Assinatura Acontecimento Contexto (extraído do Limited Inc)

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JACQUES DERRIDA

ASSINATURA ACONTECIMENTO CONTEXTO

Pa ra nos a termos sempre, com a pre­ ocupação da simplicidade, ao enun­ ciado falado. Austin, How to do things with words.

É certo que à palavra comunicação corresponde um conceito único, unívoco, rigorosam ente dominável e transmissível: Comunicável? Se­ gundo um a estranha figura do discurso, podem os, pois, perguntar-nos de inicio se a palavra ou o significante “com unicação'’ comunica um conteúdo determ inado, um sentido identificável, um valor descritlvel. M as, para articuiar e propor essa questão, é preciso que eu antecipe o sentido da palavra comunicação: devo predeterm inar a comunicação com o o veículo, o transporte ou o lugar de passagem de um sentido e de um sentido único. Se comunicação tivesse m uitos sentidos e tal plurali­ dade não se deixasse reduzir, não seria completam ente justificável definir a com unicação com o a transm issão de um sentido, m esmo supondo que estejam os em condições da nos entender sobre cada uma destas palavras (transm issão, sentido etc). Ora, a palavra comunicação, que nada nos autoriza a negligenciar inicialmente como palavra e a empobrecer como

palavra polissem ica, abre um cam po sem ântico que, precisam ente, não se limita à sem ântica, á sem iótica e m enos ainda à lingüística. Pertence ao campo sem ântico da palavra comunicação, que designa tam bém m ovi­ mentos nào-sem ânticos. A qui, um recurso pelo m enos provisório à linguagem ordinária e aos equívocos da língua natural ensina que se pode, por exem plo, comunicar um movimento ou que um abalo, um choque, um deslocam ento de força pode ser com unicado —entendem os: propagado, transmitido. D iz-se também que lugares diferentes ou distantes podem com unicar-se entre si por tal passagem ou tal abertura. O que se passa então, o que é transm itido, comunicado, não são fenôm enos de sentido ou de significação. Não se trata, nesses casos, nem de um conteúdo sem ân­ tico ou conceituai, nem de uma gravação sem iótica, m enos ainda de uma troca lingüística. Não direm os, contudo, que esse sentido não-sem iódeo da palavra co­ municação, tal como opera na linguagem ordinária, num a ou várias línguas ditas naturais, constitui o sentido próprio ou primitivo e que, em consequência, o sentido sem ântico, sem iótico, ou linguístico correspon­ de a uma derivação, uma extensão ou uma redução, a um deslocam ento metafórico. N ào direm os, com o se poderia ser tentado a fazer, que a comunicação semiolingüfstica intitula-se more meiaphorico “com unica­ ção", porque, por analogia com a com unicação “ física” ou “real", dã passagem, transporta, transm ite alguma coisa, dá acesso a algo. N ão o diremos: 1) porque o valor de sentido próprio parece m ais problem ático do que nunca; 2)^o rq u e o valor de deslocam ento de transporte etc é precisam ente cofentutivo do conceito de m etáfora, pelo qual se pretendia com preender o deslocamento sem ântico que se opera da com unicação com o fenôm eno não-semiolinguístico á com unicação com o fenôm eno sem iolinguístico. (Assinalo aqui entre parênteses que, nesta com unicação» vai se tratar, já se trata do problema da polissem ia e da com unicação, da dissem inação —que oporei à polissemia —e d a com unicação. Num m om ento, um certo conceito de escrita não poderia deixar de intervir, para se transform ar e, talvez, para transferir a problemática.) Parece ser evidente que o campo de^quivocidade)da palavra “com u­ nicação” deixa-se reduzir m aciçam ente aos lim ítesd o que se chama um contexto íe anuncio ainda entre parênteses que se tratará, nesta comuni*

cação, do problem a do contexto e da questão de u b c r o que é o da escrita quanto ao contexto em geral). Por exem plo, num colóquio de filosofia da língua francesa, um contexto convencional, produzido por um a espécie d e consenso im plícito m as estruturalm ente vago, parece prescrever que se proponham “com unicações" sobre a comunicação, com unicações d e form a discursiva, com unicações coloquiais, orais, destinadas a ser esten­ didas e a entabular ou prosseguir diálogo«, no horizonte de unu(m lelizi' B i l id á ^ e de uma verdade do sentido,.de. ta f sorte que un y íco rd o possa finalm ente estabelecer-se. de ditíito . Essas comunicaçoes deve^ riam ater-se ao elem ento de uma língua “natural" determinada, o que se* clinma de francês, que com anda certos usos m uito particulares da palavra comunicação. Principalm ente, o objeto dessas comunicações deveria,; por prioridade ou por privilégio, organizar-se em tom o da com unicação' com o discurso ou, em todo caso, com o significado. Sem esgotar todas as / im plicações e toda a estrutura de um “evento" com o esse, que mereceria/ um a longa análise prelim inar, o requisito que acabo de recordar parece evidente; e, se se duvida disso, bastaria consultar nosso program a para ficar seguro. M as os requisitos de um contexto serão absolutamente determ iná­ veis? T al é, no fundo, a questão m ais geral que gostaria de tentar elaborar. H á um conceito rigoroso e científico do contexto? A noção de contexto^ não abriga, sob um a certa confusão, pré-supostos filosóficos m uito determ inados? Para dizer logo de modo sum ário, gostaria de dem onstrar por que um contexto nunca é absolutamente determinável ou, antes, em que sua determ inação nunca está assegurada ou saturada. Essa nãosaturação estrutural teria com o duplo efeito: 1) m arcar a insuficiência teórica do conceito corrente de contexto (lingüístico ou não-lingüístico) tal com o é admitido em numerosos cam pos de pesqujsa, com todos os conceitos aos quais é sistematicamente associado; 2) lom ar necessários um a certa generalização e um certo deslocam en­ to do conceito de escrita. Este não poderia mais, a partir de então, ser com preendido sob a categoria de comunicação» se a entendemos no sentido restrito de transm issão do sentido. Inversamente, é no campo geral da escrita assim definida que os efeitos de comunicação semântica poderão ser determinados com o efeitos particulares, secundários, inscri­ tos, suplem entares.

Escrita e telecomunicação Sc se aceita a noção de escrita na sua acepção corrente — o que não quer dizer absolutamente inocente, prim itiva ou natural —, i preciso ver nela um meto de comunicação. Deve-se até reconhecer ai um potente meio de com unicação que estende para m uito longe, senão infinitam ente, o campo da comunicação oral ou gestual.*AÍ está uma espécie de evidência banal a respeito da qual o acordo parece fácil. Nào descreverei todos os modos dessa extensão no tem po e no espaço. Em com pensação, deter-m e-ei nesse valor de extensão ao qual acabo de recorrer. D izer que a escrita estende o cam po e os poderes de um a com unicação locutória ou geslual não é pressupor uma espécie de espaço homogêneo da com unica­ ção? O alcance da voz ou do gesto encontraria ai certam ente um lim ite factual, uma borda empírica, na forma do espaço e do tempo; e a escrita viria, ao m esm o tempo, no m esm o espaço, abrir os limites, abrir o mesmo campo a um longo alcance. O sentido, o conteúdo da mensagem sem ân­ tica se ria transmitido, comunicado, por /nW osdiferentes, m edicações tec­ nicam ente mais poderosas, a uma distância m uito m aior, mas num m eio essencialmente contínuo e igual a si m esm o, num elemento hom ogêneo através do qual a unidade, a integridade do sentido não seria essencial­ mente afetada. Toda álecçãçjlaqui seria acidental. O sistema dessa interpretação (que é tam bém de um certo m odo o sistema da interpretação ou, em todo caso, de toda uma interpretação da hermenêutica), embora seja corrente ou enquanto é corrente, com o o bom senso, foi representado em toda a história da filosofia. Diria até que é, no fundo, a interpretação propriamente filosófica da escrita. Tom arei um só exemplo, mas não creio que se possa encontrar em toda-a história da filosofia como tal um só contra-exem plo, uma só análise que contradiga essencialmente a que Condillac propõe, inspirando-se estreitam ente em W arburton, no Ensaio sobre a origem dos conhecimentos humanos .‘ Escolhi este exemplo, porque uma reflexão explícita sobre a origem e a função da escrita (essa explicitação não se acha em toda filosofia, e seria preciso interrogar as condições de sua em ergência ou de sua ocultação) organiza-se aqui num discurso filosófico que, desta vez, com o toda filosofia, pressupõe a sim plicidade da origem , a continuidade de toda derivação, de toda produção, de toda análise, a hom ogeneidade de todas as ordens. A analogia é um conceito m aior no pensam ento de Condillac. Escolho também este exemplo, porque a análise que “retraça" a origem

e a função da escrita é colocada, de modo de é e rti forma não-crítico, sob a autoridade da categoria de comunicação'. Se os hom ens escrevem , é: 1) porque têm algo para com unicar, 2) porque o que lém para com unicar é seu “pensam ento", suas “ idéias", suas representações. O pensam ento representativo precede e comanda a comunicação que transporta a “idéia", o conteúdo significado; 3) porque os hom ens já estão em condições de com unicar e d e se com unicar seu pensam ento quando, de m aneira contínua, inventam este m eio de comunicação que é a escrita. A qui está uma passagem do capítulo XIII da Segunda Parte ("Da linguagem e do m étodo"), Primeira Seção (“Da origem e dos progressos da linguagem ") [A escrita é, pois, um a modalidade da linguagem e marca um progresso contínuo num a comunicação da essência lingüística], parágrafo XIII, “Da escrita": “Os hom ens em condições de comunicarem entre si seus pensam entos por sons sentiram a necessidade de imaginar novos signos próprios para perpetuá-los e tom á-los conhecidos por pessoas ausentes " (sublinho esse valor de ausência, que, interrogado de novos ângulos, correria o risco de introduzir uma certa ruptura na hom ogeneidade do sistem a). D esde que os hom ens já estão em condições de “com unicar seus pensam entos” e de fazê-lo através de sons (o que é, segundo Condillac, uma segunda etapa, vindo a linguagem articulada “suprir" a. linguagem da ação^princfpio ú n ic ^ e n d iç a l de t c ^ linguagem ), o nascim ento e o progresso da escrita seguirão uma linha direta, sim ples e contínua. A história da escrita conform ar-se-á a uma lei da econom iarnecânica: ganhar o máxim o de espaço e de tempo através da abreviação m ais côm oda; esta nunca terá o m esmo efeitosobrea estrutura ejoconteúdo de sentido (idéias)que deverá veicular. O m esm o contèuÜcT antes com unicado por gestos e sõns será doravante transmitido pela escri ta, e sucessivam ente pordiferentes modos de notação, desde a escrita pictográfica até a escrita alfabética, passando pela escrita hieroglífica dos egípcios e a e sc rik ideográfica dos chineses. Condillac acrescenta^ “Então a im aginação só representará as, mesmas imagens que já foram' expressas por ações e por palavras e que tinham, desde o começo, tomado figurada e m etafórica a linguagem. O meio mais natural foi, pois, desenhar as imagens das coisas. Para exprimir a idéia de um homem ou

I.

A Icoría rotisscAuiiiniu d» linguagem c cU cscriu Umbcm 6 propo&ia co«n o noinc geral di comunicação (“Dcs divcrt nvoyciis de conui uuilqocr nos ppisces", titulo do primcl/o Câpílulo do Eisaí sur 1'origltu dcs langues).

de um cavalo, representar-se-i ■ forma de um ou de outro, e o prim eiro ensaio de escrita foi só uma sim ples pintura’*. (Sublinho.) O caráter representativo da com unicação escrita — a escrita com o quadro, reprodução, im itação de seu conteúdo—será o traço invariante de todos os progressos por vir. O conceito de representação é aqui indisso­ ciável dos de comunicação e expressão que sublinhei no texto de Condillac. A representação certam ente com plicar-se-á, dar-se-ão m u­ danças e graus suplem entares, tom ar-se-á representação de representa­ ção nas escritas hieroglíficas, ideográficas, depois fonético-alfabéticas, m as a estrutura representativa que m arca o prim eiro grau da com unicação expressiva, a relação idéia/signo, nunca será suspensa nem transform ada. D escrevendo a história dos tipos de escrita, sua derivação contínua a partir de um radical comum que nunca é deslocadoe procura um a espécie de comunidade de participação analógica entre todas as escritas, C ondil­ lac conclui (é praticam ente uma citação de W arburton com o quase todo este capítulo): “ Eis a história geral da escrita conduzida por um a grada­ ção simples, desde o estado da pintura até o da letra; porque as letras são' os últimos passos que restam por fazer depois das m arcas chinesas que, de um lado, participam da natureza dos hieróglifos egípcios e, de outro, participam das letras, precisam ente com o os hieróglifos participavam igualmente das pinturas m exicanas e dos caracteres chineses. Esses caracteres são (ào próxim os de nossa escrita, que um alfabeto simples­ mente diminui o em baraço de seu núm ero e é seu resumo sucinto". Tendo posto em evidência esse m otivo da redução econôm ica, homo­ gênea e mecânica, retom em os à noção de ausência)que m arquei de passagem no texto de Condillac. C o m õ ê la está af determ inada? 1) Prim eiro, ela é a ausência do destinatário. Escteve-se para com u­ nicar alguma coisa a ausentes. A ausência do em issor, do destinatário, na marca que ele abandona, é cortada dele e continua a produzir efeitos para além de sua presença e da atualidade presente do seu querer dizer, até para além da sua própria vida, essa ausência que pertence, contudo, à estrutura de toda escrita — e, acrescentarei m ais adiante, de toda linguagem em geral —, essa ausência não é interrogada por Condillac. 2) A ausência de que Condillac fala é determ inada da m aneira m ais clássica, como uma m odificação contínua, um a extenuação progressiva da presença. A representação supre regularm ente a presença. M as, articulando todos os momentos da experiência enquanto ela está engajada na significação (“suprir** é um dos conceitos operatórios m ais decisivos

e m ais freqüentes que operam no Ensaio de Condillac1^ essa operação de suplexnenLação é exibida não cõmo ruptura da presença m as cocno reparação e m odificação contínua, hom ogênea, da presença na represen­ tação. N ão posso analisar aqui tudo o que esse çooceíto da ausência coroo m odificação da presença pressupõe, na fílo so fiad e Condillac e alhure*. N otam os aqui som ente que ele regula um outro conceito operatório (oponho aqui classicam ente e por comodidade operatório e temático), tão decisivo, no Ensaio: traçar e retraçar. D o m esm o modo que o conceito de suplência, o conceito de traço poderia ser determinado diversam ente do que Condillac faz. Traçar quer dizer, segundo ele, “exprim ir", “repre­ sentar", “recordar", “tom ar presente" (“é verdadeiramente à necessidade de assim traçar nossos pensam entos que a pintura deve sua origem , e essa necessidade sem dúvida concorreu para conservar a linguagem da ação, com o aquele que se podia mais facilmente pintar"). (“Da escrita",p. 128.) O signo nasce ao m esm o tem po que a imaginação e a m em ória, no m om ento em que c requerido pela ausência do objeto na percepção presente (“A m em ória, com o vimos, consiste apenas no poder de nos recordar os signos de nossas idéias ou as circunstâncias que oe acom pa­ nharam ; e esse poder só tem lugar através da analogia dos signos [Sublinho: o conceito d e analogia, que organiza toda a sistemática de Condillac, assegura, em geral, todas as continuidades e, em particular, a da presença na ausência] que escolhemos e através da ordem que pusem os em nossas idéias, os objetos que queremos retraçar atêm -se a algumas de nossas necessidades presentes") (1, 11, cap. IV, §39). Isso é verdade a respeito de todas as ordens de signos distinguidas por Condillac (arbitrá­ rias, acidentais e até naturais, distinção que Condillac m atiza e , em certos pontos, põe em questão, nas suas “Cartas a Cramer"). A operação filosófica que Condillac chama também de “retraçar" consiste em rem on­ tar, pela via di análise e da decomposição contínua, o m ovim ento de derivação genética que conduz da sensação sim ples e da percepção presente ao edifício com plexo da representação: da presença originária à língua do cálculo mais Formal. Seria fácil m ostrar que, no seu princípio, esse tipo de análise da significação escrita não começa nem acaba em Condillac. Se se diz agora 2.

A lliigiiagrm supre > açáo ou * pcrcrpçlo, > liiigiugem trtkuUdi supre i lingtugan da »çto, i escriu supre s lingu&gan uticuUd* ctc.

que essa análise è "ideológica" não é para nela opor, inicialmente» as noções aos conceitos “científicos" ou para fazer referência ao uso freqüentem ente dogm ático —poder-se-ia dizer tam bém “ideológico** — que se faz da palavra ideologia, tio raram ente investigada hoje na sua possibilidade e na sua história. Se defino com o ideológicas as noções de tipo condi llaciano, é porque, contra o fundo de uma vasta, poderosa e sistem ática tradição filosófica dom inada pela evidência da Idéia {eidos, ideal), elas decom põem o cam po de reflexão dos “ideólogos’' franceses que, na esteira de Condillac, elaboram um a teoria do signo com o representação da idéia que representa a coisa percebida. A com unicação veicula doravante uma representação com o conteúdo ideal (o que se chamará o sentido); c a escrita é um a espécie dessa com unicação geral. Unia espécie; uma comunicação que com porta um a especificidade rela­ tiva no interior de um gênero. Se nos perguntarm os agora qual c, nessa análise, o predicado essen­ cial desta diferença específica, reencontram os a ausência. A ntecipo aqui as duas proposições ou as duas hipóteses seguintes: 1) posto que todo signo, tanto na “linguagem da ação** quanto na linguagem articulada (antes m esm o da intervenção da escrita no sentido clássico), supõe uma certa ausência (por ser determ inada), é preciso que a ausência no cam po da escrita seja de um tipo original, se se quer reconhecer alguma especificidade quanto ao signo escrito; 2) se porventura o predicado assim adm itido para caracterizar a ausência própria da escrila pudesse convir a toda espécie de signo e comunicação, seguir-se-ia um deslocam ento geral: a escrita já não seria uma espécie de com unicação, e todos os conceitos a cuja generalidade subordinar-se-ia a escrita (o próprio conceito com o sentido, idéia ou apreensão do sentido e da idéia, o conceito de com unicação, signo etc) apareceriam com o não-críticos, m alform ados ou destinados, antes, a assegurara autoridade e a força de um certo discurso histórico. Tentem os, pois, continuando a tom ar com o nosso ponto de partida esse discurso clássico, caracterizar essa ausência que parece intervir de maneira especifica no funcionam ento da escrita. Um signo escrito avança na ausência do destinatário* C om o caracte­ rizar essa ausência? Pode-se dizer que no m om ento em que escrevo, o destinatário pode estar ausente de m eu cam po de percepção presente. M as

essa ausência não é comente uma presençadi*tan!e, retardada ou, so b araa^ form a ou outra, idealizada na sua representação? N io parece: ou pelo m enos essa distancia, esse desvio, esse atraso» essa difereaça devem poder ser levados a um certo absoluto da ausência» para que a estrutura da escrita se constitua, supondo-se que a escrita exista. É a{ que a diferença com o escrita não poderia (ser) mais uma m odificação (ontológica) da presença. É preciso, com o se vê, que minha ^comunicação e sc rita ", perm aneça legível, apesar do absoluto desaparecim ento de todo destina­ tário determ inado em geral, para que tenha sua função de escrita, isto é, sua legibilidade. É preciso que seja repctível — iteráveP p na ausência“ absoluta do destinatário ou do conjunto em piricam entêdeterm inávcl dos destinatários. Essa iterabilidade (iier" derechet1viria de itaraToutras m sânscrito» e tudo o que segue pode ser lido com o a exploração da lógica que liga a repetiçIcTà aiteridadeje stru tu ra a m arca da própria escrita. qualquer que seja, aliás, o tipo de escrita (pictográfica, hieroglífica, ideográfica, fonética, alfabética, para nos servirm os dessas velhas cate­ gorias). Uma escrita que nãoseja estruturalmente legível—itera v e l—para além da m orte do destinatário não seria uma escrita. Embora isso seja uma evidência, não quero faze-la ser admitida aqui como tal e examinarei a última objeção que se poderia fazer a essa proposição. Im aginem os uma escrita cujo código seja suficientem ente idiom ático para ser instaurado e conhecido, com o cifra secreta, só por dois “sujeitos**. Dir-se-ia ainda com a m orte do destinatário, ou dos dois parceiros, que a m arca deixada por um deles é ainda uma escrita? Sim, uma vez que, regulada por um código, embora desconhecido e não-lingüísticof é constituída, na sua identidade de m arca, pela sua iterabilidade, na ausência deste ou daquele, logo, no lim ite de todo “sujeito” empiricamente determinado. Isso implica que não h i código ~ or^flno/L_de^terabilidade — que seja estruturalm ente secreto. Ã^^ossibiiidade de re , pois, d tf identificar as m arc are s tá implicada em todo código, faz deste uma grade comunicável, transm is­ sível, decifra vel, iterável por um terceiro, depois para todo usuário possível em geral. Toda escrita deve, pois, para ser o que ela é, poder funcionar na ausência radical de todo destinatário empiricamente deter­ m inado em geral. E essa ausência não é uma m odificação contínua da presença, é uma ruptura da presença, a “m orte" ou a possibilidade da “m orte" do destinatário inscrita na estrutura da marca (é neste ponto, noto de passagem , que o valor ou o “efeito” de transcendentalidade se liga necessariam ente à possibilidade da escrita e da “m orte" assim analisa-

das)^Coriseqüencia talvezparadoxal d o recurso que faço neste m om ento á iteraçãoye ao código: a disi^u^ãjb, em últim a análise, da autoridade do código com o sistem a finito de regras; a destruição radical, ao m esm o tem po, de todo contexto com o protocolo de código. R etom arem os num instante a isso. O que vale para o destinatário vale tam bém pelas m esm as razões, para o em issor ou o produtor. Escrever è produzir uma m arca que constituirá um a espécie de máquina, produtora, por sua vez, que m eu futuro desaparecim ento não im pedirá, em princfpio de funcionar e de dar, dar-se a ler e a reescrever. Q uando digo “m eu futuro desaparecim ento”, é para tom ar essa proposição m ais imediatamente aceitável. D evo poder dizer apenas meu desaparecim ento, m inha não-presença em geral e, por exem plo, a não-presença de m eu querer-dizer, de m inha intenção-de-signillcação, de meu querer-com unicar-isto, â em issão ou à produção da m arca. Para que um escrito seja um escrito, e preciso que continue a “agir” e ser legível m esmo que o que se chama de o autor do escrito não responda m ais pelo que escreveu, pelo que parece ter assinado» qu er esteja provisoriam ente ausente, quer esteja m orto ou em geral não tenha sustentado, com sua intenção ou atenção absolutam ente atual e presente, com a plenitude de seu querer-dizer, aquilo m esm o que parece ter-se escrito “em seu nom e” Poder-se-ia refazer aqui a análise esboçada há pouco do ponto de vista do destinatário. A situação do escritor e do subescritor é f quanto ao escrito, fundamentalmente a m esm a do leitor. Essa derivação essencial referente à escrita como estrutura iterativa, cortada de toda responsabilidade absoluta da consciência com o a autoridade de últim a instancia, órfa e separada desde o seu nascim ento da assistência d e seu pai, é bem o que Platão condenava no Fedro . Se o gesto d e Platão é, com o creio, o m ovim ento filosófico por excelência, pode-se m edir aqui o desafio que nos ocupa. Antes de precisar as conseqüências inevitáveis desses traços nuclea­ res de toda escrita (a saber: 1) a ruptura com o horizonte da com unicação como comunicação de consciências ou das presenças e com o transporte lingüístico ou sem ântico do querer dizer; 2) a subtração de toda escrita ao hori zonte semântico ou ao horizonte herm enêutico que, pelo m enos com o horizonte de sentido, deixa-se invadir pela escrita; 3) a necessidade de afastar%de algum m odo, do conceito de polissem ia o que cham ei alhures de disseminação, o qual é tam bém o conceito de escrita; 4) a desqualifí-

cação ou o lim ite do conceito do contexto, “real'* ou ‘‘lingüístico'', cuja escrita tom a a determ inação teóricaou a saturação em pírica im possível ou insuficiente, a rigor), gostaria de dem onstrar que o s traços que podem ser reconhecidos no conceito clássico e estreitam ente definido d e escrita são generalizáveis. Valeriam não somente para todas as ordens de “signos” e para todas as línguas em geral m as até, para além da com uni­ cação sem iolingüística, para todo o cam po daquilo que a filosofia cliamaria de experiência ou experiência do sen a dita ‘‘presença**. Quais são, com efeito, os predicados essenciais, n uma determ inação m inim a do conceito clássico de escrita? 1) U m signo escrito, no sentido corrente dessa palavra, é pois uma marca que perm anece, que não se esgota no presente de sua inscrição e pode d ar lugar a uma iteração na ausência e além da presença do sujeito em piricam ente determ inado que a emitiu ou produziu, num dado contex­ to. É por isso que, ao m enos tradicionalmente, distingue-se entre “com u­ nicação escrita” e “com unicação falada". 2) A o m esm o tem po, um signo escrito comporta um a força de ruptura com seu contexto, isto é, o conjunto das presenças que organizaram o m om ento de sua inscrição. Essa força de ruptura é não um predicado acidental m as a própria estrutura do escrito. Se se trata do contexto dito “real", o que acabo de dizer é bastante evidente. Fazem parte desse pretenso contexto real um certo “presente" da inscrição, a presença do escritor naquilo que escreveu, o meio e o horizonte de sua experiência e principalm ente a intenção, o querer-dizer, que, num m om ento dado, anim aria sua inscrição. Cabe ao signo ser, de direito, legível, m esm o que o m om ento de sua produção esteja irremediavelmente perdido e m esm o q ueeu não saiba o que seu pretenso autor-escritor quis dizer em consciên­ cia e na intenção, no m om ento em que o escreveu, isto é, o abandonou à sua deriva essencial. Tratando-se agora do contexto sem iótico e interno, a força de rupturá não é menor: em virtude de sua iterabilidade essencial, pode-se sem pre realçar um sintagm a escrito fora do encadeam ento no qual é tom ado, ou dado, sem fazê-lo perder toda possibilidade de funcionam ento, senão toda possibilidade de ‘comunicação*, precisam en­ te. Pode-se eventualm ente reconhecer outros, inscrevendo-o ou enxertando-oem outras cadeias. Nenhum contexto pode encerrar-se sobre ele. Nem código nenhum, o código sendo aqui ao m esm o tempo a possibili­ dade e a impossibilidade de escrita, de sua iterabilidade essencial (repetição/alteridade).

3) Essa força de ruptura refere-se ao espaçam ento.que constitui o signo escrito: espaçam ento que o separa dos outros elem entos da cadeia contextuai interna (possibilidade sem pre aberta de sua extração e de seu grafar) m as tam bém de todas as form as de referente presente (passado ou vindouro, na forma modificada do presente passado ou por vir), objetivo ou subjetivo. Esse espaçam ento é não a sim ples negatividade de uma lacuna m as o surgim ento da m arca. N ão perm anece, contudo, com o trabalho do negativo a serviço do sentido, do conceito vivo, do ielos, ressaltável e redutível no Aujliebung de um a dialética. Esses três predicados, com todo o sistem a que se acrescenta ai, são reservados, com o freqüentem ente s e crê, à com unicação “escrita”, no sentido estrito dessa palavra? N ão o s encontram os em totla linguagem , por exemplo, na linguagem falada e, afinal, na totalidade da “experiên­ cia", enquanto esta não se separa desse cam po da m arca, isto é, na grelha do apagar e da diferença, de unidade, de iterabilidade, de unidades sepa­ ráveis de seu contexto interno ou externo e separáveis de si m esm as, enquanto a própria iterabilidade que constitui sua identidade não lhes perm ite nunca ser uma unidade da identidade consigo? Consideram os não importa qual elem ento da linguagem falada, pequena ou grande unidade. Prim eira condição para que funcione: sua localização quanto a um certo código; m as prefiro não envolver aqui excessivam ente esse conceito de código, que não m e parece certo; digamos que um a certa identidade consigo desse elem ento (m arca, signo etc) deve perm itir seu reconhecim ento e repetição. A través das variações em píricas do tom , da voz etc), eventualm ente de um a certa acentuação, por exemplo, é preciso poder reconhecer a identidade, digam os, de uma forma significante. P orque essa identidade é paradoxalm ente a divisão ou a dissociação consigo que vai fazer desse signo fônico um grafem a? É porque essa unidade da forma significante só se constitui pela sua iterabilidade, pela possibilidade de ser repetida na ausência, não apenas de seu “referente", o que é evidente, m as na ausência de um significado determinado ou da intenção de significação atual, com o de toda intenção de comunicação presente. Essa possibilidade estrutural de ser cortada do referente ou do significado (logo, da com unicação e seu contexto) pareceme fazer de toda m arca, m esm o oral, um grafem a em geral, isto é, como vimos, a restáncia nâo-presente de um a m arca diferencial cortada de sua pretensa “produção" ou origem. E eu estenderia m esm o essa lei a toda

“experiência” em geral, se for asaente que não h i experiência dc pura p resença m as somente cadeias de m arcas diferenciai». Detenhamo-noa um pouco neste ponto e voltem os a esta ausência do referente e m esmo do sentido significado, logo, da intenção de significa­ ção correlativa. A ausência do referente é um a possibilidade bastante facilm ente admitida hoje. Essa possibilidade nâo.ésom ente uma eventua­ lidade em pírica. Ela constrói a marca; e a presença eventual do referente, no m om ento em que está designado, não m uda nada na estrutura de uma m arca que implica que possa deixa-lo de lado. H usserl, no seu Investiga­ ções lógicas, analisou rigorosamente essa possibilidade. Esta é dupla: 1. Um enunciado cujo objeto não é impossível m as somente possível pode bem ser proferido e entendido sem que seu objeto real (seu referente) esteja presente, seja para quem produz o enunciado, seja para quem o recebe. Se digo, olhando pela janela: “O céu é azul”, esse enunciado será inteligível (digamos provisoriam ente, se quiserem, com unicável) m esm o que o interlocutor não veja o céu; m esm o que eu não o veja por m im , que o veja mal, que me engane ou queira enganar meu interlocutor. Não que seja sempre assim; m as pertence à estrutura dc possibilidade desse enunciado poder ser form ado e poder funcionar com o referência vazia ou cortada de seu referente. Sem essa possibilidade, que é tam bém a iterabilidade geral, geradora e generalizadora de toda m arca, não existiria enunciado. 2. A ausência do significado. Husserl tam bém a analisa. Ele a julga sem pre possível, m esm o que, segundo a axiologia)e a teleologla)que com andam sua análise, julgue essa possibilidade inferior, perigosa ou “crítica": ela abre o fenômeno de crise no sentido. Essa ausência do sentido pode dispor-se segundo três form as: A) Posso m anejar símbolos sem anim á-los, de m odo ativo e atual, com atenção e intençãode significação (crise do sim bolism o matemático, segundo Husserl). Husserl insiste bastante no fatode que isso não impede o signo de funcionar: a crise ou a vacuidade do sentido matemático não limita seu progresso técnico (a intervenção da escrita é decisiva aqui, como o próprio Husserl nota Na origem da geometria). B) Certos enunciados podem ter um sentido quando são privados de significação objetiva. “O círculo é quadrado” é uma proposição provida de sentido. Tem sentido suficiente para qüe eu possa considerar falsa ou

contraditória (widerslnning e n io slnnlos, d iz H usserl). C o lo c o esse exem plo sob a categoria da ausência d e sig n ificad o , em bora aqui a tripartição significante/significado/referente n ão seja pertin en te para dar conta da análise husserliana. "C írculo quadrado” m arca a au sência de um referente, certam ente, a ausência tam bém d e u m certo sig n ific a d o , m as não a ausência de sentido. N esses d o is casos, a c rise d o sen tid o (nãopresença em geral, ausência com o ausência d o referente — da percepção i — ou do sentido - da intenção d e significação atu al) e s ti sem pre ligada à possibilidade essencial da escrita; e essa crise n i o è um acidente, um a anom alia factual e em pírica da linguagem falada, ela é tam bém a sua possibilidade positiva e a estrutura “interna", so b um certo exterior. C) H i, enfim , o que H usserl cham a de Sinnlosigkeit, ou agram aticalidade. P o r exem plo, “O v erde é o u " ou “abracadabra". N esses últim os casos, H usserl considera, na sua opinião, que não há m ais linguagem pelo m enos não m ais linguagem "lógica*, não m ais linguagem de conheci­ m ento tal com o H usserl a com preende de m o d o teleológico; n ão m ais linguagem entregue à possibjlidade da intuição d e objetos dados e p resen ­ tes e significados, na verdade. E stam os aqui d ian te de um a dificuldade decisiva. A ntes de m e d e te r nisso, assinalo, co m o u m ponto qué tange ao nosso debate sobre a com unicação, que o p rim eiro interesse da análise husserliana à qual m e refiro aqui (extraindo-a p recisam ente, até u m certo ponto, de seu contexto o u de seu horizonte teleológico e m etafísico, operação da qual devem os nos perguntar com o e por que é ,sempre possível) é pretender e, parece-m e, chegar a d isso ciar, de u m certo m odo, rigorosam ente, a análise do signo ou da ex pressão (Ausdruck) com o signo significante, querendo d iz e r ( bedeutsame Zeichen), d e to d o fenôm eno de com unicação3. Retom em os o caso d a Sinnlosigkeit agram atica!. O q u e interessa a H usserl nas Investigações lógicas é o sistem a de reg ras de um a gram ática universal não de um ponto de vista lingüístico, m as de um ponto d e vista

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“Até Aqui, consideramos as expressões o« funçlo comunicativa. Etla repousa essencialmente

do falo de que as expressões operam como tndiccs. M is um gnndè papel também está assinalado às expressões na vida da alma enquanto ela oio esti engajada numa rclaçâo dc co­ municação. É claro que essa modificação dc funçio nio tange ao que faz com que m s expressões sejam expressões. Tém, como anlea» seu* Bedeutungen o o« mesmos Bedeutungen que na coiocuçào" (Recherchesloglques, I.cip. 1,(8). O que antecipo aqui Implica a Interpnclaçioquo propus do procedimento husscríiano a rctpcilo desie ponto. Pcnnito-mc, polspremetera La volx et U ph/nomJn*.

lógico e epistem ológico. N um * nota im portante da segunda e d íç io 4, d e esclarece que se trata exatam ente aqui, a seu« olboc, de gramática p a ra lógica, isto é, das condições universais d e possibilidade d e orna m orfo­ logia das significações, na sua relação d e conhecim ento com u m objeto possível, não de uma gram ática pura em geral, c o o ú d e n d a d e n a pom o de vista psicológico ou lingüístico. É , pois, som ente m im c c a te z to determ inado por um a vontade d e saber, p o r um a intênçaoeptstêm ica, p o r um a relação consciente com o objeto com o objeto d e conhecim ento m nn horizonte de verdade, é nesse cam po contextuai orientado q u e **o verde é ou” é inaceitável. M as, com o “o verde é ou " ou “abracadabra“ não constituem seu contexto em si m esm os, nada im pede que funcionem num outro contexto a título de m arca significativa (ou índice, diria H usserl). N ã o som ente no caso c c ^ n g â j t e em que, pela tradução do alem ão para o francês, “o verde é ou” poderia encarregar-se d e gram aticalidade, ou (oder) tom ando-se para a audição oú [onde] (m arca de lugar)*: “ O nde está o verde (da grama: o verde está onde?)", “ O nde está o copo n o qual eu queria lhe dar de beber?”. M as, m esm o "o verde é ou " (the green is either) significa ainda exemplo de agramaticalidade. É nessa possibili­ dade que gostaria de insistir: possibilidade d e destaque e de enxerto. citacional que.,pertence à estrutura de, toda m arca, falada o u escrita, e constitui toda m arca com o escrita, antes m esm o e fora de todo horizonte de com unicação semiqlingüísüca;_na escrita, isto é , na possibilidade d e funcionam ento cortado, num certo ponto, de seu querer-dizer “o riginal" e sua pertinência a um contexto saturável e im positivo. T odo signo, linguistico ou nào-lingüistico, falado ou escrito (no sentido corrente dessa oposição), em pequena ou grande escala, pode s e r citado, posto entre aspas; por isso ele pode rom per com todo contexto dado, engendrar ao infinito novos contextos, de m odo absolutam ente não-saturável. Isso supõe não que a m arca valha fora do contexto m as, a o contrário, que só

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Na prime In ediçio, falei de “granutic* pura”, ooroe que foi coocebJdo por uuüogU coca *• clétxrU pura da natuicza" cm Ktní c expressamente designado com taJ. Mas, unoa vez qus dAo pode ser absotuüunente iflrm idoquca morfologia puxa doc BtdtkHtngen engloba todo apfiori grunaücal na saa universalidade, porto, por exemplo, que as tdaçúca de comunlcaçfto entro sujeitos psíquicos tio Importantes para a granuítka comportam um apriori próprio, a exprescio grantàtica pura lógica merece a prcícréncla...’*{Recherches togiques, t.2» parte 2,cap.I V, tr. fir. Elie, Kelkcl, Schcirr, p.l3