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Portuguese Pages 166 [180] Year 1985
A MUSICA NAS IRMANDADES DA VILA DE SÃO JOSÉ E O CAPITAO MANOEL DIAS DE OLIVEIRA
FLÃVIA CAMARGO TONI
'
Dissertação Apresentada à
Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo +
%
Como Requisito Parcial à Obtenção do
Título de Mestre em Artes
Orientador: Prof. Dr.Egon Schaden
Abril, 1985
íO 1 s
BANCA EXAMINADORA
Presidente
Aos
amigos
da
cidade de Tiradentes: Irmã Marina
Domas, Eriledes Nascimento, Olyntho Santos Filho, D.Maria e Laurito. Agradecimentos especiais ao Maestro Adhemar Campos Filho. Aos professores Silvio
Crespo,
Willy
Corrêa
de
Oliveira, Amilcar Zani e Heloisa Zani. Ao
meu
orientador,
Dr.Egon
Schaden,
pela
queridíssimos,
pela
dedicação. Aos
meus
pais
e
irmãos
paciência e pela amizade. Ao
Luca,
por
quem minha paixão se renova a cada
dia. E em memória de meu avô, Oscar Toni,
que
mostrou
quanto é bom o sabor de uma grande aventura.
Pesquisa
financiada
pela
bolsa de pós-graduação
para mestrado, da CAPES, durante os anos de 1981 e 1982.
o o
PE JOSÉ MAWA XAVIEft
ÍNDICE
Página A Musica na VilIa de São José Capítulo 1.
A MÚSICA NUMA SOCIEDADE MINERADORA 0 significado das Irmandades para a cultura mineira do século XVIII Manoel Dias de Oliveira: um Capitão Mulato 0 Arquivo da Paroquia de Tiradentes
2.
A MOSICA NAS IRMANDADES DA VILA DE SAO JOSÉ E 0 CAPITftO MANOEL DIAS DE OLIVEIRA Irmandade de São Miguel e Almas Estatuto Gastos com a música Irmandade de Nossa Senhora das Mercês Estatuto Irmãos músicos Irmandade de Nossa Senhora da Piedade e Caridade Gastos com a música Irmãos músicos Irmandade de Nosso Senhor dos Passos Estatuto Gastos com a música Irmãos músicos Irmandade do Bom Jesus do Descendimento Gastos ccm a música Músicos e artesãos Irmãos músicos Irmandade de São João Evangelista Irmãos músicos Irmandade do Santíssimo Sacramento Organização e funcionamento Gastos com a música Os artistas contratados A Música nas Irmandades: riqueza e decadência 0 papel da música nas Irmandades
3.
22-24
25-27
27-30
30-35
35-37
37- 38 38- 43
43-46 46-50
0 CAPITAO MANOEL DIAS DE OLIVEIRA Como se fosse uma biografia 0 artífice 0 repertório A obra
4.
9-14 14-18 18-21
CONSIDERAÇÕES PINAIS
51-55 55-57 57-66 66-71 72-74
O
INTRODUÇÃO
A MOSICA na vila DE SÃO JOSÉ
E)n
1702
João
de
Siqueira
Afonso e Tomé Portes d’el Rei
aram lavras de ouro numa região do Campo Gerais ,
Vertentes,
Minas
que ficou conhecida como Arraial de Santo Antônio da Ponta do
Morro.
Oito
anos
arn-se
Matriz
de
depois,
para
Santo
manufatur
dos
as
iniciar
Antônio, altares
moravam
que
pessoas
lugar
no
a
a construção de sua e
em
contrataram madeira.
diversas Irmandades que formaram-se ficou
das
pronta muitos anos
vários
artesãos
no
so
vilarejo,
mudaram-se para o
tarde. Várias
arraial que a 19 de janeiro de 1718 mereceu ser elevado à condição vila,
a
Vila
de
São
a
retábulos das
A igreja, com
posteriormente
para
de
José dei Rei. So depois da República a cidade
passou a chamar-se Tiradentes. 0 ouro foi abundante na vila até cerca população pode organizarA
de
1750.
to mando-se autônoma
vida espiritual dos cidadãos começou
Assim,
da Capitania
regrada pelas Irmandades
a que se associavam, mas, hoje em dia, é difícil precisarmos deu
estratificação
das
a
pessoas
em
como
associações
distintas, cada uma com seu santo padroeiro. Em 70 anos a Comarca
do
Rio
população
0
1776, que
a
catholicas".
paiz,
de
ter
desembargador população Relatou
de
forma
Rio que de
que
São
Jose
também
toda a capitania em do
cidade
das Mortes, uma das quatro
Minas Gerais, passou a economico
da
João
João das
posteriormente
e
e
a
São
José
cano
centro
Teixeira Coelho calculou, em
Mortes
era
de
82.781
" almas
Ccmarca era "a mais abundante de hortaliça e fructos
alem da própria sus
ordinários
prove a toda a c.
M
(D
Estatísticas ao dado fornecido pelo desembargador estimaram
que a população de Sao Jose oscilou entre
1)
bastante
compunham a Capitania
capitania de queijos, gados, carnes de porco & feitas
cresceu
3.000 e 4.000
habitantes
J.Joao Teixeira Coelho, Instrução para o Governo da Capitania de Minas Gerais, Rev.do Inst. Hist. e Geo sragil, n.7, 1852, p.278.
V,
lurante aquele século,so perdendo em numero para Sao João dei Rei (2). Desde o Lnlcio a população teve para
neeossc iria
1nfra-esirutura
se
que
viver,
pois
armar
de
toda
a
quando se fundava uma
povoação no Brasil, a Metrópole nao ajudava em nada e so se preocupava com
a arrecadação de impostos- Conforme relatou o Padre
Cordeiro,
Manuel
petição de 1713> site mesmo a ereção de uma igreja era
numa
pelos fiéis (3). Tivemos oportunidade de ler a da
construção
dos
era
de
algumas Irmandades, registrada nos
Paróquia
de
Tiradentes.
recolhido
ajudou
entre
os
irmãos
ornamentos. A Coroa
imagens, na
construção
que
0
dinheiro
para
Portuguesa,
no
Brasil,
As irmandades é
fl«.Qi.«t*hPnnla securitária anos suas mortes
seus irmãos
dp
so
da Sé da cidade de Salvador (4) e, nas cidades
mandavam construir cemitérios para seus fiéis e muitas proviam viuvas
as
pagavam os entalhes.
para si quase nenhum
meno re s, nao
história
retábulos
Livros do Arquivo da despesas
Braz
as m i
pagavam as despesas dos funerais. Durante o século XVIII a Vila de São José sete
Irmandades:
João
Evangelista,
Caridade demais
de
Nossa
Nossa
de
pelo
menos
São Miguel e Almas, Bom Jesus do Descendimento, São
Irmandades
Confraria
teve
Senhora
Senhora a
Nossa
Rosário Senhora
da
das
Piedade
dos das
Mercês,
dos
Passos,
e Santíssimo Sacramento- As
Pretos, Dores
Senhor
-
Santíssima só
são
Trindade
e
conhecidas pela
documentação remanescente do século XIX. Mesmo as primeiras Irmandades a que nos referimos não têm mais suas histórias completas, pois muitos de seus livros foram comidos pelos insetos, queimados ou perdidos. Como veremos adiante, nos livros que registravam a receita e a
despesa
das
Irmandades,
encontramos
dados
valiosos
sobre
a
contratação dos artistas que trabalharam para elas. Para
a Musicologia, no sentido mais amplo de seu interesse.
2) V. dados estatísticos sobre a população da frega. de Sto. Anto. da Va. de S.José..., Rev. do Arq. Pub. Mineiro, B.H., VIII, Fases. I. e II, 1903, p. 623 e Memórias Municipais de São José dfel-Rey, Ibid, B.H., A. II, Fase. I, 1897, p.51. 3) Ver a esse respeito Conego Raimundo Trindade, Instituições de Igrejas no Bispado de Mariana, Rio de Janeiro, 1945, p. 139-140. 4) R.Duprat, a Música na Bahia colonial, Rev.de História, S.P., 1965, p.96.
n.6l,
qual seja, a existência de qualquer musicais,
a
quantidade
de
tipo
de
informações
um
isso,
optamos
posteriormente
analisarmos
ainda é muito conhecida nas Gerais,
criay
por
fazer
estudo sobre o ambiente musical em que floresceu o gênio
de Manoel Dias de Oliveira, o maior expoente musical para
ou
sobre a Vila de .iao José no
século XVIII é bastante significativa. Por primeiro
atividade
continua
a
ser
a
sua
corporações executada,
daquela
região,
obra. Esta, que hoje ern dia musicais
como
em
do
sul
de
Minas
sua época, nas varias
festividades da Semana Santa. 0 estilo de compor de Dias
de
Oliveira
favoreceu bastante a própria popularidade, pois sua escrita é de fácil execução e grande beleza. Isto
posto,
devemos
considerar
trabalhos
anteriores,
relativos aos principais pontos a serem abordados neste estudo.
CAPITULO 1
A MÜSICA NUMA SOCIEDADE MINERADORA
A
música
jesuítas desde o portuguesa.
foi
início
Curt
Lange
vista da
cano
uma
colonização
acredita
que
força das
o
catequisadora pelos
Américas
clero
espanhola
tenha-se
envolvido
diretamente ccm o ensino e prática da música, pelo menos durante séculos,
pois
sua
da
música
pesquisadora
espanhola,
acredita
musicistas, tenham-se utilizado canto
gregoriano,
bastante
Livermore, que de
os seus
estudando
jesuítas,
e
as
hábeis
conhecimentos
de
cravo e instrumentos de cordas cano canplemento na
catequisação e conversão dos nativos (6). Para Brizzola, mercedários
dois
presença ainda é bem notada na Capitania de Minas
Gerais no século XVIII (5)- A origens
e
carmelitas
influenciou
a
açao
dos
enormemente o desenvolvimento
musical do Brasil colônia (7)- 0 autor assinala que, na Bahia, Nóbrega fundou um curso de música em 1549 6? dois anos mais tarde, em 1551* os
jesuítas ensinaram música em Pernambuco. Os padres,
que
participaram
da reconquista do Maranhao, em l6l4, levaram alguns músicos. 0
emprego
da
música
para
a
conversão dos ameríndios ao
catolicismo foi bastante enfatizado pela Igreja durante o Concílio Trento.
Observando
que
a
reforma
popularização dos salmos e cânticos,
luterana a
usava
Igreja
de
a musica para a
católica
propôs,
no
Concílio, que se desse uma atenção especial à música durante os cultos
(8). Cano
demonstraremos
ainda,
em
atividades musicais patrocinadas pelas
Tiradentes,
Irmandades,
no início das
houve
um
muito grande de padres remunerados ou por terem cantado nos
5) P. Curt Lange, Seminário colonial, B.H., 1979* p*29-
sobre
a
cultura
mineira
número ofícios.
do
período
#
.
‘
6) A.Livermore, História de la Musica Espafiola, 1974, p.357. 7) C.Monteiro Brizzola, Música do Brasile Colonial, Rev.do GeoR.Guarujá-Bertioga, n.4, 1971, pp.38-39* 8) H.Raynor, História Social da Música, 1981, p.150.
Inst.Hist.
at (
ocorreu
I s t ;o
Mes tr es- cai >ela • padre Laurlano Antonlo do o meados do século XVIII. Anos depois, associações na Sacramento assumiu as funções de músico principal de í3 a seu respeito, extra religiosas. Convém citarmos alguns dados
ou por terem exercido a função de
t
’
>
relatos antigos. Bn abril Municipais"
de
seguinte: ”Ha Lauriano
de
Sao
Jose,
outra
do
Padre
conta que a
redigidas
quando item no
escolla
foram referente à Educação constava o cujo
particular,
Mestre
he
Padre
e seus paes pagão ao Mestre" (9)
bem Lauriano
população
o
e alguns
Sacramento que tem quarenta discípulo
Antonio
aqui se aplicam t escola
1826,
nMemórias
as
era
da
A
relativamente grande, se levarmos em
vila
foi
estimada,
na
epoca.
em
1193
e habitantes. Dois anos mais tarde o inglês R.Walsh visitou a região Eles ( 10 ). fez uma série de comentários a respeito deste padre demonstram,
com
boa dose de ironia por parte do viajante, a situação
Walsh não cita nominalmente o padre tratar-se na
Lauriano,
mas
um
simplicidade
padre e
de
mulato, vida
Mais
adiante,
"pessoa
muito
músico que fez considerável
de
remarcável
probidade
e
pura" que contavam ser "um excelente
progresso relata
que
na
teoria
devido
à
e
na
sua
prática
da
"habilidade em
música", o padre mulato era também o organista da Matriz. em
sabemos
dele porque em uma das passagens o viajante disse que havia
cidade
música".
de Oliveira.
Manoel
musical do lugar, 15 anos após
Ocorre
que
1828 quem trabalhava como organista era Lauriano. No mesmo trecho,
Walsh conta que foi executadas
ouvi-lo
tocar
durante
as
missa
onde
foram
algumas "country dances", que o padre tinha recebido de um
amigo morador no Rio de Janeiro. Como nao sabia tocava
uma
ditas
peças
durante
o
serviço
do
que
se
religioso
espanto, o cronista ouviu a "Marcha do Duque de York"
e
tratava,
e, para seu "Go
to
old
Nick and shake yourself". Pelo comentário feito em seguida, parece que ao
contar
para
o
padre
que
ele
estava executando música profana
durante o culto, este teria replicado que não entendia
porque
é
que
Satã deveria monopolizar toda a boa música. No dia seguinte, Walsh foi
9) Memórias Municipais de São José (...), Rev.do Arq.Pub Min A.II, Fase.I, 1897, p.50. ~ -!10) Rev. R.Walsh, Notices of Brazil in 1828 and 1829. vol.l, p.95-98. ~~ ~ ‘ ■’
hnnHr^o
a uma reunião na casa de um tal
Mr.Reye
onde
observou
cidade
havia
que
naquela
pequena
capacitadas em musica" e esta era
uma
arte
ouviu "um em
um
concerto
e
numero de pessoas
que
os
brasileiros
geralmente mostravam "sentimento e habilidade". A banda tinha entre 10 e 12 pessoas, todos pretos e mulatos, tocando clarinetes e trompas. Lá estava (^0
o padre, "cotio líder", tocando i lauta. 0 cronista teve ocasido
escutar o hino nacional onde se destacaram as participações
de
um
ê
coronel e de um capitao fazendo duetos. Este
relato
interessa—nos bastante porque sugere uma serie
de suposições que fazemos a respeito da vida
musical
em
Tiradentes,
além de corroborar algumas conclusões a que chegaremos no final deste. Tanto
Manoel
Dias quanto Lauriano foram professores de musica e eram
mulatos; no conjunto regido por Lauriano havia dois militares, mulatos, e o nosso Como
já
também
músico foi Capitão. dissemos, a historia da música ocidental no Brasil
começou com os jesuítas durante a fase da catequisaçao dos ameríndios. Num
segundo momento, quando os portugueses organizaram
populacionais,
seus
núcleos
a música, como outros ofícios manuais, foi levada para
dentro das Igrejas pelas Irmandades. Com a fundação da Vila de Sao Jose vários artesaos ocorreram ao local em busca de trabalho. J.Martins trabalharam
nesta
cidade
entre
1730
registrou e
58
artesaos
que
o início do século XIX; 12
destes registros indicam a procedência dos indivíduos: 10 de Braga, um de Angra e outro de Lisboa. Estes homens eram ferreiros, carpinteiros, pedreiros, entalhadores e ourives (11). Ccmo eles, e possível
que
os
primeiros músicos da vila também fossem portugueses, recém-chegados de Portugal ou migrados de outros pontos do Brasil. Lange (12), falando a respeito
do
deslocamento
de aventureiros para as regiões auríferas,
afirma que os músicos que foram para as Gerais devem ter sido
pessoas
profissionalmente capazes. Desta forma, a partir de um certo número de profissionais, outras gerações.
os
vários
ofícios artesanais foram ensinados para as
Foi o que ocorreu, por exemplo, com o escultor
A.
11) J.Martins, Dicionário de Artistas e Artífices dos sécs.XVIII e XIX, R.J., 1974, 2 vols. A respeito da imigração portuguesa, v.tb. FlTeixeira de Salles, Vila Rica do Pilar, 1965, P-90. 12) F.Curt Lange, Seminário sobre a cultura mineira (...), B.H., 1979,
p.36.
Francisco pai
Lisboa,
o
Aleijadinho, que
com o aprendeu a sua profissão
português, Manuel Francisco Lisboa. Pouco se sabe a respeito
do
ensino
da
musica
no
Brasil em dia.
séculos da colonização. Este estudo durante os primeiros das obras compostas ja deve ser feito com base nas análises amparar o musicologo podem XVIII. Os dados histéricos no Lange Francisco nesta tarefa começaram a ser divulgados respeito das manifestações autor dos primeiros estudos a
musicais
no
Brasil Colônia. Lange não trabalhou demoradamente em Tiradentes, razao pela
qual
não
Manoel Dias de Oliveira,
levantou dados a respeito
mas conheceu três de suas obras, colecionadas por Manoel
Jose
Gomes,
arquivadas no Centro de Ciências Letras e Artes de Campinas
que (13)
As composições de Manoel Dias ainda têm lugar importante nas celebrações
religiosas
do
suas obras são ouvidas Procissão
do
no
Encontro,
sul
de Minas; em Prados, por exemplo, a^
Depósito
Depósito
de
Passos,
Domingo
nas
comemorações
nascido
São
João
acreditavam
que
são
Manoel
músicos da
Dias
tivesse
em Tirandentes em meados do século XVIII, hipótese confirmada
em 1978 quando uma equipe de pesquisadores Universidade
Católica
a
serviço
peito11
a
19
da
Pontifícia
do Rio de Janeiro (14) encontrou o atestado de
óbito do compositor. No documento consta que ele morreu do
peças
da Semana Santa das cidades de São João
dei Rei, Tiradentes, Ayuruoca, Pitangui e Campanha. Alguns região de Prados e
Ramos,
das Dores, Endoenças, Procissão do
Enterro e Procissão da Ressurreição. Bm menor escala, suas executadas
de
de
"moléstia
de agosto de 1813 e foi enterrado na cova de numero
clois da Capela de Sao Joao Evangelista. Alem de compositor também professor
de
música
e
era mulato (15)-
foi
Ainda durante os trabalhos
desta equipe verificou-se que os livros de Compromissos das Irmandades de Nossa Senhora das Mercês e do
Bom
Jesus
do
Descendimento
foram
copiadas pelo músico.
13) F.Curt Lange, Barroco, B.H., n.ll, 1980/81, p.134. Sobre o descobrimento deste arquivo v.tb.Id., 0 progresso da musicologia na A.Latina, Rev. de História, S.P., n.109, 1977, p.265-268. 14) Desta pesquisa resultou o Catálogo 0 Ciclo do Ouro (...)í pref. de Elmer C.Barbosa, R.J., 1978. 15) V.Cópia do atestado de óbito. Apêndice 2, p. 150
base nas informações do atestado
em
realizou
na obra que Manoel tentou
poca
na
autor
imaginar
uma biografia para n A belos motetos (16). Do Mlserere Willy concluiu: seus mais quatro como a harmonia e aliterações: em rimas escrita é concisa e rica padrões europeus transfigurados, os diria Schoenberg, erradia; , Bajulans comenta: "é uma revelam-nos um original autor”. Quanto o Destas misturas de renascentis ta ao mesmo tempo obra diferentes (...) resultando, por épocas elementos estilísticos uma originalidade ímpar”. Mesquita,
Os compositores Hnerico Lobo Francisco Gomes trabalhos semelhantes de biográficos
(17)
Souza Lobo
J e ronimo análise
musical
e
Parreiras
Neves,
á tinham merecidc
levantamento de dados trabalhos individuais
Mas. o maior
muitos por
todos eles é que, com a somatória uma idéia mais nítida do que foi a escola mineira pode remos século XVIII c omposiçao montada cano um jogo de
epoca
musical quebra-cabeça
an
que
quadro
significa uma contribuição para quadro,
na
verdade,
mostrado
tan-se
tao
estabelecimento da cultura mineira, pois. pouco
provável
que
tenha
havido
na
profunda
implantação tão virgem” (18). H.Raynor,
sociólogo
cada
conplexo
como
novo estudo todo.
quanto
declarou
História um civilização
em
foi
o
G.Bazin,
e
território
da musica, considera que a história do
desenvolvimento musical surge em parte "da vida que o criador dos
pensamentos
Tiradentes,
por
que
tem"
Manoel
(19).
Dias
de
No
caso
Oliveira,
da
música se
faz
conhecermos a organização da sociedade em que o compositor
leva
ccmposta
e
em
necessários trabalhou.
16) W. Corrêa de Oliveira, o multifário Capitam Manoel Dias de Oliveira, Barroco, B.H., n.10, 1979/80, p.61-87 e Id.Barroco, n.ll, 1980/81, p. 167-169. 17) V.Súmula destes R.J., 1981, p.24-37.
trabalhos em V.Mariz, Hist.da Música no Brasil,
18) G.Bazin, 0 Aleijadinho (...), R.J., 1971, p.67. 19) H.Raynor, Hist.Social da Música, R.J., 1981, p.22.
UAR)A
sabendo de antemão que ele, como os
artistas
outros
de
sua
epoca.
trabalhou para associações religiosas.
_
1.1. 0 si
-,-i
__
/->«! *» *1 4
mineira do Século XVTII. As popular nos palavra
Irmandades primeiros
indica,
eram
o
séculos
tipo
de
associação religiosa mais Como a colonização brasileira. ^omo
da
eram agrupamentos de semelhantes ou confraternização
de irmãos. Uma das primeiras Irmandades formada
na
Espanha,
século
XVI,
e
perseguir ladrões e malfeitores, além resistência
à
justiça
real.
de
que
se
dispunha
de
tem
de
combater
foi
noticia
uma milícia para a
violaçao
e
a
Sua tropa chegou a contar com dois mil
homens, moradores das cidades de Aragão e
No
Castela.
Brasil,
elas
tiveram caráter religioso e, apesar de terem florescido principalmente no
século XVIII, já existiam há 250 anos. Conforme G.Bazin, o costume
das irmandades na época moderna é um fato tipicamente ibérico,
Tporém
mais particular em Portugal e mais ainda no Brasil" (20). Para compreendermos melhor esta forma de organização popular no
Brasil
colônia
é
necessário
remontarmos às origens do padroado
português. As ordens de Cristo, Sao Tiago e Sao eram
Bento,
em
Portugal,
muito ricas e possuidoras de muitas terras durante o século XVI.
Através de algumas portuguesa III, o
trocas
esta
conseguiu
grão-mestrado
portugueses religioso,
passaram tendo
eclesiásticos suas colônias. Conselho
e
de
das a
Para
para
ordens
exercer,
ao
dever maior
de
entre
o
papado
e
a
Coroa
si, em 1551, através do Papa Julio
três
direito o
favores
cobrar
referidas.
Assim,
os
reis
mesmo tanpo, o governo civil e e
administrar
os
dízimos
de zelar pelo bem espiritual de Portugal e eficiência,
os
monarcas
instituíram
o
Ultramarino, orgão que dava seus pareceres sobre as questões
coloniais, e a Mesa de Consciência e Ordens, departamento religioso do Estado, para auxiliá-lo no
desempenho de suas tarefas.
Esse devsligamento da
Santa Sé, bem cano a distância entre
20) G.Bazin, 0 Aleijadinho (...), R.J., 1971, p.73.
P0j_
ssus
0
colonos
características
foz
com
que
o
Igreja
brasileira
distintas
das
da européia na mesma época.
brasileiro tomou-se muito mais ativo em relação às fé
como
romarias,
procissões
regime
de
e festejos. Tudo estava concorde para economicamente
colonialista e escravocrata, era interessante que houvesse
uma grande diferenciação inter-étnica. A Igreja esta
cristão
0
manifestações
Portugal: em primeiro lugar, para um país que dependia do
tomos so
diferenciação
estimulando
religiosas. Sn segundo lugar, transferiu
para
a
população
a
formação
através o
de
destas
encargo
(o
Estado) várias
fomentou
associações
corporações,
a
Coroa
da construção de igrejas e
cemitérios e dos cerimoniais do culto religioso (21). E,
em
terceiro
lugar, o Concílio de Trento, após reuniões que duraram de 15^5 a 1563, havia
ressaltado
a importância dos aspectos visíveis da fe. Entendia
que a realização de festejos, romarias e cultos
religiosos
eram
uma
forma
o
emprego
de
musica
nos
de envolver o fiel na comunidade
católica. A Coroa dava mostras de grande competência no zelo pela vida espiritual de
seus
súditos
porque
as
suas
colônias
participavam
ativamente das manifestações religiosas. Tanto isso era verdade que já em
1552
o
jesuíta
Antônio Pires escreveu uma carta, de Pernambuco,
comparando as procissões de duas Irmandades, uma de pretos e
a
outra
de brancos: "Há nesta capitania grande escravaria assim^de Guiné como da terra. Tem uma confraria do Rosário. Digo-lhe missa todos os domingos e festas. Andam tão bem ordenados que é para louvar a Deus Nosso Senhor. Muita avantagem fazem os da terra aos do Guine. Fiz procissão com eles perto de mil almas, afora muitos dos que ficaram fora nas fazendas, não entrando nelas os brancos, porque mais a tarde faziam os brancos a sua. E o que ia de uma à outra de diferença era que os brancos a poder de varas, juízes e meirinhos e almotacéis, se nao podiam manter em ordem, sempre falando, e os escravos iam em tanta ordem e tanto concerto, uns trás outros ccm as mãos sempre alevantadas, dizendo todos ora pro nobis, que faziam grande devoção aos brancos, em tanto que os juizes lhes davam em rosto como os escravos"
(22).
21)
F.Teixeira
de
Salles, Associações religiosas (...), B.H., 1963,
p .27 • 22) S.Leite, Artes e ofícios dos jesuítas no Brasil, cot.em E. Hoornaert et alli, Hist.da Igreja no Brasil (...), R-J-, Í977, P-õo^.
Salles
m
l
...
•
v ••
I I L
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de
Lourenço
que
Dias
de
fosse
Oliveira
branco,
senão nao teria
ingressado para a Passos que, como ficou dito, era extramamente rígida quanto a seleção de em
curioso
seus
irmãos.
disso
Alem
observamos
a este organista: no espaço de cinco anos, entre
relaçao
1756 e 1760, Lourenço
associações religiosas e
entrou para
trabalhou para cinco delas. Não temos indicações de que ele filiado
à
fato
um
Irmandade
do
Santíssimo
também,
Sacramento,
tenha
se
contratado por ela em 1757. Morreu em 1760 e a impressão que
foi
mas temos
e
que já estivesse doente em meados de 1757 o que explicaria sua entrada simultânea para tantas Irmandades.
Francisco
da
Silva
Nunes,
organista
Lourenço, trabalhou para a Irmandade do Nosso Senhor dos pintor e entalhador
a
contemporâneo
como
Passos
anos de 1747, 1749, 1752 e 1756
2.5* Irmandade do Bom Jesus do Descendimento.
2.5.1. Gastos com a música. (21) Irmandade do Bom Jesus deve ter sido fundada por volta de
A
1730, pois, seu retábulo, na Matriz de Santo Antônio, já estava pronto em 1734. Não conhecemos o
paradeiro
de
nenhum
de
seus
livros
de
Compromissos mas sabemos que o Estatuto foi reformado pela segunda vez em 1769 e recopiado em 1784 por Manoel Dias de Oliveira.
festa
A
de
responsabilidade
desta
associação, durante a
Semana Santa, era a da Procissão do Enterro, realizada na da
Paixão.
do
A
mês de janeiro, mencionada entre os anos de 1743 e
1751 no lo. Livro de Receita e Despesas da Irmandade, deve
Santo
Nome
de
sexta-feira
Jesus,
ser
a
do
comemorada no domingo entre a Circuncisão e a
Epifania. Os
contínuos: ultimo
é
trabalharam
registros
abrangem
os
ininterrupto.
de
pagamentos
períodos Ha
várias
desta
nao
sao de 1737/1770 e 1780/l8l0 e sô este remunerações
como pintores, entalhadores e
21) Vide Apêndice 1, pp. 100-107.
Irmandade
aos
douradores de
músicos
que
ornamentos
para a procissão ou para o altar. Até 1757 não há pagamentos nominais eles
foram
contratados
aos
músicos;
Irmandade
dos
1742
na Vila de São João, mas não se dispensou os
serviços do Mestre Capela local que era Padre. Também na da
em
Passos,
nos
documentação
anos de 1743 e 1756, há registros de
contratações dos músicos de São João. Como nas demais Lourenço
Irmandades
que
temos
estudado,
em
1757
Dias de Oliveira foi admitido cano organista e cano irmão da
associação. Aí ele tocou até 1760. Os outros nomes citados são os Francisco
da
Silva
Nunes,
contratado
em
1780
para
a
festa
de: da
Procissão; Manoel Dias de Oliveira, nos anos de 1774 e 1782; Francisco de Paula de Oliveira, organista entre 1794 e 1809; e Lauriano
Antonio
do Sacramento, organista a partir de l8l0. Ccmparativamente
às
danais
Irmandades
-
e
no
respeito à quantia de ouro gasta com a música de suas festas Jesus,
nos
primeiros
anos
que
diz
a
Bon
de seu funcionamento, equiparou-se à São
Miguel. A partir de meados de 1760
há
uma
redução
progressiva
dos
gastos e o período de estabilidade começa em 1790 con a contratação de Francisco de Paula como organista (22).
2.5*2. Músicos e artesãos. Francisco
da
Silva
Nunes,
Manoel
Dias
de
Oliveira
Francisco de Paula de Oliveira foram contratados em diversas para serviços uma
cruz;
em
1753, por pratear ornamentos; em 1778, por dourar duas
Manoel
Dias
de
de
em
1791,
reparou
trabalho
no
"Andor
da
Oliveira foi contratado como calígrafo em
1784 para transcrever o novo Compromisso da Paula,
ocasiões
extra-musicais: o primeiro, em 1737, recebeu por pintar
imagens e, em 1780, por fazer algum tipo Senhora".
e
alguns
Irmandade;
enfeites
porque os termos do recibo estão praticamente
Francisco
de
(não pudemos saber quais ilegíveis.
Ê
provável
que se trate das pinturas da sanefa e das peanhas laterais do retábulo da Irmandade que foram acrescentados em 1790).
22) Vide gráfico 4.
2.5-3- Irmãos músicos. No I73O
a
livro
1775
(23)
de
há
predcminantemente
Entradas os
de Irmãos que compreende os anos de
assentos
alfaiates,
de
profissionais
carpinteiros
e
dito anteriormente, em geral os brancos não assim,
a
Irmandade
do
Bom
Jesus
do
liberais,
cirurgiões. Cano ficou
exerciam
estas
Descendimento
funções,
deve ter sido
agregadora dos mulatos. Bn 1758 foram aceitos Lourenço Dias de Oliveira, cujo está
praticamente
ilegível,
e
Francisco
integral. Ainda neste caso confirmou-se musico,
o
termo
da Silva Nunes, com texto procedimento
do
primeiro
Lourenço Dias, de filiar-se às Irmandades para que trabalhou,
sempre entre 1757 e 1760. A sua entrada na Irmandade do Bom Descendimento
não
indica
termo de entrada consta
que
necessariamente era
solteiro
que e
Jesus
do
fosse mulato. No seu foi
o
único
em
que
encontramos a declaração de seu estado civil.
2.6. Irmandade de São João Evangelista.
2.6.1. Irmãos músicos.
(24)
Da
de
Irmandade
São
João Evangelista só encontramos três
Livros de Entradas de Irmãos que abrangem os anos de 1760 a I806. Esta era uma associação que
acolhia
os
mulatos.
Nela
filiaram—se
duas
a
filhas do Capitão Manoel Dias de Oliveira: Marcelina Maria Antonia, em data
ignorada devido ao péssimo estado do manuscrito] e Maria Ignacia
das Virgens, a 24 de dezembro de l804.
Além
entrada, anotamos os de seis músicos: Felix da Costa Cunha - 15/8/1761 João Felizardo dos Santos - 15/8/1761 Felipe Nere Teixeira da Silva - 15/8/1769 Francisco de Paula e Oliveira - 27/12/1789
23) Vide Apêndice 1, p. 132, 24) Vide Apêndice 1, pp. 133-136.
destes
dois
termos
de
1
PE JOSÉ Maria XAVIER
de Oliveira - 10/11/1798
Francisco de Paula
Lauriano Antônio do Sacramento - 25/4/1803 termo
0
1801,
Francisco de Paula de Oliveira demonstra que o
também como pintor para a Irmandade em 1793 >
organista e
de
Bn
1793 teve um desconto do que devia à associação por ter
Imagens da Caixinha". Sua mesada, por ter ano Tf
1797
de 1793, so foi
anos
paga
sido
escrivão
no
tarde: 1797„ quando pintou
Imagens"; em 1801 pintou e branqueou o Sacrário e o restante do termo
é incompreensível. Francisco de Paula Dias de Oliveira, filho do Capitão Manoel Dias pagou a sua entrada "com cantar ou tocar na festa da
Colocação",
quantia equivalente a meia oitava de ouro. Foi graças a este termo que pudemos localizar o atestado de óbito de Francisco, pois, está escrito com
caligrafia diferente do restante do documento - que ele morreu
em 16 de julho de 1829 (25). Infelizmente falta o livro do demais
período
de
1790/1794
e
os
estão muito desfalcados e com várias páginas pela metade; caso
contrário, é provável que tivéssemos encontrado a filiação
de
outros
músicos na Irmandade de São João Evangelista.
2.7. Irmandade do Santíssimo Sacramento
2.7.1. Organização e funcionamento Não
encontramos
o
livro
de
Compromisso
da Irmandade do
Santíssimo Sacramento, mas, a partir de seus livros de Despesa, é que
fornece
alguns dos dados mais interessantes sobre a vida musical
da Vila de São José. Esta Irmandade era encarregada da organização procissão
ela
do
Corpo
de
Eucarístico, motivo para
Deus,
também
gastos enormes
conhecida
como
do
da
Triunfo
conforme fica evidenciado na
25) Conf .Aluizio J.Viegas, Francisco de Paula Dias de Oliveira era organista e filho do compositor Manoel Dias de Oliveira, começando a trabalhar depois de 1800 ("Mus .mineira do séc.XIX, in: III Seminário sobre a^cult.mineira, B.H., CEC, 1982, pp. 19-43). Discordamos desta colocação por não termos encontrado dados que a abonem. (Vide p. 29)
i/>
5
PE JOSÉ
°
MARIA XAVIER
açao anexa (26).
Hã
uma
a
entre
lac una
epoca da criaçao da Irmandade e o
primeiro registro de pagamento para musica 173b.
0
último
que
e
que
possuímos
de
falecimento de
que nos interessa é o de 1813, ano
Manoel Dias de Oliveira. Pomada
para
abrigar
homens
os
a
ricos,
I rmand ade
do
Santíssimo Sacramento era composta exclusivamente por brancos , reinois nob r
poderosos
ou
na região. Uma vez que a associação
quando criada durante o século XVIII., era composta por portugueses certa
projeção,
era
uma espécie de representação da Coroa dentro da cano o õrgão, comprado
Igreja. 0 altar-mor foi construído por ela
em 1788, foi pago quase integralmente por esta que foi, sem dúvida. Irmandade
mais
rica
refeita em 1810 por
de
da
a
cidade. Até a fachada da Matriz, quando foi
Aleijadinho,
foi
a
Sacramento
Santíssimo
que
subvencionou (27) • Nao porem
sabe
sua
altar
ipal.
certo
ao
deve remontar a 1710, ocasião
da
refere
de
No
que
ela
memória
em específico.
partir de 1736, para Plásticas
à
construção
do
feitos a
Santíssimo Sacramento é bastante completa
documentação da Irmandade < Artes
quando foi formada esta Irmandade,
ainda
pode
fornecer
imagens, época e gastos com
dourado e
modificações
do
arquitetônicas
templo.
Para
estudioso
de
quanto à autoria de
acabamentos Ccmo
o do
para
altar
e
os danais casos
vistos até o momento, nos ateremos semente aos dados musicais. interessantes
Um dos aspectos conhecimento trembetas
hoje
refere-se
anos de 1736 e 17^4. Foram
Semana Santa
(1736,
1739
e
(1739,
1740,
1741,
eles:
1742
e
requinta (1741); e rabecao (1742). Estes nanes de instrumentos, em
dia,
nao
são
mais
usados e não foram quase descritos nas
crônicas do Brasil colônia. Por isso, é difícil saber com que
ao
1740); gaita de fole (1736 e 1739); rabeca
(1739 e 1740); charamela (1736); "Arpa" 1744)
dados
alguns instrumentos e instrumentistas que atuaram na
de
comemoração
destes
eram,
exceção
seus desenhos
feita
aos instrumentos de cordas que
fixados no
26) Vide Apêndice 1, p. 107-121 27) Vide Apêndice 1, p. 117,
precisão
XVI: a rabeca, ou
rebeca
o
tiveram como os
f
portugueses chamavam. o violino (o termo é de origem árabe, rebab).
0
rabecão,
aumentativo
documentações
Irmandades dos Passos e São Miguel e Atoas: a primeira contratou,
em 1738, os serviços de um "Rabequão"; a segunda, entre 1740 um
ou
de rabeca, designava o contrabaixo.
Estes instrumentos de cordas já tinham sido notados nas das
rabab
"Rabequão"
conhecemos
e
hoje
principatoente
duas em
em
"Rabecas”.
dia,
é
um
Quanto
à
clarinete
requinta, em
mi
e
1742,
tal
como a
bemol
usado
bandas. 0 instrumento tocado em 1741 deve ter sido
de palheta simples e sem chaves já que os aperfeiçoamentos técnicos do clarinete so aconteceram no século XIX. Instrumento mencionado em cinco anos quase "Arpa”
também
deixa
uma
série
de
exatamente quanto à dimensão e número instrumento
a
dúvidas a respeito do que seria de
cordas.
A
historia
harpa
é
um
Conforme
a
definição
Jorge
deste
de
Vernillat
triângulo com cordas de comprimentos diversos,
presas nas extremidades, que soam quando dedilhadas. A por
a
começou no século III antes de Cristo e, desde então, ela
teve os mais variados tamanhos. (28),
consecutivos,
"Arpa"
tocada
Moreira entre os anos de 1739 e 1744 era diatónica como as
demais que antecederam
à
introdução
do
pedal,
presente
na
harpa
moderna (29). Os
instrumentistas
que tocaram requinta, rabeca, rabecão e
harpa receberam entre 15 e 64 oitavas de ouro, nos anos que tocaram; o mesmo não aconteceu com quem tocou trombeta, gaita de fole e charamela pois não receberam nem uma oitava de verificado
ouro
por
função.
Já
caso semelhante em relação ao trombeteiro negro, que tocou
para a Irmandade dos Passos em 1744 e depois entre 1764 e recebeu
apenas
que fossem
tínhamos
1775-
Este
meia oitava de ouro por função. Por isso, acreditamos
pretos
os
músicos
que
trabalharam
para
a
Santíssimo
Sacramento tocando charamela, gaita de fole e trcmbeta.
28) CHARNASSÉ, H. e VERNILLAT, France - Les Instruments a cordes pincées Paris, Presses Universitaires de France, 1970, p.b. 29) Não deve causar estranheza o surgimento de uma harpa ou São Jose já que os portugueses cultivaram desde o século XVII o gosto pelo instrumento. Rn 1620 o compositor português Manoel Rodrigues Coelho escreveu uma série de variações sobre um tema de Orlando de Lassus para teclado e harpa. Flores da Música para ^instrumento de_Tecla—e Harpa. (Cf.João de Freitas Branco, Historia da Musica Portuguesa, Lisboa, Europa, América, s.d., p.72).
A
charamela,
instrumento
oboé e do clarinete, foi usado
de sopro tido como antecessor do
pelos
pretos
conforme
indicou
Curt
Lange no Seminário sobre a Cultura mineira do período colonial (30)- 0 autor citando Antonil, fala sobre a popularidade das trombetas: "(•••) nos grandes acampamentos da mineração (...) segundo Antonil, pagava-se por
trcmbeteiro
- o relógio deste conglomerado humano - a quantia de
500 oitavas de ouro. (...)" 0 instrumento usado em São José teria sido de metal, ccm apenas uma volta e sem chaves. Instrumento que ainda Gerais
do
não
havia
sido
descrito
em
Minas
século XVIII, a gaita de fole deve ter sido incorporada às
festividades da Irmandade do Santíssimo Sacramento para executar algum toque
especial
caracterizada
nas
ruas.
A
história
deste
instrumento
foi
nos países saxões onde é usado até hoje, principalmente
nas festas nacionais da Escócia. Eu Portugal a gaita de fole deve sido
bem
introduzida
pelos
ter
comerciantes ingleses que para lá se mudaram
por ocasião dos intercâmbios realizados entre os
dois
países.
E
na
Vila de São José ela deve ter chegado ccm a bagagem de algum imigrante que ensinou a sua técnica para um escravo. É
pena
que
o
resto
da
documentação
Santíssimo Sacramento nao tenha continuado a descrita
em
seus
livros,
pois
ser
poderiamos
histórias dos conjuntos instrumentais e
do
da tao
Irmandade
do
minuciosamente
acompanhar
repertório
melhor
as
executado
na
cidade.
2.7.2. Gastos ccm a música. (31) A Irmandade do Santíssimo Sacramento teve períodos críticos,
cano suas congêneres, apesar de ter sido a mais rica das confrarias de Tiradentes.
0
acabamento em
primeiro
deles
foi
entre
1745
e
1751,
devido ao
dourado do altar, oneroso mesmo nas cidades do ciclo da
30) Belo Horizonte, Conselho Estadual de Cultura de Minas Gerais, 1979 n.32—33. A charamela também foi popular em Portugal conforme atesta "este verso: "Perguntavam a um casado onde fora sua mulher à inpgggi 0 0I0 dizia: Onde ouvir charamelas — D.Francisco Manoel Carta de Guia de Casados, Porto, 1898, p.115* (Conforme anotaçao de Mário de Andrade para seu Dicionário Musical Brasileiro, inédito)• 31) Vide Gráfico 5-
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V
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t—f—-f1—t—
D.Pedro
Fernandes
vilarejo,
Música
quando
e
Sardinha
culto
trouxe
um
início
um
(35) •
um ano depois de ter sido
associados e isto deve ter acontecido também em Tiradentes. No de
comitiva
em
foi
sempre
formação
sua
Bahia
quando
estiveram
da
em
da
que
ainda não havia profissionais
músicos, este papel deve ter sido desempenhado pelo clero por falta de artistas e porque os padres eram aptos a assumir estes cargos. Na documentação da Paróquia de Tiradentes encontramos várias
34) Vide H.Raynor, Hist.Soc.da Música, R.J., Zahar, 1981, p. 146-148. 35) PITTA, Sebastião da Rocha, Hist.da América Port. 2a. ed., p. 40.
referências à participação de missas.
Na
Irmandade
de
padres
e
vigários
na
celebração
de
São Miguel esta atividade foi intensa pelo
menos até 1772; já na Passos, a última vez
em
que
há
urn
pagamento
expresso pela cantoria dos padres é em 1737; na Bom Jesus, em 17*15; na Santíssimo
Sacramento,
meados de 1760. 0 que deve ter ocorrido é que
apos a década de 60, com o número crescente de na
Vila
de
São
José,
os
padres
músicos
foram
profissionais
menos
restringindo-se às interpelações em latim do canto
requisitados
gregoriano,
então
usados para a celebração dos cultos. Os salmos passaram a ser cantados por
um
coro
de
homens,
ou
então,
instrumentistas eram requisitados
por
nas
voz
festas
solista e órgão. Os
maiores,
como
as
da
Semana Santa, ou nas dos santos padroeiros das Irmandades. Nas
cidades
mineradoras
como
abundante na primeira metade do século Irmandades
eram
remunerações
mais
eram
registraram
as
entravam para evidências
ricas,
maiores.
entradas a
de
Merces,
que
o ouro foi rnais
XVIII.
Cano
consequência
contratavam
mais
músicos
Apesar
dos
Tiradentes
de
músicos
Caridade
e
não
termos
os
e
as suas
livros
que
para elas — já vimos que eleo Sao
Joao
Evangelista
—,
ha
eles não fossem numerosos na Vila de São José. Bm
1742 as Irmandades do Bem
Jesus
Sacramento
músicos
mandaram
vir
do
Descendlmento de
São
João,
e de
do
Santíssimo
Vila Rica e de
Congonhas; em 1743 a Passos chamou-os de São João e a S.Sacramento nas "geraiz". Estas mesmas confrarias tomaram a chamá-los em 1755, 1756 e I76O, de São João. Ao que parece, os músicos de São poucas
missas:
em
1742
José
tocavam
em
a Irmandade Santíssimo Sacramento pagou aos
músicos de fora por tocarem nas Endoenças e Semana Santa;
e
o
outro
pagamento, ao músico da cidade, "das Domingas de Quaresma e Cinzas”. Só encontramos os termos de Entradas dos músicos a partir de época em que a decadência da mineraçao ja deixava cicatrizes em algumas Irmandades. Estes termos são importantes porque demonstram que os
músicos,
obrigavam-se determinado situações
quando a nos
aasociavam-se
tocar
ou
Estatutos
diferentes
para
cantar
uma
determinada
Confraria,
sempre que requisitados, o que era suas
de o
a
associações
Assim
há
duas
trabalho dos músicos durante a segunda
metade do século: ou eles tocavam cano
forma
de
pagamento
de
suas
taxas anuais — e vimos que eles pertenciam às Irmandades menos ricas — ou
cano
contratados
daquelas
a
que
não
se
filiavam. Os músicos
militares podem ter tido uma outra fonte de renda quando faziam
parte
das
bandas dos regimentos a que pertenciam. Pelo que temos observado,
dois tipos de músicos destacavam-se na Vila de São José: o organista e o compositor. Os três organistas que trabalharam em únicos
de
suas
respectivas
épocas,
Tiradentes
foram
os
o que não exclui que houvessem
outros tecladistas habilitados na região. 0 primeiro destes organistas foi Lourenço Dias de Oliveira, entre 1756 e 1760. É interessante notar que o instrumento que ele usou, ou já existia anteriormente e sabia
usá-lo
ou
então
foi
apareceu. Desconhecemos o substituido
em
1788
comprado
paradeiro
pelo
que
na
ocasião
deste
em
instrumento
ninguém
que seu nome que
so
foi
a Innandade do Santíssimo Sacramento
comprou e que está até hoje instalado na Matriz de Santo Antônio. Francisco de Irmandades
do
Paula
Santíssimo
foi
contratado
Sacramento,
Bem
Caridade a partir de 1789-Ele deve ter Irmandade
dos
Passos.
Apesar
como
organista
pelas
Jesus do Descendimento e
sido
contratado
também
pela
de não termos a comprovação desta sua
atividade, os irmãos de Mesa daquela Irmandade
aprovaram
despesa
como também em pagar a
para
o
ano
de
1788
(36):
"(...)
a
Irmandade do Ssmo. Sacramto. desta Matriz trinta e duas 8as. q.esta
I mande.
lhe
vez
de
ouro
prometeo pa ajuda da fatura do Orgão, pa. ficar
ccm direito deo mandar tocar nas suas funçois Uma
seguinte
que
Francisco
e
as
Missas
da
Capa
de Paula era o organista das outras
associações religiosas mencionadas, não há motivos para supormos que a Irmandade dos Passos tivesse outra pessoa para esta função. 0 sucessor de Francisco foi Sacramento.
Francisco
era
Capitão,
o
padre
o
que
Lauriano
Antônio
significa que tanto ele
quanto o padre recebiam outros salários além dos de organista. Este o
caso
de
é
Manoel Dias de Oliveira, Capitão, que foi também copista,
professor e compositor. Cabe ressaltarmos que não encontramos referência
do
à
atividade
de
Manoel
Dias
nenhuma
cano organista, se é que a
exerceu. No entanto, alguns musicôlogos têm insistido no fato de que o Capitão tenha sido organista
e
queremos
tornar
claro
que
não
há
evidências de que o tenha sido como profissão. Cano dissemos anteriormente, imediatamente apôs o período em que
Lourenço
Dias foi organista não encontramos nenhum outro músico
36) Vide Apêndice 3, p. 159.
Paula
que o tivesse substituído nesta função; o nome de Francisco
um
ano
a inauguração do órgão da Matriz, em 1789-
apôs
Quando Francisco de Paula começou a trabalhar o nome de Manoel Dia estava ausente, na documentação consultada, há desde
1782;
ele
so
reapareceu,
e
pela
anos,
sete
ultima
vez,
ou
o
ja
seja,
ern 1792, na
Irmandade do Santíssimo Sacramento. Neste ano, além do pagamento de 33 oitavas para Manoel Dias, ha um de 25 oitavas para Francisco, por tocado
órgão.
Logo, acreditamos que na época em que Manoel trabalhou
não existisse mais o instrumento que foi tocado por Lourenço década
de
ter
Dias
na
50, caso contrário, haveria indicações de que Manoel ou um
outro músico tivessem recebido pagamentos pelas funções de
organista.
Este tipo de raciocínio leva-nos a uma série de averiguações que
envolvem a instrumentação de algumas das peças do Capitão Dias de
Oliveira, assunto de que nos ocuparemos quando tratarmos
da
obra
do
compositor. A
presença
de
Manoel
Dias
de Oliveira em Tiradentes foi
marcante. As obras por ele compostas espalharam-se por várias mineiras,
tais cano: Prados, São João dei Rei, Ayuruoca e Pouso Alto,
para citarmos as mais próximas (37). Além número
cidades
de
cópias
de
disso,
através
pelo
grande
suas peças que temos encontrado, podemos ter a
certeza de que elas têm sido executadas desde a concebidas
do
autor.
Mas
desconhecemos
época se
em
houve
que
foram
algum
outro
compositor anteriormente a ele na cidade, e mesmo, qual a autoria obras
executadas
por Lourenço Dias de Oliveira. Isto posto surge uma
outra questão: qual era o repertório de Paula? Seria do mesmo descreveu
o
das
gênero
e
de órgão executado por Francisco obtido
da
mesma
forma
como
o
Reverendo Walsh quando da sua visita a Vila de Sao Jose?
(38) Quando Manoel Dias começou a trabalhar como compositor as
diversas
Irmandades
a
que
serviu,
a
música
já
rotineira nas festividades sacras, apesar da decadência da
para
era presença mineração.
37) Conforme o Livro de Entrada de Irmãos da Irmandade de São João Evangelista (1765/1790) e o Livro de Óbitos e Testamentos da Fábrica da Matriz (1812/1835), houve^ um músico tiradentino, Felipe Nere Teixeira da Silva, contemporâneo de Manoel Dias, que foi para ”Juruoca", antigo ncme de Ayuruoca, que antes de morrer pediu para ser sepultado na Villa de São José. Talvez tenha sido ele a levar para aquela região as obras do Capitão Dias de Oliveira que lã encontramos. 38) Vide Capítulo 1, pp. 5-6.
Esta
presença
hábitos dos com
foi
garantida
desde
o
início do século XVIII pelos
portugueses recém-chegados à vila,
pela
riqueza
gerada
o ouro e pela rigidez dos Estatutos das associações religiosas* A
época de Manoel Dias, na hist&ria musical da cidade, embora nao a
mais
rica
foi
muito
significativa
pela
herança
compositor a posteridade. Com a chegada do órgão, talvez
ele
não
tivesse
grande
economia
a
ser
para
as
Irmandades* com
Com
era
a
instrumentistas*
ter
festivas.
significar
A
música
cantada por obrigaçao dos irmãos remidos — aqueles que
filiados
-
ou
executada por Francisco de Paula e Lauriano como soliotas.
De uma forma ou de outra, o importante para cada associaçao era
±7$8,
a contrataçao de um
não pagavam seus anuais para as Irmandades a que eram então
em
pelo
tido a mesma chance de ser contratado, pois
organista fixo não houve mais gastos passou
deixada
comprado
nota-se claramente que a vinda deste instrumento passou uma
sendo
a
música
sempre
presente
nas
suas
religiosa
missas e solenidades
CAPÍTULO 3
O CAPITÃO MANO
I
DIAS DE OLIVEIRA "Nenhum tipo de historia da musica explica
a visão do gênio; sô pode
mostrar as condições que deram ao gênio a sua direção e à qual ele reagiu". Henry Raynor
3.1. Cano se fosse uma biografia. Na tentativa de encontrarmos o registro de batismo de Manoel Dias de Oliveira, durante
o
verificamos
que
o
Capitão
sanpre
do
homônimos
compositor,
para
nome
sua
esposa,
Ana
a Irmandade da Caridade, Manoel Dias usava a patente de
Alferes. É provável que Dias anterior,
seu
precedido de sua patente. Em 1769, ano do nascimento de
sua filha Maria Ignãcia das Virgens e da entrada de liaria,
dois
século XVIII em Tiradentes. Cada um dos três era designado
conforme a região em que morava e, no caso vinha
teve
1768,
pouco
de
tempo
Oliveira antes
de
tenha seu
se
casado
no
ano
primeiro contrato ccmo
compositor. José Maria Neves, temas
musicôlogo
que
vem
pesquisando
vários
relativos ao século XVIII, encontrou, recentemente, a Carta que
concedeu a patente de Capitão a
Manoel
indicações
documento
do
pesquisador,
o
Dias
de
Oliveira.
original
está
Conforme no Arquivo
Nacional da Torre do Tcmbo, Portugal, Livro de Chancelaria de e
foi
datado
a 13 de novembro de 1779,
D.José,
treze anos apôs a cessão do
titulo. Reproduzimos em seguida o texto, copia das notas cedidas
pelo
Maestro Maria Neves. "Patente de Cappam "Dom
José
I
faço
saber
aos que esta minha carta Pate de
Confirmaam virem que tendo consideração a Mel Dias de Oliva se
achara
movido pelo Conde de Valladares Govor e Capam Gnal da Capnia das Minas Gerais
no
Posto
de
Cappam
da
Ordenança
de
pé dos Homens pardos
libertos do districto da Lage da Fregsa de S.José do Rio na
das
Mortes,
conformidade de Minha Real Ordem de 22 de Março de 1766 attendendo
a concerrerem
na
necessários (para)
pessoa
do
fazer lhe
C.Mel
Dias
merce o
de
Olivra
os
Requesitos
confirmar / como por
esta
confirmo
/
no
Posto
de Cappam da Ordenança de pé dos Homens pardos
Libertos do districto da Lage da Prega de S.José do novamente
cerado
e
estabelecido
no
destricto
Rio
das
Mortes,
aquela companhia se
ccmpoem de sessenta soldados com seus offes competentes e nao
vencera
soldo algum de minha Fazda, mas gozara de todas as honras privilégios, liberde,
izenções
e franquezas que em (.) do d.Posto (.).
Pelo que Mando ao Meu Govor e Capam Geral da Capania das Minas conheça
ao
d.Mel
Dias
de Olivra por Capitão da referida Companhia,
ccmo Zelo honre estime deixe debaixo
da
posse
e
servir
cumprao
e
exercitar
o
referido
Posto
juram, que se lhe deo quando nelle entrou e aos
offes e soldados seus subordinados obedeçam,
Geraes
suas
ordens
ordens por
também
escrito
e
que de
em
tudo
palavra
lhe
no que
pertencer a Ordem Real serv. ccmo devem e sao obrigados, e ele o atendido
no
destricto
da Companhia E por firmeza de tudo lhe mandei
passar (a presnte) por mim consignada e sellada com o grau Armas.
Dado
nesta
cide
de
minhas
de Lxa aos 5 dias do mes de outubro Anno do
Nascim. de N.Snr. Jezus Christo de 1772 // A Rainha // Conde da //
Por
Desp.
do
Cor.
(.)
a
fez
//
Ant.
Cunha
de 28 de set. de 1772 // o Secretro
Joaquim Miguel Lopes de Loure (sic) a fez escrever/ Nicolao Paradio
sera
Pr.de
Tolentino
Andre Encerrado des (..) // Por oito
contos de dez ccmo meyo dobro por ter passado o tempo da ley. Lxa 13 de Novo de 1779
Dem Sebam Maldonado Mateus Roiz Vianna."
Manoel Dias já era Capitão de Ordenança pardos
libertos
de
pé
1773. Data deste ano o primeiro registro em que
patente
de
Capitão,
no
Nosso Senhor dos Passos. de
homens
em 1766, mas, em Tiradentes, so foi reconhecido ccmo
tal, em
homens
dos
ele
usou
a
livro de Receita e Despesas da Irmandade de Ele
comandava,
sem
remuneração,
sessenta
um dos TerÇos da Comarca - grupos organizados para ficarem
de prontidão, caso fosse necessário defenderam a vila, e para manterem a ordem. Além do Capitão, cada Terço
contava
can
um
Alferes
e
um
Sargento. Em Tiradentes, o Sargento Manoel José da Rosa, subordinado a Dias
de
Oliveira, foi seu "compadre" batizando os filhos Ana Maria e
Severino. 0 sucessor de
Manoel
Dias,
ccmo
músico
e
Capitão,
foi
Francisco de Paula de Oliveira, a partir de 1789Ainda
na
tentativa
de
determinarmos
se Manoel nasceu em
Tiradentes, continuamos a buscar mais dados a respeito de sua vida.
Esta tarefa foi dificultada porque não existem mais os na
primeira
metade
feitos
do século XVIII em São José. A resposta se fazia
necessária para conhecermos a formação musical do repercute
livros
indiretamente
na
analise
de
sua
compositor,
obra.
Em
o
que
que
pese a
originalidade de um artista, é notorio para o estudioso que o
pai
de
Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, fosse português e que tivesse ensinado seu ofício ao filho. No
caso de Manoel Dias, sentimos a falta de dados concretos
acerca de sua origem e formação longe
da
musical,
mas
talvez
não
estejamos
verdade ao suspeitarmos que ele tenha estudado can Lourenço
Dias de Oliveira e fosse seu filho. 0 nane de Lourenço aparece pela primeira vez em organista
das
Irmandades
da
Vila
entrada para a
Bom
Jesus
do
Descendimento
solteiro;
ter
entrado
por
termo para a São Miguel e Lourenço
entrou
e
São
como
José. Pelo termo de sua soubemos
que
ele
era
na N.Sr.dos Passos, que era branco e seu
Almas
indica
que
ele
faleceu
em
17o0.
nestas Irmandades no mesmo ano, e isto significa que
deve ter chegado em São José em 1756. branco
de
1756,
Além
disso,
sabemos
que
era
solteiro. Esta última condição não implica em que não fosse
pai de uma criança gerada por mãe negra. A coincidência de
sobrenomes
e profissão nos leva a crer que Lourenço fosse o pai do Capitao Manoel Dias, mulato que teria nascido em outra cidade, não necessariamente em Tiradentes, aí chegando em 1756. Uma
outra
aproximação de dados pode nos indicar a época de
nascimento de Manoel Dias. Sua primeira filha nasceu em um
ano
após
o
seu
casamento.
A
1769,
talvez
julgarmos pela vida de seu filho
Francisco, Manoel Dias pode ter casado aos 24
anos
de
idade,
logo,
nasceu em meados de 1745. A respeito de Ana Ilária de Oliveira, encontramos seu óbito P0gis£f*cLclo a 3 de abril de 1824, e foi enterrada, ccmo o Igreja
Bn
1788
batizou
seu
a
24
de
dezembro
Irmandade
de
São
João
Evangelista
faleceu a 22 de julho de 1850.
1) Vide Apêndice 2, pp. 145-149.
de
irmão, Severino, e em l8ll, a filha de
Luzia Maria da Piedade, crioula forra viúva. Maria Inácia entrou a
na
de São Joao Evangelista. Ana e Manoel tiveram onze filhos (1) • Maria Inácia das Virgens - batizada
1769.
Capitao,
a
para
24 de dezembro de 1804, e
o
,batizada ,,
Marcelina Maria Antonia Entrou
para
% a 25 de
junho
o
de
padrinho
Francisco foi
o
Ajudante
Inácio
de
Ferreira dos Santos
Marcelina faleceu em 1840. Francisco de Par novembro
de
Evangelista Ana
Oliveira
batizado
a
15
Balbina da Conceição
10 de novembro de 1798.
Casou-se
de abril de 1798. Ana Balbina era
filha de Te reza Maria de Jesus, madrinha de Manoela, e de Manoel da
de
1774. Ehtrou para a Irmandade da Caridade a 8 de maio de
1791 com
Dias de
Conceição.
(1801), Joana, Paula, Ana (1812)
e
Francisco
José
Joaquina
Francisco e Ana Balbina tiveram (1813).
Francisco
de
Paula faleceu a 17 de julho de 1829. Manoela
Nasceu a 18 de julho de 1776 e foi batizada a lo
de agosto do mesmo ano. C
Ana Maria - batizada a 3 de março de 1780.
í
Manoel - batizado a 15 de setembro de 1781 Ana
batizada a 6 de agosto de 1783. batizado a 11 de novembro 1784
José
Justiniano - batizado a 12 5;
batismo em
pelo
Manoel
porta da c;
1786
Matriz
se deduz
Maria
de
seu
em
consta que o menino
Tereza
de
batizado a 20 de outubro de 1788. Foi deixado na
Severino
k
setembro
novembro do mesmo ano e foi sepultado
Faleceu
k
de
registro
foi
o
de
!?
Dias - batizada a 17 de fevereiro de 1789. Rn
I8l0 batizou o filho de uma escrava de Tereza Maria de Jesus Lopes: padrinho
organista
Lauriano
Antônio
o
Sacramento. Em 1829
Tereza teve um filho natural que morreu assim que nasceu UM
Ana liaria e Manoel
V de
nos livros em au
três delas foram
os
s tiveram quatro
nanes
eram registradas as
v
sepulturas; o de Gracia Angola, no de Assentos de Batismos (2) Francisca - sepultada a 14 de junho de 1796. Inácia - sepultada a 21 de março de 1790; era mulata Maria - sepultada
de dezembro de 1788
Angola - sem data de sepultamento.
.
Joaquina, a 15
2) Vide Apendic
■
maio
1775
p. 146 e 151-152
Teve
uma
. rç\J&
1772.' -
a Irmandade de São João Evangelista em 1798. Rn 1799 foi
madrinha da filha de uma Carvalho
Pt JOSÉ MAPHA XAVIER
filha.
2
Desta
forma
o;
rvsun iuu >:;
• *
dados referentes a Manoel Dias,
s nos livros da Paroquia de Tlradentes, que vão reproduzido?; ce 2, pp. Lr>~iT). Infel 1‘/.mtMito a documentação acerca de sua
nos Apê
produção musical e fx>bre e o Arquivo da
banda
oca 1
r iao
ac rescenta
nada ao que conheceiaos de seu reuTtorlo,
3-2. 0 artífice Nas
vilas
prosperas da Capitania das Minas Gerais havia um
bom campo de trabalho para músicos. Quanto maior e mais rica a cidade. havia
mais
as soei açoes
instrumentistas
religiosas
disponíveis.
diversidade de instrume numero
Aliada
à
questão numérica estava a da
além
o
Quanto
sopros, teclados e
haver
músicos, maior também a possi
violinistas,
mais
consequentemente,
e
entre
violoncelistas, contrabaixistas, flautistas, trompistas, como as "violetas".
instrumentos mais raros nas Os compositores
Bmerico Lobo de
exemplo
Mesquita,
moraram em cidades como Ouro Preto, tiveram possibilidades de escrever para
orquestras
mais completas ou formações mais sofisticadas. Neste
caso se inclui o seu Ofício das Violetas em que orquestra
flautas,
trompas.
baixos
Bmerico
empregou
na
(violoncelo e/ou contrabaixo) e
violas, em substituição aos violinos. Desta forma, eliminando o timbre agudo das cordas, o autor conseguiu
um
colorido
mais
"sombrio”
na
instrumentação desta missa de defuntos. Já Manoel Dias de Oliveira não usou
violas
em
condicionada ao conforme
a
suas
orquestras.
efetivo
encomenda
humano de
cada
A
produção
instrumental Irmandade,
deste artista esteve e
vocal;
trabalhando
deve ter tido em mente a
qualidade técnica de seus intérpretes. Da época em que Manoel Dias compôs não há instrumentos
acompanhamento
devemos
a
supor
que
fossem
dos
violinos.
contrabaixo, flautas e trompas. Para alguns
encontradas as partes de um baixo indica
relação
empregados nas festividades, mas, pelo que conhecemos de
suas obras com violoncelo,
uma
instrumental
existência de um instrumento
cifrado,
foram o
que
nos
teclado: cravo, espineta -
orgao. Alguns
afirmaram que Manoel Dias foi organista
e esta colocaçao evoca uma serie de considerações. A histéria do órgão em
foi
truncada por falta de registros. Temos notícias
t'
da
prática
deste instrumento em duas épocas distantes, durante o
XVIII, extremos do período em que trabalhou 1759 e 1789. Entre
1756
o
Capitão
século
Manoel
Dias:
e 1759 Lourenço Dias de Oliveira foi contratado
como organista para as Irmandades do Santíssimo Sacramento, Bem do
Descendimento,
São
Miguel
e
Caridade. Trinta anos mais tarde, Oliveira
foi
o
Almas, em
Nosso
1789*
Jesus
Senhor dos Passos e
Francisco
de
Paula
de
organista destas mesmas associações, trabalhando até
l809 • 0 instrumento usado por Francisco de Paula foi ccmprado em 1788, mas não sabemos o que aconteceu ccm o de
seu
antecessor,
as
Irmandades
tocado
era
1756. Rn
meados
daquele
empobrecidas. Para elas instrumentista
do
teria
que
coro
século sido e
conveniente
orquestra.
organistas, Lourenço e Francisco, o compositor
mais musico
Porém, atuante
já
estavam
pagar entre
na
um os
vila
o
foi
o
exis oia
repertório para formações musicais que a cada ano podiam
contar com instrumentos diversos era especial: regional.
dois
Manoel Dias que escreveu obras a dois coros e orquestra. 0
repertório para órgão podia ser importado de Portugal onde já impresso;
so
Esta
propunha
uma
solução
talvez seja uma indicação de que o instrumento tocado
por Lourenço não estivesse em condições de seu usado por Manoel
Dias.
hipótese é corroborada por outras constatações • No atestado oe obito do
compositor
lemos
que
ele
foi mestre de musica, mas a função de
organista não está explícita. Após a inauguração do órgão, em 1788, instrumentista
contratado
o
foi Francisco de Paula, embora Manoel Dias
tenha trabalhado para a Irmandade do Santíssimo Sacramento
ate
1/92-
Finalmente, é necessário salientarmos que tal foi o empobrecimento dos cofres das associações religiosas na época em que o Capitão trabalhou, que se ainda houvesse um instrumento de teclado elas teriam contratado um só músico por festa para tocá-lo. Mas, como se explica a
existência
de obras cifradas no
repertório de Manoel Dias? 0 instrumento era órgão, cravo ou espineta? Há três situações consideráveis que respondam estas perguntas. Não sabemos até quando exatamente o
instrumento
usado
por
Lourenço Dias resistiu; as obras ccm acompanhamento de baixo continuo, compostas
pelo
instrumento, ou
Capitão,
poderiam
ter
então, a partir de 1789.
sido
executadas ainda neste
Não devemos
excluir
a
MANJA XAVIfc H
teclado um de que om uma das Igrejas da cidade existisse
possIbi1Idad
pequeno, cravo ou espineta.
outra
estaria
explicaçao
A
A
eram bastante populares no Brasil* contratação
í ií i
João dei Rey, cidade
associações d( temos noticia s
is
próxima
do
compositor
de
Sao
pelas
Jose,
onde
que trabalhou.
relação
1
Je
serviços
para
as Irmandades de Tiradentes,
pagas naninalmente a Manoel Dias de Oliveira, não é muito extensa; ela a
foi por nós resumida conforme
leitura
dos
livros
de
e
Receita
Despesas, jã apresentados no capítulo anterior.
ANO
PAGAMENTO
IRMANDADE
32 / 8as
1769
N.Sr.dos Passos
"da Muzica a Mel Dias a dois coros"
1770
N.Sr.dos Passos
Tfda Muzica"
32 / 8as
1771
N.Sr.dos Passos
"da Muzica"
28 / 8as
1772
S. Sacramento
"da Muzica"
108$000
S.Sacramento
"q.se pagou a Muzica (...)"
102$000
N.Sr.dos Passos
"Muzica de dois coros"
32 / 8as
N.Sr.dos Passos
"Muzica a dois coros"
32 / 8as
Bem J.do Desc.
"Muzica na Procissão do Enterro"
12 / 8as
Bom J.do Desc.
"Muzica pa a Procição a dois coros"
32 / 8as
Ban J.do Desc.
"da Muzica"
32 / 8as
Ban J.do Desc.
"Muzica a dois coros"
28 / 8as
S.Sacramento
"da Muzica (...)"
87$000
S.Sacramento
"Muzica com q.assisti na Semana
1773
1774 177M 1775 1776 1777 1779 1780
72
Santa" 1782
B.Jesus do Desc.
"juntey a Muzica pa a função do 12 / 8as
Enterro" 1792
S. Sacramento
8as
"Muzica nas Danas de Quarma e nas Missas de 5as fras Mayor e 33 / 8as
Dcm.de Pascoa"
3.3. 0 repertorlo Ainda
não
temos uma noção do número de obras compostas por
Manoel Dias de Oliveira e isto se poucos
estudos
a
respeito
deve
a
três
fatos,
do compositor; falta de conhecimento dos
arquivos de música particulares; e má preservação das catálogo
basicamente:
partituras.
No
0 Ciclo do ouro: o Tempo e a Música do Barroco católico (Rio
MAK1A ÍAVIfc
provavelmente levaram consigo copias das peças de Manoel Dias. Conhecemos
casos
três
que
demonstram
a
divulgação
0
mais
Tiradentes, onde já
documentado
termo
de
de
também
Prados,
cidade vizinha a 6a feira da
vocal que existe no arquivo da
entrada a
contemporâneo
deste
músico
a
para
para
a
ano
morte
de
Manoel
a
Encon tramo o
O
Irmandade
l8l8 Fevro”,
de
São
Joao
rdo do documento portanto,
cinco
Dias. No atestado de óbito de
ele foi sepultado em Tiradentes a 14 de fevereiro de
consta
Lira
refere-se
compositor,
15 de outubro de 1769- No canto
está escrito que ele apôs
ao
Felipe
cidade
Evangelista anos
de
pertenceu a José Maria Corrêa Pamplona, pradense ilustre. 0
segundo exemplo, mudança
o
1779 foram executados os Moteto s
Paixão. A copia da parte do Ceciliana
é
de
antes
composições de Dias de Oliveira, para cidades próximas e Tiradentes.
das
1818
tendo falecido em Juruoca (Ayuruoca). Assim, se em 1769 o músico ainda estava
em São Jose, houve a possibilidade dele ter levado composiçõe s Manoel
obras
de
para Ayuruoca. 0 terceiro caso de divulgação
Manoel Dias diz respeito às três obras da coleção de Manoe]
José Gomes, de Campinas. Gomes foi casado duas vezes, 1809,
a
primeira
em
com Maria Inocência, mineira da cidade de São João dei Rey (4)
Das três obras copiadas pelo maestro campineiro, duas sao 1831
de
e
na
outra
datada s
de não consta o ano da copia. 15 de se supor que Gomes
tenha obtido as partes copiando-as em Minas Gerais.
4) F.C. Lange, La música en Minas Gerais, in Boletln Latino Americano de Musica, 19^6, p. kj2. i
A decadência da mineração e o consequente êxodo de
Tiradentes
também
contribuiu
para.
de
a difusão das ccmposiçoes de
Manoel Dias. Os músicos que ficaram na cidade continuaram com
o
músicos
trabalhando
padre Lauriano Antônio do Sacramento, flautista e organista, e
Manoel
Marques
organista
já
Tenudo. foram
As
informações
colocadas
no
lq_
de
que
Capitulo,
dispomos
sobre
p. 5-6 do presente
trabalho. Quanto a Manoel Marques Tenudo, músico ativo desde o quartel
último
do século XVIII, recolhemos alguns dados que merecem cltaçao,
pois ele foi Tiradentes
extremamente durante
importante
para
eleito
Juiz
de
a
história
musical
Nossa
Senhora
do
a
patente
de
Ajudante
foi
Rosário em 1812. Foi compadre de
Francisco de Paula batizando uma neta do Capitão Manoel Dias a de
de
o século seguinte. Tenudo entrou para a Irmandade
da Caridade a 22 de abril de 1787 e com
maio
o
20
de
1813- Neste mesmo ano, data da morte de Manoel Dias, Marques
Tenudo recebeu 60$000 pelo "Ajuste da
Muzica"
para
a
Irmandade
do
Santíssimo Sacramento. É curioso notar que, embora com a permanência de atividade musical em Tiradentes durante o século XIX e meados do encontramos
peças
do
Capitao
presente,
Manoel Dias de Oliveira no arquivo da
banda. As explicações plausíveis para tal fenómeno podem mas fogem,
não
ser
muitas,
no momento, ao nosso propósito.
3.4. A Obra. A
obra
de Manoel Dias de Oliveira ainda é desconhecida por
Amplos profissionais, mas e constante várias
cidades
mineiras.
De
funcional, escrita para atender marcou
nas
cerimonias
religiosas
fato, a musica composta pelo Capitao e as
necessidades
liturgicas,
o
que
bastante o seu estilo. Nela não encontramos requintes de forma
já que a atenção do ouvinte devia estar sempre voltada para cuja
de
inteligibilidade
condiciona
aspectos
relevantes
o da
texto, escrita
musical. Analisar a obra de um compositor procurando os elementos que delineiem o seu estilo e tarefa ardua para um trabalho desta natureza, principalmente porque não há partituras impressas a que
possamos
nos
referir. Por este motivo, teremos que nos deter em trabalhos pequenos, representativos
para a nossa finalidade, além de trechos selecionados
em obras de maior porte. Nossa escolha recaiu sobre os motivos Cecidit
Corona e Pupili dc apresentavam
de analisarmos vários outros do compositor’
S
problemas
quanto
a
comprovação de autoria . Ao final de nossa obras
de
obras-primas
os
lado,
Jesu.
fatura
Estes sao
Corrêa de
1980
1981
o
seleção
Bajulans,
ou
de
um
tínhamos
outro, quatro
de
e
simples,
copias
Popule
Meus
e
Domine
conhecidos dos musicélogos através do trabalho do
ompositor entre
extremamente |Miserere,
das
fidedignidade
que
Oliveira,
(nume ros
publicado
10
).
e
na
Revista
Barroco
Nossa análise nao teve a
11
pretensão de esgotar o tona, mas de mostrar duas obras muito populares entre os pesquisadores que
trabalham
nos
arquivos
das
corporações
musicais do sul de Minas Gerais. A
escrita
de Manoel Dias não implica em execuções difíceis
porque o autor utilizou recursos despretensiosos da música clássica. 0 elemento barroco de seu estilo transparece no baixo contínuo e cifrado das peças para barroco
coro
estamos
com
nos
acompanhamento.
referindo
à
Quando
escrita
usamos
a
palavra
dos músicos europeus que
lançaram mão desta maneira de compor até meados do século XVIII. Bn Manoel Dias observamos o tratamento homofônico e silábico das vozes e do texto. São raros os momentos em que uma determinada voz executa melismas ou introduz uma nova palavra demais
do
texto
sem
que
as
a acompanhem. Este tratamento vertical das vozes fica evidente
no moteto Pupili que analisaremos. Em observamos
um
trecho
contrapartida,
é
interessante
em que Dias de Oliveira nao usa um acorde para
cada sílaba do texto; o exemplo, é uma ária
de
Baixo
do
Ofício
de
Defuntos, onde o solista canta uma longa melodia em cima da letra E de erubesco
(Exemplo
1).
A
passagem,
um Andante do final da terceira
Lição do Ofício, tem acompanhamento de únicas
dois
violinos
e
violoncelo,
cordas usadas pelo compositor. Como ja tivemos oportunidade de
observar, o autor não
usou
violas
em
sua
orquestração.
Ainda
em
relação ao acompanhamento, notamos um outro procedimento constante não sé
em Manoel Dias como em grande parte das instrumentações empregadas
pelos compositores mineiros: na ausência de movimentação contrária das vozes, na
as terças e sextas são intervalos que
música
tonal
(Exemplo 2)
do
paralelamente
(sem incluirmos as oitavas), caso dos violinos; e o
baixo reforça a linha compassos
caminham
Laudate
mais de
grave seu
do
Aleluia
coro.
Para
ilustrar,
alguns
de Sábado Santo em lã Maior.
^0 r
t
JOSÉ UARM XAVIER
EXEMPLO 2
C omo expressiva
ve rer nos
para
ad i an t e,
Manoel
silêncios
o° o
adquirem
força
nas peças
Dias e foram bem manipulados
o
longas quanto nas curtas. No Popule Meus (Exemplo 3), pelo
urna
forte
texto.
conteúdo, tem dois pontos extremamente dramáticos, dua s
próprio
interrogações que o compositor respondeu com silêncios* Jesus falou. H
Popule meus, quid feclt tibi?
in
Aut
quo
contristavite?
Responde mihi.” livre:
Traduçao
Meu
povo,
que
te
fiz?
E
em
te
que
desagradei? Responde-me. s que as funções de
No plano harmônico, o autor usou nada
predominância
Subdominante, Dominante Mas
cuja direcionalidade
linha
construção
impressiona
segunda
utiliza normalmente o grau conjunto com soluçoes cromáticas. atenta de dois de seus motetos para coro
análise M capei la”
demonstram
de
procedimentos, elementos
que da
forma
Manoel
escrita
Dias
musical,
a
lançou mao destes
para
obter
um
todo
da
Lira
personificado, uma linguagem muito particular para sua época. Cecidit Corona Análise
feita
conforme
as
partes
do
arquivo
Ceciliana (Prados-MG).
/,
2 2
sol M, 15 compassos.
Texto: ”Cecidit Corona/ bis Capitis nostris Vae nobis quia pecavimus”/ bis Moteto cantado na procissão do Enterro, dentro
da
sequência:
Heu
Domine,
sexta-feira
Santa,
0 vos Omnes (Canto da Verônica),
Pupili, Cecidit Conora e Sepulto Domino. A peça pode ser dividida em duas grandes
frases,
cada
uma
delas com dois períodos semelhantes entre si e que estão separados por pausas: la. frase: período 1 - compassos 1/2 período 2 - ccmps. 3/4 2a. frase: período 3 - comps. 7/11 período 4 - ccmps. 11 / 15 0 mínima (
à
Introduzido
motivo
da
primeira
frase
(
J*
),
acrescido de uma
) é usado na passagem da primeira para a segunda pela voz
mais aguda na
metade do
frase.
compasso quatro, é
EXEMPLO
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