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Portuguese Pages 124 [104] Year 1981
PauloF. Santos
Quatro Séculos de Arquitetura 1
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Introdução
Como na História Política, a da Arquitetura da Cidade pode ser dividida em três períodos: COLONIAL, IMPERIAL, REPUBLICANO. No período COLONIAL, todas as nações colonialistas da época - Espanha, Holanda, França, Ingla ter ra-, tinham monopó lio de comércio com suas colônias. O nosso só se faz ia através de Portugal: comércio de bens materi ais e das prendas do espí rito também. Exportávamos matérias-primas e exo t ismos - já houve quem o disse - e recebíamos produtos manufaturados: os da cultura inclusive da arqui tetur a, nos chegavam de lá prontos para se· rem aplicados.
As fontes em que Port ugal se abast ecia estavam
muitas vezes fora: na Europa - principalmente na Itália, dado o avassalante prestígio da Renascença; um pouco na Esp an ha, mais perceptível durante os anos em que as duas coroas esti veram unidas (1580-1640) ; e um pouco também na França no século XVI 11;mas mesmo preponderantemente italiana foi maior. Hou ve influência nesse século a da mesma Europa e taminfl!1ências: ou;ras muita& não cabe citar numa que Africa, e Asia bém esquisse relativa ao Brasil. No qlle tange às fortif i· cações, por exemplo, à influência itali ana - qu ase a única no século XVI -, seguiram-se a holandesa na primeira metade do século XVII e a francesa na segunda metade desse século e nu XVI 11.
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Na Itália, nos séculos XVI ao XVIII, a ar quitetura teve quatro fases: Renascentista, Maneirista, Barroca e Rococó. Portugal, depois do magnificente surto Manuelino de curta duração, acusou também com espíri to diferente mas com as mesmas raízes,
14 Renascença, e não dinâmica, que é a caracterí st ica fundamental do Barroco. Do Rococó - cuja contribuição à arquitetura cívil consistiu principa lmene te em introdu zir fo rma s mais sensíveis , delicadas A expr essão Arq uitetu ra Maneirist a empregada em a nte me mada proxi a do caprichosas - pode dizer -se relação a Portugal é relat ivamente recente. Data es mesma coisa. relevo conferido ao Maneirismo pelos emine nt o Wittk R. a historiadores e críticos de língua ingles No período IMPERIAL, com a Abertura dos Porestuem , er Pevsn wer, Anthony Blunt e Nikolaus s tos decretada pelo. Prín cipe Regente quando em dos estendidos à arquitetura portuguesa por outro a r 1808 fugindo da il'ivasãonapoleônica t ransferiu críticos de I íngua inglesa: John Bury (em caráte sorte toda er receb a mos passa l, Brasi para o exper imental ) e Robert Smith, com boa receptivi- Corte ias, na arquitetu ra e nas artes em gera l da luênc Paes inf e de Jorg e Chicó Mário eses dade dos portugu da predo m inan do parad oxalmente as da França, resul Silva - também eles f iguras de alta categoria as tado da vinda em 1816 de uma missão de artist mod etna Histór ia da Arte. no se desse país para o Rio de Janeiro. Assinalamtiestilís de período duas influ ênc ias princ ipais - uma O Brasil, cujos primeiros cinqüenta anos foram - ca, o Neoclassicismo, qu e fo i aqui antes uma revivesúlti três as çou rudi ment ares realiza ções, só alcan de cênc ia de forma s ainda uma vez da Renascença, do mas te ndênci as, a primeira sendo aqui chamada ue qu e um retorno às fontes pr imár ias da Gréc ia e Jesuítica , aind a qu e nela se inclua arquitetura q se Roma ant igas, como na França, 1nglater ra e Alenão pertence à Companhia de Jesus, a que tendên cia do espír ito, o Ro· seguiram a Barroca e a Rococó, não se tendo ainda manha; outra, como expressões formais. te ntado subst itui r a designação Jesuítica por Ma- mantismo, com variadas neirista . da Em meados do sécul o XIX com a inauguração telédo da segui tica tlân navegação a vapor transa O Maneirism o na Itá lia foi atitude de rebeldia scen Rena da s grafo subm arino , entramos em rápido contato com ância ordon as e ca áti con tr a a gram ra todos os povos. Consegüência : mesc la de influ ên ça, tomada por quem as conhecia mas delibe do a REPÚBLICA e as invenções damente não as seguia (Michelangelo na Laurezia- cias que, com a e intens ifica ção da imprensa, cinem do , s ano l forma aerop na, por exemplo), ao passo que no Brasil as que todo o Ocident e t ivesse uma fase de da arquitetura de entr e Renascença e Barroco ex- fizeram as o Eclet ismo. No Brasil, foi no Rio de Janeiro com pr imiram antes o arcaí smo pró prio ao meio ásper eenempr e cidad da ão às grandes obras de remodelaç e rude do q ue uma maneira ou atitude contrári a i- didas pelo Prefe ito Passos, qu e o Eclet ismo atingiu Jesuít ssões normas consag rad as. Quanto às expre suas formas mais desenvo ltas. ca, Barro ca e Rococó só são legí timas para a nossa arquitetura religiosa; porque a civil, quando rural, mA década de 1920-1930, do Pós-Guerra, foi ta de nas suas formas desataviadas era desprend ida à vação reno de se fa uma nte Ocide o - bém para todo pretensões er ud itas e ainda q ue com raízes tam ica u- procura de rumos. Na arqui tetura, toda a Amér bém portu guesas, as teve primordialmente merg proc urou renovar-se seguindo dois caminhos: um lhadas na nossa t erra ; e quando urb ana e naquelas de voltado para o passado, o Neocolonial; outro para rea lizações em que se possa ter a pr ete nsão r. o futuro, o Moderno, que acabar ia por prevalece encontrar fil iações esti líst icas mais definida s, usou no de vocabu lário plástico de pilastras , cornijas , entaA arquitetura do Rio de Janeiro - por q ue a cuj s e frontõ e a -verg sobre de has cimal revira blamentos, Bras il foi aqui , com arquite tos daqui, q ue a COdo perío o todo te duran da marca foi e mais sintax volta se deu - rap idamente vai situar-se : não LON IAL pelos compa ssos da Renascença. Uma ou subservien te a Portugal, como no per iodo Colo no outra vez o Barroco se insinuo u em portadas volucomo a, e nial; não mais subserv iente à Franç tas, quartilhas de começo de escada, cartela s ios desti própr seus de dona mas ial; r Impe odo i- perí quejandos ace ssórios , mas a orgânica da co mpos rsal. unive ra nos, no pri meiro plano da arquit etu da ção dos espaços man te ve-se estática, à moda
as essas quatro tendências: mais t endênci as est ilístic do que fases.
Período Colonial
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A Cidade e sua 1 './../. 7 .J:9-' Arquitetura Militar / ./ '
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A Cidade Velha no Cara de Cão e a Cidade Nova no Castelo
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A Guanabar a, devid o à sua situação geográfica, era um lugar privilegiado ; ali uma grande cidade teria fatalmente d e surgir, por maiores que fossem os obstác ulos à sua expansão urbanísti ca - disse Albert o Lamego; e haveria inevitavelmente de per-
terio r: a Casa da Câmara, sobradada, telhada e grande; a Cadeia; os Armazéns da Fazenda Real, também sobradados, te lhados e com varandas (isto é: sacadas) ; a Igreja dos padr es de Jesus "te lhada e bem cons ertada" e a Sé de três naves, " també m telh ada e bem co nsertada"; dando ainda "ordem e favor" para que fizessem muitas outras casas •~ il!!Qas..e,..sobradadas''.. Mudada a cidade, a do Cara de Cão passou a chamar-se Cidade Velha ou Vila Velha.
tencer - é ainda dele a observação- à categoria A localização da cidade no alto, já adotada pelos das capitais naturais de que fala Vallaux - , cidades que teriam sido vivas e populosas como núcleos de relações industri ais, comerciais e agrícolas, mesmo se o Estado não houvesse feito delas o centro de sua atividade.
romanos, visigodos e muçu lmanos no território depois ocupado por Portuga l, foi também de tradi· ção portuguesa como mostra o Livro das Fortalezas de Duarte Darmas, escudeiro de D. Manuel 1. A Lisboa muçulmana, no ano da sua conquista pe los cristãos (1147) tinha o seu castelo com uma mu· ralha em volta.
A cidade de Estácio de Sá na Praia d o Cara de Cão não passavp. de um arraial de precár ias instalaçõ es: balua~tdbertos de telhas vindas~e S. Vicente, Se Salvador foi a Forta leza Forte de que fala o casas cobertas de pa lma, a ermida "'em que o ficia- Regimento de Tomé de Souza, Rio foi o Castelo , ram os jesuítas. O sítio era ex ígup só explicável de proteção da costa sul - , ambas refe ridas nos pela sua significação militar como senti nela da documentos como praças fortes, o que equivale a barra e trampolim para a conquista da baía, então dizer: com os RJanos urbanísticos subordinados aos ainda em poder dos homens de Villegaignon. Mes- militare S:-mo assim serviu por dois anos: março de -~a janeiro-março de J,961. Al,%>15 A Praça Forte
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Exp ulsos os franceses, Mem de Sá, nos dezesseis meses em que esteve na Guanabara ( 18 de janeiro de 1567 a maio de 1568) constrói a nova cidade no Morro de S. Január io depo is conhecido co mo do Castelo. Descreve-a ele próprio, corroborado por testem unhas no "Instrumento" dos seus serviços (1570); cercando-a de muros co m mu itos baluart es chei os de art ilhar ia e construindo no in-
dos Primeiros Anos Em princípios do século XVII havia na cidade: no sopé do Morro do CastEtl9.,o Forte de São Tiago (depois, do Calabouço); na Cidade la, o Baluarte Cidadela, o Forte de São Sebastião e o Baluarte da Sé, ligando esse Baluarte ao Forte de São Tiago, a muralha em que ficava a Porta da Cidade, onde até pouco tempo at rás existia o Beco da Música; na
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Praia de Manuel de Brito, onde se ergue a Igreja da a primitiva Santa Cruz (consCruz dos -Militares,'"" truída por Martim de Sá em 1605); na barra, as fortalezas de São Teodósio e Nossa Senhora da Guia, nomes depois trocados para S. João e Santa a Cruz, cujos balaços fizeram retrocedei· em 1599 -(a esquadra de Oliver Van Noort. Mais tarde far-se o Forte de São Bento no morro desse nom e. Dessas fortificações, a de Santa Cruz é a única de que se conhece a traça - indicada com clareza num canto do mapa Capitania do Rio de Janeiro do Cosmógrafo João Teixeira Albernaz (o avô) (que pelas legendas se vê ser posterior a 1625 e anterior Idade a 1631) -, traça de compromisso entre o igand ~eias com Média e a Renascença; cortinas forma a com estes entre si cubelos e baluartes e cilíndrica detÕrres, quando o baluarte geralment cendo duas as as, i:>lan compreendia quatro faces tro em forma de cunha salient e';ou em ponta de lãnçaTalvez a Cidãdeâo7i.itõ'rro que Memde Sá disse ter baluartes, os tivesse também cilíndr icos, porque Gabriel Soares (1587) a descreve como tendo torres e Frei Vicente (1627), quatro caste los.
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Descida para a Várzea A descida da cidade para a Várzea começou ainda no século XVI, em que se fizeram as ermidas ali situadas de São José, Santa Luzia, Nossa Senhora do ó e Ajuda, em to rno às quais foi se agrupando o casario, e também o Hospital da Misericórdia, que em 1582 atendia às vítimas da epidem ia que grassou na armada de Valdez, e que Cardim (1583-90) disse ficar na praia. Em 1568 (ano seguinte ao da mudança), já aparece uma escritura de doação de sesmaria: tudo cercado, com casas co a dali e , Brito de meçadas na Praia de Manuel quinze anos, duas outras, uma na mesma Praia de Manuel de Brito, outra no Caminho do Boqueirão (Vieira Fazenda). o A ocupação nada teve de arbitrária. Apalpava-se ela ter Daí as. enxut s parte das terreno em busca começado no sopé do morro ( Rua da Misericórdia), infletindo pelas restingas arenosas, de um o lado rumo ao Boqueirão (Lapa), do outro - e foi (Praa principal -, rumo à Várzea de Nossa Senhor
ça XV), seguindo pela Praia de Manuel de Brito
o ( Rua Direita, hoje Primeiro de Março) até o Morr arlinha uma nto conju o ndo forma de S. Bento , queada que serviu de base ao traçado das ruas; as transversais da Rua Antônio Nabo (S. José) à dos Pescadores (Visconde de lnhaúma) ficando normais ao arco; as longitudinais, a começar da Rua Detrás do Carmo (Carmo), agenciando -se aproximadamente paralelas aos segmentos de corda do mesmo arco. No princípio do século XVII a Cidade da Várzea já seria extensa, porque Dick Ruiter, capitão de mari levater conta , 1618 em onado aprisi nha holandês do uma boa meia hora a percorrê -la ao longo da o prai\ (Boxer) e uma d ezena de anos depois, o a mostr já mapa Capitania do Rio de Janeiro lrajá ma, lnhaú vão, povoamento atingindo S. Cristó e até Magé e S. Gonçalo do outro lado da baía. Mas pouco ocupada, porque o mesmo cap itão que também se refere à existência de ruas e diz não serem pavimentadas-, consigna de z ou doze casas apenas, muitas baixas e escuras. A parti r de 1623 os rumores de próxima invasão holandesa que se admitiu pudesse visar o Rio, a provocam pân ico e um re,trocesso na descida para do ela Cidad da Várzea: - referem-se os muros Castelo; reforçam -se apressadamente as fortificações da barra; manda -se (Carta Régia de 17-X-1632) que " a Cadeia e a Casa da Câma ra se a conservem no sítio alto e se não mudem para via ma nenhu "por que Várzea ... "; insiste-se em se faça obra nem casa fora das fortificações" (P. iCalmon). Até as legendas do mapa de João Teixe , deses holan pelos dor Salva de ra falam na tomada o. upaçã preoc essa o traind er, ocorr que acabara de A part ir de 1637, Salvador Correia de Sá (filho de Martim de Sá) assumindo a governança sem mais respeito a proibições começou a instalar os mora da Casa dores na cidade em baixo (P. Calmon). Da Câmara e Cadeia, que em 1631 os membros do Conselho dizem estar muito velha e num deserto, a em 1633, para erguer outra na Várzea, se mand obras as -se modelo a el- Rei e em 1639 contratam com pedreiro Francisco Monteiro (V. Fazenda). o Entra em decl ínio a Cidadela, de que em 1656 a e casas de s ruína as poeta R. Flecknoe afirma só a unham testem anece grande igreja que ain da perm
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Arquitetura
como engenheiro-mor do Reino, e em 1617-1618 esteve no Rio, logo depois de ter projetado, com as ruas se -~rtando em ân_gJ:!ló reto f mªn .eira q~ Renascenca1 a cidade de S. Luís do Maranhão (reO Traçado das Ruas produzida por Barleus (1647} e Santa Teresa {1698) - primeira do Brasil com traçado desse No Cast~ o_traçado das ruas eraJrregula r_§JTlQd.a gêne ro). Michel de Lescolles, francês , tomou posse T edieva l eort.!:!auesa; mas na Várze1Ld1t$..d .!LQ. _prj- na Câmara do Rio (1649) como engenheiro de meiro século e começo do segundo já se fala em S.M., sendo encarregado pelo Conde de Castelo éodeamento, .!ifilDarcação_,_ruas direitas conforme Maior de fazer as plantas da cidade {fez ao todo às mais,d e trinta palmos, etc. - e há uma relativa sete, de que há menção em documentos do Arquiregulariêlaae que reflete as idéias da Renascença, vo Ultramarino, dadas como perdidas). postas em voga por Alberti (na sua interpretação de Vitruvio), Filarete, Scamozzi, etc., idéias que tiveram muito maior aplicação nas cidades da Século XVII América do que nas da Europa, - já o disseram Pierre Lavedan e Robert Smith - e comprova-o a Em 1647 cria-se em Lisboa a au la de Fortificações comparação ent re os p lanos destas, reunidos por e Arquitetura Militar, em que pontifica Luís SerLavedan e os daq uelas, existentes no Arquivo de rão Pimentel, cujo curso, publicado em 1680 com lndias em Sevilha reproduz idos por Chueca e Sai- o nome O Método Lusitânico, revela bom nível de cultura técn ica. Cogita também da arquitetura, bas. E a regularidade fo i maior nas de colonização hispânica (Buenos Aires e Santiago do Chile, por com o sobrecarregado gosto italiano do tempo e ex., de que existem os planos quinhentistas) do citações de Vitrúvio. Sérlio e Scamozzi. Engenheiros em maior número vão sendo mandadosparao que nas de colo nização lusa, que Luís Silveira . a ãffiã e construir (Bahia é o publicou em Cidades Portuguesas de Ultramar: 'Brasil. Oesenvolve-""se fundac;ãoem 1680d a -melhor exemplo). Com_ como Salvador, Rio de Janeiro e S. Luís do MaColônia do Sacramento, o Rio cresce de significa · ranhão. ção estratégica e com a descoberta do ouro nas Minas na última década do século , adquire relêvo Antonelli, Filicaia, econômico como porto de embarque do metal Frias, Lescol les para a metrópole. Conseqüência: cobiça de corsá rios (da França, que estava em luta com Portugal) . Quatro engenheiros podem ter interferido no traA cidade tem então 12 mil habitantes. Para defençado da cidade: Batt ista Antone lli, de nac ionalid~la cria-se nela uma aula de Fortificação {1699) e dade ital iana, que durante vinte anos foi o maior reforçam-se suas fortificações que não impedem a fortificador da Amér ica, esteve em 1582 sete meinvasão de Du Clerc (1710) e a conquista de Du ses no Rio com 70 artíf ices, quando sugeriu a Guay Trouin (1711 ). Salvador de Sá erguesse as duas fortalezas da barra ., (origem de Santa Cruz e S. João) e em 1604 fo i João Massé · mandado à América para fazer plantas topográficas e a Planta de 1713 · de todos os portos, inclusive do Rio de Janeiro. Baccio da Filicaia, também italiano, que permanePara corr igir o sistema de fortificações foi man· ceu no Brasil de 1596 a 1607 e reformou os portos a mando do governador Francisco de Souza, que ·o dado um compatriota dos invasores, o Brigadeiro .convidou a voltar ao Brasil para a construção de João Massé1 _gue faz o mapa da ciçl_ade, o primeiro . uma cidade. Francisco de Frias da Mesquita, portu- com traçado das ruas (porque os dos do is Teixeiras 1guês, egresso da au la (escola) de Arquitetura Civil além de- incorretos são sumários e os de Antone lli e Lescolles não se sabe como seriam). Nele vê-se que ')dos Paços da Ribeira de Lisboa (primeira de Portua cidade terminava na Rua dos Ourives, protegida 'gal, fundada a mando de Felipe li pelo arqu iteto da parte de terra (porque foi desse Iado que Du ital iano Felipe Terzi), chegou ao Brasil em 1,603 ex istência (Boxer). (Refere-se à Igreja de S. Sebastião e esquece a do Colégio).
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Duas igrejás retdmam o partido tradicional no Reino, de duas to rr es, nave retangular ladeada de corredores, capela-mor ladeada de sacristia e cape la privativa: as das Ordens Terceiras . de N.S. do Carmo (1752) e S. F-ranciSCÕde Paula (1752). Ambas têm as fachadas movimentadas, frontões curvi l Í· neos de cantaria, torres .com coroamentos bulbosos ~ já de meados do século XI X, emergindo do cent ro de terraço s com ba laustradas, tra,tados pelo miúdo,
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Quatro Séculos de Arqu it etura
com revestimentos de azulejos coloridos (comuns nesse século), sugerindo vagamente a forma de minaretes. A do Carmo é toda revestida de granito - como passou a ser freqüente-, e com uma bon ita portada em Lioz vinda de Lisboa em 1760, enc imada por um medalhão da Virgem com o bambino, de influência italiana , e na fachada lateral outra portada igualmente em Lioz, mais fina e delicada. O desenho, de um Rococó tardio, procu rado das guarnições das envasaduras, é de um virtuos ismo que não elimina a secura de linhas, também das plantas, estas resolvidas com erudição, mas como aplicação de preceitos hauridos em mo· delos gastos de tanto uso, em que a vida não palpita . Na Igreja do Carmo - que tem na sacristia um bonito lavabo, de mármores portugueses poli-
cromos-, distingue-se a capela do nov iciado , que passa por ser toda ela de Mestre Valentim, cuja talha em torno ao altar-mor tem dei icadas vergônteas de composição em diagonal, destacadas do fundo, tipicamente Rococós (1772 e seguintes), que se antecipam nesse tratamento à cape la do Santíssimo, de S. Bento; e nas ilhargas - altares retábulos, espelhos-, formas novamente alentadas de f im de sécu lo, aparentadas com as da capelamor de S. Bento. Na de S. Francisco de Paula a Capela de N .S. das Vitórias - em que Valentim trabalhava quando morreu (1813) - o friso de guirlandas no alto das paredes (tão empr.egados pelos Adams), indica automatismo academizante, e o advento do Neoclassicismo . Assim também o retábulo do altar-mor da Igreja, com empertigadas
Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo RJ. Sdculo XVIII
Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo RJ. Portada vinda de Lisboa em 1760
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colunas de caneluras verticais, igualmente atribuí• do a Valentim -, e que a nosso ver é das suas obras menos expressivas. A talha das naves das duas igrejas, é já obra do século XIX, realizada com espírito de imitação e de que a vida igualmente não participa.
zeiro à romana, da qual só subsistem a iconografia da elevação, as portadas (transferidas para a Igreja de Santo Inácio na Rua S. Clemente) e peças avu lsas (na Escola de Belas Artes). A Igreja da Cruz dos Militares - projeto do engenheiro José Custód io Sá e Faria (1780) -, tem nave retangular ladeada de corredores, capela-mor com a sacristia do lado , fachada sem torre (há uma só torre do lado aos fundos) e o pavimento superior mais estreito arrematando em frontão e concordante com o térreo por meio de volutas (como nas igrejas jesuíticas romanas) e decorado com nichos providos de imagens de madeira, de S. João e S. Mateus (recolhidas ao Museu Histórico) atribu idas, como a primitiva talha interior (destruída por um incêndio) a Mestre Valentim. A Igreja de Nossa Senhora da Cande lária - projeto do Brigadeiro Francisco João Roscio (1775) -, tem a planta em cruz latina, com colate · rais (ladeados no século XIX, por esdrúxu los corre· dores), duas sacristias, uma de cada lado, fechadas com ordonâncias da Renascença em que domina o
Na segu_nda metade do século XVIII, predominou a tendência italianizante e o gosto do monumental, mais um anúncio do retorno ao Classicismo . A prime ira das igrejas com esse caráter, foi a monu · mental Sé, projeto de Alpoim a qual na planta de André Figueira (1750), já aparece e Ender (1817) reproduziu erguida muitos metros acima do solo. O projeto de Carlos Mardel foi preferido no Reino ao de Alpoim, que com ele concorrera para a igreja, mas este, por ser de menos dispendiosa execução, acabou por ser o adotado (Moreira de Azevedo). Segue-se a igreja iniciada pelos jesuítas no Morro do Castelo (1744), que - é de Bazin a dedução - teria plano articu lado e cúpula no cru-
Igreja de São Francisco de Paula - RJ. Século XVII
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Igreja da Cruz dos Militares - RJ. Projeto do Brigadeiro José Custódio de Sá e Faria . Século XVIII
Quatro Séculos de Arquitetu ra
gran ito (quase se não vendo o branco dó f undo ) à qual os perfilados nos entablamentos e as curvatu· ras ponteagudas nas sobrevergas, impr imem discreta revivescência barroca; nela a influência ita Iiana chega ao ponto de o revestimento int erior ser (caso único na cidade) não de talha de mad eira , à maneira portugue§Ê, mas de mármore com as abóbadas enriêjuecidfil em fins do sécu lo XI X e princípio do século XX, com p inturas de Zeferino da Costa, e po rtas portuguesa s em bronze, de Te.ixai.r.a-bQ.f)es.
Igreja da Candelária - RJ. Projeto do Brigadeiro Francisco João Roscio . Fim do século XVJ/f e início do século XIX
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A Arquitetura Civil
Características Principais No agenciamento dos espaços e em cada elemento da cons truç ão e da decoração, os séculos XVI ~ XVII usaram de uma linguagem direita e simples, desprovida de qualquer sofisticação ou subjetividade na procura estética. Uma atmosfera de t ranquil idade dentro e forq dâ casa era a nota dominant e dessa arq uitetura, feita de silêncios, a que ? coloração das janelas e portas (verde, az ul, ocre, vinho ), destacada contra o f undo branco da parede caiada, produz ia, pelo contraste discreta vibração, que não chegava a pert urba r aquela atmosfera e a que cont ribuíam: a rudeza do..,.wateriaJ das guarnições (pedra); a horizQ_ntaliç:lagedos_tra_çados, que o beiral sacado franjado de telha s acentuava; ~ ciência para_ o __g .!:!_ adrad 9 (em vez do retângu lo) nos êom parti mentos e nas envasaduras de portas e janelas (estas , no Hospício dos Barbonos (1740) eram quad rada s), o predomínio do s che ios sobre os vazios - o que equivale a dizer: abafadas as vozês na composição. No século XVI 11(_os cheios.. vão diminuindo e os vazios crescendo na altura , e vai aparecen do g arco abati qo (quase desconhec ido no sécul o XVII e raro no XI X), que se enriquece com cimalhas de sobreve rg_a~ delgagas _ (fachada laterai da casa do Bispo no Rio Comprido); ~ mesas e bem proporc io nadas (casa do Arco do Têles ); demasiadamente pesadas (Casa dos Governadores); com as duas_~~tremidades de níve l conferindo ao conjunto efeito ondulante, barroco (fachada prTncipai da casa do Bispo-); com os ca !:l_tos côncavos e tratamento amaneirado {casa do Co· 'mendador S iqueira, em Mata-Porcos).
As jane las eram de peitor il, ou de púlpito, estas com bacias de cantaria ligadas por filetes de igual espess ura, que d ividiam entre si os pavimentos, com perfilados nas pilastras dos cunhais (Santa Casa); e guarda -corpos em treliças , com balaúst res e almofadas por baixo, de ferro com peitoril de madeira ou mesmo todos de ferro. Estes tinham varas altas nas extremidades e ao centro e baixas as dema is, todas decoradas com discos ou cones. Ti· pos assim já aparecem nas gravuras quinhentistas da Lisboa representada por Braulio, e no Brasil,
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-,.-) Dos prédi os const ruídos no século XVIII, MonseNa cidade predomina : a~ a 1a~a térrea e o sobrado nhor Pizarro em 1820 (VII, 23) destacou: 1C?)o (ver Bates, Debret, Ferrez/Ender ), raras send o as Paço Real (segunda Casa dos Governadores), à três ou quatro pavimentos, não havendo exemplo da Praça do Carmo; 2