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Teoria do Domínio do Fato no Concurso de Pessoas
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OBRAS DO AUTOR
Código de Processo Penal anotado, Saraiva. Código Penal anotado, Saraiva. Comentários ao Código Penal (2 v.), Saraiva. Crimes deporte de arma de fogo e assemelhados', anotações à parte criminal da Lei n. 9.437, de 20 de fevereiro de 1997, Saraiva. Crimes de trânsito, Saraiva. Decisões anotadas do Supremo Tribunal Federal em matéria criminal, Saraiva. Direito penal, 1o volume, Saraiva. Direito penal, 2o volume, Saraiva. Direito penal, 3o volume, Saraiva. Direito penal, 4o volume, Saraiva. Imputação objetiva, Saraiva. Lei Antitóxicos anotada, Saraiva. Lei das Contravenções Penais anotada, Saraiva. Lei dos Juizados Especiais Criminais anotada, Saraiva. Novas questões criminais, Saraiva. Novíssimas questões criminais, Saraiva. O novo sistema penal, Saraiva. Penas alternativas, Saraiva. Prescrição penal, Saraiva. Questões criminais, Saraiva. Temas de direito criminal, 1a série, Saraiva. Teoria do domínio do fato no concurso de pessoas, Saraiva.
DAMÁSIO E. DE JESUS
Teoria do Domínio do Fato no Concurso de Pessoas 3a edição 2a tiragem 2009
Editora
B S araiv a
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Edi tora
Saraiva Av. Marquês de Sõo Vicente, 1697 - CEP 01139-904 Borra Fundo - Sõo Poulo-SP Vendos: (11) 3613-3344 (tel.) / (11) 3611-3268 (fox) SAC: (11) 3613-3210 (Grande SP) / 0800557688 (outras locolidodes) E m É [email protected] — Acesse: www.soraivcijur.cori.bf FILIAIS
ISBN 978-85-02-15626-5 Dados Internacionais de Cotologoçõo no Publicação (CIP) (Cômoro Brasileira do Livro, SP, Brasil) Jesus, Domásio E. de, 1935Teoria do domínio do foto no concurso de pessoos / Domósio E. de Jesus. — 3. ed. — Sõo Poulo: Saraivo, 2002. Bibliografia.
a m a z o n a s / r o n d ô n iv r o r a i m a / a c r e
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1. Concurso de pessoos (Direito penol) 2. Direito penol 3. Foto juridico 4. Nexo cousol I. Título. Editado tombém como livro impresso em 2002. L_
índice para cotólogo sistemático: 1. Concurso de pessoos: Teoria do domínio do foto: Direito penol 343.237
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ABREVIATURAS
art(s). cap. CF cit. CP Ed. ed. loc. cit. n. op. cit.
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P-
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PJ — RBCDP— RF RJTJSP — RT s.
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artigo(s) capítulo Constituição Federal citado Código Penal Editora edição locus citatus (local citado) número(s) opus citatus (obra citada) página(s) Paraná Judiciário Revista Brasileira de Criminologia e Direito Penal Revista Forense Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo Revista dos Tribunais seguintes
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trad. v. v. g. v.
ABREVIATURAS
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tradução vide verbi gratia (por exemplo) volume
SUMÁRIO
Abreviaturas.................................................................
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Nota do a u to r .................................................................
IX
1. Concurso de pessoas e relação de causalidade .... 1.1. Os requisitos do crime e o nexo de causalidade .. 1.2. O declínio do prestígio da exigência do nexo causal ................................................................ 1.3. Responsabilidade penal e relação causal: nossa posição...............................................................
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2. Concurso de pessoas ............................................... 6 2.1. Autoria individual, autoria coletiva e partici pação .................................................................. 6 2.2. O nexo de causalidade como requisito da au toria e da participação...................................... 6 2.3. Nossa nova posição a respeito da exigência da relação de causalidade material na partici pação................................................................... 10 3. Teorias sobre as formas de realização da conduta típica: autoria e participação.................................. 13 3.1. As teorias mais importantes sobre o conceito de autor.............................................................. 13
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SUMÁRIO
3.1.1. Teoria extensiva...................................... 3.1.2. Teoria restritiva...................................... 3.2. Posição do Código Penal brasileiro...............
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4. Teoria do domínio do f a to ....................................... 4.1. Introdução......................................................... 4.2. Espécies de autoria em face do domínio do fato . 4.2.1. Autoria propriamente d ita ..................... 4.2.2. Autoria intelectual................................. 4.2.3. Autoria m ediata...................................... 4.2.4. C o-autoria.............................................. 4.3. Formas de co-autoria ....................................... 4.3.1. Co-autoria d ire ta .................................... 4.3.2. Co-autoria parcial ou funcional ........... 4.4. Co-autoria e co-autor sob outras form as
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5. Participação..............................................................
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6. Extensão da teoria do domínio do fato .................
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7. O Código Penal brasileiro e a teoria do domínio do f a to ............................................................................ 27 Bibliografia nacional consultada pelo a u to r
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Bibliografia estrangeira consultada pelo a u to r
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NOTA DO AUTOR
Adotávamos a exigência do nexo de causalidade como requisito da participação no tema do concurso de pessoas. Assim, v. g., no induzimento, entendíamos que o indutor só respondia pelo crime se causal sua conduta. Caso con trário, o fato seria considerado atípico. Com o passar dos anos, depois de muito estudo e medi tação, as idéias amadurecem, os conceitos vão se sedimen tando, e o autor se descobre submetendo a revisão crítica as suas próprias posições. Nílton Bonder, em O segredo judaico de resolução de problemas, lembra que, de acordo com a tradição cabalística “a realidade existe em camadas, como uma cebola”*. Com efeito, em face de um tema tor mentoso como o da causalidade material, o desfazimento uma a uma de suas camadas, pelo estudo de seu conteúdo, aplicação a casos concretos e a outros institutos, permite o surgimento e a visão de encobertos meandros jurídicos, tomando, às vezes, incorretos e inadequados velhos e pa cíficos conceitos, exigindo a formulação de outros princí pios e a tomada de novas posições. Isso aconteceu conosco na questão da relação de causalidade objetiva como condi
* São Paulo: Imago, 1995, p. 12.
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NOTA DO AUTOR
ção da participação. Há tempos estamos avaliando a se guinte hipótese: imagine um roubo praticado por diversos sujeitos. Uns subjugam as vítimas; outros subtraem valores; outros transportam o grupo, e um deles atua como sen tinela ou “olheiro”. Aplicando-se o pressuposto da exigên cia da causaüdade da participação, se esta fosse causal — necessária, indispensável — , o vigia seria considerado partícipe e, portanto, responsável também pelo assalto; caso contrário, o evento não lhe seria atribuído. Nesta última hipótese, para a teoria tradicional, incidindo o art. 13, caput, do Código Penal, não seria partícipe do roubo por ausên cia do nexo de causalidade. Essa orientação, que sempre defendemos, hoje não é aceitável. Passamos a entender que o sentinela responde pelo crime de roubo nos dois casos, ainda que não causal seu comportamento. Na distinção entre autoria e participação, éramos par tidários da teoria restritiva, na modalidade objetivo-formal, considerando executor somente quem realiza concretamente o verbo típico. Diante disso, estávamos obrigados a con siderar mero partícipe o sujeito que, num homicídio, segu rasse a vítima a fim de ser esfaqueada ou, num roubo, fos se o chefe da quadrilha. Essa orientação, hoje, não nos parece correta: os sujeitos, nos dois casos, devem ser tidos como co-autores. Por isso, estamos também adotando a “teoria do domínio do fato”, considerando que atende mais adequadamente a solução de várias questões que envol vem um dos mais fascinantes institutos do Direito Penal, o concurso de pessoas. Procuramos ser o mais didático possível, dividindo os assuntos em itens, de forma a permitir melhor compreen são da matéria. Nosso trabalho não esgota o assunto. Não tivemos essa pretensão. Na bibliografia serão encontrados artigos, livros e
NOTA DO AUTOR
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monografias de grande extensão e profundidade, abordando todos os aspectos do concurso pessoal. Aqui, em pequena exposição singela, quisemos apenas deixar firmado nosso novo posicionamento a respeito de dois pontos: 1Q) passamos a adotar a teoria do domínio do fato com todas as suas conseqüências; 22) estamos desprezando o nexo de causalidade objeti va na participação, mantendo-o na autoria direta material. Esperamos que nosso novo posicionamento provoque debates e questionamentos, adesões e críticas, formas de seguir no rumo do aperfeiçoamento da ciência penal. Não se trata de simples “mudança de idéias”. É amadu recimento, avanço. Um passo a mais na busca de um Di reito Penal garantidor.
São Paulo, junho de 1999 Damásio E. de Jesus
TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO NO CONCURSO DE PESSOAS
1. Concurso de pessoas e relação de causalidade 1.1. Os requisitos do crime e o nexo de causalidade Conceituamos crime, sob o aspecto formal, como fato típico e antijurídico. O fato típico, nos crimes materiais de ação, compõe-se, para efeito didático, de conduta dolosa ou culposa, resultado, nexo de causalidade e tipicidade. Assim, na hipótese de o sujeito, agindo dolosamente, des fechar tiros de revólver na vítima, matando-a, encontrare mos a conduta dolosa (disparo), o resultado (morte), a re lação causal entre a ação e o evento e a tipicidade (art. 121, caput, do CP). Dessa maneira, o fato material, formado de comportamento, evento e relação causal, aliado à tipicidade, integra, para efeito de compreensão, o fato típico. E este, acrescido da ilicitude, conduz à existência de crime.
1.2. O declínio do prestígio da exigência do nexo causal Nos últimos tempos, alguns autores vêm recomendan do a eliminação da relação de causalidade como elemento do fato típico, que passaria a conter, como requisitos do cri
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me material e de ação, somente o comportamento doloso ou culposo, o resultado e a tipicidade. Com o advento do Di reito Penal da Culpabilidade — ensinam — toma-se desne cessária a verificação da relação entre a conduta e o resulta do, uma vez que só pode sofrer o juízo de censurabilidade (culpabilidade) quem concretiza o fato típico, dentro do qual se encontra o evento, conseqüência da ação. Desse modo, o juiz, na fase da verificação da culpabilidade, necessariamente passa pela averiguação da prática do fato típico, em que se acham o comportamento e o resultado. Se não estão conec tados ao agente, este deve ser absolvido. Não é nova a idéia de excluir-se o nexo causal material dos códigos penais. A Comissão Redatora do Código Penal Tipo para a América Latina, em sua segunda reu nião, realizada no México (sessão de 20 de outubro de 1965), recomendou a não-inclusão de dispositivo a respei to do nexo de causalidade objetiva. Naquela oportunidade, Heleno Cláudio Fragoso, Relator da Comissão brasileira, anotou que “a matéria da causalidade provoca gravíssimas discrepâncias doutrinárias e jurisprudenciais, conduzindo a situações de grande confusão na aplicação da lei penal”1. Em outro trabalho, afirmou que a matéria da relação de causalidade é um “daqueles conceitos que devem ser dei xados à elaboração doutrinária, como o conceito de culpa bilidade. Esse é o caminho que vão seguindo todos os có digos e projetos mais recentes”2. No dizer de Bustos Ramirez, no estágio atual da teoria do deüto, “o dogma da cau1. Código Penal Tipo para Latinoamérica, México: Academia Mexicana de Ciências Penales, 1967, p. 70. 2. “A reforma da legislação penal - 1”, RBCDP, Rio de Janeiro, 2:59, 1963.
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salidade não serve para nada e fica reduzido a um ‘puro dogma’, vazio completamente de conteúdo”3. No mesmo sentido: Alberto Silva Franco4. De acordo com os doutrinadores, o tema do nexo causal, relevante para a teoria naturalística da ação, à medida que esta foi perdendo terreno na doutrina, diminuiu de importância, substituído pelo prin cípio de que não há pena sem culpabilidade. Para outros, a questão é de tipicidade, de amoldar-se ou não o fato mate rial ao modelo legal, de modo a poder ser atribuído ao su jeito, tema que supera, por inclusão, o nexo causal, poden do por isso ser excluído. Percebendo a função diminuta da relação causal, José Frederico Marques, em trabalho espe cífico sobre o assunto, notou que, se a causalidade tivesse importância absorvente, “a tipicidade estaria reduzida a um papel subalterno, quando não inócuo”5. Além disso, a pre sença do nexo causal é apenas início da responsabilidade penal, tanto que no próprio tipo se inclui o dolo, delimitador subjetivo da imputação do resultado. Entre nós, acatado na Reforma Penal de 1984 o princípio da culpabilidade e, por isso, extinto todo resquício de responsabilidade penal ob jetiva, como se depreende do art. 19 do Código Penal, se gundo o qual o resultado só pode ser imputado a título de dolo ou culpa, alguns doutrinadores afirmam que não há mais necessidade de socorrer-se da relação causal objeti va. Como dizia Heleno Cláudio Fragoso em 1963, “excluí da a responsabilidade objetiva, já não há por que cuidarse, com tanta precisão, de estabelecer clara solução 3. Manual de derecho penal espanol, Madri, 1:174, 1984. 4. Código Penal e sua interpretação jurisprudencial, 5. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 131. 5. “Co-autoria”, RF, 173:507.
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legislativa para o dificílimo problema de causalidade. A questão não tem, sob outro aspecto, a magnitude que se imaginava: a causalidade somente surge nos crimes mate riais, apresentando dúvidas em número muito restrito de casos”6. Por isso, Welzel observava que somente em pou cos delitos, como homicídio, lesões corporais e incêndio, o tema da causalidade oferece maiores interesses7. A Comissão Revisora do Anteprojeto de Código Penal de 1969, de Nélson Hungria, atendendo às objeções que apa receram na época, suprimiu as disposições referentes ao imputatio facti. O Código Penal de 1969, porém, de acordo com o que informou a Exposição de Motivos, decidiu “man ter, com pequenas correções, o que se refere à relação de cau salidade, considerando que se trata de regra que jamais trouxe qualquer dificuldade na aplicação da lei penal, sendo de fácil compreensão pelos juizes. Suprimir esse dispositivo seria ensejar a reabertura de largo debate que ainda hoje divide a doutrina, entre as teorias fundamentais sobre o nexo causal, o que haveria de conduzir a incertezas e dificuldades na aplica ção da lei” (n. 8). A Reforma Penal de 1984 seguiu essa orien tação, mantendo a disciplina do nexo de causalidade no art. 13 do Código Penal. Por isso incidiu na crítica da doutrina8.
1.3. Responsabilidade penal e relação causal: nossa posição Realmente, acatada a responsabilidade pessoal e subje tiva, que tem como centro a culpabilidade, só pode ser conde6. “A reforma da legislação penal - 1”, cit., 2:59. 7. Derecho penal alemán\ parte geral, 11. ed., Jurídica de Chile, 1970, p. 66. 8. Franco, op. e loc. cits.
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nado, v. g., por homicídio doloso quem “matou alguém”, o que pressupõe o nexo de causalidade. Ausente este, não se pode considerar que o sujeito “matou alguém”. De ver-se, contudo, que, adotada irrestritamente a teoria de que o Di reito Penal da Culpabilidade leva ao desprezo do nexo cau sal, por ser supérfluo, quando ausente este, opera-se a absol vição do agente por falta de censurabilidade, pressupondose, então, que cometeu um fato típico e antijurídico. Ora, se alguém, por exemplo, é acusado da prática de um crime de homicídio e comprova-se que a morte não adveio de sua conduta, não se pode dizer que realizou um fato típico, ten do em vista que o resultado não foi causado pela ação. Absolvê-lo por ausência de culpabilidade é reconhecer que praticou um crime, quando, na verdade, nem fato típico pode ser-lhe imputado. Não se identificam os efeitos da ausência de fato típico e de culpabilidade. Na primeira hipótese, o fato não ingressa no campo do Direito Penal, ficando impe didos o inquérito policial e a ação penal; no segundo, como há o cometimento de um delito, procede-se à persecução criminal, beneficiando-se o acusado pela absolvição somente no momento da análise do mérito da pretensão punitiva. Além disso, em muitos casos, como de causas antecedentes, concomitantes e supervenientes, absolutamente independen tes da conduta do sujeito, a exclusão do nexo de causalida de, afastando o fato típico e não a culpabiüdade, constitui exigência de um Direito Penal garantidor. É certo que, inexistindo nexo objetivo entre a conduta e o resultado, o fato é atípico, pelo que se prescindiria da exigência da cau salidade, substituída pela tipicidade. Nos crimes materiais e de ação, entretanto, a presença da regra de que o resultado só é imputável a quem lhe deu causa constitui uma garantia na solução dos casos que envolvem a autoria direta e material.
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Daí por que não concordamos com a tese da desnecessi dade do nexo causal como elemento do fato típico nos casos de autoria direta e material, reconhecendo a conveniência de sua subsistência e a manutenção do art. 13 do Código Penal, que disciplina o tema.
2. Concurso de pessoas 2.1. Autoria individual, autoria coletiva e participação Em regra, os crimes são cometidos somente por um sujeito, hipóteses que podemos chamar de “autoria indivi dual”. O delito, entretanto, às vezes resulta da conduta de mais de uma pessoa, sendo que algumas têm participação meramente acessória na realização do fato, não podendo por isso ser denominadas “autoras”, recebendo o nome de “partícipes”. Se, em relação ao autor material direto, como vimos, convém incidir o requisito do nexo de causaüdade, de questionar sua exigência no tocante ao partícipe, o que passaremos a analisar.
2.2.0 nexo de causalidade como requisito da autoria e da participação No Brasil, o concurso de pessoas, seja co-autoria, seja participação, sempre esteve sujeito ao requisito do nexo de causalidade9. Assim, a Exposição de Motivos do Código Penal de 1940 já dizia que o antigo art. 25, que tratava do
9. Nilo Batista, Concurso de agentes, Rio de Janeiro: Liber Juris, 1979, v. 7.
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concurso de agentes, era “mero corolário” do art. 11, que disciplinava o nexo causal objetivo (n. 22). Em face disso, cuidando da participação, nossos penalistas, em sua quase-unanimidade, seguindo a orientação da doutrina estran geira, especialmente a italiana, e aplicando a teoria exten siva, sempre exigiram sua relevância causal. Como dizia José Frederico Marques, “sem um comportamento relevan te, sob o aspecto causal, não se pode falar em participação. Não há participação no crime, relevante para o Direito Pe nal, sem ato exterior que se inclua na cadeia causal” 10. No mesmo sentido, Heleno Cláudio Fragoso sentenciava: “se falta contribuição causal inexiste participação”11. Da mes ma forma: Bento de Faria, Nélson Hungria, Roberto Lyra, Costa e Silva, Magalhães Noronha, Baliseu Garcia, Salga do Martins e Aníbal Bruno; modernamente, Evandro Lins e Silva, Celso Delmanto, Luiz Vicente Cem icchiaro, Mirabete e Cezar Bitencourt. Doutrina italiana da necessi dade causal da participação seguida pelos autores brasilei ros: Guamieri, Ranieri, Frosali, Pedrazzi, Bettiol, Cavallo, Pisapia e Morelli12. Vide sobre essa tradicional exigência na doutrina italiana: Giovanni Fiandaca e Enzo Musco13. Isso significa que a doutrina, no Brasil, orienta-se no senti do de que é aplicável às formas de concurso de pessoas o art. 13, caput, do Código Penal, que adotou os princípios
10. Tratado de direito penal, Campinas: Bookseller, n. 7,1:407, 1997. Verbete: “relevância causal das condutas”. 11. Lições de direito penal: a nova parte geral, Rio de Janeiro: Forense, n. 249, 1985, p. 268-9. 12. Relação de Antonio Pagliaro, in Principi di diritto penale, Milão: Giuffrè, 1993, nota 13, p. 540. 13. Diritto penale; parte generale, Roma: Zanichelli, 1995, p. 448.
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da equivalência dos antecedentes e da consideração da causa segundo o sistema da eliminação hipotética. A conduta do partícipe, de acordo com essa orientação, só é típica quando, sem ela, o delito não teria ocorrido. A jurisprudência não se aparta da doutrina, inserindo a causalidade material como con dição da participação14. Esse entendimento, entretanto, não convém que seja acatado, como procuraremos demonstrar. Suponha-se um assalto cometido por diversos sujeitos. Um deles atua como sentinela. Apücando-se o pressuposto da exigência da causalidade da conduta, se esta fosse causal, seria considerado partícipe e, portanto, responsável também pelo roubo; caso contrário, o evento não lhe seria imputado. Em outros termos, de acordo com a teoria da eliminação hipotética da eventual conduta relevante, para ser apreciada como indispensável ou não a contribuição, devemos excluíla da cadeia causal: se, eliminada, o assalto não se consu masse, seria causal, havendo responsabilidade pelo resulta do; se, retirada, ainda assim houvesse roubo, não se mostra ria causal, não se lhe podendo atribuir o evento. Admita-se que a participação do vigia tenha somente apressado a fuga dos meliantes. Excluída, haveria delito da mesma forma, somente retardada a retirada do local. Para a teoria tradicional, incidindo o art. 13, caput, do Có digo Penal, não seria partícipe do roubo por ausência do nexo de causalidade. Tal solução não se sustenta. No caso, o sentinela deve responder pelo assalto, indispensável ou não sua conduta, desprezando-se o requisito da relação causal. No sentido do texto: Paulo de Souza Mendes, “Crítica à idéia de ‘diminuição do risco’ de Roxin”, RBCP, 14. RT, 375:287,432:319,487:312,524:346 e 676:325; RJTJSP, 10:411 e 22:493.
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São Paulo, 74:106, nota 15, abr.-jun. 1996. Como dizia Novoa Monreal, “é possível prestar ajuda à realização de um delito mediante uma conduta que não seja indispensá vel para o resultado típico. Pode perfeitamente acontecer que alguém somente favoreça uma atuação do autor: por exemplo, acelerando a produção do resultado punível, que, sem essa ajuda, de todo modo, teria chegado a ocorrer, ou então facilitando uma atuação do autor, que, sem essa aju da, sempre se teria produzido. Com isso está cooperando na atuação do delinqüente principal, porém mediante atos secundários, que não são decisivos para a produção do de lito, mas que simplesmente tornam mais rápido e fácil o resultado típico. Temos que entender, em conseqüência, que a relação causal não é requisito indispensável para a atua ção do auxiliar ou cúmplice” 15. Imagine-se uma hipótese de homicídio. Sabendo que “A” pretende matar a vítima “B”, o armeiro “C”, também seu inimigo, incentiva-o à prática do delito e melhora a mira de sua arma de fogo, aderindo objetiva e subjetivamente ao fato. “A” mata “B”. De acordo com a prova, ainda que a mira não fosse melhorada e ausente a instigação, “C”, com firme propósito, executaria a vítima. Aplicando-se a exigên cia causal, “C” não seria partícipe, não respondendo pelo crime. Essa conclusão não é convincente, restringindo in devidamente a área do concurso de pessoas16. Nós, já em 1971, não obstante inserindo também a rele vância causal como requisito do concurso de pessoas, dizía mos que a doutrina estava “exagerando na questão da in-
15. “Algumas considerações sobre o concurso de pessoas no fato punível”, RBCDP, Rio de Janeiro, 16:11,1967. 16. Fiandaca e Musco, op. cit., p. 448.
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fluência do tema da causalidade no problema da co-delinqüência”17. Alertávamos sobre isso nas primeiras edições de nosso Direito Penal18 e nos Comentários ao Código Penal19, crítica que permanece até hoje20. Já tínhamos percebido que a aplicação irrestrita da causaüdade na participação condu zia a soluções incorretas. Nesse sentido, analisando especi ficamente a participação, Esther de Figueiredo Ferraz afir mava que esse modo de encarar o concurso de pessoas “con vidava a um comodismo funesto em conseqüências”21. E, fulminando o dogma causal, Nilo Batista criticava a sua con figuração como base conceituai do concurso de pessoas22.
2.3. Nossa nova posição a respeito da exigência da rela ção de causalidade material na participação Estamos abandonando a relevância causal como re quisito da participação. Nesse sentido: Hippel, Engisch, Mayer, Sauer, Merkel, Wessels, Weber, Camelutti, Grispigni, Padovani, Pagliaro e Novoa Monreal23. 17. Damásio E. de Jesus, Da co-delinqüência em fa ce do novo Código Penal, “Prêmio Costa e Silva de 1971”, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1976, p. 9. 18. Damásio E. de Jesus, Direito penal, São Paulo: Saraiva, 1:366, 1978. 19. Damásio E. de Jesus, Comentários ao Código Penal, 2. ed., São Paulo: Saraiva, 11:519, 1986. 20. Damásio E. de Jesus, Direito penal, 22. ed., São Paulo: Sa raiva, n. 5,1:406, 1999. 21. A co-delinqüência no direito penal brasileiro, São Paulo, Bushatsky, 1976, p. 12. 22. Op. cit., v. 8, p. 30 e s. e 149. 23. V. discussão sobre o tema in Jescheck, Tratado de derecho
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Como entende Nilo Batista, “a causalidade não pode constituir um critério central para a imputação do fato em caso de concursos de agentes”; assim, “nem a instigação nem a cumplicidade devem ser necessariamente causais”24. Nesse sentido, considerando que “a participação se insere na cadeia causal, mas não é indispensável”: Paulo José da Costa Júnior25. No mesmo sentido, dispensando a causali dade na cumplicidade (auxílio material): Pierangelli26 e Wagner Brússolo Pacheco27. Na verdade, o princípio do nexo causal só pode servir à consideração do fato cometido pelo autor material. Mas não se presta às outras formas do concurso de pessoas, que devem ser regidas pelo dogma da tipicidade. A participa ção não precisa ser causal. Tanto é que, entre nós, a contri buição de somenos importância conduz à redução da pena (art. 29, § Ia, do CP). Se é de “somenos” importância, que significa de valor inferior, reles, vil28, não pode ser causal, necessária. Se fosse “necessária”, por ser causal, não seria de “somenos” importância. Nesse sentido: Antonio Pagliaro29. De observar que em nenhum lugar os arts. 29 a 31 do penal-, parte general, trad. Mir Puig e Munoz Conde, Barcelona: Bosch, 11:964e s., 1981; Pagliaro, op. cit., p. 541. 24. Op. cit., VIII: 149 e XXX: 154. 25. Curso de direito penai, parte geral, São Paulo: Saraiva, 1:113, 1991. 26. “O concurso de pessoas e o novo Código Penal”, RT, 680:304, b\ Escritos jurídico-penais, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1992, p. 68. 27. “Concurso de pessoas: notas e comentários”, RT, 720:387. 28. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Novo dicionário Au rélio da língua portuguesa, 2. ed., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p. 1610. 29. Op. cit., p. 542.
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Código Penal, que disciplinam o concurso de pessoas, men cionam o nexo causal como requisito do instituto. Ao con trário, o art. 29, caput, e § 22 recomendam a exigência do dolo na delimitação do resultado e a consideração da cul pabilidade como critério informador da responsabilidade penal. Note-se que a participação apresenta natureza aces sória: configura um comportamento que se agrega a uma conduta principal de autoria. Esta, sim, deve revestir-se do atributo do nexo de causalidade. Além disso, se a contri buição paralela necessitasse do requisito da causalidade entre a conduta e o resultado naturalístico, não poderia ha ver participação nos delitos de mera conduta e na omissão imprópria30. Em suma, para nós, alterando posição anterior, o partícipe responde pelo fato ainda que sua contribuição não seja causal. Se causal, como veremos, detendo o do mínio do fato, não é considerado partícipe, e sim co-autor. A participação está ligada à tipicidade e à conduta e não ao nexo de causalidade. Cuida-se de uma hipótese de adequação típica de subordinação mediata, por extensão ou ampliação. Na adequação típica de subordinação direta, como sabemos, o fato amolda-se ao modelo legal de forma imediata, sem a interfe rência de outro dispositivo. Exemplo: “A” mata “B”, agindo dolosamente. O fato enquadra-se na figura do crime de homicí dio (art. 121, caput, do CP), não havendo necessidade de outra norma. Na adequação típica de subordinação mediata (amplia da ou por extensão), o fato não se enquadra imediatamente na norma penal incriminadora, exigindo-se para isso o concurso de outro dispositivo. E o que acontece na participação por induzimento, instigação e auxílio (cumplicidade), uma vez que a conduta do partícipe não se ajusta de forma imediata ao tipo, 30. Idem, p. 541
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exigindo o emprego de outra disposição para o perfeito enquadramento: “quem, de qualquer modo, concoire para o crime incide nas penas a este cominadas” (art 29, caput, do CP). Assim, na participação existe ampliação espacial e pessoal do tipo, pois a descrição delitiva, com o concurso da regra do art 29, não abrange somente o comportamento que se amolda imediatamente em seu núcleo, estendendo-se também às con dutas que, de qualquer modo, concorrem para a realização do crime. Vê-se que nas formas de contribuição moral e material, fora da autoria, há extensão do tipo incriminador, de maneira que a concorrência acede à ação do executor material. Esta, sim, não prescinde do nexo com o resultado. A lei, para efeito de responsabilidade penal, equipara a con duta do partícipe à do autor material. Dessa forma, a causalida de, na participação, apresenta natureza normativa e não objeti va. E a norma do art 29, caput, que determina: responde pelo crime não só o executor físico, que produz o resultado, mas também o partícipe, que acede sua conduta à ação principal. Em suma, nos crimes materiais exige-se nexo de cau salidade entre a ação e o resultado. Logo, o art. 13, caput, só é aplicável ao autor direto (quem matou, lesionou etc.), tendo em vista que a relação ali disciplinada é objetiva, material, entre a conduta e o resultado. Já o art. 29, caput, regula a extensão punitiva ao comportamento do partícipe, é de ordem normativa e não material.
3. Teorias sobre as formas de realização da conduta típi ca: autoria e participação 3.1. As teorias mais importantes sobre o conceito de autor Existem várias teorias sobre o conceito de autor, que envolve o de partícipe:
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Ia) teoria extensiva; 2a) teoria restritiva, subdividida em: a) teoria objetivo-formal; b) teoria objetivo-material; 3a) teoria do domínio do fato (de origem restritiva).
3.1.1. Teoria extensiva Com fundamento na doutrina causal da equivalência das condições, conceitua autor como todo aquele que, de qualquer forma, produz o resultado. É uma doutrina cau sal. Adotando um critério objetivo, não distingue autor de partícipe. Assim, no homicídio, são autores mandante e executor. Autor não é só quem concretiza o comportamen to típico, como também aquele que, mediante as formas de participação, realiza conduta sem a qual o resultado não teria ocorrido. Reconhece, entretanto, haver diferença, no plano subjetivo, entre quem concretiza o núcleo do tipo e quem contribui para o delito por induzimento, instigação ou auxílio, preconizando, neste caso, tratamento punitivo mais suave. A pena abstrata, do ponto de vista objetivo, é a mesma para todos. Subjetivamente, contudo, quem não realiza a conduta típica deve receber pena menor. Daí socorrer-se esta doutrina da “teoria subjetiva da participação”, para a qual autor é quem age com dolo de autor (animus auctoris) e deseja o fato como próprio; partícipe, quem re aliza o comportamento com dolo de partícipe (animus socii) e quer o fato como alheio31. Assim, tendo contribuído para 31. Günter Stratewerth, Derecho penal, parte general, trad. Gladys Romero, Madri: Edersa, 1982, p. 231; Cezar Roberto Bitencourt, Manual de direito penal, parte geral, 5. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 431-2.
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o resultado mediante qualquer conduta, a consideração do sujeito como autor ou partícipe depende da direção e con teúdo de sua vontade32. Daí também denominar-se “teoria subjetiva causal”. A teoria extensiva de autor, com seu complemento subjetivo de participação, foi refutada pela doutrina, uma vez que permitiria, segundo a vontade do sujeito, ser con siderado autor quando, não tendo realizado a conduta tí pica, quisesse o fato como próprio, e partícipe se, efeti vando o comportamento do núcleo do tipo, desejasse o crime como alheio.
3.1.2. Teoria restritiva Autor é quem realiza a conduta típica expressa no ver bo. E o executor material do fato33: quem mata, ofende, sub trai, constrange etc. Esta teoria, em sua conceituação origi nal, justamente por não poder ser aplicada a comportamen tos que deveriam ser considerados de autor, é completada por uma teoria objetiva de participação, com duas facetas: Ia) Teoria objetivo-formal: distingue autoria de partici pação, considerada esta na hipótese de o sujeito realizar uma ação ou omissão que não se enquadra no verbo cen tral, concorrendo para o crime mediante induzimento, ins tigação ou auxílio. A conduta do partícipe, em princípio, é atípica, uma vez que não se amolda ao núcleo da figura penal, tomando-se típica em face de norma de ampliação temporal (art. 29, caput, do CP). Aparecem nítidas e dis-
32. Jescheck, op. cit., n. IV, 11:894. 33. Franco, op. cit., p. 344.
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tintas as imagens do autor (ou executor) e do partícipe. Se “A” empresta a arma para “B” matar a vítima “C”, “A ” é partícipe e “B”, autor ou executor. Era a doutrina que adotá vamos, sem o socorro à teoria do domínio do fato. 2a) Teoria objetivo-material: distingue autor de partí cipe pela maior contribuição do primeiro na causação do resultado. A teoria restritiva recebeu críticas, tendo em vista que, não obstante reconhecer a diferença entre autor e partícipe, não resolve a questão da denominada “autoria mediata” ou “autoria de escritório”, em que o sujeito serve-se de outra pessoa, como instrumento executório, para a prática deli tuosa34. Além disso, sob o aspecto da teoria objetivo-formal, em um delito de estupro, se um sujeito aponta a arma e outro mantém conjunção carnal com a vítima, o primeiro seria autor e o segundo, partícipe, uma vez que o verbo típico é “constranger” (art. 213 do CP); o chefe de uma quadrilha de assaltantes que não participasse materialmente dos roubos seria considerado mero partícipe. Nesses ca sos, o senso comum que informa o princípio da natureza das coisas indica o estuprador e o chefe da quadrilha como verdadeiros autores e não simples partícipes.
3.2. Posição do Código Penal brasileiro Nosso Código Penal adotou a teoria restritiva, já que os arts. 29 e 62 fazem distinção entre autor e partícipe. Assim, o art. 62, IV, agrava a pena em relação ao agente que “execu 34. Munoz Conde e Mercedes García Aran, Derecho penal, parte general, Valencia: Tirant lo Blanch, 1996, p. 450.
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ta o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa” (destaques nossos). Quem executa o crime é autor; quem induz, instiga ou auxilia considera-se partícipe. Isso, entretanto, não resolve certos problemas, como o da autoria mediata, em que o sujeito se vale de outrem para cometer o delito. Daí a necessidade de a doutrina socorrerse da teoria do domínio do fato, que, aliada à restritiva, dá adequação apropriada aos casos concretos.
4. Teoria do domínio do fato 4.1. Introdução Welzel, em 1939, ao mesmo tempo em que criou o finalismo, introduziu no concurso de pessoas a “teoria do domínio do fato”, partindo da tese restritiva e empregando um critério objetivo-subjetivo: autor é quem tem o controle final do fato, domina finalisticamente o decurso do crime e decide sobre sua prática, interrupção e circunstâncias (“se”, “quando”, “onde”, “como” etc.). É uma teoria que se assen ta em princípios relacionados à conduta e não ao resultado. Agindo no exercício desse controle, distingue-se do partícipe, que não tem o domínio do fato, apenas cooperando, indu zindo, incitando etc.35. Constitui tese restritiva, aplicando critério objetivo-sub jetivo. Não é inteiramente objetiva nem subjetiva. É mista. Por isso é denominada “objetivo-subjetiva”. Além disso, exige apreciação caso a caso em face da descrição do crime. 35. Batista, op. cit., p. 77; Teresa Pizarro Beleza, Direito penal, Lisboa: AAFDL, 11:394, 1997.
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Apresentando a finalidade como fundamento, como na teoria finalista da ação, é amplamente adotada pela doutri na: Welzel, Stratenwerth, Maurach, Wessels, Roxin, Schrõder, Jescheck, Gallas, Blei, Zaffaroni, Munoz Conde, Córdoba Roda, Rodríguez Devesa, Mir Puig, Bacigalupo, Enrique Cury e Bockelman; no Brasil: Manoel Pedro Pimentel, Alberto Silva Franco, Nilo Batista, Luiz Régis Prado, Cezar Bitencourt, Pierangelli e Luiz Flávio Gomes. E a teoria que passamos a adotar. Em outras palavras, nossa posição adere à teoria do domínio do fato, que é uma tese que complementaadoutrinarestritivaformal-objetiva,aplicandocritério misto (objetivo-subj etivo). De notar, pois, que a teoria do do mínio do fato não exclui a restritiva. E um complemento. Unemse para dar solução adequada às questões que se apresentam en volvendo autores materiais e intelectuais de crimes, chefes de quadrilha, sentinelas, aprendizes, motoristas, auxiliadores, indutores, incentivadores etc. Sob rigor científico, é mais um re quisito da autoria que uma teoria do concurso de pessoas35 A. A
4.2. Espécies de autoria em face do domínio do fato Na teoria do domínio do fato, a autoria abrange: l 2) autoria propriamente dita (autoria direta individual e imediata); 22) autoria intelectual; 32) autoria mediata; e 42) co-autoria (reunião de autorias). 35-A. No mesmo sentido, adotando nosso entendimento: José Francisco Cagliari, Concurso de pessoas — Os conceitos de autoria e participação e a teoria do domínio do fato, in Teoria da imputação objetiva e teoria do domínio do fato, Caderno Jurídico, São Paulo: Escola Superior do Ministério Público, 7:167, abr. 2001.
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4.2.1. Autoria propriamente dita Na autoria propriamente dita (autoria direta individual e imediata), o autor ou executor realiza materialmente a conduta típica (executor material individual), age sozinho, não havendo indutor, instigador ou auxiliar. Ele tem o do mínio da conduta.
4.2.2. Autoria intelectual Na autoria intelectual o sujeito planeja a ação delituosa, constituindo o crime produto de sua criatividade. É o caso do chefe de quadrilha que, sem efetuar comportamento tí pico, planeja e decide a ação conjunta36. A Constituição da Repúbüca refere-se ao autor intelectual quando, determi nando a inafiançabiüdade dos crimes hediondos e asseme lhados, emprega a expressão “mandante”37. O Código Pe nal agrava a pena do autor intelectual, referindo-se ao su jeito que “promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes” (art. 6 2 ,1).
4.2.3. Autoria mediata Na autoria mediata, uma pessoa, o “sujeito de trás”, serve-se de outrem para praticar o fato38, podendo a ele 36. Enrique Cury, Derecho penal, parte general, Santiago do Chile, 11:245, 1985; Franco, op. cit., p. 345; Fragoso, op. cit., n. 243, p. 264. 37. Luiz Vicente Cemicchiaro e Paulo José da Costa Júnior, Direito penal na Constituição, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990, n. 4.1 e 4.2, p. 173-4. 38. Jescheck, op. cit., p. 898-9; Germano Marques da Silva, Direi to penal português', parte geral, Lisboa: Editorial Verbo, 11:285, 1998.
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ser atribuída a “propriedade” do crime39. Ele possui o domínio da vontade do executor, chamado de “instrumen to”. Exemplos: o hipnotizador sugere ao hipnotizado a prática de um delito; o sujeito constrange alguém, medi ante grave ameaça, a assinar documento falso. Nesses casos, não há participação, uma vez que o autor mediato tem o domínio do comportamento e da vontade de seu executor material. E autor. A autoria mediata inclui as seguintes hipóteses: a) ausência de capacidade penal do instrumento por menoridade penal, embriaguez ou doença mental (art. 62, m, do CP); b) coação moral irresistível ou obediência hierárquica (art. 22 do CP); c) erro de tipo escusável determinado por terceiro, em que o instrumento age sem dolo (art. 20, § 22, do CP); d) erro de proibição invencível (art. 21, caput, do CP). No primeiro caso (a), o autor mediato determina a um inimputável por menoridade ou doença mental a prática de um crime. No segundo (b), incidem sobre o “instrumento” coação moral irresistível ou ordem de superior hierárquico (art. 22 do CP). Na terceira hipótese (c), o autor mediato conduz o instrumento humano a incidir em erro de tipo invencível. Exemplos: o sujeito, mediante comunicação fal sa de crime, provoca erro da autoridade policial, que efe tua a prisão de um inocente; o caçador induz o companhei ro a atirar naquilo que aponta como animal, sabendo que na verdade é uma pessoa. Nesses casos, o innocent agent, 39. Santiago Mir Puig, Derecho penal, parte general, 3. ed., Barcelona: PPU, 1995, p. 396. Vide sobre o tema: Carolina Bolea Bardon, Autoria mediata en derecho penal, Valência: Tirant lo Blanch, 2000.
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como é denominado o instrumento pelos autores de língua inglesa, é induzido a realizar uma conduta que supõe pe nalmente irrelevante, quando, na verdade, é criminalmente punida40. Por fim, no erro de proibição (d) o instrumento incide em erro sobre a ilicitude da conduta. Nesse tema, dá-se o nome de “instrumento” ao “executor imediato”, que concretiza materialmente o crime sem dolo ou sem culpabilidade, não possuindo o domínio final do fato. De observar que a expressão “instrumento” é reservada à pes soa humana e não a animais ou coisas41. Vide sobre a auto ria mediata: Emilio Moreno y Bravo42, Estebam Juan Pérez Alonso43 e Nilo Batista44.
4.2.4. Co-autoria Na co-autoria (reunião de autorias), que constitui for ma de autoria, o co-autor realiza o verbo típico ou concre tiza parte da descrição do crime, ainda que, no último caso, não seja típica a conduta perante o verbo, desde que esteja abarcada pela vontade comum de cometimento do fato. É a prática com unitária do crim e, segundo Johannes Wessels45. Cada um dos integrantes possui o domínio da 40. Gianville Williams, “Principals and acessories”, in Crimi nal law, general part, 2. ed., Londres, 1953, p. 350, § 120. 41. José María Luzón Cuesta, Compendio de derecho penal, parte general, Madri: Dykinson, 1998, p. 209. 42. Autoria en la doctrina dei Tribunal Supremo, Madri: Dykinson, 1997, p. 73 e s. 43. La coautoría y la complicidad (necesaria) en derecho pe nal, Granada: Editorial Cornares, 1998, p. 172 e s. 44. Op. cit., p. 103. 45. Direito penal, parte geral, trad. Juarez Tavares, Porto Ale gre: Sérgio A. Fabris, Editor, 11:117, n. 1, 1976.
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realização do fato conjuntamente com outro ou outros au tores, com os quais tem plano comum de distribuição de atividades46, e quer realizar como próprio o fato comum com a cooperação dos outros47. Há divisão de tarefas, de maneira que o crime constitui conseqüência das condutas repartidas, produto final da vontade comum. E nenhum deles é simples instrumento dos outros. Não é necessário, portanto, que haja hierarquia ou subordinação de uma von tade a outra48.
4.3. Formas de co-autoria A co-autoria pode ser: l 2) direta; e 22) parcial ou funcional.
4.3.1. Co-autoria direta Na co-autoria direta todos os sujeitos realizam a con duta típica. Exemplo: diversas pessoas agridem a vítima produzindo-lhe lesões corporais.
4.3.2. Co-autoria parcial ou funcional Há divisão de tarefas executórias do delito. Trata-se do chamado “domínio funcional do fato”, assim denomi
46. Juan Bustos Ramirez, op. cit., p. 331. 47. Luiz Carlos Perez, Tratado de derecho penal, Bogotá: Ed. Ternis, 11:15, 1967. 48. Enrique Bacigalupo, Princípios de derecho penai, parte ge neral, 3. ed., Madri, 1994, p. 228.
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nado porque alude à repartição de atividades (funções) en tre os sujeitos49. Os atos executórios do iter criminis são distribuídos entre os diversos autores, de modo que cada um é responsável por uma parte do fato, desde a execução até o momento consumativo. As colaborações são diferen tes, constituindo partes e dados de união da ação coletiva, de forma que a ausência de uma faria frustrar o delito. É por isso que cada um mantém o domínio funcional do fato50. Exemplos: no roubo, são divididas as ações de apoderamento do dinheiro, constrangimento dos sujeitos passivos mediante ameaça, vigilância e direção do veículo; no ho micídio, um sujeito segura a vítima e outro a esfaqueia51; no estupro, um a ameaça com emprego de arma e outro mantém com ela conjunção carnal. Na co-autoria (parcial ou funcional), como ficou con signado, parte da doutrina exige que a contribuição seja cau sal, isto é, que a conduta de cada um dos autores seja de tal modo necessária que, sem ela, o crime não seria cometido. Nessas hipóteses, ensina Munoz Conde, só pode haver co-autoria se, a par do acordo, a conduta constitui uma parte essencial da concreta realização do delito52. Caso contrário, há participação. Assim, no exemplo do sentinela (“campana”) 49. Gomez Benitez, ‘Teoria jurídica dei delito”, in Derecho penal, parte general, Madri, 1992, p. 128; Moreno y Bravo, op. cit., p. 57. 50. Manoel Pedro Pimentel, “A teoria do crime na reforma pe nal”, RT, 591:293; Pacheco, op. cit., p. 383. 51. Exemplo de Eugenio Raúl Zaffaroni e Pierangelli, Manual de direito penal brasileiro; parte geral, São Paulo: Revista dos Tribu nais, 1997, p. 675. No mesmo sentido: Teresa Pizarro Beleza, op. cit., p. 402; André Luiz Callegari, “Concurso de pessoas — Teorias e reflexos no Código Penal”, Revista Ibero-Americana de Ciências Penais, Porto Alegre: Centro de Estudos Ibero-Americano de Ciên cias Penais, 0:26, maio-ago. 2000. 52. Op. cit., p. 455.
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do crime de roubo, será co-autor ou partícipe, segundo a sua contribuição causal. Se, caso estivesse ausente, não se con sumaria o assalto, é co-autor; se a sua ação apenas permitiu fuga mais rápida, deve ser considerado partícipe53. Esse critério, entretanto, com base na teoria da rele vância causal, não pode ser acatado pela nossa posição, como vimos, uma vez que só aceitamos o dogma da causa lidade na autoria direta. No caso do vigia, como também nas hipóteses do motorista, do “aprendiz assistente” e do “informante”, sua consideração como co-autor ou partícipe depende da presença do domínio final do fato e não do requisito da causalidade material. No sentido parcial desse entendimento, afirmando que na cumplicidade não é ne cessário que a intervenção seja causal: Pierangelli54. A contribuição do sentinela, v. g., é penalmente rele vante, ainda que não causal, desde que tenha facilitado “ou tomado mais expedita a execução do fato”, mesmo “que pudesse ser dispensada pelo autor”55. É também co-autor o motorista que aguarda os assaltantes nas proximidades do estabelecimento bancário ou que transporta a vítima de seqüestro (co-autoria fracionada)56. No sentido de que é partícipe não só quem realiza conduta que tomou possível a prática delituosa, como também quem facilita o cometi mento do crime: Fiandaca e Musco57. Assim, ainda que não causal, a contribuição do partícipe é criminalmente relevante se facilitou ou reforçou a conse53. Zaffaroni, Teoria dei delito, Buenos Aires: Ediar, 1973, p. 648; Zaffaroni e Pierangelli, op. cit., p. 675. 54. “O concurso de pessoas e o novo Código Penal”, cit., p. 304, b. 55. Idem, p. 304-5. 56. André Luiz Callegari, “Concurso de pessoas — Teorias e reflexos no Código Penal”, cit., 0:27, n. 2.2.3. 57. Op. cit., p. 451.
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cução do objetivo final, características que se aproximam da teoria italiana da “causalità agevolatrice o di riforzo”58.
4.4. Co-autoria e co-autor sob outras formas A co-autoria ainda pode ser: l 2) simples: dois executores da conduta típica, por exemplo; 22) complexa: um executor e outro co-autor intelectual ou funcional, por exemplo. O co-autor pode ser: l2) direto ou material: ele é um dos sujeitos que executa o verbo do tipo. A Constituição Federal refere-se ao autor di reto quando, determinando a inafiançabilidade dos crimes hediondos e assemelhados, emprega a expressão “executor”59; 22) intelectual: na repartição de tarefas, é autor da idéia delituosa (caso do mandante, que detém o domínio do fato) ou se lhe incumbe organizar o plano criminoso. No sentido de que o mandato é forma de determinação: Alberto Silva Franco60; 3*)funcional: cabe-lhe, na missão criminosa, executar parte do comportamento típico.
5. Participação Partícipe, na doutrina do domínio do fato, é quem efetiva um comportamento que não se ajusta ao verbo do tipo e não tem poder de decisão sobre a execução ou consumação do crime. 58. V. o tema in Fiandaca e Musco, op. cit., p. 448-9. 59. Cemicchiaro e Costa Júnior, op. cit, n. 4.1 e 4.2, p. 173-4. 60. Op. cit., n. 1.03, a2, p. 348.
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São, pois, características da participação: Ia) a conduta não se amolda ao núcleo da figura típica (o verbo); 2a) o partícipe não tem nenhum poder diretivo sobre o crime, isto é, não possui o domínio finalista do fato. Nesse sentido: Alberto Silva Franco61, Manoel Pedro Pimentel62, Pierangelli63, Nilo Batista64, Luiz Régis Prado65 e Wagner Brússolo Pacheco66. Contribui, por intermédio de conduta acessória, para a concretização do com portam ento típico, m ediante induzimento (determinação), instigação ou auxílio material (a chamada cumplicidade). No sentido da sinonímia, na dou trina brasileira, entre auxílio e cumplicidade: Heleno Cláu dio Fragoso67 e Wagner Brússolo Pacheco68. Distinguem-se autor, co-autor e partícipe. O autor de tém o domínio do fato; o co-autor, o domínio funcional do fato, tendo influência sobre o “se” e o “como” do crime; o partícipe só possui o domínio da vontade da própria condu ta, tratando-se de um “colaborador”, uma figura lateral, não tendo o domínio finalista do crime. O delito não lhe perten ce: ele colabora no crime alheio. Nesse sentido: Manoel Pedro 61. Op. cit., n. 1.01, p. 345. 62. Op. cit., p. 293. 63. “O concurso de pessoas e o novo Código Penal”, cit., p. 311. 64. Op. cit., p. 77. 65. Curso de direito penal brasileiro, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 267. 66. Op. cit., p. 387. 67. Heleno Cláudio Fragoso e Nélson Hungria, Comentários ao Código Penal, Rio de Janeiro: Forense, v. 1, t. 2, 1978, p. 635 e 637. 68. Op. cit., p. 387.
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Pimentel69; Luiz Régis Prado e Cezar Roberto Bitencourt70; Pierangelli71. 0 mandante é autor intelectual e não partícipe, uma vez que detém o domínio do fato. No sentido de que o mandante é autor intelectual: Luiz Carlos Perez72. 0 indutor ou determinador, o instigador e o auxiliador são meros partícipes, desde que, não dominando subjetivamente o fato, restrinjam sua contribuição ao simples induzimento, encorajamento ou auxílio secundário.
6. Extensão da teoria do domínio do fato Só é aplicável aos crimes dolosos, sejam materiais, sejam formais ou de mera conduta73. Nos culposos, inexiste distinção entre autoria e participação: é autor todo aquele que, mediante qualquer conduta, produz um resultado típi co deixando de observar o cuidado objetivo necessário.
7 .0 Código Penal brasileiro e a teoria do domínio do fato O Código Penal, na reforma de 1984, adotou a tese fi nalista, como pode ser demonstrado pela introdução do dolo na estrutura da conduta e na conceituação do erro de tipo e de proibição. Por coerência lógica, admitimos, como faz 69. Op. cit., p. 293. 70. Código Penal anotado, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, n. 3, p. 244. 71. “O concurso de pessoas e o novo Código Penal”, cit., p. 311. 72. Op. cit., p. 23. 73. José Ulises Hemández Plasencia, La autoria mediata en derecho penal, Granada: Editorial Cornares, 1996, p. 79, mencionando crimes materiais e de mera conduta.
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DAMÁSIO E. DE JESUS
Alberto Silva Franco, que nosso estatuto penal também aco lheu a teoria do domínio do fato74. No sentido de que o Có digo Penal vigente adota a teoria do domínio do fato: Manoel Pedro Pimentel75; Nilo Batista76; Pierangelli77; Luiz Régis Prado e Cezar Roberto Bitencourt78; Wagner Brússolo Pacheco79. Note-se que o art. 6 2 ,1, do Código Penal determina a agravação da pena daquele que “promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agen tes”, referindo-se, obviamente, ao sujeito que possui o do mínio do fato. No mesmo sentido: Nilo Batista80.
74. 75. 76. 77. 78. 79. 80.
Op. cit., p. 345. Op. cit., p. 294. Op. cit., p. 56. “O concurso de pessoas e o novo Código Penal”, cit., p. 297. Op. cit., n. 2 e 3, p. 243-4. Op. cit., p. 381. Op. cit., p. 80.
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