ESCRITO COM LETRAS DE SANGUE Histórias e Atas dos Mártires do Século XX
 8501075205, 9788501075208

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Anderson Wagner Araújo

ESCRITO COM LETRAS DE

SANGUE

Histórias e Atas dos Mártires do Século XX

ESCRITO COM LETRAS DE SANGUE: HISTÓRIAS E ATAS DOS MÁRTIRES DO SÉCULO XX Copyright © 2019 Anderson Wagner Santos de Araújo Todos os direitos reservados 1ª Edição – Editora GARCIA Brasil – Março de 2019 ISBN 978-65-80264-12-4 Designer da capa: Elizandra França Correção ortográfica: Wiliana Souza Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Araújo, Anderson Wagner Santos de

A663e

Escrito com letras de sangue / Anderson Wagner Santos de Araújo. 1ª ed. -- Juiz de Fora, MG: Editora Garcia, 2019. ISBN: 978-65-80264-12-4 2019-391

1. Cristianismo. 2. Mártires. I. Título CDD-272 CDU-272 Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949 Índice para catálogo sistemático: 1. Mártires 272 2. Mártires 272

Todos os direitos desta edição são reservados ao autor. Proibida a cópia ou reprodução por qualquer meio, inclusive eletrônico, conforme a lei nº 10.695 de 4 de julho de 2003.

2019

Editado por: Editora Garcia Impressão: Garcia Impressão de Livros Site: www.editoragarcia.com.br E-mail: [email protected]

Quando pela palavra se combate, Erguendo, não a espada, mas a cruz, Como a cruz redentora do Calvário, Também o sangue é luz. Quando se renuncia à própria vida, No gesto heroico da oblação suprema, Para glória de Deus e bem das almas, Também o sangue é poema. Como a água das fontes cristalinas, Brotando do sopé de serra brava, Se é por Jesus que se derrama o sangue, O sangue também lava. Em cada Mártir o Senhor Se exalta Sobre os ódios da turba irada e cega. Como a palavra, e mais do que a palavra, O sangue também prega. Honra e louvor ao Pai omnipotente E ao Filho, que por nós morreu na cruz, E ao Espírito, que glorifica os Mártires No Sangue de Jesus. Hino das vésperas em memória de um mártir, extraído da Liturgia das horas.

P r ef á c i o

A

história da Igreja, especialmente nos seus três primeiros séculos, é caracterizada por longos e intensos períodos de perseguição, empreendida sobretudo da parte do Império Romano, pois os cristãos, com a encantadora novidade de sua vida e de seu testemunho, eram causa de grande incômodo. Contudo, esta realidade não se extinguiu, ainda que, em certo momento, os cristãos tenham gozado de paz e liberdade. Ao longo dos séculos seguintes, seja na Idade Média, seja na Idade Moderna ou Contemporânea, esta aversão à fé cristã se manifestou de variadas formas, sob diversos matizes, mas com a forte consciência da Igreja de que “sanguinis martyrum semen christianorum” (Tertuliano). E isto não deve ser visto por nós como algo alheio à nossa fé, como uma série de fatos acidentais. É preciso olharmos para Jesus Cristo, Senhor nosso, que por primeiro foi perseguido, tornando-se causa de nossa salvação e redenção. E Ele próprio já nos advertiu: “Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou a mim antes que a vós. O servo não é maior do que o seu senhor. Se me perseguiram, também vos hão de perseguir” (Jo 15, 18.20).  O século XX, apenas findado, traz consigo uma gama de testemunhos eloquentes e corajosos de fé e incondicional abandono em Deus, Senhor da Vida e da história, verdadeiramente escritos com letras de sangue. Estes mártires contemporâneos têm muito a nos dizer, sobretudo quando consideramos que ainda existem, nos dias atuais, tantas forças más que se opõem violentamente a Cristo, ao Seu Evangelho e à Sua Igreja, martirizando muitos de nossos irmãos e irmãs, sobretudo no Oriente Médio. O número de mártires nos dias de hoje é assustadoramente crescente. Portanto, merece reconhecimento todo o trabalho do jovem advogado e professor Anderson Wagner em pesquisar, reunir e publicar, neste livro, a história de alguns destes mártires de nossos tempos, vítimas de sistemas políticos,

filosóficos e até mesmo ditos religiosos. A leitura de “Escritos com letras de sangue” deve ser feita numa profunda perspectiva de fé, pois, ao longo de suas páginas, vemos o relato de almas que, não temendo aqueles que podem matar o corpo (Mt 10, 28), amaram a Jesus de modo radical, ofertando-se a si mesmas, confiando no Justo Juiz, que lhes concedeu a coroa da glória (2Tm 4, 8). Deixemo-nos tocar, na mente e no coração, pelo testemunho destes mártires, e peçamos que intercedam por nós, para que sejamos capazes de renunciar a nós mesmos e amar ao Senhor com radicalidade. Dom Francisco Canindé Palhano Bispo Diocesano de Petrolina - Pernambuco

A pr es en ta ç ã o

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livro “Escrito com letras de sangue, história e atas dos mártires do século XX”, é de autoria de Anderson Wagner Araújo, jovem inquieto pela verdade e sedento de Deus, a quem parabenizo pela boa iniciativa e pelo subsídio que nos oferece, para uma bela e fecunda leitura, de modo que possamos conformar as nossas vidas dentro do projeto de Deus, como fizeram os santos mártires. Esta obra inspira e nos inspira e nos impulsiona na busca de tudo aquilo que Jesus acenou aos seus discípulos: “Onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração”. (Mt 6,21) A intenção do autor deste livro baseia-se no Salmo 111,112,6: “O justo será lembrado”. O autor navegou em fonte fecunda, onde narra a vida e o testemunho dos santos mártires do século XX, por isso toma a atitude de partilhar conosco este rico conteúdo. Este livro, não trata apenas de histórias de pessoas que por adesão à Jesus Cristo aceitaram mortes violentas, todavia, versa sobre vidas em diversas idades, culturas e nações que professavam a mesma fé em Cristo, de modo radical, na qual Ele assumia a centralidade, e viver ou morrer não mais poderia afastá-las do amor de Deus. (Rom. 8. 38-39). Para estes valentes heróis no testemunho o martírio não foi capaz de afastá-los de seu Divino Mestre. Santa Teresa d’Avila afirma que “A cruz que se carrega incomoda menos que a cruz que se arrasta”, os mártires nos ensinam que a cruz com Jesus, mesmo não sendo leve é possível carregar, e perseverar na fé. Eles sem hesitar abraçaram-na e seu testemunho suscita profundas conversões, bem como copiosas e frutíferas vocações para o seio da Igreja. É verdadeiramente impressionante o dado apresentado e tão pouco conhecido, de que no somente no século XX, foram contabilizados cerca de 45.000.000 (quarenta e cinco milhões) de cristãos martirizados, derramando o seu sangue por Nosso Senhor Jesus Cristo e a Sua Igreja. O heroísmo dos santos mártires nos exorta a escutar a palavra do Mestre:

“Vós sois lentos para crer” (Lc 24,25), acrescenta: “Quando o filho do homem vier, encontrará fé sobre a terra? (Lc 18.8). Os santos mártires experimentaram pela a radicalidade do Evangelho e corajosamente seguiram os passos de Jesus, na mesma lógica de São Pedro: “Senhor, a quem iremos nós, só o Senhor tem Palavra de vida eterna”. (Jo 6,68) Ancorado nas verdades supracitadas, o autor deste livro quer mostrar-nos a grande lição que devemos aprender com esses mártires, que com atitudes tão heroicas na fé, a tal ponto de deixarem “lavar as suas vestes no sangue do Cordeiro”. Derramando seu próprio sangue por amor e fé em Jesus Cristo, eles nos ensinam que nossa opção religiosa exige um verdadeiro comprometimento com o Reino de Deus. Dom Manoel dos Reis de Farias Bispo Emérito de Petrolina - Pernambuco

S um á ri o

Introdução ....................................................................................................... 11 Miguel Agustín Pro ........................................................................................... 19 José Sánchez del Río ......................................................................................... 39 Bartolomé Blanco ............................................................................................. 55 Florentino Asensio ............................................................................................ 81 Apolônia Ochoa .............................................................................................. 107 Martín Martínez Pascual ................................................................................ 119 Maximiliano Kolbe .......................................................................................... 129 Edith Stein ...................................................................................................... 153 Jakob Gaap ..................................................................................................... 171 Maria Tuci ....................................................................................................... 197 János Brenner ................................................................................................. 211 Charles de Focauld ......................................................................................... 227 Conclusão ....................................................................................................... 239 Referências ..................................................................................................... 247 Dicas de filmes ................................................................................................ 250

I nt r odu ç ã o

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Catecismo da Igreja Católica no § 2474 expressa: Com o maior cuidado, a Igreja recolheu as lembranças daqueles que foram até o fim para testemunhar a fé. São as “Atas dos Mártires” (Acta Martyrum). Constituem os arquivos da Verdade escritos em letras de sangue: De nada me servirão os encantos do mundo e dos remos deste século. Melhor para mim é morrer (para me unir) a Cristo Jesus do que reinar até as extremidades da terra. É a Ele, que morreu por nós, que eu procuro; é a Ele, que ressuscitou por nós, que eu quero. Aproxima-se o momento em que serei gerado... Eu vos bendigo por me terdes julgado digno desse dia e dessa hora, digno de ser contado no número dos vossos mártires... (Santo Inácio de Antioquia) Guardastes vossa promessa, Deus da fidelidade e da verdade. Por essa graça e por todas as coisas, eu vos louvo, vos bendigo e vos glorifico pelo eterno e celeste sumo sacerdote, Jesus Cristo vosso Filho bem-amado. Por Ele, que está convosco e com o Espírito, vos seja dada glória, agora e por todos os séculos. Amém. (São Policarpo) Com estas percepções destes santos mártires, se inicia esse livro que tem por objetivo abordar a temática do martírio no século XX, que é chamado por muitos historiadores de “o século dos már ires”. A Igreja foi edificada com san-gue, o de Nosso Senhor Jesus Cristo e de uma incontável multidão de mártires, homens e mulheres, de todas as idades, que entregaram as suas vidas, foram brutalmente assassinados por amor a Ele, o único “delito” que cometeram era o simples fato de terem fé. Nos primórdios do Cristianismo, aqueles cristãos que foram as testemunhas da ressurreição sem temor preferiram a morte do que calar sobre o grande fato que viram, e depois deles, muitos outros fizeram o mesmo, sempre anunciando a cruz, “escândalo para o mundo” e proclamando que Jesus Ressuscitou, de verdade, como havia dito. Deixou o sepulcro vazio, ao terceiro dia. A certeza da res-

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surreição e o Espírito Santo vindo sobre a Igreja em Pentecostes, retirou qualquer sombra de medo que pudesse existir na Igreja Primitiva. Os primeiros cristãos sofreram duríssimas perseguições das autoridades judaicas de então, mas, no entanto, o Cristianismo cada vez mais foi difundido chegando a Roma. O Império Romano, do ano 64 d.C. a 313 d.C, martirizou muitos milhares de cristãos, desde crianças até idosos, homens e mulheres. A crueldade dos martírios da Igreja Primitiva, era absurda. Sobretudo nas perseguições dos terríveis imperadores Nero Cláudio César Augusto Germânico (do ano 54 d.C a 68 d.C) e Caio Aurélio Valério Diocleciano (do ano 284 d.C a 305 d.C). Em 19 de julho de 64 d.C, Roma foi incendiada, o próprio Nero, motivado por sua ambição, que queria construir um novo palácio, ordenou que ateassem fogo sobre a cidade, afirmam estudiosos da História Romana. Ele, porém, para livrar-se do peso da culpa, incriminou os cristãos, que eram vistos como uma perigosa seita que não adorava os deuses (falsos) de Roma. O ódio contra a fé cristã e os seus fiéis gerou uma verdadeira sangria, durante anos. Os seguidores de Jesus Cristo eram mortos de maneiras quanto mais sórdidas e cruéis possíveis, muitos foram lançados às feras famintas, outros torturados, mutilados, crucificados, apedrejados ou queimados vivos. “Em meados do século II, não era difícil encontrar grupos tentando apedrejar os cristãos, incentivados, muitas vezes, por seitas rivais”. Eusébio de Cesáreia, História Eclesiástica 5.1.7). Não raras vezes, cristãos, viveram a sua vocação de iluminar o mundo, não no sentido metafórico, mas com o seu próprio corpo. Eram utilizados para iluminar os jardins do palácio, como tochas humanas. No Coliseu, incontáveis fieis, para o divertimento da plateia, tinham que gladiar totalmente desarmados com grandes leões, que eram mantidos sem alimentação, durante dias. A fidelidade dos cristãos era tamanha, que o modo como morriam, louvando ao Senhor e felizes, foi aniquilando o ódio ao Cristianismo e ao contrário, do que pretendiam os governadores romanos, foi despertando a fé na população. “... uma grande multidão foi condenada não apenas pelo crime de incêndio, mas por ódio contra a raça humana. E, em suas mortes, eles foram feitos objetos de esporte, pois foram amarrados nos esconderijos de bestas selvagens e feitos em pedaços por cães, ou cravados em cruzes, ou incendiados, e, ao fim do dia, eram queimados para servirem de luz noturna. ” (Tácito, Annales, XV.44) Neste contexto, percebendo o aumento no número de cristãos por todo o Império Romano, Tertuliano afirmou: “Nós multiplicamo-nos todas as vezes que somos ceifados por vós: o sangue dos mártires é semente de novos cristãos”. (Apologeticum) A sórdida perseguição aos cristãos continuou até a legalização do Cris-

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tianismo, com o Édito de Milão, emitido em 313, pelo imperador Constantino. Erroneamente, muitos acreditam que os martírios encerraram com a descriminalização da fé cristã, na Roma Antiga, o que se constitui um ledo engano. Durante os vinte séculos da Era Cristã, houveram pessoas que testemunharam Jesus Cristo com o próprio sangue. Um dado que causa perplexidade, e que é imensamente desconhecido, muitas vezes, até por religiosos e historiadores foi apresentado pelo pesquisador britânico, David B. Barett, diretor da Christian World Encyclopedy, que em 2001, estimou poder apresentar o número de aproximadamente 45 milhões de mártires cristãos somente no século XX. Em 2011, esta estimativa foi reafirmada no relatório do Centro de Estudos das Novas Religiões, o mesmo foi apresentado em um seminário organizado pela Universidade Pontifícia Lateranense de Roma. Segundo o diretor do estudo, o sociólogo italiano chamado Massimo Introvigne, o número de martírios cristãos, no mundo, desde os primórdios do Cristianismo, chega a 70 milhões, sendo que no século XX, ocorreram mais da metade, 45 milhões. O século XX teve mais mártires do que os dezenove séculos anteriores juntos, contudo, o que impressiona é o fato de que isso não é dito, passando despercebido das salas de aulas de história, nos debates universitários e infelizmente na memória de muitos católicos de hoje. Royal (2001) comenta sobre o que aconteceu aos católicos no século passado: “Foi um verdadeiro genocídio pouco documentado pela História geral e pouco divulgado pela grande mídia. Portanto, um genocídio silencioso. Apesar de não se saber ao certo o número de vítimas”. Já no início do século, a Revolta dos Boxers, na China, vitimou 30 mil cristãos, incluindo cinco bispos e dezenas de padres. Entre 1915 e 1917, número semelhante de leigos foi morto pelos turcos otomanos na Armênia, juntamente com sete bispos, 126 padres e 47 freiras. Outra onda de perseguição que merece destaque aconteceu no México após a revolução de 1917, sobretudo no governo de Plutarco Elias Calles (1924-1928) onde foram mortos e expulsos centenas de padres e assassinados cerca de 5.300 leigos (ROPS, 2006, p. 437). Apesar das perseguições terem ocorrido em todas as partes do planeta durante todo o século XX, esta tentativa de aniquilar a Igreja mostrou-se mais violenta na Europa, especialmente durante a primeira metade do século XX. As raízes que levaram os diversos regimes a combaterem os católicos encontram-se nos dois séculos antecedentes. Desde o Iluminismo no século XVIII, passando pelas ideologias materialistas e ateias do século XIX, que culminaram no liberalismo, no nazismo e no

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marxismo, concepções filosóficas e políticas inspiraram o extermínio da Igreja. Por mais antagônicas que estas ideologias possam ser ou pareçam ser, todas têm em comum o fato de considerar a Igreja Católica como reacionária, opositora do progresso social e apologista de várias formas de exploração, acusada de inimiga da humanidade, e que, portanto, deveria ser eliminada para ceder lugar a uma sociedade melhor. (ROYAL 2001, p. 26). Várias correntes de pensamento pregavam o fim da religião como um todo e da Igreja Católica em particular. Destas, as que influenciariam todo o Ocidente no próximo século seriam o positivismo e o marxismo. O francês Auguste Comte desenvolve o positivismo, onde afirma que a religião – ou estado teológico – está ultrapassada e agora tudo deve ser explicado pela observação do real, pela experimentação e pela técnica. Comte institui a religião da humanidade cujo deus é o homem. Na doutrina filosófica de Karl Marx, a religião aparece como uma superestrutura do capitalismo que deve ser eliminada, pois é a principal causa da alienação do homem, é “o ópio do povo”. No desenvolvimento da sociedade comunista, a religião desapareceria porque não haveria razão de existir (ROPS, 2003, pp. 505-506). No final do século XX, próximo ao Jubileu do Ano 2000, o Santo Padre João Paulo II, salientou que é dever da igreja recordar a memória e celebrar a heroicidade destas grandes testemunhas da fé, que pagaram com as suas vidas, pelo seguimento a Jesus Cristo. Estes dois mil anos depois do nascimento de Cristo estão marcados pelo persistente testemunho dos mártires. Também este século, que caminha para o seu ocaso, conheceu numerosíssimos mártires, sobretudo por causa do nazismo, do comunismo e das lutas raciais ou tribais. Sofreram pela sua fé pessoas das diversas condições sociais, pagando com o sangue a sua adesão a Cristo e à Igreja ou enfrentando corajosamente infindáveis anos de prisão e de privações de todo gênero, para não cederem a uma ideologia que se transformou num regime de cruel ditadura. Do ponto de vista psicológico, o martírio é a prova mais eloquente da verdade da fé, que consegue dar um rosto humano inclusive à morte mais violenta e manifestar a sua beleza mesmo nas perseguições mais atrozes. Inundados pela graça no próximo ano jubilar, poderemos mais vigorosamente erguer ao Pai o nosso hino de gratidão, cantando: Te martyrum candidatus laudat exercitus (o exército resplandecente dos mártires canta os vossos louvores). Sim, é o exército daqueles que “lava-

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ram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro” (Ap 7, 14). Por isso, a Igreja espalhada por toda a terra deverá permanecer ancorada ao seu testemunho e defender zelosamente a sua memória. Possa o povo de Deus, revigorado na fé pelos exemplos destes autênticos campeões de diversa idade, língua e nação, cruzar confiadamente o limiar do terceiro milênio. À admiração pelo seu martírio associe-se, no coração dos fiéis, o desejo de poderem, com a graça de Deus, seguir o seu exemplo, caso o exijam as circunstâncias” (Bula Incarnationis Mysterium nº 13). No desejo de contribuir para que se conheça sobre o martírio no século XX e ainda de perpetuar a memória de alguns deles surgiu esse livro. O mesmo apresenta o testemunho de alguns dos incontáveis cristãos que corajosamente entregaram as suas vidas por amor ao Senhor no século passado, que se tornaram verdadeiras “Imitações de Cristo”, por isso muitas vezes se verá citações dessa tão importante obra de autoria atribuída a Tomás de Kempis, no século XV. Este livro vislumbra, render a homenagem ao sangue de incontáveis homens, mulheres, idosos, jovens e crianças, de diferentes culturas, etnias e lugares, que ofereceram suas vidas como oblação, oferta e sacrifício de louvor ao Senhor, não o renegando, optando pela morte do que virar as costas a fé. Pessoas que uniram para sempre o seu sangue ao Sangue do Cordeiro, que corajosamente, deixaram-se purificar por este elemento constitutivo sempre presente na história da Igreja. O Sangue de Cristo redimiu a humanidade, pagou o preço pelas iniquidades, misérias e pecados de todos os homens, que jamais poderiam arcar com tamanha dívida. O mesmo sangue edificou os sacramentos confiados à Igreja e sob a ótica do Pão e do Vinho, se perpetua nos altares, como o mais augusto Mistério da Fé. O Sangue Redentor de Cristo, Nosso Senhor, há dois milênios não cessa de percorrer o coração do Seu Corpo Místico, a Igreja. Ele perenemente e em abundância jorra por todos os séculos através de seus mártires! O Sacratíssimo Sangue, é única substância vermelha capaz de alvejar todas as coisas por seu poderosíssimo contato. É uma verdade, neste livro existem histórias fortes, imagens que por muitos podem ser consideradas pesadas, mas que não poderiam deixar de ser apresentadas, pois expressam a verdade dos nossos corajosos irmãos na fé. Algumas histórias, por tanta atrocidade, podem gerar a indagação: Como os mártires conseguiram se manter fieis, nessas tão duras condições? A resposta é o Sangue Preciosíssimo de Cristo e o seu Corpo Sagrado sempre “salvam e dão coragem”. Os mártires entregaram as suas vidas não por uma ideologia, não por partidarismo político, causa social, filosofia, entre outras coisas, eles se ofertam

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por amor a uma pessoa, que tem um rosto e que habitou em meio a nós, esta que foi morta e ressuscitou, que vive e reina soberanamente em todo universo: Jesus Cristo. Os mártires foram pessoas fascinadas por Jesus, sabiam que sem Ele, não teriam para onde ir, olhariam para si mesmos, no mais profundo de seu ser e questionariam como São Pedro: “Senhor, para quem iremos? Só tu tens as palavras de vida eterna”. (João 6, 68). Se tivessem negado Jesus Cristo, a suas vidas não teriam mais sentido, não saberiam para onde caminhar, ficariam totalmente desnorteados. O fascínio, a fidelidade e amor dos mártires por Jesus Cristo, era tão grande ponto de sentirem que a morte dos seus corpos era mil vezes mais favorável do que a morte da fé em suas almas.

O significado do Martírio O Catecismo da Igreja dispõe: §2473- O martírio é o supremo testemunho prestado à verdade da fé; designa um testemunho que vai até a morte. O mártir dá testemunho de Cristo, morto e ressuscitado, ao qual está unido pela caridade. Dá testemunho da verdade da fé e da doutrina cristã. Enfrenta a morte num ato de fortaleza. “Deixai-me ser comida das feras. E por elas que me será concedido chegar até Deus.” (Santo Inácio de Antioquia) Os mártires de Cristo permanecem fiéis até o fim, auxiliados pela força do Espírito Santo, ainda diz o Catecismo: §852- “O Espírito Santo é o protagonista de toda a missão eclesial.” É ele quem conduz a Igreja pelos caminhos da missão. “Esta missão, no decurso da história, continua e desdobra a missão do próprio Cristo, enviado a evangelizar os pobres. Eis por que a Igreja, impelida pelo Espírito de Cristo, deve trilhar a mesma senda de Cristo, isto é, os caminhos da pobreza, da obediência, do serviço e da imolação de si até a, morte, da qual Ele saiu vencedor por sua Ressurreição.” É assim que “o sangue dos mártires é uma semente de cristãos”. Ao se configurarem ao Cristo em sua Cruz, unem-se indelevelmente a todo o mistério pascal, abraçando toda a Paixão e gozando da grande alegria da Ressurreição. “Visto que Jesus, Filho de Deus, manifestou Sua caridade entregando Sua vida por nós, ninguém possui maior amor que aquele que entrega sua vida por Ele e seus irmãos (cf. 1Jo3, 16; Jo 15, 13). Por isso, desde o início alguns cristãos foram chamados e alguns sempre serão chamados para dar o supremo testemunho de seu amor diante de todos os homens, mas de modo especial perante os perseguidores. O martírio, por conseguinte, pelo qual o discípulo se assemelha ao Mestre, que aceita livremente a morte pela salvação do mundo, e se conforma a Ele na efusão do sangue é estimado pela Igreja com

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exímio dom e suprema prova de caridade. Se a poucos é dado, todos, porém, devem estar prontos a confessar Cristo perante os homens, segui-lo no caminho da cruz entre perseguições, que nunca faltam à Igreja” (Lumen Gentium nº 42). Por terem vivido tão radicalmente o Evangelho, tornaram-se dignos de estar ante ao Trono do Cordeiro, rendendo-lhe a glória e o louvor: “Então um dos Anciãos falou comigo e perguntou-me: Esses, que estão revestidos de vestes brancas, quem são e de onde vêm? Respondi-lhe: Meu Senhor, tu o sabes. E ele me disse: Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro. Por isso, estão diante do trono de Deus e o servem, dia e noite, no seu templo. Aquele que está sentado no trono os abrigará em sua tenda. Já não terão fome, nem sede, nem o sol ou calor algum os abrasará, porque o Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os levará às fontes das águas vivas; e Deus enxugará toda lágrima de seus olhos”. (Ap 7,13-16) É belo contemplar a vida de pessoas que existiram para fazer ressoar na humanidade, o mais profundo louvor ao Cordeiro Vencedor, que jamais se apartaram do Corpo de Cristo, nas suas vidas e nem com as suas mortes. Nada pode separá-los do Amor de Deus (Rm 8) Supliquemos ao Senhor que nestes tempos de forte secularismo e relativismo, a fé seja fortalecida em nós, para que não neguemos o Senhor. Atualmente, muitas vezes renegamos a fé, por meio de nossas posturas, ações, faltas e omissões. Quantas vezes nós praticamos, às vezes, até sem perceber, atitudes incompatíveis com o Santo Evangelho e com a nossa vocação de cristãos de testemunharmos o Cristo, anunciando-o até os confins do Terra. Rogo ao Cristo Rei do Universo, que os exemplos dos mártires relatados a seguir, nos comprometa com a verdade da fé, nos fazendo assumir uma vida coerente na busca da santidade, que nos auxiliem em nosso processo de conversão e que nos inspirem, a nas mais diversificadas e difíceis situações, a ter coragem de gritar ao mundo: Jesus Cristo é o Senhor, Ele é o Grande Rei do Universo! Que não sejamos cristãos covardes! Tenhamos coragem! Para G. K. Chesterton: “A coragem significa um forte desejo de viver, sob a forma de disposição para morrer”. E se for para morrer por Cristo, a morte ganha especial valor e sentido, como testemunha a carta ao Filipenses: Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com os bispos e diáconos: Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós, fazendo sempre, em todas

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as minhas orações, súplicas por todos vós com alegria pela vossa cooperação a favor do evangelho desde o primeiro dia até agora... Quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram tem antes contribuído para o progresso do evangelho; de modo que se tem tornado manifesto a toda a guarda pretoriana e a todos os demais, que é por Cristo que estou em prisões; também a maior parte dos irmãos no Senhor, animados pelas minhas prisões, são muito mais corajosos para falar sem temor a palavra de Deus. Verdade é que alguns pregam a Cristo até por inveja e contenda, mas outros o fazem de boa mente; estes por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho; mas aqueles por contenda anunciam a Cristo, não sinceramente, julgando suscitar aflição às minhas prisões. Mas que importa? Contanto que, de toda maneira, ou por pretexto ou de verdade, Cristo seja anunciado, nisto me regozijo, sim, e me regozijarei; porque sei que isto me resultará em salvação, pela vossa súplica e pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo, segundo a minha ardente expectativa e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a ousadia, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro. (Fl. 1, 1-5, 13-21) Bendito seja o Nome do Senhor e de todos aqueles que por Ele foram coroados, por terem guardado a fé a retidão de seus corações como as primícias de suas vidas: Porque guardaste a minha palavra com firmeza, também Eu te guardarei na hora da provação que está para sobrevir ao mundo inteiro, para provar os habitantes da terra. Eu venho em breve: conserva com firmeza o que tens, para que ninguém arrebate a tua coroa. Farei do vencedor uma coluna no templo do meu Deus e jamais sairá dele; escreverei sobre ele o nome do meu Deus e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do Céu, de junto do meu Deus, e também o meu nome novo. (Ap 3, 10-12)

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São Policarpo Bispo de Esmirna, mártir do II Século, ouviu do procônsul romano que queria dissuadi-lo de seguir Cristo: "Eu tenho feras, e te entregarei a elas, se não mudares de ideia." Ele disse: "Pode chamá-las. Para nós, é impossível mudar de ideia, a fim de passar do melhor para o pior; mas é bom mudar, para passar do mal à justiça." O procônsul insistiu: "Já que desprezas as feras, eu te farei queimar no fogo, se não mudares de ideia." Policarpo respondeu-lhe: "Tu me ameaças com um fogo que queima por um momento, e pouco depois se apaga, porque ignoras o fogo do julgamento futuro e do suplício eterno, reservado para os ímpios. Mas por que tardar? Vai e faze o queres."

Ícone de Santo Inácio de Antioquia (67– 110 d.C) "Vivo, vos escrevo, desejando morrer. Meu amor está crucificado. Não há em mim um fogo que busque alimentar-se da matéria, apenas uma água viva e murmurante dentro de mim, dizendo-me em segredo: ‘Vem para o Pai!' [...] Se for martirizado, vós me quisestes bem. Se for rejeitado, vós me odiastes." (Da Carta aos Romanos, de Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir).

SA exemplo do apologeta Tetertuliano de Cartago, Gilbert Keith Chesterton, cristão do século XX, assume a postura de defender a fé, no tempo de forte secularismo, em que viveu. Chesterton distingue o martírio do suicídio: “Mais ou menos na mesma época li uma solene bobagem de algum livre-pensador. Dizia ele que um suicida era simplesmente o mesmo que um mártir. A patente falácia desse texto ajudou-me a esclarecer a questão. Obviamente um suicida é o oposto de um mártir. Um mártir é um homem que se preocupa tanto com alguma coisa fora dele que se esquece de sua vida pessoal. Um suicida é um homem que se preocupa tão pouco com tudo o que está fora dele que ele quer ver o fim de tudo. Um quer que alguma coisa comece; o outro, que tudo acabe. Em outras palavras, o mártir é nobre, exatamente porque (embora renuncie ao mundo ou execre toda a humanidade) ele confessa esse supremo laço com a vida; coloca o coração fora de si mesmo: morre para que alguma coisa viva. O suicida é ignóbil porque mão tem esse vínculo com a existência: ele é meramente um destruidor. Espiritualmente, ele destrói o universo. E depois me lembrei da estaca e da encruzilhada, e o estranho fato de que o cristianismo mostrara esse rigor incomum para com o suicida. Pois o cristianismo mostrara um ardente incentivo ao martírio. (CHESTERTON, G.K., Ortodoxia. 2007, p.122-123) Tertuliano de Cartago.

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No ano de 1964, Paulo VI retomou a tradição do rito da Via-sacra no Coliseu, iniciada por São Leonardo de Porto Maurício em 1750.

O coliseu em Roma foi consagrado como um lugar santo. Eis a lápide encontrada no local, que indica a referida consagração. Os mártires foram configurados ao Senhor e habitam a Sua Presença, não cessam de render-lhe louvor. Vieram da grande tribulação, lavaram as suas vestes com o sangue do Cordeiro e Ele perpetuamente adoram. (Imagem da Basílica do Carmo-Recife, Arautos).

Os santos mártires de Roma sofriam todos os tipos de perseguição, torturas e tinham as suas vidas ceifadas, sem nenhuma piedade. Muitos destes martírios foram realizados no Coliseu, anfiteatro, obra iniciada pelo imperador Vespasiano, no segundo ano após sua ascensão ao trono (72 d.C.), faleceu antes de que a obra fosse concluída. O seu filho Tito ficou encarregado pela conclusão. Foi construído com a finalidade de ser o grande palco para os jogos de gladiadores. Ocorre que acabou sendo o centro de martírio de cristãos, que testemunhavam a sua fé, mesmo sofrendo com a extrema crueldade dos pagãos.

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Martírio de Santo Inácio de Antioquia, de Johann Kreuzfelder (1570-1636). "Tenho escrito a todas as Igrejas e a todas elas faço saber que com alegria morro por Deus, contanto que vós não o impeçais. Suplico-vos: não demonstreis por mim uma benevolência intempestiva. Deixai-me ser alimento das feras, porque, através delas, pode-se alcançar a Deus. Sou trigo de Deus: que seja eu triturado pelos dentes das feras para tornar-me puro pão de Cristo! Instigai, ao contrário, os animais para que neles encontre o meu sepulcro e nada reste de meu corpo para não ser pesado a ninguém, depois de adormecer. Então serei verdadeiro discípulo de Cristo, quando o mundo não mais vir sequer o meu corpo. Suplicai a Deus por mim, que por este meio me torne uma hóstia para Deus. [...] Que nada, tanto das coisas visíveis quanto das invisíveis, segure o meu espírito, a fim de que eu possa alcançar a Jesus Cristo. Que o fogo, a cruz, um bando de feras, os dilaceramentos, os cortes, a deslocação dos ossos, o esquartejamento, as feridas pelo corpo todo, os duros tormentos do diabo venham sobre mim para que eu ganhe unicamente a Jesus Cristo! [...] Procuro aquele que morreu por nós: quero aquele que por nós ressuscitou. Meu nascimento está iminente. Perdoai- me, irmãos! Não me impeçais de viver, não desejeis que eu morra, pois desejo ser de Deus. [...] (Da Carta aos Romanos, de Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir)

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A experiência dos mártires e das Testemunhas da Fé não é uma característica exclusivamente da Igreja dos primórdios, mas delineia todas as épocas da sua história. De resto, no século XX, talvez ainda mais do que no primeiro período do cristianismo, muitíssimos foram os que testemunharam a fé com sofrimentos não raro heroicos. Durante o século XX, quantos cristãos em todos os continentes pagaram o seu amor a Cristo, também derramando o próprio sangue! Eles padeceram formas de perseguição antigas e recentes, experimentando o ódio e a exclusão, a violência e a morte. Muitos países de antiga tradição cristã voltaram a ser terras em que a fidelidade ao Evangelho teve um preço muito elevado. No nosso século o "testemunho, dado por Cristo até ao derramamento do sangue, tornou-se patrimônio comum de católicos, ortodoxos, anglicanos e protestantes" (Tertio millennio adveniente, 37). Homilia do Papa João Paulo II-Roma, Coliseu, Domingo 7 de Maio de 2000 (Celebração Ecumênica para recordar as Testemunhas da fé do século XX). A geração a que pertenço conheceu o terror da guerra, os campos de concentração e a perseguição. Durante a segunda guerra mundial, na minha Pátria sacerdotes e cristãos foram deportados para os campos de extermínio. Somente em Dachau foram internados cerca de três mil sacerdotes. O seu sacrifício uniu-se ao de muitos cristãos provenientes de outros países europeus e, nalguns casos, pertencentes a outras Igrejas e Comunidades eclesiais. O meu sacerdócio inscreveu-se no sacrifício de muitos homens e mulheres da minha geração. Nos meus anos de juventude, eu mesmo fui testemunha de muitos sofrimentos e de inúmeras provações. Desde a sua origem, o meu sacerdócio "inscreveu-se no sacrifício de muitos homens e mulheres da minha geração" (Dom e Mistério, pág. 47).

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M iguel A gu s tín P ro O alegre e destemido mártir de Cristo Rei (1891-1927) “Serei, ainda que imperfeito, um débil reflexo do Coração de Cristo que tanto ama os homens...”

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eixe-me viver ao Seu lado, minha Mãe, para fazer companhia a sua solidão e a sua profunda dor! Deixe-me sentir em minha alma o pranto doloroso de teus olhos e o abandono de seu coração! Eu não quero no caminho da minha vida desfrutar da alegria de Belém, adorando o Menino Jesus, em seus braços virginais. Eu não quero desfrutar em sua humilde casa de Nazaré a presença querida de Jesus Cristo. Nem quero unir-me ao coro dos anjos na sua gloriosa Assunção! Eu quero na minha vida o desprezo e a zombaria do Calvário; Eu quero a morte lenta de seu Filho, o desprezo, a ignomínia, a infâmia da Cruz. Quero, ó Virgem Dolorosa, estar perto de Ti, em pé, para fortalecer o meu espírito com suas lágrimas, consumar o meu sacrifício com o seu martírio, apoiar o meu coração com a sua solidão, amar o meu e o vosso Deus com o sacrifício de todo o meu ser.” O Senhor se dignou em ouvir e atender esta oração feita pelo Beato Padre Miguel Pro dirigida a Santíssima Virgem Maria. A vida deste fantástico padre foi configurada ao Cristo em todas as coisas, sobretudo no Calvário. Por amor ao Senhor e a Santa Igreja fez da sua existência um sacrifício de louvor, oferta viva no altar de Deus. Como a Mãe de Jesus, o Pe. Pro abandonou-se inteiramente aos desígnios de Deus. O Pe. Miguel Pro é um dos incontáveis mártires, brutalmente assassinados no México, durante o Governo de Calles, o “Nero do México”. Era um padre fantástico, alegre, inteligente, piedoso, simpático, dedicado ao seu rebanho, amante à Santa Igreja, devoto da Virgem Maria e fiel à administração dos sacramentos, centro da vida sacerdotal. Mesmo com a perseguição e proibição de exercer seu ministério, padre Miguel o fazia com assiduidade e amor, na clandestinidade, arriscando-se a ser capturado e preso. Em 13 de janeiro de 1891, às 14h15, nasceu José Ramón Miguel Agustín Pro Juárez, no povoado mineiro de Guadalupe, no estado de Zacatecas. No dia

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16, recebeu o sacramento do batismo. Foi o terceiro de onze irmãos, seus pais Miguel e Josefa, eram católicos fervorosos. No final de 1891, a família passou a residir em Ciudad de México. Em 1896, a numerosa família mudou-se para Monterrey e em 1898, mudou-se novamente, desta vez para o município de Concepción del Oro, no estado Zacatecas. Em 19 de março de 1898, aos 7 anos de idade, Miguel, recebeu pela primeira vez a comunhão eucarística, pelas mãos do Pe. Mateo Correa, que no futuro também seria martirizado, em 6 de fevereiro de 1927. O dia 19 de março era um dia de festa para toda a família, celebravam o dia de São José, mas também o aniversário de Dona Josefa e neste ano em especial a Primeira Eucaristia de Miguel. Com muitos preparativos celebraram um dia de muita alegria. Miguel, com grande fervor diz a sua mãe o seu maior desejo de então: “Mamãe, eu quero ir a uma procissão que não se acabe nunca!” Na juventude, como muitos outros rapazes e moças, viveu uma crise para descobrir qual era a sua vocação. Admirava a decisão de suas irmãs mais velhas, que sem hesitar ingressaram no convento, no mais profundo do seu ser também ouvia a voz do Senhor que lhe chamava pelo nome. Viveu alguns momentos de tibieza, falta de fervor espiritual, mas perseverou na sua identidade religiosa e por meio de seus exercícios espirituais manteve o olhar fixo em Cristo. A Madre Julia Navarrete e o Padre Alberto Mir, colaboraram imensamente para que Miguel Pro tomasse a decisão de ingressar na Companhia de Jesus. Ao decidir, Miguel reconheceu o chamado de Deus para a sua vida, muito emocionado expressou: “Minha vocação é certa!! Serei religioso apesar de todos os obstáculos! Falarei com meu confessor e pedirei admissão a Companhia de Jesus”. Aos 20 anos de idade, ingressou no noviciado dos jesuítas em El Llano, no estado de Michoacán, em 10 de agosto de 1911. Com todas as cerimônias devidas, formalmente, em 15 de agosto de 1913, fez os votos de religioso para o próximo biênio. No dia seguinte iniciou o Juniorato. Nos arquivos da Companhia de Jesus foi encontrada a fórmula de seus votos, na qual ele livremente promete viver a castidade, a pobreza e a obediência. Miguel era um homem profundamente feliz, realizado vocacionalmente. Viver a vocação que o Senhor selou no seu coração, ainda que surgissem dificuldades e obstáculos, trazia a verdadeira alegria para a sua alma. Ele se caracteriza pelo amor que transbordava para com todos, viveu, como Santa Teresinha, a vocação do amor e o que ensinou São João Paulo II: “O amor é a fundamental e originária vocação do ser humano”. Miguel Pro, vivia uma vida à altura do Evangelho, esvaziou-se, deixou-se conduzir por Deus, lutou incansavelmente contra o pecado e nunca estava com uma cara fechada, ou triste pelos cantos, era imensamente alegre. As suas pos-

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turas se traduzem na famosa frase de Santo Agostinho: “Os teus pecados são a tua tristeza, deixa que a santidade seja a tua alegria”. Ressalte-se que contrariamente ao que se difunde, que os santos eram pessoas infelizes, que fique claro que a santidade é a verdadeira alegria e que os pecados e iniquidades são a raiz da tristeza que assola o coração do homem. Pe. Pro era alegre e irradiava alegria a quem estava ao seu redor, no entanto isso não o afastava da sua profunda vida interior e introspecção. Um dos seus companheiros do noviciado expressou sobre Miguel: “Neste noviço se descobria com facilidade duas personalidades: o brincalhão, que alegrava os intervalos e o homem de uma profundíssima vida interior”. Miguel Pro permaneceu no Juniortato um ano exato, pois a comunidade foi dissolvida. Em 15 de agosto de 1914, relatou o irmão Pro: “O padre superior subiu ao altar; imensamente abatido, e nos disse que era preciso fugir e nos deu conselhos para a vida de aventuras que estava se iniciando”. Nesta data em que se celebra a Assunção da Virgem Maria, o quadro da Mãe Rainha dos Noviços, foi retirado. Na manhã do dia seguinte, por volta das 07h, o grupo formado pelos irmãos Campos, Cavero, Rios e Miguel Pro, parte para a cidade de Zamora. A dissolução do noviciado em El Llano, Michoacán se deu por conta dos graves ataques dos revolucionários carrancistas e suas ameaças de extermínio. A Igreja no México estava passando por perseguições, (mas ainda se tornariam imensamente piores anos depois) os noviços não puderam permanecer em Zamora por muito tempo, logo partiram para a cidade de Guadalajara, onde o irmão Pro teve a oportunidade de ver a sua mãe, que lavava roupas para colaborar com a manutenção das despesas da numerosa família. Em primeiro de outubro de 1914, o irmão Pro e seus companheiros de noviciado, receberam a ordem de emigrar. Passaram a residir nos Estados Unidos, em San Antônio, em seguida partiriam a Los Gatos na Califórnia. Dona Josefa, mãe do irmão Pro, foi a estação ferroviária para despedir-se do filho, não imaginava que seria a última vez que lhe veria, emocionada disse ao seu filho, que em poucos instantes partiria: “Olha meu filho, eu te imploro que siga tua vocação. Não sabemos se o seu pai sobreviverá, mas temos Deus, nosso Pai”. Miguel Pro, para seguir firmemente na sua vocação, partiu, obviamente que precisou mortificar a sua vontade e não olhar para trás. Sabia das dificuldades de sua família, via os enormes esforços de sua mãe, bem como a situação de seu pai que estava entre a vida e morte. O irmão Pro viveu a eleição que Deus lhe fez, tudo lhe entregou por gratidão e generosidade. Abraçou a Cruz sem hesitar. Amou o Senhor acima de tudo e de todos. Ressoava em seu ser as palavras de Nosso Senhor: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho mais que a mim, não é digno de mim. Quem não

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toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Aquele que tentar salvar a sua vida, perdê-la-á. Aquele que a perder, por minha causa, reencontrá-la-á”. (Mt. 10. 37-39) Na Califórnia se deparou com um fortíssimo inverno, que lhe acarretava grandes dores no estômago e ainda foi machucado fortemente na orelha, quase lhe perdeu. Também não ficaria muito tempo neste lugar, transladou-se via El Paso, para Nova Orleans. De lá foi para Key West, fez escalas em Havana e Nova York e enfim embarcou para seu destino final a cidade espanhola de Granada. No final de julho de 1915 chega a esta localidade, onde estudaria filosofia e retórica, permanecendo por cinco anos. Como já foi dito Miguel Pro, era brincalhão, igualmente era comprometido com a sua vida de oração e estudos, mas inúmeras vezes foi incompreendido, não por poucos, em relação ao seu caráter extrovertido. A maioria dos irmãos, sobretudo os mais velhos, eram ranzinzas e se incomodavam ao vê-lo sorrir. Dedicou todas as suas energias nos estudos, no momento era aquilo que Deus lhe pedia. Tinha a convicção de que não seria um doutor, cientista ou professor. Fixava o olhar em outro propósito: como sacerdote, queria ser pai para os mais necessitados: pobres, órfãos e trabalhadores. Nas adversidades, o irmão Pro permanecia com o otimismo que lhe era peculiar, afirmou: “Eu gostaria de viver diversos tipos de dificuldades para ver como me sairia nelas. O México precisa de homens que descubram saídas.” Pro nutria uma forte admiração por Santo Inácio, fundador dos jesuítas, exortava os irmãos dizendo: “Imitemos o nosso pai Santo Inácio, que foi um verdadeiro revolucionário, um inovador e de muitos cárceres padeceu...”. Após concluir os seus estudos de filosofia na Espanha, no final de 1920, passou a residir em Nicarágua, numa cidade com o mesmo nome da que morava na Espanha. Granada. Esta agora, é localizada às margens do Lago Cocibolca, na costa oeste do país. Viveu os dois anos de magistério, que chamou de os mais difíceis. Prestava serviços no Colégio Centro América Sagrado Coração, que ainda estava na metade das obras de construção. Não tinha alvenaria, as salas de aula, oficinas e escritórios tinham piso de terra. O calor era intenso e desfavorável. A vegetação invadia o espaço do colégio. Era comum o apaprecimento de muitos insetos, baratas, escorpiões e cobras. Por toda parte haviam mosquitos. Ele assumia a responsabilidade junto aos mais pequenos e ficava encarregado da vigilância dos externos e semi-internos. Mesmo com todas as circustâncias disfavoráveis, o irmão Pro não cessava de doar-se. Em uma tarde extramamente quente, em pleno sol, ele foi visto brincando a pular com as crianças para distraí-las, por perceber que estavam tristes. Verdadeiramente, ele servia ao Senhor com alegria, mesmo nas dores. Continuava a sentir as agudas dores no

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estomâgo, com muita discrição se retirava para o seu quarto e em algum tempo voltava como a mesma animação de sempre. O irmão Pulido, sobre as suas posturas afirmou: “Além dos muitos sofrimentos do Irmão Pro​, ele suportou ingratidões, falsas acusações, dores mortais, incontáveis contrariedades e aborrecimentos, em com tranquilidade conservou a alegria ...” Em setembro de 1922, decorridos os trabalhos na Nicarágua, ele foi enviado para o Colégio de Santo Inácio, em Sarriá, na Espanha. Iniciou os estudos teológicos e se destaca nas questões práticas de moral, logo ele se tornou um dos mais consultados entre seus colegas. A enfermidade que o irmão Miguel Pro trazia em seu estômago acentuou-se gravemente. Chegou a passar dias sem conseguir levantar-se da cama, mas logo que teve significativa melhora, pediu para ser assistente do padre responsável por dar assistência aos necessitados e ainda manter os estudantes de Teologia que ali residiam, na época 92 estudantes, uma missão árdua. Durante a Semana Santa de 1924, os jesuítas realizaram os seus exercícios espirituais em Manresa. O Pe. Crivelli que visitou Sarriá, trouxe informações dos ultimos acontecimentos no México, principalmente de Orizaba, local onde os comunistas chegaram ao poder e umas das primeiras ações foi assasinar o padre. Com grande estardalhaço sinalizaram, utilizaram fogos de artificio, a presença do sacerdote que em seguida foi exterminado. O Pe. Crivelli, o então Privincial do México, disse ainda que não iria fechar a casa religiosa mexicana e que a Companhia de Jesus necessitava de um jovem padre que não temesse o martírio para estar na nesta missão. O Irmão Miguel Pro prontamente se propos a partir, dizendo: “Eis-me aqui!” Para assumir com perspicácia a missão a qual se propos, o Ir. Pro seria enviado para a França ou para a Bélgica. Antes de ser trasferido dirgiu-se a Manresa onde realizou um retiro espiritual. Neste local contemplou com profundidade a vida de Santo Inácio Loyola. Pro esteve presente inclsive na gruta onde o santo escreveu os exercícios espirituais e lá recordou de sua mãe, escrevendo-lhe algumas palavras em um postal. Ao voltar do retiro, foi designidado a ir para a Bélgica, onde se prepararia para o apostolado nos tempos dificeis que o México vivia. A perseguição a Igreja no México acentuou-se fortemente. O presidente Plutarco Elías Calles fez claras declarações contra a Igreja e os sacerdotes. Durante toda a sua campanha política, Calles esbraveja: “Eu sou um inimigo da casta sacerdotal que vê em sua posição um privilégio e não uma missão apostólica. Sou um inimigo dos padres políticos, intrigantes, exploradores e opressores... Eu declaro que respeito todas as religiões, desde que seus ministros não se en-

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volvam em disputas políticas e descumpram as nossas leis”. Calles, pelos seus ideais comunistas, não respeitava a liberdade religiosa e queria calar e destruir a Igreja. Em setembro de 1924 o Ir. Miguel Pro e o Ir. José Amozurrutia partiram da Espanha e se dirigiram a Enghien na Bélgica. Nesta localidade a comunidade religiosa era grandiosa, congregava 130 jesuítas, provenientes da França e outros quinze países. O único meio de comunicação neste lugar era o idioma latino. Chegaram em um período muito frio, mas no inverno a temperatura era ainda mais baixa. O Ir. Pro sofreu muítisimo, estava com a saúde debilitada, resistia com serenidade e por sua alegria e otimismo não deixava transparecer o que sentia. Tudo suportava por amor e mesmo nessa situação não hesitou em regressar a sua pátria, impulsionado pelo ardor missionário em seu coração, não temendo as ameças, os horrores, torturas e a morte que eram destinada a muitos católicos no México. No final do inverno, após passar dias desolado, sentindo fortes dores, triste e com muitos medos, o Ir. Pro se dirige aos seus superiores e lhes pergunta se ele foi considerado digno de ser ordenado. Na ocasião fez memória a cada um dos seus anos de vida religiosa, expressou sobretudo as grandes dificuldades vividas na Nicarágua. Ao fim estava convencido de que sua ordenação seria autorizada e assim se cumpriu. O Ir. Pro manifestou alegria ao receber a notícia, mas no seu íntimo uma imensa angústia o consumia. Ao ser comunicado pelo Pe. Crivelli sobre a sua admissão as Ordens Sacras, copiosas lágrimas se derramaram em seu rosto e correndo ao sacrário permaneceu em oração por um longo tempo. Mais uma vez abandonou-se em Cristo, o seu grande amor. Em seguida, escreveu ao seu antigo diretor espiritual na Nicarágua, o Pe. Portas, na missiva enviada em março de 1925 apresentava: “Alegre-se comigo e ajude-me com seus santos sacrifícios e orações a dar graças a Deus por este novo favor e alcançar d’Ele que me prepare melhor para receber tão grande Sacramento...” Dois meses depois de assumir a presidência, Calles já decido pela destruição da Igreja, nela instalou um movimento cismático, liderado por pelo bispo Joaquín López Budar, conhecido como “Patriarca Pérez” e apoiado por Luis N. Morones, maior autoridade da Confederação Regional dos Trabalhadores. Fundaram a Igreja Católica Apostólica Mexicana em 21 de fevereiro de 1925, totalmente desligada de Roma, que com furor pretendia desmoralizar e amedrontar o Papa. López Budar muitas vezes foi desobediente aos seus superiores, era um homem soberbo e que gostava de divisões. Encontrou no apoio de Luis N. Mo-

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rones e do presidente a Calles a oportunidade de torna-se o “Papa da Igreja Mexicana”, ao passo que Calles lhe daria legitimidade como líder da igreja estatal, Luis Morones lhe daria a segurança e proteção contra atentados. O Mons. José Mora y del Río, o fiel e piedoso Arcebispo do México, com coragem denunciou: “Para deter a marcha triunfal da Santa Igreja Católica, se requerem homens de talento, de maior estatura, e qualidades, as quais não existem em José Joaquín Pérez Budar” Estando feliz por aproximar-se a data de sua ordenação, no mês de 1925 o Ir. Pro obteve de seus superiores a permissão de ir à cidade belga de Charleroi, para que pudesse conhecer a miséria em que viviam os trabalhadores, para que aprendesse a lhe dar com tantas necessidades e sofrimentos. O Ir. José Amozurrutia o acompanhou nesta viagem. Sem vacilar, os jesuítas subiram em um trem no qual os trabalhadores viajavam em vagões destinados para eles. Os mineiros ficaram surpresos e lhes olhavam em silêncio. Um dos trabalhadores fez questão de expor que todos eles eram socialistas. Depois sobre os trabalhadores de Charleroi, o Ir. Pro afirmou: “Se restringem a dois ou três. Eles são socialistas que desprezam os sacerdotes e riem de suas batinas”.

Ordenação Presbiteral Em 30 de agosto 1925 o Irmão Pro foi ordenado sacerdote pelo bispo Mons. Lecomte. Neste dia tão importante, não pode contar com a presença de sua família, e nem do seu amigo o Ir. José Amozurrutia, estava sozinho. Na ordenação sacerdotal o valente Miguel Pro, novamente chorou bastante. Se emocionou por reconhecer a grandeza da eleição de Deus para a sua vida, expressou: “Contra todos os meus propósitos, ao contrário do que eu esperava da minha natureza dura e fria, no dia da minha ordenação ao ouvir o bispo proferir as palavras da consagração, não pude conter as lágrimas. No meu peito o meu coração pulsou como nunca antes... O que dizer sobre a suave unção do Espírito Santo que sinto e está sobre minhas mãos, inundando a minha pobre alma de doçuras do céu? Escreveu uma carta a sua família na qual contou que a eles deu a sua primeira benção: “...Me dirigi ao meu quarto, coloquei sobre minha mesa as fotografias da minha família e os abençoei com toda a minha alma... “ No dia seguinte, o neossacerdote celebrou a sua primeira Missa, em Enghien, Bélgica, na Capela de São José. “Às 7h iniciei a Santa Missa na Capela de São José. Nos primeiros instantes estava em pouco nervoso, mas segui com muita paz e a alegria do céu. Durou 32 minutos e os participantes disseram que parecia a uma missa presidida por um padre antigo. Visto que ensaiado muito”.

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Em setembro do mesmo ano o jovem sacerdote foi enviado a França, para orientar e dirigir a Ação Popular, um movimento social católico que atuava em diferentes questões sociais, lutando na defesa da vida, da liberdade e da dignidade da pessoa humana. Diariamente celebrava a Santa Missa pela manhã. Durante o resto o tempo dedicava-se imensamente a trabalhar na biblioteca, estudar diversos assuntos filosóficos, teológicos e sociológicos. Consultou uma grande quantidade de padres para amadurecer enquanto sacerdote, sobretudo no modo de agir pastoralmente. Pe. Pro reconhecia a necessidade de pregar o Evangelho incansavelmente, desejava pescar homens em grande número, não se contentava com poucos, queria salvar o maior número de almas para Deus. Escreveu: “Devemos formar a opinião, buscar horizontes, olhar para o futuro... o sacerdote que se contenta com poucas almas, pode ser bem-intencionado, mas tem espírito de sacristão”. Ele sonhava em ver cristãos convictos e formados intelectualmente: “No México o nível intelectual é muito baixo, é necessário levantá-lo. Portanto é preciso formar o clero, os leigos, os trabalhadores, preparar grupos, estudar, orar...” Em 3 de novembro de 1925, foi levado a clínica de Sain-Remy, para realizar exames e fazer radiografias. Foi diagnosticada uma úlcera no estômago com estreitamento no piloro, ou estenose pilórica. Precisou ficar internado, levou consigo alguns livros, um tratado de teologia dogmática, outro do sacerdote no altar e ainda um dicionário de francês. Passou vários dias, que pareciam eternos, internado, o que lhe custou bastante e se concretizou como uma providente forma de exercitar a paciência. No dia 17, o Pe. Pro foi operado pela primeira vez. Como sempre o seu bom humor não deixava transparecer a dores e sofrimentos que estava sentindo. Com total confiança sabia que tinha depositado a sua vida em Deus e não temia nada. Isso era tão perceptível que era chamado pelos religiosos de “o menino mimado por Deus Pai. ” A ferida da cirurgia não cicatrizou e sangrava abundantemente, assim foi necessária ainda a realização de outra cirurgia em 5 de janeiro de 1926. Outro marco extremamente doloroso na vida de Miguel Pro foi o falecimento de sua mãe, Dona Josefa, em 08 de fevereiro do mesmo ano. Soube do triste acontecimento por meio de uma carta que recebeu dois depois. Ele sabia que a mãe estava com câncer no estômago e que já tinha dado metástase. Dona Josefa era realizada pela fidelidade a vocação do seu filho. O Sr. Miguel, seu pai, que outrora estava enfermo se recuperou e abatido sepultou a sua esposa. Pe. Pro foi submetido ainda a uma terceira cirurgia, que ensejou o seu internamento até o dia 06 de março e em seguida foi enviado a Hyéres para casa de repouso e cuidados hospitalares gerenciada por Religiosas Franciscanas. O

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médico que lhe atendia em Hyéres, confidenciou ao irmão jesuíta que acompanhava Pe. Pro que a situação dele era gravíssima e não havia o que ser feito pela Medicina, deveria comunicar ao superiores a gravidade do caso. Em 5 de junho de 1926, o Pe. Picard comunica ao Pe. Pro que ele deve retornar ao México, isso lhe seria um consolo, pois poderia despedir-se dos seus familiares e amigos. O Pe. Picard com muita verdade lhe disse: “Regresse ao México para morrer em sua pátria”. Pe. Pro não se desmotivou, continuou com o seu otimismo inabalável e sabia que a sua vida estava nas mãos de Deus e Ele faria o que quisesse. Era seu Pai Amoroso e que marchava a sua frente. Em 17 de junho de 1926 peregrinou a Lourdes, na França, chegou às 8h45 e às 9h já estava celebrando a Santa Eucaristia na gruta das aparições da Santíssima Virgem. Às 16h50 já embarcou no trem de volta. Em Lourdes encontrou esperança e forças para seguir adiante em seu tratamento médico, para continuar os seus estudos e trabalhos, sobretudo para dar assistência aos necessitados e atender confissões por horas, muitas vezes sem parar nem para alimentar-se. “O que senti em Lourdes não dá para escrever, foi um dos dias mais felizes... Às 09h presidi a Missa... Passei uma hora na gruta, chorei como um menino. É demais para descrever o que sentiu a minha pobre alma. Agora vou regressar com a alma cheia de consolo.... Para mim, ir a Lourdes era encontrar a minha Mãe no céu, falar-lhe, pedir-lhe e eu a encontrei, falei e pedi...”

O retorno ao México Dias depois, embarcou no navio rumo ao México. Consciente da situação política no México, tinha receio de não poder entrar no país, por ser sacerdote e religioso, no entanto rezava e absolutamente confiava. O Pe. Pro, em 7 de julho, desembarcou em Veracruz, não teve dificuldades para adentar na sua pátria. Antes de sua chegada, cerca de 160 padres já haviam sido fuzilados e vários outros presos. A noite pegou um trem dirigindo-se a capital. Em 8 de julho se apresentou ao Pe. Provincial Luis Vega. Uma hora depois foi a casa de Enrico Martínez, onde exerceria seus ministérios e em seguida foi a cada de sua família na rua de Orizaba. Logo que chegou percebeu a falta de seu irmão Humberto, que tinha 24 anos e descobriu que estava preso por atuar na Liga Nacional Defensora da liberdade religiosa. Observando a situação fática, refletiu com tristeza: “... A Igreja do México está hoje entregue a seus inimigos, desprezada, humilhada, cuspida e esbofeteada”.

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Logo que chegou passou a dedicar-se ao zelo pastoral, de 8 a 31 de julho, das 5h às 11h e das 15h às 20h, Pe. Pro atendia confissões. Nos intervalos sempre estava ocupado em ministrar outros sacramentos, inclusive o matrimônio. Eram tempos dificílimos e os sacerdotes eram escassos, em razão da perseguição. Chegou a desmaiar duas vezes no confessionário pela fragilidade de sua saúde somada ao cansaço. Sobre como encontrou forças para suportar tão elevada jornada Pe. Pro afirmou: “Como resisti? Como resisto? Eu o frágil hóspede de tantas clínicas europeias? Isso é uma prova evidentíssima que o elemento divino, me utiliza como instrumento...” Em 31 de julho de 1926, Calles conseguiu proceder com a regulamentação do Código Penal que tornava a Igreja Católica, oficialmente proibida e criminalizava o sacerdócio, determinando que só os padres nomeados pelo governo poderiam exercer o ministério no país. A lei entrou em vigor no mesmo dia. “... toda ordem religiosa foi dissolvida. Todas as escolas católicas, secularizadas, o que significa que, na realidade, tornaram-se ateístas; nelas, nenhuma menção a Deus era tolerada. Crucifixos foram arrancados das paredes e as estátuas, destruídas. Em seguida, para eliminar toda “propaganda Católica”, todas as editoras religiosas foram tomadas. Padre Pro não poderia ter escolhido melhor hora para retornar. (Dominico) Os templos católicos foram fechados ao público por ordem dos bispos e com a aprovação do Santo Padre, o Papa Pio XI, para evitar o massacre dos fiéis, mas Calles não se conformou, por sua vez, declarou que todas as igrejas, conventos e seminários deveriam ser abandonados pelos padres, freiras e seminaristas, e seriam ocupados para outras finalidades, as mais diversas possíveis, muitas foram imensamente profanadas e se tornaram lugares de orgias. Em 1° de agosto de 1926, o México amanheceu em total orfandade. As igrejas estavam fechadas. As celebrações estavam proibidas. Os sacrários abertos e as velas não eram acesas. A angústia tomou conta da população que imediatamente protestou contra a Lei de Calles, realizando um boicote econômico, o mesmo não surtiu o efeito esperado e enfureceu ainda mais o nefasto presidente. O modo de governar de Calles contava com o apoio da Rússia e com o silêncio dos Estados Unidos e a venda das armas à crédito: “O embaixador Russo Stanislas Pesthovsky garantiu a Calles que suas políticas anticlericais estavam em perfeito acordo com os métodos comunistas, e desejou a ele todo o sucesso. Ademais, para manter os métodos comunistas de vigilância, o ditador pró-comunista empregou dez mil agentes do governo, quase todos estrangeiros, para investigar o povo, e assegurar que as novas leis fossem obedecidas. Onde tal nação empobrecida conseguiu dinheiro para pagar esta violenta gestapo continua

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um mistério... Mais incriminador para nosso país é o fato de que Washington esteve vendendo armas à crédito ao General Obregon, sem as quais nem ele nem Calles teriam conseguido sustentar suas sangrentas campanhas. Igualmente estranho é o fato da imprensa dos Estados Unidos jamais ter publicado uma única notícia ao povo Americano sobre o que estava realmente ocorrendo na República vizinha...”. (Dominico) O Pe. Pro, para não privar os fiéis da Santa Missa, idealizou as chamadas “Estações Eucarísticas” que na verdade eram casas, onde clandestinamente celebrava a Eucaristia e ministrava sacramentos aos fiéis. No início eram trezentas, depois outras mil foram criadas. Vários sacerdotes, religiosos e leigos se revesavam e se reuniam para celebrar a fé, tinham ciência de que se fossem descobertos seriam encarcerados ou mortos. Em 4 de dezembro de 1926, a Liga Nacional Defensora da Liberdade Religiosa, realizou um protesto contra Calles. Em resposta, o governo federal iniciou expedir inúmeros mandados de busca nas casas e prisões dos membros da Liga. O Padre Pro foi aprendido por Bandala, um dos chefes da polícia secreta. Fato interessantíssimo acerca do Pe. Pro é que estava em um grande edifício, presidindo uma reunião com os jovens da Ação Católica, quando subitamente a polícia surgiu rodeando o edifício. O Padre teve de esconder-se num armário. Momentos depois, entrou no salão o Coronel portanto duas pistolas: “Onde está o Padre Pro?“. Os moços disseram que não sabiam. “Tem um minuto para dizer-me onde está este padre, ou matarei a todos!” Nesse instante, sentiu o coronel um cano frio de arma tocar-lhe a nuca. Era o Pe. Pro que havia saído do armário. “Solte essas pistolas ou morre!”. O coronel deixou cair as armas no chão, e estas foram recolhidas pelos jovens. “Agora fujam vocês!”, ordenou Pro aos membros as Ação Católica, que apressadamente correram buscando esconderijo. Em seguida, o padre disse: “Agora vire-se, Senhor Coronel, vire-se para ver com que coisa o desarmei”. O coronel, humilhado, percebeu que o padre lhe apontava a ponta de uma garrafa vazia. Pro com uma mera garrafa, conseguiu desamarrar o coronel com duas pistolas totalmente carregadas. Depois desse fato, o padre passou a ser ainda mais odiado pela polícia, ressalte-se que encontrou meios de fugir da condenação após esse fato. De acordo com Robert Royal, em sua obra “The Catholic Martyrs of the Twentieth Century”. As famílias que não renegavam o catolicismo eram perseguidas e muitas vezes tinham os seus bens confiscados, passando a viver na miséria. Pe. Pro agia como um verdadeiro pastor junto a essas famílias, tratava os seus filhos espirituais com grande carinho e não hesitou jamais em arriscar a sua vida para cuidar das suas ovelhas. Não queria que lhes faltasse nunca o alimento espiritual, bem

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como o material. Foram criadas comissões de auxílio para os católicos que perderam tudo ou não tinham o que comer. “Enquanto horríveis martírios ocorriam, Padre Pro estava ocupado organizando a ‘contrarrevolução’ bem no coração da capital. Primeiro, ele estabeleceu ‘estações eucarísticas’ por toda a cidade. Estas estações eram casas de católicos de confiança, às quais ele ia em determinados dias distribuir a Santa Comunhão, e, possivelmente, dizer a Missa. Por conta própria, distribuía uma média de trezentas comunhões por dia. Também organizou uma companhia de trezentos homens para percorrer toda a cidade e seus subúrbios como instrutores religiosos [...] graças a estas instruções, jovens e velhos conservaram sua Fé viva. Estas aulas também se provaram um substituto para as escolas que normalmente teriam provido educação religiosa para as crianças”. (Dominico)

As peripécias do Pe. Miguel Constantemente abordado por policiais, Pe. Pro foi detido duas vezes, mas a sua fé, coragem, alegria e criatividade lhe permitiram realizar um apostolado fecundo e fértil. Muitas histórias são contadas dos seus feitos, que parecem cenas de verdadeiros filmes policiais. Ao seguir viagem em um táxi, o Pe. Pro percebeu que estava sendo seguido por um carro da polícia. Pediu que o motorista continuasse dirigindo, e prontamente se jogou do carro em movimento. Os policiais não perceberam e quando finalmente alcançaram o carro o padre já estava longe. Outra ocasião bastante curiosa foi quando os policiais cercaram um local onde o Pe. Pro estava. Ele não demonstrou medo e tampouco se evadiu às pressas. De longe fez um movimento, como se estivesse apresentando um distintivo e disse: “Aí dentro existe um padre escondido!” Os soldados acreditaram que ele fosse um agente à paisana e o deixaram passar livremente. É contado ainda que Pe. Pro com vestes civis, após celebrar a Missa, consegui despistar policiais, cumprimentando-os. Em outra perseguição, Pe. Pro percebeu que dois agentes o vigiavam, avistou na rua uma senhora católica que frequentava a Missa, aproximou-se dela e pediu que agisse como se fosse sua noiva. De braços dados escapou dos agentes com facilidade. “Fotografias do período mostram-no em vários disfarces. Organizou retiros para diversos grupos [...] Com os trabalhadores, usava suspensórios e capacete; ele parecia um motorista em uma reunião de motoristas, um mecânico entre mecânicos. Por meio de vários sub-

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terfúgios conseguia ouvir confissões mesmo nas cadeias. Ele aconselhava os que se preparavam para ser oradores públicos em defesa da Igreja sobre como moldar a opinião pública”. Robert Royal, The Catholic Martyrs of the Twentieth Century, The Crossroad Publishing Company, New York, NY, 2000. Os superiores do Pe. Pro ordenaram que ficasse recluso em casa, nos meses de fevereiro e março de 1927, porque os seus atos de bondade e heroicidade o tornaram marcado pelo polícia. O padre obedeceu, não sem sofrer, pois, gostaria de estar na rua e nas casas realizando o seu apostolado, contudo reconhecia a grande virtude da obediência, escreveu: “Quão difícil é esta virtude da obediência! Recluso em um quarto estreito... proibido de exibir-me muito. Passo os dias revolvendo meus livros e papeis. Creio que a obediência é o melhor dos exercícios”. Nos meses seguintes, o Pe. Pro retoma suas atividades, com grande afinco e com destemor, em vários lugares anunciava o Evangelho de Cristo, chegou a fazê-lo até diante de edifícios do governo e em prédios abandonados. Pregou incontáveis retiros, celebrou muitas missas e celebrou os sacramentos junto ao povo de Deus. De acordo com a ocasião o Pe. Pro se disfarçava para não ser descoberto, o seu coração palpitava de amor pelos mais sofridos e necessitados. Bendizia a Deus por ter lhe concedido a sublime dignidade do sacerdócio. Ele chegou a relatar que sentia uma profunda paz interior por poder ajudar uma família de trabalhadores, por levar a comunhão para um “menino” de 94 anos, por ensinar o catecismo a um comunista, por atender uma confissão em baixo de uma árvore... Essas eram as suas maiores alegrias. Em 23 de setembro a irmã Maria Concepción Acevedo, (Madre Conchita) e o Padre Pro durante a Santa Missa se oferecem, nas palavras deste padre: “Como vítimas da Justiça Divina, pela salvação da fé no México, pela Paz da Igreja e pela conversão de seus perseguidores”. Na manhã de 13 de novembro o Pe. Pro foi celebrar a Missa na casa da Sra. Guadalupe Belaunzarán de García, em seguida dirigiu-se a casa da Sra. Montes de Oca, onde atendeu confissões. Às 13h, foi para a casa de sua família onde vivia o seu pai e seus irmãos, Ana María, Humberto e Roberto, estes dois tinham acabado de chegar de uma conferência católica em Azcapotzaltongo. A família almoçou reunida. Às 15h, Humberto e Roberto foram comprar “paletas” mexicanas. Nesta mesma tarde o General Alvaro Obregón, comunista, torturador e assassino foi vítima de um atentado, enquanto dirigia pelo bosque de Chapultepec, não sofreu nenhum dano. O atentado foi organizado por Luis Segura Vilchis, Juan Tirado e Nahúm Lamberto Ruiz.

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Pe. Pro nesta mesma tarde foi ainda exercer suas atividades missionárias em casas de fieis, estando na casa da família García foi procurado por seu irmão Roberto. De lá foram à casa da Sra. Montes de Oca e por fim, a casa da família Valezzi. Lá tomaram conhecimento do atentado contra o Coronel Obregón. Pe. Pro preocupado, mas sem jamais imaginar que estaria envolvido comentou: “Quem sabe quantas pessoas vão estar envolvidas neste acontecimento!” Às 18h Ana Maria enviou a empregada para comprar carvão para utilizar na cozinha. Ao voltar, esta contou os comentários que ouviu sobre o atentado. Ao tomar conhecimento Humberto, vai buscar informações e descobre que o carro utilizado no ataque era um Essex n°10101, do mesmo que tinha vendido, em 8 de novembro a Luis Segura Vilchis, por meio de um terceiro, sem saber que uso lhe dariam. No dia 14, o Pe. Pro celebrou a Missa na casa da senhorita Esperanza Montaño. Enquanto isso o agente Mazcorro incumbiu o agente Antonio Quintana de descobrir os reponsáveis pelo ataque. Inicialmente a culpa caiu sobre Juan Tirado, que foi preso e torturado de diversas formas, mas não revelou quem eram os seus cúmplices. A esposa de Nahum Lamberto Ruiz, que foi ferido pela polícia na perseguição do carro Essex, e era um dos reponsáveis pelo atentado, com a intenção de livrar o seu marido, fez declarações nas quais citou Luis Segura Vilchis como um dos culpados e vinculou a ele os irmãos Pro. Álvaro Basáil e Antonio Quintana, agentes da Polícia passaram a buscar os irmãos Pro incansavelmente. Os três irmãos abandonaram a casa de sua família e se alojaram em diferentes casas para não serem encontrados. Escondido na residência da Sra. Urquiaga, o Pe. Pro se confessou com o seu diretor espiritual o Pe. Alberto Méndez Medina. Depois escondeu-se com seus irmãos no lar da Sra. María Valdéz de González, que ao ser questionada pelo Pe. Pro sobre ter medo de recebe-los na sua casa, afirmou não ter medo. Era dia 15 de novembro, nesta mesma data Humberto Pro se apresentou aos diretores da Liga Católica e mostrou disposição para partir à montanha se unindo aos cristeros. O Pe. Pro planejou fugir da Ciudad de México em 19 de novembro. O dia seguinte, transcorreu com calma. Os muitos amigos do Pe. Pro lhe procuravam um lugar seguro. A noite abençoou o matrimônio de um jovem casal. Pe. Pro admirava a coragem dos cristeros, mas jamais seria capaz de pegar em armas de fogo e não apoiava o conflito armado. No dia 17 novembro, a polícia estava na casa da Sra. Montes de Oca. O seu pequeno filho ligou pedindo que fossem buscá-lo na casa de seus avós. O agente Basail, pediu a direção a criança para ir para ele. Ao encontrar o menino o ameçaram para que revelasse o esconderijo dos irmãos Pro. Um dia antes o

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menino tinha ido até lá para se confessar, então amedrontado pelo repulsivo agente, a criança revelou que estavam escondidos na casa da Sra. Valdéz. A polícia estudou com atenção a localidade, planejando a abordagem para que não permitisse a possibilidade de fuga. Na madrugada do dia 18, por volta das 3h, a Sra. Valdéz e os seus criados acordaram, por causa dos barulhos no telhado e os latidos do cachorro. Ao olhar pela janela constatou que vinte soldados armados cercavam a casa, estes que imediatamente arrombaram a porta e adentraram. Eles se dirigiram ao quarto onde dormiam os irmãos Pro e disseram: “Não se mexam!”. O Pe. Pro disse aos seus irmãos: “Arrependam-se de seus pecados como si estivessem na presença de Deus”. Em seguida, pronunciou a absolvição sacramental e lhes disse: “Desde agora vamos oferecendo nossas vidas pela fé no México e façamos os três unidos para que Deus aceite o nosso sacrifício”. O agente Álvaro Basáil enfurecido disse a Sra. Valdéz: “Sabia que escondia em sua casa dinamiteiros?”  Ela respondeu: “O que sei é que escondia um santo”. Pe. Pro disse ao agente: “Esta senhora é inocente, deixe-a tranquila, somos nós a quem procuravam”. Olhando para a bondosa senhora o padre disse: “Serei morto. Receba como presente os meus paramentos sacerdotais”. Basáil disse: “Vocês não têm nada a temer. É uma inspeção”. O padre foi ao armário, pegou o seu crucifixo, beijou-o devotamente e o guardou na bolsa. A Sra. Valdéz doou ao padre um agasalho, que mais tarde ele daria a Juan Tirado, que foi severamente torturado e caiu no chão tremendo de frio. No dia 18, o Pe. Pro e seus irmãos, já detidos, fazem uma escala na casa da Sra. Montes de Oca, que também estava presa, lá encontram a sua irmã e em seguida foram levados para a inspetoria e lá fizeram as suas primeiras declarações. Era aproximadamente 5h da manhã. Os agentes mostraram o carro aos irmãos que responderam: “Nós não temos nada a ver com isso!” Depois foram encarcerados numa cela no porão. Roberto e Pe. Miguel Pro ficaram em uma cela e Humberto e a Sra. Montes de Oca em outra. Estavam em um lugar ermo, demasiadamente frio, onde não havia entrada de iluminação solar. Passavam o tempo fazendo orações, cantando louvores e recitando o rosário. Faziam no pouco espaço alguns exercícios físicos para amenizar o frio. Repartiam entre si os poucos alimentos que eram obtidos. Durante os 04 dias de cativeiro, se prepararam para entregar-se a Deus. Pe. Pro escreveu nas paredes da cela: “¡Viva Cristo Rey! ¡Viva la Virgen de Guadalupe!” Não havia meios probatórios contra os irmãos Pro, que acreditavam que seriam libertos, os verdadeiros autores do atentado, sobretudo Luis Segura Vilchis, afirmaram que os irmãos eram inocentes. Ana María, despois de consultar-se com um sacerdote e com um advogado, propõe o pagamento dos valores de

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$4.000 pela liberdade do padre, $2.000 pela de Humberto e $1.000 por Roberto, de acordo com os cálculos que foram realizados, levando em consideração a idade e a profissão. Em 21 de novembro de 1927, o general Cruz recebeu de Calles e Obregón a ordem de fuzilar a os detidos, como se todos fossem cúmplices e partícipes do atentado contra Obregón. Estavam ainda mais tomados de ódio e furor contra a Igreja, pois em um telegrama enviado pelo Arcebispo do México, se evidenciava que o Papa Pio XI rejeitava as proposições feitas por Calles e Obregon a respeito da situação religiosa no México, pois com clareza era possível observar o dolo e a fraude no regime. Calles ao condenar a morte, pretende golpear o sentimento católico. Em 22 de novembro de 1927 o supracitado general cumprindo as ordens dos seus superiores, convocou os repórteres de vários jornais. Os detidos, com a exceção de Roberto Pro, compareceram diante da imprensa. As palavras do Pe. Pro foram: “Senhores, juro diante de Deus que sou inocente do que me acusam. Não tenho nenhuma participação...” Cruz lhe interrompeu bruscamente:  “Já basta, retire-se imediatamente!” E voltando-se aos repórteres disse: “Já o escutaram! O mesmo confessou a sua culpa!” Nesse mesmo dia, Calles e Obregón voltam a falar entre si, afirmaram que era necessário dar uma lição a essa “gentinha”. O general Cruz argumentou que era preciso a sentença ser revestida de um meio legal, ainda que aparentemente. Calles enfurecido gritou: “Não quero um meio, quero o fato! Mate-os!”. Assim foi confirmada a ordem de fuzilamento para a manhã do dia seguinte. Às 19h30 tomaram declarações verbais dos detidos, com a finalidade de encontrar motivos para a condenação. O Pe. Pro ficou otimista com as afirmações que fez e acreditava que seriam considerados inocentes nos tribunais. À meia-noite, desceram ao cárcere o General Roberto Cruz e Palomera López acompanhados por outros militares e fotógrafos. Essa visita causou impacto negativo para o Pe. Pro que disse ao seu irmão Roberto: “Agora a coisa piorou. Quem sabe o que querem fazer esses senhores, mas não deve ser nada de bom. Peçamos a Deus resignação e força para suportarmos o que nos vem”. Na verdade eles estavam preparando o “Grande Espetáculo”, que seria coberto pela mídia e que muitos deputados ligados ao governo estariam presentes levando também os seus convidados. Viam esse momento como um fascinante show, tal qual em Roma, quando os cristãos eram jogados aos leões famintos, multilados por gladiadores e torturados até a morte perante o público no Coliseu. Os irmãos Pro rezaram o Rosário juntos pela última vez, em seguida dormiram, o padre no chão completamente desnudo, pois deu o seu cobertor a Antonio Mutiuzábal.

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É chegado o dia 23 de novembro, o Pe. Pro despertou com muita dor de cabeça, conseguiu um medicamento e logo o ingeriu. Depois disse: “Pressinto que não vamos passar de hoje. Não te preocupes, peçamos a Deus a sua graça e Ele nos dará “.

O martírio Às 10h adentra no porão onde estavam encarcerados o chefe Mazcorro, encarregado da comissão de segurança e chama em voz alta: “Miguel Agustín Pro”. O Padre estava sem a parte superior do terno, o chefe o ordena que vista. Silenciosamente o Pe. Pro, despede-se do seu irmão Roberto e sai. As suas mãos estavam entrelaçadas a frente e o seu olhar sereno e destemido penetrou os espectadores. Enquanto caminhava em direção ao paredão, se aproximou o agente de Quintana, que acreditava na sua inocência e pediu perdão. O padre lhe contestou: “Não só te perdoo, mas eu lhe agradeço”. O policial Manuel V. Torres, o maior hierarquicamente entre os atiradores, lhe chamou pelo seu nome, e após a resposta, acompanhou-o até colocá-lo entre duas silhuetas de ferro que serviam de tiro ao alvo. Ao ser questionado sobre a sua última vontade o padre pediu com suavidade: “Que me deixem rezar”. O comandante da execução deixou-lhe sozinho, retirando-se alguns passos. O padre se ajoelhou e tirou um pequeno crucifixo do bolso, movendo os lábios, rezou abandonando-se em Deus, assim permaneceu durante alguns segundos. Ao levantar-se voltou ao lugar que tinha sido colocado. O comandante da execução ordenou: “Posição de atiradores!” E todos levantaram os fuzis contra o Padre Pro que abriu os braços em forma de cruz, fechou os seus olhos e os seus lábios se movimentavam incessantemente. Ao ouvir o grito: Fogo! O fiel sacerdote gritou: ¡Viva Cristo Rey! E os atiradores o alvejaram sem hesitar. Eram 10h30, o Dr. Horacio Cazale do Serviço Médico da polícia, constatou que ele ainda respirava e assim incumbiu o sargento a lhe dar um tiro de graça. Há exatos três meses, o Pe. Pro tinha oferecido a sua vida a Deus, Ele dignou-se em acolher essa generosa oferta. Luis Segura Vilchis foi o segundo a ser conduzido ao fuzilamento, ao chegar ao campo, deparou-se com o cadáver do Pe. Pro, parou por alguns instantes em reverência. Inspirado pelo testemunho do sacerdote levantou-se e recebeu vários tiros. Seguiu-se a execução de Humberto Pro, na fotografia que registrou esse momento, se observa claramente o seu destemor, coragem, valentia cristã e a entrega total de si. Ficou entre os corpos de Miguel Pro, seu tão amado irmão, e de Luis Vilchis.

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Juan Tirado, jovem de 20 anos, que trabalhava como sapateiro, foi o último a ser fuzilado. Na foto está envolto na no cobertor que o que o Pe. Pro lhe deu. Sua última vontade foi ver a sua mãe, mas não foi atendida. O Sr. Emilio Labougle, então ministro da Argentina no México, que conheceu o padre Pro na casa do Sr. Roberto Núñez, pediu a Calles que salvasse os irmãos Pro. Em 21 de novembro Calles deu a sua palavra de que eles ficariam presos, mas não seriam fuzilados. No entanto ele desejava ver o sangue dos Pro derramado, exigiu o fuzilamento o quanto antes. Quando o Sr. Labougle tomou conhecimento da violação da promessa do presidente foi até ele e lhe questionou. Por sua vez, Calles justificou que era necessário por questões políticas. O socialista que estava na presidência do México já sabia que o padre estava morto, disse a Labougle que iria poupar a vida se algum deles ainda estivesse vivo. Realizou uma ligação telefônica para o General Cruz e suspendeu a execução. O único sobrevivente foi Roberto Pro. O Sr. Miguel Pro, tomou ciência da morte de seus filhos pela Imprensa. Foi a inspeção e confirmou o acontecimento, depois se direcionou ao Hospital Militar, onde Ana Maria e Edmundo já se encontravam. O pai aproximou-se dos corpos de seus filhos e beijou a testa de seus meninos. Ana María, desesperada se jogou nos braços do pai, chorando e soluçando, o pai lhe tranquilizou e com calma disse: “Não há razão para chorar!” Acreditava na glória que Cristo preparou para os seus. Aproximadamente três horas depois os corpos estavam na casa da família, onde uma grande quantidade de pessoas já aguardava os féretros. Velaram os corpos de Miguel e Humberto Pro durante a noite do dia 23 e madrugada do dia 24, o sepultamento foi marcado para às 15h. A multidão lotou a rua da casa e as ruas vizinhas, a aglomeração de carros suspendeu o trânsito numa vasta área. O Pe. Méndez Medina se dirigiu até a sacada da casa e expressou: “Abram espaço para os mártires de Cristo Rei”. A multidão se afastou para abrir caminho para os corpos. O anúncio de que as urnas fúnebres iriam sair fez a multidão silenciar. Logo que puderam ser avistadas, gritos romperam o silêncio, milhares de pessoas gritavam com toda a sua força: “¡Viva Cristo Rey! e aplaudiam aqueles que ofertaram as suas vidas pela fé em Cristo e padeceram a perseguição. Uma chuva de flores se derramava sobre eles. Não foram utilizadas carroças fúnebres, havia muitíssima gente desejosa de levar as urnas do Pe. Pro e de Humberto em seus ombros. O espetáculo midiático organizado por Calles, que queria ridicularizar os prisioneiros e a fé católica, ao invés de amedrontar os católicos, os en-

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corajou. O testemunho dos mártires sempre continuará fortalecendo a fé e sendo semente de novos cristãos. O cortejo dos mártires reuniu milhares, que durante o percurso foram se organizando. Logo no início cerca de trezentos automóveis abriam o cortejo, seguidos pelas pessoas com os corpos em seus ombros, que lotavam vários quarteirões, e por fim uma formação interminável de carruagens. O cortejo passou em frente ao castelo de Chapultepec, residência do presidente Elias Calles, a multidão, levando os féretros dos irmãos Pro, cantou com grande emoção e força de fé: “¡Que Viva Mi Cristo Que Viva Mi Rey! ¡Que Impere Doquiera Triunfante Su Ley!¡ Viva Cristo Rey! ¡Viva Cristo Rey! O cortejo se dirigiu a cripta da Companhia de Jesus e lá foi enterrado o padre Pro, seguido de Humberto. Um grande silêncio preencheu o lugar enquanto os caixões eram colocados nos túmulos. Miguel Pro cumpriu fielmente o que disse ao engenheiro Jorge Núñez Prida, que ao observar a coragem e a fé do Pe. Pro, perguntou o que faria se fosse sentenciado à morte. O padre respondeu-lhe que faria três coisas: Primeiro se ajoelharia fazendo um ato de contrição; depois abriria os braços em cruz como Cristo para receber os tiros; e por fim gritaria “Viva Cristo Rei!”. A história de Miguel Pro é um profundo grito de proclamação que Cristo é o Rei do Universo! Que Ele impera sobre todas as nações, ideologias, partidos e diante d’Ele todos joelhos se dobram. Pe. Miguel Augustín Pro, homem de personalidade cativante, repleta de fé, piedade, coragem, valentia e criatividade. Era uma boa ovelha de Cristo, no meio de lobos. Foi prudente como as serpentes e simples como as pombas. (Mt. 10,16). Foi um dos personagens do cristeros, que se destacou, tornando-se um dos maiores inimigos do Governo socialista de Calles. Ao prendê-lo, pretendiam humilhá-lo publicamente, puni-lo por ser católico, o que iria amedrontar e consequentemente enfraquecer o movimento dos cristeros. A mídia da época foi manipulada, cobriu com matérias e fotografias todas as ações, desde a prisão, o fuzilamento, até a exumação dos corpos. As fotos as quais neste livro são reproduzidas, foram publicadas nos jornais da época, enaltecendo o governo federal, no entanto os efeitos produzidos junto à população foram opostos ao que pretenda o presidente. “Longe de ser um triunfo da propaganda para o governo, as fotografias da execução de Pro tornaram-se objeto de devoção católica no México e de constrangimento do governo por todo o mundo. Oficiais tentaram suprimir sua circulação, declarando a mera posse de tais fotos um ato de traição, mas não tiveram sucesso...” (The Catholic Martyrs of The Twentieth Century, Robert Royal, p. 17-18).

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Beatificação Os restos mortais do padre Pro foram transladados da cripta dos jesuítas para uma capela na Paróquia da Sagrada Família em 20 de dezembro de 1984. Em 25 de setembro de 1988, o Papa João Paulo II celebrou a sua beatificação e expressou: “O padre Miguel Agustín Pro morreu como mártir de Cristo”. Atualmente a Igreja espera e pede a Deus que realize um milagre pela intercessão do beato Miguel Agustín Pro para que se proceda à sua canonização. Em 22 de novembro de 1996 os restos mortais foram colocados em uma urna de prata, e podem ser encontrados em junto ao altar principal da Igreja da Sagrada Família. Localizada em Calle Puebla, n° 144, no bairro de Colonia Roma, na Ciudad de México. Foi inaugurado ainda em anexo a um museu que reúne as suas principais relíquias e que pode ser visitado virtualmente pelo site oficial. Miguel Pro, não viveu ao acaso, a sua vida tinha um valoroso ideal, conforme demonstra os seus escritos na primeira sexta-feira de abril de 1927. “Eu tenho um ideal... És meu, completamente meu, és o segredo que faltava para a minha vida ser feliz... Preencheu plenamente o vazio que existia em meu coração. Eu sou feliz. A minha existência não será infrutífera... Eu servirei para algo. E esse algo é grande, nobre e sublime.. Serei, ainda que imperfeito, um débil reflexo do Coração de Cristo que tanto ama os homens...” Padre Pro encontrou a felicidade, por sentir no Coração de Cristo um coração irmão, que lhe acolheu em suas debilidades, fraquezas e solidão. Permitiu que o pulsar do coração sagrado lhe moldasse e fez dele o seu ideal. Esse bondoso sacerdote queria igualmente, ter um coração irmão capaz de acolher a todos indistintamente: “Corações de meus amigos e dos inimigos, corações dos meus parentes e dos estranhos, corações dos pobres e dos ricos, corações dos que conheci e dos que ainda conhecerei: eu vos darei a ternura do meu coração, o fogo do meu carinho e a paixão de todo o meu amor. Não importa se não me compreendam, eu vos amo. Não importa se me desprezam, eu lhes quero o bem...

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Tocando violão, Miguel alegrava-se junto aos seus familiares.

Miguel Pro, recém ordenado sacerdote.

Ainda muito pequeno Miguel é fotografado sentado na fonte no jardim de sua casa em Zacatecas.

Os irmãos Humberto e Miguel.

Miguel aos 20 anos, antes de ingressar na Companhia de Jesus.

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Com o irmão superior da Companhia de Jesus, na Bélgica.

Dedicado aos seus estudos, na Bélgica.

Consta o aviso no sacrário: “Não está aqui”.

No coração do Pe. Pro havia grande devoção a Virgem de Guadalupe, no seu coração ressoavam as palavras dela dirigidas ao índio São Juan Diego: “Eu não estou aqui? Quem é a sua Mãe? Você não está abaixo de minha proteção? Eu não sou a sua saúde? Não estás feliz com meu abraço? O que mais podeis querer? Não se preocupe e nem se perturbe com qualquer coisa”.

Disfarçado com vestes civis e um bigode falso.

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O Presidente Calles, maçom, que tomado de ódio socialista, promoveu uma grande carnificina de católicos no país. Ele determinou o Catolicismo como o maior inimigo do México, e quem não negasse esta fé, receberia as devidas penas, na maioria das vezes, a de morte. De 1927 a 1929, igrejas foram vilipendiadas, imagens sacras profanadas, os sacramentos foram proibidos, e as vidas de incontáveis membros da igreja, leigos, religiosos, freiras, padres e bispos foram sumariamente ceifadas.

Utilizou até de trajes circenses, de palhaço para fugir dos soldados e chegar aos fiéis.

Sendo escoltado ao local onde seria martirizado. Foi “sentenciado” ao fuzilamento, sem que houvesse julgamento. O Pe. Pro com serenidade caminhou para a morte, levando apenas o crucifixo e o rosário. Colocouse de joelhos, oferecendo plenamente a sua vida ao Senhor. Esse foi o seu último pedido, pediu que lhe deixassem rezar.

Na prisão, foi fotografado com vestes civis, pouco antes de sua morte. De acordo, com a legislação da época, não era lícito usar vestes clericais ou religiosas.

A Irmã María Concepción Acevedo, (Madre Conchita).

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Jornal que fez questão de ressaltar o fuzilamento dos rebeldes.

“Estendendo os braços em cruz, reza por seus algozes: ”Dios mío, ten misericordia de ellos. Dios mío, bendícelos. Señor, tu sabes que soy inocente. Con todo mi corazón perdono a mis enemigos” (Deus meu, tende misericórdia deles. Deus meu, afeiçoai-lhes. Senhor, tu sabes que sou inocente. Com todo meu coração perdoo a meus inimigos).

Com o irmão superior da Companhia de Jesus, na Bélgica. Mesmo correndo muitos riscos, uma multidão de pessoas se fez presente no cortejo funerário. Uma infinidade de pessoas queria ter a honra de carregar nos ombros os caixões dos irmãos. Com grande comoção e indignação as pessoas não cessavam de gritar “Viva Cristo Rei” e de entoar cantos de louvores ao Senhor.

Como Nosso Senhor Jesus Cristo, entregou ao Pai o seu espírito. Gritou: “Viva Cristo Rei!”. O Padre Pro se ofereceu como oferta agradável em louvor a Deus. Portava o crucifixo na mão direita e o terço na mão esquerda. Recebendo o tiro de graça ou de misericórdia. O Pe. Pro caiu fortemente ferido, mas não morreu. Um soldado aproxima-se e dá o último tiro.

Supostos autores do atentado dinamiteiro.

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José S ánche z d e l R ío O valente infante desejoso de céu! (1913-1928) “Nunca foi tão fácil ganhar o céu”.

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os mártires mexicanos, outra história que emociona profundamente é a do pequeno mártir cristero, José Sánchez del Río, tomado por forte valentia, repleto de fé em Jesus Cristo e devoção à Virgem de Guadalupe lutou contra a crueldade e o ódio do Governo Federal do México, no mandato do socialista e maçom Putarco Elias Calles, (19241928) “que matou e expulsos centenas de padres e assassinou cerca de 5.300 leigos”. (ROPS, 2006, p. 437).

A vida em Sahuayo Em 28 de março de 1913, nasceu José Sánchez, na pequena e pacata aldeia de Sahuayo, no estado de Michoacán, no México. Um lugar onde a vida era simples e não haviam muitas atividades. Situada em região montanhosa, localizada em uma zona agrícola, foi evangelizada, sobretudo, por missionários franciscanos e agostinianos. Nasceu em uma família humilde, que por algumas ocasiões passou por duras privações econômicas. Os seus pais trabalhavam no campo e eram católicos fervorosos. Constituíram uma família repleta de valores e ideais cristãos. Cristo, de fato, reinava no seio dessa feliz família, que era movida pela fé e pela caridade. Poucos dias depois do nascimento de José, os pais logo o levaram para receber o Sacramento do Batismo, em uma pequena capela da cidade. Era 3 de abril de 1913, foi recebido pelas águas do santo batismo na Igreja do Senhor. José crescia em estatura, sabedoria e graça, tal qual o Menino Jesus no seio da família de Nazaré. Era um menino normal, gostava de brincar de correr pelas ruas, de jogar bolas de gude e ainda de caçar pombos. Uma particularidade, marcava os meninos de Sahuayo, eles por terem uma vida campestre, amavam andar a cavalo. José foi um menino travesso, sempre estava treinando sua pontaria com o seu estilingue.

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Este menino, cresceu bastante em sua espiritualidade ao preparar-se para a Primeira Eucaristia. Na mesma capela em que foi batizado, recebeu pela primeira vez o Corpo de Cristo na Hóstia consagrada. Era um menino firme, quando queria uma coisa, insistia com veemência até obter, quando decidia algo não voltava atrás. Ao receber a Eucaristia, tomou a maior decisão de sua vida: Ser amigo de Cristo com todas as suas forças, com sinceridade e fidelidade. As pessoas de Sahuayo eram muito piedosas, pelos sofrimentos que viviam encontravam na fé forças para continuar, mantinham viva a amizade com Deus como a essencialidade de suas existências. Consuetudinariamente, os habitantes se reuniam todos os dias na hora do Ângelus na Igreja dedicada a São Tiago Apóstolo, para agradecerem ao Senhor e a Virgem de Guadalupe, por mais um dia de trabalho. Mesmo com todo o cansaço da jornada diária, encontravam o tempo devido para agradecer a Deus e ainda recitar o Santo Rosário, juntamente com o tão estimado pároco. Nessa época o México, passou por um dos períodos mais violentos de sua história. Primeiramente, grupos revolucionários entraram em conflito pelo poder, causando uma grande quantidade de mortes, em seguida, iniciou-se o governo de Calles, que pelos seus ideais de cunho marxista-leninista, queria aniquilar a liberdade da população e destruir sua a ligação religiosa dos mexicanos com o Papa. O marxismo-leninismo é uma base filosófica, econômica e política, que prega a emancipação dos trabalhadores e a libertação dos povos oprimidos e o meio para realizar esse feito é a implantação do comunismo, que precisa antes passar pela fase transitória do socialismo. No entanto o que aparenta buscar a igualdade, se concretiza como uma terrível ditadura sanguinária, na qual os seus líderes destroem toda e qualquer forma de liberdade e a vida humana é mero objeto, que pode ser descartado de qualquer forma, segundo o desejo dos seus líderes. A pequena Sahuayo, antes marcada pela calmaria, passou a enfrentar a morte com grande frequência, o ambiente pacato, deu lugar a tiros e gritos, decorrentes da guerra. Era comum que os habitantes desse lugar se deparassem comino cadáveres na rua, tanto dos revolucionários, como também de transeuntes inocentes que não tinham ligação alguma com o conflito. Ao completar 12 anos José Sánchez, comumente chamado de “Josesito” passou a admirar os irmãos que se uniam no exército cristero, que combatiam por amor ao Senhor as iniquidades e perversidades do governo federal, que estava realizando uma grande carnificina de cristãos. José via os cristeros como os valentes e heróis que não se acovardavam em dizer que o mal não triunfaria, que o ódio de Calles não impera sobre o nome de Jesus Cristo, o grande Rei do Universo, diante de quem todo o joelho se dobra.

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Uma noite de inverno, em especial, gerou um desejo forte no adolescente. Os seus pais convidaram o pároco para jantar em sua casa. Este contou-lhes sobre a severa perseguição religiosa que estava sendo realizada no México e que incontáveis cristãos já haviam sido martirizados. José indagou ao sacerdote: — Como é isso, padre? — Sim, Josesito, são católicos que, ante a ordem de renegar nossa religião, preferem dar suas vidas, e morrem fuzilados. Mas o Senhor os recebe junto a nossa Mãe de Guadalupe, no Céu. — E os meninos também podem ser mártires, padre? — Bem... enfim... se Deus assim dispuser, podem ser, como os Santos Inocentes que celebramos em nossa paróquia no mês de dezembro. O adolescente, que nesta noite, tinha 13 anos, sentiu em seu coração um impulso do Espírito Santo, de gritar ao mundo o reinado de Cristo e mesmo que morresse não calaria a sua voz. Ele encontrou na Eucaristia, toda a força necessária. O Corpo de Cristo perpetua-se como “o Alimento que salva e dá coragem!”

“Um guerreiro com vontade de lutar” O movimento dos “cristeros” consistiu na insurgência dos católicos contra as arbitrariedades, totalitarismo, crueldade e tirania do governo socialista de então. Primeiramente, os católicos realizaram manifestações pacíficas e fizeram ainda um boicote econômico, no entanto não obtiveram êxito. Em última instância, precisaram utilizar armas e combater em ferrenha luta pela deposição do sórdido e repugnante governo. Esse conflito armado ficou conhecido como a “Revolução Cristera”. A LNDLR (Liga Nacional para a Defesa da Liberdade Religiosa) se destacou entre as entidades civis mexicanas na busca de que a Lei de Calles não mais produzisse efeitos. A Igreja, por meio do episcopado mexicano, ressaltou o princípio evangélico da não-violência, mas endossou que em casos extremos, o último recurso cabível seria a legítima defesa, e neste caso, por critério de proporcionalidade dos meios, seria possível o uso de armas, esclareceu ainda que os bispos não fariam parte de conflitos armados. Ocorre que a grande maioria dos casos eram extremos, e o exercício constante da legítima defesa tornou-se indispensável. Precisavam lutar para não terem as suas vidas e a dos seus irmãos na fé sumariamente ceifadas. Os católicos mexicanos de então, viviam como os primeiros cristãos, eram marcados pelo amor mútuo e pela coragem de preferir morrer do que negar Jesus Cristo, que não é uma ideologia, uma percepção filosófica, mas uma pessoa.

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Ele é Deus que se fez homem, que ao morrer na cruz redimiu a humanidade e que ressuscitou, que subiu aos céus e permanece entre nós. O estado de Michoacán destacou-se pela valentia dos seus cidadãos, sobretudo os das cidades de Cotija, Sahuayo, Santa Inês, Jiquilpan e Los Reyes. O povo de Sahuayo e suas redondezas era na sua totalidade cristero. O México de então, em percentuais, tinha 93% da população cristera e somente 3% a favor das sandices do governo federal. Integravam os “cristeros” diversas pessoas, muitos homens e algumas mulheres, ex-militares que abandonaram o exército governista, camponeses e agricultores, alguns que jamais haviam tido contato com armas. O povo de Deus não suportava mais ver as igrejas, conventos e seminários fechados, a proibição da celebração da missa e da administração de sacramentos em todo o território nacional. O povo católico não aguentava mais ver sacerdotes, religiosos, freiras e leigos sumariamente fuzilados e enforcados, na maioria das vezes dentro das próprias igrejas ou nas suas mediações. Para o governo eles tinham que morrer por cometer “o bárbaro crime de ter fé e seguir o Papa”. José, observava a maldade dos inimigos de Cristo, que destruíam vidas de católicos como se não fossem nada, que vilipendiavam a fé, ultrajavam os consagrados, cometiam sacrilégios contra igrejas, as imagens dos santos e até ao Santíssimo Sacramento. Concomitantemente o olhar do menino se vislumbrava com a coragem e a honradez dos soldados de Cristo Rei. Conhecia várias pessoas que se juntavam a esses homens de fé, José ficava encantado quando eles passavam em grande velocidade nos seus cavalos gritando com toda força: “Viva Cristo Rei! Viva a Virgem de Guadalupe!”. José Sánchez, não resiste mais e pede autorização dos seus pais, para unir-se os cristeros, combatendo o bom combate, obviamente eles lhe proibiram. Para defender a Igreja, Miguel, o filho mais velho, da família Sanchéz, tomou a decisão de unir-se ao exército cristero, juntamente com seus amigos, os irmãos Gálvez, ao passo que os seus irmãos mais novos continuariam a ajudar o pai nos trabalhos agrícolas, contudo José inconformado também queria partir. Volta a pedir permissão a sua mãe, que se opõe afirmando: “Meu filho, uma criança da sua idade vai mais atrapalhar do que ajudar o exército”. O menino rebateu: “— Mas, mamãe, nunca foi tão fácil ganhar o Céu como agora! Não quero perder a ocasião!”. A sua mãe percebeu a motivação e seriedade de seu filho, percebeu que não se tratava de um capricho e mesmo a contragosto autoriza que ele escreva ao general Prudencio Mendoza, indagando se ele o admitia. Este general era o líder do exército católico, chefe das regiões da zona de Cotija e circunvizinhas,

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ao receber a missiva do rapaz, não pensou duas vezes, negou que o menino se juntasse aos cristeros. Como já foi dito, ele não desistia enquanto não alcançava seus propósitos, volta a dirigir-se ao general Mendoza, por uma nova carta, na qual se dispunha a ser um soldado auxiliar da tropa, cuidando dos cavalos, cozinhando e prestando os demais serviços aos combatentes. O general, admirado pelo ânimo e coragem do adolescente de 13 anos, concedeu-lhe a admissão ao exército. Destarte, José recebe a bênção de sua piedosa mãe e parte para o acampamento dos combatentes que, voluntariamente, lutavam por Cristo. “Quem é esta que avança como exército em ordem de batalha?” No acampamento, nos sete primeiros meses não permitiram que José utilizasse armas, era um atento e prestativo ajudante dos soldados cristeros. Passou por muitas privações junto aos combatentes, desde a escassez de alimentos, frio, desconforto para dormir até necessidade de sepultar companheiros mortos. Nem sempre era possível acender uma fogueira, por não haver tempo ou porque chamava a atenção dos inimigos. Alimentavam-se de tortilhas, uma espécie de composto de trio ou milho. Nesta vida de sacríficos os soldados encontravam no pequeno José um apoio, ele cuidava com muita dedicação dos cavalos, para que tivessem bom desempenho nas lutas, zelava pelas armas, limpando-lhes e munindo-lhes, preparava alguns alimentos e quando possível preparava feijão. Em pouco tempo o caçula da família Sánchez del Río conquistou o afeto e a confiança de toda a tropa, os soldados lhe puseram o apelido de Tarcísio, sem sombra de dúvidas em alusão direta ao santo mártir, que viveu em Roma no século III, por volta do ano 260, era um comprometido acólito, que durante a perseguição do imperador Valeriano, foi espancado e apedrejado até a morte. São Tarcísio, que tinha aproximadamente 12 anos, prontificou-se junto ao Papa Sisto II a levar o Santíssimo Sacramento aos cristãos que estavam na prisão já condenados à morte. Era comum que antes de serem executados, os cristãos recebessem a Eucaristia, que chamavam de “Pão dos fortes”. O adolescente cristero destacava-se por suas posturas e espiritualidade, recebeu a missão de liderar a oração do Rosário todas as noites. Foi promovido a função de corneteiro a frente das batalhas e em seguida ao cargo de porta-estandarte. Os cristeros traziam em suas mãos orgulhosamente os estandartes de Cristo Rei e da Virgem de Guadalupe, gritavam fervorosamente “Vivas” em suas batalhas. Caminhavam com a Virgem Santíssima, a eleita, a proclamada bendita entre dentre todas as mulheres, a mais bela, pura, casta e fiel. Ela que

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é formosa como o luzeiro da noite e brilhante como o astro solar. “Há sessenta rainhas‚ oitenta concubinas‚ e inumeráveis jovens mulheres; uma porém‚ é a minha pomba‚ uma só a minha perfeita; ela é a única de sua mãe‚ a predileta daquela que a deu à luz. Ao vê-la‚ as donzelas proclamam-na bem-aventurada‚ rainhas e concubinas a louvam. Quem é essa que surge como a aurora‚ bela como a lua‚ brilhante como o sol‚ temível como um exército em ordem de batalha?” (Ct 6‚ 8-10) Como consequência do pecado dos primeiros pais‚ Deus se dirigiu à serpente e disse: “Porei ódio entre ti e a mulher‚ entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça‚ e tu lhe ferirás o calcanhar”. (Gn 3‚ 15). Observa-se nessa passagem primeiramente o ódio entre a serpente e a mulher, em seguida o ódio entre as descendências. Pelo pecado e desobediência da primeira mãe Eva, a serpente saiu vitoriosa‚ distintamente por outra mulher‚ a nova mãe “Ave” Maria, livre de toda a mácula e pecado, humilde e em tudo obediente, a serpente foi ferida. O principal descendente da mulher é Cristo, que feriu a cabeça da serpente (mortalmente), ao passo que esta lhe feriu o calcanhar. A Santa Igreja Católica é a descendente dessa nova mãe, os seus membros são aqueles que nasceram pelo sangue do Cordeiro‚ pelas águas do Santo Batismo. “O Dragão‚ vendo que fora precipitado na terra‚ perseguiu a Mulher que dera à luz o Menino. Mas à Mulher foram dadas duas asas de grande águia‚ a fim de voar para o deserto‚ para o lugar de seu retiro‚ onde é alimentada por um tempo‚ onde é alimentada por um tempo‚ dois tempos e a metade de um tempo‚ fora do alcance da cabeça da Serpente. A Serpente vomitou contra a Mulher um rio de água‚ para fazê-la submergir. A terra‚ porém‚ acudiu a Mulher‚ abrindo a boca para engolir o rio que o Dragão vomitara. Este‚ então‚ se irritou contra a Mulher e foi fazer guerra ao resto de sua descendência‚ aos que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus. E ele se estabeleceu na praia. (Ap. 12‚ 13-18) (Grifou-se) Observa-se que no local em que se encontra a Mulher‚ a cabeça da serpente não consegue chegar. Todos aqueles que caminham com a Mulher estão fora do alcance do dragão, serpente ou demônio. Os que estão próximos a Maria Santíssima‚ não são alcançados pela nefasta serpente, no entanto esta não cessa de fazer guerra contra os filhos da luz. Os cristeros levavam a frente de suas batalhas o estandarte de Nossa Senhora de Guadalupe, a padroeira do México, da América Latina e a Imperatriz da América. Esse título mariano, surgiu da aparição da Virgem Maria em 9 de dezembro de 1531, ao índio da tribo Nahua, São Juan Diego Cuauhtlatoatzin,

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em Tepeyac, noroeste da Cidade do México. Como meio probatório para o convencimento do bispo, a Virgem Santíssima deixou impresso o seu ícone na vestimenta do índio, que era confeccionada em tecido de qualidade não duradoura, mas que permanece intacto até hoje. Desde 1754, quando título foi reconhecido pelo Papa Bento XIV, anualmente a festa litúrgica da Virgem de Guadalupe é celebrada em 12 de dezembro.

Os mártires Joaquim Silva e Manuel Melgarejo As perseguições aos católicos, em várias cidades do México, eram enormes. Em 22 de setembro de 1926, dois jovens, Joaquim Silva que tinha 27 anos e Manuel Melgarejo com 17 anos, ofertaram as suas vidas ao Senhor, recebendo a palma do martírio. Ambos foram detidos pela CROM, polícia secreta do governo federal, acusados de executar o crime de “praticar a religião” tipificado na legislação da época. Imediatamente foram escoltados por militares, até o local onde seriam assassinados. Durante todo o percurso os jovens recitaram a oração do rosário, enquanto sofriam com zombarias e insultos. Um dos oficiais não se contentava com o que estava acontecendo e decidiu tomar-lhes os terços e um terceiro jovem cristão uniu-se aos dois primeiros. Luis Ziliani, em seu livro, México Mártir, descreve a cena com detalhes: – Alto lá! Disse Joaquim, enquanto estivermos vivos, ninguém ousará tirar-nos o terço. A outro que lhes perguntava em tom de deboche se iam ao patíbulo, o mesmo respondeu-lhe: – Não. Vamos ao Calvário, enquanto aguardamos a nossa e a vossa ressurreição. Chegando ao lugar marcado, quiseram vedar-lhes os olhos; ao que eles se recusaram cortesmente: – Não somos criminosos, nem tememos a morte. Eu mesmo darei o sinal de atirar. Quando gritar “Viva Cristo Rei, Viva a Virgem de Guadalupe”, então atirem. Ante o pelotão, Joaquim Silva improvisou uma oração transbordante de sentimentos religiosos e patrióticos. A graça foi tal, que muitos dentre os soldados comoveram-se e outros afastaram-se. Um deles jogou a arma no chão e gritou: – Não atiro mais. Eu também sou católico e partilho dos sentimentos desses dois. Viva Cristo Rei! E assim dizendo, abraçou o companheiro

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Mártir e colocou-se a seu lado. Satisfeito com a conquista desta alma no próprio campo da honra, Joaquim ordenou aos companheiros: – Ajoelhamo-nos e tiremos o chapéu, pois estamos para comparecer ao Tribunal de Deus. Rezaram uns poucos instantes, depois levantaram-se e, a uma só voz, os três lançaram o grito de vitória: “Viva Cristo Rei”, “Viva a Virgem de Guadalupe”. Contudo, a revoada de anjos e a potência que a definição do bem emana fez com que tivessem que chamar outro pelotão para executá-los… (1950. p. 142) Para o governo expor os corpos desses cristãos era uma questão de honra, então logo após o martírio, foram exibidos publicamente no cemitério, ainda com os respectivos terços nas mãos. Os seus túmulos viraram local de devoção a Jesus Cristo e respeito a grandeza da fé desses heróis na fé. Até o Papa Pio XI referiu-se a eles, em 18 de novembro de 1926 na sua Encíclica Iniquis afflictisque: “Alguns desses jovens (e ao recordá-los mal podemos conter as lágrimas) encontraram voluntariamente a morte, tendo nas mãos o rosário e nos lábios a invocação a Cristo Rei”. José Sanchéz visitou a sepultura destes mártires e no seu coração já se preparava para que se fosse preciso, igualmente entregar a vida por ser amigo de Jesus Cristo.

Nunca me unirei aos inimigos de Cristo Rei! As batalhas estavam se tornando imensamente perigosas, muitos milhares de pessoas já haviam morrido, o general Prudencio Mendoza , que comandava os conflitos em diversas cidades do estado de Michoacán, preocupava-se com a segurança de José, por quem tinha grande apreço e afeição. Confiou ao cristero Luis Guízar Morfin a missão de cuidar do jovem rapaz e em contrapartida José seria o seu auxiliar. A bravura do menino, que permaneceu cerca de ano e cinco meses no exército cristero, se destacou na batalha de Cotija, travada em 5 de fevereiro de 1928. José, seguia na sua missão de porta-estandarte, quando percebeu que o cavalo do seu chefe Guízar Morfín foi atingido por um tiro e tinha caído morto. Galopando às pressas, dirigiu-se ao seu chefe e lhe disse: “- Meu general, aqui está o meu cavalo! Salve-se, ainda que me matem. Eu não faço falta, mas o senhor sim!”

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Guízar, acreditando que não fariam mal ao menino, aceitou o seu cavalo e desta amaneira conseguiu se salvar. José pegou uma arma, escondeu-se atrás de uma pedra e passou a atirar para que seu chefe tivesse tempo de fugir, quando as munições acabaram, conseguiram então prendê-lo. Foi levado pelos soldados ao general governista Guerrero, este que espantou-se ao perceber que combatia com um menino. Então com admiração perguntou-lhe: — Que está fazendo, menino? Não sabes que vamos fuzilá-lo? — Que me importa, retrucou José veementemente. E quem sabendo que só, me prenderam porque estava sem munição; ainda assim, não me entrego. — Deixe-se disso garoto. Ninguém pretende fazer-lhe mal algum. Fique conosco e diga-nos o que sabe dos rebeldes, tentou argumentar o general. — Eu, traidor dos meus irmãos? Nunca! Respondeu com força. O que pensam que sou? Um igual a vocês? Disseram-me que eu era um inimigo. Então, devem fuzilar-me! As respostas do menino impactaram o general e os soldados, decidiram prendê-lo acreditando que logo ele iria ceder e depois se tornaria um meio de obtenção de informações sobre o exército cristero. Foi trancado, juntamente com outro menino, o seu amigo Lázaro, numa prisão improvisada. Ao ver sua prisão, José ficou indignado. Era a igreja que costumava frequentar com a sua família, antes da proibição do culto católico. As tropas de Calles haviam transformado a igreja em um lugar de orgias e profanações. Na sacristia o deputado anticatólico Rafael Picazo, que costumeiramente apostava em rinhas de galo, guardava os seus galos de briga e galinhas. Ao anoitecer, em 7 de fevereiro, o valente adolescente conseguiu desamarrar-se, não suportava ver o desrespeito para com o que é sagrado, cheio de repulsa e inconformidade, foi até às gaiolas onde os galos de briga do deputado estavam. De um a um, foi lhes matando, ao cortar seus pescoços. Matou também as galinhas que eram utilizadas como um meio de profanação a casa do Senhor. Na manhã do dia seguinte, quarta-feira, os guardas espancaram o menino, fazendo com que sangrasse. Ficaram surpresos com a morte das aves e prontamente partiram para dar ciência ao deputado Picazo, este imediatamente dirigiu-se a igreja tomado de ódio. José, mais uma vez, corajosamente agiu afirmando: “-A casa de Deus é para orar, não para guardar animais”. O deputado totalmente enfurecido Picazo indagou: -Você está disposto a tudo menino? José não hesitou em responder: ”- A tudo! Desde que peguei em armas estou

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disposto a tudo! Pode fuzilar-me! Assim estarei logo diante de Nosso Senhor para que eu lhe peça para que você não saia vitorioso!” Rafael Picazo tomou então a decisão que tanto José Sánchez, quanto o seu amigo Lázaro, deveriam ser mortos. Lázaro, mesmo sendo um pouco mais velho do que José, estava completamente desanimado e com muito medo, não estava conseguindo nem comer. José recebeu dos seus familiares o almoço, ele logo foi motivar o seu amigo a fazer com ele a refeição: — Animo Lázaro! Comamos bem. Ainda nos será dado algum tempo e logo nos fuzilarão. Não dê para trás! Nossas penas durarão apenas o tempo de fecharmos os olhos. Neste dia, José escreveu uma carta para a sua mãe que dizia: “Mamãe querida. Fui feito prisioneiro e esta noite serei fuzilado. Creio que pelo o que percebi vou morrer, mas não importa mamãe. Resigna-te à vontade de Deus; eu morrerei muito contente, porque morro na raia, ao lado do nosso Deus. Não fiquei preocupada com a minha morte mamãe, pois a sua preocupação é o que me faz sofrer. E mais mamãe, diga aos meus outros irmãos que sigam o exemplo do irmão menor, e a senhora, faça a vontade de Deus. Tenha força mamãe, e mande-me a sua benção, juntamente com a do meu pai. Saúde a todos aí por mim pela última vez e receba por último, o coração do teu filho que tanto te ama e tanto desejava ver-te antes de morrer. Chegou, finalmente, a hora tão desejada. Abraço a senhora e todos os meus irmãos, e prometo-lhes um bom lugar no Paraíso. José Sanchez del Rio, que morre em defesa da Fé, por amor de Cristo Rei e da Rainha Nossa Senhora de Guadalupe”. Por volta das 17h30, para amedrontar José e fazê-lo dar as informações que desejavam sobre os cristeros decidiram fazer com que assistisse o enforcamento de Lázaro. No entanto, ao invés de ter medo, José dizia palavras de força e coragem ao amigo: — Lázaro, não se esqueça de me preparar um bom lugar no céu. Peço-lhe que avise a Cristo Rei que me espere por toda esta noite. Lázaro foi pendurado em uma árvore, por uma corda, durante vários minutos até não mais demonstrar sinais vitais. Seu corpo foi arrastado e abandonado no cemitério, algum tempo depois Lázaro reanimou-se e mesmo machucado e com dificuldades conseguiu fugir. José foi levado pelos soldados ao cárcere e lá mais uma vez insistiram que negasse a fé em Jesus Cristo, ele negou dizendo forte: “- Fuzilem-me logo!”

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O pai de José não se conformava com a prisão a possibilidade da morte de seu filho, direcionou-se ao general Guerrero e lhe perguntou se poderia fazer algo, este lhe exigiu a fortuna de 5 mil pesos. O pai não dispunha desse valor, ofereceu-lhe todos os seus bens, os móveis e até a casa como uma forma de resgaste, mas não obteve êxito na negociação com o general. Enquanto isso, Rafael Picazo já estava decidido a aniquilar o menino. Dizia: “Com ou sem dinheiro vou mandar matar esse menino!” Ao tomar conhecimento de que a sua família estava fazendo grandes esforços para libertá-lo, José pediu que não pagassem resgate, pois ele era incapaz de trair Cristo, o seu Rei, Senhor e Amigo.

Uma cruz na terra com o próprio sangue No dia 10 de fevereiro de 1928, sexta-feira, o adolescente foi escoltado por soldados de volta até ao quartel. Com zombaria lhe afirmaram que seria condenado à pena capital. Queriam fazê-lo acreditar que seria morto em vão por algo que não tinha sentido. O rapaz conseguiu um simples papel e escreveu a tia, que conseguiu que levassem até ele a comunhão eucarística. Os mártires encontram na Eucaristia a coragem que é necessária para não vacilar, para manter o medo longe de seus corações. Com emoção escreveu: Sahuayo, 10 de fevereiro de 1928 Querida tia: Fui sentenciado à morte. Ás oito e meia da noite chegará o momento que tanto desejei. Agradeço por todos os favores que a senhora e Madalena me fizeram. Não me sinto com forças para escrever a mamãe, faça-me o favor de escrever a ela. Diga a Madalena que consegui que me deixassem vê-la uma última vez e creio que ela não se negará a vir (para que lhe levasse a Comunhão) antes do martírio. Transmita minhas saudações a todos por mim e receba como sempre e pela última vez o coração do teu sobrinho que tanto te ama. Cristo Vive, Cristo Reina, Cristo Impera! Viva Santa Maria de Guadalupe! José Sanchez del Río, que morreu em defesa da fé. Aproximadamente às 18h, iniciou-se a tortura ao adolescente, os soldados queriam a todo custo fazê-lo renegar o Senhor Jesus Cristo. Além das torturas psicológicas, também realizaram físicas. Utilizaram uma faca, para maltratá-lo sordidamente, fizeram-lhe profundos cortes nos pés e arrancaram-lhe a pele

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das solas. Ao passo que o menino gritava efusivamente “Viva Cristo Rei” para suportar as dores horríveis e indizíveis. Vários soldados fortemente armados, contra um menino indefeso e que já vinha sendo torturado há dias. Nesse cenário deplorável os verdugos, por volta das 23h, obrigaram o jovem rapaz a caminhar em solo pedregoso (de pedras pontiagudas e irregulares) até o cemitério, o que acentuava enormemente suas dores. Os seus pés sangravam muito, deixando um rastro de sangue por onde passou. Sem abrir a boca, como o seu Senhor, o Cordeiro de Deus, foi conduzido ao matadouro. Nos lábios do pequeno rapaz não havia murmuração, não existia queixa ou lamúria, ao contrário, entoava hinos de louvor que aprendeu na paróquia. No fundo, os soldados estavam assombrados com a tão grande firmeza de José. No cemitério uma cova já aberta o aguardava, aproximou-se o menino deste lugar e com fé beijou aquele solo. Os milicos apunhalaram seu pequenino corpo várias vezes, para ver se ele negaria Cristo. No entanto, ele permaneceu irredutível, não derramava lágrimas e não tremia. Estava absolutamente envolto no sangue emanava de seus ferimentos, mas com certeza acreditava que em breve estaria na presença do seu Senhor. Zombando de José Sanchéz e ainda tentando torturá-lo psicologicamente o comandante da escolta perguntou se ele queria enviar uma mensagem aos pais. Ele positivamente respondeu dizendo: “Sim, diga-lhes que vamos nos rever no Céu”. Logo em seguida fez o seu último pedido: “ –Deixe-me ser fuzilado com os braços abertos como Cristo na Cruz!” Prontamente foi atendido, pelo capitão que lhe disparou um tiro na têmpora. Ferido mortalmente, o valente menino, encheu a mão direita com o sangue que em abundância escorria pelo seu pescoço, e em profunda adoração, traçou com ele uma cruz na terra, onde prostrou-se. Sussurrou pela última vez as palavras, que tanto exclamou: “Viva Cristo Rei e Nossa Senhora de Guadalupe!”. José Sanchéz, abraçou a Cruz, uniu o sacrifício de sua vida ao de Jesus e com por Ele foi recebido em sua glória. Muitas pessoas comovidas, presenciaram, a certa distância, o suplício do garoto. Nunca os cidadãos de Sahuayo e até mesmo os soldados do governo de Calles, viram tanta coragem e fé em um adolescente que tinha mais determinação que muitos homens. A mãe de José, de longe, acompanhou a lúgubre cena, rezando pelo seu menino, enquanto sentia o seu coração ser transpassado pela dor. O menino, que ali foi martirizado, foi sepultado sem nenhuma formalidade ou cerimônia fúnebre, não teve sequer uma mortalha ou caixão, jogaram pás de terra sobre o seu pequenino corpo, assemelhando-se ao enterro de um animal.

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Em 20 de novembro de 2005, foi beatificado pelo Santo Padre, o Papa Bento XVI, este pontífice sobre cristo Rei, afirmou: “Seu reinado não consiste no poder dos seus exércitos para submeter os demais pela força ou violência. Se funda em um poder maior que ganha os corações: o amor de Deus que Ele atraiu o mundo com seu sacrifício e a verdade da qual deu testemunho”. Sahuayo, se caracteriza como uma cidade comercial, hoje com população aproximadamente de 65 mil habitantes, continua marcada por sua religiosidade. No mês de julho, celebra-se a tradicional Festa de São Tiago Apóstolo, conhecido como “El Patrón Santiago”. Os fiéis realizam uma grande procissão com a imagem do santo, utilizando máscaras coloridas, que representam os derrotados da guerra entre os soldados moros e os cristãos. Além da Igreja de São Tiago, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus (onde se encontram as catacumbas dos “cristeros” e um museu da revolta pela defesa da fé contra as arbitrariedades de Calles) e a Explanada de Cristo Rei (local em que se encontra uma grande imagem do Senhor Jesus, o grande Rei, feita pelo artista Adolfo Cisneros e ainda uma Via Sacra, em mosaico, feita pelo pintor sahuayense Luis Sahagún) são lugares de peregrinações. Quanto à residência em que José Sánchez nasceu, na época na Rua Tepeyac, 136, não pertence mais à família e nem a Igreja. Há anos, foi vendida e não existe no local nenhuma indicação sobre o seu nascimento e que ali ele residiu. Uma contradição se observa contemporaneamente, hoje a rua tem o nome Rafael Picazo, nome do sórdido deputado federal que ordenou a execução do adolescente José Sánchez. Ao passo que este deputado marcou a história por ser um covarde e desprezível, a humanidade contempla em “Josesito” uma criança que não calou, não guardou silêncio diante da tirania. Um menino que se tornou um herói, que foi atraído pelo amor de Cristo. Um guerreiro que valentemente enfrentou os inimigos, que lhe torturaram, lhe fizeram sentir dores atrozes e lhe fuzilaram, contudo conseguiu livrar-se da maior de todas as dores, a de negar quem ele era, de rejeitar Cristo como o Senhor de sua vida. Ele guardou-se puro, livre de toda malícia, espírito fiel, casto, piedoso e valente. O jovem católico e músico Miguel Martínez González, falecido em março de 2015, com muita beleza compôs a fantástica canção ¡Viva Cristo Rey! que expressa o sentimento dos combatentes de Cristo: Un grito de guerra se escucha en la faz de la tierra y en todo lugar, los prestos guerreros empuñan su espada y se enlistan para pelear. Para eso han sido entrenados, defenderán la verdad; y no les será arrebatado el fuego que en su sangre está. ¡Viva Cristo Rey! ¡Viva Cristo Rey! el grito de guerra que enciende la

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tierra. ¡Viva Cristo Rey! Nuestro soberano Señor, nuestro capitán y campeón; pelear por Él, es todo un honor. Sabemos que esta batalla no es fácil y muchos se acobardarán; y bajo los dardos de nuestro enemigo, sin duda perecerán. Yo tendré mi espada en alto, como la usa mi Señor; a Él nada lo ha derrotado, su fuerza es la de Dios. No conocemos mayor alegría, no existe más honroso afán; que con mis hermanos estar en la línea, y juntos la vida entregar. A Él que merece la gloria, y nos reclutó por amor; ante Él la rodilla se dobla, y se postra el corazón. De fato, não existe maior honra e alegria, do que entregar a vida por Jesus Cristo, dobrar diante dele os joelhos e prostrar o coração! O Reinado de Cristo jamais se acabará. Quanta graça nos foi dada em fazer parte da mesma fé destes grandes valentes que gritaram o seu amor por Cristo com o seu próprio sangue.

Os Cristeros e a Eucaristia Bem-aventurado aquele que compreende o que seja amar a Jesus e desprezar-se a si por amor de Jesus. Por esse amor deves deixar qualquer outro, pois Jesus quer ser amado acima de tudo. O amor da criatura é enganoso e inconstante; o amor de Jesus é fiel e inabalável. Apegado à criatura, cairás com ela, que é instável; abraçado com Jesus, estarás firme para sempre. A Ele ama e guarda como amigo que não te desamparará, quando todos te abandonarem, nem consentirá que pereças na hora suprema. De todos te hás de separar um dia, quer queiras, que não. Conchega-te a Jesus na vida e na morte; entrega-te à sua fidelidade, que só Ele te pode socorrer, quando todos te faltarem. Teu Amado é de tal natureza, que não admite rival: Ele só quer possuir teu coração e nele reinar como rei em seu trono. Se souberes desprender-te de toda criatura, Jesus acharia prazer em morar contigo. Quando confiares nos homens, fora de Jesus, verás que estás perdido. Não te fies nem te firmes na cana movediça: porque toda a carne é feno, e toda a sua glória fenece como a flor do campo (Is. 40,6). (A Imitação de Cristo) Os Cristeros foram valentes fieis que tinham Cristo como o Rei de seus corações, Ele era a própria força desses guerreiros, que se alimentavam do Pão do Céu, a Sublime Eucaristia. Existem várias fotografias, bem como relatos históricos, que respaldam essa afirmação. Eles em sua estafa, sabiam a quem recorrer: “Vinde a mim todos que pe-

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nais e estais sobrecarregados, e eu vos aliviarei, diz o Senhor (Mt 11,78) “O pão que eu darei é a minha carne, pela vida do mundo” (Jo 6,52). Constantemente os cristeros estavam unidos ao Senhor: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele”. (Jo 6,57). Ressoava em suas almas: “Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo ou a es­pada? Mas em tudo isto somos vencedores, graças Àquele que nos amou. Na verdade, eu estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que se manifestou em Cristo Jesus, Nosso Senhor”. (Rm 8, 35.37-39) A fidelidade dos cristeros a Eucaristia era impressionante. Uma fotografia tirada no dia da festa da Assunção da Virgem Maria, 15 de agosto de 1928, na cidade mexicana de San Luis Potosí, mostra o féretro de Fiacro dela Asunción Sánchez Serafín, um líder cristero, que neste mesmo dia foi fuzilado por defender o direito de liberdade religiosa e lutar contra o governo em favor de Cristo Rei. Ao lado do corpo de Fiacro Sánchez, encontra-se um dos seus cinco filhos, Jorge, que no velório do pai, fez de forma clandestina a sua Primeira Comunhão. O menino, muitas vezes, desejou receber a Eucaristia, e perguntava ao pai, quando poderia recebê-la pela primeira vez. O pai respondia: “-No dia em que eu morrer!”, a resposta causava estranheza a toda família e sobretudo a sua esposa Micaela Gámez Saldierna. Fiacro Sánchez, foi detido pelos soldados de Calles, na prisão recebeu a visita da esposa que lhe demostrou todo o seu amor, ao despedir-se indagou ao marido: “E agora, Fiacro, quando nos vemos novamente?” e ele respondeu: “No céu, serei fuzilado em 15 de Agosto”. Realizar um cortejo fúnebre para de Fiacro, desafiou as proibições da Lei de Calles, uma multidão de católicos seguiu pelo percurso, revezando a condução do caixão nos ombros, até que chegassem ao cemitério. O cortejo atrasou-se devido à grande quantidade de homenagens que recebeu, assim passaram do horário de expediente dos coveiros que se recusaram a baixar a urna fúnebre até a cova. Não tendo encontrado outra forma, as mulheres católicas da aldeia, amarraram seus xales, e cumpriram assim essa penosa tarefa. Foi sepultado no Cemitério de Saucito, na 5ª classe e como sua viúva não teve como pagar um jazigo perpétuo, ao término de um tempo, os seus restos foram jogados no ossário. Próximo ao lugar em que foi sepultado originalmente, permanece ainda o corpo de outro cristero, José Belén, também fuzilado neste 15 de agosto.

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Canonização No dia 16 de outubro de 2016, o Papa Francisco canonizou o menino São José Luis Sánchez del Río, o padroeiro dos adolescentes mexicanos, na ocasião o Sumo Pontífice, proferiu em sua homilia: Sozinhos, não somos capazes de formar em nós um coração assim; só Deus pode fazê-lo e, por isso, Lho pedimos na oração, Lho suplicamos como um dom, como uma «criação» d’Ele. Desta forma, fomos introduzidos no tema da oração, que aparece no centro das leituras bíblicas deste domingo e nos interpela também a nós aqui reunidos para a canonização de alguns Santos e Santas novos. Estes alcançaram a meta, tiveram um coração generoso e fiel, graças à oração: rezaram com todas as forças, lutaram e venceram... Este é o estilo de vida espiritual que a Igreja nos pede: não para vencer a guerra, mas para vencer a paz! Quem se lembrará de ti depois da morte? E quem rogará por ti? Faze já, irmão caríssimo, quanto puderes; pois não sabes, quando morrerás nem o que te sucederá depois da morte. Enquanto tens tempo, ajunta riquezas imortais. Só cuida em tua salvação, ocupa-te só nas coisas de Deus. Granjeia agora amigos, venerando os santos de Deus e imitando suas obras, para que, ao saíres desta vida, te recebam nas eternas moradas (Lc. 16,9). (A Imitação de Cristo)

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Imagem do pequeno mártir cristero, com vestes típicas mexicanas.

Primeira Eucaristia de José Sánchez.

Parte dos cristeros de Sahuayo.

Olhar destemido, coração valente e de fé.

Cristeros enforcados em postes telegráficos em Jalisco, México.

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Combatentes cristeros.

Monumento dedicado a José Sánchez no cemitério de Sahuayo.

Também em Sahuayo foi erguido um monumento ao Cristo Rei, sob o qual existe uma grande ilustração e a Igreja do mártir José Sánchez.

¡Corazón Cristero! Dispuesto a batallar hasta el fin. Ahora es tan barato el cielo..., ¡Morir para vivir! Corazón sin miedo, de niño y de gigante en la fe. Qué dicha es caer con este grito: ¡Qué viva Cristo Rey! (Refrão do hino composto pelo Pe. Albert Gutberlet, L.C, em homenagem a José Luís Sánchez)

Cristo Rei entre as coroas de espinhos e a de glória. Atual monumento reerguido em 1940, sendo hodiernamente um grande lugar de peregrinações. É localizado no centro geográfico do México, na montanha denominada “Cerro do Cubilete” no estado de Guanajuto. O monumento foi bombardeado por aviões e destruído em 30 de janeiro de 1928, por ordem do governo de Plutarco Elías.

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Relíquias sendo visitadas pelo Santo Padre, o Papa Bento XVI.

Joaquim Silva.

Eucaristia se constituiu a maior força dos cristeros, fortalecidos pelo Corpo de Cristo não havia temor.

Manuel Melgarejo.

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Féretro de Fiacro Sánchez, ladeado pelo seu filho, que após as exéquias do pai, recebeu pela primeira vez a Comunhão Eucarística.

O Papa Francisco reconheceu, no dia 21 de janeiro de 2016, o milagre que elevou à honra dos altares o Beato José Luis Sánchez del Río, o menino mexicano que queria morrer por Cristo Rei. O milagre aconteceu em 2008 e a agraciada foi Ximena, uma bebê vítima de meningite, tuberculose, convulsões e um infarto cerebral – para quem, "humanamente, já não havia esperança de vida". O relato do milagre foi feito pela mãe da criança, Paulina Gálvez Ávila.

Eucaristia se constituiu a maior força dos cristeros, fortalecidos pelo Corpo de Cristo não havia temor.

A Santa Missa era o ápice da vida dos cristeros.

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B ar t olomé B l a n c o Coração de fogo, alma de fé (1914-1936) “Quem morre por Cristo, deve fazê-lo de frente e com o peito descoberto. Viva Cristo Rei!”.

B

artolomé Blanco Márquez nasceu em Pozoblanco em 25 de novembro de 1914. Foi batizado na Igreja de Santa Catarina pouco tempo depois. Aos três anos, ficou órfão de mãe, a Sra. Felisa Márquez Galán, faleceu em 30 de outubro de 1918. Ele e o seu pai, o Sr. Ismael Blanco Yun foram residir na casa de suas tias Ana e Emigdia. Aos onze anos, perdeu o seu pai. As suas tias assumiram a responsabilidade sobre Bartolomé. Desde a morte da mãe, já tinham o menino como mais um filho. Até completar 12 anos, estudava em um colégio público, mas ao atingir essa idade, passou a trabalhar com os seus primos Antônio e Nemésio para ajudar nas despesas familiares. Na vida escolar o menino apresentava forte liderança junto as outras crianças, tal característica fez com que fosse chamado pelo professor de “capitão”. Muito cedo aprendeu a manusear ferramentas e madeira, passando a produzir cadeiras. Realizava com excelência os trabalhos em madeira, lembrava sempre de Nosso Senhor Jesus Cristo, que na carpintaria de São José, também utilizava a madeira como ferramenta de labor. Mesmo trabalhando, passou a frequentar como aluno e colaborador o colégio salesiano de Pozoblanco, fundado em 1930. Encontrava grande alegria em poder ajudar os salesianos na realização do oratório festivo. Do exemplo de São João Bosco trouxe para si, três aspectos, o desejo de salvar as almas dos jovens, o amor a Eucaristia e a forte devoção a Santíssima Virgem Maria. Exercia com grande dedicação a missão de catequista despertando nos jovens o desejo de amar a Jesus Cristo e enaltecendo a beleza de uma vida à altura do Evangelho. Dotado de grande inteligência, apresentava com clareza o desejo de formar-se, para alcançar tal objetivo contou com o apoio de Dom Antônio Muiño, diretor do colégio salesiano, este sacerdote lhe deu uma máquina de escrever e alguns livros. Ainda muito pequeno, o seu pai, havia lhe contado a história de Nossa Senhora de Luna, que marcou o seu coração e jamais esqueceu. A história da

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aparição deste título mariano é transmitida, de geração em geração, sempre contada aos pequeninos, consiste em um belo conto. Havia na Vila de Pedroche, estado de Córdoba, por volta do século XV, um pastorzinho que, antes do amanhecer, saia com suas ovelhas, que eram brancas como a neve, montava em seu burrinho chamado de “estrela”, partia buscando alimentar o seu rebanho. Na aurora, o menino seguia montado em “estrela”, passando entre os carvalhos, tocando o seu sino e cantando: “Tim, Lim, Lim! As estrelas já se foram! Tam, Lam, Lam! Veio o sol em busca delas!” No percurso precisou atravessar um riacho, que costumava chamar de “cascavel” por ser perigoso e atrapalhar a viagem. O menino preparou-se para a travessia, as ovelhas seguiam à margem, enquanto o menino seguia riacho adentro, somente a sua cabeça e a de “estrela” ficaram fora da água. As ovelhas correram dispersas, mas o pequeno pastor continuava: “Tim, Lim, Lim! Estamos passando pelo riacho. Tam, Lam, Lam! E as ovelhas, onde estão?, Ao concluir a travessia cantarolava: “Tim, Lim, Lim! Já passamos as arvores! Tam, Lam, Lam! E as ovelhas, onde estão? As ovelhas correram muito, pois se assustaram com um exército grandioso que passava em seus cavalos. O pastorzinho tinha os olhos brilhando ao ver o cavalo branco do capitão, a sua armadura de bronze, a espada e as lança. Ficou vislumbrado com a quantidade de cavaleiros. Fixou neles o olhar e percebeu que um dos cavalos, que era levado de reserva, tinha se soltado e estava desmandado. O menino correu freneticamante com seu burrinho. Conseguiu capturar o cavalo e em velocidade aproximou-se do capitão e devolveu-lhe. Para recompensá-lo, pela sua boa ação, o cavaleiro presenteou o pastrozinho com um sino de prata para colocá-lo em “estrela”. Os cavaleiros passaram deixando um rastro de uma grande nuvem de poeira. Somente depois recordou, o pastor infante, que tinha perdido as suas ovelhas, e se pôs a procurá-las. “Tim, Lim, Lim! Já passamos as arvores! Tam, Lam, Lam! E as ovelhas, onde estão?” Procurando as ovelhas, entre os carvalhos deparou-se na madeira de um deles, com uma imagem belíssima de Nossa Senhora, não teve dúvidas, logo arrancou a madeira que compunha a imagem, pois queria mostrar a todo o povo a beleza da Virgem, que tinha um Menino Jesus em seus braços e a lua em seus pés. Estando com a imagem, conseguiu recuperar todas as ovelhas e deu-lhes alimento. Partiu cantando: “Tim, Lim, Lim! A Virgem está aqui! Tam, Lam, Lam! A minha mãe lhe verá!”

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O pastorzinho chegou em casa transbordante de alegria, não lembrava mais sequer do sino que o cavalheiro lhe deu, sua euforia era por causa da imagem que trouxera. A sua mãe logo que lhe avistou, perguntou: “-Qual é a causa de tanta alegria?” O pastorzinho, lhe disse: “Mãe, trouxe comigo a Virgem Maria, que tem a lua sob os seus pés” e mostrou a mãe a madeira, que não tinha mais imagem alguma. A rotina do menino era diária, no dia seguinte, no mesmo carvalho novamente apareceu a imagem e o pastorzinho procedeu da mesma forma, ao chegar na vila a madeira não tinha imagem alguma. No entanto, ele comentou com alguns amigos e familiares. Várias outras ocasiões o menino tentou levar a imagem até ao seu povo, mas a mesma desaparecia. O pastorzinho insistia em afirmar que a imagem de Nossa Senhora de Luna aparecia no carvalho e conseguiu convencer o sacerdote a ir com ele e algumas pessoas ao local. Para a surpresa de todos, o menino foi até a árvore e trouxe consigo a madeira, desta vez, a imagem estava clara e inequívoca, era belíssima, serena e a lua resplandecia sob os seus pés formosos. Bartolomé, ainda criança gostava de ir à igreja Nossa Senhora de Luna, que recebe muitos devotos há séculos. Lá consagrou-se aos cuidados da Mãe de Deus e recitava poemas de amor que fazia a Santíssima Virgem. Com os peregrinos devotos, exclamava: “Canta o céu e a terra em um concerto universal: Viva a Virgem de Luna, nossa mãe celestial!”

Da Monarquia a República A Espanha entrou no século XX seguindo sua tradição centenária de ser um dos países mais católicos da Europa. Não é possível conceber uma nação espanhola sem o catolicismo. Desde os visigodos, a Igreja marcou sua forte presença quando seus sínodos equivaliam à assembleias políticas e seus decretos tinham força de lei para todo o reino. A unidade espanhola foi construída durante a Reconquista quando os católicos retomaram das mãos dos muçulmanos a Península Ibérica. A unificação espanhola veio em 1492, com o casamento de Fernando de Aragão e Isabel de Castela, que receberam o título de “reis católicos”. Era impossível saber se o orgulho do povo provinha de ser católico ou ser espanhol. A relação entre a Igreja Católica e o Estado espanhol sempre foi tão profunda que muitas vezes se misturaram, ocasionando ora prejuízos, ora vantagens para ambos. (CASTELLANI) A Espanha entra no século XX mantendo sua longa tradição católica e em franca decadência política e econômica, em nada se parecendo com a sede de

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um império que abrangeu todos os continentes. Era certo que o país precisava modernizar-se política e economicamente e houve a tentativa de instaurar-se uma república no início do século, trazendo consigo a herança republicana da França, com todos os preconceitos intelectuais onde pregavam que qualquer avanço político-social só poderia ser levado adiante se a Igreja fosse eliminada. Conforme Royal apud CASTELLANI (2001, p. 147), os “republicanos” espanhóis eram, em sua maioria, frutos das lojas maçônicas e compunham uma amálgama de ideologias, contendo poucos democratas e muitos radicais socialistas, comunistas e anarquistas, em geral, bastante violentos e ateus anticlericais. Após o governo estabilizador do ditador Miguel Primo de Rivera (19231930) e os breves mandatos de Dámaso Berenguer e Juan Bautista Aznar-Cabañas marcados por distúrbios populares e levantes, as eleições regionais em abril de 1931 demonstraram o baixo apoio popular à monarquia e, para evitar um eminente derramamento de sangue, o rei Afonso XIII abdicou e exilou-se na Inglaterra. Tinha início, assim, a Segunda República e com ela a perseguição aos católicos da Espanha, onde “em tempo algum no curso da história da Europa, talvez mesmo de todo o mundo, viu-se um ódio tão apaixonado à religião e suas obras” (THOMAS, 1964, p. 271). Foi durante o regime monárquico que um feroz anticlericalismo começou a ganhar formas, mas seus excessos foram contidos pela ditadura. Para os republicanos, derrubada a monarquia, era o momento de extirpar a Igreja do território espanhol. A propaganda anticatólica foi disseminada por todo o país através da publicação de jornais, revistas, apresentação de peças de teatro e discursos transmitidos pelo rádio. A prática seguia o itinerário já conhecido: apresentavam a Igreja como intolerante e opositora de qualquer mudança socioeconômica na sociedade espanhola, favorecida pelo governo com diversos privilégios, proprietária de enorme riqueza enquanto mantinha o povo na pobreza através de um controle insuportável exercido sobre o comportamento das pessoas e acusada de invariavelmente se colocar ao lado dos poderosos, ricos e opressores. Às acusações lançadas pelos anticlericais e inclusive pelos políticos moderados e de direita contra a Igreja na Espanha, deve-se responder que eram, em 1931, em parte exageradas e em parte gratuitas. Uma campanha propagandística cujo ensinamento e grosseria possam parecer hoje incríveis, mas que resultaram de provada eficácia. Cunhada a imagem de uma Igreja rica, poderosa e corrompida, inimiga da República e do povo, precisamente quando a Igreja estava realizando todo o possível para encaminhar os fiéis pela via pacífica da legalidade. A riqueza da Igreja estava nos tesouros artísticos de seus templos e em seu patrimônio documental conservado em arquivos diocesanos e paroquiais, em monastérios e em conventos. Mas o clero vivia na miséria e, pese a frequentes

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reclamações durante a ditadura, não se conseguiu elevar justamente a dotação econômica do mesmo. No entanto, a reiterada insistência do anticlericalismo conseguiu fazer o povo crer exatamente o contrário. (ORTÍ, 1995, pp. 46- 49). A data do início da perseguição à Igreja Católica é colocada frequentemente pelos historiadores após o Alzamiento, o levante militar comandado por Francisco Franco contra o governo e que foi o estopim da guerra civil, quando a Igreja foi vista como aliada do general. Porém, mesmo sem jamais ter havido um edito de perseguição, os fatos demonstram que esta teve início já em maio de 1931, posto que “as omissões e a tolerância à violência e certa colaboração oculta ou indireta provam que o governo estava pouco preocupado com a situação dos católicos” (ORTÍ, 1990, p. 18). Em maio de 1931, um mês após o fim da monarquia, antes do martírio dos católicos, teve início o “martírio das coisas” (CORÇÃO, 1972, p. 214). Os discursos anticlericais e anticatólicos surtiram efeito sobre as massas populares. Milícias armadas pelo governo, conhecidas como “incontroláveis” (ROYAL, 2001, p. 143) avançaram sobre as igrejas, mosteiros e conventos que foram saqueados e incendiados sem que as forças de segurança do governo ou a Guarda Civil interviessem. Quase uma centena de edifícios eclesiais foi destruída por toda a Espanha sem que ninguém fosse punido ou, ao menos, fosse processado por estes atos (ORTÍ, 1995, pp. 54-55). Até 1936, seriam 411 igrejas destruídas. A declaração do ministro da guerra, Manuel Azaña, demonstra a posição do governo diante do vandalismo generalizado: “Todos os conventos da Espanha não valem a vida de um único republicano” (ROYAL, 2001, p. 143). As destruições e assaltos só vieram a comprovar a pobreza em que viviam os clérigos e religiosas. Enquanto se esperava encontrar grandes tesouros em ouro e dinheiro nos conventos e casas paroquiais, os despojos mostraram-se insignificantes. A riqueza da Igreja Católica consistia em seu patrimônio cultural, nas bibliotecas, nas obras de arte, na beleza arquitetônica. Justamente o que foi destruído pelos vândalos (ORTÍ, 1995, p. 19). Vicente Cárcel Ortí, acerca da promulgação da nova carta magna espanhola afirma: Em outubro, a Assembleia Constituinte começou a debater a nova carta magna da nação. Durante os debates, a questão religiosa foi o principal, senão o único assunto. Foram propostos vários artigos anticatólicos, como o fim das escolas confessionais, a retirada de símbolos religiosos em lugares públicos, a proibição do culto público e a supressão das ordens religiosas (1990, p. 142). Os católicos republicanos se sentiram traídos, mas a despeito de todos os protestos, a Constituição da República foi aprovada em dezembro de 1931 e, no dia seguinte, Niceto Alcalá Zamora foi eleito presidente. A legislação aberta-

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mente antirreligiosa não se fez esperar. Em 19 de janeiro de 1932, os professores nacionais receberam uma carta circular do diretor geral do Ensino Primário que lhes obrigava a retirar das escolas todo símbolo religioso, porque a escola deveria ser laica, e, em aplicação do artigo 43 da Constituição, foram suprimidos os crucifixos. Esta medida, ainda que legal, provocou grande irritação entre as numerosas famílias cristãs, que sentiram sua fé profanada e a educação de seus filhos ameaçada. Em 24 de janeiro foi dissolvida a Companhia de Jesus, já que o artigo 26 da Constituição declarou a supressão das ordens religiosas que, além dos três votos canônicos, impusessem a seus membros outro especial de obediência a uma autoridade distinta da autoridade legítima do Estado. (ORTÍ, 1995, p. 61). Em dois de fevereiro foi aprovada a lei do divórcio e no dia seis foram secularizados todos os cemitérios. A partir de 11 de março foi suprimida a disciplina de “Religião” em todos os centros docentes. Mas a disposição legislativa mais polêmica do primeiro biênio republicano foi a “Ley de Confesiones y Congregaciones religiosas”, aprovada pelas Cortes em 17 de maio de 1933, com grande satisfação dos partidos de esquerda e publicada, em três de junho, que chegou a ser qualificada como obra mestra da República. O presidente Alcalá Zamora se negou a assiná-la até o último momento por considerá-la persecutória e apurou o tempo legal para sua promulgação até dois de junho. […] Esta iníqua lei limitou o exercício do culto católico e o submeteu, na prática, ao controle das autoridades civis, com ampla margem para o arbítrio pessoal dos poderes municipais. Além das disposições constitucionais, diversas leis anticatólicas regionais e municipais surgiram pela Espanha, regulando e restringindo o exercício da Igreja Católica. A Espanha vivia uma crise de governo e de ordem. Na tentativa de restaurar a governabilidade, o presidente demitiu o chefe de governo e a formação do novo contava com grande número de católicos e ministros de direita, já que a Confederación Española de Derechas Autônomas (CEDA), tinha a maioria dos deputados nas Cortes. Era o que bastava aos revolucionários de esquerda em todo o país. Acusando a direita de ser golpista, em outubro de 1934, explode a revolução socialista na Catalunha e nas Astúrias. O governo bombardeia Barcelona e em dez horas a revolução catalã é vencida. Nas Astúrias a situação se agravou. Em diversas localidades, os comitês constituídos por violentos comunistas proibiram toda manifestação religiosa e queimaram templos. (ORTÍ, 1995, p. 61). Os sacerdotes e religiosos foram considerados inimigos do povo e foi dada a ordem para que fossem todos detidos. Aqueles que não puderam fugir ou esconder-se foram presos em cárceres improvisados e submetidos à múltiplas humilhações e atropelos. Não se levou em conta nem a idade, nem qualquer outra consideração. Apesar das ordens recebidas, em vários lugares foram fuzilados

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sem piedade, algumas vezes em meio ao ódio desatado de turbas enaltecidas ou em ocasiões em que era feita a simulação de um julgamento popular onde os comitês erigiram-se em tribunais e os juízes foram os mesmos carrascos que executaram as sentenças (ORTÍ, 1995, p. 69).

O célebre discurso Em 1932, foi fundada em Pozoblanco a Ação Católica, movimento composto por jovens rapazes, do qual, Bartolomé, foi eleito secretário. Já rapaz, tinha especial interesse pela doutrina social da Igreja e passou a exercer o seu apostolado junto aos operários. Sua opção política era conveniente com os seus valores e convicções cristãs. O jovem Bartolomé tinha uma imensa habilidade de oratória, quando discursava sobre a fé ou sobre os direitos dos trabalhadores conseguia transbordar os seus sentimentos, era compreendido perfeitamente pelos seus ouvintes, tinha forte liderança e poder de persuasão. Entre todas as suas qualidades uma se destacava, era um homem de oração, todos os seus passos se pautavam na vida de Cristo. Em 5 de novembro de 1933, fez um belo discurso de cunho social, político e cristão, para os militantes da Ação Popular Agrária. O rapaz falou para cinco mil pessoas, por meio de microfones instalados no Cinema Moderno, na cidade de Pozoblanco. Suas colocações impressionaram os ouvintes, por tão grande sabedoria e autenticidade. Ele atuou na propaganda eleitoral para as eleições deste ano. Segue o discurso: “Senhoras e Senhores: Está é a primeira vez que me dirijo a um auditório tão seleto e tão extenso, é a primeira vez também, que sou escutado por pessoas tão sábias e tão cultas como são os senhores... Portanto, por esse abuso que vou causar a vossa benevolência e boa-fé, não posso deixar de lhes pedir perdão antecipado por meu atrevimento, e agradecer-lhes pela confiança que me outorgaram. E quanto aos oradores que me sucederam em uso da palavra, desejo que me permitam fazer uma objeção: Que não julguem as minhas palavras as com o critério de sua elevada inteligência, porque resultariam ridículas; mas peço que lhes compreendam sob a ótica de um entusiasta, um idealista, de coração de jovem, que põe todo seu otimismo e toda a franca alegria de sua idade prematura, para contagiar com ela as almas inexperientes, não forjadas e polidas pelo trabalho e pelas contrariedades, mas nascidas e que cresceram em um ambiente de apatia e de ostracismo, que se movem indolentemente no ambiente pesado e carregado do ‘casino’ da tenebrosa e confusa máquina eleitoral.

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Minha alma de jovem, sempre inquieta, sempre desejosa de lutas e conquistas, se revela contra essa preguiça suicida de quem espera que alguém faça tudo e que resolva tudo, que lhes devolva todas as comodidades e despreocupações de que gozavam; e, isso, senhores, é viver de uma utopia, é uma fantasia, é acariciar uma ilusão produzida pelo desejo. Aqueles tempos passaram e sobrevieram outros. É necessário despertar desse sonho hipnótico e encarar a realidade; e esta realidade pede trabalho e sacrifícios, que ensejam o esquecimento do que passou e o propósito firme de uma vida nova, sem a existência de tantos egoísmos e tantas ambiciones, onde o olhar é voltado para si próprio sem preocupar-se com a desgraça e miséria dos demais. É preciso criar uma sociedade mais justa e mais harmoniosa, onde os caprichos do azar, não ponham uma classe sobre outra, mas onde todos e cada um dos espanhóis tenham o que justamente lhe pertence; porque não é certo, nem cristão, nem sequer humano, que um homem que trabalha de sol a sol, não ganhe sequer o suficiente para atender as necessidades mais básicas da vida, ao passo que em resposta ao seu proceder abnegado, depare-se com a postura antissocial do senhor, que lhe vê como una maquinaria qualquer da sua propriedade. Não e mil vezes não. Isso não é o conceito cristão da propriedade, nem a compreensão católica da vida, e fizeram muito mal o que tanto se preocupavam, ou pareciam preocupar-se em cumprir seus deveres religiosos, mas que viveram tão distantes e apartados de suas obrigações sociais, tão claramente prescritas no Santo Evangelho e em várias Encíclicas Papais. Eu sou trabalhador, e nasci de pais que também eram, eu vivi e vivo em ambiente de atividade, de escassez, privação e penúria, de trabalho nas classes humildes, e sinto correr nas minhas veias, o fogo do entusiasmo juvenil, que protesta energicamente, contra aqueles que acreditam que não somos homens como eles porque tivemos a desgraça - quem sabe se a sorte - de nascer na pobreza, de usar macacão e ter as mãos ásperas e cheias de calos. Mas aclaremos conceitos: sou trabalhador e sou católico. É possível que alguém não concorde com as minhas palavras anteriores, quem assim pensa, que leia e estude profundamente o Evangelho em sua parte social, e verá que nós da Ação Popular, como partido católico, não estamos contra as justas e reais aspirações dos trabalhadores, no anseio da justa redenção das classes proletárias. Contudo, somos contra o marxismo, e que é uma utopia desacreditada mundialmente, porque traz consigo a ruina da economia nacional e a desmoralização da sociedade e a impureza do lar e da família.

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Para alguns, ser católico e trabalhador lhes parecerá um sofisma, porque parece ser que todas as teorias modernas, se fundam na premissa de que para ser um bom trabalhador é indispensável ser anticatólico e odiar profundamente a religião, por ser uma instituição burguesa. Isso é um mito e uma calúnia. Porque sendo trabalhador não se pode ser católico? Sim, nosso Deus e Senhor Jesus Cristo foi o primeiro deles, e sofreu desde os primeiros instantes de sua vida, ao nascer, já que não teve sequer roupa para resguardar-se do frio do inverno, e teve que trabalhar para alimentar-se, trabalhando com as ferramentas de carpinteiro. E quando se dedicou a dar suas doutrinas ao mundo, a instruir com a sua infinita inteligência em todos os âmbitos, fez a opção preferencial pelos pobres e humildes, e terminou sua obra gloriosa encravado em uma cruz, com sus braços desconjuntados e abertos para abraçar a todos os povos, de todas as idades e de todas as classes sociais; e sua cabeça coroada de espinhos se reclinou brandamente para promulgar a Lei do Amor, beijando a fronte do mesmo povo que lhe crucificou, cuspiu e maldisse. Esse é nosso Chefe, e sua doutrina, é nosso programa. Eu compreendo, não obstante, a razão de existir a confusão para alguns trabalhadores. É o seguinte: os propagandistas da esquerda aproveitam-se das faltas que cometeram os católicos que nos precederam, para envenenar ao trabalhador, diante de sua fragilidade intelectual. Que estes homens que pecaram, respondam por seus erros e sejam punidos, mas não a fé católica, a qual indignamente representam, posto que ela, desde seu princípio é pura, foi e é um poema de amor e de sacrifício, onde estão sintetizados os sublimes sentimentos de um Deus que se fez homem por salvar ao gênero humano. Vimos nos antecedentes da revolução espanhola, uma política suja e degenerada, na qual o proceder egoísta das classes abastadas exploravam as humildes. Vimos políticos que faziam as suas preferencias e favoreciam a classe que beneficiava a eles mesmos, sem levar em conta de que semeavam o descontentamento das massas trabalhadoras, que passaram a odiá-los. Assim bastou, pois, que alguns homens carismáticos e astutos se erguessem da massa proletária, fazendo-lhes promessas irrealizáveis em nome do socialismo, para que todos aqueles descontentes, todos aqueles oprimidos se agrupassem na dita bandeira vermelha, já que tanto bem lhes prometia e tantas felicidades lhes aguardavam. Este foi o momento anterior a República. Ante o mal proceder das direitas, enganado pela propaganda das esquerdas, o país inteiro naufragou e viu o socialismo como a uma tábua de sal-

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vação onde ancorar-se, e por assim dizer, a carcomida e velha política, não resistiu ao ímpeto revolucionário, caiu desacreditada, terra abaixo sobre o peso de suas próprias culpas. Sobreveio a República, cheia de esperanças e alegrias. O católico acreditou, no que tantas vezes lhe foi prometido, que a religião seria respeitada. O industrial acreditou na diminuição das taxas de contribuição. O financeiro na revalorização da moeda e do crédito no estrangeiro. O trabalhador e o artesão em um salário justo e digno e o trabalhador do campo, paradoxalmente, sonhou com um pedaço de terra onde pudesse trabalhar independentemente, sem patrão algum. Mas se passaram dois anos e a decepção foi total. No princípio foi alegria, nos foi oferecida a liberdade tão falada e desejada, origem de tantas, polêmicas e de tantas lutas, mas a liberdade foi confundida com uma libertinagem vil e descarada, na qual diariamente se realizam ataques, crimes, assassinatos, incêndios e a destruição de tudo o que não estava de acordo com seus selvagens instintos... A Religião Católica será respeitada — nos diziam — e como resposta a esta promessa surgiu o artigo 26 da Constituição*, o Cardeal Segura foi exilado, houve a horrenda queima dos conventos, etc. Ficará impresso, a história catastrófica destes dois anos de vergonha, opróbio e abjecção da Espanha ante as nações civilizadas... Foram tantas as coisas que se nos ofereceram e tão poucas as que se cumpriram, que já quando se nos fala e se nos oferece, passamos a analisar e comparar as palavras e os feitos do orador; e ao notar a diferença que existe entre ambas as coisas, olhamos com desprezo a quem é tão ousado e tão atrevido, que mesmo caído abaixo pelo peso de suas culpas, ainda ousa sobre um palco pregar a felicidade de todo o que lhe segue. Foram suficientes dois anos e meio para conhecer o fracasso de toda a política esquerdista; dois anos onde nada melhorou, nem o rico, nem a classe média, nem o pobre. Isto é, há um setor da sociedade muito mais beneficiado do que no regime burguês: O dos burocratas. A enorme praga de burocracia, aumentou consideravelmente em todas as instituições oficiais, em todos os Ministérios, no Judiciário, nos Institutos de Reforma Agrária... *Os artigos 26 e 27 da Constituição espanhola de 1931, versavam sobre a questão religiosa. Estabeleciam a dissolução das congregações religiosas, a proibição expressa de ajuda econômica às confissões religiosas por parte do Es-tado, a sumária dissolução da Companhia de Jesus, bens religiosos foram confis-cados e a exclusão do ensino religioso.

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Agora que se ofuscou a luz da “ditosa” reforma inaplicável é se indaga: Onde está a independência e a felicidade do trabalhador do campo da Reforma Agraria? Certamente, eu não a encontro, não concebo que a um homem seja dado um pedaço de terra, da qual não será proprietário, mas sim um assentado, que ao fim do ano, trimestre ou semestre, tem que pagar um alto imposto de arrendamento ao Estado. Eu não vejo tão clara essa felicidade, porque que diferença faz ao trabalhador que seu patrão seja um particular ou que seja o Estado? Quer dizer: não é igual, porque o particular pode ser bom ou mau. Numa situação de escassez, ou diante de alguma desgraça, o trabalhador pode suplicar ao particular para que abaixe o valor do arrendamento, lhe dê um prazo para o pagamento, etc.; mas ao Estado representado por um juiz ou um agente executivo, não tem como fazer negociação, se não pagar pontualmente, o Estado confisca ou hipoteca. Que independência é esta, que ao invés de ser o patrão o Dom Fulano ou Dom Beltrano, o patrão é o Grande Senhor Estado? Que dispõe de juízes que podem embargar (Apreender judicialmente os bens do suposto devedor) se não lhe for pago como pontualidade e exatidão, e de guardas com baionetas, para reprimir o desacato em caso de descumprimento... Estamos no período eleitoral; todos os partidos estão mobilizados e a propaganda varia; se trata do direito ao sufrágio que tem todo espanhol maior de 23 anos, bem como o direito de ser livre e sem coação alguma: A Democracia, é uma tese fundada na liberdade de consciência. Contudo, sem receio algum, tanto Lerroux, quanto Prieto, andam dizendo que se forem derrotados, a reação será a guerra civil. Acrescentam que a direita não será vitoriosa, ainda que o povo soberano, o mesmo povo que elegeu a República e derrubou a Monarquia se manifeste a favor deste setor político, desta grande massa nacional que nasceu das ruinas de troncos caídos, a sombra de único tronco são que restava, o estandarte da Cruz; que é a mais genuína representação de toda a tradição e a história gloriosa de nossa pátria, a única esperança de salvação para aqueles que guardam e preferem os santos ideais da Religião, Pátria, Família, Ordem, Trabalho e Propriedade. A guerra civil, o votar nas esquerdas é o problema que recai sobre nós. Um atraso com todas as características. Pois bem; nós em uso de nosso direito de cidadãos, temos que manifestar em 19 de novembro, como outros fizeram em 23 de abril, nossa opinião nas urnas, ainda que o infeliz senhor Azaña nos atribua frases de mal gosto, nos veem como um

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“Burgo Podrido”*... O que dizem não nos intimida, não nos assustam as suas presunções, mas ao contrário, nos recordam uma passagem da infância, quando nos diziam para nos assustar: “Dome criança, se não a Cuca vem buscar”. Mulheres espanholas! Esposas amantes de vosso lugar! Se discute a essência e a unidade da indissolubilidade de matrimonio; está em perigo a educação católica de vossos filhos; querem fazê-los escravos de seus loucos desejos, permitir o impuro capricho de homens e mulheres se divorciarem e em qualquer momento de mal humor. Vós que trazeis em vossas veias o sangue místico de Santa de Teresa de Jesus e da heroica e alegre Agustina de Aragón, não se acovardem ante as ameaças, defendam a educação de vossos filhos e o direito que sejam vossos somente, sem intervenção nenhuma do Estado. Quem os velou nas noites amargas de enfermidade junto a cabeceira de suas camas? Quem lhes proporcionou roupas e fraldas para resguardá-los do frio? Quem observou se isto ou aquilo poderia prejudicar a sua saúde? Quem lhes colocou em seu peito e entre caricias e beijos lhe proporcionou risadas? Foram vocês! Foram os seus esposos! Foi o matrimônio unido e, íntimo sentimento de amor ao recém-nascido, a carne de sua carne e sangue de seu sangue; aí o Estado não pôs nada, e, portanto, nada lhe pertence; e se os pais velaram pela sua saúde do corpo, a eles compete preparar as suas almas por meio da educação cristã. Privar-lhes deste direito é roubar-lhes algo que as mulheres católicas e espanholas não estão dispostas a conceder. Homens! Trabalhadores que vocês são brinquedos, seduzidos pelas promessas que foram feitas, são os mais elogiados nos comícios, e os mais desprezados nas sociedade: Reflitam sobre o momento atual, avaliem os feitos dos dois anos realizados pelos dirigentes do partido dos trabalhadores, e verão que a cada dia há menos trabalho e menos capital, e compreenderão que o trabalhador e o patrão, devem ser sócios de uma companhia na qual um aporta seu esforço manual e o outro seu dinheiro e sua inteligência, que os benefícios da dita sociedade, devem ser proporcionalmente repartidos segundo a colaboração de cada qual. É preciso aspirar por uma sociedade fundada na ordem e na justiça, sem a constante agitação atual, sem a funesta luta de classes, que põe frente a frente a seres humanos com um antagonismo fratricida pelo mero fato de estarem em posições diferentes. Quando o trabalhador tiver um trabalho diário, numa jornada justa e que o seu esforço seja recompensado, de modo que possa levar o necessário à sua esposa e a seus filhos, não precisará da luta de classes, nem do socialismo, nem de nada...

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E para terminar, tenho a honra de apresentá-los ao Sr. José Tomás Valverde, candidato independente pela coalizão de direitas de Córdoba, homem que tem todos seus méritos reflexados na sina cruel com que se lhe persegue. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça. Em continuação fará uso da palavra o Sr. José Medina, ilustre advogado e destacado jornalista, também candidato pela Ação Católica e que me está reprovando por dizer estas palavras, ofendendo a sua modéstia. E por último, para encerrar com chave de ouro este ato, o Sr. Antonio Royo Villanova, implacável defensor da unidade nacional, ante o desmembramento dela pelo Estatuto Catalão, que com sua fina eloquência e peculiar gracejo, semeará uma esperança frutífera em vossos corações, com todas as verdades que sua nobreza é capaz de prodigar. “Burgo podrido” é um conceito aplicável a circunscrição eleitoral de pouca população, a qual o sistema eleitoral outorga valor igual à que possui muitos eleitores. Produzindo assim, uma grande distorção na representação, e propiciando a fraude eleitoral. O rapaz de 18 anos, deixou todos os oradores que lhe sucederiam, perplexos e atônitos, em seus discursos disseram que após as palavras do jovem Bartolomé não tinham nada a acrescentar. Em janeiro de 1934, participou de um curso para trabalhadores no Instituto Social de Madrid, a sua participação foi facilitada pelo bispo Angel Herrera Oria, que no futuro seria cardeal da Santa Igreja. Na companhia de um amigo, o curso lhe permitiu conhecer diferentes organizações de trabalhadores católicos, em vários países, dentre eles, a França, a Bélgica e a Holanda. Ao regressar, entre julho de 1934 e novembro de 1935, o jovem líder católico fundou oito sindicatos no estado de Córdoba. Eram sindicatos de homens que verdadeiramente trabalhavam e buscavam condições dignas, eram justos e tinham valores, o que não se confunde com os sindicatos de caráter marxista, que são formados por ideais destrutivos e imorais, que falsamente dizem buscar uma sociedade justa, igualitária e fraterna, mas na verdade almejam veementemente a implantação da ditadura do proletariado, onde não existe nenhum tipo de liberdade. Uma ditadura sanguinária onde a vida é destruída sumariamente sem nenhum escrúpulo ou traço de compaixão.

Guerra Civil Espanhola Em 1936, eclodiu a guerra civil espanhola e com ela o violento anticlericalismo de esquerda. Os anarquistas e os socialistas marxistas declararam a des-

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truição da Igreja Católica na Espanha. Anos antes, em 14 de outubro de 1931, no jornal “El Sol”, o então primeiro-ministro Azaña equiparara a proclamação da República com o fim da Espanha católica, e durante a Guerra Civil, como Presidente da República, teria dito num de seus discursos, que preferia ver todas as igrejas de Espanha incendiadas a ver uma só cabeça republicana ferida. O radical catalão Alejandro Leroux conclamou a juventude a destruir igrejas, aniquilar qualquer símbolo religioso, imagens sacras e a rasgar os véus das noviças e freiras. Incentivou ainda o estupro das religiosas consagradas, nas suas palavras “elevando-as à condição de mães”. Em janeiro de 1936, o presidente dissolveu as Cortes. Dias depois, o líder da esquerda espanhola, Largo Caballero, afirmou que a implantação do marxismo era solução para a Espanha. No mês seguinte, as eleições mostraram que a direita espanhola e a Frente Popular – uma coligação de esquerda que reunia comunistas, socialistas e anarquistas – estavam praticamente empatadas revelando a profunda divisão que se encontrava a sociedade espanhola. A Frente Popular assumiu o governo sem a devida prudência que evitaria aprofundar o racha entre os espanhóis. Em março, alguns generais se reuniram em Madrid e avisaram que interviriam se o governo não contivesse as desordens, se ameaçasse implantar o marxismo e se Largo Caballero, conhecido como o “Lênin espanhol”, fosse nomeado primeiro-ministro. (CASTELLANI) Naquele mesmo dia, cinco igrejas, um convento, um seminário e uma escola católica foram incendiados em Cádis. Outras tantas igrejas e casas paroquiais foram saqueadas. Aconteceram vários atentados contra a vida dos sacerdotes. Outros foram ameaçados, presos e expulsos de suas casas. Imóveis eclesiásticos foram desapropriados por autoridades locais e em muitas localidades houve limitações ao culto, proibição de procissões e outras manifestações religiosas. Cemitérios e sepulturas foram violados. Igrejas eram invadidas e tinham seus objetos e as hóstias profanadas. Para fomentar o ódio, acusações infundadas eram levantadas contra a Igreja, como a que, em 14 de maio, correu por Madrid: as religiosas salesianas estavam distribuindo caramelos envenenados às crianças. Incitada pelos radicais de esquerda e maçons, a turba enfurecida ateou fogo ao colégio e feriu gravemente as religiosas (ORTÍ, 1995, pp. 72-73). Milicianos patrulhavam as ruas e pessoas eram detidas simplesmente porque carregavam alguma medalha religiosa ou crucifixo no pescoço. Clérigos e leigos fugiam da zona republicana atravessando a fronteira com a França ou refugiavam-se em embaixadas (ROYAL, 2001, p. 146). Em 13 de junho de 1936, o líder da direita, Calvo Sotelo foi assassinado. Dia 18 de junho, os generais decidiram organizar um golpe de Estado e, sob o comando do general Francisco Franco, os militares e nacionalistas puseram-se em marcha (ROYAL, 2001, p. 149).

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“Pesava sobre a Espanha a terrível ameaça de uma revolução comunista, com a qual se pretendia, barbaramente, fazer de nosso povo escravo da Rússia”. (Lecciones de Formación del Espíritu Nacional) A ameaça da revolução comunista e a violência imperante tornaram inevitável a insurgência contra a tirania e o golpe marxista, que ficou conhecida como Alzamiento, e com ela tinha início a guerra civil espanhola, trazendo também um massacre de católicos jamais visto na história da Europa. À medida que Franco e seus comandados ganhavam terreno, a Espanha se dividia entre duas zonas: nacionalista e republicana. A repressão política se deu nas duas zonas e em ambas houve abusos e crueldades. Todavia, apenas na zona republicana explodiu a perseguição religiosa, já esboçada desde a fundação da República, em toda a sua fúria. A Igreja Católica foi logo acusada de fomentar e apoiar os nacionalistas, ainda que jamais tivesse se pronunciado contra a forma republicana de governo e a declaração da hierarquia católica em apoio ao general Franco ocorreu somente um ano após o início da guerra, não sem motivos óbvios, posto que a Igreja Católica, após anos de limitações, afrontas e assassinatos de seus membros, na zona nacionalista era respeitada e protegida. Redondo (1993, p. 19) contundentemente afirma: assim que chegou a Madrid a notícia do Alzamiento, igrejas e conventos foram incendiados e alguns jovens da Ação Católica foram assassinados enquanto tentavam salvar os templos. O assassinato em massa de católicos não teve outro motivo senão o simples fato de pertencerem à Igreja Católica. Os republicanos negaram que havia perseguição religiosa na zona que governavam alegando que os milhares de assassinatos de padres, religiosos, religiosas e leigos foram “acidentais” ou porque eram “fascistas”. Apenas na segunda quinzena do mês de julho, foram mortos 124 padres, 12 freiras e 24 leigos em Madrid, 197 padres e três carmelitas em Barcelona, 14 seminaristas em Lérida e o bispo de Sigüenza (ROYAL, 2001, pp. 152-153). Em todas as dioceses espanholas, igrejas foram parcial ou totalmente destruídas, profanadas e saqueadas, tendo seus objetos litúrgicos roubados ou destruídos. Os líderes republicanos incitavam os milicianos a destruírem as igrejas mesmo que se encontrassem diante de obras arquitetônicas e monumentos históricos. (ORTÍ, 1990, pp. 240-241) Neste contexto se explica os fatos violentos e sacrílegos tão graves como a profanação direta da sagrada Eucaristia, realizada de mil formas: esvaziando os sacrários, destruindo os objetos consagrados, alvejando o Santíssimo Sacramento, comendo sacrilegamente o que tinha nos vasos sagrados e bebendo utilizando-se dos cálices, jogando e pisoteando pelas ruas as sagradas hóstias, con-

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vertendo as igrejas em quadras e os altares em cocheiras para animais (ORTÍ, 1995, p. 84). O que causava dor imensurável aos cristãos, por verem os objetos sagrados com tanta violência e furor serem ultrajados e vilipendiados. Em toda a zona republicana, o culto público esteve proibido durante quase três anos. Nenhum templo permaneceu aberto e nenhuma cerimônia religiosa pode ser celebrada. Somente ao final da guerra, em Barcelona, existiu uma relativa tolerância para os atos religiosos privados e se permitiu a celebração pelas ruas de um funeral, com sacerdotes e cruz alçada, que serviu para que a propaganda republicana difundisse fotografias fazendo crer a existência de uma liberdade religiosa que, na realidade, nunca houve. A Igreja não existiu oficialmente no território republicano a partir de 18 de julho de 1936 até o final da guerra, mas se organizou clandestinamente. Os eclesiásticos foram assassinados simplesmente pelo que eram: os bispos de Almería, Guadix e Teruel, porque eram pastores da Igreja; as carmelitas de Guadalajara e as Irmãs da Doutrina Cristã de Mislata (Valência), porque eram freiras; e os passionistas, os claretianos, os Irmãos de São João de Deus, de La Salle, os escolápios, os marianistas e os Operários Diocesanos, porque eram sacerdotes e frades. O mesmo deve ser dito do engenheiro Vicente Vilar, de Manises (Valência), assassinado porque era um católico militante e um fervoroso filho da Igreja. Nenhum destes esteve jamais implicado em lutas políticas nem intervieram nelas (ORTÍ, 1995, p. 29). Os católicos eram submetidos a todos os tipos de torturas psicológicas e físicas, mutilações e insultos. Numa reedição dos espetáculos romanos, padres e religiosos eram jogados nas arenas para serem mortos por animais, os assassinos cortavam as orelhas dos sacerdotes e as exibiam como troféus, muitos eram obrigados a engolir terços e crucifixos ou eram-lhes introduzidos nos ouvidos até que o tímpano fosse perfurado. Cemitérios foram profanados e os corpos de padres e freiras eram expostos nas ruas com escárnio (THOMAS, 1964, p. 272). Padres, religiosos e religiosas eram arrastados para fora de hospitais, seminários e escolas, sendo que, muitas vezes, professores foram executados com seus alunos. Padres e freiras eram torturados para que renunciassem à fé gritando “Viva o comunismo” em vez de “Viva Cristo Rei”, o lema dos católicos espanhóis, inspirados nos seus irmãos perseguidos do México. Freiras eram estupradas e sacerdotes, castrados. Todas as formas de tortura e de matar foram empregadas no trato com católicos, fossem leigos ou clérigos. Nem a crucificação foi descartada (ROYAL, 2001, pp. 154-156). Um dado mostra o desejo de ultrajar até os cadáveres dos sacerdotes, como afirma Corção (1972, p. 245): Os corpos dos religiosos eram cortados em pedaços e pendurados em frente aos açougues com os dizeres: “carne de porco”. Os revolucionários vermelhos utilizavam de grande criatividade ma-

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ligna para torturar e matar. Dentre as técnicas que desenvolveram, segundo Messori (2004, p. 45): “chegou-se ao extremo de recuperar barbáries cartaginesas como a de atar uma pessoa viva a um cadáver e deixá-los ao sol até ambos apodrecerem”. Padres, freiras e leigos eram assassinados em retaliação por alguma ação militar dos nacionalistas. Quando a cidade de Irún foi tomada, os republicanos executaram seis claretianos, em Barcelona. Em Madrid, vinte e três irmãs adoradoras foram fuziladas porque um miliciano republicano foi morto na rua do apartamento onde estavam refugiadas. (ROYAL, 2001, p. 159) A Guerra Civil Espanhola terminou em primeiro de abril de 1939, com a vitória dos nacionalistas liderados pelo general Francisco Franco, tendo um saldo assustador para a Igreja Católica na Espanha: entre sacerdotes, religiosas e religiosos, o número de mortos chegou em 6832, destes sendo treze bispos, 4184 padres diocesanos, 2365 religiosos, 283 religiosas e vários seminaristas. Para se ter uma ideia da dimensão do genocídio perpetrado na zona republicana, as dioceses de Barbastro, em Aragão, perdeu 123 dos seus 140 padres, ou seja, 88% do total do presbitério; de Barcelona, 279 (22% do total); de Valência, 327 (27% do total) e de Madrid-Alcalá, 1118 (30% do total) (ROYAL, 2001, p. 141). O vandalismo e barbárie contra os templos católicos, seus fiéis e os religiosos, era habitual desde o início da República. Nas situações em que um criminoso revolucionário, era detido, ainda que em flagrante delito, não respondia por pena alguma, visto que eram vistos como inocentes pelos tribunais. Nos quatro meses que precederam a guerra civil espanhola, 160 igrejas já tinham sido incendiadas e destruídas. Segundo o historiador Anthony Beevor, durante a guerra a assustadora quantia de 20.000 igrejas foram destruídas, e com elas, um vastíssimo acervo histórico e cultural, de obras de arte, imagens, objetos e vestes sacras. Este historiador afirma que na repressão para que se viabilizasse a II República, foram mortos 13 bispos, 4.184 padres seculares, 283 freiras, 2.365 monges e incontáveis leigos, fiéis católicos. O historiador Thomas Hugh afirmou categoricamente que “em nenhuma época da história da Europa, e provavelmente do mundo, manifestou-se um ódio tão apaixonado contra a religião”. É impossível calcular o número de leigos assassinados durante a perseguição, pois ainda não existem estatísticas confiáveis. Mas, afirma Ortí (1990, p. 234), que “foram provavelmente vários milhares, haja conta dos dados oferecidos em alguns martirológios diocesanos”. Um número incalculável de leigos foi morto por causa de sua ligação à religião, quer por serem frequentadores assíduos da igreja, quer por fazerem parte de organizações religiosas fraternas ou caritativas, quer por serem pais, mães, irmãos, irmãs ou amigos de membros do clero. Alguns foram mortos por

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ostentarem um símbolo exterior de fé, como uma medalha ou um escapulário. Outros foram mortos por praticarem atos de caridade, por darem refúgio a clérigos que tentavam escapar à fúria. É impossível determinar o número de leigos chacinados pela sua fé. (CASTELLANI) Sabendo que as perseguições e os inflamados discursos anticatólicos começaram juntamente com a República em 1931, Ortí (1995, p. 83) afirma que a grande maioria das mortes de sacerdotes e religiosos apenas teve motivações antirreligiosas, sem nenhum indício de motivação política e que as execuções em massa de católicos sem distinção de sexo, idade ou classe social demonstram que os assassinatos ocorreram fora de qualquer contexto político. Esse período sangrento da história espanhola ficou conhecido como o Terror Rojo ou Terror Vermelho. O historiador Stanley G. Payne, sem titubear diz que a perseguição aos cristãos espanhóis foi “a maior na Europa ocidental, mesmo comparada aos momentos mais duros da revolução francesa.” Igreja Católica Apostólica Romana, somente em 1° de julho de 1937, após a morte de uma multidão de católicos e a sumária destruição dos templos, por meio do episcopado espanhol, se posicionou contra as perseguições que sofreu pelos revolucionários marxistas. A declaração dos bispos foi vista como uma propaganda contra o governo. Um fato que gera perplexidade é que alguns bispos espanhóis, escreveram uma carta dez dias depois, na qual defendiam o governo e afirmava que a violência e perseguição só era sofrida, por causa da intransigência conservadora do clero espanhol e dos leigos liberais. Esses bispos traidores de Cristo argumentavam que a Constituição republicana de 1931 e todas as leis subsequentes haviam dirigido a história espanhola num rumo contrário à sua identidade nacional, fundada no catolicismo ou, nas palavras do Cardeal Pedro Segura y Sáenz: “na Espanha ou se é católico ou não se é nada.”

O Cerro de los Ángeles  A Colina dos Anjos é localizada no município de Getafe, aproximadamente 10 km ao sul de Madrid. Nela existe um santuário dedicado ao Sagrado Coração de Jesus. No local é contemplada uma estátua de Cristo que mede 11,5 metros, sobre um pedestal de 26 metros. O monumento primitivo, foi obra conjunta do arquiteto Carlos Maura Nadal e do escultor Aniceto Marinas e García, foi inaugurado solenemente em 30 de maio de 1919 pelo Rei Alfonso XIII. O santuário foi erguido no centro geográfico da Espanha, com o desejo de declarar que Cristo é o centro dessa pátria. No dia da inauguração, o povo espanhol, pelos lábios de seu monarca, se consagrou ao Sagrado Coração. Ele rezou ao Senhor: “Reine nos corações dos

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homens, nos seus lares, na inteligência dos sábios, nas aulas de exatas e humanas e em nossas leis e instituições”. A multidão de fiéis que acompanhou o ato aplaudiu com emoção. Durante a perseguição religiosa, o monumento foi destruído em 7 de agosto de 1936, na ocasião os soldados republicanos, anarquistas e comunistas dispararam sobre a estátua, à maneira de um pelotão de fuzilamento, realizando assim, a execução de Cristo na Espanha. Eles propositadamente escolheram a primeira sexta-feira do mês, pois tinham ciência de que este dia para os católicos é consagrado ao Sagrado Coração. Tinham o desejo de “executar” o Cristo, cruelmente, em uma data significativa, para gerar maior dor e impacto, agravando a proporção do vilipêndio. Após os tiros, o monumento foi dinamitado. A fotografia que registra o fuzilamento foi publicada no jornal londrino Daily Mail, com a legenda: “Vermelhos espanhóis em guerra com a religião”. Dias antes da destruição, em 23 de julho, logo após o início da Guerra Civil, cinco jovens foram assassinados enquanto tentavam defender o monumento, estes foram denunciados ao governo de praticar o “crime” de ir à Missa. Na tarde do sábado 18 de julho de 1936, aproximadamente trinta membros da Companhia de Obreiros de São José e do Sagrado Coração de Jesus, se dirigiram a colina dos Anjos, para fazer a costumeira vigília de adoração noturna ao Santíssimo Sacramento, primeiramente houve a celebração da Santa Missa e ao seu término, já durante a madrugada do domingo, dia 19, Fidel de Pablo García, que tinha 29 anos, membro da Ação Católica da Paróquia do Espírito Santo, dirigiu-se a Madrid, acompanhando o sacerdote que havia celebrado, Pe. José María Vegas Pérez, capelão do monumento ao Sagrado Coração de Jesus, como tam­bém a maioria dos participantes da celebração. Contudo, cinco deles ficaram junto ao monumento, acreditando que a chegada das tropas vermelhas seria iminente, e assim formaram uma “guarda de honra” ao Sagrado Coração de Jesus. Estes fieis fervorosos eram: Pedro-Justo Dorado Dellmans, de 31 anos; Fidel Barrios Muñoz, de 21 anos; Elías Requejo Sorondo, de 19 anos, marceneiro, membro da Juventude Católica da Paróquia do Espírito Santo; Blas Ciarreta Ibarrondo, 40 anos, casado com Ángela Pardo, esta que regressou a Madrid com o grupo. Blas era natural de Santurce (Vizcaya), e foi chefe da Guarda Municipal. Integrava ainda o grupo dos que permaneceram o jovem Vicente de Pablo García, de 19 anos, carpinteiro, também membro da Ação Católica. Irmão de Fidel, que acompanhou o sacerdote até Madrid.

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Eles rapazes ficaram sozinhos na colina. Pouco tempo depois, foram abordados pelos milicianos, que lhes inspecionaram. Todavia, conseguiram escapar, mas passaram a ser considerados foragidos. Os jovens encontraram um esconderijo na fazenda “las Zorreras” próxima ao povoado de Perales del Río. Deram todo o dinheiro que tinham aos criados da fazenda, para que lhes dessem de comer. Quando não tinham mais, prometeram-lhes que seriam ressarcidos pelas despesas alimentícias e ainda recompensas pela hospedagem. Na manhã de 23 de julho, foram ao povoado de Perales del Río, à uma casa de um amigo, para tomar café da manhã. Os rapazes como faziam sempre, antes da refeição, fizeram o sinal da cruz, que, não passou despercebido a algumas pessoas que também estavam na casa. Aquele gesto era uma prova inequívoca que aqueles jovens eram os católicos procurados. Dessa forma, ao traçarem sobre si o sinal da redenção, rubricaram a sua sentença de morte. (FUENTE, E., “Paúles e Hijas de la Caridad Mártires”, 1936, Madrid, 1942, pp. 19, 21, 23) Existem relatos nos arquivos da paróquia de Perales del Río, que os jovens além de “Bendizer ao Senhor” após a refeição, receitaram na casa que os acolheu, a oração do Rosário. Acredita-se que foram denunciados por alguém que estava na residência onde tomaram o desjejum, ou ainda pelo gerente da fazenda, chamado Honorato Pérez, pois nesta mesma manhã, quando os soldados vermelhos chegaram para prender os cinco católicos, a sua mulher e filhos, os abraçaram com entusiasmo e intimidade. Os milicianos os conduziram até a colina dos Anjos, fazendo com que passassem por duríssimas humilhações e sofrimentos, foram torturados, até que puderam rever o monumento do Sagrado Coração de Jesus, que ainda estava de pé, e parecia dar-lhes a sua benção. Neste local foram fuzilados e sob a imagem de Cristo, seus corpos permaneceram jogados ao chão por vinte e quatro horas. Mesmo jorrando sangue de suas bocas, eles davam vivas a Cristo Rei, até morrerem. O que imensamente enfureceu os soldados, que em seguida, nesta mesma manhã, de 23 de julho de 1936, saquearam a igreja, destruíram as imagens e todos os ornamentos. Logo depois, incendiaram o templo. (...) Um dos jovens martirizado, morreu com os braços abertos em forma de cruz. O seu corpo nesta posição caiu e permaneceu ao chão. Quando os seus familiares foram preparar o funeral, precisaram quebrar-lhe os braços para que pudesse ser co-

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locado no caixão. (Arquivo da paróquia de Perales del Río, Arquidiocese de Madrid) Tanto o sacerdote que havia celebrado a Missa naquela última vigília no­turna de oração, quanto o jovem Fidel de Pablo, que lhe acompanhou a Madrid, foram posteriormente assassinados. Não existem muitos detalhes sobre o martírio destes. Sabe-se que Fidel de Pablo, no dia 26 de agosto de 1936, foi detido pelos soldados do partido comunista, que lhe levaram a um tribunal improvisado. No qual foi condenado por ser um idealista católico, ficou preso até o dia 08 de setembro, data na qual foi fuzilado, no quilometro 7 de “la Carretera de Valencia”, na cidade de Vallecas. Já o Pe. José María Vegas Pérez, foi morto em 27 de novembro do mesmo ano. Os revolucionários matavam famílias inteiras, unicamente por terem fé. Muitas vezes para torturar infinitamente, matavam o filho, na frente do pai e da mãe, um irmão na frente do outro a esposa na frente do esposo. Outra sangria realizada pelos revolucionários antirreligiosos, realizou-se na noite do dia 4 e nas primeiras horas do dia 5 de outubro de 1936, na cidade de Getafe. Os comunistas torturaram e executaram dez jovens membros da Ação Católica da Paróquia de Santa Maria Madalena. Os membros desse nobre grupo assumiam posição política de direita. O jovem Juan Benavente Butragueño, de 24 anos, presidente da Ação Católica foi o primeiro a ser exterminado a tiros. Os seus cadáveres foram deixados na rua em total desprezo, ao serem encontrados por populares, foram recolhidos e levados para o necrotério da Rua Santa Isabel, em Madrid, após a devida identificação foram transladados de volta para Getafe, onde foram sepultados. Por fim, cumpre destacar que o monumento foi reconstruído em 1944, da obra original restam poucas características. A escultura mudou bastante, no entanto, nunca mudou no duplo objetivo pelo qual foi construida: confiar no dom da misericórdia de Deus manifestado em Jesus Cristo, e renovar a vida cristã, mediante a adesão viva e cordial a Ele, que através da Igreja, faz ressoar na humanidade a sua voz que diz: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba “

Destruição da imagem da Virgem de Luna Logo no início da guerra civil, Bartolomé passou a prestar o serviço militar na cidade de Cádiz. Recebeu a licença de uma semana e assim retornou a Pozoblanco. Ficou consternado ao saber que a imagem da Virgem de Luna, foi destruída, quando se encontrava na localidade de Villanueva de Córdoba.

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A imagem tinha um grande valor histórico e devocional. Inspirada na pequena imagem encontrada pelo pastorzinho, a Sra. Marta Peralbo, em 1678, encomendou ao mestre entalhador Alonso Sanchez de Medina, que esculpisse uma grande imagem da Virgem de Luna. A imagem custou na época a quantia de 300 ducados. A senhora Peralbo, incentivou o seu irmão, o Pe. Alonso Martin de Villaseca, a construir nesse mesmo período uma pequena capela (ermida) onde a imagem foi entronizada. Ao longo dos séculos a devoção cresceu vertiginosamente. A imagem de Nossa Senhora de Luna portou diferentes trajes e joias, fruto da generosidade de seus devotos. Os documentos históricos mostram doações realizadas desde o ano de 1595, onde foi ofertado um valioso anel. Os tecidos que cobrem a imagem, são bordados finíssimos e nobres, que igualmente são oferecidos pelos fiéis. Os pozoalbenses sempre contaram coma sua proteção maternal, nos momentos de dificuldades ou perigos. Nas situações de escassez de chuva e da manifestação de epidemias. “Dentro do coração do povo muito mais que um santuário ou imagem célebre e histórica, existe uma mãe, mestra e advogava, formosa como a lua, que por meio de sua intercessão tem obtido muitos benefícios da Misericórdia Divina.” Afirmou o Vigário Bartolomé Herruzo, em seus escritos no final do século XVIII. A destruição dessa imagem fez com que Bartolomé Blanco derramasse copiosas lágrimas. Recordou o poema que piedosamente escreveu em sua honra, e foi publicado em “El cronista del Valle” em 18/2/1933: “Salve ó bendita Virgem de Luna! Perdoe-me se a minha pobre lira, rasgando o céu, quer subir a tua imensa altura. Pelo suave vento empurrado, impelido pela brisa fresca do nevoeiro, ressoa o meu canto unido ao dos querubins, que exalta a tua pureza e formosura. Entre nuvens mais brancas, de leve firmeza, teu trono se levanta, És tão bela, que me deslumbra e a minha lira se emudece. Foge do meu pensamento, a inspiração, quando tento fazer alusão a tua beleza, Mas o carinho e devoção que tenho por ti, me ajudarão a cantar a tua grandeza.

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Na tua fronte é real a pureza, ostentas em tua cabeça a coroa de Rainha, de brancura impoluta. Tua face é sol, que resplandece mais do que o sol. Tua luz vivíssima de fulgor sem igual, plena de claridade e vida extasia todo o Valle. Em carinho, foste nomeada a advogada e mãe, deste povo, que te venera e confia. De joelhos, prostrado aos vossos pés, quero acabar todas as notas de meu canto, elas serão a prolongação de meu choro. Virgem de Luna, carinhosa Mãe, volvei os vossos olhos aos vossos filhos que padecem de fome, e ao corpo e alma, dai-lhes alimento. Bartolomé” Em 1948, após a guerra civil, o artista valenciano Francisco Pablo, esculpiu uma nova imagem da Virgem de Luna, em madeira semelhante a original. Os restos de madeira da imagem antiga foram recuperados e examinados, umas das mãos foi encontrada intacta. Anualmente a imagem é levada em peregrinação até as cidades de Pozoblanco e Villanueva, durante todo o resto do ano permanece no santuário.

Detenção e martírio Em sua cidade natal foi encarcerado em 18 de agosto de 1936. Sobre ele pesava a acusação de ”ser um líder católico” No dia 24 de setembro foi transladado ao cárcere de Jaén, onde estavam detidos quinze sacerdotes e vários outros leigos. No dia 29, realizou-se o julgamento, pelo qual foi condenado a morte. No julgamento, não teve o auxílio de advogado, ele mesmo apresentou os seus argumentos com firmeza e grande eloquência. Afirmou com clareza que jamais negaria Jesus Cristo e a sua fé católica. Os julgadores ficaram admirados pela coragem do rapaz, ressaltaram que ele tinha várias competências pessoais, que seriam válidas para o governo, e bastava que renegasse as suas convicções religiosas, sob a pena de ser morto. Ele corajosamente, com uma fé inquebrável reiterou que jamais trairia o seu Senhor e ressaltou que se continuasse vivo continuaria a sua missão no corpo místico de Cristo, a Igreja. Na manhã do dia 2 de outubro, antes de ser levado ao local da execução, fez questão de tirar os sapatos, queria “ir como Cristo foi para o Calvário”. Em seguida beijou suas algemas, o que causou surpresa ao guarda que as colocou.

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Os seus algozes então, vieram vendá-lo, para em seguida proceder com o fuzilamento. Ele não permitiu. Mandaram-lhe virar de costas, para que não tivesse que enfrentar os seus assassinos. Igualmente não aceitou, afirmando em voz alta: „Quem morre por Cristo, deve fazê-lo de frente e com o peito descoberto. Viva Cristo Rei!”, em seguida seu corpo caiu ao chão alvejado por uma infinidade de balas. Sua idade era 21 anos. Na véspera da sua morte, dignou-se a escrever duas cartas, uma para a sua noiva Maruja, e a outra para sua família (tias e primos). Registrou nesses escritos o seu legado de amor e o seu avassalador testemunho de fé, capaz de tocar os corações mais duros.

Carta de amor à noiva Prisão Provincial. Jaén, 1º de outubro de 1936. Maruja da minha alma: A sua lembrança me acompanhará até o túmulo e enquanto houver batimentos em meu coração, este palpitará de carinho por ti. Deus enobreceu os nossos sentimentos, ainda que terrestres, pois nos amamos nele. Por isso, mesmo estando em meus últimos dias, nos quais Deus é o meu maior desejo e o fogo que me anima, a tua lembrança me acompanhará até a hora da morte. Estou assistido por muitos sacerdotes que, qual bondoso bálsamo, vão derramando os tesouros da Graça dentro de minha alma, fortificando-a. Enfrento a morte de cabeça erguida e verdadeiramente sem nenhum temor. Minha sentença no tribunal dos homens será minha maior defesa ante o Tribunal de Deus; eles, ao querer me denegrir, enobreceram-me; ao querer me sentenciar, têm-me absolvido, e ao tentar me perder, salvaram-me. Entende-me? Está claro! Posto que ao me matar me dão a verdadeira vida e ao me condenar por defender sempre os altos ideais de Religião, Pátria e Família, abrem-me de par em par as portas dos céus. Meus restos serão colocados no cemitério de Jaén. Faltam poucas horas para o definitivo repouso, só quero pedir-te uma coisa: que em lembrança do amor que nós tivemos, e que neste instante se acrescenta, atenda como objetivo principal à salvação de sua alma, porque dessa maneira conseguiremos nos unir no céu para toda a eternidade, onde nada nos separará. Até então, pois, Maruja de minha alma! Não esqueça que do céu olharei por ti, e procura ser modelo de mulher cristã,

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pois ao final da partida, de nada servem os bens e gozos terrestres, se não acertarmos a salvar a alma. Um pensamento de reconhecimento para toda sua família, e para ti todo meu amor sublimado nas horas da morte. Não me esqueça, minha Maruja, e que minha lembrança te sirva sempre para ter presente que existe outra vida melhor, e que o consegui-la deve ser a máxima aspiração. Sejas forte e refaz sua vida, é jovem e boa, e terá a ajuda de Deus que eu implorarei desde seu Reino. Até o céu, onde continuaremos nos amando pelos séculos dos séculos. Bartolomé.

Carta a suas tias e primos Prisão Provincial. Jaén, 1º de outubro de 1936. Queridas tias e primos: Estando faltando-me poucas horas para gozar da inefável felicidade dos bem-aventurados, quero dedicar-lhes uma última recordação por meio desta carta. Que morte tão doce a de ser perseguido pelo que é justo! Deus me fez favores que não mereço, proporcionando-me esta grande alegria de morrer por sua Graça. Eu já encomendei o meu caixão em uma funerária, por eles serei enterrado, mas pedi que lhes comuniquem o número do túmulo. Faço todas estas preparações com tranquilidade absoluta; isso só é possível por minhas convicções cristãs. Estou acompanhado de quinze sacerdotes, que adoçam os meus últimos momentos, com seus conselhos. Contemplo a morte de frente, e não me assusta, porque sei que o Tribunal de Deus jamais se equivoca e sei que invocando a Misericórdia Divina conseguirei o perdão de minhas culpas pelos merecimentos da Paixão de Cristo. Conheço todos os meus acusadores; chegará o dia em que vocês também os conhecerão, mas pelo meu comportamento vocês encontrarão o exemplo, não por minha causa, e sim porque muito próximo da morte me sinto também muito próximo a Deus, Nosso Senhor, e meu comportamento para com meus acusadores é de respeito, misericórdia e perdão. Esta é minha última vontade: perdão, perdão e perdão. Vivam a indul-

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gência, acompanhada pelo desejo de fazer todo o bem possível. Assim, peço-lhes que me vingueis com a vingança do cristão: devolvendo muito bem, aqueles que tentaram me fazer o mal. Se algum de meus trabalhos (fichas, documentos, artigos, etc.) interessar a alguém e puderem servir para a propagação do catolicismo, entregue-os e que sejam usados em proveito de nossa religião. Não posso dirigir-me a nenhum de vocês em particular, porque seria interminável. Em geral só quero que continuem como sempre: comportando-se como bons católicos. E sobre a minha afilhada tratem-na com o maior cuidado. Eduquem-na. Eu não cumprirei os deveres de padrinho na terra, serei seu padrinho no céu e implorarei para seja um exemplo de mulher de mulher católica e espanhola. Se for possível, quando as circunstâncias se normalizarem, façam o translado dos meus restos para junto dos da minha mãe. Se isso for um sacrifício muito grande, não façam. E nada mais. Parece-me que estou em uma de minhas frequentes viagens e espero encontrar-me com todos. O lugar para o qual embarcarei em breve é o céu. Neste lugar os espero e desde agora pedirei pela vossa salvação. Estou tranquilo e nestas minhas últimas horas, é absoluta a minha confiança em Deus. Até o céu! Abraço-lhes! Bartolomé.

Beatificação Em 11 de maio de 2001, o Papa João Paulo II beatificou 233 vítimas das perseguições religiosas da Espanha. Em 28 de outubro de 2007, outros 498 mártires foram proclamados beatos pelo Papa Bento XVI, dentre eles estava o jovem Bartolomé Blanco Márquez, ele foi colocado no grupo dos 63 mártires da Família Salesiana. Foi a maior cerimônia de beatificação da história da Igreja Católica. O Romano Pontífice, destacou a imensa importância do martírio como testemunho de fé numa sociedade secularizada.

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Na escola de Dom Fausto Tovar Ângulo, onde estudou.

Na fotografia, Bartolomé, o menino maior, já assumia algumas responsabilidades e era comumente chamado pelo seu professor de “capitão”.

Ismael Blanco Yun, o pai do jovem mártir espanhol.

Felisa Márquez Galán, mãe de Bartolomé Blanco.

Bartolomé na idade escolar.

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Ao trabalhar com dedicação na confecção de cadeiras.

A Virgem de Luna, Singela, Santa e Bela, a Virgem de Luna era a grande devoção do jovem Bartolomé, que costumava escrever-lhe poesias e compor canções.

Bartolomé reunido com os jovens da nobilíssima Ação Católica.

Bartolomé foi nomeado delegado dos sindicatos católicos, fundou 8 sindicatos entre julho de 1934 e novembro de 1935.

Igreja de Pozoblanco, onde desde criança Bartolomé aprendeu a amar Jesus Cristo.

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Cadáveres de religiosos e religiosas foram expostos nas escadarias das igrejas em todo o país. Foi levado ao cárcere de Jaén em 24 de setembro, acusado de ser cristão e de não negar o que chamavam de ideologia conservadora opressora.

Com os militantes da Ação Católica.

A jovem Maruja, noiva de Bartolomé, a ela escreveu uma comovente carta de despedida.

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Em 1933, seus restos mortais, foram transladados para Pozoblanco.

Cópia da carta de despedida na qual ele clama que não exista vingança, mas que exista o perdão.

A fortíssima imagem da intolerância religiosa e do ódio comunista ao Cristianismo: O monumento ao Sagrado Coração de Jesus é fuzilado pelos milicianos.

Os comunistas alardeavam nos cartazes a liberdade, mas na prática o Comunismo é absolutamente supressor de qualquer forma de liberdade. Os cartazes conclamavam que os trabalhadores, camponeses, soldados e intelectuais se unissem em função da revolução.

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F lor ent ino A s e n s i o O bispo mártir de Barbastro: pastor segundo o Coração de Jesus (1877-1936) “Que noite tão bela é esta para mim: vou à casa do Senhor!”

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ão muitíssimos os mártires cristãos que durante a Guerra Civil Espanhola, de 1936 a 1939, possuem histórias fantásticas de fidelidade e merecem ser estudadas pormenorizadamente, obviamente esse livro, não consegue apresentar todos esses testemunhos, o que muito gostaria de fazer. Assim, foi necessário escolher as histórias que seriam apresentadas, estas apesar de serem demasiadamente chocantes, expressam bem o que se viveu no conflito hispânico. Muito mais do que relatos de atos violentos, elas são a narrativa da oferta de vida de pessoas que fizeram de seu existir um incenso que em suave odor sob ao céu. O Bispo de Barbastro, um pastor segundo o Coração de Jesus, permaneceu junto as suas ovelhas mesmo na duríssima perseguição, recebeu com elas a palma do martírio. Pode-se afirmar, em alusão ao discurso do Papa Francisco, que era um pastor que tinha o cheiro das ovelhas, e nesse caso em específico, esse cheiro era o do incenso que faz subir até o Senhor a oferta. Suas vidas eram a oblação. Na guerra entre os civis espanhóis, as esquerdas, obedeciam diretamente às determinações do Comitê Internacional Comunista, controlado pela URSS, sob o seu comando uniram-se aos democratas e liberais radicais, formando a Frente Popular, com o objetivo de unir forças e potencializar a quantidade de eleitores. Na época, as esquerdas espanholas eram compostas por um grande número de organizações e partidos. Destacavam-se o PSOE (Partido Socialista Obreiro Espanhol), PCE (Partido Comunista Espanhol), UGT (União Geral dos Trabalhadores), CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores), FAI (Federação Anarquista Ibérica) e ainda o POUM (Partido Obreiro da Unificação Marxista), este último era formado por comunistas-trotsquistas. Inspiravam-se na doutrina marxista sob a ótica dos escritos do revolucionário-político ucraniano Leon Trótski, consiste em uma teoria vermelha que se opõe a ideologia de Josef Stalin.

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Do outro lado, Franco e os nacionalistas conseguiram o apoio dos nazistas, que Madri e de Guernica, e ainda dos fascistas italianos, que enviaram aviões e tropas de infantaria. Em contrapartida, Stalin enviou uma grande quantidade de material bélico e estrategistas de guerra para articularem os republicanos. Observou-se ainda um imenso engajamento de milhares de voluntários esquerdistas e comunistas de mais de 53 nacionalidades que formaram o exército vermelho. Estima-se que existiam mais de 38 mil homens. Os esquerdistas da Frente Popular que formavam o Governo Republicano, se opunham as forças nacionalistas e afirmavam que era necessário aniquilar violentamente as instituições tradicionais da Espanha, o Exército, o Latifúndio, a Família e a Igreja, esta foi a que mais sofreu, pois, a maioria dos seus membros não possuía meios de legítima defesa, não havia entre os católicos, habilidades para a luta e armas, diferentemente do que ocorreu no México, na Revolução Cristera. Os católicos espanhóis, enfrentaram o ódio comunista, com a arma do amor e da fé, não calaram, enfrentaram o furor vermelho, no entanto, não houve resistência. Como já foi dito, os templos, imagens, objetos religiosos e o patrimônio histórico foi destruído, porém pior ainda foi a destruição da vida de incontáveis fiéis. A ação dos comunistas foi devastadora. Não se contentavam em destruir e queimar as igrejas ou matar os católicos, tinham o prazer de humilhá-los, fazê-los passar por situações ridículas e vexatórias, tinham em suas ações os requintes das mais perversas crueldades. O ódio do Comunismo, contra Cristo e a Igreja era (e contina a ser) estarrecedor. O próprio Lênin indicou qual a ação que levaria os cristãos ao ateísmo, muito mais rapidamente que todos os discursos sobre o ateísmo: A educação ateia quanto mais cedo possível. Falando de Engles, Lênin dizia ainda, e sempre com a mesma franqueza: “Ele exigia que o partido trabalhasse pacientemente na obra de organização e de educação do proletariado, obra que terá como resultado o desaparecimento da religião”. Era necessário educar contra a fé cristã e criar uma nova fé, a fé comunista, que teria como consequência direta o desaparecimento da religião e o ateísmo. Essas metas foram explícitas com clareza no “Cahiers du Communisme” (Catecismo Comunista) O comunismo tende para o desaparecimento progressivo e total ela religião, especialmente do catolicismo. Segundo a palavra de Marx, tende para “a supressão positiva da religião”. Por três razões principais: 1- Considerando a teoria da origem da religião e da alienação religiosa: sendo a alienação religiosa um produto necessário do capitalismo e estando ligada a alienação econômica e social, a religião deve desa-

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parecer com a supressão do regime capitalista. É preciso combatê-la, porque é um obstáculo a esta transformação revolucionária. 2- Porque o humanismo comunista, para o qual o ateísmo é absolutamente essencial, afirma que o homem é para o homem o valor supremo e que não há lugar para Deus na sociedade comunista. 3- Porque o comunismo se apresenta como um sistema totalitário, que aspira dar à humanidade uma explicação total do universo e toda história, e fazer penetrar o seu materialismo ateu em todos os domínios da vida dos homens. (GUERRY, 1960, p. 49) (Grifou-se) Stalin pouco escreveu sobre a religião. Mas os jornais oficiais do parado encarregaram-se de tornar conhecido o seu pensamento. Consta no jornal o “Pravda” de 21/06/1935 as palavras de ordem do ditador: “Nada de neutralidade perante a religião. O partido comunista tem de continuar a travar uma guerra sem desfalecimentos contra os eclesiásticos que ainda envenenam as massas trabalhadoras e contra os propagandistas dos absurdos religiosos”. Lênin, no pequeno livro “De la religion” (publicado nas edições da Petite Bibliotbéque Lenine, n.º 8, 1933) afirma: “A religião é uma espécie grosseira de aguardente espiritual na qual os escravos do capital afogam o seu Ser humano”. (p. 4) e ainda “Toda a ideia religiosa, toda a concepção de um Deus bom, todo o flirt com Deus, é uma abominação inominável”. (p. 59). Deste modo, para o comunismo destruir o Cristianismo é um dever, que deve ser feito como prioridade, os religiosos devem ser moral e fisicamente massacrados foi o que aconteceu com a Igreja diocesana de Barabastro e com algumas congregações religiosas como veremos a seguir.

O Bispo Florentino Florentino Asensio Barroso, nasceu em 16 de outubro de 1877, em Villasexmir, do partido judicial de Mota del Marqués, no arcebispado de Torrelobatón, na época Diocese de Palencia e hoje Arquidiocese de Valladolid. Aos três anos de idade, mudou-se com sua familia para Villavieja del Cerro. Muito cedo sentiu o chamado ao sacerdócio e com a colaboração do seu pároco, o padre Santiago Herrero iniciou a sua preparação para o ingresso no seminario diocesano. No seminário destacou por suas notas, mas principalmente pela honradez de suas condutas e muitas virtudes. Um de seus companheiros afirmou que via nele deste o tempo do seminário uma grande retidão no seu coração e um belo desejo de santidade. Foi ordenado padre em primeiro de junho de 1901, pela imposição das mãos do Bispo Cidad, auxiliar do cardeal Cascajares. Celebrou a

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sua primeira Missa solene em Villavieja. Foi a realização do seu maior sonho. Para a sua maior alegria, a cerimônia foi no dia 16 de junho, Festa do Sagrado Coração de Jesus, de quem era muito devoto. Quis a Providência de Deus que trinta e cinco anos mais tarde, retornasse a esta mesma igreja para presidir pela primeira vez a Santa Missa, já como bispo. Como sacerdote, seu primeiro trabalho pastoral foi de vigário coadjutor em Villaverde de Medina. Sobre sua atuação junto ao povo deste lugar o Pe. Norberto Iscar, o pároco: “Todos que lhe conheceram exaltam o seu caráter nobre e afável. Era um trabalhador incansável, sempre paciente, solicito com os paroquianos e tinha especial apreço por dar aulas de catecismo as crianças, jovens e adultos. Tinha a prática de visitar os enfermos, a quem consolava e fornecia algum medicamente, quando se fazia necessário. Implantou na paróquia o Apostolado da Oração, a Congregação das Filhas de Maria e ainda para ajudar os famintos a Obra dos Pães para os pobres”. Permaneceu em Villaverde, por pouco mais de um ano, quando o novo arcebispo, Dom Cos y Macholhe transferiram para a cidade de Pisuerga, onde ficou encarregado de cuidar dos arquivos episcopais. Em 13 de abril de 1903, vai para a cidade de Valladolid, onde passa a exercer a sua missão na paróquia de Santo Ildefonso e também junto as irmãs dos pobres, convento do qual foi capelão. Dois anos depois, em 2 de janeiro de 1905, o arcebispo, que tinha especial carinho por esse sacerdote, devido a sua impoluta moral e a competência com que desempenhava todas as suas tarefas, lhe designou para ser o seu secretário pessoal e capelão do palácio episcopal. Com isso passou a residir na sede da arquidiocese. Ele sofreu bastante, por ter que deixar as suas atividades pastorais, que eram intensas, ele gostava de estar no meio do povo, sendo sinal da presença de Deus, mas depois dessa nomeação, ele passaria longos 24 anos ininterruptos exercendo funções administrativas da Cúria Arquidiocesana e questões relacionadas a pessoa do Arcebispo. A sua grande alegria neste período era ser capelão do convento das Religiosas Servas de Jesus, onde com muita piedade, fervor, modéstia e assiduidade passava horas no confessionário, dedicava-se também a dar a catequese e formar espiritualmente as pessoas que frequentavam o convento. Gostava também de estar no Monastério das irmãs Huelgas Reales, nos dias em que o Pe. Florentino estava no Monastério, era necessário adiar a hora de fechar a igreja, porque havia muita gente para se confessar. Também frequentava o convento das Oblatas do Santíssimo Redentor e o hospital Santa Maria de Esgueva das Filhas da Caridade.

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Nos anos 1905 e 1906 obteve a licenciatura e o doutorado pela Universidade Pontifícia de Valladolid, que lhe habilitou também para exercer a docência na dita Universidade. Em 1916, passou a lecionar em seminários e universidades. No ano de 1918, o Dom Cos y Macho, o seu arcebispo, foi nomeado para ser cardeal e precisou ir a Roma, para então vestir a Sagrada Púrpura. O Pe. Florentino acompanhou o novo cardeal a Cidade Eterna, e teve a graça de conhecer o Papa São Pio X. No ano seguinte, o cardeal faleceu e a arquidiocese passou a ter como arcebispo o Dom Remigio Gandásegui, este nomeou o Pe. Florentino diretor espiritual e confessor do seminário. Existe um especial testemunho do cardeal primaz da Espanha, Dom González Martín, que foi seminarista, neste período: “Com frequência me confessava com ele duarante os meus estudos filosóficos, quando tinha de 15 a 17 anos. Tenho recordações dele como um sacerdote muito fervoroso, fino, espiritual e capaz de despertar em nós seminaristas, o desejo de ter as suas virtudes e uma vida santa”. No ano de 1925, passou a ser o pároco da catedral metropolitana, assumindo a sua jurisdição eclesiástica, englobando inúmeros trabalhos, desde os serviços inerentes a catedral, como também os serviços ordinários de culto, catequeses, visita aos enfermos e continuava a atender confissões. Diligente, atento e zeloso, passou dez anos, nesta função. Ele buscava agir em todas as coisas ouvindo o Sagrado Coração de Jesus.

A nomeação para bispo No dia 12 de outubro de 1935 foi chamado a cidade Ávila pelo Bispo Tedeschini, Núncio Apostólico na Espanha, para comunicar-lhe que a Santa Sede estava lhe propondo a ser bispo, sendo nomeado como Administrador Apostólico da Igreja de Barbastro, sede que estava vacante, desde a transferência do bispo redentorista Nicanor Mutiloa Irurita para a Diocese de Tarazona. Ao ouvir o núncio, ficou verdadeiramente surpreso e honrado, mas com sinceridade disse que não se achava digno de tamanha dignidade, resistiu ao máximo, conforme testemunhou o Dom Tedeschin. O Pe. Florentino Asensio Barroso, era obediente e continuou ouvindo o núncio; “Lhe chamei e expus a soberana vontade do santo Padre, que lhe destina a Barbastro”. Porém, o sacerdote insistiu que se achava indigno. O Núncio deu-lhe um prazo para que examinasse com mais cuidado a proposta e lembrou-lhe a eleição que Deus lhe fez e ainda a necessidade da Mae Igreja. Disse-lhe ao final algumas palavras duras: “Aceite o cargo ou serás considerado um filho rebelde da Santa Sé”. O sacerdote voltou a Valladolid, pensativo. Depois de rezar muito, desejando cumprir intei-

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ramente à vontade de Deus, escreveu uma carta ao Núncio, na qual por obediência, aceitou administrar apostolicamente a Igreja particular de Barbastro. Afirmou na carta que aceitava no desejo de fazer bem as almas e para a Glória de Deus, o seu Senhor e Rei da sua vida. Aquele que tem verdadeira e perfeita caridade em nada se busca a si mesmo, mas deseja que tudo se faça para a glória de Deus. De ninguém tem inveja, porque não deseja proveito algum pessoal, nem busca sua felicidade em si, mas procura sobre todas as coisas ter alegria e felicidade em Deus. Não atribui bem algum à criatura, mas refere tudo a Deus, como à fonte de que tudo procede, e em que, como em fim último, acham todos os santos o deleitoso repousar. Oh! Quem tivera só uma centelha de verdadeira caridade logo compreenderia a vaidade de todas as coisas terrenas! (Imitação da Cristo) Com muita beleza aconteceu a cerimônia religiosa na qual aconteceu a sua consagração episcopal, em 26 de janeiro de 1936. O arcebispo de Valadolid, Dom Gandásegui, foi o consagrante, os co-consagrantes foram Dom Manuel de Castro y Alonso (arcebispo de Burgos) e Dom Manuel Arce Ochotorena (Bispo de Zamora). Foi consagrado na época em que a Igreja da Espanha estava vivendo um tempo dificílimo. A cada instante a situação se agravava imensamente. Os revolucionários marxistas, em 1934 já haviam causado numerosas vítimas e danos graves por todo o país. Para o dia 16 de fevereiro, foram convocadas eleições legislativas, que estavam acirrando os ânimos. O novo bispo achou prudente esperar passar a eleição para começar a sua missão Barbastro, mas não abriu mão de chegar antes da Semana Santa, queria celebrar esse tempo forte com as suas ovelhas. Marcou a sua entrada solene para o dia 15 de março, 3° domingo de quaresma. A notícia foi difundida no jornal semanal católico, “El Cruzado Aragonés”. Com o resultado das eleições gerais, nas quais venceram a Frente Popular, a agitação, ao invés de diminuir, aumentaram ainda mais, por todo o país. Na cidade de Barbastro haviam muitos militantes marxistas. Eles eram absolutamente anticlericais. Antes mesmo de sua nomeação os vermelhos já tinham profanado o cemitério, colocando todos os cadáveres de freiras e padres expostos publicamente, para que pudessem ser ultrajados, e o Seminário Diocesano foi assaltado. O Bispo Asensio, deixou a cidade de Valladolid no dia 13 de março, passaria Zaragoza, antes de ir a sua diocese. Antes de partir foi ao Monastério das irmãs Huelgas Reales, a abadessa com profundo lamento disse: “Não é tempo de partir para terras distantes! ”, Dom Florentino lhe respondeu: “Preciso partir. Se me matarem, eu irei antes para o céu”. Fez questão de ir a Zaragoza para

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cumprimentar o arcebispo metropolitano, Dom Rigoberto Doménech e também para consagrar esse novo tempo aos cuidados da Virgem Maria, sob o título de Nossa Senhora do Pilar.

A recepção em sua diocese A notícia da nomeação do novo bispo gerou muitos comentários na cidade. A notícia de sua chegada, foi vista como uma provocação pelos marxistas que se achavam os donos da cidade e começaram a tramar um atentado no dia de sua chegada. Foi descoberto plano dos criminosos comunistas e a chegada do bispo foi adiada para poucos dias depois, seria realizada discretamente e não haveria chegada pública. No dia 16 de março, uma segunda-feira, chegou em sigilo à Catedral, onde os fiéis estavam reunidos e lhe receberam com muito respeito e cordialidade. Em seguida, procedeu-se a solene liturgia de posse. O bispo fez um emocionado discurso no qual disse que a Providência Divina tinha lhe trazido para Barbastro para ser um bom pastor e um pai para esse povo, em qualquer circunstância, e principalmente nesse tempo de muitas adversidades e perseguições: “Vim para dizer que é necessário que todos deem as mãos, deixem de lado o ódio, os rancores e as divisões. Quero afirmar que todos somos irmãos, filhos de um mesmo Pai, que nos criou sua imagem e semelhança, capazes de amar”. No dia 18 de março, chegou ao bispo um termo que lhe dava ciência da deliberação feita na sessão municipal, a qual proibia a celebração de missas, atos de culto, de festividades religiosas e qualquer outro tipo de prática religiosa. Foi proibido o toque dos sinos, que eles consideravam um barulho perturbador ao repouso da população. Um dos assuntos que mais lhe preocupava era defender o Seminário Diocesano, que já tinha sido assaltado e confiscado em 1933, e o seu antecessor o bispo Mutiloa, tinha recuperado com muitos esforços. O recém-chegado bispo tentou proteger ao máximo a propriedade do Seminário, contra as ameaças dos revolucionários. Aos poucos, na certeza de que seria inevitável que eles o invadissem novamente, foi retirando do edifício os objetos litúrgicos mais importantes e da biblioteca. Quando o seminário foi invadido em maio de 1936, não encontraram o que destruir que tivesse grande importância. A não ser o próprio prédio, que logo começou a ser demolido. O bispo ainda na tentativa de salvar este local, recorreu ao Supremo Tribunal Supremo e depositou a fiança legal, conseguindo impedir que destruíssem o restante, pelo menos por um tempo.

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Auxiliou os trabalhadores que estavam em situação de miséria, entregando-lhes todas as suas economias, que somavam aproximadamente duas mil pesetas. Reativou a horta do bispado, com o intuito de dar trabalho a alguns pais de família desempregados. Fundou um Sindicato de trabalhadores católicos, em resposta ao grande número de sindicatos de ideologia anticristã. Em Barbastro, havia muita tensão e o furor contra a Igreja era de causar perplexidade. O coração de Dom Florentino, pressentia uma tragédia. No dia 2 de julho foi ao Monastério das Religiosas Capuchinhas para presidir a eleição de uma nova abadessa, disse comovido antes da votação: “Quem for a eleita, tome a sua cruz e siga com o Senhor, carregando-a até o Calvário, para ali ser crucificada com Ele! Quem diria que algum dia seriamos mártires! Para o bispo, o martírio era iminente.

“Eu jamais abandonarei a vinha que o Senhor me confiou...” A situação era gravíssima, várias autoridades eclesiásticas, preocupadas com a sua integridade e a vida do bispo Florentino, lhe aconselharam a deixar a diocese o quanto antes. O bispo de Huesca e o arcebispo de Zaragoza, reiteraram que ele deveria sair urgentemente da diocese. Em resposta, Dom Florentino, com segurança disse: “Eu jamais abandonarei a vinha que o Senhor me confiou. Quero correr a mesma sorte de minha diocese”. E, sem vacilar em nenhum instante, seguiu o seu caminho oferecendo-se em holocausto, como oferta de amor a Deus. Ele era um homem abandonado em Deus. Não havia temor em seu coração, tamanha era a confiança que depositou naquele que lhe chamou. No dia 13 de julho, foi assassinado em Madri o chefe da oposição parlamentaria, José Calvo Sotelo. Toda a Espanha se comoveu, e depois tal crime se desencadeou a Guerra Civil espanhola. E a partir daí não havia mais preocupação em massacrar a igreja disfarçadamente. Queriam perseguí-la com clareza, humilhá-la de todas as formas possíveis. Se percebeu em toda a Diocese de Barbastro uma sangrenta perseguição. No dia 19, foram presos dos sacerdotes, um deles era o Vigário General Na manhã do dia 20, foi determinada, pelo comité dos milicianos (comunistas e anarquistas), a prisão do bispo em seu palácio episcopal. Proibiram-lhe de manter qualquer forma de comunicação com o exterior. Permaneceu na residência episcopal até o dia 23, dia em que foi levado para o colégio dos Padres Escolapios, transformado em cárcere, onde foram colocadas várias dezenas de religiosos, sacerdotes e alguns leigos. Neste local, também foram presos os beatos mártires claretianos de Barbastro, que padeceram de inimagináveis escárnios.

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Dom Florentino preso, permaneceu em constante oração se preparando para o que lhe aconteceria. Mantinha-se em adoração ao santíssimo Sacramento, em atitude de reparação e desagravo aos sacrilégios cometidos contra o a Presença Real do Senhor na Eucaristia em toda a Espanha. Com a oração do Rosário se unia a Virgem Mãe de Deus e realizando uma novena ao Sagrado Coração, ofertou-se com toda as suas forças. Os interrogatórios que ouviram o bispo inciaram em 6 de agosto. Na noite de 08 de agosto, compareceu coercitivamente perante o Tribunal Popular, criado por eles próprios, sem nenhuma legitimidade. Pressentindo, que lhe aconteceria o pior, antes de sair da prisão, pediu que o padre prior do Mosteiro Beneditino Nuestra Señora del Pueyo, também neste local detido, que ouvisse a sua confissão e lhe desse a absolvição em nome do Senhor. No Tribunal foi sentenciada a sua morte. Na última madrugada na prisão Dom Florentino disse aos religiosos e demais católicos que ali estavam: “Meus filhos, vou dar-lhes a minha última benção e depois, como nosso Mestre Jesus Cristo celebrarei a minha última ceia com vocês”. Muitos começaram a chorar, pela fortíssima circunstância que viviam, o Bom Pastor lhes disse: “Não chorem, pois essa é uma noite na qual rendo a minha gratidão a Deus. Elevemos a Ele as nossas preces, para que salve a Espanha das mãos dos ímpios, nossos inimigos”. Nesta mesma noite, havia conluido uma novena ao Sacratíssimo Coração de Jesus. Disse ainda aos irmãos: “Que noite tão bela é esta para mim: vou à casa do Senhor!”. José Subías de Salas Bajas, foi o único sobrevivente daquelas primeiras noites de cárcere, ele ouviu quando os comunistas disseram: “Claramente não sabes para onde o levaremos!”, o bispo então respondeu: “Vós levais-me à Glória! Eu vos perdoo. No Céu, pedirei por todos vocês...” Amarraram-no em conjunto com outro homem, e os conduziram, após várias horas no calabouço a uma sala vazia onde ficaram amarrados a um poste. Entre frases grosseiras e insultuosas, os milicianos Héctor M., Santiago F, Antônio R., e Alfonso G. aproximaram-se do bispo, que se mantinha silenciosamente em oração. Santiago F. diz então ao analfabeto e cruel Alfonso G.: “Não eras tu que desejavas comer carne de bispo? Agora tens a ocasião!” Alfonso G. não pensou duas vezes, retirou-lhe a sua roupa, zombando com muita euforia, gargalhava dizendo: “Vamos descobrir se é um homem como os demais”. Dom Florentino baixou os olhos e não fez nenhum movimento, não pronunciou uma palavra sequer. O cruel revolucionário puxou imediatamente de uma navalha, e ali, friamente retirou os testículos de Dom Florentino Asensio, antes os apertou com muita força e deu incontáveis socos no local.

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O Bispo, dilacerado de dor, soltou um estridente grito e vertendo lágrimas encontrou forças para cantar um hino de louvor. Os comunistas gargalhavam entre si. Arrancaram os testículos do bispo, a sangue frio e com toda a violência possível, eram sádicos, queriam vê-lo sentir dor. O prelado de Barbastro não caiu de dor no chão, pois estava amarrado em pé. Seus testículos foram recolhidos por Alfonso G, com uma folha do jornal anarquista “Solidaried Obrera”, em seguida saiu exibindo a todos, como se fosse um troféu, inclusive em alguns bares da cidade. Dom Florentino, já fortemente ferido, foi empurrado com grosseria extrema até um caminhão, que lhe levaria para o local onde seria morto. Testemunhas dizem que: “Obrigaram-no a ir pelos seus próprios pés, deixando um rasto de sangue por onde passava”. “Ele foi maltratado, humilhado, torturado; contudo, não abriu a sua boca; agiu como um cordeiro levado ao matadouro...” (Is 53) Era motivo de chacota e zombaria, era desprezado aos olhos daqueles homens, que odiavam Cristo, a Igreja e seus fiéis. Os carrascos gritavam com o bispo, que não se aguentava de dores: “Anda seu porco, depressa!”, ele respondia: “Por mais que me façais, eu vos perdoarei”. Para maltratá-lo ainda mais um dos anarquistas, com fúria, golpeou-o na boca com um azulejo, e lhe disse: “Toma lá a comunhão!”. Todos riam da deplorável cena. Muito ferido, enfim, chegou ao cemitério de Barbastro, o lugar da execução. Neste local foi alvejado com vários tiros, ele dizia, entregando sua vida ao Senhor: “Cristo, compadece-Te de mim. Tende Piedade”. O bispo agonizante, foi arrastado para cima de um monte de cadáveres, e lhe deixaram penar por aproximadamente duas horas, depois disso lhe deram o tiro final, nas primeiras horas do dia 9 de agosto. “Não lhe deram o tiro de misericórdia, logo de imediato de propósito deixaram-no morrer, com grandes hemorragias, de forma a que sofresse mais”. Afirmou uma testemunha. Prestes a morrer, sussurrou: “Senhor, não tardeis em me abrir as portas do Céu, não atrases o momento da minha morte e dá-me forças para resistir até ao último momento”. Morreu santamente e com serenidade. Era o bispo titular de Partibus de Eurea de Epiro e administrador apostólico de Barbastro. O seu corpo foi jogado em uma fossa qualquer. Após o fim da guerra, seus restos foram identificados e solenemente trasladados para a cripta de Catedral, alguns anos depois foram colcados sob o altar da Capela de São Carlos. O Papa São João Paulo II, em 4 de maio de 1997 beatificou esse grande herói da fé em Roma. Sua festa é celebrada anualmente no dia 9 de agosto.

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Na homilia da Santa Missa de beatificação, disse São João Paulo II: “Como o Pai Me amou, também Eu vos amei; permanecei no Meu amor” (Jo 15, 9). O Bispo Florentino Asensio Barroso permaneceu no amor de Cristo. Como Ele, entregou-se ao serviço dos irmãos, especialmente no ministério sacerdotal, desempenhado com generosidade durante muitos anos em Valhadolidantes, e depois no seu breve espaço de tempo como Bispo Administrador Apostólico de Barbastro, sede para a qual tinha sido eleito poucos meses antes do início da deplorável Guerra civil de 1936. Para um ministro do Senhor o amor é vivido na caridade pastoral e, por isso, ante os perigos que se apresentavam, não abandonou o seu rebanho, mas antes, a exemplo do Bom Pastor, ofereceu a sua vida por ele. O Bispo, como mestre e guia na fé para o seu povo, é chamado a confessá-la com as palavras e as obras. D. Asensio levou até às suas últimas consequências a sua responsabilidade de pastor, ao morrer pela fé que vivia e pregava. Nos últimos momentos da sua vida, depois de ter sofrido vexames e lacerantes tormentos, ante a pergunta de um dos seus verdugos, se conhecia o destino que o esperava, respondeu com serenidade e firmeza: “Vou para o paraíso”. Proclamava assim a sua inquebrantável fé em Cristo, vencedor da morte e dador da vida eterna. Ao ser elevado hoje à glória dos altares, o Beato Florentino Asensio Barroso continua a encorajar, com o seu exemplo, a fé dos fiéis dessa amada diocese aragonesa e vela por ela com a sua intercessão. Por isso não devemos desesperar, quando somos tentados; mas até, com maior fervor, pedir a Deus que se digne ajudar-nos em toda provação, pois que, no dizer de S. Paulo, nos dará graça suficiente na tentação para que a possamos vencer (1 Cor 10,13). Humilhemos, portanto, nossas almas, debaixo da mão de Deus, em qualquer tentação e tribulação porque ele há de salvar e engrandecer os que são humildes de coração. Nas tentações e adversidades se vê quanto cada um tem aproveitado; nelas consiste o maior merecimento e se patenteia melhor a virtude. Não é lá grande coisa ser o homem devoto e fervoroso quando tudo lhe corre bem; mas, se no tempo da adversidade conserva a paciência, pode-se esperar grande progresso. Alguns há que vencem as grandes tentações e, nas pequenas, caem frequentemente, para que, humilhados, não presumam de si grandes coisas, visto que com tão pequenas sucumbem. (A Imitação de Cristo).

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Os 51 mártires clareteanos de Barbastro Com o martírio do bispo, o pesadelo contra os católicos de Barbastro ainda estava começando. No mesmo mês, de agosto de 1936, a fúria diabólica dos marxistas, que feriu a Igreja em todo o território espanhol, dizimou ainda muitos em Barbastro. As próximas vítimas foram os missionários clareteanos, congregação fundada em 16 de julho de 1849, em Vic, região da Catalunha, Espanha, por Santo Antonio Maria Claret e mais cinco amigos sacerdotes, com o objetivo de anunciar por todos os meios possíveis, através do serviço missionário da Palavra, o Evangelho de Jesus Cristo a todo o mundo. Atualmente, a Congregação está presente em diversos países, conduzindo atividades apostólicas em paróquias; em meios de comunicação social; em obras sociais e de promoção humana por meio da educação em Colégios e em Faculdades, e na formação de leigos, agentes de pastoral e de voluntários. No dia 1° de julho de 1936, chegaram a cidade de Barbastro, quarenta seminaristas que iam a estudar Teologia. Não imaginavam o que lhes aguardava. Na época, a população do lugar, era cerca de oito mil habitantes. Até então era um lugar pacato, comandado pelo coronel S. Villalba, que havia prometido que não ia acontecer conflito na localidade. De fato, ele tentou, mas depois se acovardou e no dia 19 de julho de 1936, os trabalhadores e sindicalistas comunistas, assaltaram o depósito de armas da cidade. No dia seguinte, cinquenta revolucionários, fortemente armados, invadiram o seminário dos claretianos. Afirmavam com plena convicção que os religiosos escondiam armas; foram exigir que lhes entregassem, para que ficassem absolutamente rendidos, sem chance de defesa. Não havia motivo para acreditarem que os claretianos tinham armas guardadas. Contudo, passaram a buscar por todos os recantos do convento, não encontraram nenhuma, pois de fato, não existia. Os comunistas, forjaram meios probatórios, para incriminar os religiosos. Encarregaram uma mulher do partido, igualmente sem escrúpulos, de esconder entre as vestes litúrgicas, na sacristia, uma grande navalha, com o pretexto de acusar os religiosos de terem armas. No dia 25 de julho de 1936, outros comunistas de várias localidades, invadiram a cidade, obstinados a fazer revolução. Queriam ver o caos instaurado e que tudo fosse reduzido a pó. Entre eles se destacava Ángel Samblancat, ex-postulante claretiano, traidor de Cristo, que deixou-se seduzir pelos artifícios e mentiras dos marxistas. Ele nutria absoluto desprezo pela Igreja, não conseguia admitir que um dia fizera parte dela. Estes comunistas, sem pensar duas vezes, começaram a matar todos os que estavam presos. Nota-se que dos oito mil

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habitantes que existiam na cidade, oitocentos e trinta e sete foram mortos nos primeiros dias, por motivos religiosos. Os milicianos diziam: “Como pessoas merecem todo respeito, mas como sacerdotes e missionários devem morrer”.

O cárcere adaptado no colégio dos padres escolápios Os jovens claretianos foram levados ao colégio dos escolápios, neste lugar criaram um cárcere insuportável. Não existia sequer um mínimo serviço de higiene, era impossível trocar de roupa, aguentavam um calor de verão insuportável. Estavam fétidos, pois neles havia sujeira e suor acumulado de vários dias. Eram corpos de jovens vigorosos, que transpiravam bastante e estavam em condições absolutamente indignas a qualquer ser humano. Os rapazes, passaram cerca de três semanas nesse lugar desprezível. Para fazer as suas necessidades, precisavam ficar em fila e atravessar o pátio interior. Não tinham como lavar as roupas, pois a pouca água que lhes era oferecida, era para beber. Nestas condições as roupas intimas se constituíam um verdadeiro cilicio, de tão sujas já estavam produzindo feridas nos rapazes. Houve ainda, uma infestação de piolhos no lugar, os marxistas achavam cômico o infortúnio que geravam aos “malditos e perigosos” católicos. Em relação aos piolhos, decidiram dedetizar o local, com receio de que também pudessem pegar. Era um local de uma indizível miserabilidade. Uma vez por dia, jogavam ao chão pedaços de pão para que se alimentassem. Uma mulher obesa, que mais parecia um homem por suas roupas e posturas, era a responsável por dar-lhes água. Era sádica, fazia questão de se fartar com comidas na frente dos rapazes e as vezes derramava propositalmente a água que eles iriam consumir. Ela dizia constantemente, que queria que eles recebessem o que mereciam (a morte) e que aquilo acabasse logo. Os infelizes comunistas gostavam de se divertir praticando com os rapazes jogos de terror. Ordenavam que ficassem em fila, voltados para a parede, em posição de execução e ficavam com os fuzis apontados, dizendo que aquele que se mexesse seria morto. Eles permaneciam imóveis durante horas, enquanto os milicianos jogavam, se divertindo, deixando sempre algum companheiro com o fuzil apontado. Nessas condições, cada minuto era interminável e desejavam ardentemente que disparassem de uma vez. O religioso Pe. Sierra, suportou ficar naquela posição por cinco horas, até que perdeu os sentidos e desmaiou caindo ao chão. Um pobre seminarista enquanto cruzava o pátio do colégio, para fazer as suas necessidades, estando muito apertado, foi obrigado a ficar dando voltas e mais voltas ao redor do pátio, sob a mira de fuzis, enquanto os sórdidos comu-

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nistas riam da vexatória situação. Eram durante várias vezes no dia, torturados e violentamente espancados. Antes dos rapazes serem presos, os três padres superiores da congregação já haviam sido mortos pelos revolucionários comunistas, estes pretendiam deixá-los sem referencial, desorientados e amedrontados, para que renunciassem a fé em Cristo e renegassem a Igreja. Os religiosos que viram todo o seminário ser destruído, bem como as imagens e objetos sacros, não se intimidaram, mas ao contrário, se uniram em um só corpo, em uma só alma, para juntos fazerem de suas vidas sacrifícios de louvor ao Amado Jesus. Eles lutaram com todas as forças para suportar o escárnio, as duríssimas provocações e tentações. Como afirmou Santo Agostino: “O mundo combate contra os soldados de Cristo com duas armas e táticas diferentes: Uma arma é a sedução; sua tática, criar angústia. A outra é o medo; sua tática, semear desânimo”. Observa-se que o mundo não foi o vencedor, os religiosos clareteanos venceram a angústia e o desânimo.

O seminarista Esteban Casadevall As semanas no cárcere foram dilacerantes. Os jovens suportaram todos os insultos, privações e sofrimentos e não renegaram o catolicismo. Para tentar mais uma vez a resistência dos jovens, os comunistas ofereceram-lhes prostitutas. Os pobres rapazes mesmo sujos, fétidos, famintos e sem forças, as rejeitaram. Não trocaram as suas vocações por uma noite de prazer. Muitas delas ficaram enfurecidas por terem sido rejeitadas e passaram a insultá-los, algumas outras continuavam tentando seduzi-los de várias maneiras, inclusive lhes puxando pelas batinas. Uma das prostitutas se disse apaixonada pelo seminarista Esteban Casadevall, seu nome era Trini Pallaresa. Ela afirmava que o rapaz parecia com Valentino, um grande amor que havia perdido. Ela passava horas e horas olhando o rapaz pela janela. Esteban Casadevall, poderia livrar-se da morte, por causa da sua beleza, mas não quis. A garota de programas, que era também comunista, se interessou por ele e convenceu aos seus companheiros revolucionários a liberá-lo, caso ele ficasse com ela. Esteban, acreditava na sua vocação, dizia: “Deus me chamou a unicamente amá-lo. Não posso entregar o meu coração a mais ninguém, pois já foi entregue a Ele que me amou por primeiro, que me redimiu com o seu sacrifício na Cruz”. A jovem queria tê-lo a todo custo, fez constantes abordagens tentado dissuadi-lo de acreditar em Deus e convencê-lo a ficar com ela, que em troca lhe obteria a liberdade. Ele, porém, não cedeu, afirmando que não valia a pena

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obter a liberdade e perder o sentido de sua vida. Era um jovem decidido, jamais abriria mão de Cristo e da Igreja, ao entregar-se aquela mulher que tinha tanto ódio contra Deus dentro de si. Não deixaria de viver o seu chamado a castidade, esta, segundo São Paulo II, significa “Defender o amor do egoísmo”. Se tens riquezas, não te glories delas, nem dos amigos, por serem poderosos, senão em Deus, que dá tudo, além de tudo, deseja dar-se a si mesmo. Não te desvaneças com a forma ou beleza de seu corpo, que com pequena enfermidade se quebranta e desfigura. Não te orgulhes de tua habilidade ou de teu talento, para que não desagrades a Deus, de quem é todo bem natural que tiveres. (A Imitação de Cristo) Trini não se deu por satisfeita e disse a Esteban: “Eu tenho pena de você, porque foi enganado desde criança com a religião, és um rapaz tão lindo e jovem que não merece morrer por causa dessa ilusão religiosa”. O rapaz sem hesitar disse que preferia a morte do que colocar-se nos braços dela. Ela, porém, continuou a espioná-lo e ele a esconder-se atrás de um grupo de companheiros para não ser visto. “Há dois tipos de pessoas, porque há duas formas de amor. Um amor santo, outro egoísta. Um se preocupa com o bem comum em favor do entendimento mútuo e da fraternidade espiritual, o outro procura submeter o bem comum ao próprio bem, satisfazendo a arrogância e a ânsia de domínio; um é submisso a Deus, enquanto o outro trabalha para igualar-se a Deus. Enquanto um trabalha pela paz, o outro é insubordinado; um prefere a verdade às honras humanas, o outro anseia pelos louvores, ainda que sejam falsos; um é amigo, o outro é invejoso; um deseja para o próximo o mesmo que deseja para si, o outro deseja submeter o próximo a si mesmo; um ajuda os demais interessado neles, o outro interessa-se por si mesmo”. (Santo Agostinho)

A execução Os marxistas enfim, perceberam que aqueles rapazes não cederiam. Disseram enfurecidos pela janela que dava acesso a sala onde os jovens seminaristas, estavam trancafiados: “Mataremos a todos vocês, vestidos de batina, para que esses trapos sejam enterrados com vocês. Não odiamos vocês. Odiamos a profissão que escolheram. Odiamos a Igreja. Odiamos essa repugnante roupa preta. Odiamos esses trapos amaldiçoados. Tirem esse lixo de vestimenta e unam-se a nós e então os livraremos”. Eles ignoraram jamais abandonariam a vocação que o senhor selou nos seus corações. No dia 10 de agosto já tinham a compreensão de que seriam mortos. O seminarista Ramón, escreveu uma carta de despedida a sua mãe: “Trouxe-

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ram-nos para o cárcere desde do dia 20 de julho. Toda a nossa comunidade religiosa está unida. Há oito dias fuzilaram o padre superior e outros dois padres. Felizes nós os seguiremos. Vou ser fuzilado por ser religioso e membro do clero, por seguir as doutrinas da Igreja Católica. Graças sejam dadas a Deus Pai, por Nosso Senhor Jesus Cristo”. Ramón em sua carta se referia aos padres Felipe de Jesús Munárriz Azcona, Leoncio Pérez Ramos e Juan Díaz Nosti. Às 3h da madrugada de 12 de agosto, quarta-feira, entraram na sala onde estavam trancados os rapazes, quinze milicianos armados até os dentes. Traziam consigo muitas cordas, sujas de sangue. Amarraram os que já eram padres e os mais velhos, os sacerdotes Nicasio Sierra Ucar, Sebastián Calvo Martínez, Pedro Cunill Padrós e José Pavón Bueno e também os irmãos Gregorio Chirivas Lacamba e Wenceslao Clarís Vilaregut. Enquanto eram amarrados, um deles perguntou se poderia levar um livro e escutou como resposta: No lugar em que estás indo, não precisaras de nada. Foram levados em um caminhão para o cemitério, aproximadamente a três quilômetros da Sariñena. Os vermelhos lhes ofereceram pela última vez a liberdade, para isso, só precisavam renegar a Igreja e cuspir na face de Cristo. Os rapazes foram executados friamente. Às sete da manhã, membros do Comité Socialista, com suas pistolas, adentram no local onde estavam os seminaristas, fizeram uma lista com os seus nomes, organizados por idade. Neste momento, perceberam que se aproximou a hora do sacrifício final e começaram a preparar-se fervorosamente para o que lhes aconteceria. Os rapazes se exortavam mutuamente. Dessa memorável data existem escritos que são preciosos documentos que testemunham a força da fé desses rapazes. Eles conseguiram um pedaço de papel qualquer, e neste, cada um escreveu um lema, uma pequena frase que resumia o seu ideal de vida. Os quarenta rapazes, acrescentavam ao final frases semelhantes como: “Viva Cristo Rei!”; “Viva o Coração Imaculado de Maria!”; “Nunca imaginei ser digno de receber esta Graça!”; Por Ti, Meu Deus e pela Santíssima Virgem meu sangue dou!” e “Morro contente por Deus!” Um deles registrou como procederam na ocasião: “Passamos o dia animando-nos para o martírio e rezando por nossos inimigos e por todo nosso querido Instituto”. Eles não morreram de qualquer maneira, prepararam-se para o suplico, com muita piedade e amor a Deus, elaboraram a tática de cantar hinos de louvor a Deus, começando a cantar ainda na Terra e continuando o louvor no Reino dos Céus. Ainda no dia 12, próximo à meia-noite de 13 de agosto de 1936, os milicianos entraram no recinto onde estavam presos, novamente trazendo cordas para atá-los. O comunista Mariano Abad, ordenou: “Que saiam os que tem mais de vinte e seis anos!” Não saiu ninguém. “Que saiam os de

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vinte e cinco!” Mais uma vez, não saiu nenhum deles. Mariano, enfurecido ordenou que as luzes fossem acessas e pegou a lista negra, e realizou a chamada: Pe. Secundino Ortega García, Javier Luís Bandrés Jiménez, José Brengaret Pujol, Manuel Buil Lalueza, Antolín Calvo y Calvo, Tomàs Capdevila Miró, Esteban Casadevall Puig, Eusebi Codina Millà, Juan Codinachs Tuneu, Antonio Dalmau Rosich, Juan Echarri Vique, Pedro García Bernal, Hilario Llorente Martín, Alfonso Miquel Garriga, Ramon Novich Rabionet, José Ormo Seró, Salvador Pigem Serra, Teodoro Ruiz de Larrinaga García, Juan Sánchez Munárriz e Manuel Torras Sais. Cada um, respondeu vigorosamente a Mariano Abad: “Presente!”. Juan Echarri, se voltou aos que continuaram no cárcere em como amor despediu-se gritando: “- Adeus, irmãos, até o céu!”, por sua vez, os milicianos se disseram: “- Vocês que permanecem ainda tem um dia inteiro para aproveitar. Saibam que amanhã nesta mesma hora viremos buscá-los para darmos um passeio até o cemitério. Agora vão dormir!” Dos vinte apontados na lista, alguns beijavam as cordas que lhes atavam as mãos, outros rezavam e dirigiram palavras de perdão aos seus carrascos. Foram forçados a subir em uma camioneta aberta, que passou por várias ruas da cidade e por uma praça cheia de pessoas que gritavam: “Morram, morram! Canalhas, vão ver o que vos espera no cemitério!” Era uma cena comovedora e impressionante, durante todo o percurso de três quilômetros, eles não paravam de cantar com grande alegria. “Todos estavam contentes e se felicitavam entre eles, como os Apóstolos, por terem sido considerados dignos de sofrer pelo nome de Jesus. Toda Barbastro os ouviu! Cantavam alto cânticos religiosos. Eram inocentes como anjos!” Afirmou posteriormente uma testemunha. Ao chegar no cemitério reafirmaram o seu amor por Cristo. Um dos revolucionários disse: ”Alguém quer desistir e vir conosco lutar contra os fascistas?” A resposta foi: ¡Viva Cristo Rey! Ele replicou: “Gritem ao menos: ¡Viva la revolución!” , eles rebateram: ¡Viva Cristo Rey! Assim, foram alvejados de tiros, com os braços abertos, em cruz, e gritando Viva Cristo Rei! Morreram nos primeiros 40 minutos do dia 13 de agosto. Os marxistas comentavam entre si o que aconteceu, bebendo vinho e com risadas. Os comunistas adiaram a morte dos vinte restantes por um dia. Ao anoitecer, de 14 de agosto, os jovens que estavam na prisão, rezavam em profunda comunhão com Deus, abraçavam-se, beijavam mutuamente os pés e as faces uns dos outros, choravam de alegria por estar próximo o fuzilamento. Nos primeiros instantes do dia 15, foram levados: Pe. Luís Masferrer Vila, José Amorós Hernández, José Maria Badía Mateu, Juan Baixeras Berenguer, José Blasco Juan, Rafael Briega Morales, Francisco Castán Meseguer, Luís Escalé Binefa, José Fi-

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guero Beltrán, Ramon Illa Salvia, Luís Lladó Teixidor, Manuel Martínez Jarauta, Miguel Masip González, Faustino Pérez García, Sebastian Riera Coromina, Eduardo Ripoll Diego, José Ros Florensa, Francisco Roura Farró, Alfonso Sorribes Teixidó e Agustín Viela Ezcurdia. Foram levados em iguais condições e pelo mesmo percurso que os seus irmãos na execução anterior. Era a festa da Assunção de Maria Santíssima. Aos seus pés formosos foram celebrar “a festa que nunca se acaba”. Deixaram escrito: “Morremos todos contentes, e nenhum de nós sente desânimo ou pesar”. Foram indagados: “-Querem lutar contra o fascismo ou ser fuzilados?” Eles responderam: “-Não lutamos. Preferimos viver e morrer por Deus e pela Espanha”. Nesta noite, porém, os comunistas, proibiram que cantassem hinos religiosos e dessem os “Vivas” como fizeram os outros. Foram colocados atados junto a eles três padres da diocese de Barbastro, um deles estava sangrando bastante pela mandíbula. Em cima da caminhonete Faustino desobeceu a determinação do carrasco e começou a gritar: “¡Viva Cristo Rey! Cristo amigo, Tú eres mi vida, Si la fuerza y la razón de mi ser, He sido la animación de la dulce esperanza de un día vivir en la gloria” e todos lhe acompanharam. Inconformado com a desobediência de Faustino, um dos milicianos, deu-lhe coronhadas com uma espingarda, que desfizeram o seu crânio. Ver a barbárie realizada com o irmão, fez com que cantassem ainda mais forte e que rendessem louvores a Cristo Rei, ao Coração de Maria e homenagens ao Santo Padre. “ “Não havia quem os fizesse calar. Por todo o caminho foram cantando e dando Vivas a Cristo Rei. Nós, mesmo dando golpes com a coronha das armas, não os conseguíamos fazer parar. E não pense que eram golpes mansinhos. Um deles caiu morto, com a cabeça aberta. Mas quanto mais lhes batíamos, mais forte cantavam e gritavam, Viva Cristo Rei!” Contou um dos milicianos, refugiado em Paris, após o término da Guerra Civil. Por fim, foram mortos em 18 de agosto, os irmãos Jaime Falgarona Vilanova e Atanasio Vidaurreta Labra, que por motivos de doença, tinham sido transferidos para o Hospital. Assim, todo o seminário claretianos foi martirizado: nove sacerdotes, cinco irmãos missionários e 37 seminaristas. O Santo Padre João Paulo II, em Roma, em outubro de 1992 lhes beatificou. Disse profundamente comovido: “Pela primeira vez na História da Igreja, vi todo um Seminário Mártir!”. Atualmente em existe Barbastro o Museu do Mártires Claretianos, que guarda os restos mortais desses heróis e as cartas e mensagens que escreveram. Foi construído no local onde morreram um monumento que é um local de peregrinação para muitos fiéis.

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Faustino Pérez, jovem mártir, com apenas 25 anos, ficou imbuído de escrever o manifesto de despedida que seria enviado a Congregação Claretiana: Querida congregação, Hoje dia 13, alcançaram a palma da vitória vinte de nossos irmãos. Amanhã, nós, os vinte restantes, esperamos morrer mártires. Passamos o dia animando-nos para o martírio e rezando por nossos inimigos e por todo nosso querido Instituto. Quando chegou o momento de designar as vítimas, estávamos todos com serenidade e na ânsia de ouvir o nome para nos colocarmos na fila dos eleitos. Vimos alguns dos nossos irmãos, beijar as cordas que lhes atavam e outros dirigindo palavras de perdão aos carrascos. Quando estavam a caminho do cemitério, lhes ouvimos gritar incansavelmente: ¡Viva Cristo Rey! São teus filhos, Congregação querida, estes que entre pistolas e fuzis se atreveram a gritar louvores ao Senhor. Amanhã iremos nós e já deixamos acertado que até que ocorram os disparos vamos cantar e gritar vivas sem parar. Louvaremos a Cristo Rei e ao Coração de Maria, enalteceremos a nossa Mãe Igreja e a nossa Congregação. Os irmãos me deixaram responsável para iniciar os vivas e eles responderão. Eu gritarei com toda a força de meus pulmões o amor que tenho. Nós os recomendamos ao Imaculado Coração de Maria e morremos perdoando aqueles que nos tiram a vida. Morremos todos contentes, sem pesar ou desmotivação. Rogamos a Deus por todos, e que o sangue que será derramado de nossas veias não seja vingado, mas que estimule o teu crescimento por todo o mundo. Adeus, querida Congregação. Teus filhos, mártires de Barbastro, te saúdam, desde a prisão e te oferecem suas dores e angústias em testemunho de nosso amor fiel, generoso e perpetuo. Morremos por vestir a batina e morremos precisamente no mesmo dia em elas nos foram impostas. Os mártires de Barbastro e em nome de todos, o último e mais indigno Faustino Pérez.

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Os monges beneditinos do Mosteiro de Nossa Senhora de Puyo em Barbastro O historiador Julián Casanova, em 1985, concluiu em suas pesquisas que entre todas as dioceses espanholas, que foram massacradas pelos comunistas, a Diocese de Barbastro, foi a mais ferida. Ele citou: “Comprovamos através de documentação escrita e de ainda de fontes orais que a perseguição aos católicos, na Igreja de Barbastro, foi a mais obsessiva já vista em toda Espanha. Os membros do clero eram considerados fascistas que deveriam ser mortos. Na Diocese de Barbastro, o percentual de padres e religiosos foi o mais elevado do país”. No dia 22 de julho, foram detidos todos os padres e irmãos que estavam no Monastério de El Pueyo, também em Barbastro, dias antes foi exigido pelas as “autoridades” da República que se rendessem e entregassem todas as armas que tinham no mosteiro, situado no alto de um monte. Assim como no seminário dos clareteanos, não havia arma alguma na casa religiosa. Ao descobrirem que os monges estavam desarmados, os covardes comunistas subiram até o mosteiro e aprisionaram todos os religiosos. Foram levados ao colégio dos padres Escolapios, transformado em prisão. Levaram ao cárcere 18 Beneditinos de votos perpétuos e alguns meninos que estavam no mosteiro, os comunistas não permitiram que as crianças fossem para casa. Todos os monges foram fuzilados entre os dias 09 e 28 de agosto de 1936. O sangue dos monges se fundiu com de muitos outros religiosos de diversas congregações e diocesanos, mas principalmente com o dos Missionários do Coração de Maria, quase todos foram mortos na festa da Assunção de Nossa Senhora, dia 15 de agosto, e dos nove padres Escolapios de Barbastro. Ao invadir o monastério, a imagem da Padroeira Nossa Senhora de Puyo foi destruída, assim como todos os objetos litúrgicos, quadros e devocionais. Do mesmo modo que foi feito no Cerro de los Ángeles, fuzilaram e decapitaram a imagem do Sagrado Coração de Jesus. “O Monastério beneditino Nossa Senhora del Pueyo, pertencente a Província espanhola da Congregação de Subiaco, suprimido em 1962, foi fundado em 13 de dezembro de 1889, e foi elevado a Priorato independente em 1910. Em julho de 1936, a comunidade contava com 11 sacerdotes, 04 professos solenes, 04 professos simples e 06 irmãos conversos. No colégio-postulantado, dos monges, cursavam estudos de humanas 06 estudantes”. (Pe. Benigno Benabarre OSB) A comunidade era exemplar no cumprimento do lema beneditino “Ora et labora”. A liturgia era celebrada com muito zelo e piedade. No ano de 1930, cerca de 40 meninos estudavam no monastério, desejosos de se tornarem sa-

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cerdotes. Todos no monastério eram hábeis para o trabalho e se dedicavam com frequência ao trabalho manual. Tinham também um imenso apostolado exterior, auxiliavam diversas pessoas na prática de Exercícios Espirituais. Prepararam mais de duas mil pregações entre 1925 e 1933. Em 1936, os monges tinham acesso na biblioteca a um acervo de cerca de 25.000 volumes, em 1980 não havia sequer biblioteca. Foram martirizados, o prior Pe. Mauro (Abel-Ángel) Palazuelos Maruri, o Pe. Honorato (Antonio) Suárez Riu, Subprior, Pe. Mariano Sierra Almanzor, Pe. Leandro (Juan) Cuesta Andrés, Pe. Raimundo (Antonio) Lladós Salud, Lorenzo (Toribio) Sobrevía Cañardo, Pe. Santiago Pardo López, Lorenzo Santolaria Ester, Pe. Fernando Salinas Romero, Pe. Domingo (Jaime) Caballé Bru, Ángel (Antonio) Fuertes Boira, Pe. Ildefonso (Julio) Fernández Múñiz, Pe. Anselmo (Mariano) Palau Sin, Vicente Burrel Enjuanes, Pe. Ramiro (Ramón) Sanz de Galdeano Mañeru, Dom Rosendo (Martín) Donamaría Valencia, diácono, Dom Lorenzo (Leoncio) Ibáñez Caballero, Dom Aurelio (Ángel-Carmelo) Boix Cosials. Em 13 de outubro de 2013 foram beatificados em Tarragona, junto a outros 500 mártires espanhóis da perseguição religiosa durante os anos de 1936 a 1939. Eles viveram “… Para servir ao verdadeiro Rei, Cristo, o Senhor” (Regra Beneditina Prólogo, 3).

O Beato Prior Pe. Mauro O Pe. Mauro Palazuelos nasceu no dia 26 de outubro de 1903, em Peñacastillo, no estado de Cantabria. Muito cedo, atendeu ao chamado de Jesus, que lhe propôs deixar tudo para segui-lo. Assim, ingressou no Monastério Beneditino de Valvanera, em La Rioja, depois foi transferido para a Abadia de Samos, em Lugo, local onde realizou seu noviciado, ao concluir emitiu seus primeiros votos em 8 de setembro de 1920. Seis anos depois, em 31 de outubro de 1926, foi ordenado sacerdote e voltou a Valvanera. Por fim, em 6 de fevereiro de 1934, foi designado a ser o Prior do monastério de El Pueyo. O Pe. Mauro foi o monge que Deus havia preparado para estar à frente da comunidade em um tempo duríssimo até o seu sacrifício final. “Jamais lhe vimos triste, nem preocupado com o martírio, ao contrário, estava bem, sentia uma grande alegria por dar a vida pela fé. Ele me dizia: ‘Que felicidade é poder derramar o sangue por Jesus Cristo.” Testemunhou um sacerdote, que quando jovem, esteve na mesma prisão que os Beneditinos de El Pueyo. Na prisão, o Bispo Florentino Asensio, algumas vezes se confessou com o prior Pe. Mauro. Este levava a Eucaristia a cela do Pastor diocesano diariamente. Cladestinamente, os monges encontraram uma maneira de conservar a

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Eucaristia na prisão, eles mantinham-se em adoração ao Santíssimo Sacramento mesmo naquelas difíceis condições. O Pe. Mauro vivia com os seus irmãos beneditinos experiências de verdadeiro amor fraterno e comunhão de alma. Eles viveram a regra beneditina 72, 8: “Entregar-se desinteressadamente ao amor fraterno”. O pior também tentava auxiliar aos demais religiosos presos no lugar. Viviam momentos de muita unção, ofertavam as suas vidas a Deus e não havia sequer um pouco de temor. Se cumpriu o que disse Santo Tomás de Aquino, “Epistola ad Haebreum”, X, 25: “Qui sunt in gratia, quanto plus accedunt ad finem, plus crescere debent”. [Aqueles que estão em graça, quanto mais se aproximam do fim, mais devem crescer em espiritualidade] O exemplar sacerdote, Pe. Mauro Palazuelos, morreu nas primeiras horas do dia 28 de agosto e foi sepultado no cemitério de Barbastro. Dias depois um jovem anarquista, de uns 27 anos, natural de Zaragoza, que se hospedava com outros revolucionários na casa de uma respeitável senhora, disse a ela que estava muito atormentado e precisava desabafar. Ela ouviu com atenção o sofrimento que ele lhe narrou. Sua consciência lhe acusava de muitas coisas terríveis, entre elas muitos assassinatos de católicos, mas principalmente sobre a bárbara maneira que executou o Prior de El Pueyo. Ele contou que no caminho para o local onde o Pe. Mauro seria morto, ele lhe fez um último pedido, pediu a graça de despedir-se de sua mãe, o rapaz por incrível que pareça assentiu, acreditando que ele falava da sua mãe que estava internada no hospital. No entanto, para a surpresa de seu carrasco, o sacerdote se voltou até El Pueyo, e começou a cantar a Salve Rainha. A Mãe a qual se referia era Nossa Senhora de Puyo. O rapaz ficou surpreso com tamanha ousadia, e antes mesmo que o padre terminasse a canção, recebeu vários tiros junto ao muro externo do cemitério. O assassino disse que desde esse dia não tinha mais conseguido dormir, não quis mais sair à noite com os outros revolucionários. Ele disse que a última imagem do Pe. Mauro cantando lhe atormentava constantemente. A boa senhora que lhe hospedava, lhe instruiu sobre a infinita misericórdia de Deus e lhe aconselhou a procurar um médico, pois se encontrava psiquicamente muito torturado. Não parava de repetir: “Meu crime não tem perdão”. Seguramente o Pe. Mauro do céu, já estava a interceder pelo seu executor. Ele quando estava encarcerado constantemente repedia aos monges, o princípio evangélico do amor ao inimigo, dizendo que deveriam perdoar aqueles que lhes matariam.

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Beato Aurélio Boix Cosials, Mártir aos 21 anos Nasceu no povoado de Pueyo de Marguillén, estado de Huesca, na Diocese de Barbastro, em 2 de setembro de 1914. Recebeu na mesma cidade o hábito monástico em 12 de outubro de 1929, aproximadamente um ano depois, emitiu seus primeiros votos, era 15 de outubro de 1930. Nos anos seguintes, dos muitos jovens seminaristas que subiram ao Monastério, para participar desta celebração, poucos permaneceriam vivos. No dia 11 de julho de 1936, poucos dias antes de eclodir a guerra civil espanhola, o bispo de Barbastro, Beato Florentino Asensio e vários sacerdotes foram a El Pueyo, para assistir a profissão solene do monge Aurélio, um rapaz de 21 anos. Ele com toda sua fé, subiu ao Altar de Deus, Do Deus que era a alegria da sua juventude. Afirmou solenemente na ocasião: “Recebe-me, Senhor, com tua promessa, e viverei, que não seja frustrada a minha esperança” (Do Rito de Profissão Monástica). Julga-me, ó Deus, e separa a minha causa duma gente não santa. Livra-me do homem iníquo e enganador. Tu que és, ó Deus, a minha fortaleza, porque me repeliste? E porque hei-de eu andar triste, enquanto me aflige o inimigo? Envia a Tua luz e a Tua verdade; estas me conduzirão e me levarão ao Teu santo monte e aos Teus tabernáculos. E aproximar-me-ei do altar de Deus, do Deus que é alegria da minha juventude. Ó Deus, Deus meu, eu Te louvarei com a cítara. Por que estás triste, minha alma? E por que me inquietas? Espera em Deus, porque eu ainda O hei-de louvar, a Ele que é a minha salvação e o meu Deus. (Sl 42) Tinha uma personalidade fantástica, um grande desejo de ajudar os irmãos, homem de oração, caráter atencioso e diligente, possuidor de grande vivacidade e uma singular Inteligência. Sua capacidade de memorizar era impressionante. Alguns irmãos se espantavam com a capacidade que o rapaz tinha de traduzir obras clássicas e de retê-las na mente. Contudo, do seu patrimônio intelectual se destacam os comentários que escreveu ainda no noviciado, sobre mística e ascética. (Teologia mística que trata dos exercícios espirituais e da perfeição cristã) “Dê-me, Senhor, agudeza para entender, capacidade para reter, método e faculdade para aprender, sutileza para interpretar, graça e abundância para falar. Dê-me, Senhor, acerto ao começar, direção ao progredir e perfeição ao concluir” (Santo Tomás de Aquino). Em razão de seus trabalhos intelectuais foi enviado para estudar Filosofia em Roma, no Pontifício Ateneu beneditino de Santo Anselmo. Escreveu bastante, produziu textos de grande relevância e uma vastíssima correspon-

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dência com os outros monges. Traduziu do latim a obra “A Vida monástica” de Dom Mauro Wolter. O monge fez narrativas e escreveu textos na prisão, seus escritos são de grande valor, porque testificam o seu ideal de martírio, o seu amor por Jesus Cristo e pela Igreja e a vivência dos seus últimos dias com os irmãos. Em 09 de agosto de 1936, escreveu a seus familiares, a seus professores em Roma e a alguns monges amigos, com os quais conviveu no Ateneu de Santo Anselmo. O Dom Aurelio, com apenas 21 anos, foi conduzido a morte, atado, com as mãos para trás. Ao seu lado estava o seu amigo e confessor o Pe. Raimundo Lladós. Juntos rezaram e entregaram seus espíritos nas mãos do Pai. Eles partiram deste mundo sentindo o grande amor de Deus: “Da cruz e das chagas do nosso Redentor sai um grito para nos fazer entender o amor que Ele nos tem”. (São Bernardo) Das cartas que o jovem Aurelio escreveu, se destaca por sua tamanha maturidade de fé, a que foi dirigida aos seus pais e ao seu irmão Joaquín. No texto da mesma contém: Pax Aos meus queridos pais e irmão, Convento dos Padres Escolapios de Barbastro, em 9 de agosto de 1936. Pai, mãe e irmão de meu coração: Se esta minha carta chegar a suas mãos, o portador da mesma lhes explicará melhor todo o processo. Eu me limitarei a algumas poucas linhas. Fazem 18 dias que estamos quase todos os religiosos de Pueyo detidos nesta prisão. Apesar das garantias que nos foram dadas, como meio preventivo, quero dedicar estas palavras aos seres que me são mais caros e importantes. Nas noites anteriores fuzilaram umas 60 pessoas: entre elas, muitos padres, alguns religiosos, três canônicos, e na noite passada, ao Sr. Bispo. Conservo até o presente momento toda a serenidade de meu caráter, olho com grande simpatia a situação que me acerca, considero uma graça especialíssima, dar minha vida em holocausto por uma causa tão sagrada, pelo único crime de ser religioso. Se Deus me considerou digno de tamanho bem e merecimento, alegrem-se também vocês, meus amadíssimos pais e irmão, pois lhes cabem a glória de ter um filho e irmão mártir por sua fé. Sinto, humanamente falando, o único pesar de não lhes dar meu último beijo. Me atormenta pensar que sofrerão por mim. Tenham ânimo,

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meus amadíssimos pai e irmão, ao lado de sua aflição surgirá sempre a glória das causas que motivaram minha morte. Roguem por mim, vou a melhor vida. Meu amado pai: a inteireza de seu caráter me dá a completa seguridade que seu espírito de fé lhe fará compreender a graça que o Senhor lhe outorga. Isto me anima muitíssimo: lhe dou o beijo mais forte que já lhe dei em toda a minha vida. Adeus, pai, até o céu. Amém. Minha mãe idolatrada: Eu me alegro em pensar na dignidade, que Deus quer te elevar, fazendo-a mãe de um mártir. Esta é a melhor garantia de que seremos eternamente felizes. Ao recordar de minha morte lhe acompanhará sempre esta grande ideia: “Um filho morto, como um mártir de fé”. Saiba que o crime que os homens me imputam é ser discípulo de Cristo. Minha querida mãe, adeus, adeus... até a eternidade. Que feliz eu sou! Meu muito caro irmão: Em pouco tempo, que duas graças tão grandes, me concederá o bom Deus! A profissão de um holocausto absoluto, o martírio e a união decisiva ao meu grande Amor! Não sou um ser privilegiado? Isto é o mais íntimo que tenho para comunicar-te. As cartas em anexo, devem ser enviadas ao estrangeiro, juntamente com a relação da minha prisão, já estão endereçadas com com clareza. O meu último beijo, meu irmão, o mais efusivo. Minha despedida são palavras de felicitação tanto para mim como para vocês. Que Deus proteja sempre a família que agora é agraciada com tão grande favor. Seu filho que lhes ama com amor eterno. Aurelio Os mártires de Barabastro são valentes heróis e guerreiros que não combateram com as armas terrestres, mas com “a espada do Espírito que é a Palavra de Deus” (Ef 6,17) Eles são um só coração com o Coração de Cristo, eles se configuraram a Ele inteiramente porque lhe amavam: “Amando a Deus nos tornamos divinos; amando ao mundo nos tornamos mundanos. O amado participa da característica do amante. Por isso, quando se ama o eterno, a alma participa da eternidade”. (Santo Agostinho)

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Milicianos zombando das vestes e objetos litúrgicos em Madrid durante a Guerra Civil em 1936. Beato Florentino Asensio Barroso, bispo de Barbastro, com as vestes corais, martirizado pelos comunistas, depois de sessões de tortura indizíveis, foi castrado, escarnecido e humilhado publicamente.

A cidade espanhola de Barbastro.

Mons. Florentino Asensio Barroso com seu padrinho de consagração episcopal, Dom Pedro Cangas.

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Na Guerra Civil da Espanha, diversos túmulos de religiosas foram profanados.

Cartaz que exortava os trabalhadores a lutarem por revolução. “A Guerra Civil Espanhola foi o primeiro conflito ideológico internacional entre fascismo e comunismo. Táticas militares experimentadas nos com combates foram posteriormente foram usadas na Segunda Guerra Mundial”. (HART-DAVIS, 2009. p.420) Números da Guerra Civil Espanhola: 59 mil voluntários estrangeiros participaram da luta. 500 mil pessoas perderam a vida. 25 mil pessoas morreram de subnutrição.

Comunidade mártir do Seminário Claretiano de Barbastro.

A Guerra Civil que perdurou por três anos, derramou o sangue de muitos milhares de pessoas.

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Beato Esteban Casadevall. Santo Antônio Maria Claret, nasceu em Sallent, Catalunha em 23 de dezembro de 1807, faleceu em Fontfroide, Narbona, no dia 24 de outubro de 1870, foi Arcebispo de Cuba, fundou a ordem dos padres Claretianos, a qual pertenciam os jovens seminaristas martirizados.

Beato Nicaso Úcar Sierra, de tamanha estafa, desmaiou. Nasceu em Cascante (Navarra) em 11 de outubro de 1890. Ingressou no Colégio de Alagón, continuou em Cervera. Foi ordenado sacerdote em 1915. Exerceu a docência em Aranda de Duero. Morreu mártir 12 de agosto de 1936 no grupo formado pelos seis de maior idade, tinha então 46 anos.

Ramon Illa Salvia, nasceu em Bellbís (Lérida) em 23 de agosto de 1923. Seus estudos iniciaram em Cervera e seguiram em Vic, Solsona e por fim em Barbastro. Tinha dois irmãos que também eram clareteanos. Foi morto aos 23 anos, em 15 de agosto de 1936. Subscreveu a comovente carta de despedida dirigida a Congregação, na mesma ressaltou: “Graças e glória a Deus por todas as coisas”.

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Beato Faustino Pérez García

Pe. Pedro Cunill Padró, nasceu em Vic (Barcelona) em 18 de março de 1903. Realizou os primeiros estudos no seminário de Vic, fez os seus votos em Cervera. Tornou-se sacerdote em 1927. Aos 33 anos, foi mártir, na data de 12 de agosto de 1936. de Barbastro.

Atual monumento erguido no local onde os seminaristas foram martirizados.

“Ofereço meu sangue pela salvação das almas”. Eis uma das últimas frases escritas pelo Ir. Javier Luis Bandrés Jiménez, que foi martirizado aos 24 anos, em 13 de agosto de 1936.

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Aos 21 anos de idade, o irmão Alfonso Miquel Garriga, foi martirizado. No dia 13 de agosto de 1936.

Orquestra dos mártires de El Puyo, que continuam a entoar eternamente os louvores ao Cordeiro de Deus, Vencedor e Ressuscitado.

O cárcere adaptado para o qual foram conduzidos os 18 beneditinos monges de Pueyo antes de ser martirizados.

Fotografia da comunidade beneditina durante a procissão de Corpus Christi em 1936.

Dom Mauro Palazuelos, prior mártir do Monastério de El Pueyo, ao lado do crucifixo. “Não nos envergonhamos da cruz do Salvador; bem ao contrário, dela tiremos glória. Pois a palavra da cruz é escândalo para os judeus, loucura para os gentios; para nós a salvação”. (São Cirilo)

O cárcere adaptado para o qual foram conduzidos os 18 beneditinos monges de Pueyo antes de ser martirizados.

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A polônia Oc h o a (Ir. Apolônia do Santíssimo Sacramento) A Esposa Eucarística (1867-1936) “Confiar com toda confiança e esperar com toda esperança”.

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isse Jesus aos seus discípulos: “O Reino dos céus será semelhante a dez virgens, que saíram com suas lâmpadas ao encontro do esposo. Cinco dentre elas eram tolas e cinco, prudentes. Tomando suas lâmpadas, as tolas não levaram óleo consigo. As prudentes, todavia, levaram de reserva vasos de óleo junto com as lâmpadas. Tardando o esposo, cochilaram todas e adormeceram. No meio da noite, porém, ouviu-se um clamor: ‘Eis o esposo, ide-lhe ao encontro’. E as virgens levantaram-se todas e prepararam suas lâmpadas. As tolas disseram às prudentes: ‘Dai-nos de vosso óleo, porque nossas lâmpadas se estão apagando’. As prudentes responderam: ‘Não temos o suficiente para nós e para vós; é preferível irdes aos vendedores, a fim de o comprardes para vós’. Ora, enquanto foram comprar, veio o esposo. As que estavam preparadas entraram com ele para a sala das bodas e foi fechada a porta. Mais tarde, chegaram também as outras e diziam: ‘Senhor, Senhor, abre-nos!’ Mas ele respondeu: ‘Em verdade vos digo: não vos conheço!’ Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora”. (Mt 25,1-13) Na Guerra Civil Espanhola incontáveis religiosas tiveram as suas vidas brutalmente ceifadas pelos revolucionários comunistas, a ordem era fazê-las negar a Jesus Cristo e estuprá-las, para que “fossem elevadas a condição de mães”, as que não se entregassem de boa vontade deveriam ser mortas pois eram inimigas do proletariado, se constituam como perigosas fascistas, serviçais dos opressores. Por toda a Espanha, subitamente, conventos foram completamente destruídos e a totalidade das religiosas de muitas congregações e ordens, foi torturada, violentada e morta. Contemplamos hoje, o exemplo deixado pelas heroínas espanholas, mulheres digníssimas, verdadeiras virgens prudentes que estavam aguardando ansiosas para o encontro com o Esposo. Mulheres santas, que de modo absoluto depositaram a sua confiança em Deus e jamais se decepcionaram, mas ao contrário, mesmo sofrendo o martírio, demonstravam aos seus algozes a felicidade

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própria de quem encontrou Cristo. Louvaram com as suas vidas, celebraram as suas núpcias com o Esposo Ressuscitado, que passou pela Cruz e que no altar se transubstancia nas espécies consagradas do Pão e do Vinho. Eram mulheres repletas do Amor Eucarístico! Heroínas hispânicas, que com as lâmpadas acesas, mesmo torturadas e assassinadas, não tiveram as suas vidas roubadas. “Ninguém Me tira a vida; Eu dou-a livremente” (Jo 10, 18). Antes mesmo que os comunistas lhes dessem a coroa do martírio, elas já tinham se entregue ao Senhor, como Hóstias Vivas, oblação total e generosa. Benditas Mulheres que atraíram para si os olhos do Grande Rei e o encantaram com a formosura de suas almas! “Só um mês depois do começo da guerra, em agosto de 1936, em todas as regiões da Espanha dominadas pela República (pelos comunistas) cidades, povoados e granjas foram inundados pela fúria anticlerical. Apenas nesse mês de agosto, houve 2.077 assassinatos de padres, frades e freiras, numa média de 70 por dia, além das execuções sumárias de muitos leigos, só pelo fato de serem católicos. (Paus, 2011 , p. 37) Bem-Aventuradas espanholas mártires, amorosas mulheres de coração voltado para Deus, esvaziadas de tudo e de si próprias: “Para possuir Deus plenamente, é preciso nada ter; porque se o coração pertence a Ele, não pode voltar-se para outro... O amor consiste em despojar-se e desapegar-se, por Deus, de tudo o que não é Ele”. (São João da Cruz)

Herdeiras de Santa Teresa D’Ávila Afirmou São Francisco de Sales: “O fogo sagrado do amor de Jesus nutre-se com o lenho da Cruz”, o fogo do amor das mulheres das narrativas que seguem, o óleo de suas lamparinas, foi a cruz que ternamente abraçaram. Apesar de não terem o coração ferido por um anjo com uma flecha que tinha na ponta uma chama de fogo, essas grandes mulheres tinham um coração abrasado de amor, que foi nutrido pela cruz que abraçaram, assim ouso dizer que são herdeiras de Santa Teresa D’Ávila. Viveram como essa grande santa uma forte valentia cristã, a ela se assemelharam no amor esponsal e no coração inflamado pelo fogo do amor. Conta-nos Santa Teresa D’Ávila, na autobiografia: O Livro da Vida: Quis o Senhor que eu tivesse algumas vezes esta visão: eu via um anjo perto de mim, do lado esquerdo, em forma corporal, o que só acontece raramente. Muitas vezes me aparecem anjos, mas só os vejo na visão passada de que falei. O Senhor quis que eu o visse assim: não era

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grande, mas pequeno, e muito formoso, com um rosto tão resplandecente que parecia um dos anjos muito elevados que se abrasam. Deve ser dos que chamam querubins, já que não me dizem os nomes, mas bem vejo que no céu há tanta diferença entre os anjos que eu não os saberia distinguir. Vi que trazia nas mãos um comprido dardo de ouro, em cuja ponta de ferro julguei que havia um pouco de fogo. Eu tinha a impressão de que ele me perfurava o coração com o dardo algumas vezes, atingindo-me as entranhas. Quando o tirava, parecia-me que as entranhas eram retiradas, e eu ficava toda abrasada num imenso amor de Deus. A dor era tão grande que eu soltava gemidos, e era tão excessiva a suavidade produzida por essa dor imensa que a alma não desejava que tivesse fim nem se contentava senão com a presença de Deus. Não se trata de dor corporal; é espiritual, se bem que o corpo também participe, às vezes muito. É um contato tão suave entre a alma e Deus que suplico à Sua bondade que dê essa experiência a quem pensar que minto. (Capítulo 29, n. 13) Esta experiência extraordinária do amor de Deus, narrada por Santa Teresa, pode ser vista por muitos como imaginação ou inverdade. Tanto as pessoas de sua época como as atuais, tem a discricionariedade para duvidar das palavras da santa, ela mesmo previu isso e desejou que acontece o mesmo a quem lhe julgasse como mentirosa. Contudo, quis a Providência de Deus, desafiar a ciência e expor o meio probatório que garante a veracidade do que ela dizia. Esse fenômeno extraordinário aconteceu em 1571 e ficou conhecido como transverberação. É celebrado anualmente no dia 26 de agosto. No ano de 1591, dez anos após a morte da santa e vinte após o milagre da transverberação, o corpo da carmelita foi exumado, para a surpresa de todos, o seu corpo estava incorrupto, e foi decidido que seria levado a Ávila. Porém, o bispo, pediu que o coração de Santa Teresa fosse retirado e permanecesse na cidade onde ela morreu: Alba de Tormes, onde até hoje permanece exposto. No coração de Santa Teresa se percebeu a cicatriz de uma ferida, com sinais de cauterização, que confirmar a experiência da transverberação, por ela relatada. Inspirados por esse coração ferido de amor, conheçamos outros corações femininos que muito amaram o Senhor.

Irmã Apolonia Lizárraga Ochoa de Zabalegui Apolonia Lizárraga Ochoa de Zabalegui, nasceu em Lezáun, Yerri-Navarra, no feliz dia 18 de abril de 1867. Dois dias depois, foi lavada por seus pais e pa-

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drinhos para a Paróquia de São Pedro Apóstolo, para que pelas águas do Santo Batismo fosse configurada a Cristo e incorporada ao seio da Mãe Igreja, na qual decidiria viver todos os dias de sua vida. Tinha grande piedade e devoção ao Santíssimo Sacramento, seu grande sonho de infância era receber pela primeira vez a Eucaristia. Em 16 de julho de 1886, ingressou no noviciado das irmãs carmelitas da caridade em Vitoria, no dia seguinte emitiu os seus primeiros votos diante do altar do Senhor. Tinha grande capacidade de organização, disciplina e espiritualidade, exerceu o seu apostolado primeiramente em Trujillo, no Cáceres, depois em Villafranca, em Badajoz. No ano de 1907, tornou-se a madre superiora do convento de Sevilla e em 1909, do Colégio das religiosas em Vic. As irmãs reconheciam nela a competência, a bondade e o desejo de servir, assim, lhe elegeram a Superiora Geral no ano de 1925. Em função deste cargo realizou numerosas atividades, viagens e fundações. Durante a perseguição religiosa, estava presente na Casa Geral de Vic, onde se empenhou fortemente para encontrar refúgio para suas irmãs, especialmente para as noviças mais jovens e para as que estavam enfermas. Foi a última a abandonar o convento e escondeu-se em diversas casas de amigos. Os milicianos comunistas lhe aprisionaram em setembro de 1936, na terrível “Checa” de Santo Elias em Barcelona. A Irmã Apolonia do Santíssimo Sacramento, estando viva e consciente, suportou que os marxistas arrancassem os seus órgãos e serrassem os seus braços e pernas. Seus órgãos, a carne de seu corpo e ossos foram jogados no chiqueiro para servirem de alimento para os porcos. A data de sua morte é estimada no dia 8 de setembro de 1936. Tinha 69 anos. “Atualmente existem relatos de alguns sobreviventes e de muitas testemunhas, bem como fotos que comprovam o alegado, que se referem ao cárcere de Santo Elias no ano de 1936, era de conhecimento público que o chefe da “checa”, o miliciano Jorobado, cevava um total de trezentos porcos com carne humana. Muitos presos tornaram-se alimento para os animais, dentre eles a Superiora Geral das Carmelitas da Caridade, Madre Apolonia Lizárraga, esta vítima foi esquartejada, em quatro partes, depois em pedaços menores, para que fosse devorada pelos ditos animais. Neste cárcere, totalizavam 42, os porcos em regime de engorda”. (MONTERO, 1961, p. 161). A Irmã foi beatificada em 6 de novembro de 2007.

A proibição da educação religiosa e a doutrinação da juventude O Estado comunista procura apoderar-se da juventude desde a mais tenra idade para lhe impor a sua ideologia oficial do materialismo ateu. Encontra-se

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na Rússia, a partir de 1929, nas escolas, mas com uma ligação ainda mais estrita com o governo soviético, a propaganda dos Sem-Deus. Grupos de jovens ateus militantes foram criados nas escolas entre os alunos. Foi criada oficialmente a União dos Sem-Deus, formada por militantes comunistas, para dirigir diretamente a educação antirreligiosa das crianças. Conforme determinação do Manual oficial, de 1934, editado pelo Estado soviético e intitulado – “Organização e métodos do trabalho antirreligioso”, lê-se no capítulo: o trabalho antirreligioso entre as crianças, esta frase: “A União dos Sem-Deus dirigirá diretamente a educação antirreligiosa das crianças, na idade escolar, organizando grupos de Jovens Sem-Deus, que sejam militantes na causa. Os professores primários: receberam uma formação especial, em escolas e universidades especificamente antirreligiosas, destinadas a esta educação ateia das crianças. Há perfeito acordo oficial entre o Ministério da Educação Pública do governo russo e a União dos Sem-Deus. O Comissariado da Instrução pública dá diretivas formais no sentido duma educação ateia, a seguir de acordo com a União dos Sem-Deus. (GUERRY, 1960, p. 166-167) Numerosas gerações soviéticas foram assim educadas no ateísmo militante. Exerciam-se pressões oficiais sobre os pais, convidando-os a tomar consciência da “mutilação” que constitui a educação religiosa. Nas outras democracias populares, exerce-se uma pressão sobre os alunos das escolas e em numerosas atividades circum-escolares praticamente obrigatórias. Na Romênia, tomaram-se desde o princípio deste ano (1960), novas medidas para subtrair da juventude a influência da família e da Igreja. Igualmente na Checoslováquia. Mesmo na Polônia, onde o governo teve de ter em conta a forte pressão da Igreja, o número de escolas sem ensino religioso aumentou consideravelmente. Na Espanha o ensino religioso foi totalmente banido e caso fosse descoberto algum instituto educacional que professasse a fé, os membros seriam mortos. As irmãs espanholas Carmelitas da Caridade de Cullerà tinham um colégio onde instruíam as jovens humana e espiritualmente.

As Carmelitas da Caridade de Cullerà Foram feitas prisioneiras, todas as carmelitas da caridade que estavam tanto no Colégio, quanto na Casa de misericórdia, situados em Cullerà (Valença). As fidelíssimas religiosas tinham compreensão do estava acontecendo por toda a Espanha, acentuaram as práticas de oração e tentavam encontrar também meios práticos de escapar das mãos dos inimigos, contudo, no mais íntimo já estavam prontas para o sacrifício final. “Meu coração está pronto meu Deus”. A superiora da comunidade, a Madre Elvira da Natividade de Nossa Se-

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nhora, nome civil de Elvira Torrentallé nasceu em Balsareny Paraire Torrentallé, Barcelona, no dia 19 de junho de 1889. Ingressou no noviciado em Vic, em 9 de setembro de 1906, dois anos depois foi designada para a casa de Cullerà, onde em abril de 1925, com muita devoção e solenidade fez sua profissão perpétua. Na ocasião foi designada para exercer sua missão no Colégio Sagrado Coração. No dia 13 de janeiro de 1933, tornou-se a Madre superiora da comunidade de Cullerà. Era amável com as irmãs, tinha grande piedade, modéstia e delicadeza, igualmente era determinada e tomava decisões firmes. Todas as suas ações eram precedidas da escuta do Senhor na Eucaristia, o seu grande amor. Ela com humildade, muitas vezes consultava as outras irmãs, antes de tomar decisões, ela lhes via como instrumentos pelos quais Deus lhe falava. Com a guerra civil, o furor dos revolucionários vermelhos praticou terrorismo por todo o país, contra os católicos, a quem consideravam inimigos e opositores ideológicos. As famílias das religiosas, estavam muito preocupadas, tentaram fazê-las desistir de seguir a vocação. A Irmã Maria Calaf de Nossa Senhora da Providência, que era possuidora de um caráter amabilíssimo e tinha um coração fraterno, recebeu a visita de seu irmão, que lhe externou a preocupação da família diante da situação. Ele foi obstinado a levá-la para casa. Ele insistiu muito. A Irmã Maria da Providência lhe respondeu: “Não fugirei. O que acontecer com uma das irmãs, acontecerá com todas nós”. Igualmente a fiel religiosa Ágata de Nossa Senhora das Virtudes (Hernandez Amorós) que era natural de Villena, Alicante, rejeitou abandonar o convento, onde era a cozinheira, ela também não abandonou a sua vida e missão. A sua companheira na cozinha era a Irmã Francisca de Santa Teresa (Amezúa Ibaibarriaga), esta costumava dizer: “A minha cozinha é um pedacinho do Céu, muito melhor que todos os palácios do mundo”. Também esta religiosa não partiu do convento. A Irmã Maria das Dores de São Francisco Xavier (Vidal Cervera) que era uma professora admirada e respeitadíssima por suas alunas, recebeu delas a proposta de abandonar o convento, escondendo-se em suas casas, mas ela optou por permanecer no seio de sua comunidade até o fim. A pedagoga Irmã Maria das Neves da Santíssima Trindade (Crespo Lopez) fez questão de ressaltar que jamais abriria mão da vocação que Deus lhe chamou e não se separaria da comunidade. Na verdade, as religiosas já acreditavam que provavelmente seriam presas e poderiam sofrer o martírio, por isso mesmo tendo a chance de fugir, não conseguiram virar as costas ao único projeto que tinham trilhado em suas vidas, não saberiam viver de outra maneira. Por isso, tanto a superiora, a Madre Elvira e as irmãs já se preparavam espiritualmente para o pior.

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No dia 15 de agosto de 1936, os comunistas adentraram no Carmelo da caridade e lá encontraram as religiosas em oração. O miliciano responsável pelo comitê, ao ver a bastante idosa Irmã Rosa de Nossa Senhora do Bom Conselho (Pedret Rull) lhe dispensou da detenção e que ela só precisava deixar o local, ela, no entanto, disse que não iria embora, até porque a sua vida inteira tinha sido entregue a Deus no Carmelo, ali estava a sua história, a sua vida e o Esposo de sua alma. Ela negou dizendo: “Irei aonde for a superiora, ainda que seja para a morte”! Era uma senhora de idade avançada, bondosa, simples e fervorosa espiritualmente. A Cristo deu toda a sua vida desde a juventude, para Ele unicamente viveu e não saberia viver de outra forma. Ela era muito conhecida e querida em Cullerà. Desempenhava trabalhos caritativos e ainda priorizava momentos de silêncio e recolhimento, onde unia-se ao Senhor Jesus Cristo. Então, as nove Carmelitas da Caridade foram levadas do Colégio e Convento Imaculada Conceição de Cullerà, onde residiam. Foram trancadas e passaram muitas privações, sobretudo a fome. Permaneceram detidas até o dia 19 de agosto de 1936, data na qual foram sumariamente fuziladas pelos membros do comitê anárquico. Quando os assassinos chegaram a Irmã Maria do Santíssimo Sacramento (Giner Amparo Lister) foi até um deles e disse, com a serenidade, que lhe era peculiar disse: “Tu me dás a melhor coisa, me dás o Céu! ” Enquanto eram conduzidas ao lugar do martírio a Irmã Francisca, repetia uma oferta do Senhor, dizia: “Sagrado Coração de Jesus! Para Ti: Nove mártires!”. A Madre Elvira, durante o percurso no qual eram conduzidas a morte, encorajava as irmãs. Ela escolheu morrer por último, enquanto as irmãs eram mortas e até que fosse fuzilada, permaneceu cantando o popular hino eucarístico “Cantemos ao Amor dos Amores”. A Irmã Teresa da Mãe do Divino Pastor (Chambò y Pallets) foi morta beijando o seu anel de profissão religiosa, símbolo de sua fidelidade eterna ao seu esposo Jesus Cristo. Em 11 de março de 2001, o Papa São João Paulo II, beatificou a Madre Elvira e duas das suas companheiras, juntamente com outros 232 mártires. Viveram o amor para com Deus, com o próximo e com as irmãs da comunidade. Fizeram da fidelidade e da fraternidade pilares de sustentação da vocação nos tempos sombrios da perseguição. Nesta mesma cerimônia foi beatificada Amália Abad, Mãe de Família e Mártir.

Amália Abad Casasempere Nasceu em 11 de dezembro de 1897 em Alicante, na Espanha. No mesmo dia, na paróquia do seu povoado recebeu o Batismo. Foi crismada em 6 de outubro de 1906 e recebeu a 1ª Comunhão em 22 de maio de 1907.

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Amália foi educada nos valores da fé e cresceu, como muitas jovens da sua geração, em meio às dificuldades políticas daquelas primeiras décadas do século XX, na Espanha. Em 6 de setembro de 1924, casou-se com o capitão do exército Luís Maestre Vidal, preocupando-se em ser uma esposa e mãe dedicada. O casal teve três filhos. Somente após três anos do matrimônio Dona Amália ficou viúva, dedicando-se sozinha a criar os seus filhos. Aos cuidados de Nossa Senhora consagrou os seus filhos, precisou encontrar forças para manter a casa e sustentar as suas crianças muito novas. Elas foram educadas na piedade, no respeito a Deus e a família. Mesmo incumbida de tão ardorosa missão familiar, de cuidar e sustentar os infantes, Amália jamais deixou de frequentar a paróquia com assiduidade, orgulhava-se em poder dar a catequese as crianças da comunidade e em fazer parte da honrada e nobilíssima Ação Católica. Era uma mulher de nobreza de alma, que amava a Deus e sentia repulsa a injustiça. Com a terrível perseguição religiosa realizada em toda a Espanha, que destruiu incontáveis igrejas, mosteiros e conventos, e o assassinou uma multidão incontável de católicos, Amália, percebeu que duas freiras, que estavam sendo perseguidas, não tinham para onde ir, então as escondeu em sua casa, sabendo que esta atitude poderia custar-lhe a vida. Os comunistas deixaram claro que quem desse refúgio a religiosos foragidos receberiam a mesma pena deles. Ela ignorou a determinação dos revolucionários, grande era o seu despojamento e caridade. Nesta mesma época, ela visitava fiéis encarcerados para dar-lhes ânimo e socorrê-los materialmente. Os anarquistas marxistas, passaram a persegui-la em razão de sua desobediência aos seus ideais terroristas. A mãe da família Casasempere foi capturada, submetida a diversos maus-tratos, privações, fome e tortura. Os milicianos repetiam que ela jamais voltaria a ver os seus três filhos, que tinham menos de três anos e que a ela não interessava o que aconteceria aos infantes, pois agora pertenciam ao Estado, diziam isso para tortura-la psicologicamente, mas as crianças estavam com membros de sua família. No dia 28 de setembro de 1936, em Benillup, a viúva e mãe de família Amália Abad Casasempere, foi assassinada pelos comunistas, testemunhando assim, o seu amor por Jesus Cristo com seu próprio sangue. Deus se dignou em honrar a sua filha Amália, não permitindo que os seus filhos se perdessem e se afastassem do caminho da fé. O seu sangue que fecundou a terra, frutificou e uma das suas filhas consagrou-se ao Senhor e foi enviada como como missionária ao continente africano.

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Beatas Lucrécia Solanas, Viúva e as Irmãs Mínimas de Barcelona Lucrécia Garcia Solanas nasceu em Aniñon, perto de Zaragoza, no dia 13 de agosto de 1866. Em 9 de outubro de 1910 casou-se com o Sr. José Gaudi Negre, que faleceu em 1926. É desconhecida a existência de filhos do casal. Com a morte do esposo, passou a residir no convento das monjas do Instituto das Descalças Mínimas de São Francisco de Paula, em Barcelona, em uma casa fora da clausura, para ficar próxima de sua irmã, Madre Maria de Montserrat. Segundo o historiador e autor de várias obras literárias sobre os mártires espanhóis, Monsenhor Vicente Cárcel Ortí: “Lucrécia estava sempre à disposição das monjas, atuava como porteira recebendo as mensagens para elas; era mediadora entre o mosteiro e o mundo exterior. Muito piedosa, se habituara a seguir as orações da comunidade”. Lucrécia em 19 de julho de 1936, foi correndo ao convento para avisar as religiosas que deixassem o lugar o quanto antes, visto que várias igrejas em Barcelona estavam sendo queimadas pelos comunistas. Eles estavam queimando também todos os colégios religiosos e haviam proibido qualquer forma de educação católica. A Madre Maria de Montserrat, superiora daquele Instituto, que apesar da violência até aquele momento fez questão de permanecer no convento, ordenou às irmãs que se vestissem como civis, e pediu que se escondessem numa torre nas proximidades do local. Refugiaram-se também em vários outros lugares, incluindo o porão da casa da viúva, que ficava ao lado do convento. No dia 21 de julho um grupo de milicianos invadiu o convento, arrombando a porta com dinamite. Primeiro entraram na igreja do local, profanaram lhe e depois lhe incendiaram. Vasculharam toda a casa religiosa procurando bens e riquezas para saquear, contudo, espantaram-se com a pobreza que encontraram no local. Com raiva, por n]ao terem encontrado as freiras, nem as supostas riquezas, foram até o túmulo de duas religiosas, que morreram meses antes, expuseram publicamente, neles cuspiram e urinaram. Dos locais onde estavam escondidas, algumas das Irmãs podiam ouvir o barulho que os comunistas faziam profanando a casa religiosa. No dia seguinte, os milicianos lhe caçavam por toda a cidade, utilizando cães farejadores, o número de refugiadas aumentou, porque algumas não puderam permanecer mais onde estavam, pois, as suas presenças colocavam em risco a vida da família inteira, daqueles que lhe davam abrigo. Não foram encontradas na torre onde estavam e se mantinham em vigília de oração. O porteiro do convento traiu as irmãs, que tanto lhe fizerem bem, ele fez ques-

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tão de mostrar aos revolucionários anticatólicos o local em que elas estavam. Foram encontradas rezando o Rosário. Primeiro, indagaram quem era a Madre Superiora, para interrogá-la sobre as riquezas e fortunas do convento, que não haviam encontrado. A Madre disse que o único tesouro que possuíam era Jesus, um tesouro que não pode ser roubado. “Não acumuleis para vós outros tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde ladrões arrombam para roubar. Mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde a traça nem a ferrugem podem destruir, e onde os ladrões não arrombam e roubam…” (Mt 6, 19-20) Ela ofereceu-se para ser presa no lugar das irmãs e enfatizou que Lucrécia era uma leiga, no entanto não adiantou. Eles perceberam que o grupo não estava completo e questionaram onde estavam as outras freiras, elas negaram a existência de mais irmãs, os milicianos não acreditaram e buscaram até que no sótão, as encontraram, ajoelhadas rezando e bendizendo a Deus. Os anarquistas fortemente insultaram as religiosas mínimas, zombaram e escarneceram o máximo que puderam. Consta que colocaram os rosários das consagradas sobre si, ao passo que riam freneticamente. As freiras foram postas em uma fileira, e delas caçoavam dizendo: “Pensem que estão numa fila para receber a hóstia!” . Foram arrastadas pelas ruas e foi exigido que subissem em um caminhão, muitas não conseguiram devido à altura do mesmo. Assim, foram brutalmente jogadas em cima do transporte. Amparo Bosch Vilanova, testemunha ocular, afirmou com precisão: “Colocaram as irmãs em fila como se fossem receber a Comunhão, empurraram-nas para a rua onde havia um caminhão, onde as jogaram como sacos de batatas, com uma violência tal, que com certeza lhes quebraram alguns ossos”. Uma das religiosas, foi retirada a força do meio das demais, esta era irmã de um líder anarquista, que exigiu que poupassem a vida da sua irmã e garantiu que ela seria trancafiada em um quarto até que rejeitasse Cristo e a Igreja. O caminhão que de modo animalesco transportava as religiosas se dirigiu a Santo André, local onde as irmãs foram fuziladas por volta das 19h. Os seus corpos já apresentavam muitos hematomas, feridas e inflamações, devido as prolongadas torturas que foram submetidas. Os seios e as partes íntimas das monjas, tinham sido perfurados muitas vezes com punhais. Os cadáveres foram amontoados de qualquer maneira. Totalizavam dez mártires, nove religiosas e uma leiga. Vale destacar que enquanto eram torturadas pelos comunistas, todas as monjas, bem como a Sra. Lucrécia, lutaram muito para não serem violadas. Elas preferiam a morte do que o ato libidinoso forçado. As marcas dos corpos re-

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forçam a afirmação de que elas lutaram muito pela castidade. As perfurações de arma branca nas religiões íntimas provavelmente são uma punição por não terem se entregue sexualmente. Foi relatado por uma mulher que ouviu dos próprios agressores, que comentavam no bar, depois de tê-las assassinado: “Que monjas mais valentes morreram hoje!” Ela disse que ele estava impressionado com a valentia dessas mulheres. Foi testemunhado também que as dez mártires haviam dado suas vidas, rezando de joelhos e clamando ao Senhor a misericórdia pelos seus algozes. Com as monjas mínimas estava a Sra. Lucrécia. Em 13 de outubro de 2013, em Tarragona foram beatificados 522 mártires da Guerra Civil Espanhola, número que engloba sacerdotes, consagrados, religiosos, religiosas, e vários leigos, que defenderam a fé e não negaram Cristo mesmo ameaçados de morte e torturados. As monjas mínimas e Lucrécia Garcia Solanas, fizeram parte dos beatificados solenemente pela Igreja nesta data memorável. A Igreja rende o mais profundo louvor por tão valentes mulheres que como Nossa Senhora, viveram para dizer “Sim” a Deus e do mesmo modo que sofreram por Ele, receberam d’Ele a consolação: Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda consolação. Ele nos consola em todas as nossas aflições, para que, com a consolação que nós mesmos recebemos de Deus, possamos consolar os que se acham em toda e qualquer aflição. Pois, à medida que os sofrimentos de Cristo crescem para nós, cresce também a nossa consolação por Cristo. (2Cor 1,3-5) 

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Nossa Senhora do Carmo, a mais bela flor de Deus. Imagem da Basílica a Ela dedicada em Recife, capital pernambucana.

A transverbação de Santa Teresa D'Ávila.

Ir. Apolonia Lizárraga (Carmelita da Caridade).

Pintura que representa Santa Teresa Sanchez Cepeda D'Ávila y Ahumada, mulher de coração dardado de amor pelo Senhor.

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Restos mortais de religiosas, vilipendiados.

As carmelitas da caridade de El Saler.

Mosteiro das irmãs mínimas de Barcelona, reconstruído após a guerra.

Pintura na qual a Irmã Apolonia é representada junto ao Santíssimo Sacramento.

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Mártires mínimas de Barcelona.

A viúva mártir Lucrécia Garcia Solanas.

A Beata Amália Abad Casasempere.

Fantástica pintura que representa as mínimas de Barcelona.

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Fachada do antigo Convento das Clarissas de la calle San Elías, que foi transformado em cárcere (Checa)

Plaza Mayor de Vic em 22 de julho de 1936, repleta de imagens e objetos religiosos sumariamente destruídos.

Durante a Guerra Civil Espanhola, foi produzido um grande número de cartazes, no anseio de recrutar pessoas para fazerem revolução e entrarem em conflito.

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Os pôsteres dos revolucionários eram imensamente agressivos e claros, dispensavam a necessidade de palavras.

Beata María de la Assunción Dolores Vilaseca Gallego.

O ditador espanhol Francisco Franco (1892-1975), em 1936, liderou os nacionalistas que tentaram derrubar o governo esquerdista, essa tentativa irrompeu a Guerra Civil, que terminou em 1939 com a vitória nacionalista. Hitler e Mussolini enviaram ajuda militar a Franco, ao passo que Stalin apoiou os governistas.

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M ar t í n Mar t í n e z P a s c u a l Um olhar de alegria e realização (1910-1936) “Quero somente dar-vos a minha benção para que Deus não leve em conta a loucura que cometereis”.

U

ma imagem vale mais do que mil palavras. Essa frase tão conhecida ganha eloquência diante da imagem deste homem (Vide a primeira foto da página 153), nela se percebe traços de alguém cansado, barba e cabelos descuidados e ainda uma roupa suja. Contudo, esses aspectos não chamam tanta atenção quanto a alegria e a realização que ele demonstra. Tanto pelo sorriso, como também pela serenidade do olhar. É um olhar que fala. Essa foto é conhecida por muitas pes-soas ao redor do mundo. Quem seria esse homem que fala tanto com o olhar? Será algum aventureiro que está em mais uma das suas expedições? Seria um alpinista que subiu uma alta montanha e agora comemora o intento? Não. Este é o padre Martin Martinez Pascual, de 25 anos. Essa foto foi tirada pelos mili-cianos comunistas, poucos instantes antes de lhe fuzilarem, com o intuito de comprovar a morte do jovem sacerdote. Os carrascos não levavam em conta a história fantástica do jovem que matavam. Ignoravam a beleza de uma vocação realizada, não se importavam com o fato dele ser um bom filho, generoso, caridoso e promotor da paz, só levavam em consideração o fato de que era um criminoso, por ser sacerdote. Martín Martínez Pascual, nasceu em 11 de novembro de 1910, em Valdealgorfa, província de Teruel, Diocese de Zaragoza. Filho de um casal católico Martín Martínez Callao e Francisca Pascual Amposta, que lhe instruíram na fé e lhe proporcionaram uma sólida educação, que formou o seu boníssimo caráter. Desde menino sentia o desejo de ser padre, ele se sentia inspirado pelo exemplo do Pe. Mariano Portolés, com quem tinha frequente contato e suscitou muitas vocações em Valdealgorfa. Pe. Mariano era reconhecido pelo seu amor as vocações. Fazia questão de zelar pelos vocacionados e acompanha-los. Durante as férias, ele era o responsável por instruí-los e formá-los. Ainda criança, entrou no Seminário de Belchite e ao concluir foi encaminhado para o Seminário maior de Zaragoza, onde permaneceu até 1934. Neste

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ano, passou a fazer parte da Irmandade dos sacerdotes operários diocesanos do Sagrado Coração de Jesus e em 15 de junho de 1935, foi ordenado presbítero da Santa Igreja. Como neossacerdote foi designado a ser formador do Colégio de São José de Murcia e ainda professor do Seminário Maior de São Fulgêncio. Realizou os seus exercícios espirituais em Tortosa, do dia 26 de junho a 5 de julho de 1936, com o seu irmão na fé, o também beato Pedro Ruiz de los Paños e outros 22 sacerdotes operários que foram mortos neste ano. Desta irmandade sacerdotal, trinta consagrados foram martirizados. Após os exercícios espirituais saiu de férias e foi encontrar a sua família na sua cidade natal. Abruptamente se surpreendeu com que os republicanos estavam causando no país, a perseguição extrema da Igreja e o extermínio cruel do clero e de todos os que não negassem o Cristo ou que eram ligados diretamente a Igreja. Em 26 de julho, devido a perseguição, precisou esconder-se, procurando levar os sacramentos e sobretudo a Eucaristia aos irmãos que estavam privados de recebê-la por ordem dos comunistas. Levava as casas dos fiéis o Santíssimo Sacramento, e nelas escondia-se por pouco tempo, para que não fosse descoberto e as famílias prejudicadas por causa de sua presença. Percebendo que corria muitos riscos e que colocava muitas pessoas em perigo, decidiu refugiar-se a aproximadamente três quilômetros da cidade, numa região montanhosa, onde passou a viver em uma caverna. Seu maior interesse não era somente salvar a sua vida, mas seguir a sua missão sacerdotal, continuar cuidando da espiritualidade dos fiéis, nestes tempos onde a fé era proibida. Na manhã de 18 de agosto, todos os padres que existiam em Valdealgorfa, foram presos, o único que não foi encontrado foi o Pe. Martín, para puni-lo por escapar e forçar que se entregasse, encarceraram o Sr. Martín Martínez Callao, seu pai. A família preocupada enviou ao Pe. Martín um recado no qual comunicava que o seu pai estava preso e que ele tivesse cuidado. O sacerdote estava levando a Eucaristia para os fiéis quando recebeu o comunicado, instantaneamente não teve dúvidas, saiu correndo até o povoado e entregou-se aos milicianos para salvar o pai. Não era justo que ele padecesse no seu lugar. Se o crime era ser padre, ele assumia a culpa pelo “delito”, mas o seu pai não poderia ser responsabilizado. Antes de chegar ao comitê, um miliciano, avistou o Pe. Martínez, de quem era amigo, apesar das ideologias antagônicas. É impossível ter fé e ser marxista concomitantemente. Este rapaz, disse ao seu amigo sacerdote que fugisse e ele lhe ajudaria, porém, não tinha como salvar o seu pai. O padre lhe respondeu que jamais poderia consentir que seu pai padecesse em seu lugar. No comitê, o miliciano amigo, perante os demais comunistas, tentou sal-

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var o Pe. Martín, ele disse que ele era apenas um estudante que queria saber notícias de um prisioneiro. Martín Martínez agradeceu ao amigo, deu-lhe um abraço e pediu que transmitisse a sua família o seu afeto, mas negou o que ele havia dito. Confessou que era sacerdote e que estava disposto a morrer mártir com os seus irmãos na fé. No cativeiro, com a chegada do Pe. Martín, houve um especial momento, os católicos presos adoraram o Santíssimo Sacramento com todo o fervor de suas almas e comungaram. Logo após foram colocados em um caminhão. Totalizavam seis sacerdotes e nove leigos, fiéis católicos, que não negaram a fé e por isso receberam a pena capital. Foram fuzilados friamente pelo Exército Republicano no dia 18 de agosto de 1936, em Siétamo, estado de Huesca. Eles morriam bradando: Viva Cristo Rei! Os comunistas os fuzilaram pelas costas, com a exceção do Pe. Martinez Pascual que fez questão de morrer de frente, olhando não para os rifles, mas para a face dos seus carrascos, perdoando-lhes e abençoando lhes. Clamou a Deus que perdoasse aqueles que lhe martirizavam. Os assassinos antes de disparar, lhe indagaram se queria expressar algo, ele fitando neles o olhar disse: “Quero somente dar-vos a minha benção para que Deus não leve em conta a loucura que cometereis”. E bradou com todo o amor de seu coração: “Viva Cristo Rei! ” Tinha 25 anos e apenas 14 meses de sacerdote. Morreu exortando os irmãos e dando vivas a Jesus, o grande Rei do Universo. Pouco antes de morrer deu um forte abraço em outro amigo, desta vez, um irmão no sacerdócio, o Pe. Manuel Fuster, este havia sido ordenado há apenas um mês. A foto seguinte mostra os cadáveres dos dois padres, enquanto os comunistas posam sorrindo. O sacerdote Martin Martinez Pascual, foi beatificado por São João Paulo II, em primeiro de outubro de 1995, juntamente com 64 vítimas da Revolução Francesa e 44 vítimas da Guerra Civil Espanhola e um religioso escolápio italiano. Na homilia o Santo Padre afirmou: “O martírio é um dom particular do Espírito Santo: um dom para toda a Igreja. Na hodierna liturgia de beatificação, rendamos de modo especial a glória a Deus: “A Ti a legião dos mártires, louvam”. (Te martyrum candidatus laudat exercitus)... Nestes novos Beatos, Cristo manifesta de modo particular, a riqueza do seu mistério pascal, de cruz e ressurreição. ‘Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, Se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza’. (2 Cor 8, 9)”

Beatos Mártires Passionistas de Daimiel, Espanha Ainda no contexto da Guerra Civil Espanhola, não pode deixar de ser apresentado o martírio dos filhos espirituais de São Paulo da Cruz, ou seja, os jovens

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seminaristas e padres da Congregação da Paixão de Jesus Cristo. Esta foi fundada no século XVIII, por esse santo que contemplou a Cruz de Cristo com todo o amor e buscou em toda a sua existência, configurar-se a Ele. “Na Paixão de Cristo não há engano, quem se aconselha com o Crucificado jamais erra”. (São Paulo da Cruz) Uma bela congregação que tem por carisma o esvaziamento e oblação. Tem a missão de anunciar o Evangelho da Paixão a toda humanidade. Que busca ter a mesma atitude de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai. (Fl 25-11) Os religiosos do convento do Santo Cristo da Luz, da comunidade Passionista de Daimiel (Ciudad Real), viviam uma vida de formação e intensa espiritualidade e oração. Era uma casa onde os jovens eram instruídos para serem enviados em missão, tanto na própria Espanha, como na América. Os milicianos marxistas, passaram a caçar os religiosos da congregação com o mesmo furor que acontecia em toda a nação hispânica. Destarte, a comunidade Passionista de Daimiel, foi despejada do convento às doze horas da noite de 21 de julho de 1936. O Superior provincial da comunidade, o Pe. Nicéforo de Jesus e Maria, pediu que todos os religiosos se reunissem na Igreja, contemplando a imagem de Cristo Crucificado e da Virgem Dolorosa, depois entregou-lhes o Sagrada Eucaristia, disse-lhes compenetrado: “Meus filhos, este é nosso Getsêmani; nossa natureza, em sua parte débil, desfalece e se acovarda; porém, Cristo está conosco. Eu vos dou Aquele que é a fortaleza dos débeis. A Jesus lhe confortou um anjo; a nós, Ele mesmo, Jesus, é quem nos conforta e sustenta. Dentro em poucos momentos estaremos com Ele. Ânimo, moradores do Calvário, para morrer por Cristo! A mim me toca animá-los e eu mesmo me estimulo com vosso exemplo”. Comungaram com toda a fé. Entregaram-se nas mãos do Senhor. Se dispuseram a partir para o Calvário, vivendo o martírio e realizando na própria carne o carisma que abraçaram de serem “Cristos crucificados”. O Pe. Nicéforo, apresentou aos seus irmãos a verdadeira vitória que vence o mundo, a morte e

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o pecado: A Cruz. Esse sacerdote, viveu o que o seu nome profeticamente propôs, Nicéforo significa: “aquele que leva à vitória”. Os Passionistas então de modo belo, uniram-se não somente para contemplar, mas agora para carregar o lenho da Cruz. Abraçaram a Cruz, a qual tanto exaltaram: “Ó grande obra da Divina Piedade! Então morreu a morte, quando na Cruz morreu a vida”. (Antífona do Ofício da Santa Cruz) Antes de abrir as portas para que os religiosos se retirassem, o Pe. Nicéforo os exortou, insistiu que não deveriam se acovardar e que tinha chegado a hora final de serem verdadeiros passionistas. Logo que abriu as portas, os jovens religiosos foram saindo aos poucos e rapidamente foram cercados por aproximadamente duzentos comunistas fortemente armados. Um miliciano, lhes ameaço com a sua arma apontada, exigindo que andassem rápido abandonando a Igreja e o convento. O valente Pe. Nicéforo lhe disse: “Se querem matar-nos, façam-no aqui, na igreja”. O comunista astuciosamente retrucou: “Quem lhe disse que queremos matá-los? O que queremos é vocês se retirem daqui definitivamente”. Escoltados como malfeitores, os passionistas tiveram que sair da Igreja por vias escuras sem saber para onde ir. Mesmo em circunstâncias tenebrosas, sem enxergar direito, tinham a luz dentro de si, a Eucaristia iluminava os seus corações, qual farol que norteia as embarcações. “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre os que habitavam na terra da sombra da morte resplandeceu a luz. ” (Is 9,2) Os passionistas não cogitaram fugir, caminhavam em filas, como foi ordenado, dois a dois, escoltados por milicianos. Rezavam silenciosamente os mistérios dolorosos e a Via Sacra, desde a prisão no Horto, a flagelação, a coroação de espinhos, o carregar a cruz, as quedas no caminho do Calvário, o encontro com Nossa Senhora, com as santas mulheres e o com Simão Cirineu. Eles viviam o seu caminho da cruz, consolados pelo Cristo e pela Virgem Dolorosa, simultaneamente eram os “Cirineus” uns dos outros. Foram colocados em um caminhão e os marxistas lhes disseram que seriam levados até à estação ferroviária, para que lá eles tomassem um destino, só queriam retirá-los da cidade. Perceberam, porém, que o caminho que os levavam era outro, eles eram levados em direção ao cemitério, logo passaram a acreditar que ali seriam assassinados, mas estavam equivocados. Não foram, pelo menos ainda não. Ao chegarem em frente ao cemitério foram liberados e receberam a ordem de jamais retornarem a Daimiel, caso contrário seriam mortos. Os religiosos aliviados por terem sidos liberados, seguiram a estrada. Ao chegarem à bifurcação da estrada de Cidade Real a Bolaños, decidiram que de-

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veriam se separar, pois jamais conseguiriam escapar do exército republicano se se mantivessem juntos. Dividiram-se em grupos, foram abençoados pelo padre superior. Eles com muito amor fraterno se cumprimentaram, acreditando que provavelmente jamais se reencontrariam neste mundo. O Pe. Nicéforo, exclamou: “Se Deus quiser nos encontraremos em Madri, ou em caso contrário, no Céu”. Depois os grupos seguiram rumos distintos. Não havia temor em seus corações, compreendiam que eram cidadãos do céu. Ó louco, que pensas viver muito tempo, quando não tens seguro nem um só dia! Quantos têm sido logrados e, de improviso, arrancados ao corpo! Quantas vezes ouviste contar: morreu este a espada; afogou-se aquele; este outro, caindo do alto, quebrou a cabeça; um morreu comendo, outro expirou jogando. Estes se terminaram pelo fogo, aqueles pelo ferro, uns pela peste, outros pelas mãos dos ladrões, e de todos é o fim a morte, e, depressa, qual sombra, acaba a vida do homem. (Sl 143,4). Considera-te como hóspede e peregrino neste mundo, como se nada tivesses com os negócios da terra. Conserva livre teu coração, e erguido a Deus, porque não tens aqui morada permanente. Para lá dirige tuas preces e gemidos, cada dia, com lágrimas, a fim de que mereça tua alma, depois da morte, passar venturosamente ao Senhor. Amém. (Imitação de Cristo) Eles partiram, mas estavam sendo seguidos por milicianos, que mantinham comunicação com companheiros por toda a região. Eles davam dicas de quando passariam os religiosos passionistas, para que fossem capturados e mortos o quanto antes, até hoje se desconhece o motivo pelo qual não foram mortos logo de início no cemitério, a conduta de liberá-los e persegui-los, delegando a terceiros milicianos não era típica, normalmente faziam gosto de executar o quanto antes, escarnecendo dos crentes o máximo possível. Eles informaram a republicanos, de localidades que faziam parte do percurso dos religiosos: “Irão passar por aí os passionistas de Daimiel. São ‘carne fresca’! Não a deixeis escapar...”. No dia seguinte, 22 de julho, foram mortos próximos à povoação de Manzanares os primeiros cinco mártires, dentre eles Pe. Nicéforo. Outros sete, foram baleados e feridos gravemente, mas conseguiram sobreviver ao massacre. Não por muito tempo. Consta que três meses depois, foram recapturados, já estavam extremamente sofridos por causa dos ferimentos das armas de fogo, realizados anteriormente. Os comunistas lhes fuzilaram pela segunda vez e desta vez fizeram questão de certificar se estavam mortos. Os religiosos passionistas que estavam nos outros grupos também foram mortos, alcançando a coroa do martírio em diferentes lugares e datas, alguns

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em Carabanchel Bajo (Madrid), outros em Carrión de Calavatra (Ciudad Real) e ainda em Urda (Toledo). Testemunhas presenciais contaram que o Pe. Nicéforo, depois de receber vários disparos, estando mortalmente ferido, já começando a agonizar, levantou os olhos ao Céu, depois volveu a face para um dos seus assassinos e sorriu levemente, como quem agradecia pelo favor. Ele encheu-se de ódio, questionando: “Como ousa sorrir para mim?” E então disparou o tiro de graça, encerrando enfim a vida do sacerdote. Também existe o relato testemunhal que diz que o Pe. Juan Pedro e o Irmão Paulo Maria morreram com o crucifixo entre as mãos, gritando: “Viva Cristo Rei”! O Papa São João Paulo II, em primeiro de outubro de 1989, beatificou os mártires passionistas de Daimiel, na Praça de São Pedro, no Vaticano. Os restos mortais estão na cripta da Ermida de Cristo da Luz, em Daimiel. Os 26 Beatos Passionistas de Daimiel, que deram sua vida por sua fidelidade ao Cristo e à Igreja são: Nicéforo Díez Tejerina, Superior Provincial; Germán Pérez Jiménez, Superior da comunidade; os padres: Juan Pedro Bengoa Aranguren, Felipe Valcobado Granado, Ildefonso García Nozal, Pedro Largo Redondo, Justiniano Cuesta Redondo, Pablo María Leoz Portillo, Benito Solana Ruiz. Os irmãos: Anacario Benito Lozal e Felipe Ruiz Fraile. Por fim, os estudantes: Eufrasio de Celis Santos, Maurilio Macho Rodríguez, Tomás Cuartero Gascón, José María Cuartero Gascón, José Estalayo García, José Osés Sáinz, Julio Mediavilla Concejero, Félix Ugalde Ururzun, José María Ruiz Martínez, Fulgencio Calvo Sánchez, Honorino Carracedo Ramos, Laurino Proaño Cuesta, Epifanio Sierra Conde, Abilio Ramos Ramos e Zacarías Fernández Crespo.

Manuel Barbal Cosan (Irmão Jaime Hilário) A congregação de religiosos leigos, fundada por São João Batista de La Salle, comumente chamada de Irmãos de La Salle ou Irmãos Lassalistas, também sofreu com as perseguições a Igreja na Espanha. Esta congregação louva a Deus pelos méritos de São Jaime Hilário, religioso que foi imolado pelos republicanos em 1937. Nasceu no dia 2 de janeiro de 1898, em Enviny, perto de Urgel, na Espanha, um menino que foi chamado de Manuel Barbal Cosan. Seus primeiros anos foram marcados pela sólida educação familiar e muito cedo aprendeu a valorizar o trabalho, era de uma família humilde, que trabalhava em lavouras nas montanhas. Com frequência, ia trabalhar com seus pais, enquanto os ouvia falar sobre as histórias da fé, da Bíblia e da Igreja.

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Ainda antes de completar 13 anos, Manuel ingressou no Seminário Menor de Urgel, Contudo, foi impedido de continuar, visto que foi acometido de uma forte dor no ouvido, que prejudicou durante toda a sua vida, a audição. Com muito pesar, o rapaz precisou saiu do seminário para fazer o tratamento. As dores no ouvido se caracterizavam um grande incomodo para Manuel Barbal. Nele existia a certeza de que pertencia ao Senhor e que foi criado para o seu serviço, rezava com o grande salmista hebreu, Davi: “Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe. Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável.Tuas obras são maravilhosas! Digo isso com convicção. Meus ossos não estavam escondidos de ti quando em secreto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro É antes de qualquer deles existir”. (Salmos 139s 13-16) No ano de 1917, o rapaz conseguiu voltar a seguir a sua vocação religiosa, não mais como seminarista, desta vez ingressando como noviço na Congregação dos Irmãos das Escolas Cristãs ou Irmãos de La Salle/ Lassalistas, onde passou a estudar pedagogia e ainda a ter a devida formação religiosa. Era costume na congregação adotar um novo nome de consagração, representando o nascimento de uma nova pessoa, que existia com o escopo de seguir o chamado de Cristo. Assim, Manuel Barbal, passou a se chamar Irmão Jaime Hilário. Como Irmão Lassalista, foi convidado pelo Senhor, a consagrar-se totalmente a Ele, através dos votos religiosos de serviço educativo aos pobres, estabilidade no Instituto, pobreza, castidade e obediência. Dedicou a sua existência e todas as suas forças na missão de educar crianças e jovens, perpetuar o amor de Cristo a cada um. O Irmão Jaime Hilário, foi um homem que mantinha os olhos fixos no Senhor e que com o seu coração queria acolher as crianças e jovens indistintamente, queria apresenta-las que era possível trilhar um caminho de santidade. Ao concluir a sua formação, o irmão seguiu seu caminho, se tornando um exímio educador, tinha grande capacidade didática, sobretudo na catequese, que ministrava com muito apreço e afinco. Trabalhou em diferentes cidades hispânicas. Ressalte-se que durante todo o tempo, a doença auditiva continuava a ocasionar-lhe dores agudas e cada vez mais intensas, era um homem forte, outros, caso estivessem sentido as dores que ele sentia, se diriam incapazes de se levantarem de suas camas, ele porém não parou. O Irmão seguia a sua vida com fidelidade, espirito fraterno e confiança em Deus. No mês de julho de 1936, o Ir. Jaime tirou férias e foi reencontrar-se com sua família. Já tinha conhecimento do ambiente de austeridade e desprezo à

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Igreja que os marxistas tinham criado em toda a pátria. Havia forte propaganda anticatólica e ateísta. Os vermelhos espanhóis baseavam-se nos Programas e estatutos do partido comunista, (bolchevista) da URSS, que dispunha com clareza no parágrafo 13: “O partido comunista da União Soviética inspira-se na convicção de que só uma planificação consciente e deliberada de todas as atividades sociais e econômicas das massas trará consigo a morte natural dos preconceitos religiosos... O Partido luta pela dissolução completa de todo o laço entre as classes exploradoras e as organizações de propaganda religiosa, facilita a emancipação efetiva das massas trabalhadoras dos preconceitos religiosos e organiza a mais larga propaganda científica, pedagógica e antirreligiosa”. O Irmão Jaime, ao chegar em Mollerussa, tem conhecimento da real dimensão do que os comunistas eram capazes de praticar. O mal que realizavam era inimaginável. O irmão refugiou-se, buscou esconderijo na casa de uma família amiga, mas não conseguiu ocultar-se por muito tempo. Foi descoberto e consequentemente levado para o cárcere improvisado em Lerida, onde permaneceu até o mês de dezembro, em seguida foi transferido para uma prisão em Tarragona. No dia 15 de janeiro de 1937, tribunal ilegítimo, composto apenas por membros dos partidos de esquerda, lhe julgaram. Perguntaram-lhe onde estava o seu advogado. O religioso retrucou: “Não cometi delito algum. Não tenho necessidade de defesa”. Vários colegas de prisão, passaram a instruir o Ir. Jaime, aconselhando-o a dizer que ele era apenas o jardineiro do Colégio La Salle. Ele não suportou negar quem ele era, não mentiu sobre a sua identidade, pois isso era o que tinha de mais importante e negá-la lhe atormentaria para o resto da vida. Então perante ao nefasto tribunal, uma espécie de júri, ele disse sem hesitar: “Eu sou religioso Lassalista”. Por causa de sua resposta, por ter dito a verdade, foi condenado à pena de morte, não fez jus a nenhum indulto e nem tampouco teve a oportunidade de fazer um último pedido. Ser verdadeiro significa agir seriamente e falar honestamente. Quem é verdadeiro protege-se da ambiguidade, do fingimento, da ilusão e da dissimulação manhosa. A pior forma de mentira é o Juramento falso. (Youcat, 2468, 2476) Por volta das 15h30, no dia 18 de janeiro, o religioso foi conduzido ao Cemitério La Oliva, em Tarragona, local escolhido para o fuzilamento. O irmão mantinha-se em profunda oração, as suas mãos estavam cruzadas sobre o peito. Os milicianos organizados em esquadrão dispararam seus fuzis, mas o lr. Jaime não foi ferido, permaneceu incólume, para a estranheza e espanto de todos.

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Enfurecido, o chefe ordenou um novo disparo e os homens prontamente cumpriram o mandado, novamente não aconteceu absolutamente nada com o irmão. Os membros do exército republicano assustaram-se, jogaram as armas e correram. O líder, se enfureceu com aquela situação e passou a proferir palavras ofensivas ao religioso. Agrediu lhe fortemente e tomado de ódio, disparou diversas vezes na cabeça do Ir. Jaime, que enquanto era agredido, com o olhar tranquilo e a alma repleta de paz, disse: “Morrer por Cristo é viver, meu rapaz! ” Manuel Barbal Cosan (Irmão Jaime Hilário), foi beatificado em 29 de abril de 1990 e canonizado em 21 de novembro de 1999, ambas cerimônias presididas pelo Santo Padre, o Papa João Paulo II, a sua festa litúrgica é celebrada no dia 28 de julho. Jaime Hilário deu a sua vida por fidelidade à verdade e por amor a Deus. Foi mártir pelo seu valente compromisso com a sua vocação e identidade. No tribunal que o irmão foi julgado, na mesma data, vinte e quatro pessoas, conseguiram ser inocentadas e gozaram da liberdade. Somente o religioso foi condenado por escolher dizer a verdade. Um mártir cristão é uma pessoa disposta a sofrer violências e até mesmo a morte, para não negar Jesus Cristo, que é a Verdade, ou ainda por causa de uma firme decisão conscientemente tomada a partir da fé. Como cristão, o religioso lassalista, tinha a compreensão de que era preciso testemunhar a Verdade, custasse o que fosse. Seguiu a mesma postura do seu Mestre, que perante a Pôncio Pilatos, disse: “Para isso e vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade”. (Jo 18,37) São João Paulo II na Encíclica Veritatis Splendor dispõe que: “No elevar os mártires à gloria dos altares, a Igreja canoniza o testemunho deles e declara verdadeiro o juízo deles segundo o qual o amor de Deus implica obrigatoriamente o respeito pelos seus mandamentos, também nas circunstâncias mais graves, e a rejeição de traí-los, também com a intenção de salvar a própria vida”. “O Martírio é um sinal preclaro da Igreja: a fidelidade à lei santa de Deus, testemunhada com a morte, é anúncio solene e empenho missionário ‘usque ad sanguinem’ (até o sangue), para que o esplendor da verdade moral não seja ofuscado no costume e na mentalidade das pessoas e da sociedade. Um similar testemunho oferece uma contribuição de extraordinário valor porque, não só na sociedade civil, mas também dentro das mesmas comunidades eclesiais, não se precipitem na crise mais perigosa que pode afligir o homem: a confusão do bem e do mal, que torna impossível construir e conservar a ordem moral dos indivíduos e das comunidades”. Bendigamos aos Senhor por estes grandes homens, que não foram guerreiros que combateram com as armas terrestres, “mas com a espada do Espírito que é a palavra de Deus”. (Ef 6,17)

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Beato Martín Martínez Pascual, instantes antes de ser fuzilado.

Homem que prestes a morrer deixa transparecer a sua esperança de vida eterna.

Anarquistas zombam, posando para foto, estando o corpo do sacerdote ao chão sem vida.

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O jovem sacerdote antes do conflito hispânico e da perseguição religiosa.

“Ganhar a guerra é impulsiona ue interpela os civis a lutarem. Observa-se ao fundo os símbolos mais significativos para os comunistas: A estrela vermelha e a foice e o martelo. A estrela melha de cinco pontas dedos das mãos dos trabalhador ainda o anseio de controlar os cinco continentes, foi amplamente utilizado na União Soviética, em equipamentos militares e uniformes. Destaca-se que o jornal militar russo é chamado de Estrela Vermelha (Em russo: Krasnaya Zvezda). Foi utilizada em diversos uniformes desportistas, dos países controlados por partidos comunistas. É um horrendo símbolo que onde foi utilizado gerou devastação e morte. É um sinal, que bem como a foice e o martelo, foi utilizado para realizar sangrias por todo o mundo. O potencial maléfico que possui equivale a suástica nazista. Na Hungria, a utilização da estrela vermelha é criminalizada, bem como a suástica. Esse país sofreu a opressão de ambos regimes.

Símbolo da Congregação da Paixão de Jesus Cristo, Passionistas, carisma que busca difundir ao mundo o memorial da Paixão no lenho da Cruz, que segundo o fundador, São Paulo da Cruz é "a maior e a mais admirável obra do amor divino".

São Paulo da Cruz, aos.19 anos, converteu-se, após ouvir um sermão, confessou-se em seguida e prometeu servir a Deus e amá-lo sempre. Aos 26 anos, após sair de uma Santa Missa, se viu vestido de hábito preto e do lado direito do peito, uma cruz branca e o nome de Jesus também escrito em letras brancas. No dia 22 de novembro de 1720, vestiu o hábito preto e durante 40 dias, fez um retiro e escreveu a Regra da Congregação que Deus o chamava a fundar. Esta data pe considerada a data da fundação da Congregação Passionista.

Pintura que representa os mártires Passionistas de Daimiel, unidos a Virgem Santíssima.

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O Pe. Nicéforo de Jesús e María e comunidade mártir de Daimiel.

Ir. Eufrasio del Amor Misericordioso (1915-1936)

Ir. Abilio de la Cruz (1917-1936)

Tomas Cuartero Gascon Ir. Tomas del Santisimo Sacramento) (1915-1936)

São Manuel Barbal Cosan ou Irmão Jaime Hilário.

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Mártires Lassalistas, Beatificados em 2007.

São Manuel Barbal Cosan ou Irmão Jaime Hilário.

A foice e martelo é um histórico símbolo comunista. O Martelo representa a classe operária industrial, em contrapartida a foice representa os trabalhadores agrícolas ou rurais. Unidos a foice e o martelo representam a união destes dois grupos, assim o ideal comunista apregoado por Marx: “Trabalhadores: Uni-vos”, se torna plenamente caracterizado. Inicialmente esse símbolo foi utilizado na Revolução Russa de 1917, tornou-se um símbolo oficial das União das Repúblicas Socialistas Soviéticas em 1924, destarte, desde a Revolução Russa, o martelo e a foice representam vários partidos comunistas e países socialistas. Ressalte-se que usam sempre a cor vermelha como plano de fundo, dizendo que representa o sangue dos trabalhadores, derramados pela exploração, no entanto, não levam em consideração o sangue de muitos milhões, que essa ideologia maldita, derramou.

O Franco nasceu em uma família de militares. Entrou no exército e serviu no Marrocos de 1910 a 1927. Tornou-se o mais jovem general da Espanha em 1926, e era chefe do Estado-Maior em 1936, Chefe militar nacionalista vitorioso da Guerra Civil. Franco passa a dominar a política espanhola e assume como chefe de Estado. Ele restaurou a ordem e apenas o partido dos nacionalistas, tinha legitimidade. Faleceu em 1975, três anos após o seu óbito, a Espanha passou a ser monarquia constitucional. (HARTDAVIS, 2009. p.421)

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M aximilian o K o l b e O Cavaleiro da Imaculada (1894- 1941) “Conquistar o mundo inteiro para Cristo, através da Imaculada”.

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m 8 de janeiro de 1894, na pequena cidade polonesa de Zdunska Wola, Júlio Kolbe e Maria Dabrowska contemplam o nascimento de seu filho Raimundo Kolbe. O casal teve cinco filhos, dois faleceram ainda na infância. Viviam de modo simples, não possuíam riquezas, no entanto eram imensamente felizes, eram tecelões e na fé cristã encontravam força e esperança. Eram membros da Ordem Terceira Franciscana. Uma devoção peculiar marcava a família Kolbe, a devoção à Virgem Maria. Eles moravam e trabalhavam em um quarto alugado. O dormitório era dividido por uma cortina, que separava a casa do local de trabalho, onde ficavam os dois teares. No pequeno espaço reservado para o lar, havia as camas e um oratório com o quadro da Virgem Negra de Czestochowa. A devoção a este título da Santíssima Virgem possuí para os poloneses especial particularidade. Contemplam na imagem da Madona Negra a história da Polônia. Milhares de poloneses anualmente fazem a sua peregrinação a Czestochowa, no rio Warta. Sobre essa devoção expressa o historiador George Blazynski (1980, p.28): Os peregrinos se reúnem na Igreja e Mosteiro Paulino, ambos seculares, situados na colina de Jasma Gora, nas cercanias de Czestochowa. Lá está a imagem milagrosa da Madona Negra. É o Santuário mais venerado da Polônia. O Mosteiro em que se conserva a pintura da Madona Negra é uma antiga fortaleza, de onde os poloneses venceram o exército sueco, no século XVII, quando Varsóvia e Cracóvia haviam sido subjugadas. A vitória foi considerada milagrosa, e o rei polonês John Casimir proclamou a Madona Rainha da Polônia. A imagem da Madona aparece revestida com um manto coberto de honrarias militares, que comprovam as batalhas e guerras em que a Polônia lutou. Contemplar esse quadro, que reúne o orgulho e a profunda religiosidade da nação polonesa, significa começar a entender a Polônia de hoje. Raimundo ainda na tenra idade teve profunda ligação a Santíssima Vir-

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gem, conforme narrou a sua mãe, Maria Dobrowska, na carta que escreveu aos frades franciscanos após a morte de seu filho. — Um dia meu filho não chegou para o jantar. Sentado à mesa, com uma cara muito feia, o pai estava visivelmente aborrecido. Os dois irmãozinhos, Francisco e José comiam sem fazer qualquer barulho, por que o temporal estava armado. Dava para sentir no ar. Quando acabou o jantar, de repente, a porta se abre. É Raimundo, todo esbaforido. Parecia um moleque de rua. E o temporal desabou. — Isso é hora de chegar em casa? – explode o pai. Nem parece que tem uma família! É desse jeito que agradece à sua mãe, que cuida de você? Ela trabalha que nem uma condenada para você andar limpo e arrumado... A bronca não para nisso. O pai está mesmo enfezado. Raimundo se mantém o tempo todo de cabeça baixa e depois sai de fininho para o quarto. Ficou sem jantar nessa noite. No dia seguinte, enquanto eu remendava mais uma vez a camisa dele, meu pequeno Raimundo não saia de perto de mim. Ele continuava de cabeça baixa e todo humilde. — Meu filho, o que é que a gente vai fazer com você? – deixei escapar um suspiro. Raimundo desanda a soluçar e foge para o quarto. Depois eu percebi que ele estava de joelhos em frente ao oratório de Nossa Senhora de Czestochowa. Alguns minutos depois, ele se levanta. Parecia muito preocupado. Passou vários dias assim, pensativo, calado. De vez em quando eu o escutava chorar, trancafiado em seu quarto. Eu me perguntava o que estaria acontecendo. Não podia ser normal aquilo, principalmente na idade dele. Tive de chama-lo para uma conversa. — Escute aqui, meu filho, me conte por favor, o que está havendo. Você ainda anda emburrado por causa da bronca que levou de seu pai naquela noite, não é mesmo? Ele nega com a cabeça. — Então é o que? Por que você anda pelos cantos com essa cara amarrada? — Mamãe, lembra quando você perguntou o que você e papai iam fazer comigo? Eu fui perguntar a Nossa Senhora. E sabe o que foi que Ela me disse? Raimundo contou que Nossa Senhora abriu as mãos e mostrou duas coroas de flores, uma branca e outra vermelha. Com um sorriso nos lábios, Ele perguntou qual das duas ele queria. A coroa branca representava a pureza e a

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vermelha a entrega da própria vida. Era assim que ele tinha entendido o sentido das duas coroas. Raimundo continuou: — Eu não sabia escolher, mamãe. Então resolvi ficar com as duas. Nossa Senhora me sorriu de novo e voltou para o quadro. Foi isso, mamãe. Não estou inventando nadinha. Depois dessa conversa, Raimundo voltou a ser o menino de antes, alegre e tranquilo. Tinha arrancado esse peso de seu coraçãozinho. Eu nunca contei essas coisas para ninguém, nem mesmo para o meu marido. Guardei, no segredo do meu coração, essas palavras de meu filho. Agora que eu sei que ele está morto e como foi que ele morreu, achei que devia conta-las a vocês, seus confrades e amigos. Maria Dobrowska afirmou que o acontecimento acima descrito se deu quando o pequeno Raimundo tinha cerca de 9 anos. Seu pai lhe chamou a atenção porque ele havia pegado umas moedinhas escondidas para comprar um ovo de galinha, para que o ovo pudesse chocar e assim ele teria um animalzinho de estimação. A escolha das duas coroas, fez com que a sua vida caminhasse inteiramente nessa perspectiva. O branco e o vermelho que para Kolbe eram a pureza e o martírio, também eram as cores da bandeira da Polônia. Uma nação que mesmo sofrendo duríssimas perseguições se manteve firme em Cristo e a sua Igreja.

“Polonia semper fideis” A Polônia historicamente é marcada por sofrer perseguições, foram inúmeras tanto do Oriente, quanto do Ocidente. A Igreja Católica sempre esteve junto aos poloneses na defesa de sua soberania. O povo polonês é marcado pelas pressões e sofrimentos que foram acometidos durante os séculos, mas também trazem marcas de uma belíssima história, formada por tradições, pela fé e pela ligação milenar, forte e inquebrável com a Santa Sé de Roma. Inicialmente, nos primeiros trinta anos de história da Polônia, observa-se que em 966, o rei polonês Miesko I casou-se com uma princesa cristã da Boémia, convertendo-se ao cristianismo, o que permitiu que a Polônia passasse a ser integrada a Igreja de Roma, o que afastou o principal pretexto para a invasão germânica. Os germânicos persistiram no desejo da invasão e durante as duas décadas seguintes, o rei teve de combate-los pelo menos por três ocasiões, das quais saiu vencedor. No entanto, houve uma grande derrota, quando Vladimir, “o Grande”, invadiu a Polônia pelo leste e causou a perda de uma de suas principais províncias de fronteira.

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Incontestavelmente o fato do rei Miesko ter adotado o cristianismo ocidental se concretiza um fator crucial para a sobrevivência da Polônia. Escolher por Roma e não por Bizâncio trouxe a Polônia para a principal corrente de cultura ocidental e a tornou uma sentinela avançada do catolicismo nas fronteiras orientais da Europa. Quando Vladimir abraçou o ramo ortodoxo do cristianismo, as duas nações eslavas mais fortes, Polônia e Rússia, colocaram-se em seus respectivos cursos, diferentes e muitas vezes colidentes. (BLAZYNSKI, 1980, p.8) Miesko morreu em 992, deixando seu país bem consolidado, ainda satélite do Sacro Império Romano, mas caminhando rapidamente rumo à sua independência. Boleslau, filho mais velho e sucessor de Miesko, ficou incumbido de concluir o sonho da independência. Com grande empenho fortaleceu o exército e chegou a expandir o território da Polônia até Kiev. Travou batalhas por mais de quinze anos. Ressalte-se que desta época, pela única vez na história, a Polônia foi capaz de derrotar um ataque simultâneo e maciço vindo de Leste e Oeste. Boleslau lutou enfaticamente pela independência polonesa, inclusive junto ao Santo Padre, no desejo de que a Igreja da Polônia fosse independente da hierarquia eclesiástica alemã. Insistentemente Boleslau pediu ao Papa que promovesse a Diocese de Gniezno a condição de Arquidiocese, o que colocaria a Igreja polonesa em relacionamento direto com Roma. Boleslau foi ouvido, Gniezno tornou-se Arcebispado e hodiernamente continua como a Sé do Primado Polonês. O Papa reconheceu ainda a soberania da Polônia e anuiu para que Boleslau fosse coroado rei em 1024, no dia do Natal do Senhor. Ao passo que a maioria dos alemães era protestante e os russos ortodoxos, o catolicismo tornou-se para os poloneses o símbolo da identidade da nação. A Polônia guardou o tesouro do Cristianismo, permaneceu sempre imune as modernas correntes europeias e soviéticas. Se manteve distante dos movimentos racionalista, reformista e revolucionário que se difundiam no continente euro-asiático. Apesar das opressões e perseguições políticas, o secularismo, não influenciou fortemente o povo polonês, que guardava a tradição como prioridade para a nação. O nacionalismo polonês relaciona-se diretamente com o Catolicismo, inclusive nas lutas contra os ataques vindos do Oriente. A Batalha de Varsóvia, na Guerra Polonesa-Bolchevique, de 1919 a 1920, em que a Polônia saiu vitoriosa, exemplifica a luta não somente pela Polônia, mas também para proteger o Cristianismo ocidental. Outro marco se dá na Segunda Guerra Mundial, durante a ocupação alemã, os nazistas decidiram que a Polônia não era uma nação e que o seu povo era escravo. A Igreja fortemente liderou movimentos de resistência. Muitos membros do clero incansavelmente trabalharam pela liberdade da Pátria e para transmitir a fé em Jesus Cristo nesse tempo tão difícil. Milhares de padres e bispos foram presos. Documentos comprovam que cerca de um terço do clero sumariamente foi assassinado. Muitos destes foram levados aos campos de

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concentração, onde em condições degradantes e repulsivas eram submetidos a trabalhos exaustivos e recebiam inimagináveis torturas físicas e psicológicas. Em 1941, diante dos bispos poloneses, Conrado Henlein, alemão, governador substituto da prisão, afirmou sobre o motivo pelo qual os alemães estavam exterminando o clero polonês: “Vocês, poloneses, tem essa mentalidade: a Igreja e nação formam uma só coisa. Nós temos que acabar com isso. E é por essa razão que golpeamos uma vez a Igreja e outra vez o povo, para vos exterminar”. Após o horror Nazista, os comunistas tomaram o poder, inspirados nas sandices de Karl Marx e Lênin, comandados por Stalin, perseguiram fortemente a Igreja. Os poloneses que ainda choravam as suas perdas estavam vivendo o caos social, sentiam imensa descrença nas instituições e estavam destruídos pelas atrocidades das quais foram testemunhas. Nessa situação, a religião tornou-se a coluna de sustentação para todo o povo. A Igreja representava concretamente a força espiritual, histórica e patriótica da Polônia, o que enfurecia loucamente o sórdido Partido Comunista. Antes da Segunda Guerra Mundial, mesmo sendo a maioria, menos de dois terços da população pertenciam à Igreja Católica. No entanto com o massacre de judeus poloneses por Hitler e ainda pelo fato de Stalin anexar as províncias do Oriente (formadas por cristãos ortodoxos gregos) à Rússia, a população católica polonesa passou a ser mais de 95%. Como já foi dito, Hitler tentou tornar os poloneses uma raça de escravos, já Stalin tentou sovietizar a Polônia e para fazê-lo, precisava disseminar o ateísmo, destruir valores cristãos e toda e qualquer forma de liberdade religiosa e de expressão. Hitler e Stalin com seus propósitos perversos, de certo modo, colaboraram para que o povo almejasse pela liberdade e que a identidade histórica entre a Igreja e a nação fosse restaurada. A nação polonesa passou a viver uma situação extremamente paradoxal, ao mesmo tempo tinha que conviver com o Marxismo e o Catolicismo. A Igreja consistia no maior poder junto ao povo, num pais governado por comunistas. Por causa disto os comunistas não ousavam destruir a Igreja, evitavam o confronto abertamente, mas as escondidas, realizava incansáveis perseguições. Muitos padres e bispos foram detidos e impedidos de pregar ou ministrar aulas, por serem considerados subversivos. O Cardeal Wyszynski, o Primaz da Polônia, chegou a afirmar: “O Partido só luta contra a Igreja porque ela é forte, caso contrário não lutaria”. Este cardeal, que na época tinha 78 anos de idade, evidenciou-se um duro oponente ao Comunismo. No entanto, soube agir como interlocutor junto ao regime. Suas ações foram dignas de um hábil diplomata, soube quando falar e os momentos de se opor e os de manifestar apoio. Foi um mediador entre o Governo e o Povo, constantemente apelava à calma e a tranquilidade, defendia junto ao Governo os direitos dos trabalhadores e os direitos humanos, garantidos constitucionalmente.

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Em todas essas ocasiões, a política da Igreja não somente ajudou a liderança do Partido Comunista como salvou todo o sistema de uma total desintegração - acontecimento que teria consequências imprevisíveis dada a situação geopolítica da Polônia. O relacionamento Igreja-Estado no pós-guerra foi entremeado de perseguições, dificuldades, tréguas, diálogo, períodos de modus vivendi frágil e, algumas vezes, de cooperação. Do ponto de vista comunista, a Igreja é um perigo e um desafio a todo o conceito marxista. É a única organização que está além do controle do Partido e engajada na luta pela verdadeira alma polonesa. Apesar das dificuldades opostas pelo Governo, a Igreja tem hoje um número muito maior de adeptos, mais vigários e bispos, e uma quantidade maior de igrejas e seminários do que antes. (BLAZYNSKI, 1980, p.12) Em dezembro de 1970, Gierek, assumiu a liderança do Governo socialista polonês, suas ações mostraram grande contraste em relação as de seu antecessor Gomulka, este caraterizado pela forte perseguição ao Catolicismo e a estagnação do país, aquele, formado no Ocidente, tinha o bom propósito de elevar os padrões de vida da polução e modernizar a nação, por meio de tecnologia e um acelerado crescimento. Sem sombra de dúvidas, outro fato que consagrou a união da Polônia com a Santa Sé foi a eleição do Cardeal Wojtyla como Papa, adotando o nome de João Paulo II. Ele que enquanto jovem sofreu com os horrores do Nazismo e como sacerdote foi vigiado e perseguido pelo Comunismo, que foi nomeado bispo-auxiliar da Cracóvia, em 28 de setembro de 1958. A sua pregação incomodava fortemente o Regime Comunista, pois ele pregava uma força superior, inesgotável e infinita, a força do amor. Ele incomodava por que a sua ideologia afastava o medo do coração dos que o ouviam. Sua eleição ao Pontificado se deu em 16 de setembro de 1978, o primeiro não italiano desde 1522. O Papa João Paulo II, demonstrou grande respeito e consideração ao Cardeal Wyszynski, Primaz da Polônia, ao dirigir-lhe essas palavras: “Não haveria nenhum Papa polonês na Santa Sé, começando este novo Pontificado, cheio do temor de Deus, mas também cheio de confiança n’Ele, se não fosse por sua fé, Cardeal, que não vacilou diante da prisão e do sofrimento, e por sua esperança heroica, sua fé sem limites na Mãe da Igreja ... e por todo o período da história da Igreja na nossa Pátria, que está ligado a seu serviço como Bispo e Primaz”. Ao se dirigir ao Governo polonês, que lhe cumprimentou pelo pontificado, João Paulo II ressaltou: “É nosso desejo ardente que a Polônia se desenvolva tanto espiritual como materialmente, na paz, na justiça e no respeito pelos homens. Com o mesmo espírito de diálogo iniciado por meus grandes predecessores, de quem uso o nome, espero, com a assistência de Deus, fazer tudo o que for útil para o bem de minha amada nação, cuja história está ligada, há milhares de anos, com a missão e o serviço da Igreja Católica”.

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João Paulo II e as peregrinações ao santuário de Maria Na autobiografia do Santo Padre João Paulo II ele escreve sobre o grande valor das peregrinações aos santuários marianos. Ele permite que se conheça a sua devoção filial e observação histórica sob a sua ótica: Ao final da Santa Missa, de Wawel dirigi-me diretamente ao Seminário maior, onde havia uma recepção para os convidados, mas na tarde daquele mesmo dia fui com o ”circulo” dos amigos mais íntimos a Czestochowa. Ali, na manhã seguinte, celebrei a Santa Missa na capela do milagroso Ícone de Nossa Senhora. Para os poloneses, Czestochowa é um lugar especial. Num certo sentido, identifica-se com a Polônia e sua história, sobretudo com a história das lutas pela independência nacional. Aqui surge o ”santuário da nação”, chamado Jasna Góra. Clarus mons - Monte Claro: esse nome, que evoca a luz que dissipa as trevas, adquiriu um significado particular para os poloneses durante os tempos negros das guerras, das repartições e das ocupações. Todos sabiam que a origem dessa luz de esperança era a presença de Maria na sua imagem milagrosa. Assim foi, talvez pela primeira vez, durante a invasão dos suecos, que passou a história com a designação de ”dilúvio”. Em tal circunstância - fato significativo - o Santuário se transformou numa fortaleza que o invasor não conseguiu conquistar. A nação interpretou então aquele evento como uma promessa de vitória. E a confiança na proteção de Maria deu aos poloneses a força para derrotar o invasor. Desde então o santuário de Jasna Góra tornou-se, de certo modo, o baluarte da fé, do espírito, da cultura... enfim, de tudo aquilo que diz respeito à identidade nacional, foi assim sobretudo durante o longo período da repartição e da perda da soberania do Estado. A isso se referia, durante a Segunda Guerra Mundial, o Papa Pio XII, quando afirmava: ”A Polônia não desapareceu e não desaparecerá, uma vez que a Polônia crê, a Polônia ora, a Polônia tem Jasna Góra”. Graças a Deus, tais palavras se confirmaram. Mais tarde, porém, houve um outro período negro na história de nosso país, o da dominação comunista. As autoridades do partido estavam cientes daquilo que Jasna Góra representava para os poloneses, o.Ícone milagroso, e a devoção mariana que sempre ferve em torno dela. Por isso, quando por iniciativa do episcopado, e em particular do cardeal Stefan Wyszynski, partiu de Czestochowa a peregrinação com a “Nossa Senhora Negra”, que deveria visitar cada paróquia e cada comunidade da Polônia, as autoridades comunistas fizeram de tudo para o impedir. E quando o Ícone foi ”sequestrado” pela polícia, a peregrinação continuou com a moldura vazia, e sua mensagem se tornou ainda mais eloquente. Naquela moldura privada da imagem podia-se ler um sinal mudo da falta de liberdade religiosa. O povo sabia que era direito seu reavê-la e rezou com ainda mais fervor para que isso acontecesse.

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Aquela peregrinação durou quase 25 anos e contribuiu para reforçar no país, de modo extraordinário, a fé, a esperança e a caridade. Todos os crentes poloneses vão em peregrinação a Czestochowa. Eu também, desde menino, estava sempre ali. Em 1936 houve uma grande peregrinação da juventude universitária, que terminou com o juramento solene perante o Ícone. Desde então se repete todos os anos. Durante a ocupação nazista fiz essa peregrinação quando já era estudante de literatura polonesa na Faculdade de Filosofia da Universidade Jagellonica. Eu me lembro especialmente dessa época uma vez que, para manter a tradição, fomos a Czestochowa como delegados: Tadeusz Ulewicz, eu e uma terceira pessoa. Jasna Góra estava cercada pelo exército de Hitler. Os padres eremitas de São Paulo ofereceram-nos estadia. Souberam que éramos uma delegação, de modo que a coisa ficou secreta. Tivemos assim a satisfação de conseguir, apesar de tudo, manter aquela tradição. Também fui várias vezes ao santuário, participando de diversas romarias, mais particularmente na de Wadowice. Todo ano em Jasna Góra, em geral no começo de setembro, os bispos faziam o seu retiro. A primeira vez que participei neles era ainda simples bispo nomeado, e foi o arcebispo Baziak que me levou com ele. Lembro-me de que aquela vez o pregador foi o padre Juan Zieja, sacerdote de personalidade eminente. Naturalmente, ocupou o primeiro lugar o cardeal primaz Stefan Wyszynski, um homem verdadeiramente providencial nos tempos que estávamos vivendo. É talvez dessas peregrinações a Jasna Góra que nasceu em mim o desejo de conduzir os primeiros passos do meu peregrinar como Papa em direção a um santuário mariano. Foi esse desejo que me guiou, na primeira viagem apostólica ao México, aos pés da Virgem de Guadalupe. O amor que os mexicanos e, de maneira mais geral, os habitantes da América Central e da América do Sul - têm pela Virgem de Guadalupe (amor que expressam de um modo espontâneo e emotivo, mas muito intenso e profundo) traz numerosas analogias com a devoção mariana polonesa, que também contribuiu para a formação de minha espiritualidade. Chamam-na afetivamente de Maria La Virgen Morenita, nome que de maneira livre pode ser traduzido por ”Nossa Senhora Negra”. Há um canto popular mexicano muito conhecido que fala do amor de um rapaz por uma garota que o povo relaciona com a Nossa Senhora. Sempre ecoam nos meus ouvidos as seguintes palavras melodiosas: Conocí a una linda Morenita... y la quise mucho. Por las tardes iba yo enamorado y cariñoso a veria.

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Al contemplar sus ojos, mi pasión crecía. Ay Morena, Morenita mia, no te olvidaré. Hay an Amor muy grande que existe entre los dos, entre los dos... Visitei o santuário de Guadalupe em janeiro de 1979, durante minha primeira peregrinação apostólica. A viagem foi decidida na sequência de um convite para participar da assembleia da Conferência dos bispos da América Latina (Conselho Episcopal Latinoamericano — CELAM), em Puebla de los Ángeles. Essa Viagem, de certo modo, inspirou e orientou todos os anos sucessivos do meu pontificado. Parei primeiro em Santo Domingo, de onde prossegui ao México. Ocorreu algo absolutamente extraordinário e emocionante quando, dirigindo-me a nosso alojamento, atravessamos as ruas apinhadas de gente: podíamos, por assim dizer, tocar com a mão a devoção de todas aquelas pessoas. Quando enfim atingimos o lugar onde deveríamos passar a noite, as pessoas continuavam a cantar, e já era meia-noite. Então o padre Stanislaw Dziwisz viu-se obrigado a sair para que se calassem, explicando-lhes que o Papa tinha de dormir. Só então se acalmaram. Lembro-me que interpretei essa Viagem ao México como uma espécie de salvo-conduto que poderia me abrir a estrada para a peregrinação à Polônia. Pensei, na verdade, que os comunistas poloneses não poderiam me negar a permissão de reentrar na minha pátria depois que fora recebido num país que tinha uma Constituição totalmente laica, como o México de então. Queria ir à Polônia, e esse meu desejo realizou-se no mês de junho daquele mesmo ano. Guadalupe, o maior santuário de toda a América, é para aquele continente o mesmo que Czestochowa é para a Polônia. É verdade que se trata de dois mundos um pouco diferentes: em Guadalupe está o mundo latino-americano e em Czestochowa, o eslavo, a Europa Oriental. Isso ficou claro durante a Jornada Mundial da Juventude, em 1991, quando pela primeira vez reuniram-se em Czestochowa jovens oriundos de fora dos confins orientais da Polônia: ucranianos, letônios, bielo-russos, russos... Todos os territórios da Europa Oriental estavam representados. Voltando um pouco a Guadalupe. Em 2002 aconteceu-me de celebrar naquele santuário a canonização de Juan Diego. Foi uma ocasião estupenda para render graças a Deus. Depois de ter recebido a mensagem cristã, sem renunciar sua identidade indígena, Juan Diego, descobriu a verdade profunda acerca da nova humanidade na qual somos chamados a ser filhos de Deus em Cristo. “Eu te louvo ó Pai... por que ocultastes estas coisas dos sábios e doutores, e as revelastes aos pequeninos”. (Mt 11, 25) E nesse mistério Maria teve um papel singularíssimo. Trechos extraídos da autobiografia intitulada: “Levantai-vos, vamos!” (Pág. 61- 66)

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Papa Francisco em Jasna Góra O Papa Francisco no Santuário de Jasna Gora, na cidade de Czestochowa, em 28 de julho de 2016, durante a Jornada Mundial da Juventude, na Santa Missa 1050 anos do Batismo da Polônia, disse em sua homilia: Em Caná, como aqui em Jasna Góra, Maria oferece-nos a sua proximidade e ajuda-nos a descobrir o que falta à plenitude da vida. Hoje, como então, fá-lo com solicitude de Mãe, com a presença e o bom conselho, ensinando-nos a evitar arbítrios e murmurações nas nossas comunidades. Como Mãe de família, quer-nos guardar juntos. O caminho do vosso povo superou, na unidade, tantos momentos duros; que a Mãe, forte ao pé da cruz e perseverante na oração com os discípulos à espera do Espírito Santo, infunda o desejo de ultrapassar as injustiças e as feridas do passado e criar comunhão com todos, sem nunca ceder à tentação de se isolar e impor. Nossa Senhora, em Caná, mostrou-Se muito concreta: é uma Mãe que tem a peito os problemas e intervém, que sabe individuar os momentos difíceis e dar-lhes remédio com discrição, eficácia e determinação. Não é patroa nem protagonista, mas Mãe e serva. Peçamos a graça de assumir a sua sensibilidade, a sua imaginação ao servir quem passa necessidade, a beleza de gastar a vida pelos outros, sem preferências nem distinções. Que Ela, causa da nossa alegria e portadora da paz por entre a abundância do pecado e as turbulências da história, nos obtenha a superabundância do Espírito para sermos servos bons e fiéis. Pela sua intercessão, que se renove, também para nós, a plenitude do tempo. De pouco serve a passagem do antes ao depois de Cristo, se permanece uma data nos anais da história. Possa realizar-se, para todos e cada um, uma passagem interior, uma Páscoa do coração para o estilo divino encarnado por Maria: agir na pequenez e acompanhar de perto, com coração simples e aberto.

O imitador dos santos Raimundo Kolbe, era um menino que possuía grande vivacidade, desde muito cedo queria imitar os santos. Conta-se que quando ficou sabendo que São Francisco pegava os pássaros, tentou fazer o mesmo. Guardou um pouco de comida para atraí-los e ficou escondido a esperar, mas quando as aves chegaram, logo saiu correndo na direção delas, que se assustaram e prontamente voaram. Não obteve êxito em imitar São Francisco neste aspecto. Certa vez tomou conhecimento que Dom Bosco, quando criança, ao que-

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brar um vaso de sua casa, pegou uma vara para que a sua mãe batesse nele, a mãe ao ver o gesto do filho, achou engraçado e não bateu. Raimundo aprendeu bem a técnica do fundador dos Salesianos, também logo que quebrava algo ou aprontava alguma travessura, logo aparecia com a varinha esperando o castigo, amolecendo com facilidade o coração da mãe. Imitava os santos até na hora de levar reclamações. Por ser uma família pobre, a somente um dos filhos foi dada a oportunidade de estudar, e esta não foi para Raimundo, mas para Francisco que já havia externado o desejo de ser frei. Embora Raimundo também desejasse ser frei, os pais não tinham recursos para pagar os estudos de ambos. Um farmacêutico ao tomar conhecimento da situação, se prontificou a na sua casa, dar aulas a Raimundo, este que sentia ressoar no mais profundo do seu coração o chamado do Senhor e mais uma vez tentaria imitar São Francisco, agora não mais com os pássaros, mas ao optar por abraçar a pobreza, a castidade e a obediência, a viver radicalmente o Evangelho, a vida de Cristo. Em 1907, os irmãos, Francisco e Raimundo, ingressam no seminário menor dos franciscanos em Lwow. Raimundo passou a ser chamado de Maximiliano. Por sua grande e aguçada inteligência foi enviado cursar filosofia na Universidade Gregoriana em Roma. Sete anos depois faz diante do altar do Senhor os seus votos perpétuos. As mensagens de Nossa Senhora aos pequenos pastores de Fátima fizeram o coração do Frei Kolbe desejar se unir ainda mais a Virgem Maria. As mensagens de Fátima, os inúmeros ataques que a Igreja estava sofrendo e ainda o caos da guerra, preocupavam o jovem frade seminarista. Uma ocasião lhe despertou grande desejo de salvar as almas. Em 1917, ano em que a maçonaria mundial comemorava o segundo centenário de fundação da Grande Loja de Londres, inaugurada em 24 junho de 1717, esta sociedade secreta realizou atos festivos, principalmente em Roma. Vários membros trajando vestes escuras, munidos de bandeiras negras que traziam a figura de satanás derrotando e esmagando São Miguel Arcanjo, desfilaram em grupos por várias ruas da capital italiana. Em resposta, Maximiliano, sentiu a inspiração de criar um grandioso exército para a Virgem Maria, uma milícia de consagrados ao Imaculado Coração. Convidou seis amigos para uma reunião na qual discutiram as ações que seriam realizadas. Aconteceu em uma cela, diante uma singela imagem de Nossa Senhora, com duas pequenas velas acesas ao seu lado. O grupo concluiu que deveriam fundar o movimento que se chamaria “Milícia da Imaculada” e o lema seria: “Conquistar o mundo inteiro para Cristo pela Imaculada”. Na ocasião foi redigida por Maximiliano a ata da reunião, na qual consta: “Finalidade: procurar a conversão dos pecadores, dos hereges, dos judeus, dos cismáticos, etc. e

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especialmente dos maçons; e a santificação de todos pela proteção da Virgem Imaculada. Condições: Oferecimento total de si mesmo à Imaculada, como instrumento em suas mãos imaculadas. Levar a Medalha Milagrosa a todos”. A Milícia da Imaculada nos primeiros meses se resumia aos sete membros. Eles eram seminaristas e tinham muitos compromissos relacionados aos estudos. Logo que foi ordenado sacerdote em Roma no dia 28 de abril de 1918, passou a difundir a Milícia da Imaculada, que neste mesmo ano foi aprovada pelo Papa Bento XV. O neo-sacerdote passou a ser reconhecido por Pe. Kolbe, mas em caráter de consagração, no seu nome foi incluso o nome dulcíssimo de Maria, passando a ser o Frei Maximiliano Maria Kolbe. Logo após a I Guerra Mundial, o Pe. Kolbe retorna à sua pátria, a tão amada Polônia, que acabara de se tornar um país livre. Passou a lecionar a disciplina História Eclesiástica no seminário maior dos franciscanos em Cracóvia. Nesse mesmo período foi acometido de tuberculose, um mal corriqueiro da época. Vivia entre o seminário e o hospital, mas em cada ocasião tentava com todo o seu coração difundir a Milícia da Imaculada, com seu testemunho conseguiu apresentar a fé da Igreja a muitos judeus e protestantes que se convertiam com grande convicção. Padre Kolbe tinha um coração inquieto no desejo de que mais pessoas conhecessem a fé, sentia forte ânsia pela difusão do exército da Virgem Mãe de Deus. Inúmeras ideias brotavam em sua mente, uma delas foi a publicação da revista mensal “Rycerz Niepokalanej” (O Cavaleiro da Imaculada), que começou a ser publicada em janeiro de 1922. Antes da publicação, Pe. Kolbe pediu autorização aos seus superiores, que com prontidão anuíram. No entanto, fizeram a ressalva de que não poderiam ajudar financeiramente de nenhum modo, pois a congregação estava passando por dificuldades de ordem econômica. O Pe. Kolbe se abandou a Divina Providência, empenhou-se em pedir doações, visitou muitas casas, mas o valor que reuniu se mostrou insuficiente para a publicação da revista. Frades testemunharam que o Pe. Kolbe se colocou em profunda oração, prostrou-se diante da imagem da Virgem Maria e lhe recorreu com piedade. A oração de São Bernardo a Nossa Senhora, comumente chamada de “Lembrai-vos” traduz bem a devoção de Pe. Kolbe: Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência, e reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado. Animado eu, pois, de igual confiança, a Vós, Virgem entre todas singular, como a Mãe recorro, de Vós me valho e, gemendo sob o peso dos meus pecados, me prostro aos Vossos pés. Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Filho de Deus humanado, mas dignai-Vos de as ouvir propícia e de me alcançar o que Vos rogo. Amém.

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Ao levantar-se, imediatamente, encontrou um envelope junto a imagem de Nossa Senhora, no qual era possível ler: “Para ser empregado numa boa obra”. Trazia o valor suficiente para que a revista fosse impressa. A primeira edição da revista “O Cavaleiro da Imaculada” alcançou um sucesso inesperado. Toda a Polônia se interessou pelo mensário, que passou a receber doações que permitiram a manutenção. A revista que tinha por objetivo “iluminar a verdade e mostrar o verdadeiro caminho para a felicidade” chegou a muitos corações e congregou membros para a Milícia da Imaculada. A obra de Deus, sonhada no coração do Frei Maximiliano era grandiosa, a revista obteve proporções inimagináveis para a época, chegou a tiragem mensal um milhão de exemplares, mas Deus inspirou ainda mais o Pe. Kolbe que fundou ainda uma revista voltada para crianças, outra para sacerdotes e, por fim, um jornal que diariamente chegava a ter a tiragem de 200.000 exemplares. As tiragens das publicações eram altíssimas e até então eram feitas em locais improvisados em conventos franciscanos. Pe. Kolbe sentia o desejo de fundar um grande convento especializado na imprensa, recebe em 1927, autorização para construí-lo, o local recebeu o nome de “Niepokalanow” (Cidade da Imaculada). A primeira construção da Cidade da Imaculada foi a capela, pequenina, singela, feita de madeira, onde havia uma bela imagem da Virgem Maria. Ela não deixaria que faltassem os “vinhos” necessários. Ao lado da capela, existia uma barraca que se constituía o espaço comum para os frades. Foi construída ainda uma cozinha e celas individuais minúsculas para o Pe. Kolbe e seus companheiros. Para o novo convento o Frei Maximiliano foi designado como superior, lá residiam com ele dois frades e dezoito irmãos, inúmeros leigos também trabalhavam entusiasmados nesse local de fé. Com o decorrer dos meses foi edificado um grandioso e moderno prédio para a redação. Nele se abrigavam as impressoras e se realizavam os serviços técnicos, com grande eficiência e rapidez. O Pe. Kolbe sempre queria o que havia de melhor no ramo da imprensa para que o apostolado frutificasse. Tal local destoava bastante da barraca e das celas que os frades e irmãos viviam, lugares pobres, pequenos e simples. A obra crescia a cada mês, houve a época que foi necessário que mil pessoas trabalhassem para atender a demanda. Todos os que laboravam na Cidade da Imaculada se consagravam a Virgem Maria.

O coração ardente pela missão Em 12 de fevereiro de 1931 pela primeira vez na história, a humanidade pode ouvir a voz de um papa através de uma mensagem radiofônica. O Papa Pio XI dirigiu a sua mensagem por meio de uma poderosa estação de rádio instala-

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da no Vaticano. Esta emissora foi instalada na Santa Sé por Guilherme Marconi, inventor do rádio, membro da Academia de Ciências Pontifícias. O Papa Pio XI, foi eleito em 6 de fevereiro de 1922, até então Cardeal Aquiles Ratti. Grande historiador e diplomata, possuía grande prudência, confiança em Deus e o otimismo. Foi conhecido como o Papa das Missões por se empenhar em instruir de maneira nova os missionários. No mesmo ano em que foi eleito, 1922 o Papa Pio XI assistiu à chegada de Benito Mussolini ao poder depois da famosa “Marcha sobre Roma” liderando os fascistas italianos. Pio XI, em 1926 consagrou na Basílica de São Pedro seis bispos chineses e ainda outros japoneses, anamitas e indianos. O acontecimento mais relevante do pontificado de Pio XI foi a assinatura em 11 de fevereiro de 1929 do “Tratado de Latrão”, que se constitui uma Concordata do Vaticano com o Estado Italiano, que põe fim a inúmeras questões surgidas entre a Igreja e o governo italiano após a queda do Estado Pontifício, decorrente da “tomada de Roma” feita pelos patriotas italianos em 1870, durante o pontificado de Pio IX. Através desse acordo, o papa renunciava definitivamente às terras conquistadas pelos italianos e por outro lado o governo italiano reconhecia a soberania do papa sobre o Vaticano como Estado Independente, e ainda “lugares extraterritoriais” como Castelgandolfo, Latrão e as principais basílicas de Roma. O Estado Italiano, num acordo separado, se comprometeu em pagar à Santa Sé a quantia de 1750 milhões de liras a título de indenização. O papa tinha agora um pequeno Estado, livre e independente, do qual ele é o soberano, de apenas 0,44 km, sendo o menor país do mundo. Ao Vaticano tocaria o direito de representação diplomática ativa e passiva. O papa, por seu lado, reconhecia o reino da Itália sob a dinastia de Savóia e Roma como sua capital.  A cidade do Vaticano, no coração de Roma, é, na verdade, o coração do mundo. Pelo “Tratado de Latrão” o papa se torna agora o Chefe de Estado do Vaticano. O Tratado foi assinado pelo Papa Pio XI, pelo ditador italiano Benito Mussolini e pelo Rei Vítor Emanuel III, da Itália. O “Tratado de Latrão” foi, sem dúvida, uma conquista para a Igreja e um marco importante no pontificado de Pio XI. Sobre o Papa Pio XI vale destacar as encíclicas que escreveu, as quais combatem o autoritarismo, condenam o Fascismo, o Comunismo ateu e o Nazismo de Hitler, recém surgido na Alemanha, todos causadores de grandes males e atrocidades à humanidade e à Igreja. Em 1931, o Papa Pio XI, homem com o coração ardente pela missão, pediu aos franciscanos poloneses que colaborassem com a missão da Igreja de evangelizar o Japão. Cinco frades prontamente respondem ao chamado do Pontífice,

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dentre eles o Pe. Kolbe, que não hesitou em partir, mesmo tendo que se afastar de suas atividades na Cidade da Imaculada. Foram instalados em uma comunidade humilde na diocese de Nagasaki. Logo que chegou passou a lecionar no seminário e em pouco tempo fundou a versão japonesa da revista “O Cavaleiro da Imaculada”, que tinha uma tiragem mais reduzida pelas dificuldades econômicas dos católicos da região, que em geral eram pobres, mas a revista chegou a ter a tiragem de 30.000 exemplares. Grande nos ideais e metas, o Pe. Kolbe mais uma vez sonhou com a construção de um convento e mesmo com dificuldades, mais uma vez a Providência se derramou e foi edificada a casa religiosa chamada “Mugenir-no-Sono” (Jardim da Imaculada), junto ao convento foi aberta uma casa formativa (seminário) para acolher as primeiras vocações franciscanas japonesas. Com tantas atribuições e trabalho a saúde do Pe. Kolbe se fragilizou absurdamente, em 1936, os médicos japoneses lhe deram no máximo, mais cinco meses de vida, e assim o aconselharam a voltar para a Polônia. Ao regressar a sua pátria, ficou aos cuidados de sua mãe, junto a ela a sua saúde se restabeleceu, de modo que a previsão dos médicos não havia mais qualquer respaldo. Totalmente recuperado reassumiu a direção da “Niepokalanow”. Incansável desejou chegar mais próximo das pessoas que liam as publicações, criou um novo apostolado, no qual era possível se comunicar por correspondência. As pessoas escreviam narrando dificuldades, problemas, dúvidas ou ainda pedindo ajuda material e espiritual. Frei Maximiliano assegurou que jamais as cartas ficariam sem resposta. Diariamente a Cidade da Imaculada recebia cerca de 2 mil cartas, que prontamente eram respondidas. Na solenidade da Imaculada Conceição, em 8 de dezembro de 1938, foi inaugurada a estação de rádio de Milícia da Imaculada. Em 1929, a “Niepokalanow” que a muito tempo não se restringia a um convento, e de fato se concretizava como uma cidade, contava com 762 habitantes, sendo 13 sacerdotes, 18 noviços, 527 irmãos leigos, 122 rapazes no seminário menor e 82 candidatos ao sacerdócio. Haviam profissionais de diversas áreas como membros dessa comunidade, desde médicos, dentistas, agricultores, mecânicos, alfaiates, construtores, impressores, jardineiros, cozinheiros até a um próprio corpo de bombeiros.

Invasão dos Nazistas Adolf Hitler, o repulsivo líder político da Alemanha, vociferava que ocupar a Polônia era de “Fundamental importância para a expansão da privilegiada raça germânica”. Em agosto de 1339, assinou um tratado com o sanguinário comunista Stalin, no qual se uniriam para invadir Polônia e a dividiriam entre os dois. Em primeiro de setembro do mesmo ano, os nazistas invadiram a Polônia

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e a imprensa foi totalmente controlada. O Frei Maximiliano pede que os membros da comunidade voltem para as suas casas, lá ficaria somente ele e outros cinquenta irmãos da ordem franciscana. Disse aos membros: “Tende confiança na Imaculada. Ela vos há de ajudar a perseverar”. “Niepokalanow” passa a ter a finalidade de hospital, no qual os frades atuam como enfermeiros. O Partido Nazista percebeu a grande capacidade intelectual do Pe. Kolbe, lhe ofereceram a cidadania alemã e ainda lhe autorizaram que retomasse a publicação da revista em troca de apoio. Ele recusou a cidadania germânica, mas logo começou a organizar a edição da revista. Os nazistas se decepcionaram com o conteúdo dos textos do Pe. Kolbe, que não fez apologia ao nazista, mas ao contrário foi uma mensagem de esperança e de consolo para todos os leitores. “Ninguém no mundo pode mudar a verdade. O que podemos e devemos fazer é procurá-la e servi-la quando a tenhamos encontrado. O conflito real de hoje é um conflito interno. Mais além dos exércitos de ocupação e das hecatombes dos campos de exterminação, há dois inimigos irreconciliáveis no mais profundo de cada alma: o bem e o mal, o pecado e o amor. De que nos adiantam vitórias nos campos de batalha, se somos derrotados no mais profundo de nossas almas?” Totalmente enfurecidos, os soldados de Hitler censuraram a revista. Adolf nutria desprezo absoluto pelos poloneses. Achava que estes nasceram, especialmente, para executar trabalhos duros. Convinha manter, na Polônia, um baixo nível de vida. Os polacos só podiam ter um amo: os alemães. Todos os representantes da classe intelectual polonesa deviam ser exterminados. Semelhante medida parece cruel, deduzia Hitler, mas era a lei da vida. Por outro lado, os alemães cuidariam da saúde dos polacos e não deixariam que eles passassem fome. Os poloneses, em manada, seriam bem tratados. Todavia, não poderiam alcançar um nível superior, porquanto se converteriam em anarquistas e comunistas. (JORGE, 2014, p.259) Martin Bormann, o secretário do insano líder nazista, registrou o satânico discurso hitlerista: “É conveniente, pois, que os polacos continuem sendo católicos romanos. Daremos de comer aos sacerdotes polacos, e eles se encarregarão, por tal motivo, de dirigir as suas ovelhas para o caminho que nós desejamos... E se algum sacerdote proceder de maneira diferente, logo o chamaremos às contas. A missão do sacerdote é manter os polacos tranquilos, néscios e idiotizados. E tudo isto redunda em nosso interesse. Se fosse permitido aos polacos elevarem-se a um nível melhor de vida, deixariam de ser a mão de obra de que necessitamos... O mais inferior dos operários alemães e o mais inferior dos camponeses alemães devem ocupar sempre uma situação econômica que esteja uns dez por cento acima da de qualquer polaco”. Assim, em 1941, o povo polonês foi decretado por Adolf Hitler como uma raça de escravos. Todas as lideranças capazes de oferecer resistência foram sub-

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jugadas. As universidades foram fechadas, as reuniões foram proibidas e as liberdades cerceadas. Em 17 de fevereiro, a Gestapo, acrônimo em alemão de “Geheime Staatspolizei”, Polícia Secreta do Estado Nazista, conduz o Pe. Kolbe para a prisão de Pawiak, em Varsóvia, local onde se fazia a triagem para escolha dos prisioneiros que iriam para os campos de trabalho forçado. Neste local sofreu ao ser espancado por um guarda nazista que se incomodou pelo fato de estar usando o hábito franciscano e estar com um rosário que tinha um grande crucifixo. O guarda perguntou se o Frei Maximiliano acreditava naquilo, ele de modo singelo respondeu que sim. Então com furor esbofeteia o rosto do frei e em seguida repete a pergunta, o frei igualmente reponde que crê em Cristo. O nazista lhe esmurrou várias vezes com muita força e pergunta novamente e obtém a do frei a mesma resposta. O guarda fica indignado parte para fortes chutes e o pisoteia. O frei foi espancando quase até a morte. Ficou com seu corpo estirado no chão e a face desfigurada. Seus olhos, lábios estavam inchados, sua face estava totalmente ferida. Até nisso se configurou ao Cristo que “Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele. Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniquidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual nosso caminho; o Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós. Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. Ele não abriu a boca”. (Is 53, 3-7) Os companheiros de prisão o levantaram e lhe conduziram ao alojamento. Com a face desfigurada o Pe. Kolbe, dá um sorriso e expressa que está bem. O guarda ordenou que retirassem as suas vestes franciscanas e lhe colocassem um uniforme listrado conforme o dos demais prisioneiros. O Frei Maximiliano, em maio de 1941, foi transferido para o campo de Auschwitz, foi tatuado em seu braço esquerdo o número 16670, pelo qual passou a ser chamado. Ao cruzar o portão principal de Auschwitz, no qual está escrita a frase “Arbeit macht frei” (O trabalho liberta), o sentimento de horror perpassava o mais profundo do ser de qualquer humano. Auschwitz era o mais temido campo de extermínio, localizado no sul da Polônia, construído pelo Terceiro Reich, local que se tornou o maior símbolo do Holocausto, marcado pelos indizíveis horrores, como a humanidade jamais tinha visto. Lugar infernal, uma verdadeira fábrica da

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morte, minuciosamente pensada para com eficiência e desumanidade exterminar milhões de pessoas. Cerca de quatro milhões de pessoas inocentes foram assassinadas nesse tenebroso local, asfixiadas por gases letais. Com eficiência e rapidez sem igual os restos mortais dessa enorme quantidade de vítimas eram cremados em enormes fornos. Além dos judeus, uma grande quantidade de católicos, padres, religiosos e freiras, foram aniquilados nesse lugar de horror. Em Auschwitz, o Pe. Kolbe tinha por trabalho o translado de brita, lenha e cortar árvores, fazia isso exaustivamente, sem alimentação e sem pausa para descanso. Determinada ocasião, não possuiu forças suficientes para carregar um tronco imenso que lhe foi ordenado transportar, caiu no chão e como castigo legou cinquenta golpes com um sólido bastão, que o fizeram desmaiar e aparentemente parecia ter falecido. Os outros prisioneiros cobriram seu corpo com ramos. Era costume cobrir os corpos dos que morriam durante o trabalho dessa forma. No entanto ao cair da noite, o Frei Maximiliano volta a cela, conseguiu sobreviver a essa tortura. Esse espancamento causou uma grande febre durante dias, foi assim transferido para a ala dos infectos. Local em que não murmurava, não se desesperava, mas com confiança se abandonava em Deus e tinha esperança, transbordava aos outros infectos a fé. Dizia aqueles que já estavam como mortos vivos, que não deixassem o ódio tomar conta do coração deles: “O ódio não constrói nada, o amor que salva”. Logo que a Polônia foi invadida, a perseguição Nazista devastou a Igreja Católica neste país. O historiador Delumeau retrata: Ao longo do memorável mês de setembro de 1939, aproximadamente 300 mil civis morreram na Polônia. Somente em Varsóvia, onde 120 mil imóveis foram destruídos e dez mil outros fortemente atingidos, sessenta mil civis sucumbiram; o número de feridos chegou a mais de cem mil... Ao mesmo tempo os santuários eram atacados, as cruzes eram quebradas, destruíam-se as imagens e as estátuas de santos, profanava-se o Santo Sacramento, os tanques derrubavam as pequenas capelas que estavam na beira das estradas. Com uma obstinação especial, destruíam-se os belos monumentos do Sagrado Coração e as estátuas de Nossa Senhora nas praças públicas. A polícia disfarçada com roupas litúrgicas organizava publicamente orgias sacrílegas, durante as quais se dançava, violentavam-se jovens, matavam-se judeus, atirava-se em estátuas de santos, quebravam-se imagens do Salvador... E então a liquidação inexorável da Igreja Católica começou … (DELUMEAU, 2007, p. 38). Somente no famoso campo de concentração de Auschwitz, morreram 20% do total de padres poloneses e milhares de religiosos e religiosas, sendo

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impossível determinar, ainda que aproximado, o número de leigos mortos no campo. Os padres eram o segundo grupo mais odiado do campo e oficiais afirmavam que fariam o possível para que eles não vivessem mais do que um mês em Auschwitz (ROYAL, 2001, p. 241). Apenas a Diocese de Wlocnawek perdeu 220 padres, ou seja, 52% do clero diocesano. Frades e freiras eram abatidos a tiro por recusarem a abandonar igrejas e conventos... outros foram torturados, submetidos a experiências médicas, gaseados, enforcados, estrangulados, mortos na guilhotina ou por outros meios, simplesmente por se recusarem a cometer blasfêmias ou a renunciar às suas vocações religiosas (ROYAL, 2001, p. 261-262). Estima-se, mesmo sabendo que é obter o número preciso de vítimas, que durante a ocupação nazista na Polônia foram assassinados pelo fato de serem católicos, quatro bispos, 1996 padres, 238 religiosos, 113 seminaristas e cerca de 300 religiosas. Segundo Blet, apud. Blessmann (2003, p. 31)

Dar a vida: próprio de quem ama de verdade O Frei Maximilano, o então prisioneiro 16670, se recupera da febre e as suas feridas se fecharam. É transferido então para o Bloco 14. Em 20 de julho, fugiu um dos prisioneiros do bloco. A regra de Auschwitz consistia em que se um fugisse, dez seriam mortos em compensação. Isso consistia em uma forma de intimidação dos prisioneiros, mas para o Nazistas isso era irrelevante, pois pretendiam que todos fossem mortos, matar dez em punição era só adiantar a morte, que era inevitável naquele lugar. Segue o relato feito pelo senhor Borgowiec, que foi colega de campo do Pe. Kolbe, em Auschwitz: Desde o dia 29 de julho até a noite do dia 30, todos no pátio de pé, sem comer, sem água, dormir; a noite foi muito fria e de dia fez calor. Os soldados colocavam comida na nossa frente e a jogavam no chão. Alguns, mais fracos, não tendo mais força, morreram ali mesmo. Eu, o Pe. Kolbe e o Franciszek estávamos na fila, quinta ou a sexta. Fritz, o oficial alemão, andava a entre as filas e quando parava diante de um prisioneiro, significava que era o seu fim, estava condenado. Ele estava escolhendo dessa forma os dez prisioneiros que iriam morrer em represália pela fuga da véspera. Quando Fritz aproximou de mim, minhas pernas tremiam, minha visão sumiu, meu único desejo era viver. Eu rezava continuamente: “Deus, não deixa ele me escolher!” Naquele momento não

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podíamos ter um tipo de reação, não podíamos nem mesmo mudar a expressão do rosto, porque isso já era suficiente para morrer. Quando os dez foram escolhidos e tudo acabou foi um alívio. Um dos escolhidos para morrer, o jovem sargento Franciszek Gajowniczek, gritou lamentando que nunca mais veria sua mulher e filhos. De repente, alguém sai da fileira. Todos horrorizados, era o padre Maximiliano Kolbe! O silêncio era absoluto, só se ouviam os passos em direção a Fritz. Ele estava muito calmo e disse para o oficial alemão: “eu quero ficar no lugar desse homem“. O alemão, pego surpresa, lhe perguntou: “quem é o senhor?”. Isso foi notável, era a primeira vez que ouvíamos um oficial alemão chamar um prisioneiro de senhor. Eles só nos chamavam com insultos. Frei Maximiliano respondeu: “Sou um polonês, sacerdote católico. Este homem tem mulher e filhos”. Ele aceitou a troca. Os nazistas escolheram uma morte terrível para os dez prisioneiros escolhidos para morrer: a fome. Eles seriam mortos pela fome. Os dez foram despidos, e foram fechados numa pequena cela totalmente escura no porão de um dos blocos. Na cela, Frei Maximiliano liderou o grupo com orações e cânticos. Nas duas semanas que se seguiram, os presos iam morrendo um a um, sempre consolados pelo Frade. Na terceira semana ainda havia quatro vivos, entre eles o frágil Pe. Kolbe. Os nazistas perderam a paciência e decidiram matar os sobreviventes com uma injeção de ácido fênico. O Padre Kolbe calmamente estendeu seu braço para o carrasco. Um prisioneiro que foi mandado ao pavilhão onde estavam os agonizantes, viu os últimos momentos de Frei Maximiliano: “Encontrei o padre Maximiliano Kolbe sentado no chão, apoiado na parede, com os olhos abertos e a cabeça inclinada. A sua face era radiante e serena”. Sereno e abandonado em Deus, em 14 de agosto de 1941, às 12h50, vigília da Festa da Assunção de Nossa Senhora, o Frei Maximiliano Kolbe faleceu. Livremente recebeu a coroa do martírio oferecida pela Mãe de Deus quando ele ainda era uma criança. O Pe. Kolbe além de trocar de posição com Franciszek, também trazia no coração o desejo de dar assistência aos outros nove prisioneiros, que padeceriam da fome e da sede no “bunker” (porão da fome). O Pe. Kolbe se dirigiu à Virgem Maria e certamente recordou da escolha pelas duas coroas, chegou o momento de cumprir a opção pela coroa vermelha do martírio, do derramamento de seu sangue, ele piedosamente expressou: “Permiti que eu vos louve, ó Virgem Sagrada. [...] Permiti que para Vós e só para Vós eu viva, trabalhe, sofra, me sacrifique e morra. Permiti que eu contribua, cada vez mais e ainda muito mais, para a vossa exaltação”.

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No bunker, em meio a completa fome e sede, na escuridão e com pouco oxigênio, os prisioneiros oravam, dirigiam a Deus o seu louvor por vários cânticos e recitavam com fé o rosário. Bruno Borgowiec, prisioneiro que servia de intérprete e auxiliar aos alemães, testemunhou essa agonia terrível e expressou o que sentia: “Eu tinha a impressão de estar numa igreja”. Os restos mortais do Pe. Kolbe foram cremados lá em Auschwitz mesmo, as suas cinzas se espalharam ao vento. Um tempo depois foi encontrada uma carta, na qual profeticamente, Pe. Kolbe escreveu anos antes: “Quero ser reduzido a pó pela Imaculada e espalhado pelo vento do mundo”.

Beatificação e Canonização A história do Frei Maximiliano Kolbe ressoava entre os prisioneiros de Auschwitz, com o fim da guerra o seu testemunho ganhou maior proporção ainda e na sua pátria um forte movimento pedindo a sua beatificação surgiu. Os peritos da Igreja afirmavam que a sua morte foi consequência da sua caridade (virtude em grau heroico), mas não diretamente por ódio à fé. O Papa Paulo VI, em 1971, o beatificou na qualidade de confessor da fé ou zeloso pastor, não de mártir. (Justamente por se afastar do conceito clássico do martírio). No processo de canonização o caso foi examinado com suas peculiaridades, já no pontificado de João Paulo II e chegou-se à conclusão de que se o Frei Maximiliano não morreu por causa da fé, morreu por causa de uma virtude (a caridade) associada à fé; por isto seu caso se enquadra entra na definição de mártir. Assim, foi canonizado em 1982, como mártir. Na cerimônia de canonização Francisz Gajowniczek, o homem salvo pelo Pe. Kolbe, estava presente. “Um grande amor por Cristo e um desejar de martírio acompanhavam-no no caminho da vocação franciscana e sacerdotal. Maximiliano não morreu, ele deu sua vida pelo irmão. É por isto que sua morte tornou-se sinal de vitória. Vitória sobre todo o sistema de desprezo e ódio do homem e daquilo que no homem há de divino, vitória semelhante àquela que levou Jesus Cristo ao Calvário...Olhai, olhai do que é capaz o homem que se dedica a Cristo por meio de Maria Imaculada”. Afirmou Santo Padre João Paulo II na homilia da Santa Missa de canonização. O Pe. Kolbe possuía grande carisma para o apostolado da imprensa. Com grande eficácia e propriedade compreendia sobre editoriais e publicações, ele por essa razão é considerado o patrono da imprensa. A missão fundada pelo Frei Maximiliano Kolbe colaborou imensamente para a fé do povo polonês, os preparou para as atrocidades que enfrentaram, conforme afirmaram os bispos da Polônia em e carta oficial à Santa Sé, após a Segunda Guerra Mundial: “A revista de Frei Maximiliano Kolbe preparou a nação polonesa para suportar aquele conflito internacional e sobreviver aos seus horrores”.

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108 Mártires da Segunda Guerra Mundial A Igreja da Polônia sofreu tanto com as atrocidades nazistas, quanto com os vis projetos sanguinários dos comunistas, muitos são os cristãos que foram martirizados por estes sistemas ateus totalitários. A verdade é que quantificar o número é uma tarefa dificílima. Contudo, a Divina Providência permitiu que alguns fossem devidamente identificados para que seus testemunhos de fidelidade continuassem a frutificar a fé. No dia 26 de janeiro de 1992, aniversário da morte do Beato mártir Michal Kozal, foi aberto o processo de beatificação dos mártires poloneses, assinados pelo regime nazista, pelo ódio contra a fé (In odium fidei). Na data supracitada foram apresentados no processo de beatificação 92 cristãos, no entanto no decorrer do processo, o número dos candidatos mudou, sendo que alguns foram retirados, por não haver prova do martírio, no sentido teológico e outros foram inseridos. O Santo Padre João Paulo II escreveu: “Em 1999 pude beatificar 108 mártires, vítimas dos nazistas, entre os quais três bispos: o arcebispo Antoni Julian Nowowiejski, ordinário de Plock; seu auxiliar, monsenhor Leon Wetmanski; e o monsenhor Wladyslaw Goral de Lublin. Com eles foram elevados à glória dos altares sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos. É significativa essa união na fé, no amor e no martírio entre os pastores e o rebanho reunido em torno da Cruz de Cristo. Um modelo largamente conhecido de sacrifício de amor no martírio é o franciscano polonês São Maximiliano Kolbe. Deu sua vida no campo de concentração de Auschwitz, oferecendo-se em troca de outro prisioneiro que não conhecia, um pai de família”. (Levantai-vos, vamos! P. 193-194) Os 108 mártires poloneses beatificados em Varsóvia, dia 13 de junho de 1999, são provenientes de 18 dioceses, do ordinariado militar e das 22 famílias religiosas. Há sacerdotes, religiosos e leigos cuja vida, inteiramente dedicada à causa de Deus, e cuja morte, infligida por ódio à fé, levaram o selo do heroísmo. Entre eles estão três bispos, 52 sacerdotes diocesanos, 26 sacerdotes religiosos, 3 clérigos, 7 Irmãos religiosos, 8 Irmãs e 9 leigos. Estas proporções numéricas estão ligadas ao fato de o clero ter sido o principal objetivo do ódio à fé por parte dos nazistas de Hitler. Queriam calar a voz da Igreja considerada obstáculo na implantação de um regime fundado sobre uma visão do homem privada da dimensão sobrenatural e permeada de ódio violento. Foram beatificados nesta mesma ocasião os colaboradores mais próximos de São Maximiliano Kolbe, também franciscanos de Niepokalanow. Padre Pius Bartosik (1909-1941) e o Padre Antoni Bajewski (1915-1941), estes igualmente sofreram e foram mortos em Auschwitz, onde incansavelmente consolavam espiritualmente os demais prisioneiros.

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Destes beatos, vale ressaltar ainda o exemplo de adorador do sacerdote Franciszek Drzewiecki (1908-1942), Orionita de Zduny, que recebeu a condenado de trabalhar exaustivamente, ao ponto de ser massacrado pelo cansaço, que lhe ocasionou enfermidades, ele permanecia nas plantações de Dachau por uma grande quantidade de horas, não possuindo assim outro tempo para adorar o Santíssimo Sacramento. Assim, com muita piedade, o fiel sacerdote, colocava em uma pequena caixinha a sua frente, hóstias consagradas, e passava todo o tempo de trabalho em adoração. Dessa maneira encontrava forças para seguir.

O prisioneiro 24447 Devido à grande quantidade de prisioneiros feita pelos Nazista, eles precisaram elaborar um método rápido de identificação, especialmente para aqueles que fossem enviados para fazer trabalhos fora do campo. Esse método deveria mostrar, ao primeiro olhar, a que categoria o preso pertencia, visto que cada categoria tinha um tratamento diferente. Os judeus usavam dois triângulos amarelos, formando a estrela de Davi, com a palavra judeu escrita no meio. Os que eram considerados apenas parcialmente judeus usavam apenas um triângulo amarelo. Os dissidentes políticos (dentre eles os padres e católicos) e socialistas usavam um triângulo vermelho. O triângulo roxo era destinado aos testemunhas de Jeová. O triângulo azul era usado para imigrantes. O triângulo castanho destinava-se a ciganos. As lésbicas usavam um triângulo negro, assim como os alcoólatras. Os homossexuais usavam um triângulo rosa. Finalmente, o triângulo verde era destinado aos criminosos comuns, que recebiam privilégios especiais e tinham poder sobre os outros prisioneiros. (DANTON, p.49) O Pe. Piotr Bonifacy Zukowski (Pe. Bonifácio) é representado nas pinturas com as máquinas de impressão do jornal “O cavaleiro da Imaculada” e de fundo a imagem da Virgem Maria, foi detido pela Gestapo, em 11 de outubro de 1941, juntamente com outros seis irmãos da Ordem Menores Conventuais Franciscanos, do mosteiro de Niepokalanów. A SS lhe prendeu pelo fato de que tentou esconder e proteger as impressoras do convento, adquiridas pelo Pe. Kolbe, a quem tanto admirava. Primeiramente, foi levado para Varsóvia, e em 8 de janeiro de 1942 para Auschwitz. Foi identificado com um triângulo vermelho e recebeu o número 25.447. No olhar sereno deste jovem consagrado, transbordava a luz do seu amor por Cristo que é maior do que o ódio e a escuridão. “Quem Me segue não anda nas tre-

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vas, mas terá a luz da vida”, diz o Senhor. Pe. Bonifácio simplesmente demonstrava o seu amor pelo Senhor e pelos seus irmãos, sendo eles os prisioneiros e até os seus algozes. Ele amava com gratuidade. Sua alma foi uma alma esposa de Cristo. O amor se basta, concede prazer por si mesmo e por causa de si mesmo. O amor é seu próprio mérito, sua própria; recompensa. O amor não busca razão fora de si mesmo, nenhum efeito fora de si mesmo. Eu amo porque amo. Eu amo para que possa amar. O amor é uma grande coisa desde que continue sempre a retornar para seu manancial, que seja sempre de volta a sua nascente, sempre extraindo de lá a água que a supre continuamente [...]. O amor do Noivo, ou melhor, o amor que é o Noivo, não pede nada em troca além de amor fiel. Que a amada, portanto, ame de volta. Não deveria uma noiva amar, sobretudo a noiva do Amor? Poderia acontecer de o Amor não ser amado? (Bernardo de Claravel, sobre o amor de Deus revelado em Cristo, como o esposo da alma) Pe. Zukowski, morreu de pneumonia na enfermaria do campo de Auschwitz, em 10 de abril de 1942. Tinha 29 anos, na sua infância, desde muito cedo, tinha trabalhado na agricultura juntamente com os seus pais, Andrzej Zukowski e Albina Walkiewicz. Aos dezesseis anos, tornou-se franciscano, em Niepokalanów, onde permaneceu até ser preso pelos soldados de Hitler. Na cidade da Imaculada, fez seus votos perpétuos em 2 de agosto de 1935 e depois foi ordenado sacerdote. Foi um dos 108 mártires beatificados por São João Paulo II em 13 de junho de 1999. “Feliz o homem que suporta a provação, porque depois de ter sido provado receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu àqueles que O temem”. (Tg 1, 12)

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O pequeno Raimundo, o irmão do meio da família Kolbe.

Maria Dabrowska, a mãe de Maximiliano Kolbe.

Com os irmãos franciscanos.

“Ninguém no mundo pode mudar a verdade. O que podemos fazer é procurá-la e quando a encontrarmos servi-la”.

A lembrança do céu deve estimular-te as grandes virtudes”.

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A revista “O Cavaleiro da Imaculada” era produzida e impressa pelos religiosos.

A Madona Negra, Rainha da Polônia.

Missão no Japão.

O Frei Kolbe passava horas escrevendo cartas. Niepokalanow recebia em média 2 mil cartas por dia e todas eram correspondidas.

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“Não é possível derramarem mais água numa taça já cheia. Assim também Deus não pode verter as suas graças numa alma cheia de distrações e frivolidades”.

O sacerdote Franciszek Drzewiecki, representado com a cruz e a palma do martírio.

Fotografia atual do “bunker” onde foi morto o sacerdote. Nesta cela morreram os 10 condenados, pela tentativa de fuga de um prisioneiro.

Vitral de São Maximiliano Kolbe na igreja franciscana em Szombathely, na Hungria.

108 Mártires polacos da Segunda Guerra Mundial

Sou um polonês, sacerdote católico. Este homem tem mulher e filhos, eu quero morrer no lugar deste homem". Pe. Kolbe se prontifica a dar a vida no lugar do pai de família que seria morto.

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Pe. Piotr Bonifacy Zukowski

Piotr Bonifacy Zukowski, com a máquina de impressão do jornal “O cavaleiro da Imaculada” e de fundo o crucifixo e a imagem da Virgem Maria;

O Pe. Kolbe já debilitado, pouco tempo antes de receber o uniforme de prisioneiro e identificado com o triângulo vermelho e o número.

O pontífice visitou a cela do padre e santo polonês Maximiliam Kolbe, que morreu em Auschwitz. (Foto: Osservatore Romano)

No dia 29 de julho de 2016, o Papa Francisco visitou o campo de concentração nazista de Auschwitz-Birkenau, na Polônia. Ao passar pelo histórico portão de ferro com as inscrições “Arbeit macht frei” (o trabalho liberta), o pontífice contrito orou em profundo silêncio e em seguida encontrou-se com sobreviventes do Holocausto. (Foto de Janek Skarzynski/AFP)

Pe. Franciszek Drzewiecki, adorava o Santíssimo Sacramento para encontrar forças enquanto trabalhava exaustivamente.

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E dit h S te i n (Ir. Teresa Benedita da Cruz) A buscadora da Verdade (1891-1942)

A

“O que nos salvará não serão as realizações humanas, mas a paixão do Cristo, da qual quero ter parte”.

proximadamente um ano após o martírio do Pe. Maximiliano Kolbe, em Oświęcim, no campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, foram aprisionadas a Irmã Teresa Bendita da Cruz e sua irmã de sangue Rosa Stein, elas estavam no Carmelo de Echt, na Holanda. Os nazistas da Gestapo lhes levaram em 2 de agosto de 1942, também seriam mortas em Auschwitz, porém de modo distinto e o mais usual nessa fábrica da morte, suas vidas foram ceifadas na câmara de gás. A religiosa carmelita, Edith Stein, vitimada pelo regime de Hitler, era uma das mais incríveis personalidades femininas do Século XX, uma mulher determinada, uma grande amante do saber e buscadora da verdade, uma filósofa de inteligência notória e uma professora admiradíssima. Edith Stein, teve uma vida que instiga o conhecimento e o debate filosófico, inclusive sobre o ateísmo. Reconheço uma grande dificuldade de escrever sobre esta tão fascinante história, em um número restrito de páginas, visto que existem muitas obras biográficas e de cunho cientifico sobre esta filósofa, judia e católica carmelita. Ao escrever esta breve biografia, tomo por elemento norteador a escultura de Bert Gerresheim, encontrada na cidade de Colônia, na Alemanha, onde pude estar. A obra de arte apresenta uma única Edith, mas que pela mudança de raciocínio e de sua compreensão de existir, mais parecem ser três mulheres distintas. Vejamos a partir de agora as três fases desta nossa honradíssima irmã na fé, que nos enche de orgulho, por tanta coragem e por tamanha união a Cruz, sofrendo com Cristo. Bendito seja o lenho da Cruz, “do qual pendeu a salvação do mundo”. Nunca esqueçamos que o que torna a Cruz redentora é o amor com que Cristo nos amou!

A primeira Edith: A jovem judia que abraça a estrela de Davi Edith Theresa Hedwing Stein, nasceu em 1891, na cidade de Breslávia, Alemanha, atual Polônia, a caçula de onze filhos do casal de judeus, Siegfried e

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Augusta Courant Stein, o nascimento gerou grande alegria, também por causa da data, 12 de outubro, neste dia, todos os anos a família celebrava a tradicional festa judaica, chamada de Kippur, o dia do perdão ou expiação. Esta solenidade é a mais importante para o calendário judaico. Nela o sacerdote solta no deserto um cordeiro sem mancha (bode expiatório) sobre o qual foi lançado o pecado do povo, sendo então uma oferta de sacrifício por todos, em seguida pela primeira vez durante o ano, o sacerdote pode então adentrar no Sancta Sanctorum (Santo dos Santos) do templo. O Santo dos Santos, ficava separada do templo por uma cortina de linho, nela se guardava a Arca da Aliança. A cortina se rasgou no momento em que Jesus Cristo morreu crucificado no calvário. “E Jesus, clamando outra vez com grande voz, rendeu o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo” (Mt 27, 50-51). Antes de completar dois anos ficou órfã de pai. A pequena Edith era de temperamento forte, vivaz e independente. Em Breslávia, residia na rua De Michaelis, uma grande casa antiga, edificada em pedra, que parecia um templo de uma cidade do interior, tinha decoração hebraica, na fachada existiam grandes gravuras com temas bíblicos que enfatizavam as cenas da vida de Israel, a mobília de madeira também era ornada com os temas da religião, na sala destacava-se um castiçal de sete velas, chamado pelos judeus de “Menorá”. Era uma casa feliz, onde a numerosa família estava reunida ao redor da mãe, a Sra. Augusta que era determinadíssima e logo após a morte de seu esposo, corajosamente, com muito empenho e força de vontade conseguiu manter os negócios do marido. Era uma mulher firme, a quem a sua filha mais nova seguiu o exemplo. Toda a família reconhecia que quando Edith colocava uma coisa na cabeça, era impossível dissuadi-la. Enquanto a Sra. Augusta trabalhava, a filha mais velha Elza, se dedicava aos cuidados da família, da casa e dos irmãos mais novos, sobretudo as caçulas, dentre elas Edith, sempre vista como a preferida de todos, por causa de suas posturas sempre afetuosas. Ocorre que ao mesmo tempo em que era tão carinhosa, quando era contrariada, demonstrava rebeldia e explodia em ira. Ademais, demonstrava uma inteligência muito precoce, que lhe proporcionou o primeiro lugar da classe durante toda a sua vida escolar. Ele conseguiu ingressar na escola antes do tempo devido. Quanto estava com 4 anos, já chorava e esperneava para ir à escola com sua irmã Erna, ao começar os estudos, foi matriculada na 1ª série e em pouquíssimo tempo foi promovida para a 2ª série. Ela sempre conseguia o que queria. A pequena Edith, gostava de estar nos braços do irmão Paulo, vinte anos mais velho que ela, a menina mostrava-lhe o seu livro ilustrado de história da

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literatura e lhe ensinava os nomes dos grandes poetas e as obras que tinham realizado. Era impressionante que tão nova, já tivesse tamanha capacidade de memorização. Consta que um dia, após aprontar uma travessura, foi colocada em um quarto de castigo, mas pouco tempo depois, foi liberada, visto que ficou batendo na porta, até que lhe abrissem, bateu tanto, a ponto de incomodar os vizinhos. Edith cresceu numa família praticante da religião judaica, deste modo lhe foi transmitido a fé hebraica, na qual ela não se encontrava, contudo, por respeito a sua mãe, acompanhava-lhe as celebrações na sinagoga, participava das cerimônias pelo seu desejo de agradar a Sra. Augusta, mas não tinha convicção de fé e mantinha postura de dispersão, ficava distraída e se perdia observando as pessoas entrarem e saírem, o modo que as mesmas se comportavam, faziam, não conseguia manter-se concentrada, por causa da sua falta de interesse, mas mesmo assim se dirigia ao Deus de Israel com respeito e fazia orações. Ao atingir a adolescência, deixou de estudar, mas isso não lhe atrapalhava, visto que já estava bem avançada em relação aos demais estudantes e ela possuía uma memória formidável. Neste mesmo período, já com a sua grande autenticidade e cheia de autoconhecimento, decidiu buscar a verdade, que não havia encontrado até então, e neste caminho a pouca fé que tinha, se perdeu, assim deixou de orar e não via sentido na existência de Deus. Anos depois ela própria relatou: “Com plena consciência e por livre decisão, deixei de orar. Meu anseio de conhecer a Verdade era a minha única fé”. Aos 14 anos, retomou os estudos colegiais, com a meta de poder ingressar em uma universidade. Não era comum, na época, ver mulheres universitárias, a maioria delas nem cogitava tal possibilidade, no entanto, Edith tinha a compreensão de que “a mulher deve ao lado do homem, não no lugar dele, mas também nem sequer um degrau abaixo”, ela dizia também que todas as profissões masculinas podem ser desempenhadas pela mulher, ela apregoava que “o acesso da mulher aos mais variados cargos diretivos, profissionais ou técnicos seria uma benção para toda a vida, tanto social, como pública”. No ano de 1911, com a sua grande sede de saber, matriculou-se em três cursos universitários: Filosofia, Língua Alemã e História. Edith Stein, foi influenciada pela da luta das mulheres, na busca dos seus direitos, defendia a importância da mulher como uma pessoa autônomas, livre e capaz de fazer escolhas e, portanto, votar. É possível afirmar que seus ideais eram os mesmos das sufragistas, mulheres que queriam ter o direito de votar, mas que por isso eram fortemente ridicularizadas.

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A mulher, na Alemanha tomada pelos ideais do nacional-socialistas, nos anos 1930, tinha unicamente o papel de ser mãe, nada mais do que isso. Hitler escreveu: “Cada filho que ela põe no mundo é uma batalha pela sobrevivência do seu povo”. Deste modo, a mulher eu não se enquadrasse neste papel era marginalizada. Edith, cursando Filosofia, Língua Alemã e História, tem desejo de aprofundar-se em Filosofia, dedicando-se a ela integralmente. Sua mãe não gostava de que ela cursasse Filosofia, mas sabia que quanto ela decidia algo, dificilmente voltaria atrás. Ouviu falar de Edmund Husserl, considerado o mais importante filósofo alemão da época, o fundador da corrente filosófica chamada Fenomenologia e assim sem hesitar, no ano de 1913, mudou-se para Göttingen, no intuito de ser sua aluna, tonando-se a sua assistente. Anos depois, foi a primeira mulher a ousar defender uma tese de Filosofia na Alemanha. Neste tempo, já se declarava abertamente ateia, contudo, com todas as suas forças deseja a verdade, tinha desejo de compreender além, queria entender a sua razão de existir. Desejava objetividade e clareza, não tinha a compreensão de que era Deus. Num primeiro momento se vê como deísta, e faz da fenomenologia seu objeto. No seu interior, Edith também sentiu uma grande solidão, que lhe levou a uma crise. Anos depois escreveria na sua Autobiografia: Encontrava-me em uma crise interior que tinha que esconder dos meus familiares e que não podia ser resolvida na nossa casa. Do ponto de vista da saúde, as coisas para mim andavam na verdade muito mal, provavelmente por causa das lutas interiores pelas quais passava e sem a ajuda de ninguém. Na Universidade de Breslávia, Edith, viu o seu ateísmo sofrer um primeiro abalo, durante o curso de língua alemã a jovem estudante precisou estudar, como atividade acadêmica, o “Pai-Nosso” na língua gótica, a oração lhe impressionou muitíssimo. Neste mesmo período, Edith sentiu, enquanto passeava com Rosa Gutmann, a estudante com quem dividia o quarto na pensão, um forte impacto ao ver no alto da colina, três árvores secas, que lhe lembraram as três cruzes do Gólgota. Sentiu um grande desejo de contemplar aquele lugar mais vezes. Percebeu, com estranheza, uma forte necessidade de silenciar-se e somente permanecer em contemplação.

A segunda Edith: Uma mulher dividida entre o racionalismo e experiência de Deus No ano de 1914, Edith voltou para Breslávia, em razão do fechamento da universidade, com o início da Primeira Guerra Mundial, ao regressar a terra natal, sentiu o desejo de ajudar os enfermos e feridos, assim inscreveu-se, vo-

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luntariamente, para ser enfermeira. Neste tempo dispôs: “Agora não tenho vida própria, todas as minhas forças pertencem a esse grande acontecimento. Quando a guerra terminar, e se eu ainda continuar viva, poderei pensar em meus assuntos privados”. Edith, rapidamente fez um curso de Enfermagem e logo passou a trabalhar no hospital militar, no qual auxiliava os médicos na sala de cirurgias, ela ficou encarregada ainda, de cuidar dos enfermos vitimados por tifo. Nesta empreitada, mais uma vez, Edith destacou-se por seu comprometimento, empenho e disponibilidade para servir, dedicava especial cuidado aos inânimes, na iminência de morte. Em razão de seu notório zelo pelos doentes, em caráter honorífico, recebeu a medalha da Cruz Vermelha. Na guerra, o Dr. Reinach, amigo de Edith, foi fortemente ferido em uma batalha e veio a falecer. A viúva Anna Reinach, também sua amiga, pediu a Edith que lhe ajudasse a reordenar as obras ainda não publicadas do marido. Edith, era habituada ao luto judaico, que era altamente pesaroso. Ela estava se preparando para apresentar-se diante da jovem viúva que imaginava estar completamente arrasada. No entanto, ao encontra-la percebeu que mesmo marcada pela dor, Anna Reinach, não estava desconsolada, nela havia a esperança da ressurreição. Compreendeu que para o cristão depois da cruz, existe vida plena. Anos depois Edith escreveu: “Foi aquele o meu primeiro encontro com a cruz, a minha primeira experiência da força divina que emana da cruz e se comunica àqueles que a abraçam. Pela primeira vez foi-me dado contemplar, em toda sua luminosa realidade, a Igreja nascida da Paixão salvífica de Cristo em sua vitória sobre o aguilhão da morte”. Após a conflito mundial, ela passou a residir em Friburgo, local no qual realizou o seu doutorado em Filosofia. A tese de da Dra. Stein foi aprovada em Summa cum laude. Husserl, reconhecendo a grande potencialidade da Dra. Stein, lhe convidou a ser sua assistente, na Universidade de Friburgo. Edith era merecedora da cátedra na Universidade e por ela batalhou. Tentou muitas vezes tornar-se professora universitária, mas todo o seu esforço nesta perspectiva, foi inútil, em razão do fato de ser mulher. O preconceito da época não admitia que uma mulher se tornasse catedrática. A jovem Dra. Stein, prosseguia a sua vida Friburgo, em certa ocasião, com o mero objetivo turístico, visitou a Igreja catedral da cidade, esta visita lhe gerou uma grande reflexão. Ela viu uma senhora, no meio das suas atividades cotidianas, entrando no templo, com sua cesta de compras e lá em atitude de contrição, ajoelhando-se para orar, passando somente alguns instantes assim, depois levantou-se e foi embora. Edith algum tempo depois concluiria: “Naquele momento, minha incredulidade desmoronou. Esvaiu-se o coração. Aquilo era algo completamente novo para mim, pois eu só entrava em sinagogas e em igrejas

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protestantes para o culto religioso comunitário (público). Ali, em contrapartida, estava alguém que se fazia presente em uma igreja vazia em meio às ocupações diárias, como que para uma conversa familiar com Deus. Nunca mais pude esquecer esta cena”. Ela achou bela a forma com que os católicos se relacionavam com Deus, de maneira simples e nas pequenas atitudes do dia-a-dia, sem formalidade demasiada, em outra circunstância, na qual estava em passeio, precisou hospedar-se na zona rural, na casa um camponês católico, ela achou fantástica a forma que esse homem, logo pela manhã, reuniu toda a família e os seus funcionários, antes da refeição e de partirem para o trabalho, com o objetivo de fazer a oração. A Dra. Stein, era uma estudiosa que gostava de perscrutar as almas, queria entendê-las psicologicamente. Sempre buscava conhecer mais pessoas e diferentes ideologias, sempre na busca pela verdade. Ela não se limitava, aos círculos universitários ou filosóficos, mas também estudava sobre a vida simples e diária. Buscava enxergar sentido na existência do que lhe circundava. Quando lhe apresentavam as diferentes teorias, ela se sentia interessada em não parar no que era exposto, mas autenticar o que era dito, na observância da vida de quem as expunha. Nisso, acreditava, estar a credibilidade. Edith, admirava imensamente o seu mestre Husserl, chegando a enaltecer a sua “radical honestidade intelectual, a retidão moral e a extraordinária gentileza”. Ele era cristão protestante, ela percebeu a coerência de sua vida com os ensinamentos do “Pai-Nosso” que estudou, mas jamais esqueceu. Ela admirava também o filósofo Max Scheler, sempre que podia participava de suas palestras e conferências, ficou pensativa ao descobrir que ele tinha se convertido, com muita convicção, ao Catolicismo. A Dra. Stein, recordava com saudade, a bela amizade com o casal, Dr. Adolfo Reinach e Anna Reinach, que tinham se convertido em cristãos fervorosos. Ela sempre se sentiu muito à vontade com o casal. Entre eles havia um grande amor fraterno. Mesmo com a morte de Adolfo, ela continuou a relacionar-se com a viúva e como já foi dito, a postura desta em face da morte de do esposo fez com que Edith tivesse o primeiro contato com a cruz. Por fim, em 1921, durante as férias foi visitar o casal Conrad-Martius, que também eram cristãos, no caso destes protestantes, ficou hospedada no sítio deles em Bergzabern. Foram dias agradabilíssimos. Durante o dia, faziam programações campestres e as noites, discutiam sobre diversos temas filosóficos, sem jamais entrar em assuntos de cunho religioso. Em uma noite, em que o casal anfitrião se ausentou, ela ficou sozinha em casa, e nesta ocasião, quis a Providência divina, que ela fosse a biblioteca da casa e em meio a tantos livros,

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encontrasse a volumosa autobiografia de Santa Teresa d’Ávila, ”O Livro da Vida”. Ao iniciar a leitura, Edith, permaneceu lendo ininterruptamente até a última página. Na manhã do dia seguinte, Edith realizada concluiu: “Esta é a verdade! Quem procura a verdade, mesmo sem tomar consciência disto, procura Deus, porque Ele é exatamente a Verdade! ”, compreendeu que a verdade que tanto buscava era Deus. Ainda nesta manhã dirigiu-se a cidade, com o interesse de ir a uma livraria comprar o Catecismo da Igreja Católica e um Missal. Passou a estuda-los pormenorizadamente e ao concluir, quanta alegria, chegou o momento de pela primeira vez em toda a sua vida, participar da Santa Missa, observou cada detalhe com muito cuidado, sentia o seu coração palpitar de realização. Era aquilo o que ele sempre sonhou, ficou extasiada. Quando a Missa terminou ela dirigiu-se até o sacerdote e pediu para ser batizada. O padre lhe perguntou: “Há quanto tempo estudas a fé e a doutrina católica? Quem lhe instruiu? ” Edith, não tinha estudado por muito tempo, tampouco, teve alguém que lhe instruísse, é possível dizer que ela foi auto catequisada, com humildade ela disse a verdade: “Não tive ninguém que me formasse, mas, por favor, padre, pode inquirir-me”. O padre assim fez, conversaram durante horas, debateram sobre diversos temas teológicos e doutrinários e ao fim, não restou dúvidas ao sacerdote, ele precisava atender o pedido de Edith. Recebeu o batismo no primeiro dia do ano de 1922, durante a noite anterior, se manteve em profunda oração. Chegou o momento que tanto sonhou. Ao ser batizada, aos 31 anos, mudou o nome para Teresa, por tamanha identificação a Santa espanhola de Ávila, que tinha o coração ferido de amor por Cristo. Para Edith, Santa Teresa tinha lhe dado as respostas que jamais conseguiu encontrar em nenhum livro de Filosofia. Escreveu: “Minha sede de verdade era uma oração contínua” Foi crismada pelo Bispo de Espira, em 2 de fevereiro deste mesmo ano. Jesus Cristo, a sua Cruz e a sua Igreja se tornaram irresistíveis a Dra. Stein, ela porém ao se tornar católica gerou um imenso desgosto a sua família. Edith não podia esconder a sua decisão daqueles a quem amava, rejeitou a possibilidade de escrever uma carta, foi pessoalmente, primeiro ao encontro da tão querida mãe e lhe disse: “Mãe, me tornei católica”. A Sra. Augusta, a mulher sempre forte, que já tinha suportado muitas adversidades na vida, diante da filha, pela primeira vez, chorou copiosamente. Para ela, a sua filha, que tanto amava, tinha traído a fé de Israel, tinha traído a família, a memória de seu pai. Ser judeu é mais do que ser adepto de uma religião me pertencer a uma raça, é ter uma história comum. Ambas se amavam demasiadamente e para sempre esse amor permaneceria intacto, porém na

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espiritualidade estavam definitivamente separadas. Elas sempre se corresponderam ao longo de todos os anos, por afetuosas cartas, depois desse dia a Sra. Augusta jamais voltaria a escrever uma carta a filha. Depois disse aos irmãos que sempre tiveram predileção por ela, elas não aceitaram a sua decisão de seguir pelo caminho do Catolicismo, que achavam desprezível e indigno. Todos julgaram-na pela escolha que diziam ser absurda. De todos os irmãos, a única que não condenou Edith, foi Rosa. Elza, que também amava muito a irmã, não se conformava com a decisão de Edith. Pensava: “Como ela foi capaz de esquecer a nossa união familiar, em torno de nossa mãe, guardando o shabat, indo a sinagoga, ascendendo as velas da Menorá e orando em língua hebraica? Edith não esqueceu, ao contrário tinha orgulho em fazer parte desse povo, do qual o próprio Cristo fazia parte. A fé cristã lhe fez perceber a grande nobreza da estirpe judaica. Em 1922, aceitou a cadeira de professora no Instituto católico de Educação Santa Maria Madalena, em Espira, onde desenvolveu a sua própria antropologia, buscando unir a fé e a razão, levando em consideração que a razão humana não pode ir além de certos limites, chegando a certo ponto, onde deve desaparecer, deixando lugar para Deus. Era imensamente querida por suas alunas que observavam que ela nunca parecia estar cansada, era sempre pontual, dedicada e preocupada com todas. As alunas observavam que a luz do seu quarto sempre ficava acesa até altas horas da madrugada, mas na manhã, ela era a primeira a chegar na capela. Ela mais do que dar aulas, se empenhava em ajudar as alunas a encontrar Jesus Cristo. Ela escreveu a uma religiosa da direção do colégio: “A coisa mais importante é que uma professora esteja repleta do espírito de Cristo, antes, que ela o encarne em sua própria pessoa. É preciso, porém, que ao mesmo tempo não esqueça a realidade da vida que espera as jovens quando deixam o colégio. De outra forma, existe o perigo de elas dizerem que as Irmãs não souberam prepará-las para os problemas que devem enfrentar, e se apressem a deixar de lado, como um peso inútil, tudo aquilo que aprenderam no colégio... É preciso manter-se sempre atualizada. A geração jovem de hoje passou por muitas crises e não é mais capaz de nos compreender. Nós, porém, devemos procurar compreendê-la e fazer o possível para ajudá-la”. Dez anos depois, ingressou como livre-docente no Instituto Superior de Pedagogia Científica, de Münster. Seu currículo era brilhante, tinha numerosos artigos, publicados em revistas de nível altíssimo, inúmeros ensaios sobre educação e ainda sobre a missão da mulher na sociedade. Nessa época, Edith, já não mais tinha contato com os grupos feministas extremistas que na juventude fez parte, mas continuou a ser uma grande defensora dos direitos da mulher.

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A Dra. Stein gozava de grande fama e reconhecimento dos intelectuais. Frequentemente realizava conferências de caráter científico e pedagógico. Ela nos estudos fenomenológicos, lançava-se a pesquisar o “Ser Eterno”, voltando-se desta maneira para a Escolástica. Ela afirmava convicta: “O estudo da filosofia é um contínuo caminhar à beira do abismo”. E ainda “Eu vivia no ingênuo autoengano de que tudo em mim estava correto, como é frequente em pessoas sem fé, que vivem num tenso idealismo ético”. A Dra. Stein, ainda traduziu o “De Veritate,” de Santo Tomás de Aquino e, elaborou um ensaio intitulado “A fenomenologia de Husserl e a filosofia de Santo Tomás de Aquino”, respeitosamente dedicou este trabalho ao seu mestre, por ocasião de seu septuagésimo aniversário, nesta obra, conciliou a Tomística com a Filosofia moderna.

De Edith Stein a Irmã Teresa Benedita: a liberdade de abraçar a Cruz Em 1932, a Professora Edith Stein, que tinha há pouco tempo assumido a cátedra de Antropologia no Instituto Alemão de Pedagogia Científica em Münster, foi demitida friamente, unicamente em razão de sua origem judaica. A perseguição aos judeus já se fazia presente em todo o país, de modo mais brando, mas já era possível prever o que viria pela frente. O discurso dos nazistas era de um absoluto ódio. Em 1976, escreveu Primo Levi: (1990. p. 221): “No ódio nazista não há nada de racional: é um ódio que não está em nós, que é estrangeiro ao homem, é um fruto venenoso saído da funesta cepa do fascismo. Nós não podemos compreendê-lo; mas nós podemos e devemos saber de onde ele saiu. Se compreendê-lo é impossível, conhecê-lo é necessário”. Já em tempos sombrios, no mês de setembro de 1933, tendo 42 anos, a filósofa Edith Stein, causa um dissabor ainda maior à sua mãe, comunica-lhe a sua decisão de ingressar para a vida religiosa na Ordem das Carmelitas Descalças. Edith soube da sua irmã Rosa, que ela também tinha se encontrado em Jesus Cristo e também queria ser batizada, mas não queria magoar a sua idosa mãe que já estava muito ferida por causa da decisão de Edith. Em 14 de outubro  de 1933, a Dra. Edith Stein ingressou no Carmelo de Colônia, na Alemanha. Foi lhe concedida uma licença, em caráter excepcional, para que ela pudesse escrever semanalmente para a mãe, cartas que não foram respondidas, durante muito tempo, sendo respondido apenas um bilhete final de despedida, quando a Sra. Augusta já estava muito do enferma e prestes a vir a óbito. Em razão de grande relevância de seus estudos para a ciência, bem como

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para a Igreja, foi autorizado que levasse para o Carmelo alguns de seus livros, que totalizaram seis caixas, os títulos eram obras de Filosofia e Teologia. A pedido dos seus superiores, deu continuidade à sua filosófica na qual afirma que Deus, ser infinito e criador, está no íntimo de suas criaturas, esta obra foi concluída, mas só foi publicada após a sua morte, com o título: “Ser finito, ser eterno”. Por volta de abril de 1934, Edith Stein, recebeu o hábito carmelitano. Morrendo definitivamente para si mesma e para o mundo, passando a viver como esposa de Cristo e sendo chamada de Irmã Teresa Benedita da Cruz. O seu tempo de noviciado, lhe foi muito exigente e severo, visto que não era mais uma jovem, e para as freiras superioras à sua ciência filosófica, neste momento, não tinha valor algum. Ela, como todas as outras, precisou realizar trabalhos manuais e pesados, com os quais não tinha desenvoltura, por falta de familiaridade, por isso, muitas vezes, foi repreendida pela mestra das noviças. A Sra. Augusta faleceu em 1936, só após este acontecimento Rosa recebe o Batismo, que tanto aspirava, depois foi unir-se a sua irmã, Teresa Benedita da Cruz, no convento de Colônia, para tanto tornou-se membro da Ordem Terceira Carmelita Por toda Alemanha, o escárnio aos judeus se difundia, para evitar que o Carmelo de Colônia fosse penalizado por causa de sua presença, a Irmã Teresa Benedita pediu transferência para algum convento fora da Alemanha. Ocorre que antes mesmo do seu pedido ser atendido, os nazistas invadiram a clausura do convento para busca-la, mas não lhe levaram. Foi concedida a permissão para que fosse ao Carmelo de Echt, na Holanda. Depois de um ano, Rosa também iria para o mesmo destino. Além de judeus, no campo de concentração de Neue Bremm, na Alemanha, os guardas escarneciam da Paixão, submetendo os padres às mesmas torturas que sofreu Jesus Cristo. Eram enjaulados junto a cães ferozes para o divertimento dos guardas (ROYAL, 2001, p. 183). Edith Stein, em junho de 1939, percebendo a gravidade da situação que assolava o seu povo, tinha consciência dos muitos riscos que corria, assim, escreveu o seu testamento, que ficou aos cuidados das irmãs carmelitas de Echt, na Holanda. No mesmo, ela fez questão de determinar o destino de cada um dos seus bens de valor intelectual, ela dispôs: Os livros que trouxe comigo, contanto que não sejam puramente científicos e de pouca utilidade para as irmãs, prefiro deixá-los naturalmente para o convento. Os livros de caráter científico serão aceitos com muito gosto pelos nossos padres carmelitas, os trapenses ou os jesuítas. Peço também que meus manuscritos sejam revisados e crite-

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riosamente sejam destruídos, integrados à biblioteca ou dados como lembrança. A história de minha família rogo que não seja publicada enquanto algum de meus irmãos ainda esteja vivo e também rogo encarecidamente que não lhes seja entregue. Apenas Rosa poderia ter acesso a ela, e depois da morte de meus outros irmãos, seus filhos. Sobre sua publicação pode decidir diretamente a Ordem. Tenho também dois manuscritos de amigos estrangeiros. Se não vierem buscar antes da minha morte, rogaria que fossem entregues a seus respectivos donos, juntamente com alguma pequena lembrança de meus próprios manuscritos... Se o meu livro “Ser finito e Ser Eterno” não tiver sido publicado antes da minha morte, peço a nosso reverendo Pe. Provincial que se ocupe generosamente da impressão e de sua publicação. (2007, p. 517) Ela fundamentou no prefácio, a razão de escrever a sua autobiografia, sendo que esta nunca foi concluída. Os últimos parágrafos foram redigidos em 27 de abril de 1939. Escreveu, Edith: Nos últimos meses os judeus alemães foram catapultados de sua existência tranquila que acreditavam definitivamente adquirida. Foram forçados a refletir sobre si mesmos, sobre seu ser, e seu destino. Mas os acontecimentos atuais também impeliram muitos outros, mesmo não partidários, a considerar a questão judaica. Grupos de Jovens Católicos, por exemplo, vem discutindo sobre ela de uma maneira séria e com profundo senso de responsabilidade. Repetidamente, nos últimos meses, lembrei de uma conversa que tive alguns anos atrás com um padre de uma ordem religiosa. Ele me pediu então que escrevesse o que eu, filha de uma família judia, tinha aprendido sobre o povo judeu, pois este conhecimento é pouco partilhado pelos de fora. Muitas outras responsabilidades me impediram de tomar esta sugestão seriamente naquele momento. Em março último, quando nossa revolução nacional iniciou a luta contra o Judaísmo na Alemanha, lembrei-me novamente dela. Em uma dessas conversas em que se procura compreender uma catástrofe que se abate de repente sobre alguém, uma das minhas amigas judias expressou sua angústia: ‘Se pelo menos eu soubesse de onde Hitler tirou seu terrível ódio dos judeus’! Ela teve sua resposta nos escritos programáticos e discursos dos novos detentores do poder. Destas fontes, como de um espelho côncavo, uma horrenda caricatura olhava para nós. Pode ser que tenha sido desenhada com uma convicção honesta. Pode ser que os traços específicos podem ter sido copiados de modelos vivos. Mas a humanidade judia é

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produto necessário do “sangue judeu”? O Judaísmo é representado apenas por, ou mesmo, apenas genuinamente pelos capitalistas poderosos, literatos insolentes, ou aquelas mentes inquietas que desempenharam papéis de primeiro plano nos movimentos revolucionários das décadas passadas? Em todos os estratos da nação alemã encontram-se pessoas que o negam: estiveram associadas a famílias judias como empregados, vizinhos ou colegas de escola e universidade, encontraram nelas muita bondade de coração, compreensão, calorosa empatia, e solidariedade, e agora seu senso de justiça está ultrajado pela condenação deste povo a uma existência de pária. Mas muitos outros não têm esta experiência. Esta oportunidade é negada, sobretudo aos jovens que hoje em dia estão sendo criados no ódio racial deste cedo. Ao confrontá-los, nós, que crescemos no Judaísmo temos o dever de dar nosso testemunho. Eu gostaria de dar, simplesmente, um relato direto de minha própria experiência da vida judaica, como um testemunho a ser colocado junto com outros, já publicados ou a serem em breve publicados. Pretende dar informação para qualquer um que queira realizar um estudo sem preconceito de fontes originais. (STEIN, E. 1986, p.23-25) O início da ocupação da Holanda pela Alemanha nazista se deu em 10 de maio de 1940 e logo que dominaram a nação, começou a caça aos judeus. Em 1942, o comissário do Reich para a Holanda determinou que alunos judeus e católicos descendentes de judeus somente teriam aula com professores judeus. A Igreja na Holanda protestou sem nenhum efeito. Diante disso, o episcopado holandês emitiu uma carta pastoral que foi lida em todas as igrejas, no dia 26 de julho, protestando formalmente contra a medida. A consequência veio no mês de agosto: centenas de católicos não-arianos, entre eles todos os religiosos de origem judaica, cerca de 300, foram presos e deportados para os campos de concentração na Alemanha e Polônia. As instituições católicas de caridade foram extintas e os bens da Igreja foram confiscados na Holanda e Bélgica (BLESSMANN, 2003, p. 45). Na tarde de 2 de agosto, às 17h, em represália a carta pastoral dos bispos holandeses em apoio ao povo judeu, foi revogada a concessão de liberdade aos judeus católicos, assim agentes da Gestapo brutalmente arrancaram do convento as irmãs Stein, que foram levadas ao campo de concentração de Westerbork, situado no norte da Holanda, juntamente com outros 242 judeus que professavam a fé católica. O comissário geral Schmidt, afirmou que essa atitude era uma resposta ao comunicado dos bispos: “Como o clero católico não se deixa dissuadir por nenhuma negociação, vemo-nos forçados a considerar os judeus católicos como os nossos piores inimigos e, por essa razão, a deportá-los para o Leste o mais depressa possível”.

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O Reich tentou eliminar a Igreja Católica acusando-a de ser inimiga do povo alemão, desobediente ao Estado e subserviente às potências estrangeiras, como o Vaticano ou a Inglaterra, tentando enquadrar suas vítimas em motivos puramente políticos. Nos territórios ocupados, as tropas nazistas puderam agir com maior violência sobre os católicos, já que estes eram simplesmente taxados como inimigos de guerra, ainda que fosse apenas um grupo de freiras, como as onze irmãs da Sagrada Família de Nazaré, assassinadas na fronteira da Belarus com a Polônia (ROYAL, 2001, p. 263). O extermínio de católicos se deu em todos os países comandados pelo III Reich. Primeiramente foram levadas ao campo de concentração nazista em Amersfoort, Holanda e posteriormente ao campo de Westerbork, local em que havia grande desânimo, intercalado com momentos de indizível desespero dos prisioneiros que eram tratados não mais como seres humanos, se tornaram uma mera carga estragada que precisava ser jogada fora. A irmã Teresa, se manteve firme e trajando o seu hábito, serviu como um referencial para todos, ela era uma fortaleza paras os aprisionados, orava sem cessar, fazia o que podia para consolar os aflitos e ajudar principalmente as mulheres que eram separadas de seus filhos e as crianças separadas de suas mães. No dia sete, as irmãs Stein foram enviadas ao terrível campo de Auschwitz, muito pior do que o de Westerbork, juntamente com outros 985 judeus. A tenebrosa viagem durou quase três dias, sem água e sem nenhum tipo de alimento. Os mais fracos não resistiram, chegando mortos ao destino. Desde que tinha saído do Carmelo, Edith continuava usando seu hábito religioso, mas em Auschwitz, lhe foi retirado e passou a ser como qualquer outra prisioneira, recebendo o número 44070 e ainda sendo marcada com a estrela de Davi. Ainda é possível afirmar sobre Auschwitz, de acordo com Gian Danton: Foi o maior campo de concentração construído pelos nazistas. Dos seis milhões de pessoas que morreram no holocausto, mais de um milhão pereceu em Auschwitz. É considerado hoje uma fábrica de assassinatos. O campo de Auschwitz, foi criado em 1940, sob direção do capitão Rudolf Hoss num local ermo do sul da Polônia, tendo como base barracões velhos construídos pelo Império Austro-Húngaro na época da I Guerra Mundial. Esses barracões foram restaurados por prisioneiros poloneses... Três meses após a inauguração, Auschwitz já abrigava oito mil pessoas. Os que não eram mortos trabalhavam na fábrica da IG Farben, um grupo industrial químico alemão que instalou no campo uma fábrica de borracha e combustíveis sintéticos. A rotina dos que não eram enviados às câmaras de gás era estafante: cavavam fossas, fabricavam tijolos, construíam prédios, abriam estradas, colocavam trilhos,

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carregavam e descarregavam trens. A maioria morria logo, vítimas da fome, da exaustão e dos maus tratos. Os melhores serviços eram a triagem da bagagem e os “sonderkommando”. Os prisioneiros da triagem vasculhavam as malas dos recém-chegados, separando roupas, relógios ou qualquer outro objeto de valor que pudesse ser enviado para a Alemanha. Os “sonderkommando” eram uma espécie de polícia interna, composta de judeus ou não, que controlavam os outros e ajudavam os alemães nos assassinatos, além de recolher os corpos. (p.42-43) Chegaram em Auschwitz-Birkenau, no dia 9, Edith ofertou-se ao Senhor, como oferta generosa, pela Igreja e pelo seu povo judeu, ela realizou na própria carne o que professou com os lábios: “O que nos salvará não serão as realizações humanas, mas a paixão do Cristo, na qual quero ter parte”. Neste mesmo dia morreu na câmara de gás, sufocada pela substância Zyklon B, usada para matar piolhos e pulgas, mas que tinha se mostrado também fatal para humanos. Rudolf Hoss, o comandante de Auschwitz, comemorava o êxito do gás em alcançar a sua meta: “Essa história do gás me tranquilizou. Sempre tive horror das execuções com pelotões de fuzilamento. Fiquei aliviado ao pensar que seriamos poupados daquele banho de sangue”. Os nazistas testaram o gás várias vezes até chegar a descobrir a dose necessária para matar pessoas. Os corpos da irmã Teresa Benedita da Cruz e da Sra. Rosa Stein foram incinerados no local e as suas cinzas foram misturadas as de uma multidão de pessoas mortas pelo Nazismo, que se espalharam pela região. As câmaras de gás se constituíam um modo mais eficiente e limpo de matar. No campo de Auschwitz se chegava a matar duas mil pessoas por hora nas câmaras de gás. “Cada unidade tinha 5 fornalhas e 3 salas, e estava habilitada a cremar, em 24 horas, aproximadamente 2 mil cadáveres. Por questões técnicas, não era possível aumentar suas capacidades, e várias tentativas que fizemos neste sentido prejudicar sobremaneira as instalações, as quais em vários casos foram postas completamente fora de serviço”, declarou Hoss no julgamento de Nuremberg. (DANTON, p. 43) Somente em 1947 as carmelitas de Echt e Colônia tiveram notícia segura a respeito da morte da Irmã Teresa Benedita da Cruz, e puderam transmiti-la às demais casas da Ordem: “Não mais a procuremos sobre a terra, mas junto de Deus a quem foi agradável o seu sacrifício, fazendo-o frutificar em favor do povo pelo qual rezou, sofreu e morreu”. Ela contribuiu de maneira singular com a Filosofia contemporânea, deixando um valioso legado: “Seus ensaios feministas, porta-vozes do pensamento feminista cristão do início do século XX, fornecem ainda hoje ideias instigantes

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para avaliarmos a posição da mulher no século XXI. Sua autobiografia inacabada, ‘A Vida de uma Família Judia’ demonstra seu incansável comprometimento com a liberdade e igualdade humanas. Seu tratado ‘Ser Finito e Ser Eterno’ faz uma síntese, reconhecida pela crítica, entre a teologia de São Tomás de Aquino e a filosofia secular fenomenológica. Sua ‘Ciência da Cruz: Estudos sobre São João da Cruz’ oferece uma análise penetrante do seu objeto. ” (Obras Completas de Edith Stein, vol. I, pp.151-489; vol. III, pp.589-1095; vol. V, pp.185-441.) Também a tradução e os comentários de Ciência da Cruz, ficaram inacabados nas palavras, mas o seu martírio e o modo que abraçou a vida de cruz, concluem a obra, mostrando que esta ciência não pode ser compreendida em livros ou por meio de palavras, mas somente com a oferta da própria vida, no caminho de seguimento ao Senhor Jesus Cristo. Santa Teresa Benedita da Cruz conseguiu compreender que o amor de Cristo e a liberdade do homem se entretecem, porque o amor e a verdade têm uma relação intrínseca. A busca da verdade e a sua tradução no amor não lhe pareciam ser contrastantes entre si; pelo contrário, compreendeu que estas se interpelam reciprocamente. No nosso tempo, a verdade é com frequência interpretada como a opinião da maioria. Além disso, é difundida a convicção de que se deve usar a verdade também contra o amor, ou vice-versa. Todavia, a verdade e o amor têm necessidade uma do outro. A Irmã Teresa Benedita é testemunha disto. «Mártir por amor», ela deu a vida pelos seus amigos e no amor não se fez superar por ninguém. Ao mesmo tempo, procurou com todo o seu ser a verdade, da qual escrevia: «Nenhuma obra espiritual vem ao mundo sem grandes sofrimentos. Ela desafia sempre o homem inteiro». A Irmã Teresa Benedita da Cruz diz a todos nós: Não aceiteis como verdade nada que seja isento de amor. E não aceiteis como amor nada que seja isento de verdade! (São João Paulo II, 11 de outubro de 1998) Edith Stein, foi uma mulher que em tempos sombrios deixou-se guiar pela Luz da Ressurreição, que só é real após a Cruz, em um dos seus mais belos textos ela expressa: “Quem és tu, doce luz, que me preenches e iluminas a sombra de meu coração? Como a mão de uma mãe, tu me conduzes e, se tu me deixasses, eu não saberia dar mais nenhum passo. Tu és o espaço envolvendo meu ser e o abrigando em ti. Se tu o rejeitares, ele escorregaria ao fundo do abismo do nada de onde tu o tiraste para o elevar para a luz. Tu, que me és mais próximo de mim que eu mesma, me és mais interior do que o meu próprio coração, e entretanto inacessível, inconcebível, para além de teu nome, Santo Espírito, eterno Amor! ’’ (STEIN, Edith, 2002, p.121) Ó luz eterna, superior a toda luz criada, lançai do alto um raio que penetre

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todo o íntimo do meu coração. Purificai, alegrai, iluminai e vivificai a minha alma com todas as suas potências, para que a vós se una em transportes de alegria. Oh! Quando virá aquela ditosa e almejada hora, em que haveis de saciar-me com a vossa presença, e ser-me tudo em todas as coisas? Enquanto isso não me for concedido, minha alegria não será perfeita. Mas ai! Que ainda vive em mim o homem velho, não de todo crucificado nem inteiramente morto. Ainda se revolta fortemente contra o espírito e move guerras interiores; nem consente em que reine tranquilidade na alma. (A Imitação de Cristo)

Beatificação e canonização A Irmã Teresa Benedita da Cruz foi ela foi beatificada por São João Paulo II no dia primeiro de maio de 1987, na cidade alemã de Colônia. Este mesmo Sumo Pontífice a elevou às honras dos altares, como santa no dia 11 de outubro de 1998, a sua festa litúrgica se celebra no dia de seu martírio, ou seja, em 9 de agosto. Foi morta não somente por sua origem judaica, mas por ódio a fé e a Igreja, visto que sua prisão se deu em resposta a carta pastoral dos bispos. Na cerimônia de canonização, disse o Santo Padre na homilia: Quanto a mim, que eu não me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Gl 6, 14). As palavras de São Paulo aos Gálatas, que acabámos de escutar, adaptam-se bem à experiência humana e espiritual de Teresa Benedita da Cruz, que hoje é solenemente inscrita no álbum dos santos. Também ela pode repetir com o Apóstolo: Quanto a mim, que eu não me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo. A cruz de Cristo! No seu constante florescimento, a árvore da Cruz dá sempre renovados frutos de salvação. Por isso, os fiéis olham com confiança para a Cruz, haurindo do seu mistério de amor a coragem e o vigor para caminhar com fidelidade nas pegadas de Cristo crucificado e ressuscitado. Assim, a mensagem da Cruz entrou no coração de muitos homens e mulheres, transformando a sua existência. Um exemplo eloquente desta extraordinária renovação interior é a vicissitude espiritual de Edith Stein. Uma jovem em busca da verdade, graças ao trabalho silencioso da graça divina, tornou-se santa e mártir: é Teresa Benedita da Cruz, que hoje repete do céu a todos nós as palavras que caracterizaram a sua existência: ‘Quanto a mim, que eu não me glorie, a não ser na cruz de Jesus Cristo’. Enfim, a nova Santa ensina-nos que o amor a Cristo passa através da

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dor. Quem ama verdadeiramente, não se detém diante da perspectiva do sofrimento: aceita a comunhão na dor com a pessoa amada. Consciente do que comportava a sua origem judaica, Edith Stein pronunciou palavras eloquentes a este respeito: «Debaixo da cruz, compreendi a sorte do povo de Deus... Efetivamente, hoje conheço muito melhor o que significa ser a esposa do Senhor no sinal da Cruz. Mas dado que se trata de um mistério, isto jamais poderá ser compreendido somente com a razão». Pouco a pouco, o mistério da Cruz impregnou toda a sua vida, até a impelir rumo à oferta suprema. Como esposa na Cruz, a Irmã Teresa Benedita não escreveu apenas páginas profundas sobre a ‘Ciência da cruz’, mas percorreu até ao fim o caminho da escola da Cruz. Santa Teresa Benedita da Cruz, foi proclamada ainda, em primeiro de outubro de 1999, como co-padroeira do continente europeu, ladeada por  Santa Brígida da Suécia e Santa Catarina de Sena, em razão de sua grande contribuição para a à sociedade europeia, como um todo, em razão do pensamento filosófico.

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Foto da família em 1895. Edith com três anos sentada. Da esquerda para a direita, atrás: Arno, Elza, Sigfried e Frida, Paulo; na frente: Rosa, Augusta, Edith e Erna.

Em jovem estudante Edith em 1913.

Edith com sua irmã Erna, em 1897.

Edith Stein em 1915.

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As quatro irmãs Stein no campo de tênis: Rosa, Erna, Frida e Edith.

Edith, professora em Espira, 1928.

Edith Stein, durante a Primeira Guerra Mundial, com seu uniforme de enfermeira de Seuchenlzarett. Pouco tempo antes da sua conversão ao Catolicismo, em 1921, Edith se mostra pensativa.

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A doutora Stein era imensamente amiga do casal Reinach,

Com o hábito de Carmelita, junto a sua irmã Rosa, que em julho de 1939 se refugiou no Carmelo de Echt.

Em 1932, a doutora da “Ciência da Cruz”

Seus votos de esposa de Cristo.

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A Irmã Teresa Benedita da Cruz. Última foto no Carmelo de Colônia em 1938. Foto tirada para o passaporte que seria utilizado da viagem de Colônia a Echt (Holanda).

Trem lotado de judeus a caminho de Auschwitz e Birkenau,1942.

Câmara de gás em Auschwitz.i

Entrada de Auschwitz-Birkenau, o principal campo de extermínio nazista, lugar onde morreram mais de um milhão de vítimas do Holocausto.

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Escultura de Bert Gerresheim em Colônia.

Vitral da santa carmelita de origem judia. Com o seu hábito, escritos e a estrela de Davi em sua mão. A verdade se deixa encontrar por aqueles que a procuram com coração sincero: “por muito tempo minha única oração foi a busca da verdade”. Ela encontrou a verdade e a liberdade em Cristo.

Edith Stein dividida entre o racionalismo e a experiência de Deus.

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J akob G a p p O acolhedor destemido (1897-1943) “Considero este dia como o mais belo de minha vida. Atravessei duras provas, mas agora estou feliz”.

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akob Gapp nasceu em Wattens, na região do Tirol, na Áustria, em 26 de julho de 1897. Nasceu numa pequena aldeia na Diocese de Innsbruck, no dia seguinte foi batizado na igreja paroquial de São Lourenço em Wattens. Ele o filho mais novo de sete filhos de Martin Gapp e Antonia Wach. O Sr. Martin era operário, e portanto, vivia dificuldades de carater financeiro, tinha plena consciência do sofrimento dos seus compnaheiros que laboravam em condiões desfavoráveis. Jakob foi educado pelos seus pais nos valores cristãos, tinha grande humanidade, aprendeu a respeitar a todos, sempre com atenção peculiar se preocupava com os que sofriam e não conseguia ficar omisso diante de injustiças. O patrono da igreja em que foi batizado era São Lourenço, (De Huesca ou Valência, Espanha, nascido em 225) que sofreu o martírio em Roma durante a perseguição de Valeriano, em 258. Era o primeiro dos sete diáconos da Igreja romana. A sua função era muito importante o que fazia com que, depois do Papa, fosse o primeiro responsável pelas coisas da Igreja. Como diácono, São Lourenço tinha o encargo de assistir o papa nas celebrações; administrava os bens da Igreja, dirigia a construção dos cemitérios, olhava pelos necessitados, pelos órfãos e viúvas. Foi executado quatro dias depois da morte de Sisto II e de seus companheiros. O seu culto remonta ao século IV. Preso, foi intimado a comparecer diante do prefeito Cornelius Saecularis, a fim de prestar contas dos bens e das riquezas que a Igreja possuía. Pediu, então, um prazo para fazê-lo, dizendo que tudo entregaria. Confessou que a Igreja era muito rica e que a sua riqueza ultrapassava a do imperador. Foram-lhe concedidos três dias. São Lourenço reuniu os cegos, os coxos, os aleijados, toda sorte de enfermos, crianças e velhos. Decorrido o lapso temporal, São Lourenço levou as pessoas que foram auxiliadas pela Igreja e os fiéis cristãos diante do imperador. Depois, exclamou a

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seguinte frase que lhe valeu a morte: “Estes são o patrimônio da Igreja”. O Imperador indignado, concedeu-lhe um suplício especialmente cruel: amarrado sobre uma grelha, foi assado vivo e lentamente. No meio dos tormentos mais atrozes, ele conservou o seu “bom humor cristão”. Dizia ao carrasco: “Vira-me, que deste lado já está bem assado … Agora está bom, está bem assado. Podes comer!…” A Roma cristã venera o hispano Lourenço com a mesma veneração e respeito com que honra os primeiros apóstolos. Depois de São Pedro e São Paulo, a festa de São Lourenço foi a maior da antiga liturgia romana. O que foi Santo Estêvão em Jerusalém, foi São Lourenço em Roma. Sua festa comemora-se no dia: 10 de agosto. Santo Agostinho diz que o grande desejo que tinha São Lourenço de unir-se a Cristo fez com que esquecesse as exigências da tortura. Comumente, as imagens dele, apresentam uma grelha, o instrumento domseu martírio, e ainda a Sagrada Escritura nas suas mãos. São Leão assim expressou seu martírio: “As chamas não puderam vencer a caridade de Cristo; e o fogo que queimava por fora foi mais fraco do que aquele que lhe ardia por dentro”. Jakob Graap se assemelharia a São Lourenço no que se refere ao amor aos necessitados, na coragem de defender suas convicções e na diposição de “pagar o preço” por manter seus valores. Em Wattens, Jacob concluiu com louvor os seus estudos primários e em 1910 passou a estudar no Colégio Franciscano em Hall, afim de cursar o estudo secundário. Prestes a concluir seus estudos é surpreendido em 23 de maio de 1915, com a declaração de guerra à Itália feita pela monarquia dual Áustria-Hungria. No dia seguinte às pressas, precisou alistar-se para o serviço militar. Onde permaneceu servindo ao exército como voluntário até o fim da Primeira Guerra Mundial. Em um conflito no dia 4 de abril de 1916, foi enviado para a frente italiana, onde foi gravemente ferido. Em caráter honorífico, por sua valentia, recebeu a medalha de prata para a segunda classe. Todavia, não foi dispensado de combater pela Pátria, deste modo, após recuperar-se voltou ao combate, e assim, no dia 4 de novembro de 1918, acabou detido como prisioneiro de guerra na Itália. Em 18 de agosto de 1919, foi levado para a localidade de Riva del Garda, que antes pertencia ao território da Áustria, mas que em 1918, tornou-se solo italiano.

A ilusão marxista No transcorrer da guerra, conheceu a dureza dos corações dos homens,

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pode presenciar mortes e sofrimentos, o que despertou nele o desejo de uma sociedade justa, igualitária e fraterna, o que era o escopo da sociedade comunista. Assim, verdadeiramente enfeitiçado por um socialismo idealista, adentrou numa profunda crise de fé. É impossível ser socialista/ comunista e ter religião, pois “para a Teoria Marxista, a religião é um produto do homem. Foi inventada pelo homem para encontrar, na ilusão do mundo imaginário do céu, a consolação a compensação das misérias e sofrimentos da sua existência terrestre, suportadas como trabalhador explorado pelo regime capitalista da produção e da propriedade privada. Deste modo, na religião existe o fenômeno da alienação”. (GUERRY, 1960, p. 46) Para Marx: “A miséria religiosa é a expressão da miséria real e ao mesmo tempo do protesto contra ela. A religião é o suspiro da criatura acabrunhada...” e ainda “A supressão da religião como felicidade ilusória do povo é a exigência da sua felicidade real”. É possível perceber deste modo, que incontetavelmente, Marx recebeu de Feuerbach, discípulo de Hegel, a tese da alienação religiosa e do humanismo ateu. Por causa desta percepção Marx afirma que o homem é vítima de várias alienações: religiosa, filosófica, política, social e econômica e que o comunismo deve trazer aos homens a libertação efetiva de todas as alienações e instaurar um homem novo. Ao estudar melhor e buscar a realidade sobre o comunismo, Jakob, afastou-se dessa sórdida ideologia. Foi capaz de amadurecer, refletir interiormente e conscientemente mudar. São Gregório de Nissa, um dos pais cristãos da Antiguidade, expressou: “A vida humana está sempre sujeita a mudar: ela precisa sempre nascer de novo ... Esse nascimento, porém, não surge por intervenção externa, como ocorre aos seres físicos, mas advém de uma livre escolha. Dessa forma, tornamo-nos de certo modo nossos próprios pais, gerando-nos como quisermos, através de nossas decisões pessoais” (São Gregório de Nissa, De vita Moysis, II, 2-3; citado em Veritatis Splendor, nº 71). No ano seguinte, estando em liberdade, no dia 13 de agosto de 1920, percebendo que Deus é a sua maior motivação de existir, inspirado pelo exemplo da Virgem de Nazaré, ingressou como postulante na Socidade de Maria ou Societas Mariae, da qual os membros são chamados de Marianistas. É uma ordem religiosa fundada por São Guilherme Chaminade, padre francês, que tem por objetivo a educação da juventude e está espalhada por vários países. Poucos dias depois, em 26 de setembro de 1920, foi transferido para o convento marianista em Greisinghof também na Áustria, onde em 27 de setembro de 1921, fez sua primeira profissão religiosa. Em seguida, foi enviado pelos seus superiores para cursar Filosofia e Teologia no Instituto Marianista de Graz. Neste Instituto permaneu por aproximadamente quatro anos, trabalhou como

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sacristão na capela e ainda lecionou para os seus companheiros, ensianou-lhes alemão e latim.

Votos perpétuos e ordenação presbiteral Em 27 de agosto de 1925, em Antony, na França fez sua profissão perpétua. Consagrando-se definitivamente ao Senhor. Se exatsiava ao observar a eleição de Deus em sua vida. Refletia sobre a graça que o Senhor concedeu ao ser humano, ao escolhar habitar no seu coração e o quanto o homem tem necessidade de habitar nEle. Jesus, em quem habita a plenitude de Deus, tornou-se nossa morada ao fazer sua morada em nós. Ele nos permite fazermos nossa morada nele. Ao entrar na intimidade de nosso mais profundo ser, ele nos oferece a oportunidade de entrarmos em sua própria intimidade com Deus. Ao escolher-nos como sua habitação preferida, ele nos convida a escolhê-lo como nossa habitação preferida. Esse é o mistério da encarnação. Aqui aprendemos a que significa disciplina na vida espiritual. Significa um processo gradual de voltarmos para a casa a que pertencemos e ouvirmos lá a voz que deseja nossa atenção. Nossa casa é o lugar onde aquele primeiro amor habita e nos fala deforma amorosa. A oração é a maneira mais concreta de jazermos nossa morada em Deus. (Henri Nouwen, Lijesigns, p. 37-39) No mês seguinte passou a residir e estudar no Seminário Marianista Internacional em Fribourg, na Suíça. Ao concluir os estudos e após ser considerado digno de receber o grau do presbiterato, foi ordenado sacerdote, no dia 5 de abril de 1930 na Catedral de São Nicolau em Fribourg, pela imposição das mãos e oração consacratória feita por Dom Marius Besson Lausanne, Bispo de Genebra e Friburgo. O Pe. Jakob, com liberdade escolheu entregar-se inteiramente por reconhecer-se amado por Cristo, queria retribuir o seu imenso amor. “Ensina-me o teu caminho, Senhor, para que eu ande na tua verdade; dá-me um coração inteiramente fiel, para que eu tema o teu nome. De todo o meu coração te louvarei, Senhor; meu Deus; glorificarei o teu nome para sempre. Pois grande é o teu amor para comigo”. (Sl 86,11-13) Já como sacerdote retorna a sua terra natal, sua amada Áustria, e lá foi nomado como o prefeito (responsável) pelo convento da ordem da cidade de Freistadt. Em 1931, mais precisamente no outono, assumiu a missão de ser catequista e conselheiro espiritual nas escolas marianistas em Lanzenkirchen.

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Em 1933, após um contínuo período de conturbações sociais e políticas agravadas pela crise econômica que se abateu sobre a Alemanha, o líder do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, Adolf Hitler, chega ao poder, tendo em seu currículo a liderança de um frustrado golpe de estado na Bavária, em 1923, que lhe custou seis meses de prisão, local onde escreveu o seu livro, o Mein Kampf, que continha a essência da doutrina nazista: o nacionalismo, o pangermanismo, o totalitarismo e a superioridade racial. O Nacional Socialismo chegou ao poder na Alemanha, instaurando um Estado totalitário, inspirado na superioridade da raça ariana. O seu violento expansionismo acabou atingindo a Áustria, em 1938, onde a população, amedrontada e ameaçada, passou a denunciar e entregar todos os judeus e antinazistas, numa tentativa desesperada de evitar a represália do cruel exército alemão. Durante os anos de 1934 a 1938, Jakob passou a lecionar no Instituto Marianista, em Graz. Esses anos se caracterizaram dificeis para a economia do país e o número de desempregados aumentou vertiginosamente. O Pe. Gaap, como sempre fez, desde criança, não consegiu permanecer indiferente diante da necessidades das pessoas, preocupava-se imensamente com os mais pobres e efetivamente encontrou meios para ajudá-los, recolheu com os seus alunos, alimentos, medicamentos e roupas para ajudar aqueles que não tinham. O Pe. Gaap, chegou a passar por privações, para disponibilizar o pouco que tinha para quem estivesse precisando mais do que ele.

A expansão nazista Entre 1933 e 1945, milhares de padres católicos alemães e austríacos e leigos enviados para campos de concentração e prisões rigorosas por supostos crimes tais como a imoralidade, o contrabando e a corrupção monetária (principalmente antes da guerra), mas acima de tudo pela sua resistência a vários aspectos do nazismo (principalmente para a invasão alemã da Polônia e a perseguição aos judeus). Desde sua origem, o nazismo entra em contradição em vários pontos com a doutrina católica. Além da estatolatria, condenada pela Igreja Católica, os doutrinadores do nacional-socialismo, em sua maioria, eram adeptos do humanismo ateu e da ideia de super-homem de Nietzsche. Não havia na doutrina nazista uma linha bem definida referente à religião; uns defendiam um “cristianismo real”, sem dogmas ou instituições, muito diferente do “catolicismo judaizado”. Outros misturavam o panteísmo oriental com as teorias de Schopenhauer acerca do cosmos ou ressuscitavam velhos deuses teutônicos, adaptando-os à

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época. Além de todos estes pontos, a superioridade da raça ariana era o ponto que mais se distanciava da doutrina católica com seu universalismo e sua crença da igual dignidade dos filhos de Deus (ROPS, 2006, pp. 423-424). Diante destas acusações, a Concordata assinada em 1933 entre a Santa Sé e o Estado alemão era frequentemente desrespeitada com a alegação de que a Igreja teria a desrespeitado primeiro ao intrometer se em assuntos políticos. O Reich procurava submeter a Igreja e limitar a liberdade religiosa. Escolas e órgãos da imprensa católica foram fechados sob a alegação de contrariarem a ideologia nazista. No final de 1937, foi decretado o fechamento de 82 instituições de ensino ligadas à Igreja, deixando 15 mil alunos sem poder receber instrução católica. Junto com o encerramento dos colégios católicos, foi dado início a uma campanha contra o ensino da religião nas escolas públicas. Como os nazistas, antes de tudo, travavam uma guerra ideológica, a liberdade de ensino era sua grande inimiga. Ao anexar a Áustria, em 1938, a primeira medida do regime nazista foi fechar as faculdades católicas e expulsar os religiosos que se dedicavam ao ensino (BLET, 2004, pp. 78-79). A perseguição começou a mostrar toda a sua força em 1937 após a publicação da encíclica Mit Brennender Sorge, onde o Papa Pio XI denunciava todos os abusos totalitários e antirreligiosos do nazismo. A partir de então, muitos religiosos passaram a ser presos sob a acusação comum de “linguagem perigosa” porque se pronunciavam contra a ideologia nazista. Através de malabarismos jurídicos, as autoridades nazistas denunciavam instituições e ordens religiosas por fraudes fiscais e aplicavam altas multas que as arruinavam, levando ao penhor de bens ou de imóveis. Os padres eram acusados de viver uma vida dissoluta e de cometerem abusos sexuais contra crianças e adolescentes (ROYAL, 2001, pp. 193-194). Os nazistas apresentavam várias justificações para prenderem os membros do clero: agitação de massas, espionagem, auxílio a prisioneiros, suspeita de traição, comportamento inamistoso para com a Alemanha, apoio aos judeus, insultos ao Führer ou ao nacional-socialismo ou, por vezes, nenhuma razão. Um foi condenado por dizer às crianças na escola: “Amai os vossos inimigos”. Doze foram capturados depois de terem lido no púlpito “O Leão de Münste”’, a obra do bispo Clemens August von Galen que condenava a eutanásia. O padre Otto Neururer chegou a Dachau por ter “impedido um casamento ariano”. […] De acordo com alguns companheiros de prisão, esteve pendurado pelos pés de cabeça para baixo durante 36 horas (ROYAL, 2001, p. 171). Anos depois, tanto o padre Otto Neururer, quanto o bispo Clemens August von Galen foram beatificados, ao visitar Münster, em 2015, pude rezar no túmulo deste, local onde também esteve o Santo Padre João Paulo II em 1° de maio de

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1987, e ver ao lado do seu sepulcro, uma placa na qual é possível ler uma de suas mais conhecidas frases: “É preciso obedecer mais a Deus do aos homens”. Somente o Beato Clemens von Galen, Conde e Bispo de Münster que foi o artífice da Encíclica Papal contra o nazismo, e alguns poucos fiéis seguidores é que promoveram na Alemanha uma correta resistência ao nacional socialismo de Hitler. O lema que escolheu para seu brasão de armas “Nec laudibus nec timoris” para combater o nazismo da qual não tinha “nem amor, nem temor”, ao contrário de muitos membros do clero que alimentaram um silencio proposital pois enquanto muitos temiam Hitler e alguns até o amavam, este nobre príncipe da Westfália o combateu com coragem. Por causa dos seus discursos, todos pensavam, inclusive o próprio bispo, que dentro em pouco ele viria a ser justiçado. O chefe das organizações juvenis da SS publicou esta declaração: “Eu o chamo o porco C. A., ou seja, Clemens August. Esse alto traidor e traidor do País, esse porco está livre e usa a liberdade para falar contra o Führer. Deve ser enforcado”. (R. A. Graham, “Il ‘Diritto di uccidere’ nel Terzo Reich – Preludio al genocidio”, in: La Civiltà Cattolica, 15 de março de 1975, vol. I, p. 154.)  O “caso Von Galen” foi minuciosamente discutido pelo Ministério da Propaganda e na Chancelaria do partido. Até o “delfim” de Hitler, Martin Bormann, queria enforcá-lo, mas o ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, aconselhou o Führer que adiasse sua execução, por cálculos de oportunidade política. A tática do regime era não fazer dele um mártir, e matá-lo significaria perder o consenso de parte da população, particularmente dos soldados no front. Os nacionalistas adiavam, assim, “o acerto de contas” com Von Galen para depois da “vitória final”. Só então, declarou Hitler em 4 de julho de 1942, se acertariam as contas com ele, “até o último centavo”. O irmão de Von Galen, conde Franz, dá este testemunho: “Mesmo que não tenha sido preso, meu irmão continuava a ser exposto aos ataques, aos abusos e às injúrias dos inimigos da Igreja. Conservou, apesar disso, sua postura ereta e continuou a anunciar a verdade intrepidamente. Um dia, eu lhe perguntei o que tínhamos de fazer caso ele fosse preso. ‘Nada’, foi sua resposta. ‘São Paulo também ficou preso por muitos anos e o Senhor não ti­nha medo de que os pagãos não se convertessem por algum tempo.’ Ele me dizia que as forças diabólicas haviam entrado em ação, mas lembrava também as palavras confortadoras do Senhor: ‘As portas do inferno não prevalecerão sobre a Igreja”. (Positio, op. cit., vol. I, Summarium, p. 65).  

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Como resposta para as atrocidades que os nazistas estavam desempenhando para com os judeus o cardeal Von Faulhaber, também assumiu postura contrária ao nazismo, ordenou que os mesmos braceletes com a estrela de Davi que estavam sendo colocados nos judeus fossem colocados em todas as imagens de Cristo o de Maria em toda sua arquidiocese. A corajosa ação do cardeal Von Faulhaber enfureceu a Hitler e a seus líderes nazistas, mas a SS não se atreveu a remover os braceletes das estátuas com medo de um levante católico. Jakob Gapp era antinazista convicto e poderia ser preso a qualquer momento. Mas isso não o intimidava. Tinha uma radical aversão à visão racista, abertamente condenada pelo Papa Pio XI por meio da supracitada encíclica “Mit Brennender Sorge”, Jakob pregava, abertamente, que o cristianismo e o nazismo eram incompatíveis, não havendo a menor possibilidade de entendimento entre os dois. As retaliações e perseguições a Igreja e o aumento absurdo do número de mortes de católicos, foram a resposta a encíclica de Pio XI, esse foi o motivo pelo qual Pio XII não escreveu uma outra encíclica condenando o nazismo abertamente, contudo, esse Santo Padre lutou com todas as suas forças, em atitudes concretas nas dimensões humanas e espirituais contra os nefastos planos hitleristas, como demonstra o livro de Gordon Thomas, 2013, intitulado “Os judeus do Papa”. É válido ressaltar que havia também um plano dos nazistas de sequestrar o Papa Pio XII, tal plano organizando nos mínimos detalhes pelo líder da SS Heinrich Himmler e o general da Gestapo Karl Wolff, conforme a obra de Dan Kurznan, 2007: “A conspiração contra o Vaticano”. Observe-se que existem muitas injustiças em relação ao Papa Pio XII, ele foi vítima das mentiras e calúnia dos comunistas, que tentaram sujar o seu nome de uma vez por todas na história. Historicamente, o comunismo trabalha com a mesma ideia de Paul Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Adolf Hitler na Alemanha Nazista: “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. (“The Sack of Rome”, p. 14. Alexander Stille) Durante anos, a Rússia soviética e os partidos comunistas lançaram, em todos os países, uma campanha de calúnias particularmente abomináveis contra o Papa. Acusavam-no de desejar e favorecer a guerra. Pio XII teve mesmo de, numa mensagem do Natal, formular um indignado protesto contra o que chamou de um “ultraje violento”. O Santo Padre Pio XII, no Natal de 1950, ressaltou: “Examinai os doze anos agitados do Nosso pontificado, todas as palavras saídas dos nossos lábios, todas as frases saídas da nossa caneta; não encontrareis senão exortação a favor da paz”. (GUERRY, 1960, p. 37) Além deste pronunciamento, houve um inesperado acontecimento que ressalta ainda mais a mentira dos soviéticos.

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Em carta de 26 de janeiro de 1951, M. Joliot-Curie, presidente do II Congresso Mundial da Paz – congresso realizado em Varsóvia, e cujas ligações com o comunismo são bem conhecidas - pedia ao Papa Pio XII que exercesse a sua influência a favor da paz, apoiando com a sua elevada autoridade os votos do congresso sobre a interdição das armas de destruição maciça e a redução progressiva e controlada dos armamentos. O autor da carta citava então as intervenções de Bento XV, e Pio XII, a favor da paz e do desarmamento. Joliot-Curie citava as mensagens do Natal de 1939 e 1941, insurgindo-se contra a guerra e reclamando o desarmamento simultâneo e progressivo, bem como uma passagem de uma Encíclica de 19 de julho de 1950 sobre as armas atômicas, bacteriológicas, químicas, tóxicas e radioativas. A resposta do Vaticano, datada de 16 de fevereiro, toma em consideração estas afirmações: “é com prazer que se vê reconhecido o fato de o Soberano Pontífice se ter sempre pronunciado a favor da paz, uma paz justa e verdadeira”. A Carta declara que o Santo Padre continuará sempre a sua ação em prol da paz, independentemente de qualquer movimento, “em virtude dos próprios princípios que orientam sua ação e que têm a sua fonte na doutrina ensinada por Nosso Senhor Jesus Cristo”. Mas antes, ao falar da ação do Santo Padre a favor da paz, a Carta responde decisivamente à campanha da mentira. “Eis um ponto que foi negado muitas vezes e por muitos nestes últimos anos: as palavras e os atos do Santo Padre foram de tal maneira deformados que poderosas organizações, embora pretendam trabalhar a favor da paz, tentaram até fazer crer às massas a calúnia absurda de que o Papa desejava e favorecia a guerra”. (GUERRY, 1960, p. 37) Em retaliação à Encíclica de Pio XI, na Áustria, 274 foram sacerdotes presos, e vários morreram nos campos de concentração e extermínio. Jakob Gapp afirmava com clareza que o nazismo era incompatível com a fé cristã, ele reuniu as declarações antinazistas dos bispos alemães e austríacos e ainda do Papa Pio XI e passou a repetir esses ensinamentos e em seus sermões destemidamente.

O Ecumenismo de sangue Pe. Jakob, não era um teólogo tão notável quanto o pastor protestante Dietrich Bonhoeffer e o sacerdote jesuíta Alfred Delp, ambos igualmente foram

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mortos pelos nazistas, por levantarem-se contra a ideologia de Hitler. No entanto, isso era compensado pela teologia vivida. Muito mais do que estudos teológicos, a vida do Pe. Gaap, testemunhava o Evangelho. Ele traduzia a Teologia com a sua própria existência. Durante as perseguições nazistas e comunistas, foram ceifadas as vidas de muitos milhões de cristãos, de diferentes denominações, além dos católicos. Percebe-se que nos momentos de martírio, não existem mais divisões, são apenas seguidores de Cristo que são capazes de morrer por Ele, para não o renegar. Dom Francisco Biasin, o presidente da Comissão Episcopal para o Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso da CNBB, Bispo da Diocese de Barra do Piraí e Volta Redonda-RJ, que foi Bispo de Pesqueira-PE e me crismou, afirmou: Não deve existir a Igreja ou uma Igreja, mas o Cristo. É convertendo-se ao Senhor Jesus e convergindo para Ele que todas as igrejas se aproximarão mais entre si... Eu creio que o ecumenismo de sangue, de martírio, ajude as igrejas a superar justamente as divergências encontrando, no derramamento de sangue, na doação de sua vida, o caminho-mestre no seguimento de Jesus, Ele que primeiro deu a vida por nós. A perseguição dos cristãos é, portanto, um dos caminhos pelos quais as Igrejas são quase que forçadas a percorrer um caminho junto com as outras Igrejas e, assim, demonstrar ao mundo que a unidade acontece pela fidelidade ao Senhor. O bispo de Córdoba, Espanha, Dom Demetrio Fernández, em janeiro de 2016, refletiu sobre a unidade dos cristãos, e afirmou em sua carta: “É muito mais o que nos une do que o que nos separa”. Ele disse ainda sobre os últimos tempos “a perseguição, que produziu muitos mártires cristãos, gerou o ecumenismo do sangue, que uniu os cristãos de todas as confissões. A separação dos cristãos em distintas confissões é, uma ferida dolorosa no coração da Igreja, nossa mãe... Jesus fundou uma só Igreja, a comunidade dos redimidos por seu sangue, na qual entramos pelo batismo. Ele destacou a importância de respeitar cada uma das tradições cristãs, “a avaliação e a colaboração em campos comuns, a missão comum de dar a conhecer Jesus Cristo como o único salvador de todos os homens”. Este Prelado, explicou com muita perspicácia que “quem persegue hoje em dia os cristãos, que nos unge com o martírio, sabe que os cristãos são discípulos de Cristo: que são um, que são irmãos. Não lhes interessa se são evangélicos, ortodoxos, luteranos, católicos, apostólicos… não lhes interessa! São cristãos”. O Santo Padre, o Papa Francisco, na catequese do dia 20 de janeiro de 2016, na Sala Paulo VI, disse: “Todos, católicos, ortodoxos e protestantes, formamos um sacerdócio real e uma nação santa”, o que significa que “a missão comum de transmitir aos outros a misericórdia que recebemos de Deus, co-

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meçando pelos mais pobres e abandonados”. O Papa fez referência ao Batismo como a origem comum entre católicos, luteranos e ortodoxos. Citou o Concílio Vaticano II, que afirma que o Batismo constitui o vínculo sacramental da unidade que existe entre todos aqueles que por meio dele foram regenerados. Disse ainda: “Antes de tudo, compartilhar o Batismo significa que todos somos pecadores e precisamos ser salvos, redimidos e libertados do mal... Todos nós cristãos, pela graça do Batismo, obtivemos misericórdia de Deus e fomos acolhidos em seu povo”. O Diácono Pablo Nasrani Neves, coordenador da Comissão de Comunicação da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia no Brasil disse: “Nós somos um só, pela comunhão do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo de modo que todo cristão que morre, mesmo que seja do outro lado do mundo, ele morre martirizado por mim, por você, pelo católico, pelo ortodoxo, pelo protestante... Eu queria que meus irmãos cristãos – católicos, protestantes, ortodoxos, anglicanos, enfim – pudessem rezar por essas pessoas, que não negam Cristo por nada, por absolutamente nada, e mesmo diante da bala, da espada, da faca, de todo tipo de atrocidade não negam Jesus”

O polêmico caso do Cardeal Theodor Innitzer Em 1938, a Rádio do Vaticano transmitiu uma veemente denúncia da ação nazista. No mesmo ano, em sentido diverso o arcebispo de Viena o Cardeal Innitzer, fez uma declaração que terminava com a saudação: “Heil Hitler!” O cardeal emitiu elogios ao nacional-socialismo pelos resultados extraordinários na reconstrução-popular nacional e econômica, assim como dentro política social, na mesma declaração exortou o povo austríaco a votar em uma união com a Alemanha, união esta chamada “Anschluss”. No dia 15 de março, Dom Theodor Innitzer, primaz da Áustria, recepcionou Hitler, cumprimentando-o com um aperto de mão no Hotel Imperial. Segundo Chesnoff (1999, p.32): O Vaticano ficou “chocado” a declaração de Innitzer. Do lado de fora do hotel, uma multidão abarrotava as ruas, entoando o nome de Hitler sem parar, até ele finalmente aparecer na janela. No dia seguinte, com o Führer vitorioso e sempre sorridente, 200.000 austríacos jubilantes ocuparam a Heldenplatz (Praça dos Heróis). Hitler e seu séquito estavam delirantes, “Ich bien verückt” (Estou enlouquecida), escreveu a amante de Hitler, Evan Braun, numa carta para a irmã, Ilse, tentando descrever a excitação do momento. Neste mesmo mês, as tropas alemãs marcharam para a Áustria e no dia seguinte, o país foi incorporado ao III Reich Alemão. (CHESNOFF,1999, p.32) O rápido encontro do Cardeal Innitzer com Adolf Hitlher, foi fotografado e

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atualmente esta foto tem sido exaustivamente usada por inimigos do Catolicismo, como meio probatório incontestável do apoio a Igreja Católica ao nazismo. O que se constiutui uma inverdade absurda. A referida imagem não representa o apoio da Igreja ao Nazismo, mas a conduta isolada do Cardeal Innitzer, que não tinha o devido conhecimento, de fato o que era o nazismo. Cardeal Innitzer, Arcebispo da Áustria, compreendia o que era apresentado nos jornais, já influenciados pela propaganda de Goebbels. Os jornais apresentavam grandes avanços e incontáveis melhorias sociais, que verdadeiramente aconteceram, sobretudo na economia. Escondiam porém, a sordidez do pensamento e práticas do regime. O próprio Papa Pio XI ordenou que o Cardeal Innitzer se retratasse e emitisse um esclarecimento, o mesmo foi publicado no L’Osservatore Romano, jornal oficial do Vaticano. Note-se que antes de reunir-se com com o Papa Pio XI, o arcebispo Innitzer reuniu-se com Pacelli (que se tornaria pouco tempo depois o Papa Pio XII), este fez questão de expor que Innitzer devia rever seu ato urgentemente. Dom Innitzer, após ter sido advertido pela Igreja, o mais rápido possível, voltou atrás no que pronunciou, fazendo uma nova declaração emitida em nome de todos os bispos austríacos e em unidade com todos eles, que dispunha que sua colocação anterior: “não pretendia ser uma aprovação de algo que não era e não é compatível com a lei de Deus”. No jornal do Vaticano constava também a informação que a declaração anteriormente emitida por Innitzer, não tinha a aprovação da Santa Sé. Os nazistas, em resposta, passaram a perseguir a Santa Sé com grande furor, destruiram as instituições da Igreja e prenderam muitos padres, religiosas e consagrados. Quanto ao arcebispo Innitzer, passou a sofrer grandes privações. Isso reforça que tudo não passou de um momento de desinformação do cardeal. É comum também a divulgação de fotografias de igrejas na Áustria, onde a bandeira do Vaticano está ladeada pela bandeira nazista. Richard Z. Chesnoff explica: Mais uma sedução vitoriosa do que um estupro, a conquista nazista da Áustria foi rapidamente aceita por todos exceto alguns leais patriotas. Para a maioria dos austríacos, a invasão de Hitler não significava a destruição de uma nação pluralista, democrática e orgulhosa de sua independência, mas uma oportunidade de ouro para o país e seu povo ariano compartilhar dos benefícios de um “admirável novo Reich”, entre os quais o de livrar o país de seus incômodos judeus, enquanto se apropriava de seus bens. Na verdade, poucos minutos depois de

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um emocionado representante do governo anunciar o Anschluss, os estandartes com a suástica surgiram por toda a Áustria e os bandos anti-semitas tomaram conta das ruas. Os edifícios, os muros e até as igrejas de Viena foram rapidamente cobertos com bandeiras do Reich, e as multidões tomaram as avenidas e praças da cidade. No primeiro dia da Nova Ordem, os funcionários de alguns escritórios começaram a trabalhar cantando o hino alemão Deutschland über Alles. (1999, p.31) Ainda em 1938, milhares de jovens católicos se reuniram com o Dom Innitzer, na Catedral de Santo Stephen , em Viena. Na ocasião o Pastor celebrou a Eucaristia e afirmou em sua homilia: “Para nós, existe apenas um Führer: Jesus Cristo”. No dia seguinte, a residência do arcebispo foi parcialmente destruida e saqueada por aproximadamente cem nazistas, membros da Juventude Hitlerista. Narrou Plínio Corrêa de Oliveira: Houve um país, na semana passada, em que um Príncipe da Igreja, segundo narram os telegramas, sofreu “uma verdadeira chuva de ovos podres, batatas, e grosseiros insultos, que chegaram quase a se transformar em danos corporais”. O povo quebrou a janela de uma casa onde aquele Príncipe da Igreja pernoitava de viagem, e, por outro lado, foram quebrados os vidros do seu automóvel. Saindo desta localidade e dirigindo-se a outra, o Prelado foi recebido por uma grande demonstração hostil. O povo vociferava pedindo a prisão do Prelado e gritando-lhe insultos. Um celerado desferiu um golpe contra o Prelado, que atirou longe seu barrete. Os seus serviçais foram também maltratados”. Quem é este povo? Uma malta de comunistas? de anarquistas? Propriamente isto, não. Mas um grupo de nazistas, o que vem a dar na mesma. O país é a inditosa Áustria. E o Prelado é o Cardeal Innitzer, cuja brandura para com os nazistas quando do “Anschluss” torna esta agressão verdadeiramente absurda e evidentemente inspirada em um ódio diabólico contra a Igreja. (O Legionário, Nº 356, 09 de julho de 1939, órgão oficioso da Arquidiocese de São Paulo) Portanto, fica esclarecido enfim, que o Primaz da Áustria, o Cardeal Theodor Innitzer, tempestivamente e com convicção singular, desconsiderou o apoio ao líder nazista e dedicou-se incansavelmente à reconstrução da Igreja no país. Na cidade Lublin, o oficial chefe da Gestapo, que em Viena se destacou por orquestrar os ataques ao Cardeal Innitzer, assumiu a responsabilidade de perseguir com crueldade o clero. Outro dado histórico que merece ser destacado é que em meados de outubro de 1939, a Gestapo deteve o Bispo Fulmann e seu Bispo Auxiliar, Monsenhor Goral e a totalidade do clero dioce-

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sano, com cerca de 150 padres e prenderam ainda 36 jesuítas da cidade de Cracóvia. O Bispo auxiliar de Lodz, Monsenhor Tomczak foi espancado com varas nos braços até sangrar, e depois foi forçado trabalhar limpando as ruas em situações indignas. Todavia, é válido destacar que infelizmente existiram cristãos (católicos e protestantes) traidores de Cristo e da fé. Que enviaram saudações e apoiaram o nazismo e jamais se retrataram, esses são uma minoria que optaram em seguir por caminhos contrários ao do Evangelho. Desta vez no comando de nosso povo um homem do povo que dedica sua vida e seu ser na defesa do seu ameaçado povo. Uma confiança sem limites a Hitler e um profundo agradecimento e amor une nosso povo ao mesmo. Como podemos agradecer a ele por nos ter legado consciência tranquila para a luta defensiva? Pois ele não dispensou nenhuma oportunidade para manter a paz. Ajoelhados devemos agradecer a Deus por ter dado o Führer no momento de maior necessidade. (Folha Evangélica de Ostemark, em 15/9/1936) Nós cumprimentamos nosso Führer pelo seu aniversário. Ao mesmo tempo expressamos nossos agradecimentos pelos mais de 06 anos de comando de nossa Pátria. Nesse curto período ele conseguiu reconduzir ao trabalho seis milhões de desempregados libertando as famílias da ansiedade, da insegurança, da miséria e do sofrimento. Com altiva sabedoria e fervor nacionalista ele quebrou as amarras que a conferência de ódio de Versalhes havia destinado a Alemanha, devolvendo a honra e nosso nome. (Folha Católica de Passau, em homenagem ao 50° aniversário de Hitler) O conselho da Igreja Evangélica Alemã, pela primeira vez reunida após o início da luta decisiva na frente oriental, deseja garantir-lhe nessas tempestuosas horas renovar a total fidelidade de toda cristandade do Reich. Você, nosso Führer, afastou o perigo Bolchevista-Judaico da nossa Pátria e chama agora nosso povo e os povos da Europa para o encontro decisivo de armas contra o inimigo mortal de toda Ordem e toda Cultura Cristã. O povo alemão e todas as facções religiosas cristãs agradecem por esse acontecimento. (Telegrama enviado em 30/6/1941, por representantes da Igreja Evangélica Alemã) Sim, houveram traidores de Cristo, no entanto o Cardeal Theodor Innitzer, não foi um deles, apesar do pronunciamento equivocado que realizou. Atualmente, todos os anos, a Arquidiocese de Viena concede aos estudantes e pesquisadores um prêmio de honra, chamado: “Kardinal-Innitzer-Preis”.

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A Igreja Católica, pelo Papa Pio XI, denunciou abertamente o Nazismo, no entanto o seu sucessor Pio XII, não. Ele com cuidado observou os relaatos, dados e estatíticas das retaliações que os judeus e os católicos sofreram por causa do pronunciamento de seu antecessor, dessa forma ao receber informaçoes sobre a “solução final para o problema judeu”, assim procedeu, segundo Gordon Thomas: Quando terminou de ler as correspondências, Pacelli elaborou uma mensagem destinada a todos os núncios no Terceiro Reich em expansão. Rezou e pediu orientação divina antes de instruí-los sobre uma questão que havia sido levantada em nome da Igreja alemã: como deveria proceder em relação ao aumento daqueles horrores? Pacelli havia decidido que, embora a opressão fosse horrenda, não deveria haver nenhuma condenação pública por parte da Igreja. Denunciar, de acordo com sua convicção, destruiria uma estratégia efetiva que ele havia delineado para proteger os judeus e dar-lhes tuna oportunidade de escapar da tirania nazista. Essa foi uma decisão que ele reconheceu como um dos pedidos mais duros de aceitar por qualquer pessoa, dado o que estava acontecendo na Alemanha. Mas ele mesmo demonstraria que era assim que teria de ser feito. A estratégia foi o silêncio. Quaisquer formas de denúncias em nome do Vaticano inevitavelmente provocariam retaliações adicionais contra os judeus. Sua decisão, ele teve plena consciência disso, seria mal interpretada, já que as atrocidades cometidas pelos nazistas obviamente clamavam por protestos. Mas, se ele interferisse, causaria uma repressão ainda mais cruel contra os judeus. No entanto o silêncio não o impediria de trabalhar nos bastidores para ajudar esse povo. Ele tinha a esperança de que cada padre entenderia que seu silêncio era a única forma de salvar a vida do máximo de judeus possível. (Extraído do Livro Os judeus do Papa, 2013, Parte I, o Poder e Glória)

A substituição da Cruz de Cristo pelo retrato de Hitler e a Irmã Restituta Com a expansão nazista para o território austriaco eram cometidos diversos crimes e sobretudo o extermínio dos judeus. Pretendiam aniquilar os judeus da face da terra, mas não se conformovam em matá-los, era necessário humilhá-los publicamente. O Anschluss de 1938 foi imediatamente acompanhado por distúrbios anti-semitas em todo o país. Os judeus passaram a ser atacados em

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público e surrados por gangues pró-nazistas. Homens idosos eram forçados a ficarem nus e a se arrastarem pelas ruas de quatro, as mulheres ortodoxas a dançarem em cima dos rolos da Torá. Uma jovem austríaca judia, Leah Sachs, relatou ter visto as tropas de choque urinando no rosto de um judeu antes de surrá-lo com selvageria. Outros eram agarrados pelas tropas nazistas, forçados a ficar de quatro e lavar as ruas da cidade, para o grande prazer das multidões que zombavam, pessoas que normalmente, eram vienenses bem-comportados. (CHESNOFF,1999, p.33) Além disso, cerca de 1.400 instituições educativas católicas foram fechadas. A educação religiosa foi extinta e as e associações católicas foram sumariamente dissolvidas. O retrato de Hitler foi afixado nas salas de aula de todas as escolas alemãs, inclusive nas católicas, em substituição do crucifixo. Os professores foram forçados a doutrinar os alunos nos ideais nazistas. Falar da retirada do crucifixo dos colégios e demais locais públicos nos faz recordar diretamente da Irmã Restituta, austríaca, nascida em 1° de maio de 1984, a sexta dos sete filhos de Anton e Maria Kafka. Seu nome era Helena Kafka, tinha um caráter forte e personalidade insistente. Não abria mão de suas convicções. Apesar da gagueira que trazia, não tinha dificuldade em desempenhar suas atividades, era sempre rápida, disposta e decidida. Foi impedida de continuar os seus estudos e aos 15 anos, passou a trabalhar como empregada doméstica. Expressou ao alcançar os 18 anos o seu desejo de tornar-se freira, contudo, a sua família não lhe deu permissão. Deste modo, aguardou por dois anos, até que fugiu de casa, com o intuito de ingressar no convento das Irmãs Franciscanas da Caridade Cristã de Viena. No convento, receu o nome de Irmã Restituta, por causa da Santa que tem esse nome. Foi designada pela superiora a trabalhar na enfermaria do hospital regional de Mödling, próximo a Viena. Passou a trabalhar no hospital com muito empenho e era uma mulher realizada, ela dizia que servia ao Seu Amado Jesus, cuidando das feridas e das dores dos enfermos. Passou a ser chamada de “Resoluta”, por causa da sua capacidade de resolver as problemáticas surgidas nas mais diferentes situações do hospital. Os médicos, as outras enfermeiras e principalmente os doentes, tinham a religiosa como um referencial. Com a expansão nazista até Viena, fâmulas com a suástica e fotos de Hitler substituiram o crucifixo em todos os locais públicos, incluindo no hospital que a Irmã Restituta trabalhava. Ocorre que foi ordenado o afastamento das freiras do hospital, as demais se abstiveram de voltar ao hospital, porém a Irmã

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Restituta, continuou trabalhando, pois era muito experiente e naquele momento sua presença era de relevância ímpar. Os nazistas arrancaram dos quartos e enfermarias do hospital onde trabalhava o crucifixo, a irmã logo que eles se ausentaram os repôs, isso aconteceu algumas outras vezes. Quanto mais eles retirassem a Cruz de Cristo, mas ela a reporia, pois afirmava que Ele era o Mestre e Rei daquele lugar. Isso foi entendido como uma provocação ao Führer. A corajosa religiosa se incomodava muitíssimo com a ideologia de morte e de racismo propagada pelo Nazismo. Totalmente irados com a ousada irmã, os soldados nazistas lhe prenderam na Quarta-feira de Cinzas de 1942. Na prisão, a caridade desse nobre coração expandiu-se, passou a oferecer seus cuidados as outras prisioneiras, principalmente as que estavam gestantes e as que estavam condenadas a pena capital. No dia 30 de março de 1943, a Irmã Restituta foi decapitada. Pouco antes de ser executada, a religiosa Discípula de Cristo crucificado, recordou “A palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus” (1 Coríntios 1,18) e pediu a um sacerdote que traçasse na sua fronte o Sinal da Cruz. Enviou ao convento das Irmãs Franciscanas da Caridade Cristã uma pequena mensagem:”Tenho vivido por Cristo, por Cristo quero morrer”. A Irmã Restituta Kafka, foi proclamada beata em 21 de junho de 1998. Sua memória litúrgica é celebrada no dia 29 de outubro.

As transferências Ao Pe. Jakob, foi solicitado pelo diretor do colégio, que utilizasse publicamente um emblema com a suástica, ele com veemência se recusou e continuou criticando o nazismo nas seuas aulas e nas homilias. Ao ser indagado por um aluno: “- Professor, os judeus devem ser odiados e mortos?”, ele respondeu que abolutamente não. A sua resposta gerou repercussão entre os alunos e muitas pessoas tomaram conhecimento da percepção do sacerdote. Por causa dos seus pronunciamentos, precisou ser transferido para outra casa de missão dos marianistas na cidade de Freistadt, também na Áustria, recebeu a determinação de seus superiores de não falar com os alunos. Residiu em Freistadt, por alguns meses, até ser transferido novamente para a sua cidade natal, no Tirol. Pe. Gaap não poderia continuar dando aulas, tampouco desempenhando as suas funções pois era extremamente perigoso, já que estava muito visado pelos nazistas. No dia primeiro de setembro, passou a residir em Breitenwang, na região de Reutte, onde minisitrava a catequese para alunos do ensino fundamental e médio. Incansavelmente apregoava que a caridade cristã e o amor de Deus se

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estende a todos seres humanos, independentemente da sua nacionalidade ou raça. Ele dizia: “Sim a Deus, não a Adolf Hitler!” A Gestapo tomou conhecimento e como punição foi expulso da docência e passou a pereguí-lo, destarte, em 04 de novembro de 1938, teve que fugir novamente. Mesmo com todas as dificuldades, não se via no Pe. Jakob pesar ou frutração: “Quando Jesus está presente, tudo é suave e nada parece dificultoso; mas, quando Jesus está ausente, tudo se torna penoso. Quando Jesus não fala ao coração, nenhuma consolação tem valor; mas se Jesus fala uma só palavra, sentimos grande alívio”. (A Imitação de Cristo) Desta feita, precisou transladar-se para a casa de um parente em Wattens, mas mesmo assim não conseguiu ficar omisso diante da tirania, continuou expressando repúdio às práticas hitleristas e ainda contiunou encontrando formas de ajudar os judeus. Nesta cidade, em 11 de dezembro 1938, fez ressoar a sua voz na homilia, na qual com firmeza defendeu o Papa Pio XI contra as inverdades dos nazistas e ainda conclamou os fieis a rejeitaram qualquer forma de literatura da ideologia do nacional socialismo. Os membros da Gestapo passaram a caçá-lo com insistência, para salvar a sua vida seria necessário fugir da Áustria o quanto antes. Tentou várias vezes obter um passaporte em Innsbruck, mas não obteve resultado, mas conseguiu fazê-lo por meio da colaboração dos superiores da ordem, que conseguiram ainda um visto para que pudesse ir para a França. Fugiu em 21 de janeiro de 1939, para a cidade francesa de Bordeaux. Onde mais uma vez passou a trabalhar no Colégio Marianista, desta vez, como bibliotecário e quando aprendeu francês, como capelão. Na Páscoa desse ano, realizou uma súplica em sua pregação: “Oremos pelos judeus e pelos católicos alemães que estão sendo perseguidos pelo regime nazista.” No ano de 1939, no dia 23 de maio, o Pe. Jakob foi transferido para a Espanha (e aqui se pode observar que as doutrinas comunistas e nazistas, tem essencialmente, sem sombra de dúvida, a mesma raiz de tirania e de necessidade do derramamento de sangue). Passou a lecionar no Colégio Marianista de San Sebastian e ainda em Cadiz, Lequetio e por fim em Valência. A Guerra Civil Espanhola cessou por causa da intervenção da Alemanha Nazista e da Itália Fascista. Os espanhóis de certo modo, depois de todos os horrores que tinham vivido por causa dos comunistas, estavam imensamente gratos e entusiasmados com Mussolini e Hitler. Até os seus irmãos da Companhia de Maria denotavam certo entusiasmo, mas isso decorria unicamente por se sentirem libertos do exército vermelho. O Pe. Gaap que conhecia profundamente o marxismo, pois outrora acreditou que fosse algo positivo, compreendia

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o sentimento dos seus confrades, no entanto eles não tinham a compreensão real do que era o Nazismo, do qual o sacerdote Gaap conhecia detalhadamente. Percebeu-se que ele ficou muito indignado com o ânimo de seus irmãos ao fascismo e ao Terceiro Reich, afirmava aos religiosos que eles estavam tendo uma visão restrita que não é pelo fato de que eles tenham lutado e vencido o bolchevismo ateu, que eles eram bons, mas sim perseguidores da mesma forma. Em setembro de 1941, em Valência, mais uma vez, o fiel sacerdote Jakob, passou a ministrar aulas, agora das línguas latina, alemã e francesa e ainda de religião. Jakob pediu aos seus superiores para ser transferido para os Estados Unidos, mas não teve permissão. Permaneceu na Espanha, e nesse país deparou-se com a problemática social e a exploração dos trabalhadores. Ficou perplexo diante da pobreza, da péssima alimentação e vestimenta dos operários e ainda da exaustiva carga horária laboral. Afirmou consternado que “a discrepância entre os ricos e os pobres era pior na Espanha do que em qualquer outro lugar.” Percebe-se que o Pe. Jakob, tinha a mesma visão que defendia o Beato Bartolomé Blanco, era necessário garantir condições mais dignas aos trabalhadores e estes precisavam ter remunerações justas para que pudessem manter as suas famílias. O pensamento de Gaap, busca a dignidade do trabalho, o que é defendido pela doutrina social da Igreja, mas que nunca e absolutamente jamais se confunde com socialismo/ comunismo. Jakob se autodescreveu como “um amigo dos trabalhadores” e ainda como “fiel depositário inabalável dos direitos proletários.” Era inquieto pelo desejo de ajudar os necessitados, via em cada pessoa que sofria a face de Cristo: “Insensato é quem põe sua esperança nos homens ou nas criaturas. Não te envergonhes de servir a outrem por Jesus Cristo, e ser tido como pobre neste mundo. Não confies em ti mesmo, mas põe em Deus tua esperança. Faze de tua parte o que puderes, e Deus ajudará tua boa vontade. Não confies em tua ciência, nem na sagacidade de qualquer vivente, mas antes na graça de Deus, que ajuda os humildes e abate os presunçosos. ” (A Imitação de Cristo) Com a unificação da Alemanha e Áustria, o Anschluss, Jakob era um cidadão alemão. Contudo, várias vezes esteve no consulado do Reino Unido em Valência, a fim de solicitar um visto. No seu coração jamais esqueceu o seu povo e todos que estavam sendo massacrados pelos Nazistas. Conseguiu ficar recebendo com constância os jornais britânicos que informavam sobre a situação política e sobre a Igreja na Alemanha e na Europa, sobretudo o periódico católico “The Tablet”, do qual guardava os exemplares. Jakob difundia por onde passava as informações que conseguia obter. Os serviços de informações alemães conseguiram o apoio de alguns fun-

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cionários consulares britânicos que terminaram entregando o destino do foragido Pe. Jakob Gaap. O serviço de informação estrangeiro AO, que era especializado nas buscas na Áustria, passou a desmpenhar trabalhos na Espanha e logo que descobriu o paradeiro do sacerdote informaram imediatamente a Gestapo, a tão falada polícia secreta, comandada por Himmler. Tanto a AO, quanto a Gestapo, desde que ele fugiu, lhe procuravam intensamente. Um padre alemão chamado Augustin Lange, que após a guerra foi descoberto como um perigosíssimo agente secreto da Gestapo, solicitou ao Pe.Jakob que educasse na fé católica alguns judeus que conseguiram fugir e estavam na Espanha. Na verdade, não passava de um pretexto para monitorá-lo. Eram agentes disfarçados que relatavam detalhamente cada passo do padre. Em agosto de 1942, Pe. Jakob foi procurado por Mendelssohn, da Alemanha, que apresentou-se como um refugiado judeu de Berlim, mas na realidade era Hegel, um agente nazista disfarçado. Ele pediu ao padre que lhe ajudasse, pois já havia sofrido muito com a perseguição e que tinha passado a encontrar sentido no Cristianismo e queria converter-se. Mesmo esse fato sendo estranho, pois pouquíssimos judeus alemães conseguiram na entrar na Espanha, o padre não duvidou da intenção do homem. Durante alguns poucos meses, o Pe. Jakob fielmente instruiu os supostos judeus na fé católica. Depois Hermann Treter, também agente secreto da Gestapo, juntou-se aos encontros de catequese. O Pe. Jakob, sempre acolhedor, estabeleceu com eles uma sólida amizade até o ponto de que os jovens lhe pedissem para serem enfim batizados. Dias antes da data prevista para o sacramento batismal, o Pe. Gapp foi convidado pelos supostos judeus para viajar em suas companhias até a cidade de San Sebastián, ele zeloso pastor, aceitou, contudo, o enganaram e lhe fizeram (ou provavelmente o forçaram) passar por Hendaya, já na França, lugar em que foi aprisionado pela Gestapo, conduzido a Paris e em seguida, para Berlim, onde sofreu incontáveis torturas.. Na capital alemã, Jakob enfrentou sete longos meses de cárcere. Em 2 de julho de 1943 em Sacred Heart Fest, foi julgado pelo juiz nazista Roland Freisler, do julgamento que não durou mais de duas horas, resultou a condenação à morte por decapitação. Sobre o Pe. Jakob recaia a acusação de traição ao III Reich. Foi interrogado sobre as suas visitas ao consulado britânico e ainda sobre a sua coleção do “subversivo” jornal The Tablet, ele respondeu: “É um bom jornal católico com conteúdo saudável, e eu lhe indico a ser um assinante”. Disse ainda: “É meu dever cristão me opor a um regime destinado a destruir a Igreja e massacrar a vida humana”. O veredicto terminou com as palavras: “Ele será para sempre sem honra.”

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Todos os pedidos de clemência foram rejeitados, e apelo de seus parentes para ser dado seus restos mortais para um funeral simples, foi rejeitado porque Gapp “tinha defendido a sua conduta por razões explicitamente religiosas. E dessa forma Pe. Gapp seria considerado um mártir da fé, e seu funeral poderia ser usado pela população católica como uma oportunidade para uma demonstração silenciosa em apoio de um traidor”. Observa-se aqui outro ponto importante na estratégia de perseguição nazista era o do não “fabricar” mártires. O comandante da SS, Heinrich Himmler afirmou, certa vez, que faria os mártires caírem no esquecimento (SOCCI, 2003, p. 17). Diferentemente da perseguição ocorrida em outros países, a perseguição nazista aos católicos aconteceu de maneira habilmente sutil. Segundo Royal (2001, p. 169), a estratégia era levar o povo, através de maciça propaganda, ao descrédito e ao desinteresse pela Igreja enquanto fazia acreditar que a Alemanha mantinha relações amistosas com todas as igrejas no país. Portanto, Hitler não pretendia atacar abertamente os católicos, mas afirmava: Isto não vai me impedir de arrancar os ramos e as raízes do cristianismo e de aniquilá-lo da Alemanha. […] Porém, é decisivo para nosso povo reconhecer uma fé judaico-cristã com a sua moral efeminada ou uma fé heroica e forte no deus da natureza, no deus do próprio povo, no deus do nosso destino, no nosso sangue. […] Uma igreja alemã, um cristianismo alemão, é um erro. Ou se é alemão, ou se é cristão. Não se pode ser ambos (RAUSCHNING, 1940, p. 49). Hitler sabia que o assassinato de católicos, ao invés de abater os ânimos, poderia surtir exatamente o efeito contrário, incentivando os fiéis ao heroísmo demonstrado pelo martírio. Apesar de afirmar que iria “esmagar a Igreja Católica como um sapo”, Hitler tinha uma estratégia bem definida de como fazer isso sem causar grande comoção popular: apresentar os católicos, principalmente os padres, como criminosos comuns diante do povo, privando-os da aura do martírio (RAUSCHNING, 1940, p. 53). Às 13h do dia 13 de agosto de 1943, Jakob Gapp foi informado que a sua execução seria às 19h. Em seguida, escreveu duas pequenas cartas de despedida, nas quais é possível vislumbrar a grandeza da sua fé. Poucas horas antes da execução, escreveu cartas animadoras a seus familiares e superiores: “Considero este dia como o mais belo de minha vida. Atravessei duras provas, mas agora estou feliz Os restos mortais de Pe. Jakob foram transladados para o Instituto Anatómico-biológica na Universidade de Berlim para a investigação. Jakob foi severamente ultrajado por reafirmar os que defendia e por não ter medo de nenhuma tortura ou da morte, sabia em quem pôs a sua confiança. Era cristão e se isso era um crime punível com a morte estava disposto a morrer.

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Observando a força, firmeza de convicção, coragem e destemor do Pe. Jakob Gaap, o próprio Heinrich Himmler, responsável supremo pela Gestapo, chegou a dizer que “com um milhão de Jakobs Gapp, em nosso partido, nos facilmente dominaríamos o mundo”. De acordo com Royal (2001, p. 174), o “crime” de todas estas pessoas era o fato de serem católicas e, por isso, colocavam-se em oposição à fé do Reich. Um agente da Gestapo chegou a afirmar durante um interrogatório que os padres eram inimigos piores que os judeus e os comunistas. Dos vinte e um mil padres católicos existentes na Alemanha durante o regime nazista, cerca de oito mil entraram em conflito direto com o Reich. Centenas acabaram presos ou mortos (ROYAL, 2001, p. 169).

Padre Otto Neururer São reconhecidas frases hitleristas: “Acredito hoje que tenho vindo a atuar de acordo com o Criador Todo-Poderoso; ao atacar os judeus estou a lutar pela obra do Senhor”, “Este nosso mundo humano seria inconcebível sem a existência prática de uma crença religiosa” e ainda “Eu sou agora, como sempre fui e sempre serei, um católico”. Sobre as suas afirmações é válido ressaltar o que afirma Royal: O “cristianismo real” de Hitler era aquilo a que os nacional-socialistas se referiam como “cristianismo positivo”, em contraste com o “cristianismo negativo” das igrejas históricas. Segundo esta perspectiva, o cristianismo teria sido destorcido ao longo de toda a sua história por um “político judeu”, São Paulo, tornando-se uma religião de submissão, humildade, piedade, ascetismo e escravatura. O próprio Jesus, que, no labiríntico raciocínio nazista, não era de ascendência judaica, não tinha ensinado a religião que Paulo enxertara mais tarde nas igrejas cristãs. Pelo contrário, Jesus teria ensinado a libertação e, segundo Alfred Rosenberg, o ideólogo religioso do movimento, a livre afirmação da alma ariana racialmente pura. (2001, p. 187). E ainda: Todas as teorias religiosas de Rosenberg contidas em seu livro, O Mito do Século XX, colocava automaticamente a Igreja Católica como inimiga do projeto nazista. Durante a guerra, os dirigentes nazistas acusavam a Igreja de ser aliada da Inglaterra e da URSS, mesmo tendo a Santa Sé declarado sua neutralidade. Quando a Igreja Católica protestava diante de leis e atos imorais do governo nazista, como a esterilização ou a eutanásia, por exemplo, era prontamente acusada de atuar fora

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de sua competência, interferindo diretamente em assuntos políticos. (2001, p. 188). Desta maneira, ao afirmar que é cristão ou católico, Adolf, refere-se ao “Cristianismo positivo” de Rosenberg e não a verdadeira Igreja Católica. Conforme denotam também com clareza as suas posturas de perseguição a Igreja. O caso do Pe. Otto prova o alegado. Otto Neururer, austríaco, nascido em 25 de março de 1882, em Piller, uma pequena aldeia montanhosa no estado de Tirol, na cidade de Fliess. Foi o décimo segundo filho de Peter Neururer e Hildegard, desde muito cedo manifestou o seu desejo de ser padre. Assim, ingressou no seminário menor em Bressanone, onde permaneceu de 1895 a 1902. Depois, para que pudesse completar sua formação religiosa foi estudar no seminário maior, até a sua ordenação sacerdotal em 29 de junho de 1907. Foi um zeloso sacerdote, fiel dispensador dos sacramentos. Por quinze anos, de 1917 a 1932, exerceu a função de vigário em sete paróquias sucessivas no Norte de Tirol. Foi ainda professor de religião na atual paróquia da catedral de Innsbruck. No ano 1932, tornou-se pároco em Götzene. Dedicou-se com grande compromisso com o cuidado das almas e direcioná-las espiritualmente, sem jamais esquecer de cuidar dos necessitados materialmente, era um homem de grande caridade. Quando em 12 de março de 1938, a Áustria passou ao comando direto do III Reich, sendo anexada a Alemanha, muitos cidadãos, judeus, sacerdotes, religiosas, homossexuais, doentes mentais, estrangeiros e outras minorias, tiveram os seus direitos civis extintos e passaram a ser perseguidos. O Pe. Otto que era membro do Movimento Social Cristão, neste difícil contexto político-social, passou a exercer com mais zelo ainda sua missão sacerdotal. Com o seu coração acolhedor, queria colaborar com os perseguidos e consolar as almas dos aflitos. No mês de dezembro de 1938, como pároco e diretor espiritual desaconselhou a uma jovem católica a não querer se relacionar com um homem que era muito mais velho do que ela, era divorciado civilmente, mas que para a Igreja já era casado e ainda era membro militante do partido nacional-socialista. Inúmeras vezes este homem já havia demonstrado o seu racismo e defendia a superioridade da raça ariana, tinha um verdadeiro fanatismo por Adolf Hitlher, a quem endeusava. O Pe. Neururer, sabendo que aquele praticava atos contra Cristo e a Igreja e já era casado, não poderia celebrar um novo casamento e sequer poderia simular uma benção. A boa moça católica, seguiu os conselhos do

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sacerdote e manifestou a sua recusa de manter um relacionamento com o militante do nacional-socialista, este que não pensou duas vezes e imediatamente o denunciou a SS, acusou o padre de ter impedido um casamento alemão, que geraria uma nova família ariana. O Pe. Otto foi detido em 15 de dezembro de 1938, depois transferido para diferentes prisões e campos de concentração de trabalho forçado, dentre eles o de Dachau. Em 26 de setembro de 1939, foi deslocado para o campo de Buchenwald, onde muitas vezes sofreu indizíveis violências, juntamente com os demais prisioneiros. No mês de abril de 1940, foi interpelado por um companheiro de prisão que lhe pediu para ser batizado. No enatanto, as regras impostas pelos nazistas, proibiam com veemencia a prática de qualquer ato religioso no campo de concentração. O Pe. Otto Neururer, ignorando as disposições dos líderes do campo de Buchenwald, ministrava a catequese aos presos, juntamente com outro padre, Matthias Spanlang, também detito. Contiuava vivendo a sua vocação de salvar as almas, mesmo estando exausto após várias horas de exploração laboral. Consta que muitos prisioneiros foram batizados e encontraram o conforto de Deus, por meio da vida sacramental que passaram a ter. A missão dos sacerdotes foi descoberta pelos nazistas e por causa disto, em 28 de maio de 1940, receberam a servera punição de ficarem presos no “bunker” (porão) do campo, lugar extremamente estreito, sem a entrada de ar e luz, onde os prisioneiros que desobedeciam as regras eram mantidos, sem nenhuma alimentação ou água. No bunker os dois padres morreram. No laudo da morte do Pe. Otto Neururer, se afirma que ele morreu de uma parada cardíaca, mas alguns prisioneiros, que foram tirar os corpos do insalubre lugar, dentre eles Kaplan Alfred Berchtold, afirmaram que o Pe. Neururer, morreu pendurado pelos pés, de cabeça para baixo, para que padecesse mais dolorosamente e ainda para que os nazistas brincassem de adivinhar quanto tempo ele conseguiria ficar vivo nesta posição. Ele morreu no dia 3 de junho, suportou totalmente despido, a agonia por aproximadamente longas 36 horas. Não gritou, não chorou, apenas rezou até onde conseguiu manter-se consciente.

Padre Carl Lampert Eis o motivo para tanto ódio conta a Igreja: ela era inimiga do projeto nazista e os católicos que se levantassem em sentido diverso deveriam ser destruídos. O Pe. Carl Lampert, austríaco, nascido em Gofis, Vorarlberg, em 9 de janeiro de 1894, ordenado sacerdote em 1918, que serviu a Igreja em Dornbirn, durante 12 anos e depois foi enviado para Roma afim de estudar Direito Canônico, retornou ao seu país justamente em 1938, ano do Anschluss, foi um dos

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muitos sacerdotes que se levantaram contra o Nazismo. Ele não se conformou com o que fizeram com o Pe. Otto. Ele ao assumir o cargo de vigário-geral do bispo em Innsbruck, sem titubear, denunciou junto a nunciatura apostólica a intervenção nazista na Igreja, logo que eles fecharam um mosteiro em Innsbruck. Em seguida, denunciou novamente, desta vez a prisão e a morte do Pe. Otto Neururer. Suas denúncias, lhe acarretaram que fosse detido como prisioneiro político e levado aos campos de concentração em Dachau e Sachsenhausen. Dachau foi o campo de concentração que recebeu a maioria dos presos por motivos religiosos. Padres e leigos católicos eram colocados no “pelotão de castigo”. Neste “pelotão”, comandado por um ateu sádico, os prisioneiros tinham que realizar os trabalhos mais duros e extenuantes do campo (ROYAL, 2001, p. 176). Um sacerdote tcheco, Beduich Hoffmann, que passou, entre 1940 e 1945, por dois campos de concentração, Buchenwald e Dachau, relatou que apenas neste estiveram presos 2670 sacerdotes de, pelos menos, vinte nacionalidades diferentes, trazidos de países ocupados pela Alemanha, sendo a maioria, cerca de 1780, de poloneses. De todos os sacerdotes presos, quase 600 morreram no campo e 325 morreram durante o “transporte de inválidos”, nome dado ao comboio que partia com prisioneiros que eram assassinados em outras localidades. Dois bispos, um polonês e um francês, também morreram durante este período em Dachau (ROYAL, 2001, p. 170). Em agosto de 1940, o Pe. Carl Lampert foi exilado na cidade de Pomerania e depois transferido para uma paróquia em Zinnowitz, perto de Stettino, onde era constantemente espionado pela SS, que descobriu que ele auxiliava judeus e que disseminava ideias antinazistas, descobriram ao interceptar as suas chamadas telefônicas, bem como as suas correspondências. No dia 04 de fevereiro de 1943 foi detido juntamente com outras quarenta pessoas. Posteriormente, foi condenado à morte por decapitação. Ao ser interrogado afirmou: “Eu amo a minha Igreja. Permanecerei fiel a ela e também ao meu sacerdócio. Eu estou ao lado de Cristo e amo a sua Igreja’”. Foi decapitado em 13 de novembro de 1944, em Halle sur Saale, na Saxônia. Consta nos escritos que fez pouco antes de morrer: “Os meus pensamentos flutuam e são furiosos e querem romper o invólucro do meu corpo prisioneiro. Não é sempre fácil prosseguir, com todo este estado de espírito revolto, especialmente em determinados dias de lembranças, e o coração humano, radicado e crescido com mil raízes humanas, sempre se agita e sangra como dilacerado”. Na mesma ocasião foram mortos de igual maneira outros dois sacerdotes, Herbert Simoleit e Friedrich Lorenz.

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O Papa Bento XVI, no Angelus do aniversário do martírio, no dia 13 de novembro de 2011, recordou do Pe. Lampert, dizendo: “No período negro do nacional-socialismo, ele foi capaz de ver “claramente o significado das palavras de São Paulo: Não somos da noite e nem das trevas”. (1Tes,5,5) Na cerimônia religiosa, na qual foi beatificado o Cardeal Amato comentou: “Como o sacrifício de Cristo foi penhor de salvação para a humanidade, assim o sacrifício do Beato Lampert será semente de renovada vida cristã na terra abençoada da Áustria. Um exemplo precioso, sobretudo para as novas gerações austríacas”.

Beatificação de Jakob Gaap e de Otto Neururer No dia 6 de abril 1995, o Santo Padre João Paulo II, assinou o Decreto que reconheceu o martírio “In odium fidei” do sacerdote Jakob Gapp, que foi beatificado na Solenidade de Cristo Rei, em 24 de novembro de 1996, na Basílica de São Pedro, em Roma. Na mesma cerimônia foi beatificado o mártir Pe. Otto Neururer. Ressalte-se que durante o processo de beatificação foi ouvido, ante pela Congregação para a Causa dos Santos do Vaticano, o testemunho de um de seus torturadores nazistas, um antigo pastor protestante Karl Neuhaus. A Igreja celebra em 13 de agosto (data do martírio), a memória litúrgica do Beato Jakob Gapp, que encerrou a sua vida escolhendo a viver na luz que não se apaga, já a memória do Beato Otto Neururer é celebrada em 30 de maio. Os Padres Jakob Gaap, Otto Neururer e Carl Lampert e a Irmã Restituta, pelo martírio executaram o maior ato de amor a Deus e trilharam o mais nobre caminho rumo à santidade. Eles derramaram as suas vidas até a morte. Sobre cada um, especificadamente diz o Senhor: “Depois do sofrimento de sua alma, ele verá a luz e ficará satisfeito; pelo seu conhecimento meu servo justo justificará a muitos, e levará a iniquidade deles. Por isso eu lhe darei uma porção entre os grandes, e ele dividirá os despojos com os fortes, porquanto ele derramou sua Vida até a morte, e foi contado entre os transgressores. Pois ele levou o pecado de muitos, e pelos transgressores intercedeu. (Isaías 53:1-12) Alegrai-vos por participar dos sofrimentos de Cristo, para que possais também exultar de alegria na revelação da sua glória. Se sofreis injúrias por causa do nome de Cristo, sois felizes, pois o Espírito da glória, o Espírito de Deus, repousa sobre vós. (1Pd 4,13-14)

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Agentes da Gestapo à paisana, em 1945.

O Pe. Jakob Gapp.

Jakob Gapp, o destemido sacerdote que acolheu judeus colocando a sua vida em risco.

E Igreja dedicada ao Pe. Jakob Gapp em Wattens.

Hinrich Himmler Himmler, o principal comandante da Gestapo.

O Pe. Jakob Gapp, celebrando a Eucaristia.

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O túmulo do Cardeal Clemens August foi visitado por São João Paulo II.

"É preciso obedecer mais a Deus do aos homens".

Monumento erguido em sua memória em Wattens.

Escultura de Bert Gerresheim em Colônia.

Arcebispo de Viena Innitzer apertando a mão de Hitler.

Beato Cardeal Clemens August, Conde von Galen, o Leão de Münster.

Na catedral foi fixada uma bandeira nazista.

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Beato Carl Lampert, ao assumir o cargo de vigário-geral do bispo em Innsbruck denunciou junto a nunciatura apostólica a intervenção nazista na Igreja, logo que eles fecharam um mosteiro em Innsbruck. Em seguida, denunciou novamente, desta vez a prisão e a morte do Pe. Otto Neururer.

Helene Kafka (Irmã Maria Restituta). Foto em 1925.

Cardeal Von Faulhaber

Ilustração que representa o martírio do Pe. Otto, pendurado de cabeça para baixo até que morresse. Na mesma se fez alusão ao matrimônio, pelo símbolo das alianças. Ele defendeu o sacramento matrimonial e isso lhe gerou a punição que recebia.

Beato Otto Neururer

Prisioneiro sendo torturado no campo de concentração de Dachau.

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Papa Pio XII, que incansavelmente lutou para proteger judeus, sobretudo os da comunidade judaica de Roma.. Escultura de Bert Gerresheim em Colônia.

Sentença na qual o Pe. Carl Lampert foi condenado a decapitação.

A propaganda nazista retratava Adolf Hitler (1889-1945) como o grande líder de seu povo, como o homem predestinado a levar o povo alemão à grandeza. Em 22 de agosto de 1939 ele discursou: “Quando se inicia e se trava uma guerra não é o certo o que importa, mas a vitória.”

Campo de Dachau.

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M ar ia Tu c i Águia que alcançou o mais alto voo. (1928-1950) “Todos os tipos possíveis de tortura foram praticados em meu corpo, mas guardei a fé”.

A

República da Albânia é um pequeno país da Europa Oriental, que faz fronteira com a Grécia, Sérvia e Macedônia. Tem do lado ocidental o mar Mediterrâneo e as costas do sul da Itália. A Albânia pertenceu à Grécia, ao Império Romano e ao Império Otomano. Depois de cinco séculos de dominação otomana (Turquia), conseguiu sua independência em 1912. Na segunda guerra mundial foi ocupada pela Itália. A Albânia, país cujo nome significa “A Terra da Águia” e tem por capital, a cidade de Tirana, a mais populosa na nação, padeceu de severos horrores sob o comando do tirano Enver Hoxha, que tornou o país uma República Popular de ideologia marxista, ele chegou ao poder em 1941 e permaneceu no comando da nação até a sua morte em 1985. O partido vermelho perseguiu com toda a sua fúria a religião na pátria albanesa. Consta que na época da sua chegada ao poder, a população era de um milhão de habitantes, dos quais 124.000 eram declarados católicos, mas existiam muitos outros que mesmo não se declarando, frequentavam ou tinham alguma espécie de vínculo com a Igreja. A priori a perseguição se deu contra os líderes religiosos, bispos, sacerdotes, religiosos, freiras, missionários oriundos de outros países e ainda a leigos que fossem descobertos pregando ou se posicionando contra a ditadura do proletariado. Neste período, Enver Hoxha, determinou o rompimento do clero albanês com o Vaticano, tal medida não foi cumprida pelos religiosos, dessa forma o ditador, instruído por Stalin, decidiu destruir completamente a Igreja Católica no país e varrer toda e qualquer marca que pudesse ter deixado na sociedade. Na Albânia, o regime comunista aplicou os métodos de perseguição tradicional: fechou jornais católicos, confiscou bens da Igreja, nacionalizou escolas, creches e hospitais. Padres e leigos que protestavam eram presos e expulsos do país se fossem estrangeiros. A Ação Católica foi des-

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mantelada. O governo tentou criar uma igreja nacional pressionando o clero a abandonar a comunhão com Roma. A hierarquia católica recusou com veemência. As consequências da recusa não demoraram a vir: padres e religiosos estrangeiros foram expulsos; em 1945, a Companhia de Jesus foi considerada ilegal; em 1947, foi a vez dos franciscanos serem banidos do país. Membros do clero foram presos, torturados e condenados à morte. Certa vez, vinte clérigos foram fuzilados de uma só vez. As execuções eram transmitidas pela rádio. Quem escapasse da morte era condenado a trabalhos forçados (ROYAL, 2001, p. 293). Três anos depois, só restavam vivos poucos sacerdotes e um bispo em todo o território nacional, este vivendo no Norte em uma região pouco habitada, nas montanhas: Em 1948, havia somente um bispo vivo e livre na Albânia. Mas não era apenas o clero que sofria todas estas atrocidades. Milhares de leigos que não se declararam publicamente contra o clero foram presos e torturados. Não se sabe o número exato de leigos executados, mas as penas variavam entre o fuzilamento e a fogueira. Em 1949, o confisco das propriedades da Igreja foi levado a cabo. Templos eram convertidos em prédios públicos. A catedral de Shkodra tornou-se um ginásio de basquete. Freiras foram expulsas dos conventos e proibidas de usarem o hábito. O governo exigiu que as instituições religiosas apresentassem suas constituições para que fossem oficializadas. Todas foram aprovadas, menos as dos católicos (ROYAL, 2001, p. 295). Mesmo sendo pouquíssimos os religiosos sobreviventes se reversavam, perigosamente, para administrar os sacramentos aos católicos que ainda existiam. Qual o motivo de tanto ódio dos comunistas a religião? O antigo arcebispo de Cambrai, Monsenhor Guerry explica: O comunismo é uma pseudo-religião, em que o homem se torna o ser supremo por uma recusa absoluta de toda a dependência de Deus, e pela substituição do homem a Deus. Esta posição fundamental do marxismo explica como é que a sua doutrina aparece como uma contrafação da doutrina católica: os dogmas do comunismo são a demarcação dos dogmas da Igreja, esvaziados de todo o seu conteúdo do sobrenatural e divino, e transpostos para uma sociedade materialista e ateia. A Igreja ensina o dogma da criação: o homem, é criado num ato de amor puramente gratuito de Deus, que lhe confere a autonomia ao mesmo tempo que o ser, e o estabelece na dependência do seu Criador, que o conserva no ser. Para o marxismo, é o homem que se cria a si mesmo como homem, numa independência absoluta de Deus.

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A Igreja ensina o dogma do pecado original, pecado de natureza, consequência da revolta orgulhosa do primeiro homem, que arrasta toda a sua descendência numa recusa da dependência, e cria uma dualidade no interior do homem. O marxismo substitui este dogma por uma explicação naturalista. Se o homem sente nele uma dualidade, é porque tem um corpo pelo qual é mortal, e porque, produto da evolução a partir da animalidade, ainda não chegou a dominar plenamente a natureza. A Igreja ensina o papel considerável do pecado na vida do homem sujeito às suas paixões. Para o marxismo, o homem não tem pecados em si mesmo, na sua consciência: o pecado situa-se nas estruturas da sociedade econômica, isto é, o capitalismo. Suprimidas estas, o regime comunista fará surgir um homem novo. A Igreja ensina o dogma duma mediação necessária do Homem-Deus entre os homens e Deus, o dogma da Redenção por Cristo, único Salvador. O marxismo que se apresenta como uma doutrina de salvação e vai até ao ponto de copiar do dogma católico a palavra “salvação” da humanidade, mas no sentido duma libertação total do homem na sociedade terrestre, vê no proletariado o mediador e o salvador da humanidade. Só o homem salvará o homem. A Igreja ensina que todos os homens resgatados por Cristo devem ser agrupados numa sociedade reconciliada consigo mesma, com a natureza e com Deus, no Corpo Místico, que, começado cá em baixo na Igreja, sociedade visível e comunidade de amor, deve crescer pelo Espírito Santo na caridade: e esta, que abre cada homem para os outros e os da uns aos outros numa “comunhão” de santos, não encontrará a sua consumação senão além do tempo, por uma transformação total dos elementos, dos seres e das coisas. O marxismo proclama que o comunismo será a reconciliação dos homens entre si, na reciprocidade das consciências, mas na terra, no tempo, e, portanto, na natureza dos homens, já que o além não existe. (1960. p.136-137) O antigo arcebispo esclarece ainda: Se a Igreja diz “não” às doutrinas do comunismo, não é por estar enfeudada ao capitalismo nem por se recusar a uma transformação social, capaz de proporcionar um maior bem-estar aos trabalhadores e de assegurar a promoção das massas populares, nem ainda por, no plano internacional, se opor à paz e se coligar com imperialismos estrangeiros. Ao contrário, no plano social, a Igreja deseja uma transformação profunda da sociedade, das estruturas, e do regime econômico para uma economia verdadeiramente humana.

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No plano internacional, a Igreja não deixa de lutar pela paz. Quer a construção duma ordem internacional de justiça, de liberdade, de colaboração mútua entre as nações, de verdadeira caridade numa comunidade dos povos, que salvará a paz e tornará a seu cargo a miséria e os sofrimentos da humanidade, e realizará uma promoção humana universal. (1960. p.39) O seguinte pensamento se fez presente em todos os países que foram dominados pela Rússia soviética: Poder-se-ia acrescentar finalmente que a Rússia soviética é favorável ao desenvolvimento das aspirações nacionais, excitando-as até à revolta e à revolução... nos outros... quando esses povos se encontram sob a tutela de outras nações. Ao contrário, quando as aspirações nacionais se manifestem em povos colocados sob o seu domínio, o mundo inteiro sabe como os seus tanques e a força dos seus exércitos as abafam em sangue: não esqueceu nem Budapeste, nem Varsóvia, nem o Tibet. Também não ignora o número de nações que perderam a independência sob o colonialismo soviético a partir de 1919: Polônia Oriental (1919), Lituânia, Letônia, Bessarábia, Bukovina (1940), províncias Holandesas (1941), Prússia oriental (1944), Checoslováquia oriental (1945), mais 7 países da Europa praticamente colonizados: Albânia, Bulgária, Checoslováquia, Alemanha oriental, Hungria, Polônia, Romênia. Um total de 105 milhões de habitantes colonizados pelo imperialismo da Rússia soviética, que não suportaria o menor movimento de autonomia ou um levantamento nacionalista. (GUERRY, 1960, p.36-37) Outro ponto comum presente em todos os países comandados pelos ideais revolucionários foi o enfraquecimento da família, que era considerada uma entidade burguesa e inimiga do Estado. Tal como todos os outros países comunistas, a Albânia declarou que a família era “reacionária” e tentou fazer com que as crianças informassem as entidades oficiais quando os pais lhes dessem instrução religiosa em casa. Os pais foram proibidos de dar aos filhos nomes “religiosos”. Uma família que rezasse o terço em casa podia apanhar cinco anos de prisão; ensinar o sinal da cruz a uma criança podia implicar um castigo semelhante. A mera posse de literatura religiosa podia levar à pena de morte. […] Dos 156 padres existentes antes do início da perseguição, 65 foram martirizados e 64 morreram durante ou após o encarceramento (ROYAL, 2001, p. 298) O primaz Gaspar Thaci, arcebispo de Skhoder, morreu em residência vigiada, quando se encontrava nas mãos da polícia secreta. Vincent Prendushi, arcebispo de Durris, condenado a trinta anos de trabalhos

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forçados, morreu em 1949 em consequência de tortura. Em fevereiro de 1948 cinco religiosos, entre eles os bispos Volai e Ghini, foram condenados à morte e fuzilados. Mais de cem religiosos e religiosas, padres e seminaristas, morreram na prisão ou foram levados diante de pelotões de fuzilamentos. As acusações eram verdadeiras abstrações como “conspirar contra o poder do povo”. (Do Livro Negro do Comunismo) O bispo Mons. Gjergj Volsj, era o mais jovem Bispo do Mundo, ele recusou-se a romper com o Vaticano. Foi então encarcerado e padeceu de torturadas durante meses. Na véspera de ser executado, foi visitado por sua genitora que copiosamente chorou. Ele lhe deu disse: “Mãe, não chores por causa do teu filho; antes, chora por todo o povo”. O frei Cyprian Nika, padre Provincial dos Franciscanos no país, suportou torturas na prisão por semanas, até ter sido foi levado à presença de oficiais do Estado para uma discussão sobre a existência de Deus. Ele usou de sua experiência humana, muito mais do que os seus conhecimentos filosóficos e teológicos, afirmou aos comunistas: “Como ser humano pensante, creio que existe algo após esta breve existência na terra, em que o bem e o mal encontrarão a respectiva sanção. Algo que ultrapassa os limites da natureza humana, algo de sobre-humano, de sobrenatural, em que o mal e a injustiça não terão lugar”. Não esperaram que concluísse seu raciocínio, foi fortemente alvo de zombaria e de incontáveis injurias. Um dos revolucionários gritou, em resposta: “Meu deus é Enver Hoxha!”. Os crápulas vermelhos lhe fuzilaram em seguida.

A jovem virtuosa Nesse contexto histórico na sociedade albanesa nasceu a Maria Tuci, em Ndërfushaz Markatuci (Rrëshen, Mirdita), em 12 de março de 1928. Foi educada nos valores cristãos e desde muito cedo queria apresentar a sua fé as pessoas que lhe circundavam. Tornou-se uma jovem robusta, sábia, possuidora de grandes atributos, era de extraordinária caridade, virtuosa, fiel e tinha um coração voltado ao alto. Tonou-se catequista e trabalhava no colégio das Irmãs Estigmatinas. Contudo, não estava realizada vocacionalmente, sentia que Deus tinha lhe feito um convite especial a se entregar a Ele inteiramente como religiosa, dessa maneira respondeu ao chamado ingressando no vocacional e depois postulante. Enver Hoxha, adotava a corrente comunista maoísta, emanada da percepção de Mao Tsé-Tung (1893-1976), adotada na China, que apregoa que as condições objetivas da sociedade não se concretizam essenciais para a efetivação da revolução, bastando a presença das condições subjetivas, ou seja, a vontade do povo de fazer a revolução, desta forma os maoístas defendem que aconteçam

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insurreições armadas até atingir o escopo de dominar a sociedade. Durante a ditadura de Enver, a jovem postulante, Maria Tuci foi detida por investigadores comunistas, que na prisão tentaram violentá-la, para satisfazer seus animalescos instintos, torturam-na de todas as maneiras possíveis, mas a jovem resistiu heroicamente. De forma bárbara, feriram as suas partes íntimas e estraçalharam os seus seios, assemelhando-se ao que viveu Santa Águeda, esta virgem mártir nasceu no século III, em Catânia, na Sicília, ao Senhor consagrou toda a sua vida e seu ser, quis tornar-se espiritualmente uma esposa de Cristo e mesmo percebendo a terrível perseguição do imperador Décio sua fé permaneceu imutável. Como consequência direta, foi torturada até a morte e dentre as perversidades que lhe acometeram arrancaram-lhe os seios completamente. Tanto Santa Águeda no Séc. III, quanto a Beata Maria Tuci, no Séc. XX, mesmo diante das mais severas dores e humilhações foram irredutíveis na escolha de ter Jesus Cristo como o único Esposo. Essas virgens mártires hoje no Palácio Celeste do Esposo Ressuscitado, rendem-lhe todo o amor!

A Inquisição O que aconteceu na Albânia assemelha-se na crueldade com que ocorreu na Roma Antiga, (Do século I ao III) com a diferença de dezessete séculos. Mudaram também os algozes e o cenário. Os anfiteatros e coliseu romano, em uma nova e moderna roupagem, já bem depois do Iluminismo, continuaram a ser palco do extermínio em massa dos cristãos. É estarrecedor o fato de que não se fale sobre esse fato nas universidades e nem nos livros de história, que repisam com alarde sem-fim os erros do Tribunal do Santo Oficio na Inquisição. Não estou enaltecendo a Inquisição, tampouco minimizando reprovabilidade, mas vejamos a discrepância entre os números e a enorme diferença na repercussão dos fatos históricos: Como foi citado na introdução deste livro, cerca de 45 milhões de cristãos foram mortos somente no Século XX e aproximadamente 70 milhões no total durante a Era Cristã. “A Inquisição na Espanha realizou, entre 1540 e 1700, 44.674 juízos. Os acusados condenados à morte foram apenas 1,8% (804) e, destes, 1,7% (13) foram condenados em “contumácia”, ou seja, pessoas de paradeiro desconhecido ou mortos que em seu lugar se queimavam ou enforcavam bonecos.” Quanto a tão repercutida caça às bruxas, existiram a totalidade de 125.000 processos em todos os tribunais eclesiásticos, a Inquisição espanhola condenou à morte 59 ditas bruxas, foram condenadas ainda 36 italianas e 4 portuguesas. Endosso que mesmo sendo números inexpressivos, se comporados aos números dos martírios, não deveriam ter existido. Saliento que é uma inverdade imensa afirmar que foram milhões os mortos pela inquisição, esse dado se repetiu tanto, que passou a ser considerado verdade quando não é. O atual

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ensino sobre a inquisição tem sido mudado: “Hoje em dia, os historiadores já não utilizam o tema da inquisição como instrumento para defender ou atacar a Igreja. Diferentemente do que antes sucedia, o debate se encaminhou para o ambiente histórico com estatísticas sérias”. (Historiador Agostinho Borromeo, presidente do Instituto Italiano de Estudos Ibéricos: AS, 1998). É lamentável que as correntes históricas se penduram e os teóricos antigos, dizem eles os “conceituados” continuam a ser as referências “fidelíssimas”, assim na prática pedagógica e histórica; seja superior (acadêmica) ou (média e fundamental) ensinos públicos, continua à ritualista tradição a-histórica, não transparente sobre os acontecimentos e de tom feiticista e alienado, incluindo dentre destes, muitos estudiosos, professores, e jornalistas brasileiros e do resto do mundo. “Há milhões de pessoas que odeiam o que erroneamente supõe o que seja a Igreja Católica” (Bispo americano, John Fulton Sheen). O Professor Felipe Aquino, em seu livro “Para entender a Inquisição” diz: “Em 930 sentenças que o Inquisidor Bernardo Guy pronunciou em 15 anos, houve 139 absolvições, 132 penitências canônicas, 152 obrigações de peregrinações, 307 prisões e 42 “entregas ao braço secular” (2009, p. 23).

A prisioneira Maria Tuci, foi detida aos 18 anos de idade, perdurou na prisão por cerca de quatro anos. Os comunistas tinham aprisionado, torturado e matado muitos católicos contemporâneos e que faziam parte dos mesmos círculos de relacionamento da jovem Tuci, ocorre que no grande grupo da prisão em que estava, ela era a única mulher. O que se dúvida alguma já lhe causava maiores constrangimentos. Além dos sofrimentos que padeceu, acima citados, ela sofreu outras mais, dentre elas uma que fez com que se assemelhasse mais fortemente dos martírios da Igreja primitiva, na cidade de Shkoder a moça foi colocada em um saco totalmente fechado, juntamente com um Lince, uma espécie de gato selvagem. Os revolucionários deixaram o animal sem alimentação e bateram bastante estimulando a sua violência. Ao colocaram o Lince e Maria Tuci no saco, desferiram golpes com pedaços de madeira, o corpo da jovem que já estava dilacerado foi perfurado pelas unhas e dentes do felino. Decidiram que esperariam a morte de Maria Tuci para em seguida jogar o saco onde seu corpo estaria com o animal em um lago, mas depois desistiram da ideia e o corpo totalmente estraçalhado da moça foi levado novamente para a prisão, fizeram isso com o intuito de mascarar o que seria a causa da morte dela. Foi colocada na enfermaria do cárcere e lá encontrou forças para escrever uma pequena carta a sua genitora:

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Minha mãe, estou morrendo: Minha querida, hoje me eles me colocaram em um saco, completamente nua, junto a um gato selvagem, eles fecharam o saco para que o gato me rasgasse com as suas unhas e dentes, fui imensamente ferida. Acharam pouco e começaram a bater no saco para que ele espantado me ferisse ainda mais. Ao sair desta situação fui muito chutada, principalmente no estômago e no rosto. Existem em meu corpo muitos cóagulos de sangue. Não existe limite na imaginação destes criminosos para fazer o mal. Não chore, não me sinto derrotada, mas agora estou feliz, pois em anos, estarei longe da prisão, das torturas, dos investigadores comunistas. Estou muito ferida e não sobreviverei, todos os tipos possíveis de tortura foram praticados em meu corpo, mas guardei a fé. Ela de fato veio a falecer na data, era 24 de setembro de 1950, tinha apenas 22 anos. A esta Virgem Mártir como Igreja cantamos este hino das Laudes: Do casto sois modelo, do mártir, fortaleza; a ambos dais o prêmio: ouvi-nos com presteza. Louvamos esta virgem tão grande e de alma forte, por duas palmas nobre, feliz por dupla sorte. Fiel no testemunho, do algoz o braço armou, e a vós, na confiança, o espírito entregou. Vencendo assim as chagas e o seu perseguidor, e o mundo lisonjeiro, a fé nos ensinou. Por sua intercessão, as culpas perdoai. E, livres do pecado, na graça nos guardai. Jesus, da Virgem Filho, louvor a vós convém, ao Pai e ao Espírito nos séculos. Amém.

A opressão da Albânia Até então a Iugoslávia e a Albânia mantinham forte relação, contudo esta começou a mudar, segundo O’Donnell (p. 19.): Em 20 de outubro de 1944, na Segunda Sessão de Plenário do Partido Comunista da Albânia. A sessão envolvia os problemas que o novo governo albanês enfrentaria após a independência da Albânia. No entanto, a delegação iugoslava, liderada por Vladimir Stoinić acusou o partido de “sectarismo e oportunismo” e culpou Hoxha por esses erros. Ele também reforçou o ponto de vista de que os partisans iugoslavos

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abriram caminho para o movimento partisan albanês. Membros anti-iugoslavos do Partido Comunista Albanês começaram a pensar que este era um plano de Tito, que desejava desestabilizar o partido. Koçi Xoxe, Sejfulla Malëshova e outros que apoiavam a Iugoslávia eram vistos com profunda desconfiança. A posição de Tito em relação à Albânia era a de que o país era muito fraco para permanecer independente e estaria melhor como parte da Iugoslávia. Hoxha alegava que Tito fez da sua meta a integração da Albânia à Iugoslávia, primeiramente criando um Tratado de Amizade, Cooperação e Ajuda Mútua em 1946. Com o passar do tempo, a Albânia começou a achar que o tratado estava fortemente inclinado aos interesses iugoslavos, assim como os acordos da Itália com a Albânia governada por Zog, que deixaram a nação dependente da Itália. O governo do tirano Enver Hoxha, enfim rompeu suas relações com a Iugoslávia, mas precisava de consolidação e desta forma precisou com urgência tomar uma forma de buscar respaldo social e nesse contexto, firmou em 1951 um acordo com o Bispo Mons. Shilaku. Neste o ditador reconheceu a ligação da Igreja da Albânia com Roma, mas o mesmo jamais teve aplicabilidade fática, nunca foi cumprido, assim os poucos sacerdotes e religiosos que ainda restavam protestaram e em represália foram colocados em campos de concentração e quase a unanimidade foi morta. Durante os 44 anos em que Enver “escravizou” a Albânia, ele criou 19 campos de concentração, tais quais os do Nazismo. De 1952 até 1967, para fixar na memória da população o destino que teriam caso optassem em ser religiosos, realizava-se o espetáculo do escárnio, um sacerdote, religioso ou freira, que estava no campo era conduzido por vias públicas, onde padeciam de humilhações, de diversas maneiras possíveis até que morressem. Viviam em suas próprias carnes a Via Crucis. Em 1961, a Albânia rompeu com também as relações com a ex-União Soviética, no mesmo período aliou-se à China. Enver Hoxha afirmou que “a única religião da Albânia é o albanismo”. Ele decidiu que era necessário lutar contra todas forças contra a fé, que chamava de superstição religiosa. Dessa forma, no dia 6 de fevereiro de 1967, conclamou aos jovens do país a lutarem com todas as suas forças contra a religião, pois essa era inimiga do partido dos trabalhadores e do governo do proletariado. Hoxha, discutindo sobre a organização do Partido, declarou a necessidade da “Revolução Cultural e Ideológica” após ter sido parcialmente inspirado pela Revolução Cultural chinesa, encorajou estudantes e trabalhadores comunistas a usarem táticas mais enérgicas para promover o ateísmo. Obviamente também

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influenciado por Antonio Gramsci (1891–1937), uma das referências essenciais do pensamento de esquerda no século XX. Membro fundador e principal teórico do Partido Comunista Italiano (PCI). Promoveu o casamento das ideias de Marx com as de Maquiavel, considerando o Partido Comunista o novo “Príncipe”, a quem o pensador florentino renascentista dava conselhos para tomar e permanecer no poder. Os lugares de culto, como igrejas, conventos e até mesquitas foram profanados e destruídos, alguns deles depois de terem sido retirados todos os símbolos que lembrassem a religiosidade, foram transformados em cinemas, auditórios, instituições do governo, quadras esportivas, entre outros. Em pouco mais de um semestre, foram extintos 2.169 locais de culto. A Gazeta Nendori ostentava orgulhosamente fotos e as narrações das igrejas e das mesquitas destruídas no país. Por fim, em 22 de novembro deste mesmo ano, o governo albanês decretou a morte de Deus, proclamou o Albânia como um país ateu. Foi o primeiro Estado oficialmente ateu do mundo. Os campos de concentração reuniram os últimos religiosos que existiam, neles se praticavam atrocidades. Os prisioneiros eram torturados para que o exército vermelho obtivesse confissões: Um emigrante, por exemplo, testemunhou ter sido amarrado pelas suas mãos e pés por um mês e meio e surrado com um cinto, com os punhos ou botinas por períodos de duas ou três horas a cada dois ou três dias. Um outro foi detido em uma cela de um metro por oito metros em uma delegacia local e mantido em confinamento solitário por um período de cinco dias, marcado por duas sessões de espancamento até assinar sua confissão; ele foi levado ao quartel-general da “Sigurimi”, onde foi mais uma vez torturado e interrogado, apesar de sua prévia confissão, até seu julgamento de três dias de duração. Ainda uma outra testemunha foi confinada por mais de um ano em uma cela subterrânea de três metros quadrados. Durante este tempo, ele foi interrogado em intervalos irregulares e submetido a várias formas de tortura física e psicológica. Ele foi acorrentado a uma cadeira, espancado e submetido a choques elétricos. Mostraram a ele uma bala que supostamente era para ele e disseram a ele que os motores de carros que ele ouvia levavam vítimas para a execução, a próxima das quais seria a dele. (Comitê Internacional de Direitos Humanos Minnesota, 46-47) Além de tudo, os albaneses não podiam sequer fugir do país, dispunha o artigo 47 do Código Penal do país: A fuga para fora do Estado, assim como a recusa em retornar à pátria por uma pessoa que foi enviada para trabalhar ou teve permissão de viajar temporariamente para fora do Estado constitui um crime de

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traição punível com uma sentença mínima de dez anos ou até mesmo a morte. (Comitê Internacional de Direitos Humanos de Minnesota, p. 136) Os campos de concentração mantidos pelos comunistas tinham um grande aparato de segurança contrafugas: Uma cerca eletrificada de metal fica de 600 metros a um quilômetro da fronteira real. Qualquer pessoa que tocar a cerca, não só correrá o risco de eletrocussão, mas também acionará os alarmes e as sirenes que alertarão os guardas estacionados em intervalos de aproximadamente um quilômetro ao longo da cerca. Dois metros de solo em cada lado da cerca estão desmatados, a fim de que se cheque as pegadas de fugitivos ou de infiltradores. A área entre a cerca e a fronteira real está fechada com armadilhas como anéis de arame, produtores de ruídos consistindo de finos pedaços de tiras de metal atados a duas ripas de madeira com pedras em um recipiente de lata que fazem ruídos caso pisados e faróis que são ativados com o contato, iluminando os possíveis fugitivos durante a noite. (Comitê Internacional de Direitos Humanos de Minnesota, 50-53) Nos campos de concentração, alguns catecúmenos feitos prisioneiros, receberam o batismo. O Pe. Kurti, foi morto justamente por ter sido descoberto batizando no local. O governo suprimiu todo e qualquer objeto, símbolo ou gesto que pudesse ter significado religioso. Nomes de cidades e vilarejos de inspiração religiosa foram mudados, foram proibidos também os nomes civis que pudessem ter cunho de religiosidade. O ditador ordenou em 1982, a publicação do Dicionário de Nomes do Povo, o mesmo trazia os 3.000 nomes que poderiam ser colocados, nenhum outro seria admitido. Nos colégios, as crianças eram perguntadas se sabiam fazer o sinal da cruz, isso como uma maneira do governo descobrir se elas estavam recebendo formação religiosa, caso soubessem fazê-lo a punição era de reclusão pelo lapso temporal de 5 anos. Apesar de tanta severidade, ainda existiam poucos católicos e sacerdotes que tinham cladestinamente uma vida cristã. A fundadora da congregação das Missionárias da Caridade, Anjezë Gonxhe Bojaxhiu M.C, conhecida como Madre Teresa de Calcutá, era de origem albanesa, nasceu no Império Otomano, na capital da atual República da Macedônia e foi naturalizada indiana. Ela mesmo distante, preocupava-se com a sua terra natal, ela ao receber o Prêmio Nobel da Paz de 1979, expos: “Creio que a Igreja na Albânia está vivendo a experiência de sexta-feira santa, mas nossa fé nos ensina que a vida de Cristo não terminou na sexta-feira santa, e, sim, se consumou na Ressurreição. Nosso povo albanês há de guardar esta verdade…”

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Ded Maçaj O Padre albanês Ded Maçaj, nasceu em 1918. Estudou em Roma e lá foi ordenado sacerdote em 1944. Quando retornou à Albânia, a perseguição religiosa era intensa. Poderia ter ficado seguro em Roma, mas quis retornar ao seu país natal. Logo foi recrutado pelo Exército, mantido sob estrita vigilância, aprisionado e levado a julgamento. Torturaram durante semanas o “espião da Vaticano”. No pátio do quartel, o oficial perguntou aos soldados o que se deveria fazer com o homem acorrentado diante deles. Era o padre Ded. Uma bala na cabeça, responderam em coro. O padre, já todo coberto de sangue, foi levado a um paredão. Caiu sobre seus joelhos e começou a rezar. O oficial do partido comunista lhe perguntou o que falava e o padre Ded respondeu: “Perante Deus e perante vocês, declaro que estou sendo morto pelo ódio que devotam à Igreja Católica. Viva Cristo, Rei, e uma longa vida ao papa e à Albânia”. O primeiro tiro não o matou. Somente com o segundo ele caiu. O padre Ded tinha 27 anos. Seu testemunho perdura até hoje. (Boletim da Ajuda à Igreja que Sofre, janeiro de 1999).

O ressurgimento Enver Hoxha morreu em 1985, somente cerca de cinco anos depois, em novembro de 1990, após a queda do Muro de Berlim, um ano antes, um sobrevivente do massacre o Pe. Simon Jubani, celebrou publicamente a Santa Missa, após mais de quatro décadas opressão completa. Este sacerdote ousou presidir essa celebração, arriscando ainda a sua vida, visto que a fé ainda era criminalizada. Pouco tempo depois, ele batizou cem adultos. Com a morte de Hoxha foi eleito o presidente Ramiz Alia, que tentou de certo modo, trazer a liberdade a tão oprimida nação. A Albânia foi uma nação comunista até 1992. Atualmente o país ainda busca reerguer-se. Após de cinquenta anos de comunismo real e concreto, as estáticas mostram suas marcas: 65% da população são ateus, 10% cristãos ortodoxos e 9% católicos romanos. A religião que mais cresce no país é a muçulmana, já próxima dos 10%, tendência que se espalha por quase todos os países europeus. O que ocorreu na Albânia tão recentemente, era fortemente desconhecido por todo o mundo. Uma carta enviada no Natal por uma menina americana de nove anos, Pamela K. McNutt, ao ditador Enver Hoxha endossa essa afirmação. A menina escreveu respeitosamente, ao líder do país, enquanto ele governava, e pediu que ele se unisse a ele para rezar pela paz do mundo. No canto superior da carta, existe o símbolo de duas mãos unidas em oração.

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O Santo Padre, o Papa Francisco, na Catedral de Tirana, no domingo, 21 de setembro de 2014, durante a sua Viagem Apostólica à Albânia, disse espontaneamente aos sacerdotes, religiosas, religiosos, seminaristas e membros de movimentos leigos: Preparei algumas palavras para vocês, para dizer-vos, e as entregarei ao arcebispo para que ele vos faça chegar depois. A tradução já está feita. Pode-se fazer chegar. Mas agora, veio-me dizer outra coisa… Ouvimos na Leitura: “Bendito seja Deus, Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, Pai misericordioso e Deus de toda consolação, que nos consola em toda nossa tribulação, para que possamos também nós consolar aqueles que se encontram em qualquer tipo de aflição, com a mesma consolação com que fomos consolados por Deus” (2 Cor 1, 3-4). É o texto sobre o qual hoje a Igreja nos faz refletir nas Vésperas. Nestes dois meses, eu me preparei para esta visita lendo a história da perseguição na Albânia. E para mim foi uma surpresa: eu não sabia que o vosso povo sofria tanto! Depois, hoje, no caminho do aeroporto até a praça, todas essas fotos dos mártires: vê-se que este povo ainda tem memória de seus mártires, daqueles que sofreram tanto! Um povo de mártires… E hoje, no início desta celebração, toquei dois. Aquilo que eu posso dizer a vocês é aquilo que eles disseram, com suas vidas, com suas palavras simples… Contaram as coisas com uma simplicidade… mas tão dolorosa! E nós podemos perguntar a eles: “Mas, como vocês fizeram para sobreviver a tanta tribulação?”. E nos dirão isto que ouvimos neste trecho da Segunda Carta aos Coríntios: “Deus é Pai misericordioso e Deus de toda consolação. Foi Ele a nos consolar!”. Disseram isso com uma simplicidade. Sofreram demais. Sofreram fisicamente, psicologicamente e também aquela angústia da incerteza: se seriam fuzilados ou não, e assim viviam, com aquela angústia. E o Senhor os consolava… Penso em Pedro, no cárcere, acorrentado, com as correntes; toda a Igreja rezava por ele. E o Senhor consolou Pedro. E os mártires e estes dois que ouvimos hoje, o Senhor os consolou porque havia gente na Igreja, o povo de Deus – as velhinhas santas e boas, tantas irmãs de clausura… – que rezavam por eles. E Este é o mistério da Igreja: quando a Igreja pede ao Senhor para consolar o seu povo; e o Senhor consola humildemente, também de forma escondida. Consola na intimidade do coração e consola com a fortaleza. Tenho certeza de que eles não se vangloriam daquilo que viveram, porque sabem que foi o Senhor a levá-los adiante. Mas eles nos dizem algo!

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Dizem-nos que para nós, que fomos chamados pelo Senhor para segui-Lo próximo, a única consolação vem Dele. Ai de nós se procurarmos outro consolo! Ai dos padres, dos religiosos, das irmãs, das noviças, dos consagrados quando procuram consolo longe do Senhor! Eu não quero “bater” em vocês hoje, não quero me tornar o “carrasco” aqui; mas saibam bem: se vocês procuram consolo em outra parte, não serão felizes! Mais ainda: não poderão consolar ninguém, porque o teu coração não foi aberto ao consolo do Senhor. E você terminará, como diz o grande Elias ao povo de Israel, “mancando com as duas pernas”. “Bendito seja Deus Pai, Deus de toda consolação, que nos consola em toda nossa tribulação, para que possamos também nós consolar aqueles que se encontram em qualquer tipo de aflição, com a mesma consolação com que fomos consolados por Deus”. É o que fizeram estes dois, hoje. Humildemente, sem pretensões, sem vangloriar-se, fazendo um serviço para nós: de consolar-nos. Dizem-nos também: “Somos pecadores, mas o Senhor esteve conosco. Este é o caminho. Não desencorajem!”. Desculpem-me, se vos uso hoje como exemplo, mas todos devemos ser exemplo uns para os outros. Vamos para casa pensando bem: hoje tocamos os mártires. Bendigamos ao Senhor pelos muitíssimos testemunhos dos mártires albaneses, inscritos na memória da Igreja, uma memória que não se confunde com a mera recordação de dados históricos, mas que se constitui viva e eficaz por meio do mistério da comunhão dos santos. Diz o Catecismo da Igreja: §957- Veneramos a memória dos habitantes do céu não somente a título de exemplo; fazemo-lo ainda mais para corroborar a união de toda a Igreja no Espírito, pelo exercício da caridade fraterna. Pois, assim como a comunhão entre os cristãos da terra nos aproxima de Cristo, da mesma forma o consórcio com os santos nos une a Cristo, do qual como de sua fonte e cabeça, promana toda a graça e a vida do próprio Povo de Deus. Nós adoramos Cristo qual Filho de Deus. Quanto aos mártires, os amamos quais discípulos e imitadores do Senhor e, o que é justo, por causa de sua incomparável devoção por seu Rei e Mestre. Possamos também nós ser companheiros e condiscípulos seus. §1173 Quando, no ciclo anual, a Igreja faz memória dos mártires e dos outros santos, “proclama o mistério pascal” naqueles e naquelas “que sofreram com Cristo e estão glorificados com ele, e propõe seu exemplo aos fiéis para que atraia todos ao Pai por Cristo e, por seus méritos, impetra os benefícios de Deus”

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Selo da República Popular da Albânia.

Maria Tuci, jovem postulante que foi torturada ao extremo pelos comunistas.

Virgem mártir que foi colocada em um grande saco com um lince selvagem.

Pessoas consideradas inimigas e opositoras ao regime sendo conduzidas em um caminhão até a prisão.

O jovem leigo Gjelosh Lulashi, nascido em Shosh (Duke-in) em 02 de setembro de 1925. Trabalhava como oficial militar no hospital Shkodra. Ele foi preso e executado em no dia 4 de março de 1946, juntamente com Pe. João Shllaku, Pe. Giovanni Faustí e o Pe. Daniel Dajani. Antes de morrer pediu que dessem um aviso ao seu pai: “Diga ao meu pai, Ele é um mártir da fé”.

Partido comunista albanês.

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Nova bandeira comunista do país com a foice e o martelo.

O povo fiel lamenta consternado a carnificina que os comunistas estão prestes a realizar, com os franciscanos.

O ditador Enver Hoxha.

Prisão onde Maria Tuci esteve detida.

Painel de Mártires

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Exposição das fotos dos mártires albaneses durante a visita do Papa Francisco.

Na Albânia os franciscanos de Shkodra foram detidos e martirizados, na Igreja de São Francisco atualmente se encontra essa pintura.

Os comunistas abraçados por demônios, detém os religiosos. Sem dúvidas Satanás colabora com os comunistas.

Beato Anton Zogaj, natural de Kthellë (Mirdita), nasceu em 26 de julho de 1908. No ano de 1920, ingressou no seminário, concluindo a sua formação em 1931 em Trening. Em 26 de abril de 1932, foi ordenado presbítero, trabalhou como secretário do Arcebispo de Durres. Foi vigário em Durres, local onde foi preso em 18 de maio de 1947 e morto em 9 de março de 1948.

Destaca-se no afresco a imagem do altar de Santo Antônio de Pádua, os religiosos acorrentados e os comunistas embevecidos de ódio.

O mártir albanês Dom Anton Muzaj, nasceu em Vrnavokolo (Kosovo), no dia 19 de março de 1921. Estudou no Pontifício Seminário Francês de Shkodra. No ano de 1938 ele foi enviado para estudar em Roma, trabalhou na Congregação da Propagação da fé e estudou Teologia na Universidade Gregoriana. Foi ordenado sacerdote em 19 de março de 1944. Retornou a Albânia em 1946. Dois anos depois foi preso e fortemente torturado, já muitíssimo enfermo. Nessa condição foi liberto para morrer em casa na primavera de1948

17- Visita do Papa Francisco a Albânia.

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Os comunistas da Albânia fuzilando inimigos.

Carta de criança americana ao ditador Enver Hoxha.

Painel de Mártires

Painel de Mártires

Mártir Ded Maçaj, jovem nascido em Montenegro Jushi (Shkoder), em 5 de fevereiro de 1920. Foi enviado a Roma para estudar Teologia. Ordenado padre em 19 de março de 1944, sendo nomeado como vice pároco de Shkodra. Foi preso pelo governo comunista em 10 de março de 1947, acusado de ser espião do Vaticano. Sofreu torturas atrozes até ser enfim executado em 28 de março de 1947, em Përmet.

Antonio Gramsci (1891–1937), filósofo italiano, foi um dos apoiadores da Revolução Russa, foi preso em 1926, permaneceu detido de 1928 a 1937, período em que escreveu os cadernos do cárcere. Uma de suas máximas: “O mundo civilizado tem sido saturado com cristianismo por 2000 anos, e um regime fundado em crenças e valores judaico-cristãos não pode ser derrubado até que as raízes sejam cortadas". Ressaltava a necessidade da revolução cultural, sendo desta maneira um grande expoente do Marxismo cultural.

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J ános B re n n e r O fiel observador da Eucaristia (1931-1957) “Meu Senhor, sabes que eu não buscarei outra felicidade nesta vida, pois em Ti, encontro tudo o que preciso...”.

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o observar as fotógrafias do jovem padre János Brenner é possível perceber que desde muito cedo, ele utilizou os óculos para poder exergar fisicamente com propriedade. Espiritualmente, mantinha os olhos fixos em Cristo e sob a ótica (as lentes) da Eucaristia enxergava todas as coisas. Amou a Hóstia consagrada, como a primícia do seu coração, de tanto contemplá-la e adorá-la, trasformou-se em hóstia viva. A palavra hóstia do latim significa vítima, Jesus presente no Pão Eucarístico perpetua de modo incruento o Seu sacríficio cruento da cruz. O pão é fruto do trigo que morreu, o vinho, da uva que foi pisada, a hóstia, mesmo depois de consagrada é partida, para a comunhão fraterna e salvifica de todos os irmãos. O padre János Brenner foi uma vítima por amor, partiu-se como a hóstia, morreu como o grão de trigo. Deixou-se pisar como a uva. Derramou o seu sangue, para gerar novos cristãos. Na cidade de Szombathely, Capital do condado de Vas na Hungria, em 27 de dezembro de 1931, nasceu János Brenner, recebeu o nome “János”, o mesmo que “John” ou “João” em português. Nome do santo do dia, que a partir de então seria seu intercessor e que teria muitos aspectos em comum. O nome João significa “Deus é misericordioso”. São João Evangelista, pescador, Filho de Zebedeu e de Salomé, irmão de São Tiago Maior, foi o mais jovem dos apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo. São João Evangelista refere-se a si próprio como “o discípulo que Jesus amava”, ele de fato, foi um grande amigo de Jesus Cristo, não hesitou em segui-lo completamente, provou com a sua história a fidelidade ao Senhor em todas as ocasiões. São João, juntamente com São Tiago e São Pedro, estava presente quando Jesus se transfigurou, foi ele quem, na Santa Ceia, pôde reclinar a cabeça sobre o peito do Mestre, ouvindo o pulsar do seu Sagrado Coração. Ele permaneceu fiel inclusive na dolorosa ocasião do Calvário, ele se encontrava ao pé da Cruz ao

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lado da Virgem Santíssima, e ouviu o que o Senhor lhe disse: “Filho, eis aí a tua mãe” e, viu o Mestre olhar para Maria, sua Mãe dizendo: “Mulher, eis aí o teu filho”. (Jo 19,26s). O discípulo amado esteve presente também no mais sublime e alegre de todos os momentos: a gloriosa ressurreição. Ele correu ao Santo Sepulcro que estava vazio, conta-nos o Evangelho que ele chegou antes de São Pedro, certamente por ser mais jovem. João sofreu inúmeras perseguições por testemunhar Jesus Cristo. Escreveu ainda o Apocalipse e as três cartas. Possuidor de extraordinária autoridade perante os cristãos dos fins do século I, esse apóstolo, quase centenário era o único sobrevivente. Ele podia falar com a propriedade de quem pode olhar nos olhos, tocar, reclinar a cabeça sobre o peito. Ele pregava com profunda devoção ao “Senhor dos Senhores”, o grande Salvador e Redentor da humanidade, mas ao mesmo tempo falava de um amigo, a quem entregou toda a vida e que permaneceu fiel até na hora da Cruz, mesmo com o coração dilacerado. São João incontestavelmente teve o seu ser totalmente moldado ao ser de Cristo. Não é conhecida com precisão a data de seu óbito, sabe-se que foi durante o tempo de Trajano (98-117 d.C), entre o fim do primeiro século e o início do segundo. O húngaro recém-nascido, o segundo filho, em uma família católica de muita fé, devoção e compromisso eclesial, foi batizado no 31 de dezembro do mesmo ano, na Igreja franciscana de Santa Isabel da Hungria. Seu nome completo era János Mária Tóbiás Brenner. Os pais deram, como nome do meio, aos os três filhos o nome de Maria como um sinal de devoção à Virgem Santíssima. János Brenner aprendeu com a sua família a ter uma vida cristã fervorosa. Após o nascimento de János, o casal teve ainda o seu terceiro filho. József Brenner, todos os dias, a caminho do trabalho, ia à Santa Missa e piedosamente recebia a Eucaristia. Naquele tempo as Missas eram celebradas em latim, ele fazia questão de trazer sempre o seu missal para acompanhar cada momento da liturgia. Na casa dos Brenner, quase que diariamente, a família de unia para recitar o Rosário e impreterivelmente na primeira sexta-feira de cada mês, os membros dessa família se confessam e meditavam sobre os sofrimentos de Jesus Cristo. Aos domingos a família se reunia para ir à Missa na Igreja dos franciscanos, que era próxima. Na cada dos Brenner havia uma grande biblioteca, que inclui muitos títulos, sobre diversificados temas, existia um grande número de volumes de matérias espirituais. Os filhos só podiam pegar os livros que o pai lhes autorizava. Cada livro no seu tempo, afirmava. Os meninos eram disciplinados, inteligentes, felizes e eram imensamente amados. A Senhora Brenner, exemplar mãe de família, optou por não trabalhar fora, mas oferecer a vida a Deus e a sua família, dedicava-se a criação e educação dos filhos, bem como aos trabalhos domésticos. Para József Brenner, sua

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esposa era uma fortaleza, uma mulher de fé, adoradora do Santíssimo Sacramento, dava um fascinante exemplo para seus filhos. Era paciente e silenciosa, fazia muito bem a todos que lhe circundavam. Era uma mulher que sempre tinha uma palavra amável para os próximos, com bom grado ajudava os que precisavam, apesar dos tempos de dificuldade e pobreza que a família viveu no período difícil após a Segunda Guerra Mundial. Era comum ouvi-la dizer: “Toda vez que faço bem ao outros, três vezes mais, Deus me fará colher”. Ao longo de sua vida ela serviu e trabalhou incansavelmente por sua família e por seus três filhos, que se tornariam sacerdotes. Na Escola Primária Episcopal Szombathely, János começou seus estudos. Era uma criança, como tantas outras, gostava de brincar. Foi um garoto animado, inteligente, atencioso e interessado em um pouco de tudo. Ao concluir essa etapa de dois anos, tinha excelentes notas, uma notável classificação.

O teatro de São Tarcísio Nesta escola, se observou um forte traço da vocação de János, ele antes de ser formado no ventre de sua mãe, já tinha sido eleito, ele demonstrava sinais dessa eleição ainda em idade escolar, mais especificadamente no outono de 1938, o professor de religião contou-lhes a história do pequeno São Tarcísio, mártir da Eucaristia, na ocasião propôs aos alunos a organização de uma pequena peça de teatro inspirada por essa narrativa. Ele perguntou quem queria aceitar esse papel, que iria representar Tarcísio. O olhar do pequeno János brilhou de alegria, imediatamente levantou as duas mãos para obter o papel principal, para representar o santo mártir. Seus amigos observaram como ele se importava em interpretar São Tarcísio. Ensaiou bastante, ficava imaginando a coragem de Tarcísio, via nesse mártir um herói de amor a Jesus na Hóstia Consagrada. Apenas duas décadas depois, de tão bela interpretação teatral, Brenner estaria recebendo a palma do martírio, estaria se unindo aqueles que lavaram e alvejaram as vestes no sangue do Cordeiro, venceram a grande tribulação. (Ap 7.14) No outono de 1940, József Brenner, foi transferido para a cidade de Pécs, a quinta maior cidade da Hungria, localizada no sudoeste do país, capital do condado de Baranya, onde passou a ser diretor do serviço de inspeção para a indústria. Consequentemente toda a família se mudou para esta cidade. János continuou seus estudos, que começou em Szombathely, no Instituto de Ciências da Episcopal Pécs. Após a conclusão do ensino fundamental e médio, em 27 de junho de 1942 foi aprovado no exame de admissão ao Colégio da Ordem Cisterciense em

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Pécs, onde já estudava o seu irmão mais velho, László. Também neste colégio János despontava como um excelente aluno. No início de outubro 1946, József Brenner, foi transferido de volta para Szombathely, tornando oportuno que a família Brenner voltasse para a sua casa. Ao retornar, János Brenner, conseguiu em 7 de outubro do mesmo ano, ser admitido no Colégio de St. Norbert Premonstratensian, onde estudou a quinta e sexta série. Obteve igualmente resultados louváveis e destacou-se no estudo da língua francesa, conseguindo conversar em francês com grande fluência. A Hungria passou por momentos de transição política. O Parlamento húngaro em 16 de junho de 1948 votou a Lei XXXIII que promoveu a extinção do ensino religioso e a estatização das escolas religiosas. Assim o colégio que estudava que tinha o nome “Lajos Nagy” (Luís, o Grande) – Rei da Hungria- a partir de 1342, passou a ter um diretor ateu ferrenho que recriminava qualquer traço de religiosidade nas dependências do colégio ou símbolos de fé nos alunos. Neste colégio, mesmo diante da grave situação, János Brenner, em 1° de setembro de 1948 inicia a sétima série. Ele estranha muito a nova realidade do ambiente escolar. Os docentes tinham mudado completamente, os símbolos religiosos foram retirados, havia uma grande transformação naquele espaço, não para melhor. A grande maioria dos estudantes estavam desorientados. Para János, tornou-se óbvio, que após a alteração da situação do colégio em que estudava e as dificuldades que encontrava com alguns docentes, aquele ambiente não lhe era favorável. Ele sentia no seu coração o chamado de Deus, que lhe convidava ao sacerdócio. Convicto de que o seu lugar era na ordem Cisterciense, foi para Zirc, seguindo os passos também de seu irmão mais velho László Brenner, que em 29 de agosto de 1948, recebeu o hábito branco de noviço Cisterciense, adotando a partir de então o nome de monge Tobias. Em pouco tempo o Colégio Cisterciense de Zirc também foi estatizado. O abade cisterciense Vendel Endrédy se viu imensamente preocupado com as vocações. Apressou-se para inaugurar no convento local, as primeiras quatro classes superiores do ginásio e do oblato para assegurar a formação dos vocacionados. Os professores demitidos por conta da estatização passaram a lecionar no convento. János após a conclusão de seus estudos, permaneceu em Zirc, impulsionado pelo desejo de responder a sua vocação e em 8 de agosto de 1950, pediu a admissão ao noviciado. Na ocasião escreveu em seu diário espiritual as suas aspirações e a sua motivação, firmou o seu sincero compromisso com o Senhor de dedicar-lhe a vida: “Agradeço-lhe com a maior gratidão e amor que existem em meu coração pela grandíssima graça de ser destinado ao Seu serviço. Faça

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da minha vida, digna de minha vocação, afim de que eu seja santo. Eu quero te dar tudo completamente, sem reservas: “E todo aquele que por minha causa deixar irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, filhos, terras ou casa receberá cem vezes mais e possuirá a vida eterna.” (Mt 19, 29) Eu não sou capaz de fazer isso com as minhas próprias forças, preciso da vossa graça, que em todas as coisas constantemente cresça a Tua glória aqui na Terra”. Com a conclusão do retiro dos noviços, em 19 de agosto de 1950, János Brenner recebeu o hábito, passando a se chamar monge Anasztáz. (Anastácio ou Anastasius). Na ordem Cisterciense o Padre Lóránt Sigmond foi seu professor e diretor espiritual. János Anasztáz ou João Anastácio e seus companheiros de ordem poderiam devotar-se a Deus, na vida monástica, somente por poucas semanas, porque logo a agressão do Estado comunista contra a Igreja não poupou nem as ordens monásticas, atacando também o convento de Zirc. Em 7 de setembro de 1950, foram retiradas as licenças de funcionamento da maioria das ordens religiosas. O conselho da Ordem Cisterciense decidiu refugiar os noviços em Budapeste, colocando-os em casas de famílias conhecidas. Em Budapeste, Brenner iniciou seus estudos teológicos na Academia de Teologia Civil, no ano letivo 1950/1951 e sob a direção do Padre Lóránt Sigmond terminou clandestinamente o ano de noviciado, pronunciando às escondidas os seus votos simples. Votos estes que jamais seriam renovados. Ele decidiu que se não poderia ser um monge cisterciense, iria continuar a sua missão como sacerdote diocesano. Os superiores desejavam garantir o futuro de seus noviços e organizaram as admissões aos seminários diocesanos e aos Institutos de Teologia. Em razão disto, János Brenner, ingressa entre os seminaristas da Diocese de Szombathely. Acolhido pelo Bispo Sándor Kovács, deixa a vida monástica e a Academia de Teologia de Budapeste, passando a estudar Teologia no seminário de Szombathely. No entanto a perseguição não parou nas ordens monásticas. Em junho de 1952, por ordem do regime comunista, foram extintos a maioria dos seminários e entre eles também o de Szombathely. Para continuar estudando, seminaristas de três dioceses passaram a estudar e morar em um único seminário/instituto. A consequência disso é que os seminaristas, estudantes de teologia, perderam o contato com as suas dioceses. Os seminaristas de Szombathely, entre eles János Brenner, em 13 de setembro de 1952, foram admitidos no seminário de Győr, que reunia os seminaristas das dioceses de Győr, Pécs e Szombathely. No ano letivo 1952/ 1953 os três filhos dos Brenner, se preparavam para o sacerdócio, também József, o filho mais novo havia ingressado no seminário. László, estava no quinto, Jánnos, no terceiro, e József no primeiro ano de seminário. Os supe-

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riores nomearam János para ajudar e apresentar aos seminaristas do primeiro ano a vida do seminário. Foi imensamente atencioso, fraterno e disponível. János, reunia talento para os estudos, era diligente com seus superiores e colegas, sempre passava nos exames com notas excelentes. Além de tudo isso, era um jovem muito dedicado à oração, na capela encontrava forças para seguir. Depois de terminar seus estudos, seus superiores antes de sua ordenação sacerdotal, enviaram ao bispo a seguinte descrição pessoal de János Brenner: “De caráter racional e ligeiramente tendente ao racionalismo e pessimismo. Em virtude de um feliz talento harmonioso, em que há espaço para o coração, ele felizmente suaviza as contradições. A sua tendência para uma tarefa crítica, mas positiva, de olhar penetrante, e sua humildade que ele nunca o coloca em perigo. Excelente talento e inteligência afiada. Um dos novatos mais talentosos. Personalidade madura, capaz de conduzir custo-benefício em um verdadeiro sacerdote nos dias de hoje. Personalidade transbordante de cordialidade e inteligência, que teve uma boa influência sobre seus companheiros. Seria bom se ele pudesse começar o seu trabalho ao lado de uma personalidade forte”.

Ordenação Presbiteral Em 19 de junho de 1955, János Brenner foi ordenado sacerdote pelo Bispo Sándor Kovács na Catedral de Szombathely. Sua primeira missa foi celebrada na Paróquia de St. Norbert de Szombathely, em 26 de junho daquele ano e foi ajudado por seu irmão mais velho László, já sacerdote, e menor, József, seminarista. Escolheu como lema: “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus”. (Rm 8, 28). Em 17 de agosto de 1955, o jovem Pe. Brenner, foi nomeado pelo bispo para ser vigário da paróquia de Szentgotthárd-Rábakethely, localizada bem próxima da fronteira austro-húngara, este foi seu primeiro e único destino no ministério de sacerdote. Foi vigário junto ao pároco o Pe. Dr. Ferenc Kozma, este era um sacerdote de espiritualidade profunda, que possuía grandes habilidades intelectuais e uma forte inclinação científica. Tinha vastíssimo conhecimento da língua francesa, o que colaborou para que o jovem vigário viesse a aprimorar a sua proficiência nesse idioma. A relação entre o pároco e vigário era excelente, se tornaram bons amigos. O Pe. Dr. Ferenc Kozma admirava o zelo que Brenner tinha pelo seu trabalho missionário, a fidelidade na vida de oração e a sua imensa capacidade de sacrificar-se, doar-se sem medir esforços ou calcular distâncias. Estava constantemente disposto a ofertar-se por amor a Deus e aos irmãos, sobretudo, pelas crianças e jovens.

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Pe. Brenner era imensamente amado povo, seu grande coração acolhia os fiéis, como um pai, sem fazer distinção entre as pessoas. Suas palavras chegavam aos corações, despertava em todos que encontrava o desejo de seguir Jesus Cristo. Ele com o seu testemunho alcançava desde os mais ricos, doutores, soldados, comerciantes, até os mais pobres, andarilhos e ciganos. Ele verdadeiramente enxergava no próximo, a face de Jesus Cristo, e por esse motivo, com toda a sua simplicidade, humildade e pureza, lhes servia, tinha sempre uma palavra amável de conforto. Sobre ele um fiel que lhe foi contemporâneo, afirma que viveu a sua vida de maneira santa: “Havia nele uma certa aura que não é possível descrever em palavras. As pessoas gostavam de estar com ele, ouviam com atenção e eram envolvidas pelas suas palavras. Trazia algo dentro de si que atraia as pessoas. Era muitíssimo amado pelos jovens e pelos idosos. Ele aproximou uma infinidade de pessoas da fé e da Igreja. Não passava por uma pessoa, sem que parasse e trocasse algumas palavras. Sempre com um sorriso em seu rosto... Ele anunciou com muita seriedade o Verbo de Deus e em cada momento testemunhou a fé. Era belíssimo confessar-se com ele...”

O zeloso pastor Pe. János Brenner em seu curto lapso temporal de serviço sacerdotal, foram apenas cerca de dois anos e meio, era extremamente respeitado, amado e influenciava a sociedade, principalmente os jovens, que se encantavam por suas ideias e pelo modo que falava de Jesus Cristo. Os fieis por contemplarem a sinceridade de sua vocação, passaram, cada vez mais, a se empenharem na missão da Igreja e a se dedicarem a oração. Inúmeros testemunhos foram relatados, por pessoas que voltaram para a Deus, por causa de sua pregação que não era somente com palavras, mas era com a própria vida. No seu coração, jamais esqueceu da vocação de monge Cisterciense, que lhe fazia almejar por uma vida de total escondimento em Deus, mas já que não era possível vivê-la, lhe restava como vigário, viver a vocação sacerdotal apresentando alegremente e com fidelidade a vida de Cristo ao maior número de pessoas. Quanto mais pessoas o conheciam, mais se reconhecia nele um homem realizado em seu ser, que tinha um enorme amor pelo que vivia e por isso despertava o amor em todos ao seu redor. Os tempos em que os conventos e seminários foram fechados se caracterizaram de imensas dificuldades, mas Pe. János, tinha plena consciência, de que

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o grau de perseguições ao Cristianismo e a extinção da liberdade religiosa e de expressão se tornariam ainda mais forte de agora em diante. Durante o exercício da sua missão sacerdotal, sofreu grandes opressões, do regime comunista, que ironicamente, é formado pela união de indivíduos que se dizem oprimidos e se auto intitulam como as maiores vítimas da sociedade, mas que no fundo não almejam outra coisa, se não implementar o caos e dar o golpe, implantando uma ditadura vermelha. Disseminam a intolerância e o ódio entre as classes. Disfarçados de justos e igualitários, almejam a destruição da base moral da sociedade, a família e a espiritualidade. Iludem as minorias para que possam aderir ao seu nefasto projeto, pois acreditam que a minoria organizada irá sempre derrotar a maioria desorganizada. Sem dúvida, os marxistas têm o Estado como o seu deus. Para os comunistas a religião escraviza o trabalhador que se conforma com as dificuldades que vivencia, esperando a vida eterna. “É ópio que você faz seu povo tomar, para que, anestesiado por esse sonífero, ele não sinta as feridas que você lhe rasga. (Histoire de Juliette- Marquês de Sade, 1797) Endossa o que acima foi dito a afirmação de Karl Marx no Manifesto Comunista: “Mas o comunismo quer abolir estas verdades eternas, quer abolir a religião e a, moral, em lugar de lhes dar uma nova forma e isso contradiz todo o desenvolvimento histórico anterior... ” (1986, p. 35) e ainda “O homem faz a religião, a religião não faz o homem… A religião é o suspiro da criatura atormentada, o sentimento de um mundo sem coração, como o é o espírito de estados fora do tempo. Ela é o ópio do povo”. Vladimir Lenin, o revolucionário russo, segue na mesma perspectiva, a ele se atribui essas frases: É preciso combater a religião, eis o ABC do comunismo... Detrás de cada imagem de Cristo só se vê o gesto brutal do capital... O homem que se ocupa em louvar a Deus se suja na sua própria saliva... Deus é o inimigo pessoal da sociedade comunista. Esta última encontra-se na carta que escreveu a Gorki. Anatoly Lunatcharsky e Grigory Zinoviev, também doutrinados nos ideais de Marx, afirmaram respectivamente: “Nós odiamos o cristianismo e os cristãos” e “No momento oportuno nós nos atracaremos com o senhor Deus. E o aniquilaremos, lá nos seus altos céus”. Vladimir Llyich Lenin no seu livro: A doença Infantil do Comunismo. “La Maladie infantile du communisme” expõe sua visão consistentemente, explicitando os meios está preparado para utilizar para alcançar o seu objetivo (1979, p 69): “É preciso estar disposto a todos os sacrifícios e, inclusive, empregar em caso de necessidade todos os estratagemas, ardis e processos ilegais, silenciar e calar a verdade”. Em outro texto ele escreveu: “A guerra contra quaisquer cristão é para nós lei inabalável. Não cremos em postulados eternos de moral, e haveremos de desmascarar o embuste. A moral comunista é sinônimo da luta

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pelo robustecimento da ditadura proletária”. (V. Souvenirs, de Clara Zetkine sobre Lenine, 1929) Havia a necessidade de fechar os colégios e universidades católicos e torna-los fonte de doutrinação vermelha: “A escola soviética, constituindo instrumento para dar educação comunista às gerações, não pode, por princípio, ter outra atitude em face da religião que a de luta intransigente. A base doutrinal da educação comunista é, com efeito, o marxismo, e ele é inimigo irredutível da religião. O marxismo é materialismo, disse-o Lenin; como tal, impiedoso inimigo da religião, à exemplo dos enciclopedistas do século XVIII ou do materialismo de Feuerbach”. (PETROVSKY, 1955, nº 5) No diário espiritual do Pe. Brenner se encontra um de seus pensamentos mais profundos, aquele que norteou a sua vida: “Meu Senhor, sabes que eu não buscarei outra felicidade nesta vida, pois em Ti, encontro tudo o que preciso... Eu sei que para aqueles que pertencem a Ti não falta o sofrimento, esse é o teu imensurável benefício”. Essas palavras ressaltadas pelo jovem sacerdote Brenner, já traduzem o que sentia, a certeza de que pertencia ao Senhor, que Ele é sua maior riqueza, sua felicidade, seu grande amor e que por Ele aceitava a Cruz. Abraçava o sofrimento. O sofrimento está presente na vida de todos os seres humanos independentemente de terem fé ou não. A diferença é que quando de acredita em Deus, ao observar a Vida de Cristo, o sofrimento ganha novo sentido, a Cruz se torna esperança de vida eterna. Sofrer é inerente a personalidade humana, mas sofrer com Cristo é mais confortável, é ter a certeza de que Ele está conosco. Pe. Brenner tinha a visão do sofrimento não como um mal, mas como um lucro que o Senhor nos proporciona para nos tornarmos melhores, nos unirmos a Ele, sermos com Ele um só coração. No mais íntimo de seu ser, o Senhor já o preparava e o convidava a aceitar a palma do martírio.

A Revolução Húngara Na Hungria, a Igreja Católica sempre esteve próxima ao governo e este relacionamento manteve-se com o regime comunista. Contra este improvável casamento, levantou-se o cardeal primaz da Hungria, Joszef Mindszenty, que acabou preso com outros seiscentos padres. Torturados por quarenta dias ininterruptos e ameaçados de deportação para trabalhos forçados na Sibéria, capitularam. Sendo assim, a Igreja perdeu sua força na Hungria tendo como resultado o confisco de todas as escolas religiosas e o banimento de todas as ordens religiosas húngaras fazendo com que dois mil religiosos tentassem fugir do país. Muitos foram presos e mortos (ROYAL, 2001, p. 273)

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— A guerra do Comunismo contra a religião continuará — não num plano intelectual, mas num plano muscular e militar, ou seja no plano da força. Eles não podem atacar inteligentemente a religião. Eles nunca conseguiram sequer o direito de discutir sobre ela, porque nada conhecem dela. Resta, pois, perguntar que fará a força deles? Botarão Deus para fora do céu? Acaso a sua violência esvaziará dos anjos o céu? A resposta é: Não! Eles apenas deixarão devastada a terra. Vimo-los proscreverem a religião na Rússia, desterrarem o seu clero e matarem o seu povo; vimo-los fecharem as igrejas do México; vimo-los crucificarem padres na Espanha, abrirem os túmulos de Religiosas e espalhar-lhes os restos diante das portas da catedral. Vimos os seus museus anti-religiosos; lemos a sua literatura anti-Deus; mas tudo o que os vimos e ouvimos fazer e dizer contra a religião não nos convenceu de que não há Deus. Eles apenas nos convenceram de que há Demônio! (SHEEN, Fulton J. 1952. p. 29.) A ocupação da Hungria pelo Exército Vermelho, após a Segunda Guerra, garantiu a influência da URSS sobre a região. O país tornara-se uma democracia pluripartidária, quando em 1949 foi proclamada República Popular da Hungria e virou um estado comunista liderado por Mátyás Rákosi. O novo governo enviou muita gente para campos de concentração onde foram torturadas, julgadas e deportadas para o leste. A economia não ia bem, a moeda húngara (pengõ) desvalorizou-se e pais entrou numa hiperinflação jamais vista. Com os índices econômicos propiciados pelos governos de Enrõ Gero e Mãtyãs Rákosi piorando a cada dia, a população perdeu a paciência. Em 23 de outubro de 1956 uma manifestação estudantil juntou-se a milhares marchando pelo o centro de Budapeste até o parlamento. Um grupo de estudantes foi ao prédio da rádio para transmitir suas reivindicações e foi detido pela Polícia. O grupo lá de fora exigiu a libertação, mas a Polícia de Segurança do Estado que estava dentro do prédio abriu fogo contra eles. O objetivo do levante era se livrar da ocupação soviética e implantar o “socialismo verdadeiro”. No dia seguinte o confronto entre manifestantes e policiais continuou e a estátua de Josef Stálin foi derrubada. As notícias se espalharam. A desordem e a violência pipocaram por toda Budapest. O governo caiu. As lutas com a Polícia e tropas soviéticas continuaram. Comunistas e membros da Polícia eram executados ou aprisionados. O controle municipal foi tirado do Partido dos Trabalhadores Húngaros. O novo governo dissolveu a Polícia de Segurança, declarou sua intenção de sair do Pacto de Varsóvia e prometeu livres eleições. Os

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conflitos se avivaram com a troca de governo e os soviéticos organizaram uma trégua com a população. Mas o exército soviético agiu de forma violenta contra os populares e puseram Janos Kadar no poder. Em 04 de novembro de 1956 o exército soviético entrou em Budapest destruindo a ruas e os populares... János Brenner, durante a sua vida cotidiana, bem como nas suas homilias, jamais fez referência a política. No entanto, a sua opinião acerca dos acontecimentos da revolução e da luta pela liberdade em 1956 mostra-nos uma imagem interessante. Na época da revolução os habitantes de Szentgotthárd e seus arredores com entusiasmo abriram e cruzaram a fronteira para a Áustria. Pe. Brenner, estava andando de bicicleta e ao tomar conhecimento, fez uma breve observação: “Esta alegria é prematura.” Ele estava certo. O sórdido regime comunista não suportava ver um padre estar com os jovens, ocupar lhes, instrui-los na fé e socialmente. Os jovens se relacionavam com o Vigário Brenner com muita frequência, eles passaram a considerar a paróquia uma segunda casa. Isso se caracterizaria uma das causas de sua condenação. O delegado adjunto do Estado para Assuntos Eclesiásticos, Mihály Prazsák, com furor, vai ao bispo Sándor Kovács, para exigir que faça a transferência do jovem sacerdote para qualquer outro lugar. O bispo procura o Pe. János Brenner lhe dá ciência da situação e, em seguida, pergunta-lhe suas intenções, pede um posicionamento. Ele com prontidão e rapidez respondeu: “Eu não tenho medo, eu ficarei aqui de boa vontade.” O bispo, convencido por Pe. Brenner, decidiu que ele iria permanecer em Rábakethely. O delegado, sobre a decisão, de maneira odiosa, proferiu as seguintes palavras: “Bem. Então, aguardem para ver as consequências.” Pe. János sabia que estava sendo constantemente sendo observado pela polícia secreta da Hungria, que muitas vezes o abordou com o intuito de intimidação. O Pe. János realizava seu trabalho de vigário paroquial utilizando como meio de transporte uma bicicleta e posteriormente uma moto Csepel. O Estado não via positivamente que o jovem padre usasse a motocicleta, ainda era um meio de transporte raro na Hungria. Em uma noite no final do outono, enquanto Brenner pilotava até a aldeia vizinha, Farkasfa, passava por um trecho bastante perigoso, uma encosta muito íngreme, quando membros do Partido Comunista jogaram troncos de árvores, para fazê-lo derrapar. O sacerdote com grande habilidade, fez uma manobra inteligente e conseguiu evitá-los, escapando ileso da tentativa de homicídio. Sobre esse acontecimento, ele expressou na paróquia: “Bem, eu me livrei. Eles não tiveram sorte!”. Ele continuou sua missão normalmente, não tinha medo, pois estava no pleno exercício de seus direitos.

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Na manhã de 14 de dezembro de 1957, em uma capela construída em homenagem aos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, o Pe. János Brenner celebrou a última missa de sua vida. Essa capela se situa na aldeia de Máriaújfalu. Na tarde deste dia, o pároco Ferenc Kozma foi para Farkasfa atender confissões antes do Natal. No dia seguinte, ele celebraria a Santa Missa nessa localidade, então passou a noite lá, na casa de uma família católica. Então Pe. János ficou sozinho na casa paroquial de Rábakethely.

A traição e a emboscada Por volta de meia-noite, Tibor Kóczán, jovem de dezessete anos, que tinha sido um dos seus coroinhas, bateu na porta da casa paroquial. Narrou que motivo de sua visita era o fato de que o seu tio estava muito enfermo, estando em agonia, restando-lhe poucos instantes de vida e pediu que celebrasse os últimos sacramentos, a unção dos enfermos e recebesse o viático, nome que se dá a última comunhão eucarística. Pe. János, tinha especial zelo por ministrar os sacramentos, não negaria jamais a um convalescente os sacramentos na hora final e ainda mais ele tinha grande apreço pelo jovem que lhe procurou e por sua família. Prontamente se paramentou, ele colocou em seu alva e estola, e, por fim o casaco. Pegou a lanterna e com o jovem subiram a colina para chegar à casa do enfermo. O vigário, com muito cuidado, levava em sua bolsa o óleo dos enfermos e pendurou em seu pescoço uma teca com a Eucaristia. Levava consigo ainda um crucifixo. Na sua estola haviam bordados que faziam referência a crucificação. Tibor e o Pe. Brenner, em razão da emergência, pois o estado do enfermo era muitíssimo grave, não hesitaram em pegar o caminho mais curto para Zsida. Era um caminho perigoso e desabitado, durante o dia havia pouco movimento, mas a noite era raríssimo ver qualquer locomoção naquele trajeto. Na verdade, era o ambiente perfeito para que pudessem caçá-lo. Cerca de cem metros da igreja houve o primeiro ataque. Atiraram objetos e tentaram lesioná-lo, mas conseguiu escapar, aproximadamente duzentos metros do local do primeiro ataque houve o segundo, neste local, foi encontrado o crucifixo que tinha levado. Mas o Pe. Brenner, era possuidor de habilidades físicas, praticava esportes e era forte. Igualmente conseguiu escapar e proteger o jovem Tibor. Corria freneticamente, não por medo, mas porque queria celebrar os últimos sacramentos ao enfermo. Ainda nas primeiras horas da madrugada de 15 de dezembro de 1957, conseguiram chegar à casa do suposto doente em Zsida. Lá um outro grupo comunista, já o aguardava. Tudo não passava de um projeto para o assassinato, foi traído pelo jovem em quem confiou. A odiosa armadilha montada,

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foi desumana, brutal, cruel, sem possibilidade de defesa e pior ainda utilizou como artificio o seu ministério sacerdotal, seu amor por Jesus Cristo e o zelo pelos sacramentos. Pe. János sofreu agressões de um grupo formado por vários homens que bestial e brutalmente o esfaqueavam, foram desferidas trinta facadas. Ele obviamente perdeu muito sangue, e este lhe sufocou. O sangue impedia que respirasse. Sua garganta também foi esfaqueada. Ele não tinha mais chance alguma de defender a sua vida, restava unicamente proteger o grande amor de sua vida: a Eucaristia. Ele protegeu o Corpo de Cristo do sacrilégio. Ele deixou a teca com a Hóstia consagrada sobre o seu coração. Quando o seu corpo foi encontrado ele tinha a mão esquerda sobre o peito e embaixo dela preservada de qualquer sacrilégio estava Jesus Hóstia. O coração do Pe. Brenner se uniu ao Sagrado Coração de Jesus, ele como São João Evangelista pôde unir-se ao Senhor, sendo encorajado pelo santo pulsar cardíaco que destrói todo o medo, mal, pecado e trevas. Certamente, a história de São Tarcísio, nunca foi esquecida por esse grande padre. O menino que um dia representou São Tarcísio na escola, agora como ele, recebia a palma do martírio. Daria a sua vida por amor a Jesus Cristo e a Ele se uniria definitivamente. Um dos assassinos posteriormente afirmou que suas últimas palavras foram: “Ajuda-me, Senhor!”. O Pe. János Brenner foi martirizado por levar a sério o seu chamado e não ter medo de anunciar que a Salvação está em Jesus Cristo, por trasbordar a esperança, por acreditar que existe amor e bondade, por ensinar a juventude que existe vida eterna. O comunismo só acredita no que é material, quem pensa diferente é morto. Pe. János incomodava por amar Jesus Cristo, ele era encantado pelo Senhor, que deixou-se imolar para redimir a humanidade, que ressuscitou ao terceiro dia e que na Eucaristia atualiza o memorial de sua paixão. Era um jovem sacerdote corajoso, ele não permitia que o temor o paralisasse, apesar das ameaças anteriores e ataques sofridos. Encontrava forças no Espírito Santo. Na manhã do mesmo dia, terceiro domingo do Advento, os fiéis de Rábakethely, se reuniram para a Santa Missa às 07h30, permaneceram ao lado de igreja, localizada no topo de uma colina, pois a porta estava fechada. Alguns fieis que eram próximos do jovem vigário, sorrindo, comentavam que o reverendo devia ter perdido a hora, não acordando a tempo, visto que estava sozinho. Enviaram então, um coroinha da paróquia que bateu, mas ninguém atendeu a porta. Eles tentaram novamente mais tarde, mas não obtiveram êxito, foram até a senhora que trabalhava com os serviços domésticos na casa paroquial e ela abriu a casa, se dirigiram ao quarto do jovem vigário e encontraram a cama devidamente forrada. Começaram então a indagar sobre o paradeiro do

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Pe. Brenner. Poucos instantes depois, veio o sacristão de Szentgotthárd com a triste notícia: “O vigário foi encontrado morto, jogado ao chão, em Zsida, ao lado da escola. Eles o mataram”. Os fiéis choraram incrédulos. Partiram pela mesma estrada em direção à aldeia de Zsida, que na noite anterior o sacerdote foi atacado. Encontraram o corpo do Pe. János, mas logo a polícia lhes dispersou e levou o corpo para o Instituto de Medicina legal. Na autópsia múltiplas fraturas ósseas e se destacava a fratura na cartilagem tireoide (laringe). Além das facadas, ele foi pisoteado, sobretudo no pescoço. Era visíveis marcas de sapatos e terra em sua alva e em toda a roupa. Os assassinos comunistas não se contentaram em matá-lo, mas quiseram ultrajá-lo e zombar de sua fé. As investigações desse assassinato foram ridículas. Desde o primeiro momento a polícia não estava interessada em esclarecer os fatos do crime. A investigação foi conduzida pela equipe de investigação política, apesar do crime era de natureza criminal. As autoridades aterrorizaram habitantes de várias aldeias, para que não houvesse testemunhas, muitas eram abordadas bruscamente no meio da noite. Tentaram incriminar o Pe. Ferenc Kozma, mas não conseguiram. O tribunal provincial condenou um dos assassinos de Pe. János à morte, mas em caráter recursal foi absolvido pela Corte Suprema. No recurso, o assassino apresentou a sua motivação para o crime, alegou que era por vingança, pelo fato de que o Pe. János Brenner tinha convencido o seu irmão a seguir a vocação sacerdotal. Ser padre é algo indigno e repulsivo, fez questão de ressaltar. A Suprema Corte concordou com o argumento do assassino e lhe absolveu.

Processo de Beatificação “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8, 28); Como já foi dito, este era o lema que János Brenner escolheu para a sua primeira Missa e que norteou a sua curta vida sacerdotal. Amando a Deus, ele viveu e morreu, cuidou até o fim do rebanho que lhe foi confiado. Durante sua curta vida, fez de seu viver uma canção de amor ao Senhor. Com a sua morte, testemunhou a sua fé e com seu sangue semeou a regou a semente do Cristianismo. “O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas”. (Jo 10, 11). Pe. János incansavelmente doou a sua vida pelo eu rebanho. Ele mesmo após um dia de trabalho, saiu tarde da noite, por um caminho perigoso para ajudar um doente inexistente. Ele ofertou a sua vida por sua vocação, por amor era capaz de qualquer sacrifício. O nome e a história de Pe. János foram censurados. Era proibido fazer

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menção a este homem em toda Hungria. Com o fim d o regime comunista, a devoção a János Brenner, que se manteve escondida por décadas, ganha força. A sua história de vida, de amor a Cristo, de oferta e sacrifício permanece viva no coração de milhares de pessoas, tanto da sua diocese, país e até mesmo além das fronteiras. Aqueles que o conheceram, mantiveram a história deste exemplar sacerdote viva e atualmente é conhecida por uma grande quantidade de pessoas em diferentes países. A devoção ao Padre Brenner que durante várias décadas foi proibida, se fortalece cada vez mais. O Pe. Brenner tinha absoluta convicção de sua resposta do chamado de Cristo e por Ele e por aqueles que Ele lhe enviou, estava disposto a dar a vida, estava pronto para sofrer e morrer. Pe. Brenner não foi vítima de um assassinato fatal, conscientemente, aceitou o sacrifício de sua vida. Antes mesmo do homicídio, ele sofreu diversas atrocidades, inúmeras vezes foi ameaçado de morte, pelo sórdido regime comunista que a todo custo queria intimidá-lo, calar a sua voz. No entanto, as intimidações não obtiveram resultados. Restaram-se infrutíferas. Padre Brenner não tinha medo. Continua exercendo o seu ministério sacerdotal com fecundidade, fidelidade e zelo. Exercia grande zelo e influência junto aos jovens, se dedicava ao cuidado das suas almas, apresentando a juventude a pessoa de Jesus Cristo como a fonte da eterna felicidade, como a maior de todas as riquezas, sem a sua presença todas as coisas não passam de escuridão e tristeza. Despertava nos jovens, a percepção do seguimento a Jesus não por obrigatoriedade, mas por amor. Pe. Janós Brenner, não titubeou, não olhou para trás, seguiu o Senhor com todo o seu coração, com sua alma, com toda sua força. Mártir que derramou até sua última gota de sangue pela fé cristã, por sua vocação sacerdotal e acima de tudo para defender o grande amor de sua vida: O Santíssimo Sacramento, a Eucaristia. Não viu o martírio com tristeza, mas abraçou a morte e a cruz com o coração tranquilo e em profunda paz. Ele tinha o alento do Senhor e como diz a Beata Elisabete da Trindade: “Tu bem sabes: sem Ti nada sou; mas, se tu me alentas, Senhor, serei capaz de todo o sacrifício”. Foi erguida uma cruz para indicar o local onde ele sacrificou sua vida. No topo do “Monte do Calvário” foi construída em sua memória a capela do Bom Pastor, que hoje tornou-se um lugar de peregrinação. Após o funeral de János Brenner, o bispo Sándor Kovács, em uma circular, escreveu a toda diocese sobre ele: “Sua vida foi exemplar. Sua morte foi um sacrifício oferecido a Deus. Que o nosso povo encontre a felicidade de ter convivido com um santo”. Hodiernamente, uma infinidade de fieis diocesanos e de

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vários lugares do mundo, rezam regularmente com o seu luminoso exemplo de fidelidade. Foi pedido a Mãe Igreja que reconheça o sacrifício do Pe. János Brenner, para que possa ser elevado as honras dos altares, entre os santos mártires. Ele viveu ainda o que a Beata Elisabete da Trindade expressou: “Jesus Cristo está sempre vivo em nós, sempre operante em nossa alma. Deixemos que Ele nos construa e seja a alma de nossa alma, vida de nossa vida, a fim de que possamos dizer como São Paulo: “Para mim viver é Cristo”.

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O pequeno e inocente János Brenner a dormir.

Noviço Cisterciense

Primeira Eucaristia-Momento sublime onde recebeu o Santíssimo Sacramento pela primeira vez. Deixouse encantar por tamanho Amor Eucarístico.

A família Brenner (János, ao centro)

Brenner, com a sua família, desde a sua infância se caracteriza pelo uso dos óculos. O primeiro da foto.

Nova bandeira comunista do país com a foice e o martelo.

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Pois diz o testemunho: 'Tu és sacerdote para sempre na ordem de Melquisedec’. “ (Hb.7-17)

Recordação da Primeira Missa que celebrou.

János Brenner na sua juventude, consagrou-se por amor. Decidiu com Cristo e em Cristo unicamente viver. Seu sorriso revela a alegria de pertencer a Deus.

Tu és príncipe desde o dia em que nasceste; na glória e esplendor da santidade, como o orvalho, antes da aurora, eu te gerei!” (Sl. 109)

Já ordenado diácono, exercendo a sua missão..

Janós Brenner foi ordenado presbítero da Santa Igreja em 19 de junho de 1955.

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Funeral do Pe. János Brenner

Vestes litúrgicas e a ambula contendo a Eucaristia que o Pe. János estava na noite onde foi martirizado. Noite escura da dor e do sacrifício. Noite feliz, clara na sua história, como a Noite do Natal e da Vigília Pascal: Cristo se fez um com ele. Uniu-se a ele definitivamente. Transformou as trevas e a escuridão em Luz de Ressurreição

A firmeza e a convicção de fé do sacerdote era admirável. Uma vida que desde muito cedo encontrou em Deus o seu sentido

Exposição atual das vestes que estava utilizando, quando foi martirizado.

SHEEN, Fulton J. Mons. Bispo Auxiliar de Nova York

Cortejo funerário do sacerdote húngaro que foi traído, morto em uma emboscada pelos comunistas.

O Jovem sacerdote ao ar livre.

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Ernö Gerö, líder comunista da Hungria. Os seus óculos jogados ao chão e quebrados. János Brenner enxergou além da dimensão humana, material e terrestre as coisas. Conseguiu transcender. Sua visão fixou-se em Cristo. Manteve os olhos fixos n’Ele. Os seus óculos foram encontrados e hoje possuem valor de relíquia.

Com os irmãos da comunidade religiosa

A Revolta. Manifestantes tomam em Budapeste um tanque usado pelas tropas soviéticas que esmagaram o Levante Húngaro de 1956.

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Pintura que retrata o mártir de Cristo, encomendada pela postulação de János Brenner

Na Hungria em 23 de outubro de 1956, teve início o levante contra o governo totalitário do Partido Comunista, liderado por Ernö Gerö. Esse levante surgiu através de uma manifestação organizada pelo Círculo Petofi, composto por jovens, estudantes e intelectuais do país, que não queriam viver na condição de escravos da URSS, sem nenhum direito ou liberdade. Aproximadamente 200 mil pessoas clamavam o retorno de Imre Nagy, o rompimento com a União Soviética e almejavam a democracia no país. Na ocasião derrubaram a estátua de Stalin e perseguiram os agentes da AVH, polícia secreta que sem hesitar disparou muitos tiros nos manifestantes. Cerca de 3.000 pessoas morreram e outras 13.000 ficaram feridas.

Char les de Fo c a u l d Ser o Evangelho vivo pelo Amor (1858- 1916) “O gesto de dar a própria vida para salvar a de outros é a máxima demonstração de amor e generosidade”.

A

s histórias neste livro, foram elencadas em ordem, de acordo com o ano em que se realizaram os martírios, porém intencionalmente a história do Beato Charles de Focauld, foi elencada por último, em razão de que a sua morte não é considerada propriamente um martírio, mas o seu coração já não se importava em viver ou morrer, pois estava interamente conformado aos desígnios de Deus. A sua história nos ensina a buscar um sólido processo de conversão e a abrirmos mão de nossos egoísmos e futilidades. Meu Pai, eu me abandono a Ti, faz de mim o que quiseres. O que fizeres de mim, eu Te agradeço. Estou pronto para tudo, aceito tudo. Desde que a Tua vontade se faça em mim e em tudo o que Tu criastes, nada mais quero, meu Deus. Nas Tuas mãos entrego a minha vida. Eu Te a dou, meu Deus, com todo o amor do meu coração, porque Te amo e é para mim uma necessidade de amor dar-me, entregar-me nas Tuas mãos sem medida com uma confiança infinita porque Tu és meu Pai! Esta é a oração do abandono, feita pelo Beato Charles de Foucauld, um homem que fez da sua vida um testemunho do Evangelho. Charles, de fato, era abandonado em Cristo, não guardou nada de si, esvaziou-se totalmente para que a vontade de Deus se cumprisse, foi alguém que confiou absolutamente no Pai celeste e assumiu a sua vocação que era “viver a vida oculta de Cristo em Nazaré”. Contudo, anos antes de fazer essa belíssima oração precisou passar por um fantástico processo de conversão. O casal Elisabeth Morlet e o Visconde Edward de Foucauld de Pontbriand, tiveram o seu primeiro filho, em 17 de julho de 1857, atribuíram-lhe o nome de Charles, que faleceu com um mês de idade. Tiveram um segundo filho de igual nome, Charles de Foucauld de Eugene Pontbriand, que nasceu em 15 de setembro de 1858, em Strasbourg (Estrasburgo) na França. Recebeu o Batismo, em 04 de novembro do mesmo ano na Igreja de St. Pierre.

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Sua família era da aristocrática francesa, verdadeiramente rica. Aos seis anos ficou órfão, sua mãe faleceu em 13 de março de 1964, com apenas 34 anos, e em menos de seis meses, o seu pai seria vitimado por um aneurisma que também lhe levou a óbito, assim sua criação e a da sua irmã caçula, Maria, que tinha três anos, ficou ao encargo e do seu avô. Era um menino de personalidade firme, na adolescência demostrou bastante inquietude e costumeiramente gostava de viver aventuras. Curioso, Charles gostava de compreender bem o funcionamento de todas as coisas, por não conseguir compreender cientificamente a fé, afastou-se. Mais tarde ele escreveu: “Passei doze anos inteiros sem fé alguma. Não acreditava mais em Deus, visto que não havia prova científica da existência de Deus”. Longe de Deus, passou a viver de maneira egocêntrica e desregrada, vivia momentos de agitação e prazer. Estando com 16 anos optou pela carreira militar, frequentou a Escola Militar de Saint-Cyr e foi combatente na África do Norte. Em 1876, apresentou-se como voluntário ao exército, que partiria em missão ao deserto do Saara. Alguns anos depois em 1881, foi expulso do exército, a causa da expulsão foi a sua má conduta e falta de disciplina. Com o falecimento de seu avô, recebeu como herança uma fortuna considerável, que devido a vida desregrada que levava foi desperdiçada. Era pródigo e ébrio. Por sua vida de pecado e tomada de desordens, experimentou uma grande infelicidade, mais tarde discorreu sobre esse período: “Eu me afastei de Ti, meu Senhor, e a minha vida começava a ser uma morte, permitiste que experimentasse uma profunda tristeza, um profundo vazio, vivia uma total escuridão, não havia mais nada além de mim mesmo, era o egoísmo absoluto”. Sentindo-se frustrado, decidiu aventurar-se como explorador em Marrocos. Essa expedição, que durou um ano, iniciou em 1883, colocou a sua vida em risco. Marrocos estava fechada aos ocidentais, assim para residir nessa pátria por dois anos precisou usar o disfarce de judeu russo. Neste tempo ele trabalhou com empenho e conseguiu grandes feitos de caráter geográfico, dentre eles, a publicação de um livro científico, intitulado “Reconnaissance au Maroc”, (Gratidão ao Marrocos). Cumpre destacar que seu trabalho foi tão relevante que ele recebeu uma medalha de ouro da Sociedade Geográfica de Paris. Além da pesquisa, essa expedição trouxe ao coração de Charles profundas reflexões, sobretudo depois de contemplar a maneira que os muçulmanos se relacionavam com a divindade. Eles se colocavam em oração várias vezes durante o dia, ligavam-se ao transcendente. Dizia: “Esses oram cinco vezes por dia e eu, nem religião tenho”. Impactado expressou: “O Islamismo me abalou profundamente, ao ver a fé deste povo, que vivia constantemente na presença de Deus, sentia que existia

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algo maior e mais verdadeiro do que as minhas preocupações profanas”. Assim, passou a ressoar no coração de Charles o desejo de conhecer a Deus, dizia: “Meu Deus, se você existe, faça que eu vos conheça”. Ao retornar à França, foi bem acolhido por seus familiares e o testemunho de fidelidade de sua prima Madame de Bondy gerou em seu ser um desejo ainda mais de conhecer a Deus, passou a frequentar a Igreja com habitualidade, no entanto a sua fé ainda não havia despertado. Contudo, buscava freneticamente encontrar o Senhor, acreditava que poderia encontrá-lo por meio de provas científicas, argumentos racionais ou em livros. Chegou a afirmar: “Eu devassei os livros da filosofia pagã e nada encontrei, senão o vazio e o tédio”. Neste diapasão, providencialmente recebeu de sua prima um fascinante livro cristão, intitulado “Études sur les mysteres” do renomado pregador francês Jacques Bossuet. A leitura lhe proporcionou um grande desejo de aprofundar-se na fé, sentiu imenso fascínio por Cristo e doçura em suas palavras, aspirou perscrutar com mais propriedade a beleza da Igreja. Pela leitura desta obra não lhe restaram dúvidas, que o cristianismo era a verdadeira religião. No entanto, sua visão, até então era somente teórica, o que não é suficiente, faltava a fé. A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio (cf. Ex 33, 18; Sal 2726, 8-9; 6362, 2-3; Jo 14, 8; 1 Jo 3, 2). Sobre esse tempo afirmou: “Em princípios de outubro de 1886, senti a necessidade de solidão, de recolhimento, de leitura devocional a reflexão”. Começava a sentir a necessidade de encontrar Jesus Cristo pessoalmente. Queria a todo custo encontrá-lo. Diagnosticou sobre si: “Minha mente estava confusa, e vivia em estado de uma grande ansiedade: sempre buscando e buscando a verdade”. Entretanto, não sabia como fazê-lo. A sua prima, a Madame de Bondy, que continuamente que rezava por ele, apresentou-lhe o Padre Henri Huvelin, um sacerdote santo e sábio diretor de almas. Quando o viu, Charles sentiu em si algo que lhe dizia: “É necessário abaixar a cabeça e crer. É necessário crer”. Começou a sentir-se mais atraído pela Igreja. Certa vez a sua prima informou que o Padre Huvelin, por motivos de saúde, não ia continuar dando suas palestras costumeiras. Charles respondeu: “Mas que pena! Estava decidido a ir parar sua conferência. Tu, prima, gozas do grande privilégio de gozar da luz; enquanto eu estou em busca dessa luz e não encontro”.

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Deus se revela a quem lhe busca de coração Pela busca incessante de Charles, Deus revelou-se a esse coração sedento. O escritor francês René Bazin, escreveu na biografia:  Charles de Foucauld – eremita e explorador, narra o encontro de Charles de Foucauld com o Senhor, por meio das ações do Padre Huvelin. Entre os dias 27 e 30 de outubro, o Padre Huvelin viu aproximar-se dele um jovem, o qual não se ajoelhou, mas esse jovem, um tanto cabisbaixo, disse ao sacerdote: “Senhor Padre, eu não tenho fé; vim para pedir que me desse algumas aulas”. O Padre Huvelin, que era especialista na direção espiritual, percebeu que aquele jovem tinha necessidade, primeiramente, de mudança de comportamento, e lhe disse: “Fica de joelhos, meu filho; agora confessa teus pecados a Deus, e terás fé”. Charles respondeu: “Mas não vim para isto”. O Padre Huvelin: “Meu filho, confessa teus pecados”. Charles, que queria crer, sem confessar, percebeu que a condição para poder crer era exatamente isso: submeter-se e abaixar a cabeça perante Deus. Charles se ajoelhou e fez uma confissão geral de toda sua vida. “A confissão cura, a confissão justifica, a confissão nos concede o perdão dos pecados. Toda a esperança está na confissão. Na confissão há uma chance para a misericórdia”. (Santo Isidoro de Sevilha) Em seguida, o Padre perguntou ao penitente se estava em jejum, para poder receber a Eucaristia, e à resposta afirmativa de Charles, o sacerdote disse: “Então vai receber a comunhão”. Charles de Foucauld foi direto ao altar, e, pela segunda vez na vida, fez a “primeira” comunhão, visto que fazia muitos anos que não a recebia e quando a recebeu não foi conscientemente. Esse dia, pela graça sacramental, marcou indelevelmente a vida de Charles, que muitas vezes agradecia a Deus pela recordação: “Foi bem naquele dia, ó meu Deus, que lançaste sobre mim teu olhar e me inundaste com tuas graças”. Charles enfim encontrou o que tanto buscava, a fé não se restringe a teorias, antes de tudo a “conditio sine qua non” é a humildade de reconhecer-se pequeno diante do Senhor e dependente dele incondicionalmente. Ele encontrou o seu grande tesouro, encontrou o Senhor. Tinha 28 anos. O seu coração tomou a mais importante decisão: “Assim que acreditei que existe Deus, percebi que não poderia fazer outra coisa a não ser viver por Ele”. Decidiu fazer da sua existência uma oferta de amor a Deus, queria servi-lo com todas as suas forças e de toda a sua alma. O seu coração encontrou o repouso: “Fizeste-nos para ti mesmo, ó Senhor, e nosso coração não sossegará até descansarmos em ti”, como disse Santo Agostinho em Confissões. Ao contemplar a conversão de Charles de Focauld, somos impelidos a dizer que sentiu o mesmo sentimento agostiniano:

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Tão tarde te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tão tarde te amei! Tu estavas dentro de mim, mas eu estava fora, e fora de mim te procurava. Com o meu espírito deformado, precipitam-me sobre as coisas formosas que criastes. Estavas comigo e eu não estava contigo. Retinha-me longe de ti aquilo que não existiria se não existisse em ti. Chamaste, clamaste e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste e dissipaste a minha cegueira. Exalaste sobre mim o teu perfume: aspirei-o profundamente, e agora suspiro por ti. Saboreei-te, e agora tenho fome de ti. Tocaste-me, e agora desejo ardentemente a tua paz. (Confissões) No primeiro mês de 1890, ingressou na vida monástica, passando a ser noviço no Mosteiro Trapista de Norte Dame-des-Neiges. (Nossa Senhora das Neve). Expressou o seu desejo de anunciar a Boa Nova: “Eu quero gritar o Evangelho com toda minha vida”. No mês de junho foi transferido para o Mosteiro de Akbes, na Síria. Em outubro de 1896, foi enviado para estudar em Roma, insatisfeito, desejoso de estar em missão entre o povo da África, pediu o desligamento dos trapistas. Seu coração ardia em ânsia de tornar o Senhor conhecido entre aqueles que nunca tinham escutado falar sobre ele. Ao abandonar o Mosteiro, dirigiu-se a pé até a Terra Santa. Experimentou na carne a radicalidade evangélica e a pobreza total. Sentiu-se íntimo de Jesus, como nunca antes. O Mosteiro das Irmãs Clarissas de Nazaré, o acolheu e ele passou a ser o jardineiro, dedicava-se a oração e configurou-se inteiramente a Cristo. Em 9 de junho de 1901, aos 43 anos, na Diocese de Viviers, na França, foi ordenado sacerdote da Santa Igreja. No seu coração o desejo ardente de partir para o deserto do Saara, para testemunhar o amor de Cristo aos desconhecidos, abandonados e desprezados. Primeiramente instalou-se em Beni-Abbès, depois em Tamanrasset entre os Tuaregs do Hoggar. Ao aproximar-se das pessoas, queria despertar nelas o sentimento de irmandade, respeito e fraternidade. Dedicou-se a aprender a língua tuaregue e estudou o léxico e a gramática, os cantos e tradições dos povos do deserto do Saara. Nutria a intenção de fundar uma nova ordem religiosa, o que não ocorreu. O irmão Antoine Chatelard, renomado estudioso da vida de Charles de Foucauld, narra: “Sua conversão foi na verdade um encontro com Deus vivo, com um Deus próximo e amoroso. Esse Deus a quem ele suplicava que se manifestasse, revelou-se a ele em uma comunhão de amor. É um Deus que ama e a quem se deve amar. Esse Deus próximo fez-se carne e tem nome: Jesus. Toda espiritualidade de Charles de Foucauld centrar-se-ia na pessoa de Jesus, seu Deus, seu Senhor, seu Irmão, e depois, na linguagem dos místicos, seu Esposo bem-amado”. “Jesus Caridade” e “Jesus Amor”. Essas premissas expressam a vida de Charles de Focauld. O amor é a construção segura e unificada de sua alma ca-

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çoado e contado entre os filhos de Abraão. Minha alma suspira por vosso corpo; meu coração deseja ser convosco unido. Dai-vos a mim e estou satisfeito; porque sem vós nada me pode consolar. Sem vós não posso estar, e sem vossa visita não posso viver. Por isso muitas vezes devo achegar-me a vós e receber-vos para remédio de minha salvação, a fim de não desfalecer no caminho quando estiver privado deste alimento celestial. Assim vós mesmo o dissestes uma vez, misericordiosíssimo Jesus, quando pregáveis e curáveis diversas enfermidades: “Não os quero despedir em jejum, para que não desfaleçam no caminho”(Mt 15, 32). (Imitação de Cristo) O Irmão Charles quis ser um pobre entre os pobres, e, passou a viver entre os “Taureg”, estudou a sua cultura e a língua, deixava a porta do pequeno eremitério aberta para todos pudessem entrar livremente. Era amigo de todos, em especial do seu chefe, o Sr. Moussa. O Pe. Charles era chamado por eles de “Marabuto”, que significa homem de Deus, voltado a oração, o associaram a uma das figuras típicas da sua tradição religiosa. O irmão Charles escreveu sobre o sentimento que lhe perpassava e a percepção que gerou: “Os não-cristãos podem ser inimigos de um cristão, um cristão é sempre tenro amigo de todo ser humano”. Ele muito desejava congregar irmãos para que com ele partilhassem da vida oculta de Nazaré, e fundassem uma nova ordem religiosa, marcada pelo radicalismo evangélico, a vida simples, o acolhimento aos irmãos e irmãos independente de sua confissão religiosa e o compromisso com os excluídos. Isso não aconteceu enquanto ele vivia, fundou-se somente alguns anos após a sua morte, em 1933, pelo Pe. René Voillaune, a ordem ficou conhecida como a Fraternidade dos Pequenos Irmãos de Jesus, ou apenas Irmãozinhos de Jesus e o ramo feminino foi denominado como as Irmãs do Sagrado Coração de Jesus de Charles de Foucauld. Existe ainda hoje, uma fraternidade de leigos, que embora não façam votos religiosos, se unem aos que se consagraram e disseminam pelo mundo os ideais cristãos tão claramente manifestados na vida de Charles de Focauld. Os seguidores de Cristo, que se inspiram no Beato Charles de Focauld, assumem o compromisso de amarem o Cristo em todas as dimensões. O adoram na Eucaristia e partem ao seu encontro nos irmãos pobres e necessitados. Então, dirá o Rei a todos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, abençoados de meu Pai! Recebei como herança o Reino, o qual vos foi preparado desde a fundação do mundo. Pois tive fome, e me destes de comer, tive sede, e me destes de beber; fui estrangeiro, e vós me acolhestes. Quando necessitei de roupas, vós me vestistes; estive enfermo, e vós me cuidastes; estive preso, e fostes visitar-me’ (Mt 25, 34-36)

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Abandono em Deus Charles de Foucauld desenvolve uma verdadeira espiritualidade em torno de abandono em Deus, na qual na extrema pobreza, encontrou toda a riqueza. Viveu o que São João da Cruz chama de “Dar tudo pelo Tudo”. Foi um homem livre de tudo e de todos, que morreu para si mesmo e para todos os desejos do mundo, que ”Renunciou aos seus desejos e encontrou o que desejava o seu coração. ” Como ensina o santo carmelita supracitado. A liberdade e o desapego de Charles de Focauld lhe impulsionaram a uma vida de obediência, de caridade e de amor. Mesmo sem possuir riquezas, desejava acolher a todos indistintamente, não centrando a sua missão no auxílio material unicamente, mas em se tornar um só coração com os que com ele se deparavam. Ele chega a dizer que o que fazia em obediência a Deus e aos superiores eram atos transformados em atos puros de amor. Ele concluiu que a obediência ao superior é um meio para entregar-se a Deus, cumprindo a sua vontade. A obediência nos faz viver a Imitação de Cristo. Contudo, o coração do Pe. Charles tinha o anseio de partir para o deserto, para estar com aqueles mais desprezados e sofridos, junto a eles queria entregar-se cotidianamente nas mãos do Senhor, abandonar-se em Deus não é um fato isolado, realizado uma única vez apenas, é antes de tudo, um estilo de viver, uma opção generosa de retribuir com toda a existência ao Amor que amou por primeiro. É lutar para ter um coração indiviso, que mesmo frágil e pecador, não se satisfaz com mais nada senão com o próprio Deus. Abandonar-se em Deus é livremente escolher caminhar na trilha de Deus, que possui fortes exigências, que enseja carregar a cruz e passar pela porta estreita, mas que traz a verdadeira felicidade. Para viver a experiência deste abandono a humildade e o esvaziamento são condições indispensáveis. A virtude da humildade, que é a base da verdadeira liberdade humana. A humildade nos impede de viver escravizados ao nosso ego e suas constantes exigências. Também serve de antídoto para a arrogância e o consequente desespero da era atual. Uma honesta autoavaliação pode nos conduzir a uma autêntica relação com o Deus vivo, pois somente Ele pode preencher o vazio da nossa alma. O Pe. Charles uniu-se a Deus em uma junção de misericórdia, amor e sofrimento. Ao partir para o deserto, elaborou o novo hábito, que inspirado pelo Espírito Santo, trazia estampado o Sagrado Coração de Jesus, o lugar que era o seu esconderijo, a fonte das suas forças, o seu grande amor. Ele queria que todos que naquela realidade tão difícil encontrassem no Coração de Jesus um oásis de vida. Que bebessem nesse Coração a Água que sacia a sede para sempre: “Quem beber dessa água terá sede outra vez; aquele, porém, que beber da

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água que Eu lhe der nunca mais terá sede. Ao contrário, a água que Eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna”. (Jo 4, 13-14) Ele contemplava o Sacratíssimo Coração como a fonte desta Água que sacia a sede de eternidade e felicidade presente na alma de cada ser humano, de todas as raças, tempos e lugares. “Os judeus temeram que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque já era a Preparação e esse sábado era particularmente solene. Rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. Vieram os soldados e quebraram as pernas do primeiro e do outro, que com ele foram crucificados. Chegando, porém, a Jesus, como o vissem já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água. O que foi testemunha desse fato o atesta (e o seu testemunho é digno de fé, e ele sabe que diz a verdade), a fim de que vós creiais. Assim se cumpriu a Escritura: “Nenhum dos seus ossos será quebrado”. E diz em outra parte a Escritura: “Olharão para aquele que transpassaram”. (João 19, 31-37) (Grifou-se) Deste modo, foi na Santa Cruz, que a fonte da Água da Vida tornou-se acessível a todos nós. Do sacrifício do Filho de Deus, o Verbo Encarnado, nasceu-nos a Esperança de Vida Eterna. Ele apregoava: “não há oferta sem imolação”. E por amor fez de sua vida uma oblação: Amados, visto que Deus assim nos amou, nós também devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor está aperfeiçoado em nós. (1 João 4:11-12) Deus é amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele. Dessa forma o amor está aperfeiçoado entre nós, para que no dia do juízo tenhamos confiança, porque neste mundo somos como Ele. (1 João 4:16b-17) No final de 1908, Charles buscou o absoluto esquecimento, optou pelo último lugar e mortificou-se, para assim ser feliz. Era um homem pleno e realizado ao extremo. Neste ano, tamanhas eram as dificuldades que ele não tinha como celebrar a Santa Missa. Tinha desejo de fundar uma nova congregação, mas nesse momento precisou abdicar até desse anseio. Almejava também gerar muitas conversões, contudo, não existem relatos que tenha colaborado com a conversão de uma pessoa sequer. Ele viveu como pobre no meio dos pobres e seu único desejo foi amar. Com a sua presença singela e amável queria que as pessoas encontrassem no seu coração, o Coração pelo qual o seu palpitava. É raro achar um homem tão espiritual que esteja desapegado de tudo. Pois o verdadeiro pobre de espírito e desprendido de toda criatura quem o descobrirá? Tesouro precioso que é necessário buscar nos confins do mundo (Prov 31,10). Se o homem der toda a fortuna, não é

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nada. E se fizer grande penitência, ainda é pouco. Compreenda embora todas as ciências, ainda estão muito longe. E se tiver grande virtude de devoção ardente, muito ainda lhe falta, a saber: uma coisa que lhe é sumamente necessária. Que coisa será esta? Que, deixado tudo, se deixa a si mesmo e saia totalmente de si, sem reservar amor-próprio algum, e, depois de feito tudo que soube fazer, reconheça que nada fez. Não tenha em grande conta o pouco que nele possa ser avaliado por grande: antes, confesse sinceramente que é um servo inútil, como nos ensina a Verdade. Quando tiverdes cumprido tudo que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis (Lc 17,10). Então, sim, o homem poderá chamar-se verdadeiramente pobre de espírito e dizer com o profeta: Sou pobre e só neste mundo (Sl 24,16). Entretanto, ninguém é mais poderoso, ninguém mais livre que aquele que sabe deixar-se a si e a todas as coisas e colocar-se no último lugar. (A Imitação de Cristo)

Oblação total: Morte Durante a Primeira Guerra Mundial, na noite de primeiro de dezembro de 1916, o Pe. Charles, conhecido hodiernamente como o Irmão de todos, foi surpreendido por guerrilheiros, quarenta homens armados que cercaram o eremitério e encontraram sozinho. “Provavelmente, os senussi querem tomá-lo como refém, nada mais”. (SIX, 2008. p.117) O pequeno local foi então saqueado e o bondoso e fraterno padre, foi levado para fora, foi colocado de joelhos, afim de ter os tornozelos amarrados, para ser colocado sobre um camelo. “Enquanto os senussi pilham o eremitério, um rapaz de quinze anos vigia Focauld. De repente, alguém dá o alarme e chegam homens sobre camelos. O jovem guarda perde a cabeça- será que Focauld fez algum movimento?- encosta seu fuzil na cabeça de Focauld e atira. Tudo acontece muito rápido: apenas quinze minutos passaram entre a chegada dos senusssi e a morte de Focauld”. (SIX, 2008. p.118) O amoroso sacerdote Charles de Focauld, entregou-se inteiramente à Vontade de Deus, não teve tempo de dizer nada e devido ao local em que o tiro acertou não agonizou, morreu imediatamente. Jürgen Rintelen afirma quanto a morte do Pe. Charles, que foi fruto de um assalto, foi roubado e baleado, numa relação de pânico. Afirma que foi uma morte não intencionada, e sim fruto da violência. Desta forma, a sua história, não seria considerada propriamente um martírio “In odium fidei” como as demais histórias neste livro elencadas, no entanto a beleza da conversão e abandono em Deus, mostram o coração de um homem que já não se importava, nem com o martírio. Focauld viveu o que pregou São Paulo da Cruz:

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“Nem sofrer, nem morrer, mas transforma-se em Vontade de Deus”. Não há como entregar nossas vidas a Deus e aos irmãos a não ser inteiramente. Charles de Foucauld foi beatificado pelo Papa Bento XVI em 13 de novembro de 2005. Vejamos alguns ensinamentos do Beato Charles de Foucauld: “Orar significa pensar em Jesus, amando-o. A oração é a intenção da alma que se concentra em Jesus. Mais amamos Jesus, melhor oramos”. “Esvaziemos o nosso coração de tudo o que não for o objetivo único… Que nada além de Deus seja o nosso tesouro. Que o nosso único tesouro seja Deus, o que o nosso coração seja todo de Deus em Deus, todo para Deus… Só para ele. Fiquemos vazios de tudo… Para nos podermos encher completamente de Deus…” “Jesus vem ao mundo no amor infinito de Deus, da justiça, de verdade, da bondade, por Divina Misericórdia. Ensina-nos a amar a Deus acima de tudo, e a lhe obedecer em tudo, assim como a amar o próximo como a nós mesmos por amor de Deus. (Notas cotidianas, fevereiro de 1916) “Os pequenos irmãos devem pensar diariamente que um dos benefícios com que o seu Esposo jesus os dotou é exatamente o da possibilidade, o da esperança bem fundamentada, de encerrarem a sua própria vida com o martírio: que se preparem continuamente para esse fim bem-aventurado.” “O gesto de dar a própria vida para salvar a de outros é a máxima demonstração de amor e generosidade”. “A fé é, se não a mais alta virtude (a caridade ultrapassa-a), pelo menos a mais importante, pois é o fundamento de todas as outras, incluindo a caridade, e também porque é a mais rara”. “Como sois bom! Como agistes da melhor forma para chamar ao mesmo tempo, para o vosso redor, todos os Vossos filhos, sem nenhuma exceção!” “Ter verdadeiramente fé, a fé que inspira todas as ações, essa fé sobrenatural que despoja o mundo da sua máscara e mostra Deus em todas as coisas; que faz desaparecer todos os impossíveis; que retira sentido às palavras de inquietação, de perigo, de medo”. “Se tivésseis chamado os ricos em primeiro lugar, os pobres não teriam ousado aproximar-se de Vós; pensariam que estavam obrigados a manter-se à distância por causa da sua pobreza; ter-Vos-iam olhado de longe, deixando que os ricos Vos rodeassem”. “Nunca tenhais medo, nem preocupações: Eu estou presente, Eu velo, Eu amo-vos. Eu sou todo-poderoso. Que mais quereis? Lembrai-vos das tempestades que acalmei com uma palavra, transformando-as numa grande calmaria: Diz o Senhor. ”

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Livremente Charles de Focauld, abraçou a cruz. “Da cruz gloria-se todo apóstolo, por ela todo mártir é coroado, todo justo santificado. Pela cruz revestimo-nos de Cristo, despojamo-nos do velho homem. Pela cruz, nós, ovelhas de Cristo, nos reunimos em um só rebanho, destinados que somos aos campos celestes”. (São Teodoro Estudita) Última fotografia do irmão que no deserto, viveu a vida oculta de Cristo em Nazaré, na simplicidade, tendo somente a fé como o único bem.

“A raiz de todos os males é a ânsia de possuir". Certos de que nada trouxemos para este mundo nem dele poderemos levar coisa alguma", revistamos as armas da justiça e ensinamos a caminhar no preceito do Senhor a nós mesmos em primeiro lugar, depois aos outros... (São Policarpo)

Ícone que retrata o Beato Charles de Focauld, o abandonado em Deus.

Um homem de enorme coração, que mesmo sem nada ter, acolhe e ama. “O que de melhor se pode entender por lei de Cristo do que a caridade, vivida na perfeição, quando por amor suportamos os fardos dos irmãos? Mas pode-se dizer ser múltipla esta mesma lei, porque com zelosa solicitude a caridade se estende a todas as ações virtuosas. Começando por dois preceitos, ela vai atingir muitos outros”. (São Gregório Magno)

Sepulcro onde jazem os seus restos mortais.

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Conclu s ã o

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enho um só pedido a fazer-lhes: perdoem àqueles que me matarem. Fazei-o de todo o coração, e rogai comigo que meu sangue, mesmo que seja o sangue de um pecador, seja resgate pelos pecados da nossa pátria, uma hóstia misturada ao sangue das vítimas que tombaram, de procedências e religiões diversas; seja o preço da paz, do amor e do entendimento que foram perdidos por esta pátria e até pelo mundo inteiro. Queiram ensinar às pessoas o amor através da minha morte, e Deus os consolará, proverá às suas necessidades e os ajudará a viver esta vida. Não tenham medo, não estou pesaroso, nem me sinto triste por deixar este mundo. Só estou triste porque vocês estarão tristes. Rezem, rezem, rezem e amem seus inimigos” Esse foi o último desejo do jovem libanês Ghassibé Kayrouz que foi martirizado enquanto se preparava para ingressar no seminário. Ele como todos os outros uniram seus sacrifícios ao de Jesus Cristo, perpetuando em seus corpos as dores da Paixão. Em 11 de setembro de 1925, o Papa Pio XI publicou a Encíclica “Quas Primas” sobre Cristo Rei, por meio desta foi criada a festa litúrgica de Cristo Rei e a Igreja explicou teologicamente sobre o Reinado do Senhor Jesus, a carta surge em tempos de imensas dificuldades por todo o mundo. A Mãe Igreja proclamou ao mundo que somente no senhorio de Jesus Cristo a humanidade encontra a luz da vida, a esperança e a paz, fora d’Ele só resta escuridão, trevas e a maldade, conforme explica a introdução da mesma: Na primeira Encíclica, dirigida, em princípios do nosso Pontificado, aos Bispos do mundo inteiro, indagamos a causa íntima das calamidades que, ante os nossos olhos, avassalam o gênero humano. Ora, lembra-nos de haver abertamente declarado duas coisas: uma que esta aluvião de males sobre o universo provém de terem a maior parte dos homens removido, assim da vida particular como da vida pública, Jesus

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Cristo e sua lei sacrossanta; a outra que baldado era esperar paz duradoura entre os povos, enquanto os indivíduos e as nações recusassem reconhecer e proclamar a Soberania de Nosso Salvador. E por isso, depois de afirmarmos que se deve procurar “a paz de Cristo no reino de Cristo”, manifestamos que era intenção nossa trabalhar para este fim, na medida de nossas forças. “No reino de Cristo”, dizíamos; porque, para restabelecer e confirmar a paz, outro meio mais eficiente não deparávamos, do que reconhecer a Soberania de Nosso Senhor. Com o correr do tempo, claramente pressentimos o raiar de dias melhores, quando vimos o zelo dos povos em acudir, uns pela primeira vez, outros com renovado ardor, a Cristo e à sua Igreja, única dispensadora da salvação: sinal manifesto de que muitos homens, até o presente como que desterrados do reino do Redentor, por desprezarem sua autoridade, preparam, ainda bem, e levam a efeito sua volta à obediência. Por sua vez, o Papa Pio XII, no dia 15 de maio de 1956, na Cara Encíclica “Haurietis Aquas”, enalteceu com clareza o culto ao Sagrado Coração de Jesus nos tempos modernos, nos quais tamanhas atrocidades estavam sendo realizadas. Ele indicou a todos os homens o Coração Sacratíssimo do Senhor como o único local onde encontrarão repouso e como a fonte na qual poderão saciar a sede de eternidade: Inumeráveis são as riquezas celestiais que nas almas dos fiéis infunde o culto tributado ao sagrado coração, purificando-os, enchendo-os de consolações sobrenaturais, e excitando-os a alcançar toda sorte de virtudes. Portanto, tendo presentes as palavras do apóstolo são Tiago. “Toda dádiva preciosa e todo dom perfeito vem do alto e desce do Pai das luzes” (Tg 1, 17), neste culto, que cada vez mais se incende e se estende por toda parte, com toda razão, podemos considerar o inapreciável dom que o Verbo encarnado e salvador nosso, como único mediador da graça e da verdade entre o Pai celestial e o gênero humano, concedeu à sua mística esposa nestes últimos séculos, em que ela teve de suportar tantos trabalhos e dificuldades. Assim, pois, gozando deste inestimável dom, pode a Igreja manifestar mais amplamente o seu amor ao divino Fundador, e cumprir mais fielmente a exortação que o evangelista são João põe na boca do próprio Jesus Cristo: “No último dia da festa, que é o mais solene, Jesus pôs-se em pé, e em voz alta dizia: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba quem crê em mim. Do seu seio, como diz a Escritura, manarão rios de água viva. Isto o disse pelo Espírito que haveriam de receber os que nele cressem” (Jo 7, 3739). Ora, aos que escutavam essas palavras de Jesus, pelas quais ele prometia que do seu seio haveria de manar uma fonte “de água viva”,

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certamente não lhes era difícil relacioná-las com os vaticínios com que Isaías, Ezequiel e Zacarias profetizavam o reino do Messias, e com a simbólica pedra que, golpeada por Moisés, de maneira milagrosa haveria de jorrar água (cf. Is 12, 3; Ez47, 1-12; Zc 13, 1; Ex 17, 1-7; Nm 20, 7-13;1 Cor 10, 4; Ap 7, 17; 22,1). Destarte, é possível dizer que os mártires do século XX, pautaram as suas vidas no palpitar do Sagrado Coração de Jesus e com o seu próprio sangue proclamaram a Realeza de Nosso Senhor. Como vimos, na maioria das histórias, os mártires não cessavam de gritar vivas a Cristo Rei. “Aos Mártires da Igreja, jubilosos, Entoemos um hino triunfal: Entregando por Cristo a sua vida, Entraram no seu reino imortal. Testemunhas fiéis do amor de Cristo, Abraçando a sua Cruz, Confessaram a fé até à morte, Combatendo o bom combate”. (Hino- Liturgia das horas) Ressaltamos a total impossibilidade de conhecermos com precisão o número dos cristãos vitimados pelos diferentes regimes que perseguiram Igreja. Os números apresentados são os que puderam ser contabilizados, mas existe uma multidão de outros cujos nomes não puderam ser inventariados. Outro fato que torna difícil o estudo sobre os mártires é a falta de interesse de muitos historiadores e pesquisadores. “O genocídio dos católicos é relativamente pouco documentado e que a maioria dos relatos sobre os fatos foi produzida sob uma perspectiva puramente política. Para citar um exemplo, a obra ‘O Livro Negro do Comunismo’ mal menciona a perseguição aos católicos. A literatura sobre o assunto é, sobretudo, produzida por autores que mantém relações com a Igreja e que não pretendem que tais massacres caiam no esquecimento e que estes não voltem a acontecer”. (ROYAL, 2001, p. 16) Concluindo este livro, quero bendizer a Deus pelos méritos daquela que é considerada a Rainha dos mártires, a Virgem Maria, a Ela dedico estes escritos, a Ela expresso o meu indigno amor e minha gratidão. Sendo que palavra alguma se mostra capaz de render-lhe a devida homenagem. Nunca demais sobre ela se dirá. Como disse Santo Agostinho: “Tudo quanto pudermos dizer em louvor de Maria Santíssima é pouco em relação ao que merece por sua dignidade de Mãe de Deus”. Maria, Mãe dos cristãos, Senhora do Céu e da Terra, Bela flor de Deus, Virgem das Dores, Mulher de coração transpassado. A Ti os mártires cantaram. Pelo amor que sentiam ao Teu Filho, foram incorporados no teu seio maternal, também te amando com singular devoção. “Jamais li que algum Santo não tivesse sido devoto especial da Santíssima Virgem Maria”, afirmou São Boaventura, com quem eu concordo absolutamente. No desejo de melhor compreendermos o motivo pelo qual Maria é intitulada de “Rainha dos mártires”, apresento o trecho da obra “Por que Amo

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Maria” - Tratado substancial e completo dos principais motivos de devoção para com a Virgem Maria segundo os Santos Padres, os Doutores e os Santos pelo Pe. Júlio Maria, Missionário de Nossa Senhora do SS. Sacramento, Livro de 1945. Maria é, verdadeiramente, em toda a extensão da palavra, a “Rainha dos mártires”. Que mártir sofreu jamais dores semelhantes às Suas? Qual entre os nossos heróis é àquele em cujas torturas poderíamos verificar caracteres, imensidade e profundeza semelhante àqueles que são o fundo e que forma o complemento das dores de Maria? É um sentimento admitido por todos os teólogos que uma dor suportada por amor de Deus é capaz de causar a morte e suficiente para constituir o martírio, mesmo que não ocasionasse a morte. É assim que São João Evangelista é reputado mártir, embora não tenha expirado na caldeira de óleo fervente, saindo dali mais forte do que antes. (Brev. Rom. Dia 06 de maio) Para merecer a auréola do martírio basta, pois, segundo Santo Tomás, que levemos a obediência até ao seu grau supremo, que é oferecer-se a si próprio à morte. (Summ. 2.2 q. 124 a 3) Ora, Maria, o fez em grau que ultrapassa a toda concepção humana. “Se o Seu coração não caiu sob os golpes de um algoz, diz Santo Afonso, o Seu coração bendito foi trespassado pela dor que Ela sentiu da Paixão de Seu Filho, dor que bastava para Lhe dar mil vezes a morte. Daí devemos concluir que Maria não foi somente mártir em toda a força do termo, mas que o Seu martírio sobrepujava ainda a todos os outros, visto ter sido ele mais longo, mais intenso e mais profundo”. Ó Virgem Maria, Vós bem podeis dizer com o salmista: “A minha alma se desvaneceu na dor, e os meus anos decorreram nos gemidos”, pois a dor Vos foi sempre presente, foi o Vosso pão cotidiano, Vos revestiu de todas as partes, penetrou-se e Vos consumiu inteiramente, Vosso martírio atinge o infinito, sois verdadeiramente a Rainha dos mártires. Não repercutiu em Vosso coração a Paixão do vosso Jesus, que foi mais do que o Rei dos mártires? E Vós mesma não esperastes os dias da Paixão para entregar o Vosso coração às agonias mortais?... Ainda jovem, aprendestes com os profetas a história antecipada dos sofrimentos do Vosso Jesus. E a partir desta primeira revelação, quantas lágrimas ardentes correram sobre as Vossas faces virginais! E tornando-Vos Mãe de Deus, quem poderia exprimir os gládios que então Se cravaram em Vosso coração para trespassá-lo?

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E, no entanto, nada mais eram que os pressentimentos da Paixão. No dia em que ela se realizou, que martírio de sangue não produziu no Vosso coração, ó boa Mãe! Pois todas as circunstâncias da Paixão de Jesus, expirando em sofrimentos inauditos, reproduziram se dolorosamente em Vós, Sua Mãe. Sim, Jesus foi o Rei dos mártires, e Vós, ó Maria, fostes a Rainha dos mártires. Duas coisas elevaram o martírio de Maria acima dos tormentos de todos os mártires reunidos - o tempo e a intensidade. O tempo, que mitiga as dores comuns, não aliviou as dores de Maria, mas, ao contrário, aumentou-as. De uma parte, Jesus aparecia a Sua santa Mãe cada vez mais belo e mais amável, à medida que crescia. E, de outra parte, o dia de Sua morte se aproximava sempre. “Assim como a rosa cresce entre os espinhos, dizia o anjo a santa Brígida, assim também a Mãe de Deus progredia em anos, no meio das tribulações. E como os espinhos crescem ao mesmo tempo que a rosa, assim adiantou-Se em idade, Maria, esta rosa escolhida do Senhor, sentiu que os espinhos das Suas dores penetravam mais profundamente em Sua alma”. Segundo uma outra revelação a Santa Brígida, a Santíssima Virgem lhe diz que, mesmo depois da morte e da ascensão de Seu Filho, Ela tinha a Paixão continuamente presente no Seu pensamento; e, quer tomando os Seus alimentos, quer trabalhando, o Seu coração amante estava ocupado nesta lembrança. Quanto à intensidade, é como um abismo insondável. “Se Deus não tivesse conservado a vida de Maria por um grande milagre, diz Santo Anselmo, a Sua dor teria sido suficiente para Lhe dar a morte a cada instante que Ela passava na terra”. (De excel. Virg. c.5) Como é que os sofrimentos da humilde Virgem foram muito mais intensos que os de todos os mártires? Eles o foram, sobretudo, de três modos; Primeiramente, a alma sobrepuja o corpo, tanto quanto os sofrimentos da alma ultrapassam os do corpo. Em certa ocasião, Nosso Senhor disse a Santa Catarina que entre as dores da alma e as do corpo não há comparação possível. Ora, foi no corpo que os mártires sofreram os golpes do ferro e do fogo. Maria, ao contrário, sofreu em Sua alma, segundo a profecia do santo velho Simeão. O segundo modo, como o faz notar Santo Antonino (P. 4.t. 5. c. 24, par. I), consiste no fato de que o suplício dos mártires atinge à perda da própria

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vida; o da Santíssima Virgem consiste no sacrifício de uma vida que Lhe era muito mais cara do que a Sua própria vida - a vida de Seu Filho. Deste modo Ela sofreu não somente em Sua alma tudo o que Jesus Cristo sofria em Seu corpo, mas a vista dos sofrimentos de Seu Filho afligiu mais o Seu coração que se Ela mesma tivesse padecido todos eles. “Jesus sofria nos Seus membros, e Maria no Seu coração”, diz o bem-aventurado (de laud. B. Virg. Hom 5), “de modo que, ajunta São Lourenço Justiniano, o coração de Mãe se tornou como o espelho das dores do Filho; os escarros, os golpes, as chagas, tudo o que Jesus sofria, vinha refletir-se nEla”. (De Trin. Chr. Ag. C. 21). Dizem que os pais sentem mais vivamente os sofrimentos dos Seus filhos do que os seus sofrimentos pessoais. São Bernardo nos dá a razão disto: “A alma está mais naqueles que ela ama do que naquele que ela anima”. Se isto é verdade, podemos dizer, portanto, que “Maria sofreu mais vendo as dores do Seu querido Jesus, do que se Ela mesma tivesse sofrido toda a Paixão”. (Se laud. B. Virg. Hom 5). É a conclusão do bem-aventurado Amadeu. Enfim, um terceiro modo é que o martírio de Maria foi privado de toda consolação. Sem dúvida, os mártires sentiram vivamente os tormentos que lhes infligiam os tiranos, mas seu amor a Jesus lhes tornava doces e amáveis os seus sofrimentos. Mais eles amavam a Jesus Cristo, menos sentiam os tormentos da morte; e a vista de um Deus crucificado bastava para os consolar. Mas que consolação hauria a Mãe de Jesus ante o espetáculo dos Seus sofrimentos, já que os próprios sofrimentos deste Filho querido eram o objeto da Sua aflição e o amor que Lhe tinha era o Seu único e mais cruel algoz? Portanto, o martírio de Maria consistia precisamente na compaixão que Ela sentia à vista do seu Filho inocente e querido entregue a tão horrorosos suplícios. E, por conseguinte, mais Ela amava, mais amarga era a Sua dor, e mais se afastava toda consolação. É o que se quer representar, quando apresentamos os santos mártires, cada qual com o seu instrumento de suplício: São Paulo, com a espada; Santo André com a cruz; São Lourenço, com a grelha...Quanto à bem-aventurada Virgem, representamo-lA tendo em Seus braços o Seu divino Filho morto, porque só Jesus foi o instrumento do Seu martírio, em razão do amor que Ela Lhe consagrava. Depois disso, figuramo-nos a Mãe de Deus de pé, junto à Cruz, na qual Jesus expira, dirigindo-nos estas palavras do profeta: “Ó vós todos que passais por este caminho, considerai-me e vede se há dor semelhante à minha dor”. (Thren.I).

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Vós que passais a vossa vida na terra, sem sequer lançardes um olhar de compaixão sobre a Vossa Mãe aflita, detende-Vos um instante para considerar-me e ver se entre todos aqueles que são presa da aflição e dos tormentos, há um só cuja dor seja semelhante à minha. “Não, ó Mãe desolada, responde-Lhe são Boaventura, não há dor mais cruel do que a Vossa, porque não há filho mais querido do que o Vosso”. (Off. comp. B. Virg.). Eis como o martírio da amável Virgem ultrapassou as dores de todos os mártires, pois Ela sofreu em Sua alma, enquanto os mártires sofreram no corpo. A Sua dor cresceu durante toda a Sua vida, enquanto que a dos mártires sofreram no corpo. A Sua dor cresceu durante toda a Sua vida, enquanto que a dos mártires tinha um termo muitas vezes limitado. Enfim, Ela não teve consolação alguma. Ó sim, ó Maria, Vós sois verdadeiramente Rainha dos mártires. Ninguém merece melhor a soberania sobre a dor do que Vós, que sofrestes como nunca sofreu criatura alguma. (Grifou-se) Assim, unamo-nos a Virgem Santíssima, junto a Ela como fizeram os mártires de Cristo de todos os séculos da era cristã, confiemos a Ela o nosso desejo de não negarmos o Senhor. Busquemos ter um coração obediente, casto, puro e fiel o quanto mais parecido com o dela for possível. Desejemos realizar os sonhos de Deus sonhados em nós: “Deus, que nos deu uma vontade livre, quer que O sirvamos livremente como instrumentos, ajustando a nossa vontade à sua, do mesmo modo que sua Santíssima Mãe, quando diz: “Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a sua palavra”. (São Maximiliano Kolbe) No século atual, já são muitos os cristãos que foram martirizados, por não negarem a fé. Que nós em nossas vidas cotidianas, não reneguemos o Senhor, com nossas posturas, ações e também omissões, supliquemos constantemente “A nós, fracos e inconstantes, Robustecei o vigor; Que a provação não nos leve, A abandonar o Senhor...” (Hino- Liturgia das horas)

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Crédito das imagens As imagens de Miguel Agustín Pro, José Sánchez del Río, Bartolomé Blanco, Florentino Asensio, Apolônia Ochoa, Martín Martínez Pascual, Maximiliano

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Kolbe, Edith Stein, Jakob Gaap, Maria Tuci, János Brenner e Charles de Focauld, pertencem as suas respectivas postulações, arqui (dioceses), congregações, ordens e institutos de vida consagrada. As demais imagens são de domínio público, ou possuem a autoria apresentada na legenda.

Dicas de filmes Cristiada Título Original: For Greater Glory: The True Story of Cristiada Dirigido por Dean Wright Duração: 145 min- 2012 - Dos Corazones Films Site: http://www.doscorazonesfilms.com/ A Sétima morada- Santa Edith Stein Título Original: Edith Stein: The Seventh Chamber Dirigido por: Márta Mészáros Duração: 110 min. 1996- Paulinas Maximiliano Kolbe- Mártir da caridade Título Original: Zycie za zycie Dirigido por: Krzysztof Zanussi Duração: 91 minutos- 1991. Notro films- Paulinas Padre Miguel Pró – o mártir da fé Dirigido por Miguel Rico Taver Duração 90 min.- 2007- Paulinas Un Dios Prohibido Dirigido por Pablo Moreno. Duração 133 min.- 2013 - Contracorriente Producciones Site: http://www.undiosprohibido.com/ O filme narra a história dos 51 mártires claretianos de Barbastro, assassinados barbaramente por milicianos anarquistas em 1936. Muitos deles foram torturados, castrados, humilhados de todas as maneiras antes de serem executados. Max & Me Animação- 2016;- Dos Corazones Films Site: http://www.doscorazonesfilms.com Nos dias atuais, Gunter, um idoso mal humorado, é forçado a interagir com um adolescente rebelde, DJ , ensinando-lhe sobre a vida de amor, oferta e sacrifício do fascinante de Frei Maximiliano Kolbe, sacerdote polonês que na Segunda Guerra Mundial, foi feito prisioneiro pelos nazistas, que lhe enviaram para o campo de extermínio de Auschwitz, onde se ofereceu livremente para morrer no lugar de um pai de família. A estreia está prevista para 26 de julho de 2016

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