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100 OBRAS PARA SE CONHECER O BÁSICO DO MARXISMO-LENINISMO (SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS PARA OS MEIOS MILITANTES) (Diego Grossi)
Primeira parte: sugestões por nível/ progressão As obras sugeridas nessa parte são aquelas consideradas fundamentais para a compreensão do marxismo-leninismo, dependendo do bom entendimento dos seus conteúdos para que se possa haver avanços posteriores. Dentro de cada seção os textos são indicados tendo em vista uma ordem de estudo (que, naturalmente, não é obrigatória, dependendo das necessidades específicas da situação). O roteiro traçado se deu através de uma opção que dificilmente seria consensual entre os marxistas. O princípio básico para se propor a evolução conforme visto é a perspectiva sobre três pontos comuns aos que estão iniciando seus estudos sobre o socialismo: a) seus interesses; b) suas necessidades; e c) suas capacidades. Assim, parte-se da ideia de que uma pessoa que começa a estudar o marxismo chega até o mesmo principalmente por sua proposta política. Sabemos que tal ideologia está longe de se resumir ao seu programa, mas, por ser esse seu corpo principal (toda base científica e filosófica vai servir a esse princípio político), é o que deve ser mais estudado inicialmente. É muito comum que nos meios de formação sugiram as obras de caráter filosófico ou metodológico para aqueles que estão ingressando recentemente no marxismo, o que, não raras vezes, torna, para estes, o estudo algo chato, enfadonho e difícil. Alguns se desligam diretamente do marxismo e da militância, mas uma grande quantidade de pessoas acabam incorrendo num afastamento quase invisível, que é aquele resultante do repúdio ao estudo, que passa a ser visto como tarefa para os “intelectuais”. Portanto, além da preocupação sobre o fornecimento do conhecimento básico do marxismo-leninismo para os recémegressos, deve-se considerar como tarefa paralela o despertar do gosto pela teoria marxista nessas pessoas. Ninguém gosta de se sentir incapaz ou inferior, por isso os primeiros textos devem ser de fácil compreensão (o que variará, claro, de situação para situação; cabendo ao responsável uma justa avaliação) ao mesmo tempo que exijam e permitam algum tipo de evolução. O estudo é uma tarefa que exige esforço e disciplina, sendo impossível aparecer sempre como algo lúdico. Entretanto, não é por isso que devemos ignorar as possibilidades de aperfeiçoamento pedagógico. Como o marxismoleninismo é uma teoria que só tem sentido diante da prática militante, é interessante relacionar os temas estudados às demandas concretas. Por isso, os aspectos políticos, táticos e estratégicos dessa teoria são sugeridas antes daquelas referentes aos esclarecimentos sobre seus fundamentos filosóficos e metodológicos. De qualquer forma, como tudo isso deve ser adaptado às situações concretas, com exceção das seções 1 e 2, as demais podem ser estudadas sem haver, necessariamente, o mesmo roteiro em ordem crescente. Espera-se que com o estudo de tais obras arroladas o militante tenha claro: a) as propostas e o projeto comunista; b) os fundamentos científicos e filosóficos que embasam tais propostas; c) os métodos de estudo e de ação característicos do marxismo-leninismo; e d) uma noção da história da sociedade contemporânea (que legitima o marxismo e seus dilemas hoje). Cada seção está dividida entre Indicações e Complementos. Os trabalhos indicados são aqueles nas quais se entende como indispensáveis; já os que aparecem como complemento figuram num campo no qual podem vir a cumprir diferentes funções (ajudar a compreender melhor um tema, ser uma obra “canônica” sobre o assunto tratado mas de difícil compreensão para um iniciante, etc.). Em alguns casos são feitos comentários sobre as seções e/ou sobre os textos. Tanto na 1ª quanto na 2ª parte prioriza-se a leitura direta dos clássicos, sem, todavia, haver a pretensão de se esgotar uma introdução
ao recorte proposto. É uma sugestão que tem a clareza de que outras combinações, com algumas outras obras, podem ser efetivas. Portanto, ressalta-se novamente: é apenas uma sugestão. 1. Introdução Nessa seção busca-se apresentar: a) o projeto dos marxistas; b) as origens das suas ideias; c) um pouco sobre a história do comunismo. Itens que costumam ser os que possuem mais demanda por parte dos que estão ingressando nos estudos do marxismo-leninismo (além de fornecer-lhes os conceitos e as lógicas básicas para que possam avançar nas demais obras). - Indicações: . Karl Marx (Lenin): biografia de Marx em conjunto com uma síntese da sua produção, expondo, de forma didática, os principais aspectos e conceitos de sua teoria. . Friedrich Engels (Lenin): pequena biografia de Engels, servindo como complemento da obra anterior. . As três fontes e as três partes constitutivas do marxismo (Lenin): pequeno texto que fala das origens do pensamento marxiano e das influências que deram origem ao marxismo. . Manifesto do Partido Comunista (Engels e Marx): caso os leitores estejam num nível muito introdutório (tendo dificuldades com a leitura em si, por exemplo), pode-se optar por ler apenas os dois primeiros capítulos, deixando os demais para as discussões da seção 3 (Tática e estratégia). . O Estado e a revolução (Lenin): obra muito boa para ser lida por qualquer iniciante, pois faz um apanhado de toda a teoria marxista de Estado aplicando-a a um programa político concreto. . O que deve ser um jovem comunista (Che Guevara): excelente obra de estímulo militante, principalmente entre grupos de juventude. . O significado histórico da Revolução de Outubro (Domenico Losurdo): um resumo/ balanço do socialismo na Rússia, algo indispensável para quem está iniciando seus estudos. Caso o texto seja encarado como muito grande, pode-se substituí-lo pelo outro do Losurdo indicado como complemento para a seção posterior (“Revolução de Outubro e democracia no mundo”). - Complementos: . Marx e o reino da consciência (Gramsci) . Do socialismo utópico ao socialismo científico (Engels): obra importante, especialmente por explicar de forma materialista dialética o surgimento do marxismo, sendo um exemplo de aplicação do materialismo histórico na compreensão de nós mesmos. Caso não haja pressa no estudo deve ser estudada.
2. O leninismo no século XX Continuação da seção anterior, mas com obras um pouco mais complexas. - Indicações . Que fazer? (Lenin): principal obra de Lenin sobre a teoria do partido. É importante ressaltar para os iniciantes que essa foi uma das principais contribuições do Lenin para o marxismo. De qualquer forma, o excessivo tamanho do livro e os vários diálogos paralelos com polêmicas da época podem dificultar a leitura. Em alguma situação drástica talvez caiba a substituição do livro por algum documento da Internacional Comunista sobre a questão de partido.
. Carta a um camarada (Lenin): obra que complementa a anterior. . Imperialismo, etapa superior do capitalismo (Lenin): outro livro que aparece como uma das principais contribuições de Lenin para o marxismo. É indispensável, mas, caso as discussões econômicas inviabilizem o estudo de alguns, pode-se selecionar algum capítulo em específico (principalmente entre os últimos). . O caminho que me levou ao leninismo (Ho Chi Minh): mostra como o entendimento de Lenin sobre o imperialismo e o necessário aintiimperialismo foi fundamental para o avanço das revoluções comunistas no século XX. . O livro vermelho (Mao Tsé-Tung): obra muito estigmatizada, já que tende a estimular o dogmatismo através da repetição de pequenas passagens em isolado. Entretanto, caso saiba ser usada (ressaltando para os estudantes que seu caráter de resumo é apenas uma introdução, na qual nenhuma passagem em isolado substitui a obra inteira de onde foi retirada), pode ser útil para mostrar aos iniciantes o universo de preocupações do marxismo-leninismo. - Complementos . Lenin (Mariátegui): destaca a importância de Lenin para os trabalhadores de todo mundo e é uma forma de colocar os iniciantes em contanto com algo do marxismo latino-americano. . A obra de Lenin (Gramsci): pequeno complemento caso se queira continuar a estudar a história do socialismo e as contribuições de Lenin. . Para compreender corretamente o nacionalismo (Kim Jong Il): pequeno complemento quanto à temática da questão nacional e suas tensões no marxismo – melhor aproveitado se lido com a obra de Ho Chi Minh supracitada. . Revolução de Outubro e democracia no mundo (Losurdo): discussão importante de ser feita com os iniciantes, já que os ataques sobre o suposto caráter não-democrático dos comunistas é um dos principais preconceitos que estes trazem do senso comum oriundo da propaganda anticomunista.
3. Tática e estratégia diante dos adversários Obras fundamentais para orientar o posicionamento político e a prática dos militantes, esclarecendo, também, as divergências no seio da esquerda (um questionamento que é bem comum). Indicações . Esquerdismo, doença infantil do comunismo (Lenin): obra-prima sobre a tática, condenando um fenômeno muito comum aos que iniciam a militância, o esquerdismo. . Marxismo e revisionismo (Lenin): pequeno texto quase ignorado, mas que possui grande profundidade, explicando o revisionismo não como mero “desvio” ideológico, mas sim como um fenômeno histórico com bases materiais concretas. Pode ser analisado de forma combinada com o livro anterior, comparando o revisionismo (“à direita”) com o esquerdismo (“à esquerda”). . Reforma ou revolução (Rosa Luxemburgo). . Sobre a autoridade (Engels): explica de forma simples e objetiva uma das principais linhas de demarcação entre nós e os anarquistas.
. Estratégica e tática (Marta Harnecker): obra que permite uma excelente discussão sobre o papel da tática no pensamento leninista. - Complementos . A questão judaica (Marx): mostra os limites de uma suposta emancipação que não destrua o capitalismo. . O 18 de Brumário de Luís Bonaparte (Marx): por ser uma obra na qual Marx analisa uma situação política concreta, pode servir como exemplo de avaliação política e de tática, mas por possuir uma série de referências históricas próprias da época e pouco conhecidas é mais recomendada para quem está se reatualizando no marxismo do que para quem está iniciando seus estudos (para estes, o ideal é ler esse livro após ter estudado toda bibliografia básica). . Luta de classes na França (Marx): presente aqui pelos mesmos motivos que a anterior, valendo também os comentários já feitos para o “18 de Brumário”.
4. História e luta de classes A compreensão sobre a história da humanidade é algo fundamental para se entender o projeto comunista. - Indicações . A origem da família, da propriedade privada e do Estado (Engels): principal obra marxista sobre a teoria de Estado, além disso faz um traçado sobre a evolução da sociedade de classes até o capitalismo que é muito útil para os objetivos dessa seção, aparecendo como uma obra de transição entre as seções 1 e 2 e esta (ou seja, pode ser lida antes da seção anterior, a terceira – possuindo como único empecilho o fato de ser um pouco grande). Por ser oriunda dos primeiros passos da antropologia, é legal que seja acompanhada por algum artigo discutindo seus elementos atuais e os datados (existem alguns facilmente encontrados na internet) . Guerra civil na França (Marx): obra na qual Marx analisa a Comuna de Paris e produz uma reviravolta na sua perspectiva sobre o Estado, servindo tanto para o estudo teórico sobre o Estado (assim como a anterior) quanto para o entendimento da história do socialismo (cuja experiência proletária em Paris foi um dos primeiros passos). Entretanto, é uma obra cheia de referências históricas pouco conhecidas, o que dificulta a leitura. Em caso de grupos iniciantes pode-se estudar a arte principal, que é a terceira seção do capítulo 3. . Liberalismo: entre civilização e barbárie (Losurdo): coletânea com alguns artigos de Losurdo que vão desde a crítica aos limites do liberalismo até as experiências socialistas. Um ponto interessante que pode ser explorado são as críticas a alguns aspectos de Marx e Engels – o que mostra para o estudante iniciante que o marxismo não é adepto de dogmas e que nenhum clássico é incriticável. . Fuga da História? (Losurdo): balanço das experiências socialistas do século XX com foco na China e na URSS. - Complementos . A situação da classe trabalhadora na Inglaterra (Engels): obra que lança os fundamentos do materialismo histórico de forma extremamente viva, possuindo um estilo literário magnífico e muito agradável. Mesmo sendo grande pode ser lida a qualquer momento, figurando aqui apenas por ter como
foco uma situação histórica concreta (a situação dos trabalhadores ingleses diante do capitalismo no século XIX). Marx usará da mesma para escrever O Capital. . Contra-história do liberalismo (Losurdo): grande crítica de Losurdo ao liberalismo, mostrando os limites da sua evolução. É uma obra indispensável, mas, por ser muito grande, pode ser difícil trabalhála em um grupo iniciante.
5. História dos comunistas brasileiros É natural que os militantes busquem saber um pouco mais sobre a história da esquerda nacional, já que isso constitui parte da própria identidade dos mesmos. - Indicações . Combate nas trevas (Gorender): avaliação crítica da luta armada contra a Ditadura Militar, feita por um ex-dirigente do PCBR, o historiador Jacob Gorender. Apesar de o foco ser esse período, fala da experiência comunista no Brasil desde as décadas anteriores. . Brasil: nunca mais (Arquidiocese de São Paulo): um raio-X sobre a Ditadura Militar que possui um estilo extremamente vivo e apaixonante. Faz uma boa apresentação sobre a história da esquerda brasileira em um dos seus capítulos (que pode ser estudado à parte). . Carta aos comunistas (Luiz Carlos Prestes): balanço crítico da posição dos comunistas brasileiros durante o século XX, na qual algumas considerações ainda merecem atenção, mesmo passados 35 anos. - Complementos . O fantasma da revolução brasileira (Marcelo Ridenti): para quem quiser se aprofundar sobre a luta armada contra a Ditadura Militar essa é uma das melhores obras acadêmicas sobre o assunto.
6. Fundamentos teóricos e filosóficos do marxismo - Indicações . As três fontes e as três partes constitutivas do marxismo (Lenin): mesmo já tendo sido lida anteriormente, vale visitá-la de novo antes de se iniciar os estudos sobre os fundamentos da filosofia marxista. . A ideologia alemã (Engels e Marx): obra que costuma ser indicada como “primeiro contato”; posição não compartilhada aqui, já que seus diversos diálogos com polêmicas próprias da época dificultam e tornam chata a leitura. A versão mais publicada, disponível na internet, etc. (geralmente com menos de 100 páginas), é apenas uma parte do livro inteiro, que é muito maior. O livro inteiro só é recomendado para quem estiver realizando um estudo aprofundado do marxismo, já dominando seus aspectos básicos. Mas mesmo essa edição mais típica, reduzida, pode não ser recomendada para um leitor sem ritmo de leitura (de qualquer tipo). . Teses sobre Feuerbach (Marx). . Sobre a prática e a contradição (Mao Tsé-Tung): Dois textos que costumam vir publicados juntos. Excelente obra para aqueles que têm dificuldades em entender a dialética (o que é bem comum). Sendo um ótimo trabalho para se compreender a epistemologia marxista também.
. Prefácio de “Para a crítica economia política” (Marx): é um pequeno texto em que Marx fala como chegou até os estudos da economia política e expõe as concepções básicas do materialismo histórico. É preciso tomar cuidado, pois algumas publicações confundem esse texto com um outro bem mais complexo. ”Introdução à Contribuição para a crítica da economia política”, de caráter metodológico. Por isso, eis o link do que interessa a essa seção: https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/01/prefacio.htm - Complementos . Manuscritos econômico-filosóficos (Marx). . Materialismo histórico e materialismo dialético (Stálin): Serve para consolidar no leitor noções básicas sobre o materialismo histórico, mas deve ser lido e discutido de forma crítica, pois o excessivo esquematismo (de caráter didático) não pode ser internalizado de forma dogmática. É sugerido, levando em conta tais observações, para os casos em que as obras indicadas até aqui não tenham sido capazes de gerar noções claras sobre o materialismo dialético. Caso haja a preocupação com uma leitura dogmática, pode-se recorrer ao estudo (paralelo ou imediatamente posterior) de um trecho dos rascunhos de O Capital, publicado por vezes em separado como “Formações econômicas précapitalistas”. A introdução que Hobsbawm escreve para essa publicação é quase uma obra à parte e é interessante lê-la também.
7. Economia política marxista - Indicações . ”Introdução à “Contribuição para a crítica da economia política” (Marx): texto que mostra a metodologia de Marx, no qual é interessante ser bem compreendido para uma boa leitura de O Capital. Como a citada confusão com outro texto, eis o https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm
link:
. O Capital livro I (Marx): O Capital é uma obra dividida em 4 livros, nas quais apenas o primeiro foi publicado por Marx em vida. Os livros II e III foram editados e publicados por Engels, já o IV possui uma versão editada por Kautsky e outra pela União Soviética. É importante não confundir livro com volume, pois cada um desses quatro livros pode ser publicado em diferentes volumes, o que varia de editora para editora (a mais recente edição brasileira, por exemplo, é da Boitempo – O livro I aparece dividido em volume 1 e volume 2). Apesar de toda mística que envolve a obra, o livro I não é difícil. O próprio Marx o escreveu pensando no operário simples como leitor (tendo cuidado diretamente para que algumas edições fossem vendidas em fascículos para torná-las financeiramente acessíveis, por exemplo). Logo, alguém que inicia seus estudos tem condições de ler e entender o primeiro livro de O Capital (que é o que expõe os conceitos básicos e as lógicas elementares da economia política marxiana). A maior dificuldade é o tamanho da obra e a fixação dos conceitos. Assim, a mesma precisa ser estudada (e não apenas lida) com calma, sem um prazo curto para finalização. Recomenda-se, entretanto, não particionar os estudos dos capítulos. Cada “bloco” de estudos abordando um capítulo em específico é uma boa forma de avançar de forma sólida. Os conceitos que aparecem nos primeiros capítulos são utilizados no resto do livro (e nos demais também), logo, não só se deve avançar apenas quando estes estiverem claros como ainda é importante registrá-los de alguma forma, permitindo uma consulta em momento posterior. Não deve-se ler textos menores de Marx (no que concerne à economia política) achando que estes serão mais fáceis por conta do tamanho. Geralmente é bem o contrário até. Logo, pode-se sim partir para O Capital sem nenhum estudo prévio sobre economia (marxista ou não).
. Imperialismo, etapa superior do capitalismo (Lenin). - Complementos . Salário, preço e lucro (Marx): não substitui a leitura de O Capital e nem é uma “prévia” necessária (como comumente costumam apresentar). . Gênese e estrutura de O Capital (Rudolsky): obra recomendada apenas para os que estiverem aprofundando seus estudos sobre O Capital. . O desenvolvimento do capitalismo na Rússia (Lenin): Lenin aplica de forma criativa os princípios da economia política marxista na compreensão da realidade própria da Rússia. Foi uma das primeiras grandes obras do autor e não é de fácil compreensão. . Capitalismo e agricultura nos Estados Unidos da América (Lenin): Outra obra na qual Lenin aplica de forma criativa a economia política marxista, desenvolvendo noções fundamentais para o entendimento do capitalismo sob a ótica leninista (como o conceito de “via prussiana’). . O programa agrário da social-democracia russa na revolução de 1905-1907 (Lenin): obra quase destruída pelo czarismo e pouco comentada. Faz uma excelente discussão sobre o problema agrário.
8. O materialismo dialético enquanto ciência Aspecto pouco lembrado do marxismo. A falta de sintonia entre os marxistas e o que a ciência acumulou ao longo do século XX é um deficit que precisa ser sanado. Assim, observar o papel das diversas ciências nos estudos de Engels e Marx é um primeiro passo relevante. Indicações . Discurso no funeral de Karl Marx (Engels): Engels ressalta a pluralidade de interesses e de conhecimentos de Marx . Introdução à “Dialética da Natureza” (Engels): aplicação do materialismo dialético às ciências naturais. . Investigação científica do mundo dos espíritos (Engels): Engels refuta, com base em experimentos em laboratório próprio, a existência de supostos espíritos. . O papel do trabalho na transformação do macaco em homem (Engels): apesar de o estudo estar defasado diante dos nossos conhecimentos, seu método e suas premissas são fundamentais, pois mostra a compreensão dialética sobre a interação entre o ser humano biológico e o homem histórico (partindo da relação entre o homem e a natureza através do trabalho). . Materialismo e empiriocriticismo (Lenin): obra em que Lenin atualiza o marxismo diante dos avanços da ciência, sem, no entanto, abdicar do mesmo (como muitos fizeram na época). De todas as obras sugeridas nas mais diversas seções é a mais difícil de ser estudada, necessitando de uma leitura minuciosa e paciente (é grande, cheia de polêmicas já ultrapassadas, cita vários pensadores que hoje são pouco conhecidos e trata de assuntos realmente complexos). As discussões epistemológicas são muito úteis atualmente (inclusive nas polêmicas com o pós-modernismo). . A atualidade de “Materialismo e empiriocriticismo” (Olival Freire): nesse artigo, o físico brasileiro fala um pouco de como tal obra de Lenin pode ser útil hoje até mesmo nas polêmicas mais comuns da Física quântica.
- Complementos . Anti-Duhring (Engels): obra que reúne os ataques de Engels ao pensamento de Duhring, constituindo um grande apanhado das ideias materialistas dialéticas nos mais diversos campos (que foram atacados pelo sr. Duhring). . Cartas sobre o Anti-Duhring (Engels e Marx): coletâneas com as cartas trocadas na época da polêmica com Duhring, mostrando os interesses dos autores nos mais diversos campos das ciências. . Uma introdução à História (Ciro Flamarion Cardoso): O historiador marxista brasileiro fala um pouco sobre a cientificidade da História e do marxismo.
Segunda parte: sugestões temáticas Tipologia baseada na divisão por assunto, não possuindo qualquer intenção de roteiro. Tais obras podem ser estudas de forma intercalada com aquelas presentes na seção anterior (podendo haver uma série de sintonias com um ou outro trabalho). Basicamente são obras fundamentais para o pensamento marxista mas que não são indispensáveis para os outros estudos.
I. O projeto comunista . Crítica ao Programa de Gotha (Marx). . Introdução de “Contribuição à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel” (Marx). . O direito das nações à autodeterminação (Lenin). . O socialismo e o homem em Cuba (Che Guevara).
II. A questão democrática Obras que mostram não só as falácias da ideia de que o capitalismo é democrático como também defende a concepção marxista de democracia diante dos ataques liberais (diretos ou indiretos, como os dos adeptos do eurocomunismo). . Capitalismo contra democracia (Ellen Wood). . Democracia ou bonapartismo (Losurdo). . Teses e relatório sobre a democracia burguesa e a ditadura do proletariado (Lenin). . A revolução proletária e o renegado Kautsky (Lenin). . Contra a canonização da democracia (João Quartim de Moraes). . Discurso no aniversário do ataque ao quartel de Moncada, de 26 de julho de 1965 (Fidel Castro). . Discurso no Encontro mundial de solidariedade à Cuba, de 1994 (Fidel Castro). . Revolução de outubro e democracia no mundo (Losurdo). . Cuba, ditadura ou democracia? (Marta Harnecker). . Cuba, uma autêntica democracia (Anita Prestes).
III. Sobre tática e estratégia . Poder, política e partido (Gramsci): coletânea de textos de Gramsci organizada por Sader (ed. Expressão Popular). É organizada de forma confusa, mas pode ser útil para apresentar alguns conceitos de Gramsci (como guerra de posição x guerra de movimento, hegemonia, etc.). De qualquer forma, sendo ou não através dessa coletânea, é importante conhecer tais conceitos. . Discurso de 8 de setembro de 1872 sobre o Congresso de Haia (Marx): Marx admite casos excepcionais de transição pacífica ao socialismo (depois negados por Lenin, que alega a mudança das condições observadas por seus antecessores).
. Crítica ao Programa de Erfurt (Engels): Engels admite a transição institucional ao socialismo, mas em casos excepcionais, rejeitando tal via para a Alemanha. . Prefácio de “Luta de classes na França” (Engels): Engels faz todo um balanço das táticas violentas de luta de classes, especialmente a luta de barricadas, e termina por apostar na transição institucional ao socialismo na Alemanha. Entretanto, tal obra é cheia de autocensura pelas condições da época e, inicialmente, foi deturpada pela social-democracia alemã, que apresentou Engels como um reformista. É importante ressaltar que apesar de ter apostado nessa via, na própria obra Engels deixa claro a burguesia alemã poderia forçar os operários a tomarem o caminho da violência. . Problemas estratégicos da guerra de guerrilhas contra o Japão (Mao Tsé-Tung). . Armamento das massas revolucionárias. Edificação do exército do povo (Giap). . A guerra de guerrilhas (Che Guevara). . Mini-manual do guerrilheiro urbano (Marighella).
IV.
Sobre os adversários (anarquismo, reformismo, pós-modernismo, etc.).
. Miséria da Filosofia (Marx). . As pretensas cisões na Internacional (Marx e Engels). . Os bakunistas em ação (Engels). . O oportunismo e a falência da II Internacional (Lenin). . Epistemologia pós-moderna (Ciro Flamarion Cardoso). . História e paradigmas rivais (Ciro Flamarion Cardoso): assim como a anterior, critica o pósmodernismo sob a ótica marxista. . Em defesa da História: o marxismo e a agenda pós-moderna (Ellen Wood). . A luta LGBT em Cuba (Mariela Castro): fala um pouco da questão LGBT nos países socialistas e como os mesmos vêm buscando superar suas deficiências (tendo Cuba como foco). Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/tematica/2013/02/09.htm
V. História do Brasil Algumas obras “canônicas” que buscam compreender profundamente o Brasil sob o crivo do materialismo histórico, mas defendendo perspectivas distintas. Livros como “Evolução histórica do Brasil” podem cair muito bem nos primeiros momentos de leitura (durante a seção 2 da primeira parte, por exemplo), pois as únicas potenciais dificuldades para o estudo das mesmas é o fato de não serem textos curtos, mas sim livros de tamanho mediano. . Evolução política do Brasil (Caio Prado Jr.). . História econômica do Brasil (Caio Prado Jr.). . Formação do Brasil contemporâneo (Caio Prado Jr.). . O escravismo colonial (Jacob Gorender).
. Formação Histórica do Brasil (Nelson Werneck Sodré): caso seja de preferência, pode-se substituir por outros trabalhos em que o autor se concentra em períodos específicos, combinando o estudo dos mesmos. . História econômica da América Latina (Ciro Flamarion Cardoso): caso seja de preferência, pode-se substituir por outro trabalho em que o autor discuta a questão do “modo de produção escravista colonial”. . Revolução burguesa no Brasil (Florestan Fernandes). . Dialética da dependência (Rui Mauro Marini). . Evolução histórica do Brasil (Theotonio dos Santos). . Teoria da dependência – balanços e perspectivas (Theotonio dos Santos): uma síntese da teoria da dependência, discutindo mais a mesma do o Brasil em si.