Nova explicação dos primeiros princípios do conhecimento metafísico

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A47: 3Be

Principiorum primorum cognitionis metaphysicae nova dilucidatio (1755)

Nova explicação dos primeiros

princípios do conhecimento metaf Isico

Trad. José Andrade

33

A4 T:284

Como espero lançar alguma luz sobre os primeiros princ ípios do nosso conhecimento, gostaria de expôr em poucas páginas o resultado das minhas meditações sobre este assun to e evitar cuidadosamente os largos desvios,

para

tornar

mais

claros

os

nervos

e

as

articulações

dos meus argumentos, retirando-lhes, como uma capa, todos os atraentes efeitos de esti lo. Deste modo, serei talvez conduzido a afastar-me das opiniões dos homens céleb res e mesmo a não as nomear expressamente; mas como estou convenc ido da imparcialidade do seu jui2o, creio que não levarão a mal esta minha atitude que não tem

nada

a

ver

com

a

estima

de

que

eles,

sem

dúvida,

são dignos. Quando as opiniões divergem, cada qual pode legitimamente seguir esta ou aquela segundo o seu próprio critério e não está proibido de submeter os argumentos do outro a uma critica modesta, desde que não caia na afectação e na irritação próprias da discussão: creio que isto não pode ser conside rado, por juizes equilibrados, contrário aos deveres de educa ção e deferência. Deste modo, tentarei avaliar de maneira rigorosa, as alegações correntes em favor da primazia suprema e

incon testada

do

princ ípio

da con tradi ção em

relação

a

todas as outras verdades; em seguida, tentarei expôt, rapidamente, o que de um modo mais correcto deve ser estabelecido quanto a esta questão. Procurarei depois, que toca ao principio da razão suficiente, expôr no tudo o que contribui para a_ sua exacta compreensão e demon stração, bem como as dificuldades que aí surgem e

que

contribuem

para

o

obscurecer,

e

oporei

dificuldades, o vigor dos meus argumentos tanto mo permi ta a mediocridade da minha inteligência.

a

essas

quanto Final-

mente, avan çando um pouco mais, estabelecerei dois novos principios do conhecimento metafisico, princípios de um desprezável, e que conhecimento que não me parece não sendo certamente primeiros nem muito simples, são 35

talvez me lhor adaptados à experiência prática e possuem, mais do que qualquer dos outros, uma maior extensåo de aplicação. Neste objectivo em que percorro um caminho ainda

desconhecido,

arrisco-me,

a

cada

passo,

no erro; espero pois que o leitor imparcial tomando tudo isto em consideração, me

a

tombar

e benevolente. leia do modo

mais positivo.

SECÇAOI

Acerca do princ ípio da contrad içao Ad vertência Dado que procuro aqui a maior brevidade possivel. mais vale não repetir os axiomas e definições familiares a

todos

e

fundamentados

na

razão;

boa

não

segui rei

o

exemplo daqueles que, subme tidos a não sei que regra do (método conside ram que só se procede l6gica e racionalmente, quando referimos, de principio ao fim, tudo o Achei dever que se encontra nos escritos dos filósofos. alertar o leitor, afim de que não tome por erro aqui lo

que faço

deliberadamente. PROPOSIÇAO

I

Não existe um princ ípio único, absolutamente primeiro e deve

Um ser,

abarcar,

universal,

para todas as verdad es

verdadeiramente proposição

único simples; se

proposições,

só aparente-

princ ípio primeiro e necessariamente, uma

implicitamente,

várias

mente é um princ ípio único.

Portanto,

verdadeiramente simples, deve ser, mativa ou negativa. Ora, afirmo não pode ser universal e abarcar pois

se

dizemos

que

é

princ ípio abso lutamente e se é

negativa,

não

pode

uma

proposição

necessariamente,

afir-

que se é uma ou outra, em si todas as verdades;

afirmativa

primeiro

se é

ela

das

fundamentar

não

pode

ser

o

verdades negativas as

verdades

posi-

tivas. Admitamos que se trata de uma proposição negativa; dado que qualquer verdade pode ter consequências lógicas, 36

directas cípios,

ou

indirectas,

quem

não

extra fdas dos seus

về

que

de

um

prốprios

princ ípio

prin-

negativo



podemos extrair di rectamen te consequências negativas? E se é indi rectamente que .queremos extrair con sequênc ias positivas deste princ ípio, teremos que reconhecer que a dedução

é

impossível

sem

mediação

desta

proposição:

É verdeiro tudo aquilo cujo oposto é falso. Ora esta proposição, dado que ela mesna é afirmativa, não pode ser derivada do princ fpio negativo, nem di rectamente nem ainda menos, indi rectamente, pois que teria, nesse caso, necessidade de si própria; de modo nenhum ela pode assim resultar de um princ ípio negatiVo. Por conseguinte, uma vez que um único princ fpio nega-

tivo não permite

obter proposições

afirmativas, este prin-

cípio não pode ser dito universal. Da mesma maneira, se instituissemos uma proposição afirmativa como princípio fundamental, não poderfamos deduzir ainda dele as proposições negativas e para que as pudessemos deduzir indi rectamente, haveria necessidade de fazer intervir a proposição: É falso tudo aquilo cujo oposto é verdadeiro; por outras palavras, se afirmarmos o oposto de uma coisa, a

própria

coisa

negativa,

não

princ ípio recto

é

pode

negada;

de

afirmativo,

nem

de

um

e

modo

nem modo

dado

que

algum

esta

ser

evidentemente indirecto,

a

partir de la mesma. Assim, seja qual

for

proposi ção

deduzida

de

de um modo

menos

que

o nosso

fosse

é

um dia

racioc inio,

não poderemos rejei tar a/proposição que comecei por pos- T:B89 tular; é universal

impossivel colocar um princ fpio único, para todas as verdades serm excepção. PROPOSIÇAO

último

e

II

Existem dois princ ípios absolutamente primeiros de

todas

as

verdad es , um para as

verdad es

afirnativas: "Tudo aquilo que é, ", e outro para as verdad es negativas: "Tudo o que nao é, nao E". Ambos são geralmente chamados

"Princ ípio da identid ade" uma do

Lembro que existem dois tipos de demon stração: directa e outra indi recta. A primeira deduz a verdade acordo

das

noções

de

sujei to

e

predicado

e

apoia-se 37

nesta regra: quando o sujei to, analisado em si mesmo ou nas suas relações, apresenta caracter isticas que contêm a no ção do predicado ou que

excluem

as

que

são

excluidas

pela noção do predicado, poderemos acordo com ele; por outras palavras,

admitir que está de quando existe iden-

tidade

a

entre

o sujei to

e

o

predicado,

proposição

é

ver-

dadeira; o que significa, em termos ge rais como convém a um princ ípio primei ro: tudo aquilo que é, é e tudo aquilo que não é, não é. Deste modo, o princ ípio da identidade, que

é o

primeiro

princípio,

preside

a

qualquer

demons-

tração directa.

Se passarmos à dedução descobriremos indirecta instância, num igualmente que ela assenta, em última princ ípio duplo. É pois necessário voltar sempre àquelas

duas proposi ções: 12 - é verdadeiro tudo aqui lo cujo oposto é falso,

isto 6, tudo

aqui lo

cujo

oposto

é

negado, deve

ser afirmado; 22 - é falso tudo aqui lo cujo oposto é verdadei ro. Da primei ra extraem-se as proposições afirmativas, da segunda, as

meira tudo

proposições

proposição aqui lo que

à sua não é

negativas.

expressão não

Se

mais

existente,

reduzirmos

simples, existe

a pri-

teremos:

(exprimimos

o oposto da negação pelo não ée a própria negação da mesma maneira); a segunda proposição formulá-la-emos do

seguinte

aqui,

a

expressão não

é).

modo:

expressão

da

tudo do

falsidade

Se ago ra,

o

que

oposto

ou

como

o

é

não

é, não

conferida

da

supressão

exige

a

lei

é

pelo

(novamente não

igualmente da

caracter

é e a

pelo istica,

procurarmos o sentido dos termos da primeira proposição, pois que a primeira negação acarreta a supressão da segunda, teremos, quando afastarmos as duas: Tudo o que é, é. E a

segunda

proposição:

tudo

o

que

não

é

não

é,

mostra

claramente que na demonstração indirecta, o princ ípio da identidade, no seu aspecto duplo ocupa o primeiro lugar; último de todo ele é, consequentemente, o fundamento o

conhecimento

sem

excepção.

Escólio - Eis agora algumas

ref lexões de menor negligenciar sobre a termos mais simples princípios não são essen-

importância mas que importa não caracter ística e a combinatória.. Os

que usamos na exp lica ção

destes

cialmente

caracter sticas.

diferentes das

riava-se de ter descoberto uma pareceu com ele, com grande 38

Leibniz vanglo-

arte, mas essa arte desapesar de todos os sábios.

Isso dá-me oportunidade de expressar o meu sentimento quanto a esta questão. Confesso que naquelas palavras do

grande que

filósofo,

falava

Criador

reconheço

Esopo:

no

o

testamento

momento

de

daquele

resti tuir

a

pai

de

alma

ao

revelou aos filhos que tinha escondido um

tesou-T1C

ro, algures no seu campo; e como morreu de repente sem ter indicado o lugar, deu aos filhos a possibilidade de trabalhar o campo com todo o ardo r. E uma vez perdida

toda a esperança, eles acabaram igualmente ricos, graças à maior fecundidade das suas terras. Tal é, provavelmente, o único fruto a esperar dessa famosa arte, se alguém ainda se interessar por ela. Mas, falando abertamente,

permitir-me-ei as suspeitas que Boerhaave exprime finalmente na sua Química, em relação aos mais famosos alquimistas. Estes, depois de te rem descoberto numerosos segredos importantes, imaginaram que tudo estava -submetido ao seu poder; assim, perante qualquer coisa e na sua factos reais não pressa de adivinhar, apontavam como aqui lo que

acreditavam

dever

acontecer,

mas o que

acre-

di tavam poder acontecer. Com efeito, se chegamos a princřpios abso lutamente primeiros, não nego que possamos

usar uma

certa

sinal

noções

das

conhecimento racteres,

e

termos

composto

toda

imobilisada

caracter fstica, a

pois

mais

funcionaria

simples;

deve ser expresso

capacidade

do

esp írito

mas

aí como quando

através se

como pelos ( recifes, e paralisada

de

acha

por

o

caentão

dificul-

dades inultrapassáveis. Um filósofo de muito nome, o ilustre Daries, tentou explicar o princ řpio da contradi ção através de ca racte res representando a no ção af irmativa pela noção + A e a noção negativa pelo sinal -A, obtendo a

equação

negar

a

+

A

mesma

A

=

0,

coisa

-

é

uma

o

que

quer

impossibi

dizer:

lidade

afirmar

e

um

e

nada.

Mas nesta tentativa não desagradável a este homem ilustre, encontro uma petição de princ ípio. Se atribuimos ao sinal da noção negativa o poder de suprimir a no ção afir-

mativa que Ihe está junta, supomos, eviden temente, o princípio da contradição pelo qual estabe lecemos que noções opostas se excluem. A nossa demonstração da proposição: "é tal

verdadeiro aqui lo cujo contrário é falso", escapa a uma critica. Quando a enunciamos nos seustermos mais simples, tudo aqui lo que não é não existente existe; ao suprimi r as duas negações, limi tamo -nos a simplificar a 39

expressão e isso conduz, necessariamente, identidade: "tudo aqui lo que é, é".

ao

princ pio da

PROPOSIÇAOII Estabelecimento da superior idade do princípio da identidade sobre o principio da contradição como regra suprema na A

proposição

subordinação

à qual se

atribui

das

o

d

verdades

nome

de

princ fpio

supremo e mais geral de todas as verdades deve ser enunciado, primeiro nos termos mais simples e depois nos mais

gerais. Creio encon trar

isso sem

dúvida

alguma,

no prin-

De

facto, de todos os cípio da identidade, que é duplo. termos afi rmativos, o mais simples é a palavra é e de todos os termos negativos, o mais simples é a expressão não €. Além disso, não podemos conceber nada de mais

universal através de expressões tão simples. mais compostas vão buscar a sua clareza às I

e uma vez podem ser

que são também

expresso na

mais detęrminadas do que de gerais./O princípio

proposição:

coisa seja e não seja

ao



impossvel

mesmo

que

tempo",

ni ção do impossível, pois tudo o que se o

que

é

Pois as noções noções simples

concebido

como

sendo

e

não

é

estas,

não

contradição

uma mesma afinal a defi-

contradiz,

isto €,

sendo

mesmo

ao

tempo, é o que chamamos o imposs ivel. Como estabelecer que todas as verdades devem ser conduzidas a. esta definição? Não é, de facto, necessário deduzir a verdade da impossibilidade do seu oposto, além de que, aliás, isso impossibilidade do não basta, pois sỐ podemos passar da

oposto à

afirmação

através da mediação da proposição"é verdadei ro tudo aqui lo cujo oposto é falso". Este princ ípio tem pois um poder equivalente ao

do princ ípio da

contradição,

riormente. FinaImente, tiva o

primeiro

de uma

preferir

papel

no

verdade

tal

como o

mostramos

ante-

confiar a uma proposição negadom inio

das

verdades,

toma-lo

como o principio e o fundamento de tudo, é uma pretensão insuportável e mais do que paradoxal, uma vez que não se enxerga a razão porque havia uma verdade negativa de ter esse privilégio sobre a verdade positiva. Em nosso entender,

dado que 40

existem

duas

espécies

de

verdade,

preferimos

considerar dois princ ípios primeiros, um afirmativo_ eo outro negativo. Escólio arriscar-se

Estas pesquisas, subtis e dif řceis, podem

a

parecer

intei ramente

utilidade. E se conside rarmos a serei certamente dessa opinião.

vās

e

sem

qualquer

fecundidade dos corolários, Porque o esp írito, mesmo

sem ter consciência daque le princ ípio aplica-o espontaneamente segundo uma necessidade natural. Não será contudo

um

assunto

digno

de

investigação

o

remon tar

na

cadeia das verdades até ao primeiro elo? Não deveremos realmente desdenhar o conhecimento, deste modo mais profundo, da lei que rege os racioc ínios do nosso espỉrito. Isto, para nos limi tarmos a considerar um único motivo, dado

que

todo

o

nosso

raciocínio

acaba

por

descobrir

a

identidade do predicado considerado, seja nas suas relações com o sujeito, seja em si próprio, tal como aparece claramente segundo a regra última das verdades; deveremos pois concluir que Deus não tem necessidade do racioc inio, pois

que

todas

as

coisas

se

revelem

sob

o seu

olhar

com

a máxima clareza num único acto de intuição intelectual, de tal maneira que ele se apercebe das relações de conveniência e desconveniência, sem necessidade da análise que é exigida pela nossa inteligência obscurecida pelas

trevas.

SECÇAOI Acerca do

principio

de razão determinante

vulgarmente chamada suficiente

Definiçao PROPOSIÇAO IV

"Determinar" é considerar um predicado excluîndo o seu oposto. Chamamos "razão" dquilo que determina um sujeito em rel ação a um predicado. A razão divide-se em razão "anteriormente" determinante e razão

"posteriormente"/determinante. A razão anteriormente I.3)2 determinante é aquela cuja noção precede o que é determinado isto é sem a suposição da qual o determinado 41