125 87 5MB
Portuguese Pages 144 [70] Year 2022
O MÍNIMO SOBRE OCULTISMO Alexandre Costa 1ª edição — julho de 2022 — CEDET Copyright © Edmilson Cruz 2022 Sob responsabilidade do editor, não foi adotado o Novo Acordo Ortográfico de 1990.
Os direitos desta edição pertencem ao CEDET — Centro de Desenvolvimento Profissional e Tecnológico Av. Comendador Aladino Selmi, 4630 Condomínio GR Campinas 2 — módulo 8 CEP: 13069-096 — Vila San Martin, Campinas-SP Telefones: (19) 3249–0580 / 3327–2257 E-mail: [email protected] CEDET LLC is licensee for publishing and sale of the electronic edition of this book CEDET LLC 1808 REGAL RIVER CIR - OCOEE - FLORIDA - 34761 Phone Number: (407) 745-1558 e-mail: [email protected] Editor: Felipe Denardi Revisão & preparação: Vitório Armelin Capa: Nome do capista Diagramação: Virgínia Morais
Revisão de provas: Juliana Fernandes Flávia Theodoro Conselho editorial: Adelice Godoy César Kyn d’Ávila Silvio Grimaldo de Camargo FICHA CATALOGRÁFICA Costa, Alexandre. O mínimo sobre ocultismo / Alexandre Costa Campinas, SP: O Mínimo, 2022. isbn 978-65-997705-5-5 1. Ocultismo 2. História da cultura I. Autor II. Título cdd 133 / 306 ÍNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO: 1. Ocultismo – 133 2. História da cultura – 306 www.ominimoeditora.com.br Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica, mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer outro meio de reprodução, sem permissão expressa do editor.
Sumário P
?
O
?
A B
C
U N
R
A
C
:
P
?
livro tem o objetivo de trazer o mínimo de informações E ste relevantes sobre um tema que enfrenta um enorme paradoxo. O “ocultismo”, por um lado, está presente no dia-a-dia em vários níveis e camadas, desde os símbolos mais ostensivos e os hábitos mais freqüentes, até os elementos mais difusos e diluídos na “paisagem” do cotidiano, como as datas comemorativas, os eventos internacionais e as preferências efêmeras da moda; por outro, esta mesma onipresença parece nublar suas aparições e banalizar essa presença para subestimar a sua influência no curso da sociedade. O aspecto paradoxal do ocultismo corresponde a uma de suas principais características. Na verdade, a contradição extrapola os limites da caracterização acidental e abarca, incorpora toda a sua substância. Em outras palavras,
a essência do pensamento ocultista é o permanente confronto, inconciliável, entre luz e escuridão, entre verdade e engano, caridade e segredo. Como a língua bifurcada da serpente, normaliza a tensão entre verdadeiro e falso, e a transforma em uma linguagem ambígua, incerta, confusa, mas sedutora e pegajosa. E entre outros desdobramentos está o aspecto da rebeldia ao ordenamento vigente, componente necessário para qualquer forma de revolução.1 Outra conseqüência dessa instabilidade lingüística, que protege os irresponsáveis e blinda os mentirosos, consiste em criar as bases para
o desenrolar programado e distribuído da seguinte forma: primeiro sugere um ponto de vista divergente, rebelde ou anárquico, depois incentiva o desvio e, por fim, julga e condena, como se não tivesse nada com isso. Esse mecanismo paradoxal e enganoso, que costuma se apresentar na maioria das crenças ocultistas, oferece a oportunidade de perceber sua artificialidade. Dada a seqüência programada do seu desenvolvimento — sugestão, incentivo e condenação —, fica clara a existência de uma motivação. Normalmente maligna, segundo o meu ponto de vista. Apesar das experiências cotidianas confirmarem a presença vulgar e corrente desse fenômeno, o mundo moderno sustenta um discurso materialista onde temas como este são tratados como excêntricos, exóticos, ou como aberrações que, apesar de existirem, representam casos isolados, apenas exceções que fogem à regra, sem qualquer conseqüência direta na ordem das coisas. Nas sociedades modernas o discurso hegemônico limita a existência humana aos seus aspectos mais materialistas e, portanto, mais superficiais. Essa perspectiva rasa é responsável pela incompreensão e conseqüente incredulidade a respeito da existência e da influência dos aspectos místicos na nossa vida. Em qualquer outra época essa posição refratária que a sociedade moderna ostenta com orgulho e satisfação seria vista como estúpida, blasfema, ou, na melhor das hipóteses, uma opinião ignorante e infantil, exageradamente ingênua. O resultado dessa insistência pela materialização do pensamento coletivo nublou as percepções a respeito do real funcionamento das coisas, e assim a descrição da realidade foi se tornando cada vez mais passível de manipulação. A lacuna deixada pelo materialismo pueril do mundo moderno foi aos poucos sendo preenchida pelo misticismo em todas as suas vertentes. Como veremos adiante,
a influência do ocultismo na sociedade é algo tão antigo quanto o próprio homem, mas a pressão social sobre as práticas religiosas tradicionais, promovida pelas grandes forças culturais do nosso tempo (política, educação e entretenimento), facilita essa ocupação de espaços porque enfraquece a resistência aos elementos sedutores do “mundo oculto”. Por acreditar que o tema é importante, urgente e perigoso, a motivação essencial deste trabalho pode ser resumida em dois tópicos: Introduzir conceitos e indicar caminhos para pesquisas mais amplas e profundas; Oferecer subsídios para imunizar o leitor contra influências indesejadas. Diante da complexidade do assunto, em vez de tecer apenas um glossário de termos, personagens e organizações, preferi fazer um livro introdutório do ponto de vista conceitual, e tentarei lançar as bases teóricas e as ferramentas para compreender o fenômeno, mas nas próximas páginas o leitor também vai encontrar exemplos notórios e uma série de indicações para continuar a pesquisa. Elas estão no final do livro, em Saiba mais, nas notas de rodapé e ao longo do texto, em negrito. Meu desejo é que este livro funcione como a corda que amarra Ulisses ao mastro do navio e o impede de sucumbir ao canto das sereias. Boa leitura!
O
?
Q
uando tratamos de um tema vasto e multifacetado como o “ocultismo”, costuma ser mais eficiente estabelecer algumas premissas para facilitar a compreensão. Uma delas, a mais primária, consiste em delimitar o campo e definir os termos e seus respectivos significados. Existem dezenas, talvez centenas de significados possíveis para a palavra “ocultismo”. Desde os mais objetivos, específicos e unívocos, até os mais figurativos e subjetivos, que operam apenas por aproximação. A palavra “oculto” tem raiz no latim occultus, e diz respeito a algo secreto, escondido, encoberto ou não revelado. O sufixo “ismo” indica ocultar ou acessar o que não é visível, e confere ao termo a condição prática, o apelo a agir conforme um determinado comportamento ou orientação. Mesmo de acordo com as definições mais usuais, as acepções possíveis para “ocultismo” costumam variar bastante, mas normalmente transitam entre o conceito, o estudo e a prática. Exemplo, do Dicionário Michaelis: Estudo de coisas, fenômenos ou manifestações que não podem ser explicados pela razão ou pela ciência e que se baseia na crença em uma realidade suprassensível. Práticas que supostamente permitem aos participantes vivenciarem tais fenômenos, manifestações.
Normalmente os dicionários também incluem vertentes do fenômeno em sua definição. Entre as mais famosas estão alquimia, telepatia, gematria, levitação, manipulação de forças sutis da natureza, muitas formas de magia, comunicação com os mortos e artes divinatórias. Como o tema possui essa incrível abrangência e complexidade, e o interesse maior deste trabalho reside na sua introdução, torna-se necessário recortar os tópicos mais importantes dentre todo esse conteúdo.
De forma resumida e genérica, por ocultismo podemos entender uma grande variedade de práticas, crenças ou estudos que de forma heterodoxa procuram
compreender e utilizar forças sobrenaturais para alcançar objetivos materiais ou espirituais. Portanto, para ser considerado ocultismo, neste livro, deve obedecer a 3 aspectos: – Heterodoxo: Não é convencional diante das tradições cristãs; – Oculto: Seu objeto de estudo é o que não está revelado; – Segredo: O estudo e a prática envolvem algum nível de sigilo. O aspecto que limitará um pouco mais a abordagem é a predominância do segredo, da aversão à transparência. Além dos favores do “oculto” e da busca errante pelo plano transcendental, ocultismo também envolve sigilo ou, pelo menos, considerável discrição. O segredo, o disfarce e o engano permeiam as práticas ocultistas. Seja por causa da sua exoticidade ou pela simples oposição ao senso comum, seja pela imoralidade e, em alguns casos, pela conduta criminosa dos seus ritos e cerimônias. Em outras palavras, o segredo está presente no ocultismo porque quase sempre suas práticas seriam reprováveis por ampla parcela da sociedade caso viessem à luz. Como o tema, mesmo assim, continuaria infinitamente amplo para um livro introdutório como este, foram precisos mais dois recortes de forma a estreitar o campo de observação e garantir espaço para as informações necessárias. O primeiro recorte foi escolhido por uma razão básica. Qualquer um dos aspectos do “ocultismo” poderia render uma enciclopédia. Na verdade existem centenas, talvez milhares de livros sobre autores como Helena Blavatsky e Aleister Crowley, por exemplo, e sobre alguns rituais e algumas seitas já se escreveu um número incalculável
de páginas. Diante desta impossibilidade material, a saída foi selecionar os tópicos mais representativos, com maior potencial de permitir uma visão mais abrangente do assunto. Mesmo assim os pontos elencados nas próximas páginas devem servir apenas como a ponta de um fio que merece ser desenrolado. Trataremos das práticas místicas, religiosas ou mesmo psicológicas que fogem aos ritos e crenças que ao longo de dois milênios de estudo e transmissão foram cristalizados e absorvidos pela tradição cristã. O segundo recorte está relacionado ao enfoque. Como veremos adiante, uma parte desse tema possui ligação umbilical com o poder, com as transformações culturais e com o desejo de criar uma nova civilização. Este foco na influência social e política é a razão principal deste trabalho. EXOTERISMO X ESOTERISMO Para iniciar a compreensão de qualquer fenômeno místico ou ocultista é preciso conhecer uma característica essencial, que divide o nosso objeto de estudo. Não é possível entender essa teia complexa sem considerar a separação entre as descrições formais de seus formuladores, dos estudiosos mais aplicados e dos praticantes mais assíduos, e a versão mais profunda, acessível apenas a poucos indivíduos selecionados. Assim como a sua relação com a política e a cultura de uma sociedade, os próprios conceitos e significados costumam se diferenciar enormemente, de acordo com o público a que se destina. Devido a duas características intrínsecas ao fenômeno “ocultismo”, todos, ou quase todos os movimentos místicos costumam obedecer a essa divisão. A primeira razão pode ser facilmente compreendida pelo seu aspecto sigiloso, e a segunda diz respeito ao mecanismo iniciático dos grupos que estudam e promovem ritos e práticas não convencionais.
Como o segredo é parte inalienável destes grupos e movimentos, fugir dos holofotes é algo comum aos grupos que buscam este tipo de prática. E como precisam controlar o fluxo de informações estudadas e transmitidas, criam níveis de acesso conforme o estágio do interlocutor. Por exotérico, com x, entendemos o discurso oficial, destinado ao público externo. E esotérico, com s, geralmente consiste na interpretação ou no complemento deste mesmo discurso, mas com informações incompreensíveis àqueles que observam a camada mais superficial e não dispõem do mesmo acesso. O verdadeiro esoterismo não pode ser estudado sozinho. Devido ao seu hermetismo, necessita uma decodificação, o que não costuma ser feito em livros e documentos, mas com um instrutor. Os níveis de acesso aos segredos são escalonados e progressivos, oferecendo pontualmente pequenas doses de conhecimento de acordo com o avanço do indivíduo neste processo de aprendizado e transmissão. A compartimentalização da informação funciona como um filtro, que libera gradualmente o conhecimento conforme o avanço do estudo. No esoterismo, portanto, o processo de aprendizado obedece a uma seqüência, que seleciona quem pode — ou merece — conhecer o conteúdo mais profundo expresso pelo enunciado exotérico. O merecimento, neste caso, indica que o adepto está apto a receber mais uma dose da informação, seja por já possuir o “preparo” necessário, seja por ter adquirido a confiança do grupo. As “promoções” que dão direito a uma nova carga de segredos ocorrem por meio de um processo gradual, onde cada passo significa uma nova compreensão, muitas vezes oposta ao passo anterior. Esse processo obedece à lógica da escalada de um zigurate:2
a cada degrau a visão se amplia, mas o espaço diminui e é ocupado por menos
pessoas. Os ritos, os símbolos e a linguagem aparelhada que sempre acompanham a transmissão de conhecimento esotérico servem para esconder o verdadeiro significado, acessível apenas àqueles que receberam os códigos necessários para descompactar a mensagem. A simbologia cobre a verdade como um véu, que só os iniciados podem revelar. O processo de iniciação segue a ordem de um funil invertido, com os mais aptos subindo e os demais sendo descartados ou permanecendo na ilusão de um conhecimento escondido ou deturpado. A iniciação obedece a regras bem nítidas e vai além da capacidade intelectual do estudante. Normalmente o acesso ao grau seguinte só acontece quando o indivíduo vai confirmando sua aptidão e, principalmente, lealdade aos segredos recebidos. Nas últimas décadas o esoterismo adquiriu muita notoriedade e tornou-se um assunto corriqueiro, até mesmo midiático. Isso nublou a sua profunda diferença com o exoterismo, o que confunde um grande número de pessoas bem-intencionadas. O engano contido nesse achatamento dos significados pode ser extremamente perigoso, ao iludir e seduzir os incautos que pensam estar lidando com algo banal e inofensivo, quando na verdade estão preparando sua mente e o seu espírito para práticas ocultas nem sequer imaginadas pelo iniciante. OCULTISMO NA HISTÓRIA O apego ao elemento transcendental é uma constante na história da humanidade. Os registros históricos são quase unânimes em afirmar que todos os povos buscaram alguma forma de contato com o transcendente, com o imaterial. Desta relação brotam os sentimentos ou idéias de temor, de redenção e adoração.
Quando olhamos para o passado, para as primeiras civilizações que conhecemos, encontramos não apenas a assimilação completa do conteúdo espiritual e religioso, mas é deste amálgama que vai surgir a própria ordenação moral e social das cidades.
É um erro pensar que a necessidade humana pelo transcendente esteja limitada ao medo do desconhecido. A insegurança e o desconforto com os mistérios da vida certamente são fatores essenciais nesta equação, mas acredito que antes de tudo o homem sinta, de alguma forma, que a sua existência esteja conectada a algo superior e incompreensível. Daí deriva a própria concepção de religião, cuja palavra tem origem no termo religare. As raízes do ocultismo são contemporâneas aos primeiros agrupamentos humanos. Desde as primeiras cidades da Mesopotâmia a importância dos elementos místicos estava impregnada nos hábitos do povo e chegava às cortes. No Egito, na Suméria, na Anatólia, Babilônia, e em todos os povos antigos, a valorização do conteúdo espiritual fazia parte do cotidiano de todas as camadas da sociedade, com influência decisiva sobre todos os núcleos do poder. Entre o povo, as práticas, os ritos, as obediências religiosas e o acompanhamento do calendário sempre foram comuns e vistos como naturais. Nas classes de poder a influência era ainda maior. Era comum o rei contar com um séquito de auxiliares para lidar com o transcendente, com profetas, adivinhos, astrólogos, sensitivos, médiuns e mágicos que exibiam suas habilidades por meio de práticas que hoje certamente seriam classificadas como ingênuas, pueris ou mesmo ridículas. Algumas causariam espanto, ojeriza e nojo, como o extispício, a “leitura” de entranhas de animais sacrificados. Desde sempre tiranos consultam os deuses antes de uma decisão importante, de uma aliança, de uma guerra. Inúmeros planos de governo usaram profecias como pilares. Nas primeiras sociedades o
direito, as leis e, indo mais fundo, a própria noção de justiça estava atrelada ao sobrenatural. O Código de Hamurabi é um dos primeiros registros ordenados de leis que temos conhecimento. Conhecido por conter em sua essência as chamadas Leis de Talião (“olho por olho, dente por dente”), em suas 282 regras é possível encontrar diversos elementos que demostram a influência do ocultismo na sua confecção. Já na abertura do compêndio é dito que o autor, sexto rei da primeira dinastia babilônica, foi agraciado e orientado pelos deuses na missão de trazer a justiça celestial para os pobres mortais. E a segunda lei, por exemplo, condiciona a justiça — e a vida dos envolvidos — ao comportamento de um rio. Se alguém avança uma imputação de sortilégio contra um outro e não a pode provar, e aquele contra o qual a imputação de sortilégio foi feita, vai ao rio, salta no rio; se o rio o traga, aquele que acusou deverá receber em posse a sua casa. Mas, se o rio o demonstra inocente e ele fica ileso, aquele que avançou a imputação deverá ser morto, e aquele que saltou no rio deverá receber em posse a casa do seu acusador.3
Na Grécia Antiga, tão aclamada por seu refino intelectual, por inaugurar uma espécie de democracia e por sua constelação de pensadores e filósofos, sempre contou com elementos sobrenaturais na estrutura da sociedade. Assim como a maioria das sociedades politeístas, o relativo progresso e a sofisticação cultural conviviam tranquilamente com práticas controversas em nossos dias, como o sacrifício de animais — e em alguns casos humanos. (O próprio Sócrates, que dá largada àquilo que hoje chamamos de filosofia, segundo Platão, mandou sacrificar um galo ao deus Asclépio). Com os antigos romanos não foi diferente. Em Roma era muito valorizado o trabalho dos arúspices, profissionais encarregados de adivinhar o futuro com base na observação dos órgãos de animais mortos em um ritual de sacrifício. Essa prática também foi comum em muitas outras civilizações da Antiguidade, como hititas, etruscos e assírios. O Antigo Testamento relata as desgraças que recaíam sobre os hebreus sempre que desviavam suas crenças para deuses “estrangeiros” e rituais pagãos. Nas Escrituras Sagradas ou nos
trabalhos de historiadores como Flávio Josefo4 a trajetória do povo de Israel alterna entre momentos de reta obediência, onde desfrutam de prosperidade e vitórias, e períodos sinistros onde a morte, a fome e as doenças estão sempre relacionadas com algum tipo de idolatria a falsos deuses como Baal, Dagom, Moloc e muitos outros. A Torah, o Livro da Lei, para os judeus, ou Pentateuco, para os cristãos, o conjunto de cinco “rolos” que a tradição afirma ser uma obra inspirada de Moisés, traz inúmeros exemplos de práticas pagãs condenadas por Deus. Em várias destas cenas é possível entender a complexidade das relações entre a prática ocultista, as guerras, as intempéries, a fome e a morte. Também mostra como essas práticas e as mentalidades que a sustentam permanecem mesmo após as tragédias e as danações punitivas.
Em toda a Bíblia vemos o ocultismo ora como símbolo da ingratidão, da rebeldia e da revolta contra Deus, ora como causa dos seus infortúnios. Os fenícios, freqüentemente lembrados por suas habilidades de navegação, também foram adeptos de práticas místicas sangrentas. O deus dos fenícios, Baal, exigia rituais com sacrifícios humanos. O teônimo também foi adorado em várias culturas semíticas da Antigüidade. A Europa também conviveu com o ocultismo sendo um aspecto importante das culturas pré-cristãs. Celtas, vikings e praticamente todas as tribos germânicas, apelidadas pelos romanos de “bárbaros”, também tinham entre suas práticas ocultistas o sacrifício humano. Escavações em Alveston, na Inglaterra, comprovaram os escritos de autores gregos e romanos acerca dos sacrifícios humanos cometidos pelos druidas, os sacerdotes do povo celta. Em uma caverna foram encontrados ossos de pelo menos 150 pessoas com todas as evidências
de morte sacrificial. Junto aos restos humanos havia também muitos ossos de cachorros, o que provavelmente mostra que o ritual fazia parte de uma adoração ao deus Nodens, curiosamente associado à cura. A cultura pop criou um mito em torno dos celtas. Seus magos e feiticeiros são retratados como sábios, pacíficos e iluminados, mas segundo relatos romanos5 os druidas da Gália praticavam um ritual estranho e macabro chamado Homem de Vime. Um enorme boneco oco, com estruturas de madeira e revestido de palha ou outros tipos de fibras vegetais. O ritual consistia em trancar várias crianças dentro do boneco, atear fogo e dançar ao redor da enorme fogueira, com música bem alta para abafar os gritos desesperados das vítimas. Assim como o Halloween,6 esse evento sinistro foi assimilado e hoje representa um festival “inofensivo”.7 Relatos como este podem ser encontrados em praticamente todas as culturas anteriores ao cristianismo. A bruxaria e os feitiços eram práticas comuns nas civilizações européias e essa influência foi lentamente abandonada conforme avançavam as conversões cristãs. Como resultado dessa “superação”, algumas crenças foram diluídas e transformadas em condutas simbólicas e infantilizadas, permanecendo, no entanto, na forma de simulacros atenuados das antigas práticas que a Bíblia julgava abomináveis. Halloween, Wicca e outras formas de magia são exemplos desta transformação. Nas sociedades americanas e africanas a influência do ocultismo era ainda maior. Entre os astecas, por exemplo, o sacrifício humano era generalizado e ocupava o centro do convívio social, representando inclusive uma espécie de elemento de coesão e justificação das demais características do povo e, em especial, dos seus líderes. Dos últimos séculos também podemos colher inúmeros exemplos de ocultismo ou superstição como itens decisivos e bastante comuns ao dia-a-dia.
Desde pelo menos a década de 1950 o Ocidente tem recebido enorme influência do antigo misticismo oriental, em especial do hinduísmo. Yoga, meditação e várias outras práticas originalmente relacionadas ao panteísmo hindu foram assimiladas pela cultura ocidental como se fossem religiosamente neutras. Das mais sutis às mais bizarras, práticas místicas oriundas de culturas pagãs foram incorporadas ao cotidiano europeu e americano sem a devida análise, principalmente pela influência sedutora de gurus e suas seitas. O fenômeno das seitas alcança o auge com a chegada da contracultura, uma mobilização social e cultural bastante influenciada por razões políticas. O movimento revolucionário percebeu que a transformação da sociedade deveria começar pela cultura, e para alcançar esse objetivo não há nada melhor do que transformar as crenças das pessoas. Rajneesh, o guru indiano que arrebanhou milhares de pessoas e foi capaz de criar sua própria cidade8 serve de exemplo desta influência nefasta. Mesmo tendo destruído incontáveis famílias com suas idéias hipnóticas, continua atraindo a atenção de muitos desavisados, agora com o codinome Osho. Assim como o multimilionário Rajneesh, que gostava de exibir seus jatos, seus Rolex de ouro e seus automóveis Rolls-Royce,
muitos outros gurus continuam enriquecendo e desviando multidões com técnicas de persuasão extremamente sofisticadas, que usam desde a Programação Neurolingüística e a hipnose, até as alterações profundas de consciência causadas por mantras, exercícios “espirituais”, manipulação do relógio biológico (ciclos circadianos9 ), ou por meio de alucinógenos e medicamentos psicotrópicos.
Embora a influência da superstição e do ocultismo ao longo do tempo tenha se tornado cada vez menos visível, ela nunca deixou de existir, e continua influenciando os gabinetes e os centros do poder até os dias de hoje, como veremos nas páginas seguintes. OCULTISMO E PODER Poder é a capacidade de ser obedecido. Um sujeito poderoso é aquele que consegue fazer com que seus desejos sejam atendidos, ou por um grande número de pessoas, ou pelas pessoas certas. Neste sentido, podemos concluir que o sobrenatural,
o oculto sempre esteve atrelado a decisões dos poderosos. Seja pela obediência aos ditames místicos, seja pela influência destas pessoas junto os detentores do poder político e das instituições. Devido ao conteúdo educacional e o discurso mainstream bombardeado pelos meios culturais, somos preparados para rejeitar, por princípio, qualquer tentativa de explicação de fenômenos políticos e sociais que use a chave ocultista como eixo da explicação. O materialismo e a superficialidade da sociedade moderna não são capazes de abarcar as complexas conexões entre decisões políticas — célebres ou cotidianas — e o sobrenatural. Dada essa limitação no horizonte de consciência do pensamento hegemônico atual, essa estreita ligação tem sido relegada aos rodapés dos livros de história, mas basta uma pesquisa um pouco mais profunda para perceber o quanto o mundo de hoje reflete essa influência acumulada ao longo dos milênios. Aristóteles ensinou que o homem é um animal político e depende dessa habilidade para viver em sociedade. Por outro lado, o mestre estagirita não ignorou as características metafísicas que envolvem e dão singularidade ao ser humano. O aluno de Platão sabia que, apesar
de permitirem o estudo independente, essas duas ciências fazem parte da essência humana e são inseparáveis na realidade: o mundo físico só pode ser compreendido quando a análise abarca também aquilo que está “além” dele, ou “meta”, e daí o termo metafísico. As relações humanas envolvem muitas camadas de significados, e para compreender esse aglomerado de símbolos e conexões é necessário observar cada um deles, dos mais superficiais aos mais profundos, sempre buscando uma análise de conjunto. A política, por ser a ciência que estuda ou aplica esses variados tópicos, exige a mesma aplicação. Sem buscar esse tipo de interpretação mais ampla, corremos o risco de permanecer na superfície, onde muitas vezes o que ocorre consiste em apenas reflexo ou conseqüência do que se originou nas partes mais profundas da existência humana. O componente espiritual, formado por inúmeros elementos, desde os mais tradicionais, como os valores religiosos formais, até os mais exóticos, que mudam conforme a circunstância ou a época e misturam características desconexas e até contraditórias, normalmente funciona como um unificador dos conceitos, um “cimento” que junta todos os “tijolos” da experiência cotidiana e dá sustentação a uma “parede” composta por todos os dados da sociedade. Apesar do ceticismo e do niilismo contemporâneos,
a influência do ocultismo na condução das decisões mais importantes tem sido a regra, e não a exceção. Desde as primeiras civilizações os elementos não materiais ocupam o topo das causas e finalidades. Não é possível rastrear a origem desta influência, tendo em vista que já nas primeiras manifestações conhecidas esse aspecto sempre esteve presente.
Em seus estudos sobre a religiosidade das civilizações antigas, Georges Contenau10 deixa evidente o protagonismo do ocultismo nas decisões culturais, políticas e até militares da Antigüidade. Seus achados sobre as civilizações da Mesopotâmia mostram uma sociedade submersa em ritos e símbolos que, mesmo sem fazer sentido aos olhos materialistas dos nossos laboratórios e universidades atuais, compunham a essência da cosmovisão daquelas pessoas e, acima de tudo, formavam a estrutura do tecido social e a base de sustentação do poder. De lá pra cá o peso desta característica teve altos e baixos, mas nunca deixou de ter sua importância, mesmo que relativa. O mundo moderno insiste em rejeitar esses elementos nas análises do panorama geopolítico, mas basta um estudo um pouco mais aprofundado para notar que esse preconceito acadêmico impede uma compreensão mais ampla da realidade e torna a visão do analista cada vez mais turva. Não se trata de defender ou elogiar esse aspecto, mas de admitir a sua relevância e considerar o abstrato como possibilidade explicativa. Infelizmente, uma falsa identificação do Iluminismo como uma negação dos princípios metafísicos tem tornado a sociedade cega quando o assunto é a observação do comportamento das pessoas que dirigem ou influenciam a direção dos rumos da nossa civilização. Mesmo com eminentes ocultistas entre os grandes nomes desse período, o cientificismo tem camuflado interesses, métodos e objetivos dos poderosos. O ocultismo, ou seja, a presença de componentes espirituais ou religiosos com características exóticas ou mesmo malignas, faz parte do conteúdo responsável pelo imaginário de lideranças políticas, e sem a observação desse aspecto é impossível compreender três questões essenciais a qualquer ciência, inclusive à geopolítica:
a finalidade, os meios e a motivação.
A finalidade de uma iniciativa nem sempre é declarada. Na verdade, quando tratamos da política de forma mais avançada, o segredo e a dissimulação fazem parte da própria estrutura de pensamento de algumas pessoas em posição de comando, e por isso costumam camuflar seus objetivos de maneira bastante eficiente. Quanto aos meios, a obediência a premissas vazias de valores morais pode até parecer estranha para quem está fora do círculo, mas devido a uma repetição constante e metódica, para os niilistas que atualmente lideram iniciativas ideológicas totalitárias, suas atitudes sempre são plenamente justificadas pelo fim que perseguem. Essa é a explicação para a ausência de remorso mesmo diante das tragédias que estimulam ou promovem. No caso da motivação ocorre algo parecido. Além de justificar por antecipação qualquer atitude, por mais cruel ou desumana que seja, a essência do desejo pessoal que move uma conduta é ainda mais facilmente camuflável, pois apenas Deus pode perscrutar o coração de um homem. Motivação, meios e finalidade fazem do ocultismo um instrumento revolucionário. A implantação de uma Nova Ordem Mundial, ou, sendo ainda mais preciso, a construção de uma nova civilização e de um “novo homem”, exige uma perfeita sintonia entre finalidade, meios e motivação. E a conexão entre estes elementos que utilizam a substituição dos valores por meio da destruição dos anteriores, só pode ser entendida quando direcionamos nossa atenção para os aspectos relacionados ao ocultismo. Seria impossível aqui relatar cronologicamente toda influência do ocultismo sobre o poder, mas podemos selecionar alguns momentos históricos que comprovam o alcance desta força que, mesmo com enorme potencial de modificação social, costuma permanecer na sombra. A Bíblia e as tradições das religiões abraâmicas (judaísmo, cristianismo e islamismo) referem-se a Salomão, rei de Israel por 40 anos, como o mais rico e poderoso homem da história. Com 700
esposas e 300 concubinas, o filho de David e construtor do Primeiro Templo apostatou e cedeu ao sedutor encanto dos deuses pagãos adorados pelas culturas originais de suas mulheres. Representados por animais, forças da natureza, corpos celestes ou seres mitológicos, os deuses pagãos a quem Salomão devotou o final de sua vida e, por conseqüência, a vida de seu povo, foram responsáveis por inúmeras desgraças, porque muitas decisões políticas equivocadas do rei seguiram crenças estranhas aos seus antepassados. Antes considerado o mais sábio de todos os tempos, Salomão foi condenado por Deus e seu reino foi dividido. Sua punição só não foi mais grave porque foi mantida a promessa divina feita a seu pai. Esse misticismo que conduz as autoridades estabelecidas e seduz o povo ingênuo atravessou toda história humana, e o exemplo de Salomão serve como um alerta para as conseqüências dessa terrível combinação. E também como um lembrete: até mesmo um homem muito sábio pode ser enganado. A trajetória dos hebreus, que segundo a Tabela das Nações dá origem a todos os povos da Terra, mostra claramente a alternância entre líderes obedientes às ordens de Deus e as várias lideranças desviadas pela idolatria e pelo ocultismo em uma busca equivocada pelo conhecimento alheio aos desígnios de Deus. Revivendo, a cada geração, a tentação narrada no Jardim do Éden: a serpente oferece o fruto do conhecimento do bem e do mal, em troca da desobediência. E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. (Gn 2, 16–17) Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como deuses, sabendo o bem e o mal. (Gn 3, 4–5)
A Patrística, a filosofia elaborada pelos primeiros pensadores cristãos, coloca em xeque todo misticismo da Antigüidade ao usar a razão aliada às Escrituras Sagradas.
Na Idade Média, apesar da crescente influência do Evangelho, muitas cortes continuaram a usar o serviço de magos e adivinhos para embasar decisões políticas. Era comum o rei contar com auxiliares que tentavam prever o futuro ou explicar o mundo de acordo com práticas ocultistas condenadas por Deus. O próprio Jesus Cristo, aliás, foi bem claro a esse respeito: “Respondeu-lhe Jesus: Eu tenho falado abertamente ao mundo; eu sempre ensinei nas sinagogas e no templo, onde todos os judeus se congregam, e nada falei em oculto” (Jo 18, 20). Com a Escolástica novos filtros foram estabelecidos, e fica ainda mais claro que todo conhecimento necessário ao homem já estava dado na Bíblia e na Tradição, bastando apenas usar a obediência e a inteligência — o principal talento que Deus deu à humanidade. Autores como Pedro Abelardo, Anselmo de Cantuária, Pedro Lombardo, João Duns Scotus, Alberto Magno e, principalmente, Tomás de Aquino vão aprimorar, aprofundar e expandir as idéias de pensadores como Agostinho de Hipona, a principal referência da Patrística. Mesmo com a expansão da compreensão trazida por obras como a Suma teológica (escrita por Tomás de Aquino entre 1265 e 1273), os séculos seguintes vão transformar a sociedade como nunca antes havia acontecido. A Reforma Protestante originada por Lutero, uma tentativa de aperfeiçoar os filtros contra a idolatria e o misticismo que persistiam no poder e nas populações, acaba trazendo divisões tão profundas que, com o tempo, vão abrir espaços para variadas formas de ocultismo. A chegada do Renascimento recupera as tradições gregas e romanas, e junto com a arte e a cultura, também trazem de volta a confusão do politeísmo da Antigüidade, fortalecendo a idolatria, o misticismo e as práticas ocultistas. Os séculos , e foram o ápice do desenvolvimento daquilo que podemos chamar de pensamento místico moderno. E muitos desses pensadores exerceram enorme influência sobre reis, nobres, sacerdotes, juízes, banqueiros e outras pessoas que ocupavam
posições estratégicas na sociedade. Pessoas como Sabbatai Zevi e Jacob Frank, entre os judeus, e Emanuel Swedenborg e Helena Blavatsky, entre os cristãos, foram responsáveis pela inauguração de novas variantes místicas que, poucas décadas depois, ofereceriam elementos para inúmeras, incontáveis escolas de estudo. Embora nenhum deles tenha seguido as idéias originais de suas religiões, foram lidos e ouvidos pelas classes mais poderosas de seu tempo. O poder, não apenas político, mas cultural e social, foi profundamente transformado por estes novos estudos. Como era um material de acesso limitado às classes mais altas, até porque a própria leitura ainda não era uma habilidade generalizada, as idéias circulavam nos salões, nos palácios, sendo normalmente discutidas discretamente em reuniões e banquetes restritos. Já no século , com o mundo transformado pelas escolas espiritualistas, pelas novas interpretações das tradições antigas, a Rússia dos czares teve um personagem obscuro e muito poderoso, Grigori Rasputin. Considerado por muitos como a eminência parda do regime czarista e, por outros, como o próprio tomador de decisões na corte russa, a história de Rasputin é repleta de episódios estranhos e enigmáticos. Nascido em 1869, um ano após Nikolau Alexandrovich Romanov, o futuro czar que o abrigaria na corte, Rasputin teve o nome escolhido em homenagem a Gregório de Nissa,11 santo católico que viveu no século . Desde criança atraía a atenção das pessoas devido a comportamentos pouco convencionais. Nascido em uma família de humildes camponeses, provavelmente permaneceu analfabeto em grande parte da vida ou teve alfabetização informal, e mesmo assim ainda adolescente conseguia deslumbrar interlocutores por sua incomum e persuasiva oratória. Durante toda a sua curta existência — morreu aos 47 anos — foi alvo de inúmeras especulações. Das previsões acertadas que costumava fazer aos supostos dons curativos, sempre houve ao seu redor um misto de admiração e espanto.
Sua entrada na corte de Nicolau obedeceu, em parte, a esse estranhamento. Segundo consta, a czarina Alexandra Feodorovna, desesperada com a doença do filho caçula Alexei Romanov,12 seguiu sua fama de curandeiro em busca de uma solução milagrosa para o que à época era um problema sem tratamento conhecido. E de alguma forma seus rituais e procedimentos exóticos pareciam dar algum resultado. Com esse trunfo, o bruxo conquistou a confiança da mãe do menino, que persuadia o marido a seguir as recomendações e a tolerar suas excentricidades, sua vida devassa e o desrespeito com a família imperial. Insubmisso e arrogante, Rasputin gostava de exibir sua influência na corte e chegava a despachar em sua residência, onde muitos o procuravam para pedir favores e intermediações junto ao imperador. Na medida em que muitas destas solicitações acabavam atendidas, seu poder cresceu a ponto de determinar decisões governamentais que, mais tarde, mostraram-se terríveis para o império e para a nação russa. Se a vida de Grigori Rasputin foi repleta de controvérsias,13 sua morte foi ainda mais lendária. A teoria mais aceita diz que Felix Yusupov, casado com uma sobrinha do czar, reuniu um grupo de nobres e políticos e preparou uma armadilha em sua casa. Primeiro tentaram envenenamento por cianeto, mas como o veneno não fez efeito, ele foi baleado três vezes e seu corpo jogado no rio. Dois anos depois a família imperial seria fuzilada pelos revolucionários soviéticos, inclusive as crianças. Pouco tempo depois outro regime político mostraria sua submissão ao pensamento ocultista.
Na Alemanha de Hitler o misticismo não era apenas um acessório, mas uma presença constante e profunda
nas decisões governamentais. Mais que isso, a própria cosmovisão nazista era toda baseada em teorias ocultistas que misturavam crenças dos antigos povos germânicos com vertentes exóticas como a da superioridade da raça ariana. Sempre com a intenção de enaltecer o Führer e um suposto papel messiânico de seu governo. A Sociedade Thule, originalmente “Grupo de Estudos para a Antigüidade Germânica”, foi uma sociedade do tipo iniciático e esotérico que rejeitava a herança cristã e defendia a separação entre as raças. Derivada do Movimento Völkisch, uma ideologia étnica nacionalista, tinha entre seus principais quadros importantes membros do totalitarismo nazista. Embora não existam provas da participação de Adolf Hitler, muitos correligionários do (Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães) foram membros comprovados da sociedade, como Alfred Rosenberg e Rudolf Hess, assim como os influentes intelectuais Rudolf von Sebottendorf,14 Dietrich Eckart e Karl Harrer. Além da ideologia racista e messiânica, a Sociedade Thule apresentava uma idéia absolutamente mística chamada Energia Vril, que prometia auto-suficiência energética, curas milagrosas e acesso a forças secretas da natureza. Descrita pelos seus defensores como um estudo metafísico, a Vril foi — e continua sendo — alvo de muitas lendas,15 mas o que se pode dizer com certa segurança é que acabou virando uma seita hermética e confusa, um amálgama de várias teorias esotéricas, de Helena Blavatsky16 ao alquimista moderno Jacques Bergier. Aparentemente a sociedade foi dissolvida antes da chegada de Hitler ao poder, em 1925, mas as idéias permaneceram até o fim da Segunda Guerra Mundial e continuam a influenciar grupos extremistas até os dias de hoje. Não apenas o entorno imediato de Adolf Hitler, mas praticamente toda a cúpula do poder Nacional-Socialista estava comprometida com algum tipo de pensamento místico. Heinrich Himmler, um dos nomes
mais importantes do nazismo, comandava a Ahnenerbe, ou Herança Ancestral, um think tank que idealizou a concepção moral e intelectual das SS . Adolf Hitler foi um dos personagens mais intrigantes, no mau sentido, de todo Século . Sua ascensão meteórica e sua inquestionável dominância sobre o partido, os intelectuais de seu tempo e o povo alemão muitas vezes parece incompreensível e até mitológica. O insuspeito J. H. Brennan, profundo estudioso da Cabala e de outras variantes esotéricas da chamada Nova Era, escreve em seu livro Reich oculto: O ocultismo na história de Hitler e do Terceiro Reich: O efeito que Hitler causava nas pessoas não se limitava à produção de histeria nas multidões. A mágica funcionava igualmente bem em nível pessoal.
Vários historiadores, adversários e aliados confirmam essa impressão. O britânico Allan Bullock, autor de Hitler: um estudo da tirania, de 1952, tentou explicar essa estranheza em vários dos seus textos. Dois exemplos: Até os últimos dias de sua vida ele manteve um misterioso dom de magnetismo pessoal que desafia a análise. O poder de Hitler para enfeitiçar uma audiência foi comparado às artes ocultas dos curandeiros africanos ou aos xamãs asiáticos; outros o compararam à sensibilidade de um médium e ao magnetismo de um hipnotizador.
William Lawrence Shirer, autor de Ascensão e queda do Terceiro Reich, de 1960, destaca esses mesmos elementos incompreensíveis pelo prisma simplificado da ciência política tradicional. Como acompanhava de perto o desenrolar dos fatos, logo nos primeiros dias da Segunda Guerra Mundial captou esse misterioso “encanto” que aquele homem, aparentemente comum e até mesmo irrelevante exercia sobre aqueles que o ouviam:
Hoje, no que toca à grande maioria dos seus compatriotas, ele atingiu um pináculo jamais conquistado por um governante alemão. Ele se tornou — mesmo antes da sua morte — um mito, uma lenda, quase um deus, com aquela qualidade divina que os povos japoneses atribuem a seu imperador. Para muitos alemães, ele é uma figura remota, irreal, quase inumana.
A identificação do Terceiro Reich com práticas ocultistas ou pelo menos pouco convencionais também é confirmada por membros do partido antes e durante os Julgamentos de Nuremberg. Eles todos estavam sob seu encantamento, cegamente obedientes e sem vontade própria — qualquer que seja o termo médico para este fenômeno. Percebi, durante minhas atividades como arquiteto, que ficar em sua presença por qualquer período de tempo me deixava desgastado, exausto e vazio.
O autor desta reflexão, Albert Speer, foi o primeiro arquiteto do Reich e Ministro dos Armamentos e da Produção de Guerra da Alemanha nazista. Mesmo tendo percebido o estranho magnetismo do Führer desde o início, não foi capaz de resistir e permaneceu fiel até o fim. Sentenciado a vinte anos de prisão, lançou em 1976 seu relato pessoal a respeito, Por dentro do Reich e Spandau: O diário secreto. Inimigos declarados como Otto Strasser também admitiam a existência de um poder aparentemente diabólico em Adolf Hitler. Segundo o homem que dividiu o Partido Nazista, ele tinha uma “misteriosa intuição, que permitia identificar com exatidão as fraquezas da sua audiência”, para então falar exatamente o que a convenceria do que quer que seja. E mesmo o poderoso e orgulhoso Hermann Göring, uma das pessoas mais próximas e que teve alguns dos cargos mais importantes durante o governo nacional-socialista, reconheceu sua incapacidade para lidar com o poder psicológico inexplicável de seu chefe: “Muitas vezes decido dizer algo a ele, mas quando fico frente a frente meu coração afunda em minhas botas”. Nunca saberemos ao certo o que fez aquele homem transformar o seu país e, de certa forma, o mundo todo, mas podemos ter certeza de que
Hitler preparou seu caminho usando todas as ferramentas ocultistas a que teve acesso, além de aproveitar do misticismo que foram criando ao seu redor. Tinha o cuidado, inclusive, de nunca negar algumas lendas sobre o seu nascimento, seu destino predestinado e sobre premonições infalíveis que teria feito ao longo da vida, alimentando assim a sua figura mitológica. Giorgio Galli é um autor italiano que concentrou sua preocupação nas questões ocultas da política, nos elementos irracionais ou mágicos que poderiam influenciar o andamento de uma sociedade de maneira discreta ou mesmo secreta. Talvez por seus vários livros denunciando incômodas conexões entre o poder e o ocultismo, incluindo graves desvios de comportamento derivados desta nefasta influência, seu trabalho tem sido praticamente ignorado pela academia. Entre os vários livros que publicou sobre essa relação simbiótica, alguns abordaram especificamente Adolf Hitler e o nazismo,17 mas seus mais importantes estudos18 mostram que, embora o ditador alemão tenha sido um expoente do tema,19 muitos outros governantes usaram algum tipo de prática mística durante a sua permanência no poder. Nas mais diversas nações e sob os mais variados regimes políticos. Segundo Galli, o sucessor de Mao Tsé-Tung, Deng Xiaoping, pedia conselhos a um xamã de nome Zhuge Xihan antes de tomar uma decisão importante. Isso na mesma China que perseguia religiões tradicionais, confirmando a frase de G. K. Chesterton: “Quando se deixa de acreditar em Deus, passa-se a acreditar em qualquer coisa”. No mesmo livro que expõe o ocultismo de Franklin Delano Roosevelt e Benjamin Franklin, o escritor italiano lembra que foi o próprio casal Clinton que revelou, em uma entrevista de 1992,20 “conversas mágicas” com os espíritos de Eleanor Roosevelt e Elvis
Presley. E se o critério de classificação for ampliado mais um pouco, chegaremos inclusive ao católico Ronald Reagan, que afirmou usar a astrologia como instrumento de avaliação do quadro político. Para um livro que pretende abrir novos caminhos para uma pesquisa mais aprofundada, creio que os episódios citados confirmam a presença não declarada, porém constante, do ocultismo nos corredores do poder, mas para que não fique de fora o Brasil, nem os acontecimentos mais recentes, podemos lembrar outros dois exemplos. No Brasil, se não bastasse a influência política de ordens iniciáticas e esotéricas como a Maçonaria, que teve papel decisivo em eventos como a Independência e a Proclamação da República, vale lembrar que, segundo Rosane Collor, durante o mandato de presidente seu exmarido praticava rituais de magia negra, incluindo sacrifício de animais, nas dependências da Casa da Dinda, a mansão da família Collor em Brasília. Outro exemplo brasileiro que merece lembrança é João de Deus. Condenado a dezenove anos de prisão por crimes sexuais, este personagem macabro tinha entre seus seguidores e admiradores inúmeras celebridades. Além de atrair a atenção de estrelas internacionais bastante próximas do conceito de Nova Era, como Oprah Winfrey e Shirley MacLaine, o curandeiro de Abadiânia também recebia visitas de um ministro do Supremo Tribunal Federal, artistas e de lideranças políticas como Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Hugo Chaves e Bill Clinton. E mesmo agora, enquanto escrevo este texto, podemos assistir a esse fenômeno se desenrolado nas entrelinhas da geopolítica. No conflito Rússia e Ucrânia, ambos os lados contam com apoio de grupos ocultistas. De um lado o “Império das Bruxas Mais Poderosas” declara apoio às investidas de Vladimir Putin, enquanto alguns soldados ucranianos exibem o Sol Negro, símbolo esotérico que já estampou as paredes do Castelo de Wewelsburg, sede da Schutzstaffel, a SS nazista, a organização paramilitar comandada por Heinrich Himmler.
Toda vez que a autoridade moral legítima perde força, surgem novas facções querendo ocupar esse espaço. O poder não permite vácuo, o poder moral e cultural exercido pela religião tradicional funciona da mesma forma. Ao longo da história podemos identificar uma relação inversa entre o avanço da influência do misticismo e do ocultismo e o enfraquecimento da religiosidade e da tradição. Quanto mais os elementos heterodoxos e não convencionais infiltram a sociedade, maior é a decadência cultural e moral da sua população. Este decaimento tem várias causas, mas a sua essência deriva principalmente do embate cultural entre a herança cristã e uma fusão imperfeita de diversos elementos incongruentes e por vezes inconciliáveis. Nas próximas páginas isso deve ficar mais claro.
A vem de cultivo, e da mesma forma que para cultivar uma C ultura planta são necessários alguns procedimentos ordenados de maneira a coletar os resultados ao final do processo, para colher os frutos de um ambiente cultural sadio serão necessários o preparo do terreno, selecionar as sementes, plantar no solo apropriado e cuidar. Desde os primeiros registros da história o homem demonstra um grande interesse pelo mundo que o cerca. No início o interesse pode ser revestido de medo. Mais tarde ele volta como tutor ou instrutor. Embora não considere o medo como um fator prioritário na busca pelo transcendente, nas pequenas decisões do cotidiano ele pode representar um elemento de influência cultural importante, seja pela criação de artifícios de proteção, seja pela sua inversão, como forma de assimilar e superar o espanto. Ao contrário do que imagina a geração moldada sob ideologias como naturalismo, ambientalismo ou animalismo, a natureza indomada sempre representou uma ameaça aos indivíduos e aos agrupamentos humanos. Rabiscos e pinturas rupestres exibem lutas com animais assustadores, caçadas heróicas e morte. A natureza só passa a ser retratada com admiração e encanto quando o homem adquire certo controle sobre o ambiente selvagem, quando a agricultura e a domesticação de animais tornam-se práticas disseminadas. Com o controle um pouco mais amplo sobre a sua sobrevivência, o medo perde a força e o interesse tende a se manifestar com mais intensidade sob a clave da admiração e da reverência, reações decorrentes da gratidão e da percepção da dependência. Outra constante na história da humanidade é a tendência a delimitar um ambiente. Neste recorte transformado do ecossistema original a humanidade sempre tentou cultivar algo próprio, dependente, mas de alguma forma separado da natureza.
A soma desses dois elementos constitutivos das civilizações e, muito provavelmente, da psique humana, explicam o comportamento de uma tribo. Ao delimitar um espaço para a criação da aldeia, o passo inicial consiste em separar, recortar um pedaço da natureza e transformá-la de alguma forma: separar, desmatar, cavar, nivelar, cercar etc. Quando um indivíduo dorme pela primeira vez em uma tenda, erguida em uma clareira iluminada pelo fogo, sem goteiras e longe das cobras, aranhas e escorpiões, cercado e vigiado pelos parentes, sua vida muda de tal forma que sua atenção passa a ser direcionada a outros pontos de vista. Se antes sua prioridade era estar atento o tempo todo, com o peso de estar em jogo a própria vida, agora ele pode suspender um pouco a vigilância e contemplar o mundo que o cerca com outros olhos.
Surge a possibilidade da contemplação. A história da arte parece oferecer outro aspecto do mesmo objeto, o que complica um pouco o diagnóstico. Em vários momentos é possível relacionar a qualidade temática das obras com as dificuldades enfrentadas pela sociedade que a gerou. A profundidade artística costuma se relacionar melhor com épocas de crise e miséria; e a prosperidade,21 por sua vez, traz a inovação e a possibilidade da contemplação, mas infelizmente traz também uma caçamba de superficialidade, vulgaridade e o desejo de superar os limites tende sempre a avançar para o mais fácil, que é a degradação. Se nas épocas melancólicas os artistas tendem a expressar o medo, descrença, a tristeza e a solidão, nos momentos de tranqüilidade ou euforia são mais comuns obras vívidas e originais, que se alternam com as banais e animalescas. Este é o substrato cultural onde a arte e a cultura — esta contendo aquela — constituem a trama que estabelece o que podemos chamar de sociedade. Delimitam um espaço, uma clareira, e oferecem um arranjo de convivência ao formarem o imaginário pessoal e coletivo.
Exatamente por estas características elásticas e permeáveis, para influenciar a sociedade não existe uma alternativa mais eficiente que a infiltração ideológica da cultura. O mundo que vivemos corresponde a um reflexo do cultivo, ou melhor, das sementes ideologicamente selecionadas e plantadas. No campo social e político, o imaginário popular está recheado de ideais revolucionários. Por meio do debate público, das discussões universitárias e das artes, sementes são plantadas pelos mais variados espectros das facções políticas ou partidárias. Como precisam impor novos valores, precisam destruir ou enfraquecer os valores atuais para substituí-los. E por esta razão, a influência cultural e política se confundem a partir de determinado momento. O imaginário ocidental foi forjado sobre os valores do cristianismo, que ao longo de 2.000 anos filtrou e cristalizou as influências dos judeus, dos gregos e dos romanos, mas também assimilou as demais culturas cristianizadas, dando a elas um novo significado e direcionamento. É claro que uma ideologia que pretenda revolucionar a sociedade ocidental vai mirar suas armas nas estruturas que sustentam a ordem estabelecida. E se esta ordem depende da estabilidade dos valores estruturados pela tradição religiosa, fica evidente que
não há como impor uma nova ordem social sem diluir ou corroer os elementos religiosos e espirituais de um povo. A experiência soviética prova isso. Para executar a tarefa de corrosão da malha cultural foram criadas inúmeras iniciativas, entre elas a substituição do agente revolucionário e a crítica absoluta e generalizada, ambas estratégias criadas por autores da Escola de Frankfurt.
Desde antes da Segunda Guerra o imaginário cristão tem sido alvo destas duas estratégias. Por um lado valorizam o marginal, aquele que está à margem, para que ocupe uma posição de destaque e seja imitado — e ainda alimenta o exército de novos agentes revolucionários. Por outro, promovem o misticismo para corroer os valores cristãos que estruturam a sociedade, sempre fingindo neutralidade e imparcialidade. Todas as pautas identitárias e exclusivistas que inundam as universidades e a mídia estão ancoradas em uma destas estratégias de destruição social e cultural. Ou as duas. E sempre estão carregadas de misticismo — panteísta ou gnóstico, como veremos adiante. O misticismo tem sido usado como Cavalo de Tróia na sociedade ocidental. Há muitas décadas a cultura está completamente viciada e o imaginário popular é diariamente bombardeado por filmes, livros, comerciais que carregam elementos ocultistas disfarçados de cotidianos. A repetição tende a normalizar e fortalecer os conceitos. Com o tempo essa presença é assimilada como parte da sua própria personalidade. Aquela idéia de hegemonia cultural de Antônio Gramsci, de se tornar um imperativo categórico, inquestionável porque imperceptível, também tem servido para os aspectos ocultistas da revolução. A história do misticismo, em seus altos e baixos, contempla um aspecto pouco explorado deste fenômeno. Em oposição às religiões, as práticas místicas heterodoxas quase sempre funcionam como uma reação a um estímulo externo. Assim como as pinturas das cavernas parecem demonstrar que os ritos surgem como forma de reagir a um mundo incompreensível e perigoso, a cultura mística produzida nas sociedades modernas segue a mesma lógica e também procura acompanhar as transformações mundanas, o que faz dela dinâmica, flexível e inconstante, elementos absolutamente incompatíveis com a imutabilidade das questões transcendentais. Não é possível analisar o mundo espiritual se os
critérios forem mudados a cada geração, de maneira arbitrária, subjetiva e desde fora, por influência exclusiva do mundo material. Essa volatilidade, que impede a conciliação com os conceitos de Absoluto, Eternidade e Infinito, também distorce a natureza da vida espiritual, rebaixando e limitando sua essência aos seus acidentes. Mas, infelizmente, por ser maleável,
o misticismo se adapta a qualquer tipo de cultura que o alimente, como um parasita. A infiltração dos valores ocidentais pelos elementos ocultistas ocorreu de inúmeras maneiras, impossíveis de abarcar, mas algumas organizações, movimentos e indivíduos podem servir de exemplo. MAÇONISMO: UMA MENTALIDADE CORROSIVA Tão importante quanto identificar os organismos que influenciam a sociedade é entender os seus mecanismos. A Maçonaria tem sido alvo de inúmeras interpretações, mas é possível agrupar a maior parte delas em três grupos. A maioria das pessoas desconhece ou não dá muita bola para o papel da Maçonaria na sociedade. Não acreditam que exista algo realmente influente fora dos círculos partidários, dos parlamentos, dos tribunais e dos corredores dos palácios, dos ministérios e das demais instituições políticas. Esse tipo de visão é bem comum entre aqueles que colocam a política na periferia dos seus interesses e, quando muito, voltam a prestar alguma atenção durante o período eleitoral ou quando uma iniciativa governamental o atinge profundamente. Um segundo grupo considera a existência, a importância e admite alguma influência dos membros junto aos governos e ao poder de forma geral.
Sabem que as lojas são freqüentadas por pessoas bem colocadas na vida profissional, um fato evidente, mas não acreditam, desprezam ou nem mesmo especulam sobre a existência de algum misticismo por trás das reuniões. No máximo uma bobagem simbólica. Para estes o enfoque e o interesse se resume aos negócios, aos contatos que podem render. Acredito que neste grupo estejam muitos maçons. O terceiro grupo credita aos maçons toda sorte de acontecimentos, para o bem e, principalmente, para o mal. Penso ligeiramente diferente dos três grupos. Reconheço a influência da Maçonaria como geradora das idéias revolucionárias, nos planos de destruição das monarquias, nos ataques à Igreja, inicialmente, e ao cristianismo como um todo. Acontece que acredito que o seu papel agora é outro: funcionar como um símbolo orientador, já que muitos organismos criados por “irmãos” e sob a influência da ordem atualmente exercem um poder mais objetivo e imediato. Órgãos como a , Comissão Trilateral, Diálogo Interamericano e todos os seus tentáculos, foram criados sob o ambiente do pensamento maçônico, mas atualmente parecem exercer um poder superior ao da sua genitora. Até mesmo no aspecto místico a Maçonaria parece ocupar um espaço diferente, afinal agremiações de bilionários ocultistas como Bohemian Club costumam ser mais exclusivistas e elitistas. De secreta para discreta, de fechada para estreita, a Maçonaria mudou, hoje você pode “se inscrever” no site de uma loja, mas a sua essência continua sendo a bússola de todo movimento revolucionário que pretende erguer uma nova civilização sobre um novo conjunto de colunas. Segundo Albert Pike, essa essência é anticristã e luciferiana, e como ela permanece como símbolo e Norte da revolução, estabeleceu a motivação, os meios de execução e a finalidade não apenas de todo organismo que criou ou ajudou a criar, mas de toda idéia e pensador que promoveu, de todo político que financiou e elegeu, de toda lei que aprovou, e de todo produto cultural e de todo ídolo que colocou sob os holofotes.
Mesmo sem a sua ação direta, acredito que suas proposições estão instaladas ou a caminho, como a principal delas, a República Universal, uma idéia totalitária e messiânica que envolve sistema político, economia, moeda, legislação e um simulacro de religião elástico o suficiente para obedecer e adorar o poder constituído. Prefiro usar o termo maçonismo porque ele representa todo esse conjunto de organismos, de mecanismos e de ideais que se espalharam por todo tecido social. Maçonismo também pode significar uma mentalidade, um modo de pensar e agir na sociedade, com caminhos iniciáticos e rituais envolvidos em segredo, penumbra e sombra, com juramentos de sangue e promessas de morte. Seu método dialético confunde e entorpece, seu exclusivismo elitista é interesseiro e hipócrita, mas, acima de tudo, sua pior característica é a pretensão de autoridade autoproclamada, de quem possui, por destino, o direito e a capacidade de “construir” um novo mundo. Duas características intrínsecas da mentalidade maçônica já se espalharam e atualmente estão presentes em várias organizações, grupos ou camadas da sociedade. Como qualquer seita, compartimentaliza as informações de acordo com um processo iniciático secreto ou discreto, e comporta opiniões contrárias para controlar o discurso público por meio da dialética. A confusão de um conflito sempre ajuda a avançar a agenda de quem controla os dois lados do conflito.22 Além de tudo isso, o maçonismo está entre os maiores promotores de todas as formas de misticismo na política, na cultura e nas questões sociais, influenciando de forma decisiva e dissimulada os dilemas morais e religiosos. É nesta instabilidade cultural e moral que o misticismo passa a ser uma ferramenta revolucionária permanente, porque aparenta uma alternativa à desordem e ao caos, oferecendo uma gama enorme de crenças e práticas. Por sua natureza adaptativa, e por sua imensa variedade, o misticismo sempre terá uma proposta atraente.
Muito atraente. Quando você pinça entre as religiões apenas aquilo que o agrada, essa miscelânea vai se tornar uma religião particular, a sua própria religião, e isso é a mais pura definição de idolatria: com quem você vai “religar”? Com você mesmo, seu deus. Não há escapatória. Se você criou uma religião própria, você escolheu as regras, as punições e as recompensas, você é seu próprio deus. A influência do misticismo na cultura vai muito além dos processos iniciáticos discretos. Está na televisão 24 horas por dia, principalmente nos comerciais, um fenômeno que vem crescendo muito nos últimos anos e que, provavelmente, tem relação com a concentração das grandes corporações nas mãos dos mesmos fundos e nos mesmos bancos das mesmas famílias.23 Está no cinema, na música e no entretenimento, que hoje parecem ter uma mesma missão, uma estratégia dividida em três táticas: Desconstruir o conceito de heroísmo por meio da promoção da marginalidade, da substituição dos heróis, do relativismo e do niilismo, a fim de possibilitar novos ícones e novos modelos; Substituir a ordem objetiva por um emaranhado de subjetividade, plantar um elemento de instabilidade e desagregador disfarçado de diversidade, pluralidade e defesa das minorias; Classificar e atacar todo pensamento divergente, rotulando os seus proponentes como inimigos da sociedade e preparando o terreno para censura e perseguições.
Onde entra o ocultismo? Em tudo: Para a substituição dos heróis e promoção de novos ídolos o misticismo oferece um cardápio com todos os gostos, e devido ao seu aspecto sincrético e à promoção do marginal, os escolhidos serão sempre sinistros e desajustados, ou pelo menos dúbios e inconstantes. Como as práticas ocultistas são compostas, total ou parcialmente, de experiências intangíveis ou dificilmente verificáveis, a subjetividade torna-se o padrão da espiritualidade e da religiosidade. Por obedecerem ao comportamento típico das seitas, onde o avanço depende das provas de compromisso e lealdade, o misticismo costuma levar ao sectarismo, ao extremismo e à intolerância.
As evidências da cosmovisão contaminada pelo misticismo estão em toda parte, mas para compreender o mecanismo de infiltração, a profundidade, o alcance e o atual estágio da contaminação, selecionei alguns tópicos que devem ajudar a entender um pouco melhor esse assunto tão complexo. Pesquise: Ordem Rosacruz, Burschenschaft Paulista, , Cabalá, perenialismo, Wicca, nartinismo, Mahdi, Fé bahá’í, Advaita Vedanta, xamanismo, Sociedade Teosófica, Thelema, eubiose, raelianismo, cientologia, luciferianismo. HERMETISMO, GNOSTICISMO E PANTEÍSMO As religiões tradicionais possuem algumas características essenciais: foram reveladas, e não encontradas. Assim, não podem ser reproduzidas sem um elemento transcendental. Sendo mais claro, não são resultado de estudo e dedicação, mas iniciativas que derivam de uma vontade sobrenatural: seja um falso deus, um emissário ou o próprio Deus. Por esta razão, nas religiões abraâmicas não existe uma fórmula perfeita para se alcançar um milagre, para alcançar uma graça. Ele depende única e exclusivamente da Vontade Divina, que pode eventualmente transferir esse poder. O termo milagre, em sua etimologia, significa “aquilo que merece ser visto”, “mirado”, e o conteúdo mais profundo dessa palavra demonstra a nossa condição de espectador, um sujeito passivo diante do mistério. Outra característica, que complementa a anterior é a sua transparência. Mesmo ao lidar com mistérios insolúveis, procura manter um discurso unívoco e exotérico, ou seja, para todos os públicos. Sabemos que o desvio está infiltrado em todas as tradições religiosas, mas um acidente não pode ser confundido com a essência. Hierarquia, senso das proporções e relações entre causas e conseqüências são traços da inteligência e devem ser aplicados nesta diferenciação.
O hermetismo, o texto criptográfico, só compreensível pelos eleitos iniciados, contradiz todas as religiões tradicionais.
Embora todas convivam com seus mistérios, o caminho esotérico dos iniciados costuma ser visto como um desvio. Além disso, a busca de uma suposta “religião verdadeira” escondida nas entrelinhas significa que a mesma não foi revelada. Do ponto de vista cristão, o misticismo esotérico não encontra respaldo porque Jesus não ensinou nada em segredo, nada diferente do que está nos Evangelhos. Ele disse. Isso não significa que não exista misticismo cristão, pelo contrário. Essas vertentes devem ser as mais numerosas, em tipos e em adeptos. O cristianismo praticado no ocidente perdeu muito da sua unicidade e hoje comporta uma infinidade de crenças sob esta alcunha, muitas vezes com elementos contrários às doutrinas de Jesus Cristo. Um exemplo: muitas correntes que se dizem cristãs não acreditam na sua divindade, duvidando, portanto, dos Evangelhos e de tudo que apóstolos escreveram sobre Jesus Cristo. Para explicar essa incoerência, buscam respostas em supostos conhecimentos ocultos, tirados de documentos de origem improvável, autoria suspeita ou embutidos como códigos nas Escrituras. A Cabalá, mística originalmente judaica, mas que atualmente seduz milhões de ocidentais e até mesmo ateus, possui esse mesmo hermetismo, que supostamente descompacta e interpreta a Torah. Procurando segredos nas entrelinhas, recortam dos textos sagrados apenas o conveniente aos seus objetivos, entre eles a criação de uma doutrina própria. Por meio de chaves de interpretação esotérica e conteúdo preenchido e “corrigido” por tradições orais inverificáveis ou textos muito posteriores aos acontecimentos bíblicos, estabelecem novos paradigmas e novas interpretações. Sucessiva e indefinidamente. Esta é fórmula usada para
subverter a religião e substituí-la por uma doutrina criada por homens.
O mesmo acontece no Islã, onde o misticismo também exerce um papel significativo na sociedade, em especial entre as classes mais instruídas e mais prósperas. Entre os muçulmanos o hermetismo está representado principalmente na tariqa, uma escola mística islâmica, e no sufismo, um conjunto de doutrinas baseadas em modos de interpretação, defendidas por ordens ou irmandades de estudiosos desde o tempo dos primeiros sucessores de Maomé. Evidentemente, os exemplos não abarcam toda complexidade e profundidade das escolas místicas cristãs, judaicas e islâmicas. A completa compreensão dessas doutrinas requer uma vida de estudos, e este é exatamente um dos problemas das doutrinas herméticas: a complexidade do assunto exige dedicação absoluta e eterna, causando um desvio por excesso de informação. Pela confusão. Nos três casos as correntes místicas oferecem interpretações diferentes dos elementos essenciais da sua religião, descritos em suas respectivas Escrituras Sagradas. Mas não é apenas nesse aspecto que elas são semelhantes. Mesmo sendo minorias em suas comunidades, as evidências mostram uma influência desproporcional, todas essas escolas místicas costumam atrair pessoas poderosas em suas sociedades, e partindo desta composição estratégica, influi no rumo dos acontecimentos de maneira secreta ou discreta. Podemos dizer que as escolas místicas e as sociedades iniciáticas, com seu conteúdo hermético e esotérico, são meios de ação, específicos a cada sociedade que as abrigam. Mas existe outro denominador entre as vertentes místicas judaicas, cristãs e muçulmanas: a oferta de dois caminhos.
Panteísmo e gnosticismo são duas categorias de revolta. Revolta, nesse caso, com o sentido de rejeição, indignação. O sentimento que não aceita a realidade que se impõe. O que diferencia
as categorias é o sentimento envolvido, ou manipulado, e a intensidade emocional. No panteísmo as emoções costumam ser otimistas, e os sentimentos vão do conforto à euforia. O espírito de revolta, nesse “caminho”, está diluído em uma tentativa de superar a condição humana por meio de uma completa fusão com o meio que o cerca. Uma idéia fascinante e sedutora, mas como isso é impossível, dadas as diferenças intrínsecas entre uma árvore, o sol e uma pessoa, o fascínio é direcionado para a idolatria, de início a astros, animais, Mãe Natureza ou Gaia, mais tarde a humanos e mitos. Tudo isso por confundir Criador e criatura. Se tudo é deus, todos são deuses. A adoração de criaturas leva à filáucia, uma espécie de amor exagerado a si mesmo que leva à idolatria. O indivíduo passa a ser um deus ou, no mínimo, considera a existência de um deus particular. Muito parecido com o paganismo, inclusive por sua multiplicidade e inconstância, o panteísmo moderno está enraizado na cultura ocidental. O conceito de Gaia, por exemplo, pode ser visto em filmes, músicas e desenhos animados, e seu componente político faz parte de documentos e iniciativas do tipo Carta da Terra.24 A Nova Era é o principal fenômeno de influência panteísta. Apesar de conter alguns elementos gnósticos como desdobramentos dos seus princípios, o movimento New Age é uma mistura de práticas espiritualistas otimistas, identitárias, místicas e não convencionais. Difícil de ser rotulado e identificado no tempo, o movimento Nova Era é coletivo, anárquico e caótico. Com este perfil, ele tem origem na contracultura dos anos 1950 e 1960 e se consolida nas décadas seguintes. Influenciou e foi influenciado pela ideologia rebelde do “sexo, drogas e rock’n’roll”, pelo criticismo niilista, pelo permanente questionamento à ordem e aos padrões. Em vários níveis, fomenta a rejeição e promove a inversão dos paradigmas. Os movimentos ambientalistas mais radicais costumam seguir uma “cartilha” com recomendações que mais parecem dogmas religiosos.
E é com a força de um mandamento, que a idolatria da natureza é embalada como preocupação ambiental. Seus discursos são financiados, promovidos por organismos revolucionários, e são multiplicados e amplificados por um exército de sectários, exatamente como qualquer outra seita. Uma espécie de neopaganismo. O ocultismo, em sua manifestação panteísta, costuma ter práticas mais palatáveis, curiosas e até mesmo bonitas. A estética, inclusive, busca essa conexão com as sensações agradáveis que temos diante da natureza. Seu perigo consiste nesse encanto, que não exige uma conexão com o Criador, mas com suas criaturas. Tem a liberdade como bandeira: não julga, não condena.
“Carpe diem!”, “Viva sem arrependimentos” são slogans que fazem sucesso em uma sociedade materialista, imediatista e mimada. Embora as práticas panteístas pareçam às vezes ingênuas e inofensivas, elas são como caminhos floridos que levam ao abismo. O gnosticismo tem algo mais grave: a revolta é exacerbada. Parte da sua identidade consiste em exibir a rebeldia como um valor e um princípio. Para os gnósticos o mundo material é defeituoso, imperfeito, incompleto. Aos seus olhos Deus é mau. Ou, no mínimo, negligente. Sua revolta está justificada pela sensação de abandono, de injustiça, pela indignação. Rejeitam a realidade e a Verdade que ela expressa, e seu desejo é reconstruir o mundo. Por meio do conhecimento esperam alcançar esse poder. De uma forma mais genérica, também podemos entender a gnose simplesmente como busca pelo conhecimento por vias pouco
convencionais, mas as correntes gnósticas, que tratamos aqui, vão um pouco além dessa definição. A prática gnóstica consiste em estudar técnicas psicológicas e espirituais que levem ao conhecimento necessário para evoluir e ascender a um novo patamar existencial. Movido pela revolta contra Deus e tudo que ele representa, busca um atalho na evolução, um caminho que pode variar entre o melancólico e o violento. Neste campo estão as seitas mais estranhas e radicais. Os rituais são mais dramáticos, os cenários são obscuros. A sombra, o oculto e o segredo estão mais presentes, e pode envolver sacrifícios. Seria preciso um livro inteiro só para classificar os episódios sinistros envolvendo práticas com este conteúdo gnóstico, mas nem todas efetivamente chegam às “vias de fato”. Muitos grupos místicos desse gênero se ocupam de leituras, mantras e meditações, mas assim como nas práticas panteístas o caminho enfeitado também leva ao mesmo abismo. A diferença entre panteísmo e gnosticismo, no final das contas, é de grau, de intensidade, e as semelhanças estão na motivação e na finalidade. São motivados a buscar o conhecimento por um atalho, e esperam superar de alguma forma a condição humana. Uma idolatra o mundo, e deseja se fundir com ele, a outra o odeia e deseja colocar um novo em seu lugar, mas ambas querem ocupar o lugar do Criador. O transhumanismo, movimento que procura transformar e transcender a essência humana reúne a vertente panteísta, quando oferece a hibridização homem-máquina, homem-animal (homemnatureza?), e a vertente gnóstica, com o sonho da imortalidade, da onisciência e da geração de novas vidas (Golem). Em uma mesma ideologia, ou cosmologia,
são duas formas místicas de responder ao chamado da serpente: “sereis como deuses”.
Uma última semelhança. As duas vertentes possuem estreita relação com o sexo. A primeira de maneira sensual, a segunda de forma mais explícita, mas ambas costumam flertar com a androginia, com a transexualidade, seja como em uma fábula, seja na forma de um pesadelo. Uma tende a ser assimilada e mais palatável, a outra mais indigesta e incisiva. Como avisei no início, para caracterizar alguma prática, crença ou movimento como ocultista, esse livro obedece a um viés, derivado da minha interpretação da tradição cristã, de um ponto de vista de quem já foi seduzido pelo assunto, e um filtro muito estreito baseado nas Escrituras. Por esse prisma, todo hermetismo é um erro que corrói a objetividade e desorienta, confunde a percepção ao demolir as balizas com interpretações subjetivas. Crenças subjetivas formam religiões particulares, com deuses particulares. Repito, mais uma vez: Respondeu-lhe Jesus: Eu tenho falado abertamente ao mundo; eu sempre ensinei nas sinagogas e no templo, onde todos os judeus se congregam, e nada falei em oculto.
Também vale repetir, sobre as correntes místicas, que apesar da enorme diferença de métodos, são idênticas ao oferecer o conhecimento em troca da desobediência. E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. (Gn 2, 16–17) Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como deuses, sabendo o bem e o mal. (Gn 3, 4–5)
Pesquisar também: animismo, Kundalini, Maitreya, monismo, Relatório Hodgson.
B C
C :
A
BOHEMIAN CLUB: UM ÍCONE vimos, embora os conceitos de panteísmo e gnosticismo C omo sejam diferentes no meio de ação, na motivação e na finalidade eles são muito parecidos. A comprovação dessa coincidência está na assimilação conjunta que costuma acontecer em seitas e organizações místicas. Ícone é uma imagem cristalizada que comprime, sintetiza e simboliza um conjunto de significados. Um modelo que acomoda tensões e expressa um resumo visível. O misterioso Bohemian Club pode servir como ícone da simbiose entre panteísmo e gnosticismo, e talvez seja também o melhor exemplo da conexão entre poder, cultura e misticismo. Encravado no meio de uma floresta no norte da Califórnia, existe um clube onde bilionários, líderes políticos e executivos de primeira linha se reúnem todos os anos no mais absoluto segredo. O que parece a introdução de um conto de terror é na verdade a descrição precisa de um local onde algumas das pessoas mais poderosas do mundo costumam se reunir durante o solstício de verão do hemisfério norte. O evento tem acontecido há mais de um século e na maior parte desse tempo permaneceu nas sombras, sendo citado apenas em pequenas notas de jornal e sem merecer a devida atenção da grande imprensa. O Bohemian Club, que atualmente fica em um bosque de 11 km², no pequeno Condado de Sonoma, na Califórnia, foi criado em 1872/73 por artistas, jornalistas e ricaços adeptos do bohemianismo, uma espécie de hobby que consiste em práticas artísticas, musicais, comportamentais e espiritualistas, com ênfase nas atividades consideradas alternativas, marginais, ousadas e modernas. Ou seja, no início o Bohemian Club era uma espécie de precursor do movimento
hippie, formado por magnatas, aristocratas e moderninhos ricos que também pregavam amor livre, álcool, experiências de alteração da consciência e exercícios espirituais que destoavam da moral e das religiões tradicionais. O clube surgiu entre conversas no escritório do jornal San Francisco Chronicle e foi criado originalmente como um espaço para encontros furtivos em um ambiente urbano. No início as reuniões ocorriam no prédio que ainda abriga a sede social do clube, na cidade de São Francisco — curiosamente o mesmo edifício, aparentemente, abriga ou abrigou uma unidade da Sociedade Vedanta, um tentáculo do Missão Ramakrishna. A prática do acampamento no bosque só apareceu seis anos após a fundação do clube, em uma festa dedicada ao ator inglês Henry Edwards, que acabava de fixar residência na Califórnia. Nos anos seguintes repetiram o acampamento em outros locais e em 1883 alugaram pela primeira vez o atual bosque cortado pelo Russian River. Em 1899 o clube comprou a propriedade. Desde a sua fundação o Bohemian Club se caracteriza como um clube privado que preza pela discrição. Os encontros são anuais e seus membros permanecem fechados no clube por duas semanas inteiras (incluindo três finais de semana) no mês de junho (mais ou menos no dia 21). Além dos fundadores, todos falecidos, cerca de 2.700 membros ativos se dividem entre os “regulares”, que são aqueles que sustentam financeiramente o clube, os “profissionais” que também atuam na organização e manutenção das atividades, os “associados”, convidados do mundo das artes ou celebridades, e os “honorários”, eleitos pelos demais membros, mesmo que ainda não façam parte do clube. Ao menos no início era comum oferecerem um convite pontual, para um único encontro, quando algum estrangeiro famoso e “adequado” se encontrava nas imediações de São Francisco. Por ser extremamente restrita e cobiçada, a espera por uma vaga entre os regulares pode chegar a quinze anos.
Embora nos acampamentos só se tenha notícias sobre participantes do sexo masculino, entre os membros honorários encontram-se pelo menos quatro mulheres: a atriz Elizabeth Crocker Bowers, as escritoras Ina Coolbrith e Sara Jane Lippincott, e Margaret Bowman, esposa do jornalista e poeta James Bowman, um dos fundadores do grupo — o funeral dela ocorreu dentro do Bohemian. Entre os fundadores do Bohemian Club encontram-se artistas, escritores, músicos e jornalistas. Alguns nomes famosos e outros nem tanto: Ambrose Bierce, escritor de contos de terror e autor de obras satíricas como o Dicionário do Diabo. Morreu de alcoolismo após sua esposa cometer suicídio. Henry George, pai do georgismo, filosofia econômica progressista do final do século
.
John C. Cremony, autor do primeiro dicionário da língua apache. Arpad Haraszthy, escritor húngaro, de uma importante família da viticultura. Frederick Whymper, artista plástico inglês e explorador de sucesso. Existe uma montanha com seu nome no Canadá. Hiram Reynolds Bloomer, pintor. Edward Bosqui, escritor. James F. Bowman, poeta e jornalista. Samuel Marsden Brookes, pintor. Henry “Harry” Edwards, ator e entomologista. Sands W. Forman, jornalista. Paul Frenzeny, pintor e ilustrador. Benjamin F. Napthaly, jornalista. Daniel O’Connell, escritor e jornalista irlandês. J. C. Williamson, ator, diretor e empresário teatral.
Com o passar do tempo passaram a aceitar celebridades de outras áreas, como política, finanças e indústria. Aparentemente, após a década de 1930 o clube passou a restringir ainda mais os convites e a
dar maior importância a membros poderosos e com mais influência política. Entre os membros honorários encontram-se nomes famosos como Jack London, Jennings Cox, criador do drink Daiquiri, Luis Walter Alvarez, vencedor do Prêmio Nobel de Física em 1968, Glenn Theodore Seaborg, Prêmio Nobel de Química de 1951, Theodore Roosevelt, 26° presidente dos e William T. Wallace, Procurador Geral e juiz da Suprema Corte americana. A lista dos membros é bastante misteriosa, e muitas vezes controversa, como costuma acontecer com organizações desse tipo. Alguns nomes aparecem em listas e nunca foram confirmados, como Clint Eastwood, que supostamente esteve em um encontro nos anos 1980. Como convidados freqüentes podemos destacar, com toda certeza, Henry Kissinger, que já foi fotografado em uma situação no mínimo constrangedora, Martin Anderson, assessor da Casa Branca, e entre os pontuais encontramos Nicholas F. Brady, Secretário de Estado; Helmut Schmidt, Chanceler Alemão; David Rockefeller, Warren Buffett, David Gergen, John Kluge, George Bush, pai e filho, Gerald Ford, Richard Nixon, Ronald Reagan, Bill Clinton e muitos outros executivos de primeiro nível como Samuel Armacost (Bank of America), Thomas Watson Jr. e John Fellows Akers ( ), Richard Morrow (Amoco) e Stephen Bechtel. Também podemos saber com certeza alguns dos presidentes do clube: Paul Speegle (1973–75) Carl Arnold (1975–77) W. Palmer Fuller (1977–79) Michael Coonan (1979–81) Patrick O’Melveny (1981–83) William C. Mathews (1983–85) Harry H. Scott (1985–87) George Elliot (1987–?)
Durante os encontros, os membros são distribuídos entre vários “acampamentos”, ou seja, unidades que servem de dormitório e lazer. Segundo Cathy O’Brien, a intenção declarada é proporcionar associações e “incentivar relacionamentos que visem ‘enriquecer’ a experiência”. No meio de uma área descampada do clube existe uma estátua de uma coruja, com cerca de 12 metros, toda feita de pedra, e ao seu redor são reunidos os membros em diversas situações. A ave é a mascote do Bohemian e sua imagem está em toda parte, na entrada que leva ao bosque, nas salas de estar, no púlpito, na sede em São Francisco, e até na papelada que poucas vezes vazou. Ao lado da coruja sempre encontramos a frase , que alguns pensam que significa que o clube não permite conversas sobre negócios, mas eu entendo como um aviso aos intrusos, que podem se enroscar na teia de aranha. O local é fortemente vigiado, com câmeras, sensores de movimento e repleto de seguranças armados. São João Nepomuceno é uma espécie de patrono do clube. O santo, que viveu na região de Boêmia, hoje República Checa, era confessor da corte do rei Venceslau , no século , e foi morto porque não aceitou contar os segredos ouvidos no confessionário. Logo na chegada os convidados e membros constituintes são recebidos e após sentarem-se de frente para a grande coruja participam de uma espécie de cerimônia macabra, conhecida como Cremação de Care, que consiste em um ritual repleto de símbolos pagãos, com velas, tochas, efeitos pirotécnicos, um sacerdote falando inglês arcaico e ajudantes vestidos de maneira a lembrar os antigos uniformes da Ku Klux Klan, e culmina com o que parece ser uma simulação de uma criança sendo queimada. O documentário Dark Secrets: Inside Bohemian Grove, de Alex Jones, registra essa cerimônia. A gravação ocorreu em junho de 2000: Alex pulou uma cerca e rastejou até o estacionamento, depois misturou-se aos membros que estavam chegando e foi levado em um veículo até o local da cerimônia. Segundo ele sua curiosidade sobre o clube surgiu
quando pesquisava a Skull and Bones, sociedade secreta instalada na Universidade de Yale, de onde saíram vários políticos de destaque e alguns presidentes americanos, como os Bush. Uma matéria da revista Spy de novembro de 1989 diz que o objetivo desta bizarra recepção é simplesmente libertar os membros e preparálos para os dias em que precisam esquecer-se da sua realidade cotidiana e se aproximar do mundo selvagem. Talvez por isso as acomodações, apesar de luxuosas e confortáveis, têm um aspecto antigo, exótico e bastante rústico. Peter Phillips, professor de sociologia, esteve no clube em 1994 como convidado e provavelmente por isso repete o porta-voz do clube, Alex Singer, que em 2013 disse que os encontros são apenas para reforçar laços entre os poderosos. Além dos segredos e dos mistérios que originaram diversas lendas,
pouco sabemos das atividades que ocorrem naquele lugar, mas assim como a sinistra cerimônia de recepção é possível encontrar na internet fotos com evidente influência de rituais satânicos, além de registros de algo parecido com um baile de máscaras, com membros vestidos de mulher, maquiados como drag queens e visivelmente embriagados ou drogados. Outros relatos indicam que entre as sequóias do Bohemian Clube ocorreram muitas negociações internacionais e decisões políticas importantíssimas, que influenciaram a vida de todo planeta, como as reuniões ocorridas em 1942 envolvendo os cérebros por trás do Projeto Manhattan, responsável pela criação e produção da bomba atômica americana. Infelizmente é difícil saber exatamente o que ocorre no Bohemian, mas devido ao clima de segredo e ocultismo envolvido, é quase certo que não deve ser algo muito bom.
Pesquise também: Belizean Grove, The Family, Hellfire Club, Wicker Man, The Beggar’s Benison, Holika Dahan, Burning Man, Festivais transformacionais. ALEISTER CROWLEY: OCULTISTA MODELO Da mesma forma que o Bohemian Club foi pinçado entre muitos para representar um tipo de associação influente, Aleister Crowley pode servir de exemplo ou modelo de agente cultural de grande influência. Emanuel Swedenborg, Helena Blavatsky e Éliphas Lévi foram os principais formuladores do pensamento místico moderno, com influência essencial ou acidental em inúmeras vertentes. Aleister Crowley recortou um pouco de cada um, adicionou outras bizarrices e assimilou essa mistura em uma personalidade extravagante. O mais famoso dos ocultistas modernos nasceu em uma família rica, no Reino Unido, e logo cedo demonstrou interesse por assuntos esotéricos. Seus pais foram seguidores de facções fundamentalistas dos Quakers: Irmandade Reservada, Irmãos de Plymouth, Irmãos Exclusivos. Na Universidade de Cambridge decidiu abandonar seu nome real, Edward Alexander, e assumiu seu novo nome, mas mantendo o sobrenome, o que para ele representou uma nova personalidade. Com 23 anos aderiu à Ordem Hermética da Aurora Dourada, ou Golden Dawn, onde se tornou um discípulo direto de Samuel Liddell MacGregor Mathers, fundador da seita. Sua iniciação ocorreu em uma cerimônia repleta de glamour, no Templo Ísis-Urantia, no Mark Masons’ Hall, em Londres, sede da Grande Loja dos Mestres Maçons da Marca da Inglaterra e País de Gales. Mas durou pouco. Segundo seus “irmãos” de seita, Crowley era arrogante, prepotente e megalomaníaco. Quando foi iniciado imaginou que controlaria a ordem e isso provocava constantes conflitos com os outros membros,
inclusive com o escritor William B. Yeats, que era um mestre da ordem. Mesmo fora da Golden Down, o que ocorreu cerca de um ano depois, manteve a íntima relação com Charles Henry Allan Bennett, o mestre da ordem que o ensinou rituais de magia e o uso de drogas alucinógenas. Bennett chegou a morar com Crowley, e depois se tornou um dos grandes divulgadores do budismo na Europa. Mais tarde iniciou uma série de viagens com o objetivo de estudar práticas religiosas, em especial as heterodoxas e exóticas. Além de circular pela Europa, esteve no México, na Índia e no Egito. Uma destas expedições místicas ocorreu durante a sua lua-de-mel. Recém-casado com Rose Edith Kelly, Crowley foi ao Cairo, no Egito, onde, aparentemente, teve o “encontro” que se tornaria o eixo central da sua vida. Segundo o relato do próprio Aleister Crowley, em uma cerimônia particular realizada no quarto de um luxuoso hotel no Cairo, o casal invocou divindades egípcias usando ritos, mantras e feitiços — e muitas drogas, provavelmente. Durante o transe Rose “canalizou” uma entidade não-corpórea, Aiwass, que passou três dias ditando o que ficou conhecido como O Livro da Lei, a essência da seita criada pelo bruxo inglês: Thelema. Mais que uma seita, Thelema pode ser entendida como a filosofia de Aleister Crowley, contendo os preceitos que ele ouviu de Aiwass, as decorrências lógicas e os preenchimentos com os hermetismos e esoterismos que ele se dedicou a estudar a vida inteira. Por causa dessa miscelânea, a Thelema conquistou admiradores de todos os espectros do ocultismo. Como todo conjunto de crenças heterodoxas, a Thelema apresenta enorme flexibilidade para abrigar doutrinas diversas e até contraditórias. Esta capacidade de assimilar elementos religiosos e pseudoreligiosos para formar com eles um amálgama fluido e hermético
trouxe algumas vantagens e facilitou a sua ascensão ao posto de celebridade, que excitou sua ambição descontrolada. Escreveu livros que ele mesmo chamava de “sagrados”,
distorceu tradições e ensinamentos antigos, fez das suas perversões uma doutrina e viajou o mundo torrando o dinheiro que ganhava oferecendo seus serviços de feiticeiro.25 Com a notoriedade alcançada com o Livro da Lei e a Thelema, passou a infiltrar e a controlar sociedades iniciáticas como a Ordo Templi Oriente. Por meio daquilo que ele chamava de Magia Sexual, transformou organizações e doutrinas místicas em ferramentas de adoração à sua pessoa. A Igreja de Satanás, de Anton LaVey, tem clara influência no pensamento destrutivo e megalomaníaco de Aleister Crowley. Seu texto essencial, a Bíblia Satânica, são desdobramentos do Livro da Lei, com alguns plágios de Might Is Right, um manifesto do darwinismo social, de Ragnar Redbeard.26 Os tópicos são parecidos, porém mais objetivos e declarados, e sem o hermetismo pomposo do bruxo inglês. Se em vida Aleister Crowley conseguiu influenciar muita gente poderosa, após a sua morte, em 1947, suas idéias ganharam força e se infiltraram em várias camadas da cultura ocidental. Livros, músicas, filmes e produtos foram feitos em seu nome ou sob a influência do seu pensamento. Seu rosto foi estampado na capa de um dos discos mais populares dos Beatles, seu nome foi cantado por várias bandas, inclusive por Ozzy Osbourne, e seus bens, seus objetos particulares são tratados como relíquias religiosas. E até mesmo o seu funeral, um ritual sinistro preparado pelo próprio Crowley no texto Missa Gnóstica, transformou-se em um modelo ritualístico adotado por seitas e sociedades secretas.
É possível afirmar, com evidências, que alguns paradigmas da cultura pop atual refletem o pensamento de um sujeito perverso, desequilibrado e megalomaníaco, ou “A Besta”, que era como sua mãe o chamava. Pesquise também: Sabbatai Zevi, Jacob Frank, Emanuel Swedenborg, Helena Blavatsky, Éliphas Lévi, Pitágoras, Hermes Trismegistus, Paracelsus, Papus, Giovanni Pico della Mirandola, Albert Pike, Manly P. Hall, John Dee, Helena Roerich, Franz Mesmer, Edgar Cayce, René Guénon, Frithjof Schuon, Tito Burckhardt, JeanLouis Michon, Ananda Coomaraswamy, George Gurdjieff, Gerald Gardner, Kenneth Grant, Gregory Ottonovich von Mёbes, Julius Frank, Wilhelm Reich, Rudolf Steiner, William Wynn Westcott, Jack Parsons, Annie Besant, Djwal Khul, Alice Bailey, Samael Aun Weor, Benjamin Creme, Anton LaVey, Peter Howard Gilmore, L. Ron Hubbard.
U
Q
uem já conhece o meu trabalho sabe que tenho dedicado boa parte do meu esforço a alertar para os malefícios de uma autoridade mundial centralizada.
O avanço deste ambiente de governança global nas sociedades ocidentais conta com alguns fatores de ordem política, econômica e social, mas será preciso uma nova “partícula” capaz de conceder alguma harmonia a essa miscelânea. Um elemento ordenador, um cimento para unir os vários tijolos. Os mesmos defensores de um governo mundial promovem as bases para uma religião global adequada a esta nova ordem que pretendem implantar. A construção desta religião biônica coincide com a demolição das estruturas das religiões tradicionais. A corrosão destes pilares é causada pelo ecumenismo radical, pelo sincretismo religioso e pela infiltração do misticismo. Como as tradições religiosas são entes de gêneros diferentes, que não podem nem mesmo servir de objeto de comparação, qualquer recorte será artificial, incompleto para qualquer compreensão exigente. Uma religião baseada em recortes de tradições estranhas, que modifica diretrizes de ordem espiritual por razões mundanas, e que exclui e assimila doutrinas para atender a uma conveniência material nunca será nada além de um simulacro de religião:
Uma farsa. Da mesma forma que os adeptos da Nova Era criam sua própria religião particular, a , as fundações bilionárias e os traidores infiltrados acreditam que podem costurar uma religião sob medida para a sua utopia globalista. Essa mentalidade burocrática acha
possível criar uma religião da mesma forma que escolhem produtos em um supermercado, retirando da gôndola apenas a crença mais agradável, por um preço acessível. Um equívoco comparável aos perenialistas, que acreditam ter descoberto a chave da sabedoria ao identificar os mesmos princípios na essência de cada crença, tirando dessa descoberta a dedução pueril de que recortando um pedaço de cada religião é possível formar a religião infalível. Fustel de Coulanges, um historiador francês, percebeu uma constante nas derrocadas das civilizações antigas. No livro A Cidade Antiga ele mostra que quase sempre uma sociedade colapsa seguindo um mesmo cronograma, simultâneo e nem sempre ordenado. O processo revolucionário passa por uma revolução de ordem religiosa, depois a revolução política e, por fim, uma revolução nas bases econômicas e jurídicas. Por este aspecto,
o misticismo tem um papel decisivo no processo revolucionário embutido na criação desta religião biônica. Seus dogmas, declarados ou subentendidos, têm ocupado um lugar cada vez mais influente na nossa civilização, e essa posição privilegiada tem sido fomentada por duas razões: porque não existe melhor ferramenta para destruir os valores tradicionais e os princípios ordenadores atuais, e porque a reconstrução que seguirá à destruição requer uma doutrina elástica o suficiente para falsear uma assimilação, um descolamento da realidade que as ordens ocultistas são capazes de oferecer. A motivação deste livro está relacionada a essa idéia alucinada e perversa, que mesmo sendo completamente inviável, tem ajudado a corroer as religiões tradicionais e diluído sua presença orientadora na sociedade.
SAIBA MAIS Para compor esse livro introdutório, fui obrigado a recortar alguns pontos na história, selecionar eventos e personagens. Deixei de fora muitos outros, mas foi preciso. Com os elementos que permaneceram tentei dar um panorama geral, mostrando alguns caminhos para o leitor continuar o seu estudo. Pretendo aprofundar cada um dos tópicos que abordei neste livro em um novo trabalho, mas enquanto isso não acontece, seguem alguns títulos que devem interessar aos estudiosos e curiosos. A Cabala e seus simbolismos, Gershom Scholem A Cidade Antiga, Fustel de Coulanges A conjuração anticristã, Henri Delassus A cruz e a maçã, Lucas Ferreira Leite e Jean Marie Lambert A história secreta do Ocidente, Nicholas Hagger A Maçonaria e os jesuítas, Dom Vital de Oliveira A revolução explicada aos jovens, Monsenhor de Ségur A revolução transumanista, Luc Ferry Antropoteísmo: A religião do homem, Orlando Fedeli As infiltrações maçônicas na Igreja, Pe. Emmanuel Berbier Conexão Nazista, Edwin Black Conspiração Aquariana, Marilyn Ferguson Conspiração Secreta, Hania Czajkowski Contra o cristianismo, Eugenia Roccella e Lucetta Scaraffia Cristofobia, Luis Antequera Educação Unesco: Clonagem das mentes, Jean-Marie Lambert Eros, tecnologia e transumanismo, Maria Conceição Monteiro (org.) Escola de Frankfurt, Michael Walsh Falsa aurora: A iniciativa das Religiões Unidas, o globalismo e a busca por uma religião mundial, Lee Penn Feminismo: perversão e subversão, Ana Campagnolo Geração Pornô, Ben Shapiro Homo ludens, Johan Huizinga Infiltrados, Taylor Marshall Inteligência Artificial, Kai-Fu Lee Invasão vertical dos bárbaros, Mário Ferreira dos Santos Inverno ateu, Giovanni da Salara Lavagem cerebral: como as universidades doutrinam a juventude, Ben Shapiro Libido Dominandi, E. Michael Jones Modernos degenerados, E. Michael Jones Moral e Dogma, Albert Pike Nosso futuro pós-humano, Francis Fukuyama Nova Era e Revolução Cultural, Olavo de Carvalho O círculo secreto, Phylliss Grosskurth O começo do fim, Angelo Quattrocchi e Tom Nairn O farmacêutico de Auschywitz, Patricia Posner O pacto entre Hollywood e o nazismo, Ben Urwand Os três diálogos e o relato do anticristo, Vladimir Soloviev Poder Global e
Religião Universal, Mons. Sanahuja Poder oculto que governa os mundos, Giorgio Galli Política, ideologia e conspirações, Gary Allen e Larry Abraham Psicose ambientalista, Dom Bertrand Psiquiatria, uma história não contada, Jeffrey A. Lieberman Reich Oculto, J. H. Brennan Revolução e Contra-Revolução, Plinio Corrêa de Oliveira Teologia da Libertação, Julio Loredo de Izcue TransEvolução, Daniel Estulin
N
R
1 Revolução tem origem na palavra “revolver”, e assim como ocorre com o solo, sua conseqüência é quebrar a estrutura que sustenta e ordena as várias camadas, inverter as posições e misturar tudo. 2 Pirâmide com degraus, muito comum nas civilizações mais antigas, em especial aquelas que existiram na Mesopotâmia, Egito e outras regiões do Crescente Fértil. 3 O monólito do Código encontra-se no Museu do Louvre — ne. 4 Historiador do primeiro século, autor de Antigüidades judaicas e A guerra dos judeus. 5 Sacrifícios humanos foram relatados por Cícero, Tácito, Plínio, o Velho, e Júlio César em Comentário sobre a Guerra da Gália. 6 Existe uma teoria que indica o Halloween como um derivado do Festival Samhain. 7 The Wickerman Festival. 8 Veja o documentário Wild Wild Country. 9 Ritmo circadiano é o processo natural que regula as funções biológicas de acordo com a percepção de noite e dia (24 horas). Isso explica o interesse místico pela glândula pineal. 10 Historiador e arqueólogo francês (1877–1964), autor de vários livros sobre civilizações antigas. 11 Gregório de Nissa era visto por muitos como um filósofo especulativo e místico, com profunda influência de Platão, curiosamente o autor do diálogo Crátilo que trata da relação entre descrição e objeto, e sobre a importância do nome no desenvolvimento da personalidade. 12 O único filho homem do casal foi diagnosticado com hemofilia ainda bebê, com poucos meses de vida. Possivelmente a causa da doença pode ter relação com endogamia (casamentos consangüíneos) muito comum entre famílias da nobreza. 13 Matryona Grigorievna Rasputina (1898–1977), sua filha, escreveu três livros sobre o pai, onde afirma que todas as críticas nunca formam mais do que intriga de seus inimigos. 14 Editor do Münchener Beobachter, principal jornal do partido nazista. 15 Muito do que se diz sobre o assunto vem de um romance escrito por Edward BulwerLytton em 1871. Mas como o autor era um Rosacruz (assim como Blavatsky), possivelmente o livro não era simplesmente ficcional.
16 Madame Blavatsky se referiu à Vril em seu livro Ísis revelada, de 1877. 17 ‘Mein Kampf’ de Adolf Hitler: As raízes da barbárie nazista (2022), A suástica e as bruxas: Entrevista sobre o Terceiro Reich, a magia e as culturas reprimidas do Ocidente (2009), Com truque e engano: A verdadeira história dos falsos diários de Hitler (2012), Hitler e cultura oculta (2013). 18 Oeste misterioso (1987), Magia e poder: Esoterismo na Política Ocidental (2004), Esoterismo e política (2010). 19 Em Magia e poder: Esoterismo na Política Ocidental Adolf Hitler é o nome mais freqüente, citado 95 vezes, seguido por Benito Mussolini, 29 vezes. 20 Revista People. 21 Prosperidade – não no sentido monetário ou financeiro da palavra, mas simbolizando a condição de um razoável conforto, que resulta de uma ordem minimamente estabelecida, e de algum controle, mesmo que precário, sobre o ambiente. 22 Frase de Mayer Amschel Rothschild: “A única maneira de controlar um conflito é controlar os dois lados do conflito”. 23 Veja o documentário Monopoly, de Tim Gielen. 24 A Carta da Terra é uma declaração internacional de princípios. Um documento publicado pela onu, preparado pelo Clube de Roma. Um dos membros da Comissão da Carta da Terra e do Comitê Diretor foi Steven Clark Rockefeller, administrador consultivo do Rockefeller Brothers Fund. 25 Durante muito tempo recebeu um bom salário para “proteger espiritualmente” o nobre George Montagu Bennett, o Conde de Tankerville. 26 Suposto pseudônimo do controverso ativista Arthur Desmond.