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Portuguese Pages 168 [167] Year 2008
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Quando Roma dominava o mundo
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SÉCULOS DE CONFLITOS E REALIZAÇÕES le de Roma no final do séc. VIla.C., pouco depois da união entre os antigos assentamentos ao topo do
De acordo com a lenda, a ascensão de Roma come-
çou com a queda de Tróia. Tendo escapado da destruição daquela fortaleza mítica pelos antigos gregos, o herói troiano Enéas navegou até a Península
Palatino e dos outros montes vizinhos em uma só comunidade. Influenciados pela cultura grega, os
Itálica, onde se casou com a filha de um rei. Entre
etruscos legaram aos romanos um sistema de escri-
cresceram, delimitaram uma cidade a ser fundada
queriam se ver livres deles. Provocados pelo estu-
ta baseado no alfabeto grego e a adoração a Júpiter e outras divindades intimamente relacionadas aos deuses e deusas do panteão grego. Embora muito tenham recebido de seus senhores, os romanos
seus descendentes estavam os gêmeos Rômulo e Remo, que foram deixados junto ao rio Tibre para morrerem enquanto eram bebês, mas foram salvos e amamentados por uma loba. Quando os gêmeos no local onde a loba os resgatou, mas começaram
pro da nobre romana Lucrécia, cidadãos furiosos
governar o lugar e dar-lhe o nome. Rômulo se estabeleceu sobre o monte Palatino e Remo sobre o monte Aventino, cada um reivindicando a aprovação dos deuses. Finalmente, os dois chegaram às vias de fato e Rômulo prevaleceu, consagrando Roma com o sangue do irmão. Como previsto por esse conto, os aspirantes ao governo de Roma competiriam não menos ferozmente entre si e com seus vizinhos, sacrificando tudo em busca do poder. Antes de impor sua vontade aos outros, os romanos tiveram primeiro de se livrar dos etruscos, senhores do Norte da Itália, que tomaram o contro-
o último dos monarcas etruscos ao exílio.
liderados pelo lendário Lúcio Júnio Bruto levaram
uma disputa sobre quem deveria ter mais direito a
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manos abastados conhecidos como patrícios. Os cidadãos comuns, ou plebeus, agitaram-se por maior
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Lista
ço, a república era dominada por uma minoria de ro-
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509aC. c490-445a€.
Fundação lendária de Roma por
A república é estabelecida sob dois cônsules
descendente do mítico herói troiano Enéas.
anualmente, começando com Bruto e Lúcio
Rômulo, um
eleitos
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rei, Lúcio Tarquínio Soberbo (ou Targuínio, o
Soberbo), foi
pelos
liderados por Lúcio Júnio Bruto.
Guerra com
Segunda Guerra
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romanos
controla a maior parte da península.
invasão de Aníbal na Itália e conquistam a
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rapidamente
Púnica; os
da Itália; Roma
retirados.
Tarquínio Colatino.
Período da monaruia
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Os gauleses tomam Roma, mas são
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maior parte da Hispânia.
Lutaspor posição política
Guerras na, Roma
Primeira Guerra Púnica contra
Terceira Querra Púnica; Roma
e plebeus.
domínio da Itália central,
Sicília se toma uma província
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Cartago; a
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era então uma “nação livre, governada por administradores de Estado eleitos anualmente, sujeita não aos caprichos de um ou outro homem, mas à sobrepujante autoridade da lei”. De fato, os romanos codificaram as leis da sua jovem república em cerca de 450 a.C. nas Doze Tábuas. Mas essas leis não davam a todos os romanos uma mesma voz. Desde o come-
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Nas palavras do historiador romano Lívio, Roma
destrói Cartago Mediterrâneo
ocidental, parte
do norte da África se torna uma província romana.
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influência e ganharam concessões, mas o poder permaneceu amplamente em mãos aristocráticas. Embora continuassem a disputar entre si, os romanos apresentavam uma forte linha de frente contra inimigos estrangeiros. Depois que os gauleses se atiraram do Norte e saquearam a cidade em 390 a.C,
dos por dívidas e pelo demorado serviço militar, es-
tavam perdendo suas terras para os patrícios, que se aproveitavam do trabalho de escravos conquistados nas batalhas. Alguns aristocratas tomavam o partido dos cidadãos comuns — particularmente os irmãos Tibério e Caio Graco, que propuseram reformas agrárias e outras medidas que beneficiavam os pobres. Tais esforços provocaram, contudo, uma severa oposição, e estabeleceram o cenário para
os romanos pareciam determinados em ser agresso-
res em vez de vítimas. Pelo ano 275 a.C., eles asseguraram controle da maior parte da península ao subjugarem os samnitas a leste e derrotarem o rei
guerras civis que, no fim das contas, tinham menos
grego Pirro e seus aliados entre os gregos coloniais, ao Sul. Incrementados por novos recrutas dos povos subjugados da Itália — que por fim ganhavam cidadania —, legiões e navios de guerra romanos começaram então a desafiar o expansionista reino de Cartago, no norte da África, cuja fúria variou por mais
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a ver com princípios políticos que com as ambições rivais dos comandantes de Roma, que pareciam 1nclinados a reencenarem a lendária rixa entre Rômulo e Remo, lutando até a morte pela supremacia. Num desses embates, aliados de Caio Mário, que reformou o exército e ganhou apoio plebeu, perderam para Lúcio Cornélio Sula, um conservador estanque que governou com mão de ferro. Esse conflito foi mais tarde eclipsado por um épico confronto entre dois dos mais poderosos generais de Roma — Pompeu, o Grande, um partidário de Sula que ajudou a debelar uma rebelião de escravos liderada pelo gladiador Espártaco e, mais tarde, conquistou vitórias que expandiram o Império Romano para o orien-
de um século. Finalmente, em 146 a.C., Roma clamou vitória ao destruir Cartago (que mais tarde ressurgiria das cinzas como uma cidade romana). A derrota de Cartago prenunciou a era turbulen-
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ta da república tardia. Os romanos eram, então, os
senhores do Mediterrâneo ocidental e logo ampliaram seu império, mas o sucesso no exterior aumentou as tensões internas. Os plebeus, sobrecarregaa
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Rubicão e
invade a Itália,
iniciando uma guerra civil.
herdeiro legitimo;
deflagrada uma
guerra civil entre os assassinos de César seus
sucessores.
te, e Júlio César, um talentoso patrício que se destacou politicamente apelando aos plebeus e ganhou renome militarmente ao conquistar a Gália e invadir a Britânia. César primeiramente se juntou a Pompeu e ao abastado Marco Crasso para formar o Pri-
longo período de força e estabilidade. Entretanto, a grandeza do império frequentemente tinha menor relação com os próprios imperadores que com seus engenhosos assistentes e subordinados. Os governantes de Roma durante essa era variaram muito em qualidade: desde homens de propósitos elevados, como Augusto e Adriano, até figuras devassas como Calígula e Nero. Mas mesmo os imperadores mais fracos eram sustentados por hábeis administradores — que começaram suas vidas como escravos, em alguns casos, e por mérito foram promovidos a altos cargos — e comandantes de origens privilegiadas que se dedicavam aos rigores das campanhas como se tivessem nascido para a dureza. Não menos importante para o bem-estar do império eram os esforços cooperados dos soldados que guardavam fronteiras isoladas, provincianos que chegavam a um acordo com seus senhores romanos e ganhava mcidadania, e mulheres que controlavam a fortuna de suas famílias como esposas ou viúvas, às vezes conduzindo negócios e dispensando qualquer proteção. Apesar dos esforços diligentes dos governantes e seus seguidores, o império finalmente se enfraqueceu. Depois do colapso em 235 d.C. da Dimastia Se-
meiro Triunvirato, então, mais tarde, cruzou o rio
Rubicão com tropas leais em 49 a.C., prosseguiu ao vencer Pompeu e reclamou o comando exclusivo de um império que agora circundava o Mediterrâneo. Uma outra luta por poder se seguiu depois que inimigos de César tentaram reavivar a república, assassinando-o em 44 a.C. O caminho de César ao poder foi, então, refeito pelo seu sobrinho-neto e herdeiro Otávio, que formou o Segundo Triunvirato com o ambicioso Marco Antônio e com Marco Emílio Lépido, antes de tentar alcançar o poder supremo. Depois de ter derrotado Antônio e sua amante, a rainha Cleópatra do Egito, Otávio assumiu o título de Augusto e governou sozinho como o primeiro imperador romano. Mesmo o historiador romano Tácito, um severo crítico do poder imperial, concordou que Augusto merecia gratidão universal por conceder a Roma o “dom da paz”. Com o reinado de Augusto, Roma entrou num eia
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Otávio ao domínio de todo o mundo romano; O Egito
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tornando-se o
primeiro
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Imperadores:
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Vespasiano.
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Roma; sucedido
Dinastia Flaviana:
Tibério, em
Vespasiano
por seu enteado
14 dC.
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(6979), Tito
Domiciano
(81-96).
Traj
(98117) sob
quem o Império
Romano atinge
sua máxima Beográlica:
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manos como herdeiros de sua cultura orgulhosa e com simpatia escreveu sobre seus esforços; Tácito, um patrício que lamentou a queda da república e dissecou a corrupção imperial com palavras tão agudas quanto um lanceiro; e Suetônio, um secretário da corte de Trajano e Adriano que se aproximou de documentos nos arquivos imperiais (bem como da fofoca cotidiana) para sondar o caráter dos imperadores passados. Outras fontes romanas registram a experiência de pessoas comuns — 1nclusive anotações judiciais, inscrições funerárias, cartas, literatura e as vívidas representações de escultores e muralistas, trabalhos estes que emergiram com assombrosa clareza dos escombros vulcânicos do Monte Vesúvio, que soterrou Pompéia e comunidades vizinhas em 79 d.C. Essas visões assombradas de uma glória passada testemunha a intensa preocupação dos romanos com sua sociedade e suas adjacências. Mais preocupados com o aqui e agora do que com o futuro, eles tomavam o mundo de assalto e o transformavam num lugar diferente — e, fazendo assim, asseguravam-se de que seus feitos nunca seriam esquecidos.
te-africanas — Roma suportou meio século de instabilidade antes que Diocleciano restaurasse a ordem e indicasse um co-governante para a metade ocidental do império, enquanto ele governaria a metade
oriental. No séc. IV d.C., Constantino, o primeiro imperador a adotar o cristianismo, reuniu o império sob sua autoridade exclusiva e estabeleceu Constantinopla (no local de Bizâncio) como nova capital imperial. Por volta do séc. V, o Leste e o Oeste estavam permanentemente divididos, e o império do ociden-
te foi predado por visigodos, vândalos e outros inva-
sores do norte, ruindo finalmente em 476 d.C., quan-
do um fraco governante chamado Rômulo Augústulo foi deposto pelo chefe germânico Odoacro. O legado de Roma resistiu, contudo, e não apenas nas línguas, leis e monumentos em terras que outrora faziam parte de um império. Conhecemos hoje os antigos romanos por suas palavras e imagens eloquentes, e esse testemunho constitui o fundamento deste livro. Pormenores das vidas atribuladas dos governantes romanos chegam até nós por escritores tão perspicazes quanto Plutarco, no começo do Império, um grego que via os grandes ro-
1358-192 dC. 193-235 d.C. 9235-984 dC. 284-305 dC. 306-337 d.C. 379-395 dC.
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ocidente, faz do Cristianismo a religião oficial do império.
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Graças à extrema capacidade para governar as terras que conquistavam, os romanos forjaram um império prodigioso, mostrado aqui, em sua
maior extensão (dentro das fronteiras
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pontilhadas), no começo do século II d.C. Da Grã-Bretanha às margens do Nilo, povos das
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mais diversas crenças pagavam tributos a César,
nome pelo qual Augusto e seus sucessores eram conhecidos.
O centro do império era a própria Roma (abaixo), uma cidade resplandecente, situada ao longo do Rio Tíbre, coalhada de jóias
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arquitetônicas, como o palácio da família
imperial, no alto do Monte Palatino, e o Fórum,
o local em que os romanos se reuniam durante o período republicano; além disso, termas, teatros e arenas para o populacho, e santuários para os mais populares deuses romanos, para antigos
imperadores e suas mulheres (incluindo a de Augusto, Lívia), divinizados após a morte.
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ARES CAPÍTULO UM
À DISPUTA PELO PODER Vestidos de togas, senadores e outros dignitários participam de uma procissão que exalta Augusto. Esta cena é da Ara Pacis, ou Altar da Paz, encomendada em Roma para comemorar
às
campanhas de Augusto às quais se atribuiu o advento da paz para O império. Como seu tioavô e padrasto, Júlio César, Augusto alcançou o poder supremo, deixando os senadores de Roma com
pouca autoridade real.
aio Júlio César, pouco depois de proclamado “ditador perpétuo”, adentrou o Fórum romano no dia 15 de fevereiro em 44 a.C. para presidir um enorme festival chamado Lupercália. Todos reconheciam César, sentado como estava numa cadeira dourada na elevada Rostra, com um majestoso manto púrpura ao redor dos ombros. Mas ele não era o único objeto de atenção. Uma grande multidão se juntara para observar sacerdotes correrem pelo Fórum e ao redor do Monte Palatino vestindo disfarces e munidos de tiras de couro de cabras sacrificadas no lugar onde Rômulo e Remo, os lendários fundadores de Roma, supostamente foram amamenta-
dos por uma loba. Muitos dos que se alinhavam ao longo do caminho eram mulheres que acreditavam que os sacerdotes poderiam garantir-lhes fertilidade chicoteando-as com as peles de cabra sagradas. Toda Lupercália era extraordinária, mas o festival daquele ano
entraria para a História porque um dos participantes fez algo sur-
preendente e controverso. Entre os sacerdotes que adentraram o Fórum sob os olhos de César estava Marco Antônio, que recentemente fora escolhido pelo ditador perpétuo para servir como côn-
sul junto a ele. Tradicionalmente, os dois cônsules de Roma eram eleitos pelos cidadãos para conduzirem juntos a república a termo de um ano, exceto em tempos de crise, quando um homem
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indicado para servir temporariamente como ditador. Na época em
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A DISPUTA PELO PODER
que César emergiu como ditador perpétuo, con- | peitado por nobres romanos que temiam a destudo, o consulado era dele para que dele fizesse truição da forma republicana de governo por o que bem entendesse. César controlaria o pos- | César. Agora, por volta dos seus 40 anos, ou cer-
to pelo prazo que desejasse, e o homem que pro- — cade 15 anos mais jovem que César, Marco Brumovesse como seu cônsul faria o que lhe fosse or- . to tomou partido contrário ao dele quando da
denado.
Marco Antônio escolheu a ocasião da Luper-
cália para pagar a César um distinto tributo. Abandonando seu percurso, subiu à Rostra e ofere-
guerra civil contra Gneu
Pompeu,
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mas se reconciliou com o
ditador e acabou por aceitar o cargo de governador provincial, entre outros títulos.
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ceu ao governante romano
uma coroa. César diplomaticamente se recusou colocá-la — um gesto que agradou a muitos na multidão, que não se 1mportavam de ver seu Jíder assumir os riscos de ser rei. Os romanos haviam expulsado os reis etruscos da cidade séculos antes e, para eles, realeza e tirania eram equivalentes desde então. Essa não foi a única vez que alguém em Roma tentou realçar a imagem de César com uma coroa. Foi noticiado que uma guirlanda como a que Marco Antônio ofereceu a Gésar havia sido colocada na fronte de uma ou mais estátuas suas pela cidade e devidamente removida por dois tribunos, que eram responsáveis por proteger os direitos dos plebeus, ou cidadãos comuns. Resultado: esses tribunos foram destituídos do cargo. De acordo com o biógrafo grego Plutarco, César demitiu os dois porque admiradores aclamaram seu feito, com-
parando-o com o do lendário Lúcio Júnio Bruto, que expulsou o último rei etrusco de Roma. Havia mais de um Bruto nos pensamentos de César naqueles dias. Ele
tinha razão de se inquietar acerca da lealdade de Marco Júnio Bruto, que
alegou ser descendente do antigo inimigo de tiranos e que era bem res16
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O Fórum, mostrado aquí na época do final
do império, aparecia proeminentemente na vída de Júlio César (abaixo), e foí neste local que Marco Antônio ofereceu uma coroa ao ditador, em 15 de fevereiro de 44 a.C. Um mês depois, Marco Bruto discursou no Fórum em defesa do assassinato de César, comemorado com uma moeda cujo desenho em relevo trazia punhais e um barrete de liberdade (extrema esquerda).
A DISPUTA PELO PODER
O respeito de César por Bruto era mais pessoal que polí-
tico. Muitos anos antes, César teve um caso adúltero com a
mãe de Bruto, Servília. O historiador romano Suetônio relatou que, de todas as mulheres da vida de César, Servília era a mais amada, e ele a cobria em presentes, entre eles uma pé-
rola no valor estimado de 60.000 peças de ouro. Alguns ru-
mores foram tão longe, ao ponto se atribuir a César a ver-
dadeira paternidade de Bruto, muito embora seu romance
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com Servília quase certamente tenha começado depois do nascimento deste.
As pessoas podiam apenas supor o que o desconfiado Bru-
to sentia de verdade sobre César. Será que ele estimava o homem como generoso protetor ou se ressentia do relacionamento caloroso deste com sua mãe? Romanos Inquietos viam Bruto como um potencial líder em oposição a César, obA servou Plutarco, e tentaram instigá-lo a conspirar con-
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tra o ditador. “Ah, aquele Bruto era vivo!”, dizia uma
inscrição numa estátua de um dos heróicos ancestrais de Bruto, feita por um dos adversários de César.
“Estás dormindo, Bruto?” — escreveram outros anonimamente. “Não és um Bru-
to de verdade”. Mas quem era o Bruto
de verdade? E onde moravam seus aliados? A resposta jaz nas ambições e mágoas
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bem criadas e nutridas que o levaram a um propósito fatídico.
A posição de Bruto como homem da elite de Roma lhe trouxe tanto tremendas vantagens quanto pesadas responsabilidades. Os aristocratas da cidade viviam de modo muitíssimo diverso daquele dos cidadãos comuns. A maioria dos romanos habitava pequenos quartos sobre as lojas, ou apertados apartamentos alugados num dos pavimentos de algum pré-
dio residencial. As famílias abastadas, em contraste, ti-
nham uma ampla casa na cidade e uma propriedades no campo. Mesmo suas casas eram graciosos refúgios da vida urbana, com interno e um átrio convidativo, parcialmente
ou mais na cidade um quintal a céu aberto
na frente, onde o anfitrião, como patronus, ou patrão, era
visitado regularmente por seus clientes, pessoas de posição inferior que o apoiavam politicamente em troca de proteção. Os amigos íntimos da família nobre eram entretidos numa sala de jantar, onde se reclinavam em divãs e eram servidos
por escravos, cujas posições incluíam homens e mulheres habilidosos e refinados da Grécia e de outros lugares civilizados sob domínio romano. 18
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Os romanos procuravam proteger as crianças dos maus espíritos com uma bula, um amuleto circular como este à direita, feito de ouro. Os meninos as usavam
até os 14 anos (à esquerda), e as meninas até que se casassem. As
bulas de ouro eram para os ricos; as das crianças mais pobres eram feitas de couro. Da
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Apesar desses luxos, os aristocratas romanos não levavam necessariamente uma vida fácil ou agradável. As mulheres abastadas acumulavam jóias preciosas e se mantinham na última moda para os penteados, mas estavam completamente preparadas para deixar os confortos de casa e se juntarem aos maridos nas suas viagens como oficiais do exército ou administradores em províncias remotas. Para as principais famílias, o propósito de fazer fortuna não era viver ociosamente, mas progredir na vida pública — uma proposta custosa em Roma, onde oficiais bajulavam as massas patrocinando jogos e festivais, ou fazendo suas vontades. E a recompensa por tal despesa era conseguir proeminência numa arena pública que se tornara crescentemente violenta em épocas mais recentes, à medida que Roma se tornava mais poderosa e que o interesse político
— executado por ordem de um adversário políti-
co, Pompeu, durante um dos muitos conflitos cl-
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vis que infestavam a república tardia. Servília
* Silano, que mais tarde foi eleito cônsul, mas Bru-
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Senado chamada de optimates, que queria preservar as tradições antigas e imutáveis da república, incluindo os privilégios da nobreza, camada da qual saíram
muitos
senadores,
cônsules e outras figuras de li-
derança. A facção rival no Sena-
do, conhecida como populares, era igualmente aristocrática, porém mais inclinada aos cidadãos comuns de Roma, que se encontravam em sua própria assembléia e elegiam tribunos para cuidar de seus interesses, apesar de ainda à mercê do apoio do poderoso Senado, que controlava as finanças públicas, entre outros assuntos vitais. Júlio César era proeminente entre os populares e frequentemente se digladiava com Catão no Senado. O nítido contraste entre os dois chegava à vestimenta. Catão, o ultraconservador, rejeitava
César no Senado. Catão arriscou que fosse algo traiçoeiro, e César lhe passou o bilhete, que se re-
“a.C., quando ele tinha seus oito anos, seu pai foi
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to foi criado com seu meio-irmão Catão, o Jo"vem. Catão liderava a facção conservadora do
“essa arena podia ser realmente violenta. Em 77
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o costume recente de usar uma túnica sob a toga, uma vez que os austeros romanos de antigamente a usavam sem essa roupa de baixo. César, um homem algo vaidoso, que penteava os cabelos finos para cobrir a calva, vestia não apenas uma túnica: acrescentava-lhe também mangas franjadas até os punhos. César, o populars, colocou-se em posição mais contestável para Catão ao dormir com Servília.
aumentava.
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A DISPUTA PELO PODER
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velou uma carta de amor de Servília. “Fica com
ela, seu bêbado”, disse Catão a César, atirando-
lhe de volta o papel.
O romance entre Servília e César se tornou público quando Bruto tinha cerca de 20 anos, e pode ter sido humilhante para ele. Mas ele era afortunado por ter sua própria paixão para distraí-lo — um raro amor pelo conhecimento. Alguns jovens ricos se preocupavam mais em exercitar seus corpos que suas mentes. Os rapazes eram frequentemente instruídos em artes de
combate, tais como luta com espada, equitação,
pugilismo e esgrima. E as famílias nobres às ve-
zes deixavam seus filhos perambularem pelas ruas com amigos à noite na gandaia. “Voltai do jantar o mais rápido possível” — admoestava um escritor romano — “pois uma turma de jovens esquentados das melhores famílias está pilhando a cidade”. .
Uma mãe observa suas filhas jogarem um jogo de azar ao lançarem os chamados astrágalos, ossos que lembram esses abaixo, trinchados de tornozelos de cabras. Esperava-se que as meninas se confinassem em tais disputas, enquanto os meninos não se empenhavam só nelas, mas também em “outros esportes mais violentos.
Bruto, contudo, era evidentemente o tipo de
rapaz que preferia o estudo à pilhagem. A menos que desfrutassem dos serviços de um tutor em casa, todos os meninos da classe de Bruto, e algumas meninas, ao amanhecer iam cami-
nhando até a escola acompanhados de um ou mais escravos, que carregavam o material escolar — incluindo um estilo e uma tabuinha de cera — e afastavam os sedutores à procura de presas pelas ruas. Os jovens pupilos geralmente encontravam os professores numa praça pública ou em outro lugar aberto, onde lutavam com suas dificuldades em leitura e aritmética. Aos estudantes que eram muito lentos em se desenrolarem nos textos, era solicitado que recitassem, e os desleixados na hora de copiar versos para suas tabuinhas podiam sentir a chibata do professor. Ao meio-dia, os pupilos eram escoltados até suas casas para uma refeição de pães, azeitonas, queijo, figos secos e nozes. Bruto estudou com um talentoso professor chamado Estabério Eros — um ex-escravo a quem se concedeu liberdade — e progrediu bastante.
Mesmo tendo dominado os textos em latim, co-
meçou a estudar grego, uma língua considerada essencial para qualquer romano que quisesse ser realmente culto. Ao final da adolescência,
antes que se desfizesse de seu manto infantil para receber a masculina toga virilis, Bruto viajou a Atenas para continuar sua educação. Lá, séculos depois da era de ouro da democracia ateniense,
os filósofos da cidade ainda prega-
vam a oposição à tirania, uma lição conciliada
com as tradições familiares de Bruto. Na ver-
dade, a democracia em Roma, como na an-
tiga Atenas, tinha um alcance limitado. A vasta população escrava de Roma não tinha direito algum, mulheres não podiam votar ou assumir cargos, e as famílias nobres dominavam o cenário político. Por ora, Bruto apreciava as liberdades que ele e outros romanos desfrutavam em um ou outro grau sob a república. Uma vez completada sua educação, Bruto en-
carou o desafio de alcançar reputação política lutando por sua distinta linhagem e educação. Uma de suas primeiras tarefas como jovem romano à 21
A DISPUTA PELO PODER
procura de sucesso na vida pública era se casar bem, o que significava formar uma aliança com
outra família proeminente. Namorar em Roma
podia ser um negócio insensível. Júlio César, por exemplo, ficara noivo na adolescência para desposar uma garota cuja família era rica, mas da Ordem Cavalariana, o que a colocava um degrau abaixo de sua ordem senatorial. Tais casamentos serviam tanto aos propósitos dos nobres quanto às dispendiosas carreiras políticas, pois os cavalarianos (assim chamados porque originalmente
serviam a cavalaria no exército) tendiam a ser ricos donos de terras, banqueiros e comerciantes.
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Antes do casamento planejado se concretizar, no entanto, César rompeu o noivado para se casar com uma jovem de status político mais elevado, Cornélia, cujo pai cumpriu quatro mandatos como cônsul. Na época em que Bruto tinha aproximada-
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mente 25 anos, a filha de César, Júlia — único re-
bento reconhecidamente seu — estava qualificada para o casamento, e Bruto deve ter sido um dos candidatos. Os obstáculos para a combina-
ção eram consideráveis, dados o contínuo roman-
ce de César com Servília e sua rixa com Catão,
mas casamentos às vezes podiam juntar famílias rivais. Como se confirmou, o oportunista César “encontrou um melhor arranjo político casando
Júlia com Pompeu, o Grande, em 59 a.C., um ho-
mem com uns 30 anos a mais que ela, que se juntou a César e Marco Crasso, um dos homens mais
ricos de Roma, para formar o Primeiro Iriunvirato. Juntos, os três homens dominaram os nesócios de Roma por muitos anos. As mortes de Júlia no parto, em 54 a.C., e a de Crasso, um ano depois, contudo, agravaram as ligações entre César e Pompeu e contribuíram para estabelecer o próximo estágio do conflito entre os dois homens de Estado.
Uma escrava ajeita os cabelos de uma jovem abastada de Pompéia (ao lado, à direita).
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BELEZA A QUALQUER CUSTO Pra as mulheres romanas ricas, a busca pela beleza era um gran-
Um pente de marfim gravado com o nome da dona e grampos de cabelo entalhados ajudavam a criar penteados como o que se vê aqui em Júlia, esposa do imperador Do-
de desafio, cheio de riscos, mas também de recompensas. O pro-
cesso
começava
toda
manhã,
quando uma menina escrava trazia à sua senhora uma ou mais bacias com água perfumada para la-
miciano.
var o rosto, que ainda trazia a
máscara noturna, geralmente uma
pasta de farinha e leite. Alguns
cremes para máscara eram mais
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exóticos - o poeta Ovídio men-
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cionou um removedor de rugas que consistia em mel misturado com cevada líbia, bulbos de narciso e a galhada moída de um veado jovem e saudável. Outros cre-
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mes eram, entretanto, nocivos, | contendo agentes como sublima-
do de mercúrio, que prejudicava E | "|| apelee podia ser venenoso.
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covar os dentes e enxaguar à
bocacom um bálsamo para o há- |
E lito, a senhora se encharcava em
seu banho perfumado (um luxo É pelo qual os romanos pobres não * passavam, tendo de procurar um
banho público). Depois recebia * uma revigorante massagem de um servo chamado de uncior, ou
* untador, por causa dos óleos que aplicava. Então ela se vestia com seu manto
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A DISPUTA PELO PODER
Uma caixa romana de cosméticos contendo um espelho de mão e um aplicador de maquiagem, entre outros recursos de beleza.
cuídava dos cabelos de sua senhora, usando pentes e grampos para conseguir o penteado preferido, fosse de tranças ou coberto de cachos. Poucas mulheres estavam satisfeitas com sua cor natural de cabelos. Algumas faziam descoloração com um composto saponáceo importado da Germânia, outras escureciam com uma tin-
tura feita de sanguessugas e vi-
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cáusticas, levando à queda dos cabelos e esforços desesperados para fazê-los crescer de novo com tutano de osso de cervo, banha de urso e outros remédios. Quando tais medidas falhavam, as mulheres romanas - como alguns de seus maridos calvos - usavam perucas. A última tarefa da omamentadora era aplicar a maquiagem de sua senhora - contida nos frascos que enfeitavam a penteadeira -, que primeiramente clareava a aparência com pó-de-arroz, depois corava as bochechas e lábios com ruge feito a partir de sedimento de vinho ou de ocre, e escurecia as pálpebras com cinzas ou com kohl, um cosmético do antigo Egito à base de sulfeto de antimônio. Finalmente, a senhora se vestia e colocava anéis, braceletes e broches, manufaturados com pedras preciosas de todo o império, para apresentar-se ao mundo em grande estilo.
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nagre. Como os cremes faciais, as tinturas eram às vezes muito
Uma jovem verte perfume em
um frasco como o que se vê |
abaixo, à direita, devidro filetado a ouro.
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Bruto, enquanto
isso, casara-se com a filha de Ápio
Cláudio, o cabeça de uma das mais antigas e ilustres famílias de Roma. A superioridade social não impedia nem Bruto nem o sogro de buscar riqueza e sucesso de um modo que pode ter sido impróprio, mas não era incomum entre os ambiciosos romanos. Bruto, que acompanhava o tio, Catão, em um assunto oficial na Ilha de
Chipre, emprestou dinheiro aos ocupantes da cidade com a extorsiva taxa de juros de 48%. Ápio Cláudio, por sua vez, foi levado a julgamento por impropriedades no governo da Cilícia, na Ásia Menor, e por oferecer subornos durante a campanha para o cargo. Bruto contribuiu na defesa e conseguiu sua libertação. Porém, este incidente deve ter sido constrangedor para os dois, e os levou a invejar Júlio César — que conseguira frustrar as tentativas de seus opositores políticos romanos de processá-lo por má conduta no cargo, por ter permaneci-
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do no exterior, na Gália, como governador da províncla e general. Em 49 a.C., Júlio César conduziu suas tropas ao longo do Rio Rubicão, para o Sul, até solo romano, desafiando Pompeu e o Senado, e colocando Bruto diante de uma agoniante escolha. Ele deveria aliar-se a Pompeu, que executara seu pai, na eventual guerra civil, ou apoiar Júlio César, que se deitara com sua
Vaga PERSAS
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sava o tempo livre lendo e escrevendo no
acampamento de Pompeu. Júlio César mantinha
um olhar carinhoso sobre Bruto, por amor a Ser-
vília, e determinou a seus oficiais que o capturassem vivo, segundo Plutarco, ou, se apresentasse re-
qualquer violência”. Como constatado mais tarde, Bruto sobreviveu à de-
bandada das forças pompeanas, em Farsália, na Grécia,
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com Pompeu, e por isso foi saudado por Catão e seus colegas optimates por sua honradez ao oporse à tirania atribuída, por eles, a Júlio César. Sendo mais estudioso do que guerreiro, Bruto pas»
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| em48aC. Escapou ileso, e depois escreveu a Júlio Cé-
sar implorando seu perdão. Nas palavras de Plutarco, o
imperador não só “o perdoou, mas também o respeitou
e estimou como um de seus mais íntimos amigos”. Este
ato calculado de auto-preservação contrastava com 0 ca-
minho escolhido por Catão, que, por fim, preferiu cometer suicídio a aceitar a misericórdia de Júlio César. Talvez para expiar sua culpa por ter agido de uma for-
A DISPUTA PELO PODER
ma que Catão teria desprezado, Bruto divorciou-
notórios rumores de que Júlio César seria seu pal.
se da mulher e casou-se com a filha de Catão, Pór- |
"Tudo isto alimentava os temores de que Júlio Cé.
Bruto não havia acrescentado nenhuma vanta-
nha e o estrangeiro Cesarion, o herdeiro.
cia — uma união que Servília desprezava. Afinal,
gem política ao casar-se dentro da família. Servília, como muitas outras poderosas ma- | triarcas romanas, assumia uma postura não-sentimental em relação aos matrimônios.
Ela pró- |
pria casara-se por motivos políticos e buscava |
sar se proclamaria rei, sendo Cleópatra a sua rai-
Sob tais circunstâncias, era uma escolha óbvia, para Bruto, apoiar os romanos hostis a Júlio César. Quando Marco Antônio ofereceu a este uma
coroa na Lupercália, em fevereiro de 44 a.C., seus
inimigos cogitavam ativamente seu assassinato.
romance de outras formas, apesar desta condu- |
Afinal, Bruto sinalizara sua lealdade a Catão ao
do má-conduta acarretava sérias consequências,
estivesse vivo, não faria tudo que fosse necessário
ta trazer certos riscos. Um mero boato envolven- |
desposar sua filha, e quem duvidaria que ele, se
particularmente para as mulheres. A segunda es- | para acabar com a ditadura de Júlio César? E ainposa de Júlio César, Pompéia, por exemplo, caiu em desgraça após um sujeito
entrar em sua casa disfarçado de
mulher, durante uma cerimônia religiosa proibida a homens. Júlio César não a acusou de adultério, mas divorciou-se mesmo
assim, alegando que ela não poderia nem ser suspeita de má-conduta. Até mesmo Júlio César, enquanto homem de poder, sofria ligeiramente por suas Indiscrições domésticas. É possível que recebesse alguns esgares sarcásticos, mas somente um caso realmente ruidoso poderia diminuir seu prestígio. Júlio César ultrapassou este limite ao se envolver com a rainha egípcia Cleópatra, após a perseguição dos derrotados pompeanos até o Eg1to. Os romanos não aceitavam a idéia de seu líder concubinar-se com estrangeiros. Para agravar ainda mais a situação, Júlio César convidou Cleópa-
tra para ir a Roma, com seu jovem filho Ptolomeu XV, também conhecido como Cesarion,
ou Pequeno Júlio César — um nome que parecia confirmar os 26
E Midas e!
da, para Bruto, esta posição não era somente uma questão de princípios. Ele era extremamente ambicIoso, e sempre tinha que restringir suas metas para um nível abaixo de Júlio César — que já o favorecera com um alto cargo — em vez de poder cogitar as oportunidades que o aguardavam se os romanos depusessem seu governante. De acordo com Plutarco,
Júlio César percebeu este anseio em Bruto e pergun-
tou-se em voz alta quando ele estaria satisfeito: eu não sei o que este jovem homem quer, mas tudo o que ele quer, ele o quer com muita vontade”. O apadrinhamento de Júlio César era agora o único caminho para o topo, e Bruto, que seria uma es-
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Um casal dá as mãos em sua cerimônia de
casamento, um gesto também retratado no anel acima, presenteado por um homem a sua noiva
por ocasião do noivado. O casamento dos romanos ricos costumava ser um evento
suntuoso. À cerimônia típica acontecia na casa da noiva, seguida por um sacrifício e um banquete
matrimonial e era encerrada com uma procissão de gala até a casa do noivo, que carregava a noiva através da entrada para trazer boa sorte.
trela ascendente por seus próprios méritos, deve ter ficado irritado ao ver-se evoluindo simplesmente por causa de Júlio César, que procurava agradar Servília ou aplacar seus adversários conservadores. Marco Antônio aparentava estar confortável no papel de grande e admirado protegido, mas esta era uma posição incômoda para Bruto. Afinal, a única distinção que o satisfaria seria aquela que seu tio Catão e outros da família conquistaram, sob as regras da república. Não foi Bruto quem começou a conspiração contra Júlio César, mas seu cunhado e grande amigo Caio Cássio Longino. Cássio insistentemente pressionava Bruto — cujo nome era significava resistência à tirania — para liderar o golpe, e assim atrairiam outros homens de es-
tatura para a trama. De acordo com Plutarco, Cássio fi-
nalmente conseguiu envolver Bruto no golpe assassino, acertando com os aliados de Júlio César que eles o proclamariam rei na reunião do Senado que aconteceria nos idos de março, no dia 15.
Júlio César não estava de olhos vendados para a possibilidade daquele homem próximo desafiá-lo. Certa vez,
ao saber que Marco Antônio desejara-lhe mal, Júlio Cé-
sar replicara que não eram os homens gordos e lascivos como Antônio que ele temia, mas os “pálidos e secos ca-
maradas” como Cássio e Bruto. Apesar de tudo, não mui-
to depois da reunião no Senado, Júlio César dispensou seus guarda-costas, um grupo de leais hispânicos. Talvez
ele possa ter simplesmente subestimado os rivais. Ou tal-
vez capitulasse ao profundo fatalismo que acometia até mesmo os maiores romanos. Júlio César frequentemente lia a sorte nas entranhas de animais sacrificados e con-
sultava áugures para saber o que os deuses reservavam
para ele, e recentemente os presságios não lhe eram fa-
voráveis. Espurina, um dos adivinhos oficiais de Roma,
27
A DISPUTA PELO PODER
lhe avisou que ele corria grande perigo, e que a desgraça aconteceria até os idos de março. Enquanto aquele dia se aproximava, nem Júlio César nem Bruto conseguiam dormir em paz. Um grupo de pelo menos sessenta senadores conspirava junto a Cássio e Bruto para atacar Júlio César quando este se apresentasse ao Senado, no dia 15. O sucesso dependia do segredo, e Bruto sen-
tia o peso da pressão de disfarçar suas intenções
mortíferas. “Em casa, especialmente à noite, ele
Já não era o mesmo homem” — escreveu Plutarco. Algumas vezes, suas preocupações irrompiam durante o sono e o despertavam abruptamente. Em outras ocasiões, ficava tão apreensivo que era impossível que Pórcia não percebesse que ele estava repleto de problemas incomuns”. Para provar a Bruto que partilhava de sua angústia e que ele poderia confiar-lhe seu segredo, Pórcia se cortou na coxa com um punhal. Quando o marido correu para socorrê-la, ela lembrou-lhe que
gundo Suetônio — até que os oráculos o explicas. sem que o significado daquilo era que “ele esta. va destinado a conquistar a Terra, nossa mãe uni.
versal”.
Então,
na noite de
14 de março,
ele
sonhou que estava “flutuando sobre as nuvens”
— escreveu Suetônio — “e apertando a mão de Júpiter”, o maior dos deuses. Tal encontro poderia ser uma glória, mas para encontrar os deuses Já-
lio César deveria antes deixar este mundo. A terceira e última mulher de Júlio César, Cal. púrnia, também teve sonhos febris naquela noite, que seriam recontados de várias formas nos dias seguintes. De acordo com Suetônio, ela sonhou com um ornamento semelhante à cumeei-
ra de um templo, colocado no topo da casa de Jú-
lio César por ordem do Senado, que desabou “e
ali ele ficou, abatido em seus braços!”. Na manhã
seguinte, ela implorou ao marido que ficasse em casa, mas ele não permitiria que maldissessem que havia menosprezado o Senado.
“Sim, os ídos de março chegaram, mas eles aínda não terminaram” era filha de Catão, dada em casamento a Bruto
“não como uma concubina, para partilhar apenas a relação comum
de cama e mesa, mas para
suportar uma parte da sua boa sorte e da sua má sorte”. Comovido pela devoção tenaz da mulher, Bruto contou seu segredo a Pórcia, levantando as mãos aos céus e implorando pela “assistência dos deuses na sua missão, para ele provar ser um marido merecedor de tal mulher”.
Júlio César, por sua vez, vinha sendo supostamente atormentado por um sonho nefasto, nas vésperas dos idos de março. Como os outros romanos, ele acreditava piamente que os sonhos po-
diam predizer o futuro. Certa vez, quando ainda era jovem, após ver uma estátua de Alexandre, o Grande, e lamentar o fato de ainda não ter muitas conquistas a ponto de ser comparado com o conquistador imortal, Júlio César sonhou que estuprava a mãe, uma visão que o aterrorizou — se28
Júlio César foi levado pelas ruas, na liteira, até o lugar combinado para a reunião, o Teatro de Pompeu, construído por seu falecido rival e dominado pela estátua deste. Enquanto se aproximava do prédio, ele supostamente virou-se para o profeta Espurina e declarou, confiante: “os idos de março chegaram”. “Sim, chegaram, mas ainda não terminaram” = Espurina respondeu duramente. E Quando Júlio César entrou, os senadores em | assembléia — a maioria ignorante sobreo golpe | — ergueram-se em respeito. Os conspiradores, en: Age tão, reuniram-se ao seu redor enquanto ele se sen: |
tava. O senador Tílio Cimbro puxou a toga de Jus
a
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lio César de seu ombro, o sinal para os outros, | hs
avisando que era chegada a hora do ataque. MO:
mentos depois, outro conspirador, Servílio Cass.
m o c ar Cés io Júl u ngi ati e al nh pu um u xo pu ca,
um súbito golpe na garganta. Então, os outros
se aproximaram, esfaqueando-o de modo selvagem. Vários erraram o alvo e feriram seus pró-
prios colegas conspiradores. Júlio César, a prin-
cípio, resistiu ao ataque — segundo Plutarco — mas quando viu Bruto com um punhal, cobriu a face
com a toga e entregou o corpo às estocadas”. ALguns dizem que Júlio César morreu em silêncio. Outros sustentam que, quando Bruto atacou, Júlio César disse-lhe, em grego: “Até tu, meu filho?”
O. assassinos de Júlio César gozaram um triun-
fo apenas breve. Correram do Teatro de Pompeu até a rua, exibindo as mãos e adagas ensangiúentadas aos estarrecidos transeuntes e exclamando
que a liberdade retornara. Mas não haviam planejado direito como agir a seguir, e logo perderam o controle da situação. De acordo com Plutarco, Bru-
to persuadiu os outros conspiradores a não executar Marco Antônio — em vez disso, tentou anga-
riar seu apoio, chegando ao ponto de permitir que
lesse o testamento de Júlio César para o público durante o funeral, no Fórum. Júlio César deixou
para o povo seus jardins ao longo do Rio Tibre e também uma pequena soma de dinheiro para cada cidadão romano. A herança serviria para relembrar à população que Júlio César preocupava-se com os cidadãos comuns. Marco Antônio, mais tar-
de, incitou o povo — acrescenta Plutarco —, ao exibir o traje ensangúentado do falecido e apontando “em quantos lugares ele fora golpeado”.
ORGANIZANDO
O TEMPO
Um dos apetrechos usados pelos romanos para me-
dir o tempo eram os relógios de sol, como este, em Pompéia (abaixo, à esquerda). Ao longo do ano, o
período com luz do sol era dividido em doze horas, o que significa que uma hora, durante o verão, era mais longa do que uma hora no inverno. Os romanos também consultavam calendários públicos, como a réplica abaixo, cujo original fica em Roma, que relacionava, para cada um dos doze meses do ano, o
nome do mês, o signo zodiacal e a divindade prote-
tora, o número de dias, o trabalho de cultivo a ser cumprido, e os festivais a serem celebrados. Na era de Júlio César, a discrepância entre o calendário romano e o ano solar já fazia com que os meses estivessem atrasados em relação às estações. Para corrigir a diferença, Júlio César estendeu a duração do ano de 46 a.C. para 445 dias e fixou o ano do calendário, a partir daquele momento, em 365 dias, com um dia a mais em fevereiro a cada quatro anos.
A DISPUTA PELO PODER
Temendo por suas vidas, os assassinos deixaram a cidade. Os outros senadores que os apolaram continuaram
em
Roma,
mas Marco Antô-
nio parecia inclinado a reclamar para si o cargo de dirigente supremo. Júlio César, entretanto, em seu testamento, complicara os planos deste, ao indicar como herdeiro da fortuna de sua família
seu sobrinho-neto de dezoito anos, Otávio (o futuro Augusto), que estava no exterior estudando
literatura grega. Apesar de jovem e de ter a saúde frágil, Otávio servira energicamente como assistente de Júlio César durante a campanha contra os filhos de Pompeu, na Hispânia. Agora, toda Roma poderia provar um pouco da eficiência daquele jovem baixote, de cabelos claros e olhos brilhantes, criado em berço real. Ao retornar para a capital, Otávio assumiu a fortuna do tio-avô e assegurou a distribuição justa da herança. Otávio e Marco Antônio sempre discordaram. Otávio apoiou os rivais de Marco Antônio no Senado, induzido pelo brilhante orador Cícero, que não havia sido informado sobre o plano de assassinato, mas O aprovava com convicção. Respaldado por Cícero e seus aliados, Otávio recrutou tropas e ajudou Marco Antônio e suas esvaziadas forças militares na ida para o exílio, no norte dos Alpes — onde conseguiram refúgio junto ao poderoso governador da região, Marco Emílio Lépido, um leal servo de Júlio César. A seguir, mudando de lado com cruel oportunismo, Otávio abandonou Cícero e, junto com Lépido e Marco Antônio, instituiu o Segundo Triunvirato. Como parte do acordo, o trio elaborou uma lista de 300 notórios
inimigos em Roma e ordenou a execução de alguns deles. Entre as vítimas estava Cícero, cuja cabeça e a mão direita foram decepadas por ordem de Marco Antônio e exibidas no Fórum. Os triúnviros, então, voltaram seus olhares hos-
tis para as tropas de Bruto e Cássio, que foram derrotadas em Filipos, na Grécia, em 42 a.6. Pou-
co tempo antes da batalha, segundo Plutarco, o atormentado Bruto foi visitado, à noite, por uma
visão fantasmagórica seu “gênio diabólico” te que o encontraria que Bruto respondeu verel”.
30
que se apresentou como O e avisou ameaçadoramennovamente em Filipos — ao calmamente: “Então, eu o
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RITOS PARA OS MORTOS NOBRES
Os aristocratas romanos encenavam elaboradas cerimônias fúnebres públicas para prestar pietás, ou “respeito”, e para afirmar a distinção de suas famílias. Como mostrado acima neste sarcófago romano, o corpo era carregado até o lugar da cremação em uma liteira, reclinado como se estivesse em um banquete. Músicos conduziam a família en-
lutada, e um dos parentes declamava
o elogio, sobre a Rostra, enquanto o cortejo fúnebre estivesse no Fórum. Alguns usavam máscaras do faleci-
do, e homenageavam a memória dos ancestrais guardando bustos com suas figuras.
Talvez esta aparição refletisse uma premonição de que a causa estava perdida e tudo o que lhe restava era enfrentar seus demônios e encarar o fim bravamente. Após a derrota, Bruto recusou-se a fugir para sobreviver, insistindo
diante dos amigos que preferia morrer agora e deixar uma reputação virtuosa, enquanto seus dominadores teriam que prestar contas com a posteridade, por terem usurpado um “poder ao qual não tinham direito”. Então, seguiu o exemplo de seu tio Catão e cometeu suicídio. Os vencedores, por fim, dividiram o império entre si, com Lépido consolidando o controle do Norte da África, enquanto Marco Antônio assumia as ricas províncias orientais e Otávio governava, de Roma, as províncias ocidentais. Entretanto, antes de concordar formalmente com
estes termos, Marco Antônio quase rompeu com Otávio, que havia concordado em casar-se com a enteada de Marco Antônio, Cláudia, mas a devolveu sem consumar o casamento, por ter entrado em conflito com a voluntariosa mãe da noiva, Fúlvia, e com o irmão de Marco Antônio,
Lúcio. A morte de Fúlvia em 40 a.C. foi a oportunidade que Otávio aguardava para reatar a relação. Para tanto, casou a irmã, Otávia, com Marco Antônio, em 40 a.C.
31
A DISPUTA PELO PODER
Lívia (à esquerda), esposa de Augusto, retratada como uma matriarca tradicional,
exercia grande influência sobre o marido (à direita), mostrado como governante do mundo neste esplêndido peitoral com detalhes de seus triunfos.
Naquele mesmo ano, Otávio casou-se com Escribônia, da
família de Sexto Pompeu, filho de Pompeu, o Grande. O Senado havia conferido o controle da esquadra romana a Sex-
to antes do Segundo Triunvirato assumir o poder, e desde então ele vinha incomodando
Otávio, sitiando a costa da
Itália e saqueando navios mercantes, impedindo que os vitais suprimentos de cereais aportassem em Roma. Otávio e seu parente chegaram a uma difícil trégua em 39 a.C., quando Sexto concordou em suspender o cerco, porém mantendo o controle da Sicília e da Sardenha. Ão casarem-se por motivos políticos, Marco Antônio e Otávio haviam se conformado às tradições aristocráticas ro-
manas. Entretanto, ambos eram homens dados a paixões, e se envolveram em romances que modificaram seus destinos. Em 39 a.€C., Otávio apaixonou-se por Lívia Drusa, uma jovem de 20 anos, garbosa e atraente. Lívia havia sido casada, há cinco anos, com Tibério Cláudio Nero, da prestigiada família Claudiano, aliada do irmão de Marco Antônio contra Otávio. Por causa disso, eles foram exilados, junta-
mente com o filho, Tibério. Por fim, foram anistiados e con-
seguiram permissão para retornar à Roma. Aquele romance não foi o único atribuído a Otávio ao longo dos anos. De acordo com Suetônio — que assumidamente divulgou floreados relatos sobre ele e seus sucessores imperiais sem observar propriamente a veracidade dos fatos —, Otávio relacionava-se com as esposas e as filhas de seus rivais, em parte para descobrir o que aqueles homens estavam tramando. Em um incidente relatado por Marco Antônio e registrado por Suetônio, Otávio arrastou a mulher de um ex-cônsul “da sala de jantar até o quar-
to — diante dos olhos do marido!”. Otávio devolveu a mulher algum tempo depois, ruborizada e despenteada. Lívia,
por sua vez, tinha um poder especial sobre ele. Com sua fina herança aristocrática e berço honrado, ela o atraía
tanto pessoal quanto politicamente, e Otávio ficou deter-
minado a fazr dela a sua esposa. O marido de Lívia — que estava grávida do segundo filho, Druso — achou conveniente divorciar-se, independentemente de sua opinião
do sobre o romance.
32
Otávio estava livre para casar-se com Lívia porque havia se divorciado de Escribônia recentemente — um ato simples na sociedade romana, cuja iniciativa poderia partir de ambos os cônjuges, e era formalizado com a separação do casal e quando a mulher pagasse ao marido o valor do seu dote. Otávio divorciou-se de Escri-
Fr
Sar
bônia no exato dia em que ela deu à luz sua única filha, Júlia, que ficou sob os cuidados de Otávio — conforme a lei e o costume exigiam —-, enquanto Tibério e seu irmão mais novo viveram com o pai até que este morresse, em 33 a.€., quando se juntaram a Otávio. Ele e Lívia
jamais tiveram filhos juntos.
O divórcio de Otávio rompeu suas ligações familiares com Sexto. Para evitar que o almirante pirata amea-
çasse novamente os navios romanos, Otávio solicitou os
préstimos de um grande amigo, o brilhante comandante naval Marco Agripa, que arrasou Sexto no mar, em 36 a.C. Otávio então precipitou a aposentadoria de Lépido, e o Império ficou dividido entre dois maliciosos
homens — Marco Antônio no Oriente e Otávio no Ocidente.
O casamento de Otávio e Lívia, embora impulsivo e improvável, posicionou-o em segurança no privilegiado
círculo da nobreza romana, que há muito dominava os assuntos de Estado. Marco Antônio não tinha tanta sorte com seus afetos. Sua função de governador do Oriente o aproximou de Cleópatra, e ele, como Júlio César, acabou por sucumbir aos encantos da rainha, alienando-se dos romanos no processo.
O romance começou em 41 a.€., antes da morte de
Fúlvia, e do subsequente casamento com a irmã de Otá-
vio. Marco Antônio, então com 42 anos, exigiu Cleópa“tra, de 28, em seus aposentos na Cilícia, onde os habie seus admiradores, saudavam-no como Dioniso
cs ou Baco, para os romanos —, deus do vinho e arauto
a alegria, Após retardar a partida do Egito para pro33
A DISPUTA PELO PODER
var que não obedecia a ninguém, Cleópatra chegou em grande estilo. Conforme a descrição de Plutarco para a cena, “ela apareceu navegando o rio Cidno em uma barca dourada, com várias
velas feitas de púrpura, enquanto remos de prata marcavam o tempo da melodia de flautas e pífaros e harpas”. A rainha postava-se sob um baldaquino de tecido dourado, “vestida como Vênus em uma pintura, ladeada por belos jovens de pé, tal qual Cupidos desenhados, que a abanavam. Suas atas estavam vestidas como as Ninfas e as Graças, algumas ao leme, outras lidando com as cordas. Os perfumes difundiam-se desde o barco até as margens, que estavam abarrotadas de
pessoas. À boa-nova correu entre a multidão:
“Vênus veio regalar-se com Baco, para o bem comum da Ásia”. Na posição de rainha de uma terra cuja magnuficência antecedia em muito a própria existência de Roma, Cleópatra considerava-se igual, senão supe-
be, por esta época, que Otávio estava irritado
com os seus favores para Cleópatra, e disparou
uma raivosa carta para o colega governante: “O que há? Você se opõe que eu me deite com Cleópatra?”. Marco Antônio acrescentou, ainda, que
agora estava em um
casamento
feliz e questio-
nou se Otávio era devotado à própria mulher: “Você é fiel a Lívia Drusa? Meus parabéns se, quando esta carta chegar, você não estiver na
cama com Tertúlia, ou Terentila, ou Rufila, ou
Sálvia Titisênia — ou todas elas juntas. Realmente importa onde, ou com quem, você mantém
relações sexuais?”
Infelizmente para Marco Antônio, os supostos assuntos de Otávio em Roma eram menos importantes, para o público, do que o flagrante relacionamento com uma rainha estrangeira. Alguns romanos temiam que a ambiciosa Cleópatra pretendesse transferir o comando do império para o Egito, e Otávio contribuía para ali-
“Fla apareceu navegando o vio Cídno em uma
barca dourada, com várias velas feitas de púrpura” rior, a Marco Antônio. Mas administrou o encon-
tro tão habilmente que ele estava mais encantado do que ofendido. O que o mantinha seduzido era não apenas a aparência, mas o forte caráter da egípcia. Após segui-la no retorno para Alexandria, Marco Antônio voltou a Roma por tempo suficiente para obrigar Otávio a casar-se com sua
irmã, e finalmente voltou para o Egito e sua ado-
rada Cleópatra.
Em 32 a.C., Marco Antônio afinal divorciou-
se de Otávia, de modo abrupto, despachando para Roma instruções para que ela saísse da sua casa. Naquele ponto, ele já se considerava casado com Cleópatra e já havia demonstrado seu respeito a ela, declarando publicamente que seu filho Cesarion era o verdadeiro filho de Júlio
César e indicando os três rebentos que tivera com Cleópatra para o governo de territórios no
oriente. Segundo Suetônio, Marco Antônio sou34
mentar estes temores denunciando publicamente o casal como não-romano. Otávio há muito tempo já considerava-se o herdeiro legítimo do legado político de Júlio César, bem como de sua fortuna pessoal. Agora ele se preparava para se equiparar ao falecido imperador, ao dispensar seu co-governante e reivindicar o poder supremo para si. Na guerra civil que se sucedeu, Marco Antônio e Cleópatra foram sobrepujados e perderam sua esquadra de guerra para Otávio e o almirante Agripa no promontório de Áccio em 31 a.C. O casal conseguiu fugir por mar, mas Otávio, mais tarde, surpreendeu-os no Egito, onde se suicidaram.
Atento ao fato de que Marco Antônio declarara que Cesarion era o filho legítimo de Júlio César, Otávio mandou localizar e assassinar o jovem ti-
val, desta forma precipitando o fim da última das dinastias egípcias. Desde então, Otávio — ou Au-
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CLEOPATRA, RAINHA | DOSREIS Ss ua real beleza, diz-se, não é, por sí, tão extraordinária a ponto de ninguém poder ser comparada a ela” escreveu Plutarco sobre Cleópatra (à esquerda) - “mas seu fascínio era “algo mágico”. Ela fez com que homens acostumados à adulação - como Júlio César e Marco Antônio - sentirem como se ela os estimasse de forma única. Plutarco registrou que Platão referiu-se a apenas “quatro tipos de lisonjas, mas ela possuía mil”. Mas nada do que ela falou ou fez para homenagear seus admiradores
romanos diminuía suas próprias qua-
lidades reais. Integrante da dinastia ptolemaica, que governava o Egito desde a morte de Alexandre, o Grande, Cleópatra era macedônia pela ancestralidade e grega pela cultura, mas considerava-se egípcia, dominando a língua e identificando-se com a
deusa Ísis. Ela acreditava que seus
relacionamentos com Júlio César e Marco Antônio aumentariam sua autoridade e
| Tesguardariam o Egito E do jugo romano. EM
asa
RR. pos á
Um busto, supostamente de Cleópatra,
e seu retrato em uma moeda — com Mar-
co Antônio no verso - confirmam que | seu encanto não era a beleza física.
7
Quando Júlio Cé-
sar chegou ao Egito
em 48 a.C., perseguindo seu derrotado rival,
Pompeu, Cleópatra, aos 21
anos, havia sido exilada por após Ptolomeu XIII, seu meio-irmão de 14
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anos, co-governante e marido (os
Ptolomeus praticavam o antigo costume egípcio do casamento consangúíneo). Desesperada pelo apoio de César, ela se enrolou em roupas de cama - segundo Plutarco - e foi levada sorrateiramente para dentro do palácio onde ele estava hospedado. Cativado por sua esperteza e audácia, César a apoiou contra o irmão, que morreu derrotado. Como rainha, casou-se com o irmão de 12 anos, Ptolomeu XIV, mas César tornou-se seu amante. Antes de deixar O Egito, ele cruzou o Nilo com ela, em sua opulenta barca de lazer. Poucos romanos partilhavam da afeição de César por Cleópatra. Temores de que ela e seu filho Ptolomeu XV - também conhecido como Cesarion e tido como filho
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de Júlio César - reivindicassem o poder que pertencia a Roma não diminuíram nem com o assassinato de Júlio César, pois ela, mais tarde, seduziu Marco Antônio, que
governava a metade oriental do império. A apaixonada e notória aliança entre os dois foi finalmente encerrada por Otávio, que invadiu o Egito em 30 a.C. Segundo Plutarco, Cleópatra se enclausurou
na tumba preparada para ela. Marco Antônio, pensando que a amada havía morrido, cometeu suicidio - mas descobriu, pouco antes de perecer, que ela ainda estava
viva. Ele pediu para ser levado para a catacumba dela, onde Cleópatra rasgou-se de agonia, chamando-o de “meu senhor, meu marido, meu imperador”.
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Um mosaico romano sobre a vida no Rio Nilo mostra o Egito como uma terra de indulgências — uma impressão que Cleópatra encorajou enquanto recebia Júlio César e Marco Antônio, mas que seus críticos romanos usavam contra ela.
susto, como tornou-se conhecido no ano de 27 a.C., seu retorno triunfante para Roma — seria o senhor do Nilo e incontestável soberano do mundo romano.
Logo após a morte de Marco Antônio, Cleópatra tirou a própria vída. Segundo um dos re-
O astuto Augusto aprendera com o assassinato de Júlio César a não ostentar o imenso poder que adquirira. Ele se recusou a ser chamado de ditador, e aceitou os títulos de princeps, ou “primeiro cidadão” e pater patrie, ou “pai da pátria”. Pro-
latos, ela se expôs à picada de uma víbora, ou serpente, um antigo símbolo do poder faraônico. Nas palavras de sua criada, ela morreu de forma condizente com “uma descendente de tantos reis-
fessava o desejo de restaurar a república, ao es-
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tabelecer uma monarquia virtual. Preservou o Senado e permitiu que seus membros tivessem voz, ao mesmo tempo em que assumia as principais responsabilidades dos senadores. Como supremo comandante, foi proclamado imperator, ou conquistador, e deste impressionante título veio a palavra “imperador”. Alguns aristocratas romanos podem tê-lo desprezado, da mesma forma que fizeram com seu tio-avô, mas nenhum deles ousaria atentar contra sua vida, tendo ele o apoio de
As montesideicleopata e de seu filho Cesarion, retratados aqui como reisdeuses, marcaramo fim
4.500 Guardas Pretorianos e das massas romanas,
da independência egípcia.
cansadas da guerra civil. Tanto em casa quanto em público, Augusto tentava não aparentar muita grandeza. Ele morava em uma casa espaçosa, mas não suntuosa,
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no Monte Palatino. Frequentemente, privavase das finas iguarias que eram servidas para seus convidados e preferia beliscar aqui e ali os pratos comuns como pão integral, queijos e figos verdes. Ainda, era um bebedor abstêmio” — conforme a descrição de Suetônio — e limitava-se, no final da vida, a uma caneca de vinho misturado com água, no jantar. Se por acaso excedesse este limite, ele deliberadamente vomitava”. Nas vestimentas, sua maior vaidade era mandar
aumentar o solado das sandálias para parecer
mais alto — sua altura oficial era de 1,70m, mas
este registro era exagerado. Sua mulher, Lívia, também se vestia com simplicidade. Um escultor a representou em uma tradicional túnica de pregas na altura dos tornozelos, conhecida como estola, guarnecida por um manto branco e macio, conhecido como pala. Augusto muito fre-
quentemente deixava as variadas doenças que o acometiam interferirem no seu trabalho e, para economizar tempo, três barbeiros cortavam seu 37
A DISPUTA PELO PODER
cabelo ou faziam sua barba ao mesmo tempo, enquanto ele escrevia ou lia. Apesar de ter rompido a tradição, politicamente, e de não ser tão exemplar na vida privada, Augusto era um nostálgico dos antigos costumes romanos e incentivava práticas religiosas e modelos sociais tradicionais. Ele restaurou mais de 80 templos decadentes e construiu
traste entre a castidade que lhe fora imposta e as sórdidas histórias que circulavam sobre os seus parentes mais velhos, inclusive o próprio pai (Suetônio reproduzia boatos de que Augus.
parte de um maciço programa que oferecia trabalho para operários e mestres de obra e que reforçou a afirmação de que encontrara Roma como uma cidade de tijolos e a deixaria como uma cidade de mármore. Enquanto guardião da moral pública, instituiu leis que encorajavam o matrimônio e que pretendiam reverter a descendente taxa de natalidade. As condições impostas por esta nova legislação encurtavam o período de tempo permitido en-
estrita e fez por merecer uma reputação de promíscua que escapou à atenção de seu pai por alsum tempo. Após a morte dos dois primeiros maridos, ela casou-se com seu meio-irmão, Ti-
um
novo, para Marte, o deus da guerra, como
tre o noivado e o casamento; exl-
glam que viúvos e viúvas se casas-
NT;
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to, mesmo mais velho, “ainda acalentava uma
paixão por deflorar meninas — que eram arre-
banhadas em qualquer lugar, até mesmo por sua esposa!”).
Já adulta, Júlia rebelou-se contra sua criação
bério, que foi forçado a se divorciar da mulher
que amava e, por fim, ressentia-se tão profundamente que não mais se deitava com Júlia. Assim, ela procurou consolo em outros homens de maneira tão descarada que Augusto finalmente percebeu e decidiu puni-la. Embora Júlia, agora, fosse uma mulher madura,
com filhos ado-
“Ah, nunca ter casado,
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e sem filhos ter morrido!” sem novamente; e penalizavam quem não tivesse filhos até os 20 anos — 25 anos para os homens. Tais castigos não eram populares, entretanto, e Augusto respondeu relaxando as punições e oferecendo recompensas para aqueles que tivessem grandes famílias. Augusto também tentou controlar os adultérios. De acordo com uma lei decretada por ele, uma mulher poderia se divorciar caso o marido a traísse, mas não era obrigada a tanto. Os ho-
mens, por outro lado, eram obrigados a se divorciarem das esposas infiéis e processá-las por adultério. Se condenada, a mulher deveria pagar a ele metade de seu dote. Augusto queria que sua filha única, Júlia, fosse um modelo de virtude feminina. Ela passara a juventude tecendo e fiando, vigiada o tempo todo e sem poder namorar. Ao amadurecer,
entretanto, ela provavelmente percebeu o con-
58
lescentes, seu pai mantinha a jurisdição sobre
ela, pelo seu papel público de guardião moral de Roma e pela posição de pater familias — ou chefe de família, que, pela lei romana, tinha po-
der de vida e morte sobre os filhos. Tradicional mente, a criança, ao nascer, era colocada aos pés do pai: no caso de um menino, o sinal de acei-
tação era erguê-lo e, se fosse uma menina, or-
denando que ela fosse alimentada. Se, entretanto, o recém-nascido fosse mal-formado ou indesejado por qualquer motivo, o pai poderia
abandonar a criança, ou deixá-la sufocar ou MOI»
rer de fome. Mesmo na vida adulta, os filhos continuavam sob o jugo da avassaladora auto”.
ridade paterna. Em teoria, o pai poderia con,
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dená-los à morte caso se sentisse ofendido por o eles, apesar deste costume cruel estar em des a suso na época de Augusto. Mais comumente,9 | pai deserdava o filho errante. *
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LEGENDA: CRIADAS DE VESTA
Nenhuma mulher romana exercia uma função cerimonial mais importan-
te do que a Vestal-mor, representada abaixo em uma escultura da Casa das
Virgens Vestais, no Fórum. As sacerdotisas que lá viviam eram devotas de
Vesta, deusa da terra, e cuidavam do fogo eterno de Roma no Templo de
Vesta, retratado na moeda acima. As donzelas eram escolhidas entre seis e dez anos de idade e serviam por pelo menos trinta anos. Dizia-se que, caso uma sacerdotisa vestal perdesse a virgindade, o fogo sagrado se extinguiria e Roma entraria em sofrimento. Aquelas que não mantivessem a castidade deveriam ser enterradas vivas - um castigo imposto à Vestal-mor Comélia pelo imperador Domiciano.
A punição que Augusto destinou a Júlia foi além. Após denunciar seu comportamento imoral em detalhes para o Senado, ele a baniu para uma ilha na costa da Itália no ano 2 a.C. Ela penou lá por muitos anos, antes de ser trazida de
volta ao continente, onde continuou em isolamen-
to até morrer em desespero, no ano de 14 d.C, pouco antes da morte de Augusto. Em sua decrepitude, ele expressou seu desgosto ao citar meJancolicamente uma passagem da Ilíada: Ah, nunca ter casado, e sem filhos ter morrido!?. Tendo
renegado Júlia, Augusto na verdade morreu sem deixar filhos. Ele foi sucedido pelo filho de Lívia, Tibério. O longo reinado de Augusto foi de paz interna e prosperidade, e poucos romanos queriam retornar aos velhos tempos, quando aristocratas
rivais e seus aliados disputavam a supremacia
de maneira destrutiva. Porém, a ascensão de
uma dinastia imperial engendrou seus próprios problemas. Disputas sucessórias, que antes eram travadas entre facções e famílias, agora aconteciam dentro da casa imperial. E o candidato vitorioso nem sempre era merecedor da honra.
Tibério era um exemplo dos problemas da sucessão imperial por ser emocionalmente mal preparado para exercer o poder supremo e só venceu porque tinha o apoio de Lívia e porque os outros Augustos que poderiam
A DISPUTA PELO PODER
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Em um mural de uma sala em Pompéia, um jovem escravo alivia um convidado ao tirar suas sandálias (à esquerda), enquanto outro serve vinho e um terceiro ajuda um conviva que se excedeu no jantar.
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O apetite dos romanos era estimulado por cenas como esta, à esquerda, retratando ovos e melros prontos para serem cozidos, e na taça abaixo, decorada com esqueletos e o lema “aproveita a vida enquanto podes”
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ALEM DA MEDIDA
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sas mãos” - observa o narrador da
“obra Satyrícon - “enquanto outros se aproximaram de nossos pés e, com
grar ide habilidade, começaram a apararas calosidades”. O anfitrião desta festa de gala foi um homem de re“cente fortuna chamado Trimalquião, 'queostentava vários escravos e farta
culin ária, inclusive iguarias que fa-
“Ziam pratos elegantes como a torta de ra (a receita está à direita, extraída
de um livro de receitas romano) paese rem insossas. Entre os agrados
e ofei receu para seus convidados a u m vinho envelhecido por, suBiian : ne Te, cem anos. “Vejam o quão | mais lo) . evo do que qualquer morvo
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arranque as folhas, retire o
vagantes quanto Trimalquião, mas a maioria concordaria com a filosofia
branco [das pétalas e] coloque-as
no pilão; despeje um pouco de caldo [e] soque bem. Acrescente uma taça de caldo e coe o suco em uma peneira. [Feito isso] pegue quatro miolos [de bezerro, cozidos] despele-os e remova os nervos; junte oito pitadas de pimenta moída, umedeça com o suco e esfregue bem [nos miolos]; a seguir quebre oito ovos por cima, acrescente uma taça de vinho comum, uma taça de vinho passito e um pouco de óleo. Enquanto isso, unte uma frigideira e coloque-a nas cinzas quentes... coloque na frigideira o
de que não há maneira melhor de aproveitar o dia do que partilhar boa comida e boa bebida com os amigos. Os ricos encontravam-se regularmente, à noite, para um banquete chamado de convivium (convivên-
cia), que reunia homens e frequentemente também mulheres e crianças para jantar e celebrar. As listas de convidados variavam na quantida-
de, mas normalmente não mais do
que nove pessoas se reuniam no fri-
clinium do anfitrião, assim chamado devido aos três sofás dispostos em forma da letra “U”, em volta de uma
mesa. Confortavelmente reclinados,
material descrito acima; quando
os convidados divertiam-se por lon-
a mistura estiver cozida... salpique pimenta moída e sirva.
go tempo, e partiam com presentes
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escravos alexandrinos despejaram água resfriada com neve sobre nos-
Colha rosas frescas no canteiro,
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amigos. “Tomamos nossos lugares, e
Torta de Rosa
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ssunt osos banquetes oferecidos peBoE ovos-ricos para impressionar seus
tal é o vinho!” - exclamou Trimalquião - “Então, vamos beber e celebrar, porque na verdade, o vinho é a vida”. Poucos romanos eram tão extra-
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O escritor satírico Petrônio revelou os
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A DISPUTA PELO PODER
Um mosaico de chão em uma sala de jantar romana
representa artisticamente
Ossos, conchas, cascas e outros restos que os convivas
jogavam de lado para que as alas varressem.
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Uma mulher tocando cítara com a mão esquerda e harpa com a mão direita entretém os convivas em um banquete. Após a refeição, em alguns jantares suntuosos, havia a apresentação de mímicos, acrobatas ou dançarinas,
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Como retratado neste mural, alguns convivas homens poderiam permanecer após o banquete para apreciar as carícias de cortesãs, assim que as respeitáveis esposas e crianças saissem.
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ou sobras embrulhadas em guardanapos. Os banquetes começavam com um gustatio, ou aperitivo, que consistia frequentemente em ovos, "| mexilhões, queijos, arganazes e yE Quiros petíscos, engolidos com
É “ mulsum, um vinho adoçado com
;“mel A seguir, servia-se um pra-
E * to principal de peixe ou came, preE *ferivelmente de caça ou de algum
| Si * animal doméstico, marinada com E Rgreientes saborosos, como o figo, para melhorar o paladar. En-
Je flamingo eram apreciadas. Co-
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cotidianas eram apresende forma mais cuídadosa.
nos melros, por exemplo, podiam
com ouriços-do-mar flutuando em
g um, um rico molho de peixe gar
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Tantos temperos for-
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trário do mulsum, o vinho servido durante as refeições era misturado com água. A maioria dos convidados ficava satisfeita após o prato principal, mas ninguém iria gostar de perder a sobremesa. Se não arranjassem espaço para bolos, creme de ovos, ostras ou lesmas, eles poderiam pelo me-
nos provar alguns figos ou maçãs. Quase tão apetitosa quanto a própria comida era a decoração,
muitas vezes arrumada com pinturas e mosaicos. Esperava-se que Os convidados, em respeito ao anfi-
trião, chegassem de bom humor e cheirando bem (visitando antes as termas). Em algumas ocasiões, pombas perfumadas poderiam ser
soltas no aposento para aromatizálo. Entre cada prato, escravos lava-
vam as mãos dos convivas (os romanos comiam com as mãos). No banquete de Trimalquião, os escravos enxaguaram as mãos dos es-
cravos com vinho, segundo Petrônio, porque “água não era boa o suficiente para lavar, naquela casa”. Os escritores satíricos não eram os únicos a ridicularizar os exces-
sos nas mesas de banquete. “Onde está o lago, o mar, a floresta, a terra que não é arrasada para gratificar os nossos palatos?” - lamentava o filósofo estóico Sêneca. “As nossas enfermidades são o preço dos prazeres aos quais nos abandonamos além de qualquer medida ou limite”. Entretanto, os pensamentos sobre a morte ou sobre doenças apenas encorajavam ain-
da mais a indulgência. Poucos romanos almejavam viver até ficarem velhos e fracos, se isso significasse renunciar às recompensas da vida.
Eles simpatizavam com o gour-
mand Apício, que, após gastar sua fortuna com os prazeres do palato, preferiu envenenar-se e morrer a comer como um mendigo.
E Pee pe
43
A DISPUTA PELO PODER
ter preferência na sucessão morreram prematuramente. Tibério nunca foi particularmente próximo do padrasto, que O chamava de amargo e teimoso. Mas Lívia, supostamente, não descansou ao promover a causa de Tibério — rumores brotaram em Roma dizendo que ela havia causado a morte dos herdeiros preferidos de
Uma moeda do reinado de Nero
destaca sua relação próxima com sua mãe, Agripina, a Jovem. Posteriormente, ela discordou dele e pagou com a própria vida.
Augusto, inclusive seus dois netos, filhos da filha desonrada, Jú-
lia, e de seu ex-marido, Agripa. Augusto não suspeitava de qualquer delito de Lívia, e pode ter sido simplesmente a sorte que empurrou o temperamental Tibério para a dianteira. Uma vez feito imperador, Tibério irritava-se com a influência difusa de Lívia. Ele precisava de seus conselhos — segundo Suetônio —, mas não queria que “pensassem que os considerava seriamente”. Tibério não via razão em agradecer a Lívia por ela ter feito aquilo que, na sua visão, era um dever. De fato, ele fora um habi-
lidoso general antes de se tornar imperador, e serviu diligentemente na primeira década no poder, mantendo a ordem e a prosperidade. Mas tornou-se profundamente inseguro e cada vez mais afastado dos assuntos de Estado, graças em parte a dois homens que exerciam incomum influência sobre ele: seu astrólogo grego, Trasilo, e o prefeito de sua Guarda Pretoriana, Lúcio Élio Sejano. Enquanto Tibério estava fora, na sua villa na Ilha de Capri — onde passou a última década de seu reinado, dando ouvidos a profecias que diziam que o perigo o aguardava em Roma. Sejano apertou seu próprio cerco sinistro a Roma ao envolver opositores em acusações de traição armadas.
Tibério, um realizado general antes de suceder a Augusto no papel de imperador, dirige triunfante nesta cena gravada em uma bela taça de prata.
Sejano
obviamente
tinha
suas
próprias
ambi-
ções imperiais e conspirou contra os membros da família governante que perturbassem sua cami-
nhada. Ele supostamente causou a morte do filho e provável herdeiro de Tibério, Druso. pri-
meiro por seduzir sua mulher e depois fazendo
com que ele fosse envenenado gradualmente, des-
ta forma sem levantar suspeitas. Sejano mais tarde contribuiu para colocar Tibério contra dois de seus sobrinhos-netos e possíveis sucessores (um
deles morreu no exílio e o outro, na prisão) e poderia também ter eliminado um terceiro, Calígula, se o imperador não tivesse finalmente reconhecido a verdadeira face de Sejano e mandado
executá-lo. Roma assim escapou de uma ameaça
para se tornar presa de outra — Calígula —, que su-
cedeu Tibério após sua morte, em 37 d.C. Calígula não precisava de nenhum Sejano para brutalizar Roma. Ele fez por onde sozinho, humilhando publicamente senadores, confiscando os bens de cidadãos e executando aqueles que o desagradassem, mandando-os para a Arena, onde sucumbiam às bestas selvagens. Seu assassinato, em 41 d.€., levou ao poder seu tio Cláudio, um
homem de 50 anos, quase aposentado, de andar
claudicante e fala hesitante, considerado um tolo
pela mãe — mas que provou ser suficientemente astuto para sobreviver ao reino de terror de Calígula e efetivamente governar por mais de uma década. Mesmo assim, o problema da sucessão voltou para assombrá-lo. Sua última esposa, Agripina, a Jovem, bisneta de Augusto, fora exilada por conspirar contra Calígula. Em 54 d.C., ela confirmou sua reputação de degenerada ao en-
venenar Cláudio com cogumelos estragados para
garantir a ascensão de Nero, seu filho de um ca-. samento anterior. Como os predecessores, Cláudio foi divinizado após a morte, € Nero ironizou o fato dizendo que os cogumelos eram a “comida dos deuses”.
Com apenas dezesseis anos na época da sucessão, o atraente Nero, a princípio, governou sob a guarda de um tutor, o filósofo estóico Sêneca, Sua
* mãe também o educava, mas parecia trazer a tona
ela a ção ica ded sua , cedo de Des . Nero o pior de
era considerada excessiva por alguns. Mãe e filho
— com fregiiência viajavam juntos na liteira — escre-
veu Suetônio — e os rumores eram que ele, atrás das cortinas, a abraçava com uma “paixão libidinosa”. Seja qual fosse a natureza da relação, ela eventualmente rompeu-se. Com o imperador ficando mais seguro — segundo Suetônio — “o supervigilante e super-crítico olhar que Agripina mantinha sobre qualquer coisa que Nero falasse ou fizesse foi mais grave do que ele poderia suportar”. Primeiro, ele privou-a de suas regalias, inclusive de seu segurança, até que a expul-
sou do palácio. Como ela continuou a importu-
ná-lo, Nero decidiu matá-la. Por três vezes, de acordo com Suetônio, ele tentou envenená-la,
mas ela evidentemente sabia o que a esperava e tomou antídotos. Quando finalmente conseguiu o que queria, em 59 d.C., Nero sentiu-se assombrado pelo espírito da mãe e contratou conjuradores persas para evocar seu fantasma e implorar por perdão.
Outras pessoas próximas a Nero também sucumbiram a sua fúria. Acusado das violentas mortes de duas de suas mulheres e de seu enteado Britânico, Sêneca cometeu suicídio. A infâmia de
Nero não se restringia ao palácio imperial. Após um terrível incêndio arrasar grande parte de Roma em 64 d.€C., ele, em um primeiro momen-
to, prestou solidariedade às vítimas, porém logo depois construiu um suntuoso palácio chamado
de Casa Dourada, em uma área residencial arra-
sada pelas chamas, alimentando os rumores de que ele iniciara o incêndio. Quatro anos depois, uma insurreição armada de governadores provin-
cianos o impeliu a cometer suicídio, e a dinastia
iniciada tão promissoramente por Augusto chegou a um fim lastimável. Após um ano de uma guerra civil que testemunhou o poder mudar de mãos por quatro vezes,
o general Vespasiano se proclamou imperador e inaugurou uma curta dinastia que terminou com o assassinato de seu filho mais novo, Domiciano, no ano de 96. O sucessor de Domiciano, Nerva,
não tinha filhos e encontrou uma solução inovadora para o problema da sucessão ao procurar
um protegido fora de sua família e de sua terra natal. Ele adotou como filho e sucessor um comandante e governador de mérito provado, nas-
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A DISPUTA PELO PODER
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De pé no Fórum, o imperador Adriano faz o elogio da sua mulher, Sabina, que morreu por volta do ano 136. Apesar de tê-la divinizado após sua morte, seu relacionamento estava longe do idílio. Ele certa vez declarou que, se não fosse imperador, se divorciaria de Sabina devido à 46
sua desagradável personalidade.
cido na Hispânia: Irajano. Sob este enérgico im-
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perador, o Império expandiu-se até sua máxima extensão. Após a morte, em 117, Trajano foi su-
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cedido por Adriano, seu guarda pessoal e tam-
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bém seu parente, outro homem de herança espa-
mado Antínoo, da região grecófona de Bitínia, na
Adriano fez de seu reinado uma era de ouro,
Asia Menor (o casamento de Adriano com Sabina, sobrinha-neta de Trajano, era artificial e não
e de fato seu governo de 21 anos foi um tempo de estabilidade e prosperidade. De certa forma ele lembrava Augusto, pois lançou um ambicioso
programa de obras, não somente em Roma, mas também em várias cidades provincianas, e tra-
balhou para aperfeiçoar o exército e a administração do Império. Entretanto, em outros as-
suntos, Adriano quebrou o modelo imperial. Muitos de seus antecessores orgulhavam-se de suas conquistas, mas
Adriano não buscou novos territórios,
e na verdade retirou-se de terras que foram reivindicadas por Irajano, preocupando-se com a consolidação do império e em deixá-lo mais seguro. Em geral, estava mais preocupado com as províncias do que com Roma. Adriano passou a maior parte do tempo viajando pelo império, aproveitando os benefícios da considerável rede de estradas pavimentadas com pedras, que foram construídas com grande largura por motivos militares. Ele viajava a péouacaEE valo, sem cobertura no |
sol ou na neve, recusando-se a tirar proveito das carruagens ou carroças aprecitadas por outros viajantes que podiam custeá-las. Em seus últimos anos,
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Adriano passou a maior par-
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dor romano a ostentar uma barba, talvez em homenagem aos filósofos gregos que passara a admirar tanto. Também se engajou em um relacionamento íntimo com um belo jovem cha-
nhola que aguçou as habilidades de comandante e governador antes de assumir o poder.
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te de tempo no Oriente. Foi o primeiro impera-
deixou descendentes).
Porém, em uma visita ao
Egito com Adriano em 130, Antínoo morreu afogado, aos vinte anos. Alguns alegam que ele pulou no Rio Nilo após terem lhe contado que poderia prolongar a vida de Adriano se sacrificasse a sua. Adriano fundou uma cidade no Egito em homenagem ao companheiro e mandou erguer estátuas de Antínoo em santuários por todo o império, e este foi muito mais homenageado do que Lívia e outras falecidas mulheres de antigos imperadores. A dedicação de Adriano a Anjim
tínoo escandalizou Roma. No entanto, este imperador não era
cria da capital, e não se sentia na obrigação de enquadrar-se
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aos seus modos. Em sua vida e em suas viagens Adriano habilmente representou um
império diversificado,
onde
as tradições
da
Grécia, do Egito e de ou-
tras culturas
competiam
com as tradições da Itália, e
onde nem todas as estradas levavam a Roma.
Antínoo, o amado de Adriano, que se afogou no Nilo no ano de 130, foi glorificado após a morte como um faraó-deus, nesta escultura da villa de Adriano.
47
EM RETIRADA
ROMANOS
paredes cheias de peças de
“Você pode se perguntar porque meu recanto laurentino... é uma alegria tão grande para mim” — escreveu Plínio, o Jovem, sobre
arte.
Os romanos endinheira-
dos adquiriram boa parte
das terras rurais italianas durante o período da Repú-
sua villa no interior —, “mas
blica, construindo retiros para escapar da vida nas cl-
uma vez que perceba o encanto da casa, a amenidade
dades. A região costeira de
do ambiente, e sua extensa visão do mar, você terá sua
ca quê engoliu as duas cida-
des no ano de 79 preservou muitas villas e também O mobiliário retratado aqui e nas páginas seguintes. |
de banheiros privativos e *
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Uma villa que se estende a beira mar, cortada por aléiase jardins luxuriantes, domina o rústico
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ambiente neste mural pompeano.
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resposta”. As amenidades e encantos das villas romanas eram certamente atraentes, especialmente porque elas conjugavam paisagens estonteantes e jardins verdejantes com casas espaçosas,,
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Pompéia e Herculano era um dos lugares favoritos para estas fabulosas casas de campo. A erupção vulcâni-
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UM DESIGN ELEGANTE Embora não houvesse duas villas romanas iguais, elas possuíam duas características em comum: um átrio e um periístilo. O primeiro, um largo cômodo descoberto na entrada principal, funcionava como um saguão de entrada e fazia parte de um sistema de recolhimento de água pluvial para encher as cisternas da casa. O átrio conduzia a uma área de jardins e colunatas, o pe-
rístilo, que permitia que a lumino-
sidade e a visão do verde atingissem os cômodos ao redor. Surpreendentemente, apesar de casas bem mobiliadas confe-
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A luz solar,e não a chuva, derrama-se sobre a abertura do
telhado neste átrio, incidindo
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pluvial, diretamente abaixo.
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Atrás do átrio fica o perístilo, uma área ensolarada e
ajardíinada que se consolidou
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a ser pequenos e pouco mobiliados. Os romanos ricos gastavam. muito dinheiro com os seus móveis, procurando peças de madeiras raras, marfim e ouro. Os cam- . afortunados menos poneses
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rirem status, os cômodos tendiam
seus parcos m co ro, ist Sin io Fân io bl Pú de la vil na to ar qu Um no piso, móveis e extravagante decoração nas paredes e é um exemplo de decoração romana modelar.
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DECORACÃO
Os romanos decoravam quase todãg os cômodos de suas villas com m
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e mosaicos. Na verdade, pinturas dede| cenas da natureza, figuras mitológi cas e naturezas-mortas enfeitavamas
paredes da maioria das casas em ci. dades como Pompéia e Herculanh Nas villas, entretanto, as telas se tor naram muito mais elaboradas, Um fe flexo do gosto e do status socialag « proprietário. As cenas mais comple xas e realistas adornavam os cômodos principais, como oO átrio, a sa la de jantar e o quarto principal. Entreje tanto, até o recinto dos escravos p( oderia exibir pequenos quadros.. E
Como sempre, os estilos dos trar balhos artísticos variavam. Alguns
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Itico lorido, / encontradoo na alcova mu do jardim de uma villa.
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mármore finamente polido, pedra trabalhada ou lisas paredes de gesso. Para transformar as villas
amda mais,
mosaicistas eram tra-
zidos para decorar os pisos e paredes com seu colorido artesanato, criando desenhos realistas da flora e da fauna ou intricados desenhos geométricos. Embora os proprietários das vllas não manipulassem pincéis ou dispusessem pedras coloridas, sem dúvida eles escolhiam os temas a serem representados, e seus interesses pessoais eram claramente refletidos nas paredes. Cenas da vida em família eram comuns, bem como descrições das próprias grandes villas. O interesse pelo Egito, intensificado após a anexação do país em 30 a.C., aparecia em desenhos de paisagens € rituais egípcios. Entretan-
to, os temas históricos e mitológi-
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cos eram os que mais fascinavam os romanos. E, mesmo que os heróis e as divindades fossem nor-malmente tratados com respeito, não era incomum que artistas espirituosos os retratassem com um toque da irreverência romana.
Um professor de música ensina a sua jovem pupíla como tocar cítara nesta fantástica cena de uma villa da cidade de Herculano.
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“Refletindo o interesse romano sobre o Egito, uma marta, uma cobra e um hipopótamo dividem o Nilo com um par de patos neste mosaico estilizado 'da Casa do Fauno (acima). Um capríchoso mural em outra villa retrata um trio de cupidos brincando de esconder (abaixo).
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Uma jovem colhe flores (abaixo) e pássaros pousam em uma pequena
fonte borbulhante (direita), nestas pinturas de casas romanas. Na maioria das residências de Pompéia, os chafarizes brotavam no meio dos canteiros, após a
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construção do aqueduto augustino, que levava água corrente aos perístilos.
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Beleza e serenidade são a marca desta fiel recriação de um jardim de peristilo e vílla romanos, sede do museu J. Paul Getty em Malibu, na Califórnia, EVA.
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tais, sua contraparte urbana:ser-
pintadas nas paredes das casas.
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via a um propósito tão importante quanto o primeiro: propiciar um vislumbre de natureza dentro da tumultuada paisagem da cidade. Os jardins tinham tanta importância que, em locais onde não era possível-cul-
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des frequentemente faziam as refeições no jardim, apoiando os pratos na beirada do chafariz enquanto beliscavam hors doeuvres em pequenas vasilhas flutuantes em forma de barcos. Enquanto o jardim de uma villa no interior poderta ser usa-
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CAPÍTULO DOIS
ROMANOS
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úcio Pedânio Segundo era um homem com pesadas responsibilidades. Como prefeito de Roma durante o reinado de Nero, ele assumiu a responsabilidade de manter a ordem em uma cidade à beira
do colapso, com cerca de um milhão de habitantes. Autorizado a punir os crimes, o prefeito era o comandante das tropas e as usava como força policial para manter os arruaceiros na hinha durante os festivais e jogos. O prefeito e seus homens também eram responsáveis por vigiar a cidade e evitar a insurreição dos muitos escravos romanos. A grande cidade que Pedânio Segundo defendia era o coração Su
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do império, e devia a sua vitalidadade ao rio, às estradas e aos aque-
dutos que serviam como artérias, beneficiando igualmente ricos e pobres. Enquanto apenas os habitantes mais ricos possuíam cômodos para banho em seus lares — alimentados por ramificações dos aquedutos ou pela água trazida por escravos de uma das centenas de fontes e pias localizadas em toda a cidade —, romanos de todas com água coras classes sociais frequentavam os lavatórios DL rente (uma grande tubulação de esgoto chamada Cloaca Máxima
levava os dejetos para o Tibre). Os romanos pobres, cujos apartamentos escuros não tinham cozinhas, ainda podiam admirar os produtos frescos oferecidos em estandes localizados nos movimenta-
dos mercados e ali escolher algo para o jantar, talvez, ou então parar para fazer uma boquinha em uma das muitas tabernas. O
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Tocando um boi de carga com um aguilhão, um robusto lavrador ara a terra, enquanto um semeador lança sementes da sua cesta durante a estação de cultivo outonal. Até o primeiro século da era cristã, a maior parte da lavragem dos campos de proprietários romanos era feita por arrendatários, escravos ou outros empregados.
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contra a audácia e as artimanhas dos ladrões.
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baque poderiam ser derrubados em plena luz do dia por carruagens prontas para uma corrida no Circo Máximo, ter os pés pisoteados por soldados com calçados de solas pontiagudas ou ser jogados longe por escravos que abriam o caminho para o senhor, que era carregado por sobre a turba em sua hiteira. Qualquer um que fosse tolo o suficiente para se aventurar sozinho pelas ruas da cidade em busca de ar puro oude um encontro com uma das prostitutas de roupas cheias de brilho corria sério risco de ser assaltado. E ficar em casa depois que a noite caía não era garantia de segurança para ninguém, pois nem os ' Ao] o
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daquelas que carregavam materiais de construção eram prolnoite caísse. Ainda assim, os pedestres mais descuidados
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todas as carroças, com exceção
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tinha muito com o que se preocupar. As ruas eram tão estreitas que
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era um lugar perigoso, e O prefeito
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MEXENDO COM O DESTINO Duas mulheres observam ansiocamente um velho benzedeiro (extrema direita) fazer uma bruxaria. Muitos romanos tinham
Os romanos ricos, para se defender dessas ameaças, viviam rodeados de guarda-costas. Porém ninguém estava inteiramente a salvo dos criminosos, nem mesmo o próprio Pedânio Segundo. No ano 61, o prefeito e guardião da ordem pública foi encontrado morto em casa. Se a identidade da vítima já causava um choque, as circunstâncias eram ainda mais assustadoras. Pedânio não foimor-
certeza que poderes ocultos controlavam suas vidas, e praticavam a arte da feitiçaria na esperança de alterar a própria sorte ou o des| tino dos outros. Além de lançar feitiços, eles inscreviam encanta-
prios escravos. O motivo do crime nunca foi desvendado. Alguns disseram que
ção” para amaldiçoar os inimigos | edesenhavam símbolos fálicos E
to por um rufião que invadiu a casa, mas sim por um de seus pró- | mentos nas “tabuletas de maldia vítima havia voltado atrás na promessa de permitir que o escra-
vo comprasse a própria a liberdade (escravos de casa valorizados costumavam receber gorjetas e presentes, e alguns, que assumiam
outras imagens de poder nas pá
redes para atrair à fla
ziguar os deuses ou espantá
cargos de responsabilidade, recebiam de seus senhores um pecúlio | maus espíritos. como recompensa). Outros atribuíram o assassinato a ciúmes, dizendo que o prefeito havia se insinuado para um homem por quem o assassino estava apaixonado. Seja qual for a provocação, a lei 60
ns
-omana condenou o escravo à morte pelo crime.
E ele não foi o único a pagar com a própria vida. Em casos como este, todos os escravos da casa
da vítima eram considerados culpados por asso-
ciação e também estavam sujeitos à pena de mor-
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te. O prefeito assassinado possuía um enorme nú-
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mero de escravos — cerca de quatrocentos homens, mulheres e crianças. A dúvida sobre a necessidade de se executar
centenas de pessoas por causa de um único cri-
minoso provocou um intenso debate em Roma. Muitos pensavam que uma execução em massa seria um ultraje, e multidões revoltadas a favor dos escravos sitiaram o Senado quando este se reuniu para avaliar o destino dos cativos. De acor-
do com o historiador Tácito, havia uma sensação recorrente entre os senadores — que, em sua maioria,
medidas extremas eram necessárias para disciplinar uma população de escravos capturada em
muitas nações estrangeiras: “A única maneira de
conter esta escória é a intimidação. Eu sei que inocentes vão sofrer — admitiu —, mas os erros indi-
viduais serão compensados pelo bem que será feito à comunidade”. Nenhum dos senadores se opôs aos argumentos do orador, mas as hordas de romanos que ext-
giam clemência tinham razão para duvidar dos benefícios que a execução traria à comunidade. Algumas grandes revoltas de escravos no passado, como o levante do gladiador Espártaco e seus seguidores em 73 a.C., acabaram por causar enormes danos à sociedade. No entanto, neste caso a agressão dizia respeito a muitos homens de posses. “Você tem tantos Inimigos quanto escravos” dizia O
“Você tem tantos inimigos quanto escravos” também possuíam muitos escravos — de que a pena
ditado, e escravos de casa tinham acesso a seus
Caio Cássio Longino, descendente do homem de mesmo nome que ajudou a planejar o assassinato de Júlio César, exigiu a morte de todos os implicados. “Livrem-nos da pena, se preferirem” — preveniu os indecisos. “Mas então, se o prefeito da cidade não é importante o suficiente para ficar imune, quem o será? Quem terá escravos su-
neráveis. Guiados pelo medo, os senadores vo-
proposta era abrangente e severa demais. Porém,
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ficientes para protegê-lo se os quatrocentos que
taram a favor da pena capital. Uma multidão enfurecida, armada com pedras e tochas tentou impedir a execução, mas Nero enviou tropas para debelar o protesto, e todos os condenados foram executados. Para um dignitário chamado Cingônio Varro, nem mesmo a execução de quatrocentos escravos
ou a ajuda de outrem. “Os senhores realmente acreditam que um escravo conseguiria planejar O
tos que trabalhavam sob o teto da vítima na hora do assassinato fossem deportados. Nero, entretanto, rejeitou a proposta, considerando-a injusta. Talvez este singular ato de clemência da par-
Pedanius possuía foram poucos?” Cássio Longino ridicularizou a idéia de que o assassino poderia ter agido sem O conhecimento
era suficiente. Ele queria que os escravos liber-
* assassinato de seu senhor sem deixar escapar uma única palavra imprudente ou ameaçadora? Ou | vamos aceitar a tese de que ele manteve segredo, * Conseguiu uma arma sem chamar atenção, pasna Sou pela guarda, abriu a porta do quarto seguran“do uma vela, e cometeu o assassinato sem que ntmguém soubesse?” Longino ainda acrescentou que
te do imperador tenha significado uma concessão à grande população de ex-escravos, ou homens
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senhores nas horas em que estes estavam mais vul-
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libertos, alguns dos quais haviam saído da servidão para se transformar em homens de negócios proeminentes e em administradores imperiais
O sucesso destes homens mostrava que na ordem social romana, apesar de todas as injustiças, ain41
ROMANOS
ORGULHOSOS
DE TODAS AS CLASSES
da havia a possibilidade de ascensão. O destino dos escravos do prefeito demonstrava os perigos enfrentados por aqueles que estavam nas classes
mais baixas, mas muitos escravos, ex-escravos €
cidadãos comuns encontravam maneiras de lucrar com seus próprios talentos e de ascender socialmente. Não eram apenas os aristocratas romanos que se consideravam diferentes, indivíduos cuja orlgem vinha das classes baixas, como Tiro, escra-
vo do orador Cícero, que ganhou
a liberdade
por servir de forma brilhante como secretário
particular de seu senhor, ou o poeta Horácio, filho de um homem liberto que ganhou o favor dos ricos e poderosos de Roma, mas que celebrava em seus versos a humildade e as virtudes do campo, personificadas por seu vizinho, o arrendatário agrícola Ofelo. Outros homens e mulheres sem berço esplêndido deixaram pequenas, porém duradouras, marcas para a posteridade, ao defender seus direitos no tribunal
ou ao ser bem-sucedidos nos negócios, como aqueles que fizeram de Pompéia um lugar tão
vibrante às vésperas da erupção do Vesúvio, no ano 79. Como as histórias confirmam, o mun-
do romano era um palco em que atores de todas as classes sociais podiam extrair o máximo
do papel destinado a eles ou, ainda, aspirar a
um papel diferente. Para Cícero e Tiro, os laços que ligavam senhores e escravos não podiam ser mais fortes. Criado no início do século I a.C. na casa de Cícero em Arpino, perto de Roma, Tiro era mais jovem que este, que pertencia ao segundo nível da elite romana — a poderosa ordem cavalariana — e soube usar sua fortuna e sua grande habilidade como orador para alcançar a posição de
senador e ser eleito cônsul. O talentoso Tiro estava entre os artifícios de que Cícero se valeu para conquistar distinção como novus
homo, ou “novo homem”. Anteriormente, alguém pertencente à casa, talvez o próprio Cícero, havia reconhecido naquele interessado menino escravo as qualidades de um excelente secretário, garantindo-lhe o aprendizado. Como Cícero e outros romanos da eli-
te, Tiro era literato em latim e muito provavelmente dominava também o grego.
Por ser um escravo de casa com boa educação, Tiro era muito
melhor que a maioria de seus companheiros de escravidão. Havia mais de cem mil escravos somente em Roma e provavelmen62
Dois escravos temperam um cervo para a refeição matinal do seu senhor, desjejum muito mais farto do que O deles. Os escravos, como qualquer romano pobre, alimentavam-se basicamente de cereais, suplementados
com azeitonas, figos e outros lambiscos.
te cerca de dois milhões em toda a Itália. Pou-
cos eram tão afortunados quanto o secretário de
Cícero. Muitos haviam nascido na escravidão;
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outros foram abandonados quando crianças, ou levados por piratas ou exércitos de conquistado-
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Muitos escravos realizavam trabalhos desumanos nas minas, e outros tantos serviam como remadores em navios mercantes. Os mais infelizes
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priedades rurais em que as rações eram medidas, como aquelas dadas aos animais. Um tratado de agricultura de Catão, o Velho aconselhava os proprietários de terra a alimentar os escravos com cereais ou pão, vinho de baixa qualidade feito com casca de uva e azeitonas que não serviam para a prensagem em azeite. Catão acrescentou que os senhores deveriam doar túnicas e capas velhas para os escravos, que
seriam transformadas em patchiworks. Alguns es-
cravos eram marcados a ferro pelos senhores, e
outros recebiam colares de metal para que fossem
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ROMANOS ORGULHOSOS
DE TODAS AS CLASSES
identificados e devolvidos em caso de fuga. Eu
fugi do meu posto” — dizia o colar de um escravo romano. “Devolva-me à barbearia próxima ao templo de Flora”. Mesmo escravos de casa, que executavam tarefas agradáveis em ambientes confortáveis, às vezes eram expostos a tratamentos cruéis e obscenos, pois não tinham direito de resistir aos avanços sexuais dos senhores. Escravos com donos conscienciosos podiam escapar a tais indignidades, mas ainda assim deviam adular a seus superiores. Tiro se sobressaía nestas cortesias e continuou a seduzir Cícero e companhia mesmo depois de alcançar a liberdade. “Você é um sedutor!” Escre-
veu-lhe certa vez Cícero. “Ficamos duas horas em Tirreu, e nosso anfitrião Xenomenes
se tornou
um admirador seu, como se já o conhecesse intimamente.” Como escravo, Tiro era definiNY;
do legalmente como res mancipau,
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manuscritos produzidos por ambos como “meus (ou nossos) filhos da criação literária”. É possível que Tiro tenha se tornado valioso
demais como escravo para Cícero, porque, ape. sar do orador constantemente falar em libertá-lo, a promessa tardava em ser cumprida. Para Tiro,
deve ter sido difícil lidar com o assunto, pois todos os senhores esperavam fides, ou lealdade abnegada, de seus escravos, e a vaidade de Cícero
era tanta que ele via a si mesmo através do melhor prisma possível, e esperava que os outros também o fizessem. Será possível que o homem
considerado o pai de seu país fosse tudo menos um senhor justo e generoso? O fato é que Tiro, com mais de quarenta anos
e após uma vida devotada a Cícero, era ainda um escravo. Ele não tinha nenhuma razão para reclamar do ambiente em que se encontrava, estivesse supervisionando uma das propriedades ru-
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“Pode se despedir de seus modos cítadínos -
você é agora um proprietário rural romano ou “item de compra”, o que dia ser vendido ou alugado, tra forma de propriedade. para não ser negociado era
significava que pocomo qualquer ouSua única garantia se tornar indispen-
sável para Cícero, e foi o que ele fez ao se encar-
regar de um grande número de tarefas importantes. Enquanto Cícero estava em Roma, ocupado com a própria carreira como homem público, que o levou à posição de cônsul em 63 a.C., Tiro deve ter atuado como contador e ajudado o senhor na administração das muitas propriedades rurais que este possuía. Fo1 como se-
cretário de Cícero, porém, que Tiro fez sua maior
contribuição. Usando um sistema de estenogra-
fia que aperfeiçoou, chamado de anotações tironianas, Tiro gravou um grande número de anotações e de discursos de Cícero e assim ajudou a preservar a elogiiência do senhor por escrito. Mais do que um escriba, o escravo era editor e conselheiro de Cícero, que uma vez descreveu os 64
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rais de Cícero ou em conferência com ele na belíssima casa no valorizado Monte Palatino, revestida com mármore grego e protegida do sol por olmos. Mesmo o escravo mais bem tratado, no entanto, trabalhava sobrecarregado pela an-
siedade. E se o senhor perdesse a fortuna, ou so-
fresse o ataque de opositores políticos? Segun-
do o direito romano,
um escravo chamado a
testemunhar na corte podia ser torturado antes de interrogado, uma medida considerada necessária para se arrancar dele a verdade. De fato, qualquer senhor, pagando uma taxa, poderia conseguir que as autoridades mandassem torturar ou matar um escravo e se livrar do corpo.
Um bom senhor como Cícero jamais subme-
teria Tiro a este tipo de tratamento, mas OS €8
e cravos de um bom proprietário que falecessoh estivesse com dívidas poderiam cair em mãos cruéis. Alguns senhores açoitavam escravos po
causa das menores infrações, tais como não tra
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Revolvendo-se dentro de um moinho, escravos produzem a força necessária para colocar em funcionamento as cordas e polias que suspenderão o guindaste de um construtor.
Para desencorajar a fuga destes escravos tão
sobrecarregados, os senhores ordenavam que usassem colares (acima) gravados com o nome e o endereço do proprietário. Os escravos
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fugidos que eram capturados, ou fugitivi, eram marcados na
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Escribas registram o discurso de
um orador com estiletes, em livros
compostos por várias tabuletas cobertas de cera.
As FERRAMENTAS
DOS LITERATOS
A. tabuletas de escrita retornaram com um pedido de desculpas” escreveu o poeta Ovídio depois de receber um bilhete de sua amante cancelando um encontro. “Deus apodreceu a madeira com vermes e a cera com mofo!” Por mais que o poeta amaldiçoasse as tabuletas de madeira cobertas com cera, nem ele nem seus colegas romanos poderiam trabalhar sem este material. A sociedade romana era literata, e a escrita penetrava em todos os aspectos da vida. No trabalho os mercadores assinavam contratos e os escribas transcreviam os processos penaís. Nas ruas, pregoeiros e facções políticas enfeiavam os mu-
ros da cidade com notícias e grafites. Em casa, os
membros da família escreviam cartas e faziam as con-
tas das despesas do lar.
Os romanos possuíam vários materiais para escrita, incluindo as tabuletas desprezadas por Ovídio,
que podiam ser reutilizadas. Os escritores gravavam
a superfície de cera com um estilete pontiagudo,
de um lado, como o de ponta de marfim, e do outro lado, liso, faziam a correção de erros e preparavam
uma nova superfície para a escrita. Para cartas OU registros, os romanos geralmente escreviam no papiro, usando canetas de junco ou metal (abaixo,
direita) molhadas em uma solução que continha tinta de polvo. Não importa o meio usado, os leitores de um escritor romano sempre encontravam um
desafio formidável ao tentar decifrar o texto. Geralmente não havia espaços entre as palavras, e à pontuação era rara.
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Neste retrato, um jovem casal pompeano
mostra seu amor pelo conhecimento ao segurar apetrechos para escrever.
Esta “tabuleta de maldição”, de Bath, na Inglaterra, lança um sortilégio sobre o homem que seduziu a amada do autor: "Que ele, que levou Sílvia de mim, fique líquido como a água. [Que] ele, que obscenamente a devorou, fique estúpido”.
ROMANOS
ORGULHOSOS
DE TODAS AS CLASSES
zer água quente tão rápido quanto necessário. Alguns sádicos adoravam
descobrir
novas
maneiras
para
torturar ou
matar
escra-
vos fugidos. O escritor romano Plínio, o Velho contou sobre um cavalariano entediado chamado Védio Pólio, que encheu os Te-
UM INCESSANTE FLUXO DE DEUSES
servatórios de água de sua propriedade com lampréias carnívoras, alimentando-as com escravos condenados por seja que ofensa fosse, simplesmente porque tinha prazer em ver um homem ser despedaçado. Uma vez, enquanto recebia o imperador Augusto, Pólio ordenou que um menino escravo fosse jogado às lampréias por ter quebrado um copo. Afrontado pela brutalidade de seu anfitrião, Augusto impediu a execução ao ordenar que todos os copos da casa fossem quebrados, para mostrar que o menino não podia ser punido por fazer algo que o imperador também havia feito. Para Tiro, a liberdade representava não apenas proteção contra as crueldades aleatórias da escravidão, mas a chance de experimentar a preciosa liberdade exaltada por Cícero e pelos antigos oradores gregos e romanos que tinha como modelos. Alguns romanos legaram a liberdade de seus escravos em testamento, mas Tiro não possuía nenhuma garantia de sobreviver a seu dono € podia apenas esperar que Cícero seguisse o exemplo de outros senhores, que deram a seus escravos a liberdade pelos serviços prestados. Uma escrava fértil, por exemplo, poderia ser emancipada por ter dado à luz muitos filhos, que continuariam sendo propriedade do senhor depois que ela fosse libertada. Tiro, com certeza, havia feito o bastante para ter direito a uma recompensa como essa.
“Dos continentes vizinhos, de to-
dos os lugares, um incessante fluxo de deuses derrama-se em Roma” - exclamou um visitante
grego. “O que não pode ser visto
em Roma, não existe”. Mercadores importavam âmbar do Báltico, sedas da China e especiarias
da Índia, e a maior parte destes
carregamentos chegava por via marítima ou fluvial.
Barcaças, como esta abaixo carregada com vinho, trafegavam nos rios, na maioria das vezes impulsionadas por escravos a remo, enquanto os navios, como estes com velas arríadas na cena portuária à direita, cruzavam os mares, enfrentando tempestades e, algumas ve-
zes, até mesmo naufragando. O rico escravo liberto Trimalquião, na obra
Satyricon, de Petrônio, relatou ter perdido cinco navios na sua última diligência. “Você acha que aquilo
Por fim, Cícero estipulou uma data para libertar Tiro, talvez preo-
me interrompeu?” - gabou-se ele -
cupado com a saúde de seu escravo aflito. “Você deve se preparar para retomar os serviços às minhas musas”, escreveu Cícero, em abril de 53 a.C., para encorajar um convalescente Tiro. “Minha promessa será o cumprida no dia combinado.” Depois de cerca de um mês ou dois, o jovem irmão gases de Cícero, Quinto, escreveu-lhe para dar
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os parabéns por libertar Tiro. “Acrediteme, eu pulei de felicidade” — exultou Quinto, depois de congratular Cícero por reconhecer “a antigá posição inferior [de Tiro] e por preferir tê-lo como amigo e não como escravo”. A lealdade de um escravo era 1mportante, continuou Quinto, mas Tiro devia ser valorizado principalmente por causa de seus “feitos literários e por sua
“Eu comprei mais navios, maiores, melhores, mais bem-afortunados...
e os abarrotei novamente com vi-
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fumes e escravos”.
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nho, toucinho, banha, feijões, per-
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conversa e cultura”.
Como um homem livre, ou libertus, Tiro
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ROMANOS
ORGULHOSOS DE TODAS AS CLASSES
dia adquirir uma propriedade. No en-
Os moradores menos favorecidos da cidade habitavam casas modestas, como esta em Herculano (acima) - dividida por duas famílias, uma em cada pavimento -, ou ocupavam prédios de apartamentos maiores. Na maioria dos casos, eles tinham que recorrer às latrinas públicas (à esquerda).
tanto, a fidelidade a Cícero não terminou com
a alforria, pois Tiro havia se
tornado cliente de Cícero, e, por Isso, deveria mostrar a seu patrão não só /fi-
des, mas também
outras formas de de-
voção — incluindo pietas, ou o respeito
devido ao pai por um filho; e talvez operae, ou serviços, na forma de um núme-
ro de dias de trabalho por ano. liro continuou a trabalhar como secretário e colaborador de Cícero, e deve ter rece-
bido recompensas financeiras por seus serviços, porque, por fim, acabou adquirindo uma propriedade no campo. O filho de Cícero, que estudava fora, em
Atenas, em 44 a.C., escreveu a liro para
dar-lhe os parabéns pela compra: “Pode se despedir de seus modos citadinos — você é agora um proprietário rural romano!” Poucos homens libertos poderiam ter se saído tão bem. Muitos, liberados não
só da escravidão, fortos da casa do gar nada melhor to apertado em
mas também dos consenhor, não podiam pado que um apartamenuma das construções
pobres de Roma, ou insulae, que tinham
até seis andares e estavam propensas a incêndios e desabamentos. Alguns ho-
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mens livres, usando as habilidades ad-
quiridas no período de escravidão, esta-
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beleceram-se como artesãos, alugando lojas no rérreo de prédios de apartamentos, e viviam nessas lojas ou em cômodos contíguos. Os moradores dos apartamentos enfrentavam um calor sufocante no verão e um frio congelante no
chaduras. As condições eram tão ruins, confidenciou, que “não só os inquilinos, mas também Os ratos tinham mudado dali!” Mesmo depois de
ca de um pequeno braseiro contendo carvão. Os encanamentos eram raros ou inexistentes, e va-
cliente devia a seu patrão a honra de saudá-lo
suía haviam desabado e que outros tinham ra-
atingir o status de proprietário de terras, Tiro
inverno, levemente diminuído pela chama fra-
ainda reconhecia Cícero como seu patrão. Um
regularmente em casa e talvez de fazer parte do séquito quando este seguia em liteira para o Fó-
sos de flores nas poucas janelas eram, com frequência, os únicos enfeites. Cícero, ele próprio
rum ou o Senado. Como patrão e cliente, Cícero e Tiro nunca seriam iguais, mas o relacionameto de ambos não era apenas cordial, mas
um dono desse tipo de habitação, reclamou com um amigo que dois dos apartamentos que pos-
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Um oficial distribuí trigo para os necessitados, enquanto mais cereais são entregues.
Sob o reinado de Augusto, a caridade alimentava quase 320.000 romanos diariamente.
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Agarrando-se a postes e dando as mãos para não escorregarem, dois
operários pisoteiam uvas
em tonel raso enquanto
um terceiro desequilibra-
se sob uma cesta transbordando de frutas, A cada setembro, quando as uvas eram colhidas, os donos de vinhedos contratavam muitos trabalhadores temporários para
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aumentar a força de trabalho regular.
íntimo, como uma relação entre pai e filho. Cer-
ta vez, em uma carta, Cícero Instou o ausente Tiro a cuidar bem da saúde: “se você me ama,
e se você não tem uma boa desculpa para não fazê-lo”. Cícero continuou, lembrando a Tiro que era necessário para uma boa saúde: boa digestão, nada de fadiga, uma caminhada curta, massagem e evacuação eficiente. Espero que volte em boa forma. Laços de responsabilidade e afeição impunham que Tiro não desafiasse ou embaraçasse Cícero enquanto este vivesse — nada sério, considerando
a intimidade de Tiro com os pontos fracos do patrão. Como devia ser, Tiro esperou até a morte de Cícero — executado em 43 a.C. por ordem de Marco Antônio — para escrever uma biografia do orador. Apesar do relato de Tiro ter-se perdido, dizse que ele falou da vida de Cícero de uma maneira mais franca do que o antigo senhor poderia desejar. Tiro, entretanto, não tinha razão para se desculpar. Ele já não precisava mostrar submis72
são a Cícero, e honrou de forma justa a memó-
ria do orador, ao publicar muitos de seus discur-
sos e de suas cartas postumamente. Diz-se que Tiro viveu até os cem anos, o que significa que vi-
veu pelo menos a metade da vida como um homem livre.
« E etiz é o homem que se mantém longe do mundo dos negócios” — escreveu o poeta romano Horácio — “e que cuida da fazenda da famí-
lia com seu próprio gado; que evita emprestar
dinheiro, que não é um soldado roubado de seu
sono por uma corneta ou que treme de terror nº
mar bravio; que evita o Fórum e [continua nº próximo arquivo] a soberba tolerância de nos-
sos cidadãos mais importantes. Ao invés disso, ele atrela aos altos choupos os elos maduros de
suas parreiras, ou posiciona-se num vale isola-
do e examina seus rebanhos de gado mugindo enquanto pastam.”
Essa ode aos prazeres rurais não era tão idílica quanto parecia, pois a personagem que pronunciava essas palavras do poema de Horácio
rácio partiu para Roma, onde teve sorte de en-
contrar trabalho como funcionário público. Com O tempo, seus talentos literários lhe franqueatam o acesso ao círculo do imensamente rico Caio Mecenas, que tinha relações estreitas com Otávio e lucrara quando os inimigos deste tiveram seus bens confiscados. Mecenas patrocinava o poeta épico Virgílio e outros escritores brilhantes, a despeito de seu passado político, e restabeleceu Horácio como pro-
era comerciante e agiota com posses para viagens de lazer ao Interior, deixando para outros o trabalho pesado de cuidar da terra e dos
animais. Horácio, que escreveu em torno do ano 30 a.C. sabia bem que o robusto fazendeiro celebrado pela sabedoria popular em Roma era uma raça em extinção. A maior parte das terras cultivadas da Itália estava então nas mãos de ricos senhores de ter-
prietário ao lhe conceder terras no cam-
po.
ras, como Cícero; eles passavam grande parte do tempo na cidade e periodi-
Horácio não tinha ilusões a respeito do que era necessário para se levar uma vida confortável no campo. Só um romano rico — ou alguém que tivesse um pa-
Itália rural, embora tenha encontrado sua vocação em Roma. Quinto Horácio Flaco nasceu em 65 a.C,
filho de um ex-escravo que adqui- |/ rira terras em Apúlia — região
fértil na Itália meridional — mas ganhava a vida principalmente como leiloeiro público, recolhendo bens de pesque endividadas soas
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“dio de Bruto. Depois disso, as terras queo pai de Horácio adquirira foram
* Sonfiscadas como parte de iniciativa de — Otávio e companheiros de triunvirato
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* mente às custas de seus inimigos. Ho-
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montes de feno, colméias e
tagarelice. Todos os outros que tinham esperança de
tários ou meeiros.
No final do primeiro século
a.C., muitos donos de terras aban-
educação refinada ao filho, cujo futuro parecia brilhante. No entanto, durante o período em que
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maior parte do trabalho de agricultura era realizado por escravos, empregados, arrenda-
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Uma estatueta de prata evocando os encantamentos rurais apresenta um pastor carregando uma ovelha numa correia engenhosamente equilibrada pelo peso de um jarro.
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camente visitavam suas propriedades no campo. O próprio Horácio cresceu na
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ROMANOS
ORGULHOSOS DE TODAS AS CLASSES
Parte desses grãos era gratuita — fornecida como tributo por províncias subjugadas — e as importa- . ções baixavam os preços. Durante os tempos de | vacas magras, os escravos tinham de ser alimen- |
Como poeta, Horácio tinha pouca preocupa. ção com as atividades mundanas que permitiam a Ofelo e família satisfazer suas necessidades simples. A terra tinha que ser arada e adubada, as
os empregados podiam ser demitidos, e os arrendatários tinham de pagar sua parte ou enfrentar a desocupação das terras. Os arrendatários muitas vezes tinham a obrigação extra de prestar serviços sem pagamento durante alguns dias por ano. No entanto, alguns fazendeiros que tivessem perdido as terras recentemente, por dívidas ou confisco, preferiam trabalhar na terra dos outros a se mudarem para a cidade e juntarem-se às multidões em fila para receber grãos, em doações destinadas a evitar agitações. Entre os que preferiam ficar no campo como arrendatários estava Ofelo, descrito por Horácio como antigo vizinho seu em Apúlia. Ofelo já tinha sido dono da terra em que trabalhava, mas sua propriedade havia sido confiscada e
vadas com enxadas, as ervas daninhas tinham de ser arrancadas e os terrenos, Ixrigados. Depois as obrigações eram
tados e vestidos às custas do dono, ao passo que
concedida a um veterano chamado
Umbreno,
provavelmente como parte do mesmo confisco que havia tomado as terras da família de Horácio. Ofelo ficou nas terras como arrendatário do novo dono. Para Horácio, ele incorporava as virtudes rurais. Em um de seus poemas, Horácio elogiou Ofelo como “filósofo sem escola, de rude sabedoria inata” e lhe apresentou como “modelo de parcimônia e firmeza em tempos difíceis. Você pode vê-lo em sua pe-
quena fazenda, agora propriedade de outros, com o gado e os filhos, um fazendeiro
forte, e essa é a sua história.”
Os moradores da cidade que perdiam saúde
e riqueza em banquetes, advertia Horácio, fa-
riam muito bem ao observar Ofelo, que "não era homem de comer mais do que verduras e um pedaço de pernil defumado em dia de trabalho”. E o fato de ser parcimonioso não significava que fosse avaro. Quando recebia visitas, Ofelo oferecia “frango ou cabrito” direto de sua criação, com sobremesa sim-
ples, mas saborosa feita de passas e nozes e figos”. De que mais se precisava do que isso e um pouco de vinho, para suavizar as preocupações de um rude golpe”? 74
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sementes tinham de ser lançadas em fileiras ca-
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alimentar, ordenhar os animais, cuidar também de suas crias, e na época da colheita era necessáio colher os frutos, amontoar o feno, pisar as
uvas, prensar as azeitonas e moer os grãos. O inverno úmido do Mediterrâneo também não dava
descanso, pois havia cercas a serem refeitas e telhados a consertar. A maior parte dos fazendeiros romanos tentava periodicamente deixar inativa parte de suas terras. No entanto, os recursos não só do solo, mas também dos fazendeiros deviam ser levados a extremos quando tinham que conseguir o suficiente para pagar o arrendamento. Ofelo e outros nessa situação podiam solidarizar-se com o lamento do fazendeiro “desde o dia em que nasci, vivo do trabalho em minhas terras; jamais tivemos descanso, nem eu, nem a minha terra”. Talvez o verdadeiro Ofelo fosse me-
nos contente com seu terreno do que era o ho-
mem descrito por Horácio. Porém, o poeta sabia como era ser destituído, e admirava a tenacida-
de e paciência que mantinha fazendeiros como
Ofelo ligados a suas terras e à seu ofício, até mesMo se outros colhessem os benefícios. “Hoje a terra está no nome de Umbreno, antes disso era
de Ofelo e a ninguém pertencerá para sempre”,
concluía Horácio. “Vivam, portanto, como bra-
Vos, e com coração valente consolem-se dos golpes do destino”. Em
todo o Império Romano havia inúmeros
homens e mulheres como Ofelo, gente que podia ser juridicamente livre, mas que tinha que
trabalhar para os outros em situação adversa. No entanto, não estavam inteiramente à mer-
cê de seus senhorios ou patrões. Alguns tinham contratos que descreviam as tarefas que se esperava que cumprissem, e o que teriam como paga. Os termos podiam não ser generosos, mas eram estabelecidos legalmente e os arrendatários e empregados, assim como os patrões, podiam apelar para a justiça se achassem que o contrato não estivesse sendo cumprido. Essas questões eram via de regra resolvidas por ma-
Uma babá aconchega e embala uma criança em seu peito carinhosamente. Mães e responsáveis incapazes de dar de
mamar a seus filhos ou cansadas demais podiam usar uma mamadeira (abaixo). O criticava a prática de deixar os criados ou uma criança de origem nobre, que crescia * suas histórias e mentiras ignorantes”.
para fazê-lo, historiador Tácito escravos criarem “mergulhada em
gistrados, que deveriam ser imparciais, baseados nos termos do contrato e em sólidos precedentes jurídicos. Um caso intrigante desse tipo chegou às mãos de um magistrado romano no Egito no ano de 49 d.€., cerca de 50 anos após Otávio ter tomado a terra. Um defensor que representava um homem de recursos chamado Pesúris apresentou uma queixa contra uma mulher chamada Sareu. Pesúris tinha recolhido “uma criança do sexo mas-
culino de um monte de estrume”, declarava o ad-
vogado, e havia em seguida contratado Sareu como nutrix, ou ama-de-leite da criança. Em muitos locais do mundo romano os pais abandona-
vam os filhos indesejados em lugares ermos para
que morressem ou fossem levadas por outros, geralmente como escravas. Pesúris contratara Sa-
reu como ama-de-leite para essa criança enjeitada, chamada de Héraclas, com certeza na
esperança de que o menino crescesse e pagasse
pelo investimento como escravo.
75
SE
ROMANOS
ORGULHOSOS
DE TODAS AS CLASSES
Sareu era uma mulher livre, mas deve ter tido problemas financeiros sérios para aceitar
esse emprego, visto que o salário oferecido para
uma ama-de-leite era baixo e o contrato podia trazer termos exigentes e intrusivos. Alguns contratos proibiam relações sexuais durante o aleitamento, por exemplo, baseado no fato de que essa prática diminuiria o afeto pela criança ou estragaria o leite. À ocupação não exigia muito além da habilidade de cuidar de uma criança. Sareu atendia aos requisitos, pois tinha aca-
bado de desmamar o próprio filho.
Embora as escravas às vezes servissem como amas-de-leite, não era uma tarefa estritamente subalterna.
Na sociedade romana, as amas-de-lel-
te não só livravam as mulheres ricas da obrigação da amamentação, tarefa por vezes considerada abaixo de sua dignidade, como também trabalhavam como babás ou governan-
tas das crianças que desmamavam. Sareu, no entanto, só tinha o compromisso de trabalhar como
ama-de-leite. Foi contratada para alimentar o me-
nino Héraclas na casa dela durante dois anos, e
tudo aparentemente corria bem. O problema surgiu quando ela devolveu a criança a Pesúris. Um
dia, relatou ao magistrado o advogado de Pesúris,
Sareu irrompeu na casa do cliente e levou a criança. A única defesa que apresentou para sua ação, de acordo com o advogado, era que o menino absolutamente não era escravo, e sim livre. O aparente mistério foi esclarecido no tribunal pela própria Sareu, que testemunhou em seu pró-
prio nome (provavelmente não tinha condições de estabelecer advogado). O menino Héraclas havia morrido, confessou, e tal fato impunha que devol-
vesse a Pesúris o saldo de pagamento que havia recebido dele adiantado. Ela e o marido não pareciam ter condições financeiras para fazê-lo, pois haviam ocultado a morte de Héraclas e o haviam
As babás e governantas tentavam manter as crianças fora do alcance dos cabelos umas das outras (acima à direita)
substituído pelo próprio filho quando o prazo che-
divertindo-as com brinquedos tais como à
raclas, mas Pesúris não tinha motivos para recla-
mostradas aqui.
gou ao fim. O menino era mais velho do que Hé-
mar se Sareu lhe devolvia uma criança maior e
mais forte do que esperava — tanto melhor do ponto de vista do senhor. Após separar-se de seu pró76
boneca de trapos e as bolas de gude
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prio filho, Sareu foi tomada por apreensões e o
tomou de volta. “agora estão tentando tirar meu
próprio filho de mim”, testemunhou, melancolicamente. O magistrado não era nenhum Salomão, mas
chegou à decisão que apresentou a ambas as partes. A criança em questão estava presente no tribunal, e ao juiz parecia que era filho de Sareu. Se ela e o marido jurassem que Héraclas havia mesmo morrido durante o período que estava sob cuidado deles, eles poderiam ficar com a criança
desde que devolvessem a Pesúris o dinheiro que deviam a ele. Pesúris talvez tenha dado a impressão de que estava decepcionado com essa decisão, pois o menino valia mais para ele como escravo do que a magra quantia que recuperaria de Sareu. Porém o juiz não viu nenhum motivo para compensá-lo pela infelicidade no investimento no Héraclas de triste destino. Quanto a Sareu, podia ser pobre e imprudente, mas ainda era livre e tinha alguns direitos, assim como seu filho, concluiu o juiz. romana tinha uma certa posição de acordo com a lei. Com certeza, aqueles que tinham profissões desqualificadas, tais como prostitutas, t1nham menos direitos do que outros. As prostitu-
tas não podiam se casar com homens que fossem cidadãos livres de nascimentos, por exemplo, e a lei não lhes concedia a mesma proteção contra
assédio conforme concedia a outras mulheres livres. No entanto, os juízes às vezes faziam concessões jurídicas consideráveis às prostitutas — ou pelo menos a seus clientes. As prostitutas eram isentas de leis contra o adultério imposta por Augusto, por exemplo. Em famoso caso, uma prostituta chamada Manilia processou uma das principais autoridades de Roma e ganhou. O dignatário, Áulio Hostílio Mancino, queria apresentar queixa perante um juri contra a prostituta por tê-lo
ferido com uma pedra do lado de fora de seu estabelecimento uma noite. Para fazê-lo, no entanto, primeiramente teve que apresentar seu caso aos tribunos de Roma, que tinham poder de veto 77
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Aparte os escravos, todo mundo na sociedade
ORGULHOSOS
DE TODAS AS CLASSES
sobre as acusações que julgassem descabidas. Mancino tinha um ferimento para apresentar como prova, €
tinha até mesmo uma desculpa plausível para a visita ao apartamento de Manilia. Na qualidade de edil, controlava as prostitutasee talvez tivesse o direito de fiscalizar suas instalações. Porém, a prostituta Manilia também teve permissão para falar no processo e apresentou aos tribunos uma prova bem diferente daquilo que Mancino pretendia fazer naquela noite. Declarou que ao vir a sua casa, ele não trajava roupas oficiais, mas sim “roupas de festa”, incluindo uma grinalda na testa, sugerindo que estava procurando diversão. Assim sucedeu e ela estava
ocupada na ocasião e não era “conveniente” para ela
que o deixasse entrar. Ele então tentou entrar à força no apartamento dela e ela o expulsou a pedradas. Os tribunos concordaram com ela que não havia nenhuma boa razão para que Mancino se pusesse a chamá-la com roupas tão informais. Deram ganho de causa a Manilia baseando-se no seu direito a recusar-se a receber um homem usando uma guirlanda, fosse qual fosse o seu posto. Os romanos que procuravam melhorar de vida encontravam oportunidades não só em Roma, mas também em muitas cidadezi-
nhas que pulsavam com vitalidade própria. À não mais que 200km a sudeste de Roma, por exemplo, ficava PomE péia, cidade que abrigava pelo menos 10.000 pessoas no ano 79. Assentada aos pés do monte Vesúvio e cercada de campos e
Mulheres romanas com trajes
pastos férteis, Pompéia recebia lã, azeitonas e uvas
dos campos e produzia tecido, azeite e vinho. Um grande terremoto havia sacudido a cidade no ano 62, danificando lares, edifícios públicos e o
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sistema de distribuição de água. Muitos cidadãos de Pompéia tinham abandonado suas casas depois disso e passado a viver em novas mansões ao longo da costa, mas outros permaneceram e participaram da recuperação da cidade. Alguns comerciantes em-
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plexos públicos que abrigavam não só termas, mas
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[anos de todas as classes reuniam-se nas termas. Toda cidade respeitável do império gabava-se de ter pelo
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RELAXANDO NAS TERMAS
também jardins, salas de palestras e bibliotecas. Grande ou pequena, cada uma das termas oferecia ao público um lugar para se exercitar, descansar e socializar. Os clientes geralmente pagavam pequena taxa pela adesão, por uma túnica usada ou vestes mais sumárias, e en-
travam na palestra, ou ginásio, para se mexer até suar um
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os pêlos indesejados. Geralmente, a primeira parada para o banhista era a piscina de águas tépidas do tepidarium, e este seguia depois para o fumegante caldarium, bem aquecido por uma fornalha. Depois de ficar de molho na água quente, os banhistas entravam no frigidarium para um Tevigorante mergulho em águas frias. As termas eram locais barulhentos, como bem sabia o filósofo Sêneca, que tinha morado em cima de uma delas. Ele recordava com aversão os homens musculo-
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pouco, antes de se dirigirem à piscina. Uma ou duas vezes, durante a visita, eram massageados com óleo por atendentes, que removiam a sujeira do corpo ou depilavam
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romana de Bath, na atual Inglaterra — cujo nome advém de suas águas revigorantes -,
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era alimentada por fontes de águas termais. Em outras termas do império, uma fornalha fazia com que ar quente circulasse sob o piso e por entre as paredes para aquecer cômodos e piscinas.
sos que grunhiam alto para demonstrar a todos o afinco com que se exercitavam. Além do alarido, observava, havia um “bêbado brigão, ou às vezes um ladrão flagrado no ato, ou um homem que adorava cantar no banho”. Pior ainda era o “depilador, de voz alta e esganiçada, dando risadas estridentes para ser notado”. Nunca
ficava quieto, queixava-se
Sêneca, exceto quando “ao invés disso, fazia o cliente guinchar ao arrancar-lhe os pêlos das axilas”. No entanto, a maioria dos romanos adorava as piscinas e o burburinho do local, e consideravam as grandes termas públicas umas das maiores realizações dos governantes que as construíram. O poeta Marcial resumiu esse sentimento após a morte de um dos mais famosos imperadores de
Roma: “O que era pior do
que Nero! O que era me-
lhor do que as termas quentes de Nero!
Os atendentes das termas usavam óleo perfumado, armazenado em pequenas
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os clientes, e utilizavam os strigils (a esquer a
para raspar qualquer resíduo de óleo OU sujero
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ROMANOS
ORGULHOSOS DE TODAS AS CLASSES
mercado no meio da semana era uma oportunidade de ver Pompéia no clímax de suas cores. As pessoas que atravessavam os portões depara-
amadas ou admoestavam os mulherengos, como um tal de Restituto, que havia supostamente “en.
bordéis. Alguns visitantes podiam parar por ali, mas a maior parte dos que vinham a negócio continuava a descer as vielas, passando pelas lojas e restaurantes que ofereciam comida à multidão em marcha pelas calçadas elevadas (muito apreciadas nas tempestades, quando a água corria ave-
erupo: “pergunto-me, ó parede, como não tom-
vam-se com todo tipo de hospedaria, tabernas e
nida abaixo). Em toda a cidade, as paredes caiadas ofereciam
um pano de fundo onde se anotar os apoios políticos e os avisos comerciais, muitos dos quais eram grafados por scriptores, ou pintores de anúncios, de mão firme. “PARA ALUGAR
a partir de
1º de julho” — dizia um anúncio —, “lojas na beira da rua com espaço para balcão, luxuosos sobrados e casas geminadas”. Esses anúncios disputavam espaço na parede com os graffiti. Este não é lugar de desocupados” advertia um proprietário aos transeuntes. “Siga seu caminho, vagabundo”. Outros escritores juravam devoção a suas
ganado muitas moças muitas vezes”. Um humorista expressou desprezo pelos grafiteiros como
baste em ruínas de tanto suportar as burrices de tantos escribas.”
No ano 79, Pompéia ainda estava restauran-
do seu fórum, muito danificado pelo terremoto
de 62. Aqui, como em outras cidades romanas, o fórum era o centro da vida pública — uma pra-
ça movimentada, cercada de templos, tribunais e outras estruturas imponentes. Até mesmo du-
rante o período de restauração, uma esquina do fórum era utilizada como
mercado, com pórti-
cos protegendo as barracas de alimento easca- | 4 | os e es nt ia rc me co Os ro. hei din car tro a par es bin compradores barganhavam na galeria apinhada. Entre as atrações havia uma construção co: | berta com um tanque no meio — cheio de peixes | vivos, muito provavelmente, de forma que os fre-
gueses podiam levar pra casa aquele que mais lhe aprouvesse.
cão implora Uma mulher serve vinho ao dono de uma taverna enquanto um
por comida. Para atender ao paladar romano, ela diluiria o vinho e depois 9 aqueceria na lareira que está logo atrás, atulhada com potes. 82
Os romanos em busca de uma refeição podiam procurar por uma das muitas thermopolia, ou
“pontos quentes”, que ofereciam comida quente e bebidas, como esta em
Óstia. Os proprietários gravavam os cardápios em rochas como esta
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Pompéia era uma cidade de aromas e de belas vistas. As brisas do mar carregavam pelas ruas a fragrância de rosas de muitos jardins, mistu-
gas em tons de cor branca acinzentada ou amarelada (cor da lã natural), mas ainda assim precisavam de lavagens periódicas. As togas eram
ro de farinha rançosa despejada aos porcos nas ruas da cidade, ao estonteante buquê dos vinhos,
maioria das casas, não havia espaço nem equipamento para a lavagem de roupas tão grandes - medindo cerca de 6m por 3 m. Os moradores também traziam peças menores para a
rando-a ao aroma de pão das padarias, ao chei-
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o esteio das atividades de lavanderia porque, na
lavagem, tais como túnicas, se pudessem pagar pelo serviço. Pela lavagem de uma túnica, o preço era de quatro sestércios — pagamento de um dia de um trabalhador. As lavanderias em áreas de produção de lá, como Pompéia, mantinhamse ocupadas lavando e eliminando óleo e sujeira de peças de lá recém saídas do tear, preparando-as para a modelagem. Hipseu - ou quem fosse o dono da grande lavanderia — tinha aptidão para o trabalho e não perdeu tempo dedicando-se a essa atividade. Como muitos outros em Pompéia, acordava na madrugada e corria para o trabalho, onde cumprimentava o grupo de cerca de duas dúzias 83
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Ão a. águ a até te en em av su ava lin inc se a praia menos suas tropas não seriam bombardeadas
a nad am er não vas cti spe per as s ma a, lá de cim
€8» ta cos à s no ma ro os o nd ra pe Es . convidativas com s elo cab s seu m co s tõe bre eis rív ter tavam os l azu de os tad pin pos cor s seu e pridos e bigodes, e outros alo cav a m va ta es ns gu Al para a batalha.
determies ess ar anç alc a Par as. big conduziam ro de mei pri am nh ti os dad sol OS nados inimigos, es descer de seus transport
na arrebentação
€ pe-
s sua de o pes o sob lejar contra a praia pedregosa adas, ada esp am luí inc que
armaduras e armas, regisseu em eu rev esc gas e pilos. Como César desembarque
do s igo per os , ha an mp ca de tro dem va ta es que s, iro rre gue “custavam nossos ulres que o o, tip se des sacostumados a batalhas o ” e p de ta tou numa aparente fal as alh bat as do an qu es nel siasmo que não S€ vê j secas são em terras Géestimulá-los, e Para proteger 05 soldados m u a r a p a d r e u q s e à m car fez os navios guinare . o t s o p x e o t i e r i d o c n a l f t assalto aos bretões no se 2
Remando compassadamente, os remadores conduziram as proas de suas galés para dentro da praia, permitindo que as tropas nos conveses alcançassem o ponto cego dos defensores na costa. Os arqueiros lançaram uma saraivada de flechas nos defensores surpreendidos, enquanto fundeiros atiravam pelotas ou pedras pesando quase meio quilo na direção dos bretões, com velocidade mortal. Artilheiros anexos às barreiras disparavam catapultas, que lançavam projéteis maiores que se chocavam contra o inimigo com força sobre-humana, despedaçando escudos e elmos. Os bretões recuaram sob ataque, mas os soldados nos transportes ainda hesitavam. Restou ao porta-estandarte sênior da 10º legião servir de exemplo para o outros. O estandarte de águia que ele carregava na batalha era sagrado para as tropas. “Saltai dos barcos, camaradas, a menos que queirais render nossa águia ao inimigo”, ele bradou. “Eu, a qualquer custo, pretendo servir minha pátria e meu general”. Dito isso, pulou na
água e investiu contra O inimigo, ostentando alto
a águia. Incitados por augelas palavras e zelosos em
101
LUTANDO NO EXÉRCITO DE CESAR
proteger sua águia, os soldados em volta se jogaram na arrebentação e rumaram para a praia. Enquan. to lutavam em direção à terra, os bretões galopavam e os atacavam antes que conseguissem firmar os pés. Incapazes de manter as posições, soldados de várias unidades se amontoaram, esquivando-se dos golpes do inimigo o melhor que podiam. Atento à confusão na praia, César enviou barcos transportando novas tropas para os pontos onde a luta estava mais intensa. Por fim, os romanos reuniram homens sufi-
cientes na praia para montar uma investida organizada, e varreram os bretões da praia. Exaustas e molhadas, as tropas de César tiveram pouca chance de saborear a vitória do desembarque. Sua posição era delicada, e o resultado da expedição ainda deixava muitas dúvidas. De fato, os romanos fariam poucos avan-
ços nos dias seguintes. Notadamente ausente das forças
de César estava sua cavalaria, que embarcou quatro dias depois do restante da tropa ter se dirigido para o continente sob ventos tempestuosos. Essa mesma tempestade
quase fez fracassar toda a força naval, ao danificar os navios. Vendo a desvantagem dos romanos, os bretões armaram planos para renovar a resistência. Até então, contudo, os Invasores que eles esperavam expulsar solidificaram sua posição. A primeira tarefa dos soldados depois de pegarem sua cabeça
de ponte era estabelecer um acampamento. Normalmente, as tropas romanas construíam um acampamento quadrado e reforçavam o perímetro cavando uma trincheira e amontoando a terra solta para formar uma barreira, encimada por uma paliçada de estacas pontiagudas. Era um trabalho pesado para os soldados cansados da batalha, mas eles estavam acostumados: os romanos em marcha construíam esses acampamentos rotineiramente ao fim de cada dia. As tropas de César ocuparam o acampamento por algum tempo e podem tê-lo transformado mais num forte que num bivaque de pernoite. Depois de estabelecido o perímetro, as tropas armavam
suas barracas de couro numa ordem precisa. Uma rua larga separava uma legião da outra, e uma segunda avenida passa-
va perpendicularmente a ela, formando um T; próximos à inter-
seção ficavam os alojamentos do comandante e de seus oficiais. Uma
nme pa am ac seu do ta le mp co em ss ve ti r sa Cé de ns me ho os vez que
a, rn tu no a nç ra gu se a a par as, rac bar s sua a par m ia s ela to, as sentin
os. bar bár os tra con o tiã bas um o ad nt va le am vi ha que de s te en ci ns co nme pa am ac o car ata em ssa pre a um nh ne am nh ti o nã s tõe Os bre
arto romano. Ao contrário, planejavam esperar Os legionários enc
, de ta es mp te da is po de o mp te m gu Al . da mi co ar ur oc pr de s do rega
ns me ho as, cad ifi dan s nau as o nd ta er ns co m va ta es ros out enquanto
da 72 legião arriscaram sair para colher trigo plantado em campos eAp . que ata te for sob am ar lt vo e s tõe bre os pel s ado tiv cul os nh zi vi
102
ps
m co ão uaç sit à a par ou ss re ap se que ar, Cés de ta ia ed im o nas a açã
SQUIPADO PARA A BA-
om
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depois, OS bre-
é o ao acampamento. Em meio à persistente hostilidade Césr César reconheceu o perigo de permane> a
ca dos primeiros imperadores. El-
passagem segura pelo canal em dúvida. Então, firmou um acordo
mos foram reforçados com uma
ponta nã testa e um protetor de pescoço mais longo protegia con-
tra golpes, como no elmo à direi-
ta, vestido por cavalaríanos no pri-
meiro século a.C. E a pesada túnica em cota de malha dos dias de César foi substituída por uma armadura em placas (mostrada na
réplica abaixo), que era flexível e permitia fácil movimentação.
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TALHA. As vestimentas usadas pelas tropas romanas evoluíram na épo-
"|
pr
Constantes eram as sandálias dos soldados que tinham reforços de ferro nas solas para suportar quilômetros de marcha, as túnicas
atéas coxas e a capa como essa
"mostrada no oficial à esquer— da.
cer na Britânia com o inverno e os ventos se aproximando e a
de paz com o inimigo e navegou de volta ao continente em naus remendadas enquanto o clima permanecia favorável.
César logo começou a planejar um ataque em grande escala à
Britânia no verão seguinte. Uma frota espetacular de 800 navios carregou cinco legiões e 2000 cavalarianos através do canal. César e suas forças revidaram as tensas provocações dos bretões e fizeram progresso considerável, mas ao final do verão eles ainda encontraram forte oposição. Mais uma vez, César preferiu aceitar O
acordo de paz oferecido pelos bretões a se arriscar num território hostil durante o inverno com o tempestuoso canal a lhe esperar e gauleses indóceis ameaçando tumultos no continente. César não retornou à Britânia, e quase um século se passaria até que as tropas romanas ocupassem um território lá numa base permanente. Contudo, o fato de os bretões permanecerem hostis não prejudicou a reputação de César. A simples audácia de sua tentativa encantou o povo romano, que viu aí a abertura de mais um capítulo em sua grande história de expansão e conquista. A primeira expedição à Britânia rendeu a César 20 dias de congratulação pública, mais que para qualquer de suas campanhas anteriores. A avidez por tamanha aclamação — e por fortuna, escravos e outros prêmios de guerra — era, para César e outros comandantes empreendedores, mais motivadora que a preocupação com o bem maior de Roma. A propósito, os generais romanos gostavam de apresentar suas campanhas como necessárias e seus nImigos como merecedores de punição. César, por exemplo, justificou seu ataque aos bretões afirmando que eles haviam ajudado os gauleses hostis. Contudo, no fundo, sua expedição foi uma performance de bravura de um general cujos olhos não saíam da opinião pública. Para fortalecer sua posição em casa, ele precisava de novas explorações militares no exterior. Os sonhos de nobres ambiciosos como César podem ter fomentado o crescimento do império, mas eram os soldados comuns e suas ambições cotidianas que garantiam as vitórias e mantinham o vasto mundo romano intacto. Como os generais, os soldados tinham muito a ganhar caso perseverassem nas campanhas, inclusive a divisão dos espólios de conquista e uma chance de promo-
ção. Mas nem sempre se podia contar com essas recompensas, € 103
LUTANDO
NO EXÉRCITO DE CÉSAR
eram convocadas periodicamente da população
outros assuntos paralelos ao interesse próprio mantinham os homens em marcha e lutando — a devoção aos seus companheiros soldados, leais
masculina, donos de terras entre
lhor morrer como um romano livre na batalha a
no Monte Capitulino sob os olhos atentos dos principais oficiais das legiões.
aos comandantes, e a convicção de que era me-
viver como um escravo do inimigo ou voltar para casa derrotado e desonrado.
Roma
começou sua marcha triunfante de cida-
de-Estado para potência mundial centenas de anos antes da época de César. E, na maior parte daquele período, a república o fez sem soldados profissionais. Lá pelo segundo século a.€., Roma não tinha um exército fixo. Em vez disso, tropas
17 e 46 anos
de idade. Os qualificados para o serviço eram cha-
mados a Roma, onde se juntavam às centenas
Os homens eram classificados por idade e altu-
ra, e, para garantir que nenhuma legião monopo-
lizasse os candidatos superiores, oficiais das várias
legiões se revezavam para escolher. Quando o número de candidatos excedia o requerido, os mais
velhos e os menos preparados eram ignorados. Os
romanos consideravam o serviço militar um pri-
vilégio, mesmo que os soldados recebessem ape-
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nas um pequeno subsídio e devessem providen-
ciar suas próprias armas e equipamentos. Esse sistema de recrutamento funcionava su-
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ficientemente bem enquanto as viagens a serviço fossem breves, permitindo que os soldados voltassem rapidamente para suas terras e famílias. Mas como os exércitos romanos se aventuravam cada vez mais longe de casa para subjugar as forças inimigas e guardar as fronteiras distantes, ficava cada vez mais difícil para os ocupados cidadãos soldados cuidarem de suas pro-
auge
ce
priedades ou seguirem uma carreira. Os homens ficavam em campanha por mais de seis anos seguidos e tinham de servir por um total de 16 anos. Por volta do segundo século a.C., a indignação generalizada sobre o recrutamento e a necessidade premente de mais tropas levaram o cônsul romano Caio Mário a relevar a quantidade de material exigido para o serviço, de modo a atrair os cidadãos pobres para as fileiras dan-
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À esquerda, legionários constroem um
forte com blocos quadrados de turfa num detalhe da Coluna de Trajano, um monumento que celebra uma das
"conquistas de Trajano e oferece uma
das melhores ilustrações do exército romano em serviço. Para estabelecer uma fronteira permanente, os romanos construíam fortes de madeira ou
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pedra, intercalados com torres de
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observação como esta acima, reconstruída na Alemanha.
do-lhes armas e equipamento às custas do Estado. Muitos sem-terra romanos que viviam de biscates nas cidades se acotovelaram para se alistar pelo período de 16 anos. Em tempo, os novos soldados profissionais quiseram melhores soldos e bônus de reforma, e a tarefa de prover tais benefícios foi submetida aos ambiciosos generais romanos, que frequentemente usavam suas gratas tropas como
lhes conviesse. Os soldados comandados por Júlio César, por exem-
plo, eram ferozmente leais, e ele manteve essa devoção, em parte, ao recompensá-los com saques de guerra e com bônus de seu próprio bolso. Logo depois de dobrar o soldo, ele conduziu as tropas
para além do Rubicão e expulsou de Roma o rival Pompeu em 49 a.C., antes de persegui-lo até a Grécia e derrotá-lo em Farsália, um ano depois. O golpe de César confirmou a quem ainda duvidasse que o poder supremo devia ser assegurado a ponta de espada. Essa lição não foi perdida pelo seu sobrinho-neto e herdeiro, Otávio,
que mais tarde empreendeu e venceu uma guerra civil contra Mar-
co Antônio e sua amante, Cleópatra, e emergiu como Augusto Cé-
sar, o primeiro imperador de Roma,
Dentre as tarefas mais prementes de Augusto estava a de reduzir o exército romano a um tamanho controlável, inchado que es-
tava pela guerra civil. Ele diminuiu o número de legiões de 60 para 28 e compensou os soldados dispensados com dinheiro e terras;
alguns dos veteranos fundaram novos assentamentos romanos,
tanto na Itália quanto fora dela. As legiões remanescentes ajudaram a fortalecer o império e solidificar suas fronteiras. Augusto completou a conquista da Hispânia e avançou a fronteira em outros lugares, mas seu objetivo era um império seguro com extre105
LUTANDO
midades estáveis. E ele chegou perto disso, embora imperadores posteriores tivessem conquistado províncias adicionais até que o império atingisse o auge durante o reinado de Trajano, no começo
pág.
12-13). Sob
pôde para assegurar sua lealdade prometendo aos legionários um bônus substancial por completar seu tempo de serviço, que foi por ele afixado primeiramente em 16 anos e mais tarde estendido para 20 anos, seguidos por pelo menos cinco anos na reserva. Um legionário reformado receberia um bônus vultoso, equivalente a mais
que um 13º salário, pagável em espécie ou em terrenos de valor com-
parável. Tais medidas eram dispen-
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tes contendas civis. Cada legião era posta sob
comando de um legado, indicado pelo impera-
dor. Poucos legados mantinham seus cargos por
mais de três ou quatro anos, o que diminuía a
chance das tropas ficarem excessivamente devotadas a eles e os que se destacavam podiam se tornar governadores de província. Cada legado era assistido por seis tribunos mi-
litares, o mais alto escalão de um jovem nobre sen-
tindo o sabor de uma vida no exército. A falta de
experiência militar do tribuno era compensada
pelo prefeito do acampamento, normalmente um homem mais velho que subiu os escalões milita-
res e a quem podia ser confiada a direção do acam-
pamento com pulso firme e o comando na ausência do legado e do tribuno militar. Havia também muita experiência entre os centuriões — geralmente rudes oficiais de linha, endurecidos pela guerra, VA que supervisionavam os homens de perto, bradando ordens e seguran-
“A morte por espancamento era a punição para
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em relação às pilhagens; então, Augusto fez o que
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do séc. II (ver mapa,
Augusto, as legiões se fixaram nas terras por elas conquistadas, com acampamentos permanentes que tinham casernas no lugar de barracas. As tropas que passavam a maior parte do tempo defendendo fronteiras podiam esperar pouco
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É-
NO EXÉRCITO DE CÉSAR
qualquer um que roubasse algo do acampamento ou que desse falso testemunho.” diosas, e Augusto pagou por elas com reservas de seu próprio bolso, então cheio pelas riquezas do Egito, que ele declarou como sua província pessoal depois de subjugar Antônio e Cleópatra. Como bom político que era, Augusto se assegurou de que as tropas estavam cientes de sua generosidade. Os legionários recebiam um soldo maior que os muitos auxiliares do exército — estrangeiros das províncias organizados em unidades de até 1000 homens sob comando de um oficial romano. Para manter sua lealdade, os sucessores de Augusto concederam cidadania aos auxiliares com 25 anos de serviço e também aos familiares imediatos destes, possibilitando que seus filhos se alistassem como legionários. Augusto manteve rédea curta ao lidar com os comandantes do exército, fontes de tantas recen106
do uma intimidadora vara de videira para impor disciplina. Os encarregados pelas unidades conhecidas como centúrias — assim chamadas porque foram feitas para serem grupos contendo cem homens, embora o número real variasse — OS centuriões tinham sua própria hierarquia. Cada uma das dez coortes nas legiões tinha um centu-
rião principal, por exemplo, e o centurião principal da primeira coorte carregava o título honori-
fico de primus pilus, ou primeiro pilo, e tinha,
erandes responsabilidades.
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À parte das tropas regulares, cada legião
tir ha.
um contingente de 120 cavalarianos, usados pri: | cipalmente como batedores, escoltas ou mensagei: | ros. (Os cavalarianos que lutavam no exército eram | EF aisam
e
auxiliares vindos de províncias famosas por suashas |
bilidades com cavalos). Também havia alguns A
Um cavaleiro atropela seu inimigo
usa
com habilidades específicas, tais como engenheiros, topógrafos
“ Sarpimteiros, que ajudavam na construção de acampamentos, pon-
nesta cena da lápide de Rufo Sita, um Britânia como cavalariano se topa aux iliar no séc. | d.C. Cavalarianos
nao estavam travando batalhas. Aumentando a lista ainda havia armeiros, médicos e até músicos — uma unidade na África tinha 39 trombeteiros e 56 trompistas para instigar os homens para a ação. Na maioria das vezes, legionários eram profissionais dedicados. Os aspirantes a soldado eram minuciosamente inspecionados. Tinham de ser cidadãos de confiança, sem qualquer transgressão criminal séria. A maioria deles era de jovens entre 17 e 23 anos, qualificados como aptos por recrutadores, que procuravam por candidatos com
ria, a t n a r f m n o a e i h v a u l q a e h m n a g mas menos que Os legionários.
olhar aguçado, peito largo, ombros musculosos, braços for-
o
ERRA,
tes e magros na cintura — altos padrões que não eram sempre aplicados na prática. Da mesma forma, recrutadores para as prestigiadas primeiras coortes tentavam encontrar homens com altura de pelo menos 1,73m, mas poucos romanos da época se en—quadravam nesse ideal. TONRBBN, Uma vez que o recruta tivesse
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admitido para as fileiras e era-lhe dada uma quantia em dinheiro para cobrir os custos da viagem até a sua unidade. Lá ele ingressava num rigoroso processo de treinamento. Três vezes por mês ele marchava por quase 32km, que tinham de ser completados emcerca de cinco horas. Em campanha, cada soldado carregava
não somente suas armaduras e armas, mas também suprimen-
LOS essenciais como serra, picare-
e rações — a ta, foice, cesto, balde maior parte disso entrouxada numa vara sobre o ombro. Tropas assim equipadas, menos dependentes de desajeitados comboios de bagagens, foram uma
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rara
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reforma introduzida anteriormente pelo cônsul Mário, pela qual seus soldados ficaram conhecidos como “as mulas de Mário”. O novato também treinava arduamente para o combate,
107
o Po
— — o — —— -—— e—e
TES, estradas e outros projetos que absorviam os legionários quando
trácio que serviu com os romanos na
LUTANDO
NO EXÉRCITO DE CÉSAR
empunhando escudos de vime e espadas de madeira, e atacando estacas de madeira do tamanho de um homem. Espadas, escudos
e pilos de treinamento eram todos mais pesados que os artigos orlginais para que o manuseio das armas parecesse leve. Outras tarefas de treinamento eram cortar árvores, pular fossos e cruzar rIOS
Os oficiais romanos superiores e suas mulheres, como o casal representado
junto em um túmulo na França, geralmente tinham suas próprias casas nos acampamentos militares
a nado.
permanentes. Centuriões e soldados comuns, por sua vez, legalmente não
to a isso, as condições eram praticamente as mesmas para os solda-
podiam se casar, e quaisquer mulheres
A disciplina era severa para os novatos e para os veteranos. Quan-
dos tanto durante o reinado de Augusto quanto para as tropas romanas dois séculos antes, quando o autor grego Políbio relatou que “a morte por espancamento era a punição para qualquer um que roubasse algo do acampamento ou que desse falso testemunho”. Uma
envolvidas com eles viviam fora da base.
outra transgressão mortal era cair no sono durante a vigilância. Os
que eram pegos cochilando eram condenados a espancamento ou apedrejamento pelos homens cujas vidas eles arriscaram, uma puni-
ção que podia ser mortal. Por ser tão rigoroso, o regime militar era muitíssimo eficiente. O que levava os soldados romanos à vitória não era a superioridade de suas armas, mas a de seu treinamento e disciplina — a notável ordem que mantinham em campo, na estrada e na batalha. Raras vezes essa ordem ruía. Os homens às vezes achavam difícil manter a moral diante da perspectiva de viver a melhor parte de suas vidas num país estrangeiro e hostil, sem as compensações da vida familiar habitual. Embora os oficiais superiores pudessem ter a companhia das mulheres no acampamento, aos legionários não era permitido o casamento — uma regra que permaneceu vigente da época de Augusto até cerca de 200 d.C. Alguns soldados formavam uniões duradouras com mulheres locais e tinham filhos com elas, embora não possuíssem uma união legal. Mesmo os legionários com famílias não-oficiais por perto se irritavam com as restrições da vida militar. Os homens ficavam velhos e grisalhos nas fileiras, ainda sujeitos a repreensões e espancamentos, imaginando se al-
de bônus dos desfrutar m poderia dia gum aposentadoria prometidos. Em raras ocasiões, tais ressentimentos latentes irrompiam em rebe-
Jão direta.
Eos causa de todos os esforços
de Augusto em melhorar o exército e fortificar o império, sua morte em 14 d.C. deflagrou levantes mais sérios nas legiões estacionadas na Europa junto ao Danúbio
ed
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raia
e ao Ho, ção Por
Reno. Os amotinados esperavam pressionar o sucessor, Tibépara a diminuição dos 20 anos de tempo de serviço e i abolido sistema de reserva que submetia os veteranos a convocação mais Cinco anos em caso de emergência. Esse tipo de emergên-
cia surgiu por volta do ano 9 d.C. - um ataque devastador de tri-
bos germânicas que aniquilou três legiões e deixou o exército tão desfalcado ao longo da fronteira norte que muitos veteranos grisalhos prestes a se aposentar tiveram de permanecer. Atiçar as fogueiras da rebelião era a forma comum de denunciar oficiais cruéis ou corruptos.
À revolta começou ao longo do Danúbio, nas províncias recentemente anexadas da Panônia, onde três legiões formavam acampamento. De acordo com o historiador romano Tácito, um firme
apoiador da severa disciplina militar, parte da culpa pela insurreição dos soldados era de seu frouxo comandante, Quinto Júnio Bleso, que, após saber da morte de Augusto, concedeu aos homens um
descanso dos afazeres militares. “Este foi o início da desmoralização entre as tropas” — escreveu Tácito — “ao provocar, ao ouvir a conversa de cada companheiro pernicioso, ou seja, suspirar por luxúria e preguiça e repugnar a disciplina e a labuta”. O líder da agitação, relatou Tácito, era um soldado chamado Percênio, que aprendera como incitar uma multidão frequentando o teatro como chefe de claque. Por que eles deveriam obedecer como escravos, ele lhes perguntava, e se submeter humildemente às ordens alguns centuriões e tribunos? Por que teriam eles de suportar dezenas de campanhas e envelhecer cheios de cicatrizes, e ainda assim ser convocados a permanecer na reserva? Não haveria nunca um fim para “os açoitamentos e ferimentos, invernos árduos, verões cansativos, de terríveis guerras e paz imprestável”? Mesmo os que sobreviviam à provação e chegavam à reforma, disse Percênio, recebiam ofertas de terras em lugar de dinheiro que equivaliam a brejos pantanosos ou encostas inaproveitáveis. Ele instigou os soldados a exigirem medidas imediatas na forma de aumento
substancial do soldo,
restabelecimento dos 16 anos de tempo de serviço, um fim para o tempo de reserva e imediato pagamento 109
LUTANDO
NO EXÉRCITO DE CÉSAR
em dinheiro vivo dos bônus de reforma. Bleso reagiu dirigindo-se ele mesmo às tropas e recomendando a todos que apresentassem suas exigências na forma de uma petição ao novo imperador, Tibério. O comandante até concordou em enviar O próprio filho, que servia como um de seus tribunos, para falar por
eles em Roma. Embora essa proposta tenha sido aceita por aclamação, deve ter causado mais mal que bem, induzindo os soldados a pensar, como disse Tácito, que eles pudessem ganhar “por compulsão o que não conseguiram obter por bom comportamento”. O acampamento ficou calmo por um tempo, mas quando os soldados das mesmas legiões que estavam construindo estradas e pontes souberam dos protestos, fizeram um alvoroço, saqueando a cidade de Nauporto e as vilas vizinhas, e atacando os oficiais que tentaram detê-los. Eles arrancaram o prefeito do acampamento de sua carroça, encheram-
Germânico, sobrinho e filho adotivo do imperador Tibério, era descrito por Tácito como um homem de “temperamento despretensioso”, ao contrário de Tibério, apesar de firmemente leal a ele.
no de equipamentos e forçaram-no a encabeçar a caminhada de uma coluna de soldados zombeteiros que lhe perguntavam como ele se sentia tendo de carregar peso por quilômetros a fio. (Na verdade, o prefeito outrora fora ele mesmo um soldado comum que penou tanto quanto qualquer um.)
Germânico rejeitou a
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proposta de suas legiões na
Germânia em 14 d.C, de
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revolta contra Tibério.
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equipamento em varas, legionários seguem seu porta-estandarte sobre uma ponte sustentada por
barcos num relevo da Coluna de Trajano. Junto com as armas, os homens em marcha carregavam cerca de 30 quilos de equipamento. Esse tipo de trabalho pesado contribuiu para as rebeliões de 14 d.C, quando homens mais velhos de serviço em reserva na Germânia pediram a Germânico que os libertasse de “tão fustigante serviço”.
' Os soldados que pilharam Nau-
acampamento e tentou convencê-lo. De acordo com Tácito, alguns homens agarraram a mão do comandante e “enfia-
orto por fim retornaram ao acam«mento e agitaram novamente. Homens reviraram os assentamentos próximos, € O comandante respondeu ordenando que os centuriões
ram os dedos dele na boca dos soldados,
para que Germânico pudesse tocar as gengivas desdentadas;
vam os membros curvados pela idade”. Germânico ouviu pacientemente as queixas, mas quando os homens ansiosos lhe incitaram a tomar O po-
capturassem, chicoteassem e aprisio-
mi oe pr is ma s re do ea qu sa os nassem nentes como uma lição para os outros. Quando os homens detidos
imploraram por ajuda, seus compa-
der com sua ajuda, ele recuou. Asse-
nheiros invadiram a casa da guarda
verando
sua espada e ameaçou matar-se se os rebeldes não o deixassem ir. Um soldado mais cínico o provocou ao oferecer-lhe a própria espada, dizendo que estava mais afiada. Mas a maioria da tropa não estava disposta a ver seu comandante em deseraça, e foi-lhe permitido retornar para o alojamento. Temendo que a rebelião se espa-
mataram um centurião chamado Lucílio, um disciplinador cruel que
ganhou o apelido de “lraz Mais Uma”, narrou Tácito, “porque quando quebra-
va uma vara de videira nas costas de um homem, pedia em voz alta por mais uma e mais outra”.
Alarmado pela rebehão, Tibério enviou
A
o filho Druso e um destacamento de sua própria Guarda Pretoriana imperial para restaurar a ordem. Primeiro, Druso tentou m co do bi ce re foi s ma , es ld be re os r ua ig az ap u e s m e io ve o in st de o o tã En desconfiança. auxílio. Um eclipse lunar escureceu O céu
OS e qu m a r í u l c n o c os ad noturno, e os sold cor-
lhasse caso não fizesse concessões,
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seu m co es nt te on sc de m va ta es es us de
adra pa u cé O am er ec ur sc ob e portamento
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dani tu or op à ou it ve ro ap o us moestá-los. Dr
e ns me ho s do s re mo te de para explorar os us se ra pa ar lt vo a s le de e rt induziu a maior pa da res re de lí 08 ra pa ou lt vo Então se
deveres. se a s ro ei im pr 08 e tr en belião. Percênio estava ra ra ve ti os tr ou e ados, ut ec ex € os ad ur pt ca rem eih n a p m o c s u e s e u q s i o o mesmo destino dep
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E E . m a r ros os entrega a n m a r a l e b e r se es õ i g e l s a r t u o , so is Enquanto n e t n o c s e d m a i r t u n s a p o r t as e d n o , a i n â m r Ge dir O
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mandante
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a u s r e p m a v a r e p s e € s e t n tamentos semelha
m e e s s a r e d i l os e u o Q c i n â m r Ge
de s i o p e d o g o L . o i r é b i T sevolta contra seu tio, tinada turba de começado o levante. uma obs soldados
se juntou
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volta
de
que “preferia morrer a
abandonar a lealdade”, levantou
e os libertaram. Espalhados por todo acampamento, os rebeldes forçaram a maior parte dos oficiais a fugir e
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outros mostra-
Germânico
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Germânico apoiou as exigências dos soldados, inclusive a desobrigação do dever em reserva para os que tinham “mais de 20 anos de serviço. Mas quando enviados do Senado chegaram ao acampamento, os soldados temeram que as promessas feitas a eles sob coerção fossem revogadas — como de fato foram — e renovaram as ameaças. Eles abordaram e quase mataram o enviado principal, que “só sobreviveu ao procurar imunidade junto ao porta-estandarte da 1º
legião, sob a águia. Às tensões au-
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Esta esplêndida bainha em ouro e prata, com um retrato do imperador Tibério ao centro, pertenceu a um oficial superior romano, que provavelmente a recebeu de Tibério como um presente.
111
LUTANDO NO EXÉRCITO DE CÉSAR
mentaram tanto que Germânico se preocupou com as vidas de seus familiares se eles permanecessem
no acampamento. Sob oposição de sua prima e esposa, Agripina, a Velha — que protestou dizendo que era descendente do divino Augusto” e podia enfrentar perigos sem retroceder — ele a ordenou que partisse com seu jovem rebento, Calígula. A chorosa partida de Agripina, grávida, e do pequeno Calígula, o mascote do acampamento, enver-
gonhou as tropas. Explorando o remorso de seus homens, Germânico os repreendeu e os desafiou a expiarem seus pecados. Ávidos em escapar das punições, as tropas cercaram os líderes da revolta e os golpearam até a morte. “Os soldados se regozijaram
da carnificina” — escreveu Tácito — “posto que ela lhes trouxe absolvição”.
O. futuros imperadores evitaram ao máximo tais insurgências, assegurando a lealdade do exército:
uma das primeiras ações ao chegar ao poder era pagar um bônus às tropas. As rebeliões de legionários no futuro, contudo, seriam
para defender as pretensões de seus comandantes ao poder supremo. Os soldados apoiavam a autoridade do imperador reinante com mais frequência do que revidavam os ataques de in1migos ou subjugavam rebeliões dos povos dominados. Uma dessas rebeliões foi deflagrada na Judéia em 66 d.C., e quando ela terminou, muitos anos depois, as tropas romanas e suas terríveis máquinas de cerco irromperam as muralhas de Jerusalém e reduziram a cidade toda a escombros. Uma testemunha do cerco foi Yosef Ben-Matityahu, mais conhecido pelo seu nome romano Flávio Josefo. Nascido em cerca de 37 d.C., em uma família aristocrática, ele cresceu numa at112
ROMANIZANDO AS PROVÍNCIAS A
Gália está repleta de co-
merciantes e apinhada de cidadãos romanos”, escreveu Cícero no primeiro século a.C. “Ninguém na Gália jamais faz negócios sem o envolvimento de um cidadão romano”. Cícero estava se referindo aos romanos que migraram da Itália para a Gália e para outros territórios ocupados para dirigir essas províncias, mas, com o passar dos anos, muitos
províncianos absorveram à língua, à cultura € às leis romanas, rornando-se cidadãos. Os roa simsu m a v a t s i u q n o c manos patía em parte por construírem
pequenas versões completas de
temRoma império afora, com pú as rm te s, ro at te , as en ar , os pl
blicas e fóruns. Algumas des-
sas cidades, como Colônia, na
Germânia (atual Alemanha), eram completamente novas. Outras, como a velha víla gaulesa de Nemausus, (Nimes, na França atual), foram grandemente ampliadas e acrescidas
de monumentos romanos tais
como a Ponte do Gard (abai-
xo), uma ponte construída no começo do séc. | d.C. para conduzir um aqueduto até a cidade. Um suprimento confiável de água ajudou Nimes a crescer como um grande centro administrativo e mercante, e mui-
tos dos que se aventuraram para lá, vindos de áreas adjacentes, sentiram atração pelo estilo de vida romano. Um processo semelhante se repetia nas províncias romanas por todo o Mediterrâneo e ajudou a trazer uma era de pro-
longada paz relativa - conhecida como Pax Romana - para um império forjado por meio
Remanescente dos murais em Pompéia e noutras cidades italianas, esta pintura mural representando Baco, o deus romano do vinho (acima), adornava
uma casa em Colônia, Alemanha, uma cidade fundada ao longo do rio Reno como colônia romana no século primeiro d.C.
Legenda inferior: Os arcos da Pont du Gard nos arredores A água corria mais de 48m
atravessam o de Nimes, na em um duto, acima do nível
rio Gardon, França. no alto, a do rio.
113
LUTANDO
NO EXÉRCITO DE CÉSAR
de conquistas e repressão. Os administradores romanos, em sua maioria, eram práticos e toleravam as tradições nativas, contanto que não interferissem nas prerrogativas imperiais, tais como o recolhimento de impostos ou o cumprimento dos rituais do Estado. Os moradores de áreas rurais eram fortemente apegados aos seus costumes locais, mas os que se retiravam para a cidade logo aprendiam a se comportar como os romanos. “Aqueles que até há pouco desdenhavam da
língua de Roma, agora anseiam sua eloquência”, - escreveu Tácito aos celtas da Britânia romana no começo do séc. II d.C. “Também por isso, surgiu uma preferência pelo nosso estílo de roupa, e a toga ficou na moda”. Tão profundo e contínuo era o impac-
Uma fachada com colunas proporciona um grandioso cenário para este teatro de modelo romano na cidade síria de Palmira, um centro comercial ligado por caravanas ao Golfo Pérsico e à
Índia.
to romano nas províncias, que
muitos belos trabalhos de modelo clássico sobrevivem hoje ao longo de uma vasta área como lembrança de um tempo em que Roma propunha sua majestade ao mundo.
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mostera de crise e disputas na Judéia, que a sob domínio havia pouco tempo. Muitos de lá ansiavam pela independência. Alguns esperavam pelo messias, um ungido
o pórtico em arcos para O cuide “dade tunisiana de Dougga emoldura im templo dedicado aos três deuses orincipais do estado romano: Júpiter
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descendente da casa de Davi e enviado por
Deus para livrar o povo de suas opressões, como estava profetizado nas escrituras. Um pequeno grupo messiânico, cuja fé, do romano, afirmou que o salvador tinha aparecido recentemente — um homem chamado Jesus, nascido na cidade
judia de Belém durante o reinado de
Augusto e mais tarde crucificado pelas tropas romanas em Jerusalém, para logo depois se levantar do túmulo, de acordo com seus discípulos. Jesus aconselhara as oprimidas vítimas dos romanos que dessem a César o que lhe pertencia — as moedas que traziam sua imasem e que lhe eram devidas em forma de impostos — enquanto reservassem
para Deus seu maior tributo em forma de devoção e oração. Um número crescente de judeus na época de Josefo ressentia-se da idéia de restituir qualquer tributo a César. Jose-
fo acusou os governadores romanos da província, não contentes em coletar im-
postos excessivos, de extorquir subornos da população. Ele relatou que Géssio Floro, que governou a Judéia de 64
a 66, “virtualmente anunciou a todo o
Um Baco menino
país que qualquer um seria um bandido se ele assim decidisse, conquanto ele próprio recebesse uma propina”. Alguns desses “bandidos” eram na verdade rebeldes que buscavam a independência. Eles encontraram ouvintes receptivos entre os judeus devotos que abominavam o culto ao divino imperador e odiavam ver a águia romana
elegante piso em
gão. Somada a essas afrontas estava a pre-
monta um tigre neste
mosaico de El Djem, no
Norte da África.
ostentada em Jerusalém como ídolo pa-
sença de auxiliares estrangeiros na Judéia,
que tinham pouca simpatia pela população local e frequentemente entrava em conflito com eles. 115
——
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no fim das contas, transformaria o mun-
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juno e Minerva.
LUTANDO NO EXÉRCITO DE CÉSAR
Josefo, no fundo, desprezava a idéia de uma rebelião contra Roma. Sacerdote e membro da seita dos fariseus — famosos por sua fidelidade ri1gorosa às leis e rituais judeus —, ele acreditava que a ocupação romana era um desígnio de Deus. Além disso, a experiência o ensinara que havia
mais a ganhar cooperando com os romanos que
os desafiando. Ainda durante seus vinte anos, ele pd e outros navegaram até Roma para assegurar
a libertação de alguns companheiros sacerdotes enviados para responder a acusações perante o imperador Nero. Na Itália, Josefo
encontrou um ator judeu que o apresentou à esposa de Nero, Pompéia, e com a
ajuda dela Josefo teve sucesso em sua missão. Ao partir, sua consideração pelos romanos aumentou. Josefo retornou à sua terra natal em 66 d.C. e encontrou a província à beira da revolta. Géssio Floro confiscara dinheiro do tesouro do templo de Jerusalém “sob pretexto de que César o tivesse exigido”, como relatado por Josefo. À revolta que se seguiu foi contida pelas tropas a muito custo, incitando ainda mais os opositores ao domínio de Roma. Os militantes judeus se armaram e tomaram o controle de Jerusalém. A revolta se espalhou, e moderados como Josefo, que não esperavam mais uma reconciliação com Roma, se juntaram aos esforços de guerra. Ele foi indicado comandante da Galiléia, o distrito mais ao norte da Judéia. Isso o pôs diretamente no caminho do comandante e futuro imperador Vespasiano, que em breve sobrepujaria os rebeldes da Síria com três legiões.
Josefo tinha poucas esperanças
de prevalecer contra OS bem trei-
nados romanos. “Todo dia” — escreveu ele mais tarde sobre o regi-
me militar romano -, “cada soldado se exercita arduamente tão como se estivesse em guerra. Esta é a ra-
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Um prisioneiro barbado, sua desolada mulher (à esquerda, de um sarcófago romano) e guerreiros derrotados fugindo de uma cidade sob tochas (acima, da Coluna de Trajano) exemplificam as condições dos conquistados pelos soldados romanos. Os romanos às vezes poupavam O populacho das regiões atacadas caso se entregassem prontamente, mas grupos como os hostis judeus eram tratados cruelmente e mortos, ou escravizados aos montes.
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zão pela qual o choque da guerra os afeta tão pouco. Nenhuma confusão é bastante para danificar sua perfeita formação habitual, tampouco são paralisados pelo medo, ou abatidos pela fadiga. A vitória sobre inimigos que nunca enfrentaram nada disso é firme e certeira. Não seria errado dizer que suas manobras são como batalhas sem sangue, e suas batalhas são manobras sanguinárias”.
Quando Vespasiano e suas legiões marcharam para a Galiléia em
67 d.C., a maioria das tropas reunidas por Josefo fugiram ataba-
lhoadamente. Os que ficaram se retiraram sob seu comando para a cidadela de Jotapata (atual Jafet), onde ficaram sob cerco por mais de seis semanas. Depois de escalarem as muralhas, os romanos vasculharam as ruas, matando quem estivesse no caminho. Josefo e mais algumas dezenas de homens estavam escondidos numa caverna, onde ele recomendava insistentemente aos companheiros que aceitassem a derrota pela vontade de Deus e pedissem clemência a Vespasiano. Os outros rejeitaram seus conselhos, e Josefo se jun-
tou a eles num pacto suicida. Depois que todos, exceto ele e um de
seus companheiros, morreram, ele persuadiu o outro sobreviven-
te a se render com ele aos romanos.
Levados a Vespasiano, Josefo conseguiu a cumplicidade de seu companheiro ao profetizar que o comandante romano um dia se tornaria imperador — uma previsão que se concretizou em 69 d.C,
quando Vespasiano emergiu triunfante das sangrentas guerras ci-
vis que sucederam o suicídio de Nero um ano antes. Antes de re-
117
LUTANDO
NO EXÉRCITO DE CÉSAR
tornar a Roma,
Vespasiano
a tarefa de tomar Jerusalém
Josefo acompanhou
delegou
a seu filho Tito
e dar cabo da rebelião.
Tito e registrou o cerco que se
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seguiu. Quando Tito chegou a Jerusalém, em 70 d.€C., com quatro legiões e numerosas tropas de apoio, enfrentou uma das mais impressionantes fortalezas contra as quais as tropas romanas jamais haviam se deparado. Os homens teriam de abrir caminho através de vários muros, incluindo um que circundava a parte mais nova da cidade que crescera para norte do antigo núcleo de Jerusalém, outro que protegia os mercados no meio da cidade, e uma robusta barreira repleta de torres e parapeitos para proteção do templo. Construída no lugar do Templo do Rei Salomão original, essa esplêndida estrutura no cume era revestida de pedra branca e adornada com ouro. A uma certa distân-
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Abaixo, soldados romanos representados na Coluna de Trajano avançam sob a proteção de seus escudos, numa formação chamada de testudo (tartaruga) - uma tática usada em conjunto com aríetes de cerco, como o modelo acima, para subjugar as fortalezas judias.
cia, como um maravilhado Josefo escreveu, ela cintilava como uma montanha coberta de neve”. Uma Jerusalém mais unida e forte poderia ter espopulação a Mas Tito. de investida à resistido
tava intensamente dividida, segundo Josefo, em facções militantes que rivalizavam entre si pela supremacia e atacavam os que defendiam a rendição. Ademais, Jerusalém era vítima da fome, uma vez que os romanos intorromperam as fontes de suprimentos da cidade. Na preparação para o ataque, os romanos construíram imponentes torres de assalto — platafor-
mas com 23m de altura, cobertas com placas de ferro, para evitar que o adversário incendiasse a estrutura de madeira. Subindo as torres, as for-
ças de Tito caíram sobre os hebreus, que defendiam a parede externa e os saraivaram com lanças, flechas e pedras. Enquanto isso, outro exército romano começou a
martelar a parede com um imponente aríete. Flávio Josefo descre-
tropas para provar aos hebreus que seus inimigos
estavam preparados para lutar quanto tempo fosse necessário. Ele enviou Josefo para azucrinar os hebreus em sua própria língua por insistirem
numa causa perdida e por, assim, colocar em ris-
co a sua cidade e seus entes queridos. “Olhem a beleza que estão traindo,” Josefo urgiu. “Se isso não os comove, então pelo menos tenham pena de suas famílias. Vejam suas mulheres, seus filhos
e seus pais, que logo morrerão de fome ou pela espada.” Segundo ele, apesar de suas palavras te-
rem feito com que alguns famintos desertassem para o lado dos romanos, outros reclamaram e mantiveram-se resolutos. Quando ficou claro que a rendição não estava por vir, Tito preparou um novo ataque. À luta durou várias semanas e começou com uma ofensiva à Fortaleza Antônia, localizada
nos dois limites do templo e crucial para sua defesa. As tropas romanas ergueram torres de cerco e lança-
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ird ao tr ex a m u u o z i n a g r o e cê-los a se render. El as su de o nt me ga pa do a di no r ta li mi nária parada
ram bombas nos hebreus que lá estavam. Enquanto isso, os aríetes martelavam as paredes, e os ho-
mens cavavam as fundações da fortaleza sob a
proteção dos escudos dos soldados em uma formação bastante compacta chamada tartaruga”. Mesmo após transpor essa barreira e tomar a fortaleza, os romanos ainda tiveram que lutar com fúria durante muitos dias para chegar aos portões do templo, onde os líderes dos rebeldes se escondiam. Finalmente, depois de mais de três meses do início dos ataques, os soldados romanos penetraram o santuário e atearam fogo nele. Quando o templo caiu em pedaços, as tropas sitiaram o povo na parte antiga da cidade e destruíram o distrito. “Eles desceram as ruas com as espadas em riste,” escreveu Josefo a respeito dos conquis-
tadores, “e golpeavam sem misericórdia todos que 119
LUTANDO NO EXÉRCITO DE CÉSAR
estavam ao alcance. Queimaram as casas de todos os que nelas se refugiaram, com os ocupantes e tudo o que havia dentro.” Muitos dos sobreviventes foram deportados como escravos ou sujeitos a outras formas de punição. Centenas foram enviados para Roma e participaram de paradas militares em homenagem ao um triunfo que Tito só comemorava com Vespasiano. Vestidos imponentemente como conquis-
tadores, trajando mantos vermelho-carmesim e portando coroas de louro sobre as cabeças, o im-
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perador e seu filho permaneceram num palanque, sentados em cadeiras de marfim enquanto os soldados o ovacionavam. Logo que a parada teve início, os romanos encheram as torres de observaçãopara observarem
estupefatos os enormes palcos móveis que retratavam a guerra em quadros vívidos. “Aqui, seria vista uma feliz zona rural sendo devastada” — rela-
tou Josefo — “Ah, formações inimigas Inteiras sen-
do chacinadas; homens em fuga e homens sendo
capturados;
paredes imensas
derrubadas por
máquinas, grandes fortificações assoladas”. Espólios de guerra, arrancados dos templos, foram exibidos na procissão, incluindo a menorá dourada de sete braços, ou candelabrum, e um rolo
descrito por Josefo como a Lei Judaica, possi-
velmente a Torá, que continha os mandamentos
divinos entregues a Moisés. Para os desolados prisioneiros que se arrastavam pelas ruas, não poderia haver perda maior do que esta — entregar a César os tesouros da casa de Deus.
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a autoriade romana, como a revolta na Judéia, luns nas décadas subsequentes. Quando não estavam expandindo as fronteiras para Ee ousados É Ape j “ador Mi E oTres como ia. Irajano, ge os solda soldapo
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Eles construíram pontes
mosse que estradas e séculos, por perdurariam que graciosos pgavam am igualmente duráveis, facilitando o comércio e a movimentação das tropas. Embora alguns reclamassem deste tipo de serviço, os legionários se orgulhavam de sua capacidade. Um soldado escreveu, de maneira ácida, sobre os civis encarregados de escavar as valas para um aqueduto em dois lados opostos de um morro — e cavaram os túneis passando um pelo outro, sem se encontrarem. “Se você quiser um trabalho decente” — alertou —, “chame o exército para executá-lo”.
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Através dos anos, o semblante das legiões mudou. Já no ano 100, apenas um em cada cinco legionários era romano nato. A maioria esmagadora de novos recrutas era de homens originários
das províncias, inclusive filhos de serviçais premiados com a ci-
dadania, por seus préstimos. Muitos legionários nascidos no es-
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trangeiro já falavam, ao se alistarem, um pouco de latim; ou-
tros aprendiam apenas o bastante para seguir as ordens. Os
recrutas que não tinham nome romano adotavam outro, como o jovem egípcio Apion, que escreveu aos pais, tranquilamente, após
se alistar, comunicando que agora seu nome era Antônio Máximo. A enxurrada de homens provincianos nas fileiras militares não encerrou as tensões entre os soldados e as populações locais, em parm via ser te men nte que fre a ínci prov da ina erm det de utas te porque os recr os m ava niz ago ant o ern mat solo no dos lota os dad sol mo em outra. Mes as trop as tra con um com o ent tim sen res Um . iões ocas s uma civis, em alg O filós. cha mar as e ant dur a carg de s mai ani ar isit requ de to era o hábi do qua ade um ecia ofer 55, ano do a volt por o cid sofo grego Epíteto, nas asold um e ão isiç requ uma ver hou “Se nto: assu o e conselho estóico sobr
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Romanos celebram o triunfo sobre os
habitantes da Judéia carregando a menorá € outros espólios do templo de Jerusalém através das ruas de Roma neste detalhe do
Arco de Tito, construído para comemorar à vitória. A moeda acima, cunhada no ano 70, mostra um orgulhoso lado soldado romano ào de uma mulher desconsolada, daea representação da lu Cativa. ia dé Ju ou a, pt Ca
, se asPois e. lam rec não e caso faça não r, esta e deix , do tomar a sua mula
o”. jeit mo mes do a mul a á der per e ado anc esp será sim o fizer, você dades viuni com às das liga as trop de ça sen pre a tos, atri dos Apesar com es eld reb s cia vín pro as iar ncil reco a a dav aju zinhas frequentemente
seus homens e ar Cés o Júli e ond , ânia Brit a mo Mes . ano rom o governo um nou tor se e ent alm ntu eve , ida err agu cia stên encontraram uma resi habiaos e m-s ara tur mis os ári ion leg e ond o, éri imp do posto avançado
auà ir serv a par e m-s era rec ofe os ânic brit ens jov tos tantes locais e mui snece am For e. ent ilm fac veio não cia dân cor con Tal roridade romana. guardar para dio, Cláu dor era imp do o and com o sob sárias quatro legiões, u isti pers da ain cia stên resi a e 43, de ano no , ânia Brit da sul o o extrem os hosânic brit com se amcav cho os dad sol Os po. tem go lon forte por de has tan mon as até al ent Ori lia Ang da xas His desde as terras bai até do nça ava iam hav s ana rom pas tro as lo, sécu Gales. Ao final do e u-s elo rev ião reg a r ina dom de fa tare a mas s, cesa esco nds hla as Hig maoxi apr de a linh uma a par ram ede roc ret s ano rom excessiva, e os cia. Escó a e a err lat Ing a e entr sa divi l atua da sul ao m 32k e dament
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NO EXÉRCITO DE CÉSAR
A fronteira foi estabelecida ao longo da estrada militar conhecida como Stanegate, e foi reforçada com fortificações de madeira e em 122 d.C., o imperador Adriano fortaleceu a linha construindo uma
amurada de pedra de 117 quilômetros, que acabou ficando conhecida como a Muralha de Adriano. Num primeiro momento, a vida dos soldados num lugar tão lon-
gínquo deveria ser muito solitária. As bases mais próximas dos legionários estavam ao Sul, em Chester e York, a vários dias de mar-
cha. Desde o início, nos postos de fronteira ficavam tropas auxiliares de outras províncias, como a Hispânia e a Gália, comandadas por oficiais romanos. Eles podem até ter achado esses sertões estranhos e isolados, mas havia compensações, tal como mostram documentos encontrados numa localidade chamada Vindolanda, um dos
maiores postos do caminho Stanegate. Escritos à tinta, a maioria em finas placas de madeira, entre mais ou menos o ano 90 d.C. e a época da construção da Muralha de Adriano, esses documentos são reveladores e incluem temas do diaa-dia, escalações de serviço e cartas e presentes que chegavam de casa para os soldados. Os relatos contam que as tropas tinham acesso a uma dieta variada que incluía cerveja céltica, vinho importado, presunto e carne de veado. Os presentes que chegavam de casa acrescentavam ainda mais conforto à vida dos soldados. Uma das cartas lista o conteúdo de uma caixa com presentes dentre eles sandálias, meias e dois pares de roupa de baixo. As meias — um item
que os soldados romanos de sendas mais quentes passavam sem — devem ter sido bastante apreciadas no Norte da Inglaterra. Escrito em madeira por volta do ano 100 d.C. e encontrado em Vindolanda, um forte romano na Inglaterra, esse convite de aniversário, enviado à esposa de um oficial, Sulpícia Lepidina, por sua amiga, Cláudia Severa, é o exemplo mais antígo da letra de uma mulher em latim.
Vindolanda estava na fronteira que mais tarde seria definida pela Muralha de Adriano (à direita).
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LUTANDO NO EXÉRCITO DE CÉSAR
Outra carta nos dá uma idéia das condições proporcionadas às esposas dos oficiais, que vi-
viam cercadas de homens e apreciavam amplamente toda oportunidade de visitar amigas e parentes. À carta foi enviada por volta de 100 B.C. a Sulpícia Lepidina, esposa de um comandante de unidade em Vindolanda, por uma amiga, Cláudia Severa, que se dirigia a ela com grande afeição, como se fosse uma irmã. O ma-
rido de Severa provavelmente serviu como oficial em outro forte. “Eu cordialmente te convido, Irmã, para certificar-me de que virá no dia 11 de setembro para comemorar o meu aniversário”, escreveu Cláudia Severa, acrescentando
carinhosamente que “a sua chegada tornará esse dia ainda mais agradável.” Ela mandou lembranças ao marido da amiga e transmitiu as saudações do marido e do filho. A parte principal da carta foi feita por um escriba, mas ela
adicionou um post scriptum: “Esta-
haviam sido esfaqueados foram encontrados sob O piso.
De forma geral, os soldados da fronteira na In-
elaterra desfrutavam de grande liberdade, inclusive de culto. Apesar de o exército patrocinar festas dedicadas aos deuses romanos tradicionais e aos imperadores divinos, era permitido aos ho-
mens praticar qualquer fé fora do arraial. Havia pequenos templos dedicados a Mitra, um deus de origem persa venerado por soldados em muitas partes do império, a pouca distância de Vindolanda. Outros templos da região eram dedicados à deusa síria Astarte e ao semideus Hércules. Um
comandante, nativo do Norte da África e deslo-
cado para a Inglaterra, escreveu um poema para a deusa Tanit, a versão cartaginense de Astarte.
Além disso, os soldados da fronteira atraíam boa
sorte jogando moedas em uma fonte dedicada à deusa local, Coventina.
Esse homens tinham outra válvula de escape para sua energia além das batalhas. Em uma imscrição, um comandante se gabava da
rei esperando-te, irmã. Fique bem,
a ama mo
irmã, meu caro amor, e que eu também fique.”
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Sua chegada
tornará esse dia aínda maís
agradável.
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As esposas dos oficiais não eram as únicas mulheres do local; outras mulheres também residiam em pequenas vilas que surgiam próximas aos postos dos soldados para suprir suas necessidades. Apesar do fato de o casamento ser proibido para os soldados auxiliares — assim como para os legioque r edi imp o com ham tin não iais ofic os —, ios nár eles se unissem a mulheres da localidade, que, O junto aos filhos, estabeleciam suas residências ióx pr s la Vi . ns me ho s do el ív ss po o im óx pr mais rme co s, ta tu ti os pr de sa ca a am er ém mas tamb ciantes e donos de estalagens, que ofereciam às as di us se em r ga jo e r be be ra pa r ga lu um tropas am nh te os ad ld so ns gu al e qu el ív ss po É de folga. . ta en ol vi a rm fo de s õe aç tr us fr as su do sa es pr ex ari Ad de a lh ra Mu à a im óx pr m ge la ta es a Em um e qu er lh mu a um de e m me ho um de os st re no, os 124
suas proezas não na batalha, mas na “captura de um porco selvagem de aparência excepcionalmens te boa” que outros antes dele haviam tentado capturar e não haviam conseguido. Enquanto isso, em Vindolanda, um curtume produzia calçados para homens, mulheres e crianças — destinados talvez às famílias dos soldados ou para a venda na comunidade.
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Eventualmente, fortes como o de Vindolan-
da recebiam recrutas da localidade, visto que
era normal a função passar de pai para filho.
Assim como os bretões romanizados, eles ha- | viam adotado os costumes dos conquistado-| res. Roma os havia conquistado não pela força,|
mas concedendo uma parcela de poder e priz vilégios aqueles que antes eram considerados
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se expandia nos
séculos subsequentes, os romanos continuaram a assimilar divindades
das terras que conquistavam.
COM A APROVAÇÃO DOS DEUSES A observância religiosa incluía a devoção aos deuses no âmbito doméstico e no nível dos ritos oficiais do Estado. Adorar aos deuses em casa significava conquistar e depois garantir a boa vontade dos deuses sobre a casa, a família e a prosperidade. Famílias mais devotas juntavam-se todos os dias no santuário da família, ou lararium, para ofe-
recer incenso, vinho ou “carne sagrada com sal grosso aos seus guardiões espirituais. A deusa
Vesta controlava o coração; os “lares” eram os an-
tigos espíritos da casa que traziam proteção. Os “penates” guardavam a despensa, e o “gênio” era a essência espiritual da família. A religião oficial evoluiu desses ritos domésticos, mas seu objetivo era assegurar e preservar a prosperidade do Estado. O imperador era o chefe da religião, e os oficiais do Estado cumpriam
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tava as orações. Os rituais eram tão precisos, que qualquer erro ou desvio faziam com que tudo tivesse que ser iniciado de novo. Depois, as oferendas — incenso, vinho ou animais — eram apresentadas aos deuses para afastar a peste ou a doença, para obter a vitória numa batalha ou para dar graças a alguma bênção. O Estado também sancionou os festivais mensais (uma evolução dos primeiros ritos agrícolas) que homenageavam deidades específicas a cada mês. A festa mais popular era a Saturnália, uma celebração de sete dias que começava no dia 17 de dezembro, quando as pessoas trocavam presentes e os escravos eram servidos por seus mestres.
Um agricultor passa à frente de um lugar sagrado. A mesa ao centro está guarnecida com frutas, oferendas a uma deusa cujo
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pequeno santuário se encontra no canto superior esquerdo.
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EM BUSCA DA SALVACÃO Insatisfeitos com a impessoalidade da religião oficial do Estado, muito romanos acabaram se voltando para cultos estrangeiros, que ofereciam
os romanos. O foco das cerimônias era a morte e o renascimento de seu amante, Átis, e a adoração incluía danças orgiásticas que, por vezes, ter-
maior envolvimento pessoal nos ritos, além da
minavam em castrações feitas pelos sacerdotes —
O culto a Cíbele, uma deusa asiática da natureza, foi um dos primeiros a se disseminar entre
mos. O culto à deusa Ísis, a deusa egípcia da fertilidade, exibia um tema similar ligado à ressurreição e à imortalidade. Dioniso, deus grego do vinho e da juventude, conseguiu grande popularidade seja na sua for-
promessa de redenção e vida eterna. A princípio, o Estado tentou reprimir o interesse da população por esses cultos e os tolerava se os cidadãos também comparecessem às cerimônias oficiais.
exclusivamente do sexo masculino — em s1 mes-
As oferendas acima - uma cabeça de boi, um copo derramado de sangue e
frutas - e o rito de iniciação ilustrado |
à direita provavelmente representam |
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uma adaptação romana aos rituais dedicados ao deus Dioniso.
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Nesse afresco de Herculano, sacerdotes
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ritual de purificação da água. Os devotos, em linha nos degraus do
templo da deusa, entoam cânticos.
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Os contornos de uma pomba com um ramo de oliveira no bico, um símbolo cristão de
salvação feito nas paredes de
uma catacumba subterrânea, nos tempos em que os cristãos eram perseguidos.
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a um r e a r t i M . e t n e m a continuou secret
a verdade e a luz,
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lutando
sa que personificava às forças da escuridão e do eternamente contra
sre m va ta es m e g a n e m o h a su em Osrituais
tritos aos homens e atraíam os soldados do exército romano.
O conjunto de crenças que muitos desses cultos professavam — a conduta moral na terra e a vida eterna após a morte — tornaram a cristandade possível. Apesar de perseguido e banido por séculos, o Cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano no século IV à.6. 131
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CAPÍTULO QUATRO
À GLÓRIA DOS JOGOS
si mesmo, um artista fantástico e versátil, um mestre dos palcos, da
arena e das artes circenses. Na verdade, os resultados não diziam muito sobre a virtude de suas apresentações. Em Olímpia, por exemplo, ele havia competi-
do em uma corrida numa biga de dez cavalos, uma proeza da qual ele mesmo havia zombado anteriormente. À maioria dos conduto-
res da época guiava quadrigas — bigas de quatro cavalos —, o que já demandava muita força e agilidade do condutor. Como se podia prever, a experiência de Nero não deu certo. Após cair de sua biga lia ir ating de antes da corri a u deixo ela, a r volta a do ajuda ser e nha de chegada. Apesar disso, os juízes submeteram-se à Sua Majestade e declararam-no vencedor de qualquer maneira. As vitórias de Nero podem ter sido arranjadas, mas sua paixão
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cavalo numa curva, onde, por vezes, OS condutores perdiam o controle e batiam.
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o condutor da biga dá uma chibatada em seu
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enroladas nos pulsos,
s romanos nunca haviam testemunhado uma parada militar tão extraordinária quanto essa. Voltando da Grécia para a Itália em 67 d.C., Nero chegou a Nápoles e mandou derrubar parte da muralha da cidade como demonstração de seus feitos gloriosos. Depois, foi até Roma e adentrou a capital na mesma biga usada por Augusto para celebrar sua vitória. Mas Nero não era um conquistador comum. A tomar pela coroa de louros em sua fronte, não somente na guerra, mas também em competições atléticas e artísticas na Grécia, em que os juízes, muito prestativos, deram 1.808 prêmios a ele e inflaram ainda mais a opinião que tinha de
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O grande Circo Máximo retratado à esquerda numa moeda do século Il d.C. e, na
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gladiadores do Coliseu (na parte de cima, no centro) ou as
encenações do Teatro de Marcelo (na parte de baixo, à esquerda).
era genuína. Quando jovem, ele acompanhava de perto as façanhas es of pr um z, ve a rt Ce . es or ut nd co s do
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sor percebeu que estava negligenciando os
estudos e contou aos alunos a história de um condutor que caiu durante uma corrida, ficou preso nas rédeas e foi arrastado pela biga. (Nero tentou se esquivar dizendo que, na verdade, ele estava mencionando Heitor, um herói troiano com quem havia ocorrido algo similar, segundo a Ilta-
da de Homero.) O jovem imperador ficou igualmente fascinado pelo talento de atores e cantores e tentou fortalecer sua voz deitando de costas e colocando uma pedra pesada no peito. Ele adorava montar espetáculos bizarros e, certa vez, obrigou centenas de homens de alta patente a lutarem uns contra os outros em uma arena.
Os romanos da aristocracia odiavam Nero por esse tipo de comportamento, por aceitar participar de corridas de biga e por atuar no palco — atividades que eram destinadas a indivíduos de origem
mais
humilde.
O povo,
por outro lado,
apreciava seu lado espetaculoso e estava sempre pronto para celebrar seus feitos olímpicos. À parada militar que ele organizou após voltar da Grécia passava pelo Circo Máximo — a grande pista discondutores os qual na Roma, em corrida de até seguia então só e — vitória da glória a putavam
o Fórum.
Nero foi ovacionado, com fitas, rece-
admie estima demonstravam que presentes beu ração, e animais foram sacrificados ao longo do trajeto que percorreu em homenagem à ocasião. de quarto seu decorou Nero Posteriormente, dormir com suas coroas de louro e estátuas de si 134
mesmo que havia mandado fazer cantando ou tocando lira. Durante os meses seguintes ficou cada vez mais preocupado em estragar sua preciosa voz. “Nunca ocorreu a ele que deveria parar de cantar ou cantar um pouco menos,” comentou Suetônio em sua inclemente crônica do reinado de Nero. Ao invés disso, o imperador descansava a voz e se dirigia às tropas somente por escrito ou por meio de um porta-voz. Além disso, ele nunca ia a cerimônias oficiais sem um professor de canto para dizer-lhe “quando não forcar as cordas vocais e quando proteger sua boca com um lenço”.
O fato de Nero considerar questões militares e administrativas temas de menor monta em relação aos prazeres do palco e do circo diz muito a respeito de si e dos tempos em que viveu. Sua tendência a se preocupar mais com seu desempenho artístico do que com a sua função de comandante supremo logo viria a assombrá-lo. Contudo, muitos romanos compartilhavam da mesma paixão pelos jogos, e o império era o melhor lugar
para tal, visto que as províncias eram muito pro-
dutivas. Os grãos importados alimentavam a capital, e soldados recrutados no estrangeiro defen-
diam as distantes fronteiras — o que permitia aos romanos gastar uma parcela considerável de seu tempo com festividades. Durante o reinado de Nero, cerca de 80 dias por ano eram devotados
ao ludi (jogos), que incluíam corridas de biga, brtgas entre animais ou espetáculos teatrais. Além disso, os imperadores organizavam celebrações
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especiais para comemorar vitórias ou eventos especiais durante seus reinados. Nem todo o comércio parava por ocasião das festividades, mas, enquanto durassem os jogos, a responsabilidade principal dos romanos era se divertir. Os cidadãos comuns tinham outros motivos para gostar dos jogos, visto que os colocavam mais perto de seus líderes e faziam com que se sentis-
sem privilegiados. Os soberanos que quisessem ser bem quistos pela massa não tinham muita escolha a não ser organizar festividades extravagantes. Júlio César investiu generosamente nos jogos para melhorar sua reputação, e os líderes romanos posteriores não foram menos pródigos em gastos desse tipo. O satirista Juvenal zombou do povo por sua obsessão com o pão e o circo” que eram distribuídos. Ao mesmo tempo, os jogos era mais do que simples momentos de entretenimento. Sua função era homenagear os deuses e, apesar de terem perdido grande parte de seu sentido espiritual com o tempo, os jogos per-
maneceram sendo rituais cívicos Importantes, que celebravam a força e a competitividade que faziam Roma ser o que era. A corrida de bigas era a diversão mais antiga e também a mais popular. Diz uma lenda que Rômulo teria organizado um dia de corrida logo após ter fundado Roma. O Circo Máximo original, localizado num vale pantanoso localizado entre os montes Aventino e Palatino, supostamen-
te foi planejado no tempo dos reis etruscos. O magnânimo Circo Máximo dos tempos imperiais, contudo, foi feito por Júlio César, que deu início à reconstrução e a Augusto, que a completou. Outros imperadores acrescentaram adereços, incluindo um número maior de assentos e uma fachada cada vez mais elaborada, com oficinas e galerias.
Havia outros circos em Roma e no território
do império, mas nenhum superava O Circo Má-
ximo. Com 620 metros de comprimento por quase 140 de largura, acomodava por volta de 150 mil pessoas — ou três vezes mais do que 0 Coliseu,
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Esse mosaico representando uma corrida de bigas mostra uma de cada lado da pista e os condutores sobreviventes ao acidente. Os organizadores da corrída viravam marcadores de volta e ficavam com a coroa de louros e os ramos de palmeira (no centro) ou jogavam
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por sua poesia lírica, comentou .
apologeticamente que era quase impossível ao pretendente não tocar em sua companhia feminina quando sentavam lado a lado para ver as corridas e que o homem poderia conquistar a gratidão de sua companhia pedindo a quem estivesse atrás para que “não batesse com os joelhos nela”. Nos dias em que havia corrida, havia uma procissão pelas ruas de Roma até
o circo. Tradicionalmente, o
magistrado presidia na frente
em sua biga, acompanhado pelos auxiliares e seguido de mú-
sicos. Então passavam as estrelas do evento, os próprios
condutores, que, com todo o
cuidado, gulavam seus vigorosos cavalos pelas ruas estreitas. Atrás deles, vinham os padres e os coroinhas, junto com imagens de deuses e deusas transportados em pequenos palanques móveis ou em bigas. É possível que os espectadores torcessem por um ou outro condutor específico, mas, na maioria dos casos, os torcedores estavam ligados à facção a que o condutor pertencia. Havia quatro facções — os Verdes, os Vermelhos, os Azuis e os Brancos
(canto água nas rodas para esfriá-las
superior esquerdo). O magistrado
principal presente na corrida tinha O prazer de dar início à corrida
de o pedaç um ndo atira ou jogando pano no chão (à direita).
—, cada uma com suas próprias cores, estábulos, treinadores, cavala-
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A GLÓRIA DOS JOGOS
quatro cavalos, que podiam ser claramente identificadas pelas cores dos portões de largada: branriços e torcedores. Se um dos membros de uma fac-
ção cometesse uma falta em alguém de outra fac-
ção, uma verdadeira revolução poderia ter início
nas arquibancadas. Plínio, o Jovem, orador proe-
minente e também oficial do Estado romano, des-
denhava a agitação dos espectadores e agradecia o fato de que “o prazer deles não é o meu”, mas é possível que ele tenha apreciado o esporte mais do que deixava transparecer. O anel que usava mostrava a imagem de uma biga com seus cavalos. Os torcedores tinham vários motivos para brigar, visto que os condutores sempre tentavam levar seus oponentes a bater. Os condutores amarravam as rédeas nas mãos para ter maior controle e, se caíssem, poderiam ser arrastados até a morte se não conseguissem cortá-las a tempo com a adaga que levavam à cintura. Um dos melhores relatos sobre os dramas e perigos encerrados nas corridas de biga foi produzido pelo poeta Sidônio Apolinário, que escreveu durante o século V
a.C., e descreveu uma corrida em nada diferen-
te daquelas dos tempos de Nero. Apolinário descreveu uma corrida em que seu amigo Consentius, envolvendo quatro bigas de 138
co, azul, verde e vermelho, Antes da corrida, os
cavalariços tentavam acalmar os cavalos afagando-os e dizendo palavras suaves, mas, mesmo assim, os cavalos batiam os pés e bufavam. Quan-
do o sinal era dado, as trombetas soavam e as
quatro bigas saíam pelo portão, levantando nuvens de poeira. Consentius segurou os cavalos durante as seis primeiras voltas, deixando que os seus competidores disputassem a liderança. Ao fazer a curva para entrar na sétima e última volta, ele plantou os pés na base da biga e incitou os cavalos. Um dos condutores já havia exaurido os cavalos e deixou a corrida. O segundo viu que Consentius se aproximava, tentou fazer uma curva fechada demais e perdeu o controle. O terceiro abriu a curva demais, permitindo que Consentius o ultrapassasse por dentro, voltou
demasiadamente rápido para tentar reconquis-
tar a posição, mas seus cavalos tropeçaram, sua biga virou e ele caiu, encontrando sua morte. São e salvo, à frente e sozinho, Consentius con-
duziu sua biga pela linha de chegada e recebeu a tão desejava palma da vitória.
Apesar dos riscos, muitos condutores tinham carreiras longas e bem-sucedidas. Bustos doura-
lhes parte dos ganhos. Com o tempo, um condutor de maior talento podia comprar sua própria liberdade e negociar melhores condições para os outros membros de sua facção. Alguns romanos reclamaachavam o valor pago aos condutores excessivo. Juvenal que do mais vezes cem ganhar a vir podia condutor um va que mormuitos e riscos grandes enfrentavam eles Mas um advogado. a fama. atingir ou liberdade a conquistar conseguir de antes riam
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Vestidos com capacetes rígidos de couro e protetores para o torso feitos de uma trama de fitas de couro, quatro condutores mostram a cor de suas equipes: os Verdes, os Brancos, Os Vermelhos e os Azuis. Nero torcia devotamente pelos Verdes e usava roupa dessa cor nas pistas.
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normais iam direto para os seus donos, que, normalmente, davam-
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dos dos melhores adornavam espaços públicos, os soberanos faziam amizade com os campeões e lhes davam presentes. Calígula supostamente deu 20.000 moedas de ouro para um corredor na facção Verde, a sua predileta. Esse tipo de abono deveria ser algo estonteante para os condutores, muitos dos quais haviam começado suas vidas como escravos. As premiações
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A GLÓRIA DOS JOGOS
O MAGNÍFICO COLISEU
Adornado com mármore branco
e corredores dourados, o Coliseu (à direita) - chamado assim devido à estátua colossal de Nero que ficava próxima - era, ao mesmo tem-
po, impressionante e temeroso e foi banhado pelo sangue de gladiadores e bestas selvagens. Tendo sido a sua construção iniciada em 70 d.C. pelo imperador Vespasiano, a are-
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público em 80 d.C. por seu filho e herdeiro, Tito. Adições foram feitas ao complexo posteriormente pelo irmão mais novo e sucessor de Tito, Domiciano, que instalou celas subterrâneas onde as feras eram guardadas (abaixo). Quando o espetáculo começava, os animais eram elevados do nível inferior para o superior em celas cujo um dos lados era aberto. Desesperados para reconquistar sua liberdade, os animais corriam pelas rampas e saíam para a arena -
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uma quantidade impressionante de 1.462 corridas e participado de 4.257 — em muitas das quais havia duas ou três bigas de cada uma das quatro facções. Em mais da metade de suas vitórias, ele liderou do começo ao fim,
mas, quando pressionado pelos competidores, ele os superava, tendo vencido mais de 500 corridas na reta final.
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também corria com ótimos cavalos e um deles o levou a vitória duzentas vezes. Numa época em que um legionário romano ganhava por volta de 1.200 sestércios por ano, Díocles conquistou 36 milhões de sestércios em prêmios durante sua carreira. Parte foi para os donos das facções, mas,
mesmo assim, ele deve ter sido incri-
velmente rico.
Díocles era o modelo perfeito para uma sociedade que endeusava
a vitória. Seja no circo, na batalha ou na política, os romanos fariam
qualquer coisa para saírem na frente. Os torcedores faziam feitiços para atrapalhar os rivais dos seus condu-
tores favoritos. “Eu vos clamo, cria-
turas e entidades sagradas,” dizia uma inscrição numa tábua. Ajudem-me com esse feitiço e amarrem,
encantem, impeçam, atinjam, derrubem, conspirem contra, destruam,
matem ou quebrem Euquério, o condutor de bigas e todos os seus cavalos amanhã no circo, em Roma.”
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Apesar de todos os riscos a que se expunham os condutores de bigas, os homens que lutavam na área enfrentavam perigos ainda maiores. O máximo que podiam almejar eram os feitos do gladiador severo, um escravo que conquistou sua liberdade lutando. Não se sabe que fim teve, mas uma ilustração de Pompéia mostrava-o vencendo sua 55º luta —
A GLÓRIA DOS JOGOS
uma carreira um tanto longa para alguém nesse perigoso ramo de atividade. No começo havia algo artificial a respeito do papel desempenhado pelos gladiadores. Suas lutas, conhecidas como munera
(ou obrigações”)
eram derivações de ritos etruscos que buscavam
homenagear os heróis do passado com demonstrações de coragem e selvageria. O mais antigo rito desse tipo do qual há relatos foi um funeral romano no ano de 264 a.C. que envolvia três pares de gladiadores, todos eles escravos. Famílias romanas logo estariam organizando eventos com muito mais lutadores, tanto para honrar os mortos como para ganhar prestígio. No início do império, as lutas haviam perdi-
do o seu conteúdo religioso e se transformado apenas em entretenimento para o público, realizados isoladamente ou em conjunto com corridas
seu, em 80 d.C., Tito patrocinou cem dias de massacres envolvendo mais de dez mil lutadores e hordas de animais, dos quais morreram nove mil. Anfiteatros como o Coliseu foram construídos especialmente para abrigar esse tipo de sanoria. Anteriormente, as lutas eram realizadas em circos, fóruns ou qualquer lugar público — o que acabava sendo bastante perigosos para os espec-
tadores. Certa vez, os elefantes se assustaram e
quase atropelaram a multidão. Para evitar qualquer imprevisto, os lugares mais baixos do CGoliseu ficavam bem acima da arena, e os animais
eram mantidos em jaulas antes dos eventos, onde deviam fazem um grande barulho.
Perto do Coliseu, ficava uma das escolas nas
quais os gladiadores aprendiam o seu ofício. Severo provavelmente foi treinado numa escola em
Pompéia, considerada uma das melhores. Tal
outros lugares. Frequentemente, além das lutas
como se fazia com os soldados, os gladiadores treinavam com armas mais pesadas do que as de fato usadas durante o combate. As perspectivas dos futuros gladiadores podiam não ser as melhores, mas seus donos os mantinham fortes e em
dos, leões, elefantes, crocodilos e outras feras vin-
cos. Galeno, o médico grego, começou sua carreira tratando de gladiadores em meados do sécu-
de biga e outros espetáculos durante os festivais. Por vezes, em Roma, os imperadores eram os patrocinadores e anfitriões da luta, e era comum que os dignitários desempenhassem esse papel em
entre os gladiadores, havia também as venattones (a “caça” de animais selvagens), nas quais leopardas de longe brigavam entre si ou com humanos,
armados ou desarmados (uma classe distinta de
lutadores, os bestiarii, era treinada e equipada para lutar contra animais). Na inauguração do Coli-
forma, oferecendo-lhes o serviço de bons médi-
lo II d.C., depois tornou-se o médico da corte do
imperador Marco Aurélio. Severo lutou no Anfiteatro de Pompéia, o mais antigo do tipo, construído por volta de 80 a.G.,
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Músicos tocam trombetas e hidraulo, ou órgão hidráulico (extrema esquerda), enquanto vários pares de combatentes trocam golpes, supervisionados por homens em túnicas listradas. Alguns lutadores entravam sem qualquer proteção para a cabeça, e outros usavam elmos como este, à direita.
com 20.000 lugares, o suficiente para abrigar não só a totalidade da população de Pompéia junto aos visitantes das comunidades próximas. Às vezes, a violência dentro da arena chegava às arquibancadas. No ano 59, os pompeanos e os fás de Nucéria, uma cidade vizinha, começaram uma briga. Os nucerianos estavam em menor número, e muitos foram mortos. Para desencorayjar este tipo
de brutalidade, o Senado romano exilou os indivíduos que comecaram o tumulto e fechou o Anfiteatro de Pompéia por dez anos, um severa punição para os ardentes aficionados pompeanos. Os assentos no Anfiteatro de Pompéia, e também nas outras
arenas, eram arrumados em fileiras: os oficiais da cidade e outros
cidadãos proeminentes ocupavam as filas mais próximas ao picadeiro, e os cidadãos comuns sentavam-se mais acima. Às mulhe-
res eram obrigadas a ocupar os lugares nas fileiras mais altas, mas ainda assim conseguiam torcer pelos seus heróis, alguns deles mais apreciados pela aparência do que pelas habilidades de combate.
“Célado, o Trácio, faz todas as
garotas suspirarem” - dizia um tributo a um gladiador gravado em uma parede de Pompéia.
Nos dias ensolarados, toldos de
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algodão eram puxados sobre os assentos, uma conveniência que era salientada na propaganda das com-
petições seguintes. Um anúncio, em
Pompéia, prometia rodadas de gladiadores e uma “caçada ao animal selvagem”, e acrescentava que “os toldos serão montados”. 143
A GLÓRIA DOS JOGOS
Frequentemente,
os patronos
ofereciam
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frentando um touro furioso. Mas outras eram me-
banquete para os gladiadores, na véspera das lutas, e o público os observava durante o repasto. Alguns comiam frugalmente, preocupados em se manterem alertas e ágeis para a prova a seguir; outros se empanturravam, talvez temendo que aquela fosse sua última refeição. No dia seguinte, vestiam capas coloridas em púrpura e dourado e desfilavam até o anfiteatro, em direção às saudações do público. Valetes os seguiam, carregando suas armas.
ras carnificinas: criminosos ou cativos, desarma-
encenadas disputas com espadas de madeira. Comumente, entretanto, o apetite dos espectadores já havia sido despertado por uma manhã inteira de exibições com animais selvagens. Algumas destas sangrentas preliminares eram combates corpo-a-corpo, tais como um leão incitado contra um tigre, ou um homem armado com uma lança en-
que fugiram para terras distantes. As cruéis lutas de animais, algumas vezes, não apresentavam muitas novidades e deixavam o pú-
Para animar a multidão antes dos duelos, eram
dos, eram amarrados a estacas e dilacerados por feras selvagens, ou arqueiros matavam animais, protegidos por uma distância segura. A demanda das arenas por feras dizimou populações selvagens inteiras, nos arredores das províncias. Já em 50 a.C., Cícero, na época governador da Cilícia, na Ásia Menor, informou sarcasticamente a um ami-
go que pedia panteras para as arenas romanas que os poucos exemplares restantes na sua provincia haviam se tornado tão temerosos dos caçadores
blico entediado, ao invés de excitado. Cícero com-
pareceu a um evento em que numerosos elefantes foram massacrados. Os espectadores, embora impressionados com os atos, “não pareciam apre-
ciar aquilo sinceramente” — notou. “Na verdade, surgiu uma certa empatia com os elefantes, e um sentimento de afinidade entre aquele enorme animal e a raça humana”. Tácito, o historiador, relatou uma resposta similar em relação à execução maciça de cristãos promovida por Nero, que tentou desviar-se dos rumores sobre o seu envolvimento
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no grande incêndio que arrasou
Roma no ano de 64, ao atribuir a culpa aos membros daquela recente seita. Nero transformou as execuções em espetáculo, vestindo alguns
deles com peles de animais e os exi-
bindo a cachorros, mas, segundo
Tácito, o derramamento de sangue
só atraiu compaixão para as vítimas.
Um homem ferido se encurva no chão da arena enquanto outros dois lutam com leões. Ao contrário daqueles que eram condenados a ser lançados aos animais, os bestiarii eram treinados e armados para a prova..
Um homem atrai um elefante e um touro selvagem para dentro de um barco, neste mosaico que ilustra a considerável demanda por feras nas arenas romanas.
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A GLÓRIA DOS JOGOS
Independentemente dos sentimentos em relação
as exibições de animais selvagens, muitos romanos deliciavam-se com as disputas entre os gladiadores, pois envolviam habilidades verdadeiras e mui-
to drama. Serventes raspavam a areia para remover as manchas de sangue, antes de cada partida, e periodicamente aspergiam água perfumada na multi-
dão. Muitas disputas juntavam dois tipos diferentes de combatentes. Um samnita, por exemplo,
equipado com espada curta e escudo oval, poderia lutar contra um
guerreiro trácio, que empunhava
uma cimitarra e um escudo redondo. Ou um mur-
millo, que usava um capacete com uma vistosa crista em formato de peixe, poderia duelar, com sua es-
pada e seu escudo, com um retiário de cabeça nua, armado com uma rede, um tridente e uma adaga. Um
trombeteiro sinalizava o início da disputa, e
a dança macabra que se seguia era acompanhada pelo assobio das flautas, pelo repicar dos tambores “ e pelo timbre lúgubre do hidraulo. A cada vez que um gladiador caía, a trombeta soava novamente e a multidão urrava. Para garantir uma boa luta, um
instrutor gritava incentivos como “ataque!” e matel”, e brandia um chicote ou um ferro em brasa para reforçar seus comandos. Embora furiosos, os comba-
tes nem sempre eram fatais. Alguns terminavam empatados, e uma chance para apelar por misericórdia era comumente concedida aos vacilantes lutadores que entregassem as armas e levantassem a mão esquerda, em súplica. Seu destino ficava nas mãos do convidado que presidia a contenda — normalmente o imperador, no Coliseu. Mas esperava-se que até ele cedesse à opinião vipolegar o mostrava que multidão, da rado para cima ou para baixo para anunciar o veredicto. O público frequentemente poupava os combatentes que ti-
vessem lutado bravamente, mas
condenava aqueles que fugis-
sem do oponente ou se humi-
lhassem por misericórdia. “Nós
odiamos aqueles gladiadores
fracos e súplices” — escreveu Cicero — “que, de mãos estendi-
das, rogam a nós pela sobrevi-
vência”, Se o veredicto fosse a 146
UM POETA EM BUSCA DE PATRONOS Ao contrário dos gregos, os romanos não organizavam concursos de poesia regularmente, durante os jogos. Os poetas romanos, inspirados pelas divinas musas (abaixo), precisavam buscar recompensas materiais através de outros meios, muitas vezes disputando entre sí o apoio de patronos. O imperador Augusto e seu abastado confidente, Mecenas, patrocinavam alguns escritores brilhantes, entre eles o poeta épico Virgílio, o filho de fazendeiros que exaltou as glórias de Roma e de seus governantes. O talentoso poeta Ovídio entrou em conflito com Augusto, sobre questões morais, e foi banido. E o arguto satirista Juvenal, que nasceu durante o reinado de Nero, ofendia-se com o sistema de patronato e censurava os líderes da sociedade por sua decadência e devassidão.
OVÍDIO
VIRGILIO
virgílio jurou que havia começa-
do a escrever sua obra-prima, a
Eneida, num momento de insani-
dade. No ano 19 a.C. ele já estava trabalhando no poema que exaltava as origens e os destinos
dos romanos durante 11 anos. Vir-
gílio era um escritor metículoso e achava que a obra aínda precisava ser trabalhada. Contudo, numa viagem à Grécia, caiu doente e supostamente pediu que a sua obra épica fosse destruída. Mas Augusto, tendo ouvido parte do poema, negou-lhe o último desejo, salvando assim um dos tesouros da literatura ocidental.
Rômulo, orgulhoso da pele da loba que o alimentou, Comanda o povo e constrói as muralhas de Marte Eà gente, dá seu nome, chamando05 romanos A quem não há limite no tempo e no espaço Serão soberanos para sempre Eneida
Aos 19 anos de idade, o aristocrático Ovídio desafiou seu pai e abandonou a política para se dedicar à poesia. Alguns romanos admiravam seus versos eróticos e Os copiavam nas paredes da cidade. Mas ele não falava só de amor. Sua obra-prima, Metamorfoses, tratava de mitologia. Apesar disso, Augusto exilou o poeta em 8 d.C. Ovídio faleceu num posto fronteiriço no Mar Negro, ainda com saudades de casa. Os perítos recomendam o ataque noturno e o uso das flechas
pegando o inimigo em seu sono. Essas táticas aniquilaram Reso
e os trácios, e, com ela, seus famosos cavalos foram capturados. Os amantes também usam dessas táticas para se aproveitar do marido que dorme, apunhalando-o com força enquanto o inimigo dorme
esquivando-se dos guardas atuando sob disfarces
Amores
JUVENAL Ao contrário de Virgílio e Ovídio,
Juvenal, que pelos relatos era filho de um escravo livre, não obteve sucesso em vida. As sátiras que compôs deixaram para a posteridade a impressão de que estava em conflito com o seu tempo. Juvenal acusava o povo romano de hipocrísia, extorsão, excessos sexuais, ganância e crueldade sem falar de um fascínio despudorado pelos heróis do palco, do circo e da arena. Juvenal descre-
ve com amargor uma sociedade corrupta, em que mulheres da aristocracia fugiam com gladíadores, onde os soberanos nomeavam atores e seus amigos para cargos de alto escalão, e na qual o público se importava unicamente com
Os jogos e com os brindes.
As mesmas pessoas que no passado entregavam comandos, consulados, legiões e tudo o mais, não mais se preocupam mais com isso e agora almejam somente duas coisas: pão e circo! Sátira X
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dosos pelo imperador ou pelo oficial no comando, eram desobrigados da necessidade de lutar. Contudo, o combate na arena era
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cravos que conquistavam a rudis, uma espada de madeira dada aos gladiadores mais habili-
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lutavam, mas isso era uma novidade. Os es-
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lidade, destinava-se aos proprietários do gladiador e dos aurigas. Uma inscrição em Pompéia registrava os resultados de um dia de eventos na arena: em nove lutas envolvendo 18 gladiadores, três dos perdedores haviam sido mortos — os outros seis conseguiram escapar com vida. Os torcedores relutavam em condenar os seus lutadores prediletos só porque o seu desempenho era ruim de vez em quando. Severo, por exemplo, venceu 13 lutas até perder para um gladiador chamado Albano. É evidente que o público achou que ele merecia uma segunda chance, e ele acabou justificando a fé que tiveram nele. A maioria dos gladiadores era forçada a lutar, visto que haviam sido criados como escravos, capturados em batalhas ou eram criminosos condenados. Alguns escravos libertos se propunham a lutar como gladiadores por um período limitado. Algumas mulheres também
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parte do prêmio, senão sua tota-
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Muitos teatros romanos produziam cenários espetaculares. Esse afresco
— essa e io cenár um ra most a) (acim | ale, s ido ced -su bem mais res iado glad os para ente algo muito atra a), direit (à elo Marc o Teatr do ete maqu ndo. luta am uav tin con r, para o guns, mesmo podend Apesar das origens humildes da maioria dos gladiadores, alguns
homens de alta patente invejavam os seus feitos e acabavam por a tav gos la, ígu Cal o, Ner de res sso ece ant dos Um na. are a ar adentr de trocar golpes com gladiadores profissionais enquanto treinava, ado s, dele um Em es. bat com ses des or pav ham tin res ado e os lut a, eir mad de ada esp uma e ent som do tan por la, ígu versário de Cal conem e, cer ven e ess pud dor era imp o que a par ito pós pro de caiu u. to ma o e a ag ad sua u co sa la gu lí Ca so, dis sequência o m co o ad ar mp co o en qu pe era a lut la pe la gu O amor de Calí ns gu Al . d.C Il lo cu sé do m fi no u re or oc o ad in re jo cu de Cômodo, Au o rc Ma de ho fil se fos ele o fat de e qu r ta di re achavam difícil ac o nd gu Se . am av ad gr sa de as lut as em qu a rélio, soberano filósofo, xo ai ap se ter , na ti us Fa e, mã sua ós ap eu sc na do um relato, Cômo e. ng lo ao ar ss pa viu e qu r do ia ad gl um r po nado perdidamente
cujo palco, de vários andares Cum
bastante ornamentado, possuia três entradas para os atdie A a do TR e cn Es ae ue nstaieats Gan e queles quevinham ida dida
[sso deixou Marco Aurélio preocupado, e, supos-
100 ursos de uma só vez. Ele tinha Hércules, o al-
tamente, O fez consultar os adivinhos que lhe disseram que “tal gladiador deve morrer. Faustina deve banhar-se em seu sangue e depois deitar-se com seu marido”. O conselho foi seguido e a paixão da imperatriz se esvaeceu, mas acabou dando a luz à Cômodo, que era mais gladiador do que príncipe. Independente da origem do entusiasmo de Cômodo pela luta, a coisa se tornou um vício. Antes de ser assassinado aos 31 anos de idade em 192, di-
goz das feras, como modelo, e, assim como seu
herói, também exibia uma pele de leão e uma clava. Os senadores eram intimados a vê-lo lutar na arena e tinham de saudá-lo em uníssono. “Tu
és o senhor e o primeiro!”, declamavam. De todos, o mais afortunado! Vitorioso és tu!” Por ve-
zes, era difícil não demonstrar desaprovação. Cer-
ta vez, Cômodo cortou a cabeça de um avestruz e a levantou, triunfante. Dião Cássio e os outros pe-
saram as amargas folhas de louro de suas coroas e começaram a mastigar para que não caíssem na gargalhada — o que poderia ter sido fatal.
zem os relatos, o imperador havia lutado com mais de mil oponentes e venceu todas, visto que ninguém
ousava derrotá-lo. Ele nunca feriu nenhum de seus
Às esquisitices dos soberanos não eram o único espetáculo teatral da cidade. Os romanos tinham um grande talento para a sátira e para a imitação e expressavam essas habilidades nos palcos em farsas desvairadas e altamente populares. Roma também produziu alguns ótimos dramaturgos,
oponentes seriamente em competições realizadas em público. Contudo, no âmbito privado, de acordo com um de seus contemporâneos, o senador e historiador Dião Cássio, Cômodo matou ou muti-
lou vários de seus oponentes, tendo cortado fora o nariz de alguns, as orelhas de outros e várias partes de outros”. O imperador também gostava de participar do abate de animais selvagens, tendo massacrado
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do grande público, e isso mesmo nos tempos mais simples da República, quando o gosto por espe-
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