Espaço e Sociedade no Rio Grande do Sul [10]
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42 EDIÇÃO

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NO RIO GRANDE DO SUL

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Espaço & Sociedade no Rio Grande do Sul, partindo do estudo das implicações geopolíticas do extremo meridional do Brasil, analisa ainda o espaço físico e seus recursos naturais e desemboca no exame do Homem e do fato social. Um livro que não se atém somente à Geografia mas, ultrapassando suas fronteiras, utilizaa como elemento de análise do Homem — esse ser capaz, inclusive, de transformá-la com suas rodovias, ferrovias, pontes, usinas termelétricas, etc. Os autores concluem a obra afir;mando que “a Geografia do Rio Grande do Sul conforma um espaço em que as desigualdades, ao invés de serem atenuadas, estão sendo agravadas. Caberá ao futuro uma resposta, quiçá voltada para a verdadeira identidade regional, que, apesar da homogeneização imposta pelo sistema, consegue teimosamente subsistir — em sua cultura, que atualmente renasce, em sua natureza, mesmo tão dilacerada, e no espaço social, para o qual algumas mentes, dotadas de consciên-

cia da realidade, começam a planejar mudanças.”

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o st co da h. o ri gé ro » a ir re mo g. igor a.

SPAÇODE; ESOCIEDA “42 EDIÇÃO

| NO RIO GRANDE DO SUL

Capa: Marco Cena Composição: Ricardo F. da Silva Revisão: Charles Kiefer

Supervisão: Sissa Jacoby Editor: Roque Jacoby 1º edição e 1982

2º edição e 1986

3º edição 4º edição

e 1993 e 1995

CIP — BRASIL CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

Bibliotecária responsável: Rejane Raffo Klaes CRB10/586 C837e

Costa, Rogério Haesbaert da Espaço e sociedade no Rio Grande do Sul

[por] Rogério Haesbaert da Costa e

Igor A. G. Moreira. 4º ed. Revista e atualizada. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1995. 110p. — (Revisão, 10) CDU

918.165

911.3(816.5)

OQ Índices alfabéticos para Catálogo Sistemático: Geografia: Rio Grande do Sul Rio Grande do Sul: Geografia Geografia humana: Rio Grande do Sul Geografia social: Rio Grande do Sul Rio Grande do Sul; Geografia social Rio Grande do Sul: Geografia humana ISBN 85-280-0314-0

Todos os direitos reservados qa Editora Mercado Aberto Ltda.

Rua da Conceição, 165

Fone: (051) 221 4022 — Fax: (051) 227 2829

Cx. Postal 1432 — 90030-030 — Porto Alegre — RS

CGC

89.404.149/0001-40 — Insc. 096/0580212

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sumário

EEPOSICADIE SITUAÇÃO

E.

O extremo meridional do Brasil .. ......... Fronteiras: implicações geopolíticas . ......

||. O ESPAÇO FISICO E OS RECURSOS

US Donec raro qt ro PAS ar NATURAIS ss no ope Asibasestgeo LÓGICAS Sastre daab oa St Palha! ctanto a ends oo See sa usa Osmecursos:mineraSUE RSS O relevo ea potencialidade dos solos ....... As características climáticas ............. Os recursos hídricos e seu aproveitamento ..... A vegetação e a devastação do meio ambiente

1.

O HOMEM

E O ESPAÇO SOCIAL

.........

Movimentos internos e distribuição da população Olespacomtura Ri = ui tiro adia LU Infra-estrutura industrial: transportes e energia O-setorindistrial a e ra dem O Rio Grande urbano e uma proposta de regionalização

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|. Posição e situação O extremo meridional do Brasil

O território do Estado do Rio Grande do Sul tem uma área de 282 184 km”, que representam 3,32% da super-

fície do Brasil. No entanto, é preciso descontar 14 656 km”

(área equivalente a um país como o Libano, por exemplo) formados por águas internas, sobretudo de grandes lagoas. Aliás, entre os estados brasileiros, o Rio Grande do Sul é o de maior porcentagem de águas internas.

Com

sua extensão, o território gaúcho compreende

três vezes o de Portugal, oito vezes o da Holanda e treze vezes

o de Israel. É equiparável ao espaço físico da Alemanha Ocidental, sendo, porém, nove vezes menos povoado que o desse

pa is. Essas comparações dão uma idéia da grande potenciali-

dade do Estado, que não possui, como veremos mais adiante, nenhum entrave de ordem física para o seu pleno aproveitamento. O Rio Grande do Sul tem uma localização latitudinal

que vai de 27203'42” (ponto extremo norte) a 33º045'09”

meme

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POSIÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL NA AMÉRICA DO SUL

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AMÉRICA CENTRAL

COLÔMBIA Equador

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ESCALA EQUATORIAL

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o ad ss ve ra at é , to an rt Po . sul de tu ti la de ) sul o (ponto extrem pelo paralelo de 30º sul. Isso significa que, embora fique

mais perto do Equador que do Pólo, o Estado está numa

as ss ma r po o nt ta do ia nc ue fl in o nd se a, ri iá ed rm te in posição a pl du a Ess s. re la po ar de as ss ma por to an qu s te de ar quen as ur lt cu de ia nc tê is ex a o, pl em ex por e, it rm influência pe tipicamente tropicais (como a da banana e à da cana-de-açúcar) ao lado de culturas temperadas (como a do pêssego e a do trigo). A localização longitudinal vai de 49942'41” (ponto

extremo leste) a 57º40'57” (ponto extremo oeste) de lon-

gitude oeste. Como sabemos,

o tempo

de uma

rotação da Terra

é

de um dia. Ora, uma rotação equivale a 360º e um dia tem

aproximadamente 24 horas. Portanto, cada hora corresponde a 15º de circunferência. Como a amplitude longitudinal

do Estado é de 7058/16”, a diferença real (ou solar) de horário entre o ponto extremo

leste e o ponto extremo oeste

é de um pouco mais de meia-hora. Isso significa que, em Torres, localizada no litoral nordeste, o sol nasce meia hora mais cedo que em Uruguaiana, no outro extremo do Esta-

do, pois o movimento aparente do sol é de leste para oeste. Na verdade, em cada longitude existe um horário solar. Mas a aplicação disso seria absolutamente impossível nos dias de hoje. Por esse motivo, criou-se um horário convencional. Assim, o nosso planeta foi dividido em 24 fusos

horários, isto é, 24 faixas longitudinais, cada qual com 15º

e correspondendo a uma hora. A faixa que tem no meio o meridiano de Greenwich (subúrbio de Londres) ficou sendo

O fuso Zero,

De acordo com essa divisão, o Rio Grande do Sul estaria localizado em dois fusos horários: um com três horas e outro com quatro horas de atraso em relação ao fuso de Londres. Podemos imaginar os problemas que essa divisão pro-

vocaria. A cidade de Santa Cruz do Sul, por exemplo, teria

dois horários diferentes. Como o horário convencional foi instituído exatamente para facilitar as relações humanas, o Rio

Grande

do

Sul

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incluído

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52º30' -

4 HORAS

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do Sul

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52030"

tos contrastes sócio-culturais do Estado. O papel da igreja como ponto central, polarizador do crescimento de muitas

comunidades urbanas do interior, é um exemplo da influên10

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do Rio Grande do Sul e em toda a parte leste do país. A localização na extremidade meridional do Brasil ocasiona um problema que tem-se agravado ultimamente: o caráter periférico do Estado em relação aos centros econômicos (São Paulo) e de decisões (Brasília) do país. Com a acentuada centralização do poder político e econômico, ocorrida nos últimos anos, o Rio Grande do Sul começou a perder importância, agravando sua situação de dependência em relação ao Sudeste industrial. sob o aspecto social, o Rio Grande do Sul integra o chamado Mundo Ocidental, o que significa que faz parte de um país de tradição cristã e de economia capitalista. Isso repercute na organização do espaço e serve para explicar mui-

=.

oeste do de Londres. Aliás, toda a porção oriental do Brasil tem o seu horário convencional no mesmo fuso. Assim, enquanto é meio-dia em Londres, são nove horas no Estado

tesis o z, ve a su r Po . co fi rá og ge ço pa cia religiosa sobre o es ta Es do a fi ra og ge a da to e as qu em se eet fl ma capitalista re

da ci s da a rn te in o çã za ni ga or na a, ri iá nd fu a ur do: na estrut

de s xo ei s no , as ri st dú in s da al ci pa es ão iç des, na distribu

transporte, etc.

er ec qu es s mo de po o nã , al ci so o ct pe as o b “Ainda so e nt me ca ri ne ge no do ui cl in tá es l Su do de que o Rio Gran

denominado

Terceiro

Mundo.

Por isso, encontramos

mut-

tas características do subdesenvolvimento no espaço social gaúcho. No entanto, não se deve negar à influência desenvolvimentista ao estilo europeu (como nos vizinhos Argentina e Uruguai) e, mais recentemente, ao estilo norte-americano.

Fronteiras: implicações geopolíticas O conceito de fronteira é frequentemente usado como sinônimo de limite. Contudo, sob o ponto de vista técnico, a idéia de limite corresponde a uma noção linear e a de fronteira a uma noção espacial, que envolve não apenas a linha limítrofe, mas também sua área vizinha. Exemplo disso é a chamada “faixa de fronteira”, estabelecida pela legislação brasileira. No decorrer de sua formação, os limites do Rio Grande do Sul foram muito variáveis, demonstrando a problemática definição da linha divisória do Brasil meridional, área de permanente disputa entre lusos e espanhóis. A fronteira atual, plenamente estabelecida, data tãosomente do início deste século, quando se definiu com o Uruguai a posse sobre as águas da lagoa Mirim. Hoje, dos 3 307 quilômetros de limites, 1727 são compartilhados com os dois vizinhos do Prata: a Argentina

(724 km) e o Uruguai (1 003 km). É importante distinguir

o caráter das duas linhas: enquanto o limite com a Argentina é inteiramente natural, formado pelo rio Uruguai, com a República Uruguaia o limite é, em apreciável extensão, do tipo artificial ou convencionado, obedecendo a um padrão que varia de topográfico (como na coxilha de Santana) a

geométrico (como em Aceguá).

11

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FRONTEIRAS DO RIO GRANDE DO SUL 1

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[|imites interestaduais ou interprovinciais Faixa de fronteira no RS

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Argentina, o território vizinho corresponde eim parte ao delgado corredor de Misiones, entrategica-

mente colocado entre terras gaúchas e paraguaias. Esse é um fato que concorre para a importância geopolítica do Estado

sulino, a um passo da nação guarani, à qual poderá servir, inclusive, como escoadouro da sua produção (Rio Grande é

o porto marítimo mais próximo a Encarnación, no sul do Paraguai). O Uruguai, cuja área corresponde a 60% da superfície do Rio Grande do Sul, é um Estado tampão entre o Brasil e

a Argentina, ao qual os gaúchos estão intimamente ligados, 12

cem

e ad id nu ti on sc de m se e tr es rr te não apenas pela fronteira . al ur lt cu de da ti en id la pe ém mb ta mo co , ca si fí da ca dé na s, ia ár vi do ro es çõ ga li s da ia Com a melhor à je ho e am ar nt me au i ua ug Ur O m co passada, os vínculos ree rt fo um de o ut od pr é o iç ir te on fr organização do espaço gê sde da ci de ro me nú de an gr O lacionamento binacional. a, er iv —R to en am vr Li de r pa im so ca o e -s do in meas, sobressa

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ati. gu ru —U il as Br a ir te on fr da ão aç iz er ct ra ca a ta comple co ti lí po ão aç gr te in na l Su do de an Gr o Ri do O papel sdi in é l Su do a ic ér Am da ão gi re a st va a um econômica de cutível, notadamente no chamado Cone Sul. s do um , ai gu ra Pa e ná ra Pa i, ua ug Ur do as ci As ba mo si ís qu m ri ue ss po o, nd mu do os ic dr s hí to un nj s co re maio potencial hidráulico e para a navegação. Ão Rio Grande do en am it ve ro ap jo cu rio i, ua ug Ur do a ci ba da e rt pa be ca Sul to deverá ser iniciado em breve, conjuntamente com a República Argentina. A extensa fronteira internacional do Estado representa mais de 10% do total das fronteiras do Brasil. Entre as unidades da Federação, somente o Estado do Amazonas tem uma extensão de fronteiras maior que o Rio Grande do Sul. Todavia, enquanto aquele que é o maior Estado da União

apresenta fronteiras internacionais em sua mator parte quase despovoadas, o Estado sulino possui as fronteiras mais

ocupadas do país. Essa característica, aliada à lembrança dos acontecimentos históricos que revestiram a definição dos limites meridionais do Brasil, tem servido de argumento para alimentar preocupações com a chamada “segurança nacional”. Tanto é assim que o maior efetivo do Exército brasileiro está aquartelado no Estado, cujo território foi em boa parte enquadrado na legalmente instituída Faixa de Fronteira,

Ocorre que, pela lei número 6.634, de 2 de maio de

1979, foi “considerada

área

indispensável

à segurança

na-

cional a faixa interna de 150 km de largura, paralela à linha divisória terrestre do território nacional, que será designada

como Faixa de Fronteira”, No caso rio-grandense, quase a metade do território ficou incluída em tal faixa, na qual funciona um permanente controle por parte do governo fe13

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à

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deral, particularmente no que se refere à construção de pon-

tes, estradas municipais e campos de pouso, instalação de

emissoras de rádio e televisão e implantação de empresas de

colonização e loteamento rural.

|

Não obstante as preocupações e precauções, o Rio Grande do Sul não tem problemas fronteiriços, como acon-

tece em muitos países sul-americanos (Argentina e Chile, no canal de Beagle; Peru e Equador, na cordilheira do Condor;

Venezuela e Guiana, na região do Essequibo; etc.). Assim, pela sua posição e situação, o Estado mais meridional do Brasil poderá firmar-se como unidade política integradora das relações entre os países do Cone Sul. Isso dependerá da política externa desses países, consequência direta de seus sistemas de governo.

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|. O espaço físico e os recursos naturais As bases geológicas A natureza dotou o território gaúcho de aspectos f isicos singulares. Os terrenos das diferentes formas do relevo originaram-se nas mais diversas eras da história geológica. Daí a existência de numerosos tipos de rocha, desde igneas, como o basalto, resultante da rápida solidificação do magma (massa incandescente do interior da Terra), ao entrar em contato com a atmosfera, até sedimentares recentes, como

o arenito, resultante da cimentação de grãos de areia oriun-

dos da desagregação de outras rochas. Ao lado de formações geológicas que se alinham entre as mais antigas do planeta, como as das Serras do Sudeste, existem terrenos muito recentes, em permanente acréscimo pelos sedimentos recebidos do interior. Esse é o caso, por exemplo, da restinga de Pernambuco, a mais extensa do Brasil, formada ao longo de milhares de anos e que deu ori-

gem à laguna dos Patos, isolando-a do mar.

.

O atual território do Rio Grande do Sul esteve, no passado geológico, sujeito a uma grande diversidade de ambientes climáticos. Esses ambientes variaram desde os gla-

ciais, atestados ainda hoje por certos tipos de rocha, até os

desérticos quentes, como no caso do deserto de Botucatu, que existiu em todo o sul do Brasil, onde hoje se localiza a bacia sedimentar do Paraná. Como em outras áreas do Brasil, não ocorrem no extremo sul quaisquer fenômenos vulcânicos, próprios de regiões de formação mais recente. Com efeito, os terrenos do Estado estão estabilizados desde muito tempo, sofrendo apenas movimentos insignificantes, como as repercussões de ondas sísmicas dos terremotos andinos. Daí a ausência de grandes

montanhas

e a presença de um relevo suave, produ-

to de uma erosão que vem se processando há milênios. Nos primórdios da formação da crosta terrestre, teve origem o chamado Escudo ou Núcleo Uruguaio -sul-rio-grandense, da era Pré-cambriana (para uma idéia mais precisa das eras geológicas, ver a tabela a seguir). A composição petrográfica da região do Escudo é principalmente de rochas ígneas, como o granito, e metamórficas, como o migmatito, O mármore e os xistos. O granito, característico dessa região, é produto da solidificação do magma em grandes profundidades. Por isso, ele é classificado como rocha ígnea intrusiva. Como o resfriamento se deu lentamente, seus cristais tiveram bom desenvolvimento, podendo ser visíveis a olho nu. O granito aflora em extensas zonas do Estado, como em Caçapava e Lavras do Sul. Os terrenos pré-cambrianos do Rio Grande do Sul aparecem no centro-sul do Estado, ocupando apreciável extensão. Eles vão desde os morros graníticos de Porto Alegre, passando sob o Guaíba e atingindo a região de Encruzilhada do Sul, Caçapava e Piratini, até o território uruguaio. Tratase da província mineralógica mais representativa do Estado. Ela é uma continuação do grande Escudo Brasileiro, que, como prolongamento da Serra do Mar, mergulha sob camadas de idade mais recente, na altura de Araranguá (SC), para reaparecer apenas nas vizinhanças de Porto Alegre. 16

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SINOPSE GEOLÓGICA DO RIO GRANDE DO SUL

ERA GEOLÓGICA

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MILHÕES

Proterozóica |

Metamórficas (migmatitos,

xistos, quartzitos)

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Ígneas (granitos, básicas e

Escudo sul-

ultrabásicas) e sedimentares

rio-grandense

(arenitos)

Minerais: cobre, calcário, cassiterita, ouro, etc.

345

Permocarbonífero

Sedimentares (folhelhos,

Permiano

280

arenitos) Minerais: carvão, “xisto”

Triássico

225

Depressão periférica

O

Mesozóica

ROCHAS PRINCIPAIS E OCORRÊNCIAS MINERAIS IMPORTANTES

4.500

Pré-cambriano

Eopaleozóico

Paleozóica

REGIÃO GEOMORFOLÓGICA

Sedimentares (arenitos fluviais e lutitos) |

Jurássico

|

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Cretáceo

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Quaternário

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Sedimentares (arenitos

eólios)

Planalto e

cuesta de Haedo

Ígneas (basalto, granófiro)

Pedras semipreciosas: ametista, ágata

Depressão, |. | Sedimentares (áreas esparsas) Planalto, Escudo

Cenozólica Planície costeira | Sedimentares e sedimentos e vales de aluvião | não-consolidados

17

Na era Paleozóica, devido a alteração das condições ambientais, ocorreram formações geológicas sedimentares. Isso aconteceu em faixas, a partir do Escudo, em uma ordem cronológica sucessiva. Essas formações resultaram, por-

tanto, da deposição de sedimentos transportados de outras ' áreas. E importante destacar que grande parte das formações geológicas subsequentes aos terrenos cristalinos pré-

cambrianos estão presentes também em outras áreas da ba-

cia Platina. É nessas formações que ocorre o carvão catarinense e paranaense, bem

como

os xistos (folhelhos pirobe-

tuminosos). A era Mesozóica é de grande interesse no estudo da geologia sul-rio-grandense. Primeiro pela alteração climática nela verificada, com o surgimento do deserto de Botucatu, e, segundo, pelo tectonismo que deu origem a possantes e prolongados derrames de lava. Esses derrames originaram as mais importantes camadas de rochas mantenedoras do relevo do Planalto Meridional. No Rio Grande do Sul, esse planalto cobre cerca da metade do território. Os derrames de lava representam a maior atividade vulcânica que se conhece no globo. Eles estenderam-se por uma vasta área da bacia Platina, desde o Uruguai até o sul de Goiás. Cerca de um milhão de quilômetros quadrados foram cobertos pelas lavas, oriundas, presume-se, não de

vulcões como os que hoje conhecemos, mas sim de grandes | fendas abertas na crosta, cnamadas geoclases. Os sucessivos derrames alcançaram sua maior espessu-

ra na borda leste do planalto, nas proximidades de Torres, que torres famosas As metros. 000 1 aproximadam ente com resque do são mais nada cidade-balneá à rio nome deram quício do antigo planalto que se estendia sobre O Atlântico. A disposição dos derrames em camadas reflete-se nas formas de relevo, frequentemente composto de patamares, que formam verdadeiras escadas. A existência de camadas de arenito (resultante da deposição de sedimentos transportados

pelo

vento),

entre

as camadas

de

basalto,

prova

a

ocorrência de clima árido durante a fase de vulcanismo. Ainda hoje, a estratificação do arenito mostra nitidamente

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na os id nt co s se Ga . es nt te is ex o tã en s na du a orientação das o; sr ha s de da vi ca de ão aç rm fo la pe lava foram responsáveis

cu si ve de as ad am ch o sã s de da vi cha. Quando ocas, essas ca de me no O m te as el , is ra ne mi las: quando preenchidas por o(c s do vi ol nv se de m be do an qu , is ra ne mi am ígdalas. Esses . te en lm ia rc me co os ad or pl ex o sã ), mo o quartzo ametista ho úc ga to al an pl do ão gi re da ca gi ló to li A composição . as ic ân lc vu ou as iv us tr ex as ne íg as ch ro é basicamente de do vi de a, en qu pe o it mu a ri et om ul an gr a um m Essas rochas tê a. gm ma lo pe a id fr so da pi rá o it mu o çã ca fi di li à so ão iç os mp co a me or nf co s, po ti is do de ser Elas podem oed pr s, ea ár s ma gu al Em . em ig or u de es lh e do magma qu de a, id ác a e ad nt ze in ac a ch ro a um é e qu o, ir óf an gr mina o vido à regular quantidade de sílica que contém. Em outras áreas, predomina o basalto, que é uma rocha escura e básica, pois tem pequena quantidade de sílica. Essa distinção das rochas vulcânicas é muito importante, pois ela comanda os tipos de solo: arenosos, claros e ácidos, quando prove-

nientes da decomposição do granófiro; ou argilosos, mais es-

curos e básicos, quando formados pela decomposição do basalto. Os derrames de lava basáltica estenderam-se também sobre áreas atualmente de planície, dando origem, no extre-

mo oeste, à zona dos melhores campos do Estado. Presume-se que os terrenos sedimentares que hoje formam uma depressão no centro do Rio Grande do Sul foram uma região de pântanos e lagos durante o período Permiano, limitada a oeste por um mar que ocupava a atual bacia do Paraná. Com o soerguimento dos Andes, no per íodo Ter-

ciário, esse mar começou a ser isolado e colmatado, proces-

so que se completa hoje com a sedimentação dos rios Paraná e Uruguai no estuário do Prata. A topografia sedimentar permiana foi encoberta, no todo ou em parte, pelas dunas do deserto Botucatu e, a seguir, afogada pelo vulcanismo jurássico-cretáceo. Admitem alguns autores que a drenagem, antes do assoreamento pela desertificação, era do tipo endorreica, ou seja, interna, com todos os rios convergindo para lagos ou charcos — habitat dos famosos fósseis (sáurios) de Santa Maria.

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GEOLOGIA

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do ia og ol ge a o, ri ná er at Qu e Nos períodos Terciário s to en am lh fa os s i a t n e m a d n u £ os Rio Grande teve como marc cu Es o am er gu er so e qu s to en responsáveis pelos desnivelam s se Es o. ic ân lc vu oic ít en ar to al an pl o do e, em maior escala, e rt pa de an gr de ão aç rm fo a a nd ai falhamentos ensejaram o. ne râ to li r na gu la ão rd co l ua at do das lagoas de ão aç rm fo la pe l ve sá on sp re o od rí pe O Terciário, fe in o, ob gl do s ea ár as tr ou em eo ól tr grandes jazidas de pe . do ta Es no ie ic rf pe su s de to si pó de ou lizmente não deix na gu la la a pe rt be co en a, oc ép a ss a de ic Uma formação geológ

l, ta en in nt ma co or af at pl a e br so m é b m a a t ad dos Patos e situ o, a nt et tr en , e, qu eo ól tr s pe õe de cç pe os es pr nt ce u re motivo não obtiveram resultados promissores. Lembremos que o Rio Grande do Sul, até por volta do médio jurássico e médio cretáceo, quando se deu a fragmentação do continente de Gondwana, fazia parte de uma

imensa massa continental, que incluía a África de hoje. Por-

tanto, estava sujeito a condições climáticas totalmente diversas e com influências oceânicas provenientes de oeste. Ao.se esboçar o oceano Atlântico, ocorreram numerosos falhamentos na porção oriental do Estado, originando importantes feições geológicas, entre as quais a fossa ou bacia de Pelotas, hoje parcialmente coberta pela laguna dos

Patos. Nessa época formou-se a escarpa dos Aparados da Serra, entre Torres e Osório, como resultado de um falhamento geológico. Hoje em dia, essa escarpa já foi recuada pela erosão.

Durante o Quaternário, período mais recente da his-

tória geológica, as condições climáticas propiciaram intensa erosão e transporte de sedimentos, cuja deposição, junto a um alinhamento de falhas, serviu de base para a formação

da planície litorânea. Presume-se que, na época, os rios fossem bem mais potentes, em virtude do volumoso transporte de sedimentos que realizaram. Assim, existem quatro regiões geológicas no Rio Grande do Sul: o Escudo, basicamente pré-cambriano, a depressão sedimentar permo-triássica, o planalto jurássicocretáceo e a planície cenozóica litorânea.

21

A análise geológica e petrográfica, isto é, dos tipos de rocha de uma região, é imprescindível para a compreensão das formas de relevo e dos tipos de solo, os quais, juntamente com a importante ação do clima, influem na cobertura vegetal e no aproveitamento do espaço pelo homem. Se não

fosse essa inter-relação de elementos, o estudo da geologia para o entendimento do espaço geográfico seria nulo.

Os recursos minerais

Apesar de ter uma estrutura geológica complexa, o Rio Grande do Sul não possui grande quantidade de rochas mineralizadas, economicamente importantes. Apenas rochas de baixo valor econômico ocorrem em abundância no Estado, como as de uso na construção civil: basalto, granófiro, granito, calcáreo, argila. No entanto, o Rio Grande do Sul apresenta as maiores reservas nacionais de carvão mineral. Devido a sua origem vegetal (deposição de resíduos de grandes florestas, há milhões de anos), o carvão não é considerado um mineral, mas sim uma rocha sedimentar de origem orgânica. A denominação carvão mineral é utilizada para diferenciá-lo do carvão vegetal, produto resultante da combustão da madeira. As condições ambientais que propiciaram a formação de depósitos carboníferos no Rio Grande do Sul ocorreram no final da era Paleozóica. Possivelmente devido ao tipo diferente de matéria original, em consequência do tipo de vegetação geradora e da singularidade do ambiente físico, o carvão gaúcho resultou com menor poder caloriífico que o catarinense. Em geral, ele possui um teor de água mais elevado e maior proporção de componentes isolados. Numa época em que a busca de novas fontes de energia é uma prioridade, cada país tenta fazer o uso mais pleno possível de seu próprio potencial energético. No caso brasileiro, mesmo contando com um carvão de baixo poder calorífico, a intensificação de sua exploração é uma das alternativas mais imediatas para atenuar o problema energético. Em 1985, o carvão nacional respondeu por apenas 2 6% do consumo global de energia do Brasil; 2,9% foi pro-

% 5 , 6 3 e qu s o n e m da na e o ir ge an tr es ão rv ca r po o d a n o i c r po aev el os eç pr a o d a t r o p m i a nd ai pelo petróleo, em boa parte | dos. as ss no s da % 0 9 de is ma Como o carvão representa o ã s n a p x e de a m a r g o r p o l, ve vá reservas de energia não-reno n e m a d i p a r is ma ar nh mi ca a ri da indústria carbonífera deve o ad iz il ut i fo só , to Al al rr Cu te Descoberto em 1795, em rô Je o Sã o rr Fe de a ad tr Es em 1872, com a construção da O

Cad

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nimo.

rca do ta re di a m i e u q a , al ri st du In o Desde a Revoluçã ra ge na s, ra ei ld ca de o t n e m i c e u q a o o ad vão tem proporcion ão rv ca o l, Su do de an Gr o Ri . No ca ri ét el ção de energia term iqu má s o da çã ta en im al na l pe te pa an rt po u o im desempenh o ad iz il ut é os an ns gu al a. Há ri iá ov rr nas a vapor da Rede Fe , s a d a e u q r a h C de ão rv ca O e o, nt me para a produção de ci ni ti ra Pi s no Fi os Aç la pe o ad , us é mo ni rô Je o Sã o a im próx para a produção de ferro-esponija. Entre as iniciativas capazes de intensificar a produção ção ica eif gas de is tra cen de ão taç lan imp a á est , era nif “carbo de carvão. Considerando a equivalência energética, o gás de carvão é mais barato, o que lhe abre amplas possibilidades no Estado, porquanto é outra opção importante para substituir óleo combustível na indústria. A propósito, já está operando a primeira usina gaúcha, produzindo gás de baixo poder calorífico para empresas de fertilizantes da cidade de Rio Grande, Ademais, o Estado pretende obter a auto-suficiência em

amônia,

que

é

matéria-prima

essencial

à indústria

de

fertilizantes. Nesse sentido funciona a Companhia Rio-Grandense de Nitrogenados. A produção de gás de médio poder calorífico, também chamado de gás de cidade, requer enormes investimentos e tecnologia muito avançada, Além de servir para uso doméstico, esse gás é produto intermediário para a obtenção de hidrocarbonetos líquidos e de metanol. Por enquan-

to, desenvolvem-se estudos de viabilidade, tendo em vista a instalação futura de uma unidade produtiva na capital do Estado.

23

Para atender ao aumento da produção e da demanda de carvão, O governo tem realizado empréstimos externos, vi-

sando à ampliação de minas e melhoria dos serviços de infraestrutura, especialmente os transportes. Iss o provoca altera-

ções na fisionomia e nas relações econômicas do extr emo sul.

A maior jazida do Estado e do país é ade Candiota, no município de Bagé, com uma reserva superior a 8 bilhões de toneladas. Trata-se de carvão betuminoso , com muita cinza

mas minerável a céu aberto. Sua produção é ut ilizada para

abastecer a maior termelétrica rio-grandense, ali localizada — a Usina Presidente Médici. Po r isso, em grande parte o

aumento da produção está na dependência da ampliação da termelétrica, com a construção da segunda fase da usina, Além de Candiota, ao longo da faixa de se dimentos antigos que contorna o Escudo, estão as jazidas de São Sepé, Iruí, Leão-Butiá e Charqueadas, cada qual com ma is de um bilhão de toneladas de carvão energético. Embora a jazida em que se localize não seja a maior, em termos de produtividade destaca-se a mina Leão ||, no município de Butiá, que em 1985 atingiu uma capacidade de produção de 2 milhões de toneladas anuais. Esse núme-

ro representa a maior parte da produção gaúcha, que anda em torno de 2,6 milhões de toneladas por ano. A mina Leão

|| fornece cimento para diversas indústrias, principalmente de carvão. Não obstante, a jazida, considerada como a melhor em termos de carvão metalúrgico no Rio Grande do Sul, ainda não éstá em exploração. Ela fica entre os municípios de Osório e Gravataí, onde o carvão não se encontra a céu aberto, mas também não se localiza a grande profundidade. Segundo a Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM), as jazidas de Morungava, Chico Lomã e Santa Terezinha, esta já no litoral, constituem a reserva carboní-

a

,

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PTI

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SDS

24

j

neração a céu aberto. Ela provoca alterações praticamente irreversíveis no meio ambiente, afetando a cobertura vegetal, o lençol de água subterrâneo e o ar atmosférico. Por

DR

fera de melhor qualidade entre todas as conhecidas no país. Acredita-se que existam mais de 3 bilhões de toneladas, sendo 1 bilhão apenas em Chico Lomã, cuja exploração está prevista para os próximos anos. O maior problema é a proximidade do Banhado Grande, onde se situam as nascentes do rio Gravataí, A poluição é um sério inconveniente nas áreas de mi-

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RR

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die

s do tu es de a id ed ec pr r se ve de ra fe isso, a exploração carbonií

zar, mi ni mi s no me lo pe ou , ar it ev a st vi acurados, tendo em for o nã o iss Se . te en bi am io me ao s sa no da as conseguências

ta Es do ão gi re a ns te ex a um ter de o feito, correremos o risc do atingida, direta ou indiretamente, pelos efeitos depreda-

. os ad iz il ut in os du sí re de ão aç tr en nc co tórios de uma grande

No setor de transportes, as repercussões geográficas da política de valorização do carvão também serão impor-

tantes. No caso gaúcho prevê-se, por exemplo, a construção

de 154 quilômetros de ligações ferroviárias nas zonas mine-

radoras de Candiota, Iruí (município de Cachoeira do Sul), Leão | e Il. A primeira a ser iniciada será a de Minas do Leão a Porto do Conde, no rio Jacuí, com 30 quilômetros de extensão. Há também um projeto para a ligação rodoferroviária sobre o rio Jacuí, entre as minas de São Jerônimo e Triunfo (já existem galerias de mina sob o curso fluvial). Acrescente-se ainda os vários terminais carboniferos portuá-

rios, como os de Rio Grande e de Porto Alegre, além da intensificação do transporte fluvial. Completando sua riqueza em

combustíveis fósseis, O Rio Grande do Sul possui uma das maiores reservas nacionais de folhelhos pirobetuminosos — rocha sedimentar rica em hidrocarboneto, erroneamente denominada de xisto. O verdadeiro xisto é uma rocha metamórfica, com a única se-

melhança de que apresenta uma disposição também em camadas, dita xistosa. Os folhelhos são uma formação eo-pa-

leozóica (permiana) da mesma região do carvão: a depressão sedimentar periférica ao Escudo. Embora a exploração do xisto tenha iniciado em São Mateus do Sul, no Paraná, através de tecnologia desenvolvida pela Petrobrás, as reservas mais importantes estão no Rio Grande do Sul, entre Dom Pedrito e São Gabriel, onde deverá ser instalada, futuramente, a segunda usina beneficiadora do país. Além de ser o substituto mais semelhante ao petróleo de poço, o óleo de xisto apresenta duas vantagens sobre as

demais fontes energéticas alternativas: permite a utilização

da infra-estrutura das refinarias e pode

ser usado em veicu-

los e máquinas movidas pelos derivados de petróleo, sem

25

que estas precisem ser alteradas. Sua exploração fornece também enxofre, de que o Brasil é grande importador (o enxofre é utilizado sobretudo na agricultura e na ind ústria química). Com relação aos minerais propriamente ditos, cuj a ocorrência se concentra na região pré-cambriana, a exploração não é das mais alentadoras. Eles ocorrem jus ta-

mente numa das regiões mais pobres do Estado e que pode-

ria, com a mineração, sair da relativa estagnação em que se

encontra. Lavras do Sul e o ouro, Caçapava do Sul e o cobre, Encruzilhada e a cassiterita (minério de estanho) são re-

lações ainda nítidas na mente de quem manuseou antigos li-

vros de geografia. Contudo, são ocorrências pouco val orizadas pelas pesquisas, pois realmente apresentam pequena expressão comercial. Recentemente, a Nuclebrás realizou trabalhos de avaliação de anomalias radioativas em municípios do Escudo,

visando indicar a presença de urânio, tório, potássio e outros minerais, sempre seguindo a política mineral do momento, ou seja, voltada para a procura de alternativas energéticas e, nesse caso, também atendendo a interesses estratégico-militares. A única informação promissora é de que há indicações favoráveis de reservas de urânio no Estado. A exploração do cobre, importantíssima para o país, tende a se intensificar no Rio Grande do Sul, possuidor de importantes reservas, especialmente no município de Caçapava do Sul (Minas do Camaquã), que ao mesmo tempo é grande produtor de calcáreo. A mina, desativada durante vários anos, devido aos prejuízos alegados pelo proprietário (o grupo Pignatari), e com entraves para ser estatizada pelo Es

governo

federal,

parece

agora

revalorizada,

após

: Ls

%

prospec-

ções geológicas, melhorias de infra-estrutura (em curso) e a previsão de instalação de um complexo metalúrgico do cobre em Rio Grande (até agora a metalurgia é feita em São Paulo, o que, além de encarecer o produto, impede o apro-

veitamento de parcelas de ouro e prata que aparecem em menor quantidade no minério).

Se por um lado faltam pesquisas e infra-estrutura para

Ri

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dos recursos

he

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es

minerais gaúchos,

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26

exploração

do

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a efetiva

o d a m o t do si r te o nã r to se o outro há a vantagem parcial de te on ac o m o c , as ir ge an tr es as pela ação predatória de empres | : . is pa do ce em outras regioes mi se as dr pe s, ta is et am e as at ág de Com a exploração

o: pr o l pa ci in pr a é ho úc ga preciosas das quais o planalto o it mu há ce te on ac o ut br em ão aç rt dutora do país, a expo

tempo. Só agora, quando

começa à faltar o produto para a

s na Mi s da io ér st ni Mi O s, do ra tu fa nu ma de al on indústria naci

ão aç rt po ex a r bi oi pr ra pa as ci ên id ov pr u to ci e Energia soli ve de l ra ne mi do a rn te in ez ss ca es a is po o, ut de ágata em br se ao grande volume de vendas para O exterior. Entre as alterações do espaço geográfico decorrentes da atividade mineira, podemos destacar: a instalação de usinas hidro ou termelétricas, para atender à demanda de energia; a construção de represas para solucionar O problema de água; as instalações da própria mina e de vilas operárias: a frequente integração com estabelecimentos fabris (exemplo: Aços Finos Piratini, também em Charqueadas); as vias de transporte criadas em função da comercialização do mineral; o acúmulo de resíduos e a poluição ambiental.

O relevo e a potencialidade dos solos A geomorfologia do Rio Grande do Sul é reflexo de

s, ico mát cli sos ces pro aos ada oci ass , ica lóg geo ura rut est sua "*

ao tipo de vegetação predominante e, mais recentemente, à própria ação humana. No norte, ocupando quase toda a região de derrames vulcânicos, está um planalto, com lento declive no sentido leste-oeste e delimitado ao sul por uma encosta bastante pronunciada. No centro existe uma depressão, abrigada entre o planalto e o Escudo cristalino. No sul aparecem serras de terrenos muito antigos e erodidos; no extremo oeste, uma cuesta se desfaz em planície e, a leste, a região mais baixa do Estado é configurada pela planície costeira. A forma mais comum do relevo do Rio Grande do Sul é a coxilha. Seu nome vem de cuchilla, que, em espanhol,

quer dizer faca. Na verdade, a coxilha tem um perfil seme-

27

lhante à curvatura próxima à ponta do facão do antigo gaú-

cho, pois é uma elevação modesta e com longos declives. Entretanto, nem todas as coxilhas são iguais. Nas

áreas cristalinas, elas são mais elevadas e têm formas arre-

dondadas; nas áreas sedimentares, elas em geral são mais baixas e mais alongadas. Já nos terrenos vulcânicos, as ele vações frequentemente apresentam declives mais acentu ados. De qualquer modo, a imagem monótona das coxilhas constitui-se numa identidade geomorfológica para o Rio Gran de do Sul, pois tanto sobre as maiores altitudes do Estado, em Bom Jesus, quanto nas superfícies baixas da Campanha, em Uruguaiana, a coxilha é um traço característico na paisagem. As suaves ondulações apenas desaparecem na delgada

escarpa do planalto e adquirem um aspecto um pouco mais acidentado nas serras do Escudo.

PROVÍNCIAS GEOMORFOLÓGICAS

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GEOMORFOLOGIA

(6º)

Escudo Sul-Rio-Grandense

6

Depressão Central ou Periférica

“==] Planalto

Mymer

Escarpa do Planalto

nT=.

Principais vales de forte

“=

Cuesta de Haedo Planície Costeira

ESCALA SO

O

50

100

Colt e

28

=

150 km

dissecação com patamares

em 8 1 3 de é l Su do e d n a r G A altitude média do Rio , o g n e l a e R do co pi o é Estado

do o d a v e l e is ma o t n o p O . os tr i c i n u m , ta oi ly Si la vi na o d a z i l a c o l , de tu ti al de m 0 0 5 1 com | . a n i r a t a C a t n a S pio de Bom Jesus, no limite com

o» ri vo le re do s a c i r t é m o s p i h s a v Numa análise das cur : ro ad qu te in gu se o s mo te e, ns de gran Principais áreas

Área ocupada | Porcentagem (em Km?)

Altitude

do Estado

ns

até 100 m

90 721

33,9%

Litoral, vales do Jacuí, UruIbicuí e médio qual.

101a

35 439

13,2%

Divisor

de

201 a “300 m

32 439

de

301 a

de

601 a 900 m

de

200 m

600 m

mais de

990 m

Ibicuií-Jacuí,

periferia do Escudo oeste do planalto.

e

13,2%

Encosta do planalto áreas do Escudo.

e

66 190

24,8%

Planalto

27 149

10,2%

Parte nordeste do planalto.

15 302

5,7%

médio e por-

ções mais altas do cudo.

Extremo

planalto Vacaria).

nordeste

(campos

Es-

do

de

O quadro revela a presença de uma faixa central de planície (sobre a qual correm os rios Jacuí e Ibicuí), unida

perpendicularmente ao vale do Uruguai, que forma a fron-

teira com a Argentina, e ao litoral, com o formato de uma ossatura. Jean Roche denominou-a diagonal rio-grandense, destacando sua função como eixo de comunicação entre o Atlântico e as planuras platinas e como divisora entre as regiões do planalto, ao norte, e do Escudo, ao sul. A zona basicamente granítica das Serras do Sudeste

tem como morfologia característica uma concentração de

blocos esféricos, resultantes da esfoliação nas encostas sua-

ves das colinas, enquanto os vales estão encobertos pela acumulação dos aluviões. Possui típicas superfícies de cimeira,

como

a de Caçapava,

verdadeiro

platô

cercado

de

29

vales

produzidos por uma dissecação que, não raro, teve origem em falhamentos. O contato do Escudo com os terrenos mais recent es

da depressão

se faz através de encostas geralmente suaves,

mas sempre com uma movimentação relevo, facilmente perceptível.

A depressão

mais pronunciada do

periférica, domínio de amplas planícies

aluviais, formadas pelos rios Jacuí, Vacacaí e Santa Maria, tem seu limite oeste numa topografia pouco acidentada (serra do Caverá, coxilha de Santana) que constitui a frente da chamada cuesta de Haedo, a qual, no extremo oeste, dá

origem a uma das superfícies mais monotonamente planas do Estado — os campos entre Uruguaiana e Alegrete. Nessa região, a única e lendária elevação é a estrutura dômica lantiga intumescência do terreno pela intrusão de magma,

em forma de-abóbada) do cerro do Jarau, com seus 300 metros de altitude, próximo à cidade de Quaraí. O contato depressão-planalto é o mais individualizado entre as regiões geomorfológicas do Estado. Trata-se da região serrana colonial, como é conhecido o rebordo do planalto gaúcho. Constitui-se de escarpas cujo desnível varia desde 1 000 metros, no município de Torres, a leste, até cerca de 100 metros, entre Santiago e São Francisco de Assis, a oeste. Dois segmentos podem ser identificados na encosta:

um, de orientação sudoeste-nordeste, de pequena extensão no

Estado, faz frente ao Atlântico, e outro, de leste para oeste, quase secciona o Estado ao meio. O primeiro segmento tem maior expressividade em Santa Catarina, pois, constituindo os Aparados da Serra, baliza a divisa com o Rio Grande do Sul na linha exata em que

inícia a escarpa. Entre Torres e Osório, já com altitudes me-

nores, atinge entre 800 e 1 000 metros. Poucos e curtos cur-

sos d'água

descem da encosta, entalhando-a profundamen-

te. Exemplo muito conhecido é o Itaimbezinho, impressionante canyon tido como o maior da América do Sul. Embora seja uma atração turística do Rio Grande do Sul, o fundo de seu vale pertence a Santa Catarina.

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, km 0 70 e as qu de ão ns te ex ma nu , O segundo segmento

m ce es cr de e qu , as ad tu en ac s tem escarpas meno

a oeste. Isso se deve ao mergulho

em direção

regional dos derrames de

ça ga el ad ao e ná ra Pa do a ci ba da xo ei ao o lava em direçã e. st oe a s, ai in rm te s ea ár as su em va la mento das corridas de

, to en gm se ro ei im pr do a e qu a ne lí É uma encosta menos reti

s. to en am lh fa s de an gr a a ad ul nc vi ve te es se ne gê cuja am rm fo í, cu Ja O e i ar qu Ta o mo co e, rt Rios de po me ua ág d' os rs Cu a. st co en de a nh li na as ci ân profundas entr

le mp co , os ad ge la mo e co nt me al on gi re nores, conhecidos iib et sc su o la ad pe ic if ns te in é e , qu ão os er de so es oc pr o tam s ho un em st te os rr . mo mo Os is er mp te in o ao lt sa ba do de da li também são produtos da erosão e indicam que a linha de escarpa estendia-se bem mais para o sul. Alguns desses morros isolados, chamados de cerros, aparecem a uma distância de até 25 quilômetros da encosta atual. Esse é o caso do cerro Loreto, em meio à campanha de São Vicente do Sul, mantido por uma camada de arenito. Ao norte, na região do alto Uruguai, o planalto também é entalhado pelos rios, mas não forma uma linha de encosta; apenas configura vales amplos com escarpas escalonadas que, nos altos cursos, chegam até as margens dos rios.

Muitos cursos d'água, ao ultrapassarem as escadas do planalto, formam várias quedas, muitas já aproveitadas para a construção de usinas hidrelétricas. A planície litorânea, de origem sedimentar recente, é a área mais baixa do Estado. Entremeada por lagoas constitui-se de depósitos arenosos pouco consolidados, cuja planura só é quebrada pelo aparecimento de cordões de dunas, tanto móveis quanto fixas. Ela é uma das poucas áreas do Estado em que não dominam as suaves ondulações das coxi-

lhas. Mesmo porque, na terminologia regional, o vocábulo

coxilhas tem conotações fitogeográficas, ligadas a uma vegetação campestre, nem sempre presente na planície costeira. Entre as características do relevo, a declividade é a que mais influi na formação e desenvolvimento dos solos. Aliada ao tipo de rocha, ao tipo de clima e à cobertura vegetal, ela influi no escoamento camada superficial do terreno.

e na infiltração de água na

31

Obviamente, uma declividade acentuada não favorece

a formação de solos profundos. Esse é o caso dos solos de encosta, onde a proteção formada pela cobertura florestal é

a única garantia de uma erosão menos intens a. No momento em

que o homem derruba a mata, e o tem fe ito com grande intensidade, rompe-se o equilíbrio, e, me smo com a instalação de culturas, a camada de solo tende rapidamente a desmantelar -se.

Já disse o geomorfólogo tipo de organização social do atitude em relação à natureza, dades de alteração das formas erosão

ou

protegendo

francês Jean Tricart que o homem é que determina sua Conseguentemente, as ativide relevo, intensificando a

o solo, são produtos da cultura, das

técnicas e da orientação econômica da ação humana. Na encosta gaúcha, por exemplo, a erosão é acelerada pelo uso indiscriminado do solo, fruto, principalmen te, do parcelamento excessivo da terra. Trata-se de uma região minifundiária por excelência, genericamente chamada de colônia. Dispondo de uma porção cada vez mais ex igua de espa ço, o agricultor, mesmo que possua algum conhecimen to elementar de princípios conservacionistas, não tem condições de aplicá-los. O uso da terra é para ele uma questão de sobrevivência e a prática agrícola continuada provoca, em poucos anos, a perda de um recurso natural só renovável no decorrer de um prazo muito longo — o solo.

Além da declividade, o tipo de rocha que lhes dá ori-

gem é outro elemento importante na classificação dos solos. Boa parte das diferenças entre os solos mais espessos e férteis do planalto e aqueles mais rasos e pobres do Escudo está na base geológica sobre a qual se desenvolveram. Existem, contudo, inúmeras diferenciações locais, dependendo da própria declividade e de variações no tipo de rocha (como o granófiro, presente em extensa área do planalto e que parece originar solos mais delgados e arenosos). Essas diferenciações a nível: local levam os pedólogos, que são os estudiosos do assunto, a uma detalhada classificação dos tipos de solo do Rio Grande do Sul. Não existe ainda hoje, contudo, uma classificação pedológica mundial uniforme. Isso nos permite simplifica a r

32

s re te in r io ma de o sã vi ma e, nu ns de an gr ori lsu a gi lo pedo Í vo le , re ia og ol ge s re to fa do os an on ci la re a, fi ra para a Geog vegetação. eee es Num primeiro momento, tivemos a caracterização =

=

bastante simplificada dos solos da encosta

erosão antrópica

=

Pa

se

=

e O problema da

(provocada pelo homem), através do des-

matamento.

Uma vez galgada a encosta, deparamo-nos com os so los do planalto. A menor declividade sugere solos mais estáveis e profundos. Entretanto, a erosão também pode aparecer com

um

intensidade, bastando

uso predatório

do

solo.

para

Numa

isso que o homem

economia

faça

especulativa,

que visa o lucro imediato, é explicável que a conservação do solo seja preocupação

secundária.

Isso, acrescido da mono-

cultura (trigo/soja) que predomina em grande parte do planalto, tem acentuado o cansaço dos solos, obrigando a que grandes áreas sejam periodicamente deixadas em recuperação. Uma vez desprotegidos, os solos são atacados pela erosão, mormente em um clima úmido como o da região. Anualmente, cerca de 330 mil hectares de terras férteis do Estado são carreados para os cursos d'água.

Segundo técnicos do Ministério da Agricultura, den-

tro de 20 anos, dos 26,5 milhões de hectares cultivados no Estado, 23 por cento, equivalentes a seis milhões de hectares, perderão inteiramente sua camada fértil. | Atualmente, os solos gaúchos são os mais problemáticos do país. Além dos fatos citados, eles apresentam o problema de mineralização, devido ao uso indiscriminado de

fertilizantes químicos e à falta de refertilização biológica.

O solo resultante da decomposição do basalto, bem estruturado, especialmente na região das Missõés, necessita apenas de fertilizantes para alcançar algumas das produtivi-

dades mais elevadas do país. Sua utilização, contudo, deve

estar condicionada a diversos fatores, entre os quais o equi-

líbrio ecológico da região. Regioes mais elevadas, como a de Vacaria, possu em

solos arenosos e pouco espessos. Eles são produto da intem-

perização do granófiro, prestando-se mais à atividade pecuá-

ria e à agricultura permanente (fruticultura), já que predo-

33

mina na região uma vegetação de campos limpos e um Clima mais frio em relação ao resto do Estado. Na região das Serras do Sudeste existem solos que

estão entre os mais pobres do Rio Grande. O afloramento

frequente de superfícies rochosas atesta a intensa erosão por

que a área já passou. São solos pobres em fósforo e cálcio ,

muito ácidos, necessitando correção mediante emprego de calcáreo e fertilizantes. O aproveitamento, porém,é apenas razoável. Explica-se, assim, em parte, o reduzido uso agr icola da região, onde vales aluvionais, como o do Seival, em Lavras do Sul, constituem verdadeiras ilhas de solos profundos e férteis, intensamente cultivados. Na depressão central os solos são predominantemente arenosos e têm uma estrutura frágil. Esses problemas, porém, são compensados pela existência de aluviões, que são transportados pelos rios que convergem para a região. Alguns desses aluviões são muito férteis e sustentam atualmente grandes culturas irrigadas, principalmente a do arroz. A destruição de matas-galerias, que mantêm osterraços fluviais cultivados, intensifica os processos de erosão. Com isso, o eguilíbrio ecológico das zonas de várzea começa a ser rompido, com a drenagem dos solos hidromórficos. A implantação do Provárzeas (programa para o aproveitamento das várzeas) tende a acentuar esse problema. As terras mais pobres do Estado encontram-se na fachada litorânea, onde os solos, de textura arenosa e pouco estruturados, impedem muitas vezes qualquer uso agrícola e mesmo uma cobertura vegetal estável. Com o auxílio de fertilizantes, entretanto, a região tornou-se a principal área produtora de cebola do Estado. Finalmente, a cuesta de Haedo, no extremo oeste do Rio Grande do Sul, possui solos delgados, que resultaram da decomposição do basalto. Devido a sua pouca espessura, não se prestam ao uso agrícola. Em compensação, sustentam uma cobertura de gramíneas muito valorizada para à pecuária. Nos vales de aluvião, porém, os solos têm bom valor agrícola. Esse é o caso do vale do Uruguai, que atualmente é uma das principais zonas rizícolas do Estado.

34

cões

Ifica| desertif as famosas Nos últimos anos, tornaram-se de maior área na ocorrem Elas Sul. do no Rio Grande

a te en te en am ir se os gr , tu ca tu Bo o it en afloramento do ar no me nô fe se Es l. ra nt ce o sã es pr de a e na ia ua ug Ur zona de ia ór at ed pr ão aç da o ud et br so s, re to fa os ri vá é resultado de e a ur lt cu ri ag da da vi de in a ic át pr da s vé ra at er qu m, me do ho m co o, iv ss ce o ex ei or st pa um de s vé ra at er qu s, da ma ei qu s da superlotação dos campos de criação. O surgimento de verdadeiros desertos de areia no Estado despertou finalmente a consciência de técnicos e de autoridades, no sentido de que é necessário incrementar práticas conservacionistas de uso do solo. A propósito, a

prática do reflorestamento para a restauração arenosas vem dando resultados positivos.

das

áreas

As características climáticas A necessidade de conhecermos a climatologia regional para a análise geográfica deve-se à íntima relação entre esse

aspecto físico e a ocupação humana, notadamente na organização agrária do espaço. Assim, não nos interessam apenas

as regularidades e generalizações sobre o clima, mas também o conhecimento das variações extremas de certos elemen-

tos, como temperatura e precipitação, tendo em vista sua grande influência para o homem e a produção agr ícola.

A errônea

impressão

de homogeneidade

que

nos dá

um mapa do Brasil dividido em áreas Climáticas, classificadas como equatorial, tropical, semi-árida, etc., deve-se a generalizações muito amplas. Essas generalizações encobrem fatos de grande importância, como a ocorrência de extre-

mos de temperatura de até 5ºC em Brasília e 3º em Belo

Horizonte, ou

verões bem

mais brandos no litoral nordes-

tino (máximas absolutas de 30º em Aracaju, por exemplo)

do que em Porto Alegre. Por isso, a simples análise de generalidades não é suficiente para a compreensão de uma rea-

lidade, esteja ela ligada à natureza ou à atividade humana.

A posição latitudinal do Rio Grande do Sul reflete-se de maneira muito nítida na dinâmica das massas de ar, que impõem ao Estado um tipo de clima entre o tropical e o 35

temperado típico de latitudes médias. Sem embargo das semelhanças com este último, a classificação mais apropriada parece ser mesmo a de subtropical. Uma das principais características do clima do Rio Grande do Sul é a grande variação de su as condições térmicas, às vezes num espaço de tempo muito curt o. A alternân-

cia de ondas de frio e calor, como salientou o geógrafo fran-

cês Jean Roche, ocasiona um clima “açoitan te”, que, ao contrário do que muitos afirmam, é bem difere nte daquele a que Os imigrantes estavam acostumados na Eu ropa. A presença de períodos alternados de baixas temperat uras no inverno é a única semelhança com as condições climát icas do Velho Continente, onde as estações do ano são muito mais estáveis e definidas. O Rio Grande do Sul está localizado na faixa terrestre compreendida entre o Trópico de Capricórnio e o Círculo Polar Antártico, denominada genericamente de zona temperada. A característica básica dessa zona é a existência de um ritmo estacional que compreende, no mínimo, um inverno e um verão, distintos pelas temperaturas que apresentam. A alternância dessas estações é devida, sobretudo, à inclinação do eixo imaginário da Terra, que provoca acentuadas diferenças de radiação solar no decorrer do ano. A posição junto ao Atlântico também tem influência sobre o clima do Rio Grande do Sul. Assim, a maior parte das massas de ar que atingem o Estado são de origem mar ítima e, portanto, úmidas, pois obviamente a evaporação sobre o oceano é maior do que sobre o continente. Durante

encontra-se

sob

a maior parte do ano, o Rio Grande do Sul

a influência de u'a massa de ar chamada

Polar Atlântica. Trata-se de u'a massa fria e úmida, cujo ar,

ao atingir o Estado, vindo do sul, já perdeu grande parte das suas características originais. Por isso, a meteorologia fre-

quentemente refere-se a massas polares em transição para massas tropicais.

Periodicamente, sobretudo no verão, o Rio Grande do Sul é dominado por massas de ar tropicais. Essas massas podem ser de origem oceânica (Tropical Atlântica), formadas sob

36

condições

de

intenso

calor e umidade,

ou de origem

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37

continental

(Tropical

Continental),

secas

e mais quentes,

provenientes do Chaco paraguaio. A caracteristica mais marcante do. clima gaúcho é a

passagem de frentes frias, o que ocorre a u'a média de uma

vez por semana. Frente é a zona de contato entre massas de

ar de temperaturas diferentes. No caso do Rio Grande, as frentes são frias porque é a massa polar que avança, geralmente a partir da Patagônia e na direção nordeste, empurrando u'a massa mais quente, que pode ser tropical ou polar aquecida (polar velha). A frente é uma zona de instabilidade, o que significa precipitações. Por isso, as frentes polares são responsáveis pela maior parte das precipitações que ocorrem no Estado. Elas provocam também quedas bruscas de temperatura, principalmente no inverno. Nessa estação, as temperaturas mantêm-se baixas durante alguns dias, após a passagem de uma frente, ocasiões em que o vento sopra do quadrante sul — O famoso minuano ou pampeiro. Em determinadas épocas do ano, especialmente na primavera,

as frentes

tendem

a estacionar

sobre o

Estado

(frentes estacionárias), provocando chuvas continuadas, que podem ocasionar cheias consideráveis. As secas periódicas, que ocorrem com mais frequência no verão, são devidas em grande parte à fraca atuação das chuvas frontais. Isso acontece quando as frentes que atingem o Rio Grande provocam quase apenas nebulosidade, dirigindo-se em seguida para o oceano. |

A latitude é responsável por diferenças locais no clima.

do Rio Grande do Sul, principalmente no que se relaciona à temperatura. Santa Vitória do Palmar, no extremo sul do Estado, e, portanto, atingida com maior intensidade pelas frias e pelas massas polares subsequentes, tem tem-

frentes

peraturas extremo

médias

menores

que

uma

cidade como

Iraí, no

norte, embora esta esteja em uma altitude mais ele-

vada.

A

altitude

é outro

fator

que

influi no clima do

Rio

Grande do Sul. E ela que explica a ocorrência das médias térmicas mais baixas na porção nordeste, pois essa região é a que tem as maiores altitudes do Estado. Bom Jesus, a cer-

38

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s a r u t a r e p m e t às a nt se re ap , de tu ti al de os tr me 0 00 1 de ca is ea i d n o d as o nt ta l, Su mais baixas do Rio| Grande do de s oe gi re as , do la o r t u o quanto as mínimas absolutas. Por es pr de a e i ua ug Ur do le va O planície, como o litoral norte, » su do ta Es do as ad ev el is ma são central, possuem as médias |

lino.

Além

da

latitude

e da

altitude,

a continentalidade

locais se res contimais a ação

s ica íst er ct ra ca de ia nc tê is ex a ra pa i bu ri nt também co no clima gaúcho. Como sabemos, a terra se aquece € fria mais rapidamente do que a água. Por isso, as áreas nentais apresentam verões mais quentes e invernos frios do que as áreas próximas ao mar, pois não sofrem

amenizadora do ar marítimo. Assim, Uruguaiana, no extremo oeste do Estado, apresenta verões extremamente quentes, tendo sido registradas temperaturas absolutas de até 42ºC. Devido ao fator continentalidade, acrescido pela existência de um relevo favorável à ampla penetração do ar polar, Uruguaiana possui invernos bastante rigorosos. Em consequência, apresenta a maior amplitude térmica do país, isto é, a maior diferença entre a média do mês mais quente e a média do mês mais frio. Por outro lado, a menor amplitude térmica do Estado verifica-se no litoral. As precipitações

mais intensas do

Rio

Grande

do Sul

ocorrem na encosta nordeste. Com uma média de 2 456 mm por ano, São Francisco de Paula é a localidade mais chuvosa

sdo Estado. Nessa região, a atuação das frentes polaérac een

tuada pela presença da escarpa abrupta do planalto, cuja proximidade do mar contribui para o aumento da umidade. O alto Uruguai é outra área de grande precipitação pluvial.

Além

das chuvas frontais, ocorrem

nessa área

mui-

tas chuvas convectivas, pois o calor da estação quente provoca grande evaporação. Além disso, a presença de encostas

também favorece a pluviosidade.

Na Campanha e na planície litorânea, as frentes frias, embora de atuação quase regular ao longo do ano, não pro-

vocam chuvas muito intensas, pois não há obstáculos que ativem a turbulência do ar. O regime das precipitações, ou seja, a sua distribuição

no decorrer do ano, é mais importante que sua quantidade. 39

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Pois bem,

as chuvas do

Rio Grande do Sul ão

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a o € m o , as ci ên nd te s ma gu al cão do ano, embora existam

o. rã ve no s ca se s da a a e er av im pr na as ei ch das

do de an Gr o Ri do a im cl o r, ve de os am ab ac e Pelo qu nre fe di a nt se re ap o nã is po , me or if un s no Sul é mais ou me de po e o, qu ic rm té so me po ti do é e . El es nt va le re o it mu s ca ia nc re fe m di te is ex o, nt ta en l. No ca pi ro bt su mos chamar de . os ic rm s té re lo va s ao ta ei sp re e qu o no ud et br , so is ca lo es çõ Por isso, é possível identificar dois subtipos climáticos no Rio Grande do Sul: subtropical com verões brandos, que ocorre nas áreas de maior altitude, e subtropical com verões quentes, na maior parte do Estado. Segundo alguns autores, o clima do nordeste do Rio Grande do Sul e das porções mais elevadas do Escudo deve

ser chamado de temperado. De qualquer modo, essas áreas apresentam invernos rigorosos, com frequente ocorrência de geada, que pode chegar até 30 dias ao ano. Também ocorrem precipitações de neve, embora ocasionais. No restante do Estado os invernos são brandos e a ocorrência de geada é reduzida. No litoral norte, ela ocorre apenas uma vez por ano, em média, permitindo com isso o cultivo de produtos tropicais, como a cana-de-açúcar, a banana e o abacaxi.

Os recursos hídricos e seu aproveitamento

O Rio Grande do Sul é um dos Estados brasileiros melhor servidos em termos de águas internas. Dotado de um vasto sistema lacustre, cuja navegabilidade compensa a costa baixa e retilínea, de difícil estabelecimento portuário, o Estado dispõe praticamente de um segundo litoral, como bem enfatizaram alguns autores. Além disso, vários rios pemitem a navegação para o interior, ao contrário de muitas

regiões litorâneas brasileiras, onde as encostas mais mes encontram-se paralelas à costa.

ingre-

41

O

Estado

possui rios em

apreciável densidade e volu-

me de água. Isso se deve especialmente à boa ocorrência de precipitações durante o ano todo, à evaporação não muito intensa, especialmente no inverno, e a um solo relativamente permeável, capaz de reter lençóis de água consistentes para a alimentação dos rios nas épocas menos chuvosas. O fato de os cursos d'água correrem tanto em área de planalto quanto de planície é relevante, pois significa a existência de potencial

hidrelétrico nos trechos de maior desni-

vel e de vias de navegação

nos trechos planos. Desse modo,

o Estado dispõe de grandes recursos hidroenergéticos, com expressiva parcela ainda em fase inicial de aproveitamento, e de uma rede de navegação interna lamentavelmente subexplorada. Apesar de muitos rios desaguarem em lagoas, estas possuem comunicação com o mar (no caso da “lagoa” dos Patos, que se comunica diretamente com o oceano e dele

está separada por uma restinga, a denominação correta é laguna). Trata-se assim de um sistema de drenagem exorreica, isto é, com saída para o oceano. O rio Uruguai conflui no estuário do Prata e os rios das bacias de Sudeste terminam por alcançar o Atlântico através de ligação das lagoas costeiras com o mar. O regime fluvial dos rios gaúchos está intimamente ligado aos fatores já expostos, especialmente à intensidade das precipitações, que em geral não apresentam um período nítido de estiagem. Segundo a classificação de Pardé, de 1952 e ainda

hoje muito respeitada, existem no Estado regimes do tipo subtropical — na bacia do Uruguai — e pluvial oceânico do gênero temperado (ou subtropical, numa terminologia mais apropriada) — nos demais rios do Estado. No primeiro caso, os rios apresentam mais de um máximo, ou pelo menos duas cheias estacionais bem marcadas, que ocorrem entre vazantes pouco pronunciadas. O máximo principal ocorre geralmente na primavera (outubro), quando a influência das chuvas frontais associa-se à das chuvas do início do verão.

42

certa

Uma

irregulari| dade

cheias que ocorrem

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das

secas E das

n e m l a t o t s a i l a m o n a a n o i no Estado ocas

te imprevisíveis na vazão dos rios. en , ba aí Gu do o nt me ta or mp Pardé, ao analisar o co na ca us, ope eur s rio de ime reg o com ade rid ila sim u contro erInv de ias che das a ci ân in om ed pr o Sena, onde é nítida a a sm me a com ime reg um tem não o, ant ret ent no. O Guaíba,

reIsso ia. opé eur ia raf rog hid na ca ifi ver se estabilidade que vela uma característica transicional dos rios gaúchos, que

possuem

um regime de acentuada influência oceânica, mas

do gênero subtropical.

O fato de a bacia do

Uruguai

ser compartilhada

com

catarinenses e com argentinos é uma condição que gera entraves para o seu aproveitamento. Nascendo muito próximo ao Atlântico, em altitudes de cerca de 1 500 metros, o Pelotas, que com o Canoas (catarinense) forma o rio Uruguai, é um rio que esculpiu dos rios que cortam tencial hidrelétrico encachoeirados que

vales profundos, a exemplo da maioria o planalto arenítico-vulcânico. Seu poé aumentado pelos numerosos trechos possui. Esses trechos estão localizados

nos lugares onde o rio desce os degraus escalonados dos der-

rames de lava. As barragens de Itá e Machadinho, a serem construdas, assinalam o início do aproveitamento do rio Pelotas. As águas represadas cobrirão uma zona colonial intensamente ocupada, o que provocará grandes transtornos. A tardia valorização dos recursos hídricos do Estado, ao lado da execução de projetos onde o poder de decisão das comunidades diretamente envolvidas tem sido desconsiderado, constitui um agravante na busca de uma organização mais racional do espaço geográfico gaúcho, Para que se tenha uma idéia, as barragens de Itá e Machadinho farão submer-

gir 44 050 hectares, desalojando

cerca de 16 400 pessoas.

6 o municipio de Aratiba perderá 50% de seu território. Quando foi anunciada a construção das represas, com início

previsto para os próximos anos, nenhum agricultor da área havia sido consultado.

Com uma rede hidrográfica tipicamente em “espinha

de peixe”,

a porção

gaúcha

da bacia do

Uruguai já possui

43

alguns de seus rios aproveitados. A principal obra é a hidr elétrica do rio Passo Fundo, que já foi a maior do Estado: ela

fornece 220 000 KWh de energia. Seu lago artificial, de 150 km?, só é menor que o de pesso Real, no Jacuí, que ocupa a expressiva área de 235 km?

E interessante lembrar que raramente os mapas do

Rio Grande do Sul mostram as configurações exatas dos lagos artificiais do Estado, tendendo a exagerar significativamente suas áreas. Geralmente eles cobrem antigas áreas florestais, mas suas margens atuais estão quase totalmente desprovidas de matas. O intenso uso agrícola das áreas circunvizinhas

contribui

servatórios. Com

para acelerar o assoreamento dos reisso, ocorre uma diminuição do potencial

energético, já que este está relacionado ao volume d'água e à altura da barragem. Por esse motivo, prevê-se um curto período de “vida útil” para muitas hidrelétricas do Rio Grande. O maior projeto hidrelétrico do Estado, idealizado na década passada, envolverá conjuntamente o Brasil e a Argentina. Refere-se à construção de quatro grandes usinas no rio Uruguai, numa extensão de 700 quilômetros e que vai do Salto Grande, entre Uruguai e Argentina, a Itapiranga, entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. As hidrelétricas a serem construídas proporcionarão cerca de 5 200 000 KWh de energia, sendo a maior delas a de Roncador-Panambi, nas imediações de Porto Lucena. Prioritária, contudo, a depender de recursos dispendidos pelos dois países, é a construção da represa de Garabi, ao norte de São Borja, com capacidade para 1 800 000 KWh. O rio Uruguai é navegável até a foz do rio Passo Fundo, mas somente nas épocas de cheias. Com a construção dessas barragens, ele se tornará uma grande via navegável. Além

de propiciar considerável geração de energia elétrica, as represas vão regularizar as vazões do rio, constituir prote-

ção contra enchentes e oferecer facilidades para a irrigação, imprescindível à intensa atividade rizicultora na região.

Em

contrapartida, o ônus a ser pago também será

grande — submersão de muitas várzeas cultiváveis e de campos de criação, desaparecimento do salto do Yucumã, em

44

Sta F

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A

s i a r u t a n s o i n ô m i r t a p os os li va is ma s do um a, el rt Po Tenente a t s E l a t s e r o l F e u q r Pa do e rt pa a bo e, el m co e, , do ta do Es ti na a n u a f e a t a m de as dual do Turvo, uma das raras reserv vas do Rio Grande do Sul. io Uruguai, r do ro ei il as br te en lu af r io ma

O Ibicuí, as ad on ci la re as lh xi co s la pe í cu Ja do a está separado da baci

à linha tectônica

Maria, aludida pelos

São Gabriel — Santa

a in st po su a a ic pl ex as lh xi co as ss de ão aç rm fo . A os geólog uur a ci ba io da ár ut ib tr s te an í, cu Ja do em ag en dr versão da

quaia, através de uma provável

ligação entre seu afluente

uUr o ri O ra e pa rt ve e qu m, ri Mi uí ic Ib ) o e al tu í (a ca Vaca guai. Gracas a esse baixo divisor de águas (de no máximo 150 m de altitude), surgiu desde o século passado a idéia de interligação das duas bacias, através de um canal artifical. Há projetos concluídos nesse sentido, mas até hoje nenhu-

ma iniciativa concreta foi tomada. Talvez, com a recente re-

valorização das hidrovias pela política nacional de transportes, os projetos venham a ser reconsiderados. Questiona-se, entretanto, até que ponto a função do canal seria importante, já que a hidrovia correria paralela a

uma estrada de ferro em reestruturação (Porto Alegre—Uru-

guaiana) e a boas rodovias (BR-290, ao sul, e RS-509/BR453, ao norte). Além disso, a produção agrícola da região centro-oeste, cujo transporte seria feito pela via fluvial, não parece dotada de suficiente expressividade para comportar obra de tamanho custo. Seu caráter internacional, ao

permitir a ligação entre Porto Alegre e Buenos Aires pelo interior, também é contestável, pois o mesmo trajeto é feito

por mar, e utilizando navios de grande porte.

Das bacias de Sudeste, uma se destaca sobremaneira —

a do rio Jacuí. O curso principal e seus afluentes drenam as encostas das colônias mais antigas do Estado e a planície conhecida

uma

das

regionalmente

primeiras

como

áreas

do

depressão

Estado

a

central,

ser

que

ocupada.

foi

Os

rios, orientados geralmente de nordeste para sudoeste em seus cursos superiores, seguindo a direção geral dos diaclasamentos do planalto, infletem

para leste ao alcançarem a

planície, em busca das lagoas litorâneas.

45

HIDROGRAFIA

Lag. dos Patos

Trechos navegáveis o ano todo (com tirante d'água

mínimo de 50 cms.)

R>

'

? Lag. Mirim

Lag. Mangueira

Com dois trechos nitidamente distintos — um de planalto, até a altura de Dona Francisca, outro de planície, daí até o delta no Guaiba —, o Jacuí é o rio mais utilizado do Rio Grande do Sul. No trecho superior, a declividade acentuada e a formação de canyons após o chamado salto do Jacuí, permitiram a construção de importantes hidrelétricas, como Passo Real, Jacuí e Itaúba. Na região de planície, a regularização do curso através de barragenseclusas propiciou a plena navegabilidade desde o município de Cachoeira do Sul até a foz. Acrescido a esse eixo de navegação interior, encontra-se o “ramal” do rio Taquari, entre Estrela e o Jacuí, de notável

importância

na canalização da produção

colonial e

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40

1 =Es

do planalto rumo ao porto de Rio Grande. O terminal rodo-

e, nt ce re te an st ba é o, ud nt co a, el tr Es de o i r á i v o r r e f o r d i h odr hi s da o çã za ri lo va re na so as P constituindo um primeiro te or sp an tr o os er on ao e ad id or i vias, após muitos anos de pr rodoviário. os rt Po de a es pr Em a o nd gu se l, No Rio Grande do Su

ao as ad in st de as rg ca s da % 20 de is ma do Brasil (Portobrás), porto de

Rio

Grande

fazem

uso do sistema flúvio-lacustre

. ão ns te ex de km 0 30 1 za li ta to e qu Jacuí—Patos, ia om on ec na a iv at rn te al ão nç fu a su m co te Juntamen im l pe pa um rá te o ri iá ov dr hi te or sp an tr o l, ve de combustí insa vê pre que , vão Car do al ion Nac ma ra og Pr no portante rCha , de an Gr Rio em os zad ali eci esp ais min ter de o talaçã queadas, Porto Alegre e Pelotas. O porto desta última cidade, localizado no canal de São Gonçalo, esteve muito ativo até fins da década de 50. Hoje em dia, está quase abandonado, oferecendo um exemplo fiel da desastrosa mudança na política nacional de transportes. Pode-se prever boas perspectivas para o aproveitamento dos rios gaúchos, mas o processo não será rápido. É in-

justificável que um curso fluvial como o Jacuí, maior que o Tâmisa ou quase tão extenso quanto o famoso Sena francês, permaneça subutilizado diante de sua grande potencialidade. Mesmo o transporte de passageiros deveria ser incrementado. As duas maiores cidades do Estado, Porto Alegre e Pelotas, por exemplo, unidas por uma grande laguna, não possuem uma única ligação hidroviária regular para o transporte de passageiros. Dentro das bacias de Sudeste encontramos ainda rios de menor extensão, mas de grande importância geoeconômica a nível microrregional. Os rios que dissecam a região

do Escudo, liderados pelo Camaquã, têm um padrão de drenagem comum

às regiões de rochas cristalinas, com

verten-

tes de fraca inclinação. Ao alcançarem a planície, divagam em meandros antes de alcançarem a laguna dos Patos (o Camaguá, por exemplo, com foz em delta) ou a lagoa Mirim (rio Jaguarão).

A importância de uma bacia hidrográfica como

unida-

de geográfica para efeitos de planejamento é indiscutível em

muitos casos. Dotado de homogeneidade física quanto à re47

de de drenagem, ao relevo e, muitas vezes, quanto à vegeta-

ção, um sistema de rios pode atuar até mesmo co mo orientador no povoamento e na estruturação das atividades agrárias, como ocorreu no vale dos rios formad ores do Guaíba. Tais peculiaridades levam alguns países a executar progra-

mas de desenvolvimento

específicos a essas unidades espa-

ciais, como é o caso do vale do Tennessee, nos Es tados Unidos, e do nosso vale do São Francisco. Em âmbito muito mais restrito, mas de interesse internacional (brasileiro-uruguaio), temos no Rio Grande do Sul o Programa Especial da Lagoa Mirim, coordenado pela Sudesul, englobando os 62 mil quilômetros quadrados do sistema fluvial comandado por aquela lagoa. Embora sua ação esteja centrada em obras ligadas à irrigação e à energia, tal programa oferece um claro exemplo de aproveitamento múltiplo das águas como recurso natural: — a navegação: a lagoa Mirim possui cerca de 200 km de extensão navegável, acrescidos de um trecho de 32 km no rio Jaguarão e de 46 km no canal de São Gonçalo, que conecta com a laguna dos Patos; — O fornecimento de energia: prevê-se na área a construção das hidrelétricas do Centurião e de Talavera, no rio Jaguarão, envolvendo também o Uruguai: — a utilização das águas para a irrigação agrícola: com a construção da barragem-eclusa do canal de São Gonçalo, em 1977, foi resolvido o problema de salinização da lagoa Mirim, invadida pelas águas do mar em época de seca. Um sistema de irrigação, incluindo a construção de barragens, permitirá tornar cultiváveis 600 000 ha de terras altas gaúchas e uruguaias, embora não solucione o problema das enchentes periódicas, prejudiciais à agricultura (do arroz, especialmente) e à pecuária; — O fornecimento de água para o consumo direto pelo homem: a barragem-eclusa do São Gonçalo permite a utilização das águas a montante para o suprimento de água potável à cidade de Rio Grande (através de um canal adutor de 24 km) e, futuramente, a Pelotas;

— a pesca: essa atividade é uma questão de exploração

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do (e

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à

racional pelo homem. A região da lagoa Mirim é pouco pis-

as st po ex m ra ve ti es s ua ág as e qu a o çã cosa, devido à saliniza e qu s la te s na es ix pe s do e rt mo à e s, rá at o até pouco temp r la fa m se o, çã ga ri ir de as mb bo s la pe filtram a água sugada e qu e as ur vo la s na os ad iz il ut os ic ím qu os ut od na ação de pr alcançam as águas dos rios. Com

relação

ao

lacustre

sistema

como

um

todo,

O

No . as go la s da ie íc rf pe su de an gr a ra st mo ir gu se a quadro s de fo ra óg ge s de ho al ab tr es nt ce re , ba aí Gu ao ta ei sp que re monstraram que se trata de um lago, pondo fim a antigas muito

a respeito.

No

entanto,

e a conformação

do

seu fundo

discussões

mais importante

que a mudança de nomenclatura nos mapas é a preocupação com a poluição de suas águas, pois a pequena vazão de um lago

não favorecem

a dilul-

cão e remoção de efluentes. A RIQUEZA

LACUSTRE

DO RIO GRANDE

DO SUL

Área (km?) | Profundidade

| Navegabilidade

(metros)

Laguna dos Patos Lagoa Mirim Lagoa Mangueira Lago Guaíba Lagoa dos Quadros Lagoa Itapeva Lagoa dos Barros Lagoa do Peixe Lagoa Pinguela Lagoa Tramandaf

1

8,7 7,0 7,4 4,0 (até 40,0) 5,0 4,0 7,0 (até 10,0) 3,0 3,0 2,5

calado

2

|

*no nível mais alto chega a atingir 8 700 km?

VAZÃO MÉDIA NAS PRINCIPAIS EMBOCADU RAS DA PLANÍCIE COSTEIRA Rio Tramandaí —'1,3 mil m*?/min Barra de Rio Grande — 20,0 mil mº /min

Fonte: P.J.V. Delaney (1965)

49

A vegetação e a devastação do meto ambiente A cobertura vegetal do

posição

Rio Grande do Sul expressa a

latitudinal do Estado, localizado numa área de tr an-

sição entre a zona tropical, de predomínio de ma tas Umidas

e fechadas, chamadas latifoliadas (folhas grandes), e a zona

temperada,

onde

aparecem

campinas e florestas mais aber-

tas, cujas árvores têm folhas pontiagudas laciculifoliadas), como forma de adaptação à estação fria. Já o botânico alemão Lindmann, em sua notável obra

“A vegetação no Rio Grande do Sul”, de 1906, dividiu o

território gaúcho em três regiões vegetais: litorânea (denominada por ele “região das areias movediças””, devido ao transporte realizado pelos ventos), campestre e florestal. Há muitas divergências entre os autores sobre os tipos de vegetação do Estado. Para efeitos deste estudo, admitiremos as seguintes formações vegetais: a) Formações florestais: Floresta latifoliada subtropical. Floresta subtropical com araucária. b) Formações campestres. c) Formações complexas litorâneas.

E importante lembrar que, atualmente, a vegetação Lil

original, especialmente as matas, encontra-se grandemente al- |

terada, devido à indiscriminada ocupação humana e à escassez de iniciativas no sentido de criação de reservas naturais. das

O mapa de vegetação a seguir mostra a predominância áreas campestres sobre as áreas florestais. Segundo a

FIBGE, dos 267 528 km?

de área terrestre do Estado,

155 669 eram originariamente ocupados por campos, ou seja, mais de 55%, enquanto as florestas perfaziam apenas

364%.

Portanto, os campos dominam

a maior parte do

território gaúcho, apesar da existência de um

clima úmido,

com chuvas regulares e sem temperaturas excessivamente baixas, condições que, em princípio, predispõem a vegeta-. & ção a um maior desenvolvimento. Diversas são as explicações para esse fato. Muitos au- -

|

tores associam a importância dos campos ao predomínio de

superfíciés suaves e solos rasos. Outra teoria bastante aceita

1

a

a

tara

é a provável existência de um clima pretérito mais seco, a am

nr. «ho

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VEGETAÇÃO

NATURAL

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FORMAÇÕES FLORESTAIS Z

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Araucária

O

Formações Arbustivas

()

Formações Campestres

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*

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Formações Complexas Litorâneas

O

50

100

150

a S a

200

km

do em vista que há diversos indícios nesse sentido, principalmente nas formas de relevo e na estrutura geológica. Segundo Rambo, “grande parte dos campos (gaúchos)

são herança de um clima mais seco, hoje lentamente suj eitos

à invasão da selva pluvial e do pinhal”. E, para Lindmann, “os campos ainda em grande parte vegetam

num

clima flo-

restal moderado, até que a rede das matas ao longo dos cursos d água tenha tido tempo para estender-se sobre uma

área maior, se a intervenção humana não o impedir”. Infe91

lizmente, a ação depredatória do homem, inserido nu m contexto sócio-econômico onde o lucro é a meta básica não só impediu o avanço das áreas florestais, como fê-las

recuar, a ponto de termos hoje apenas cerca de 1,8% do território do Estado coberto por matas originais. A separação entre as zonas campestres e florestais é:

(ou era) bastante nítida. Rambo diz que “visto do alto, o Rio

Grande

se apresenta como uma área campestre, rendilhada e entrecortada de galerias de mato”. Podemos considerar duas áreas distintas: a metade sul do Estado, onde há um sensível predomínio dos campos, e a metade norte, que alterna matas (latifoliadas e com pi-

nheiros) e campos de altitude. Ao longo dos cursos d'água, em todo o território, é frequente a presença de matas-galerias que, a exemplo dos “capões” em meio às superfícies campestres, estão ligadas à maior umidade do solo, seja pela presença do rio ou de fontes de água subterrânea.

À região campestre por excelência do Rio Grande do Sul e, quem sabe, do país é a chamada Campanha, extremidade norte das formações pampeanas argentino-urugualas. Trata-se da paisagem mais típica do extremo-sul, território do gaúcho e dos “peões de estância”, cujo estereótipo, hoje bastante raro, foi difundido por todo o país.

Reino do latifúndio e da pecuária extensiva, os campos meridionais configuram a maior área campestre continua do Brasil. Apesar da aparente homogeneidade fisionômica, eles são mais espessos e ricos em espécies nas porções mais baixas do terreno, onde há maior acúmulo de umidade e os solos são mais profundos. Suas gram íneas possuem um revestimento piloso que diminui a transpiração, tendo em

vista a grande insolação a que estão sujeitas.

Embora o estado herbáceo, rente ao solo, tenha ampla predominância, ocorrem também ervas e subarbustos maiores, conhecidos vulgarmente como “vassouras”. Isso acontece principalmente nos campos do planalto, desenvol-

sobre solos mais arenosos.

vidos

como

ção

“campos

52

limpos,

distinguiu-os

paleáceos'”* e “subarbustivos”.:A denomina-

“gramados” ou

campos

Lindmann

que

““potreiros” foi dada aos verdadeiros formam

dba

a vegetação

mais valorizada

, do ga do o iv ss ce ex io te so pi O e ss fo para a pecuária. Se não em

as rt be co s ie íc rf pe su s de an gr a ri ve ha muitas áreas ainda Srta

por esse tipo de campo.

Espécies arbóreas como a timbaúba, o umbu, a figuei-

ra e O ipê aparecem

nos capões e matas

que delimitam O

contato campo-—floresta. Nos campos do planalto, entre OS s, co ti ís er ct ra ca is ma os são a ri ca Va de ão gi re quais os da

a . ss ná Ne ra pa o-d ro ei nh pi ou a ri cá au ar a ém mb ta e ec apar

região, a frequência de geadas durante

as gramíneas ressequidas tando a criação de gado.

em

grande

O inverno mantém

parte

do ano, dificul-

s ma gu al em ia ár cu pe da ia ór at ed pr de ão aç da Além áreas, a agricultura também tem agido sobre os campos, alterando a flora nativa. Isso acontece na região das Missões e Planalto

Médio, com

o cultivo da soja, e nas várzeas e pla-

nícies aluviais da depressão central e vale do Uruguai, com

a rizicultura. Na maioria das vezes, entretanto, essas altera-

cões não provocam os mesmos efeitos negativos verificados nas áreas de floresta. As formações florestais do Rio Grande do Sul têm como características gerais: — predominância de espécies de médio porte, com

folhas de tamanho também médio ou pequeno; — coloração levemente acinzentada e perda de parte das folhas, especialmente na estação fria (daí serem denominadas “subcaducifólias”). — existência de grande umidade e de diferenças flor ísticas relacionadas em parte às temperaturas médias (espécies

maiores nas encostas e vales e menores no planalto).

Encontramos dois tipos principais de matas subtropi-

cais: as exclusivamente latifoliadas (no alto Uruguai e na encosta: meridional do planalto) e as que se alternam com a presença de araucárias (aparecem em áreas acima de 400 m

de altitude, entremeadas com manchas campestres). As matas subtropicais latifoliadas são mais exuberan-

tes no alto Uruguai, onde também o clima é mais quente e timido. Elas apresentam espécies como canafístula, cedro, grápia, cabriúva,

ipê e várias epífitas. Hoje em dia, muitas

dessas espécies aparecem

apenas nas pequenas

porções de

DS

mata

nativa

remanescentes,

em

virtude da devastação pro-

vocada pela colonização assentada no minifúndio, especial-

mente na primeira metade deste século. Destacam-se como áreas de preservação os parque s estaduais do Turvo, do Espigão Alto e de No noai, cujas exten-

sões vão sendo gradativamente reduzidas, não apenas pela

falta de fiscalização como pela ação de agricultores descen dentes de indígenas sem terra. No mapa a seguir, essas reservas

aparecem como três pequenas manchas no extremo norte do Estado.

oo

DEVASTAÇÃO

FLORESTAL

e

DESMATAMENTO %

=

"

INTENSO

“=.

“ma,

38,08

4

E 4

0

dp

Fonte:

54

MÉDIO

13,87

LEVE

SUDESUL.

11,5

1978.

planalto, de do sul a st co en da l A mata subtropica

onde leste, a o nt me vi ol nv se de Osório a Santiago, teve maior

i nt lâ At ta Ma da s ca ti ís er ct ra ca s ma gu al apresenta

ca, que

OU-É

co en as do in br co e, rt No do de an trora vinha desde o Rio Gr

tas do

Planalto

Brasileiro. Sua ocorrência

numa

área de

s do e -s ve de s do vi ol nv se de o uc po s lo grande declividade e so ar, do e ad id um de ão aç tr en nc seguintes fatores: maior co com

o nd na io nc fu s le va ; es nt ue eq fr nevoeiros

como verda-

de es nt fo de o nt me ra lo af o; rã ve no r lo ca deiras “estufas” de água

nas camadas

de arenito;

menor

insolação

devido

à

e qu mo hu ão de aç tr en nc co e sul O ra pa a ad lt vo o çã si po escoa pela encosta. ta Es do a ad st va de is ma l ta es or fl ão aç rm fo da se aat Tr

do. Devastação essa que teve início nas primeiras décadas ea a ár en qu pe de ão gi re a um até do an qu o, ad ss pa lo cu do sé de mata, como a de Santa Maria, chegou a exportar madeira

para Montevidéu. Hoje, além das pequenas reservas, resta o reflorestamento, feito com espécies exóticas (eucalipto, pinus) e que

nada restaura do ambiente ecológico original. Com relação a

espécies de maior valor econômico, destaca-se o cultivo da acácia-negra, árvore da qual se extrai o tanino, que é uma substância usada para curtir couro. Esse cultivo é feito na região de Montenegro, que apresenta um dos maiores reflorestamentos com acácia-negra de todo o mundo. Outra árvore de interesse econômico, e que já constituiu importante fonte de renda para o Estado, é a ervamate, cujas áreas de produção, hoje de espécies cultivadas,

estão localizadas no alto Uruguai (Erexim, Gaurama) e em Venâncio Aires. Por iniciativa do IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal), o poder público legislou no sentido de que, para cada pé de erva-mate abatido, quatro novas mudas

devem

ser

plantadas.

Segundo

aquele

Instituto,

exigência visa “preservar o mate como espécie importante

a

do sub-bosque das florestas do sul do Brasil”.

É lamentável que, como várias outras, essa lei tenha

eficácia contestada pela enorme falta de fiscais e pela precária condição econômico-cultural dos colonos que fazem 05

a extração. Como

disse um ecólogo catarinense, »

' a lei não

e, ainda que proíba o corte de muitas espécies (como a figueira), o problema maior é a re Posição

Taz

nascer

árvores

das que já foram derrubadas.

Os dados do próprio IBDF atestam que, para 31 000

ha de árvores cortadas anualmente no Estado , apenas 17 000 ha são reflorestados. Com o incremento do consumo de lenha e carvão vegetal, o problema tende a aumentar. O maior produtor de madeira do Rio Grande do Sul é o município de Bom Jesus: acredita-se que disponha de 40 a 90% das reservas florestais gaúchas. Nos últimos 15 an os, suas serrarias diminuíram de cerca de 100 para apenas 23. Até a araucária, árvore típica das matas do planalto, está em vias de ser extinta. A floresta subtropical com araucária caracteriza-se pela presença de dois estratos arbóreos bem distintos: um superior, onde domina o pinheiro (Araucária angustifolia), de folhas pontiagudas e rijas (aciculifoliadas), e outro inferior, de espécies latifoliadas, como a já citada erva-mate (//ex paraguaiensis). Atualmente são muito escassas as áreas do Estado em que

ainda

se encontra

essa mata.

Embora

considerada

por

alguns autores como uma vegetação “fóssil”, vestígio de um clima mais frio que ocorreu no Planalto Meridional, as

maiores evidências mostram que, não fosse a ação devasta-

dora

do homem, a mata dos pinhais acabaria por se sobre-

por às áreas campestres, cuja origem é indubitavelmente anterior. A única reserva protegida da mata de araucária no Rio Grande do Sul é o Parque Nacional dos Aparados da

Serra, no município de Cambará do Sul. É também o único

parque nacional do Estado, mas com apenas 6 666 de seus 10 250 ha desapropriados.

No litoral, que é outra zona de vegetação, encontra-se aquela que, possivelmente, é a segunda mais importante

área de preservação do Estado: a estação ecológica de Taim, nos banhados entre as lagoas Mirim e Mangueira. Seu grande mérito está na proibição à caça, numa das regiões mais visadas pelos depredadores,

26

principalmente com

relação às

o l e b 4 , o r g e n o ç o c s PÇ e p e d e n s i c o e s a c a t s de s, ta es e ' Entr o ã ç a t s e na a i n ô g a t a P da a gr mi e qu e o ã ç n i t x e m a espécime e fria. areno Ad dunas a ndo alterna gaúcha, A larga faix a costeira sas, lagoas, charcos,

campos

€ pequenos

capões

Ge ar

” ge ve de mo co s da ca fi si as cl s ea ár baixas, é uma das maiores to li lo pe da ra pe su só , il as Br no a” ne tação complexa litorâ = . se en nh ral dos “lençóis” mara ti ér es “d te en lm ta to e as qu a st co a um Apesar de ser ca”, onde

predominam

os cordões de dunas, sem atrações

s io os fr nt ve s ta ao er ) ab e es rr o To de çã ce ex om is (c ra tu na

do sul (especialmente no trecho Rio Grande—Santa Vitória do Palmar), o litoral gaúcho é uma importante zona turistica, responsável por um dos grandes fluxos de população “veranista” do país. Isso acontece sobretudo no eixo Porto Alegre—Tramandarí, cidade que, no verão, eleva sua população fixa de 18 para até 300 mil pessoas.

97

HH. O homem e o espaco social Condicionantes históricos e caracter ísticas demográficas No atual estágio do pensamento geográfico, o “espaço” é visto como produto do trabalho humano sobre a na-

tureza. E na relação homem-—meio, portanto, que se desen-

volvem os processos de transformação responsáveis por uma determinada “geografia”. Essa geografia, contudo, não resulta somente das relações sociedade—natureza, porquanto depende sobretudo do tipo de organização social na qual se insere, quer dizer, das relações que os homens mantêm entre si ao longo da história.

Nesse

sentido, o espaço

social gaúcho, a “natureza

humanizada” do Rio Grande do Sul, foi forjada dentro das relações sócio-econômicas do sistema capitalista de produ-

ção. Manifesta, portanto, diferenciações espaciais cuja efetiva explicação só é possível quando recorremos às caracter (s-

ticas específicas com que se deu a reprodução do modo ca-

pitalista de produção em seu território, e não apenas às pe-

comumente

como

fator

culiaridades naturais (enc aradas u se de al rm fo o çã ra st ab à u O “geográfico” por excelência) p ”. ial soc o dr ua "q socia ço pa es O ou ur ut tr es que ico tór his No processo

sul-rio-grandense encontramos as diferentes etapas Ge sua inserção no sistema econômico nacional e supra-nacional.

Começando pelo estágio de Colônia, com base fundamena çad cer ali a, âne por tem con pa eta à se gache l, rura talmente no “desenvolvimento” urbano-industrial, passando por diversas formas de exploração e dependência econômica. Como sabemos, o Brasil surgiu na História a partir da expansão comercial capitalista e teve seu território colonizado em função dos interesses das elites européias, que visavam a obtenção de lucros imediatos através do extrativismo (pau-brasil e, mais tarde, ouro) ou da atividade agrícola (cana-de-açúcar). Durante o período colonial, vivemos sob uma fase da economia internacional denominada por muitos “capitalismo agrário-mercantil”. Nesse contexto, o papel do Rio Grande do Sul foi secundário, tendo em vista a tardia ocupação de seu território (século XVIII). Esse retardamento é explicado por uma relativa inacessibilidade (litoral inóspito,

posição distante dos núcleos básicos de colonização) e pela

ausência de recursos naturais que despertassem os interesses da metrópole. Descoberto por Martim Afonso, no século XVI,o ter-

ritório

gaúcho

só recebeu as primeiras

instalações perma-

nentes de europeus no século seguinte: primeiro com os je-

suítas (provavelmente 1605 e, após a expulsão pelos bandeirantes, o retorno em 1687), depois com estancieiros lagunenses. Rio Grande, primeira povoação oficial, só foi criada em 1737. Nessa época, tinha seu auge no Sudeste o “ciclo da mineração”, que provocou a mudança do centro políticoeconômico colonial do Nordeste (Salvador) para Minas—Rio de Janeiro. Em consequência, as terras gaúchas, ainda em disputa entre lusos e espanhóis, foram requisitadas a desempenhar

com

uma função econômica, estruturando seu espaço base nos processos de intercâmbio com os núcleos mi-

29

neiros,

especialmente

a exportação

de

muares

e bovinos

para transporte e alimentação. Antes disso, o Único vínculo econômico efetivo estabelecido entre o Rio Grande do Sul e o resto da Colônia fora o tráfico de indígenas, disputados pelos bandeirantes paulistas nas reduções jesuíticas.

O fundamento

econômico

básico da apropriação do

espaço gaúcho foi a caça ou preia de gado xucro, cujos rebanhos vagavam à solta, depois de terem sido deixados pelos jesuítas e se expandido pelos campos — única riqueza

“natural” do território aquela época. A transição desse espaço organizado

condições naturais, num relacionamento com

em função

das

íntimo do homem

a natureza, para o espaço de uma sociedade capitaliza-

da, responsável peia separação entre os indivíduos e a terra, só se verificou a partir do atrelamento do Estado à economia nacional, que, por sua vez, articulava-se gradativamente

ao sistema Após lo XIX, a economia

capitalista mundial. a atividade ganadeira e as charqueadas, no sécupassagem de uma economia escravista para uma de mão-de-obra assalariada trouxe novo impulso

à capitalização das elites locais e provocou transformações no espaço regional.

A imigração, produto da tensão social gerada pelo excedente populacional sem terra e sem trabalho, decorrente do processo de desenvolvimento da economia européia, também foi um fator importante nas alterações espaciais, ainda hoje presentes na geografia do Rio Grande do Sul. Ocupando as áreas de mata e tendo como base a pequena propriedade agrícola, os colonos alemães (a partir de 1824) e italianos (a partir de 1875) favoreceram o desenvolvimento do comércio, através da exportação de seus excedentes para outras regiões do Estado e para o centro do

país (ocasionalmente, também para o exterior). O capital acumulado com a atividade comercial, ao lado de incrementar o crescimento urbano, foi o embrião de um setor secun- “* dário que ainda hoje se concentra na zona da capital e ree aião “colonial” circunvizinha.

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ane primário

de capitais no centro. Diante da importância

mantida pelo setor dá se e qu em e, nt ce re is ma a ap et a na economia estadual, re pa , is na io ac in lt mu os li pó no mo s do o çã za li a internaciona do ta Es o do çã la cu ti ar A r. ta le mp co se r po a nd ai r ta es ce no sistema capitalista, entretanto, é profunda, e o espaço geográfico, pleno de contradições e desigualdades, é sua manifestação mais concreta. Segundo estimativas, levantamentos e recenseamentos (estes a partir de 1872), a evolução do contingente populacional gaúcho nos últimos dois séculos foi a seguinte: 1780 — 1803 — 1822 — 1846— 1860 — 1872 — 1890 —

17923 36721 106 196 149 363 370 446 434 813 897 455

Os dados

mostram

hab. hab. hab. hab. hab. hab. hab. a reduzida

1900 — 1 149 1920 — 2 182 1940 — 3 320 1950 — 4 164 1960 — 5 366 1970 — 6 670 1980 — 7777 população

do

070 713 689 821 720 382 212

hab. hab. hab. hab. hab. hab. hab.

Estado

no início do século passado e o grande crescimento verificado no início do século atual, com a população mais do que duplicando a cada 40 anos, o que representa um índice médio de crescimento de 2,5% ao ano. Apesar desse avanço constante, as duas últimas décadas revelaram uma desaceleração: enquanto a taxa de crescimento anual na década de 1950 foi de 2,58%, possivelmente a maior da História do Estado, na de 1960 ela baixou para 2,20% e na de 1970 para 1,55%.

Seguindo essa tendência, é possível estimar que a par-

o tir de 2010 ou 2020 o Rio Grande do Sul poderá atingir sua estabilidade demográfica, em torno de 10 a 11 milhões de habitantes.

61

e

A imigração

representou

importante

fator no Cresci-

mento populacional no final do século passado. Entre 1875

e 1889, por exemplo, entraram 51 340 imigrantes no Esta. do. A partir de 1920, o elevado crescimento vegetativo, representado pelo saldo entre altos índices de natalidade e (ndices decrescentes

de

mortalidade, foi o principal fator da

expansão populacional. A queda do crescimento nos últimos anos deve-se à diminuição da natalidade, que está ligada à urbanização e, em termos práticos, à difusão de métodos anticoncepcionais. Desse modo, a população jovem começa a diminuir em proporção ao número de adultos e idosos. Num primeiro estágio, isso significa elevação da expectativa de vida, que era de 63 anos para o homem e 69 para a mulher, em 1980, e aumento da porcentagem de população na faixa “produtiva”. Mesmo assim, a estrutura etária da população gaúcha apresenta um predomínio dos jovens, cuja exclusão do processo produtivo reduz a população economicamente ativa do Estado. Consequentemente, uma pequena parcela de pessoas tem o encargo de sustentar um grande contingente de população inativa. A simples redução da natalidade não é um elemento de grande expressão, pois o fato de a pirâmide das idades adelgaçar sua base, devido à diminuição do número de crianças, não significa necessariamente um aumento do nível de vida da população. Dados estatísticos genéricos e isolados, como os da composição etária de uma população, não têm grande valor, porquanto omitem diferenças “qualitativas” as vezes muito relevantes entre as pessoas, desde que elas estejam estruturadas em camadas ou classes:sociais, como é o caso do Rio Grande do Sul. Esse tipo de dados se : presta, isso sim, para manipulações com o objetivo de ocultar grandes problemas sociais.

No

que

respeita

à composição

étnica, a. população

gaúcha apresenta um grande predomínio de brancos, supe-

rior a 75% dos residentes no Estado. Isso se deve a uma coeuropéia e à pequena

contri-

buição do negro na formação da sociedade regional, ao con62

57

fundamentalmente

a?

lonização

a de on is, pa do al nt ie or a ad ch fa na u trário do que acontece da io te es O i fo , na ca ri af em ig or de a, av cr es a br mão-de-o co s do em ag iç st me a o, ss di ém Al . al ic op tr a ur vo grande la i fo re mp se o gr ne to en em el o m co s no ia al it e s lonos alemãe iat pr foi na ge di in to en em el o z, ve a su r Po . da zi du muito re irr te ão do aç e up -d oc so es oc pr do o ng lo o ao nt ti e ex nt came tório gaúcho. Seus poucos descendentes são cada vez mais violados em suas “reservas”. Hoje em dia, cerca de 5 000 indios vivem em pouco mais de 5O 000 ha de Segundo a situação por domicílio, acusou os seguintes resultados: População urbana — 5 252 465 hab. — 2 524747 hab. População rural

terra. o Censo de

1980

(67,5%) (32,0%)

Movimentos internos e distribuição da população

O crescimento demográfico de 1,55% ao ano na última década, apesar de manifestar um decréscimo em relação “às décadas anteriores e de ser bem inferior ao crescimento nacional, de 2,48% na década de 70, não é suficiente para desfazer as desigualdades sociais, como sustentam demógrafos e economistas adeptos dos tradicionais “indicadores de desenvolvimento ”. Fraco crescimento populacional é característica de regiões ditas “desenvolvidas”. Mas isso não significa que uma redução de crescimento vegetativo implique, obrigatoriamente, melhoria das condições de vida da população. O caso do Rio Grande do Sul é uma prova disso, tendo em vista que as disparidades na distribuição da renda têm aumentado

“nos últimos anos, como demonstraram os dados disponiveis.

Os próprios movimentos migratórios, internamente e para fora do Estado, são reflexo direto das desigualdades

econômicas e espaciais que caracterizam a sociedade gaúcha. Os movimentos de ocupação do território, que se desenvolveram até O presente século, fizeram do Rio Grande

do Sul uma área tipicamente imigratória (ou seja, de entra-

da de migrantes) até por volta da década de 1920. Daí em

63

diante, os movimentos migratórios diversificaram-se. No con-

junto, podemos estabelecer as seguintes fases de migração:

século XVII — fluxo (e refluxo) de jesuítas espanhóis e portugueses; Século

XVIII

— ocupação

das áreas de campo

gunenses, paulistas, etc; oéculo XVIL-XIX — imigração litorânea e o vale do baixo Jacuí;

por la-

açoriana para a faixa

Século

XIX — imigração alemã (1824 em diante) para “os vales e baixa encosta, e de italianos (a partir de 1875) para a alta encosta do planalto; 14 metade do Século XX — migração interna das “velhas” colônias para o alto Uruguai; Século XX, principalmente a partir de 1950 — êxodo rural para os principais centros urbanos do Estado, especial-

mente a Grande Porto Alegre, e migração rural—rural das áreas de expansão colonial (alto Uruguai) para outros estados. Essa última obedeceu a seguinte ordem: Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e, mais recentemente, Mato Grosso, Rondônia, Acre e até Roraima). Presume-se ainda que haja atualmente cerca de 50 000 gaúchos em ter-

ras argentinas e paraguaias.

Desse modo, observa-se que muitas áreas funcionaram ora como zonas de atração, ora como zonas de repulsão de“mográfica, segundo as características do processo: produtivo, da política econômica e dos mecanismos alteradores da estrutura fundiária. As áreas de campo foram as primeiras a serem povoa-

das. Sua ocupação

foi realizada por luso-brasileiros, com

base na atividade pastoril. Tratou-se de um povoamento rarefeito assentado em grandes propriedades e que até hoje

é retratado na geografia, seja pela dimensão dos municípios,

seja pelas baixas densidades demográficas.

Quando todas as áreas campestres estavam ocupadas,

no final do colonização

século passado, já havia iniciado a estratégica teuto-italiana nas áreas de mata. Tendo como

fundamento a pequena propriedade, as primeiras “colônias”

foram estabelecidas em pontos de travessia da floresta pelos 64

co” m are atu de fim a es, del o xim pró ou o, gad de os inh cam mo elemento de apoio e de segurança no “vazio” até então

existente nas áreas florestais.

Assim,

quadro dicotômico

um

estava sendo forjado

entre as áreas de mata, agrícolas e densamente povoadas, e as áreas de campo, pastoris e de baixas densidades. Esse con-

traste perdurou por longa data. Segundo Paul Singer, apenas com a industrialização é que se verificou a integração entre as duas sociedades, realidades geográficas distintas conheci“colonos”)

(dos

das regionalmente como a “colônia” “campanha” (dos estancieiros).

e a

SS

ÁREAS DE COLONIZAÇÃO

OR

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65

Porto Alegre desempenharia aí um papel decisivo, como núcleo econômico integrador, muito embora o setor

da pecuária continuasse a preponderar ainda por muito tempo, graças a seus grupos políticos dominantes na administração estadual. Apesar de já estarem econômica e socialmente muito ligadas entre si, as regiões da “campanha gaúcha” e “colonial serrana” manifestam clara diferenciação geográfica, mantendo ainda hoje uma individualidade que o quadro abaixo expressa genericamente.

Vegetação nativa

predominante

COLÔNIA

CAMPANHA

florestas

campos

Forma de relevo mais comum

“serras” (vales,

cerros)

planície (coxilhas)

Colonização

alemã e italiana

predominante

(séc. XIX-XX)

luso-brasileira (séc, XVIII-XIX)

Densidades demográficas

médias e altas (pop. concentrada)

baixas (pop. dispersa)

melhor estruturada, com predomínio de pequenos núcleos urbanos

mal -estruturada, com predomínio de

Estrutura fundiária

predomínio de minifúndios

predomínio de latifúndios

Atividade

agricultura

pecuária de grande

Rede urbana

(muitas vilas e povoados)

agrária

dominante

Obs:

(policultura), pecuária leiteira

centros médios

(raros povoados e vilas)

porte e rizicultura,

e de pequeno porte (sufnos, aves)

Não está incluída no quadro a área da lavoura empresarial, em franca expansão no Estado.

Completadaa apropriação das terras, na década de 4 1930, com a ocupação do alto Uruguai por descendentes de 66

antigos colonos, começou a migração

para fora do Estado.

Segundo Geraldo Múller, “entre 1940 e 1950,0 Rio Grande

do Sul apresentou ainda um saldo migratório positivo de ou rn to do sal “o te, uin seg da ca dé Na ”. os du ví di in mil 13,5 se negativo em mais de 162 mil indivíduos, cifra que, entre 1960 e 70, ascende a 340 mil”. E explica: “alguns autores encaram tal fato como uma perda de “capital humano”. No

entanto, encarado sob o ângulo da economia gaúcha em seu conjunto, essa saída de braços e seus familiares foi um ganho, pois, ao desafogar áreas excessivamente densas de população

(do

ângulo

dos interesses dominantes e, portanto,

da racionalidade dominante), desafogaram, igualmente, a pressão sobre as cidades, eliminando ou atenuando possiveis focos de perturbação” (RS: Economia & Política, p. 377). Contudo, a pressão sobre as cidades não foi desafogada. Depois de ocupado o oeste catarinense e o sudoeste do Paraná, a migração tornou-se cada vez mais difícil, devido às distâncias e à diversidade de ambiente, hoje representado pela Amazônia. Então, os migrantes voltaram-se em massa para as oportunidades possíveis dentro do próprio Estado.

A grande meta passou a ser as cidades, o que foi demostrado de modo flagrante pelo Censo de 1980: enquanto 100

dos 232 municípios gaúchos existentes naquele ano diminuíram sua população, municípios da Grande Porto Alegre

como

Sapiranga, Alvorada,

Gravataí e Cachoeirinha dupli-

caram seu efetivo humano em apenas 10 anos. Observa-se a intensidade do êxodo rural pelo próprio acréscimo decenal da população urbana do Estado, em relação ao acréscimo da população total:

Aumento da população

entre 1940 e 1950] entre 1950 e 1960] entre 1960 e 1970] entre 1970 e 1980]

População urbana

Porcentagem de urbanização

387 494 1 023 794 1 107 232

844 132 1 284 002 1 216 068

1 832 860

45,9% 79,7% 91,1%

1277 831

143,4%

Fonte: FEE/RS (Boletim Geográfico, FIBGE,nº 253) e Censo de 1980.

Se”

| t

“A

67

Na década

de 70,

pela

primeira

vez a população ur-

bana cresceu acima da população total do Estado, em valores absolutos, ocasionando, também pela primeira vez, um decréscimo

da

população

rural, que

passou

de 3 111 885

em 1970 para 2 5b6 856 pessoas em 1980. A porcentagem

de habitantes urbanos, já majoritária em 1970 (53%), apro-

ximou-se de 68% em 1980, índice comparável ao de algumas nações muito desenvolvidas.

O ÊXODO RURAL

Milhões de habitantes

(=) POPULAÇÃO RURAL

6

eo

POPU LAÇÃO

URBANA

5

Pass E

47%

e

CEPE

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SRS

ai

oaços ed moen rnonnaonac nsnan peare A aa

o

4

1940

1960

1970

1980

Fonte: Sinopse preliminar do Centro Demográfico — 1980, FIBGE

O êxodo, fazendo diminuir a população rural em quase 600 mil pessoas, levou anualmente à região metropolitana de Porto Alegre cerca de 70 mil indivíduos, muitos deles já tendo feito “escala” em centros urbanos do interior do Estado. Isso só agravou as desigualdades regionais, e inícia-

tivas como a criação de “'centrais de triagem e encaminhamento de migrantes” revelam-se irrisórias diante das dimensões do processo.

Além da migração para a Grande Porto Alegre, sem dúvida o mais intenso fluxo de migrantes na atualidade, ve-

rificam-se também migrações importantes para outros cen68



ão

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ES

Pel, Su do as xi Ca e nt me da ta no , al on gi re tros de influência pal, ci ni mu de se da ca E o. nd Fu o ss Pa .e a lotas, Santa Mari

mo co 70 de da ca dé na u no io nc fu , au gr r em menor ou maio co u (o a nh zi vi un rc ci l ra ru o çã la pu po a ra pólo de atração pa

mu os m ra fo os it Mu . s) re io ma s ro nt ce s ao mo mo escala ru cias m ra fo as uc po s ma u, ce es cr de o çã la pu nicípios cuja po

al on ci la pu po e nt ge in nt co u se am ír nu mi di e qu dades tima década.

na úl-

ci pa ca o, ad or lh me e ss ve ti na ba a ur ur ut tr es afr in Se a ex nt co u se em te an gr mi o em ar gr te in ra tando as cidades pa

s ma le ob pr am ri ti is ex o nã te en am ic at o, pr ic ôm on ec oci to só

à m co er rd pe a se es vi o nã o mp ca o e qu to an nt co s, re maio e tr : en do ri or oc ter o nã ce re te pa en am iv et ef e qu evasão, o 1960 e 1970, enquanto a renda per capita na zona rural gaúcha cresceu em 6,5% ao ano, a das cidades teve um crescimento de apenas 2,1%. Isso prova também que o processo de migração rural-urbana é seletivo, isto é, migram os mais pobres, excluídos do modo de produção, que exige grande capitalização da economia. Efetivamente, a maior parte da população migrante, ou seja, aquela relativa às classes mais pobres, acaba marginalizada nos grandes centros. Ainda assim, seu papel revela-se indispensável dentro da realidade econômica em que se insere: ora como reserva de mão-de-obra barata, na condição de favelada, ora como elo econômico entre difeempregados ao oferecer rentes circuitos econômicos, subalternos tipo camelô. A despeito da propaganda oficial e da grande imprensa, OS gaúchos que têm optado pela outra “saída” em termos de movimento migratório, em direção às zonas pioneiras de ocupação no Norte e Centro-Oeste do pais, não logram da ci s la ” pe am pt “o e qu s a do el qu e da nt re fe di o it mu e rt so des. Os que conseguem êxito no cerrado e na Amazônia são uma minoria em relação ao total que para lá se dirige. Isso norque o sistema econômico repete ali seu mecanismo concentrador, com uma desigual distribuição da terra, uma colonização sem planejamento e colonos despreparados para a nova realidade que devem enfrentar.

Em síntese, a migração hoje, longe de ser uma solução, tem levado apenas a novos impasses, adiando verdadeiras soluções, quem sabe, para quando não houver mais

“fronteiras agrícolas” a ocupar e quando a situação urbana se tornar incontrolável. Para que se tenha uma idéia, em Porto Alegre, o número de malocas cresce em torno de 25%, ao ano, dez vezes acima do crescimento geral da cidade. Em 1980, a densidade demográfica média do Rio

Grande

do

Sul

1970, 20,06 em

era de 29,07

hab./km?

1960 e 15,55 em

contra 24,93 em

1950, tendo dobrado,

portanto, em 30 anos. O mapa a seguir mostra, de modo simplificado, as diferentes densidades no interior do Estado. Observa-se perfeitamente a grande concentração nas áreas minifundiárias coloniais, de rede urbana mais estruturada, onde a média gira em torno de 40 hab./km”em , nítido contraste com a baixa densidade das zonas latifundiárias da Campanha e dos campos do planalto, onde a própria rede de cidades é menos complexa, restringindo-se a centros entre 20 e 80 mil habitantes, relativamente distanciados entre si.

Após a região metropolitana de Porto Alegre, com cinco municípios com mais de 1 000 hab./km? (Porto Alegre, São Leopoldo, Sapucaia do Sul, Alvorada e Esteio),as maiores

densidades a nível municipal aparecem

coloniais de Caxias do

Sul

(Caxias,

nas regiões

Bento Gonçalves), en-

costa da serra (Canela, Gramado, Igrejinha, Taquara), vale do Taquari (Lajeado, Estrela) e alto Uruguai (Santa Rosa,

Erexim, Frederico Westphalen, Planalto, Iraí), esta última menos densa que em 1970, em função da migração. As menores densidades continuavam a pertencer, em 1980, às regiões campestres: — do

Escudo

e extremo

sul (Erval — 2,56 hab./km*;

Lavras do Sul — 3,73; Pinheiro Machado — 4,97): — da Campanha propriamente dita (S. Francisco de

Assis — 5,48 hab./km* : Quaraí — 6,5; Itaqui — 6,63);

— do planalto ocidental (Tupanciretã — 6,86): — do planalto nordeste (B. Jesus — 4,31: Esmeralda — 4,89); é — do litoral centro-leste (Mostardas — 4,5 hab./k m?);

;

70

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Pa

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REL 47



m co , to an rt po m, de ci in co as ix ba is As densidades ma as (p ia ár im pr e nt me ca si ba a ic ôm regiões de atividade econ an gr s da ão nç fu em as ad ur ut tr es e s ca mi nâ toril), pouco di des propriedades rurais.

DENSIDADE

DEMOGRÁFICA

Hab./km?

e

de 2,51 a 10,00

E =)

de 10,00 a 25,00

Ss

de 25,01 a 50,00

de 50,01 a 100,00 + de 100

— e

A Es [| imites microrregionais

11

O espaço rural

O voltado

Rio

Grande

para o meio

do Sul é tradicionalmente um

agrário. Sua história econômica

Estado

apenas

há uma década conseguiu “emparelhar” os setores primário e secundário, até então sob amplo domínio do primeiro.

A pecuária, com o gado introduzido pelos jesu tas, e a

agricultura, fortalecida em definitivo pelos imigrantes , estruturaram um espaço rural francamente dividido, dualista. No dizer do geógrafo Raymond Pebavle, “o colono era a. antitese dos gaúchos das campinas: era o homem da Tloresta, o agricultor isolado com técnicas ainda predatórias, o pequeno proprietário”. E assim como o colono não aceitava o campo, alegando sua baixa fertilidade, embora outros condicionantes históricos estejam sob esse fato, o estancieiro rejeitava a mata, a atividade de cultivo do solo. A vinculação agricultura—pecuária, colono—estancieiro, floresta e campo, consolidar-se-ia principalmente por fato-

res exógenos, por transformações impostas de fora. A inovação tecnológica e a política econômica, que levaram o colono a conquistar campos na região do planalto; a marginalização a que foi (e é) relegada ocasionalmente a pecuária;

a força de trabalho do agricultor minifundiário colocadaa

serviço do estancieiro (o exemplo mais claro ocorre, hoje, nas plantações de arroz) são provas de que a sociedade e o

espaço agrário do Rio Grande do Sul estão atualmente em fase de integração. Embora pareça às vezes um pouco forçada, essa integração deve ser vista no geral como um pro-

cesso irreversível.

Não obstante, ainda encontramos o contraste do espaço latifundiário, concentrado na região “da fronteira”, e o espaço das pequenas propriedades, predominante no planalto e em suas encostas. Os minifúndios, mais numerosos mas com menor área em relação ao espaço latifundiário, tiveram origem na partilha imposta pelo governo imperial, quando da criação das colônias. De lotes iniciais entre 77,4 (São Leopoldo) e

48,4 hectares (Santa Cruz, Nova Petrópolis, Santo Ângelo,

atual Agudo), as propriedades coloniais passarama 35/30 ha,

em 72

1892, fixandose definitivamente ATA

no padrão de 25 ha no

SS

TIPOLOGIA AGRÁRIA

mi Fis e

CS PP

TE

áreas minifundiárias

áreas de minifúndios

áreas latifundiárias predominantemente pastoris

áreas de latifúndios e empresas rurais (arroz)

de colonização agrícola

e empresas rurais (soja)

(Adaptado de Klichemann — 1980)

final do século passado. Com a migração e o fracionamento por sucessão hereditária, esses minifúndios tornaram-se ainda menores, havendo áreas, hoje, com propriedades agrícolas em torno de DB ha, dimensão incapaz para o sustento de uma família que utilize métodos tradicionais. Para Leo Waibel, a área mínima para uma família seria de 55 a 65 ha em áreas férteis e entre 80 e 105 ha em áreas de solos pobres.

Segundo o Estatuto da Terra, é minifúndio “o imóvel rural de área e possibilidades inferiores às da propriedade fa13

miliar”, ou seja, do “módulo rural”, que é “todo o imóvel

rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e

sua família, lhe absorve toda a força de trabalho, garantindo-lhe a subsistência e o progresso social e econômico, com

área máxima fixada para cada região e tipo de exploração”. No Rio Grande do Sul, o módulo rural varia de 2 a 90 hectares, de acordo com a região e o tipo de atividade prioritária a que se dedica. Assim, na Campanha, para a criação de gado de grande porte, o módulo rural é de 70 hectares.

Mais de 80% das unidades de produção agrícola do Estado são consideradas minifúndios, ou seja, estão aquém

das condições para a subsistência e o “progresso”” familiar. Ainda assim, são responsáveis pelo sustento de cerca de 70% da população

rural gaúcha,

mesmo

que a produtivida-

de venha decrescendo no contexto estadual. A região colonial, que já foi até mesmo modelo de estrutura fundiária para o país, e seu “celeiro”, é hoje em sua maior

parte uma área rural degradada, estando o colono

numa situação comparável à do conhecido caboclo brasileiro. Vários são os fatores que levaram a região colonial a esse estágio. Entre eles podemos destacar:

— a excessiva divisão da terra na sucessão de pais para

filhos, dando

resultado propriedades cada vez meno»

como

res e antieconômicas;: — a superexploração

dos solos dai advinda, embora nem sempre eles sejam próprios para a lavoura; — a falta de cuidados técnicos, do que resulta uma intensa erosão e perda da fertilidade do solo. A propósito, Waibel fez uma observação que o alarmou: os colonos usãa-

vam os mesmos métodos agrícolas dos indígenas, com o sis:

tema de “roça” ou “capoeira” Em resumo, a queda da produtividade é função direta da dimensão da propriedade, já que esta inviabiliza a neces”

sária capitalização do para

a aplicação

agricultor, condição

de métodos

imprescindível

mais produtivos.

Colocam-se

assim, na estrutura fundiária gaúcha, profundas desigua df

des na distribuição da terra: ao lado de minifúndios excessivamente explorados, grandes propriedades subaproveitadas. no

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Como o INCRA

reconhece, dominam

no Rio Grande

esfins para , adas plor inex des eda pri pro ios, fúnd lati do Sul os peculativos, inadequadamente exploradas, ou com área superior a 600 módulos rurais. E a tendência verificada é de auque , muitas vezes pressiomento dessas grandes propriedades nam o pequeno agricultor, cuja única alternativa é vender seu minifúndio ao latifundiário. Entre 1970e 1975,0 número de minifúndios do Estado diminuiu em mais de 18 000. O censo agropecuário de 1980 realizado pela FIBGE, revelou que 8% dos proprietários rurais (cerca de 4/5 000 ao todo) detêm 66% das terras do Estado, enquanto 34% estão repartidos entre 92% dos proprietários. Além destes, havia 30 709 arrendatários (principalmente nas lavouras em-

presariais da Campanha, depressão e região lacustre), 44236 parceiros (predominantes, em 1980, nas microrregiões da

laguna dos Patos e colonial das Missões), 35 693 posseiros ou ocupantes (sobretudo no litoral) e cerca de 50 mil assalariados rurais. A proporção entre o número de estabelecimentos e a área ocupada, conforme a condição dos produtores, mostra

uma situação favorável do Estado em comparação ao resto do país. Além de ter a maior porcentagem de área explorada entre os estados brasileiros, o Rio Grande do Sul só é superado por Santa Catarina em porcentagem de proprietários. Contudo, a situação dos parceiros e posseiros manifesta-se agravada: eles representam 16,8% do número de produtores mas dispõem de apenas 6,3% das terras,

Condição do

produtor

Porcentagem do nº de estabelecimentos

Porcentagem da área total 34,05 9,25 3,39 293 0,38

proprietário arrendatário parceiro ocupante sem declaração

Fonte: FIBGE.

Embora

“fechamento

se fale em

la” do Estado, autores como

Eu

/

A

E

da fronteira agrico-

Kúchemann discordam, afirv

75

mando

que

“há

muita

terra apropriada em mãos de latifun-

diários, que ou não está sendo utilizada de forma alguma, ou está indevidamente utilizada pela produção pastoril”. Comprovando

essa tese,

na última

década

houve

uma

ex-

pansão da agricultura em áreas de campo, ao mesmo tempo

em

que

técnicas

intensivas

mais convincentes mito gaúcho de que Já em 1948, que o único meio

permitiram

resultados cada vez

na criação de gado, derrubando o velho só há boa pecuária com muito campo. Waibel, citando Fritz Plugge, reconhecia de resolver o problema da pobreza dos

colonos das áreas de mata seria colonizar e cultivar os campos. O mesmo autor destaca o bem sucedido projeto do governo

realizado em

Bagé, ao desapropriar grandes fazendas

de gado, a fim de dividir a terra entre pequenos agricultores. Mas o plano de colonização foi interrompido logo depois,

devido à oposição dos latifundiários. Segundo estimativa do INCRA, para fins de aplicação do Plano Nacional de Reforma Agrária, anunciado em 1985, cerca de 30% da terra do Rio Grande do Sul está sendo subutilizada e poderia ser redistribuída, O quadro abaixo apresenta uma síntese da estrutura fundiária do Rio Grande do Sul: Porcentagem.

Porcentagem

Imóvel rural

Minifúndio

Empresa rural Latifúndio Fonte:

sobre o nº de

sobre a área total

estabelecimentos

1967

1976

1967

19706

82,3

79,4

25,0

24,2

2.8 15,4

Estatísticas Cadastrais do

6,1 14,4

12,7 62,3

29,2 46,5

INCRA. E

e

Para que se tenha uma idéia das transformações ocorridas, o minifúndio tinha, em 1920, uma área média de 24 ha: em 1967 ela caiu para 14,2 ha e, em 1976, para 13,7 ha.

A empresa rural encontra-se em franca expansão o.

e or” exp a a par a tad vol ica nôm eco ca íti pol a pel a lic que se exp

tacão, visando a obtenção de capitais para suprir as importa”

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RR

ad

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a asa ET

cões de

bens

mais

sofisticados,

especialmente

do Sudeste.

Em 1950, apenas 10% da produção gaúcha destinava-se ao mercado externo; hoje essa porcentagem chega a mais de 60% no setor primário, acentuando o grau de especialização e dependência da economia estadual.

Considerada como todo imóvel rural de 1 a 600 módulos, explorado “econômica e racionalmente”, a empresa rural tem-se firmado como elemento fundamental nas recentes transformações verificadas na economia agrária do Estado. Embora ainda pequena em termos de área total, ela

já excedeu a produção da “colônia”, graças ao seu poder de capitalização,

o que

implica

mecanização

e modernização

generalizada no sistema agrícola utilizado. Essa moderniza-

ção, inviável para o pequeno agricultor descapitalizado, revela-se como mais um fator a privilegiar uma pequena parcela da população, detentora dos meios de produção e, consequentemente, da maior parte dos lucros. Com base nas colocações feitas por Kuchemann, em seu livro “O minifúndio gaúcho: ajuda técnica como alternativa?””, e por outros autores, podemos formular o quadro

a seguir, no qual aparecem, simplificadamente, as caracter ís-

ticas básicas das três formas com que se organiza a produção e, por consequência, o espaço agropastoril gaúcho. Ão lado do excessivo fracionamento da terra, a lavoura colonial passou a sofrer, especialmente a partir de 1910, a concorrência de outras áreas produtoras de alimentos, mais

próximas do grande centro consumidor (Rio-São Paulo), es-

pecialmente as antigas zonas cafeeiras. Com a Primeira Grande Guerra, a falta de alimentos, devido à suspensão das importações, favoreceu a agricultura colonial, sobressaindo-se também a lavoura do arroz, que era inclusive exportado para os vizinhos do Prata. Mas a competição com os produtos do Sudeste continuou, acen-

tuando-se a crise da pequena propriedade. E mesmo a intro-

dução da lavoura do trigo, nos anos 40, que se tornou básica para o Estado em relação à agricultura nacional, não fa-

voreceu a colônia. Requisitando mecanização e consegiien-

temente

maior capital, o trigo acabou por incentivar, junta-

mente com a soja, numa etapa mais recente, uma nova uni-

77

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OvôVZINVOHO 3a VINHOS

dade de produção, a empresa rural, que fora anteriormente iniciada com a lavoura de arroz. Excluído desse processo, pela dificuldade de acesso ao crédito para obtenção de máquinas e pela exigúidade da terra, o colono teve como saídas o êxodo rural, a migração para novas fronteiras agrícolas ou, fato bem mais raro, a venda de sua mão-de-obra aos grandes agricultores. Mesmo assim, a região colonial ainda responde por quase quarenta por cento da produção agrícola gaúcha, embora essa proporção esteja em declínio.

Algumas culturas de alto valor unitário, como a da uva, a de frutas em geral e a do fumo, têm na colônia sua

area básica de produção, pois são típicas de pequenas propriedades com mão-de-obra familiar. O fumo, por exemplo, aparece concentrado na área colonial alemã de Santa Cruz do Sul, maior produtora do pais. A ampla assistência técnica e a compra assegurada por parte de empresas multinacionais, com industrialização do produto na própria região, favorecem a cultura, que gera valiosos tributos ao Estado. A uva, caracteristica da região italiana de Caxias do Sul e Bento Gonçalves, acompanhou a evolução do povoamento colonial, expandindo-se em áreas de menor expressão como Erexim, ao norte, e Jaguari, a oeste. Áreas novas e promissoras aparecem hoje na fronteira, especialmente em Bagé. Também nesse cultivo o Estado ocupa por larga margem a primeira colocação no país, com grande produção

de vinhos, sucos e derivados. Infelizmente, algumas “supersafras”, a “multinacionalização”” das indústrias e a competi-

ção de vinhos estrangeiros não têm sido favoráveis à vitivinicultura gaúcha. À zona colonial do extremo sul, no interior de Pelotas e São Lourenço, especializou-se no cultivo de frutas de clima temperado, como pêssegos, figos e morangos, que enfrentam ocasionalmente problemas semelhantes aos da uva, em especial os baixos preços pagos ao produtor. Outra cul-

tura permanente, com

chances de expansão, é a da maçã,

cuja “capital” é Veranópolis, na área colonial italiana. Deve-

mos mencionar ainda o cultivo de frutas tropicais (banana,

719

abacaxi), feito

nas

encostas do

litoral norte. O Estado im-

porta essas frutas, mas tem possibilidades de expandir a sua

produção. O grosso dos recursos oriundos do setor primário pro-

vém, entretanto, da lavoura empresarial. Segundo estimativas de 1985, somente o arroz e a soja responderam por mais de 90% da produção primária gaúcha. Sua produção

encontra-se relativamente disseminada por todo o Estado, mas o arroz apresenta forte concentração nos vales do mé-

dio Uruguai, Ibicuí, Santa Maria, Jacuí e na região lacustre,

enquanto a soja aparece com maior intensidade no planalto:

região de Santa Rosa (pioneira), Santo Ângelo, Cruz Alta e

Passo Fundo. O terceiro produto da agricultura gaúcha tem sido o milho, que em 1985 respondeu por cerca de 13% do valor da produção primária do Estado. Trata-se de um cultivo basicamente colonial, servindo como alimentação para suínos e aves e, como produto secundário, para o colono. A propósito, o milho é a base da tradicional “polenta” italiana. Sua área de cultivo está em avanço e, embora ainda não seja exportado in natura, o é de forma indireta, através da carne de frango. O trigo vem logo a seguir, revestido de toda uma problemática, dada a irregularidade das safras, muito dependentes das condições climáticas. O gráfico a seguir demonstra essa situação. Grandes têm sido as controvérsias em torno da viabilidade de continuarem os incentivos a essa cultura, pois, para muitos, já está demonstrado que a produção não deve ser estimulada. Contudo, sabe-se que o Rio Grande do Sul, ainda que com muitos inconvenientes, tem o clima do país mais indicado para o trigo. Apesar de sua baixa produtividade, o cereal gaúcho é suficiente para abastecer as necessidades internas do Estado.

Longe de repetir na atualidade a função de “celeiro” do país, o Rio Grande do Sul teve de importar produtos básicos

nos últimos anos, como

feijão,

milho

e até arroz.

Muitos acusam a expansão da cultura da soja, na década de 70, como a principal responsável por essa situação. Porg X

3

e

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PRODUTIVIDADE DA CULTURA DO TRIGO NO RIO GRANDE DO SUL

:

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1 500 kg/ha

1 000

500



()

1974 Fonte: FEE/RS

exemplo, deixando de produzir feijão e milho para produzir soja, o agricultor atendia à política agrícola oficial, em detrimento de suas necessidades básicas. Hoje, a euforia gerada pelo “enriquecimento fácil” com a soja revelou-se utó pica. para a grande maioria dos agricultores, e a volta a culturas tradicionais, como o caso do milho, já é uma realidade. Colaboraram para isso todas as inconveniências da monocultura em que a soja se transformara, com total dependên-

cia dos preços (estabelecidos pela Bolsa de Chicago e manipulados pelas multinacionais do setor) e das condições climáticas, além do rápido esgotamento dos solos. Produtos tipicamente coloniais e de subsistência, como mandioca, batata e feijão, têm tido pequena participação na produção primária do Estado. Na chamada “agropecuária colonial”, merecem destaque a produção de laticínios e de ovos, a avicultura e a suinocultura, responsáveis, em conjun-

to, por mais de 10% do produto primário estadual. O setor de aves tem-se expandido muito com a inten-

»»sificação Sm ;

a

dos métodos

de produção

e diante das possibili-

81

dades

de

O setor

comercialização,

inclusive

para

o Oriente

Médio.

laticinista também apresenta condições de direcio.

nar-se ao mercado externo, através das bacias leiteiras da encosta da serra e do planalto. A pecuária tradicional de bovinos de corte e ovinos, concentrada especialmente na região da fronteira, tem diminuído de importância nas últimas décadas. Os dados do quadro abaixo são significativos. Participação na produção

primária do Rio Grande do Sul e,

1948

1960

1970

1975

1983

27

26

39

51

59

colonial

60

54

47

41

36

Pecuária tradicional

13

20

14

Lavoura

empresarial Agropecuária

8

5

Fonte: FEE e FIBGE.

O declínio da pecuária tradicional reflete os seguintes dados:

— A relativa estagnação e até o decréscimo do efetivo

dos rebanhos, em virtude de a criação ser extensiva e da falta de estímulo governamental ao setor: BOVINOS

1984

1979

1976

13 134 753

12471

772

14 212 000

Fonte: DFA/SERSA/RS-SAGR.

A produção decrescente de lã, apesar de normal» mente uma pequena parte da produção ser exportada, — A queda do consumo de carne no Estado, em consequência do baixo poder aquisitivo da população. O consumo atual é de 42 a 44 kg anuais por pessoa; no Brasil é ain—

da menor: 21/22 kg. 82

;

Além dos índices de mortandade do rebanho bovino serem bastante elevados, a produtividade, representada pela taxa de desfrute, é de 3a 4 vezes menor que a de países como a Argentina e os Estados Unidos.

A criação de suínos, representada por produtores da região colonial, também tem enfrentado problemas, especialmente o elevado preço do milho e os baixos preços minimos estabelecidos pela política para o setor. APÊNDICE

REFERENTE

À PRODUÇÃO

PRIMÁRIA

Agricultura: posição do Estado no país em

1984:

1º produtor de: arroz, alfafa, aveia, cevada, fu-

mo, linho, nozes, pera, pêssego, soja, sorgo e uva.



produtor de: caqui, cebola, centeio, figo,

maçã, milho, tangerina e trigo.

3º produtor de: amendoim em casca. 40 produtor de: batata-inglesa e limão. 5º produtor de laranja, 6º de mandioca e 7º de

feijão.

Pecuária: efetivo dos rebanhos e posição no pai's: 14212 000 — 3º após MG e GO. Bovinos:

Suínos:

Ovinos:

4947 000 — 2º após PR.

11 181 000 — 1º com 60% do reba-

nho.

Equinos:

555 000 — 2º após MG.

Avicultura: galinhas: 66 236 000 — 2º, após SP.

Pescado: 82 249 t — 6º, após, RJ,SC, SP,PA e MA. Uso do solo (1980): Lavoura: 31,7%, rárias.

sendo 28,0 de lavouras tempo-

Pastagens: 58,3%, sendo 508 naturais.

Matas e florestas: 8,6% (inclusive plantadas). Terras produtivas não utilizadas; 1,4%.

Fonte: Anuário Estatístico do Brasil — 1984. FIBGE. O

.» Ba

83

Infra-estrutura industrial: transportes e energia

Mesmo contando com uma das mais densas e bem estruturadas redes de transportes do país, o Rio Grande do Sul se ressente de dificuldades que entravam seu desenvolvimento. Para um

pleno entendimento da estruturação espacial

do sistema viário e seu papel nos transportes regionais, é necessário que nos reportemos à evolução histórica da política nacional de transportes. Ão contrário do território brasileiro como um todo, nascido e articulado em função da faixa litorânea e do transporte marítimo, o Rio Grande do Sul não teve no oceano e na faixa litorânea um grande aliado para o seu desenvolvimento. Basta relembrar que a primeira fase de sua economia foi basicamente “interna”, desenvolvida nos campos naturais que favoreciam a criação de gado. O litoral permanece ainda hoje subpovoado e pobre, com seu único porto localizado na barra de Rio Grande

(sem considerarmos o terminal de petróleo de Tramandaí). . Felizmente a rede fluvial interna favoreceu a penetra-

ção para o interior, sendo muito explorada na época da colonização (primeira metade do séc. XIX), quando os rios desempenharam importante papel na fixação dos colonos

alemães. Porém, essa função não foi mantida, ainda que as hidrovias continuem sendo o meio de transporte mais barato. A política de transportes do Império, estabelecida na segunda metade do século passado, explica o avanço das ferrovias no Estado. Dinamizada pelo capital inglês, interessado no transporte do café paulista e fluminense até os portos exportadores, a ferrovia acabou alcançando o extremo-sul.

+

Nesta região do pais, a introdução do caminho de ferro esteve ligada à necessidade de segurança das fronteiras e de atender aos interesses dos grandes pecuaristas e proprietá-. rios de

charqueadas,

os quais

também

estavam vinculados

ao capital inglês, que importava a maior parte do charque e dos couros do Estado. Pelotas e Rio Grande funcionavam como terminais centralizadores da rede ferroviária da Campanha. Já no sé- '

culo 84

passado, Rio

Grande

era o principal porto gaúcho

|

ps E rea O lg a na

7

: | E

(Porto Alegre desempenhara função relevante no início do século). Ao mesmo tempo, a rede voltada para a capital do Estado atendia ao transporte da produção excedente das colô-

nias, que passavam a abastecer o Sudeste. A construção da ferrovia Santa Maria — São Paulo, reproduzindo em grande parte o trajeto e a função dos antigos caminhos de gado, manifesta esse vínculo dependente Sul—-Sudeste, consolidado hoje com a construção de outros eixos viários, como as

BRs-116, 101 e 153 e a ferrovia Tronco-Sul (Vacaria—Lajes). E interessante lembrar que dois eixos ferroviários fo=

ram construídos concomitantemente: um com origem em Porto Alegre, outro em Rio Grande, persistindo assim a separação entre as sociedades (e ““geografias””) da colônia e da Campanha. Nenhuma ligação ferroviária foi estabelecida entre as duas áreas, e apenas em Cacequi (1896) se deu a ligação dos dois eixos. «: Apesar de expressiva em termos de quilometragem, a rede de ferrovias do Rio Grande do Sul, ainda hoje é basicamente a mesma do início do século, pois Erexim foi alcancada em 1910 e Uruguaiana em 1907, revela profundos traços de desintegração. Inicialmente tentacular, com ligações entre os centros principais e pontos extremos do território, somente alguns trechos recentemente concluídos resultaram em certa integração interna. Esse é o caso da Ferrovia do Trigo, entre Passo Fundo e Porto Alegre, e do Tronco-Sul, de Porto Alegre a Vacaria e, daí, a Santa Catarina e Paraná. Mesmo assim, essas obras reforçam a condi-

ção periférica a que o Estado foi submetido, como abaste-

cedor de produtos primários à economia industrial do Sudeste ou como fornecedor de matéria-prima aos mercados externos, através dos “corredores de exportação”. A partir de 1930, a expansão da rede ferroviária estagnou, sendo gradativamente suplantada pelo transporte rodo-

viário. A predominância da rodovia consolidou-se na década

de 50. Então, a necessidade de vinculação rápida do Sudeste industrial com as demais regiões, em busca da indispensável s intercomplementaridade e expansão do mercado, somou-se

85

à instalação, no país, de empresas multinaciona is dos ramos automobilístico (1957) e petroquímico. O “modelo”

de

transporte

imposto

por essas empresas tinha como

con-

dição para sua expansão o desenvolvimento da in fra-estrutu-

ra rodoviária, no que foram plenamente atendidas pela polí-

tica nacional de transportes. Desse modo, enquanto as redes ferroviária e hidrov iária

estacionavam, e até regrediam, em qualidade e extensão, as

rodovias duplicavam em questão de uma década. Entretanto, a rede asfaltada só deu forma a uma estrutura viária

relativamente consolidada na década de 70, com a conclu-

são de grandes eixos representados pelas rodovias longitudinais — BRs-290 (Osório-Uruguaiana), 285 (Vacaria-São Borja) e 293 (Pelotas—Quaraí); transversais — BRs-158/392 (Iraí—Santa Maria—Pelotas), 116 (a mais antiga, de Vacaria a Jaguarão) e as diagonais BR-386 (Palmeira das Missões— Canoas) e ““Trigo-Soja"' (trecho São Borja—Santa Maria). A

maior parte dessas estradas serviu para acelerar o processo de concentração das atividades industriais e co-

merciais nos grandes centros mia regional com o exterior. das predominantemente para as fronteiras e os portos de

— pólos de conexão da econoAssim, as rodovias estão voltaos lugares de saída do Estado: Porto Alegre e Rio Grande. O

mapa a seguir salienta esse papel, representado pelas vias integrantes do atual “corredor de exportação” que deman-

da a Rio Grande. As estradas de rodagem, muitas vezes se sobrepondo

a ferrovias

semi-obsoletas

(com

bitola de 1,00 metro

e ex-

cessivo número de curvas) ou correndo paralelas a eixos fluviais subutilizados, ainda hoje se impõem com um meio de transporte caro mas dominante na circulação regional.

gumas

É verdade que a ênfase recente dada às hidrovias e aliniciativas que revalorizam as estradas de ferro ten-

dem a modificar o quadro, ser bastante longo.

mas o prazo para tanto parece

Finalmente, as rotas aéreas têm expressão apenas nas

ligações

São Paulo e Rio de Janeiro. Por ironia, foi uma linha aérea ' interna, entre Porto Alegre e Rio Grande, a primeiraa súrgir

86

«4

interestaduais, especialmente de Porto Alegre com

A

no país. A única herança que parece ter ficado desse pionei-

rismo foi a empresa, a VARIG

(Viação Aérea

Riogranden-

se), que se tornou a maior empresa aérea brasileira.

CORREDOR DE EXPORTAÇÃO DE RIO GRANDE

ENTA.BR-

158

EREXIM

S. BORJA

ITAQUI

vaUGU ALANA

ciaFe LIVRAMENTO

PELOTAS

LEGENDA: rt

RODOVIAS

== —=s

RIO GRANDE

FERROVIAS

JAGUARÃO

HIDROVIAS

W

CHUÍ

Fonte: Jornal dos Transportes nº 71

As linhas aéreas entre Porto Alegre e o interior do | Estado,

que

já desempenharam

função

mais

importante,

restringem-se hoje a uma meia dúzia de aeroportos, e o fluxo de passageiros e mercadorias é inexpressivo. Na verdade, apenas o aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, merece

destaque. Ele funciona como escala na rota (turística, prin-

cipalmente) para as capitais do Cone Sul (Montevidéu, Bue-

nos Aires e Santiago).

«o

ln

a

em a



87

|

região

Levando-se em conta que o desenvol vimento de uma

está ligado a um sistema integrado, co m o fortalecimento dos laços internos, ao mesmo tempo em que se de s-

faz a dependência como

uma

externa, o Rio

Grande do Sul se firma

área em crescente dependência

e, conseguente-

mente, com um subdesenvolvimento a exigir profundas mu -

danças. Com relação à circulação, isso é confirmado não apenas pelo fluxo de mercadorias predominantes no setor do comércio exportador, como pelo próprio dire cionamento

das grandes vias de transporte, que estão longe de estruturar um

conjunto

harmônico e integrado, voltado para as relações intraestaduais. Ão lado da falta de complementaridade entre os diferentes tipos de transporte, verifica-se a prioridade ao atendimento da circulação para fora do Estado. Até mesmo pequenas estradas, que tradicionalmente servem para

ligações locais, aparecem no Rio Grande do Sul com a função básica de acesso aos grandes centros ou aos principais eixos viários. Esse é o caso de um programa em implantação, visando conectar por vias asfaltadas todas as sedes municipais com os principais troncos rodoviários. Um programa de tal ordem contribui para esmorecer ainda mais os contatos microrregionais. Entretanto, alguns projetos e obras recentes revelam algumas mudanças na política de transportes. Entre elas,

merecem destaque: — O terminal rodo-hidroferroviário de Estrela, no rio Taquari. Implantado em 1980, é uma rara iniciativa de inte-

grar o transporte ferroviário (através de uma ramal da Ferrovia do Trigo, proveniente de Passo

Fundo)

com o hidroviá-

rio (sistema Taquari—Jacui—Patos). — O projeto de criação de terminais carboníferos, articulados à rede ferroviária, dentro do Programa Nacional do Carvão. Esses terminais serão construídos nos portos de Charqueadas, Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, e estarão ligados aos locais de extração através de ramais ferroviários.

88

— O projeto de construção do trecho Osório—São José do Norte, da BR-101, para atender a uma das regiões

mais isoladas e pobres do Estado. — À conclusão prevista da RS-504, entre Vera Cruz e

o rio Jacuí, que estabelecerá

uma

ligação rodoviária

mais

rápida entre Santa Maria e Porto Alegre. Essa obra é uma reivindicação muito antiga da região colonial do centro do Estado. — Na área dos transportes urbanos, a construção do chamado metrô de superfície, que ficou conhecido como Trensurb, ligando, numa primeira etapa, Porto Alegre a Sapucaia do Sul.

des de armazenagem do país, o porto ainda assim se ressente de alguns problemas, entre os quais o frequente assorea-

mento do seu canal de acesso, ocasionado pela sedimenta-

ção flúvio-lacustre, € OS eventuais congestionamentos.

sr

89

ga e e Se e

Devemos destacar o papel do porto de Rio Grande, maior “porteira” de saída do Rio Grande do Sul. Ele é o terceiro do país em volume de carga e sua importância tem sido crescente, na medida em que a economia estadual se volta para o exterior. Dotado de uma das maiores capacida-

ne

guá (SC) e a construção da BR-471 entre Pantano Grande (BR-290) e Canguçu, numa tentativa de valorizar regiões deprimidas no contexto econômico estadual.

e

— O estabelecimento previsto da linha ferroviária de passageiros entre Porto Alegre e São Paulo. Além dessas obras, construídas ou projetadas, há outras que são imprescindíveis ao sistema viário estadual, sobretudo: — a dinamização da ligação hidroviária (lacustre) entre Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, incluindo o transporte de passageiros; — a construção e asfaltamento das rodovias Cruz Alta-Santiago—Alegrete e Cruz Alta-Sobradinho—Santa Cruz do Sul, a fim de preencher o maior vazio em termos de rede viária no Estado; — a revalorização fluvial do rio Uruguai, que foi outrora navegado entre São Borja e Uruguaiana; — o asfaltamento da BR-285, entre Vacaria e Araran-

=:

Com

relação

ao assoreamento, apesar de tudo, Rio Grande tem a vantagem de que a laguna dos Patos e lagoa Mirim funcionam como uma bacia de decantação para a maior parte dos sedimentos provenientes do interior, de modo

que somente

uma

pequena

porcentagem

deles atinge

o canal de saída para o oceano, onde o porto está localiza-

do. Além disso, o processo de assoreamento extremamente rápido que se verifica nos portos de Buenos Aires e de Montevidéu suscita a possibilidade de Rio Grande tornar-se

uma alternativa para os países do Cone Sul. Outros aspectos favoráveis são: a ampla área de expansão (15 km, sem considerar a margem de São José do Norte), a boa profundidade (14 m) e a presença dos molhes, que protegem a barra da sedimentação marinha. Em 1980,0 porto de Rio Grande teve um movimento recorde.

Esse movimento

teve a seguinte composição

apro-

ximada:

4,5 milhões de toneladas: exportação de cereais (trigo), oleaginosas (soja) e seus subprodutos (principalmente farelo de soja); 2,5 milhões de toneladas: importação de fertilizantes sólidos; 2,5 milhões de toneladas: importação de granéis Iíquidos (petróleo fertilizantes);

bruto

e ácidos

para

a indústria

de

Restante (cerca de 400 000 ton): exportação de granéis líquidos (óleos comestíveis) e carga geral (inclusive manufaturados). Como se pode observar, é grande a especialização porto em apenas uns poucos produtos, notadamente a e seus derivados, fenômeno relativamente recente e atesta, mais uma vez, a grande dependência econômica Estado. No

setor

energético,

o Estado

tem

um

do soja que do

considerável

potencial hidrelétrico, em boa parte inexplorado, e grandes

reservas de carvão, suficientes para alimentar um crescimento de geração de termeletricidade por muito tempo.

90

ira



Nos anos setenta, foram feitos grandes investimentos no setor energético, principalmente no hidrelétrico, sobressaindo-se a construção da Usina de Itaúba, a maior do Estado, com cerca de 500 megawats de potência instalada e que faz parte do sistema do Jacuí. Na geração de energia térmi-

ca, o destaque fica com o complexo de Candiota. Com tais investimentos, o Rio Grande ficou com a guinte potência instalada:

se-

Capacidade geradora instalada — 1983 Hidráulica

%

MW

100,0

1 086

%

MW

69,2

483

Na década presente, porém, os investimentos no setor energético diminuiram, deixando de acompanhar o aumento das necessidades internas do Estado. Paralelamente, o sistema estadual foi integrado ao da Região Sul e, para atender à demanda, o Rio Grande passou a receber energia de fora, através da Eletrosul. Desde então, o Estado tornou-se dependente em matéria de energia elétrica, pois importa uma parte do que consome. Nessas condições, a estiagem pronunciada da primavera/verão de 1985/86 ocasionou grandes transtornos ao Rio Grande, que se viu obrigado a impor medidas de racionamento de energia aos seus consumidores. Isso porque a seca

atingiu toda a Região Sul, incluindo a área do Rio Iguacu, no Paraná, onde fica a Usina Salto Osório, principal fornecedora da energia elétrica importada pelo Estado. A falta de

energia não teria ocorrido se houvesse linhas de transmissão

suficientes

para fornecer eletricidade de Itaipu ao Rio Gran-

de, providência que não foi tomada

pelo governo

federal

quando da construção daquela gigantesca hidrelétrica sobre o Rio Paraná. De qualquer modo, o episódio trouxe a lume a delica-

da situação do Estado, diante de sua incapacidade de satis-

fazer integralmente

elétrica. Em parte, obras de ampliação

suas

próprias

necessidades de energia

essa situação se deve à suspensão das do complexo de Candiota, no qual a

projetada fase || da Termelétrica Presidente Médici teve sua

construção sustada devido à falta de recursos, Além disso, muitos conservacionistas manifestaram-se contra a constru-

ação dae

unidade, sob o argumento de que ela provocará 91

um

aumento

da poluição

ambiental,

porquanto

a usina de. carbonifera feita a

mandará um incremento da mineração céu aberto na região. O fato é que o Rio Grande precisa aumê ntar sua capacidade geradora, a fim de evitar a dependência de outros estados, principalmente porque, embora a produção tenha aumentado, o consumo

interno também

cresce.

E nergia elétrica no Rio Grande do Sul (Em GWh)

Geração

Consumo

Os dados acima mostram que, em 1983, 0 Rio Grande do Sul importou mais de 17% da energia elétrica consumida no Estado. Quanto à geração própria, ela provém sobretudo de fonte hidráulica, conforme se vê pelo quadro: Geração bruta de energia elétrica Ano

1981 | 4904 1982 | 5249 1983 | 6729

3 646 3 918 5475

74,3 | 1258, . 257 74,6 | 1331 25,4 . 81,3 | 1254 18,7

Fonte: Anuário Estatístico do Brasil — 1984, IBGE.

A

localização das principais usinas e a rede de transmissão de energia podem ser vistas no mapada página seguinte. A interligação do sistema estadual com o da Região Sul é feita através das linhas Usina Passo Fundo — Xanxerê (SC) — Usina Salto Osório (PR) e Farroupilha — Siderópolis (SC) — Usina Jorge Lacerda (Tubarão — SC). No que respeita à distribuição espacial do consumo,

quase a metade dele é feita na região metropolitana de Por-

to Alegre, onde vive apenas 30% da população gaúcha. Quanto ao petróleo, o Estado tem carência absoluta. Diante disso é preciso recorrer à importação, que é feita «a através do porto de Rio Grande (para a refinaria Ipiranga): e do terminal Soares Dutra, em Tramandaí, que se comu-* nica com a refinaria Alberto Pasqualini, em Canoas, através dé'um oleoduto. a

2

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SISTEMA DE TRANSMISSÃO EM ALTA TENSÃO

DE ENERGIA

SALTO OSÓRIO

FORQUILHA

N JORGE

e

y

SA a S. ra

LACERDA

n

USINAS:

O HIDRELÉTRICAS E TERMELÉTRICAS

LINHAS ——



DE TRANSMISSÃO:

230 KV

/

138 E 69KV

Em compensação, a extração de óleo de xisto tem grande futuro no Rio Grande do Sul, desde que seja instala-

da a usina beneficiadora programada

para a área entre São

“merosos estabelecimentos fabris em Porto Alegre, São Leo“poldo, Novo Hamburgo, Caxias do Sul e outras cidades.

Seguem-se alguns grupos industriais que, graças à especialização tecnológica, enfrentaram com êxito a concorrên-

|

no

cia paulista:

asi

A

o

,

93

e

a

O setor industrial Hoje em dia, depois do setor terciário, a indústria é o principal esteio econômico do Rio Grande do Sul. A industrialização do Estado teve origem diversa da que se processou no resto do país, pois enquanto na maior parte do Brasil o capital inicial proveio da economia agriícola escravista, no extremo sul, ele se originou da economia colonial alemã e italiana, Na medida em que os pequenos produtores rurais, cujo autoconsumo erã o mais elevado do país, encontraram condições para colocar seus produtos no mercado nacional, cresceu a capacidade aquisitiva monetária regional e surgiram nu-

o

Gabriel e Dom Pedrito, onde estão as maiores reservas.

— — —

Rheingantz: indústria têxtil — Rio Grande, 1874: e

indústria de chapéus — Pelotas, 1881.

Berta e A. Bins: metalurgia — Porto Al egre, 1891. E. Neugebauer: doces e balas — Porto Alegre, 18 91.

— Guilherme Ludwig:couros —Novo Hamburgo, 1897. — — —

— —

HaasS.A.: couros — Novo Hamburgo, 1892. À. Eberle: metalurgia — Caxias do Sul, 1904, Cia. de Papel e Papelão Pedras Brancas. Guaíba , 1907. C.H. Oderich: frigorífico — Care Lajeado, 1909. A.J. Renner: vestuário — Porto Alegre, 1912.

Apesar de já existirem alguns estabelecimentos industriais de certa importância, como o estaleiro Becker em Por-

to Alegre (1865), a industrialização do Rio Grande do Sul só foi impulsionada com o acúmulo de capital proveniente do comércio dos produtos coloniais. No entanto, o primeiro ramo industrial de destaque estava vinculado ao setor pastoril, porquanto representado pela produção de carne (charque) e couros. Essa atividade colocou Rio Grande, porto exportador, e Pelotas, centro da atividade saladeira, como principais núcleos industriais do Estado, no final do século XIX. Foi com a empresa têxtil rio-grandense Rheingantz que teve início efetivamente a indústria gaúcha, já que ela não visava tão-somente o mercado regional. Porto Alegre só começou a sobrepujar o suldo Estado a partir de 1900, quan-

do se firmou como centro industrial diversificado, abastece-

dor do amplo mercado da região colonial. Em 1940, cerca de um quarto da indústria gaúcha estava localizada em Porto Alegre. Já então se esboçava um processo concentrador na capital, que hoje detém mais de 50% da atividade fabril do Estado. Embora algumas empresas, especialmente da zona sul, estivessem voltadas para o mercado externo (Rio-São Paulo), O primeiro surto industrial sulino, ocorrido no final do século passado, deu-se em função do mercado local. Esse surto industrial foi estimulado pela injeção de capitais recebida por ocasião do chamado “encilhamento” — febre especulativa em torno de ações de novas companhias, num processo gerado ainda no final do império. Contudo, o desenvolvimento industrial gaúcho não acompanhou o desenvolvimento da indústria nacional ou, mais especificamente, paulista, cujas condições mais propí-

cias, tanto no âmbito geoeconômico quanto político, leva-

94



dm

E

A Ê

=

ram a uma acentuada desproporção entre os diferentes estados da União. Assim, em 1907, enquanto o Rio de Janeiro era o grande pólo industrial do país, as indústrias gaúcha e paulista se equiparavam. Apenas treze anos depois a situação tornou-se completamente diferente: São Paulo, com 31,9% da produção, era o “carro-chefe” da indústria brasileira, seguido pelo Rio de Janeiro, com 20,8%, e pelo Rio

Grande do Sul, com 11,0%. | O fator principal a explicar essa alteração foi a con-

corrência

desigual

diante do papel

cha

no

entre

as

empresas

sulinas e paulistas,

“naturalmente” reservado à economia gaú-

contexto

nacional. Além

de estrategicamente

me-

lhor situada, sobretudo em termos de mercado e de capital acumulado (a partir da cafeicultura), a indústria paulista foi favorecida por políticas econômicas favoráveis, que lhe ensejaram dominar o pais, num processo cada vez mais concentrador. Em consequência, o Estado de São Paulo, hoje,

com 30% da população do país, retém 57% da produção industrial. E o Rio Grande do Sul, que perdeu a terceira posição para Minas Gerais, coloca-se com apenas 6% da produção nacional. A partir do início do século, a indústria gaúcha, embora

em

sentou Grande

constante declínio relativo no pais, sempre apreum apreciável crescimento. Por ocasião da Primeira

Guerra, substituição de mais expressivo Em 1917, por

houve uma intensificação do processo de importações. Esse processo, apesar de muito no Sudeste, também repercutiu no Estado. exemplo, grandes frigoríficos estrangeiros

instalaram-se na zona zul (Pelotas e Rio Grande) e na Cam-

panha (Armour, em Livramento, e Swift, em Rosário do Sul). Ao mesmo tempo, consolidaram-se empresas como Renner, Berta e Wallig, em Porto Alegre. Antes da Segunda Guerra Mundial, a indústria ainda

teve alguns impulsos, com a criação de importantes fábricas na Grande Porto Alegre, reafirmando sua posição de lide-

rança na economia estadual. Entretanto, o forte do setor se-

cundário

gaúcho

continuava

ligado à produção

primária

(carne, vinho, tecidos de lã e calçados), largamente expor-

tada para o Sudeste.

95

Foi a Última guerra que, levando o processo de substi-

tuição de importações à indústria de base, acentuou a con-

centração Grande

industrial

do

Sul

em

São Paulo—Rio, relegando o Rio

a uma

pequena

crescimento

participação, apesar de o

industrial do Estado ter sido bastante expressivo na década de 40. A partir da década de 1950, sucederam-se fases alternadas de crescimento e de crises, sendo que essas últimas verificaram-se em 1957, 59 e de 63 a 67. Essa evolução

acompanhou os desempenhos da agropecuária, o que atesta a dependência estrutural da economia do Estado em relação ao setor primário. Essa dependência só se alterou um pouco a partir de 1968, com o modelo industrial adotado no pais, substitutivo de bens sofisticados e de consumo restrito. No entanto, lançou a economia gaúcha em um papel secundário, como produtora de bens industriais tradicionais e de consumo intermediário. Com efeito, de transformadora de produtos primários, a indústria do Estado passou a apresentar uma tendência à especialização, como fornecedora de bens intermediários ao Centro-Sul, particularmente as indústrias quimica, metalúrgica, mecânica, de material de transporte, de material elétrico e de comunicações. Essa situação implica mais um laço de dependência e limita as inter-relações lo-

cais. A

estrutura

setor

do

gaúcho

secundário

manifesta

hoje, pela primeira vez, um leve predomínio das indústrias

dinâmicas sobre as tradicionais. Com base em dados da FIBGE e da FEE, podemos estabelecer as estimativas para 1986 (dadas no gráfico a seguir), referentes ao valor da produção industrial. A

importância

que

recente

vem

alcançando

o ramo

químico deve-se à expansão da indústria de óleos vegetais (Samrig em Esteio, Olvebra em Guaíba e novas unidades do

na

região

de

unidades

do

setor

planalto),

à petroquímica

(refinarias de Ca-

noas e de Rio Grande, Pólo Petroquímico) inseticidas,

fabris

ligadas

requisitados

primário.

Rio

à produção

pela

expansão

de

e

e à instalação

fertilizantes

modernização

e

Grande tem-se destacado na indús-

INDÚSTRIAS TRADICIONAIS

Química

Produtos alimentícios

Metalúrgica

Vestuário e calçados

Material de transporte

Madeiras

Material elétrico e de comunicação

Fumo

Papel e papelão

Têxtil

Qutrãã

Couros

Mobiliário

Outras

97

tria de fertilizantes, com empresas como a Ipiranga, que di-

versificou amplamente sua produção, antes restrita ao setor

petroquímico. O ramo metalúrgico, já tradicional, tem como centros

básicos Porto Alegre (Zivi-Hércules S.A., Siess S.A., Wallig, etc.), Caxias do Sul (Eberle) e São Leopoldo, além dos cen-

tros siderúrgicos de Charqueadas (Aços Finos Sapucaia do Sul (Siderúrgica Riograndense).

Piratini)

e

A indústria mecânica tem expressão em Porto Alegre,

Caxias do Sul (Randon S.A. e Marco Polo — carrocerias de caminhões e ônibus) e Canoas. Os ramos tradicionais são os mais difusos espacialmente, tendo centros antigos de produção, como Pelotas (carnes, conservas de frutas), as cidades da Campanha (grandes frigoríficos) e da zona colonial (Ijuí, Passo Fundo, Santo Ângelo, Santa Rosa, com base no beneficiamento agr ícola, Lajeado, Estrela e Montenegro, com laticínios e carne de suínos e aves).

A produção de calçados é uma das mais concentradas,

no vale do rio dos Sinos: Novo Hamburgo, Campo Bom, Sapiranga, São Leopoldo e Estância Velha, estes dois últimos com destaque na produção de couros. Já o ramo do

vestuário tem centros de produção

em Porto Alegre e Ca-

xias do Sul (malhar ias). A indústria de bebidas, apesar de distribuída em muitas cidades, encontra maior relevância na zona colonial vitivinicultora de Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi, produtora de vinhos, sucos, licores, etc. Outros ramos menos importantes, mas bastante concentrados, são: fumo, em Santa Cruz do Sul; mobiliário, em Bento Gonçalves; papel e papelão, em Guaiba; tanino, em Montenegro; madeira, em Caxias do Sul, Bom Jesus e Vacaria; e lã, em Santana do Livramento. Desse modo, existem dois padrões espaciais de distribuição da indústria gaúcha: diversos centros concentrados

numa mesma área (caso da Grande Porto Alegre e da zona

de Caxias do Sul) e centros dispersos (caso das maiores cida-

«des da Campanha e do planalto). Resulta assim que a área

mais industrializada, reunindos várias cidades,«é um núcleo “Em

98

O

ni

|

poli-industrial, enquanto os centros dispersos quase sempre são menos diversificados, baseando-se na transformação de produtos primários locais. A Grande Porto Alegre, excluídas as cidades-dormitório de Alvorada e de Viamão, forma uma extensa “mancha” industrial, que se estende desde Guaiba, passa pela zona norte da capital (indústria metalúrgica, qu ímico-farmacêutica, alimentar, material elétrico), Canoas (indústria quiími-

ca, mecânica, metalúrgica, alimentar), Esteio (cimento, óleos vegetais), Sapucaia do Sul (siderurgia), e atinge o vale coureiro-calcadista do rio dos Sinos.

Como área de expansão a oeste da régião metropolita-

na e prestes a incorporar-se a ela, encontramos o controvertido Pólo Petroquímico, operando há poucos anos, entre Montenegro e Triunfo, e o possível Pólo Carboquímico, em São Jerônimo.

Caxias do Sul centraliza outra área industrial, atualmente quase uma continuidade da área metropolitana de Porto Alegre, através dos municípios coloniais da encosta da serra, todos com pequenas indústrias. Caxias, que se firmou na década de 70 como o segundo município industrial do Estado, diversificou muito sua produção, antes alicerçada nos ramos de bebidas (vinhos), metalurgia e têxtil. Hoje, dominam os setores metal-mecânico, material de transportes e madeireiro, com fabricação de peças para veículos, tratores, caminhões, carrocerias de ônibus e casas pré-fabricadas, incluindo exportação para outros países. Bento Gonçal-

ves, tradicional centro vinícola, tem no mobiliário seu novo ramo industrial, em destacado crescimento. No sul, têm importância os centros isolados de Pelotas (centro especializado na indústria alimentar) e de Rio Grande (centro da indústria química e do pescado), que já formaram no século passado a principal região industrial do Rio Grande do Sul. Outra área importante é a encosta de imigração alemã — uma faixa que se estende desdea Grande Porto Alegre até

a região colonial italiana. Essa área possui núcleos ainda não incorporados, como Lajeado —Estrela, Montenegro, Gramati

99

do—Canela

e o

centro

fumicultor

mais a oeste.

de Santa

Cruz

do

Sul

No médio planalto e região do alto Uruguai, encontram-se cidades beneficiadoras da produção local (trigo, so-

ja, suínos, etc.): Passo

Fundo,

Ijuí, Erexim, Santa Rosa,

ol =

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ditada Te:

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de do Sul. Ocorre, porém, que a materialização dessa neces-

0 q

Cruz Alta e Santo Angelo, que também produzem implementos agrícolas e material de transporte, consolidando-se como centros agroindustriais. Finalmente, na depressão do Jacuí e na Campanha desenvolve-se a indústria alimentar, com base na atividade orizícola (Cachoeira do Sul, Santa Maria, Uruguaiana, Bagé) e na pecuária (frigoríficos da Swift-Armour e lanifício Albornoz em Livramento). Aliada a essa distribuição altamente concentrada da indústria, tornando todo o Estado muito dependente da área metropolitana de Porto Alegre, aparece a posição do Rio Grande do Sul como região extremamente vinculada — o Sudeste. aos interesses do centro econômico do país Projetos recentes, como o do Ill Pólo Petroquímico, reforcam essa dependência. Apesar de não podermos ignorar a importância individual desse empreendimento, é preciso reconhecer que ele não está realizando uma integração significativa na economia gaúcha: ao contrário, está contribuindo para reforçaras ten» dências ao fornecimento de insumos a indústrias de fora do Estado, Isso porque as indústrias de “terceira geração” estão sendo desestimuladas pelo poder central a se instalarem no Pólo, ao qual restará, em consequência, a função de exportador de matéria não acabada para as “indústrias completas” do Sudeste. Estas, posteriormente, reenviarão seus produtos acabados para o consumo da população do. Estado. Essa acabará “complementaridade necessária aparentemente onerando demasiadamente os preços para o consumidor gaúcho. Várias são as saídas para esse “desequilíbrio espacial”. Todas elas, contudo, passam pela retomada da autonomia por parte de regiões periféricas, como é o caso do Rio Gran

sidade está na dependência da política econômica a ser adotada no país.

Na década de 1950, o pensamento político-econômico esteve dividido entre duas correntes principais. Uma delas defendendo um capitalismo nacional, que resistisse às pressoes externas. A outra, propugnando a suspensão do protecionismo à indústria nacional, o que implicava facilitar uma penetração

maior

do grande capital internacional. A segun-

da corrente saiu vitoriosa, do que resultou uma abertura do pais aos investimentos estrangeiros, favorecidos ainda

mais pela criação de uma infra-estrutura por parte do poder público federal: rodovias, portos, grandes hidrelétricas, etc. Isso aconteceu a partir da segunda metade do decênio e, sobretudo, após 1964. Desse modo, a orientação política do governo contribuiu de maneira decisiva para os desequilíbrios espaciais existentes no Brasil, no âmbito dos quais se inscreve o Rio Grande do Sul, como região periférica e caudatária do centro nacional do sistema — o Sudeste. Ao mesmo tempo, atesta a importância do poder político para a organização e reorganização do espaço geográfico.

O Rio Grande urbano e uma proposta de regionalização Embora com uma história ligada ao mundo rural, o Rio Grande de hoje possui uma sociedade eminentemente urbana, conforme se pode ver pelos dados abaixo:

População rural População urbana

A

explicação

66% 34%

para

56% 44%

47% 53%

a “fuga”

avassaladora para as cidades, de modo a inverter a situação campo-—cidade em apenas trinta anos, pode ser sintetizada na afirmação de Milton Santos, para quem os movimentos populacionais “são resul-

tado de situações de desigualdades espaciais”. A defasagem entre as condições das áreas urbanas e

dsurais é reflexo, principalmente, do mecanismo concentraé

101

dor do sistema econômico em que a sociedade gaúcha está inserida. A prova mais convincente desse fato é o caráter de

macrocefalia urbana que apresenta hoje a Grande Porto Ale-

gre na rede de cidades do Estado. Trata-se de uma situação anômala, em que a “cabeça” (região metropolitana) vai sude magando e definhando o “corpo” (interior do Estado), neira a concentrar cada vez mais a população e as atividades econômicas. Assim depois de ter uma rede urbana razoavelmente equilibrada na década de 40,0 Rio Grande do Sul manifesta

hoje, geograficamente, a situação “macrocefálica”” de incha-

mento de uma porção restrita de seu território. Vejamos os dados da população dos dez maiores núcleos urbanos gaúchos em dois momentos distintos:

1940 (hab.) 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9, 10.

Porto Alegre: Pelotas: Rio Grande: Santa Maria: Bagé: Livramento: Uruguaiana: Cachoeira do Sul: Passo Fundo: Caxias do Sul:

| 259 61 49 39 31 26 21 17 17 17

246 985 337 074 349 623 365 565 207 180 |

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10.

1980 (hab.) Porto Alegre: Canoas: Caxias do Sul: Pelotas: Santa Maria: Novo Hamburgo: Rio Grande: Passo Fundo: São Leopoldo: Alvorada:

1 108 214 198 197 151 132 124 103 94 90

883 115 824 202 202 066 706 121 864 446

Os dados revelam uma modificação do eixo de urbanização do Estado, que se transferiu da Campanha para a zona colonial e da Grande Porto Alegre. Mostram também um maior equilíbrio entre as cidades, em 1940, e um acentuado desequilíbrio em 1980.

Enquanto há 40 anos Porto Alegre era apenas 4,18 vezes maior que a segunda cidade (Pelotas), hoje ela é 5,18 vezes maior que o segundo centro urbano (Canoas), que nada maisé que uma extensão de sua própria área citadina. Considerado a região metropolitana de Porto Alegre, ainda mal definida em 1940, o desequilíbrio aumenta consideravelmente.

Em

1940, a área metropolitana era cerca de 5 veA

e

V.H

te

zes maior que a segunda aglomeração urbana (Pelotas). Em 1980 o desnível passa para 11,22: a Grande Porto Alegre, com 2 232 370 habitantes, e Caxias do Sul, com 198 824. Das dez primeiras: cidades gaúchas em 1940, apenas Porto Alegre pertencia àquela que hoje é configurada como sua área metropolitana.

Em

1980, cinco das dez maiores ci-

dades do Estado dela fazem parte: Porto Alegre, Canoas, Novo Hamburgo, São Leopoldo e Alvorada. Adiante, encontramos, em 12º lugar, Sapucaia do Sul e, em 14º, Cachoeirinha, cidades de um crescimento anual acelerad íssimo na última década, em contraposição a inúmeras cidades do interior que perderam população no mesmo período. Dentro dos modelos teóricos propostos nos últimos tempos, podemos encontrar na rede urbana gaúcha de 1940 uma regularidade empírica próxima à regra de ordenação de tamanho (rank-size rule) proposta por Zipf. Segundo esse autor,

certas áreas tendem

a apresentar

suas cidades

com

uma população inversamente proporcional à sua ordem. Assim, a segunda cidade teria a metade da população da maior cidade, a terceira teria um terço, e assim sucessivamente, de modo a indicar uma distribuição equilibrada de cidades e

uma

consequente

integração

entre elas como

reflexo

da

ação de diversas forças capazes de gerar um crescimento dis-

tribuído por Diante menor escala vimentista”),

todo o sistema urbano. dessas colocações, deduz-se que, embora em de capitalização da sua economia (“desenvolo Rio Grande “mais pobre” de 1940 possuía

menores desigualdades rico” de hoje.

A

espaciais que o

relação das maiores cidades em

Rio

Grande

1980

“mais

mostra

um

nítido distanciamento em relação à rank-size rule e uma aproximação ao caráter de primazia urbana, proposto por (primate-city). Jefferson em sua lei da cidade primaz Nesse caso, há uma diferença desproporcional entre a maior aglomeração urbana e a segunda, levando ao que anterior-

mente denominamos de macrocefalia. Segundo Milton Santos, “a macrocefalia; fal como é



conhecida atualmente nos países subdesenvolvidos, é o resultado do progresso tecnológico e das tendências à concen-

j

103

tração que ele provoca”.

a

E necessário, porém, que nos re-

portemos às especificidades de cada caso, pois nem sempre é apenas o estritamente econômico que explica essas situações. No Rio Grande do Sul, é evidente que a industrializacão e o consequente atrelamento efetivo do Estado ao sistema capitalista de produção acentuaram os “desequilíbrios regionais”,

privilegiando a região metropolitana. Isso aconteceu devido aos investimentos direcionados para essa área pelo próprio poder público, como também pelo desinteresse dos empresários em investir fora do grande centro.

A primazia urbana da Grande Porto Alegre é atestada pelos dados que seguem divulgados pela Metroplan (Fundação Metropolitana de Planejamento) e FIBGE: GRANDE

PORTO

ALEGRE

— Área: 5 806 km? — 2,17% da área terrestre do Rio

Grande do Sul. — População: 2 232 370 hab. — 28,7% da população estadual. — Realiza 83% das vendas do Estado. — Possui 40% do pessoal ocupado. — Concentra mais de 50% dos salários pagos. — Absorve 47% do ICM recolhido ao Estado.

Como se vê, cerca da metade do que é hoje o Rio Grande do Sul está concentrada em pouco mais de dois por cento do seu território. A área metropolitana de Porto Alegre configura-se, indiscutivelmente, como a primeira “região” a ser conside-

rada em qualquer divisão regional do Estado. Mas antes é preciso esclarecer o conceito de região.

Muito têm teorizado os geógrafos e outros cientistas sociais a esse respeito. Acreditamos que a concepção mais atual e abrangente de região é aquela colocada por autores como Francisco de Oliveira e Aluízio Duarte, que a reconhecem como produto da ação da sociedade e de seu sistema econômico sobre o espaço. subespaço de uma totalidade, onde o econômico tem preponderância na organização geo-

A

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pad

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H

mens

i

a região é um

sd

Assim,

gráfica. No caso do sistema capitalista de produção, apesar de-sua tendência de homogeneização espacial, fazendo desaparecer as “regiões”, estas podem ser identificadas a partir da desigualdade com que se processa a reprodução e acumulação do capital. Desse modo,

pódemos

reconhecer

no

Rio Grande do

oul diversas áreas em diferentes graus de “dinamismo” econômico, ou seja, com feições particulares de inserção no sis-

tema

de produção.

Isso se reflete em estruturas, funções e

formas específicas, configurando áreas que, se não são dotadas de uma verdadeira identidade regional (onde a sociedade

local

efetivamente dirija e organize seu território), pelo

menos assumem uma posição própria, em função de interes-

ses externos, a nível estadual, nacional ou mesmo internacional. Como já foi visto, é indiscutível a situação do Rio Grande do Sul, como área periférica no contexto sócio-econômico brasileiro. Aliás, toda a Região Sul constitui uma

região periférica relativamente dinâmica dentro do espaço

social do país. O Brasil como um todo, por sua vez, é um es-

paço

periférico

na escala mundial. Em qualquer nível de

análise, encontramos sempre a combinação de desigualdade, onde convivem lado a lado espaços “pobres” e “ricos”, “deprimidos” e “dinâmicos”. A nível de Rio Grande do Sul a

regra não poderia ser diferente. Assim, com base nessa breve argumentação teórica e

embora

sem

maiores pretensões, podemos

esboçar uma

di-

visão regional do Estado, nos moldes da que foi proposta por B, Becker para o Brasil, já em 1972, e retomada recentemente pela FIBGE. Essa divisão, que pode ser visualizada no mapa (a seguir), compreende as seguintes “regiões”:

a) Centro irradiador (e concomitantemente concentrador) — Trata-se da região metropolitana de Porto Alegre, centro demográfico, econômico e político, cuja importância se acentua cada vez mais no espaço estadual e mesmo fora

dele, considerando que a área de influência de Porto Alegre estende-se até o oeste e o sul de Santa Catarina. É a partir dele que se difundem as inovações e se decidem os investi-

mentos de maior porte, sempre em benefício da própria e a]

105

—=-

teses

a

UMA REGIONALIZAÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL

Santa Rosa fã: À a

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Cachoeira DS

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[65] O

aprás

do Sul

HH

núcleos secundários (emergentes) Periferia de crescimento

lento:

de pequenas e médias propriedades

AN

de grandes propriedades

Ee) O

núcicos secundários 1 — Campanha 2 e 3 — Planalto médio 4 — Encosta

5 — Depressão

6 — Litoral norte

E

Periferia deprimida ou de crescimento nulo

| - Faixa norte-nordeste e litoral centro-oriental

|| = Centro e Centro-Sul

concentração econômica local. Não obstante seu dinamismo em relação as demais regiões, representado notadamente pela industrialização, possui uma periferia pobre, formada por conjuntos de “malocas” e por cidades-dormitório de classe média-baixa, cada vez mais populosas.

b) Periferia dinâmica — Constituída pela área imediatamente ao norte da metrópole e por sua circunvizinhança. Essa região

inclui o “cinturão-verde” de Porto Alegre, onde pequenos agricultores dedicam-se à pecuária leiteira e à hor-

tifruticultura, e parte da zona colonial antiga, de descenden-

tes de alemães (como em Nova Petrópolis) e de italianos (centralizada pela área urbano-industrial de Caxias do Sul e, secundariamente, Bento Gonçalves). Apesar do excessivo fracionamento da terra na zona rural, tem-se conseguido manter uma certa produtividade agrícola, mas o setor realmente dinâmico é o secundário, responsável pelo intenso “afluxo de população para seus principais centros urbanos.

c) Periferia de crescimento lento — É a maior região

do Estado em superfície, subdividindo-se em dois subespaços, cada qual com sua base econômica: a região latifundiá-

' ria predominantemente pastoril, representada pela “frontei-

ra” ou Campanha gaúcha e partes do planalto médio, e a região de predomínio de médias e pequenas propriedades, de base agrícola, constituída principalmente por zonas de colonização não deprimidas e por áreas de expansão da empresa rural (alicerçadas no binômio trigo/soja). Apesar de algum crescimento verificado no setor agricola nos últimos anos, também nessa região as cidades funcionam como intermediárias na organização do espaço geográfico, imposta do exterior. É a partir delas que se difundem a capitalização do campo e a consequente evasão de minifundiários (excluídos do sistema produtivo) para fornecerem mão-de-obra barata às indústrias e serviços urbanos, que se restringem aos ramos ligados à atividade agrária. Entre as cidades, destacam-se, na zona sul, Pelotas e Rio Grande, essa última mais dinâmica, em função do superporto; Santa Maria, exclusivamente terciária (talvez por isso mesmo com uma circunvizinhança de-

primida); e Santa Cruz do Sul, no centro; Passo Fundo, San-. 107

to Ângelo, Ijuí e Cruz Alta, no planalto; e, mais isoladas e com menor crescimento, Uruguaiana, Livramento e Bagé. d) Periferia deprimida

ou

de crescimento nulo — Infelizmente, essa região está se expandindo, à medida que expressiva parcela do espaço gaúcho se vê marginalizada den-

tro do sistema econômico, em detrimento do “dinamismo” da região central e dos núcleos urbanos secundários. Embora

sem

grande

precisão,

periférica deprimida

um

podemos

vasto

identificar

como

região

interior que, ao mesmo tem-

po em que diminui sua participação no “bolo” econômico

do Estado, perde população. Foi isso o que aconteceu, década de /0, com as áreas conhecidas como Serras do deste, com o centro (excetuando-se o “núcleo”, Santa ria), com os “campos de cima da serra”' (a nordeste e

na SuMaem

Soledade), com o litoral de Mostardas e com grande parte da zona colonial minifundiária do alto Uruguai (excessão feita aos núcleos de Erexim e Santa Rosa).

Em síntese, é facilmente observável, no espaço subdesenvolvido do Rio Grande do Sul, a correlação “condi-

ções de capitalização da economia, dinamismo demográfico e aumento da produção”. Aos que permanecem marginalizados pelo sistema produtivo, intrinsecamente desigual, cabem “soluções”, como a venda da terra e a migração, seja para as novas fronteiras agr ícolas, ainda existentes no Norte do país, seja para a periferia dos grandes centros urbanos. Em ambos os casos estarão perfeitamente integrados à realidade sócio-econômica, devastando a mata para o posterior ingresso do grande capital ou articulando-se como mão-deobra barata à indústria e em subempregos terciários, indis-

pensáveis ao pleno funcionamento da estrutura econômica. A geografia do Rio Grande do Sul conforma, pois, um espaço em que as desigualdades, ao invés de serem atenuadas,

estão

sendo

agravadas.

Caberá

ao futuro

uma

res-

posta, quiçá voltada para a verdadeira identidade regional, que, apesar da homogeneização imposta pelo sistema, conse-

que teimosamente subsistir — em sua cultura, que atualmen-

te renasce, em sua natureza, mesmo tão dilacerada, e no espaço social, para o qual algumas mentes, dotadas de consciência da realidade, estão planejando mudancas,

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LUTAS SOCIAIS NA AMÉRICA LATINA Argentina, Brasil e Chile

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