza e revolta, mas não havia como recuar e nossos ancestrais as enfrentaram com bra vura, e acaba-
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ram realizando seu sonho, que era o de forjar “um futuro melhor para mim e meus filhos”.
Imigração no Vale dos Sinos 1824 a 1830
2
den, sil Bra ao o açã rel m co al tug Por de sta ali oni col a política econômic
tro dos princípios mercantilistas,
visou o maior rendimento
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toda a explorade , sil Bra ao ava orn ret a nad se qua ou co Pou investimento. rópole. ção econômica e dos vários impostos pagos à Met
Medidas imigratórias João abriu m Do e ent reg o do an qu 8, 180 em r da mu a u ço A situação come da nação ão tas por as e ses paí ros out m co io rc mé co ao sil Bra os portos do
artífices e os, esã art de ça sen pre a do tan ili sib pos , ingresso de estrangeiros
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Dom Pedro I apelou a ci ên nd pe de in a s apó VI, o Joã m Do de o nad rei rante o os padad sol ar ari ang vo: eti obj lo dup m co o urs rec o sm me novamente para o ográficos, dem ios vaz par ocu a par s ono col e al ion nac to rci ra reforçar o exé notadamente na fronteira sulina.
Áus da sa nce pri , na di ol op Le na Do z tri era Imp à Papel relevante coube m
tria, uma das mais importantes Casas Pedro de Bragança, por procuração, um grupo de cientistas, naturalistas com os estrangeiros já existentes no João ou após. Dona Leopoldina veio
da Europa. Casou em 1817 com Do € desembarcou no Rio de Janeiro com € cartógrafos, que somaram esforços Brasil, chegados com a corte de Dom acompanhada de uma equipe particular
r! ula tic par o uit séq seu de s nte sta con dos m alé de cientistas, !
João Kammerlacher; os pintosta rali natu e ico méd o os cult ens hom de pe equi essa Integraram
ralogista Roque Schiich, res Frink e Franz Fribecke de Viena; O bibliotecário, naturalista e mine Pedro II no Brasil, funcionário do Gabinete de História Natural de Viena e professor de Dom , o sábio barão von lecionando história e línguas. Desde 1815 estava aqui, como cônsul geral
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Para viabilizar o agenciamento dos imi grantes, foi enviado para a EuroPa, como vimos, o Major Schaeffe r, com a missão de angariar sold ados mercenários para apoio de nossa política in terna, além de imigrantes para colonizar as terras devolutas do sul do país. A missão era espinhosa e Schaeffer encontrou negativa à emigraçã o na Prússia e Áustria, por causa da evasão de mão-de-obra e de soldados. Houve receptividade em Hannover, Hessen e Mecklenburgo. Este último utiliz ou à emigração para afastar pessoas envolvidas com a justiça, enviando, em 1824, quatro levas de prísioneiros, a maioria solteiros e engajados no serviço militar do Regimento dos Estrangeiros criado no Rio de Janeiro. Schaeffer, radicado em Hannover e depo is em Bremen, agenciava imi-
erantes e contratava armadores para o serviço de transporte. A primeira leva de imigrantes, chegada em Janeiro de 1824, foi direcionada para o Regimento dos Estrangeiros, criado pelo governo em 1823 para reforço do Exército brasileiro, e parte para reforç ar a Colônia de Nova Friburgo, no Rio de
Janeiro. Já as levas seguintes foram encaminh adas para o Regimento dos Estrangeiros, seguindo para o sul os ex cedentes ou os menos aquinhoados fisi
do Sul.
camente, onde formaram a primeira Colô nia alemã do Rio Grande
São Leopoldo. Entre 1824-30, mais de 5.000 imigrantes alemães radicaram-se na Colônia Alemã de São Leopoldo . A maioria era procedente do vale do Mosela, afluente do Reno, região conhecida por Hunsriick, cujo dia-
leto, falado também em São Leopoldo, tem a mesma denominação.
Langsdorff, autor de vários livros. Com ele veio o zoólog o e naturalista Jorge Guilherme Freyreiss, auto
r de memórias de viagem, além de Frederico Sellow, naturalista que percorreu o Rio Grande do Sul com estudos sobre flora, fauna, mineralogia e sobre as tribos indígenas charruas e minuanos. Langsdorff também atraiu os cartógrafos Daniel Pedro Miiller, Barão von Eschwege; Guilherme Cristiano Gotthilf Felchner (1772-1822), que localizou minas de
carvão no Rio Grande do Sul; o pintor João Mauríc io Rugendas (1802-58), de Ausburgo, filho e neto de pintores
, que retratou o Rio de Janeiro de 1821. Em 1824 excursionou pelo interior, resultando 500 desenhos que levou para a Europa. Numa segunda excursão pelo Brasil, entre 1845-47, fez 3.33 9 esboços de desenhos e aquarelas. Dele temos publicado a Viagem pitoresca
ao Brasil. Legou desenhos a lápis, quadros a óleo e aquarelas que retratam o Brasil do | Reinado: negros, indígenas, exuberante.
mamelucos, usos e costumes de escravos e forros, paisagens, natureza
Do ségiúito particular de Dona Leopoldina constam: o zoólogo e ornitólogo austríaco Natterer, que percorreu o Brasil por 17 João anos estudando pássaros e mamíferos; o botânico Carlos Frederico von Martius (1796-1868) e seu amigo botânico João Batista von Spix (17811826), que entre 1817-20 percorreram 10 mil quilômetros do interior brasileiro em missão científica;
Martius, estudando oito grupos lingiúís ticos indígenas; Eduardo Neuparth 1871), clarinetista, concertista e prof (1784essor de música, fundador, no Rio de Janeiro, da primeira loja de música do Brasil; Francisco Pedr o Friibeck, pintor e desenhista austríaco, que deixou aquarelas sobre a viagem de Dona Leopoldin a ao Brasil (Oberacker, 1985).
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A primeira leva de 38 pessoas chegou a Porto Alegre em 17 de julho de 1824 e alcançou o Passo de São Leopoldo, conduzidos por dois lanchões, em 25 de julho, dia que se convencionou mais tarde para comemorar o “dia do colono”. Foram alojados na sede da Feitoria do Linho Cânhamo, no bairro Feitoria, extinta em março de 1824 por insuficiência de resultados obtidos no sistema de mão-de-obra escrava. O prédio, hoje restaurado para museu, contém acervo referente à imigração. O presidente da Província José Feliciano Fernandes Pinheiro, entusiasta da causa da imigração, nomeou inspetor da Colônia de São Leopoldo, seu
primo José Tomás de Lima, que já ocupara igual cargo na ex-Feitoria do Linho Cânhamo. A primitiva Colônia abrangeu o vale do rio dos Sinos. O atual município de São Leopoldo teve início em 1828 com a construção da capela no local da atual igreja matriz, e elevado a município em 1846. Os alemães precisaram aguardar o término do período de chuvas para se iniciar a demarcação dos lotes rurais,” na zona alagadiça de São Leopoldo, o que só aconteceu em novembro de 1824, mês em que chegou a segunda lese va, de 66 colonos. Tempos ruins, de espera e incerteza ante o futuro, que
repetiria inúmeras vezes ao longo do processo imigratório. Os lotes rurais da Colônia de São Leopoldo mediam 77 hectares. Cada família de colonos recebeu animais, instrumentos agrícolas e sementes pro-
cedentes da extinta Feitoria até que, ao correr dos anos, Os recursos rareavam e a concessão escasseou.
Na segunda leva imigratória chegaram alguns personagens importantes
para o andamento da nova comunidade: os médicos Hillebrand” e von Endit,
o pastor João José Ehlers, o farmacêutico Niethamer. O fluxo imigratório prosseguiu até 1830, quando o governo imperial, envolvido em crise política que levaria à abdicação de Dom Pedro 1, cortou verba, sustando a imigração.
Muitos colonos eram também artesãos. Em 1835, véspera da Guerra dos Farrapos, havia em São Leopoldo 14 moinhos, 5 teares para linho e algodão, 2 serrarias, 2 destilarias, 1 selaria, 16 atafonas, oficinas para fabrico de 2
ando para “Colônia” é o latifúndio dividido em fatias que mediam 77 hectares em 1824,te baix denominados
porções eram igualmen 48 hectares em 1848 e para 25 hectares em 1870. Essas
os, ocude “colônia”. Para distingui-las, conveniamos denominar de “lotes rurais” à este últim nos”. pados pelos imigrantes € seus descendentes, os “colo
icas quanJoão Daniel Hillebrand, nascido em 1795, em Hamburgo, lutou nas tropas napoleônradi cando-se rou para o Brasil, do estudante de Medicina. Formado, aos 24 anos de idade imig
e geem São Leopoldo, onde organizou a lista dos imigrados, iniciativa de real valor histórico
Cisplatina e em nealógico. Em 1827 organizou grupo de voluntários alemães para a Guerra 1835, para a Guerra dos Farrapos. Diretor da Colônia de São Leopoldo desde 1835, vereador, elho agraciado por sua dedicação durante a epidemia de cólera-morbo de 1855, presidiu o Cons Municipal em 1858. Morreu pobre, aos 80 anos.
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camas. O curtume bem-sucedido de Luis Rau em Novo Hamburgo, foi o cerne da indústria coureira que aí se desenvolveu. Muitos alemães retomaram a profissão artesanal já praticada na Europa e vários deles migraram para Porto Alegre, incrementando o comércio de produtos coloniais e dando colocação ao artesanato nascido na colônia. Com a Guerra dos Farrapos, muitos transferiram residência para Santa Maria, Cachoeira, Caçapava e outros lugares, alargando o leque imigratório. A Colônia de São Leopoldo se expandiu por Estância Velha, Novo Hamburgo, Campo Bom, Ivoti, Linhas 14 e 28, Hortêncio, até alcançar Dois Irmãos, na Costa da Serra. O corte de verba em 1830 e a Revolução Farrou-
pilha que envolveu São Leopoldo cinco anos mais ção. Os lotes mais avançados em direção à selva de fé e Dois Irmãos ou não chegaram a ser povoados por temor aos ataques indígenas. A Guerra dos Farrapos interrompeu o comércio
tarde sustaram a imigraLinha Nova, Picada Caou foram abandonados
que se havia estabeleci-
do com Porto Alegre, mas logo foi retomado. No segundo meado oitocentista instalaram-se curtumes, indústrias de papel, fósforos, alumínio, me-
talurgia, fábrica de tintas e vernizes. Empresários bem-sucedidos instalaram-se na Rua Voluntários da Pátria, em Porto Alegre, como importadores e exportadores. Tinham trapiche próprio, desenvolvendo o transporte fluvial. Ocuparam lugar definido na pirâmide social, construíram igreja e clubes, mantiveram imprensa alemã, mentalidade teuta e estilo de vida próprio; construíram residência na Rua Garibaldi e na Avenida Independência, en-
quanto os bairros Floresta, São João e Navegantes receberam as moradias dos operários. Ão crescimento econômico seguiu tímida inserção na política, como os vereadores Júlio Knorr e João Daniel Hillebrand na década de 1850, ambos ainda convivendo com seqgiielas da Revolução Farroupilha. Ao final do Império, a Câmara municipal era integrada por nove vereadores teutos (Por to,
1934, p. 149-155). Depois da navegação, incipiente na década de 1820, trouxe progresso a
ferrovia, com
terminal em Novo
Hamburgo em
1874. O telefone veio em
1909. O automóvel, 1910, instigou a rodovia de cimento Porto Alegre-São Leopoldo, hoje conhecida por “estrada velha”. Hoje São Leopoldo é pólo cultural da região, salientando-se a UNI SI-
NOS, Universidade do Vale dos Sinos. A primitiva Colônia está desmembrada em dezenas de municípios: Alto Feliz, Bom Princípio, Brochier, Campo Bom, Canoas, Capela de Santana, Dois Irmãos, Estância Velh a, Esteio, Feliz, Harmonia, Ivoti, Lindolfo Collor, Linha Nov a, Maratá 7 e, Mont negro, Morro Reuter, Nova Hartz, Nova Santa Rita, Nov da Café, Pareci Novo, Presidente Lucena, Salvador do S Hilda Agnes Húbner Flores
R
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Erval, Sapiranga, Sapucaia do Sul, São Sebastião do Caí, São José do Hortêncio, São Leopoldo e São Pedro da Serra.
Primitiva divisão da Colônia de São Leopoldo.
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Torres. Em 1826 havia na Colônia de São Leopoldo cer tos “avulsos” solteiros que perturbavam a ordem e o governo decidiu lev á-los para o Presídio de Torres, para dar início a uma colônia no litoral norte, onde à época existiu idéia de implantar um porto. Oitenta e seis famílias e 24 avulsos saíram de São Leopoldo para Porto Alegre, venceram em lanchões o rio Cap ivari e depois em 16 carretas, chegaram a Torres em 17. 11.1826, data da fundação da Colônia. Foram separados por credo. Os 237 evangélicos, munido s do pastor Carlos Voges, foram assentados no vale Três Forquilhas, dis tante oito léguas de Torres. O pastor foi guia e professor, cuidou dos Livros Tombo, e quando o Império cortou seu ganho de 300800 réis anuais , atuou como vendeiro e com alambique de aguardente. Os 184 católicos ficaram em São Pedro das Torres, atendidos pelo padre luso local, que não falava a língua alemã, mas rea lizava casamentos e dava absolvição coletiva. A localidade passou a se chamar de São Pedro de Alcântara em 1847, quando da visita de Dom Pedro II, que na ocasião doou
5008000 réis para as obras da capela local. O auxílio de 160 réis no primeiro ano exauriu-se à espera da demarcação dos lotes rurais, de 77 hectares. Cada família recebeu ani mais (um cava-
lo, duas éguas, uma vaca), três enxadas, machado e foice, além de uma pa-
nela. No segundo ano, recebendo 80 réis per capita, deviam vencer obstaculos, plantar, colher e gerir condições de auto-manutenção.
Distantes 200 quilômetros do centro consumidor, careci am de vias de
transporte para colocar excedentes agrícolas. Do isolament o decorreu o abandono das terras. Famílias e solteiros, artesãos e militares pri ncipalmente, retornaram a São Leopoldo ou se espalharam pela Provín cia. A família Niederauer buscou Santa Maria, depois que, em 1827, nasceu João Niederauer Sobrinho, mais tarde oficial na Guerra contra o Paraguai. A dificuldade econômica foi secular. Tentativas de destilari a para trabalhar a cana plantada, esbarraram no problema crônico de falta de tra nsporte. A chegada de BR 101, em 1950, trouxe alguma melhoria à região, mas em 1970 não havia ainda rede elétrica.
O longo isolamento geoeconômico de São Pedro de Alc ântara e Três Forquilhas afetou também o aspecto cultural, aclimatando-se os moradores
com os nativos, com mescla de tradições culturais expressa, por exemplo,
na alteração da grafia de sobrenomes (Meyer para Maia, Schlitzer para Silestre, Kreuzburg para Krás Borges). Dos lusos houve assimila ção do Terno
de Reis, comemorado, entre 1925-50, com banda de música e sua tradicional cantoria (Porto, 1934, p. 89-93; Ely, 1996).
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São João das Missões. Nasceu da tentativa de se afastar da Colônia de são Leopoldo os solteiros arruaceiros. Em novembro de 1824 foi conduzida para São João, na zona missioneira da Província, uma leva de 72 pessoas, conhecida por “leva condenada” porque formada por maioria de expresidiários, abandonados à própria sorte. Muitos morreram, outros se espalharam, retornaram para Torres ou se infiltraram pela Argentina. Em fins de 1825 restavam em São Borja um homem e uma mulher com algumas crianças (Porto, 1934, p. 86-89).
Nessa primeira fase imigratória, houve a ocorrência de alguns fatos his€ tóricos que merecem registro pela significativa participação de imigrantes
a descendentes: o Regimento de Estrangeiros, a Campanha da Cisplatina, influir Sedição de 1830, a Guerra dos Farrapos e a Questão de terras, esta a decisivamente no período imigratório seguinte.
Regimento dos Estrangeiros
erna contra os Após a independência, em 1822, para garantir a ordem int O com al ion nac to rci Exé o ou orç ref I ro Ped dor era imp oficiais liberais, o major o pel opa Eur na o tad men egi arr , ros gei ran Est dos nto chamado Regime efetivo pelos seu u ebe rec e 23 .18 8.1 em ado cri Foi . fer aef Sch Jorge von te, e pela maioria dos men ica fis os oad inh aqu hor mel 4 182 de s nte imigra
“avulsos” tirados das prisões de Mecklenburgo. Juvêncio Salde o rad acu udo est u ece mer ros gei ran Est de O Regimento do Esquadrão to pos com Era . dor era Imp do os ári cen mer Os os, Lem danha s Badoi de e res ado Caç de ões alh Bat 28º e 27º do , ais dos Lanceiros Imperi ionalidade nac de ens hom 88 2.2 de o tiv efe l tota num os, eir talhões de Granad
am a lutar: na gar che cos Pou s. ese and irl de io tár ori min po gru um e alemã a, tin pla Cis da ha an mp Ca na e o, buc nam Per em r, Confederação do Equado or parmai A os. rap Far dos rra Gue na bém tam os ent ram dob no Sul, com des onde. o, eir Jan de Rio , nde Gra ia Pra na dos ela art aqu m ara te do tempo fic corporais, se Teos tig cas s ero sev do ren sof e os tad men ali mal os, mal alojad serviu ão eli reb A s. ese and irl es ant egr int de a tiv cia ini belaram em 1829, por
inicial ção fun sua em do uri exa já , nto ime Reg do o uçã sol de pretexto para dis
de garantir a ordem civil pós-independência. von Heise, solo Ott por opa Eur na os tad men egi arr am for Os Lanceiros boas granas u cai não sil Bra no que fer aef Sch de dado mercenário auxiliar icana na ubl rep sa cau a pel ado lut e ent orm eri ant er hav ças do Imperador por ado para forign des foi 5 182 em e, ent eri exp r ado nci age Bolívia. Contudo, visando as lutas na do, pol Leo São de s lso avu os com rão uad mar um Esq orga, pou eci ant se d ran leb Hil o Joã l qua na efa tar Campanha da Cisplatina, ais saíeri imp ros cei lan Os s. mãe Ale os ári unt Vol de a nizando à Companhi História da imigração alemã no RS
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ram do 2º e 3º Batalhões de Granadeiros do Rio de Janeiro, cerca de 85 ho-
mens, de profissão pedreiros, alfaiates e vagabundos que nunca tinham lidado com cavalo. Eram soldados despreparados, ost entando vistoso uniforme. O 27º Batalhão de Caçadores, com um efetivo de 600 homens , originou-se no ex-2º Batalhão de Estrangeiros. Veio para o Sul junto com os Lanceiros e ambos lutaram na batalha do Passo do Rosário, definitiva para delinear o fim da Campanha da Cisplatina. Era tido como de comportamento disciplinado, ao contrário do 28º Batalhão de Caçadores, de 565 homens, conhecido como o “Batalhão do diabo” por que eram “bons soldados em parada”, mas “bêbedos, arruaceiros, indisciplina dos e turbulentos” fora
do serviço, tendo togoso. Em 1825 ção do Equador, 1829 participou
recebido alguma simpatia do Imperador, de temperamento o 28º Batalhão entrou em combate, no final da Confederaem Pernambuco, e daí retornou ao Rio de Janeiro. Em do motim na Praia Vermelha. O motim durou dois dia s,
ameaçou a ordem da Capital do Império e foi pretexto para a desmobilização do Regimento dos Estrangeiros. Os 300 homens remanescentes do 28º Batalhão vieram para o Sul, espalhando-se pela Colônia de São Leopoldo, juntamente com o 27º Batalhão (Lemos, 1994).
Campanha da Cisplatina O Rio Grande do Sul, estruturado à base da política geoexpans ionista lusa em direção ao Rio do Prata, sustentou, entre 1825 e 182 8, a Campanha da Cisplatina, que redundou na independência da República do Uru guai. A batalha mais importante foi a do Passo do Rosário ou Ituzaingó , a 27 de fevereiro de 1827, e dela participaram os Lanceiros Imperiais, comandados pelo Cap. Ludovico von Quast, e o 27º Batalhão de Caçadores, amb os integrantes do Regimento de Estrangeiros. Embarcaram no Rio de Janeiro em novembro de 1827, no com boio que trouxe o Imperador Dom Pedro I para o cenário da gue rra. Dom Pedro desembarcou em Florianópolis e seguiu por terra, enquan to os lanceiros e caçadores continuaram até São José do Norte e daí deslocara m-se a pé até
Pelotas e Jaguarão, para integrarem o Exército do Sul, sob o comando do Gen. Gustavo Henrique Braun. Com a aproxi mação do exército argentino, que ameaçava atacar o Exército brasileiro dividi do, Bar bacena, comandante
geral, ordenou que as forças comandadas por Braun se unissem ao grosso, do Exército, em Santana do Livramento. Na batalha do Passo do Rosário os soldados alemães demonstraram “serenidade e sangue frio” durante o pânico que se estabeleceu na retirada estratégica, ajudando a salvar os canhões amb icionados pelo ini migo. O 27º
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morBatalhão perdeu quase um terço de seu efetivo de 505 homens, entre
tos, extraviados e prisioneiros. Após a batalha, os remanescentes guarnece-
do ram a fronteira de Jaguarão, até a assinatura da paz, em 27.8.1828. Ten
passado toda a sorte de privações, retornaram estropiados e famintos a Pelotas, onde se revoltaram pelo não pagamento de soldo.
Desmobilizados em 1829, lanceiros e caçadores espalharam-se entre Porto Alegre, São Leopoldo, Santa Maria e Santa Catarina. Dentre eles es-
a tava o alferes Carlos Seidler, autor de Dez anos no Brasil, que reporta signifiguerra Cisplatina. Em São Leopoldo, onde o censo de 1829 registra agrícolas, cativo aumento de solteiros, os soldados dedicaram-se às lides e na Revoenquanto algumas lideranças se envolveram na Sedição de 1830
iros ange Estr dos nto ime Reg O ais. liber as idéi de s amba lha, oupi lução Farr
foi extinto por lei de 24.11.1830. de VolunAlém de lanceiros e caçadores, houve também a Companhia vimos, já o com ada, form as rilh guer de r gula irre a forç uma tários Alemães,
à tes, onen comp 88 e 56 entre total um m ara Som nd. ebra Hill co pelo médi na nascedoura dos seja inde m, orde da s dore urba pert ros onei risi ex-p ria maio meses ficaram Colônia de São Leopoldo. Integrando a Infantaria, por oito fome e frio. aquartelados nas proximidades de Livramento, passando
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sem medicação. Quando e dos enta alim mal dos, alha agas mal ro, ilei bras cito
acena orBarb ar, Alve o ntin arge Brig. do ens hom 0 9.00 de da aproximação ados da cuid aos s lido invá e rmos enfe ando deix a, ssad apre rada denou reti os doentes. Disto quan da opia estr tão ães, Alem ios ntár Volu de hia Compan raram O Exército tantes do cenário bélico, os sobreviventes alemães reencont
acena disBarb , 1827 4.4. Em rio. Rosá do o Pass do lha bata a após Brasileiro insatisfeito ães, Alem ios ntár Volu de hia pan Com da tes gran inte 48 ou pens s, 1994). Lemo 7; 14-1 p. , 1995 res, (Flo m tara pres que iços serv os com Sedição de 1830 sta nos con não 0 183 de o içã Sed a da, rta abo que por Pouco conhecida
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a atuar na Revoam nar tor que e is era lib ias idé de os uíd imb s mãe ale grantes
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ade maior lid rea a um de te en on mp co mo co ida end ent ser e dev A Sedição lantação na imp em no, ica ubl rep ime reg ao s sõe ten pre ha tin ca épo que na História da imigração alemã no RS
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América Latina, à medida que as Colônias se libertavam da Espanha. Con vém lembrar que dentro dos arregimentados por Schaeffer, em 1824, cons -
tavam homens com experiência de armas e que vivenc iaram as guerras na-
poleônicas. O Gen. João Manoel de Lima e Silva, no comando do 28º Batalhão em Santa Maria, apresentou várias cartas subversivas de oficiais alemães: de Otto von Heise, o mais expressivo líder com idéias libe rais, pelas quais chegou a lutar na Bolívia e no México antes de chegar ao Brasil: do Cap. do 6º Regimento de Cavalaria, Gaspar Eduardo Stepha nousky, e do Cap.-eng. Samuel Gottfried Kerst, oficial do Regimento dos Estr angeiros, ex-combatente da Campanha da Cisplatina, com estudos de mat emática e ciências naturais feitos na Europa e apontado como o cabeça. Heise, sempre polêmico, após cumprir pena por envolvimento na Sedição de 1830, encabeçou uma Petição dos colonos, publicada no jornal de Porto Alegre A Sentinela da Liberdade de 23.7.1834, na qual reivindica o subsídio prometido aos colonos em 1830 e não pago, além do que tornou a atuar na Guerra dos Farrapos (Flores, 1995, p. 22-27).
Guerra dos Farrapos
A mais longa guerra civil do país (1835-1845), colocou em cam pos opostos a legalistas e farroupilhas, e envolveu também os imigrante s alemães domiciliados na Colônia de São Leopoldo entre cinco e onz e anos antes, considerando-se que a imigração iniciou em 1824 e foi sus tada em 1830. Muitos imigrantes haviam deixado para traz tristes lembranças e nefastas consegiiências das guerras napoleônicas e, vencidas as dificulda des iniciais, estavam satisfeitos com o progresso atingido no lote rural ou na oficina artesanal. Seu desejo era progredir. A política não estava em seus planos, porque dela nunca haviam participado na Europa, excluídos que estavam pelo voto censitário. Entretanto, em escala maior que na Sedição de 1830, os imigrantes foram novamente envolvidos, por lideranças farroupilhas ou legalistas, que arregimentaram os colonos pela persuasão ou pela força. Cerca de 3.000 alemães, ainda sem cidadania brasileira, pegaram em armas
ao longo dos dez anos de luta. É uma força regular, se considera rmos que o
efetivo farroupilha nunca passou de 3.500 homens que lutaram no sistema de guerrilhas, carentes que eram de quartéis, o que impedia a formação de
Exército. Em 1835, apesar do vice-cônsul hamburguês em Porto Alegre, Antônio Gonçalves Pereira Duarte, recomendar neutralid ade aos colonos, diversos líderes alemães, notadamente ex-legionários habituado s à vida da caserna,
engajaram-se na luta,
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Dentre os líderes farroupilhas houve
Hermann
von Salisch, ex-oficial
do Regimento dos Estrangeiros chegado a Porto Alegre em 1829, culto, poliglota, professor de música e tradutor juramentado. Em outubro de 1855
aceitou dos farroupilhas a Inspetoria de São Leopoldo, tornando-se antagonista de seu amigo João Daniel Hillebrand, que recusara o mesmo cargo por fidelidade à causa legalista. Salisch agenciou colonos pelo interior de São Leopoldo, contando com a colaboração do pastor Klingelhoeffer, de Campo Bom. Em janeiro de 1836 venceu pela sagacidade ao Brig. Gaspar Francisco Menna Barreto. Ato contínuo, abriu o jornalzinho político O Colono Alemão,
de pequeno formato e pouca duração porque os colonos não entendiam o
português. Salisch morreu assassinado pelas costas, em Sapiranga, onde angariava adeptos, em 6.10.1837. Outro líder proeminente foi o Major Otto von Heise, aventureiro da pequena nobreza européia, ex-combatente pela libertação da Bolívia, exauxiliar de Schaeffer no agenciamento de colonos na Europa, integrante do
Esquadrão de Lanceiros que lutou na Campanha da Cisplatina. Líder na Sedição de 1830, cabeça da Petição dos Colonos em 1834, ferrenho combaten-
te farroupilha, atuou tanto nas altas rodas liberais da Capital como pelo interior de Dois Irmãos e Santa Maria do Herval, onde recrutava colonos por bem ou à força, promovendo perseguições, incêndio de paióis e habitações, matança de animais e assassinatos. Preso, foi acusado de rebelião, sedição, peculato, homicídio, ferimentos e outros crimes. Consta que caiu do barco,
no Guaíba, quando estava sendo deportado para prisão. Era véspera de Natal de 1836. O pastor Cristiano Klingelhoeffer, bem aquinhoado economicamente e desiludido com o governo brasileiro que não lhe destinou sesmaria como lhe fora prometido na Europa, junto com seu valente filho Germano, agenciaram colonos à causa farrapa. O pastor morreu degolado em caminho de Triunfo, quando levava a família para Rio Pardo, ao abrigo do cenário bélico. O filho morreu em uma escaramuça em Alegrete, quase ao término da Revolução. Ambos receberam translado para O túmulo de Luise Klingelho-
effer, esposa e mãe, no cemitério luterano de Porto Alegre. É o único monumento que contém despojos de combatentes, farroupilhas de origem alemã.
Os irmãos Sarasin, franceses moradores em Sãe Leopoldo, atuaram coram ebe Rec . lhas eupi farr os para s ono col m ava nci age e tes ian erc com mo
l atuou ordem de deportação em 1837. Também a família de Sebastião Dieh da matrino ramo de comércio, contando inclusive com a dinâmica atuação ntes agríede exc ia traz que o, stiã Seba de her mul a, ian Mar ira que bar a , arca . colas a Porto Alegre antes da Revolução e novamente à partir de 1841
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Túmulo de Luise Klingelhoffer, com traslado d
farroupilhas pastor Cristiano Klingelhoeffer e filho Germano Klingelhoeffer. C emOsitér io Luterano de Porto Alegre. 38
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Terror trouxe “Menino Diabo” (pequeno como um menino e mau como o diabo), o caudilhete Antônio Joaquim da Silva que, oportunista, quis enriquecer à margem da Revolução. Em seu lanchão navegava pela rede fluvial da província, saqueando em Rio Pardo. Na Colônia de São Leopoldo arrebanhou cavalos, prendeu, torturou e matou. Entre os crimes que lhe são imputados, está O assassinato do colono Henrique Morschel, morto após dois
dias de cruel estaqueamento. No final de 1837 foi ferido numa perna em na Dois Irmãos, preso e justiçado pelos colonos que o enterraram semivivo
cova que foi obrigado a abrir. Cabe lembrar que a República Rio-Grandense dos farrapos em co“aos nia cidada da são conces da item ante import ao u atende 1838 18.12. como nou funcio que tática lhas”, Forqui Três e do Leopol São de lonos em 3.9.1846, estratégia de agenciamento e que os legalistas só efetivaram após o término da Revolução. Metirand. Hilleb médico o ai sobress s alemãe tas legalis líderes os Entre o. Diretor da govern o própri O que rigor mais com agia vezes por culoso, os colonos às arColônia de São Leopoldo, em janeiro de 1836 concitou de nhia Compa a ina, Cisplat da nha Campa na fizera já como mas, formando, São Leopoldo em dou coman e treinou que s, Alemãe ários Volunt Caçadores l em 1840 e corone a vido promo foi mérito, Por . Alegre Porto de cerco e no reaos caça deu guerra, da fim Ao a. Santan e do Leopol São comandante de vê-los de retorno até a, Colôni da serrana mata pela dos cheira nitentes entrin
a listagem rand Hilleb a os devem a, Colôni da diretor Como tas. legalis aos dos alemães imigrados entre
1824-1830, fornecendo valioso subsídio para
e vereador 1858 em al Nacion Guarda da Cel. s. ogista geneal e historiadores das sequelas apesar , Câmara da ente presid a do guinda foi 861, de 1858-1 farroupilhas ainda presentes. substiVelho, rgo Hambu em te ercian ex-com ng, Kersti Cap. Fernando ários AleVolunt res Caçado de nhia Compa da do coman no rand Hilleb tuiu de lado ao nça, Mendo do Passo no uã, Camaq Em r. interio mães. Lutou no Pela façanha, Silva. da ves Gonçal Bento ou derrot Abreu de Francisco Pedro militar até a carreir na seguiu ng Kersti . capitão de posto no ado foi efetiv Partido Liberal. o com ências diverg por ão demiss pediu quando 1868, e na Cismbuco Perna em lutou que o ionári ex-leg foi Ten. Júlio Knorr a serviço da u coloco e ador agenci ativo foi os Farrap dos Guerra platina. Na Em 1852 armas. em ência experi sua s Alemãe Companhia de Caçadores Cap. da Oribe. contra er, Brumm dos ria Infanta de comandou o 15º Batalhão co1862 foi em 2, 1858-6 de do Leopol São em or veread Guarda Nacional e Koseritz de 1864-1880. por o dirigid g, Zeitun he Deutsc jornal do fundador | Knorr faleceu em 1865.
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O alferes Matias Mombach, um dos pioneiros de Walach ei, integrando Santa Maria do Erval, era veterano das guerras de Nap oleão, a quem odiava por haver derrotado sua pátria, o Sacro Império Romano Germânico. Na Revolução Farroupilha perseguiu a quantos cultiv assem saudosismo bonapartista. Analfabeto, astuto e valente, foi ótimo agenci ador; já idoso, fez q Guerra do Paraguai. Morreu em 7.11. 1878, aos 98 anos, idade provecta para
a época. Reconhecendo o auxílio dos imigrantes na Guerra dos Farrapos, lei de 3.9.1846 concedeu a cidadania brasileira aos ale mães de São Leopoldo, prometida por Schaeffer em 1823. A medida foi ampliada em 1850 para os imigrantes de São Pedro de Alcântara e Três For quilhas (Flores, 1995; Porto, 1934, p. 113-155; Engelmann, 2004, p. 165-172). Questão de terras
No pós-Farroupilha afloraram mais evidentes as que stões de terra, ori-
ginadas em medições mal feitas dos lotes rur ais, algumas intencionalmente,
visando lucro, como em Estância Velha, cujas irregu laridades envolveram o então diretor da Colônia de São Leopoldo, Tomás José de Lima. Idêntico processo se arrastou por anos na fazenda de Pe. Eterno , em Dois Irmãos. A medição era feita só na parte frontal do lote rural, de vendo os colonos fazê-la nas laterais e nos fundos, o que gerou confus ão geral. Vendas e revendas, permutas e inventários alteravam constante mente a configuração das propriedades. Na década de 1860 ninguém ainda possuía escritura e a confusão fundiária era total. A insatisfação e o clamor ch egaram até a Prús-
sia, pátria mãe de muitos imi grados. Esta, em 1863 enviou o ministro plenipotenciário von Eichmann que, depois de percorrer pic ada por picada cons-
tatando os problemas in loco, gestionou solução junto ao governo imperial. Resultou então o recenseamento de todas as linhas e picadas da exColônia de São Leopoldo. Na medição dos lotes, os colonos auxiliavam o agrimensor nomeado pelo governo, com mão-de-obr a e animais para deslocamento. À tarefa foi gigantesca e a medição, inicia da em 1863, teve escrituração nos anos de 1869-1871. Apesar dos esf orços empenhados, houve muitos casos de inconformismo e as demandas Judici ais se arrastaram década de 80 a dentro (Flores e Flores, 1996, p. 14-16).
O problema fundiário não era isolado. Irregu laridades na aquisição de terra ou na demarcação dos lotes rurais acompanharam o processo de coloniz
ação, gerando problemas como enfrentou Rheingantz em São Lourenço, ou como houve na sesmaria de Ubatuba, entre os municípios de Lajeado e Venâncio Aires, por anos palco de disputas de terra.
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Imigração no Vale do Taquari 1844 a 1875
PJ imigração significava incentivo à mão-de-obra livre. Em São Paulo desde 1845 cafeicultores adotaram o sistema de meação, pelo qual o imigrante trabalhava no cafezal e dividia o lucro com o proprietário. O fazendeiro cobrava despesas de viagem, moradia e alimentação a preços escorchantes, de modo a prender o imigrante à fazenda em média por cinco anos, até pagar as dívidas. Na fazenda, o imigrante era supervisionado por feitores habituados a lidar com escravos, que não entendiam de mão-de-obra livre. Nessas condições, o clamor generalizado procedente dos cafezais chegou até a antiga pátria e em 10.11.1859 a Prússia proclamou o rescrito von der Heydt, desfavorável à imigração para o Brasil. A imigração em massa passou então a ser canalizada para os Estados Unidos e, em menor escala, para os Estados meridionais do Brasil, onde
vingava o regime de pequena propriedade, com trabalho familiar e livre. Leis imigratórias
Para garantir bom êxito, a imigração passou a receber uma série de medidas legislativas que a regularam. A lei 143, de 21.7.1848, e a 183, de 13.10.1859, proibiram a escravidão na colônia alemã. Na prática, foram arrolados em São Leopoldo por volta de 300 escravos, embora não submetidos ao usual regime de dureza com que a escravidão foi tratada no Brasil. A Lei imperial 514, de 28.10.1848, concedeu 36 léguas quadradas de
terras públicas às províncias, para promoverem a imigração — lei sem mut-
tos efeitos práticos. Em 4.9.1850 a Lei Queiroz proibiu o ingresso de escra-
vos no Brasil, reduzindo o contingente de mão-de-obra. Cabia compensar com o aumento da imigração. Assim, duas semanas após, a 18.9.1850, a Lei de Terras, do Império, determinou que não mais se concedesse latifúndios como até então se procedia, mas que as terras fossem vendidas com vistas à História da imigração alemã no RS
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colonização no sistema de minifúndio. Como a lei foi pouco exigente na comprovação da ocupação das terras, especuladores simulavam posses e passavam a lotear grandes propriedades. Em 1854, o Império criou a Repartição Geral de Terras Públicas, encarregada de administrar a concessão de terras aos imigrantes. A Lei provincial 229, de 4.12.1851, garantia viagem, lotes gratuitos de 48 hectares, sementes e instrumentos agrícolas aos imigrantes. Já a Lei provincial 304, de 30.11.1854, restringiu vantagens: concedeu empréstimo para
a viagem e vendeu o lote rural num prazo de três a cinco anos, sem juros. O lote rural só podia ser vendido pelo colono após cinco anos de cultivo da terra — lei que se mostrou de aplicação inócua, já que os colonos, cansados de esperar pela escritura, permutavam ou vendiam seu lote, visando conveniências pessoais, com terra melhor, proximidade de parentes ou identificação de credo. Em 1857 foram nomeados dois Agentes Intérpretes, um em Rio Grande
e outro em Porto Alegre, para atender os imigrantes, que afluíam em número expressivo. Cada Colônia recebeu seu Diretor, com papel de administrador, tutor e conselheiro. Entre 1859-1867 houve o cargo de Inspetor geral da colonização. Regulamento de 7.7.1857 concedeu auxílio de alojamento, alimentação e transporte apenas aos que se dirigiam às Colônias oficiais. Para atrair imigrantes para o Brasil, lei de 1865 mandava pagar a diferença do preço da viagem para os EUA. A retaguarda
Apaziguados os últimos focos de resistência de guerrilheiros farroupilhas, na zona setentrional de São Leopoldo, interessava retomar a ocupação dos lotes rurais próximos à mata, abandonados ou ainda vazios por temor das investidas indígenas. Essa ocupação tardia é pouco conhecida, porque a ocupação oficial da primeira fase se encerra em 1830 e o período seguinte se volta ao estudo da colonização do vale do Taquari. Porto e Roche quantificam a entrada de imigrantes ocorrida na década de 1840, que se direcionou à ocupação dessa retaguarda: em 1844 66 imigrantes em 1845 87 imigrantes em 1846 1.515 imigrantes em 1847 691 imigrantes em 1848 136 imigrantes em 1849 95 Imigrantes e em 1850 128 imigrantes (Porto, 1934, p. 159-161; Roche, 1969, p. 146). 42
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São 2.718 imigrantes, acrescidos da migração interna, filhos casadoiros que desejavam terras para constituir novo lar. Foram eles ocupando a Costa da Serra, nos fundos de Dois Irmãos, ocupação nem sempre oficial nem ordeira, porquanto colonos oportunistas “loteavam” terras à revelia e as ven-
diam aos recém-chegados. À ocupação de Walachei, no atual município de Santa Maria do Erval, é desse tempo. Feliz, povoada desde 1845, sofreu investidas indígenas, estando quase deserta em 1847. Depois recebeu migrantes e imigrantes renanos, que introduziram o cultivo da uva, dentro da orientação oficial de diversificar culturas. A uva, por questões climáticas, mais tarde vingou melhor na zona colonial italiana. Na década de 1850 Nicolau Rampel, o morador de Alto Feliz lindeiro à selva, foi vítima dos bugres. O governo enviou um pi-
quete de 30 homens, para controlar a situação. |
Na Fazenda Padre Eterno (Dois Irmãos), nasceu o Leonerhof (homena-
gem a Leão, o primitivo dono das terras, atual Sapiranga), onde, na localidade de Ferrabraz, na década de 1870 se desenvolveu o episódio dos Mucker. Em Montenegro, que na década de 1850 foi pioneiro no cultivo da sericultura, surgem São Sebastião do Caí (ex-porto de Guimarães), Harmonia, Salvador do Sul e Bom Princípio, este fundado por Guilherme Winter, proprietário de terras desde 1840. Em Pareci o agrimensor Miizell loteou as terras de João Inácio Teixeira, o “Juca Inácio”. Maratá foi loteado em 1856, quando os irmãos franceses Augusto e João Brochier começaram a vender terras a colonos alemães (Amstad, 2000, p. 81-82).
Picada Café, bem como o município lindeiro Linha Nova, tiveram início irregular, quando, como vimos, colonos oportunistas “lotearam” terras para vendê-las a recém-chegados. Falta de escritura ou outro documento hábil, agravou as disputas por terras superpostas — problema generalizado em toda a zona colonial, que só em fins da década de 1860 recebeu solução. Tive oportunidade de fazer um estudo sobre o município Picada Café. No início do povoamento, houve tentativa de cultivo de café, dentro de interesse do Império, de experimentar cultura diversificada. E provável que da experiência tenha resultado o nome do município. Graças à geografia muito acidentada, constitui-se este de oito núcleos demográficos: Joaneta, Jammertal, Kaffe Eck (recanto geográfico que protegeu o café da geada), Picada Holanda, Lichtental, Quatro Cantos, Morro Bock e a sede, Picada Café.
Município desde 1993, desmembrado de Nova Petrópolis, Picada Café não carrega, ainda, as mazelas tão comuns à administração pública, por má gestão, corrupção e dívidas. O município despende 30% da receita para pagamento do funcionalismo e aplica o restante em benfeitorias, como obras públicas, urbanização, saneamento e melhoria das estradas que interligam História da imigração alemã no RS ex
ENRA ETM ção
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seus núcleos demográficos. Exemplo a ser seguido (Flores e Flores, 1996; Amstad, 2000, p. 106). Novas Colônias
Na segunda fase imigratória, no meado oitocentista , iniciou a ocupação do vale do Taquari, além da criação de São Lo urenço, a Colônia mais meridional do país. Foram criadas Colônias provinciais e particula res. Nestas os empreendedores, visando lucro, vendiam os lotes por pre ço elevado a imigrantes e a migrantes oriundos de São Leopoldo — de ter ras já subdivididas e com muitos jovens adolescentes a desejarem lote rural par a constituir família, costume que contribuiu para manter por gerações a tra dição agrícola. Procurava o colono orientar os filhos à aquisição de terra; havia preferência para as “colônias novas”, onde o lot e rural valia por volta de 300$000 réis, três a quatro vezes menos que nas terras já saturadas da antiga Colônia. Os novos assentados levavam a vantagem de trazer da casa paterna o conhecimento da coivara, arroteamento da terra, cul tivo e criação, além das instalações e benfeitorias prioritárias para começar vid a. Nessa segunda fase imigratória temos as Colônias de: Santa Cruz (do Sul). Colônia fundada por lei provincial de 1847, recebeu os primeiros 19 imigrantes em dezembro de 1849. Entre os empresários
colonizadores houve Pedro Kleudgen, com contrato de 1851, a Sociedade Montravel, Silvério e Cia., a firma Claussen-Bertan e, com contrato assinado com o governo em 1858, Almeida e Martins. Essas empresas não logra-
ram preencher a quota contratual de imigrantes porque o rescrito prussiano
von der Heydt, de 1859, dificultava a emigração para o Brasil. Santa Cruz recebeu imigrantes da região renana (vi ticultores e artesãos), pomeranos do norte da Europa (servos) e silesianos (tecelões), mostrando
como na Europa se interiorizavam propaganda e agenciamento emigratórios. A par dos imigrados, houve povoadores de São Leopoldo, a competirem
com experiência agrícola adquirida no lar paterno, com a dos pomeranos, que trouxeram os segredos do amaino da terra dos latifúndios europeus.
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Hilda Agnes Húbner Flores
também intendente. Santa Cruz compreendeu as Linhas Santa Cruz, Traves-
são, Paredão, São Pedro, Trombudo, Rio Pardinho, Ferraz, Formosa, Vila
Tereza, Dona Josefa e Sinimbu, esta hoje município. Apesar da dificuldade de transporte porque
localizada longe de rio,
Santa Cruz, graças à colaboração dos colonos familiarizados com os afaze-
res agrícolas, teve desenvolvimento rápido, sendo emancipado em 1877. O ramal ferroviário só veio em 1905, trazendo progresso. Os primeiros lotes, de 77 hectares, foram distribuídos em Santa Cruz entre 1849-1850. Lei de 1851 reduziu a área do lote para 48 hectares, ao preço de 300$000 réis, pagáveis em cinco anos. Mais tarde seriam apenas 25 hectares, área ainda mais parcelada por partilhas ou vendas. Principalmente nas adjacências de vilas eram fregientes lotes de até cinco hectares, explorados por artesãos ou comerciantes residentes no perímetro urbano. Fumicultor desde a década de 1860, Santa Cruz ostenta hoje o título de Capital do Fumo, cultivo que se estendeu para as cercanias: Estrela, Lajeado, Candelária, Sobradinho, Agudo... O fumo modificou a paisagem, surgindo galpões de madeira para secagem das folhas de fumo ao vento e os fornos de alvenaria, com calor regulado à lenha. É da década de 1960, acompanhando tendência no Estado, a mecanização do trigo e a cultura irrigada de arroz. Predominando a religião católica, Santa Cruz ostenta belíssima igreja de arquitetura neogótica, com duas torres altaneiras e capacidade para 6 mil pessoas, atraindo turismo, também desenvolvido pelo Oktoberfest anual. No aspecto cultural, Santa Cruz do Sul atual é servido pela UNISC, Universidade de Santa Cruz (Amstad, 2000, p. 84-86; Porto, 1934, p. 168-169; pesquisa da autora). Próximo a Santa Cruz, houve a colônia provincial de Monte Alverne, criada em 1859, integrando área geográfica de Taquari. Depois passou para Santa Cruz, integrando então as Linhas nascidas no atual município de Ve-
nâncio Aires: Antão, Brasil, Isabel, Maria Madalena e Cecília, esta terra de adoção do memorialista Josef Umann (Porto, 1934, p. 170; Umann, 1997).
Pouco mais distante de Santa Cruz, no município de Rio Pardo, se desenvolveu Rincão Del Rei, com povoadores procedentes de São Leopoldo e
de Santa Maria da Boca do Monte.
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Catedral de Santa Cruz do Sul, obra do arquiteto alem ão Simão Gramilich
(1927-1939). Com 80 m de comprimento e 82 de altura, gótico do Rio Grande do Su l. Foi custeada pela população, que até hoje contribui para as sucessivas restaurações ,
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Agudo, ex-Colônia de Santo Ângelo, criada por lei provincial de 1855, situa-se ao norte de Cachoeira, cujas terras integrou. Os primeiros povoadores, acompanhados do diretor Floriano Zurowsky, chegaram em novembro de 1857, tendo sido literalmente abandonados à margem do rio Jacuí pelo vapor que os transportava. Ergueram abrigo provisório e sobreviveram. Enquanto aguardaram pela medição dos lotes rurais, esgotou-se o prazo de dois anos, de direito a auxílio do Governo. Passaram então a comprar fiado na venda de um luso, com pagamento na próxima safra. Barão von Kahlden, o segundo diretor, veio acompanhado de Brummer (ele próprio um deles) e com eles construiu pontes e abriu estradas. Dirigiu a colônia por 25 anos e trouxe prosperidade. Os povoadores de Agudo foram pomeranos (a maioria), saxões, renanos e boêmios lapidadores de vidro, assentados em terras loteadas por João Gerdau. Baseado em economia diversificada, e que ingressou na tecnologia por meado do século passado, Agudo é município desde 1959. José Gomes Leal era latifundiário de terras da primitiva Colônia de Santo Ângelo. Endividado, entregou-as à família Mostardeiro, de Porto Alegre, que as loteou, originando Dona Francisca — nome em homenagem à esposa do loteador. Povoado por alemães e italianos, é município desde 1965. Também o atual município de Paraíso do Sul integrou terras de Agudo, de propriedade do sogro de barão von Kahlen, diretor da Colônia e que aí residiu, em área elevada e de bela vista. Kahlden loteou a área a partir de 1860 e povoou-a com alemães e descendentes, além de italianos a partir de 1880. A emancipação é de 1969 (Porto, 1934, p. 169-170; Amstad, 2000, p. 86-88; Werlang, 1995).
Nova Petrópolis. Colônia provincial fundada em 7.7.1858. Recebeu excedente demográfico de São Leopoldo e imigrantes pomeranos, saxões e boêmios alemães, estes ocupando as Linhas Olinda, Pirajá e Imperial. Teve como diretores Sellin, Frederico Bartholomay e Heinsen.
|
João Henrique Gaspar Gerdau imigrou provavelmente em 1869, aos 19 anos de idade. Foi caixeiro de venda em Cachoeira, depois comerciante em Agudo. Casou na Alemanha com a prima Aline Gerdau. Na década de 1870 loteou e povoou com imigrantes boêmios as picadas
Várzea, Brasil e Boêmia. Foi comerciante em Cachoeira e depois em Porto Alegre, onde por três anos foi sócio do comerciante e poeta Carlos Naschold. Permaneceu com a família um ano na Europa, onde a filha estudou. Em 1901 adquiriu a Fábrica de Pregos Ponta de Paris, uma metalurgia que não dava os lucros desejados por seus 70 sócios. Nela trabalhou com o filho Hugo, iniciando o que é hoje o multinacional complexo metalúrgico Gerdau. Em 1903 adquiriu uma fábrica de móveis falida, de 50 sócios, e com o filho Walter foi pioneiro em introduzir no Brasil os móveis vergados, técnica importada de Viena, Austria. Abasteceu vários Estados
do Brasil, até o Nordeste. A fábrica durou sete décadas. Os móveis vergados prosseguem.
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Situada em terreno montanhoso, ressentiu-se de meios de comunicação e de acesso ao mercado consumidor. Os imigrantes traduziram seu sofrimento inicial chamando a colônia de Neu Betriibnis, Nova Aflição.
Desde a década de 1880, imigrantes italianos povoaram linhas interioranas, formando comunidades fechadas, pela dificuldade de diferença de língua. Nova Petrópolis recebeu rodovia em 1944, agilizando crescimento. Município desde 1954, encontrou vocação para o turismo cultural, ao real. çar uma arquitetura de características teutas, onde o Parque dos Imigrant es merece destaque ao valorizar elementos arquitetônicos e culturais da etnia alemã, majoritária no município (Amstad, 2000, p. 90). São Lourenço (do Sul). Criada em 1857 na Serra Geral, próximo a Pelotas, é a Colônia mais meridional, uma ilha agrícola em meio à zona lusobrasileira de pecuária. Foi iniciativa do comerciante Jacob Rheingantz, renano imigrado primeiro para os Estados Unidos, de onde veio para Rio Grande gerenciando o serviço de vapor Rio Grande-Pelotas. Em 1856 adquiriu terras devolutas do governo, obrigando-se a lotear e povoá-las dentro de cinco anos com 1.440 famílias, que receberiam subsídio do governo.
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São Lourenço do Sul mantém arquitetura pomerana.
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Os primeiros imigrantes chegaram em
1858, na maioria artesãos que
não permaneceram na Colônia. Rheingantz viajou então pessoalmente à Europa € trouxe pomeranos, ex-servos afeitos ao serviço da lavoura. Surgiram as Picadas Moinho, Boa Vista, Boqueirão, Harmonia, Bom Jesus, Quevedo e outras. Irregularidades nas medições motivaram revolta em 1865, liderada por um pequeno grupo de arruaceiros. Rheingantz e sua família se refugiaColônia ram em Rio Grande enquanto barão von Kahlden, diretor da então de Santo Ângelo (Agudo), foi designado pelo governo para restabelecer a
ordem. Rheingantz, que trouxe prosperidade à Colônia, faleceu na Europa, em a 1877. O primogênito Carlos Rheingantz continuou sua obra, gerenciando em fábrica de tecidos de lã, a primeira da América Latina, criada pelo pai por 1874 na cidade de Rio Grande. Carlos obteve o título de comendador, São de a colôni A . Janeiro de Rio no havida al nacion ção exposi mérito em poLourenço manteve uma cultura bastante homogênea e cultiva o dialeto Sociedade merano até os dias atuais. Praticamente cada picada possui sua organiza enque la, Agríco e l Cultura União à hoje gadas congre de Canto, Em sua tura. agricul a para técnica ação orient de e canto de anuais contros lusa, de reexpansão atingiu a cidade de Pelotas, onde assimilou a doceria nome no cenário nacional. -se Emancipado de Pelotas desde 1884, de São Lourenço desmembrou pomeraões tradiç das tração concen forte de pio municí do, Redon Morro ço (Flonas. Também em Canguçu há extensão da Colônia da São Louren res, 1982,
p. 63-80; Amstad,
2000, p. 92-94; Porto,
1834, p. 171; Costa.
1984, p. 54-77).
Trisdo, pol Leo São de a ôni Col da e lest À o). Nov do Mun (do a Taquar es, viúva tão José Monteiro em 1845 adquiriu terras de Lubianca Corrta Leã de is rura s lote em s u-a idi div 6 184 de ir part A es. Leã a eid Alm "do sesmeiro 5000 800 a par am zar ori val o log que , réis 0 $00 300 a os did ven es, AS hectar réis.
Em
escravo, condena1850, Monteiro sofreu atentado por parte de um
do à morte em São Leopoldo.
igrantes — im os ra pa s au nh ei St — a dr pe de a cas a um u ui tr ns co ro Montei nos em trânsito lo co dos to en am oj al de a, nd ve de , ia nc dê si re de iu que serv a aos maraga ci ên st si re de iu rv se 93 18 de o çã lu vo Re na al; para seu lote rur
tos. Hoje é sede do CTG Sentinela da Tradição.
e as localidades a ar qu Ta de de da ci a lui inc ro ei nt Mo de to en am O lote
ue iq nr He e nt ra ig im o 53 18 em , ma ti úl a st Ne a. ez al rt de Santa Maria e Fo ha e sua mulher, fil os ad pt ra o nd te , na ge dí in ue aq at em o rt mo Watenpuhl foi
aliado do goe, bl Do e qu ci ca do o li xí au m co os ad at sg re de tar netos, mais História da imigração alemã no RS
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verno. Taquara evoluiu e dele se desmembraram os municípios de Parobé, Igrejinha, Três Coroas e as cidades turísticas de Gramado e Canela, todos com população de forte percentual germânico. Possui hoje o Museu Arqueológico, idealizado pelo arqueólogo Eurico Muller (Amstad, 2000, p, 108-110; Porto, 1934, p. 171; Engelmann, 1924, p. 173-235; Igrejinha, 1991, p. 15-18).
Lajeado é colonização de 1855, empreendimento particular de Antônio Fialho de Vargas, que adquiriu dos irmãos Teixeira as fazendas de Conventos e Lajeado, à margem direita do rio Taquari. Sócio majoritário da empresa Batista & Fialho, Antônio Fialho loteou as terras. João Luiz Krâmer foi o primeiro colono de Lajeado a escriturar os dois lotes rurais adquiridos em 1856. Imigrantes houve que tiveram a grafia de seus nomes alterada, por problema de transposição da língua alemã para a portuguesa — à semelhança do que já ocorrera em Três Forquilhas. A fazenda de Conventos, que teve experiência de cultivo de parreirais em 1855, foi dividida em Picada São José, a mais distante da sede; Picada dos Conventos, predominantemente evangélica e com livro Tombo feito por pastor itinerante desde 1864; e São José dos Conventos, onde os católicos ergueram capela de madeira em 1869, após a chegada dos jesuítas. Porto e serraria construídos por Fialho foram o cerne do núcleo urbano, com chácaras, lotes urbanos e estradas carroçáveis ligando às linhas coloniais. O sobrado de Fialho sobreviveu o dono, com utilidade múltipla: hotel, comércio, escola, igreja, salão de festas, cartório. No núcleo urbano surgiram praça, igreja e escola; as ruas receberam nomes de santos, que o inten-
dente Júlio May, sob inspiração positivista, em 1898 trocou para nomes de heróis e vultos cívicos. Lajeado esteve sob a jurisdição de Rio Pardo, depois de Taquari. Em 1875 foi 2º distrito de Estrela. Tornou-se município sob governo republicano, em 1891. A par do progresso material, Lajeado cultural é dotado da FATES, Faculdade de Educação e Letras, mantida pela Associação PróEnsino Universitário no Alto Taquari (Schierholt, 1992).
Ex-distrito de Lajeado, Santa Clara do Sul foi loteado por Antônio Fialho, em 1870. Na Revolução Federalista distinguiu-se por sua reação heróica ante a ameaça de aniquilamento feito pelo “partido” dos serranos, um grupo de ervateiros ex-posseiros, que aproveitou da Revolução para reaver “direitos perdidos. O fato tem narrativa magistral pelo médico Theodor Firmbach, contratado pelo intendente de Júlio May de Lajeado para cuidar dos feridos. Santa Clara, município desde 1993, está economicamente calcado sobre indústria calçadista (Firmbach, 1995), Forquetinha, outro mu-
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nicípio recentemente emancipado de Lajeado, mantém na instalação de sua sede o visual de sua origem alemã. Estrela, à margem esquerda do rio Taquari, era fazenda de propriedade s de José Inácio Teixeira Júnior, então uma vasta área que englobava terra desde Taquari aos atuais municípios de Lajeado, Santa Clara do Sul, Teutônia, Vestfália, Colinas, Imigrantes e Roca Sales. Vitorino José Ribeiro era casado com a viúva Ana Emília Sampaio uma Menna Barreto. O casal residia em Porto Alegre e em 1830 permutou lá para e m-s ara Mud ela. Estr nda faze pela lo) chue (Ria e Pont casa na Rua da a da caus a atia simp com o vend ção, cria e ura cult agri à se coudedi iro e Ribe Antônio Ví, ados ente seus de um por a ivad efet foi Esta ã. alem ção coloniza propriedade, tor Sampaio Menna Barreto, que em 1856 loteou terras de sua no. urba eo núcl ente nasc do ruas as ou traç e ela, Estr de o cípi no atual muni , dentre oldo Leop São de nia Colô ga anti da s ante migr com -o oou Pov que muito serviço hel, Rusc o stiã Seba lia famí a , Feliz de te eden proc eles, exda sede ga anti a iriu adqu hel Rusc el Migu filho O o. prestou ao municípi rcial, come casa pera prós e desd ado: vari ino dest lhe deue ela fazenda Estr escola, salão ia, ejar cerv gue, açou , ados cheg m recé es rant imig para abrigo ão. pris até e al post cia agên l, cipa muni o raçã nist admi da da sociedade, sede Por último, e por várias décadas, foi hotel. s de campo, terra sem e ã alem em orig de o laçã popu da 80% com ela, Estr no rio Taquarl. dedicou-se à agricultura familiar, beneficiada com porto alado inst foi só este , tarde mais anos três o cípi muni e 1873 Freguesia em em 1882. € as cano de e te, spor tran para vela, à hões lanc de iço Ao primitivo serv iço regular serv 1850 de da déca na iu segu rio, o ar cruz para caíques a remo ria. A rodonotó aria torn se que , Arnt ção ega Nav a , 1875 e desd e, de barca submeteu via veio em 1956, asfaltada posteriormente. A Revolução de 1893 cípio muni do sede A o. laçã popu a para elas sequ com , sões inva Estrela a três ostenta bela igreja matriz, inaugurada em 1883.
a Companhia ela, Estr de o cípi muni no ari, Taqu do erda esqu gem mar Na Beck e do € g llin Schi nses egre o-al port ntes rcia come dos Colonizadora, Vista, atual TeutôBela de nia colô a ou fund 1858 em Rue, la De brummer
e desd ia gênc dili com giu diri a Amt os Carl das. Pica nia, num total de 13
vestlias famí 300 nse, olde leop ação migr de além lá, para 1868, canalizando que se fixaram , rios próp umes cost e eto dial de pau” de atos “sap falianas, os no hoje município de Vestfália. 2
ou-se ao empreendioci ass ndo qua os, Irmã Dois em te ian erc com foi 2) 191 Carlos Amt (1823progresso à iniciativa o ind rim imp de, cida capa com gir diri a sou pas que mento de Teutônia, Art, no rio Taquari. Foi pai de Jacó Arnt, pioneiro da navegação
História da imigração alemãno RS
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Corvo e Arroio da Seca eram distritos lindeiros, na bacia do arroio da Seca. Arroio da Seca, atual Imigrante, quando de sua emancipação de Estrela, em 1988, anexou parte das terras de Daltro Filho, de população italiana. Corvo emancipou-se em 1992, com o nome de Colinas; para aí imigrou, em 1918, a memorialista Josefine Wiersch. São Gabriel da Estrela, hoje Cruzeiro
do Sul, foi loteada pelo casal João e Laura Azambuja
(Hessel,
2004, p. 28-35; 1998, p. 10; Becker, 1963, p. 217-27). O Cel. Antônio da Silva Mariante loteou sua Estância Mariante, desde 1853. Situa-se no município de Venâncio Aires, criado em 1891 e então administrado pela Colônia de Monte Alverne. Povoadas por migrantes de São Leopoldo e por europeus, notadamente boêmios, surgiram em Venân-
cio Aires as Linhas: Brasil, Cecília (terra de adoção do memorialista Josef Umann), Isabel (pura imigração boêmia), Madalena, Alto Sampaio (sedia a mais antiga Sociedade de Canto do município, fundada em 1892), Santa
Emília, extensa gleba de terra loteada pela firma Pereira e dirigida sob a eficiente administração de Carlos Trein. Surgiram também Mato Leitão, município desde 1993, além da colônia Sampaio, às margens do arroio homônimo. A maioria dessas localidades foram incursionadas por maragatos no decorrer da Revolução de 1893. Na margem esquerda no arroio Sampaio, em 1868 Trein & Cia. loteou Nova Berlim, no município de Lajeado; Bastos, Alves & Klenzen colonizou o norte de Lajeado, proximidades de Encantado, onde foram assentados alemães e italianos, em picadas distintas (Becker, 1963; Hessel, 2004).
Experiência singular foi Nossa Senhora da Soledade junto ao rio For-
romeco, afluente do Caí, onde o conde Montravel, sócio de Silva, Coelho e Barcellos, em 1857 intercalou colonos alemães, franceses, luxemburguenses, belgas, holandeses e uma família brasileira, formando um heterogêneo mosaico étnico, de línguas e costumes diversos, difícil de administrar pelo
conde despreparado para a tarefa. Mal sucedida, a Colônia foi incorporada pela província, que já administrava a vizinha colônia de Feliz (Porto, 1934, p. 171-172; Amstad, 2000, p. 90-91). Mais tarde, a República retomaria a idéia das “colônias mistas”, intercalando moradores de origem e credos diversos, visando mais pronta integração na cultura lusa.
Colonização em outras províncias
Paralelo ao Rio Grande do Sul, também outras províncias iniciaram a imigração germânica, a partir do meado oitocentista: Blumenau no vale do Itajaí em Santa Catarina, fundada pelo farmacêutico alemão Germano Otto
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a pela oad pov , lle nvi Joi e hoj , sca nci Fra a Don a ôni Col A 0. Blumenau, 185 zada em ali loc 1, 185 de tir par a ão zaç oni Col de a es Sociedade Hamburgu hado do Imperador cun e mã (ir lle nvi Joi de pes nci prí dos s iça terras alagad
oficiais refue res nob s, ico dêm aca , ses gue bur s nte gra imi m era Pedro Il);
evoluir coo ind mit per ia, méd à or eri sup a tur cul giados políticos, portanto, e Zeitung, oni Kol , nal jor ro mei pri seu al; tur cul e o mo centro manufatureir de 1860, poal eri imp a ôni Col é sul, ao e, squ Bru . circulou de 1863-1941 a partir de 1873 te, Nor ao to, Ben São os. lus e nos lia ita voada por alemães,
idenà es est — ro vid de es dor ida lap € s aro báv recebeu poloneses, austríacos, a Bobel € sa ho an nt mo a com ria pát a nov da tificarem a região montanhosa m distárara voc pro as ist ial soc s nte gra imi uns alg êmia que haviam deixado; nós ocorreu re ent que do a anç elh sem à , 878 5-1 187 bios em Brusque, entre iros ate erv ros sei pos 0 188 de ada déc na to na Colônia de Rheingantz, enquan do entre rri oco ém mb ta no ôme fen s, ono col a reclamavam terras loteadas par 1992, p. 18; , ky ms ci ie sw -O cz wi do Ro 1: 195 , nós (Centenário de Joinville Ficker, 1973; Richter, 1986).
ta Isabel, San l cia vin pro a ôni Col a 6, 184 em No Espírito Santo nasceu, Leopoldina, ia San de a ôni col a ava fic ela a povoada por renanos. Junto € alenos era pom por , tas lis pau is eza caf 1856, povoada por ex-meeiros dos mães de diversa procedência. a pelo Maead lot o, eir Jan de Rio no s, oli róp Pet A Colônia Imperial de de des s ano ren u ebe rec er, Kol ico der jor da Legião Estrangeira, Júlio Fre s foi oli róp Pet l, ura nat eza bel à nto qua 1845. Situada em local estratégico da pries ent sid pre por e dor era imp do ão ver escolhida para residência de meira República. Os Brummer
uma explica, is po o, nd be ca r, me um Br s ao Fez-se diversas referências s. io ár en rc me es nt ra ig im de o up gr se es ção pertinente a 3
, posteriormente proel yd Ke e nn Be io ár on gi le O ”. er mm Há várias versões para o termo “Bru viram pela primeira vez u ro ig im l qua no go ur mb Ha o eir fessor no Brasil, narrou que no vel s Pfenning sei de sa ne lo po a ed mo à m co da a acharam pareci nossa grande moeda de 40 réis e rumm”, isto “b um ia uz od pr ue rq po r me um Br aram-na de que circulava na Alta Silésia. Apelid
mesa. é, um som característico ao bater sobre a no colégio fora do hoer ec an rm pe a av is ec pr s do tu es sava nos Na Vestfália o aluno que se atra ava “brummen”. is ec pr é, o ist r, ra pe cu re se a par io rár po de cachade 1851 costumavam trocar por um co
ários Cristóvão Lenz explica que os legion
sil, o termo passou Bra no r; me um Br por as id ec nh co 40 réis, ça as grandes moedas de cobre de
para OS próprios legionários. o no Brasil, talvez sid am ri te s io ár on gi le OS que , za ranzin Brummer é sinônimo de rezingão, como legionáto ra nt co seu de os an tro qua OS e de razão, pelas privações durant com carradas
r, de Cristóvão Lenz et al. me um Br de as ri mó Me , ora aut da rios. A respeito, leia-se a tradução
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Em 1851 o governo brasileiro, em guerra contra o ditador Rosas da Argentina, que conquistara o Uruguai e tinha pretensões ao Paraguai e ao Rio
Grande do Sul, enviou à Europa o Gen. Sebastião de Rego Barros para con-
tratar uma força mercenária que reforçasse o Exército nacional . Barros che-
gou a Hamburgo
no momento
em que estavam sendo liberados os alemães
que lutaram em Schleswig-Holstein, na guerra contra a Dinamarca. Muitos haviam lutado antes, em 1848-1849, nas guerras socialistas da Alemanha, tendo portanto experiência de armas, além de estarem imbuídos de idéias liberais. Em 1851 chegou, em sete sucessivas levas, um contingente de 1.800 mercenários, entre soldados, sargentos e 50 oficiais.
No Brasil formaram um batalhão de infantaria sob o comando do Ten. Cel. von Lemmers, quatro baterias de artilharia comandadas pelo Majo r von Heldt, e duas de pioneiros, comandados pelo Ten.-Cel. Riesenfels. Foram contratados por um período de quatro anos. Somente 80 homens, aqueles armados com carabinas munidas de agulha, e duas companhias de pioneiros sob comando brasileiro, entraram em ação contra Rosas, na batalha decisiva de Monte Caseros, em 3.2.1852. Os carabineiros, comandados por Wildt, sob intenso fogo inimigo abriram uma brecha nas linhas argentinas, apod erando-se das baterias e abrindo passagem para o grosso do Exército bras ileiro. Depois, dispersos em várias guarnições do Rio Grande do Sul, os Brummer aguardaram em meio a penúria e maus tratos, resmungos e deserções, até serem desmobilizados, alguns ao cabo de dois anos e a maioria ao fim dos quatro anos contratuais. Podiam então optar entre regressarem à Europa, receberem um lote rural de terra ou 808000 réis em dinheiro. Um quarto da força retornou e outro tanto faleceu ou desertou. Muitos soldados espalharam-se por São Leopoldo e outras colônias em formação, na Província sulina e em outras, como em Joinville, onde entraram na formação dessa colônia catarinense. Os oficiais, de maior preparo, foram grandes responsáveis pela preservação da cultura alemã e cultivo da germanidade. Imbuídos de espírito liberal, pois na Europa estiveram engajados em guerras de libertação, foram combatidos aqui pelas igrejas cristãs, defensoras de maior conservadorismo. Permaneceram nas cidades ou se espalharam pelo interior, atuando como professores, comerciantes, agrimensores ou diretores de colônia, como Gartner, Miizell, Schimmelpfennig. Foram deputados na década de 1880 , o
organizador de empresa de navegação fluvial e político Frederico Haensel, o diretor da Colônia de Agudo, barão von Kahlden, e Ter Briggen, côns ul da Prússia. Otto Tiedemann, Roberto Dittrich e barão Von Kahlden foram
construtores de pontes. Carlos Jansen foi redator chefe do jornal Der Deut -
sche Einwanderer, educador, autor de obras didáticas e, no Rio de Janeiro,
professor dos príncipes imperiais; De la Rue foi comerciante e emp resário;
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Hilda Agnes Húbner Flores
Michaelsen foi professor de renome em Hamburgo, Roede em Dois Irmãos, Tietbôhl lecionou e regeu coral de igreja lecionaram música; Pastor Hófer e von
Nova Petrópolis, Mayer em Novo Jirgensen em Taguara; Cristiano em Três Forquilhas; Lenz e Prazon Heldt foram professores e homens
de letras; E. Siber deixou suas memórias escritas, bem como, no Rio Grande
do Sul, Cristóvão Lenz, Henrique Schãfer e Jorge Júlio Schnack. Wendroth foi aquarelista.
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Militares brasileiros na guerra contra Rosas. Aquarela do brummer Germano Rodolfo Wendroth.
vin pro do uta dep r, me um Br os com u gro imi que tz, eri Carlos von Kos XIX, afirmou ulo séc do mão ale o ism nal jor do te oen exp e 886 cial de 1883-1 do Sul. no Rio Grande mã” ale a tur cul da nto rme “fe o r me um Br serem os
artigos com ram ipa tic par r me um Br ces ífi art de a ten cen Cerca de uma 1881. Sua , gre Ale to Por em ã lem a-a eir sil bra ção osi Exp variados da grande ndo qua de, tar s mai s ano 15 cou ifi ver se mo co dispersão foi a nível de país,
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4, 193 to, Por 97; 94p. 0, 200 d, sta (Am ria Pát da mas como Voluntários 5; Rodowicz-Oswiecimsky, 1992, p. 20-
199 193-203: Lenz, 1997; Lange, .
21: Weimer, 2004, p. 27-29)
História da imigração alemã no RS
55
Brummer sobreviventes em 1901, 50 anos após a chegada para o Brasil.
Guerra do Paraguai (1865-1870) Com pretensões de ampliar território em busca de saída direta para O mar, O ditador paraguaio Francisco Solano Lopes em 1865 apresou o vapor brasileiro Marquês de Olinda, que conduzia a seu destino O presidente do Mato Grosso. Em seguida invadiu Corumbá no Mato Grosso, além de São Borja e Uruguaiana no Rio Grande do Sul. Contava o Paraguai com um Exército de 80 mil homens armados e nos planos de Lopes estava também a conquista de território argentino e uruguaio. Assim, em 1.5.1865 nasceu a Tríplice Aliança, para fazer frente a Lopes. O Brasil criou os corpos de Voluntários da Pátria, contando vários deles com elementos germânicos. O Rio Grande do Sul contava à época com 400 mil habitantes, 12% dos quais alemães ou descendentes. Um grupo deles pegou em armas, lutando contra o inimigo comum e não mais divididos como na luta civil dos Farrapos. Em São Leopoldo, mais uma vez o diretor Hillebrand reuniu homens, uma centena, para reforçarem a Guarda Nacional da província, composta de
2.150 homens ao eclodir a guerra. Igual procedimento ocorreu em outras localidades, num raio de cerca de 70 municípios — atestando a expansão dos descendentes de imigrantes pela Província rio-grandense. Muitos recrutadores eram ex-Brummer. Parece que o chamado às arma s
reacendeu neles velhos brios militares. Assim, Carlos Alexandre Wich mann
reuniu 200 homens em Pelotas; João Luis Schnorr alistou em Jaguarão;
56
Hilda Agnes Húbner Flores
Francisco Grauert, em Rio Grande; Carlos Kammer comandou no front os 80 homens que reuniu; o agrimensor Frederico Guilherme Wedelstaedt comandou 60 homens de Bagé; Guilherme von Reisswitz, reuniu homens em Rio Pardo e barão von Kahlden em Agudo, Colônia que dirigia há oito
anos. Carlos Ferdinando Schneider, ferido e promovido a Major, incorporou à Artilharia do gen. Mallet uma bateria de 80 voluntários alemães, sob o comando do Ten. Rodolfo Schimmelpfennig von Oye; em Santa Cruz o colono Cristóvão Baum reuniu e comandou 40 homens. Pedro Weber em Porto Alegre formou uma companhia de 100 homens. Cap. Vitor von Gilsa, professor em Blumenau, reuniu aí 87 Voluntários da Pátria de origem alemã e Guilherme Hoffmann organizou em Joinville uma Companhia de 119 soldados e sete oficiais. Também do Rio de Janeiro acorreram 30-40 ex-Brummer, que combateram na reconquista de São Borja. No 5' Batalhão marcharam ex-Brummer radicados em Petrópolis, Rio de Janeiro. Cap. Fernando Schneider, depois
a de ferido em combate, organizou com integrantes ex-Brummer uma bateri da artilharia montada à disposição do Gen. Osório. Os exemplos se multiplicam. Combatendo sob o comando imediato de oficiais Brummer, experientes de Tuem armas, os “alemães” reforçaram o Exército brasileiro. Na batalha iro, e uti vários saíram condecorados com a Ordem da Rosa, no grau Cavale Cruzeido Ordem a eu receb ich Emmer von o ilian Maxim Major er o Brumm ro do Sul, a mais alta condecoração brasileira. Liegnitz e o Cap. Pedro Guilherme Meyer, ambos instrutores da Escola nizaMilitar da Praia Vermelha, Rio de Janeiro, empenharam-se na reorga . ção e preparo do Exército brasileiro e participaram diretamente da guerra a, Guilherme Schiich introduziu no Exército o fuzil de carregar pela culatr Barão tarde mais oltz, Hoonh von Luiz io Antôn luta. de sso progre notável esteve de Tefé, filho de um combatente recrutado por Schaeffer em 1824, com o no comando da canhoeira Araguari, participando de 22 confrontos inimigo. extinta A bateria de Voluntários Alemães de São Leopoldo foi quase de Voluntápelas baixas sofridas; os remanescentes se incorporaram ao 39º
rios da Pátria. O Cel. João Niederauer Sobrinho, natural de Três Forquilhas vida na a u perde ernos, subalt os entre quisto bem Maria, Santa e criado em em combate eram ocorr baixas de res Milha 1868. 13.12. em Avaí, de batalha (farinha, feis ntado alime mal s homen aos afetou que bo, a-mor cóler pela ou oito meses. jão preto e carne) e passando misérias com o soldo atrasado de que usou alemã, m orige de s oficiai de s diário cinco arrola r Becke Klaus
a do Paraguai: do Guerr na es ndent desce e es Alemã obra sua er escrev para
cap. Pedro Werlang, de Santa Cruz do Sul; do cap. Jacó Franzen, de MonHistória da imigração alemã no RS “e
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tenegro, guindado a cavaleiro da Ordem da Rosa; do 2º sgt. Nicolau Engel. mann, de Dois Irmãos; do 2º sgt. Cristiano Spindler e do forriel Jacó Dick,
ambos de Campo Bom — todos autores com minuciosos informes acerca da guerra e da participação dos homens de armas de fala alemã (Porto, 1934, p. 204-211; Becker, 1968).
Imigração americana
Como curiosidade, cabe registrar a imigração americana ocorrida em 1867. Foi aguardada com euforia pelo governo brasileiro, como “valiosa colaboração a ser recebida da progressista nação norte-americana”, Mas a realidade não correspondeu à expectativa. Em
1865,
os
nortistas
americanos
venceram
os sulinos,
muitos
dos
quais, pelos infortúnios da Guerra da Secessão ficaram interessados na emigração. Com o apoio do cônsul brasileiro imigraram para o Brasil um total de 761 pessoas: 209 para São Paulo, 206 para Santa Catarina, 61 para o Pará, 13 para Paraná e número menor para Pernambuco, Minas e Bahia. Para o Rio Grande do Sul vieram 259 pessoas. O Governo imperial pagou viagem e manutenção e designou-lhes nove léguas quadradas em Nova Petrópolis e terras também em Agudo. Ao governo provincial cabia cuidar do barracão de alojamento em Rio Grande, Porto Alegre e Nova Petrópolis ou onde quisessem se estabelecer. A maioria se dirigiu para Nova Petrópolis, onde exigiu lotes demarcados, mata derrubada, cercas provisórias, instrumentos agrários, sementes e subsídio por
meio ano. O Decreto 3784, de 19.1.1867, legislou quanto ao trabalho nas estradas, nas quais o imigrante devia trabalhar por 15 dias munerados. Os americanos adaptaram-se mal ao serviço e uma dirigiu à Capital para reivindicar pagamento. Recebido este,
remunerado mensais, recomissão se
passaram a
se evadir, tomando direção da República do Uruguai, de regime político mais condizente com suas pretensões. Seguiram o exemplo daqueles que já haviam se evadido em Rio Grande, antes de atingir o lote rural e após rece-
berem pagamento de diárias. Koseritz,* diretor de Colônia, em seu Relatório *
Carlos Júlio Cristiano Adalberto Henrique Fernando von Koseritz (Dessau, 1830 ou 1834Porto Alegre, 29.5.1891), integrante da pequena nobreza alemã, teve estudo superior ao dos
imigrantes em geral. Foi orador, jornalista, historiador, cientista, teatrólogo, romancista e sobretudo jornalista polemista e político combativo. Imigrou com os Brummer e deles se desli-
gou em Pelotas. Depois de privações por dificuldade de língua, foi professor particular e fun-
dou em Pelotas um colégio para meninos e o jornal O Noticiador; em Rio Grande foi redator
do jornal O Povo e diretor do Colégio Rio-Grandense. Em Porto Alegre dirigiu o Deutsche
Zeitung, depois o Koseritz Deusche Zeitung e o Koseritz Kalender. Em 1876 dirigiu A Acácia,
órgão maçônico através do qual travou polêmica com o bispo Dom Sebastião Dias Laranjeira.
58
Hilda Agnes Húbner Flores
de 1867, considerou-os gente que prestou “um eminente serviço à polícia norte-americana, mudando seus domicílios para o Brasil”. Em 1870, nenhum deles restava em Nova Petrópolis (Flores, 1976, p. 360-369). Os Mucker (1872-1874)
Movimentos messiânicos ocorrem periodicamente, em qualquer parte do mundo, motivados por carências religiosas, sócio-econômicas, políticas ou outras. Os Mucker podem ser vistos como um movimento de fanáticos religiosos, ocorrido nas proximidades do morro Ferrabraz, em Sapiranga. Mucker quer dizer falso religioso, beato, santarrão, nome atribuído aos
seguidores do curandeiro João Jorge Maurer e sua mulher, a vidente Jacobi-
istas, na Mentz. Jacobina era oriunda de uma família de pietistas, Os anabat
combatidos na Alemanha. Em Sapiranga, distante da sede da Colônia de São Leopoldo e com a população desatendida de sacerdote, Jacobina encontrou campo fértil para desenvolver suas habilidades. Entrava em estado letárgico, durante o qual “via” a doença das pessoas € prescrevia o remédio que o marido curandeiro preparava. a
Desgosto por medições erradas de terras e intolerância religiosa entre católicos e evangélicos, somaram-se ao fanatismo religioso. Jacobina pregava a Bíblia segundo os ensinamentos do Apocalipse e perseguia a quem inão aderisse a sua seita. Incêndios de galpões e casas, seguidos de assass natos, obrigaram o governo a intervir. Levados a São Leopoldo para interrogatório, os Mucker foram liberados. Persistiram os assassinatos e os Mucker ampliaram seu raio de atuação até as Picadas vizinhas. O governo enviou o Cel. Genuíno Sampaio, veterano da Guerra do Paraguai que, com re100 homens sem preparo de armas, atacou os colonos. Estes ofereceram os tomsistência, instigados pela promessa de Jacobina, de que em três dias novamente bados ressuscitariam. Num segundo confronto, em 28.6.18/4,
Sampaio teve perdas. Treinou então seus homens e tornou à atacar em
mata do 18.7.1874, mas Jacobina com seus adeptos lograram internar-se na um tiro Ferrabraz. Os soldados acamparam ao pé do morro e durante a noite u de morre que io, Sampa Cel. o feriu ?) dentro de seria (ou a barrac à contra
pelo dada coman foi cos fanáti os contra te seguin ição exped A . ragia hemor
de 1883-86. Manteve Organizou a Exposição Brasileira-Alemáã de 1881. Foi deputado estadual de Castilhos e Júlio com is depo e a nari maço da ito respe a tas jesuí os com ca lísti polêmica jorna afronta que desendias, oito por l cáve muni inco , preso ou Acab as. ivist posit dos smo cesi o fran osa, filha de fazencadeou ataque cardíaco € O vitimou. Foi casado com Zeferina Mania Barb
Kosentz, sua discípula, tradutora von lina Caro elas entre s, filha o quatr teve quem com deiros, , p. 243-244). de clássicos alemães € contista de temática social (Flores, 2001
História da imigração alemã no RS
59
Cap. Francisco Santiago Dantas que, contando com a traição de um Mucker, logrou exterminá-los entrincheirados em uma cabana, no alto do Ferrabraz, a 2.8.1874.
Interessante lembrar que durante a ausência da Guarnição de Porto Alegre, a Sociedade de Tiro (Sogipa) montava guarda aos edifícios públicos da
Capital (Porto, 1934, p. 187-191:; Amstad, 2000, p. 163-170). Os sobreviventes de Ferrabraz sofreram processo que se arrastou por oi-
to anos. Os 18 condenados à prisão, foram perdoados em 1883,
Remanescentes de Mucker espalharam-se pela colônia Bastos em LaJeado e fazenda Pirajá em Nova Petrópolis, entre estes uma filh a de Jacobi-
na. Temidos pela vizinhança, em 1897 os residentes em Lajeado foram acusados da morte de uma mulher. Mais tarde, movida pelo remorso, a amante do viúvo confessou-se cúmplice do crime. O temor dos Mucker persistiu por muito tempo pela colônia alemã, alimentado pela imprensa religiosa, que considerava o movimento decorrência da falta de ensino religioso.
60
Hilda Agnes Húbner Flores RR
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Imigração no Planalto 1875 a 1889
viu movimentos So Brasil, último país americano a manter a escravidão, tornara-se fato libertadários pipocarem desde a década de 1870. A abolição anos antes tro qua 4, 188 em Sul do nde Gra Rio no da ida sol con , irreversível ário cuidar da ess nec Era el. Isab sa nce Pri pela da ina ass a ist ion lic abo lei da substituição de mão-de-obra, isto é, recrudescer a imigração. Diversidade étnica
nto à procequa as nov cas sti erí act car se amerv obs e fas ra cei ter Nesta
midade étnica, pois for uni a sm me a s mai têm não que s, nte gra imi dos dência
ras etnias. aos germanos vêm se somar italianos, poloneses e out da região, ina erm det uma nas ape pam ocu s nte gra imi os co pou Nem tão
a no vale do rio dos mad for do, pol Leo São de a ôni Col a com u rre oco como
Sinos com imigrantes renanos, ou além da Colônia de São Lourenço com migrantes de São Leopoldo boêmios e alguns outros — todos de
como ocorreu nã segunda fase, quando, do Sul, se colonizou o vale do Taquari e com imigrantes pomeranos, renanos, fala alemã.
a da Prúsund ori de lda icu dif a tia sis per mã, ale ção gra imi à Com relação
de parceria a tem sis ao ção rea 9, 185 de dt, Hey der von to cri res sia, pois o O
para o Brasil. ção gra imi a ndo lta icu dif a uav tin con , tas lis pau is dos cafeza oroso rig os men u nto ese apr se 6, 189 em ado ant lev nte rescrito, só oficialme o agrário ndi ifú min o a hav bal tra nte gra imi o e ond Sul, do para os Estados a escravidão. da ibi pro ar, ili fam a obr de mão de uso com e a em terra própri
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unificação houve, em 1873, grande depressão na Itália, atingindo milhares de pequenos meeiros no norte do país (Trento, Lombardia, Vêneto). No ano
seguinte o governo do Brasil fechou contrato com a empresa Cae tano Pinto
e Holtzweissig, para introduzir, em 10 anos, 40 mil italianos, 90% dos quais deviam ser colonos. À firma, como todas as demais empresas colonizadoras, empregou uma
rede de agentes e sub-agentes que, partindo dos portos de embarque, interiorizaram a propaganda pelo norte da Itália. Assim, a partir de 1875 teve lugar a imigração maciça de italianos para o Rio Grande do Sul, sobrepu-
jando a dos alemães. O governo imperial em 1870 cedera à Província 32 léguas quadradas de
terra para loteamento, entre o rio Caí, Campos de Cima da Serra e o muni-
cípio de Triunfo.
Colônias italianas
A intenção não é de esgotar a nominata das colônias surgidas nessa terceira fase, mas sim, dar uma idéia de como foi a ocupação da reg ião do Planalto, usualmente denominada de Serra. A partir de 1875 nasceram, na região do Campo dos Bugres, as col ônias de Dona Isabel (Bento Gonçalves), Conde D'Eu (Garibaldi), do qual se desmembrou Carlos Barbosa e Fundos de Dona Palmira (Caxia s), todas emancipadas em 1884. Em 1877 nasceu a Colônia imperial de Sil veira Martins; em 1884, Alfredo Chaves (atual Veranópolis), que ori ginou os
municípios de Nova Prata e Nova Bassano; em 1885 surgiram São Marcos e Antônio Prado. Poço das Antas é colônia particular de 1875. Entre 1875-88 nasceram Linhas italianas em Rolante e Muçum. Imigrantes da Calábria, no sul da Itália, vieram mais tarde e fixaram-se
nas cidades, onde exerceram atividades artesanais|
Paralelo à imigração italiana, houve a alemã, do Picadas ou Linhas espalhadas pelas áreas em estimam que entre 1875-1914 imigraram 80 mil lemães, além de poloneses e representantes de
em menor escala, ocupanloteamento. Historiadores italianos, contra 48 mil aoutras nacionalidades. Ao
mesmo tempo teve lugar a migração interna, assentando nas col ônias em formação no Planalto o excedente populacional dos vale s dos Sinos e do
Taquari.
O Decreto 6.129, de 23.2.1876, do governo imperial, criou a Inspetoria
Geral de Terras e Colonização, órgão do Ministério da Agricultura encarregado dos assuntos imigratórios. A Comissão de Terras contava com diretor, *
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Vera respeito o trabalho de Núncia Santoro Constantino, O ita liano da esquina: imigrantes na
sociedade porto-alegrense. Porto Alegre: EST, 1991.
Hilda Agnes Húbner Flores
um engenheiro, dois agrimensores e dois fiscais: pouca gente para cuidar de
tarefa múltipla.
A abolição da escravatura de 1884, no Rio Grande do Sul, recrudesceu
a necessidade de imigração, tendo a Lei de 28.9.1885 incentivado uma pro-
paganda imigratória sistemática na Europa, prometendo ajuda de viagem até
o lote colonial. A propaganda estendeu-se a vários Estados europeus, de sorte que afluíram também poloneses em número expressivo. Ocuparam as barrancas do rio das Antas, que sobraram após o assentamento dos imigrantes italianos. Fixaram-se também em Mariana Pimentel, a partir de 1888. Jaguari, no oeste do Estado, recebeu desde 1889 migrantes das antigas colônias, além
de italianos e poloneses. Várias localidades, como São Vicente do Sul, fo-
ram se povoando a partir da ampliação de ramais ferroviários. Guarani das Missões, com contingente polonês majoritário, iniciou ocupação nesse período e a intensificou no período republicano. Para garantir êxito à empreitada, o governo delegou a particulares parte da tarefa imigratória. Assim, são colônias particulares desse período: Cerro Branco, fundada no município de Cachoeira do Sul por barão von Kahlden, que para lá levou excedentes da Colônia de Agudo que dirigia; Travesseite, ro, próximo a Arroio do Meio, criada em 1880 por Xavier Alves; Rolan próximo a Taquara, obra do empresário João Renk, 1888; Augusto Miller em 1889 fundou e povoou com descendentes de pomeranos a Colônia de Triunfo, em Pelotas. Também em Pelotas foi criada a Colônia Municipal, por em 1882. Dona Francisca, próximo a Agudo, é desse período, povoada alemães. Em Veranópolis, região de imigração italiana, houve assentamento de
a es, alemã s russo eu receb que ns, Marti ira Silve em como bem es, alemã hoje maioria evangélicos. Em sentido contrário, a colônia de Conventos, Roca Sales, que o empresário Antônio Fialho loteou no município de La-
jeado, trando lônias Se
recebeu italianos procedentes de Garibaldi e Bento Gonçalves — mosque a essa altura já não vingou a distinção “colônias alemãs” e “coitalianas” ou de outra nacionalidade. as antigas colônias alemãs contavam com rede fluvial para escoa-
a servi-las a ream tiver fase ra tercei dessa ias Colôn as tos, produ dos mento e o oeste rioSerra da o regiã a geu abran ente tivam grada que iária ferrov de
grandense.
A exposição de 1381
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63
estímulo e em 4.10.1881 inaugurou-se em Porto Alegre a Exposição Brasileira-Alemã. Foi a primeira mostra industrial da província, de significativa repercussão pela sua abrangência. Contou com produtos locais e nacionais, além dos procedentes da Alemanha.
Presidiu a Comissão Organizadora o jornalista e germanófilo entusiasta,
Carlos
von
Koseritz.
O
evento
teve
significativa
participação
dos
teuto-
brasileiros, tanto descendentes dos povoadores de São Leopoldo, como dos radicados posteriormente no vale do Taquari. Foi visto que os imigrantes e descendentes agilizaram desde a década de 1820 o diversificado leque de profissões artesanais trazidas da Europa. Em 1845 havia 117 barqueiros ocupados no comércio entre São Leopoldo e Porto Alegre. Naquele ano o relatório do Diretor de Colônia de São Leo-
poldo, João Hillebrand, apontava quatro centenas de produtos que Integravam esse comércio, desde frutas e animais de criação, artigos de madeira a
destilados e artefatos de funilaria, de ferraria, de olarias... O Caminho No-
vo, atual Rua Voluntários da Pátria, em Porto Alegre, ficou tomado por armazéns, oficinas e fábricas, todos com seu trapiche próprio no Guaíba, para exportação de seus produtos (Relatório, 1924, p. 443-544). A Associação Comercial do Rio Grande do Sul nasceu em 1858 e passou a registrar as indústrias e casas comerciais nascedouras. A exposição de 1881 tornou-se importante no sentido de proceder a um verdadeiro inventário da produção das firmas teuto-brasileiras da província e do país, confrontando a produção nacional com a indústria oriunda da Alemanha, À exposição ocupou o espaço físico entre as Ruas Luiz Afonso, Lima e Silva e o Campo da Várzea, atual Redenção. Compunha-se de várias seções:
estrebaria para animais nacionais e estrangeiros, entre eles o garanhão 1º prêmio da rifa vendida no decorrer do evento; os pavilhões para dezenas de
milhares de objetos em exposição; a seção industrial com variado maquinário, dando uma idéia do parque industrial do país e do procedente da Alemanha, este mais adiantado, de vez que já fabricava “máquinas que produ-
zem máquinas” (A Reforma, 4 e 7.10.1881). Havia também o que hoje se
denomina praça de alimentação e local para recreação.
Carlos von Koseritz editou o Catálogo da Exposição Brasileira-Alemã
em Porto Alegre, quase 400 páginas que arrolam a natureza e os locais de
procedência dos milhares dos objetos expostos. Das províncias brasileiras
partícipes constam Pernambuco, Alagoas, Espírito Santo, São Paulo, Paraná
e Santa Catarina. Do Rio Grande do Sul estiveram presentes quatro dezenas
de municípios ou distritos, a maioria com forte componente alemão ou teuto em sua população e quatro municípios com imigração italiana.
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Hilda Agnes Húbner Flores
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Pavilhão da Exposição Brasileira-Alemã em Porto Alegre. , As “chuvas de São Miguel, em final de setembro, adiaram a abertura daí a charge do jornal O Século, de 9.10.1881.
História da imigração alemã no RS
65
As localidades arroladas por Koseritz são: Bento Gonçalves, Caçapava, Cachoeira (do Sul), Campo Bom, Canguçu (distrito de Cerrito), Capivara (hoje Lindolfo Collor), Caxias (do Sul),
Costa da Serra, Cruz Alta, Dois Irmãos, (Santa Maria do) Erval, Estância Velha, Estrela, Feitoria (em São Leopoldo), Garibaldi, Gravataí , Hamburgo
Velho, Itaqui, Ivoti, Jaguarão, Lomba Grande (em Novo Hamburgo), Maquiné, Maratá, Monte Alverne (à época importante centro de administraçã o
colonial), Montenegro, Morro Pelado, Neustadt (em São Leopoldo), Nonoai, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Pelotas, Picada 48 (hoje parte do território de Ivoti), Porto Alegre, Rio Grande, Rio Pardinho (em Santa Cruz), Rio Pardo, Santa Cruz (do Sul), Santa Maria, São Leopoldo, São Lourenço, São Sebastião do Caí, Taquara (do Mundo Novo), Teutônia e Uruguaiana,
Em exposição desde produtos agrícolas e derivados, a madeiras, minérios e produtos artesanais procedentes das colônias alemãs, como móveis de toda a natureza, plantas medicinais e produtos farmacêuticos, calçados, tecidos e confecções (destaque para Rheingantz, fundador da primeira fábrica de tecelagem de lã em Rio Grande, 1874, e pioneiro na introdução de medidas previdenciárias para seus 200 empregados). Constavam ainda artefatos indígenas, coleção embriológica, arte (em vidro, arranjos florais, fotografias, pintura,
entre ela os quadros
de Pedro Weingártner,
então promissor
estudante na Alemanha), imprensa alemã (entre ela o Landwirtschaftliche Zeitung da Sociedade Agrícola de Teutônia). A indústria, além da nacional, estava representada por 255 firmas de Berlim, Bremen e Hamburgo, muitas com filiais no Rio Grande do Sul. Os artigos nacionais expostos repetiam os europeus, estes porém mais elaborados, como alimentos dietéticos, leite
conservado, salame e manteiga enlatados, papel para fotografia, camas com lastro de ferro, mesa elástica, etc. Por razões
não
bem
esclarecidas,
a exposição
sofreu
incêndio
ao seu
término, perdendo-se valioso acervo de vários colecionadores, entre eles a coleção de objetos indígenas de Carlos von Koseritz. Apesar do contratem-
po, foi um momento de grande afirmação, tanto do Brasil, como do Rio Grande do Sul, com destaque para a contribuição alemã (Flores, 1996, p. 61-75; Porto, 1934, p. 213-221).
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Hilda Agnes Húbner Flores
Imigração no Alto Uruguai 1890 a 1914
SO quarto período imigratório vai da República à I Guerra Mundial e continua, em sua formação, basicamente com a mesma variedade étnica do período anterior, procedente de regiões disseminadas da Europa. Os povoadores desse período tanto podiam ser imigrantes alemães, italianos, poloneses e de outras etnias numericamente minoritárias, como descendentes das “colônias velhas” anteriormente formadas.
Características imigratórias na República Por disposição do art. 64 da Constituição de 1891, a República transferiu aos Estados, terras devolutas para imigração. No Rio Grande do Sul essas terras localizavam-se em sua maioria na região do Alto Uruguai. O Estado passou a administrá-las sem conhecer ao certo sua real extensão. Isto oportunizou continuadas fraudes por parte de especuladores que se diziam donos das terras, passando a lotear e vendê-las aos colonos, como nas décadas de 1870-1880 já o havia feito, por exemplo, Chico Santos, nas proximidades de Nova Petrópolis, onde, ao exame à luz dos documentos, de repente s uma centena de colonos se viram em situação irregular, sem direito às terra favoonde moravam. A situação era tão frequente que decreto de 1905 veio conrecer os colonos que de boa fé haviam adquirido lotes irregulares. Um trole mais efetivo da concessão de terras públicas, que vinha regularmente de 1910 desrespeitando a lei de 1850, reduziu este tipo de fraude por volta (Amstad, 2000, p. 55).
o imiA República adotou a chamada “imigração espontânea”, em que
grante ou migrante adquiria seu lote rural nas Colônias que o Estado abria no Alto Uruguai. Face à real dificuldade de pagamento, por parte dos colonos, na década de 1890 emitiu-se um total de 24 decretos de prorrogação do História da imigração alemãno RS
O/
prazo de pagamento (meio ano ou mais), direcionados a um segmento ou à
totalidade dos imigrantes. Para estimular a colonização, o governo manteve uma série de benefí. cios aos imigrantes destinados às colônias oficiais: viagem grátis por parte do governo federal, hospedagem e alimentação, cuidados médicos e concessão de medicamentos, adiantamento em dinheiro até a construção da casa; continuava o trabalho quinzenal remunerado, de abertura de estradas, possibilitando atender às primeiras e mais prementes necessidades. Eram benefícios instáveis, suprimidos que foram em 1890, restabelecidos em 1892, sus-
pensos no ano seguinte, restabelecidos em 1896 e alterados em 1898 (Roche, 1969 p. 123). ,
Em
1895 foi criada a Diretoria de Terras e Colonização, órgão da Se-
cretaria de Obras Públicas, com um agente de imigração em Rio Grande e outro em Porto Alegre, um diretor e uma comissão na sede da cada colônia
— O que era pouco pessoal para todas as solicitações de loteamento, venda de lotes, assentamento de colonos, constatação de fraudes e outro leque de problemas. Era política da República estimular a integração, dando preferência à “colonização mista”, que intercalava povoadores de etnias e procedências diferentes — alemães, italianos, poloneses. A integração que se esperava devia favorecer o processo de nacionalização brasileira, em oposição à propaganda pangermanista oriunda da Alemanha desde a década anterior. Contudo, a maioria dos colonos, alheios a conotações políticas, preferia
serem assentados ou se reassentar próximo a parentes, amigos ou pessoas do mesmo credo, mesma língua ou grupo étnico, como sempre haviam procurado fazer. A imigração italiana continuou mais numerosa que a alemã, esta representando cerca de 15% do total dos ingressos nesse quarto período imigratório. Poloneses localizaram-se majoritariamente no Estado do Paraná, desde a década de 1880. A Revolução Federalista, entre os anos de 1893-1895, reduziu o fluxo imigratório, só restabelecido a contento em 1903. A média mensal planejada era de 100 imigrantes. Quando em 1909 chegaram, ao mesmo tempo,
1.360 imigrantes, houve grande dificuldade para alojamento e assentamento de número tão elevado, esperando os recém chegados em Ijuí, amontoados,
até serem encaminhados para as colônias estaduais, preferentemente, e particulares.
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Colônias do Alto Uruguai Na quarta fase imigratória lotearam-se Colônias no norte e oeste do Estado, reforçando também as formadas na fase anterior. Houve colônias ofi-
ciais e particulares, estas iniciativa de empresários loteadores, algumas polarizando a população de determinada região. Na falta de malha hidrográfica, predominou o transporte ferroviário. Em cada estação de trem, formava-se um pequeno núcleo, não raro evoluin-
do para sede de distrito e depois para município. São desta fase:
Ijuí, ex-Barracão. Foi em 1889 um complexo de 100 quilômetros qua-
Planalto. A do nias Colô às ção inua cont em ada, lote ser para a terr de os drad o dos anos. área se desdobrou em dezenas de municípios e distritos, ao long
am rar mig s quai dos e part ana) Sant do voa (Po s nese polo es rant imig Recebeu para Jaguari, alemães-russos,
italianos, austríacos, suecos, letos e descen-
dentes de alemães oriundos das primeiras décadas do século XX, dentro da mobilidade demográfica O governo estadual planejou
antigas colônias. Principalmente nas três recebeu número expressivo de migrantes, ocorrida no Estado. Ijuí para ser uma colônia mista, com vá-
espontâneo, o ent pam gru rea reu ocor o, tud Con da. Pica ma mes rias etnias na
das várias os gios reli ou s urai cult es ress inte ndo nde ate o, cred ou s por povo mimini das, déca das o long ao e zado rali gene tiu exis que etnias — fenômeno de culto, esvae rdad libe deu que a, blic Repú da ição titu Cons a zado com jas cristãs. ziando o gregarismo religioso estimulado pelas várias igre tornou-se pólo ue porq i gua Uru do a baci da a ativ ific sign nia colô foi Ijuí ções urba pert eu Sofr . nias colô gas anti as com rcio comé do regional, manten partir de 1911, quana go fôle u omo ret e 1895 de sta rali Fede ção olu Rev na agrícoão duç pro a ar dobr fez Alta Cruz de l rama ao ria oviá do a ligação ferr la e triplicar a exportação. Emancipou-se em 1912. à indúsliar fami to sana arte do uiu evol Ijuí l, gera em nias Como as colô tria, envolvendo setores como:
madeira, olarias e cerâmica, couro e metal.
strias, destaindú de nas deze com a cont Ijuí Hoje as. outr e suíno-indústria (Weber, 1994). ivas erat coop des gran das uma , ijuí Cotr a cando-se
junto à cidade, onas, Etni das ue Parq inal orig um tém man o O municípi
emora eventos. com e ive conv ca, ísti cter cara sede tem co étni o grup de cada
icípio de São mun no ada cri al adu est a ôni col s, sõe Mis das i an ar Gu u Santo ngi ati ia rov fer a ndo qua se euolv env des 1, 189 em Luiz Gonzaga
, ros out e os uss s-r mãe ale , ses one pol por foi que a oad pov Ângelo, em 1905,
o Históuiv Arq no nto ame ant lev o und seg s, nte ere dif ias etn num total de 15 pio desde 1959. icí mun É 4). 200 es, dor voa (Po Sul do nde Gra Rio rico do Também
inante de podom pre ção ula pop ram ebe rec cos Mar São e i Jaguar
loneses.
História da imigração alemã no RS
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69
João Eickhoff
João Eickhoff acompanhou, como médico prátic o licenciado, os percakos da Revolução de 1893 na região do Planal to. Depois radicou-se em Ijuí. Suas memórias estão publicadas em O doutor maragato (Editora da UFRGS, 199 8. Trad., apres. e notas de Hilda A. H. Flores).
7O
Hilda Agnes Húbner Flores
o as de com as vad pri bém tam as vehou , ais adu est as ôni col das par A Pie ch gli Ste Cel. s, sõe Mis das a óri Vit va, baú Tim , 08) (19 Rondão, Buriti que 1, 190 , mer Som ue riq Hen de a tiv cia ini i, gua Uru ao ofe ítr rapó, esta lim 1895 de des o ead Cad ro Ser i. and Tup e o unf Tri de cos óli cat trouxe migrantes de Venâncio es ent ced pro s ano ren de e nos era pom de tes den recebeu descen
s da Rússia. mãe ale e s aco trí aus de m alé Sul, do ira hoe Cac e o Aires, Lajead na colonização do e ant ort imp el pap teve r ula Pop ão Uni ade ied Soc A terras iu uir adq r, ula Pop ão Uni xa Cai da tes ien ven pro Estado. Com recursos Colônia de a 2 190 em do dan fun s, sõe Mis das i ran Gua de mata a oeste de católico nte ede exc com e s nte gra imi com go) Lar ro Serro Azul (atual Cer e es Air io ânc Ven ela, Estr o, ead Laj o, de São Leopoldo, Caí, Montenegr mis a zon da r ado adi irr tro cen -se nou tor a Santa Cruz do Sul. Esta Colôni Seguindo se. nen ari cat te oes o até ão zaç oni col a sioneira e também estendeu Lucena, to Por o inh viz seu e s sõe Mis das as pin Cerro Largo, houve Cam a de ôni Col a r ula Pop ão Uni da ão zaç oni col junto ao rio Uruguai. É também te de Porto Novo
no extremo oes 0 192 de ada déc na a dad fun , (Itapiranga)
Santa Catarina.
2 192 em que to, nal Pla do ião reg na Passo Fundo era extenso município a-mate erv de es dor pra com 13 e tes ian erc contava com 22 artesãos, 12 com se formaram ião reg na r, ado adi irr pio icí Mun espalhados pelas cercanias. noro eçã dir em m chi Ere e i and Sar Soledade e Nonoai ao sul, Carazinho, etnias, € ras out e nos lia ita s, mãe ale de te, todos povoados por descendentes surgiram aré and Tam € a our Tes a, pad Cha 0. todos município antes de 195 ao sul de Palmeira das Missões. fundada em al du ta es a ni lô co foi i, ua ug Ur rio Erechim, no vale norte do s € ãe em al de es nt de en sc de e , 14 19 até 1908. Recebeu imigrantes europeus o, que ul Pa o Sã ari Ma a nt Sa ia ov rr fe à italianos. Desenvolveu-se graças utos agrícood pr s do e ra ei ir de ma ão aç tr ex da possibilitou pronta colocação
em o pi cí ni mu a o ad ev el o nd se o, ls pu las. A I Guerra Mundial deu-lhe im e Erebango. Barro , de an Gr l io Pa de as ni lô co as a uí 1918. Poss
colôi Fo í. Iju de a ni lô Co da io ór it terr Erebango situava-se também em r Colonização Judaica, financiada po
de a hi an mp Co la pe a ad nd fu a ic da ju a ni em Santa , on ps li il Ph de a ni lô Co a u io cr milionários judeus, que em 1904 a e ri Ma a nt Sa e tr en , go an eb Er em mãos, Maria, e em 1909 a de Quatro Ir cercas, , ão lp ga , sa ca m co , es ar ct he 0 15 Marcelino Ramos. Os lotes eram de 1916 o rae sd De o. ad ar um e s lo va ca is do 14 vacas, quatro bois, um touro, deira ma da to en am co es o iu nt ra ga a Clar mal ferroviário Erebango-Baroneza se desfoi os mã Ir ro at Qu de a ni lô Co a dos pinheirais nativos, após o que a que estade comércio mo ra o am ir er ef pr es nt ta bi ha us povoando, pois se
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vam habituados, transferindo-se para Porto Alegre, Erechim, Passo Fundo e Santa Maria, dedicando-se também a profissões liberais.
Antigas estações ferroviárias evoluíram para municí pios. De Erechim se desmembraram Getúlio Vargas em 1934, Marc elino Ramos em 1943 e
Aratiba em 1955, às margens do rio Uruguai, Gaur ama em 1954 e Três Arroios em 1989.
Panambi, ex-Neu Wiirttemberg, foi colônia privada, fun dada em 1899 no então município de Cruz Alta, por Hermann Meyer. Proprietário de edi-
tora em Leipzig, encarregou do povoamento a Companhia Hermann & Menezes, que trouxe evangélicos da Suábia até 1914, e mig rantes evangélicos das antigas colônias, notadamente de Teutônia. Durante a | Guerra Mundial a sede mudou de nome, de Elsenau para Panambi. Grande inc entivador pelo progresso foi o pastor Germano Faulhaber, imigrado em 1902 e guindado a diretor da Colônia em 1909. A par do crescimento econômico, zelou ele pelo aspecto cultural, fundando Cooperativa Agrícola que cui dava da vida social, escolar e religiosa. O excedente populacional de Panamb i migrou para Xingu (1897), Erval Seco (1927) e Júlio de Castilhos, alé m de Chapecó e Peperi, no oeste catarinense. Hoje Panambi é forte parque industrial, conhecido como a “cidade das máquinas”, cultivando também suas tradições germânicas (Amstad, 2000, p. 128-130). Não-Me-Toque foi iniciativa do “Cel.” Alberto Schmitt e de Opitz, que fundaram a então Colônia do Alto Jacuí, no município de Passo Fun do, tornando-se sede de colonização na década de 1890. Recebeu alemãe s e teutos das colônias velhas (Caí, Montenegro, Estrela e Lajeado), que mig raram para lá até o período de entre-guerras. A economia predominante desde o início foi a da extração da madeira, multiplicando-se serrarias, marcen arias e olarias. A região do Alto Uruguai cresceu rápido. Alemães e italianos suplantaram Os lusos; grupos minoritários de eslavos, poloneses e russos povoar am as colônias
oficiais.
Brotaram
oficinas
familiares,
muitas
evoluindo
para
pequenas indústrias. Centenas de serrarias derrubavam os pinheira is nati-
vos. Só em Passo Fundo e Cruz Alta havia 450 serrarias em 1924, das quais
139 em mãos de alemães. Cada tronco de pinheiro, vendido a meio mil réis, fornecia três a cinco dúzias de tábuas. As sobras da madeira eram empilhadas e queimadas periodicamente. Ainda não se falava em con trole ecológico.
Outras Colônias foram implantadas, como Sald anha Marinho, que recebeu 50 famílias de Rincão del Rei, próximo a Santa Cruz; tornou-se 72
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município em 1955. Ibirubá (ex-Gen. Osório), desmembrado de Cruz Alta, foi povoado desde 1900 por maioria de evangélicos dos vales do Taquari e dos Sinos. O município vizinho, Cel. Selbach, é iniciativa do comerciante Jacó Selbach, que em 1897 adquiriu terras e as povoou com católicos, excedentes das colônias antigas. O limítrofe Tapera recebeu católicos e evansélicos, que desenvolveram serrarias. Também em Ernestina, fundado em 1900, predominaram as serrarias. Soledade, recebeu alemães na parte setentrional, na década de 1890. A ocupação alemã de Sobradinho é de 1914. Guaporé e o lindeiro Anta Gorda foram ocupados por alemães e italianos. O esgotamento das terras de mato devolutas, às vésperas da 1 Guerra Mundial, e divergências na aplicação de recursos, entre a União e o Estado, levaram ao Decreto Estadual 2.098, de 13.7.1914, que sustou a imigração oficial no Rio Grande do Sul. Entretanto, continuou
a haver, durante a 1
Guerra Mundial, em escala menor, a migração interna e a fundação de colô-
nias particulares,
como
Cel. Weidrich
1969, p. 125-130; Selbach, 1984, p. 103).
(1915),
e Sarandi
(1916)
(Roche.
Revolução de 1893
autoritaA Revolução Federalista de 1893-95 foi uma reação contra o sição opo a ou alij ica úbl Rep da io iníc no que sta tivi posi o ern gov rismo do degolas e fucom , tica polí ão uiç seg per e tas len udu fra es içõ ele de o mei por Castilhos assuzilamentos. Quando, em fevereiro de 1893, Júlio Prates de
de 10 ca cer e ão siç opo a com o log diá a iti adm não ado Est do o ern gov miu o Gaspar Silveira ia. gua uru ira nte fro na s ado ugi ref m ava est tas lis era fed mil de Montevidéu. Martins, o chefe federalista, comandava a reação a partir do nde Gra Rio o u adi inv ens hom 400 com a aiv Sar o ind erc Gum Foi quando Brasil. do l civi rra gue l crue s mai a ndo cia ini te, oes sud a teir fron Sul pela com perseguições e degolas de ambos os lados. ha pan Cam da s pio icí mun nos ou atu ção olu Rev a ano, ro No primei (Dom
Pedrito,
Santana
do
Livramento,
Jaguarão,
São
Gabriel),
encami-
colonização, de a zon iga ant A . ado Est do e nort e te oes nor o para -se ndo nha os. Paent cim nte aco dos gem mar à r fica a eci par co, béli o ári distante do cen animais e s, ero gên de ial anc man rico o 4 189 de do mea de des que recia, por facções beligeranas as amb de a mir na caiu as ôni col nas nte ste exi os soldad tes.
dois grupos reA documentação mostra que na colônia alemã atuaram
ro no vale do Taout e os Sin dos rio do vale no um s: into dist s rio oná voluci to vei pro em rra gue da is rma ano as nci stâ cun cir as m ara liz quari. Ambos uti próprio.
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Na região do Sinos, os cunhados Antônio Corrêa e Leôncio Leão, eram imediatos do Cel. Belizário Batista Soares, chefe maragato nos Campos de Cima da Serra. Residiam nas imediações de Nova Petrópolis, colônia que inicialmente pouparam enquanto faziam sucessivas incursões pelas “colô-
nias velhas”, com o objetivo de roubar cavalos, saquear vendas, furtar em residências e galpões, exigir dinheiro, arregimentar colonos para suas filei-
ras. Uma a uma, as colônias foram atingidas pelo bando de Corrêa e Leão:
Picada Café, Ivoti, Walachei, São José do Hortêncio, Montenegro, Linha
Pinheiro Machado e por último as Linhas Olinda e Faria Lemos em Nova
Petrópolis. Terror especial espalhou o preto Malaquias, subalterno que de-
golava à menor reação. Acabou sendo assassinado em uma emboscada, pelos colonos de Dois Irmãos, quando aí atuava com seu bando. O rastro de estragos da Revolução no Vale dos Sinos foi estimado em 40 contos de réis, quantia elevada para o minifúndio colonial. Na região do Taquari a Revolução teve a peculiaridade de apresentar, além de pica-paus (governistas) e maragatos (revolucionários), um terceiro
“partido”, o dos serranos ou ervateiros, posseiros de terra s com ervais nativos, desalojados na década de 1870 quando do loteamen to para colonização, por efeito da Lei de Terras de 1850, que proibiu concessão fundiária gratuita. Os serranos procediam de Quatro Léguas, ao norte dos municípios
de Lajeado, Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires, abrangendo terras de Soledade, Veranópolis e Passo Fundo. Autodenominavam-se de maragatos e,
como eles, portavam fitas vermelhas. Esquecidos social e economicamente, aproveitaram a Revolução para recuperar direitos perdidos. Além desses excluídos, houve, na região do Taquari, a existência de lideranças locais, chefes e chefetes mais interessados em proveito pessoal que
em princípios doutrinários: José Altenhofen, que iniciou a Revolução inva-
dindo Estrela; o alemão Pedro Jungbluth; o ervateiro Fritz Limo (José Frederico Lehmen?); o mulato José da Rocha, ex-policia l cruel e arbitrário; Palmeira (José Antônio de Souza), índio anal fabeto e meio místico; cap. Antônio Ribeiro dos Santos; o liberal desiludido Aníbal Geraldo Pereira, além de Zeca Ferreira, o mais importante, ex-ervateiro e monarquista sau-
dosista. Esses chefetes atuaram em bandos pelas sedes e pelo interior de Estrela, Lajeado, Arroio do Meio, Venâncio Aires e Santa Cruz do Sul. Taquari liderava o centro da reação e foi o menos atingido. Os
serranos
percorriam
as colônias
em
bandos,
praticando
ameaças,
lação indefesa refugiava-se no mato à aproximação das hordas. Santa Clara do Sul, então distrito de Lajeado, foi o último a sofrer invest !
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ida, em maio de 1895. Invasão an unciada, em carta
Memórias narradas por Maria Theresia Hennrich, então menina de 12 anos, in Der Familienfreund: 1953, p. 38-58.
Hilda Agnes Húbner Flores
: adquiriram am ar ar ep pr se al loc o çã la pu po da ns me ho ameaçadora, os 50 armas líder força gistro
militar sob o o nt me na ei tr m ra ze fi , re eg Al to Por em junto ao governo, do a uma no de m co am ir ag re o, sã va in da do an qu local José Diehl e, stência ficou resi re a ic ró he e ão ss re ag Da r. io ma s ze ve z de inimiga , chamach ba rm Fi r do eo Th a, rel Est de co di mé o pel documental feito
. ter a ri ve de e at mb co o ad ci un an o que s ido fer do para atender os
mo no do Taco s no Si dos e val no to tan , que ou oc ov pr A Revolução licos trazidos bé s to en im ec nh co s go ti an m se as iv at re quari, OS moradores colheram um JíEs a. for de igo per o r ta en fr en a par e -s am ir da Alemanha. Un navam ei tr , ia nc iê ed ob m va ra ju em qu a r) so der local (muitas vezes O profes alerta e de a em st si am ci le be ta es , es çõ ni mu € ordem militar, reuniam armas acessos nos s ra ho 24 da ar gu am av nt mo , as nh se de alarme, convencionavam ça de pi-
vam a for ga re ng co , os up gr bsu € os up gr em s do di vi das picadas, di em Dona u ce te on ac mo co o, ig im in O ar aç ch re cadas vizinhas, logrando lução, algumas vo Re a a ad ss Pa . Sul do a ar Cl a nt Sa Francisca (Agudo) e em ram-se em soma or sf an tr ras out as, int ext m ra fo sa fe de dessas sociedades de sego ri pe do an qu 3, 192 em sa fe de de s io ciedades de lazer, reavivando me 1893 de o çã lu vo Re a que r ra mb le be ca te en lm melhante os ameaçava. Fina os. nh zi vi re ent as nç re fe di s iga ant de s ça an também oportunizou ving menos recursos m co a nd ai e ã em al a e qu va no is ma Na colônia italiana, aatu r no me e tev o çã lu vo Re à , as st ni tu or op para cair na mira dos políticos e ção.
e Paraná, na ri ta Ca a nt Sa a par ão aç gr mi u vo ti mo A Revolução de 1893 Rio Grande do tos teu por , so os Gr to Ma de ão aç up oc além de uma primeira ores e Flores, (Fl cos íti pol os ss ce ex dos s vo ti gi fu do Sul
1999: Firmbach,
1995).
I Guerra Mundial
des0 00 0. 36 de ca cer ia hav mã, ale o çã ra ig im Em 1924, centenário da 8-169). 16 p. 9, 196 , he oc (R Sul do de an Gr Rio cendentes de alemães no s em isolada ca dé gas lon por ado fic ia hav e nt ge in nt co Grande parte desse usos e costumes e ad ed ci so em e es lar nos o and tic pra al, mento sócio-cultur a noção de dar pa ro Eu da do en az Tr s. rai est anc os pel ha an em trazidos da Al ciaen id ov pr es nt de en sc de s seu e s nte gra imi Os , escolaridade para os filhos anidarm ge a ar tiv cul e er nt ma de caz efi o mei am ar rn vam escolas, que se to ionais. nac s ola esc ver pro em o eir sil bra o rn ve go o de, omisso que foi de a des ão em al o sm ni ma er ng pa o , vel orá fav o ári Aproveitando esse cen
os os tod que o and ite ple , sil Bra no zes raí tar dei a av década de 1890 procur es de orium st co s seu a is fié em ss ua in nt co o nd mu o pel os alemães espalhad am cidadania. Esvi de l qua ao e , iam viv que em s paí do te en nd pe de in , gem História da imigração alemã no RS m 1
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se sentimento teve guarida principalmente entre os pastores alemães que trabalhavam no Rio Grande do Sul. Acontece que o sistema escolar teuto estava de tal maneira arraigado que, quando a República estimulou as escolas brasileiras, com o duplo obje-
tivo de desenvolver a indústria e anular a propaganda pangermanista que se alastrava, essas escolas foram mal vistas. O jornal evangélico Deutsche Post de 25.3.1907 teceu enérgicas críticas, vendo nas escolas nacionais uma
“Instância de deterioração da germanidade, inimiga da cultura alemã, do espírito e da fé dos teutos” (Meyer, 2000, p. 136). O problema se agravou quando o Brasil se posicionou ao lado dos aliados e contra a Alemanha,
em novembro
de 1917. Houve reação contra o
germanismo teuto. Pelos municípios teutos houve intensa propaganda nacionalista, evocando a necessidade de domínio da língua portuguesa como meio de se obter uma pátria unida. Algumas escolas chegaram a ser fechadas, com afastamento de professores, como em Ijuí, onde o professor alemão Roberto Roeber, concursado, foi afastado da direção da Grupo Escolar, apesar de seus quase 30 anos de magistério (Colling, 1994, p. 29-36). A curta permanência do Brasil na Guerra, que terminou em 1918, fez
com que as medidas restritivas não chegassem a criar raízes, de sorte que no pós-Guerra, serenados os ânimos, continuou a adoção da cultura e de princípios germanistas. Pastores alemães continuaram convictos da necessidade de ensino em alemão, tanto assim que o jornal Deutsche Post de 17.12.1921
sugere que o governo se preocupe com a escolarização de “milhões de crianças desassistidas de escolas” e não roube às crianças teutas “a possibilidade de aprender, ao lado da língua da terra, a escrever e ler em sua língua materna” (a alemã), um empreendimento que “não acrescentava custo algum para o Estado” (Meyer, 2000, p. 136).
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Pós I Guerra Mundial
»j pós a I Guerra Mundial, o governo passou a se preocupar novamente com o problema fundiário. Decidiu entregar terras só para nativos, incluídos os descendentes de imigrantes. A Divisão de Terras e Colonização sobreviveu até 1954, destinada a solucionar toda sorte de problemas relacionados à imigração. Havia então, no Rio Grande do Sul, cerca de 150 comunidades de imigrantes, nas quais 260 mil descendentes de italianos e cerca de 350 mil descendentes de alemães, equivalente a 1/6 da população do Estado (Amstad, 2000, p. 100; Meyer, 2000, p. 39; Roche, 1969, p. 125). Era preciso cuidar de colocar em termos legais o trato a ser dado a esse contingente.
Leis imigratórias Tânia Tavares arrola as leis da União nessa fase imigratória, uma profusão, que regularam a imigração e decretaram seu gradativo processo de extinção. O Decreto de 6.1.1921, alterado em 31.12.1924, considerou imigrantes todos os passageiros de 2º ou 3º classe, chegados em navio de uma das Companhias autorizadas pelo governo para introduzir gente no Brasil. No decorrer da década de 1920 o governo continuava interessado na nacionalização, cuidando de integrar o contingente de “estrangeiros ' no
-* país. Assim, o Decreto federal 19.482, de 1930, de novas áreas rurais se fizesse com migrantes e marginalizados, desestimulando a imigração. A tou a quota de imigrantes a 2% sobre o total já
determinou que a ocupação com brasileiros que viviam Constituição de 1934 limiimigrado de respectiva na-
cionalidade, nos 50 anos anteriores. A Constituição de 1937 reservou à União a competência da imigração e dois decretos de 1938 a declararam dirigida, submetendo
ao interesse do
governo a origem e destinação geográfica dos imigrantes. Agricultores e arHistória da imigração alemã no RS
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tesãos rurais, os preferidos para ocupação da terra, deviam ser assentados em zonas atendidas por meios de transporte e adquiriam o lote rural de 25 hectares à vista ou em três prestações pagáveis em dois anos. O Departa-
mento Nacional de Imigração encarregava-se de receber e alojar os imigrantes, fornecendo documentação necessária até o lugar de destino. O estran-
geiro que se naturalizasse em tempo hábil, recebia o título de imigrante “permanente”. Até 1939 houve possibilidade de transformar o “título temporário” em “título permanente”, uma maneira de aumentar a quota imi gratória de 2%. A Divisão de Terras e Colonização, DTC, criada em 1938 como órgão do Ministério da Agricultura, devia cuidar de assuntos imigratórios e mi gratórios,
solucionar
conflitos,
regularizar
propriedades
emancipações dos núcleos distritais. Em 1940, já em tempos de II Guerra Mundial,
e acompanhar
as
São Paulo possuía
36,17% dos alemães residentes no Brasil, contra 19,40% (13.715 indivíduos) no Rio Grande do Sul, 13,89% em Santa Catarina e 9,87% no Paraná (Roche, 1969, p. 155).
Entre 1939-1945, período da guerra, houve no Brasil 29 decretos reguladores da entrada e permanência de estrangeiros, resultando suspensa a imigração nos moldes tradicionais. A Constituição de 1946 reservou à União a principal competência imigratória. Desapareceu o sistema de quotas para ingresso no país, cabendo ao Conselho de Imigração e Colonização selecionar os imi grantes. Novos assentamentos deviam ficar próximos a meios de transporte e serem dotados de escolas onde se ensinava o português, com vistas à assimilação cultural e nacionalização. O Governo apregoava a mescla de origens étnicas, embora imigrantes e migrantes conservassem a preferência de se reassentarem por afinidades étnicas e de religião. O Decreto-Lei 3.059, de 14.2.1941, dispunha sobre a criação de colônias agrícolas rurais, espalhadas em vários Estados, destinadas à “cidadãos
brasileiros reconhecidamente pobres que revelem aptidão para os trabalhos
agrícolas”. Decreto 7.967, de 18.9.1945 legislou sobre o aproveitamento econômico e a elevação de nível de vida que se esperava dos assentados rurais. A Lei 163, de 5.1.1954, substituiu a DTC pelo Instituto Nacional de Imigração e Colonização, INIC, autarquia vinculada ao Ministério da Agricultura, que atuou principalmente nos Estados do Nordeste, onde implantou precários núcleos agrícolas.
Lei de 11.10.1962 criou a Superintendência de Política Agrária, SUPRA, também autarquia vinculada ao Ministério da Agricultura. Durou até que a Lei 4.504, de 30.11.1964, criou o Instituto Brasileir o de Reforma 78
Hilda Agnes Húbner Flores
Agrária, IBRA, e o Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário, INDA, ambos com atribuição sobre núcleos agrários, já existentes ou a serem cria-
dos. Em 1968, o IBRA absorveu as duas tarefas. Em 1970 foi criado o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, INCRA, que cuidou de assentamentos ao longo da Amazônia (Tavares, 1972, p. 32-35). A par dos novos assentamentos, houve uma série de emancipações entre 1954-1955: Cerro Largo, Giruá, Criciumal, Ten. Portela, Panambi, Aratiba,
Tapejara, Sananduva. A onda emancipacionista prosseguiu sempre, e hoje o Rio Grande do Sul está à porta de completar meio milhar de municípios. Assentamentos e desdobramentos
No pós-I Guerra Mundial, o Brasil ainda recebeu refugiados, mas a imigração entrou em queda livre, desestimulada, como vimos, por medidas legais restritivas. O registro de ingresso no país era feito pela União — numa
estimativa de cem mil entre 1918-40, sem indicar o destino dos imigrados, que se espalharam pelo território nacional.
Santa Rosa. No Rio Grande do Sul, prosseguiu a ocupação rumo ao Noroeste e Oeste, região de terras férteis que o governo reteve para valorização. Aí, em 15.7.1915, João Abreu Dahne, chefe da Comissão de Colonização de Terras do Estado, fundou a Colônia de Santa Rosa, desmembrada de Santo Ângelo. Os primeiros ocupantes foram os nacionais — dentro da política nacionalista do interventor Flores da Cunha — mas estes aos poucos foram absorvidos por migrantes alemães, italianos e poloneses procedentes das colônias velhas e das colônias do Planalto, de terras colonizadas e exau-
ridas. À região, conquistada à floresta do rio Uruguai, teve problemas iniciais semelhantes aos das antigas colônias, só que os colonos já contavam com algum recurso e com maior experiência que os primeiros imigrados. A economia inicial foi de subsistência, por falta de vias para colocação dos produtos. Buscavam em Santo Ângelo, Cerro Largo e Ijuí — colônias mais anti-
gas — o que não podiam produzir no lote rural. Com pouco dinheiro em circulação, funcionava a permuta, colono emprestando para colono ou confiando seu dinheiro ao comerciante, que lhe colocava banha, feijão, trigo, erva-mate e madeira, fornecendo os produtos industriais. A economia favoreceu o comércio e evoluiu para o surgimento de indústrias agrícolas (abate de suínos, fabricação de manteiga, de trilhadeiras, de máquinas agrícolas).
Povoado na década de 1920, Santa Rosa tornou-se município em 1931.
Antes da ferrovia, que chegou em 1940, rodovias precárias cortavam o ma-
História da imigração alemã no RS
79
to, nelas atolando os caminhões que levavam penosamente os produtos locais ao mercado de Porto Alegre, distante 625 quilômetros. Com o crescimento da região, desmembraram-se de Santa Rosa um total de dez municípios: Independência, a leste de Três de Maio, povoado desde 1915 com alemães, italianos e nacionais. Integrou antes o município de Santo Ângelo e o de Três de Maio. É município desde 1965. Três de Maio, a leste de Santa Rosa, em 1919 recebeu descendentes de italianos e poloneses e mais tarde católicos alemães, que receberam sua paróquia em 1929, integrando a Diocese de Uruguaiana. Emancipou-se em 1954, Horizontina, limítrofe ao rio Uruguai, terra estadual loteada pela firma Dahne &
Conceição a partir de 1926, recebeu população lusa e descendentes de alemães e italianos. Tornou-se município em 1954, desenvolvendo a indústria de colheitadeiras automotrizes. Tucunduva, desde 1920 recebeu moradores
procedentes de Bento Gonçalves, todos católicos, atendidos pelo pároco de
Santa Rosa, além de alemães-russos, não católicos: é município desde 1959, Tuparendi, recebeu migrantes desde 1923, lusos e alemães luteranos. Município desde 1959. Alecrim foi empresa madeireira antes de ser loteado em minifúndios de 25 hectares; último município da Grande Santa Rosa, povoado em 1933, mudança feita em carroças, por estradas precárias; católicos, os moradores receberam assistência de Santa Rosa e depois, de padre argentino. Emancipado em 1963, teve apenas um prefeito eleito quando a Revolução de 1964 decretou o município área de segurança nacional, ao lado de Horizontina, Tucunduva, Tuparendi e Porto Lucena, todos limítrofes com a Argentina. Santo Cristo, loteado em 1911 pela Companhia Colonizadora Rio-Grandense, com estímulo do jesuíta Max von Lassburg. Na demarcação dos lotes rurais, o engenheiro Carlos Kulmey levou em conta os acidentes geográficos, o que, ao lado da identidade religiosa (teutos católi-
cos) favoreceu o desabrochar da Colônia. Município desde
1955, Santo
Cristo desenvolveu a triticultura. Boa Vista, Colônia loteada em 1910 em
terras que Dr. Horst Hoffmann adquirira do Estado, teve quadras urbana s
demarcadas, destinada que fora para ser sede, Porto Lucena foi povoado na
década de 1920 por suecos, poloneses, alemães e italian os procedentes de Cerro Largo, Guarani das Missões e Campinas das Missõe s. Limítrofe ao
rio Uruguai, desenvolveu comércio fluvial. É município desde 1955. Campinas das Missões, projetada pela Companhia Colonizadora, foi povoada desde 1902 por eslavos, depois por alemães católicos das antigas colônias,
que vinham até Ijuí de ferrovia, seguindo com carroças puxadas a boi ou cavalo. Seu território esteve incorporado a Santo Ângelo e depois Santa Rosa, até se emancipar, em 1963. Cândido Godói teve suas terras medidas por Cândido Godói, quando secretário de Obras Públicas do Estado; desde 1918 recebeu colonos alemães e poloneses, ambos católi cos, que no ano seguinte 80
Hilda Agnes Húbner Flores
Igreja Matriz de Santa Rosa.
História da imigração alemã no RS
81
ergueram sua primeira igreja. É município desde 1963, com terras desmembradas de Santa Rosa e Giruá. Com a melhoria das estradas, nas décadas de 1950-1960 a agricultura evoluiu para pecuária: criação de suínos em currais e chiqueiros, sem tecnologia, e surgimento de frigoríficos. Esgotadas as terras, repetiu-se na Grande Santa Rosa o ciclo da saturação populacional observado a seu devido tempo em toda a zona de minifúndio. Santa Rosa reforçou então a migração para o oeste catarinense e do Paraná, a ponto de se descapitalizar. Na década de 1960, se desenvolveu a triticultura e o cultivo da soja
(Santa Rosa é o berço nacional da soja). Iniciava a era da tecnologia, com financiamento bancário para recuperação do solo e aquisição de máquinas para plantio e colheita. Esses novos compromissos forçaram o produtor a plantar área maior para fazer face às dívidas bancárias contraídas. E dessa maneira, o produtor rural, que antes vivia peculiaridades culturais de sua etnia, perdeu sua autonomia, preso à monocultura imposta por regras internacionais dos grandes grupos econômicos. As comunidades iniciais, coesas em torno de valores sociais e de controle etno-cultural, cederam espaço para
a economia de mercado. Muitos colonos, vencidos pelas imposições econômicas, entregaram a terra em pagamento de dívidas e migraram para a periferia urbana onde, no anonimato e sem preparo profissional, esperam melhorar de vida (Schallenberger, 1981, p. 72-131). Recordo a “vila do lixo” que surgiu em um subúrbio da cidade de Santa Rosa, de ex-colonos proprietários de terra sobrevivendo como papeleiros ou ocupações similares. Roque Gonzales, povoado por alemães católicos, foi inaugurado com missa solene em 1927. Desmembrada de Pirapó, desenvolveu-se em torno
da capela-escola construída na área reservada pelos loteadores Cardoso & Schwengber.
Sua igreja erguida na década de 1950, foi a última da região
construída em estilo neogótico, próprio da colonização alemã. Três Passos absorveu parte do contingente emigratório de Santa Rosa. Diversos de seus distritos transformaram-se em municípios: Campo Novo, Criciumal, Redentora, Santo Augusto e Tenente Portela. O desenvolvimento de toda a zona de colonização mais recente, no nor-
te e noroeste do Estado, conta com esparsas monografias locais, mas carece de um estudo global e profundo.
Enxamagem Na região oeste do Estado surgiram com regularidade povoações e vilas, estas sedes de distrito, distando mais entre si que nas colônias antigas, por causa da grande extensão geográfica. Toda a região da mata uruguaia teve povoamento acelerado, observando-se desde as primeiras décadas do 82
Hilda Agnes Húbner Flores
século XX,
nas colônias limítrofes ao rio Uruguai, uma colonização em
marcha, buscando a província argentina de Missiones e o oeste brasileiro,
nos Estados de Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso. Por volta de 1940 repetiu-se o fenômeno que Jean Roche denomina de enxamagem: o processo migratório em que os filhos do colono procuram alhures novas terras para se estabelecer. Fatores diversos convergiram para essa decisão: esgotamento da terra, ausência de tecnologia agrária, rarefação
das terras devolutas, surgimento de associações confessionais que assenta-
vam colonos respeitando identidade de religião e etnia, quando o governo
preferia a colonização mista. Decisivo foi também o fato da prole elevada, ficando as famílias incapazes de abrigar no lote rural paterno a todos os filhos: 9,6 na primeira geração, contra 6,3 na segunda geração e 3,2 filhos na terceira geração. Roche aponta para um grande conservadorismo na profissão de agricultor, obrigando a uma crescente migração, em busca de terras: 85% na primeira geração, 80% na segunda e 70% na terceira geração. Mesmo os filhos
que não seguiam o trabalho da lavoura, escolhiam profissões que não os afastavam do mundo rural, como artesãos, ferreiros, moageiros, motoristas de caminhão. Acostumados ao meio rural, os colonos procuravam empregar
seu capital excedente na aquisição de novas terras, para ocupação posterior de filhos casadoiros ou para revenda. Para atender à demanda fundiária, surgiu razoável número de companhias de loteamento, rio-grandenses ou catarinenses, constituídas por filhos de colonos que compravam áreas de terra e as loteavam com lucros não raro especulativos, como aconteceu principalmente no oeste do Paraná, com propaganda enganosa ou no mínimo muito exagerada. Santa Catarina absorveu 76.000 rio-grandenses e Paraná, 15.000 — um
total aproximado de 3% de nossa população. Parte do excedente demográfico de Santa Rosa buscou, na década de 1920, a região entre Chapecó e o Rio do Peixe, nascendo as colônias de São Miguel e Bom Retiro. Rio Branco a partir de 1918 recebeu excedentes de Caxias; Joaçaba e Capinzal receberam-nos de Erechim, Getúlio Vargas e Lagoa Vermelha; Piratuba, do município de Passo Fundo; também Concórdia, Xapecó, Porto Feliz e Mon-
daí foram povoados por rio-grandenses na década de 1920. Porto Novo, hoje Itapiranga, no extremo oeste catarinense, fundado em 1926 pela Sociedade União Popular, fez promoção entre o excedente demográfico católico das colônias de Santa Cruz do Sul e circunvizinhas. Sua direção esteve a cargo de Carlos Rohde, cuja esposa, Maria Rohde, deixou obra comemorativa ao jubileu de prata, com excelente inventário dos primeiros 25 anos: Pioneer-
geist Vater Erbe: wie eine Frau eine Urwaldsiedlung wachsen sah. A obra está traduzida. História da imigração alemã no RS
83
O Paraná foi apresentado como a “nova Canaã”. Sociedades de Colonização exaltavam a fertilidade dos lotes rurais, de 24 hectares e já plantados
com cafezais. Nasceram Xopin e Santa Bárbara próximo à União da Vitória,
Pato Branco, Toledo, Maringá, Icara. A busca continuou na década de 1950
até Mato
Grosso, onde a Sociedade de Colonização
oferecia 24 hectares
plantados com 5.000 pés de café. O êxodo rural era então de 5% de nossa população. São dessa época urbes como Cidade Medianeira, perto da Foz
do Iguaçu, e Clevelândia. A enxamagem ocorreu
também
em outro sentido,
principalmente
nas
antigas colônias, desde meado do século XX, quando o excedente populacional demandava para Porto Alegre, São Leopoldo, Novo Hamburgo, San-
ta Cruz do Sul ou outras cidades coloniais industrializadas (Roche,
1969, p.
354-355). Hoje em dia, cada vez mais os lotes rurais e mesmo cidades menores pouco industrializadas são abandonadas pela geração jovem, que busca novos meios de subsistência em centros maiores, quer como operários ou como empregados em atividades terciárias. Seus filhos buscam no estud o, se possível em Faculdade, meio de ascensão profissional e social.
Campanha de Nacionalização Quando na década de 1860 o Papa Pio IX lançou uma campanha de reação às idéias liberais francesas espalhadas pela Europa, na Alemanha se formou uma articulação político-religiosa de oposição: o Kulturkampf, luta pela cultura, nascida do confronto entre o conservadorismo religioso e o liberalismo estatal. Os jesuítas alemães, que defendiam a posição con servadora do Vaticano, agiam com bastante determinação e acabaram exp ulsos por Bismark. Muitos se refugiaram no Rio Grande do Sul, atuando junto à colônia alemã aqui radicada.
Além da religião, dedicaram-se à expansão do ensino, a exemplo do que Já vinha ocorrendo na Alemanha desde o meado oitocentista. Com apoi o de Dom Cláudio Ponce de Leão, bispo de Porto Alegre (1890-191 2), delegaram às comunidades rurais a tarefa do ensino primário, via escolas comunitárias, assumindo eles próprios o ensino mais avançado. O professor católico passou a ser considerado agente importante de propagação dos princípios doutrinários conservadores, para o que recebeu orientaçã o dos jesuítas e
formação em internatos de cidades coloniais e em escolas normais para formação dos mestres (Kreutz, 1991, p. 63). Era o cerne do pangermanismo, que visava a união da população alemã, na Alemanha e fora dela, doutrina política em form ação desde a unificação da Alemanha, em 1871. No Rio Grande do Sul o pangermanismo expressou-se como uma realidade que não questionava a cidadania brasileira por 84
Hilda Agnes Húbner Flores
parte dos teuto-brasileiros (nascidos no Brasil), mas adotava elementos da cultura e da maneira de ser e de expressar alemãs, o Deutschtum, sentimento estruturado na vivência do lar germânico e institucionalizado pela imprensa e pela rede de escolas de ensino alemão. O Deutschtum se opunha à idéia de Nação brasileira. A igreja evangélica estimulou igualmente este sentimento de germani-
dade. Os pastores, a par dos ofícios religiosos em língua alemã, assumiam pessoalmente o ensino, quando menos para capacitar os evangélicos à prática da leitura da Bíblia, Junto com o apoio financeiro que o Seminário Evangélico para Formação de Professores recebia de instituições alemãs, vinha orientação doutri-
nária trazendo embutidas as idéias pangermanistas, com pretensões de reunir alemães e descendentes de todo o mundo em uma unidade cultural, visando tornar a Alemanha uma potência forte, sem que isso implicasse em serem considerados traidores nos países onde nasceram ou viviam. Comunidades de Porto Alegre e São Leopoldo passaram a contratar professores alemães ou formados na Alemanha, que naturalmente passaram a defender
o binômio cidadania brasileira x germanidade (Meyer, 2000, p. 147).
O governo rio-grandense positivista, implantado no início da República, passou a combater o analfabetismo de 74%, antagônico à proposta oficial de industrialização — para o que estimulou a rede de escolas públicas, onde obviamente se ensinava em português. Era um passo sem precedentes pró nacionalização, pois até então o governo delegara a maior fatia do ensino aos imigrantes e descendentes.
Os evangélicos, cientes de sua germanidade, revidaram a essa campa-
nha de nacionalização. O jornal Deutsche Post, em 1907, acusava as escolas
públicas de ferozes inimigos da germanidade, por pretenderem subtrair o ensino da língua alemã e com ele a força de espírito e a energia do Deutschtum. O mesmo jornal, em 1911 dirige tríplice crítica às escolas públicas do Estado:
que
não
2000, p. 42 e 136).
ensinavam
o alemão,
nem
religião,
nem
canto
(Meyer,
Em réplica, desde 1912 o governo brasileiro passou a fornecer livros
didáticos em português e quando, em 1917, se colocou ao lado dos países que combateram a Alemanha, ordenou o fechamento de Seminários e proi-
biu o uso da língua alemã em escolas e igrejas. Instituições paralisaram,
jornais pararam de circular, algumas casas comerciais e clubes germânicos foram saqueados (Becker, 1957, p. 171). Da parte da igreja católica, Dom João Becker (1912-1946) não endossou proselitismo germanista, Em 14.12.1917 emitiu circular, proibindo aos padres o uso da língua alemã no decorrer das missas e serviços religiosos. Recusou aos jesuítas o apoio antes recebido de Dom Cláudio Ponce de
História da imigração alemã no RS tato ”
4,
Y
a"
85
Leão, a ponto de ameaçar controlar a Sociedade União Popular, instituição bandeira dos jesuítas pró preservação da identidade alemã no Rio Grande do Sul (Rabuske, 1974a, p. 164-169; Gertz, 1991, p. 38).
A I Guerra Mundial terminou em 1918 e por volta de 1920 as instituições tornaram a funcionar, retomando o veio da germanização. Católicos e evangélicos ampliaram a rede de escolas comunitárias, inserindo o aprendizado de português que o governo estimulara desde 1909, quando condicionou a subvenção a escolas particulares à inclusão de no mínimo duas horas diárias de aprendizagem de português. Às vésperas da II Guerra Mundial havia cerca de um milhar de escolas teuto-brasileiras, entre católicas, evangélicas e não confessionais — em umas poucas ensinando-se exclusivamente em português (Rambo, 1994, p. 25-77; Gertz, 1991, p. 43; Kreutz, 19944, p. 40; Becker, 1957, p. 171). Se por um lado, o ressurgimento da Alemanha pós I Guerra Mundial despertou admiração no Brasil, estudos recentes ressaltam a intenção de Hitler em infiltrar na América Latina uma rede promocional através de jornais, cinemas
e emissoras
de rádio, em favor do nazi-socialismo,
visando
expandir fronteiras políticas ou, quando menos, estabelecer um clima comercial favorável ao mercado dos produtos alemães. A colônia alemã e teu-
to-brasileira radicada no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, seria
excelente campo de ação para esse pangermanismo, alvo ideal para os quinta-colunistas, agentes alemães que se infiltravam nas colônias teutas com propaganda colaboracionista, divulgando notícias promocionais a favor do HI Reich. A professora da USP, Ana Maria Dietrich, mostra que a maior infiltração do Partido Nazista fora da Alemanha foi no Brasil, particularmente nos Estados meridionais (Revista Veja, 18 fev. 2004, p. 62-63; Flores, p. 504). 2001, O próprio presidente brasileiro Getúlio Vargas, que assumiu o poder em 1930, manteve uma política pendular, ora a favor dos Aliados, ora simpática à causa alemã. Só a partir da ditadura do Estado Novo, em 1937, intensificou a campanha da nacionalização e em 1942 colocou o Brasil oficialmente ao lado da Inglaterra e Estados Unidos, contra a Alemanha. Para reverter a influência das escolas teutas disseminadas pela colônia alemã, onde se ensinava em alemão e se cultivava valores germânicos, Vargas ordenou ampliar a rede de escolas oficiais, gratuitas, com ensino em português e com aprendizado de História e Geografia do Brasil. Uma série de decretos orientaram a nacionalização. Lei federal de maio de 1938 obrigou o ensino em português, por professor brasileiro nato; proibiu língua, bandeira e símbolos estrangeiros: tornou obrigatório o ensaio do hino nacional, hasteamento da bandeira brasileira e à realização de hora cívica semanal. 86
Hilda Agnes Húbner Flores
reforçou as medidas anteriores, criando escolas “nacionais” em substituição àquelas fechadas, enfatizando o ensino de História de
Decreto
1939
e Geografia do Brasil e o cultivo de heróis nacionais, como forma de reverter a germanidade e o nacionalismo alemão. Baniu-se o uso de língua estrangeira nas escolas, em cerimônias relígiosas. em associações e locais públicos. Os anos de 1942-1943 foram de culminância das truculências. Kipper exemplifica com Santa Cruz do Sul, onde
o “zelo” de policiais de menor escalão invadiu a privacidade do lar, a ponto de se infiltrarem no porão de residências para flagrar o cológuio do casal que dominava apenas a língua de berço (Kipper, 1979, p. 40; Kipper, 1994,
p. 122). Em meio a perseguições, prisões e atrocidades, fecharam-se associaescolas
ções,
e seminários,
notadamente
evangélicos,
acusados
de maior
comprometimento com a causa alemã. Heróis e datas cívicas alemãs deixaram de ser comemorados. A vida social estagnara, rareando bailes, teatros, comemorações religioso-profanas. Medo e intranquilidade reinavam. II Guerra Mundial No
Rio
Grande
do Sul
houve,
como
vimos,
alemães
e descendentes
simpatizantes do regime nazista de Hitler, assim como descendentes de italianos simpatizavam com o fascismo de Mussolini. A simpatia à causa nazista cresceu desde a década de 1930, na medida em que Hitler logrou reer-
guer a Alemanha do caos em que a jogara a I Guerra Mundial, industriali-
zando-a, gerando empregos e progresso. A essa época o próprio governo brasileiro dava mostras de simpatia pela causa alemã; no Estado, Flores da Cunha prestigiava iniciativas do ger-
manismo,
comparecendo
a festas da Colônia alemã. A euforia durou até
1937, quando o Estado Novo posicionou-se contra a Alemanha. Pastores alemães ou com formação na Alemanha — havia 34 nacionalsocialistas em 1933, dos 84 então atuantes no Rio Grande do Sul — aplau-
diam a ascensão político-econômica da Alemanha. Organizaram a “Juventude Alemã”, aliciando membros da Comunidade Combatente de cristãos
evangélicos, rapazes e moças, que praticavam exercícios para cultivo do corpo e do espírito, ao mesmo tempo que enalteciam valores patrióticos alemães. Em 1932, havia 12 desses grupos juvenis, crescidos para 79 em 1937, reunindo cerca de 3.000 jovens. Seu objetivo era a identificação com
a etnia alemã e com os valores da nova Alemanha. O entusiasmo pela causa
alemã cresceu e em 1936 o aspecto político-ideológico passou a se externar também em gestos, devendo os jovens se saudarem à maneira hitlensta: Heil (Salve), dito com braço estendido. Essa evidência de entusiasmo pela História da imigração alemã no RS
87
causa alemã existiu nas comunidades luteranas de Porto Alegre e de cidades
como São Leopoldo, Montenegro e Santa Cruz do Sul (Sperb, 1992, p. 161164; Dreher, 1984, p. 205-210; Gertz, 1991, p. 53). A partir de 1938, uma série de leis federais e estaduais combateram as manifestações “estrangeiras”, submetendo-as ao processo de integraçã o na-
cional. No Rio Grande do Sul, essa Campanha atuou em dupla via: através da repressão policial, violenta, desencadeada pelo chefe da Polí cia, Cel. Au-
rélio da Silva Py, e através da intervenção na rede escolar, pelo Secretário
de Educação J. J. Pereira de Souza, ambos da confiança do interventor fede-
ral Osvaldo Cordeiro de Farias. Da parte de Coelho de Souza, Decretos incentivando a criação de escolas públicas atingiram em cheio as escolas comunitárias mantidas pelas respectivas comunidades, promotoras de ensino e cult ura germânicas. Entre 1938-1939, dezenas dessas escolas foram fechadas, substituindo-se língua, bandeira e símbolos estrangeiros pela bandeira, hino e símbolos nacionais. Professores com domínio apenas da língua portuguesa foram nomeados para escolas interioranas, ocorrendo constrangimento quando, por falta de hotel, ficavam hospedados em casa de família onde só se falava em alemão. Convívio esdrúxulo com situações por vezes tragicôm icas. Decreto de 1939 determinou que a Educação Física fosse ministrada por oficial do Exército, fora do alcance das escolas rurais. Decreto de 1941 proibiu a adoção de livro-texto em língua estrangeira. Estava garantida a dominação nacional. No setor policial, Aurélio Py permitiu, em 1939, que a prédica em língua nacional fosse repetida “na mesma língua das pessoas presentes à cerimônia, se o número delas for bastante elevado ou Julgarem oportuno” (Weber, 1994, p. 114). De uma maneira geral, porém, a repressão de Py ocorreu de maneira
violenta. Ordenou ele o fechamento de socied ades culturais, confiscou bandeir
a, escudos, símbolos, medalhas e biblioteca em língua estrangeira, bem como proibiu
o uso da língua alemã. A partir do afundamento de navios brasileiros e declaração de guerra à Alemanha, abusos se multiplicaram, ate moriza
ndo a população. Uma palavra dita em alemão bastava para receber voz de prisão. Recordo meu professor do primário, Pedro Specht, no interior de Venâncio Aires. Pedagogo
prazer do mando ou por mero sadismo. Teutos investidos de força policial
formalizavam, pelo excessivo rigor, sua adesão à nova ordem reinante. Frequentes eram casos venais, cobrando-se taxas ou contribuições fantasiosas em proveito próprio, como o delegado de polícia de Santa Cruz do Sul que inventou o “imposto policial de funcionamento”, extorquindo de 308000 a 908000 réis por colono, conforme as posses de cada um. Foi dos raros casos de restituição, no pós-guerra, quando constatado que nenhum dinheiro do hipotético imposto havia entrado nos cofres públicos (Kipper, 1994, p. 127; Kipper, 1979, p. 40). Becker arrola a prisão de 30 pastores evangélicos (1/3 dos pastores na ativa), detidos em Porto Alegre ou na Colônia Penal Daltro Filho, acusados de espiões, ficando os demais sob vigilância, em meio à busca e apreensão de cartas, documentos, livros, livros de reza e livros tombo em alemão. Fo-
lhas religiosas dominicais deixaram de circular, reuniões e eventos foram suspensos (Becker, 1957, p. 173-175). A repressão teve seu clímax em 1942, quando o Brasil se colocou ao lado do bloco que combateu os países do Eixo — Alemanha, Itália e Japão — atingindo os imigrantes desses países, seus descendentes e seus empreendimentos comerciais ou industriais. Em Porto Alegre, inúmeros estabelecimentos comerciais e industriais foram depredados em patriótico vandalismo, de 18 para 19 de agosto de 1942, após o afundamento de mais um navio nas costas do Atlântico. Gertz lembra a Casa Lyra de Reinaldo Langer, Casas Krahe, Bohrer, Guaspari, a Firma Jacobi, além do jornal A Nação (Gertz, 1991, p. 72). A maioria dos excessos ficou impune a partir do incêndio criminoso, em 1949, do prédio da Central de Polícia em Porto Alegre, onde se armazenavam os processos-crime relativos à guerra. Nota-se esforço de historiadores e teses universitárias a buscarem documentação e depoimentos esparsos a respeito, para resgatar o capítulo negro das truculências cometidas. O rigor excessivo e a maneira atropelada como foram feitas as coisas,
durante o período da guerra, respondem por uma geração de semi-analfa-
betos que, tendo falado sempre a língua mãe de seus ancestrais, no decorrer
da II Guerra aprenderam a decorar símbolos cujos valores desconheciam, resultando incapazes de redigir um bilhete ou escrever uma carta. Foi o que
ocorreu em Santa Cruz do Sul, município onde das 136 escolas existentes, apenas 13 eram oficiais, com ensino em língua nacional. No decorrer de 1941, 30 dessas escolas comunitárias permaneceram fechadas, com grande prejuízo à alfabetização (Kipper, 1994, p. 123-124; 1979, p. 28-32, 41).
Na adequação dos Estados às leis nacionalistas, o Governo sul-riograndense, a par da poderosa máquina estatal de repressão, utilizou recursos promocionais. Criado o DAER, uma das primeiras estradas asfaltadas foi a História da imigração alemã no RS Ea
=
E
E A
no
Rh
apidsh “ATi
89
São Leopoldo-São Cordeiro
de Farias,
Sebastião do Caí,
1941, que, na visão do interventor
devia, além de escoar a produção,
entrelaçar núcleos
populacionais, resultando “a unidade espiritual pela qual tanto se bate o governo” (Gertz, 1991, p. 67).
Outra forma de promoção oficial ocorreu entre 1938-1943, quando 500
coloninhos passavam a Semana da Pátria em Porto Alegre. Hospedados de maneira cordial em lares lusos, alimentados com fidalguia (Cordeiro de Fa-
rias tomava as refeições com os meninos hospedados no palácio do governo), faziam visitas a fábricas e lugares públicos e participavam de calorosas comemorações cívicas — devendo resultarem sugestionados positivamente
dessa vivência exótica e retornar a seus lares, à escola e a sua comunida de para propalar a generosidade do povo brasileiro, contribuindo assim para a integração dos descendentes de alemães à comunidade nacional (Torr es e Torres, 1995, p. 83-94; Gertz, 1991, p. 65-66; Kreutz, 1994b, p. 46). Santa Catarina, onde a repressão durante a guerra foi igualmen te truculenta, buscou alternativa para essa medida promocional. Fundaram nas
comunidades teutas dezenas de Ligas Pró-Língua Nacional, destacan do alunos mais adiantados e com domínio do português para atuarem, no período de recreio das escolas, através de jogos e predisposição cordial, no sentido de transmitirem aos alunos iniciantes o domínio da língua nacional. Entre os Jogos, constava a elaboração de álbuns com figuras de herói s nacionais, com campeonato de permuta entre Ligas de outros educan dários (Monteiro, 1984, p. 100-103).
90
Hilda Agnes Húbner Flores
Processo socioeconômico
(Snvolve os aspectos de agricultura e pecuária, indústria e comércio, vias de transporte, que na zona colonial ofereceram características próprias do minifúndio, de ocupação demográfica mais densa que a da zona pecuarista da Campanha. Vejamos os vários aspectos: Agricultura
No Rio Grande do Sul a agricultura foi praticada em zonas de mata, pelo imigrante alemão e seus descendentes, pois o luso explorou a pecuária, na região da Campanha. Os colonos usaram a técnica da coivara, aprendida com o caboclo (que a recebeu do índio), uma vez que a Europa já havia sido
desmatada quando da emigração. Nos roçados, o alemão praticou a policultura de grãos e legumes:
O milho, de cultivo expressivo na economia colonial, porque dele se
aproveitava tudo: forragem para pasto ou feno; palha para forro de colchões e ingrediente do cigarro de palha; grãos para gado vacum, equino, suíno e aves; triturado servia para alimento dos pintos e moído, para o fabrico do pão. O feijão preto, estranho aos hábitos alimentares do imigrante, em breve integrou seu cardápio diário; com duas colheitas anuais, constou da exportação da província; na década de 1920 a ferrugem o atingiu e também passou a enfrentar concorrência da produção paulista e mineira. A cana de açúcar vingou desde o período farroupilha; é alimento do gado e matéria prima para o fabrico de melaço, açúcar mascavo e schmier; destilada, fornece a cachaça. Batata inglesa era alimento a que o alemão estava habituado e seu cultivo lhe valeu o apelido de “alemão batata”. Oleaginosas como linho, girassol e tungue tiveram produção doméstica; a abóbora medrou fácil
nas terras férteis, servia de alimento animal, entrando no cardápio doméstico e as sementes
forneciam
óleo para iluminação. Mamona
e amendoim
História da imigração alemã no RS
91
forneciam óleo para as bruxulentas lamparinas, além do amendoim ser alimento. Mandioca para animais e aipim para consumo humano medravam bem em terras já exauridas; a mandioca fornecia a farinha, do hábit o alimentar do luso e excelente acompanhante de churrasco. A alfafa produzia feno para carroceiros e para as mulas dos caixeiros viajantes. Trigo e centeio pouco vingaram nas terras férteis e pouco arejadas da mata: o tri go Irrigado iniciou na última década do século XIX. O arroz irrigado come çou em 1875, no município de Cachoeira, ao lado do município de Pelotas, onde foi introduzido pelos irmãos Lang, em 1903, seguidos em 1905 por Loewen em Gravataí — hoje todos municípios rizicultores em moldes de latif úndio. Desde a I Guerra Mundial foi introduzida a soja, que passou a produto de exportação. A apicultura, importada da Alemanha em 1845, teve sucesso em Rio Pardo, 1853, com Frederico Hannemann. Emílio Schenk a praticou por meio século e introduziu no país o “sistema Schenk” de criação de abelhas, divulgado através de publicações especializadas. A primeira Associação de Apicultores é de 1907. A uva foi introduzida no vale do Caí por emigrantes da região renana, de parreirais e fabrico de vinho. Em 1845 era plantada em Feliz, região mais elevada da colônia alemã, mas adaptou-se mesmo foi com a chegada do imigrante italiano, na região do Planalto, onde hoje se produz vinhos qualidade exportação. Em Santa Catar ina, foi introduzida pelo Dr. Blumenau, fundador da Colônia homônima. O mel vingou bem em todas as regiões do Estado enquanto houve fartura de mata nativa com floração abundante; hoje é explorado em zonas de reflorestame nto. A Colônia de Santa Cruz em 1865 dispunha de 365 rodas de fiar linho (uma para cada dois domicílios) e 14 teares para o fabrico de tecid os. Com a industrializa-
ção da tecelagem, o linho foi canalizado como alimento que deixava relu-
zente o pelo do egiiino — até que, após a II Guerra Mundial, o automóvel invadiu as colônias e substituiu a montaria. O algodão não encontrou habitat
propício no clima úmido do sul. O mate, erva nativa em uma faixa diagonal
de terras que vão do Rio Grande do Sul ao Paraguai, tem em Venâncio Aires a “capital da erva mate”, onde é artigo de exportaç ão desde o início do século XIX. Nos vales do Caí e Taquari (Santa Cruz do Sul principalmente) desde a década de 1870 vingou o fumo de forno, hoje comercializado e beneficiado por companhias americanas. Os migrantes teutos o levaram para Santa Catarina. A citricultura medrou em Taquari e Montenegro, este exportando em fins da década de 1930, 18 milhões de laranjas para o Brasil e exterior. O Rio Grande do Sul chegou a cultivar 50% da produção nacional.
O imigrante utilizou técnicas agrícolas primitivas; quando a terra exau-
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Hilda Agnes Hiúbner Flores
nha, o chamado “ouro branco”, uma das primeiras economias do colono. O imigrante alemão fabricou e usou o arado, duplicando a produção obtida com emprego de enxada. Também em São Paulo os meeiros do cafeicultor
Vergueiro o utilizaram desde 1847, com impulso na produção. Com mais terra que na Europa, o imigrante fomentou cultivo e criação. A presença do rebanho favoreceu a adubação de culturas combinadas, que requeriam novos tipos de forrageiras para os animais. Era o ensaio para o
emprego, no pós II Guerra Mundial, de tecnologia de rotatividade da terra.
Em 1901 surgiram as cooperativas, com a pioneira Caixa de Depósitos e Empréstimos. A de Santa Cruz do Sul evoluiu para o Banco Agrícola Mercantil, expandindo-se pelo país. Em 1925 as cooperativas do Estado fundiram-se na Central de Caixas Rurais. Depois de longo período de hibernação, retomaram fôlego na década de 1990. Com a imigração e a migração das velhas para as novas colônias, o Rio Grande do Sul dispunha em 1939 de 280 mil empreendimentos agrícolas familiares menores de 100 hectares. Os excedentes desses estabelecimentos reforçavam os celeiros nacionais, apesar da queda de produção por esgotamento das terras e ausência de medidas tecnológicas. A policultura agrícola, trabalhada à base do arado de ferro fundido, sofreu modificação na década de 1960, quando o trator trouxe modernização da lavoura. Passou-se ao plantio de soja e triticultura mecanizados, com a-
dubação, seleção de sementes e financiamentos através do Banco do Brasil — O que obrigou a despesas novas e endividou o agricultor. Por outro lado, a
mecanização racionalizou o trabalho e liberou mão-de-obra, causando êxodo rural e inchaço nas áreas periféricas das cidades. Há vinte anos está em vôóga pelo país e também no Rio Grande do Sul o MST, Movimento dos (trabalhadores) Sem Terra que, sob os auspícios de políticos e de uma facção da Igreja, reúne milhares de “sem terra”, reivindicando terras e praticando invasões sumárias de propriedades rurais e urbanas. Entre eles, e entre os assentados, há verdadeiros agricultores mas muitos, arregimentados pela periferia de centros urbanos, carecem de conheci-
mento agrário e de preparo tecnológico, cobiçando a terra com fins especulativos, procurando revendê-la em vez de explorá-la racionalmente. Cooperativismo
É conhecida a gravura dos dois burricos que obtêm sucesso em chegar
ao monte de feno quando decidem fazê-lo solidariamente, ao contrário do
esforço individual anterior, quando cada qual esticava a corda em direção a “ceu” feno. À alegoria apela à cooperação como chave do sucesso, ao mos-
História da imigração alemã no RS
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trar que, quando um obstáculo é grande demais para uma só pessoa, pode ser removido com esforço conjugado.
É a idéia de solidariedade, embutida no cooperativismo que o Jesuíta
Teodor Amstad trouxe da Alemanha e desenvolveu na zona de minifúndio agrário. Imigrado em 1885, viu nas cooperativas de crédito que conheceu na Alemanha a solução aos problemas dos pequenos agricultores, impedidos de colocar seus produtos pela distância do centro consumidor. Er
Pe. Teodor Amstad, iniciador do cooperativismo no Brasil.
O estudo desse associativismo revela interessante dinâmica de convívio entre católicos e evangélicos, a partir do interesse econômico comum. Assim, no decorrer do Congresso Católico de 1900, em Feliz, nasceu o Bauerverein, Sociedade dos Agricultores, aberto par a sócios dos dois credos. Em dezembro de 1902, em um salão de bai le de Linha Imperial, Nova
Petrópolis, 19 sócios fundaram a Sparkasse, Caixa Economia de Empréstimos
ou Caixa Rural, a primeira da América Latina . A iniciativa criou filiais,
sendo que a de Santa Cruz do Sul, 1904, evoluiu para Banco Agrícola Mercantil, expandindo-se pelo país.
Em 1912, em Venâncio Aires, os católi cos fundaram o Volksverein ou Sociedade União Popular, enquanto os evangélicos ficaram com a Sociedade dos Agricultores e a transformaram em Li ga Coloni al.
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Hilda Agnes Húbner Flores
A Sociedade União Popular teve disposição estatutária de que para se
associar é preciso ser “homem de reputação irrepreensível”, estimulando o esforço religioso e o mito da seriedade nas comunidades imigratórias. A
Sociedade
manteve
o mensário
Riograndenser
Bauer-Freund,
Amigo
do
Agricultor, com enfoque de questões da tecnologia agrícola então disponível.
A cooperativa se desenvolveu, como instituição financeira dos agricul-
tores, fazendo empréstimos a colonos para aquisição de terras ou construção de casa e benfeitorias, ou para empreendimentos do interesse das comunidades rurais, como construção de igrejas e escolas. Funcionava em casa do
gerente até 1953, quando recebeu sede própria em Linha Imperial e depois em Nova Petrópolis.
Com capital sólido, a Cooperativa financiava a baixo juro e longo prazo até que a lei de reforma bancária de 1964 restringiu o crédito, proibindo a captação de dinheiro entre não associados. Houve perda de competitividade e das 62 cooperativas existentes em 1967, restavam apenas 12 em 1981. Reuniram-nas com as cooperativas agropecuárias, formando a Cooperativa Central de Crédito do Rio Grande do Sul (Cocecrer), origem da atual Sicredi. O Banco Cooperativo Sicredi, primeiro Banco cooperativado privado do Brasil, desde 1995 tem acesso a serviços bancários vedados às cooperativas. O Bansicredi, com sede em Porto Alegre, opera com crédito rural desde 1999. A Sicredi hoje se expandiu pelos Estados sulinos do Brasil, até São
Paulo e Mato Grosso, ciados e depósitos de ção com sua área de depositados. A idéia (Jornal do Comércio
37-53).
num total de 129 cooperativas, mais de 700.000 assoquase 2 bilhões. Mantém a idéia original de forte ligaatuação, retornando à comunidade os recursos por ela é de acessar a Cooperativa aos pequenos empresários de Porto Alegre, 15 mar. 2004; Rabuske, 1974b, p.
Indústria e comércio
A política da metrópole portuguesa proibira quaisquer tipos de indústria no Brasil. Em 1808 Dom João reverteu esse quadro, mas as medidas desen-
volvimentistas atingiram praticamente só o Rio de Janeiro, Capital do Reino. O Rio Grande do Sul ficou à margem, no distante sul, o que favoreceu a iniciativa dos imigrantes alemães chegados a partir de 1824. Vieram eles sem capital mas possuidores de uma variada gama de ofícios que agilizaram ao lado da agricultura e transmitiram às gerações seguintes. Oberacker (p. 288-289) cita atividades profissionais existentes na Colônia de São Leopoldo, em dois momentos diferentes: em 1836, quando os
História da imigração alemã no RS
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colonos haviam agilizado dezenas de artesanatos trazidos da Europa, e em 1857, doze anos após o término da Guerra dos Farrapos, que ceifou muitos artesãos, então já substituídos por outros, filhos dos tombados. Interessante observar a dinâmica que aumentou algumas profissões, criou novas enquan-
to outras encolheram ou desapareceram. Vejamos: Colônia de São Leopoldo Profissões em 1836 Profissões em 1857 77 carpinteiros 53 carpinteiros 69 sapateiros 32 curtumes 54 49 38 30
ferreiros alfaiates oleiros ouvires
28 marceneiros
13 seleiros 10 pintores 7 latoeiros
7 pedreiros
6 6 3 3 2
2 2 2 2 1
barbeiros violeiros tecelões entalhadores caldeireiros
chapeleiros fogueteiros seringueiros torneiros relojoeiro
23 ferreiros 18 tecelões
12 alfaiates
12 cesteiros 12 fabricantes de charuto 10 vassoureiros
8 açougueiros
8 8 1 4 3 3 2 2
couveiros ourives fabricantes de cigarro carroceiros serralheiros torneiros cordoalheiros gravadores
Observa-se que há decréscimo da profissão de carpinteiro (77 contra 53,
número ainda bastante alto); os 30 ouvires ficaram reduzidos a oito; os 49
alfaiates encolheram para 12, enquanto os tecelões aumentaram de três para 18, em 1857. Estranhamente as costureiras, como quaisquer outras prof issões femininas, estão ausentes. Era tempo em que a mulher trabalhav a parelho no serviço da lavoura e exercia todo tipo de atividade doméstica, incluindo a costura das roupas da família, atividade não considerada “trabalho”. Historiadores acrescentam à relação acima outras ativid ades profissionais existentes nas colônias, como: alambiques, cantarias, cerv ejarias, descascadores de cereais, funilarias, moinhos, padarias, pren sas, tinturarias... 96
Hilda Agnes Húbner Flores
Essa variada gama profissional sinaliza para um novo tipo de comuni-
dade que ingressou no Brasil e que se espalhou à medida que os imigrantes
e descendentes ocuparam novo espaços, novas colônias. A partir da segunda metade oitocentista, filhos de imigrantes bem sucedidos passaram a estudar na Europa, estagiando em fábricas que lhes permitiam fazer evoluir a incipiente oficina paterna.
Regina Weber
estudou
a industrialização em
Ijuí,
apontando dezenas de oficinas que surgiram ou evoluíram para fábricas nas décadas de 1930-1940 (Weber, 1987). A vantagem, na zona imigratória, é que se tratava de artesãos trabalha-
dores livres, enquanto na comunidade lusa os trabalhos braçais eram exe-
cutados pelos escravos,
libertos desde
1888, mas descapitalizados
precisavam aprender a administrar sua liberdade.
e que
A colonização assentada em zonas de mata contava com madeira abundante, sem valor comercial no começo, mas que passou a ser exportada para o Uruguai e a Argentina, via rio Uruguai, quando da colonização do Alto Uruguai. Primitivas carpintarias evoluíram para fábricas de móveis. A primeira fábrica de móveis a utilizar o “sistema vienense”, de madeira vergada a vapor, foi a de João Gerdau, em 1903, que vingou até a década de 1970, prosseguindo os móveis de madeira vergada, de renome nacional. As colônias formadas a partir do meado oitocentista receberam imigrantes e migrantes, estes já com prática do tipo de vida na nova pátria e com algum capital: Santa Cruz do Sul (colônia de rápido progresso), Estrela, Lajeado, São Lourenço; mais tarde Ijuí, Cerro Largo, Erechim, Panambi, Santa Rosa e tantas outras. Na região do Planalto, além da madeira, também a erva-mate nativa era comercializada para os países do Prata, graças ao transporte fluvial pelo rio Uruguai. A grande exposição brasileira-alemã de 1881, realizada em Porto Alegre, deu prova de quanto a indústria rio-grandense prosperara e quanto restava realizar. Os exemplos de indústria em mãos de descendentes de imigrantes se multiplicaram às centenas, ao longo das décadas. Em Santa Catarina, cidades teutas do vale do Itajaí, como Joinville e Blumenau, tiveram
rápido crescimento industrial, sendo que esta aos 20 anos de existência con-
tava com 92 estabelecimentos industriais. Em São Paulo ocorreu a soma de
pequenos capitais de ex-meeiros dos cafezais, para instalação do que veio a ser parque industrial.
A venda — À venda foi elemento de intermediação mercantil e financeira entre o colono e o centro urbano, aquele a colocar os excedentes agrícolas e este a fornecer os produtos industrializados. Havia venda em todas as picadas, às vezes mais de uma, numa média de um vendeiro por 30 famílias de colonos (Roche, 1969, p. 58). O vendeiro comprava os produtos coloHistória da imigração alemã no RS
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niais (banha, fumo, grãos, vinho, lingúiça...) por preço baixo e os colocava
no mercado consumidor com lucro. Pagava o colono após vender o produto, de sorte que era este que financiava a aquisição dos produtos industrializa-
dos que consumia (sal, café, açúcar, farinha, sagu, louças, armarinhos, teci-
dos, ferramentas, insumos agrícolas, artigos de farmácia...) A venda tinha também função bancária, fazendo à guarda dos ganhos
do colono, de maneira a formar um razoável patrimônio, que permitia ao vendeiro evoluir para casa comercial mais forte ou se transferir para a cida-
de, com maiores condições Na dinâmica da venda, suas filhas, que atendiam o com êxito. Nas compras, a cidos e artefatos femininos.
de progresso. tinham papel importante a mulher do vendeiro e balcão e na ausência do vendeiro o substituíam mulher decidia sobre artigos de armarinhos, te-
Interior de venda em Picada Café, atendida pelo casal de proprietários, Afonso e Lydia Schmitt.
A venda estava associado o armazém, uma construção ampla anexa ao
prédio da venda. Ao armazém eram recolhidos os produtos coloniais, até formar carga para o caminhão levar ao mercado urbano. Na entressafra ou
em ocasiões determinadas, como o Kerb — comemoração do padroeiro da igreja local — o vendeiro desocupava o armazém e sediava os bailes que congraçavam a comunidade.
98
Hilda Agnes Húbner Flores
O caixeiro-viajante — Era profissão já praticada na Europa. O viajante
tualmenrepresentava firmas comerciais e industriais de Porto Alegre e even
dos te de centros produtores do interior. Percorria regularmente as colônias estabelecendo
a Campanha,
vales e do Planalto, e também
relacionamento
s, amistoso com o vendeiro, oferecendo mostruário, recebendo encomenda Paralelo, levava cobrando faturas e entregando pedidos da viagem anterior. sobre os acontetambém notícias sociais, esportivas e políticas, informando cimentos do mundo, sobre mercado e preços.
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Anuário da Sociedade dos Caixeiros Viajantes.
História da imigração alemã no RS
99
A presença do caixeiro viajante na venda atraía a atenção dos colonos,
Demorava-se vários dias, enquanto visitava os vendeiros dos arredores. Par-
ticipava da vida social e das atividades da comunidade, aproveitando o rela-
cionamento para fazer promoção dos produtos que oferecia. Palavra fluente
— alguns caixeiros eram exímios contadores de piadas — valia-se desse recurso para aumentar negócios. Dançava com a filha do vendeiro e não raro casava com
ela. Vez
por outra constituía um
segundo
lar no interior, para
compensar as longas ausências da família legítima, em Porto Alegre. Casos
houve de problemas na hora de receber o pecúlio por morte, que era reclamado pela “outra” e que estatutariamente cabia à mulher legítima.
Em 1885 nasceu a Sociedade dos Caixeiros Viajantes, que congregou esses profissionais e suas famílias, com fins esportivos, sociais e também previdenciários. O aspecto previdenciário, junto com a iniciativa de Rheingantz em São Lourenço do Sul, foi empreendimento pioneiro, oferecendo auxílio doença e pecúlio por morte. Funcionou a contento enquanto predominavam caixeiros jovens, com poucos problemas de saúde. A função pre-
videnciária foi absorvida com o surgimento, na terceira década do século XX, do Instituto Nacional de Previdência dos Comerciários, mantendo-se a função socioesportiva da Sociedade dos Caixeiros Viajantes, com sede à rua Dona Laura, em Porto Alegre. Os caixeiros constituíram um grupo profissional de culturá superior à média, com noticioso regular no jornal de Koseritz, membro honorário, e com publicação regular de anuário próprio.
Navegação O Rio Grande do Sul dispõe de excelente rede fluvial, ao longo da qual se situaram as colônias antigas: São Leopoldo no rio do Sinos: Taquara jun-
to ao Santa Maria, afluente do Jacuí; Estrela e Lajeado no rio Taquari; Can-
delária no rio Pardo; Agudo no rio Jacuí. Desde fins da década de 1820, rústicos lanchões fabricados por artesãos renanos ligaram São Leopoldo à Capital, iniciando comércio de produtos agrícolas, com mais de uma centena de barqueiros em ação. A família de Sebastião Diehl iniciou essa navegação em 1832, tendo utilizado inclusive a
colaboração feminina, a da matriarca Mariana Diehl, no serviço de condução do barco. Em 1855 a cólera-morbo levou de roldão a mão de obra masculina dos Diehl, e a matriarca vendeu o empreendimento para os “Becker
da navegação”.
Em meado do século XIX, Porto Alegre estava ligada por linhas de navegação a São Leopoldo, Caí (iniciativa de Keller), Montenegro (navegaç ão
Jahn),
Rio Pardo, Taquari (Jacó Arnt), Estrela (Ruschel),
100
Hilda Agnes Húbner Flores
Lajeado
(Sud-
brack). O renano Jacó Rheingantz imigrou, procedente dos Estados Unidos, para agilizar o serviço da barca Liberal, entre Pelotas e Rio Grande; acabou
por se dedicar à colonização de São Lourenço do Sul. Desde a década de 1870, a navegação teve a concorrência da ferrovia,
ambas entrando em decadência por falta de estímulo oficial e cedendo lugar à rodovia no século XX. Hoje o transporte fluvial representa apenas 3,4% (quatro milhões de toneladas/ano) da carga transportada no Estado, que é o maior exportador per capita do país (Amstad, 2000, p. 280-285; Flores, 1991, p. 47-50; Jornal do Comércio, 29 abr. 2004). Ferrovias
O trem, como a navegação fluvial, precedeu a rede rodoviária, que aca-
bou absorvendo-os. A primeira ferrovia é de 1874, ligando Porto Alegre a São Leopoldo, logo estendida a Hamburgo Velho (Novo Hamburgo). Os colonos
foram
acionistas
do empreendimento,
que trouxe progresso
à re-
gião. Desativada, a estação de São Leopoldo, transformada em Museu do Trem, guarda hoje a memória daquela rede pioneira. Data de 1903 a extensão de Novo Hamburgo-Taquara, prolongada até Canela em 1921 (desativada em 1963). Porto Alegre-Cachoeira do Sul é de 1882. No ano seguinte o trem chegou a Santa Maria. Porto Alegre-Caxias é de 1920, passando por Carlos Barbosa, de onde saía ramal para Bento Gonçalves.
A ligação com o Norte do Estado foi condicionante para a implantação e progresso das colônias do Planalto e do Alto Uruguai, pela ausência de uma rede fluvial como a que alimentou as Colônias velhas. À ferrovia Santa Maria-Cruz Alta é de 1894, com ligação para Passo Fundo em 1900 e para Marcelino Ramos em 1910. Cruz Alta-Ijuí é de 1911. Santo Ângelo recebeu ramal em 1915 e Santa Rosa, em 1940. Muitas sedes de municípios atuais tiveram origem em ramal ferroviário (Roche, 1969, p. 62-65).
O apogeu ferroviário no Estado decorreu nas primeiras décadas do século XX. Por volta de 1950-1960, a mecanização da lavoura com aumento
da produção, veio acompanhada da ampliação da rede rodoviária. Uma frota
de caminhões oferecia serviço mais ágil, embora mais caro, e a Rede Ferroviária Federal, criada em 1957, sem o retorno desejado, acabou sucateada.
Entretanto, depois de praticamente extinta, a ferrovia está tomando no-
vo alento no Estado por conta da iniciativa privada, que desde 1996 investe na renovação da rede, implantação de infra-estrutura e uso de tecnologia de
ponta, face ao argumento, irresistível, de 50% de redução de custo do frete. A América Latina Logística em 2003 investiu 30 milhões para esta finali-
História da imigração alemã no RS
101
dade, no Rio Grande do Sul (Jornal Zero Hora de 25 jan. 2004, matéria de Dionara Melo; Jornal do Comércio, 5 fev. 2004). Estradas
Ão longo do período colonial, o único meio de transporte eram as mula s
que o tropeiro guiava penosamente ao longo de trilhas indígenas, vencendo intempéries e íngremes acidentes geográficos. A chegada de Dom João ao Rio de Janeiro, em 1808, trouxe melhorias urbanas e de infra-estrutura. Começou um lento despertar de construç ão de estradas. Júlio Kóler construiu a Rio de Janeiro-Petrópolis, a primeira do país; Carlos Bresser construiu a estrada Santos-São Paulo, entre 1837 -1838.
No Paraná, desmembrado de São Paulo em 1853, Gottlieb Wieland na década de 1860 instruiu agrimensores e técnicos na construção de estradas . Dom Pedro II apoiou as iniciativas, construindo ferrovias e rodovias.
Colonos em mutirão conduzem à serraria pesado toro de madeira-de-lei. Interior de Venâncio Aires.
Nas zonas de imigração do Rio Grande do Sul, o agrimensor abria um
pique no mato, ao longo do qual demarcava os lotes rurais. Os colonos abriam clareiras no mato, edificavam suas modestas ch ou panas, faziam roçados.
Depois, em mutirão, alargavam o pique primitivo 102 |
Hilda Agnes Húbner Flores
contornando
acidentes
geográficos acentuados. O memorialista Josef Umann informa que o alar-
, o gamento do pique para estrada carroçável consumia um mês de trabalho
que considera um imposto viário muito alto, embora indispensável para O crescimento das Linhas coloniais. O governo instituiu o trabalho quinzenal remunerado para os colonos para te rtan impo lio auxí ais, icip rmun inte adas estr de tura aber na rem trabalha a primeira manutenção no lote rural. O trabalho pró conservação de estradas deputados tornou-se uma constante, tanto assim que na década de 1880 os
O estaduais Haensel e Bartholomay tiveram aprovada uma lei que obrigava 2000, p. 273colono a quatro dias anuais de trabalho nas estradas (Amstad,
278). As primeiras estradas provinciais no Rio Grande do Sul foram abertas oldo Leop São iram surg os pouc Aos lha. oupi farr odo perí no as, por Caxi oPard Rio , Serra da ma a-Ci oeir Cach a, Paul de o cisc Fran São Taquaradécada de Na . elha Verm agoa ro-L eneg Mont o, Fund so -Pas Cruz a Sant adas para cir1870, o contrato de imigração dos italianos previa “boas estr dos coculação de mercadorias”, item a que o governo não atendeu. Queixa partir à que sorte de rno, gove o ou sion pres este e ul côns ao da leva lonos foi Caxias e Caído o stiã Seba São de s niai colo adas estr as iram surg 1882 de ibrada foi Montenegro-Garibaldi-Bento Gonçalves. A primeira estrada ensa ltada São à Mariante-Venâncio Aires-Soledade. É de 1941 a rodovia asfa Leopoldo-São Sebastião do Caí. de quatro Complemento importante nas estradas foi a carroça colonial, aos carrodas e tração animal, introduzida pelos imigrantes em substituição carroros de boi de duas rodas e com eixo móvel, do luso. A fabricação de foi que da truí cons zou, rali gene se logo e , oldo Leop São em o iníci teve ças “aranha, para transporte dos produtos da lavoura e para passeio, a chamada
munida de molas. Também os caixeiros viajantes percorreram as estradas em todas as direções, no cumprimento de sua profissão.
Complemento natural da estrada foi a ponte, dispensando travessias a Uma nado (os animais) ou em barcos precários (cavaleiro ou carroceiro). ria, no Feito o arroi o e sobr , 1866 de data a pedr de es pont s eira das prim chamado
Buraco
do Diabo,
em
Ivoti, de atração turística nos dias atuais.
enxaimel da os ônic itet arqu es plar exem os com o junt to, amen tomb ce Mere ponzou utili den, Kahl von os Carl o, Agud de or diret O o. cípi muni sede do para , 1851 em l Brasi ao aram cheg ele com que r mme Bru ados sold toneiros, imigração, da io enár cent , 1924 Em es. pont de rede uma de ão a construç
existiam 400 pontes pela região colonial. as estraaram epuj sobr s ovia ferr as XIX, lo sécu do de meta Na segunda l, nas móve auto do e nhão cami do to imen surg o mas rias, precá a das aind
primeiras décadas do século XX, obrigou à melhoria e ampliação da rede História da imigração alemã no RS
103
rodoviária. Dentro dessa preocupação surgiu em 1924 a primeira estrada de cimento, entre Porto Alegre e São Leopoldo, que é hoje a “est rada velha”. Em 1937, com a criação do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem, DAER, houve a execução de 10 mil quilômetros de estradas, viabili-
zando a era dos caminhões, que se firmou por volta de 1950 , transportando
animais e produtos de mercado da casa do colono até a fábrica. ] ean Roche (1969, p. 70) conclui a respeito: O caminhão aumentou a venda e a qualidade das remessas. Permit iu obter melhores preços de venda, reduzindo a incidência da distânci a [...] O ônibus, que
facilitou o recente êxodo rural, favoreceu também as migrações contemporâneas para o Alto Uruguai.
Hoje o governo pouco investe em estradas, uma das tarefas que lhe é inerente. Grande parte da rede rodoviária está ent regue a concessionárias que cobram pedágio para recuperar, alargar e pre servar as rodovias.
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Hilda Agnes Hiúbner Flores
Processo cultural
So fato de as correntes imigratórias terem sido fixadas longe do latifúndio luso e tendo, inicialmente, se formado dentro do mesmo grupo étnico, fez com que as comunidades assim estruturadas adotassem os usos, costumes € valores da pátria de origem, conservando-os por gerações. São múltiplos os aspectos que conservaram pelas Linhas e Picadas, e também nas cidades da zona colonial, um modo de ser característico, materializado em instituições, como igreja, escola comunitária, imprensa em sua dupla forma de jornais e almanagues, associativismo... Estes valores perduraram basicamente até a II Guerra Mundial, quando o uso obrigatório de língua portuguesa forçou a quebra ou diluiu valores até então dominantes. Igreja A imigração alemã trouxe uma novidade para o país, em termos de reli-
gião, até então formada pelo monobloco oficial da igreja católica, apostóli-
ca, romana, à qual cabia se submeterem o indígena e o africano em sua condição de escravo. A religião estava dentre as preocupações primeiras dos imigrantes, sendo o aspecto que por certo mais efetivamente influiu em suas
vidas e na das Colônias. Cerca de 56% dos assentados em São Leopoldo en-
tre 1824-1830 eram evangélicos — trabalhadores livres, agenciados na Europa com promessa de liberdade religiosa.
Essa promessa não pôde ser cumprida, por inconstitucional, apesar do que o governo deu ajuda financeira aos pastores que acompanharam os imi-
" grantes: pastor Jorge Ehlers, chegado em 1826 e que atendeu na Feitoria Velha, onde recebeu casa para morar e uma casa-alojamento que transfor-
mou em templo; pastor Carlos Leopoldo Voges, que atendeu Três Forqui-
lhas, recebendo auxílio em dinheiro para sua manutenção;
pastor Cristiano
História da imigração alemã no RS
105
Klingelhoeffer, radicado em Campo Bom, onde lecionou e em 1830 ergueu a primeira igrejinha colonial, coberta de tabuinhas. Klingelhoeffer faleceu assassinado em Triunfo, 1838, quando procurava pôr a família a salvo do cenário da Revolução Farroupilha. O pastor Pedro Haesbert, procedente dos Estados
Unidos
entre
1832-1833
sediou-se
em
Hamburgo
Velho
onde
reconstruiu em pedra a primeira igrejinha. Houve também os “pastores leigos”, carentes de formação teológica e preparo moral, dando atendimento precário à população que os escolhia, na falta de outros; não receberam ajuda oficial. A partir de 1865 chegaram pastores formados na Alemanha, elevando o atendimento religioso à população evangélica (Amstad, 2000, p. 526-535; Flores, 1995, p. 50-51).
Os católicos imigraram desacompanhados de sacerdotes, sendo atendidos por padres lusos que, sem entender a língua alemã, davam absolvição coletiva e distribuíam a comunhão, batizavam e casavam. As missas eram rezadas nas escolas, até que a comunidade lograsse erguer seu templo. Desde meado do século XIX, os loteamentos reservaram terra comunitária”, erguendo os colonos, em mutirão, a escola e depois a igreja, costume que não lhes era estranho na Europa. Segundo o médico João Daniel Hillebrand, diretor da Colônia de São Leopoldo, evangélicos e católicos viviam em harmonia, havendo casamentos mistos. Criada a primeira diocese no Rio Grande do Sul em 1848, o bispo Dom Feliciano Rodrigues assumiu em 1853, sediado em Porto Alegre. Ordenou sete padres nos cinco anos em que governou. Logo chegaram os jesuítas, 1849, dois apenas: Augustin Lipinski, atendendo Dois Irmãos, São Leopoldo, Hamburgo Velho e até Taquara, e Pe. João Sedlack, atendendo São José do Hortêncio e até São Sebastião do Caí e Taquari. Mais jesuítas vieram a partir de 1858. Proibiram casamentos mistos e estabeleceram novos preceitos de moral, enquanto os evangélicos continuaram a ter direito ao divórcio e a novo casamento — situação vista com reserva pelos católicos. Em 1866, os jesuítas fundaram em Porto Alegre a Comunidade São Jo-
sé “dos Alemães”, com educandário masculino e feminino anexos, e o Se-
minário para formação de padres, transferido para Pareci e depois para São Leopoldo. Em 1869 nascia o Colégio Conceição de São Leopoldo, de re-
nomado ensino médio que evoluiu para a atual Unisinos. Seguiu-lhe o Colégio São José, de ensino e para formação de irmãs franciscanas. Aos evangélicos era vedado, de acordo com o art. 5º da Constituição de 1824, terem casa de oração com configuração exterior de templo (torre).
Houve tentativas frustradas. Em 20.5.1886 foi criado o Sínodo RioGrandense, que reuniu oito comunidades evangélicas, sob a presidência do pastor Rotermund, seu mentor. Foi quando em Santa Maria o Governo fe106
Hilda Agnes Húbner Flores
chou um templo evangélico por ostentar torre e sinos importados da Alemanha. O Sínodo reuniu oito mil assinaturas de protesto, de homens e mulhe-
critires. Houve apoio da imprensa. Silveira Martins, da tribuna do Senado,
cou o fechamento do templo, que acabou reaberto. A campanha deu popula«idade ao Sínodo e a proibição foi levantada pela Constituição republicana de 1891, que concedeu liberdade de culto. A atestar a bipolaridade religiosa trazida pela imigração alemã, ainda hoje se encontram, ao longo das Linhas coloniais, dois templos de pontiagudas torres, um católico e outro evangélico, lembrando os tempos de separação de credos. Isto sem falar em ostentosos exemplares urbanos do neo. gótico, como a catedral de Santa Cruz do Sul e a matriz de Venâncio Aires ões amplas e com três naves sustentadas por delgadas colunas. As construç a torsacras dos alemães se caracterizam por ostentar janelas ogivais e esgui
re neogótica, a exemplo das igrejas da mãe pátria. igreda ou cuid s, alemã es tuiçõ insti por o liad auxi co, géli evan do Síno O Outras ins1896. em s idoso e s órfão para asilo u guro inau e res pasto dos ja, tencial de tituições assistenciais surgiram, como à OASE (Organização Assis entidade feSenhoras Evangélicas), nascida em 1910 e hoje a mais antiga Pasminina do Rio Grande do Sul. Em 1887 surgiu a Caixa de Pensões para sustou O anha Alem a do quan ial, Mund ra Guer I a até ção dura com tores,' auxílio econômico; foi retomada em 1922. de rito O Sínodo passou a se chamar Igreja Evangélica Rio-Grandense situação alemão, ligado à Federação das Igrejas Evangélicas da Alemanha, criado o foi 1922 Em ial. Mund ra Guer Il a até 1919 de eu anec perm que a do Seminário para formação de pastores e de professores, em Cachoeir Sul, transferido para São Leopoldo. mpf. Os jesuítas refugiados no Rio Grande do Sul por efeito do Kulturka Católica ção aura Rest de to Proje no idos inser s teuta ias colôn pelas atuaram criaram emanado de Roma. Para divulgação e afirmação da igreja católica, ão dos Agriinstituições de apoio, como as escolas comunitárias, a Associaç ativa inici s, rurai s caixa as ém tamb e res esso Prof dos ão ciaç Asso cultores, a
1985, p. do jesuíta Teodor Amstad (2000, p. 523-526, 541-543; Oberacker, 404; Kreutz, 1991, p. 62-65).
|
Sul, onde o As primeiras medidas previdenciárias surgiram na Colônia de São Lourenço do caixa mutuária, assisfundador Jacob Rheingantz introduziu escola para filhos de operários, rativa de coope tência médica e farmacêutica, auxílio para casamento, natalidade e morte, além
a pnde consumo, em sua Fábrica de Tecidos Rheingantz, fundada em Rio Grande em 1875,
meira da América Latina. Foi um pioneirismo de quase meio século, em relação à Caixa de p. 76). Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários, fundada em 1923 (Flores, 1982,
História da imigração alemã no RS “Lt
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Matriz de Venâncio Aires. Construção neogótica do arquit eto Simão Gramlich Ini ciada em 1929, recebeu as torres em 1950.
108
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Após a Guerra, as coisas se normalizaram, tendo sido a Paróquia de São José a última restaurada, em 1925. Foi, o que o pesquisador Arthur Rabuske denomina de primeira fase de nacionalização. A próxima viria com mais
violência, no decorrer da II Guerra Mundial. Dom João Becker continuou em sua meta. Apoiou a campanha eleitoral de Getúlio Vargas em 1930, e este no ano seguinte facultou o ensino de religião nas escolas, proibido desde a proclamação da República (Rabuske, 1974b, p. 157-188; Laufer: 1959, p. 9-62; Amstad, 2000, p. 523). Além dos jesuítas, engajados na estratégia de catequização, outras ordens religiosas trabalharam com a população imigratória do Rio Grande do Sul: franciscanos, palotinos alemães, maristas expulsos da França, que proibira o ensino religioso em estabelecimentos oficiais, lassalistas, salesianos, as irmãs franciscanas chegadas em 1872, as de Santa Catarina (com provinciado em Novo Hamburgo) e as do Sagrado Coração de Maria. Os padres da Congregação da Sagrada Família vieram com a atribuição específica de pregar missões (Oberacker, 1985, p. 402-404; Rigo, 2003; Kreutz, 1991, p. 63-64). Os maristas franceses, chegados em 1872, a convite dos jesuítas, sofreram oposição dos mesmos porque sua ação catequizadora não se desenvolveu nos moldes pedagógicos jesuíticos e nem ensinavam em alemão. Os maristas acabaram por se transferir, nos inícios do século XX, para a colônia italiana, onde se dedicaram com êxito ao ensino primário (Rigo, 2003).
Em 1900, a convite do pastor dissidente de Novo Hamburgo, veio dos Estados Unidos o pastor Broders, iniciando a Igreja Evangélica de Missouri ou Igreja Evangélica Luterana do Brasil, IELB, com formação de pastores
no Seminário Concórdia de Porto Alegre desde 1907 e missão catequizadora preferencial junto a comunidades teutas em formação, como as do Alto Uruguai. Oriundos dos Estados Unidos, não eram defensores do germanismo, fazendo evangelização transétnica, a ponto de fundarem uma comunidade negra em Pelotas, apesar do que ficaram conhecidos como a “igreja
dos alemães” (Warth, 1957, p. 237-268; Jungblut, 1994, p. 142-1453; Gertz,
1991, p. 35-36). Para anular a ação das escolas confessionais teutas, que ensinavam em língua alemã e estimulavam o germanismo, além do que as evangélicas adotavam credo diferente, o Governo republicano idealizou as Colônias mistas, povoadas por etnias intercaladas. A medida visava obter melhor integração, favorecendo a nacionalização dos imigrantes e seus descendentes.
Em sentido contrário trabalhava a Sociedade União Popular que, no po-
voamento de novas colônias, tinha o cuidado de separar por Linhas ou por
municípios Os adeptos dos diferentes credos. Assim por exemplo, Ijuí e Ita-
piranga, esta no oeste catarinense, nasceram essencialmente católicos en-
História da imigração alemã no RS
109
quanto Panambi o foi evangélico; em Roque Gonzáles, a missa na Paróquia de São Canísio, assistida pelos 14 fundadores, deu por fundado o município, em 1927.
Tanto a igreja católica como a evangélica, monitoravam o ensino em suas paróquias, dando pujança à religião como matéria formadora. Ensinavam em alemão e cultivaram o Deutschtum através da língua, da comemoração de datas cívicas alemãs, de festas e costumes germânicos. Essa orientação era revigorada pelo auxílio financeiro de instituições alemãs, principalmente evangélicas, às igrejas locais. A década de 1930 marcou o advento da II Guerra Mundial. Pastores alemães ou formados na Alemanha, entusiasmados com o milagre alemão de reerguimento pós I Guerra, entendiam que a Igreja, além de suas atribuições específicas, “fosse também um lugar de defesa e culto da germanidade entre os teuto-brasileiros”. Identificavam cultura alemã com etnia e reli giosidade, direcionando a ação evangelizadora preferencialmente aos descendentes de alemães (Jungblut, 1994, p. 142).
Defendendo o ensino em língua alemã e a preservação dos genuínos valores germânicos, esses pastores sintonizavam com a idéia de superioridade racial, formando dentro da igreja luterana uma corrente que se antepunha às medidas de nacionalização do governo brasileiro (Dreher, 1984, p. 210214). Quando da proibição de língua e símbolos germânicos, em 1938, pastores houve que continuaram a rezar o culto em alemão (os católicos o rezavam em latim), argumentando que a lei citava nominalmente apenas as pré-
dicas. O governo interpretou como insubmissão e recrudesceu, proibindo os cultos. Esses pastores extremistas foram então os mais atingidos. Alguns voltaram para a Alemanha. Outros foram presos e levados à colônia penal Daltro Filho, no Rio Grande do Sul (Schreiner, s.d., p. 38: Meyer, 2000, p. 224-225).
tão fé x etnia. Pastores voltaram a seus misteres. O seminário evangélico, nacionalizado, reabriu. A língua alemã retornou aos púlpitos, atendendo a
geração que entendia apenas essa língua, Boletins e Folhas dominicais voltaram, bi-língiies. 110
Hilda Agnes Húbner Flores
—s. TT
tando focos nazistas como forma para manter o cargo. No pós-guerra, à derrocada da Alemanha sucedeu o afrouxamento ao cultivo da germanidade, com nítida abertura na maneira de conduzir à ques-
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O Seminário Evangélico de Novo Hamburgo foi fechado em agosto de 1939, por efeito do Decreto 7614, de 12.12.1938, que determinou fosse a direção dos educandários exercida por brasileiro nato. O apogeu das perseguições ocorreu entre 1942-1943, às vezes com requintes de crueldade por parte de autoridades subalternas que precisavam “mostrar serviço”, detec-
Sínodos tro qua os do nin reu l, oda Sin ção era Fed a giu sur 9 194 10. Em 26.
Brasil Central. e aná Par na, ari Cat ta San , Sul do nde Gra existentes, no Rio Confissão de a lic ngé Eva eja Igr a a par 4 195 em u Essa Confederação evolui (1887s hm Do o an rm Ge tor pas do a tiv cia ini LB, TEC , Luterana no Brasil ecendo a an rm pe os, lid abo am for s odo Sín os 8 196 Em 1956), que a presidiu.
Igreja. gua lín em as dic pré às m era ced te men iva dat gra es gii lín biOs sermões do vam ega arr enc se s ola esc € res ola Esc pos Gru nacional, à medida em que ngiati es dad uni com as s, ada déc das go lon Ao a. ues ensino da língua portug enres rep a sou pas al ion nac gua lín da o íni dom o e ram melhora econômica
tar uma questão de status social. ra ago já , ava fic idi sol se a eir sil bra nia ada cid de ção Uma nova concep com inserção na vida política do país. os e tej fes u ejo ens 4, 197 em mã, ale ção gra imi da o ári O sesquicenten lidade rea a e ant os cid rme ado os asm usi ent am tar per des comemorações que
érsup ser de xou dei mã ale gua lín a r ina Dom . mão ale de te de ser descenden ecto econômico, asp no e te men ial soc , osa taj van ão diç con r umi fluo para ass
representando utilidade profissional. do ano de go lon ao o çã ra mo me co em mã, ale ção gra imi de s ano 180 Os tando curioper des ta, teu ção ula pop de s pio icí mun os pel m ute erc rep 4, 200 ral. sidade e desejo de conhecimento das raízes e do legado ancest Ensino
A alfabetização dos filhos, acrescida de preparo profissional, era preo cupação que o imigrante alemão trouxe de sua pátria alemã onde, ao contrário de Portugal, a escolarização já fazia parte do cotidiano das comunidades. A alfabetização para os evangélicos tinha também razões religiosas, capacitando os fiéis à leitura da Bíblia. No Brasil, ao contrário, o sistema educacional era ainda muito precário, principalmente na área rural, e a escolarização não constava dentre as promessas feitas pelo agenciador. Assim, os imigrantes de São Leopoldo já na década de 1830 improvisaram as primeiras escolas. Em 1832 foi impresso em Porto Alegre o primeiro abecedário escolar, apesar do que a escola por várias décadas foi precária, com professores mal preparados, sem currículo definido e não passando a escolaridade de dois anos (Amstad, 2000, p. 469; Kreutz, 1991, p. 141).
O professor ministrava aula em sua própria casa ou então alguém da comunidade doava um pedaço de terra e os colonos em mutirão erguiam o prédio escolar, modesta construção de madeira coberta de tabuinhas, que
inicialmente servia também para missas ou cultos. A partir do meado oitocentista, os loteamentos coloniais reservaram terreno para igreja, cemitério, História da imigração alema no RS
IG]
escola e residência do professor. Constatou-se então melhoria nos prédios
escolares, que passaram a ser de alvenaria. A comunidade escolhia seu professor, alguém que soubesse ler e escrever. Entre os evangélicos, os pastores se encarregaram do magistério primá-
ro na medida do possível. O ensino era em alemão, a única língua que proftessor e alunos conheciam. Segundo Hillebrand, diretor da Colônia de São Leopoldo, em 1854 esta dispunha de três escolas públicas e 27 particulares,
das quais apenas uma ensinava português. Em 1851 a Câmara Municipal de São Leopoldo pleiteara uma lei no sentido de que o ensino da língua nacional precedesse o da língua alemã. Mera tentativa. A lei provincial 579, de 17.5.1864, autorizou contratar professores nacionais ou estrangeiros que conhecessem o idioma da colônia onde iriam lecionar. Professores com domínio da língua nacional teriam preferência, mas na prática a maioria dos mestres era saída das colônias alemãs, cuja língua, usos e valores praticavam (Kreutz, 1994c, p. 43). À medida que as Igrejas, evangélica e católica, se firmavam, monitoravam o ensino em suas paróquias, dando pujança aos valores germânicos — língua, costumes, o cultivo do Deutschtum e o ensino da religião. Os jesuítas desde o terceiro quartel oitocentista estimularam à multiplicação de escolas comunitárias rurais, erguidas e mantidas pelas comunidades, enquanto eles próprios cuidaram do estudo mais avançado, como o Colégio Conceição de São Leopoldo, escola referencial de formação secundária. Em Porto Alegre, anexaram à Comunidade de São José “dos Alemães”, a Escola São José para meninos e a Escola Nossa Senhora para meninas. Os evangélicos inovaram com o Instituto Evangélico para moças, em Novo Hamburgo, dirigido pelas irmãs Engel e incorporado pelo Sínodo RioGrandense em 1895 (Rabuske, 1974b, p. 163; Amstad, 2000, p. 494). Desde
a primeira cartilha de 1832, diversos autores didáticos foram
usados nas escolas alemãs. Dezenas de publicações didáticas emergiram ao longo das décadas. Impulso significativo foi trazido por Rotermund,” proprietário da Editora Rotermund, que desde 1877 passou a editar livros didá-
Wilhelm Rotermund, nascido em Hannover, Alemanha, Doutor em Teologia na Universidade
de Jena e Dr. Honoris Causa pela Universidade de Góttingen, imigrou em 1874, casado, pai de
sete filhos. Foi pastor e jornalista. Em 1877 adquiriu maquinário de um jornal e editou o pri-
meiro livro didático, uma cartilha que atingiu venda de 100.000 exemplares, Dos mais de 30 títulos didáticos que publicou, dez foram de sua autoria, entre eles a Gramática da língua por-
tuguesa, adotada inclusive na Alemanha, e o Calendário dos alemães no Brasil, ou Calendário Rotermund, com tiragem de 30.000 exemplares em 194] quando foi apreen dido junto com os
demais títulos alemães existentes na Editora. Rotermund faleceu em São Leopoldo, a 5.4.192 5. A Editora Rotermund, conhecida pela produção de agendas, continua em mãos de descendentes.
112 | Hilda Agnes Húbner Flores
ticos, de vasta penetração na região imigratória, já então acrescida das Cojônias em formação no Planalto e nas matas do rio Uruguai, a
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Escola comunitária no interior de Picada Café, 1937.
A instrução era normativa, com destaque à educação (formação do alu-
no). A religião constituía o cerne do currículo escolar, com estudos bíblicos
e catequese, e acabava norteando as pessoas pelo resto da vida, na família, na comunidade e na atividade profissional. Seguia em importância o ensino de língua alemã, com desdobramento em escrita, leitura, ortografia e caligrafia. A matemática englobava o aprendizado das operações que auxiliassem no dia a dia do colono, como por exemplo o cálculo de juros sobre o dinheiro emprestado, até a próxima safra, ao vizinho que quisesse adquirir terras ou construir casa. Nas aulas de canto ensinavam-se canções norteadoras da vida e canções do folclore alemão, incentivando o cultivo da cultura germânica. Depois de quatro anos de escolaridade (1890), ou cinco (1920),
o cultivo do canto se solidificara de modo a acompanhar as pessoas vida afora, através das sociedades de canto. À aprovação de final de ano ocorra
mediante prestação de prova oral perante banca examinadora, assistida pela comunidade. O evento transformou-se em convívio comunitário. que podia
incluir apresentação de peça teatral ou de coral (Kreutz, 1991, p. 141; Ram-
bo, 1994, p. 39-40).
O aumento da rede escolar teuta, desde o final do século XIX, permitiu
a expansão do pangermanismo,
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na pátria brasileira, ou seja, não se questionava a nacionalidade brasileira, mas culturalmente deveria vingar o sentir e o fazer germânicos (Amstad, 200 p.0, 496). Surgiram instituições atreladas aos objetivos da germanidade: os católicos, liderados pelos jesuítas, em Assembléia Geral realizada em Harmonia, 1898, fundaram a Associação dos Professores Católicos, enquanto o Sínodo Rio-Grandense em 1901 criou a Associação dos Professores Evangélicos. Ambas visavam melhorar a formação dos professores, seu engajamento na educação e o desenvolvimento de uma consciência de classe. Como instrumento de apoio ao preparo do professor, nasceu o Lehrerzeiung, Jornal do Professor, um para católicos e outro para evangélicos, que circularam nas colônias alemãs. Os católicos faziam Congressos bianuais de orientação religiosa e moral e de engajamento nas metas do movimento de Restauração cristã, da qual o professor era agente multiplicador. O último ocorreu em Cerro Largo, 1940. O jornal evangélico, a par da orientação profissional, trabalhou em prol do pangermanismo. A proibição oficial, em 1939, do uso de língua estrangeira, fez desaparecer o Jornal do Professor junto com todos os demais. Os evangélicos criaram seu Seminário de Formação de Professores (Es-
cola Normal). Nasceu em Taquari,
1909, sendo transferido para Santa Cruz
do Sul e depois para São Leopoldo, onde desde 1926 cuidou também do magistério feminino, em condição de subalternidade, pois as professoras não atingiam a direção das escolas. Em 1923 nasceu, em Arroio do Meio e depois transferida para Novo Hamburgo, a Escola Normal para formação de professores católicos (Becker, 1957, p. 145-148). Associações de apoio ao preparo dos professores, à semelhança das nossas, houve-as também em outros Estados, a partir de 1916, de sorte que em 1927 nasceu a Liga Nacional de Professores Teuto-Brasileiros, sediada em São Paulo. Não confessional, reuniu com finalidade reivindicatória e previdenciária, professores paroquiais do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Sucumbiu, como as demais institui-
ções teutas, em 1938, por conta da legislação nacionalista. Já vimos que o governo brasileiro reagiu ao germanismo, criando rede de escolas públicas, com ensino em português. Desde 1909 o governo con-
dicionara subvenções a escolas particulares ao ensino diário de duas horas de português. Escolas teutas introduziram então o ensino da língua nacional a partir do 3º ano, depois da alfabetização em alemão, o que não garantiu conhecimento suficiente para uma boa comunicação em português. A carga horária aumentou gradativamente, introduzindo-se também o ensino de Geografia e História do Brasil.
114
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Por ocasião da I Guerra Mundial, em 1917 foi proibida a língua alemã
nas escolas. Associações e jornais paralisaram. Mas em 1920 as coisas haviam voltado ao que fora antes. Cada vez mais escolas introduziram o por-
tuguês em seu currículo. Faltou segiiência e maior estímulo a essa maneira inteligente de gradativa integração à comunidade nacional, o que teria evi-
tado proibições e truculências no decorrer da II Guerra.
Na década de 1920, a administração Dom João Becker transformou as
escolas comunitárias em escolas paroquiais, transferindo às paróquias a posse do prédio e do terreno escolar. Foi uma apropriação indevida, não
contestada pelas comunidades teutas, porque identificadas com a religião. A mesma anuência não houve por ocasião da II Guerra Mundial, quando o governo fechou as escolas “alemãs” ou as substituiu por escolas nacionais — o que, no entanto garantiu que a nacionalização do ensino se tornassem uma realidade. Em
1924, centenário da imigração alemã, havia no Rio Grande do Sul
800 escolas teutas: 310 católicas, 300 evangélicas e 65 da corrente de Missouri, além de 112 de confissão religiosa independente, totalizando uma re-
de escolar de 30.000 alunos. Às vésperas da II Guerra Mundial, as escolas
somavam um milhar. Reconhecendo a irradiação do ensino escolar nas famílias, a ditadura do Estado Novo de 1937 fez das escolas instrumento para consecução da nacionalização, concretizada através de uma série de Decretos federais e estaduais. O de 6.4.1938 incentivou a criação de escolas públicas e o Decreto federal 406, de 4.5.1938, estabeleceu o ensino obrigatório em português nas escolas rurais, que deviam ser regidas por brasileiros natos.
As escolas públicas proliferavam, chegando a dobrar, como em Santa Cruz do Sul, entre 1939-45. As igrejas, notadamente pastores imbuídos do sentimento pangermanista, as combatiam. Mas a concorrência reduzia o alunato das escolas privadas a ponto destas não se manterem, porque os pais
viam na gratuidade da escola oficial valiosa ajuda para a educação de sua prole numerosa, além da utilidade de seus filhos aprenderem a língua do país (Kipper, 1994, p. 124-125; Kreutz, 1991, p. 150-152; Kipper, 1979, p. 29-30).
O alemão (como o italiano e o japonês) foi banido das escolas, bandeira e símbolos estrangeiros substituídos por nacionais. Passou a ser obrigatório nas escolas o ensaio e execução do hino nacional, com hasteamento da bandeira brasileira e a realização de horas cívicas semanais. Entre 1938-1939, de um total de 2.418 escolas no Rio Grande do Sul, foram fechadas 241 por não preencherem as condições legais exigidas pela nacionalização, entre elas, as Escolas Normais de Novo Hamburgo e São Leopoldo. Kreutz questiona a quantificação: as escolas seriam apenas 1.041, das
História da imigração alemã no RS
115
quais 91 teriam sido fechadas, conforme relatório oficial de Cordeiro de Farias, interventor federal no Rio Grande do Sul (Kreutz, 1994b, p. 49-53). O Decreto 1.006 de 1939 baniu livros didáticos em língua estrangeira.
Professores sem domínio de português foram substituídos por lusos, os quais, nas comunidades rurais desprovidas de hotel, eram obrigados a se hospedar em
casa de família, causando
constrangimento
mútuo,
pois um
não falava a língua do outro. Decreto 1.545, de 25.8.1939, vetou a direção de escolas a estrangeiros e determinou que a Educação Física fosse ministrada por oficial ou sargento do Exército, medida impraticável nas escolas rurais, onde não se dispunha de oficial. O Decreto 3.580 de 3.9.1941 proibiu impressão, importação e uso de livro-texto em língua estrangeira (Oberacker, 1985, p. 398-402: Rambo, 1994, p. 25-77).
No pós-guerra, a Constituição de 1946 estabeleceu que o ensino primário fosse em língua nacional. Assim, prosseguiram os Grupos Escolares criados pelo governo, com nomes brasileiros e abrigando o sistema brasileiro de ensinar. Foi a retomada tardia de medidas de nacionalização, que os Estados Unidos adotaram desde o início da colonização. Nas escolas católicas que sobreviveram, Dom Vicente Scherer em 1947 orientou que se provesse o ensino em português (Laufer, 1957, p. 59). No cômputo geral, vale dizer que a autogerência secular do ensino, pelas comunidades teutas, favoreceu o cultivo da germanidade e a consolidação de valores peculiares, que sobreviveram os tempos de guerra e hoje somam às nossas manifestações culturais. No país e principalmente do Rio Grande do Sul, representam valioso somatório ao nosso variado painel et-
nocultural. Saiu, pois, enriquecida nossa cultura polifacetada, filão inexaurível para o turismo em expansão no mundo atual. Imprensa
Ao lado de escola e Igreja, a imprensa, sem a gama de meios de comu-
nicação de nossos dias, representou fator decisivo para a estruturação das mentalidades. É aceito que ao menos um membro de cada família de imi-
grantes alemães veio alfabetizado, fazendo leitura em família. Os semanários, às vezes uma assinatura compartilhada com a do vizinho por medida de economia, transmitiam as notícias, ainda que não momentâneas
como
hoje, e sobretudo, matéria de orientação e formativa. A imprensa representou recurso fundamental para o processo de divulgação e preservação da
cultura teuto-brasileira e contribuiu também para colocar o alemão e seus descendentes em contato com a cultura do país. 116
Hilda Agnes Húbner Flores
O primeiro periódico a circular na Colônia de São Leopoldo foi O Cociamenagen de ulo veíc dele fez que sch, Sali von n man Her de ão, Alem lono to de colonos para a causa farroupilha. Editou-o em português por falta de tipos góticos. Circulou de fevereiro a março de 1836. O primeiro jornal em língua alemã, o Der Kolonist (O Colono), circulou er (O der wan Ein sche Deut Der O -53. 1852 de anos nos re Aleg o em Port
Imigrante Alemão), 1853-61, teve direção de Carlos Jansen. O Deutsche
ribuiZeitung (Jornal Alemão), 1861-1917, de orientação liberal, teve a cont , € foi ritz Kose de além , ggen Brii Ter Rue, la De el, Háns r mme Bru dos ção
um dos mais duradouros e importantes periódicos de língua alemã no Rio de Grande do Sul. Juntamente com o católico Deutsches Volksblatt, direção Hugo Metzler (1871-1939), atuou na defesa da germanidade, sustentando polêmica acerca dos efeitos locais do Kulturkampf alemão e do Projeto de Restauração Católica, reação àquele no Brasil. Destaque tiveram os jornais evangélicos Der Bote (O Mensageiro), ada cion rela tica temá por ung, Zeit sche Deut o com u mizo pole que -77, 1867 à colonização, mas comungou com este em assuntos anti-clericais; e O Deutsche Post (1880-1928), do pastor Wilhelm Rotermund, com conteúdo
político-confessional. Havia o Lehrerzeitung dos católicos, fundado em 1898 e dos evangélicos, de 1901, ambos órgãos da respetiva Associação dos Professores. Circularam nas colônias, dando orientação didática e apoio à escola elementar e seus professores, engajados na defesa e preservação da cultura alemã, dentro das metas do movimento de Restauração cristã. Combatiam também o liberalismo a-religioso dos Brummer imigrados em 1851 e cujos oficiais, habilitados culturalmente, atuaram no magistério. Sem se deter na defesa do germanismo, havia ainda o Lehrerzeitung da corrente de Missouri. Por ocasião da I Guerra Mundial, em 1917, a maioria dos jornais fechou
ou hibernou por três a quatro anos. Contornaram a situação, adotando nome brasileiro, o Deutsches Volksblatt (Gazeta Popular), Neue Deutsche Zeitung (Gazeta Colonial) e Vaterland (Jornal da Tarde).
Quando do centenário da imigração alemã, em 1924, circulavam novamente 14 jornais de língua alemã no Rio Grande do Sul, a maioria com abrangência regional, por carência de meios de transporte para distribuí-los. Houve-os em Porto Alegre, São Leopoldo, São Lourenço do Sul, Santa Cruz do Sul, Pelotas, Montenegro (vários jornais de pouca duração) e Panambi. Das 18 gráficas então existentes em Porto Alegre, 12 estavam em mãos de alemães, bem como 15 das 26 livrarias. A II Guerra Mundial trouxe abalo maior. Dos poucos jornais que sobreviveram, há o semanário Skt. Paulusblatt. Criado pela Sociedade União Popular em 1912, teve interrupção durante as duas guerras. Circula até hoje
em língua alemã e caráter ecumênico, editado em Nova Petrópolis.
História da imigração alemã no RS
117
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Anuários em língua alemã, os dois primeiros de 1941, quando a imprensa alemã
estava proibida no país, e A Bandeira de S. Inácio, 1949
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Hilda Agnes Húbner Flores =
118
Relevante também foi o papel dos Kalender, almanagues de periodici-
dade anual, informativos e formativos. Apresentavam matéria diversificada como calendário, textos doutrinários (cultural-religioso), temas ligados à imigração, memórias e ensinamentos narrados pelos imigrantes, orientação técnico-agrícola, noções de saúde familiar, biografias, literatura (poesia,
contos em dialeto, cantos), informações geo-históricas e gerais, piadas, charadas e passatempos (adivinhações, localização de objetos em figuras...).
Os primeiros almanaques circularam na década de 1850, editados na Alemanha. Depois houve o Koseritz Deutscher Volkskalender (1873-1891),
polêmico como o proprietário Carlos von Koseritz; o Kalender fiir Deut-
schen in Brasilien (1881-1939); o Rotermund-kalender. Os almanaques católicos (jesuíticos) Familienfreund Hauskalender fundado por Pe. Amstad em 1912, o Fahne des hi. Ignatius, 1938, o St. Paulus-Blatt circularam ao menos até 1941 em língua alemã. O Rio-Grandenser Marienkalender, 1927 era também católico. O Musterreiters Kalender era publicação da Sociedade dos Caixeiros Viajantes. O eclético Serra Post Kalender foi criado em Ijuí, 1912 (Amstad, 2000, p. 289-301: autora).
Richter,
1994, p. 25-30; acervo da
Merecem menção também as edições jubilares, a pipocar pelas colônias, A mais importante foi Hundert Jahre Deutschtum in Rio Grande do Sul, 1924, ora editado em português: Cem anos de germanidade no Rio Grande do Sul, obra de fôlego de Pe. Teodor Amstad (que não assina), contendo a súmula da história da imigração alemã. Validade inconteste tiveram os livros escolares, com destaque à profusão saída da Editora Rotermund, a partir da década de 1880. Associações
O associativismo é uma tendência do imigrante alemão, já cultivado Europa. No Rio Grande do Sul, contrabalançou o trabalho na solidão do te rural, ao longo da semana, com recreação em grupo aos domingos, e também uma forma de viabilizar problemas comuns referentes à vida munitária, como religião, escola, recreação, saúde.
na loera co-
Houve profusão e variedade de associações. Em Porto Alegre surgiram:
a Sociedade Germânia em 1855; o Deutscher Hilfsverein, 1858 (dele derivaram o Hospital Moinhos de Vento e o Colégio Farroupilha); a Sociedade
Leopoldina, 1863; o Turner Bund, atual SOGIPA, 1867; a Sociedade Caixeiros Viajantes, 1885; vários Clubes de Regatas, desde 1888; o Clube do Comércio,
em
1896; os clubes de futebol Grêmio,
1903, e Internacional,
1909. O Centro Cultural 25 de Julho nasceu em 1951, quando o grupo próapoio à Alemanha destruída pela II Guerra Mundial viu-se desobrigado de História da imigração alemã no RS
119
suas funções originais, porque a Alemanha se declarara “já estar de pé” e dispensou auxílio. Essas sociedades inicialmente eram bastante fechadas, tendo como ob-
Jetivo genérico o cultivo da germanidade, com comemorações de datas cívicas relacionadas à antiga pátria; a língua falada nos clubes, estatutariamente ou não, era a alemã e os valores praticados, os germânicos. Pelas comunidades teutas interioranas, as sociedades surgiram às cente-
nas. Auxiliaram na solução de problemas comuns e oportunizavam muitas
vezes O único convívio social de seus membros. Houve sociedades de canto, leitura, música, atiradores, lanceiros, bolão. clubes femininos, de fuman-
tes... Pe. Amstad, ele próprio fundador do cooperativismo, arrolou as sociedades existentes quando do centenário de imigração, em 1924. Os dados mostram um aglutinado na região do Taquari, onde Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires despontam acima da Capital do Estado e de São Leopoldo, berço da imigração alemã. Vejamos:
Sociedades existentes no Rio Grande do Sul em 1924
Santa Cruz do Sul Venâncio Aires Porto Alegre Taquara Rio Pardo São Lourenço do Sul
97 48 41 24 22 19
Santo Ângelo
7 sociedades
São Leopoldo Cruz Alta Santa Maria Serro Azul (Cerro Largo) Montenegro Lajeado
Sobradinho Nuí Total
15 11 11 10 8 1
sociedades sociedades sociedades sociedades sociedades sociedades
sociedades sociedades sociedades sociedades sociedades sociedades
4 sociedades 3 sociedades 327 sociedades (Amstad, 2000, p. 301-360).
Considerando essas sociedades quanto a sua natureza, verifica-se que a maior concentração estava nas de Atiradores, 85, seguidas de 48 Sociedad es de Cavalaria, concentradas em Santa Cruz do Sul, certamente trazidos por ex-soldados prussianos; ambas visam esporte essencialmente masculin o.
120 — Hilda Agnes Húbner Flores
Sociedade de Canto Jovialidade em dia de festa. Fundada em Linha Andréas, interior de Venâncio Aires, 1892.
Havia, em 1924, 58 Sociedades de Canto, além das de Coral, Música e
Orquestra, totalizando 72 associações nas quais o elemento feminino tomava parte ativa. Em minha dissertação de Mestrado estudei as Sociedades de
Canto e concluí que elas atuaram como fator de identidade étnica e de controle moral, feito através da seleção das letras das canções (Flores, 1983). Aprendidas no lar, retomadas na escola e ensaiadas na sociedade, as canções auxiliaram a perpetuar o legado cultural imigratório. À participação da mulher alemã na vida social está expressa também nas 18 Sociedades de Damas ou de conotação feminina. A preocupação previdenciária (antes que no país houvesse Instituto de
previdência social) está expressa nas 36 Caixas de Poupança, nas cooperati-
vas e nas associações de saúde. Há ainda registro de outros tipos de socie-
dades, como as de leitura, teatro, bolão e religiosas. Única no gênero é a Sociedade dos Caixeiros Viajantes, fundada em 1885, e que sobreviveu à classe profissional que lhe deu origem. Perdeu sua primitiva função previdenciária, preservando a sócio-esportiva. Funciona até hoje, em Porto Alegre. A par das 327 sociedades acima apontadas, recreativo-normativas, proliferaram desde a década de 1890, a serviço do Projeto de Restauração Ca-
tólica, as Assembléias Gerais de Católicos, Katholikenversammlungen ou Katholikentage, a reunir expressivo número de colonos, que tomavam resoHistória da imigração alemã no RS
121
luções afins ao Projeto capitaneado pelos jesuítas. Na tentativa de formação de um partido político, nasceram as Associações Paroquiais Católicas. Funcionavam sob o nome de União ou Aliança, como a Aliança Católica de São
Leopoldo e a de Santa Cruz do Sul, esta recentemente ainda em funciona-
mento. As Associações dos Professores, Católica (1898) e Evangélica (1901), Lehrerverein, buscavam o aperfeiçoamento profissional e o engajamento do professorado; ambas tiveram o seu Jornal do Professor, em funcionamento até 1939. A Associação de Agricultores, Bauerverein, ou Sociedade União Popular, foi iniciativa do Pe. Amstad, bem como as Caixas Econômicas Rurais, Sparkassen, criadas para serem depositárias das economias dos colonos, fornecer crédito barato e financiar novas colonizações como a de Cerro Largo em Ijuí e Porto Novo no oeste catarinense, formadas com excedente demográfico de nossas colônias (Kreutz, p. 34-53).
1991, p. 70-77; Rabuske,
1974b,
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Por ocasião da II Guerra Mundial, todas as sociedades “alemãs” tiveram cassado seu acervo, armas e escudos e proibido o uso da língua alemã. Sobreviveram as que adotaram nome português e adequaram seus objetivos aos novos tempos, de efetiva integração à pátria brasileira. Ao longo das décadas, ou se modernizaram, ou sucumbiram na medida em que a germanidade, antes o élan vital, já não representa o enfoque estatutário básico. =
São Lourenço do Sul em 1930 reuniu suas sete sociedades de canto em uma Federação que em 1939 passou a denominar-se União dos Cantores de São Lourenço e em 1943, União Cultural e Agrícola de São Lourenço do Sul. Com o objetivo histórico de “cultivar o canto a quatro vozes e proporcionar a seus associados bailes e divertimentos familiares”, realiza concurso
de canto orfeônico anual, anexando-lhe atividades de estímulo agrário, realizando a Semana Ruralista. Importa sementes e cuida da melhora do rebanho.
122 — Hilda Agnes Húbner Flores
10
Legado
ficamente gra geo s ada déc por m era viv tes den cen des e s mãe ale tes ran $ mig dades rurais, uni com as uen peq em os lad iso , lusa e dad uni com da distantes im, desenvolveAss r. ive rev sob a par os urs rec r isa rov imp m ara cis pre onde se posicionar de ar, mor de , agir e sar pen de ar uli pec a eir man sil Bra no ram problemas viperante Deus e expressar valores existenciais, de equacionar som à isso o tud — ade ied soc em er viv con de , hos fil dos tais como o estudo de ão maç for da dou cui des que or, ept rec s paí do a siv pas e tud bra de uma ati noeco a r flui a par s nte cie efi ão caç uni com de os mei de e r ola uma rede esc mia e a integração. manidager de o ent tim sen m, htu tsc Deu o ou ult res o ent lam iso go lon Do orientasob , mãs ale as ôni col as que em ene per so ces pro num ido duz tra de, ações, a ção da Igreja, se auto-abasteceram de escolas, professores e associ revigorarem conceitos e valores da cultura germânica. Resultou a tendência dos imigrantes se aglutinarem conforme sua orgem, identificados por dialeto ou por concepção religiosa — fator decisivo e e dad uni com a, íli fam de el nív a s, ica étn ões diç tra de ão vaç ser con a a par nregião. Preservando esses valores, formaram-se comunidades auto-suficie tes culturalmente, com tendência à segregação ao não-germânico. Quando a I Guerra Mundial colocou Brasil e Alemanha em campos opostos, de repente ficou à mostra uma germanidade confrontada com a cultura brasileira. O problema se apresentou mais agudo na Il Guerra, motivando uma poderosa máquina oficial repressora do germanismo, resultando aprendizado da língua nacional e integração à cultura brasileira, embora conservadas uma série de características etnoculturais.
Hoje — após a nacionalização forçada e por conta da globalização trazida pelos modernos meios de comunicação social — a comunidade brasileira conta em sua unidade nacional com um variado painel ântropo-cultural, en-
História da imigração alemã no RS
123
riquecido por manifestações teutas expressas na economia, na arquitetura, nas artes, no canto, na dança, no associativismo, na gastronomia, em festas típicas, alimentando gastronomia e turismo. Vejamos alguns desses aspectos:
Habitação
Após a primitiva choupana coberta de ramas, seguiu modesto rancho
techado por madeira falquejada e coberto de tabuinhas. A etapa seguinte foi
a casa enxaimel, estruturada com vigamento de madeira de lei a delinear as-
soalho, teto e aberturas, preenchendo com tijolos os vazios entre os viga-
mentos. Compunha-se inicialmente de duas construções contíguas: a “casa” (sala e dormitórios), e a cozinha com dispensa anexa, contendo tulhas de arroz, farinha, açúcar e outros mantimentos. O fogão era de chapa de ferro, alimentado por longas achas de lenha, até quando o fogão Berta, mais limpo e seguro, afastou o perigo de incêndio. A cozinha pôde então ser assoalhada e ligada à sala e quartos pelo Zwischenhau, construção intermediária aberta em dois extremos, local arejado, próprio para a sesta no verão ou para tomar chimarrão com os vizinhos aos domingos.
Casa enxaimel, no interior de Venâncio Aires. Construída em 1917 em dois bloco s
distintos, embora já existisse o fogão Berta, que afastava o perigo de incêndio.
124
Hilda Agnes Húbner Flores
A casa enxaimel da zona rural integra um complexo habitacional maior, podendo conter jardim à frente (flores para enfeitar a casa, para festas e
enterros), horta e pomar ao lado, e nos fundos o galpão, o paiol, estrebaria,
pocilga e o potreiro com pastagem para os animais — tudo limitado por muro de pedra ou aramado, além do qual se estendiam as plantações. Por volta de 1950, a casa evoluiu para construção de linhas mais modernas, com co-
zinha integrada; mais recentemente também o banheiro passou a fazer parte do corpo da casa. Nas Colônias do Planalto, ricas em madeira, as casas eram neste material.
A casa, mantida em ordem e limpa pela mulher, era mostrada às visitas como sinal de cordialidade. Nas paredes da sala, uma galeria de retratos de família e estampas sacras com temática moralista e educativa. Recordo que na minha infância ficava intrigada com o quadro simbolizando o purgatório, do qual Nossa Senhora procurava elevar os bons para o céu, enquanto o diabo se esforçava para arrastar os maus às profundezas do inferno.
Arquitetura
Sob forte orientação dos jesuítas alemães, a arquitetura sacra modificou paisagens, trazendo as igrejas neogóticas de torres altaneiras, janelas ogivais com vitrais coloridos e esguias colunas a sustentar as três naves de templos maiores erguidos em centros urbanos, como a bela catedral de Santa Cruz do Sul e a matriz de Venâncio Aires. Na paisagem rural, pode-se ver até hoje, ao longo de uma mesma Picada, dois templos com esguias torres: o católico e o evangélico. Na arquitetura urbana desponta, em 1858, von Normann, responsável pela construção do Theatro São Pedro. Porto Alegre reuniu um grupo teuto bem sucedido economicamente, surgindo arquitetura de influência alemã em residências e em edifícios públicos. Assim, Theo Wiederspahn projetou a atual sede dos Correios e Telégrafos, o MARGS (Museu de Arte do Rio Grande do Sul), o Banco Safra (antigo Cine Guarany), o Centro de Cultura Mário Quintana (ex-Hotel Majestic), o edifício Ely, com escritórios comerciais, e do Shopping Total (ex-Brahma). Otto Menchen construiu a Alfân-
dega de Porto Alegre, além de elegantes residências nos bairros Menino
Deus e Moinhos de Vento. Simão Gramlich construiu a catedral de Santa Cruz do Sul, a matriz de Venâncio Aires e o prédio do atual Núcleo de Cul-
tura local. Rudolf Ahrons, com requisitado escritório de engenharia, produ-
ziu entre 1910-20, construções particulares e para o governo (Banco da Província). José Lutzenberger construiu a igreja São José “dos alemães”.
tendo sido também excelente aquarelista,
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Teatro São Pedro em Porto Alegre, inaugurado em 18568. Construção do arquiteto alemão Felipe von Norman.
Entre os escultores ressaltam Miguel e João Vicente Friedrich (pai e fi-
lho), além de Adlof, que adornaram residências, edifícios públicos e monumentos lapidares (Doberstein, 1992; Weimer, 1994, p. 185-197). Artes
Além de Lutzenberger, saliente-se na pintura a Pedro Weingártner, o meticuloso retratista do cotidiano da imigração. Na atualidade, as obras de Ernesto Frederico Scheffer constituem o acervo exclusivo do Museu de Novo Hamburgo, sendo das raras pinacotecas mundiais com essa peculiarida-
de; situa-se na parte alta de Novo Hamburgo, integrando o bairro histórico, que preserva arquitetura alemã.
Na música, as bandinhas animam bailes e festas ao som de valsas, polkas e schotting; a polonaise, de coreografia especial, abre as danças. Dentre os grandes músicos houve Júlio Grau (flautista laureado na Europa), com-
positor Léo Schreiner, cantora Iracema Amália Haensel. Na dança é preciso citar Lia Bastian Meyer e Tony Petzholt, entre outros. Zeuner foi excelente
ilustrador.
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Cena rural, óleo de Pedro Weingártner. (Acervo do Margs). Museus
Expressão material da cultura de um povo, os museus da área colonial
alemã apresentam acervo de objetos, fotografias, indumentárias, documen-
tos e jornais dos antigos colonizadores, referente à comunidade onde se inserem. Com exceção do museu de Dois Irmãos, são todos de iniciativa pri-
vada. Na área das antigas colônias temos: Museu Histórico no bairro Feitoria de São Leopoldo, com acervo de móveis e ferramentas que testemunham a rusticidade e a engenhosidade dos primeiros imigrantes; Museu Histórico
Visconde de São Leopoldo, fundado em 1959 por iniciativa de municípios
do vale dos Sinos, contém em seu acervo bandeiras de clubes, armas e me-
dalhas de competições esportivas, indumentária, louças e outros objetos a testemunhar a vida urbana do imigrante. O Museu sedia o Instituto Histórico de São Leopoldo, com valioso acervo documental e bibliográfico; Fundação Ernesto Frederico Schejfel, já referido, com pinacoteca do artista História da imigração alemã no RS Cp
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plástico, filósofo e músico homônimo,
filho do município, hoje restaurador
em Florença, Itália; Museu Municipal de Dois Irmãos, instalado em prédio enxaimel, retrata o interior de uma venda colonial, contendo também mó-
veis pertinentes a oficinas artesanais, jornais como o St Michaelsblatt, fotos e documentos; Museu Mauá, em Santa Cruz do Sul, sediado no Colégio
homônimo, com acervo pertinente à imigração no vale do Taquari, incluindo Jornais e documentos, além de objetos arqueológicos; Museu Schinke, em Estrela, reúne acervo coletado pelo casal Gisela e Werner Schinke; Núcleo de Cultura de Venâncio Aires, sediado em prédio residência da família
Storck, 1.328 m”, adquirido pela comunidade em campanha liderada pelo pediatra Flávio Seibt. Contém acervo da colônia alemã do município. O Parque do Imigrante de Nova Petrópolis reúne em área de 10 hectares, transferidos das Linhas interioranas, capela, cemitério, salão de baile, cooperativa de crédito, cantina, escola e residência do professor, ferraria e a ca-
sa paroquial, todos exemplares da arquitetura desenvolvida pelo imigrante alemão.
Núcleo de Cultura de Venâncio Aires, Construção do arquiteto Simão Grimlich, 1929.
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Literatura
Necessário salientar Raul Bopp, diplomata e prosador, com seu belo poema Cobra Norato, além de memórias de viagem e outros trabalhos. O advogado leopoldense Viana Moog, imortal da Academia Brasileira de Letras, ensaísta e crítico, concorre com seu inigualável Um rio imita o Reno, 1938, romance que reporta à colonização do vale dos Sinos, além da novela Uma jangada para Ulisses e outros trabalhos. Ampliando o leque das letras, cabe citar o jesuíta Werner von und zu Miihlen, brilhante professor, com eruditos ensaios sobre religião e problemas ligados à vida. Hugo Muxfeldt trouxe ensaio sobre apicultura. Da parte feminina, além de colaborações poéticas esparsas pela imprensa alemã, houve Carolina von Koseritz, filha do jornalista Carlos von Kosectz. Cronista € tradutora, traduziu na década de 1880 obras de Goethe e Charles Dikens, como alternativa para o francesismo literário então soberano. Menção à memorialista Josefine Wiersch, imigrada em 1920 e que em 1926 editou Durch drei Welten — Através de três mundos. Nele traça interessante paralelo de sua vida na Europa, como filha de ferroviário e governanta na classe burguesa; nos Estados Unidos, onde viu nascer a sociedade consumista durante a I Guerra Mundial; e na colônia alemã do Rio Grande
do Sul, onde se usava a roupa até puir nos joelhos e cotovelos. Sua filha, Maria Rohde deixou relato acerca dos primeiros 25 anos da Colônia de Itapiranga, no oeste catarinense, empreendimento que seu marido dirigiu. Na atualidade, a “literatura alemã” é alimentada por escritores, descendentes ou não de alemães, que se dedicam ou não ao tema imigratório. Entre os de origem alemã, cabe citar a laureada romancista e ficcionista Lya Luft, ora autografando seu bem recebido Perdas e ganhos. Indústria
O Brasil colonial, movido à mão-de-obra escrava, teve diversos tipos de manufaturas, mas a indústria propriamente dita, como processo de trans-
formação de matéria prima em bens de consumo, teve início, no Rio Grande do Sul, na segunda metade do século XIX, obra dos imigrantes alemães e descendentes, que a agilizaram. Jacob Rheingantz fundou em Rio Grande, 1874, a primeira Fábrica de
Tecidos da América Latina. Novo Hamburgo implantou parque fabril. A partir das décadas finais do século XIX, surgiram indústrias diversificadas: bebidas (cervejarias), curtumes, indústria calçadista, móveis (Gerdau os fabricou vergados), produtos químicos (tintas e vernizes Renner e Herrmann), fogões (Wallig e Berta), metalurgia (Gerdau, que adquiriu a Fábrica de Pregos Pontas de Paris), cofres, camas e fogões (Bins), produtos farmacêuticos, História da imigração alemã no RS
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máquinas e caldeiras, temperos (Tonding), camisas (Tannhauser), estofarias, colchões, carimbos, vidros (viúva Brutschke), vitrais (Veit), sabonetes,
perfumarias e tantas outras. No centenário da imigração somavam um total de 647 O poucas origem
indústrias (Daudt, 1952, p. 46-52). Jornal do Comércio de Porto Alegre recentemente publicou umas dezenas de estabelecimentos centenários do Estado, citando os de alemã: chocolate Neugebauer e confeitaria Haenssgen, Ótica Foern-
ges, Metalúrgica Biehl, Metalurgia Gerdau, Fundição Becker, Indústria de Carnes Endler, Alimentos Hidrich, Madeireira Feldmann, Casa Augusto (Hecktheuer), Seguros Livonius, Livraria Rotermund de São Leopoldo, Máquinas Schreiner de Santa Cruz do Sul.
Bromberg: filial alemã na Rua Voluntários da Pátria. Trapiche e depósito próprios.
Associações
O ser vivo é dotado de espírito gregário e o imigrante alemão desenvolveu de maneira significativa esta tendência. Resolveu em comum proble mas
pertinentes à comunidade, como igreja e escola, até estradas abriu, criou centros esportivos, organizou e desenvolveu centenas de clubes culturais e recreativos, como: música (canto e coral), leitura, cavalaria, de dam as, tiro130
Hilda Agnes Húbner Flores
ao-alvo, teatro, bibliotecas... Havia também as sociedades de fins econômicos, como as cooperativas de crédito que Pe. Amstad trouxe para o Brasil, em caráter pioneiro. Fundadas para atender o meio rural, logo se expandi-
rem para as cidades, sob forma de Caixas ou Bancos de Empréstimo. O canto, presente nos momentos de alegria e tristeza, era referencial de ligação de espaço e tempo do imigrante com seu passado cultural. O canto fazia parte da esfera de nostalgia do colono, saudade da pátria e aceitação dos recursos, privações e valores da nova pátria. A seleção da temática das canções visava a formação moral e a elevação do nível cultural dos colonos. Temas como disciplina, honra e fidelida-
de, eram cantados, reforçando o modelo a ser vivido nas comunidades teutas (Radiinz, 1996, p. 123; Flores, 1983). Festas
O imigrante alemão comemora com peculiaridades étnicas uma série de festas religiosas e mundanas, O Natal, muito aguardado, era comemorado com pinheiro transplantado em recipiente com areia e água para maior durabilidade. Era enfeitado na véspera de Natal, escondido das crianças, que tinham atenção desviada por algum passeio ou outra atividade. Cintilantes bolas de vidro (variedade artesanal do famoso cristal da Boêmia) tremeluziam por entre os galhos verdes e alvos flocos de algodão evocavam a neve do Natal europeu. Sob o pinheiro, O presépio e junto a ele, os presentes, quando não eram trazidos pelo Kristkind (lembrando o Menino Jesus), acompanhado pelo Pelznickel, Papai Noel que trazia enorme saco às costas, contendo presentes e também vara para as crianças mal comportadas. A família reunida cantava o Noite Feliz de Franz Gruber, o Tannenbaum e outras emotivas canções natalinas. she
Ano Novo. Em 31 de dezembro, em Montenegro, Três Coqueiros (Carazinho), Venâncio Aires e outras localidades teutas, um grupo de membros da comunidade percorria os lares para as “Felicitações de Ano Novo”, declamando poesias do folclore alemão, cantando, recebendo guloseimas da parte dos moradores e confraternizando com eles. As poesias declamadas na ocasião, reportam ao folclore medieval (Flores, 1985, p. 35-40).
Na Páscoa havia o ninho com ovos de galinha coloridos e recheados de amendoim. Padrinhos distribuíam presentes aos afilhados. O feriado da pas-
coela fazia a alegria da gurizada, pois o ano escolar era esticado, com uma
quinzena de férias por ocasião de Natal. Também Pentecostes incluía o fé-
riado de 2º feira, para gáudio dos escolares.
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O Kerb, homenagem ao padroeiro da igreja, rendia três dias de festa,
começando com missa ou culto pela manhã, depois comilança nas residên-
cias repletas de parentes vindos de longe. À noite o baile na sociedade local atraía toda a família. Junto ao salão havia um quarto com amplas camas on-
de se acomodavam as crianças vencidas pelo sono. Eram imperdíveis as três noites de animado baile do Kerb: ostentava-se vestido novo, matava-se sau-
dades de velhas amizades que acorriam de longe, confraternizava-se jantando na copa anexa ao salão de baile, en erenavam-se namoros.
O baile era divertimento muito apreciado. No interior era organizado pelo vendeiro, que desocupava o armazém para a ocasião, enfeitava-o com palmeiras que havia em profusão na mata. À noitinha todos acorriam, adultos e crianças, e o baile iniciava com a marselhesa, dança de coreografia própria que congregava os presentes, aos pares. Não se economizava valsas, havendo também marchas, polkas, mazurcas e fox. Anexo ao salão, havia a copa, fregiientada por casais ou por jovens namorados. Convidar a moça à copa era sinal de que o namoro tinha intenções sérias. Também o homem casado convidava a esposa para a ceia.
Mais recentemente importou-se da Bavária o Oktoberfest, festa de outubro, que reporta a 17 de outubro de 1810, quando em Munique casaram o príncipe Ludovico da Baviera com a princesa Tereza da Saxônia, com grandes festas que se repetiram anualmente e acabaram por se incorporar à tradição popular. Inicialmente o ponto alto das festas eram as corridas de cavalos, acrescidas depois com desfile de carros alegóricos, escolha de rainha e princesas e bailes abrilhantados com bandinhas. No Rio Grande do Sul o Oktoberfest ocorre anualmente, com
algumas
adequações, como a ausência da corrida de cavalos — praticamente não os há mais pelas colônias, substituídos que foram pelo automóvel e trator. O Oktoberfest é regado a doces, chucrute, muita salchicha e chopp bebido em metro por afeiçoados competidores. Fritz e Frida, gigantes e rechonchudos bonecos em traje típico, recepcionam os visitantes. Entre os municípios que adotaram a festa constam: Santa Cruz do Sul, Igrejinha, Victor Graeff, Santo Cristo, Porto Xavier, Dois Irmãos (festa de São Mi-
guel), Cerro Largo (Oktoberfest das Missões), o Kolonistenfest em Pelotas, o Kerb em Tapejara, o baile de Kerb em São Vicente do Sul, festival do choppe em Cel. Bicaco, o baile do choppe em Ipiranga do Sul. Realce turís -
tico goza o Oktoberfest de Blumenau, Santa Catarina.
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Hilda Agnes Húbner Flores
Culinária O alemão inicialmente estranhou o feijão preto do luso, mas acabou incorporando-a ao alimento diário, como reforço de energias gastas por pesada labuta. Do cardápio constava carne de porco ou de gado, arroz, galinhada, chucrute, batata inglesa preparada no vapor — tudo pouco condimentado
e por isso não do agrado da cozinha lusa, que incorporou temperos fortes da cozinha africana. No correr dos anos, o cardápio se aprimorou.
Famoso tornou-se o “café colonial”, com pães, bolos, cucas, pão-de-ló, rocambole, variedade de geléias, schmiers, queijos, nata, kãesschmier, bis-
coitos, vinho, café, leite e sucos... Este “café alemão”, não trazido pelo imigrante, que veio pobre, mas enriquecido no Brasil à medida que as comunidades iam vencendo etapas sócio-econômicas, hoje constitui atração gastro-
nômica por excelência. Gramado e Canela, cidades da Serra com expressão turística nacional, orgulham-se de oferecer “80 variedades” de guloseimas em seu café colonial — que excede à expectativa do mais afeiçoado glutão. Cadernos de receita da cozinha alemã passam de mão em mão. Telmo Miiller coletou algumas na colônia alemã de São Leopoldo e as editou em Colônia alemã: histórias e memórias.
Para aguçar o apetite, segue esta receita de
Apfelstrudel — Torta de maçã 3 Y2 xícaras de farinha de trigo, 1 pitada de sal, 1 colher de café, de vinagre,
1 gema de ovo, 1 colher de chá, de manteiga, 2 colheres de farinha de rosca. Recheio: 10 maçãs, 10 colheres de sopa, de passas sem caroço, 1 colher de chá, de canela em pó, 2 colheres de sopa, de leite, 1 1/2 colher de sopa, de açúcar de confeiteiro. Preparo: Peneirar a farinha; fazer uma cavidade no centro e colocar o sal, o vina-
gre e a gema com uma xícara de água quente; juntar o óleo e amassar até que a massa fique fina e lisa, sem colar na mesa ou nas mãos. Tapar, deixar descansar em lugar morno, por 45 minutos.
Abrir a massa com a ponta dos dedos sobre a mesa enfarinhada. Regar
com a metade da manteiga derretida, dobrar e recomeçar a esticar. Caso ne-
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cessário, juntar farinha à massa até que ela fique sem furos. Cortar q massa
em duas partes, em forma de retângulo. Derreter a outra metade de manteiga e com ela dourar à farinha de rosca, espalhando sobre a metade da massa. Cortar as maçãs bem picadinhas .
misturar duas colheres de açúcar, as passas e a canela e por último o restanà
te do açúcar. Espalhar sobre cada pedaço da massa, enrola ndo como rocambole. Salpicar o leite. Assar em forma untada e enfarinhada em forno médio. Polvilhar com açúcar de confeiteiro.
Elsa Freitag, Frau alemã, preparando as apreciadas cucas coloniais.
Namoro x casamento
O namoro, entre os alemães, era da livre escolha dos jovens, emb ora
submetido
a um ritual próprio. O namoro iniciava nos bailes, divertime nto
bem quisto na comunidade teuta. Par constante por uns pou cos sucessivos bailes, significava compromisso sério e o namoro, a partir de então, decorria no âmbito da família da moça. O namoro durava por volt a de dois anoé seguido de meio ano de noivado em que a moça preparava o enxoval incluindo os panos de parede bordados com as máximas de sua escolha que mais afinavam com seu gosto estético ou sua gama de valore s.
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A festa do casamento era ultimada no sistema de mutirão, vizinhos au-
xiliando nos preparos e no decorrer da festa, e preparo de lingiiças — tarefa masculina — mas, atribuição feminina. O favor do mutirão A abrangência da festa traduzia o status
que incluía o abate de animais ao preparo de cucas e guloseiera oportunamente retribuído. das famílias dos nubentes: uma
centena e meia de convidados significava famílias econômica e socialmente
bem sucedidas. A comilança era grande, englobando almoço, café da tarde,
jantar e, pela madrugada, uma fatia do bolo da noiva. À dança adentrava a noite e podia durar até o amanhecer, quando todos retornavam a seus lares, para o trabalho. A “hora de arte”, no decorrer da festa, incluía canções e recitação de poesias alegóricas, desejando futuro promissor, muitos filhos e a bênção de
Deus, conforme
uma das canções de casamento:
“Se quiserdes ser felizes,
convidai a Deus para o banquete nupcial”. O compromisso moral assumido redundava em uniões estáveis, abençoadas com uma prole numerosa — sempre bem vinda, porque era mão de obra barata e eficiente para o trabalho da lavoura e do artesanato. Colonos de família numerosa tinham mais chance de “progredir” do que aquelas desprovidas de filhos.
O casamento era para toda a vida e originava famílias numerosas, como a família Dittrich, do interior de Venâncio Aires. Foto de 1913.
História da imigração alemã no RS
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Papel feminino A mulher alemã, sem tabu acerca dos diferentes tipos de tarefas braçais, era parceira do homem nos trabalhos da lavoura, além do que cuidava da
horta, do jardim, da ordenha, do trato das aves, da cozinha, das refeições e da educação das crianças. Procurava manter a casa asseada e limpa, pois era seu “cartão de visita” que exibia orgulhosamente às visitas. Trabalhando em igualdade de condições ao homem (ou mais que ele?), gozava de direitos iguais, ainda que restritos nos tempos iniciais de parcos recursos. Poucas opções profissionais havia. Excepcionalmente era barqueira, como o foi Mariana Diehl e mais um punhado de imi grantes de São Leopoldo, que à época farroupilha alimentaram, ao lado de uma cen tena de barqueiros homens, o nascente comércio entre a Colônia alemã e a Capital. Também a mulher de vendeiro somava ao trabalho doméstico O atendimento do balcão, efetuando encomendas de armarinho junto ao caixeiro viajante. Como parte integrante da educação dos filhos, e da orientação que dava à própria vida, a mulher alemã bordava os característicos “panos de parede”, com máximas extraídas da axiologia germânica e que expres sam seus valores e questionamentos de vida. Borda-os em cores vivas, nos fins de semana ou em noites mornas, depois de concluída a faina diária. Dependurados atrás do fogão e pelas paredes da cozinha e da sala , os panos de parede bordados davam ornamento especial ao ambiente do lar teuto. Exemplificamos com alguns dos muitos axiomas bordad os: Onde dois corações batem em fidelidade eterna,
rosas de amor desabrocham renovadas.
Saúda a Deus, entra e traz felicidade para dentro.
Auf dem Himmel, wo die Engel sind, schaut ja Gott so geme her auf jedes Kind. Hôrt seine Bitte treu bei Tag und bei Nacht nimmis bei jedem Schritte veiterlich in Acht No céu, onde estão os anjos, Deus olha com prazer para cada filho. Escuta seus pedidos, fiel, de dia e de noite, a cada passo concede paternal atenção.
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Hilda Agnes Húbner Flores
Wer bôses von mir spricht, Betrete meine Wohnung nicht, Den jeder hat in seinem Leben Auf sich selbst zu gebem. Quem fala mal de mim Não fregiiente minha casa, Pois cada qual em sua vida Deve cuidar de si próprio.
Pano de parede bordado com a máxima da mulher alema: “A melhor companhia para um homem é uma mulher que saiba cozinhar.”
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Hilda Agnes Hiibner Flores, em Imigração Alemã no Rio Grande do Sul, aos 180 anos de seu início oficial, situa a imigração européia pioneira agendada no contexto da História mundial, do Brasil e do Rio Grande co Sui. Permite viajar pelo Rio Grande do Sul Alemão e perceber que o 1824 é um marco que divide a teuticidade em duas: a originárioterritorial, ou da Alemanha que ficou, e a originário-mundial, ou da Alemanha que emigrou, das quais um dos esteios foi implantado no mundo, através da Feitoria do LinhoCânhamo. A identidade recriada é a marca do imigrante. Quem fica e quem emigra: duas histórias que continuam e se diferenciam. Continuísmo de quem fica e criatividade de quem emigra. Utopias e sonhos diferenciados.Duas Alemanhas começam no dia em que um filho fica e outro emigra. Aquele continua a teuticidade histórico-cultural-territorial, e este começa a teuticidade histórico-cultural-mundial. O alemão do Rio Grande do Sul, por exemplo, chega com sonhos de autonomia pela posse de terras, integrando-se à nova realidade e culturas com sua maneira de trabalhar, viver e crer. Manter a tradição e acolher a inovação — seu grande desafio. A ação e o pensamento enriquecem a nova realidade e dela se enriquecem. O tesouro essencial da nascente teuticidade é o próprio imigran-
te — seus braços, seu coração, sua
mente e suas crenças. A recriação da
teuticidade na realidade sul-rio-grandense e brasileira nasce, se comunica, interage, enriquece e se enriquece nos
grandes encontros com indígenas, portugueses, africanos e subsequentes dezenas de outras etnias.
Família, trabalho e religião — tri-
nômio sagrado do imigrante alemão.
O lazer, o esporte, a música, a arte, a escola, a igreja, O associativismo, a organização, o progresso... tomam vida e resultam desses três sólidos pilares. Católicos e luteranos, contingentemente divididos ideológica e politicamente, se relacionam e solidarizam a partir de necessidades práticas de pessoas, famílias e comunidades, testemunhando que é no amor que os cristãos se reconhecem irmãos. Os frutos dessa percepção surgem, hoje, 180 anos depois, ao natural, atestando o ser cristão como uma marca do imigrante alemão. As teuticidades de quem ficou na pátria territorial e de quem emigrou à pátria mundial, decorridos 180 anos, podem sentar à mesa, no Rio Grand: do Sul, para partilhar os manjares de tradição,
criatividade,
inculturação,
aculturação
enriquecendo-se
e
um-
tuamente.
Por múltiplas razões somos todos, um pouco, os alemães do Rio Grande do Sul. EST Edições se sente feliz em continuar acolhendo historiadores, pensadores, e escritores de emia ale-
" mã e estudiosos do tema da teuticida-
de sul-rio-grandense e brasileira.
Porto Alegre, 20 de maio de 2004, dia da Etnia Italiana, a devedora da impagável dívida da solidariedade alemã em seus primeiros passos no Estado. Frei RovíLIO COSTA Diretor de EST Edições
A identidade recriada é a marca do imigrante. Quem fica e quem emigra: duas histórias que continuam e se diferenciam. Continuísmo de quem fica e criatividade de quem emigra. Utopias e sonhos diferenciados. O alemão do Rio Grande do Sul chega
od OR
a
o cio
o
com sonhos de autonomia pela posse de terras, integrando-se à nova realidade e às culturas com sua maneira de trabalhar, viver e crer. Manter a tradição e acolher a inovação é seu grande desafio. Família, trabalho e religião são um trinômio sagrado. O lazer, o esporte,
2. DD
a música, a arte, a escola, a igreja, o associativismo, a organização, o progresso... tomam vida e resultam desses três sólidos pilares. EST Edições se sente feliz em continuar acolhendo historiadores, pensadores, e escritores de etnia alemã, e estudiosos
do tema da teuticidade sul-rio-grandense e brasileira.
Rovilio Costa
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