Vida privada e quotidiano no Brasil : na época de D. Maria i e D. João VI [2a. ed.]
 9789723309157, 9723309157

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Maria Beatriz Nizza da Silva

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:ii I; &I\\ da Privada e Quotidiano no Brasil no fim do periodo Iial constituem temáticas novas na historiografia da colom- portuguesa no Novo Mundo, que acompanham com esta as tendências recentes da historiografia europeia. Penetrar egredos familiares, trazer_à luz relaçöes maritais condenaela' Igreja e pelo Estado, observar a imposição de padröes ia familiar próprios dos brancos ås demais etnias, tudo isto itui um dos painéis deste livro. No outro analisam-se as :as clo quotidiano, desde as formas de morar, de comer astir, aos diversos modos de viajar, de conviver, de estar mo ou de se preparar para a morte. Trata-se de uma históItropológica e profusamente ilustrada que se interroga soviver dos portugueses no Brasil colonial.

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VIDA PRIVADA E QUOIIDIANO NO BRASIL

RIA BEATRIZ NIZZA DA SILVA, licenciada em História e Filosofia pela ade de Letras da Universidade de Lisboa, fez a sua carreira académica versidade de S. Paulo, no Departamento de História. Professora cate_ de Teoria e Metodologia da História, actualmente orienta teses de

Mana Beatriz Nizza da Silva

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ia do Brasil colonial naquele Departamento, ao mesmo tempo que ra a disciplina de História do Brasil na Universidade Portucalense, â professora catedrática convidada desde 1990.

ncipais obras: Silvestre Pinbeiro Ferreira.- Teoria e Ideología (Lisboa, Cultura e Sociedade no Rio dejaneiro (1808-1821) (S. Paulo, 1977); neíra Gazeta da Bahia: Idade d'Ouro do Brasil (S. Paulo, 1978);

*a no Brasil Colónia (Petrópolis, 1981); Sistema de Casamento no Colonial (S. Paulo, 1984); Documentos para a História da EmigraIrtuguesa no Brasil, 1850-1938 (Rio de Janeiro, 1992); Guia de His-

io Brasil Colonial (Porto, 1992).

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3. _)›. Mas, como a despesa do Lazareto foi no ano de 1814 de 64203285 rs, a Coroa tinha necessariamente de despender uma eleva-

da quantia com este Hospital. 326

Só algumas despesas foram díscríminadas nesta apresentação de contas: 120$000 para o ordenado do capelão; 80$00O para o do cirurgião; e 207$020 reis pagos ao boticarío pelos remedios com que este suprira o Hospital naquele ano”. Quanto ao uso de medicamentos, a população branca continuava a hesitar, neste fim do seculo XVIII e inicio do XIX, entre a tradicional farmacopeia da metrópole e os remedios locais, fruto de uma experiencia indigena e tambem africana. Mesmo a rarefeita classe medica então existente no Brasil parecia inclinar-se para o uso das drogas locais, como podemos ver por um oficio de Manuel Joaquim de Sousa Ferraz, doutor em Medicina e correspondente da Academia Real das Ciencias de Lisboa, ao vice-rei, conde de Resende, e datado de 9 de Dezembro de 179518. Criticava ele o uso de «drogas velhas corruptas e adulteradas, que por grande preço se mandam vir da Europa», quando se podía fazer uso das «maravilhosas, e mui vírtuosas plantas» do Brasil, cuja eficacia estava ja suficientemente provada «pelas curas estupendas, que vulgarmente aquí operam os curiosos empíricos e selvagens, administrando remedíos eficazes tirados dos vegetais indigenas». Reconhecendo «a falta de conhecimento das plantas indígenas, ou nacionais», propunha; 1 - A criação de um Jardim Medico Botãnico no Rio de Janeiro, sede do vice-reinado, para o qual se havia de transplantar e cultivar as arvores e plantas de todo o território brasileiro, aos

cuidados dos governadores de cada Capitania. 2 - Que se ínstituisse nesse Jardim Medico Botánico uma aula de Botãnica onde sistematicamente se ensinasse «as ciencias das

plantas, as suas virtudes, e o modo de as aplicar as diversas enfermidades», sendo todos os boticários e cirurgiöes futuros obrigados a frequentar o curso antes de serem licenciados para o exercicio das suas profissöes. 3 - Obrígar os boticarios a substituir nas suas boticas as plantas europeias «inertes e corruptas>› pelas plantas indígenas, ficando o controlo dos boticarios locais a cargo do professor de Botânica. 17 Arquivo Histórico da Baia, Caixa 119, pacote 231. 13 Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Lata 108, pasta 14. Este médico tinha apresentado, alguns anos antes, na Academia das Ciencias de Lisboa, uma memóría sobre a necessidade de se adiantarem os conhecimentos de Botánica em Portugal e no Brasil. Nesse trabalho apontara «os erros em que se tem precipitado a Medicina, por falta de luzes botânlcas».

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Ao fazer as três propostas, o médico dizia ter o apoio de outros

médicos da cidade e também 0 do cirurgião-mor, o qual, vendo a decadência das boticas, «e o mau estado dos seus medicamentos», já dava preferência às plantas indígenas para a composição dos medicamentos utilizados nos hospitais do Rio de Janeiro, tendo mesmo substituido a quina por um equivalente local. Mesmo levando em conta o facto de este médico ser candidato â cadeira de Botânica a ser criada”, o facto é que a instalação de Jardins Botânicos estava já entre os objectivos do govemo. Em 1796 foi criado o primeiro Jardim Botânico, 0 de Belem, no Pará, o qual deveria servir de modelo aos outros que viessem a estabelecer-se no Brasil, mas só a presença da Corte dinamizou a criação destas instituiçöes cientificas, embora não tanto com a finalidade apontada pelo médico do Rio de Janeiro, mas tendo em vista fundamentalmente 0 desenvolvimento da agricultura. O interesse em utilizar as plantas medicinais do Brasil levou à publicação na revista O Patriota, lançada no Río de janeiro depois da chegada da Corte, um estudo intitulado «Mapa das plantas do Brasil, suas virtudes, e lugares em que florescem. Extraído de oficios de varios médicos e cirurgiöes». Nessa listagem eram fornecidas as seguintes informaçöes: descrição do aspecto das plantas; suas qualidades medicinais e 0 lugar do Brasil onde se encontravam. Era a partir das