O centro da cidade do Salvador: estudo de geografia urbana [2 ed.] 9788531411199, 9788523205331


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O centro da cidade do Salvador: estudo de geografia urbana [2 ed.]
 9788531411199, 9788523205331

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MILTON SANTOS

o Centro da Cidade do Salvador Estudo de Geografia Urbana

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Copyright © 2008 by Família Santos Título original em francês: Le centre de la vil/e de Salvador: Étude de géographie urbaine. Tese apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Strasbourg, para obtenção do Doutorado da Universidade e aprovada com a menção "tres honorable, avec les félicirations du jury". Srrasbourg, 1958. I" edição 1959 (Publicações da Universidade da Bahia) edição 2008 (EdusPJEdufba)

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Ficha catalográfica elaborada pelo Deparramenro Técnko do Sistema Integrado de Bibliolecas da USP SanlOs, Milton. O Centro da Cidade do Salvador: Estudo de Geografia Urbana 1 Milton Santos. - 2. ed. - São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Salvador: Edufba, 2008. 208 p.; 21 cm. - (Coleção Milton Santos; 13) Inclui mapas. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-314-1119-9 (Edusp) ISBN 978-85-232-0533-1 (Edufba) 1. Geografia humana. 2. Sociologia urbana. 1. Título. 11. Título: Estudo de geografia urbana. m. Série.

CDD-307.76

DireilOs reservados à Edusp - Editora da Universidade de São Paulo Av. prof. Luciano Gualberto, Travessa J, 374 6" andar - Ed. da Antiga Reitoria - Cidade Universitária 05508-010 -São Paulo - SP - Brasil Divisão Comercial: Te!. (11) 3091-4008/3091-4150 SAC (lI) 3091-2911 - Fox (l1) 3091-4151 www.edusp.com.br-e-mai!: [email protected] Edufba - Editora da Universidade Federal da Bahia Rua Barão de Jeremoabo, s/n - Campus de Ondina 40170-115 - Salvador - BA - Brasil Te!. (71) 3283-6160/3283-6164 www.edufba.ufba.br-email: [email protected] Printed in Brazil 2008 Foi feito o depósiro legal

SUMÁRIO

Prefácio ......................................................................................~ ............... 9 Prefácio à Edição Francesa ....................................................................... 17 Nota Prévia .............................................................................................. 19 Aditivo para a Edição Brasileira ....... ~ .................................................... 25 Introdução ............................................................................................ :.. 27 0.0

1.

FORMAÇÃO DA CIDADE E EVOLUÇAo DA REGIÃO ....................................... 35

A Escolha do Sítio: De Cidade-Fortaleza a Capital do Recôncavo ...... 38 Incorporação do Sertão à Zona de Influência do Salvador ................... 41 A Organização do Espaço Regional. .................................................... 43 Amortecimento Demográfico e Introdução dos Transportes Mecânicos .................................................................. 46 O Crescimento Recente da Cidade ....................................................... 49 A Ocupação Atual do Sítio .................................................................. 56 2.

As FUNÇOES DO CENTRO DE SALVADOR ........ : ............................................ 67 A Função Portuária ............................................................................. 69 A Função Administrativa ..................................................................... 75 A Função Comercial ............................................................................ 77 A Função Bancária ............................................................................. 88 A Função Industrial e Artesanal .......................................................... 90

3. A PAISAGEM URBANA E A VIDA DO CENTRO DA CiDADE. ........................... 101 A Paisagem ....................................................................................... 103 A Vida .............................................................................................. 122 4. A ESTRl.JfURA URBANA DOS BAIRROS CENTRAIS ....................................... 153 Tipos de Construções ....................................................................... 154 Exemplos de Ruas ............................................................................ 170 Conclusão .............................................................................................. 191 Ilustrações e Fotos .................................................................................. 201 Bibliografia ............................................................................................ 203

PREFÁCIO

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medida que a estrurura econômica das sociedades vai se transformando, com a preponderância dos setores secundáio e terciário sobre o primário, a distribuição demográfica modifica-se, paralelamente, no sentido do adensamento e das concentrações urbanas. A civilização contemporânea é uma civilização da cidade. Países há, como os Estados Unidos, onde a população rural já representa apenas 13,5% no total dos habitantes do país. Este fenômeno é universal, e não parece haver perspectivas de ser sustado, pois embora existam indícios de saruração do setor industrial, o terciário cada dia mais avulta de importância, aponto de haver quem veja nisto a característica do mundo do fururo. E se existe uma possibilidade de ruralização da indústria, o terciário, etapa fiTIal, é típico da vida urbana; é a própria essência da cultura das cidades. Este evolver acelerado - pois é a partir da revolução industrial que a taxa de incremento da urbanização se intensifica fortemente - quebrou os padrões tradicionais da" vida citadina.

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INTRODUÇÃO

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ambição de estudar geograficamente o centro de uma grande cidade, antes mesmo da análise dos seus problemas específicos, pode conduzir a uma série de questões mais gerais sobre o valor geográfico de tal quadro. Será que o cenrro de uma cidade, por maior que ela seja, pode fornecer uma paisagem capaz de justificar um estudo geográfico separado? Não será isso o equivalente a perguntar se o centro urbano constitui em si mesmo uma realidade geográfica? De fato, se a indivisibilidade da paisagem é um dos postulados de base da geografia, o estudo da cidade, seja como forma de atividade, seja como forma de organização, constitui uma prova indiscutível de que nossa ciência atingiu sua maioridade e de que podemos nos considerar como possuindo um campo próprio de estudos. A formação e o desenvolvimento da região e do organismo urbano são intimamente ligados, do mesmo modo que os dife-

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brasileira do crescimento urbano. Conta com 200 mil habitantes em 1900, 290 mil em 1940. O recenseamento de 1920 lhe atribui 280 mil, cifra que consideramos exageradamente alta. Esse amortecimento no ritmo do crescimento demográfiço está ligado, de um lado, aos fatores já mencionados e, de outro, a uma mudança das correntes migratórias. As pessoas do Nordeste eram expulsas pela seca ou por um superpovoamento relativo, devido à alta natalidade e a uma certa estabilidade da técnica agrícola. Dirigiam-se, então, para a zona florestal do Sul, que desbravavam para fazer plantações de cacau. Até 1920, a pro-

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escoam-se pelo porto de Salvador. O cacau, desde 1939, é exportado, sobretudo pelo porto de Ilhéus, mas continua a influir na economia urbana da Cidade do Salvador de duas maneiras: 1. A indústria de transformação primária faz-se principalmente na capital do Estado, estando na zona de produção apenas uma fábrica. 2. Os negócios bancários e as operações de câmbio, a maior parte das operações de crédito comercial e agrícola, continuam a fazer-se em Salvador, e dessa forma a capital do Estado - que não é mais o porto do cacau - tem ainda o papel de capital financeira em relação a esse produto. De fato ela o é para toda a economia agrícola do Estado. O número de pessoas ligadas ao comércio de papéis (em número de mil em 1940) sobe a·2 mil em 1950. As novas fortunas construídas a partir de 1940 são numerosas.

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produzem. Assim, a população urbana aumenta em percentagem alarmante. Isso, porém, não se deve ao dinamismo próprio à cidade, mas, pelo contrário, à ausência de dinamismo e de ação sobre a sua zona de influência. Para irmos até o fundo das coisas; como última razão desses fatos temos o velbo papel, presente desde os inícios da história urbana, de porto de exportação de produtos de uma agricultura comercial realizada em seu arriere-pays, um verdadeiro porto "colonial" que manobra somente grandes somas de dinbeiro, do mesmo modo que manipula grandes toneladas de mercadorias, isto é, sem as reter. Essa função de porto comanda as diferentes fases de sua evolução como metrópole, de acordo com os diferentes produtos de que a cidade foi e continua a ser o entreposto. Além disso, a função portuária explica a criação de um sítio, adaptado a ela própria. Esse sítio artificial, como os demais elementos naturais do sítio urbano, ocupados à proporção e segundo as condições da evolução urbana, dão à cidade um dos elementos de sua originalidade..

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A OCUPAÇÃO ATUAL DO SITIO

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Fonte: Serviço Nacional de Recenseamento.

MUNIC!PIO DE SALVADOR

Repartição Profissional da População (1950)

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Essa atividade de "papéis" é muitas vezes confundida com a própria atividade bancária. Várias firmas exportadoras têm seu próprio setor bancário, que goza das mesmas vantagens que os bancos. Isso aumenta sua influência sobre o mundo rural, que lhes confia seus produtos e fica cada vez mais dependente dos exportadores. Com esse setor bancário, as casas comerciais podem obter do banco oficial certos privilégios, [idênticos aos] obtidos, aliás, pelos bancos particulares, como, por exemplo, o redesconto das notas de crédito. Assim, participam oficialmente do comércio da moeda, que empresta aos agricultores com uma usura comercial, ou seja, 12 % ao ano. Dessa maneira, as casas exportadoras se colocam numa posição ainda mais vantajosa em relação aos clientes do interior do Estado, pois podem adiantar dinheiro para os trabalhos agrícolas, praticando, simultaneamente, uma usura suplementar.

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de bairro. Neste mesmo ano, os cinemas do centro venderam 4.071. 043, compreendendo os 526.666 daqueles da Calçada. A relação entre a distribuição dos cinemas e a função comercial varejista se constata pela localização e a categoria das salas de espetáculo. Na praça da Sé, rua Chile, praça Castro Alves, os cinemas são confortáveis, com ar condicionado e preços elevados. Na Baixa dos Sapateiros, não oferecem confortO e são baratos. Na Cidade Baixa não há cinemas. c. Um comércio de alimentação, de primeira necessidade, praticado quase exclusivamente por espanhóis, aparece também no centro da Cidade do Salvador. São armazéns, padarias açougues. Tal comércio deve sua existência, de um lado, à presença, no próprio centro, de uma massa considerável de população, necessitando abastecimento e, por outro lado, a possibilidade, procurada

Foto 3. Paisagem de Salvador antes de 1950.

Foto 4. Vista geral da feira de Águas de Meninos. Foto da Srta. Orlandir Carvalho de Mattos.

pelos habitantes dos bairros exteriores, de encontrar ali preços mais vantajosos. Esta última razão explica a concentração de casas.de produtos alimentares na Baixinha (rua Padre Agostinho Gomes) e na Visconde de São Lourenço (Forte de S. Pedro), que delimitam o centro comercial da Cidade Alta. Contudo, esse comércio de primeira necessidade acha-se disseminádo por todos os setores, ocupando principalmente as esquinas. Na Cidade Alta, o comércio;formando um verdadeiro cinturão ladeado pelas ruas residenciais, é uma explicação para esse fato. A crescente valorização do espaço, no centro da cidade, acarreta uma tendência ao deslocamento dos estabelecimentos que, todavia, mantêm-se no limite entre a zona comercial e a residencial. d. O comércio de rua ocupa um lugar relativamente importante. É representado quer pelas feiras livres, onde são vendidos produtos de alimentação e caseiros, quer pelos camelôs e vendedores ambulantes.

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vendedores, que, na rua mesmo, discutem com os prováveis compradores. É um dos mais interessantes negócios da cidade.

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A Elaboração do ºu.adro

o sítio, um sítio difícil, que constitui uma das originalidades da cidade atual, foi escolhido em função da finalidade primitiva da aglomeração: administrativa e militar. Era preciso construir Salvador bem perto do mar para facilitar as comunicações com a metrópole. Era preciso, também, edificá-la sobre a escarpa, sobre o dorso das colinas, para defendê-la dos possíveis ataques, seja de estrangeiros, pelo lado do mar, seja dos índios, vindos do interior. Tomé de Sousa agiu bem quando escolheu a plataforma no cimo da escarpa, caindo quase em ângulo reto sobre a baía e oferecendo, por outro lado, a

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recurso existente até que o pedreiro melhorasse sua arte e pudesse obter melhores coberturas. As casas eram baixas, OS muros altos como à moda dos índios. Eram tão somente abrigos, sem confono algum ... enfim, no conjunto, a cidade apresentava o triste aspecto das cidades portuguesas, sem estética e sem outra nota alegre além do seu largo horizon~e sobre o mar e a vigorosa vegetação circundante.

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nomia da cidade; ela foi embelezada pela construção de sobrados, dos quais uma grande parte resiste aos maus-tratos do tempo. Podem ser notados no centro, com suas portas em estilo barroco, esculpidas em pedra e encimadas por brasões de nobreza. Foram edificadas diversas igrejas; outras, mais antigas, foram restauradas. Receberam, então, aquela pintura dourada que hoje é uma das originalidades de Salvador. Eram tão numerosas em 1739, que o vice-rei, o conde Galveias, manifestou ao rei de Portugal sua inquietude. Na Cidade Baixa, construíam-se edifícios de quatro e cinco andares; uma rua tortuosa ia da Preguiça até a Jequitiüa, "tendo de 8 a 9 mil pés de comprimento", quase no meio da estreita planície, tendo, entretanto, nesse lugar cerca, de 800 metros de largura; cinco ruas formavam um dédalo de vilas, pequenas e sujas, conquanto habitadas por gente rica. Já então a cidade tinha a fisionomia que até hoje guardaram as partes antigas do centro, que já estava inteiramente construído, exceto o vale onde agora se encontra a Baixa dos Sapateiros, ocupada somente no século seguinte. Durante o século XIX, o crescimento da cidade e o alargamento de suas funções refletem-se principalmente na Cidade Baixa. Fazem-se novos cais sobre aterros, para melhoria do porto. Esses aterros estendem a Cidade Baixa até o lado par da rua Miguel Calmon. O outro lado é ocupado pelos cais. Sobre esses aterros são construídos grandes imóveis de utilização comercial, sobretudo. No fim do século, a introdução dos primeiros bondes a burro permite uma maior extensão do perímetro construído, e provoca a migração da parte mais abastada da população, que abandona o centro, seja na sua parte alta como na parte baixa. Esta concentrava todo o comércio "bem sortido e de gosto moderno", "localizado perto do cais" e "cujas lojas se fecham

durante a noite, tornando-a quase deserta", conforme está dito em uma descrição de 1880. N a Cidade Alta achava-se o centro administrativo e religioso. Novas casas são construídas, porém sem qualquer ordem. Uma carta real de Dom João V, no dia 2 de abril de 1739, objetivou resolver a questão. Mas não o conseguiu. No começo do século XIX, pessoas que moravam na praça da Piedade "queixavam-se de que um proprietário queria roubar 12 palmos à rua, para au, mentar sua casa [... ] sem mesmo se preocupar com a dificuldade que isso acarretaria para o trânsito das seges e outros veículos" (Fonseca, 1955). Assim foi crescendo a Cidade Alta, mais ou menos assimétrica, acrescentando-se ao núcleo inicial o verdadeiro dédalo de ruas, ruelas e becos que hoje a caracterizam. O século XX é o das grandes transformaçõe~ do centro. A introdução dos transportes mecânicos (o automóvel em 1901, o bonde elétrico em 1904) exige a adaptação da velha estrutura

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o > o Foto 11. Rua Miguel Calmon. No 10 plano, edifícios que se encontram entre os primeiros a serem construídos sobre os recentes aterros do porto. Os prédios no fundo da fotografia são mais recentes.

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Foto 12. Na rua Conselheiro Dantas, prédios que vêm do século passado e arranha-céus que os viio substituindo.

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Foto 13. A dissimetria da rua Conselheiro Dantas. A d,ireita, prédios 'bem modernos, e à esquerda, edifícios de meia-idade.

urbana às novas necessidades. É indispensável alargar e retificar as ruas estreitas, traçadas para servir a uma época diferente. Nos anos de 1910, alargaram-se as ruas da Misericórdia; Chile, Ajuda e a avenida Sete, na Cidade Alta. Nos anos de 1920 foi na Cidade Baixa que se fizeram retificações e alargamentos: nas ruas Portugal e Conselheiro Dantas, que se prolongam uma na outra, há uma certa dissimetria, isto é, o tipo e a idade das construções não são os mesmos em cada lado da rua. Éo lado ímpar que apresenta hoje um maior número de construções modernas; há quase 20 anos, passava-se o contrário. As obras de retificação fizeram-se somente no lado direito, onde, em consequência, novos prédios se levantaram. Do outro lado, as casas se tornaram velhas e preferiu-se substituí-las por construções inteiramente novas, sendo esta solução a menos onerosa, por motivos óbvios. Aliás, essa dissimetria vem de mais longe. Em meados do século XIX, quando se ampliaram os quebra-mares para alargar o porto, construíramse edifícios que davam sobre o único lado da rua Miguel Calmon e sobre as ruas Portugal e Conselheiro Dantas, lado ímpar. Por isso é que os urbanistas devem ter preferido o lado par, quando quiseram urbanizar a rua, no começo desse século. De modo geral, essas retificações e alargamentos tiveram como resultado um tráfego mais intenso e a construção de novas casas. Entretanto, as ruas paralelas e transversais guardaram seu antigo aspecto. A construção do novo porto corresponde ao aumento do tráfego, em relação com os progressos da cultura cacaueira. Sobre os terrenos "fabricados" com os aterros, alguns novos imóveis começaram a ser construídos a partir de 1928, por exemplo, na rua Miguel Calmon: os do Banco Econômico da Bahia, do Banco do Brasil, da Companhia de Seguros Aliança da Bahia, e o do Instituto de Fomento Econômico da Bahia, na praça da Inglaterra.

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OS PRÉDIOS DA CIDADE-BAIXA REC.ENTE!;. REceNTES MEIA. -

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Foto 15. A torre do velho Elevador do Taboâo e uma parte da Cidade Baixa. Sobrados juntos à escarpa e arranha-céus próximos ao porto.

Foto 16. O novo povoamento de arranha-céus nos terrenos perto do porto.

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Foto 17. O belo prédio da Associação Comercial. No fundo, os "arranhacéus" coloniais em plena deterioração. Há meio século as águas da baía batiam na e.scadaria do edifício.

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suímos os dados para estes últimos anos, mas podemos admitir que tal relação seja ainda mais expressiva nos dias de hoje"

Bairros Centrais Bairros Exteriores

Toda a Cidade

Fim do séc. XVIII

1940

1950

20058 17485 37543

22974 267469 290443

20580 403562 424142

Essa estabilidade quantitativa não deve conduzir a confusões, Ela encobre uma deterioração qualitativa gradual, representada numericamente pelo aumento incessante das densidades demográficas de certos setores, de certas ruas, em contraste com uma díminuição em outros, sendo estes cada vez mais invadidos por novas atividades, Os dados globais por distritos fornecem o quadro seguinte para a densidade humana ao hectare, no fim do século XVIII, em 1940 e 1950, São números aproximados:

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mercialização crescente dessa área, onde, de um lado, as velhas casas arruinadas foram utilizadas comO depósitos de mercadorias ou completamente abandonadas, e novos edifícios foram construídos sobre os aterros do porto. Assim, a rua do Pilar perdeu 82,6% da sua população; a rua Maria Quitéria, 50%; a rua Barão Vila Barra, 35%; a rua Campos Sales, 16% etc. Mas, ao contrário, excepcionais acréscimos de população foram verificados, por exemplo, nas ruas Capistrano de Abreu (80%) e Mascarenhas (30%): são ruas onde a degradação continua. A avenida Frederico Pontes registra também um considerável acréscimo de população, mas o fato nada tem que ver cou't a evolução normal dessa área. Tal aumento demográfico deve-se, exclusivamente, à presença aí da Base Naval. A aparência de paradoxo estatístico tem sua réplica em um outro, na paisagem: veem-se construções recentes servindo de habitação, o que constitui verdadeira contradição com o que, de modo geral, observa-se nessa parte central da cidade.

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Na verdade, toda a área dos bancos, do comércio grossista . e de outras atividades que lhes são subordinadas, onde se elevavam edifícios novos, não teria qualquer população não fossem os guardas. Na Cidade Alta teríamos uma pálida réplica desse fato no conjunto formado pelas praças Castro Alves, Municipal e da Sé e pelas ruas Chile, Ajuda e José Gonçalves, se aí não se encontrassem numerosos hotéis e pensões. No distrito da Sé, na Cidade Alta, o recenseamento mostranos um acréscimo de 5,96%. Mas, comO nos casos precedentes, a realidade é muito mais complexa, talvez ainda mais complexa que nos outros distritos, pelas razões que experimentaremos revelar. O conjunto formado pelas ruas Ruy Barbosa, Barão Homem de Melo, a praça Castro Alves e ruas Visconde do Rio Branco e Miseri-

córdia registrava wna diminuição global de 20% (ao lado, a rua José Gonçalves perdia 50% de sua população, mas tal cifra tem uma significação menos importante, em vista das demolições que foram feitas para a construção de um viaduto). Nessa parte do centro da Cidade Alta, acha-se o principal centro de atividades, alojadas em imóveis novos, reconstruídos ou adaptados a essas funções. Pelo contrário, as áreas vizinhas registram globalmente um aumento de densidade relativa ainda maior, tendo em vista não só as demolições realizadas desde 1940 com o objetivo de desembaraçar a circulação, como a expansão do comércio em certas ruas favorecidas pelo tráfego. Mas,· no interior mesmo de cada uma dessas subáreas, o aumento ou a diminuição da população relativa correspondente a cada rua nos conduzem a construções ricas de ensinamentos. A gama de percentagens também representa processos diferentes ou diferentes fases de um mesmo processo, ou ainda quadros diferentes em que se realiza um mesmo processo. Por exemplo, certas ruas registraram um incremento demográfico impressionante, como as ruas Ângelo Ferraz (240%) e Santa Isabel (140%) e também as de São Francisco (81 %), Padre Nóbrega (70%), Inácio Accioly (65%), Muniz Barreto (50%), 7 de Novembro (42%), Gregório de Matos e Querino Gomes (40%) e ainda outras. Tais índices correspondem a um considerável aumento da densidade demográfica nessa área, fato que os números revelam em toda a sua plenitude, pois se trata de áreas residenciais. Mas as percentagens relativas às ruas Alfredo Brito (32%) e Ruy Barbosa (13%) não possuem idêntica significação: são ruas em que o comércio se estendeu largamente entre 1940'e 1950, e continua a, se estender. Assim, tais números exprimem menos que.a realidade demográfica. Vimos anteriormente que na área de expansão maior do comércio a população tem tendência a diminuir. Há, porém, outras

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ruas, fora dessa área, onde constatamos a mesma tendência. É o caso das ruas 28 de Setembro (-17%),João de Deus (-37%), Castro Rebelo (-10%), e Aristides Milton (-8 %). Nessas ruas, o fenômeno está relacionado com a prostituição aí localizada, mas empregando somente mulheres que trabalham durante certas horas do dia ou da noite, morando, porém, nos bairros exteriores: desse ponto de vista, elas estão no mesmo caso que as outras pessoas que vêm trabalhar diariamente no centro - são estatisticamente registradas como sendo moradoras de outras ruas. Pelo contrário, a prostituição de mais baixa categoria, instalada nas ruas menos próximas do centro, não constitui um elemento de perturbação na evolução demográfica: a população tem tendência a aumentar, pois as prostitutas moram no próprio local de trabalho, onde suportam as mesmas miseráveis condições de vida do resto da população que vive nessa área. É assim que uma mesma paisagem, a das velhas casas do centro, pode abrigar duas tendências demográficas diferentes, até mesmo contraditórias. O conjunto dos quarteirões limitados pelas praças Quinze de Novembro, Anchieta e José de Alencar e pela rua J. J. Seabra apresenta uma certa homogeneidade de paisagem: velhas construções entre as quais se situam igrejas vetustas. Sua população aumentou 18% entre 1940 e 1950. Essa taxa, entretanto, está longe de representar a realidade inteira. De um lado, algumas ruas experimentaram uma evolução positiva(ruas Alfredo Brito, Gregório de Matos, Inácio Accioly, Santa Isabel, Leovigildo Filgueiras, Carvalho, Ângela Ferraz e Muniz Barreto). Se colocarmos essas ruas à parte, o ganbo demográfico terá sido da ordem de 40%. Por outro lado, outras ruas perderam sua população, como as ruas João de Deus, Castro Rebelo, São Vicente, 12 de Outubro, e a praça Anchieta. Nesta, ó progresso do comércio, dás pequenas indústrias e artesanatos expulsou uma parte d~ população. No conjunto, sua

perda demográfica foi de 22%. Em 1940, a praça Anchieta abrigava apenas um armazém e um armarinho no lado ímpar e um cabeleireiro, um alfaiate, três açougues, um sapateiro e uma quitanda no lado par. Esse comércio, típico de zonas de transição, está sendo cada vez mais substituído por lojas que hoje ocupam quase todos os andares térreos, nos dois lados da rua. Ao mesmo tempo, as velhas casas estão sendo utilizadas por hotéis e pensões. No distrito do Passo, cujo incremento demográfico global, entre 1940 e 1950, atingiu 17,24%, o exame do que se passou em cada uma das ruas noS leva a resultados parecidos aos que observamos no conjunto dos quarteirões da ·Sé, anteriormente analisados. Na rua Luís Viana, por exemplo, a população caiu 6%: deve-o aos progressos do comércio e das atividades artesanais que ocupam os cõmodos de frente na parte térrea das residências, o que permite um lucro suplementar aos proprietários ou aos locatários, conforme o caso. Tal díminuição global não significa, porém, diminuição de densidade. Nas ruas em que o·comércio já estava estabelecido em 1940, a população, entretanto, aumentou, como na praça José de Alencar (25%), na rua Silva Jardim (20%) etc. Pode-se admitir, qualitativamente, que os resultados - quer para essas ruas, quer para a rua Ribeiro dos Santos - sejam muito semelhantes. Outras ruas tiveram uma elevada taxa de incremento demográfico, como a praça dos 15 Mistérios (22%) e a rua Ribeiro dos Santos (37,9%); esta é quase inteiramente residencial e aquela é residencial completamente. Apenas a rua Padre Agostinho registra uma perda demográfica efetiva, isto é, um decréscimo de 75%, baixando de 37 para 9 habitantes. Isso se explica pela sua magnífica localização comercial e pelos tipos de casas que a formam - são casas térreas e sobrados, todos de um só andar, onde se encontram alfaiate·s, pequenos escritórios etc.

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Em conclusão, podemos afirmar que nO centro da Cidade do Salvador há dois p~oblemas diferentes quanto à distribuição· da população. Na Cidade Baixa, a cidade nova construída sobre a terros do porto não tem população desde sua origem. Pelo contrário, a cidade velha, somente residencial na Cidade Alta e na Cidade Baixa, acrescentava uma função de utilização comercial a um antigo papel residencial. Depois, a distribuição da população se modificou em função de quatro fatores:

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1. Em certas ruas, o comércio se desenvolveu e expulsou os habitantes, seja pela substituição das velhas casas por outras, impróprias à moradia, seja utilizando inteiramente as velhas casas. 2. Em outras ruas, a utilização parcial das velhas casas pelo comércio ou pela prostituição controlada acarretou uma diminuição da população, o que, entretanto, não significa sempre uma diminuição de densidades. 3. Ainda em outras ruas, a degradação atraiu uma população pobre, que continua a crescer em número e em densidade. 4. Mas se os imóveis estão em ruínas, temos, de novo, despovoan:'ento.

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Foto 18. Nessa fotografia aparece bem nítida a justaposição das duas paisagens da Cidade Baixa. No primeiro plano, os quarteirões de transição, onde duas concepções arquitetônicas entram em choque com o progressivo triunfo dos arranha-céus.

Foto 19. No primeiro plano, Ull). edifício da primeira fase das novas construções da Cidade Baixa. Todos os demais são bem recentes.

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Ruas e Praças Joaquim Maia Júlio Adolfo Lauro Müller Lopes Cardoso Luiz Murat Macedo Costa Manoel Vitorino Marcí1io Dias Mercado Modelo Miguel Calmon Naus Pedro Bandeira Pinto Martins Polônia Portugal Rodrigues Alves Santa Bárbara Santos Dumont São João Tupinambás Vidal de Negreiros Visconde de Cairu Visconde de Mauá Visconde do Rosário

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menos lenta que deverão sofrer cedo ou tarde. É por isso que nas ruas comerciais do centro alto, arranha-céus são vizinhos de casas de meia-idade. Os arranha-céus são, assim, o resultado da evolução da cidade, da necessidade de concentrar sobre espaços relativamente restritos o maior número possível de atividades; são construídos visando também a obter, sobre um determinado espaço, a maior renda. A construção em altura é necessária, em virtude dos preços elevados atingidos pelos terrenos nos bairros centrais. É mesmo um círculo vicioso, pois a concentração das atividades nos arranha-céus conduz ao encarecimento dos terrenos. No ano de 1957, o Banco do Brasil expôs à venda 394,45m' de terrenos de sua propriedade, na Cidade Baixa, na esquina da avenida Estados Unidos com a rua Argentina, pelo preço mínimo de 6 milhões de ~ruzeiros, isto é, 15

mil cruzeiros o metro quailrado. Os terrenos vizinhos, também resultantes dos aterros do porto, foram vendidos pela companhia cessionária das Docas da Bahia, em 1922, a 180 cruzeiros o metro quadrado. Em 1941, o preço médio era de trezentos cruzeiros por metro quadrado. Um particular, que a essa época adquiriu grandes

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lotes, não os quer vender hoje senão ao preço mínimo de 15 mil cruzeiros o mZ, isto é, a um preço cinquenta vezes mais alto. Esse aumento de pteços cria um certo otimismo entre os proprietários e anima todas as formas de especulação imobiliária, contribuindo, desse modo, para agravar o problema da recuperação dos velhos edifícios que se degradam ainda mais depressa.


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Entre as construções do centro de Salvador, afora os arranha-céus, os armazéns e os cortiços, há, entretanto, as edificações que apelidamos de casa de "meia-idade". Essas casas de meia-idade representam uma primeira fase de expansão da cidade e do seu centro, de adaptação aos modos de vida modernos, e de valorização dos terrenos do centro. Surgiram, em maioria, aproveitando as demolições que foram feitas para servir às novas necessidades do tráfego nas ruas de maior circulação, como as rúas Chile, Misericórdia, Ajuda e avenida Sete de Setembro, na Cidade Alta, e as ruas Portugal e Conselheiro Dantas, na Cidade Baixa. Tais casas de meia-idade são, por outro lado, os primeiros edifícios construídos sobre os aterros do porto, de que

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As atividades que não têm força para se criarem um quadro alojam-se em um quadro pré-existente. Assim, os palace"tes e sobradões envelhecidos, que perderam seu antigo" papel" de residência dos nobres e da gente rica, conhecem" agora outras utilizações. Alguns servem exclusivamente à residência pobre. Outras abrigam, no andar térreo, um comércio de transição ou artesanato e, nos outros andares, servem como residência pobre, nas ruas contíguas ao centro comercial, onde se beneficiam da paisagem dos transportes coletivos. Alguns outros têm apenas uma utilização residencial. É o caso das ruas mais próximas do horst e das ruas da Preguiça, na Cidade Baixa, áreas ainda não atingidas pela expansão dos arranha-céus. Na Cidade Âlta, é o caso da maior parte dos distritos da Sé e do Passo. "

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para um total de 114 em toda a cidade, a Sé contribuiu Com dois, o Pilar coin três, o Passo'com uma, e a Conceição da Praia com nenhuma. No período 1949-50, houve apenas uma reconstrução na Conceição da Praia e uma no Passo. Os números relativos ao Pilar são relativamente mais reveladores, mas mostram apenas· que esse bairro foi colonizado pelo comércio, especialmente pelas sedes de em presas rodoviárias e seus depósitos.

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primeiros séculos (XVI e XVII) quando toda a cidade se limitava à primeira linha de colinas, rodeada de muros: era o fosso.

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2. Esgoto de águas usadas, como o atesta o nome que recebeu depois o riacho que corre nesse vale: o rio das Tripas. Servia para

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Foto 27. A rua do Maciel de Baixo, bem característica da zona de deterioração. Promiscuidade entre homens, bichos e coisas na rua e no interior das casas,

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o comércio atraiu para a Baixa dos Sapateiros e redondezas uma outra atividade: a indústria. Na verdade o'que existe é menos uma atividade propriamente industrial que uma atividade artesanal, instalada sobre a própria rua e nas velhas casas das ruas transversais, onde se aproveita de espaços maiores e de aluguéis mais baixos. Em 1955, o centro da cidade tinha 193 estabelecimentos industriais e artesanais, de acordo com as estatísticas. Destes, 32 contavam com mais de 25 operários, 159 com mais de cinco e 33 com menos de cinco. Nesse cômputo, a Baixa dos Sapateiros entrava com apenas três estabelecimentos com mais de 25 operários, isto é, 10% do total dessa categoria nos bairros centrais. Tinha 47 estabelecimentos com mais de cinco operários, isto é, 29,5% do total do centro da cidade e 19 COm menOs de cinco operários, isto é, 57,5%. Estabelecimentos com mais de 25 operários com mais de 5 operários

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CONCLUSÃO

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ma primeira e inevitável constatação, após a nossa tentativa de incluir Salvador em um grande esquema de classificação do fenômeno urbano, é que essa cidade

brasileira constitui um tipo autêntico de organização urbana, cuja principal razão de seré uma economia comercial especulativa. Salvador fornece, na verdade, um bom exemplo de metrópole

comercial que serve de traço de união entre um mundo colonial, que é o seu hinter/and, e um mundo industrial, que compra as matérias-primas exportadas por seu porto, em forma bruta. É o exutório de uma agricultura comercial cujo destino é estreitamente ligado aos interesses das potências industriais. Nisto ela se parece a outras . metrópoles coloniais. Entretanto, quanto a esse ponto de vista, ela possui uma originalidade que provém de dois fatores principais. De um lado, e ao contrário das metrópoles coloniais dos países coloniais politicamente dependentes, ela não dispôe, a rigor, do estimulante que pode ser trazido à vida urbana por capitais metropolitanos, seja

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diretamente, no caso da assoCiação comércio-agricultura comercial, seja indiretamente, quando a construção de estradas de ferro, de rodagem ou outras formas de equipamento favorecem o organismo urbano através de uma organização do espaço que, sem essas contribuições de fora, ele não poderia realizar. Salvador é, assim, um fato de economia especulativa pura. Pode-se acrescentar, por outro lado, que sua região de influência compreende, ao mesmo tempo, áreas onde se pratica uma agricultura comercial intensiva e áreas onde se pratica uma" agricultura de subsistência, extensiva e em economia quase fecbada.A agricultura comercial não economiza recursos, quer à cidade, quer à sua região; ao contrário, ela os reúne e envia-os para fora. A agricultura de subsistência, pobre e atrasada, e em consequência, incapaz de criar centros urbanos de uma certa importância, influi negativamente sobre o desenvolvimento regional. Sendo ela praticamente estacionária, enquanto a população

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